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DIREITO DA FAMÍLIA

Sob a Regência da Doutora Professora Maria


Margarida da Silva Pereira

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Beatriz Costa
Índice
CASAMENTO................................................................................................................................ 3

NOÇÃ O. PRINCÍPIOS. NATUREZA............................................................................................................3


Noção..........................................................................................................................................3
Modalidades de Casamento........................................................................................................4
FORMALIDADES DO CASAMENTO...........................................................................................................5
Processo Preliminar....................................................................................................................5
Exceção à existência de um processo preliminar: Casamento Católico e Civil Urgente.............7
PRESSUPOSTOS DO CASAMENTO............................................................................................................9
Capacidade Matrimonial............................................................................................................9
Consentimento Matrimonial.....................................................................................................14
INVALIDADES DO CASAMENTO............................................................................................................17
CASAMENTO PUTATIVO......................................................................................................................20
CONVENÇÕ ES ANTENUPCIAIS..............................................................................................................21
Pressupostos Básicos do Regime...............................................................................................21
Estipulação de regimes de bens sob condição ou termo............................................................23
Doações por morte e deixas testamentárias..............................................................................23
Pactos renunciativos ao estatuto de herdeiro legitimário do cônjuge......................................24
Invalidade e caducidade das convenções antenupciais............................................................25
REGIME DE BENS...............................................................................................................................27
Regime da Comunhão de Adquiridos........................................................................................27
Regime da Comunhão Geral......................................................................................................28
Regime de Separação de Bens..................................................................................................28
Administração de Bens no Casamento......................................................................................29
Alienação ou Oneração de Bens................................................................................................30
Responsabilidade por Dívidas...................................................................................................31

DIVÓRCIO................................................................................................................................... 33

UNIÃO DE FACTO....................................................................................................................... 35

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Beatriz Costa
CASAMENTO
Noção. Princípios. Natureza

Noção

Artigo 1577.º
(Noção de casamento) O casamento é o ato fundamental de criaçã o da
sociedade natural que é a família, realidade pré-
Casamento é o contrato
celebrado entre duas pessoas
jurídica, que antecede a formaçã o do Estado.

Tradicionalmente entendia-se que o contrato de casamento apenas poderia ser


celebrado entre pessoas de sexos distintos, por ser a “ú nica” capaz de satisfazer na
totalidade os sentimentos, mas sobretudo a preservaçã o da reproduçã o através da
criaçã o e educaçã o de filhos. No entanto, a Lei nº 9/2010 de 31 de Maio
consagrou o casamento entre pessoas do mesmo sexo baseando-se nos princípios
constitucionais da dignidade da pessoa humana e da igualdade que nã o consertem
qualquer forma de discriminaçã o em funçã o da orientaçã o sexual do sujeito.

A contratualidade do casamento tem sido um tema bastante debatido pela


doutrina com os mais diversos fundamentos.
A generalidade dos autores afirma que o casamento é um contrato – negó cio
jurídico bilateral – na qual, apesar da intervençã o de um funcioná rio constituir
condiçã o de existência, a declaraçã o de consentimento dos nubentes tem o papel
principal na disciplina deste instituto, sublinhando assim a liberdade de casar de
cada nubente aliada à intervençã o de uma entidade pú blica.
Nã o obstante, existem outros autores que sustentam ser o casamento um ato
jurídico unilateral, no qual revela acima de tudo a vontade do Estado, sendo que os
nubentes tinham de manifestar as suas livres pretensõ es perante um funcioná rio, e
só a intervençã o deste conferiria valor jurídico ao matrimó nio, o que reduzia a as
declaraçõ es de vontade a uma simples condiçã o da prá tica de um ato estatal.

O casamento tem de ser celebrado de acordo com as disposiçõ es do Có digo Civil,


o que significa que este se trata de um contrato pessoal e solene – DUARTE
PINHEIRO

Modalidades de Casamento
I. Casamento cató lico
O matrimó nio cató lico é uma verdadeira modalidade de casamento no
ordenamento jurídico português, uma vez que este admite a eficá cia civil do
casamento cató lico. O casamento religioso obrigató rio nã o reconhece a existência

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do casamento civil, e para ser vá lido, e juridicamente relevante, tem de ser
realizado pela Igreja, sob pena de nulidade. A ordem jurídica portuguesa, cuja
inspiraçã o em sede matrimonial é muito cató lica, resulta numa semelhança
bastante evidente entre as duas modalidades de casamento.
– Idade nú bil: 16 anos nas duas modalidades;

Nã o obstante existes diferenças bastante claras para o principal regime fixado


na lei portuguesa:
– Nã o aceitaçã o do casamento entre pessoas do mesmo sexo;
– A anomalia psíquica nã o é um impedimento para a celebraçã o do
casamento;

II. Casamento Civil


i. Casamento Civil Obrigatório 1
Nesta modalidade o casamento religioso nã o produz quaisquer
efeitos civis juridicamente relevantes, o que nã o impedem que os
nubentes o celebrem por consideraçã o pelo princípio da liberdade
religiosa, no entanto, para obterem o estado de casados, devem
realizar o casamento civil. O casamento civil é obrigató rio para todos
os cidadã os, que tenham ou nã o qualquer religiã o.
ii. Casamento Civil Facultativo2
Nesta modalidade, há uma especial intervençã o do princípio da
liberdade, o que permite aos cidadã os a total liberdade na opçã o de
realizaçã o de um casamento cató lico ou de um casamento civil, que
consagram dois institutos diferentes. Contudo, os requisitos de
validade do ato jurídico e os seus efeitos jurídicos quanto à s pessoas
e aos bens dos cô njuges estã o exclusivamente estabelecidos pela
legislaçã o civil de cada Estado, e também só os tribunais comuns tem
competência para julgar as questõ es relacionadas com o casamento.
iii. Casamento Civil Subalterno
Neste sistema colocava-se o casamento civil num plano subalterno
em relaçã o ao casamento religioso.
Este postulava que apenas o casamento celebrado religiosamente
seria vá lido, e quando tal nã o poderia decorrer, entã o, nesses casos
excecionais, admitia-se subsidiariamente a celebraçã o do casamento
pela forma civil.
Formalidades do Casamento

O casamento exige a concretizaçã o de diligências que o antecedem – processo


preliminar – e que se encontra fixado nos artigos 1610 a 1615 do CCiv.

1
Vigora, atualmente, na Alemanha, na França, na Bélgica e na Rú ssia.
2
Vigora no Brasil, nos Estados Unidos, na Inglaterra e em Portugal.
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Processo Preliminar
(art. º 1610 – art. º 1615)

A competência para a organizaçã o do processo preliminar é deferida a qualquer


conservató ria do registo civil – art.º 134º do CRC.
A declaraçã o, de vontade, para contrair casamento deve ser prestada
pessoalmente ou por intermédio de procurador e é através desta que se dá início
ao processo preliminar – art.º 135/1 do CRC.
Apenas um dos nubentes se poderá fazer representar por procuraçã o na
celebraçã o do casamento, isto porque a lei nã o admite a cumulaçã o de
procuraçõ es, devido, e bem de acordo com a REGENTE, à natureza pessoal do
casamento.

A doutrina discute quanto à vontade do procurador que representa os nubentes,


mais especificamente, se deve apresentar a estrita vontade dos nubentes no
momento da celebraçã o do casamento, ou se pode manter a sua no exercício da sua
funçã o, o que lhe permitiria abster-se da declaraçã o de vontade de casar se tomou
conhecimento de um impedimento ou irregularidade que, posteriormente, possa
obstar ao casamento.
A REGENTE defende a legitimidade que o procurador deve ter para evitar a
celebraçã o de um casamento invá lido, pois o contrá rio seria incompatível com a
importâ ncia e seriedade que o Direito reconhece à celebraçã o deste ato.

A declaraçã o para o casamento deve conter elementos identificadores dos


nubentes e das respetivas famílias, bem como, em caso de novas nú pcias de algum
dos nubentes, a data do ó bito ou da morte presumida do cô njuge anterior, bem
como a data da sentença que a declarou, em caso de divó rcio. A lei exige ainda
documentos complementares.

Este processo visa a verificaçã o pú blica de questõ es relativas aos esposados: i)


estado pessoal; ii) relaçõ es de parentesco ou outras, familiares, que possam
circunstanciar um impedimento de ordem pú blica de realizaçã o do casamento;
Assim, o processo preliminar averigua a identificaçã o de algum tipo de
impedimento dirimente3 ou impediente

Em síntese, afirma-se:
Ø Quando duas pessoas decidem casar, deverã o apresentar a sua pretensã o
numa conservató ria do registo civil que, por regra, será́ a conservató ria que
corresponda ao domicílio de qualquer dos nubentes. Mas podem fazê-lo em
qualquer conservató ria do registo civil.

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Sã o, por norma, mais graves porque nã o se verifica um dos pressupostos matrimoniais que é a capacidade
para a dita celebraçã o, e por isso resulta na invalidade do casamento.
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Ø Segue-se a apresentaçã o do requerimento, um prazo, durante o qual se pode
sindicar a capacidade nupcial dos dois requerentes e bem assim a sua
circunstâ ncia pessoal.
Ø Findo o mesmo prazo, e tendo verificado o circunstancialismo que determina
a possibilidade de realizar o casamento ou antes, que tal circunstancialismo
obsta ao mesmo, o conservador lavra o despacho final de notificaçã o dos
nubentes para marcaçã o do casamento (art.º 144 do CRC).
Ø Esgotado este procedimento, poderá́ ter lugar a celebraçã o do casamento, que
sempre requer duas testemunhas, caso os nubentes não apresentem meios de
identificação legalmente idóneos para o efeito.

JCC - Estas formalidades advêm da natureza solene que carateriza o contrato de


casamento, e que, por isso, exige a verificaçã o de requisitos substanciais assim
como de formalidades.
O processo preliminar é organizado em qualquer conservató ria do registo civil e
inicia-se com a declaraçã o para casamento feita pelos nubentes, pessoalmente, ou
por intermédio de procurador, contendo os elementos a que reporta o art.º 136 do
CRC e instruída com os documentos referidos nas alíneas a) e b) do art.º 137/1 do
CRC.
Compete ao conservador verificar a identidade e capacidade matrimonial dos
nubentes, podendo recolher informaçã o junto de autoridades, exigir prova
testemunhal e convocar os nubentes quando se mostre necessá rio.
Efetuadas estas diligências o conservador profere o despacho final a autorizar
os nubentes a celebrarem o casamento ou a mandar arquivar o processo (art.º
144/1 do CRC).
Se o despacho for favorá vel o casamento deve ser celebrado nos seis meses
subsequentes, sob pena de nova reavaliaçã o (art.º 1614 do CCiv).
O dia, a hora e o local do casamento sã o acordados entre o conservador e os
nubentes.
Ao ato de celebraçã o têm que estar presentes ambos os nubentes, ou pelo
menos um deles e o procurador de outro 4, e o conservador. Podem intervir
também duas a quatro testemunhas.

Exceção à existência de um processo preliminar: Casamento Católico e Civil


Urgente

O Có digo Civil consagra a modalidade de casamento urgente tanto para a


celebraçã o cató lica (art.º 1599) como civil (art.º 1622).

Artigo 1622.º
(Celebração)
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Isto considerando que o Direito nã o aceita uma cumulaçã o de procuradores.

16- Quando haja fundado receio de morte próxima de algum dos nubentes, ou iminência de parto, é
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permitida a celebração do casamento independentemente do respetivo processo preliminar e sem a
intervenção do funcionário do registo civil.
2 - Do casamento urgente é redigida uma ata, nas condições previstas na lei do registo civil.
A possibilidade da celebraçã o de um casamento urgente evidencia o respeito do
legislador pela vontade de quem nã o tenha condiçõ es de levar por diante um
processo preliminar adequadamente tramitado em tempo ú til, mas que veja na
celebraçã o do casamento um momento muito importante da sua vida.

Em que circunstâncias tem lugar?


Pode decorrer em situaçõ es nas quais um dos nubentes se encontre em
possibilidade de morrer a qualquer momento, ou se estiver perto de entrar em
parto e nã o quiser ter um filho fora do casamento.

O casamento urgente nã o exige as mesmas formalidades que o casamento geral,


mas nem por isso se realizará sem um percurso legal tipificado.
Sã o indispensá veis a ata do casamento e a sua homologaçã o5 subsequente, sob
pena de inexistência jurídica – art.º 1628/b) do CCiv.
O casamento nã o será homologado se nã o se tenham verificado os requisitos
formais desta modalidade: proclamaçã o do casamento (oral ou escrita); declaraçã o
expressa de consentimento de ambos os nubentes; exigência de quatro
testemunhas que nã o sejam parentes suscetíveis dos nubentes – art.º 156 do CRC.
Torna-se também necessá rio que nã o exista um impedimento dirimente a
inquinar o casamento – art.º 1624/c) do CCiv.

Há assim uma diferença entre a extensã o dos elementos aferíveis em processo


preliminar e em sede de homologaçã o do casamento urgente.
No primeiro caso, como vimos, todos os fundamentos que obstam ao casamento
e podem ser conhecidos serã o tidos em conta. Já no casamento urgente, apenas
refere a lei a verificaçã o de impedimentos dirimentes. Ou seja, qualquer
impedimento impediente que se verifique nã o é agora submetido ao conservador,
para que este decida da celebraçã o do casamento, mas sã o-no apenas os mais
graves, dando-se por homologado um casamento em que subsistam impedimentos
impedientes.
A sançã o que a ordem jurídica comete ao casamento nã o homologado é a sua
inexistência jurídica, nã o obstante esta nã o é a ú nica consequência que pode recair
sobre este casamento. Existe a possibilidade, aquando da verificaçã o dos requisitos
essenciais do casamento urgente, que se evidencie uma invalidade e surgindo
assim a possibilidade de se requerer a sua anulaçã o.
Ex: A e B celebram um casamento urgente, estando um dos nubentes em erro sobre as qualidades
essenciais do outro, neste caso será possível a invocação de invalidade pela nubente vítima do erro.

O casamento católico urgente pode ser celebrado, para além dos motivos que
determinam a celebração do casamento civil urgente “por grave motivo de ordem
moral”.

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Confirmaçã o por uma autoridade jurídica.
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Pressupostos do Casamento

Capacidade Matrimonial

Os impedimentos matrimoniais sã o factos ou circunstâ ncias que obstam à realizaçã o


do casamento e respeitam, nã o só à s declaraçõ es de vontade dos nubentes e à forma de
celebraçã o do ato, como também à s suas pró prias pessoas.
A existência de um impedimento matrimonial leva à incapacidade matrimonial, no
entanto, estes nã o têm todos a mesma força perante e lei e, por isso, os efeitos que
provocam também sã o de diferente grau.

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Os impedimentos são dirimentes quando além de obstarem à realizaçã o do
casamento também determinam a sua invalidade, na hipó tese de ter sido celebrado.
Há ainda que fazer uma distinçã o entre impedimentos dirimentes absolutos e
relativos.
Os primeiros determinam autênticas incapacidades, impedindo a pessoa a que
se reportam de se casar com qualquer outra pessoa, por isso sã o absolutos.
Os segundos sã o relativos, uma vez que só se obstam a si e as pessoas a quem
dizes respeito, mas nã o funcionam em relaçã o a quaisquer outras, ou seja,
impedem que se celebre o casamento com certas pessoas.

Impedimentos Dirimentes Impedimentos Dirimentes Relativos


Absolutos
Impedem a pessoa de casar com Impedem a pessoa de casar com outras
qualquer outra pessoas específicas
Anulabilidade Anulabilidade
Anulabilidade saná vel – art.º 1633 Anulabilidade nã o saná vel

Os impedimentos impedientes representam também obstá culos legais à


celebraçã o do casamento, mas que no caso da sua celebraçã o nã o acarretam a
invalidade do ato. Estes impedem o ato sem levarem à sua anulaçã o, remetendo
apenas à aplicaçã o de sançõ es aos nubentes ou aos oficiantes6.

Impedimentos Dirimentes Impedimentos Impedientes


Art.º 1601 e art.º 1602 Art.º 1604
Invalidade Sancionamento

Impedimentos Dirimentes Absolutos


A regra geral estabelecida pelo legislador é de que os titulares destes tipos de
impedimentos nã o poderã o celebrar, à priori, casamento com qualquer outra
pessoa, por incapacidade matrimonial.
O legislador procede ao seu elenco no art.º 1601 do CCiv:

a) Falta de Idade Núbil

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Pá roco, ministro do culto, oficial do registo civil...
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A idade nú bil fixa-se nos 16 anos para ambos os sexos 7, e é conhecida como a
“idade matrimonial”, carecendo da autorizaçã o que é exigida pelo artigo 1612º dos
pais ou do tutor para os menores.
O estabelecimento da idade mínima para casar surge à natureza fisioló gica e
psíquica do ser humano ligada à maturidade para a total compreensã o do alcance
jurídico-social do casamento.

Artigo 1612.º
(Autorização dos pais ou do tutor)

1. A autorização para o casamento de menor de dezoito anos e maior de dezasseis deve ser concedida
pelos progenitores que exerçam o poder paternal, ou pelo tutor.
2 - Pode o conservador do registo civil suprir a autorização a que se refere o número anterior se razões
ponderosas justificarem a celebração do casamento e o menor tiver suficiente maturidade física e
psíquica.

b) Demência notória e decisão de acompanhamento


O casamento vá lido requer, segundo a lei, ausência de anomalia psíquica notó ria por
parte de ambos os nubentes. A anomalia psíquica notó ria determina, pois, a invalidade
do casamento.
A notoriedade para efeitos jurídico-familiares nã o é apenas a notoriedade para o
conservador, mas a notoriedade que significa evidência, suscetibilidade de
reconhecimento comum. Este é um conceito indeterminado cujo preenchimento
cabe à doutrina.
Em termos jurídico-familiares a demência notória significa um estado mental
grave, podendo ser uma doença de que o agente padeça desde nascença ou que
seja subsequente à mesma.
Deve ser uma gravidade percetível pela generalidade das pessoas8, tendo em
consideraçã o, que a lei consagra a existência da demência notó ria, mesmo em
casos de “intervalos lú cidos”.
Entende-se que a demência se dá como provada quando exista atestado de
médico da especialidade.
Os casos de patologias de gravidade indiscutível, mas cuja perceção não seja
cognoscível à generalidade das pessoas consubstanciam demência notória?
Para a REGENTE sim, dado que a doença mental é muito grave e isso importa
sobretudo ao legislador como fundamento de invalidade de um casamento.

NOTA: O regime legal para a demência notó ria nã o se deve confundir com o regime
da incapacidade acidental em que há uma privaçã o temporá ria das faculdades

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Isto nã o acontecia antes da reforma de 1977, sendo que as raparigas, até entã o, podiam casar
com 14 anos. A alteraçã o a este preceito normativo teve como alicerce o princípio da igualdade e do
incremento de oportunidades de formaçã o e de escolaridade.
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Como é socialmente aferível, pode-se fazer uma alusã o ao critério jurídico do “homem médio”
de forma a arguir a perceçã o comum.
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mentais. Nã o obstante, o casamento pode ser anulado por um vício de vontade nos
termos da alínea a) do artigo 1635º do CCiv.

c) Casamento anterior não dissolvido


Este impedimento existe quer se trate de casamento civil ou cató lico, ressalvando
também os casos em que os casamentos sã o celebrados no estrangeiro e que nã o sã o
devidamente anulados até ao momento da consumaçã o do segundo matrimó nio.
Este impedimento surge na sequência de uma tentativa, por parte da lei, de se
evitarem situaçõ es de bigamia.
A bigamia constitui um crime nos termos do art.º 247 do Có digo Penal.
Por razõ es de segurança enquanto decorrem diligências relativas à invalidaçã o ou
cessã o do primeiro casamento, nã o se admite que o segundo ocorra.
O Có digo Civil acautela toda a tramitaçã o que faz cessar o casamento anterior,
independentemente de o agente ter ou nã o plena consciência desse procedimento.
O professor JQC sublinha que a lei permite uma situaçã o de bigamia legal no
seguimento de uma presunçã o de morte malsucedida – art.º 116 – considerando-se
o primeiro matrimó nio dissolvido por divó rcio à data da declaraçã o da morte
presumida.

Impedimentos Dirimentes Relativos


Sã o os impedimentos que obstam ao casamento entre si e determinadas pessoas que
constam do preceito normativo do art.º 1602 do CCiv.

a) Parentesco na linha reta


Os parentes em qualquer grau da linha reta nã o podem casar entre si, por razõ es de
ordem moral, social e bioló gica.

b) Parentesco no segundo grau da linha colateral


Sã o proibidos os casamentos entre irmã os que sejam filhos dos mesmos
progenitores, ou os que apenas partilhem um deles.

c) Afinidade na linha reta


Isto significa que sogro e nora, e madrasta e enteado, nã o podem celebrar casar.
As razõ es desta proibiçã o advêm do repudio moral e social em relaçã o e possíveis
casamentos entre pessoas que partilhem uma relaçã o familiar tã o pró xima.

d) Condenação por homicídio doloso


A lei visa impedir o casamento de um nubente com o assassino do antigo cô njuge.
Aqui também existem razõ es de ordem moral e social que justificam a proibiçã o.
É necessá rio que haja a efetiva condenaçã o pela consumaçã o, ou apenas tentativa, de
um crime doloso de homicídio, o que significa que se o crime ocorreu
involuntariamente o impedimento já nã o ocorre.

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Impedimentos Impedientes
Estes sã o casamentos que a lei considera vá lidos, pois os cô njuges tinham a
necessá ria liberdade e capacidade para celebraçã o, mas sã o ainda casamentos que
contêm irregularidades. Os impedimentos impedientes possuem, pois, gravidade bem
menor do que os impedimentos dirimentes, e por isso sã o-lhes aplicadas sançõ es que
variam consoante a natureza do impedimento, e quase sempre tem um cariz patrimonial
ou econó mico. Estes constam do artigo 1604º do CCiv.

a) Falta de autorização do pai ou tutor, desde que não tenha sido suprida pelo
conservador do registo civil
Os menores, quando tenham atingido os 16 anos, podem celebrar casamento desde
que apresentem uma autorizaçã o por parte dos seus pais ou tutores. Esta autorizaçã o
pode ser concedida no processo preliminar do casamento ou no pró prio ato.
Nã o obstante, o conservador pode concluir, a pedido do nubente, que há razõ es
ponderosas para a realizaçã o para a realizaçã o do casamento por o menor ter maturidade
física e psíquicas indiscutíveis para tal.
Poderã o também haver razõ es ponderosas 9para a celebraçã o do casamento, se o
conservador entender que é do interesse de ambos os cô njuges.
As sançõ es a aplicar sã o:
w O nubente continua a ser considerado menor quanto à administraçã o dos bens
que leve para o casal ou que venha a adquirir a título gratuito, até alcançar a
maioridade.
w Esses bens serã o administrados pelos pais ou pelo tutor, nã o podendo ser
entregues à administraçã o por parte do cô njuge, e estes nã o responderã o por
nenhumas dívidas contraídas pelos cô njuges até à maioridade.

b) Parentesco no terceiro grau da linha colateral


A realizaçã o deste ato matrimonial nã o acarreta a sua anulabilidade, mas antes a
aplicaçã o de sançã o de natureza econó mica do art.º 1650/2 do CCiv.
Esta sançã o nã o se aplica que os nubentes obtiverem a dispensa por parte do
conservador do registo civil – art.º 1609/2 – com base em motivos sérios.
O conservador deve analisar logo no processo preliminar de casamento se se verifica
uma situaçã o de verdadeira ascendência entre os cô njuges, nã o no â mbito
consanguíneo, mas na possibilidade de que haja um temor reverencial a ser exercido
sobre um dos colaterais, o que implica a nã o celebraçã o do casamento.

c) Vínculo de tutela, acompanhamento de maior ou administração legal de bens


O legislador entendeu que as pessoas referidas neste preceito podem tentar
locupletar-se à custa do nubente de quem foram tutoras, acompanhantes,

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Por ocasiã o de nascimento de um filho cujo estado de casados vai ajudar a exercer as suas
responsabilidades parentais.
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administradoras legais de bens. Nos casos do acompanhante do maior, seria sempre
obviamente necessá rio que o fundamento do acompanhamento tivesse cessado, posto
que, de outra forma, a solução fundamentadora do acompanhamento constituiria
impedimento dirimente relativo ao casamento. Com efeito, o beneficiá rio do
acompanhamento é, nos termos do art. 138 “o maior impossibilitado, por razõ es de
saú de, deficiência, ou pelo seu comportamento, de exercer, plena, pessoal e
conscientemente, os seus direitos ou de, nos mesmos termos, cumprir os seus deveres”.
A lei acautela ainda todos aqueles que tenham sido destinatá rios de vínculos de tutela
ou cujos bens tenham sido administrados pelo ora nubente, estipulado que o
impedimento impediente ao casamento se estende ainda aos “parentes ou afins em linha
reta, irmãos, cunhados ou sobrinhos, enquanto não tiver decorrido um ano sobre o
termo da incapacidade e não estiverem aprovadas as respetivas contas” – art. 1608.
A sançã o aplicada pela lei nestes casos é a impossibilidade de receber qualquer
benefício por doaçã o ou testamento do seu cô njuge – art.º 1650.

d) Pronúncia por homicídio doloso


Esta pronú ncia abrange a pronú ncia pelo homicídio consumado e na forma tentada,
contra o cô njuge do outro, enquanto nã o houver condenaçã o ou absolviçã o por decisã o
transitada em julgado. Este é um impedimento temporá rio, pois se o nubente for
absolvido o obstá culo à celebraçã o do casamento desparece.
Há aqui a presença do princípio da presunçã o de inocência.
Consentimento Matrimonial

Nã o basta que haja capacidade para poder contrair o casamento, pois, este é,
segundo a maioria da doutrina atual, um contrato bilateral, e, como tal exige um
acordo entre as partes.
O acordo é manifestado através de declaraçõ es de vontade em que se expressa o
desejo de casar.
Se tal nã o suceder o casamento é anulá vel com fundamento na falta ou vicio da
vontade por parte de um, ou de ambos os nubentes – art.º 1631/b) do CCiv.
Ex: Um dos nubentes celebra o casamento em estado de sonambulismo; um dos nubentes está
enganado em relação à identidade do parceiro; no dia do casamento o nubente já não quer casar e
“foge” do local onde vai ocorrer a cerimónia.

Falta de Vontade
Esta é uma expressã o utilizada quando é efetivamente emitida uma declaraçã o, mas
que nã o existe uma verdadeira vontade correspondente ao ato do casamento.
Trata-se de uma divergência entre a vontade e a declaraçã o dos nubentes, e nã o se
deve confundir com os casos em que há a falta da declaraçã o de vontade, falta essa que
dá lugar à inexistência jurídica do casamento e nã o apenas à sua anulabilidade.

Artigo 1635.º
(Anulabilidade por falta de vontade)

O casamento é anulável por falta de vontade:


a)13
Quando o nubente, no momento da celebração, não tinha a consciência do ato que praticava, por
incapacidade acidental ou outra causa;
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b) Quando o nubente estava em erro acerca da identidade física do outro contraente;
c) Quando a declaração da vontade tenha sido extorquida por coacção física;
d) Quando tenha sido simulado.
No primeiro caso elencado pelo art.º 1635 há uma falta de consciência do ato,
devido a uma incapacidade acidental, ou outra causa, que leve o nubente a celebrar o
casamento sem consciência do que esta a dizer ou a fazer.
Ex: Nubente pode estar drogado, embriagado ou até mesmo sob a ação hipnótica.

A segunda situaçã o enumerada no artigo decorre quando o nubente estava em erro


acerca das qualidades essenciais da pessoa do cô njuge.
Ex: Nubente padece de uma doença grave e terminal, escondendo tal facto do seu parceiro.

A terceira situaçã o contemplada ocorre quando a declaraçã o da vontade tenha sido


extorquida por coaçã o física, sendo que esta nã o vale como consentimento quando foi
obtida por meios violentos.
Ex: Inácio pretende desfazer o noivado, mas o seu “futuro sogro” descobre e dá-lhe uma valente
sova, o que o leva a prosseguir com o matrimónio.
A ú ltima situaçã o fixada é a que ocorre em sede de simulaçã o. Nestes casos há uma
declaraçã o de vontade, mas nã o há um verdadeiro consentimento, visto que o
casamento é celebrado com vista na obtençã o de vantagens alheias que podem resultar
no prejuízo de terceiros ou do Estado.
Ex: Casos em que um dos nubentes é detentor de uma grande herança e que a outra parte apenas
aceita casar com eles de forma a ser incluído na legitimidade para a receber de forma sucessória, ou
quando visa a administração da mesma.

Vício Legitimidade para anulabilidade


Falta de consciência do ato Cô njuge cuja vontade faltou, assim como
familiares na linha reta e os herdeiros em
caso de morte do autor

Erro-vício Cô njuge cuja vontade faltou, assim como


familiares na linha reta e os herdeiros em
caso de morte do autor
Coaçã o Física ou Moral/Dolo Cô njuge cuja vontade faltou, assim como
familiares na linha reta e os herdeiros em
caso de morte do autor
Simulaçã o Cô njuges e quaisquer pessoas prejudicadas
com o casamento

Vícios do Consentimento

I. Erro-vício

Artigo 1636.º
(Erro que vicia a vontade)

O erro que vicia a vontade só́ é relevante para efeitos de anulação quando recaia sobre qualidades
essenciais da pessoa do outro cônjuge, seja desculpável e se mostre que sem ele, razoavelmente, o
14
casamento não teria sido celebrado.
Beatriz Costa
Para que o erro seja causa de anulabilidade do casamento este deve recair sobre as
qualidades essenciais do outro cô njuge.
Para ser essencial este erro deve ser desculpável, ou seja, qualquer pessoa poderia
incorrer no mesmo, nã o constatando assim um erro grosseiro facilmente percetível10.
Por fim, o erro deve ser também essencial, isto é, quando se demonstra que o
nubente nã o teria celebrado o casamento se soubesse da existência do mesmo.

O que sã o as qualidades essenciais?


Este é um conceito indeterminado que o legislador fixou no preceito normativo do
art.º 1636, e que cabe à doutrina completar o seu sentido. Assim, para a REGENTE
estas qualidades sã o aquelas que relevam aspetos muito relevantes da circunstâ ncia
pessoa e do pró prio modo de ser.
Se se considerar que o conhecimento de uma doença, da nacionalidade, da etnia, da
religiã o e da orientaçã o sexual consiste numa qualidade essencial do nubente, entã o o
desconhecimento das mesmas implicará um erro-vício.
Por vezes, o conhecimento da etnia do outro nubente é determinante pois lhe pode
ser conatural uma certa forma de interpretar certos aspetos da existência, e
consequentemente, de agir sobre eles.

Divergência Doutriná ria


PROPRIEDADE DO ERRO
w Para a REGENTE o erro deve ser pró prio, ou seja, nã o deve recair sobre a
existência do casamento ou sobre circunstâ ncias que, só por si, obstem ao
casamento. Assim, o erro nã o deve recair sobre os impedimentos dirimentes do
casamento, pois se isso acontecer o casamento é invá lido por outro motivo. O erro
vício tem de ser mesmo pró prio sobre a pessoa e essencial à sua qualidade
enquanto pessoa, que caso contrá rio nã o se teria casado.
w Para o professor DUARTE PINHEIRO o erro só é impró prio quando recai sobre a
inexistência do casamento11, e como tal, os casos em que recai sobre circunstâ ncias
que inquinam a validade do casamento sã o um erro pró prio. Se tal acontecer cabe
à vítima optar pelo regime do erro ou pelo regime do impedimento dirimente.

II. Coaçã o Moral


A coaçã o moral é a exigência do consentimento para a realizaçã o do casamento
mediante a ameaça de um mal. Esta coaçã o pode ser moral ou física.
Para relevar como vicio da vontade, que acarreta a anulabilidade do casamento, a
coaçã o tem que revestir:
– Ameaça intencional e determinante;
– Mal ilícito e grave;
– Justo receio de consumaçã o;
Se A descobre, apó s celebrar casamento com B, que este era divorciado. O professor JQC
10

considera que este é um erro grosseiro porque seria “fá cil” averiguar o estado civil do nubente.
11
Art.º 1628 do CCiv.
15
Beatriz Costa
A ameaça do mal pode respeitar à pessoa do nubente, como de terceiro, e dizer
respeito à sua honra e integridade física como ao patrimó nio.
Isto nã o acontece se o casamento for celebrado com fundamento num temor
reverencial.
Ex: Fernanda casa com Arnaldo só para não desagradar os seus pais – isto consubstancia um caso de
temor reverencial e não de coação.
Invalidades do Casamento

Em matéria de casamento existem dois tipos de invalidades:


I. Inexistência
II. Anulabilidade

A inexistência carateriza-se por uma ausência total de efeitos jurídicos e por poder
ser invocada por qualquer pessoa a todo o tempo como se encontra fixado no art.º 1630
do Có digo Civil.

A anulabilidade é um ato considerado invá lido a requerimento de certas pessoas e


em certos prazos, mas podem ficar ressalvados, por lei, os efeitos do casamento anulado
em atençã o à boa-fé dos cô njuges.

Inexistência
O regime da inexistência está fixado, por lei, no artigo 1630º do Có digo Civil, cujo
instituto se aplica aos casos elencados no artigo 1628 do mesmo diploma, sendo estes: i)
falta de competência do funcioná rio que presidiu ao ato; ii) casamento urgente nã o
homologado; iii) falta de declaraçã o de vontade de um ou de ambos os nubentes; iv)
revogaçã o, nulidade ou falsidade da procuraçã o;

Anulabilidade
A invalidade do casamento tem que ser reconhecida judicialmente, mediante
processo requerido por certas pessoas, em determinados prazos.
A anulabilidade nã o goza de retroatividade se um, ou ambos, os cô njuges casaram de
boa-fé, permitindo que certos efeitos sejam ressalvados pelo casamento putativo.

Artigo 1631.º
(Causas de anulabilidade)
É anulável o casamento:
a) Contraído com algum impedimento dirimente;
b) Celebrado, por parte de um ou de ambos os nubentes, com falta de vontade ou com a vontade
viciada por erro ou coacção;
c) Celebrado sem a presença das testemunhas, quando exigida por lei.

16
Beatriz Costa
Sã o estabelecidos diferentes prazos consoante o tipo de interesses que se visam
proteger com a açã o de anulaçã o e cujo decurso, sem que se acione o procedimento
judicial, acarreta a sua renú ncia, e passa-se a considerar a invalidade sanada.
A validaçã o do casamento também se verifica mesmo que exista açã o de anulaçã o se
antes de transitar em julgado a sentença, ocorrer um dos factos do artigo 1633º do
CCiv.
Regime das invalidades do casamento contraído com impedimentos
dirimentes
Legitimidade
A legitimidade para intentar ou prosseguir a açã o incumbe nestes casos:
w Aos cô njuges;
w Aos seus parentes na linha reta e aos parentes até ao 4o grau da linha
colateral;
w Aos herdeiros ou adotantes;
w Ao Ministério Pú blico.

Em caso de menoridade dos cô njuges ou de um deles, além das pessoas


mencionadas supra, podem ainda intentar a açã o ou prosseguir nela:
w O tutor;
w O acompanhante com poderes para o efeito;
w O primeiro cô njuge do infrator, no caso de bigamia.

Prazos para intentar a açã o


Os prazos para proposiçã o das açõ es de invalidade nã o sã o os mesmos para todos
os casamentos contraídos com impedimento dirimente.
Segundo a lei:
w Caso o menor, o maior acompanhado, ou o demente, recupere a sua
capacidade matrimonial, podem eles pró prios propor esta açã o até 6 meses
depois de terminado o impedimento que obstava ao casamento.
MSP: justifica-se que assim seja, o interesse deste cô njuge é pessoalíssimo e a
legitimidade processual é coerente do seu interesse;
w Outra pessoa de entre as previstas na lei, poderá agir nos primeiros 3 anos
seguintes à celebraçã o do casamento. Mas com a ressalva de que nunca será
legítimo que os terceiros mencionados proponham a açã o uma vez terminado
o impedimento dirimente;
w Nos casos de condenaçã o por crime de homicídio ou por cumplicidade no
homicídio ou cumplicidade no homicídio contra pessoa do anterior cô njuge
daquele cô njuge que celebrou casamento com o viú vo, o prazo da açã o e de 3
anos apó s a celebraçã o do novo casamento;
w Ao Ministério Pú blico é reconhecida legitimidade para instaurar a açã o de
invalidade, em todas as situaçõ es já mencionadas, até à dissoluçã o do
casamento (art. 1643/2);

17
Beatriz Costa
w E, em todos os outros casos em que o casamento tenha sido celebrado com
impedimentos dirimentes, o prazo competido à s pessoas referidas decorre até
6 meses apó s a dissoluçã o do casamento. Que casos são estes?
– A existência de grau de parentesco que obste ao casamento;
– A existência de relaçã o de afinidade em grau que obste ao casamento;
– O casamento anterior nã o dissolvido, cató lico ou civil, ainda que o
respetivo assento nã o tenha sido lavrado no registo do estado civil;

Regime das Invalidades dos casamentos contraídos com falta ou vício da


vontade
Legitimidade
w Em caso de simulaçã o de casamento, poderá a açã o ser intentada pelo cô njuge
cuja vontade nã o existiu, bem como por outras pessoas prejudicadas com este
casamento.
w Nos outros casos, poderá o cô njuge instaurar a açã o, sendo possível
prosseguirem nela os seus parentes ou afins na linha reta, herdeiros ou
adotantes, em caso de falecimento do cô njuge durante a causa – art.º 1640/2
do CCiv. Os colaterais sã o assim afastados deste â mbito, que se revela muito
restrito. A questã o de acompanhamento nã o se coloca, pois estamos perante
cô njuges nã o carentes de acompanhamento legal.
w Para os casos de vício da vontade de casar, apenas o cô njuge que tenha sido
alvo da atitude enganadora do seu nubente, pode intentar a açã o. Já podem
prosseguir nela, se falecer o autor da sua pendência, os parentes e afins na
linha reta, herdeiros ou adotantes (art. 1641).
Nã o faria sentido, também neste caso, conceber pessoas lesadas com o
casamento que nã o o pró prio cô njuge alvo de erro. Terceiros podem de novo,
prosseguir na açã o.

Prazo:
O art.º 1644 admite um prazo de 3 anos subsequentes ao casamento para a
propositura da açã o fundada em falta de vontade de um dos nubentes.
No caso de erro vício a açã o caduca, se nã o for instaurada no prazo de 6 meses
subsequentes à cessaçã o do vício (art.º 1645).

18
Beatriz Costa
Casamento Putativo

O casamento putativo corresponde a uma situaçã o factual criada a partir de um


casamento que aparenta ser validamente celebrado, mas nã o o é, e na qual vã o ser
imputados os efeitos produzidos na convicçã o da sua validade.
Para que esta situaçã o ocorra é necessá rio:
i. A celebraçã o de um casamento com existência jurídica;
ii. Sentença a anular esse casamento;
iii. Existência de boa-fé por parte dos cô njuges, ou pelo menos de um deles
no momento da celebraçã o do casamento;

A casamento putativo nã o é um casamento, é uma realidade nula ou anulada, que


produz efeitos jurídicos pró prios, mas nã o se aproxima do casamento nem repristina o
seu sentido na ordem jurídica.
A lei determina que, apesar da invalidade (nulidade no casamento cató lico e
anulabilidade no casamento civil) o casamento nulo ou anulado vai produzir efeitos
mitigados.

O art.º 1648 define, neste regime particular, o que se considera ser a boa-fé do
cô njuge: ignorâ ncia desculpá vel do vício causador da nulidade ou anulabilidade;
declaraçã o de vontade tenha resultado de coaçã o física ou moral.
Assim, há boa-fé sempre que o cô njuge ignore o vício de que o casamento
padece, mas igualmente, há boa-fé matrimonial sempre que o nubente nã o tenha
tido consciência do ato invá lido que praticou.
Ex: O demente e o maior acompanhado agem segundo o entendimento legislativo de boa-fé, mas
também o faz o nubente que casou sob coação.

Assim, mantém-se a produção de efeitos:


v Relativos à descendência:
w Os descendentes e os adotados beneficiam sempre do seu estatuto. As
responsabilidades parentais nã o cessam;
Ex: Os filhos que o casal tiver serão havidos como nascidos dentro do casamento.
v Relativos aos pró prios cô njuges:

19
Beatriz Costa
w O cô njuge de boa-fé conserva o seu direito a receber alimentos do cô njuge
putativo, se esse for o caso;
w Pode beneficiar de efeitos sucessó rios que lhe tenham advindo antes do
trâ nsito em julgado da sentença de invalidade do casamento;
Ex: Se um cônjuge falece e o casamento é depois anulado, o cônjuge sobrevivo continua
herdeiro do outro.
v Relativos à proteção de terceiros que tenham negociado com os cô njuges:
w Os negó cios celebrados com terceiros beneficiam de uma proteçã o reflexa;

Convenções Antenupciais

A liberdade dos esposos em fixar os efeitos patrimoniais do seu casamento


concretiza-se na convençã o antenupcial, que é o acordo quanto à forma como a sua
relaçã o patrimonial se vai processar.

Artigo 1698.º
(Liberdade de convenção)

Os esposos podem fixar livremente, em convenção antenupcial, o regime de bens do casamento, quer
escolhendo um dos regimes previstos neste código, quer estipulando o que a esse respeito lhes
aprouver, dentro dos limites da lei.

Quem vai casar tem entã o as seguintes opçõ es:


a) Nã o faz nada e fica sujeito ao regime supletivo legal: comunhã o de adquiridos;
b) Antes de celebrar o casamento, estabelece em escritura pú blica o regime de
bens, que pode ser um dos estabelecidos por lei, mas com as alteraçõ es que
lhes aprouver, ainda que sempre sujeitos ao limite legal.

As convençõ es antenupciais sã o negó cios bilaterais, ou contratos, que


antecedem o casamento, e cujos sujeitos sã o os nubentes e terceiros que possam
intervir nela.
Remete-se para o art.º 1711/2 do CCiv, que nos diz que nã o sã o considerados
terceiros os demais outorgantes e os herdeiros dos cô njuges.

Capacidade dos Nubentes e Formalidades


A convençã o antenupcial exige a capacidade dos nubentes, capacidade esta que
comporta os mesmos requisitos que a que é exigida para o casamento – art.º
1708/1 do CCiv.
Estas serã o vá lidas desde que celebradas por declaraçã o prestada perante
funcioná rio do registo civil, ou, por escritura pú blica.
O registo é efetivamente uma condiçã o da produçã o de efeitos deste contrato
em relaçã o a terceiros – art.º 1711 do CCiv.

20
Beatriz Costa
Pressupostos Básicos do Regime
v Princípio da Imutabilidade – Art.º 1714/1 e art.º 1715 do CCiv;
v Princípio da Liberdade – Art.º 1698 e art.º 1699 do CCiv;

I. Princípio da Imutabilidade
As convençõ es antenupciais regem-se por este princípio, que postula a
impossibilidade de alterar o conteú do do contrato, exceto se a lei determinar o
contrá rio.
Nã o obstante é possível estipularem-se convençõ es sob condiçã o ou termo – artigo
nº 1713/1 do CCiv.

O professor CUNHA GONÇALVES manifestou-se contra a imutabilidade das


convençõ es antenupciais em nome da imprevisã o e da inexperiência de vida ao tempo
do casamento.

A doutrina diverge no que toca à interpretaçã o deste princípio, sendo que a MMSP
segue um entendimento mais restrito: quaisquer negó cios jurídicos sobre bens concretos
e para os quais nã o exista uma norma especial estariam fora do â mbito deste princípio,
podendo ser celebrados com base na autonomia privada e de acordo com as regras
gerais

As convençõ es antenupciais sã o imutá veis a nã o ser que um dos conjugues faça uma
má gestã o de patrimó nio, aí a lei permite-lhe que intente uma açã o judicial de bens
(açã o litigiosa entre conjugues).

II. Princípio da Liberdade


As partes têm a competência para estipular, livremente, o conteú do do regime de
bens, sendo que o regime legal supletivo só pode ser afastado, ou alterado, através
deste negó cio entre os nubentes.

Que regimes podem ser convencionados antenupcialmente?


v Todos menos as situaçõ es a que a lei atribui um regime legal imperativo;
w Sã o celebrá veis apenas em separaçã o de bens os casamentos que nã o
tenham sido precedidos por um processo preliminar – art.º 1720/a);
w Tem que ser celebrados em separaçã o de bens os casamentos nos quais,
pelo menos, um dos nubentes tenha atingido os 60 anos de idade – art.º
1720/b);

A lei acolhe ainda outra imposiçã o legal limitativa da liberdade no que toca à
estipulaçã o do regime de bens do casamento:
v Casos em que um dos nubentes tenha descendente anterior ao casamento, o
que implica que nã o se possa escolher o regime de comunhã o geral de bens, e a

21
Beatriz Costa
impossibilidade de comunicar, ao respetivo nubente, aos bens pró prios do art.º
1722/1 do CCiv.

Havendo 3 regimes de bens tipificados nada impede aos nubentes uma outra
opçã o, que recolha elementos de vá rias soluçõ es ditadas por qualquer destes
regimes. Optarã o assim por um regime de bens atípico.
Ex: Podem os nubentes estipular que no geral o regime de bens do seu casamento será́ o de comunhão de
adquiridos, se bem que, contrariamente, ao que vigora para esse regime o salário auferido pelos cônjuges
seja um bem próprio.

Estipulação de regimes de bens sob condição ou termo

A lei admite que o regime de bens convencionado mude em razã o da verificaçã o de


uma condiçã o ou um termo, desde que estes hajam sido estipulados em convençã o
antenupcial – art.º 1713/1 do CCiv.

Pode a convençã o antenupcial afirmar: “nos primeiros 3 anos de casamento vigorará


o regime da comunhão de bens de adquiridos. Nos 2 anos seguintes o regime de
separação de bens. E daí em diante, um regime atípico, semelhante à comunhão de bens
de adquiridos, ressalvada a possibilidade de os bens sub-rogados no lugar de bens
próprios serem comuns”.
A clá usula de modificaçã o do regime de bens configura eventos certos, trata-se de
aposiçã o de termos, portanto.

Mas pode introduzir-se uma possibilidade de um evento aleató rio para que mude o
regime de bens, trata-se assim de uma condição.
Exemplo: “mudaremos o regime de bens para comunhão geral, caso nasça um filho
nosso”.

Caso o preenchimento da condição ou a ocorrência do termo se verifiquem, nã o


produzirã o efeitos retroativos em relação a terceiros - art. 1713/2.

Cláusulas Patrimoniais

É possível que o conteú do da convençã o antenupcial nã o se circunscreva ao


regime de bens, podendo inclusive, nada dizer em relaçã o à matéria.
As doaçõ es para casamento, constituem uma clá usula que só podem ser feitas
na convençã o antenupcial. Isto quando as doaçõ es sã o inter vivos, e para o
casamento.

Em sentido técnico-jurídico consideram-se doaçõ es para casamentos as que


visem beneficiar nubentes e que sã o celebradas no â mbito de uma convençã o
antenupcial. Estas sã o feitas a um, ou ambos os esposados em vista do seu
casamento – art.º 1723/1 do CCiv.

22
Beatriz Costa
Estas podem ser feitas pelos futuros cô njuges um ao outro, ou por terceiros a
qualquer um destes, ou a ambos.

Doações por morte e deixas testamentárias

A proibição de regulamentar a sucessã o hereditá ria dos cô njuges tem limitações.


Mas podem celebrar-se, na convenção antenupcial, pactos sucessó rios, seja nomeando
os nubentes terceiras pessoas como suas herdeiras, ou legitimá rias, seja vindo terceiras
pessoas à convençã o antenupcial nomear um dos nubentes, ou ambos, os seu(s)
herdeiro(s) ou legatá rio(s).

A lei referencia as doaçõ es mortis causa como deixas testamentarias a título de


herança ou de legado. Mas elas dependem de aceitaçã o (art. 1701/1). Sã o assim,
verdadeiros contratos e nã o podem revogar-se, a menos que se verifiquem requisitos
legais.
A permissã o legal destas doaçõ es justifica-se como forma de contribuir para a
estabilidade do casamento, senã o mesmo, para o encorajar.

É também admitida a inserçã o de clá usulas de reversã o ou fideicomissá rias em


todas as liberdades que constem da convençã o antenupcial, de acordo com o art.
1700/2.
Há que distinguir dois casos:
i. A clá usula de reversã o em benefício do doador representa uma condição
resolutiva. Assim, caso o donatá rio faleça antes do doador, os bens revertem
ao patrimó nio do doador ou dos seus descendentes, nos termos do art. 960 e
961;
ii. Nos casos de fideicomissá rio4 (arts.2286o, 2288o e 2293o), por morte do
fideicomissá rio, os bens revertem ao fiduciá rio ou aos seus descendentes (se
este tiver morrido previamente). Por outro lado, caso o fideicomissá rio nã o
possa aceitar ou repudiar a herança, esta será adquirida definitivamente pelos
herdeiros do fiduciá rio (art.º 2293/2).

Pactos renunciativos ao estatuto de herdeiro legitimário do cônjuge


(Lei nº 48/2018 de 14 de Agosto)

A lei nº 48/2018 reconheceu a possibilidade de renú ncia recíproca à condiçã o de


herdeiro legitimá rio na convençã o antenupcial.
O art.º 1700/3 do CCiv reconhece a possibilidade desta renú ncia recíproca nos
casos em que o regime de bens, convencional ou imperativo, seja o da separaçã o.
Assim, os cô njuges decidem abdicar do direito que a lei lhes confere a serem
herdeiros legitimá rios um do outro.

23
Beatriz Costa
Pressupostos:
i) Renuncia recíproca – nã o pode apenas um dos nubentes efetuar a
renuncia, ainda que essa seja a vontade de ambos;
ii) Que o regime seja o da separaçã o de bens;

Efeitos patrimoniais do casamento regulado em convenção antenupcial

A lei impede que certas matérias possam ser reguladas por convençã o antenupcial:
i. A regulamentaçã o hereditá ria dos cô njuges, a nã o ser nos casos em que
a lei o permite;
ii. Alteraçã o das regras de administraçã o dos bens do casal;
iii. A estipulaçã o de comunicabilidade dos bens constantes do art.º 1733 do
CCiv;

Invalidade e caducidade das convenções antenupciais

A convençã o antenupcial é um negó cio jurídico bilateral e, por isso, pode enfermar
de vício e, em razã o desse facto, ser invalida.
Também pode suceder que uma convenção antenupcial contenha clá usulas invá lidas
e outras que sã o vá lidas. De acordo com o princípio do aproveitamento dos negó cios,
entender-se-á que as clá usulas vá lidas sã o aplicá veis, independentemente de terem sido
estipuladas numa convenção antenupcial lado a lado com clá usulas invalidas.
Uma convenção antenupcial declarada nula ou anulá vel, nã o invalida o casamento,
dada a sua autonomia face a este. Apenas ela será invá lida, e o casamento será vá lido.
Exemplo: Caso a cláusula impusesse o regime de separação de vens, o casamento, válido, reger-se-ia pelo
regime legal supletivo de comunhão de bens adquiridos.

Qualquer convenção antenupcial poderá ser alterada até à celebraçã o do casamento.


É com a celebraçã o deste que se determina a vontade dos nubentes quanto ao casamento
e, por maioria de razã o, as caraterísticas do seu estatuto patrimonial, na medida em que
nã o estejam condicionados por normas imperativas.

A convenção antenupcial caduca em certas circunstâ ncias – art.1716o.


Caduca se o casamento nã o for celebrado dentro de um ano, ou se, tendo-o sido, vier
a ser declarado nulo ou anulado, salvo o disposto em matéria de casamento putativo.
Compreende-se a ressalva que respeita ao casamento putativo: o cô njuge que tenha

24
Beatriz Costa
adquirido bens, em convenção antenupcial, e estivesse de boa fé́, nã o verá invocada
invalidade dessa titularidade na sua esfera jurídica.

O casamento é um negócio aprazável, ou seja, não se lhe pode colocar um prazo.


Uma convenção só pode conter regras que não contendam com a duração do
casamento.
As cláusulas irrisórias têm-se por não escritas, e estes não invalidam a convenção
porque não produzem efeitos jurídicos.

25
Beatriz Costa
Regime de Bens

O regime de bens consiste na determinaçã o da titularidade do patrimó nio dos


cô njuges – a qual pertence dado imó vel, a qual pertence certa conta bancá ria...

Princípios do regime matrimonial de bens


1. Liberdade de Estipulaçã o – o regime de bens pode ser fixado pelos nubentes
em convençã o antenupcial, antes da celebraçã o do casamento e nã o pode ser
alterado, exceto nos casos em que ocorre uma separaçã o judicial de bens;
2. Regime de Bens Supletivo – se os nubentes nã o tiverem fixado o regime de
bens, ou se este tiver sido feito de forma deficiente ou irregular, considera-se
celebrado o casamento no regime da comunhã o de adquiridos que é o regime
legal, ou supletivo, na falta da manifestaçã o da vontade das partes – art.º
1717;
3. Restriçõ es condicionantes do regime de bens – nos casos estabelecidos pelo
art.º 1699/2 e art.º 1720/1 do CCiv, estã o fixadas restriçõ es ao princípio da
liberdade de estipulaçã o, impondo-se, antes, um regime imperativo:
i) Se o casamento for celebrado por quem tenha filhos, ainda que maiores
ou emancipados, nã o poderá estipular o regime de comunhã o geral de
bens;
ii) Consideram-se sempre contraídos pelo regime de separaçã o de bens o
casamento celebrado sem processo preliminar, ou o casamento
celebrado por quem tenha completado 60 anos de idade;

Regime da Comunhão de Adquiridos


(art. º 1721 – art. º 1731 do CCiv)

A lei diz que o regime legal supletivo é o da comunhã o de adquiridos, no qual se


insere uma mistura de bens pró prios e de bens comuns – art.º 1717 do CCiv.
Esta aplica-se no caso de nã o ter havido uma estipulaçã o quanto aos efeitos
patrimoniais do casamento em convençã o antenupcial, ou quando esta caduca, é
anulada ou invalidada.

26
Beatriz Costa
O princípio deste regime é de que devem ser pró prios os bens de que cada cô njuge
for titular antes do casamento, ou os receba por doaçã o ou a título de herança – art.º
1722 do CCiv.
Consideram-se os bens comuns os que os cô njuges angariam no decurso da sua
comunhã o de vida matrimonial – art.º 1724 do CCiv.

NOTA: Os frutos dos bens comuns e dos bens pró prios sã o considerados bens
comuns do casal.

Regime da Comunhão Geral


(art. º 1732 – art. º 1734 do CCiv)

A principal caraterística deste regime é o facto de todos os bens, presentes e futuros,


serem considerados, em princípio, bens comuns.
Os bens só nã o sã o considerados comuns se os nubentes estipularem uma clá usula
nesse sentido na sua convençã o antenupcial, ou quando a lei estipula a sua
incomunicabilidade.
Os bens incomunicá veis 12– art.º 1733 – decorrem da vontade de terceiros que os
deixou a um dos cô njuges, ou da natureza estritamente pessoal dos bens. Nã o obstante
os seus frutos continuam a constituir bens comuns do casal.

Artigo 1733.º
(Bens incomunicáveis)

1. São excetuados da comunhão:


a) Os bens doados ou deixados, ainda que por conta da legítima, com a cláusula de incomunicabilidade;
b) Os bens doados ou deixados com a cláusula de reversão ou fideicomissária, a não ser que a cláusula
tenha caducado;
c) O usufruto, o uso ou habitação, e demais direitos estritamente pessoais;
d) As indemnizações devidas por factos verificados contra a pessoa de cada um dos cônjuges ou contra
os seus bens próprios;
e) Os seguros vencidos em favor da pessoa de cada um dos cônjuges ou para cobertura de riscos
sofridos por bens próprios;
f) Os vestidos, roupas e outros objetos de uso pessoal e exclusivo de cada um dos cônjuges, bem como
os seus diplomas e a sua correspondência;
g) As recordações de família de diminuto valor económico.
h) Os animais de companhia que cada um dos cônjuges tiver ao tempo da celebração do casamento.
2. A incomunicabilidade dos bens não abrange os respetivos frutos nem o valor das benfeitorias úteis

No caso de o regime da comunhã o de bens nã o explicitar regras em relaçã o à sua


aplicaçã o na constâ ncia do casamento, aplica-se as regras do regime legal supletivo,
com as alteraçõ es adequadas.

12
Este artigo estende-se a todos os regimes de bens na constâ ncia do casamento
27
Beatriz Costa
Regime de Separação de Bens
(art. º 1735 – art. º 1736 do CCiv)

No â mbito deste regime


Separação Convencional
cada membro do casal
mantém a titularidade dos
seus bens. Nã o há uma
Separação Imperativa verdadeira comunhã o e os
poderes de disposiçã o sã o
totais.
Separação Judicial de Bens Existem algumas regras
que desvirtuam a total
separaçã o patrimonial entre os cô njuges, sendo a mais importante a que se prende
com a casa de morada de família.
Nã o é possível exercer direitos sobre a casa de morada de família, mesmo que
esta seja o bem pró prio de um dos cô njuges, sem a autorizaçã o do outro.

Este regime vigora em três situaçõ es distintas:

A separaçã o de bens como


regime imperativo ocorre nos
casos em que o casamento é
celebrado sem processo
preliminar, ou quando um dos
cô njuges já tinha 70 anos no
momento do casamento – art.º
1720

Administração de Bens no Casamento

A regra geral do regime de administraçã o de bens é a de que cada cô njuge


administraria os seus bens pró prios, cabendo aos restantes bens, se fosse esse o
caso, a ambos numa direçã o conjunta, sem prejuízo de cada um deles poder
exercer atos de administraçã o ordiná ria – art.º 1678/3 do CCiv.

O regime comporta, todavia, exceções uma vez que se entende que certos bem
pró prios, e alguns bens comuns justificam alteraçõ es na sua administraçã o.
Ø Bens pró prios administrados pelo cô njuge que nã o é seu titular;
– Bens mó veis usados como instrumento de trabalho pelo outro cô njuge.
Ex: Tá xi

28
Beatriz Costa
– Bens mó veis ou imó veis que o cô njuge titular nã o pode administrar
por ausência ou impossibilidade;
– Bens cuja administraçã o tenha sido atribuída por mandato ao outro;

Ø Bens comuns de administraçã o exclusiva de apenas um dos cô njuges


– Proventos do trabalho que no regime da comunhã o sã o considerados
bens comuns;
– Direitos de autor;
– Bens levados para o casal por um dos cô njuges;
– Bens adquiridos a título gratuito, depois do casamento, por um dos
cô njuges;
– Bens doados ou deixados a ambos, com a clá usula de administraçã o
para um;
– Bens mó veis exclusivamente usados por um dos cô njuges como seu
instrumento de trabalho;
– Impedimento ou ausência de um dos cô njuges ou mandato conferido
para administrar;
– Depó sitos bancá rios;

O art.º 1681 do CCiv estabelece que o cô njuge administrador de bens comuns ou


pró prios do outro cô njuge, ao abrigo das alienas a) a f) do artigo supra, nã o é
obrigado a prestar contas da sua administraçã o.
No entanto isto nã o o exime de responder por atos intencionalmente praticados
em prejuízo do casal ou do cô njuge.
No entanto se a administraçã o de um bem for feita por mandato expresso, entã o
aplica-se o regime do mesmo, regime este que postula a responsabilizaçã o do
mandatá rio.

Alienação ou Oneração de Bens

I. Bens mó veis comuns


A sua alienaçã o ou oneraçã o carece de consentimento de ambos os cô njuges se a
administraçã o pertencer a ambos. Mas se se tratar de um ato de administraçã o ordiná ria
já qualquer um dos cô njuges pode praticar o correspondente ato de disposiçã o – art.º
1678/3 + art.º 1682/1 do CCiv.

II. Bens mó veis pró prios


Podem ser onerados ou alienados pelo cô njuge titular dos bens, ou da sua
administraçã o, mas já carece do consentimento de ambos a disposiçã o de bens
utilizados pelos dois na vida do lar ou como instrumento comum de trabalho.

III. Bens Imó veis


29
Beatriz Costa
A sua disposiçã o varia quanto ao regime de bens em que se celebrou o casamento:
– Nos regimes de comunhã o de adquiridos e na comunhã o geral, todos os
atos de alienaçã o, oneraçã o, arrendamento ou constituiçã o de outros
direitos pessoais de gozo (pró prios ou comuns) carecem do consentimento
de ambos os cô njuges e o mesmo sucede quanto ao estabelecimento
comercial equiparado a bem imó vel.
– No regime de separaçã o geral de bens só carece do consentimento de
ambos os cô njuges a alienaçã o, a oneraçã o, ou arrendamento da casa de
morada da família, mesmo que esta seja um bem pró prio de um dos
cô njuges.

NOTA: Os atos praticados sem o consentimento de um ou ambos os cô njuges,


quando exigido, sã o anulá veis a requerimento do cô njuge que nã o deu
consentimento ou dos seus respetivos herdeiros, nos seis meses subsequentes,
mas nunca apó s três anos sobre a sua celebraçã o – art.º 1687/1 e nº 2 do CCiv.
Esta anulabilidade nã o pode ser oposta ao cô njuge que tenha celebrado o
casamento de boa-fé.

Responsabilidade por Dívidas

Um dos aspetos mais importantes, ligado à s relaçõ es patrimoniais, prende-se


com o regime legal das dívidas dos cô njuges.

Artigo 1690.º
(Legitimidade para contrair dívidas)

1 - Qualquer dos cônjuges tem legitimidade para contrair dívidas sem o consentimento do outro.
2 - Para a determinação da responsabilidade dos cônjuges, as dívidas por eles contraídas têm a data do
facto que lhes deu origem.

Cada um dos cô njuges pode contrair dividas, livremente, sem o consentimento do


outro = Princípio Geral

As dividas conjugais classificam-se em:


i. Dividas comunicá veis: sã o as que responsabilizam ambos os cô njuges;
ii. Dividas incomunicá veis: sã o as que responsabilizam apenas um dos
cô njuges;

Dividas Comunicáveis
Esta classificaçã o sofre uma extensã o do regime da comunhã o de adquiridos e
engloba as dividas que os cô njuges hajam contraído antes ou depois da celebraçã o do
casamento.
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Beatriz Costa
Estã o presentes as dívidas destinadas a ocorrer aos encargos familiares (ex: dívida
para fazer uma obra na casa de morada...), assim como as que aproveitam ao casal, nos
limites dos seus poderes de administraçã o.
O proveito comum nã o se presume, exceto nos casos em que a lei o declare, senã o
deverá ser o cô njuge que contraiu a divida a prová -lo.
Dívidas que onerem doaçõ es, heranças ou legados, desde que os respetivos bens
ingressem no patrimó nio comum.

Nestas dividas respondem primeiro os bens comuns e, na sua falta ou insuficiência,


solidariamente, os bens pró prios de qualquer um deles. Apenas no regime da separaçã o
de bens esta responsabilidade nã o é solidá ria.

Dividas Incomunicáveis
Contraídas por um dos cô njuges sem o consentimento do outro;
As dividas provenientes de crimes, de indeminizaçõ es, de restituiçõ es, de custas
judiciais ou de multas por factos imputá veis a cada um dos cô njuges. E constam
também as dívidas que onerem liberdades em proveito de apenas um dos cô njuges.

No caso das dividas incomunicá veis respondem os bens do cô njuge devedor, e,


subsidiariamente a sua meaçã o nos bens comuns. Para além dos bens pró prios do
devedor, respondem certos bens comuns – art.º 1696/2 do CCiv.

No regime da separaçã o de bens, sempre que um dos cô njuges responda pela


divida da responsabilidade de ambos apenas com os seus bens, o crédito é exigível
a todo o tempo.

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Beatriz Costa
Divórcio

O divó rcio é a dissoluçã o voluntá ria do casamento em vida dos cô njuges.

Existem duas grandes modalidades de divó rcio:


I. Divó rcio por mú tuo consentimento;
i. A declaraçã o dos cô njuges em por termo ao casamento é
consensual;
II. Divó rcio litigioso
ii. Decorre quando existe um dos fundamentos do art.º 1781 do
CCiv, ou quando, e como menciona o mesmo, existe uma rutura
definitiva do casamento;

Por mútuo consentimento


(art.º 1775 e segs)

O divó rcio pode ser instaurado a todo o tempo na conservató ria de registo civil
mediante requerimento assinado pelos cô njuges e alguns documentos:
– Tem que, do ponto de vista legislativo, haver um acordo prévio sobre o
exercício das responsabilidades parentais, a pensã o de alimentos e sobre o
destino da casa de morada de família, assim como sobre os animais de
companhia.
Se estes acordos nã o existirem, em rigor, o divó rcio nã o deixa de ser por mú tuo
consentimento, mas a açã o é remetida para o tribunal, porque há matérias de
interesse pú blico que transcendem a vontade dos cô njuges em divorciarem-se, e
deve ser o juiz a aferir a matéria de forma a que ninguém fique prejudicado.
Estes requerimentos documentais sã o cumulativos.

Ainda que os cô njuges estejam de acordo em relaçã o ao exercício das


responsabilidades parentais, este tem que ser aferido superiormente pelo
ministério pú blico (art.º 1776 – A do CCiv).

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Beatriz Costa
O ministério pú blico pode considerar que o acordo nã o protege os interesses das
crianças e devolve o acordo aos progenitores para o alterarem, necessitando de ser
revisto pelo MP. Os filhos maiores nã o deixam de ser titulares a um direito a
alimentos, mas estes têm uma tramitaçã o autó noma em relaçã o aos filhos
menores.

Se os requerentes nã o estã o de acordo com as alteraçõ es indicadas pelo MP o


regime aplicá vel é o do artigo 1778º do Código Civil, remetendo todo o processo de
divó rcio para o tribunal da comarca a que pertença.

Os litígios não implicam que o divórcio deixe de ser por mútuo acordo
Divórcio Litigioso
(art.º 1779 e segs do CCiv)

A culpa do cô njuge contra o qual é intentada a açã o de divó rcio, nã o precisa de ser
provada, apenas é preciso que se demonstre ao juiz que a sociedade conjugal
terminou.

Art.º 1781 – “Rutura do Casamento”


Fundamentos da rutura do casamento elencados pela lei:
a) A separaçã o de facto por um ano, consecutivo.
b) Caso-me com uma pessoa que estava no pleno uso das capacidades mentais,
mas que as perde.
c) Ausência dos cô njuges por um período de tempo igual, ou superior, a um
ano, sem notícias do mesmo.
d) Factos sociais que possam ter levado à rutura do casamento, independentes
da culpa de um dos cô njuges (ex: apaixonei-me por uma terceira pessoa; já
nã o há relaçã o afetiva entre os cô njuges; segui uma vida religiosa que me
impede de ter uma relaçã o matrimonial;

Art.º 1790 – “Partilha”


A partilha dos bens nã o pode atribuir a um dos cô njuges mais do que ele teria se
estivesse casado em regime de comunhã o de bens.
O professor GUILHERME DE OLIVEIRA defendia isto como uma forma de evitar
que o divó rcio fosse uma fonte de enriquecimento.

Art.º 1791 – “Benefícios que os cô njuges tenham recebido ou hajam de receber”


As doaçõ es aos cô njuges caducam em caso de divó rcio. Antes a lei dizia que em
caso de divó rcio litigioso isto consagrava uma sançã o para o cô njuge que era
considerado culpado, mas atualmente, em qualquer situaçã o os conjugue as
doaçõ es caducam para ambos.

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Beatriz Costa
ANTUNES VARELA dizia que nã o eram todas as doaçõ es, sendo que as doaçõ es
liberais (ex: malas, anéis, roupa...) nã o entravam neste preceito.

Art.º 1676 – “Dever de contribuir para os encargos familiares”


Nº 2 – O cô njuge que se sacrificou à vida patrimonial em relaçã o à sua vida
profissional deve receber uma compensaçã o.

União de Facto

A uniã o de facto representa a situaçã o jurídica em que duas pessoas,


independentemente do seu sexo, vivam em condiçõ es aná logas à s dos cô njuges.
Esta constitui assim uma fonte de relaçõ es jurídicas parafamiliar.
A lei determina que, para que esta uniã o seja juridicamente relevante, ou seja,
para que produza os efeitos jurídicos inerentes a este regime, deva existir durante
pelo menos 2 anos.

O legislador fixa também para este regime situaçõ es impeditivas dos efeitos
jurídicos que lhe é atribuído, e que constam do art.º 2 da Lei nº 7/2001:
a) Idade inferior a 18 anos;
b) Demência notó ria;
c) Casamento nã o dissolvido, salvo se tiver sido decretada a separaçã o jurídica
de pessoas e bens;
d) Parentesco na linha reta ou no segundo grau da linha colateral. Primeiro
grau de afinidade.
e) Condenaçã o anterior como autor ou cú mplice de homicídio doloso, mesmo
que nã o tenha sido contra o cô njuge do outro;

Para a REGENTE este regime deveria ter um sistema comprovativo mais eficaz e
exigente.
A uniã o de facto comprova-se de uma forma muito vaga, ou seja, desde que eu
me dirija à junta de freguesia e apresente alguns recibos de que estou a viver em
conjunto com outra pessoa, ou que apresente testemunhas que comprovem a
uniã o de facto, esta verifica-se juridicamente.

Interrupção de coabitação na União de Facto

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Beatriz Costa
A e B dois jovens estudantes vivem com um compromisso típico da vida conjugal,
mas a certa altura um deles resolve ir fazer um Erasmus e, de facto, temos que
reconhecer que por isto estas duas pessoas, durante um tempo, deixaram de viver em
regime de coabitação stricto sensu.

O problema está em saber se esta circunstâ ncia de terem deixado, durante um


tempo de coabitar determina a interrupçã o da uniã o de facto?
a. Lei (art.º 1673): na constâ ncia do casamento, se houver motivos ponderosos
em contrá rios, os cô njuges nã o coabitam, esporadicamente.
Ex: Um dos cô njuges tem que cuidar de um familiar que tem uma doença grave.
b. DUARTE PINHEIRO afirma que se os membros da uniã o de facto deixarem de
coabitar, sem que haja da parte de um deles o desejo, ou o propó sito, de por fim
à comunhã o de coabitaçã o, o prazo suspende-se. Logo que as partes retomarem
a vida em comum volta a correr o prazo exigido.
Ex: Motivos profissionais ou familiares – cô njuge vive fora da casa de família.
c. Opiniã o da REGENTE: Se estes sã o os perfis de cumprimento dos deveres de
coabitaçã o dentro do casamento nã o há fundamento legal nenhum para que
nã o os apliquemos quando se verifica uma interrupçã o do perfil da vida em
uniã o de facto.

A uniã o de facto dissolve-se:


1. Pela morte de um dos membros;
2. Pela vontade de qualquer um deles, sendo a respetiva dissoluçã o informal,
ainda que tenha que ser declarada judicialmente;
3. Com o casamento de um dos membros;

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Beatriz Costa

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