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FLAVIANE DE SOUZA OLIVEIRA

EFEITOS PATRIMONIAIS DA UNIÃO ESTÁVEL

Monografia apresentada ao curso de Bacharelado


em Direito, Centro Universitário Autônomo do
Brasil- UniBrasil.

Orientadora: Prof. Ma. Maria Cecília Affornalli

CURITIBA
2018
FLAVIANE DE SOUZA OLIVEIRA

EFEITOS PATRIMONIAIS DA UNIÃO ESTÁVEL

Monografia aprovada como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel no


Curso de Graduação em Direito, Escola de Direito, Centro Universitário Autônomo do
Brasil- Unibrasil, pela seguinte banca examinadora:

Orientadora: Prof. Ma. Maria Cecília Affornalli Docente do Curso de Direito -


UNIBRASIL

BANCA EXAMINADORA:

Nome do Professor

__________________________________

Nome do Professor

__________________________________

Nome do Professor
__________________________________

Curitiba, ____de______________de 2018

ii
Dedico este trabalho a minha irmã pelo
exemplo, incentivo, amor e carinho.
Aos meus filhos pela paciência, apoio e
atenção nos momentos alegres e tristes.

iii
AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente à Deus que me deu energia e benefícios para concluir esse
trabalho, por ter me proporcionado o dom de vida e ter me permitido chegar até aqui.
Aos meus filhos por toda a dedicação e paciência.
Aos meus pais, que mesmo longe, me apoiaram e indiretamente contribuíram para que
esse trabalho se realizasse.
Agradeço aos meus tios Maria e Sebastião, que sempre acreditaram no meu potencial.
A minha querida amiga Beatriz Fortunata do Carmo Dias Souza Patitucci por ter me
acalentado nas horas mais difícil da minha graduação.
Enfim, agradeço a todas as pessoas que fizeram parte dessa etapa decisiva em minha
vida.

iv
O casamento não é a união de duas pessoas
perfeitas, que nasceram uma para a outra,
mas a união de duas pessoas que se
compreendem que se aceitam, e que apenas
por amor desejam ser sempre melhores uma
para a outra.

(Augusto Branco)

v
RESUMO

O presente trabalho tem por objetivo analisar as entidades familiares do casamento e


da união estável, demonstrando as peculiaridades e as similitudes dentre os principais
efeitos jurídicos patrimoniais de uma e de outra entre casais homoafetivos ou
heteroafetivos não impedidos de constituir matrimônio, após a morte de um ou outro
companheiro, ou, ainda, com o fim do relacionamento afetivo, fazendo uma análise a
partir das Leis 8.971/1994, 9.278/1996 e do atual Código Civil de 2002, bem como do
estado atual da doutrina e da jurisprudência de abalizada metodologia civil-
constitucional. Destaca-se o estudo dos efeitos patrimoniais advindos desta relação
jurídica constituída pela situação de fato, apresentando o paralelo entre esta estrutura
familiar e aquela constituída pelo matrimônio quanto ao direito sucessório, buscando
compreender as recentes razões da decisão proferida no julgamento dos Recursos
Extraordinários 646721 e 878694, ambos com repercussão geral reconhecida,
referentes à inconstitucionalidade do artigo 1.790 do Código Civil, bem como quanto às
possibilidades de instituição de variados regimes de bens passíveis de serem adotados
pelos companheiros na ocorrência de escrituração contratual da união de fato. Conclui-
se pela necessidade de tratativa jurídica equânime dos efeitos patrimoniais da união
estável frente aqueles reconhecidos ante a família matrimonial.

Palavras-Chave: união estável; efeitos patrimoniais; escritura pública, direito


sucessório.

vi
SUMÁRIO

RESUMO........................................................................................................................ vi
INTRODUÇÃO.... ............................................................................................................ 1
1 DAS TRANSFORMAÇÕES DO CONCEITO JURÍDICO DE FAMÍLIA........................ 4
1.1 A FAMÍLIA MATRIMONIALIZADA COMO MODELO ENGESSADOR... ................... 4
1.2 DA RELAÇÃO DE FATO À RELAÇÃO JURÍDICA: A EVOLUÇÃO HISTÓRICA-
JURÍDICA DA UNIÃO ESTÁVEL.... .............................................................................. 11
1.3 A CONCEPÇÃO DA FAMÍLIA E A UNIÃO ESTÁVEL SOB O DIREITO CIVIL
CONSTITUCIONAL ....................................................................................................... 18
2 UNIÃO ESTÁVEL: CONCEITO, NATUREZA JURÍDICA E REQUISITOS LEGAIS. 25
2.1 DO SUBJETIVISMO: O ÂNIMO DE CONSTITUIR FAMÍLIA................................... 25
2.2 REQUISITOS QUE CARACTERIZAM A UNIÃO ESTÁVEL.................................... 27
2.3 DOS REQUISITOS DA CONVERSÃO DA UNIÃO ESTÁVEL EM CASAMENTO .. 31
3 DOS EFEITOS PATRIMONIAIS NA UNIÃO ESTÁVEL.... ........................................ 37
3.1 DA CELEBRAÇÃO DO CONTRATO DE UNIÃO ESTÁVEL ................................... 37
3.2 A OBRIGAÇÃO DE PRESTAR ALIMENTOS.... ...................................................... 41
3.3 IMPLICAÇÕES DA UNIÃO ESTÁVEL NO DIREITO SUCESSÓRIO: A QUESTÃO
DA INCONSTITUCIONALIDADE DO ARTIGO 1.790 DO CÓDIGO CIVIL ................... 45
CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................................... 55
REFERÊNCIAS ............................................................................................................. 57

vii
1

INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem por objetivo analisar as entidades familiares da união


estável, demonstrando as peculiaridades e as similitudes entre a união estável e o
casamento, dentre os principais efeitos jurídicos patrimoniais de uma e de outra.
A união estável permite aos nubentes ter uma autonomia da vontade para que
os mesmos possam estabelecer suas relações de família, baseados em seus padrões
de moralidade os quais estipulam limites à liberdade em nome de uma ordem pública,
com posterior validação em uma ordem constitucional, justificando a escolha do tema
em tela e sua discussão ao âmbito do Direito de Família e união estável.
No sistema civil constitucional brasileiro, o casamento se efetiva, em regra se
além de affectio maritalis (ou seja, a reciprocidade), o tratamento entre marido e
mulher por meio da compreensão e harmonia e da honor matrimonii (a realização de
forma digna na convivência entre marido e mulher proporcionando a dignidade de
esposa), houver declaração por um juiz de que os nubentes estão efetivamente
casados.
Até 05 de outubro de 1988, o sistema constitucional brasileiro reconhecia
apenas o casamento como única forma de se constituir família, a partir da nova
promulgação da nova Constituição brasileira passou-se a reconhecer outras formas
de família, dentre, em seu artigo 226 parágrafo 3º, a união estável, instituto este que
só foi regulamentado pela Lei 8.971/ 1994 em que seguida pela Lei 9.278/1996 e por
fim a Lei 10.406/2002. Portanto, a regulamentação do instituto da união estável é um
modelo recente no direito brasileiro.
A referida lei de 1994 trouxe, de forma indireta, uma definição para os
companheiros como a união comprovada entre um homem e uma mulher que fosse
solteiro, separados judicialmente, divorciados ou viúvos por mais de cinco anos ou
com a existência de prole. Na lei de 1996, trouxe uma nova definição; conviventes são
o homem e a mulher que estabelecem uma união duradoura, pública e continua com
o objetivo de constituição de família.
2

A lei de 2002, que veio trazer em seu artigo 1.723 CC, que é reconhecida
como entidade familiar a união estável entre um homem e uma mulher, configurada
na convivência pública, a fim de confirmar tal intenção, sem, no entanto desejar
adentrar no matrimônio do casamento civil válido, porque a união estável trata se do
exercício do direito à liberdade de não casar, até porque a Constituição de 1988 traz
vários princípios, dentre eles o da legalidade que menciona que ninguém é obrigado a
fazer ou não fazer algo senão em virtude da lei (art. 5º, II da CF), e no que tange há
de se concordar que não está escrito em lugar algum que se casar é obrigatório, no
que se torna bem coerente, onde a Constituição permite que haja a formação familiar
a partir da união estável.
Por ser muito abrangente o tema da união estável hoje legalizado, com o
aumento do número de casais não casados, que convivem, não pode ser
suficientemente explicado por uma mera circunstância. Porém a relação social de
uma união estável juntamente com seus elementos constitutivos e as suas constantes
motivações gera hoje em dia um problema de reconhecimento que a qual muitos têm
buscado equiparação jurídica.
Muitos casais, embora sem impedimentos de contrair o matrimônio, decidem
por iniciar um relacionamento em união estável, e no decorrer dos anos, vem
constituir um patrimônio, entretanto caso venham a surgir os filhos, nasce à motivação
de formalizar a união pela instituição do matrimônio, seja no religioso como também
no civil.
Os conflitos oriundos desta relação podem acarretar problemas no que diz
respeito às relações pessoais e patrimoniais, principalmente quanto a ausência de um
termo ou contrato que estipule o regime e normas a serem adotadas.
Em detrimento das mudanças introduzidas e aos novos princípios norteadores
das relações familiares, indicados, sobretudo por leis, doutrinas e jurisprudência,
contudo apesar das resistências, existem alguns parâmetros que se apresentam
como irreversível, onde se tem o destaque o atual Código Civil.
3

Esclarecendo-se sobre o conceito de família, importante observar que em


razão das transformações sociais ao longo do tempo, essa instituição sofreu inúmeras
modificações, a qual acarretou uma ampliação do seu significado.
Com as necessidades das famílias atuais em ter uma condição maior de
liberdade e escolhas, consumou-se a liberdade de constituir, manter e extinguir a
entidade familiar e a liberdade de fazer um planejamento de família, sem a imposição
do Estado, pois está disposto na Constituição Federal de 1988, art. 226§ 7° que ao
estabelecer o planejamento familiar será de livre decisão do casal. Fundado nos
princípios da dignidade da pessoa humana e da paternidade serão responsáveis
ambos os genitores, cônjuges, ou companheiros sujeitos ativos nessa definição de
relação familiar e no âmbito doméstico.
Sendo assim no âmbito do Direito de Família, a personalidade jurídica vem
com novas tendências de prestigiar a entidade familiar como elemento social, uma
visão de instituição, núcleo fundamental para a sociedade, que a cada geração vem
dando a sustentação de que o modelo de família tem uma ideia de sujeito de direitos,
com uma autonomia própria em relação a seus membros.
Entretanto o estudo se divide em três capítulos sendo que no primeiro
momento apresenta-se o conceito da família e as transformações no âmbito jurídico,
família matrimonial, evolução histórica e jurídica da união estável e a concepção da
família neste aparato.
O segundo capítulo menciona o conceito da união estável entre natureza
jurídica e requisitos legais da convivência e a conversão em casamento.
O terceiro e último capítulo versa sobre os efeitos patrimoniais da união
estável com relação à celebração do contrato, destinado apenas para o
esclarecimento do regime bens, bem como analisando a natureza jurídica dos
alimentos em detrimento das correntes doutrinarias, e portanto verificando os efeitos
sucessórios em relação as implicações da união estável sob a inconstitucionalidade
do artigo 1.790 do Código Civil tendo como referência os recursos em questão sobre
uma ótica de repercussão geral. (RE 646721 e RE 878694).
4

1 DAS TRANSFORMAÇÕES DO CONCEITO JURÍDICO DE FAMÍLIA

1.1 A FAMÍLIA MATRIMONIALIZADA COMO MODELO ENGESSADOR

Porquanto, no início, a família no Direito Romano, tratava-se de família


natural, que era apenas o agrupamento constituído dos cônjuges e de seus filhos.
Independente do marido e pai ser, ou não, pater familias da mulher e dos seus
descendentes imediatos. Conforme José Carlos Moreira ALVES: “No Direito Romano
para que surgisse o casamento bastava o consenso dos nubentes, sem quaisquer
formalidades.”1
Logo a família era marcada pela figura patriarcal e tudo girava em seu poder,
portanto o pater era absoluto em razão da sua família, tendo a decisão de vida e de
morte, de emancipação e até mesmo de repudio.2
No Direito Romano antigo não existia formas de sentimentos, o pai podia
amar muito sua filha, porém não podia legar os seus bens. Entretanto a presença da
mulher no Direito Romano era indispensável ao homem, pois quando este ficava
viúvo, perdia o papel de sacerdócio. A origem da família no período Romano antigo
não está apenas na geração: o exemplo disso, a irmã na família não se iguala a seu
irmão e o filho emancipado ou filha casada, estes deixam completamente de fazer
parte da família, conforme as leis em Roma.3
Em Roma, a família era organizada sob o princípio da autoridade e de modo
que abrangia a todos que a ela estavam submetidos.4
Afirma Caio Mario da SILVA PEREIRA:

A mulher vivia in loco filiae, totalmente subordinada à autoridade marital, in manumariti, nunca
adquirindo autonomia, pois passava de condição de filha à esposa, sem alteração de sua
capacidade; não tinha direitos próprios, era atingida por capitis de minutio perpétua que se
justificava propter sexusin firmitatem et ignoranti am rerum forensium. Podia ser repudiada
por ato unilateral do marido5

1
ALVES, José Carlos Moreira. Direito Romano. 6. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2003. p.288.
2
Idem.
3
Idem.
4
Idem.
5
PEREIRA, Caio Mario da Silva. Instituições do Direito Civil. 19. ed. Rio de Janeiro:
Forense. 2011. p. 31.
5

Somente o marido adquiria bens, exercendo o seu poder sobre o patrimônio


familiar, como consequência tinha o poder sobre seus filhos e sobre a sua mulher.6
Embora com esses costumes no Direito Romano antigo, o marido mantinha
certa organização de sua família, até mesmo no sentindo religioso onde os membros
da sua família cultuavam os deuses, várias vezes ao dia, em torno de altares
domésticos. De maneira que em época o poder do Império Romano nasceu através
dessa organização e permaneceu como concepção política, filosófica e jurídica.7
Porém ao longo da história, com a influência do Direito Romano ao Direito
Canônico foram surgindo algumas evoluções. Visto que até o Código Civil Francês
absorveu a ideia de que a família atribuía poderes ao marido em um primeiro
momento, mas em um segundo momento é a própria família que estabelece suas
normas. Normas essas que compõem o Direito de Família, que são destinadas a
regular relações entre as pessoas integradas no agrupamento familiar.8
Segundo Luiz Edson FACHIN:

Retomam-se mais tarde, essas fontes, e em torno do Código Civil Frances de 1804 se
compôs o modelo clássico, a família patriarcal e hierarquizada. A influência do Direito
Canônico deixou elemento caracterizador: a matrimonialização. Na verdade, quando a família
clássica atribui poderes ao pai, à primeira vista, está colocando a supremacia do homem na
relação conjugal. Mas, num segundo momento, verifica-se que o interesse maior a ser
tutelado não é do marido, e sim o da família enquanto instituição. Além de patriarcal, é uma
família hierarquizada. No topo da pirâmide não está o pai, mas a instituição.9

A família sofreu transformações, entre o século XVIII e se perdurou até o


século XX. Sendo que o modelo de família matrimonializada em meados desses
séculos XVIII ao século XX. eram aquelas que estavam pautadas no casamento
formal entre o homem e a mulher.10
Na época do Brasil Império, as leis brasileiras seguiam as ordenações de
Portugal que além de frisar a exclusividade do matrimonio como gerador do contexto

6
Idem.
7
Idem.
8
Idem.
9
FACHIN, Luiz Edson. Direito de Família: Elementos Críticos à Luz do Novo Código Civil
Brasileiro. 2.ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2003. p.65.
10
Idem.
6

familiar sempre se colocou contra as relações de concubinato. E assim se igualava à


mancebia, que conforme ensinamentos da igreja Católica, a qual se vê até os dias
atuais, o matrimônio como um dos sacramentos da igreja.11
A lei que regia o matrimônio civil em 1853 e tudo o que lhe dizia respeito, era
atribuído ao Estado. Sendo que a lei existia apenas para o cumprimento de algumas
formalidades entre os cônjuges deixando de lado os ensinamentos religiosos.12
Entretanto a lei que determinava e regia o matrimônio estava em divergência
com a igreja e está com o Estado, pois não poderia ser diferente já que a
preocupação do Estado era política e legislativa enquanto que para a igreja era uma
preocupação espiritual, com a moralidade e os bons costumes, visto que o matrimônio
era um sacramento.13
Uma vez com advento do decreto nº 181, de 24 de janeiro de 1890, o Brasil
instituiu o casamento civil como único meio de constituir família legitima, e a
Constituição de 1891 proibiu a dissolução do vínculo conjugal. Por influência da igreja
Católica, que colocou as margens do direito, as famílias formadas pelo casamento
religioso que, por sua vez, não possuem efeitos civis, como aquelas resultantes de
uniões informais.14
De acordo com José Lamartine Corrêa de OLIVEIRA e Francisco José
Ferreira MUNIZ: “Pode se dizer que para a existência do concubinato é preciso que
um homem e uma mulher estejam entre si numa relação de comunhão de vida não
fundada no casamento.”15
Visto que, a união informal é observada pela igreja como concubinato, e se
caracteriza pela convivência entre uma mulher e um homem casado na constância do
matrimônio, ao passo que companheira era aquela que mantinha relacionamento com
um homem desimpedido.16

11
Ibidem. p. 67.
12
Idem.
13
Idem.
14
Idem.
15
OLIVEIRA, José Lamartine Corrêa de, MUNIZ, Francisco José Ferreira. Curso de Direito
de Família. 4.ed. Curitiba: Juruá. 2010. p.81.
16
Idem.
7

Com a promulgação do Código Civil de 1916, a lei não regulamentou o


concubinato nem na sua forma pura nem mesmo na sua forma impura, também
existia a incapacidade relativa da mulher casada de tomar suas próprias decisões em
relação à família.17
O legislador propunha no Código Civil de 1916 uma assistência
superficialmente para a família do século XIX, em relação patriarcal, heterossexual,
hierarquizada e matrimonializada, ou seja, uma família com a qual o Estado de antes
se preocupava, mas pouco intervinha, uma família com diversas obrigações, dentre
elas a procriação, a formação de mão de obra e de transmissão de bens.18
Para Rolf MADALENO: “Ao tempo do Código Civil de 1916 até o momento em
que consolidou a Constituição Federal de 1988, a família era evidentemente
matrimonializada. Nesse aspecto só era considerada pela sociedade se fosse oriunda
de casamento válido e eficaz” 19
Não obstante, que qualquer outro arranjo familiar existente era socialmente
marginalizado e quando um homem e uma mulher constituíssem um concubinato,
equivalente à atual união estável, que não estejam ligados entre si por matrimônio
legal, seus eventuais e escassos efeitos jurídicos teriam de ser examinados no âmbito
do Direito das Obrigações, pois eram entidades comparadas à atual união estável.20
Conforme o entendimento de Caio Mario da Silva PEREIRA: “O legislador de
2002 menciona o concubinato como relações não eventuais entre um homem e uma
mulher, impedidos de se casar.21
Todavia vira o século e com ele vem as mudanças, esclarecendo outros
valores. Um exemplo disso é affectio maritalis, um valor sócio e afetivo que tem por
base uma sociedade conjugal, matrimonializada ou não.22

17
Idem.
18
Idem.
19
MADALENO, Rolf. Direito de Família. 7. ed. Rio de Janeiro: Forense,2017, p.33.
20
Idem
21
PEREIRA, Caio Mario da Silva. Instituições do Direito Civil.19. ed. Rio de Janeiro:
Forense, 2011. p.71.
22
Idem.
8

Porquanto, com a mudança do século veio também à vigência do divórcio que


antes não era possível, pois até em meado de 1977 não era permitido que as
sociedades conjugais se desfizessem no Brasil.23
Tudo isso por ter uma influência fundada na indissolubilidade do vínculo. De
certo modo o casamento civil representava um compromisso formal perante Deus e
aos homens.24
Segundo Maria Helena DINIZ: ”A família trata- se de um grupo fechado de
pessoas, composto de pais e filhos, e, para efeitos limitados, de outros parentes,
unidos pela convivência e afeto em uma mesma economia e sob a mesma direção.”25
Entretanto nos dias atuais com o advento do Código Civil de 2002, o instituto
do casamento é primeiro da lista da ordem cronológica, pela sua importância, pela a
sua abrangência e pelos seus efeitos. É o casamento que gera as relações familiares
originariamente. No Código Civil o casamento é o centro, o foco onde irradiam as
normas básicas do Direito de Família, ele é estudado em todos os seus aspectos. É
do casamento que nascem às relações entre os cônjuges, com a imposição de
recíprocos deveres e de mútuos direitos.26
Embora, sob uma ótica atual da família, não há mais abrangência da
autoridade que antes era submetida à família no tempo romano, onde o pater era ao
mesmo tempo o chefe de casa, o juiz e sacerdote. Sendo que o mesmo oficiava os
cultos dos seus deuses domésticos, e ao mesmo tempo distribuía a justiça, e esse
tinha o direito aos filhos de dar a vida e a morte.27
Porém essa organização dada por nome de família tem uma feição moderna
com privilégios, recebendo a proteção do Estado e menos intervenção, as relações
entre pais e filhos foram cada vez mais se ampliando, ganhando espaço.
Desapareceu a ordem patriarcal, que vigorava no Brasil desde o século XX.28

23
Ibidem. p. 24.
24
Idem.
25
DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro. v. 5. 20. ed. São Paulo: Saraiva,
2005. p.15.
26
Idem.
27
Idem.
28
Idem.
9

No século XXI, é evidente que a família é bastante diferente daquela que a


sociedade tinha como conceito, já que a mulher neste novo século começou a lutar
por seus ideais e se inseriu no mercado de trabalho, não se dedicando
exclusivamente ao marido e aos filhos. Prova disso é a publicação da Lei nº 11.340 de
07 de agosto de 2006, na qual se cria mecanismos para coibir a violência doméstica e
familiar contra a mulher.29
Rolf MADADLENO esclarece que:

De acordo com a Constituição Federal, a entidade familiar protegida pelo Estado é a


comunidade formada por qualquer dos pais e seus descendentes, podendo originar do
casamento civil, da união estável e da monoparentalidade. Mas nem sempre teve toda esta
extensão, pois durante muito tempo o sistema jurídico brasileiro reconhecia apenas a
legitimidade da família apenas unida pelo casamento civil, e os filhos originados dessa união
por concepção genética ou através da adoção.30

A moderna família tem seu grupo cada vez menor, a mulher ganhou espaço
na entidade familiar, a necessidade econômica leva cada vez mais a mulher exercer
atividade fora do lar, coisa que antes não era permitida, mas com o advento do
Código Civil as notórias mudanças no âmbito familiar deram ao cônjuge direito e
dever por igual.31
Contudo, a família, para Cristina de Oliveira ZAMBERLAM:

[...] surge como espaço privilegiado para que os opostos possam vir a ser tornar
complementares, pois a família desperta, em todos, lembranças, emoções, saudades,
expectativas quase sempre contraditória, intensas e principalmente, inegáveis. Pode se dizer
que a família é algo universal.32

Uma nova configuração familiar, a Constituição Federal, trouxe espaço,


proteção e conferiu identidade a realidade das famílias. O Código Civil de 2002
apresenta algumas mudanças importantes perante o Código de 1916, em relação à

29
BRASIL. Lei 11.340, de 07 de agosto de 2006. Cria mecanismos para coibir a violência
doméstica e familiar contra a mulher. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/civil_03/_ato2004-
2006/2006/lei/l11340.htm> Acesso em: 30 mar. 18.
30
MADALENO, Rolf. Direito de Família. Op. cit., p.34.
31
Idem.
32
ZAMBERLAM, Cristina de Oliveira, Os Novos Paradigmas da Família Contemporânea.
Rio de Janeiro: Renovar, 2001. p.37.
10

família, ao casamento, aos filhos e a igualdade dos sexos. No Código Civil de 1916 a
família legítima era definida apenas pelo casamento oficial, já no Código Civil de 2002
a definição da família, abrange as unidades formadas por casamento e união estável,
conforme prevê o artigo 1.723, sendo esta, apenas uma das formas para construir
uma família.33
O modelo igualitário de família constitucionalizada, segundo Caio MÁRIO: “se
contrapõe ao modelo autoritário do Código Civil anterior”, porque busca mecanismos
jurídicos diversos de proteção para os seus membros, o respeito às diferenças,
necessidades e possibilidades.34
Posto que as modificações no conceito de família, em razão das
transformações sociais e culturais ao longo do tempo, acarretaram inclusive, uma
ampliação do seu próprio significado.35
Segundo José Lamartine Correia de OLIVEIRA e Francisco José Ferreira
MUNIZ: “A concepção eudemonista da família progride à medida que ela regride ao
seu aspecto instrumental. E precisamente por isso, a família e o casamento passam a
existir para o desenvolvimento da pessoa- para a realização dos seus interesses
afetivos e existenciais.”36
Com as necessidades das famílias atuais em ter uma condição de maior
liberdade de escolhas, consuma se a liberdade de fazer um planejamento de família
sem a imposição do Estado, pois está disposto em nossa Constituição Federal de
1988 artigo 226§ 7º que ao estabelecer o planejamento familiar será de livre decisão
do casal, fundados nos princípios da dignidade da pessoa humana e da paternidade
serão responsáveis ambos os genitores, cônjuge, ou companheiros sujeitos ativos e
nessa definição de relação familiar e no âmbito doméstico.37
Nas palavras de Rolf MADALENO:

33
Idem.
34
PEREIRA, Caio Mário da Silva. Op. cit., p. 01.
35
Idem.
36
OLIVEIRA, José Lamartine Corrêa de, MUNIZ, Francisco José Ferreira. Op.cit., p.13.
37
Idem.
11

O termo família eudemonista é usado para identificar aquele núcleo familiar que busca a
felicidade individual e vive um processo de emancipação de seus membros. O Direito de
Família não mais se restringe aos valores destacados de ser e ter, porque, ao menos entre
nós, desde do advento da Constituição Federal de 1988 prevalece a busca e o direito pela
conquista da felicidade a partir da efetividade.38

Para o autor Ricardo Lucas CALDERÓN a percepção da família como espaço


para livre realização pessoal dos seus integrantes é de importância singular,
passando a ser descrita como precípua sua função eudemonista. A família passa a
ser reconhecida como relevante esfera privada, vindo se configurar como espaço para
o livre desenvolvimento da personalidade individual.39
Não obstante, as alterações do contexto familiar que sobrevieram, mostram
que a família deixa de ser uma instituição forte, sendo privatizada levando a
desinstitucionalização.40
Esclarecendo que, a evolução da família foi simples; ela perdeu suas funções
públicas e passou a ter funções privada. Sendo que os indivíduos conquistaram o
direito de ter uma vida privada autônoma. De certa forma a vida privada se desdobra.
E no interior dessa vida privada da família surge uma vida privada individual.41

1.2 DA RELAÇÃO DE FATO À RELAÇÃO JURÍDICA: A EVOLUÇÃO HISTÓRICA-


JURÍDICA DA UNIÃO ESTÁVEL

Uma vez que a relação de fato, trata-se de um assunto que é pertinente ao


modo de convivência dos cônjuges, onde a relação entre duas pessoas que não
tinham a celebração do matrimônio e viviam maritalmente em desconformidade com a
igreja e com o Estado, ou seja, não possuíam os seus direitos positivados na lei,
Segundo José Lamartine Corrêa de OLIVEIRA juntamente com Francisco José
Ferreira MUNIZ definem que:

38
MADALENO, Rolf. Direito de Família. Op. cit., p.29.
39
CALDERON, Ricardo Lucas. Princípio da Afetividade no Direito de Família. Rio de
Janeiro: Renovar, 2013. p.38.
40
Idem.
41
Idem.
12

A relação de fato entra igualmente no âmbito juridicamente relevante. A rigor não é


necessário o nexo família - matrimonio: a família não se funda necessariamente no
casamento. Isto significa, portanto, que casamento e família são realidades diversas, (...) a
família de fato, que nasce espontaneamente, na sociedade precisa cercar- se de garantias
jurídicas, para que não só o respeito humano entre seus membros, mas a responsabilidade,
possam nortear suas vidas.42

Embora, essa forma de convivência entre um homem e uma mulher sem os


requisitos pautados no matrimônio pelo registro civil e pelas bênçãos religiosas da
igreja, conotava que tais cônjuges vivessem em concubinato, de certa forma uma
relação de fato, um modo inferior de relacionamento, contudo, não era proibido e nem
tentava a moral, porém os filhos, no entanto eram considerados ilegítimos,
permanecendo com vinculo somente na família materna.43
Então como consequência, à convivência familiar, no Código Civil de 1916,
era estabelecida pelo exercício do pátrio poder, na constância do casamento,
significando, apenas, a manutenção dos filhos na companhia e guarda dos genitores
e cuja tutela era “predominantemente em prol da figura paterna e dos interesses do
grupo familiar.”44
O Código Civil também esclareceu divergências entre o sinônimo de
companheira e concubina, sendo que a companheira era a mulher que mantinha um
relacionamento com um homem que já houvesse de fato se separado e também
desimpedido de qualquer outro matrimônio, já a concubina, é aquela que tem o papel
de amante, mantida na clandestinidade pelo homem casado. Na adesão de uma
relação de fato, os companheiros deveriam ser desimpedidos de quaisquer
relacionamentos conjugais paralelos para não ser considerado concubinato impuro.45
Portanto essa relação de fato surgiu e teve o reconhecimento que a união
entre duas pessoas livres e desimpedidas pudesse formar uma família com vínculos
bastando ter a convivência solidificada ao passo que a modernidade jurídica já

42
OLIVEIRA, José Lamartine Corrêa, MUNIZ, Francisco José Ferreira. Curso de Direito de
Família, 2. ed. Curitiba: Juruá. 1998. p.363.
43
Idem.
44
SILVA, Cláudia Maria da. Indenização ao Filho e Descumprimento do Dever de
Convivência Familiar e Indenização Por Danos à Personalidade do Filho. Revista de Direito de
Família. Porto Alegre, n.25, ago. set, 2004, v.6, p.133.
45
Idem.
13

começara a autorizar a dissolução dessa relação de fato pelas vias legais e judiciais,
tendo como requisito a partilha do patrimônio dos bens em esforço em comum.46
Ao passo que o conceito de esforço em comum era bem restrito, no
entendimento que a contribuição direta para aquisição dos bens entre os cônjuges, os
dois deveriam desempenhar uma atividade remunerada fora do ambiente do lar.47
Portanto a relação de fato para muitos, tinha como ênfase de contrato de
prestação de serviços. Entretanto com ao passar dos tempos houve mais mudanças
nas relações de concubinato, pois deixaram de ser tratados como uma sociedade de
fato, no sentido comercial, e aos poucos foram ganhando espaço como entidades
familiares.48
Existe certa dificuldade para delinear um conceito de união de fato, pois a
expressão utilizada também demonstra uma forma de concubinato entre um homem e
uma mulher, partindo de uma idéia central de uma convivência duradoura sem um
casamento registrado. Segundo Edgard Moura BINTENCOURT:

A expressão concubinato tem duplo sentido. Um sentindo genérico análogo à união livre, que
é toda a ligação do homem e mulher fora do casamento, também chamado de mancebia,
barregã, amasia e etc. Em um sentido mais especifico é o que se refere ao semimatrimônio, à
posse de estado de casamento, ao entrosamento de vida e de interesse numa união de fato.
É um casamento de fato. É a convivência more uxório , ou melhor, é o convívio duradouro de
duas pessoas de sexos diferentes, sob o mesmo teto, como se fossem casadas.49

Por consequência o texto constitucional considera que o termo utilizado antes


por concubinato, ou seja, o mesmo que relação de fato, tenha uma expressão
melhorada que na atualidade a idéia desta instituição jurídica seja vista como uma
união estável. No mesmo sentido entre leigos concubinato e união estável são visto
com a mesma expressão.50
Porém tendo sido a união livre elevada à condição de entidade familiar na
Constituição Federal de 1988, sob a denominação de união estável, restou dúvidas

46
Idem.
47
Idem.
48
Idem.
49
BITTENCOURT, Edgard de Moura. Concubinato. São Paulo: Eud, 1975, p. 45-46.
50
Idem.
14

sobre a união concubinária em sentido estrito. Sendo que no art. 226 do § 3 da


Constituição estabelece que para efeito de proteção do Estado, é reconhecida a união
estável entre um homem e uma mulher como entidade familiar, devendo a lei
converter em casamento. Para Paulo LÔBO:

[...] jogar a união estável na penumbra do não direito é dar as costas à realidade da vida; é
desconsiderar a ética da responsabilidade em prol da ética da convicção absoluta. Uma das
consequências desse entendimento é a desconstituição da união estável que um dos
cônjuges mantinha antes do casamento com outra pessoa, que deixaria de ser entidade
familiar para se degradar na qualificação de “concubinato”. A falta de razoabilidade e a
incompatibilidade com a Constituição, para a qual todas as entidades familiares são
igualmente protegidas saltam os olhos.51

Entretanto o casamento e ou a união estável, tem se uma idéia de um


contrato, semelhante aos do direito privado, porém não é o suficiente para explicar a
sua natureza, pelo menos como a lei determina, há de convir que trata-se de dúvida,
um ato complexo em que se junta ao mesmo tempo o elemento volitivo, que seria a
vontade, ao elemento institucional.52
Ademais, dizer que a união estável tem o mesmo aspecto em relação ao
casamento, pode-se definir como tal; onde é um contrato de Direito de Família que
tem por finalidade promover a união entre um homem e uma mulher, e que através
desta união constituída possa ser levada a termos e transformada em casamento
afirmada na lei, afim de regular suas relações, tendo em comum acordo a prole e a
mútua assistência entre si.53
Entretanto para Silvio Rodrigues: “Equiparar totalmente a união estável ao
casamento, pelo que o regime de bens entre eles passaria a ser o da comunhão
parcial de bens, independentemente de qualquer comprovação de esforço comum na
aquisição de bens.54
Por conseguinte, o que era bem notado nessa pertinente época, é que não
era muito comum ocorrer com as mulheres, então as mesmas tinham uma pretensão

51
LÔBO, Paulo. Direito Civil: Família. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2014. p.171.
52
Idem.
53
Idem.
54
RODRIGUES, Silvio. Direito de Família. v.6. 27. ed. São Paulo: Saraiva. 2002. p. 295.
15

de natureza de indenização por serviços prestados no cuidado da casa, dos filhos e


também ao cônjuge.55
Entretanto por meio das cortes brasileiras os julgados admitiam o uso pela
mulher do nome de seu concubino. E isso se tornou tão frequente em tantos tribunais
brasileiros que tinham de excepcionalmente conduzir o legislador brasileiro a tomar
conhecimentos dos diversos problemas e dar uma solução legal.56
Uma vez que, isso veio como advento da nova lei de Registros Públicos (Lei
6.015, de 31de dezembro de 1973), sendo que esta Lei entrou em vigor desde 01 de
janeiro de 1976.57
Dispõe o § 2º do art. 57 desse diploma:§ 2º a mulher solteira, desquitada ou
viúva, que viva com homem solteiro, desquitado ou viúvo, excepcionalmente e
havendo motivo ponderável, poderá recorrer ao juiz competente, que no registro do
nascimento, seja averbado o patronímico de seu companheiro, sem prejuízo dos
apelidos próprios, de sua família, desde que não haja impedimento legal para o
casamento, decorrente do estado civil de qualquer das partes ou de ambas.58
Entretanto, advindo a norma constitucional de 1988, que veio a positivar a Lei
n.º 8971/1994, que posterior a essa legislação então surgindo à união estável deixou
de cuidar dessa matéria, que, aliás, nem mesmo Código assumiu o assunto,
sobrando, pois, ao trabalho construtivo da doutrina e jurisprudência que revelam a
solução das questões em si.59
Visto que, logo após dois anos veio a surgir a Lei 9.278/1996 que descreve a
união estável, assumindo a tese da derrogação parcial da Lei nº 8.971/1994,
considerando que teve a orientação sobre os direitos de alimentos, com exceção ao
prazo de 5 anos, reduzido para 1 ano na hipótese de nascimento de filho comum.60
A Constituição de 1988 veio estabelecer em seu artigo 226, § 3 que a união
estável entre um homem e uma mulher, como entidade familiar deve ter a proteção

55
Idem.
56
Idem.
57
Idem.
58
Ibidem, p. 298.
59
PEREIRA, Caio Mario da Silva. Op. cit., p. 576.
60
Ibidem, p. 580.
16

das leis assegurando ao cônjuge a conversão da união estável em casamento nessa


plataforma criando a relação jurídica entre os cônjuges que automaticamente deriva
de um negócio jurídico matrimonial.61
O casamento por mais que não se confunda com um contrato, gera um
vínculo e esse é determinado por uma relação jurídica que se deriva de um negócio
jurídico matrimonial, deduz que essa maneira de enxergar essa relação matrimonial
como uma relação personalíssima e permanente entre os cônjuges.62
Embora as relações jurídicas trazem exigências para determinadas ações
entre as partes, definidas por vínculo que entre duas pessoas ou mais, todo o direito,
portanto, tem a sua origem e é reconhecido nas relações jurídicas de acontecimentos
idôneos.63
Segundo Maria Berenice DIAS: “Ainda que a união estável não se confunda
com o casamento, ocorreu à equiparação das entidades familiares, sendo todas
merecedoras da mesma proteção.”64
A união entre duas pessoas é considerada um fato jurídico, que posterior a
esse fato cria uma relação jurídica, sendo assim a união estável estabelece direito e
deveres recíprocos, pois certamente essa relação compõe se de elementos a qual
seja elemento material que é a relação entre as pessoas e por seguinte, o elemento
formal que traz incidência da norma jurídica que se aplica ao caso.65
Ao passo que as escolhas na vida contém diversidades de fatos que podem
não ser relevantes no encaixe do dispositivo de uma norma jurídica, nessa situação
se enquadra o fato jurídico que não produze efeitos jurídicos por não conter uma
norma que seja adequada ao caso.66
Todavia, pode até existir o pretensioso fato, o seu valor, mas não a norma
jurídica, certo de que esse posicionamento não impede que a própria relação de fato
produza algum pressuposto a qual se permite os efeitos de uma relação, levando a

61
Idem.
62
Idem.
63
Idem.
64
DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito de Família. 10. ed. São Paulo: RT, 2015. p. 239-
240.
65
Idem.
66
Idem.
17

certeza que a questão da eficácia jurídica tem uma configuração pela relação de fato,
não obstante que o reconhecimento das relações de fatos pode transmitir uma
insegurança jurídica nesse caso, podendo contrariar uns dos valores principais e
fundamentais, que é a certeza do direito que cada cônjuge tem.67
Entretanto Caio Mário Silva PEREIRA assevera que:

Indicou a referida Lei, com acerto, a possibilidade de “contrato escrito” relativo à


administração do patrimônio em comum (§ 2º do art. 5º). O referido documento não pode
versar outras questões que envolvem o relacionamento, desde que não sejam utilizados para
contrariar regras legais e princípio de ordem pública. Igualmente não há que se exigir sua
assinatura anteriormente ao início da união. Pode ser firmado na constância da vida em
comum, podendo os companheiros dar-lhe efeitos retroativos. Como negócio jurídico
decorrente de uma relação de fato, diverso do casamento, pressupõe a capacidade civil e o
livre consentimento das partes, portanto ineficaz, se presente as limitações relativas à idade e
aquelas decorrentes da falta de aptidão para manifestar o consentimento.68

A medida que, o mundo modernizou-se e com ele veio à segurança dos


direitos e deveres de cada cônjuge possuem e nessa transição entre a relação de fato
para a relação jurídica.69
Ademais cabe ressaltar, que a relação entre duas pessoas tem uma
autonomia privada, não devendo confundir com uma relação contratual, onde o
princípio da autonomia está presente para preservar que cada pessoa tenha a
liberdade de casar-se e de ter a liberdade de escolha do cônjuge, porém é necessário
ressaltar que essa liberdade deve respeitar os limites constitucionais e legais que
expressam o modelo social e as condutas da ordem jurídica.70
Inicialmente o Código Civil de 2002 não fez mudanças significativas no que
concerne a união estável, muito embora tenha incluído um novo título no livro de
Direito de Família, confrontado com as leis já mencionadas.71
Segundo Maria Berenice DIAS nenhuma constituição conseguiu produzir
tantas significativas mudanças na sociedade e no âmbito da família como a
Constituição Federal de 1988. A autora atribui principalmente ao Principio da

67
Idem.
68
PEREIRA, Caio Mário da Silva, Op. cit., p.582.
69
Idem.
70
Idem.
71
Ibidem, p. 584.
18

Dignidade da Pessoa humana amparado pelo artigo primeiro da Carta Magna, pois,
este princípio eliminou qualquer tipo de discriminação ou diferenciação que existisse,
tornando assim a sociedade bem mais democrática.72
Paulo LÔBO lembra que, em decorrência de fatores históricos e culturais, a
verdade biológica era a única aceita pelo nosso ordenamento, até o advento da
Constituição de 1988:

No direito, a verdade biológica converteu-se na “verdade real” da filiação em decorrência de


fatores históricos, religiosos e ideológicos que estiveram no cerne da concepção hegemônica
da família patriarcal e matrimonializada e da delimitação estabelecida pelo requisito de
legitimidade. Legítimo era o filho biológico, nascido de pais unidos pelo matrimônio; os demais
seriam ilegítimos. Ao longo do século XX, a legislação brasileira, acompanhando uma linha de
tendência ocidental, operou a ampliação dos círculos de inclusão dos filhos ilegítimos, com
redução de seu intrínseco quantum despótico, comprimindo o discrime até ao seu
desaparecimento.73

Para Paula DINIZ, quando os princípios da igualdade e da dignidade da pessoa


humana passam a vigorar, observa-se uma nova era no ordenamento jurídico pátrio e
com ele o princípio da afetividade passa a ser a base de todo núcleo familiar e ao
casamento.74

1.3 A CONCEPÇÃO DA FAMÍLIA E A UNIÃO ESTÁVEL SOB O DIREITO CIVIL


CONSTITUCIONAL

Quando surgiram os primeiros modelos de família? É interessante observar


que as pesquisas sobre a família nos estudos do Direito sempre estiveram atreladas
ao casamento seja ele de forma legitima ou ilegítima. Comenta se Rodrigo da Cunha
PEREIRA:

Grandes partes dos juristas confundem o conceito de família com o de casamento, e por
incrível que isso possa aparecer, em nossa sociedade, mesmo nesse limiar desse terceiro

72
DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias. 6 ed. São Paulo: RT, 2010. p.39.
73
LÔBO, Paulo. Direito Civil: Família. Op.cit., p. 171.
74
DINIZ, Paula de Castro. Repensando a Paternidade: o Papel da Afetividade na Busca da
Verdade em Matéria de Filiação. In: VIII Congresso Luso-Afro-Brasileiro de Ciências Sociais,
Coimbra 16, 17 e 18 de setembro de 2004, p.98.
19

milênio, quando se fala em formar uma família , pensa- se que ela só pode constituir- se
através do casamento.75

Anteriormente a Constituição de 1988 existia uma concepção de que a família


era dotada de caráter transcendente, e sendo assim os sujeitos estariam ligados em
uma concepção hierarquizada da família, e essas relações de hierarquia seria entre o
marido e a mulher e nas relações entres os pais e a prole.76
Portanto os movimentos sociais, juntamente com as mudanças dos costumes
fizeram a Constituição de 1988 direcionar a devida proteção às famílias que não
fossem constituídas pelo casamento.77
Conforme José Lamartine Correa de OLIVEIRA e Francisco José Ferreira
MUNIZ que “Como já se observou, neste modelo de sociedade conjugal se atenua a
dimensão institucional e ela se volta para a satisfação das exigências prevalente
afetivas dos cônjuges” 78
Sustenta-se que a base no Direito de Família está ligada ao Direito Civil, e
esse tem por objetivo as organizações e as condições que se formam, e que também
se extingui as relações familiares. Diante das questões expostas, a organização é a
forma de se constituir uma família, repousando no princípio da igualdade. Com o
advento da Constituição de 1988 permitindo os direitos e deveres dos cônjuges,
mostrando que hoje em dia não são permitidas regras que estabeleçam funções
diferenciadas entre os cônjuges.79
As leis não estabelecem funções fixas de direitos e deveres entre um homem
e uma mulher no casamento, pois se o fizesse criaria um modelo de sociedade
conjugal com uma estrutura autoritária, onde a mulher estaria em uma posição
inferior.80

75
PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Direito de Família Contemporâneo: Doutrina,
Jurisprudência, Direito Comparado e Interdisciplinaridade. Belo Horizonte: Del Rey, 1997. p.14.
76
Idem.
77
Idem.
78
OLIVEIRA, José Lamartine Correa de; MUNIZ, Francisco José Ferreira. Curso de Direito
de Família. 4. ed. Curitiba: Juruá, 2010. p.24.
79
Idem.
80
Idem,
20

Além disso, nasce a esperança na sociedade brasileira, de uma nova


concepção social e jurídica de família, segundo Rolf MADALENO: “democratizada
pelo constituinte de 1988, quando ponderou estender sua proteção além da
tradicional família conjugal, também da família de fato e a entidade mono parental,
permitindo a democratização pelo constituinte81
Ao que diz respeito aos tipos de família, tem-se em mente que a tradicional
família conjugal é aquela que é protegida pelo Estado por ser formalmente
estabelecida nas leis do matrimônio, em quanto à família de fato é aquela que foi
reconhecida pelo Código Civil e recepcionada na Constituição como a união estável
também protegida pelas leis.82
Ainda nas palavras de Rodrigo da Cunha PEREIRA: “A idéia de família para o
direito brasileiro sempre foi a de que ela é constituída de pais e filhos unidos a partir
de um casamento regulado e regulamentado pelo Estado.83
Contudo, a Constituição de 1988 ampliou o seu conceito de família,
agregando as diversas possibilidades que foram surgindo ao longo do tempo no rol do
conceito de entidade familiar. Consequentemente a expressão família, antes vivida na
clandestinidade e excluída, nascera da informalidade de uma relação de afeto e amor,
sendo que outrora era denominado por concubinato e atualmente por união estável, e
também atingindo o plano de validade jurídica a grande composição de famílias mono
parentais expressamente lembrada pela Constituição de 1988 em seu art., 226 §4º
onde se entende que também é reconhecida como entidade familiar qualquer um dos
pais e seus descendentes.84
Entretanto, dessa forma pode-se presenciar que o modelo de família
patriarcal anterior a Constituição de 1988 era um modelo de puro autoritarismo. A
norma veio para estabelecer a substituição do modelo patriarcal, e dar igualdade

81
MADALENO, Rolf. Novas Perspectivas no Direito de Família. Porto Alegre: Livraria do
Advogado,2000. p.16.
82
Ibidem. p. 40.
83
PEREIRA, Eduardo da Cunha. Op. cit., p.15.
84
Idem.
21

jurídica a ambos os cônjuges, pelo que se refere aos tempos atuais, à direção no
âmbito familiar, tem se por acordos entre um homem e uma mulher.85
Certamente que os assuntos pertinentes a família, vem esclarece que o
princípio da igualdade traz a transformação das relações familiares, conotando uma
supervalorização das relações conjugais.86
Surgindo à nova família para uma geração mais intima, com natureza
privada, outrora a família foi perdendo com o seu estreitamento, e a sua finalidade
principal, que era a exploração econômica rural.87
Uma vez que a nova sociedade defronta-se com outro tipo de conjunto
familiar, voltado para a realização individual de seus membros. Dentro deste prisma,
convém observar que na atual conjectura as relações sociais tende a balançar as
estruturas do instituto e consequentemente a formulação do casamento.88
Apenas e tão somente o casamento perdeu para o legislador de 1988, aquela
posição de privilegio que dispunham anteriormente. Hoje a família é proveniente, do
matrimônio ou surge da união estável entre um homem e uma mulher, ou mesmo a
família é formada por qualquer dos pais.89
Nas palavras de Antônio Carlos Matias COLTRO: “O legislador trouxe um
instrumento para o juiz adequar à lei a situação fática. Caso a caso será determinada
a existência desta situação. ” Qualquer limitação a priori neste campo é perigosa, na
medida em que pode afastar da proteção legal situações que mereceriam a tutela.90
Há de ser ponderado um limite para tornar-se um ambiente familiar,
considerando que deve ter um mutuo consentimento entre as partes, convivência
pública e duradoura em harmonia sobre o mesmo teto, sendo, portanto, uma relação
de união estável.91

85
Idem.
86
Idem.
87
Idem.
88
Idem.
89
Idem.
90
COLTRO, Antônio Carlos Mathias. União Estável: In: WAMBIER, Teresa Arruda Alvim;
LEITE, Eduardo de Oliveira (Coords.). Repertório de Doutrina Sobre o Direito de Família: Aspectos
Civis e Processuais. São Paulo: RT, 1999. p. 35.
91
Idem.
22

Esses elementos são essenciais para a caracterização, assim quando os


cônjuges passam a conviver sob o mesmo teto com o compartilhamento
consequentemente da mesma moradia, já caracteriza uma união estável, porque a
estabilidade ali é presumida.92
Ao contrário do casamento que se inicia pelo ato jurídico certo e público, a
união estável se inicia pelo estado de fato de duas pessoas ter um comum acordo,
visto que os deveres dos cônjuges são procedidos das suas relações pessoais e
patrimoniais que necessita deles para sua exigibilidade.93
Nas palavras de Paulo LÔBO: O início da união estável é o início da
convivência dos companheiros. “A dificuldade é reduzida quando se pode provar o
começo da convivência sob o mesmo teto”.94
Porém no término da sua sociedade de fato era cabível a dissolução judicial,
com a partilha do patrimônio adquirido. No entanto para preencher a lacuna no
ordenamento jurídico, sobreveio a Lei n° 8.971/1994 que determinava um prazo
mínimo de cinco anos para que configurasse a estabilidade da suposta união estável,
ensejando uma relação jurídica.95
Com a chegada da lei houve um retrocesso em relação aos avanços das
jurisprudências e estabeleceu requisitos rígidos em relação aos cônjuges. Mais
adiante surgiu a Lei 9.278/1996 que definiu e regulamentou a união estável e ampliou
os efeitos da Lei 8.971/1994. E a parti daí estabeleceu direitos e deveres dos
conviventes.96
No ordenamento jurídico atual, a estabilidade não é vista mais como um
pressuposto, pois quando não houver convivência sob o mesmo teto, será de suma
importância identificar o tempo que os companheiros passaram a se apresentar como
se casados fossem perante as relações sociais.97

92
Idem.
93
Idem.
94
LÔBO, Paulo. Op. cit., p. 158.
95
Idem.
96
Idem.
97
Idem.
23

Diante do interesse de regular toda e suposta união estável, a partir da nossa


Constituição de 1988 teve se um propósito de que a entidade familiar merecia uma
proteção do Estado, de maneira que a convivência entre um homem e uma mulher,
cumprindo à lei facilitaria sua conversão em casamento. É o que expressa o art. 226 §
3 da Constituição.98
A rigor não é mais essencial o nexo família e matrimônio, o casamento não é
mais a única instituição em torno da qual pode se nascer uma família. Visto que a
união estável se impôs obrigando o nosso Código Civil de 2002 a se atualizar, para
dar respaldo acolhendo o direito positivo dos brasileiros em um nível constitucional,
onde deixa bem claro diante da interpretação de alguns artigos, os pressupostos
intrínsecos para que considere a união estável e a transforme em casamento.99
De acordo com Paulo LÔBO:

Facilitar a conversão de uma entidade em outra é a especificação do princípio da liberdade de


constituição de família; não é rito de passagem. A Norma do §3 do art. 226 da Constituição
configura muito mais comando ao legislador infraconstitucional para que remova os
obstáculos e dificuldades para os companheiros que desejarem se casar, a exemplo da
dispensa da solenidade de celebração, com o estabeleceu o art. 1726 do Código Civil. Se os
companheiros desejarem manter a união estável até o fim de suas vidas podem fazê-lo, sem
impedimento legal. Serão livres para convertê-la em casamento e constituírem união
estável.100

No entanto a entidade familiar nos moldes atual é denominada por união


estável, conforme o art. 1.723 do Código Civil onde o diploma determina que “é
reconhecida como entidade familiar a união entre um homem e uma mulher,
configurada na convivência pública, continua e duradoura e estabelecida como
objetivo de constituição de família.”101
Essa definição é o conceito mais amplo que a família, e foi introduzida pela
Constituição de 1988, que sob um forte aspecto veio para regulamentar a união
estável. Certamente que o estudo do Direito da Família ainda deixa muitas dúvidas,

98
Ibidem. p.159.
99
Idem.
100
Ibidem, p.163.
101
Idem.
24

sendo impossível equacioná-las por completo em decorrência das normas imperfeitas


e repletas de imprecisões.102
Certamente que a Constituição Federal proclama que a família é a base da
sociedade, em contrapartida reside a limitação do Estado, pois a família não pode ser
impunemente violada pelo Estado, porque seria atingida a base da sociedade a que
serve ao próprio Estado.103
Nesse pensamento a Constituição expande a proteção no que se refere a
família, a entidade familiar abrangendo as relações pessoais e patrimoniais das
relações familiares.104

102
Idem.
103
Idem.
104
Ibidem. p.164.
25

2 UNIÃO ESTÁVEL: CONCEITO, NATUREZA JURÍDICA E REQUISITOS LEGAIS

2.1 DO SUBJETIVISMO: O ÂNIMO DE CONSTITUIR FAMÍLIA

Existe uma linha de pensamento sobre a construção de uma família no âmbito


da união estável, o Código Civil em seu art. 1.566 esclarece alguns objetivos que
estão elencados e que determina como fator o ânimo de se constituir família. No
pensamento de Guilherme Calmon Nogueira da GAMA: ”está insinta na ideia de
constituição de família o desejo dos companheiros compartilharem a mesma vida,
dividindo as tristeza e alegrias, os fracassos e os sucessos, a pobreza e a riqueza,
enfim, formarem um novo organismo distintos de suas individualidades.”105
Entretanto existe uma ideia de coabitação, pois mesmo que não configure um
pressuposto objetivo nos termos da lei, a convivência sobre o mesmo teto é um
vínculo que consolida o ânimo de constituir algo em conjunto. Contudo esse propósito
se evidencia por uma série de requisitos, além da convivência more exorio, com
indispensável afectio maritalis, isto é, se apresentar em público como se casados
fossem, com demonstração de afeto e carinho recíprocos.106
Como requisito de indícios de constituir uma família, a frequência conjunta a
eventos familiares e sociais, bem como dessa união, mútua dependência econômica,
empreendimentos sob a mesma parceria e contas bancárias conjuntas, pois é na
convivência, sobre o mesmo teto que os cônjuges descobrem ser compatíveis, e
capaz de decidir acerca de um futuro em comum.107
De modo que a distância entre o casal não é considerando um bom
predicado, pois reforça o pensamento de individualidade e descompromisso, em
alguns casos, até porque nenhum dos cônjuges poderá realmente atestar a fidelidade
do outro. Sendo assim o que é mais importante para determinar um compromisso
seria a coabitação de ambos juntos.108

105
GAMA, Guilherme Calmon Nogueira da. O Companheirismo: Uma Espécie de Família.
São Paulo: RT. 1998. p. 129.
106
Idem.
107
Idem.
108
Idem.
26

Nesse pensamento cria se um propósito em comum, ou seja, na formação de


um núcleo, onde deve se tornar um refúgio, para que ambos se identifiquem em um
conceito de família. O ambiente familiar deve ser preservado, para assegurar a
proteção da dignidade dos cônjuges, sendo que a fidelidade também é um dos
requisitos do ânimo de constituir família como destaca o Código Civil de 2002 em seu
art. 1.566, V, destacando dever de respeitar o consorte.109
Pode-se imaginar quão grande o caos que se instalaria se não fossem
estabelecidos certos efeitos jurídicos as relações conjugais, onde não se importaria
em manter o especial respeito, no plano moral e físico.110
Segundo a opinião de Euclides de OLIVEIRA, exclui essa hipótese de uma
união estável se existir uma convivência de um homem e uma mulher, que não tiver
um verdadeiro intuito de se constituir família chamando de “relação aberta”, que tem
por característica somente um envolvimento amoroso, quer dizer que existe um certo
grau de companheirismo por interesse e conveniência social, mas sem o elo essencial
de uma efetiva vida em comum entre os supostos amantes, dada a inexistência de
um compromisso mais sério.111
A comunhão entre os cônjuges que se dá por uma união estável tem que
trazer uma semelhança com as características da sociedade conjugal originada do
casamento que muito bem é esclarecida no texto do art. 1.511 do novo Código Civil,
onde determina que a convivência é uma troca de sentimentos e interesses de vida
em conjunto, de constante renovação, somando os componentes materiais e
espirituais que se resumem no afeto inerente à entidade familiar.112
Uma outra forma de mostrar o ânimo de Constituição da família, é a ideia de
que seja duradoura, solida a união estável, uma vez que a estabilidade do
relacionamento conote um propósito real para a formação de família.113

109
Ibidem. p. 130.
110
Idem.
111
OLIVEIRA, Euclides de. União Estável: do Concubinato ao Casamento, Antes e Depois
do Novo Código Civil. 6. ed. atual. e ampl. São Paulo: Método. 2003. p. 135.
112
Idem.
113
Idem.
27

Para o autor Washington de Barros MONTEIRO, juntamente no mesmo


propósito Regina Beatriz Tavares da SILVA:

Para que se configure a união estável é necessária a constituição de família, não sendo
suficiente simples “objetivo de constituição de família, devendo assim ser interpretado o art.
1723, caput, do Código Civil. Se assim não fosse, o mero namoro ou noivado, em que há
somente o objetivo de formação familiar, seria equipado à união estável, o que,
evidentemente, não foi a intenção do legislador.114

Porém fica instituído, que o ânimo de constituir família, é aquele casal que
vivendo uma união estável prova affectio maritalis, que mantém prolongada a vida em
comum, semelhante ao casamento, marcado por uma comunhão de vida e de
interesses.115

2.2 REQUISITOS QUE CARACTERIZAM A UNIÃO ESTÁVEL

O Código Civil de 2002 em seus artigos 1.723 a 1.727 e juntamente com a


Constituição Federal em seu art. 226 §3 e aplicabilidade da norma sobre a união
estável, e às uniões hetero e homoafetivas sendo essas uniões lícitas na constituição
de família, nomeando os participantes dessa relação de companheiros. Porém os
requisitos da norma da união estável sobre a convivência seria o mesmo aplicável às
uniões de pessoas de sexos diferentes e do mesmo sexo. Nas palavras Washington
de Barros MONTEIRO e Regina Tavares da SILVA:

Relações de caráter meramente afetivo não configuram união estável. Simples relações
sexuais, ainda que repetidas por largo espaço de tempo, não constituem união estável. A
união estável, que é a manifestação aparente do casamento, caracteriza se pela comunhão
de vidas, no sentido material e imaterial, isto é, pela constituição de uma família.116

Assim para que configure essa união é preciso à coabitação, em regra


mesmo sem expressa determinação legal, o correto é que os cônjuges demonstrem

114
MONTEIRO, Washington de Barros, SILVA, Regina Beatriz Tavares. Curso de Direito
Civil: Direito de Família. v. 2. 42. ed. São Paulo: Saraiva, 2012. p. 58.
115
OLIVEIRA, Euclides de. Op. cit., p. 135.
116
MONTEIRO, Washington de Barros, SILVA, Regina Beatriz Tavares. Curso de Direito
Civil: Direito de Família. Op. cit., p.59.
28

moreuxório, aparecendo em público como se casados fossem, muito embora a


constituição da família se dá pela convivência.117
Entretanto pode acontecer de que o casal não conviva sobre o mesmo teto
por motivos que devem ser justificados; como os profissionais e ou pessoais que
impeçam a singularidade domiciliar.118
Ademais a permanência estável da relação deve ser sem interrupções,
embora a lei atual do Código Civil de 2002, em sua interpretação não mais estabeleça
um prazo determinado para a sua duração, mas é necessário que a convivência seja
continua, pública e duradoura.119
Anteriormente a primeira lei que estabeleceu os requisitos da união estável foi
a Lei 8.971/1994, a fim de que veio para reforçar a instituição familiar, mesmo de
forma indireta estimulou a constituição do matrimonio entre aqueles que passaram a
manter uma vida em comum, porém como uns dos requisitos para configurar a união
estável diante dessa lei era a convivência por mais de cinco anos e dessa união ter
filhos.120
No entendimento de Antônio Carlos Mathias COLTRO:

Uma vez que enquanto a Lei 8.971 dispôs em seu art.1º, que “ A companheira comprovada
de um homem solteiro, separado judicialmente, divorciada ou viúvo, que com ele viva há mais
de cinco anos, ou dele tenha prole poderá valer-se do disposto na Lei 5.478/ 1968, enquanto
não constituir nova união e desde que prove a necessidade.121

Mais adiante a Lei 8.971/1994 foi editada e revogada pela Lei 9.278/ 1996
que dispunha em seu art. 1º, que seria reconhecido como entidade familiar a
convivência que fosse duradoura, pública e contínua, de um homem e mulher, e
estabelecida com objetivo de constituir uma família.122
Porém enquanto o primeiro diploma estabelecia regular os direitos do
companheiro, nos assuntos que se refere à necessidade de um prazo mínimo, ou

117
Idem.
118
Idem.
119
Idem.
120
Idem.
121
COLTRO, Antônio Carlos Mathias. Família e Cidadania: O Novo CCB e Vacation Legis;
Anais do Terceiro Congresso Brasileiro de Direito de Família. Belo Horizonte: Del Rey, 2002. p.254.
122
Ibidem. p. 255.
29

existência da prole e a obrigatoriedade de o companheiro ou companheira ser


solteira, separado judicialmente, divorciado ou viúvo. Entretanto nenhuma dessas
condições foram incluídas na segunda Lei 9.278/1996, pois bem se sabe que essa lei
foi aprovada com o objetivo de regular o preceito constitucional.123
Afirma Orlando GOMES:“ Bom notar que a Lei 9.278/1996 não substituiu a lei
8.971/1994, mas apenas revogou em parte, naquilo que instituiu alguma norma
diferente e incompatível com que antes fora disciplinado pela última lei.124
Não obstante a Lei de 1996 apresentou a definição da entidade familiar
considerada pela norma constitucional, prevalecendo desta forma o equilíbrio firmado
na última lei referida, em relação à anterior.125
Porquanto, por ser um fato jurídico, a união estável não necessita de qualquer
manifestação de vontade, porém a Lei 9.278/1996 excluiu qualquer período de tempo,
aderindo ao enunciado genérico de convivência duradoura, publica e continua que foi
aproveitado e reproduzido pelo o Código Civil de 2002.126

Ementa: DIREITO CIVIL E ADMINISTRATIVO. MANDADO DE SEGURANÇA. REGISTRO


DE PENSÃO POR MORTE PELO TCU. RATEIO ENTRE COMPANHEIRA E VIÚVA DE
SERVIDOR PÚBLICO. EXIGÊNCIA DE RECONHECIMENTO JUDICIAL DE UNIÃO
ESTÁVEL E SEPARAÇÃO DE FATO. 1. É possível o reconhecimento de união estável de
pessoa casada que esteja separada judicialmente ou de fato (CC, art. 1.723, § 1º). 2. O
reconhecimento da referida união estável pode se dar administrativamente, não se exigindo
necessariamente decisão judicial para configurar a situação de separação de fato. 3. No caso
concreto, embora comprovada administrativamente a separação de fato e a união estável,
houve negativa de registro de pensão por morte, fundada unicamente na necessidade de
separação judicial. 4. Segurança concedida.127

Nas palavras de Paulo LÔBO: Na união estável a estabilidade decorre da


conduta fática e das relações pessoais do companheiro, sendo presumida quando

123
Idem.
124
GOMES, Orlando. Direito de Família. Rio de Janeiro: Forense, 2000. p.48.
125
Ibidem. p. 49.
126
Idem.
127
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. Mandado de Segurança. Clarice da Cruz Mendes,
Ministro Roberto Barroso Primeira Turma, julgado em 03/05/2016, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-
196 DIVULG 13-09-2016 PUBLIC 14-09-2016). Disponível
em<http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=11650872> Acesso em: 30
mar. 2018.
30

conviverem sobre o mesmo teto ou tiverem filho. Evidentemente que essas


presunções admitem prova ao contrário.128
A estabilidade ou a duração da convivência da união estável, sempre foi um
problema para comprovar, visto que nos dias atuais, pode configurar-se a união
estável de pessoas que não convivam sob o mesmo teto, preferindo manter moradias
distintas, ou seja, em locais diversos, como admitido para a caracterização do
concubinato no entendimento da sumula 382 do STF, onde se justifica o modus
vivendi, por contingências pessoais, razões de trabalho e outras circunstancias
impeditivas de residência uma.129
Além disso, é indispensável, que mesmo que exista um distanciamento físico
dos companheiros, subsista uma efetiva convivência, isto é, encontros frequentes,
interesses comuns, viagens e participação em ambientes sociais e outras formas de
entrosamento que possa configurar uma união estável.130
Logo nem a Constituição, nem o Código Civil trazem tal exigência, pois é da
realidade social que nasce às relações afetivas estáveis de pessoas que escolheram
por viver em domicilio separados. Ainda que os motivos que os levam de estabelecer
domicílios diversos são as saídas de relacionamentos conjugais anteriores, e em
virtude das obrigações profissionais.131
Portanto, a estabilidade da convivência não é prejudicada, por motivos alheios
a essa circunstância, pois quando os companheiros se comportarem, nos espaços
públicos e sociais, como se casados fossem, presume um vínculo.132
O texto legal faz uma menção à convivência como requisito da união estável,
porém não agrega o dever de coabitação dos companheiros, ou de vida em comum
no mesmo domicilio, que o ordenamento civil propõe como um dos deveres básicos
do casamento.133

128
LÔBO, Paulo. Op. cit., p.155.
129
OLIVEIRA, Euclides de. Op. cit., p. 123.
130
Ibidem. p. 124.
131
Idem.
132
Idem.
133
Idem.
31

2.3 DOS REQUISITOS DA CONVERSÃO DA UNIÃO ESTÁVEL EM CASAMENTO

O assunto é de grande importância sendo relativamente uma inovação no


ordenamento jurídico brasileiro, considerando que até o advento da Constituição
Federal de 1988 aqueles companheiros que estavam dispostos a regularizar a sua
situação de união informal até então mantidas entres eles, deveriam observar todo o
procedimento de habilitação para casamento previsto no nosso Código Civil, Paulo
LÔBO sintetiza que:

A união estável é um estado de fato que se converteu em relação jurídica em virtude da


Constituição Federal e a lei atribuírem-lhe dignidade de entidade familiar própria [...] E, por
ser ato-fato jurídico (ou ato real), a união estável não necessita de vontade para que produza
seus efeitos jurídicos. Basta sua configuração fática, para que haja incidência das normas
constitucionais e legais cogentes e supletivas e a relação fática converta-se em relação
jurídica.134

Inclusive quanto ao ato de celebração, sujeitando-se à apresentação dos


documentos exigidos, tendo a conferencia, a publicação de editais de proclamas, ao
prazo dos editais, a expedição de certidão de habilitação, e finalmente a realização da
cerimônia civil.135
Ademais, independentemente de conviverem por longos anos, a situação dos
cônjuges é equiparada a dos noivos que nunca conviveram more uxório. Enfrentando
os mesmos percursos do processo de habilitação, como se fossem pessoas que
nunca estivessem coabitados juntos. Para Guilherme Calmon da GAMA:

[...] a conversão é estabelecida na norma contida no art. 226, §3º, da Constituição Federal de
1988, além de reconhecer oficialmente o companheirismo como espécie de família, introduziu
a regra da conversão, tendo corretamente, relegado o tratamento do assunto para a
legislação infraconstitucional, e sob esse aspecto, cuida-se de norma de eficácia restrita ou
limitada, apesar de produzir efeitos, como visto.136

Porquanto a conversão da união estável em casamento deverá ser requerida


pelos conviventes juntamente ao oficial de Registro Civil das Pessoas Naturais de seu

134
LOBO, Paulo. Op. cit., p.172.
135
Idem.
136
GAMA, Guilherme Calmon Nogueira da. Op. cit., p. 449.
32

domicilio. Ao receber o requerimento, será iniciado o processo de habilitação e como


já dito nesse estudo, irá constar nos editais a conversão da união estável em
casamento, decorrido o prazo legal do edital será lavrado e convertido a união estável
em casamento, independentemente de qualquer solenidade, dispensando o ato da
celebração do casamento.137
O procedimento da conversão será lavrado no livro, exarando–se e cumprindo
o que está disposto no art. 70, I à X da Lei de Registro Público, sem ter a indicação da
data da celebração e o nome e assinatura do presidente do ato, cujos espaços
próprios deverão ser inutilizados, anotando se no respectivo termo que se trata de
conversão de união estável em casamento, tal como permitida e regulada no art. 8 da
Lei 9.278/1996.138
Logo com a regulamentação pelo Código Civil, a denominação companheiros
para os parceiros da união estável foi unificada, assim, quem ingressa em união
estável, passa a ter estado civil autônomo, deixando de ser solteiro, separado,
divorciado, viúvo.139
De modo que, todo esse procedimento só poderá ser concretizado se não
houver os impedimentos legais para o casamento, sujeitando-se a adoção de regime
matrimonial de bens, na mais perfeita forma e segundo os preceitos da lei civil. O que
os cônjuges devem saber, é que no momento dessa conversão dessa união estável,
não constará do assento do respectivo casamento, em nenhuma hipótese a data do
início dessa união.140
Não podendo esquecer, que a conversão da união estável em casamento vai
depender do requerimento em conjunto do casal que convive juntos, e os mesmos
devem obedecer às mesmas formalidades da habitação para o casamento como era
determinado pelo Código Civil de 1916 no seu art. 180 e também no art. 183
observando se os impedimentos.141

137
Ibidem. p. 450.
138
Idem.
139
Idem.
140
Idem.
141
Idem.
33

E atualmente no Código Civil de 2002 no art. 1.726 onde é tratada a


conversão da união estável em casamento também de forma genérica, sem ter uma
explicação dos meios da facilitação do ato, assim o dispositivo determina “ A união
estável poderá converter- se em casamento, mediante pedido dos companheiros ao
Juiz e ao assento no Registro Civil.”142
Deve-se ter em mente que após a conversão da união em casamento, não
constará o tempo anterior, mas continuará valendo como união estável, com natural
sujeição às normas da legislação correspondente, em especial quanto á divisão dos
bens havidos em comum durante esse período.143
Para que se configure a união estável, deve estar comprovada a intenção do
casal com relação à formação de família e patrimônio em comum, já que o
consentimento de ambos, para tanto, deve ser traduzido pelo seu comportamento
(entre si e perante a sociedade), bem como mediante convivência pública, contínua e
duradoura.144
Nesse sentido destaca Maria Berenice DIAS:

A Constituição, ao garantir especial proteção à família, citou algumas entidades familiares –


as mais frequentes, mas não as desigualou. Limitou-se a elencá-las, não lhe dispensando
tratamento diferenciado. Ainda que a união estável não se confunda com casamento, ocorreu
a equiparação das entidades familiares, sendo todas merecedoras da mesma proteção.145

Nas palavras de Euclides de OLIVEIRA, ele observa a inadequada referência


ao pedido dos companheiros ao Juiz como determina o art. 1.726, quando na
verdade, o pedido cabe ao Oficial de Registro Civil, mesmo porque, na conversão não
cabe ao juiz de paz por não haver a celebração do ato solene, mas sim o registro
simples e em seguida a habilitação dos companheiros.146
Como bem coloca também o autor Rodrigo da Cunha PEREIRA, que a regra
do nosso Código Civil brasileiro estaria dificultando o processo e não facilitando,
porque ao determinar que o procedimento da conversão da união estável em
142
LOBO, Paulo. Op. cit., p.182.
143
Idem.
144
Idem.
145
DIAS, Maria Berenice. Op. cit., p.239,240.
146
OLIVEIRA, Euclides de. Op. cit., p.153.
34

casamento deveria ser judicial e não administrativo, como determinava a Lei


9278/1996.147
Ainda na concepção de Rodrigo da Cunha PEREIRA, o Código Civil
brasileiro, continuará como uma norma sem aplicabilidade, ineficaz, como todas até
agora sobre a conversão da união estável em casamento, de modo que seria, muito
mais simples para as pessoas que desejam casar- se fazer diretamente, em vez de
tentarem converter sua união estável em casamento.148
No entendimento do autor Washington de Barros MONTEIRO e Regina
Beatriz Tavares da SILVA:

O Código Civil de 2002 veio exigir procedimento judicial para o pedido conversivo, no que
teve em vista assegurar as formalidades indispensável à realização do casamento, mas
exagerou na medida dessa segurança. O procedimento judicial é dispensável, já que pelas
regras do casamento, sempre será necessário o processo de habilitação para a realização,
conforme os arts. 1525 e s. desse diploma legal. Além disso, a imposição de procedimento
judicial dificulta a conversão da união estável em casamento, em violação ao disposto no art.
226 § 3º, da Constituição Federal.149

Por conseguinte, verifica que anterior ao Código Civil de 2002, a conversão


era meramente administrativa e realizado perante o Oficial de Registro Civil como
despunha a Lei 9.278/1996 em seu art.8.150
Entretanto o processo dessa conversão do Código Civil de 2002 judicializou-
se e trouxe várias dúvidas, deixando sob a responsabilidade do legislador, a
interpretação dos aspectos relevantes do procedimento a ser adotado, bem como os
efeitos da conversão e a qual juiz competiria o pedido dos cônjuges interessados em
converter a sua união estável em casamento.151
Muito embora Paulo LÔBO, no seu entendimento, diz que a conversão não
produz efeitos retroativos, pois as relações pessoais e patrimonial da união estável

147
PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Concubinato e União Estável. 6. ed. Belo Horizonte: Del
Rey, 2001. p. 239.
148
Idem.
149
MONTEIRO, Washington de Barros, SILVA, Regina Beatriz Tavares. Curso de Direito
Civil: Direito de Família. Op. cit., p. 92,93.
150
Idem.
151
Ibidem. p. 94.
35

permaneceram com seus efeitos próprios, constituídos durante o período da


existência da união que os cônjuges se encontravam juntos até a conversão.152
Entretanto se os cônjuges optarem pelo regime de separação total de bens,
mediante o pacto antenupcial, os bens adquiridos na constância da união e que antes
eram considerados o regime de comunhão parcial, ainda sim permaneceram em
condomínio.153
A doutrina estabelece os pressupostos, e determina a conversão, porém o
que mais temos no judiciário são inúmeros processos que são negados para que haja
a conversão, fazendo com que os casais que convivam por longo período, venha
adequar-se aos efeitos pessoais e patrimoniais. Conforme a ementa:

DECISÃO MONOCRÁTICA. APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE RECONHECIMENTO DE UNIÃO


ESTÁVEL C/C PEDIDO DE CONVERSÃO EM CASAMENTO. EXTINÇÃO SEM
RESOLUÇÃO DE MÉRITO (AUSÊNCIA DE INTERESSE DE AGIR). INEXISTÊNCIA DE
LITÍGIO. IRRELEVÂNCIA.NECESSIDADE DE REQUERIMENTO DIRIGIDO AO JUIZ (CC,
ART. 1726). INTERESSE DE AGIR CARACTERIZADO. NECESSIDADE DE QUE SE
FACILITE E NÃO QUE SE DIFICULTE A CONVERSÃO DE UNIÃO ESTÁVEL EM
CASAMENTO (CF, ART. 226, §3º). ENTENDIMENTO JURISPRUDENCIAL DOMINANTE.
RECURSO A QUE SE DÁ PROVIMENTO (CPC, ART. 557, §1º-A).Vistos etc.I - Os autores,
C. S. e M. E. P., interpuseram recurso de apelação contra a sentença (mov. 42.1), que julgou
extinto o processo, sem resolução de mérito (ausência de interesse de agir), nos autos da
Ação de Reconhecimento de União Estável c/c Pedido de Conversão em Casamento, em
trâmite perante a 1ª Vara de Família, Sucessões e Registros Públicos da Comarca de
Maringá. Em suas razões recursais (mov. 55.1), alegaram que convivem em união estável,
desde 10.01.1981. Disseram que a união estável é reconhecida constitucionalmente e que o
art. 226, §3º, da CF, determina a facilitação de sua conversão em casamento. Aduziram que
o art. 1726 do CC preconiza que o pedido de conversão em casamento será dirigido ao juiz.
Afirmaram que não se trata de união estável recente, já que convivem há mais de 30 anos,
período em que amealharam bens e contraíram direitos e obrigações, destacando que
possuem idade avançada, de sorte que a falta de um poderá fazer com o que o outro se
depare "com questões afetas à sucessão, como pensões e seguros de vida, onde direitos
poderão ser postergados ou até mesmo negados por possíveis dúvidas que possam ser
suscitadas por terceiros quanto à efetiva duração da união estável". Salientaram que o oficial
do registro civil "não detém poderes necessários à juridicamente válida apreciação de provas
destinadas a demonstrar todo o lapso temporal já verificado desde o início da união estável",
estendendo os seus efeitos por todo o período de sua duração. Registraram que não há
qualquer impedimento à análise judicial dos pedidos. Pediram o provimento do recurso, com a
anulação da sentença e o prosseguimento do feito.154

152
LÔBO, Paulo. Direito Civil; Famílias. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 163.
153
Idem.
154
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO PARANÁ. Acordão: Decisão Monocrática. Relator (a): Min
Mário Helton Jorge. Maringá, 25 de maio de 2015. Disponível em:<
https://portal.tjpr.jus.br/jurisprudencia/j/11915719/decis%C3%A3o%20monocr%C3%A1tica-1322489-2-
> acesso em 30 mar.2018.
36

Todavia, mesmo havendo uma divergência doutrinaria o instituto da


conversão da união estável em casamento sempre se manteve inócuo devido à falta
de precisão nas regulamentações infraconstitucionais. Para Giselda HIRONAKA,
“esta é a mais inútil de todas as inutilidades”.155
Por fim Rolf MADALENO, também concorda com os diversos embaraços na
conversão da união estável em casamento, tanto no art. 8 da Lei 9278/1996 nos
processos administrativos de habilitação, onde era de inteira competência do Oficial
de Registro Civil, bem como na legislação atual do art. 1.726 Código Civil de 2002
onde envolve decisão judicial, levando os companheiros a se submeterem a
habilitação do casamento, desistindo da conversão da união estável em casamento.156
Em face do artigo 1.726 do Código Civil, cessou a competência do Oficial do
Registro Civil na apreciação do pedido de conversão. Pelo aludido dispositivo o
requerimento deste pedido deverá ser feito perante o juiz, que examinará as
circunstâncias de cada caso. Havendo deferimento, será feito assento no registro
Civil, assim dispensando o processo de habilitação para o casamento.157
Tanto com a legislação de 1996 quanto com o Código Civil à morosidade e os
incômodos com o tramite do processo de habilitação ou com o aguardo da decisão
judicial, mais prático seria os companheiros casarem diretamente. Pois, a conversão
automática é impossível, pois jamais a lei poderá impor que após determinado tempo
de união se consideram casados os conviventes.158

155
HIRONAKA. Giselda Maria Fernandes Novaes. Direito Civil: Estudos. Belo Horizonte: Del
Rey, 2000. p.27.
156
MADALENO, Rolf. Curso De Direito De Família. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2008.
p.811.
157
AZEVEDO, Álvaro Villaça. Direito de Família. São Paulo: Atlas, 2013. p. 173.
158
COELHO, Fabio Ulhôa. Curso de Direito Civil: Família, Sucessões. vol. 5. 7. ed. rev.
atual. São Paulo: Saraiva, 2014. p. 152.
37

3 DOS EFEITOS PATRIMONIAIS NA UNIÃO ESTÁVEL

3.1 DA CELEBRAÇÃO DO CONTRATO DE UNIÃO ESTÁVEL

Se duas pessoas que irão contrair matrimônio ou viver em união estável


tiverem a intenção de que o regime supletivo de comunhão parcial de bens não lhes
atinja, tal vontade deverá ser disposta por escrito na forma de contrato. Isto vale para
todo e qualquer casal que deseje que seu relacionamento seja regido pelas regras
atinentes à comunhão total de bens, participação final nos aquestos, separação total
de bens, ou a um regime misto a ser definido pelo casal.159
Uma vez que o pacto antenupcial deve necessariamente ser realizado por
escritura pública, enquanto o contrato de convivência deverá ser registrado apenas no
caso de os companheiros desejarem que o regime diferenciado a eles aplicado seja
válido perante terceiros. O contrato poderá tratar tanto de eventual rompimento da
relação conjugal ou concubinária, como também do dia-a-dia da relação, e do
planejamento sucessório.160
Contudo, o escopo do objeto, tanto o pacto antenupcial como o contrato de
convivência são apenas as relações patrimoniais, sendo que quaisquer cláusulas que
prejudiquem direitos pessoais não serão admitidas.161
O pacto antenupcial é negócio jurídico existente, válido, porém ineficaz até o
advento do casamento. Cabe observar que não há prazo para que a cerimônia do
casamento ocorra após a celebração do pacto, tampouco há qualquer tipo de punição
ao contraente do pacto antenupcial que porventura venha a unilateralmente mudar de
ideia, decidindo não mais celebrar o casamento.162
No entendimento do autor Euclides de OLIVEIRA:

Admite - se a celebração de contrato escrito de vida em comum, no seu início ou no seu


intercurso, assim como do respectivo distrato ao termino da convivência. Inegável sua
utilidade como instrumento probatório, especialmente quando atestado por testemunha.

159
OLIVEIRA, Euclides de. Op. cit., p. 131.
160
LÔBO, Paulo. Op. cit., p.171
161
Idem.
162
COLTRO, Antônio Carlos Mathias. Op.cit., p.212.
38

Poderá ser levado a registro no Cartório de Título e Documentos, para a maior segurança dos
interessados e a desejável publicidade (conhecimento de terceiros).163

Não obstante, a Lei 9278/1996 foi sancionada e a mesma veio com vetos em
partes. Porém alguns dos seus artigos como “3º, 4º e o 6º” , previam a celebração do
contrato escrito, regulando os direitos e deveres dos companheiros, bem como
autorizando os cônjuges a ter a permissão de rescindir a união no Cartório de
Registro Civil , onde possuem residência.164
Nas palavras de Washington de Barros MONTEIRO, O Código Civil também
prevê em seu art. 1.725 a possibilidade de contrato escrito entre os cônjuges para
regular a suas relações patrimoniais e condicionar à caracterização dos elementos
necessários da união estável.165
Para tanto o contrato constitui relevante meios de provas para fins de
conhecimentos e certificação dos efeitos pessoais e patrimoniais da união estável,
além do que resguarda o direito dos companheiros e suas relações negociais com
terceiros, servindo de elementos de segurança de seus atos no mundo jurídico.166
Logo o contrato de convivência tem por objeto a autorregulação dos reflexos
patrimoniais dos cônjuges, reconhecendo, criando, modificando ou extinguindo
direitos entre os companheiros.167
Como bem coloca o autor Euclides de OLIVEIRA, o contrato em suma é a
formalização da vida em comum dos companheiros ou conviventes mediantes
contrato escrito, ainda que não seja essencial e com as restrições apontadas, tem
uma finalidade útil para formalizar as regras do tempo de convivência da vida em
comum, especialmente na esfera da formação do patrimônio e sua administração.168
Ainda no entendimento do autor Euclides de OLIVEIRA, O Código Civil ele
veio para prever, em seu art.1725 que o contrato escrito é de suma importância para

163
OLIVEIRA, Euclides de. Op. cit., p.155.
164
Idem.
165
MONTEIRO, Washington de Barros, SILVA, Op.cit., 2012. p. 104.
166
Idem.
167
Idem.
168
OLIVEIRA, Euclides de. Op. cit., p. 158.
39

regular as relações patrimoniais, e que na falta do mesmo, aplica se então o regime


da comunhão parcial de bens.169
Ainda que prescindível, é um meio de provas importante para fins de
conhecimento da verificação dos efeitos patrimoniais do cônjuge, servindo como uma
segurança a mais para os companheiros.170
O instrumento deve ser escrito, para que tanto no início como no término da
relação previna litígios, permitindo o acerto amigável das questões resultantes dos
efeitos jurídicos da entidade familiar, oriunda da união estável, como forma, o contrato
de convivência deve ter os requisitos essenciais de capacidade das partes, deve ser
licito e, contudo, a sua forma deve ser prescrita ou não defesa em lei.171
Assim, não há o que se falar em prescrição de forma especifica para a
solenidade do contrato dessa espécie, que só constitui pelo fato de existir a união
entre um homem e uma mulher com o desejo de constituir a família.172
Porém a lei determina que para a contratação relativa aos efeitos patrimoniais
da vida em comum, a lei exige o contrato escrito, como um dos requisitos formais o
que não se pode dispensar. Sob a conformidade das partes ao direito de posse dos
bens adquiridos onerosamente durante a convivência como dispõe a Lei 9.278/1996,
art. 5º, ou ao regime da comunhão de bens, como está expresso no Novo Código
Civil, art. 1.725.173
Embora o contrato na abrangência ou finalidade, não reclama forma
preestabelecida ou determinado para a sua eficácia, porém é necessário que seja
escrito, e não apenas verbal. Assim poderá assegurar a proteção de ter uma garantia
constitucional nos termos da lei, como instrumento particular levado a registro em
Cartório de Títulos e Documentos.174
Quanto a eficácia do contrato, esse se destina ao conteúdo adequado,
estabelecendo ao regime de bens, sendo que os cônjuges podem optar pela escolha

169
Idem.
170
Idem.
171
Idem.
172
Idem.
173
Ibidem, p. 159.
174
Idem.
40

da comunhão parcial de bens, separação total de bens, bem como o regime de


participação final nos aquestos Trazendo a segurança jurídica para o patrimônio
anterior ao início da convivência 175
Claudia Grieco Tabosa PESSOA entende que o contrato não celebra a união,
porém, também não é correto dizer que o contrato servirá para criar a união estável,
fato jurídico que se forma com o decurso do tempo e o perfazimento dos elementos
que caracterizam, nos moldes do art. 1º da Lei 9.278/1966, servirá de ajuste,
entretanto, como meio de prova que permitirá estabelecer um marco temporal a parte
do que se presume o início da união estável.176
Verifica-se, portanto, que a formalização do contrato na união estável é
menos solene que o pacto antenupcial celebrado para fins de casamento, tanto pela
circunstância de ser pela forma escrita, entretanto no contrato de união estável exige
se a escritura pública, pelo fato de que o contrato dos cônjuges pode ser feito a
qualquer momento, bem como pode ser alterado por simples vontade das partes.177
Por conseguinte, no pacto antenupcial é anterior ao ato do casamento e é
regulado pelo Código Civil e tem como finalidade regular o regime patrimonial durante
o casamento e após o seu desfazimento.178
Os contratos de convivência que declaram e atestam a união estável, o intuito
é o mesmo, mas pode ser incluído outros pressupostos, como os que dizem aos filhos
menores de um e de outro membro do casal, domicilio conjugal e dos filhos,
especificando o direito de visita dos descendentes e etc.179
Quanto ao conteúdo e eficácia do contrato de união estável, tanto a Lei
9.278/1996 e o novo Código Civil estabeleceu limites quanto às disposições
patrimoniais sobre bens havidos pelos companheiros, ou por serem adquiridos
durante o tempo de vida. Nas palavras de Silvio de Salvo VENOSA:

175
Ibidem, p 161.
176
PESSOA, Claudia Grieco Tabosa. Efeitos Patrimoniais do Concubinato. 2. ed. São
Paulo: RT, 2001. p. 118.
177
Idem.
178
Idem.
179
Idem.
41

O amor por si só, entendido com afeto, ternura, amparo, proteção recíproca e relação sexual,
não pode ficar preso a planos futuros e a contratos de curta ou média duração. Apesar de
tudo que se diz e que se disse a respeito desses contratos. Há que se deixar o amor seguir
seu próprio caminho e se ávida levar para uma união estável ou casamento, estar-se á
seguindo uma ordem natural.180

Na concepção de Francisco José CAHALI, qualquer acordo, manifestação de


vontade expressados pelas partes, ainda que a união estável e seu efeito patrimonial
não tenha sido o objeto único, ou principal do negócio jurídico que as contém, mesmo
assim valerá como um contrato de convivência.181
Comentando ainda sobre ao tempo de eficácia, no pensamento de Claudia
Grieco Tabosa PESSOA, acerca da retroatividade do contrato, uma vez discutidos
que para a existência da união estável, não há obrigatoriedade do contrato escrito,
porém, se no decorrer da união celebrar um contrato escrito, apenas estará
formalizando um negócio jurídico em andamento.182

3.2 A OBRIGAÇÃO DE PRESTAR ALIMENTOS

Para Silvio RODRIGUES alimentos, “em direito, denomina-se a prestação


fornecida a uma pessoa, em dinheiro ou em espécie, para que possa atender às
necessidades da vida”. Assim, é unanimidade entre os doutrinadores a afirmação de
que, em sentido técnico, o vocábulo “alimentos” tem um significado muito mais amplo
do que na acepção utilizada rotineiramente pela maioria das pessoas. No mundo
jurídico, a obrigação alimentar deve ser satisfeita atendendo-se as necessidades de
sustento, vestuário, habitação, tratamento médico e a educação. Já na linguagem
vulgar, restringe-se tão somente ao necessário à alimentação.183

180
VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil; Família. 17. ed. São Paulo: Atlas,2017. p. 493.
181
CAHALI, Francisco José. Contrato de Convivência na União Estável. São Paulo:
Saraiva, 2002. p. 203.
182
PESSOA, Claudia Grieco Tabosa. Op. cit., p. 118.
183
RODRIGUES, Silvio. Direito Civil. 27 ed. São Paulo: Saraiva, v.6, 2002. p. 418.
42

A doutrina classifica os alimentos fazendo uso de vários critérios dentre eles I


– quanto à natureza; II – quanto à causa jurídica; III – quanto à finalidade; IV – quanto
ao momento da prestação; V – quanto à modalidade da prestação.184
Embora a prestação dos alimentos, possa ter uma natureza jurídica pessoal,
verifica- se que pode ter uma divergência em relação a mesma, fruto de três correntes
doutrinarias que esclarecem: sendo que a primeira defende que a prestação dos
alimentos é um direito pessoal, extrapatrimonial, pois não teria o alimentando o
interesse econômico na prestação dos alimentos, já que o dinheiro em si não tem
como fator determinante o aumento do patrimônio.185
A segunda corrente em questão é divergente com a primeira, tendo um
entendimento de direito patrimonial retratado como pecúnia ou em espécie, de modo
que o caráter econômico não se afasta.186
Por fim a terceira corrente, defende uma mistura das duas anteriores, de
forma que a natureza jurídica da referida prestação de alimentos seria um dos
requisitos do direito do conteúdo patrimonial com finalidades pessoais.187
Entretanto, a que mais se encaixa é a última, não podendo negar que a
prestação de alimentos se encaixa no plano econômico.188
Posição adotada por Orlando GOMES, onde não dá para se omitir que a
própria prestação da obrigação alimentar, consiste num pagamento periódico de
pecúnia, declarando se consequentemente como uma relação de credito e debito, ou
seja, um credor que irá exigir de um determinado devedor uma prestação
econômica.189
Portanto a natureza dos alimentos, estes podem ser espontâneos, e também
conhecidos como indispensável , pois são os que limitam o sustento do alimentando,

184
CAHALI, Yussef Said. Dos Alimentos. 4. ed. São Paulo: RT, 2002. p.18.
185
MEDEIROS, Guilherme Luiz Guimaraes. A Natureza Jurídica dos Alimentos. Disponível
em< http://www.arcos.org.br/artigos/a-natureza-juridica-dos-alimentos/> Acesso em 30 mar. 2018.
186
Idem.
187
Idem.
188
Idem.
189
GOMES, Orlando. Direito de Família.11. ed. Rio de Janeiro: Revista Forense, 1999.
p.499.
43

para que este possa viver de forma compatível com sua situação, estes porem são
estipulados conforme as possibilidades do alimentante e a sua condições social..190
Uma vez que, as prestações dos alimentos são futuros ou pretéritos. Os
futuros são aqueles a serem pagos após a propositura da ação; pretéritos, os que
antecedem à ação No sistema brasileiro os alimentos só são devidos a partir da
citação, mas o autor Silvio de Salvo VENOSA lembra que “o contrato, a doação e o
testamento podem fixá-los para o passado, contudo, porque nessas hipóteses não há
restrições de ordem pública”.191
Em síntese, tratando dos alimentos, estes podem ser fornecidos também por
meio de uma pensão periódica ou através de hospedagem, sustento e educação,
entretanto essa modalidade somente se aplica aos alimentos que são derivados de
parentesco, sendo que este não se aplicará, em princípio aos alimentos que são
decorrente da união estável.192
Segundo o autor Euclides de OLIVEIRA, como requisito para a concessão
dos alimentos conforme outrora a Lei 8971/1994, é necessário que se comprovasse
que a companheira, ou companheiro nas mesmas condições que fossem solteiro,
divorciado, separado judicialmente ou viúvo, e que também houvesse a convivência
por mais de cinco anos, ou que dessa união tivessem filhos.193
Ainda nas palavras do autor, esses alimentos só serão devidos enquanto o
cônjuge não contraísse nova união, e que comprovasse verdadeiramente a sua
necessidade.194
Entretanto veio a Lei 9278/1996, e revogou a anterior, fez menção sobre a
obrigação alimentar em dois dispositivos art. 2º, inc., II esclarecendo o direito (dever)
de assistência reciproca, bem como o art. 7º que dispunha que quando houvesse a

190
CAHALI, Yussef Said. Dos alimentos. Op. cit., p. 18.
191
VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil: Direito de Família. 3.ed. São Paulo: Atlas, v.6.
2002. p.377.
192
Idem.
193
OLIVEIRA, Euclides de. Op. cit., p.172.
194
Idem.
44

dissolução da união estável por rescisão, a assistência dos alimentos naturais seriam
prestados por um dos conviventes, ao que necessitasse.195
Não tendo a necessidade de questionar o tempo de convivência como a Lei
8971/1994, sendo indispensável a prova da necessidade do requerente (seja o
homem ou mulher), para que na proporção se fixem os alimentos.196
No que concerne tanto a Lei 8971/1994 em seu art. 1º e a Lei 9278/1996 no
seu art. 7º, repete-se o preceito, esclarecendo que a prestação alimentícia, não
constitui encargo obrigatório, sendo sujeito a obrigação.197
De qualquer forma o novo Código Civil de 2002 em seu art.1724, esclarece o
dever de mutuo sustento, decorrente do direito dever de alimento durante o curso da
convivência e após a rescisão da união estável.198
Antes da nossa Constituição de 1988, a suposta união estável era tratada no
campo do Direto das obrigações, e como consequência se aplicava as regras da
sociedade de fato, não se concedia alimentos aos companheiros.199
Somente com o advento da Lei 8971/94 , que passou a existir a possibilidade
de um dos cônjuges ter a concessão dos alimentos, pois anterior a Lei era concedido
os alimentos, porém , de forma disfarçada, dando o nome de indenização.200
Nas palavras de Maria Berenice DIAS:

Tantos os companheiros, quanto aos cônjuges tem direito de pedir uns aos outros os
alimentos de que necessitem (CC1.694). Com o fim da separação, o tema da culpa
desapareceu. Os dispositivos que limitavam o valor dos alimentos a favor do cônjuge culpado
restaram derrogados (CC 1.701 e 1.704).
Como os alimentos são irrenunciáveis (CC1.707) não é possível no contrato de convivência
haver prévia renuncia a esse direito.201

195
Ibidem, p. 173.
196
Idem.
197
Idem.
198
Ibidem, p. 174.
199
PEREIRA, Rodrigo da Cunha In: Direito de Família e o Novo Código Civil. (coords.)
Dias, Maria Berenice e Pereira, Rodrigo Cunha. Belo Horizonte: Del Rey, 2001. p. 222.
200
Idem.
201
DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Familias. 12.ed. rev., atual. São Paulo: RT,
2017. p. 282.
45

Por conseguinte, o Código Civil estabeleceu também nos termos de seu


artigo 1.700, “a obrigação de prestar alimentos transmite-se aos herdeiros do
devedor, quando na falta deste. Entretanto, o art. 1.694 determina que podem os
parentes, os cônjuges ou companheiros pedir uns aos outros os alimentos de que
necessitem para viver de modo compatível com a sua condição social, inclusive para
atender às necessidade básicas”.202

3.3 IMPLICAÇÕES DA UNIÃO ESTÁVEL NO DIREITO SUCESSÓRIO: A QUESTÃO


DA INCONSTITUCIONALIDADE DO ARTIGO 1.790 DO CÓDIGO CIVIL

Os efeitos sucessórios que são atribuídos ao casamento, também fazem


parte da união estável, e não dá para pensar somente no falecimento do cônjuge, pois
quando temos uma dissolução da união, temos que estabelecer eventual pagamento
de alimentos, guarda dos filhos e respectivo direito de convivência e a partilha dos
bens em comum.203
Anterior a regulamentação da união estável, não se falava em direito à
herança entre os companheiros. Porque na ordem de vocação hereditária
estabelecida no Código Civil de 1916 em seu art. 1.603, esclarecia que somente o
companheiro, para receber a herança, deveria ser após os descendentes e os
ascendentes.204
Entretanto na falta do companheiro, sucediam os da linha colateral. Os
julgados reconheciam apenas os direitos de partilha, onde os companheiros
adquiriam os bens pelo esforço em comum, sendo estes considerados concubinos.205
Embora nessa época, fora considerado uma sociedade de fato, sendo usado
o direito para uma visão obrigacional. Não se tratava de ter o direito à herança
reconhecido, somente uma participação equiparável da meação, as vezes nem isso,

202
RODRIGUES, Silvio. Direito Civil. 27 ed. São Paulo: Saraiva, 2002, p.107.
203
Ibidem. p.98.
204
OLIVEIRA, Euclides de. Op. cit., p.201.
205
Idem.
46

nem meação ou metade dos bens adquiridos, e sim um percentual variável conforme
a contribuição somada pelo interessado.206
A sucessão somente era possível por disposição testamentária, além do que
tinha a vedação de ser feita por homem que casado fosse, e esse tivesse
relacionamento com uma concubina.207
No entendimento do autor. Zeno VELOSO:

Com o advento da Constituição de 1988, entrou em vigor em seu art. 226§3°, que enuncia:
“Para efeito de proteção do Estado, é reconhecida a união estável entre um homem e a
mulher como entidade familiar, devendo a lei facilitar em casamento” Em nível
infraconstitucional, regulando e explicitando o estatuído na Carta Magna, vigorando no país
duas leis: Lei 8971/de 29 de dezembro de 1994 e a Lei 9278/ de 10 de maio de 1996. A
primeira tratou da sucessão dos companheiros e a segunda do direito real na habitação.208

Esclarecendo que a Lei 8971/1994 era determinante em seu art. 2°,§ I que o
companheiro sobrevivente, só teria direito ao usufruto da quarta parte dos bens do de
cujus, enquanto não constituísse uma nova união, e se dessa união não tivesse
filhos.209
Art. 2,§ II, onde determina que o companheiro sobrevivente terá direito,
enquanto não contraísse uma nova união, ele teria o usufruto da metade dos bens do
de cujus, se não houver filhos deste, e embora sobrevivam os ascendentes.210
Art. 2, § III, havendo a falta de descendentes e de ascendentes, o
companheiro sobrevivente ficará com o direito a totalidade da herança.211
Por sua vez, veio a Lei 9278/1996 que estabelecia em seu art. 7° § único, que
uma vez dissolvida a união estável por morte de um dos conviventes, o companheiro
sobrevivente terá o direito real de habitação, enquanto viver ou não constituir uma
nova união.Tratanto se do imóvel que era destinado a família.212

206
Idem
207
Idem.
208
VELOSO, Zeno In: Direito de Família e o Novo Código Civil. (cords.) Dias, Maria
Berenice e Pereira, Rodrigo Cunha. Belo Horizonte: Del Rey, 2001. p. 226,227.
209
Idem.
210
Idem.
211
Idem.
212
Idem.
47

Veio o Código Civil de 2002 e dele resultou mais mudanças, mais não o
suficiente, ele não elegeu o companheiro a condição de herdeiro necessário, apenas
de herdeiro privilegiado, concorrendo com os descendentes e ascendentes.213
O Novo Código, não teve grande satisfação, quando limitou ao companheiro
na ordem de vocação hereditária, impondo limites de direitos nas disposições gerais
do Direito das Sucessões, pelo teor do seu art. 1790.214
De modo que, pelo teor do art. 1790, o companheiro só terá direito de
participação na sucessão do outro, apenas quanto aos bens adquiridos juntos na
vigência da união estável, e essa participação se dá com os demais herdeiros, ou
seja, os descendentes do falecido, em uma cota parte igual à dos filhos em comum,
ou metade de que receber cada uns dos filho, tendo a concorrência com outros
parentes.215
Por essa disposições do art. 1790, o direito de total herança somente é
reconhecido em favor do companheiro sobrevivente se não houver nenhum herdeiro
sucessível, mesmo assim, contudo, a sucessão do companheiro se restringia aos
bens adquiridos onerosamente pelo casal, durante a convivência pela disposição do
caput do art. 1.790.216
Contrariando as expectativas, o Novo Código Civil em seu art. 1.790, colocou
o companheiro em situação diferente do cônjuge, sendo, que o regime estabelecido
na união estável, salvo convenção valida entre os companheiros, aplica- se às
relações patrimoniais, no que então couber, o regime da comunhão parcial de bens.217
Entretanto, não deve confundir meação com direito hereditário, pois, a
meação é derivada de uma relação patrimonial, que já estabelecida por lei ou pelo
interesse das partes já acertadas.218

213
Idem.
214
OLIVEIRA, Euclides de. Op. cit., p.203.
215
Idem.
216
Idem.
217
VENOZO, Zeno. Op. cit., p.232.
218
Idem.
48

A sucessão hereditária, tem origem pelo fator morte do companheiro, e a


herança só é transmitida ao sucessor conforme disposição legal, ou pela vontade do
companheiro, quando este deixa sua vontade determinada em um testamento.219
Uma vez que o companheiro já é meeiro da sua parte ideal antes da abertura
da sucessão, o que implica é a forma que o Código Civil deixou estabelecido em seu
art. 1.790, inciso IV, para o companheiro. Sendo que a totalidade da possível herança
a que o companheiro sobrevivente está autorizado a receber, é nos casos em que o
falecido não possua parente sucessíveis.220
Isto é, se o falecido não tiver descendentes e nem ascendentes, nem
colaterais até o 4° grau, somente assim o companheiro sobrevivente poderia herdar
os outros bens adquiridos anteriores ao início da convivência.221
E não sendo possível os bens serem integrados ao patrimônio do
companheiro sobrevivente, então, sendo assim, passariam os bens para o Município,
ou, para o Distrito Federal se localizados nas circunscrições, e também para a União
quando situados em território Federal.222
Embora a questão seja adversa, levando ao rebaixamento da capacidade
sucessória do companheiro, pela impiedosa redação do art.1.790 do Novo Código
Civil, ora, o Caput do artigo estabelece, direito de herança somente sobre os bens
adquiridos durante a união.223
Atentou se o legislador civilista, em chamar expressamente, o companheiro
no art.1.790 do Código Civil para então participar da herança, porém restringindo se
aos bens adquiridos na vigência da união estabelecida na lei:224
I- Se concorrer com filhos comuns, terá direito a uma quota equivalente à que
por lei for atribuída ao filho, II- Se concorrer com descendentes só do autor da
herança, terá que repartir a metade que couber a cada um dos descendentes, III- Se
concorrer com os outros parentes que são sucessível, terá direito a um terço da

219
Idem.
220
Ibidem, p.233.
221
Idem.
222
Idem.
223
OLIVEIRA, Euclides de. Op. cit., p.211.
224
PEREIRA, Caio Mario da Silva. Op.cit., p.592.
49

herança, IV- E por fim não havendo parentes que possam suceder, terá direito então a
herança.225
Para o autor Zeno VELOZO:

Restringir o direito possessório do companheiro sobrevivente aos bens adquiridos pelos de


cujus na vigência da união estável não tem nenhuma razão, não tem lógica alguma, e quebra
todo o sistema, podendo gerar consequências extremamente injustas: companheira de muitos
anos de um homem rico, que possuía vários bens na época em que iniciou o relacionamento
afetivo, não herdará coisa alguma do companheiro, se este não adquiriu outros bens durante
o tempo da convivência. Ficará esta mulher- se for pobre- literalmente desamparada,
mormente quando o falecido não cuidou de beneficiá-la em testamento. O problema se
mostra mais grave e delicado se considerarmos que o novo Código Civil nem fala do direito
real da habitação sobre o imóvel destinado à residência da família, ao regular a sucessão
entre os companheiros, deixando de prever, em outro retrocesso o benefício já estabelecido
no Art. 7°, parágrafo único da Lei. n. 9.278/1996.226

Uma vez que, a família é a base da sociedade, tem a proteção e as garantias


estabelecidas pela Constituição Federal, e a união estável é reconhecida como
entidade familiar, e foi equiparada a família constituída pelo matrimonio, verifica que o
Direito Sucessório deixado para o companheiro no art.1.790 é discriminatório, em
comparação feita ao cônjuge, contrariando os fundamentos constitucionais.227
Ainda fazendo um comparativo, as condições do companheiro e do cônjuge
no plano real da sucessão, estabelece que a participação da herança tem como
objetivo a concorrência com os descendentes ou ascendentes, apenas, e não com os
parentes que não são sucessíveis.228
Atualmente a nova regra foi criticada, sob a justificativa de que aos
companheiros foram concedidos direitos inferiores àqueles concedidos aos cônjuges,
já que estes passaram a ser considerados herdeiros necessários, tendo seus direitos
concedidos a uma parte da herança, que se torna inatingível em documento
testamentário.229
Diante disso, muitos problemas apareceram em decorrência do art. 1.790 em
relação ao Direito Sucessório dos companheiros, tendo vários posicionamentos que

225
Idem.
226
VELOZO, Zeno. Op. cit., p.233.
227
OLIVEIRA, Euclides de. Op. cit., p.214.
228
Idem.
229
MONTEIRO, Washington de Barros, SILVA, Regina Beatriz Tavares. Op.cit., p.89.
50

foram contrários a inconstitucionalidade do proposto artigo, ao fundamentar o instituto


do casamento e da união estável. Conforme o julgado feito pelo Tribunal do Rio
Grande do Sul segue a ementa:

Ementa: INCIDENTE DE INCONSTITUCIONALIDADE. FAMÍLIA. UNIÃO ESTÁVEL.


SUCESSÃO. A Constituição da República não equiparou a união estável ao casamento.
Atento à distinção constitucional, o Código Civil dispensou tratamento diverso ao casamento e
à união estável. Segundo o Código Civil, o companheiro não é herdeiro necessário. Aliás,
nem todo cônjuge sobrevivente é herdeiro. O direito sucessório do companheiro está
disciplinado no art. 1790 do CC, cujo inciso III não é inconstitucional. Trata-se de regra criada
pelo legislador ordinário no exercício do poder constitucional de disciplina das relações
jurídicas patrimoniais decorrentes de união estável. Eventual antinomia com o art. 1725 do
Código Civil não leva a sua inconstitucionalidade, devendo ser solvida à luz dos critérios de
interpretação do conjunto das normas que regulam a união estável. INCIDENTE DE
INCONSTITUCIONALIDADE JULGADO IMPROCEDENTE, POR MAIORIA. (Incidente de
Inconstitucionalidade Nº 70029390374, Tribunal Pleno, Tribunal de Justiça do RS, Relator:
Leo Lima, Redator: Maria Isabel de Azevedo Souza, Julgado em 09/11/2009).230

Não obstante a sucessão do companheiro perante o Código Civil de 2002, foi


reduzida contrariando os princípios constitucionais, perdendo o companheiro o seu
lugar de herdeiro necessário. Observa- se também que o nosso Código Civil quando
entrou em vigor com a Lei 10.406/2002 e regulamentando a união estável, revogou
tacitamente a Lei 8.971/1994 que previa em seu art. 2° as diretrizes dos direitos
sucessórios do companheiro, que de alguma forma se assemelhava com à sucessão
dos cônjuges.231
Todavia, mesmo que tenha um contrato estabelecendo a união dos
companheiros, o teor do art. 1.790 em seus incisos I, II e III reduziu claramente os
direitos dos mesmos, pois, a presença de um contrato que venha regular o regime de
convivência, de nada mudaria as circunstancias previstas no Caput do 1.790, não

230
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO RIO GRANDE DO SUL. Incidente 70029390374, Porto
Alegre, Órgão Especial, Rel. Originário Des. Léo Lima (vencido), Rel. para o acordão Des. Maria Isabel
de Azevedo Souza, j. 09.11. 2009.Disponivel em http://www.tjrs.jus.br/busca> Acesso em: 26 mar.
2018.
231
CARDOZO, Mila Pugliesi, CARDOSO, Udine Antônio Brandão. Analise acerca da
inconstitucionalidade da sucessão do companheiro em face de sua concorrência com
colaterais. Disponível em: < http://www.recivil.com.br/preciviladm/modulos/artigos/documentos/.pdf>
Acesso em 30 mar.2018.
51

sendo possível dispor contratualmente no que diz respeito a sucessão, sob pena de ser
nulo.232
De acordo com Mila Pugliesi CARDOZO e Udine Antônio CARDOSO, algumas
turmas de tribunais se manifestavam contra o art. 1.790 em questão, por estarem em
desacordo com a dignidade da pessoa humana, princípio que se refere a proteção do
direito individual, bem como um dever fundamental de todos terem um tratamento
igualitário dos próprios semelhantes.233
Entretanto a pesquisa realizada mostra as divergências sobre a
inconstitucionalidade do proposto art. 1.790, se dividindo em três possíveis correntes,
sendo a primeira delas a qual o Desembargador Sergio Fernando Vasconcelos
Chaves, entende não ser possível ter inconstitucionalidade no presente artigo, por
presumir que a nossa Constituição de 1.988 não equiparou a união estável ao
casamento, razão por tratar esses institutos de forma diferente, não ferindo o princípio
da igualdade.234
Portanto para essa corrente, deveria sim privilegiar os colaterais em
detrimentos do companheiro, razão pela qual o legislador no momento em que
elaborou o Código Civil, desprezou os direitos constitucional fundamental assegurados
pela Constituição de Republica.235
Já a segunda corrente do estudo mostra a inconstitucionalidade de todo o teor
do artigo 1.790, por reconhecer que os companheiros teriam menos direitos
sucessórios, em relação ao cônjuge e por ferir os princípios constitucionais.236
Como mostra a ementa a seguir:

RECURSO ESPECIAL. DIREITO CIVIL. AÇÃO DE ANULAÇÃO DE ADOÇÃO.


ILEGITIMIDADE ATIVA. SUCESSÃO. CASAMENTO E UNIÃO ESTÁVEL. REGIMES
JURÍDICOS DIFERENTES. ARTS. 1790, CC/2002. INCONSTITUCIONALIDADE
DECLARADA PELO STF. EQUIPARAÇÃO. CF/1988. NOVA FASE DO DIREITO DE
FAMÍLIA. VARIEDADE DE TIPOS INTERPESSOAIS DE CONSTITUIÇÃO DE FAMÍLIA. ART.
1829, CC/2002. INCIDÊNCIA AO CASAMENTO E À UNIÃO ESTÁVEL. MARCO
TEMPORAL. SENTENÇA COM TRÂNSITO EM JULGADO. 1. A diferenciação entre os

232
Idem.
233
Idem.
234
Idem.
235
Idem.
236
Idem.
52

regimes sucessórios do casamento e da união estável, promovida pelo art. 1.790 do Código
Civil de 2002 é inconstitucional, por violar o princípio da dignidade da pessoa humana, tanto
na dimensão do valor intrínseco, quanto na dimensão da autonomia. Ao outorgar ao
companheiro direitos sucessórios distintos daqueles conferidos ao cônjuge pelo artigo 1.829,
CC/2002, produz-se lesão ao princípio da proporcionalidade como proibição de proteção
deficiente. Decisão proferida pelo Plenário do STF, em julgamento havido em 10/5/2017, nos
RE 878.694/MG e RE 646.721/RS. 2. Na hipótese dos autos, o art. 1790, III, do CC/2002 foi
invocado para fundamentar o direito de sucessão afirmado pelos recorridos (irmãos e
sobrinhos do falecido) e consequente legitimidade ativa em ação de anulação de adoção. É
que, declarada a nulidade da adoção, não subsistiria a descendência, pois a filha adotiva
perderia esse título, deixando de ser herdeira, e, diante da inexistência de ascendentes, os
irmãos e sobrinhos seriam chamados a suceder, em posição anterior à companheira
sobrevivente. 3. A partir da metade da década de 80, o novo perfil da sociedade se tornou tão
evidente, que impôs a realidade à ficção jurídica, fazendo-se necessária uma revolução
normativa, com reconhecimento expresso de outros arranjos familiares, rompendo-se, assim,
com uma tradição secular de se considerar o casamento, civil ou religioso, com exclusividade,
o instrumento por excelência vocacionado à formação de uma família. 4. Com a Constituição
Federal de 1988, uma nova fase do direito de família e, consequentemente, do casamento,
surgiu, baseada num explícito poliformismo familiar, cujos arranjos multifacetados foram
reconhecidos como aptos a constituir esse núcleo doméstico chamado família, dignos da
especial proteção do Estado, antes conferida unicamente àquela edificada a partir do
casamento. 5. Na medida em que a própria Carta Magna abandona a fórmula vinculativa da
família ao casamento e passa a reconhecer, exemplificadamente, vários tipos interpessoais
aptos à constituição da família, emerge, como corolário, que, se os laços que unem seus
membros são oficiais ou afetivos, torna-se secundário o interesse na forma pela qual essas
famílias são constituídas. 6. Nessa linha, considerando que não há espaço legítimo para o
estabelecimento de regimes sucessórios distintos entre cônjuges e companheiros, a lacuna
criada com a declaração de inconstitucionalidade do art. 1.790 do CC/2002 deve ser
preenchida com a aplicação do regramento previsto no art. 1.829 do CC/2002. Logo, tanto a
sucessão de cônjuges como a sucessão de companheiros devem seguir, a partir da decisão
desta Corte, o regime atualmente traçado no art. 1.829 do CC/2002 (RE 878.694/MG, relator
Ministro Luis Roberto Barroso). 7. A partir do reconhecimento de inconstitucionalidade, as
regras a serem observadas, postas pelo Supremo Tribunal Federal, são as seguintes: a) em
primeiro lugar, ressalte-se que, para que o estatuto sucessório do casamento valha para a
união estável, impõe-se o respeito à regra de transição prevista no art. 2.041 do CC/2002,
valendo o regramento desde que a sucessão tenha sido aberta a partir de 11 de janeiro de
2003; b) tendo sido aberta a sucessão a partir de 11 de janeiro de 2003, aplicar-se-ão as
normas do 1.829 do CC/2002 para os casos de união estável, mas aos processos judiciais
em que ainda não tenha havido trânsito em julgado da sentença de partilha, assim como às
partilhas extrajudiciais em que ainda não tenha sido lavrada escritura pública, na data de
publicação do julgamento do RE n. 878.694/MG; c) aos processos judiciais com sentença
transitada em julgado, assim como às partilhas extrajudiciais em que tenha sido lavrada
escritura pública, na data daquela publicação, valerão as regras dispostas no art. 1790 do
CC/2002. 8. Recurso especial provido.
(STJ - REsp: 1337420 RS 2012/0162113-5, Relator: Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, Data
de Julgamento: 22/08/2017, T4 - QUARTA TURMA, Data de Publicação: DJe 21/09/2017).237

237
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA: Recurso Especial nº 1333420, Rio Grande do Sul,
Quarta Turma, Rel. Ministros Luís Felipe Salomão, Raul Araújo, Maria Isabel Gallotti, j. 22.08. 2017.
Disponível em: < https://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/501653240/recurso-especial-resp-1337420-
rs-2012-0162113-5> Acesso em 30 mar. 2018.
53

E por fim a terceira corrente, defendida pelo Ministro Relator José Ataíde
Siqueira Trindade, que reconheceu a inconstitucionalidade do art. 1.790, III do Código
Civil, expressando sua indignação, quando afirma que é inconstitucional pelo fato de
ser contrário ao princípio fundamental da dignidade da pessoa humana, esculpido no
art. 1°, III da Constituição Federal de 1988, bem como contra o direito de igualdade
previsto no art. 226, §3° da nossa Constituição, que estabeleceu tratamento igualitário
ao instituto da união estável em relação ao casamento.238
Diante de várias discussões, pela interpretação do art. 1790, no dia 10 de
maio de 2017, finalmente o Supremo Tribunal Federal veio a encerrar o julgamento
sobre a inconstitucionalidade do art. 1790 do Código Civil. Após ter pedido de vista
pelo ministro Marco Aurélio, foi finalmente julgado em caráter definitivo dois processos
que passaram a ser exemplos de repercussão geral.239
O primeiro deles foi o tema (809), recurso extraordinário nº 878.664/MG, que
teve como Relator o Ministro Luís Roberto Barroso, que se iniciou em agosto de 2016,
e desde então houve sete votos pela inconstitucionalidade da norma. Pelos votos
nesse sentido, votaram os Ministros Luís Edson Fachin, Teori Zavascki, Rosa Weber,
Luiz Fux, Celso de Mello e Cármem Lúcia e além do próprio Ministro Barroso.240
Entretanto o Ministro Dias Toffoli em época do julgado fez pedido de vista, e
decidindo somente em ano de 2017 pela constitucionalidade da norma, pois entendeu
ter justificativas constitucional para o suposto tratamento diferenciado entre
casamento e união estável, voto este que foi prolatado até dia 25 de março de
2017.241
Já o Ministro Marco Aurélio pediu novas vista do processo, e também juntou
ao julgamento o Recurso Extraordinário 646.721/RG que ali tratava da sucessão do

238
Idem.
239
TARTUCE, Flávio. STF encerra o julgamento sobre a inconstitucionalidade do artigo
1.790 do Código Civil. E agora?
Disponível em:< http://www.migalhas.com.br/FamiliaeSucessoes/104,MI259678,31047-
STF+encerra+o+julgamento+sobre+a+inconstitucionalidade+do+art+1790+do> Acesso em 30 mar.
2018.
240
Idem.
241
Idem.
54

companheiro homafetivo da qual seria Relator do segundo tema (409) a qual também
ficou reconhecido como repercussão geral.242
Diante da situação o Supremo Superior Federal, admite que a nossa
Constituição contempla diversas formas de família, além da aquela constituída pelo
casamento. Entretanto nesse rol vem as famílias constituídas pela união estável, e
sendo assim não é legitimo desequipara para fins de sucessão os cônjuges e os
companheiros, esclarecendo de uma outra maneira, a família formada pelo
casamento e a família formada pela união estável.243
Por determinação ficou em destaque, que a fim de preservação da segurança
jurídica, a inconstitucionalidade do artigo 1.790 do Código Civil, só deverá ser
aplicado a inventários judiciais, e em sentenças de partilhas que não tenha sido
transitado em julgado, bem como, em partilhas extrajudiciais que ainda não tenha
escritura pública.244
Logo a tese que foi discutida para os fins de repercussão geral, no sistema
constitucional vigente, deve ser considerada que existe a inconstitucionalidade sob a
diferenciação dos regimes sucessórios entre cônjuges e companheiros, devendo ser
administrado em ambos os casos o regime estabelecido no artigo 1.829 do Código
Civil.245
Para concluir o objeto de estudo, de acordo com a decisão, o companheiro ou
a companheira participará da sucessão nos mesmo critérios dos cônjuges integrando
o rol de herdeiros necessários, juntamente com os descendentes e os ascendentes
participando da legitima, sendo vedado o retrocesso e tratamento diferenciado entre
as famílias.246

242
Idem.
243
Idem.
244
Idem.
245
Idem
246
RODOLFO, Sara. Inconstitucionalidade do artigo 1.790. Disponível em:
https://sararodolfo1.jusbrasil.com.br/ Acesso 30 mar. 2018.
55

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Conclui-se que a família foi criada no matrimônio pelas leis da igreja com o
propósito de estabelecer a ordem social e patrimonial entre as pessoas. E esse
intuído era de proteger a família contra os desígnios da carne e da prevaricação que
existia em época de Roma.
Assim a tradicional família matrimonializada foi fundada nos sagrados laços
do casamento. Embora algumas apologias que destorcem o sentido e anunciam o fim
da família, ainda sim prevalecem os vínculos familiares.
Mesmo com todas as mudanças históricas da sociedade com o surgimento da
nossa Constituição Federal de 1988, as famílias se reforçam cada vez mais, sendo
solidas e autenticas, cada uma com suas peculiaridades.
A família ainda é para todos o centro de tudo, onde se estabelece o
sentimento, fraternidade, esperança e solidariedade mutua entre os conviventes,
sendo fundamento para estabelecer as relações jurídicas familiares.
Constituir família no ponto de vista da união estável, tal como no casamento,
inicia se pelo amor que um tem pelo outro que tratou de unir o casal, com os mesmos
propósitos, dali em diante se aperfeiçoarão e terão o convívio de um conjunto
preexistentes de direitos e obrigações.
Mas, na maioria das vezes para entender o que é considerado uma família
nos termos da atual união estável, é preciso utilizar de uma hermenêutica nos termos
do art. 1.724 do nosso código Civil de 2002, conforme a Lei de 10406/2002, onde
determina que as “relações pessoais entre os companheiros obedecerão aos deveres
de lealdade, respeito e mutua assistência, de guarda, sustento e educação dos filhos”.
Importante reconhecer como uma realidade social, a uma união livre de
pessoas do mesmo sexo, muitas das vezes são originarias de laços de afeição entre
os parceiros, com um caráter duradouro, e que embora na atual conjectura já consiste
em uma regulamentação que prova que existe amor entre pessoas do mesmo sexo.
Vice-se em uma época de história promissora, em relação a entidade familiar.
Devemos aprender a conviver com as diferenças, fazendo com que, independente de
56

cada religião, cultura ou credo político e ou preferência sexual, todos possam ter sua
dignidade e direitos preservados pela ação dos que nos representam, seja do
Legislativo, Executivo ou Judiciário.
Visando a inovação dos princípios e normas, que direciona a organização da
sociedade em constante evolução histórica e cultural gerando mudanças nas
relações, para que esta sirva de esteio na vida.
Atualmente existem várias definições de família dentre elas são: Aquela
decorrente do vínculo matrimonial; a originaria da união estável e aquela que
doutrinariamente se determina pela constituição de qualquer dos pais e seus
descendentes prevista na Constituição Federal no art. 226§ 4, determinando como
família monoparental.
57

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