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Moçambicano
O Direito do Trabalho visa essencialmente reger a relação em que uma pessoa presta uma
actividade subordinada à outra mediante remuneração. Neste âmbito, a subordinação deverá
ser limitada para não lesar os direitos pessoais do trabalhador durante a prestação, e em caso
de lesão há que garantir a reparação dos danos causados ao trabalhador.
Mais ainda, veio o legislador constitucional, por meio do artigo 42, da CRM, informar que os
direitos fundamentais consagrados na Constituição não excluem quaisquer outros constantes
das leis, ou seja, ainda que as leis ordinárias pretendam conferir outros direitos não podem ser
em prejuízo ou para limitar os direitos consagrados na constituição. No caso em análise,
equivaleria em dizer que a fixação de uma indemnização estabelecida em critérios exclusivos
de tempo de serviço e remuneração não podem substituir, limitar ou excluir os direitos
pessoais consagrados na Constituição.
Naturalmente, caberá ao trabalhador a prova dos danos. Isto sem prejuízo do valor da
indemnização fixada pela lei, acrescido dos salários intercalares e outros créditos vencidos e
não pagos continuarem a representar de algum modo uma presunção de dano.
A negação de reparação do dano moral traduz-se numa flagrante situação desfavorável para
os trabalhadores, e na consagração de uma solução menos protectora do que a que resulta do
Direito Civil, onde a indemnização, nos termos do artigo 562, do Código Civil, se estende a
todos os danos.
Neste sentido, sempre poderá ser atendido o dever de indemnizar pelo dano não patrimonial,
por aplicação das normas gerais em matéria de incumprimento dos contratos nos artigos 798
e ss do Código Civil, posição defendida pelo Albino Mendes Batista em estudos sobre o
Código do Trabalho.
A posição acima consagrada não é apadrinhada pela jurisprudência que se mantém a remar
contra esta corrente, defendendo a não-ressarcibilidade dos danos não patrimoniais face à
eventual existência de danos gravíssimos e provados contra a imagem, auto-estima, respeito e
bom-nome (pessoal e profissional) do trabalhador, susceptível de lhe provocar grande
instabilidade emocional e intenso sofrimento psicológico, e, nalguns casos, afectar seriamente
a sua posição no Mercado de trabalho e até na vida conjugal.
3. Sobre a competência em razão da matéria
Esta competência é reforçada pela alínea a), do artigo 12 da Lei 10/2018, de 30 de Agosto,
que dispõe que “Compete ao tribunal de trabalho conhecer e julgar as questões emergentes
de relações jurídico-laborais de trabalho subordinado.”
Ainda sobre a cumulação de pedidos nos termos conjugados dos artigos 470 e 31, do Código
de Processo Civil, autoriza a que o autor cumule pedidos que não derivem de formas de
processos distintos, e quando o são que apenas o sejam em função do valor da causa, e
quando a causa de pedir seja a mesma.
Fora de portas, a doutrina brasileira comunga da mesma solução acima, pelas palavras do
Walmir Oliveira da Costa em “Dano Moral nas Relações Laborais – Competência e
Mensuração” afirma que “a relação de emprego, sendo esta o vínculo jurídico que obriga
empregado e empregador por meio do contrato de trabalho… e visa à reparação do dano
moral praticado em qualquer fase do contrato de trabalho”.
A mesma posição é tomada pela doutrina portuguesa defendida pelo Doutrinário Romano
Martinez, na sua Obra “Da Cessação do Contrato de Trabalho”, 2ª edição, pp 499 -502, na
qual adianta que os danos não patrimoniais sofridos pelo trabalhador em consequência do
despedimento ilícito sendo suficientemente graves merecem a tutela do direito nos termos do
artigo 496/1, do CC, e já o fazia mesmo antes deste regime ter ficado regulado pelo artigo
436 do Código do Trabalho português ter acatado finalmente com esta solução.
O facto de não haver uma remissão expressa para a lei geral não inviabiliza que as regras de
direito civil se apliquem no foro laboral, porque no direito do trabalho, como direito privado,
valem subsidiariamente as regras de direito civil.
Como exemplo, podemos imaginar a situação em que sem qualquer fundamento possível um
director vem a ser despedido ilicitamente com fundamento em assédio sexual à secretária.
Naturalmente que, para além de dever ser ressarcido através de uma justa indemnização nos
termos da lei do trabalho, deve igualmente ser ressarcido pelos danos à sua imagem pela
repercussão que este facto poderá causar na sua vida profissional bem assim conjugal.
5. Conclusão
Pelo acima exposto concluímos que o dano não patrimonial, além de ser qualificado como
grave para merecer tutela do direito, está sujeito ao regime geral da prova. Desde modo, cabe
ao trabalhador o ónus da prova da sua existência, assim como da relação causal com o
despedimento ilícito e este pedido deve ser cumulado na mesma acção de impugnação de
despedimento, por duas razões:
B) quando o despedimento for declarado ilícito já terá prescrito nos termos do artigo 56 da
Lei do Trabalho.
Legislação
1. Antunes, C, Barros, M., Casimiro, D., Pedigão, C., & Tonim, F. (2015). Lei do
Trabalho de Moçambique Anotada. Lisboa: Escolar Editora.
10. Quintas, H & Quintas, P (2007). Da Prática Laboral à Luz do Novo Código do
Trabalho. Coimbra: Almedina.