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Mateus Inácio Bichali

Tema:
FISCALIZACÃO NO ÂMBITO DO DIREITO DO URBANISMO EM MOÇAMBIQUE
(Licenciatura em Direito)

Universidade Rovuma, Nampula


2023
Mateus Inácio Bichali

FISCALIZACÃO NO ÂMBITO DO DIREITO DO URBANISMO EM MOÇAMBIQUE

Trabalho de carácter avaliativo a ser


apresentado na cadeira de Direito do
Urbanismo. Io Semestre, 3o Ano. Leccionada
pelo Doutor professor: Abú Mário Ussene

Universidade Rovuma, Nampula

2023

2
Índice
1.Introdução .................................................................................................................................... 4

1.1.Objectivos do trabalho .............................................................................................................. 4

1.1.2.FISCALIZACÃO NO ÂMBITO DO DIREITO DO URBANISMO EM MOÇAMBIQUE 5

1.1.3.Definição do direito urbanístico............................................................................................. 5

1.1.4.Actividade urbanística ........................................................................................................... 6

1.1.5.Natureza da actividade urbanística ........................................................................................ 8

1.1.6.O QUADRO LEGISLATIVO DO DIREITO DO URBANISMO ........................................ 8

1.1.7.Normas urbanísticas ............................................................................................................... 8

1.1.8.Classes de normas urbanísticas .............................................................................................. 8

1.1.9.Constituição da Republica de Moçambique .......................................................................... 9

2.0.Lei do Ordenamento Territorial .............................................................................................. 10

2.1.0.Decreto n˚.60 de 26 de Dezembro de 2006 - Regulamento do Solo Urbano....................... 11

2.1.1.Fiscalização .......................................................................................................................... 12

2.2.2.Importância da Fiscalização ................................................................................................. 12

2.2.3. Enquadramento legal da fiscalização .................................................................................. 13

2.2.4. Lei de Ordenamento do Território ...................................................................................... 13

2.2.5. Regulamento da Lei de Ordenamento do Território ........................................................... 13

2.2.6. Auto de notícia .................................................................................................................... 14

2.2.7. Princípio geral sobre infracções e sanções.......................................................................... 14

2.2.8. Responsabilidade administrativa ........................................................................................ 14

2.2.9. Fiscalização no âmbito do regulamento do solo urbano 3.0.Fiscalização do urbanismo no


Ambiental ............................................................................................................................15 e.16

Conclusão...................................................................................................................................... 17

Referência bibliográfica ................................................................................................................ 18

3
1.Introdução

O presente trabalho, trata-se a questão da fiscalização no âmbito do direito do urbanismo no


contexto Moçambicano. Quando se fala do direito urbanismo, entende-se que, é um ramo do
direito que pertence ao ramo do direito público, porque as suas normas visa fundamentalmente a
satisfação do interesse da colectividade. O urbanismo surge como resposta aos problemas criados
pelo crescimento desordenado e caótico das cidades como um conjunto de preceitos jurídicos,
que foram crescendo em quantidade e complexidade, e que visam resolver anos de falta de
planeamento de território o aparecimento de um elevado défice de habitações, por um lado; e das
habitações existentes não respeitarem padrões mínimos de segurança, salubridade, higiene e
estética, não possuírem redes de esgotos, abastecimento de água, electricidade, ou arruamentos,
por outro. A fiscalização do direito do urbanismo, consiste no controlo das activadas
urbanísticas, que consiste na acção destinada a realizar os fins do urbanismo, acção destinada a
aplicar os princípios do urbanismo, sobretudo na questão inerente: o planeamento urbanístico; a
ordenação do solo; a ordenação urbanística de áreas de interesse especial; a ordenação
urbanística da actividade edilícia; os instrumentos de intervenção urbanística. Ao inverso, em
certos casos a acção urbanística incide em áreas envelhecidas e deterioradas, buscando renová-
las com o mesmo objectivo de criar condições para o desenvolvimento das funções elementares:
habitar, trabalhar, recrear e circular. Tratar-se-á, então, da ordenação urbanística de áreas de
interesse especial (interesse urbanístico especial, interesse ambiental, interesse histórico-cultural,
interesse turístico etc.).

1.1.Objectivos do trabalho:

Objectivo geral: O presente trabalho, apresenta o objectivo geral, conhecer as atribuições e as


competências dos órgãos que detêm as competências de fiscalização no âmbito do direito
urbanístico de Moçambique.

Objectivos específicos:

Conhecer principais objectivos da fiscalização do direito do urbanismo; Conhecer os órgãos


competentes na matéria de fiscalização; Identificar os comandos legislativos no âmbito do direito
do urbanismo no ordenamento jurídico moçambicano; Conhecer a importância da fiscalização
urbanística.

4
1.1.2.FISCALIZACÃO NO ÂMBITO DO DIREITO DO URBANISMO EM
MOÇAMBIQUE

1.1.3.Definição do direito urbanístico

Podemos, agora, tentar uma definição do direito urbanístico nos dois aspectos antes
considerados:1 O direito urbanístico no seu sentido objectivo que consiste no conjunto de normas
que têm por objecto organizar os espaços habitáveis, de modo a propiciar melhores condições de
vida ao homem na comunidade, enquanto que; o direito urbanístico como ciência é o ramo do
direito público que tem por objecto expor, interpretar e sistematizar as normas e princípios
disciplinadores dos espaços habitáveis.

No entendimento da doutrinadora Márcia Andreia (2018.p.54), considera igualmente que existem


várias acepções do conceito de urbanismo, contudo, para a nossa lide, importa-nos a noção
jurídica de urbanismo que ‘‘é o conjunto de normas e de institutos jurídicos respeitantes à
ocupação, uso e transformação do solo’’2. Conceito mais amplo, o urbanismo considera e regula
o território globalmente entendido, enquanto num conceito mais restrito diz respeito a normas
jurídicas respeitantes ao ordenamento racional da cidade, aí se incluindo ou enquadrando as
operações económicas e administrativas e as questões de estética. O Direito do Urbanismo
engloba os instrumentos de gestão territorial, o direito e a política do solo. Pelo que destaca que,
tal se verifica na complexidade do ramo, que abrange temáticas como3:

 A propriedade privada do solo, os sistemas de execução de planos (o de iniciativa dos


particulares, o de cooperação e o da imposição administrativa) e;
 Os instrumentos de execução dos planos, como sejam a reserva dos solos, o direito de
superfície, a expropriação, o direito de preferência urbanística, o reparcelamento, a
venda forçada, o arrendamento forçado, a demolição, o licenciamento de obras
particulares, o direito administrativo da construção, na perspectiva de regras técnicas e
jurídicas a que deve obedecer a construção de edifícios.

1
SILVA, José Afonso Da. DIREITO URBANÍSTICO BRASILEIRO. 6ª Edição, revista e actualizada. São Paulo,
Dezembro de 2009.p.49.
2
TAVARES, Márcia Andreia Marques. A força normativa do facto no Direito do Urbanismo português. Dissertação
de Mestrado. Lisboa, 2018.p.54
3
Cfr.p.55.

5
O urbanismo é o “sistema de normas jurídicas que, no quadro de um conjunto de orientações em
matéria de Ordenamento do Território, disciplinam a actuação da Administração Pública e dos
particulares com vista a obter uma ordenação racional das cidades e da sua expansão’’4.
Relembrando que a disciplina urbanística não visa proteger só as localidades, mas também a
conservação da natureza, a preservação de zonas florestais, ou a manutenção dos valores
históricos ou artísticos. Para Márcia Andreia (2018.p.57), considera que5:

O urbanismo surge como resposta aos problemas criados pelo


crescimento desordenado e caótico das cidades como um
conjunto de preceitos jurídicos, que foram crescendo em
quantidade e complexidade, e que visam resolver anos de falta
de planeamento de território o aparecimento de um elevado
défice de habitações, por um lado; e das habitações existentes
não respeitarem padrões mínimos de segurança, salubridade,
higiene e estética, não possuírem redes de esgotos,
abastecimento de água, electricidade, ou arruamentos, por
outro.

1.1.4.Actividade urbanística

Para o autor SILVA (2009.p.31) define que, a actividade urbanística, assim, ‘‘consiste na acção
destinada a realizar os fins do urbanismo, acção destinada a aplicar os princípios do
urbanismo’’6. Essa actividade compreende momentos distintos que se acham entre si ligados e
em recíproca dependência. Para o mesmo autor acima citado, explica-se ainda que, esses
momentos ou objectos da actividade urbanística podem ser discriminados da seguinte forma7:

 O planeamento urbanístico;
 A ordenação do solo;
 A ordenação urbanística de áreas de interesse especial;
 A ordenação urbanística da actividade edilícia

4
TAVARES, Márcia Andreia Marques. A força normativa do facto no Direito do Urbanismo português. Dissertação
de Mestrado. Lisboa, 2018.p.57
5
Cfr.p.57.
6
SILVA, José Afonso Da. DIREITO URBANÍSTICO BRASILEIRO. 6ª Edição, revista e actualizada. São Paulo,
Dezembro de 2009.p.31.
7
Cfr.p.32.

6
 Os instrumentos de intervenção urbanística.

Para o autor SILVA (2009.p.32), entende que, o planeamento deve ter uma ideia clara do que
seja desejável para o lugar ou território em questão, mas também do que razoavelmente pode
lograr com os meios de que dispõe8. Essa ideia é expressa normalmente de forma gráfica sobre
um plano que reproduz a área atingida. Segue-se, como desdobramento e complemento do plano,
a ordenação do solo, que, em essência, revela o conteúdo fundamental do planeamento no que
tange à disciplina do uso e ocupação dos espaços habitáveis. Mas os proprietários de terrenos
nem sempre estarão dispostos a ceder seus lotes para a utilização que se previu no plano. Daí a
necessidade de formular-se uma política do solo, visando a obter os terrenos necessários aos fins
urbanísticos, mesmo contra a vontade dos proprietários. Para tanto, a legislação urbanística de
vários países prevê procedimentos adequados, como:

O controlo de mercado de lotes, o direito especial de preferência, o reparcelamento de terrenos, a


regulamentação de divisas, a alienação forçada de lotes, a constituição de reserva municipal de
terrenos, a edificação compulsória, a expropriação para fins urbanísticos, a valorização do solo e
o aumento da tributação territorial sobre lotes edificáveis ou não-edificáveis. São todos
instrumentos de intervenção urbanística destinados a possibilitar a execução do plano e a
ordenação do solo. Mas é também um momento importante da actividade urbanística a
preservação do meio ambiente natural e cultural, assegurando, de um lado, condições de vida
respirável e, de outro, a sobrevivência de legados históricos e artísticos e a salvaguarda de
belezas naturais para desfrute e deleite do Homem. Ao inverso, em certos casos a acção
urbanística incide em áreas envelhecidas e deterioradas, buscando renová-las com o mesmo
objectivo de criar condições para o desenvolvimento das funções elementares: habitar, trabalhar,
recrear e circular. Tratar-se-á, então, da ordenação urbanística de áreas de interesse especial
(interesse urbanístico especial, interesse ambiental, interesse histórico-cultural, interesse turístico
etc.).

Por fim, cumpre examinar todos os projectos concretos de edificação, para verificar se se acham,
ou não, em harmonia com o plano e com as regras de ordenação de uso e ocupação do solo.
Trata-se da ordenação das edificações, ou ordenação urbanística da actividade edilícia.

8
SILVA, José Afonso Da. DIREITO URBANÍSTICO BRASILEIRO. 6ª Edição, revista e actualizada. São Paulo,
Dezembro de 2009.p.32.

7
1.1.5.Natureza da actividade urbanística

A actividade urbanística, como se viu, consiste, em síntese, na intervenção do Poder Público


com o objectivo de ordenar os espaços habitáveis. Trata-se de uma actividade dirigida à
realização do triplo objectivo de humanização, ordenação e harmonização dos ambientes em que
vive o Homem9: o urbano e o rural.

Uma actividade com tais propósitos só pode ser realizada pelo Poder Público, mediante
intervenção na propriedade privada e na vida económica e social das aglomerações urbanas (e
também no campo), a fim de propiciar aqueles objectivos. Daí por que, hoje, se reconhece que a
actividade urbanística é função pública. Mas, também, por ser uma actividade do Poder Público
que interfere com a esfera do interesse particular, visando à realização de interesse da
colectividade, deve contar com autorizações legais para poder limitar os direitos dos
proprietários particulares ou para privá-los da propriedade. Essa actividade deve, pois,
desenvolver-se nos estritos limites jurídicos, e isso decorre do facto de que toda planificação
urbanística comporta uma disciplina de bens e de actividades que não pode actuar senão no
quadro de uma regulamentação jurídica, pela delimitação que necessariamente põe à propriedade
pública ou privada, ou, mesmo, por tolher o gozo desta.

1.1.6.O QUADRO LEGISLATIVO DO DIREITO DO URBANISMO

1.1.7.Normas urbanísticas

Normas urbanísticas, são normas jurídicas de ordenação dos espaços habitáveis10. Os


aglomerados urbanos são centros de convivência. Aí esta se realiza mais intensamente que no
meio rural, que carece de coesão social. Quem diz convivência diz ‘regra’, pois não podem as
pessoas viver em comum sem que exista, ao menos, um elenco mínimo de princípios por que se
pautem os seus recíprocos modos de agir. Ora, a convivência urbana pressupõe regras especiais
que a ordenem. Compreende-se que, inicialmente, essas regras tenham surgido com base nos
costumes, e só mais tarde se tomaram normas de Direito legislado.

1.1.8.Classes de normas urbanísticas

9
SILVA, José Afonso Da. DIREITO URBANÍSTICO BRASILEIRO. 6ª Edição, revista e actualizada. São Paulo,
Dezembro de 2009.p.34.
10
Cfr.SILVA.p.59.

8
A classificação puramente indicativa - aqui apresentada ainda se liga à característica enunciada
acima, para observar que a coesão dinâmica propicia conjuntos de normas coerentes em função
do objecto urbanístico a transformar, que se traduzem nos procedimentos urbanísticos e nas
operações urbanísticas. Esses conjuntos formam, por sua vez, três complexos de normas
urbanísticas, que são11:

 Normas de sistematização urbanística: que estruturam os instrumentos de organização


dos espaços habitáveis, e são as pertinentes (1) ao planeamento urbanístico; (2) à
ordenação do solo em geral e de áreas de interesse especial;
 Normas de intervenção urbanística: que se referem à delimitação e limitações ao direito
de propriedade e ao direito de construir;
 Normas de controlo urbanístico: que são aquelas destinadas a reger a conduta dos
indivíduos quanto ao uso do solo, como as que estabelecem directrizes de actividades
urbanísticas dos particulares, as que regulam a aprovação de urbanificação, a outorga de
certificado ou certidão de uso do solo, a licença para urbanificar ou para edificar.

1.1.9.Constituição da Republica de Moçambique

Sob o enfoque da fonte de sua expressão, as normas urbanísticas são constitucionais e ordinárias.
As primeiras são todas aquelas disposições da Constituição que tratam de matéria urbanística, e
são os arts:91 (Habitação e urbanização), que estabelece, todos os cidadãos têm direito à
habitação condigna, sendo dever do Estado, de acordo com o desenvolvimento económico
nacional, criar as adequadas condições institucionais, normativas e infra-estruturais. Incumbe
também ao Estado fomentar e apoiar as iniciativas das comunidades locais, autarquias locais e
populações, estimulando a construção privada e cooperativa, bem como o acesso à casa própria;
Art.109 (Terra), estabelece que, a terra é propriedade do Estado. A terra não deve ser vendida, ou
por qualquer outra forma alienada, nem hipotecada ou penhorada. Como meio universal de
criação da riqueza e o bem-estar social, o uso e aproveitamento da terra é direito de todo o povo
moçambicano;

11
SILVA, José Afonso Da. DIREITO URBANÍSTICO BRASILEIRO. 6ª Edição, revista e actualizada. São Paulo,
Dezembro de 2009.p.62.

9
Uso e aproveitamento da terra previsto nos termos do art. 110. O Estado determina as condições
de uso e aproveitamento da terra. O direito de uso e aproveitamento da terra é conferido às
pessoas singulares ou colectivas tendo em conta o seu fim social ou económico. Art.111. Direitos
adquiridos por herança ou ocupação da terra: na titularização do direito de uso e aproveitamento
da terra, o Estado reconhece e protege os direitos adquiridos por herança ou ocupação, salvo
havendo reserva legal ou se a terra tiver sido legalmente atribuída à outra pessoa ou entidade.

Nos termos do n˚.1 e 2 do art.90 da CRM12, estabelece que, ‘‘todo o cidadão tem o direito de
viver num ambiente equilibrado e o dever de o defender’’. ‘‘O Estado e as autarquias locais, com
a colaboração das associações de defesa do ambiente, adoptam políticas de defesa do ambiente e
velam pela utilização racional de todos os recursos naturais’’. O Estado promove iniciativas para
garantir o equilíbrio ecológico e a conservação e preservação do ambiente visando a melhoria da
qualidade de vida dos cidadãos. Com o fim de garantir o direito ao ambiente no quadro de um
desenvolvimento sustentável, o Estado adopta políticas visando13:

 prevenir e controlar a poluição e a erosão; integrar os objectivos ambientais nas políticas


sectoriais; promover a integração dos valores do ambiente nas políticas e programas
educacionais;

 garantir o aproveitamento racional dos recursos naturais com salvaguarda da sua


capacidade de renovação, da estabilidade ecológica e dos direitos das gerações
vindouras; promover o ordenamento do território com vista a uma correcta localização
das actividades e a um desenvolvimento socioeconómico equilibrado.

2.0.Lei do Ordenamento Territorial

O ordenamento do território é definido como o conjunto de princípios, directivas e regras que


visam garantir a organização do espaço, através de um processo dinâmico, contínuo, flexível e
participativo (artigo 1º da Lei de Ordenamento do Território). O ordenamento do território visa
assegurar a organização do espaço nacional e a utilização sustentável dós seus recursos naturais,
observando as condições legais, administrativas, culturais e materiais favoráveis ao

12
Art.90 da CRM (Lei n.º 1/2018: Lei da Revisão Pontual da Constituição da República de Moçambique)
13
Previsto nos termos do n.º 2 do art.117 da CRM.

10
desenvolvimento social e económico do país, à promoção da qualidade de vida das pessoas, à
protecção e conservação do meio ambiente. (art.5 da Lei de Ordenamento do Território14).

De acordo com SILVA JORGE (2016.p.15 e 16), vem a explicar que, como objectivos
específicos para o contexto urbano, destacamos a intenção15:

 De garantir a sustentabilidade dos centros urbanos, assegurando o acesso a solo


urbanizado a todos os cidadãos;
 de promover a cooperação entre os governos municipais, o sector privado, as
comunidades e as suas associações, acautelando os interesses comuns;
 de corrigir as distorções do crescimento urbano e os seus efeitos negativos sobre o
ambiente;
 de criar as condições físicas para a implantação dos equipamentos e serviços adequados
aos interesses e necessidades da população;
 de precaver a aquisição de parcelas e talhões para fins especulativos;
 de requalificar, urbanizar e regularizar as áreas ocupadas espontaneamente pela
população de baixos rendimentos, por meio do estabelecimento de normas específicas de
urbanização, para o uso e ocupação do solo e das edificações, considerando a situação
socioeconómica dessa população, com necessário respeito pelas normas ambientais; e
 de regular a actividade de registo cadastral das ocupações espontâneas e de boa-fé,
estimulando a sua imediata aplicação em todas as áreas urbanas.

2.1.0.Decreto n˚.60 de 26 de Dezembro de 2006 - Regulamento do Solo Urbano

Segundo MUACUVEIA (2019.p.174), entende que, o regulamento trata-se de estabelecer ‘‘as


directrizes mínimas para que se equacione um dos mais graves problemas dos assentamentos
urbanos desordenados em Moçambique’’16. O decreto institui a regulamentação sobre a gestão

14
Lei n° 19/2007 de 18 de Julho. Lei de Ordenamento do Território, publicada na 1ª série do b.r. n° 29 de 18 de
Julho de 2007.
15
JORGE, Sílvia. A Lei E Sua Excepção: O Caso Dos Bairros Pericentrais Autoproduzidos De Maputo. Trabalho
enviado em 14 de Outubro de 2016, aceito em 21 de Outubro de 2016. (P. 15, 16).
16
MUACUVEIA, Reginaldo Rodrigues Moreno. LEGISLAÇÃO ATINENTE AO PLANEJAMENTO E GESTÃO
DO SOLO URBANO EM MOÇAMBIQUE. Artigo recebido em 11-12-2017. Artigo aceito para publicação em 20-
03-2019.p.174.

11
do solo na área urbana em nível autárquico, dispondo sobre seus princípios, objectivos e
instrumentos, bem como sobre as directrizes relativas à gestão e planeamento urbano, incluídos,
às responsabilidades do poder público e aos instrumentos de planeamento aplicáveis localmente,
sujeitas à observância deste decreto as cidades e vilas municipais que apresenta definições,
classifica a urbanização, apresenta o Plano de Estrutura Urbana, aponta as Infracções e
penalidades. A legislação do ordenamento territorial moçambicana contém instrumentos
importantes que ‘‘possam permitir o avanço necessário ao país no enfrentamento dos principais
problemas urbanos, decorrentes do uso e ocupação inadequada do solo urbano’’17. Destaca-se o
fato de prever a redução dos assentamentos informais, com a proposta do reordenamento urbano
através da revitalização ou requalificação urbana.

2.1.1.Fiscalização

Fiscalização no âmbito do direito urbanístico em Moçambique, implica controlar as actividades


do Estado para confirmar que estão submetidas aos princípios da legalidade e eficiência. Por
outro lado a fiscalização é a acção e o efeito de fiscalizar, fazer controlo ou auditoria e a
verificação das acções, o cumprimento das exigências legais. Órgãos centrais, Órgãos locais e as
Autarquias, são entidades competentes na matéria de fiscalização, e na elaboração dos
instrumentos do ordenamento do território, juntamente com a participação dos cidadãos em todas
fases nos termos da lei.

2.2.2.Importância da Fiscalização

Na actual conjuntura económica, a fiscalização assume particular importância, principalmente


com o objectivo de garantir18: o cumprimento de prazos; o controlo de erros, de omissões e
trabalhos a mais ou a menos; o cumprimento das disposições do CRM quando aplicável; a
qualidade de execução; o controlo dos autos de medição e o controlo de custos; Gestão
administrativa da empreitada, entre outras actividades. As funções da equipa de fiscalização

17
MUACUVEIA, Reginaldo Rodrigues Moreno. LEGISLAÇÃO ATINENTE AO PLANEJAMENTO E GESTÃO
DO SOLO URBANO EM MOÇAMBIQUE. Artigo recebido em 11-12-2017. Artigo aceito para publicação em 20-
03-2019.p.177.
18
TRINDADE, Ricardo Manuel. Supervisão e Fiscalização da Construção Caso de Obra Forte da Graça, Elvas.
Mestrado em Reabilitação Urbana Projecto 2. Julho 2016.p23.

12
podem ser estendidas a outras áreas, nomeadamente à segurança, à qualidade, ao ambiente, entre
outras.

2.2.3. Enquadramento legal da fiscalização

2.2.4. Lei de Ordenamento do Território

Art.27 e 29 da Lei de Ordenamento do Território preconiza que19: A fiscalização administrativa


e ambiental das normas estabelecidas para a elaboração dos instrumentos de ordenamento
territorial é exercida nos termos da legislação em vigor. A inobservância das disposições Legais
para o ordenamento do território resulta em penalidades administrativas e multas. As sanções
para garantir o cumprimento das obrigações estabelecidas na presente Lei são objecto de
regulamentação.

2.2.5. Regulamento da Lei de Ordenamento do Território

Nos termos do art.77 do Regulamento da Lei do ordenamento do território, estabelece que20:


Compete ao órgão que superintende o ordenamento do território, fiscalizar o cumprimento do
disposto no presente Regulamento, visando monitorar, disciplinar e orientar as actividades de
ordenamento territorial, constatar as infracções e proceder ao levantamento dos autos de notícia,
sem prejuízo das competências e atribuições específicas dos outros órgãos e instituições do
Estado.

Compete aos governos distritais e aos órgãos executivos das autarquias, no que se refere aos
instrumentos de ordenamento territorial ao nível distrital e autárquico, respectivamente, fiscalizar
o cumprimento do disposto no presente Regulamento.

Compete às entidades que tutelam as áreas de domínio público e as zonas de protecção parcial
fiscalizar o cumprimento do disposto nos instrumentos de ordenamento territorial em relação a
tais áreas, de modo a obstar que estas sejam ocupadas e utilizadas em prejuízo do fim para o qual
foram estabelecidas.

19
Lei n° 19/2007 de 18 de Julho. Lei de Ordenamento do Território, publicada na 1ª série do b.r. n° 29 de 18 de
Julho de 2007.
20
Decreto n.°23/2008 de 1 de Julho (Regulamento da Lei de Ordenamento do Território)

13
No exercício das suas funções, os agentes de fiscalização das entidades acima referidas devem
apresentar-se devidamente identificados. Sempre que necessário, os agentes de fiscalização
podem recorrer ao auxílio da autoridade mais próxima e às autoridades policiais para garantir o
pleno exercício das suas funções.

2.2.6. Auto de notícia

Ao constatarem ou tomarem conhecimento da prática de uma infracção, os serviços de


fiscalização devem levantar um auto de notícia, lavrado em triplicado, que deve conter21:

 A identificação dos factos que constituem a infracção, sua descrição e as respectivas


provas;
 A identificação dos infractores e outros agentes da infracção;
 A identificação de testemunhas, se as houver;
 Os instrumentos de ordenamento territorial violados, com alusão expressa às disposições
concretas infligidas;
 O nome, assinatura e qualidade do autuante.

O autuante, no momento do levantamento do auto de notícia, deve notificar do facto o infractor,


com indicação da norma infringida, sua penalidade e outras consequências, caso existam. Pode
ser levantado um único auto de notícia por diferentes infracções cometidas na mesma ocasião ou
relacionadas umas com as outras, embora sejam diversos os agentes. Os autos de notícia
levantados nos termos do número anterior fazem fé em qualquer fase do processo, até prova em
contrário, quanto aos factos presenciados pela autoridade ou agente de fiscalização que os
mandou levantar ou levantou.

2.2.7. Princípio geral sobre infracções e sanções

As violações das disposições dos instrumentos de ordenamento territorial são passíveis de


responsabilização administrativa, civil, disciplinar e penal, consoante o tipo de infracção, nos
termos da legislação aplicável22.

2.2.8. Responsabilidade administrativa

21
RTIGO 78 do Decreto n.°23/2008 de 1 de Julho (Regulamento da Lei de Ordenamento do Território)
22
ARTIGO 79 do Decreto n.°23/2008 de 1 de Julho (Regulamento da Lei de Ordenamento do Território)

14
Sem prejuízo das demais sanções fixadas por lei, as infracções ao presente Regulamento são
punidas da seguinte forma: a) Não dar início à elaboração ou revisão dos instrumentos de
ordenamento territorial dentro dos prazos definidos no presente Regulamento, punida com uma
pena de 50 000,00MT (cinquenta mil meticais); b) São punidos com uma pena que varia de 30
000,00 MT (trinta mil meticais) a 100 000,00 MT (cem mil meticais), os especialistas, técnicos
médios e superiores que participem na elaboração o de instrumentos de ordenamento territorial
sem prévio registo como consultores, nos termos do presente Regulamento; c) O licenciamento
de actividades contra o disposto nos instrumentos de ordenamento territorial, punida com uma
pena de 500 000,00 MT (quinhentos mil meticais); d) A realização de obras e a utilização de
edificações contra o conteúdo dos instrumentos s de ordenamento territorial, punida com uma
pena que varia de 50.000,00 MT (cinquenta mil meticais) a 500.000,00 MT (quinhentos mil
meticais); e) A utilização do solo contra o conteúdo dos instrumentos de ordenamento territorial,
punida com uma pena que varia de 50 000,00 MT (cinquenta mil meticais) a 500 000,00 MT
(quinhentos mil meticais); f) Permissão de ocupação e utilização das áreas de domínio público
em prejuízo do fim para os quais foram estabelecidas, punida com uma pena de 500 000,00 MT
(quinhentos mil meticais). Compete aos Ministros que superintendem as áreas de Finanças e
Coordenação da Acção Ambiental, através de diploma ministerial conjunto, proceder à
actualização dos valores das taxas e multas previstas no presente Regulamento.

2.2.9. Fiscalização no âmbito do regulamento do solo urbano

Compete aos órgãos Centrais e Locais do Estado e Autárquicos23: fiscalizar o cumprimento do


disposto no presente regulamento, constatar as infracções e levantar os respectivos autos de
infracção com indicação das multas aplicáveis. Sem prejuízo das infracções e penalidades
constantes em códigos, posturas e outra legislação aplicável, constituem infracções sujeitas a
multa: o incumprimento do prazo fixado n˚1 do art.37 do presente regulamento, que implicara de
uma multa de 10.000,00MT a 30.000,00MT; aplica-se o mesmo valor, o uso do terreno para fim
diferente do constante no título24.

23
Decreto n˚.60 de 26 de Dezembro de 2006 - Regulamento do Solo Urbano
24
Art.46 do Regulamento do Solo Urbano. Compete aos Ministérios das Finanças e da Administração Estatal
estabelecer por diploma próprio a actualização das multas constantes do presente Regulamento. Vide.art.47

15
A polícia municipal no exercício das suas funções é competente em matéria de25: Fiscalização
do cumprimento dos regulamentos e da aplicação das normas legais, designadamente nos
domínios do urbanismo, da construção, do comércio, da saúde, da defesa e protecção dos
recursos cinegéticos, do património cultural, da natureza e do ambiente. Todo o cidadão tem o
direito de viver num ambiente equilibrado e o dever de o defender. O Estado e as autarquias
locais, com a colaboração das associações de defesa do ambiente, adoptam políticas de defesa do
ambiente e velam pela utilização racional de todos os recursos naturais- art.90 da CRM26.

3.0.Fiscalização do urbanismo no Ambiental

Compete ao Governo criar, em termos a regulamentar, um corpo de agentes de fiscalização


ambiental competentes para velar pela implementação da legislação ambiental e para a tomada
das providências necessárias para prevenir a violação as suas disposições. Com vista a garantir a
necessária participação das comunidades locais a utilizar adequadamente os seus conhecimentos
e recursos humanos, o Governo, em coordenação com as autoridades locais, promove a criação
de agentes de fiscalização comunitários.art.29 e 30 da Lei do Ambiente27.

25
Decreto n.°35/2006 de 6 de Setembro. Regulamento de Criação e Funcionamento da Polícia Municipal.
26
Constituição da República de Moçambique (2004), que inclui a Lei de Revisão Pontual da Constituição (Lei no
1/2018, de 12 de Junho, publicado no Boletim da República, 1a Série – no 115, 2o Suplemento, de 12 de Junho de
2018.
27
Lei do Ambiente Lei n˚20/97 de 01 de Outubro.

16
Conclusão

Em considerações finais, podemos entender que a fiscalização no âmbito do direito urbanístico


em Moçambique, implica controlar as actividades do Estado para confirmar que estão
submetidas aos princípios da legalidade e eficiência. Por outro lado a fiscalização é a acção e o
efeito de fiscalizar, fazer controlo ou auditoria e a verificação das acções, o cumprimento das
exigências legais. Órgãos centrais, Órgãos locais e as Autarquias, são entidades competentes na
matéria de fiscalização, e na elaboração dos instrumentos do ordenamento do território,
juntamente com a participação dos cidadãos em todas fases nos termos da lei. O direito
urbanístico no sentido objectivo que consiste no conjunto de normas que têm por objecto
organizar os espaços habitáveis, de modo a propiciar melhores condições de vida ao homem na
comunidade, enquanto; o direito urbanístico como ciência é o ramo do direito público que tem
por objecto expor, interpretar e sistematizar as normas e princípios disciplinadores dos espaços
habitáveis. O urbanismo é o sistema de normas jurídicas que, no quadro de um conjunto de
orientações em matéria de Ordenamento do Território, disciplinam a actuação da Administração
Pública e dos particulares com vista a obter uma ordenação racional das cidades e da sua
expansão. Relembrando que a disciplina urbanística não visa proteger só as localidades, mas
também a conservação da natureza, a preservação de zonas florestais, ou a manutenção dos
valores históricos ou artísticos.) Considera igualmente que existem várias acepções do conceito
de urbanismo, contudo, para a nossa lide, importa-nos a noção jurídica de urbanismo que é o
conjunto de normas e de institutos jurídicos respeitantes à ocupação, uso e transformação do
solo. Conceito mais amplo, o urbanismo considera e regula o território globalmente entendido,
enquanto num conceito mais restrito diz respeito a normas jurídicas respeitantes ao ordenamento
racional da cidade, aí se incluindo ou enquadrando as operações económicas e administrativas e
as questões de estética. O Direito do Urbanismo engloba os instrumentos de gestão territorial, o
direito e a política do solo. Pelo que destaca que, tal se verifica na complexidade do ramo, que
abrange temáticas como: A propriedade privada do solo, os sistemas de execução de planos (o de
iniciativa dos particulares, o de cooperação e o da imposição administrativa) e; Os instrumentos
de execução dos planos, como sejam a reserva dos solos, o direito de superfície, a expropriação,
o direito de preferência urbanística, o reparcelamento, a venda forçada, o arrendamento forçado,
a demolição, o licenciamento de obras particulares, o direito administrativo da construção, na
perspectiva de regras técnicas e jurídicas a que deve obedecer a construção de edifícios.

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Referência bibliográfica

Legislação:
Constituição da República de Moçambique (2004), que inclui a Lei de Revisão Pontual da
Constituição (Lei no 1/2018, de 12 de Junho, publicado no Boletim da República, 1a Série – no
115, 2o Suplemento, de 12 de Junho de 2018.
Decreto n.°23/2008 de 1 de Julho (Regulamento da Lei de Ordenamento do Território)
Decreto n.°35/2006 de 6 de Setembro. Regulamento de Criação e Funcionamento da Polícia
Municipal.
Decreto n˚.60 de 26 de Dezembro de 2006 - Regulamento do Solo Urbano
Lei n° 19/2007 de 18 de Julho. Lei de Ordenamento do Território, publicada na 1ª série do b.r.
n° 29 de 18 de Julho de 2007.
Lei do Ambiente (Lei n˚20/97 de 01 de Outubro).

Doutrina:
JORGE, Sílvia. A Lei E Sua Excepção: O Caso Dos Bairros Pericentrais Autoproduzidos De
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16).
MUACUVEIA, Reginaldo Rodrigues Moreno. LEGISLAÇÃO ATINENTE AO
PLANEJAMENTO E GESTÃO DO SOLO URBANO EM MOÇAMBIQUE. Artigo recebido em
11-12-2017. Artigo aceito para publicação em 20-03-2019.p.174, 177.
SILVA, José Afonso Da. DIREITO URBANÍSTICO BRASILEIRO. 6ª Edição, revista e
actualizada. São Paulo, Dezembro de 2009.
TAVARES, Márcia Andreia Marques. A força normativa do facto no Direito do Urbanismo
português. Dissertação de Mestrado. Lisboa, 2018.p.54, 55, 57.
TRINDADE, Ricardo Manuel. Supervisão e Fiscalização da Construção Caso de Obra Forte da
Graça, Elvas. Mestrado em Reabilitação Urbana Projecto 2. Julho 2016.p23

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