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INSTITUTO SUPERIOR DE CIÊNCIAS E EDUCAÇÃO À DISTÂNCIA

MESTRADO EM DIREITO FISCAL E ADUANEIRO

MANUAL DE FISCALIDADE E REGIMES


ADUANEIROS

Fiscalidade e Regimes Aduaneiros


Código: CFE-PG-ISCED-015
Total Horas: 175
Créditos (SNATCA): 07

2019

ENSINO ONLINE. ENSINO COM FUTURO

1
Direitos de autor (copyright)

Este manual é propriedade do Instituto Superior de Ciências e Educação a Distância (ISCED),


e contém reservado todos os direitos. É proibida a duplicação ou reprodução parcial ou total
deste manual, sob quaisquer formas ou por quaisquer meios (electrónicos, mecânico,
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Superior de Ciências e Educação a Distância (ISCED).

A não observância do acima estipulado o infractor é passível a aplicação de processos


judiciais em vigor no País.

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Website: www.isced.ac.mz

2
Agradecimento

O Instituto Superior de Ciências e Educação a Distância (ISCED) agradece a colaboração dos


seguintes indivíduos e instituições na elaboração deste manual:

Pela Coordenação Direção da Pós-graduação do ISCED

Pelo design Gabinete de Monitoria e Avaliação de Qualidade do ISCED

Financiamento e Logística Instituto Africano de Promoção da Educação a Distância


(IAPED)

Elaborado por: Ivan Pedro, MSc

3
Índice
Visão geral ............................................................................................................................................... 9
Benvindo à Disciplina/Módulo de Fiscalidade e Regimes Aduaneiros ................................................... 9
Objectivos do Módulo......................................................................................................................... 9
Quem deveria estudar este módulo ................................................................................................... 9
Como está estruturado este módulo .................................................................................................. 9
Auto-avaliação e Tarefas de avaliação .............................................................................................. 10
Ícones de actividade ......................................................................................................................... 10
Habilidades de estudo....................................................................................................................... 10
Precisa de apoio? .............................................................................................................................. 12
Tarefas (avaliação e auto-avaliação)................................................................................................. 13
Avaliação ........................................................................................................................................... 13
TEMA I: FISCALIDADE NO ORDENAMENTO JURÍDICO MOÇAMBICANO ............................................... 14
UNIDADE 1.1. DIREITO FISCAL .......................................................................................................... 14
1.1.1. CONCEITO............................................................................................................................ 14
1.1.2. FONTES E PRINCÍPIOS DO DIREITO FISCAL .............................................................................. 14
1.1.2.1. Constituição Da República ................................................................................................... 15
1.1.2.2. A Constituição Financeira e a Descentralição Fiscal ............................................................ 15
1.1.2.3. A Legislação Ordinária...................................................................................................... 17
1.1.2.4. Decretos-leis, Decretos, diplomas ministeriais e regulamentos das autarquias locais ....... 17
1.1.2.5. As Convenções internacionais ............................................................................................. 18
1.1.2.6. Jurisprudência ...................................................................................................................... 18
1.1.2.7. A Doutrina ............................................................................................................................ 19
1.1.3. Os princípios jurídico-constitucionais do direito fiscal ........................................................... 19
1.1.3.1. Princípio da legalidade fiscal ................................................................................................ 19
1.1.3.2. Princípio Da Segurança Jurídica ........................................................................................... 20
1.1.3.3. Princípio Da Proibição Do Referendo Fiscal ......................................................................... 21
1.1.3.4. Princípio Da Igualdade Fiscal................................................................................................ 21
1.1.3.5. O Princípio Do Respeito pelos Direitos, Liberdades e Garantias Fundamentais ................. 22
1.1.3.6. O princípio do Estado Social. ............................................................................................... 23
UNIDADE 1.2. CONCEITO E ESPÉCIES DE TRIBUTOS NO ORDENAMENTO JURÍDICO MOÇAMBICANO
.......................................................................................................................................................... 23

4
UNIDADE 1.3. EXERCÍCIOS .................................................................................................................... 27
TEMA II: O SISTEMA TRIBUTÁRIO MOÇAMBICANO .............................................................................. 28
UNIDADE 2.1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 28
UNIDADE 2.2. Política Tributária ....................................................................................................... 30
UNIDADE 2.3 Evolução do Sistema Tributário Moçambicano Pós-Independência .......................... 32
UNIDADE 2.4. A INTRODUÇÃO DO IMPOSTO SOBRE O VALOR ACRESCENTADO ............................. 38
UNIDADE 2.5. ESTRUTURA DO SISTEMA TRIBUTÁRIO MOÇAMBICANO .......................................... 39
UNIDADE 2.6. OUTROS IMPOSTOS DO SISTEMA TRIBUTÁRIO ......................................................... 42
2.6.1. Imposto do Selo .................................................................................................................. 42
2.6.2. O imposto Sobre Sucessões e Doações............................................................................... 43
2.6.3. A SISA .................................................................................................................................. 44
2.6.4. O Imposto Especial Sobre o Jogo ........................................................................................ 44
2.6.5. O Imposto de Reconstrução Nacional - IRN ........................................................................ 44
2.6.6. Imposto Simplificado para Pequenos Contribuintes - ISPC ................................................ 45
2.6.7. Impostos Autárquicos ......................................................................................................... 46
UNIDADE 2.7. EXERCÍCIOS ................................................................................................................ 47
TEMA III: A TRIBUTAÇÃO DIRECTA ........................................................................................................ 48
UNIDADE 3.1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 48
UNIDADE 3.2. O IMPOSTO SOBRE O RENDIMENTO DE PESSOAS SINGULARES – IRPS ..................... 49
3.2.2. O Sujeito Passivo do IRPS/incidência subjectiva ................................................................. 50
3.2.3. INCIDÊNCIA REAL/OBJECTIVA ................................................................................................. 51
UNIDADES 3.3. A TRIBUTAÇÃO DAS SOCIEDADES DE PESSOAS E A TRANSPARÊNCIA FISCAL.......... 51
3.3.1. Obrigações Dos Contribuintes Em Sede De IRPS ................................................................ 52
UNIDADE 3.4. O IMPOSTO SOBRE O RENDIMENTO DAS PESSOAS COLECTIVAS – IRPC ................... 52
3.4.2. Incidência Subjectiva........................................................................................................... 53
3.4.3. Incidência Objectiva ............................................................................................................ 54
3.4.4. Lucro Tributável .................................................................................................................. 54
3.4.5. Rendimento global e os rendimentos das diversas categorias do IRS................................ 55
3.4.6. Extensão da obrigação de imposto (artigo 5.º, do CIRPC, tendo em atenção da redacção
dada pela Lei n.º 19/2013, de 23 de Setembro) ........................................................................... 55
UNIDADE 3.5. TRANSPARÊNCIA FISCAL ............................................................................................ 56
UNIDADE 3.6. OS BENEFÍCIOS FISCAIS EM SEDE DO IRPC ................................................................ 56
UNIDADE 3.7. O REGIME DE PREÇOS DE TRANSFERÊNCIA ............................................................... 56
UNIDADE 3.8. MÉTODOS APLICÁVEIS PARA A DETERMINAÇÃO DOS PREÇOS DE TRANSFERÊNCIA 59
5
UNIDADE 3.9. EXERCÍCIOS ................................................................................................................ 60
TEMA IV: A TRIBUTAÇÃO INDIRECTA E TRIBUTAÇÃO ESPECIAL DO CONSUMO................................... 61
UNIDADE 4.1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 61
4.1.1. CARACTERÍSTICAS GERAIS DO IVA .......................................................................................... 61
4.1.2. OS SUJEITOS DO IVA/INCIDÊNCIA SUBJECTIVA....................................................................... 62
4.1.3. Operações Tributáveis/ Incidência objectiva ...................................................................... 62
4.1.4. Facto Gerador e Exigibilidade do Imposto .......................................................................... 63
4.1.5. Isenções............................................................................................................................... 63
UNIDADE 4.2. Regimes de Tributação .............................................................................................. 64
4.2.1. Regime Normal ................................................................................................................... 64
4.2.2. Os Regimes Especiais .......................................................................................................... 66
4.2.2.1. Regime de isenção ........................................................................................................... 66
4.2.2.2. Regime de Tributação Simplificada.................................................................................. 66
UNIDADE 4.3. A QUESTÃO DOS REEMBOLSOS ................................................................................. 67
UNIDADE 4.4. TRIBUTAÇÃO ESPECIAL DO CONSUMO .......................................................................... 67
4.4.1. O IMPOSTO SOBRE O CONSUMO ESPECÍFICO .................................................................... 67
4.4.1.1. Incidência Real ................................................................................................................. 68
4.4.1.2. Facto Gerador .................................................................................................................. 68
4.4.1.3. Exigibilidade ..................................................................................................................... 68
4.4.1.4. Isenções............................................................................................................................ 69
4.4.2. Regime de Tributação do Álcool ......................................................................................... 69
4.4.2.1. Regime De Tributação Da Cerveja Com Álcool, Vinhos E Demais Bebidas Alcoólicas ..... 70
4.4.2.2. Regime de Tributação do Tabaco Manufacturado e Seus Sucedâneos ............................... 70
4.4.2.3. Regime de Tributação do Veículos Automóveis .............................................................. 71
UNIDADE 4.5. EXERCÍCIOS ................................................................................................................ 71
UNIDADE 5.1. Evolução do Sistema Tributário Autárquico Moçambicano ...................................... 72
A Autonomia Tributária ................................................................................................................ 72
Poderes Tributários ....................................................................................................................... 73
UNIDADE 5.2. FONTES DE FINANCIAMENTO DE PRIMEIRA ORDEM ................................................ 77
5.2.1. Produto da Cobrança de Impostos e Taxas Autárquicas .................................................... 78
5.2.2.O produto Percentual de Impostos do Estado, que por Lei lhe Sejam Atribuídos .............. 80
5.2.3. O Produto de Cobrança das Contribuições Especiais que por Lei lhes Sejam Atribuídas ... 80
5.2.4. O IMPOSTO PESSOAL AUTÁRQUICO - IPA ........................................................................... 80

6
5.2.5. O IMPOSTO PREDIAL AUTÁRQUICO - IPRA ......................................................................... 81
Incidência: ..................................................................................................................................... 81
5.2.6. IMPOSTO AUTÁRQUICO DA SISA - IAS ................................................................................ 83
5.2.7. IMPOSTO AUTÁRQUICO SOBRE VEÍCULOS – IAV ................................................................ 84
5.2.8. CONTRIBUIÇÃO DE MELHORIA ........................................................................................... 85
UNIDADE 5.3. A TRIBUTAÇÃO AMBIENTAL EM MOÇAMBIQUE ....................................................... 87
5.3.1. SUJEITOS DOS IMPOSTOS AMBIENTAIS .............................................................................. 89
5.3.2. MODELOS DE TRIBUTAÇÃO AMBIENTAL ............................................................................ 90
5.3.3. Graduação das Taxas .......................................................................................................... 90
UNIDADE 5.4. TRIBUTAÇÃO DA ACTIVIDADE MINEIRA .................................................................... 90
5.4.1. Imposto Sobre a Produção Mineira .................................................................................... 91
5.4.2. Imposto Sobre a Superfície ........................................................................................... 91
5.4.3. Concessão de Incentivos Fiscais .......................................................................................... 92
UNIDADE 5.5. A TRIBUTAÇÃO DAS OPERAÇÕES PETROLÍFERAS ...................................................... 93
UNIDADE 5.6. Exercício. .................................................................................................................... 93
TEMA VI OS REGIMES ADUANEIROS EM MOÇAMBIQUE ..................................................................... 94
UNIDADE 6.1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 94
UNIDADE 6.2. PAUTA ADUANEIRA E AS INSTRUÇÕES PRELIMINARES ............................................. 94
UNIDADE 6.3. IMPOSIÇÕES DEVIDAS NA IMPORTAÇÃO E EXPORTAÇÃO ........................................ 95
6.3.1. Importação .......................................................................................................................... 95
6.3.1.1. Mercadorias Proibidas ..................................................................................................... 96
6.3.1.2. Franquias .......................................................................................................................... 96
6.3.1.3. Moeda Externa e Obras de Artesanato............................................................................ 97
6.3.1.4. Isenções............................................................................................................................ 97
6.3.1.5. Mercadoria Autorizada mediante Licença requerida às Entidades Competentes .......... 98
6.3.1.6. Mercadoria Com Regime Especial ................................................................................... 98
6.3.2. Exportação .......................................................................................................................... 99
6.3.2.1. Mercadorias Proibidas ..................................................................................................... 99
6.3.2.2. Mercadoria em Regime Especial .................................................................................... 100
6.3.2.3. Taxas .............................................................................................................................. 100
UNIDADE 6.4. RESPONSÁVEIS PELO PAGAMENTO DA DÍVIDA ADUANEIRA................................... 100
6.4.1. Extinção Da Divida Aduaneira ........................................................................................... 101
UNIDADES 6.5. REGIMES ADUANEIROS ESPECIAIS ......................................................................... 101

7
6.5.1 Importação Temporária ..................................................................................................... 101
6.5.2. Exportação Temporária..................................................................................................... 103
6.5.3. Reexportação .................................................................................................................... 104
6.5.4. Reimportação .................................................................................................................... 105
6.5.5. Armazém de Regime Aduaneiro ....................................................................................... 105
6.5.6. Zonas Francas .................................................................................................................... 105
6.5.7. Zona Económica Especiais................................................................................................. 106
6.5.8. Loja Francas....................................................................................................................... 106
6.5.9. Trânsito Aduaneiro ........................................................................................................... 106
6.5.9.1. Trânsito .......................................................................................................................... 107
UNIDADE 6.10 EXERCÍCIOS ............................................................................................................. 108
Exercícios 3.......................................................................................................................................... 109
QUESTÕES DE DIREITO FISCAL E ADUANEIRO ................................................................................ 109
ANEXO A: Bibliografia ......................................................................................................................... 117
ANEXO B: Revistas............................................................................................................................... 119
ANEXO C: Legislação ........................................................................................................................... 119
Lista de Fórmulas ................................................................................................................................ 120

8
Visão geral

Benvindo à Disciplina/Módulo de Fiscalidade e Regimes Aduaneiros

Objectivos do Módulo

Ao terminar o estudo deste módulo de Fiscalidade e Regimes Aduaneiros deverá ser capaz
de: comprrender a estrutura do sistema tributário moçambicano, destacando seus
objectivos, sua aplicação, os impostos do sistema tributário incluindo os direitos aduaneiros
e os seus procedimentos.

Quem deveria estudar este módulo


Este manual foi concebido para estudantes do 1º ano do curso de Mestrado em Direito
Fiscal e Aduaneiro do ISCED, bem como qualquer outro interessado nestas matérias, como
os estudantes de Gestão, Administração, etc.

Como está estruturado este módulo


Este manual concebido para estudantes do 1º ano do curso de mestrado em Direito Fiscal e
Aduaneiro, à semelhança dos restantes do ISCED, está estruturado como se segue:

Páginas introdutórias

Um índice completo.

Uma visão geral detalhada dos conteúdos do módulo, resumindo os aspectos-chave que
precisam conhecer para melhor estudar. Recomendamos vivamente que leiam esta secção com
atenção antes de começarem os estudos, como componente de habilidades de estudos.

Conteúdo desta Disciplina / módulo

Este módulo está estruturado em Temas. Cada tema, por sua vez comporta certo número de
unidades temáticas ou simplesmente unidades. Cada unidade temática se caracteriza por
conter uma introdução, objectivos, conteúdos.

No final de cada unidade temática ou do próprio tema, são incorporados antes o sumário,
exercícios de auto-avaliação, só depois é que aparecem os exercícios de avaliação.

Os exercícios de avaliação têm as seguintes características: Puros exercícios teóricos/Práticos,


Problemas não resolvidos e actividades práticas, incluído estudo de caso.

9
Outros recursos

A equipa dos académicos e pedagogos do ISCED, pensando em si, num cantinho, recôndito
deste nosso vasto Moçambique e cheio de dúvidas e limitações no seu processo de
aprendizagem, apresenta uma lista de recursos didáticos adicionais ao seu módulo para você
explorar. Para tal o ISCED disponibiliza na biblioteca do seu centro de recursos mais material de
estudos relacionado com o seu curso como: Livros e/ou módulos, CD, CD-ROOM, DVD. Para
além deste material físico ou electrónico disponível na biblioteca, pode ter acesso a Plataforma
digital moodle para alargar mais ainda as possibilidades dos seus estudos.

Auto-avaliação e Tarefas de avaliação


Tarefas de auto-avaliação para este módulo encontram-se no final de cada unidade temática e
de cada tema. As tarefas dos exercícios de auto-avaliação apresentam duas características:
primeiro apresentam exercícios resolvidos com detalhes. Segundo, exercícios que mostram
apenas respostas.

Tarefas de avaliação devem ser semelhantes às de auto-avaliação mas sem mostrar os passos e
devem obedecer o grau crescente de dificuldades do processo de aprendizagem, umas a seguir
a outras. Parte das terefas de avaliação será objecto dos trabalhos de campo a serem entregues
aos tutores/docentes para efeitos de correcção e subsequentemente nota. Também constará
do exame do fim do módulo. Pelo que, caro estudante, fazer todos os exercícios de avaliação é
uma grande vantagem.

Comentários e sugestões

Use este espaço para dar sugestões valiosas, sobre determinados aspectos, quer de natureza
científica, quer de natureza didáctico-Pedagógica, etc, sobre como deveriam ser ou estar
apresentadas. Pode ser que graças as suas observações que, em gozo de confiança,
classificamo-las de úteis, o próximo módulo venha a ser melhorado.

Ícones de actividade
Ao longo deste manual irá encontrar uma série de ícones nas margens das folhas. Estes
ícones servem para identificar diferentes partes do processo de aprendizagem. Podem
indicar uma parcela específica de texto, uma nova actividade ou tarefa, uma mudança de
actividade, etc.

Habilidades de estudo
O principal objectivo deste campo é o de ensinar aprender a aprender. Aprender aprende-
se.

10
Durante a formação e desenvolvimento de competências, para facilitar a aprendizagem e
alcançar melhores resultados, implicará empenho, dedicação e disciplina no estudo. Isto é,
os bons resultados apenas se conseguem com estratégias eficientes e eficazes. Por isso é
importante saber como, onde e quando estudar. Apresentamos algumas sugestões com as
quais esperamos que caro estudante possa rentabilizar o tempo dedicado aos estudos,
procedendo como se segue:

1º Praticar a leitura. Aprender a Distância exige alto domínio de leitura.

2º Fazer leitura diagonal aos conteúdos (leitura corrida).

3º Voltar a fazer leitura, desta vez para a compreensão e assimilação crítica dos conteúdos
(ESTUDAR).

4º Fazer seminário (debate em grupos), para comprovar se a sua aprendizagem confere ou


não com a dos colegas e com o padrão.

5º Fazer TC (Trabalho de Campo), algumas actividades práticas ou as de estudo de caso se


existirem.

IMPORTANTE: Em observância ao triângulo modo-espaço-tempo, respectivamente como,


onde e quando estudar, como foi referido no início deste item, antes de organizar os seus
momentos de estudo reflicta sobre o ambiente de estudo que seria ideal para si: Estudo
melhor em casa, biblioteca, café, outro lugar? Estudo melhor à noite, de manhã, de tarde,
fins-de-semana, ao longo da semana? Estudo melhor com música, num sítio sossegado, num
sítio barulhento!? Preciso de intervalo em cada 30 minutos, em cada hora, etc.

É impossível estudar numa noite tudo o que devia ter sido estudado durante um
determinado período de tempo; deve estudar cada ponto da matéria em profundidade e
passar só ao seguinte quando achar que já domina bem o anterior.

Privilegia-se saber bem (com profundidade) o pouco que puder ler e estudar, que saber
tudo superficialmente! Mas a melhor opção é juntar o útil ao agradável: Saber com
profundidade todos conteúdos de cada tema, no módulo.

Dica importante: não recomendamos estudar seguidamente por tempo superior a uma
hora. Estudar por tempo de uma hora intercalado por 10 (dez) a 15 (quinze) minutos de
descanso (chama-se descanso à mudança de actividades). Ou seja, que durante o intervalo
não se continuar a tratar dos mesmos assuntos das actividades obrigatórias.

Uma longa exposição aos estudos ou ao trabalho intelectual obrigatório pode conduzir ao
efeito contrário: baixar o rendimento da aprendizagem. Por que o estudante acumula um
elevado volume de trabalho, em termos de estudos, em pouco tempo, criando interferência
entre os conhecimentos, perde sequência lógica, por fim ao perceber que estuda tanto, mas

11
não aprende, cai em insegurança, depressão e desespero, por se achar injustamente
incapaz!

Não estude na última da hora; quando se trate de fazer alguma avaliação. Aprenda a ser
estudante de facto (aquele que estuda sistematicamente), não estudar apenas para
responder a questões de alguma avaliação, mas sim estude para a vida, sobre tudo, estude
pensando na sua utilidade como futuro profissional, na área em que está a se formar.

Organize na sua agenda um horário onde define a que horas e que matérias deve estudar
durante a semana; Face ao tempo livre que resta, deve decidir como o utilizar
produtivamente, decidindo quanto tempo será dedicado ao estudo e a outras actividades.

É importante identificar as ideias principais de um texto, pois será uma necessidade para o
estudo das diversas matérias que compõem o curso: A colocação de notas nas margens
pode ajudar a estruturar a matéria de modo que seja mais fácil identificar as partes que está
a estudar e Pode escrever conclusões, exemplos, vantagens, definições, datas, nomes, pode
também utilizar a margem para colocar comentários seus relacionados com o que está a ler;
a melhor altura para sublinhar é imediatamente a seguir à compreensão do texto e não
depois de uma primeira leitura; Utilizar o dicionário sempre que surja um conceito cujo
significado não conhece ou não lhe é familiar;

Precisa de apoio?
Caro estudante, temos a certeza que por uma ou por outra razão, o material de estudos
impresso, lhe pode suscitar algumas dúvidas como falta de clareza, alguns erros de
concordância, prováveis erros ortográficos, falta de clareza, fraca visibilidade, página
trocada ou invertidas, etc). Nestes casos, contacte os serviços de atendimento e apoio ao
estudante do seu Centro de Recursos (CR), via telefone, sms, E-mail, se tiver tempo, escreva
mesmo uma carta participando a preocupação.

Uma das atribuições dos Gestores dos CR e seus assistentes (Pedagógico e Administrativo),
é a de monitorar e garantir a sua aprendizagem com qualidade e sucesso. Dai a relevância
da comunicação no Ensino a Distância (EAD), onde o recurso as TIC se tornam incontornável:
entre estudantes, estudante – Tutor, estudante – CR, etc.

As sessões presenciais são um momento em que você caro estudante, tem a oportunidade
de interagir fisicamente com staff do seu CR, com tutores ou com parte da equipa central do
ISCED indigitada para acompanhar as suas sessões presenciais. Neste período pode
apresentar dúvidas, tratar assuntos de natureza pedagógica e/ou administrativa.

O estudo em grupo, que está estimado para ocupar cerca de 30% do tempo de estudos a
distância, é muita importância, na medida em que lhe permite situar, em termos do grau de
aprendizagem com relação aos outros colegas. Desta maneira ficará a saber se precisa de
apoio ou precisa de apoiar aos colegas. Desenvolver hábito de debater assuntos
12
relacionados com os conteúdos programáticos, constantes nos diferentes temas e unidade
temática, no módulo.

Tarefas (avaliação e auto-avaliação)


O estudante deve realizar todas as tarefas (exercícios, actividades e auto−avaliação),
contudo nem todas deverão ser entregues, mas é importante que sejam realizadas. As
tarefas devem ser entregues duas semanas antes das sessões presenciais seguintes.

Para cada tarefa serão estabelecidos prazos de entrega, e o não cumprimento dos prazos de
entrega, implica a não classificação do estudante. Tenha sempre presente que a nota dos
trabalhos de campo conta e é decisiva para ser admitido ao exame final da
disciplina/módulo.

Os trabalhos devem ser entregues ao Centro de Recursos (CR) e os mesmos devem ser
dirigidos ao tutor/docente.

Podem ser utilizadas diferentes fontes e materiais de pesquisa, contudo os mesmos devem
ser devidamente referenciados, respeitando os direitos do autor.

O plágio1 é uma violação do direito intelectual do(s) autor(es). Uma transcrição à letra de
mais de 8 (oito) palavras do texto de um autor, sem o citar é considerado plágio. A
honestidade, humildade científica e o respeito pelos direitos autorais devem caracterizar a
realização dos trabalhos e seu autor (estudante do ISCED).

Avaliação
Muitos perguntam: Com é possível avaliar estudantes à distância, estando eles fisicamente
separados e muito distantes do docente/tutor! Nós dissemos: Sim é muito possível, talvez
seja uma avaliação mais fiável e consistente.

Você será avaliado durante os estudos à distância que contam com um mínimo de 90% do
total de tempo que precisa de estudar os conteúdos do seu módulo. Quando o tempo de
contacto presencial conta com um máximo de 10%) do total de tempo do módulo. A
avaliação do estudante consta detalhada do regulamentado de avaliação.

Os objectivos e critérios de avaliação constam do Regulamento de Avaliação

1
Plágio - copiar ou assinar parcial ou totalmente uma obra literária, propriedade intelectual de outras pessoas,
sem prévia autorização.
13
TEMA I: FISCALIDADE NO ORDENAMENTO JURÍDICO MOÇAMBICANO

UNIDADE 1.1. DIREITO FISCAL

1.1.1. CONCEITO
Os impostos constituem objecto do direito fiscal, justificando por isso o estudo autónomo
desta disciplina.

“O âmbito do direito fiscal tem sofrido um alargamento progressivo. Num primeiro


momento, dizia respeito apenas aos principios e normas respeitantes à definicão dos limites
dos poderes do Estado no lançamento e cobrança dos impostos. Progressivamente porém, o
seu âmbito foi tomado em grande parte pelo tratamento normativo desses mesmos
impostos e, por outro lado, pelo tratamento dado aos deveres que, através da lei, podem
ser atribuídos aos cidadãos (deveres com natureza pecuniária, ou deveres com outros
conteúdos)”.2

Segundo (Sanches p. 66) o direito tributário abrange um conjunto de regras e princípios


referentes a todos os tributos, nomeadamente: os impostos, as taxas e as contribuições
especiais. Por sua vez o direito fiscal é rigorosamente o direito dos impostos, embora muitas
vezes se utilize esta expressão para se referir ao direito dos tributos.

O direito fiscal tem como objecto as relações jurídicas entre as entidades a quem a lei
atribui poderes para a prossecução de fins próprios e, primacialmente, os sujeitos privados.

1.1.2. FONTES E PRINCÍPIOS DO DIREITO FISCAL


O direito fiscal a semelhança dos outros ramos do direito, resulta de um conjunto de
instrumentos, legais ou não que determinam a sua formação e ou revelação.
Não existem especificidades no domínio das fontes deste ramo de direito, sendo que
podemos aqui fazer uma distinção entre as fontes normativas, ou seja, aquelas sustentadas
normas vinculativas, das fontes não normativas, onde iriamos enquadrar as demais fontes
do direito.
Relativamente as fontes normativas, podemos encontrar a sua previsão no artigo 7.º da
LGT, a qual determina que “são fontes normativas dos tributos:
- A Constituição da República;
- A Lei;
- O Decreto-Lei;
- O Decreto
- Os Diplomas Ministeriais;
- O Regulamento das Autarquias Locais;
- O Contrato Fiscal, nos Termos Previstos na Legislação Tributária,
- A Convenção Internacional que Vigore na Ordem Interna, nomeadamente Convenções
Bilaterais sobre Matéria Fiscal e Aduaneira”.

2
Sanches, Saldanha, Manual de Direito Fiscal, Coimbra Editora 5.ª edição 2007, p. 65
14
1.1.2.1. Constituição Da República
A CRM apresenta algumas matérias no domínio do direito fiscal, na medida em que nos
apercebemos que os tributos constituem a principal fonte de financiamento do Estado
moçambicano e principal instrumento para materializar uma sociedade mais justa (justiça
fiscal), garantindo assim uma justa repartição do rendimento e da riqueza, ou através da
tributação do consumo onerar o consumo de bens de luxo.
No entanto, como poderemos observar na apreciação do sistema fiscal, nem sempre é
possível materializar tal desiderato, tal como sucede por exemplo na tributação do
rendimento pessoal, onde se pretendia um imposto único e progressivo, mas na verdade o
IRPS apresenta taxas liberatórias (proporcionais) em algumas categorias ou situações.
Relativamente as pessoas colectivas pretendia-se que se fizesse fundamentalmente em
função do seu “rendimento real”, mas verificamos em várias situações a tributação com
base no rendimento presumido.
“Por isso, devemos relativizar de algum modo a influência da Constituição da República na
evolução do nosso sistema fiscal e o presente ainda mais.”3.
A nossa “constituição fiscal”, ou seja, o conjunto de princípios jurídicos constitucionais
disciplinadores do regime jurídico dos tributos é muito pobre, resumindo-se em cerca de
seis, designadamente a al. c), do artigo 45, 100, 126, 127, al. o), do n.º1, do artigo 179, n. º
2, do artigo 223, todos da CRM.
No plano formal, o princípio da legalidade tributária representa o assunto dominante da
nossa constituição fiscal e não poderia ser de outra maneira. Sendo que, nos termos da al.
o), do n.º 1, do artigo 179, compete a Assembleia da República a criação dos impostos e a
disciplina do sistema fiscal.
O Governo só pode legislar nesta matéria mediante lei de autorização legislativa que defina
o objecto, sentido, extensão e duração da autorização, nos termos n.º 1, do artigo 180, da
CRM.
O n.º 2, do artigo 127, da CRM, determina que a lei deve determinar a incidência e a taxa
dos impostos, os benefícios fiscais e as garantias dos contribuintes, prevenindo, portanto, a
deslegalização dos elementos essenciais dos tributos públicos.
Esta consagração legal vem acautelar a preponderância do poder executivo na
regulamentação fiscal.
“No plano material, a igualdade constitui o mais importante tópico de legitimação do
sistema fiscal”4.
O princípio da igualdade tributária não se encontra expressamente previsto na constituição,
mas dele resulta o princípio da capacidade contributiva e do Estado social.

1.1.2.2. A Constituição Financeira e a Descentralição Fiscal


Os Estados modernos são marcados pela sujeição das normas jurídicas à uma constituição,
cujos princípios e normas prevalecem sobre os demais no ordenamento jurídico nacional. A
actividade financeira, pela sua importância na sociedade está sujeita ao princípio da
constitucionalidade.

3
Vasquez, Sérgio, Manual de Direito Fiscal, Op. Cit. p. 126
4
Ibiden p.128
15
Por constituição financeira entende-se “o conjunto de princípios básicos marcados por
constitucionalidade formal ou simplesmente material, que presidem à organização,
funcionamento do sistema financeiro e que, por isso, têm preeminência sobre as demais
fontes normativas”.5

É por isso importante recordar a importância da Constituição de 1990, ao fixar o princípio da


descentralização, introduzindo na CRM em 1996, o capítulo referente ao poder local,
abrindo o caminho para a implantação das autarquias locais.

A CRM, consagra no capítulo IV o sistema financeiro e fiscal, onde constam os princípios


orientadores da actividade financeira do Estado, impondo uma articulação entre este e a
política económica e social do Estado, materializada em Moçambique pelo Plano Económico
e Social – PES, previsto no artigo 128 da CRM,

Por sua vez o Plano Económico e Social - PES, deve vir reflectido no Orçamento do Estado,
que obedece ao princípio da anualidade, quando os planos e programa de governo, são
plurianuais.

A CRM, determina no n.º 1, do artigo 128, que o PES tem como objectivo orientar o
desenvolvimento económico e social, no sentido de um crescimento sustentável, reduzir os
desequilíbrios regionais e eliminar progressivamente as diferenças económicas e sociais
entre a cidade e o campo.

Nesta disposição constitucional, temos claramente a intenção do Estado de proceder a


descentralização progressiva da gestão dos recursos financeiros do Estado. Assim, deve ser
assegurada a autonomia financeira aos órgãos do poder local do Estado.

Como forma de assegurar a materialização destes princípios orientadores da


descentralização, princípio da descentralização, a constituição, veio a reforçar a ideia da
descentralização financeira ao estabelecer expressamente no n.º 1, do artigo 276, uma
plena autonomia financeira, através da atribuição de património e finanças
descentralizadas.

Essa atribuição, confere a estas entidades (Autarquias locais) “independência orçamental e


patrimonial”.6

A CRM fixa, ainda, as grandes linhas orientadoras do processo de descentralização


financeira, cabendo ao governo tornar de facto o sistema financeiro descentralizado. O
Orçamento do Estado reveste um papel muito importante no fortalecimento da
descentralização, pois, é neste instrumento que se manifesta a vontade do governo em cada
momento de criar mais autarquias ou conferir às existentes os meios necessários para a
realização das suas atribuições.

O processo de transferência de funções do Estado para as autarquias é recente e parcial,


ficando o Estado ainda com parte de poderes que deviam ter já sido transferidos para as
autarquias.

5
SOUSA FRANCO, op.cit. p. 244
6
Ibidem, 2002. op cit. p. 264
16
Resumindo, “a constituição financeira está sempre estritamente conexa com a constituição
política, por depender da organização do Estado e da articulação dos seus poderes com os
direitos e deveres dos cidadãos. Deve também ser coerente nos meios com a constituição
económica e nos fins com a constituição social e cultural”.7

A falta de autonomia financeira, vai se repercutir na própria autonomia administrativa, por


isso, é importante a determinação constitucional da descentralização financeira em
Moçambique. “No entanto é essencial a disponibilização de receitas próprias para as
entidades locais, para que se possa realizar os objectivos destas entidades.

1.1.2.3. A Legislação Ordinária


A CRM estabelece o princípio da legalidade no que diz respeito aos impostos e ao sistema
fiscal. Trata-se aqui de sujeitar estes institutos a reserva da lei formal.
A lei assume um papel muito importante nas fontes do direito como consequência do
princípio da legalidade. Mas encontramos no direito fiscal, regulamentos externos,
vinculativos não só para a administração fiscal, como também para os tribunais e para os
contribuintes, necessários para complementar a lei e que se devem conter dentro dos
limites da legalidade.
Estas formas de actuação (regulamentos externos e regulamentos internos) trazem segundo
Saldanha Sanches. 2007, uma vantagem de garantir uma uniforme aplicação do direito pelos
serviços da administração fiscal, pois clarificam dúvidas dos contribuintes e da
administração fiscal, reduzem a litigiosidade, torna exequíveis certas leis (sempre mais
abstractas).
Com a crise económica que se vive actualmente nasce uma necessidade de aumentar o
volume das receitas internas do Estado que só pode ser conseguido com a reestruturação
fiscal, justificando por via disso um aumento da produção legislativa fiscal com vista ao
equilíbrio das contas públicas.
Estranhamos que desde de 2014, não temos reformas fiscais significativas, mas antevemos
nos próximos anos essas reformas, quer a nível de estrutura do sistema fiscal, quer em
medidas visando o alargamento da base tributária.

No que diz respeito a lei (acto normativo da Assembleia da República), nos termos do n.º 2,
do artigo 143, da CRM, pensamos que ficou suficientemente explicado no ponto referente a
“constituição fiscal” e sobre o princípio da legalidade.

1.1.2.4. Decretos-leis, Decretos, diplomas ministeriais e regulamentos das autarquias


locais
Os Decretos-leis, correspondem aos actos normativos do Conselho de Ministros, em matéria
fiscal aprovados mediante autorização legislativa, nos termos do n.º 3, do artigo 143, da
CRM. Julgamos que também ficou suficientemente assente no ponto referente a
constituição fiscal.

7
Idem, p. 245
17
Os Decretos que representam os actos regulamentares do governo, que podem ser
determinados por lei regulamentar, quer no caso de regulamentos autónomos, nos termos
do n.º 4, do artigo 143, da CRM.
Portanto, cabe ao governo regulamentar essas matérias através de Decretos que
constituem uma ferramenta fundamental na regulamentação das leis, garantindo a sua
execução, complementando-a e dinamizando a lei, em matérias que as leis não são por si
exequíveis ou em relação as quais o legislador se absteve de tratar, regulamentando
matérias que o legislador não tratou e facultando a administração normas em matérias
cujas leis não cuidaram com profundidade.
São disso exemplo os regulamentos códigos do IRPS, do IRPC e do IVA, aprovados pelo
Governo de modo a simplificar as formas de cobrança destes impostos.
Os Diplomas Ministeriais são actos normativos dos ministérios. Em matéria fiscal o Ministro
das finanças pode, com autorização do governo, emitir certas directivas, visando esclarecer
e facilitar a aplicação de certos regulamentos.
Os actos normativos das autarquias locais tomam a forma de regulamentos ou posturas
municipais, e de igual modo, no âmbito do exercício da sua autonomia as autarquias locais,
dentro do respeito à lei e a constituição, produzem normas e directivas que visam facilitar o
processo de cobrança dos impostos e taxas autárquicas.

1.1.2.5. As Convenções internacionais


Nos termos do nº 1 do artigo 18 da CRM, os tratados e acordos internacionais validamente
aprovados e ratificados na ordem jurídica moçambicana, vigoram em Moçambique após a
sua publicação oficial, enquanto vincularem internamente o Estado moçambicano.
Dispõe o n.º 1, do artigo 8, da LGT que “as normas de direito internacional vigaram na
ordem interna, desde que aprovadas e ratificadas nos termos da Constituição da República
de Moçambique e da lei, após sua publicação oficial e enquanto vincularem
internacionalmente o Estado Moçambicano”.
Em matéria fiscal, as convenções internacionais desempenham um papel importante pois,
permitem evitar que um cidadão tenha que pagar duas vezes o mesmo imposto, é o que se
designa “Dupla tributação”.
O n.º 2 do artigo do artigo 8.º da LBST, dispõe que os residentes de um Estado com o qual o
Estado moçambicano tenha celebrado uma convenção de dupla tributação, beneficiários
efectivos de rendimentos em território moçambicano, devem solicitar, em tempo oportuno,
a aplicação do regime da convenção, através do preenchimento de um formulário
devidamente certificado pelas autoridades competentes do Estado de residência, e
entregue ao devedor dos rendimentos ou junto das autoridades moçambicanas
competentes, consoante o caso.

1.1.2.6. Jurisprudência
No sistema jurídico moçambicano a jurisprudência e a doutrina não são fontes formais do
direito.

18
Não compete aos tribunais criar normas jurídicas porque a sua função é dirimir conflitos
mediante a aplicação de normas jurídicas aplicáveis. No entanto, as decisões dos tribunais
permitem uma prognose sobre o modo como o direito fiscal é aplicado.
Entretanto, pode falar-se em termos teóricos da jurisprudência como fonte de Direito fiscal:
(i) Quando o tribunal para decidir determinada questão relativamente a qual não tenha
normas aplicáveis ao caso em concreto, e porque o tribunal não pode abster-se de julgar
invocando ausência ou não clarificação das normas, o legislador impõe ao juiz que ele
próprio crie uma norma jurídica aplicável aquele caso concreto, como se ele fosse um
autentico legislador. Neste caso diz-se que a jurisprudência é fonte de direito fiscal. (ii) No
caso dos assentos as leis orgânicas (dos tribunais administrativos e judiciais) determinam
que compete ao plenário dos tribunais supremos proceder a uniformização de
jurisprudência, sendo que o resultado desta deliberação (assentos) será de cumprimento
obrigatório. Assim, só no caso de uniformização de jurisprudência fiscal podemos estar
perante uma verdadeira norma de direito fiscal.

1.1.2.7. A Doutrina
Finalmente temos a doutrina que pode ser considerada fonte indirecta ou mediata, visto
que as opiniões dos jurisconsultos podem contribuir para a criação do direito fiscal. Estas
opiniões podem ser manifestadas nas mais diversas formas, nomeadamente, como
pareceres, livros, revistas, através da opinião dos jurisconsultos, que o legislador pode
acolher e criar normas, ou os aplicadores da lei podem se servir para fundamentar as suas
decisões.

Para além dos actos tributários e actos administrativos em matéria tributária, são ainda
fontes do direito fiscal os contratos fiscais.

1.1.3. Os princípios jurídico-constitucionais do direito fiscal


São vários os princípios informadores do direito fiscal dos quais elegemos para efeitos de
estudo aqueles que parecem consensuais entre os cultores do direito fiscal, tal como:
a) Princípio da legalidade fiscal;
b) Princípio da segurança jurídica;
c) A proibição do referendo fiscal;
d) Princípio da igualdade fiscal;
e) O respeito pelos direitos, liberdades e garantias fundamentais;
f) O princípio do Estado social.

1.1.3.1. Princípio da legalidade fiscal


“A definição exacta do alcance do princípio da legalidade tributária levanta alguns
problemas mesmo no âmago das normas de incidência (que vão ter consequências directas
na quantificação da obrigação da obrigação tributária ou na fixação da taxa”8.

8
Sanches, Saldanha, Manual de Direito Fiscal, Coimbra Editora, 3ª edição, p. 119
19
A CRM, distingue o conjunto de norma que criam impostos, determinam as taxas, criam
isenções ou atribuem garantias, e um outro conjunto, composto pelas outras normas. Isto
assim acontece porque apenas quando se criam, ou modificam impostos ou se aumentam
as taxas estão a ser tomadas decisões estruturantes do sistema fiscal.
Este princípio não é exclusivo do Direito fiscal, mas apresenta neste ramo do direito, um
significado mais rigoroso e exigente. A reserva da lei ganha particular relevo em matéria de
Direito Fiscal, pois, resulta claro do disposto no artigo 100 da CRM que “os impostos só
podem ser criados ou alterados por lei, que os fixa segundo critérios de justiça social e
decorre do imperativo constitucional”
O n.º 2 do artigo 127, da CRM dispõe que “os impostos são criados ou alterados por lei que
determina a incidência, a taxa, os benefícios fiscais e as garantias dos contribuintes”.
Portanto, nestes termos a lei deve regular os elementos essenciais do imposto.
Esta consagração tem na sua base a expressão “no taxation without representation”, que
atribui ao parlamento enquanto representante dos contribuintes a competência exclusiva
para a aprovação das leis fiscais.
Trata-se aqui da reserva da lei em matéria fiscal, mas uma reserva relativa, uma vez que o
governo pode legislar em matéria fiscal, mediante autorização legislativa.
Associado ao princípio da legalidade fiscal temos o princípio da tipicidade, nos termos do
qual apenas são considerados impostos aqueles que se encontram especialmente previstos
na lei. Assim, o n.º 1 do artigo 3 da Lei n° 15/2002 de 26 de Junho dispõe que “Não há lugar
a cobrança de impostos que não tenham sido estabelecidos por lei”.

1.1.3.2. Princípio Da Segurança Jurídica


Este princípio resulta da ideia do Estado de direito Democrático consagrado no artigo 3 da
Constituição da República, impondo ao legislador alguns limites visando por um lado a
proibição da edição de normas retroactivas (desfavoráveis) e por outro lado a livre
revogabilidade das normas fiscais favoráveis.
O n.º 5, do artigo 127, da CRM estabelece que “a lei fiscal não tem feito retroactivo, salvo se
for de conteúdo mais favorável ao contribuinte”. A proibição de normas fiscais retroactivas,
de conteúdo desfavoráveis aos cidadãos, goza de consagração constitucional expressa.
Há, portanto, que tutelar a confiança dos contribuintes, depositada na actuação dos órgãos
do Estado.
Neste sentido mostra-se relevante haver uma ponderação nos casos em que a
administração ou o próprio legislador, por meio de imposição retroactiva de uma
interpretação correcta da lei fiscal, pretender recuperar impostos não cobrados em virtude
de a anterior interpretação ilegal da administração os excluir da zona de incidência ou os
atirar para os benefícios fiscais.
A imposição de condições para que as leis fiscais não sejam livremente alteradas,
principalmente nos casos em que beneficiam o cidadão constitui o outro lado do princípio
da segurança jurídica.
Este princípio manifesta-se igualmente sobre as taxas e as contribuições especiais,
retroactivas, bem como em relação as normas relativas a elementos não essenciais dos
impostos, em que sobressaem os diversificados e onerosos deveres ou obrigações fiscais.

20
1.1.3.3. Princípio Da Proibição Do Referendo Fiscal
A matéria fiscal não é susceptível de referendo. Esta proibição visa, prevenir contra
eventuais manipulações políticas susceptíveis de comprometer uma matéria essencial para
os Estados que são os tributos. Alias esta proibição ínsita na al. b) do nº 3, do artigo 136 da
Constituição, que estabelece a proibição do referendo quando se trate de matérias previstas
no n.° 2, do artigo 179, da CRM, ou seja, proíbe o referendo quando se trate de matérias
relativas a definição das bases da política e do sistema fiscal moçambicano.
Apesar de grande parte do Estados não consagrar tal princípio constitucional, esta questão é
admitida nalguns ordenamentos jurídicos, como por exemplo alguns Estados dos EUA, ou na
Finlândia.
Portanto, tal princípio apesar de enraizado no nosso ordenamento jurídico não deixa de
merecer algumas críticas, pois, se a soberania reside no povo, nos termos do n.º 1, do artigo
2, da CRM, e se estamos de acordo que a matéria fiscal é essencial para a sobrevivência do
Estado, porque excluir do referendo? Não seria legítimo consultar o povo sobre os aspectos
mais relevantes d organização do Estado?

1.1.3.4. Princípio Da Igualdade Fiscal


O princípio da legalidade fiscal remete-nos à ideia do princípio geral de igualdade dos
cidadãos constitucionalmente consagrado no artigo 35, da CRM.
Trata-se de uma igualdade material, ou igualdade na lei, assente no princípio capacidade
contributiva.
Este princípio baseia-se na ideia de que todos cidadãos encontram-se obrigados ao
cumprimento do dever de pagar impostos, dever consagrado na CRM na al. c), do artigo 45,
e ainda exige-se que este princípio seja universal, ou seja, definição de um critério igual para
todos cidadãos que possibilite a definição de igual imposto para os que dispõem de igual
capacidade contributiva - (igualdade horizontal) e diferente imposto para os que dispõem
de diferente capacidade contributiva na proporção desta diferença (igualdade vertical).
“O princípio da capacidade contributiva enquanto tertitum comparationis, da igualdade no
domínio dos impostos não carece dum específico e directo preceito constitucional. O seu
fundamento é pois, o princípio da igualdade articulado com os demais princípios e preceitos
da constituição fiscal e não qualquer outro”.9
Este princípio não encontra correspondência quer na teoria do benefício ou da equivalência
e nem na teoria do sacrifício.
No primeiro caso porque para além de estar estritamente vinculada à concepção
contratualista do Estado, é de todo impraticável e não está em sintonia com o Estado social,
sendo invocável apenas como suporte dos tributos bilaterais.
No segundo caso porque, além de se apoiar em premissas indemonstráveis, conduz-nos a
três diferentes igualdades (consoante se perfilhe a teoria do sacrifício igual, a teoria do
sacrifício marginal, não nos dando qualquer destas uma resposta unívoca no concernente à
taxa dos impostos.
Segundo Casalta Nabais, três tem sido as objecções ao princípio da capacidade contributiva:
a primeira vê nele um objectivo de nivelamento social e consequente aniquilamento da

9
Nabais, Casalta, Op. Cit.p.149
21
liberdade individual. Objecção que, ultrapassando o terreno duma discussão jurídica, tem
por alvo o próprio Estado fiscal social.
A segunda argumenta a indeterminabilidade e equivocidade do conceito contido no termo
capacidade contributiva, a qual, para além de esquecer os múltiplos conceitos
indeterminados com escudo nas actuais constituições, partilha no final a ideia de carácter
meramente programático dum tal princípio.
A terceira, que esgrime com a sua falta previsão constitucional expressa, a qual, valendo
apenas para ordenamentos jurídicos, em que essa mesma falta se verifica, mais não é do
que uma expressão do tradicional positivismo que tem assolado o direito dos impostos.
A capacidade contributiva constitui um pressuposto e critério da tributação. Visto como
pressuposto da tributação exige não só que todos tributos, em que se incluem os impostos
extrafiscais, mas também os próprios benefícios fiscais tenham por objecto “bens fiscais”
excluindo da tributação, por conseguinte, tanto o mínimo não tributável como o chamado
máximo confiscatório.
Como critério da tributação, a capacidade contributiva nega que o conjunto dos impostos e
cada um dos impostos de per si tenham por base qualquer critério, seja ao nível das
respectivas normas, seja ao nível dos correspondentes resultados atento ao âmbito, um tal
critério vale, em termos objectivos apenas relativamente aos impostos fiscais e no
concernente à respectiva obrigação de imposto e diz respeito, em termos subjectivos
somente aos contribuintes, sejam cidadãos ou estrangeiros, pessoas singulares ou
colectivas.
Relativamente ao quantum ou intensidade da tributação, a capacidade contributiva não
constitui qualquer suporte da progressividade do sistema fiscal ou dos impostos, indiciando-
nos antes a opção por impostos proporcionais.
A importância deste princípio, capacidade contributiva, considerada no nosso sistema fiscal
como critério de interpretação, tal como resulta da al. d) do n.º 3, do artigo 10.º da LGT, ao
referir que “o fim da norma é determinado de acordo com os seguintes elementos auxiliares
(…) a capacidade contributiva, enquanto critério de interpretação dos conceitos utilizados
pelas regras da incidência tributária”.

1.1.3.5. O Princípio Do Respeito pelos Direitos, Liberdades e Garantias Fundamentais


O sistema tributário deve respeitar os direitos, liberdades e garantias fundamentais, que
constam do título III, da CRM, sendo que o imposto deve ser determinado tendo em conta
certos factores como por exemplo a dignidade da pessoa humana (deve-se assegurar um
mínimo de meios ou recursos materiais indispensáveis à dignidade do cidadão), ou garantir
a propriedade não criando impostos ou fixando taxas que constituam um confisco.
Segundo o Casalta Nabais, os impostos enquanto manifestações de um dever fundamental,
não podem, por exemplo pelo seu montante, ir a ponto de desfigurar os direitos ao trabalho
e a iniciativa empresarial, enquanto direitos de conteúdo determinado ou determinável com
base em preceitos constitucionais, sob pena de os mesmos terem um conteúdo de âmbito
“sob reserva (ou nos termos) da lei fiscal” e não nos termos da constituição.
Outro aspecto relevante é a questão liberdade da gestão fiscal, no sentido de que se deve
dar a possibilidade dos contribuintes planificarem a sua vida económica sem consideração
das necessidades financeiras do Estado, ou seja, garantir aos contribuintes a livre escolha
das soluções fiscalmente menos onerosas.
22
Finalmente, cabe ao Estado e demais entes públicos titulares do poder tributário, garantir a
neutralidade fiscal. Infelizmente tal princípio não tem expressão na nossa CRM.

1.1.3.6. O princípio do Estado Social.


O princípio do Estado Social tem implicações importantes no domínio dos impostos, pois,
constitui tarefa fundamental do Estado a realização da democracia económica, social e
cultural. Aliás as als. c) e d) do artigo 11 da CRM estabelece que o Estado tem como
obectivos fundamentais: “A edificação de uma sociedade de justiça social e a criação do
bem-estar material, espiritual e de qualidade de vida dos cidadãos” e “A promoção do
desenvolvimento equilibrado, económico, social e regional do país”.
De acordo com este princípio entende-se que deve-se ter em conta uma maior ou menor
tributação, ou mesmo tributação e não tributação de acordo com as circunstâncias.
Orienta-se para a tributação ou para maior tributação na medida em que suporta a
progressividade dos impostos, a tributação do capital, a extrafiscalidade e a tributação das
prestações sociais (se e na medida em que excedam os mínimos existenciais estabelecidos e
assegurados pelas prestações sociais).
Com relação a tributação ou não tributação deve-se considerar o valor mínimo tributável,
(ver artigo 61, da LBST). Assim como a não tributação das prestações sociais e dos
rendimentos monetários, imputados ou afectos pelos contribuintes à satisfação de
necessidades básicas, por exemplo, as despesas com a habitação, saúde, educação,
segurança social etc. até ao montante dos mínimos decorrentes do direito das prestações
sociais.
Temos por exemplo a LGT, que estabelece os princípios e normas gerais do ordenamento
tributário moçambicano e os Códigos do IRPS, do IRPC e do IVA, que aprovam a incidência,
taxas e benefícios fiscais relativos aqueles impostos.

UNIDADE 1.2. CONCEITO E ESPÉCIES DE TRIBUTOS NO ORDENAMENTO JURÍDICO


MOÇAMBICANO
Os tributos representam as receitas cobradas pelo Estado ou por outros entes públicos para
a satisfação das necessidades públicas, sem função sancionatória. Normalmente os tributos
dividem-se em quatro categorias diferentes, nomeadmante: os impostos, as taxas, as
contribuições especiais e as demais contribuições financeiras estabelecidas por lei a favor de
entidades públicas, desde que a gestão das mesmas seja da competência da administração
tributária.

A Lei Geral Tributária, aprovada pela Lei n.º 2/2006, de 22 de Marco, adopta esta divisão.
Ver o n.º 1, do artigo 3.º. Nos números seguintes apresenta os conceitos, a saber:

“Os impostos são as prestações obrigatórias, avaliáveis em dinheiro, exigidas por uma
entidade pública, para a prossecução de fins públicos, sem contraprestação individualizada
e cujo facto tributário assenta em manifestações de capacidade contributiva, devendo estar
previstos por lei”.

23
“As taxas são prestações avaliáveis em dinheiro, exigidas por uma entidade pública como
contrapartida individualizada pela utilização de um bem do domínio público, ou de um
serviço público, ou pela remoção de um limite jurídico à actividade dos particulares, desde
que previstos na lei”.

“são contribuições especiais as prestações efectuadas como contrapartida de benefícios ou


aumento do valor dos bens do sujeito passivo, que resultem de obras públicas ou da criação
ou ampliação de serviços públicos, ou devidas em razão do especial desgaste de bens
públicos ocasionados pelo exercício de uma actividade, desde que previstas na lei”.

Finalmente temos as contribuições para a segurança social que participam da natureza dos
impostos, nos termos do n.º 5, do artigo 3.º, da LGT.

Relativamente aos impostos temos subjacente o princípio capacidade contributiva enquanto


que as texas e as contribuicões especiais têm na sua base o princípio da equivalência.

Distinção entre o imposto e as taxas.

Uma das questões mais relavantes na determinação dos tributos conduz da distinção entre
o imposto e as taxas, pois é comum classificarem-se os tributos em unilaterais (impostos) e
bilaterais (taxas). Outros autores subdividem os tributos e em três categorias,
designadamente impostos taxas e contribuições especiais.

Parece que o nosso legislador adoptou esta classificação, pese embora lhe tenha
acrescentado uma categoria (as demais contribuições financeiras estabelecidas por lei a
favor de entidades públicas, desde que a gestão das mesmas seja da competência da
administração tributária).

Esta quarta categoria presente no n.º 4, do artigo 3.º, da LGT, é estranha em muitos
ordenamentos jurídicos.

Temos então, a divisão entre os “tributos unilaterais que integram a figura dos impostos e
tributos bilaterais que se reconduzem à figura das taxas”.10

“Com efeito, enquanto os impostos obedecem ao exigente princípio da legalidade fiscal, e a


sua medida tem por base o princípio da capacidade contributiva, as taxas com a reserva da
lei parlamentar (ou o decreto lei parlamentarmente autorizado) do seu regime geral e a sua
medida assenta no princípio da proporcionalidade.”11

Do ponto de vista finalístico, as taxas distinguem-se dos impostos por serem exigidas em
contrapartida de prestações de que o sujeito passivo é o causador ou beneficiário.

As taxas representam tributos exigidos em contrapartida de prestações administrativas de


que o sujeito passivo é efectivo causador ou beneficiário. Esta é uma noção largamente
pacífica entre a doutrina que sempre sublinha a natureza específica, determinada ou
individualizada das prestações em que as taxas assentam.

10
Nabais, José Casaltas, Direito Fiscal, Almedina, 6 edição, p. 20
11
Ibidem p. 21
24
Isto significa que as taxas não correspondem a prestações difusas que dizem respeito a toda
comunidade, mas sim, a prestações concretas que se ligam ao sujeito passivo no sentido de
que este é quem efetivamente as provoca ou aproveita. (ver neste sentido o n.º 3, do artigo
3.º, da LGT).

Quando se diz que as taxas assentam em prestações efectivas não significa que estas
constituam sempre prestações presentes, podendo em certos casos mostrar-se prestações
futuras.

Exemplo: as propinas universitárias que se exigem aos alunos no início de cada ano lectivo,
antes da prestação do serviço de ensino, ou as taxas de portagem que se cobram a entrada
de uma ponte.

Na visão de Sérgio Vasques, na verdade a prestação não deixa de ser certa porque futura,
sendo que, paga a taxa, o particular fica efectivamente investido no direito de usufruir da
prestação administrativa, venha ou não a exercê-lo.

Assim, conclui o autor que, sempre a prestação administrativa que se visa compensar seja
certa, ainda que futura a sua realização, esta-se perante verdadeira taxa, pois que no
momento em que é pago um tributo público não revela à sua qualificação.

Normalmente existe nas taxas uma concordância entre o pressuposto tributário, formado
pela prestação efectiva de bens ou serviços, e respectiva finalidade, que está na
compensação do custo ou valor dessas mesmas prestações.

Outro aspecto que merece atenção é o emprego de taxas na compensação de prestações


presumidas, e que marca a distinção entre as taxas, as contribuções e impostos.

Se pretendermos evitar a diluição da categoria de taxas, não podemos admitir, segundo


Vasques, que elas se dirijam a compensação de prestações presumidas se não dentro de
limites muito apertados, que melhor se compreendem pela análise de alguns casos de
estudo.

Primeira situacão: encontramos tributos que assentam em presunções fortes como sucede
com as tarifas de saneamento cobradas por alguns municipios com o propósito de
remunerar os serviços prestados pelas autarquias na recolha de resíduos sólidos e na
drenagem das águas resuduais, que são exigidas aos consumidores pelas empresas
distribuidoras de água, no caso de Moçambique pela empresa distribuidora de energia.

O pressuposto destas tarifas de saneamento não é constituido pelas prestações que se visa
compensar, mas pelo facto que se julga representar um indicador seguro do seu
aproveitamento.

“presume-se, em suma, que se um munícipe consome água canalizada é porque dá


ocupacão efectiva a um imóvel para fins de habitação ou comércio e que, se o ocupa desta
meneira com certeza produz lixo e águas residuais que os serviços municipais recolhem”.12

12
Vasques. Op. cit p. 214
25
Estas taxas assentam em prestações presumidas em função das dificuladades, técnicas,
administrativas e financeiras.

Portanto, devemos considerar que estamos perante uma taxa sempre que um tributo
assente em presunções tão fortes que se possa dizer efectiva a prestação administrativa e
confiar que ela aproveita a generalidade dos sujeitos passivos.

Segunda situacão: encontramos tributos que assentam em presunções com força relativa.

Exemplo a contribuição, taxa de radiodifusão, que tem como propósito remunerar o servíço
público de rádio e televisão, do qual representa o correpectivo, constituindo receita própria
da RM e TVM.

Esta contribuição não incide porém, sobre o aproveitamento efectivo do serviço de rádio
difusão que seria impossível de controlar, mas simplismente sobre o consumo de energia
elétrica, sendo liquidada conjuntamente com o fornecimento da electricidade. O legislador
presume, portanto, que quem consome electricidade possui aparelho de rádio e de
televisão e que, possuindo-os, aproveitarão em certa medida do serviço público que a
contribuição audio visual pretende custear.

Portanto, trata-se de uma contribução.

Terceira situacão: tributos que assentam em presunções fracas.

Exemplo: as taxas municipais de publicidade.

Essas taxas são lançadas pela generalidade de municípios sobre mensagens publicitárias em
suportes de propriedade privada, onerando anúncios em imóveis particulares, as
mensagens em automóveis, ou mesmo a publicidade sonora e as campanhas publicitárias
de rua.

A afixacão das mensagens publicitárias constituiria assim, um indício do aproveitamento do


ambiente sadio e ecologicamente equilibrado cuja provisão está largamente a cargo dos
municípios.

Nestes casos a presunção é muito frágil, pois as regras da experiência não nos permitem
dizer com segurança que os particuralares que afixem mensagens publicitárias nos seus
imóveis,ou automóveis, sejam beneficiários, sequer presumíveis da intervencão dos
municípios nos concretos espaços públicos a partir dos quais aquelas são avistadas.

Nestes casos em que a presunção em que o tributo assenta é de tal modo frágil que apenas
se pode dizer possível ou eventual, o aproveitamento da prestacão administrativa pelo
sujeito passivo, devemos considerar estar perante verdadeiros e próprios impostos.

Portanto, a transicão entre taxas, contribuições e impostos, faz-se através de uma longa
escala graduada. Até certo ponto, a presunção em que um tributo assenta é tão forte que
podemos ainda dizer efectiva prestação administrativa estando-se perante verdadeira e
própria taxa: a partir de certo ponto, a presunção em jogo mostra força apenas relativa , e a
prestação administrativa parece tão só provável, estando-se perante uma contribuição, e

26
chegando a certo ponto, que a presuncão mostra-se de tal modo frágil, que a prestação se
torna apenas possível ou eventual, estando-se assim perante um imposto.13

UNIDADE 1.3. EXERCÍCIOS

1. Apresente o conceito jurídico de imposto;


2. Distinga Impostos nacionais e Impostos autárquicos;
3. No âmbito da classificação dos impostos diga qual a diferença que entre
impostos directos e impostos indirectos
4. Tendo em conta o princípio da legalidade fiscal, pode o governo legislar em matéria fiscal?
5. A jurisprudência e a doutrina são fontes do direito fiscal?

13
Vasques, Op. Cit p. 216
27
TEMA II: O SISTEMA TRIBUTÁRIO MOÇAMBICANO

UNIDADE 2.1. INTRODUÇÃO

O direito tributário e a economia, estabelecem entre si uma relação de dependência


recíproca e o conhecimento das suas relações é determinante no processo de elaboração da
política fiscal dos Estados, pois, fornece aos governantes as ferramentas indispensáveis para
escolha de um sistema tributário e não outro, em função das vantagens apresentadas para o
desenvolvimento.

Por isso é comum se dizer que o “sistema fiscal está condicionado pelos sistemas
económicos e pelas estruturas económicas”14.

O sistema fiscal em Moçambique, nem sempre teve um papel preponderante atendendo


aos vários sistemas políticos prevalecentes em cada momento da evolução histórica do
Estado. Com a conquista da independência, Moçambique teve necessariamente de optar
entre os dois sistemas sociopolíticos predominantes na época, capitalismo e socialismo.

A opção na sequência das condicionantes históricas, recaiu sobre o socialismo, que aliado ao
próprio processo de descolonização, desencadeou um processo de alteração da estrutura de
produção, causadas por um lado, pelo abandono pelo Estado colonizador das unidades de
produção susceptíveis de gerar rendimento e consequentemente impostos e por outro lado,
pela nacionalização destas unidades de produção, que passaram a integrar as chamadas
empresas estatais.

“As teorias económicas advogam que numa sociedade de economia descentralizada, onde é
admitida a apropriação privada dos meios de produção, a qual pode ser transmitida por
herança e onde é o mercado que determina o preço dos factores e dos bens, o imposto tem
um papel fundamental”.15

Nestes sistemas o Estado concede à fiscalidade um lugar de destaque, no âmbito dos


fenómenos económicos e sociais, pois toda a actividade económica se desenvolve tendo por
base as receitas provenientes dos tributos que alimentam à máquina de administração do
Estado.

Pelo contrário, nos sistemas de economia centralizada, como era o caso de Moçambique,
nos primeiros anos após a independência, sendo o Estado o único, ou quase único detentor
dos meios de produção, a arrecadação de tributos tem uma importância muito reduzida.

Destes pressupostos, podemos concluir que as transformações no domínio da política, tem


ou podem ter um impacto significativo no domínio da política fiscal e na economia dos
Estados, em função da relação natural que se estabelece entre estas duas componentes do
desenvolvimento.

14
IBRAIMO, 2002, Op. Cit, P.66
15
IBRAIMO, 2002, Op. Cit, p. 68
28
Portanto, sendo Moçambique um Estado que sofreu várias transformações políticas,
nomeadamente, conquista da independência, guerra de interna, mudança do sistema
político (do socialismo para a democracia/capitalismo), dentre outras menos significativas
até a descentralização administrativa, o estudo da evolução do sistema tributário, é
determinante para apurarmos em que medida e qual o impacto destas transformações na
evolução do Estado.

O sistema fiscal de um Estado encontra-se intimamente ligado ao sistema financeiro, que


por sua vez tem influência directa, sobre o desenvolvimento económico e sobre a economia.
Portanto, falar do sistema fiscal implica necessariamente falar da actividade económica.

Cabe ao Estado nos termos do artigo 101.º, da CRM, a promoção, coordenação e a


fiscalização da actividade económica, buscando em cada momento as soluções dos
problemas económicos que se levantam, reduzindo as desigualdades sociais.

A complementar este regime, a CRM estabelece no artigo 126.º, que o sistema financeiro é
organizado, de forma a garantir a formação, captação e segurança das poupanças bem
como a aplicação dos meios financeiros necessários ao desenvolvimento económico e social
do país.

No que diz respeito ao sistema fiscal a CRM, estabelece no artigo 127.º, que o sistema fiscal
é estruturado com vista a satisfazer as necessidades financeiras do Estado e das demais
entidades públicas, realizar os objectivos da política económica do Estado e garantir a justa
repartição dos rendimentos e da riqueza.

Portanto, a actividade económica do Estado, depende dentre outros factores de uma, boa
política fiscal, na medida em que não só atrai investimentos, mas também, desempenha um
papel determinante na melhoria das condições sociais.

As reformas tributárias devem garantir a criação de um sistema fiscal justo simples e


eficiente, onde cada pessoa é chamada a contribuir de acordo com a sua capacidade
contributiva e as empresas de acordo com o seu rendimento real.

As teorias modernas, “mais especificamente de um sistema tributário óptimo, nos termos


propostos por Musgrave (1980,p.178), devem ter em vista pelo menos seis requistos:

a) A equidade horizontal e vertical do imposto;


b) A neutralidade do sistema fiscal, vista esta como a minimização da interferência nas
decisões finaceiras;
c) A correcção das ineficiências do mercado;
d) A adequabilidade aos objectivos de estabilização e crescimento económico;
e) A transparência;
f) A minimização dos custos administrativos associados ao sistema.”16

A equidade vertical defende que, os sujeitos com maiores rendimentos suportem uma carga
tributária maior, enquanto que a equidade horizontal, defende que os sujeitos com mesma

16
CATARINO, João Ricardo, Op cit. P.181
29
capacidade contributiva devem suportar a mesma carga fiscal, evitando sempre que
possível, taxas de impostos elevadas, pois, isto poderia favorecer a evasão e fraude fiscal.

Um sistema tributário simples deve ter por base uma legislação transparente, estável e de
fácil assimilação deixando, contudo margem para a sua evolução natural em função do
desenvolvimento sócio económico do país.

Finalmente, um sistema tributário eficiente deve ter por base normas que não interfiram na
decisão dos sujeitos passivos, sobre as poupanças, os investimentos, o consumo, o comércio
e sobre o trabalho.

“Wallace Oates afirma no seu teorema da descentralização que a maximização da eficiência


económica do modelo federativo fiscal sempre que exista uma perfeita correspondência
entre as acções dos governos e a preferência dos grupos sociais que o financiam. Neste
modelo de governo, a distribuição de competências tributárias far-se ia segundo três
postulados ou regras institucionais distintas a saber:

• A competência concorrente;
• A competência compartilhada;
• A competência exclusiva”.17

Ainda segundo João Catarimo (2012, p.182), a competência concorrente, verifica-se quando
os poderes tributários podem ser exercidos por um ou mais órgãos em simultâneo, a
competência compartilhada, refere-se aos modelos tributários cujos níveis de Governo
dividem o produto da arrecadação obtida sobre determinada base de incidência, tomando
por referência critérios previamente definidos por lei. (exemplo é o que se verifica em
Moçambique quando falamos das transferências governamentais, reguladas na LFAs, como
supra referimos) e a competência exclusiva ocorre quando cada nível de Governo possui
aptidão exclusiva para exercer a tarefa impositiva relativamente a um dado imposto.

As reformas tributárias efectuadas em Moçambique, todas tiveram em consideração estes


factores, o que conferiu uma certa estabilidade ao sistema a pesar das sucessivas reformas
em função dos desafios sócio económicos que Moçambique enfrentou ao longo da curta
história da independência.

UNIDADE 2.2. Política Tributária

O Estado para a realização dos seus fins, redistribuição, segurança, justiça, defesa, etc…,
carece de recursos. Estes recursos económicos dependendo da forma de organização do
Estado, centralizado ou descentralizado, provém da sua actividade financeira (empresas
estatais, públicas etc…) ou das receitas fiscais, respectivamente, sem pretender com isto
dizer que nos Estados centralizados não existem, de todo, receitas fiscais e no Estado
descentralizado não existam receitas do sector empresarial do Estado.

17
Ibidem, p. 181
30
“O objectivo central da política tributária é o estabelecimento de um mecanismo efectivo
gerador de receitas, que seja, justo, simples e economicamente eficiente.” 18

Os Estados buscam modelos de organização da sua política fiscal, criando mecanismos que
permitam a arrecadação de receitas tributárias para financiar as suas despesas.
Moçambique vem estruturando a sua política tributária, de modo a fazer face aos grandes
objectivos económicos em cada momento histórico. Portanto, a política fiscal de
Moçambique evolui em função das alterações sociopolíticas que em cada momento se
impõem sobre o Estado.

É possível ver em todos os textos legais que marcam a evolução do sistema fiscal
moçambicano, que se busca torná-lo óptimo, ou seja, eficaz, eficiente e justo. (Exemplos, a
Lei n.º 15/2002, de 26 de Julho, Lei n.º 2/2006 de 22 de Março), dentre outras.

Na Lei de Base do Sistema Tributário, Lei n.º 15/2002, de 26 de Junho, podemos encontrar
uma disposição que ilustra este desígnio, nomeadamente o artigo 2.º quando define os fins
da tributação, materializando a disposição constitucional, supra citada:

• N.º 1, “A tributação visa a satisfação das necessidades financeiras do Estado e de


outras entidades públicas e promove a justiça social, a igualdade de oportunidades e
a necessária redistribuição da riqueza.”
• N.º 2, “a tributação respeita os princípios da generalidade, igualdade, legalidade, não
retroactividade, da justiça material e da eficiência e simplicidade do sistema
tributário”.

Nos objectivos da política fiscal destacam-se os aspectos ligados à justiça tributária, que são
normalmente referidos na legislação tributária nacional, como justiça social. O artigo 100.º,
da CRM, refere que “os impostos são criados e alterados por lei, que os fixa segundo
critérios de justiça social”.

Podemos dizer, no que diz respeito a justiça tributária, que a evolução da política tributária
nacional tem vindo a se desviar deste objectivo, pelo menos, em nosso entender, se
tivermos por base alguns pressupostos teóricos, dos quais se destaca a ideia da equidade,
que em fiscalidade pode ser vista numa dupla perspectiva, a saber:

✓ Equidade vertical;

✓ Equidade horizontal;

A equidade pressupõe uma eliminação ou restrição dos benefícios fiscais, tese muito
discutida actualmente. Mas, partindo do princípio de que os benefícios fiscais, entendidos
como “medidas fiscais que impliquem uma redução do montante a pagar dos impostos em
vigor, com o fim de favorecer actividades de reconhecido interesse público, social, ou
cultural, bem como incentivar o desenvolvimento económico do país,”19 concluímos que os
benefícios fiscais implicam uma diminuição da carga fiscal que pesa sobre determinada

18
IBRAIMO, Op. Cit p. 71
19
Cfr. Art. 2.º, do Código dos Benefícios Fiscais, aprovado pelo Decreto n.º 16/2002, de 27 de Junho
31
categoria de contribuintes em relação aos outros, em função da importância dos seus
investimentos ou das suas actividades para o Estado.

Portanto, é precisamente esta redução da carga fiscal, que em termos efectivos, contraria
os princípios da igualdade tributária e da capacidade contributiva e “podem abalar os
alicerces da justiça fiscal que é imposta pelo artigo 100 da CRM.”20

Segundo, (Ibraimo, Ibraimo:2002-p.73) os benefícios fiscais permitem manipulações


políticas e corrupção, violando os princípios constitucionais da tributação e prejudicando o
desenvolvimento económico.

No entanto, os defensores da concessão de benefícios fiscais, justificam a sua posição com o


argumento de que “a política de intervenção do Estado na vida económica pode ser feita
através de um conjunto de medidas legislativas, administrativas ou convencionais. Através
delas o Estado determina, controla ou influência o comportamento dos agentes económicos
tendo como objectivo o bem-estar social e a promoção do investimento”21

É inegável que o investimento cria desenvolvimento e infra-estruturas económicas, e os


benefícios fiscais, segundo (Waty, 2007) são parte deste investimento.

Contudo, é importante com isto não violar os princípios tributários vigentes, criando assim,
descontentamento social em função do tratamento desigual dos investimentos que são
feitos pelos cidadãos, em função do valor deste investimento, ou outras razões, susceptíveis
de criar suspeições.

Actualmente a questão dos “mega projectos”, tem sido bastante discutida na sociedade
moçambicana, o que torna ainda mais importante a definição clara do impacto destes no
desenvolvimento económico, quando comparados aos restantes projectos de investimento
que não gozam dos referidos benefícios fiscais.

UNIDADE 2.3 Evolução do Sistema Tributário Moçambicano Pós-Independência

O sistema tributário vigente à data da independência, fundado em princípios coloniais,


rapidamente se tornou inadequado para os objectivos do Estado moçambicano, justificando
por isso uma reforma profunda, com vista por um lado a conformá-lo, aos princípios
orientadores do novo Estado e por outro a fazer face ao deficit de pessoal qualificado,
resultante do processo de descolonização e a saída de muitos técnicos qualificados para o
estrangeiro.

Mas, apesar deste sistema ter - se tornado inadequado ao Estado moçambicano, devemos
referir que durante o período colonial, este era relativamente eficiente, tendo em conta que
“as receitas cobriam cerca de 85 % das despesas públicas da época.”22

20
WATY, 2007. p. 208
21
Ibidem. p. 215
22
IBRAIMO, Op. Cit. P. 85
32
O artigo 13 de Constituição da República Popular de Moçambique, estabelecia o seguinte:
“o rendimento e a propriedade estão sujeitos a impostos progressivos”.

O objectivo principal era simplificar o processo de captação do rendimento e agregar as


diferentes formas de rendimento do trabalho num único imposto apenas.

A evolução do sistema fiscal moçambicano pode se resumir em (04) quatro grandes


períodos, marcados por reformas decorrentes das grandes transformações sociais, políticas
e económicas do Estado.

O sistema político adoptado por Moçambique, obrigava a um ajustamento no sistema fiscal


vigente, herdado do Estado português, que garantisse a conformação deste, ao novo regime
político, conformando assim por exemplo “aos princípios constitucionais […], como o de
justiça social, próprio do socialismo (art.º. 13 CRPM)”.23

Segundo (Ibraimo Ibraimo – 2002: p.90), o sistema fiscal sofreu três grandes reformas,
sendo a primeira em 1978, a segunda em 1987 e a terceira em 2002, onde cada uma das
delas foi determinada pela evolução da conjuntura sociopolítica da época.

No entanto, cremos que a teoria deste professor teria sido diferente se tivesse escrito a sua
obra quatro anos depois, pois, Moçambique assistiu a mais uma reforma, que ocorreu em
2006, com a aprovação da Lei n.º 2/2006, de 26 de Março – Lei Geral Tributária (LGT).

“A legislação fiscal, tal como acontece com qualquer outra norma jurídica, sofre a influência
do tempo, que obriga à alteração de determinados preceitos orientadores do ordenamento
jurídico tributário, criando problemas de congruência dentro do sistema fiscal concebido
como um todo.”24

Estas alterações conduzem a uma reforma, em virtude da incoerência gerada pelas


alterações legislativas que gradualmente vão surgindo no domínio tributário. Isto é, o
conjunto das alterações parcelares, leva a uma reforma com vista a se restabelecer a
coerência do sistema tributário.

“Os princípios constitucionais da tributação devem funcionar como o limite possível, para as
mudanças operadas em função da conjuntura e sob a pressão do imediato.” 25

Devemos ter em consideração que as grandes reformas visam a criação de um sistema


tributário baseado em princípios, normalmente definidos na própria constituição. Portanto,
a reforma fiscal pode ser entendida como “um processo político de transformação
estrutural do sistema fiscal.”26

A inexistência de uma verdadeira constituição fiscal em Moçambique, torna o sistema fiscal,


em certa medida, vulnerável às constantes necessidades do poder político de alterar os

23
RÊGO, 2010, p.2, Disponível em http://pt.scribd.com/doc.
24
SANCHEZ, 2007. p. 177
25
Ibidem. p. 178
26
SOUSA FRANCO, 1992. p. 348
33
impostos, criando assim uma certa instabilidade da legislação fiscal, pondo em causa a
certeza e segurança jurídicas.

O governo até 2002, detinha uma ampla margem de manobra sobre o sistema fiscal,
podendo alterar profundamente a legislação fiscal, facto que só veio a ser alterado, com o
estabelecimento do princípio da legalidade no artigo 3.º, da LBST, pois, até então os
impostos eram aprovados por simples decretos.

A partir de 2004, com a definição no artigo 100.º, da CRM, os elementos essenciais do


imposto passaram a ser necessariamente criados e alterados por lei, limitando o poder do
governo.

Resumidamente podemos referir que a reforma de 1978, visava ajustar o sistema tributário
ao princípio da legalidade e a observância das normas constantes da Constituição, vigente
(CRPM de 1975). Que determinavam “que o rendimento e a propriedade privada estavam
sujeitos a impostos progressivos, fixados segundo os critérios de justiça social.”27

Esta reforma teve por base a resolução n.º 5/77, de 01 de Setembro, da Assembleia Popular
(AP), que, fixava os impostos adoptados na política orçamental do país, assentes na política
económica, virada à resolução de problemas sociais de todo o povo, na defesa da soberania
e numa economia centralmente planificada em que o sector público tinha papel
preponderante na arrecadação de receitas para o Orçamento Geral do Estado.

“A Reforma foi materializada por decretos do Conselho de Ministros, que tinham


prerrogativas para definir as bases da política fiscal. (artigo 44, al. d) da CRPM),
nomeadamente, Decreto n.º 2/78, que aprovou o Código do Imposto de Circulação e o
Decreto n.º 4/78, que introduzia alterações do Código dos Impostos sobre Rendimentos. O
Imposto do Consumo, que agravava a contribuição dos produtos supérfluos em detrimento
dos produtos de primeira necessidade foi alterado pelo Decreto-Lei 27/79”28.

Estes instrumentos legais, vigoraram por cerca de 10 anos, momento em que a conjuntura
sociopolítica mudou, como consequência da guerra civil, em que o país estava mergulhado,
desvirtuando os princípios e objectivos traçados na primeira reforma, forçando assim o
governo a reajustes, como forma de superar as dificuldades resultantes da sua ineficácia
para a realização dos fins do Estado.

A segunda grande reforma ocorreu em 1987, na sequência do lançamento do Programa de


Reabilitação Económica (PRE), que tinha como objectivos a alteração da política e legislação
fiscal, ajustando-as a nova conjuntura, sociopolítica e económica da época.

A aprovação da Lei 3/87, de 19 de Janeiro, que estabelecia os novos princípios do sistema


fiscal, revogou a resolução n.º 5/77, de 01 de Setembro. Esta lei fixou como objectivos da
reforma; o aumento da elasticidade das receitas em relação ao crescimento do PIB e o
alargamento da base tributária.

27
RÊGO, op. cit. p. 5
28
RÊGO. p. 6
34
No entanto, a reforma manteve inalterados os Impostos: “sobre o Rendimento de Trabalho,
sobre Lucro de Empresas, sobre as Transacções, sobre o Consumo e Importações, alterando
apenas alguns elementos destes impostos”29.

Para responder as exigências da época, foram introduzidos novos impostos, alicerçados nos
princípios introduzidos pela Lei n.º 3/87, já distribuídos em duas grandes categorias,
impostos directos, que incidem sobre as receitas ou rendimentos e os impostos indirectos
que incidem sobre a despesa.

A tributação directa era constituída pelos seguintes impostos:

• Contribuição industrial, que incidia sobre os lucros da actividade comercial;

• Imposto sobre os Rendimentos de Trabalho, Secção A e B;

o Secção A: incidia sobre remunerações;

o Secção B: incidia sobre o valor da produção e dos serviços;

• Imposto Complementar, incidente sobre o rendimento global de pessoas singulares,


rendimento de aplicação de capitais (singulares e colectivos) e sobre rendimento do
trabalho independente.

A tributação indirecta por sua vez era constituída pelos seguintes impostos:

• Imposto de Circulação, que incidia sobre todos os bens e serviços;

• Imposto de Consumo, incidente sobre produtos nacionais e importados;

• Direitos Aduaneiros;

• Outros impostos cuja situação concreta o justificasse como a sisa, imposto do selo, o
imposto sucessório;

Este sistema que aproximou a tributação moçambicana as necessidades do mercado,


garantiu um aumento da capacidade do Estado gerar receitas, vigorando com algumas
alterações até 2002.

A terceira grande reforma ocorreu no ano 2002, no entanto antes de 2002 já haviam sinais
de transformação do modelo de tributação proposto na segunda reforma, com a introdução
do Imposto sobre o Valor Acrescentado (IVA) em 1998, por força de Decreto n.º 51/98, de
21 de Setembro, em substituição do imposto de circulação e a introdução do imposto de
consumo específicos (ICE) em 1998, pelo decreto n.º 52/98, de 29 de Setembro, em
substituição do imposto complementar.

A introdução destes impostos, materializava o projecto de alargamento da base tributária,


redução da carga fiscal no âmbito da tributação do rendimento, com impacto significativo

29
Ibidem. p.8
35
no aumento das receitas fiscais. Por isso alguns autores, consideram a introdução do IVA,
por si uma grande reforma, o que não deixa de ser. No entanto, não é substancialmente
genérica, para integrar o conceito de grande reforma tal como idealizamos neste trabalho.

A terceira grande reforma, foi assinalada pela aprovação da Lei 15/2002, de 26 de Junho, a
Lei de Bases do Sistema Tributário - LBST, que introduziu técnicas e princípios modernos de
tributação, nomeadamente os princípios de generalidade, da justiça material, da eficiência e
simplicidade do sistema.

O preâmbulo da LBST é bastante interessante, na medida em que define os princípios em


que assenta a tributação moçambicana, acrescentando aos princípios introduzidos pela lei
3/87, alguns princípios modernos dotando o sistema fiscal moçambicano de ferramentas
que o possibilitam imprimir um papel de mais efectivo nas finanças públicas e no
desenvolvimento sustentável do país.

O artigo 74.º, da LBST, marca claramente a passagem da segunda para a terceira reforma,
ao revogar expressamente as Leis 3/87 de 19 de Janeiro e a Lei 8/88 de 21 de Dezembro.

O sistema tributário nacional passou por força do artigo 56.º, da LBST a integrar para além
dos impostos nacionais ou Estaduais, os impostos autárquicos, subdivididos tal como na
reforma anterior em impostos directos e indirectos (voltaremos a analisar este aspecto mais
adiante).

Mas na verdade, os impostos autárquicos foram introduzidos no nosso sistema fiscal em


1997, com a aprovação da Lei n.º 11/97 de 31 de Maio, Lei das Finanças Autárquicas – LFAs,
que estabeleceu os seguintes impostos:

1. O Imposto Predial Autárquico;


2. O Imposto Pessoal Autárquico;
3. O Imposto Autárquico de Comércio e Indústria;
4. O Imposto sobre o Rendimento de Trabalho secção B.

A partir de 2002, os novos códigos passaram a incorporar, questões ligadas as garantias dos
contribuintes, o que foi acompanhado com a previsão dos tribunais fiscais de primeira
instância em Moçambique.
A quarta reforma, ocorreu em 2006, com a aprovação da Lei Geral Tributária - LGT, pela Lei
n.º 2/2006 de 22 de Março, que surgiu da necessidade de se conformar o sistema fiscal as
disposições constitucionais introduzidas pela CRM de 2004, estabelecendo de forma mais
clara e sistematizada os princípios que regem a fiscalidade e definindo com mais rigor as
garantias dos sujeitos passivos e os poderes da administração tributária.
Se a LBST, veio modernizar o sistema tributário moçambicano, a LGT, veio ajustar aos novos
desafios do desenvolvimento e da globalização, dotando o sistema moçambicano de
instrumentos adequados ao desenvolvimento de uma relação jurídico tributário, fundada na
legalidade.

36
As tendências das reformas fiscais em Moçambique, demonstram um facto incontornável,
ou seja, como todas as reformas fiscais no mundo, “esta se baseia mais em exemplos de
sucesso de outros países do que nas grandes teorias económicas”.30.

No entanto, atendendo as características específicas do país, as reformas do sistema fiscal


moçambicano, visam imprimir uma maior simplicidade e eficiência na tributação, a título de
exemplo podemos constatar o disposto no preâmbulo da lei n.º 15/2002, de 26 de Junho –
LBST que dispõe o seguinte:

“O Sistema Tributário da República de Moçambique assenta em critérios de justiça social […]


segue os princípios da legalidade tributária, da equidade, da eficiência e da simplicidade do
sistema tributário”. 31

Reforçando essa ideia a LGT, vem a referir no seu preâmbulo que “a reforma do Sistema
Tributário Moçambicano em curso necessita de ser complementada por uma lei geral que
estabeleça de forma clara e sistematizada os princípios que regem a fiscalidade…”32

A complexidade do sistema fiscal, incentiva o uso de esquemas de fraude e evasão fiscal


para além de muitas questões, passarem despercebidas pela administração fiscal,
principalmente em países onde os técnicos tributários não possuem grandes conhecimentos
técnicos.

Já nos anos 80 e 90, a tendência das reformas tributárias moçambicanas apresentava como
principais objectivos, a inclusão dos princípios da simplicidade, da transparência, da
eficiência económica, da melhoria na equidade horizontal e fins sociais.

“O conjunto de medidas fiscais introduzidas por ocasião da reforma fiscal de 1987, permitiu
corrigir a situação da evasão fiscal, que se verificavam e fez subir o índice da pressão fiscal
de 9% em 86 para 23% em 89.”33

Por outro lado, a reforma do sistema fiscal, mostrava – se necessária, como forma de forçar
a administração a se adequar as técnicas modernas de funcionamento sob pena de
continuar a constituir um estrangulamento do processo de desenvolvimento.” 34

A tributação directa é constituída pelo Imposto Sobre o Rendimento das Pessoas Singulares
– IRPS e pelo Imposto Sobre o Rendimento das Pessoas Colectivas – IRPC. Importa no que
diz respeito ao regime do IRPC, destacar o limite de 35%, imposto no artigo 58.º, da LBST.

Relativamente ao IRPS, importa destacar o princípio da unicidade e progressividade,


estabelecidos no artigo 60.º da LBST e as taxas que podem variar de 10% a 35%.

A tributação indirecta nos termos do artigo 66.º da LBST, é constituída pelo Imposto sobre o
Valor Acrescentado, Imposto sobre o Consumo Específicos e os Direitos Aduaneiros.

30
PINA et all op. cit. p.228
31
Preâmbulo da Lei n.º 15/2002, de 26 de Junho - LBST
32
Preâmbulo da Lei n.º 2/2006, de 22 de Março - LGT
33
PINA et all. Op Cit. p. 117
34
Ibidem. p. 119
37
Para além dos impostos acima referidos o sistema tributário contempla os impostos de Selo,
Imposto sobre Sucessões e Doações, a Sisa, Imposto Especial sobre o Jogo, Imposto de
Reconstrução Nacional, Imposto Sobre veículos.

Porém, em 2008, face a necessidade de se proceder a uma reforma ao sistema tributário


autárquico, harmonizando-o com a LBST e com a lei n.º 9/2002, que aprova o Sistema de
Administração Financeira do Estado – SISTAFE, alguns dos impostos anteriormente
classificados como impostos nacionais, passaram a fazer parte do sistema tributário
autárquico.

Assim, nos termos do artigo 51.º da Lei n.º 1/2008, de 16 de Janeiro, que aprova a lei das
Finanças Autárquicas, alguns impostos, tais como o Imposto sobre veículos e a Sisa,
passaram a ser considerados impostos autárquicos.

UNIDADE 2.4. A INTRODUÇÃO DO IMPOSTO SOBRE O VALOR ACRESCENTADO

A introdução do Imposto Sobre o valor Acrescentado – IVA em Moçambique, tal como


sucedeu noutros países africanos, de economia centralmente planificada, foi impulsionada
pela transformação sociopolítica dos anos 90, que introduziu no cenário nacional conceitos
como democracia e economia de mercado, “suscitando a necessidade de se proceder a uma
profunda reforma no sistema fiscal e a necessidade de se reconstituir um Estado fiscal
operante, que se pudesse alimentar da iniciativa económica privada sem no entanto a
estrangular”.35

A necessidade do alargamento da base tributária em Moçambique, imposta pela reforma de


1987, associada aos factores acima mencionados, constituiu um dos fundamentos para a
introdução do IVA.

O IVA, é visto como um imposto neutro, quer a nível interno, quer a nível internacional e
como um imposto simples de se administrar, devido ao mecanismo de liquidação –
dedução, por isso tem sido recomendado pelo Fundo Monetário Internacional - FMI aos
países em via de desenvolvimento, onde a capacidade de controlo por parte da
administração fiscal se revela ineficiente.

No entanto, importa referir que a tributação indirecta em Moçambique não começou com o
IVA, pois desde 1897, a tributação indirecta já fazia parte do sistema tributário
moçambicano, “com a introdução do imposto de circulação (um imposto liquidado em todas
as fases do circuito económico) e o imposto sobre o consumo, que incidia sobre o fabrico e
importação de mercadoria, vigente desde 1961”36,

35
VASQUEZ, 1998. P. 112
36
Cf. Ibraimo, Ibraimo. Tributação Fiscal em Moçambique: Sistema, Instituições, Necessidades de mudanças. In
Sérgio Vasques, ed. (1998) As Reformas Fiscais Africanas.
38
Apesar das “vantagens” do IVA, este imposto só foi introduzido em Moçambique em 1999,
com a aprovação do Código do IVA, pelo Decreto n.º 51/98, de 29 de Setembro, que entrou
em vigor a 1 de Junho de 1999

Actualmente o IVA é regulado pela Lei n.º 32/2007, de 31 de Dezembro, que vem sofrendo
várias alterações.

UNIDADE 2.5. ESTRUTURA DO SISTEMA TRIBUTÁRIO MOÇAMBICANO

Antes de entrarmos para a análise da estrutura do sistema tributário moçambicano, importa


fazer uma breve referência, a alguns aspectos que o Plano de Acção para a Redução da
Pobreza Absoluta – (PARPA –II – 2009), levantou com o objectivo de reformar o sistema,
visando o aumento da eficiência da Administração Tributária, aumento gradual da
mobilização de fundos internos como percentagem do PIB e reduzir a dependência externa.
Com efeito este programa definiu cerca de oito acções prioritárias, nomeadamente:

• Aumento gradual das receitas internas;

• Simplificação e aperfeiçoamento do sistema tributário, bem como o aumento da


base tributária;

• Consolidação das reformas introduzidas no domínio dos impostos directos e


indirectos;

• Revisão dos regimes simplificados de tributação, avaliação da eficácia dos benefícios


fiscais e do investimento e acelerar o processo de introdução dos tribunais fiscais;

• Dar continuidade ao trabalho de modernização da administração tributária, de modo


a torná-la num sistema eficiente de cobrança de impostos, com vista a refrear a
fraude e a evasão fiscal;

• Aprovar legislação, de modo a simplificar a relação entre a administração tributária e


os contribuintes, facilitando-lhes o exercício dos seus direitos e permitindo-lhes que
recebam a protecção que lhes foi garantida;

• Implementação dos tribunais fiscais e aduaneiros; e

• Aperfeiçoar a legislação sobre as finanças do governo local e criar as condições para


a efectivação da colecta e controlo dos impostos do governo local.

Para além destas medidas, este instrumento definiu como acção prioritária para a melhoria
do sistema tributário moçambicano, como instrumento de captação de receitas e do
desenvolvimento económico e social, criação de zonas francas, mas condicionou a sua
criação, a realização de uma avaliação prévia da contribuição líquida para a economia
nacional e para as receitas fiscais.

39
No domínio dos recursos naturais, ou seja, tributação ambiental, o PARPA recomenda o
fortalecimento do quadro legal e fiscal, como uma forma de aumentar o investimento, as
receitas fiscais e as exportações pelo sector de mineração.

Podemos arriscar e dizer que o ano de 2006, foi um ano memorável para o sistema
tributário moçambicano, na medida em que grandes realizações no domínio da
implementação do PARPA-II, tiveram lugar, designadamente, a criação da Autoridade
Tributaria de Moçambique (AT), pela Lei n.º 1/2006, de 22 de Março, que constitui o órgão
responsável, pela execução da política tributária e aduaneira, dirigindo e controlando o
funcionamento dos seus serviços, planificando e controlando as suas actividades e dos
sistemas de informação, formação e qualificação dos recursos humanos e elaboração
estudos e apoio na concepção de políticas tributárias.

Com a entrada em funcionamento deste órgão, foi possível materializar alguns daqueles
objectivos principais da política tributária, retro mencionados, como por exemplo
modernização da administração tributária, de modo a torná-la eficiente, reprimindo a
fraude e a evasão fiscal, aprovação de vária legislação, simplificação da relação entre a
administração tributária e os contribuintes, implementação dos tribunais fiscais em 2009, e
a melhoria da Legislação sobre as finanças dos Órgãos do Poder Local do Estado em 2008,
bem como a efectivação da colecta e controlo dos impostos autárquicos, a partir de 2010.

Em 2006, foi igualmente aprovada a Lei n.º 2/2006, de 22 de Março - a Lei Geral Tributária,
donde podemos extrair do seu preâmbulo, que ela estabelece de forma clara e
sistematizada, os princípios que regem a fiscalidade, bem como define com maior rigor as
garantias dos contribuintes e os poderes da administração tributária.

A conjugação destes dois elementos, um orgânico e outro legislativo, contribuíram


decisivamente para a melhoria do sistema fiscal, mediante a aprovação de vários
instrumentos legais, bem como para a reorganização da administração tributária, tornando
assim, a tributação mais moderna.

Portanto, este conjunto de acontecimentos de 2006, obrigou a que fossem efectuadas


alterações aos principais códigos de impostos, nomeadamente os códigos de IRPS, IRPC e
IVA,37 com vista a se assegurar o respeito pelo princípio da legalidade tributária, na medida
em que até então estes códigos eram aprovados por decretos,38 quando deviam ser
aprovados por lei, tal como veio a suceder em 2007.

37
A Lei n.º 15/2002, de 26 de Junho, estabelece que a tributação directa dos rendimentos em Moçambique
faz-se do seguinte sistema de impostos, IRPS e IRPC e a tributação indirecta que compreende os impostos
sobre a despesa integra, o IVA o ICE e os Direitos Aduaneiros.
38
Importa referir que a aprovação dos códigos dos impostos era da competência do Conselho de Ministros,
nos termos do n.º 1, do artigo 72.º, da Lei n.º 15/2002, facto que mudou com a aprovação da CRM de 2004 e
da LGT em 2006, no entanto, nem todos códigos foram revistos existindo ainda alguns códigos que foram
aprovados por decretos e até, a aprovação do código tributário autárquico em 2008, por decreto.
40
De referir que estes impostos, IRPS – Imposto Sobre o Rendimento de pessoas Singulares,
IRPC – Imposto Sobre o Rendimento de Pessoas Colectivas, o IVA – Imposto Sobre o Valor
Acrescentado, ICE – Imposto sobre Consumos Específicos e os Direitos Aduaneiros,
constituem nos termos do artigo 56.º, 57.º e 66.º da Lei n.º 15/2002, os principias impostos
do sistema tributário moçambicano.

Dentre os aspectos revistos nestes impostos, destacam-se os seguintes:

• Relativamente ao IVA, o novo código aprovado pela Lei n.º 32/2007 de 31 de


Dezembro e o respectivo o regulamento aprovado pelo Decreto n.º 7/2008 de 16 de
Abril “introduziram alterações à lista de produtos isentos e aumentou os limites do
volume de negócios para a isenção do IVA e para a cobertura pelo regime do IVA
simplificado”39;

• No que diz respeito ao IRPC, aprovado pela Lei n.º 34/2007 de 31 de Dezembro e
respectivo regulamento aprovado pelo Decreto n.º 9/2008 de 16 de Abril “o novo
código resumiu consideravelmente, uma vez que algumas disposições foram
passadas para o regulamento e outras foram abrangidas pela LGT. Além disso, o
novo código do IRPC actualizou os limites referentes à cobertura pelo regime
simplificado”40;

• A tributação do rendimento, sofreu igualmente modificações a nível do IRPS, com a


aprovação da Lei n.º 33/2007, de 31 de Dezembro, que actualizou o limite dos
rendimentos não tributáveis e de várias categorias de impostos. Contudo, as taxas
não foram alteradas e a estrutura fiscal em si não foi simplificada acentuadamente;

• Criação de um novo imposto, o Imposto Simplificado para os Pequenos Contribuintes


(ISPC), através da Lei n.º 5/2009 de 12 de Janeiro e o respectivo regulamento pelo
Decreto n.º 14/2009 de 14 de Abril, com o objectivo de alargar a base tributária e
absorção de grande parte do rendimento que circula na economia informal;

• No que diz respeito ao imposto sobre o consumo, destaca-se a revisão do código do


Imposto sobre Consumos Específicos - ICE, incluindo ajustamentos nas taxas
aplicadas a bebidas alcoólicas, produtos do tabaco e artigos de luxo;

• A descentralização fiscal, também mereceu atenção nas reformas introduzidas, com


a aprovação da Lei das Finanças Autárquicas - Lei n.º 1/2008, de 16 de Janeiro e o
Código Tributário Autárquico, aprovado pelo Decreto n.º 63/2008 de 30 de
Dezembro;

• Finalmente, a par das reformas atrás mencionadas e com vista a imprimir um


desenvolvimento acelerado, resultante da atração do investimento externo, foi
revisto o Código dos Benefícios Fiscais, com a aprovação da Lei n.º 4/2009 de 12 de

39
USAID, R e v i s ã o d o Parpa II - Sistema Tributário em Moçambique, p 10.
40
Ibidem. p.12
41
Janeiro, onde foram introduzidas reformas no pacote de benefícios fiscais existentes
para os investimentos aprovados ao abrigo da Lei do Investimento.

Podemos concluir que as reformas introduzidas no sistema, foram profundas e abrangem os


principais tributos do sistema, modernizando-o e tornando mais eficiente.

UNIDADE 2.6. OUTROS IMPOSTOS DO SISTEMA TRIBUTÁRIO

A Lei n.º 15/2002, de 26 de Junho estabelece no artigo 70.º, os outros impostos que
completam o sistema tributário nacional, designadamente: (i) o imposto de selo, (ii) o
imposto sobre sucessões de doações (iii) a sisa, (iv) o imposto especial do jogo, (v) o imposto
de reconstrução nacional, (vi) o imposto sobre veículos, (vii) outros impostos e taxas
específicas, estabelecidas por lei (viii) e finalmente os impostos autárquicos.

2.6.1. Imposto do Selo

O imposto de selo é regulado pelo Decreto n.º 6/2004, de 1 de Abril, que aprova o Código
de Imposto de Selo, com as alterações introduzidas pelo Decreto n.º 38/2005, de 29 de
Agosto.

O imposto do selo incide sobre todos documentos, livros papéis e actos designados em
tabela própria, aprovada pelo Conselho de Ministros e tem como sujeito passivo “as pessoas
que se consideram interessadas nos actos tributários”41.

Importa referir que este imposto não sofreu grandes transformações desde 2005. “Muitos
peritos nesta área consideram este como sendo um “imposto incómodo” arcaico, com
fracas receitas em relação ao custo da sua administração e aplicação”42.

A eliminação do imposto do selo é muitas vezes recomendada no interesse da simplificação.


Embora a eliminação de qualquer imposto reduza a receita, neste caso, o efeito na receita é
muito pequeno e pode facilmente ser compensado por outras medidas como parte do
programa geral da reforma tributária.

Este imposto foi criado com o objectivo de tributar as realidades mais diversas, abrangendo
tudo aquilo que actualmente se encontra tributado em quase todos ordenamentos jurídicos
e que “não se pode tributar de outra forma”.43

As taxas aplicáveis consoante, designadamente, a natureza dos diferentes actos e factos


tributários e a possibilidade ou não de determinação do respectivo valor, revestem a forma
“ad valorem” ou quantitativo fixo.

41
MARTINEZ, 1993. p. 599
42
Revisão do Parpa II. op. Cit. p.29
43
MARTINEZ, Op cit, p.597
42
2.6.2. O imposto Sobre Sucessões e Doações

Este imposto aprovado regulado pela Lei n.º 28/2007, de 04 de Dezembro, e pelo respectivo
regulamento, aprovado pelo Decreto n.º 21/2008, de 27 de Junho, incide nos termos do
artigo 1.º, do Código do Imposto Sobre as Sucessões e Doações, sobre as transmissões a
título gratuito de bens mobiliários e imobiliários, tendo como sujeito passivo o adquirente
de bens, móveis e imóveis, a título gratuito “inter vivos ou mortis causa” nos termos do
artigo 6.º do Código.

A par da Sisa “este imposto se traduz na tributação do património e não do rendimento, por
isso a matéria colectável é, pois, o património transmitido”44.

A determinação da matéria tributável neste imposto é feita com base no valor líquido dos
bens transmitidos a cada adquirente, ou seja, o valor real dos bens, deduzidos os encargos
que impendem sobre os mesmos.45

O legislador moçambicano, atento a natureza do imposto tentou limitar os encargos sobre


os adquirentes dos bens, possibilitando a dedução dos encargos e o mais importante, fixou
no artigo 15.º, da Lei n.º 28/2007, o mínimo não tributável nas transmissões mortis causa, a
favor dos cônjuges, filhos, ou dos adoptados e ascendentes, em quinhentos salários
mínimos nacional.

A liquidação deste imposto é feita, na transmissão mortis causa, mediante a participação do


facto, feita pelo cabeça - de - casal, à Autoridade Tributária de Moçambique. Tratando-se de
acto inter vivos, a comunicação é feita pelos beneficiários.

As taxas deste imposto variam de acordo com o grau de proximidade entre os


intervenientes. Assim o legislador fixou as seguintes taxas:

Grau de Proximidade entre os intervenientes Taxa (%)


Descendentes, cônjuges e ascendentes 2
Irmãos e colaterais até ao 3.° Grau 5
Entre quaisquer outras pessoas 10
Tabela 1. Impostos sobre Sucessões e Doações (Transmissão dos direitos de propriedade de
bens móveis e/ou imóveis)

Fonte: Elaborada Pelo Autor

44
Iden, p. 593
45
Por valor real dos bens entende-se o preço de normal do mercado. Vide n.º 2, do art. 8.º da Lei n.º 28/2007,
de 04 de Dezembro. No entanto a par desta determinação geral, a valor real dos bens é apurado segundo
critérios que variam de acordo com a natureza dos bens a transmitir. Esses critérios encontram-se previstos
entre os artigos 9.º e 15.º, da Lei n.º 28/2007.

43
2.6.3. A SISA

Imposto que incide sobre as transmissões, a título oneroso, do direito de propriedade ou de


figuras parcelares desse direito, sobre bens imóveis. Contrariamente ao que sucede ao
imposto sucessório, este imposto incide apenas sobre as transmissões onerosas de bens
imóveis. Este imposto é hoje regulado pelo Decreto n.º 46/2004, de 27 de Outubro.

Importa referir que a taxa deste imposto é de 2%, e excepcionalmente de 10%, nos termos
do artigo 10.º do Código de SISA. Mas as taxas, antes da reforma do código de SISA, eram
bem mais gravosas o que tinha como consequência a fraude fiscal.

A partir de 2008, com a aprovação da Lei n.º 1/2008, de 16 de Janeiro, que define as
finanças autárquicas e o sistema tributário autárquico, este imposto passou a ser
considerado um imposto autárquico, nos termos da al. a) do n.º 1, do artigo 51.º, desta lei.

Tal como sucede no imposto sucessório “o sujeito passivo é o adquirente dos bens ou
transmissário aquele que recebe os bens e a matéria tributável neste imposto é a
transmissão do património”46.

2.6.4. O Imposto Especial Sobre o Jogo

Este imposto incide sobre as receitas brutas resultantes de exploração de jogos regulados
pela Lei n.º 8/94, de 14 de Setembro, após o pagamento aos jogadores. As taxas deste
imposto variam em função do no período de duração da concessão, variando de 20% a 35%.

2.6.5. O Imposto de Reconstrução Nacional - IRN

Este imposto representa a contribuição de cada cidadão, para os gastos públicos e incide
sobre todas pessoas residentes no território nacional. A taxa do imposto é fixada
anualmente pelo Ministério das finanças.

Este imposto foi substituído nas áreas das autarquias locais pelo Imposto Pessoal
Autárquico.

Na verdade, este imposto apresenta muitas características das taxas. A definição da taxa
deste imposto é feita pelo Ministro das Finanças, nos termos do artigo 6.º, do Decreto n.º
4/87, de 30 de Janeiro, contrariando o disposto na CRM e na LGT, que consideram a taxa um
elemento essencial dos impostos, devendo portanto, ser fixados por lei, por se encontrarem
no âmbito da reserva da lei.

Pelo que, julgamos que a concepção deste imposto que se previa temporário, encontra-se
hoje de certa forma desajustado à realidade, podendo mesmo ser considerado
inconstitucional, se considerarmos o disposto no n.º 2, do artigo 127, da CRM. Pois, “a
46
MARTINEZ. Soares, Op. Cit , p.589
44
legalidade tributária no sentido da reserva da lei formal não abrange todas as matérias
tributárias, mas apenas as referidas no artigo 127, da CRM, nomeadamente, a incidência, a
taxa, benefícios fiscais e garantias dos contribuintes.”47.

Ora, se o artigo 6.º do Código do Imposto sobre a Reconstrução Nacional, prevê que a taxa é
anualmente fixada pelo Ministro das Finanças, estamos numa clara contradição com o
disposto na constituição, pelo que, julgamos ser de se rever o mais breve possível este
instrumento porque ilegal.

2.6.6. Imposto Simplificado para Pequenos Contribuintes - ISPC

A Assembleia da República aprovou um novo tributo, o Imposto Simplificado para os


Pequenos Contribuintes – ISPC. Este imposto é regulado pela Lei n.º 5/2009, de 12 de
Janeiro, que define os seus elementos essenciais e pelo Decreto n.º 14/2009, de 19 de Abril,
que aprova o regulamento do código.

Trata-se de um imposto anual e directo que integra o sistema nacional tributário, que incide
sobre todas as pessoas individuais e colectivas, que exerçam, no território nacional
actividade, industrial, comercial ou agrícola, de pequena dimensão, entendidas como tal
aquelas actividades cujo volume de negócios não excede anualmente a 2.500.000,00Mt
(dois milhões e quinhentos mil meticais).

O objectivo principal da criação deste imposto, tal como vem referido no preâmbulo da Lei
n.º 5/2009, é o alargamento da base tributária mediante a atração dos negócios do sector
informal, para o sector formal da economia, através da simplificação dos procedimentos e
redução dos custos inerentes ao cumprimento das obrigações tributárias.

O ISPC apresenta as seguintes características:

• As empresas com um volume de negócios anual até 2.500.000 MT (dois milhões e


quinhentos mil meticais) podem optar entre o registo no ISPC ou a sujeição aos
outros impostos, nomeadamente o IVA, IRPC e o IRPS;

• No que diz respeito aos rendimentos abrangidos pelo ISPC, os contribuintes estão
excluídos do pagamento do IVA, IRPC e IRPS, nos termos do artigo 5, do Código do
ISPC;

• As empresas com um volume de negócios até 36 vezes o salário mínimo mais alto
em vigor no fim do ano anterior, estão isentas do pagamento de imposto. Esta
disposição do ISPC é compatível com o limite estabelecido para o pagamento do
IRPS, exceptuando o facto de que o primeiro está relacionado com o volume de
negócios, enquanto este último diz respeito aos rendimentos. Daí que o ISPC irá
tributar os indivíduos que operam micro e pequenas empresas que se situariam
abaixo do limite ao abrigo do imposto sobre os rendimentos de pessoas singulares;

47
Iden. p. 107
45
• A taxa aplicável é de 75.000,00Mt MT por ano, ou 3% do volume de negócios, ao
critério do contribuinte, nos termos do artigo 8, do Código do ISPC;

• Para os novos contribuintes, o imposto é reduzido para metade no primeiro ano de


actividade, como atractivo para se registarem no sistema;

• O imposto é pago em quatro prestações trimestrais.

Na essência, o ISPC é concebido como substituto dos regimes simplificados ao abrigo dos
códigos do IVA e dos impostos sobre os rendimentos. Note-se que o IVA simplificado impôs
uma taxa igual a 5 por cento do volume de negócios. Além disso, os rendimentos acima do
limite de isenção estão sujeitos a uma taxa mínima de 10 por cento ao abrigo do IRPS
normal.

Pelo que, podemos concluir que o ISPC representa não apenas uma consolidação de dois
regimes fiscais simplificados distintos, mas também uma redução efectiva na taxa de
aproximadamente 7 por cento, sobre o volume de negócios para apenas 3 por cento.

2.6.7. Impostos Autárquicos

Em conformidade com os planos de descentralização e de devolução de poderes, um dos


indicadores estratégicos no PARPA II é aumentar a percentagem dos orçamentos dos
governos municipais e locais financiados por receitas próprias. Em apoio a este objectivo, “a
Lei das Finanças Autárquicas Lei n.º 1/2008, de 16 de Janeiro, define directivas claras sobre
os tipos de receita que se enquadram na jurisdição dos municípios e limites nas taxas
fiscais”48.

A partir dessa previsão foi aprovado o Código Tributário Autárquico pelo Decreto n.º
63/2008, de 30 de Dezembro, resultando para o Sistema Tributário Autárquico, nos termos
do artigo 51, da LFAs, os seguintes impostos e taxas:

• Imposto Pessoal Autárquico;

• Imposto Predial Autárquico;

• Imposto Autárquico de Veículos;

• Imposto Autárquico de Sisa;

• Contribuição de Melhorias;

• Taxas por Licenças Concedidas e por Actividade Económica;

• Tarifas e Taxas pela Prestação de Serviços

48
Deloitte e ACIS, Visão Geral do Sistema Tributário em Moçambique, Edição 1, Outubro de
2008, p.31
46
Assim podemos ter um regime tributário onde, como já foi acima referido, parte dos
impostos nacionais passaram para as autarquias locais, no âmbito da descentralização fiscal
em curso em Moçambique, num processo que teve o seu início em 1996.

O artigo 56.º, da LBST, estabelece que os impostos autárquicos são definidos em legislação
específica a qual já acima nos referimos, ficando, portanto, o seu regime jurídico ai
estabelecido.

UNIDADE 2.7. EXERCÍCIOS

1. Atendendo a classificação dos impostos do nosso sistema tributário, diga


como classifica o IVA?
2. Comente a seguinte afirmação.
“Com a instituição dos impostos o Estado visa somente arrecadar receitas para a
satisfação das necessidades financeiras do Estado”.

3. O IRN é um imposto que se aplica em todo território nacional?

4. Os Impostos autárquicos podem ser arrecadados pela Administração


Tributaria?
5. Atendendo ao princípio da legalidade tributária, como avalia o Código
Tributário Autárquico?

47
TEMA III: A TRIBUTAÇÃO DIRECTA

UNIDADE 3.1. INTRODUÇÃO


De entre várias classificações que podem ser efectuados relativamente aos impostos, existe
a distinção entre impostos directos e impostos indirectos, efectuada com base num critério
económico.
O sistema tributário moçambicano integra impostos nacionais e autárquicos, sendo os
impostos do sistema tributário nacional classificam-se nos termos do n.º 3, do artigo 52.º,
da Lei n.º 15/2002, de 26 de Junho em:
• Tributação directa dos rendimentos e da riqueza;
• Tributação indirecta da despesa.
Os Estados utilizam como fonte de receitas fundamental, embora não única, os impostos.
Um imposto corresponde à colecta obrigatória e sem contrapartida directa efectuada pelo
Estado aos contribuintes por forma a fazer face a uma maior ou menor parte das despesas
em que terá de incorrer, seja na aquisição de bens e serviços, na efectivação de
transferências para os vários agentes da economia ou em qualquer outra acção.
Assim, como impostos directos (também designados por impostos sobre o rendimento,
embora incluam algo mais do que estes) são considerados aqueles que incidem
directamente sobre o rendimento obtido por um determinado contribuinte, que pode ser
uma pessoa singular ou uma pessoa colectiva, e que são definitivamente suportados por
estes.
Os impostos indirectos (também designados vulgarmente por impostos sobre a despesa ou
o consumo, embora sejam um pouco mais abrangentes) incidem não sobre o rendimento
propriamente dito, mas sobre a utilização que dele é feita, ou seja, sobre as despesas de
consumo efectuadas pelas pessoas. Estes impostos indirectos caracterizam-se ainda pela
eventual possibilidade de serem repercutidos entre agentes ao longo do ciclo económico
dos produtos, em última instância até ao consumidor final - contribuinte.
Desta distinção resulta que, enquanto o pagamento dos impostos directos é feito com
referência a um período de tempo delimitado, normalmente um ano, o dos impostos
indirectos é efectuado no momento da operação de consumo que lhe dá origem.

Relativamente aos impostos directos, é importante referir que se traduzem, por norma, na
tributação única e progressiva dos rendimentos dos agentes económicos a eles sujeitos.
Este princípio (unicidade e progressividade) encontra-se previsto no artigo 60.º da LBST.

A questão da progressividade consiste na tributação a taxas progressivamente mais altas à


medida que aumenta o valor do rendimento e baseia-se na convicção de que devem ser os
contribuintes com rendimentos mais elevados a contribuir mais, em termos absolutos e
proporcionais.

Os principais impostos directos em vigor em Moçambique são nos termos do artigo 57.º, da
LBST: O IRPS - Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Singulares, que incide
genericamente sobre as pessoas singulares eventualmente agregadas em famílias (ver parte

48
final do artigo 60.º da LBST); o IRPC - Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Colectivas,
que incide genericamente sobre as pessoas colectivas, designadamente as empresas.

UNIDADE 3.2. O IMPOSTO SOBRE O RENDIMENTO DE PESSOAS SINGULARES – IRPS


3.2.1. INTRODUÇÃO

Como ficou sumariamente descrito acima, este imposto é um dos mais importantes do
nosso sistema tributário, em tem a base do seu regime previsto entre os artigos 60 e 65, da
LBST. Mas o seu regime jurídico consta da Lei n.º 33/2007, de 31 de Dezembro e no Decreto
n.º 8/2008, de 16 de Abril, o Código do IRPS e o Regulamento do Código do IRPS,
respectivamente.
Nos termos do n.º 1, do artigo 60.º, da LBST “o imposto sobre o Rendimento das Pessoas
Singulares – IRPS obedece aos princípios da unidade e da progressividade e o seu regime
tem em conta as necessidades e os rendimentos do agregado familiar”.
Esta norma, apesar de não ser constitucional impõe ao legislador ordinário na concretização
do sistema fiscal, ou seja, na aprovação dos códigos dos impostos e aos utentes das normas
na interpretação.
O fim do IRPS é na visão dos princípios informadores deste imposto a diminuição das
desigualdades, numa formulação social e igualitária.
São, dentre outros, princípios do IRPS:

A unicidade
“A unicidade do imposto, prevista pela Constituição, constitui a transformação de uma mera
regra de boa administração num princípio constitucional. Na verdade, a multiplicação dos
impostos conduz a uma ineficiência na sua gestão e deve, por isso, ser evitada. Por outro
lado, a unicidade revela também uma preocupação de tributação coerente e justa assente
na capacidade contributiva – exigindo que se abandone um modelo de vários impostos com
filosofias e mecânicas próprias, porque um único imposto permite uma consideração
patrimonial global de cada sujeito passivo ou agregado familiar”49.

A progressividade
“A progressividade do imposto visa adequá-lo ao rendimento efectivo de cada agregado,
uma vez que determina que a parte de imposto pago aumenta à medida que o rendimento
aumenta: neste sentido a progressividade opõe-se a proporcionalidade.”50

As necessidades do agragado Familiar

“A adequação do imposto de rendimento ao grau de capacidade contributiva de cada


sujeito passivo pode fazer-se, essenciamente, de duas formas. A primeira é como vimos,
através da graduação do grau de progressividade do imposto em função do rendimento,
subindo a carga fiscal à medida que aumenta a parte compreensível das despesas
compreensíveis e o consumo de bens supérfulos. A segunda é feita através da escolha de

49
Sanches, Saldanha, Manual de direito Fiscal, Coimbra Editora, 3.ª Edicao , p.288
50
Ibiden. P. 288
49
um conjunto de despesas que podem ser abatidas ao rendimento colectável ou à colecta (a
divida do imposto), por serem despesas que afectam as necessidades do sujeito passivo ou
do agregado familiar”.51

3.2.2. O Sujeito Passivo do IRPS/incidência subjectiva


Nos termos do artigo 62.º da LBST o IRPS tem como sujeitos passivos as pessoas singulares
residentes em Mocambique a as não residentes que aqui aufiram rendimentos.

Devemos assim distinguir entre as pessoas singulares residentes em território


moçambicano, as quais estão sujeitas a imposto sobre a universalidade dos seus
rendimentos, incluindo os obtidos fora desse território e as pessoas singulares não
residentes em território moçambicano, as quais apenas estão sujeitas a imposto sobre os
rendimentos obtidos neste território. (artigo 20º)
A questão do tratamento ficsal do agregado familiar, em sede do IRPS, sofreu uma
alteracão, pois, nos termos do n.º 2, do artigo 18.ºdo CIRPS, aprovado pela Lei n.º 33/2007,
de 31 de Dezembro, era considerado sujeito passivo do IRPS aqueles a quem cabia a
direcção do agregado familiar, no entanto, com a revisão do Código do IRPS, pela Lei n.º
20/2013, de 23 de Setembro, o n.º 2, do artigo 18.º, passou a ter a seguinte redacção
“existindo agregado familiar, o imposto é devido individualmente, por cada pessoa que o
contitui e pelos rendimentos de que é titular”.

O agregado familiar é constituido, nos termos do n.º 3, do artigo 18, da Lei acima citada, por
cada um dos cônjuges e os seus descendentes a seu cargo, pelo pai ou mãe não casados e os
seus descendentes a seu cargo, pelo adoptante não casado e os dependentes a seu cargo.

Portanto, com esta reforma a relevância do agredado familiar na tributação em sede do


IRPS perde relavância, e contraria em certa medida o o disposto na parte final do n.º 1, do
artigo 60.º da LBST.

Quem são os dependentes? Nos termos do n.º 4, do artigo 18º, do CIRPS, atentos a
redacção da Lei n.º 20/2013, de 23 de Setembro, considera-se dependentes todos aqueles
que por alguma incapacidade não auferem rendimentos, designadamente:
• Filhos, adoptados e enteados, menos e não emancipados;
• Filhos, adoptados e enteados, maiores, que, não tendo mais de 25 anos e nem
auferindo rendimentos superiores a 12 salários mínimos nacionais mais elevados,
tenham frequentado no período de tributação a 12a classe, estabelecimento de
ensino médio ou superior ou cumprindo o serviço militar efectivo normal;
• Filhos, adoptados e enteados, maiores, inaptos para o trabalho e para angariar
meios de subsistência, quando não aufiram rendimentos superiores ao previsto no
artigo 56. °, no ano a que respeita o imposto;
• Menores sob tutela desde que não aufiram qualquer rendimento;
• Os ascendentes a cargo do sujeito passivo, incapazes para o trabalho e para angariar
meios de subsistência, quando não aufiram rendimentos superiores ao mínimo
previsto no artigo 56º, no ano a que respeita o imposto.

51
Saldanha, Sanches. Op. 289
50
São considerados residentes em território moçambicano nos termos da alínea a) do nº 1 do
artigo 21 do CIRPS, os sujeitos passivos que tenham permanecido em Moçambique por mais
de 180 dias no ano, ou que tendo permanecido por menos tempo, disponham de habitação
em condições que façam supor a intenção de ocupar como residência permanente e ainda
os que desempenham no estrangeiro funções ou comissões de carácter público, ao serviço
da República de Moçambique, os tripulantes de navios ou aeronaves, desde que estejam ao
serviço de entidades com residência, sede ou direcção efectiva no território moçambicano.
São também consideradas residentes em Moçambique, a pessoas que constituem o
agregado familiar e que neles incumbe a direcção do mesmo.
São considerados Rendimentos obtidos em território moçambicano os que constam do
artigo 22º, do CIRPS, atentos a redacção da Lei nº 20/2013, de 23 de Setembro.

3.2.3. INCIDÊNCIA REAL/OBJECTIVA


Nos termos dos artigos 1º do CIRPS, o IRPS incide sobre o valor global anual dos
rendimentos, distribuídos nas categorias que a seguir apresentamos, mesmo quando
provenientes de actos ilícitos.
Os rendimentos a que se refere o artigo 1º, do CIRPS encontram-se devidos em cinco
categorias, nomeadamente:
− Primeira categoria – Rendimentos de trabalho dependente
− Segunda categoria – Rendimentos empresariais e profissionais
− Terceira categoria - Rendimentos de capitais e mais-valias
− Quarta categoria – Rendimentos prediais
− Quita categoria – Outros rendimentos.
A descrição dos rendimentos consta dos artigos 2º a 17º, do CIRPS.

UNIDADES 3.3. A TRIBUTAÇÃO DAS SOCIEDADES DE PESSOAS E A TRANSPARÊNCIA FISCAL


Existe uma questão que se situa na fronteira entre o IRPS e o IRPC, trata-seda tributação da
sociedade de pessoas. “A diferença na tributação das pessoas singulares e pessoas
colectivas assenta no pressupostos de que as sociedades comerciais, como sociedades de
capitais postos em comum, têm características que exigem a transformação da sociedade
em sujeitos passivo do imposto. Quando estamos perante sociedades de capitais, os sócios
ou acionistas ao receber uma remuneração que tem como fundamento a sua participação
no capital da sociedade”52.

Para além das sociedades de capitais, existem também sociedades de pessoas, no sentido
de uma associação entre pessoas que forma uma sociedade para porem em conjunto as
suas aptidões profissionais.

Estas sociedades de pessoas correspondem ao modo mais actualizado de execício das


chmadas profissões liberais, como por exemplo as sociedades de advogados, medicos,
contabilistas, etc.., nestas sociedades o capital tem uma expressão mínima.

52
Sanches, Saldanha, Op. Cit p. 292
51
Portanto, “se estamos perante uma mera sociedade de pessoas, faz mais sentido
personalizar o imposto, tributando apenas rendimentos obtidos pelos sócios através da
utilização da forma societária”53.

Da mesma forma o regime de tributação de sociedades de mera administração de bens , a


transparência fiscal permite permite anular as possíveis vantagens da interposição que não
tem qualquer razão empresarial legítima . isto significa que a transparência fiscal podeevitar
, simultaneamente, a dupla tributação indevida e o uso da sociedade enquanto forma
jurídcia para reduzir a carga tributária.

3.3.1. Obrigações Dos Contribuintes Em Sede De IRPS


1). Entrega das declarações anuais de rendimentos (artigo 52º, do IRPS) – de Janeiro até 31
de Maio do ano seguinte, quando os sujeitos passivos apenas hajam recebido ou tenham
sido colocados à sua disposição, rendimentos da primeira categoria;
- Até 30 de Abril do ano seguinte, nos restantes casos.
2). Local de entrega (artigo 14º, do RCIRPS) – As declarações podem ser entregues nas
Direcções das Áreas Fiscais ou conforme vier a ser definido pela administração tributaria, ou
remetidas pelo sistema electrónico de transmissão de dados.
3). Liquidação/Pagamento do IRPS (artigo 64º do CIRPS, conjugado com o artigo 28.º) – Os
sujeitos passivos que apenas hajam recebido rendimentos das categorias, devem pagar o
imposto devido até 31 de Maio, 30 de Junho e 31 de Agosto.

UNIDADE 3.4. O IMPOSTO SOBRE O RENDIMENTO DAS PESSOAS COLECTIVAS – IRPC


3.4.1. Introdução

O Código do IRPC - Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Colectivas, foi aprovado pela
Lei n.º 34/2007, de 31 de Dezembro, na sequência da reforma fiscal de 2002, sobre a
tributação global do rendimento, onde procurou-se através deste imposto criar um sistema
de tributação unitária do rendimento das pessoas colectivas.
O conceito de rendimento global que aqui se pretende tributar assenta na teoria do
rendimento acréscimo ou incremento patrimonial que consiste na diferença entre o valor
do património no início e no fim do período de tributação, incluindo as mais-valias e outros
ganhos fortuitos (por exemplo, os subsídios não destinados á exploração ou as
indemnizações). Trata-se de uma noção extensiva do rendimento que procura tributar o
rendimento real e efectivo das empresas (artigo 71º da LGT).
Se atendermos às características específicas deste imposto, poderemos afirmar que se trata
de um imposto:
✓ Sobre o rendimento - por contrapartida aos impostos existentes sobre a despesa
(exemplo: IVA) e sobre o património (exemplo: IPRA):
✓ Directo - se atendermos ao critério económico poderemos dizer que o IRPC é um
imposto directo na medida que incide sobre a manifestação directa ou imediata da
capacidade contributiva, isto é, incide directamente sobre os rendimentos obtidos;

53

52
✓ Real - porque visa a tributação dos rendimentos das pessoas colectivas sem atender
à sua situação pessoal (princípio da tributação dos rendimentos reais);
✓ Periódico - porque se renova nos sucessivos períodos de tributação, que
normalmente são anuais, dando origem, consequentemente, a sucessivas obrigações
tributárias anuais independentes umas das outras, ou seja, tributa situações ou
actividades que duram no tempo, dando origem a liquidações periódicas;
✓ Estadual - porque é o Estado o sujeito activo da relação jurídico-tributária;
✓ Proporcional - já que a taxa se mantém constante, independentemente da matéria
colectável apurada pelo contribuinte (taxa única, em que a colecta de imposto é
proporcional à matéria colectável);
✓ Global - porque incide sobre um conjunto de rendimentos provenientes de diversas
fontes;
✓ Principal - porque goza de autonomia quer ao nível normativo quer ao nível das
relações tributárias concretas.
Podemos retirar uma conclusão preliminar, ou seja, também em relação à tributação das
empresas, “se verifica uma densificação dos deveres de cooperação, com a generalização da
obrigação de possuir contabilidade e com a definição de uma complexa teia de
regulamentações acerca do modo como ela deve ser organizada.”54.
O artigo 1, do CIRPC consagra os pressupostos da incidência em IRPC, dos quais a lei faz
depender o surgimento da relação jurídica do imposto. Tais pressupostos são de natureza
objectiva (a obtenção de rendimentos), subjectiva (por um sujeito passivo) e temporal (no
período de tributação).
O âmbito da aplicação pessoal, sujeitos passivos do IRPC, vem estabelecido no artigo 2.º, do
CIRPC, o objecto do imposto (lucro obtido pelo sujeito passivo) vem consagrado no artigo 4,
CIRPC, e o período de tributação (elemento temporal do facto tributário) vem definido no
artigo 7º, CIRPC.

3.4.2. Incidência Subjectiva


São sujeitos passivos do IRPC as pessoas ou entidades sobre quem é susceptível de recair o
dever de cumprir uma obrigação de natureza tributária imposta pelo Código do IRPC,
designadamente a obrigação principal - a obrigação do imposto.
A incidência pessoal está prevista no artigo 2, do CIRPC, indicando o seu nº 1 as três
categorias de sujeitos passivos, designadamente:
a) As pessoas colectivas (sociedades comerciais, sociedades civis sob forma comercial,
cooperativas, empresas públicas e demais pessoas colectivas de direito público ou
privado) com sede ou direcção efectiva em território moçambicano, consideradas
residentes;
b) As entidades desprovidas de personalidade jurídica com sede ou direcção efectiva
em território moçambicano (consideradas residentes), cujos rendimentos não sejam
tributáveis directamente em imposto sobre o rendimento das pessoas singulares ou
em imposto sobre o rendimento das pessoas colectivas na titularidade das pessoas
singulares ou colectivas que as integram, designadamente, as heranças jacentes, as
sociedades e associações em personalidade jurídica, as pessoas colectivas em

54
Sanches, Saldanha, Op. Cit. p. 345
53
relação às quais seja declarada a invalidade e as sociedades comerciais ou civis sob
forma comercial anteriormente ao registo definitivo;
c) s entidades com ou sem personalidade jurídica que não tenha sede nem direcção
efectiva em território moçambicano (consideradas não residentes) e cujos
rendimentos nele obtidos não estejam sujeitos a imposto sobre o rendimento das
pessoas singulares (IRPS).

3.4.3. Incidência Objectiva


O imposto sobre o rendimento das pessoas colectivas (IRPC) incide sobre os rendimentos
obtidos, no período de tributação, pelos respectivos sujeitos passivos, nos termos do artigo
1, CIRPC.
A delimitação do objecto consta do artigo 4, do CIRPC. Ao definir a base tributável, procede
a um recorte da incidência real do IRPC distinguindo os sujeitos passivos residentes de não
residentes.
Os sujeitos passivos residentes são, por sua vez, divididos em duas categorias consoante
exerçam ou não, a título principal, uma actividade de natureza comercial, industrial ou
agrícola.
Os sujeitos passivos residentes que exerçam a título principal uma actividade de natureza
comercial, industrial ou agrícola (considerando-se ser sempre esse o caso das sociedades
comerciais ou civis sob forma comercial, das cooperativas e das empresas públicas), são
tributadas em IRPC pelo respectivo lucro (artigo 4/ a), do CIRPC). O artigo 4, nº 4, CIRC,
considera que são actividades de natureza comercial, industrial ou agrícola todas aquelas
que consistam na realização de operações económicas de carácter empresarial, incluindo as
prestações de serviços.
Os restantes sujeitos passivos residentes, isto é, aqueles que não exercem a título principal
uma actividade de natureza comercial, industrial ou agrícola, estão sujeitos a IRPC pelo seu
rendimento global, o qual corresponde à soma algébrica dos rendimentos das diversas
categorias consideradas para efeitos de IRS (artigo 4, al. b), do CIRPC).
Quanto aos sujeitos passivos não residentes, há que considerar duas hipóteses:
a) Ou possuem estabelecimento estável em território moçambicano e, nesse caso, o IRPC
incide sobre o lucro imputável a esse estabelecimento estável (artigo 4, al. c), do CIRPC)
2. Ou não possuem estabelecimento estável em território moçambicano ou, possuindo-o, os
rendimentos não lhe sejam imputáveis, caso em que o IRC incidirá sobre o rendimento das
diversas categorias consideradas para efeitos de IRPS (artigo 4, al. d), do CIRPC).

3.4.4. Lucro Tributável


Nos termos do nº 2, do artigo 4, do CIRPC, o lucro corresponde a diferença entre os valores
do património líquido no fim e no início do período de tributação, com as correcções
estabelecidas no Código. Trata-se de um conceito extensivo de rendimento que adopta o
conceito de rendimento-acréscimo o qual abrange todo e qualquer incremento patrimonial.
O conceito de estabelecimento estável consta do artigo 3, do CIRPC.

54
3.4.5. Rendimento global e os rendimentos das diversas categorias do IRS
Além do lucro, o artigo 4, nº 1, do CIRPC, fixa como base do imposto:
✓ O rendimento global (entidades residentes que não exerçam a título principal uma
actividade de natureza comercial, industrial ou agrícola);
✓ O rendimento das diversas categorias consideradas para efeitos de IRPS (não
residentes sem estabelecimento estável em território moçambicano ou, possuindo-
o os rendimentos não lhe sejam imputáveis)
Esta distinção não é apenas terminológica. Na verdade, enquanto que no primeiro caso, e
embora o rendimento global se refira igualmente aos rendimentos das diversas categorias
do IRPS, ele corresponde à sua soma algébrica com referência a todo o período de
tributação, enquanto que no segundo caso, o IRPC incidirá sobre os rendimentos
individualizados daquelas categorias no momento e à medida em que eles forem sendo
auferidos.
Concluindo, enquanto no artigo 2, do CIRPC, se distinguem os vários tipos de sujeitos
passivos, no artigo 4, do CIRPC, determina-se que a base de incidência do imposto que não é
a mesma para todos eles. Procede-se, desta forma, a uma discriminação qualitativa dos
diversos sujeitos passivos em função da sua natureza específica, fazendo incidir o imposto
sobre realidades distintas (o lucro, o rendimento global e os rendimentos das diversas
categorias), consoante a especificidade do respectivo sujeito passivo. Esta diferenciação dos
sujeitos passivos e da base do imposto assume especial relevância em toda a restante
estrutura do Código do IRPC.

3.4.6. Extensão da obrigação de imposto (artigo 5.º, do CIRPC, tendo em atenção da


redacção dada pela Lei n.º 19/2013, de 23 de Setembro)
Interpretámos o artigo 2º, do CIRPC, e concluímos que, para além do critério da
personalidade jurídica, os sujeitos passivos de IRPC se distinguem consoante:
✓ Têm sede ou direcção efectiva em território moçambicano;
✓ Não a tendo, aí obtêm rendimentos.
Esta distinção vai provocar uma repercussão, como vimos, na determinação da base do
imposto e consequentemente em todas as fases posteriores até ao próprio pagamento e,
simultaneamente, constitui o critério encontrado para delimitar, inclusive, o âmbito da
sujeição a imposto.
Assim, o âmbito espacial do imposto (a aplicação da Lei Fiscal no Espaço) assenta no
Princípio da Territorialidade, isto é, as leis tributárias de um Estado são as únicas que se
aplicam no território desse Estado e só se aplicam nesse território, sendo:
✓ Territorialidade real - elementos reais ou objectivos (localização dos bens);
✓ Territorialidade pessoal - elementos pessoais ou subjectivos (residência, domicílio)
Os elementos de conexão do imposto são:
✓ De carácter real - origem ou fonte de rendimentos (elemento de conexão relevante)
- a tributação deve-se fazer no Estado donde os rendimentos são provenientes;
✓ De carácter pessoal - nacionalidade (elemento não relevante) e residência (os
residentes são sujeitos a imposto por obrigação real e ilimitada).

55
UNIDADE 3.5. TRANSPARÊNCIA FISCAL
Para efeitos do IRPC, as sociedades de pessoas têm tratamento idêntico às sociedades de
capitais sendo-lhes, todavia, aplicado um regime especial de tributação designado de
transparência fiscal.
Trata-se de um regime que surgiu com a finalidade de atingir três objectivos:
1. A neutralidade fiscal, alcançada pela tributação dos sócios ou membros da sociedade,
quer sejam pessoas singulares ou colectivas, tal como se exercessem directamente a
actividade;
2. O combate à evasão fiscal, de forma a evitar a possibilidade dos sujeitos passivos
constituírem sociedades intermediárias com a finalidade de fuga ao imposto;
3. A eliminação da dupla tributação económica dos lucros distribuídos na medida em que
estas sociedades não são tributadas em IRPC, mas sim na pessoa dos seus sócios ou
membros, em sede de IRPC ou de IRPS, consoante se trate de pessoas colectivas ou
singulares.
Este regime, previsto no artigo 6.º, do CIRPC, aplica-se às seguintes sociedades residentes a
que chamaremos sociedades transparentes:
A). Sociedades civis não constituídas sob forma comercial;
B) Sociedades de profissionais;
C) Sociedades de simples administração de bens, cuja maioria do capital social pertença,
directa ou indirectamente, durante mais de 180 dias do exercício social, a um grupo familiar
ou cujo capital social pertença, em qualquer dia do exercício, a um número de sócios não
superior a cinco e nenhum deles seja pessoa colectiva de direito público
A questão das isenções, estão previstas entre os artigos 9ª a 14, do CIRPC, mais importa
falar dos benefícios fiscais, por corresponderem a uma matéria mais controversa.

UNIDADE 3.6. OS BENEFÍCIOS FISCAIS EM SEDE DO IRPC


As isenções são verdadeiros benefícios fiscais tal como o são as reduções de taxas, as
deduções à matéria colectável ou à colecta, as amortizações e reintegrações aceleradas e
outras medidas de carácter excepcional instituídas para tutela de interesses públicos
extrafiscais que sejam superiores aos da própria tributação que impedem.
Sem prejuízo dos benefícios fiscais constantes do Código dos Benefícios Fiscais (CBF), e
outra legislação avulsa, alguns benefícios foram, desde logo, considerados no CIRPC (no
capítulo das isenções) por revestirem um carácter de maior permanência e estabilidade.
Outros, de carácter menos estrutural, mas ainda assim dotados de alguma estabilidade,
surgem inseridos no CBF. São benefícios que se traduzem numa isenção total ou parcial em
função do tipo de sujeito passivo (isenções pessoais) ou de rendimentos (isenções reais).

UNIDADE 3.7. O REGIME DE PREÇOS DE TRANSFERÊNCIA


Entende-se por Preços de Transferência os preços praticados nas operações comerciais,
incluindo operações financeiras, que envolvam entidades relacionadas ou entre sectores ou
partes da mesma entidade.

56
Tratando-se de preços que não foram estabelecidos num mercado concorrencial, podem-se
desviar daqueles que teriam sido acordados entre entidades não relacionadas em
transacções similares.
A legislação fiscal existente, designadamente o artigo 49.º, do CIRPC, bem como o Decreto
n.º 70/2017, de 6 de Dezembro, visam corrigir os efeitos de uma eventual manipulação de
preço em resultado das relações especiais entre os sujeitos passivos.
O Regime dos Preços de Transferência, aprovado pelo Decreto n.º 70/2017, de 6 de
Dezembro, aplica-se aos sujeitos passivos do Imposto sobre o Rendimento das Pessoas
Colectivas e do Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Singulares, residentes ou
domiciliados no território moçambicano, que realizem operações com partes relacionadas
residentes ou não residentes.
Com estas medidas, o Estado tenta garantir que as operações entre sujeitos passivos com
relações especiais, realizem-se em condições idênticas às que seriam praticadas entre
entidades independentes ou sem qualquer relação, isto é, nas condições normais de
mercado.
A base do regime de preços de transferências consta do artigo 49.º, do CIRPC, que
estabelece:
1. “A Administração Tributária pode efectuar as correcções que sejam necessárias para
a determinação do lucro tributável sempre que, em virtude das relações especiais
entre o contribuinte e outra pessoa, sujeita ou não a IRPC, tenham sido
estabelecidas condições diferentes das que seriam normalmente acordadas entre
pessoas independentes, conduzindo a que o lucro apurado com base na
contabilidade seja diverso do que se apuraria na ausência dessas relações.
2. O disposto no número anterior observa-se igualmente sempre que o lucro apurado
em face da contabilidade relativamente a entidades que não tenham sede ou
direcção efectiva em território moçambicano se afaste do que se apuraria se se
tratasse de uma empresa distinta e separada que exercesse actividades idênticas ou
análogas, em condições idênticas ou análogas e agindo com total independência.
3. Também se aplica o disposto no n.º 1, quanto às pessoas que exerçam
simultaneamente actividades sujeitas e não sujeitas ao regime geral do IRPC, quando
relativamente a tais actividades se verifiquem idênticos desvios.
4. Quando o disposto no n.º 1 se aplique relativamente a um sujeito passivo do IRPC
por virtude de relações especiais com outro sujeito passivo do mesmo imposto ou do
IRPS, na determinação do lucro tributável deste último são efectuados os
ajustamentos adequados que sejam reflexo das correcções feitas na determinação
do lucro tributável do primeiro”.
Os elementos das operações a ter em conta na comparação referida neste regime: são (i)as
características dos produtos ou serviços prestados, (ii) as funções desempenhadas pelas
entidades, (iii) os riscos assumidos por estas, (iv) as condições e os termos contratuais, entre
outros.
Na verdade o artigo 49.º do Código do IRPC, estabelece algumas regras relativas a preços de
transferência, nomeadamente a faculdade conferida à Administração Tributária de efectuar
as correcções que se mostrem indispensáveis para a determinação do lucro tributável

57
sempre que em virtude de relações especiais entre o contribuinte e outra pessoa, sujeita ou
não a IRPC, tivessem sido estabelecidas condições diferentes daquelas seriam normalmente
estabelecidas entre entidades independentes.
No entanto, a lei não apresenta qualquer definição do conceito de relações especiais, o que
tornava bastante subjectiva a aplicação por parte das Autoridades Tributárias das regras de
preços de transferência.
O Decreto n.º 70/2017, de 06 de Dezembro veio regulamentar o regime de preços de
transferência, apresentando, ainda que a título exemplificativo, as situações que configuram
relações especiais, isto é, quando é que uma entidade exerce uma influência relevante nas
decisões de gestão da outra.
Assim, entende-se existirem relações especiais, nomeadamente, nas seguintes
circunstâncias:
I. Quando uma entidade e os titulares do respectivo capital, ou os cônjuges,
ascendentes ou descendentes destes, detenham directa ou indirectamente uma
participação não inferior a 10% do capital ou dos direitos de voto de outra;
II. Uma entidade e os membros dos seus órgãos sociais, ou de quaisquer órgãos de
administração, direcção, gerência ou fiscalização, e respectivos cônjuges,
ascendentes e descendentes;
III. Entidades em que a maioria dos membros dos órgãos sociais, ou dos membros de
quaisquer órgãos de administração, direcção, gerência ou fiscalização, sejam as
mesmas pessoas ou, sendo pessoas diferentes, estejam ligadas entre si por
casamento, união de facto ou parentesco em linha recta;
IV. Entidades ligadas por contrato de subordinação, de grupo paritário ou de efeito
equivalente;
V. Empresas que se encontrem em relação de domínio;
VI. Entidades entre as quais, por força das relações comerciais, financeiras,
profissionais ou jurídicas entre elas, directa ou indirectamente estabelecidas ou
praticadas, se verifiquem situações de dependência no exercício da respectiva
actividade;
VII. Quando directa, ou indirectamente através de um ou mais intermediários, a parte:
controlar, for controlada por ou estiver sob o controlo comum da entidade; tiver um
interesse na entidade que lhe confira influência significativa sobre a mesma ou tiver
um controlo conjunto sobre a entidade;
VIII. A parte for uma associada ou um empreendimento conjunto em que a entidade seja
um empreendedor;
IX. A parte for membro do pessoal-chave da gestão da entidade ou da sua empresa-
mãe;
X. A parte gere um plano de benefícios pós-emprego para benefício dos empregados da
entidade, ou de qualquer entidade que seja uma parte relacionada dessa entidade.
O sujeito passivo deve adoptar, para determinação dos termos e condições que seriam
normalmente acordados, aceite ou praticados entre entidades independentes, o método
mais apropriado a cada operação ou série de operações, de acordo com o princípio de plena

58
concorrência, devendo mantê-lo durante o exercício económico, por bem, direito ou
serviço.

UNIDADE 3.8. MÉTODOS APLICÁVEIS PARA A DETERMINAÇÃO DOS PREÇOS DE


TRANSFERÊNCIA
a) Método do Preço Comparável de Mercado (devendo este método ser
especificamente aplicável aos preços de transferência na exportação ou importação
de commodities);
b) Método do Preço de Revenda Minorado;
c) Método do Custo Majorado;
d) Método do Fraccionamento do Lucro;
e) Método da Margem Líquida da Operação;
f) Outro Método apropriado aos factos e às circunstâncias específicas de cada
operação.
Consagram-se, ainda, regimes específicos para os acordos celebrados entre entidades
relacionadas, designadamente acordos de partilha de custos e acordos de prestação de
serviços dentro do grupo.
Acresce que para efeitos de determinar se as operações entre entidades relacionadas
seguem as mesmas regras das operações entre entidades independentes é estabelecido o
intervalo interquartil para se aferir se a operação está conforme com as regras da plena
concorrência.
Em sede de obrigações acessórias, os sujeitos passivos de IRPC e de Imposto sobre o
Rendimento das Pessoas Singulares que no exercício anterior tenham atingido um valor
anual de vendas líquidas e outros proveitos de 2.500.000,00MT têm de preparar um dossier
de preços de transferência.

Finalmente temos a referir que o Decreto 70/2017, refere ainda sobre o conceito de
intervalo interquartil, ou seja, no caso de registo de duas ou mais transacções comparáveis,
deve-se determinar a mediana e o intervalo interquartil de preços ou de margem de lucro.
Se o preço acordado se situar fora do intervalo interquartil, considera-se que o preço ou
margem de lucro utilizado pelas partes independentes corresponde a mediana de 5% (para
o caso em que o preço praticado ou a margem de lucro for menor do que o valor obtido no
primeiro quartil, ou, para o caso em que o preço ou a margem de lucro for maior do que o
valor obtido para o terceiro quartil).

Poderá ainda ser solicitada a celebração de acordos prévios sobre preços de transferência
com a autoridade tributária, com o objetivo de definir os termos e condições a praticar em
operações comerciais e financeiras realizadas com entidades relacionadas, sem implicar
ajustamentos fiscais.

59
UNIDADE 3.9. EXERCÍCIOS

1. Diga em que consiste o regime da transparência fiscal?


2. Atendendo às várias classificações de impostos que conhece qualifique o Imposto
sobre o Rendimento das Pessoas Colectivas?
3. Comente a seguinte afirmação: Em regra, para os sujeitos passivos não residentes, o
IRPS não é um imposto único, pessoal e progressivo?
4. No âmbito do IRPS, a fixação da matéria colectável assenta, exclusivamente, nos
rendimentos declarados pelo contribuinte?
5. Diga em que consiste o Regime de Preços de Transferência?

60
TEMA IV: A TRIBUTAÇÃO INDIRECTA E TRIBUTAÇÃO ESPECIAL DO CONSUMO

UNIDADE 4.1. INTRODUÇÃO


Em Moçambique, a tributação da despesa é constituída nos termos do artigo 66.º da Lei n.º
15/2002, de 26 de Junho pelo Imposto Sobre o Valor Acrescentado - IVA, o Imposto sobre
Consumos Específicos (ICE) e os Direitos Aduaneiros.

O Imposto Sobre o Valor Acrescentado – IVA, é sem sombra de dúvidas o mais importante
dos impostos sobre a despesa ou indirectos em Moçambique. Este imposto foi introduzido
em Moçambique no ano de 1998, pelo Decreto n.º 51/2008, de 21 de Setembro.
Segundo Samuelson e Nordhaus: “O valor acrescentado é a diferença entre as vendas duma
empresa e as suas compras de matérias-primas e de serviços de outras empresas.”
É um imposto que teve, a sua origem na Franca, mas teve êxito em quase todos países onde
foi adoptado, criando assim grande expectativa de sucesso nos Estados, levando-os assim a
adoptarem este imposto.
O êxito deste imposto, segundo a professora Clotilde Celorico Palma, deve-se
fundamentalmente às suas características, em especial à generalidade e à neutralidade,
obtidas através do chamado método das facturas, do crédito de imposto ou método
subtractivo indirecto.
Na verdade, em quase todas actividades que desenvolvemos diariamente estamos sujeitos
ao IVA, na televisão que assistimos, na roupa que lavamos, no combustível que gastamos,
etc. Mas, regra geral, e contrariamente ao que sucede nos tributos directos, não nos
apercebemos do peso deste imposto.
Por outro lado, uma das grandes vantagens do IVA relativamente aos demais impostos
sobre as transacções assenta na sua neutralidade, quer no plano interno, quer a nível
internacional. Eis, pois, a explicação para o sucesso do IVA.

4.1.1. CARACTERÍSTICAS GERAIS DO IVA


Ainda segundo Clotilde Palma, este imposto é dotado das seguintes características
principais:
• Imposto geral sobre o consumo de bens e serviços - pois incide, tendencialmente,
sobre a generalidade dos bens e serviços consumidos por quem manifesta
capacidade contributiva;
• Imposto plurifásico; porque a sua liquidação processa-se em todas as fases de
produção e distribuição dos produtos, ou seja, em toda a cadeia de fornecimento, na
qual se incluem o produtor, o grossista e o retalhista;
• Imposto indirecto (método subtractivo indirecto) - pois segundo a teoria clássica, ele
assenta no fenómeno da repercussão económica;
• Imposto não cumulativo - porque em cada fase de incidência se tributa apenas o
valor do bem acrescentado nessa fase;
• Imposto baseado no princípio de tributação no destino nas relações internacionais;
• Proporcional - porque a taxa é sempre a mesma, qualquer que seja a matéria
colectável;

61
•Um imposto reditício – Em Moçambique, à semelhança do que se verifica em muitos
Estados, é a principal receita tributária
O princípio geral de um modelo baseado no imposto sobre o valor acrescentado consiste em
aplicar aos bens e serviços um imposto geral sobre o consumo proporcional ao preço dos
bens e serviços, independentemente do número de transacções ocorridas no processo de
produção e de distribuição anterior à fase de tributação. Nas operações entre sujeitos
passivos de IVA, em cada uma das transacções, o imposto sobre o valor acrescentado,
calculado sobre o preço do bem ou do serviço à taxa aplicável ao referido bem ou serviço, é
exigível, com prévia dedução do montante do imposto sobre o valor acrescentado que
tenha incidido directamente sobre o custo dos diversos elementos constitutivos do preço.
Num modelo de base alargada, o imposto sobre o valor acrescentado é aplicável até ao
estádio do comércio a retalho, inclusive.

O IVA é conhecido por resistir bem ao teste da neutralidade, de nas transacções


internacionais se basear no princípio de tributação no país de destino e de ser bastante
reditício relativamente aos demais tributos.
Devido à sua generalidade, possibilita a adopção de taxas moderadas e a respectiva
distribuição por vários sujeitos passivos.

4.1.2. OS SUJEITOS DO IVA/INCIDÊNCIA SUBJECTIVA


Em sede de IVA, porque o imposto é devido ao Estado pelos agentes económicos, e não
pelos verdadeiros suportadores económicos do imposto, que são os consumidores finais, o
artigo 2.º do CIVA, identifica como sujeitos passivos todos aqueles que exercem uma
actividade económica sem atender à sua capacidade contributiva. Isto significa que, no
plano do IVA, o conceito de sujeito passivo é muito mais abrangente do que aquele que está
previsto na LBST, pois, esta define o sujeito passivo como a pessoa singular, colectiva, o
património ou a organização de facto ou de direito que nos termos da lei está “vinculado ao
cumprimento da prestação tributária, seja contribuinte directo, substituto ou responsável”.
“Ser sujeito passivo do imposto constitui uma condição para obter a desoneração fiscal
quanto ao impacto económico produzido pela incidência do imposto ao longo de todo
circuito produtivo”55.
“O sujeito passivo, é pois, o centro de imputação do conjunto de deveres de cooperação
que viabilizam a cobrança deste imposto. E são estes deveres de cooperação que lhe
permitem desonerar-se de todo o impacto suportado, como já sucedia nos tradicionais
impostos sobre o consumo por meio da repercussão”56.
Quanto ao sujeito activo não existe qualquer particularidade a assinalar.

4.1.3. Operações Tributáveis/ Incidência objectiva


O artigo 1.º, do CIVA determina que estão sujeitas ao IVA as transmissões de bens e as
prestações de serviço efectuadas a título oneroso no território nacional, por sujeitos
passivos agindo nessa qualidade, e as importações de bens. Os artigos seguintes (3.º, 4.º e

55
Sanches, Saldanha. Op. Cit p. 415
56
Sanches, Saldanha. Op. Cit. p. 416
62
5.º) explicam estes conceitos. Que normalmente possuem em direito fiscal um sentido
diferente dos civis, e com uma amplitude muito grande, o que justifica uma análise mais
atenta das isenções.

4.1.4. Facto Gerador e Exigibilidade do Imposto


A legislação portuguesa considera, como regra geral, que o imposto é devido e torna-se
exigível, quanto às transmissões de bens, no momento em que estes são postos à disposição
do adquirente, e quanto às prestações de serviços, no momento da sua realização, nas
importações, no momento em que for numerado o DU ou outro para o mesmo fim, ou se
realize a arrematação ou venda (al. a), b) e c) do n.º 1 do artigo 7.º do CIVA.

4.1.5. Isenções
As isenções do IVA encontram-se previstas entre os artigos 9 e 14 do CIVA. No Iva a
distinção entre grande parte das isenções no sentido próprio do termo e as isenções
propriamente ditas é mais intensa. A isenção conduz, em princípio, a uma menor tributação
do sujeito passivo, a um aumento do seu lucro ou do seu rendimento tributável, mas nem
sempre sucede assim com as isenções do IVA.
Isenções correspondem a situações em que um sector, uma empresa ou um produto é
dispensado da obrigação de liquidação do IVA. Em Moçambique existem dois tipos de
isenções, as verdadeiras (completas) e falsas (incompletas):

• Isenções falsas ou incompletas: neste tipo de isenções o sujeito passivo não líquido o
imposto nas vendas e não deduz o imposto que suportou nas aquisições. A empresa paga
IVA na aquisição (não deduz) e não pode cobrá-lo na venda devido a isenção. O IVA torna-se
assim um custo que a empresa repassa através do preço.57

Este facto conduz a uma distorção no funcionamento do IVA, levando a perda da


neutralidade pelo facto de aqueles que praticam actividades isentas de IVA se encontrarem
numa situação mas desvantajosa do que aqueles praticam actividades tributadas em IVA, na
medida em que não podem deduzir o IVA suportado na aquisição dos insumos para a sua
actividade.

Esta possibilidade legal, conduz a possibilidade legal de renúncia a isenção.

Existem também as isenções parciais, nos casos em que o sujeito passivo apenas pode
deduzir o IVA, na proporção das actividades sujeitas, não podendo o fazer relativamente as
actividades isentas. Levando aqui ao cálculo pro-rata, prevista no artigo 22.º do CIVA.

• Isenções Verdadeiras ou Completas: mas estas são excepcionais, significa que não se
liquida o imposto nas vendas que realiza ou nos serviços que presta, mas deduz o
imposto suportado nas aquisições, dando lugar ao reembolso do IVA. Ou seja, o sujeito
passivo paga o IVA na aquisição (deduz) e não cobra na venda devido a isenção

57
Introdução ao IVA (Imposto sobre Valor Acrescentado)
63
completa. Entretanto, este tem o direito de reembolso do IVA que pagou na compra e
que não recuperou na venda.

São completas as isenções da al b) e d) do no 7 do artigo 9, no 10 do artigo 9.º, al. d) e f) do


nº 13º do artigo 9º, artigo 13º, al. b) e d) nº 1 do artigo 14º e do nº 2 do artigo 14º, todos do
CIVA, sendo as restantes incompletas.

As isenções nas exportações são também designadas isenções a taxa zero.

UNIDADE 4.2. Regimes de Tributação


Atendendo e consideradas as obrigações, a dimensão e a natureza dos sujeitos passivos, a
tributação do IVA é efectuada com base nas regras do regime normal; do regime
simplificado de tributação; ou de regime de isenção.

Portanto podemos distribuir os regimes de IVA em Moçambique da seguinte forma:

➢ Regime normal e;
➢ Os regimes especiais. (Enquadram-se nestes o Regime de isenção e o Regime de
tributação simplificada).

4.2.1. Regime Normal


i. Enquadram-se neste regime os sujeitos passivos com o volume anual de negócios
igual ou superior a 2.500 000Mt (dois milhões e quinhentos mil meticais);
ii. Os sujeitos passivos que para efeitos de tributação sobre rendimento de (IRPS ou
IRPC) possuem ou sejam obrigados a possuir contabilidade organizada;
iii. Os sujeitos passivos que efectuam operações de importação, exportação ou
actividades conexas;
iv. Sujeitos passivos que tendo um volume anual de negócio inferior a 2.500.000Mt,
tenham optado pela aplicação do regime normal.
Os sujeitos passivos enquadrados no regime normal apuram o imposto mediante a
aplicação da taxa de 17% prevista no artigo 17.º, do CIVA ao valor tributável referido nos
artigos 15 e 16 do CIVA.

O valor sobre que incide a taxa do imposto é o valor da contraprestação obtida ou a obter
do adquirente dos bens e serviços, incluindo os impostos (excepto o IVA), direitos, taxas, as
despesas acessórias debitadas quando respeitam a comissões, embalagens, transportes e
seguros por conta do cliente.

Segundo o artigo 28.º do CIVA, o imposto liquidado pelo sujeito passivo deve ser adicionado
ao valor da factura ou documento equivalente, para efeitos da sua exigência aos
adquirentes das mercadorias ou aos utilizadores dos serviços, ou incluído no preço no caso
em que não é exigível a factura ou o documento equivalente.

O imposto devido nas importações é pago nos serviços aduaneiros competentes no acto do
desembarco aduaneiro, conforme dispõe o nº 2 do artigo 24.º do CIVA.

64
Não haverá lugar a liquidação se a operação e causa estiver abrangida por uma isenção
prevista no artigo 9.º a 14.º do CIVA, salvo se o beneficiário, podendo optar pela renúncia a
isenção nos termos do artigo 11.º do CIVA.

Para o apuramento do IVA a entregar ao Estado, os sujeitos passivos deduzem ao IVA


liquidado no período de tributação (que é mensal por forca do desposto no n. o 1 do artigo
23.º, conjugado com o artigo 32.º ambos do CIVA, o IVA suportado no período nos termos
dos artigos 18.º e 22.º, ambos do CIVA.

Segundo nº 2 do artigo 28.º do CIVA, somente pode ser deduzido o IVA suportado pelo
sujeito passivo, cuja factura, documento equivalente ou bilhete despachado de importação
se encontre na sua posse e tenha ido passado em forma legal. O imposto tenha incidido
sobre bens ou serviços adquiridos ou utilizados pelo sujeito passivo para as operações
descritas no artigo 19.º. No entanto, excluiu do direito à dedução o IVA suportado em
operações que não tem ligação com a actividade profissional do sujeito passivo, como
sublinha Clotilde Celorico Palma, excluindo expressamente as despesas sumptuária, de
divertimento e de luxo.58

Assim por força do desposto no artigo 20.º do CIVA, exclui-se do direito a dedução:

a) Despesas relativas a aquisição, fabrico ou importação, locação incluindo a locação


financeira, a utilização, transformação e reparação de viaturas de turismo, barcos de
recreio, helicópteros, aviões, motos e motociclos, salvo, nos termos da al a) do n o 2
do artigo 20º, quando respeitem a bens cuja venda ou exploração constitua objecto
da actividade do sujeito passivo;
b) Despesas respeitantes a combustíveis normalmente utilizáveis em viaturas
automóveis, com excepção da aquisição de gasóleo cujo imposto é dedutível na
proporção de 50%, sendo totalmente dedutível tratando-se d gasóleo para: a)
veículos pesados de passageiros; b) veículos licenciados para transporte público de
passageiro, com excepção dos rent a car; c) maquinas consumidoras de gasóleo, que
não sejam veículos matriculados; e d) tractores com emprego exclusivo ou
predominante na realização de operações de cultivo inerentes a actividade agrícola
c) Despesas de transportes e viagens do sujeito passivam e do seu pessoal;
d) Despesas respeitantes a alojamento, alimentação, bebidas e tabaco, as despesas de
recepção, incluindo as relativas ao acolhimento de pessoas estranham à empresa,
salvo por forca da al. a) do nº 2 do artigo 20.º as despesas de alojamento e
alimentação efectuadas por viajantes comerciais, agindo por conta própria, no
quadro da sua actividade profissional;
e) Despesas com comunicações telefónicas excepto as relativas aos serviços de
telefone fixo, em nome do sujeito passivo
f) Despesas de divertimento e de luxo, sendo consideradas como tal as que, pela sua
natureza ou pelo seu montante, não constituam despesas normais de exploração.
Para além de outras obrigações, estes sujeitos passivos estão obrigados a emitir facturas ou
documento equivalente e a entregar mensalmente, uma declaração relativa as operações
efectuadas no decurso da sua actividade no mês anterior com indicação do imposto devido

58
- PENE, Cláudio, apontamentos de Direito Fiscal Moçambicano, escolar editora, Maputo
65
ou do crédito existente e dos elementos que serviram de base para o seu cálculo. O
pagamento do imposto é efectuado simultaneamente com a entrega dessa declaração.

4.2.2. Os Regimes Especiais

4.2.2.1. Regime de isenção


Segundo o nº 1, do artigo 35.º, do CIVA ficam enquadrados no regime de Isenção os sujeitos
passivos que não possuindo e nem sendo obrigados a possuir contabilidade organizada para
efeitos de tributação do rendimento, nem praticando operações de importação, exportação
ou actividades, conexas tenham um volume anual de negócios igual ou inferior a
750.000,00Mt.

Estes sujeitos passivos estão excluídos do direito de dedução do imposto, prevista no artigo
18.º do CIVA, por força do artigo 36.º, do mesmo diploma legal.

Nada obsta que estes sujeitos passivos, que preenchem os requisitos para serem
enquadrados no regime de isenção, optem pelo regime normal, nos termos do artigo 37.º
do CIVA. O mesmo sucede com os sujeitos passivos que antes se encontravam escritos no
regime normal, ou no regime simplificado podem optar pelo regime de isenção desde que
passem a preencher os riquitos do artigo 35.º do CIVA.

Estes sujeitos passivos estão obrigados a indicarem na factura ou documento equivalente


que emitem a menção do seu regime, nos termos do artigo 39.º, e ainda a apresentarem as
declarações de início e cessação da actividade e ficando dispensadas das demais obrigações
previstas para os sujeitos passivos do IVA, nos termos dos artigos 40.º e 41.º, do CIVA.

4.2.2.2. Regime de Tributação Simplificada


Segundo o nº 1, do artigo 42.º do CIVA ficam enquadrados no regime simplificado os
sujeitos passivos que, cumulativamente, tenham um volume anual de negócios superior a
750.000,00Mt e inferior a 2.500.000,00Mt; para efeitos de tributação sobre o rendimento
(IRPS ou IRPC) não possuam e não sejam obrigados a possuir contabilidade organizada; não
efectuem operações de importações, exportação ou actividades conexas; e não tenham
optado pela aplicação do regime normal.

Segundo o nº 2 do artigo 42.º, do CIVA estes sujeitos passivos apuram o imposto devido ao
Estado através da aplicação da taxa de 5% ao valor das vendas ou serviços realizados.

Os contribuintes sujeitos a este regime estão obrigados a pagar o imposto trimestralmente


respectivamente nos meses de Abril, Julho e Outubro e Janeiro do ano seguinte.

Estão também obrigados a emitir factura ou documento equivalente não confere ao


adquirente o direito à dedução, pelo que delas deve constar expressamente a menção “IVA-
Não confere direito a dedução”.

66
UNIDADE 4.3. A QUESTÃO DOS REEMBOLSOS
Reembolsos ocorrem quando o valor apurado resulta num crédito para uma empresa.
Segue alguns exemplos que geram situações de reembolso:

i. Empresas que importam materiais e/ou compram produtos e serviços


sujeitos ao IVA. Estas empresas processam os produtos em produtos
acabados. No entanto, se os produtos finais forem isentos a empresa não
poderá recuperar o IVA através da venda.
ii. Algumas empresas são isentas do IVA (geralmente um benefício fiscal para
atrair investimento). Sendo assim essas empresas não pagam o IVA cobrado
pelos seus fornecedores (que são sujeitos ao IVA).
iii. Os fornecedores por sua vez pagam IVA sobre os seus insumos, mas não
conseguem recuperá-lo através de IVA cobrado nas vendas.
iv. Empresa exportadora que compram produtos sujeitos ao IVA, mas que
depois não conseguem recuperar o IVA nas vendas, porque a exportação
está isenta de IVA.
Os reembolsos, em condições normais, não devem ter nenhum impacto sobre os agentes
económicos e só deverão ter efeito sobre as finanças do Estado. No entanto, em
Moçambique o sistema de reembolso não esta a funcionar plenamente. O não reembolso
e/ou o atraso no reembolso tem consequências negativas sobre a actividade económica:

i. Empresas deixam de fornecer a empresas isentas e produtos isentos;


ii. Empresas adicionam o valor do IVA não reembolsado aos seus custos
aumentando assim o nível de preços;
iii. Exportadores adicionam o valor do IVA não reembolsado aos custos
reduzindo assim a competitividade dos seus produtos.

UNIDADE 4.4. TRIBUTAÇÃO ESPECIAL DO CONSUMO

4.4.1. O IMPOSTO SOBRE O CONSUMO ESPECÍFICO


A semelhança do que sucede com o conjunto de transacções em sede IVA, temos também
os impostos dirigidos a determinados produtos especiais com uma forma de legitimação
alheia às correntes centrais do direito fiscal. São os chamados impostos sobre os vícios
Segundo Saldanha Sanches a justificação para a tributação são os custos sociais induzidos
por estes consumos e o carácter não essencial da sua utilização. E, por isso, suporta uma
tributação mais elevada do que os demais bens de consumo, apenas tributados em IVA,
com o carácter nocivo do consumo a constituir uma causa de derrogação do princípio da
capacidade contributiva.
Em Moçambique a tributação desses bens é feita por via do Imposto Sobre Consumos
Específicos – ICE, previsto no artigo 66.º da LBST.
Nos termos do artigo 68.º da LBST, “o Imposto Sobre Consumo Específicos tributa, de forma
selectiva, o consumo de determinados bens constantes de legislação específica …e incide de
uma só vez no produtor ou no importador, consoante o caso”.
A tributação especial do consumo, é regulado pela Lei n.º 17/2017, de 28 de Dezembro, que
aprova o Código do Imposto Sobre o Consumo Específicos. Segundo o artigo 1, do CICE este
67
imposto incide sobre determinados bens, produzidos no território nacional ou importados,
que consta de uma tabela anexa ao código, donde se destacam os seguintes bens:
Bebidas alcoólicas, alimentos para animais, cigarros ou derivados do tabaco, perfumes,
preparações capilares, flores e frutos artificiais, perolas, jóias, bijuterias, moedas sem curso
legal, metais preciosos, viaturas, motociclos, iates e barcos de recreio, armas de fogo, obras
de arte, etc.

4.4.1.1. Incidência Real


Nos termos do artigo 1, do Código do ICE, este imposto incide sobre determinados bens,
produzidos no território nacional, ou importados. Que constam da tabela anexa ao código.

4.4.1.2. Facto Gerador


Este imposto é exigível verificando-se os seguintes factos, nos termos do artigo 2, do CICE:
• A partir do momento da sua produção em território nacional;
• Do momento da sua importação.

4.4.1.3. Exigibilidade
Este imposto torna-se exigível no momento em que se verifica a introdução no consumo dos
bens. Sendo que, nos termos do n. º 2, do artigo 3, do CICE, a introdução no consumo
ocorre quando:
• O produto fabricado sai da unidade de produção em condições normais de
comercialização, Segundo a prática usual para este ou para produtos idênticos;
• Se realiza a importação, segundo as normas aduaneira;
• O produto acabado sai do armazém sob regime aduaneiro.
Algumas questões se levantam quanto a exigibilidade do ICE, designadamente a
exigibilidade do ICE pela detenção para fins comerciais de álcool, cervejas, vinhos, demais
bebidas alcoólicas e tabaco, sem prova de pagamento do imposto. A finalidade comercial
deve ser motivada por critérios devidamente fundamentados, nomeadamente:
• O estatuto comercial e os motivos da detenção;
• O local onde se encontram os produtos ou a forma utilizada para o seu transporte;
• Qualquer documento relativo aos produtos;
• A natureza dos produtos;
• A quantidade dos produtos;
No que diz respeito a quantidade dos produtos, considera-se que a detenção tem fins
comercias, quando os produtos ultrapassem as seguintes quantidades:
• Tabaco: 600 unidades de cigarros, 300 unidades de cigarrilhas, 150 charutos, 1kg de
tabaco par fumar;
• Bebidas alcoólicas: 10 litros bebidas alcoólicas com teor alcoólico superior a
8,5%vol, 20 litros de licores e outras bebidas espirituosas com teor alcoólico inferior
a 8,5% vol., 60 litros de vinhos espumantes, 30litros de outros vinhos, cinquenta
litros de cervejas.

68
Os artigos sujeitos ao ICE podem ser importados por pessoas singulares para uso pessoal,
sem sujeição ao imposto, desde que não ultrapasse as seguintes quantidades estabelecidas
no artigo 4, do CICE:
• Até 1,5 litros de bebidas espirituosas e 2,25l de vinhos;
• Até 200 cigarros, 100 cigarrilhas, 50 charutos, ou 250 gramas de tabaco para fumar;
• Ate 50ml quando se trate de perfumes ou 250ml de água-de-colónia.

4.4.1.4. Isenções
Ficam isentos do ICE as matérias-primas e os produtos acabados e intermédios, importados
ou de produção local, destinados à laboração de indústrias nacionais ou para incorporação
em produtos por elas produzidos.
As taxas constam do artigo 5, e o valor tributável varia consoante o facto tributável, (i)
tratando-se de bens introduzidos no consumo interno ou detidos para fins comerciais é o
preço de venda ao público, ou não sendo este conhecido ou determinável, o valor normal
daqueles bens, (ii) o preço de venda à saída da unidade de produção, segundo as condições
normais de comercialização ou, não sendo este conhecido ou determinável, o valor normal
daqueles bens, (iii) na importação, ou na saída de regime aduaneiro especial, o valor
aduaneiro, adicionado do total dos direitos aduaneiros efectivamente pagos.
Entende-se por valor normal do bem o preço acrescido dos impostos, direitos, taxas e
outras imposições, com excepção do próprio ICE, outras despesas acessórias não incluídas
no preço constante da factura ou documento equivalente, quando nele não estejam já
incluídos, que um adquirente ou destinatário, no estágio da comercialização em que é
efectuada a operação e em condições normais de concorrência, teria de pagar a um
fornecedor independente, no tempo e lugar em que é efectuada a operação ou no tempo e
lugar mais próximo para a sua obtenção.
Pode haver correcção do preço, nos termos do n.º’4, do artigo 6, do CICE, sempre que exista
uma relação especial entre o produtor e o adquirente, conduzindo a um valor tributável
diferente, a correcção passa pelo recurso ao preço de venda praticado pelo revendedor
imediato na cadeia de redistribuição.

4.4.2. Regime de Tributação do Álcool


O ICE incide sobre o álcool etíliconao desnaturado , com teor alcoólico igualou superior a
80%vol e sobre o álcool etílico e preparacões alcoólicas compostas, desnaturadas, com
qualquer teor alcoólico.

São sujeitos passivos (i) as pessoas singulares, colectivas ou outras entidades detentoras a
qualquer título de locais de producão ou armazenamento dos bens constantes da tabela
anexo ao código, (ii) os importadores dos mesmos bens, (iii) quaisuqer entidades que
procedam à embalagem final de álcool destinadoa venda aopúblico ou efectuem a pre
marcacão definitiva do produto através da desnaturacão apropriada, (iv) as entidades que
comercializam ou transportem álcool em violacão das normas legais.

Ficam isentos do ICE, o álcool utiizado para fins industriais, o distinado ao consumo próprio
dos hospitais e demais estabelecimentos públicos e privados, destinadosa testes
laboratoriais e investigacao cientifica, a exportacao ou destinos equiparados a exportacão,
69
álcool desnaturado a que se adicionou agurrás ou petróleo e verde-malaquite ou azul –de
metileno,nas proporções de, respectimanete, 2litros e 2 gramas por 100 litros de álcool e
com teor alcoólico mínimo de 80%vol.

4.4.2.1. Regime De Tributação Da Cerveja Com Álcool, Vinhos E Demais Bebidas Alcoólicas
O ICE incide sobre as bebidas alcoólicas na forma descrita na tabela anexa ao CICE, bem
como as bebidas alcoólicas produzidas pela simples diluicao do alcool em água potável até
obter-se o teor alcoólico pretendidoe adicão de aromas, essências extractos de uvas,
concentrados, corantes e conservantes.

São sujeitos passivos, nos termos do artigo 17, do CICE, os produtores autorizados ou não,
os depositários, os operadores, os importadores e os arrematadores em hasta pública. No
caso de producao, detencao ou importacao irregular, consideram-se sujeitos passivos os
detentores, importadores ou produtores das bebidas alcoólicas.

Ficam isentos deste imposto, nos termos do artigo18, do CICE, as bebidas alcoólicas que seja
usadas, no fabrico de produtos não destinado a consumo humano, desde que desnaturados,
no fabricode vinagres destinadosao cosumo humano, no fabrico de aromas destinados a
preparacao de géneros alimentícios e de bebidas não alcoólicas com título alcoólimetro
adquirido não superior a 1,2%vol, em processos de fabrico desde que oprodutofinal não
contenha álcool, na producão de xaropes para a industria farmacêutica, como amostras
para análises e prova por entidades oficiais, a realizacão de ensaios ou fins científicos, a
inutilizadas em processo de fiscalizacão aduaneira e os que sejam objecto de exportacão.

4.4.2.2. Regime de Tributação do Tabaco Manufacturado e Seus Sucedâneos


Neste sector o ICE incide, nos termos do artigo 21, do CICE, sobre charutos e cigarrilhas
contendo tabaco, cigarros contendo tabaco, tabaco para fumar, mesmo contendo
sucedâneos de tabaco, em qualquer proporcão, tabaco homogeneizados ou reconstituido.

São sujeitos passivos do ICE, nos termos do artigo 22, do CICE, nesta categoria de bens, as
pessoas singulares ou colectivas que procedem à introducão no consumo dos produtos
referidos no artigo anterir, o detentor em caso de detencão com fins comerciais, o
arrematante, no caso da venda judicial ou em processo administrativo.

Ficam isentos do ICE neste sector,nos termos do artigo 24, do CICE, o tabaco manufacturado
objecto de exportacão, devidamente comprovado, destinado a ser fornecido como
provisões de bordo, destinado a lojas francas, desnaturado utilizado para fins industriais ou
hortículas, o destribuido por decisão e controlo das entidades competentes, o destinado a
testes científicos ou de qualidade dos produtos e reciclados pelo produtor , sob fiscalização
das entidades competentes.

70
4.4.2.3. Regime de Tributação do Veículos Automóveis
O ICE incide, nos termos do artigo 28, do CICE, sobre os veículos automóveis ligeiros de
passageiros, incluindo os de uso misto, de corridas e outros principalmente concebidos para
o transporte de pessoas, com exclusão das autocaravanas, admitidos ou importados,
incluindo os montados ou fabricados em Moçambique e que se destinem a ser
matriculados.

Ficam ainda abrangidos pelo ICE, os veículos a todo o terreno, os ligeiros de mercadorias
derivados de ligeiros de passageiros, os furgões ligeiros de mercadorias derivados de ligeiros
de passageiros, motociclos com ou sem carro, de cilindrada superior a 250 cm³.

Finalmente, ficam sujeitos ao ICE, nos termos do n.º 3, de artigo 28, os automóveis ligeiros
que pretendam matricular após cancelamento das matrículas, os automóveis que foram
objecto de alteracão de cilindrada do motor, mudança de elementos estruturais ou de
transformação de veículos de mercadorias para veículos de passageiros ou vice versa, após
importação ou admissão e os que deixaram de beneficiar de qualquer regime especial de
isenção e sejam por este facto introduzidas no território nacional.

Ficam isentos do ICE, neste sector, nos termos do artigo 32, do CICE, os veículos para o
serviço de incêndio adquiridos pelas associações e corporações de bombeiros, mediante
apresentacão de declaracão emitida pelos serviços competentes para licenciar os bombeiros
donde constem as caractarísticas técnicas e o reconhecimento da natureza do adquirente,
as ambulancias, os veículos adquiridos pelas forças militares, militarizadas ou de segurança
pública, quando destinados exclusivimente ao exercício de poderes de autoridade.

UNIDADE 4.5. EXERCÍCIOS

1. Classifique o Imposto Sobre o Consumo Específico?


2. Porque razão o IVA é um imposto neutro para os sujeitos passivos de facto
(cosumidores)?
3. Qual a partucilaridade do IVA, no que diz respeito a incidência subjectiva?
4. Atendendo a classificação dos impostos do nosso sistema tributário, diga como
classifica o IVA?
5. Concorda que o ICE é um imposto do pecado?

71
TEMA V: DESCENTRALIZAÇÃO FISCAL EM MOÇAMBIQUE

UNIDADE 5.1. Evolução do Sistema Tributário Autárquico Moçambicano


A descentralização fiscal em Moçambique surge na sequência do processo de
descentralização administrativa, integrada num conjunto de reformas, nos domínios social,
político e administrativo, resultantes das dificuldades vividas no país, causadas pela
governação centralizada.

O processo de descentralização no caso específico de Moçambique tem sido referido como


“uma combinação de desconcentração e de autarcização”59 pois, para além da alusão a
criação das autarquias locais, o governo central esta a realizar algumas modificações na sua
forma de governar, atribuindo maiores competências de gestão e até financeiras aos
governos provinciais e distritais, sendo o grande exemplo a aprovação da lei n.º 8/2003, de
19 de Maio – LOLE.

Apesar desta visão dalguns pensadores, iremos abordar a questão da descentralização, em


sentido restrito, ou seja, “o processo pelo qual a lei transfere atribuições e poderes de
decisão até ai pertencentes a órgãos do Estado, para órgãos próprios de entidades
independentes, do Estado, designadamente institutos públicos ou autarquias” 60

“As autarquias têm autonomia administrativa, financeira e patrimonial, podendo


inclusivamente criar e cobrar impostos. Sendo a função tradicional fundamental da
autarquia prover serviços de utilidade pública aos autarcas, o município deve ser visto como
um agente catalizador do desenvolvimento económico e social local em benefício das
comunidades61.

A Autonomia Tributária
Todo o esforço de descentralização, não alcança o sucesso desejado se não for
acompanhado de medidas de descentralização financeira, que implica quase que
necessariamente a descentralização tributária.

“A competência tributária é a faculdade outorgada a uma pessoa colectiva de direito público


para, nos limites da constituição e nos termos da lei, estabelecer prestações pecuniárias
compulsórias”.62

59
CHICHAVA e FARIA, “1999. p.8. [disponível em http://www.ecdpm.org.mz., consultado em 18 de Dezembro
de 2013
60
In. Enciclopedia Polis. p.130
61
CHICHAVA e FARIA.1999, Op. Cit. p.11

62
FONSECA, Maria Juliana de Almeida, “Conflito de Competência Tributária”, 1ª ed. São Paulo, Editora Del Rey,
2005
72
Deste conceito podemos então entender que a par da autonomia financeira, as autarquias
locais podem ter o poder, se assim for definido na constituição, de criar e cobrar impostos.
Iremos desenvolver mais este aspecto quando estivermos a falar dos poderes tributários.

É importante dotar os municípios de autonomia financeira, com vista a imprimir nestes


entes infraestaduais a responsabilidade de gestão, numa lógica de fazer a programação das
suas despesas de acordo com as receitas previstas, nomeadamente as resultantes da
arrecadação de impostos, por esta se revelar a principal fonte de receitas destes entes
públicos.

É possível notar que os estudos ligados a teoria da public choice, revelam que o reforço da
autonomia financeira, mediante a atribuição de autonomia fiscal aos entes públicos
descentralizados, como as Autarquias Locais, constitui uma medida de reforço das garantias
dos direitos dos eleitores e contribui para uma maior eficácia no processo de gestão
financeira pública.

A este propósito Charles Tiebout, teorizou um modelo de concorrência fiscal, quase utópico,
ao defender que “a concorrência entre sistemas fiscais num espaço de liberdade de
movimentação dos factores de produção conduz a resultados eficientes, na medida em que
aos diferentes níveis de fiscalidade correspondem necessariamente níveis diversos de
fornecimento de bens e serviços públicos financiados por aqueles”.63

Este modelo ficou conhecido como “votação com os pés” numa tradução literal do conceito
(voting with the feet), pois, a escolha da residência dos eleitores seria influenciada pelo
conjunto de bens públicos disponibilizados numa determinada autarquia, em comparação
com o volume de impostos cobrados.

Portanto, a eficácia no processo de decisão financeira pode ser alcançada, se a cobrança de


receitas tributárias for feita nos níveis de decisão ou governo que se encontram mais
próximos dos contribuintes, beneficiários das despesas a cobrir com esses recursos.

Poderes Tributários
Os poderes tributários advêm do princípio da autonomia local, consagrado no artigo 8, da
Constituição da República. A autonomia financeira, corolário da autonomia local possibilita
as autarquias disporem de finanças e património próprio.

Deste comando constitucional resulta também, para as autarquias locais, um conjunto de


poderes distribuídos em várias esferas de actuação dos municípios, nomeadamente; o
poder de dispor de património próprio, aprovar orçamento próprio, gerir as receitas, cobrar
impostos e recorrer ao crédito.

“É certo, ainda assim, que em tese se pode garantir autonomia financeira às autarquias
através da mera consagração de um direito à receita tributária – afectando-lhes este ou

63
NABAIS, José Casalta, “Estado Fiscal, Cidadania Fiscal e alguns dos seus Problemas” Boletim de Ciências
Económicas, Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, Volume XLV –A, 2002, p. 592 e 593
73
aquele imposto, esta ou aquela percentagem das receitas - sem lhes reconhecer embora um
verdadeiro poder tributário, isto é, o poder de criar ou conformar os tributos públicos”64

É importante notar que a Constituição da República não desenvolve os aspectos ligados a


tributação, contudo, a al. b), do n.º 2, do artigo 3, da Lei n.º 1/2008, de 16 de Janeiro – LFAs,
veio a estatuir que o regime de autonomia financeira e patrimonial das autarquias locais
compreende, o poder de dispor de receitas próprias e arrecadar quaisquer outras que por
lei lhes forem destinadas.

O artigo 56.º da Lei n.º 15/2002, de 26 de Junho, consagra no seu n.º 1, que o Sistema
Tributário da República de Moçambique integra impostos nacionais e autárquicos.

- Estará aqui a consagração de poderes tributários?

Recorrendo ao direito comparado, nomeadamente Portugal podemos notar que Saldanha


Sanches65 defende que na relação entre o financiamento das autarquias locais e os
impostos, podem apontar-se dois modelos teóricos, ambos acolhidos no direito português.
[...] terá de distinguir-se entre, por um lado, a participação dos municípios nos impostos do
Estado, que se efectua mediante transferências do Orçamento do Estado em favor daqueles
e que encontra previsão constitucional no artigo 254.º n.º 1, da constituição portuguesa, e
por outro lado, os poderes tributários próprios, quanto a impostos nos quais figura como
sujeito activo da relação tributária, o próprio município.

Verifica-se na tese acima apresentada uma distinção entre impostos municipais ou


autárquicos e a participação nos impostos estaduais ou nacionais. O importante aqui para
clarificarmos se as autarquias moçambicanas têm ou não um poder tributário (poder de
criar ou conformar os tributos públicos) e em caso afirmativo, qual a amplitude deste poder
tributário e analisar a Lei das Finanças Autárquicas, para a aferir os termos da relação
jurídico tributária nos impostos autárquicos.

O artigo 7, da LFAs prescreve as competências tributárias das autarquias locais,


determinando que para além dos princípios da igualdade, generalidade, da equidade e da
justiça material, no exercício da respectiva actividade tributária, os órgãos autárquicos
devem pautar a sua actuação em estreita obediência à Constituição da República, a Lei e
demais legislação, dentro dos limites dos poderes que lhes sejam atribuídos e em
conformidade com os fins para que os mesmos foram conferidos.

Mas é o n.º 2, do artigo acima citado que vem em nosso entender fixar alguns poderes
tributários, ao prescrever que na determinação do valor das tarifas e taxas a cobrar, os
órgãos autárquicos competentes devem actuar com equidade, sendo interdita a fixação de
valores que, pela sua dimensão, ultrapassem uma relação equilibrada entre a contrapartida
dos serviços prestados e o montante recebido.

64
VASQUES, Sérgio, “o Sistema de Tributação Local e a Derrama”, Revista de Direito e Gestão Fiscal, n.º 38,
Coimbra Editora, Coimbra 2009, p. 115
65
A Derrama, os Recursos Naturais e o Problema da Distribuição da Receita Tributária, in Revista de Direito e
Gestão Fiscal, n.º 38, Coimbra Editora, 2009, p. 135
74
“É da responsabilidade das autarquias locais a liquidação e cobrança dos impostos e demais
tributos autárquicos, nos termos do artigo 76 da LFAs. Ficando, portanto, sob
responsabilidade das autarquias a organização dos serviços necessários a sua cobrança”66.

Esta disposição é reforçada pelo Decreto n.º 63/2008, de 30 de Dezembro que aprova o
Código Tributário Autárquico, o qual determina no artigo 11, que compete às autoridades
administrativas das autarquias, proceder ao lançamento do imposto, que é feito por anos
civis[...].

A Lei n.º 2/97, de 18 de Fevereiro, estatui que compete a Assembleia Municipal, dentre
outros actos, estabelecer, nos termos da lei derramas e outras receitas próprias e fixar os
respectivos quantitativos. Portanto, no que diz respeito a derrama podemos ver que a lei
atribui poderes tributários quase plenos as Assembleias Municipais para lançar, fixar a sua
taxa e cobrar.

Portanto, apesar da análise superficial, podemos concluir que em Moçambique apesar da


deficiente previsão constitucional no que diz respeito as competências tributárias das
Autarquias Locais, a partir da legislação complementar acima referida podemos notar que,
embora com amplitude variada, as competências das autarquias locais, consagraram
verdadeiros poderes tributários, nomeadamente; As competências para reconhecer as
isenções e o direito à receita dos impostos autárquicos, os poderes quanto ao lançamento e
fixação da taxa das derramas, poderes de criação de taxas municipais, sua liquidação e
cobrança etc...

A aprovação da Lei n.º 1/2008, de 16 de Janeiro, (Lei das Finanças Autárquicas) marca a
passagem do sistema tributário autárquico, regulado pela Lei 11/97, para um novo sistema
que se baseia nos princípios introduzidos quer pela CRM de 2004 e pela LBST, ajustando
assim a tributação autárquica para aquilo que são as necessidades de receitas das
autarquias locais, e reduzindo o peso das transferências do governo para os municípios (não
significa que o governo central não continue a efectuar transferências aos municípios).

Dessa reforma resultaram para o Sistema Tributário Autárquico, nos termos do artigo 51, da
Lei n.º 1/2008, os seguintes impostos e taxas:

• Imposto Pessoal Autárquico;


• Imposto Predial Autárquico;
• Imposto Autárquico de Veículos;
• Imposto Autárquico de Sisa;
• Contribuição de Melhorias;
• Taxas por Licenças Concedidas e por Actividade Económica;
• Tarifas e Taxas pela Prestação de Serviços.
A Lei n.º 1/2008, vem ainda acautelar a questão da dupla tributação sobre os residentes das
autarquias, determinando a aprovação do Código Tributário Autárquico e das posturas
municipais, para a aplicação dos impostos e taxas referidos no artigo 51, desta lei, o que

66
Ver nesse sentido os artigos 11, 12, 13,14 25, do Decreto n.º 63/2008, de 30 de Dezembro, Iª Série, Br. n.º
35.
75
efectivamente veio a ocorrer, no mesmo ano com a aprovação do Código Tributário
Autárquico, pelo Decreto n.º 63/2008, de 30 de Dezembro.

A aprovação deste código veio a regulamentar o sistema tributário autárquico tornando-o


exequível, e revogar o Decreto n.º 52/2000, de 21 de Dezembro. (Mais uma vez a
regulamentação da lei das finanças autárquicas que cria ou altera o Sistema Tributário
Autárquico, surge algum tempo depois da lei deixando um vazio legal).

O mais curioso no processo de descentralização fiscal é que apesar de todo o quadro legal
criado e da existência efectiva das autarquias locais, muitos destes impostos, até hoje ainda
são cobrados a nível do Governo Central, sob a alegação de que as autarquias locais ainda
não dispõem de condições para a sua cobrança.

O artigo 7, da Lei n.º 2/97, refere que as autarquias dispõem de autonomia patrimonial e
financeira, devendo, portanto, dispor de receitas próprias, das quais os impostos
autárquicos são parte, nos termos da al. a), n.º 2, do artigo 21, desta Lei.

Portanto, a Lei n.º 15/2002, apenas remete os impostos autárquicos para a legislação
específica, neste caso a lei das finanças autárquicas, já existente na altura, pois, encontrava-
se em vigor a Lei n.º 11/97, aprovada no âmbito do pacote autárquico, dos anos 90.

A Lei n.º 11/97, em obediência ao princípio da constitucional da descentralização, já previa


no seu artigo 48, alguns impostos municipais, tais como: o imposto pessoal autárquico, o
imposto predial autárquico, imposto autárquico de comércio e indústria, o imposto sobre o
rendimento do trabalho – Secção B e ainda algumas taxas, tais como a taxa por actividade
económica.

O sistema tributário autárquico criado ao abrigo da Lei n.º 11/97, previa também a
possibilidade do lançamento de derramas para fazer face a algumas despesas, sempre com
carácter extraordinário, com o seu regime previsto no artigo 49, da referida lei.

Para além, destes impostos o sistema tributário autárquico previa nos artigos 69 e 70,
outras receitas tributárias, (taxas e tarifas) a saber: (i) Realização de infra-estruturas e
equipamentos simples, (ii) Concessão de licença de loteamento, de execução de obras
locais, de ocupação da via pública por motivo de obras e de utilização de edifício, (ii) Uso e
aproveitamento do solo da autarquia, (iv) Ocupação e aproveitamento do domínio público
sob a administração da autarquia e aproveitamento dos bens de utilização pública, (v)
Prestação de serviços ao público, (vi) Ocupação e utilização de locais reservados nos
mercados e feiras, (vii) Autorização da venda ambulante nas vias e recintos públicos, (viii)
Aferição e confeição de pesos, medidas e aparelhos de medicação, (ix) Estacionamento de
veículos em pequenos e outros locais a esse fim destinado, (x) Autorização para o emprego
de meios de publicidade destinados a propaganda comercial, (xi) Utilização de quaisquer
instalações destinadas ao conforto, comodidade ou recreio público, (xii) Realizar de
enterros, concessão de terrenos e uso de jazigos, ossários e de outras instalações em
cemitérios mantidos pela autarquia, (xiii) Licenciamento sanitário de instalações, (xiv)
Qualquer outra licença da competência das autarquias, cuja tramitação não esteja isenta
por lei, (xv) Registos determinados por lei.

76
Outro aspecto relevante na Lei n.º 11/97, foi o estabelecimento de um regime sancionatório
e a fixação das garantias dos sujeitos passivos, em caso de violação das normas do sistema
tributário vigente, sendo que as receitas provenientes das multas e coimas previstas,
integravam as receitas tributárias das autarquias, nos termos do art.71, da Lei n.º 11/97.

Finalmente importa reter, que no sistema tributário autárquico criado ao abrigo da Lei n.º
11/97, o regime das transferências governamentais, ou seja, a repartição dos impostos
nacionais entre o Governo Central e as autarquias locais era feito ao abrigo do disposto no
artigo 68, que estabelecia o seguinte:

“As autarquias locais beneficiam de uma percentagem dos impostos nacionais”, fixando as
percentagens em função da natureza de cada imposto”.

UNIDADE 5.2. FONTES DE FINANCIAMENTO DE PRIMEIRA ORDEM


É notável em Moçambique, a partir da análise da legislação sobre a descentralizaçao,
nomeadamente a Lei n.º 1/2008, de 16 de Janeiro, a ideia de que a determinação de
funções (expenditure assignement) precede a determinação do financiamento (tax
assignement), pois, o legislador optou em promover um processo de descentralização
gradual, determinando no artigo 16, desta lei que; sempre que se revele necessário a
transferencia de funções para as autarquias locais, o Orçamento do Estado deve prever a
verba necessária para o exercício das funções a transferir, a partir do ano em que tal
transferência deva operar-se, devendo o plano de distribuição da correpondente dotação
constar da Lei Orçamental.

A partir deste postulado, passamos a analisar a determinação do financiamento, das


despesas locais à luz do disposto no artigo 17, da LFAs, a qual prevê como fontes de
finaciamento de primeira ordem, as receitas próprias das autarquias locais.

Segundo este dispositivo legal, ao qual já nos referimos no cápitulo I, quando abordamos a
questão das fontes de financiamento, são receitas próprias das autarquias locais as
seguintes:

• Produto da cobrança de impostos e taxas autárquicas;


• O produto percentual de impostos do Estado, que por lei lhe sejam atribuídos;
• O produto de cobrança das contribuições especiais que por lei lhe sejam atribuídas;
• O produto da cobrança de taxas por licenças concedidas pelos órgãos autárquicos;
• O produto de cobrança de taxas ou tarifas resultantes da prestação de serviços;
• O produto de multas que, por lei, regulamento ou postura, caibam à autarquia local;
• O produto de legados, doações e outras liberalidades – excepto quando consignados
para objectivos definidos pelo doador;
• Quaisquer outras receitas estabelecidas por lei a favor das autarquias locais.
• O rendimento dos serviços pertencentes à autarquia local, por ela administrados,
dados em concessão ou exploração;
• O rendimento de bens e direitos próprios, móveis, por ela administrados, dados em
concessão ou exploração;
• O produto da alienação de bens e direitos próprios.
77
5.2.1. Produto da Cobrança de Impostos e Taxas Autárquicas
Porque já nos referimos exaustivamente em relação aos impostos autárquicos vamos aqui
previlegiar o tratamento das taxas municipais, que são constituidas essencialmente, pelas
taxas por licenças concedidas e por actividade económica e taxas pela prestação de serviços,
previstas nas alíneas f) e g), ambas do número 1, do artigo 51 da LFAs.

Não existe em Moçambique um regime geral das taxas, à semelhança daquele que existe
em portugal, por exemplo.

“Nos termos do Código Tributário Autárquico, a taxa por actividade económica reveste a
natureza de “licença de porta aberta”, sendo devida pelo exercício de qualquer actividade
de natureza comercial ou industrial, incluindo a prestação de serviços, no território da
respectiva autarquia, desde que exercida num estabelecimento”67.
A Taxa por Actividade Económica é devida pelos estabelecimentos comerciais, nos termos
do artigo 139, do CTA, sendo o valor desta fixado em função dos seguintes indicadores:
• Natureza da actividade exercida;
• Localização do estabelecimento;
• Área ocupada.
“A especial natureza deste tributo, que não reúne um dos elementos essenciais de
tipificação de uma “taxa”, designadamente ao não ter por correspondência uma
contraprestação directa por parte da administração autárquica, justifica a sua configuração
autónoma no actual Código Tributário Autárquico”68.
As taxas por licenças concedidas e por actividade económica, são devidas nas seguintes
situações:

• Realização de infra-estrutiras e equipamentos simples;

• Concessão de licenças de loteamento, de execução de obras particulares, de


ocupação da via pública por motivo de obras e utilização de edifícios;

• Uso e aproveitamento do solo da autarquia;

• Ocupação e aproveitamento do domínio público sob administração da autarquia e


aproveitamento dos bens de utilização pública;

• Prestação de serviços ao público;

• Ocupação e utilização de locais reservados nos mercados e feiras;

• Autorização da venda ambulante nas vias e recintos públicas;

• Aferição e conferição de pesos, medidas e aparelhos de medição;

• Estacionamento de veículos em parques ou outrs locais a esse fim destinados;

• Autorização para emprego de meios de publicidade destinados a propaganda social;

67
REVISTA da ACIS, “O Quadro Legal para Impostos em Moçambique”, numero 1, Edição de Dezembro de
2011, Maputo p. 35
68
Revista da ACIS, Op. Cit. p. 37
78
• Utilização de quaisquer instalações destinadas ao conforto ou recreio público;

• Realização de enterros, concessão de terrenos e uso de jazigos, ossários e outras


instalações em cemitérios mantidos pela autarquia;

• Licenciamento sanitário de instalações;

• Qualquer outra licença da competência das autarquias cuja tramitação não esteja
isenta por lei;

• Registos determinados por lei;

• Comércio por vendedores ambulantes nas ruas ou outros lugares públicos;

• Comércio em feiras e mercados sem lugar marcado;

• Quaisquer outras actividades de natureza artesenal ou de prestação de serviços,


quando exercidos sem estabelecimento ou em regime de indústria domestica;

• Taxa por actividade económica, incluindo o exercício de actividades turísticas.

Compete a assembleia autárquica, nos termos do número 3, do artigo 73, da LFAs, fixar
mediante proposta do Presidente do Conselho Municipal ou de Povoação, os valores das
taxas autárquicas a vigorar em cada ano, graduadas em função do critério acima enunciado,
não podendo exceder, relativamente a cada estabelecimento, um quantitativo máximo
equivalente a 20 vezes o valor mensal do salário mínimo nacional para os trabalhadores da
Indústria.
Nas situações em que as autarquias têm sob sua administração directa determinado serviço
público, estas podem cobrar taxas, fixadas igualmente pelas assembleias municipais, com
objectivo de recuperar os custos operacionais, nos termos do artigo 74, da LFAs, conjugado
com o artigo 140, do Decreto n.º 68/2003, de 30 de Dezembro, nomeadamente nos
seguintes serviços:

• Abastecimento de água e energia eléctrica;

• Recolha, depósito e tratameto do lixo, bem como a ligação, conservação e


tratamento de esgotos;

• Transportes urbanos colectivos de pessoas e mercadorias;

• Utilização de matadouros;

• Manutenção de jardins e mercados;

• Manutenção de vias.

79
5.2.2.O produto Percentual de Impostos do Estado, que por Lei lhe Sejam Atribuídos
Neste ponto temos as receitas provenientes do Fundo de Compensação Autarquica a que ja
nos referimos supra, constituido por 1,5% das receitas fiscais previstas nos respectivo ano
económico, nos termos do n.º 2, do artigo 43, da LFAs.

Fazem parte das receitas próprias das autarquias locais, porque a lei assim o define e pelo
facto de, diferentemente do que ocorre com outras receitas provenientes das transferências
governamentais, são de afectação livre pelas autarquias, com as excepções a que ja fizemos
referência.

5.2.3. O Produto de Cobrança das Contribuições Especiais que por Lei lhes Sejam
Atribuídas

Neste ponto merece especial atenção a Contribuição de Melhorias, definida no n.º1, do


artigo 69, da LFAs, como contribuição especial devida pela execução de obras públicas de
que resulte valorização imobiliária, tendo como limite total a despesa realizada e como
limite individual o acréscimo de valor que da obra resultar para cada imóvel beneficiado.

A contribuição de melhorias, é cobrada pelas autarquias aos proprietários de imóveis


situados na respectiva zona de influência de uma obra, e que beneficiem das vantagens de
realização de determinadas obras públicas, realizadas directa ou indirectamente pela
autarquia, nomeadamente: (i) abertura, alargamento, iluminação e arborização de praças e
vias públicas; (ii) construção e ampliação de parques e jardins; (iii) obras de embelezamento
em geral.
“Estão excluídas da possibilidade de lançamento da Contribuição de Melhorias a
pavimentação de vias e logradouros públicos executadas pela autarquia e que directamente
valorizem os imóveis em causa ou adjacentes, bem como a simples reparação e
recapeamento de pavimento, de alteração de traçado geométrico de vias e logradouros
públicos e a colocação de guias e sargetas”.

5.2.4. O IMPOSTO PESSOAL AUTÁRQUICO - IPA

“Este constitui um imposto anual de capitação (“poll tax”), é o equivalente a nível


autárquico do Imposto de Reconstrução Nacional, cobrado como imposto do Estado fora
das áreas das actuais autarquias”69.

Incide sobre todas as pessoas nacionais ou estrangeiras, residentes na respectiva autarquia,


quando tenham entre 18 a 60 anos de idade e sobre elas se verifiquem as circunstâncias de
ocupação, aptidão para o trabalho e demais condições estabelecidas no respectivo Código.

No referente às taxas do imposto, o Código Tributário Autárquico ainda em vigor remete às


Assembleias Municipais a competência para fixá-las, estabelecendo apenas um limite para

69
Ibidem, p.31
80
este efeito (não pode exceder o máximo de dois décimos do salário mínimo nacional mensal
para os trabalhadores da indústria).

As taxas deste imposto são fixadas. Segundo o artigo 54 da LFAs, em função do salário
mínimo nacional mais elevado em vigor em 30 de Junho do ano anterior, através da
aplicação das taxas de 4%, 3%, 2% e 1%, consoante a classificação das diferentes autarquias
(níveis A, B, C e D, respectivamente), parecendo também afastado o princípio da cobrança
em espécie.

5.2.5. O IMPOSTO PREDIAL AUTÁRQUICO - IPRA

Incidência:

Este imposto integra o sistema tributário autárquico desde a reforma de 97, com os seus
princípios a se manterem inalterados. Actualmente o mesmo é regulado pela LFAs,
conjugada com o Código Tributário Autárquico.

O IPRA é um imposto anual que incide sobre o valor patrimonial dos prédios urbanos,
situados no território da respectiva autarquia, incorporados ou assentes com carácter de
permanência. E a sua fonte de quantificação é o valor patrimonial e não o rendimento,
(art.35, da Lei nº 1/2008) “o que permite a tributação de todos os prédios, mesmo aqueles
que não se encontrem arrendados.”70

Entende - se por carácter permanente, quando os prédios se acharem assentes durante um


período superior a seis meses.

“O valor patrimonial funciona neste imposto como um critério de distribuição de encargos


tributários, na medida em que constitui um índice aproximado das obras e serviços exigidos
em qualquer aglomerado urbano”71

Este facto, justifica a tributação similar de pessoas singulares e pessoas colectivas, pois, o
legislador não tributa segundo a capacidade contributiva de cada sujeito. Aplicando-se no
IPRA um regime semelhante ao das taxas, visto que, “é quase impossível estabelecer uma
rigorosa equivalência económica entre a prestação pública e a medida da contribuição.” 72

O artigo 35, n.º 3, da lei n.º 1/2008, fixa o conceito de prédio urbano definindo como
qualquer edifício incorporado no solo com os terrenos que lhe sirvam de logradouro.

A incidência do IPRA levanta a questão do valor patrimonial do prédio urbano, partindo do


princípio que o valor que serve de base para a tributação é o valor constante na matriz
predial e supletivamente o valor declarado pelo proprietário do prédio. No entanto, em
casos de afastamento do valor declarado com o preço do mercado, podem as autoridades
municipais promover a determinação do valor do prédio, de acordo com os critérios

70
SANCHEZ, Saldanha. Op. Cit. p. 54
71
Idem, p.54
72
Idem, p. 55
81
definidos no n.º 5, do artigo 35, da Lei n.º 1/2008, ou no n.º 4, do Decreto n.º 63/2008. Na
verdade, trata-se do mesmo critério em instrumentos legais diferentes.

Nos casos em que se verifica um afastamento do preço normal de mercado, nos termos do
n.º1, do artigo 63, da Lei n.º 1/2008, a correcção do valor patrimonial é feita com base nos
critérios definidos no Decreto n.º 61/2010, de 27 de Novembro, que aprova os mecanismos
de determinação e correcção do valor patrimonial dos prédios urbanos situados no
território das autarquias, sujeitos ao IPRA.

Este decreto vem determinar que a fixação do valor patrimonial dos prédios urbanos deve
ser feita segundo as normas fixadas por este instrumento legal, ou seja, a declaração do
valor por parte do proprietário do prédio deve ser confrontada com o valor resultante da
avaliação oficial, feita segundo as regras no artigo 4, deste decreto.

A determinação do valor patrimonial é feita com base na seguinte fórmula:

Vp = ( Ae * P * Fa + 0,05* Al * P)* Fi

Fórmula 1. Fórmula para Determinação do Valor Patrimonial


Fonte: Decreto n.º 61/2010, de 27 de Novembro

Onde:

✓ Vp- corresponde ao valor patrimonial;


✓ Ae –Área edificada do prédio urbano;
✓ P – Preço médio de construção por metro quadrado;
✓ Fa – Factor de antiguidade do prédio urbano, definido na tabela I, do n.º 4, do
presente artigo;
✓ Fl – Factor de localização do prédio urbano, definido nos parâmetros da tabela II, do
nº 4, do presente artigo;
✓ Al – Área do terreno que serve de logradouro ao prédio urbano.

Apurado o valor patrimonial quer em sede de determinação quer em sede de reavaliação, o


imposto é liquidado com base na seguinte fórmula:

Vipra = Vp * taxa

Fórmula 2. Fórmula para Determinação do IPRA


Fonte: Decreto n.º 61/2010, de 27 de Novembro

Onde:

✓ Vipra – Corresponde ao valor do imposto predial autárquico;


✓ VP – valor patrimonial de prédio;
✓ Taxa – taxa do imposto predial autárquico.

82
A obrigação do pagamento do IPRA recai sobre os proprietários dos prédios, ou em casos de
copropriedade à qualquer dos possuidores, no caso da herança indivisa a obrigação recai
sobre os herdeiros e em caso de falência sobre os imóveis da propriedade do falido.

O legislador moçambicano divide os prédios urbanos em dois grupos, os habitacionais e os


comerciais, industriais ou para o exercício de actividades profissionais independentes, bem
como os destinados a outros fins.

Esta classificação tem efeitos na determinação da taxa do imposto, ou seja, relativamente


os prédios habitacionais a taxa é de 0.4%, nos termos da alínea a), do n.º 1 do artigo 58, do
Decreto n.º 63/2008. Tratando-se de prédios destinados a outros fins, a taxa é de 0.7, nos
termos da alínea b), do nº 1, do mesmo dispositivo legal.

Nota-se que aqui o legislador pretende tributar de forma mais gravosa os prédios
destinados a outros fins que não a habitação, fazendo valer o princípio da capacidade
contributiva dos sujeitos. Ficam isentos do IPRA, nos termos do artigo 57, do CTA, o Estado,
as associações humanitárias ou outras entidades sem fins lucrativos, Estados estrangeiros
relativamente a sede da missão e a residência do chefe da missão diplomática ou consular e
as autarquias.

5.2.6. IMPOSTO AUTÁRQUICO DA SISA - IAS

O IAS, substitui nas autarquias o SISA, que era o imposto nacional e tributava a transmissão
onerosa do direito de propriedade ou figuras parcelares desse direito, sobre prédios
urbanos situados em território moçambicano.

Este imposto a semelhança do SISA, incide sobre as transmissões, a título oneroso do direito
de propriedade ou de figuras parcelares desse direito, sobre bens imóveis situados no
território da autarquia sendo devido pelo adquirente.

O SISA, era regulado é regulado pelo Decreto n.º 46/2004, de 27 de Outubro, com as
alteração introduzidas pelo Decreto n.º 38/2005, de 29 de Agosto, este imposto mantém -
se em vigor em todos áreas do território nacional não cobertas pelas autarquias, nos termos
do n.º 1, artigo 94, do CTA.

O regime jurídico deste imposto, encontra-se estabelecido na LFAs, que introduz o imposto
no sistema tributário autárquico e o CTA, que o regulamenta.

O IAS apresenta algumas características semelhantes ao imposto de selo. Alguns autores


consideram este imposto como o mais importante imposto de registo, “pois é cobrado no
momento da escritura que titula o contrato de compra e venda de um imóvel.”73

O legislador tentou alargar o âmbito da incidência para abranger não apenas o contrato de
compra e venda, “mas todos os contratos que tenham efeitos equivalentes ao da compra e

73
SANCHEZ, op. cit. p. 437
83
venda, ou seja, qualquer contrato que confira posse segura e pacífica de um imóvel ou a
tradição da coisa.”74

Com esta previsão o legislador quis acautelar as possíveis transmissões onerosas que com o
objectivo de “fugir” da tributação, assumissem formas contratuais diferentes, mas com os
mesmos efeitos, ou seja, transmissão do direito e usufruto do prédio.

Assim, ficam abrangidas pelo IAS, nos termos do n.º 3, do artigo 59, da LFAs, a dação em
cumprimento, a renda perpétua, a renda vitalícia, a arrematação, a adjudicação por decisão
ou acordo judicial, a constituição de usufruto, uso e habitação, a enfiteuse, a servidão ou
qualquer outro acto pelo qual se transmita a título oneroso o direito de propriedade sobre
prédios urbanos.

O legislador vai mais longe ao alargar o conceito de transmissão a figuras parcelares tais
como; arrendamentos a longo prazo, realização do capital social de sociedades com a
transmissão de imóveis, cisão e fusão de sociedades, procurações irrevogáveis, cessação da
posição contratual e várias outras situações enumeradas no n.º 4, do artigo 59 da LFAs.

O valor tributável em sede de IAS, é o valor declarado da transmissão ou o valor patrimonial


do prédio se este for mais elevado. Contudo, se estes valores se afastarem do valor do
mercado, o sujeito activo tem a faculdade de proceder a correcção de forma a ajustar o
valor ao preço de mercado, nos termos do n.º 2, do artigo 63 do CTA.

Sobre o valor tributável é aplicada uma taxa de 2%, nos termos do artigo 64, do CTA.

No que diz respeito as isenções, o IAS não é aplicável às transacções efectuadas pelas
entidades referidas no artigo 62, da LFAs, nomeadamente o Estado, as autarquias loca,
museus, bibliotecas, associações humanitárias, Estados estrangeiros, pela aquisição de
imóveis destinados a uso exclusivo das missões diplomáticas ou consulares, dentre outras.

Nalguns ordenamentos jurídicos, como Portugal por exemplo, o imposto sobre transmissão
a título oneroso de imóveis - IMT, incide não apenas sobre prédios urbanos, mas também
sobre prédios rústicos, pois, a terra é propriedade privada, o que não se verifica no nosso
ordenamento jurídico, onde a terra é propriedade do Estado.

O IAS, tem efeito no preço final das transmissões onerosas de imóveis, possibilitando o
surgimento do fenómeno lock in effect, na medida em que este é suportado pelo
comprador, podendo levar a não celebração do contrato como forma de evitar o
pagamento do imposto.

5.2.7. IMPOSTO AUTÁRQUICO SOBRE VEÍCULOS – IAV

Este imposto introduzido pela LFAs, vem substituir nas autarquias o imposto sobre veículos
(imposto nacional), tal como refere o n.º 5, do artigo 64, da LFAs. Ficam sujeitos a este
imposto os proprietários de veículos, passíveis de impostos, quer sejam pessoas singulares
ou colectivas, de direito público ou privado, residentes na respectiva autarquia,

74
SANCHEZ. p. 439
84
presumindo-se como tal, até prova em contrário, as pessoas em nome dos quais os mesmos
se encontrem matriculados ou registados.

Trata-se de um imposto anual, pago de Janeiro a Março, ou dentro de 30 dias a contar da


data da fruição do veículo se for posterior a essa data, incide sobre o uso e fruição de
veículos automóveis, matriculados em Moçambique, ou que circulem em Moçambique por
mais de 180 dias após a sua entrada no país, independentemente do registo.

A determinação do imposto, varia de acordo com vários critérios estabelecidos no artigo 67,
da LFAs. Para automóveis ligeiros a determinação do valor varia em função do ano de
fabrico, combustível utilizado, a cilindrada do motor, a potência e a voltagem; para
automóveis pesados, a determinação varia em função da capacidade de carga ou lotação de
passageiros e a antiguidade; para os motociclos a determinação tem por base a cilindrada e
a antiguidade, para aeronaves, a base para cálculo é o peso máximo autorizado para
descolagem e quanto aos barcos, a base é a capacidade de propulsão.

Ficam isentos do IAV, os veículos pertencentes ao Estado, as autarquias locais, Estados


estrangeiros e pessoal das missões diplomáticas e organização internacionais com acordos
com Moçambique.

O Código Tributário Autárquico, estabelece entre os artigos 79 e 93, as penas a aplicar em


caso de violação das disposições sobre este imposto.

Um dado importante é que volvidos cerca de 6 anos desde a aprovação do sistema


tributário autárquico e o respectivo código, atribuindo competências as autarquias para
procederem a cobrança deste imposto, só a partir de 2012 é que as autarquias passam a
exercer esse poder, que até então continuava a ser exercido pelo governo central, numa
clara violação da lei.

5.2.8. CONTRIBUIÇÃO DE MELHORIA

A contribuição de melhoria, foi introduzida no sistema tributário moçambicano pela Lei n.º
1/2008, constituindo uma inovação do sistema tributário autárquico. Trata-se de uma
“contribuição especial devida pela execução de obras públicas de que resulte valorização
imobiliária, tendo como limite as despesas realizadas e como limite individual o acréscimo
de valor que da obra resultar para cada imóvel beneficiado”75

O lançamento desta contribuição depende da realização de obras públicas, realizadas pela


autarquia por administração directa ou indirecta, nomeadamente nos seguintes casos:

• Abertura, alargamento, iluminação e arborização de praças e vias públicas;


• Construção ou ampliação de parques e jardins;
• Obras de embelezamento em geral.

75
Revista da Acis. Quadro Legal Para Imposto em Moçambique. Maputo: 2008. p. 34
85
Ficam sujeitos a este tributo os proprietários ou possuidores a qualquer título do prédio
beneficiado pela obra. “As contribuições de melhoria constituem uma forma específica de
tributação, em que o Estado o legitima e encontra uma medida para a tributação de um
determinado benefício, ocasionado por uma despesa pública com vantagens directas para
determinado conjunto de particulares.”76

Em todo caso, por determinação da lei (n.º 3, do artigo 69, da LFAs), não estão sujeitos a
contribuição de melhoria as obras de pavimentação de vias e logradouros públicos
executados pela autarquia e que directamente valorizem os imóveis em causa ou
adjacentes, bem como a simples reparação de pavimento, de alteração de traçado
geométrico de vias e logradouros públicos e colocação de guias e sarjetas.

Julgamos que o legislador excluiu estas obras do âmbito da contribuição de melhoria, pelo
facto de constituírem obras da actividade normal do município, já de certa forma
comparticipadas pelos particulares por via de outros impostos tais como o IPA e o IPRA.

O artigo 72, da LFAs, fixa os requisitos para a criação da contribuição de melhoria, que pode
ser da iniciativa da autarquia, ou de pelo menos dois terços dos proprietários ou
possuidores a qualquer título dos prédios situados na zona sob influência da obra a realizar.
Mas, ainda que seja da iniciativa da autarquia deve ter sempre o acordo de pelo menos dois
terços dos proprietários ou possuidores a qualquer título do prédio, a ser beneficiados pela
obra.

A contribuição de cada beneficiário é calculada tendo em conta o valor das obras, dividido
pelo número dos beneficiários, podendo ser considerada a possibilidade do pagamento em
prestações, num máximo de doze, com início no momento do início da utilização da obra
pública para os fins a que se destina.

Não concordando com algum dos aspectos relacionados com o processo de lançamento da
contribuição constante no edital, publicado pela autarquia dando conta do lançamento da
contribuição, podem os interessados, impugnar o processo, com fundamento n.º 5, do
artigo 138, do Decreto n.º 63/2008, devendo num entanto apresentar as provas das suas
alegações.

Ficam isentos deste tributo, O Estado, a própria autarquia, as associações humanitárias dos
Estados estrangeiros, relativamente aos prédios adquiridos para fins as instalações
diplomáticas ou consulares.

Portanto, com este imposto fica completo o regime da tributação autárquico em


Moçambique.

76
SANCHEZ, JL. Saldanha. op cit. p. 107
86
UNIDADE 5.3. A TRIBUTAÇÃO AMBIENTAL EM MOÇAMBIQUE
Os impostos ambientais têm como último objectivo a defesa e prevenção do meio
ambiente. Embora a receita tributária exista e seja necessária, esta não constitui o objectivo
principal que está subjacente na tributação ambiental.
A CRM, estabelece na al. f), do artigo 45 que o “todo o cidadão tem o dever de defender e
conservar o ambiente”. No artigo 90, refere no número 1, que “todo o cidadão tem o direito
de viver num ambiente equilibrado e o dever de o defender”. E no número 2, refere que “o
Estado e as autarquias locais, com a colaboração das associações de defesa do ambiente,
adoptam políticas de defesa do ambiente e velam pela utilização racional de todos os
recursos naturais”.
No artigo 117, refere que “o Estado promove iniciativas para garantir o equilíbrio ecológico
e a conservação e preservação do ambiente visando a melhoria da qualidade de vida dos
cidadãos”.
No número 2, refere que com o fim de garantir o direito ao ambiente no quadro de um
desenvolvimento sustentável, o Estado adopta políticas visando:
a) Prevenir e controlar a poluição e a erosão;
b) Integrar os objectivos ambientais nas políticas sectoriais;
c) Promover a integração dos valores do ambiente nas políticas e programas educacionais;
d) Garantir o aproveitamento racional dos recursos naturais com salvaguarda da sua
capacidade de renovação, da estabilidade ecológica e dos direitos das gerações vindouras;
e) Promover o ordenamento do território com vista a uma correcta localização das
actividades e a um desenvolvimento sócio- económico equilibrado.
A protecção do ambiente foi complementada pela Lei do ambiente, aprovada pela Lei n.º
20/97, de 01 de Outubro. Sendo que, nos termos da referida lei, “o ambiente é o meio em
que o Homem e outros seres vivos vivem e interagem entre si e com o próprio meio
ambiente e inclui: (i) o ar a luz a terra e a água; (ii) os ecossistemas e a biodiversidade; (iii)
Toda a matéria orgânica e inorgânica; (iv) todas as condições socioculturais e económicas
que afectam a vida das comunidades”.
Partindo das noções de tributo e imposto acima apresentadas, podemos construir uma
noção de tributação ambiental, definindo-a como uma prestação patrimonial, unilateral,
coactiva, definida a favor do Estado, cujo objecto é a proteção do meio ambiente
Segundo Casalta Nabais (1998. P.266) “… podemos apontar os modernos tributos
ambientais que, por via de regra, têm, quando não exclusivamente ao menos
primordialmente, por finalidade evitar comportamentos anti ecológicos e fomentar os
comportamentos ecológicos”. (Nabais,1998: 266).
Regina Elena Costa77, refere-se à tributação ambiental, dizendo que esta pode ser
conceituada como o emprego de instrumentos tributários para gerar os recursos
necessários a prestação de serviços públicos de natureza ambiental (aspecto fiscal ou
arrecadatório), bem como para orientar o comportamento dos agentes económicos e dos
contribuintes a protecção do meio ambiente.
Uma das formas de os contribuintes participarem directa e indirectamente no objectivo que
fundamenta os impostos ambientais, é pela via da tributação. Ocorre directamente quando
a receita conseguida é aplicada para fins ambientais e indirectamente quando pela via fiscal

77
COSTA, Regina Elena, Apontamento sobre a Tributação Ambiental no Brasil, Pag 332.
87
se incentivam ou condicionam determinados comportamentos ambientais. Podem incidir
sobre o rendimento, o gasto, o meio ou o património.
A tributação ambiental ocorre quando o ambiente é intervencionado em resultado de uma
acção directa ou indirecta.
A tributação pode ainda ocorrer com o sentido de minimizar determinados
comportamentos. Exemplo: a tributação da actividade mineira e petrolífera.
Este caso da tributação com o sentido de proteger o ambiente minimizando
comportamentos, é conhecida por “eco - impostos”.
A tributação ganha forma de contribuição imposta, por exemplo, nos impostos sobre a
eliminação de resíduos. Nestes casos, acontece quando pela realização de um dano ou por
uma acção, se “apresenta uma ligação estreita com o dano ambiental [e] com a
internalização de externalidades” (Soares, 2002: 22).
A base tributável para a incidência do imposto, é a dimensão do dano que se pretende
reparar, o gasto que se pretende cobrir por acção de determinado comportamento ou o
gasto a ter em função da prevenção que é necessária para minimizar determinados
resultados. “A base tributável serve, assim, para medir o esforço ecológico que deve realizar
o agente económico para refrear a degradação ambiental.” (Soares, 2002: 23). Nessa
mensuração não é tida em conta a capacidade contributiva dos sujeitos intervenientes.
O objecto da tributação aquando das emissões de poluentes, corporiza e ganha forma na
função punitiva, ou na reparação ambiental. Contudo deve ser alargada à função
incentivadora. Mesmo assim não deixa de haver lugar a arrecadação de receita.
Relativamente ao direito ambiental, o Prof. Carlos Serra Jr. E Fernando Cunha78, apresentam
alguns princípios que se aplicam a tributação ambiental, designadamente:
• O Princípio da precaução: este pretende evitar a existência de certos riscos que
mesmo não existindo uma certeza científica da sua ocorrência ou da sua aptidão
para causar danos ao meio ambiente, não eram tomados em conta, mas os seus
efeitos eram devastadores para o ambiente.
• Princípio da prevenção: procura antecipar-se ao processo de degradação ambiental,
mediante adopção de políticas de gerenciamento e de protecção dos recursos
naturais. Este princípio actua quando já existem elementos seguros que comprovam
que a actividade em causa é efectivamente perigosa, procurando-se evitar o risco de
uma actividade danosa e os danos que poderão causar ao meio ambiente.
• Princípio da igualdade: neste princípio se do enfoque a igualdade no acesso ao
exercício do direito do ambiente e na tomada de decisões nos processos de
investimento e no acesso a justiça ambiental, defendendo-se a acessibilidade do
ambiente equilibrado para todos os cidadãos.,
• Princípio da responsabilização: trata-se de uma responsabilidade objectiva ou pelo
risco, imputando-se os agentes causadores de danos ao ambiente podendo ser uma
responsabilidade penal, administrativa ou civil conforme o caso. A esse respeito,
impõe o n.°1, do artigo 26, da Lei n.º 20/97, de 1 de Outubro, que constituem-se na
obrigação de pagar uma indemnização aos lesados, todos aqueles que,
independentemente de culpa e da observância dos preceitos legais, causem danos
significativos ao ambiente ou provoquem a paralisação temporária ou definitiva de

78
JR. SERRA, Carlos e CUNHA, Fernando, In Manual de Direito do Ambiente, Centro de Formação Jurídica e
Judiciária, Pag. 65 e SS.
88
actividades económicas, como resultado da prática de actividades especialmente
perigosas.
• Princípio da correcção na fonte: está relacionado a investigação científica sobre as
causas dos diversos danos ao meio ambiente, de modo a prevenir a ocorrência de
catástrofes ou efeitos devastadores.
• Princípio do poluidor-pagador.
Este princípio pode ser considerado como aquele que com maior eficácia ecológica, com
maior economia e equidade social consegue realizar o objectivo de protecção do ambiente.
Para Regina Elena Costa79, trata-se de um princípio de direito internacional ambiental de
conteúdo económico que pode ser efectivado, também, mediante a utilização de tributos.
Trata-se de um desdobramento do princípio geral da responsabilidade civil80, segundo o
qual, aquele que causar danos a terceiro deve responder por sua reparação.
Ainda segundo os autores Carlos Serra e Fernando Cunha81, em Moçambique, o princípio do
Poluidor-Pagador, foi objectivamente contemplado na Política Nacional do Ambiente, onde
se defende que o poluidor deverá em princípio suportar o custo da poluição, devendo este
repor a qualidade do ambiente danificado ou pagar os custos para a prevenção e eliminação
da poluição por si causada.
Do ponto de vista legal, é a alínea g), do artigo 4, da Lei do Ambiente acolhe este princípio,
ao dispor que “da responsabilização, com base na qual quem polui ou de qualquer outra
forma degrada o ambiente, tem sempre a obrigação de reparar ou compensar os danos dai
decorrentes”.
O princípio do poluidor- pagador decorre da consideração de que os sujeitos económicos,
que são beneficiários de uma determinada actividade poluente, devem igualmente ser
responsáveis, pela via fiscal, no que respeita a compensação dos prejuízos que resultam
para toda a comunidade do exercício dessa actividade.
Neste princípio evita-se a tributação tendo como enfoque o índice de riqueza ou capacidade
contributiva pois podia-se contrariar o princípio de igualdade onde se tributaria da mesma
maneira, sujeitos que degradam o meio ambiente com uma intensidade diferente.

5.3.1. SUJEITOS DOS IMPOSTOS AMBIENTAIS


O sujeito activo na tributação ambiental é o Estado. Esta perspectiva deve ser considerada
enquanto entidade orientadora e legislativa. Contudo também os municípios são
considerados sujeitos activos na tributação ambiental. Têm uma importância fundamental
na eficácia e acompanhamento das políticas ambientais.
Quando necessário, para procederem ao acompanhamento e reforço da intervenção do
Estado nas competências que lhe são próprias nessa área.
Porque a qualidade de vida e a questão ambiental está espelhada na CRM, a competência
legislativa e de tributação deve ser tomada a nível central.

79
COSTA, Regina Elena, In Apontamento sobre a Tributação Ambiental no Brasil, pag. 333
80
Art. 483 e SS Código Civil
81
JR. SERRA, Carlos e CUNHA, Fernando, In Manual de Direito do Ambiente, Centro de Formação Jurídica e
Judiciária, Pag. 80
89
O sujeito passivo é entendido como aquele que suporta o imposto, agente poluente na
óptica do princípio poluidor –pagador, ou o agente sobre o qual recai o imposto numa
óptica preventiva, restauradora ou promocional. Em suma, será aquele que perturbou o
equilíbrio ecológico (Soares, 2002: 36).
O imposto ambiental suportado nos vários normativos, pode ainda ser admitido como
“também uma função sancionatória, conquanto que seja secundária ou acessória face à
função fiscal” (Casalta Nabais 1998, apud Soares, 2003:304).
Na Ordem Jurídica Moçambicana, a Constituição da República determina que ``todo o
cidadão tem o direito de viver num ambiente equilibrado e o dever de o defender´´, nos
termos do n.º 1 do artigo 90 da CRM.

5.3.2. MODELOS DE TRIBUTAÇÃO AMBIENTAL


Conforme Paulo Alves Paiva82, os principais modelos utilizados pelo legislador para conferir
objectividade ambiental aos tributos existentes são: Graduação das Taxas; Base de Cálculo e
a Concessão de Incentivos Fiscais.

5.3.3. Graduação das Taxas


Esta consiste na adopção de taxas diferenciadas conforme o impacto ambiental que a
produção ou o uso de determinados produtos possam causar. No caso de Moçambique,
esta rege-se através do Regulamento sobre o Processo de Avaliação do Impacto
Ambiental83.
De acordo com o artigo 4, do citado regulamento, a avaliação do impacto ambiental é feita
com base em categorias de actividades, designadamente:
Categoria A: as que devem se sujeitar ao estudo do impacto ambiental;
• Categoria B: as que estão sujeitas ao estudo do impacto ambiental simplificado;
• Categoria C: são as que estão sujeitas à observância de normas constantes de
directivas específicas de boa gestão ambiental.
As taxas devidas pelo licenciamento ambiental encontram-se previstas no artigo 27 do
Regulamento as seguintes.

UNIDADE 5.4. TRIBUTAÇÃO DA ACTIVIDADE MINEIRA


A tributação da actividade mineira é feita como base na Lei nº 28/2014 de 23 de Setembro,
alterada pela Lei n.º 15/2017 de 28 de Dezembro84. Nos termos do n.º 2, do artigo 4, da Lei

82
PAIVA, Paulo A. da Silva In Tributação Ambiental como Instrumento de Promoção do Meio Ambiente, pag.
81
83
Aprovado pelo Decreto n.º 54/2015, de 31 de Dezembro
84
Lei que aprova o Regime Específico de Tributação e Regime Específico de Tributação e de Benefícios Fiscais
da Actividade Mineira
90
supracitada os sujeitos passivos deste imposto, que podem ser pessoas singulares ou
colectivas ficam sujeitas aos seguintes impostos:
• Imposto Sobre a Produção Mineira – IPM;
• Imposto sobre a Superfície – ISS;
• Imposto Sobre a Renda do Recurso – IRRM;
• Regras específicas dos Impostos Sobre o Rendimento.
No que diz respeito as taxas, os tributos da indústria mineira segue o mesmo critério e
apresenta uma taxa diferenciada mediante a exploração de cada produto extraído,
subentendendo-se assim que quanto maior for a intensidade da exploração de um certo
produto, maior é o risco e a degradação do ambiente assim, fazendo com que o legislador
aplique uma percentagem tributária mais elevada, como ilustram as taxas dos n.º 1, dos
artigos 12 e 20 da Lei n.º 15/2017 de 28 de Dezembro85:

5.4.1. Imposto Sobre a Produção Mineira


• Diamante- 8%
• Metais precisos, Pedras preciosas e semipreciosas e areias pesadas- 6%
• Metais básicos, carvão, rochas ornamentais e restantes produtos minerais- 3%
• Areia e Pedra- 1,5%

1.4.2. Imposto Sobre a Superfície


A base tributável do ISS corresponde ao número de hectares da área sujeita á licença de
prospecção e pesquisa, concessão mineira ou certificado mineiro. No caso da água mineral,
a base tributável do ISS determina-se em função de cada título mineiro.

Taxas

As taxas de imposto sobre a superfície (ISS), nos termos do artigo 20, são as constantes na
tabela seguinte:

a) Licença de prospecção e pesquisa para todos os minerais

• No 1º. e 2.º ano 17,50MT/ha


• No 3ºano. ano 43,75MT/ha
• No 4º. e 5º anos 91.00MT/ha
• No 6.º ano 105.00MT/ha
• No 7.º e 8.º ano 210,00MT/há
b) Concessão Mineira:
• para água mineral 85,000,00MT/Titulo
• Para os outros minerais do 1.º ao 5.º ano 30,00MT/há, do 6.º ano em diante
60,00MT/há
c) Certificado Mineiro

85
Lei que aprova o Regime Específico de Tributação e Regime Especifico de Tributação e de Benefícios Fiscais
da Actividade Mineira
91
• do 1.º ao 5.º Ano 30,00Mt/há, do 6º. ano em diante 50,00MT/ha

Base de Cálculo
Segundo o autor, no que tange a base de cálculo, pode-se autorizar a dedução de
valores investidos em prol do meio ambiente, seja na produção, seja na aquisição de
bens, ou, ainda, na recuperação e prevenção ambiental.

5.4.3. Concessão de Incentivos Fiscais


A concessão de benefícios fiscais pode também constituir uma ferramenta para a indução e
orientação de condutas ambientalmente desejáveis, o que se faz por instrumentos de
estímulos, como amnistias, isenções e remissões fiscais86.
No ordenamento jurídico moçambicano existem vários benefícios fiscais na área do
ambiente, sendo de destacar a área da actividade mineradora uma vez que esta tem um
maior impacto na componente socioeconómica, contribuído de maneira significativa no
Produto Interno Bruto e na qualidade de vida das comunidades, conforme a previsão do
artigo 8, da Lei nº 15/2017 de 28 de Dezembro, que aprova o Regime Específico de
Tributação da Actividade Mineira.
Nos termos desta disposição legal, estão isentos:
a) Os produtos mineiros extraídos para a construção, em áreas não sujeitas a título mineiro
ou autorização mineira, desde que a extracção seja realizada por:
i. Pessoas singulares, na terra onde é usual realizar-se essa extracção, quando os materiais
extraídos são para ser usados nessa terra, na construção de habitações e outras instalações
próprias;
ii. Pessoas singulares utentes de terra, quando esses materiais são para a produção
artesanal de cerâmica, incluindo a construção de habitações, armazéns e instalações na sua
própria terra;
iii. Pessoas singulares ou colectivas, que destinem esses materiais a projectos de construção,
reabilitação ou manutenção de estradas, linhas férreas, barragens e outros trabalhos de
engenharia ou infra-estruturas de interesse público, em terra sujeita a título de uso e
aproveitamento da terra, quando os mesmos projectos sejam realizados pelas mesmas
pessoas, mediante aprovação da autoridade competente.
b) Os produtos mineiros extraídos para investigação geológica, realizada pelo Estado através
de entidades estatais especializadas, por instituições educacionais ou de investigação
científica, nos termos da lei de minas;
c) O autoconsumo do minério, desde que autorizado no quadro de um plano de
desenvolvimento aprovado ao abrigo da Lei de Minas.

86
PAIVA, Paulo A. da Silva In Tributação Ambiental como Instrumento de Promoção do Meio Ambiente, pag.
81
92
Neste mesmo modelo ocorre o incentivo ao desenvolvimento das comunidades conforme o
nº 2 do artigo 12 da Lei nº 28/2014 de 23 de Setembro em que se preconiza que ”Todos os
produtos minerais usados em território moçambicano para o desenvolvimento da indústria
local, beneficiam de redução em 50% da taxa de Imposto sobre a Produção Mineira”.

UNIDADE 5.5. A TRIBUTAÇÃO DAS OPERAÇÕES PETROLÍFERAS


A tributação das operações petrolíferas em Moçambique é feita com base na Lei n.º
27/2014, de 23 de Setembro, que aprova o Regime Especifico de Tributação e Benefícios
Fiscais das Operações Petrolíferas - RETBFOP, alterada pela Lei n.º 14/2017, de 28 de
Dezembro, a qual estabelece no artigo 4, que os sujeitos passivos dos impostos sobre as
operações petrolíferas ficam sujeitas aos seguintes impostos:
• Imposto sobre a Produção Petrolífera – IPP;
• Regras específicas dos Impostos Sobre o Rendimento;
• Mecanismos de partilha de produção.
O IPP incide sobre o petróleo produzido na área da concessão e ficam sujeitas a este
imposto as pessoas colectivas que realizem operações petrolíferas no território nacional, no
âmbito de um contrato de concessão.
A base de tributação é o petróleo produzido no âmbito da operação petrolífera, entenda-se
por petróleo, também o gás natural.
As taxas do IPP, previstas no artigo 10 da Lei n.º 14/2017, de 28 de Dezembro, variam em
função do produto produzido, designadamente o petróleo ou o Gás natural, nos seguintes
termos:
• Petróleo Bruto – 10%;
• Gás natural – 6%;
Estas taxas são reduzidas para 50%, caso o petróleo produzido se destine a uso na indústria
nacional, nos termos do número 2, do artigo acima citado.
Este imposto deve ser pago em dinheiro, contudo, pode ser pago em espécie, nos termos e
cumpridas as condições definidas nos artigos 13 e 14, da Lei n.º 14/2017, de 28 de
Dezembro.

As regras especificas dos Impostos Sobre o Rendimento, IRPS e IRPC, constam dos artigos 15
a 30, da Lei n.°14/2017, de 28 de Dezembro.
O mecanismo de partilha de produção encontra-se previsto nos artigos 31 e 32, do
RETBFOP.
Os benefícios fiscais aplicáveis as operações petrolíferas constam dos artigos 33 a 38, do
RETBFOP.

UNIDADE 5.6. Exercício.

1. Diga quais os princípios da tributação ambiental?


2. Diga qual a diferença entre o princípio da prevenção e o princípio da precaução?
3. Será o IPRA um imposto ambiental?
4. Quais os modelos de tributação ambiental que conhece?
5. Classifica o Imposto Autárquico de SISA?
93
TEMA VI OS REGIMES ADUANEIROS EM MOÇAMBIQUE

UNIDADE 6.1. INTRODUÇÃO


A tributação indirecta compreende a tributação da despesa, que nos termos do artigo 66.°
da LBST, contempla; o (i) Imposto Sobre o Valor Acrescentado IVA, (ii) O Imposto Sobre o
Consumo Especifico ICE e (iii) os Direitos Aduaneiros.

Direitos aduaneiros e demais imposições correspondem aos direitos aduaneiros, impostos,


taxas e outros tributos que incidem sobre o valor das mercadorias a importar ou a exportar,
cuja cobrança esteja a cargo das Alfândegas;
Os regimes aduaneiros por sua vez traduzem o conjunto de procedimentos aduaneiros
específicos aplicáveis às mercadorias, meios de transporte e outros bens, pela autoridade
aduaneira.
Os direitos aduaneiros, encontram-se previstos no artigo 69.° da LBST e incidem sobre as
mercadorias importadas e exportadas no território aduaneiro e estão consignadas na pauta
aduaneira, ficando o Conselho de Ministros com a competência de fixar na mesma as
respectivas taxas, bem como as instruções preliminares da pauta aduaneira e os benefícios
pautais.

No entanto, a CRM de 2004, veio a derrogar parte desta disposição legal, ao determinar no
artigo 127º, que os elementos essenciais dos impostos, designadamente a taxa, devem ser
fixados por lei. Entenda-se aqui (lei - acto normativo da Assembleia da República).

UNIDADE 6.2. PAUTA ADUANEIRA E AS INSTRUÇÕES PRELIMINARES


A Pauta Aduaneira em vigor foi aprovada pela Lei nº 18/2017 de 28 de Dezembro. Este
instrumento veio introduzir algumas alterações, designadamente:
• Introdução de novos códigos pautais na posição pautal 22.03, em consequência da
tributação de uma nova cerveja produzida à base de milho;

• Eliminação da isenção da tributação na importação do carapau congelado (fora da


SADC);

• Agravamento da sobretaxa incidente sobre a importação dos Cimentos Portland,


constante da posição pautal 2523.29.00, de 10,5% para 20%;

• Redução das taxas de direitos aduaneiros, de 20% para 7.5%, de alguns bens
utilizados pela indústria Gráfica constantes das posições pautais 39.19, 48.09, 48.16,
96.12;

• Introdução de sobretaxa para a importação dos seguintes produtos:

• Roupa Usada, com sobretaxa de 25MZN/kg.;

• Fios de alumínio e condutores eléctricos, com sobretaxa de 10%.


94
O desembaraço aduaneiro é regulado pelo Decreto n.º 34/2009, de 06 de Julho, que aprova
as Regras Gerais do Desembaraço Aduaneiro de Mercadorias - RGDA, revogando o Decreto
n.º 30/2002, de 2 de Dezembro, anterior instrumento legal regulador do desembaraço
aduaneiro.

Nos termos do n.º 1, do artigo 4, da RGDA, a entrada ou saída de mercadorias, pessoas e


veículos no ou do território aduaneiro está sujeita ao controlo das Alfândegas e deve
realizar-se através dos portos, aeroportos e estâncias aduaneiras devidamente habilitadas
para o efeito e em conformidade com as normas deste decreto, normas complementares e
de regulamentação da matéria.
Pelo desembaraço aduaneiro é devida a Taxa de Serviços Aduaneiros (TSA), prevista na Lei
n.º 6/2009, de 10 de Março, fixada no valor de 2.500,00MT (dois mil e quinhentos meticais),
por cada operação de importação com isenção de direitos aduaneiros e é cobrado em todos
DU’s e DUA’s, sendo consignada à Autoridade Tributária de Moçambique.

UNIDADE 6.3. IMPOSIÇÕES DEVIDAS NA IMPORTAÇÃO E EXPORTAÇÃO

Nos termos do artigo 9, das RGDA a dívida aduaneira decorre das imposições devidas na
importação e exportação de mercadorias e torna-se colectável através da contagem e
liquidação efectuada pela autoridade aduaneira.
As imposições que incidem sobre a importação e exportação de bens são as seguintes:
a) Direitos Aduaneiros;
b) Direitos Anti-Dumping;
c) Imposto sobre Consumos Específicos (ICE);
d) Sobretaxas;
e) Imposto sobre o Valor Acrescentado (IVA);
f) Taxa de Serviços Aduaneiros (TSA);
g) Taxa de Radiodifusão;
h) Taxa de Sobrevalorização;
i) Outras aprovadas por lei.
Nos despachos de importação e exportação deve entender-se por:
a) Taxa Zero: a aplicável à mercadoria, constante da Pauta Aduaneira, como 0%;
b) Mercadorias isentas: as que beneficiam do não pagamento de direitos aduaneiros e
demais imposições, nos termos da lei;
c) Mercadoria livre de tributação: aquela sobre a qual não incide uma determinada
imposição por estar fora do seu campo de incidência;
d) Mercadorias com redução de direitos: as que beneficiem de redução do valor das
imposições devidas, na forma legalmente estabelecida.
As imposições referidas neste artigo, quando devidas, são contadas nos termos descritos
nas Instruções Preliminares da Pauta.

6.3.1. Importação
Importação – é a entrada de mercadorias no território aduaneiro. Importa no regime da
importação referir os seguintes institutos:
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• Mercadorias Proibidas;
• Franquias;
• Moeda externa de obras de artesanato;
• Isenções;
• Mercadorias com Regime Especial.

6.3.1.1. Mercadorias Proibidas


1. Mercadorias com marcas de fabrico, de comércio ou de proveniência falsas como, por exemplo:
livros, obras artísticas, cassetes, suportes magnéticos (CD), e outras mercadorias quando sejam de
edições contrafeitas;
2. Objectos, fotografias, discos, gravações de som e/ou imagem e fitas cinematográficas de material
pornográfico ou outros materiais que forem julgados ofensivos da moral e dignidade pública;
3. Imitações de formas de franquia postal usadas no País;
4. Medicamentos e produtos alimentares nocivos à saúde pública;
5. Produtos alimentares nocivos à saúde pública, que não possam ser reprocessados para outros fins;
6. Bebidas alcoólicas destiladas que contenham essência ou produtos químicos reconhecidos como
nocivos, tais como: absinto, aldeído benzóico, badia, éteres silícios, hissopo e tuliana;
7. Estupefacientes e substâncias psicotrópicas, excepto quando importadas para usos hospitalares;
8. Outras mercadorias cuja proibição de importação seja estabelecida por legislação especial.

6.3.1.2. Franquias
Declaração do Viajante

Os passageiros que não tenham:

• Mercadorias em excesso na sua bagagem pessoal ou, além das franquias


concedidas;
• Artigos de carácter comercial; e
• Mercadorias restritas ou proibidas, devem afirmar que nada têm a declarar.
Outros passageiros e todos tripulantes devem fazer uma declaração completa às
alfândegas dos bens importados.
Se tiver dúvida opte por fazer uma declaração completa.
A sua declaração poderá ser confrontada e você e a sua bagagem poderão ser
seleccionados para a verificação, independentemente da declaração que fizer.
Existem penas severas nos termos da lei aduaneira para falsas declarações.

Franquias concedidas
São, mensalmente, concedidas franquias fiscais individuais aos bens importados pelos
viajantes destinados ao uso pessoal ou familiar do viajante.

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Produtos de tabaco *200 Cigarros ou 100 cigarrilhas ou 50 charutos ou 250 gramas de tabaco
para fumar
Bebidas alcoólicas *1 Litro de bebidas espirituosas e 2,25 litros de vinho
Perfumes 50ml de perfume ou 250ml de água de toucador
Especialidades Quantidades consideradas razoáveis para o consumo próprio
farmacêuticas
Outros artigos Até ao valor de 5000 meticais
* Os viajantes menores de 18 anos não beneficiam da franquia relativamente as
mercadorias assinaladas.

6.3.1.3. Moeda Externa e Obras de Artesanato


Podem os passageiros trazer consigo moeda externa desde que não exceda os US$5000
(cinco mil dólares) ou equivalente em “cash”, caso exceda deve ser declarado nas
alfândegas.
É autorizada a saída ou entrada no território aduaneiro sem qualquer formalidade,
artesanato transportado por viajantes em quantidades consideradas razoáveis como
recordações e que não denotem fins comerciais.

6.3.1.4. Isenções
Condição para beneficiar de isenção na importação de um veículo.
Ser cidadão moçambicano maior de 18 anos e ter permanecido no estrangeiro por tempo
superior a um ano.
Para requerer Isenção, o veículo deve ser propriedade do cidadão a mais de 180 dias no país
de procedência: concede-se a redução de 80% dos direitos e demais imposições se tiver
menos de 180 dias.
Excepcionalmente tem o tratamento de separado da bagagem pela aquisição no mercado
interno ou importação de um veículo em estado novo ou usado, sendo concedido a redução
de 50% das imposições devidas.
Se o cidadão moçambicano regressar ao país com mais de um veículo, apenas um beneficia
de isenção de direitos e demais imposições.
O moçambicano que tenha residido mais do que um ano no estrangeiro, ao regressar
definitivamente ao país beneficia de isenção para todos os bens de uso pessoal incluindo
móveis, roupas e objectos de uso doméstico, desde que tenha sinais de uso.
Os benefícios fiscais devem ser requeridos no prazo de 60 dias após a chegada, ou 30 dias
após a concessão da autorização de residência para estrangeiros, podendo ser prorrogada
até 30 dias.

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6.3.1.5. Mercadoria Autorizada mediante Licença requerida às Entidades Competentes

Mercadoria Entidade
Armas, explosivos e artifícios pirotécnicos Ministério do Interior
Ouro, prata e platina em moeda, em barra ou em lingote Banco de Moçambique
Animais, despojos e produtos Ministério da Agricultura
Plantas, raízes e tubérculos Ministério da Agricultura
Medicamentos Ministério da Saúde

Entrada e Saída de moeda estrangeira


É livre a declaração até ao montante equivalente a 5.000 USD (cinco mil dólares) em
dinheiro ou em cheque de viagem. Acima deste valor deverá ser prestada uma declaração
às Alfândegas de Moçambique.

6.3.1.6. Mercadoria Com Regime Especial


1. Animais, despojos e produtos animais que não podem ser importados sem autorização dos Serviços
de Veterinária;
2. Plantas, raízes, tubérculos, bolbos, estacas, ramos, gemas, olhos, botões, frutas e sementes, mel e
outros produtos agrícolas, bem como as respectivas embalagens, as quais ficam sujeitas a inspecção
fitossanitária antes do seu desalfandegamento;
3. Cartas de jogar, que devem ser seladas nos termos da legislação em vigor;
4. Medicamentos, mediante autorização dos Serviços de Saúde ou de Veterinária consoante os casos,
excepto os transportados como bagagem para uso próprio;
5. Armas, explosivos e artifícios pirotécnicos, pólvoras físicas ou químicas mediante autorização do
Ministério do Interior;
6. Mercadorias cuja importação esteja condicionada por esta ou outra legislação;
7. Mercadorias cuja isenção ou tributação especial seja condicionada ao seu uso e que possam ter
outras aplicações, nos termos da legislação em vigor;
8. Mercadorias importadas de países com os quais haja acordos ou tratados de comércio que prevejam
tributação especial;
9. Selos e valores selados, fiscais ou postais em uso no País, que só podem ser importados pelo Estado;
Substâncias venenosas ou tóxicas e drogas estupefacientes, ou seus preparados, que só podem ser
10. importados mediante autorização dos Serviços de Saúde ou veterinários;
Roupas usadas, acompanhadas de certificado de fumigação;
11.

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Ouro, Prata e Platina, em moeda, em barra ou em lingote, que só podem ser importados pelo Banco
12. de Moçambique, nos termos da legislação em vigor;
Notas e moedas estrangeiras quando importadas por instituições bancárias devidamente
13. autorizadas;
Notas e moedas nacionais com curso legal no País que só podem ser importadas pelo Banco de
14. Moçambique;
Mercadorias que venham receber no País qualquer beneficiação, aperfeiçoamento ou conserto,
15. destinando-se à reexportação;
Pneumáticos usados, carcaças para recauchutagem e outros pneumáticos recauchutados ou usados
16. das posições pautais 40 12 10, 40 12 11 00, 40 12 12 00, 40 12 20, 40 12 13 00, 40 12 19 00, 40 12 20
10, 40 12 20 90, 40 12 90 10 e 40 12 90 90, sujeitos à autorização pelo Ministério dos Transportes e
Comunicações.

6.3.2. Exportação
É a saída da mercadoria do território aduaneiro.

Para fazer a exportação deve apresentar à alfândega a declaração aduaneira, a licença


quando for aplicável, a factura comercial que, contenha elementos mínimos como o local de
venda, Local de venda; Nome do comprador; Quantidade e peso da mercadoria; Moeda
estrangeira negociada; Condições de venda, Local e data da emissão; Modalidade de
pagamento; Total do peso líquido; Total do peso bruto; deve ter ainda o Conhecimento de
Embarque, aonde conta o Porto de embarque; Porto de destino; a Carta de Crédito;
Certificado de Origem, Certificado Fitossanitário para casos de exportação de plantas, frutas
e alimentos em geral; Borderô Bancário, Documento que descreve toda a documentação
referente a um embarque e que é enviado ao Banco negociador. Toda a documentação,
bem como instruções de cobrança ao importador seguem junto com o Borderô Bancário.

Para executar exportação como actividade, o Operador de Comércio deve se registar como
exportador.

6.3.2.1. Mercadorias Proibidas


1. Produtos alimentares que não satisfaçam as condições estabelecidas na legislação vigente ou que se
apresentem em mau estado de conservação;
2. Mercadorias com falsas marcas de fabrico, de comércio ou de proveniência, em contravenção das
leis e tratados vigentes;
3. Marfim e obras de marfim salvo quando a exportação esteja expressamente autorizada por
disposição especial;
4. Notas e moedas com curso legal no País, além dos limites definidos pelo Banco de Moçambique;
5. Colecções e obras de arte que constituam património artístico ou cultural nacional, à excepção do

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previsto no artigo 47 do presente Decreto;
6. Outras mercadorias cuja exportação seja proibida por legislação especial.

6.3.2.2. Mercadoria em Regime Especial


1. Animais, despojos e produtos animais, mediante prévia autorização dos serviços de veterinária;
2. Manuscritos, selos, moedas, armas e outros objectos de valor histórico ou arqueológico, mediante
autorização do Ministro que superintende a área da Cultura;
3. Ouro e Prata, em pó ou barra, platina, pelo Banco de Moçambique ou mediante autorização deste,
cumpridas todas as obrigações fiscais;
4. Substâncias venenosas ou tóxicas e drogas estupefacientes ou seus preparados, que só podem ser
exportados com autorização do Ministro que superintende a área da Saúde;
5. Madeiras preciosas, pedras preciosas e semipreciosas mesmo trabalhadas, que só podem ser
exportadas com prévia autorização das entidades competentes, excepto o artesanato previsto no
artigo 47 do presente Decreto;
6. Mercadorias sujeitas a sobretaxa, nos termos da legislação em vigor;
7. Minérios, nos termos dos acordos firmados pelo Governo e da legislação vigente;
8. Outras mercadorias cujo regime especial na exportação seja determinado por legislação especial.

6.3.2.3. Taxas
As taxas de direitos aduaneiros e demais imposições aplicáveis no caso de importação, são
as constantes da Pauta Aduaneira, à data da aceitação da declaração aduaneira pelas
Alfândegas.

UNIDADE 6.4. RESPONSÁVEIS PELO PAGAMENTO DA DÍVIDA ADUANEIRA


O importador, produtor ou o exportador é, nos termos do artigo 12, do RGDA, o responsável
pelo pagamento dos direitos aduaneiros e demais imposições, quando estes se tornam
devidos. É igualmente responsável pelo pagamento dos direitos aduaneiros e demais
imposições aquele que, não sendo o importador, produtor ou o exportador, assumir a
condição de responsável pelo pagamento da dívida aduaneira, por disposição legal.
São solidariamente responsáveis com o importador, produtor ou o exportador:
a) Os Despachantes Aduaneiros, quando praticarem acções que exorbitem as suas funções e
atribuições legais ou quando, por imperícia ou negligência sua ou de seus empregados,
causarem prejuízos ao erário público;
b) O funcionário da Autoridade Tributária, cuja conduta seja considerada dolosa ou culposa
e tenha contribuído para prejuízo ao erário público;
c) Os gerentes, directores e ou administradores de empresa, quando a mesma não efectue
os pagamentos;
100
d) As pessoas em poder de quem forem apreendidas as mercadorias entradas ilegalmente
no País ou que tenham sido objecto de desvio do fim a que se destinavam;
e) Os transportadores ou os depositários nas condições previstas em lei;
f) Os sucessores.

6.4.1. Extinção Da Divida Aduaneira


A dívida aduaneira, legalmente constituída, extingue-se pelas seguintes formas:
a) Pagamento;
b) Compensação;
c) Dação em cumprimento;
d) Confusão;
e) Extinção por falência ou insolvência; e
f) Prescrição.
2. A dispensa do pagamento da dívida aduaneira legalmente constituída, somente ocorre
por disposição expressa em lei ou sentença judicial nesse sentido, definitivamente
transitada em julgado.

UNIDADES 6.5. REGIMES ADUANEIROS ESPECIAIS


Nos termos do artigo 27, do RGDA são regimes aduaneiros especiais os seguintes:
a) Importação temporária;
b) Exportação temporária;
c) Reimportação;
d) Reexportação;
e) Trânsito aduaneiro;
f) Transferência;
g) Armazéns de regime aduaneiro;
h) Lojas francas;
i) Zonas francas;
j) Outros

6.5.1 Importação Temporária


É o regime aduaneiro especial que permite a importação de mercadorias que devam
permanecer no território aduaneiro durante prazo fixado, estabelecidos no artigo 28, do
Decreto 34/2009 de 06 de Julho, com suspensão no pagamento de direitos e demais
imposições.
São permitidas importações temporárias das seguintes mercadorias:
1. Animais reprodutores – 180 dias;
2. Mercadorias, matérias ou animais destinados a concursos, exposições, feiras ou espectáculos
públicos, incluindo material para reclame – 90 dias;
3. Mercadorias que façam parte de mostruários sem valor comercial, ou quando com valor comercial

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devidamente inutilizadas nos termos da legislação aduaneira, que entrem no País para fins de
demonstração – 30 dias;
4. Veículos automóveis, acompanhados ou não de reboques, tractores e outros veículos, caravanas,
barcos de recreio, autocaravanas, motocicletas e motorizadas, nos prazos fixados para importação
temporária de veículos;
5. Aviões e avionetas, em turismo ou em viagem de negócios – 30 dias;
6. Mercadorias importadas temporariamente para receber qualquer beneficiação, aperfeiçoamento
ou conserto, sendo posteriormente reexportadas – 90 dias;
7. Discos e outros suportes de som ou imagem, destinados a emissões radiofónicas ou televisivas, dos
órgãos de informação autorizados – 90 dias;
8. Taras acondicionando ou não mercadorias – 90 dias;
9. Instrumentos, filmes e materiais, para fins científicos ou de estudo – 180 dias;
10. Aparelhos, utensílios, ferramentas e máquinas para utilização temporária em actividades agrícolas,
industriais e de construção – 360 dias;
11. Aparelhagem e material necessário à produção e realização de filmes ou documentários
fotográficos – 90 dias;
12. Material portátil para transmissão de reportagens, propriedade de órgãos de informação
estrangeiros – 90 dias;
13. Aparelhos, máquinas, instrumentos, utensílios, veículos, material de acampamento e quaisquer
outros artefactos destinados à execução de obras pertencentes ao Estado, mediante depósito de
uma cópia do referido contrato na Alfândega – 360 dias, ou o referido no Quadro dos prazos para
importação temporária de veículos;
14. Fitas cinematográficas para exibição em recintos públicos – 180 dias;
15. Armas de caça com autorização do Ministério do Interior – 30 dias; e
16. Outras mercadorias previstas em legislação especial – 360 dias.

Entidades competentes para conceder o regime previsto neste Quadro:


Presidente da Autoridade Tributaria, nos números 5 e 13.
Director-Geral das Alfândegas, nos números: 1, 6 e 10.
Directores Regionais, nos números 2, 3, 9, 11, 14 e 16.
Chefes das Estâncias Aduaneiras, nos números: 4, 7, 8, 12, e 15.

Prazos para Importação Temporária de Veículos:


1. Veículos automóveis ligeiros, em viagem de turismo ou de negócios, pertencentes ou conduzidos por
pessoas que não sejam residentes em Moçambique – 30 dias, prorrogáveis até mais 30 dias;
2. Ambulâncias e carros funerários, quando em serviço de transporte internacional 30 dias, prorrogáveis
até mais 30 dias;
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3. Veículos automóveis comerciais de transporte de mercadorias e passageiros, em viagem
internacional, propriedade de pessoas singulares ou colectivas que não tenham o seu domicílio em
Moçambique, desde que tenham sido autorizadas a realizar a respectiva actividade pelo Ministério
que superintende a área dos Transportes - 30 dias, prorrogáveis até mais 30 dias;
4. Veículos automóveis e tractores destinados às obras pertencentes ao Estado – Durante a vigência do
contrato;
5. Veículos automóveis e tractores destinados a projectos aprovados pelo Governo – durante o
contrato, até o máximo de 2 anos;
6. Veículos automóveis com ou sem dispositivo especial e seus pertences, propriedade de pessoas
singulares ou colectivas que não tenham o seu domicílio no País e que tenham contrato para
trabalharem em Moçambique, com excepção do previsto em legislação própria - durante o contrato,
até o máximo de 2 anos.

Entidades competentes para conceder o regime previsto neste Quadro:


Para veículos referidos nos nºs 1, 2 e 3:
À entrada no País – Chefe da Estância Aduaneira; prorrogação – Director Regional.
Para os veículos referidos nos nºs 4, 5 e 6:
Á entrada no País – Chefe da Estância Aduaneira; Prorrogação – Director-Geral das Alfândegas.

6.5.2. Exportação Temporária


É o regime aduaneiro especial que permite a exportação de mercadorias que devam
permanecer fora do território aduaneiro durante prazo fixado estabelecidos no artigo 29 do
Decreto 34/2009 de 06 de Julho, com suspensão no pagamento de direitos e demais
imposições.
São permitidas exportações temporárias das seguintes mercadorias:

1. Aeronaves de turismo;
2. Animais reprodutores;
3. Aparelhagem necessária à produção ou realização de documentários fotográficos ou
cinematográficos, ainda que montada sobre veículos;
4. Material de acampamento destinado a excursões de carácter científico ou cinegético;
5. Automóveis e outros veículos, pertencentes a pessoas que saiam do País temporariamente, nos
termos regulamentares;
6. Discos e outros suportes de som ou imagem destinados a emissões radiofónicas que sejam
propriedade dos órgãos de informação;
7. Filmes cinematográficos revelados, sonorizados ou não;
8. Equipamento e materiais que acompanhem entidades que se desloquem em missão oficial,
devidamente credenciadas;

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9. Material cénico e de trabalho artístico pertencente a artistas, companhias ou empresários de
espectáculos públicos;
10. Mercadorias que façam parte de mostruários;
11. Mercadorias e animais que vão a concursos, exposições, feiras ou espectáculos públicos;
12. Mercadorias que vão receber aperfeiçoamento, beneficiação, concerto ou complemento do seu
fabrico;
13. Encerados e outras coberturas para resguardo de carga transportada em veículos de qualquer tipo;
14. Géneros em pequenas quantidades que se destinem a feiras ou mercados públicos fronteiriços;
15. Colecções e obras de arte que constituam património artístico ou cultural nacional, mediante
parecer favorável do Ministério que superintende a área da Cultura;
16. Taras acondicionando mercadorias;
17. Outras mercadorias cuja exportação temporária seja permitida por legislação especial.

Entidades competentes para conceder o regime previsto neste Quadro:


Presidente da Autoridade Tributaria, nos números 1 e 15.
Director-Geral das Alfândegas, nos números 2, 3, 6, 7, 10, e 12.
Directores Regionais, nos números 4, 9, 11 e 17.
Chefes das Estâncias Aduaneiras, nos números 5, 8, 13, 14 e 16.

6.5.3. Reexportação
É o regime aduaneiro sob o qual uma mercadoria importada temporariamente é retirada
gozando de isenção de direitos aduaneiros e demais imposições, excepto se tiver sido
incorporado beneficiações, peças e componentes passíveis de tributação na exportação.
Após a validação da Declaração, o declarante pode, então, efectuar o pagamento de
quaisquer encargos liquidados e devem sempre anexar toda a documentação utilizada na
importação temporária à sua declaração de exportação.
Em alguns casos pode acontecer que haja necessidade de reexportar mercadorias
importadas e consideradas de especificação errada ou com padrão de qualidade abaixo do
normal; Máquinas e equipamentos usados em Moçambique sendo reexportados para serem
usados ou devolvidos à proveniência.
Nos casos onde não há lugar a reclamação de qualquer restituição, submete-se a declaração
com o CPA 34X03 CPA. São aplicáveis os procedimentos de exportação.
Em casos em que se verificar especificação errada ou baixa qualidade da mercadoria das
mercadorias, o importador pode submeter um pedido de reembolso de direitos ou solicitar
a substituição dos mesmos.
Para o efeito, o Declarante deve solicitar ao Chefe da Estância aduaneira a intenção
reexportar a mercadoria, anexando os documentos comprovativos.
Se a substituição dos bens for aprovada, o declarante deverá apresentar uma declaração de
reexportação, com CPA 34X04. O procedimento segue o processo de exportação padrão.
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6.5.4. Reimportação
É o regime aduaneiro especial que permite a entrada de mercadorias que tenham sido
exportadas temporariamente, nos termos do artigo 30, do RGDA.

São permitidas as reimportações de mercadoria dentro dos períodos estabelecidos na


declaração de importação temporária, mediante confrontação dos dados.
1. Mercadorias exportadas temporariamente;
2. Obras e publicações impressas em Moçambique, devidamente registadas;
3. Mercadorias com certificado de origem moçambicano que por motivo justificado venham de
retorno ao País;
4. Mercadorias sem certificado de origem moçambicano, mas para as quais possa ser produzida
prova de que foram exportadas a partir do território aduaneiro de Moçambique, que por motivo
justificado venham de retorno ao País;
5. Taras que tenham servido na exportação de mercadorias desde que seja possível proceder à sua
identificação;
6. Outras mercadorias cuja reimportação seja permitida por legislação especial;
7. Estupefacientes e substâncias psicotrópicas, excepto quando importadas para usos hospitalares.

Entidades competentes para conceder o regime previsto neste Quadro:


Director-Geral das Alfândegas, nos números 3 e 4.
Directores Regionais, nos números 1 e 6.
Chefes das Estâncias Aduaneiras, nos números 2 e 5.

6.5.5. Armazém de Regime Aduaneiro


É o regime aduaneiro especial que permite conter mercadorias em armazéns aduaneiros
sob regime suspensivo de pagamento de direitos e demais imposições durante um certo
período, nos termos do artigo 34, do RGDA.

6.5.6. Zonas Francas


É o regime aduaneiro especial que permite que uma área definida, dentro do território
aduaneiro, seja de livre comércio, com observância aos requisitos e condições estabelecidos
em regulamento próprio, nos termos do artigo 36, da RGDA.
O Artigo 16, do Regulamento Aduaneiro das ZFI exige que as Declarações das Alfândegas
sejam apresentadas pelo respectivo Operador da ZFI ou Empresa para o movimento das
mercadorias dentro e fora da ZFI depois da autorização do Regime da ZFI. Nos casos em que
os DUs são exigidos nas transacções a serem realizadas pelo Operador ou Empresa da ZFI, os
mesmos devem se fazer acompanhar dos necessários documentos de apoio, nos termos da
legislação em vigor.

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Todas as declarações aduaneiras submetidas às Alfândegas relativas às entradas na Zona
Franca, Loja Franca e armazéns francos são automaticamente seleccionadas e
encaminhadas para o sector de Conformidade.
Após a validação, a declaração é encaminhada para o Gestor de conformidade do Regime
dos Armazéns ou para o gestor local, se aplicável. O Gestor do armazém deve presenciar o
carregamento e selagem da consignação à transferir para Zona Franca.
A transferência da remessa do Armazém para a Zona Franca deve ser realizada seguindo o
processo normal de gestão de garantia e de acompanhamento fiscal, se aplicável.

6.5.7. Zona Económica Especiais


É o regime aduaneiro especial que permite que uma área definida, dentro do território
aduaneiro, seja de livre comércio, com observância aos requisitos e condições estabelecidos
em regulamento próprio.

As medidas de segurança julgadas úteis para permitir o controlo das mercadorias em


trânsito aduaneiro, serão estabelecidas em regulamento próprio.

6.5.8. Loja Francas


É o regime aduaneiro especial que permite que um estabelecimento instalado em zona
primária de porto ou aeroporto alfandegado vender mercadoria nacional, nacionalizada ou
estrangeira a passageiro em viagem internacional, contra pagamento em moeda nacional ou
estrangeira, nos termos do artigo 35, do RGDA.

São permitidas entradas para aquisição de bens apenas os passageiros que se destinam ao
exterior do país e os que fazem trânsito. A venda dos bens nestes locais é mediante a
apresentação do passaporte e bilhete de embarque e os bens vendidos destina-se à
exportação.
As declarações aduaneiras para entrada de mercadorias nos armazéns das Lojas Francas são
processadas normalmente como a de qualquer um regime aduaneiro, mediante
apresentação do manifesto, devendo no entanto, o operador da Loja Franca, juntar o
Documento Único e a relação das mercadorias e apresentar as alfândegas trimestralmente.
Deve ainda o operador ser capaz de distinguir no seu armazém as mercadorias adquiridas
no mercado interno das importadas.

6.5.9. Trânsito Aduaneiro


▪ Trânsito
▪ Transferência
▪ Transbordo
▪ Cabotagem

106
6.5.9.1. Trânsito
É o regime aduaneiro especial que, nos termos do artigo 32, do EGDA permite a entrada e
saída de mercadorias e meios de transporte, destinada a um terceiro pais, através de um
ponto, rota e tempos definidos.
As mercadorias em trânsito estão sujeitas a declaração aduaneira e isentas de pagamento
de direitos e outras imposições, mediante a prestação de uma garantia e caso não seja
comprovada que tenham saído do país estão sujeitas ao pagamento de direitos e demais
imposições através da garantia prestada.
Os transitários devem fazer o registo da Garantia na Secretaria de Despacho das
Alfândegas. A caução deve ser igual a receita em risco. O declarante pode, então,
submeter a declaração no MCMS.
As declarações de trânsito são submetidas às mercadorias que não são consignadas a um
importador local e que devem ser transferidas sob controlo aduaneiro de uma estância
aduaneira de entrada para outra de saída.
Todas as declarações de trânsito aduaneiro submetidas são automaticamente
seleccionadas e encaminhadas para o sector de verificação de conformidade.
Havendo necessidade de realizar o exame físico ou aplicação de cautelas fiscais e a
declaração será encaminhada a partir do sector de conformidade para o sector
examinação do terminal respectivo.
Não havendo lugar a exame físico ou aplicação de cautelas fiscais o sistema enviará
automaticamente uma mensagem electrónica, para os operadores relevantes do terminal
e para o declarante, confirmando a aprovação e desembaraço.
As mercadorias em trânsito podem ser transportadas por qualquer meio de transportes
aprovados pelas Regras Gerais de Desembaraço Aduaneiro.
As declarações de trânsito submetidas devem ser mantidas abertas, enquanto se aguarda
a confirmação de que a remessa foi enviada para fora do país. Somente a partir da
confirmação de saída ponto deve ser considerada a declaração como fechada e
desobrigadas a garantia.
É importante sempre assegurar o fecho da declaração, a fim de evitar qualquer atraso no
desembaraço das remessas subsequentes a serem processadas.
No caso em que, por qualquer motivo, a remessa não tenha saído do país dentro do tempo
permitido de trânsito, é importante entrar em contacto com o gestor de verificação de
conformidade para tomar as medidas necessárias.

6.5.9.2. Transferência
É permitido a transferência, de mercadorias e meios de transporte entre Estâncias
Aduaneiras, sem pagar direitos e outras imposições, mediante a prestação de uma
garantia ou de cautelas fiscais, nos termos do artigo 33, do RGDA.

6.5.9.3. Transbordo
Transbordo é um sistema pelo qual as mercadorias são manifestadas para a entrada
(importação) num determinado porto aprovado, destinadas á uma eventual exportação a
partir desse porto, quer por via marítima ou aérea, para um destino final noutro país.
Contudo, as mercadorias permanecem, em todo o momento, nos limites do referido porto.
É essencial que a consignação seja claramente expressa, no manifesto, como sendo para

107
Transbordo.
Existem duas formas de Transbordo:
▪ Transbordo directo
▪ Transbordo ordinário ou comum
Transbordo directo - refere-se às mercadorias que não são descarregadas, em vez disso
são transferidas directamente do meio de transporte de entrada (importação) para o meio
de transporte de saída (exportação).
Transbordo comum - refere-se às mercadorias que são declaradas e descarregadas para o
transbordo através de um meio de transporte e são subsequentemente exportadas, por
outro meio de transporte.
Cabotagem
Mercadorias nacionais são transferidas de um porto local para outro porto local, por via
marítima – CPA 80X03;
Mercadorias importadas com direitos e demais imposições pagos, nacionalizadas,
descarregadas num porto local e transferidas param outro porto local – CPA 80X05;
Mercadorias importadas e cativas de direitos e demais imposições descarregadas num
porto local e transferidas para outro porto local para o cumprimento das formalidades
aduaneiras – CPA 80X04;
Em todos estes casos, o declarante deve submeter a declaração aduaneira com o CPA
apropriado. Para o caso de mercadorias cativas de direito, devem ser observados os
procedimentos relativos à prestação de garantia.
Para o caso de mercadorias importadas e ainda não nacionalizadas onde o importador
decide transportá-las até estância de desembaraço ou porto de descarga, por via
rodoviária, são aplicáveis os procedimentos de trânsito.

UNIDADE 6.10 EXERCÍCIOS


1. Diga quais são os regimes aduaneiros que conhece?
2. Quais os direitos de que gozam os viajantes, relativamente a sua bagagem?
3. Quais as condições para um cidadão moçambicano beneficiar de isenção de direitos
aduaneiros na importação de veículos?
4. Diga qual o regime jurídico das zonas francas?
5. Diga qual o regime jurídico da reexportação?

108
Exercícios 3

QUESTÕES DE DIREITO FISCAL E ADUANEIRO


I. PARTE – QUESTÕES GERAIS
6. Diga a relação que se estabelece entre o direito fiscal e o direito financeiro.
7. Apresente o conceito de direito Aduaneiro;
8. Distinguir: Sujeito Passivo, Contribuinte, e Devedor do Imposto;
9. O direito aduaneiro regula a tributação do comércio externo. Comente
10. Apresente o conceito jurídico de imposto;
11. Distinga Impostos nacionais e Impostos autárquicos;
12. Atendendo às várias classificações de impostos que conhece qualifique o
Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Colectivas.
13. Apresente os elementos da relação jurídica fiscal;
14. Distinguir:- responsabilidade subsidiária e responsabilidade solidária-
15. Distinguir: Caducidade e Prescrição.
16. Distinguir dupla tributação económica e dupla tributação jurídica
17. Indique a natureza jurídica da liquidação
18. Diga porque razões existem casos especiais em que a Impugnação judicial depende de prévia
reclamação? Identifique esses casos.
19. Refira os princípios que asseguram a participação efectiva do contribuinte nas decisões no âmbito
do procedimento tributário.
20. Diga em que consiste o regime da transparência fiscal.
21. Distinga sujeito passivo originário de sujeito passivo não originário da relação jurídica
de imposto.
22. Distinga caducidade e prescrição tributárias e identifique traços essenciais dos
respectivos regimes jurídico-tributários.
23. Diga em que medida os tribunais fiscais são competentes para o julgamento
dos crimes fiscais, tendo em conta a CRM e a Lei n.’ 2/2004, de 21 de Janeiro.
24. Em que consiste o Princípio do duplo grau de decisão:
25. Princípio o contraditório e um princípio estruturante do procedimento e processo tributário
comente.
26. Indique o tribunal competente para dirimir os litígios emergentes dos impostos do comércio
externo?
27. Distinga dever tributário principal de deveres tributários acessórios e exemplifique
com um dos impostos estudados.
28. Indique quais os meios de defesa dos contribuintes perante os excessos da
administração tributária na liquidação dos impostos.
29. Atendendo a classificação dos impostos do nosso sistema tributário, diga
como classifica o IVA?
30. A jurisprudência e a doutrina são fontes do direito fiscal?
109
II. PARTE – QUESTÕES DISCURSIVAS
31. Comente a seguinte afirmação.
“Com a instituição dos impostos o Estado visa somente arrecadar receitas para a
satisfação das necessidades financeiras do Estado”.

32. Podemos afirmar com segurança que os conceitos de tributo e imposto são
equivalentes. Comente
33. Os impostos são caracterizados por serem prestações coativas. Comente
34. No âmbito da classificação dos impostos diga qual a diferença que entre impostos
directos e impostos indirectos?
35. Comente, de modo sucinto, as seguintes afirmações:
a) “A relação tributária material é sempre acompanhada de uma relação tributária
formal.”

b) “A insolvência é, por natureza, facto extintivo da relação jurídica de imposto”.

36. Comente sucintamente as seguintes afirmações:


A) “Assim, é recorrendo à ideia de que aqui nos encontramos no domínio do direito
económico fiscal, e não no domínio do direito fiscal clássico (normal ou comum), que
nos vai fornecer a base determinante de atenuação da legalidade fiscal exigida pela
flexibilidade imprescindível à intervenção económica fiscal.”
CASALTA NABAIS, in Contratos Fiscais pág.262.

B) “A igualdade fiscal, aferida pela capacidade contributiva, em princípio também não


obsta à existência de dupla (ou múltipla) tributação (interna) jurídica ou económica”.
CASALTA NABAIS, in O dever fundamental de pagar impostos, pág.51

37. Comente sucintamente as seguintes afirmações:


A) “Muito mais efectivo do que o princípio da legalidade parece ser, pelas garantias que
sugere, o princípio da tipicidade do imposto”.

B) “O reconhecimento de personalidade tributária passiva às entidades públicas é uma


ficção contabilística inútil.”

38. Comente as seguintes afirmações:


1. A interpretação uniforme das normas fiscais resultante de orientações da
administração fiscal é fundamental, quer para a própria administração, quer para
os contribuintes, quer para os tribunais.
2. O Director – Geral dos Impostos não pode, presentemente, permitir o
pagamento em prestações de dívidas de imposto.

3. O IRPS é um imposto estadual, pessoal, de obrigação única e cuja matéria


colectável depende das despesas suportadas pelo contribuinte para obtenção do
rendimento.

39. Comente a seguinte afirmação: Tratando-se de um agregado familiar residente o


facto de um dos cônjuges não auferir em determinado ano quaisquer rendimentos
não determina que este perca a qualidade de sujeito passivo de IRPS.
110
40. Comente a seguinte afirmação: Em regra, para os sujeitos passivos não residentes, o
IRPS não é um imposto único, pessoal e progressivo.
41. Comente as seguintes afirmações:
a. Os responsáveis tributários são sujeitos passivos da relação jurídica de
imposto.
b. No âmbito do IRPS, a fixação da matéria colectável assenta, exclusivamente,
nos rendimentos declarados pelo contribuinte.
42. Comente as seguintes afirmações:
1. O actual modelo moçambicano de tributação do rendimento afasta-se, em várias
circunstâncias, da tributação de rendimentos reais.
2. O IPA pode ser considerado, nas autarquias, como um imposto local.

43. Comente as seguintes afirmações:


A – A substituição corresponde a uma situação tributária passiva não originária.
B – Indique se é possível à Administração fiscal interpretar extensivamente o artigo
3º do Código do IRPS, de forma a sujeitar a imposto rendimentos não expressamente
referidos.
44. Comente as seguintes afirmações:
A – A lei não é o facto constitutivo das relações jurídicas de imposto.
B – A proibição constitucional de aplicação retroactiva de normas fiscais não abrange
as normas relativas a benefícios fiscais.
45. Em que medita os tratados e convenções internacionais podem ser considerados
fontes do direito?
46. Elabore, em não mais de página e meia, um comentário a uma das seguintes
afirmações:
A) – O princípio da tributação das empresas de acordo com os seus lucros reais não é,
nem nunca foi, um princípio absoluto.

B) – O Governo não pode, sem autorização legislativa, modificar a actual disciplina legal
da solidariedade, substituição, sucessão e responsabilidade tributárias.

47. Elabore, em não mais de página e meia, um comentário a uma das seguintes
afirmações:
A) – A vertente do sistema fiscal moçambicano relativo à tributação do património
apresenta-se como a mais antiga e a que mais carece de reforma.

B) – Os poderes tributários das Assembleias Legislativas Locais estão condicionados pela


interpretação que a Assembleia da República fizer dos poderes tributários que a
Constituição atribui às autarquias.

III. QUESTÕES DE MÚLTIPLA ESCOLHA


48. Diga se as afirmações que se seguem são verdadeiras ou falsas, justificando as tuas
respostas com base na lei.
a) As normas fiscais não são susceptíveis de aplicação analógica;

111
b) Todas as normas tributárias aplicam-se somente aos factos posteriores a sua
entrada em vigor;
c) Os elementos da relação jurídica fiscal são: sujeitos, obejcto, o facto e as
garantias;
d) Os conceitos de sujeito passivo e de contribuinte são equivalentes, apesar das
especificidades de cada um.

IV. PARTE – CASOS PRÁTICOS

49. Ana trabalhou durante quarenta anos como secretária na Direcção Nacional de
Energia, onde auferia mensalmente 10.000,00Mt. Reformou-se em 31 de Março de
2017, não tendo o seu rendimento sofrido qualquer redução a partir dessa data.
Bento é engenheiro e trabalha na TDM, onde recebe por mês 25.000,00Mt a que
acresce um prémio no final de cada ano, em função da sua produtividade. Basílio
faleceu, vítima de doença prolongada, em 10 de Outubro de 2017.

O casal teve dois filhos gémeos, actualmente com 23 anos. Carlos é finalista do Curso de
Direito na Universidade Católica e Duarte, que nunca gostou de estudar, trabalha na
Pizza Hut: o seu vencimento, que em regra é de 5.000,00Mt, foi aumentado para
7.500,00Mt, em virtude de ter sido considerado empregado do mês por 3 vezes
consecutivas.

Analise a hipótese, tendo sobretudo em atenção todos os aspectos pertinentes em vista das
normas de incidência pessoal e real de IRPS.

50. Ana é uma engenheira informática que tem um contrato de trabalho com a
sociedade X, residente em Moçambique. Durante o ano de 2017, entre Janeiro e
Setembro, Ana esteve na Africa do Sul, ao serviço da sociedade Y. Durante esse
período, Ana vendeu à sociedade Y dois programas informáticos que anteriormente
tinha criado.
1. Refira-se à situação de Ana, do ponto de vista da incidência do IRPS.

2. Indique se estamos perante rendimentos sujeitos a dupla tributação e, na


afirmativa, se o código de IRPS prevê a sua atenuação ou eliminação.

51. Suponha que no dia 30 de Novembro de 2017 o Governo aprovou um diploma, para
entrar imediatamente em vigor, no qual se estabelecia o aditamento ao Código do
Imposto Sobre o Rendimento das Pessoas Singulares (CIRPS) de um novo artigo 51º,
pelo qual passa
A permitir o abatimento de despesas do sujeito passivo e do seu agregado familiar
com cursos de formação no domínio da informática.

O dia 3 de Janeiro de 2017 a Direcção Geral dos Impostos emite uma circular na qual
se estabelece que: “apenas podem ser consideradas para efeitos do novo artigo 51º
do CIRPS das despesas com cursos de formação no domínio da informática
ministrados por entidades idóneas”.

QUID IURIS?

112
52. Para fazer frente à quebra de receitas fiscais relativas ao imposto sobre os produtos
petrolíferos, o Governo aprovou, em Maio de 2017, um decreto-lei em que se
eliminava do CIRPS o regime do mínimo não tributável e se criava um novo quociente
conjugal de 1,3, aplicável aos sujeitos passivos casados com rendimentos “ muito
elevados”, nos termos a fixar por despacho do Ministro das Finanças.
Além disso, emanou um decreto regulamentar em que criava uma “taxa progressiva” de
5%, 10% e 15% a pagar pelos utilizadores da Internet, sobre o montante dos serviços
pagos às empresas que providenciam o acesso à rede.

Quid iuris?

53. A sociedade por quotas Alfa, com sede em Moçambique, auferiu, no ano de 2017,
10.000.000,00Mt, resultantes da venda de mercadoria contrabandeada, a qual lhe
havia custado 2.000.000,00Mt.
A referida sociedade distribuiu lucros, no valor de 3.000.000,00Mt, aos sócios, entre os
quais se encontra Alberto, residente em Maputo, que recebeu, a esse título,
500.000,00Mt.

Alberto recebeu ainda, no referido ano, rendas de um prédio situado na Beira, de que é
usufrutuário, no valor de 600 contos.

1 – Qualifique as importâncias auferidas e despendidas pela sociedade Alfa, bem como os


rendimentos auferidos por Alberto.

2 – Identifique os eventuais mecanismos de crédito de imposto susceptíveis de serem


utilizados por Alberto.

54. Suponha que ao abrigo de uma autorização legislativa contida na Lei de Orçamento
de Estado para 2017, o Governo aprovou, no passado dia 15 de Maio, um Decreto-Lei
contendo as seguintes disposições
a) Alteração da Lei Geral Tributária, aumentando para 6 anos o prazo de caducidade do
direito à liquidação e para 10 anos o prazo de prescrição da obrigação tributária;
b) Alteração da Lei das Finanças Locais, autorizando os municípios a criar uma nova
“taxa de qualidade de vida”, a cobrar aos munícipes residentes em zonas abrangidas
por projectos de requalificação urbana;
c) Alteração do Código do IRPS, criando um adicional de 2% sobre o imposto pago
pelos sujeitos passivos com rendimentos acima de 2.000.000,00Mt.
Pronuncie-se sobre a validade de cada uma das disposições referidas, justificando
devidamente a sua resposta.

55. Suponha que no dia 1 de Agosto de 2017 o Governo, por Decreto-Lei, aprovou as
seguintes disposições, para entrarem imediatamente em vigor:
A) As pessoas singulares que fixem residência ma Ilha de Moçambique ficam isentas
durante um período de 3 anos a contar da data da fixação de residência.
B) As pessoas colectivas que estabeleçam a sua sede ou direcção efectiva naquela
região podem beneficiar de uma isenção de imposto sobre o rendimento com
duração de 5 a 10 anos desde que contribuam de forma relevante para o
desenvolvimento da região.

113
C) Cabe ao Presidente da Autoridade Tributaria de Moçambique, com possibilidade de
delegação, a competência para apreciar da relevância da actividade para o
desenvolvimento da região e a fixação do período da isenção dentro dos limites
legais.
Pronuncie-se sobre a constitucionalidade de cada uma das disposições referidas,
justificando devidamente a sua resposta.

56. Ana, casada com Bento trabalhou durante quarenta anos como secretária na Direcção
Nacional de Energia, onde auferia mensalmente 10.000,00Mt. Reformou-se em 31 de
Março de 2017, não tendo o seu rendimento sofrido qualquer redução a partir dessa
data.
Bento é engenheiro e trabalha na TDM, onde recebe por mês 25.000,00Mt a que
acresce um prémio no final de cada ano, em função da sua produtividade. Basílio
faleceu, vítima de doença prolongada, em 10 de Outubro de 2017.
O casal teve dois filhos gémeos, actualmente com 23 anos. Carlos é finalista do Curso de
Direito na Universidade Católica e Duarte, que nunca gostou de estudar, trabalha na
Pizza Hut: o seu vencimento, que em regra é de 5.000,00Mt, foi aumentado para
7.500,00Mt, em virtude de ter sido considerado empregado do mês por 3 vezes
consecutivas
Analise a hipótese, tendo sobretudo em atenção todos os aspectos pertinentes em vista
das normas de incidência pessoal e real de IRPS.

114
Parte B (IRPC)
7. A LAC, não possui sede nem direcção efectiva em Moçambique e durante o exercício da
sua actividade comercial obteve um resultado de 180.000.000,00mt. Calcule a retenção na
fonte.
8. No ano 2016 a empresa Detergentes Lda, declarou um lucro de 1.250.000,00 e suportou
os seguintes custos:
• Remunerações dos trabalhadores: 100.000,00mt
• Indeminizações pagas de risco não segurável- 80.000,00mt
• Juros de capitais alheios aplicados na exploração- 70.000,00mt
• Despesas com a compra de droga para o socio- 50.000,00mt
• Indeminizações pela verificação de eventos cujo risco seja segurável- 40.000,00mt
• Despesas confidenciais- 90.000,00mt
a) Diga quais são os custos aceites?
b) Diga quais são os custos não aceites?
c) Faça as devidas correcções
d) Calcule o IRPC e diga quanto irá entregar ao Estado.
e) Comente os resultados com base na lei

Parte C
9. A empresa Meiengelud Transport, Sa, dedica-se a prestação de serviços de transporte.
Ela, esta inscrita no regime de contabilidade organizada e normal do IVA. Durante o Mês de
Fevereiro realizou as seguintes operações:
Prestação de serviços de transporte com IVA incluído no valor de 15.000.000,00um
Compra de material de manutenção e reparação para seus autocarros de transporte de
carga com IVA incluso no valor de 600.000, 00u.m
Manutenção e reparação dos seus autocarros mais IVA no valor de 200.000.00u.m
Compra de Gasóleo 320.000 Litros com IVA incluso no valor de 14.400.000, 00u.m, que
também inclui o valor do imposto sobre combustível;
Compra de Gasóleo valor líquido de 600.000,00 (que inclui o ISC) ao preço de 45.00um.
Compra de Material de escritório com IVA incluído no valor de 20.000, 00u.m

115
Compra de um anel de diamante para a noiva do sócio da empresa com IVA incluso no valor
de 300.000,00 u.m
Compra de uma passagem aérea mais IVA no valor de ………………….8.000,00u.m
Pretende-se:
a) A liquidação do IVA para o Mês de Fevereiro;
b) A presente os cálculos da liquidação;
c) Qual é o valor a ser cobrado para os cofres do estado;
d) Comente os resultados encontrados com base na lei.

10. A empresa Martadelud Sobressalentes, Lda dedica-se a comercialização de pneus.


Durante o mês de Fevereiro efectuou as seguintes operações:
Vendas no valor de 2.000.000, 00u.m mais IVA.
Compras de Pneus no Valor de 1.000.000, 00u.m mais IVA. O custo de transporte foi de
2.000, 00u.m;
Compra de um Balcão para a Loja no valor de 80.000, 00u.m mais IVA.
Compra de livros de Faturação na Tipografia & Livraria Gulamo no valor de 20.000,00 com
IVA incluído.
Pretende-se:
a) Efectuar a liquidação do IVA e posterior entrega nos cofres do Estado;
b) Suponhamos que a empresa tenha vendido somente 900.000,00 qual seria o valor a
ser entregue nos cofres do estado.
c) Comente os resultados encontrados com base na lei.

Obs: Alguns exercícios foram adaptados a partir de exercícios extraídos da internet:


http/www.ucp.pt/ acessado a 23 de Abril de 2018

116
ANEXO A: Bibliografia

1. AMARAL, Diogo Freitas, Curso de Direito Administrativo, Vol.I, 2ª reimpressão, 3ª


Edição, Coimbra. Almedina, 2006.
2. BAHL, R. W., Descentralização fiscal: uma perspectiva mundial. Curso de Relações
Fiscais Intergovernamentais e Administração Financeira de Governos, s.d., 1998;

3. BELTRAME, Piere. Os Sistemas Fiscais. Coimbra: s.n., 1976.

4. CABRAL, Nazaré Costa, A Teoria do Federalismo Financeiro, 1ª Ed. Coimbra:


Almedina, 2013

5. CARVALHO, J. Eduardo. Metodologia do Trabalho Cientifico, Lisboa: Escolar Editora,


2009;
6. Cistac, Gilles e Chiziane, Eduardo. 10 Anos de Descentralização em Moçambique - Os
Caminhos Sinuosos de um Processo Emergente. Maputo: Biblioteca Universitária,
2008.
7. CISTAC, Gilles. O processo de Descentralização financeira em Moçambique, Maputo:
edição faculdade de Direito da Universidade Eduardo Mondlane, 2002.
8. CISTAC, Gilles. Manual do Direito das Autarquias Locais. Maputo: Edição Biblioteca
da Livraria Universitária, UEM, 2001.

9. DOURADO, Ana Paula. O principio da Legalidade Fiscal. [ed.] ana Paula Dourado.
Coimbra: Almedina, 2007.

10. DOURADO, Ana Paula. Principios de Direito Tributário Internacional. [Online]


[Referência de: 24 de Abril de 2012.] http:www.estig.ipbcja.pt
11. Enciclopédia polis, Edição verbo, 2ª Edição, Lisboa
12. Enciclopédia Polis. 2ª edição, Lisboa: Verbo editora, 1998.
13. FARIA, Fernanda e Chichava, Ana. Descentralização e cooperação descentralizada,
[Online] 1999, [Referência: 22 de Novembro de 2011], disponível em: http:
www.adelsofala.org.mz
14. FRANCO, António Luciano, Finanças do Sector Público – Introdução aos Subsectores
Institucionais, AAFDL: Lisboa, 1991.
15. GUEDES, Armando M. Marques, Ciência Política Teoria Geral do Estado, Lisboa: ed.
da AAFDL, 1982
16. Ibraimo, Ibraimo. O direito e a Fiscalidade. Maputo : Editora Art, 2002.
17. Lagemann, Eugénio e al, et. Problemas, Dilemas e Competências tributárias [Online]
[Referência: 7 de Novembro de 2011.] http//:www.fee.tche.br.

18. LOURIVAL, José de Oliveira and Sharon, Cristine Ferreira de Sousa. [Online]
[Referência de : Abril 2012, 20.] http://www.conpedo.org.br.

19. MARTINEZ, Pedro Mário Soares. Direito Fiscal, 7.ª Edição, Coimbra: Edição
Almedina, 1993.

117
20. MENDES, M. J.; ROCHA, F. F. (2003).~, Transferências intergovernamentais e
captura de recursos públicos nos municípios brasileiros. Prêmio Tesouro Nacional
de Monografias, Secretaria do Tesouro Nacional, Brasília.
21. Modalidades de Descentralização Administrativa [Online] [Referência: 10 de
Dezembro de 2011.] Disponível em: http://www.portais.ws.
22. Musgrave, Richard A. Public Finance in a Democratic Society - Fiscal Doctrine,
Growth and Instituitions. Vol. II. 1ª Edição. s.l.: Harvester Press, 1986.
23. MUSGRAVE, Richard A., The Theory of Public Finance – A Study in Public Economy,
Mc. Graw Hill Book Company, 1959.
24. Pardal, Sidónio. [Online] 2009. [Referência: 30 de Janeiro de 2011.]
http:www.Sidoniopardal.com..
25. PEREIRA, Paulo Trigo et al, Economia e Finanças Públicas, Escolar Editora, 2005.
26. PEREIRA, Paulo Trigo, Economia e Finanças Públicas – Da Teoria à Prática, Edição
Almedina: Coimbra, 2008.

27. PINA, Carlos Costa et all. As Reformas Fiscais Africanas. [ed.] Carlos Costa Pina.
Lisbao: Fins do Século, 1998.

28. RÊGO, Moreira. O sitema Fiscal Moçambicano Pós-Independência (Breve Historial),


[Online] 2010. [Referência: 19 de Novembro de 2011.] http://pt.scribd.com/doc.;
29. Ribeiro, José Joaquim Texeira. A Reforma Fiscal. [ed.] José Joaquim Texeira Ribeira.
Coimbra: Coimbra Editora, 1989.

30. SANCHEZ, J. L. Saldanha. Manual de Direito Fiscal. 3. Edição, Coimbra Editora:


Coimbra, 2007.
31. SILVA. Mauro Santos, Teoria do Federalismo Fiscal: Notas Sobre as Contribuições de
Oates, Musgrave, Shah e Ter-Minassian, V15n1/150105.pdf, 2005 [Online].
[Referência: 10 de Janeiro de 2012]; Disponível em
<http://www.face.ufmg.br/novaeconomia/sumarios/
32. SOUSA FRANCO, António L. De. Finanças Públicas e Direito Financeiro, Volume I e II,
4:ª reimpressão, Edição Almedina: Coimbra, 2002.
33. SPAHN, P. B. (1998), Relações intergovernamentais, estabilidade macro-económica
e crescimento económico, Curso de Relações Fiscais Intergovernamentais e
Administração Financeira de Governos.

34. Modalidades de Descentralização Administrativa [Online] [Citação: 10 de Dezembro


de 2011.], Disponínel em: http://www.portais.ws.
35. VAQUES, Sérgio. Capacidade Contributiva, Rendimento e Património [Online] 2004.
[Referência: 10 de Janeiro de 2011.], Disponível em:
http://www.sergiovasques.com.
36. WATE, Teodoro Andrade, Introdução as Finanças públicas e Direito Financeiro,
Maputo: W & W editora, 2004.
37. WATE, Teodoro Andrade. Introdução ao Direito Fiscal, Maputo: W & W Editora,
2002.
38. WATE, Teodoro Andrade. Contributo Para Uma Teoria de Descentralização
Financeira Em Moçambique, Edição Almedina: Coimbra, 2010.

118
39. WEIMER, Bernhard, Moçambique: Descentralizar O Centralismo? Economia Política,
Recursos e Resultados, Maputo: Compres, 2012

ANEXO B: Revistas:

1. Delloitte e Acis. Visão Geral do Sitema Tibutário em Moçambique. [ed.] Delloit e Acis.
1a Edição, Outubro 2008;

2. Revista da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, Problemas de


Descentralização Financeira, Volume XXXVIII, n.º 1, Coimbra Editora, 1997
3. Revista de Encontros Cientificos, O Novo Regime Geral das Taxas das Autarquias
Locais, n.º 3, anual, Lisboa, 2007.
4. Revista da Acis. “O quadro Legal Para Impostos Em Moçambique”. 1ª Edição,
Maputo, 2008.

5. USAID. Revisão do PARPA II - Sistema Tibutário em Moçambique. Maputo: s.n., 2009;

ANEXO C: Legislação
1. CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Aprovada pela Assembleia da
República em 16 de Novembro de 2004,
2. LEIS
✓ Lei n.º 6/2007 de 09 de Fevereiro – Br. n.º 06, I.ª Série, 2.º Suplemento, - Altera o
Regime da Tutela sobre as autarquias locais, estabelecido pela lei n.º 7/97, de 31 de
Maio.
✓ Lei n.º 7/97 de 31 de Maio; Br. n.º 22, I.ª Série, 2.º Suplemento
✓ Lei n.º 9/96, de 22 de Novembro, Br. n.º 35, Iª Série, Suplemento – Aprova a
Introdução do Poder Local Do Estado na CRM de 1990;
✓ Lei n.º 2/97, de 18 de Fevereiro, Br. n.º 07, Iª Série, Suplemento - Aprova a Lei
Quadro Para a implantação das Autarquias Locais em Moçambique;
✓ Lei n.º 9/2002, Br, n.º 15, Iª Série, 2.ºSuplemento, que Aprova a o Sistema de
Administração Financeira do Estado – SISTAFE;
✓ Lei n.º 8/2003, de 19 de Maio, Br. n.º 20, Iª Série, 2.º Suplemento, Aprova a Lei dos
Órgãos Locais do Estado – LOLE;
✓ Lei n.º 2/2006, de 22 de Março, Br. n.º 30 , I Série, - Aprova a Lei Geral Tributária;
✓ Lei n.º 1/2008, de 16 de Janeiro, Br. n.º 3, I Série – Define o Regime Financeiro,
Orçamental e Patrimonial das Autarquias Locais e o Sistema Tributário Autárquico;
✓ Lei n.º 15/2002, de 26 de Junho, Br. n.º 26, I Série – Aprova a Lei de Bases do Sistema
Tributário;
3. DECRETOS
✓ Decreto n. 38/2005, de 29 de Agosto, Br. nº. 34, I Série – Altera o código de imposto
de selo;
✓ Decreto – n.º 33/2006 de 30 de Agosto, Br. n.º 35, I Série – Estabelece os
procedimentos para transferência de funções dos Órgãos Centrais do Estado para
as Autarquias locais;

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✓ Decreto n.º 1/82, de 06 de Janeiro. Br. n.º 1, I Série. – Introduz alteração ao Código
de Impostos Sobre o Rendimento;
✓ Decreto n.º 61/2010, de 27 de Dezembro, Br.º n.º 51, I Série. – Aprova os
mecanismos de determinação e correcção do valor patrimonial dos prédios urbanos
situados na autarquia e sujeitos ao IPRA;
✓ Decreto n.º 63/2008, de 30 de Dezembro, Br n.º 52, I Série. – Aprova o Código
Tributário Autárquico;
4. Resolução n.º 5/77 de 01 de Setembro, Br. n.º 101, I Série. – Aprova os princípios
gerais da nova política fiscal;

Lista de Fórmulas
Fórm. 2. Fórmula para Determinação do Valor Patrimonial ..................................................X

Fórm. 3. Fórmula para Determinação do IPRA .......................................................................X

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