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Escola Superior de Economia e Gestão

Delegação de Chimoio

Trabalho em Grupo

Curso: Direito 3° Ano I Semestre

Tema: Mecanismo de Resolução de Conflito de Terra

Cadeira: Direito Agrário

Discentes 2° Grupo:

Lázaro Machava

Rosária A. Albino

Cremilda Das Dores António Miguel

Tendai Nhampoca

Paulo Curaidza

Chimoio, Abril de 2022


Escola Superior de Economia e Gestão

Delegação de Chimoio

Trabalho em Grupo

Curso: Direito 3° Ano I Semestre

Tema: Mecanismo de Resolução de Conflito de Terra

Cadeira: Direito Agrário

Trabalho científica da Cadeira de Direito Agrário, a


ser apresentado ao Departamento de Direito, para
obtenção de Grau de Licenciatura em Direito. Com
Efeitos de Avaliação sob orientação do docente:

dr: Denny Odonel Matias Tomo

Chimoio, Abril de 2022


Índice
1 Introdução..................................................................................................................1
2 Objectivos..................................................................................................................2
2.1 Geral....................................................................................................................2
2.2 Específicos..........................................................................................................2
3 Metodologias..............................................................................................................2
4 Fundamentação teórica...............................................................................................3
4.1 Definições...........................................................................................................3
4.1.1 Conflito........................................................................................................3
4.1.2 Acesso à Terra.............................................................................................3
4.1.3 Posse de Terra..............................................................................................3
4.1.4 Conflitos de Terras......................................................................................3
4.1.5 Resolução de Conflitos................................................................................4
5 Quadro Legal e Institucional da Gestão de Terra em Moçambique...........................4
5.1 Constituição da República de 2004....................................................................4
5.2 Lei de Terra, Lei n.º 19/97, de 1 de Outubro......................................................4
5.3 Lei do Ordenamento do Território, Lei n.ᵒ 19/2007, de 18 de Julho..................4
5.4 Regulamento do Solo Urbano, Decreto n.ᵒ 60/2006, de 26 de Dezembro..........5
6 Causas dos conflitos de terra......................................................................................5
6.1 Ocupação costumeira..........................................................................................5
6.1.1 Aquisição por um facto material.................................................................5
6.1.2 O direito pode também nascer de acto jurídico...........................................5
6.2 Ocupação por boa-fé...........................................................................................6
6.3 Acesso á terra por via de uma autorização do Estado.........................................6
7 Tipos de conflitos.......................................................................................................6
7.1 Intra-familiares....................................................................................................7
7.2 Intra-comunitários...............................................................................................7
7.3 Intracomunitários................................................................................................7
7.4 Comunidades/investidores..................................................................................7
7.5 ENTRE INVESTIDORES..................................................................................8
7.6 Estado/particulares..............................................................................................8
8 Mecanismos de resolução de conflitos de terra..........................................................8
8.1 Dualismo previsto na CRM, PNT e LT..............................................................9
8.2 Mecanismos formais...........................................................................................9
8.2.1 Tribunais judiciais.......................................................................................9
8.2.2 Tribunais comunitários................................................................................9
8.2.3 Tribunais comunitários..............................................................................10
8.2.4 Contencioso administrativo.......................................................................10
8.2.5 Arbitragem, mediação e conciliação.........................................................10
8.3 Mecanismos informais......................................................................................10
9 Formas de Mitigação de Conflitos de terra..............................................................11
9.1 Preparação para conflitos de terra.....................................................................11
9.2 Identificar os “sinais de alerta” de conflito.......................................................11
9.3 Três estratégias.................................................................................................11
9.3.1 Realizar reuniões comunitárias para facilitar o diálogo aberto.................11
9.3.2 Trabalhar com líderes comunitários e funcionários do governo em quem
possam confiar.........................................................................................................12
9.3.3 Mediação...................................................................................................12
10 Conclusão.................................................................................................................13
11 Referências bibliográficas........................................................................................14
1

1 Introdução
A temática agrária nunca deixou de figurar pauta da realidade, bem como de influenciar
e delimitar o campo ideológico do labor académico. Diariamente abordada de maneira
superficial desde os noticiários filtrados dos meios de comunicação de massa até nas
mesas de discussão das universidades, com pretensas premissas revestidas de
cientificidade. Os temas decorrentes abordados despertam paixões discursivas, tais
como:
Posse;
Conflitos agrários;
Direito de propriedade ou direito à propriedade;
Papel da Justiça ou juiz; e,
Como proposta, a postura e necessidade do juiz agrarista.
Capaz de se envolver na dramática realidade de conflito colectivo pela posse da terra,
entre outras. Não se trata, meramente de questões jurídicas atravessadas pelo Direito
Civil ou pelo Processo Civil, mas de direitos fundamentais que clamam pela
efectividade e eficácia horizontal de direitos, consubstanciados no acesso à terra, que
tem potencialidade de desencadear uma vasta gama de direitos afins, quais sejam de
acesso à educação, saúde, segurança alimentar, etc.
Em sede de utopia (u, possibilidade; topos lugar), a luta pelo Direito aponta como
possibilidade de resolução dos conflitos colectivos pela posse da terra e da histórica
situação de exclusão do trabalhador rural a instituição da Justiça Agrária. O fundamento
jurídico para tal justiça especializada decorre dos princípios insertos na Constituição e
seu suporte académico científico é dado pelo Direito Agrário. Os fundamentos de
validade dos ditames constitucionais (princípios) devem se sobrepor ao direito de
propriedade privada da terra.
A instalação do latifúndio é uma ferida aberta no tecido social. Neste sentido, aborda-se,
aqui, não só o chão histórico acerca da cristalização do direito de propriedade e de
apropriação da terra, mas também da produção legislativa agrária no processo de
formação social, isto é, da actuação e aplicação do Direito, diga-se da aplicação com
base na tradição privada ou romana do jus. Desta forma, procura sondar se a mera
implementação da Justiça Agrária. Por fim, parte-se do entendimento que o acesso á
2

terra constitui-se um direito fundamental, cuja eficácia horizontal deveria ser atestada
pela existência de normas que protegem tal acesso.

2 Objectivos

2.1 Geral
Analisar Mecanismos de Resolução de Conflitos De Terra.

2.2 Específicos
Conceituar Conflito, Acesso à Terra, Posse de Terra, Conflitos de Terra e
Resolução de Conflitos;
Explicar as causas de conflitos de terra;
Identificar os tipos de conflitos de terra;
Caracterizar os mecanismos de resolução dos conflitos de terra;
Descrever as formas de mitigação de conflito de terra.

3 Metodologias
Com propósito metodológico, recorremos as pesquisas bibliográficas, a uma vista de
olhar nos Livros (Módulos/Manuais) e nos serviços electrónicos (internet), seguindo da
compilação da informação recolhida fez se o que a seguir nos é apresentado. Porem para
a concretização do trabalho fez se uso do método de consulta bibliográfica como forma
de finalizar o trabalho a ser aprestado.
3

4 Fundamentação teórica

4.1 Definições
Para uma melhor compreensão da pesquisa, serão definidos os seguintes conceitos:
Conflito, Acesso à Terra, Posse de Terra, Conflitos de Terra e Resolução de Conflitos.

4.1.1 Conflito
As NU (2009) percebem o conflito como um aspecto necessário e inevitável das
relações nacionais e internacionais.

O conflito pode ser gerido negativamente evitando-o num extremo, ou utilizando a


ameaça ou a força no outro extremo. Por outro lado, o conflito pode ser gerido
positivamente por intermédio da negociação, a resolução conjunta dos problemas e a
construção de consensos.

4.1.2 Acesso à Terra


Existem duas formas de acesso à terra, nomeadamente: Acesso livre e Acesso restrito.
Considerando a primeira forma (Acesso Livre), temos a terra disponível, podendo ser
adquirida e passar a ser propriedade de quem a adquirir, sendo que, o seu uso é feito de
forma ampla, sem limitações, permitindo aliená-la, penhorar, hipotecar, arrendar ou usa-
la e dá-la como garantia. Por isso, o acesso, uso, gestão e controlo são feitos livremente.
A segunda forma que é o Acesso Restrito da terra implica outra compreensão dos
direitos sobre a terra (ALFREDO, 2009).

4.1.3 Posse de Terra


A posse da terra significa apenas direitos de terra. Legalmente definido, um sistema de
posse de terra é um conjunto de regras que governa o acesso e a utilização da terra e que
determina todos os direitos que se podem manter na terra (BRUCE, 1992).

4.1.4 Conflitos de Terras


VALÁ (2003), define conflitos de terra como diferendos que se verificam motivados
pela posse ou não de terra, ou ainda pela tendência do seu alargamento. Por sua vez,
ALFREDO (2009), define conflitos de terra como: “Uma manifestação da
contraposição de interesses, opondo duas ou mais pessoas que alegam ser possuidoras
do direito sobre a terra ou de ser titulares do DUAT, cuja solução de tal conflito carece
4

de intervenção de uma autoridade com poderes para tal. Por isso, o conflito há-de ser
entendido como uma situação de tensão e disputa claramente manifestadas pelas partes
que reivindicam um direito sobre aterra”.

4.1.5 Resolução de Conflitos


AVRUCH (1998), defende que a resolução do conflito depende da sua génese. Pelo que,
se combinadas as definições e enfatizadas as ligações entre as partes, pode se dizer que
o conflito ocorre quando duas partes, indivíduos, grupos, comunidades, Estados, nações
se encontram divididos por interesses corporativos, metas ou competindo pelo controle
de recursos escassos. Por sua vez, segundo as NU (2001), este conceito está associado a
uma abordagem centrada na identificação das causas profundamente enraizadas do
conflito e na procura de soluções através de um processo de resolução conjunta dos
problemas.

5 Quadro Legal e Institucional da Gestão de Terra em Moçambique

5.1 Constituição da República de 2004


A Constituição da Republica de Moçambique, no seu Título IV, Capitulo II, artigo 109,
n.º 1 define que a terra é propriedade do Estado. O n.º 2 do mesmo artigo, pressupõe que
a terra não deve ser vendida, ou por qualquer outra forma alienada, nem hipotecada ou
penhorada, prosseguindo, o n.º 3, estabelece que como meio universal de criação da
riqueza e do bem-estar social, o uso e aproveitamento da terra é direito de todo povo
moçambicano.

5.2 Lei de Terra, Lei n.º 19/97, de 1 de Outubro


Ao abrigo do Capítulo I, artigo 2 da lei de terra, lei n.º 19/97, de 1 de Outubro, este
instrumento legal estabelece os termos em que se opera a constituição, exercício,
modificação, transmissão e extinção dos direitos de uso e aproveitamento da terra.

5.3 Lei do Ordenamento do Território, Lei n.ᵒ 19/2007, de 18 de Julho


O Capítulo I, artigo 2, alínea a) do dispositivo legal acima referenciado estabelece que
este tem por objecto criar um quadro jurídico-legal de ordenamento do território, em
conformidade com os princípios, objectivos e direitos dos cidadãos consagrados na
Constituição da República. O artigo 3 estabelece que a presente lei aplica-se a todo
território nacional e, para efeitos do ordenamento do território, regula as relações entre
diversos níveis da Administração Pública, das relações desta com os demais sujeitos
5

públicos e privados, representantes dos diferentes interesses económicos, sociais e


culturais, incluindo as comunidades locais.

5.4 Regulamento do Solo Urbano, Decreto n.ᵒ 60/2006, de 26 de Dezembro


O regulamento do solo urbano visa regulamentar a lei de terras na parte respeitante ao
regime de uso e aproveitamento da terra nas áreas de cidades e vilas. Não obstante, o
artigo 2 pressupõe que o presente regulamento aplica-se às áreas de cidades e vilas
legalmente existentes e nos assentamentos humanos ou aglomerados populacionais
organizados por um plano de urbanização.

6 Causas dos conflitos de terra


Ocupação costumeira;
Ocupação por boa-fé;
Acesso á terra por  via de uma autorização do Estado.

6.1 Ocupação costumeira


Segundo ROSÁRIO, 1992-1999”, 2000 O carácter sagrado da terra  e a sua  
inalienabilidade   estão   na   base   do   costume   em   África.

A terra   é   sagrada   porque   ela   conserva, no seu seio, os antepassados  cuja memória
e espírito   são   venerados   pela   comunidade. O  vínculo   religioso   que existe   entre
o  homem  e  a   terra  vê-se   progressivamente  substituído  pelo vínculo jurídico,  
embora  ainda costumeiro. No direito da terra costumeira/o, distinguem se
essencialmente dois   modos   de   aquisição   de   direitos   sobre   a   terra:

6.1.1 Aquisição por um facto material


O facto de se instalar   sobre a terra, de   a   delimitar   de   a   valorizar   ou   aproveitar.
Esse   facto   material   equivale   a   uma   ocupação,  primeiro   modo   de   a aquisição
de   direitos   sobre   a   terra,

6.1.2 O direito pode também nascer de acto jurídico


É   o   caso   da   venda   e   da   doação, contratos   translativos   de   propriedade; O  
direito   sobre   a   terra   pode   também   ser   adquirido   devido   ao   evento   morte,  
caso em   que   estamos   perante   a   transmissão   sucessória. A   ocupação,   a venda,  
a   doação   de   um   terreno e   sua  transmissão   sucessória   não efectuadas segundos  
os   usos   e   costumes   podem   ser   fontes   de   múltiplas contestações. A   base  
6

deste   processo é as linhagens e as famílias. Os sistemas consuetudinários   ou


costumeiros   expressam se   através   de   um   conjunto   de   regras   e   normas,   e  
moldam os direitos   e   obrigações   de   um   grupo   que   os reconhece.

6.2 Ocupação por boa-fé


Tal   como   a   ocupação   costumeira,   a   ocupação   de   boa-fé   resulta   igualmente  
de   factos matérias,   nomeadamente   o   desbravamento,   a   delimitação   da   parcela
através   de   sinais visíveis   e   o   seu   uso   efectiva.   Esta   forma   de   aquisição   do
direito   á   terra   implica   a convenção   de   que   não   se   esta   a   prejudicar   o  
direito   de   outrem. Para   que   esta   forma   de   ocupação   se   torne   um   direito  
definitivo   e   valido   para   todos   perante a   lei,   o   ocupante   tem   de   permanecer
no   terreno,   usando-o   e   aproveitando-o   por   um  período   mínimo   de   dez  
anos.

6.3 Acesso á terra por via de uma autorização do Estado


Para   além   dos   mecanismos   do   sistema de costumeiro,   o   acesso   á   terra   pode
ocorrer   em consequência   da   autorização   de   um   pedido   formal   dirigido   ao  
órgão   da   administração  pública   central   ou   autárquica   competente,   no   caso,  
respectivamente,   das   zonas   rurais   e das   cidades   e   vilas.   Esta   autorização  
será   posteriormente   consubstanciada   num   título   de uso   e   aproveitamento   da  
terra   emitido   pelo   Estado   ou   pela   autarquia. A   legislação   de   terras   prevê
um   mecanismo   relativamente   simples   para   a   aquisição   do direito   por   via   da
administração   pública.  

7 Tipos de conflitos
 Intra-familiares
 Intra-Comunitários
 Inter-comunitários
 Investidor – Comunidade
 Investidor – Investidor
 Estado – Investidor
 Estado – Comunidade
 Estado – Indivíduo
7

7.1 Intra-familiares
• Ocorrem no seio da família:

– Herança, afectando principalmente mulheres e crianças (homens adultos)

– Crescimento e desmembramento da família

- Divisão das terras familiares

• A 1.ª Instância é a comunidade/própria família

7.2 Intra-comunitários
• Geralmente opõem membros da comunidade a esta:

– Desmembramento e regularização da parcela individual – Limites das terras


individuais/familiares

– Sobreposição de direitos – “Hipoteca” – verdadeira agiotagem

• As Instâncias variam

– Conforme os envolvidos forem mais ou menos esclarecidos

7.3 Inter - comunitários


• Diferendo envolve comunidades diferentes:

– Invasão;

– Pastagem do gado e prática da agricultura em terras ociosas de outras comunidades;

– Grandes investimentos;

– Líderes duma comunidade podem não respeitar limites da outra quando aliciados por
investidores.

Intervêm associações, autoridades


Administrativas, tribunais

7.4 Comunidades/investidores
• Opõem comunidades aos investidores:

– Limites na altura da demarcação (corrupção)


8

– Construção de vedações – obstrução de servidões

– Consultas viciadas

• Corrupção envolvendo líderes comunitários e/ou Agentes do Estado


• Recurso Hierárquico
• Mediação das Associações/Confissões Religiosas/AMETRAMO
• Tribunais

7.5 ENTRE INVESTIDORES


• Disputa entre investidores:
I. Sobreposição de DUATs;
II. Parcerias mal forjadas;
III. Primazia da actividade;
IV. Indemnização /compensação;
V. Violação dos limites.
• Preferem a mediação (nas relações comerciais é mais célere – Maputo,
Beira e Nampula) ou tribunais – melhoraram onde foram criadas Secções
Comerciais
• As autoridades administrativas e CACM intervêm como 1.ª Instância

7.6 Estado/particulares
• Estado-Comunidades/Investidores/Indivíduos (são conflitos de grandes
proporções...):
A. Mau procedimento das autoridades administrativas
B. Expropriações devido ao interesse público – indemnizações e/compensações
• Mediação das associações
• Mediação profissional (Arbitros Profissionais)
• •Contencioso administrativo

8 Mecanismos de resolução de conflitos de terra


Com vista a resolução de conflitos, o CMM tem pautado pela atribulação de terrenos,
embargos e demolições. Neste processo observa-se muitas vezes falta de transparência e
não cumprimentos dos procedimentos legalmente estabelecidos para o efeito. No
município da Matola, a resolução de conflitos é um processo que é levado a cabo por
três instâncias administrativas: Círculos dos Bairros, Postos Administrativos Municipais
9

e a VPTU. Para o caso concreto de conflitos registados em Tchumene I e II, como


primeira instância destaca se o Círculo do Bairro de Matola-Gare, em segundo, o Posto
Administrativo Municipal da Machava e em terceiro a VPTU. Há que destacar que
quando nos referimos a intervenção do CMM nos referimos de forma directa a
VPTU48. Não obstante, este não intervém de forma isolada, pelo que, a sua intervenção
é feita em coordenação com as duas instâncias de resolução de conflitos acima citadas
(Circulo do Bairro de Matola-Gare e Posto Administrativo Municipal da Machava). A
figura abaixo mostra estrutura hierárquica das instâncias de resolução de conflitos.

8.1 Dualismo previsto na CRM, PNT e LT


 FORMAIS: implantados e geridos pelo Estado (Direito positivado);
 INFORMAIS: consuetudinárias protegidas pelo Estado no plano constitucional e
legal.

8.2 Mecanismos formais


• Os Mecanismos Formais prevêem a intervenção dos tribunais (comunitários e
judiciais), incluindo o contencioso administrativo (TA), por um lado
• Pelo outro, há a intervenção das instituições da Administração Pública, desde o
nível local até ao central

8.2.1 Tribunais judiciais


• A LOJ (Lei n.º 24/2007, de 20 de Agosto) introduz na Organização Judiciária a
categoria de Tribunais Superiores de Recurso (Art. 29).
• Categorias: TS, TSR, TJP e TJD
• A LOJ refere-se aos TCs (Art. 5) como instâncias institucionalizadas não
judiciais de resolução de conflitos, independentes, que julgam de acordo com o
bom senso e a equidade, de modo informal, desprofissionalizado, privilegiando a
oralidade e atendendo aos valores sociais e culturais existentes na sociedade
moçambicana, com respeito pela Constituição – LOJ mantém sua exclusão da
organização judiciária atirando-os à informalidade.

8.2.2 Tribunais comunitários


• A Lei n.º 4/92, de 6 de Maio (Lei dos tribunais comunitários) subtraiu os TCs da
base da orgânica do judiciário,
• Criados pela Lei n.º 10/92, de 6 de Maio, actualmente os Tribunais Judiciais de
Distrito passaram a formar a base do judiciário
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• Os Tribunais Comunitários substituíram os Tribunais Populares de


Localidade/Bairro, criados pela Lei nº 12/78, de 2 de Dezembro. Os TPL/B
formavam a base do Poder Judiciário

8.2.3 Tribunais comunitários


• Os TCs, apesar de terem sido, praticamente, marginalizados pelo sistema
estatutário da justiça, continuam em muitas localidades desempenhando um
papel de persuasão ao nível comunitário (Trindade et al, 2002:36)
• Continuam a ser a preferência – estão muito próximos da realidade da maioria
da população moçambicana e os intervenientes muitas vezes gozam da confiança
dos utentes

8.2.4 Contencioso administrativo


• O recurso é interposto quando o conflito opõe particulares à Administração
Pública
• Muito limitado – apenas recentemente TA passou a ter presença em todas as
capitais provinciais

8.2.5 Arbitragem, mediação e conciliação


Art. 7, Lei n.º 24/2007, de 20 de Agosto com as alterações introduzidas pela Lei n.º
24/2014, de 23 de Setembro:

A. “... Nos tribunais podem ser criados órgãos, secções especializadas ou


mecanismos que facilitem a resolução de conflitos evitando, sempre que
possível, a sua solução contenciosa.”
B. Centros de Arbitragem, Conciliação e Mediação de Conflitos, ao abrigo da Lei
n.º 11/99, de 7 de Julho

8.3 Mecanismos informais


Família;
Autoridades locais;
Autoridades tradicionais;
Associações e outros;
Autoridades administrativas.
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9 Formas de Mitigação de Conflitos de terra


Segundo MANHIQUE, 2013. A mitigação de conflito inclui todas as acções e processos
que 1) são sensíveis ao conflito e não reforçam as tensões ou fontes de violência, e 2)
procuram abordar as causas do conflito e alterar a forma como as pessoas envolvidas
agem e percepcionam os problemas. Actividades humanitárias, de recuperação e de
desenvolvimento são revistas quanto ao seu efeito no contexto do conflito no qual têm
lugar e pela sua contribuição para a paz e estabilidade a longo prazo. Estratégias de
mitigação de conflito podem ser usadas para a prevenção e intervenções em conflito e
também em situações pós-conflito.

9.1 Preparação para conflitos de terra


Em vez de simplesmente esperar para responder aos conflitos de terra à medida que eles
surgirem, as comunidades devem identificar possíveis conflitos e criar planos de gestão
de conflitos com antecedência. As comunidades podem trabalhar com as duas
actividades a seguir:

9.2 Identificar os “sinais de alerta” de conflito.  


As comunidades podem fazer uma lista de sinais de alerta que mostrem crescentes
tensões dentro das comunidades ou entre elas. Elas podem classificar os sinais de alerta
como “amarelos”, “vermelhos” ou “negros” para indicar a gravidade do conflito. As
comunidades também poderiam identificar que tipos de incidentes poderiam
rapidamente criar conflitos sérios e exigir a necessidade de pedir ajuda imediata.  

9.3 Três estratégias


Em muitos casos, levar um caso ao tribunal apenas prolonga o conflito, exige tempo e
recursos valiosos e aprofunda as hostilidades. Além disso, os tribunais – e os
procedimentos judiciais – podem ser parciais em favor das elites ou das pessoas com
mais poder. Três estratégias alternativas de resolução de conflitos são descritas abaixo.
Os líderes locais podem ajudar a decidir qual estratégia é a mais apropriada ao conflito e
ao contexto locais.

9.3.1 Realizar reuniões comunitárias para facilitar o diálogo aberto


 Isso consiste em reunir todos os envolvidos em uma discórdia e criar uma discussão
aberta pública. Os diálogos abertos podem funcionar bem em diversas situações,
entre elas:
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Para abordar práticas consuetudinárias injustas que coloquem grupos vulneráveis


em desvantagem; 
Para resolver litígios dentro de uma comunidade sobre o uso compartilhado de
recursos naturais e terras; e 
Para resolver litígios de limites entre vizinhos.

9.3.2 Trabalhar com líderes comunitários e funcionários do governo em quem


possam confiar
Em situações em que as discussões e negociações internas não funcionarem, pode ser
útil levar o conflito a um nível mais alto. Os líderes respeitados podem usar sua
autoridade para ajudar as partes a resolver os conflitos de terra difíceis.

9.3.3 Mediação
 A mediação é geralmente adequada se as negociações não estiverem indo adiante e as
partes sentirem que precisam da assistência de alguém que não faça parte do litígio. A
mediação pode ser necessária quando:

As pessoas estiverem ficando muito emotivas, dificultando um acordo; 


A comunicação entre as partes não estiver indo bem; 
Houver séria discórdia sobre fatos e informações relevantes; ou 
Houver um desequilíbrio significativo de poder entre as partes.

A mediação é um processo estruturado, liderado por um terceiro: um mediador neutro.


Os mediadores podem ser advogados, mobilizadores comunitários ou membros da
comunidade treinados e respeitados. Uma vez alcançada a resolução do conflito, ela
deve ser registada por escrito e assinada por todas as partes. Isso ajudará a garantir que
todos sigam o acordo. 

9.3.3.1 Se a resolução de conflito falhar


Se os métodos mais relacionais não forem bem-sucedidos, os facilitadores talvez
precisem organizar reuniões públicas ou estratégias de média que envolvam “nomear e
envergonhar” as elites e autoridades abusivas ou corruptas.

Os litígios pela terra podem se transformar em conflitos violentos se não forem


abordados adequadamente. Se as abordagens descritas acima não resolverem o conflito,
pode ser necessário encaminhar o caso para o sistema judicial formal.
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10 Conclusão
Os conflitos de terras tendem a aumentar e a tomar proporções cada vez maiores e de
consequências imprevisíveis. O edifício da justiça formal mostra-se ineficiente para
lidar com a situação – daí o recurso a outros mecanismos. Não tem havido acções
concretas para se atacar as causas, quer a nível institucional, quer a nível de políticas e
legislativo – o tipo de conflitos mais graves. Destaca as resistências populares
emergentes dos conflitos pela posse da terra. Assinala a necessidade de resolução dos
conflitos colectivos pela posse da terra com a criação e instalação da Justiça Agrária.
Descreve o fundamento jurídico de tal justiça especializada como decorrente de
princípios inseridos na Constituição Federal. Discorre sobre a insuficiência do Direito
Civil para “julgar” as questões agrárias, especialmente os conflitos agrários, devido sua
natureza patrimonialista. Trata de aspectos fundamentais ligados ao acesso à Justiça e
sublinha os mecanismos de entraves do sistema processual em vigor. Concebe a questão
agrária, o acesso à terra e a legitimidade da reivindicação dos Movimentos Sociais
Campesinos sob a óptica da efectivação dos fundamentos.
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11 Referências bibliográficas
1. GUR, Ted Robert. “Manual do conflito político”, Brasília – Editora
Universidade de Brasília, 1985.
2. VALÁ, Salim Cripton. “A Problemática da posse de terra na região agrária de
Chokwe (1954-1995) ”, Maputo, 2003.
3. ALFREDO, Benjamim. “Alguns aspectos do regime jurídico da posse do direito
de uso e aproveitamento de terra e os conflitos emergentes em Moçambique”,
2009.
4. BRUSCHI, S. “Planificar as cidades: por que razão e para quem?”, Maputo –
Imprensa Universitária UEM, 1998.
5. MAFUMO, Ambrósio Tomas, “Os Direitos Legal e Consuetudinário: sua
articulação na segurança de posse de terra em Marracuene, 1975-2005”, 2006.
6. ROSÁRIO, Domingos Manuel, “resolução e Prevenção de Conflitos no
Processo de Gestão da Terra na Costa Moçambicana: O caso da Zona da Praia
do Bilene, 1992-1999”, 2000
7. MANHIQUE, Ilídio Fernando, “Mecanismos de Acesso e Posse de Terra em
Moçambique, Práticas e Percepções Sociais: o caso do bairro Intaka”, 2013.
MANHICANE, Tomás, “Economia da Terra e Redução da Pobreza”, Maputo:
IESE, 2007.
8. BAIA, Alexandre Hilário Monteiro. “Os conteúdos da urbanização em
Moçambique:
consideração a partir da expansão da cidade de Nampula”, São Paulo, 2009;.
9. BRUCE, John W. “Questões de Posse de Terra em África: uma visão global”,
EXTRA, Especial, Junho, 1992.
Legislação e outras fontes
1. Assembleia da República: Constituição da República de Moçambique, 2004;
2. Assembleia da República: Lei de Terras (LT): Lei n.ᵒ 19/97, de 1 de Outubro;
3. Assembleia da República: Lei do Ordenamento do Território: Lei n.ᵒ 19/2007,
de 18 de Julho;
4. Conselho de Ministros: Regulamento do Solo Urbano: Decreto n.ᵒ 60/2006, de
26 de Dezembro;

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