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Globalidade ou Universalidade
O direito do ambiente é um direito global ou universalista, isto é, que ultrapassa a visão
local ou regional. Grande parte dos problemas ambientais têm um impacto que
transborda o local da sua ocorrência não podendo jamais ser encarados numa mera óptica
casuística ou isolacionista.
Nenhum continente é capaz de resolver sozinho o problema da camada de ozono, das
alterações climáticas, ou do empobrecimento dos recursos. Quando se fala da
problemática do ambiente é necessário falar da questão do desenvolvimento,
principalmente num país como Moçambique, em que a situação da pobreza, que afecta
grande parte da população, assume contornos preocupantes.
O impacto de uma indústria poluente sobre um rio pode exercer os seus efeitos a
centenas de quilómetros de distância, numa outra região ou até num outro país. A
poluição gerada pelos países do chamado primeiro mundo é substancialmente
responsável por alguns dos desequilíbrios e desastres ecológicos de que temos ouvido
falar e que têm ocorrido em muitos cantos da Terra, alguns dos quais sem qualquer
atividade industrial digna de referência. A destruição das florestas tropicais contribui,
em ermos cientificamente provados, para o aquecimento global e, consequentemente,
para uma série de perturbações ambientais que se tem verificado um pouco por todos
os lados.
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Elaborado por: Edmo da Silva, Msc. Em Direito, Pós Graduando em Direito de Responsabilidade Civil,
Docente da Cadeira de Direito do Ambiente.
populações que vivem nos países não industrializados, as quais são pobres e querem
desenvolver-se". Daí que, quando falamos na problemática do ambiente, seja
imperioso levantar a questão do desenvolvimento, principalmente num país como o
nosso, em que a situação da pobreza que afecta a maioria da população assume ainda
contornos bastante preocupantes.
Autonomia
Assume-se, ainda, como um direito autónomo, ou seja, detentor de uma identidade
própria, comprovada pela existência de novos princípios e instrumentos jurídicos,
nascidos no contexto da problemática ambiental.
Interdisciplinaridade
Apela aos conhecimentos das restantes ciências sociais e naturais. Logo está ligado as
mais diversas áreas do saber. O jurista que enveredar por esta área tem de assumir
necessariamente uma postura aberta e interdisciplinar, sob pena de não conseguir
compreender o objecto do seu estudo.
Horizontalidade ou transversalidade
Traduz-se na importância dos conceitos, meios, institutos e instrumentos dos
diferentes ramos clássicos do direito na ordenação jurídica do ambiente. Dai que ao
nível da doutrina se tenha identificado e desenvolvido sub-ramos nomeadamente:
direito constitucional do ambiente, direito administrativo do ambiente; direito civil do
ambiente; direito penal do ambiente; direito internacional do ambiente e direito fiscal
do ambiente. É um direito que apela ao conhecimento de quase todos os ramos
clássicos.
2. A AUTONOMIA DO DIREITO DO AMBIENTE DE OUTRAS
DISCIPLINAS JURÍDICAS AFINS.
A relação do Direito do Ambiente com o Direito Administrativo, o Direito Civil, o
Direito Penal, o Direito do Urbanismo e o Direito do Ordenamento do Território pode
muitas vezes sem confundida com uma dependência. Contudo não podemos esquecer
que o Direito do Ambiente encontra fundamentos para a sua autonomia científica e
legal. Esta área do Direito é vista como um ramo de Direito Público. Podemos ver o
Direito do Ambiente como uma área de intervenção interdisciplinar, onde o seu
campo de actuação é a defesa dos interesses difusos, ou seja, a preservação, a
manutenção do meio ambiente é uma matéria por si só abstracta, ela visa o interesse
difuso, isto é, o destinatário é indeterminado, não temos como identificar quem será
aquele que irá se beneficiar com uma política saudável de protecção ambiental,
vejamos o artigo 90º da CRM “Todo o cidadão tem o Direito de viver num ambiente
equilibrado e o dever de o defender”, este artigo quer referir que o ambiente é um bem
de interesse publico’’.
Ora por se tratar então de uma área interdisciplinar e por ser um ramo do direito que
tem uma multiplicidade de fontes jurídicas, uma diversidade de perspectivas e
métodos científicos vezes que se se confunde a sua autonomia.
Segundo o artigo 72.º, da CRM, "todo o cidadão tem o direito de viver num meio
ambiente equilibrado e o dever de o defender*. Urge salientar que este direito foi
incluído no capítulo I, do título II, respeitante aos direitos, deveres e liberdades
fundamentais.
Por seu turno, nos termos do artigo 37.º, da CRM, ‘’o Estado promove iniciativas para
garantir o equilíbrio ecológico e a conservação e preservação do meio ambiente
visando a melhoria da qualidade de vida dos cidadãos". Sendo assim, compete ao
Estado tomar as iniciativas necessárias à efectiva tutela do meio ambiente, quer em
termos positivos, garantindo o exercício do direito fundamental ao ambiente por parte
de todos os cidadãos, como em termos negativos, abstendo-se de praticar acções ou
omissões que ponham em causa o equilíbrio ambiental, constituindo a sua protecção
uma garantia da norma jurídico-constitucional.
'Podemos, assim, afirmar que o nosso Legislador constitucional optou por um modelo
híbrido de tratamento da questão ambiental, reconhecendo o direito ao ambiente
como direito fundamental dos cidadãos, por um lado, e a protecção do ambiente como
fim do Estado, por outro lado.
Contudo, "importa em todo o caso ainda demonstrar que essa sua natureza não
prejudica (mas, pelo contrário, reforça) a circunstância de o ambiente dever ser
também assumido como direito subjectivo de todo e qualquer cidadão
individualmente considerado. Isto será claro se compreendermos que o ambiente,
apesar de ser um bem social unitário, é dotado de uma indiscutível dimensão pessoal.
Ainda nos termos do artigo acima referido, a zona marítima, o espaço aéreo, o
património arqueológico, as zonas de protecção da natureza, o potencial hidráulico e
o potencial energético, constituem domínio público do Estado, assim como os demais
bens classificados como tal pela lei.
Por isso, se o Homem é, por natureza, um ser eminentemente social, deverá saber
encontrar as forças mais adequadas para, em conjunto com os seus semelhantes,
enfrentar os desafios suscitados pelas mais diversas questões ambientais. Por outro
lado, para agir em colectivo, são necessárias normas que, não só reconheçam esse
direito, como permitam a actuação dos órgãos criados ou que vierem a ser criados
para esse fim.
Deste modo, o cidadão moçambicano goza, nos termos da CRM, dos direitos de
direitos de petição, queixa e reclamação, do direito de impugnação", e do direito à
acção judicial", quer para defesa dos direitos, quer para defesa do interesse geral, de
que o ambiente é parte integrante.
A inclusão deste princípio na Lei do Ambiente deriva, desde logo, do princípio XII da
Declaração do Rio, segundo o qual "As populações indígenas e suas comunidades e
outras comunidades locais desempenham um papel vital na estão e desenvolvimento
do ambiente devido aos conhecimentos e práticas adicionais. Os Estados deverão
apoiar e reconhecer devidamente a sua entidade, cultura e interesses e tornar possível
a sua participação efectiva na concretização de um desenvolvimento sustentável".
Note-se que o seu papel tem vindo a ser gradualmente reconhecido e valorizado pelo
Legislador nacional nos últimos anos. Ao nível jurídico, por exemplo, as comunidades
locais são, agora, autênticos sujeitos de direitos e deveres, o que pressupõe um desvio
substancial do conceito tradicional de personalidade jurídica previsto na lei civil.
c) Princípio da precaução.
Assim sendo, a precaução actua num momento anterior à própria prevenção, isto é,"a
precaução exige uma actuação mesmo antes de se impor qualquer acção preventiva,
uma vez que as medidas destinadas a precaver danos ambientais devem ser tomadas
antes de ser estabelecida qualquer relação causal por intermédio de provas científicas
absolutamente claras".
Por fim, sublinhamos Ana Martins ao afirmar que "o princípio da precaução
consubstancia (...) a manifestação jurídica desta nova apreensão do mundo, da
demanda social de segurança, de uma atitude de profunda humildade quanto aos
potenciais e limites da ciência e das novas reflexões filosóficas sobre o homem e a
natureza e a responsabilidade pelas gerações vindouras e à vida na terra.
f) Princípio da igualdade
Artigo 4º f) da Lei do Ambiente, na PNA ponto 2.3.10, artigo 66º da CRM. Em matéria
ambiental não há cidadãos de primeira ou de segunda, todos têm igualmente o direito
fundamental ao ambiente e o correspectivo dever de o defender.
g) Princípio da responsabilização
Este princípio está consagrado na PNA no ponto 2.2 e significa que o poluidor tem de
suportar os custos do desenvolvimento das medidas de controlo da poluição,
decididas pelas autoridades públicas a fim de garantir que o ambiente esteja num
estado aceitável.
Este pode ser um meio de arrecadar fundos para o Estado combater a poluição.
Não podemos pensar este princípio como de carácter sancionatório, pois visa
essencialmente acautelar necessidades de prevenção e precaução.
k) Princípio da correcção na fonte
Este princípio é também conhecido como princípio do produtor-eliminador, princípio
da auto-suficiência ou princípio da proximidade. Constitui um corolário do princípio
do poluidor pagador.
NB: O resumo acima, não dispensa a leitura das referências bibliográficas e das
legislações acima mencionadas neste texto.
O docente
Edmo A. da Silva