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Ficha De Leitura

Licenciatura em Relações Internacionais


Discente: Briss Barreto Quaresma
Nº: 49343
Título da Obra :
After Liberalism in World Politics? Towards an International Political Theory of Care
Edição : 1ª. Edição
Ano: 2013
Páginas : 15
ISBN : 9781315873350

Autora:
Fiona Robinson, é uma professora de Ciências Políticas especializada em Relações
Internacionais e Teoria Política. Ela atualmente ocupa a posição de Professora de
Estudos Políticos na Universidade Carleton, em Ottawa, Canadá.
Robinson é conhecida por sua pesquisa sobre questões de justiça global, direitos
humanos, feminismo e teoria crítica nas relações internacionais. Seu trabalho tem sido
publicado em diversas revistas acadêmicas e ela é autora de vários livros, incluindo
"Globalizing Care: Ethics, Feminist Theory, and International Relations" e "The Ethics
of Care: A Feminist Approach to Human Security".
Além de seu trabalho acadêmico, Robinson é membro do conselho editorial de várias
revistas acadêmicas e é ativa na promoção da igualdade de gênero e dos direitos
humanos. Ela recebeu diversos prêmios e reconhecimentos por suas contribuições para a
pesquisa em ética e relações internacionais.
As suas obras giram essencialmente em torno de dois temas centrais
1ºA Ética e Relações Internacionais (teoria normativa e crítica das RI; direitos humanos;
cosmopolitismo; justiça global);
2ºA questão do Gênero e Relações Internacionais (estudos feministas de segurança;
política externa feminista); teoria política feminista e ética feminista, especialmente a
ética do cuidado.
1- QUAL A PROBLEMÁTICA DO TEXTO? O QUE SE PRETENDE
ANALISAR/DEMONSTRAR?

O artigo vem analisar ou propor a possibilidade e os efeitos da inserção de uma teoria


política internacional do cuidado como alternativa ao liberalismo.
Mas porquê uma alternativa ao liberalismo?
O liberalismo atualmente se vê como a teoria em vigor no panorama internacional, é
um fenómeno muito amplo que abrange diversas áreas como a política, a economia e a
filosofia, mas resumindo o conceito que está na base do liberalismo independentemente
da área inserida é a liberdade, ou seja, o individualismo.

O artigo é uma contribuição perspicaz para o campo da teoria política internacional,


desafia o paradigma liberal dominante na política internacional e propõe uma
abordagem alternativa baseada na ética do cuidado.

Fiona Robinson baseia-se na teoria feminista e no pensamento pós-colonial para


desenvolver seu argumento. Ela mostra como a ética do cuidado pode fornecer uma
abordagem mais inclusiva e compassiva à política internacional, que reconhece a
diversidade de experiências e perspectivas na comunidade global. Ela também ilustra o
potencial da ética do cuidado para abordar questões como desigualdade de gênero,
abusos dos direitos humanos e degradação ambiental.

Um dos pontos fortes do livro é seu envolvimento com os debates mais amplos da teoria
política internacional. Fiona Robinson oferece uma crítica completa do liberalismo, mas
ela também se envolve com outras perspectivas, como realismo, cosmopolitismo e
teoria crítica. Isso lhe permite situar a ética do cuidado dentro de um contexto
intelectual mais amplo e demonstrar sua relevância para os desafios globais
contemporâneos.

No geral, " After Liberalism in World Politics? Towards an International Political


Theory of Care" é uma contribuição instigante e oportuna para o campo da teoria
política internacional. Ele desafia os paradigmas dominantes e oferece uma abordagem
alternativa convincente que enfatiza empatia, responsabilidade e solidariedade em
assuntos globais.
2- QUAL O ARGUMENTO PRINCIPAL E COMO É DESENVOLVIDO AO
LONGO DO TEXTO?

O principal argumento Segundo da autora, é de que o liberalismo no contexto de


política global, nega e ofusca muitos aspetos fundamentais da vida moral, sendo assim,
ela levanta a questão de uma nova teoria, a “teoria do cuidado” (a relacionalidade e a
interdependência e as responsabilidades e as práticas do cuidado) que ao contrario do
liberalismo poderia trazer vários conceitos fundamentais para a vida social como um
todo rompendo com a extrema valorização associada a liberdade, autonomia e
tolerância defendida pelo liberalismo.

A autora argumenta que o liberalismo falhou em abordar muitas das questões prementes
enfrentadas pela comunidade internacional, de acordo com a autora, a ênfase liberal nos
direitos individuais e na autonomia levou a uma negligência das responsabilidades
coletivas e da justiça social. Em contrapartida, a ética do cuidado prioriza a
relacionalidade, a interdependência e a responsabilidade pelo outro.

Como introdução ela começa por mencionar a primazia do realismo (mainstream)


como teoria das Relações Internacionais e o papel do liberalismo de segundo plano, e
depois explica como isso alterou e o liberalismo passou a ser a teoria preponderante
com o fim da guerra fria.

Mas essa preponderância foi algo efêmero, transitório, já que após uma década do fim
da guerra fria o liberalismo vem sendo considerado como uma teoria insustentável
devido a inúmeros acontecimentos no âmbito da política global e ela menciona alguns
desses acontecimentos tanto nível político como a nível económico, acontecimentos
estes como os conflitos na região de darfur no sudão1 (que é mais do que um simples
conflito étnico religioso, mas que acaba sendo de grande relevância para a política
internacional, pois envolve interesses de grandes potências como a China) e a guerra do
terror, a crise económica de 2008 entre outras, basicamente esses acontecimentos
vieram a por em causa a crença nos valores e ideais defendidos pelos liberais, pois como

1 um conflito armado em andamento na região de Darfur, no oeste do Sudão, que opõe principalmente
os janjawid - milicianos recrutados entre os bagaras, tribos nômades africanas de língua árabe e
religião muçulmana - e os povos não árabes da área. O governo sudanês, embora negue publicamente
que apoia os janjawid, tem fornecido armas e assistência e tem participado de ataques conjuntos com o
grupo miliciano
nós sabemos o liberalismo vê na política mundial a existência de um ambiente onde a
cooperação é regra e a guerra é somente exceção.

Ou seja, foram a partir desses acontecimentos que começaram a levantar ou tentar


instituir bases para uma teoria que pudesse substituir o liberalismo e o neoliberalismo,
mas havia um porém, havia toda essa descrença no liberalismo, mas não havia uma
indicação clara de uma outra teoria política que pudesse substituí-la, sendo isso
questionado pela autora: “Se o liberalismo está mesmo perto do seu fim, o que pode ou
deve substituí-lo?”.

Podemos observar que a Fiona Robinson, nunca chega a afirmar que o Liberalismo é
uma teoria falha, irrelevante ou que está morta, tudo o que foi dito são somente
presunções teóricas envolvendo todos os problemas que decorreram no âmbito da
política mundial, pelo contrário ela menciona a importância e a persistência dos valores
liberais nas relações internacionais contemporâneas, porém segundo ela essa crise e
resistência dos valores liberais são o que reforçam a ideia da necessidade da criação de
uma teoria política do cuidado como alternativa ao liberalismo.

Ela menciona que o comprometimento na manutenção dos valores liberais na política


mundial acabou por gerar muitos problemas por todos o mundo, e com isso ela faz
menção a célebre obra de Francis Fukuyama “O fim da História”, nessa obra Fukuyama
basicamente vê no liberalismo e nas democracias liberais como o ápice da evolução
humana, representando assim o fim da história, pois com a derrota do socialismo, do
fascismo. Segundo Fukuyama (1992, p. 12), “a democracia liberal continuaria como a
única aspiração política corrente que constitui o ponto de união entre regiões e cultura
diversas do mundo todo”. De acordo com a autora essa obra acabou inspirando
confiança no ocidente na tomada de ações pró-liberais e mais uma vez ela menciona
alguns acontecimentos que demonstram isso, como a guerra do golfo, a problemática do
Kosovo e a guerra do terror, ou seja, a política mundial naquele período era toda feita
com base na justificação da proteção dos valores liberais.

A descrição da autora nos mostra a natureza mutável das relações Internacionais.


Também é por ela mencionado que o Liberalismo trouxe e instituiu várias dicotomias,
como as do público/privado da soberania e da intervenção, todos esses conceitos
acabam por travar o sistema internacional em busca de uma solução para os diversos
problemas que existem no mundo todo.
Nesse contexto que várias vozes se levantaram contra o liberalismo e a economia
neoliberal, mas em especifico ela menciona as feministas, trazendo uma abordagem
mais ampla do conceito, citando alguns autores como a Nancy Fraser e Alisson Weir,
dizendo que o feminismo se foca mais do que a busca pela equidade de género,
almejando também uma mudança mais profunda que afete as desigualdades de cadeia
globais de cuidado (ou seja, no plano internacional, o norte todo poderoso e benevolente
encarregado de construir a segurança e desenvolver o sul). Ela afirma que isso ocorre
pois se olha a problemática do cuidado geralmente ligada a questão periférica ao invés
do núcleo central da política, afirmando que deve haver uma relação de dependência e
responsabilidade de dar e receber cuidado.

Natureza do cuidado e da prestação dos cuidados são definidos por pressupostos


liberais, o que eu a entender é que a Fiona Robinson tenta passar a visão de que os
valores liberais e neoliberais são os maiores problemas pelo foco extremo no
individualismo, e na criação das várias dicotomias que se traduzem numa forma de vida
ocidental, o que põe em causa a ética do cuidado.

Afirma a autora também que enquanto o conceito de dependência continuar sendo


deixado no plano de fundo, estamos excluindo aqueles que necessitam inevitavelmente
de cuidado tanto como aqueles que fornecem cuidados, a partir disso ela faz uma
analogia sobre o governo haitiano que é bastante dependente dos países doadores devido
a algumas catástrofes naturais que em tempo ocorreram, mas que isso não pode nos
fazer esquecer que o governo haitiano também tem a responsabilidade de promover
cuidados para a luta quotidianas contra a pobreza.

3- -HÁ ALGUMA PARTE DO TEXTO DE PARTICULAR RELEVÂNCIA


PARA O ARGUMENTO? QUAL?

A relevância do principal argumento do texto se situa nos dois conceitos trazidos pela
autora, o da interdependência e responsabilidade, que não só vem mostrar como a
ética do cuidado é realmente importante, mas também vem também deixar claro que
toda essa relação de dependência atualmente existente, não é somente fruto da
benevolência, ou obrigação contemporânea como o liberalismo faz parecer, mas de
responsabilidades históricas, e com isso ela se refere ao colonialismo, a escravidão e a
ocupação territorial, porém a autora não nega uma lacuna presente nessa teoria, que se
situa no fato de que algumas vezes o discurso da ética do cuidado acabam sendo usado
para fins ideológicos e definidas de maneiras egoístas pelos dominantes e poderosos, o
qual ela usou uma expressão chamada de “Cuidado paternalista”.

Outro aspeto importante, é a necessidade da transnacionalização do cuidado, onde a


partir dessa premissa a autora faz uma analogia entre a divisão norte-sul (e a questão
da interdependência) referindo-se ao fluxo de cuidadores, principalmente mulheres de
países de baixa renda para países mais ricos. Pois as mulheres muitas vezes deixam seus
próprios filhos sob os cuidados de outra parente do sexo feminino em seu país de
origem para buscar oportunidades no exterior que os ajudem a sustentar aquelas
crianças. Pois segundo a autora “são as mulheres, especialmente as mulheres
pobres e de cor, que carregam o fardo de cuidar de suas próprias famílias ou de famílias
em países ricos no exterior” (Robinson, 2010, p.135)

Em suma o objetivo dessa teoria crítica do cuidado é tentar pôr fim as diversas
dicotomias instituídas pelos valores liberais (Publico/privado, nacional/internacional,
autonomia/dependência) e também tentar fazer entender que a verdadeira autonomia só
pode ser alcançada através da promoção de sociedades que valorizam a
interdependência e reconhecem a vulnerabilidade de todos.

4- EXISTEM LIMITAÇÕES NO ARGUMENTO? QUE CRÍTICAS QUE


PODEM SER FEITAS AO TEXTO?

Teoricamente a ideia é excecional, tanto por criticar os conceitos instituídos por ideais
liberais bem como por levar em conta a questão de género nessa abordagem, algo que
não é tão comum nas teorias das relações internacionais que se baseiam quase e
unicamente na análise das relações estatais e não levam em conta outros fatores, porém
existe uma falta de clareza sobre como a teoria do cuidado pode ser aplicada na prática.
Ou seja, embora a autora apresente uma teoria persuasiva e bem fundamentada do
cuidado como um valor ético e político importante, pode haver dúvidas sobre como essa
teoria pode ser traduzida em políticas e práticas concretas.

Algumas críticas apontam que a teoria do cuidado pode negligenciar as desigualdades


econômicas, e a concentração de poder nas mãos de poucos, o que pode dificultar a
implementação de políticas que promovam o cuidado de maneira justa e equitativa
geralmente essa é uma das maiores críticas apresentada as teorias críticas de base
feminista.

a teoria do cuidado parece ser um pouco complexa para ser aplicada em níveis pode ser
difícil de se aplicar em contextos internacionais, onde as relações entre países são
frequentemente marcadas por interesses conflitantes e negociações de poder.

Ou seja a aplicação dessa teoria na prática implicaria uma reestruturação drástica não só
da sociedade, mas também da política internacional, pois levaria a fazer com que os
autores internacionais simplesmente reconheçam a sua fraqueza e vulnerabilidades, pois
como ela mesmo havia mencionado, querendo ou não, chega em um ponto que esse
discurso de cuidado acaba sendo usado como instrumento de política internacional, pois
sabemos que está enquadrada na natureza dos estados (ou das estruturas) a satisfação
dos interesses egoístas.

Uma limitação é que a ética do cuidado pode ser vista como excessivamente subjetiva e
dependente de relações pessoais, o que pode ser difícil de aplicar à política
internacional. Embora aborda essa preocupação sugerindo que o cuidado pode ser
estendido além do pessoal para o coletivo, mas mais trabalho precisa ser feito para
demonstrar como isso pode ser alcançado na prática.

Outra limitação é que o livro não aborda totalmente os desafios práticos de implementar
a ética do cuidado na política internacional. Ele fornece uma estrutura teórica para
pensar sobre o cuidado em questões globais, mas não oferece propostas de políticas
concretas ou estratégias para implementar práticas baseadas no cuidado. Isso pode
limitar a relevância prática do livro para formuladores de políticas e profissionais.

5- COMO SE INSERE O TEXTO NOS DEBATES TEÓRICOS DAS RI? QUAL


A SUA RELEVÂNCIA/CONTRIBUTO PARA O DEBATE?

O artigo traz uma contribuição significativa para os debates e discussões no campo da


teoria das Relações Internacionais (RI).

O livro desafia o paradigma liberal dominante na política internacional e oferece uma


abordagem alternativa baseada na ética do cuidado. Deste modo contribui para os
debates em andamento na teoria de RI sobre os limites e deficiências do liberalismo e a
necessidade de abordagens alternativas para enfrentar os desafios globais prementes.

A estrutura ética do cuidado proposta no livro baseia-se na teoria feminista e no


pensamento pós-colonial para fornecer uma abordagem mais inclusiva e compassiva à
política internacional, que reconhece a diversidade de experiências e perspectivas na
comunidade global. Isso é particularmente relevante no contexto atual, onde questões
como desigualdade, abusos de direitos humanos e degradação ambiental continuam
sendo grandes preocupações globais.

No geral, a relevância e a contribuição do livro para os debates na teoria das RI residem


em sua capacidade de desafiar o paradigma liberal dominante, oferecer uma abordagem
alternativa baseada na ética do cuidado e fornecer uma estrutura teórica mais
matizada e inclusiva para a compreensão da política internacional., não só pela sua
finalidade que é acabar com as dicotomias e trazer para o debate a questão da
interdependência do cuidado, mas também porque contexto internacional tenta
demonstrar as razões da existência do ambiente cooperativo e também por ignorar o
conceito da natureza humana como fundamento teórico ou normativo

REFERÊNCIAS:

Robinson, F (2010) After Liberalism in World Politics? Towards an International


Political Theory of Care, Ethics and Social Welfare, 4:2, 130-144.
Kannan, H (2005) O Fim Da História E O Último Homem.

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