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Licenciatura em Direito
Universidade Licungo
Beira
2020
Delson da Paiva José Viramão
Universidade Licungo
Beira
II
2020
Lista de abreviaturas.......................................................................................................................IV
Declaração de honra........................................................................................................................V
Dedicatória.....................................................................................................................................VI
Agradecimentos............................................................................................................................VII
Resumo........................................................................................................................................VIII
Abstract..........................................................................................................................................IX
Introdução.......................................................................................................................................10
Justificativa.................................................................................................................................11
Objectivos...................................................................................................................................11
Problematização..........................................................................................................................12
Hipóteses.....................................................................................................................................12
Metodologia................................................................................................................................13
a) Método de abordagem.....................................................................................................13
b) Métodos de procedimento................................................................................................13
c) Técnicas de pesquisa........................................................................................................13
Capítulo I.......................................................................................................................................15
1. Noção dos mecanismos de garantia da constituição...................................................................15
1.1 Fiscalização como mecanismos de garantia da constituição................................................18
1.1.1 Breve historial da fiscalização da constitucionalidade no ordenamento jurídico
moçambicano..........................................................................................................................20
Capítulo II.....................................................................................................................................22
2. Sistemas de fiscalização da constitucionalidade........................................................................22
2.1 Contexto do surgimento dos sistemas da fiscalização da constitucionalidade.....................22
2.2 Sistema de fiscalização difuso ou desconcentrado da constitucionalidade..........................23
2.2.1 Principais características do sistema de fiscalização difusa e o seu paralelismo com o
modelo moçambicano.............................................................................................................24
2.3 Sistema de fiscalização concentrado da constitucionalidade................................................26
2.3.1 Sistema de fiscalização jurisdicional concentrado da constitucionalidade....................26
2.3.2 Sistema de fiscalização político concentrado da constitucionalidade............................28
Capítulo III....................................................................................................................................31
III
Lista de abreviaturas
CC – Conselho Constitucional;
MP – Ministério Público;
P - Página;
PR – Presidente da República
Ss – seguinte;
TC – Tribunal Constitucional;
V
Declaração de honra
Declaro que esta Monografia é resultado da minha investigação pessoal e das orientações do meu
supervisor, o seu conteúdo é original e todas as fontes consultadas estão devidamente
mencionadas no texto, nas notas e na bibliografia final.
Declaro ainda que este trabalho não foi apresentado em nenhuma outra instituição para obtenção
de qualquer grau académico.
_________________________________________
Dedicatória
Dedico esse trabalho a toda minha família, em especial a minha querida mãe, Rabia André, aos
meus irmãos Zeferino e Delfim e a minha namorada Ângela.
VII
Agradecimentos
Agradeço a Deus pela protecção e a vida que tem me proporcionado, agradecer também a minha
família pelo apoio financeiro e moral que me concedeu durante a minha formação. Para além do
apoio familiar, também tive o apoio dos meus docentes, em especial ao meu supervisor, Dr
Ermelindo Cossa, pelos seus sábios e construtivos conhecimentos e conselhos. Agradecer
também ao Dr. Fonseca Aguiar pelos seus sábios conhecimentos
VIII
Resumo
O presente trabalho, que tem como tema, a fiscalização como mecanismos de garantia da constituição no
ordenamento jurídico moçambicano, pretende analisar o sistema de fiscalização da constitucionalidade
adoptado em Moçambique, onde o Conselho Constitucional, designado legislador negativo, no processo
de fiscalização sucessiva concreta, inválida uma norma geral e abstracta com a aplicação em um só caso, o
que permite que a norma inconstitucional seja aplicada no ordenamento jurídico moçambicano. Essa
situação seria ultrapassada com a generalização dos efeitos duma norma declarada inconstitucional no
processo de fiscalização sucessiva concreta. O trabalho em análise comporta três principais capítulos, o
primeiro capítulo aborda em torno da noção dos mecanismos de garantia da constituição, o segundo dos
sistemas de fiscalização da constitucionalidade e último da fiscalização jurisdicional difusa e incidental da
constitucionalidade em Moçambique.
Abstract
The present work, which has as its theme, the inspection as mechanisms for guaranteeing the constitution
in the Mozambican legal system, intends to analyze the system of constitutionality inspection adopted in
Mozambique, where the Constitutional Council, designated negative legislator, in the concrete successive
inspection process, a general and abstract rule is invalid with application in only one case, which allows
the unconstitutional rule to be applied in the Mozambican legal system. This situation would be overcome
with the generalization of the effects of a rule declared unconstitutional in the concrete successive
inspection process. The work under analysis comprises three main chapters, the first chapter deals with the
notion of constitutional guarantee mechanisms, the second of the constitutionality inspection systems and
the last of the diffuse and incidental judicial inspection of constitutionality in Mozambique.
Introdução
Por forma a permitir que as normas constitucionais se prevaleçam diante das demais normas do
ordenamento jurídico moçambicano, a constituição consagrou os seus próprios mecanismos de
protecção, que são as garantias da constituição. Razão pela qual, o presente trabalho, com o tema
fiscalização da constitucionalidade como mecanismos de garantia da constituição no
ordenamento jurídico moçambicano, pretende analisar o sistema de fiscalização da
constitucionalidade adoptado por Moçambique, onde se procurará perceber as razões do
Conselho Constitucional, durante a fiscalização concreta, declarar uma norma inconstitucional
com efeitos particulares.
O ordenamento jurídico moçambicano fez a combinação dos três principais sistemas descritos
anteriormente, o que significa, que todos os tribunais e os órgãos jurisdicionais recebem o poder
de realizar a fiscalização da constitucionalidade das normas que aplicam, existe um órgão criado
para declaração da inconstitucionalidade das normas; esse órgão é jurisdicional porque aplica o
direito ao caso concreto, com o objectivo de solucionar os conflitos de interesses, também é um
órgão político pela forma de designação da maioria dos seus membros.
Justificativa
11
A realização da presente pesquisa contribuirá para uma percepção, por parte da comunidade
jurídica, em torno dos sistemas de fiscalização da constitucionalidade, para além de ser mais um
contributo teórico que se dá as ciências jurídicas, em geral, e em especial para a ciência do
Direito Constitucional, sobre tudo no campo da fiscalização da constitucionalidade.
Objectivos
Geral
Específicos
MARCONI, Maria de Andrade, LAKATOS, Eva Maria, Fundamentos da metodologia científica, Editora Atlas
1
12
Problematização
Hipóteses
Metodologia
Na perspectiva de GIL2, método é o caminho para se chegar a determinado fim. Sendo assim,
para este autor, o método científico é o conjunto de procedimentos intelectuais e técnicos
adoptados para se atingir o conhecimento.
a) Método de abordagem
Para a realização do trabalho foi utilizado o método indutivo, que como base a ideia de
LAKATOS3, consistiu num processo mental por intermédio do qual, partiu-se de dados
particulares, suficientemente constatados, chegando em verdade geral ou universal. A
implementação desse método no presente trabalho consistiu na recolha de informações
particulares disponíveis, e a partir destas, chegou-se a conclusões de carácter genérico.
b) Métodos de procedimento
Foi usado também o método histórico, que no trabalho consistiu na análise em torno evolução
histórica dos sistemas de fiscalização da constitucionalidade; foi usado ainda o método
comparativo, onde foi feito uma comparação dos sistemas de fiscalização da constitucionalidade
vigente em outros ordenamentos jurídicos, para se aferir as diferenças e semelhanças com o nosso
sistema.
c) Técnicas de pesquisa
As técnicas de pesquisa constituem num conjunto de preceitos ou processos de que se serve uma
ciência, são também, habilidade para usar estes preceitos ou normas, na obtenção de seus
propósitos. Corresponde, portanto, à parte prática de colecta de dados. Na implementação do
presente trabalho foi usado a documentação indirecta que abrange a pesquisa documental, que
2
GIL, António Carlos, Métodos e técnicas de pesquisa social, 6a ed, São Paulo, Atlas Editora, p 8
3
LAKATOS, Eva Maria, MARCONI, Maria de Andrade, op cit, nota 1, P 95
4
GIL, António Carlos, op cit nota 2, p 50
14
consistiu na recolha de documentos relevantes para pesquisa, também foi usada a pesquisa
bibliográfica.
15
Capítulo I
Toda ordem jurídica, incluindo a moçambicana, é uma estrutura escalonada de normas jurídicas,
estando a constituição no topo do estalão; está, regula a produção das demais normas dum
determinado Estado. Os mecanismos de garantia da constituição são diversas formas de defesa ou
protecção da constituição, o que significa que a inexistência desses mecanismos tornaria a
Constituição num documento normativo débil. Na perspectiva do professor CANOTILHO5, a
garantia da constituição está ligada a ideia de defesa do Estado, que se define como o conjunto de
institutos, garantias e medidas que visam a defender e proteger, interna e externamente, a
existência jurídica e fáctica do Estado, o que implica a defesa do território, defesa da
independência, defesa das instituições.
O professor MIRANDA6 entende que garantia, no sentido geral, é algo acessório a norma
jurídica, ou seja constitui num mecanismo ao serviço da norma jurídica, o que implica que a
norma jurídica não se garante de per si, mas através do conteúdo ou do sentido de outras normas
jurídicas, existindo nessa senda, uma norma jurídica garantida e a norma jurídica garantia. Em
nosso entender, a norma jurídica que consagra que todo o cidadão tem direito a vida é garantida
por uma outra norma jurídica, que dá a prerrogativa aos cidadãos de acederem aos tribunais para
salvaguardarem os seus direitos e interesses. Assim sendo, podemos afirmar que na constituição
existem normas substantivas, passiveis de serem violadas pelo poder político, que são
acompanhadas pelas normas adjectivas.
5
CANOTILHO, José Joaquim Gomes, Direito Constitucional, 6a ed, Coimbra, Almedina, 1993, p 953
6
MIRANDA, Jorge, Teoria do Estudo da Constituição, Coimbra, Coimbra editora, 2002, p 716
7
HESSE, Konrad, Elementos de Direito Constitucional da República Federal da Alemanha, tradução de Dr. Luís
Afonso Heck, Porto Alegre, SE, 1998, p 503
16
asseguramento institucional não garante uma protecção absoluta da constituição, mas tudo
depende da sua força normativa. Percebe-se a partir da ideai do autor acima citado que, a
protecção das normas constitucionais implica o fortalecimento da sua força normativa.
8
SCHMITT, Carl, o guardião da constituição traduzido por Gilmar Ferreira Mendes,, Delrey, p 4
9
Os estamentos é uma estrutura social tipica do sistema feudal
10
KELSEN, Hans, jurisdição constitucional, traduzido por Sérgio Sérvulo da Cunha, São Paulo, Martins Fontes,
2003, p 123
17
Com base nesse artigo o PR tem a obrigação de respeitar a Constituição e fazer com esta seja
respeitada por todos, o professor CANOTILHO 11 entende, que o juramento feito pelo PR assume
dois sentidos, o sentido negativo e positivo; em termos positivos, a Constituição impõe ao PR
uma actuação activa no sentido de defender e obrigar a fazer cumprir a Constituição (veto ou
recusa de assentimento a actos inconstitucionais, nos termos do no 3 do artigo 162 da CRM); em
termos negativos, a Constituição proíbe ao PR comportamentos contrários à Constituição
(interdição de condutas inconstitucionais).
(iii) O direito de necessidade estadual, previsto nos artigos 290 e ss da CRM, constitui no outro
mecanismo de garantia da constituição moçambicana, que para o professor CANOTILHO 12,
consiste na: “Previsão e delimitação normativo-constitucional de instituições e medidas
necessárias para a defesa da ordem constitucional em caso de situação de anormalidade que, não
podendo ser eliminadas ou combatidas pelos meios normais previstos na Constituição, exigem o
recurso a meios excepcionais. Trata-se, por conseguinte, de submeter as situações de crise e de
emergência (guerra, tumultos, calamidades públicas) à própria Constituição”.
11
CANOTILHO, J. J. Gomes, Constituição da República Portuguesa Anotada, 3.ª edição, Coimbra Editora, 1993, p
569
12
Ibdem, p 1145
18
Não se pode confundir a fiscalização e garantia, apesar de na maioria das vezes esses termos
estarem relacionados, a fiscalização, para o professor MIRANDA 14, é um meio
institucionalizado, um sistema, uma aparelho orgânico ou um processo criado a título mais ou
menos específico para tal fim. Enquanto garantia é um fim mais que meio, o que significa que a
fiscalização é um meio ao serviço da garantia. Mas na constituição existem situações em há
fiscalização que não tem ver com garantia, como é o caso da fiscalização feita pelo parlamento ao
executivo. A fiscalização desempenha duais funções, a primeira serve como garantia de
observância da constituição, ao assegurar, de forma positiva, a dinamização da sua força
normativa, e, de forma negativa, ao reagir através de sanções contra a sua violação; a segunda,
como uma garantia preventiva, ao evitar a existência de actos normativos, formal e
substancialmente violadores das normas e princípios constitucionais.
13
CANOTILHO, José Joaquim Gomes, op cit, nota 5, p 955
14
MIRANDA, Jorge, op cit, nota 6, p 719
19
constituição, nos termos do artigo 213 da CRM; ainda quanto ao órgão a fiscalização pode ser
feita por um órgão de competência especializada, que realiza a fiscalização concentrada, nos
termos do artigo 240 da CRM.
Para além da garantia jurisdicional, também existia a garantia política, que era feita pelo
Presidente da República Popular de Moçambique, nos termos do artigo 48 n o 1 alínea a) da
CRPM que preconizava: “Ao Presidente da República Popular de Moçambique compete fazer
respeitar a Constituição e assegurar o funcionamento correcto dos órgãos estatais”. A primeira
manifestação, de forma clara, do sistema de fiscalização político da constitucionalidade, feita pela
Assembleia Popular, foi dada na 3.ª revisão constitucional, em que foi aprovada a lei n.º 11/ 78,
de 15 de Agosto, com forme artigo 44 alínea i), estipulava: “ Compete a Assembleia Popular
revogar as deliberações das Assembleia do Povo que contrariem a Constituição ou outras
disposições legais”. Com base nessa disposição, é possível perceber que só podiam ser
sindicalizados, pela AP, as deliberações da Assembleia do Povo, este que era, nos termos do
artigo 37 do mesmo diploma, os órgãos superiores do poder de Estado em cada escalão, isso
significa, que passou a existir um sistema de fiscalização política da constitucionalidade.
constituição. Com base nessa disposição, constata-se que todos os tribunais no ordenamento
jurídico moçambicano já estavam habilitados, em qualquer estágio do processo verificar a
compatibilidade de uma lei com as normas constitucionais. Mas importa salientar que nessa
altura os tribunais não estavam obrigados a remeterem obrigatoriamente as decisões que
desaplicavam uma norma com o fundamento na sua inconstitucionalidade ao CC, ou seja, a
Constituição de 1990 e a LOCC vigente na altura, não previam o processo de fiscalização
concentrado concreto.
Apesar de ter sido criado em 1990, o CC só começou a funcionar em 2003, com aprovação da Lei
9/2003 de 22 de Outubro, LOCC; isso significa que entre 1990 a 2003 a garantia jurisdicional da
constituição era feita pelos tribunais no processo de fiscalização concreta e incidental. Com o
funcionamento do CC, em 2003, só existiam quatro espécies de processo, nos termos do artigo 39
da Lei 9/2003 de 22 de Outubro, que eram processo de fiscalização abstracta da
constitucionalidade e ilegalidade, processo de fiscalização da constitucionalidade dos referendos,
reclamações e recursos eleitorais e processo de proclamação de resultados eleitorais.
Capítulo II
Por possuir a constituição mais antiga do mundo, a Inglaterra é conhecida como o país pioneiro
da discussão em torno na necessidade de invalidar uma norma que contradiz os princípios ou
normas plasmadas na constituição. O professor ROLO 16 descreve que na Inglaterra despoletou
um controvertido caso, onde Thomas Bonham era um médico inglês, formado pela Universidade
de Cambridge, foi proibido de exercer a profissão porque não possuía autorização do Royal
College of Doctors, só podia voltar a exercer caso pagasse a multa e tivesse a devida autorização.
Thomas Bonham continuo a exercer a profissão sem que para tal obedecesse a exigências, facto
que levou a sua detenção pelo Colégio Real, na sua defesa o detido alegava que não estava sob a
jurisdição do Colégio Real, mas sim da Universidade de Cambridge, enquanto o Colégio entendia
que exercia a jurisdição sobre o detido, segundo uma lei de Henrique VII.
Este celebre caso foi alvo de várias discussões entre os juristas, principalmente o Coke, que
avançou uma tese que veio a mudar o mundo da fiscalização da constitucionalidade. Coke
considerou o estatuto real (aprovado pelo Parlamento inglês e sancionado pelo Rei) contrário ao
Common Law, pois convertia o Colégio num juiz em causa própria, violando, assim, o princípio
nemo judexinre sua. Em muitos casos, para ROLO17, o common law controlará as leis do
Parlamento e em alguns casos julgará que são totalmente nulas quando estão contra a razão do
Direito ou são de impossível cumprimento. Essa decisão não teve qualquer aplicação na
Inglaterra por causa da decisão do Rei, mas inspirou as colónias britânicas donde surgiu o sistema
de fiscalização difusa, tema a ser abordado no parágrafo seguinte.
16
Ibdem, p 7
17
Ibdem, p 17
23
Os Estados Unidos de América, inspirados pela tese do célebre jurista inglês, Coke no caso do
médio Thomas Bonham descrito no parágrafo anterior, foram os pioneiros no modelo de
fiscalização difuso ou desconcentrado da constitucionalidade, ou judicial review of legislation,
onde todos os tribunais têm o poder de recusar a aplicação de normas que creiam ser
inconstitucionais, havendo naturalmente recurso para tribunal superior. O entendimento segundo
o qual, todos os tribunais não deviam aplicar normas inconstitucionais, veio Juiz Marshall no
caso Madison, em 1803, onde afirma, segundo FALCÃO18, que todo o acto legislativo contrário à
constituição é inválido, e que, caberia aos tribunais americanos verificarem a constitucionalidade
das leis, onde SOARES19,entende: “neste embate, o então Presidente da Suprema Corte, John
Marshall, decidiu não examinar o pedido do juiz William Marbury sob o argumento de que o
preceito jurídico que baseava o pedido (Judiciary Act de 1789) mostrava-se contrária à
Constituição. Marshall entendeu que nenhuma lei infraconstitucional poderia alargar a
competência atribuída ao Poder Judiciário pela Lei Fundamental, razão pela qual concluiu que
aquele Tribunal era constitucionalmente incompetente para apreciar a demanda”
É importante realçar que o entendimento do Juiz Marshall não provem de qualquer disposição
constitucional, mas sim cultura jurídica. SOARES20, entende que por causa do sistema da
Common Law, herança deixada pela Coroa inglesa, os tribunais, que representava o poder
judicial, exerciam um certo poder de autoridade sobre o parlamento, na medida em que podiam
desaplicar uma norma aprovada pelo parlamento se esta fosse inconstitucional. Estava ligado
também a isso, a uma certa desconfiança que existia sobre o parlamento, na medida em este
actuava em prol da Pátria-Mãe, Inglaterra, cometendo alguns abusos, pondo em causa os direitos
e liberdades dos indivíduos da colónia. Com a sentença do juiz Juiz Marshall, consagra-se nos
EUA a Constituição como lei suprema de todos os acto normativos, e que todos os tribunais
18
FALCÃO, Paula Margarida Tavares, Sistema de Fiscalização Concreta da Constitucionalidade em Portugal,
Universidade Católica Portuguesa, 2013, p 9, disponível em
https://repositorio.ucp.pt/bitstream/10400.14/15245/1/Tese_indice_v03.pdf, consultado em 18 de Novembro de
2019;
19
SOARES, Raísa Crespo, A fiscalização preventiva da constitucionalidade, Universidade de Coimbra, 2018, p
14, disponivel em https://eg.uc.pt/bitstream/10316/85882/1/Ra%c3%adsa%20Crespo%20Soares%20-%20A
%20Fiscaliza%c3%a7%c3%a3o%20Preventiva%20da%20Constitucionalidade.pdf, consultado em 19 de Março de
2020
20
Ibdem, p 13
24
uma decisão aplicável a uma situação em concreto, não devendo a decisão dos tribunais ser geral
e abstracta, tal como as normas jurídicas são. Sendo assim, a desvantagem dessa solução consiste
no fato de que os diferentes órgãos aplicadores da lei podem ter opiniões diferentes com respeito
à constitucionalidade de uma lei e que, portanto, um órgão pode aplicar a lei por considerá-la
constitucional, enquanto outro lhe negará aplicação com base na sua alegada
inconstitucionalidade. A ausência de uma decisão uniforme sobre a questão da
constitucionalidade de uma lei, ou seja, sobre a Constituição estar sendo violada ou não, é uma
grande ameaça à autoridade da própria Constituição. É importante salientar que os efeitos erga
omnes, o qual, todavia, pode ser alcançado por meio do princípio do stare decisis, especialmente
quando se trata de controlo exercido pela Supreme Court.
No ordenamento jurídico moçambicano a fiscalização difusa materializa-se através do artigo 213
da CRM, o que significa que a semelhança do sistema norte-americano, todos os órgãos
jurisdicionais tem o poder ou dever de realizar a fiscalização da constitucionalidade. Entre o
sistema difuso de fiscalização da constitucionalidade norte-americano e o sistema de fiscalização
difuso moçambicano existem algumas diferenças e semelhança que merecem alguma atenção,
sendo assim, começamos pelas semelhanças dos dois sistemas.
A primeira semelhança a ser apontada é o facto de nos dois sistemas a fiscalização difusa ser a
posterior, ou seja, é feita depois da entrada em vigor da norma jurídica; a outra semelhança é o
facto da fiscalização difusa ser feita em processo em curso, que pode ser um processo cível,
penal, laboral, fiscal, militar, administrativo, aduaneiro e fiscal; a outra característica é o facto
dos efeitos da decisão na fiscalização difusa terem efeitos inter parte. Como já referíamos, a par
das semelhanças, existem também diferenças, a primeira é facto de, no sistema norte-americano
os tribunais tem o poder de fiscalizar e declarar a inconstitucionalidade sem remessa obrigatória
para o outro órgão, o que significa, uma vez declarada uma norma inconstitucional pelo tribunal,
este já podia apreciar o mérito da causa principal sem a norma oura declarada inconstitucional.
Esse senário não é aplicável ao contexto moçambicano, onde os tribunais fiscalizam a
constitucionalidade das normas, mas com recurso obrigatório para outro órgão, o que significa
que o processo será suspenso até a decisão final deste órgão, nos termos do artigo 68 da LOCC.
Como entende o CC no acórdão 10/CC/2014 que:, “a solução consagrada no artigo 68 da Lei nº
6/2006, de 2 de Agosto, tem um efeito negativo que consiste no impedimento do Juiz da causa de
proferir decisão sobre a questão principal, até que os autos, entretanto remetidos ao Conselho
26
Constitucional, baixem juntamente com a notificação do Acórdão que decida a questão incidental
de inconstitucionalidade suscitada no processo”.
Esse sistema de fiscalização da constitucionalidade foi adoptado pela primeira vez pela Áustria
sob proposta de Hans Kelsen na Constituição de 1920, antes da aprovação dessa constituição,
entende KELSEN24 que, na Áustria existia um sistema de fiscalização difuso da
constitucionalidade de origem norte americana, mas como esse sistema punham em causa a
24
Ibdem, p 303
27
Como o guardião da constituição tem a prerrogativa de garantia a eficácia e das normas jurídicos
constitucionais, em nosso entender, não deveria ser órgão com vínculo dos três principais poderes
25
SOARES, Raísa Crespo, Op cit, nota 17, p 18
26
Ibdem, p 20
27
MENDES, Armindo Ribeiro, tribunal constitucional entre o direito e a política — a fiscalização preventiva da
constitucionalidade, 2007, p 1, disponível emhttp://julgar.pt/wp-content/uploads/2016/05/06-Ribeiro-Mendes-TC-
fiscaliza%C3%A7%C3%A3o-preventiva.pdfconsultado em 09 de Março de 2002 as 15 horas.
28
do Estado, porque a sua missão em alguns caso é julgar os interesse desses poderes. Assim sendo,
devia ser um órgão que representasse os interesses do titular do poder constituinte originário,
razão pela qual a forma de designação dos seus membros não deveria ser por meio de partidos
políticos.
O sistema de fiscalização político foi adoptado pela primeira vez pela França, que era um sistema
atípico, tendo em conta os dois grande sistemas que eram aplicados por alguns Estados, que
tinham a peculiaridade de serem órgãos do poder judicial a realizar a fiscalização da
constitucionalidade. Como os tribunais não estavam do lado do povo na Revolução Francesa, e
não são leitos, a França procurou afastar a fiscalização da constituição do poder judicial, ou seja,
os tribunais, que não eram eleitos pelo povo, não tem a prerrogativa de questionar a vontade do
povo expresso pelo Parlamento, como está consagrado no artigo 6 o da Declaração dos Direitos do
Homem e do Cidadão, que: “A lei é a expressão da vontade geral. Todos os cidadãos têm o
direito de concorrer, pessoalmente ou através de mandatários, para a sua formação…”.
Paralelamente a isso é do entendimento de MENDES 28 que: “No modelo francês tradicional, o
controlo da constitucionalidade das leis era político e cabia ao órgão parlamentar, porque este
28
Ibdem, p 1.
29
tinha o poder de formular a expressão normativa da vontade geral, visto os respectivos membros
serem os legítimos representantes do povo, único titular do poder legislativo”
A partir do artigo anteriormente citado, percebemos que trata-se duma fiscalização concreta da
constitucionalidade, que é feita num caso concreto, mas os efeitos da declaração da
29
Idem.
30
JÚNIOR, Dirley da Cunha, O Controle de Constitucionalidade na França e as alterações advindas da Reforma
Constitucional de 23 de julhode 2008 , Brasil Jurídico, p 11. Disponível em https://brasiljuridico.com.br/artigos/o-
controle-de-constitucionalidade-na-franca-e-as-alteracoes-advindas-da-reforma-constitucional-de-23-de-julho-de-
2008.-por-dirley-da-cunha-junior., Consultado no dia 9 de Março de 2020 as 15 e 30
30
inconstitucionalidade no âmbito desse processo tinha efeitos geral, ou seja, a norma é revogada
da ordem jurídica, com forme o artigo 62 da Constituição da República Francesa. É importante
que se saliente que os tribunais, no ordenamento jurídico francês, não realizam a fiscalização da
constitucionalidade, na medida em que não podem tomar qualquer juízo do valor relativamente a
constitucionalidade ou não da norma, cabendo-lhes somente proceder a um primeiro exame, para
aferir se a questão prioritária é admissível e se cumpre os critérios estabelecidos pela lei orgânica.
Se estas condições forem cumpridas, o tribunal encaminhará a questão prioritária de
constitucionalidade ao Conselho de Estado, quando se trate de processo de natureza
administrativa, ou ao Tribunal de Cassação, quando for um processo que tenha natureza judicial;
esses órgãos procederão a um exame mais aprofundado da questão prioritária de
constitucionalidade e decidirá se a remete ou não ao Conselho Constitucional, como refere
JÚNIOR31.
31
Ibdem
31
Capítulo III
A fiscalização difusa em Moçambique é feita nos termos do artigo 213, que estabelece: “Nos
feitos submetidos a julgamento os tribunais não podem aplicar leis ou princípios que ofendam a
Constituição”. Enquanto a fiscalização jurisdicional sucessiva concentrada, para o professor
JUSTINO32, é feita pelo CC nos termos do artigo 246 da CRM.
O professor MIRADA33 entende, de acordo com cada tipo de sistema fiscalização já abordados
anteriormente, há quatro estatutos possíveis dos tribunais frente às questões de
inconstitucionalidade, o primeiro estatuto é de não ter competência para conhecer e, portanto,
para decidir; outro estatuto é de ter competência para conhecer e para decidir; o terceiro estatuto é
de ter competência para conhecer, mas não para decidir, salvo sobre a viabilidade da questão (por
isso caber a um tribunal situado fora da ordem judicial, o Tribunal Constitucional); o último
estatuto é de ter competência para conhecer e para decidir, com recurso possível ou necessário
(conforme os casos) para um tribunal situado fora da ordem judicial.
No ordenamento jurídico moçambicano todos os tribunais têm competência para conhecer e para
decidir com recurso necessário para um órgão situado fora da ordem judicial, que é CC. Não é só
da competência exclusiva dos tribunais, mas de outros órgãos, como nos dá a entender o
professor CANOTILHO34, quando se refere ao artigo 213: “Este preceito significa que a função
jurisdicional íntegra também a fiscalização da constitucionalidade e que os tribunais - todos e
cada um deles - têm o poder e o dever de confrontar com a lei fundamental as normas
infraconstitucionais que sejam chamados a aplicar, tendo de recusar-se a aplicá-las se elas não
forem compatíveis com ela”
32
JUSTINO, Justino Felisberto, O regime jurídico do acesso de cidadãos à justiça Constitucional moçambicana em
fiscalização concreta à luz da constituição de 2004, Editorial Fundza, 2018, p 194
33
MIRANDA, Jorge, o regime de fiscalização concreta da constitucionalidade em Portugal, CJP, p 1, disponível
em https://www.icjp.pt/sites/default/files/media/1119-2440.pdf, consultado no dia 20 de Janeiro de 2020 as 10 horas
34
Ibdem
32
Mas é importante esclarecer que nem sempre quando há uma questão de inconstitucionalidade
implica necessariamente a suspensão do processo e posterior recurso ao CC, nos termos dos
artigos 246 da CRM 67 da LOCC. Os efeitos jurídicos não normativos públicos e privado, como
é o caso dum contrato de trabalho que viole as normas constitucionais, a dissolução da
Assembleia da República feita pelo Presidente da República sem que para tal estejam
preenchidos as formalidades legais, nesses actos pode o Tribunal Judicial e Administrativo
declarar esses actos inconstitucionais sem que tenha remeter obrigatoriamente ao CC, com
podemos perceber do contra censo da alínea a) do no 1 do artigo 243 da CRM e alínea a) do n o 1
do artigo 6 da LOCC, que estabelece que o CC tem competência para apreciar e declarar a
inconstitucionalidade leis e a legalidade dos actos normativos do Estado e o contrato de trabalho
não é uma lei e muito menos um acto não normativo do órgão de Estado, razão pela qual que não
cabe nas competências do CC.
Sendo assim a fiscalização é uma competência que é entregue aos órgãos que exercem a função
jurisdicional. Órgão jurisdicional é aquele que aplica o direito ao caso concreto, com o objectivo
de solucionar os conflitos de interesses e, com isso, resguardar a ordem jurídica e a autoridade da
lei, essa função ao nível da constituição é encarregue aos tribunais, nos termos do artigo 211. A
função jurisdicional está de certo modo ligada a administração da justiça. Sendo assim que se tem
a dizer relativamente a natureza do CC.
Quando a natureza do Conselho Constitucional importa referir nos termos do artigo 241, “o
Conselho Constitucional é o órgão de soberania, ao qual compete especialmente administrar a
justiça, em matérias de natureza jurídico-constitucional”. Na perspectiva de MACUACUA 35, com
base no artigo supra citado, fica difícil afirmar categoricamente que esse órgão seja de natureza
política ou jurisdicional, entende ainda o autor acima citado que o Conselho Constitucional é um
órgão jurisdicional, por estar a exercer as funções dum tribunais, entendimento esse que não
partilhamos pelos seguintes fundamentos; se nos atermos as origens do conselho constitucional,
esse órgão com essa designação teve o seu surgimento na França, onde a fiscalização da
constitucionalidade era em princípio encarregue a um órgão de vontade geral, que é o
parlamento, não sendo admissível a um órgão jurisdicional questionar a vontade geral.
35
MACUÁCUA, Edson Da Graça Francisco, Funções e Natureza Jurídica do Conselho Constitucional
Moçambicano, Maputo, p5, disponível em https://docplayer.com.br/82652540-Edson-macuacua-funcoes-e-natureza-
juridica-do-conselho-constitucional-mocambicano.html, consultado no dia 18 de Março de 2020 as 11 horas
33
Como já referenciamos no parágrafo anterior, nem todas as decisões que versam em torno da
inconstitucionalidade dos actos cabem recurso para o CC, porque este só aceita quando forem os
actos normativos do Estado.
34
Ao nível da doutrina, como é o caso do professor MIRANDA 36, entende que são três tipos de
decisões que cabem recurso a fiscalização concentrada da constitucionalidade que são as decisões
que recusem a aplicação de certa norma com fundamento na inconstitucionalidade ou na
ilegalidade, decisões que apliquem norma cuja inconstitucionalidade ou ilegalidade haja sido
suscitada durante o processo, cabem ainda recurso as decisões que apliquem norma anteriormente
julgada inconstitucional ou ilegal pelo próprio órgão que realiza a fiscalização concentrada.
No ordenamento jurídico moçambicano, só há recurso ao CC, das decisões de recusam a
aplicação de uma norma com base na sua inconstitucionalidade, nos termos do artigo 246 da
CRM, deixando de fora as decisões que apliquem uma norma julgadas inconstitucionais pelo
próprio CC em sede da fiscalização concreta, também deixa-se de fora o recurso das decisões que
apliquem normas que um dos intervenientes no processo tenha levantado o incidente de
inconstitucionalidade, a não ser que o tribunal a quo concorde com os fundamentos do recurso e
se recuse a aplicar a norma em causa. Como entende o professor JUSTINO 37, o no nosso sistema
não podem ser submetidos ao CC os acórdãos e decisões tenha aplicado normas inconstitucionais
ou ilegais, cuja inconstitucionalidade ou a ilegalidade haja sido suscitada pelas partes.
3.2 Declaração de inconstitucionalidade duma norma geral com efeitos inter parte
36
MIRANDA, Jorge, Op cit, nota 30, CJP, p 27
37
JUSTINO, Justino Felisberto, Op cit, nota 33, p 34
35
CRM, não podem aplicar essa norma, mas essa norma não se aplica ao órgãos da Administração
Pública.
Apesar da norma, declarada inconstitucional em sede da fiscalização concreta, os órgãos
jurisdicional estarem proibidos de aplicar, esses pretendendo desaplicar a norma, terão que
submeter, obrigatoriamente a apreciação do CC, nos termos do artigo 246 da CRM 67 da LOCC.
Na de perspectiva de KELSEN38 as autoridades que são chamadas a aplicar a norma geral, que
tenha o poder de retirar sua validade no caso concreto se reconhecer sua irregularidade, tem na
realidade o poder de anulá-la, mas a anulação é simplesmente parcial, limitada ao caso em
exame. É essa é a situação dos tribunais – mas não das autoridades administrativas.
Sendo assim, o poder de anular uma lei inconstitucional numa caso em concreto só é reconhecido
ao tribunais e os órgãos jurisdicionais, nos termos do artigo 213 da CRM, mas no ordenamento
jurídico moçambicano, apesar do poder de declarar a inconstitucionalidade de uma norma estar
centralizado no CC, este continua a anular as normas de forma parcial.
Ainda no entender de KELSEN39, anulação duma norma constitui no exercício duma função
legislativa negativa e não numa função jurisdicional; a diferença entre função jurisdicional e
função legislativa consiste antes de mais nada em que esta cria normas gerais, enquanto aquela
cria unicamente normas individuais. Ora, o CC ao anular uma lei está a estabelecer uma norma
geral, porque a anulação de uma lei, no entendimento do autor acima citado, tem o mesmo
carácter de generalidade que sua elaboração, nada mais sendo, por assim dizer, que a elaboração
com sinal negativo e portanto ela própria uma função legislativa.
O professor SOUZA40 entende que as leis são aqueles actos legislativos que são dotados de
generalidade e abstracção no seu conteúdo. A abstracção corresponde a indeterminabilidade das
situações de facto a que lei é aplicável, ao passo que a generalidade respeita a
indeterminabilidade dos seus destinatários, sejam estes indivíduos ou entidades por eles
constituídas. Sendo assim, a norma jurídica nasce para ser geral e abstracta, não faria sentido que
o legislador negativo fixasse uma norma individual, isto é, aplicável a um caso.
38
KELSEN, Hans, Op cit, nota 10, p 144
39
MOREIRA, Valter Tavares, A Justiça Constitucional Cabo-Verdiana, Lisboa, 2017, p 7, disponível em
https://constitutions.albasio.eu/wp-content/uploads/Saggio-Capo-Verde.pdf, consultado no dia 17 de Março de 2020
as 16 horas
40
SOUSA, Marcelo Rebelo de e Sofia Galvão – Introdução ao Estudo do Direito, 5.ª edição, Lex, Lisboa, 2000, p 52
36
3.2.1 Direito comparado Moçambique, Cabo- Verde, São Tomé Príncipe e Guine Bissau
Fazendo uma análise comparativa com outras realidades, como é o caso de Cabo Verde, constata-
se que nesse ordenamento jurídico, que também teve influência de Portugal por causa da
colonização, declarada uma norma inconstitucional na fiscalização concreta, os efeitos dessa
decisão proferida pelo TC são gerais, com estabelece o artigo 279º da Constituição Cabo-
verdiana, que estabelece: “Os Acórdãos do Tribunal Constitucional, que tenham por objecto da
fiscalização da constitucionalidade ou ilegalidade, qualquer que tenha sido o processo em que
hajam sido proferidos, têm força obrigatória geral”. Enquanto em Moçambique tem efeito inter
parte. Assim sendo, em Cabo Verde, a lei sendo geral é aplicada de igual forma para todos, o que
significa que ela não é só inconstitucional para um caso em específico.
Essa solução também é acolhida por São Tomé e Príncipe, que no processo de fiscalização
concentrada concreta, a decisão de inconstitucionalidade tem sempre efeitos gerais, como
preconiza o no 1 do artigo 150 da Constituição da República Democrática de São Tomé e
Príncipe, que: “a declaração de inconstitucionalidade ou de ilegalidade com força obrigatória
geral produz efeitos desde a entrada em vigor da norma declarada inconstitucional ou ilegal e
determina a repristinação das normas que ela, eventualmente, haja revogado”. Para além de Cabo
Verde e São Tomé e Príncipe, o outro exemplo que podia ser observado é de Guine Bissau, que
apesar da fiscalização da constitucionalidade estar a cargo do Supremo Tribunal de Justiça, este
órgão não toma decisões com efeitos diferenciados no que tange a decisão de
inconstitucionalidade de uma norma geral, como podemos assacar do nos 3 e 4 do artigo 126 da
Constituição da República do Guine Bissau, que: “Admitida a questão da inconstitucionalidade, o
incidente sobe em separado ao Supremo Tribunal de Justiça, que decidirá em plenário. As
decisões tomadas em matéria de inconstitucionalidade pelo plenário do Supremo Tribunal de
Justiça terão força obrigatória geral e serão publicadas no Boletim Oficial”.
37
Conclusão
Finalizado o trabalho conclui-se que, por forma a evitar com que a ordem constitucional seja
bastante vulnerável a violações por parte do poder político, a constituição consagra os próprios
mecanismos de protecção e defesa, dentre esses mecanismos de protecção das normas
constitucionais, o destaque vais para a fiscalização da constitucionalidade das norma, que é
considerado o mecanismo de protecção mais eficaz, razão pela qual que quase todos os países,
incluindo Moçambique, procuraram adoptar nas suas constituições ou em leis ordinárias, um
sistema de fiscalização da constitucionalidade.
O objectivo principal ou geral do trabalho foi atingido, que era de analisar o sistema de
fiscalização da constitucionalidade adoptado por Moçambique, onde se avançou que o
ordenamento jurídico moçambicano adoptou o sistema misto de fiscalização da
constitucionalidade, que faz a combinação entre o sistema de fiscalização difuso norte-americano,
o sistema de fiscalização jurisdicional concentrado Austríaco e o sistema de fiscalização político
concertado francês.
A pergunta que orientou a presente pesquisa foi a de perceber porque que uma norma, declarada
inconstitucional pelo Conselho Constitucional, durante a fiscalização concreta, tem efeitos
particulares, permitindo que ela continue a produzir os seus efeitos jurídicos; as hipóteses
apresentadas para esta questão confirmaram-se, na medida em que verificou que o CC, ao
invalidar um acto normativo com fundamento na sua inconstitucionalidade, está fixar uma norma
geral, que deve ser aplicada a todos os destinatária da norma, na medida em que o CC é um
legislador negativo, verificou-se também que, independentemente do tipo de processo, o CC
quando declara a inconstitucionalidade duma norma, está será apagada para os órgãos
jurisdicionais, por causa da proibição imposta no artigo 213 da CRM, de não aplicar normas
inconstitucionais.
Sugestões
Ao CC, como um legislador negativo, não invalide a lei ou qualquer acto normativo do
Estado com efeitos particulares ou inter parte;
Que todas as normas declaradas inconstitucionais no processo fiscalização concreta
concentrada, por violarem o capítulo dos direitos fundamentais, já não podem ser
aplicadas porque sobre elas já existe um juízo de inconstitucionalidade.
39
Referência bibliográfica
a) Doutrina
GIL, António Carlos, op cit nota 2, 6a ed, São Paulo, Atlas Editora, 2008.
KELSEN, Hans, jurisdição constitucional, traduzido por Sérgio Sérvulo da Cunha, Martins
Fontes, São Paulo, 2003;
SCHMITT, Carl, o guardião da constituição traduzido por Gilmar Ferreira Mendes,, Delrey.
SOUSA, Marcelo Rebelo de e Sofia Galvão – Introdução ao Estudo do Direito, 5.ª edição, Lex,
Lisboa, 2000.
b) Legislação nacional
BR, I Série, Suplemento, no 115, que aprova a lei no 1/2018, Lei de revisão pontual da
Constituição de Moçambique;
40
BR, I série, suplemento, no 97, que aprova a lei n.º 11/ 78, de 15 de Agosto, Lei de revisão
pontual da Constituição da República popular de Moçambique;
BR, I série, suplemento, no 31, que aprova a lei no 6/2006, de 22 de Outubro, Lei Orgânica do
Conselho Constitucional;
BR, I série, suplemento, no 43, que aprova a lei n.° 9/2003, de 22 de Outubro, Lei Orgânica do
Conselho Constitucional.
c) Legislação estrangeira
d) Artigos científicos
e) Acórdãos