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Levi e Kyle Monterrey se espreguiçam ao lado da piscina em uma manhã de segunda feira.

Eles
comentam um com o outro sobre onde o Tio Victor arranjou uma ducha tão grande para colocar em sua
casa. Falam também sobre como tudo naquela fazenda é tão azulado quanto na casa deles. Dizem que
Stanley e Victor devem ser primos gemeos ou algo parecido. A aflição que se seguiu à revelação de que
Levi é filho de seus pais adotivos se esvai com o ar, quando Kyle o convence de como é maneiro os dois
serem irmãos gemeos.

- Lê, você tem a vantagem de ter olhos azuis como os meus e ser parecido com o Tio Vic, que já foi até
modelo famoso.

Todas as angustias existenciais do garoto são magicamente transformadas em vantagens, com tudo de
bom que seus irmãos o fazem enxergar naquilo. Principalmente em saber que Stanley e Marília são seus
pais de verdade e não uma mentira boba que um casal idiota tentou viver.

Depois do banho, os garotos pegam suas toalha e quando vão voltar para os quartos onde estão
hospedados, notam à distância, Davi Lima chegar diante de Vinicius Dorsey, beijar sua mão direita e dizer
algo que eles não entendem e ser respondido com outra frase que eles também não conseguem ouvir.

As famílias são reunidas novamente no salão de festas, como acontece em todas as refeições que eles
fazem desde que chegaram à fazenda. Stanley e sua esposa incentivam seus três filhos a acompanharem
a família de Victor em suas tarefas diária e por conta disso todos eles estão sempre juntos. Em um
daqueles momentos, enquanto Davi ensina Levi a ordenhar uma vaca, o garoto aponta seus olhos azuis
para seu anfitrião e pergunta.

- O que é aquilo que eu vi você fazendo, beijando as mãos do Tio Vinny?

- Eu tomei a benção a ele.

- E dai? O que é isso?

- E um costume que eu aprendi com meu pai e meu avô em nossa fazenda em Uberlândia.

O garoto para por um instante e novamente encara Davi Lima.

- Como assim. Você é de Uberlandia?

- Não. Eu sou de Pirapora. Eu mudei para lá quando fui morar na Terra Prometida, a fazenda do meu pai.

- Ué. Como assim? Você é filho do Tio Ivan?

Dessa vez é Davi que para de tirar as fezes das vacas com uma enxada e olha para Levi.

- Você conhece o meu pai?

- Todo mundo da minha família frequenta a fazenda dele. Como a gente nunca viu você lá?
- Porque eu pedi ao Tio Vinny para passar uns tempos com ele, depois que eu andei fazendo umas
merdas por lá. Eu acho que vocês devem ter conhecido o meu pai depois que eu vim pra cá.

- Mas você não respondeu minha pergunta. O que significa você beijar a mão do Tio Vinny e o que foi
que vocês falaram?

Davi Lima se enche de orgulho ao responder o garoto de olho azul que ele conheceu alguns dias atrás.

- Eu falei: sua benção, Daddy. Ele respondeu: o Eterno o abençõe, meu filho.

- Caramba. Por que que tudo nessa família é sempre tão confuso? Daddy não significa papai? Você não
acabou de dizer que é filho do Tio Ivan?

- É sim. Eu pedi ao Tio Vinny para ser meu pai americano quando ele me consolou de uma coisa maluca
que eu fiz. Assim eu tenho dois pais ao mesmo tempo. Eu amo os dois do mesmo jeito.

- E o que singifica isso que você disse?

- São tradições da família do meu pai. Significa que eu reconheço a autoridade dele sobre mim e ele está
pedindo ao Todo Poderoso que proteja minha vida. Quando o daddy aprendeu isso com meu pai e com o
vovô Levi e a vovô Ionah, ele pediu ao pai dele para fazer a mesma coisa e todo mundo aqui achou legal
e começou a fazer também.

- Eu não conheço seu avô. Ele e a mulher dele gostam de viajar. Nas poucas vezes que minha família foi lá
ele estava viajando com a mulher dele. O que ele foi fazer no Perú?

- Ele nasceu em uma cidade de lá chamada Lima. Ele e a vovô foram lembrar da infancia dele e de onde
ele a conheceu.

Por isso que o sobrenome de vocês é Lima? O meu pai teve um tio chamado Levi também, mas ele
nunca conheceu ele.

É sim. Parece que meu bisavô viveu em países diferentes fugindo da perseguição contra o povo dele e
meu vovô nasceu nessa cidade.

Quando os dois terminam suas tarefas, Davi pergunta a Levi:

- Você sabe andar de bicicleta?

- E quem não sabe?

- Topa passear a toa pela fazenda? Aí você pode continuar seu interrogatório.

Quando os dois voltam para a casa principal, Davi conversa rapidamente com Victor Junior e esse o
autoriza a pegar duas das bicicletas que estão no estacionamento. Levi sente-se no paraiso com a brisa
que sopra naquele lugar. Quando param perto de um enorme pé de manga, Davi fala bem sério com ele.

- Já que vocês são da família do meu pai americano, eu acho que a gente é família também. Certo?
- Eu não tinha pensado nisso. Faz sentido.

- Eu posso lhe contar tudo sobre mim. Só que você tem que jurar que não vai colocar na internet ou
conversar com nenhum amigo seu. Eu posso jogar minha vida no lixo de novo se isso se espalhar por aí.

Levi pega uma vara e derruba uma manga rosa e fica em pé ao lado de um tronco em frente ao que Davi
está e começar a comer. Entre uma mordida e outra ele fala.

- Tudo bem. É legal pacas ter uma família tão grande. Diz aí que lance é esse que você falou.

- Você jura então, por tudo que você considera sagrado, que nunca vai contar para ninguém.

- Juro.

- Então senta aí, pra você não cair de susto.

- Cê tá de brincadeira. Né?

- Olha bem pra minha cara e vê se eu pareço alguém que iria brincar com a vida do meu pai, do meu
irmão e do meu sobrinho.

Levi Monterrey sente até um calafrio quando ouve o tom de voz com o qual Davi Vieira Lima fala aquela
frase. Ele senta-se no tronco e não diz nada, esperando a bomba que ele pensa que vai ouvir. Davi
começa então sua conversa.

- O meu pai teve três filho. Isso é, ele fabricou três filhos. Nem dá para pensar que eu era filho dele até
algum tempo atrás. O único que viveu com ele desde que nasceu fui eu. Só que eu sempre fui um bosta
ambulande e sempre tratei ele e os pais dele como se fossem mais sujos que aquele esterco que você
me viu limpar.

- Caralho. - Levi põe a mão na boca ao falar aquilo e diz - Foi mal. Eu não sei se você fala palavrão. Eu
estou querendo parar com isso.

- O meu pai americano está me ensinando a ser gente. E por causa dele eu também estou largando essa
manias cretinas que eu tinha antes.

Enquanto devora a manga, se lambuzando todo sem nem se importar, Levi continua aquilo que ele
chama de interrogatório.

- Você falou que teve três irmãos e disse que só você viveu com seu pai? Que maluquice é essa?

- Convivi nada, quem conviveu com ele foi meu irmão Pedro que não era trouxa e sabia o cara bacana
que meu pai era, enquanto eu incentivava aquela mulher a trair ele.

- Que mulher? Sua mãe? Esse Pedro não é um rapaz moreno que é pai do Erik?

- Aquela boa bisca nunca foi minha mãe. Eu que era trouxa de acreditar nela. A minha mãe é a que é a
mãe do Oliver Queen e que casou com meu pai. Mas deixa eu falar do começo senão confunde tudo.
- Como assim, Oliver Queen? Essa sua família parece ser mais doida que a minha. Pera lá. O pai do Erik é
adotado. Foi isso que ele falou pra mim na aula. Como o tio Ivan fabricou ele? - Os pensamentos e as
lembranças de Levi Monterrey afloram em sua mente e ele emenda uma frase na outra. - Pera lá. O
Pedro é irmão do carinha americano parecido com o meu irmão Kyle e um outro engraçadinho chamado
Arthur. Esses filhos que você falou que ele fabricou?

- Só o Sunshine. O outro chama Gabriel. O Arthur e o Pedrinho são adotados. O paizinho ia adotar o Erik
também, só que eles fizeram um rolo e foi o pedrinho que adotou ele.

- Eu não conheço esse Gabriel. Nas vezes que eu fui na fazenda, ele não tava lá. E qual é o drama de ter
irmãos que você não conhecia? Eu só conheço minha família faz um ano?

- Lembra que você jurou não falar para ninguém.

- Tudo bem. Não vejo porque tanto drama até agora.

- Eu tentei matar o Sunshine. Eu quase mato o meu pai, Ivan, que se meteu no meio dele. O Arthur
ameaçou me matar dentro de um presídio e eu matei dois homens que sequestraram o Davizinho, filho
do Arthur.

- Pela mão do guarda. - Levi fala verdadeiramente assombrado. - Como assim, mano? Você parece um
cara tão de boa. No dia que seu pai levou um tiro que eu fui na casa dos meus pais a primeira vez. Na
hora que o Tio Ivan estava saindo do orfanato com o Erik, meu irmão Gael falou para o seu pai não se
preocupar que era só um susto.

Com toda a paciência do mundo, Davi esclarece aquela conversa.

- Eu sou um cara mais ou menos agora que o Todo Poderoso quase me mata pela merda que eu fiz. Eu
peguei a porcaria daquela doença que o povo não para de falar e quando tava quase morrendo, eu pedi
para Deus encontrar o meu pai para eu pedi perdão a ele. Ele me arrancou da espelunca que eu tava e
cuidou de mim em um hospital de verdade. Antes disso o Arthur foi no presidio que eu tava, todo
vestido de arqueiro verde, e ameçou me matar se eu ainda chegasse perto da família dele. Por isso que
eu e meus irmãos chamamos ele de Oliver Queen. Que lance é esse do seu irmão? Ele é algum profeta?

- Ele tem uns lances esquisitos de sentir umas coisas. Foi assim que ele encontrou nossos pais e o meu
irmão Kyle. E que história é essa de você matar dois caras?

Davi abaixa o rosto, ainda envergonhado de toda aquela situação e fala enquanto risca alguma coisa no
chão com um graveto.

- Antes de eu ficar bom, o Arthur tinha adotado um garoto chamado Kevin em um lugar chamado Abrigo
Missão Criança. Quando eu cheguei na fazenda depois de ficar bom, uns malucos tinham sequestrado o
guri quando não tinha ninguém na fazenda. Eu peguei umas armas e o Jeep do meu irmão Erik, que
agora é meu sobrinho e matei os caras. O Arthur chegou depois e falou para a gente jogar os corpos no
rio cheio de piranha e não contar para ninguém. E ele e a Sandy trocaram o nome do gurí pelo meu.
Antes disso, eu pedi perdão pro meu irmão Gustavo. Sunhine o novo nome dele. Gustavo vai ser o nosso
irmão que nossa mãe Lara está esperando.

- Nunca mais na minha vida, eu vou pensar que minha família é complicada, nem mesmo sabendo que
eu nasci em uma barriga e meu irmão gêmeo em outra. Eu passei quase minha vida toda nesse lugar que
seu irmão adotou o guri. É até capaz de eu saber quem ele é.

- O Davizinho é um bebê ainda. Ele está aprendendo a falar e andar agora.

- Então você é o malvadão e o herói da família ao mesmo tempo?

- Ninguém aqui é puro anjo ou demônio.

- A mas é sim! Aquelas coisas nojentas que me roubaram dos meus país e me impediram de ser feliz são
a própria encarnação do mal.

Depois daquela estranha narrativa, Levi Monterrey pede a Davi para voltarem andando para a sede da
fazenda. Querendo amenizar aquela conversa tensa, ele pergunta de bobeira.

- O tio Vinny sabe que você namora a filha dele?

Davi para instintivamente e olha para Levi, perguntando a seguir.

- Como assim? Eu não namoro a Sarah. Ela é minha amiga.

- Se ela é só sua amiga, como eu escutei minha mãe conversando com ela sobre você? Ela disse pra
minha mãe que não sabia como contar pro pai dela que ela queria ser sua namorada.

- Como é que é?

- Isso mesmo. Ela disse para minha mãe que não tinha coragem de falar com a mãe e o pai dela que
gostava de você. Só não diz para a minha mãe que eu tava de bobeira e ouvi a conversa dela. Foi sem
querer.

Davi Lima enfeita o rosto com um sorriso quando ouve aquilo e diz.

- Se você não tiver de bobeira comigo. Eu vou ser o melhor amigo que você já teve na vida.

- Eu juro pela vida do meu pai e da minha mãe.

Davi encosta sua bicicleta em um poste de energia eletrica, quando vê ao longe a filha de Vinicius Dorsey
vindo em sua direção e fala com Levi todo emocionado.

- Eu nunca fui de abraçar ninguém, nem mesmo o meu pai. Ele é que tem essas manias de viver
abraçando e beijando todo mundo. Só que eu to doido para dar um abraço em você agora.

Levi monterrey lembra da foto que ele viu em seu computador, de um garoto americano abraçando seu
amigo, que ele não sabia que era seu irmão. Encosta a bicicleta perto da outra e abre os braços. Sarah
Poulter Dorsey para de andar no exato instante em que vê Davi Lima abraçar Levi Monterrei, sem nem se
importar com a camiseta toda suja de manga que ele está usando, e dar um beijo em sua testa.

- Se você nunca viu um homem feliz em sua vida. Você está vendo agora. Eu amo você, Levi Monterrey.

- Eu também amo você, Davi Lima.

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