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Copyright © 2023 – Ane Le

Todos os direitos reservados.

Capa: @Vic_designer_
Revisão: Amanda Mont’Alverne
Diagramação: Ane Le
Imagens: Canva

Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e acontecimentos


são produtos da imaginação da autora. Quaisquer semelhanças com nomes,
datas e acontecimentos reais são mera coincidência. Esta obra segue as
regras da Nova Ortografia da Língua Portuguesa.
É proibido o armazenamento e/ou a reprodução de qualquer parte desta
obra, através de quaisquer meios tangível ou intangível sem o
consentimento escrito da autora.

Plágio é crime.
A violação autoral é crime, previsto na lei nº 9.610/98, com aplicação legal
pelo artigo 184 do código penal.

Criado no Brasil.
Obra registrada.
Sumário
Copyright © 2023 – Ane Le
Sumário
Sinopse
Notas da Autora
Dedicatória
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40
Capítulo 41
Capítulo 42
Capítulo 43
Capítulo 44
Capítulo 45
Capítulo 46
Capítulo 47
Capítulo 48
Epílogo
Agradecimentos
Mais obras da Autora
Uma dívida entre as máfias Russa e ‘Ndrangheta[i] resultou em um
casamento como pagamento.

Luara cresceu com espírito livre, sonhadora e não imaginava que uma
tempestade estava para chegar. Sofreu a maior decepção da sua vida quando
descobriu que o seu pai, o homem que sempre acreditou ser o seu herói, deu
a sua mão em casamento quando ela ainda era um bebê para o homem que
hoje era considerado o mais temido de todos os tempos, como quitação de
uma dívida.
Ela estava prestes a entrar para a escuridão, já que estava de casamento
marcado com o Don da máfia mais temida e poderosa de toda a Itália,
conhecido por seus inimigos como Diabo.

E agora, o que ela faria ao saber que tinha uma passagem apenas de ida para
o inferno?
Olá, meu querido leitor, tudo bem? Que bom tê-lo por aqui!

Peço, por favor, que antes de iniciar a leitura leia essa nota e se atente aos
gatilhos.

Primeiramente gostaria de agradecer por escolher esse livro para ler. Foi
maravilhoso escrevê-lo e espero que goste da leitura.

Diante disso, preciso deixar claro que esta é uma história de romance dark e
com alguns temas que podem gerar gatilhos como: morte, violência
psicológica, tortura e uso de drogas lícitas e ilícitas.

Lembrando que é um Age Gap, onde o nosso vilão — não podemos chamá-
lo de mocinho, rs — tem uma diferença significativa de idade com a nossa
mocinha.

Nosso anti-herói não te conquistará de primeira, mas dê-lhe uma chance de


mostrar que o amor o salvará da sua própria escuridão e frieza. Ele foi
criado para gerenciar a maior máfia da Itália, tendo sido treinado para matar
sem dó nem piedade. Aqui conheceremos um Don que descobrirá que o
amor pode ser leve, saboroso e delicado.

Se em algum momento da leitura você se sentir desconfortável, abandone-a


e procure algo mais leve para ler. Considere sempre a sua saúde mental.

Finalizando, é preciso lembrar que esse livro não é recomendado para


menores de 18 anos, pois além dos temas já mencionados, contém cenas de
sexo explícito e palavras de baixo calão.

Atenção: Realizo algumas pesquisas para trazer mais autenticidade à


história. No entanto, alguns eventos e acontecimentos são criados para dar
melhor coerência e proporcionar emoções ao leitor.

Espero que aprecie, boa leitura.


Aos recomeços…
se o fim da sua história não te agradou,
não hesite em recomeçar.
Eu cresci em uma família perfeita, era o que eu pensava. Sabia que havia
nascido em berço da máfia e que o sangue mafioso corria em minhas veias,
o que me fazia ter algumas obrigações. Tinha plena consciência de que meu
pai era o capo da máfia Russa e que meu irmão herdaria esse posto depois,
mas eu pensei que pelo menos por enquanto estava imune a toda essa
merda.
Ivan, meu pai, sempre procurou me deixar de fora dos assuntos da máfia,
nunca fui a uma reunião ou festa dada por eles e agradecia por isso. Pensei
que meu pai queria me defender desse mundo, mas eu estava enganada.
Meus pais nunca me privaram de quase nada, eu saia, viajava, estudava e
até fazia aula de dança.
Ao longo dos anos eu recebia presentes em nome do Senhor Vincent
Caccini e sua esposa Giovana, meus pais falavam que eles eram como
padrinhos, apesar de eu ter visto eles umas duas ou três vezes apenas.
A dois meses atrás, recebi a pior notícia da minha vida. Eu sabia que um dia
eu teria obrigações a cumprir dentro da máfia, como qualquer outra mulher.
Um casamento não era algo que pudéssemos escapar, nascemos e fomos
criadas para isso. Casar e servir nossos maridos.
Contudo, imaginei que por toda a liberdade que sempre tive, coisa rara de
se encontrar nesse meio, minhas obrigações estavam longe de serem
cumpridas… ledo engano.
O choque foi tremendo quando ouvi dos meus pais que eu sou a prometida
do filho mais velho dos Caccini. Não acreditei de imediato, que meu pai, o
homem que sempre idolatrei e minha mãe, a mulher que mais amei, me
apunhalaram pelas costas, me entregaram para um homem que nunca vi na
vida e pior de tudo, o diabo em forma humana.
Chorei, gritei, esperneei, fiz pirraça, disse que odiava todos eles, inclusive
meu irmão que me escondeu isso a vida toda.
Podem me chamar de infantil e mimada, tudo bem, eu aceito. O que não
consigo aceitar é a traição vinda das pessoas que mais amo.
Já fazem dois meses que venho tratando-os com indiferença. É pura pirraça,
eu sei, mas estou magoada, me sentindo enganada e destruída por dentro.
Nunca ouvi nada de bom do meu futuro esposo. O pouco que procurei saber
sobre ele é assustador!
O filho mais velho dos Caccini já assumiu a cadeira e é o Don, o todo
poderoso, que manda e desmanda em tudo e todos. O denominam como
"diabo" por conta da sua crueldade.
Já consigo imaginar o meu fim…
Fui entregue a ele ainda bebê, meu pai estava em dívida com o pai dele, que
na época era o Don, quando o Senhor Caccini veio até minha casa para
cobrar a dívida, me viu e ficou encantado (palavras da minha mãe). Velho
desgraçado, por causa dele minha vida acabou!
Resumindo, o velho quis fazer um acordo e ficou acordado que quando eu
fizesse dezoito anos me casaria com o filho dele e meu pai, sem saída,
aceitou.
Segundo ele, quis me preservar disso tudo durante esses dezoito anos e me
deixou viver uma vida livre e tranquila até que não fosse mais possível,
acho que quis amenizar a culpa que carrega.
Eu me sinto perdida. Não quero me casar com ele, sem contar que o Don é
velho, nossa diferença de idade é de 17 anos.
Que velho asqueroso, querendo se casar com uma menina nova. Imagino
que ele deva ser horrível!
A cada segundo que se passa no relógio, o meu desespero e aflição se
triplicam.
Capítulo 1

— Oi, posso entrar? — meu irmão perguntou, parado na porta do meu


quarto.
— Pode.
— O que você está fazendo aí? — apontou para o celular que está na minha
mão.
— Conversando com a Char. — Char é como chamo carinhosamente a
Charlotte, minha amiga. Estudamos juntas e ela tem uma queda pelo meu
irmão.
— Sabe que vamos para Itália amanhã? — Ele me olhou com tristeza, é
como se estivesse sentindo pena de mim.
E tudo bem, eu entendo, estou sentindo o mesmo
— É, fiquei sabendo, o tal noivado será no sábado, né? — perguntei,
respirando fundo para não chorar.
— Lua, vem cá minha borboleta — Victor se aproximou, sentando ao meu
lado na cama e me abraçou forte. Neste momento não consegui me
controlar e deixei as lágrimas rolarem. — Você sabe que se eu pudesse fazer
alguma coisa, qualquer coisa, para evitar esse casamento eu faria, não sabe?
— Balancei a cabeça em sinal positivo, impossibilitada de conseguir falar
pelo choro que estava embargando a minha voz. — Infelizmente eu não
posso e me sinto um merda por isso.
— Você não tem que se sentir assim, isso não é culpa sua — falei, pois é a
verdade. — Essa merda toda é culpa do papai!
— Eu sei que você está nervosa e que nesse momento você não consegue
entender as razões dele, mas papai fez isso para salvar a nossa família, do
contrário seríamos mortos, todos nós. Ele está sofrendo muito, a mamãe
também. Você pretende ficar ignorando eles até quando?
— Não sei — respondi com sinceridade, ainda estou com raiva, não sei se
um dia perdoarei meu pai. — Com a mamãe eu estou falando, é que ainda
estou aceitando essa situação toda, sabe? Preciso de um tempo para
assimilar tudo, eu vou superar, eu tenho que superar. — Puxei o ar com
força.
— Fica bem. Prometo fazer tudo que estiver ao meu alcance para que nada
de mal te aconteça. — Depositou um beijo carinhoso no topo da minha
cabeça, me abraçou bem forte e se levantou para sair. — Boa noite, minha
borboleta!
– Victor? – o chamei antes que saísse do quarto. — Sobre o meu futuro
marido — Era horrível dizer isso, “futuro marido” soava tão estranho, visto
que eu nem o conhecia. — Ele é dezessete anos mais velho que eu! —
Pigarreei antes de fazer a pergunta. — Ele é muito feio? – perguntei porque
sei que meu irmão já viu ele várias vezes, pois é ele que trata os assuntos da
nossa família, já que através desse acordo de casamento se formou uma
aliança entre as máfias.
— Olha, sabe que o único homem bonito dessa terra sou eu, né? — brincou,
todo convencido, como sempre — Mas ele não é horroroso, tá conservado,
pode ficar tranquila.
Será que ele queria me deixar melhor com essa resposta? Porque
sinceramente, ele não conseguiu. Conservado? Misericórdia!
— E sobre as coisas que falam dele? É verdade? — A palma da minha mão
já estava soando com medo da resposta.
— Não pensa nisso agora. — Estreitei os olhos, repreendendo-o. Eu queria
uma resposta válida e sincera e Victor sabia disso. — Tá, tudo bem, se você
quer saber. — Deu de ombros, sabendo que eu encheria o seu saco até me
falar. — As coisas que falam dele é verdade, já acompanhei ele em algumas
missões e posso dizer que é até um pouco pior. Agora que já tem sua
resposta vai descansar, vamos sair amanhã cedo.
Ele saiu do quarto e eu entrei em pânico. Eu estou fodida!

No dia seguinte, fizemos a viagem toda em silêncio, me recusei a falar com


meu pai. Os Caccini fizeram questão que usássemos o jatinho deles,
insuportáveis!
Estou me arrumando para o circo de horrores que prepararam para essa
noite, o meu noivado feliz. Que ironia! Será que ninguém percebe que isso
é um absurdo? Eu faço 18 anos daqui três semanas e duas semanas depois
do meu aniversário será meu casamento. Eu nem comecei minha vida
adulta, nem beijei na boca ainda, nem transei com vários carinhas
aleatórios, que ódio! Só queria ser normal, fazer o que as garotas normais
fazem. Eu não pedi para nascer na merda da máfia. Eu odeio essa corja!
Apesar do meu pai me deixar livre, sempre soube que era vigiada de algum
modo, me impedindo de viver plenamente minha adolescência e, talvez por
isso, nunca arrisquei me envolver com ninguém. Tinha medo de
decepcioná-lo, afinal, sempre pensei que fosse a sua pequenina.
Terminei de me arrumar e me olhei no espelho. Estou vestindo um vestido
preto justo ao corpo com uma fenda na lateral, deixei meus cabelos soltos e
passei uma leve maquiagem para realçar meus olhos azuis.
Fui agraciada com curvas generosas e esse vestido deixou-as com mais
destaque.
— Você é forte, Luara, vamos, coragem! – disse, olhando-me no espelho e
me encorajando.
Cheguei na sala onde estão meu pai, mãe e irmão à minha espera.
— Você está linda, borboletinha! – meu irmão me elogiou. Eu o amo muito.
— Filha... — meu pai me chamou e ponderei se deveria olhar para ele ou
não. Percebi o olhar de tristeza da minha mãe sobre mim e decidi ouvi-lo.
Não havia como ficar com raiva de dona Yelena, minha mãe era uma
mulher incrível e mesmo com toda mágoa dentro de mim, não queria
chateá-la.
— Oi?
— Filha, desculpe-me! Sinto muito, mas não posso fazer nada para voltar
atrás, só posso desejar que você seja feliz no seu casamento, como eu sou
com a sua mãe. Me perdoa, Luara, eu não sabia que seu futuro marido se
tornaria o "diabo".
— Era só isso, papai? — Arqueei a sobrancelha, encarando-o com escárnio.
Estou com tanta raiva!
— Filha, eu sei que seu pai fez errado, mas foi na melhor das intenções. —
Mamãe tentou apaziguar.
— Claro, mamãe, entregar sua filha para pagar dívidas é sem dúvidas uma
das melhores intenções — ironizei.
— Espero que você me perdoe um dia, minha borboletinha. — Meu pai
usou o apelido que ele me deu desde nova. Segundo ele, sou como uma
borboleta, sempre disse que eu tinha alma alegre, livre e criativa, assim
como as borboletas são.
Meu irmão olhou tudo sem falar nada.
Decido não responder, não estou preparada para perdoá-lo.
— Vamos? — chamei de súbito, pronta para encerrar essa conversa.
Capítulo 2

Chegamos à mansão dos Caccini e realmente é um lugar muito bonito.


Adentramos e fomos recepcionados por uma mulher linda, acho que ela é a
Giovana, mas não tenho certeza, eu era muito nova quando a vi pela última
vez.
— Sejam bem-vindos, meus queridos — saudou. — Luara, que mulher
linda você se tornou, meu filho é um homem de muita sorte – falou com um
enorme sorriso no rosto.
Agora tenho a certeza de que ela é a Giovana, mãe do diabo com quem irei
me casar.
— Obrigada! — É tudo que me limito dizer.
— Vamos, quero apresentar a família para vocês!
Seguimos ela, que vai para perto de dois homens, um que possivelmente
pela idade é o marido dela, o velho infeliz que me comprou para o filho e
um mais novo parecido com ele. Os dois são muito bonitos, isso é inegável.
Será que esse é o meu futuro marido?
— Luara, esse é Vincent, meu esposo e esse é o meu filho, Renzo. — Nos
apresenta.
Então esse não é o dito cujo.
— Querida Luara, que moça bela você se tornou. — O velho veio em
minha direção e beijou minha mão.
Minha vontade era dar um tapa na cara desse desgraçado, mas ao invés
disso, apenas agradeci ao elogio.
— Cunhadinha, que bela ragazza[ii] você é! Meu irmão é um bastardo de
muita sorte. — Sorriu galanteador… caramba, ele é muito bonito mesmo!
— Obrigada, Renzo.
— Seu noivo foi ao escritório resolver um problema, mas já deve estar
voltando, querida – Giovana me avisou.
Como se eu estivesse interessada em saber dele, ai ai, por mim poderia ficar
lá para sempre.
— Ali está ele, mamma[iii] – Renzo falou, com um sorriso divertido no
rosto.
Todos olhamos para a porta e para minha surpresa ele entrou na sala com
uma loira ao lado. Ele é um pouco mais alto que Renzo, e bom, na minha
percepção, mais bonito também. Entretanto, sua figura é intimidadora.
A loira ao lado dele está na nossa direção com um sorriso debochado no
rosto e quando ele se aproxima, vi que o canto da sua boca tinha uma
mancha de batom vermelho, o mesmo batom que a loira usava.
Maldito, não respeita nem o dia do nosso noivado!
Giovana pigarreou, parecendo bem constrangida com a situação e nos
apresentou.
— Filho, essa é Luara, sua noiva — Agora virou o rosto para mim —
Luara, esse é o Rocco.
Ele me encarou, mas não consegui decifrar o que passou no seu olhar, não
demonstra nenhuma reação, não tem expressão alguma.
— Ótimo, vamos apressar esse jantar logo e anunciar o noivado, tenho
compromissos. — Totalmente frio e com a voz rouca, não faz a menor
questão de me conhecer.
Que homem grosso!
Fomos para a sala de jantar onde acontecerá a cerimônia de noivado e
bastou um pigarreio desse homem para que todos à sua volta se calassem e
prestassem atenção na figura majestosa do Don Caccini.
— Boa noite, senhores, como todos sabem estamos aqui para oficializar
meu noivado com a senhorita Luara Sokolova. Estamos oficialmente
selando a união entre as máfias Italiana e Russa, que há um bom tempo
estamos colhendo bons frutos dessa união. — Meu pai cochichou pedindo
que eu me levantasse e assim fiz. Rocco tirou uma caixinha do bolso e sem
me olhar, colocou o anel de diamante vermelho no meu dedo.
O pai dele se aproximou com uma lâmina na mão e fez um pequeno corte
na palma das nossas mãos. Assim que o sangue escorreu, Rocco apertou a
minha mão, selando o nosso sangue.
— A partir de hoje, Luara se torna oficialmente a minha noiva — anunciou,
levantando a taça e todos fazem o mesmo, como se fosse um brinde.
Grandes bostas!
Tive vontade de revirar os olhos, mas me segurei.
Depois do anúncio, a festa continuou, meu noivo que estava com tanta
pressa ainda permaneceu aqui e a loira não desgrudou dele um minuto.
Ótimo, meu futuro vai ser brilhante, vou viver sendo maltratada, humilhada
e ridicularizada por esse homem.
Não vejo a hora dessa palhaçada acabar e eu poder ir embora!
Vou andando em direção ao jardim quando sinto uma mão segurando meu
braço.
— Você vai aonde? — meu pai perguntou.
— Vou no jardim, não aguento mais olhar para cara dessas pessoas, mas
fique tranquilo, papai, não irei fugir, eu sei muito bem que meu destino está
traçado e nada que eu faça vai mudar isso. — Tem tanta mágoa na minha
voz e dentro de mim, que novamente minha voz embargou e meus olhos se
encheram de lágrimas.
— Sinto muito, filha! Quanto mais rápido você aceitar essa situação,
melhor será para você. — Puxei o meu braço e saí dali o mais rápido
possível.
Como posso aceitar uma situação dessas? Estou sendo obrigada a casar,
meu futuro marido é um idiota, não me respeitou nem no dia do nosso
noivado, imagina depois que casar?
— Idiota, imbecil! Ai que raiva, que ódio! O que eu fiz para você universo?
— Olhei para o céu, esperando uma resposta.
Estou tão indignada com o meu futuro.
— Espero que esteja xingando o meu irmão e não a mim.
Levei um susto quando percebi que Renzo estava sentado atrás de mim.
Virei-me e o vi fumando um charuto e bebendo algo que não consegui
identificar o que era.
— Ai que susto! — Levei a mão ao peito. — O que você faz escondido aí?
— O mesmo que você minha jovem, fugindo.
— Porque você estaria fugindo? — indaguei, confusa.
— Depois que o Rocco se casar, é a minha vez de fazer um casamento
vantajoso e eu não tenho saco para essa merda — respondeu, visivelmente
irritado.
— Bem-vindo ao clube então. — Me aproximei e sentei ao seu lado.
Embora Renzo seja cheio de tatuagens e tenha um semblante sério, ele não
me deixa com medo, igual o seu irmão. — Então você está fugindo da
mulherada lá dentro que sonha em se casar com um dos Caccini? —
brinquei, rindo.
— Exatamente — Tragou seu charuto — Garota esperta. — Lançou-me
uma piscadela.
— O que tem nesse copo?
— Uísque. — Mostrou-me o líquido marrom.
— Me dá um pouco disso aí — pedi, sem nunca ter bebido na vida.
— Você não tem idade para isso, criança — respondeu irônico, zombando
de mim.
— Vamos, Renzo, me dá um pouco disso, só assim para aguentar essa festa
até o fim — implorei.
Ele me estendeu o copo e dei uma golada, logo após fazendo uma careta
feia.
— Isso é horrível!
— Ora, ora, veja só se não é minha noiva bebendo escondida junto com
meu fratello[iv]. — Escutei a voz dele e na mesma hora o gosto amargo do
uísque passou.
— Ela pediu e eu dei. — Renzo deu de ombros, se explicando.
— Que eu saiba você não tem dezoito anos, criança — falou com o seu tom
frio e debochado, mas era possível perceber que estava bravo.
— E que eu saiba você não é meu pai! — Tomada pela raiva, quando
percebi já havia respondido.
— Mas sou seu dono! — rosnou, dando um passo à frente.
Levantei-me em uma tentativa em vão de falar com ele cara a cara, mas não
foi possível pela nossa diferença de tamanho.
— Você não é meu dono! — Usei o mesmo tom grosso que ele usou
comigo.
— Ainda não, mas daqui uns dias serei. — Abriu um pequeno sorriso no
canto da boca.
— Daqui uns dias não é agora, portanto, você não manda em mim —
respondi e me virei para sair dali, mas fui impedida por sua mão enorme
que segurou o meu braço.
— Não brinque comigo, criança — ameaçou, com os olhos estreitos e a
raiva escancarada na sua expressão.
— Se não o quê, Don? — debochei. Sabia que estava rindo na cara do
perigo, mas naquela altura do campeonato, isso não estava me causando
medo. — Você vai me matar? Gostaria de informar que será um favor que
você irá me fazer. — Puxei meu braço do seu aperto. — Não pense que
serei seu brinquedinho, porque não serei!
Praticamente corri, sentindo o coração acelerado. A adrenalina correndo em
minhas veias. Não sei de onde tirei tanta coragem, acho que foi o uísque!
Capítulo 3

Fui contando cada segundo dos dias, desejando com toda a força da minha
alma que o tempo parasse e o relógio não contasse mais as horas, porém, foi
inevitável.
Amanhã é meu aniversário de dezoito anos, uma data que era para ser
alegre se tornou minha maior tristeza. Daqui duas semanas estarei ligada a
aquele diabo para sempre.
Depois do noivado, voltamos para Rússia, eu não quis participar dos
preparativos do casamento, deixei tudo por conta da Giovana. O vestido eu
escolhi o modelo e mandei para ela, parece que a filha dela é estilista e vai
desenhá-lo conforme minha preferência, só mudando alguns detalhes, mas
não me importei com isso também, eu não dou a mínima para esse
casamento.
— Luara, o que está acontecendo? Você anda distraída, não está
conseguindo concluir a coreografia — Ana, minha professora de dança me
repreendeu.
— Irei me casar — contei e ela arregalou os olhos.
— Como assim? Vai se casar? Eu não sabia que estava namorando, nem
noiva, muito menos apaixonada!
Abri um sorriso triste ao ouvi-la.
— É a vida — Suspirei, cansada de ficar remoendo essa história de
casamento. — Mas vamos deixar isso de lado e vamos tentar ensaiar mais
uma vez.
Já é tarde e estou conversando com Char, ela fez dezoito anos a um mês
atrás e desde então vive saindo para boates.
É errado, eu sei, mas sinto inveja dela e de todas as garotas que podem
viver uma vida normal.
Char: Amiga, vamos a uma boate hoje? Depois de meia noite é claro,
hahah
Eu: Não sei, amiga, estou desanimada.
Char: Ah, amiga! Vai ser sua primeira e pode ser sua última saída solteira.
Eu: Não sei se é uma boa, Char!

Tentei argumentar, pois estava com um pressentimento estranho. Talvez


seja só a tristeza me consumindo mesmo.

Char: Amiga, deixa de ser chata, vamos viver! Você vai casar daqui duas
semanas e eu não vou curtir nem uma boate com a minha melhor amiga?
Vamos vai...
Eu: O que você não me pede sorrindo que eu não faço chorando, hein?
Char: MENTIRAAA! Você vai? Paraaaaa!!!
Eu: Não era isso que você queria? Pois bem, vamos comemorar meus
dezoito anos curtindo.
Char: Ai que legal, uma despedida de solteira e a comemoração da sua
maior idade! Vou chamar a Ana e vamos nós três.

Pelo menos alguém tá animada.

Eu: Tá bom amiga, vou me arrumar.


Char: Vamos passar para te buscar 00h30min, beijos.
— Amiga, feliz aniversário, você está tão linda, os homens vão cair
matando em cima de você. Ana, não vai sobrar homem nenhum para nós
duas — Char falou toda animada.
— Linda mesmo, Lua — Ana também me elogiou.
— Obrigada! Vocês duas estão lindas também — retribui o elogio.
Chegamos na boate e entregamos nossos documentos na entrada.
— Meus parabéns, aproveita sua maior idade. — O segurança, que era um
gatinho, falou comigo.
— Obrigada!
Entramos e fico paralisada, são muitas pessoas no mesmo lugar e o som é
muito alto.
— Vamos amiga, depois você acostuma. — Char me puxa pelo braço,
carregando-me para o meio da multidão.
Já no bar, pedimos uma bebida.
— Vamos dançar — Ana gritou para que pudesse ser ouvida.
— Vamos! — Char respondeu animada.
— Eu vou beber mais um pouquinho — avisei. Talvez com a bebida eu
conseguisse me animar mais.
O tempo foi passando e eu já perdi a conta de quantos drinks já tomei, olhei
para a pista e tudo girava, as meninas estavam dançando feito loucas e eu
comecei a me animar também.
Fui para a pista e dancei com as meninas, dancei tanto que estou com as
pernas doendo e suando. Nunca me diverti tanto na vida!
— Vamos tomar tequila — Char gritou.
— Vamos! — Fui a primeira a responder.
Tomamos várias doses de tequilas e se me perguntar, não sei nem meu
nome mais. Voltamos para a pista e um rapaz chegou perto da gente.
— Percebi que vocês dançam muito bem, tem até coreografias. Vocês são
algum grupo de dança? — questionou.
— A gente faz aula de dança. — Foi Char quem respondeu, eu já não estava
tão boa assim para falar.
— Vocês topariam dançar uma música da escolha de vocês no palco?
— Sim! — respondemos todas juntas, consumidas pelo álcool.
Escolhemos a música e a loucura estava feita.

Sim, eu posso vê-la


Porque toda garota aqui quer ser ela
Oh ela é uma diva
Eu sinto o mesmo e quero conhecê-la
Dizem que ela é baixa
Isso é apenas rumor e eu não acredito
Dizem que ela precisa ir devagar
A pior coisa em torno da cidade
Ela não é como uma garota que você já viu antes
Nada que você possa comparar com as vadias do bairro
Estou tentando achar palavras para descrever esta garota
Sem ser desrespeitoso
O jeito que esse traseiro se move, não posso mais aguentar
Tenho que parar o que estou fazendo, pra chegar mais perto.
Estou tentando achar palavras
Para descrever esta garota sem ser desrespeitoso
Droga
Droga, você é uma vadia sexy
Uma vadia sexy
Droga, você é uma vadia sexy
Droga
Droga, você é uma vadia sexy
Uma vadia sexy
Droga, você é uma vadia sexy
David Guetta ft. Akon - Sexy Bitch

Dançamos feito loucas, sequer percebi a letra da música, o álcool já estava


tanto que nem conseguiria entender. Fomos ovacionadas, com aplausos,
assobios e gritos, o que nos deixou ainda mais entusiasmadas.
Quando a música estava quase perto de acabar, senti alguém puxar meu
braço forte e me colocar sobre suas costas, nesse momento me dei conta:
ferrou, fui pega pelo diabo!
Capítulo 4

Fiz meu nome dentro da máfia, me tornei o mais temido de todos e me


orgulho disso. Não sou tão cruel quanto pensam, eu nunca matei ninguém
que já não merecesse morrer.
Na máfia, sou conhecido com o diabo, já que não tenho piedade de
ninguém, exceto crianças e mulheres inocentes, fora isso, qualquer um que
ousa entrar no meu caminho, eu elimino, não tenho paciência para
joguinhos.
Renzo, meu irmão, já é o oposto de mim: centrado e calculista, já eu faço o
tipo impulsivo. Tem minha irmã também, nossa princesa Alice, ela está em
Milão estudando moda e pretendo deixá-la de fora de toda essa merda que a
máfia envolve até onde for possível, casamento e afins, ela é boa demais
para essa vida. Meus pais são bons, minha mãe é uma mulher fantástica e
meu pai fez o possível para não ser tão cruel no nosso treinamento.
Quando completei vinte anos, descobri que estava prometido para uma
moça, uma moça que praticamente tinha acabado de nascer. Obviamente
que achei um absurdo e até tentei contestar meu pai, mas ele era o Don e
sabia o que estava fazendo, então apenas aceitei.
Nesses dezessete anos que esperava minha querida esposa virar adulta,
aproveitei para curtir muito, me deitei com muitas mulheres, ao contrário da
minha prometida que nunca ficou com outro homem, mesmo de longe
tenho gente a vigiando, sei todos os passos da minha menina.
Lembro que vi Luara ainda muito pequena, ela sempre foi uma criança
linda, agora que cresceu está uma mulher espetacular. Ela é pequena,
aparenta ser frágil, mas pude comprovar no dia do noivado que não é tão
frágil quanto imaginava. Tem longos cabelos negros e olhos azuis como o
mar, que hipnotizam quem se coloque na sua frente.
Não posso esquecer de acrescentar nas observações que fiz, que minha
futura esposa é uma atrevida e tem uma boquinha muito esperta, mas tudo
bem, com o tempo ela entenderá o seu lugar e como deverá agir com o seu
marido. Não tenho tempo e nem disposição para criança mimada. Para ser
minha mulher, ela terá que aprender a me respeitar e não me desobedecer.
Terá que ser uma perfeita dama. É o que se espera da esposa do Don.
Saio do banho e Shantal ainda está deitada na cama depois de uma foda
muito boa. Ela é minha amante fixa, claro que fico com outras mulheres,
mas gosto de estar com ela, o sexo é bom, então mantive ela como fixa só
para mim e a deixo nesse apartamento depois que a tirei do bordel.
— Você já vai embora? — perguntou com a voz manhosa.
— Sim. Tenho coisas para resolver. — Na verdade não tenho nada para
resolver, mas nunca dormi ao lado de uma mulher, é sempre apenas sexo.
— Vai voltar amanhã? — Veio engatinhando na cama e parou na minha
frente.
Estou terminando de colocar meu terno.
— Não sei. Te aviso. — Segurei seu rosto com uma mão e dei um leve
aperto. Sei que ela espera um beijo, coisa que nesses três anos que estamos
juntos não aconteceu. Um beijo de verdade nunca dei nela, o que acontece
são as tentativas inúteis de Shantal de pegar minha boca para si, como
aconteceu no dia do noivado, em que ela tentou me beijar e me deixou
bastante irritado.
— Ciao[v] — despedi-me e saí do apartamento, indo para a minha casa.
No dia seguinte, fui para a Rússia, estou num hotel e amanhã farei uma
surpresa para Luara, já que é o seu aniversário de dezoito anos, que
obviamente não será agradável para ela, mas preciso começar a domar a
fera antes do casamento.
Já tenho problemas demais para resolver na máfia e não posso perder tempo
com essa besteira de casamento e esposa, portanto, vim para deixar claro
como as coisas vão funcionar a partir de agora.
Estou tomando meu uísque e fumando meu charuto quando meu fiel
segurança entra.
— Senhor, temos problemas. — Bebi um longo gole e o encarei.
— Que problema teríamos na Rússia, Tom? — perguntei por perguntar,
afinal, já sabia da resposta. Aqui só uma pessoa poderia me trazer
problemas: minha futura esposa.
— Sua noiva está em uma boate com mais duas amigas.
Essa peste está determinada a me trazer problemas, cadê os pais dela para
impor limites? Não sou o pai dela para educá-la!
— Vamos para essa boate. — Levantei-me na tranquilidade, não vou deixar
que essa pequena garota me tire do sério.
Vesti o meu terno e fui ao encontro da pequena diabinha.
Minutos depois, cheguei à boate e percebi que havia um tumulto lá na
frente, próximo ao palco. Conforme fui me aproximando mais, escutei
alguns homens gritando "gostosas" e fiquei curioso para descobrir do que se
tratava. Abri espaço e para o meu completo delírio, era Luara e mais duas
meninas dançando, elas riam e não pareciam se importar com os adjetivos
que lhe eram dados.
O que essa garota pensa que está fazendo dançando desse jeito na frente de
todos?
“Se eu pego essa gostosa de branco, acabo com a vida dela na cama, que
mulher linda!” — Um imbecil que estava ao meu lado falou sobre Luara,
afinal, ela era a única que estava de branco.
Consumido pela raiva, peguei-o pela camisa.
— Da próxima vez que falar da minha mulher ou mesmo olhar para ela,
ficará sem os seus olhos e sem a sua língua — rosnei e o soltei, jogando-o
no chão.
Aproximei-me do palco e como ela estava mais na beirada, afastada das
outras meninas, puxei-a e sem qualquer dificuldade a coloquei sobre os
meus ombros.
Meus seguranças foram abrindo espaço para que eu saísse dali com ela,
enquanto gritava e se esperneava.
Abri a porta do carro, não tendo qualquer dificuldade para fazer as coisas
com ela em meus braços, Luara é tão pequena e leve que me questiono se
tem se alimentado direito. Joguei-a lá dentro e percebi seus olhos
arregalados, claramente surpresa e amedrontada ao me ver.
— O que você faz aqui? — questionou, com a voz embolada.
— CALA A BOCA! — gritei sem paciência e a vi estremecer.
Entrei no carro e fizemos todo o trajeto em silêncio. Estou com tanta raiva
de Luara que prefiro ficar quieto do que falar merda.
Estacionei no hotel onde estou hospedado e quando olhei para o lado, vi
que ela já havia cochilado, então peguei-a no colo e subimos pelo elevador.
Assim que entrei no quarto, ela acordou.
— Hum, me trouxe no colo, que romântico, senhor Rocco. — Caiu na
gargalhada.
Deixo-a sentada na cama e me afastei um pouco.
— Você está bêbada, Luara!
O cheiro do álcool era perceptível de longe.
— Bêbada não, que coisa feia de se falar, estou alegre, alegre — Jogou os
dois braços para cima e gritou — Fica feliz por mim, Rocco, estou
comemorando meu aniversário antes da minha morte.
— Não suporto gente bêbada. — Encostei na parede e a observei.
— E eu não suporto você, não suporto esse casamento, não suporto meu
pai, não suporto a máfia, eu odeio todos vocês! — gritou, mas quase não
deu para entender o que falava, já que estava falando tudo embolado.
— Levanta — ordenei e ela balançou a cabeça em sinal negativo, rindo. —
Levanta agora, Luara! Não me faça perder a cabeça com você.
— E se você perder a cabeça, Rocco, o que vai acontecer? Você vai me
foder aqui? — Passou a mão pela cama — Nessa cama?
Por um pequeno instante tive vontade de rir, pois aqui na minha frente já
não parecia a mesma pessoa, Luara bêbada era atrevida ao extremo.
— Proposta tentadora, mas não irei fazer isso.
— Por quê? Eu não sou gostosa o suficiente para você? Eu não sou gostosa
como a sua amante, é? — Sentou na cama, totalmente nervosa, gritando.
— Luara, eu não converso com gente bêbada e só por isso irei te dar um
desconto hoje, agora vai dormir vai — Sai do quarto antes que falasse ou
fizesse algo que a machucaria.
— Eu te odeio, Rocco! — Ouvi-a gritar.
Iria levá-la para tomar um banho gelado para que se recuperasse, ao menos
um pouco, mas melhor deixá-la quieta. Fala muita besteira quando está
bêbada.
Esperei um tempo e assim que tudo ficou em absoluto silêncio, voltei para o
quarto e a observei dormindo. Tenho que admitir, ela é realmente muito
bonita. Tem um rosto angelical, uma pele suave e quando me olha, consigo
ver a imensidão azul do mar através das suas íris.
Sem falar que Luara exibia um lindo corpo. Acredito ser devido às aulas de
dança que pratica. Já vi algumas aulas, de longe, claro, mas o suficiente
para perceber que ela dança perfeitamente bem. Parece estar flutuando
enquanto se perde no ritmo da música. Ponto positivo para minha futura
esposa.
Capítulo 5

Acordei e senti uma dor de cabeça surreal.


Ai que droga! O que aconteceu ontem?
Abri meus olhos lentamente e não reconheci o lugar que estou. De repente
passou um filme na minha cabeça. Char, Ana, boate, bebida, música, dança
e Rocco.
Espera… Rocco? O meu futuro marido?
Ai meu Deus! Estou no quarto do diabo!
Olhei para o lado e tinha um copo de água e um remédio, nos pés da cama
tinha um vestido, uma calcinha ainda com etiqueta e uma toalha.
Tomei o remédio e decidi tomar um banho. Depois de tomar um banho
gelado e lavar o cabelo, respirei fundo, criando coragem e saí do quarto.
Terei que enfrentar o diabo, não tenho saída.
Encontrei-o sentado na varanda com uma enorme mesa de café da manhã
posta. Ele estava mexendo no celular e aparentemente não parecia estar
nervoso, aliás, não demonstra nenhuma expressão.
— Bom dia! — cumprimentei-o timidamente. — Obrigada pelas roupas e o
remédio. — Sentei-me à sua frente.
Ele largou o celular e olhou em minha direção.
— Bom dia querida noiva, dormiu bem? — O tom de voz que ele usa
comigo é de pura ironia, posso sentir.
— Dormi sim, sua cama é ótima! — respondi com ironia também.
— Feliz aniversário! — Para minha total surpresa, me parabeniza. — Toma
seu café da manhã, iremos sair.
Quero perguntar para onde vamos, mas tenho medo de puxar conversa e ele
querer tocar no assunto de ontem a noite, então decidi ficar quieta.
Após tomarmos o café e saímos. Percebi que o caminho que é feito é o da
minha casa e fiquei aliviada em saber que está me levando para um lugar
conhecido e seguro.
Assim que entramos na sala, encontramos meu pai, minha mãe e meu
irmão, todos me olhando com caras assustadas.
É claro que já estavam me esperando.
– Aqui está ela, Ivan — falou com o meu pai. — Gostaria de informar que
não aceitarei mais esse tipo de comportamento, não irei puni-la dessa vez,
somente dessa vez, irei respeitar que hoje é seu aniversário e que está
prestes a se casar contra a sua vontade, por isso fez uma estupidez dessa,
mas espero que você saiba colocar sua filha no lugar dela. Ontem a noite
agiu como uma puttana[vi], sensualizando para vários homens, estava tão
bêbada que nem se lembra ao certo onde acordou. Qualquer um poderia
levar sua filha embora, Ivan, e fazer o que quisesse com ela. Espero uma
atitude sua, serei o marido dela e não o pai. Você irá corrigi-la com amor,
não espere o mesmo de mim. — Olhou para todos nós. — Passar bem —
cuspiu as palavras com ódio e saiu sem se importar com nada.
Olho para meus pais com lágrimas nos olhos, decepcionada com tudo que
aconteceu. Então era isso, ele queria me humilhar, me ridicularizar na frente
dos meus pais!
— É para esse monstro que vocês me entregaram! Vocês me entregaram
para um monstro, ouviram bem? Um monstro! Eu nunca serei feliz ao lado
desse homem — gritei, deixando as lágrimas escorrerem pelo o meu rosto.
Subi as escadas correndo, entrei no meu quarto, tranquei a porta e me
permiti chorar. Droga de vida!
Eu te odeio, Rocco Caccini, te odeio!
Só de olhar para aquele homem é visível como ele sente prazer em maltratar
as pessoas, seu olhar é gélido. Ele não aparenta ser uma pessoa nem um
pouco amorosa. Fiquei imaginando o que me espera daqui para frente.
Como meus pais tiveram coragem? Eu estou ferrada, minha vida vai ser
uma merda, já consigo imaginar. Aposto que meu casamento nunca vai ser
igual ao dos meus pais. Vou viver tudo aquilo que escuto as mulheres da
máfia falando.
A vida das mulheres na máfia não é fácil. Nós não podemos fazer uma
faculdade, trabalhar ou até mesmo sair sozinha. É raro encontrar homens
bons dentro desse mundo, geralmente todos eles nos menosprezam e sentem
prazer em nos humilhar. É triste demais essa vida. Eu sinto muita tristeza só
de imaginar o que vou passar e o que tantas mulheres passam. As mulheres
deveriam ser mais valorizadas. É o que eu desejo que um dia aconteça.
Capítulo 6

Os dias tem passado muito rápido, para minha enorme tristeza. Depois
daquele episódio da boate e da conversa que o Rocco teve com meu pai, eu
não o vi mais, graças a Deus.
Levei o maior sermão do meu pai e da minha mãe, segundo eles eu estava
querendo matar a todos nós. Resolvi não discutir e não arrumar mais
confusão.
Estou arrumando minhas coisas, irei para Itália, daqui dois dias é o meu
casamento e Alice precisa conferir se as medidas do vestido ficaram certas.
Arrumei tudo chorando, lembrando da minha infância nessa casa. De como
eu imaginava que minha vida iria ser. De como eu pensava que meus pais
eram. Cheguei à conclusão que toda minha vida foi uma mentira, me
deixaram acreditar em uma coisa que nunca seria possível, não para mim.
Depois de dezoito anos de história terei que recomeçar do zero em um lugar
desconhecido e sem ninguém por mim.
— Já estão te esperando lá embaixo, seu noivo mandou um carro para te
levar até o aeroporto — Victor avisou.
— Porque não vocês? — Pensei que meus pais fossem me levar.
— Ordens dele, Lua — comentou cabisbaixo.
— Tudo bem, vamos! — Respirei fundo e me levantei. Não ia adiantar nada
chorar.
Desci as escadas e meus pais estavam me esperando com lágrimas nos
olhos. Minha mãe correu e me abraçou.
— Filha, eu te amo, estarei orando por você, vai dar tudo certo, nos vemos
em dois dias.
— Também te amo, mamãe.
— Filha... — meu pai me chamou com os olhos marejados. — Me perdoa.
O que não tem remédio, remediado está.
— Tudo bem, papai — respondi tranquilamente e o vejo sorrir.
— Te amo filha, vai dar tudo certo — Aproximou-se e segurou minha mão
com carinho. — Não faça nenhuma burrice, não se coloque em risco —
alertou.
— Tá bom.
— Tchau, borboletinha, qualquer coisa me liga, te amo! — Victor me
abraçou.
— Te amo muito! — Ao abraçar o meu irmão, não consegui evitar e acabei
deixando algumas lágrimas rolarem. — Agora eu tenho que ir e tratem de
mudar essas caras, é meu casamento, ainda não é meu velório. — Tentei
brincar para tornar o momento mais leve e demonstrar que estou forte, mas
na verdade por dentro eu estou sentindo como se estivesse indo realmente
para o meu velório.
Entrei no carro e deixei a vida perfeita que eu achei que tinha para trás. Não
tem volta, meu destino está traçado.

Já estou a dois dias na casa dos pais do diabo e graças a muita oração não
tenho visto ele.
Conheci a irmã dele, Alice, ela é uma menina doce, tão maravilhosa, em
nada se parece com o cão, a não ser na aparência.
A mãe dele também é uma pessoa boa, me trata com muito carinho,
fazendo-me sentir acolhida. Ela está tão animada com os preparativos do
casamento que chega me irritar, por isso estou evitando sair do quarto
durante o dia, não quero acreditar que essa droga de casamento é amanhã,
passou tão rápido que mal posso acreditar.
Minha mãe e meu irmão me ligam e mandam mensagem o tempo todo,
acho que é para ter certeza que estou viva.
Saí dos meus pensamentos quando ouço alguém bater na porta, deve ser
Giovana.
— Pode entrar — autorizei e assim que vi quem era, me arrependi
amargamente, deveria ter me fingido de morta.
— Aproveitando bem a cama? — o diabo perguntou com ironia.
— Sim. — Limitei a responder, não vou entrar no joguinho dele.
— Amanhã você dormirá melhor ao meu lado — Abriu um pequeno sorriso
no canto da boca.
— Não vejo a hora, estou aguardando ansiosa por esse momento — Sorri,
debochando.
— Sei que sim, querida. Se prepare, pois iremos sair para jantar.
— Quem? Nós dois? —
Diz que não, diz que não, por favor… implorei mentalmente.
— Não, Luara, iremos a família toda, até seus pais. — Tentei analisar sua
expressão para saber se ele está falando sério ou fazendo algum tipo de
brincadeira, mas é impossível, esse homem não expressa absolutamente
nada. Não consigo decifrá-lo.
— Sério?
— Claro que não garota, pergunta idiota! — respondeu ríspido — Não se
atrase, não tolero atrasos, passarei aqui as 20h, esteja bem arrumada, iremos
a um de meus estabelecimentos.
— Claro, estarei à sua altura, Don — provoquei.
— Minha querida noivinha — Ele se aproximou e recuei na cama, até bater
as costas na cabeceira. — Se você soubesse como fico duro em ouvi-la me
chamar assim — Segurou meu rosto e passou a língua em meus lábios.
Estremeci. — Não se atrase! — Se afastou e saiu do quarto.
Meu corpo inteiro está tremendo e meu coração parece que vai sair pela
boca.
Fiz uma anotação mentalmente para não chamá-lo mais assim de novo.
Levantei-me e fui correndo para o banheiro lavar minha boca e tomar um
banho.
Ai, que nojo desse homem!
Capítulo 7

Já fazem dois dias que minha noiva chegou e evitei ao máximo vir até aqui,
estava sem paciência para ter que falar com uma criança mimada, porém,
hoje meu humor estava melhor e decidi brincar um pouco com ela. Como
sempre, Luara estava mais arisca do que nunca.
A convidei para jantar e agora estou aqui na sala impaciente esperando-a.
Avisei sobre não gostar de atrasos, mas ela parece fazer de tudo para me
irritar, até o jeito que me olha com desprezo deixa-me irritado. Quando foi
que me importei com isso? Nunca. Tanto faz a maneira como as pessoas me
olham, mas com ela isso me irrita profundamente.
Luara tem dois minutos para descer, caso contrário irei buscá-la e não será
de uma forma agradável.
Terminei de tomar meu uísque em um gole só e me servi de mais uma dose,
só assim para aplacar minha fúria. Tenho tantos problemas e prevejo que
essa garota será mais um. Meu pai tinha que arrumar uma mulher imatura
como minha noiva, foda!
Estamos no completo escuro referente a um inimigo, falhamos
miseravelmente em matar aquele bastardo. Claus era meu Consigliere[vii] e
descobrimos que estava repassando informações para uns gângsters[viii]
Americanos, figlio di puttana[ix], ainda irei encontrá-lo e o matarei sem
piedade.
Afastei meus pensamentos quando escutei o barulho dos saltos tilintar na
escada e me virei para olhá-la. Vejo a bela ragazza[x] descendo
graciosamente cada degrau e não posso negar, ela é linda ao extremo.
— Desculpe a demora — pediu, sem me olhar nos olhos.
Passei os dedos lentamente pela borda do copo, ainda recuperando-me do
baque da sua beleza extraordinária. Levantei-me, olhando para a belíssima
mulher à minha frente.
— Te falei, Luara, que não tolero atrasos — adverti, usando o tom de voz
mais baixo que conseguia.
— Mas são oito e dois, eu atrasei dois minutos, isso nem é considerado
atraso — justificou-se, dessa vez, olhando em meus olhos.
O tom de azul dos seus olhos é incrivelmente espetacular.
— Oito horas não é considerado atrasado, oito e dois é mais que atraso, terá
que aprender muitas coisas, minha noiva. — Dei dois passos à frente e a vi
recuar um.
— Não sei se você sabe, mas existe uma certa tolerância para atrasos —
argumentou.
Não deveria, mas gosto disso, da maneira que ela nunca abaixa a cabeça
para mim, que sustenta o meu olhar e me responde de igual para igual. O
que quase ninguém, além dos meus pais e meus irmãos, fazem isso, os
poucos que fizeram além deles, não estão vivos para contar essa história.
Ela é corajosa e tem uma boquinha bem respondona. Terei que ensiná-la
muitas coisas, mas por enquanto, estou me divertindo com esse joguinho.
Aproximei-me dela e puxei sua cintura, colando seu corpo ao meu. Luara
está usando um vestido curto que fica lindamente em seu corpo, percebi que
ela gosta de usar roupas provocativas, o que me faz ter a certeza de que ela
tem noção de como é gostosa.
— Sabe o que tenho vontade de fazer quando você fica me desafiando,
ragazza? — Balançou a cabeça em sinal negativo. Sua respiração começou
a ficar pesada. — Tenho vontade de te levar para o quarto e te ensinar uma
lição. Foder essa sua boquinha atrevida — Passei uma mão pela lateral do
seu corpo e com a outra segurei firme a sua cintura. — Tirar essa roupinha
sua, te dar uns tapas na bunda e te foder até você esquecer seu nome, é isso
que tenho vontade de fazer com você, Luara — Apertei o seu queixo e
passei o polegar por seus lábios, que neste momento estão entreabertos para
ajudá-la na respiração.
Seus olhos estão arregalados e suas bochechas ruborizadas. Gostei do efeito
que causo nela, é uma mistura de desejo com medo. Posso ver
perfeitamente em seus olhos.
— Você não pode fazer isso — Pigarreia e sua voz sai trêmula. — Temos
que consumar o casamento amanhã e tirar a prova da minha virgindade, não
sei se você esqueceu disso.
— Verdade, infelizmente não posso fazer isso — A soltei — Não hoje, mas
a partir de amanhã nada me impedirá de tomar o que é meu. — E confesso
que estou aguardando ansiosamente por esse momento.
Ela me olha ainda mais assustada. Se ela está pensando que eu não irei
consumar o casamento, está muito enganada, o que eu mais quero é ter essa
mulher na minha cama.
— Agora vamos logo que já estamos mais que atrasados — cortei o
assunto. Melhor ir para esse jantar antes que eu faça besteira. Porque só de
pensar em foder essa ragazza, já estou duro.
Minha vontade nesse momento é levá-la para o quarto e devorá-la
inteirinha, fazê-la gozar até não aguentar mais. Essa menina me atrai muito,
muito mais do que eu podia imaginar. Linda e muito atraente, o que é muito
perigoso.
Luara ainda me dará trabalho, tenho certeza disso.
Capítulo 8

Chegamos no restaurante e é lindo, típico italiano. Entramos e fomos para


um lado mais reservado onde não tem quase ninguém além dos milhares de
seguranças desse diabo. Talvez se ele andasse com menos seguranças seria
mais fácil de alguém matá-lo. Que Deus me perdoe por esse tipo de
pensamento, mas é a única forma de viver livre desse homem.
Pensei no que aconteceu antes de sair de casa. Eu pensei que iríamos casar
e ele ia esquecer que existo, mas não, é pior do que eu imaginava, ele está
disposto a consumar o casamento. Não acredito que terei que me entregar a
esse monstro. Só de pensar nisso sinto um frio percorrer minha espinha. Eu
também sou muito burra, até parece que ele não ia querer. Esses homens
dentro da máfia só pensam em tornar suas esposas escravas sexuais. Nós
mulheres não temos valor nesse meio, não podemos estudar, não podemos
trabalhar, só servimos para colocar filhos no mundo. Claro que existem
algumas exceções, meu pai por exemplo é diferente, ele valoriza minha
mãe e não a trata como objeto, eu queria ter a sorte de encontrar um amor
assim, mas nem tudo na vida é como queremos, tenho que aceitar meu
destino.
— Pedi um dos melhores vinhos que tem aqui — comentou, afastando-me
dos meus pensamentos — Agora que você já é maior de idade, pode beber
— zombou.
Será que tudo que esse homem fala é na ironia? Que saco!
— Legal — Não vou entrar no joguinho dele.
— Pensativa, ragazza? Aposto que está pensando no que aconteceu a uns
minutos atrás. — Deu uma golada no seu vinho e abriu um pequeno
sorriso.
— Eu não sabia que o diabo podia ler mentes — ironizei.
— Tem muitas coisas que você não sabe, bambina. Mas fique tranquila, irei
te ensinar muitas delas. — Olhou-me com malícia.
Porque o diabo tem que ser tão bonito? Que raiva!
De onde surgiu esse pensamento? Como assim bonito? Estou ficando
louca, só pode!
— Desculpe a sinceridade, querido, mas acredito que não tenha nada de
você que eu queira aprender.
O garçom traz nossos pratos e me olha por um tempo, ele é tão bonito que
fico um pouco constrangida com a forma que me olha.
— Se continui a guardare mia moglie, lascerai questo ristorante in una
bara.[xi]— Rocco falou alguma coisa em italiano para o rapaz, que eu não
entendo, pois não falo a língua. Presumi que não tenha sido algo agradável,
afinal, o menino saiu praticamente correndo, com os olhos arregalados.
— O que disse para o rapaz? — perguntei, curiosa.
— Não é da sua conta — respondeu todo ignorante, visivelmente irritado.
Estou começando a achar que ele tem algum problema, pois seu humor
muda muito rápido.
Jantamos sem falar mais nada até que, novamente, ele quebra o silêncio.
— Fale sobre você — pediu.
— E você se importa? — Levantei o olhar para encará-lo.
— Não.
Não posso dizer que fiquei surpresa com a sua resposta.
— Já esperava por isso. — Ri.
— Sei tudo sobre você, Luara, a acompanhei durante esses dezoito anos —
Sua revelação não me surpreendeu, já era de se esperar. — Só queria puxar
algum assunto mesmo. — Deu uma leve balança nos ombros.
— Acho que já podemos ir para casa, né? Preciso descansar para o grande
dia amanhã — inventei qualquer desculpa para ir embora, não gosto de
ficar perto dele, sua presença me intimida demais.
— Claro. Ansiosa para se tornar uma Caccini, futura esposa?
— Você não imagina o quanto. Não vou nem dormir de tanta ansiedade.
Ele sorriu debochado e saímos do restaurante em silêncio. Fizemos todo o
trajeto de volta também em silêncio. Rocco me deixou na porta de casa e
graças aos deuses não entrou.
Fui direto para o quarto tomar um banho e me acalmar dessa tensão. Estar
ao lado dele sempre é frustrante.
Enquanto relaxava na banheira, fiquei pensando em como ele é lindo, um
idiota, mas lindo. Fica charmoso quando fala em italiano, embora eu não
entenda o que está dizendo.
Irei estudar essa língua, não posso ficar no escuro.
Imagino como ele deve ser gostoso na cama… “Que isso, Luara, ficou
doida? Perdeu o juízo?” Meu subconsciente me alertou.
Ficar ao lado dele essa noite, ter bebido aquele vinho, mexeu com a minha
cabeça. Olha as besteiras que estou pensando? Eu repudio esse homem e
não tem nada nele que me chame atenção. O detesto com toda a força da
minha alma.
Terminei de me banhar e vou deitar, me esforcei para ficar acordada o
máximo possível, não quero que amanhã chegue, não quero!
Capítulo 9

Não consegui pregar os olhos essa noite, estou com tantas olheiras que a
maquiagem para esconder vai ter que ser forte. Parece que quanto mais
você quer que a hora demore a passar, mais rápido ela passa. Acho que o
tempo não está a meu favor.
Me olhei no espelho e quase não me reconheci, eu sempre fui uma menina
tão alegre, tão cheia de vida e agora tudo que eu vejo é tristeza e medo em
meu olhar.
Hoje o dia foi uma loucura, tive um dia de spa e beleza, mas nada foi o
suficiente para me relaxar ou me alegrar. Nesse momento estou pronta para
estragar minha vida.
Escolhi um vestido de modelo simples, com uma abertura nas costas. Minha
mãe não gostou, é claro, ela queria que fosse algo mais sofisticado, "a altura
do meu marido" como ela mesma disse, mas mesmo assim eu decidi que
seria esse e a Alice fez um bom trabalho. O vestido ficou lindo, uma pena
que tenha que ser usado em uma ocasião tão triste, era para eu estar vestida
de preto e não branco, para combinar com o meu humor..
— Filha, vamos? Seu noivo não gosta de esperar — Meu pai entrou no
quarto — Você está linda! — elogiou-me com carinho.
Olhei para ele com os olhos cheios de lágrimas, não consigui nem falar, eu
só queria que ele me salvasse de tudo isso, é isso que esperamos da figura
que crescemos achando que é o nosso herói.
— Não me olhe assim, borboletinha, infelizmente não posso fazer nada.
Ódio, raiva, mágoa e muitos outros sentimentos é o que sinto no momento,
mas não sei explicar.
— Tudo bem, vamos! — Respirei fundo e disse decidida, afinal, não posso
fazer nada para mudar as coisas.
— Eu te amo, filha!
— Estranho sua maneira de amar — Já ia tratá-lo com ignorância, mas
decidi não agir assim. — Enfim, hoje não é dia para isso. Vamos logo
acabar com essa palhaçada.
— Me desculpe por isso.
— Quem sabe se eu sair viva disso eu possa te desculpar. — Posso até estar
sendo imatura, mas no meu lugar, quem aceitaria essa situação de boa?
Não falamos mais nada e descemos. Assim que nos aproximamos, a música
começa, anunciando a minha entrada.
— Me segura forte e não me deixe sair correndo — pedi, pois minha
vontade é essa.
— Você é forte, nunca se esqueça disso. — Lembrou-me, dando um breve
sorriso e entramos.
Olhei para os convidados e alguns me olhavam com deboche, outros com
pena, sim, muitos aqui sabem o que me espera e acaba tendo compaixão de
mim, outros apenas querem ver o circo pegar fogo. Direciono meu olhar
para frente e encontro os olhos gélidos do meu futuro marido. Ele me
lançou um sorriso de lado e minha vontade é sair correndo. Que Deus me
proteja, pois ele é o único que pode fazer algo por mim.
Eu pensei que ia ser mais forte, mas não consegui conter as lágrimas e
chorei. Caminhei em silêncio ao lado do meu pai enquanto o diabo me
encarava, parecendo se divertir com o meu desespero.
— Cuida dela para mim, Don, ela é uma menina incrível — meu pai falou
bem baixinho com ele antes de entregar a minha mão.
— Isso não é mais problema seu, Ivan — respondeu sério e pegou na minha
mão, por um momento eu ponderei soltar a mão do meu pai, meu olhar
suplicava por ajuda. — Solta a mão dele, querida, não me faça perder a
cabeça em um dia tão especial — Aproximou o rosto do meu, avisando bem
perto do meu ouvindo. Sei que ele está se segurando para não sair me
arrastando na frente de todo mundo.
Decidi por fim soltar a mão do meu pai para não piorar as coisas, subimos
ao altar e o padre começa a cerimônia.
É até um pecado o diabo estar na presença de um padre, ouvindo palavras
do Senhor. Ao pensar nisso, por breves segundos, tive vontade de rir da
minha piada interna, mas logo essa vontade passa e tudo que sinto é tristeza.
Eu não presto atenção em nada que o padre fala, apenas choro baixinho,
minha maquiagem deve estar toda borrada.
— Acho melhor você responder logo antes que eu perca a cabeça de vez —
Rocco alertou. Não havia percebido que já tinha feito os votos e que agora
era a minha vez.
Olhei para minha família buscando uma esperança e não encontro, eles
desviam o olhar me dizendo que não podem fazer nada e me sinto em
desespero. Rocco aperta forte a minha mão e com muita dificuldade eu faço
os meus votos e digo sim. Trocamos nossas alianças e o padre declarou a
minha ruína:
— Eu vos declaro marido e mulher, pode beijar a noiva.
Ele se aproximou, passou os dedos por meus lábios e eu fechei meus olhos,
não queria ver esse monstro encostando sua boca na minha, já será uma
tortura ter que sentir. Para a minha surpresa, ele apenas beija minha testa.
Rapidamente abro os olhos e o vejo sorrindo.
Todos aplaudiram, assobiaram e fingiram que isso aqui é um casamento
normal. Que circo!
— Agora você é minha, totalmente minha, para sempre! – Um arrepio
percorreu minha espinha com a sua declaração.
Não tem mais saída, meu destino foi traçado, estou de mão atadas. Agora é
orar para que eu sobreviva ao inferno.

Durante a festa, Rocco sumiu e eu agradeci por isso. Dancei com meu pai,
com o pai dele, com meu irmão e meu cunhado, menos com meu marido,
porque desapareceu, ainda bem. Nem fazer questão de ficar perto de mim
ele fez, qualquer um que observar um pouquinho mais consegue perceber
como esse casamento vai ser feliz, para não dizer o contrário. Chorei muito
durante o casamento e depois também, enquanto conversava com minha
família, mas não adianta chorar mais, não tem volta mesmo.
Caminhei em direção ao jardim, queria ficar sozinha, não aguentava mais
ficar nessa festa com esse monte de gente falsa.
— Luara? — Uma voz feminina, que eu não conheço, me chamou.
— Oi? — Olhei para trás para ver quem estava me chamando e reparei que
era a mesma loira que estava com Rocco no dia do nosso noivado.
— Podemos trocar uma palavrinha?
— Sim. — Sentei-me no banquinho que ficava ali — Pode falar. — Não
estou com saco para isso, mas já estou na merda mesmo, vamos lá ouvir o
que a possível amante tem para falar.
— Você acha que vai ser feliz com o Rocco? — Arqueou uma sobrancelha,
encarando-me com um sorriso debochado no rosto. — Que vai conquistá-lo
um dia? — Riu.
— Por qual motivo você quer saber disso mesmo? Assim, só para eu
entender.
— Quero te avisar uma coisa, garota, presta bem atenção. — Se aproximou.
— Eu e o Rocco estamos juntos há muito tempo, eu o amo e ele me ama
também. Ele só se casou por causa dessa besteira de estarem prometidos um
ao outro.
— Querida, saiba que é recíproco, só me casei com ele por causa disso
também, faço questão não, fica tranquila. — Não vou tratá-la mal porque
sei que ela é apaixonada por ele, percebe-se no olhar dela o medo que tem
de perdê-lo. E eu não faço a mínima questão de gostar desse homem, muito
menos que ele goste de mim.
— Você não me engana com essa cara de sonsa, garota, sei que está
querendo meu homem! — cuspiu as palavras, irritada.
— Deixa eu te falar uma coisa – Levantei e me aproximei calmante dela,
parando bem na sua frente. — Pode engolir seu homem e se você puder
sumir junto com ele, eu agradeço imensamente. Vou deixar uma coisa bem
clara: não gosto, nunca gostei e jamais vou gostar do Rocco, por mim que
vocês se explodam.
— Pois saiba que para mim é uma tristeza enorme ouvir minha esposa falar
esse tipo de coisa. — Assustei-me ao ouvir a voz dele atrás de mim.
Mais que inferno, esse diabo sempre aparece nas horas erradas? E isso só
acontece quando estou falando mal dele.
— Rocco — a mulher o chamou, com os olhos arregalados, tremendo de
medo.
— Com você me resolvo depois, vai embora! — Seu tom de voz era firme e
ela nem hesitou, abaixou a cabeça e saiu com o rabinho entre as pernas.
Credo, como consegue ser tão cadelinha desse macho?
— Vamos querida esposa, explique-se.
— Explicar o que? O que você ouviu? — Virei-me e encarei os seus olhos
indecifráveis.
— O que faz aqui conversando com ela?
— Ela quem quis conversar comigo, eu só vim tomar um ar.
— O que ela queria?
Ele parecia preocupado com a conversa que eu tive com a sua amante?
Tenha dó!
— Ela só queria falar que te ama. — Revirei os olhos.
— Sobre o que você disse, aposto que mudará de ideia em um mês.
Tive vontade de gargalhar, mas não vou entrar no joguinho de deboche dele.
— Duvido muito.
— Vem, vamos dançar uma música juntos antes de irmos embora.
Só de saber que está chegando a hora de ir para casa, comecei a me
desesperar.
— Já vamos embora? — perguntei com a voz falhando, tomada pelo medo
do que me espera.
— Sim, não quero adiar mais.
Puxou-me pelo braço, sem delicadeza alguma, me arrastando para o salão.
Pude perceber todos os olhares em nós dois quando ele segurou firme a
minha cintura e começou a me conduzir no ritmo da música.
— Você dança muito bem.
— Obrigada. Você também não dança nada mal.
— Obrigado, querida esposa. Fico feliz que te agrado em alguma coisa.
Como sempre, ele não está sendo gentil, está apenas jogando comigo.
— Eu não disse que me agrada, eu apenas disse que você não dança mal.
— Você tem uma língua muito afiada — Soltou a minha mão e levou os
seus dedos até os meus lábios, desenhando-os. — Ah, essa boquinha
esperta! — Respirou pesado. — Se você soubesse tudo que penso em fazer
com ela — Minhas bochechas esquentaram — Não precisa ficar com
vergonha, te garanto que você vai gostar tanto quanto eu — falou, todo
malicioso e um frio intenso percorreu minha espinha.
— Novamente eu volto a duvidar da sua informação.
— Então veremos, esposa — Sorriu e continuou a nossa dança em silêncio.
Capítulo 10

Estava sentado na minha sala, bebendo um uísque e fumando um cigarro.


Chegamos há pouco tempo da festa e Luara foi para o quarto, acredito que
esteja se preparando, então dei um tempo até subir. Olhei para o relógio e já
se passou tempo demais, hora de ir até ela, esperei dezessete anos por isso,
não quero esperar mais.
Aproximei-me do quarto e abri a porta, deparando-me com uma das cenas
mais sexys que já vi na vida. Ela estava com os cabelos negros soltos, uma
camisola branca muito sexy e os olhos azuis arregalados. Dei alguns passos
parando de frente para ela.
— Você sabe que será inevitável, não é? Devemos consumar o casamento,
então não dificulta as coisas, Luara — Tentei falar o mais calmo possível
para que ela relaxe e não fique com tanto medo.
Estou ardendo de desejo por essa mulher. Linda! Maravilhosamente linda e
sexy demais.
— Eu-e-eu se-sei — gaguejou.
— Fica tranquila, você irá gostar — Levantei a mão para acariciar o seu
rosto e ela apertou os olhos, mas logo abriu quando viu que eu estava
apenas fazendo um carinho.
— Não acredito muito nisso, mas posso te fazer um pedido? Um único
pedido de casamento?
— Se estiver ao meu alcance, irei atendê-la.
— Seja carinhoso comigo, pelo menos hoje, por favor. É a minha primeira
vez e eu não quero ter lembranças ruins.
Será que eu consigo? Nunca fui carinhoso com ninguém, mas posso tentar,
é a primeira vez dela, não quero machucá-la.
— Não sei ser carinhoso — disse a verdade e vi medo e tristeza em seus
olhos. Isso é novidade para mim, afinal, nunca me relacionei com uma
virgem antes. — Mas prometo que irei tentar, farei o máximo para ser
carinhoso com você hoje… somente hoje, Luara — Deixei claro e a vi
respirar aliviada.
Colei nossos corpos, empurrando-a contra a parede e ela arfou. Passei as
mãos pelas laterais do seu corpo e ela fechou os olhos. Abaixei as alças da
sua camisola, deixando-a cair sobre seus pés e tendo uma visão privilegiada
desse lindo corpo apenas de calcinha.
Passei os dedos por seus seios e ela gemeu baixinho, ainda de olhos
fechados. Quero ver os seus olhos refletindo o prazer que está sentindo, mas
vou esperar o seu tempo.
Peguei-a em meus braços e a coloquei vagarosamente na cama, abrindo
suas pernas e acariciando com o polegar a sua boceta por cima da calcinha e
com a outra mão continuei acariciando e apertando os seus seios,
intercalando entre os dois.
Abaixei-me, ficando com o rosto entre as suas pernas e rasguei a sua
calcinha, dando-me a visão do paraíso.
Aproximei minha boca e passei a língua por seus grandes lábios. Luara se
contorceu e gemeu para mim. Enquanto eu a chupava mais forte, ela tentava
controlar seus gemidos que para mim são músicas para os meus ouvidos.
Comecei a dar leves mordidas no seu clitóris e senti-a pulsar, dando sinais
de que estava perto de gozar. Acelerei o movimento da minha língua,
concentrando-me no seu clitóris e ao ouvir seu gemido alto, senti seus
fluídos inundarem a minha boca.
Luara gozou chamando o meu nome e porra, isso foi bom demais, quase
que eu gozei sem sequer ter tirado a roupa.
Esperei até que tivesse o seu orgasmo completo e levantei, tirando
apressadamente a minha roupa. Ao me ver nu, ela arregalou os olhos e
recuou na cama.
— Fica tranquila, vai caber direitinho e depois você vai ficar acostumada —
Tranquilizei-a, pulsando desesperadamente para estar dentro dela.
Coloquei meu corpo por cima do dela, sem deixar que o meu peso a
machucasse, apoiando os meus cotovelos na cama. Posicionei-me na sua
entrada e, bem devagar, comecei a empurrar, tentando ser o mais cuidadoso
possível.
Luara fez uma careta de dor e recuei um pouco. Assim que ela voltou a
relaxar, empurrei mais um pouco e novamente ela fez uma careta de dor.
— Não tem outro jeito.
— De qu… Aí!
Suas unhas cravaram nos meus braços e os seus olhos lacrimejaram. Sua
careta de dor dava uma sensação de pena enquanto tudo que eu queria era
me enterrar forte nessa mulher.
— Não tinha outro jeito de doer menos — expliquei. Queria que não tivesse
doído tanto, mas acho que não tinha outra saída.
Fiquei parado dentro dela, sem me mexer, esperando que ela se acostume
com a invasão.
— Tudo bem, pode se movimentar — autorizou.
Comecei a me movimentar lentamente dentro dela em um movimento de
vai e vem. Ela gemeu e puta que pariu, é o gemido mais gostoso que já
ouvi. Não consegui aguentar e acelerei os movimentos. Luara começou a
gritar e o seu corpo tremer. Afastei um pouco nossos corpos e levei minha
mão até o seu clitóris, dedilhando-o, fazendo com que ela vá relaxando,
abrindo as pernas e os gemidos se intensificando.
Quanto mais ela gemia, mais vontade de socar fundo e forte eu tinha. Já não
conseguia mais controlar e comecei a entrar mais rápido, abocanhando seus
seios que balançavam graciosamente a cada investida.
Ela arqueou o corpo buscando por mais e senti seu clitóris latejar e suas
paredes estrangularem o meu pau.
Chegamos ao ápice juntos. Ela gozando deliciosamente e eu me
derramando com intensidade dentro dela.
Não sei que porra aconteceu, mas nunca tinha acontecido comigo antes, foi
o sexo mais delicioso que já tive em toda minha vida e olha que fizemos só
o básico. Só posso imaginar e ansiar as próximas vezes. Cazzo![xii]
Capítulo 11

Ficamos deitados com ele caído em cima de mim por alguns segundos e
senti quando ele se levantou, mas me recusei a abrir os olhos e ter que
encará-lo. Após um tempinho, eu abri meus olhos e percebi que estou
sozinha no quarto, me levantei para tomar um banho e ao andar, senti uma
dor horrível no meio das minhas pernas e quando olhei para a cama, vi o
sangue no lençol branco, marcando o ritual da perda da minha virgindade.
Caminhei lentamente até o banheiro, enchi a banheira, coloquei uma música
e me deitei dentro dela. Fiquei pensando em tudo que aconteceu e para
minha surpresa, ele não foi um bruto, inclusive, eu até gostei. Sei que é
errado eu ter gostado de transar com esse homem, alguém que eu mal
conheço e que é conhecido por ser uma pessoa horrível, mas eu gostei.
Gozei duas vezes na minha primeira vez e já ouvi relatos de pessoas que
não gozaram na primeira vez e nem em outras vezes. Acho que devo
agradecer por isso, pelo menos isso, né? Ele é gostoso e lindo. Tem um
corpo maravilhoso. Não parece ter a idade que tem. É errado achar ele
gostoso e lindo? “Claro, Luara, deixa de ser idiota!”, meu subconsciente
me alertou.
Não sei como vai ser daqui para frente. De acordo com a tradição, ele tinha
que tirar minha virgindade, mas agora, se ele não quiser, não precisa mais
me tocar e talvez até não faça mais, já que tem uma amante fixa. Só de
pensar nisso, sinto um leve aperto no peito e não sei o porquê. Talvez seja
pela vergonha de outras pessoas saberem disso também. Ah, mas foda-se!
Não ligo mesmo.
Não sei por quanto tempo fiquei dentro da banheira, mas decidi sair e ir me
deitar. Quando entrei no quarto, percebi que ele já trocou o lençol da cama e
que também não tem rastros dele por aqui, que idiota sou eu, né? Até parece
que ele ia dormir comigo. Rio alto só de imaginar como sou burra em ter
pensamentos desses.
Coloquei uma camisola que tem aqui, nem um pouco comportada, mas
amanhã irei arrumar minhas coisas, o pouco que eu trouxe comigo, já que
as coisas que estão aqui foram todas compradas por ele. Até que não tem
mau gosto, ou será que foi a amante que comprou tudo isso a pedido dele?
Balancei a cabeça em sinal negativo. Acho melhor eu parar de pensar
nessas coisas.
Me deitei e fiquei pensando no que aconteceu. Sabe o que achei mais
estranho? É que ele não me beijou em nenhum momento, nem nosso
casamento, muito menos na hora do sexo, e já que ele não tomou a
inciativa, eu é que não ia.
Agradeci a Deus por ter sido melhor do que eu esperava e pedi proteção
para que eu sobreviva a todos esses dias. Tomara que esse homem fique
fora de casa o dia todo e só retorne na hora de dormir. Será que vamos
dormir sempre em camas separadas ou isso só vai acontecer hoje? Tomara
que cada um tenha seu quarto. Minha saúde mental agradece.
Ele pode ser um ignorante, um bruto, um assassino e tantas outras coisas
ruins, mas é gostoso e lindo de morrer, isso eu não posso negar, não sou
cega, né? Experimentei e provei como é gostoso.
Que Deus me proteja dele e de mim mesma, não posso sentir nada por esse
homem além de desprezo.
Fiquei pensando em várias coisas para fazer durante os dias, minha família
não estará mais comigo, eu não tenho amigos aqui, não sei se posso estudar,
trabalhar ou continuar fazendo aulas de dança. Terei que pedir permissão ao
meu marido, vocês tem noção de como isso é ridículo? Pois é, eu sei,
totalmente ultrapassado, mas na máfia vivemos como se estivéssemos a
séculos atrás, é uma grande merda.
Antes de cair no sono, lembrei que não tomei o anticoncepcional hoje, me
levantei, tomei rapidinho e voltei a me deitar. Não quero engravidar, muito
menos desse homem. Se ele quiser um herdeiro que arrume outra esposa.
Dormi pensando em todas as coisas possíveis, pensei em como minha vida
era e de como provavelmente ela vai ser a partir de agora, só desejo que as
coisas não sejam tão ruins quanto parecem.

Faz uma semana que estou casada e, depois da nossa noite de núpcias, não
nos vimos mais. Não saí de casa para nada, não conheço ninguém aqui além
da família dele. Com a Alice eu estou falando apenas por telefone, já que
ela está muito ocupada organizando a inauguração do ateliê dela. É horrível
se sentir sozinha, eu ligo para meus pais todos os dias, estou morrendo de
saudades de casa já e aqui me sinto abandonada, não tem ninguém além dos
guardas e o pessoal que trabalha na casa, mas ninguém fala comigo,
principalmente os funcionários homens, eles mal me olham e eu sei que isso
tudo é medo do meu marido. Queria trabalhar, estudar, conquistar minhas
coisas, mas acho que isso vai ficar só em sonho mesmo.
Meu telefone tocou e vi que é Alice.
— Cunhadinha, preciso que me salve — falou ofegante, parecendo
desesperada.
— O que houve? — perguntei preocupada.
— A menina que ia fazer as fotos para o lançamento não apareceu, preciso
que você faça as fotos.
— Eu? Eu não sou modelo! — Ri, achando engraçado o seu pedido.
— Eu sei, Lua, mas você é a única pessoa que passou pela minha cabeça,
por favor, me ajuda — suplicou.
Não estou fazendo nada da vida mesmo, não custa nada tentar. Quem sabe
eu não me saio bem como modelo?
— Vou me ajeitar e vou aí, vamos tentar.
Encerrei a ligação e me ajeitei. Desci e fui em direção ao guarda que fica
fazendo a minha segurança. Não sei porquê, afinal, não saio de casa.
— Vamos sair — informei.
— Para onde, senhora?
Arqueei a sobrancelha, achando estranho ele não ter questionado ou falado
que ia ligar para o seu chefe pedindo permissão.
— Ateliê da Alice.
Ele acenou e saímos de casa. Demoramos um pouquinho para chegar
porque tinha trânsito, mas logo chegamos para socorrer minha cunhada.
— Você chegou, pensei que não fosse mais aparecer! — Alice correu até
mim assim que entrei.
— Pegamos um pouquinho de trânsito — justifiquei — Jhones, pode me
esperar do lado de fora, por favor — avisei ao segurança.
— Senhora, não posso, tenho ordens para ficar sempre perto.
Claro, ordens do meu marido chato.
— Tudo bem, irei experimentar várias roupas aqui nesta sala, depois você
explica para o seu chefe que viu a esposa dele pelada.
O homem arregalou os olhos. Tadinho, fiquei com dó da cara de medo que
ele fez.
— Ok, qualquer coisa é só me chamar, estarei logo ali na porta — avisou e
saiu.
Alice sorriu e bateu palmas, animada.
— Isso aí, cunhadinha, aprendendo rápido.
— Pois é. — Ri. — Agora vamos fazer as fotos, estou animada!
— Muito bem, vou chamar o fotógrafo, ele está no meu escritório, não
queria que meu irmão soubesse que tem outro "homem" aqui — falou,
fazendo aspas na palavra homem e acho que já saquei o que ela quis dizer.
— Cris, pode vim — Alice chamou baixinho e apareceu um homem muito
charmoso.
— Ai meu Deus do céu! Ela é linda e perfeita para as fotos! — exclamou,
todo animado.
— Amigo, essa é minha cunhada Luara, Lua, esse é meu amigo Cris e é ele
quem vai fazer as fotos. — Nos apresentou.
— Muito prazer, Cris — Estendi a mão, cumprimentando-o.
— O prazer é todo meu, querida, e pode ficar à vontade para fazer as fotos
comigo, a única coisa que vou sentir de você é inveja por não ter esse
corpinho — Deu-me dois beijinhos na bochecha.
— Lua, o Cris é gay, mas meu irmão não sabe e se ele soubesse que tem um
homem aqui, ele não ia gostar, seria capaz de matar nós três — explicou
rindo. Alice parece levar o irmão na brincadeira e não ter medo do que ele
realmente pode fazer.
— Nem brinca com isso, sou muito nova para morrer — Cris fez o sinal da
cruz.
— Entendi — Sou sucinta pois não quero falar sobre o irmão dela agora e
estragar o momento. — Vamos ver as roupas? Estou ansiosa!
— Vamos! — os dois respondem juntos, parecendo mais ansiosos que eu.
Vias roupas, eles falam sobre as ideias das fotos para catálogo e todos os
projetos deles. Fiquei encantada com tudo, são roupas lindas e com toda
certeza vai fazer muito sucesso.
— As roupas são lindas, eu amei! — exclamei, adorando fazer parte desse
projeto.
— São lindas mesmo, mas acho que o poderoso chefão não vai gostar de
vê-la usando-as — Cris alertou.
— Lua, tenho que ser sincera, eu te chamei na emoção, nem pensei no meu
irmão, mas Cris tem razão, ele vai surtar e não quero arrumar problema para
você.
— Problema dele, eu vou fazer essas fotos. Fico o dia todo dentro daquela
casa sem fazer nada. Deixa que depois eu resolvo com ele, tá? Agora eu não
quero pensar nisso. — Sei que isso pode dar uma merda grande, mas vou
arriscar.
— Então tá. Você pode vir trabalhar aqui comigo, o que acha? — Alice
ofereceu. — Se você quiser, sinta-se à vontade para vir, sei que não é sua
área, mas talvez você se encontre aqui, esse mundo da moda é animado.
— Eu acho ótimo! Começo hoje mesmo se quiser. Não faço nada e acho
que seu irmão não vai se importar que eu venha trabalhar com você.
— Contratada então, Lua! Vai ser ótimo trabalhar com você.
— Agora vamos fazer as fotos, estou ansioso para tirar fotos sua, Lua,
tenho certeza que a câmera vai amar tanto quanto eu fazer essas fotos.
— Eu também estou animada, qual roupa eu experimento primeiro? —
perguntei para a Alice.
— Essa aqui — Ela me entregou um vestido vermelho lindo — Vamos
começar com os mais tradicionais e depois a gente faz os mais ousados.
Apenas concordo e vou trocar de roupa. Nunca trabalhei como modelo, mas
não custa tentar, vai que dá certo, né? Claro, se meu marido não me matar
antes da minha futura carreira decolar.
Capítulo 12

Hoje faz uma semana que estou casado com aquela diabinha dos olhos
azuis. A toquei somente uma vez, para consumar nosso casamento e desde
então não parei de pensar nela e no seu corpo. Luara é muito gostosa e
receptiva. Foi a sua primeira vez, mas ela estava tão entregue. Arrisco dizer
que foi uma das minhas melhores transas, isso se não foi a melhor. Eu
nunca tinha tirado uma virgindade antes, até porque ser carinhoso não é
nem nunca foi meu forte, mas eu gostei bastante, a sensação de saber que
ela é e sempre será só minha desperta em mim algo puro e primitivo,
beirando ao bárbaro.
Terminei de fumar meu charuto depois de uma rodada de sexo com Shantal
e mesmo estando aqui, eu não consigo parar de pensar na Luara, até na hora
do sexo eu pensei nela, cazzo! Meu celular tocou, vi que é Jhones, o guarda
que eu coloquei para ficar à disposição de Luara.
— Fala
— Senhor, acabei de deixar a senhora Luara no ateliê da sua irmã.
— Ok. — Desliguei sem aprofundar no assunto.
Jhones fica fazendo a segurança dela e me informando sobre seus passos e
desde que nos casamos, essa é a primeira vez que ela sai, acho que vai fazer
bem para ela, só fica trancada dentro de casa, não tem amigos e nem família
aqui. Cheguei a pensar que ela não soubesse que podia sair, mas deixei
quieto, uma hora ela ia querer sair de dentro de casa, Luara é esperta.
— Vai ficar até mais tarde, querido? – Shantal apareceu pelada e sentou no
meu colo.
— Não, irei resolver um problema agora — Levantei ela do meu colo e
também me levantei.
— Você volta hoje de noite?
— Não sei, acho que vou para casa.
— Para casa? Você vai ficar com sua mulher?
— Você sabe que não te devo satisfações, não é?
— Sim, senhor — Abaixou a cabeça.
— Estou resolvendo muitos problemas e já fiquei uma semana fora de casa,
por isso irei hoje, mas passo aqui amanhã.
Eu gosto dela, é uma boa garota, sempre fez todas as minhas vontades,
nunca me questionou em nada e me obedece sem reclamar.
— Então estarei te esperando. Vou sair para comprar algumas coisas, tudo
bem?
— Claro, deixarei o dinheiro antes de sair.
Vou para o banheiro tomar um banho e me ajeitar para sair.
Lembrei que quando a vi naquele bordel, me encantei, ela não era mais
virgem, tinha sido estuprada por um soldado e por isso foi parar naquele
lugar. Eu fiquei com ela no dia em que chegou, ela é uma loira muito
bonita, alta, com cabelos um pouco abaixo dos ombros, corpo volumoso,
chama bastante atenção. Gostei do sexo e da obediência dela e a reservei só
para mim. Com o passar do tempo, tirei ela de lá, não tinha porque deixá-la
lá, sendo que ela só ficava comigo, então a coloquei nesse apartamento,
banco todas as suas vontades e em troca ela me obedece e faz um sexo bem
feito sem cobranças, nada melhor que isso.
Sei que não a amo, até porque nem sei se sou capaz de amar alguém, mas
tenho carinho por ela e por isso procuro tratá-la bem, mesmo que da minha
forma. Sou ignorante e sem paciência, mas ela nunca me deu motivos para
tratá-la mal. As vezes eu que cheguei sem paciência por conta de problemas
na máfia e acabei descontando nela.
Shantal está com ciúmes de Luara, é visível, mas claro que ela não deixa
transparecer, porque sabe que eu não suportaria tal coisa, o que temos não é
nada sério, é apenas sexo, já Luara é minha esposa.
Saí do apartamento e fui resolver meus problemas da máfia, tenho alguns
idiotas para torturar e tentar descobrir onde aquele figlio di puttana[xiii] se
esconde.

Depois de resolver meus problemas, fui direto para casa, já está na hora do
jantar e encontro Luara jantando sozinha. Ela percebe minha presença e me
olha com aqueles lindos olhos arregalados.
— Boa noite, querida esposa — a cumprimentei e sentei na cadeira à sua
frente.
— Boa noite! — respondeu com indiferença e voltou a comer. Confesso
que esse tratamento dela em relação a mim me incomoda.
— Sentiu saudades de mim? — perguntei para provocá-la.
— Nem lembrava mais de você.
— Sempre arisca, esposa, precisa se acalmar mais, acho que sei do que está
precisando — Usei um tom malicioso e ela ficou vermelha de vergonha.
Ainda mais bonita corada.
— Rocco, eu queria te pedir uma coisa. — Mudou rapidamente de assunto e
eu acho graça da sua timidez.
— Peça.
— Queria trabalhar no ateliê com Alice, eu fico dentro dessa casa sem fazer
nada o dia todo e queria alguma ocupação para não me sentir tão sozinha.
Avalio um pouco o seu pedido. Acho que vai fazer bem para ela e é com
minha irmã, não tem perigo.
— Tudo bem.
— Sério? Não tem problema? — Luara parece não acreditar na minha
resposta.
— Sério. — Levantei-me. — Tenha uma boa noite! — Saí da sala de jantar
sem tocar na comida e fui para o meu escritório.
Não consegui ficar perto dela, sentindo seu cheiro sem poder tocá-la.
Capítulo 13

Os dias passaram e minha vida continua uma bosta. Continuo casada, mas
mal vejo meu marido, só transei uma vez, uma única vez, nem prazer sexual
tenho. Não posso trair o infeliz, porque senão arrisco perder minha cabeça e
o que me resta é ficar com tesão acumulado mesmo.
Não podia imaginar como era gostoso gozar da forma que ele me fez chegar
ao ápice na minha primeira vez. Tenho me tocado, mas não é a mesma
coisa, não sei explicar, sinto uma leve necessidade que esse monstro me
toque, mas jamais irei admitir isso. É doentio.
Eu sei que ele vive mais com a amante do que comigo, não que eu esteja
com ciúmes, longe de mim, nem me importo, mas é horrível essa situação,
ainda mais que todos sabem, só se fingem de sonsos mesmo. Ele é o todo
poderoso, ninguém vai se meter e eu tenho que aceitar tudo caladinha.
Hoje é a inauguração do ateliê da Alice e tudo está tão lindo. Daqui a pouco
ela distribuirá o catálogo e se até o fim dessa noite eu estiver viva, será um
milagre.
— Vamos beber alguma coisa, Lua? — Cris me tirou dos meus
pensamentos.
— Vamos — Não sou de beber, ainda mais depois do vexame que dei na
noite do meu aniversário, mas essa noite preciso de todo o álcool possível.
Ficamos próximo ao bar conversando e a movimentação de pessoas só
aumenta. Meu digníssimo esposo ainda não chegou, deve estar muito
ocupado com o pau dentro da boceta da sua amante loira.
— Procurando seu esposo? — Cris perguntou ao me ver observando as
pessoas que entram.
— O quê? Claro que não! Ficou doido, Cris? — Fiz uma careta de nojo —
Outro dry martini[xiv], por favor — pedi ao garçom.
— Devia pegar leve na bebida, senhorita — Virei o pescoço para ver de
quem é essa voz que não conheço e vejo um homem lindo parado ao meu
lado.
— Sem querer ser sem educação, mas isso não é da sua conta, né? — Abri
um pequeno sorriso para esse gato parado ao meu lado.
Uau! Ele é lindo demais!
— Tem razão, por isso te acompanharei em um drink.
Procurei por Cris e vi que ele foi falar alguma coisa com Alice.
— Se está aqui é porque foi convidado, vai, senta aí — Apontei com a
cabeça para a cadeira ao meu lado e ele se sentou, pedindo um uísque puro.
Igual o diabo costuma beber.
Mais que inferno, eu penso nesse homem o tempo todo? Será que bati a
cabeça? Devo estar ficando louca, não tem outra explicação.
— Ora, ora, veja se não é o todo poderoso Rocco Caccini chegando à festa.
Espera, quem é aquela loira? — O homem deixou de ser bonito no
momento em que faz essa pergunta irônica. É claro que ele deve saber que é
a amante.
Não é possível que esse infeliz trouxe ela!
Olhei para onde estão direcionados os olhos do cara ao meu lado e nossos
olhares se encontraram. Ele todo elegante em seu terno preto como de
costume e a loira um pouco mais atrás, linda em um vestido vermelho.
Desviei meus olhos rapidamente, é muita humilhação, eles podem não ter
chegado de mãos dadas, mas todo mundo sabe que são amantes.
— Está triste, linda menina? — Até tinha esquecido desse cara ao meu lado
com tudo que aconteceu nesses minutos.
— Ah, vai se ferrar! — respondi irritada e ele riu.
— Calma, bela jovem, não precisa ficar nervosa comigo, é seu marido que
está com outra na sua frente, não eu — Destilou seu veneno tranquilamente
enquanto bebia um longo gole do seu uísque e eu senti vontade de socar
esse copo na sua goela.
— Não me importo. — Dei de ombros. — Casei obrigada mesmo, quero
que ele se foda, aliás, quero que todos vocês se fodam! — Pedi outro dry
martini.
— Acredito, querida, deve ser difícil ser casada com um homem tão
egocêntrico, o que é uma pena, porque você é linda, muito linda.
— Até agora não entendi muito bem qual a sua função, é me elogiar ou me
irritar?
— Gostei da sua beleza, mas gostei mais ainda que você é arisca.
— Sabe que se aquele cara egocêntrico ali souber que você está dando em
cima da esposa dele, ele vai te matar, né?
— Você acha que ele realmente se importa com você? — Nossa, essa doeu!
— Ele só não quer dividir o que é dele por puro capricho, mas disso você já
sabe. Lua, você é uma mulher linda e muito esperta, queria ter te conhecido
antes de Rocco, pode acreditar. — Não lembrei de ter dito meu nome para
ele e sinto que ele não está falando sério, parece que só quer provocar.
— Isso seria impossível, estou predestinada a esse monstro desde que nasci
— Quando dei por mim, já havia falado. Acho que o álcool começou a
fazer efeito.
— O que é uma pena — Vi que Rocco se aproxima — Foi um prazer
conhecê-la.
— Qual seu nome? — perguntei antes dele ir.
— Enzo — Estendeu a mão e eu retribuí, recebendo um beijo no dorso. —
Espero revê-la mais vezes. — Sorriu e saiu.
— Querida esposa, reforçando nossas alianças com a máfia Alemã? Fico
feliz! — Rocco chega com deboche. Esse homem é mais falso que nota de
três reais.
— Não sei do que está falando — respondi tranquilamente, enquanto bebo
o meu drink.
— Enzo, o capo da máfia alemã, vejo que já o conheceu e parece que se
deram muito bem — Aproximou-se e sussurrou no meu ouvido. — Não me
desafie, Luara, pode não ser nada bom para você — ameaçou e saiu.
Pedi uma dose da bebida mais forte que o garçom tinha, bebi tudo de uma
vez, e meu Deus, que coisa horrível! Mas só isso para me acalmar. Depois
de afogar minhas mágoas na bebida, me levantei e fui para minha sala.
Desde que estou trabalhando para Alice, eu ganhei uma sala só minha, onde
eu atendo as clientes, anoto seus pedidos, suas preferências e tudo mais.
Estou feliz trabalhando aqui, melhor do que ficar o dia todo em casa
esperando meu digníssimo marido chegar da casa da sua amante. Quando
eu estou aqui, sinto que posso chegar perto de começar a viver novamente.
Capítulo 14

Estava sentado em um canto com meu irmão, tomando um bom uísque e


fumando um cigarro. Claro que Alice já veio aqui falar para não fumar, mas
é uma área aberta e temos todo o direito de matar nosso desejo. Renzo não
consegue ficar sem fumar e eu o acompanho. Não fumo com tanta
frequência como ele, mas também gosto, principalmente quando estou
bebendo.
— Porque trouxe Shantal? — ele perguntou.
— Não trouxe, quando cheguei ela estava chegando aqui também — Dei de
ombros — Me disse que queria muito e eu permiti, desde que ela não me
trouxesse problemas.
— Entendo, mas acho que Luara não gostou nada disso — Tragou seu
cigarro.
Uma moça passou distribuindo os catálogos, coloquei o meu na mesa ao
lado, irei ver depois, enquanto Renzo já está olhando o que lhe foi
entregue.
— Rocco — me chamou, com uma expressão surpresa. — Dá uma
olhadinha neste catálogo — pediu.
Curioso com o que o deixou tão surpreso, abri o meu para olhar. Na capa
tinha uma foto linda da minha irmã, as primeiras páginas são de uma moça
que não conheço, percebi que minha irmã tem muito talento, as roupas são
lindíssimas, passo mais algumas páginas e me deparei com a diaba mais
linda de todas.
— Eu não acredito que essa peste fez isso! — exclamei, espumando de
ódio.
Joguei o catálogo no canto e olhei em volta, esse monte de otário
apreciando minha mulher, cazzo![xv]
— Retira todos os catálogos, coloque fogo, desapareça com eles, todos eles!
— ordenei para Renzo.
— Farei isso — Também se levantou — Irmão, não faça nada de cabeça
quente, beleza?
Agora é tarde para me falar isso. Ignorei-o e apenas saí andando procurando
aquela diaba, ela vai aprender a nunca mais me desafiar.
— Rocco? — Escutei minha irmã me chamar e mais atrás dela estão os
meus pais.
— O que você quer, Alice? — Virei-me para encará-la. — Cadê Luara? —
perguntei, totalmente sem paciência.
— A culpa não foi dela — se explicou. — Fui eu quem insisti muito para
que ela fizesse, por favor, não a machuque — suplicou.
— Cadê ela? — repeti a pergunta, ainda mais alterado.
Minha irmã ficou quieta, me olhando por um tempo, mas não disse onde ela
está. O que vai me deixando ainda mais irritado.
— Alice diga ao seu irmão onde está a esposa dele — meu pai ordenou.
— Mais pai... — Olhou para a minha mãe, pedindo com os olhos piedosos
que fizesse algo para intervir.
— A esposa é dele, filha, diga onde ela está – minha mãe também pediu.
— Na sala dela, terceira porta no corredor à esquerda — informou contra a
sua vontade e saiu pisando duro.
— Filho — mamma[xvi] me chamou. — Não faça nada que possa se
arrepender no futuro — Apenas acenei e saí.
Andei o mais rápido que consegui e quando entrei em sua sala, encontrei-a
conversando com o fotógrafo, amigo da minha irmã, só não vou me
importar com isso porque embora eles tentem esconder, sei que é gay e
também porque agora tenho outros problemas para resolver.
— Amiga, a câmera te ama, olha como você ficou divina! — Escutei-o
comentar sobre as fotos do catálogo.
Assim que ambos notaram a minha presença, olharam-me com os olhos
arregalados.
— Sai agora! — gritei com o tal fotógrafo, que praticamente saiu correndo.
Eu e Luara ficamos nos encarando por um tempo e tive que me segurar para
não colocar essa sala e todo esse ateliê abaixo.
Comecei a caminhar em passos lentos até onde ela estava e conforme fui
me aproximando, ela se levantou e tentou recuar, mas não obteve sucesso
quando as suas costas bateram na parede, avisando que não há para onde
correr.
— Luara, Luara, o que eu devo fazer com você, hein? — Aproximo-me
mais.
— Nada? — A voz dela demonstrava nítido medo.
— Porque insiste em me desafiar quando a única coisa que eu peço é que
você seja uma boa esposa?
— Boa esposa? — Ri. — Ah, sim! Você quer que eu fique em casa sem
fazer nada, enquanto meu digníssimo esposo enfia o pau em outra boceta a
noite toda! — gritou.
Mais corajosa do que nunca. Apesar de seus olhos demonstrarem medo, sua
boca atrevida diz outra coisa.
— O problema é esse? O que você quer, fala comigo? — Encostei meu
corpo ao seu e segurei o seu pescoço, sentindo-a engolir seco.
— Minha liberdade.
Nervoso, acabei apertando um pouco mais o seu pescoço e seu rosto ficou
vermelho, porém ela continuou me desafiando com os seus olhos cravados
nos meus.
— Sabe quando você terá isso? Nunca! Eu esperei malditos dezessete anos
para tê-la comigo. Você é minha, tá ouvindo? Toda minha! Cada maldita
parte do seu corpo, mente e coração me pertence.
Soltei seu pescoço, afastando-me um pouco para conseguir raciocinar. Ficar
perto dela acaba confundindo a minha cabeça.
— Meu coração nunca te pertencerá, está ouvindo? Você nunca o terá. Eu
não sou uma mercadoria, não sou de ninguém! — Passou a mão pelo
pescoço onde eu havia apertado.
Odeio ouvi-la falar que não é minha. Odeio!
Aperto o seu braço e a jogo no sofá ao lado, fazendo-a gritar.
— Você não sabe de nada, garota! — Dei um soco forte na mesa, fazendo
um objeto de decoração cair no chão.
Ela se assustou, recuando no sofá e o seu corpo começou a tremer.
Por que vê-la sentir medo de mim me incomoda? Leva-me ao extremo da
raiva.
— O que eu não sei? Você esperou todos esses anos para me ter para que?
Me fala! — gritou, com a voz embargada. — Você me quer como um
troféu? Não somos casados de verdade, eu nem te vejo, você nem me toca,
o que você quer de mim? Me fala porque eu não estou entendendo! —
Ajeitou o corpo no sofá e rapidamente enxugou uma lágrima que escorreu
em sua bochecha. — Você vive com a sua amante, porque casou comigo e
não com ela? Agora vem aqui reivindicar sentimento de posse? Por que não
posso tirar umas fotos? Eu não fiz nada demais.
Aproximei-me dela e segurei em seus cabelos, a obrigando ficar de pé.
— Porque você é minha, Luara, e tudo que tem aqui — Passei a mão livre
em seu corpo até chegar em seus seios —, é meu! Só eu posso ver e tocar,
sou o seu dono, você me pertence e tudo que tem em você também. Não
quero nenhum filho da puta olhando para o corpo da minha mulher e
imaginando como ela é gostosa. — Soltei os seus cabelos e ela caiu sentada
no sofá novamente.
— Seu escroto! Nojento! Eu te odeio tanto, Rocco! — Proferiu as palavras
com raiva, mas também com evidente mágoa.
— Você não seria a primeira, querida esposa, entra na fila — Sentei-me na
beirada da mesa. Percebi que ao jogar ela no sofá, o vestido levantou,
revelando a calcinha branca que está usando. Passei a mão no rosto, estou
com tanta raiva, mas a porra do desejo bateu e meu pau ficou duro na
mesma hora.
Não tem como negar que a diabinha é muito gostosa e me atrai de uma
maneira surreal.
— Você está ouvindo?! — chamou a minha atenção, me tirando dos meus
pensamentos.
— Não, mas também não me interessa. Se ajeita, vamos para casa —
informei.
— Porque você me odeia tanto, Rocco? — Levantou, se aproximando de
mim. O cheiro de álcool nela exalava. Quando Luara bebia, ela se tornava
ainda mais corajosa. — O que eu fiz para você? Eu te dei tudo que queria.
Nos casamos, eu te dei minha alma naquele dia em que transamos. Por que
me trata dessa forma? Me humilha chegando com a sua amante em um local
público. Nunca estamos juntos em lugar nenhum, daqui a pouco a mídia irá
especular várias coisas, isso se não soltar sobre sua amante, por que faz isso
comigo? — É possível ver a dor em seus olhos.
Estico o braço, inclinando o corpo um pouco para frente e alcanço a sua
cintura, puxando-a para o meio das minhas pernas.
Tudo que eu estava pensando em fazer quando entrei aqui foi
desaparecendo assim que a vi. Ela mexe comigo de uma forma estranha e
isso é perigoso.
— O que eu quero você ainda não me deu, querida. — Rocei a barba no seu
pescoço e sinto-a se arrepiar.
— O que mais você quer de mim?
Passei a língua levemente no seu pescoço, deixando-a ainda mais arrepiada.
— Você me disse que me entregou seu corpo e alma, mas o que eu
realmente quero é o seu coração!
— Isso você jamais vai ter! — afirmou, afastando o rosto e me encarando.
— Gosto de uma boa conquista, e você sem dúvidas, acaba de se tornar a
minha preferida!
Olho para a sua boca, tão convidativa. Quando foi que senti vontade de
beijar uma mulher? Acho que nunca!
Seus olhos azuis estão carregados de mágoa, mas há algo além… tesão?
Não resisti e aproximei nossos lábios, esmagando os dela com os meus.
Pela primeira vez na minha vida, beijei uma mulher com vontade.
Seus lábios são macios e gostosos, ela abriu espaço para a minha língua
passar e o beijo começou a ter um teor sensual, regado de desejo. É quente e
me faz ter vontade de continuar aqui por horas. O encaixe foi perfeito, nos
beijamos sem qualquer dificuldade. Temos sede, é um beijo rápido, mas
também agradável.
Luara afastou um pouco para conseguir respirar, mas eu não quero parar,
quero mais desse beijo que me faz sentir quente por dentro, uma sensação
boa. Adentrei os dedos na sua nuca, puxando os seus cabelos, esmagando
novamente os seus lábios e com a outra mão livre, apertei sua bunda
perfeitamente redonda, ansioso para onde esse beijo possa nos levar.
Capítulo 15

Paramos de nos beijar para poder respirar. Foi a primeira vez que ele me
beijou… e caramba, que beijo! Sem contar que também foi o meu primeiro
e essa nova sensação que eu senti foi surreal. Gostei do beijo e quero beijar
mais, de preferência, beijar ainda mais o meu marido.
Tudo nesse homem é quente, ele exala tensão sexual. Minha calcinha está
em ruínas.
Encostamos nossas testas e respiramos ofegantes. O que eu estou fazendo
me entregando desse jeito? Me repreendi mentalmente por isso, não posso
ser fraca a esse ponto.
— Vamos para casa — Tentei me soltar, mas ele é forte e não consigo sair
do seu aperto. — Me larga, Rocco, eu não quero! — Mesmo que seja
mentira e o meu corpo traidor esteja gritando por ele, precisei ser forte.
— Sério que você não quer? — Desceu a mão que estava na minha bunda e
tocou a minha calcinha. — Seu corpo diz outra coisa bambina[xvii].
É, eu sei, meu corpo é um traidor.
Estou queimando de tanto desejo.
— Rocco, por favor — Não sei o que estou pedindo, se estou pedindo para
parar ou para que me faça gozar logo.
— O que você quer? Fala para mim — perguntou baixinho no meu ouvido
enquanto passava os dedos por cima da minha calcinha.
— Me faça gozar — Irracional. Sou uma fraca.
Não acredito que estou perdendo a dignidade nesse nível, mas não consegui
evitar, estou louca de desejo, neste momento não consigo pensar em nada
além de um delicioso orgasmo.
— Você acha que merece? Você foi uma boa esposa? Só boas esposas
podem gozar — Com um sorriso no rosto, parou de me acariciar.
— Seu… seu… idiota! — Novamente tentei me soltar, mas falhei. — O que
você quer? Me ver implorando?
Se é isso que ele quer, lamento informar que não conseguirá. Posso até
perder a dignidade abrindo as pernas para ele, mas implorar, jamais. Perder
a dignidade tudo bem, mas tem que ser com classe.
— Quero que me prometa que será uma boa esposa, se me prometer e
cumprir isso, gozará gostoso todos os dias.
— Proposta tentadora, querido marido.
Caramba, coloca tentadora nisso.
Rocco trocou nossas posições, colocando-me sentada na mesa com as
pernas bem abertas, fazendo meu vestido subir até a altura da minha cintura
e olhou-me com adoração.
Novamente rasgou a minha calcinha, igual fez na noite de núpcias e
acariciou minha boceta, passando seus dedos enormes por cada pedacinho e
apertando meu clitóris.
Quando ele se ajoelhou na minha frente, tive a certeza de que iria para o
paraíso e teria um orgasmo arrebatador.
— Você fica bem melhor nessa posição. — Não aguentei e tive que
confessar, Rocco ajoelhado na minha frente, chupando-me é sem dúvidas
uma das melhores visões que tenho desse homem.
— Também acho — Abriu um pequeno sorriso e não perdeu tempo,
devorou-me com a boca.
Bendito seja essa boca tão deliciosa.
Sugou meu clitóris, dando leves mordidas, arrancando de mim gemidos
cada vez mais intensos. A cada vez que ele mordia, fazendo-me sentir uma
leve dor, sua língua voltava a trabalhar trazendo-me alívio. Essa junção da
dor com o prazer me levou à loucura e fez-me chegar ao ápice com mais
facilidade.
Enfiei a mão nos fios do seu cabelo, puxando-os e pressionando sua cabeça
ainda mais no meio das minhas pernas e quando ele introduziu seus dedos
dentro de mim, gozei fortemente gritando o seu nome.
Após limpar todo o meu gozo com a sua divina língua, ele me encarou, seus
olhos refletem pura luxúria. Distribuiu mordidas pelas minhas coxas, minha
barriga por cima do tecido do vestido e o abaixou, libertando os meus seios,
onde deixou uma mordida em cada um e depois pincelou sua língua pelo
bico rígido.
— Tão doce, minha Lua! — Por que raios eu gostei de ouvi-lo me
chamando assim? — Vou te comer agora — avisou, abrindo sua calça. —
Quero te foder até você esquecer o seu nome. Não sei se vai conseguir sair
daqui andando, isso é uma promessa — prometeu, fazendo-me ansiar por
isso.
Sim, eu quero que ele me foda até eu esquecer o meu nome e ter dificuldade
para andar.
Pegou-me no colo, tirando-me de cima da mesa e me colocando debruçada,
abrindo bem as minhas pernas com o seu pé e puxando o meu quadril,
empinando a minha bunda em sua direção.
Senti sua cabeça robusta pincelando a minha entrada e pouco a pouco ele
foi me preenchendo, abrindo-me para recebê-lo, deixando-me
completamente cheia dele.
Ardeu bastante quando ele entrou todo, batendo sua pelve na minha bunda.
— Vai passar — avisou, percebendo o meu desconforto.
Talvez se ele fosse um pouco menor eu conseguiria recebê-lo sem dor, mas
se é o que temos, vamos com dor mesmo.
Bem lentamente foi entrando e saindo, aos poucos a dor foi dando lugar ao
prazer.
— Quero te comer tão forte, bambina, estou te desejando tanto — gemeu
rouco e começou a se movimentar com mais rapidez.
Suas mãos enormes seguraram firme em minha cintura, firmando o meu
corpo e suas investidas foram ficando cada vez mais fortes.
Algumas coisas da minha mesa começaram a cair conforme o impacto, mas
ele não se importou, não diminuiu as suas investidas por nada.
Gritei ao sentir tapas atingirem minhas nádegas. Tentei controlar os meus
gemidos, mas diante da intensidade do sexo, não conseguia e já nem sabia o
que estava falando ou como estava o tom dos meus gemidos. Só espero que
as pessoas não escutem.
A mão que estava desferindo tapas subiu pelas minhas costas e agarrou os
meus cabelos, depois parou no meu pescoço, puxando o meu corpo mais
para ele, inclinando-me cada vez mais. Aproximou o seu rosto do meu
pescoço e suas investidas ficaram mais leves.
— Você pertence a quem, Luara? — perguntou, sua voz cada vez mais
rouca e sexy. Deixou uma mordida nas minhas costas e eu gritei. — Fala
sua gostosa, fala quem é o seu dono — Outra mordida e foi o bastante para
eu acabar gozando.
— Ahhhhhh! — Desmanchei-me, sentindo o meu corpo ficar cada vez mais
mole e minhas pernas tremerem descontroladamente.
— Quem é o seu dono, Luara? — perguntou novamente, passando a língua
pelo meu pescoço e o apertando mais forte. — Quem te faz gozar gostoso,
hein?
— VOCÊ! — gritei. — Eu sou sua!
Não vou me julgar por isso, a essa altura do campeonato eu não sabia nem o
que estou falando, mal sabia meu nome, esse homem está me levando a
loucura.
— Isso sua gostosa, você é minha! — Entrou ainda mais forte.
— Eu não aguento mais Rocco, para — Praticamente implorei, estava
destruída.
Mas ele não parou, continuou entrando e saindo com rapidez, distribuindo
tapas, beijos e mordidas por meu corpo. Sua mão entrou no meio das
minhas pernas e seus dedos começaram a dedilhar o meu clitóris. Estou tão
sensível que não demorei e gozei novamente, dessa vez não conseguindo
sustentar o meu corpo e ele me segurou pela cintura, gozando em seguida,
chamando o meu nome.
Capítulo 16

Ficamos jogados no sofá, estávamos cansados, suados e ofegantes, sem


nenhuma condição de levantar para fazer algo.
— Venha, vou te levar até o banheiro para que se limpe — Pegou-me no
colo e me levou até o banheiro da minha sala.
Ele se limpou e eu esperei sentadinha no vaso. Quando terminou, ficou
encarando-me. Espera, está com desejo? Não, não é possível, estou
destruída!
— Tem como esperar do lado de fora rapidinho? — Dou logo um jeito de
tirá-lo daqui.
Assim que ele saiu, limpei-me e ao olhar-me no espelho, tomei um susto
com o que vejo. Meu rosto estava vermelho, estou toda descabelada, sem
calcinha e com o vestido amassado, mas o pior não é isso, estava toda
marcada, meu pescoço cheio de marcas vermelhas. Levantei o vestido e
olhei minhas costas, encontrando-a toda marcada, minhas coxas e minha
bunda tinham as marcas da mão dele direitinho.
Meu Deus esse homem é um animal!
Não posso falar que não gostei, foi intenso, foi gostoso e insano, mas não
tenho como sair daqui assim, estou completamente marcada.
Dei uma passada de mão nos cabelos, tentando amenizar a bagunça e voltei
para a sala. Rocco estavaá sentado em toda a sua plenitude me olhando,
com certeza está observando o estrago que fez em mim, mas não falou nada
, apenas deu um sorrisinho de lado e continuou em silêncio.
— Não vai falar nada? — questionei, quebrando o silêncio.
— O que gostaria que eu falasse?
— Porque me marcou dessa forma? Como vou sair daqui assim?
— Você não gostou? — Arqueou uma sobrancelha me analisando. Minhas
bochechas esquentam, sei que gostei, mas não quero confessar. —
Engraçado como ainda ruboriza na minha frente, é encantador. — Abriu um
pequeno sorriso.
Ele tem uma voz sedutora demais.
— Não me responda fazendo outra pergunta, isso é feio.
— Eu gosto assim — Levantou e se aproximou de mim. — Sexo intenso,
gostoso e pecaminoso — Segurou os meus cabelos, aproximando nossos
rostos. — Você não gostou? Achei que tivesse gostado, já que gozou várias
vezes.
Não respondi, não vou confessar para esse diabo que gostei, até porque não
preciso, sei que ele sabe que gostei tanto quanto ele.
Para minha surpresa, Rocco me beijou com ternura, um beijo calmo e
gostoso. Novamente me entreguei, beijando-o com vontade. A atração
sexual que temos é muito intensa, não consigo controlar.
Se um dia eu julguei alguém que estava nessa mesma situação que eu, já
nem lembro mais.
Afastou nossas bocas e eu fiz uma careta desanimada, queria mais, confesso
que gosto muito dos beijos dele.
— Gostaria de ficar aqui a noite toda beijando sua boca deliciosa, mas
temos que ir, já passamos tempo demais aqui dentro, daqui a pouco alguém
entra pensando que te matei — Se afastou.
Tenho vontade de rir do que acabou de falar, pois quando ele entrou foi
exatamente o que pensei que faria comigo e é algo que as pessoas realmente
acreditariam.
— Como vou sair assim? Estou toda marcada. — Pegou o paletó e estendeu
para mim.
— Usa isso, vai disfarçar. Vamos embora logo sem se despedir de ninguém,
amanhã você explica melhor a Alice. Você está sem calcinha e não a quero
desfilando por aí desse jeito.
Pensei em várias coisas para falar, mas deixei para lá. Saímos às pressas
sem falar com ninguém pelo caminho.
O homem das cavernas está de volta, mas prefiro a versão do homem
gostoso que me fode com força. Por falar nisso, qualquer um que me ver
andando vai saber que fui fodida com força, mal consigo caminhar, estou
muito ardida. Esse homem abala com todas as minhas estruturas. Preciso
centralizar minhas emoções, não posso me deixar envolver
sentimentalmente e acabar sofrendo por alguém como ele no final.

A primeira coisa que lembrei ao acordar foi do sexo maravilhoso de ontem.


Bem que eu queria de novo.
Meu Deus, olha os tipos de pensamento que estou tendo, nem me reconheço
mais.
Saímos de lá correndo, mas não fugimos do olhar de alguns curiosos, da
família dele para quem eu acenei para mostrar que estava tudo bem e
principalmente do olhar furioso da amante de Rocco sobre nós.
Acabei adormecendo no carro, me lembro dele ter me colocado na cama,
tirou meu vestido e colocou uma camisola confortável, estava muito
cansada e não quis saber de mais nada, apenas de dormir tranquilamente na
minha cama.
Ainda bem que hoje o tempo está frio, assim posso usar uma blusa de
manga que tem uma gola alta e uma calça. Aproveitei para calçar meus
sapatos, peguei minha bolsa e desci para fazer meu desjejum. Com as
roupas mais compridas, fica mais fácil de tapar as marcas e os funcionários
não descobrirem o que aconteceu.
Me assusto ao encontrar meu digníssimo esposo sentado à mesa tomando
seu café, ele nunca está em casa, não faz nenhuma das refeições junto
comigo.
— Bom dia, esposa! — cumprimenta-me.
— Bom dia! — Sentei-me à sua frente. — O que faz em casa?
— Estava te esperando para tomar café da manhã, querida.
Tem alguma coisa errada nessa história, sinto no tom da sua voz que ele
está sendo sarcástico.
— Nunca me esperou antes — retruquei.
— Para tudo se tem uma primeira vez. Onde vai toda arrumada assim?
— Onde eu vou? — Estranhei a sua pergunta, afinal, ele sabe. — Vou
trabalhar, como faço todos os dias.
— Você não trabalha mais — respondeu rude e deu uma golada no seu café
quente.
Nesse momento desejo que esse café derrame em cima dele e o queime
inteirinho.
— Como assim?
— Exatamente isso que você ouviu, Alice te demitiu.
— Me demitiu? — exaltei-me no tom de voz. — Você mandou ela fazer
isso, não foi? — perguntei mesmo sabendo a resposta. — Claro que foi
você! Alice não tinha motivos para me demitir.
— Se você já sabe a resposta, vamos nos poupar de assuntos
desnecessários.
Como pode ser tão frio?
— Você não pode fazer isso, é o meu serviço, é a única ocupação que tenho.
Se eu não for trabalhar vou ficar o dia inteiro trancada aqui dentro fazendo
o quê? Nada! Aqui não tem nada para fazer — exclamei, furiosa.
— Não só posso, como já fiz. — Encarou-me. — Você tem que aprender
que quem manda aqui sou eu, você não pode ficar me desafiando, me
desobedecendo. Quando pediu para trabalhar eu permiti, confiei em você e
você fez aquela merda! — esbravejou, se alterando. — Você desperdiçou
sua chance, agora ficará aqui e só irá trabalhar quando eu permitir, se eu
permitir e não quero mais ouvir suas reclamações. Inventa alguma coisa
para fazer aqui dentro. A escolha foi sua quando decidiu me desafiar, agora
aguenta as consequências — Terminou de beber o seu café e se levantou.
Como eu queria que esse café estivesse envenenado. Sei que é até um
pecado pensar nessas coisas, mas desde quando me casei com ele, é o que
anseio quase todos os dias, na morte do meu marido.
— Seu monstro, te odeio! — berrei.
— Chega! — Deu um soco na mesa, fazendo tudo que estava em cima dela
tremer e o copo de suco que havia servido para mim, caiu em cima da
minha roupa. — Você é sempre muito atrevida, né, bambina? Se quiser ter
as coisas de mim terá que dançar conforme a minha música, quanto antes
aprender isso, melhor será.
— Eu achei que a gente tinha resolvido isso ontem — Levantei e caminhei
na sua direção. — Me deixa trabalhar, por favor, não farei mais nada que
possa te desagradar, eu prometo. — Se fosse preciso implorar, eu faria isso
sem vergonha alguma.
— Eu já disse que não, não costumo voltar atrás nas minhas decisões.
Agradeça por eu estar sendo bonzinho com você, não costumo agir assim.
Virou-se e saiu dali me deixando aos prantos.
Imagino-me matando ele de várias formas diferentes e em todas elas a
morte dele é lenta e dolorosa.
Que inferno de vida!
Capítulo 17

Hoje tive que resolver os problemas sobre nosso carregamento que foi
interceptado, nada me tira da cabeça que aquele maledetto[xviii] está por trás
disso. Quando eu colocar minhas mãos nele, ele irá se arrepender de ter
entrado no meu caminho.
— Problemas no paraíso, fratello[xix]? — Renzo apareceu.
— Não estou com paciência para suas gracinhas hoje, Renzo.
— Fiquei sabendo que mandou Alice demitir ela. Saiba que nossa irmã está
com muita raiva de você — avisou rindo, se divertindo às minhas custas.
— Como se eu me importasse. Estou com problemas demais para me
preocupar com essas coisas.
— Você acha que foi ele? — Referiu-se ao bastardo que tem atormentado
nossos negócios.
—Tenho certeza, quem mais tentaria algo contra a gente?
— O que vamos fazer?
— Eu ainda não sei, mas vamos descobrir logo, temos que pensar em algo
rápido, as coisas não podem mais ficar assim. Precisamos pegar esse
bastardo.
— Senhor — o chefe dos soldados me chamou —Tem uma pessoa que
insiste em falar com o Don — anunciou.
— Quem?
— O Capo mexicano.
— O que ele quer comigo? — Estranhei, pois não temos guerra, mas
também não fazemos negócios.
— Disse que só falaria para o senhor, segundo ele, tem informações
importantes sobre Claus. — Agora sim estamos falando a mesma língua.
— Leve-o para o meu escritório — ordenei.
Saí do galpão junto com meu irmão direto para meu escritório e aguardei o
homem.
— Don, Senhor Renzo — O homem nos cumprimentou e eu apontei a
cadeira para que se sentasse.
— Vamos logo ao assunto, José, é esse seu nome, não é? — Anuiu. —
Diga-me o que sabe.
— Com todo o respeito, eu direi assim que o senhor me der uma garantia.
Tenho vontade de rir, é muita audácia.
— Quem te disse que eu preciso te dar alguma garantia para descobrir o que
tem para me dizer? — indaguei.
Renzo solta uma gargalhada com a petulância desse homem.
— Não quero ser petulante, mas vim trazer informações valiosas em troca
de uma garantia. Eu tenho uma doença degenerativa, não me resta muitos
dias de vida, senhor, e se me torturar para tirar informações me levando a
morte, será um favor que vai me conceder.
Olho para Tom e ele entende que é para verificar se a história desse homem
é verdadeira. Renzo serve uma bebida para nós três enquanto aguardo Tom
retornar com a informação.
Meu segurança entra e me dá um leve aceno, confirmando o que o homem
acabou de contar. José também não seria burro de entrar aqui exigindo as
coisas sem ter uma carta na manga.
— Tudo bem, me diga o que eu quero saber e eu te darei o que quer em
troca.
Renzo olha-me apreensivo, mas ele sabe que no momento é o certo a se
fazer.
— Primeiro a troca, depois digo o que o senhor quer saber.
— Olha só, Capo, eu já estou ficando sem tempo e paciência e nós dois
sabemos que essas duas coisas são de grande importância no nosso meio,
então não me faça perder essas duas coisas valiosas, fale logo.
— Me dê sua palavra que vai cumprir com a troca e eu falarei.
— Se a sua proposta não for absurda, tem a minha palavra de que terá a
garantia que quer.
Ele me contou que Claus está comandando um cartel de drogas no México,
o que tem atrapalhado os negócios e segundo ele, Claus descobriu sua
doença e está usando isso ao seu favor. Pensei que o infeliz estava com a
máfia americana, mas pelo visto me enganei, ele está tentando passar o
Capo mexicano para trás.
José ficou à disposição para nos passar todas as informações que descobrir
e se aliou a nós para arrumar uma emboscada para o maledetto.
— Valiosas suas informações, já sabemos onde ele está, agora precisamos
arrumar um jeito de pegá-lo — Renzo me encarou, provavelmente já está
articulando alguma coisa.
— Aí já não é comigo, senhor Renzo, trouxe as informações e até o meu
último suspiro, trarei todas as outras que descobrir. Te garanto que
aproveitarei esses últimos dias de vida para tentar entregar Claus ao Senhor
— O homem voltou a sua atenção para mim — Agora, Don, preciso que
cumpra a garantia.
— E qual seria ela? Preciso saber, para então, dizer-lhe se poderei
concordar. — perguntei curioso. O que um homem à beira da morte poderia
pedir? Uma aliança entre as nossas máfias nessa altura não faria diferença
para ele, já está morrendo e logo outro Capo assumirá.
— Como já disse anteriormente, tenho alguns dias de vida. Tenho uma
filha, o nome dela é Melanie, minha joia. Não posso partir e deixá-la
sozinha nesse mundo, principalmente com o Claus querendo tomar o que é
meu, ele fará coisas horrorosas com minha filha e também tenho outros
inimigos a solta, preciso partir sabendo que ela estará protegida e amparada
e preciso de alguém para assumir o meu lugar.
— Entendo a sua preocupação, Capo. Você quer proteção para ela?
— Não. Quero uma aliança entre nossas máfias — respondeu rapidamente.
— De que forma? — Renzo perguntou curioso tanto quanto eu.
— Quero que se case com a minha filha, senhor Renzo.
Olhamos de um para o outro e Renzo balançou a cabeça em negativa, mas
ele sabe que não posso voltar atrás na minha palavra, um Don jamais faria
isso e precisamos das informações que esse homem pode nos trazer, uma
aliança com a máfia mexicana não será de todo ruim, quanto mais alianças
formarmos, melhor para nós.
— Você quer que Renzo case-se com Melanie? — perguntei só para
confirmar mesmo.
— Isso mesmo, Don. Não posso deixar minha filha à deriva nesse nosso
mundo, então, nada melhor que um bom casamento. Como o senhor é
casado, então eu quero que Renzo case-se com ela, assim ela terá um
casamento e ficará sobre a proteção da sua máfia.
— Tudo bem, Capo, temos um acordo. — Sei que Renzo está me encarando
com raiva, por isso evitei olhá-lo. — Melanie e Renzo se casarão após a sua
morte, antes disso, ela é sua responsabilidade, proteja-a e mantenha-a viva
até o dia da sua partida.
José concordou e encerramos a conversa. Assim que ele sair, sei que terei
que aguentar os chiliques de Renzo, haja paciência.
— Você ficou maluco, porra? — esbravejou. — Eu não vou me casar! Você
está ouvindo? Não vou me casar! Eu nem conheço essa garota!
— Se acalme, fratello, todos temos responsabilidades com a máfia, eu
cumpri a minha, agora você terá que cumprir a sua — respondi calmamente
e ele sabe que estou falando a verdade.
— Vai se ferrar, Rocco, você não podia ter feito isso seu bastardo, figlio di
puttana! — xingou, todo nervoso.
Tenho vontade de rir, mas me seguro.
— Dei minha palavra, não posso voltar atrás. Você a partir desse momento
é um homem comprometido, então comporte-se como tal — zombei dele —
E sobre xingar a mamma, irei contar para ela, prepara-se para apanhar,
fratello.
Renzo saiu batendo a porta e xingando todos os nomes possíveis, caí na
gargalhada pensando na sua situação. Não fui só eu que tive um casamento
arranjado e agora estamos os dois no mesmo barco.
Capítulo 18

Há dois dias que estou desempregada, não faço nada produtivo na vida,
fico trancada aqui dentro vendo a hora passar. Assisti a alguns seriados, li
uns livros, falei ao telefone com minha família e minha amiga Char e comi
besteiras.
Falando em minha família, morro de saudades deles, mas na cabeça desse
povo da máfia, depois que nos casamos, nossa família passa a ser apenas o
meu marido e os possíveis filhos que darei, o que é estranho, porque não
sinto como se Rocco fosse minha família. Sinto saudades dos meus pais e
meu irmão, mas não posso vê-los com frequência, não posso viajar e eles
também não vem muito aqui.
Aquele ditado que diz que o diabo te dá com uma mão e tira com a outra é
a mais pura verdade. Aconteceu isso comigo, ele me deu orgasmos intensos
e depois tirou a única coisa produtiva que estava fazendo na vida. Que
Deus me perdoe, mas eu amaldiçoo esse homem todas as horas do meu dia.
Tenho me julgado frequentemente também, me entreguei demais, acabei
me deixando levar pelo desejo e não agi pela razão e sim com emoção.
As marcas que ele deixou em meu corpo já estão sumindo e a todo
momento fico pensando se fará outras. Tenho vivido uma guerra intensa
dentro de mim entre a razão e o tesão.
Estou torcendo para a razão ganhar, mas no momento, o tesão está sempre
vencendo.
Toc-toc.
Escuto batidas na porta do meu quarto.
— Pode entrar — autorizei.
— Senhora Caccini — Beth, que é nossa governanta, entrou e está
segurando algumas flores. — O senhor Caccini pediu que eu te entregasse
essas flores.
Estreitei os olhos, fazendo uma careta e ela riu.
— Tem certeza que foi ele? — Acenou em confirmação. — Será que ele
bateu a cabeça? Só pode ser bipolar!
Nós duas rimos do meu comentário.
Peguei o pequeno buquê de flores e vejo que tem um cartão, abro-o.

"Querida esposa, peço desculpas por te deixar entediada, tenho muito


trabalho e por isso não posso dar a atenção que você merece. Aceite meu
presente como uma recompensa. Beth te levará até ele, espero que goste!
R.C"

— Que presente é esse Beth? — perguntei, corroendo-me por dentro de


curiosidade.
Ela deu de ombros, como se não soubesse, ou talvez só não queira me
contar.
— Vamos lá, irei te levar.
Descemos as escadas e fomos em direção ao corredor, essa mansão é
enorme e contém vários cômodos, alguns eu não cheguei nem a conhecer,
mas agora faço uma anotação mental de explorar a casa, já que não tenho
nada para fazer.
— Chegamos — avisou e abriu a porta, dando passagem para que eu entre.
Com passos inseguros, entrei. Meus olhos brilharam diante do que viram. É
uma sala de dança igual a que eu tinha na Rússia. Que nostalgia, acabei me
lembrando da minha amiga e professora Ana, bateu uma saudades.
Caminhei por cada pedacinho da sala, passando os dedos nos vidros que
tem espalhado nos quatro cantos, no pole dance e até em um pequeno
vestuário com roupas adaptáveis para cada estilo diferente de dança.
Fiquei com os dedos trêmulos, tocando para ver se acredito que é real. Eu
amo dançar e a dança tem estado na minha vida desde que eu me entendo
por gente. Até que ele acertou no presente.
— Irei te deixar a sós para aproveitar seu novo espaço — Fiquei tão
entretida que me esqueci que Beth estava ali.
Corri para o vestuário e troquei de roupa, coloquei uma música e comecei a
dançar, passando horas assim, dançando. Até esqueci do tempo, estava
morrendo de saudades disso, de fazer o que eu realmente gosto.
Troquei a música e ensaiei os passos que estava aprendendo com Ana antes
de ir embora. Me lembrei de como minha vida era e me bateu uma tristeza,
uma angústia consome o meu coração e acabo errando os passos.
Voltei a música e comecei tudo de novo, assim fiquei por várias horas,
aproveitando minha nova sala e esquecendo-me da minha vida e do mundo
lá fora.
— Vejo que gostou do seu presente — Aquela voz rouca que me trás tantas
sensações sobressai a música e um frio percorreu minha espinha.
Atrapalho-me toda e errei a dança. Olhei para ele através do espelho, seus
olhos não desviavam dos meus.
Queria desviar o olhar, mas é como se eu tivesse presa aqueles olhos negros
que não demonstravam absolutamente nada além de escuridão.
Por que o diabo mexia tanto comigo? Como conseguia dominar o meu
corpo sem sequer tocar em mim?
Capítulo 19

O que tem nesses olhos azuis cor do mar que mexem tanto comigo?
— Sim, gostei bastante, obrigada! — Luara respondeu, quebrando o contato
visual. — Está aí há muito tempo? — Ela pareceu um pouco envergonhada
pela hipótese de eu estar olhando-a a algum tempo.
— Não, mas queria ter chegado antes — confessei.
Meu celular apitou e vejo que é uma mensagem de Shantal perguntando se
eu ia passar lá agora de noite, mas guardei o celular no bolso, sem dar
importância. Desde o dia do ateliê, que eu e Luara fizemos aquele sexo
enérgico, não procurei mais por ela, só consigo pensar na minha linda e
gostosa esposa, ela tem atormentado os meus pensamentos o tempo todo.
— Algum problema? — perguntou, tirando-me dos meus pensamentos.
— Não. Já que gostou tanto do presente, poderia dançar para mim? — pedi,
pois estava doido para vê-la dançar, com exclusividade, já que agora só eu
veria essa cena incrível.
— Agora? — Estreitou os olhos, parecendo surpresa com o meu pedido.
— Sim — Sentei-me no sofá e tirei o meu paletó, ansioso para assistir o
espetáculo.
— Tudo bem. — Caminhou timidamente até o som e escolheu uma música
aleatória, que não conheço.
A música ecoou pela sala e ela começou a movimentar seu corpo com
maestria.
Essa bambina não sabe, mas ela me deixa louco de tesão e desejo, estou
duro feito rocha enquanto assisto ela dançando, mas ela não percebe, pois
está inebriada pela música.
Passei a mão por cima da minha calça e não consegui tirar os olhos dessa
feiticeira, isso que ela é, uma pequena feiticeira. Não aguentei mais, me
levantei e fui em sua direção.
Segurei forte em seus braços fazendo com que parasse de dançar. Queria
apreciar mais a sua dança, entretanto, o desejo é gritante e não pode ser
ignorado.
Seus olhos azuis intensos me encararam, ardendo em puro desejo
— O que foi? — Sua voz era baixa, mas carregada de excitação.
Cazzo!
— Você me deixa louco, bambina — declarei e ataquei a sua boca com
fome, esmagando os seus lábios.
Enquanto beijava sua boca deliciosa, explorei seu corpo voluptuoso com
minha mão.
Luara levava-me ao limite ao gemer contra os meus lábios.
Vagarosamente coloquei-a deitada no chão, ajoelhei-me, desci o seu short e
a calcinha, liberando-me a visão do paraíso que eu tanto tenho desejado,
que não sai dos meus pensamentos.
Salivei, louco para sentir o seu gosto novamente.
— Eu estou suada, não faz isso — Colocou a mão entre as pernas, tentando
me parar.
Retirei a sua mão, abri bem as suas pernas e com os dedos abri os seus
grandes lábios, vendo-a completamente lubrificada. Passei a língua debaixo
para cima e arranquei dela um grito intenso. A devorei feito um selvagem,
chupei sua boceta com fome, sugando o seu pontinho sensível e lambendo-a
por completo. Luara gritou, gemeu, se contorceu, puxou os meus cabelos e
por fim, gozou deliciosamente na minha boca, dando-me o prazer de
desfrutar dos seus fluidos.
Afastei o rosto, encarando-a e me encantando ao ver suas bochechas
ruborizadas e sua respiração ofegante. Ela era linda de qualquer jeito, mas
após um orgasmo, ficava incrivelmente adorável.
Passei a língua por meus lábios e ela ofegou.
— Gostaria de fazer uma coisa, Don — Olhou-me com malícia.
Cazzo! Quase gozei só de ouvi-la me chamar assim.
Nos levantamos e ela espalmou as mãos no meu peito, empurrando-me até
o sofá. Sentei-me conforme suas instruções e ela se ajoelhou na minha
frente. Visão linda e tentadoramente excitante.
Meu pau pulsou desesperado.
Seus pequenos dedos trêmulos abriram o zíper da minha calça e eu a deixei
ter controle da situação. Se ela quiser brincar, deixarei que brinque à
vontade.
Sua mão delicada começou a me masturbar bem devagar e por mais que
esteja insegura, seu movimento foi gostoso o bastante para me fazer ter
vontade de gozar e segurei-me para não acabar com a diversão antes mesmo
de começar.
Assim que sua boca quente se aproximou e a pontinha da sua língua
contornou a minha glande, foi inevitável segurar o gemido, deixei que
escapasse um gemido gutural, encorajando-a ainda mais. Luara foi
abocanhando-me pouco a pouco, e conforme sua boquinha ia se adaptando
com o tamanho e a espessura, ela aprofundava ainda mais o boquete.
E que boquete maravilhoso! Nem as mulheres mais experientes do mundo
seriam capazes de me levar ao limite do desejo como ela fez.
É o meu fim… Luara é a minha ruína.
Segurei firme em seus cabelos e soquei um pouco mais fundo na sua
garganta. Já estava completamente perdido e até esqueci que essa é a
primeira vez que ela faz isso. Meti fundo e vi o canto dos seus olhos
lacrimejar, mas ela também não parou e continuou abocanhando-me cada
vez mais.
Não consegui aguentar e gozei, derramando-me na sua boca, jorrando jatos
quentes e intensos no fundo da sua garganta.
Após lamber-me todo, ela se afastou, olhando-me com desejo, passou os
dedos no canto da boca limpando os resquícios de sêmen que ali estavam e
lambeu os dedos.
Maledetta!
Ela quer me matar, certeza que quer me matar de tesão.
Joguei-me em cima dela, fazendo nós dois cairmos no chão, mas colocando
os braços embaixo dela para não machucá-la.
Rasguei sua blusa, libertando seus lindos seios rígidos e os chupei, sugando
o bico do peito e resvalando o dente, fazendo atrito.
Encaixei-me na sua entrada molhada e pincelei o pau antes de entrar de vez,
indo até o fundo, sentindo suas paredes me esmagarem.
— Roccoooo! — gritou o meu nome, dando mais munição ao meu apetite.
Saí todo de dentro dela e entrei com força, colidindo nossas pélvis.
Seus dedos adentraram a minha camisa, ajudando-me a tirá-la e suas unhas
arranharam as minhas costas.
Distribuí mordidas, chupões e lambidas por seus lábios, pescoço e seios.
Agora, nessa sala, a única música que ecoa são os nossos intensos gemidos,
e sinceramente, esse é o melhor som mais agradável a ser ouvido.
— Rocco! Rocco! — gemeu o meu nome como uma adoração e a senti
pulsar, seu gozo estava próximo e eu queria gozar junto com ela.
Acelerei os movimentos de vai e vem buscando por nossos prazeres e,
juntos, chegamos ao ápice de uma forma gloriosa.
Suados, com respirações ofegantes e corações acelerados, fomos incapazes
de levantar ou falar qualquer coisa. Permanecemos um tempo assim,
deitados, sujos e satisfeitos.
— Vem — Levantei-me e ela se sentou. — Vamos para o quarto tomar um
banho, juntos — enfatizei o juntos para que ela saiba que quero a sua
presença ao meu lado.
Estendi a mão e ela pegou, abrindo um pequeno sorriso tímido.
Entreguei o meu paletó e ela vestiu e caminhamos para o meu quarto. Luara
não questionou nenhuma das minhas decisões após o nosso momento.
Enchi a banheira e foi inevitável não desejá-la novamente. Luara era como
um imã me atraindo.
Apesar de estar dolorida, mais uma vez ela se entregou e novamente temos
mais uma rodada de sexo intenso.
Depois nos lavamos e pela primeira vez, dormimos juntos.
Capítulo 20

O sol começou a invadir o quarto e lembrei-me que esqueci de fechar as


cortinas.
Remexi na cama e senti que estou em cima de algo duro. Apalpei, ainda
com preguiça de abrir os olhos e conclui que estou em cima de alguém.
Algumas boas lembranças surgiram na minha mente e para ser mais
específica, esse alguém é gostoso e sarado com quem transei
enlouquecidamente ontem.
Abri os olhos para ter certeza de que não é um sonho e o vi dormindo
serenamente, nem parece um mafioso, por exemplo, agora mesmo eu
poderia matá-lo.
Mas que merda é essa que você está pensando, Luara?
Balancei a cabeça, afastando esses pensamentos idiotas e fiquei encarando-
o, bem quietinha para não acordá-lo, tão lindo dormindo, tão calminho,
acho que gosto mais dele assim.
— Vai ficar me olhando até que horas, bambina? — Tomei o maior susto,
pensei que estivesse dormindo.
— Como sabe que estou acordada e te olhando? Você está com os olhos
fechados — indaguei, porque até agora não o vi abrir os olhos.
— Percebe-se pela sua respiração que está acordada — respondeu, ainda
sem abrir os olhos.
— Você não dorme? Só fica de olhos fechados?
— Essa noite foi a primeira vez depois de anos que dormi tranquilamente
— confessou, abrindo seus olhos e perdi-me na sua imensidão escura.
— Então dorme comigo todos os dias — Quando dei por mim, já tinha
falado besteira.
Ele me olha por um tempo e eu já espero as grosserias, mas como está
acontecendo sempre ultimamente, me surpreende e faz o oposto do que
pensei.
— Vou tentar, principessa[xx].
Ai meu Deus, ele me chamou de princesa, eu ouvi bem? Não entendo quase
nada em italiano, mas tenho certeza que é princesa que ele disse. Muito
bem, 1x0 para mim.
Parece que as coisas estão melhorando entre a gente e eu fico feliz, não me
julguem, sou casada com ele, não tem mais volta, tenho que fazer pelo
menos dar certo e não viver no inferno todos os dias. Também não vou
mentir, gostei de dormir com ele, eu gosto do nosso sexo e gosto ainda mais
quando ele é apenas o Rocco comigo e não o diabo, chefe da máfia.
— Isso já é o suficiente — respondi por fim, sentindo-me animada com a
possibilidade de estarmos avançando na nossa relação.
Sua mão apertou levemente a minha nuca e puxou-me para um beijo
ardente. Sua ereção dura roçou na minha barriga e perguntei-me como é
possível já estar pronto depois do sexo intenso de ontem?
— É… eu não aguento mais — confessei e o vi me olhar de um jeito
divertido. Rocco nunca sorriu abertamente para mim, não seria nada ruim
vê-lo sorrir, certeza que fica ainda mais lindo quando está feliz.
— Porque está com essa cara engraçada? É sério, preciso de um descanso.
— Tudo bem, vamos levantar e tomar nosso desjejum juntos, depois tenho
que resolver umas coisas, mas volto na hora do jantar — Encarei-o
embasbacada, achando engraçadinho e bonitinho ao mesmo tempo ele me
dando satisfações. — Vai ficar deitada aí, preguiçosa? Bora, levanta! —
ordenou, com o seu jeito mandão habitual.
2x0 para mim, meus amigos. Dormimos na mesma cama e vamos tomar
café da manhã juntos, sem contar que ele prometeu chegar antes do jantar.
Então posso computar mais um ponto, ficando 3x0 para mim?
Bom, vamos esperar. Não é bom contar vitória antes do tempo.
Levantei-me e fomos para o banheiro, fizemos nossa higiene matinal e
descemos para tomar café. Quando chegamos à mesa, encontramos Renzo
sentado, com uma cara engraçada.
— O que faz aqui a essa hora? — Rocco perguntou, não parecendo
satisfeito em vê-lo aqui.
— Bom dia para você também, fratello, bom dia, cunhadinha — Retribuí o
seu cumprimento. — E a essa hora nada, já são nove horas, quando foi a
última vez que você dormiu tanto? — Estreitou os olhos. — Ah, sim,
lembrei! Foi quando nasceu! — Riu, acabei sorrindo também. — Vejo que
as coisas estão indo bem entre vocês.
— Isso não é da sua conta — respondeu ao irmão rudemente.
Renzo não parece se importar com as grosserias dele, já deve ter se
acostumado.
— Então, Lua, está sabendo o que meu fratello aprontou para mim? —
Mudou o assunto, conversando agora comigo. Fiz um gesto em sinal
negativo, Rocco não conversa comigo sobre essas coisas, aliás, não
conversa sobre nada. — Ele destruiu minha vida, jamais o perdoarei por
isso.
Fez uma cara dramática que me deixou preocupada.
— O que aconteceu? — indaguei, curiosa para saber o que de tão grave
aconteceu.
— Esse infeliz aí, que é o seu marido, o querido Don — debochou. —
Arrumou-me um casamento.
— Ah! — Estou surpresa com essa informação, mas não é algo que não
fosse de se esperar, todos vamos nos casar mesmo. — Isso não é tão ruim,
né? Existem coisas piores no mundo, tenta fazer dar certo esse casamento,
vai ser melhor para vocês — disse por experiência própria, o pouco que
tenho vivido dentro de um casamento sei que viver em guerra é muito
desgastante.
Rocco olhou-me com sua expressão indecifrável e passou a mão no queixo.
Com certeza ele percebeu que o que eu quis dizer servia para nós dois
também.
— Entendi, cunhada, vamos ver o que isso vai dar, espero que ela morra
junto com o pai antes do casamento.
— Credo, Renzo! Que coisa horrorosa! — exclamei, arregalando os olhos.
Como ele pode pensar assim? Meu Deus!
— Dá ideia para esse idiota não! — Rocco se levantou. — Anda, Renzo,
levanta esse traseiro da minha cadeira, vamos trabalhar.
Renzo também se levantou, rindo. Aproximou-se de mim e deixou um beijo
carinhoso no topo da minha cabeça, se despedindo.
Surpreendendo-me novamente, Rocco se aproximou depositando um
selinho rápido em meus lábios.
— Te vejo de noite — prometeu, se despedindo e virou-se para sair.
— Rocco? — O chamei, fazendo-o parar na porta e me encarar.
— Sim?
Levantei e fui até ele, ficando na ponta dos pés e jogando-me em seus
braços, esmagando seus lábios com os meus, beijando-o deliciosamente.
Não irei passar vontade tendo esse homem na minha frente.
Afastei-me com um largo sorriso no rosto. Agora sim, nos despedimos
direito.
Assim que eles saíram, voltei a me sentar e terminei de comer. Descansei
um pouco e fui aproveitar minha sala de dança. O meu lugar preferido nessa
casa.
Capítulo 21

Não sou um cara romântico, na verdade, conheço pouco do amor e o que


conheço é o que minha família me deu. Meu pai permitiu que nossa mãe
nos amasse, coisa rara de acontecer em nosso meio, geralmente nossas
crianças, principalmente os meninos, não tem esse contato tão próximo com
a figura materna.
Nosso treinamento se inicia cedo, aos doze anos eu já havia matado mais
homens do que eu podia imaginar, já era um sanguinário.
Meu pai fez de tudo para que vivêssemos o mais normal possível até o dia
de iniciar nosso treinamento, desde pequenos já sabíamos que nossa
realidade era outra, nossa família não é tradicional, temos outros costumes.
Eu e meu irmão fomos criados para liderar a maior máfia da Itália.
Meu fratello é o meu braço direito, temos apenas um ano de diferença e
quando ele começou seu treinamento, eu já havia passado por muita coisa,
foi bom, consegui ajudá-lo bastante. Eu sou mais de agir na hora da raiva,
impulsivo e meu irmão é totalmente o oposto, centrado, calculista, por isso
ele se tornou um matador de respeito. É conhecido como a morte ou sombra
da morte e quando precisamos matar alguém que nos demanda tempo,
eficiência e de maneira discreta, o mandamos. Seu trabalho é sempre
executado com excelência.
Estamos a caminho de mais uma reunião com o Capo mexicano e ao que
tudo indica, ele tem a rota para pegarmos Claus, não vejo a hora de colocar
minhas mãos nesse bastardo. Claus já se escondeu por tempo demais, está
na hora de acabar com essa brincadeirinha de gato e rato.
— Então o casamento agora está a mil maravilhas? — sondou, meu fratello
é curioso.
— Apenas melhorando — desconversei. — Se vamos conviver a vida toda,
então que seja na paz. — Dei de ombros.
A verdade é que estou gostando de me entender com Luara e a noite de
ontem, junto com a manhã de hoje, foi incrivelmente agradável.
— Você está falando de paz, Rocco? — Começou a rir, desacreditado. —
Conta outra! — Continuou rindo, feito o idiota que é. — Está de quatro pela
Lua e nem se tocou ainda.
— Para de conversa fiada e me dê um cigarro — pedi, sem tempo e
paciência para essas conversinhas dele.
— Vai continuar ficando com Shantal? — Ele não se contentou e continuou
sondando.
Isso é outro assunto que tenho que resolver, mas não vou pensar nisso
agora, tenho problemas mais importantes para resolver.
— Não sei — respondi a verdade, estava confuso e não queria pensar em
nada agora.
Traguei o meu cigarro, soltando a fumaça pelo nariz.
— Eu não vou parar de ficar com Samantha quando me casar, fique ciente
disso — avisou.
Assim como eu, quando chegou a nova remessa de garotas para o bordel,
meu irmão se encantou por Samantha, ele também a tirou do prostíbulo e a
mantém como amante fixa. Entretanto, Renzo gosta mais dela do que eu
gosto de Shantal.
O sexo com Shantal é bom, mas não chega nem perto de mexer comigo ao
ponto de estar apaixonado por ela, o que acredito que meu irmão esteja,
perdidamente apaixonado por sua amante.
— Isso é um problema seu e da sua futura esposa, não tenho nada com isso.
— Quando eu lembro dessa merda, tenho vontade de socar a sua cara, seu
bastardo! — Bufou irritado.
— Para de chorar, Renzo, não tem mais volta, daqui um tempo você estará
casado e fim de conversa, quanto antes você aceitar, melhor vai ser.
— Beleza, não tenho outra opção mesmo. — Balançou os ombros. Espero
que agora entenda de uma vez por todas e pare com essa choradeira. —
Vamos na boate hoje de noite?
Temos várias boates espalhadas, mas nossa preferida é a Morar, gosto de lá,
do lugar, da bebida, da música, das mulheres, mas neste momento só tem
uma mulher povoando meus pensamentos.
— Vou chamar Luara, acho que ela vai gostar de se divertir.
— Ah, porra! — Bateu palma, gargalhando alto. — Sabia que estava
apaixonado!
— Foda-se!
Tenho vontade de socar a cara desse bastardo.
Começamos a reunião com o Capo, que foi mais longa do que imaginava.
Assim que saí de lá, liguei para Luara, avisando-a que às 22h passarei para
buscá-la, avisei que iríamos a uma boate minha e ela ficou toda animada
com a notícia. É bom vê-la assim, ela gosta de sair, de dançar, vai fazer bem
para ela se divertir um pouco. Aliás, acho que vai ser bom para nós dois,
ainda mais agora, nesse momento que estamos tentando selar a paz no
nosso casamento.
— Chame Alice — avisei a Renzo. Não estou conversando com a minha
irmã ainda depois do que aconteceu na inauguração.
— Vai tentar fazer as pazes, senhor malvadão? — Como sempre, não
perdeu a oportunidade de me zombar.
Minha irmã é meu amorzinho, não gosto de estar brigado com ela, mas às
vezes Alice faz de tudo para me tirar do sério, difícil segurar essa menina
sapeca.
Não retruquei a implicância de Renzo, qualquer coisa que eu falasse só
daria mais gatilho para que ele continuasse. Apenas mostrei o dedo do meio
e ele ri.
Capítulo 22

Fiquei toda animada quando Rocco me ligou avisando que íamos a uma de
suas boates hoje. Acho que assim como eu, ele também está tentando fazer
isso dar certo, eu quero muito que dê certo, que seja pelo menos um pouco
parecido com o casamento dos meus pais.
Escolhi minha roupa e passei uma maquiagem. Alice ligou avisando que
também vai e isso me deixou ainda mais animada. Pelo menos terei com
quem conversar e dançar, não quero passar a noite toda sentada ouvindo
assuntos chatos de mafiosos.
Olhei no relógio e vi que está marcando 22h em ponto, então desci, pois sei
que meu marido não atrasa e não tolera atrasos, não quero cutucar a fera
hoje, tenho que aproveitar enquanto ele está sendo “bonzinho”.
Ao chegar na sala, deparei-me com ele sem terno, usando uma camisa
social preta e uma calça jeans escura. Rocco fica maravilhoso de terno, mas
essa roupa, meu Deus, ele está sexy demais! Poderia facilmente confundi-lo
com um homem normal, nada de homem de negócios e muito menos
mafioso.
Nossos olhos se encontraram, ele tragou seu charuto, depois bebeu um
longo gole do seu uísque, deixando-o à mesa e o charuto no cinzeiro, andou
até mim de um jeito lento e ameaçador, observando-me como se fosse a sua
caça. Um arrepio percorreu todo o meu corpo.
— Algum problema? — perguntei, pois a maneira indecifrável que ele ficou
me encarando fez-me duvidar se está tudo bem entre nós dois, entretanto,
não me lembro de ter feito nada de errado para chateá-lo.
— Estou aqui pensando quantos homens terei que matar essa noite por
cobiçar minha linda mulher.
— Ah! — Soprei, sem saber ao certo o que falar.
Apesar de assustada com a sua maneira de falar, porque sei que é verdade,
ele não hesitaria em matar alguns homens por motivos que ele acha
aceitável. Confesso que também gostei da sua forma nada convencional de
me elogiar.
— Você está belíssima, borboletinha.
Espantei-me ao ouvir o apelido que meu pai e meu irmão me deram.
Livre para voar, era assim que eles me viam, infeliz engano…
— Como sabe desse apelido?
— Sei tudo sobre você, bella[xxi].
Puxou-me pela cintura e colou nossos lábios, dei passagem para que a sua
língua explorasse minha boca e aprofundamos o beijo.
Por mais que eu negue, ele me atrai fortemente. Mas admitir para ele será a
minha ruína, estarei me lançando no abismo que é a sua escuridão.
Afastou-se num rompante e pude ver um brilho, ainda não visto por mim,
em seus olhos.
— Vamos logo — Soltou minha cintura, dando um passo para trás. —
Renzo e Alice estão nos esperando. E se eu continuar aqui, não vou resistir,
terei que fodê-la.
Arfei, enchendo meus pulmões, ansiando por isso.
— Vamos — Finalmente consegui recuperar-me da sua fala.
Posso, pacientemente, esperar até chegar em casa para que faça o que falou.
Gostaria de saber quando fiquei tão devassa.
Durante o trajeto, ficamos em silêncio, não tínhamos assunto, não somos
um casal comum que conversa coisas aleatórias.
Chegamos na boate e é um lugar bonito, porém está muito cheio.
— Vamos para uma área mais reservada — comunicou, provavelmente
percebendo o meu desconforto.
Conforme caminhávamos pela multidão, um vão foi se formando, dando
passagem para Rocco, eu e os seus seguranças passarem. Pela maneira
como todos o olham, parece que é considerado um Rei. E talvez para eles,
ele seja.
Escutei um segurança informando para um homem que tentava subir que
essa área é reservada para os Caccini e seus amigos. Um sorriso debochado
se formou em meus lábios. E por acaso eles têm amigos?
— Lua, você chegou! — Alice se levantou e veio na minha direção. — Está
tão linda! — elogiou-me e eu retribuí o elogio, afinal, ela realmente é muito
bonita.
Alice vira o rosto e ignora descaradamente o irmão, o que me faz sorrir.
— Vai ficar me ignorando até quando? Vem cá, me dá um beijo — ele
pediu, puxando-a pelo braço. De começo ela se fez de difícil, mas logo
cedeu.
E quem pode julgá-la? Eu te entendo muito bem, Alice, é difícil resistir aos
encantos do seu irmão.
Cumprimentei Renzo e me sentei ao lado de Alice. Reparei que ela tem
muitas semelhanças com Rocco, mas Renzo é o mais diferente, os dois
puxaram a mãe, já ele, se parece com o pai.
Pedimos uma bebida e ficamos sentadas conversando, enquanto Rocco e
Renzo conversavam sobre negócios.
— Vamos dançar? — Alice me chamou — Eu amo essa música! — gritou,
animada.
— Vamos — respondi sem ponderar, eu amo dançar e me chamar para fazer
isso é como chamar uma criança para ir ao parque de diversões, como
recusar?
Rocco me encarou e por breves segundos e questionei-me se havia tomado
a decisão certa, mas como vir a uma boate e não dançar? Impossível. Ele
me deu um leve aceno com a cabeça e Alice me puxou pela mão.
Eu não estava esperando que ele autorizasse, eu só… bom, não era
submissão, eu só não queria brigar.
Dançamos umas três músicas e na quarta vi um homem se aproximando de
mim, acho até estranho porque ninguém aqui se atreveria a se aproximar
com o diabo sentado logo ao lado nos vigiando.
— Luara? — chamou-me pelo nome, o que me fez virar para encará-lo.
Virei-me e vi que era um conhecido do papai, já jantou lá em casa uma vez,
mas não me recordo o nome dele.
Como ele conseguiu me reconhecer com essa pouca iluminação e no meio
de tanta gente?
— Ah, oi — respondi um pouco nervosa. — Você por aqui? — Tentei
parecer o mais relaxada possível, mas meu corpo estava tenso.
— Sim, sou convidado de um amigo do Renzo — explicou vagamente. —
O que faz aqui?
— Estou com meu marido, Rocco — Já deixei avisado que era o próprio
diabo para não termos problemas.
— Você casou? — Torceu o nariz. — Que pena — Sorriu, parecendo
malicioso. Não me lembro de ter visto essa malícia nele no dia que jantou lá
em casa. Talvez eu não tenha maldado ou só esteja fazendo isso porque
bebeu.
— Lua, vou ao banheiro — Alice avisou e se afastou, sem me dar tempo de
responder. Iria me oferecer para ir junto, mas ela já estava um pouco
alterada e nem notou a presença do homem.
Péssima hora para ela sair. O cara, cujo nem o nome eu lembro, se
aproximou e eu recuei um passo.
— Sabe, sempre te achei lindíssima, é uma pena que seu pai nunca me
permitiu chegar perto de você, agora entendo o porquê — O cheiro de
álcool está bem forte e dá pra perceber o quanto está alterado — Vamos
marcar de nos ver algum dia, fora daqui.
— Já disse que sou casada, não tem como — Virei-me para sair dali, mas
ele puxou o meu braço, pegando-me totalmente desprevenida e bateu seus
lábios com força contra os meus.
Espalmei as mãos no seu tórax, empurrando com força. O gosto metálico na
minha boca era forte e acredito que tenha cortado por conta do impacto.
Mãos fortes me puxam, jogando-me com força para trás e tenho que firmar
meus pés no chão para não cair.
Rocco segurou o homem pela camisa e acertou vários socos no seu rosto.
As pessoas à nossa volta ficaram encarando, mas ninguém se meteu, se ele
continuar batendo desse jeito, vai matá-lo.
Aproximo-me de Renzo.
— Faz alguma coisa, ele vai matá-lo! — pedi, muito nervosa com toda essa
situação. O homem já estava mole, com o rosto todo ensanguentado e
Rocco não parava de golpeá-lo.
— Não posso me meter, Luara — Deu de ombros, deixando claro que não
estava nem aí para toda essa situação.
Sem outra saída, aproximei-me de Rocco e tentei segurar em seus braços.
— Rocco, para, por favor, você vai matá-lo na frente de todo mundo! —
gritei desesperada, mas ele não parou e quando ia golpeá-lo novamente,
acabou acertando o meu braço e me arremessando para longe, mas eu não
caí porque fui amparada por Renzo.
Isso o fez parar e assim que largou o homem, ele caiu no chão, parecia
morto e isso me deixou ainda mais apavorada.
— Leve esse verme daqui — ordenou, olhando diretamente para o Renzo.
—E o restante, todos vocês, fora! Saiam daqui agora! — gritou.
Como todos estavam assustados, saíram correndo, acatando a ordem do
Diabo.
Alice reapareceu do nada, sem entender nada do que tinha acontecido,
olhando de um lado para o outro. Um segurança a segurou pelo braço e a
tirou daqui, junto com os outros convidados.
Quando dei por mim, só estávamos nós dois, ou melhor nós três… eu,
Rocco e o ódio que estava visível em seus olhos.
Capítulo 23

Seus punhos estavam fechados e os seus olhos não paravam de me encarar,


evidenciando toda a sua fúria. Conforme ele foi se aproximando, minha
respiração foi ficando acelerada e eu recuei. Sim, eu estava com medo e os
meus olhos não escondiam isso.
— É disso que você gosta, Luara? De chamar atenção? — cuspiu as
palavras com desprezo e foi se aproximando mais. — Você gostou do beijo
que aquele desgraçado te deu?
Sua voz é terrivelmente horripilante e eu estou muito assustada.
— O que? Claro que não! — Tentei manter a minha voz o mais firme
possível, mas devido ao nervosismo, não consegui.
Bati as costas na parede, o que me dizia que não havia mais para onde
recuar. Seu corpo enorme e másculo formou uma parede na minha frente.
— Então porque você retribuiu o beijo? Disgrazia! — gritou tão alto que
eu tremi. Fechei os olhos ao ver seu punho fechado se levantar e abri ao
escutar o barulho ao meu lado, vendo que ele havia socado duas vezes a
parede.
— Eu não retribuí, pelo amor de Deus, eu não retribuí beijo nenhum! —
rapidamente me expliquei. — Ele me pegou desprevenida, eu estava
tentando empurrá-lo quando você se aproximou. — Não vou assumir uma
culpa que não é minha.
Tenho medo do que ele possa fazer comigo, tanto medo que meu estômago
embrulhou e minhas pernas se tornaram gelatinas, me manter de pé agora
era uma missão difícil na qual eu preciso cumprir. Se eu demonstrar tanta
fraqueza assim diante dele, ele fará o que me quiser comigo.
Um sorriso claramente nervoso e sarcástico se formou em seu rosto. Passou
a mão pela barba, coçando-a. Sei que está tentando se controlar.
— Sabe, Luara, o seu problema é não saber com quem se casou, você pensa
que pode me desafiar a todo momento, seja com palavras ou atitudes, mas
você sabe que isso não está certo, não sabe? E que para toda ação, tem uma
reação — Encurralou-me na parede, pressionando o seu corpo contra o
meu. — O que eu vou fazer com você depois disso, hein? Seria considerado
traição? — Meus olhos se arregalaram. Ia abrir a boca para me defender,
mas ele continuou: — Sabe o que acontece com mulheres traidoras? Você
sabe? — gritou. — Claro que você sabe. — Abriu um pequeno sorriso no
canto da boca.
Meu coração estava batendo tão rápido que tive medo de parar a qualquer
momento.
Sei bem o que acontece com mulheres infiéis, nós não temos direito de trair,
apenas de levar chifre. Se caso uma mulher na máfia é descoberta sendo
infiel ao seu companheiro, ele deve matá-la na frente de todos, para manter
o respeito.
— O quê?! — exclamei, aturdida. — Eu não fiz nada, eu não traí você!
Todos que estavam perto viram que foi ele que me agarrou. Você estava
olhando, sabe que eu não fiz nada. — Um nó se formou na minha garganta
e senti minhas vistas embaçarem pelas lágrimas. — Você não pode fazer
nada comigo, eu não fiz nada. Você não pode fazer nada comigo, ouviu? Eu
não fiz nada! — Distribui socos pelo seu peito, chorando e me
desesperando. Ele não podia ser tão mau, não podia fazer isso comigo, era
muita crueldade.
— O que eu faço com você, Luara? — Seu tom de voz agora era mais
brando. Seus dedos adentram os meus cabelos, formando um nó na sua mão
e deu uma leve puxada, erguendo o meu rosto.
— Eu não tive culpa — solucei. — Foi ele quem me beijou — repeti o que
já havia falado. — Não pode me punir por algo que eu não fiz. Isso é
perverso!
— Eu posso fazer o que eu quiser — Infelizmente eu sei disso, ele pode
fazer o que quiser comigo e eu serei só mais entre tantas a ter um triste fim.
Senti sua respiração próxima e encarei os seus olhos, tão próximos dos
meus. — Você me enlouquece, bambina — confessou. — Faz-me agir
irracionalmente. Não sei o que você está fazendo comigo. — Surpreendi-
me com a sua confissão.
— Não me faça mal — pedi, mas já não estava com tanto medo quanto
antes. Acho que o suavizar da sua expressão raivosa e do seu tom de voz
grosseiro, deixou-me mais confortável. — Eu nunca trairia você. — Tomei
a liberdade de tocar seu rosto e ele não recuou.
— Fiquei louco ao te ver colada naquele maledetto. Quando estivermos em
um local assim, não saia mais de perto de mim, entendeu? — Assenti,
incapaz de falar mais alguma coisa. — Não sinta medo de mim. — Tocou o
meu rosto com a sua mão enorme.
— Eu senti — admiti.
— Eu sei.
— Mas não estou sentindo mais. Você não me machucaria, não é?
Ele ficou em silêncio, encarando-me com um olhar tranquilo e palavras não
eram mais necessárias, Rocco não me machucaria.
— Luara, eu preciso de você.
Pisquei algumas vezes, um pouco confusa com o que ele estava dizendo,
mas entendi quando os seus lábios esmagaram os meus, reivindicando a
minha boca com fome. Passou a língua onde estava cortado em meus
lábios, lambendo o pouco de sangue que ali estava.
Não sei o que está acontecendo comigo, mas me perco perto desse homem.
Ele passou as mãos pelo meu corpo sem parar de me beijar, levantou meu
vestido e eu me assustei.
— Rocco, tem gente lá embaixo, alguém pode entrar aqui e nos ver —
alertei-o de uma possível exposição.
— Ninguém vai entrar aqui e eu preciso de você agora — Voltou a atacar
minha boca. — Jamais te submeteria a uma exposição — garantiu — Nunca
deixaria alguém ver o que é meu, só meu. — Esmagou os meus lábios,
adentrando sua língua e aprofundando o beijo.
Seus dedos se encaixam na minha calcinha, puxando-a para o lado e com a
outra livre abriu o zíper da calça. Levantou-me com apenas uma mão, sem
qualquer dificuldade, passei as pernas envolta da sua cintura e ele encaixou
o seu membro rijo na minha entrada, invadindo-me pouco a pouco,
alargando-me com a sua espessura. É uma ardência gostosa, que me faz
gemer o seu nome.
— Ah, Rocco! — ofeguei.
Seus olhos sombrios brilharam em excitação.
— Gostosa — provocou-me, mordendo o meu lábio inferior. — Você é
minha, só minha, toda minha! Cazzo! — A cada gemido, investia mais forte
em mim, levando-me à loucura com as suas metidas cada vez mais furiosas.
Minhas costas bateram na parede e sua mão enorme puxava os meus
cabelos, enquanto a sua boca continuava a devorar a minha. Sua mão
desceu, indo parar nos meus seios, apertando-os, causando um atrito
gostoso.
Não consegui me controlar e gemer baixo, acabei gritando o seu nome
enquanto explodi num orgasmo arrebatador. Senti seus jatos quentes
jorrarem dentro de mim, avisando que ele também chegou ao clímax.
Foi rápido, mas intenso, bruto e muito, muito gostoso.
Continuamos aqui quietinhos, estou pendurada no seu pescoço e ele não
pareceu se importar nem um pouco com o meu peso.
— Vem, vamos ao banheiro nos limpar — quebrou o silêncio.
Desceu-me com cuidado do seu colo e se ajeitou antes de irmos para o
banheiro, eu fiz o mesmo. Limpei-me como deu e tentei ajeitar a bagunça
que ele fez em mim da melhor maneira possível.
Assim que saí do banheiro, vi todas as pessoas de volta e elas não parecem
sequer lembrar do que aconteceu instantes antes, da gritaria e confusão. O
que eu posso falar? Também me esqueci disso quando estava perdida em
seus braços.
Olhei ao redor e o encontrei sentado no sofá fumando e bebendo junto com
o irmão e Alice está ao seu lado. O semblante tranquilo de Rocco deixou-
me embasbacada, como ele pode agir como se nada tivesse acontecido?
Como se não tivéssemos acabado de transar nesse lugar.
Senti meu rosto esquentar só de pensar. Respirei fundo e caminhei até eles,
tentando agir normalmente, igual a ele.
— Tudo bem, Lua? — Alice perguntou, com um semblante preocupado.
Apenas dei um leve aceno de cabeça, confirmando que estava tudo bem.
— Senta aí, cunhadinha — Renzo chamou-me e apontou para o sofá. —
Vamos curtir o restante da noite.
Ia me sentar, mas Rocco puxou-me pelo braço, fazendo-me cair sentada no
seu colo. Fiquei sem reação com essa atitude dele. A todo momento suas
ações confundem a minha cabeça, ele é muito contraditório.
Já estava me sentindo tonta, achei melhor parar de beber, não queria ficar
bêbada na primeira vez em que saímos juntos, já chega de emoção por hoje.
Alice sumiu na pista de dança e eu continuei aqui sentadinha no colo de
Rocco, conversando com Renzo. Minha cunhada é terrível, ela sempre dá
um jeito de sumir das vistas dos irmãos e eu a entendo bem, é horrível se
sentir vigiada a todo tempo, dá uma sensação de sufocamento apavorante.
— Quer beber o que agora? — Renzo indagou, já de pé, pronto para pegar o
que eu pedisse.
— Água.
— Água? Já está bêbada? — Riu — Não acredito! — zombou de mim um
pouquinho e foi pegar o que pedi.
— Você está bem? — Rocco perguntou.
— Sim. Só quis parar de beber um pouquinho, não quero ficar bêbada hoje
— expliquei.
— Quer ir para casa?
— Não. Quero outra coisa — falei rindo, de um jeito safado, mordendo o
meu lábio inferior.
— O que?
— Um beijo — pedi e o vi abrir um pequeno sorriso.
Rocco não se opôs ao meu pedido e me beijou deliciosamente, deixando o
meu corpo todo quente com apenas o seu jeito sensual de me beijar.
— Vão transar em casa! — Ouvimos a voz de Renzo, bufando atrás de nós
e nos paramos de beijar.
Encostei a cabeça no seu ombro, escondendo o meu rosto, envergonhada.
— Cazzo! — Rocco xingou, nem um pouco satisfeito com a intromissão do
irmão. Eu ri.
Confesso que acho sexy quando ele fala em italiano.
— Trouxe a sua água — Entregou-me a garrafa e logo atrás dele vi uma
moça bem bonita.
— Boa noite, senhora Caccini! — cumprimentou-me educadamente.
— Boa noite! — Devolvi gentilmente o cumprimento. — Qual o seu nome?
— Samantha.
— Ah, sim! Prazer em conhecê-la, Samantha!
A moça sorriu e se sentou no colo de Renzo e em poucos segundos ambos
ficaram se agarrando.
— Nem liga — Rocco avisou, tragando o seu cigarro.
— Boa noite, senhores! — Ouvi uma outra voz nos cumprimentar.
Só que dessa vez eu reconheço essa voz. Olhei para o lado e vi a loira
parada ali, a amante do meu marido. Ótimo, que noite perfeita! Não tinha
como ficar melhor, uma noite cheia de emoções.
Ninguém falou nada e o clima ficou pesadíssimo.
— Boa noite! — Decidi responder e todos me encararam.
— Samantha, eu vim trazer seu celular que você esqueceu comigo —
Entregou o aparelho para a menina que estava no colo de Renzo, virou as
costas e saiu, tão rápido quanto chegou.
— Vou resolver um negócio e já volto — Rocco tirou-me do seu colo e se
levantou.
Ele vai atrás dela? Não acredito! Não teria coragem de fazer isso comigo?
Teria? Não é possível!
Fiquei paralisada, encarando-o sumir, indo na mesma direção que ela foi. E
como eu já suspeitava, ele a puxa pelo braço e os dois somem do meu
campo de visão.
Engulo em seco, é muita humilhação para uma pessoa só.
A acompanhante de Renzo me encarou e vejo um leve sentimento de
compaixão, que logo desapareceu quando um sorriso debochado se
destacou em seu rosto. Esforcei-me para não voar nela, afinal, ninguém
além do meu digníssimo esposo tem culpa disso.
Eu é que não vou ficar fazendo esse papel de trouxa. Peguei minha bolsinha
e vou embora com o restinho da dignidade que ainda me restou.
— Onde você vai? — Renzo segurou o meu braço.
— Para casa, onde mais eu poderia ir? — Ri ironicamente, segurando-me
para não chorar.
— Ele pediu para esperar aqui.
— Não vou ficar aqui, Renzo. Você não acha que é humilhação demais? —
Não respondeu. — Para mim essa noite já deu, só quero ir para casa e
descansar — Suspirei, bastante chateada.
— Deixa que eu te levo, então.
— E vai deixar a menina aí sozinha? Não precisa.
— Faço questão, Lua, vamos achar Alice, levo você e depois ela para casa.
— Tá bom.
Afastou-se indo até a menina, falando algo que ela não curtiu muito em seu
ouvido e depois voltou até onde estou. Procuramos por Alice, que estava
perdida dentro dessa boate imensa. Após algum tempo procurando, a
encontramos na pista de dança, bem bêbada e dançando como se não
houvesse amanhã. Renzo explicou para ela que já era hora de ir para casa,
ela xingou ele algumas vezes, mas por fim acabou aceitando.
Ninguém disse nada durante o trajeto, Alice já está dormindo no banco de
trás e Renzo não comentou nada sobre o que aconteceu. E nem vai. Ele
jamais falaria qualquer coisa do irmão.
— Até mais, Lua — despediu-se, me deixando na porta de casa.
— Até mais. — Estava me virando para entrar quando ouvi a sua voz me
chamar, olhei-o de soslaio.
— Fica bem, tá bom?
Assenti e entrei sem responder nada, não conseguia falar, o choro estava
embargado na minha garganta. Assim que fechei a porta, permiti-me chorar.
Estou sentindo uma dor tão forte no peito.
Quando foi que eu comecei a me importar com aquele ser desprezível?
Porque dói tanto imaginar que ele prefere a outra do que eu?
Que raiva! Eu sou muito idiota mesmo!
Capítulo 24

Tomei um banho quente, enquanto chorava ridiculamente no banheiro. Eu


deveria estapear minha cara por estar chorando por causa daquele homem.
Agora estou aqui deitada pensando na loucura que minha vida se tornou.
Não sei o que estou sentindo e nem a partir de quando comecei a sentir algo
por ele, mas sei que estou sentindo. Senti-me muito mal quando ele foi atrás
daquela mulher e me deixou ali de lado.
Sua amante chegou antes de mim em sua vida, como também sei que pelas
regras, jamais poderiam se casar, mas nada impede de nutrirem sentimentos
um pelo outro, até porque ninguém é capaz de mandar no coração do outro.
Já imaginaram como é ruim ser casada obrigada com um homem e que esse
homem ainda seja apaixonado por outra mulher? É tão doloroso!
Jurei para mim mesma que jamais me submeteria a sofrer pelo diabo, muito
menos que o deixaria entrar no meu coração. E olha só agora, estou
chorando e sofrendo por ele. Quão burra eu sou?
Fiz de tudo para não gostar, para não desejá-lo, para não ser tão fraca…
onde foi que eu errei?
— Luara, abre a porta! — ordenou, girando a maçaneta da porta.
Tranquei-a para que ele não entrasse aqui, não quero ter que olhar na sua
cara, muito menos deixar que perceba que isso me afetou mais do que o
necessário.
— Se você não abrir a porta eu vou arrombar! — Deu mais um soco forte.
— Não me faça perder a paciência com você! Abre a porra da porta! —
Continuou socando e pelo seu tom de voz, estava terrivelmente nervoso. O
que chega a ser engraçado, porque quem deveria estar irritada sou eu, e
bom, eu estou, bastante. — Beleza, te dei uma chance da gente conversar
por bem, você não quer, então vai ser do meu jeito mesmo.
Decido que é melhor abrir. Levantei correndo e abri antes que ele a
derrubasse.
— Porque você foi embora? — perguntou, entrando no meu quarto sem
autorização. — Eu disse para me esperar lá! — vozeou se aproximando e eu
me sentei na cama, fingindo uma falsa calmaria. — Estava chorando? —
Segurou o meu queixo, levantando a minha cabeça e fazendo-me encará-lo.
— Acho que bebi demais — menti descaradamente olhando em seus olhos.
Acho que a convivência está começando a me afetar.
— Não minta para mim, ragazza — Ajoelhou-se na minha frente e
encaixou seu corpo enorme no meio das minhas pernas, fazendo-me abri-las
bem para acomodá-lo. — Você está assim porque fui atrás dela, não é? —
perguntou o óbvio e eu tive vontade de gargalhar e depois estapear a sua
cara, mas me segurei, permanecendo em silêncio. — Mas não é nada do que
você está pensando.
— O que eu estou pensando, Rocco? — Não pude evitar o deboche em meu
tom de voz. Estava furiosa e machucada.
— Que fui atrás dela por preferi-la, o que não é verdade, você é minha
esposa.
— Então porque foi atrás dela? — Talvez eu não quisesse saber a resposta,
pode doer muito mais ouvir da sua boca, mas é inevitável não perguntar.
— Queria saber o que ela estava fazendo ali.
— Você se importa muito com ela — Sorri, odiando-me por constatar o que
era óbvio.
— Não. — Não hesitou em responder. — Me importo com você! —
afirmou convicto e por alguns instantes quase acreditei. — Ela sabe que não
deve estar no mesmo local em que nós dois estamos e mesmo assim foi lá.
Apenas quis deixá-la avisada para isso nunca mais acontecer. Sabe que não
tolero desobediências — justificou-se.
É tão ridículo ele estar se explicando sobre a amante, mais ridículo ainda é
eu me contentar com essa explicação.
— Será que foi apenas isso? Porque não foi o que me pareceu.
— Nem sempre o que parece é, você não pode tirar conclusões precipitadas.
— Justo você falando isso? — Ri, com meu sangue fervendo de raiva. —
Parece engraçado, não acha? Já que você tirou as suas também.
Ele ficou em silêncio, encarando-me por alguns segundos e se levantou.
— Boa noite, Luara! — despediu-se, saindo do quarto.
— Ela é importante para você? — Arrependi-me no instante em que fiz essa
pergunta.
Mordi o canto da boca, segurando-me para não chorar. Fiz uma pergunta
idiota e agora devo aguentar as consequências da resposta.
— Você quer a verdade? — indagou, formando um vinco na testa.
— Quero.
— Ela era importante sim, foi a mulher que eu mais tinha gostado de ir para
cama — Meu coração se comprimiu. Isso doeu, caramba, doeu bastante. —
Mas algo mudou — Deu dois passos longos para frente, aproximando-se
novamente de mim. — Desde que você chegou, algo mudou e tem dias que
eu não a vejo, por isso ela foi até lá. Eu não sei o que você está fazendo
comigo, Luara — Pareceu hesitante com o que ia falar. — Só consigo
pensar em você.
Suspirei. Isso foi… paliativo.
— Então porque ela ainda existe na sua vida?
— Não existe mais, bambina, estou te falando que não estive mais com ela
— Puxou o ar com força, parecia cansado. — Não tenho porque mentir.
— Então você está me dizendo que vai ser só meu? — Mordi a língua,
evitando um sorriso bobo.
— É isso que você quer? — Assenti. — Então sim, serei só seu.
— Está falando sério?
Preciso ouvir com clareza para acreditar.
— Sim. Sabe de uma coisa? — Pareceu lembrar de algo engraçado e sorriu.
— Nunca gostei de beijar antes, você foi a primeira que me despertou esse
desejo. Tenho sentimentos por você, ainda confusos e desconhecidos, mas
tenho — confessou.
— Não beijava?
— De tudo que falei, só se atentou a isso? — Balancei a cabeça
confirmando e ele abriu um pequeno sorriso no canto da boca.
Lembrei-me da primeira vez que ficamos juntos e realmente ele não me
beijou.
— Não beijava ela? — Precisei perguntar ou então me sufocaria de tanta
curiosidade.
— Não, bambina, só a sua boca me atrai. — Abri um largo sorriso, era
ridículo, eu sei, mas não pude evitar. — Agora pare de fazer perguntas e
vem me beijar, vem.
Não precisou chamar duas vezes, nem pensei, apenas fui. Joguei-me em
seus braços e esmaguei seus lábios com os meus.
É loucura, mas não posso mais negar, é inevitável, estou gostando do diabo.

UMA SEMANA DEPOIS


Minha relação com o meu marido está indo bem, na medida do possível.
Ainda nos desentendemos por questões bobas, ele é um homem controlador
e possessivo e por isso ainda quer me privar de algumas coisas, mas sei que
aos poucos posso ir domando-o sem que perceba. Com jeitinho estou
conseguindo algumas coisas dele, não posso dizer que estou vivendo 100%
bem e feliz, mas já avancei bastante, a minha intenção agora é só progredir.
Ana, minha ex-professora de dança, tem me mandado uns vídeos por e-mail
e eu estou treinando em casa as coreografias novas, eu amo dançar, desde
nova sempre tive essa paixão, mas Rocco não permite que outras pessoas
me vejam dançando. Só agora eu entendo porque nunca pude participar de
uma apresentação como as outras garotas, era sempre ele proibindo e eu
pensando que era loucura e chatice do meu pai, mas era ele, sempre foi ele
mandando na minha vida, até quando não sabia da sua existência.
Continuei tomando meu remédio, por mais que estejamos nos dando bem,
não quero engravidar, sei que estou presa a ele para sempre, mas não quero
colocar uma criança nesse meio, fico pensando que ser for um menino, ele
passará por todo treinamento e se for menina ela terá que se casar sem
amor, como eu e tantas outras do nosso meio. Colocar um filho no mundo é
responsabilidade demais e, dentro da máfia, é pior ainda.
A Alice é a única garota que conheço que ainda não se casou, geralmente
nos casamos antes dos 20 e ela ainda não está prometida a ninguém, mas
acredito que isso não vai ser mantido por muito tempo, andei ouvindo
algumas conversas e parece que o conselho já está cobrando, eles sabem
que não poderão evitar e ela também sabe disso.
Ainda sonho com a minha liberdade que eu sei que nunca vai chegar, mas
não custa nada sonhar.
Tenho que me contentar com o que tenho agora, esse é meu destino, por
mais que possa parecer chato e repetitivo essa minha reluta, tentem
entender, não é fácil ser casada com um homem igual ao meu marido.
Ele tem vindo para casa todos os dias, acredito que não esteja mais vendo a
outra como me prometeu, e no fundo isso tem despertado em mim um
sentimento de satisfação, entretanto, tenho medo de estar me apaixonando.
Ainda não sei o que sinto no momento, talvez eu já esteja apaixonada e não
queira admitir.
— Achei que estava dançando — Entrou na minha sala de dança, tirando-
me dos meus pensamentos.
— Estava, mas parei para descansar um pouco — expliquei.
— E estava pensando no que?
Bufei, até na minha mente ele quer entrar. Deus me livre!
— O que você faz em casa tão cedo? — Devolvi a sua pergunta com outra,
tentando mudar o rumo da conversa.
— Vim te avisar que iremos viajar.
— Viajar? Para onde? — Animei-me.
— México, vamos para o noivado de Renzo.
— Mais já?
Pensei que ia demorar para isso acontecer, pelo que Renzo falava, ele
também acredita nisso.
— O pai da garota não está muito bem, temos que adiantar as coisas.
— Seus pais vão?
— Não, apenas nós dois e o meu irmão.
— Ah, sim! — Se os pais dele fossem, Alice também iria. — Por que Alice
não vai?
— Porque só iremos a gente, Luara, vai se arrumar vai e para de fazer tantas
perguntas — respondeu impaciente e decidi não fazer mais perguntas.
Meu marido como sempre ignorante, já estou até me acostumando com
isso.
Dei língua para ele e me levantei.
— Você deu língua para mim, sua atrevida? — Pude ver um pequeno
sorriso em seus lábios.
— Eu não, até parece que eu faria tal coisa.
— Abusada! — Aproximou-se rapidamente e agarrou minha cintura,
colando nossos corpos. — Sua sorte é que estamos atrasados — Enfiou a
cabeça no meu pescoço, cheirando-me.
— Estamos é? — perguntei manhosa, já sentindo-me mole em seus braços.
Era péssimo, mas sentia-me bem ali.
— Sim, mas quando chegarmos lá você me paga — prometeu, beijando-me.
Sua promessa faz-me ansiar que cheguemos logo no destino.
Não estou falando? Quando estou perto desse homem, não raciocino direito
e tudo que penso é em nós dois pelados, transando loucamente.
Capítulo 25

Estou tendo muitos problemas com Claus, esse figlio di puttana está
interferindo cada vez mais nos meus negócios e enquanto não pôr as minhas
mãos nele eu não irei descansar, não posso permitir que esse maledetto
continue me atrapalhando. Quando eu pegar ele, tenho certeza que vai se
arrepender amargamente por entrar no meu caminho.
Resolvemos ir para o México, vamos adiantar as coisas do noivado de
Renzo, o pai da menina não está nada bem e não posso deixá-la à própria
sorte, mas não estamos indo só para isso, irei também para obter mais
informações e conseguir pegar o infeliz o mais rápido possível.
Não ia levar Luara, mas ela só fica trancada dentro de casa e como estou
com muitas coisas para resolver não consigo sair com ela, decidi levá-la
para que se divirta um pouco, acho que vai ser bom. Nos aproximamos
bastante nesses últimos dias, ela é uma ragazza linda, fogosa e encantadora,
impossível não se encantar.
Meu irmão jurou que estou apaixonado, mas não acredito que seja isso, é
apenas a convivência, já que estaremos ligados para sempre, temos que nos
dar bem, estou fazendo o possível para nos entendermos.
Shantal vive me ligando, eu a dispensei, mas ela me liga chorando, falando
o quanto me ama e que não se importa em ser amante, mas o problema não
é esse. Eu não sinto mais vontade de estar com ela, Luara me completa
dentro e fora da cama, ela é tão receptiva e acredito que logo teremos um
herdeiro, estamos treinando muito para isso. É o que todos esperam do Don,
preciso de herdeiros, dar continuidade ao meu legado, e quanto antes isso
acontecer, melhor vai ser.
Mas antes disso tudo, eu preciso tirar esse verme do meu caminho. Além de
só estar me atrapalhando, ainda é uma grande ameaça para minha família,
não posso permitir que nada de ruim aconteça com os meus.
— Pensando em que? — meu irmão perguntou, sentando-se ao meu lado
dentro do nosso jato a caminho do México.
— Precisamos pegar o Claus logo.
— Concordo, esse cara já nos trouxe problemas demais.
Assenti e decidi mudar o rumo da conversa, Claus era um assunto que me
irritava profundamente.
— Animado para o seu noivado? — Abri um pequeno sorriso, debochando
do meu querido irmão.
— Vai se foder, Rocco! — rezingou, irritadíssimo.
— Já viu alguma foto da menina? — questionei.
— Não, mas do jeito que tenho sorte, aposto que é horrorosa. — Ri do seu
desespero. — A culpa dessa merda toda é sua!
— Não posso fazer nada. São compromissos com a máfia, você tem que
cumprir. Eu cumpri o meu sem ficar chorando igual um bebê.
— O seu não foi difícil, não é, fratello? Lua é linda! — Encarei-o sério,
apesar de não sentir ciúmes do meu irmão, meu lado possessivo detesta
ouvir outro homem a elogiando. — Qual é, Rocco! — Pareceu se ofender.
— Sei que ela é sua, jamais olharia para ela dessa maneira, estou apenas
elogiando.
— Então não elogie mais — Levantei-me, encerrando essa conversa e indo
para o quarto em que ela está deitada.
— Vá para o inferno! — Mostrou-me o dedo do meio e eu ri.
Entrei no quarto e a encontrei dormindo serenamente, os cabelos negros
estavam espalhados pelo lençol branco e seus lábios estavam entreabertos.
Luara é muito linda!
Aproximei-me com cuidado para não acordá-la e me deitei atrás dela,
abraçando-a.
— Hum, que delícia! — ronronou. — Gosto de dormir assim com você —
confessou, bem baixinho.
— Eu também gosto — também confessei.
Tenho dormido todas as noites com ela e isso tem me feito um bem danado,
pois consigo facilmente descansar algumas longas horas ao seu lado, coisa
que era raro.
— Então fica deitado aqui comigo — pediu, sonolenta por conta do
remédio que tomou antes de embarcarmos, já que ela me disse que não
gosta muito de viajar de avião.
— Fico — Abracei-a mais apertado. — Agora descansa que já estamos
chegando.
Ela se aconchegou mais em meus braços e sua respiração foi suavizando,
mostrando-me que já havia voltado a dormir.
Não sei o que essa garota tem, mas a cada dia que passa sinto mais vontade
de estar perto dela. Essa ragazza é um perigo, me sinto cada dia mais
envolvido pela minha própria esposa. Cazzo!
Capítulo 26

Chegamos no México e não tivemos tempo para nada, apenas nos


arrumamos e viemos para o jantar de noivado de Renzo, achei que fosse
algo mais simples, mas tem muita gente aqui.
Estou cansada, apesar de ter dormido a viagem inteira por conta do
remédio, ainda sim sinto meu corpo cansado.
— Por que tanta gente? No nosso tinha menos — comentei com Rocco.
— Nossas máfias já tinham um acordo, o nosso casamento foi só a
confirmação da união. Mas essa estou firmando agora, é necessário que seja
algo grandioso e com mais membros para que todos saibam dessa fusão —
explicou.
— Entendi, então estão todos aqui como testemunhas da união das duas
máfias?
— Exatamente. Vamos firmar essa união perante todos os membros das
máfias aliadas. Quando Renzo se casar com ela, ele passará a ser o Capo da
máfia mexicana.
— Ele vai vir morar aqui então?
— Ele não quer vir, entretanto, duvido muito que conseguirá alguém de
confiança para comandar aqui no seu lugar. Sem contar que deve ser
exaustivo ficar viajando o tempo todo entre a Itália e o México.
Decido não fazer mais perguntas, não entendo direito das leis da máfia
mesmo, só sei o essencial.
— Boa noite, Don, boa noite, senhora, é um prazer inenarrável revê-la! —
Aquele mesmo homem do dia do ateliê de Alice nos cumprimenta. Como é
mesmo o nome dele? Busquei na memória, mas não consegui me lembrar.
Lembro apenas que é o Capo da máfia Alemã.
Enzo… lembrei, esse é o nome dele!
— Boa noite! — Devolvi o cumprimento cordialmente. Rocco não falou
nada e senti um clima estranho.
— Está mais bela desde a última vez que te vi naquele catálogo — Sorriu.
Filho de uma… de uma… não, eu não vou ofender a mãe dele que não tem
nada a ver com isso.
Mas ele tinha que lembrar disso?
Olhei para o meu esposo, procurando algum sinal que me dissesse que ele
irá ignorar isso e que não vamos brigar novamente. Contudo, ele está com a
cara muito fechada… prevejo tempestade.
— Enzo, grande Capo — falou ironicamente. — Sugiro que pare de cortejar
a minha esposa, não estou nos meus melhores dias, meu humor está
péssimo — meu marido o repreendeu.
— Querido Don, eu não estou a cortejando e sim elogiando a grande beleza
da sua esposa — retrucou, parecendo não sentir um pingo de medo de
Rocco.
Esse cara tem medo de morrer não, gente? Pelo amor de Deus, alguém cala
a boca desse homem!
— Não a elogie mais. — Deixou avisado. — Está na hora de arrumar uma
esposa, não acha? — Ao mencionar um possível casamento, o Capo da
máfia alemã fechou o semblante e o sorriso debochado que estampava o seu
rosto, já não existia mais.
— Com todo respeito, Don, mas isso não é da sua conta.
— Talvez não — Ambos travaram uma batalha visual — Mas terei que
comentar sobre no conselho, acredito que você é o único Capo solteiro —
Rocco continuou a provocá-lo. — Os membros do conselho devem
concordar comigo que está na hora de você se casar e ter filhos.
— Como sempre, você tem razão, Don. Isso me fez lembrar da sua irmã,
ela ainda está solteira, não é? Uma mulher incrivelmente bela! — revidou a
implicância.
Rocco fechou os punhos e foi para cima de Enzo, mas graças a Deus, Renzo
chegou a tempo de segurá-lo.
— Não caia nas implicâncias desse cara, Rocco, não estrague as coisas. —
Renzo o aconselhou.
— Escute o seu irmão, ele sabe o que diz. — Enzo piscou, abrindo um
pequeno sorriso e se retirou.
Soltei a respiração, aliviada por ele ter saído antes de acontecer uma
tragédia.
— Queria enfiar uma bala na cabeça daquele maledetto! — Rocco
vociferou, deixando evidente toda a sua raiva. — Maldita união com a
máfia Alemã que papá fez!
Toda essa situação deixou-me nervosa também.
— Ele é só um idiota que herdou o trono.
Não irei falar nada, capaz do meu marido direcionar a sua fúria para mim,
se bem conheço o homem.
— Boa noite senhores, boa noite senhora Caccini! — um senhor, que
aparenta ter meia idade, nos cumprimenta. — Sou José, pai da doce
Melanie — Se apresentou, falando com carinho o nome da filha.
— Boa noite! — devolvi o cumprimento sorridente.
— Cadê a sua filha? Ela está atrasada e eu já estou sem paciência! — O
sorriso de José morreu com a grosseira de Renzo.
Fiquei um pouco envergonhada com essa situação constrangedora.
— Ela já está descendo, só precisa de um tempinho.
— Qual o problema, José? — Rocco perguntou.
— Coisas de adolescente — Abriu um sorriso nervoso. — Ela só está
assustada — comentou com o semblante triste.
— Posso ir falar com ela? — perguntei por impulso.
— Claro, posso te levar até o quarto dela. — O homem pareceu se animar.
— O que você vai fazer lá? — Rocco segurou o meu braço, questionando-
me.
— Apenas conversar — expliquei e ele estreitou os olhos. — Já estive na
mesma situação, só quero falar com ela, tranquilizá-la, nada demais —
expliquei e ele pareceu entender.
— Tudo bem — Soltou o meu braço. — Não demora.
Assenti e fui caminhando com o Senhor José até o quarto da menina. Ele
bateu duas vezes e ela não respondeu.
— Filha abre, sou eu, trouxe uma pessoa para falar com você — insistiu.
— Não quero falar com ninguém pai, eu não vou descer! — gritou e sua
voz parecia embargada pelo choro.
— Deixa eu tentar — pedi, aproximando-me da porta. — Oi, Mel —
chamo-a pelo apelido carinhoso que acabei de inventar. — Me chamo Luara
— apresentei-me. — Gostaria de conversar com você, apenas conversar,
não vou pedir para que desça sem ser da sua vontade, só quero conversar
um pouquinho.
Após alguns poucos segundos de completo silêncio, a porta se abriu,
revelando uma linda menina de cabelos ruivos e olhos claros. Linda
demais! Renzo vai enlouquecer quando a conhecer.
Embora seu rosto esteja tomado por medo, ainda sim ela é admiravelmente
bonita.
— Vou deixar vocês a sós, te espero lá embaixo, Mel — O pai dela sorriu e
se retirou. Ele pareceu aliviado agora.
— Posso entrar? — Apontei para dentro do quarto.
— Pode. — Sua voz suave autorizou a minha entrada e chegou o corpo para
o lado, dando-me passagem.
Entramos, ela fechou a porta e nos sentamos no sofá que fica aos pés da sua
cama.
A menina está completamente assustada e tudo nela demonstra isso, os
olhos arregalados, a voz tremida e o corpo tenso. Meu coração ficou
apertado, sinto tanto por ela. Eu sei exatamente o que está sentindo.
— Sei que é difícil, Melanie — Comecei, buscando o melhor jeito de me
aproximar. — Já passei exatamente o que você está passando. — Seus olhos
me encararam em curiosidade. — Eu também quis sumir, mas infelizmente
não temos para onde correr. — Precisei ser realista com ela. Não há
escapatória.
— Eu não quero me casar com esse homem! — Começou a chorar. — Me
ajuda a fugir? Por favor, me ajuda! — suplicou, soluçando.
— Infelizmente não posso fazer isso, estaria colocando nossas vidas em
risco e também a vida do seu pai, ele deu a palavra dele, terá que cumprir.
— Eu gosto de outra pessoa — confessou, enxugando o rosto que estava
banhado por lágrimas. Melanie deixou-me completamente surpresa com
essa revelação. — Não suporto a ideia de ter que me casar com um homem
tão velho.
Achei engraçado a preocupação dela, porque foi a minha também.
— Ele não é velho, Mel. — Tentei confortá-la.
— É sim, meu pai disse que ele tem 34 anos, que logo vai fazer 35, eu só
tenho 17! Ele é velho e deve ser horroroso!
— Também fui prometida para um homem 17 anos mais velho que eu e
pensava exatamente como você, mas na aparência ele não é velho,
inclusive, é o irmão do seu futuro noivo. — Segurei na sua mão. — Olha, o
Renzo, que é o seu noivo, ele não é feio, muito pelo contrário, é bonito, mas
eu sei que beleza não é tudo, mas pelo menos ajuda, não é? — Sorri, dando
uma piscadela e ela abriu um pequeno sorriso também. — Se fosse um
velho barrigudo seria tremendamente terrível! — Nós duas rimos — Tem
uma cara de bravo, mas não se assuste, ele não é tão ruim quanto aparenta
ser.
— Não sei como o meu pai foi capaz disso, ele acabou com a minha vida. E
o pior é que fica se justificando falando que está fazendo isso porque a sua
partida está próxima. Eu preferia ficar sozinha no mundo. — Suspirou,
parecendo cansada com esse assunto.
— Com toda certeza o seu pai deve ter as razões dele — Tenho me sentido
mais aliviada em pensar assim, foi o que fez eu perdoar o meu pai. — Se
não fosse o Renzo, poderia ser outro e talvez muito pior, vamos tentar
pensar pelo lado bom.
— E tem lado bom?
— Talvez. — Sorri.
— Essa vida na máfia é uma merda! — resmungou.
— Penso exatamente como você.
— Está falando sério? — Avaliou-me.
— Sim.
— Mas você é casada com o Don e parece feliz.
— Mel, nem tudo que parece é. — Suspirei, também me sentindo cansada
em todos os sentidos. — Nos casamos recentemente e eu sou prometida
para ele desde de que nasci, não foi uma escolha minha, estamos no mesmo
barco. Só que eu entendi que não tem como lutar contra isso, então tenho
que jogar com as armas que tenho.
— E quais seriam essas armas?
— Aceitar. Busco fazer o meu melhor papel de esposa para conseguir viver
em paz. Sempre consigo? Não. Mas estou lutando.
— Isso não parece nada bom.
— Não parece — Ri da careta engraçada que ela fez. — Mas é o melhor
que temos. Você precisa descer e oficializar logo esse noivado, quanto antes
você descer, mais cedo ele vai embora, entendeu? Se você ficar relutando,
só vai deixar o Renzo mais nervoso e vai acabar sobrando para o seu pai.
Não é isso que você quer, não é?
— Você tem razão. — Respirou fundo. — Não temos para onde correr.
— Exatamente.
— Obrigada por ter vindo falar comigo, Lua… aliás, posso te chamar
assim?
— Claro! — Sorri, simpatizando muito com ela. — Eu te chamo de Mel.
Logo seremos da mesma família.
— Acho que vai ser a única coisa boa desse relacionamento, já que não
tenho amigas.
— Então seremos amigas a partir de agora — garanti. — Agora vai se
ajeitar para descer, eu vou descer na frente e te espero lá embaixo, tá ok?
— Tudo bem. — Nos levantamos.
— Vem cá, me dá um abraço. — Puxei-a para um abraço cheio de
compreensão e carinho. — Sinto muito por você, por mim, por nós e por
tantas outras que já passaram e por aquelas que ainda vão passar pela
mesma situação.
— Eu também sinto. — Apertou o abraço.
— Estou te esperando. — Afastei-me sorrindo e desci, deixando-a sozinha
no quarto, se ajeitando.
Sei que não é fácil, mas ela terá que encarar a realidade.
— E então? — Rocco encarou-me, perguntando assim que me aproximei.
— Ela já está vindo, só está se arrumando.
— Obrigada, senhora. — José agradeceu, respirando aliviado.
— Não precisa agradecer.
— Ela deveria saber que é um noivado e não um casamento para demorar
tanto para se arrumar! — Renzo rosnou.
— Deixa de ser chato, Renzo, fica o tempo todo chorando na nossa cabeça!
— Rocco o repreendeu e eu gostei, afinal, ele só reclamou desde que
chegou, aliás, desde que descobriu o noivado.
— Engraçado que na sua vez eu te aturei. — Renzo o lembrou.
— Fanculo!
Meu marido xingou alguma coisa que eu não entendi. Estou começando a
estudar italiano, por enquanto estou fazendo isso sozinha, afogando-me no
dicionário para tentar entender. Mas espero aprender o bastante para um dia
fazer parte de verdade da sociedade do país onde moro agora.
Capítulo 27

A vida nem sempre é como a gente quer, a verdade é essa. Cruel, difícil de
aceitar e esmagadora, mas é a verdade.
Estou passando por uma situação que eu sabia que mais cedo ou mais tarde
ia acontecer, mas não imaginei que fosse tão cedo, na verdade eu tinha
esperanças que nunca fosse acontecer, pensei que meu pai pudesse fazer
algo para evitar, afinal, ele é o Capo.
Fui prometida a um homem que nunca vi na vida e eu gosto de outra
pessoa. A situação poderia ser menos dura? Sim, poderia e é, meu pai, a
única pessoa que tenho nessa vida está com uma doença terminal e logo vai
partir. É tanto sofrimento para uma pessoa nessa idade carregar que não sei
como estou aguentando.
Tenho 17 anos, nunca conheci minha mãe, ela morreu ao me dar à luz.
Apesar de ter um pai maravilhoso, é difícil crescer sem a presença materna.
Papai é um mafioso cruel como todos, mas comigo sempre foi amoroso e
um excelente pai, sei que no nosso meio isso é raro, mas eu tive essa sorte.
José foi o melhor pai que eu poderia ter no mundo e eu o amo muito. Só de
pensar em perdê-lo sinto meu coração dilacerado.
Sobre o meu noivo, nunca escutei nada de bom dele, o que esperar desse
casamento? Já vou me preparar para sofrer até o dia da minha morte, sei
que é pecado desejar isso, mas espero que não demore.
Solto meus cabelos e me preparo para participar desse circo de horrores,
não consigo entender como todas aquelas pessoas lá embaixo se sentem à
vontade sabendo o que está acontecendo.
Assim que comecei a descer as escadas, várias pessoas me olharam, meu
pai nunca foi de me mostrar para ninguém, fiquei o mais escondida possível
de toda essa merda, nunca nem fui para a escola, estudei em casa, papai
dizia que era o melhor para mim.
Cheguei ao final das escadas com muito custo, minhas pernas estavam
trêmulas. Meu pai vem me receber, sei que tem várias pessoas me olhando,
mas uma em especial me chama atenção. O olhar que direciona a mim é
diferente e eu o encaro, seus olhos parecem me queimar.
— Filha, você desceu — comentou aliviado. — Está deslumbrante! —
elogiou-me, me abraçando.
— Jamais te decepcionaria.
E é verdade, apesar de estar chateada e com raiva, eu jamais decepcionaria
o meu pai. O amo muito para fazer qualquer coisa que o chateasse.
— Eu sei, minha filha. — Sorriu, orgulhoso. — Agora venha conhecer seu
noivo e o Don Rocco.
Caminhamos até eles e eu apertei a mão dele com força. Vendo o meu
possível desespero, também apertou a minha mão, encorajando-me.
— Don, Subchefe, essa é minha filha Melanie. Senhora Caccini já a
conhece — apresentou-me, todo sorridente.
O homem que antes estava me encarando, continua olhando-me do mesmo
jeito. Sinto minhas bochechas esquentarem com tamanho escrutínio.
A maneira como ele me encara é estranha e sinto até um pouco de medo.
— Boa noite! — falei bem baixinho, intimidada pelo olhar penetrante desse
homem.
— Boa noite, Melanie, fico feliz que esteja entrando para a família, seja
muito bem-vinda! — Apesar do semblante sério, o Don me cumprimentou
cordialmente.
— Obrigada, Don! — Sorri timidamente.
— Apenas Rocco, você será da família a partir de agora. — Balancei a
cabeça em sinal de concordância.
Apesar de estar olhando para os meus próprios pés, ainda sentia o olhar dele
sobre mim, o que me forçou a levantar a cabeça para encará-lo novamente.
O subchefe é assustador, mas bonito, muito bonito. Tem pequenas
semelhanças com o seu irmão, o Don, mas não se parecem. Vi algumas
tatuagens em seu rosto, pescoço e mãos, mas como está de terno, não
consegui ver totalmente, mas o pouco que vi deu para perceber que possuí
muitas delas. É alto e forte. Perto dele sinto-me uma formiga prestes a ser
esmagada.
— Vamos logo adiantar isso, tenho que ir embora! — ele falou com
arrogância, desviando o olhar do meu.
— Vamos — Rocco concordou, segurando na mão de Luara, que piscou
para mim, encorajando-me.
Caminhamos todos para a sala de jantar. Quando todos estavam presentes,
começaram a cerimônia, um ritual que fazemos para os noivados, eu nunca
tinha ido a um, mas já ouvi falar sobre esse assunto.
Rocco falou algumas palavras e todos aplaudiram. Pegou a lâmina para
cortar a palma das nossas mãos, isso é típico em todos os noivados, uma
vez feito isso, nada pode mudar o destino, estaríamos ligados um ao outro
para sempre.
Renzo estendeu a mão para que Rocco a cortasse, por um momento eu
ponderei, mas sob o olhar aterrorizante do meu noivo, fiz o mesmo. Senti a
lâmina passar e queimar a palma da minha mão, o sangue escorreu junto
com uma lágrima idiota que insisteu em cair do meu rosto.
Engana-se quem pensa que esse choro é pela dor física causada, esse corte
não se compara a dor que sinto dentro do meu peito.
— ... Pelo sangue e pela honra. — Escutei o Don finalizar, unindo nossas
mãos, nosso sangue.
Todos aplaudiram, inclusive o homem que eu amo.
Capítulo 28

Quando aquela menina apareceu na escada e todos os olhares se


direcionaram para ela, eu entendi o motivo pelo qual o pai dela a manteve
escondida todo esse tempo.
Melanie é linda! Entendi o motivo de escondê-la, porque assim que fosse
vista, vários se interessariam por um casamento com essa ragazza. Apesar
de nova, ela é uma mulher belíssima. Fará dezoito anos daqui quatro meses,
mas nosso casamento só acontecerá quando o seu pai partir, e eu espero que
demore muito.
Não me passou despercebido o olhar dela para o soldado que faz sua
segurança, algo que me intrigou, não costumo me enganar. Sou bom em
analisar as pessoas. Sei quando estão mentindo e sei identificar os tipos de
sentimentos pelo olhar. As pessoas falam mais com os olhos do que podem
imaginar.
Meu irmão é o implacável Don, ele é mais ação, age por impulso. Eu não,
eu penso antes de agir, nunca nada sai do meu controle, calculo tudo
certinho, por esse motivo desde que me formei na máfia faço os trabalhos
que ninguém consegue fazer, entro nos lugares, executo meu trabalho e saio
sem ser visto.
Sou conhecido como "sombra da morte" ou apenas “morte”. Nunca deixei
de completar uma missão, todas elas foram bem-sucedidas. Me tornando
assim, o matador mais temido de todos os tempos.
Percebi que após a cerimônia de noivado ela sumiu, foi para fora da casa e
eu fiquei pensando se ela não foi se encontrar com o tal soldado. Se eles
forem amantes, não terei dó nenhuma em executá-los, e ainda me livrarei de
um casamento indesejado.
Já estava na hora de ir embora, mas Rocco foi conversar com o Capo José a
respeito de Claus, deveria estar lá, mas o sumiço dela tomou toda a minha
atenção. Caminhei até o jardim da casa e encontrei a ruivinha sentada no
cantinho escondida, ela parecia amedrontada.
— Tentando se esconder? — Assustou-se ao me ver, tremendo.
— Porque eu me esconderia? — Sua voz é baixa e serena, gostosa de ser
ouvida.
— Eu que devo te fazer essa pergunta, porque você se esconderia?
— Não estou me escondendo, Senhor Renzo, apenas vim tomar um ar
fresco.
Melanie conversa comigo com notável desprezo e isso me irritou
profundamente.
— O que você tem com o soldado que faz a sua segurança? — Seus lindos
olhos claros se arregalaram — Não me recordo o nome dele — Ficou
visivelmente surpresa com a minha pergunta.
Te peguei, ruivinha!
— O quê? Com o Giovanni? Nada, ele apenas faz minha segurança, assim
como o Senhor mencionou.
Consigo sentir todo o seu nervosismo.
— Não se faça de sonsa garota — Aproximei-me e os seus olhos
demonstram puro medo — Você acha que pode mentir para mim? Eu
reparei como vocês olham um para o outro, em como você olha para ele! —
Segurei firme em seus braços, fazendo-a se levantar.
— O senhor está me machucando, peço por favor que me solte —
Continuei encarando-a e ela continuou sustentando o meu olhar, mesmo
com medo, ela é corajosa — Eu já disse que não tenho nada com ele,
Giovanni faz minha guarda desde nova, conheço ele há muito tempo,
apenas isso.
— Se você quer continuar mentindo, tudo bem, mas saiba que eu sei que é
mentira, se vocês não têm nada é porque ainda não tiveram oportunidade, te
aconselho a disfarçar mais quando for olhar para ele.
— Senhor Renzo, o senhor está me machucando — Aliviei um pouco o
aperto — Já falei que está vendo coisas onde não tem, por favor, me solte.
— Se eu descobrir que você tem alguma coisa com ele, eu vou matar os
dois, você entendeu? — ameacei e ela ficou em silêncio — Eu perguntei se
entendeu, Melanie? — Sacudi o seu braço e ela balançou a cabeça diversas
vezes, assentindo. — Ótimo, agora entre! — ordenei e soltei os seus braços.
A pequena ruivinha saiu correndo para dentro da casa e eu sorri satisfeito.
Pelo menos tive a certeza de que nunca existiu nada entre os dois e garanti
que nem vai existir.
Capítulo 29

Estava conversando com o Capo José quando ouvi um barulho de tiro.


Rapidamente saímos do seu escritório e fui atrás de Luara, assim como ele
foi atrás da sua filha, ambos preocupados.
Ao me aproximar de Luara, ela me abraçou com os olhos arregalados.
Renzo se aproximou junto com o Capo da máfia Alemã, o Enzo.
— Que merda é essa, José? — questionei, nervoso.
Algumas pessoas começam a correr, apavoradas.
— Não sei, Don. A minha casa é segura — garantiu. — Vou verificar com o
meu chefe de segurança. — Assim que ele falou isso, pegou o celular para
ligar, mas nem foi preciso, um dos seus homens entrou com uma expressão
assustada.
— A casa está sendo invadida, Senhor — avisou, ofegante. — Tínhamos
alguns soldados infiltrados, temos pouco tempo até que cheguem aqui
dentro.
— Disgraziatos[xxii]! — Renzo esbravejou, tão nervoso quanto eu. — Você
tem alguma sala segura, de emergência, para esconder as mulheres que
ainda estão aqui?
— Como assim as mulheres? — Luara questionou, com as mãos trêmulas.
— E vocês? — A encarei, mas não falei nada.
— Tenho. Vamos levá-las até lá.
Alguns convidados já haviam ido embora, outros correram na hora do
tiroteio, o que fez que sobrassem pouquíssimas pessoas.
Entramos no seu escritório novamente, o ajudei a puxar a estante de livros,
ele digitou uma senha e a porta se abriu.
— Vem comigo, entra! — Luara puxou a minha mão.
— Não posso, mas eu voltarei para buscá-la. Será rápido. — Dei um beijo
na sua testa e me afastei.
Escutei Melanie implorar para o seu pai entrar, pois estava com a saúde
fragilizada, inclusive, o aconselhei a entrar também, mas ele não aceitou.
Fechamos a porta e Enzo entrou no escritório.
— Está preparado, Don? Porque eles já entraram — informou. Ele havia
ficado lá com outros soldados, nos dando cobertura.
— Sempre pronto. — Tirei minha arma do coldre e a engatilhei.
Renzo e José fizeram o mesmo e todos voltaram para a sala. O tiroteio já
havia começado e alguns homens estavam estirados no chão, tanto os
inimigos, quanto os soldados de José, contudo, não foi difícil aniquilá-los,
eram fracos e alvos fáceis de serem eliminados. Nem precisei descarregar
toda a minha arma, os meninos fizeram um bom trabalho.
O que me fez ter a certeza de que isso não foi um ataque para nos atingir e
sim um aviso.
Os homens que aqui entraram não eram tão bem treinados e estavam
dispostos a morrer. Claus estava avisando que ele estava um passo à minha
frente.
Preciso pegar esse maledetto.
— Esse filho da puta está sempre a um passo na nossa frente, que inferno!
— Renzo esbravejou, chutando um corpo morto no chão.
Os soldados de José estavam limpando a bagunça antes de liberarmos as
mulheres.
— Te dei minha palavra sobre a sua filha, preciso que me traga mais
respostas, estamos no completo escuro! — falei com o Capo. — Preciso de
respostas concretas, que me levem até aquele infeliz! Isso que aconteceu
aqui hoje não pode, de jeito nenhum, voltar a acontecer! — bradei.
— Senhor, o que eu consegui descobrir foi muito pouco, Claus usa recursos
muito bons, precisaríamos de uma pessoa para nos aliar, alguém que
trabalhe com uma tecnologia de primeira — falou olhando para o Enzo e
agora entendi porque o chamou aqui hoje. Claro que tinha que ter uma
explicação para ele estar presente.
O Capo da máfia alemã é conhecido por ter os melhores recursos
tecnológicos dentro da máfia. Ele é um Hacker muito bom e tem uma
equipe excelente, consegue descobrir seus alvos fáceis.
— Não olhem para mim, não irei entrar em uma guerra que não me
pertence. — Enzo deixou claro que estava fora.
— Temos uma aliança, seu bastardo! — Meu irmão o lembrou,
extremamente irritado.
— Exatamente, Renzo, temos uma aliança, mas isso não quer dizer que eu
trabalhe para vocês. Não vou me envolver em uma guerra que não é minha.
— Puxou uma cadeira e se sentou, tranquilamente.
— Podemos te propor algum benefício, Capo — Tentei negociar,
infelizmente essa é a minha única saída. Ele tem razão, apesar da nossa
aliança, não precisa comprar uma briga que não é dele.
— Agora estamos começando a falar a mesma língua — Abriu aquele
sorriso debochado que tanto detesto.
— O que você gostaria para que pudesse nos ajudar? — perguntei,
engolindo o meu orgulho e a vontade de acertar uma bala na sua testa.
— Ajudar não. Eu posso te dar a localização exata desse homem, preciso
apenas de alguns dias para trabalhar nisso, mas nada sai de graça.
— Fala logo, não tenho paciência para joguinhos.
— Quero uma garantia da nossa aliança.
— Mas nós já temos uma aliança há anos — Não consegui entender o que
esse idiota quer, nossa aliança foi feita na época dos nossos pais.
— Temos uma aliança que pode ser rompida a qualquer momento, quero
mais que isso, quero garantias de que durará até a eternidade. — Riu.
— Que garantias? — Renzo perguntou sem paciência tanto quanto eu.
— Você mencionou que estou na hora de arrumar uma noiva e eu concordo,
porém não encontrei ninguém a minha altura, mas pensando nas
oportunidades agora, eu acho que tenho a noiva certa.
Vou dar um soco na cara desse imbecil.
— E quem seria essa pessoa? E o que eu tenho haver com isso? — Cocei a
barba, tentando me controlar.
— Com quantos anos as jovens costumam se casar no nosso meio mesmo?
Acho que dezoito né? — Assenti, mesmo sabendo que ele sabe da resposta.
— Bom, sua irmã está passando um pouco da idade, não acha? — Meu
corpo ficou rígido ao ouvi-lo mencionar a minha irmã — 21 anos? É isso
que ela tem? Pois então, eu quero ela, quero me casar com a sua irmã.
— Você ficou louco? — Avancei nele e Renzo me segurou — Nunca!
Minha irmã nunca! — gritei.
— Até quando vocês vão tentar esconder ela desse mundo? Você pode ser o
Don, o todo poderoso, mas existe um conselho ainda e eu posso levar isso
até lá, vamos ver se todos concordam com a atitude do Don.
— Desgraçado, figlio di puttana! — meu irmão começou a distribuir
xingamentos.
— Porque vocês estão tão nervosos? Vocês sabiam que esse dia ia chegar,
vocês só adiaram, é assim com todos dentro da máfia, você como Don sabe
muito bem que não pode isentar sua irmã das obrigações dela apenas por ter
laços sanguíneos.
Odeio admitir, mas ele tem razão.
— Podemos conversar sobre isso depois? — barganhei, tentando ganhar
tempo.
— Não. Eu ajudo vocês e em troca me caso com a sua irmã, é pegar ou
largar.
— Tudo bem. Está feito! — afirmei com dor no coração, mas sei que é
inevitável.
— Você ficou louco, Rocco? — Renzo contrapôs.
— É o que tem que ser feito. A máfia vem em primeiro lugar. — O encarei,
para que entendesse que eu não poderia fazer mais nada.
— Você está certo — disse com desgosto.
— Temos um acordo então? — Enzo perguntou sorrindo e minha vontade é
esmagá-lo.
— Temos um acordo — Apertei a sua mão a contragosto.
Que Alice me perdoe, mas já evitei tempo demais, não posso fazer mais
nada.
Capítulo 30

Giovanni, o segurança de Melanie, abriu a porta e nos avisou que podemos


sair do local. Respirei aliviada ao saber que está tudo bem.
Caminhamos todas juntas até onde estão os rapazes e vê-los bem é muito
satisfatório. Entretanto, noto que estão com uma expressão estranha, exceto
Enzo, que está todo sorridente.
— Oi, tudo bem? — perguntei ao me aproximar do meu marido.
— Não, mas agora não é um bom momento para conversarmos. — Entendi
pelo seu tom de voz que ele está extremamente irritado, por isso não falei
mais nada.
— Eu vou indo, iremos nos falando no decorrer dos próximos dias — Enzo
se despediu de Rocco, que apenas deu um leve aceno de cabeça com uma
cara nada satisfeita.
— O acordo só será feito após pegar o Claus — Renzo avisou.
— Exatamente, não fecharei mais acordo nenhum sem antes pegá-lo —
Rocco concordou, encarando o José, que encolheu os ombros.
Acordo, que acordo? Tanto eu, quanto Melanie, olhamos de um para o
outro, tentando entender o que está acontecendo, mas sem sucesso.
— O noivado tem que ser feito em uma semana, o casamento podemos
oficializar depois. — O Capo alemão deixou claro suas exigências.
— Noivado de quem? — Como sempre, não consegui ficar calada e deixei
a curiosidade falar mais alto, fazendo uma pergunta errada, não devo me
meter, muito menos na frente de todos.
— Depois conversamos sobre isso, Luara! — Obviamente que meu marido
iria me repreender, mas caramba, fiquei com medo do jeito severo que me
encarou. Soltei a respiração que estava presa quando desviou o olhar para
Enzo. — Tudo bem, será feito dessa forma, da maneira que você achar
melhor.
As cenas a seguir seguiram como um borrão e tudo muito rápido. Enzo se
despediu e estava saindo quando apareceu alguém atirando, acertando o
braço dele e num instinto de sobrevivência, ele se jogou no chão, sacando a
sua arma.
Rocco segurou o meu corpo com uma mão, empurrando-me para trás,
protegendo-me com o seu próprio corpo. Vejo Giovanni fazer o mesmo com
Melanie e todos sacaram a sua arma. Outros dois homens entraram atirando
e Enzo gritou.
São muitos disparos. Coloquei as mãos nos ouvidos, tentando amenizar o
barulho do tiroteio e meu corpo inteiro tremeu. Fechei os olhos para não ver
o que ia acontecer e de repente, os barulhos cessaram.
Meu corpo continuou paralisado e bem devagar fui abrindo os olhos,
olhando o meu corpo para ver se não fui atingida.
— Tudo bem Luara, já acabou. — Rocco passou as mãos pelo meu cabelo e
rosto, tentando me acalmar. — Vamos embora — Segurou firme na minha
mão, passando-me segurança.
— Já verifiquei lá fora, está limpo, dá para todo mundo sair — Giovanni
avisou, depois virou-se para o José e informou — O senhor e a Mel terão
que sair também, não é seguro aqui.
— Para você é Senhorita Melanie, Giovanni, não a chame pelo apelido
novamente — Renzo o repreendeu, surpreendendo a todos e deixando o
clima ainda mais pesado.
— Tudo bem, peço desculpas Senhor.
Mel olhou para Renzo com uma cara feia e se fosse em outra situação eu
iria rir e jurar que ele estava com ciúmes, mas neste momento não consigo.
— Pai, o senhor está bem? — Mel foi verificar como estava o estado de
saúde do pai, já que ele está fragilizado pela doença.
— Eu também estou bem, tá? — Enzo pareceu chateado por ninguém se
importar com o seu ferimento, que agora está sendo estancado por sua
gravata amarrada ao braço.
— Era melhor se tivesse morrido — Renzo retrucou.
— Vamos embora logo — Rocco determinou, totalmente sem paciência.
Sem esperar, escutei mais um disparo e Rocco sacou a arma novamente,
acertando o homem que estava no chão, que foi o autor do disparo. Escutei
Melanie gritar e quando olhei na sua direção, ela estava correndo até o seu
pai, que se encontrava caído no chão, com uma poça de sangue se formando
embaixo do seu corpo.
Meus olhos se arregalam ao constatar que José, o Capo mexicano, foi
atingido com um tiro certeiro na cabeça.
— Socorro! Alguém me ajuda! — gritou em plenos pulmões, sacudindo o
corpo sem vida do seu pai. — Pai, fala comigo, pai, por favor… —
implorou, soluçando.
Eu não consegui me mover, estava paralisada, apavorada e totalmente em
choque. Nunca passei por uma situação dessas, nunca vi ninguém morrer
desse jeito, diante dos meus olhos.
— Luara, Luara — Escutei a voz de Rocco ao longe, mas suas mãos me
sacudindo avisa que ele está perto, entretanto, não consegui raciocinar
direito. — Temos que ir agora! — Puxou-me pelos braços, arrastando-me
daqui de dentro e vejo Renzo fazer o mesmo com Melanie.
— Nãooooo! — ela gritou, se debatendo. — Me solta! Meu pai, meu pai…
— repetiu sem parar, chamando por ele.
Fui colocada dentro do carro e Rocco dirigiu para o hotel onde estávamos
hospedados. Passei o caminho todo inerte, as lembranças do que aconteceu
ainda pouco se repetiam frequentemente na minha mente.
Ao descer do carro e entrar no hotel, minha atenção foi voltada toda para
Melanie que ainda gritava muito, chamando por seu pai, enquanto Renzo
tentava acalmá-la.
Não consigo mensurar a dor que ela deve estar sentindo, porque nunca
passei por isso, mas consigo sentir o seu desespero e é assustador.
Queria embalá-la num abraço reconfortante e dizer alguma coisa que vá
fazer com que ela se sinta um pouco melhor, mas sinto-me ainda paralisada.
Forcei a minha perna a caminhar até ela e assim que me aproximei, os seus
olhos claros, tomados pelas lágrimas e vermelhidão, me encararam com
tamanha tristeza que eu comecei a chorar. Abaixei-me, ajoelhando-me no
chão, assim como ela estava e a abracei bem forte.
— Eu estou sozinha nesse mundo — sussurrou. — Meu pai me deixou, eu
estou sozinha! — Soluçou ainda mais alto e o meu coração doeu.
— Você não está sozinha, eu estou aqui. Vou cuidar de você, vou estar
sempre do seu lado, eu prometo — prometi, chorando junto com ela.
Qualquer um que a visse nesse estado, olhasse em seus olhos a sua dor,
choraria também.
Olhei para Rocco e Renzo ao nosso lado, não demonstrando nenhuma
reação e mudo de ideia… qualquer um que tivesse coração choraria junto.
Ficamos abraçadas por um bom tempo e ela não parou de chorar um
segundo sequer. Fiz carinho nos seus cabelos e em suas costas. Sei que
nada, absolutamente nada do que eu disser agora vai confortá-la ou
amenizar a sua dor.
— Luara, vamos tomar um banho, você está toda suja — Rocco comentou,
fazendo-me olhar para as minhas mãos, que estavam sujas de sangue, como
Melanie abraçou o seu pai, acabou se sujando e agora que estamos
abraçadas, também me sujei. — Melanie também precisa de um banho e de
descanso.
Giovanni chegou que eu nem vi, mas agora vejo-o ao lado de Renzo.
Encaro os três e não entendo como não esboçam nenhuma reação. Como
podem ser tão frios? É como se nada tivesse acontecido, é como se aquele
homem não tivesse morrido na nossa frente e pior ainda, é como se essa
menina não estivesse em total desespero diante dos seus olhos.
— Pode ir, Lua — falou, saindo do meu abraço ao ver que eu estava
relutando em deixá-la.
— Eu vou, mas eu volto, tá bom? Prometo que estarei por perto, estou logo
no quarto ao lado, qualquer coisa que precisar, me chame, por favor.
— Obrigada. — Abriu um mínimo sorriso.
Nos levantamos e cada um foi para o seu quarto. Ouvi Renzo dispensar o
Giovanni e me preocupei, pois ele é a única pessoa mais próxima dela neste
momento.
— Seu irmão não vai fazer mal para ela, né? — perguntei assim que ele
fechou a porta do quarto.
— Luara, Melanie passou a ser responsabilidade de Renzo, não podemos
nos meter nisso — respondeu despreocupadamente.
Nem uma situação como essa consegue abalar esse homem.
— Como você pode ser frio dessa forma? — Estreitei os olhos, repudiando
a sua frieza. — A menina acabou de ver o pai morrer bem na sua frente,
aliás, na frente de todos nós e você vem me falar que não podemos nos
meter? Ela só tem dezessete anos! — esbravejei, inconformada, andando de
um lado para o outro.
— O que eu posso dizer? Que sinto muito?
— Não! Porque você não sente — Apontei o dedo na sua direção,
irritadíssima. — Você sente alguma coisa aí dentro do peito? Ai dentro tem
alguma coisa batendo, Rocco? Porque me parece que não. — Meus olhos
voltaram a ficar marejados.
Sai de perto dele, indo em direção ao banheiro, não estou em condições de
discutir, todos os acontecimentos de hoje já foram o suficiente.
— Olha, eu realmente não sinto nada, não sinto pela morte do pai dela, não
sinto por ela — confessou, paralisando-me no meio do caminho.
Girei nos calcanhares, encarando-o incrédula. No fundo, procurei por algo
em seus olhos que me digam que ele só está querendo ser duro, mas que
sente sim alguma coisa, mas o que vejo é sinceridade.
— Você é um monstro, um monstro! — Perdi a cabeça, avançando nele e
desferindo socos no seu peitoral duro. — Poderia ser eu passando por
aquela situação, poderia ser qualquer pessoa, mas você não tem um pingo
de empatia, seu monstro! — Segurou os meus braços com força,
impedindo-me de continuar socando, mas não o forte o bastante para
machucar.
— Você está certa, eu sou um monstro, fui criado para ser um monstro. A
morte é algo normal para mim, no nosso meio isso acontece
constantemente, mas errou quando disse que se fosse você eu não ligaria.
Eu jamais deixaria qualquer coisa acontecer com você! — Perdi-me na
imensidão dos seus olhos, sentindo o meu coração bater mais rápido. — Me
importo com você, Luara! Cazzo, eu me importo! — disse tão baixinho essa
parte, que pensei ter ouvido errado.
— Você se importa comigo? — questionei, já chorando e ele assentiu,
afirmando. — Desculpa, eu estou nervosa, não, na verdade eu estou
apavorada. Nunca presenciei uma cena daquelas, é assustador.
A palma enorme da sua mão acariciou o meu rosto, passando o polegar por
cada detalhe, como se estivesse desenhando. Um carinho tão gostoso.
— Está tudo bem, esse pânico é normal — Deu-me um rápido selinho,
surpreendendo-me. — Agora vem, vou te dar um banho.
Caminhamos juntos para o banheiro e enquanto me despia, colocou a
banheira para encher. Depois tirou a sua própria roupa, ficando apenas de
cueca boxer branca.
Não há como negar, o diabo é lindo e gostoso.
Entramos na banheira e ele se sentou atrás de mim, derramando a água
quente com as suas mãos nas minhas costas.
— Você está se sentindo melhor?
— Sim, obrigada! — Virei o pescoço para trás para alcançar a sua boca e
dessa vez fui eu quem o surpreendi com um selinho.
— Vamos terminar o banho e ir deitar, você precisa descansar.
Ele se levantou e eu pude ver todo o volume marcando perfeitamente na sua
cueca, ele está duro, mas não me tocou com segundas intenções, respeitou o
meu momento.
Entregou-me o roupão e enquanto terminava o seu banho, vesti uma
camisola confortável, me deitando para esperá-lo.
— Será que ela está bem? — perguntei assim que se deitou ao meu lado.
— Mandei uma mensagem para Renzo e ele me disse que ela já está
descansando, fica tranquila, vai ficar tudo bem. Melanie estará segura com
a gente.
— Obrigada por hoje! — agradeci e me aconcheguei nos seus braços.
Minhas pálpebras ficaram pesadas. Eu estava cansada, hoje o dia foi uma
confusão. Aliás, não só hoje, desde que me casei a minha vida tem sido
confusa.
Capítulo 31

Ao abrir os olhos, percebi que estava sozinha na cama. Estava tão cansada
que acabei dormindo demais. Ao me sentar, percebi que nossas malas
estavam arrumadas no cantinho do quarto.
Rocco apareceu um tempinho depois.
— Bom dia! — cumprimentou-me vagamente enquanto mexia em seu
celular.
— Bom dia! Nós vamos embora?
— Vamos viajar. — Guardou o celular no bolso e sentou-se ao meu lado, na
cama. — Trouxe biquíni nessa viagem?
Estranhei a sua pergunta e franzi o cenho.
— Não, achei que não ia precisar, pensei que seria uma viagem rápida.
— Vamos para Tulum[xxiii], não tivemos lua de mel e acho que o melhor
momento para dar um tempo disso tudo é agora. — Ia concordar, mas me
lembrei de Melanie. Meu marido pareceu ler os meus pensamentos. —
Fique tranquila, a garota ficará bem.
Assenti.
— Tulum? Eu já ouvi falar que lá é lindo, mas nunca fui. — Comecei a me
sentir animada com a ideia.
— Espero que goste, então.
— Dá tempo de sair e comprar uns biquínis antes?
— Sim.
— Eu posso ver a Mel?
— Pode sim, eles vão embarcar daqui a pouco — informou, deixando-me
curiosa.
— Para onde? Ela vai ficar com o Renzo?
— Não, eu já decidi o que vou fazer até o dia do casamento.
— O quê? — perguntei, preocupada com ela.
Ele me explicou e eu fiquei com o coração mais tranquilo, não sei, posso
até estar me iludindo, mas acho que ele fez isso para me deixar mais
tranquila.
Caminhamos até o quarto onde estão Melanie e Renzo, batemos na porta e é
Renzo que atende, mas logo atrás dele está Melanie, com uma carinha triste,
porém bem melhor do que a de ontem.
— Mel — Corri para abraçá-la, ignorando completamente o meu cunhado.
— Você conseguiu descansar?
— Oi, Lua — Sorriu pequeno, — Na medida do possível sim. — Sua voz é
tão triste que sinto-me mal por deixá-la e ir viajar.
— Vai ficar tudo bem, tá? — Ela assentiu.
— Melanie, você vai para Itália hoje com Renzo — Rocco avisou e a vejo
arregalar os olhos.
— Não vou poder enterrar o meu pai?
— Vai sim, mandarei o corpo dele para lá e faremos um enterro digno. Aqui
não é seguro no momento, precisamos dar um tempo até encontrarmos
quem fez isso.
— Obrigada! — É tudo que ela diz, se mostrando mais compreensiva do
que todos esperávamos.
— Mel, eu não vou poder estar lá com você porque vou em uma viagem
com o Rocco, mas vou ligar para Alice, ela vai te acolher muito bem, tenho
certeza disso. — Não tenho opção de dizer que não vou a essa viagem. —
Eu queria muito estar com você, desculpe-me — disse baixinho, apenas
para ela ouvir.
— Tudo bem. — Sorriu carinhosamente para mim.
— Renzo, Melanie ficará na casa da mamãe até o casamento. — Meu
marido informou e o seu irmão pareceu não gostar nadinha disso, fechando
a cara.
— O quê? Por que isso? Ela é minha noiva, ficará comigo!
— Ela é sua noiva e não sua esposa. Isso não está em discussão, ela ficará
com a mamãe até daqui quatro meses quando fará dezoito e se casará com
você. Enquanto isso, Melanie, você é minha responsabilidade, ok? — A
ruiva anuiu, parecendo feliz com essa decisão e meu coração ficou mais
tranquilo. — Após o casamento você assume seu papel.
— Se você deseja assim, Don — Renzo respondeu em tom debochado.
— Sim, será exatamente assim. Irei viajar e volto daqui uns dias, fique no
comando das coisas até eu voltar — ordenou, não parecendo se incomodar
com a raiva do irmão.
— Ok.
— Vamos, Luara — chamou-me.
— Tchau, Mel, eu volto logo.
— Tchau, Lua, fica bem. Obrigada por tudo! — Abraçou-me forte e falou
baixinho no meu ouvido.
— Façam uma boa viagem. Até mais, cunhada. Até mais fratello.
Nos despedimos e assim que saímos, comentei:
— Acho que ele não ficou muito feliz.
— Ele vai superar.
— Obrigada por isso, Rocco.
— Sabia que você ia ficar mais tranquila — confirmou o que imaginei, ele
fez pensando em mim. Abro um enorme sorriso. — Vamos aproveitar um
pouco essa viagem.
— Vamos! — Entrelacei os meus dedos nos seus e ele parou por uns
instantes, olhando para nossas mãos unidas. Pensei que fosse reclamar, mas
ele simplesmente abriu um pequeno sorriso e continuamos a andar.

Chegamos em Tulum e eu não conseguia acreditar como esse lugar é


mágico, tudo aqui é lindo demais, um verdadeiro paraíso.
Estamos em um bangalô que fica de frente para a praia e ainda tem uma
piscina natural de água quente, uma vista fantástica, poderia me sentar aqui
na frente e ficar observando-a por horas.
— Eu vou terminar de resolver os negócios da hospedagem, já volto —
informou.
— Tudo bem, ficaremos aqui por quanto tempo?
— Menos de uma semana, temos que voltar para o noivado de Alice.
— Noivado de Alice? — praticamente gritei, extremamente surpresa.
Ontem foram tantos acontecimentos que não me recordo disso.
— Depois conversamos sobre esse assunto.
Ele saiu para ir resolver o restante das coisas e eu fiquei aqui pensando
sobre o que ele disse, tentando entender em que momento minha cunhada
ficou noiva… coitada da Alice.
Arrumei as roupas e olhei para a piscina morna que estava me convidando.
Decidi colocar o biquíni branco que comprei e entrar nela. Assim que
entrei, pude comprovar que a água é deliciosa, bem quentinha.
Nadei por um tempo até sentir alguém me puxar.
— Ai que susto! — Puxei o ar com força, acalmando-me ao ver que era ele.
— Nem me esperou — Suas mãos firmes seguraram a minha cintura,
aproximando nossos corpos.
— A água estava convidativa. — Dei de ombros.
— Imagino que sim, quando cheguei aqui e te vi dentro dela, pensei a
mesma coisa.
Puxou-me mais para perto, colando nossos corpos e pude sentir sua ereção.
Como a água é clara, consigo ver que está só de cueca… gostoso!
— Pensou foi? — Mordi o lábio inferior, sentindo meu corpo arder de
desejo.
— Sim. — Enfiou a cabeça no meu pescoço, cheirando-me como se eu
fosse a sua presa. — Estou louco para estar dentro de você — confessou
com a voz rouca bem próxima ao meu rosto.
— Então porque está demorando tanto? — provoquei, com um sorriso
malicioso no rosto.
— Garota, garota, não brinca comigo…
— E se eu quiser brincar, Don?
Nossos olhos se encontram.
— Você vai acabar se queimando. — Beijou o meu pescoço, deixando-me
toda arrepiada.
— Eu quero me queimar. — Encarei seus olhos faiscantes.
Estava desejando tanto esse homem que sentia meu corpo em chamas.
Rocco se afastou, surpreendendo-me, e puxou-me pelo braço, saindo da
piscina e me levando junto com ele para o quarto. Parou na minha frente e
olhou-me dos pés à cabeça em completa veneração. Desamarrou os nós do
biquíni, deixando as peças caírem sobre os meus pés, tirando também a sua
cueca, libertando o seu membro. Vagarosamente colocou-me deitada na
cama e puxou minhas pernas, colocando-me na beirada da cama.
— Hoje é só eu e você, sem ninguém por perto, quero tudo de você! —
declarou, fazendo-me ansiar por querer dar tudo a ele, sem nenhuma
objeção.
Meu marido se ajoelhou e abriu bem as minhas pernas, lambeu-me desde os
meus pés até chegar na minha boceta que latejava o desejando. Sua língua
brincou com a minha carne molhada e seus lábios me devoraram,
chupando-me fortemente.
Fui levada ao céu com a habilidade de sua língua. Gemi alto e repeti o seu
nome diversas vezes enquanto sua língua me invadiu, simulando uma
gostosa e sensual penetração.
Quando meu clitóris foi sugado, não consegui resistir. Agarrei os lençóis da
cama com força e gritei, gozando fortemente em sua boca. Suas mãos
apertam as minhas nádegas, segurando-me firmemente e sua boca
continuou a me devorar sem piedade. Um turbilhão de sensações me atingiu
e fiquei sensível, tremendo e sentindo-me completamente arrebatada por
esse orgasmo incrível.
— Deliciosa, o seu gosto é viciante! — Passou a língua pelos lábios,
querendo aproveitar até a última gota dos meus fluidos.
Eu o quero… caramba, como eu o quero!
Puxei o seu braço e mesmo que não tenha forças alguma para movê-lo, ele
entendeu o que eu quero e se sentou na beirada da cama. Desta vez, sou eu
quem estou ajoelhada diante da sua figura majestosa.
Quero ser sensual e agradá-lo da mesma maneira que faz comigo, todavia,
não tenho qualquer experiência e tenho medo de fazer errado.
— Você me ajuda? — pedi, sentindo as bochechas esquentarem de
vergonha.
— Cazzo, bambina! — Acariciou o meu rosto. — Sabe o que faz comigo
quando me olha desse jeito inocente? Pedindo-me para ensiná-la a me
chupar? — Balancei a cabeça em sinal negativo. — Deixa-me louco! —
Aproximou seu rosto do meu e me beijou, mordendo forte o meu lábio
inferior e depois o chupando.
— Eu quero muito, mas quero fazer direito — sussurrei contra os seus
lábios.
— Vai ser um prazer ensiná-la. — Pegou a minha mão e a levou até o seu
fabuloso pau.
Não tenho nada para comparar, mas é tão lindo… No começo pensei que
não fosse aguentar, mas agora eu amo o seu tamanho e espessura.
Masturbei-o conforme vai me ensinando e quando vou pegando segurança,
comecei a abocanhá-lo. Rocco pediu apenas para que eu tomasse cuidado
com os dentes. Chupei bem devagar, ainda não consegui engolir por inteiro,
mas coloquei o máximo que consegui na boca. Deixei-o bem babado e com
isso tenho facilidade para subir e descer, aumentando o ritmo da chupada.
— Porra! — Gemeu. — Vou querer foder essa boquinha sempre… que
boquinha gostosa! — Segurou os meus cabelos, formando um nó envolta
dos seus dedos e socou fundo na minha garganta.
Fiz uma ânsia forte e pensei que fosse vomitar, mas rapidamente ele recuou
e deixou-me fazer da minha maneira.
Mesmo não tendo experiência alguma, acredito que estou fazendo bem e
que ele está gostando. É tão erótico ouvi-lo gemer para mim.
— Vem, não quero gozar na sua boca. — Puxou meus cabelos, fazendo-me
parar e sem delicadeza nenhuma, jogou-me na cama, pondo seu corpo sobre
o meu e me invadindo forte e fundo.
— Roccoooo! — gritei o seu nome, arfando com a sua invasão rápida.
A ardência vai passando e dando lugar ao puro prazer. A cada estocada
bruta que ele deu, foi um gemido manhoso que escapou da minha garganta.
Minhas unhas passearam por suas costas, arranhando-o.
Nunca pensei que pudesse gostar de sexo bruto, mas a cada transa que
tenho com ele e que sou comida brutalmente, sinto ainda mais tesão.
— Mais… eu quero mais — pedi, ensandecida, perto de chegar a outro
incrível orgasmo.
— Quer mais, é? — Sugou o bico do meu peito e eu assenti, incapaz de
falar. — Eu sou louco por essa boceta, caralho! — Saiu todo de dentro de
mim e entrou de uma vez só. Gritei. Ele repetiu esse processo várias e
várias vezes.
Protestei quando tirou, mas foi apenas para me virar, colocando-me de
quatro e entrando novamente, fodendo-me rudemente.
Perdi as contas de quantas vezes já gozei. Foram minutos intensos e
delirantes até que ele encontrasse o próprio prazer, derramando seus jatos
quentes dentro de mim.
Assim que entrei no banheiro, olhei no espelho e vi marcas por todo o meu
corpo. Seus dedos estavam perfeitamente desenhados no meu pescoço e
bunda. Havia marcas fortemente roxas em meus peitos. Até minha cabeça
estava dolorida pelos puxões. Estava inchada, dolorida e marcada, mas
acima de tudo, satisfeitíssima!
Eu gosto do meu marido assim, intenso, quente e desejoso por mim.
Capítulo 32

Após um sexo selvagem e gostoso, descansamos e decidimos ficar no


bangalô, jantamos por aqui, transamos e fomos dormir.
Agora estamos nos ajeitando para irmos à praia.
— Você não acha que esse biquíni está muito curto não? — Rocco
perguntou pela milésima vez.
Revirei os olhos sem que ele visse e me virei, abrindo o sorriso mais doce
que consegui.
— Não — Ele passou a mão na barba e arqueou a sobrancelha, estava
visivelmente irritado. — É praia, todo mundo vai estar de biquíni, ninguém
vai olhar para mim.
— Eu espero, Luara.
— Quem vai olhar para mim com você do meu lado com essa cara de
bravo? Ninguém, né!
Afinal, quem seria louco? Esse homem olha para as pessoas com um olhar
matador.
— Melhor não olhar mesmo, não quero ter que matar ninguém aqui. Estou
de férias.
— Ciúmes? — Caminhei até ele e me sentei em seu colo. Um sorriso bobo
brincava em meus lábios.
O quão absurdo poderia ser eu estar feliz com a sua possessividade?
— Você é minha — Mordeu meu lábio inferior — Só minha.
— Eu sou sua — Rebolei em seu colo — Somente sua — Devolvi a
mordida.
— Cazzo, Luara! Não fica brincando comigo, daqui a pouco não vamos em
merda de praia nenhuma, vou te trancar aqui dentro e te comer até você
aguentar mais.
— Ah, não! — Levantei-me. — Eu quero ir à praia, não viemos aqui para
ficar trancados no quarto transando.
— Do jeito que estamos daqui a pouco tem um herdeiro aí na sua barriga —
comentou rindo e meu coração disparou.
— O quê? — Fiquei bastante nervosa, mas logo tentei disfarçar minha cara
de espanto para que ele não percebesse que havia algo de errado.
— Um bebê, não vai demorar e teremos um bebê. — Levantou e agarrou a
minha cintura, colando nossos corpos.
— Claro, um bebê — Minha voz era de puro desânimo. — Se continuarmos
assim não vai demorar mesmo — Sorri sem graça — Mas agora vamos
parar de falar disso e vamos para praia? — chamei para encerrar o assunto.
Que assunto chato! Eu não quero ter filhos e queria gritar isso no seu
ouvido, mas como não posso, sigo quietinha tomando o meu contraceptivo.
— Vamos. — Rocco pareceu perceber o meu desconforto, mas não
comentou nada e eu agradeci mentalmente por isso.
Caminhamos até a praia que está bem movimentada, a maioria das pessoas
aqui parecem ser casais em lua de mel, estão de mãos dadas, sorriso leve e
se beijando constantemente.
Senti um pouco de inveja desses relacionamentos normais, onde as coisas
são mais leves.
— Aqui é tudo tão lindo, né amor? — Meu marido arqueou as sobrancelhas
daquele jeito lindo que só ele sabe fazer e só então me dei conta de que o
chamei de “amor”.
— Amor, é? — perguntou rindo.
— Desculpa, foi sem pensar.
— Tudo bem, pode me chamar assim — Me deu um rápido selinho —
Gostei de ouvi-la me chamar assim.
Um enorme sorriso se formou nos meus lábios. Eu também gostei de
chamá-lo desta maneira e fiquei mais feliz ainda em saber que ele também
gostou.
— Vem, quero tomar sol — Puxei sua mão e fomos até uma
espreguiçadeira.
— Você não vai deitar ai com a bunda para cima! — desaprovou antes
mesmo que eu fizesse.
— Porque não, Rocco? — Cruzei os braços. Quanta chatice! — Aqui é uma
praia, as pessoas fazem isso, é normal! — argumentei. — E outra, você está
bem do meu lado.
— Luara, eu vou meter uma bala na cabeça do primeiro bastardo que passar
olhando para você!
— Para com isso — Acariciei o seu rosto, tentando acalmar a fera.
— Relaxa, estamos de férias. — Beijei seus lábios carinhosamente. —
Vamos nos divertir — implorei, não suportando mais esse jeito controlador.
— Tem como você esquecer um pouco que é um mafioso? — perguntei
bem baixinho e olhei para os lados, com medo de alguém ter me ouvido.
Ele riu, um sorriso bem pequenino, mas um sorriso. E caramba, eu
suspirei… tão lindo!
— Certo. Vou pegar algo para beber no quiosque, vai querer o quê?
— Um mojito.
Assim que Rocco saiu, joguei-me na espreguiçadeira respirando aliviada.
Como é difícil entender o que se passa na cabeça desse homem. Está
sempre com essa cara de bravo, parecendo que vai matar todo mundo a
qualquer momento.
Senti até dor de cabeça quando mencionou o assunto de logo termos um
filho. Eu gosto de criança e é claro que um dia já sonhei em ter uma, mas
não quero colocar um filho no mundo para sofrer. Se for menino, terá que
começar a sua iniciação cedo para assumir o posto do pai, o que não será
nada fácil. Se for menina, terá que se casar com alguém que nem conhece.
Não, definitivamente não, eu não terei um bebê!
— Se olhar novamente para ela, certamente você não sairá dessa praia vivo
— Saí dos meus pensamentos quando escutei Rocco e ao olhar para o lado,
vi um homem me encarando e sorrindo.
— Me desculpa, eu não sabia que ela era comprometida — explicou-se
gaguejando;
— Vaza daqui, moleque! — rosnou feito um animal feroz e o menino, que
deveria ter a minha idade, sai correndo.
— Precisava disso tudo? É só um menino! — Peguei o meu drink da sua
mão e o repreendi.
— Um menino que é da sua idade. — Sentou-se ao meu lado.
— Eu nem percebi que ele estava olhando.
— Distraída pensando em quê? — perguntou, olhando-me com
curiosidade.
Tenho certeza que ele queria estar lendo meus pensamentos agora. Até
meus pensamentos esse homem que controlar, pelo amor de Deus! Que
sandice!
— Em como estou feliz em estar aqui com você — menti descaradamente e
sem sentir um pingo de remorso por isso.
A convivência está começando a me afetar.
Na verdade, não é totalmente mentira, já que estou sim feliz em estar aqui
com ele, a mentira é que não estava pensando nisso e sim nessa história de
que daqui a pouco teremos um bebê. O que não vai acontecer, porque estou
tomando meu remédio direitinho. Que meu queridíssimo marido nem
desconfie disso, se não estou ferrada.
Capítulo 33

Ficamos aqui em Tulum por quatro dias, mas agora precisamos voltar,
preciso oficializar o noivado da minha irmã com o Capo Enzo e preciso
resolver o quanto antes meu assunto pendente chamado Claus. Enzo está
trabalhando nisso, mas ainda sem sucesso de rastreá-lo. O figlio di puttana
é bom em se esconder, mas acredito que Enzo seja melhor em encontrá-lo, e
é somente por esse motivo que permiti esse noivado. Se eu não encontrar
aquele maldito, minha família e meus negócios correm sérios perigos,
porque a cada dia ele se aproxima mais e eu não posso permitir que
machuque um dos meus.
— Eu vou na recepção acertar as coisas da nossa partida — avisei Luara,
que estava arrumando as coisas dela.
— Tá bom — Ela largou a roupa que estava colocando na mala em cima da
cama, caminhou até onde estou, ficou na ponta dos pés e me deu um beijo
calmo e gostoso.
Esses dias aqui com ela fizeram muito bem para o nosso casamento.
Estamos vivendo a mil maravilhas e espero que possamos continuar assim
quando voltarmos para casa.
Nesses dias que ficamos aqui transamos feito dois loucos. Ela é quente e
receptiva na cama e isso tem me fascinado demais. Não consigo ficar muito
tempo sem tocá-la e desejar estar dentro dela.
Afastei-me dela antes que as coisas esquentassem e fui para a recepção,
fazer o check out. Na metade do caminho, percebi que havia esquecido
minha arma e meu celular, então voltei para buscar.
Assim que entrei, a vi tirar um remédio da cartela e jogar na boca, bebendo
água logo depois.
— Que remédio é esse?
Ela se assustou e, acabou deixando o corpo cair no chão, se espatifando.
Virou-se para mim com os olhos arregalados e escondeu o remédio atrás
dela.
— R-remédio? — gaguejou.
— Sim, Luara, esse remédio que está na sua mão e que você acabou de
tomar.
— Ah, esse? — Riu, bastante nervosa. — Não é nada demais.
— Então me deixe ver o que é — pedi.
— Para que, Rocco? É só um remédio! — exaltou-se. — Caramba, para de
tentar controlar tudo! Que saco!
— Eu pedi que me deixasse ver, Luara, me entrega a cartela, quero ver o
que está tomando. — Preocupo-me com a sua saúde. Não sabia que ela
estava tomando algum remédio e me perguntei se está doente. Ela não me
entregou e ficou parada me encarando, com os olhos marejados, o que me
deixou ainda mais curioso. — Eu vou pedir só mais uma vez, me entrega o
remédio, agora! — vociferei, sem paciência.
Luara jogou a cartela em mim, bateu no meu peito e caiu no chão. Abaixei-
me para pegar e sou surpreendido.
— Que merda é essa? — perguntei ao ver que é um anticoncepcional.
— Eu posso explicar — sussurrou com a voz embargada.
— Explicar? — Estreitei os olhos. — O que você pode explicar? Que você
estava me fazendo de idiota? Que você estava mentindo para mim? —
bradei, sentindo-me enganado por ela.
— Eu não menti! — defendeu-se. — Não fiz nada demais, Rocco, eu só não
quero ter um bebê.
Por que estou me sentindo tão chateado em ouvir da sua boca que não quer
ter um filho?
— Você sabe que o conselho vai começar a cobrar isso de nós dois, não
sabe? Você sabe que se você não for fértil o suficiente, eu posso me separar
ou eu vou ter que arrumar outra mulher para me dar herdeiros, você sabe
disso? Você sabe o que aconteceria com você, Luara? Se eu me separar,
você acha que vai voltar para casa dos seus pais? — questionei e ela ficou
em silêncio, mordendo o próprio lábio inferior com força. — Responde o
que eu perguntei, porra! — gritei.
— Eu sei disso tudo! Mas eu não quero ter um bebê… não agora —
murmurou a última parte e estranhamente senti uma pontada de alívio no
peito.
— Por que você não me contou? Por que preferiu esconder? Se você não
puder me dar filhos, você vai para um prostíbulo. É isso que acontece com
mulheres inférteis no nosso meio, era essa a sua intenção?
— Não! — gritou, já chorando. — Nunca foi essa a minha intenção. Eu
estava com raiva, chateada por ter que me casar com você e eu não queria
um filho agora. Criar um filho no nosso mundo já é ruim, em um casamento
conturbado é pior ainda, eu só queria um tempo para ajeitar as coisas, só
isso.
— Como eu posso confiar em você, Luara? Eu te dou um voto de
confiança, eu faço de tudo para a gente ficar bem e você continua me
enganando, durante essa viagem eu falei sobre ter filhos e você concordou,
ficou fingindo.
— Rocco — Tentou se aproximar e me afastei — Não vamos estragar a
nossa viagem por conta disso. Olha, eu vou parar de tomar e também eu
esqueci de tomar durante essa viagem, só lembrei hoje — tentou amenizar.
— O problema não é o remédio e sim a mentira, Luara, é querer esconder as
coisas de mim.
— Amor... — Peguei o meu celular e minha arma para sair dali — Onde
você vai?
— Termina de arrumar suas roupas, vou acertar as coisas para gente ir
embora e eu não quero mais ouvir falar nesse assunto.
Saí de lá deixando ela sozinha e fui andando bem devagar para a recepção,
pensando no que acabou de acontecer lá. Não sei nem porque me importei
tanto com isso, acho que foi a mentira, o fato de ela ter escondido isso de
mim. O conselho vai cobrar um herdeiro da minha parte e no nosso meio
mulheres que são inférteis não prestam, elas acabam no prostíbulo e não é o
que eu quero para ela. Mesmo sabendo das consequências, Luara preferia
isso do que viver ao meu lado e eu achando que estávamos nos
entendendo… acredito que foi o que mais me magoou.
Meu celular tocou e eu vi que era Enzo.
— Fala. — Não estou com paciência para nada e nem ninguém.
— Tenho a última localização de Claus.
— Onde?
— Ele foi visto em Tulum a cerca de 30min, perto de um bangalô..... —
Parei de ouvir nessa parte — Rocco? — chamou — Ainda está aí?
— Luara — Saí correndo em direção ao bangalô em que estávamos.
Capítulo 34

Merda, merda, merda e merda! É só isso que consigo pensar. Estava tudo
muito bom para ser verdade. Agora eu não sei como vai ser, mas aposto que
vamos voltar a viver no mesmo inferno de antes, ele não vai aceitar isso que
fiz, na cabeça dele eu o enganei, menti… Fiz errado em esconder, mas
tenho certeza que se falasse que não queria ter filhos nesse momento ele
não aceitaria.
Quando comecei a tomar o remédio, sequer o conhecia, não estava
convivendo com ele, tudo que eu sabia era que estava prometida para um
monstro. Já estava sendo obrigada a me casar, não queria engravidar
também. Poxa vida, minha vontade também não conta?!
Fui inconsequente em não pensar nas consequências que isso poderia me
trazer? Fui. Nós mulheres não temos direito nem de mandar no nosso
próprio corpo, nem escolher se queremos gerar um filho ou não. Isso
deveria ser o mínimo, eles respeitarem a minha decisão. Por que querem
tanto que continuem procriando nesse meio terrível? Seria muito mais fácil
acabar com todo esse sofrimento não colocando mais nenhuma criança
inocente nessa podridão.
Soltei um suspiro pesado. Tudo estava indo tão bem no nosso casamento,
em alguns momentos até pensei que fossemos um casal normal, daqueles
que se conhecem, saem para alguns encontros, se apaixonam perdidamente
e então decidem dividir a vida juntos.
Não queria que a nossa viagem tivesse terminado dessa maneira. Acabei
conhecendo uma versão de homem dele que me encantou profundamente e
tenho medo de que não veja mais esse Rocco apaixonante da viagem.
O pior de tudo é que nesses dias eu descobri que o que eu mais temia está
acontecendo: estou começando a me apaixonar pelo o meu marido. Não
consegui entender o que está acontecendo comigo, está uma confusão
assustadora dentro do meu peito. Sinto-me bem quando estou em seus
braços, mas logo depois sinto-me ridícula por sentir-me atraída por um
homem como ele.
Seria tão errado assim se apaixonar por um mafioso cruel e frio?
Encarei a cartela de remédio no chão e a peguei, esmagando-a na minha
mão, sentindo raiva de mim mesma por ser tão estúpida às vezes. Fui até o
banheiro, joguei na lixeira e voltei para o quarto para arrumar minhas
coisas.
Escutei um barulho e no primeiro momento pensei que era o meu marido,
que voltou rapidamente, mas logo me lembrei que ele não faz barulho,
nunca sei quando ele chega em algum lugar, pois sempre é silencioso ao
extremo.
Um arrepio estranho percorreu toda a minha espinha e nuca, uma sensação
ruim invadiu o meu peito e corri para trancar a porta do quarto.
Afastei-me da porta ao perceber que a pessoa do outro lado estava mexendo
na maçaneta, tentando abri-la.
Meu coração bateu tão forte que podia jurar que a pessoa do outro lado da
porta estava ouvindo-o. Minha respiração estava acelerada e desregular. Dei
passos para trás sentindo as pernas trêmulas.
Puxei o ar com força, não podia me desesperar, não agora.
O que eu vou fazer agora, meu Deus? Cadê o Rocco? Preciso dele!
Pensei em correr para a janela e gritar por socorro, mas ninguém ia me
ouvir porque cada bangalô é afastado um do outro para manter a
privacidade e paz. Pensei em pular também, mas o quarto em que eu me
encontrava era no segundo andar e a queda seria grande. Analisei para ver
se tinha chances de sair viva caso pulasse e cheguei a conclusão de que
devo quebrar as duas pernas… na melhor das hipóteses.
Pensando bem, é melhor morrer de uma vez do que cair nas mãos de
pessoas inimigas, não é? Decidi que é melhor pular. Subi na quina da janela
e peguei impulso para saltar , mas antes de conseguir, a pessoa arrombou a
porta e me puxou pelas pernas.
— Me solta! — comecei a gritar e me debater — Me larga, você pegou a
pessoa errada, me larga! — implorei enquanto ele me arrastava, puxando-
me pelos pés.
— Peguei a pessoa certa, a esposa do grande Don Caccini — debochou,
parando de me arrastar e encarando-me.
Seus olhos eram assustadores… tudo em mim gritava em completo
desespero. Se Rocco não viesse me salvar, eu morreria nas mãos desse
homem e podia ver isso claramente em seus olhos.
— Socorro! Socorro! — continuei gritando, tentando me soltar do seu
aperto.
Senti um tapa forte no meu rosto e depois outro, seguido de mais outro, e
mais um após este. O gosto metálico do sangue é predominante e sinto o
melado escorrer pelo meu nariz e boca.
Continuei tentando gritar, mas a cada tapa forte que levava no rosto, minha
voz e visão ficavam mais fracos.
— Grita sua cadela, grita mais! — ordenou rindo, desferindo mais um tapa
forte.
Suas mãos agarram o meu cabelo, puxando-me para cima, tentando me
levantar e dessa vez choraminguei de tanta dor.
— Eu queria muito me divertir com você… — Analisou-me, com aquele
olhar nojento de estuprador. — Você é linda! — Passou a mão no meu peito
e eu reuni todas as minhas forças para lançar uma cuspida no seu rosto —
Sua vadia, você gosta de apanhar? É isso que você gosta? Então te darei —
Segurou firme nos meus cabelos e acertou minha cabeça na parede
incontáveis vezes.
Já não conseguia controlar a minha mente e corpo, minhas forças estavam
acabando e tudo que passei a ver foi a escuridão.
Não apague agora, Luara… vamos, você é forte, não apague agora.
Repeti na minha mente, tentando me manter acordada.
— Acorda, sua vagabunda — Parou de acertar minha cabeça na parede para
voltar a desferir tapas no meu rosto. — Acorda que ainda não acabou e eu
quero você bem acordadinha para ver o que vou fazer.
— Para...por favor... — sussurrei, extremamente fraca. Mal conseguia abrir
os olhos de tão pesados e inchados que estavam.
— Eu vou parar, vou parar porque foi só um aviso, da próxima você não vai
ficar aqui para contar história, mas antes de te matar, vou pedir ao chefe que
me deixe brincar com você, vou comer cada buraquinho seu, até você não
aguentar mais — Senti sua língua asquerosa passar por meu pescoço e a
ânsia de vômito veio forte, embrulhando meu estômago.
Acertou mais alguns tapas e jogou-me no chão ao ouvir o barulho do seu
telefone tocar. Mesmo que não estivesse 100% lúcida, consegui escutá-lo
falar com alguém do outro lado da linha, alguém que pareceu estar dando
ordens a ele, pois respondeu sempre com: sim, senhor.
Aproveitei sua distração para tentar me arrastar e sair dali, mas uma
coronhada forte acertou a minha cabeça e eu apaguei.
Meu último pensamento foi nele, só pedi para que ele me encontrasse antes
que esse monstro me matasse ou fizesse coisa pior comigo.
Preciso de você, Rocco...
Capítulo 35

Corri desesperadamente até o bangalô e subi as escadas. Estava ofegante e


com o coração batendo a mil quando cheguei ao meu destino.
— Luara...Luara — gritei chamando o seu nome, mas não obtive resposta, o
que me deixou ainda mais desesperado.
Da porta do quarto, vi sangue por todo lado e olhei para os lados,
procurando por ela e não a encontrei.
Vou matar aquele maledetto[xxiv]! Farei picadinho dele… irei desmembrá-lo!
Nessa hora escutei um telefone tocar, olhei em cima da cama e vi que era
um telefone desconhecido… é ele, só pode ser ele.
— Fico feliz que tenha me atendido, velho amigo — o bastardo falou do
outro lado da linha.
— Quando eu colocar minhas mãos em você, seu disgraziato[xxv], você vai
se arrepender do dia em que nasceu — bradei, tentando manter o controle,
mas falhando miseravelmente.
— Calma, por que tanto ódio de mim? — Gargalhou, se divertindo com o
meu desespero.
— Cadê ela? O que você fez com a minha mulher?
Queria manter a calma, mas estava tão desesperado. Tudo que eu queria era
me teletransportar através desse aparelho para onde esse infeliz está e
desfigurar sua cara de tanta porrada que daria.
Miserável! Estou de mãos atadas e ele sabe disso, por isso está jogando
comigo.
— Sua mulher? Eu não sei da sua mulher — Riu.
— Seu maledetto… — Ia xingá-lo e ameaçar de várias maneiras, mas voltei
à racionalidade. — Não estou com tempo para gracinhas. Espero que você
encontre um buraco para se esconder, porque eu vou até o inferno atrás de
você!
— Isso se eu não te encontrar antes, não é? Estou sempre um passo à sua
frente, não se esqueça disso. Para provar como eu gosto de você e sou um
bom homem, mandei que deixasse sua mulher aí, procure por ela, mas acho
melhor você se apressar... tic-tac, o tempo não está a seu favor, Don
Caccini.
Joguei o aparelho celular na parede e corri para procurá-la. Pisei numa poça
de água e ao olhar para baixo da porta do banheiro, vi que estava vazando
água.
Dei um chute na porta, arrombando-a, e vi seu pequeno corpo dentro da
banheira, submerso.
Desesperadamente puxei o seu corpo, tirando-a de lá. Respirei aliviado ao
constatar que tinha batimentos cardíacos, fracos, mas presentes.
Com cuidado, peguei-a no colo e corri, buscando por ajuda, gritando para
alguém aparecer e socorrê-la.
Eu não posso perdê-la… eu não posso perdê-la.
Já na recepção, ela foi colocada dentro de uma ambulância que fica ali à
disposição dos hóspedes e encaminhada para o hospital. Fui ao seu lado,
sem soltar a sua mão um segundo sequer, nem quando estava recebendo os
primeiros socorros.
Tive que me afastar, com muita reluta, quando ela entrou na sala para ser
examinada. Andei de um lado para o outro, quase formando um buraco no
chão enquanto não obtive respostas suas. Os minutos iam se passando e o
meu desespero aumentando.
Liguei para o meu irmão e informei sobre o ocorrido, pedi para que ele
ligasse para os pais dela, no momento não estava com cabeça para falar
com ninguém, estou preocupado e com ódio, preciso pegar esse maldito! Eu
juro, por tudo que é mais sagrado, que Claus pagará muito caro por ter feito
isso.
Depois de longos minutos sem resposta, o médico que a levou se
aproximou.
— Você é o parente que trouxe a paciente Luara? — Certificou-se antes de
passar qualquer informação.
— Sim, sou o marido. Como ela está?
— Ela teve muita sorte de ainda estar viva. Por conta da quantidade de água
que engoliu, resultou em uma insuficiência respiratória e também teve uma
concussão cerebral grave.
— O que isso quer dizer, doutor? Tem como ser mais claro? O caso dela é
grave? — perguntei impaciente. Não quero ouvir sobre termos médicos,
quero ouvir com clareza que a minha esposa está bem.
— No momento não posso afirmar nada. Ela permanecerá na UTI e vamos
acompanhar a sua evolução.
— Está me dizendo que a minha esposa está em coma?
— A pancada na cabeça foi forte e...
— Por quanto tempo? — interrompi o seu discurso irritante.
— Não posso afirmar por quanto tempo ela ficará assim, preciso observá-la.
Já estamos fazendo tudo que está ao nosso alcance, agora nós dependemos
dela para reagir. O senhor poderia me informar o que aconteceu para essa
moça estar nesse estado? — questionou desconfiado.
Esse infeliz pensa que eu seria capaz de fazer isso com a minha esposa?
Porra!
— Estávamos de férias, nosso bangalô foi assaltado e infelizmente ela
estava sozinha — menti em partes, não querendo me aprofundar no assunto.
— Procure a polícia o quanto antes, o caso dessa moça é sério, ela podia ter
morrido.
Só de pensar em perdê-la meu coração ficou apertado. O médico pareceu
acreditar na minha história e respirei aliviado, um problema a menos.
— Farei isso. Posso vê-la agora?
— Hoje não, mas amanhã a visita estará liberada.
Bati o pé que queria ver a minha esposa, mas o médico se recusou,
ameaçando até acionar a polícia caso eu invadisse. Segurei-o pelo jaleco e
rapidamente uma confusão se formou, com os seguranças me puxando para
me manter longe dele.
Aos poucos os ânimos foram se acalmando e o médico pareceu entender o
meu desespero. Explicou-me com calma sobre o tratamento que Luara
receberia e informei-me sobre uma possível transferência para a Itália.
Apesar de não poder vê-la, não saí do hospital, continuei aqui sentado por
horas, até escutar minha família e a dela chegar. Era hora de se preparar
para a fúria do seu pai e ele tinha toda razão, eu falhei, deveria protegê-la de
tudo e todos, mas eu falhei.
— Seu desgraçado! O que você fez com a minha irmã? — Victor, irmão de
Luara, se preparou para avançar em mim, mas Renzo o segurou.
Não tive forças para fazer nada além de escutar calado.
— Lembre-se de quem ele é, Victor, não vamos arrumar problemas, por
favor — o pai dele intercedeu, mais calmo do que imaginei que estivesse.
Nunca pensei que fosse me sentir tão mal dessa maneira. Não consigo
explicar tamanha escuridão que se formou dentro do peito. A dor, amargura,
culpa, ódio… tantos sentimentos me consumindo de vez.
— Rocco, o que aconteceu? — Meu pai se aproximou perguntando.
Mesmo não querendo relembrar o acontecido, como se fosse possível, já
que está mais vivo que nunca na minha memória, conto a eles tudo que
aconteceu, pois merecem saber.
— Aquele figlio di puttana quis deixar um aviso! — Renzo comentou,
nervoso. — Se fosse para matá-la, ele tinha feito, mas não, só quis assustar.
— Concordo, figlio[xxvi], ele está tentando nos desestabilizar, se a gente fica
fragilizado, nos tornamos um alvo fácil.
— O que você vai fazer a respeito? — dessa vez foi Victor quem perguntou.
— Não sei, não estive em condições de pensar em nada no momento. —
Pela primeira vez desde que chegaram levantei a cabeça para encarar o meu
irmão — Liga para o Enzo, diga que quero uma reunião com ele o quanto
antes.
— Estamos nos colocando à disposição, Don, essa guerra se tornou nossa
também — o pai de Luara informou.
Apenas dei um leve aceno de cabeça, concordando.
Os pais e o irmão dela foram procurar o médico que a examinou para
conversar e eu fiquei aqui com a minha família.
— Figlio, vamos tomar um café? — mamma[xxvii] me chamou e eu neguei.
— Você não pode ficar sentado aqui nessa cadeira para sempre, vem
comigo, ela vai ficar bem, ela é forte.
— Mamma, eu quero ficar sozinho — praticamente implorei.
— Vamos deixar ele sozinho, sposa[xxviii] — Meu papá[xxix] pareceu entender
que é o melhor nesse momento.
— Tudo bem, figlio. Qualquer coisa é só chamar a mamma. — Depositou
um beijo carinhoso na minha bochecha e saiu com o meu pai.
— Não foi culpa sua, fratello. — Renzo sentou-se ao meu lado, colocando a
mão no meu ombro.
— Foi sim, eu deveria protegê-la, falhei como marido e estou falhando
como Don.
— Para de paranóia, você sempre deu o seu melhor para a máfia. O que
aconteceu com Luara poderia ter acontecido com qualquer um de nós.
Infelizmente esse bastardo foi mais esperto, mas isso não quer dizer que é
sua culpa.
— Eu disse que quero ficar sozinho — Não queria continuar tocando nesse
assunto, estava sendo consumido por dentro e falar disso no momento só
iria piorar.
— Eu nunca vou te deixar sozinho, você é meu fratello. Eu por você e você
por mim sempre. Mesmo que não queira, estarei aqui do seu lado.
— Grazie[xxx]!
Sempre fomos muito unidos, eu já fiz muita coisa por ele e ele por mim.
Estamos sempre juntos ajudando um ao outro, nossa parceria é fiel. Amo
meu irmão, apesar de não demonstrar da forma convencional devido ao
mundo em que vivemos.
Ficamos o restante da noite aqui sentados, sem falar mais nada, apenas
esperando alguma resposta que pareceu não chegar nunca. Perguntei ao
médico sobre ela a cada trinta minutos e sempre recebia a mesma resposta.
Preciso vê-la, necessito sentir ela respirando, só assim para ter um pouco de
alívio.
— Vai descansar. Eu fico aqui — Meu irmão sugeriu ao ver que já tinha
amanhecido.
— Eu vou ficar.
— Rocco, você precisa descansar, precisa ficar bem, Luara precisa de você,
a Máfia precisa de você. Não vai conseguir pegar Claus se estiver mal,
agora não é o momento para se desesperar. Você precisa centralizar suas
emoções.
Ele tem razão, não posso me deixar abater, preciso pegar aquele infeliz e
fazê-lo pagar por toda essa merda.
— Tudo bem. Qualquer coisa você me avisa.
— Vai tranquilo, ficarei aqui e daqui a pouco os pais dela estão voltando.
Durante a noite passada, todos foram descansar e só ficaram eu e Renzo no
hospital. Agora vou só tomar um banho, comer alguma coisa e voltar, não
vou conseguir ficar longe dela. Confio no meu irmão, sei que ele jamais
permitirá que algo de ruim aconteça, mas mesmo assim, eu preciso estar lá,
perto dela.

Quatro malditos dias que Luara está inconsciente, ontem de noite o médico
fez a extubação e agora só estamos esperando ela acordar. Espero que não
demore muito. Estou sentindo falta até do atrevimento daquela diabinha.
Realmente estou morrendo de saudades dela, nunca pensei que fosse ficar
dessa forma.
Quatro desesperados dias, ansiando por respostas e pedindo a toda e
qualquer santidade existente nesse mundo, que eu nem mesmo acredito, por
sua vida. Eu seria capaz de qualquer coisa para vê-la sorrir novamente.
— Desculpem o atraso — Enzo pediu, adentrando a sala do apartamento em
que estou hospedado.
Estávamos esperando ele para mais uma reunião.
— Espero que tenha boas notícias para mim.
— Rocco, o cara é muito esperto, mas eu consegui fazer a ligação dos
locais em que ele mais ficou nos últimos dias, não vai demorar muito até
que eu consiga a localização exata dele.
— E porque não conseguiu ainda? — Renzo questionou.
— Claus não passa mais de 12h no mesmo local, faz a troca para que não
saibam onde exatamente ele vai estar. Claus sabe com quem está lidando e
não vai arriscar, está com medo.
— Então como você vai descobrir? — Meu irmão conduziu a conversa e eu
fiquei só prestando atenção.
— Tem três lugares que ele foi com frequência, um deles com certeza é
onde ele passa mais tempo, provavelmente a casa dele, eu só preciso de
mais uns dias para ter certeza de qual deles é o certo. Porque caso a gente
vá no lugar errado, o risco de perdemos sua localização é grande.
— Tome o tempo que for necessário para descobrir a localização exata, não
quero suposições, já estou farto deles. O noivado com a minha irmã só será
oficializado após esse serviço estar concluído, quando eu tiver a cabeça de
Claus em uma bandeja, você poderá realizar o noivado e marcar a data do
casamento.
— O combinado não foi esse! — O Capo se exaltou.
— Acabei de mudar o combinado — Levantei-me decidido. — Você terá o
que quer, quando eu conseguir o que quero — Estreitou os olhos. — O que
foi? Não confia no seu trabalho?
— Claro que confio, eu vou encontrá-lo — afirmou com afinco.
— Então temos um novo acordo. Passar bem.
Ajeitei o paletó do meu terno e rumei a saída, pronto para ir ver Luara.
— Pensou que as coisas iam ser tão fáceis assim, mané? — Ouvi Renzo
implicar. — Já que quer entrar para a família, vai ter que provar que é capaz
e merecedor.
— Eu não quero entrar para a sua família, Renzo, eu quero me casar com
sua irmã. Quando eu me casar com ela, é ela quem vai deixar de ser sua
família para entrar na minha. — Ouvi Enzo esclarecer e decidi esperar mais
um pouco, com receio de que acabasse em briga essa discussão dos dois.
— Cuidado com minha irmã, se você fizer mal a ela eu te mato!
— Isso não será um problema seu, a partir do momento em que me casar
com Alice, ela passará a ser responsabilidade minha — Apesar de não
gostar nada disso, Enzo tem razão. — Você deveria estar preocupado com
sua noiva e sua amante.
Meu irmão tentou avançar nele, mas rapidamente eu me aproximei,
segurando-o.
— Chega dessa brincadeirinha de vocês dois! — ordenei, extremamente
irritado com os dois, pois sempre que nos encontramos é assim, uma eterna
briga.
Meu celular tocou e era um número desconhecido. Assim que atendi,
reconheci a voz do médico do outro lado da linha, ele estava me dando a
melhor notícia dos últimos dias… minha esposa havia acordado.
Não me lembro a última vez que senti essa sensação de alívio e felicidade
tão forte.
— Que cara é essa? — meu irmão perguntou curioso.
— Ela acordou, estou indo para o hospital — contei, bastante animado. —
Não se matem.
— Vai lá, fratello — Renzo sabe como esperei por esse momento e sorriu,
tão feliz quanto eu.
— Fala que mandei um beijo para ela — Enzo provocou.
Esse cara adora encher o saco.
— Vá se foder! — xinguei sem olhar para trás, não havia tempo há perder,
mas ainda pude ouvi-lo rir.
Vou correndo ao encontro da minha diabinha. Estou chegando, ragazza,
estou chegando cheio de saudades suas.
Capítulo 36

Acordei um pouco tonta, mas me lembro perfeitamente de tudo que


aconteceu, dos momentos horríveis que passei nas mãos daquele homem,
do quanto esperei que Rocco aparecesse para me salvar… Será que ele
apareceu? Olhei para o lado um pouco confusa de onde estou e vi minha
mãe.
— Filha? Filha? Está me ouvindo? — Escuto-a perguntar. Apesar de
conseguir ouvir e vê-la, sua voz me parece mais longe do que o normal.
— Si-sim — gaguejei, sentindo uma certa dificuldade para falar. Minha
garganta está seca, necessito de água. Tentei pedir, mas como a garganta
doía muito, não consegui falar.
— Graças a Deus! — Minha mãe me abraçou apertado, mas logo se
afastou, eufórica. — Calma, vou chamar o médico.
Ela correu para fora do quarto e depois de poucos segundos voltou com um
médico. Fui examinada e ele fez algumas perguntas, que respondi com certa
dificuldade por conta do ressecamento na garganta. Ele pediu que eu não
me esforçasse demais e me explicou o que aconteceu. Fiquei surpresa e
angustiada em saber que fiquei quatro dias desacordada. É estranho e
confuso, parece que dormi só por algumas horas, mas já se passaram dias.
— Filha, vou ligar para o seu pai e seu irmão avisando que você acordou —
Abri um pequeno sorriso, sentindo-me feliz por ver toda a sua felicidade.
Minha mente viajou para o meu marido. Sei que foi ele que me salvou.
Apesar de toda a loucura do nosso casamento, sinto-me segura ao seu lado e
estranhamente meu coração sabe que ele sempre me salvará. Mas o que fico
me questionando é se ele esteve aqui todos esses dias, se me visitou, se
ficou ao meu lado. O que deve ter conversado comigo? Ou será que ainda
está bravo por conta do remédio e sequer veio me ver? Tantas coisas se
passam pela minha cabeça nesse momento.
— Que carinha é essa, hein? Está pensando no seu marido? — mamãe
questionou assim que voltou para o quarto e me viu divagando em meus
pensamentos. Ela já havia ligado para o meu pai e irmão. — Pois saiba que
ele esteve aqui todos os dias, só saiu de perto de você porque insistimos
muito, mas durante todas as noites foi ele quem ficou aqui, não permitiu
mais ninguém, a todo momento queria estar ao seu lado.
Sanou a minha dúvida, parecendo ler os meus pensamentos.
— Sério? — consegui falar. Meu coração deu piruetas dentro do peito ao
saber disso.
Tornei-me uma boba apaixonada.
A enfermeira trouxe água e um canudo para que eu pudesse beber e senti
minha garganta bem melhor.
— Sim, meu amor — Acariciou carinhosamente o meu rosto. Suspirei,
carinho de mãe é tão gostoso! — Sei que casamento na máfia é difícil, mas
não é impossível de dar certo, filha, e pelo visto o seu está dando, eu vi
como o seu marido ficou preocupado, seu pai também reparou na mesma
coisa.
— Não sei não, mãe, antes disso tudo acontecer nós brigamos feio e eu
acho que ele está bem chateado comigo — comentei baixinho ao me
lembrar da briga.
— Filha, todo casamento tem brigas, você tem que ser esperta e saber
contornar a situação. O seu marido está caidinho por você, ele só não
percebeu ainda.
— Você acha? — perguntei esperançosa. Queria mais do que nunca que
isso fosse verdade, afinal, eu estava caidinha por ele.
— Certeza! Eu tenho experiência nisso, filha, seu pai já foi assim um dia.
— Espero ser feliz no meu casamento igual a vocês. — Não os invejo, mas
almejo ter um relacionamento como o deles.
— Vai ser, filha, vai ser até mais. Apenas tenha paciência e saiba contornar
as situações difíceis. Você tem que ser esperta. Nós mulheres jogamos com
as armas que temos — Lançou-me uma piscadela complacente, arrancando-
me um enorme sorriso. — Agora vamos tomar um banho, escovar esses
dentes e se ajeitar que daqui a pouco o seu marido vai chegar.
Mamãe chamou a enfermeira e com a ajuda dela fui colocada na cadeira de
rodas para ir ao banheiro tomar um banho, pois ainda estou com dificuldade
para firmar os pés no chão. Como quando eu era criança, minha mãe me
deu banho, ajudou-me a escovar os dentes, vestiu-me com um vestido
fresquinho e agora estou sentada na cama enquanto ela penteia os meus
cabelos.
Confesso que estava com saudades de ser filha, de ter um colo afetuoso e de
me sentir mimada desta maneira. Nostalgia me atinge e a saudades de casa
grita, consumindo o meu peito e que respirar fundo para não derramar uma
lágrima.
Escutei a porta do quarto ser aberta, mas não olhei para ver quem era… eu
sabia que era ele, sim, mesmo sem olhar eu sabia que era ele. Reconheceria
esse cheiro marcante e que agora me parece tão familiar a quilômetros de
distância.
Puxei o ar com força, enchendo os pulmões e criando coragem para encará-
lo. Lentamente ergui o olhar e o encontrei parado, encarando-me com um
brilho incrível nas suas imensas escuridões.
Meu coração disparou e a palma da minha mão estava suada.
É uma merda, uma grande merda, eu sei, mas estou completamente
apaixonada por esse homem. Rendida, apaixonada e morta de saudades.
Eu soube que estava me encantando por ele já faz um tempo, mas não podia
imaginar que fosse tanto assim.
Ele se aproximou e minha mãe saiu do quarto, deixando-nos a sós.
— Luara, como você está se sentindo? — perguntou e antes que pudesse
responder, fechei os olhos, apreciando o tom agradável da sua voz. Já havia
se tornado tão familiar.
— Bem e você? — Abri os olhos, finalmente respondendo.
— Estou melhor agora em te ver bem — Perdi o ar e meu coração bobo deu
piruetas. — Me desculpe por deixar você sozinha, isso não vai acontecer de
novo — Suas desculpas são sinceras e é possível notar a culpa que ele está
sentindo.
— Não foi culpa sua — garanti, olhando dentro dos seus olhos, sem desviar
um segundo nossos olhares, eu quero que ele tenha certeza de que eu não o
culpo, de forma alguma.
Olhando-o dessa maneira, até parece que faz anos que não nos vemos.
Mesmo que eu tenha ficado desacordada por quatro dias e que não tivesse
noção desse tempo até poucos segundos, o meu coração sabe que foi tempo
demais sem tocá-lo. Eu estou com tantas saudades que chega a ser
sufocante.
— Posso? — Apontou para a beirada da cama e assim que autorizei, ele se
sentou ao meu lado. Perto o suficiente para me embriagar com o seu cheiro.
— Tive medo de perdê-la — confessou, pegando-me desprevenida e
encostou nossas testas, misturando nossas respirações.
Pisquei repetida vezes tentando digerir a sua confissão. Me atingiu com
tanta força que me senti tonta.
Fechei os olhos, repetindo na memória a sua fala, várias e várias vezes. Era
necessário para que eu realmente acreditasse na sua declaração.
Sorri, com o coração transbordando de sentimentos bons.
— Eu também tive medo de ficar sem você — também declarei.
Segurou o meu rosto e cuidadosamente colou os nossos lábios, beijando-me
de um jeito carinhoso. O beijo foi se aprofundando e dei passagem para que
a sua língua me invadisse e o que começou com um beijo casto, acabou se
tornando quente, muito quente.
O desejo foi tomando conta dos nossos corpos e ele se afastou, antes que
partíssemos para algo que meu corpo ainda não estava preparado.
— Ainda está bravo comigo? — Decidi perguntar, o momento me pareceu
propício e ele não parecia estar com tanta raiva.
— Não. Apenas não esconda nada de mim, nunca mais. Se você não quer
ter filhos agora, tudo bem, vou respeitar a sua decisão, mas quero que possa
ser verdadeira no que fala pra mim.
Pode até parecer bobeira, mas ouvir dele que respeita a minha decisão e que
não insistirá para que eu engravide logo, deixou-me muito aliviada e feliz,
muito feliz.
— Desculpe-me. — Meu pedido de desculpas é sobre esconder dele e não
sobre minha decisão, pois dela eu não me arrependo.
— Já passou. O importante agora é que você está bem. — Sorri, gostando
de ver esse Rocco todo preocupado e carinhoso — Agora eu preciso que
você me conte tudo que aconteceu, sei que é desconfortável relembrar esse
acontecimento doloroso, mas é necessário. — Assenti. — Vou te mostrar
uma foto e você me diz se foi esse homem que você viu, tudo bem?
— Sim.
Contei para ele as coisas que me lembrava, até porque após a surra as coisas
ficaram escuras e confusas. Rocco ficou extremamente nervoso quando
contei sobre aquele homem nojento ter passado a mão em mim e dito
aquelas coisas asquerosas. Ele se levantou, deu um soco na cadeira, disse
várias coisas em italiano, que acredito serem xingamentos, e pediu-me
insistentemente desculpas, acreditando ser o culpado por toda essa situação.
Mesmo que eu dissesse que ele não tem culpa do que aconteceu, não
consegui convencê-lo.
Neguei ao ver a foto do homem, não era aquele, mas me lembrei de que o
homem que estava no bangalô recebia ordens de outro, lembro-me da hora
em que o seu telefone tocou, ele só não me estuprou porque a pessoa do
outro lado da linha não deixou.
— Provavelmente Claus mandou outra pessoa fazer o serviço, mas eu vou
descobrir quem fez isso. Eu te prometo que ninguém nunca mais vai
encostar em você. Confia em mim, Luara? Eu falhei, mas isso não
acontecerá mais, nunca mais. — Balancei a cabeça, concordando veemente.
— Vai ficar tudo bem. Essas pessoas vão pagar muito caro por ter
encostado em você. Me desculpa por deixar isso acontecer, eu falhei como
marido e sinto muito por isso.
— Está tudo bem, não foi culpa sua — Mais uma vez tentei tranquilizá-lo
— Obrigada por ter ficado aqui todas as noites — Meu marido arqueou as
sobrancelhas, provavelmente querendo saber como eu sei que ele esteve
aqui — Minha mãe me contou.
— É o mínimo que eu poderia fazer.
— Você vai ficar aqui hoje? — perguntei torcendo para que a sua resposta
fosse positiva, eu queria muito que ele ficasse, gosto de estar ao seu lado e
me sinto segura.
— Hoje e todos os dias — Deitou-se ao meu lado, puxando-me para me
aconchegar em seus braços. — Você nunca mais ficará sozinha, essa é uma
promessa.
E eu tenho a certeza que ele a cumprirá. É com esse alívio e a tranquilidade
de ouvir cada batida do seu coração que permiti-me fechar os olhos e
adormecer.
Não tenho dúvidas de que todas as suas promessas serão cumpridas.
Capítulo 37

Fui transferida para a Itália e fiquei três dias em observação no hospital


daqui. Durante esse período, meu esposo, minha família, a família dele e
Melanie permaneceram me visitando, revezando entre eles para não me
deixar sozinha um segundo sequer.
Rocco tem sido um ótimo marido, espero que quando voltar para casa ele
permaneça o mesmo. Dorme comigo todos os dias e faz todas as minhas
vontades, trás comida e sobremesa, tudo da minha escolha. Esse é o seu
jeito de dizer que se importa e que está cuidando de mim. Sei que ele não é
muito bom com as palavras, mas tudo bem, não me importo, estou satisfeita
com esse avanço, por enquanto está ótimo.
Esses dias tem sido uma tortura ficar ao seu lado. Só de sentir o seu cheiro
já fico com tesão, mas ele tem se recusado a encostar em mim de outra
maneira que não seja afetuosa, dizendo que ainda não estou 100% curada e
que preciso repousar. Às vezes fico com raiva, faço bico, não converso com
ele, mas não adianta, nada o faz mudar de ideia, muito pelo contrário, ele ri
da minha birra e não dá a mínima.
Quando a paranóia me atingiu, peguei-me pensando se ele está todos esses
dias sem sexo também ou se tem procurado a amante. É absurdo ficar me
torturando com esses pensamentos, mas não consegui evitar, é mais forte
que eu.
Não tive coragem de perguntar, obviamente, mas do fundo do meu coração,
espero que ele não esteja indo se encontrar com ela, não sei se suportaria
isso agora. Antes eu não me importava, não gostava dele, mas agora é
diferente, agora eu gosto, e gosto muito e saber que ele esteve com ela me
magoaria profundamente.
Afastei esses pensamentos ao sair do banheiro, estava me arrumando para
finalmente ir para casa.
Um enorme sorriso estampou meu rosto quando o vi parado no quarto,
segurando um buquê de rosas.
— Pronta para voltar para nossa casa?
Nossa casa… uau! É tão bom ouvi-lo falar “nossa”.
— Mais que pronta! — respondi animada. — São para mim? — Apontei
para as flores na sua mão.
— Sim, são para você — Estendeu-me o buquê.
Ele estava sem graça ou era impressão minha? O diabo estava realmente
sem jeito? Isso sim é novidade.
Não consegui segurar uma risada ao perceber que ele estava envergonhado.
— Está rindo de quê? — Coçou a barba.
— Você está com vergonha?
— Vergonha não, só fiquei um pouco sem graça, nunca fiz essas coisas,
nem sei se você gosta de rosas, mas quis te agradar — falou tudo de vez.
Meu marido poderia até usar outros nomes para definir o “com vergonha”,
mas não adiantava, de fato ele estava.
— Eu amei, são lindas — Joguei-me em seus braços. — Muito obrigada! —
Esmaguei os seus lábios num beijo apaixonado.
Já com os lábios inchados depois de um beijo incrivelmente bom, nos
afastamos, ofegantes.
— Vamos para casa — chamou-me, segurando com firmeza a minha mão.
— Vamos para a nossa casa — concordei, feliz da vida pela primeira vez
realmente sentir que aquela é também a minha casa.
Uma semana se passou desde que recebi alta do hospital. A primeira coisa
que eu fiz ao chegar foi deitar na minha cama e descansar, estava com
saudades do conforto do meu colchão e da maciez dos meus lençóis.
Até agora nada mudou, a não ser que ele passa mais tempo fora de casa
durante o dia do que ficava comigo no hospital, mas é compreensível,
afinal, ele é o Don de uma grande organização poderosa e precisa resolver
os assuntos relacionados a máfia, sem falar nas empresas fachadas que sua
família possui, que não são poucas. Fora isso, continuamos dormindo juntos
e estou cada dia mais apegada.
Apesar do seu jeito frio, ele tem tentando ser mais carinhoso, consigo
perceber nos pequenos detalhes. Às vezes chega em casa com um doce, que
diz ter passado despretensiosamente na frente de uma doceria e se lembrou
de mim. Ou então ao pedir para a cozinheira preparar os pratos que sabe
que eu gosto.
É… ele está tentando, do jeito dele, mas está.
Só há um ponto negativo nessa história: desde que recebi alta, ele não tocou
nenhuma vez em mim. Essa greve que ele tem feito tem me deixado à flor
da pele, fiquei subindo pelas paredes, ansiando, desejando, implorando por
seu toque.
A gente se beija e as coisas esquentam, mas logo ele se afasta, jogando um
balde de água fria.
Conferi as horas no relógio e constato que já passou das dez da noite. Meu
marido chegou cedo, mas disse que precisava resolver uns problemas e não
saiu mais de lá.
Decidi ser ousada, então corri para o banheiro e tomei um banho
caprichado. Escolhi uma lingerie sexy, vesti um robe por cima, soltei os
cabelos e desci, indo em direção ao seu escritório.
Se meu marido não vem até mim, então vou até ele.
— Posso entrar? — Dei duas batidas e coloquei a cabeça para dentro,
pedindo sua autorização.
— Claro — Entrei e fechei a porta. — O que faz acordada até tarde? Perdeu
o sono?
— Você não foi deitar… — Aproximei-me em passos vacilantes.
— Estava resolvendo uns problemas, você precisa de alguma coisa?
— Sim — Empurrei a cadeira, colocando-me à sua frente. — Eu preciso de
uma coisa que só você consegue me dar — disse com a voz manhosa.
— E o que seria? — Abri o robe, deixando-o cair sobre os meus pés e
ficando apenas de lingerie preta de renda. — Cazzo, Luara! — Seus olhos
me devoravam. — Não brinca comigo desse jeito. — Levantou e segurou
minha cintura com firmeza, colando nossos corpos. — Você é linda demais!
— Senta aí na cadeira — pedi e ele pareceu não gostar da ideia — Senta aí,
quero dançar para você hoje — expliquei. Sei que ele adora me ver
dançando e hoje quis fazer um show mais particular e sensual.
— Você se sente bem? — perguntou todo preocupado e eu acharia fofo se
fosse em outro momento, mas agora não, não o quero pensando que ainda
estou doente.
— Não — Fiquei na ponta dos pés para alcançar o seu ouvido — Vou me
sentir bem quando você me fizer gozar bem gostoso — sussurrei e meus
cabelos foram puxados, inclinando levemente a minha cabeça e tomando os
meus lábios num beijo selvagem.
Nos beijamos, sua mão passeou pelo o meu corpo e por fim ele acabou
aceitando a ideia da dança e se sentou. Pedi-lhe para ligar o som e colocar
uma música de sua preferência, mas que fosse animada. O som da melodia
começou a se espalhar pelo ambiente e mexi os meus quadris no ritmo da
música.
Inexplicável o quanto estou me sentindo gostosa com esse olhar devorador
dele.
Inclinei o corpo para frente, ainda rebolando e passei a língua por seus
lábios. O homem foi à loucura, gemendo deliciosamente. Sua mão foi parar
na calça, onde massageou o seu pau duro por cima do tecido.
— Não aguento mais — declarou assim que a música terminou e se iniciava
outra, se levantando me puxando. — Você é gostosa demais para ficar só
olhando, preciso te sentir — Sem dificuldade alguma, elevou o meu corpo,
colocando-me sentada em cima da sua mesa, abriu bem as minhas pernas e
rasgou a minha calcinha. Apertou um botão no controle que estava na sua
mesa e desligou o som. — O único som que quero ouvir agora são os seus
gemidos.
Choraminguei, consumida pela luxúria.
Puxou a cadeira, se sentou e massageou o meu clitóris com o dedo, depois o
introduziu dentro de mim. Arfei, tombando a cabeça para trás e gemendo.
— Rocco! — gritei ao sentir sua língua quente e incrivelmente molhada me
lamber por inteira.
Caramba, eu estava morrendo de saudades disso!
Sua boca habilidosa me levou ao paraíso lambendo, mordendo e chupando-
me. Os espasmos começam a me atingir e deixei-me ser levada por um
orgasmo arrebatador quando senti sua língua se concentrar no meu clitóris e
dois dedos me invadirem.
Lambeu-me, limpando todos os resquícios dos meus fluidos e se levantou,
tirando a própria roupa apressadamente.
— Preciso estar dentro de você agora — Rocco tinha pressa, assim como
eu.
Posicionou-se na minha entrada e sem delicadeza nenhuma, entrou. Arfei
com a invasão bruta e gostosa. Ele estocou forte, rápido e fundo.
Rasgou a parte de cima da minha lingerie, libertando os meus seios e
chupando-os, mordiscando o bico e depois passando a língua ao redor,
contornando o mamilo enrijecido e levemente ardido.
— Minha... Só minha! — declarou, saindo todo de dentro de mim e
entrando de uma só vez, indo até o fundo, chocando nossas pélvis.
Puxou os meus cabelos, inclinando mais a minha cabeça para trás e
abandonou os meus mamilos para devorar o meu pescoço, deixando
mordidas e um rastro molhado com a língua.
Sua boca tomou a minha e ele bebeu dos meus gemidos. Rebolei, buscando
por mais atrito, sentindo que estava cada vez mais perto de chegar ao
segundo orgasmo.
Espalmei as mãos no seu peito e pedi que sentasse na cadeira. Rocco fez
exatamente o que eu pedi e comecei a cavalgar.
Minhas pernas já estavam trêmulas, mas eu não parei. O sexo estava
incrivelmente gostoso e essa sensação de poder que eu estava sentindo por
dar prazer a ele, enlouqueceu-me. Cavalguei o mais rápido que consegui e
mordi forte o seu lábio inferior, gemendo o seu nome.
— Ah… que delícia! Ahhh! — gemi, gozando intensamente.
— Você é incrível, Luara! — falou ofegante, chegando ao clímax junto
comigo.
— Amo você, Rocco! — Quando percebi, já havia me declarado. Não foi
planejado, o momento acabou me deixando confortável para confessar.
Ele segurou os meus ombros, afastando-me para olhar nos meus olhos.
— Você o que? — perguntou confuso.
— Amo você! — repeti, sem vergonha ou medo de confessar os meus
sentimentos por ele.
Não quero nem saber o que ele fará com essa informação agora, estou
aliviada de ter falado em voz alta… nossa, muito aliviada!
O silêncio reinou e tudo que fazíamos era nos afogar dentro da imensidão
do olhar um do outro. Meu marido pareceu precisar de um tempo para
absorver o que acabei de falar. Só espero que ele não se afaste de mim por
causa disso.
Puxou-me para um abraço apertado, distribuindo beijos por meu rosto.
— Você é perfeita para mim!
Tudo bem ele não retribuir o “eu te amo”, não me importo com isso, estou
apenas sendo verdadeira com os meus sentimentos. Não tenho pressa para
ouvir o mesmo dele. As coisas devem acontecer no seu tempo, sem pressão.
Capítulo 38

Luara estava dormindo serenamente depois de várias e várias rodadas de


sexo quente e gostoso. Eu sei que gosto dessa menina de uma maneira
diferente, até arriscaria falar que estou apaixonado, mas amor? Não tenho
certeza, então achei melhor não falar nada na hora da emoção. A única
certeza que tenho é que estou viciado nela.
Ela é uma mulher incrível, forte, corajosa, atrevida, educada, carinhosa,
gostosa, muito gostosa e vários outros adjetivos que eu poderia ficar horas e
horas falando. O começo do nosso casamento foi difícil para os dois. Eu sei
que sou um cara rude e com isso acabei despertando o lado defensivo dela,
mas aos poucos ela foi conquistando seu espaço na minha vida e hoje ocupa
um lugar enorme, um lugar que nem eu sabia que existia, um lugar que
nunca havia sido habitado.
Não vi mais a Shantal, ela ainda me manda algumas mensagens, mas eu
decidi não responder. Ela continua morando no apartamento e ainda banco
suas regalias, mas acho que está na hora de levar ela de volta para o bordel.
Shantal não faz mais parte da minha vida.
Luara me completa em absolutamente tudo, essa mulher é um furacão na
cama.
Meu telefone tocou e eu acho estranho alguém me ligar a essa hora. Olhei
no visor e vi que era Enzo. Saio devagar da cama para não acordá-la.
— Fala.
— Quero um novo acordo.
— O que te faz pensar que eu vou fazer um novo acordo com você? Cazzo!
Olha a hora que você está me ligando, para de me encher o saco.
Ia desligar, mas ele continuou insistindo.
— Eu não sou burro, Don, sei muito bem que você pode cancelar o acordo e
se eu ficar noivo da sua irmã, isso não poderá ser mudado.
Claro que pensei em anular essa droga de acordo, mas pelo visto ele é mais
esperto do que eu imaginei. Cazzo!
— E qual seria o novo acordo?
— Eu te dou uma coisa que você quer muito e o noivado é feito depois de
amanhã, no sábado.
— Você sabe onde está, Claus? — perguntei impaciente, pois essa é a única
coisa que eu realmente quero.
— Não. Ainda não, mas vou continuar procurando.
— Então nada feito, só me liga quando conseguir, não tem outra coisa que
eu queira além disso.
— Eu consegui pegar o homem que invadiu o bangalô e encostou na sua
mulher.
— O quê? Você está com ele? — Senti o meu sangue ferver só de pensar
nesse maledetto que colocou as mãos na minha mulher.
— Invadi todas as câmeras de seguranças de Tulum e foi fácil encontrá-lo.
Eu sou bom no que faço, Rocco, devia ter mais fé em mim.
— Me entregue ele e o noivado será feito na data que você desejar, porém o
casamento só acontecerá depois que você encontrar Claus.
— Por mim está ótimo! Tenha uma boa noite, cunhadinho.
— Stronzo[xxxi].
Ele desligou o telefone com aquela risada debochada que tanto me estressa,
que só esse infeliz consegue ter. Que cara irritante, coitada da minha irmã!
Eu tinha o pensamento de anular este acordo, por isso fiz de tudo para adiar
o noivado, mas não teve jeito, uma vez que o noivado for confirmado, não
tem mais volta. Alice terá que assumir suas responsabilidades dentro da
máfia.
Voltei para o quarto e Luara acordou.
— O que foi? — perguntou sonolenta.
— Nada, era só um idiota no telefone, volte a dormir — Deitei-me ao seu
lado e ela se aconchegou em meus braços.
Tentei dormir também, mas estou ansioso para colocar as mãos nesse
maledetto, tenho certeza que ele se arrependerá amargamente de ter
encostado nela
Olhei minha esposa descansando em meus braços e pensei que pela
primeira vez na minha vida fui agraciado. Ela é, sem dúvidas, um presente
divino.
Capítulo 39

Hoje é o dia do noivado de Alice e não sei como ela vai reagir. Tenho
percebido Rocco preocupado e até mesmo chateado, sei que ele ama muito
a irmã e tentou ao máximo preservá-la, não consigo imaginar o que o levou
a tomar tal decisão, mas com certeza foi algo muito sério e importante.
Fiquei com dó da Alice, infelizmente esse dia chega para todas nós, sei que
é um processo difícil, muito difícil, mas acredito que ela vai superar, é uma
mulher forte.
Entramos na casa dos pais de Rocco e percebemos que Enzo ainda não
chegou, só a família encontra-se presente e está todo mundo com uma cara
triste, parece mais um velório do que um noivado.
— Só vai ter a gente? — questionei.
— Sim e alguns membros importantes da máfia para testemunhar, eles
devem chegar juntos com o Enzo.
— Que bom que vai ser algo mais reservado, acho que ela vai se sentir
melhor, menos exposta a tudo isso.
— Pelo menos nisso aquele stronzo fez questão.
— Olá — Giovana apareceu para nos receber — Que bom te ver bem, Lua
— cumprimentou-me gentilmente e, mesmo que estivesse sorrindo, pude
ver a tristeza nos seus olhos.
— Oi, como você está?
— Vivendo um dia de cada vez. — Respirou fundo e segurei a sua mão,
fazendo um carinho, tentando passar algum conforto.
— Mel está por aí? — perguntei, sentindo saudades da minha mais nova
amiga.
— Está se matando em algum canto desta casa com Renzo, mas já deve
aparecer — Encarou Rocco seriamente. — Tem como você dar um jeito no
seu irmão? Não aguento mais essa briga de gato e rato dele e de Mel.
— Ele já nasceu sem jeito, mamma.
— Sua mãe quer proibi-lo de entrar aqui em casa — o pai dele apareceu e
contou, arrancando uma risada de todos nós.
— Eu acho uma ótima ideia! — Rocco concordou com a mãe.
— Olha só, garota, você não abusa da minha boa vontade — Escutamos
Renzo gritar com Melanie e todos olhamos para os dois no topo da escada,
até que ela deu as costas para ele e desceu correndo, vindo na nossa direção.
— Oi, Lua, como você está? Olá, Rocco — Melanie nos cumprimentou,
ignorando o noivo que veio bufando atrás dela.
— Oi! — Nos abraçamos. — Estou bem e você? — ela sussurrou um:
também estou bem.
— Olá, Melanie! — Rocco a cumprimentou, mas seus olhos estavam
voltados para o irmão, furioso.
— O que foi, Rocco? Você acha que essa garota é santa só porque tem essa
cara de sonsa? Essa menina é uma peste! — resmungou se defendendo e
saiu da sala.
Tive que me segurar para não cair na risada, mas assim que meu marido e
os pais dele se afastaram, eu e Melanie começamos a rir.
— Esse cara é doido! — Revirou os olhos, falando com desdém do Renzo.
— O que está acontecendo com vocês?
— Eu quis que Giovani continuasse fazendo a minha segurança e Rocco
concordou porque ele já é de confiança e é o que tenho mais próximo de
uma família, aí agora Renzo fica dando esse show todo.
— Ciúmes? — Balançou a cabeça negando. — Acho que ele está com
ciúmes sim! — Ri da situação dos dois.
— Nada, amiga, ele gosta mesmo é de implicar. Sei que depois que casar
minha vida vai ser um inferno.
— Sinto muito, Mel, mas talvez não seja tão ruim quanto você pensa.
— Tudo bem, não tem nada que possamos fazer mesmo. — Deu de ombros.
Assenti concordando com o seu pensamento.
— Tem notícias da Alice? — perguntei um tanto preocupada.
— Só ouvi uns gritos hoje quando os pais dela foram conversar com ela,
depois não a vi mais, também estou preocupada.
— Sinto tanto por ela e por você também.
— Eu também, amiga, eu também sinto muito por todas nós.
Nós mulheres sofremos tanto. Até que não posso reclamar muito, porque as
coisas têm melhorado bastante no meu casamento e espero que elas tenham
a mesma sorte que estou tendo.
Alice apareceu com o rosto inchado de tanto chorar, meu coração ficou
pequenininho ao vê-la naquela situação, da qual eu já passei e sei bem o
desespero que está sentindo.
— Renzo — Correu na direção do irmão — Faz alguma coisa, por favor,
não me deixe casar com esse homem — implorou.
— Eu não posso fazer nada, irmã, infelizmente — falou com tristeza por
realmente não poder fazer nada.
— Mãe, pai, vocês não podem deixar isso acontecer, por favor — Alice
começou a chorar, implorando para que suas palavras fossem ouvidas por
alguém.
Senti meus olhos ficarem marejados diante da cena.
— Filha, foi preciso, você sabe, essas coisas precisam acontecer — Vincent,
pai dela, explicou.
— Foi preciso? Foi preciso vocês me entregarem a um monstro para
conseguir algo em troca? — gritou, encarando a todos com fúria. — Lua —
Aproximou-se de mim, com um olhar piedoso. — Por favor me ajuda, faz
alguma coisa, eu não posso me casar com ele, fala com o meu irmão, me
ajuda.
Ela estava completamente desesperada e desnorteada, sabemos que o
desespero é normal, mas a maneira como ela está deixou-me surpresa.
— Se eu pudesse, eu faria algo por você, Alice — Puxei-a para um abraço
—, mas, infelizmente, eu não posso.
Assim que se afastou do meu abraço, foi em direção ao irmão mais velho.
— Irmão, por favor, não deixe isso acontecer, eu sei que você pode
cancelar, você pode tudo — suplicou.
— Alice, eu não posso cancelar, já dei a minha palavra — respondeu com
firmeza, sem deixar espaço para uma possível esperança surgir.
— Você é um monstro! — berrou. — Aliás, tirando as meninas que também
foram obrigadas a toda essa palhaçada, todos vocês são! — Continuou
despejando a sua ira. — Vocês estão me entregando de bandeja para esse
monstro, ele vai fazer coisas horríveis comigo… Odeio todos vocês!
— Alice, por que esse desespero todo? Você nem mesmo o conhece —
Vincent pontuou.
— Quem disse que não conheço? Acham mesmo que ele ia me querer como
noiva sem motivos? Vocês são mais burros do que eu pensei. — Riu,
ironicamente.
Todos ficamos surpresos com a sua revelação.
— Alice, de onde você conhece o Enzo? — Rocco inquiriu, um vinco de
irritação já se formava na sua testa e temi pelo pior.
— Deixa que eu mesmo conto essa linda história, querida noiva — Enzo
entrou na sala e todos os olhos voltaram-se para ele.
— Seu maledetto! — Alice gritou, tentando avançar em Enzo, mas Melanie
conseguiu segurá-la a tempo.
— Quantos elogios eu tenho recebido de vocês ultimamente — debochou,
não parecendo se importar nem um pouco com o desespero da sua futura
noiva. — Pelo visto, a família Caccini me ama muito.
— Vamos, Enzo, comece a falar, não tenho todo o tempo do mundo — meu
marido ordenou, impaciente.
— Claro, Don. — Sorriu. Eu podia até estar errada, mas o Capo parecia
estar gostando da situação, o medo que predominava nos olhos de Alice
parecia agradá-lo. — Conheci a sua irmã em Milão, nos conhecemos
enquanto ela estava estudando e eu estava em uma missão… aquela missão
que fiz para selar o acordo das nossas máfias. — Rocco assentiu, se
lembrando do que ele estava falando. — Sua irmã me disse o nome dela,
mas com um sobrenome diferente, o que ela usava para não associá-la com
a máfia e poder viver uma vida normal. Eu não podia imaginar que ela era
Alice Caccini.
— Cala boca, cala a maldita boca, seu maledetto! — ela berrou, implorando
para que ele ficasse em silêncio.
— Calada, Alice, deixa ele terminar — Vincent interviu — Prossiga, Enzo.
Todos estavam ansiosos para ouvir mais sobre essa revelação. Realmente
foi algo inesperado e que nos pegou de surpresa.
— Claro — Ajeitou o paletó despreocupadamente antes de continuar. —
Nos relacionamos na época, ela era muito nova, você tinha o que Alice? 18
anos? — perguntou, mas acho que foi uma provocação, porque ele não
esqueceria essa informação. Silenciosamente e com um olhar apavorado,
Alice chorava cada vez mais. — Eu também não contei para ela que era um
mafioso, vivemos juntos quase dois anos desse jeito. Ela foi para Alemanha
nas férias dela, vocês lembram? Então, ela foi para ficar comigo. Alice
inventou inúmeras mentiras sobre os pais e a família e como a única coisa
que me interessava era estar com ela, acabei acreditando e não me
aprofundei em sua vida particular. — Seu tom de voz demonstrava uma
mágoa profunda.
— Você também mentiu quando não contou que era um mafioso, seu
infeliz!
— Ah, claro, eu ia chegar para uma pessoa fora da máfia e falar: olá, eu sou
um mafioso — Ele riu — Enfim, ficamos juntos esse período e depois ela
sumiu, eu não a vi mais, não consegui manter contato e quando fui até
Milão, descobri que ela não estava mais fazendo o curso lá.
— Foi na época em que ela pediu para vir embora — Renzo lembrou.
— O que aconteceu, Alice? — Giovana perguntou, querendo ouvir a versão
da filha.
— Eu descobri que ele era um mafioso, então eu fui embora, pensei que
nunca mais íamos nos ver, porque naquela época eu não sabia que as máfias
tinham firmado um acordo, mas ele me encontrou, descobriu quem eu era e
apareceu na inauguração do meu ateliê — respondeu cabisbaixa,
envergonhada diante de toda a situação exposta.
— Exatamente, eu fui atrás dela na tentativa de uma conversa amigável,
mas ela me disse que nunca se casaria comigo e aqui estamos no dia do
nosso noivado. Como é a vida, não?
Enzo é muito debochado, meu Deus! Como consegue agir dessa maneira
num assunto tão sério?
— O que aconteceu entre vocês? — Rocco procurou saber mais detalhes.
— Enzo, não! — Alice clamou por seu silêncio.
— Tudo que acontece entre um homem e uma mulher. Eu não sabia que ela
pertencia à máfia. Fui o seu primeiro homem e agora estou aqui para
reivindicar o que é meu por direito.
Nesse momento uma tensão toma conta da sala, todo mundo fica em
choque. Senti Rocco ficar tenso, seu corpo todo ficou rígido e decidi que é
melhor segurar na sua mão. O ar parece ter se esvaído do pulmão de todos
que estão aqui dentro e posso jurar que consigo ouvir as batidas aceleradas
do coração de cada um que está aqui presente.
— Seu desgraçado! — Renzo foi para cima do Capo, mas parou ao ouvir a
ordem firme do seu pai.
— Não, Renzo! — Vincent bradou. — Irresponsável foi a sua irmã, ela não
pensou nas consequências dos seus atos, nem na hora e nem o que isso
poderia trazer depois — Direcionou seu olhar decepcionado para a filha. —
Passou pela a sua cabeça, Alice, que se você se casasse com outro homem,
ele ia perceber a sua desvirtude? Você estaria morta!
— Pai, eu estava apaixonada — Tentou se defender. — Ele mentiu, não
disse que era desse meio, eu só descobri porque acordei durante a noite e vi
ele matando um rapaz que tinha dado em cima de mim naquele dia, eu não
podia imaginar, ele era tão diferente.
— Você também mentiu, Alice, e pior ainda, fugiu! Você sabia que o seu
destino estaria ligado a mim eternamente e mesmo assim foi embora —
Enzo estava muito, mas muito decepcionado. Cada palavra proferida por ele
carregava uma imensidão de mágoa.
— Então, como tudo já está esclarecido, vamos oficializar esse noivado
logo — Rocco declarou, com a sua expressão inabalável de sempre.
— Vocês ainda vão fazer isso? Ele quer vingança! Ele quer vingança porque
eu fui embora!
— Isso são consequências dos seus atos impensados, Alice. Você pertence a
ele antes mesmo de oficializar o noivado. Ele ainda está fazendo muito em
se casar com você, se fosse qualquer outro a deixava morrer ou ir para um
prostíbulo — Alice assentiu para o irmão mais velho, sabendo que não
havia mais nada a se fazer.
— Mesmo eu não precisando do acordo, saiba que ele ainda está de pé — o
Capo afirmou.
— Você mentiu, fingiu que precisava daquele acordo, por que? — Meu
marido quis entender.
— Porque eu quis ajudar — Deu de ombros.
— Grazie!
Não sei de que acordo eles estão falando, mas Enzo não precisava fazer
nenhum esforço para ficar com Alice, bastava ele contar isso e ela seria
dele, ninguém poderia contestar.
— Vamos nos reunir com os outros membros e oficializar. Enzo, posso
contar com sua discrição? — Rocco estendeu a mão para ele.
— Com toda certeza, Don Caccini. — Apertou, selando o acordo.
Vamos todos para a sala de jantar. Nesse momento, Alice já parou de chorar
e está aqui como se nada tivesse acontecido, vestindo uma máscara de
indiferença, mas apesar de tentar se mostrar forte, seus olhos não
conseguem esconder toda sua aflição e medo do que o futuro lhe reserva.
Capítulo 40

Alerta de gatilho: Este capítulo contém cenas de tortura, caso seja sensível
a esse tipo de conteúdo, sugiro que pule esse capítulo. Preserve sempre a
sua saúde mental.

Hoje o dia foi tenso, muitas descobertas e um turbilhão de sentimentos


estranhos. A decepção me atingiu com força e ela sempre vem de onde
menos esperamos, mas por fim o noivado foi consumado. Depois de todas
as descobertas recentes, pretendo fazer Alice e Enzo se casarem antes de
Melanie e Renzo, tenho uma certa urgência em unir os dois. Preciso que
esse casamento aconteça o quanto antes, não quero que essa história caia
em ouvidos errados.
Não consegui entender o que passou pela cabeça da minha irmã. Ela sabe
que a gente sempre tentou protegê-la desse mundo, mas que uma hora isso
ia ser impossível e ela teria deveres a serem cumpridos. Ela agiu por
emoção e agora terá que pagar o preço. Alice foi muito irresponsável! O
casamento não é nada perto do que poderia ter acontecido com ela se o
noivo fosse outra pessoa que não o Enzo. Não gosto nem de imaginar essas
coisas e onde ela iria parar.
Enzo não precisava fazer acordo nenhum comigo, minha irmã se tornou
dele a partir do momento em que se entregou, ele podia contar isso a todos
e até mesmo enviá-la para um prostíbulo, mas ele quis tomá-la como esposa
e Alice deve agradecer por isso. Também serei eternamente grato por toda a
sua discrição nesse caso. Ele preservou ela e minha família, isso deve ser
reconhecido.
— Nosso acordo ainda está de pé, Rocco, mandei deixar seu presente no
galpão, faça bom uso dele — E foi com essa informação que o Capo alemão
se despediu, enchendo-me de alegria.
Esse cara é chato e debochado, mas confesso que tem ganhado minha
confiança e até estou começando a ir com a sua cara, claro que jamais irei
admitir isso para ele, exibicionista demais.
— Vamos para casa também? Estou me sentindo um pouco cansada, o dia
foi exaustivo — Luara se aproximou, tocando o meu braço.
— Está se sentindo mal? — perguntei ao perceber que ela não está com
uma cara muito boa.
— Apenas um pouco cansada, hoje o dia foi de fortes emoções.
— Eu tenho que resolver um problema, mas mandarei Melanie ir te fazer
companhia, pode ser?
Assentiu, sem fazer maiores perguntas e eu agradeci por isso.
Despedi-me dela com um beijo rápido, me preparando para o que estava por
vir.
Melanie e Luara foram para casa e eu fui para o galpão junto com Renzo.
Fiquei mais tranquilo em saber que ela tinha companhia.
Entramos no galpão e encontramos o homem sentado na cadeira, com o
rosto machucado.
— Pelo visto Enzo já te fez um carinho — O homem levantou o olhar,
encarando-me assustado. — Está com medo? — Sorri, sentindo-me muito
bem.
— Foi o Claus, foi o Claus que mandou eu fazer isso — repetiu,
defendendo-se.
— Ele mandou e você fez. Hoje é você quem está diante de mim, mas logo
será ele e pode ter certeza que o tratamento dele será pior que o seu, sinta-se
feliz por isso.
Renzo se aproximou trazendo a maleta de tortura.
— Vou sentar e assistir tudo de camarote — Riu, se divertindo tanto quanto
eu.
— Fico irritado com choros e gritos, então acho melhor você ficar quietinho
— avisei, pegando o alicate — Sabe o que vou fazer com isso? Vou cortar
cada dedinho seu que encostou na minha mulher — Comecei a cortar dedo
por dedo e o homem gritou, desesperado — Eu falei o que sobre gritar? —
Depois de cortar os dez dedos, comecei a socar sua cara até que sangue
jorrasse de todos os poros.
Pedi para meus guardas colocarem ele amarrado em pé, com os braços
abertos.
— Agora eu vou tirar essas mãos imundas que encostaram nela — Com o
pequeno machadinho, cortei suas duas mãos e ele desmaiou de dor —
Acordem ele — ordenei aos soldados que ali estavam.
— Você está sendo até bonzinho, vamos animar essa coisa, fratello — pediu
Renzo, bebericando seu uísque.
— Estou sem tempo — expliquei sobre como Luara não estava bem quando
me despedi dela. Apesar de falar que era só o cansaço de tantas emoções,
não consegui me convencer, ela parecia realmente estar se sentindo mal.
— Vejo que acordou — comentei ao ouvir nosso convidado murmurar.
Conforme vou me aproximando, escutei-o implorar por sua vida. — Agora
você pede por favor? Quando estava diante de uma mulher indefesa, você
não se lembrou disso, não é? Abaixem as calças desse imundo!
Cortei seu órgão genital e enfiei na sua boca. Desejei muito fazer isso
quando Luara me contou sobre a sua ameaça de estuprá-la. Fiz pouco perto
de tudo que esse lixo merecia.
— Podem deixá-lo para morrer sozinho! Quero que o que aconteceu aqui
hoje sirva de lição para qualquer pessoa que se atrever a encostar no que é
meu.
Ninguém encosta na minha mulher ou minha família e sai impune,
ninguém!
Saí dali satisfeito, agora o próximo passo é pegar Claus e fazer com ele
pior, muito pior.
Capítulo 41

Acordei em um sobressalto, tem sido assim todas as noites após aquele


acontecimento. Eu tenho pesadelos sempre, não consigo dormir direito e
sempre acordo assustada após um pequeno cochilo. Olhei para o lado vi e vi
que Rocco ainda não tinha chegado, o que é estranho, porque ele chega
cedo todos os dias. Me levantei e procurei por ele em casa, mas não o
encontrei e voltei para o quarto com um aperto no peito… será que ele está
com a amante? Fiquei pensando que talvez ele possa ter reatado com ela ou
nunca a deixou.
Meu Deus, como é horrível viver nessa insegurança!
— O que faz acordada essa hora? — Sua voz se fez presente no quarto,
tirando-me dos meus pensamentos dolorosos.
— Tive um pesadelo e você não estava na cama.
— Desculpe, tive uns assuntos para resolver.
— Sobre a máfia?
— Claro, o que mais seria? — Rocco pareceu não gostar da minha
pergunta, talvez ele tenha percebido ao que eu estava me referindo. — Vou
tomar um banho rápido e já venho me deitar com você — Deu-me um
rápido selinho e foi para o banheiro.
Deitei e fiquei esperando por ele. Ridiculamente meu coração ficou aliviado
em saber que ele não estava com a amante, embora minha mente não deixe
de me pregar peças.
Meu esposo não demorou e puxei o ar com força, enchendo os pulmões, ao
vê-lo sair do banho vestindo apenas uma calça de moletom e com os
cabelos molhados bagunçados, alguns pingos d' água caíram no seu ombro
e escorreram para o seu peitoral.
Passei a língua nos lábios, desavergonhadamente babando por ele, sem
pudor algum.
— Vem, deita aqui — Puxou-me para me aconchegar em seus braços. — Os
mesmos pesadelos de sempre?
Suspirei… ele me conhece tão bem. Chega ser assustador, mas Rocco sabe
até o que estou pensando.
— Sim. Tenho medo de encontrar aquele homem de novo — confessei.
Todas as vezes sonho como poderia ter terminado aquele dia se Rocco não
tivesse me encontrado a tempo. Estaria morta e essa probabilidade deixa-me
terrivelmente assustada.
— Você nunca mais vai encontrá-lo — afirmou com tanto afinco que
acreditei nele.
— Você falou com tanta certeza — Sorri e levantei a cabeça para olhá-lo.
Seus olhos atingiram um brilho diferente e um pequeno sorriso perverso se
formou no canto dos seus lábios. — Você o matou?
Era exatamente isso que eu via nos seus olhos, felicidade de uma vingança
concluída.
— Sim — respondeu sem qualquer emoção.
Estranhamente isso me causou um alívio, sei que ele fez justiça da forma
errada, mas eu me sinto aliviada, pelo menos agora vou ficar mais tranquila,
sem medo.
— Era isso que estava fazendo na rua hoje?
— Também, mas não quero falar disso.
— Tudo bem — concordei mesmo contrariada, queria conversar com ele e
saber mais sobre o seu dia a dia, mas tudo bem ele não querer falar, meu
marido é mais reservado.
Aproximei-me e beijei seus lábios macios. Rocco tocou o meu rosto
carinhosamente e retribuiu o beijo de um jeito muito gostoso.
— Se você quer dormir, não fica me tentando, diabinha — alertou e eu
gargalhei alto ao ouvir esse apelido.
— Diabinha, é?
Confesso que gostei.
— Sim, muito diabinha — Apertou minha bunda e distribuí beijos por seu
rosto.
— E se eu te falar que não quero dormir? — provoquei, maliciosa.
— Eu ia gostar bastante. — Sai dos seus braços e me sentei no seu colo,
rebolando.
— Você é perfeita, Luara! — elogiou-me com um olhar tão penetrante que
meu corpo todo estremeceu.
— E você é gostoso! — retribuí o elogio e ele riu.
Sim, ele riu, uma risada baixa e contida, mas uma risada. E caramba… ele é
perfeito sorrindo!
— Você também é muito gostosa, minha diabinha.
— Sua! — confirmei com toda certeza que havia em mim, tomando seus
lábios num beijo quente.
Inegavelmente eu era dele, e sim, eu queria ser dele!

— Onde você vai tão cedo? — perguntei quando Rocco se levantou da


cama.
— Tenho que ir trabalhar — Beijou-me — Volte a dormir.
Assenti, virando-me para o lado e voltando a dormir. Quase não dormimos
direito essa noite, ele é insaciável e ficamos transando por horas até que eu
fiquei exausta.
Acordei horas depois com o celular tocando.
— Oi — Atendi sonolenta, nem olhei quem era. — Quem é?
— Alice. — Escutei sua risada. — Você estava dormindo?
— Sim.
— Preguiçosa! Já está na hora do almoço, pensei em te convidar para
almoçarmos fora.
Hora do almoço? Tirei o celular da orelha para conferir a hora e tomei um
susto. Dormi demais!
— Acho uma ótima ideia! — Meu estômago concordou comigo, fazendo
barulho. — Me passa o endereço de onde é e eu te encontro lá em uma hora
mais ou menos.
— Vou te enviar por mensagem, beijos. — Encerrou a ligação e levantei-me
para começar a me preparar para o dia, ops, tarde.
Em seguida liguei para Rocco para poder avisar que estaria saindo para
almoçar com Alice. Meu marido me informou que um segurança iria me
acompanhar, mas que ficaria de longe, sem nos incomodar.
Uma hora depois eu estava no local marcado.
— Achei que ia demorar mais, bela adormecida — Alice brincou assim que
me aproximei da mesa e se levantou para me abraçar.
— Não demorei — me defendi.
— Não mesmo, estou brincando.
Nos sentamos e começamos a fazer nossos pedidos.
— Como é ser casada com um mafioso? — perguntou de supetão, o que
arrancou de mim uma risada.
— Difícil, mas adaptável.
— Hum, entendi. — Bebericou o seu vinho.
— Vai dar tudo certo — Repousei minha mão sobre a dela e fiz um carinho.
— Não tenho tanta certeza, Lua.
Alice estava triste e o seu convite de almoço foi um motivo para ela
desabafar. Tudo bem, eu estaria ali para ouvi-la e aconselhar da melhor
maneira possível. Tenho um carinho muito grande por ela, é como uma irmã
para mim.
— Você gosta dele? — perguntei mais para ouvir dela mesmo, já que eu
acreditava que sim.
— É… mais ou menos. — Sorriu envergonhada e suas bochechas ficaram
rosadas.
— Sei que não é da minha conta e tudo bem se você não quiser responder,
mas posso perguntar porque você foi embora?
— É uma longa história. — Suspirou.
— Estou com tempo. — Sorri e ela também.
— Certo, tentarei resumir. Quando eu conheci o Enzo, achei ele o homem
mais lindo do mundo, tinha acabado de fazer dezoito anos e aquela era a
minha oportunidade de viver uma vida normal. Fiquei encantada com o seu
jeito brincalhão e leve de levar a vida. Lua, eu nem gostava de moda,
acredita? — Essa informação me pegou de surpresa e um vinco se formou
na minha testa. — Pois é, mas como tive a oportunidade de sair para estudar
e minha mãe dizia que eu levava jeito, fui lá e aproveitei. Tudo entre mim e
Enzo aconteceu muito rápido, eu não fazia ideia de que ele era um mafioso,
ele nem tem jeito de mafioso — Riu — Ou melhor, não tinha. Enzo sempre
foi tão carinhoso comigo, um pouco possessivo e ciumento, mas achei que
era assim porque me amava muito e eu era mais nova. — Alice abriu um
sorriso bonito, como se ela tivesse revivendo o que aconteceu naquela
época.
Diante do seu sorriso e do brilho dos seus olhos, não tenho dúvidas de que
realmente foram momentos que ela lembraria para sempre com muito
carinho.
— E o que estragou tudo isso?
— Eu queria fugir com ele, pensei que pudéssemos sumir e viver uma vida
longe dessa merda toda. Pedi aos meus pais para passar minhas férias na
Alemanha, menti dizendo que ia estudar mais um pouco e fui levando a
maioria das minhas coisas e umas joias... — Ela faz uma pausa, bebendo
um longo gole. — Ia contar toda a verdade para ele, como estávamos muito
apaixonados acreditava que ele ia aceitar de boa fugir comigo para ficarmos
juntos. Eu não podia me casar mais com outro homem dentro da máfia, já
que tinha me entregado para ele.
— Você não ficou com medo? Não pensou que podiam descobrir?
Balançou a cabeça negando.
— Quando estamos apaixonadas pensamos em alguma coisa? Eu só queria
viver ao lado dele. Foram ótimos dias junto dele na Alemanha, até que em
uma certa noite, um dos seguranças dele mexeu comigo. Percebi que ele
repreendeu o homem de um jeito severo apenas no olhar, mas para mim
aquilo ia gerar só uma demissão. No meio da noite eu acordei e não o
encontrei na cama, fui procurá-lo e não achei, até que ouvi um grito vindo
de um lugar que parecia ser um porão. Quando eu entrei, eu o vi torturando
aquele homem, ele não parecia mais o Enzo que conheci, ele parecia um
monstro, o mesmo monstro que vejo em meus irmãos e meu pai quando o
assunto é algo relacionado à máfia, então comecei a associar todas as coisas
que ele fazia, como agia e então entendi que ele não era um cara só
controlador e ciumento, ele era um mafioso.
— E você veio embora como? — Fiquei mais curiosa ainda com essa
história dela.
— Na mesma noite eu comprei uma passagem, quando ele voltou para o
quarto fingi que estava dormindo e na manhã seguinte tentei agir o mais
natural possível, menti dizendo que tinha que resolver uns negócios sobre
meus estudos, coloquei poucas roupas em uma bolsa, algumas jóias e fui
embora, deixando todo o resto para trás.
— Não passou pela sua cabeça que ele fosse te encontrar?
— Não, porque as máfias eram rivais, eu não imaginava que eles tinham se
aliado, eu não fico por dentro desses assuntos.
— Mas tenho certeza que vocês vão se resolver, ele vai superar essa mágoa
e você também.
— A questão não é só essa — comentou apreensiva.
Meu Jesus! Ainda tem mais?
— O que é? — Alice pareceu pensar se me contaria ou não, o que me fez
imaginar que era algo grave.
— Fui embora grávida — sussurrou, olhando para os lados para conferir se
alguém estava nos ouvindo.
— Grávida? — Estava completamente chocada com essa informação. Isso
era… gravíssimo!
— Sim, eu tinha acabado de descobrir.
— E cadê o bebê?
— Eu perdi — falou com tamanha tristeza que meu coração se despedaçou
— Duas semanas depois de ir embora eu tive um sangramento e perdi meu
bebê, mas ele acha que eu tirei.
— Por que Enzo pensaria uma coisa dessas? Você não seria capaz disso,
não é?
— Claro que não, Lua! Que tipo de pessoa pensa que eu sou? Eu jamais
tiraria meu filho.
— Sinto muito, Alice, não tive a intenção de ofendê-la, desculpe — ela
sussurrou um: tudo bem — É só que essa história é muito… uau! Intensa.
Sinto muito por você ter carregado essa dor sozinha.
— Eu também sinto, Lua… sinto tanto. — Seus olhos ficam marejados.
Me levanto, dou a volta na mesa e vou abraçá-la.
Agora eu entendo o maior medo dela. Enzo acha que ela foi capaz de tirar o
filho deles, ele está cego de ódio e temo por tudo que minha cunhada pode
passar.
Capítulo 42

Alice teve que sair às pressas para resolver um assunto sobre o ateliê e eu
fiquei porque ainda queria comer uma sobremesa.
Confesso que fiquei com muita dó dela e de toda essa situação, não deve ter
sido nada fácil e com certeza agora também não está sendo.
Terminei de comer e me retirei do restaurante, queria ir para casa descansar
um pouco.
— A senhorita não tem permissão de chegar perto — Escutei o segurança
falar e olhei para trás para ver quem era.
— Tudo bem, pode deixar — pedi, vendo que quem estava ali era a ex ou
atual, não sei ao certo, amante do meu marido.
— O Senhor Rocco não permite que ela chegue perto de você — avisou.
— O Senhor Rocco não está aqui e eu estou falando para você deixar,
depois eu me entendo com ele.
— Sim, senhora, mas terei que avisá-lo.
— Tudo bem, nos deixe a sós — O homem pareceu pensar se deveria e
diante do meu olhar furioso se afastou, deixando que ela se aproximasse. —
Achei que não ia querer falar comigo, primeira dama — Sorriu.
— Como é mesmo o seu nome? — perguntei, tentando não me deixar afetar
por seu tom debochado.
— Shantal, não se lembra, querida?
— Ah sim, a ex amante do meu marido, não é? Desculpe minha falta de
memória, só costumo lembrar de pessoas importantes.
Ridículo, eu sei, brigar por homem é tão… uó, mas estou apaixonada e não
consigo pensar direito.
— Ex amante? — Gargalhou. — Engraçado, ainda ontem ele estava na
minha cama.
Não estava esperando por isso, confesso, mas não vou demonstrar que
fiquei abalada.
— Fez bom proveito?
— Sempre faço, aquele homem é quente como o inferno.
— Não foi para falar da sua vida sexual com o meu marido que você me
parou na rua, ou foi?
Fiquei me correndo de ódio por dentro. Não posso acreditar que aquele
desgraçado estava com ela!
— Você tem razão. Eu vim apenas te avisar mais uma vez para não se iludir.
Você pensa que está fazendo o papel de mulher perfeita, não é? Que seu
marido vai parar de ficar comigo, mas você está enganada, você nunca vai
ser o suficiente para ele. Olha sua idade, acabou de sair das fraldas.
— Sinceramente, não sei porque vou perder meu tempo com você, mas
vamos lá… Se eu não representasse uma ameaça você não estaria me
procurando, ou eu estou errada? Você está tão desesperada atrás de mim
para mostrar que eu não sou o suficiente, que eu acho que você está
esquecendo de ser suficiente.
— Eu sou o suficiente para ele! — Se exalta e o segurança dá alguns passos
à frente, mas entendo a mão para que ele continue onde está.
— Se fosse, ele não teria feito sexo loucamente comigo ontem a noite, acho
que você está fraca, hein? — Riu
— Você acha que uma pirralha vai satisfazer ele? Você não deve nem saber
chupar, garota!
Cadela! Eu não queria entrar no jogo dela, mas não vou aguentar seus
insultos calada. Se ela quer descer de nível, pois é, serei subterrânea.
— Talvez eu não saiba chupar tanto quanto você, já que você é bem
experiente, afinal, trabalhava num bordel, mas acho que com o dele eu
consigo fazer bem… bom, ele nunca reclamou.
O rosto da mulher atingiu um tom vermelho de ira.
— Sua pirralha! — Deu um passo à frente, mas logo recuou. — Você está
se iludindo fácil, acha que ele te ama e quer ficar com você, mas ele só está
aproveitando sua boceta nova.
— Shantal, eu até poderia continuar aqui conversando com você, mas em
todas as frases você usa palavras de baixo calão e eu não estou acostumada
com tal coisa, peço desculpas por não poder te responder a altura, não
conheço tantos palavreados inapropriados, mas se você quiser conversar
como duas pessoas adultas, estarei à sua disposição. — Virei-me para
encerrar essa discussão medonha, mas ela segurou no meu braço.
— Sai do meu caminho, sua infeliz!
— Está me ameaçando?
— Você é uma pirralha, uma cadela barata que no momento está
satisfazendo todos os desejos do meu homem, a única coisa que ele quer é
brincar com você até deixar de ser novidade, depois ele vai correr para
minha cama e vamos rir da sua tentativa falha de conquistá-lo. Eu vou
zombar de você, sua boba, vou zombar de você junto com o homem que
você está apaixonada. Acha que me engana? Acha que não sei que caiu na
conversinha e nos encantos dele? Mas você é muito trouxa mesmo!
Queria ignorar tudo que ela acabou de falar, mas não consegui, perdi a
minha razão e acertei um tapa na sua cara, fazendo ela soltar o meu braço e
cambalear para trás. O tapa foi tão forte que a palma da minha mão estava
ardendo, mas juro que me sentia mais aliviada depois disso.
— Posso ser tudo isso que você falou, mas não sou uma boba iludida igual
você. Ele pode até não gostar de mim, mas você acha que ele vai gostar de
você? Você acha que algum dia vai ter algum reconhecimento? A única
ridícula e iludida aqui é você! Não vai adiantar me ofender, porque eu só
me importo com opinião de quem é importante para mim e você não é nada,
você e uma merda de cachorro para mim é a mesma coisa… não, não vou
ofender a merda do cachorro, porque ela ainda é mais relevante que você.
Ela avançou, mas eu tive um bom reflexo e consegui empurrá-la antes que
seu tapa me atingisse. Parti para cima dela novamente e dei vários tapas no
seu rosto, puxei os seus cabelos e ela se desequilibrou, caindo no chão. Subi
em cima do seu corpo, prendendo seus braços com os meus joelhos e
continuei batendo enquanto ela gritava.
Parei somente quando braços fortes me puxaram, afastando-me dela.
— Para com isso, Luara, para com isso — Eu continuava me debatendo,
mas parei ao ouvir a voz de Rocco.
— Olha — Bati palmas, rindo e falando alto igual uma desequilibrada. —
Agora o circo está armado, a esposa, a amante e o canalha.
— Luara, para de chamar a atenção de todos aqui, vamos para casa
conversar.
— Rocco, olha o que ela fez comigo — a cadela choramingou, enquanto
estava sendo acudida pelo segurança.
— Com você eu me acerto depois — Encarou-a seriamente.
— Se acerte agora, vai, vai consolar a sua amante — gritei e dei socos nos
seus braços e peito.
— Para com isso! — Ele segurou meus braços, nervoso.
— Me larga, me larga! — berrei e ele me largou. — Me deixa em paz, me
deixa quieta! — Saí andando e ele ameaçou vir atrás de mim, mas virei-me
rapidamente, o parando — Não! Fica aí, me deixa em paz pelo menos uma
vez na vida!
Eu preciso de espaço, nesse momento eu preciso de paz e espaço, estou me
sentindo sufocada e extremamente magoada. Tantos sentimentos ruins
assombram o meu peito.
Rocco pareceu entender o meu apelo e ficou parado, enquanto eu andava
sem rumo.
Não sei por quanto tempo andei. O vento fresco batia em meu rosto secou
as insistentes lágrimas que insistiam em cair.
Parei em frente a uma igreja e decidi entrar. Acho que estou mesmo
precisando falar com Deus, ele é o único que pode me entender. Que ironia,
a mulher do diabo precisando do acalento de Deus.
— Boa noite, minha jovem! — o Padre me cumprimentou assim que entrei.
— O que te traz a casa do Senhor?
— Paz, padre, eu procuro por paz — Sentei no banco e ele se aproximou,
sentando-se ao meu lado.
A igreja estava vazia e a sensação de plenitude era enorme.
— Então veio ao lugar certo — Sorriu — Gostaria de conversar?
— Minha vida não tem mais jeito, padre, estou condenada a viver no
inferno para sempre.
— Que isso, minha jovem! Não pense assim — repreendeu-me — Para
Deus, todos temos salvação.
— Mesmo aqueles que entregam a sua vida ao diabo?
— Mas por que você fez isso, menina?
— Eu não tive escolha, me entregaram de bandeja nas mãos dele — Voltei a
chorar, pensando em tudo que vem acontecendo na minha vida nos últimos
dias.
— Não chore, minha jovem, para todo problema há uma solução, até os que
parecem ser mais difíceis, lembre-se que para Deus nada é impossível.
— Acho que o meu problema não tem solução.
Escutamos um barulho na entrada da igreja e assim que olhamos para trás,
vi Renzo com mais dois soldados. O padre me olhou assustado.
— Luara, que bom que te achei! — Meu cunhado se aproximou. — Boa
noite! — cumprimentou o padre, que mesmo receoso, o respondeu com
muita educação.
— Era melhor se não tivesse achado — resmunguei.
— Cunhada, Rocco colocou a cidade abaixo, ele está feito um louco atrás
de você.
— Grandes bostas.
— Vamos, vou te levar para casa.
— Eu não vou agora.
— Sabe que eu gosto muito de você, não é? Mas você também sabe que eu
recebo ordens? Preciso te levar para casa por bem ou por mal e eu
agradeceria muito se fosse por bem.
— Minha querida, vá para casa — O padre interveio — Confia no Senhor e
tudo dará certo.
— Tudo bem — concordei para não fazer escândalo e nem causar maiores
problemas na casa do Senhor.
Entrei no carro em silêncio e permaneci assim o trajeto inteiro.
— Boa sorte ai, cunhada, ele está uma fera — Renzo estacionou o carro na
frente de casa e saiu para abrir a porta para mim.
— Você não vai entrar? — perguntei, um pouco receosa.
— Tenho ordens para te deixar até aqui.
— Tudo bem. Obrigada pela carona — agradeci com um sorriso fraco e nos
despedimos.
Entrei em casa com as pernas trêmulas, temerosa pelo o que me aguardava.
Rocco estava sentado na sala, bebendo uísque e fumando charuto. Olhei-o
rapidamente e decidi que era melhor ignorá-lo, por isso, passei direito e já
estava no primeiro degrau da escada quando a sua voz rouca me parou.
— Onde você pensa que vai?
— Para o quarto — Virei-me para encará-lo.
— Vem até aqui, temos que conversar. — Seu tom de voz pareceu mais
calmo do que eu esperava.
— O que eu teria para conversar com você? — Desci o degrau e dei dois
passos à frente, ficando diante dele.
— Onde você estava?
— Na igreja.
— Fazendo?
— O que se faz na igreja?
Deu de ombros.
— Não costumo frequentar igrejas.
— Estava pedindo para Deus me livrar do diabo — alfinetei.
— Felizmente esse pedido ele não vai poder realizar.
— Infelizmente — corrigi sua fala.
— Porque você arrumou aquela cena? — Seu olhar não se desviou do meu
nem por um segundo.
— Ah, agora eu que fiz cena? — Ri, mas tudo dentro de mim era triste. —
Não foi sua amante, não?
— Ela tinha ordens para não chegar perto de você, porque deixou que ela
chegasse?
— Porque ela não podia chegar? Estava com medo de que ela me contasse
que você continua indo ver ela?
— O quê? Ela te disse isso? — Ele riu alto.
— Faz diferença, Rocco?
— Claro que faz. Eu não tenho mais nada com ela!
— Sério? E eu acredito em papai noel — Fiz careta. Estava sendo infantil?
Sim. Estava me importando com isso? Não.
— Eu não tenho porque mentir, não tenho mais nada com ela, apenas deixei
que ela continuasse morando no apartamento e ainda estava a sustentando
porque não sabia o que fazer com ela.
— Tadinha dela, né? Você tinha que continuar a amparando — ironizei,
espumando de raiva
— Tem como você parar de deboche e conversar como uma pessoa adulta?
— Adulta? Que merda de adulta o que! Você continuou sustentando aquela
mulher, agora vem me dizer que não tem nada com ela ainda? Vai se ferrar!
— Luara, eu acho melhor você se acalmar, cuidado como você fala comigo.
— Senão o que, Don Caccini? Você vai fazer o quê? Vai me matar? Então
que mate! — gritei — Já não suporto mais ter que viver ao seu lado!
Ele avançou e segurou minha cintura com força, colando nossos corpos.
— Não é o que parece quando estamos transando loucamente — Roçou a
barba no meu pescoço e me arrepiei.
— Para! — Tentei ser firme, mas sei que falhei. — Tudo para você é sexo.
É só para isso que você me quer! — O empurrei, lembrando-me do que
aquela mulher falou e senti uma tontura ao me esforçar para mover seu
corpo musculoso para longe do meu.
— Claro que não, Luara, eu gosto de estar com você — Rocco estreitou os
olhos ao me olhar e perceber que não estou bem. — O que foi? Luara? — É
a última coisa que escuto antes de desmaiar.
Capítulo 43

Abri os olhos, percebendo que estava no meu quarto… tudo pareceu girar, o
que aconteceu? Me lembrei de estar brigando com Rocco e tudo se apagou.
Eu desmaiei? Oh, meu Deus! Sim, eu desmaiei! Esses últimos tempos têm
sido muito estressantes, não estou dando conta de todas essas emoções.
— Senhora Caccini? Se sente melhor? — Olhei para o homem parado ao
meu lado e não o reconheci.
— Quem é você? — indaguei, piscando algumas vezes e tentando me
sentar.
— Sou o Doutor Fontana — se apresentou — Como está se sentindo?
— Bem, apesar de tudo.
Ele colocou alguns travesseiros nas minhas costas e me ajudou a sentar.
— Vou te fazer algumas perguntas, tudo bem? — Assenti — Desde quando
você vem sentindo essas tonturas?
— Senti umas duas vezes antes, mas bem leve.
— Já desmaiou alguma outra vez?
— Não.
— Entendi. Sente enjoo?
— Não.
— Se sente sonolenta?
— Um pouco, quer dizer às vezes.
— E sua menstruação? Está certinha?
— O quê? — Finalmente consegui perceber aonde ele quer chegar com essa
conversa. — Sim... quer dizer, não. — Respirei fundo, confusa com tudo
que está rondando minha mente neste momento. — É que eu acabei
esquecendo de tomar o remédio algumas vezes e ela desregulou um pouco
— expliquei.
— Ok. Eu tenho três testes aqui comigo, vou orientá-la a ir ao banheiro e
fazer.
— Teste? Teste você fala de gravidez?
— Sim.
O ar parece ter sumido dos meus pulmões e meu coração acelerou
descompassado após as palavras que ouvi do médico.
— Tudo bem. — Peguei a sacola da sua mão com os dedos trêmulos.
Levantei com calma e fui ao banheiro, tranquei a porta e fiquei me olhando
no espelho por alguns segundos… talvez eu esteja realmente grávida. Era
isso que passava na minha cabeça enquanto encarava o meu reflexo
cansado.
Fiz xixi nos palitinhos e aguardei os três minutos, assim como o médico
explicou e que manda na embalagem, tremendo e muito ansiosa para que o
resultado saísse logo.
Abri a porta e avisei que já fiz, assim como ele pediu.
— Posso ver seus testes? — O médico pediu educadamente e eu dei
passagem para que ele entrasse e os olhasse. — Parabéns, Senhora Caccini,
você está grávida! — anunciou, sorrindo.
Eu já tinha visto os testes, mas precisava ouvir dele para ter certeza de que
era realmente um positivo.
Ouvi-o explicar que marcará a consulta para amanhã cedo e que farei um
exame de sangue chamado Beta-Hcg[xxxii], para confirmar a gravidez e assim
prosseguir com todas as recomendações e cuidados necessários, mas não
consigo raciocinar direito, senti tudo girar novamente.
Isso não podia estar acontecendo, não agora.
— Senhora? Tudo bem?
— Sim, tudo bem — Andei até a cama e me sentei.
— Vou indicá-la a uma ótima obstetra, recomendo que comece a fazer o
pré-natal logo... — Ele começou a falar um monte de coisa e eu não prestei
atenção em nada. — Já vou indo, qualquer coisa só me ligar.
— Não conte nada ao meu marido.
— Senhora, assim que sair por essa porta terei que contar.
— Deixa que eu conto, tá legal?
— Então irei chamá-lo, mas a senhora precisa contar, senão terei eu que
fazê-lo.
— Tudo bem.
O médico o chamou.
Sentia-me cada vez mais perdida. Sei que é um serzinho indefeso, esse
bebezinho não tem culpa desse mundo louco em que vai nascer.
— Oi — Rocco apareceu e seu semblante era de preocupação. — Você se
sente melhor? — Se aproximou, parando na minha frente.
— Sim.
— O que ela tinha? — ele perguntou, olhando diretamente para o médico.
— Nos deixe a sós, por favor — pedi, mas o homem não saiu.
— Pode ir — Rocco o dispensou e ele saiu — E então, o que você tem? Por
que todo esse suspense?
— Estou grávida — despejei sem rodeios.
Foi dessa forma que eu descobri, sem rodeios, e é da mesma maneira que
irei passar a notícia.
— O quê? Você está grávida? — questionou, visivelmente surpreso.
— Sim, grávida — falei em alto e bom som.
— Isso é maravilhoso, diabinha, vamos ter um bebê! — Rocco pareceu
finalmente entender, pegou-me no colo e me rodou.
— Me larga! — exigi, ainda nervosa.
— Amor, para com isso, eu não tenho nada com aquela mulher há tempos,
até mandei-a de volta para o bordel — Olhei desacreditada para ele, por
dois motivos. Primeiro: ele me chamou de amor? Segundo que ainda não
acredito nele — Confia em mim. Ontem quando eu fui até ela foi apenas
para informá-la de que a mandaria de volta para o bordel, apenas isso, não
fizemos nada, Renzo foi comigo, pode perguntar para ele, não demorei nem
trinta minutos.
— Não sei se acredito — Fiz biquinho. Até porque Renzo é o irmão dele e
o acobertaria, entretanto, Rocco não falaria para eu perguntar se não fosse
verdade.
— Você é linda, diabinha, mas fica ainda mais bonita quando faz esse
biquinho — Me beijou — E agora vai ficar ainda mais linda carregando
nosso bebê.
Queria ser um pouco mais dura, mas diante da sua felicidade com a notícia
da gravidez, não consegui e acabei deixando essa história de lado para viver
o momento de agora.
Os olhos do meu marido brilharam em pura satisfação e felicidade. Ele riu à
toa e ficou tão lindo desse jeito… é apaixonante. Tornando uma missão
impossível odiá-lo.
Não queria filhos agora, mas não estou triste em saber que estou grávida.
Filho é benção. Que esse serzinho seja muito bem-vindo.

Alguns dias se passaram desde que descobri a gravidez e hoje fiz a minha
primeira ultrassonografia. Meu bebê ainda é um grãozinho tão pequenino,
fiquei muito emocionada ao vê-lo, senti um amor tão grande que nem sei
explicar.
Rocco foi comigo e por mais que não tenha demonstrado claramente,
consegui perceber pelo seu olhar que ele também estava emocionado.
Desde o dia em que descobri a gravidez, estamos tão bem. Ele passa mais
tempo em casa comigo do que na rua resolvendo as coisas da máfia, só sai
para resolver algum assunto quando não tem como ser substituído. Ainda
bem que está sendo assim, porque nesses últimos dias estou passando muito
mal, com enjoo, tontura e muita dor de cabeça. Hoje estou um pouco
melhor e ele aproveitou para sair, teve que ir resolver alguns assuntos que
estava adiando para poder ficar comigo.
Me ligou avisando que não chegará a tempo para jantar, mas que se eu
quiser esperá-lo acordada, podemos assistir algum filme juntos. Achei fofa
essa atitude dele e é claro que vou esperar, adoro esses momentos “casal
normal” que temos juntos.
Quando contamos para a nossa família sobre a gravidez, foi uma felicidade
enorme, todos vibraram e demonstraram estar muito felizes. Minha mãe
ficou emocionada e eu chorei de felicidade e de saudades junto com ela.
Sentia muita falta da minha família, sei que estou construindo a minha e
agora o meu lugar é aqui, ao lado do meu marido e do nosso filho que em
breve chegará ao mundo, mas mesmo assim sentia falta do aconchego da
minha mãe, do carinho do meu pai, das brincadeiras do meu irmão. Sentia
falta do clima do meu país também, mas não vou ficar reclamando, as
coisas por aqui melhoram bastante e eu já até me acostumei em morar na
Itália.
Passei a mão na minha barriga, que ainda é pequena e não tem nenhum
sinal visível do meu bebê, mas eu já me sinto tão completa.
Só vamos saber o sexo no dia em que nascer. Não foi uma escolha minha,
isso é tradição na família do meu marido. Para mim é difícil aceitar já que
sou muito ansiosa, mas não tem jeito, isso nem é aberto a discussão com
Rocco. Segundo ele, a família toda faz uma aposta com um valor muito alto
para ver quem acerta o sexo do bebê.
— Acordada? — Entrou no nosso quarto, lindo como sempre.
— Te esperando — Abri um sorriso carinhoso para ele e sou recompensada
com um beijo bem gostoso.
— Vou tomar um banho rápido e volto para assistirmos ao filme.
— Vou fazer pipoca — avisei, já me levantando.
— Acho uma ótima ideia — Tirou a camisa, fazendo-me parar para admirá-
lo. Passei a língua pelos lábios, umedecendo-os. — Deixa de ser safada,
mulher, vai logo fazer essa pipoca — Vai para o banheiro rindo.
Desço as escadas rindo de mim mesma, realmente nesses últimos dias eu
estou mais fogosa do que nunca.
Peguei a pipoqueira e rapidamente fiz a pipoca, voltando para o quarto com
a vasilha nas mãos. Aqui na mansão tem uma sala de cinema, mas eu
prefiro o aconchego da nossa cama, depois é só desligar a televisão e ir
dormir.
— Nada de filme de romance — mal entrei no quarto e Rocco já avisou.
— Por que não? Eu gosto! — grunhi, sentando-me ao seu lado na cama.
— Você sempre chora, Luara — resmungou, pegando a pipoca e comendo.
Verdade, eu sempre choro, mas é porque estou sensível, posso fazer o quê?
— Eu não quero ver filmes de terror e nem de ação.
— Então vamos assistir o quê?
— Comédia — Proponho e ele faz uma cara de desgosto engraçada.
— Tá bom, comédia — Mesmo contrariado, acabou concordando.
Nos acomodamos direito na cama e comecei a escolher o filme.
— É legal, você vai gostar — garanti.
— Vou sim, gosto de tudo ao seu lado. — Sua confissão me faz parar para
encará-lo.
— Obrigada por estar tornando tudo tão especial.
— Por você vale a pena.
Me joguei em seus braços, já me sentindo emocionada e o abracei forte.
Estou tão feliz com o rumo que meu casamento está tomando.
Minha mãe tinha razão, é possível fazer dar certo.
Capítulo 44

ALGUNS MESES DEPOIS

A cada dia Luara ficava mais linda, a barriguinha saliente carregando nosso
primeiro filho ia aumentando e meu coração se expandia junto. Essa mulher
é perfeita… minha mulher! Estou cada vez mais encantado por ela.
Não sabemos o sexo do bebê, vamos descobrir só na hora do seu
nascimento, é uma tradição que minha família tem. Enquanto isso, fazemos
nossas apostas valendo muito, muito dinheiro. Renzo, minha mãe, Alice,
meu pai e até o Enzo apostaram em uma menina. Já eu, Luara e Melanie
acreditamos ser um menino.
Sobre o assunto que mais tem me causado dor de cabeça: Claus. Ainda não
consegui pegá-lo e isso tem me atormentado. Enzo está trabalhando dia e
noite incansavelmente para achá-lo. Chegamos muito perto de pegá-lo esses
dias atrás, mas o maledetto foi mais esperto e fugiu antes.
Enquanto isso, tenho dobrado a segurança de Luara, ela é a minha principal
preocupação, tanto por estar carregando nosso filho, quanto por ser minha
esposa. Não posso deixar nada acontecer com ela, é meu dever protegê-la.
Quanto a Shantal, ela entendeu que eu estava falando a verdade, não tinha
porque mentir. Mandei-a de volta para o prostíbulo e nunca mais tive
qualquer contato.
Luara grávida ficou insaciável e mais gostosa do que nunca, nosso
relacionamento só tem esquentado e a cada dia eu ficava mais fascinado por
ela.
Estávamos deitados na cama, descansando após uma rodada intensa de
sexo. Conferi a hora no celular e vi que já passava da meia noite. Quando
estou ao lado de Luara não vejo o tempo passar, muito menos me lembro
que tenho milhares de preocupação.
É confortável estar ao seu lado.
— Vamos descansar? — perguntei, a aconchegando ainda mais em meus
braços.
— Sabe o que eu estava pensando?
Balanço a cabeça em sinal negativo.
— Mas gostaria de saber.
— Não decidimos os nomes ainda e falta pouco para o nosso bebê nascer.
Ela tinha razão, não pensamos em nomes e falta pouquíssimo para o meu
primeiro herdeiro chegar ao mundo.
— Você gosta de algum nome?
— Não sei. E você, gosta de algum?
— Gosto.
— Qual? — Ela me encarou curiosa.
— Giulia.
— Você já ficou com alguma mulher desse nome?
Sua pergunta me faz gargalhar.
— Não, nunca fiquei, apenas gosto desse nome.
Luara ri de si mesma.
— Hum, parece bonito, acho que gostei de Giulia. E se for menino, você
tem algum nome em mente?
— Gosto de Luigi, e você?
— Luigi me parece ótimo, eu gostei desse nome! — E gostou mesmo, pois
sua entonação de voz mostrava o quanto estava satisfeita.
— Então ele se chamará Luigi? — questionei para ter certeza de que os
nomes estavam decididos.
— Sim, se for menino se chamará Luigi. Se for menina vamos pensar ainda,
tá bom? Eu gostei de Giulia, mas ainda preciso ter certeza se nunca existiu
ninguém importante na sua vida com esse nome. — Fez biquinho.
— Tá bom — Ri do seu ciúmes e beijei o seu bico lindo. — Agora vamos
descansar um pouco?
— Vamos, só vou no banheiro primeiro — avisou, já se levantando.
A barriga linda ficou em evidência e abri um enorme sorriso, não me canso
de admirá-la. Essa mulher é maravilhosa demais!
Meu celular começou a tocar a ao conferir no visor, vi que era Enzo.
— Ciao.
— Onde fica a localização exata da sua casa?
— O quê? Você me ligou essa hora para perguntar o endereço da minha
casa? Porra, Enzo! Quer me fazer uma visita a essa hora? Vai se ferrar!
— Rocco, não tenho tempo para brincadeiras. Preciso que me fale a
localização exata da sua casa.
Falei o endereço exato da minha casa para ele, sem entender o motivo disso.
Escutei o barulho dos seus dedos apertando um teclado e presumi que
estava mexendo no computador.
— Que merda está acontecendo? — perguntei nervoso, agora fiquei
preocupado.
— Saia daí agora! Tire Luara daí! — Enzo gritou alterado do outro lado da
linha.
— Mais que porra está acontecendo?
— Claus. Consegui rastreá-lo há poucos minutos e a localização dele está
dando na sua casa.
— Você tem certeza? — Levantei, indo até o banheiro.
— Sim. Venho trabalhando nesse rastreamento há tempos, ele está na sua
casa, Rocco. Nesse exato momento. Você tem que sair daí, tem que tirar
Luara daí, agora!
— Como isso aconteceu?
— Alguém te traiu, seus guardas te traíram.
— Ligue para Renzo, preciso tirar Luara daqui — Desliguei o telefone e
bati na porta do banheiro.
— O que foi, amor? — Luara saiu do banheiro e olhou sem entender o que
estava acontecendo.
— Preciso te tirar daqui.
— Por que?
— Claus está aqui dentro de casa — disse baixinho e caminhei até a porta,
trancando-a. — Tenho que te tirar daqui, mas não posso confiar em nenhum
dos meus guardas nesse momento.
— Aqui dentro? Como assim, Rocco? — Ela ficou extremamente nervosa,
andando de um lado para o outro.
— Não tenho tempo para explicar, preciso apenas que você fique calma,
ok? Prometo que nada vai te acontecer.
Escutamos passos do lado de fora do quarto e sei que ele está próximo.
Alguém começou a mexer na maçaneta, tentando abri-la. Tarde demais, não
tenho como tirar Luara daqui.
— Eu estou com medo — Luara agarrou minha cintura.
— Preciso que você fique calma. Ele está atrás de mim e não de você, ok?
Entra no banheiro e tranca a porta, não sai de lá por nada, você está me
ouvindo? — Balançou a cabeça, confirmando — Você não pode me
desobedecer.
— Você vai entrar comigo?
— Não. Vou ficar aqui, preciso distraí-lo até que Renzo chegue.
— Rocco, ele vai te matar, entra aqui comigo, por favor — implorou,
chorando.
— Xiu, não faz barulho — pedi, tremendo que a pessoa do outro lado possa
ouvi-la.
— Eu não vou entrar ali sem você! — Bateu o pé e cruzou os braços.
— Luara, agora não é hora para isso, pensa no nosso bebê, você precisa
ficar lá dentro — Segurei com delicadeza no seu braço e a levei para o
banheiro — Não saia por nada, ouviu bem?
— Eu te amo — Ficou na ponta dos pés e rapidamente me deu um beijo na
boca — Você precisa voltar, por nós. — Alisou a sua barriga.
— Eu vou voltar — garanti, dando mais um beijo nela antes de fechar a
porta.
Entrei no meu closet, digitei a senha do cofre e peguei munição para a
minha arma. Claus ainda estava tentando abrir a porta, mas sem sucesso. A
porta do meu quarto foi programada para abrir apenas por dentro depois de
acionada a senha de alarme de emergência, mais uma das brilhantes ideias
de Enzo.
— Rocco, sei que você está aí e está me ouvindo, eu vou conseguir abrir
essa porta por bem ou por mal. Pode ficar brincando de se esconder, mas eu
irei te encontrar, enquanto isso vou lá embaixo comer alguma coisa, estou
faminto — o Maledetto gritou, ironizando e rindo. — Cadê a sua linda
esposa? Gostaria de vê-la.
Cocei a barba, sentindo o meu sangue ferver de raiva. Eu vou arrancar cada
pedacinho desse infeliz.
Esperei alguns segundos e finalmente ele parou de tentar abrir a porta.
Recebi uma mensagem de Renzo avisando que estava chegando com a
cavalaria. Abri lentamente a porta do quarto e dois homens armados
atiraram, usei a parede como escudo e atirei na cabeça de um, o outro
avançou sobre mim e eu deixei minha arma cair no chão. Começamos a
lutar e ele pegou uma faca, acertando-a de raspão no meu ombro. Acertei
um soco forte no seu rosto, fazendo-o tombar para trás e a faca caiu no
chão. O homem tentou pegá-la, mas eu o chutei e quando ele caiu no chão,
pisei forte no seu joelho mais de uma vez, quebrando-o.
Alcancei a faca primeiro que ele e a cravei na sua garganta. Fechei a porta
do quarto, acionando a tranca de emergência pelo o meu celular, dando
acesso somente a Luara para abrir.
Desci alguns degraus da escada, tomando cuidado para não ser visto e vejo
alguns dos meus soldados ajoelhados, sendo feitos de refém.
Contei os inimigos e fiz uma estratégia mentalmente para poder eliminá-los.
— Cazzo, até que fim te achei — Assustei-me e virei a arma na direção de
Renzo, quase acertando um tiro na sua testa.
— Não me assuste, você quase levou um tiro.
— Não consegui trazer os soldados, apenas três homens, a entrada está toda
fechada por homens dele, eu consegui passar com alguns pela entrada
secreta, os outros estão lá fora aguardando nosso sinal para entrar.
— Beleza, vamos eliminar alguns ratos.
— Cadê Luara?
— Escondida no quarto. Não consegui tirá-la daqui porque ele já estava na
porta do meu quarto. Preciso acabar com isso logo e levá-la para um lugar
seguro, não quero que ela fique muito tempo sozinha, está nervosa e pode
passar mal, temos que ser rápidos.
— Beleza. Estamos juntos sempre, fratello — Meu irmão apertou o meu
ombro.
— Estamos juntos sempre. Agora vamos nessa.
Descemos as escadas atirando em alguns homens, tanto de Claus quanto os
meus, que possivelmente haviam me traído. A ordem é sempre atirar na
cabeça, não importa quem seja. Quando chegamos na sala de estar, fomos
recebidos por vários disparos e dois soldados que estavam com a gente
foram alvejados na cabeça. Estávamos em três no momento e conseguimos
eliminar quase todos. Renzo jogou uma granada no meio da sala, pulamos
para trás do sofá e após alguns segundos tudo se explodiu, restando apenas
eu e Renzo, o outro soldado que estava com a gente também foi atingido.
Levantamos devagar, em meio a fumaça e parece estar tudo limpo, mas
ainda nem sinais de Claus.
— Vou mandar o sinal para os homens entrarem.
—Tudo bem, irei atrás dele — Nesse momento, sem que percebêssemos,
Renzo foi atingido na perna.
— Cazzo! — gritou, caindo no chão.
Virei-me e Claus estava atrás de mim, com uma arma apontada para a
minha cabeça. Aparentemente ele estava sozinho, todos os seus homens
foram mortos.
— Fica onde você está e larga a arma — falou com Renzo — Agora! Se
não fizer isso, eu mato o seu irmão.
Olhei para Renzo, ordenando-o que faça o que está pedindo.
— Quanto tempo, Claus, você envelheceu, hein? — Tentei me manter o
mais tranquilo e calmo possível diante da situação.
Nunca tive medo de morrer, mas isso foi antes de Luara, foi antes de saber
que teríamos um filho. A ideia de ficar sem ela e de não poder conhecer
nosso bebê me deixa terrivelmente assustado.
— Digo o mesmo, Don. Agora me conta, onde está sua lindíssima esposa,
ainda trancada no quarto?
— Infelizmente hoje ela não vai poder participar da festa, ela acabou
ficando na casa dos meus pais, vamos deixar para uma próxima — menti,
com um sorriso no rosto.
— Fica quieto — Atirou mais uma vez na perna de Renzo que estava
tentando pegar a arma. — A próxima vai ser na sua cabeça.
— Renzo, não faça mais nada! — mandei mais uma vez, irritado por ele ter
levado mais um tiro.
— Não vou deixar esse Maledetto te matar — murmurou com a voz fraca
de dor.
— Eu estou te ordenando, não faça mais nada!
Amo muito o meu fratello e sei que ele faria qualquer coisa para me
proteger, assim como eu também faria qualquer coisa para protegê-lo, por
isso, não irei arriscar a sua vida, vê-lo com dois tiros já é difícil para mim.
— Obedeça a seu Don. Venha Rocco, vamos sair daqui.
— Posso saber para onde vamos?
— Vou me divertir um pouco com você antes de matá-lo — Atirou no meu
ombro e gemi de dor, levando a mão até o local atingido — Isso é só o
começo do que irei fazer com você. — Riu.
— Acho que não estou afim de sair de casa tão tarde da noite, vamos deixar
para uma próxima, Claus, sabe como é, já estou velho, ficar até tarde da
noite na rua não é mais minha praia.
— Você não está em condições de negociar nada. Vamos sair daqui
tranquilamente, você vai ordenar a seus homens lá fora para liberar nossa
saída e eu deixo seu irmãozinho vivo.
— Ele não vai a lugar algum com você — Estremeci ao ouvir a voz de
Luara e fechei os olhos, não acreditando que ela estava ali.
— Ora, ora, mentindo para mim, Don? Que coisa feia! — Estalou a língua
no céu da boca, fazendo barulho, e a encarou, sem parar de apontar a arma
para a minha cabeça.
Renzo não conseguiu pegar a arma pois estava longe e a perna dele estava
sangrando muito. Não posso pegar a minha também porque estou com uma
apontada para a minha cabeça. Estou pensando, mas não consigo ver uma
saída para essa situação.
— Luara, eu falei para não sair do quarto, porra! — rosnei, extremamente
irritado e preocupado.
Meu coração bateu descompassado. O medo de que algo aconteça com ela e
com nosso filho é enorme. Agora sim, estou muito desesperado.
— Deixa ela participar da festinha, Rocco, não seja egoísta. Você não vai
ter coragem de atirar, mocinha, parece que nunca encostou em uma arma,
olha só como está tremendo — zombou.
Quando me virei para olhar para olhar para minha mulher, vi que Luara
tinha uma arma apontada para ele, mas realmente ela está tremendo muito e
tenho certeza que ela nunca teve uma arma em mãos.
— Não me subestime — respondeu com determinação.
— Vejamos o que temos aqui — Seu olhar desceu até a barriga da minha
esposa e fechei os punhos, querendo voar no seu pescoço. — Um bebê
monstrinho? Não acredito que você teve a coragem de engravidar desse
homem imundo.
— Não fala do meu filho, seu infeliz! — ela gritou.
— Te darei um presente, querida. Deixarei você e seu filho livre e em troca
disso matarei seu marido e seu cunhado na sua frente — Claus ameaçou
apertar o gatilho e um tiro ecoou pela sala.
Claus colocou uma mão no peito e a outra mão continuou segurando
firmemente a arma em minha direção.
Olhei para Luara após perceber que ela atirou nele, temeroso que passasse
mal.
— Sua vagabunda, você atirou em mim! — berrou, xingando. — Terei que
te matar e matar esse monstrinho na sua barriga. — Tirou a mira da minha
cabeça e apontou para ela.
— Eu falei para não falar do meu filho! — Mais um barulho de tiro.
— Luara! — chamei por ela.
Tudo aconteceu rápido demais. Claus caiu no chão, já morto, mas os
disparos continuaram por um tempo.
— Vai para o inferno! Eu falei para não falar do meu filho! — Descarregou
a arma no nosso inimigo, fazendo com que não sobrasse um pedaço dele
vivo para contar história.
A munição já havia acabado, mas ela continuava apertando, tomada por
uma fúria que jamais havia visto nela. Essa é minha mulher!
Capítulo 45

Fiquei tão cega de raiva que tudo que via na minha frente era um borrão do
homem caído, coberto por sangue.
— Luara? Luara? — Escutei Rocco me chamar, mas sua voz parecia estar
longe demais. — Olha para mim — Tirou a arma da minha mão e segurou o
meu rosto, fazendo-me olhá-lo.
— Ele está morto? — gaguejei, nervosa. Não consegui parar de olhar para o
homem que está no chão.
— Sim.
— Eu matei um homem, eu matei um homem — Comecei a chorar,
sentindo o desespero tomar conta de mim.
— Fica calma, eu estou aqui — Puxou-me para os seus braços e me
abraçou, tentando acalmar a tremedeira que consumia todo o meu corpo.
— Eu matei um homem. Rocco eu matei um homem — repetia isso várias
vezes, não acreditando que fiz mesmo uma coisa dessas.
— Meu amor, calma, está tudo bem — Abraçou-me ainda mais forte, mas
não ao ponto de machucar. — Ele mereceu morrer. Não se sinta culpada.
— Eu matei uma pessoa, eu matei um ser humano.
Sinto a palma das minhas mãos ficarem geladas e não consigo controlar a
tremedeira.
— Não tem como considerar ele um ser humano. — Depositou um beijo no
topo da minha cabeça. — Fica tranquila meu amor, você fez um bem para a
humanidade — Andou, puxando-me em seus braços até onde estava o seu
irmão. — Como você está? — perguntou para Renzo.
— Bem. Acho melhor levá-la para um hospital. Ela parece estar em choque.
Rocco assentiu, falando para Renzo ficar tranquilo que já viriam o salvar e
me levou para o carro.
A cena em que eu disparo vários tiros naquele homem repetiu várias e
várias vezes na minha cabeça.
Fiquei com medo de que ele matasse Rocco e Renzo e que pudesse fazer
algo comigo e meu bebê, não tive culpa, fiquei nervosa e apavorada, acabei
atirando para me defender e defender aqueles que eu amo.
Chegamos ao hospital mais perto. Meu marido explicou ao médico o que
aconteceu e logo vi Renzo entrando também.
Fui encaminhada para um quarto para que pudessem fazer alguns exames
para ter certeza de que estava tudo bem comigo e o bebê. Rocco ficou ao
meu lado, segurando a minha mão.
— Luara, vou te dar um remédio que a deixará um pouco mais calma, mas
fique tranquila que não é nada que possa prejudicar o seu bebê, é apenas
para você descansar um pouco — o médico explicou e eu concordei.
Após ser medicada, o sono foi tomando conta pouco a pouco. Antes de
desmaiar de sono, ainda escuto Rocco falar comigo:
— Fica bem, estarei aqui do seu lado. Obrigado por hoje e por todos os dias
em que esteve ao meu lado. Você é incrível, diabinha!
Meu único pensamento é na minha família, eu amo minha família, todos
eles e eu faria qualquer coisa por eles.

Alguns dias se passaram depois daquele acontecimento, eu estou bem,


ainda lembro, mas me sinto bem melhor, agora essas lembranças não me
atormentam tanto.
Apesar de sempre estar em casa, sempre estou atrás de algo que distraia
minha mente, e hoje combinei com as meninas de virem passar a tarde
comigo e estou esperando elas chegarem.
— Que bom que você veio, amiga — Abracei Melanie.
— Estava com saudades de vocês! — Sorriu, alisando minha barriga, que
estava enorme.
— Alice, que bom que você veio também! — Abracei minha cunhada.
— Não perderia esse chá da tarde das meninas por nada — Piscou sorrindo
e também fazendo carinho na minha barriga. — Bebê da titia está crescendo
rápido, hein?
— Nem me fala. — Olhei admirada para o meu barrigão. — Vamos até o
jardim, mandei montar a mesa lá.
— A reforma da casa ficou ótima Luara, melhor do que era antes — Alice
elogiou.
— Concordo, Rocco deixou eu decorar da minha maneira, essa casa era
muito sombria, agora sim parece com uma casa de família.
Depois do ataque aqui em casa, decidimos reformá-la e meu marido deixou
que eu fizesse da minha maneira, suas únicas exigências foram em questão
a segurança que ele reforçou bastante.
Sentamos no jardim para jogar conversa fora e comer as delícias que estão
postas na mesa.
— Como está indo lá com o Renzo? — perguntei para Melanie.
Depois que ele levou dois tiros na perna, teve que passar por uma cirurgia e
ficou um pouco debilitado, Melanie ficou cuidando dele e como já estavam
morando juntos, tiveram que se casar antes de Alice e Enzo.
— Um saco, ele é insuportável! — bufou — Não nos matamos ainda
porque ele está manco e precisa de mim.
O jeito engraçado com que Melanie falou fez com que caíssemos na
gargalhada.
— Vocês se amam, isso sim — Alice implicou e o rosto da ruivinha ficou
todo vermelho.
— Ama? Ficou louca, né, Lice? Seu irmão é ignorante, chato, arrogante e
ainda tem a amante. Sem falar que ele nem tem coração, ou seja, é incapaz
de amar alguém.
— Ela está atormentando vocês? — Refiro-me à amante.
— Agora menos, mas ela liga todos os dias para ele, me pergunto porque
ela não está cuidando dele e sim eu — Revirou os olhos —, mas aí lembro
que o papel de esposa perfeita é meu.
— Sinto muito por isso — Segurei a sua mão, fazendo um carinho afável.
— Eu também, Mel — Alice segurou na outra mão. — Se eu pudesse batia
no meu irmão para ele deixar de ser trouxa, com um mulherão igual você ao
lado dele, ele ainda tem coragem de olhar para aquela cadela de rua.
— Não tem problema meninas, obrigada por todo carinho — Puxou a mão,
sorrindo e bebendo seu suco. — Agora vamos falar da Alice e dos
preparativos do casamento.
— Sério isso, gente? — Alice revirou os olhos, fazendo uma careta.
— Sim — eu e Mel respondemos juntas. — Conte tudo — pedi.
— Está indo — Deu de ombros. — Graças a Deus tenho visto Enzo poucas
vezes e em todas elas ele dá um jeito de me tratar mal ou me ridicularizar,
típico dele mesmo.
Fiquei com dó da situação das duas e lembro que eu já passei por tudo isso,
é muito ruim casar com alguém contra a sua vontade.
— Vou aconselhar vocês a mesma coisa que minha mãe me aconselhou.
Não tem como a gente voltar atrás, está feito, é nosso destino. Mas temos
que ser espertas e inteligentes, a única maneira de viver bem e em paz é
jogando com as armas que temos.
— E qual seria essas "armas"? — Alice perguntou, fazendo aspas com os
dedos.
— Isso só vocês vão saber. — Bebi meu suco.
— E qual foi a sua? — Mel questionou, parecendo interessada no assunto.
— Percebi que enfrentar Rocco era perda de tempo, só deixava ele mais
nervoso e que lutar contra o nosso casamento era burrice, então resolvi
aceitar e fazer de tudo para dar certo. Finjo-me de submissa e ele acha que
manda em mim, mas na verdade é o contrário, ele acaba cedendo a todas as
minhas vontades — As duas me encararam com a sobrancelha arqueada. —
Como eu consigo isso? Sendo uma boa esposa. Não enfrento ele. Ele chega
em casa cansado e estressado do serviço, eu sou doce e gentil. Ele fala que
não quer que eu faça uma coisa e finjo aceitar. Quando estamos bem e ele
está carinhoso, eu peço novamente e ele aceita.
— Vivendo e aprendendo — A ruiva riu.
— Quem diria que meu irmão seria cachorrinho de alguém. É nítido como
ele é louco por você, Luara, ainda mais depois daquele ocorrido ele ficou
comendo na sua mão, literalmente.
Alice está se referindo ao que aconteceu com Claus. Rocco tem sido
diferente desde aquele episódio, ele está mais maleável e aos poucos vou
conquistando tudo que eu quero. A maior prova disso é ele permitir que eu
saia sozinha e estude, isso mesmo, meu marido concordou que eu faça
faculdade, online, claro, já que ele não quer que eu vá para a faculdade de
forma presencial, mas para mim isso já é um grande avanço.
— Eu sei que esse mundo que vivemos é ridículo, sei que na máfia somos
tratadas como nada, mas aos poucos vamos conquistando o nosso espaço.
— Você faz greve? — Mel perguntou baixinho, com as bochechas
vermelhas.
Rio da sua inocência.
— Faço. Ele fica muito bravo comigo, mas acaba cedendo aos meus
caprichos e eu aos dele.
— Ele não te pega a força não?
— Não! — respondi rapidamente. — Nunca fez isso. Sabe, desde o nosso
casamento até agora, ele mudou muito, mas muito mesmo. Dentro de casa
ele não é mais o mafioso, o grande Don Caccini, dentro de casa ele é apenas
o Rocco, meu marido e pai do meu filho.
— O que as donzelas estão falando de mim? — Escutamos a sua voz rouca
e potente.
Ele se aproximou, dando-me um beijo rápido, fazendo-me sorrir com a sua
demonstração de carinho.
— Nada demais, querido irmãozinho, minha cunhada só estava elogiando o
marido exemplar que você é.
— Assim você acaba com a minha reputação, amor — brincou e eu me
derreti ao ouvi-lo me chamar assim na frente delas. — Sou um mafioso,
você não pode queimar meu filme desse jeito. — Lançou-me uma piscadela
divertida.
— Passou daquela porta você é apenas o Rocco, lembra? — Também
pisquei para ele, brincando.
— Sim, diabinha. Agora se despede das meninas e vamos comprar o
restante das coisas do nosso filho.
Rocco estava super animado com o nascimento do nosso bebê, faltam
alguns dias e ele não se aguenta de tanta ansiedade, mas não posso nem
falar muito porque estou tão ansiosa quanto ele ou até mais. Não vejo a hora
de ter meu pacotinho de amor nos meus braços. E claro, poder descobrir o
sexo, coisa que está me deixando cada dia mais curiosa.
Capítulo 46

Fui buscar Luara para terminarmos o enxoval do bebê, o médico disse que
faltavam poucos dias para o seu nascimento e a ansiedade de ver o rostinho
do meu filho ou filha era grande.
Caminhamos pelas lojas comprando várias coisas, ainda não sabemos o
sexo, por isso Luara optou por comprar tudo unissex.
— Está com fome, meu amor? — perguntei carinhosamente.
Minha esposa conseguiu despertar em mim um lado meu que sequer
conhecia. Nunca imaginei que pudesse ser carinhoso com alguém, mas com
ela sinto necessidade de ser assim, de tratá-la bem.
— Sim, mas primeiro vou passar naquela lojinha ali — Apontou para o
outro lado da rua.
— Vamos lá. — Meu celular começou a tocar.
— Pode me esperar aqui, vou rapidinho — Deu-me um beijo e foi em
direção a rua.
— Cuidado ao atravessar — alertei e atendi a ligação.
Mudei muito com Luara nos últimos meses, entendi que para ter um
casamento saudável eu preciso ceder em alguns pontos, assim como ela
cede em vários. Claro que ainda sou ignorante e estúpido, o que ela não
merece, mas ela tem todo um jeitinho meigo de me domar. Essa mulher é
incrível! Tem o dom de me ganhar fácil.
Minha esposa olhou para mim do outro lado da rua e sorriu, o sorriso mais
lindo que já vi na vida. Sei que estou apaixonado por ela faz tempo, mas
acho que esse sentimento aumentou bastante, não é só paixão, é mais do
que isso.
Luara esperou o sinal fechar e veio na minha direção toda sorridente, com a
sacola na mão com que havia comprado. Está tão linda com essa barriga
enorme. Parece que a cada segundo que a olho, ela consegue ficar ainda
mais bonita.
Como em câmera lenta, tudo aconteceu diante dos meus olhos. Luara estava
atravessando tranquilamente quando um carro avançou o sinal vermelho e a
atingiu em cheio. Vi seu corpo pequeno e meigo, carregando o fruto do
nosso amor, sendo jogado para o alto, batendo no capô do carro e caindo no
chão.
Meu coração parou de bater por alguns segundos.
— Luaraaaaaa — gritei desesperado, correndo até ela, já sacando a minha
arma.
Disparei vários tiros na direção do carro. Para a minha surpresa, Shantal
saiu de lá, sangrando.
Era essa maldita no volante!
— Sua maledetta! — A sensação de ódio me consumiu e sem pensar,
descarreguei minha arma, disparando somente na sua cabeça.
Uma multidão se formou ao redor da minha mulher, me ajoelhei e a peguei
em meu colo. Seu vestido branco estava sujo de sangue. Chamei o seu
nome, mas não obtive resposta.
Um desespero nunca sentido antes por mim, me sucumbiu.
— Meu amor, fala comigo, por favor. — Beijei o seu rosto. — Socorro,
alguém me ajuda, socorro! — implorei, olhando para as pessoas à nossa
volta.
— Chefe, temos que levá-la para um hospital agora — Tom, meu
segurança, pôs a mão no meu ombro.
Corri com ela em meu colo para dentro do carro. O seu sangue escorreu em
minhas mãos e observei que estava vindo das suas pernas. Meu desespero
aumentou e inúmeras coisas começaram a passar pela minha cabeça.
— Corre! Ande o mais rápido possível, preciso salvar minha mulher e meu
filho.
— Sim, senhor — Tom acelerou o carro, correndo em direção ao hospital
mais próximo.
— Amor, você precisa ficar comigo, acorda, por favor — Distribuí beijos
em seu rosto, não me importando nem um pouco com o sangue, tudo que eu
queria era que ela acordasse me olhasse com aqueles lindos olhos.
O trajeto até o hospital pareceu mais longo do que imaginava e minha
aflição só aumentava.
Fiz uma reza mentalmente, nunca pedi ajuda a Deus, mas espero que dessa
vez Ele possa atender ao meu pedido. Se existe algum ser divino neste
mundo, que ele se manifeste agora, porque é o momento em que eu mais
preciso.
Tom estacionou o carro e eu saí correndo com ela em meus braços, gritando
por ajuda.
— O que aconteceu? — O médico perguntou ao se aproximar, enquanto os
demais da sua equipe a colocaram em uma maca.
— Ela foi atropelada. Tem muito sangue e ela está grávida. — Passei as
mãos no cabelo, tentando acalmá-la, ou a mim, durante esse processo.
— Tempo de gestação?
— Trinta e cinco semanas. — informei.
— Certo.
Caminhei junto com eles, não vou deixá-la sozinha em momento algum.
— O senhor deve aguardar aqui — O médico me impediu de entrar na sala
de cirurgia com eles.
— Eu vou entrar com ela — afirmei, extremamente nervoso.
— Sei que o senhor quer acompanhar tudo e está preocupado com ela, mas
nesse momento precisa confiar em mim. Darei de tudo para salvar sua
esposa e filho. — Encarei-o apreensivo, ponderando se deveria deixá-la. —
Confia em mim — pediu novamente. — Nesse momento seu desespero só
vai atrapalhar.
Respirei fundo, aceitando e ficando do lado de fora. Tudo para o bem deles,
tudo.
Depois de alguns minutos de angústia esperando, sem resposta, minha
família apareceu.
— Como ela está? — Alice se aproximou chorosa e me abraçou apertado.
— Ainda não sei.
— Vai ficar tudo bem, fratello, Luara é uma mulher forte — Dessa vez foi
Renzo que me abraçou.
— Estou orando por ela e o bebê — Melanie falou com toda sua delicadeza.
Balancei a cabeça, agradecendo.
— Figlio, e o bebê? Eles falaram alguma coisa sobre ela e o bebê? —
minha mãe perguntou apreensiva.
— Não, mamma, ainda não tenho resposta para nenhuma das perguntas de
vocês, estou no escuro tanto quanto todos aqui.
Meu pai apenas ficou em silêncio, ele sabe que nesse momento o que eu
menos desejo é conversar.
— Eu avisei a família dela — mamma informou e eu agradeci.
— Senhor Caccini? — o médico me chamou.
— Sim?
— Sua esposa teve uma hemorragia forte, consegui conter, mas o bebê não
quer esperar, ele está pronto para vir ao mundo, vamos para sala vê-lo
nascer?
— Claro — Olhei para os meus parentes sorrindo de nervoso e acompanhei
o médico.
Vesti aquela roupa de centro cirúrgico e lavei as mãos como fui orientado.
Ao entrar na sala, encontrei minha esposa acordada, fraca, mas acordada
O alívio que eu senti fez-me rir de tanta felicidade ao olhar sua imensidão
azul.
— Nosso bebê vai nascer — falou baixinho e bem pausadamente.
Percebi alguns hematomas no seu braço e um machucado na sua testa por
causa do acidente.
Meu coração doeu demais ao vê-la assim, novamente machucada, e por
minha culpa.
— Vai sim — Segurei sua mão —, e eu estarei aqui ao seu lado.
— Qualquer coisa que acontecer comigo, cuida dele ou dela, por favor —
Uma lágrima solitária escorreu e eu enxuguei.
— Não vai acontecer nada, meu amor, vamos cuidar nós dois dele ou dela.
— Pensar em algo ruim acontecendo com ela me mata por dentro.
De mãos dadas com ela, aguardamos o nascimento do nosso primeiro filho.
Fiz minha segunda prece, desejando que meu filho nasça com saúde e que
minha mulher fique bem, não posso perdê-los.
E eu, que nunca fui um homem de fé, peguei-me no mesmo dia pedindo
duas vezes ajuda para Deus.
O médico e seus auxiliares demoraram um pouco e eu comecei a me sentir
apreensivo achando que algo poderia estar errado.
— Tudo certo? — perguntei.
— Tudo ótimo — O médico sorriu e escutei um choro forte e alto
predominando na sala. — Aqui está seu bebê — Levantou os braços
mostrando um lindo bebê bem grandinho, que tinha um choro potente.
— Nosso bebê, Rocco — Luara apertou a minha mão, chorando bastante.
Seus lábios estão brancos, mostrando o quanto está fraca.
— Nosso bebê, meu amor — Deixei um beijo carinhoso na sua testa.
— É um meninão — ele revelou o sexo.
— Nosso Luigi — Minha esposa chorou ainda mais e pela primeira vez na
vida meus olhos se encheram de água.
O médico aproximou Luigi do rosto de Luara e ela o beijou.
— Mamãe te ama muito, meu pequeno corajoso — Sua fala ficou arrastada.
— Ela está bem? — Minha preocupação agora era minha mulher, já que
pude comprovar que meu filho está bem.
— Ela perdeu muito sangue e está fraca.
Luara começou a fechar os olhos e vi uma enfermeira pegar Luigi dos
braços do médico. Os barulhos dos aparelhos que estão ligados a minha
mulher começaram a apitar e quando a olhei, ela estava com os olhos
fechados.
— Luara? — chamei — Luara? — A vida parece estar querendo me punir.
É um desespero sem fim. — Doutor, o que está acontecendo?
— Ela está tendo outra hemorragia, peço que o senhor vá junto com a
enfermeira.
— Eu não vou sair de perto dela — Apertei a sua mão e constatei que ela
estava gelada. — Faz alguma coisa, não posso perder essa mulher —
implorei.
— Ela vai ficar bem, você só precisa confiar em mim, por favor,
acompanhe a enfermeira e seu filho.
Fiz o que ele pediu, porque no momento é o que me pareceu adequado,
preciso confiar novamente nele, embora eu odeie confiar nos outros.
Acompanhei a enfermeira junto com o meu filho, ela o limpou e trocou a
sua roupinha, usamos uma que eu e Luara tínhamos acabado de comprar
porque era o que tinha no momento. Mamma foi lá em casa buscar as coisas
dele e em breve poderemos cuidar dele do jeito que meu filho merece.
— Ele está bem? — perguntei para a médica pediatra que está o
examinando agora.
— Ótimo. Apesar de nascer antes do tempo, ele é um super bebê, saudável
e grande.
Respirei aliviado, pelo menos uma boa notícia em meio a esse caos.
Depois de trocá-lo, ela me entregou e todo sem jeito eu o peguei no colo.
Era a primeira vez que segurava um recém-nascido em meus braços.
Apesar de não ter tomado banho, o cheirinho dele era agradável e aqueceu o
meu coração.
— Seja bem-vindo, meu filho — ele resmungou — Você já está sentindo
falta da mamãe, não é? O papai também, meu filho, o papai também —
conversei com Luigi como se ele pudesse me entender.
— Vamos levá-lo para o quarto, quando sua esposa descer ela ficará com
vocês.
— Ela vai ficar bem?
— Vai sim, senhor, fique tranquilo.
Entramos em um quarto amplo e a enfermeira se retirou falando que
qualquer coisa eu poderia chamá-la. Pedi que chamasse a minha família,
pois eles estavam ansiosos para conhecer o herdeiro.
— É um vazio sem a sua mãe, né, filhão? Papai já está com saudades de ver
o sorriso dela, você vai se apaixonar quando ver sua mãe sorrindo, é o
sorriso mais lindo que existe.
— Mais é um maricas mesmo — Renzo zombou ao entrar no quarto com a
minha família
— Vai se ferrar.
— Meu filgio, não xingue na frente do bebê — mamma me repreendeu.
— E então, qual o sexo? — papá perguntou.
— Menino, é um meninão — Mostrei Luigi para eles, cheio de orgulho.
Eles gritaram e demonstraram muita felicidade ao conhecê-lo.
— Cadê Luara? — Mel e Alice perguntaram juntas.
Contei sobre o que aconteceu e a tensão voltou a reinar sobre todos nós.
Meu coração estava apertado, nem sabia que eu tinha um, mas depois de
hoje tive a certeza que sim.
Hoje eu tive várias certezas, dentre elas, que minha esposa é o oxigênio que
eu preciso para respirar… a paz que preciso para minha vida fluir… e que
voltei a sentir por ela, só por causa dela.
Capítulo 47

Vou recuperando a consciência e ao abrir os olhos, encontrei o médico ao


meu lado, sorrindo.
— Sente-se bem, Luara? — perguntou.
— Sim, bem melhor — Sinto-me um pouco fraca, mas melhor que antes —
Cadê o meu filho? — É tudo que consigo pensar.
— Seu filho está no quarto com o pai dele. Você teve outra hemorragia
forte, estava em observação aqui até acordar e termos a certeza de que você
está se sentindo bem.
— Estou bem — garanti. — Posso ir ver meu filho agora?
— Claro, vamos te levar até lá.
Eu não me levantei da maca, as enfermeiras me levaram até o quarto.
Quando entrei, vi todos lá, incluindo meus pais e meu irmão. As
enfermeiras me transferiram para a cama e se retiraram.
— Filha, como seu filho é lindo! — Minha mãe se aproximou, com
lágrimas nos olhos e beijou a minha testa carinhosamente.
Fui cumprimentada por todos com muito carinho e fiquei feliz em ver a
minha família reunida desse jeito.
— Eu queria pegar ele um pouquinho — falei, louca para sentir o cheirinho
do meu pequeno.
Rocco o trouxe até mim. Desde que entrei no quarto, meu marido não
desviou os olhos de mim, um brilho lindo se destacava naquele mar de
escuridão que são os seus olhos, mas ele ainda não havia conseguido chegar
perto de mim.
Segurei meu filho nos braços e foi inevitável conter as lágrimas, ele é lindo!
— Não sei explicar o que estou sentindo ao vê-la bem… estou tão feliz! —
sussurrou para que só eu pudesse ouvir. — Ele é a sua cara, meu amor —
Meu marido me deu um selinho rápido.
— Sim, ele se parece comigo.
— Garotão de sorte, esse — Bagunçou os cabelos do nosso filho, ele era
cabeludo e seus fios eram escuros como o meu.
Encarei Rocco, ainda mais apaixonada. Eram os dois homens da minha
vida.
— Fico tão feliz em te ver bem, Lua — Mel se aproximou, dando um beijo
na minha bochecha. — Parabéns pelo seu filho e por toda sua coragem de
sempre.
— Obrigada! — Sorri.
— Cunhada, grazie Dio[xxxiii] essa criança veio a sua cara — Alice brincou.
— Meu sobrinho é lindo e você é uma mulher de muita força. — Fez
carinho nos meus cabelos.
— Meu sobrinho é lindo. Você é forte. Nossa família tem muita sorte de ter
você — Surpreendi-me com esse Renzo carinhoso.
Agradeci ao carinho de todos eles. Era muito importante para mim me
sentir querida.
— Bom, já que estão todos aqui. Gostaria de dizer que amo todos vocês,
cada um é especial da sua forma e tem um lugar no meu coração — Olhei
para Rocco — Fala você — pedi, ele sabia do que se tratava.
— Gostaríamos que Melanie e Renzo apadrinhassem o nosso filho.
A cara de Renzo foi super engraçada. Melanie levou a mão à boca, não
acreditando.
Gosto muito dela e Rocco fazia questão do seu irmão ser o padrinho, então
fiquei feliz em ser os dois.
— Amiga, eu fico muito feliz, obrigada por esse presente! — a ruiva
agradeceu, com lágrimas nos olhos, ela estava verdadeiramente
emocionada.
— Cazzo! Que presentão, será um enorme prazer… caramba, me deixaram
sem palavras, viu? — Renzo também parecia emocionado.
Tenho certeza que fizemos a escolha certa.
— Vamos amamentar esse bebê? — A enfermeira entrou para me auxiliar.
Todos saíram do quarto para me dar privacidade, exceto Rocco.
Fui instruída como fazê-lo pegar corretamente e o bebê estava faminto, pois
sugou com força. Coisa mais linda ele mamando, meu Deus, estou
encantada demais!
Ele é guloso e mama com vontade. A enfermeira me contou que ele tomou
uma seringa de leite depois que nasceu porque eu demorei a vir para o
quarto, mas que agora eu poderia continuar o amamentando no peito, como
sonhei.
Não tem sensação melhor do que essa, de poder amamentar o meu filho.
— Uma das cenas mais lindas que eu já vi na vida — Rocco falou ao meu
lado, me olhando todo bobo.
Agora estamos só nós três.
— E qual foi a mais linda que já viu?
— Você no dia do nosso casamento. — Meus olhos se encheram de
lágrimas. — Eu te amo, Luara! Quase morri quando pensei que te perderia.
Não quero e não posso viver sem você.
Meu coração acelerou. Era a primeira vez que ele falava aquilo.
— O que você disse? — murmurei, a voz embargada pelo choro.
— Que eu senti medo de te perder? — Sorriu, sabendo que não era aquilo.
— Fala logo, Rocco! — Fiz biquinho.
— Eu te amo, meu amor. — Fez carinho com o polegar na minha bochecha.
— Obrigado por nossa família! Vocês são meus melhores presentes da vida
— Beijou minha boca.
— Olá, casal! — Enzo bateu na porta do quarto, abrindo-a um pouco e
mostrando o buquê de rosas. Lindo! — Posso?
— Claro, entre — Rocco autorizou.
— Parabéns aos papais. Essas flores são para você, Luara. Feliz novo ciclo.
— Obrigada, Enzo! É muito gentil da sua parte me trazer flores. — Sorri.
Rocco pegou as flores e colocou na mesinha ao lado, também o
agradecendo.
— Desculpa por atrapalhar o momento de vocês dois, mas Rocco precisa
vir comigo — avisou e eu estreitei os olhos, estranhando.
— Aonde vocês vão?
— Eu acabei fazendo uma promessa enquanto falava no telefone com esse
bastardo. — Meu marido revirou os olhos, parecendo arrependido.
— Que promessa?
— Rocco deve uma visita à igreja — Enzo explicou.
— Igreja? — quase gritei, mas me controlei a tempo de não acordar o bebê.
O que o diabo vai fazer na igreja? Que pecado!
— Acabei pedindo uma ajudinha ao cara lá de cima e agora vou lá cumprir
minha promessa — Me deu outro beijo e beijou a cabeleira de Luigi. —
Amo vocês!
— Também te amo.
— Vamos rezar — Enzo saiu do quarto rindo.
Acabo rindo também, achando engraçado e bonitinho esse gesto de Rocco.
— Mamãe não poderia estar mais feliz, meu filho. — Acariciei sua
bochechinha gorda e rosada.
Meu filho era perfeito demais e eu estava babando muito. Ainda era difícil
acreditar que eu me tornei mãe, mas também era surreal o amor e a
felicidade que estava sentindo no meu coração.

Rocco deixou para me contar o que aconteceu no dia do nascimento de


Luigi quando cheguei em casa. Descobri que quem dirigia aquele carro era
Shantal e que ela estava morta. Ele disse que se arrependeu da maneira que
a matou, pois foi rápido demais e ele queria fazê-la sofrer por tudo que me
causou.
Por mais que ela tenha feito aquilo comigo e por sua causa eu poderia estar
morta, ou pior, perder o meu filho, fiquei aliviada que a sua morte foi
indolor, não gostaria de saber que ela sofreu muito. Afinal, Shantal nada
mais era que uma mulher loucamente apaixonada. E eu até entendo ela,
porque me sinto exatamente assim, perdidamente apaixonada por Rocco.
Mas enfim, o tempo passou e isso são mágoas do passado. Tudo que tenho
agora é o amor da minha família e a felicidade de estar diariamente com
eles vivendo em paz.
Os primeiros meses de Luigi foram difíceis, ele se parece muito comigo
fisicamente, mas na personalidade ele é nervoso igual ao pai. Ele mama
muito e dorme pouco, isso tem me deixado bem cansada. Rocco tem feito
seu papel de pai lindamente, não tenho do que reclamar. Cansada sim, mas
feliz também, muito feliz. Hoje me sinto completa, tenho uma família linda!
— Isso é mesmo necessário? — perguntei mais uma vez, insatisfeita.
— Sim, meu amor, fica tranquila.
Hoje iremos apresentar Luigi aos membros da máfia e como ele é o
herdeiro do trono, é necessário uma cerimônia. Fiquei apreensiva só de
pensar em tudo que meu filho terá que passar.
— Pronta?
— Sim.
— Ainda mais linda! — Puxou-me pela cintura. — Está deslumbrante, meu
amor! — Beijou-me.
— E você — Alisei seu peitoral por cima do terno —, um gato, como
sempre.
— Nada comparado perto de você, minha rainha. Estou ficando velho,
enquanto isso, você fica ainda mais bela.
— Igual vinho, quanto mais velho, mais gostoso — Passei a língua por seus
lábios, provocando-o.
Rocco tem se incomodado muito com essa nossa diferença de idade.
Sempre fala que sou muito nova e linda para ele. Como se ele não fosse um
gatão. Apesar de uma diferença grande de idade, meu marido não parece
tão mais velho assim, ele é bonito demais!
— Você é só minha, gostosa — Passou a mão pela minha bunda e roçou a
barba no meu pescoço.
— Eternamente sua — confirmei com toda a certeza desse mundo. Fiquei
na ponta dos pés, mesmo estando de salto, para alcançar o seu ouvido. —
Agora vai pegar Luigi, senão vamos nos atrasar.
Ele riu, sabendo exatamente do que estava falando. Se continuássemos aqui,
terminaríamos na cama, pelados e suados.
Rocco pegou Luigi, meu gorduchinho que já está com os seus seis meses,
segurou na minha mão e descemos juntos em direção ao salão de festa da
nossa casa.
Agora é hora de atuar como esposa do Don Caccini, totalmente submissa ao
meu marido. Tenho até vontade de rir. O que eles não sabem é que fora dos
olhares deles a história aqui em casa é outra.
Senti-me mais aliviada em ver a minha família toda reunida ali.
Na hora da apresentação, todos os membros se juntaram e reverenciaram-se
ao meu filho. Os saudaram como o futuro Don da organização e meu
coração de mãe ficou apertadinho.
— Ele será tão bom quanto o meu filho é! — meu sogro falou, sorrindo,
todo orgulhoso.
— Espero que sim. — Abri um sorriso amarelo, tentando me acostumar
com essa ideia.
— Fique tranquila, Luara — Ele pareceu perceber a minha insatisfação —
Assim como meu filho aprendeu, seu filho também aprenderá e será ainda
melhor que todos nós.
— Eu sei, mas meu coração de mãe fica angustiado.
— A mãe de Rocco e Renzo também ficava assim, mas no final tudo vai
dar certo. Rocco entendeu que para ser um grande Don não precisa deixar
de ser um marido exemplar, espero que Renzo aprenda isso, que Enzo
também aprenda, assim como nosso querido Luigi no futuro.
— Eu também, é o que eu desejo. — Dessa vez meu sorriso foi verdadeiro e
largo. Ensinaria ao meu filho ser um bom homem.
Capítulo 48

ALGUM TEMPO DEPOIS

Já era dezembro, o mês que trazia consigo o seu clima frio e a neve suave
que caia lá fora. Trazia também a época mais iluminada do ano, que eu
amava de paixão… ah, o natal!
— Luigi para de fazer isso! — repreendi o meu filho.
— O que esse bambino está fazendo? — A voz do meu marido se fez
presente, anunciando a sua presença na sala.
— Tirando as bolas da árvore de natal.
— Papá — Luigi correu em direção ao pai dele.
— Não pode atrapalhar a mamma, mio fligio[xxxiv] — Luigi prestava atenção
em cada palavra que o pai falava — Senão você vai deixar a mamma muito
brava e ela não pode ficar nervosa, tá bom?
— Tá — Ele desceu do colo de Rocco , parecendo ter entendido e veio na
minha direção. — Desculpa eu, mamma.
— Oh, meu amor — Ajoelhei-me na sua frente para tentar igualar a nossa
altura. — Não precisa se desculpar. Só vamos deixar a árvore bem bonita, tá
bom? — Ele assentiu. — A mamma te ama! — Beijei sua cabeleira.
— Ti amo, mamma.
Sorri.
— Agora vai brincar com outra coisa, bambino — Apontei para os seus
carrinhos e ele foi correndo brincar.
— Como está toda a preparação, meu amor? — Rocco se aproximou,
abraçando-me e me dando um beijo gostoso.
— Tudo certo.
— E como está o nosso bebê? — Alisou minha barriga de quase nove
meses.
— Bem — Sorri olhando para o meu barrigão. Estava gerando o segundo
amor das nossas vidas. Mais uma metadinha nossa.
Ele se abaixou e beijou a minha barriga. Rapidamente o bebê se agitou e
ficou mexendo.
— O que você acha que é? — perguntei.
— As apostas foram feitas.
— Como apostaram?
— Todos apostaram que era outro menino.
— E você? — Gostava mesmo de saber qual era o palpite dele.
— Apostei que é nossa pequena Giulia.
— Muito dinheiro igual da outra vez?
— Sim, muito — Sorriu e começou a me ajudar com a árvore.
Da última vez que apostaram, foi valendo muito dinheiro, tanto que eu
poderia comprar uma mansão e foi o que a gente fez, compramos uma casa
de campo, para passar férias com nossos filhos.
Eu estava cursando arquitetura e urbanismo, mas grávida e ainda cuidando
de Luigi, tive que trancar a faculdade, depois pretendo retomar o curso, mas
por agora não tem como. Eu ainda não contratei uma babá para me ajudar,
quis fazer sozinha, mas talvez depois que o segundo bebê nascer eu contrate
uma pessoa para me ajudar.
— Vamos nos arrumar que daqui a pouco eles vão chegar — chamou,
segurando na minha mão.
— Vamos.
Terminamos de arrumar a árvore e colocar os presentes. Vamos receber
nossa família em nossa casa no natal e eu estou muito feliz.
Horas mais tarde estamos todos sentados à mesa de jantar comemorando
nosso natal. Não somos uma família perfeita, longe disso, mas cada um de
nós estamos sempre procurando melhorar.
Observei cada um aqui presente e sorri satisfeita, cada um com a sua
história e uma linda trajetória. Eu os amo, cada um deles, sem exceção.
Pode até não ser a família perfeita, mas é a melhor que poderia existir e eu
não trocaria por nenhuma outra.
— Ti amo, mia ragazza! — Rocco sussurrou baixinho no meu ouvido,
arrepiando-me.
— Te amo mais, meu amor! — Acariciei a sua mão, sorrindo.
Estou no lugar certo. Minha vida tinha que se cruzar com a do Don Caccini,
ele era a minha história e estou realizada de tê-la vivido.
— Papá, você pode brincar de casinha comigo? — Giulia chamou Rocco.
— Claro, figlia[xxxv].
— Papá, você tem que brincar comigo! — Luigi cruzou os braços,
emburrado.
— Não, Luigi, é hora do chá da tarde e o papá vai tomar comigo.
— Não precisam brigar, crianças, vamos os três na casinha e tomamos o
chá. — Meu marido tentou apaziguar a briga.
— Isso é coisa de menina, papá.
— Deixa de ser bobo, Luigi! — Giulia fez língua para o irmão. Ela era
terrível.
— Podemos ir brincar um pouco com sua irmã, bambino, depois a gente
brinca do que você quer, tudo bem?
Por fim, todos concordaram.
Os três foram para a casinha que fica no quintal da nossa casa de campo e
Giulia começou a servir o chá para eles. Sentei na grama e fiquei
observando a cena mais linda de toda a minha vida. Meu marido e meus
dois filhos brincando. Rocco é um ótimo pai, não podia reclamar. Ele até
me pede mais filhos, mas no momento estou me dedicando aos meus
estudos.
Luigi é minha cópia, mas o temperamento é todo do pai. Giulia já é a cópia
de Rocco, mas com o meu temperamento. Nossa princesinha veio para
completar a nossa família e colocar fogo na casa. Rocco é extremamente
apaixonado e protetor com ela.
Como marido, ele continua insaciável e gostoso, muito gostoso!
Se ainda brigamos? Muito! Ele não é um homem fácil, tem um jeito muito
difícil, é ignorante e sempre quer ser o dono da razão, mas com jeitinho
consigo domar a fera rapidinho.
Se eu estou feliz? Não poderia estar mais! Hoje tenho filhos maravilhosos e
um marido ótimo.
Sobre o restante da minha família? Estão todos se entendendo, assim como
eu e Rocco, todos estão se esforçando ao máximo para toda essa loucura dar
certo. Por aqui tem dado muito certo e acredito que para eles também, mas
isso é história para outro livro.
— Até que fim consegui escapar do chá da tarde — Rocco se aproximou e
sentou ao meu lado — Nossos filhos são lindos! — falou todo orgulhoso,
olhando eles brincarem.
— Lindos demais — concordei. — Nossos filhos são perfeitos!
— Giulia é uma pequena cópia minha e Luigi uma cópia sua.
— Sim, um pouquinho de cada um.
— Espero que venha mais um monte. — Lançou-me uma piscadela.
— Já conversamos sobre isso, Rocco — o repreendi.
— Eu sei meu amor, eu sei — Sentou atrás de mim e me abraçou — Estou
falando no futuro.
— Em um futuro, quem sabe.
— Sou muito feliz por ter nossa família. Você é o amor da minha vida,
minha rainha. — Beijou o meu pescoço
— Também sou muito feliz por ter vocês. Eu te amo!
— Te amo mais, diabinha! Obrigada por entrar nesse inferno e trazer a luz
para minha vida.
— Não tive muita escolha, né? Me entregaram de bandeja para o diabo —
brinquei, rindo.
— Ainda bem, sou um diabo de muita sorte. — Assobiou.
— Não poderia ter sido diferente. Agora eu vejo que foi a melhor coisa que
me aconteceu.
— Obrigado, serei eternamente grato por ter você em meu inferno
particular.
Abraçou-me mais apertado e eu me aconcheguei em seus braços, onde me
sinto verdadeiramente feliz e protegida.
Passamos o restante da tarde olhando e admirando nossos filhos brincarem.
Não tem sensação melhor do que a de paz em que eu estou vivendo ao lado
da minha família.
Quando eu descobri que teria que me casar com o diabo, me revoltei contra
o mundo, mas hoje apenas agradeço. Tudo acontece com um propósito e o
meu estava bem aqui, ao lado das pessoas que eu amo. Se eu pudesse voltar
atrás, eu teria feito tudo exatamente igual. Todas as cicatrizes me serviram
de aprendizado. Cresci, amadureci e me tornei essa mulher que sou hoje.
Forte e decidida. Aquela Luara menininha de antigamente já não existe
mais, hoje ela dá lugar a uma mulher sábia e madura.
Quando a vida te der limões, faça uma limonada. É clichê, eu sei, mas é o
certo. Foi exatamente isso que fiz com a minha, peguei aquilo que era
amargo, que pensei ser o meu fim e o tornei doce, construí a minha vitória.
Se ainda preciso batalhar muito para melhorar minha vida? Sim, ainda tem
muito chão a ser percorrido, mas nada é impossível. Sem pressa eu chegarei
ao meu destino.
FIM.
Se você chegou ao final dessa leitura, deixo aqui o meu muito obrigada!
Esse casal é tão importante para mim. Eles marcam o meu começo e tem
toda a minha admiração e paixão.
Enquanto escrevia, cresci e evoluí com Luara. Que mulher incrível ela se
tornou!
Sou apaixonada demais nessa mulher!
Algumas vezes odiei o Rocco, mas peguei-me completamente rendida por
esse homem quando vi o quão incrível ele era. Foi lindo descobrir o amor
junto dele.
Cadelei muito por esse homem!

Uma montanha russa de sentimentos que esse livro me proporcionou e eu


espero que você tenha sentido todos eles.

No próximo livro conheceremos mais sobre Melanie e Renzo, uma


ruivinha, que agora estava sozinha no mundo e um subchefe malvadão.
Mas acho que de mau ele só tem a cara, hahaha!
Um beijo e até a próxima parada.
Sinopse:
Ele é um mafioso impiedoso.
Ela foi salva por ele.
Ele é sombrio.
Ela o considera um anjo.

Chiara Collalto foi salva pelo Don quando tinha apenas 12 anos e, desde
então, é mantida sob os seus cuidados.

Lucca Savoia é um homem implacável nos negócios. Com um


temperamento difícil e de poucas palavras, ele não tem paciência para os
assuntos do coração.

Em uma noite turbulenta, ao ir à casa de um traidor, Lucca se depara com


uma linda menina de cabelos longos correndo em sua direção, caindo nos
seus braços.
O mafioso frio se torna o protetor da linda menina de olhos expressivos.

Leia aqui: https://a.co/d/4IboA3z

Sinopse:
Lorenzo Savoia é o subchefe da máfia italiana. Um homem de 34 anos, que
não acredita no amor e aprecia sua vida de libertinagem.
Acostumado a ter uma, duas ou até mais mulheres na cama, ele nunca se
contentou com apenas uma.
Até ela chegar...

Giovanna Ferri foi salva pelo subchefe e agora pertence a ele.


Após a morte dos seus pais, foi levada por seu tio para o convento, onde
ficou até completar 21 anos.
Ela estava em completo desespero por seu tio dá-la como esposa a um
homem trinta anos mais velho.
Até que ele chegou...

Lorenzo não queria uma mulher dentro da sua casa, ainda mais uma mulher
tão desorganizada como Giovanna.
Em meio ao caos da convivência, eles descobrem que o amor não bate na
porta, ele entra sem pedir licença.

Leia aqui: https://a.co/d/50GamqP


Sinopse:
+18
CEO viúvo;
Mocinha órfã, que foi abandonada grávida;
Hot de tirar o fôlego e,
Um clichê que vai te fazer suspirar.

Aurora Becker é uma jovem órfã, que luta dia após dia para sobreviver,
tendo seu maior refúgio a vida que construiu com seu namorado e,
futuramente, com seus filhos, contudo, seu castelo de fantasias vai à ruína
quando ela descobre sua traição. Tomada pela raiva, Aurora acaba
acertando uma garrafa na cabeça dele e, com medo de ter cometido um
assassinato, foge, deixando tudo para trás. O que Aurora não contava é que
o destino cobraria rapidamente suas ações e ela acaba sendo atropelada pelo
famoso Jordan Ressler.
Ele, um CEO de tecnologia frio e viúvo, tem uma visão insensível das
relações, mas nem mesmo Jordan podia imaginar que sua tranquilidade
poderia acabar ao atropelar uma jovem grávida. Então, tomado pelo
desespero e pela sensação de culpa, Jordan se vê na obrigação de cuidar
dela e das crianças.
Aurora e Jordan, com isso, tem o destino entrelaçado em circunstâncias
dolorosas, mas juntos eles irão descobrir que laços de sangue não são mais
importantes que laços do coração.

Leia aqui: https://a.co/d/37ylxAc


Sinopse:
Leona Vogel é uma advogada de 27 anos, que ainda busca seu espaço no
mercado de trabalho. Fugindo de um passado traumatizante, procura um
novo recomeço em uma nova cidade.
Andrei Seifer é um renomado advogado, que no auge dos seus 33 anos, só
pensa em viver intensamente, sem qualquer compromisso.
Certa noite ambos se encontram numa boate, onde Andrei aposta com um
conhecido que conseguiria levar a mulher misteriosa, que eventualmente
frequenta o lugar, para cama. O seu charme, que sempre encantou as
mulheres por onde passava, não foi o suficiente para agradá-la e, pela
primeira vez na vida, ele se vê recebendo um fora, o que deixa o seu ego
ferido. A partir daí o advogado passa a ter como obsessão: levar a mulher
que o rejeitou para a cama.

Leia aqui: https://a.co/d/1KHaLrB

Sinopse:
Ela é a pólvora.
Ele é o fogo.
Pura combustão.

Você acredita em destino?

Raoni Venturini não esperava que sua vida de certezas fosse abalada
por Amabel Cesarini, a mulher de cabelos violeta que tornou sua vida
agridoce.

Amabel Cesarini é uma mulher fora dos padrões, mas uma personalidade
segura e que aprendeu a amar-se incondicionalmente. E agora, cercada de
perigos dispostas a pôr um fim em sua vida, ela está em fuga!
Seu destino? Goiânia, atravessando o caminho, a paz e as certezas do
Fazendeiro milionário Raoni Venturini.
O homem mais rico do país tem poucos amigos, é desacreditado do amor,
aprecia sua solidão, e vez ou outra, quer uma boa companhia sem qualquer
compromisso. Mas, não esperava encontrar a mulher de fios violeta,
determinação aguçada e uma vida turbulenta.
Eles são caminhos distintos, mas o destino acaba de torná-los incapazes de
fugir dos seus propósitos.
Raoni e Amabel estão prestes a descobrir que a vida não é o seu plano
perfeito feito de sonhos imperfeitos, senão o fogo que deles queima em suas
nuances agridoces.

Leia aqui: https://a.co/d/buNakzi


[i]
É um proeminente tipo da máfia italiana, sindicato do crime organizado com sede na região
peninsular da Calábria e que remonta ao Século XVIII. É considerado o grupo de crime organizado
mais poderoso do mundo.
[ii]
Moça/menina.
[iii]
Mãe.
[iv]
Irmão.
[v]
Saudação italiana.
[vi]
Prostituta.
[vii]
Conselheiro ou consultor.
[viii]
É um termo usado para definir um membro de uma quadrilha, gangue ou de uma organização
criminosa semelhante à máfia.
[ix]
Filho da puta.
[x]
Menina bonita/linda garota.
[xi]
Se continuar olhando para minha mulher sairá desse restaurante dentro de um caixão.
[xii]
Porra.
[xiii]
Filho da puta.
[xiv]
É um coquetel feito com gim e vermute seco, mexidos com gelo e coado em uma taça cocktail
sem gelo. A sua finalização e decoração tradicional é um "twist" de casca de limão-siciliano, ou com
azeitonas verdes.
[xv]
Porra.
[xvi]
Mãe.
[xvii]
Garota/menina.
[xviii]
Maldito.
[xix]
Irmão.
[xx]
Princesa.
[xxi]
Bonita.
[xxii]
Desgraçados.
[xxiii]
Tulum é uma cidade na costa das Caraíbas da Península de Iucatão, no México. É conhecida
pelas praias e ruínas bem-preservadas de uma antiga cidade portuária maia.
[xxiv]
Maldito.
[xxv]
Desgraçado.
[xxvi]
Filho.
[xxvii]
Mãe.
[xxviii]
Esposa.
[xxix]
Pai.
[xxx]
Obrigado.
[xxxi]
Idiota.
[xxxii]
É uma coleta de sangue capaz de apontar se a mulher está ou não esperando um bebê.
[xxxiii]
Graças a Deus.
[xxxiv]
Meu filho.
[xxxv]
Filha.

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