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1ª Edição

2023

Copyright © 2023 Amanda Pereira

Revisão: Artemia Souza

Diagramação Digital: Paula Domingues

Capa: Alice Prince

Esta é uma obra ficcional.

Qualquer semelhança entre nomes, locais ou fatos da vida real é mera


coincidência.

Todos os direitos são reservados. Nenhuma parte deste livro pode ser
utilizada ou reproduzida em quaisquer meios existentes sem a autorização
por escrito da autora.

A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na Lei nº


9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal.
Um mafioso lindo e arrogante.

Uma brasileira determinada.

Gravidez inesperada.

Uma bebezinha fofa rejeitada

Elai Ziegler é o novo capo da máfia italiana, um homem que sempre


está sorrindo, mas não se engane, ele consegue ser pior do que qualquer um
dentro da máfia.

Um homem que sempre se sentiu preso quando estava no exército,


mas descobriu a sua liberdade quando desertou; um soldado disposto a
cumprir ordens. Mas essa missão é fácil, difícil mesmo é não irritar Luiza, a
melhor amiga da mulher que ele está protegendo. Ele se pergunta como
uma garota pode ter um rosto tão ingênuo e puro e ao mesmo tempo uma
boca que é uma verdadeira perdição.

Luiza ficou encantada quando viu Elai pela primeira vez, um homem
lindo, com um sorriso fácil no rosto, mas ele a irrita. Ela, uma pessoa que
sempre está disposta a ajudar uma amiga, ou até mesmo o homem que tira a
sua paciência a cada oportunidade, uma garota meiga e romântica que busca
uma vida melhor. Mas as consequências de uma noite de prazer lhes trarão
muitas coisas e um pequeno presente. Uma criança inocente no meio de um
relacionamento conturbado.

Ele, um canalha incurável que não busca um relacionamento sério.

Afinal, é possível amar e odiar uma pessoa ao mesmo tempo?

Livro 4 Série: Uma Nerd na Máfia


).

Ps: Não recomendado para menores de 18 anos. Contém sexo, tortura,


linguagem imprópria e violência sexual explícita.
SINOPSE
AVISO
SUMÁRIO
CAPÍTULO 1
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 3
CAPÍTULO 4
CAPÍTULO 5
CAPÍTULO 6
CAPÍTULO 7
CAPÍTULO 8
CAPÍTULO 9
CAPÍTULO 10
CAPÍTULO 11
CAPÍTULO 12
CAPÍTULO 13
CAPÍTULO 14
CAPÍTULO 15
CAPÍTULO 16
CAPÍTULO 17
CAPÍTULO 18
CAPÍTULO 19
CAPÍTULO 20
CAPÍTULO 21
CAPÍTULO 22
CAPÍTULO 23
CAPÍTULO 24
CAPÍTULO 25
CAPÍTULO 26
CAPÍTULO 27
CAPÍTULO 28
CAPÍTULO 29
CAPÍTULO 30
CAPÍTULO 31
NOTA DA AUTORA
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SIGAM A AUTORA
CAPÍTULO 1

Os meus olhos ardem de uma forma que pensei não ser possível. Fecho-os
por um momento, tentando me controlar. A imagem da Ana no chão, o cheiro
forte de sangue... só de imaginar mais lágrimas rolam pelo meu rosto.

— Ela está bem, se acalma.

Me viro para ver Elai ao meu lado, ele dirige o carro, mas de vez em
quando me observa.

— Eu não gosto de ver sangue, para falar a verdade, estava morrendo de


medo de perdê-la.

— Agora o pior já passou, criança.

Respiro fundo.

— Quando você vai parar de me chamar de criança? Que mania chata. Por
acaso você ia gostar que eu te chamasse de galinha toda hora?

Sinto uma fisgada no meu ombro. Coloco a mão lá, e sinto a região latejar.

— Eu gosto de te irritar, Lu. E, afinal de contas, você me chama de galinha


toda hora mesmo.
Ele sorri e reviro os olhos mais uma vez.

Ele estaciona na frente do prédio.

Preciso pegar umas coisas para Ana e aproveitar para tomar um banho
rápido. Vou repetindo isso até chegar ao elevador. Sinto a presença de Elai ao
meu lado, mas ignoro.

O elevador se abre e saio sem olhar para trás. Já estou abrindo a porta, mas
paro quando ele segura a minha mão. Eu as observo entrelaçadas uma na outra
por mais tempo do que o normal. O meu coração dispara e observo o seu rosto.
Elai está com uma expressão neutra.

— O que você está fazendo?

Ele se vira para abrir a porta do seu apartamento.

— Vamos primeiro no meu apartamento.

— Não tenho tempo para brincadeiras, Elai, a Ana…

Ele não deixa que eu termine a frase.

— Ela vai ficar dormindo por um tempo, precisamos cuidar de você


primeiro — ele fala, e já abre a porta do apartamento.

Sinto a sua mão em contato com a minha em um aperto forte. Suspiro alto.
O apartamento dele é bastante parecido com o da Laura, a única diferença é que
só tem um quarto. Ele me leva para o sofá e faz eu me sentar.

Elai sai e entra no quarto. Observo o local. O cheiro dele está presente no
ar. Quando volta, traz uma caixa na mão, e se senta ao meu lado. Eu o encaro, e
ele faz o mesmo.

— O que foi? — pergunto.


— Desculpa por ter te jogado no chão, na hora não pensei o quanto você é
frágil, às vezes esqueço que não estou no exército com homens maiores do que
eu.

— Eu estou bem — falo, e tento me levantar, mas ele segura o meu braço
firmemente.

— Nós dois sabemos que não. Acho que você machucou o ombro na
queda. Retire a blusa para que eu veja.

Fico o encarando mais tempo do que o normal.

— Eu não vou tirar a blusa — falo, sem tirar os olhos dele, que sorri para
mim.

—- Pode ficar tranquila, Luiza, nunca faria mal a você. — Ele aperta a
minha bochecha e esse gesto faz com que eu fique vermelha de raiva. — Você
fica uma gracinha vermelha desse jeito — afirma, sorrindo para mim.

— Eu não vou tirar a blusa — repito.

Ele suspira e olha para mim.

—- Ok, então.

Sinto a sua mão na minha de novo, ele se levanta e me leva para o seu
quarto. Fico parada, olhando para a sua cama, e por um momento penso em
quantas mulheres já passaram por aqui.

— Veste isso — me entrega uma camiseta —, assim poderei ver o seu


ombro.

Elai fala isso e sai, me deixando no seu quarto sozinha com uma camiseta
branca nas mãos.
Respiro fundo, retiro a minha blusa de frio e esse gesto causa um
desconforto no meu ombro. Os pelos dos meus braços se arrepiam na hora. Pego
a camiseta e a visto, ela fica enorme em mim, mostra uma parte do sutiã, e o fato
de ele ser rosa com pequenas flores da mesma cor não ajuda muito. Suspiro,
tentando tapá-lo.

Saio do quarto e vejo Elai sentado. Quando ele me vê, sorri. Ignoro, me
sentando ao seu lado.

— Não fez tanta diferença, estou vendo praticamente todo o seu corpo.

Tento arrumar a camiseta mais uma vez na esperança de que o meu sutiã
não apareça, isso só faz com que ele sorria mais.

— É, machucou um pouco — Elai fala, para logo em seguida passar a mão


lentamente onde tem um hematoma.

Respiro devagar, quando sinto a ponta dos seus dedos em contato com a
minha pele. Fecho os olhos por um momento, tentando me controlar. Não queria
sentir o que sinto quando estou próxima a ele, mas é impossível. As minhas mãos
estão suando, eu as fecho, tentando me controlar.

Ele começa a passar uma pomada no local, sinto um frescor instantâneo,


mas me nego a encará-lo.

— Pronto, assim você vai se sentir melhor — afirma, se levantando.

Ele está certo, estou bem melhor, mas sinceramente não sei se é pela
pomada ou por estar tão próxima a ele. Me levanto.

— Obrigada!

Ele volta e fica parado, olhando para mim.

— Não precisa agradecer, afinal, eu que causei isso.


Não respondo. Vou até o quarto dele, retiro a camiseta e, quando vou pegar
a minha blusa, Elai entra.

— Achei um remédio para dores musculares…

Ele para de falar e eu o encaro. Elai fica me observando. Pego minha blusa
e a visto rapidamente.

— O que você estava falando? — pergunto, arrumando a blusa no corpo.

— Me desculpa, pensei que já tinha se trocado.

— Sem problema, não é como se eu estivesse pelada — brinco, tentando


quebrar o clima, mas a minha mão continua tremendo.

Por um momento vejo algo diferente nos seus olhos. Passo por ele, indo
em direção a sala.

— Este remédio é ótimo, vai aliviar qualquer desconforto muscular —


afirma, me entregando o comprimido.

— Posso te perguntar uma coisa?

Ele sorri.

— Claro.

— Por que insiste em me chamar de criança?

Ele anda para mais perto.

Se controle, se controle. Repito isso sem parar, tentando não ficar ainda
mais nervosa do que eu já estou.

— Você tem cheiro de inocência, por isso o apelido de criança — fala


como se não fosse nada, a minha expressão se fecha de ódio.
— Já que o seu olfato é tão bom, está perdendo tempo aqui. Deveria
procurar um emprego igual àqueles cachorros farejadores da polícia, pelo menos
seria mais aproveitado — rosno de ódio.

Ele se aproxima, segura o meu rosto com uma mão e é impossível não
reparar na sua boca se abrindo em um leve sorriso antes de falar.

— O único cheiro que eu realmente gosto é o cheiro de uma boceta bem


molhadinha depois que eu faço uma mulher gozar com a minha boca.

Eu fico o encarando, sem acreditar no que ele falou. Eu não sei o que fazer
e muito menos o que responder. Ele solta o meu rosto, mas sorri para mim.

— Está vendo por que eu te chamo de criança? A sua cara diz tudo.

Ele se afasta, mas ainda ouço o som da sua risada.

Fico parada, a minha mão começa a suar e por um momento gostaria de ter
um pouco de experiência para finalmente responder como ele realmente merece.

Saio do seu apartamento e, quando estou na porta, tentando abrir, ouço a


sua voz.

— Vai ficar com raiva só porque eu falei aquilo?

— Não quero conversar com você, tenho muita coisa para fazer.

— Está vendo, Luiza, você não consegue nem falar a palavra sexo que já
começa a ficar vermelha, por isso que te chamo de criança.

Me viro para ele.

— Você é um idiota, um galinha mesmo, não sei por que perguntei.

— Não fica assim, falei isso só para provar o meu ponto, e vamos ser
justos, não é? Eu estou certo.
Não respondo. Abro a porta do apartamento e entro, batendo a porta na
cara dele. Respiro devagar, ainda tentando controlar o meu coração. Eu juro que
não quero gostar dele, mas não consigo.

Estou sentada no carro de Elai. Não dirigi a palavra a ele desde que saímos
do apartamento. Evito ficar olhando para ele, porque toda vez que faço isso me
lembro de suas palavras.

— Quando vai começar a trabalhar no apartamento do Nicolai?

Me viro.

— Semana que vem, por quê?

Ele sorri.

— Irei te levar todos os dias.

— Não precisa, me viro.

— Acho que você não entendeu o que aconteceu com a Ana. Não é uma
opção, eu irei te levar todos os dias — ele fala, sério.

O sorriso já não está presente, e uma expressão calma e ao mesmo tempo


obscura emoldura o seu rosto. Por algum motivo sinto um arrepio passando por
todo meu corpo.
CAPÍTULO 2

Hoje faz um mês que Ana saiu do hospital. Fico tão feliz em vê-la melhor.
Torço para que seja muito feliz com Gabriel.

Estou em frente ao apartamento de Elai, e como ele me acompanha todas


as manhãs, fico esperando-o aparecer.

Já estou quase batendo na porta, mas ela se abre e fico totalmente sem
graça ao ver uma mulher loira saindo. Seguro na minha bolsa com força.

Se acalme, controle-se.

Elai sai logo em seguida. Fico olhando para ele, que apenas sorri para
mim.

— Desculpa o atraso, dormi demais — ele fala, sorrindo e passando a mão


pelo cabelo.

— Depois você me liga — a moça fala, dando um beijo na sua boca.

Ela me ignora como se eu não estivesse aqui. Respiro fundo.

— Espera um momento, só vou pegar uma coisa que esqueci.


Não espero sua resposta e entro no apartamento.

Laura está no sofá, ela me observa.

— Aconteceu alguma coisa?

— Não. Só esqueci o celular — falo, indo até o quarto.

Me olho no espelho e respiro fundo, tentando me controlar.

— Você consegue.

Saio do quarto, e me despeço de Laura. Elai continua no mesmo lugar,


então coloco um sorriso falso no rosto.

— Cadê a sua amiga? — pergunto, como se não fosse nada.

— Ela já foi.

— Pensei que iria levá-la para casa.

Ele sorri, entrando no elevador, faço o mesmo.

— Eu não levo mulher nenhuma em casa, Lu.

Já discuti tantas vezes com ele que já desisti de falar para ele não me
chamar de Lu.

— Esqueci, você é o todo-gostoso que não pode se envolver com a mesma


mulher por muito tempo.

— Sou gostoso, é? — Ele sorri e reviro os olhos.

— Mas é muito galinha mesmo. — Balanço a cabeça.

O elevador para na garagem e vou direto para o carro, mas Elai continua
até parar ao lado de uma moto. Levanto uma sobrancelha, olhando para ele.
— O que você está fazendo?

— Vamos de moto.

— Mas não vou mesmo.

— Deixa de ser boba, Lu, é bem capaz de eu pilotar a moto melhor do que
um carro.

Caminho e paro ao seu lado.

— Você é doido, eu não vou subir nisso com você.

— Se você não subir, vai perder o horário, e olha que já estamos atrasados.

— E a culpa é de quem? — pergunto com ódio.

— Completamente minha. — Ele sorri, me entregando o capacete. O pego


com uma grande vontade de quebrar a cabeça de Elai com ele.

Ele coloca o dele, percebo que não tem como colocar com o cabelo
amarrado em um coque e me viro para ele.

— Você não imagina a vontade que estou de quebrar um dente seu, Elai.

— Eu também te amo — fala, sorrindo.

Passo a bolsa pelo ombro, solto o meu cabelo e dou graças a Deus de o ter
lavado hoje. Suspiro alto, soltando os cachos, que caem até a minha cintura. Me
viro para Elai, que está me observando.

— O que foi?

— Vem cá, deixa eu te ajudar.


Me aproximo, ficando ao seu lado, e sinto a sua mão afastando o meu
cabelo, colocando uma parte atrás da minha orelha. Sinto um arrepio passando
por todo meu corpo, o meu rosto arde e agradeço que ele não possa ver.

— Você tem um cabelo muito bonito, Lu, devia deixá-lo mais vezes solto.

Engulo em seco.

— Me fala isso quando chegarmos ao apartamento da Isabela, aí você vai


ver como que ele fica.

— Independente, você fica ainda mais linda assim.

Não respondo. Ele termina de prender o capacete e subo na moto, mas o


meu coração continua acelerado. Nunca andei de moto antes e confesso que estou
me imaginando caindo e quebrando o pescoço.

— Se segura — ele fala, mas não dá tempo para que eu responda nada.

Sinto um frio na barriga quando ele acelera, e seguro na sua cintura com
tanta força que tenho medo até de estar machucando-o. Fecho os meus olhos,
encostando o rosto nas suas costas, as minhas mãos tremem sem parar, ouço ele
rindo.

Sinto a sua mão tocando a minha, mas não abro os olhos. Estou congelada
no lugar, nunca senti tanto medo como agora. Esse infeliz mais parece um
demônio saindo do inferno de tanto que corre.

— Chegamos, Luiza, pode soltar a minha cintura. — Abro os olhos, vendo


que já estamos na garagem do prédio de Isabela.

Retiro as mãos da sua cintura e desço da moto, sentindo as minhas pernas


tremendo. Observo Elai arrumando a blusa social no seu corpo.

— Nunca mais eu subo em uma moto com você — falo baixo.


Ele sorri.

— Você não está me ouvindo reclamar que você quase quebrou as minhas
costelas.

— Eu quase morri por sua culpa.

— Deixa de exageros, não é para tanto, foi a sua primeira vez em uma
moto, só isso. Se você quiser, posso te ensinar a pilotar, o que me diz?

Tento retirar o capacete, mas não consigo. Ele chega mais perto e em
apenas um movimento o retira.

Fico encarando-o.

— Muito obrigada, mas dispenso. Se eu aprender a dirigir vai ser com um


carro, para poder passar por cima de você.

— Dramática.

— Palhaço.

Entramos no elevador.

— E só para que fique claro, o seu cabelo continua lindo.

Observo o meu reflexo no espelho do elevador, acho que o meu cabelo


ganhou o dobro de volume. Olho para Elai enquanto amarro o cabelo.

Saímos do elevador, entramos no apartamento e ele vai direto para o


escritório de Nicolai. Vou direto para o quarto de Liz. Abro a porta para ver
Isabela sentada com ela.

— Bom dia.

Ela se vira para mim, sorrindo.


— Bom dia, Lu.

Ela se levanta com Liz nos braços, a pego, segurando na sua mãozinha
fofa.

— Ela acabou de mamar. Qualquer coisa é só me ligar.

— Pode ficar tranquila.

— Tchau, amor da mamãe — Isabela fala, dando um beijo na bochecha da


filha.

Então sai. Pego Liz e a levo até a sala. Ela gosta de ficar me ouvindo
tagarelar sem parar.

— Está vendo, Liz, é assim que se faz pão de queijo. — Estamos na


cozinha. Inventei de fazer pão de queijo, e como ela já tem seis meses já pode
comer. — Quando você estiver maior, irei te ensinar. Por enquanto você só pode
ficar olhando.

Ela sorri, batendo o copo na mesa.

Termino de fazer e coloco para esfriar em cima da mesa, enquanto fico


brincando com ela.

— Quem é a bebê mais linda do mundo?

Ela sorri tanto que as bochechas ficam rosadas.

— Ela gosta de você.

Me viro para ver Elai parado, me encarando.

— Eu também gosto muito dela. Não é, linda? — falo, segurando a sua


mãozinha.
Pego um pão de queijo e dou a ela.

Ela fica brincando, se lambuzando toda.

Vejo Elai pegando um e comendo.

— Foi você que fez?

— Claro, né, Elai, quem mais iria fazer pão de queijo aqui?

— Está muito bom, me lembra o que eu comi na sua cidade — ele fala, se
sentando na mesa e comendo mais dois.

Dou um pouco de suco para Liz, ela se sujou toda tentando comer. A levo
até o seu quarto, dou um banho bem demorado, a troco, e ela fica deitada no
berço até pegar no sono. Vejo as horas e já é meio-dia e meia.

Isabela já deve estar voltando. Deixo o quarto todo arrumado. Quando vou
sair, Nicolai entra e me cumprimenta com um aceno de cabeça. Ele observa a
filha dormindo.

— Ela já dormiu?

— Já sim, estava cansada de ficar brincando na banheira.

— Ela adora água. Se você quiser, pode ir. Elai está te esperando na sala.

— Não quer que eu espere a Isabela?

— Não precisa, ela me mandou uma mensagem falando que já está vindo.

— Ok, então. — Pego a minha bolsa.

— Obrigado, Luiza.
Saio do quarto e desço as escadas. Vejo Elai ao pé das escadas comendo
mais um pão de queijo.

— Você vai acabar passando mal. Afinal, quantos você já comeu?

— Muitos. — Ele sorri.

— Imaginei. — Passo por ele.

— Você bem que podia fazer um pouco para mim.

— Eu não, pede as mulheres que ficam saindo do seu apartamento todas as


manhãs.

Ele me segue, já estamos no elevador.

— Elas são apenas sexo, Lu, você é minha amiga.

Amiga.

Respiro devagar. Bem no fundo gostaria de ser algo mais.

— Posso até fazer para você, mas estou te avisando, se começar a correr
com aquela moto, eu juro que coloco veneno, ouviu?

Ele me dá um beijo no rosto e o meu coração acelera de uma forma que


pensei que por um momento ele fosse parar.

— Eu te adoro, pode ficar tranquila, não vou correr com você.

Reviro os olhos para ele.

Como ele me prometeu, ele não corre, desta vez até abro os olhos, mas
continuo o apertando forte, mas com certeza é mais agradável.
Sei que terei que ir todos os dias com ele, mas no fundo não sei por quanto
tempo conseguirei sentir a sua pele tão próxima a minha. Porque sei que estou
apaixonada, mas também sei que ele me vê apenas como amiga.
CAPÍTULO 3

Hoje é sábado. Acordo às 6h e decido fazer uma caminhada e aproveitar


para conhecer aqui perto. Saio do prédio e vejo uma praça logo à frente, sinto um
vento frio no rosto.

— Decidiu acordar cedo hoje, foi? — Elai fala, logo atrás de mim.

Levo um susto. Me viro e, mesmo sem querer, eu o encaro de calça e


camiseta. Ele tira o fone do ouvido e me dá um sorriso.

— O que você está fazendo aqui? — pergunto.

— Aproveitando o sábado para fazer uma caminhada.

— Ok, então. Pode ir.

Ele fica parado, cruza os braços na frente do corpo e os músculos dos


braços ficam mais aparentes. Tenho que admitir, Elai tem um corpo muito bonito.

— Você também vai fazer caminhada, não vai?

Ele me olha dos pés à cabeça, faço a mesma coisa para ver se tem alguma
coisa errada comigo, mas não tem. Estou com um short de algodão preto e uma
camiseta.
— Vou.

— Então vamos juntos.

— Não, obrigada, eu caminho devagar e com você terei que ir correndo.

— Deixa de ser boba, Lu, eu ando mais devagar e você me acompanha.

Suspiro alto.

— Se me deixar para trás eu dou um jeito de você passar vergonha, está


me ouvindo?

— Alto e claro.

Vamos para a praça. As minhas pernas, em comparação às dele, são muito


pequenas, mas pelo menos ele anda devagar.

Me sento no gramado à frente do lago, mães passam com crianças. Fecho


os meus olhos por um momento, ouvindo crianças brincando e o barulho dos
latidos dos cachorros.

— Aqui é bonito.

Elai se senta ao meu lado.

— É sim. — Ele suspira. — Você precisa ir ao Central Park. Lá é muito


bonito, principalmente no inverno.

— Imagino, mas é a primeira vez que eu saio do Brasil. — Me viro para


ele. — Você já viajou muito.

Ele sorri.

— Já estive em todos os países.


— Todos?

— Sim, todos.

— E qual você gostou mais.

Ele passa a mão pelo cabelo.

— Difícil falar só um, mas gostei muito da Irlanda.

— Já vi vídeos, parece muito bonito mesmo.

Sempre tive vontade de viajar e conhecer lugares novos, e era bem difícil,
mas agora posso juntar dinheiro, quem sabe até o final do ano.

— Merda!

Me viro para Elai e vejo aquela mesma mulher que estava no apartamento
dele essa semana.

— Aquela não é a moça que você está saindo?

— Estava, mas ela é muito grudenta. Por que vocês mulheres gostam de
colocar sentimentos em tudo?

Ele suspira, a moça vem ao nosso encontro.

— Ela está vindo para cá — falo, sem jeito.

Ele se vira para mim, não tenho reação quando ele simplesmente segura no
meu pescoço, me trazendo para perto.

— O que você está fazendo? — falo baixo.

— Me desculpa.
Ele encosta a boca na minha, me deitando ali mesmo na grama. Sinto os
seus lábios nos meus e não consigo descrever as sensações que estou sentindo
agora.

Abro a minha boca devagar e sinto a sua língua explorando a minha boca.
Seguro no seu pescoço, o trazendo para mais perto e sinto a mão de Elai
apertando a minha cintura firmemente. O meu coração acelera tanto. Ele afasta os
lábios dos meus e sinto a sua respiração próxima ao meu rosto. Abro os olhos e o
vejo me encarar. Ficamos assim por um tempo apenas. E por um momento rezo
para que ele não perceba que esse foi o meu primeiro beijo.

O meu peito sobe e desce rapidamente, e me afasto dele, ficando de pé.

— Por que você fez isso? — pergunto, limpando a minha roupa.

Ele se levanta, ficando na minha frente, mas não responde, apenas me


encara.

— Esse foi o seu primeiro beijo? — ele pergunta, e levanta uma


sobrancelha.

Sorrio para ele.

— É lógico que não, está se achando demais — falo, dando um passo para
longe, mas ele me segue.

— Tem certeza?

Reviro os olhos.

— Não, Elai, sou tão esquecida que não sei se já beijei antes — minto.

— Desculpa, só achei…

Não o deixo terminar. Me viro e fico na sua frente.


— Você não tem esse direito, você me usou.

— Nossa, Lu, desculpa, só precisava me livrar dela, e infelizmente você


estava por perto.

— Infelizmente? — falo baixo.

— Não era isso que eu queria falar. — Ele passa a mão pelo cabelo,
nervoso.

Sorrio sem graça.

— Acho que era exatamente isso que você queria falar.

Me viro e saio de perto dele. Elai não me segue, e agradeço por isso. Sinto
meus olhos arderem e uma grande vontade de chorar toma conta de mim. Seguro
no meu braço, como se estivesse com frio.

Entro no elevador, aperto o botão, e antes da porta se fechar o miserável do


Elai entra. O ignoro, olhando para a frente. Ele suspira, olhando para mim.

— Não foi minha intenção te ofender, Lu.

Ele se aproxima e segura o meu rosto.

— Sério. Desculpa.

— Não quero conversar com você.

Ele se vira, aperta um botão e o elevador para. O encaro com ódio.

— Aperta esse botão, Elai.

— Só se me desculpar primeiro.

Tento passar por ele, mas ele fica me bloqueando.


— Sai da frente — falo entredentes.

— Vai, me desculpa.

— Não.

Ele suspira, dando um passo, chegando mais perto, e o meu coração


acelera.

— Por que você está chegando tão perto?

— Não foi a minha intenção, de verdade. Sinto muito se magoei você, sou
um idiota mesmo. Como você disse, não tinha o direito de falar aquilo para você.

Abaixo o olhar.

Sinto a sua mão no meu rosto e o levanto. O observo.

— Por favor — ele fala baixo.

Suspiro.

— Se você me usar mais uma vez, eu te mato.

Ele sorri.

— Eu acredito.

Me afasto e aperto o botão.

Saímos.

Abro a porta do apartamento e sou recebida com um abraço da Ana.

— Nossa! Isso que é ser recebida — falo, sorrindo.

— Feliz aniversário.
— Ah, isso, tinha até me esquecido.

— Mas eu não — Ana fala.

— E nem nós — Isa e Laura falam.

— Espero que goste — Isabela fala, me entregando uma caixa.

— Obrigada!

— Não sabia que era seu aniversário.

Me viro para ver Elai parado, me observando.

— É sim.

— Interessante. Preciso ir, depois conversamos.

Ele sai. Laura nos convida para sair e ir a uma boate à noite, presente dela,
só as mulheres.

Liz ficará com Nicolai, vamos todas juntas, estou muito feliz.

As meninas estão no quarto, ouço alguém bater à porta.

Abro e fico olhando para Elai. Ele sorri ao me ver.

— Isso é para você — ele fala, me entregando uma pequena caixa preta.

— Não precisava — falo, pegando a caixa.

— Acho que você vai gostar.

Abro a caixa e vejo um colar Prata com um pequeno coração e uma pedra
do lado.

— Nossa! É lindo. Obrigada, Elai — falo com sinceridade.


— Que bom que gostou. Vai fazer o que hoje à noite?

— Vou sair com as meninas.

— Eu ia te convidar para jantar comigo, mas deixa para outro dia, se


divirta.

Ele me dá um beijo no rosto e entra no seu apartamento. Fico um pouco na


porta depois que ele fechou a dele.

— Quem era? — Ana pergunta, secando o cabelo com uma toalha.

— Elai, ele me deu isso de presente — falo, mostrando a ela.

— Nossa! Que lindo, Lu.

— Bonito, né? Eu também gostei.

Estou na frente do espelho há um bom tempo. Não estou me reconhecendo.


Isabela deixou o meu cabelo liso, já Laura me maquiou, e nunca me senti tão
bonita como agora. O batom vermelho que ela colocou deixa a minha boca
perfeita.

— O que você achou? — Isa pergunta para mim e me viro para ela.

— Obrigada mesmo, Isabela, eu amei muito.

Ela sorri.

— Não precisa agradecer, você já é linda, Lu, só realcei a sua beleza. Vai
se vestir — ela fala, saindo.

Pego o vestido que Laura me deu e a lingerie preta que ela colocou junto
no dia do tiroteio. Só de imaginar aquele dia sinto o meu coração acelerado.
Me observo no espelho e dou um sorriso. Eu realmente gosto do que vejo,
nunca me senti tão bem com a minha aparência como agora.

Saímos do apartamento.

Um carro todo preto nos espera.

Chegamos a uma boate, descemos do carro e sinto um friozinho na barriga


de ansiedade.

O som está alto e há luzes piscando. Seguro na mão da Ana e ela sorri para
mim. Sentamo-nos a uma mesa e as meninas pedem uma rodada de tequila,
nunca fui de beber, mas hoje estou a fim de experimentar.

— Um brinde a Lu, a garota mais gentil que já tive o prazer de conhecer.


— Laura ergue o copo e imitamos o gesto. Viro todo o conteúdo e faço uma
careta.

— Nossa!

Elas começam a sorrir. Fazemos mais dois brindes e vamos dançar em uma
pequena roda. O meu coração está acelerado, mas não me importo, nunca estive
tão feliz como agora. Dançamos e bebemos. Na verdade, as meninas bebem, mas
depois de quatro doses eu desisto. A bebida é muito forte, fico apenas na água e
no suco.

Após uma noite de festas, deixamos Isabella na casa dela, e Laura na do


Paollo. Ana e eu entramos no elevador.

— Você gostou? — Me viro para ela, sorrindo.

— Foi o meu melhor aniversário.

— Eu te amo muito. — Ela me abraça.


— Eu também te amo, sua boba.

O elevador para. Vejo Gabriel parado ao lado da porta do nosso


apartamento.

— Amor.

Ana vai ao encontro dele e lhe dar um beijo. Me aproximo.

— Feliz aniversário, Luiza — Gabriel fala.

— Obrigada.

— Você se divertiu? — Gabriel pergunta a Ana e ela sorri para ele.

— Muito.

— Que bom, você quer dormir lá em casa, Ana? Tenho algo para lhe
mostrar.

Ana me observa e, conhecendo-a, vai negar só para ficar comigo.

— Nem abre a boca para falar que não vai. De qualquer forma, eu já vou
dormir. Vai aproveitar o restante da noite.

— Mas...

— Nada de “mas”. Vai, divirta-se. Eu vou dormir.

Dou um beijo no seu rosto. Não espero uma resposta, pois sei que ela vai
desistir de sair. Então, abro a porta e entro.

Vou até o quarto, retiro os sapatos, faço uma pequena massagem nos meus
pés, me jogo na cama, observo o teto por um tempo e a imagem de Elai vem a
minha mente. Fecho os olhos e lembro do seu beijo, e por um momento desejo
beijá-lo só mais uma vez.
Levanto-me e me observo no espelho. Ainda estou de maquiagem. Suspiro
alto e acabo decidindo algo que pensei que nunca teria coragem de fazer.

Passo pela porta e vou direto em direção a porta de Elai. O meu coração
acelera de expectativa e por um momento só desejo que ele esteja sozinho. Bato à
porta umas três vezes. As minhas mãos estão suadas, o meu coração acelera ainda
mais quando ele abre a porta só de calça moletom. Tento não olhar para o seu
corpo, apenas para o seu rosto. Elai levanta uma sobrancelha, olhando para mim.

Ele me observa de cima a baixo, como se estivesse me vendo somente


agora.

— Aconteceu alguma coisa?

Respiro fundo.

— Tem alguém com você?

— Não, por quê?

Não respondo, apenas entro sem ser convidada.

Ele entra e me observa. Respiro fundo, tentando criar coragem para fazer o
que quero.

— O que aconteceu, Lu?

Não falo nada, apenas dou uns passos em sua direção, e quando estou
próxima seguro no seu rosto. Elai não me impede, apenas me encara.

Seguro no seu pescoço e encosto a minha boca na dele, que continua com
os olhos abertos.

— O que você está fazendo? — Ele se afasta um pouco, mas seus olhos
não saem de mim. — Afinal, quanto você bebeu?
— Eu não estou bêbada, se é o que está pensando — falo próximo a sua
boca.

Ele fecha os olhos com força, e depois que os abre vejo algo diferente.

— Então me diz o que você quer?

Respiro devagar.

— Eu quero você — falo baixo.

Diferente do que pensei que ele fosse fazer, que era sorrir, ele fica sério.

— Você não sabe o que está dizendo, Luiza.

Ele segura a porta e a abre. Vejo a porta do apartamento da Laura do outro


lado e me viro para ele.

— Eu não sou um príncipe como você está querendo, não sou carinhoso
como você merece, e muito menos fico apenas aos beijos com uma mulher no
meu apartamento. Te dou a chance de sair, e esquecermos o que aconteceu aqui.
Porque se você ficar, saiba que iremos fazer sexo, não um sexo bobo, mas vou te
comer do jeito que eu gosto, e vou logo avisando que gosto de sexo mais
selvagem. Tem certeza do que quer? — ele fala, mas sei também que está
tentando me assustar para eu desistir.

Mas não vou.

Não quero.

Dou um passo, ficando na sua frente. A sua boca se abre apenas um pouco.
Fecho a porta, seguro no seu rosto e falo próximo a sua boca.

— Então me ensina.

Ele não fala nada, apenas segura o meu rosto entre as mãos.
— Você não faz ideia no que se meteu.

Ele me pressiona contra a parede, levanta as minhas mãos para cima, as


prendendo com uma mão, chega bem perto do meu rosto e continua:

— Espero que não esteja com sono, porque você não vai dormir hoje.
CAPÍTULO 4

Sei o que Elai é, mas também sei o que quero, e neste momento é ficar
com ele.

— Você tem uma boca muito sexy. — Ele passa o dedo indicador pelo
contorno da minha boca. Sinto um arrepio passando por todo o meu corpo. —
Você não faz ideia de tudo que imagino fazendo com ela.

Ele abaixa o meu vestido. Os pelos do meu corpo se arrepiam na hora. Falo
para mim mesma que é o frio, mas sei que é apenas o toque de Elai.

Ele me coloca de costas para o seu corpo, segura com força o meu cabelo
em uma única mão.

— Ah… Luiza, você não faz ideia do que quero fazer com você — ele fala
próximo ao meu ouvido e engulo em seco de expectativa.

Sinto a sua mão passando devagar pelo meu corpo. Fecho os olhos, nunca
ninguém tinha me tocado assim. Solto um suspiro quando o sinto retirando o meu
sutiã e digo a mim mesma para não ficar com vergonha.

Ele me vira e observa o meu corpo. O seu olhar vai em direção aos meus
seios e me controlo para não os tapar. O meu peito sobe e desce rapidamente. Elai
aproxima a boca da minha e me beija. Seguro no seu pescoço para ter um pouco
de equilíbrio e sinto o calor da sua pele. Solto um pequeno grito quando ele
aperta o meu seio com força.

A sua mão segura cada lado da minha perna, e me levanta. Entrelaço as


pernas na sua cintura e percebo que o seu membro está totalmente duro.

Sinto a sua boca no meu pescoço. Elai distribui beijos por lá e passo a mão
pelo seu cabelo. Estou molhada, muito molhada.

Ele anda comigo pela sala, indo direto para o quarto. A sua boca saboreia a
minha incansavelmente e me esfrego nele. Cada parte do meu corpo pede por
mais, o calor dos seus lábios me leva para um mundo completamente novo.

Ouço a sua voz.

— Sei que você é virgem, então tentarei ir um pouco mais devagar,


prometo me controlar.

Não pergunto como ele sabe, apenas fico em silêncio. O meu rosto arde de
uma forma que pensei não ser real.

Ele retira a sua calça. Apenas a luz do abajur está acesa, iluminando o seu
corpo, mesmo assim vejo perfeitamente cada tatuagem. E por um momento penso
se elas têm um significado.

Vejo o seu membro duro. Ele retira a minha calcinha, me deixando


completamente nua, se aproxima e dá pequenas mordidas na minha coxa e o meu
corpo se arrepia todo. Sinto a sua boca no meio das minhas pernas e engulo em
seco.

Isso é bom, bom demais, penso.


Seguro no lençol, o apertando com força. A sua língua faz pequenos
movimentos circulares e fecho os olhos, saboreando cada sensação.

Tento me controlar para não gritar, me contorcendo de prazer. Sinto uma


pequena corrente elétrica indo diretamente para onde ele está chupando e
passando a língua devagar.

O meu coração acelera ainda mais. O orgasmo vem com toda força e,
mesmo tentando me controlar, eu acabo gemendo alto. Ainda estou tremendo
quando ele coloca a camisinha e a sua boca vai para o meu pescoço. Sinto sua
respiração quente. Fecho os olhos com força, o sentindo entrar forte em uma
estocada. As suas mãos me apertam com força, como se quisesse se controlar.
Respiro devagar, o sentido entrando novamente em um movimento de vaivém.
Os meus olhos se enchem de lágrimas, mas não as solto.

Elai beija os meus seios e dá pequenas mordidas lá, mas continua me


penetrando e, mesmo eu estando molhada, sinto dor. Ele intensifica os
movimentos, seguro no seu ombro com força para que ele perceba. Ele olha nos
meus olhos e começa novamente, mais devagar.

— Você é muito gostosa — ele fala baixo.

A mão dele aperta o meu seio e jogo a minha cabeça para trás, sentindo o
seu pau entrando fundo. Cada estocada é forte e seguro com mais força o seu
pescoço, o suor se formando em minha testa.

Ele se deita na cama, me coloca de lado e sinto a sua mão passando


devagar pelas minhas costas. Me empino em sua direção, me esfregando na sua
ereção. Ele se coloca dentro de mim novamente e começa as estocadas. As suas
mãos seguram os meus seios com mais força. Respiro com dificuldade, o
sentindo ir cada vez mais rápido. Gemidos saem da minha boca. Ele intensifica as
estocadas, retirando quase todo o pau, para em seguida o colocar rapidamente.
Sinto o orgasmo vindo mais uma vez. Minha boceta se apertando ao redor dele.
— Elai…

Digo o seu nome em um suspiro lento e fecho os olhos quando o orgasmo


vem.

Ele ainda me penetra várias vezes antes de gozar. O meu coração acelera, a
minha boca está seca. Ele continua na mesma posição. Ouço a sua respiração e
sinto os seus lábios no meu ouvido e ele me beija ali. O meu corpo está todo
dolorido, o meu coração acelerado.

Essa, com certeza, é a melhor coisa que já fiz. Ele se retira de dentro de
mim, vai até o banheiro, mas logo volta e se senta na cama. O vejo calado, e por
um momento penso que ele não gostou e sinto o meu coração apertado no peito.

Me sento, e me encosto na cabeceira da cama.

— Aconteceu alguma coisa? — falo baixo.

Ele se vira, me observa e suspira alto.

— Preciso conversar com você.

Por um momento fico tensa, imaginando o que pode ser.

— Pode falar.

Ele dá outro suspiro.

— Eu gosto de você, Lu, não me arrependo do que fizemos, confesso que


gostei muito mesmo de fazer sexo com você, e sei o quanto você é especial, mas
preciso ser sincero. Podemos até repetir o que fizemos aqui, mas será só isso,
sexo. Não posso te prometer nada, também sei que você merece muito mais, mas
não sou o homem que lhe dará isso.
Fico o encarando, e pela primeira vez, com ele, sinto vergonha de estar
nua. Engulo em seco. Claro que não pensei que ele ia cair de amores por mim,
mesmo assim sinto uma pontada no peito.

— Eu sei.

Ele me observa por um momento, mas logo está com um pequeno sorriso
no rosto. Ele se aproxima e deposita um beijo no meu rosto.

— Vamos dormir, gostaria de fazer muito mais coisas com você, mas sei
que você deve estar dolorida — ele fala, mas sei que não conseguirei dormir na
mesma cama que ele, então dou um suspiro.

— Acho melhor não, prefiro voltar.

Não espero sua resposta, me levanto e sinto uma fisgada no meio das
minhas pernas.

Procuro por minhas roupas e começo a vesti-las.

— Tem certeza? Dorme aqui.

Me viro para ele.

— As meninas vão chegar logo cedo, não quero responder perguntas de


manhã.

Pego o meu vestido na sala. Elai me segue sem tirar os olhos de mim. Visto
o vestido e sinto o seu olhar queimando em minha direção. Faço um coque no
cabelo.

— Bem… — me viro para ele — ... tchau, Elai.

— Tem certeza? Fica aqui, você não está sozinha no apartamento?

— Estou, mas já estou acostumada a ficar sozinha, não se preocupe.


Viro as costas para ele, abro a porta e ele me segue, completamente sem
roupa, e fica olhando para mim. Entro eu meu apartamento, e logo em seguida
fecho a porta atrás de mim. Respiro devagar e vou ao banheiro.

Ligo o chuveiro e sinto a água quente relaxando os meus músculos


lentamente. Imagens de tudo o que aconteceu ficam se repetindo na minha
cabeça. Abaixo o olhar e vejo um pouco de sangue se misturando à água no chão.

Me seco, vou caminhando devagar em direção ao quarto, me deito na cama


e fico em silêncio, apenas ouvindo o som da minha respiração.

Não me arrependo do que fiz, foi algo bom, mas o meu único desejo é que
eu consiga tirar Elai do meu coração. Sinto que só assim vou conseguir ser feliz.

Ouço barulhos vindos da sala e coloco o travesseiro na cabeça.

Sinto uma mão no meu ombro.

— Não — falo sonolenta.

— Acorda, Lu, já é meio-dia.

Ouço a voz da Ana. Abro os olhos e logo os fecho devido à claridade.

— Hoje é domingo — digo com a voz arrastada.

— Eu sei, mas não foi você que falou que queria fazer umas compras para
mudar o seu guarda-roupa?

— Merda! — Me sento e observo Ana com um sorriso no rosto.

— Só você mesmo para me fazer levantar. — Fico em pé e sinto mais uma


vez a fisgada, mas ignoro.

Pego uma roupa e começo a me trocar. Ana já está arrumada, mexendo no


celular.
Visto um vestido simples, vermelho, de bolinhas, e calço uma sapatilha. O
meu cabelo ainda está escovado, então o amarro todo para cima em um rabo de
cavalo.

Me olho no espelho. Estou com um brilho diferente no olhar. Suspiro,


olhando para o meu reflexo.

— Vamos.

Ela se levanta e segura no meu ombro. Chegando à sala, vejo Laura no seu
notebook.

— Bom dia, Laura.

— Bom dia, Lu. — Ela olha para mim.

— Estamos indo fazer umas comprinhas, você quer vir conosco?

Ela suspira.

— Eu queria muito, mas estou terminando de escrever um capítulo do meu


novo livro, deixa para a próxima.

— Tenha um bom-dia.

— Vocês também. — Ela sorri.

Pego a minha bolsa, entramos no elevador e me viro para a Ana.

— O que o Gabriel queria te mostrar?

Ela fica vermelha e entendo que ele não queria mostrar nada, era apenas
uma desculpa.

— Devia ter imaginado.


Ela sorri.

— Ele não ia falar a verdade na sua frente.

— Com certeza. — Começo a sorrir.

Pegamos um táxi.

— Estou feliz, vamos ter um momento de compras — Ana diz, sorrindo


para mim.

— Eu também, tem tanto tempo que não compro nada.

Ficamos a tarde toda regradas a compras. Almoçamos em um pequeno


restaurante, próximo ao centro, e um sorriso não sai do meu rosto a tarde toda. E,
por último, Ana me leva a um salão de beleza. Nunca fui muito fã do meu cabelo
e o trabalho que é ter que cuidar dele.

Mas depois de um tratamento e hidratação, não estou me reconhecendo no


espelho. Ficou lindo.

— Eu amei o meu cabelo — falo para Ana, entrando no elevador.

Ela sorri.

— Seu cabelo é lindo mesmo, agora ficou mais.

Estou feliz, muito feliz mesmo. Esse dia foi ótimo, não tem nada que possa
atrapalhá-lo.

O elevador se abre e saímos.

Eu deveria ter ficado calada, porque quando eu vejo Elai saindo do seu
apartamento com uma moça de cabelos pretos, fico totalmente em choque. Fecho
as minhas mãos em punho, tentando controlá-las para que parem de tremer. O
meu coração acelera tanto, e por mais que eu saiba o que ele realmente é, dói de
uma forma que pensei que não pudesse doer.

Ele para na nossa frente e a moça que está com ele sorri. Mas não consigo
sorrir, os meus olhos vão direto para ele e, neste momento, percebo que fiz a pior
coisa do mundo, que foi me entregar a ele.

Os seus olhos observam cada parte de mim. Respiro devagar, não quero
dar a ele o gostinho de saber o tanto que estou sofrendo e, mesmo sem querer,
dou um pequeno sorriso forçado.

Mas quem fala é a Ana.

— Boa noite, Elai.

— Boa noite, Ana — ele fala, mas os seus olhos estão direcionados a mim.

Ignoro tudo e deixo meus sentimentos guardados em um lugar bem escuro.

— A sua boca está suja de batom.

Sorrio e passo por ele.

Abrimos a porta e finjo que não estou sentindo nada.

— Elai não muda — Ana fala, balançando a cabeça.

Sorrio para ela.

— Acho que ele não vai mudar nunca — falo, e ela concorda. — Bem, vou
tomar um banho rápido.

Caminho em direção ao banheiro. Fecho a porta e observo as minhas mãos


trêmulas, e mesmo tentando me controlar, lágrimas saem sem cerimônia dos
meus olhos. Me observo no espelho.
— Para com isso, ele não merece — falo para o meu reflexo, e mesmo
sabendo disso as lágrimas não param de cair.
CAPÍTULO 5

Não consegui dormir muito bem. Tenho que estar na casa de Isabela às 8h.
Ainda são 6h, então me levanto sem nenhuma vontade de ficar na cama e tomo
um banho para depois preparar o café.

Fico na sala, sentada, sem nenhum ânimo. Respiro fundo e troco de roupa.
Escolhi uma das que comprei ontem. Um short preto de alfaiataria com uma
blusa mais folgada branca.

Arrumo o cabelo, o deixando solto. Ele está bem mais baixo, com cachos
mais definidos. Acabo sorrindo para o meu reflexo. Tenho que aprender a pensar
em mim em primeiro lugar, sei que não será fácil, mas tenho que tentar.

Às 7h20 fico na porta dele, mas nada. Bato três vezes e nada. Observo o
celular e tento ligar para Elai, mas sem sucesso. Espero mais cinco minutos e ele
não sai. Vou direto para o elevador, um ódio me dominando. Pego um táxi.

Quando chego ao apartamento da Isa ela já está na sala. Peço desculpas,


mas ela fala para não me preocupar. Liz está dormindo e Nicolai não está aqui
hoje.

Vou até a cozinha preparar a mamadeira da Liz.


A porta do apartamento se abre em um barulho alto e levo um susto. Elai
entra a passos rápidos e vem ao meu encontro. E mesmo tentando esconder, fico
com medo. Ele se aproxima e segura meu braço. O meu olhar vai direto para a
sua mão em volta do meu pulso.

— O que você está fazendo? — Ele respira fundo. — Você é louco? Solta
o meu braço.

— O que eu falei sobre vir sozinha? Esqueceu o que aconteceu com a


Ana? — ele fala alto.

Reviro os olhos.

— Pelo amor de Deus, é isso?

— O que você achou que seria? Eu te falei sobre os riscos e mesmo assim
você me desobedeceu.

— Desobedeci? Eu não desobedeci a ninguém, principalmente a você, a


culpa é sua! — Aponto o dedo para ele.

— Minha?

— Sim, sua. O meu horário aqui começa às 8h e infelizmente tenho que vir
com você, mas não sou obrigada a ficar te esperando naquele corredor. Se você
tivesse olhado o seu celular, saberia que tentei te ligar, que mandei mensagens.
Bati na sua porta e nada. Nenhum sinal de que pelo menos estava vivo. —
Respiro fundo. — Solta o meu braço.

Ele me observa por um momento, mas solta.

— Eu esqueci o celular desligado, não voltará a acontecer.

— Não vai mesmo, vou conversar com Isabela e virei sozinha de amanhã
em diante.
Ele se aproxima.

— Independentemente do que Isabela falar, você virá comigo, querendo ou


não. Quem se propôs a te proteger fui eu. Eu sou o chefe de segurança do
Nicolai, eu moro no apartamento em frente ao seu. Posso ter errado hoje, mas
isso não muda nada. — Ele me encara. — Ou tem outro motivo para você não
querer vir comigo?

Reviro os olhos, passando por ele, mas sinto sua mão em volta do meu
pulso novamente.

— Solta!

— Não terminamos a conversa, Luiza — ele fala, sério.

— Terminamos sim.

— Não, não terminamos.

— Não vou ficar aqui ouvindo essas palhaçadas que você está falando. —
Me viro para ele. — Sim, Elai, fizemos sexo, está bom para você? Mas esse não é
o motivo de eu não querer vir para cá com você. O motivo é a sua total falta de
responsabilidade.

— Está me chamando de irresponsável, criança?

— Sério?! Vai voltar a me chamar de criança?

— Você está agindo como uma, o que você queria?

— Eu não gosto que você me chame assim, já deixei muito claro para
você. Então, já que você não entendeu, vou explicar novamente. Pare de me
chamar de criança, é a última vez que eu te aviso.
— Agora achei interessante. Se eu voltar a te chamar de criança, o que
você vai fazer?

Eu o observo bem de perto.

— Para você pode não ser nada ou apenas uma brincadeira, Elai, mas não
gosto, e espero que você seja maduro o suficiente para saber com o que se pode
brincar ou não. Então, só não me chame de criança, apenas isso — falo séria, e
ele me observa por um momento, mas acaba suspirando.

— Ok, Lu, não a chamarei novamente de criança já que essa palavra te


ofende tanto. Mas isso não muda o fato de que você virá comigo todos os dias,
isso não é opção. E nada do que faça ou diga mudará isso.

— Ok, Elai, não vou mais discutir com você, mas estou logo avisando: se
você não estiver pronto no horário combinado, virei sozinha e não estou nem aí
para o que você irá dizer.

— Te peço desculpas pelo que aconteceu hoje, não voltará a acontecer.

— Agora tem como você soltar o meu braço?

Ele olha para sua mão, que ainda se encontra em volta do meu pulso, e a
solta.

Pego a mamadeira de Liz e subo as escadas. Não me viro para ele em


momento algum.

Fico no quarto com Liz, ela está cada dia mais esperta e mais linda. Meu
horário acaba e fico conversando com Isa um pouco. Quando já são 13h, saio.
Encontro Elai ao lado do carro conversando com alguém no celular, fico perto
dele, o esperando terminar, e quando finalmente desliga entramos no carro. Evito
olhar para ele e fico encarando pela janela.
— Ainda está com raiva de mim?

Me viro para ele.

— Eu não tenho raiva de você, Elai.

Ele me dá um sorriso.

— O que você tem, então?

— Não é nada, só estou estressada, só isso.

Ele fica em silêncio. O carro vai para uma direção diferente e me viro para
ele.

— Aonde vamos?

— Vou te levar a um lugar.

— Eu não quero.

— Deixa de ser boba, você vai gostar.

— Duvido muito.

Ele sorri e percebo que estamos indo em direção à praia. Paramos perto de
um píer e saímos do carro. Fico observando o mar a minha frente, as ondas
quebrando perto de algumas rochas. Essa é a primeira vez que vejo o mar de
perto. Já tinha combinado de vir com a Ana, mas depois do seu acidente não
falamos mais nada.

O vento balança os meus cabelos e sinto um cheiro diferente. Abro a boca


e sinto um leve sabor salgado. Me viro para Elai. Ele está retirando o seu blazer,
o colocando no banco do carro, desabotoa os botões da sua blusa social e a tira de
dentro da calça social. Fico observando-o.
— Se eu fosse você, retiraria os tênis.

Faço como ele falou e ele faz o mesmo. Andamos em direção à areia da
praia. Os meus dedos afundam e sinto o calor da areia. Acabo sorrindo.

— Nossa! Aqui é lindo.

— Gosto de vir aqui, às vezes. — Ele se senta na areia, faço a mesma coisa
e fico brincando com ela. — É a primeira vez que vem à praia?

Me viro para ele.

— Deu para perceber? — Sorrio, batendo uma mão na outra, tentando


retirar a areia.

— Os seus olhos estão brilhando — ele fala, e me observa por um


momento, mas depois fica observando o mar.

Juro que às vezes gostaria de entender Elai.

Ele parece ser uma pessoa totalmente desligada, e um momento depois


consegue ser um doce. Não entendo.

Ficamos assim por um tempo, sentindo o calor do sol em contato com a


nossa pele e fecho os olhos, tentando aproveitar ao máximo cada minuto aqui.

— Você está diferente, Lu.

Abro os olhos e o vejo me observando de perto, engulo em seco.

— Diferente como?

— Não é só o cabelo e o estilo de roupa, tem algo a mais.

— Estou normal, não viaja, Elai.


Ele não me responde.

— Posso te perguntar algo?

— Claro. — Ele sorri.

— Por que decidiu se juntar ao Nicolai?

Não falo da máfia, mas ele entende.

— Os meus pais sempre quiseram que seu único filho fosse para o
exército, então eu fui, por eles. Mas não era o que eu realmente queria, depois de
três anos decidi sair.

— Se eu não me engano, você não pode simplesmente sair. Ou estou


enganada?

Ele sorri.

— Lu, quando se tem dinheiro, você consegue praticamente tudo.

— E quem tem dinheiro?

— Quem mais? Eu.

— Você tem dinheiro? E mesmo assim pediu para que eu pagasse o sorvete
lá na minha cidade? — falo, indignada, ele sorri, coçando a cabeça.

— Eu não tinha trocado.

— Prefiro nem comentar.

— Continuando, assim que saí do exército, fiquei com os meus pais por
um mês, mas logo depois disso decidi viajar pelo mundo, conhecer lugares e
pessoas diferentes. Acho que não nasci para criar raízes em um único lugar.
Nunca fico no mesmo lugar por muito tempo.
Depois das palavras dele, acabo sentindo uma pontada no peito. Ou seja,
ele não iria ficar aqui.

— Então por que continua aqui?

Ele me observa.

— Há três anos salvei Nicolai de uma emboscada em Moscou. Eu estava lá


a passeio e acabei salvando a vida dele. Ficamos amigos, e sempre que ele
precisa, eu volto para ajudá-lo. Foi assim com o sequestro da Laura, e agora com
as ameaças contra Isabela. Ele me ofereceu o cargo de capo da máfia, eu só não
sei se aceito. Ficar aqui e criar raízes... Não sei se é realmente o que eu quero.

— Então, assim que descobrirem quem está fazendo essas coisas você vai
embora?

— Por quê? Vai sentir saudades? — Ele sorri, e reviro os olhos para ele,
mas ele não espera minha resposta. — Provavelmente irei embora, sim. Por quê?

— Nada, só curiosidade mesmo. — Aperto forte a areia em minha mão.


CAPÍTULO 6

Já se passaram três semanas desde aquele dia na praia e confesso que


pensei em tudo que Elai me disse. A certeza nas suas palavras e tudo mais.

Sempre que saio ele já está me esperando em frente à porta do seu


apartamento. Nunca mais vi outra mulher saindo de lá, mas isso não quer dizer
que ele esteja sozinho, afinal, conheço Elai.

Dou um suspiro, e entro no quarto de Liz. Vejo Isabela a colocando no


berço. Quando ela me vê, sorri. Faço a mesma coisa, me aproximando.

— Lu, tenho uma coisa para te pedir.

— Pode falar.

— Nicolai teve que viajar e infelizmente tenho uma prova hoje e não posso
faltar. Liz tem uma consulta marcada às 10h com a doutora Nicole, você poderia
levá-la para mim.

— Claro! Tem alguma coisa que eu precise falar para a médica?

— É só uma consulta de rotina. Ela vai ver como está o desenvolvimento


dela, alimentação, só isso. Mas se você tiver alguma dúvida, me ligue que darei
um jeito de atender.

— Pode deixar.

— Pode ficar tranquila, a doutora Nicole é ótima. Mandei uma mensagem


para a secretária dela, falando que você irá no meu lugar. Nicole está cuidando
dela desde que nasceu, pode ficar tranquila, ela é uma senhora muito boa mesmo.

— Claro! Pode ir à aula tranquila, qualquer coisa te ligo.

Ela segura nas minhas mãos.

— Obrigada!

— Não precisa agradecer, vou cuidar da Liz.

— Eu sei que vai.

Ela sai, e aproveito que Liz ainda está dormindo para arrumar a bolsa dela,
colocando tudo o que ela vai precisar. Hoje está um dia mais frio e escolho uma
roupinha mais quente, e coloco em cima do trocador.

Quando ela acorda, dou um banho bem quentinho nela, visto a roupinha e
ela fica uma gracinha de rosa.

Já são 9h20. Pego Liz, a bolsa e descemos as escadas. Vejo Elai nos
esperando, e quando Liz o vê começa a sorrir. Balanço a cabeça.

— Você viu? Ela me adora. — Ele aperta a bochecha de Liz.

— Ela é muito pequena ainda.

— Quando crescer, será a mesma coisa.

— Duvido.
Vamos conversando no caminho e, já no carro, Elai se senta comigo no
banco de trás. Coloco Liz no bebê conforto e fora o motorista há outro homem no
banco da frente. Não sou boba, tenho certeza de que tem mais um carro fazendo a
escolta.

Liz é muito dorminhoca, já está com os olhinhos quase fechados. Pego o


canguru, não gosto muito de usar com ela, mas prefiro usar hoje, então o coloco.
Elai me observa, sorrindo.

— Nem começa.

— Você não imagina como você fica engraçada com isso.

— Palhaço!

O carro para em frente a um prédio de quatro andares. Coloco Liz no


canguru, ela encosta a cabecinha no meu peito e fica assim. Elai pega a bolsa, e
quando estamos no segundo andar ele me entrega.

— Vou ficar aqui na recepção, qualquer coisa é só me ligar — ele fala, e se


senta em uma cadeira de frente para a recepcionista, que lhe dá um sorriso
enorme.

Ele corresponde e reviro os olhos. Entro na sala e fecho a porta.

Uma moça está sentada, olhando e sorrindo para mim, correspondo. Ela se
levanta e me cumprimenta.

— Luiza, não é?

— Sim. — Sorrio.

— Doutora Nicole, prazer. Recebi a mensagem de Isabela falando que ela


não iria vir.
Ela se senta, e faço a mesma coisa. Por algum motivo seguro Liz com mais
força e sinto um aperto no peito.

— É, ela não pôde vir hoje.

— Que pena! Bem, se você quiser, pode entrar ali naquela sala e trocar Liz
para que eu possa examiná-la.

Ela aponta para uma porta e balanço a cabeça, concordando com ela. Entro
e fecho a porta.

O meu coração dispara e as minhas mãos tremem. Tenho certeza de que


Isabela falou que a doutora Nicole era uma senhora, e aquela mulher na sala ao
lado não tem nem 20 anos. Pego o celular e ligo para Elai, mas não consigo fazer
a ligação, não tem sinal. Tento novamente e nada. Tento mais outros números e a
mesma coisa.

— Algum problema? — Ouço a voz da moça.

— Nenhum, só trocando a fralda dela.

— Normal — ela fala, e ouço uma risada baixa.

Vou até uma janela na lateral e consigo abrir devagar. Vejo que dá para a
escada de incêndio. Coloco uma cadeira, e com pressa subo nela. Vejo que Liz
dormiu. Seguro na sua cabeça, encostando-a ao máximo em mim. Tento não olhar
para baixo. O meu coração está tão acelerado.

A sorte é que estamos no segundo andar. Descemos, e quando já estou em


um beco, pego o meu celular e vejo que tem sinal.

Ligo para Elai. Vou andando e tentando chegar ao final do beco. Ouço
passos e tento pensar no que vou fazer. Se eles me pegarem, tenho certeza de que
levarão Liz. Nem percebo, mas já estou chorando. Minhas mãos tremem. Vejo
um monte de caixas perto de uma lixeira. Ouço um barulho estranho. Me
aproximo das caixas e retiro Liz do canguru. Ela dorme tranquilamente. Elai
finalmente atende à ligação.

— O que aconteceu, Lu?

— Elai, tive que sair pela escada de emergência. Estou em um beco,


próximo a uma lixeira verde, tem muitas caixas de papelão aqui.

Coloco Liz deitada em uma caixa. Ela continua dormindo, o que dou
graças a Deus. Me levanto e começo a correr em direção à ponta do beco, à
procura de ajuda.

— Por que você fez isso?

O ouço correndo, falando com alguém aos gritos.

— Cala a boca e me escuta. Eu deixei Liz perto desse lixo, em uma caixa,
pega ela o mais rápido possível. Vou tentar distraí-los para que você a pegue.

Me viro e vejo dois homens correndo em minha direção.

— Por favor, pega ela.

— Lu…

Não o espero terminar. Começo a correr como nunca, sinto os músculos


das minhas pernas queimarem e me amaldiçoo por não fazer caminhada com
mais frequência. Seguro a bolsa da Liz rente ao corpo, como se fosse uma
criança, e respiro fundo, tentando colocar ar nos meus pulmões. Solto um grito
agudo quando sinto alguém me segurando pelos cabelos e acabo parando.

Um homem segura os meus cabelos com força. Fecho os olhos, tentando


controlar a dor. Ele retira a bolsa das minhas mãos e a joga no chão.
Me curvo para a frente quando sinto uma joelhada na barriga. Abro a boca
em busca de ar. Ele me levanta mais uma vez, me jogando em uma parede, o meu
ombro começa a latejar.

— Cadê a criança, sua vadia?

— Não sei de criança nenhuma.

Ele chega perto e me dá um tapa no rosto. Fecho os olhos mais uma vez,
tentando me controlar. Um gosto forte de sangue está na minha boca. Em poucos
segundos já estou sendo pressionada na parede. Ele segura no meu pescoço com
força e o metal frio da sua arma está encostada ao lado do meu rosto. O meu
coração está tão acelerado que penso que a qualquer momento vou desmaiar.

— Vou te perguntar só mais uma vez, onde está a criança?

Sinto seu hálito quente no rosto. Abro a boca para responder, mas não
consigo. Ele me coloca na frente, e segura o meu braço com força. A sua arma
continua apontada para a minha cabeça.

— Solta ela agora.

Vejo Elai segurando uma arma apontada em nossa direção.

Um outro cara está no chão e vejo a sua cabeça sangrando.

— Se eu fosse você, baixava essa arma, se não quiser ver o cérebro desta
gracinha espalhado por toda essa parede.

O meu rosto está molhado de lágrimas. Não consigo falar nada. Sinto as
minhas forças indo embora aos poucos. O rosto de Elai continua sério e por um
momento rezo para que ele tenha pegado Liz.

Fecho os olhos com força quando ouço um barulho alto. Os meus ouvidos
estão zumbindo sem parar. Coloco a mão no rosto e a sinto molhada. Abro os
olhos e vejo sangue na minha mão. Começo a tremer. Sinto braços ao redor do
meu corpo, me trazendo para perto. Sinto o cheiro de Elai e me permito fechar os
olhos novamente.

— Calma, já acabou. — Ele passa a mão pelo meu cabelo.

Me afasto dele. Vejo o senhor Paollo se aproximando de nós. Ele olha para
o corpo no chão e faço a mesma coisa. Vejo aquele homem caído com um buraco
na cabeça, as minhas mãos tremem sem parar.

— E Liz? — pergunto baixo.

— Ela está bem... — Paollo é quem responde. — Um dos meus homens a


levou para casa. Isabela já está chegando lá, assim como Nicolai. — Ele dá um
suspiro e olha para Elai. — Leva ela ao hospital, Elai, qualquer coisa te ligo.
Tenho que dar um jeito aqui.

Elai segura na minha cintura, me aproximando mais do seu corpo.


Entramos no carro e ele começa a limpar o meu rosto com um lenço.

Me viro para ele.

— Eu tive que deixá-la lá, Elai — falo chorando. — Eu estava com medo
deles a pegarem, então eu tive que deixá-la.

Sinto sua mão no meu rosto.

— Eu sei, eu entendo, calma. Você a salvou. Se eles tivessem sequestrado


Liz, provavelmente já estariam longe. Você fez o certo.

Se eu fiz o certo, por que estou sentindo essa dor no peito?


Estou há meia hora deitada nesta cama de hospital. Elai foi lá fora atender
uma ligação do Nicolai. As meninas já ligaram para saber como estou, e mesmo
afirmando que estou bem, elas estão vindo para cá.

A porta se abre e vejo a médica que me atendeu entrando. Dou um


pequeno sorriso para ela.

— Como você está se sentindo?

— Estou bem, só com muita dor de cabeça.

— Que bom, já assinei sua alta — ela fala, e olha o prontuário na sua mão.
— E pode ficar tranquila que o seu bebê está bem.

O meu rosto congela. Sinto o meu coração acelerando mais e mais. Engulo
em seco.

— Bebê?

— Sim, o seu bebê.

Começo a sorrir igual a uma louca.

— Você deve estar enganada, doutora, eu não estou grávida.

Ela sorri para mim.


— Não estou enganada, senhorita Luiza, você está grávida de três
semanas.
CAPÍTULO 7

Fico encarando a médica por um tempo, esperando o meu coração se


normalizar.

— Mas nós usamos camisinha — falo baixo.

— Provavelmente a camisinha estourou ou estava furada.

Os meus olhos se enchem de lágrimas.

— Tem certeza?

— Tenho sim, Luiza, mas se você quiser posso pedir para repetir o exame.

— Quero sim.

— Ok, vou pedir para repetir. No máximo em vinte minutos venho


confirmar o resultado.

Ela sai.

— Pode ser um erro, tem que ser um erro. É muito azar perder a virgindade
e engravidar no mesmo dia, principalmente usando camisinha.
Respiro fundo, limpo os olhos e fico esperando a médica, mas quem entra
é Elai. Fico o observando. Ele está segurando um pacote de salgadinho.

Ele chega próximo e me oferece.

— Você quer? — fala, quase enfiando o pacote no meu rosto.

— Não, obrigada — digo, afastando o pacote do meu rosto.

— Já está liberada?

— Só esperando a médica.

— Se você quiser, posso ir lá perguntar.

— Não precisa, tenho certeza de que ela logo virá.

Não falo mais nada, apenas fico calada. A minha cabeça começa a doer
ainda mais. Um bebê… Eu não quero um bebê agora, principalmente de Elai. As
palavras que ele me disse na praia voltam com tudo. Calma! Talvez seja um erro
e nada mais.

Respiro fundo.

A médica entra, olha para Elai sentado ao meu lado com a boca cheia de
salgadinho.

— Ele pode ficar? — a médica me pergunta.

Observo Elai. Se eu estiver grávida, ele tem que saber, melhor que seja
agora.

— Pode sim.

Elai fica me encarando com uma sobrancelha arqueada.


— Ok, repeti o exame, e sim, você está grávida.

Os meus olhos ficam arregalados de tanta surpresa, mas levo um susto


maior quando Elai começa a se engasgar. Fico encarando a médica, que chega
próximo para ajudá-lo. Eu não faço nada. A única coisa que penso são nas
palavras da médica: Você está grávida.

— O que você falou, doutora?

Elai se levanta.

— Acho que você é o pai, pela sua reação. A senhora Luiza está grávida de
três semanas. — Ela olha para mim, mas não falo nada, não consigo. — Vou
deixar vocês dois conversarem.

Ela sai. Elai anda de um lado para o outro, desesperado.

— Vamos repetir esse exame, tenho certeza de que está errado.

Ele me encara.

— Esse já é o segundo exame. — Aperto uma têmpora, sentindo minha


cabeça quase explodindo.

— Você já sabia?

— Ela tinha me falado, mas não acreditei.

— E você está calma assim?

Levanto o olhar.

— Você quer que eu faça o quê? Comece a gritar, pular? Me fala, o que
quer que eu faça? — falo tudo de uma vez, tento me controlar, mas não consigo e
começo a chorar sem parar.
— Calma, Lu, nós vamos dar um jeito.

— Que jeito? — Levanto o olhar. Ele me observa, com o rosto sério. — Eu


não vou tirar — falo revoltada.

— Não foi isso que eu falei — ele passa a mão pelo cabelo, nervoso —,
mas acho que essa decisão é nossa, não só sua.

Eu o encaro, sem acreditar nas palavras que ele acaba de falar.

— Nossa? A decisão de tirar uma criança que está crescendo na minha


barriga é nossa? Não, Elai, a decisão é minha, este é o meu corpo, não nosso.

— Calma, Luiza, não leve tudo ao pé da letra. Eu estou em choque, eu não


quero uma criança, principalmente agora. Tenho só 25 anos.

— Engraçado. E eu, Elai? Tenho 19. Eu fiz 19 anos há menos de um mês.


Eu era virgem, porra! Você consegue entender? Eu perdi a virgindade e
engravidei. Não fiz nada na minha vida, ainda. Você acha que eu queria
engravidar? Não, eu não queria, mas você quer que eu faça o quê, hein?
Interrompa a gravidez? Porque isso eu não vou fazer, independentemente se você
quiser assumir ou não — falo tudo de uma vez, e seco as lágrimas que insistem
em sair.

Ele não fala nada, apenas se senta em uma cadeira próxima à cama e
abaixa a cabeça. Fecho os olhos, tentando me controlar.

O mais importante é não sei o que fazer. Criar uma criança sozinha?
Simplesmente não sei o que Elai está pensando, mas acho que seja a mesma coisa
que eu.

Ele se levanta e se senta na cama. Os seus olhos não saem do meu rosto.
— Vamos pensar um pouco, okay? Vamos nos acalmar. Não vamos
resolver nada desse jeito. Sei que posso ter tido a pior das reações, mas, Lu, eu
usei camisinha, sempre uso, e sinceramente não sei o que fazer.

— Eu sei que você usou. — Limpo o rosto. — A médica falou que podia
estar furada, ou estourou. Você não percebeu nada?

— Não, sempre dou uma conferida, mas como era sua primeira vez acabei
me levando pela situação e não olhei.

— Eu estou com medo, Elai — falo com sinceridade.

Ele se aproxima e me abraça.

— Eu sei, eu também.

Em momento algum ele fala que estaremos juntos, e por mais que eu tente
deixar para lá, eu gostaria de ter ouvido essas palavras.

Ligo para as meninas e falo que tive alta e que já estou voltando. Elas vão
esperar no apartamento. Estou sentada no banco da frente do carro e Elai dirige
calado. Desde que saímos do hospital ele não falou nada, então fico calada
também. Ele para em frente ao prédio, e saímos.

— A médica falou mais alguma coisa?

Me viro para ele.

— Ela pediu para eu começar o pré-natal o mais rápido possível.

Vejo o seu maxilar se contrair.

— Não precisamos falar sobre o bebê agora, Elai.

Ele suspira, e entramos no elevador.


— Não é isso, Lu, apenas estou pensando. Acho melhor essa informação
ficar só entre nós por enquanto. — Ele se vira para mim. — Pelo menos até
decidirmos o que fazer com isso.

— Isso?

— Você entendeu, com o bebê.

Engulo o bolo que se forma na minha garganta.

— Ok, não vou falar nada para ninguém, por enquanto.

A porta do elevador se abre e saímos.

— Você precisa de alguma coisa? Quer que eu compre algo?

— A única coisa que eu preciso é dormir. — Dou um suspiro. — Assim


que você pensar no que fazer com "isso", você me fala.

Não espero a sua resposta, apenas entro no apartamento e sou recebida por
um abraço de Isabela e, mesmo tentando me controlar, eu choro.
CAPÍTULO 8

A minha cabeça está doendo de tanto que estou pensando no que fazer.

— Um filho! — falo para mim mesmo, tentando acreditar nas minhas


palavras.

Como isso foi acontecer logo comigo?

— QUE ÓDIO! — Dou um soco no espelho a minha frente, que se quebra.

Fecho os olhos, abaixando a cabeça, e quando os abro vejo o sangue


escorrendo. Uma coisa tão familiar para mim há tanto tempo.

Me sento na cama, fazendo pressão na mão com uma toalha. Sei que Luiza
não tem culpa, sei disso, mesmo assim não sei o que pensar.

— Pai.

Acabo sorrindo com os meus pensamentos.

Mas é muito azar mesmo.

Logo eu, que sempre me preocupei ao extremo de nunca engravidar


ninguém, serei pai. Estaria mentindo se falasse que não passou pela minha cabeça
falar para ela tirar, seria hipócrita se falasse que não, porque sim, eu pensei nisso,
mas só de lembrar da expressão no rosto de Luiza sei que pensei na maior
idiotice da minha vida.

Tomo um banho, faço um curativo na minha mão e me visto. Sei que tenho
que pensar no que vou fazer em relação a esse bebê, mas também sei que tenho
que encontrar Nicolai.

Pego a minha Magnum e coloco no coldre. Quando estou fechando a porta


do apartamento, vejo Ana também saindo do dela. Dou um pequeno sorriso em
sua direção, mas sou pego de surpresa quando ela me abraça.

— Desculpa por isso — ela fala sem graça. — Muito obrigada por ter
salvado a vida da Lu, Elai.

— É o meu dever, Ana, não precisa agradecer.

— Mesmo assim, muito obrigada mesmo.

— Como ela está? — pergunto, como se não fosse nada.

Ela suspira.

— Ela está sentindo dores de cabeça, mas já dei um remédio para ela.
Quando eu saí ela já estava quase dormindo.

Ela sorri, e por um momento penso se Ana estaria me agradecendo desse


jeito se soubesse que Lu está grávida de um filho meu.

— Ela ficará bem, o pior já passou.

— Com certeza, bom tenho que voltar agora. Só vim aqui para te agradecer
por tudo que fez por ela. Luiza se faz de durona, mas é uma manteiga derretida.
Ela diz isso e volta para o seu apartamento. Sei o que ela quis dizer, mas
todas as vezes que penso em Luiza a única imagem que vem a minha cabeça é a
boca dela se abrindo levemente quando a fiz ter um orgasmo. Tenho que admitir,
Luiza tem uma boca incrivelmente sexy.

Tentarei não pensar em Luiza e nesse filho que ela está esperando. Afinal,
tenho um encontro com um dos desgraçados que tentaram sequestrar a filha de
Nicolai. Entro no elevador assobiando de felicidade por saber que terei uma noite
inteira regada à tortura e sangue.

Quando entro no galpão, tudo está silencioso. Ouço apenas a minha


respiração e passos no chão. Pego uma cadeira de ferro e começo a puxá-la em
direção ao homem, que agora está amarrado, com um capuz na cabeça. Ele ouve
o barulho. Ótimo! Era isso mesmo que eu queria.

Me aproximo dele, coloco a cadeira na sua frente e me sento nela. Sinto


um cheiro de suor com sangue e acabo sorrindo.

Retiro o capuz da cabeça do infeliz. Ele abre e fecha os olhos muitas vezes,
tentando se ajustar à luz. Quando finalmente consegue, os seus olhos se fixam em
mim, dou um sorriso para ele.

— Senhor Braian Lourenço — falo o nome dele com a voz bem arrastada.
O infeliz não demonstra nada, fica apenas me encarando. — Vejo que não gosta
muito de falar, mas não tem problema, temos a noite toda para te ouvir cantar. E,
acredite, você vai cantar muito. — Estou totalmente sério. A minha expressão se
fecha completamente e o vejo engolindo em seco. — Ótimo!

Pego uma faca e passo lentamente pelo seu rosto. Vejo o rastro de sangue
surgindo. Ele faz uma careta no início, mas continua calado.

— Me fala quem deu a ordem para sequestrar a filha do Nicolai.

— Você acha mesmo que irei falar? — Ele sorri. — Está muito enganado.
— Claro que você irá falar, isso eu tenho certeza, pode ficar tranquilo. —
Sorrio. — Isto aqui é apenas uma brincadeira. Uma brincadeira que estamos
apenas começando, e você — passo a faca pelo outro lado do rosto dele — será o
brinquedo desta noite.

Muitos me chamam de sádico, mas confesso que não gosto muito desse
apelido. Ok, gosto de ver as pessoas sofrendo, e saber que sou eu a causar esse
sofrimento é muito bom, para mim a tortura é apenas uma forma de poder brincar
com pessoas que não prestam. Saber que serei eu a causar um pouco de dor é
perfeito.

Puxo o cabelo do infeliz para trás com muita força. O vejo tentando
respirar, o que torna a cena perfeita aos meus olhos. Com uma toalha no rosto
dele, jogo pequenas quantidades de água e o vejo se afogando aos poucos. Sei o
que ele está sentindo agora. A água entrando nos pulmões, a sensação de ardência
e a dor insuportável. Eu já senti, e confesso que não é uma sensação que eu
gostaria de ter novamente.

Retiro a toalha do seu rosto, o que o leva a tossir sem parar. Sangue sai do
seu nariz e boca. Gostaria de vê-lo se engasgando com o seu próprio sangue, mas
não é a hora ainda.

Dou dois tapas no seu rosto, para que acorde.

— Não está na hora de dormir, estamos apenas começando.

Ele me observa com ódio e cospe sangue no meu rosto. Limpo o local,
balançando a cabeça.

— Que coisa feia Sua mãe não te ensinou que não se deve cuspir nas
pessoas? — Dou um soco no rosto dele e ouço o barulho de um osso se
quebrando, o que me traz uma grande alegria.
— Vamos continuar com a nossa brincadeira? — Coloco a toalha
novamente no rosto dele.

Lavo a minha mão em uma pia, no galpão mesmo. Ouço passos, mas
continuo com a tarefa de tirar o sangue das minhas mãos. Vejo a cor avermelhada
descendo com a água.

— O que ele falou?

Me viro e vejo Nicolai ao meu lado.

Seco as minhas mãos.

— Ele não sabia muita coisa, foi contratado para sequestrar Elizabeth e
levá-la para um estacionamento há dois quarteirões da clínica.

— Então não adiantou nada?

Ele observa a cena. Braian, ou melhor, o que sobrou dele, está pelado no
chão, sem uma perna e um braço e com vários dentes faltando. Sorrio para a obra
de arte que fiz com o corpo dele.

— Adiantou uma coisa. — Me viro para Nicolai. — Ele falou que é uma
mulher, mas não sabia o nome dela.

— Uma mulher?

— Sim, não se preocupe, irei achá-la e te garanto que ela se arrependerá de


tentar sequestrar a sua filha.

Ele não responde, apenas me encara e sei que ele entendeu. Afinal, consigo
ser pior do que ele.

Saio do galpão assoviando. Sinto todos os meus músculos se contraindo de


adrenalina. Por uma noite esqueci de todos os meus problemas, mas não foi por
muito tempo.

Dou um passo para fora do elevador, pego as minhas chaves no bolso para
abrir a porta, mas paro. Mesmo não virando para ver quem é, sei que é Luiza.

— O que você está fazendo acordada a uma hora dessas?

Vê-la apenas com roupa de dormir, mesmo tentando me controlar, faz meu
pau se contrair aos poucos.

— Estava sem sono, ouvi você chegando. — Ela dá um passo em minha


direção e segura o colarinho da minha blusa social, sinto o seu toque.

— Isso é sangue? — Luiza não espera a minha resposta. — Você está


machucado? — pergunta, olhando todo o meu corpo à procura de algum
ferimento.

Retiro sua mão de mim e vejo o seu rosto ficando vermelho.

— Não é nada — falo ríspido.

Vejo algo diferente no seu olhar, ela suspira alto.

— Desculpa, eu não tinha o direito de colocar a mão em você — ela fala,


dando as costas para mim e entrando no seu apartamento.

Acabo fechando os olhos com força e falo para mim mesmo que não senti
um arrepio passando por todo o meu corpo com apenas um toque dela. Isto que
estou sentindo pela Luiza é novo e tenho que admitir que gosto do toque dela, o
que está acabando comigo.
CAPÍTULO 9

Já estou acordada há uma hora. Estou tendo dificuldade para dormir.

— Estou grávida!

Mesmo repetindo essas palavras várias vezes ainda não consigo acreditar
nelas. Hoje faz uma semana que descobri a gestação. Fiquei uma semana em
casa. Para falar a verdade, Isabela me obrigou a ficar em casa.

Quando saio do apartamento, Elai já está me esperando. Coloco uma


mecha de cabelo atrás da orelha.

— Bom dia — falo baixo.

— Bom dia, Luiza — ele fala, e entramos no elevador.

Nenhuma piadinha, nada, absolutamente nada. Ele está diferente, me


tratando totalmente diferente de antes, e eu sei que é por causa da gravidez.

Entramos no carro e o silêncio reina entre nós. Observo a chuva cair pelo
vidro do carro.

Me viro para ele, que não faz nada, só dirige, olhando atentamente para a
frente.
— Elai...

— Fala. — Ele não se vira

— Marquei uma consulta para as 3h hoje, é a primeira do pré-natal. Como


é a primeira consulta, pensei que gostaria de ir — falo devagar, e então ele se vira
para mim.

— Desculpa, mas não vou poder ir, tenho muita coisa para fazer.

Dou um suspiro.

— Como é a primeira, pensei que gostaria de conversar com a médica, tirar


alguma dúvida.

— É apenas a primeira consulta, você está grávida de um mês, e não tenho


nada para perguntar à médica.

Ele fala tudo de uma vez. Fico encarando-o, sem acreditar nas suas
palavras. Por mais que tente me controlar, os meus olhos se enchem de lágrimas.

— Ok, eu vou sozinha.

Ele não fala mais nada, apenas fica em silêncio o restante do caminho.

Entramos no elevador do prédio, e me viro para ele.

— Semana que vem vou contar para as meninas sobre a gravidez.

Ele se vira para mim, e me encara.

— Você não acha que está muito cedo para isso?

— Não, eu não acho. Para falar a verdade, já devia ter contado.

Ele passa a mão pelo cabelo, nervoso.


— Essa decisão deveria ser tomada entre nós dois, você não acha?

— Não, eu não acho.

Ele se vira e aperta aquele maldito botão, fazendo com que o elevador
pare.

Ele se vira para mim.

— Eu prefiro que não conte.

— Por que você não quer que eu fale para elas?

— Do jeito que as conheço, tenho certeza de que tentarão me matar, ou


algo pior.

— O que seria pior?

Ele fica em silêncio.

— O que seria pior, Elai?

— Elas vão querer que nós fiquemos juntos, ou até mesmo um casamento.

Engulo o nó na minha garganta, não acreditando nas suas palavras.

— Você acha que ficar comigo é pior do que a morte — falo baixo.

— Não foi o que eu falei.

— FOI EXATAMENTE ISSO QUE VOCÊ FALOU — grito.

O meu coração se acelera.

— Eu não quero um relacionamento sério, Lu, só isso.


— Em que momento te cobrei alguma coisa, Elai? Pelo contrário, fiz o que
você queria, não contei a ninguém, mas não posso ficar esperando o tempo que
você quiser. Do jeito que você está, acho que se sentirá melhor para falar dessa
criança no momento em que ela nascer.

— Não exagera, Luiza, o problema aqui é você! Querendo fazer tudo do


seu jeito, eu também tenho que escolher, afinal, eu sou o pai, porra!

— No momento, você não está sendo nada. Nem mesmo homem.

Ele se aproxima, e segura o meu braço. Sustento o seu olhar.

— Eu gosto de você, Lu, te considero uma amiga, mas não confunda as


coisas, essa criança que você carrega não muda nada entre nós. E te falo mais
uma coisa, nunca mais fale que não sou homem. Qualquer outra pessoa no seu
lugar já estaria morta por falar isso para mim.

— Solta o meu braço.

Ele sustenta o meu olhar por um momento, mas o solta, e suspira. Aperto
aquele maldito botão, fazendo com que o elevador volte a se movimentar.

Entramos no apartamento e ele vai para o escritório de Nicolai. Vou direto


para o quarto de Liz. Isabela está sentada em uma poltrona. Me aproximo do
berço e vejo Liz dormindo tranquilamente. Acabo sorrindo ao olhar para ela.

— Ela acabou de dormir.

— Ela ama dormir — falo, e me viro para Isabela.

— Acho que puxou a mim, também adoro dormir.

Sorrimos, então lembro de perguntar uma coisa.

— Alguma novidade sobre as pessoas que tentaram sequestrá-la?


— Ainda não, mas estou trabalhando nisso, vou descobrir quem foi, pode
ficar tranquila.

— Ficarei, com certeza.

Ela sai, e fico no quarto de Liz por um bom tempo. Pensar que daqui a oito
meses estarei com um bebê no colo me deixa louca. Um filho? Eu vou ter um
filho.

Fico no apartamento da Isa até às 13h. Quando chegamos em casa, já


estamos entrando no elevador quando Elai fala comigo.

— Você vai falar para as meninas?

Me viro para ele.

— Sim.

O elevador para.

— Faça o que você achar certo, afinal, você não se importa com nada que
eu quero mesmo.

Ele sai e vou atrás. O vejo pegando a chave do bolso para abrir a porta.

— O que você quer, Elai?

Ele passa a mão pelo cabelo, nervoso.

— Não sei o que quero, Luiza. Isso é muito novo para mim.

— Sabe o que eu acho? Você não quer que eu fale para elas porque com
isso a ficha vai cair que você será pai, essa é a verdade.

Não espero uma resposta, me viro e entro no apartamento. Vou direto para
o quarto e vejo Ana sentada na cama olhando uns panfletos. Me sento na sua
frente.

— Como foi o emprego?

— Tranquilo. O que é tudo isso?

— Vou trabalhar em uma academia de dança para crianças, começarei


amanhã. — Ela sorri.

— Que bom, Ana. — Mas diferente do que pensei, ela não sorri. Fica séria,
me encarando.

— O que você tem, Lu? Está diferente.

— Onde está Laura?

Laura entra, segurando uma toalha e secando o cabelo, então para ao meu
lado.

— O que tem eu?

Me viro para ela.

— Preciso conversar com vocês.

— Pode falar — Laura fala, e se senta ao meu lado.

Conto toda a verdade. Ana fica me encarando, já Laura se levanta e vai até
o seu quarto. Quando vou questioná-la ela volta segurando um taco de beisebol.

Ficamos encarando-a, sem acreditar no que estamos vendo.

— O que você está fazendo com isso?

Ela coloca o taco de beisebol no ombro e olha para mim.


— Depois que eu terminar com Elai, ele nunca mais vai engravidar
ninguém.

Sai e corremos atrás dela.


CAPÍTULO 10

Quando chegamos na sala, vejo Laura levantar o taco de beisebol e


acertando a cabeça de Elai. Ele fica um momento olhando para ela, sem acreditar
que ela foi capaz de fazer isso.

— Laura! — falo, com a voz entrecortada.

Ela levanta o taco mais uma vez, mas é impedida por Elai, que segura o
objeto com força e olha para ela.

— Você é louca, Laura?

— Você é um Idiota.

Neste momento ele olha para mim e o meu rosto arde. Fecho os olhos com
força.

— Esse assunto não é da sua conta, só diz respeito a mim e a ela.

Vejo sangue escorrendo da sua cabeça, e mesmo tentando me controlar,


dou um passo para a frente.

— Você é um idiota, Elai — Laura fala novamente.


— Você acha que eu quero ser pai? — Laura não responde, e Elai balança
a cabeça, inconformado. — Eu nunca quis ser pai, isso foi apenas um erro, nada
mais.

Fico o encarando e sinto a mão da Ana em meu ombro, apertando devagar.

— Lu...

Me viro para ela e vejo os seus olhos cheios de lágrimas, o meu coração
dói.

— Estou bem, Ana — minto, tentando acalmá-la.

Ela olha para Elai.

— Independentemente se foi planejado ou não, agora você é pai, então


trate de mudar o seu jeito, Elai, tenho certeza de que Luiza também não queria,
mas em momento algum estou vendo ela gritar para qualquer um que queira
ouvir o quanto ela não quer essa criança, igual a você — Ana fala.

Ele me encara e suspiro alto.

— Laura, pode ficar tranquila. — Entro no meio deles e seguro o taco de


beisebol.

Ela me encara, mas acaba suspirando e abaixando o taco.

— Ele é um inútil, Lu, você não merece ouvir isso, deixa eu terminar de
bater nele.

Acabo sorrindo para ela.

— Pode ficar tranquila. A minha vontade é deixar que você bata nele o
tanto desejar, mas não seria o certo. Por favor, Laura, para.

Ela suspira, revoltada.


— Escuta bem o que vou te falar. — Ela aponta o dedo para ele. — Se
você fizer algum mal a ela, não só fisicamente, mas com palavras, você pode ir
para o inferno que irei atrás de você, e não será com um taco de beisebol, e sim
com uma arma, que farei questão de descarregar na sua cabeça, seu idiota!

O seu rosto fica completamente vermelho.

Elai a observa.

— Entendi perfeitamente — ele responde, sério.

— Vamos, Ana. Eles precisam conversar.

Ela segura o braço de Ana, que olha para mim. Dou um sorriso para
demonstrar que estou bem.

Elas entram e me viro para Elai, que faz uma careta, colocando a mão no
local machucando.

— Precisamos conversar.

Ele não fala nada, apenas entra e faço o mesmo. Me sento no sofá e ele vai
até o quarto e volta com uma toalha, fazendo pressão no local machucado.

Senta-se ao meu lado.

— Entendeu por que falei que era melhor esperar?

— Elas gostam de me proteger.

— Você não é criança para precisar de proteção, Luiza — ele fala sério.

— Engraçado, porque quando eu queria ir sozinha para o trabalho você não


deixou.
— Isso é completamente diferente, é sua vida em jogo, e agora tem essa
criança.

— É sobre isso que quero conversar com você. — Ele não fala nada, então
prossigo: — Não quero nada de você, Elai, se essa criança é um erro tão grande,
pode ficar tranquilo, você não precisa tê-la na sua vida, não quero que ela cresça
sabendo o tanto que o pai a odiava mesmo antes de nascer. Então pode ficar
tranquilo, viva a sua vida como desejar.

Me levanto e ele faz o mesmo, e segura o meu braço.

— Entendeu por que falo que você gosta de resolver tudo? Eu não sou
apenas um telespectador, Luiza. Eu estou um pouco irritado com a notícia, mas
isso não quer dizer que quero que você crie essa criança sozinha. Eu não sou
nenhum moleque, posso te garantir. Esse é meu filho e vou me responsabilizar
por ele — ele dá um suspiro — e por você.

— Eu não quero que se responsabilize por mim, Elai.

Ele fecha os olhos por um momento.

— Você não merece o jeito que tenho te tratado, você merece mais.

Respiro devagar.

— Eu também não queria ser mãe tão jovem, Elai, mas aconteceu e não
podemos fazer nada em relação a isso.

— Eu sei. — Ele solta meu braço. — Sinceramente, isso está acabando


comigo. — Vejo o sangue em sua cabeça.

— Se senta, vou ver o estrago que Laura fez.

Ele se senta no sofá e pego a toalha da sua mão.


— Ela te acertou em cheio. — Sorrio.

— Laura é louca, tenho pena do Paollo.

Sinto um pequeno toque por cima da minha barriga e um arrepio faz com
que o meu corpo inteiro trema. Abaixo o olhar e vejo Elai olhando atentamente
para a mão na minha barriga.

— O que você está fazendo? — sussurro.

Ele para, e me observa.

— Você está grávida, Lu, não acredito nisso. — Ele balança a cabeça.

— Pode acreditar, nem eu. — Respiro fundo. — O corte não é muito


fundo, você quer ir ao hospital?

— Não, está tranquilo. Laura não conseguiu fazer o estrago que tanto
queria.

Me afasto dele.

— Eu já vou, Elai, ainda tenho muita coisa para fazer.

Ele me observa, e por um momento achei que iria dizer que ia na consulta,
mas ele não fala nada.

Saio do apartamento dele e respiro fundo. Vejo Ana e Laura sentadas no


sofá. Laura continua segurando aquele taco de beisebol com força.

Me sento no meio das duas.

— Lu, o que vocês resolveram? — Ana pergunta, segurando na minha


mão.

Falo o que aconteceu para elas.


— Não estou justificando nada do que ele tenha falado, mas essa situação é
complicada. Entendo o seu lado em não querer que ele fique perto dessa criança
só por pena — Ana fala.

— Pode ficar tranquila, Luiza, estamos aqui com você, e se ele te tratar
mal uma única vez eu termino o que comecei. — Acabo sorrindo para Laura.

— Eu sei disso,

Tomo um banho, me arrumo e saio. No táxi, fico pensando em tudo. Não


falei para elas o que eu iria fazer, gostaria de um momento só para mim. Estou
precisando ficar sozinha. Suspiro alto. O táxi para.

Já na recepção, me aproximo da recepcionista.

— Boa tarde, tenho uma consulta com a doutora Jane.

— Só um minuto. — Ela digita alguma coisa no computador e olha para


mim.

— Ela já está te esperando, senhorita Freitas, é naquela sala.

Ela me mostra o local. Entro na sala e tiro todas as minhas dúvidas com a
médica. Por um momento gostaria de ter falado para Laura e Ana. Ali,
conversando com a médica, vejo que será bem mais difícil do que imaginei.
O vento balança os meus cabelos e mesmo não querendo sinto lágrimas
quentes descendo pelo meu rosto. Estou no mesmo píer que Elai me trouxe
aquela vez, vejo as ondas quebrando nas pedras logo abaixo.

Ainda estou ouvindo o barulho do coraçãozinho do meu filho bater. Chorei


tanto quando a médica mostrou aquele pequeno ponto na tela do computador.
Acho que a minha ficha caiu agora.

Fecho os olhos com força, pensando em tudo que aconteceu, mas logo os
abro e ouço um barulho. Vejo um homem logo à frente tirando uma foto minha.

Me aproximo.

— Posso saber o que você está fazendo?

Ele me observa, antes de sorrir para mim.

— Desculpa, deveria ter pedido permissão antes, mas a imagem estava


linda.

Reviro os olhos, e me viro para sair, mas ouço os seus passos e acabo
parando e olhando para ele.

— O que você quer?

Ele se aproxima, e levanta a mão.

— Prazer, senhorita, meu nome é Nathan Scott, preciso te perguntar uma


coisa... Você é modelo?

— Modelo? — Levanto uma sobrancelha. — Claro que não.

Ele sorri, e percebo que ainda está com a mão levantada, mas abaixa logo
em seguida.

Ele pega um cartão todo preto e me entrega.


— Sou dono de uma agência de modelos, estamos fazendo uma campanha
e tenho certeza de que você seria perfeita.

Começo a sorrir.

— É brincadeira, não é?

Ele fica sério.

— Claro que não, sei que pode ser estranho tudo isso, principalmente
porque você não me conhece, mas tem o site e tudo mais, você poderá pesquisar
e tirar qualquer dúvida que surgir.

Fico um momento olhando para ele e pego o cartão.

— Ok, senhor Nathan Scott. — Olho o cartão. — Obrigada!

— Acho que sou eu que tenho que agradecer, você poderia me falar o seu
nome?

Dou um passo para ir embora, mas paro e me viro para ele.

— Luiza, meu nome é Luiza.

— Espero te ver novamente, Luiza.


CAPÍTULO 11

Aperto com força aquele pequeno papel na mão e entro no elevador.


Levanto o papel e observo por um tempo.

— Nathan Scott — falo o nome dele, sussurrando cada letra. — Será que
realmente é verdade? Vou dar uma pesquisada quando estiver sozinha.

Mas agora eu não estou mais sozinha, passo a mão pela minha barriga,
lembrando do barulho dos batimentos do coração do bebê que agora cresce
dentro de mim. Sorrio com os pensamentos e nem percebo que a porta do
elevador se abriu.

Levanto o olhar e acabo levando um susto. Próximo da porta está Elai, me


encarando. Engulo em seco.

Retiro a mão da barriga.

— Oi, Elai. — Passo por ele, mas sou impedida de prosseguir quando ouço
a sua voz.

— Está tudo bem?

Me viro para ele.


— Está. Por que a pergunta?

O vejo engolindo em seco. Ele me observa atentamente e vejo o seu olhar


indo direto para a minha barriga.

— Por que você não faz a pergunta certa? — Ele não fala nada, então
prossigo: — Sim, Elai, o seu filho está ótimo. Se é essa a pergunta que você está
querendo fazer.

Reviro os olhos de raiva, começo a andar, mas ele me segue, paro e me


viro para ele, irritada.

— Que inferno, Elai! O que você quer?

— Por que você está gritando? — ele fala calmamente, sinto mais raiva.

— Você... Você me irrita de uma maneira que não tenho nem como
explicar.

Ele sorri.

— Tem como você parar de sorrir? — peço, pausadamente, mas a minha


vontade é de socar a cara desse infeliz.

— Você não faz ideia de como o seu rosto fica vermelho quando está com
raiva, você fica uma gracinha. — Ele tenta apertar a minha bochecha, mas dou
um passo para trás. — Você está muito estressada, Lu. Que tal sairmos um
pouco? Tem um restaurante que estou louco para ir, na verdade, estou indo agora,
o que me diz?

Fico um momento olhando para ele e o meu coração dispara. Tenho que
admitir que, mesmo que Elai seja um idiota e burro, eu gosto dele.

— Não estou vestida para ir a um restaurante.


Ele me observa de cima a baixo e dá um sorriso.

— Você está linda, Luiza, não… você é linda. Está perfeita, vamos, tenho
uma coisa para lhe perguntar.

— Pode perguntar agora.

Ele sorri mais uma vez.

— Prefiro conversar com uma boa taça de vinho como testemunha, no seu
caso, um suco. — Reviro os olhos mais uma vez. — Vamos, você vai gostar.

— Ok, vamos. Também quero conversar com você.

Ele me observa sério por um tempo, mas logo um sorriso já está enfeitando
o seu rosto.

— Então vamos. — Ele segura na minha mão e começa a andar comigo em


direção ao elevador.

Sinto o calor da sua pele contra a minha. Abaixo o olhar, tentando


esconder o meu rosto que arde de uma forma surreal.

Entramos no elevador e acho que ele percebe que as nossas mãos


continuam unidas, mas ele não faz nada, continua segurando. Quando o elevador
para, saímos e sinto ele apertando a mão com mais força. Não sei explicar, mas
esse gesto faz com que o meu coração dispare.

Ele abre a porta do carro para mim, e entro, ainda com o coração
martelando no peito.

— Você está com frio?

— Não, por quê?

— A sua mão está gelada.


Aperto a mão em punho, sentindo o tecido do vestido.

— Normal. As minhas mãos e pés são gelados mesmo.

Sorrio sem graça. Ele balança a cabeça para mim e liga o carro. Ouço uma
música calma tocando e observo o céu pela janela do carro. Várias cores se
misturam com o sol, que já está se pondo. Até parece uma pintura de tantas cores
misturadas. Suspiro alto.

— Bonito, né?

Ouço a voz de Elai e me viro para ele.

— Parece uma pintura. — Dou um sorriso sincero para ele.

— É, parece mesmo. — Ele me encara, e por algum motivo sinto que ele
não está falando da mesma coisa que eu.

Me viro novamente para a janela e evito ao máximo olhar para o seu rosto.
Vamos mais para os arredores da cidade.

Paramos em frente a um restaurante com a fachada preta. Não espero que


ele abra a porta para mim, eu mesma faço isso. Sinto a sua mão nas minhas costas
e sou pega desprevenida. Um arrepio passa por todo o meu corpo.

Uma moça nos recebe e andamos lado a lado até pararmos em uma mesa
com vista para o mar.

— Obrigada — falo, quando ele puxa a cadeira para mim.

Observo cada detalhe do local, a maioria das mesas estão ocupadas.

— Aqui é lindo.

Elai observa um pouco o local, pega o cardápio, e faço a mesma coisa.


— É muito agradável, e calmo — ele fala, sem tirar os olhos do papel na
sua mão.

— Agradável, calmo, sério, Elai? Até parece que você gosta de lugares
agradáveis e calmos.

Ele para o que está fazendo e me encara, faço a mesma coisa.

— Por que não posso gostar de lugares assim?

— Você tem cara de quem gosta mais de baladas, lugares mais agitados.

Ele coloca o cardápio em cima da mesa.

— Nossa, Luiza, é assim que você me vê?

— Sim, é exatamente assim. Até porque você não me mostrou nada


diferente.

Ouço o seu suspiro.

— Acho que o erro é meu por ter te mostrado só esse lado, devo corrigir
esse erro, então.

A última frase ele fala baixo, mas consigo ouvir perfeitamente. Fazemos os
nossos pedidos e um silêncio se instala entre nós por um tempo.

Quando não consigo mais, faço a pergunta que tanto queria.

— O que você quer falar comigo?

Ele me observa por um tempo.

— Quero te fazer uma proposta.

— Estou ouvindo.
— Tudo que está acontecendo entre nós é completamente novo. Ser pai
não estava nos meus planos, como tenho certeza de que ser mãe não estava nos
seus. Enfim, não quero ser apenas o pai que leva o filho para passear de vez em
quando, ou apenas depositar uma quantia em dinheiro por mês. — Ele suspira
profundamente. — Não quero te prometer nada, mas gostaria de tentar te
conhecer melhor, afinal, você é a mãe do meu filho.

Fico em silêncio por um momento.

— Qual é a proposta?

— Quero que você venha morar comigo. — Abro a boca para responder,
mas ele fala primeiro. — Eu sei que pode ser novo e tudo mais, mas eu quero
tentar, ver o que pode acontecer.

— O que mudaria, eu morando com você?

— Podemos nos ver mais, nos conhecer, e assim poderei te mostrar que
não sou o que você imagina.

— O que eu imagino? Ou seja, que você é um safado, galinha e que gosta


de uma mulher diferente a cada dia na sua cama? — Levanto uma sobrancelha.

— Exatamente isso.

— Ok, Elai, vamos supor que eu aceite. Eu moraria com você naquele
apartamento?

— Não, você moraria comigo na casa que eu comprei hoje.

— Você comprou uma casa? Por quê?

— Eu sempre gostei de lugares maiores, Lu, e vi uma oportunidade e


aproveitei, o que me diz?
— Eu não acho que isso possa mudar alguma coisa.

— Pelo contrário, mudará muita coisa. Poderemos ir devagar, não vou


mentir para você, criar raízes não estava nos meus planos, por enquanto, mas será
uma experiência. Vamos tentar, não temos nada a perder.

Uma voz na minha cabeça fica repetindo a mesma coisa, eu tenho algo a
perder. O meu coração, porque sei que estou apaixonada por você.

— Eu não sei.

— Pensa um pouco, e depois você me responde.

Fico em silêncio. A comida chega e sinto o cheiro. Dou um sorriso para o


prato maravilhoso.

Comemos em silêncio, mas a minha cabeça fica martelando sem parar.


Essa é a melhor solução?
CAPÍTULO 12

— Pensa na proposta, Lu.

Elai deposita um beijo no meu rosto e sinto um calor se espalhando pelo


meu corpo na mesma hora.

Entro no apartamento e vou direto para o quarto. Vejo a Ana sentada lendo
um livro, me aproximo e fico ao seu lado.

— O livro é bom?

Ela sorri.

— É sim, foi o Gabriel que me deu, até agora estou gostando.

Ela abre a boca para falar alguma coisa, mas logo a fecha. Conheço a Ana
e sei que quer me falar algo.

— Pode começar.

— Começar o quê?

— Te conheço tão bem, sei que quer me falar algo.

Ouço o seu suspiro e me acomodo mais na cama.


— O que Elai queria com você?

Quando eu estava no restaurante mandei uma mensagem para ela falando


que ia jantar com ele.

Falo da proposta dele e tudo que conversamos.

— O que você acha?

— Não vá morar com ele.

— Por quê? — pergunto baixo.

— Você está apaixonada, Lu, Elai não está, pelo menos acho que não. Se
ele quer mostrar que pode mudar, deixe que ele faça isso aqui. Você não precisa ir
morar com ele para isso.

— No fundo eu já sabia a resposta, mas tem o bebê, e por ele eu gostaria


de tentar. Ana, não quero criar um filho sozinha.

— Luiza Freitas, você não está sozinha, nem hoje e nem nunca. Sempre
vou estar com você, não importa o que aconteça. Se o lerdo do Elai deseja mudar,
que ele mude aqui, não em outro lugar. Na verdade, achei puro egoísmo da parte
dele fazer essa proposta. No final, ele está pensando só nele, e você, amiga, tem
que pensar em você e agora nessa criança. Sei que você gosta dele, sei disso. Mas
não faça nada que vá te machucar no final. Elai, infelizmente, está acostumado a
ter tudo que quer, não seja isso para ele. — Ela respira fundo. — Você é o centro
de tudo, não ele.

Eu abraço Ana e sinto as lágrimas molhando o meu rosto.

— Obrigada. Estava precisando ouvir isso.

— Eu sei que é tudo novo, eu sei disso, mas você não precisa passar por
isto sozinha, nunca. Eu te amo demais, vou sempre estar aqui para você e seu
filho, sempre.

Tomo um banho, mas são as palavras de Ana que se repetem na minha


cabeça. Termino e me troco. Visto um vestido rodado, rosa-claro. Vou resolver
logo isso. Quando termino de me arrumar já são quase onze horas, mas não posso
deixar para amanhã.

Saio e bato duas vezes na porta do apartamento de Elai. Já estava


desistindo quando ele abre a porta, só de toalha. Engulo em seco e percebo que
ele estava no banho.

— Me desculpa, não pensei que estava ocupado, falo com você amanhã.

— Eu já estava terminando, Luiza, pode entrar.

Fico olhando para ele, mas decido resolver isso logo. Entro e já me sento
no sofá, ele fecha a porta e se senta ao meu lado.

— Pode ir vestir a roupa, eu espero.

— Não, está bom assim. — Ele se acomoda no sofá.

Engulo em seco mais uma vez.

— Ok. — Coloco as minhas mãos no colo e começo a mexê-las


impaciente. — Eu decidi não aceitar a sua proposta, Elai.

Ele não fala nada, fica me olhando atentamente.

— Por quê?

— Não acho uma boa ideia. Já começamos errado. Para falar a verdade,
absolutamente tudo entre nós foi errado. Não vou deixar que isso também seja.

— Eu sinceramente achei que você aceitaria.


— Por que você tinha essa certeza?

— Você é uma garota que pensa na família, Lu, pensei que gostaria de
criar essa criança com o pai.

— Eu quero que essa criança seja feliz, Elai. Se for ao seu lado, tudo bem,
mas se não for, ela vai ter a mim — falo séria.

— Eu sei disso, mas afinal, qual é a sua proposta então?

— Se você estiver disponível para me conhecer realmente, eu vou estar


aqui, mas te peço uma coisa.

Me sinto enjoada, e respiro fundo.

— Que coisa?

Respiro fundo mais uma vez.

— Que independentemente do que aconteça entre nós dois, você nunca


esqueça do seu filho.

— Eu nunca esqueço dessa criança, Luiza. Penso nela todos os dias.

Não é o que parece, penso, mas não falo em voz alta.

Não falo nada. Vou correndo até o banheiro dele e sinto os meus olhos se
encherem de lágrimas. Vomito tudo que estava no meu estômago. Sinto a mão de
Elai segurando o meu cabelo. Lágrimas saem dos meus olhos e toda vez que
tento respirar profundamente sinto náuseas. Elai passa a mão devagar nas minhas
costas.

Fico mais um tempo vomitando no vaso, e quando sinto que melhorei, me


levanto e lavo o meu rosto. Sinto o olhar de Elai em minha direção.

— Você já tinha passado mal antes?


— Não — falo devagar, e passo por ele.

Me sento novamente no sofá.

— Você acha que foi a comida que você comeu no restaurante?

— Pode ser, mas acho que é normal sentir enjoos no começo — falo
devagar.

— Você está pálida. — Ele se levanta e pega um copo de água para mim.
Bebo um pouco.

— Acho melhor eu ir embora, amanhã terminamos de conversar.

— Depois você vai, espera um pouco, vem cá. — Ele segura no meu braço
e me leva para o seu quarto.

— Descansa um pouco, até você melhorar — ele fala, e me senta na cama.

— Não precisa, estou melhor.

— Você está pálida, Luiza, me ouve pelo menos uma vez — ele fala sério,
e encosto na cabeceira da cama, não querendo mais discutir.

O meu estômago está horrível. Fecho os olhos por um momento.

Pelo menos achei ser por um momento. Quando abro os olhos novamente
vejo que estou deitada na cama de Elai. Sinto o seu cheiro, me viro para o outro
lado e o vejo sentado, encostado na cabeceira da cama, mexendo no celular. Ele
para o que está fazendo e me observa.

— Como você está?

— Melhor. — Me sento direito. — Eu dormi? — pergunto.

— Sim.
— Quantas horas?

— Você dormiu apenas uma hora, pode ficar tranquila.

Suspiro, pego a minha sapatilha, que está perfeitamente alinhada ao lado


da cama, e a calço.

— Você pode dormir aqui — ele fala ao meu lado. Nem tinha reparado que
ele tinha se levantado.

— Já estou bem melhor agora, o enjoo já passou. Desculpa por dormir,


acho que eu estava mais cansada do que pensei.

— Não precisa pedir desculpas por uma coisa tão banal como essa, Lu.
Dorme aqui.

— Eu prefiro a minha cama. — Saio do seu quarto, e ele me segue.

— A minha cama é tão ruim assim? — Tenho certeza de que essa pergunta
tem dois sentidos.

Me viro para ele e o vejo sorrindo. Reviro os olhos.

— Palhaço!

— Estou falando sério, se você quiser pode dormir aqui.

Ele se aproxima e fica na minha frente. Já não está só de toalha, mas com
uma calça de moletom. Somente isso.

— Prefiro ir.

Ele me observa por um momento, mas concorda, balançando a cabeça.

— Se você quer assim, tudo bem. Só queria me certificar de que não


passaria mal novamente. Quer que eu compre algum remédio?
— Não precisa mesmo, obrigada, Elai.

Ele se aproxima e fica a centímetros do meu rosto. Seguro a respiração, me


sentindo impotente com ele tão perto.

— Me liga se precisar de algo.

Sinto os seus lábios no meu rosto, essa é a segunda vez que ele faz isso.
Fecho os olhos, sentindo uma coisa tão boa, que sinceramente não sei explicar.
CAPÍTULO 13

As minhas mãos estão suando e as fecho com força. Ainda não estou
acreditando que estou com Laura aqui.

Uma moça de cabelo rosa vem até nós, sorrindo.

— Nathan está no estúdio, pode ir, é logo ali naquela porta. — Ela aponta.

— Nós podemos esperar — falo baixo.

— Pode entrar, não tem problema.

Olho para Laura. Ela sorri sem graça para a moça.

Andamos em direção à porta.

— Que garota estranha. — Laura segura o meu braço.

— Também achei.

Quando falei para as meninas sobre Nathan, elas acharam suspeito, e eu


também achei, por isso fizemos uma pesquisa sobre esse cara e confesso que
fiquei surpresa com tudo que achamos.
Nathan Scott é dono de uma agência de modelos aqui na Sicília, e sócio de
uma revista de moda, mesmo assim Laura se dispôs a vir comigo.

Como ela mesma diz:

— Serei a sua proteção.

Sorrimos com a cara que ela faz, mas gosto, pois não gosto de andar
sozinha. Sempre fico sem saber o que fazer. Às vezes penso que tenho duas
personalidades, a que fica falando sem parar com alguém que conhece e a que
fica tímida quando está em um local que não conhece ninguém.

Essa sou eu, um completo desastre.

Entramos no estúdio e vejo um rapaz tirando fotos de uma moça loira. Ela
parece tão à vontade. Está linda com um vestido branco. Uma outra moça joga
pétalas de rosas vermelhas em sua direção. Fico encarando, achando tudo
maravilhoso.

Estou observando a cena e nem percebo que tem alguém conversando com
Laura. Me viro para ela e vejo Nathan segurando a mão da Laura e a
cumprimentando.

— Luiza! Que bom que aceitou o meu convite. — Ele segura na minha
mão e dá um pequeno beijo.

Mesmo sem querer, lembro de Elai e da primeira vez que o encontrei.


Sorrio sem graça.

— Eu queria saber mais um pouco sobre a proposta.

Ele sorri.

— Claro. Vem, podemos conversar melhor na minha sala.


Ele anda na frente, seguro mais uma vez no braço da Laura e o seguimos.

Ele se senta em uma cadeira de cor escura, repousa as mãos sobre a mesa e
fica nos encarando.

Me ajeito melhor na cadeira. Laura se senta do meu lado, a expressão séria


não sai do seu rosto. Ela observa cada detalhe da sala.

— Se você aceitar ser a minha modelo, pedirei para fazer um contrato em


que será estipulado tudo que quero e todos os seus direitos. Ele terá duração de
um ano. Após esse ano decidiremos se iremos renová-lo ou não.

— Mas será só para fotos?

— A princípio, sim. Mas a sua foto ficará disponível no nosso banco de


dados. Se alguma empresa quiser que você faça uma propaganda do seu produto,
farei a oferta para você. E lógico, você decidirá se vai querer ou não, e assim
também com as sessões de fotos. Você não é obrigada a fazer nada que não
queira.

Suspiro alto e me pego sorrindo para Laura. Ela sorri de volta.

— Ela terá que viajar? — Laura pergunta.

— Algumas das nossas sessões de fotos poderão ser feitas em outra cidade,
ou até mesmo em outro país. Mas, reforçando o que te falei, Luiza, você decidirá
se quer ou não. — Ele suspira. — Você é muito bonita, tem um rosto que chama a
atenção, com certeza terão muitos trabalhos te esperando, se decidir aceitar.

Fico em silêncio e penso um pouco. Mesmo trabalhando na casa da


Isabela, tenho as tardes livres e os finais de semana também. Posso conciliar os
dois, e agora tem o meu filho. Fecho os olhos por um momento. Quero ter a
minha própria vida, uma casa, e dar de tudo para essa criança, mas primeiro
tenho que ser honesta com Nathan, não posso mentir.
— Eu realmente adorei a proposta — ele sorri —, mas preciso te falar uma
coisa.

Ele me observa por um momento.

Respiro fundo.

— Descobri tem pouco tempo que estou grávida de um mês. Isso seria um
problema?

Ele fica em silêncio e pensa por um momento.

— Obrigado por me dizer antes de assinar o contrato, Luiza. Eu seria um


completo idiota se deixasse esse detalhe atrapalhar em alguma coisa. Podemos te
colocar em campanhas que precisem de mulheres grávidas. Até que a sua barriga
cresça, te colocarei para fazer fotos normais. Claro, se não for um problema para
você.

— Nossa! Você me surpreendeu. Não são todos os empresários do ramo da


moda que pensam como você — minha amiga fala, olhando diretamente para ele.

— Que tipo de pessoa eu seria se colocasse uma gravidez na frente do meu


trabalho? Eu realmente acho que você daria uma ótima modelo, Luiza, e essa
criança não atrapalha nada.

Fico feliz, e por dentro estou pulando de alegria.

— Eu gostaria de tentar.

— Que bom. Vou pedir para a minha secretária imprimir o contrato.

Ele então conversa com alguém pelo telefone. Me pego segurando a mão
de Laura. Ela a aperta firmemente, como se quisesse mostrar que está comigo.
— Pronto, ela já está imprimindo o contrato, você pode levar para um
advogado, acho que assim se sentirá mais tranquila.

Balanço a cabeça, concordando.

— Paollo é advogado, se você quiser mostro a ele.

— Eu não sabia que o senhor Paollo era advogado.

Ela sorri.

— Pode acreditar, tive essa mesma reação.

— E o pai da criança? Não vai achar ruim se você começar a trabalhar


agora?

Me viro para Nathan.

— É complicado, mas ele não tem que achar nada — falo com sinceridade.

Ele me observa por um tempo, mas depois concorda comigo.

A mesma moça de cabelo rosa entra e entrega uns papéis para Nathan, ele
agradece a ela.

— Aqui está, Luiza. Se você concordar com tudo, é só vir aqui. Só peço
que seja um pouco rápida. Tenho uma campanha para a semana que vem e você
se encaixaria perfeitamente no que o cliente quer.

— Muito obrigada por tudo, senhor Nathan. — Me levanto, e ele também.

— Obrigado você. Espero que aceite. Com sinceridade, você tem tudo para
fazer muito sucesso nesse mundo da moda, não desperdice essa oportunidade. —
Ele dá um beijo na minha mão e logo em seguida na mão de Laura.

Saímos dali, mas o meu coração está acelerado de tamanha emoção.


— Estou tão feliz, Laura, você não pode imaginar.

— Pode acreditar, eu imagino, sim. Fiquei desse jeito quando assinei o


meu primeiro contrato de publicação. Quase que saí gritando na rua de tanta
felicidade.

— O que você achou?

— A empresa parece séria, mas qualquer coisa que acontecer e você não
gostar, me liga que venho na hora.

— Obrigada.

Ela sorri.

— Amigas são para essas coisas.

Entramos no táxi, e quando já estamos chegando dou o contrato para


Laura. Ela irá para a casa de Paollo e vai aproveitar e pedir para ele ler.

Saio do táxi e entro no elevador. As minhas mãos estão suadas de tanta


felicidade. Estou louca para contar para Ana, mas ela ainda está dando aula, só
mais tarde que chegará.

O elevador para e a porta se abre. O meu coração perde uma batida quando
vejo a mesma moça loira que eu vi no apartamento de Elai. A única diferença são
os seus olhos, que estão borrados de preto. Ela estava chorando. Tento passar por
ela e rezo para que não perceba que me conhece.

— Levanta essa cabeça, sua sonsa, acha que não te reconheci?

Levanto o olhar e observo ao meu redor. Não tem ninguém no corredor.

— Algum problema, moça?

Ele dá um passo, encurtando a distância entre nós.


— Idiota! Se fazendo de boa moça.

— Eu sinceramente não sei do que você está falando.

Sinto o meu rosto arder. Ela me deu um tapa?! Coloco a mão no local,
sentindo o meu rosto esquentando. Os meus olhos se enchem de lágrimas.

— Sei que a culpa é sua, sei disso. Mesmo Elai falando que quer um
tempo, sei que o motivo é você.

Ela segura no meu braço com força e fecho a minha mão em punho. Por
mais que eu queira dar uns tapas na cara dela, penso no meu filho e não faço
nada.

— Você é louca! Eu não tenho nada a ver com a sua relação com Elai.

— Me pergunto como um homem como Elai pode se envolver com uma


coisa sem sal igual a você.

Abro a boca para responder, mas sinto a presença de alguém.

Elai olha para mim e o seu olhar vai do meu rosto até a mão dela em volta
do meu pulso.

— Solta ela agora!

A garota olha para ele por um momento, mas solta o meu braço.

— Não é o que você está pensando, Elai, só estávamos conversando. —


Ela olha para mim, na esperança de que eu confirme a sua história. Reviro os
olhos.

— O tapa no rosto foi um brinde, então. Até parece.

Sinto as mãos de Elai em volta da minha cintura. Ele me traz mais para
frente, segura no meu rosto e o observa.
— Você está machucada? — pergunta baixo.

— Não. Estou bem.

Ele se vira para a moça.

— Eu não bato em mulheres, Elisa, mas se você encostar um dedo sequer


nela eu vou rever os meus conceitos.

Ela olha para ele de novo, lágrimas saem dos seus olhos sem parar.

Ela entra no elevador e fica calada até que ele se feche.

Elai se vira para mim novamente.

— Você está bem mesmo?

— Estou, pode ficar tranquilo.

Vou em direção à porta do apartamento. Ele me segue.

— Você precisa dar um jeito nessas mulheres, Elai, não gosto de violência,
mas me segurei para não ir aos tapas com aquela garota.

— Desculpa. — Ele passa a mão pelo cabelo.

Abro a porta, ele entra comigo e vai logo atrás de um copo para pegar
água. Ignoro.

— Onde você foi? — Leva o copo à boca.

Levanto uma sobrancelha, olhando para ele.

— Estava em uma entrevista de emprego.

Ele para de beber a água e se aproxima de mim, sério.


— Se você está precisando de dinheiro é só me falar que eu te dou.

— Vou fingir que você não falou isso. — Tento passar por ele, mas sinto a
sua mão em volta do meu braço, me fazendo parar.

— Você não precisa trabalhar, Lu, tenho dinheiro mais do que suficiente
para que você não trabalhe nunca.

— Eu não preciso do seu dinheiro, Elai, posso muito bem trabalhar.

— Era uma entrevista para qual trabalho?

— Modelo — afirmo, com uma expressão séria.

— Você só pode estar brincando com a minha cara?!

— Não estou vendo brincadeira nenhuma.

— Modelo, Luiza? Você vai ser modelo?

— Sim, Elai, vou ser modelo. Qual o problema nisso?

— Você é muito ingênua para ser modelo. Já fiquei com modelos, sei
muito bem como aquele mundo é. Eles vão acabar com você.

— Que você já ficou com modelo não é novidade nenhuma, afinal, você já
ficou com tantas mulheres que tenho certeza de que já deve ter perdido a conta,
fora que não estou me preocupando com a sua opinião.

— Que necessidade disso, se você já está trabalhando? E já te falei, te dou


o dinheiro que quiser, você está grávida, Luiza, grávida de um filho meu.

— Gravidez não é doença, e enquanto eu puder, vou trabalhar sim. Não


importa se em uma agência de modelos ou em qualquer lugar. E você não tem
nada com isso.
Falo tudo de uma vez. Sustento o seu olhar e ele me encara com ódio, mas
solta o meu braço.

— Essa nossa conversa não terminou. Não quero você trabalhando como
modelo.

— Estou pouco me importando para o que você quer. Vou começar o mais
rápido possível.

Ele aperta a boca com força, em uma linha reta, mas se vira e sai batendo a
porta.
CAPÍTULO 14

Bato com força a porta do apartamento. Um ódio tão grande me domina.

Vou direto para o banheiro e fico um tempo no chuveiro, tentando esfriar a


cabeça. Apoio minhas mãos na parede e as fecho em punho, de pura raiva.

— Modelo? Como que isso foi acontecer. Luiza, modelo? — Balanço a


cabeça, inconformado.

O que me deixa a ponto de explodir é a petulância dela em me desafiar.


Sinceramente, não sei o que está acontecendo com ela. Ela sempre ficava quieta,
na dela. Não serei burro em falar que não percebia os olhares que ela vivia me
dando, mas era normal, então não me importava. Para falar a verdade, sempre vi
a Luiza como uma irmã. Até o dia do seu aniversário. Vê-la daquele jeito...

Tudo nela naquele dia cheirava a excitação e confesso que gostei. Gostei
demais de tê-la nos meus braços. E aquela boca!

Luiza tem uma boca perfeita, grande, e é um verdadeiro pecado.

Balanço a cabeça, tentando tirar a imagem da sua boca se abrindo devagar


quando a fiz gozar. Sinto o meu pau totalmente duro e o seguro com força.
Fecho os olhos e começo os movimentos de vaivém. Estou fazendo uma
coisa que não faço desde os meus 15 anos, que é me masturbar. Mesmo sentindo
prazer, sinto também muito ódio em saber que estou fazendo isso e imaginando
Luiza na minha frente.

Os movimentos ficam mais rápidos. Solto um gemido rouco quando


finalmente gozo.

Termino o banho revoltado por ter feito isso, mas o que mais me revolta é
saber que isso não me satisfaz. Preciso transar e tentar tirar aquela maldita boca
dos meus pensamentos.

Já são 22h.

Me arrumo, coloco um terno todo preto, mas dispenso a gravata, e deixo


três botões da camisa aberta. Pego tudo que preciso e saio do apartamento.
Observo a porta do apartamento de Luiza. Só isso faz com que eu sinta o meu
pau se contraindo dentro da cueca.

— PORRA! — esbravejo, e vou direto para o elevador.

Decido ir até uma boate. Preciso me divertir, tentar esquecer tudo. Luiza
modelo, e filho.

Evito ficar pensando nessa criança, evito porque se eu ficar pensando


muito vou acabar ficando louco com essa criança e com a sua mãe.

Chego na boate e sinto um cheiro forte de cigarro. Um cheiro que já me


acostumei. Vou direto para o bar pedir uma dose de uísque e a viro na boca.
Fecho os olhos, sentindo o gosto forte. Peço mais uma, mas quando vou virar
ouço uma voz.

— Calma, gato, assim não vai aproveitar a noite. — Me viro e vejo uma
mulher loira com um decote que não deixa nada para a imaginação.
Sorrio para ela.

— Depende, você vai aproveitar comigo?

Ela sorri, tão fácil.

A mulher então se aproxima do meu ouvido.

— Adoraria. — E dá uma pequena mordida na minha orelha. Já sinto o


meu pau se contrair.

— Gostei de você. Elai, muito prazer. — Dou um beijo na sua mão.

Ela sorri mais uma vez.

— Cristal.

— Cristal — falo seu nome, sentindo cada letra saindo devagar. — Belo
nome, combina com a dona.

— Galanteador.

— Só com quem me interessa, quer uma bebida?

— Claro. — Ela se aproxima mais e sinto o seu perfume doce preencher o


meu espaço.

Ela bebe a sua bebida, mas os seus olhos não saem de cima de mim.

— Gostaria de dançar?

— Não sou muito bom em dançar, mas com você acho que abrirei uma
exceção.

Ela sorri, segura a minha mão e vamos andando até a pista de dança. As
luzes piscam sem parar. Seguro na sua cintura, fazendo com que o seu corpo se
encoste no meu.

Começamos a nos movimentar conforme a música. Ela se esfrega


sensualmente em mim e a seguro com mais força.

Ela se vira, segurando no meu pescoço, e sem delongas encosta a sua boca
na minha. Intensifico o beijo, mas continuamos os movimentos da música. A
trago para mais perto e sinto o seu corpo se esfregando no meu. Não deveria ter
ficado tanto tempo sem transar.

Quando penso nisso lembro do que falei para Luiza. Que eu gostaria de
tentar, mas isso está acabando comigo. Preciso transar e tentar tirar Luiza da
minha cabeça.

— Vamos até o meu apartamento?

Ela me observa por um momento, pensando na minha proposta.

— Ótima ideia.

Sorrio para ela. Hoje não estou a fim de enrolar. Quero um bom sexo, do
jeito que eu gosto, e com essa garota tenho certeza de que terei.

Saímos da boate e vou direto para o carro. Abro a porta para ela e
entramos. Ligo o carro e acelero. Ficamos em silêncio, mas levo um susto quando
sinto a sua mão acariciando a minha ereção. Me viro para ela.

— Assim é covardia. — Suspiro.

— Eu queria fazer outra coisa — fala cheia de intenções.

— Não estou te impedindo. — Sorrio.

Ela entende, e a sua pressão na minha ereção aumenta. As suas mãos são
hábeis. Ela abre a minha calça e retira o meu pau de dentro da cueca. A safada
sorri para mim antes de abaixar a cabeça. Encosto mais no banco do carro para
dar mais espaço para ela. Sinto a sua boca quente chupando e brincando com a
língua, em movimentos circulares. Tento a todo momento não fechar os olhos e
prestar atenção no trânsito, mas a todo momento penso que vou gozar. Ela o
coloca todo na boca e logo em seguida o tira, e faz isso diversas vezes seguidas.
E de novo. E de novo.

Solto um suspiro, aperto uma perna na outra e sinto que vou gozar a
qualquer momento. Ela percebe, porque começa a me chupar com mais rapidez.

Quando gozo, acelero o carro. Por sorte, estamos em uma avenida não
muito movimentada.

Eu a observo, e ela levanta a cabeça. Lambe os lábios e olha para mim.

— Você é muito gostosa, não faz ideia do que pretendo fazer com você.

— Estou louca para saber.

Em menos de vinte minutos, chegamos. Estaciono o carro na garagem do


prédio e saímos. No elevador, a pressiono contra a parede e começamos a nos
pegar ali mesmo. Acaricio a sua boceta por cima da sua calcinha. Ela abre mais
as pernas. Beijo o seu pescoço e com a outra não aperto o seu peito com força.
Ela começa a se movimentar para frente e para trás na minha mão. Eu a sinto
úmida, pronta para o que eu quero. Poderia parar esse elevador e comê-la aqui
mesmo, sem nenhum pudor, mas não quero. Quero ouvi-la gritar muito.

O elevador para e saímos. Não tem ninguém no corredor e vamos direto


para o meu apartamento. Entramos, fecho a porta e me viro para ela, que não
perde tempo e retira o seu minúsculo vestido, ficando somente com uma calcinha
de renda preta. Retiro o blazer lentamente, olhando direito para ela. Então retiro a
blusa.

Fico na sua frente, seguro no seu pescoço, a trazendo mais para a frente.
— Você não faz ideia do que quero fazer com você. — A minha voz sai
rouca.

A beijo com intensidade e seguro na sua bunda com força. Sei que deixarei
várias marcas no seu corpo.

Ela entrelaça as pernas na minha cintura firmemente, segura o meu


pescoço e corresponde os meus beijos.

A levo até a cama, a coloco ali e retiro a sua calcinha. Eu a deixo aberta
para que eu faça o que quiser.

Retiro os meus sapatos e depois a calça junto com a cueca.

Ela me observa com os olhos cheios de desejo. Me aproximo diretamente


até a sua boceta e começo a chupá-la intensamente. Enfio dois dedos e Cristal
geme a cada investida minha. A chupo devagar, mas os meus dedos são rápidos.
Ela está molhada. Passo o meu dedo pelo seu ânus devagar e vou enfiando. Ela se
remexe manhosa, querendo mais, então intensifico com os meus dois dedos na
frente e um dedo atrás. A chupo, e passo a língua devagar pelo seu clitóris
inchado. Ela começa a se debater com o orgasmo que chega rápido.

Ela goza na minha boca, mesmo assim continuo a meter os meus dedos até
que a vejo se desfazendo na cama.

Pego uma camisinha e a coloco.

A ponho de quatro com aquela bunda empinada para mim. Enfio o meu
pau todo na sua boceta, estoco com força e seguro em cada lado da sua cintura.
Retiro quase todo o meu pau e enfio de novo. A ouço gritar de prazer. Dou um
tapa com força na sua bunda e vejo o tom vermelho se formando lá. Ela se
movimenta para a frente e para trás, rebolando no meu pau. Deixo que ela faça o
que quiser. Acaricio as suas costas lentamente.
A viro de frente para mim e me movimento de novo e de novo.

— Vou te comer do jeito que quero.

Ela sorri para mim.

— Pode comer do jeito que você quiser.

Sinto as suas mãos acariciando o meu peito e rosno de prazer. Retiro o meu
pau da sua boceta e o coloco devagar no seu ânus. No começo sinto um pouco de
resistência, mas é só fazer uma pressão que ele entra todo.

Uma estocada mais rápida que a outra e acaricio o seu clitóris. Logo em
seguida enfio dois dedos na sua boceta.

Ficamos assim por mais uns dez minutos até que ela não consegue se
controlar e tem outro orgasmo, gozo logo em seguida.

Retiro o meu pau de dentro dela.

Vou até o banheiro e retiro a camisinha, me certifico de que ela não


estourou e por alguma razão sinto um aperto no peito, mas ignoro.

Chamo Cristal para tomar um banho, e ela aceita. Fazemos mais sexo ali
mesmo, encostados na parede. Ela termina primeiro que eu. Quando saio do
banheiro a vejo só com a minha blusa.

Ela sorri.

— Estou com sede.

— Tem água na geladeira. — Dou um passo para sair do quarto.

— Não precisa, eu pego.

Ela não espera resposta e sai.


Pego uma calça de moletom, mas ouço a campainha tocando. Quando
chego na sala, vejo Cristal, mas o meu maior espanto é ver Luiza parada, olhando
para Cristal de cima a baixo.

— Merda! — resmungo baixo, indo em direção à porta.

Me viro para Cristal.

— Me espera no quarto.

Ela apenas sai rebolando em direção ao quarto. Me viro para Luiza e vejo
algo no seu olhar. Achei que veria ódio, mas vejo decepção.

Ignoro mais uma vez o meu coração acelerado.

— O que você está fazendo aqui, Luiza?

Ela abaixa a cabeça por um momento e logo em seguida a levanta, os seus


olhos estão brilhando e sei que são lágrimas prontas para cair. Dou um passo em
sua direção e levanto a mão para tocar o seu rosto, mas não consigo, ela dá um
passo para trás.

— Não te prometi nada. — De todos as coisas que poderia ter falado,


escolhi a mais idiota.

Ela me observa por um tempo, balança a cabeça, como se quisesse dissipar


os seus pensamentos, e me encara.

— Então a parte do quero te conhecer melhor foi o quê? — ela fala baixo.

— Eu estava estressado com a nossa discussão.

— E o seu jeito de resolver foi se enfiando no meio das pernas de uma


mulher — ela fala baixo, e engulo o meu orgulho.

Tento me aproximar mais uma vez, mas ela não deixa.


— Desculpa.

Ela sorri.

— Por que desculpa? Você não me prometeu nada.

Ela usa as minhas palavras contra mim. A vejo se virar de costas e dar um
passo em direção ao seu apartamento, mas a impeço. Seguro seu braço, a
parando. Vejo as lágrimas rolando pelo seu rosto e algo dentro de mim se quebra
neste instante.

— ME SOLTA — ela grita.

Eu a encaro, sem obedecer.

— Vamos conversar.

— Não tenho mais nada para falar com você. — Ela limpa o rosto. — De
amanhã em diante, não vou mais com você para o trabalho.

Abro a boca para contestar, mas Luiza não deixa.

— De hoje em diante, o nosso único assunto vai ser apenas essa criança,
nada mais que isso. Faça da sua vida o que desejar, Elai.

— Para com isso, eu sempre fui assim, Lu, não ia mudar de um dia para o
outro.

— Não me chame de Lu. — Ela se debate, querendo que eu a solte.

Como não quero que se machuque, a solto.

— Lu — falo baixo.

— NÃO ME CHAME DE LU! — ela grita tão alto que o seu rosto fica
todo vermelho.
A porta do apartamento se abre e Laura sai mais uma vez segurando o taco
de beisebol. Ela me encara com ódio, dá um passo em nossa direção, mas Luiza
se vira para ela.

Sei o que ela viu, as lágrimas, e sei que neste momento o seu único
pensando é me matar. Laura segura Luiza pelo ombro. Elas voltam para o
apartamento e não olham para trás.

Sinto as mãos da Cristal acariciando o meu peito e seguro na sua mão, a


afastando.

Ela me olha sem entender o motivo, passo a mão pelo cabelo, nervoso.

— Vamos terminar?

— Desculpa, mas não vai dar, é melhor você pegar as suas coisas e ir
embora. — Pego a minha carteira, retiro umas notas e dou a ela.

Cristal me encara com ódio e as joga na minha cara.

Ela não espera que eu fale que é apenas para o táxi, e sai com ódio em
direção ao quarto. Então volta e pega o seu vestido, o coloca, olhando para mim.
Abro a boca para falar com ela, mas ela simplesmente dá um tapa no meu rosto, e
sai.

Fecho os olhos com força, e bem neste momento percebo a merda que fiz
para a Luiza. Ela nunca vai me perdoar. Na verdade, não sei se eu vou me
perdoar.

Vou em direção ao quarto e me jogo na cama. A imagem dela chorando


não sai da minha cabeça, e neste momento me amaldiçoo por tudo que fiz a ela.
CAPÍTULO 15

Ficamos sentadas no sofá.

— Calma, Lu.

Ouço a voz de Laura. Fecho os olhos e a imagem de Elai com aquela moça
não some.

Abro os olhos.

— Eu estou bem, Laura, pode ficar tranquila.

Dou um sorriso, tentando demonstrar a ela a verdade em minhas palavras.

— O que ele fez para você?

Não quero dizer, sinceramente nunca pensei que poderia gostar e odiar
uma pessoa ao mesmo tempo. Mas isso mudou assim que encontrei Elai.

— Elai só mostrou o que ele sempre foi, uma pessoa que só pensa em
sexo. Para falar a verdade, já deveria ter me acostumado com isso. — Dou um
suspiro. — Pode ficar tranquila, eu estou bem, só te peço uma coisa: não conte a
ninguém, principalmente para as meninas, não quero que elas se preocupem.
— Não contarei, pode ficar tranquila. — Ela fecha as mãos em punho. —
Luiza, sei que nos conhecemos há pouco tempo, mas te considero uma amiga. E
como amiga sinto que tenho que te falar isso.

— Eu também te considero uma amiga, pode falar.

— Elai é daquele tipo de homem que está acostumado a ter tudo que quer,
ele é um mimado. Pensei que ele poderia mudar pelo filho, mas não, ele não
mudou. Sei que você gosta dele, está escrito na sua cara. — O meu rosto fica
superquente. — Eu entendo, mas não se machuque amando um homem que
pouco se importa com esse sentimento. Você, minha amiga, merece mais. Eu não
vi o que ele fez, mas posso imaginar. Viva a sua vida, Lu, você tem uma
oportunidade perfeita nas mãos para agarrar com unhas e dentes, e seja feliz. E
saiba sempre estaremos aqui por você.

Os meus olhos se enchem de lágrimas.

— Obrigada — falo baixo.

— Calma, vai dar tudo certo, e não esqueça, o contrato está tudo certo,
pegue essa oportunidade, Lu.

Laura me abraça, e nos seus braços faço um juramento para mim mesma:
Não deixarei Elai ser mais importante na minha vida. Pensarei em mim e nessa
criança em primeiro lugar. Isso é uma promessa.

Não consigo dormir direito a noite toda, não só por tudo que aconteceu,
mas pelos enjoos.

Acordo cedo, faço um café e fico na sala sentada. Seguro a xícara com
força, sentindo o calor se espalhando pela minha mão.

Logo depois que eu sair da casa de Isabela, irei me encontrar com Nathan
para entregar-lhe o contrato assinado.
Quando termino o café da manhã, pego a minha bolsa e dou um suspiro,
olhando para a porta. A abro, e logo de cara vejo Elai parado em frente à porta do
seu apartamento, reviro os olhos e saio.

Ele me segue, mas ignoro. Espero o elevador chegar e penso sinceramente


em não entrar com ele, mas quando o elevador chega dou um passo e entro. Não
deixarei de fazer o que eu quero por Elai. Nunca mais.

Ele entra comigo. Fico encostada na parede, bato repetidas vezes o meu pé
no chão para ver se o tempo passa rápido.

Ouço um suspiro vindo dele, mas não me viro.

— Você não vai conversar comigo?

— Não tenho nada para conversar com você — digo, mas continuo a olhar
para o mesmo lugar.

Sinto ele se movimentar e fecho os olhos com força quando vejo que ele
aperta o maldito botão.

Mesmo não querendo, olho para ele e vejo que não foi somente eu que não
dormiu bem essa noite. Duas manchas escuras estão abaixo dos seus olhos.

Tento passar por ele para apertar o botão do inferno, mas ele se coloca na
frente, impedindo que eu chegue perto.

— Não estou com paciência para isso, Elai, sai da minha frente.

— Preciso conversar com você.

— Não, você está impondo que eu converse com você, afinal, como irei
sair daqui, não é mesmo?

— O que está acontecendo com você, Luiza, você não é assim.


— Eu era uma boba apaixonada, isso sim.

Ele me encara.

— Vai me dizer que você nunca percebeu, me poupe, Elai.

— Sabia que você gostava de mim, Lu, mas não que estivesse apaixonada.

— Agora você sabe, me deixa sair. — Sinto o meu coração acelerado e


engulo em seco.

Mas diferente de tudo que eu pensei que ele fosse fazer, ele dá um passo
em minha direção e dou dois, me encostando na parede. Ele não para de encurtar
a distância entre nós, ficando na minha frente. Sinto a sua respiração no meu
rosto. Tento me controlar.

— Para com isso, Elai, você não tem esse direito — falo baixo.

— Me desculpa por tudo.

— Não, eu não te desculpo. Sai da minha frente. — O encaro com ódio.

— Podemos tentar, me perdoa.

Sorrio sem graça para ele.

— Pensei que estávamos tentando até ontem, mas percebi que era somente
eu.

— Lu, eu não consigo ficar sem sexo, já tinha uma semana que não tinha
uma relação sexual, eu sei que não é desculpa para o que eu fiz, mas tente
entender.

— Sinceramente, vou fingir que não ouvi o que você acabou de falar, é
melhor para a minha saúde mental.
Tento passar por ele mais uma vez, mas não consigo.

— Por favor, sai da minha frente, eu não quero me estressar com você.

— Então aceita sair comigo hoje à noite.

— Elai, pare de ficar impondo o que quer, as coisas não funcionam desse
jeito.

— Só quero conversar com você direito.

Dou um suspiro, afinal, posso falar que irei, mas com certeza não vou. Dou
um sorriso para ele.

— Ok, Elai, eu aceito sair com você.

Ele dá um sorriso para mim. Correspondo, mas dentro de mim o ódio só


aumenta. Ele está tão acostumado a ter tudo que quer, igual Laura disse, que faz
de tudo para conseguir. Por que a minha ficha só caiu agora?

Saímos do elevador.

— Vamos — ele fala, ao lado do carro.

— Eu não vou com você, eu ter aceitado sair hoje não muda nada que falei
com você ontem.

Ele passa a mão pelo cabelo, nervoso.

— Você sabe que ainda não pegamos a pessoa que está ameaçando todos
próximos a Isabela. Não posso deixar você ir sozinha.

— Acho que você que não entendeu o que eu falei. De hoje em diante, não
irei com você, respeita a minha decisão.

Ele se aproxima novamente.


— Não posso deixar você ir sozinha, você está carregando um filho meu
— ele fala alto, mas quando percebe que falou que o filho era dele, fica um pouco
nervoso, e resmunga algo.

— Sim, o filho é seu, mas quem está carregando sou eu, a mãe dele, então
te falo pela última vez. NÃO VOU COM VOCÊ! — grito.

— Ok, Lu, irei seguindo o táxi.

— Faça o que achar melhor — digo, me distanciando.

Entro no táxi e o meu coração está acelerado. Sei que ele está nos
seguindo, mas não me importo.

Já no apartamento de Isabela, vou direto para o quarto de Liz, não quero


ficar muito tempo próxima a Elai.

Abro a porta e vejo Isabela. Ela está olhando pela janela que nem percebe
que cheguei. Estranho a sua atitude.

— Isabela.

Ela se vira para mim e percebo que chorou. Seus olhos estão inchados. Me
aproximo.

— O que aconteceu?

— Nada de mais. — Ela suspira.

— Por que não acredito em você?

— Não é nada importante. Só algo que descobri, não precisa se preocupar.

— Ok, mas você está bem, né?


— Estou. Pode ficar tranquila. — Ela sorri para mim, mas sinto que
aconteceu alguma coisa e tenho certeza de que é grave. — E o bebê?

— Está bem, tirando os enjoos. Principalmente de manhã.

— É normal. Quando eu estava grávida da Liz também passei mal. — Ela


pega sua bolsa. — Bem... acho melhor eu já ir, está na minha hora.

— Ok, tchau.

Ela se despede e sai. Mesmo Isabela falando que está bem, não acredito,
sinto que aconteceu algo sério e por um momento penso no poderia ser.
CAPÍTULO 16

Fecho o meu notebook com força e tento controlar as lágrimas para que
elas não sejam derramadas, mas é impossível.

Como contarei isso ao meu pai? Pior ainda, ao Nicolai. Sei que assim que
eu abrir a boca a vida dela estará nas mãos dele.

Me levanto, sentindo a minha garganta doer aos poucos. Me seguro para


não chorar mais. Preciso ter certeza. Mas afinal, a quem eu quero enganar? Tenho
essa certeza, só não quero acreditar que seja verdade. Ouço o choro de Liz e saio
dos meus pensamentos por um momento, caminhando até o seu quarto. Me
aproximo do seu berço e vejo o seu pequeno rostinho molhado de lágrimas.

— O que aconteceu, meu amor? — digo, a pegando no colo,


impressionante como ela está grande. — Hein… minha linda princesinha, o que
foi?

Até parece que ela vai responder, né, Isabela?, penso.

Troco a fralda dela, a pego nos braços e vou conversando com Liz até
chegar na sala. Me sento no sofá e a coloco no meu colo.
Ela para de chorar, ligo a TV e coloco Naruto para assistir. Ela fica
observando, e de vez em quando sorri.

— Sua boba. — Aperto a sua bochechinha gorda.

Ficamos assim no sofá por um tempo, mas não consigo prestar atenção no
que se passa na televisão. Preciso encontrar com o meu pai e tirar todas as minhas
dúvidas. Dou um suspiro. No fundo, não quero que seja verdade, porque se for eu
não saberei o que fazer, afinal, de um lado tem o meu pai, mas do outro o meu
marido.

Preparo uma mamadeira com Liz no colo. Já são 5h da tarde e Nicolai


ainda não chegou. Dou banho nela e a arrumo, logo em seguida a alimento. Em
pouco tempo ela dorme. Confiro se a babá eletrônica está ligada e saio, pego o
meu notebook e vou até a sala. A televisão continua ligada, mas a ignoro.
Quando coloco o programa de localização no sistema da polícia fico aguardando
dias até que a pessoa que mandou os documentos da primeira vez tente
novamente.

Quando vejo a mensagem na tela do computador fico animada, enfim


saberei quem mandou os documentos, mas descubro que a pessoa fez isso de uma
Lan House. Invado o sistema da Lan House e consigo as imagens do sistema de
segurança, e com o número de identificação do computador é só observar as
imagens.

Mas nada estava me preparando para ver aquela cabeleira loira na tela.
Pisco várias vezes achando que é coisa da minha mente, mas não, o meu coração
se aperta no peito ao imaginar o meu pai quando descobrir. Mesmo ele não
falando, sei que ficou mal quando descobriu da sua esposa. E agora isso, a sua
própria filha é quem está fazendo tudo isso com Nicolai e todos que estão
envolvidos com ele. A minha garganta se aperta novamente.
Valentina nunca quis conversar comigo, e sempre que eu perguntava ao
meu pai sobre ela ele mudava de assunto. Na última vez em que conversamos,
consegui tirar a informação de que ela tinha ido para outro país fazer faculdade,
mas não é o que está escrito aqui. Observo novamente a tela do notebook.

Ela nunca saiu do país, continua na Itália.

Ouço alguém entrando e me viro para ver Nicolai se aproximando. Ele está
sério, mas assim que olha para mim vejo um pequeno sorriso surgir. Ele se
aproxima, me dá um pequeno beijo e se senta no sofá.

— Aconteceu alguma coisa? — pergunto, preocupada.

Nicolai suspira alto, mas dá um pequeno sorriso para mim.

— Nada de importante.

Sei que ele está mentindo, sinto isso, e sei que é sobre a pessoa que está
planejando os atentados, ou seja, Valentina. Posso acabar com isso, sei que posso,
mas tem o meu pai, e sei que ele a ama, afinal, ela também é sua filha.

— Tem certeza?

— Absoluta. — A sua expressão muda. — Vem cá! — Ele bate no sofá ao


seu lado. Levanto uma sobrancelha e olho para ele.

— O que eu ganharia com isso? — Sorrio.

— Isabela — ele diz o meu nome com a voz arrastada. — Posso pensar em
muitas formas de te pagar, o que me diz? — Ele sorri levemente.

Me aproximo e fico ao seu lado. O meu coração dispara. Impressionante


como eu amo esse homem.

— Estava com saudades de você.


Ele aproxima a sua boca do meu pescoço e sinto um arrepio passando por
todo o meu corpo.

— Eu também — falo baixo.

— Por que não me mostra o quanto?

Mesmo ele não vendo, sorrio. Me sento no seu colo. Nicolai não fala nada,
apenas me encara.

Com uma mão, seguro no seu pescoço, com a outra, a levo até o seu cabelo
e começo a movimentá-la lentamente, sentindo a maciez dos seus fios. Me
aproximo a centímetros da sua boca e o vejo engolindo em seco. Gosto disso,
gosto de sentir a pele dele se esquentando a cada toque, gosto de senti-lo
completamente duro. Me movimento no seu colo para comprovar o que eu já
sabia.

Nicolai segura a minha cintura com força e aproxima os lábios dos meus,
sinto a urgência do seu toque e a necessidade de continuar a me apertar em seus
braços. O doce dos seus lábios se misturando aos meus. A força das suas mãos
apertando a minha cintura.

— Vamos para o quarto? — ele sussurra, sua voz consegue ficar mais
rouca.

Apenas balanço a cabeça e concordo com ele. Não consigo pronunciar uma
única palavra. O meu coração parece que a qualquer momento vai sair do meu
peito.

Subimos até o nosso quarto, seguro no seu pescoço, ele começa a tirar o
blazer e logo em seguida a blusa social. Passo a minha mão pelo seu peito e sinto
cada músculo rígido se contraindo...
Ele segura na barra do meu vestido já pronto para tirá-lo. Estou louca de
expectativas.

Entretanto, ouço Elizabeth chorar e paramos na mesma hora. Observo


Nicolai fechar os olhos com força, como se com esse gesto fosse mudar algo.
Sorrio.

Ele me encara.

— Ela parece que adivinha. — Balança a cabeça.

— Parece que sim. Vou lá pegá-la.

— Pode deixar que eu vou.

Ele não espera a minha resposta, apenas sai do quarto. Balanço a cabeça e
vou até a cama, me encostando na cabeceira.

Ouço Nicolai falar algo baixo para Liz, logo após ele entra com ela nos
braços e se senta ao meu lado.

— Mas você não gosta de dormir mesmo, né? — pergunto, e aperto sua
bochecha, ela sorri.

— Desse jeito não vamos fazer um irmãozinho para você.

Me viro e encaro Nicolai. Ele dá um pequeno sorriso para mim.

— Muito engraçado.

Ele não responde, apenas continua segurando a mão da filha e brincando


com ela.

Preciso conversar com o meu pai o mais rápido possível, tenho que
descobrir onde está Valentina para enfim dar um fim nisso que está acontecendo.
Encaro mais uma vez a minha filha.
Não deixarei que ninguém machuque quem eu amo, nem mesmo a minha
irmã. E se para isso eu tiver que enfrentá-la, eu irei.

Aperto a minha mão em punho para ter certeza de que está acontecendo
isso comigo mesmo.

— Que bom que você aceitou, Luiza. — Nathan sorri para mim. Já tem
alguns minutos que estou no seu escritório. Vim trazer o contrato assinado. Não
vou desperdiçar essa oportunidade.

— Estou muito feliz — falo com sinceridade.

— Está acontecendo uma sessão de fotos agora mesmo. Se você quiser,


posso te levar até lá. Acho que seria uma ótima oportunidade para você conhecer
algumas pessoas e ver tudo. O que me diz?

Não tenho nada para fazer agora, já são 15h.

— Se não for incomodar, eu aceito.

— Não é incômodo nenhum. — Ele se levanta, e faço o mesmo.

Andamos até chegar perto de um carro preto. Nathan abre a porta para
mim, agradeço e entro.

Continuo com um pequeno sorriso no rosto, mas seguro uma mão na outra,
tentando controlar o meu coração acelerado, só desejo que dê tudo certo.

— Vai ser bom para você ver tudo antes de começar. — Ele sorri.

— Tem certeza de que não estou te atrapalhando em nada?


— Pode ficar tranquila, Luiza, não está me atrapalhando.

Balanço a cabeça e concordo com ele.

Depois de uns vinte minutos chegamos em frente a um hotel. O carro para


e saímos, ele, a todo momento, fica ao meu lado.

Passamos pelo hall do hotel. Um pequeno sorriso está estampado no seu


rosto e me pego o observando. De uma hora para outra ele me encara e o meu
rosto esquenta. Aperto uma mão na outra.

— Aconteceu alguma coisa?

— Não — falo sem graça.

— Ok — ele responde, mas vejo uma sobrancelha levantada no seu rosto.

Evito ficar o encarando. Na presença de Nathan fico sem graça, mas ao


mesmo tempo me sinto bem, é uma mistura de sensações que não consigo
entender.

Passamos por uma porta de vidro e fico olhando a movimentação no


jardim. Aqui deve ter pelo menos umas dez pessoas. Tem uma mesa repleta de
frutas e sanduíches e uma variedade de sucos ao lado.

Duas moças estão arrumando o vestido da modelo, que sinceramente está


impecável.

A observo, e o meu olhar vai para o vestido preto esvoaçante. Agora


entendo como nas fotos sempre o tecido parece estar em movimento. Tem
ventiladores por todo lado. Acabo sorrindo.

— Qual o motivo do sorriso? — Nathan pergunta.


— Entendi como as fotos são feitas, mas confesso que deve dar muito
trabalho.

— Dá trabalho, mas do começo até o final é uma experiência muito boa —


ele fala, e observa ao redor, os seus olhos vão para o meu rosto. — Vem, vou te
apresentar ao pessoal.

Ele me apresenta a um rapaz que não deve ter nem 20 anos.

— Nossa, Nathan! Onde você encontrou uma moça tão bonita? — o jovem
pergunta a ele, mas os seus olhos não saem de mim. — Desculpa, não me
apresentei. Sou o Lucky, responsável pela maquiagem.

— Muito prazer, Lucky, me chamo Luiza.

— Luiza — ele pronuncia o meu nome devagar. — Que nome lindo.


Brasileira? — pergunta.

— Sim. Como soube? — Olho para Nathan, mas ele apenas faz uma
expressão de que não faz a mínima ideia de nada.

— O seu sotaque me lembra quando fui ao Brasil para uma sessão de fotos
para uma revista.

— Gostou de ir ao Brasil?

— Claro! Principalmente quando fui à praia. Havia cada homem lindo —


ele diz, se abanando.

Sorrio.

— Vem, Luiza, tenho que te apresentar para o restante do pessoal.

— Prazer em te conhecer, Lucky — digo com sinceridade.

— O prazer foi meu.


Nathan me apresenta a duas moças que estão ajeitando o vestido da
modelo. Descubro também que, de vez em quando, é Nathan que fica responsável
pelas fotos.

Gostei de cada um aqui. Todos diferentes, mas ao mesmo tempo amigos. O


meu coração se enche de alegria em saber que vou fazer parte disso.

— Peguei algumas coisas para você comer. — Ele me entrega um


sanduíche com um copo de suco.

— Obrigada, mas não estou com muita fome.

Ele se senta ao meu lado e coloca as coisas na pequena mesa à minha


frente.

— Estamos aqui há duas horas, Luiza, e não a vi comer nada nesse tempo.
Ou se esqueceu que está grávida? — ele fala sério, e só neste momento percebo
que estou aqui há um tempo.

— Fiquei tão encantada com tudo que acabei esquecendo — respondo com
sinceridade.

— Eu virei em todas as sessões de fotos, me certificarei de que você se


alimente direito. — Ele aponta para o lanche.

Pego o suco e começo a beber. Ele observa por um tempo, se certificando


de que estou realmente bebendo, e olha para a sessão de fotos, agora com outra
modelo, uma loira com o vestido de noiva mais lindo que já vi. Termino de comer
em silêncio.

— Vamos, vou te levar para sua casa.

— Não precisa, eu pego um táxi, tenho certeza de que você tem muitas
coisas para fazer.
— Nada que não possa esperar um pouco.

Não respondo, apenas balanço a cabeça, e concordo com ele.

Já no carro, ficamos em silêncio. O trajeto é rápido. O carro para em frente


ao meu prédio e me viro para Nathan.

— Muito obrigada por tudo.

— Adorei passar o restante da tarde com você. E aí? Gostou do que viu?

— Eu amei tudo, me senti em um mundo mágico onde tudo pode


acontecer.

— É mais ou menos isso mesmo.

— Eu gostei mesmo de tudo, muito. Obrigada, Nathan.

— Não por isso, tenho certeza de que você se dará muito bem com tudo.
Bom, vou olhar a agenda assim que chegar no escritório e te mando o endereço, e
tudo certo. Não me lembro onde vai ser a sessão de fotos do próximo ensaio, mas
se for muito longe peço para virem buscar você.

— Tem certeza? Posso pegar um táxi.

— Tenho sim, e é mais seguro. Não gosto que as modelos fiquem indo a
lugares longe de táxi. Assim é mais seguro para vocês.

Ele sai. Fico por um momento pensando nas suas palavras que nem
percebo que ele abriu a porta para mim.

Sorrio, e saio do carro.

— Até breve, Luiza.

— Até breve, Nathan.


Entro no prédio com o coração acelerado de tamanha emoção.

Pego o elevador e por sorte está vazio. Sorrio abertamente para o meu
reflexo no espelho do elevador. As minhas bochechas estão vermelhas, mas não
me importo, estou tão feliz.

Abro a porta do apartamento e ele está silencioso. Vou direto para o


banheiro tomar um banho. Ao terminar, me visto com uma roupa confortável e
preparo uma pipoca, indo para a sala, onde ligo a televisão e começo a assistir a
um filme.

Percebo que dormi quando ouço batidas à porta. Pego o celular e vejo que
já são 20h. Meu Deus, eu dormi demais! Acabo sorrindo.

Me levanto, vou até a porta e abro. Vejo Elai arrumado com um terno
preto, o cabelo sem um fio fora do lugar, e sinto o cheiro forte do seu perfume. O
meu estômago se embrulha na hora. Corro desesperadamente para o banheiro e
vomito tudo que comi. Fico assim por uns minutos.

— Você está bem? — Ouço a sua voz atrás de mim.

Respiro fundo e me levanto. Dou descarga no vaso e vou direto para a pia,
lavo o meu rosto e a minha boca, pego uma toalha e seco. Me observo no
espelho, estou pálida.

— Merda! — resmungo baixo.

Saio do banheiro e Elai vem para perto. Coloco o meu braço para a frente,
como uma barreira entre nós.

— O que está acontecendo, Luiza? — pergunta sério, reviro os olhos para


ele.

Agora eu percebo que toda vez que passo mal ele dá ataque.
— O seu perfume está me enjoando — falo baixo.

Ele me encara com uma sobrancelha levantada.

— Eu uso este perfume todos os dias e você nunca reclamou.

— É, pode até ser, mas eu não estou conseguindo nem ficar perto de você.

— Ok, depois resolvo isso, mas a pergunta que quero fazer é: por que você
não está arrumada para sair?

— Porque não vou sair com você. — Me sento no sofá.

Elai se aproxima e fica na minha frente. Levanto o olhar para ver o seu
rosto ficando mais vermelho a cada instante.

— Por que você não vai? Está passando mal?

— Só comecei a passar mal depois que você chegou com esse perfume.

— Você não tinha a intenção de ir?

— Nunca tive.

— Então por que disse que ia? — pergunta com raiva.

Me levanto e fico de frente para ele, mas sinto o seu cheiro e me afasto um
pouco.

— Porque se eu falasse que não ia, você ficaria me enchendo a paciência


naquele elevador.

Ele dá um passo para a frente, dou um para trás.

— Estou falando sério, Elai, vou acabar vomitando na sua cara, fica aí.

Vejo a sua boca se apertando com força, a sua mão está em punho, de ódio.
— Então o que você está fazendo? — Ele suspira.

— Estava assistindo a um filme, mas acabei dormindo. — Sorrio, mas ele


não corresponde, apenas se vira e sai pela porta, a batendo com força.

— Esse aí é doido. — Olho para a porta, coloco o filme novamente, pego


um copo de suco e me sento. — Dessa vez vou assistir.

Estou deitada no sofá quando a porta se abre novamente. Elai entra e para
ao meu lado. Não fico enjoada e percebo que ele tomou banho. O seu cabelo está
molhado, fora que não sinto mais o cheiro forte do seu perfume.

— Se senta direito.

— Por quê?

— Porque vou assistir ao filme com você.

Me sento direito, olhando para ele.

— Você não precisa fazer isso.

Ele se senta ao meu lado e o meu coração acelera.

— Preciso sim, tem muito tempo que não fico em um sofá com uma
mulher, principalmente com roupas. — Reviro os olhos para ele. — Mas acho
que vou gostar. — Ele pega a pipoca no meu colo, mas acaba fazendo uma careta
quando a coloca na boca e percebe que está murcha.
CAPÍTULO 17

Preparo outra pipoca e me sento no sofá. Evito olhar para Elai.

Acabo sorrindo de uma cena do filme e sinto o seu olhar em minha


direção. Inevitavelmente acabo olhando para ele.

O vejo me encarando de uma forma tão intensa que por um momento


ordeno em silêncio ao meu coração para que não dispare, mas é impossível.

— O que foi? — pergunto baixo.

Ele sorri para mim, um sorriso sincero, não um sorriso safado, e isso me
pega desprevenida. Engulo em seco.

— Você tem um sorriso lindo, sabia, Lu?

Tento não olhar para ele quando respondo, me viro e fito a televisão.

— O meu sorriso é normal. — Aperto a minha mão em punho.

— Ele é lindo, mas você é muito bonita também.

Não respondo, não fico encarando, apenas foco na televisão a minha frente
e nada mais. Não sei o que está acontecendo com Elai, ele não está agindo como
sempre e me pego pensando se ele bebeu, porque não tem outra explicação para
suas atitudes neste momento.

Coloco a mão dentro da vasilha de pipoca e sinto o calor da sua pele em


contato com a minha, estremeço.

Me viro para ele e o vejo observando a minha mão atentamente. Neste


instante estou me sentindo em um filme de comédia romântica. Respiro fundo,
retirando a mão de dentro da vasilha. Coloco o balde de pipoca entre nós, e falo a
mim mesma que esse gesto não é uma tentativa de fazer uma pequena barreira
entre nós.

— Você quer um suco?

Me levanto. Ele me observa por um tempo, e vejo o seu rosto vermelho.


Levanto uma sobrancelha, o encarando. Se essa pessoa sentada no sofá não fosse
Elai, eu poderia jurar que ele está com vergonha, mas isso é um sentimento que
tenho certeza de que ele não tem.

— Claro — ele confirma, com o mesmo sorriso safado para mim.

Esse sorrisinho é com certeza a sua marca, penso, balançando a cabeça.


Pego dois copos de suco e tomo o meu, me sentindo melhor.

— Não tem algo mais forte?

Começo a tentar respirar melhor, mas fico tossindo sem parar, com o susto
que levo.

— Porra! Luiza, você está bem? — ele fala, mas começa a dar pequenos
tapas nas minhas costas.

Aos poucos volto ao normal. Respiro fundo. Elai começa a passar a mão
em círculos nas minhas costas, respiro profundamente. O meu coração deveria
estar se normalizando, mas acelera cada vez que sinto a sua mão sendo passada
delicadamente em mim.

— Já estou bem. — Dou um passo, me distanciando dele, pego o suco e


lhe entrego.

Pego o meu e vou em direção ao sofá. Me sento, suspirando alto. Nunca


quis tanto que um filme acabasse logo.

Elai se senta novamente ao meu lado. Perto demais, penso. O meu olhar
vai em direção para onde o balde de pipoca deveria estar, mas o objeto não se
encontra mais no lugar que deixei.

Ouço Elai suspirar alto.

— Bem… — Ele para de falar um pouco, e logo em seguida continua: —


Quando será a próxima consulta?

Me viro, e o encaro.

— Para que você quer saber?

Ele me encara.

— Gostaria de ir à próxima consulta com você.

— Você não tem que fazer isso, Elai — respondo com sinceridade.

— Eu quero. Se não for um problema para você, claro.

Ficamos assim, um encarando o outro por um tempo.

— Daqui a três semanas, a data certa te falo depois.

Neste momento o filme acaba, mesmo assim não fazemos nada. Ele quebra
o silêncio primeiro.
— Você vai ser modelo mesmo?

— Sim, Elai, já assinei o contrato.

Ele fica sério, me observa com a cara fechada, mas logo em seguida dá um
suspiro e passa a mão pelo cabelo, devagar.

— Eu sei que na última vez em que conversamos sobre isso eu fui um


completo idiota.

— Você está sendo um completo idiota há muito tempo.

Ele me observa com uma sobrancelha levantada, surpreso pela minha


resposta. Ignoro.

— Confesso que mereço isso. — Suspira. — Desculpa, Luiza, não reagi


muito bem com a notícia do seu novo emprego, fui sim um machista e te peço
desculpas por isso. Sei que não é motivo, mas na minha mente você continuava
sendo aquela garota meiga e gentil que me olhava com os olhos brilhando quando
você achava que eu não percebia. Na verdade, às vezes eu fechava os olhos cada
vez que você fazia isso, e na minha cabeça coloquei você como uma irmã mais
nova que eu nunca tive. Mas você é uma mulher linda, gentil e que sabe o que é
melhor para si mesma. Então, mais uma vez, desculpa pela minha atitude ao
saber do seu novo emprego. Espero que dê tudo certo. Parabéns pela conquista.

Fico o encarando sem saber o que fazer ou falar. A minha garganta se


fecha completamente, e por um momento sinto uma grande vontade de chorar,
mas me controlo.

— Obrigada, Elai. Isso é muito importante para mim.

— Eu imagino. — Ele se levanta. — Eu já vou, adorei a nossa sessão de


cinema no sofá. Qualquer coisa que precise é só me ligar, ok?
Me levanto e fico na sua frente.

— Pode ficar tranquilo.

Ele se aproxima e olha direito para os meus olhos. O vejo engolindo em


seco. Então encosta a boca na minha testa e me dá um beijo.

— Boa noite, Luiza.

— Boa noite, Elai.

Ele se vira e sai pela porta. Me sento novamente no sofá e por um


momento tento controlar o meu coração.
CAPÍTULO 18

Me deito na cama e fico pensando em tudo que Elai falou. Confesso que
fico surpresa por suas palavras, mas não vou me iludir com palavras doces vindas
dele.

— Ainda acordada, Lu? — Observo a porta e vejo Ana parada. Me sento


na cama.

— Estou sem sono, pensei que você iria ficar na casa do Gabriel.

Ela sorri e vem em minha direção, se sentando ao meu lado.

— Decidi ficar com você. Laura só vai voltar da viagem que está fazendo
com o Paollo semana que vem, não quero que fique sozinha.

— Sua boba, não precisava, estou bem.

— Não vou deixar você aqui sozinha, Lu.

— Tenho certeza de que o Gabriel adorou a ideia. — Sorrio para ela, e


sinto um tapa no meu braço, faço uma careta de dor.

— Não faça essa cara, nem bati forte.


— Eu sei. — Sorrio, e ela revira os olhos para mim.

— Que dia você vai começar as sessões de fotos?

— Em uma semana, estou tão nervosa.

— Você se sairá bem, tenho certeza.

— Obrigada!

— Fica tranquila, Lu, vai dar tudo certo, você vai ver.

— É o que eu mais desejo.

Ela sorri para mim.

— Já ia me esquecendo. — Ana retira algo de dentro da bolsa e me entrega


uma pequena caixa preta.

Quando a abro, os meus olhos se enchem de lágrimas. Um par de


sapatinhos de crochê amarelo.

— Comprei amarelo porque não sabemos qual é o sexo ainda.

Não falo nada, apenas a abraço com força.

— Obrigada, este é o primeiro presente que eu ganhei.

Ficamos conversando até tarde. Ana me conta sobre o seu novo emprego, e
em como está adorando as crianças. Fico tão feliz por ela, e em saber que ela está
feliz.

Uma semana depois…


Respiro fundo.
— Você está pronta. — Me viro e vejo Nathan me observando dos pés à
cabeça.

— Estou. — Me levanto e fico na sua frente. Ele sorri para mim.

Estou em um hotel no centro da cidade. Hoje é a minha primeira sessão de


fotos, o meu coração está martelando no peito de forma fora do normal. Uma
moça fez a minha maquiagem e tenho que admitir que não me reconheci no
espelho.

Os meus olhos estão superdestacados e a minha boca com um batom


vermelho intenso, o que combina perfeitamente com o vestido de baile que estou
usando, também na cor vermelha.

Aperto com força o vestido, o levanto um pouco para que eu possa andar
direito com os saltos. Respiro fundo, entrando com Nathan no elevador. A sessão
de fotos será no terraço.

— Calma, vai dar tudo certo. — Ele dá um pequeno sorriso para mim.

— Espero que sim.

— Serei o fotógrafo, Luiza. Será tudo no seu tempo, não precisa se


preocupar.

Balanço a cabeça, concordando com ele. O elevador para e saímos. A


equipe está toda aqui, no total de dez pessoas.

— O que eu preciso fazer? — pergunto baixo só para que Nathan ouça.

— Quando eu estiver te fotografando, irei te falando, mais ou menos,


algumas posições. Mas, Luiza, calma, e tente se divertir com tudo isso. Estarei
aqui com você, não precisa ter medo — ele fala, e por um momento o observo
atentamente.
Não vejo nenhum sinal de mentiras, pelo contrário, sinto que Nathan está
sendo sincero. Eu sorrio para ele, tentando demonstrar que acredito em cada
palavra que sai da sua boca.

Posso conhecê-lo há pouco tempo, mas me sinto tão bem quando estou
com ele, e neste momento o meu coração acelera, mas não é de nervosismo. Na
verdade, eu não faço ideia do motivo.

Me aproximo de uma mesa repleta de maçãs. Tudo faz parte do cenário.


Nathan faz os últimos ajustes, testando a máquina fotográfica que ele segura. Ele
dá ordens para o rapaz que está controlando a luz.

Já são 18h e o sol já está terminando de se pôr no horizonte. O céu está


cheio de cores se misturando. Entendo o motivo da sessão de fotos estar sendo
aqui.

— Está tudo pronto, podemos começar. — Ouço a voz da mesma moça


que me atendeu, a de cabelo rosa.

Hoje ela está de óculos, perto de Nathan. Ele olha para ela e balança a
cabeça.

— Ok, vamos começar.

Engulo em seco. Respiro fundo. Darei tudo de mim. Desistir não é uma
opção, farei de tudo para que dê certo.

— Luiza, pode andar, olhar para o horizonte, sorria, ou pode ficar séria.
Vamos testar um pouco até acertar. Pode ficar tranquila.

Abro e fecho as mãos. Observo o chão sobre os meus pés e penso em como
era a minha vida no interior de Minas Gerais. Sofri? Sim, mas tive momentos
bons, principalmente ao lado de Ana, e em como era fácil sorrir, mesmo diante
das dificuldades que passei por todos os anos que vivi lá. Levanto a cabeça, séria,
e neste momento ouço o pequeno som de um clique. Está tudo silencioso e ao
meu redor ouço apenas o som do vento.

Caminho até chegar próximo à mesa e por instinto pego uma maçã. A
observo e a levo para perto do meu rosto, sentindo o seu cheiro. Fecho os olhos
por um momento, lembrando do momento que vivi com Ana. Não tínhamos
maçãs, e sim mangas e goiabas. Lembro de como ficávamos em cima de um pé
de manga, não tínhamos nada, mas éramos felizes.

Sorrio ao lembrar disso. Ouço vários cliques, mas evito olhar para Nathan.
Imagino que é somente eu e as minhas lembranças aqui, e mais ninguém.

Não sei quanto tempo fico assim, mas sou despertada dos meus
pensamentos quando ouço a voz de Nathan ao meu lado.

— Terminamos.

O encaro por um tempo e observo ao meu redor. Vejo algumas pessoas


conversando, próximas à mesa de lanches. A moça de cabelo rosa conversa com
uma outra moça, elas estão próximas a uma cadeira.

— Você estava em um mundo só seu, não estava?

— Desculpa, foi horrível, não foi?

— Consegui tirar várias fotos suas, pode ficar tranquila. Você foi muito
boa, não se cobre tanto. Afinal, essa é a sua primeira sessão. Vamos comer algo
— ele fala e andamos até a mesa.

Pego um copo de suco e me sento. Nathan pega algumas coisas e se


aproxima de mim com um pequeno prato com um pedaço de bolo e um
sanduíche.

— Não precisa de tudo isso.


— Você precisa se alimentar.

— Eu sei, mas isso é exagero.

— Coma só o que você conseguir.

— Ok… — Dou um suspiro. — Acho melhor eu tirar este vestido antes.

— Por quê? — ele pergunta, e levanta uma sobrancelha.

— Não quero sujá-lo.

— Não precisa se preocupar com isso. Pode comer tranquilamente.

Fico em silêncio, aproveitando o lanche. Tenho medo de que a sessão de


fotos tenha sido um completo desastre e que ele esteja apenas sendo gentil.

— Quando você terminar, pedirei a Eloíse para te ajudar a se trocar.

— Já terminei. — Termino de beber o suco.

Ele olha para o pequeno prato e vê que eu comi só a metade do sanduíche.

— Tem certeza? Eu espero você terminar.

— Tenho — falo, já de pé.

— Ok.

Andamos até ficar na frente da moça de cabelo rosa. Ela está comendo
tranquilamente, mas quando nos vê para de comer e fica de pé.

— Aconteceu alguma coisa? — Ela me parece surpresa, a sua voz é baixa.

— Perdão. O que você falou? — Nathan pergunta a ela.

A ouço repetir, agora um pouco mais alto.


— Claro. Vamos, Luiza. — Ela dirige o olhar para mim.

Saímos dali e pegamos o elevador, fico em silêncio, não sabendo o que


falar.

Ao entrar no quarto que está sendo usado para a troca de roupas, me viro
para ela.

— Eu nem me apresentei direto. — Levo minha mão para a frente. —


Prazer, Luiza. — Sorrio.

Eloíse observa a minha mão e o seu rosto fica vermelho na hora. Um


contraste e tanto para a cor do seu cabelo.

— Prazer, Luiza... Eloíse. — Ela sorri.


CAPÍTULO 19

Eloíse me ajuda a trocar de roupa. Ela é muito gentil. Tenho que parar de
julgar as pessoas sem conhecê-las primeiro, porque quando a vi pela primeira vez
julguei que ela seria uma pessoa totalmente diferente do que estou vendo agora.

— Você trabalha há muito tempo com Nathan? — pergunto, quando


estamos entrando no elevador.

— Tem cinco meses.

— Pouco tempo — falo baixo.

— Sim, mas por que a pergunta?

— Bem — falo sem jeito —, ele é o que aparenta mesmo? — Faço a


pergunta que tanto queria e ela sorri.

— Você está falando do jeito protetor, carinhoso, e por mais que ele tente
não demonstrar, muito romântico?

— Sim — respondo baixo.

— Sim. Ele é exatamente assim, posso estar errada, mas Nathan é um


verdadeiro cavalheiro. — Os olhos dela tem um brilho diferente. — No começo
pensei que poderia ser alguma fachada da parte dele, mas a cada dia me convenço
mais de que ele é exatamente assim.

O elevador para e vejo Nathan conversando com a maquiadora. Os dois


sorriem. Saímos do elevador e me aproximo dele, ele sorri levemente para mim.

— Acho que já vou.

Ele para de conversar e dá um passo em minha direção.

— Eu te levo.

— Não precisa, tenho certeza de que tem muita coisa para fazer aqui. —
Olho para o local, Eloíse está ao meu lado.

— Eloíse, tem como você ficar hoje e ir adiantando o serviço? Só irei levar
a Luiza para a casa dela e já volto.

Eu a vejo engolir em seco.

— É que… — Ela enrola nas palavras.

— Tem algum problema?

— Não. — Ela dá um pequeno sorriso. — Ficarei organizando tudo. Pode


ficar tranquilo.

Não sei se Nathan percebe, mas ela está nervosa. Nathan se afasta para
pegar algo e me viro para ela.

— Eu falo para ele que irei sozinha, você tem algo para fazer, não é?

Ela se vira para mim e sorri.

— Posso esperar, pode ir. O que eu vou fazer dá para ser depois — ela fala,
com um sorriso no rosto, mas vejo que o seu olhar está triste.
— Eu não acho que você esteja bem.

Ela suspira alto.

— Pode ficar tranquila, Luiza, estou sim. — Ela sorri, tentando me


acalmar. — Bem… é melhor ir adiantando as coisas.

Ela sai e Nathan me chama.

— Aconteceu alguma coisa? — ele me pergunta.

— Não é nada. Você tem certeza de que vai me deixar em casa? Posso
pegar um táxi e você fica ajudando a Eloíse.

— Está tranquilo. — Ele levanta uma sobrancelha e olha para mim. — Por
quê?

— Você não percebeu?

— O que teria para perceber? — ele pergunta, semicerrando os olhos.

— Só achei que Eloíse tinha algo para fazer agora.

— Acho que não, senão ela teria negado.

Nathan é um doce, mas não percebe o que acontece à sua volta.

Me arrependo de não ter pegado o número do telefone dela, ficaria mais


tranquila. Será que Nathan acharia muito estranho eu pedir o número a ele? Fico
pensando até que entramos no carro.

Fazemos o percurso em silêncio e observo as luzes da cidade através do


vidro do carro.

— Você está séria. É sobre a sessão de fotos? Pode ficar tranquila, você foi
perfeita.
Me viro para ele.

— Sério?

— Claro. — Ele sorri. — Me surpreendeu como você ficou à vontade.

— Na verdade, imaginei que não havia ninguém lá. — Sorri.

— Uma ótima técnica. Ah, já ia esquecendo, isso é para você.

Ele me entrega uma pequena sacola, e quando a abro vejo vários


sanduíches naturais.

— Você não comeu quase nada, não quero que nada aconteça ao seu filho.

Fico um momento pensando em suas palavras, não sei se são os


hormônios, mas os meus olhos se enchem de lágrimas.

— Obrigada! — falo com sinceridade, e ele me observa por um momento.


O vejo engolindo em seco.

— Não foi nada, Luiza.

— Não só pelos sanduíches, mas por tudo.

Sorrio para ele e o vejo me observando atentamente, mas Nathan balança a


cabeça, concordando comigo.

— Eu não tenho certeza da próxima sessão de fotos, mas assim que eu


souber te aviso.

Dou um suspiro.

— Claro. — Quando vou abrir a porta do carro me lembro de Eloíse. Me


viro novamente para ele. — Já ia me esquecendo, você tem o número de telefone
da Eloíse, não têm?
Ele levanta uma sobrancelha, olhando para mim.

— Sim! Por quê?

— Você poderia me passar, esqueci de pedir a ela.

Ele pega o seu celular e logo em seguida me fala o número.

— Muito obrigada!

— Não foi nada, até a próxima sessão de fotos, Luiza.

— Até a próxima. — Sorrio, e saio do carro.

Quando caminho para casa, um sorriso não sai do meu rosto. Já estou na
porta do elevador, esperando chegar.

— Quem é aquele homem que estava no carro com você?

Dou um pulo e o meu coração acelera. Respiro fundo, tentando controlar o


meu coração.

Abro os olhos e vejo Elai ao meu lado com uma cara de raiva. O elevador
para e entro sem respondê-lo.

Ele faz a mesma coisa.

— Me responda, Lu!

Respiro fundo.

— Sabia que não pode dar susto em uma mulher grávida? — Cruzo os
braços na minha frente.

Ele me observa por um momento, percebo que ele estava correndo. A sua
camisa está toda colada no corpo. Evito olhar para isso e foco no seu rosto.
— Não era a minha intenção te assustar, me desculpe. Mas você não
respondeu a minha pergunta. Quem era aquele homem no carro com você?

— Eu não tenho que te dar satisfação sobre isso, Elai.

O elevador para e sinto o seu olhar queimando as minhas costas. Paro em


frente à porta do apartamento e me viro para ele.

— Ele é o meu chefe.

— Você não o conhece. Você é doida, Luiza?!

— Eu não sou doida — falo com ódio.

Me viro para abrir a porta, mas sou impedida de fazer isso. A mão de Elai
segura o meu braço, me fazendo virar em sua direção. Sinto o seu peitoral em
contato com a minha mão. Respiro com dificuldade.

— Lu, você não pode ficar entrando no carro de uma pessoa que acabou de
conhecer, ainda não encontramos a pessoa por trás das ameaças, não quero te ver
em risco — ele fala baixo, e levanto o olhar.

O vejo me encarando com uma intensidade fora do normal.

— Eu não estou em risco, Elai. Nathan é um doce de pessoa, tenho certeza


de que ele nunca me faria mal. — Tento me afastar dele, mas sinto a sua mão
firme me mantendo no lugar.

— Você não pode ter essa certeza, Luiza. Posso te buscar todas as vezes
que precisar, é só me mandar uma mensagem.

— Não precisa.

Tento mais uma vez me soltar, mas ele não deixa. O meu coração está
martelando no peito e tenho certeza de que deve estar sendo ouvido por ele. O
seu cheiro está me fazendo sentir coisas.

Fecho os olhos, tentando me controlar.

— Me solta!

Mas ele não faz o que eu peço, apenas me observa. Quando sinto a sua
mão acariciando o meu rosto, minha mão começa a suar.

— Cada dia que passa você consegue ficar mais linda — ele fala baixo.

Abro os olhos e o encaro. Não sei explicar, mas o meu olhar vai em
direção a sua boca. Ele percebe. Não noto quando ele solta o meu braço e não o
impeço quando sinto a sua mão na minha cintura, me trazendo para mais perto.
Ficamos assim, encarando um ao outro por apenas um momento, mas posso jurar
que para mim durou bem mais.

O vejo fechar os olhos, tentando se controlar. Quando os abre, observo


algo diferente. Ele segura na lateral da minha cabeça com as duas mãos e
deposita um beijo na minha testa. Vejo que ele demora mais do que o normal.
Fecho os olhos, o sentindo tão perto, mas ao menos tempo muito longe.

— É melhor você entrar, tenho certeza de que deve está muito cansada.

Não respondo, apenas balanço a cabeça, concordando com ele. Me viro e


entro no apartamento. Não vejo ninguém. Vou direto para o banheiro. Me observo
no espelho. As minhas bochechas estão vermelhas. Fecho os olhos, tentando
controlar o meu coração. Cada vez que fico perto de Elai sinto que vou
enlouquecer. Não sei o que eu faço para que o meu coração se controle. Só sei
que cada vez que fico ao seu lado sinto uma grande necessidade de abraçá-lo.

E isso está acabando comigo.


CAPÍTULO 20

Estou há um bom tempo na cama, sem ânimo para nada. Hoje é segunda-
feira, não consegui dormir quase nada a noite toda e hoje é a consulta de pré-
natal. Elai vai comigo. Tenho certeza de que é esse o motivo de tanta ansiedade.

Confesso que estou apreensiva com tudo. Passo a mão delicadamente pela
minha barriga. Tem uma criança crescendo dentro de mim, e mesmo que já tenha
ouvido o seu coração, não consigo acreditar, e a ansiedade está a mil.

Tive mais uma sessão de fotos no sábado, em uma vinícola. Fiquei tão
encantada com a paisagem, a tranquilidade do local, amei. E o melhor, pude
conhecer um pouco mais sobre Nathan e Eloíse.

Me arrumo e vou de táxi para o apartamento de Isabela. Elai ainda não


chegou. Confesso que gostaria de vê-lo. Ignoro esse pensamento e vou
diretamente para o quarto de Liz, e vejo Isabella novamente perdida em seus
pensamentos.

— Bom dia.

Sorrio. Ela se vira e sorri para mim.

— Bom dia, Lu. Como você está?


— Estou bem, quase não sinto mais enjoos, o que é ótimo.

— Eu sei como é, principalmente de manhã... quase morria, não conseguia


sentir cheiros muito fortes.

— Exatamente isso. — Sorrio. — Como você está?

Ela me observa por um momento.

— Estou bem, por que a pergunta?

— Desculpa se foi uma pergunta invasiva, só estou um pouco preocupada


com você. Estou te achando meio estranha, há mais ou menos um mês.

Ela se aproxima e fica na minha frente.

— Estou com uns probleminhas, mas vou dar um jeito e resolver tudo. —
Ela se cala por um momento, como se pensasse algo. — Posso te perguntar uma
coisa?

— Claro — falo com sinceridade.

— Se você descobrisse um segredo e esse segredo pudesse resolver um


problema não só com você, mas com várias pessoas envolvidas, mas se você
revelasse isso custaria a felicidade de uma pessoa que você ama
incondicionalmente, o que você faria?

A observo atentamente.

— Essa é difícil. — Suspiro alto. — Infelizmente, em uma situação dessas


é difícil, mas pensa uma coisa. Se esse segredo machuca ou machucou alguém
que você também goste, acho sim que deve ser revelado. Imagina se isso faz com
que essa pessoa machuque alguém que você gosta e no final você descobre que
poderia ter evitado e não fez nada? Tenho certeza de que se sentiria horrível.
Acho que às vezes uma pessoa ferida é melhor que várias, mas é apenas o meu
ponto de vista, não sei a real gravidade dessa situação. Mas coloque na balança e
peça ajuda, você não precisa ficar carregando esse peso todo com você.

— Obrigada, Lu, obrigada mesmo.

— Mesmo não sabendo o real problema, saiba que estou aqui para o que
você precisar, ok?

— Ok. — Ela sorri para mim, e correspondo.

A minha consulta está marcada para às 16h. Estou tão nervosa. Não só para
saber se está tudo bem com o bebê, mas também porque será a primeira vez que
Elai demonstra interesse em saber de algo.

Mas não irei levantar falsas esperanças em relação a isso, afinal, o que
realmente importa é esse bebê crescendo dentro de mim.

Pego um táxi, e em menos de quinze minutos já chego no consultório.

Já são 15h50 e nada de Elai aparecer. Fico olhando para a porta sem parar
na esperança que ele apareça.

Tinha prometido para mim mesma que não iria ligar para cobrar nada, mas
acabo fazendo isso. Pego o meu celular e tento ligar para ele, mas nada. A ligação
cai direto na caixa postal.

Aperto a minha boca em uma linha fina.

— Será que aconteceu alguma coisa com ele, ou simplesmente não quis
aparecer?

E, mesmo lutando para me esquecer, lembro de todas as vezes que ele não
se importou, e meu coração se aperta mais e mais. Respiro fundo, tentando não
chorar. A recepcionista está ocupada demais com o seu celular para prestar
atenção em mim.
Dá 16h e ele não aparece. Então a médica me chama. Me levanto e dou um
pequeno sorriso para ela.

Me sento em uma cadeira.

— Como você está, Luiza?

— Estou bem.

— Que bom, enjoos, alguma coisa?

— Eu estava sentindo muito de manhã, mas agora é mais tranquilo.

— Que bom, está tomando as vitaminas?

— Estou.

— Então, vamos lá, pode ir se trocar e vamos ouvir o coração do seu filho,
o que me diz?

— Adoraria.

Me levanto e vou trocar de roupa, visto uma camisola branca de algodão e


me deito na marca.

— Hoje não veio ninguém com você? — ela pergunta, passando um gel na
minha barriga.

— Hoje será somente eu mesma. — Sinto uma pontada no peito quando


falo isso.

— Muito bem, vamos ver esse bebezinho — ela fala, e observa a imagem
na tela.

— Está tudo bem, vamos ouvir o coração.


Ouço um barulho forte e neste momento os meus olhos se enchem de
lágrimas. Não tem emoção maior do que ouvir o barulho do coração do meu
filho. Então prometo a ele e a mim mesma que farei de tudo para que não lhe
falte nada, independentemente se vou criá-lo sozinha ou não.

Quando saio do consultório, tenho a impressão de estar sendo observada,


mas olho para os lados e não vejo nada suspeito, mesmo assim decido ir direto
para casa. Afinal, não encontraram a pessoa por trás das ameaças.

Mesmo me fazendo de forte, sinto o meu coração se apertando, e quando


chego no corredor e vejo a porta do apartamento de Elai, ignoro e vou direto para
o meu. Tomo um banho bem demorado, me visto com um conjunto de dormir e
então observo a minha barriga no espelho. Passo a mão devagar e lembro do
coração do meu filho batendo tão forte. Acabo sorrindo com a lembrança.

Laura volta de viagem, mas fica muito tempo com Paollo, pois eles vão se
casar em breve. Ana fica comigo até às 21h, mas vai jantar com Gabriel.
Resumindo, estou sozinha aqui assistindo a um filme qualquer que está passando
na televisão.

Ouço um barulho de porta se abrindo, e neste momento já imagino que seja


Elai que chegou. Mesmo tentando deixar para lá, um ódio vem com toda força.
Afinal, se ele não queria ir à consulta, por qual motivo me fez acreditar que iria?
Respiro fundo e me levanto.

Abro a porta e saio do apartamento. Quando vou bater na porta dele, vejo
que está apenas encostada. Respiro fundo e entro.

Não vejo ninguém na sala, então vou direto para o seu quarto e a única
imagem que vem a minha mente é dele com alguma mulher. Ignoro esse
pensamento, quando levo um susto.

— ELAIIII ! — grito, quando o vejo apontando uma arma para mim.


— Para de gritar, Lu — ele fala, com a voz baixa, e o vejo colocar a arma
em uma pequena mesa ao lado da sua cama.

Fico um momento sem acreditar no que vejo. Elai está todo machucado. A
sua blusa, que um dia foi branca, se encontra toda suja com manchas de sangue.
Há um corte na sua sobrancelha. Ele tenta se sentar, mas vejo uma careta de dor
com esse gesto.

— O que aconteceu com você?

Me aproximo.

— Nada de importante.

— Como nada, Elai? Parece que um carro passou por cima de você.

O miserável sorri para mim.

— Por que você está sorrindo, idiota? — falo com ódio.

— Na verdade, eu passei com o carro em cima de umas pessoas.

— Para de sorrir. — Me aproximo e fico na sua frente. — Acho melhor te


levar ao hospital. Você consegue andar?

— Eu não vou ao hospital, Lu, estou bem, só preciso de um bom banho e


de uma noite de sono. Amanhã pela manhã já estarei novo.

— Você está parecendo um zumbi, deixa de ser teimoso, vamos ao


hospital.

— Lu, não vou a nenhum hospital, pode ir dormir, estou bem. — Ele tenta
sorrir, mas acaba fazendo mais uma careta de dor.

— Estou vendo o quanto está bem. Vem... vou te ajudar.


Ele me observa por um tempo, de cima a baixo, e sei que pensou em algo,
mas não disse nada. O ajudo a entrar no banheiro. Com muita dificuldade ele
consegue tirar a roupa, e fica só de cueca. Tento não ficar observando o seu
corpo, mas é impossível, principalmente quando vejo três marcas roxas no seu
abdômen.

— O que aconteceu, Elai?

— Estou bem, Lu, pode acreditar, já estive bem pior.

— Ok, se você não quiser falar, vou respeitar. Onde está o kit de primeiros
socorros?

— Embaixo da pia.

Ele tenta tomar um banho e observo o chão do banheiro. Sangue se mistura


com a água que cai do seu corpo.

O aguardo no quarto e depois de uns minutos ele sai enrolado em uma


toalha. Elai se senta na cama e se encosta na cabeceira, dando um suspiro.

— Desculpa por te assustar com a arma, acabei esquecendo a porta aberta.

— Você só quase me matou de susto.

Pego um pedaço de algodão, molho em um antisséptico e passo devagar no


corte da sua sobrancelha. Em momento algum o ouço reclamar. Elai apenas fica
me encarando sem parar.

— O que foi? — pergunto, fazendo o curativo.

O vejo engolindo em seco antes de falar.

— Desculpa.
— Não precisa pedir desculpas. Sei que não queria ter me assustado com a
arma.

— Não é sobre isso, e sim sobre a consulta. Não era para ter demorado
tanto. Não consegui te ligar, pois perdi o meu celular. Desculpa mesmo, Lu, eu
queria ter ido à consulta, queria mesmo, mas foi impossível.

Paro um momento e o observo atentamente.

— Não precisa pedir desculpas. Fiquei chateada, mas agora entendo


perfeitamente.

— Como foi?

— Tranquilo, o de sempre, está tudo bem com o bebê. O coração dele é tão
forte.

— Você ouviu o coração?

— Sim. Em toda consulta dá para ouvir.

Sorrio, e sou pega de surpresa quando sinto o seu toque em contato com a
minha barriga. Não falo nada, não consigo. O meu coração então acelera.

— Prometo que irei à próxima consulta — ele fala, e levanta o olhar para
mim.

Ficamos assim, um encarando o outro. Balanço a cabeça, tentando me


controlar.

— Você está com fome? Tinha feito comida para as meninas, mas elas
saíram — falo baixo, tentando me afastar.

Me levanto e fico na frente dele.

O ouço limpar a garganta antes de falar.


— Claro.

— Já volto. — Saio do apartamento com o coração na mão.

Entro no meu apartamento e pego um pouco de comida para ele. Tranco a


porta e volto para o apartamento dele. Quando chego no quarto, ele já está de
calça, mas continua sem camisa.

Elai se senta na cama e come em silêncio.

— Não vi nenhum remédio no kit, você tem alguma coisa aqui?

— Acho que tem algo no armário do banheiro.

Me levanto para procurar, mas não acho nada.

— Não estou achando.

— Deixe-me vê.

Me viro para ver Elai logo atrás de mim, e neste momento penso em como
este banheiro é pequeno.

Ele se aproxima e logo depois tira um pequeno frasco de cima do armário.

— Coloquei aí na última vez que usei.

Ele não se mexe, e fica próximo o suficiente para que eu sinta o seu cheiro.
Fecho a minha mão em punho por um momento na esperança de que o meu
coração se acalme.
CAPÍTULO 21

Me aproximo da janela de vidro no escritório do Nicolai. Aperto uma


têmpora, tentando controlar um pouco a minha dor de cabeça.

— Isabela conseguiu alguma coisa? — Paollo pergunta.

Estamos aqui há uma hora, tentando achar uma saída, mas nada.

— Nada. Ela está bloqueando todos os e-mails sobre nós enviados para a
polícia.

Me viro para ele.

— E o endereço de IP?

— É de uma Lan House no centro.

— Ótimo. Podemos ir lá para ver o circuito de segurança.

— Pensei a mesma coisa, mas a pessoa que enviou apagou as filmagens do


dia.

Mesmo Nicolai me confirmando isso, alguma coisa me diz para tentar.


— Mesmo assim irei investigar. Estou indo lá agora. Me mantenha
informado sobre tudo, e me envie o endereço, quero dar uma olhada. — Saio.

Já estou na Lan House e não está muito movimentada. A maioria dos


clientes são adolescentes jogando e mexendo nas redes sociais. Observo cada um
e não há nada, absolutamente nada de suspeito.

Decido ficar no carro por mais um tempo. Pego o meu celular e percebo
que já são quase 15h. Lu me mandou mensagem para confirmar se irei à consulta.
Respondo que sim. Logo vejo alguém entrando na Lan House. Não seria nada de
mais a não ser pelo fato de a pessoa estar usando uma blusa de moletom escura
com o capuz cobrindo praticamente todo o rosto, e o fato de hoje ser um dia
quente demais para isso.

Estou no carro esperando para ver se a tal pessoa vai sair. Depois de mais
ou menos meia hora finalmente ela sai, para ao lado de um carro preto e entra. Os
vidros da frente estão abertos e consigo ver dois homens lá.

Eles saem, e vou atrás. Estou há quase 25 minutos os seguindo. Estamos


em uma parte mais afastada da cidade. Um local de fábricas e galpões. O carro
deles para. Dou a volta e paro mais afastado.

Quando já estão lá dentro, me aproximo e observo cada rota de saída


possível. Logo atrás do galpão tem uma janela de vidro que está quebrada. Me
aproximo e subo em uma lata de lixo, tendo cuidado para não fazer barulho.

A iluminação não é uma das melhores, mas dá para ver a pessoa de capuz e
mais umas oito pessoas.

Um velho se aproxima e fica na sua frente. Quando o homem abaixa o


capuz, tenho a impressão de já tê-la visto em algum lugar. Levanto uma
sobrancelha, surpreso. Não só pelo fato de ser uma mulher.

— Conseguiu enviar os arquivos? — o velho pergunta.


— Tentei, mas não consigo. Tem alguma coisa impedindo de concluir o
envio, mas imagino quem seja.

— Você me deu certeza de que Nicolai estaria morto em um mês.

— Eu sei muito bem o que prometi, mas as coisas não saíram do jeito que
planejamos. Se aquela garota não tivesse fugido com a criança já teríamos
Nicolai em nossas mãos. Mas pode ficar tranquilo, muito em breve você será o
novo chefe.

O velho sorri, vitorioso.

— Isso é o que eu quero, afinal, é para isso que estou gastando tanto
dinheiro.

— Fique tranquilo, você terá o que quer, e eu a minha tão esperada


vingança, pois ela é um prato que se come frio. Quero que Nicolai perca tudo. Os
amigos e, principalmente, quero ver a esperança nos seus olhos sumirem. Quero
que ele sinta dor, a incapacidade, a impotência perante o que farei com sua filha e
principalmente com sua tão amada esposa.

— Por que você tem tanto ódio dessa garota?

Ela dá mais um passo para a frente, e sorri.

— Porque ela é minha irmã. Ela tomou tudo de mim e está na hora de
recuperar o que é meu de volta. Nicolai sofrerá por tudo que fez a minha mãe, e
principalmente o que fez a mim.

— Merda!!! — falo baixo.

Pego o meu celular para mandar uma mensagem para Nicolai, mas vejo
que está sem sinal. Amaldiçoo ainda mais. Começo a descer, mas acabo
escorregando e caindo, fazendo um barulho tremendo. Mais que depressa, me
levanto, e saio correndo, tentando chegar ao carro. Já próximo, ouço passos
apressados. Me escondo próximo à parede de um galpão. Aqui está escuro, o que
facilita muito. Vejo três homens passando por mim. Eles acham o carro.

— Inferno!!! — xingo mais uma vez, e um deles começa a falar.

— Avise para o pessoal que achamos um carro e que a pessoa ainda está
aqui.

Um rapaz, que não aparenta ter nem 20 anos, passa por mim, mas não me
vê. Quando já está a uma distância, o imobilizo, segurando o seu pescoço em um
mata-leão. Ele tenta se desvencilhar, mas não consegue. Aos poucos vai perdendo
a consciência. Um a menos, penso.

Me viro para ir atrás dos outros dois, mas sou recebido com um soco na
cara. Fico tonto por um momento, mas me recomponho e vou para cima do meu
agressor. Trocamos socos e chutes.

As minhas costelas doem sem parar. Pego a minha arma e miro na sua
perna. Disparo. O vejo caindo no chão. Me apresso e fico à sua frente.

— Por favor — ele gagueja. — Não me ma…

Não deixo que ele termine a frase. Disparo duas vezes na sua cabeça. O
sangue escorre sem parar.

Já perto do carro, disparo mais vezes e acerto mais um. Entro no carro e a
adrenalina corre solta pelas minhas veias. Respiro fundo e ligo o carro, o
acelerando até o limite. Vejo dois deles logo à frente. Passo por cima sem piedade
nenhuma. Ouço o pneu amassando alguns ossos.

Me distancio do lugar e espero um tempo parado em um estacionamento.


Só depois dirijo e volto para casa. Abro a porta com um pouco de dificuldade,
fazendo barulho sem necessidade. Agora que a adrenalina passou, sinto todo o
meu corpo doendo. Amaldiçoo ainda mais.

Me sento na cama, apalpo o meu bolso em busca do celular, mas não o


encontro. Se estava com raiva antes, neste momento o meu desejo é voltar lá e
matar um por um.

— Desgraçados — xingo baixo.

Ouço um barulho de porta se abrindo e no mesmo instante pego a minha


arma, e me levanto.

— ELAIIII — Luiza grita, quando me vê.

— Não precisa gritar, Lu.

Me sento, colocando a arma na mesa ao lado da cama. Faço uma careta de


dor quando sinto as costelas doerem.

— O que aconteceu com você?

Ela se aproxima. Observo o seu rosto atentamente. Ela realmente está


preocupada, mas não colocarei ela nisso. Essa merda é só minha.

— Não aconteceu nada, pode ir dormir.

Ela me observa, levanta a sobrancelha. O seu rosto fica vermelho. Dou um


pequeno sorriso, tentando demonstrar que estou bem, mas falho miseravelmente.

Depois de tomar um banho e ser cuidado por Lu, fico observando o seu
lindo rosto mais de perto. A vejo engolindo em seco.

— O que você está fazendo? — ela me pergunta baixo.

Me aproximo, ficando ainda mais perto dela. O seu peito sobe e desce
rapidamente. Levanto a mão e toco seu rosto delicadamente. Sinto a maciez da
sua pele.

Fico a centímetros do seu rosto e a sua boca se abre lentamente. Aqui,


neste banheiro, está mais quente do que o normal. Me aproximo mais para ter o
que tanto quero, a sua boca na minha.

Mas no momento exato em que vou beijá-la, o seu rosto se vira, impedindo
o que eu tanto anseio.

— Acho melhor eu ir agora. — Ela sai e vou atrás. Quando já estamos na


sala, ela continua: — Qualquer coisa é só me avisar. — Ela se vira e olha
diretamente para mim. — Se cuida, ok? E tome o seu remédio.

Concordo, balançando a cabeça. Fico um momento na porta, e só quando a


vejo indo embora é que eu entro.

Preciso conversar com Nicolai, e tem que ser agora. Tomo o remédio e me
visto adequadamente. Em menos de quinze minutos já estou na porta do
apartamento dele.

Ele abre a porta e me observa. Sua sobrancelha se levanta de surpresa.

— Espero que seja realmente sério o que você tem para falar.

Suspiro alto.

— Nunca viria a esta hora se não fosse.

Ele me convida para entrar e vamos diretamente para o escritório. Começo


narrando tudo o que aconteceu. Observo o rosto de Nicolai ficando vermelho a
cada minuto que passa. Tenho certeza de que se não fosse pela sua filha
dormindo, ele já estaria quebrando coisas e gritando.

— Tem certeza de que era a Valentina?


— Isabela tem só uma irmã, tenho certeza.

— Droga, e quem estava com ela?

— Não deu para identificar, mas pode ficar tranquilo, vou descobrir. —
Suspiro. — Você irá contar para a Isabela?

— Não tenho outra escolha. Não guardarei segredos sobre isso com ela.
Pedirei a Paollo e a mais alguns homens para voltarem lá.

— Irei com eles.

— Agora é melhor você descansar. E, Elai, espero que eles não tenham
encontrado o seu celular — ele fala sério.

— Este é o meu maior pensamento, no momento.

Não guardo nada sobre a máfia, mas o que mais me preocupa são as trocas
de mensagens entre mim e Luiza. Só de lembrar desse detalhe o ódio transborda.

— Pode ficar tranquilo. Se eles acharem, darei um jeito de te avisar.


Colocarei mais homens protegendo Isabela e minha filha, aconselho você a fazer
o mesmo.

— Irei, com certeza.

Me despeço de Nicolai com a certeza de que ele está ainda mais ferrado do
que eu.

Paro o carro no sinal vermelho e neste momento lembro dos lábios de


Luiza tão próximos dos meus, mas ao mesmo tempo tão longe.

Juro que não estou entendendo por que me lembrei dela. Fecho os olhos
com força, tentando não pensar nisso. Quando os abro, o meu coração se acelera
de uma forma fora do normal.
Vejo um outdoor com a foto dela e fico encarando, sem saber o que fazer.
Nele, ela está com um vestido vermelho e o seu olhar é tão intenso quanto à
noite. Engulo em seco, e levo um susto quando ouço o som de uma buzina. Só
neste momento vejo que o sinal está verde novamente.
CAPÍTULO 22

Não consigo dormir tão bem essa noite. Acordo bem mais cedo do que o
normal. Preparo um café e fico na sala esperando o tempo passar. Imagens da
noite passada se repetem a todo momento. Juro que estou tentando entender Elai,
mas percebo que está bem longe desse dia chegar.

Me arrumo, visto um vestido azul-escuro, um All Star preto, e deixo o meu


cabelo solto. Me observo no espelho e gosto do que estou vendo. Finalizo com
um batom mais escuro, e sorrio. Pego a minha bolsa e saio do apartamento.

Já estou no elevador, e quando as portas vão se fechando, elas são


impedidas por uma mão. Observo atentamente Elai entrando. Ele me olha de
cima a baixo, para logo em seguida dar um pequeno sorriso de lado.

— Bom dia, Lu.

— Bom dia. — Dou um suspiro. — Como você está?

Ele me encara mais uma vez.

— Estou bem. Eu te falei, me recupero rápido — fala, com um pequeno


sorriso no rosto, mas percebo que algo aconteceu. Por algum motivo sinto que
alguma coisa mudou.
— Estou vendo — respondo. — Tem certeza? Por que você parece
preocupado?

Ele me encara, o sorriso já não se encontra no seu rosto.

— Alguns problemas, mas irei dar um jeito.

— Não sei por quê, mas não acredito nas suas palavras.

Ele se vira mais uma vez, me encarando intensamente.

— Tenho algo para te falar, e sei que você não vai gostar.

O elevador para. Saímos. Já na garagem, perto do seu carro, paro.

— Vai. Pode falar.

— Lu, eu sei que você não quer segurança, mas a partir de hoje você vai
ter.

— Você está brincando, não é? — Ele não responde. — Não, muito


obrigada, não quero ninguém me seguindo. — Me viro para sair, mas sou
impedida quando ele segura o meu braço, me fazendo ficar no mesmo lugar. Dou
um suspiro de ódio.

— Infelizmente, não é um pedido, Luiza, só estou te comunicando. De


hoje até resolvemos esse problema, você terá um segurança, e nem adianta tentar
argumentar.

O meu rosto começa a arder de ódio, fecho a minha mão em punho, de


raiva.

— Para de achar que tem que me proteger, eu sei me cuidar. Cuida da sua
vida, Elai, e para de se meter na das outras pessoas.

Ele me observa, levanta uma sobrancelha, e sorri com ironia.


— Deixa de ser teimosa pelo menos uma vez na vida, porra! Eu sei muito
bem que você não me quer por perto, eu sei disso, mas você, querendo ou não,
precisa de proteção e eu irei, sim, te proteger. De tudo e de todos. Então,
acostume-se com isso. E nada que você faça ou fale vai mudar a minha decisão.
— Ele me traz para mais perto. O meu coração se acelera de uma forma quase
impossível.

— Eu não quero ter ninguém me vigiando. Por que você não entende isso?
Que ódio! — Tento me soltar da sua mão.

— Para com isso, Lu, estou fazendo tudo para te manter segura. Você é a
minha prioridade. Que inferno! Custa entender o que estou passando? — O seu
peito sobe e desce rapidamente.

— Te entender? Vamos ser claros aqui, Elai. A verdade é que se eu não


estivesse carregando um filho seu você não estaria fazendo isso.

Ele me olha com raiva.

— É isso que você pensa de mim, Luiza?

Não falo, apenas balanço a cabeça, concordando. Por algum motivo o meu
peito dói de angústia.

— Independentemente de você estar grávida de um filho meu ou não, eu te


protegeria — ele fala baixo, quase sussurrando.

Sorrio sem graça para ele.

— Por que você faria isso? — Ele não responde. — Está vendo, você não
tem resposta porque sabe que estou certa. Então não venha me dizer essas coisas.
Estou te avisando, se eu vir alguém me vigiando, farei questão de pegar o taco de
beisebol da Laura e vou te bater com toda a minha força.
— Então você não quer ninguém te protegendo? — Ele me solta, e o
encaro.

— Não.

— Ok.

Até que enfim ele vai me ouvir, mas sou pega de surpresa novamente
quando ele abre a porta do carro e me coloca sentada, passa o cinto e fico o
encarando.

— Você é doido! — Levanto a minha mão para poder retirar o cinto e sair.

— Já que você me deu um aviso, irei fazer a mesma coisa. Se você sair
deste carro, irei fazer questão de te dar uns belos tapas nessa bundinha linda que
você tem, e te falo mais, irei apreciar bastante esse gesto.

Fico o encarando, sem reação. Ele fecha a porta, dá a volta e se senta no


banco do carro.

— Está vendo como você fica bem mais linda com essa boquinha fechada?

— Vai se foder, Elai.

Ele liga o carro.

— Continue falando isso que irei sim. Mas irei foder você até não ter
forças para andar.

Viro o rosto para a janela, um ódio dominando cada parte de mim.

Não falo mais nada. Evito olhar para esse infeliz, porque com certeza
causarei um acidente.

O carro para na garagem do prédio de Isa. Abro a porta e vou direto para o
elevador. Aperto o botão incessantemente para que feche a porta rapidamente.
Dou um suspiro de frustração quando Elai entra.

— Sabe, Luiza, eu tentei, juro que tentei, mas você é teimosa demais. —
Não falo nada. — Ok, já que você quer assim, eu serei o seu segurança particular.

Me viro para ele no mesmo instante em que essas palavras saem pela sua
boca.

— Você está de sacanagem comigo. Nem morta irei aceitar isso.

Ele dá um passo, encurtando a distância entre nós.

— Acostume-se, porque você irá me ver toda hora. — Ele sorri.

A minha respiração está irregular, e mesmo sentindo o meu coração


acelerado, o encarei da mesma forma que ele está fazendo comigo.

— Você só pode estar brincando com a minha cara.

O desgraçado continua sorrindo com ironia. A minha vontade é de acertar


um tapa na cara desse infeliz.

— Nunca falei tão sério.

— Eu não aceito isso.

— Desculpe, mas você aceitar ou não, não é o problema aqui.

— Miserável, então a minha opinião não tem importância alguma.

— Não. Porque o que estou fazendo é para proteger você e o meu filho.
Então, Luiza, a sua opinião não tem importância. Eu te respeito, e se fosse
qualquer coisa a não ser isso, eu faria, mas no momento é impossível.

A porta do elevador se abre e não falo mais nada. Apenas saio, o deixando
para trás.
Mas quando entro no apartamento, encontro Nicolai na sala com Liz. Acho
um pouco estranho, mas deixo para lá. Me aproximo deles, e quando Liz me vê
começa a sorrir.

— Bom dia, Luiza. — Nicolai se levanta.

— Bom dia. — Ouço passos atrás de mim. Não preciso me virar para saber
que é Elai. Ele se aproxima e fica ao meu lado.

— Hoje você poderia levar Liz para um passeio, acho que o shopping seria
uma boa ideia.

Abro a boca para perguntar o motivo, mas me calo, afinal, eu não tenho
esse direito.

— E você, Elai, vai com ela.

Ele não responde.

— Isabela já saiu?

Nicolai me observa, quando acabo de perguntar.

— Ainda não. — Neste momento me viro para Elai. Ele observa Nicolai e
os dois conversam apenas com olhares.

— Ok, eu vou levá-las ao shopping, então.

Me aproximo e pego Liz e uma bolsa, que já está preparada. Saímos, mas
mesmo assim algo não está certo. No elevador, novamente me viro para Elai.

— Aconteceu alguma coisa? Achei tão estranho não ver Isabela.

— Ela deve estar se arrumando para a universidade.

— Mesmo assim, achei estranho.


— Eles tem que conversar sobre um assunto, esse é o motivo de nos querer
longe.

— É tão sério assim para não querer a filha deles perto?

Elai me encara.

— Sim. É sério a esse ponto.

Ok, acho que não preciso de mais explicações. Fora que vai ser legal
passear um pouco com Liz. Ela segura uma mecha do meu cabelo e começa a
brincar.

Não demora muito e chegamos ao shopping. Coloco Liz em um carrinho e


começamos a passear. Elai fica ao meu lado, mais sério do que o normal, e o
pego observando tudo e todos. Mas isso é de se esperar, pois estou com a filha do
seu chefe.

Passo em frente a uma loja de roupas de criança. Observo a vitrine e vejo


um conjunto para recém-nascido amarelo, a coisa mais linda do mundo.

— Eu não acho que caberia na Elizabeth.

Me viro para ele, e o seu olhar vai para o meu rosto.

— Eu sei.

Ele percebe o que eu quis dizer, porque vejo o seu olhar indo direto para a
minha barriga. Por algum motivo, me arrepio.

— Se você quiser, podemos dar uma olhada.

Na verdade, eu gostaria, mas dentro de mim sinto que ele está fazendo isso
só porque está se sentindo na obrigação.

Dou um sorriso sem graça.


— Não precisa, ainda temos tempo. Afinal, não sabemos se é menina ou
menino.

— Ok.

Saímos dali e levamos Liz ao parque. Ela se diverte tanto que acaba
dormindo. Elai sai de perto de mim por uns minutos e logo volta com dois
sorvetes.

Quando passamos, vejo várias garotas olhando para ele, mas ele não
demonstra nenhum interesse. Ele é lindo, e eu sei que ele sabe disso e usa isso ao
seu favor.

Já são 23h quando saímos do shopping. Elai se senta ao meu lado e Liz
dorme tranquilamente.

Fico pensando se Isabela e Nicolai já resolveram as coisas.

Seguro Liz contra o peito e ela sorri mesmo quando está dormindo.

Ao abrir a porta do apartamento, dou um passo para trás. Elai se aproxima


e vemos o apartamento um caos. Vários pedaços de vidro no chão.
Imediatamente o meu coração se acelera. Elai entra imediatamente e ouço um
barulho. Então vejo Isabela descendo as escadas. Os seus olhos estão vermelhos.
O meu coração se aperta ao vê-la se aproximando.

— Isa, o que aconteceu?

Ela tenta demonstrar que está um pouco melhor, com um pequeno sorriso.

— Ela se divertiu?

— Sim — respondo, mas fico olhando para ela, e logo em seguida para o
apartamento.
Elai vem ao nosso encontro.

— Onde está Nicolai? — ele pergunta.

A vejo engolindo em seco quando escuta o nome do marido.

— Não sei, já tem mais ou menos uma hora que ele saiu e não atende as
minhas ligações.

Elai olha para mim, e já sei o que ele quer.

— Eu ficarei aqui até você chegar.

Ele balança a cabeça, concordando e sai.

Levamos Liz para o seu quarto, e quando saímos vejo Isabela chorando.
Não sei o que fazer e apenas a abraço. Vamos para o seu quarto e ela se senta
com a cabeça baixa. Me aproximo e fico ao seu lado.

— O que aconteceu?

Ela fica um momento calada, mas levanta a cabeça e olha para mim.

— Eu estraguei tudo.

— Tenho certeza de que vocês vão resolver.

— Acho que não. Eu menti, Lu. E sinto que ele não vai me perdoar dessa
vez.

— Tenho certeza de que você teve um bom motivo, Isabela. Você é uma
pessoa que pensa mais nos outros do que em você mesma. É uma pessoa boa, e
Nicolai sabe disso. E ele te ama, dá para ver só no jeito que ele te olha.

— Eu não sei até que ponto o amor dele suportará essa mentira.
Fico sem saber o que falar. Depois de um tempo, a convenço a ir tomar um
banho. Fico no quarto, pego o telefone e ligo para a pessoa que eu tenho certeza
de que vai ajudar.

No segundo toque, Laura atende.

— Oi, Lu. Aconteceu alguma coisa?


CAPÍTULO 23

Termino de me arrumar atrasada. Não encontro Nicolai aqui em cima,


então provavelmente ele está no escritório. Vou direto para o quarto de Liz. Já
abro a porta sorrindo, mas o sorriso morre quando eu vejo Nicolai sozinho, em
pé, olhando pela janela. Quando se vira, percebo que alguma coisa está errada. A
sua expressão está estranha. Procuro com o olhar, mas a minha filha não está
aqui.

Vou em sua direção.

— Liz...

Ele sorri, e me dá um beijo.

Nicolai segura no meu rosto por um momento e me dá mais um beijo, mas


esse é no alto da cabeça. Fecho os olhos por um momento.

— Pode ficar tranquila. Pedi à Luiza e Elai para irem passear com ela no
shopping.

Acabo suspirando, mesmo assim algo está errado.

— Precisamos conversar — ele diz, sério e dou um suspiro.


— Tem que ser agora? Estou um pouco atrasada. — Pego o celular e vejo
as horas.

— Sim. — A sua expressão se torna mais sombria.

— Ok. O que aconteceu?

Ele me observa por um momento, me avaliando.

— Ontem, já tarde da noite, Elai apareceu aqui todo machucado.

— Ele está bem? — o interrompo.

Nicolai sorri quando responde:

— Sim. Ele está bem.

Balanço a cabeça.

— Ele estava em um galpão. Seguiu um carro suspeito, por um tempo —


Nicolai fala cada palavra olhando diretamente para os meus olhos.

— Ele percebeu que tinha alguma coisa errada, então se escondeu para ver
o que estava acontecendo — ele prossegue.

As minhas mãos começam a tremer, por algum motivo sinto para que rumo
esta conversa vai, e neste momento abaixo o olhar, não conseguindo mais encará-
lo.

— Ele presenciou um encontro entre um homem mais velho — ele se


aproxima, ficando muito próximo do meu rosto — e a sua irmã.

As minhas mãos tremem, e lágrimas silenciosas escorrem pelo meu rosto.

Ele segura meu rosto, e o levanta. Vejo algo no olhar do meu marido,
compaixão, mas eu não mereço isso.
— Eu sei que é uma situação complicada, eu sei disso, mas preciso fazer o
que for preciso para pará-la. — Eu sei o que ele está querendo dizer, matá-la. —
Informei ao seu pai que precisamos conversar, ele está me esperando mais tarde
para uma conversa.

Eu não consigo olhar para ele, não consigo encará-lo. Porque no momento
que eu fizer isso ele saberá que eu sei disso. A minha garganta se fecha. Respiro
fundo, tentando controlar o meu coração, mas não dá, não consigo.

Ele segura novamente no meu rosto, o levantando. O seu olhar é de


preocupação, mas aos poucos vejo que ele está compreendendo. Ele solta o meu
rosto, dá um passo para trás, mas os seus olhos continuam em mim. Algo no seu
olhar se quebra, e não sei se conseguirei um dia consertar.

Ele sorri, não acreditando.

— Há quanto tempo você sabe? — A sua voz é baixa, mas sinto como se
fosse gelo perfurando a minha pele.

— Nicolai...

Dou um passo na sua direção, tentando chegar perto, mas ele simplesmente
se afasta do meu toque e sai do quarto a passadas rápidas. Respiro fundo. Vou
atrás.

Quando estamos na sala, o vejo parado mais uma vez próximo da janela. O
meu coração martela no peito em um ritmo insano.

— Há quanto tempo você sabe? — pergunta mais alto, mas não respondo,
não consigo.

Ouço um barulho alto. Levanto o olhar e o vejo respirando rápido. Há


vários pedaços de vidro no chão.
Ele se aproxima.

— HÁ QUANTO TEMPO VOCÊ SABE, PORRA?! — ele grita tão alto


que mesmo não querendo, levanto o olhar e o vejo próximo, respirando de um
jeito aterrorizante.

O seu rosto está vermelho, a gravata que ele está usando não está mais no
lugar, assim como o seu blazer.

— Nicolai... — Levanto a mão para tocá-lo, mas percebo que é uma


péssima ideia, e no mesmo instante abaixo a minha mão. — Há algum tempo.

Ele me encara sem acreditar.

— Você sabia que a vadia da Valentina armou esse circo todo, colocando
você, as suas amigas, a minha filha… todas em perigo, e mesmo assim você não
me falou? Você resolveu esconder?

— Eu queria encontrá-la para conversar. — A minha visão está nublada, as


lentes dos meus óculos estão embaçadas. Os retiro e as lágrimas saem livremente.

— Você queria ajudar?

Ele não esconde a indignação em cada palavra.

— O meu pai, Nicolai, já perdeu tanto, eu... eu não queria que ele perdesse
mais nada.

— Você está se ouvindo, Isabella?! Está conseguindo se ouvir? Aquela


vadia tentou assassinar não só você, mas as suas amigas também. Aquela mimada
do caralho tentou sequestrar a nossa filha. E VOCÊ SABIA DE TUDO E
MESMO ASSIM NÃO FALOU NADA!

— Nicolai, tenta entender, eu não fiz isso por mim, e sim pelo meu pai.
Ouço uma risada de escárnio vinda dele.

— O seu pai... eu tenho certeza de que entenderia.

Ele anda de um lado para o outro, como um animal enjaulado.

— Esse é o seu problema! Esse sempre foi o seu problema, você... — ele
aponta o dedo para mim — ... acha que todos são bons, que as pessoas podem
mudar, mas sinto te informar que essas coisas só acontecem em livros e em
filmes. Na vida real eles são uns filhos da puta e nenhuma conversa vai fazer com
que esses filhos da puta mudem, e você só vai entender isso quando for tarde
demais.

Ele dá uns passos em direção à porta, mas me coloco na sua frente e tento
impedir.

— Por favor... por favor, me perdoa.

— Há um tempo nós dois prometemos que não existiriam mentiras entre


nós. Eu te prometi que nunca mais esconderia nada de você. Eu cumpri, mas
você, como sempre, acha que está fazendo o certo ao esconder mais uma coisa de
mim. — Observo o seu rosto e vejo os seus olhos sem brilho algum, e sei que é
tudo culpa minha.

— Eu estava tentando salvar a todos. — A minha voz sai tão baixa que por
um momento não acredito que seja minha.

— Esse é o problema. Nem toda pessoa tem que ser salva. E mais para
frente eu sei que você irá se arrepender profundamente de não ter me contado. —
Ele respira fundo, colocando a máscara que está acostumado a usar com as
pessoas, uma máscara fria. — Eu irei encontrar a miserável da Valentina e ela irá
pagar por tudo. Quando eu terminar com ela, não terá nada para salvar, isso eu
garanto.
As minhas mãos tremem, e ele sai batendo a porta.

Estou sentada na cama, os meus olhos ardem sem parar. Luiza está no
quarto com Liz. Elai saiu há um tempo à procura de Nicolai. Me sinto tão mal,
me sinto pesada, como se eu estivesse andando em direção a um lago de águas
escuras, e a cada passo que dou eu vou me afundando. Só consigo olhar para a
água e não consigo parar.

Ouço passos, levanto o olhar e vejo Laura na minha frente. Mais lágrimas
saem. Me levanto e a abraço, ela corresponde. Ficamos assim até eu me acalmar.

— Ele me odeia, Laura.

O meu peito dói.

— Ele nunca vai te odiar, Isa, aquele babaca arrogante te ama.


CAPÍTULO 24

As minhas mãos seguram um copo. Observo o líquido marrom do uísque


por um tempo e logo depois o viro de uma vez. O líquido amargo se instala na
minha boca. O som alto da boate não faz com que eu esqueça das mentiras, da
mulher que jurou nunca mais fazer isso. Dou um sorriso de escárnio, imaginando
o desgraçado do meu pai sorrindo junto com o capeta ao me ver sofrendo por
uma mulher. Afinal, a frase que eu sempre ouvia ele falar era que mulheres
serviam apenas para trepar, nada mais que isso.

Maldito infeliz! Devo estar bastante embriagado mesmo para pensar


naquele inferno. O barman enche mais uma vez o meu copo.

Os meus pensamentos viajam para tudo que já aconteceu com nós dois.
Merda! Fecho os olhos com força. Por que ela tinha que mentir? Eu sei que é a
irmã dela, mas aquela vadia da Valentina não merece nada. Absolutamente nada!

Ouço um suspiro ao meu lado.

— Bebendo para esquecer?

Não preciso me virar para saber que é Elai.


— É como dizem, não é mesmo? Nada melhor do que uma boa dose de
uísque.

— Pela sua cara, acho que nem todo o uísque do mundo vai te fazer
esquecer, porque dá para perceber que foi algo sério — Elai fala e pede uma dose
ao barman.

— Mas sempre podemos tentar. — Passo a mão pelo cabelo. O meu


sangue está fervendo. O meu único pensamento é matar aquela desgraçada.
Apenas isso.

— Você quer conversar, Nicolai?

Não respondo. Os meus pensamentos estão ocupados em imagens de como


irei torturar aquela vadia por ter pensado, por um momento, em sequestrar a
minha filha.

— Isabela está preocupada.

Sorrio a menção do nome dela.

— Ela tem muita coisa para se preocupar, pode ficar tranquilo, e o


principal deles é parar de mentir para proteger pessoas insignificantes.

Elai levanta a sobrancelha, olhando para mim, sem entender e decido falar.

— Ela sabia que foi a irmã vadia dela que estava fazendo tudo isso. —
Viro mais um copo de uísque na boca.

Observo Elai parado, quieto. Algo brilha no seu olhar e sei o que ele está
pensando. Afinal, a mulher que está carregando o seu filho quase morreu
tentando proteger a minha filha.

— Mas por que ela ia esconder?


— Porque a minha doce esposa achou que poderia salvar a vadia da irmã
louca dela.

As mãos de Elai se fecham em punhos.

— Precisamos encontrar Valentina e acabar com isso. Isabela pode até não
aceitar, mas é o melhor. Não podemos deixar essa mulher solta.

— Isso nunca esteve em discussão. Eu irei encontrá-la, e te garanto que ela


irá desejar nunca ter me conhecido. O que eu fiz com a mãe dela não será nem a
metade do que farei com ela.

Elai não faz mais perguntas. Ele sabe que quero ficar quieto, mas ele, em
nenhum momento, sai do meu lado.

A imagem do rosto de Isabela fica passando pela minha mente e por um


momento fico pensando em como seria se eu não tivesse ido até Nova York atrás
dela. Mesmo com ódio, acabo sorrindo ao lembrar de como ela estava vestida
quando a encontrei naquele galpão. Mesmo eu odiando que ela tenha mentido, eu
consigo por um momento entender. Por isso acho que no fundo já deveria ter
aceitado o seu jeito doido de ser.

Isabela é uma pessoa boa. Diferente de mim, ela ainda consegue ver algo
bom até no mais desprezível dos seres. Ela é o meu total oposto. Eu quero mais é
ver sangue e ser o motivo desse sangue ser derramado. Ela vê uma pessoa que,
mesmo fazendo algo terrível, precisa de uma segunda chance.

Eu a amo, mas Valentina não terá essa segunda chance. Por mim ela irá
fazer uma visita a sua mãe no colo do diabo logo, logo.
Mesmo relutante, aceito a ajuda de Elai. Ele está dirigindo atentamente.
Sinceramente, estou tão bêbado que o que eu quero neste momento é dormir.
Apenas isso.

O carro para. Mesmo achando que não precisaria da ajuda dele, ele fica ao
meu lado até chegarmos ao apartamento.

Ao entrar, vejo Luiza sentada no sofá. Ela se levanta ao me ver, mas o seu
olhar vai em direção a Elai. Apenas sigo o meu caminho.

Abro a porta do meu quarto e vejo Laura ao lado de Isabela. A ignoro e


vou diretamente para o banheiro. Tento tirar a minha blusa, mas não estou
conseguindo. A porta se abre e vejo Isabela se aproximando. Não a impeço
quando sinto as suas mãos desabotoando os botões da minha blusa social preta.

A observo por um momento e vejo os seus olhos inchados. Fecho os meus


olhos com força ao sentir o meu coração acelerado.

Lágrimas descem pelo seu lindo rosto, mas ela continua em silêncio.

— Para de chorar!

Ela passa a mão no rosto, e olha para mim.

Mesmo lutando contra tudo o que estou sentindo, eu a seguro e a abraço


forte. Sinto o seu cheiro, um cheiro leve de morango. Inspiro profundamente,
tentando salvar esse cheiro para sempre nos meus pensamentos. Ela me abraça
com força. Não falamos nada. Apenas ficamos assim por um tempo.

Passo a mão pelos seus cabelos, sentindo a maciez dos fios.

— Me desculpa! — Ouço a sua voz rouca e baixa. Respiro fundo antes de


responder.

— Eu não quero brigar com você. Não quero te fazer chorar. Eu te amo
demais para te ver sofrer. Acho melhor tentarmos dormir por hoje. Amanhã
conversamos. Pode ser?

Beijo o alto da sua cabeça. Ela olha para mim com aqueles lindos olhos
azuis. Balança a cabeça, concordando comigo.

Tomo um banho rápido, e ao sair do quarto a vejo sentada na poltrona,


dormindo. Me aproximo, retirando o notebook das suas mãos. Eu a pego nos
braços e a coloco na cama.

O seu rosto está levemente inchado. Passo a mão, acariciando-o. Respiro


fundo e saio do quarto. Ao descer as escadas, não tem ninguém. Pego o meu
celular e vejo uma mensagem de Elai avisando que levaria Luiza e Laura embora,
e que amanhã estaria aqui cedo para resolver tudo.

Subo as escadas novamente e vou diretamente para o quarto da minha


filha. Eu a vejo dormindo tranquilamente. Um pequeno sorriso se forma no meu
rosto. Eu a deixo dormindo e volto para o meu quarto, me deito na cama e fico a
observando dormir.

Por mais que eu tenha me esforçado, eu não consigo dormir. Porque tudo
que eu penso é em encontrar Valentina. E, naquele momento, no escuro do meu
quarto, o meu pensamento é único e exclusivamente em como eu a farei pagar.
Estamos no carro com Elai. Ele fica calado, assim como Laura. Observo
por um tempo a janela do carro e fico pensando em Isabela. Afinal, o que
aconteceu? Tenho certeza de que os dois sabem, mas fico sem graça em perguntar
agora.

Quando chegamos, Laura entra e fico um pouco na porta. Me viro na


direção de Elai.

— O que aconteceu?

Ele passa a mão pelo cabelo, o bagunçando.

— Merda! Apenas isso. É complicado. Não acho que seja certo eu contar,
mas Nicolai está mal. Enfim… é melhor deixar eles resolverem.

Balanço a cabeça, concordando com ele.

— Eu queria poder ajudar Isabela. — A minha voz sai baixa.

Elai dá um passo em minha direção, se aproximando.

— Eu sei — o tom da sua voz está bem mais calmo —, mas esse assunto é
bastante complicado, mas fique calma, ok? Eles vão dar um jeito.

Balanço a cabeça, concordando com ele. Já estou entrando quando ouço o


meu nome.

— Luiza!

Me viro novamente.
— O que foi? — pergunto.

— Quando será a próxima consulta? Eu… eu. — Ele começa a ficar


nervoso.

— No próximo mês, dia 8, mas você não precisa ir, está tudo bem. — Me
viro novamente para entrar.

— Eu quero ir. Se não for um problema para você.

Respiro fundo.

— Não é um problema. Só confirme comigo antes. Eu não quero ficar


esperando.

— Eu confirmarei. E, Luiza! Me desculpe por não ter aparecido na última.

Me viro novamente para ele, já rente à porta.

— Eu sei que da última vez não foi sua culpa. Eu entendo.

Elai se aproxima novamente, ficando a centímetros de mim. O meu


coração dispara.

— Durma bem. — Ele dá um beijo no alto da minha cabeça.

Quando entro no apartamento, vejo Laura sentada no sofá com o seu


notebook. Me aproximo e fico na sua frente.

— Você não vai dormir?

Ela sorri.

— Perdi completamente o sono, então decidi escrever um pouco.

— Eu entendo, mas não fica muito tempo acordada.


— Pode ficar tranquila, Lu!

— O que foi?

— Aconteceram tantas coisas que acabei me esquecendo de te perguntar.


Você sabe que irei me casar com Paollo. Bem... não será uma coisa grande, só
para os mais íntimos, mas eu gostaria que você fosse uma das minhas madrinhas,
junto com Isabela e Ana. Você aceitaria?

Fico um momento olhando para ela sem acreditar.

— Me sentiria muito honrada em ser sua madrinha, Laura.

Ela sorri.

— Muito obrigada! É muito importante para mim. Saber que estarei


cercada de pessoas como você me faz muito feliz.

— Pode acreditar, eu estou muito feliz em fazer parte desse momento da


sua vida.

Ela sorri mais uma vez, se levantando, e me dá um abraço forte.

— Quando será o casamento?

— Se não tiver nenhum contratempo, daqui a dois meses. Espero que até lá
já esteja tudo resolvido.

Ela não precisa terminar a frase para que eu saiba que está falando de
Nicolai e Isabela.

No outro dia, estou no carro com Elai. Ele está quieto e pensativo. Não fala
nenhuma gracinha. O que não combina com ele em nada.

— Você está preocupado?


Ele se vira para mim por um segundo. Dá um suspiro e volta a sua atenção
para a frente.

— Estou pensando em umas coisas, mas pode ficar tranquila, não é nada
sério. — Ele sorri. — Mudando de assunto, quando será a sua próxima sessão de
fotos?

Estou tão preocupada com Isabela que acabei me esquecendo disso.

— Pode parar. Eu não vou te dizer nada.

Ele sorri mais uma vez.

— Adoro você sabia, Lu? Você acha mesmo que não vou descobrir de um
jeito ou de outro.

Dou um suspiro.

— Eu estou bem, Elai. Não vou precisar de ninguém me vigiando. Eu…


eu.. — Respiro fundo. — Não quero, por favor.

Ele fica em silêncio, mas depois fala:

— Eu te entendo. Juro, mas, Lu, tenta entender o meu lado. E se algo


acontecer? Eu não vou me perdoar nunca. Se você vai ficar tão incomodada, eu
posso ficar no carro se as sessões forem em um local fechado, mas se for ao ar
livre terei que ficar perto.

Dou um suspiro, derrotada.

— Faça o que você quiser.

Ele sorri mais uma vez.

— Não vai me dizer quando será a próxima sessão de fotos?


Me viro para ele.

— E facilitar o seu serviço? Não, muito obrigada. Descubra sozinho.

— Pode ficar tranquila. Eu descobrirei.

Ao entrar no apartamento, tudo está arrumado, sem nada fora do lugar. Elai
vai direto para o escritório de Nicolai, e como sempre vou até o quarto de
Elizabeth. Isabela está lá. Ela não fala muito, mas ainda dá para ver as manchas
roxas abaixo dos seus olhos.

Fico sozinha a manhã toda. Nicolai sai com Elai e Paollo, só confirmando
o que eu já suspeito, que algo de estranho está acontecendo.

Ao voltar para casa, Elai mais uma vez está calado. Não puxo papo porque
eu sinto que alguma coisa aconteceu. Mas o que seria?
CAPÍTULO 25

Quando volto para casa, ainda estou lembrando da cena do pai de Isabela
pedindo para que Nicolai não fizesse mal à filha dele. Vê-lo ajoelhado pela
maldita filha me faz ficar pensando que o amor de um pai vai a esse extremo.
Implorar pela vida da filha, mesmo sabendo que ela não presta.

Tomo um banho demorado. Eu estou ficando celibatário, não é possível. Já


tem tanto tempo que não procuro por sexo que já está ficando difícil.
Sinceramente, não sei o que está acontecendo comigo.

Passo a mão pelo cabelo, nervoso. Termino de vestir um terno preto e estou
calçando os sapatos quando ouço uma batida na porta. Me levanto. Ao abrir a
porta, vejo Luiza parada, segurando algo. Ela sorri ao me ver, e algo no meio
peito se aquece. Tento me controlar, mas acabo sorrindo para ela. O que está
acontecendo? Por que o meu coração está tão acelerado só de vê-la?

— A última vez que fiz, você gostou, então resolvi trazer para você — ela
fala, para logo em seguida me entregar uma vasilha de vidro.

Ao abrir, vejo vários pães de queijo.

— Você se lembrou?
Ela sorri mais uma vez.

— Como não me lembraria? A última vez você quase comeu tudo e ficou
me enchendo a paciência para fazer só para você.

— Eu me lembro bem.

A observo por um momento. Ela não está mais com a roupa de antes.
Observo o seu vestido branco, com pequenas flores, o seu cabelo, agora liso,
amarrado no alto da cabeça, deixando o seu pescoço todo à mostra. Não consigo
nem falar muito da sua boca, que é um verdadeiro pecado. Então, sinto algo
crescendo dentro da minha calça.

Entro no apartamento, tentando disfarçar.

— Entra um pouco, Lu.

Ela parece pensar e acaba aceitando o meu convite.

— Você vai sair?

— Mais tarde. — Guardo a vasilha em cima da mesa.

— Se eu estiver atrapalhando, eu posso ir embora — Luíza fala sem graça.

— Você nunca atrapalha. Vem se sentar. Tenho algo para você. Ia te dar
mais tarde, mas já que você está aqui...

Ela me olha e levanta uma sobrancelha, desconfiada.

Vou até o meu quarto e pego o presente. Me sento no sofá e lhe entrego.

Ele começa a abrir, e vejo o seu olhar de surpresa ao ver o que é.

— Você comprou isso para o bebê?!


— Claro. Eu vi que você gostou, quando nós estávamos no shopping.
Então eu resolvi ir lá e comprar. Como não sabemos o sexo ainda, decidi comprar
branco e amarelo, acho que vai ficar bom no nosso filho.

Ela me encara, surpresa, por um momento.

— Você não gostou? Podemos ir lá trocar agora mesmo.

— Não é isso. É só que… é a primeira vez que você falou nosso filho.

Então percebo que nunca tinha dito isso e vejo, naquele momento, o tanto
que sou estúpido.

— Me desculpa, Lu, por não ter dito isso antes, eu sou um idiota.

Ela sorri.

— Isso eu tenho que concordar, mas sério, eu amei. Obrigada!

Observo, mais do que o normal, o seu rosto, o seu sorriso tão meigo e
sincero e percebo ela ficando corada.

— Por que você está me olhando assim?

Dou um sorriso.

— Assim como?

Ela fica mais vermelha.

— Desse jeito. — Sua voz é tão baixa.

— É porque você é linda, Lu. Por isso estou olhando para você assim. —
Decido ser sincero.
Ela não fala nada, apenas me encara. Eu não sei por quê, mas me aproximo
mais, passo a mão pelo seu rosto e ela fecha os olhos.

Estou tão perto, que sinto a sua respiração quente. Quando ela abre os
olhos, me encara.

— O que você está fazendo?

— Nada do que eu queria.

A vejo engolindo em seco.

— E o que você quer fazer?

Sorrio, me aproximando mais.

— Isso.

Seguro na sua nuca e a beijo. Sinto o sabor da sua boca se misturando com
a minha. Seguro na sua cintura, aproximando o seu corpo do meu. Ela abre a
boca e não perco tempo, começo a explorá-la do jeito que eu queria. Sinto a sua
mão tão delicada no meu pescoço.

O que começou com um beijo calmo logo se torna algo mais carnal. A
seguro firme pela cintura e a coloco no meu colo. O meu pau está tão duro que o
sinto doente em contato com a cueca. Não ajuda muito quando Luiza se move no
meu colo. Eu sei que ela está de vestido, o que não ajuda muito, mas também não
quero apenas rasgar a sua calcinha e meter o meu pau com força dentro dela.
Porque com certeza era isso que eu faria se fosse qualquer outra no seu lugar, mas
por algum motivo eu não consigo fazer isso com ela. Me surpreendo com os
meus próprios pensamentos ao parar de beijá-la.

Ela me encara, surpresa. Observo os seus lábios vermelhos e levemente


inchados.
— Eu não vou fazer sexo com você neste sofá, assim.

O seu rosto fica vermelho novamente.

— Você merece muito mais do que isso. — Passo a mão pelo seu cabelo e
retiro uma mecha que cai sobre o seu rosto.

Só neste momento é que eu percebo que o que Luiza precisa não é


relacionamento baseado no sexo, mas sim relacionado a minhas atitudes com ela.
Olho para o seu lindo rosto e me dou conta de que nunca me senti assim por
ninguém. Nunca pensei em proteger alguém como eu quero protegê-la. No
começo penso que é por causa do bebê que está eu sua barriga, mas não. Esse não
é o motivo. O verdadeiro motivo é que eu estou completamente apaixonado por
ela. E burro como eu sou só percebi agora.

Engulo em seco ao identificar o que sinto. Acaricio novamente o seu rosto.

— Lu, eu realmente gostaria de te conhecer melhor, mas tudo certo dessa


vez.

Ela apenas me observa atentamente.

Engulo em seco antes de prosseguir.

— Você quer sair comigo? — Respiro fundo. — Porque, sinceramente, eu


gostaria de ter um encontro com você.
CAPÍTULO 26

O meu coração acelera só de ficar olhando para ele, mas não consigo
responder.

— O que você me diz? — Ele segura firmemente a minha cintura, fazendo


com que os nossos corpos fiquem mais juntos. Engulo em seco.

— Vou ser bem sincera com você, Elai.

— Não espero nada menos que isso. — Ele olha diretamente para o meu
rosto.

— Você não é do tipo que fica só com uma mulher. Eu não quero me iludir,
afinal, você já me mostrou várias vezes esse seu lado.

Elai passa a mão delicadamente pelo meu rosto, os pelos do meu corpo se
arrepiam na hora.

— Eu sei que não sou a pessoa mais certa do mundo, eu sei disso, mas
prometo não te magoar. — Ele respira fundo. — Eu não quero te magoar, Lu.
Então acredite quando falo que isso não é brincadeira. Eu nunca falei tão sério
como agora.
— Eu não consigo te dar uma resposta agora. — Sinto cada pelo do meu
corpo arrepiar.

Mesmo sabendo que nunca deixei de gostar de Elai, eu não quero me


magoar novamente. Eu não quero criar expectativa que desta vez dará certo. Não
quero sentir o que senti quando vi aquela garota saindo do seu apartamento. Sei
que estou fazendo o melhor para mim, não criando expectativas em relação a ele.

Ele me beija no rosto.

— Eu espero a sua resposta. Eu não tenho pressa. Lhe mostrarei um lado


diferente de mim mesmo. Lhe mostrarei que sei esperar. Que farei de tudo para te
mostrar que tudo que estou falando para você é verdade.

Engulo em seco, e olho para ele. Elai deposita um beijo suave no meu
pescoço e vai deixando beijos pelo caminho, até chegar na minha boca. Ele
pressiona uma mão na minha cintura. Por um momento, penso em me entregar
novamente a ele. Penso em senti-lo dentro de mim. Estaria mentindo se falasse
que não gostaria disso, mas me controlo, não vou cometer os mesmos erros. Não
vou agir por impulso. Darei um tempo a ele para me mostrar que realmente pode
mudar. Respiro fundo, e me afasto dos seus lábios.

— Eu preciso ir agora. — A minha voz sai baixa e extremamente rouca.

Ele me olha, foca na minha boca, e o vejo engolindo em seco ao me


encarar nos olhos.

— O que você desejar.

Mais uma vez ele me beija, mas desta vez muito mais calmo.

Quando ele para o beijo, me fala:

— Te vejo amanhã.
Na manhã seguinte, ele está à minha espera no corredor. Estou evitando
encará-lo porque a todo momento fico pensando em seus lábios juntos aos meus.

Dou um suspiro ao entrar no carro com ele. O meu celular vibra e vejo
uma mensagem de Nathan me avisando que terá uma sessão de fotos amanhã às
17h e me manda o endereço do local. Respondo que estarei lá.

Quando chegamos ao elevador do edifício de Isabela, ele se vira para mim.

— Você gostaria de ir ao cinema comigo hoje?

O observo por um momento, não acreditando em suas palavras.

— Cinema?

Ele sorri. Eu me pego encarando aquele maldito sorriso lindo que ele tem.

— Sim, Lu. Um cinema. O que me diz?

Estou tentando controlar os batimentos do meu coração, que se


intensificam a cada segundo. Respiro fundo ao senti-lo perto. Perto demais para a
minha sanidade mental.

— Eu... eu adoraria. — Para ficar mais ridículo, começo a gaguejar e o


meu rosto fica vermelho na hora.

Elai sorri, mas esse sorriso não tem ironia. É um sorriso de alívio, como se
estivesse com medo da minha resposta ser negativa.
Ao entrar no apartamento, vejo Nicolai na sala e Elai também percebe a
atmosfera pesada.

Eles vão para o escritório, e mesmo curiosa subo as escadas em direção ao


quarto de Elizabeth.

Quando saímos, Elai não fala nada, está em silêncio e a sua expressão é
dura. Alguma coisa realmente o está deixando preocupado. Quando estamos no
corredor, ele finalmente fala:

— Eu vou ter que desmarcar o nosso encontro hoje, me desculpa.

— Aconteceu alguma coisa?

Ele respira fundo, e olha para mim.

— Eu preciso viajar para os Estados Unidos ainda hoje. Na verdade, só irei


arrumar uma pequena mala e vou.

Levanto uma sobrancelha, surpresa pelas suas palavras.

— O que aconteceu para você ter que ir assim, do nada?

Ele suspira.

— Tenho que resolver um assunto para Nicolai. — Ele é breve em suas


palavras, o que faz com que eu fique mais nervosa. Por alguma razão estou
realmente preocupada com ele.

— Tem que ser você?

— Sim, Lu. Tem que ser eu.

— Quanto tempo você vai ficar?


— Acho que uma semana, mas não vou te dar garantia sobre isso. Tudo
depende de quanto tempo eu vou conseguir… — Ele para no meio da frase. —
Enfim... Acho que uma semana vai dar.

Conseguir? Dar? Por que eu estou assim? Uma sensação ruim passa pelo
meu corpo, o fazendo arrepiar.

Ele continua.

— Mas farei questão de irmos ao cinema quando voltar, isso é uma


promessa. — Elai se aproxima e me dá um beijo no rosto.

Não sei o que está acontecendo comigo, mas sinto uma grande necessidade
de abraçá-lo. Então faço isso e afundo o meu rosto no seu peito, sentindo o seu
cheiro, como se eu quisesse guardá-lo para sempre. Ele evita por um momento,
mas depois se rende e me abraça com força.

— Se cuida.

Ele sorri.

— Pode ficar tranquila, minha pequena, eu sempre me cuido.


CAPÍTULO 27

Ao entrar no escritório de Nicolai, percebo que algo não está certo. Ele vai
em direção à garrafa de uísque e se serve de uma dose, me oferece, mas nego,
pois estou mais interessado no que ele tem a me dizer.

— Vou direto ao assunto. Você conhece Yuri Joseph?

— O chefe da máfia América?

Ele balança a cabeça, concordando.

— A única coisa que eu sei é que ele é um filho de uma puta fodido. Por
quê?

— Há uma semana fiquei sabendo de fontes confiáveis que ele era o


homem que estava conversando com a irmã de Isabela naquele galpão.

Dou um passo em sua direção.

— Era ele?

— Sim. O desgraçado se achou no direito de ajudar aquela vadia.

— Como Valentina o conheceu?


— Eu gostaria de saber, mas não é só isso, também fiquei sabendo que ele
está traficando mulheres para a Rússia, Argentina e Noruega. Eu quero que você
vá até Nova York e descubra tudo o que ele sabe de Valentina. Depois, eu quero
que você dê um belo tiro na cabeça daquele infeliz.

— Eu não sou contra dar um fim na vida dele, mas e a família? Como vai
reagir à sua morte?

Nicolai vira o copo de uísque na boca, acabando com o seu conteúdo.

— Ele tem um filho. Luigi. Ele assumirá no lugar do pai. Ele é um


playboy, mas tem algo de útil. Ele odeia o pai, ainda mais do que eu. Ele dará um
ótimo Don.

— Ele já sabe o que o pai está fazendo?

— Provavelmente, sim. Estou conversando com ele e quero que você deixe
tudo certo antes de sair de lá. Quero saber de todos os detalhes. A minha única
vontade é estar na hora que ele finalmente morresse, mas confio em você para
essa missão. E o fato de você ser americano vai ser perfeito. Você vai partir hoje,
o seu voo já está marcado para às 16h.

Me lembro do meu encontro com Luiza.

— Enquanto eu estiver fora, quero que fique de olho na Luiza para mim.

— Pode ficar tranquilo, já informei a Paollo de tudo e ele cuidará dela para
você. Pode ter certeza.

Ao sair da sala, os meus pensamentos são só dela.


Sentado na poltrona deste avião, fico imaginando como Lu está. Dou um
suspiro ao lembrar dos seus braços envolvidos em mim. Do seu cheiro, do toque
suave das suas mãos. Respiro fundo. Os meus pensamentos são interrompidos
quando a aeromoça me entrega uma taça de champanhe. Ela sorri abertamente
para mim.

— O senhor gostaria de alguma coisa? — Ela passa delicadamente a mão


pelo meu ombro. Sei o que ela quer.

— Não preciso de nada, obrigado!

Ela sorri novamente.

— Tem certeza? — Uma pergunta, tantas oportunidades.

Se fosse antes, estaria me enfiando no meio das suas pernas naquele


banheiro minúsculo do avião, repetidas vezes, mas não quero isso. A única coisa
que eu queria neste momento é estar com Lu, aqui ao meu lado. Observar o seu
sorriso. Me perder em me imaginar beijando aqueles lábios macios e nada mais.

— Certeza absoluta, obrigado!

Ela faz uma cara de que não gostou da resposta e saí. Fecho os olhos e
sinto a minha cabeça doer. Sei o que tenho que fazer. Sei disso, mas não muda o
fato de que eu queria estar na Sicília protegendo a pessoa que é mais importante
para mim.
Estou no hall do aeroporto pegando a minha bagagem. Ao me virar vejo
um homem vestido com um terno preto. Ele se aproxima com um sorriso.
Levanto uma sobrancelha, desconfiado.

— Bom te ver, Elai. — Ele sorri e estende a mão para mim.

— E você, quem seria?

— Prazer, Luigi. Nicolai me informou da sua vinda. Vim te receber.

Ele percebe que eu não vou apertar a sua mão. Então a coloca no bolso da
sua calça.

— Nicolai não me informou que teria alguém me esperando.

Ele sorri.

— Provavelmente você já tinha entrado no avião, mas você pode ligar para
ele e confirmar.

Não respondo. Pego o meu celular e ligo para ele. No segundo toque ele
atende e me confirma a história do Luigi. Nas suas palavras, seria melhor ter
alguém ao meu lado que conheça tudo a respeito de Yuri, e nada melhor do que o
próprio filho para isso.

Entro no carro dele e fico em silêncio por um tempo. Respiro fundo e o


encaro.

— Você sabe o que farei com o seu pai, não é mesmo?

Ele não desvia o olhar, mas não vejo mais o sorriso que estava no seu rosto
quando nos conhecemos.

— Eu sei exatamente o que você vai fazer, só lamento que não seja eu a
fazer isso.
Observo uma sombra negra passando pelos seus olhos.

— Mas não podemos ter tudo que queremos, não é? Mas te ajudarei em
tudo que precisar.

— A única coisa que vou precisar agora é de uma arma.

Ele sorri.

— Meu amigo, acho que você vai gostar muito do que eu preparei para
você na minha casa.

Ele sorri ao encostar a cabeça no banco.

Não respondo. Estamos passando pelo centro de Nova York e vejo várias
pessoas passando apressadas. Está nevando, e neste momento lembro do que falei
para Lu naquele parque. De como Nova York era linda no Natal e em como os
seus olhos se iluminaram só de imaginar como seria.

Em outra ocasião gostaria de estar aqui com ela agora, olhando para Lu e
vendo o seu sorriso aumentando a cada coisa nova que visse, mas não estou.
Estou aqui para matar um homem. Na verdade, eu sei que essa não será a única
pessoa a morrer pelas minhas mãos nessa cidade.

Estamos em uma belíssima casa nos arredores de Nova York. Luigi me


acompanha até o quarto que ficarei. Ao entrar, vejo um baú marrom em cima da
cama. Ao abrir, vejo vários tipos de armas em seu interior. Desde pistolas a rifles
de Sniper Barrett M90 e M95. Os meus olhos brilham ao passar as mãos por elas.
Observo binóculos militares, coletes à prova de balas, granadas de todos os tipos
e várias munições. Ele tem, com certeza, um grande arsenal.

Me viro e o vejo encostado na porta, me observando.

— Você tem muita coisa aqui.


Ele se aproxima.

— É sempre bom estar preparado. Tem algo que você gostaria de saber
sobre o meu pai?

Suspiro.

— Muitas coisas. Preciso saber o horário que ele sai de casa, quantos
homens estão protegendo-o, segurança da casa, tudo. Se você puder me informar
isso já será de grande ajuda. Eu farei o resto.

A expressão do rosto dele se transforma em sombria.

— Acho que Nicolai não deve ter te avisado. Eu irei com você.

— Não. Não irá. Eu trabalho sozinho, e outra, não poderei me preocupar


com a sua bunda. Afinal, você será o novo chefe daqui.

— Acho que você não entendeu, eu irei, o prazer de ver o meu pai
morrendo… — Ele balança a cabeça, sorrindo. — Isso ninguém vai tirar de mim.
Pode ficar tranquilo, eu sei me cuidar muito bem.

Decido não discutir com ele sobre isso. Tenho coisas mais importantes
para fazer. Luigi me responde tudo o que pergunto. Estou montando um plano
para não dar nada errado, tudo tem que sair perfeito. No outro dia, saio cedo para
confirmar todas as informações passadas para mim. Yuri tinha uma rotina, todos
tinham. Assim penso.

Ele sai às 9h com três seguranças, em um carro blindado, permanece em


uma empresa, como CEO, mas é tudo fachada, ele aproveita a movimentação
financeira da empresa para lavar o dinheiro do tráfico de mulheres que está
gerenciando nas boates. Ao meio-dia, ele almoça em um restaurante reservado,
próximo à empresa. Ele só retorna para casa às 22h, isso depois de passar em
uma boate.
No terceiro dia, o sigo novamente, e é a mesma coisa. A mesma rotina. Em
nenhuma vez ele saiu com a sua esposa, uma garota de apenas 18 anos. Ao
pesquisar sobre ele, vi que o casamento só tem uma semana. Ele não saiu em lua
de mel com ela, o que, digamos assim, é de se esperar. Essas pessoas não confiam
em ninguém. O fato dela ser tão nova, eu já esperava, esses velhos sempre
procuram por garotas novas.

Ao final do dia, fico pesquisando tudo sobre a planta da sua mansão.


Preciso saber como entrar e como sair. Nesses três dias em que estou aqui, tenho
conversado com Nicolai e com Paollo.

Luiza está bem, e ficamos trocando mensagens, mesmo assim queria estar
lá com ela. Apenas três dias e já estou com saudades. Tento ignorar um pouco
isso, mas eu não estou conseguindo ficar longe dela. Dou um suspiro.

No quarto dia, preciso fazer o último reconhecimento do local. Encontro


uma mansão próxima a de Yuri. O casal que mora lá está de férias, o que ajuda.
Hoje darei um fim à vida daquele miserável. Não sem antes descobrir tudo sobre
Valentina.

Luigi está comigo. Ele é silencioso e apenas me observa, mas eu sei que
está nervoso, assim como eu.

No terceiro andar, tenho uma posição perfeita da mansão. Coloco o meu


rifle deitado e posiciono a mira telescópica. Foco no primeiro alvo. Um homem
ao lado direito de uma pequena varanda, o tiro é certeiro. Faço isso com mais
cinco, incapacitando todos eles. Mais que depressa, vamos por trás da casa. Forço
o cadeado de um portão e vamos abaixados até chegar na área da piscina.

Observo dois seguranças do lado de fora, miro no da esquerda e em poucos


segundos ele já está no chão. Quando vou finalizar o segundo, Luigi faz isso. Ele
só confirma, balançando a cabeça, e entramos. Já na cozinha, ouço sons de
conversas e sinalizo para Luigi ir pela esquerda, para pegá-los por trás, e ele vai.
Vou devagar até ver três deles conversando. Entro, e já atiro em um. Luigi acaba
com o que tentou fugir. Desarmo o terceiro e o seguro pelo pescoço.

— Onde está Don Yuri?

Ele me encara e cospe no meu rosto.

Dou um soco no seu estômago, e quando ele se curva o derrubo. Já no


chão, ele tosse sem parar e dou dois tiros nas suas pernas. Luigi observa o
corredor para ver se chega mais alguém.

O desgraçado grita e aponto a minha arma com silenciador na sua cabeça,


e pergunto mais uma vez:

— Irei perguntar mais uma vez, espero que me responda, onde está Don
Yuri?

Ele cospe sangue.

— No porão.

Dou um tiro na cabeça do infeliz e o sangue começa a se formar ao seu


redor. Nós descemos uma escada, devagar, e ao me aproximar sou recebido com
um tiro no peito. Sou jogado no chão com o impacto e sinto uma forte dor no
peito. Respiro fundo e me levanto. Me agacho e começo a trocar tiros com o
infeliz que me acertou. Luigi fica na retaguarda, me ajudando. Ele elimina mais
dois homens que estavam descendo as escadas. Consigo acertar o miserável que
me atingiu e ele cai no chão. Quando me aproximo, vejo sangue saindo da sua
barriga. Ele me observa com ódio e antes de terminar com a vida dele falo:

— É sempre melhor acertar a cabeça. Afina, você nunca vai saber se a


pessoa está ou não usando colete à prova de balas, idiota.

Dou um tiro na cabeça dele, e acabo com isso.


Ando pelo local e vejo um lugar com vários sofás e um bar enorme. Ouço
um barulho e vou andando até observar atrás de um sofá. Ao me aproximar, vejo
o desgraçado do Yuri agachado igual a um rato. Ao me ver, tenta atirar, mas sou
mais rápido e retiro a arma das suas mãos. Dou um soco na sua cara só pela
covardia desse verme. Luigi fica com o pai, apontando uma arma para a sua
cabeça. Tenho certeza de que ele está se controlando para não matar o velho
agora mesmo.

Dou mais uma volta e vejo uma porta. Ao abrir, está escuro. Acendo a luz
e o que vejo me deixa paralisado. O quarto tem uma cama com um lençol que um
dia foi branco, mas que agora está todo manchado de sangue. Vejo uma garota
encolhida no canto, nua, amarrada na parede. Ao me aproximar, a observo. Ela
treme sem parar. Vejo o seu corpo todo cheio de hematomas e sangue seco em
várias partes. Ela está com a cabeça baixa. Observo lágrimas rolando pelo seu
rosto. Dou um passo mais para perto. Ela se encolhe ainda mais, como se pudesse
se fundir à parede atrás dela.

— Eu não vou fazer mal a você.

Ela não responde, a sua única reação é chorar. Observo o quarto mais uma
vez e vejo uma câmera em um pedestal próximo da porta.

Mas que merda está acontecendo aqui?

Retiro o meu blazer e me aproximo novamente. Fico agachado para que ela
possa olhar diretamente para mim.

Ela me encara e vejo o seu rosto todo machucado, mas observo os incríveis
olhos azuis que ela tem.

— Eu só vou te cobrir, ok? Você está tremendo.

Ela fica calada, mas olhando atentamente as minhas mãos com o blazer.
Aos poucos, me aproximo, colocando-o em seus ombros para cobrir o seu corpo.
— Eu vou te soltar. Temos que sair daqui agora.

Ela não reclama quando me vê retirando as cordas dos seus pulsos


ensanguentados.

Acho que aos poucos ela entende que eu só quero ajudar. Com cuidado, a
ajudo a se levantar. Ela veste o blazer com dificuldade. Essa garota é forte. Não
sei como ela está conseguindo ficar em pé com o corpo nesta situação.

Ao passar pela câmera, retiro o seu cartão de memória e guardo no bolso


da calça. Ela anda devagar. Ao sair do quarto, Luigi olha para ela por um tempo,
e logo em seguida para o pai. Vejo os nós dos seus dedos ficarem brancos e sei
que neste momento ele já teria dado um tiro no pai se não fosse as ordens de
Nicolai.

Ao ver Yuri, a garota começa a tremer e vejo que a qualquer momento ela
vai desmaiar, então me aproximo.

— Pode ficar tranquila, ele não vai fazer mais nada com você. É uma
promessa. — Ela me encara, mas fica quieta. — Vamos sair daqui.

Seguro no seu ombro e vejo um pouco de relutância da sua parte ao meu


toque, mas eu não posso me preocupar com isso agora, preciso tirar ela daqui. A
qualquer momento pode chegar mais alguém.

No caminho de volta, ela vê o corpo do homem que deu um tiro em mim.


O seu corpo para e ela o encara, como se quisesse guardar aquela imagem para
sempre.

Conseguimos sair sem maiores dificuldades.

Coloquei Yuri no porta-malas, amarrado e amordaçado. A garota que não


sei o nome fica encolhida no banco de trás. No primeiro momento não falamos
nada, mas acabo perguntando o que tanto queria.
— Você a conhece?

Luigi fica um pouco em silêncio, mas se vira para mim. Vejo ódio no seu
rosto.

— Ela é a esposa dele.

Neste momento, entendo. O pai dele, além de traidor, é um fodido de um


sádico.

Mantenho o Yuri no porta-malas, e ajudei Luigi a levá-la para um quarto.


Ela olha para cada canto sem saber o que fazer. Na verdade, Luigi também olha
para ela sem saber o que fazer.

— Se deita e descansa. — Ela me encara.

— Ou se você quiser, pode tentar tomar um banho. O banheiro fica


naquela porta, irei pegar uma roupa para você — Luigi fala, e neste momento ela
o observa.

— Vou trazer alguma coisa para você comer e ligarei para uma médica de
minha confiança para vir aqui dar uma olhada em você.

Ele assume, o que agradeço. Acho que no fundo ele se sente


responsabilizado pelo que o seu pai fez para essa garota. Saímos do quarto para
que ela tenha mais privacidade.

— Você sabe se ela tem algum parente que possa ajudar?

— Duvido muito, essas pessoas que dão sua filha para pessoas como o
meu pai só pensam em dinheiro, tenho certeza de que a sua família recebeu um
bom valor por ela, mas vou dar uma pesquisada. — Ele suspira. — Vou fazer de
tudo para ajudá-la. O que você vai fazer agora?
— Tenho que ligar para Nicolai e relatar tudo que aconteceu e depois terei
uma conversa com o Don.

Ele balança a cabeça, concordando.

— Qualquer coisa é só me chamar, vou ligar para a médica, acho que é o


melhor a se fazer.

Ele desce as escadas. Vou até o quarto que estou, fecho a porta e retiro a
blusa social preta, logo em seguida o colete, e vejo uma grande área vermelha e
ao redor, no local em que levei o tiro.

Pego o cartão de memória do bolso e dou uma olhada. Há vários arquivos


numerados de 1 a 41.

Clico no primeiro. Vejo uma garota ruiva, nova, no máximo 15 anos, no


mesmo quarto em que a garota que eu encontrei está. As cenas que se seguem me
fazem apertar a mão em punho de ódio. Aquele lugar é usado como uma espécie
de câmara de tortura. Vários homens usando máscaras violentam a garota. A
espancam.

Cada arquivo é de uma garota diferente. Não consigo ver tudo que está ali.
No último, o número 41, é o da garota que eu salvei. A primeira imagem é dela
sendo jogada na cama, ela ainda está com um vestido de noiva. Aos poucos vão
entrando vários homens. Os únicos que não estão de máscaras são Yuri e o seu
segurança. Ele apenas observa aqueles animais segurarem a garota à força. Ouço
os seus gritos, que logo são silenciados.

Eles a violentam diversas vezes, a espancam, até que ela não consiga
suportar, e desmaie, mas isso não faz com que eles parem, continuam a usar o seu
corpo sem se importar se ela está consciente ou não. Pauso o vídeo e dou um
soco na mesa, de ódio.
Ao olhar a tela do notebook, vejo que tem mais vinte horas de gravação.
Isso foi apenas o começo. Não consigo continuar vendo. Respiro fundo, e destruo
o cartão de memória. Não acho que mais alguém precise ver aquilo.

Tento me controlar ao ligar para Nicolai. Relato tudo que aconteceu, mas
meu único pensamento é colocar as mãos no desgraçado que fez tudo isso. Don
Yuri irá sofrer, nem que seja a última coisa que eu faça.

Ao passar pela cama, vejo a minha mala e me lembro de um método de


tortura. Tenho tudo aqui neste quarto. Pego uma meia grossa, vou ao banheiro e
pego quatro sabonetes. Coloco tudo dentro da meia e saio.

Retiro o miserável do porta-malas. Ele esperneia igual a uma criança, então


dou uma coronhada na sua cabeça e ele cai.

Estamos no sótão da casa de Luigi, e ao passar pela sala o vejo próximo da


cozinha, preparando algo para a nossa convidada.

Ele me encara e sabe o que eu vou fazer logo em seguida. Enquanto ele tira
uma soneca, preparo tudo que preciso. Um pequeno kit que fiz com algumas
coisas que vou precisar.

Pego uma cadeira e faço um buraco no seu estofado. A parte asquerosa é


retirar as roupas desse inútil, mas termino, e agora ele está aqui, na minha frente,
sentado na cadeira, amarrado do jeito que eu quero. Fico um momento o
encarando e o ódio a cada segundo aumenta.

Aos poucos ele vai acordando e percebe onde está. Dou um sorriso para
ele.

— O que você está fazendo? Você é louco? Por acaso sabe quem eu sou?

Não respondo a nenhuma pergunta. Me aproximo de uma mesa e pego meu


soco inglês, o coloco. Me aproximo novamente dele.
— Eu sei exatamente quem você é. — Fecho a minha mão em punho rente
ao rosto e o vejo engolindo em seco, ao constatar o que farei com ele.

— Eu te dou o dobro — não respondo, só o observo. — O triplo, qualquer


coisa, eu tenho dinheiro, posso cobrir qualquer proposta que você tiver.

— Irei te fazer perguntas e espero que você me responda.

Suor se forma no seu rosto.

— Onde está Valentina?

Ele me encara.

— Eu não sei quem é Valentina. Eu nunca ouvi esse nome.

Dou um soco no seu rosto, cortando o seu supercílio e outro no seu


estômago, o fazendo se curvar na cadeira em busca de ar.

— Acho que ninguém explicou como funciona. Eu quero a verdade, eu sei


que você sabe quem é Valentina, eu sei que você está tendo negócios com ela. A
única coisa que eu não sei é onde ela está se escondendo, então lhe darei mais
uma chance. — Seguro no seu rosto, o levantando para que possa me encarar. —
Onde a Valentina está se escondendo?

Ele cospe sangue.

— Eu não sei.

Dou um sorriso.

— Muito obrigado, irei apreciar muito fazer você falar.

Me levanto novamente, pego a meia e ele começou a tremer. Acho que já


descobriu o que irei fazer.
— Eu estou falando a verdade, eu não sei de nada…

Não deixo que ele termine a frase, bato com a meia com força nas suas
partes íntimas.

Ele grita, grita, implorando para que eu pare, mas continuo, cada vez com
mais força.

Vejo sangue escorrendo. Ele treme, se mexe, tentando se soltar, mas não
consegue. Os seus gritos se tornam mais fortes, mais altos, e isso com certeza faz
a adrenalina nas minhas veias ir à loucura.

Quando vou bater de novo, ele suplica para que eu pare. Então repito a
mesma pergunta.

— Onde está Valentina?

O miserável está chorando.

— A última vez que entrei em contato ela estava em um hotel nos


arredores de Sicília, usando o nome de Victoria Zhires. Não sei se ainda está lá.

— Tem quanto tempo que você falou com ela?

Ele treme antes de falar.

— Uma semana.

— O que vocês falaram?

— Ela queria uns dez homens a mais para fazer a sua segurança. Então, os
enviei.

Dou a volta na sua cadeira.

— Por que ela te procurou?


— Ela precisava de dinheiro.

— O que você ganhou em troca?

Ele não responde de imediato, me aproximo e fico na sua frente.

— Ela quer matar todos vocês, e eu precisava de alguém para ficar no


lugar do Nicolai. Então fizemos um acordo, eu ia ajudar a conseguir o que ela
queria. No caso, vingança, em troca eu assumiria todos os negócios do Nicolai
como o novo Don da Sicília.

Dou um sorriso para ele.

— Vocês acharam mesmo que iriam conseguir?

— Você não conhece aquela garota, ela vai fazer de tudo para conseguir,
com ou sem a minha ajuda.

Neste momento, eu já sabia de tudo, dos planos de Valentina, e poderia


apenas acabar com isso dando um tiro na cabeça desse infeliz, mas não consigo, a
única coisa que vem a minha mente são as garotas que ele violentou.

Me abaixo e olho diretamente nos seus olhos.

— Eu poderia acabar com isso agora, um tiro na sua cabeça daria um fim
nessa sua vida de merda, mas não farei isso, você tem que sofrer e você vai pagar
por cada uma das 41 garotas que vocês espancaram e violentaram. A sua morte
será lenta, e a cada segundo que você estiver agonizando quero que se lembre
delas.

— Você conhece a águia de sangue, Yuri? — O vejo engolindo em seco,


mas ele não me responde. Vou em direção à mesa e pego uma faca. Eu a passo no
meu dedo indicador, para ter certeza de que está afiada. — Os nórdicos
acreditavam que ao fazer isso com um condenado eles poderiam entrar em
Valhala, o que seria um paraíso pós-morte para eles. O que seria o céu para nós.
— Ele não fala nada, apenas me encara. — Então, eles acreditavam que se um
condenado pudesse passar por isso sem gritar, viveria eternamente com os
deuses. Então, te faço uma pergunta, você vai gritar?

Ele treme, tenta se debater ao me ver desamarrando-o e o colocando


sentado de frente para o encosto da cadeira. O amarro novamente. Me aproximo
do seu ouvido.

— Não grite — sussurro, mas não demora muito e ele começa a gritar sem
parar quando corto as suas costas.

Vejo pele e ossos, e sangue derramando sem parar. Os seus gritos se


tornam ainda mais altos e ele implora, se desespera, mas não me importo. Cada
costela é puxada por mim, cada osso é colocado do jeito que eu quero, para cima,
como uma asa. Eu me lembro de cada garota violentada e ainda ouço as seus
lamúrias.

Ele treme sem parar e eu sei que logo irá morrer, então preciso ser rápido.
Quando finalmente retiro os seus pulmões da caixa torácica, os coloco em cima
das costelas agora abertas.

— Pronto, agora sim.

Ao ficar na sua frente, ainda vejo um pouco de vida nos seus olhos. Me
aproximo mais uma vez do seu ouvido e falo:

— Quando você estiver no inferno, dê um recado para o capeta. Fale para


ele que essa alma eu fiz questão de mandar.

Ouço a sua última respiração e limpo as minhas mãos na blusa que estou
vestindo. Estou cansado. Tem tanto tempo que não faço isso com alguém, mas
esse infeliz é uma exceção. Esse mereceu.
Quando chego na sala, vejo Luigi sentado, tomando o que eu acho ser
uísque. Me aproximo. Ele observa as minhas mãos e as minhas roupas, todas com
manchas de sangue.

— E a garota?

Ela está dormindo agora, a médica deu um calmante, ela estava muito
agitada.

— Entendo. Você conseguiu descobrir alguma coisa?

— Como eu tinha te falado, o pai dela é um alcoólatra que a vendeu para o


meu pai.

Ele se levanta e fica na minha frente.

— Você fez?

Eu sei o que ele está perguntando, sei que quer saber se o pai está morto.

— Seu pai não fará mais mal a ninguém.

Ele apenas bebe o conteúdo do seu copo.

— O que você vai fazer com ela?

— Luna.

— O quê?

— O nome dela é Luna. Tem apenas 18 anos, e pelo que pesquisei, adorava
dançar balé.

— Entendo.

Ficamos em silêncio, por enquanto.


— Ela tem mais alguém a não ser o pai?

— Não, só o pai mesmo.

— Merda!

— Foi exatamente isso que pensei.

— Vou ajudá-la.

— Você sabe que não será fácil, não sabe?

— Eu imagino.

Balanço a cabeça.

— Não, acho que você não faz ideia. Aquela garota sofreu coisas que não
tem como eu descrever em palavras. O sádico do seu pai a usou de todos os jeitos
possíveis. Eu sinceramente não sei se ela vai conseguir se recuperar de tudo que
passou, mas sinceramente espero que você consiga ajudá-la. — Suspiro. —
Preciso ir, tenho que ter uma conversa com Nicolai.

Ele não fala nada e apenas o deixo com os seus pensamentos. Vou direto
para o meu quarto. Lavo as mãos e ligo para Nicolai. O informo de tudo que
descobri.

— Irei agora mesmo até esse hotel e descobrirei se a Valentina está lá.

— Eu gostaria de estar com você.

— Você vai voltar que dia?

— Amanhã mesmo estarei no primeiro avião para voltar para casa.

— Te vejo amanhã.
Encerramos a ligação. Tomo um banho, retirando todo resquício de sangue
do meu corpo. Ainda sinto o meu peito doendo. O local está com um hematoma
roxo. Tomo um remédio e tento dormir, mas não consigo.

De manhã, já está tudo arrumado para voltar. Mas decido dar uma olhada
na garota. Luna, este é o seu nome.

Bato na porta, mas ninguém responde, então a abro. A vejo encolhida na


cama. Quando ela me vê, se levanta com um pouco de dificuldade.

Me aproximo e fico a sua frente.

— Acho que não consegui me apresentar direito. O meu nome é Elai.

Ela me encara com aqueles olhos enormes.

Com um pouco de dificuldade, ela fala:

— Luna. — A sua voz é tão baixa.

Dou um sorriso para reconfortá-la.

— Eu estou indo embora agora, Luna, mas Luigi cuidará de você. Pode
ficar tranquila, mas irei manter contato para saber como você está.

Ela não responde, mas vejo medo no seu rosto.

— Ele é uma pessoa boa, não fará mal nenhum a você, ele só quer te
ajudar.

Ela mais uma vez fica calada.

Não sei mais o que falar, então dou as costas para ir embora. Já estou
próximo da porta quando ouço mais uma vez a sua voz.

— Obrigada! — Me viro novamente. — Obrigada por ter me salvado.


Respiro fundo, antes de responder.

— O meu arrependimento é não ter chegado antes.

Ela não responde.

— Espero mesmo que você fique bem.

Saio do quarto sentindo um enorme peso nos ombros. Eu sinceramente


espero que ela possa viver sem ter medo novamente.

Respiro fundo, hora de voltar para casa.

Ainda sinto os braços de Elai em minha volta. Suspiro ao voltar para casa.
Não sei descrever, mas estou sentindo algo estranho. Por algum motivo sinto que
vai acontecer algo com ele em Nova York.

Hoje estou sozinha, as meninas saíram para resolver algumas coisas. Ana,
trabalhando como professora, Laura, resolvendo problemas do casamento, que
por sinal faltam apenas dois meses, e Isabela… bem, Isabela continua do mesmo
jeito. Tem dias que parece que está tudo bem, mas tem dias que não,
sinceramente, eu não sei.

E tem eu. Passo a mão pela barriga, imaginando quando vou conseguir
sentir o bebê mexendo. No mês que vem já vou poder saber o sexo. Um sorriso
não sai do meu rosto, mas confesso que estou indo devagar com Elai, quero ver
como vai ser. Eu gosto dele, na verdade, nunca deixei de gostar, mesmo assim
preciso pensar no meu filho. Quero que ele tenha tudo que eu não tive. Inclusive
uma família. E, mesmo assim, verei como Elai vai reagir à primeira consulta.
Quero saber o que ele pensa, quero saber se tudo que me falou é verdade.
Elai é uma incógnita, às vezes penso saber o que ele quer, mas ao mesmo
tempo não faço ideia de nada.

Na manhã seguinte, sinto saudade de vê-lo aqui. Acho que acabei me


acostumando com a sua presença. Paollo me buscou de manhã, na verdade, nunca
conversei muito com ele, não sei, sempre me senti estranha na sua presença, mas
acho que é apenas coisa da minha cabeça, pois ele tem uma cara séria. O que é
engraçado, porque já o vi sorrindo tão abertamente com Laura e até mesmo
fazendo piadas.

— Você teve alguma notícia de Elai?

Estamos no carro, e ele me olha por um segundo, depois volta a sua


atenção para a frente.

— Ele chegou bem em Nova York, tenho certeza de que logo ele dará
notícias.

Fico em silêncio, e ele percebe.

— Ele tinha muita coisa para fazer lá.

— Eu entendo, só estou preocupada.

— Pode ficar tranquila, Luiza, Elai sabe se cuidar muito bem. Ele às vezes
só brinca, mas pode acreditar, ele sabe a hora de ser sério.

Balanço a cabeça, concordando com ele.

Nessa hora me lembro da nossa conversa na praia, da parte em que ele


falava que já serviu ao Exército Americano, mesmo assim ainda estou com uma
sensação ruim.

Hoje no trabalho é tranquilo. Isabela volta mais cedo e acabamos


conversando sem parar.
Ao chegar em casa, vejo que tem uma mensagem em meu celular, ao abrir,
é de Elai.

"Como você está?"

Dou um suspiro.

"Eu estou bem e você?"

"Está tudo tranquilo, acho que voltarei mais cedo."

"Que bom, estava preocupada com você."

"Pode ficar tranquila, Lu, estou bem. E com saudades de vocês."

Saudades de vocês.

Paro por um segundo para absorver essas palavras, então recebo outra
mensagem.

"Como está o nosso filho?"

Nosso filho.

Mesmo tentando me controlar, um sorriso já se forma no meu rosto.

"Está tudo bem com ele."

"Que bom, preciso ir agora, amanhã te mandarei outra mensagem. Se


cuida."

"Você também."

Respiro fundo, segurando o celular com força.


Estou indo para uma sessão de fotos em uma vinícola perto da Sicília.
Estamos no carro.

— Como está a gravidez? — Nathan pergunta.

Já estamos a uns vinte minutos no carro. Olho por um momento para


Eloíse que está ao meu lado, no banco de trás. Ela sorri.

— Está tudo bem, já não sinto mais enjoos, o que ajuda muito.

— Que bom. — Ele presta atenção na estrada.

— Você já sabe o sexo do bebê? — Eloíse pergunta.

Sorrio antes de responder.

— Ainda não, mas na próxima consulta já vou saber.

Mesmo sem perceber, passo a mão pela barriga.

Eloíse sorri ao me ver fazendo isso.

— Você já conseguiu sentir ele mexer?

— Ainda não, mas sinceramente, não sei se estou preparada para esse
momento.
— Eu tinha uma colega que estava grávida, eu ficava passando a mão na
barriga dela toda hora. — Ela sorri. — Eu adorava sentir o bebê dela mexer.

— Você tem vontade de ser mãe?

Ela para um momento e pensa. Vejo Nathan prestando atenção na nossa


conversa.

— Eu sinceramente não sei, às vezes tenho. — Ela fica um momento em


silêncio. — Mas ao mesmo tempo não. Não sei, talvez quando estiver com uns 27
anos.

— Você tem quantos anos? Me desculpa. — Balanço a cabeça. — Se você


não quiser responder, não precisa.

— Não é nada, não tenho problema em falar a minha idade. Tenho 20 —


ela me diz.

— A nossa diferença de idade é pequena, tenho 19.

Passamos por um caminho repleto de árvores. Ficamos mais um tempo no


carro até chegarmos a uma vinícola. Nathan para o carro próximo de uma casa
enorme. Saímos. Sinto um vento gelado.

— Aqui é lindo.

Eloíse se aproxima, segurando uma bolsa. Ela começa a olhar ao redor.

— Aqui é incrível mesmo. Me lembra onde nasci.

Me viro e olho para ela.

— Você morava em um lugar assim?

— Sim. Era um lugar parecido. Meus pais eram pequenos produtores de


vinho. Lá era bem pequeno, mas era lindo. Me lembro que tinha um lago na
frente de casa, passava horas sentada lá, olhando para o céu.

Ela fica um momento parada, como se imaginasse o que acabou de me


dizer.

— Eu morei a vida toda em uma cidade pequena no Brasil.

Ela sorri.

— Posso imaginar. Vem, vamos entrar, temos que te arrumar para a sessão
de fotos.

A casa é linda. Vou com Eloíse até um quarto e vejo vários vestidos,
sapatos e maquiagens.

Sou maquiada. Ela pega um vestido rosa-claro longo, todo esvoaçante.


Visto, e sinto a maciez do tecido.

Quando desço, encontro Nathan conversando com um senhor. Quando ele


me vê, sorri para mim.

O céu está lindo hoje. As fotos serão dos vinhos. Vejo várias garrafas em
cima de uma mesa.

Me posiciono próximo das parreiras. Vejo vários cachos de uvas.

Nathan se aproxima, me dando uma taça de vinho. As fotos serão aqui.

Mas só vou tirar as fotos segurando a taça, afinal, estou grávida.

Nathan me pede para fazer várias poses diferentes.

Troco de vestido mais quatro vezes.

Estou cansada e os meus pés estão me matando. Me sento um pouco.


Eloíse se aproxima, me dá um copo de água e se senta ao meu lado.
— Hoje está quente.

Me viro para ela.

— Está muito. Eu só faço isso uma vez na semana, imagino você, que tem
que ir em todas as sessões.

Ela sorri.

— No começo era cansativo, mas tenho que confessar que gosto. Graças a
esse trabalho consegui viajar para muitos lugares.

Fico interessada.

— Você já foi para outro país?

— A maioria das vezes é só Nathan que viaja para fora, mas uma vez
fomos a Irlanda. Foi muito bom.

— Nossa! Só de imaginar já fiquei interessada. Lá deve ser muito bonito.

— Você precisa conhecer, é lindo demais.

Fico a tarde toda tirando fotos. Estou no carro com Nathan, ele está me
levando para a minha casa.

— Você quer comer alguma coisa? — pergunta.

— Sinceramente, a única coisa que eu quero fazer é tomar um banho. Os


meus pés estão me matando.

Ele sorri.

— Demorou um tempo para eu me acostumar, mas tenho certeza de que


você vai pegar o jeito.
Paramos na frente do prédio. Me viro para ele.

— Muito obrigada por tudo!

— Não foi nada, qualquer coisa é só me ligar.

Balanço a cabeça ao sair do carro.

Estou sentada na sala assistindo televisão. São 14h. Laura saiu com Paollo.
Ana saiu com o Gabriel. Troco mensagens com Elai esse tempo todo que ele
ficou fora, mas hoje ele não me responde. Suspiro de frustração. Estou com medo
de que alguma coisa tenha acontecido.

Ouço um barulho no corredor. Me levanto e vou dar uma olhada, e ao abrir


a porta eu o vejo.

Não falo nada, apenas me jogo nos seus braços. Ele leva um susto, mas
corresponde. Sinto o seu cheiro e fecho os olhos por um segundo.

— Eu senti saudades.

Me afasto, olhando para ele. Elai me encara por um segundo, mas sorri.

— Eu também senti saudades de vocês dois, minha pequena.

Por um momento, não falo nada, apenas o encaro. Dou um pequeno soco
no seu peito, de raiva, mas ele faz uma cara que realmente sentiu dor.
— Você está machucado?

Ele sorri.

— Não é nada, pode ficar tranquila. Por que você me bateu?

— Porque não me respondeu. Pensei que tinha acontecido alguma coisa.


Mas, você tem certeza? Não é melhor irmos ao hospital.

Ele sorri e se aproxima, o meu coração acelera.

— Pode ficar tranquila, não é realmente nada.

Apenas balanço a cabeça, concordando. Eu não consigo me controlar


quando estou perto dele. A minha mão está suando.

— Mas você não me respondeu. Vocês estão bem?

Engulo em seco antes de responder.

— Estamos bem. — Levanto o rosto e olho para ele. Elai se aproxima, me


dando um beijo no alto da cabeça. Próximo... Tão próximo que sinto a sua
respiração.

— Que bom — ele fala, mas não se afasta em nenhum momento.

Ficamos assim por segundos, mas parece mais tempo.

O elevador abre e vejo Laura se aproximando. Ela sorri ao me ver. Nos


afastamos, sem graça.

— Finalmente chegou, Elai.

— Boa tarde, Laura.

Ela o encara.
— Paollo te avisou?

Ele a olha e levanta uma sobrancelha.

— Sobre?

— Que você é um dos padrinhos do nosso casamento.

Ele sorri.

— Eu pensei que de todos eu seria a última pessoa a ser o seu padrinho.

Laura se aproxima de nós.

— Continua engraçadinho como sempre, não é mesmo?

Ele sorri.

— Eu sou bonito, ser engraçado é apenas um charme a mais.

Ela revira os olhos para ele. Elai me olha.

— Te vejo mais tarde, Lu.


CAPÍTULO 28

Entro no meu apartamento e vou direto para o banheiro. Tomo um banho


demorado e, debaixo do chuveiro, vem a minha mente a imagem de Lu. Fecho os
olhos com força. Eu não consigo parar de pensar nela. Cada dia que passa é pior.
Eu nunca me senti assim por nenhuma outra mulher e sinceramente isso está me
deixando maluco. Termino e troco de roupas. Preciso me encontrar com Nicolai e
ver o que aconteceu com a maldita irmã de Isabela.

Ao chegar na boate, vejo Paollo sentado em um sofá. Ele me cumprimenta.


Nicolai está em pé, próximo a uma parede de vidro, olhando para a boate.
Quando percebe que estou aqui, ele me encara.

— Parabéns pelo seu desempenho em Nova York.

Me aproximo.

— Eu gostaria de ter feito isso antes, aquele desgraçado merecia morrer há


muito tempo.

Mesmo pelo telefone, eu tinha falado por alto o que encontrei lá. Só de
lembrar o meu estômago se revira, e eles sabem disso.
— Você acha que Luigi fará um bom trabalho? — Paollo pergunta, se
aproximando.

Respiro fundo antes de responder.

— Ele tem muita coisa para colocar em ordem, mas acho sim que ele dará
conta. — Respiro fundo. — E a Valentina? Descobriram algo?

Vejo ódio no rosto de Nicolai, mas quem responde é Paollo.

— Ao chegar no hotel descobrimos que ela tinha saído vinte minutos


antes. Ou seja, alguém de Nova York deve ter avisado.

— Droga! Mas pelo menos o poço de dinheiro dela secou.

— Sim. Isso que está me deixando preocupado, ou seja, ela não tem nada a
perder. Os seguranças estão de olho em qualquer coisa suspeita.

Nicolai se serve de uma dose de uísque. Vejo a preocupação no seu olhar.


Ele sabe que essa maldita quer matar a sua esposa e, conhecendo-o como
conheço, deve estar com muito ódio por não poder fazer nada a respeito.

Ao sair de lá, volto para casa. Sinceramente, estou cansado, principalmente


de tudo que tive que presenciar em Nova York.

Estou na frente da porta do meu apartamento, mas decido bater na porta do


apartamento de Luiza. Quem me atende é Ana. Ela sorri ao me ver.

— Elai!

— Boa noite, Ana, a Lu está?

— Está sim. Ela está no quarto. Pode entrar.

Ela se afasta e eu entro. Ana fica na sala conversando com Laura, que por
sinal apenas me olha por um segundo e volta a observar a televisão. Vou em
direção ao quarto. Ao me aproximar da porta, vejo a Lu deitada na cama, ela está
com um top preto e uma calça de moletom.

Eu já vi várias mulheres sem roupas, de quase todas as lingeries possíveis.


Mas vê-la assim é a imagem mais linda que eu já presenciei. Me aproximo, a
observando. O seu braço está tampando o rosto. Olho o seu lindo corpo, mas o
que me chama a atenção é a sua barriga, observo que está maior.

Meu filho!

Um sorriso brota no meu rosto. Eu não acredito que uma parte de mim
cresce no seu ventre. Eu não ia acordá-la, mas ela retira a mão do rosto e vejo que
está acordada.

— Elai! — Ela se senta na cama. — Aconteceu alguma coisa?

Sorrio, e me sento ao seu lado.

— Não aconteceu nada. Eu só queria te ver.

Ela me encara, surpresa. Mas depois dá um sorriso para mim.

— Você estava dormindo?

— Não. É que os meus pés estavam doendo, então resolvi me deitar para
ver se melhorava.

Olho mais uma vez. Luiza é linda. Ficamos assim, encarando um ao outro
por um tempo. Isso é tão novo, tão único. Esse desejo de estar próximo a ela. E
acabo fazendo o que eu queria fazer.

Levanto a mão e coloco na sua barriga. Ela não fala nada, apenas me
encara, surpresa. Passo a mão delicadamente pela sua barriga e fico ali por um
tempo.
— Sua barriga já está grande. — Ela sorri.

— Já está mesmo. Já perdi várias roupas.

— Eu preciso te falar uma coisa.

Ela me encara, esperando que eu conclua.

— Eu sei que eu fui um completo idiota com você, tento impor tudo do
meu jeito sem tentar fazer diferente. Apenas a minha opinião bastava. Eu não vou
ser o seu segurança. — Ela engole em seco, me encarando. — Não vou atrapalhar
o seu novo emprego, você decidiu que seria modelo fotográfica e eu respeito a
sua decisão. Não irei te atrapalhar. Irei apenas respeitar tudo que decidiu.

Ela fica em silêncio por um tempo. Eu não vou tirar o segurança que está
de olho nela desde sempre, infelizmente a Valentina ainda não foi pega. E não
deixarei a mulher que está carregando o meu filho desprotegido. A mulher por
quem eu estou perdidamente apaixonado.

— Muito obrigada, Elai. Isso significa muito para mim.

Ainda estou com a minha mão na sua barriga e sinto algo se mexendo, um
pequeno movimento. Nós dois ficamos nos encarando, sem saber o que fazer.

— Você sentiu? — Luiza pergunta, e apenas balanço a cabeça.

Eu não consigo falar, algo tão bom cresce no meu peito. Um sentimento
tão bom. Como uma chama de um pequeno fogo crescendo e crescendo sem
parar.

— O nosso filho mexendo — falo, ainda não acreditando nas minhas


próprias palavras. Vejo os olhos de Luiza se enchendo de lágrimas. Apenas a
abraço com força.

— Ele se mexeu — ela fala baixinho.


— Eu senti.

— O nosso filho se mexeu .

— Foi a coisa mais emocionante que já senti na vida.

Fico assim com Luiza. Isso está mexendo comigo de um jeito fora do
normal. Acredito que estar perto dela está me tornando uma pessoa melhor, e
sinceramente quero ser assim; uma pessoa melhor para ela e o nosso filho.

Dia 5 chega. Estou nervoso, nem mesmo ficar em fogo cruzado e ser
baleado mais vezes do que uma pessoa normal me deixou tão nervoso como
agora. Estou com Luiza na consulta. Ouço o barulho alto do coração do nosso
filho. O meu olhar vai em sua direção. Vejo lágrimas nos seus olhos. O meu
coração se acelera fortemente.

— O barulho é tão alto.

A médica sorri.

— Sim, é muito alto mesmo. Vocês vão querer saber o sexo do bebê?

Olho para Lu, em uma pergunta silenciosa.

— Sim.

A médica sorri mais uma vez, olhando para nós.

— Parabéns! Vocês vão ter uma linda menina.

— Menina!? — falo, não acreditando nas suas palavras.

— Sim. Uma menina.

Aperto a mão de Luiza com força, como se precisasse desse gesto para
confirmar que isso é real, que não é um sonho. Que realmente teremos uma filha.
Uma filha! Não acredito nos meus próprios pensamentos. Uma filha! Eu terei
uma filha com a mulher que eu estou amando.

Apenas me abaixo e deposito um beijo no alto da cabeça de Luiza, em um


gesto de felicidade…

Dois meses se passaram tão rápido. A minha relação com Lu está indo tão
bem, que por um momento não consigo acreditar no que está acontecendo. Os
meus pais querem conhecê-la, mas não sei se é o melhor momento para uma
viagem, principalmente quando não encontramos Valentina em lugar nenhum.
Ela simplesmente desapareceu e nada que nós fazemos parece surtir efeito. Isso é
tão frustrante em um nível que não tem como colocar.

O casamento de Paollo é amanhã. Redobramos a segurança ao redor de


todas as garotas, e mesmo assim não me sinto seguro em relação a isso. Algo me
diz para que esse casamento não aconteça. Se por um momento eu tivesse ouvido
esse pressentimento tudo aquilo não teria acontecido, e eu não estaria agora no
hospital com as mãos trêmulas, cheias de sangue.

Estou me sentindo tão linda neste vestido azul. Olho para Laura com o seu
vestido de renda branco, ela está parecendo uma verdadeira princesa.
— Você está linda — afirmo, me aproximando.

Ela sorri.

— Obrigada! Você também está linda, Lu. — Sorrio com o seu


comentário. — Onde está a Isabela e Ana?

— Elas estavam vendo se está tudo certo com a Liz. Como ela está um
pouco com febre, eles acharam melhor ela ficar. — Laura me olha, preocupada.
— Mas pode ficar tranquila. Uma enfermeira ficará com ela. — Ouço ela
suspirar.

— Não queria deixar ela aqui.

— Pode ficar tranquila. A febre dela já está mais baixa.

Ela sorri novamente para mim.

A porta do quarto se abre e a Isa e Ana entram.

Por um momento, ainda não estou acreditando em tudo que aconteceu.


Como eu vim morar aqui. Nas minhas novas amizades. Elai e o meu filho. Passo
a mão pela minha barriga, que já está bem maior. Sorrio só de imaginar que logo
estarei com o meu filho nos braços.

— Elai vai conosco? — Isa pergunta.

— Ele tinha me falado que sim. Já deve estar chegando. Mais alguém vai?

Quem me responde é Laura.

— Paollo ia, mas agora não sei. Vou perguntar, mas provavelmente vamos
encontrar com os outros na cerimônia mesmo.

Quando eu vou responder, ouço alguém batendo na porta.


Isa vai até lá para ver quem é. Depois de um tempo ela retorna.

— Quem era? — pergunta.

— O chefe de segurança. Ele me disse que Nicolai ordenou para irmos.

— Por quê? Pensei que Elai iria conosco.

— Eu também, mas ele falou que foi ordem direta de Nicolai, para que
ninguém realmente soubesse o horário da nossa saída.

Todas as meninas ficaram olhando uma para a outra, procurando respostas.

— Vou ligar para ele — falo, procurando a minha bolsa.

Quando tento mandar uma mensagem, não consigo, pois estou sem sinal.
Levanto uma sobrancelha, desconfiada.

— Eu não tenho sinal. Alguém de vocês tem? — Cada uma das meninas
tenta e ninguém consegue.

— Isso está estranho. O que está acontecendo? — Ana fala, tentando mais
uma vez ligar para Gabriel.

— O que vamos fazer? Ir de uma vez para a cerimônia, ou ficar aqui


esperando um deles aparecer?

— Sinceramente, eu não sei, mas podemos achar sinal lá fora — Laura


fala, e levanta o vestido. — O que você acha, Isa?

Isabela fica um momento em silêncio, mas depois suspira, olhando para


cada uma de nós.

— Sinceramente, acho que isso está estranho demais. Porque não temos
sinal, e outra, conheço Nicolai. Ele me avisaria se tivesse mudado o horário. Ele
não faria algo assim sem me avisar. Aí de uma hora para a outra o chefe de
segurança fala para irmos?

— Você acha que é uma armadilha? — pergunto, sentindo o meu coração


acelerado. Instintivamente, coloco a mão na barriga, como se esse gesto pudesse
proteger o meu filho.

— Eu tenho certeza. — Se eu fosse fazer algo, provavelmente usaria esse


casamento.

— O que faremos? — Ana pergunta. Neste momento, ouvimos um barulho


na porta.

— Precisamos sair agora, senhora Isabela, não temos mais tempo — o


segurança fala, tentando abrir a porta.

— Vocês acham que conseguem sair pela janela — Isabela pergunta,


levanta a saia do vestido e a amarra de lado. Levo um segundo para entender o
que ela está querendo dizer, mas quem responde é Laura.

— Nem vem com a ideia de querer ser a heroína. Você vai conosco.

— Ela só está querendo a mim. Não vou colocar vocês em risco por minha
causa. — O barulho da porta aumenta.

— Eu não vou a lugar nenhum. — Eu e a Ana balançamos a cabeça,


concordando com Laura.

Eu amarro o vestido como as meninas. Respiro fundo e tento me acalmar,


mas as minhas mãos não param de tremer.

— Não tem como sair pela janela — Ana diz, respirando fundo.

— Droga! Eles vão entrar e nos levar com eles.


Isabela constata, e vejo Laura pegando um taco de beisebol do armário.

— Eles podem até tentar, mas iremos lutar, custe o que custar.

Ouço um barulho de algo se quebrando do lado de fora do quarto e sei que


é a porta da frente. Agora, a única coisa que os impedem de chegar até nós é a
porta do quarto. Isabela escreve algo no notebook e esconde algo na roupa. Abro
a boca para perguntar, mas não dá. Tudo é rápido demais. Ouvimos um barulho
alto. Laura vai com tudo na direção de um segurança, o derrubando com uma
paulada na sua cabeça. Tentamos ajudar, mas não adianta muito. Vejo mais cinco
homens entrando, todos armados.

Eles prendem nossas mãos e nos levam para o estacionamento do prédio.


Vejo mais dois carros com homens fortemente armados nos esperando. Eles nos
colocam, uma a uma, em uma van, e dá partida. Mesmo tentando me controlar,
percebo que estou chorando sem parar.

— Calma, vai dar tudo certo. — Ouço a voz de Laura ao meu lado.

Ouço barulhos de tiros. Abaixamos a cabeça. O carro acelera sem parar. O


meu coração acelera e tento controlar a respiração, mas está impossível. O
barulho de tiros não passa.

Em alta velocidade, o carro vai percorrendo o caminho. Ainda estou com a


cabeça baixa, mas decido abrir os olhos. Um carro ao nosso lado tenta
ultrapassar, mas os desgraçados atiram com tudo no pneu, fazendo com que o
carro derrape, causando um enorme congestionamento na pista, impossibilitando
que qualquer outro carro passe. Ainda estou tremendo, mesmo assim a mão de
Laura não solta a minha. Olho para ela e a vejo respirando fundo, olhando para
todos os lados à procura de alguma coisa.

Ficamos no carro por mais ou menos meia hora. A paisagem aqui é mais
deserta, parece mais uma região de fazendas e plantações. Todas nós nos olhamos
por um momento, em uma conversa silenciosa. Todas percebem o mesmo que eu.
Eles estão nos levando para um lugar afastado, com certeza a irmã da Isabella vai
estar nos esperando. Sinto um frio na espinha, neste momento parece que a ficha
caiu.

Um medo fora do normal faz com que o meu corpo trema sem parar. Eu
estou rezando que tudo possa dar certo, mas sei que não será assim que as coisas
vão terminar. Coloco a minha mão na barriga, temendo pelo meu filho, como
nunca temi até hoje.
CAPÍTULO 29

Aperto a minha mão em punho, com força, sentindo as unhas enfiando na


minha carne. Mesmo tentando me controlar, a minha vontade é gritar com toda a
minha força. Eu não queria que isso tivesse acontecido com as minhas amigas. Se
fosse para acontecer, que fosse só comigo, não com elas. Olho para o meu lado
esquerdo e vejo Isa concentrada em cada lugar que passamos. Ana treme sem
parar. Já Luiza, a vejo com a mão em cima da barriga. Droga! Mais uma vez, que
droga! Eu poderia tentar causar um acidente, mas os riscos são enormes e eu não
vou arriscar a vida de ninguém. Principalmente da minha amiga grávida.

Respiro fundo, tentando me controlar. Eu sei que Paollo e os outros já


devem estar a nossa procura. Eu sei que eles vão nos encontrar, mas o meu medo
é quanto tempo isso vai levar. Eu temo por todas nós, mas o meu maior medo é a
Isa, sei que a irmã psicopata dela vai querer torturá-la, mas eu não vou deixar. Se
no final alguém de nós precisar morrer, será eu. Não vou deixar que nenhuma
delas se machuque. Isso é uma promessa!

O carro para em uma antiga vinícola e vejo várias parreiras secas pelo
caminho. Somos tiradas com força pelos braços, e colocadas em um cômodo com
uma pequena janela no alto, eles nos trancam ali e saem.

— Vocês estão bem?


Todas me olham, mas quem responde é a Ana.

— Defina bem, porque sinceramente estou com muita vontade de bater


naqueles miseráveis.

Procuramos por qualquer coisa que possa ser usado como arma, mas não
encontramos nada, nem um prego sequer.

— O que você escondeu no vestido, Isabela? — Luiza pergunta, e se


aproxima.

Isa retira um celular do meio do vestido.

— Tem sinal? — pergunto, com um pouco de esperança.

Ela mexe nele, impaciente.

— Infelizmente não, mas eu espero que Nicolai olhe o notebook que eu


deixei aberto em cima da cama, o deixei rastreando. Com sorte, eles chegarão
rápido.

Concordamos, balançando a cabeça. Naquele momento me lembro do


sapato que estou usando. Isso!, penso, e o retiro.

— O que você está fazendo? — Luiza pergunta.

— Não precisa responder, eu já sei. — Todas as garotas fazem a mesma


coisa. Ok, não é muito coisa, mas é o que temos no momento.

— Lu, quero que fique o mais longe possível de nós, ok, vamos tentar te
proteger — afirmo, e olho diretamente para ela.

— Mas não vou mesmo, vocês estão loucas se acham que vou deixar vocês
fazerem tudo sozinhas.
— Você se esqueceu?! Você está grávida, pense no seu filho, ok. Não faça
nada que possa prejudicá-lo.

— Laura, eu não vou tentar me esconder enquanto vocês ficam como


escudos para mim, eu não vou fazer isso, ou todas nós saímos vivas deste inferno,
ou nenhuma.

Por um momento, eu quero discutir, tentar colocar um pouco de juízo na


cabeça dura da Luiza, mas sei que ela não vai mudar de ideia. Ouvimos o barulho
da porta se abrindo e ficamos em alerta na hora. O meu coração se acelera sem
parar, penso que a qualquer momento vou ter um ataque cardíaco, mas também
sei que é a adrenalina correndo solta nas minhas veias.

Seguro aquele salto como se fosse um bote salva-vidas.

Dois homens entram. Dou um chute no primeiro, o fazendo dar um salto


para trás. Ana pula nas costas do segundo e começa a tentar dar um mata-leão em
um cara duas vezes maior do que ela. Vou para ajudá-la, mas sou recebida com
um soco no rosto e sinto o sangue escorrendo pelo meu nariz sem parar. Estou no
chão quando vejo o brutamontes se jogar com força para trás. Ana cai no chão,
tentando respirar direito. Ele vai para chutá-la quando Isabela o impede, dando
um soco com toda a sua força nele.

Me levanto, me sentindo tonta. Dou um chute no miserável com toda a


minha força e o derrubo.

Me viro bem a tempo de ver outros caras entrando com armas em punho.
Luiza tenta ajudar, mas é segurada pelo pescoço com força e jogada no chão. Vou
correndo ajudá-la a se levantar.

Mas antes de chegar até ela, ouço um disparo. Ouço gritos e vejo Isabela
correndo em nossa direção, mas não consegue. Ela é parada quando uma garota
loira a segura pelos cabelos e aponta uma arma para sua cabeça.
Dou um passo em sua direção, mas não consigo dar o segundo, pois sinto
algo molhado na barriga. Quando baixo o olhar, meu vestido branco de noiva está
manchado de sangue. Preciso de uns segundos para perceber que levei um tiro na
barriga. Tento me manter em pé, mas não consigo, e caio no chão. Vejo Ana
correndo na minha direção. Ela se aproxima e coloca a sua mão em cima do
ferimento. Sinto dor, uma dor enorme.

— Vai ficar tudo bem! — ela fala, mas seus olhos estão cheios de lágrimas.

Isabela chora, e olha para mim, ela grita por ajuda.

Aos poucos, vou perdendo a consciência, mas antes de sucumbir à


escuridão Luiza se levanta para tentar me ajudar, mas outro disparo a impede e
ela cai. Vermelho! Essa é a última cor que eu vejo antes de desmaiar. O vermelho
das minhas mãos manchadas de sangue, e o vermelho do sangue da minha amiga,
agora no chão.
CAPÍTULO 30

Valentina segura o meu cabelo com força, me impedindo de chegar até as


minhas amigas. Ana está apertando o ferimento de Laura e olhando para Luiza no
chão, sangrando. Ela está desesperada, quero poder ajudar, quero que tudo isso
acabe.

— Me solta, Valentina, por favor, elas vão morrer desse jeito, por favor.

Mas ela sorri ao me fazer encará-la.

— Minha mãe provavelmente pediu por favor para o miserável do Nicolai,


mas aquele monstro a torturou e depois a matou sem piedade nenhuma. A sua
sorte é que a sua doce filha não está aqui. Você não faz ideia de tudo que eu
imaginei fazendo com ela.

— Sua louca! — A encaro. — Achei foi pouco o que Nicolai fez com ela.

Me curvo para a frente quando sinto o soco na barriga. Abro a boca à


procura de ar, mas sou pressionada contra a parede com força.

— Eu vou te matar. Você vai sofrer o dobro do que minha mãe sofreu.
Quando eu acabar com você, farei questão de enviar os seus restos para o meu
adorável ex-noivo.
Sinto o gosto de sangue na minha boca e ouvimos o barulho de tiros lá
fora.

Valentina me coloca na sua frente e se aproxima do meio do cômodo,


comigo na frente. Vejo Nicolai e Elai se aproximando. Elai dá um tiro na cabeça
do homem que está perto de Luiza, o fazendo cair sem vida no chão. Nicolai
acerta o outro com um tiro na cabeça. Ele encara Valentina com ódio.

— Não se aproxima ou vou estourar os miolos da minha querida irmã. —


Sinto o hálito da minha irmã no meu rosto. Ela segura com força o meu braço, me
fazendo ficar na sua frente. Sinto o metal frio da arma pressionada ao lado do
meu rosto.

Nicolai olha para mim e por um mísero momento vejo medo nos seus
olhos. Elai continua com a arma em punhos, sem tirar os olhos de nós, mas sei
que ele viu Luiza e Laura no chão, baleadas.

— Solta ela agora, Valentina, eu fico no lugar dela, afinal, fui eu que matei
a sua mãe.

Sinto Valentina tremendo, ela respira com força.

— Seu desgraçado, eu te amava, eu te amava e você fez aquilo comigo, eu


não quero que você troque com ela, eu quero que você sofra, e o único jeito é
matando-a bem na sua frente.

Ouço o clique da arma, e por instinto fecho os olhos. O barulho do tiro faz
com que eu ouça um zumbido alto. Quando abro os olhos, vejo Luiza segurando
uma arma, tremendo, e neste momento percebo que ela deu um tiro em Valentina.
O que acaba em uma distração perfeita para Elai acabar com isso.

Olho para a minha irmã, ainda com os olhos abertos, mas sem vida aos
meus pés. Corro ao encontro de Luiza e de Laura, Elai também. Ele retira a arma
da sua mão e vejo sangue escorrendo do seu braço esquerdo.
Vou em direção a Laura. Sei que Elai vai cuidar de Luiza.

Me ajoelho ao lado de Ana e a vejo tremendo sem parar.

— Ela está sangrando muito, precisamos levá-la para o hospital, agora.

Ouço passos e vejo Paollo entrando, correndo em direção a sua noiva.


Gabriel vai ajudar Ana. Eu fico olhando para a quantidade de sangue no chão,
depois que o Paollo a pega nos braços e corre com ela em direção ao carro. Sinto
alguém segurando no meu braço, mas não consigo ouvir nada.

É tanto sangue. Vejo Nicolai olhando para mim, ele segura o meu rosto
com as duas mãos e me faz olhar diretamente para o seu rosto.

— Ela vai ficar bem, Isabela, está me escutando! Ela vai ficar bem. Vamos,
precisamos ir ao hospital.

Sou colocada no carro e sinto alguém segurando a minha mão com força.
Ana segura a minha mão manchada de sangue, sangue da minha amiga que
provavelmente está lutando pela vida agora mesmo. Baixo a minha cabeça,
tentando colocar os pensamentos em ordem. Neste momento vejo o meu vestido
molhado de água. Eu não tinha percebido, mas não deixei de chorar em momento
algum. Fecho os olhos com força, sentindo a garganta ardendo. Por favor, Laura,
sobreviva, por favor!
CAPÍTULO 31

O meu braço arde sem parar. Elai está ao meu lado, fazendo pressão, mas o
meu único pensamento é Laura, ela precisa sobreviver. Por favor, sobreviva!

Sinto a mão de Elai no meu rosto.

— Eles te machucaram em outro lugar? — A sua voz é pura preocupação.

— Só o braço — falo baixo. — Laura, Elai, Laura.

— Fica calma, Lu, vai dar tudo certo. Laura é muito durona, ela vai sair
dessa, você vai ver.

Lágrimas silenciosas rolam pelo meu rosto sem parar. Pensar em tudo que
aconteceu me deixa desesperada. E pensar que tudo isso aconteceu pela raiva de
uma irmã. Eu sei que deveria estar em pânico de atirar em alguém, mas naquele
momento foi a única saída. Laura precisava ir ao hospital o mais rápido possível.

Quando atiraram em mim, por um momento pensei que fosse morrer, mas
esperei o momento certo para ajudar. Fingi estar desmaiada. Um ser indefeso, em
outras palavras. No final, eu não me arrependo. Eu precisava salvar as minhas
amigas de qualquer jeito.
Assim que chegamos ao hospital, eu queria só saber de Laura, mas Elai
praticamente me obriga a deitar na maca para ser examinada. O meu coração está
acelerado, eu preciso saber se Laura está bem.

O médico sutura o meu braço e ver se está tudo certo com o bebê. Assim
que nós ouvimos o barulho do coração batendo forte, me sinto por um momento
mais aliviada. Tomo um remédio, mas o meu pensamento é em Laura.

Ao chegarmos no corredor, vejo todos sentados. Me aproximo, temendo o


pior.

Ana me explica que Laura está fazendo uma cirurgia, que o estado dela é
grave. O meu coração acelera, me sento ao seu lado, sentindo as pernas bambas.

Abaixo a cabeça e começo a rezar. Eu só quero que Laura fique bem. Esse
é o meu único desejo. Depois de umas duas horas, finalmente o médico chega.
Todos se levantam.

— Ela está bem? — Isabela pergunta, mas sei que está morrendo de medo
de ouvir a resposta. O médico respira fundo, antes de responder.

— A cirurgia foi um sucesso. — Neste momento, quando ouço as palavras


do médico, respiro fundo, sentindo um enorme peso saindo dos meus ombros.

— Podemos vê-la? — pergunto, aflita.

— Agora não. Ela ficará no CTI por um tempo, mas podem ficar
tranquilos, a cirurgia foi um sucesso, assim que ela sair do CTI será transferida
para o quarto, lá vocês poderão visitá-la.

Agradecemos ao médico e mesmo querendo ficar no hospital, somente


Paollo e Isabela insistem e acabam ficando.
Ao voltar para o apartamento, respiro fundo e entramos, está uma
verdadeira bagunça. Depois de colocar um pouco das coisas em ordem, Ana fica
com Gabriel. Ao observá-la, vejo as suas mãos tremendo. Não a culpo, pois as
minhas pararam de tremer há pouco tempo.

Elai não sai do meu lado em nenhum momento. Ao me sentar no sofá, olho
para os meus pés e os vejo inchados. Respiro fundo.

— Está sentindo alguma dor? — Elai me pergunta, se sentando ao meu


lado.

— Eu estou bem, só cansada mesmo, aconteceu tanta coisa. — Olho para o


meu vestido, ainda manchado de sangue. Preciso tomar um banho, mas estou
esperando Ana sair do banheiro primeiro.

— Vamos para o meu apartamento, lá você vai poder tomar um banho mais
tranquilo.

Olho para o outro lado da sala e vejo Gabriel olhando atentamente para a
porta do banheiro. Acho que será melhor deixar os dois um pouco sozinhos.
Balanço a cabeça, concordando com ele. Já no apartamento de Elai, ele me
entrega uma toalha. Entro no banheiro e imediatamente sinto o cheiro dele.

Fico mais tempo que o normal debaixo do chuveiro, sentindo a água


quente em contato com a minha pele. Ao terminar, me enrolo na toalha e saio.
Vejo Elai parado na sala. Ao me ver, ele me observa atentamente, se aproxima e
me entrega uma blusa social branca. Sorrio ao pegá-la.

Entro no seu quarto e observo a sua cama arrumada. Visto a blusa e saio do
quarto. Ele me fala para sentar, e eu obedeço. Elai se aproxima e me entrega um
copo de suco.

— Você quer comer alguma coisa?


— Não. Só o suco está bom. — Elai se senta ao meu lado, e por um tempo
ficamos calados, mas ele não aguenta muito tempo antes de pegar a minha mão e
a segurar com delicadeza.

— Você está bem mesmo? Não está mentindo, não é?

Dou um pequeno sorriso para ele e aperto a sua mão.

— Eu estou bem, Elai, com um pouco de dor no braço, mas nada


insuportável.

Ele suspira.

— Mas me conta, como vocês nos encontraram?

— Como sempre, graças a Isabela, rastreamos o celular dela. Isso ajudou


bastante para chegarmos rápido.

— Isabela é perfeita mesmo.

Elai segura o meu rosto entre as mãos e se aproxima. Ele encosta a cabeça
na minha e sinto a sua respiração perto do meu rosto. O meu coração se acelera.
Ficamos assim por um tempo.

— Eu tive tanto medo de te perder. O tempo que fiquei sem saber se vocês
dois estavam a salvos foi a pior coisa que eu já senti. Eu fiquei tão desesperado,
como um animal preso. O meu único pensamento era a segurança de vocês.

Elai acaricia o meu rosto. Fecho os olhos, sentindo a delicadeza do seu


toque.

— Eu pensei que iria perdê-los, só de imaginar a minha vida sem você...


— Ele balança a cabeça. — É algo que eu nunca senti, a necessidade de ficar
perto de alguém como eu sinto por você é algo tão novo, tão único.
Sinceramente, me dá medo de pensar em te perder um dia, Luiza. Eu te amo! Eu
te amo. Eu nunca pensei que poderia sentir isso, mas eu te amo, minha princesa.

Os meus olhos se enchem de lágrimas prontas para serem derramadas. Eu


não consigo falar nada, então eu faço o que eu tanto queria. Eu me aproximo e
beijo o homem que me irritou desde o primeiro dia em que o vi. O homem mais
bonito que eu já pus os olhos. A pessoa que o meu coração acelera só de estar
perto, o grande amor da minha vida.

Ele segura o meu pescoço, intensificando o beijo mais e mais. Sinto os


seus lábios nos meus, me levando a uma mistura de sentimentos únicos, algo
incrivelmente mágico. Estar assim, nos braços de Elai, está se tornando perfeito.
Assim como ele, eu não quero que acabe, quero que dure para sempre.

Quando chego com Ana no hospital, vejo Isabela na recepção, nos


aproximamos.

— Você conseguiu ver Laura? — pergunto, já próxima a ela. Isabela sorri.

— Sim. Acabei de vê-la. Graças a Deus, ela está se recuperando.

— Nossa! Me sinto muito melhor. Tem alguém com ela agora?

— Paollo. Ele praticamente me expulsou de lá, só para ficar com ela.

Sorrio, me sentindo muito melhor em saber que Laura acordou e está se


recuperando.
— Você vai para casa agora?

— Vou só tomar um banho, logo voltarei .

— Pode descansar, Isabela, eu e Ana vamos ficar com Laura. Pode ficar
tranquila.

— Obrigada, meninas, estou louca para ver a Elisabeth.

— Pode ficar tranquila. Se acontecer qualquer coisa, ligamos para você.

Depois de um tempo, finalmente entramos e vemos Laura deitada com


vários aparelhos ao lado. Nos aproximamos. Ela, quando nos vê, sorri.

— Como você está?

— Estou melhor, e você?

Olho para o meu braço enfaixado.

— Estou bem, estou tomando alguns remédios, mas nada muito forte.

— Que bom, Lu, estava preocupada com você.

— Eu que estava louca de preocupação.

Ouço um barulho de choro, e quando me viro vejo Ana chorando.

— Ana!

Ela se aproxima e fica ao meu lado.

— Eu tive tanto medo de perder você, Laura, eu fiquei tão preocupada.

Laura segura na mão de Ana.


— Eu estou bem, boba, pode ficar tranquila, vocês vão ter que me aturar
por muitos e muitos anos, podem ficar tranquilas quanto a isso.

Sorrio de felicidade ao vê-la assim, se recuperando. Eu amo as minhas


amigas.

Amigas…

Eu nunca pensei que teria mais de uma amiga na vida, mas a cada dia que
passa eu percebo o quanto eu as amo mais e mais.

Dois meses se passam desde que tudo aconteceu. Laura está muito bem,
ela se recuperou, sem sequelas, e está muito feliz com Paollo. Isabela está se
recuperando de tudo que aconteceu, não é fácil para ela, afinal, mesmo não
prestando, Valentina era a sua irmã.

O bom é que Nicolai a apoia em tudo e está sempre presente para ajudá-la.
Ana está cada dia mais feliz com Gabriel, o amor deles é mágico, só de estar na
presença dos dois você sente o amor transbordando.

E eu, bem… estou vivendo cada dia muito bem. Há um mês dei uma pausa
nas sessões de fotos, afinal, falta apenas uma semana para o meu parto. Confesso
que estou muito nervosa para ver o meu filho nos braços.

Elai, bem…. vamos dizer que estamos próximos, muito próximos. Cada
dia que eu fico na sua presença só reforça o meu amor por ele. E ele está mais
nervoso do que eu com a proximidade do parto.

Estamos em uma cafeteria. Pego um pedaço de bolo de chocolate e começo


a comer. Fecho os olhos, sentindo aquele maravilhoso sabor na minha boca.
Quando os abro, vejo Elai sorrindo para mim.

— Você não imagina como fica bonita a cada dia que passa.

O meu rosto esquenta de vergonha com o seu elogio.

— Você é muito bobo, sabia?

Elai se acomoda na cadeira e olha intensamente para mim.

— A cada dia que passa, eu te amo mais, se isso é possível.

— Tem uma coisa que eu gostaria de saber.

— Pode perguntar o que quiser.

— Desde quando você começou a gostar de mim?

Elai me observa curioso, mas sorri, aquele sorriso safado que só ele sabe
fazer.

— Eu sempre gostei de você, Lu, desde o primeiro momento em que te vi


naquele aeroporto, mas era idiota demais para admitir para mim mesmo na época.
Eu adorava vê-la com raiva quando eu te irritava, cada dia que passava sentia
uma grande necessidade de estar perto de você, de vê-la, ouvir a sua voz, sentir o
seu cheiro, ouvir o som do seu sorriso. Eu só queria estar perto de você para
presenciar cada um destes detalhes.

Abro a boca para responder, mas paro ao sentir uma dor na barriga e um
líquido escorrendo pelas minhas pernas. Elai percebe, pois se levanta
rapidamente e se aproxima de mim.
— Aconteceu alguma coisa? Está sentindo algo?

Respiro fundo, sentindo mais uma vez uma dor forte na barriga.

— Elai, a bolsa estourou, a nossa filha vai nascer.

Vejo o rosto de Elai ficar branco igual a um papel. O que é engraçado. Um


homem tão durão quando ele desse jeito.

— Você está bem? — pergunto, preocupada.

— Eu que deveria estar perguntando isso.

— Eu estou bem, mas acho que devemos ir ao hospital. — Assim que


termino de falar, sinto outra contração. O intervalo de uma para a outra está
pequeno demais.

— Agora, se não for incomodar.

Elai, mais que depressa, segura no meu braço, me ajudando a levantar. Ele
me ajuda a sentar no carro.

E mais que depressa, me leva ao hospital.

Mando uma mensagem para Ana e peço para avisar Isabela e Laura.

Respiro profundamente, tentando controlar as contrações, mas não adianta


nada. Fecho os meus olhos, sentindo como se estivessem rasgando a minha
barriga.

Eu sei que Elai está falando alguma coisa comigo, mas não estou
conseguindo prestar atenção em nada. Eu amo a minha filha, mas eu queria que
isso acabasse logo.

Chegamos ao hospital e sou levada para um quarto. A médica me examina


e se assusta quando percebe que eu estou com oito centímetros de dilatação.
Acabo sorrindo de felicidade. Isso mesmo, filha, parece que você é mais
apressada do que o seu pai. Elai não sai do meu lado em nenhum momento, ele
segura minha mão e não a solta em nenhum momento.

Faço força quando a médica manda. A dor do parto é quase insuportável.


Estou molhada de suor e ao olhar para o rosto de Elai eu o vejo pálido. Neste
momento, se não fosse a dor, teria sorrido. Eu estou parindo e é ele que parece
que vai desmaiar.

— Isso, Luiza, só mais uma vez.

A contração vem com força e grito.

Ouço o choro da minha filha e o meu coração se enche de felicidade. A


médica então me entrega um pequeno embrulho. Ao segurá-la nos braços, não
contenho as lágrimas que não param de rolar pelo meu rosto. Levanto o olhar e
vejo Elai nos olhando, admirando a filha. Ele sorri, um sorriso lindo de
felicidade.

Todas as garotas chegam. O quarto está cheio de presentes. A cada


momento a minha filha está nos braços de alguém.

Eu não poderia estar mais feliz. Eu nunca pensei que poderia ser feliz
como agora.

— Vocês já escolheram o nome dela? — Isabela pergunta com a minha


filha nos braços.

— Sim. O nome dela é Eduarda.

Sorrio, e todas elas sorriram para mim.

Três meses depois…


Estou sentada em uma mesa com a Duda nos braços. Elisabeth brinca sem
parar com a toalha da mesa. Estamos no casamento da Laura. Estou olhando para
ela neste momento, dançando com Paollo. Ela está tão feliz, como nunca
imaginei na vida. Vejo Isabela olhando também para ele, feliz, radiante, mas dá
para entender, afinal, Isabela tem um carinho enorme por ela.

— Ela está linda. — Sorrio.

Isabela se vira para mim.

— Laura merece ser feliz, todas nós merecemos.

— Sim. Merecemos.

Ana pega Duda e o leva para passear com Gabriel em meio às pessoas.

— Já te falei que você está simplesmente perfeita? — Ouço a voz de Elai


no meu ouvido. Os pelos do meu corpo se arrepiam na hora.

— Ainda não. — Me viro, e mesmo que eu já o tenha visto, eu não me


canso de admirá-lo. Ele é incrivelmente bonito. E de terno, então, é uma
verdadeira perdição.

— Você me daria a honra desta dança?

— Seria um prazer.

Ele segura na minha mão e andamos em direção a várias pessoas, inclusive


Nicolai e Isabela, que dançam completamente apaixonados.

Elai segura na minha cintura, me trazendo para mais perto. Coloco as


minhas mãos em volta do seu pescoço e começamos a nos movimentar ao som da
música.

— Suponho que a nossa filha esteja com alguma de suas amigas.


Sorrio.

— Ela está com Ana. Elai sorri, revelando aquela covinha que eu tanto
amo.

— Parece que ela vai ser como o pai, não é mesmo?

Dou um pequeno soco na sua barriga, ele sorri ainda mais.

— Só estava brincando, amor.

— Palhaço!

— Sabia que eu adoro ver você com essa carinha de brava?

Sou pega de surpresa ao sentir os seus lábios nos meus. Sentir Elai assim
tão próximo é tão bom, tão único. Estar perto dele me faz muito bem.

A festa acaba e Laura vai viajar com Paollo na sua lua de mel. Eles vão
ficar um mês viajando para vários países.

Ao chegar no apartamento que agora divido com Elai, vou diretamente


para o quarto colocar minha filha no berço.

Ao voltar para a sala, vejo Elai segurando duas taças de vinho. Ele me
entrega uma. Bebo um pouco e coloco a taça na mesa. Me aproximo dele. Elai
observa cada detalhe atentamente. Retiro a taça da sua mão e a coloco ao lado da
minha.

— Você está tentando me seduzir, senhorita Luiza?

Ele sorri ao me aproximar do seu ouvido.

— Por quê? Está funcionando?

— Pode ter certeza de que sim.


Elai me pressiona contra a parede e sinto o seu hálito quente no meu
pescoço. Em poucos segundos os seus lábios macios estão nos meus, saboreando
cada gemido que sai da minha boca.

— Eu já te falei isso, Lu, mas vou ter que repetir. Desde a primeira vez em
que eu te vi, no fundo eu já sabia que seus lábios seriam a minha verdadeira
perdição.

Sorrio próximo a sua boca.

— Sua perdição? Me lembro muito bem que você fazia de tudo para ficar
longe de mim.

Ele sorri, beijando o meu pescoço.

— Essa era a minha única saída, porque no fundo sabia que quando eu
finalmente a beijasse eu estaria perdido.

Elai se afasta e olha diretamente nos meus olhos.

— Eu te amo, Luiza, eu amo cada pedacinho seu. Eu amo a sua


preocupação com as outras pessoas, eu amo o seu jeito, eu amo cada parte de
você. Estão me responda, você quer se casar comigo?

Fico por um momento em choque, desde que a Duda nasceu resolvemos


morar juntos, mas em momento algum tínhamos tocado no assunto de um
casamento. Pelo menos não até agora. Sorrio para ele.

— Sim, Elai, eu aceito me casar com você.

Ele se aproxima e me beija novamente, mas desta vez é um beijo mais


calmo. Um beijo carinhoso. Um beijo de muitos que virão pela frente. Eu estou
completamente apaixonada por Elai. Ele é o amor da minha vida, o meu
companheiro, mas primeiro, ele foi um amigo que me irritou, me magoou, mas
que sempre esteve comigo nos piores momentos, até o final.
Eu agradeço por cada pessoa que leu meus livros, que passou raiva e sentiu
amor por cada personagem, que se identificou com cada história. Com o amor de
Isabela, a força de Laura, o coração de Ana e a amizade de Luiza. Eu agradeço de
coração por vocês terem lido os livros da Série: Uma Nerd na Máfia. Obrigada!
Uma Nerd na Máfia

Sinopse

Ela é uma hacker louca por jogos, séries e livros.


Ele é um Mafioso louco por sangue e as piores torturas.

Um romance Dark com uma pitada de humor.

Este livro é um dark romance, nele você vai encontrar o extremo.

Nicolai era conhecido como o mais novo chefe da máfia italiana, temido
por todos, ganhando o apelido de demônio na Itália.

De uma hora para outra se vê indo para os Estados Unidos para encontrar a
pessoa que teve a ousadia de lhe roubar duzentos milhões, jurando a si mesmo
que encontraria a pessoa, e a faria pagar com lágrimas de sangue.

Isabela é uma garota de apenas dezenove anos que não tem nada a não ser
a sua incrível inteligência, cursando o penúltimo ano de ciências da computação
faz de tudo para ajudar a quem precisa. Isso inclui de vez em quando invadir
algumas contas, e transferir pequenos valores para instituições de caridade pelo
mundo.

Tudo em sua vida muda quando se vê sendo sequestrada pelo chefe da


máfia italiana, acusada de ter roubado um enorme valor ela fará de tudo para
provar a sua inocência. Porque uma coisa ela tem certeza, se fosse ela a ter
pegado o dinheiro, ele jamais a teria encontrado…
A Protegida do Mafioso Possessivo

Sinopse

Publicado anteriormente como Uma Louca Na Máfia.

Ele vai protegê-la de todos nem que para isso ele coloque fogo em
toda Sicília.

Com seus dezessete anos Laura foge dos maus-tratos do seu pai, ela
viveu um verdadeiro inferno na sua vida, constantemente torturada, mantida
presa pela pessoa que deveria protegê-la, mas não foi isso que aconteceu.

Paollo Salvatore é o segundo no comando da máfia italiana, um


homem frio e arrogante, que acha que todos à sua volta têm que obedecê-lo,
mas tudo muda quando conhece Laura, uma garota alegre que não está nem
um pouco a fim de obedecê-lo em nada.

Duas pessoas completamente diferentes.

Ela, uma escritora que se faz de durona, mas no fundo é uma garota
sonhadora e romântica.

Ele, um homem arrogante que não aceita um não como resposta, mas
jurou protegê-la.

Dois caminhos que se cruzam trazendo vários segredos do passado.


A Obsessão do Magnata Mafioso

Sinopse

Publicado anteriormente como Uma Dançarina na Máfia.

Ela precisa de dinheiro.

Ele, de uma namorada.

Mas a obsessão que ele tem por ela, vai longe demais…

Gabriel foi abandonado no dia do seu casamento, e por isso não


acreditava no amor.

Ana vai fazer de tudo para salvar a vida do pai, até mesmo fingir ser
a namorada de um mafioso obsessivo.
Uma proposta, uma escolha, uma noite, mudará a sua vida para
sempre.

Gabriel Zás, não é o herói dessa história, mas com certeza é o vilão.

Gabriel Zás é um homem frio e calculista, sozinho conseguiu fazer a


empresa da família se tornar a maior editora do país

Um homem arrogante, com envolvimento na máfia italiana, que acha


que tudo se compra, inclusive mulheres, acostumado a ter tudo que quer.
Logo vai perceber que nem todas são iguais.

Ana Ferreira é uma mineira, apaixonada pela dança, desde pequena o


seu sonho era se tornar uma bailarina profissional, mas não conseguiu
tornar isso realidade, a sua vida nunca foi fácil e logo vai perceber que as
consequências de uma noite, irão mudar a sua vida para sempre.

Ela vai para a Itália, em busca de uma vida melhor

O tratamento do seu pai é caro demais, mesmo trabalhando em uma


lanchonete de dia e como dançarina a noite não consegue o dinheiro
suficiente, no meio de tantos problemas ela conhecerá Gabriel.

Livro três, sequência de A Protegida Do Mafioso Possessivo.

Pode ser lido separadamente.

Não recomendado para menores de dezoito anos contém cenas de


violência, sexo, e linguagem imprópria.
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