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2023
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por escrito da autora.
Gravidez inesperada.
Luiza ficou encantada quando viu Elai pela primeira vez, um homem
lindo, com um sorriso fácil no rosto, mas ele a irrita. Ela, uma pessoa que
sempre está disposta a ajudar uma amiga, ou até mesmo o homem que tira a
sua paciência a cada oportunidade, uma garota meiga e romântica que busca
uma vida melhor. Mas as consequências de uma noite de prazer lhes trarão
muitas coisas e um pequeno presente. Uma criança inocente no meio de um
relacionamento conturbado.
Os meus olhos ardem de uma forma que pensei não ser possível. Fecho-os
por um momento, tentando me controlar. A imagem da Ana no chão, o cheiro
forte de sangue... só de imaginar mais lágrimas rolam pelo meu rosto.
Me viro para ver Elai ao meu lado, ele dirige o carro, mas de vez em
quando me observa.
Respiro fundo.
— Quando você vai parar de me chamar de criança? Que mania chata. Por
acaso você ia gostar que eu te chamasse de galinha toda hora?
Sinto uma fisgada no meu ombro. Coloco a mão lá, e sinto a região latejar.
Preciso pegar umas coisas para Ana e aproveitar para tomar um banho
rápido. Vou repetindo isso até chegar ao elevador. Sinto a presença de Elai ao
meu lado, mas ignoro.
O elevador se abre e saio sem olhar para trás. Já estou abrindo a porta, mas
paro quando ele segura a minha mão. Eu as observo entrelaçadas uma na outra
por mais tempo do que o normal. O meu coração dispara e observo o seu rosto.
Elai está com uma expressão neutra.
Sinto a sua mão em contato com a minha em um aperto forte. Suspiro alto.
O apartamento dele é bastante parecido com o da Laura, a única diferença é que
só tem um quarto. Ele me leva para o sofá e faz eu me sentar.
Elai sai e entra no quarto. Observo o local. O cheiro dele está presente no
ar. Quando volta, traz uma caixa na mão, e se senta ao meu lado. Eu o encaro, e
ele faz o mesmo.
— Eu estou bem — falo, e tento me levantar, mas ele segura o meu braço
firmemente.
— Nós dois sabemos que não. Acho que você machucou o ombro na
queda. Retire a blusa para que eu veja.
— Eu não vou tirar a blusa — falo, sem tirar os olhos dele, que sorri para
mim.
—- Pode ficar tranquila, Luiza, nunca faria mal a você. — Ele aperta a
minha bochecha e esse gesto faz com que eu fique vermelha de raiva. — Você
fica uma gracinha vermelha desse jeito — afirma, sorrindo para mim.
—- Ok, então.
Sinto a sua mão na minha de novo, ele se levanta e me leva para o seu
quarto. Fico parada, olhando para a sua cama, e por um momento penso em
quantas mulheres já passaram por aqui.
Elai fala isso e sai, me deixando no seu quarto sozinha com uma camiseta
branca nas mãos.
Respiro fundo, retiro a minha blusa de frio e esse gesto causa um
desconforto no meu ombro. Os pelos dos meus braços se arrepiam na hora. Pego
a camiseta e a visto, ela fica enorme em mim, mostra uma parte do sutiã, e o fato
de ele ser rosa com pequenas flores da mesma cor não ajuda muito. Suspiro,
tentando tapá-lo.
Saio do quarto e vejo Elai sentado. Quando ele me vê, sorri. Ignoro, me
sentando ao seu lado.
— Não fez tanta diferença, estou vendo praticamente todo o seu corpo.
Tento arrumar a camiseta mais uma vez na esperança de que o meu sutiã
não apareça, isso só faz com que ele sorria mais.
Respiro devagar, quando sinto a ponta dos seus dedos em contato com a
minha pele. Fecho os olhos por um momento, tentando me controlar. Não queria
sentir o que sinto quando estou próxima a ele, mas é impossível. As minhas mãos
estão suando, eu as fecho, tentando me controlar.
Ele está certo, estou bem melhor, mas sinceramente não sei se é pela
pomada ou por estar tão próxima a ele. Me levanto.
— Obrigada!
Ele para de falar e eu o encaro. Elai fica me observando. Pego minha blusa
e a visto rapidamente.
Por um momento vejo algo diferente nos seus olhos. Passo por ele, indo
em direção a sala.
Ele sorri.
— Claro.
Se controle, se controle. Repito isso sem parar, tentando não ficar ainda
mais nervosa do que eu já estou.
Ele se aproxima, segura o meu rosto com uma mão e é impossível não
reparar na sua boca se abrindo em um leve sorriso antes de falar.
Eu fico o encarando, sem acreditar no que ele falou. Eu não sei o que fazer
e muito menos o que responder. Ele solta o meu rosto, mas sorri para mim.
— Está vendo por que eu te chamo de criança? A sua cara diz tudo.
Fico parada, a minha mão começa a suar e por um momento gostaria de ter
um pouco de experiência para finalmente responder como ele realmente merece.
— Não quero conversar com você, tenho muita coisa para fazer.
— Está vendo, Luiza, você não consegue nem falar a palavra sexo que já
começa a ficar vermelha, por isso que te chamo de criança.
— Não fica assim, falei isso só para provar o meu ponto, e vamos ser
justos, não é? Eu estou certo.
Não respondo. Abro a porta do apartamento e entro, batendo a porta na
cara dele. Respiro devagar, ainda tentando controlar o meu coração. Eu juro que
não quero gostar dele, mas não consigo.
Estou sentada no carro de Elai. Não dirigi a palavra a ele desde que saímos
do apartamento. Evito ficar olhando para ele, porque toda vez que faço isso me
lembro de suas palavras.
Me viro.
Ele sorri.
— Acho que você não entendeu o que aconteceu com a Ana. Não é uma
opção, eu irei te levar todos os dias — ele fala, sério.
Hoje faz um mês que Ana saiu do hospital. Fico tão feliz em vê-la melhor.
Torço para que seja muito feliz com Gabriel.
Já estou quase batendo na porta, mas ela se abre e fico totalmente sem
graça ao ver uma mulher loira saindo. Seguro na minha bolsa com força.
Se acalme, controle-se.
Elai sai logo em seguida. Fico olhando para ele, que apenas sorri para
mim.
— Você consegue.
— Ela já foi.
Já discuti tantas vezes com ele que já desisti de falar para ele não me
chamar de Lu.
O elevador para na garagem e vou direto para o carro, mas Elai continua
até parar ao lado de uma moto. Levanto uma sobrancelha, olhando para ele.
— O que você está fazendo?
— Vamos de moto.
— Deixa de ser boba, Lu, é bem capaz de eu pilotar a moto melhor do que
um carro.
— Se você não subir, vai perder o horário, e olha que já estamos atrasados.
Ele coloca o dele, percebo que não tem como colocar com o cabelo
amarrado em um coque e me viro para ele.
— Você não imagina a vontade que estou de quebrar um dente seu, Elai.
Passo a bolsa pelo ombro, solto o meu cabelo e dou graças a Deus de o ter
lavado hoje. Suspiro alto, soltando os cachos, que caem até a minha cintura. Me
viro para Elai, que está me observando.
— O que foi?
— Você tem um cabelo muito bonito, Lu, devia deixá-lo mais vezes solto.
Engulo em seco.
— Se segura — ele fala, mas não dá tempo para que eu responda nada.
Sinto um frio na barriga quando ele acelera, e seguro na sua cintura com
tanta força que tenho medo até de estar machucando-o. Fecho os meus olhos,
encostando o rosto nas suas costas, as minhas mãos tremem sem parar, ouço ele
rindo.
Sinto a sua mão tocando a minha, mas não abro os olhos. Estou congelada
no lugar, nunca senti tanto medo como agora. Esse infeliz mais parece um
demônio saindo do inferno de tanto que corre.
— Você não está me ouvindo reclamar que você quase quebrou as minhas
costelas.
— Deixa de exageros, não é para tanto, foi a sua primeira vez em uma
moto, só isso. Se você quiser, posso te ensinar a pilotar, o que me diz?
Tento retirar o capacete, mas não consigo. Ele chega mais perto e em
apenas um movimento o retira.
Fico encarando-o.
— Dramática.
— Palhaço.
Entramos no elevador.
— Bom dia.
Ela se levanta com Liz nos braços, a pego, segurando na sua mãozinha
fofa.
Então sai. Pego Liz e a levo até a sala. Ela gosta de ficar me ouvindo
tagarelar sem parar.
— Claro, né, Elai, quem mais iria fazer pão de queijo aqui?
— Está muito bom, me lembra o que eu comi na sua cidade — ele fala, se
sentando na mesa e comendo mais dois.
Dou um pouco de suco para Liz, ela se sujou toda tentando comer. A levo
até o seu quarto, dou um banho bem demorado, a troco, e ela fica deitada no
berço até pegar no sono. Vejo as horas e já é meio-dia e meia.
Isabela já deve estar voltando. Deixo o quarto todo arrumado. Quando vou
sair, Nicolai entra e me cumprimenta com um aceno de cabeça. Ele observa a
filha dormindo.
— Ela já dormiu?
— Ela adora água. Se você quiser, pode ir. Elai está te esperando na sala.
— Não precisa, ela me mandou uma mensagem falando que já está vindo.
— Obrigado, Luiza.
Saio do quarto e desço as escadas. Vejo Elai ao pé das escadas comendo
mais um pão de queijo.
Amiga.
— Posso até fazer para você, mas estou te avisando, se começar a correr
com aquela moto, eu juro que coloco veneno, ouviu?
Como ele me prometeu, ele não corre, desta vez até abro os olhos, mas
continuo o apertando forte, mas com certeza é mais agradável.
Sei que terei que ir todos os dias com ele, mas no fundo não sei por quanto
tempo conseguirei sentir a sua pele tão próxima a minha. Porque sei que estou
apaixonada, mas também sei que ele me vê apenas como amiga.
CAPÍTULO 3
— Decidiu acordar cedo hoje, foi? — Elai fala, logo atrás de mim.
Ele me olha dos pés à cabeça, faço a mesma coisa para ver se tem alguma
coisa errada comigo, mas não tem. Estou com um short de algodão preto e uma
camiseta.
— Vou.
Suspiro alto.
— Alto e claro.
— Aqui é bonito.
Ele sorri.
— Sim, todos.
Sempre tive vontade de viajar e conhecer lugares novos, e era bem difícil,
mas agora posso juntar dinheiro, quem sabe até o final do ano.
— Merda!
Me viro para Elai e vejo aquela mesma mulher que estava no apartamento
dele essa semana.
— Estava, mas ela é muito grudenta. Por que vocês mulheres gostam de
colocar sentimentos em tudo?
Ele se vira para mim, não tenho reação quando ele simplesmente segura no
meu pescoço, me trazendo para perto.
— Me desculpa.
Ele encosta a boca na minha, me deitando ali mesmo na grama. Sinto os
seus lábios nos meus e não consigo descrever as sensações que estou sentindo
agora.
Abro a minha boca devagar e sinto a sua língua explorando a minha boca.
Seguro no seu pescoço, o trazendo para mais perto e sinto a mão de Elai
apertando a minha cintura firmemente. O meu coração acelera tanto. Ele afasta os
lábios dos meus e sinto a sua respiração próxima ao meu rosto. Abro os olhos e o
vejo me encarar. Ficamos assim por um tempo apenas. E por um momento rezo
para que ele não perceba que esse foi o meu primeiro beijo.
— É lógico que não, está se achando demais — falo, dando um passo para
longe, mas ele me segue.
— Tem certeza?
Reviro os olhos.
— Não, Elai, sou tão esquecida que não sei se já beijei antes — minto.
— Desculpa, só achei…
— Não era isso que eu queria falar. — Ele passa a mão pelo cabelo,
nervoso.
Me viro e saio de perto dele. Elai não me segue, e agradeço por isso. Sinto
meus olhos arderem e uma grande vontade de chorar toma conta de mim. Seguro
no meu braço, como se estivesse com frio.
— Sério. Desculpa.
— Só se me desculpar primeiro.
— Vai, me desculpa.
— Não.
— Não foi a minha intenção, de verdade. Sinto muito se magoei você, sou
um idiota mesmo. Como você disse, não tinha o direito de falar aquilo para você.
Abaixo o olhar.
Suspiro.
Ele sorri.
— Eu acredito.
Saímos.
— Feliz aniversário.
— Ah, isso, tinha até me esquecido.
— Obrigada!
— É sim.
Ele sai. Laura nos convida para sair e ir a uma boate à noite, presente dela,
só as mulheres.
Liz ficará com Nicolai, vamos todas juntas, estou muito feliz.
— Isso é para você — ele fala, me entregando uma pequena caixa preta.
Abro a caixa e vejo um colar Prata com um pequeno coração e uma pedra
do lado.
— O que você achou? — Isa pergunta para mim e me viro para ela.
Ela sorri.
— Não precisa agradecer, você já é linda, Lu, só realcei a sua beleza. Vai
se vestir — ela fala, saindo.
Pego o vestido que Laura me deu e a lingerie preta que ela colocou junto
no dia do tiroteio. Só de imaginar aquele dia sinto o meu coração acelerado.
Me observo no espelho e dou um sorriso. Eu realmente gosto do que vejo,
nunca me senti tão bem com a minha aparência como agora.
Saímos do apartamento.
O som está alto e há luzes piscando. Seguro na mão da Ana e ela sorri para
mim. Sentamo-nos a uma mesa e as meninas pedem uma rodada de tequila,
nunca fui de beber, mas hoje estou a fim de experimentar.
— Nossa!
Elas começam a sorrir. Fazemos mais dois brindes e vamos dançar em uma
pequena roda. O meu coração está acelerado, mas não me importo, nunca estive
tão feliz como agora. Dançamos e bebemos. Na verdade, as meninas bebem, mas
depois de quatro doses eu desisto. A bebida é muito forte, fico apenas na água e
no suco.
— Amor.
— Obrigada.
— Muito.
— Que bom, você quer dormir lá em casa, Ana? Tenho algo para lhe
mostrar.
— Nem abre a boca para falar que não vai. De qualquer forma, eu já vou
dormir. Vai aproveitar o restante da noite.
— Mas...
Dou um beijo no seu rosto. Não espero uma resposta, pois sei que ela vai
desistir de sair. Então, abro a porta e entro.
Vou até o quarto, retiro os sapatos, faço uma pequena massagem nos meus
pés, me jogo na cama, observo o teto por um tempo e a imagem de Elai vem a
minha mente. Fecho os olhos e lembro do seu beijo, e por um momento desejo
beijá-lo só mais uma vez.
Levanto-me e me observo no espelho. Ainda estou de maquiagem. Suspiro
alto e acabo decidindo algo que pensei que nunca teria coragem de fazer.
Passo pela porta e vou direto em direção a porta de Elai. O meu coração
acelera de expectativa e por um momento só desejo que ele esteja sozinho. Bato à
porta umas três vezes. As minhas mãos estão suadas, o meu coração acelera ainda
mais quando ele abre a porta só de calça moletom. Tento não olhar para o seu
corpo, apenas para o seu rosto. Elai levanta uma sobrancelha, olhando para mim.
Respiro fundo.
Ele entra e me observa. Respiro fundo, tentando criar coragem para fazer o
que quero.
Não falo nada, apenas dou uns passos em sua direção, e quando estou
próxima seguro no seu rosto. Elai não me impede, apenas me encara.
Seguro no seu pescoço e encosto a minha boca na dele, que continua com
os olhos abertos.
— O que você está fazendo? — Ele se afasta um pouco, mas seus olhos
não saem de mim. — Afinal, quanto você bebeu?
— Eu não estou bêbada, se é o que está pensando — falo próximo a sua
boca.
Ele fecha os olhos com força, e depois que os abre vejo algo diferente.
Respiro devagar.
Diferente do que pensei que ele fosse fazer, que era sorrir, ele fica sério.
— Eu não sou um príncipe como você está querendo, não sou carinhoso
como você merece, e muito menos fico apenas aos beijos com uma mulher no
meu apartamento. Te dou a chance de sair, e esquecermos o que aconteceu aqui.
Porque se você ficar, saiba que iremos fazer sexo, não um sexo bobo, mas vou te
comer do jeito que eu gosto, e vou logo avisando que gosto de sexo mais
selvagem. Tem certeza do que quer? — ele fala, mas sei também que está
tentando me assustar para eu desistir.
Não quero.
Dou um passo, ficando na sua frente. A sua boca se abre apenas um pouco.
Fecho a porta, seguro no seu rosto e falo próximo a sua boca.
— Então me ensina.
Ele não fala nada, apenas segura o meu rosto entre as mãos.
— Você não faz ideia no que se meteu.
— Espero que não esteja com sono, porque você não vai dormir hoje.
CAPÍTULO 4
Sei o que Elai é, mas também sei o que quero, e neste momento é ficar
com ele.
— Você tem uma boca muito sexy. — Ele passa o dedo indicador pelo
contorno da minha boca. Sinto um arrepio passando por todo o meu corpo. —
Você não faz ideia de tudo que imagino fazendo com ela.
Ele abaixa o meu vestido. Os pelos do meu corpo se arrepiam na hora. Falo
para mim mesma que é o frio, mas sei que é apenas o toque de Elai.
Ele me coloca de costas para o seu corpo, segura com força o meu cabelo
em uma única mão.
— Ah… Luiza, você não faz ideia do que quero fazer com você — ele fala
próximo ao meu ouvido e engulo em seco de expectativa.
Sinto a sua mão passando devagar pelo meu corpo. Fecho os olhos, nunca
ninguém tinha me tocado assim. Solto um suspiro quando o sinto retirando o meu
sutiã e digo a mim mesma para não ficar com vergonha.
Ele me vira e observa o meu corpo. O seu olhar vai em direção aos meus
seios e me controlo para não os tapar. O meu peito sobe e desce rapidamente. Elai
aproxima a boca da minha e me beija. Seguro no seu pescoço para ter um pouco
de equilíbrio e sinto o calor da sua pele. Solto um pequeno grito quando ele
aperta o meu seio com força.
Sinto a sua boca no meu pescoço. Elai distribui beijos por lá e passo a mão
pelo seu cabelo. Estou molhada, muito molhada.
Ele anda comigo pela sala, indo direto para o quarto. A sua boca saboreia a
minha incansavelmente e me esfrego nele. Cada parte do meu corpo pede por
mais, o calor dos seus lábios me leva para um mundo completamente novo.
Não pergunto como ele sabe, apenas fico em silêncio. O meu rosto arde de
uma forma que pensei não ser real.
Ele retira a sua calça. Apenas a luz do abajur está acesa, iluminando o seu
corpo, mesmo assim vejo perfeitamente cada tatuagem. E por um momento penso
se elas têm um significado.
O meu coração acelera ainda mais. O orgasmo vem com toda força e,
mesmo tentando me controlar, eu acabo gemendo alto. Ainda estou tremendo
quando ele coloca a camisinha e a sua boca vai para o meu pescoço. Sinto sua
respiração quente. Fecho os olhos com força, o sentindo entrar forte em uma
estocada. As suas mãos me apertam com força, como se quisesse se controlar.
Respiro devagar, o sentido entrando novamente em um movimento de vaivém.
Os meus olhos se enchem de lágrimas, mas não as solto.
A mão dele aperta o meu seio e jogo a minha cabeça para trás, sentindo o
seu pau entrando fundo. Cada estocada é forte e seguro com mais força o seu
pescoço, o suor se formando em minha testa.
Ele ainda me penetra várias vezes antes de gozar. O meu coração acelera, a
minha boca está seca. Ele continua na mesma posição. Ouço a sua respiração e
sinto os seus lábios no meu ouvido e ele me beija ali. O meu corpo está todo
dolorido, o meu coração acelerado.
Essa, com certeza, é a melhor coisa que já fiz. Ele se retira de dentro de
mim, vai até o banheiro, mas logo volta e se senta na cama. O vejo calado, e por
um momento penso que ele não gostou e sinto o meu coração apertado no peito.
— Pode falar.
— Eu sei.
Ele me observa por um momento, mas logo está com um pequeno sorriso
no rosto. Ele se aproxima e deposita um beijo no meu rosto.
— Vamos dormir, gostaria de fazer muito mais coisas com você, mas sei
que você deve estar dolorida — ele fala, mas sei que não conseguirei dormir na
mesma cama que ele, então dou um suspiro.
Não espero sua resposta, me levanto e sinto uma fisgada no meio das
minhas pernas.
Pego o meu vestido na sala. Elai me segue sem tirar os olhos de mim. Visto
o vestido e sinto o seu olhar queimando em minha direção. Faço um coque no
cabelo.
Não me arrependo do que fiz, foi algo bom, mas o meu único desejo é que
eu consiga tirar Elai do meu coração. Sinto que só assim vou conseguir ser feliz.
— Eu sei, mas não foi você que falou que queria fazer umas compras para
mudar o seu guarda-roupa?
— Vamos.
Ela se levanta e segura no meu ombro. Chegando à sala, vejo Laura no seu
notebook.
Ela suspira.
— Tenha um bom-dia.
Ela fica vermelha e entendo que ele não queria mostrar nada, era apenas
uma desculpa.
Pegamos um táxi.
Ela sorri.
Estou feliz, muito feliz mesmo. Esse dia foi ótimo, não tem nada que possa
atrapalhá-lo.
Eu deveria ter ficado calada, porque quando eu vejo Elai saindo do seu
apartamento com uma moça de cabelos pretos, fico totalmente em choque. Fecho
as minhas mãos em punho, tentando controlá-las para que parem de tremer. O
meu coração acelera tanto, e por mais que eu saiba o que ele realmente é, dói de
uma forma que pensei que não pudesse doer.
Ele para na nossa frente e a moça que está com ele sorri. Mas não consigo
sorrir, os meus olhos vão direto para ele e, neste momento, percebo que fiz a pior
coisa do mundo, que foi me entregar a ele.
Os seus olhos observam cada parte de mim. Respiro devagar, não quero
dar a ele o gostinho de saber o tanto que estou sofrendo e, mesmo sem querer,
dou um pequeno sorriso forçado.
— Boa noite, Ana — ele fala, mas os seus olhos estão direcionados a mim.
— Acho que ele não vai mudar nunca — falo, e ela concorda. — Bem, vou
tomar um banho rápido.
Não consegui dormir muito bem. Tenho que estar na casa de Isabela às 8h.
Ainda são 6h, então me levanto sem nenhuma vontade de ficar na cama e tomo
um banho para depois preparar o café.
Fico na sala, sentada, sem nenhum ânimo. Respiro fundo e troco de roupa.
Escolhi uma das que comprei ontem. Um short preto de alfaiataria com uma
blusa mais folgada branca.
Arrumo o cabelo, o deixando solto. Ele está bem mais baixo, com cachos
mais definidos. Acabo sorrindo para o meu reflexo. Tenho que aprender a pensar
em mim em primeiro lugar, sei que não será fácil, mas tenho que tentar.
Às 7h20 fico na porta dele, mas nada. Bato três vezes e nada. Observo o
celular e tento ligar para Elai, mas sem sucesso. Espero mais cinco minutos e ele
não sai. Vou direto para o elevador, um ódio me dominando. Pego um táxi.
— O que você está fazendo? — Ele respira fundo. — Você é louco? Solta
o meu braço.
Reviro os olhos.
— O que você achou que seria? Eu te falei sobre os riscos e mesmo assim
você me desobedeceu.
— Minha?
— Sim, sua. O meu horário aqui começa às 8h e infelizmente tenho que vir
com você, mas não sou obrigada a ficar te esperando naquele corredor. Se você
tivesse olhado o seu celular, saberia que tentei te ligar, que mandei mensagens.
Bati na sua porta e nada. Nenhum sinal de que pelo menos estava vivo. —
Respiro fundo. — Solta o meu braço.
— Não vai mesmo, vou conversar com Isabela e virei sozinha de amanhã
em diante.
Ele se aproxima.
Reviro os olhos, passando por ele, mas sinto sua mão em volta do meu
pulso novamente.
— Solta!
— Terminamos sim.
— Não vou ficar aqui ouvindo essas palhaçadas que você está falando. —
Me viro para ele. — Sim, Elai, fizemos sexo, está bom para você? Mas esse não é
o motivo de eu não querer vir para cá com você. O motivo é a sua total falta de
responsabilidade.
— Eu não gosto que você me chame assim, já deixei muito claro para
você. Então, já que você não entendeu, vou explicar novamente. Pare de me
chamar de criança, é a última vez que eu te aviso.
— Agora achei interessante. Se eu voltar a te chamar de criança, o que
você vai fazer?
— Para você pode não ser nada ou apenas uma brincadeira, Elai, mas não
gosto, e espero que você seja maduro o suficiente para saber com o que se pode
brincar ou não. Então, só não me chame de criança, apenas isso — falo séria, e
ele me observa por um momento, mas acaba suspirando.
— Ok, Elai, não vou mais discutir com você, mas estou logo avisando: se
você não estiver pronto no horário combinado, virei sozinha e não estou nem aí
para o que você irá dizer.
Ele olha para sua mão, que ainda se encontra em volta do meu pulso, e a
solta.
Fico no quarto com Liz, ela está cada dia mais esperta e mais linda. Meu
horário acaba e fico conversando com Isa um pouco. Quando já são 13h, saio.
Encontro Elai ao lado do carro conversando com alguém no celular, fico perto
dele, o esperando terminar, e quando finalmente desliga entramos no carro. Evito
olhar para ele e fico encarando pela janela.
— Ainda está com raiva de mim?
Ele me dá um sorriso.
Ele fica em silêncio. O carro vai para uma direção diferente e me viro para
ele.
— Aonde vamos?
— Eu não quero.
— Duvido muito.
Ele sorri e percebo que estamos indo em direção à praia. Paramos perto de
um píer e saímos do carro. Fico observando o mar a minha frente, as ondas
quebrando perto de algumas rochas. Essa é a primeira vez que vejo o mar de
perto. Já tinha combinado de vir com a Ana, mas depois do seu acidente não
falamos mais nada.
Faço como ele falou e ele faz o mesmo. Andamos em direção à areia da
praia. Os meus dedos afundam e sinto o calor da areia. Acabo sorrindo.
— Gosto de vir aqui, às vezes. — Ele se senta na areia, faço a mesma coisa
e fico brincando com ela. — É a primeira vez que vem à praia?
— Diferente como?
— Os meus pais sempre quiseram que seu único filho fosse para o
exército, então eu fui, por eles. Mas não era o que eu realmente queria, depois de
três anos decidi sair.
Ele sorri.
— Você tem dinheiro? E mesmo assim pediu para que eu pagasse o sorvete
lá na minha cidade? — falo, indignada, ele sorri, coçando a cabeça.
— Continuando, assim que saí do exército, fiquei com os meus pais por
um mês, mas logo depois disso decidi viajar pelo mundo, conhecer lugares e
pessoas diferentes. Acho que não nasci para criar raízes em um único lugar.
Nunca fico no mesmo lugar por muito tempo.
Depois das palavras dele, acabo sentindo uma pontada no peito. Ou seja,
ele não iria ficar aqui.
Ele me observa.
— Então, assim que descobrirem quem está fazendo essas coisas você vai
embora?
— Por quê? Vai sentir saudades? — Ele sorri, e reviro os olhos para ele,
mas ele não espera minha resposta. — Provavelmente irei embora, sim. Por quê?
— Pode falar.
— Nicolai teve que viajar e infelizmente tenho uma prova hoje e não posso
faltar. Liz tem uma consulta marcada às 10h com a doutora Nicole, você poderia
levá-la para mim.
— Pode deixar.
— Obrigada!
Ela sai, e aproveito que Liz ainda está dormindo para arrumar a bolsa dela,
colocando tudo o que ela vai precisar. Hoje está um dia mais frio e escolho uma
roupinha mais quente, e coloco em cima do trocador.
Quando ela acorda, dou um banho bem quentinho nela, visto a roupinha e
ela fica uma gracinha de rosa.
Já são 9h20. Pego Liz, a bolsa e descemos as escadas. Vejo Elai nos
esperando, e quando Liz o vê começa a sorrir. Balanço a cabeça.
— Duvido.
Vamos conversando no caminho e, já no carro, Elai se senta comigo no
banco de trás. Coloco Liz no bebê conforto e fora o motorista há outro homem no
banco da frente. Não sou boba, tenho certeza de que tem mais um carro fazendo a
escolta.
— Nem começa.
— Palhaço!
Uma moça está sentada, olhando e sorrindo para mim, correspondo. Ela se
levanta e me cumprimenta.
— Luiza, não é?
— Sim. — Sorrio.
— Que pena! Bem, se você quiser, pode entrar ali naquela sala e trocar Liz
para que eu possa examiná-la.
Ela aponta para uma porta e balanço a cabeça, concordando com ela. Entro
e fecho a porta.
Vou até uma janela na lateral e consigo abrir devagar. Vejo que dá para a
escada de incêndio. Coloco uma cadeira, e com pressa subo nela. Vejo que Liz
dormiu. Seguro na sua cabeça, encostando-a ao máximo em mim. Tento não olhar
para baixo. O meu coração está tão acelerado.
Ligo para Elai. Vou andando e tentando chegar ao final do beco. Ouço
passos e tento pensar no que vou fazer. Se eles me pegarem, tenho certeza de que
levarão Liz. Nem percebo, mas já estou chorando. Minhas mãos tremem. Vejo
um monte de caixas perto de uma lixeira. Ouço um barulho estranho. Me
aproximo das caixas e retiro Liz do canguru. Ela dorme tranquilamente. Elai
finalmente atende à ligação.
Coloco Liz deitada em uma caixa. Ela continua dormindo, o que dou
graças a Deus. Me levanto e começo a correr em direção à ponta do beco, à
procura de ajuda.
— Cala a boca e me escuta. Eu deixei Liz perto desse lixo, em uma caixa,
pega ela o mais rápido possível. Vou tentar distraí-los para que você a pegue.
— Lu…
Ele chega perto e me dá um tapa no rosto. Fecho os olhos mais uma vez,
tentando me controlar. Um gosto forte de sangue está na minha boca. Em poucos
segundos já estou sendo pressionada na parede. Ele segura no meu pescoço com
força e o metal frio da sua arma está encostada ao lado do meu rosto. O meu
coração está tão acelerado que penso que a qualquer momento vou desmaiar.
Sinto seu hálito quente no rosto. Abro a boca para responder, mas não
consigo. Ele me coloca na frente, e segura o meu braço com força. A sua arma
continua apontada para a minha cabeça.
— Se eu fosse você, baixava essa arma, se não quiser ver o cérebro desta
gracinha espalhado por toda essa parede.
O meu rosto está molhado de lágrimas. Não consigo falar nada. Sinto as
minhas forças indo embora aos poucos. O rosto de Elai continua sério e por um
momento rezo para que ele tenha pegado Liz.
Fecho os olhos com força quando ouço um barulho alto. Os meus ouvidos
estão zumbindo sem parar. Coloco a mão no rosto e a sinto molhada. Abro os
olhos e vejo sangue na minha mão. Começo a tremer. Sinto braços ao redor do
meu corpo, me trazendo para perto. Sinto o cheiro de Elai e me permito fechar os
olhos novamente.
Me afasto dele. Vejo o senhor Paollo se aproximando de nós. Ele olha para
o corpo no chão e faço a mesma coisa. Vejo aquele homem caído com um buraco
na cabeça, as minhas mãos tremem sem parar.
— Eu tive que deixá-la lá, Elai — falo chorando. — Eu estava com medo
deles a pegarem, então eu tive que deixá-la.
— Que bom, já assinei sua alta — ela fala, e olha o prontuário na sua mão.
— E pode ficar tranquila que o seu bebê está bem.
O meu rosto congela. Sinto o meu coração acelerando mais e mais. Engulo
em seco.
— Bebê?
— Tem certeza?
— Tenho sim, Luiza, mas se você quiser posso pedir para repetir o exame.
— Quero sim.
Ela sai.
— Pode ser um erro, tem que ser um erro. É muito azar perder a virgindade
e engravidar no mesmo dia, principalmente usando camisinha.
Respiro fundo, limpo os olhos e fico esperando a médica, mas quem entra
é Elai. Fico o observando. Ele está segurando um pacote de salgadinho.
— Já está liberada?
— Só esperando a médica.
Não falo mais nada, apenas fico calada. A minha cabeça começa a doer
ainda mais. Um bebê… Eu não quero um bebê agora, principalmente de Elai. As
palavras que ele me disse na praia voltam com tudo. Calma! Talvez seja um erro
e nada mais.
Respiro fundo.
A médica entra, olha para Elai sentado ao meu lado com a boca cheia de
salgadinho.
Observo Elai. Se eu estiver grávida, ele tem que saber, melhor que seja
agora.
— Pode sim.
Elai se levanta.
— Acho que você é o pai, pela sua reação. A senhora Luiza está grávida de
três semanas. — Ela olha para mim, mas não falo nada, não consigo. — Vou
deixar vocês dois conversarem.
Ele me encara.
— Você já sabia?
Levanto o olhar.
— Você quer que eu faça o quê? Comece a gritar, pular? Me fala, o que
quer que eu faça? — falo tudo de uma vez, tento me controlar, mas não consigo e
começo a chorar sem parar.
— Calma, Lu, nós vamos dar um jeito.
— Não foi isso que eu falei — ele passa a mão pelo cabelo, nervoso —,
mas acho que essa decisão é nossa, não só sua.
Ele não fala nada, apenas se senta em uma cadeira próxima à cama e
abaixa a cabeça. Fecho os olhos, tentando me controlar.
O mais importante é não sei o que fazer. Criar uma criança sozinha?
Simplesmente não sei o que Elai está pensando, mas acho que seja a mesma coisa
que eu.
Ele se levanta e se senta na cama. Os seus olhos não saem do meu rosto.
— Vamos pensar um pouco, okay? Vamos nos acalmar. Não vamos
resolver nada desse jeito. Sei que posso ter tido a pior das reações, mas, Lu, eu
usei camisinha, sempre uso, e sinceramente não sei o que fazer.
— Eu sei que você usou. — Limpo o rosto. — A médica falou que podia
estar furada, ou estourou. Você não percebeu nada?
— Não, sempre dou uma conferida, mas como era sua primeira vez acabei
me levando pela situação e não olhei.
— Eu sei, eu também.
Em momento algum ele fala que estaremos juntos, e por mais que eu tente
deixar para lá, eu gostaria de ter ouvido essas palavras.
Ligo para as meninas e falo que tive alta e que já estou voltando. Elas vão
esperar no apartamento. Estou sentada no banco da frente do carro e Elai dirige
calado. Desde que saímos do hospital ele não falou nada, então fico calada
também. Ele para em frente ao prédio, e saímos.
— Isso?
Não espero a sua resposta, apenas entro no apartamento e sou recebida por
um abraço de Isabela e, mesmo tentando me controlar, eu choro.
CAPÍTULO 8
A minha cabeça está doendo de tanto que estou pensando no que fazer.
Me sento na cama, fazendo pressão na mão com uma toalha. Sei que Luiza
não tem culpa, sei disso, mesmo assim não sei o que pensar.
— Pai.
Tomo um banho, faço um curativo na minha mão e me visto. Sei que tenho
que pensar no que vou fazer em relação a esse bebê, mas também sei que tenho
que encontrar Nicolai.
— Desculpa por isso — ela fala sem graça. — Muito obrigada por ter
salvado a vida da Lu, Elai.
Ela suspira.
— Ela está sentindo dores de cabeça, mas já dei um remédio para ela.
Quando eu saí ela já estava quase dormindo.
— Com certeza, bom tenho que voltar agora. Só vim aqui para te agradecer
por tudo que fez por ela. Luiza se faz de durona, mas é uma manteiga derretida.
Ela diz isso e volta para o seu apartamento. Sei o que ela quis dizer, mas
todas as vezes que penso em Luiza a única imagem que vem a minha cabeça é a
boca dela se abrindo levemente quando a fiz ter um orgasmo. Tenho que admitir,
Luiza tem uma boca incrivelmente sexy.
Tentarei não pensar em Luiza e nesse filho que ela está esperando. Afinal,
tenho um encontro com um dos desgraçados que tentaram sequestrar a filha de
Nicolai. Entro no elevador assobiando de felicidade por saber que terei uma noite
inteira regada à tortura e sangue.
Retiro o capuz da cabeça do infeliz. Ele abre e fecha os olhos muitas vezes,
tentando se ajustar à luz. Quando finalmente consegue, os seus olhos se fixam em
mim, dou um sorriso para ele.
— Senhor Braian Lourenço — falo o nome dele com a voz bem arrastada.
O infeliz não demonstra nada, fica apenas me encarando. — Vejo que não gosta
muito de falar, mas não tem problema, temos a noite toda para te ouvir cantar. E,
acredite, você vai cantar muito. — Estou totalmente sério. A minha expressão se
fecha completamente e o vejo engolindo em seco. — Ótimo!
Pego uma faca e passo lentamente pelo seu rosto. Vejo o rastro de sangue
surgindo. Ele faz uma careta no início, mas continua calado.
— Você acha mesmo que irei falar? — Ele sorri. — Está muito enganado.
— Claro que você irá falar, isso eu tenho certeza, pode ficar tranquilo. —
Sorrio. — Isto aqui é apenas uma brincadeira. Uma brincadeira que estamos
apenas começando, e você — passo a faca pelo outro lado do rosto dele — será o
brinquedo desta noite.
Muitos me chamam de sádico, mas confesso que não gosto muito desse
apelido. Ok, gosto de ver as pessoas sofrendo, e saber que sou eu a causar esse
sofrimento é muito bom, para mim a tortura é apenas uma forma de poder brincar
com pessoas que não prestam. Saber que serei eu a causar um pouco de dor é
perfeito.
Puxo o cabelo do infeliz para trás com muita força. O vejo tentando
respirar, o que torna a cena perfeita aos meus olhos. Com uma toalha no rosto
dele, jogo pequenas quantidades de água e o vejo se afogando aos poucos. Sei o
que ele está sentindo agora. A água entrando nos pulmões, a sensação de ardência
e a dor insuportável. Eu já senti, e confesso que não é uma sensação que eu
gostaria de ter novamente.
Retiro a toalha do seu rosto, o que o leva a tossir sem parar. Sangue sai do
seu nariz e boca. Gostaria de vê-lo se engasgando com o seu próprio sangue, mas
não é a hora ainda.
Ele me observa com ódio e cospe sangue no meu rosto. Limpo o local,
balançando a cabeça.
— Que coisa feia Sua mãe não te ensinou que não se deve cuspir nas
pessoas? — Dou um soco no rosto dele e ouço o barulho de um osso se
quebrando, o que me traz uma grande alegria.
— Vamos continuar com a nossa brincadeira? — Coloco a toalha
novamente no rosto dele.
Lavo a minha mão em uma pia, no galpão mesmo. Ouço passos, mas
continuo com a tarefa de tirar o sangue das minhas mãos. Vejo a cor avermelhada
descendo com a água.
— Ele não sabia muita coisa, foi contratado para sequestrar Elizabeth e
levá-la para um estacionamento há dois quarteirões da clínica.
Ele observa a cena. Braian, ou melhor, o que sobrou dele, está pelado no
chão, sem uma perna e um braço e com vários dentes faltando. Sorrio para a obra
de arte que fiz com o corpo dele.
— Adiantou uma coisa. — Me viro para Nicolai. — Ele falou que é uma
mulher, mas não sabia o nome dela.
— Uma mulher?
Ele não responde, apenas me encara e sei que ele entendeu. Afinal, consigo
ser pior do que ele.
Dou um passo para fora do elevador, pego as minhas chaves no bolso para
abrir a porta, mas paro. Mesmo não virando para ver quem é, sei que é Luiza.
Vê-la apenas com roupa de dormir, mesmo tentando me controlar, faz meu
pau se contrair aos poucos.
Acabo fechando os olhos com força e falo para mim mesmo que não senti
um arrepio passando por todo o meu corpo com apenas um toque dela. Isto que
estou sentindo pela Luiza é novo e tenho que admitir que gosto do toque dela, o
que está acabando comigo.
CAPÍTULO 9
— Estou grávida!
Mesmo repetindo essas palavras várias vezes ainda não consigo acreditar
nelas. Hoje faz uma semana que descobri a gestação. Fiquei uma semana em
casa. Para falar a verdade, Isabela me obrigou a ficar em casa.
Entramos no carro e o silêncio reina entre nós. Observo a chuva cair pelo
vidro do carro.
Me viro para ele, que não faz nada, só dirige, olhando atentamente para a
frente.
— Elai...
— Desculpa, mas não vou poder ir, tenho muita coisa para fazer.
Dou um suspiro.
Ele fala tudo de uma vez. Fico encarando-o, sem acreditar nas suas
palavras. Por mais que tente me controlar, os meus olhos se enchem de lágrimas.
Ele não fala mais nada, apenas fica em silêncio o restante do caminho.
Ele se vira e aperta aquele maldito botão, fazendo com que o elevador
pare.
— Elas vão querer que nós fiquemos juntos, ou até mesmo um casamento.
— Você acha que ficar comigo é pior do que a morte — falo baixo.
Ele sustenta o meu olhar por um momento, mas o solta, e suspira. Aperto
aquele maldito botão, fazendo com que o elevador volte a se movimentar.
Ela sai, e fico no quarto de Liz por um bom tempo. Pensar que daqui a oito
meses estarei com um bebê no colo me deixa louca. Um filho? Eu vou ter um
filho.
— Sim.
O elevador para.
— Faça o que você achar certo, afinal, você não se importa com nada que
eu quero mesmo.
Ele sai e vou atrás. O vejo pegando a chave do bolso para abrir a porta.
— Não sei o que quero, Luiza. Isso é muito novo para mim.
— Sabe o que eu acho? Você não quer que eu fale para elas porque com
isso a ficha vai cair que você será pai, essa é a verdade.
Não espero uma resposta, me viro e entro no apartamento. Vou direto para
o quarto e vejo Ana sentada na cama olhando uns panfletos. Me sento na sua
frente.
— Que bom, Ana. — Mas diferente do que pensei, ela não sorri. Fica séria,
me encarando.
Laura entra, segurando uma toalha e secando o cabelo, então para ao meu
lado.
Conto toda a verdade. Ana fica me encarando, já Laura se levanta e vai até
o seu quarto. Quando vou questioná-la ela volta segurando um taco de beisebol.
Ela levanta o taco mais uma vez, mas é impedida por Elai, que segura o
objeto com força e olha para ela.
— Você é um Idiota.
Neste momento ele olha para mim e o meu rosto arde. Fecho os olhos com
força.
— Lu...
Me viro para ela e vejo os seus olhos cheios de lágrimas, o meu coração
dói.
— Ele é um inútil, Lu, você não merece ouvir isso, deixa eu terminar de
bater nele.
— Pode ficar tranquila. A minha vontade é deixar que você bata nele o
tanto desejar, mas não seria o certo. Por favor, Laura, para.
Elai a observa.
Ela segura o braço de Ana, que olha para mim. Dou um sorriso para
demonstrar que estou bem.
Elas entram e me viro para Elai, que faz uma careta, colocando a mão no
local machucando.
— Precisamos conversar.
Ele não fala nada, apenas entra e faço o mesmo. Me sento no sofá e ele vai
até o quarto e volta com uma toalha, fazendo pressão no local machucado.
— Você não é criança para precisar de proteção, Luiza — ele fala sério.
— É sobre isso que quero conversar com você. — Ele não fala nada, então
prossigo: — Não quero nada de você, Elai, se essa criança é um erro tão grande,
pode ficar tranquilo, você não precisa tê-la na sua vida, não quero que ela cresça
sabendo o tanto que o pai a odiava mesmo antes de nascer. Então pode ficar
tranquilo, viva a sua vida como desejar.
— Entendeu por que falo que você gosta de resolver tudo? Eu não sou
apenas um telespectador, Luiza. Eu estou um pouco irritado com a notícia, mas
isso não quer dizer que quero que você crie essa criança sozinha. Eu não sou
nenhum moleque, posso te garantir. Esse é meu filho e vou me responsabilizar
por ele — ele dá um suspiro — e por você.
— Você não merece o jeito que tenho te tratado, você merece mais.
Respiro devagar.
— Eu também não queria ser mãe tão jovem, Elai, mas aconteceu e não
podemos fazer nada em relação a isso.
Sinto um pequeno toque por cima da minha barriga e um arrepio faz com
que o meu corpo inteiro trema. Abaixo o olhar e vejo Elai olhando atentamente
para a mão na minha barriga.
— Você está grávida, Lu, não acredito nisso. — Ele balança a cabeça.
— Não, está tranquilo. Laura não conseguiu fazer o estrago que tanto
queria.
Me afasto dele.
Ele me observa, e por um momento achei que iria dizer que ia na consulta,
mas ele não fala nada.
— Pode ficar tranquila, Luiza, estamos aqui com você, e se ele te tratar
mal uma única vez eu termino o que comecei. — Acabo sorrindo para Laura.
— Eu sei disso,
Ela me mostra o local. Entro na sala e tiro todas as minhas dúvidas com a
médica. Por um momento gostaria de ter falado para Laura e Ana. Ali,
conversando com a médica, vejo que será bem mais difícil do que imaginei.
O vento balança os meus cabelos e mesmo não querendo sinto lágrimas
quentes descendo pelo meu rosto. Estou no mesmo píer que Elai me trouxe
aquela vez, vejo as ondas quebrando nas pedras logo abaixo.
Fecho os olhos com força, pensando em tudo que aconteceu, mas logo os
abro e ouço um barulho. Vejo um homem logo à frente tirando uma foto minha.
Me aproximo.
Reviro os olhos, e me viro para sair, mas ouço os seus passos e acabo
parando e olhando para ele.
Ele sorri, e percebo que ainda está com a mão levantada, mas abaixa logo
em seguida.
Começo a sorrir.
— É brincadeira, não é?
— Claro que não, sei que pode ser estranho tudo isso, principalmente
porque você não me conhece, mas tem o site e tudo mais, você poderá pesquisar
e tirar qualquer dúvida que surgir.
— Acho que sou eu que tenho que agradecer, você poderia me falar o seu
nome?
— Nathan Scott — falo o nome dele, sussurrando cada letra. — Será que
realmente é verdade? Vou dar uma pesquisada quando estiver sozinha.
Mas agora eu não estou mais sozinha, passo a mão pela minha barriga,
lembrando do barulho dos batimentos do coração do bebê que agora cresce
dentro de mim. Sorrio com os pensamentos e nem percebo que a porta do
elevador se abriu.
— Oi, Elai. — Passo por ele, mas sou impedida de prosseguir quando ouço
a sua voz.
— Por que você não faz a pergunta certa? — Ele não fala nada, então
prossigo: — Sim, Elai, o seu filho está ótimo. Se é essa a pergunta que você está
querendo fazer.
— Por que você está gritando? — ele fala calmamente, sinto mais raiva.
— Você... Você me irrita de uma maneira que não tenho nem como
explicar.
Ele sorri.
— Você não faz ideia de como o seu rosto fica vermelho quando está com
raiva, você fica uma gracinha. — Ele tenta apertar a minha bochecha, mas dou
um passo para trás. — Você está muito estressada, Lu. Que tal sairmos um
pouco? Tem um restaurante que estou louco para ir, na verdade, estou indo agora,
o que me diz?
Fico um momento olhando para ele e o meu coração dispara. Tenho que
admitir que, mesmo que Elai seja um idiota e burro, eu gosto dele.
— Você está linda, Luiza, não… você é linda. Está perfeita, vamos, tenho
uma coisa para lhe perguntar.
— Prefiro conversar com uma boa taça de vinho como testemunha, no seu
caso, um suco. — Reviro os olhos mais uma vez. — Vamos, você vai gostar.
Ele me observa sério por um tempo, mas logo um sorriso já está enfeitando
o seu rosto.
Ele abre a porta do carro para mim, e entro, ainda com o coração
martelando no peito.
Sorrio sem graça. Ele balança a cabeça para mim e liga o carro. Ouço uma
música calma tocando e observo o céu pela janela do carro. Várias cores se
misturam com o sol, que já está se pondo. Até parece uma pintura de tantas cores
misturadas. Suspiro alto.
— Bonito, né?
— É, parece mesmo. — Ele me encara, e por algum motivo sinto que ele
não está falando da mesma coisa que eu.
Me viro novamente para a janela e evito ao máximo olhar para o seu rosto.
Vamos mais para os arredores da cidade.
Uma moça nos recebe e andamos lado a lado até pararmos em uma mesa
com vista para o mar.
— Aqui é lindo.
— Agradável, calmo, sério, Elai? Até parece que você gosta de lugares
agradáveis e calmos.
— Você tem cara de quem gosta mais de baladas, lugares mais agitados.
— Acho que o erro é meu por ter te mostrado só esse lado, devo corrigir
esse erro, então.
A última frase ele fala baixo, mas consigo ouvir perfeitamente. Fazemos os
nossos pedidos e um silêncio se instala entre nós por um tempo.
— Estou ouvindo.
— Tudo que está acontecendo entre nós é completamente novo. Ser pai
não estava nos meus planos, como tenho certeza de que ser mãe não estava nos
seus. Enfim, não quero ser apenas o pai que leva o filho para passear de vez em
quando, ou apenas depositar uma quantia em dinheiro por mês. — Ele suspira
profundamente. — Não quero te prometer nada, mas gostaria de tentar te
conhecer melhor, afinal, você é a mãe do meu filho.
— Qual é a proposta?
— Quero que você venha morar comigo. — Abro a boca para responder,
mas ele fala primeiro. — Eu sei que pode ser novo e tudo mais, mas eu quero
tentar, ver o que pode acontecer.
— Podemos nos ver mais, nos conhecer, e assim poderei te mostrar que
não sou o que você imagina.
— Exatamente isso.
— Ok, Elai, vamos supor que eu aceite. Eu moraria com você naquele
apartamento?
Uma voz na minha cabeça fica repetindo a mesma coisa, eu tenho algo a
perder. O meu coração, porque sei que estou apaixonada por você.
— Eu não sei.
Entro no apartamento e vou direto para o quarto. Vejo a Ana sentada lendo
um livro, me aproximo e fico ao seu lado.
— O livro é bom?
Ela sorri.
Ela abre a boca para falar alguma coisa, mas logo a fecha. Conheço a Ana
e sei que quer me falar algo.
— Pode começar.
— Começar o quê?
— Você está apaixonada, Lu, Elai não está, pelo menos acho que não. Se
ele quer mostrar que pode mudar, deixe que ele faça isso aqui. Você não precisa ir
morar com ele para isso.
— Luiza Freitas, você não está sozinha, nem hoje e nem nunca. Sempre
vou estar com você, não importa o que aconteça. Se o lerdo do Elai deseja mudar,
que ele mude aqui, não em outro lugar. Na verdade, achei puro egoísmo da parte
dele fazer essa proposta. No final, ele está pensando só nele, e você, amiga, tem
que pensar em você e agora nessa criança. Sei que você gosta dele, sei disso. Mas
não faça nada que vá te machucar no final. Elai, infelizmente, está acostumado a
ter tudo que quer, não seja isso para ele. — Ela respira fundo. — Você é o centro
de tudo, não ele.
— Eu sei que é tudo novo, eu sei disso, mas você não precisa passar por
isto sozinha, nunca. Eu te amo demais, vou sempre estar aqui para você e seu
filho, sempre.
— Me desculpa, não pensei que estava ocupado, falo com você amanhã.
Fico olhando para ele, mas decido resolver isso logo. Entro e já me sento
no sofá, ele fecha a porta e se senta ao meu lado.
— Por quê?
— Não acho uma boa ideia. Já começamos errado. Para falar a verdade,
absolutamente tudo entre nós foi errado. Não vou deixar que isso também seja.
— Você é uma garota que pensa na família, Lu, pensei que gostaria de
criar essa criança com o pai.
— Eu quero que essa criança seja feliz, Elai. Se for ao seu lado, tudo bem,
mas se não for, ela vai ter a mim — falo séria.
— Que coisa?
Não falo nada. Vou correndo até o banheiro dele e sinto os meus olhos se
encherem de lágrimas. Vomito tudo que estava no meu estômago. Sinto a mão de
Elai segurando o meu cabelo. Lágrimas saem dos meus olhos e toda vez que
tento respirar profundamente sinto náuseas. Elai passa a mão devagar nas minhas
costas.
— Pode ser, mas acho que é normal sentir enjoos no começo — falo
devagar.
— Você está pálida. — Ele se levanta e pega um copo de água para mim.
Bebo um pouco.
— Depois você vai, espera um pouco, vem cá. — Ele segura no meu braço
e me leva para o seu quarto.
— Você está pálida, Luiza, me ouve pelo menos uma vez — ele fala sério,
e encosto na cabeceira da cama, não querendo mais discutir.
Pelo menos achei ser por um momento. Quando abro os olhos novamente
vejo que estou deitada na cama de Elai. Sinto o seu cheiro, me viro para o outro
lado e o vejo sentado, encostado na cabeceira da cama, mexendo no celular. Ele
para o que está fazendo e me observa.
— Sim.
— Quantas horas?
— Você pode dormir aqui — ele fala ao meu lado. Nem tinha reparado que
ele tinha se levantado.
— Não precisa pedir desculpas por uma coisa tão banal como essa, Lu.
Dorme aqui.
— A minha cama é tão ruim assim? — Tenho certeza de que essa pergunta
tem dois sentidos.
— Palhaço!
Ele se aproxima e fica na minha frente. Já não está só de toalha, mas com
uma calça de moletom. Somente isso.
— Prefiro ir.
Sinto os seus lábios no meu rosto, essa é a segunda vez que ele faz isso.
Fecho os olhos, sentindo uma coisa tão boa, que sinceramente não sei explicar.
CAPÍTULO 13
As minhas mãos estão suando e as fecho com força. Ainda não estou
acreditando que estou com Laura aqui.
— Nathan está no estúdio, pode ir, é logo ali naquela porta. — Ela aponta.
— Também achei.
Sorrimos com a cara que ela faz, mas gosto, pois não gosto de andar
sozinha. Sempre fico sem saber o que fazer. Às vezes penso que tenho duas
personalidades, a que fica falando sem parar com alguém que conhece e a que
fica tímida quando está em um local que não conhece ninguém.
Entramos no estúdio e vejo um rapaz tirando fotos de uma moça loira. Ela
parece tão à vontade. Está linda com um vestido branco. Uma outra moça joga
pétalas de rosas vermelhas em sua direção. Fico encarando, achando tudo
maravilhoso.
Estou observando a cena e nem percebo que tem alguém conversando com
Laura. Me viro para ela e vejo Nathan segurando a mão da Laura e a
cumprimentando.
— Luiza! Que bom que aceitou o meu convite. — Ele segura na minha
mão e dá um pequeno beijo.
Ele sorri.
Ele se senta em uma cadeira de cor escura, repousa as mãos sobre a mesa e
fica nos encarando.
— Algumas das nossas sessões de fotos poderão ser feitas em outra cidade,
ou até mesmo em outro país. Mas, reforçando o que te falei, Luiza, você decidirá
se quer ou não. — Ele suspira. — Você é muito bonita, tem um rosto que chama a
atenção, com certeza terão muitos trabalhos te esperando, se decidir aceitar.
Respiro fundo.
— Descobri tem pouco tempo que estou grávida de um mês. Isso seria um
problema?
— Eu gostaria de tentar.
Ele então conversa com alguém pelo telefone. Me pego segurando a mão
de Laura. Ela a aperta firmemente, como se quisesse mostrar que está comigo.
— Pronto, ela já está imprimindo o contrato, você pode levar para um
advogado, acho que assim se sentirá mais tranquila.
Ela sorri.
— É complicado, mas ele não tem que achar nada — falo com sinceridade.
A mesma moça de cabelo rosa entra e entrega uns papéis para Nathan, ele
agradece a ela.
— Aqui está, Luiza. Se você concordar com tudo, é só vir aqui. Só peço
que seja um pouco rápida. Tenho uma campanha para a semana que vem e você
se encaixaria perfeitamente no que o cliente quer.
— Obrigado você. Espero que aceite. Com sinceridade, você tem tudo para
fazer muito sucesso nesse mundo da moda, não desperdice essa oportunidade. —
Ele dá um beijo na minha mão e logo em seguida na mão de Laura.
— A empresa parece séria, mas qualquer coisa que acontecer e você não
gostar, me liga que venho na hora.
— Obrigada.
Ela sorri.
O elevador para e a porta se abre. O meu coração perde uma batida quando
vejo a mesma moça loira que eu vi no apartamento de Elai. A única diferença são
os seus olhos, que estão borrados de preto. Ela estava chorando. Tento passar por
ela e rezo para que não perceba que me conhece.
Sinto o meu rosto arder. Ela me deu um tapa?! Coloco a mão no local,
sentindo o meu rosto esquentando. Os meus olhos se enchem de lágrimas.
— Sei que a culpa é sua, sei disso. Mesmo Elai falando que quer um
tempo, sei que o motivo é você.
Ela segura no meu braço com força e fecho a minha mão em punho. Por
mais que eu queira dar uns tapas na cara dela, penso no meu filho e não faço
nada.
— Você é louca! Eu não tenho nada a ver com a sua relação com Elai.
Elai olha para mim e o seu olhar vai do meu rosto até a mão dela em volta
do meu pulso.
A garota olha para ele por um momento, mas solta o meu braço.
Sinto as mãos de Elai em volta da minha cintura. Ele me traz mais para
frente, segura no meu rosto e o observa.
— Você está machucada? — pergunta baixo.
Ela olha para ele de novo, lágrimas saem dos seus olhos sem parar.
— Você precisa dar um jeito nessas mulheres, Elai, não gosto de violência,
mas me segurei para não ir aos tapas com aquela garota.
Abro a porta, ele entra comigo e vai logo atrás de um copo para pegar
água. Ignoro.
— Vou fingir que você não falou isso. — Tento passar por ele, mas sinto a
sua mão em volta do meu braço, me fazendo parar.
— Você não precisa trabalhar, Lu, tenho dinheiro mais do que suficiente
para que você não trabalhe nunca.
— Você é muito ingênua para ser modelo. Já fiquei com modelos, sei
muito bem como aquele mundo é. Eles vão acabar com você.
— Que você já ficou com modelo não é novidade nenhuma, afinal, você já
ficou com tantas mulheres que tenho certeza de que já deve ter perdido a conta,
fora que não estou me preocupando com a sua opinião.
— Essa nossa conversa não terminou. Não quero você trabalhando como
modelo.
— Estou pouco me importando para o que você quer. Vou começar o mais
rápido possível.
Ele aperta a boca com força, em uma linha reta, mas se vira e sai batendo a
porta.
CAPÍTULO 14
Tudo nela naquele dia cheirava a excitação e confesso que gostei. Gostei
demais de tê-la nos meus braços. E aquela boca!
Termino o banho revoltado por ter feito isso, mas o que mais me revolta é
saber que isso não me satisfaz. Preciso transar e tentar tirar aquela maldita boca
dos meus pensamentos.
Já são 22h.
Decido ir até uma boate. Preciso me divertir, tentar esquecer tudo. Luiza
modelo, e filho.
— Calma, gato, assim não vai aproveitar a noite. — Me viro e vejo uma
mulher loira com um decote que não deixa nada para a imaginação.
Sorrio para ela.
— Cristal.
— Cristal — falo seu nome, sentindo cada letra saindo devagar. — Belo
nome, combina com a dona.
— Galanteador.
Ela bebe a sua bebida, mas os seus olhos não saem de cima de mim.
— Gostaria de dançar?
— Não sou muito bom em dançar, mas com você acho que abrirei uma
exceção.
Ela sorri, segura a minha mão e vamos andando até a pista de dança. As
luzes piscam sem parar. Seguro na sua cintura, fazendo com que o seu corpo se
encoste no meu.
Ela se vira, segurando no meu pescoço, e sem delongas encosta a sua boca
na minha. Intensifico o beijo, mas continuamos os movimentos da música. A
trago para mais perto e sinto o seu corpo se esfregando no meu. Não deveria ter
ficado tanto tempo sem transar.
Quando penso nisso lembro do que falei para Luiza. Que eu gostaria de
tentar, mas isso está acabando comigo. Preciso transar e tentar tirar Luiza da
minha cabeça.
— Ótima ideia.
Sorrio para ela. Hoje não estou a fim de enrolar. Quero um bom sexo, do
jeito que eu gosto, e com essa garota tenho certeza de que terei.
Saímos da boate e vou direto para o carro. Abro a porta para ela e
entramos. Ligo o carro e acelero. Ficamos em silêncio, mas levo um susto quando
sinto a sua mão acariciando a minha ereção. Me viro para ela.
Ela entende, e a sua pressão na minha ereção aumenta. As suas mãos são
hábeis. Ela abre a minha calça e retira o meu pau de dentro da cueca. A safada
sorri para mim antes de abaixar a cabeça. Encosto mais no banco do carro para
dar mais espaço para ela. Sinto a sua boca quente chupando e brincando com a
língua, em movimentos circulares. Tento a todo momento não fechar os olhos e
prestar atenção no trânsito, mas a todo momento penso que vou gozar. Ela o
coloca todo na boca e logo em seguida o tira, e faz isso diversas vezes seguidas.
E de novo. E de novo.
Solto um suspiro, aperto uma perna na outra e sinto que vou gozar a
qualquer momento. Ela percebe, porque começa a me chupar com mais rapidez.
Quando gozo, acelero o carro. Por sorte, estamos em uma avenida não
muito movimentada.
— Você é muito gostosa, não faz ideia do que pretendo fazer com você.
Fico na sua frente, seguro no seu pescoço, a trazendo mais para a frente.
— Você não faz ideia do que quero fazer com você. — A minha voz sai
rouca.
A beijo com intensidade e seguro na sua bunda com força. Sei que deixarei
várias marcas no seu corpo.
A levo até a cama, a coloco ali e retiro a sua calcinha. Eu a deixo aberta
para que eu faça o que quiser.
Ela goza na minha boca, mesmo assim continuo a meter os meus dedos até
que a vejo se desfazendo na cama.
A ponho de quatro com aquela bunda empinada para mim. Enfio o meu
pau todo na sua boceta, estoco com força e seguro em cada lado da sua cintura.
Retiro quase todo o meu pau e enfio de novo. A ouço gritar de prazer. Dou um
tapa com força na sua bunda e vejo o tom vermelho se formando lá. Ela se
movimenta para a frente e para trás, rebolando no meu pau. Deixo que ela faça o
que quiser. Acaricio as suas costas lentamente.
A viro de frente para mim e me movimento de novo e de novo.
Sinto as suas mãos acariciando o meu peito e rosno de prazer. Retiro o meu
pau da sua boceta e o coloco devagar no seu ânus. No começo sinto um pouco de
resistência, mas é só fazer uma pressão que ele entra todo.
Uma estocada mais rápida que a outra e acaricio o seu clitóris. Logo em
seguida enfio dois dedos na sua boceta.
Ficamos assim por mais uns dez minutos até que ela não consegue se
controlar e tem outro orgasmo, gozo logo em seguida.
Chamo Cristal para tomar um banho, e ela aceita. Fazemos mais sexo ali
mesmo, encostados na parede. Ela termina primeiro que eu. Quando saio do
banheiro a vejo só com a minha blusa.
Ela sorri.
— Me espera no quarto.
Ela apenas sai rebolando em direção ao quarto. Me viro para Luiza e vejo
algo no seu olhar. Achei que veria ódio, mas vejo decepção.
— Então a parte do quero te conhecer melhor foi o quê? — ela fala baixo.
Ela sorri.
Ela usa as minhas palavras contra mim. A vejo se virar de costas e dar um
passo em direção ao seu apartamento, mas a impeço. Seguro seu braço, a
parando. Vejo as lágrimas rolando pelo seu rosto e algo dentro de mim se quebra
neste instante.
— Vamos conversar.
— Não tenho mais nada para falar com você. — Ela limpa o rosto. — De
amanhã em diante, não vou mais com você para o trabalho.
— De hoje em diante, o nosso único assunto vai ser apenas essa criança,
nada mais que isso. Faça da sua vida o que desejar, Elai.
— Para com isso, eu sempre fui assim, Lu, não ia mudar de um dia para o
outro.
— Lu — falo baixo.
— NÃO ME CHAME DE LU! — ela grita tão alto que o seu rosto fica
todo vermelho.
A porta do apartamento se abre e Laura sai mais uma vez segurando o taco
de beisebol. Ela me encara com ódio, dá um passo em nossa direção, mas Luiza
se vira para ela.
Sei o que ela viu, as lágrimas, e sei que neste momento o seu único
pensando é me matar. Laura segura Luiza pelo ombro. Elas voltam para o
apartamento e não olham para trás.
Ela me olha sem entender o motivo, passo a mão pelo cabelo, nervoso.
— Vamos terminar?
— Desculpa, mas não vai dar, é melhor você pegar as suas coisas e ir
embora. — Pego a minha carteira, retiro umas notas e dou a ela.
Ela não espera que eu fale que é apenas para o táxi, e sai com ódio em
direção ao quarto. Então volta e pega o seu vestido, o coloca, olhando para mim.
Abro a boca para falar com ela, mas ela simplesmente dá um tapa no meu rosto, e
sai.
Fecho os olhos com força, e bem neste momento percebo a merda que fiz
para a Luiza. Ela nunca vai me perdoar. Na verdade, não sei se eu vou me
perdoar.
— Calma, Lu.
Ouço a voz de Laura. Fecho os olhos e a imagem de Elai com aquela moça
não some.
Abro os olhos.
Não quero dizer, sinceramente nunca pensei que poderia gostar e odiar
uma pessoa ao mesmo tempo. Mas isso mudou assim que encontrei Elai.
— Elai só mostrou o que ele sempre foi, uma pessoa que só pensa em
sexo. Para falar a verdade, já deveria ter me acostumado com isso. — Dou um
suspiro. — Pode ficar tranquila, eu estou bem, só te peço uma coisa: não conte a
ninguém, principalmente para as meninas, não quero que elas se preocupem.
— Não contarei, pode ficar tranquila. — Ela fecha as mãos em punho. —
Luiza, sei que nos conhecemos há pouco tempo, mas te considero uma amiga. E
como amiga sinto que tenho que te falar isso.
— Elai é daquele tipo de homem que está acostumado a ter tudo que quer,
ele é um mimado. Pensei que ele poderia mudar pelo filho, mas não, ele não
mudou. Sei que você gosta dele, está escrito na sua cara. — O meu rosto fica
superquente. — Eu entendo, mas não se machuque amando um homem que
pouco se importa com esse sentimento. Você, minha amiga, merece mais. Eu não
vi o que ele fez, mas posso imaginar. Viva a sua vida, Lu, você tem uma
oportunidade perfeita nas mãos para agarrar com unhas e dentes, e seja feliz. E
saiba sempre estaremos aqui por você.
— Calma, vai dar tudo certo, e não esqueça, o contrato está tudo certo,
pegue essa oportunidade, Lu.
Laura me abraça, e nos seus braços faço um juramento para mim mesma:
Não deixarei Elai ser mais importante na minha vida. Pensarei em mim e nessa
criança em primeiro lugar. Isso é uma promessa.
Não consigo dormir direito a noite toda, não só por tudo que aconteceu,
mas pelos enjoos.
Acordo cedo, faço um café e fico na sala sentada. Seguro a xícara com
força, sentindo o calor se espalhando pela minha mão.
Logo depois que eu sair da casa de Isabela, irei me encontrar com Nathan
para entregar-lhe o contrato assinado.
Quando termino o café da manhã, pego a minha bolsa e dou um suspiro,
olhando para a porta. A abro, e logo de cara vejo Elai parado em frente à porta do
seu apartamento, reviro os olhos e saio.
Ele entra comigo. Fico encostada na parede, bato repetidas vezes o meu pé
no chão para ver se o tempo passa rápido.
— Não tenho nada para conversar com você — digo, mas continuo a olhar
para o mesmo lugar.
Sinto ele se movimentar e fecho os olhos com força quando vejo que ele
aperta o maldito botão.
Mesmo não querendo, olho para ele e vejo que não foi somente eu que não
dormiu bem essa noite. Duas manchas escuras estão abaixo dos seus olhos.
Tento passar por ele para apertar o botão do inferno, mas ele se coloca na
frente, impedindo que eu chegue perto.
— Não estou com paciência para isso, Elai, sai da minha frente.
— Não, você está impondo que eu converse com você, afinal, como irei
sair daqui, não é mesmo?
Ele me encara.
— Sabia que você gostava de mim, Lu, mas não que estivesse apaixonada.
Mas diferente de tudo que eu pensei que ele fosse fazer, ele dá um passo
em minha direção e dou dois, me encostando na parede. Ele não para de encurtar
a distância entre nós, ficando na minha frente. Sinto a sua respiração no meu
rosto. Tento me controlar.
— Para com isso, Elai, você não tem esse direito — falo baixo.
— Pensei que estávamos tentando até ontem, mas percebi que era somente
eu.
— Lu, eu não consigo ficar sem sexo, já tinha uma semana que não tinha
uma relação sexual, eu sei que não é desculpa para o que eu fiz, mas tente
entender.
— Sinceramente, vou fingir que não ouvi o que você acabou de falar, é
melhor para a minha saúde mental.
Tento passar por ele mais uma vez, mas não consigo.
— Por favor, sai da minha frente, eu não quero me estressar com você.
— Elai, pare de ficar impondo o que quer, as coisas não funcionam desse
jeito.
Dou um suspiro, afinal, posso falar que irei, mas com certeza não vou. Dou
um sorriso para ele.
Saímos do elevador.
— Eu não vou com você, eu ter aceitado sair hoje não muda nada que falei
com você ontem.
— Você sabe que ainda não pegamos a pessoa que está ameaçando todos
próximos a Isabela. Não posso deixar você ir sozinha.
— Acho que você que não entendeu o que eu falei. De hoje em diante, não
irei com você, respeita a minha decisão.
— Sim, o filho é seu, mas quem está carregando sou eu, a mãe dele, então
te falo pela última vez. NÃO VOU COM VOCÊ! — grito.
Entro no táxi e o meu coração está acelerado. Sei que ele está nos
seguindo, mas não me importo.
Abro a porta e vejo Isabela. Ela está olhando pela janela que nem percebe
que cheguei. Estranho a sua atitude.
— Isabela.
Ela se vira para mim e percebo que chorou. Seus olhos estão inchados. Me
aproximo.
— O que aconteceu?
— Ok, tchau.
Ela se despede e sai. Mesmo Isabela falando que está bem, não acredito,
sinto que aconteceu algo sério e por um momento penso no poderia ser.
CAPÍTULO 16
Fecho o meu notebook com força e tento controlar as lágrimas para que
elas não sejam derramadas, mas é impossível.
Como contarei isso ao meu pai? Pior ainda, ao Nicolai. Sei que assim que
eu abrir a boca a vida dela estará nas mãos dele.
Troco a fralda dela, a pego nos braços e vou conversando com Liz até
chegar na sala. Me sento no sofá e a coloco no meu colo.
Ela para de chorar, ligo a TV e coloco Naruto para assistir. Ela fica
observando, e de vez em quando sorri.
Ficamos assim no sofá por um tempo, mas não consigo prestar atenção no
que se passa na televisão. Preciso encontrar com o meu pai e tirar todas as minhas
dúvidas. Dou um suspiro. No fundo, não quero que seja verdade, porque se for eu
não saberei o que fazer, afinal, de um lado tem o meu pai, mas do outro o meu
marido.
Mas nada estava me preparando para ver aquela cabeleira loira na tela.
Pisco várias vezes achando que é coisa da minha mente, mas não, o meu coração
se aperta no peito ao imaginar o meu pai quando descobrir. Mesmo ele não
falando, sei que ficou mal quando descobriu da sua esposa. E agora isso, a sua
própria filha é quem está fazendo tudo isso com Nicolai e todos que estão
envolvidos com ele. A minha garganta se aperta novamente.
Valentina nunca quis conversar comigo, e sempre que eu perguntava ao
meu pai sobre ela ele mudava de assunto. Na última vez em que conversamos,
consegui tirar a informação de que ela tinha ido para outro país fazer faculdade,
mas não é o que está escrito aqui. Observo novamente a tela do notebook.
Ouço alguém entrando e me viro para ver Nicolai se aproximando. Ele está
sério, mas assim que olha para mim vejo um pequeno sorriso surgir. Ele se
aproxima, me dá um pequeno beijo e se senta no sofá.
— Nada de importante.
Sei que ele está mentindo, sinto isso, e sei que é sobre a pessoa que está
planejando os atentados, ou seja, Valentina. Posso acabar com isso, sei que posso,
mas tem o meu pai, e sei que ele a ama, afinal, ela também é sua filha.
— Tem certeza?
— Isabela — ele diz o meu nome com a voz arrastada. — Posso pensar em
muitas formas de te pagar, o que me diz? — Ele sorri levemente.
Mesmo ele não vendo, sorrio. Me sento no seu colo. Nicolai não fala nada,
apenas me encara.
Com uma mão, seguro no seu pescoço, com a outra, a levo até o seu cabelo
e começo a movimentá-la lentamente, sentindo a maciez dos seus fios. Me
aproximo a centímetros da sua boca e o vejo engolindo em seco. Gosto disso,
gosto de sentir a pele dele se esquentando a cada toque, gosto de senti-lo
completamente duro. Me movimento no seu colo para comprovar o que eu já
sabia.
Nicolai segura a minha cintura com força e aproxima os lábios dos meus,
sinto a urgência do seu toque e a necessidade de continuar a me apertar em seus
braços. O doce dos seus lábios se misturando aos meus. A força das suas mãos
apertando a minha cintura.
— Vamos para o quarto? — ele sussurra, sua voz consegue ficar mais
rouca.
Apenas balanço a cabeça e concordo com ele. Não consigo pronunciar uma
única palavra. O meu coração parece que a qualquer momento vai sair do meu
peito.
Subimos até o nosso quarto, seguro no seu pescoço, ele começa a tirar o
blazer e logo em seguida a blusa social. Passo a minha mão pelo seu peito e sinto
cada músculo rígido se contraindo...
Ele segura na barra do meu vestido já pronto para tirá-lo. Estou louca de
expectativas.
Ele me encara.
Ele não espera a minha resposta, apenas sai do quarto. Balanço a cabeça e
vou até a cama, me encostando na cabeceira.
Ouço Nicolai falar algo baixo para Liz, logo após ele entra com ela nos
braços e se senta ao meu lado.
— Mas você não gosta de dormir mesmo, né? — pergunto, e aperto sua
bochecha, ela sorri.
— Muito engraçado.
Preciso conversar com o meu pai o mais rápido possível, tenho que
descobrir onde está Valentina para enfim dar um fim nisso que está acontecendo.
Encaro mais uma vez a minha filha.
Não deixarei que ninguém machuque quem eu amo, nem mesmo a minha
irmã. E se para isso eu tiver que enfrentá-la, eu irei.
Aperto a minha mão em punho para ter certeza de que está acontecendo
isso comigo mesmo.
— Que bom que você aceitou, Luiza. — Nathan sorri para mim. Já tem
alguns minutos que estou no seu escritório. Vim trazer o contrato assinado. Não
vou desperdiçar essa oportunidade.
Andamos até chegar perto de um carro preto. Nathan abre a porta para
mim, agradeço e entro.
Continuo com um pequeno sorriso no rosto, mas seguro uma mão na outra,
tentando controlar o meu coração acelerado, só desejo que dê tudo certo.
— Vai ser bom para você ver tudo antes de começar. — Ele sorri.
— Nossa, Nathan! Onde você encontrou uma moça tão bonita? — o jovem
pergunta a ele, mas os seus olhos não saem de mim. — Desculpa, não me
apresentei. Sou o Lucky, responsável pela maquiagem.
— Sim. Como soube? — Olho para Nathan, mas ele apenas faz uma
expressão de que não faz a mínima ideia de nada.
— O seu sotaque me lembra quando fui ao Brasil para uma sessão de fotos
para uma revista.
— Gostou de ir ao Brasil?
Sorrio.
— Estamos aqui há duas horas, Luiza, e não a vi comer nada nesse tempo.
Ou se esqueceu que está grávida? — ele fala sério, e só neste momento percebo
que estou aqui há um tempo.
— Fiquei tão encantada com tudo que acabei esquecendo — respondo com
sinceridade.
— Não precisa, eu pego um táxi, tenho certeza de que você tem muitas
coisas para fazer.
— Nada que não possa esperar um pouco.
— Adorei passar o restante da tarde com você. E aí? Gostou do que viu?
— Não por isso, tenho certeza de que você se dará muito bem com tudo.
Bom, vou olhar a agenda assim que chegar no escritório e te mando o endereço, e
tudo certo. Não me lembro onde vai ser a sessão de fotos do próximo ensaio, mas
se for muito longe peço para virem buscar você.
— Tenho sim, e é mais seguro. Não gosto que as modelos fiquem indo a
lugares longe de táxi. Assim é mais seguro para vocês.
Ele sai. Fico por um momento pensando nas suas palavras que nem
percebo que ele abriu a porta para mim.
Pego o elevador e por sorte está vazio. Sorrio abertamente para o meu
reflexo no espelho do elevador. As minhas bochechas estão vermelhas, mas não
me importo, estou tão feliz.
Percebo que dormi quando ouço batidas à porta. Pego o celular e vejo que
já são 20h. Meu Deus, eu dormi demais! Acabo sorrindo.
Me levanto, vou até a porta e abro. Vejo Elai arrumado com um terno
preto, o cabelo sem um fio fora do lugar, e sinto o cheiro forte do seu perfume. O
meu estômago se embrulha na hora. Corro desesperadamente para o banheiro e
vomito tudo que comi. Fico assim por uns minutos.
Respiro fundo e me levanto. Dou descarga no vaso e vou direto para a pia,
lavo o meu rosto e a minha boca, pego uma toalha e seco. Me observo no
espelho, estou pálida.
Saio do banheiro e Elai vem para perto. Coloco o meu braço para a frente,
como uma barreira entre nós.
Agora eu percebo que toda vez que passo mal ele dá ataque.
— O seu perfume está me enjoando — falo baixo.
— É, pode até ser, mas eu não estou conseguindo nem ficar perto de você.
— Ok, depois resolvo isso, mas a pergunta que quero fazer é: por que você
não está arrumada para sair?
Elai se aproxima e fica na minha frente. Levanto o olhar para ver o seu
rosto ficando mais vermelho a cada instante.
— Só comecei a passar mal depois que você chegou com esse perfume.
— Nunca tive.
Me levanto e fico de frente para ele, mas sinto o seu cheiro e me afasto um
pouco.
— Estou falando sério, Elai, vou acabar vomitando na sua cara, fica aí.
Vejo a sua boca se apertando com força, a sua mão está em punho, de ódio.
— Então o que você está fazendo? — Ele suspira.
Estou deitada no sofá quando a porta se abre novamente. Elai entra e para
ao meu lado. Não fico enjoada e percebo que ele tomou banho. O seu cabelo está
molhado, fora que não sinto mais o cheiro forte do seu perfume.
— Se senta direito.
— Por quê?
— Preciso sim, tem muito tempo que não fico em um sofá com uma
mulher, principalmente com roupas. — Reviro os olhos para ele. — Mas acho
que vou gostar. — Ele pega a pipoca no meu colo, mas acaba fazendo uma careta
quando a coloca na boca e percebe que está murcha.
CAPÍTULO 17
Ele sorri para mim, um sorriso sincero, não um sorriso safado, e isso me
pega desprevenida. Engulo em seco.
Tento não olhar para ele quando respondo, me viro e fito a televisão.
Não respondo, não fico encarando, apenas foco na televisão a minha frente
e nada mais. Não sei o que está acontecendo com Elai, ele não está agindo como
sempre e me pego pensando se ele bebeu, porque não tem outra explicação para
suas atitudes neste momento.
Começo a tentar respirar melhor, mas fico tossindo sem parar, com o susto
que levo.
— Porra! Luiza, você está bem? — ele fala, mas começa a dar pequenos
tapas nas minhas costas.
Aos poucos volto ao normal. Respiro fundo. Elai começa a passar a mão
em círculos nas minhas costas, respiro profundamente. O meu coração deveria
estar se normalizando, mas acelera cada vez que sinto a sua mão sendo passada
delicadamente em mim.
Elai se senta novamente ao meu lado. Perto demais, penso. O meu olhar
vai em direção para onde o balde de pipoca deveria estar, mas o objeto não se
encontra mais no lugar que deixei.
Me viro, e o encaro.
Ele me encara.
— Você não tem que fazer isso, Elai — respondo com sinceridade.
Neste momento o filme acaba, mesmo assim não fazemos nada. Ele quebra
o silêncio primeiro.
— Você vai ser modelo mesmo?
Ele fica sério, me observa com a cara fechada, mas logo em seguida dá um
suspiro e passa a mão pelo cabelo, devagar.
Me deito na cama e fico pensando em tudo que Elai falou. Confesso que
fico surpresa por suas palavras, mas não vou me iludir com palavras doces vindas
dele.
— Estou sem sono, pensei que você iria ficar na casa do Gabriel.
— Decidi ficar com você. Laura só vai voltar da viagem que está fazendo
com o Paollo semana que vem, não quero que fique sozinha.
— Obrigada!
— Fica tranquila, Lu, vai dar tudo certo, você vai ver.
Ficamos conversando até tarde. Ana me conta sobre o seu novo emprego, e
em como está adorando as crianças. Fico tão feliz por ela, e em saber que ela está
feliz.
Aperto com força o vestido, o levanto um pouco para que eu possa andar
direito com os saltos. Respiro fundo, entrando com Nathan no elevador. A sessão
de fotos será no terraço.
— Calma, vai dar tudo certo. — Ele dá um pequeno sorriso para mim.
Posso conhecê-lo há pouco tempo, mas me sinto tão bem quando estou
com ele, e neste momento o meu coração acelera, mas não é de nervosismo. Na
verdade, eu não faço ideia do motivo.
Hoje ela está de óculos, perto de Nathan. Ele olha para ela e balança a
cabeça.
Engulo em seco. Respiro fundo. Darei tudo de mim. Desistir não é uma
opção, farei de tudo para que dê certo.
— Luiza, pode andar, olhar para o horizonte, sorria, ou pode ficar séria.
Vamos testar um pouco até acertar. Pode ficar tranquila.
Abro e fecho as mãos. Observo o chão sobre os meus pés e penso em como
era a minha vida no interior de Minas Gerais. Sofri? Sim, mas tive momentos
bons, principalmente ao lado de Ana, e em como era fácil sorrir, mesmo diante
das dificuldades que passei por todos os anos que vivi lá. Levanto a cabeça, séria,
e neste momento ouço o pequeno som de um clique. Está tudo silencioso e ao
meu redor ouço apenas o som do vento.
Caminho até chegar próximo à mesa e por instinto pego uma maçã. A
observo e a levo para perto do meu rosto, sentindo o seu cheiro. Fecho os olhos
por um momento, lembrando do momento que vivi com Ana. Não tínhamos
maçãs, e sim mangas e goiabas. Lembro de como ficávamos em cima de um pé
de manga, não tínhamos nada, mas éramos felizes.
Sorrio ao lembrar disso. Ouço vários cliques, mas evito olhar para Nathan.
Imagino que é somente eu e as minhas lembranças aqui, e mais ninguém.
Não sei quanto tempo fico assim, mas sou despertada dos meus
pensamentos quando ouço a voz de Nathan ao meu lado.
— Terminamos.
— Consegui tirar várias fotos suas, pode ficar tranquila. Você foi muito
boa, não se cobre tanto. Afinal, essa é a sua primeira sessão. Vamos comer algo
— ele fala e andamos até a mesa.
— Ok.
Andamos até ficar na frente da moça de cabelo rosa. Ela está comendo
tranquilamente, mas quando nos vê para de comer e fica de pé.
Ao entrar no quarto que está sendo usado para a troca de roupas, me viro
para ela.
Eloíse me ajuda a trocar de roupa. Ela é muito gentil. Tenho que parar de
julgar as pessoas sem conhecê-las primeiro, porque quando a vi pela primeira vez
julguei que ela seria uma pessoa totalmente diferente do que estou vendo agora.
— Você está falando do jeito protetor, carinhoso, e por mais que ele tente
não demonstrar, muito romântico?
— Eu te levo.
— Não precisa, tenho certeza de que tem muita coisa para fazer aqui. —
Olho para o local, Eloíse está ao meu lado.
— Eloíse, tem como você ficar hoje e ir adiantando o serviço? Só irei levar
a Luiza para a casa dela e já volto.
Não sei se Nathan percebe, mas ela está nervosa. Nathan se afasta para
pegar algo e me viro para ela.
— Eu falo para ele que irei sozinha, você tem algo para fazer, não é?
— Posso esperar, pode ir. O que eu vou fazer dá para ser depois — ela fala,
com um sorriso no rosto, mas vejo que o seu olhar está triste.
— Eu não acho que você esteja bem.
— Não é nada. Você tem certeza de que vai me deixar em casa? Posso
pegar um táxi e você fica ajudando a Eloíse.
— Está tranquilo. — Ele levanta uma sobrancelha e olha para mim. — Por
quê?
— Você está séria. É sobre a sessão de fotos? Pode ficar tranquila, você foi
perfeita.
Me viro para ele.
— Sério?
— Você não comeu quase nada, não quero que nada aconteça ao seu filho.
Dou um suspiro.
— Muito obrigada!
Quando caminho para casa, um sorriso não sai do meu rosto. Já estou na
porta do elevador, esperando chegar.
Abro os olhos e vejo Elai ao meu lado com uma cara de raiva. O elevador
para e entro sem respondê-lo.
— Me responda, Lu!
Respiro fundo.
— Sabia que não pode dar susto em uma mulher grávida? — Cruzo os
braços na minha frente.
Ele me observa por um momento, percebo que ele estava correndo. A sua
camisa está toda colada no corpo. Evito olhar para isso e foco no seu rosto.
— Não era a minha intenção te assustar, me desculpe. Mas você não
respondeu a minha pergunta. Quem era aquele homem no carro com você?
Me viro para abrir a porta, mas sou impedida de fazer isso. A mão de Elai
segura o meu braço, me fazendo virar em sua direção. Sinto o seu peitoral em
contato com a minha mão. Respiro com dificuldade.
— Lu, você não pode ficar entrando no carro de uma pessoa que acabou de
conhecer, ainda não encontramos a pessoa por trás das ameaças, não quero te ver
em risco — ele fala baixo, e levanto o olhar.
— Você não pode ter essa certeza, Luiza. Posso te buscar todas as vezes
que precisar, é só me mandar uma mensagem.
— Não precisa.
Tento mais uma vez me soltar, mas ele não deixa. O meu coração está
martelando no peito e tenho certeza de que deve estar sendo ouvido por ele. O
seu cheiro está me fazendo sentir coisas.
— Me solta!
Mas ele não faz o que eu peço, apenas me observa. Quando sinto a sua
mão acariciando o meu rosto, minha mão começa a suar.
— Cada dia que passa você consegue ficar mais linda — ele fala baixo.
Abro os olhos e o encaro. Não sei explicar, mas o meu olhar vai em
direção a sua boca. Ele percebe. Não noto quando ele solta o meu braço e não o
impeço quando sinto a sua mão na minha cintura, me trazendo para mais perto.
Ficamos assim, encarando um ao outro por apenas um momento, mas posso jurar
que para mim durou bem mais.
— É melhor você entrar, tenho certeza de que deve está muito cansada.
Estou há um bom tempo na cama, sem ânimo para nada. Hoje é segunda-
feira, não consegui dormir quase nada a noite toda e hoje é a consulta de pré-
natal. Elai vai comigo. Tenho certeza de que é esse o motivo de tanta ansiedade.
Confesso que estou apreensiva com tudo. Passo a mão delicadamente pela
minha barriga. Tem uma criança crescendo dentro de mim, e mesmo que já tenha
ouvido o seu coração, não consigo acreditar, e a ansiedade está a mil.
Tive mais uma sessão de fotos no sábado, em uma vinícola. Fiquei tão
encantada com a paisagem, a tranquilidade do local, amei. E o melhor, pude
conhecer um pouco mais sobre Nathan e Eloíse.
— Bom dia.
— Estou com uns probleminhas, mas vou dar um jeito e resolver tudo. —
Ela se cala por um momento, como se pensasse algo. — Posso te perguntar uma
coisa?
A observo atentamente.
— Mesmo não sabendo o real problema, saiba que estou aqui para o que
você precisar, ok?
A minha consulta está marcada para às 16h. Estou tão nervosa. Não só para
saber se está tudo bem com o bebê, mas também porque será a primeira vez que
Elai demonstra interesse em saber de algo.
Mas não irei levantar falsas esperanças em relação a isso, afinal, o que
realmente importa é esse bebê crescendo dentro de mim.
Já são 15h50 e nada de Elai aparecer. Fico olhando para a porta sem parar
na esperança que ele apareça.
Tinha prometido para mim mesma que não iria ligar para cobrar nada, mas
acabo fazendo isso. Pego o meu celular e tento ligar para ele, mas nada. A ligação
cai direto na caixa postal.
— Será que aconteceu alguma coisa com ele, ou simplesmente não quis
aparecer?
E, mesmo lutando para me esquecer, lembro de todas as vezes que ele não
se importou, e meu coração se aperta mais e mais. Respiro fundo, tentando não
chorar. A recepcionista está ocupada demais com o seu celular para prestar
atenção em mim.
Dá 16h e ele não aparece. Então a médica me chama. Me levanto e dou um
pequeno sorriso para ela.
— Estou bem.
— Estou.
— Então, vamos lá, pode ir se trocar e vamos ouvir o coração do seu filho,
o que me diz?
— Adoraria.
— Hoje não veio ninguém com você? — ela pergunta, passando um gel na
minha barriga.
— Muito bem, vamos ver esse bebezinho — ela fala, e observa a imagem
na tela.
Laura volta de viagem, mas fica muito tempo com Paollo, pois eles vão se
casar em breve. Ana fica comigo até às 21h, mas vai jantar com Gabriel.
Resumindo, estou sozinha aqui assistindo a um filme qualquer que está passando
na televisão.
Abro a porta e saio do apartamento. Quando vou bater na porta dele, vejo
que está apenas encostada. Respiro fundo e entro.
Não vejo ninguém na sala, então vou direto para o seu quarto e a única
imagem que vem a minha mente é dele com alguma mulher. Ignoro esse
pensamento, quando levo um susto.
Fico um momento sem acreditar no que vejo. Elai está todo machucado. A
sua blusa, que um dia foi branca, se encontra toda suja com manchas de sangue.
Há um corte na sua sobrancelha. Ele tenta se sentar, mas vejo uma careta de dor
com esse gesto.
Me aproximo.
— Nada de importante.
— Como nada, Elai? Parece que um carro passou por cima de você.
— Lu, não vou a nenhum hospital, pode ir dormir, estou bem. — Ele tenta
sorrir, mas acaba fazendo mais uma careta de dor.
— Ok, se você não quiser falar, vou respeitar. Onde está o kit de primeiros
socorros?
— Embaixo da pia.
— Desculpa.
— Não precisa pedir desculpas. Sei que não queria ter me assustado com a
arma.
— Não é sobre isso, e sim sobre a consulta. Não era para ter demorado
tanto. Não consegui te ligar, pois perdi o meu celular. Desculpa mesmo, Lu, eu
queria ter ido à consulta, queria mesmo, mas foi impossível.
— Como foi?
— Tranquilo, o de sempre, está tudo bem com o bebê. O coração dele é tão
forte.
Sorrio, e sou pega de surpresa quando sinto o seu toque em contato com a
minha barriga. Não falo nada, não consigo. O meu coração então acelera.
— Prometo que irei à próxima consulta — ele fala, e levanta o olhar para
mim.
— Você está com fome? Tinha feito comida para as meninas, mas elas
saíram — falo baixo, tentando me afastar.
— Deixe-me vê.
Me viro para ver Elai logo atrás de mim, e neste momento penso em como
este banheiro é pequeno.
Ele não se mexe, e fica próximo o suficiente para que eu sinta o seu cheiro.
Fecho a minha mão em punho por um momento na esperança de que o meu
coração se acalme.
CAPÍTULO 21
Estamos aqui há uma hora, tentando achar uma saída, mas nada.
— Nada. Ela está bloqueando todos os e-mails sobre nós enviados para a
polícia.
— E o endereço de IP?
Decido ficar no carro por mais um tempo. Pego o meu celular e percebo
que já são quase 15h. Lu me mandou mensagem para confirmar se irei à consulta.
Respondo que sim. Logo vejo alguém entrando na Lan House. Não seria nada de
mais a não ser pelo fato de a pessoa estar usando uma blusa de moletom escura
com o capuz cobrindo praticamente todo o rosto, e o fato de hoje ser um dia
quente demais para isso.
Estou no carro esperando para ver se a tal pessoa vai sair. Depois de mais
ou menos meia hora finalmente ela sai, para ao lado de um carro preto e entra. Os
vidros da frente estão abertos e consigo ver dois homens lá.
A iluminação não é uma das melhores, mas dá para ver a pessoa de capuz e
mais umas oito pessoas.
— Eu sei muito bem o que prometi, mas as coisas não saíram do jeito que
planejamos. Se aquela garota não tivesse fugido com a criança já teríamos
Nicolai em nossas mãos. Mas pode ficar tranquilo, muito em breve você será o
novo chefe.
— Isso é o que eu quero, afinal, é para isso que estou gastando tanto
dinheiro.
— Porque ela é minha irmã. Ela tomou tudo de mim e está na hora de
recuperar o que é meu de volta. Nicolai sofrerá por tudo que fez a minha mãe, e
principalmente o que fez a mim.
Pego o meu celular para mandar uma mensagem para Nicolai, mas vejo
que está sem sinal. Amaldiçoo ainda mais. Começo a descer, mas acabo
escorregando e caindo, fazendo um barulho tremendo. Mais que depressa, me
levanto, e saio correndo, tentando chegar ao carro. Já próximo, ouço passos
apressados. Me escondo próximo à parede de um galpão. Aqui está escuro, o que
facilita muito. Vejo três homens passando por mim. Eles acham o carro.
— Avise para o pessoal que achamos um carro e que a pessoa ainda está
aqui.
Um rapaz, que não aparenta ter nem 20 anos, passa por mim, mas não me
vê. Quando já está a uma distância, o imobilizo, segurando o seu pescoço em um
mata-leão. Ele tenta se desvencilhar, mas não consegue. Aos poucos vai perdendo
a consciência. Um a menos, penso.
Me viro para ir atrás dos outros dois, mas sou recebido com um soco na
cara. Fico tonto por um momento, mas me recomponho e vou para cima do meu
agressor. Trocamos socos e chutes.
As minhas costelas doem sem parar. Pego a minha arma e miro na sua
perna. Disparo. O vejo caindo no chão. Me apresso e fico à sua frente.
Não deixo que ele termine a frase. Disparo duas vezes na sua cabeça. O
sangue escorre sem parar.
Já perto do carro, disparo mais vezes e acerto mais um. Entro no carro e a
adrenalina corre solta pelas minhas veias. Respiro fundo e ligo o carro, o
acelerando até o limite. Vejo dois deles logo à frente. Passo por cima sem piedade
nenhuma. Ouço o pneu amassando alguns ossos.
Depois de tomar um banho e ser cuidado por Lu, fico observando o seu
lindo rosto mais de perto. A vejo engolindo em seco.
Me aproximo, ficando ainda mais perto dela. O seu peito sobe e desce
rapidamente. Levanto a mão e toco seu rosto delicadamente. Sinto a maciez da
sua pele.
Mas no momento exato em que vou beijá-la, o seu rosto se vira, impedindo
o que eu tanto anseio.
Preciso conversar com Nicolai, e tem que ser agora. Tomo o remédio e me
visto adequadamente. Em menos de quinze minutos já estou na porta do
apartamento dele.
— Espero que seja realmente sério o que você tem para falar.
Suspiro alto.
— Não deu para identificar, mas pode ficar tranquilo, vou descobrir. —
Suspiro. — Você irá contar para a Isabela?
— Não tenho outra escolha. Não guardarei segredos sobre isso com ela.
Pedirei a Paollo e a mais alguns homens para voltarem lá.
— Agora é melhor você descansar. E, Elai, espero que eles não tenham
encontrado o seu celular — ele fala sério.
Não guardo nada sobre a máfia, mas o que mais me preocupa são as trocas
de mensagens entre mim e Luiza. Só de lembrar desse detalhe o ódio transborda.
Me despeço de Nicolai com a certeza de que ele está ainda mais ferrado do
que eu.
Juro que não estou entendendo por que me lembrei dela. Fecho os olhos
com força, tentando não pensar nisso. Quando os abro, o meu coração se acelera
de uma forma fora do normal.
Vejo um outdoor com a foto dela e fico encarando, sem saber o que fazer.
Nele, ela está com um vestido vermelho e o seu olhar é tão intenso quanto à
noite. Engulo em seco, e levo um susto quando ouço o som de uma buzina. Só
neste momento vejo que o sinal está verde novamente.
CAPÍTULO 22
Não consigo dormir tão bem essa noite. Acordo bem mais cedo do que o
normal. Preparo um café e fico na sala esperando o tempo passar. Imagens da
noite passada se repetem a todo momento. Juro que estou tentando entender Elai,
mas percebo que está bem longe desse dia chegar.
— Não sei por quê, mas não acredito nas suas palavras.
— Tenho algo para te falar, e sei que você não vai gostar.
— Lu, eu sei que você não quer segurança, mas a partir de hoje você vai
ter.
— Para de achar que tem que me proteger, eu sei me cuidar. Cuida da sua
vida, Elai, e para de se meter na das outras pessoas.
— Eu não quero ter ninguém me vigiando. Por que você não entende isso?
Que ódio! — Tento me soltar da sua mão.
— Para com isso, Lu, estou fazendo tudo para te manter segura. Você é a
minha prioridade. Que inferno! Custa entender o que estou passando? — O seu
peito sobe e desce rapidamente.
Não falo, apenas balanço a cabeça, concordando. Por algum motivo o meu
peito dói de angústia.
— Por que você faria isso? — Ele não responde. — Está vendo, você não
tem resposta porque sabe que estou certa. Então não venha me dizer essas coisas.
Estou te avisando, se eu vir alguém me vigiando, farei questão de pegar o taco de
beisebol da Laura e vou te bater com toda a minha força.
— Então você não quer ninguém te protegendo? — Ele me solta, e o
encaro.
— Não.
— Ok.
Até que enfim ele vai me ouvir, mas sou pega de surpresa novamente
quando ele abre a porta do carro e me coloca sentada, passa o cinto e fico o
encarando.
— Você é doido! — Levanto a minha mão para poder retirar o cinto e sair.
— Já que você me deu um aviso, irei fazer a mesma coisa. Se você sair
deste carro, irei fazer questão de te dar uns belos tapas nessa bundinha linda que
você tem, e te falo mais, irei apreciar bastante esse gesto.
— Está vendo como você fica bem mais linda com essa boquinha fechada?
— Continue falando isso que irei sim. Mas irei foder você até não ter
forças para andar.
Não falo mais nada. Evito olhar para esse infeliz, porque com certeza
causarei um acidente.
O carro para na garagem do prédio de Isa. Abro a porta e vou direto para o
elevador. Aperto o botão incessantemente para que feche a porta rapidamente.
Dou um suspiro de frustração quando Elai entra.
— Sabe, Luiza, eu tentei, juro que tentei, mas você é teimosa demais. —
Não falo nada. — Ok, já que você quer assim, eu serei o seu segurança particular.
Me viro para ele no mesmo instante em que essas palavras saem pela sua
boca.
— Não. Porque o que estou fazendo é para proteger você e o meu filho.
Então, Luiza, a sua opinião não tem importância. Eu te respeito, e se fosse
qualquer coisa a não ser isso, eu faria, mas no momento é impossível.
A porta do elevador se abre e não falo mais nada. Apenas saio, o deixando
para trás.
Mas quando entro no apartamento, encontro Nicolai na sala com Liz. Acho
um pouco estranho, mas deixo para lá. Me aproximo deles, e quando Liz me vê
começa a sorrir.
— Bom dia. — Ouço passos atrás de mim. Não preciso me virar para saber
que é Elai. Ele se aproxima e fica ao meu lado.
— Hoje você poderia levar Liz para um passeio, acho que o shopping seria
uma boa ideia.
Abro a boca para perguntar o motivo, mas me calo, afinal, eu não tenho
esse direito.
— Isabela já saiu?
— Ainda não. — Neste momento me viro para Elai. Ele observa Nicolai e
os dois conversam apenas com olhares.
Me aproximo e pego Liz e uma bolsa, que já está preparada. Saímos, mas
mesmo assim algo não está certo. No elevador, novamente me viro para Elai.
Elai me encara.
Ok, acho que não preciso de mais explicações. Fora que vai ser legal
passear um pouco com Liz. Ela segura uma mecha do meu cabelo e começa a
brincar.
— Eu sei.
Ele percebe o que eu quis dizer, porque vejo o seu olhar indo direto para a
minha barriga. Por algum motivo, me arrepio.
Na verdade, eu gostaria, mas dentro de mim sinto que ele está fazendo isso
só porque está se sentindo na obrigação.
— Ok.
Saímos dali e levamos Liz ao parque. Ela se diverte tanto que acaba
dormindo. Elai sai de perto de mim por uns minutos e logo volta com dois
sorvetes.
Quando passamos, vejo várias garotas olhando para ele, mas ele não
demonstra nenhum interesse. Ele é lindo, e eu sei que ele sabe disso e usa isso ao
seu favor.
Já são 23h quando saímos do shopping. Elai se senta ao meu lado e Liz
dorme tranquilamente.
Seguro Liz contra o peito e ela sorri mesmo quando está dormindo.
Ela tenta demonstrar que está um pouco melhor, com um pequeno sorriso.
— Ela se divertiu?
— Sim — respondo, mas fico olhando para ela, e logo em seguida para o
apartamento.
Elai vem ao nosso encontro.
— Não sei, já tem mais ou menos uma hora que ele saiu e não atende as
minhas ligações.
Levamos Liz para o seu quarto, e quando saímos vejo Isabela chorando.
Não sei o que fazer e apenas a abraço. Vamos para o seu quarto e ela se senta
com a cabeça baixa. Me aproximo e fico ao seu lado.
— O que aconteceu?
Ela fica um momento calada, mas levanta a cabeça e olha para mim.
— Eu estraguei tudo.
— Acho que não. Eu menti, Lu. E sinto que ele não vai me perdoar dessa
vez.
— Tenho certeza de que você teve um bom motivo, Isabela. Você é uma
pessoa que pensa mais nos outros do que em você mesma. É uma pessoa boa, e
Nicolai sabe disso. E ele te ama, dá para ver só no jeito que ele te olha.
— Eu não sei até que ponto o amor dele suportará essa mentira.
Fico sem saber o que falar. Depois de um tempo, a convenço a ir tomar um
banho. Fico no quarto, pego o telefone e ligo para a pessoa que eu tenho certeza
de que vai ajudar.
— Liz...
— Pode ficar tranquila. Pedi à Luiza e Elai para irem passear com ela no
shopping.
Balanço a cabeça.
— Ele percebeu que tinha alguma coisa errada, então se escondeu para ver
o que estava acontecendo — ele prossegue.
As minhas mãos começam a tremer, por algum motivo sinto para que rumo
esta conversa vai, e neste momento abaixo o olhar, não conseguindo mais encará-
lo.
Ele segura meu rosto, e o levanta. Vejo algo no olhar do meu marido,
compaixão, mas eu não mereço isso.
— Eu sei que é uma situação complicada, eu sei disso, mas preciso fazer o
que for preciso para pará-la. — Eu sei o que ele está querendo dizer, matá-la. —
Informei ao seu pai que precisamos conversar, ele está me esperando mais tarde
para uma conversa.
Eu não consigo olhar para ele, não consigo encará-lo. Porque no momento
que eu fizer isso ele saberá que eu sei disso. A minha garganta se fecha. Respiro
fundo, tentando controlar o meu coração, mas não dá, não consigo.
— Há quanto tempo você sabe? — A sua voz é baixa, mas sinto como se
fosse gelo perfurando a minha pele.
— Nicolai...
Dou um passo na sua direção, tentando chegar perto, mas ele simplesmente
se afasta do meu toque e sai do quarto a passadas rápidas. Respiro fundo. Vou
atrás.
Quando estamos na sala, o vejo parado mais uma vez próximo da janela. O
meu coração martela no peito em um ritmo insano.
— Há quanto tempo você sabe? — pergunta mais alto, mas não respondo,
não consigo.
O seu rosto está vermelho, a gravata que ele está usando não está mais no
lugar, assim como o seu blazer.
— Você sabia que a vadia da Valentina armou esse circo todo, colocando
você, as suas amigas, a minha filha… todas em perigo, e mesmo assim você não
me falou? Você resolveu esconder?
— O meu pai, Nicolai, já perdeu tanto, eu... eu não queria que ele perdesse
mais nada.
— Nicolai, tenta entender, eu não fiz isso por mim, e sim pelo meu pai.
Ouço uma risada de escárnio vinda dele.
— Esse é o seu problema! Esse sempre foi o seu problema, você... — ele
aponta o dedo para mim — ... acha que todos são bons, que as pessoas podem
mudar, mas sinto te informar que essas coisas só acontecem em livros e em
filmes. Na vida real eles são uns filhos da puta e nenhuma conversa vai fazer com
que esses filhos da puta mudem, e você só vai entender isso quando for tarde
demais.
Ele dá uns passos em direção à porta, mas me coloco na sua frente e tento
impedir.
— Eu estava tentando salvar a todos. — A minha voz sai tão baixa que por
um momento não acredito que seja minha.
— Esse é o problema. Nem toda pessoa tem que ser salva. E mais para
frente eu sei que você irá se arrepender profundamente de não ter me contado. —
Ele respira fundo, colocando a máscara que está acostumado a usar com as
pessoas, uma máscara fria. — Eu irei encontrar a miserável da Valentina e ela irá
pagar por tudo. Quando eu terminar com ela, não terá nada para salvar, isso eu
garanto.
As minhas mãos tremem, e ele sai batendo a porta.
Estou sentada na cama, os meus olhos ardem sem parar. Luiza está no
quarto com Liz. Elai saiu há um tempo à procura de Nicolai. Me sinto tão mal,
me sinto pesada, como se eu estivesse andando em direção a um lago de águas
escuras, e a cada passo que dou eu vou me afundando. Só consigo olhar para a
água e não consigo parar.
Ouço passos, levanto o olhar e vejo Laura na minha frente. Mais lágrimas
saem. Me levanto e a abraço, ela corresponde. Ficamos assim até eu me acalmar.
Os meus pensamentos viajam para tudo que já aconteceu com nós dois.
Merda! Fecho os olhos com força. Por que ela tinha que mentir? Eu sei que é a
irmã dela, mas aquela vadia da Valentina não merece nada. Absolutamente nada!
— Pela sua cara, acho que nem todo o uísque do mundo vai te fazer
esquecer, porque dá para perceber que foi algo sério — Elai fala e pede uma dose
ao barman.
Elai levanta a sobrancelha, olhando para mim, sem entender e decido falar.
— Ela sabia que foi a irmã vadia dela que estava fazendo tudo isso. —
Viro mais um copo de uísque na boca.
Observo Elai parado, quieto. Algo brilha no seu olhar e sei o que ele está
pensando. Afinal, a mulher que está carregando o seu filho quase morreu
tentando proteger a minha filha.
— Precisamos encontrar Valentina e acabar com isso. Isabela pode até não
aceitar, mas é o melhor. Não podemos deixar essa mulher solta.
Elai não faz mais perguntas. Ele sabe que quero ficar quieto, mas ele, em
nenhum momento, sai do meu lado.
Isabela é uma pessoa boa. Diferente de mim, ela ainda consegue ver algo
bom até no mais desprezível dos seres. Ela é o meu total oposto. Eu quero mais é
ver sangue e ser o motivo desse sangue ser derramado. Ela vê uma pessoa que,
mesmo fazendo algo terrível, precisa de uma segunda chance.
Eu a amo, mas Valentina não terá essa segunda chance. Por mim ela irá
fazer uma visita a sua mãe no colo do diabo logo, logo.
Mesmo relutante, aceito a ajuda de Elai. Ele está dirigindo atentamente.
Sinceramente, estou tão bêbado que o que eu quero neste momento é dormir.
Apenas isso.
O carro para. Mesmo achando que não precisaria da ajuda dele, ele fica ao
meu lado até chegarmos ao apartamento.
Ao entrar, vejo Luiza sentada no sofá. Ela se levanta ao me ver, mas o seu
olhar vai em direção a Elai. Apenas sigo o meu caminho.
Lágrimas descem pelo seu lindo rosto, mas ela continua em silêncio.
— Para de chorar!
— Eu não quero brigar com você. Não quero te fazer chorar. Eu te amo
demais para te ver sofrer. Acho melhor tentarmos dormir por hoje. Amanhã
conversamos. Pode ser?
Beijo o alto da sua cabeça. Ela olha para mim com aqueles lindos olhos
azuis. Balança a cabeça, concordando comigo.
Por mais que eu tenha me esforçado, eu não consigo dormir. Porque tudo
que eu penso é em encontrar Valentina. E, naquele momento, no escuro do meu
quarto, o meu pensamento é único e exclusivamente em como eu a farei pagar.
Estamos no carro com Elai. Ele fica calado, assim como Laura. Observo
por um tempo a janela do carro e fico pensando em Isabela. Afinal, o que
aconteceu? Tenho certeza de que os dois sabem, mas fico sem graça em perguntar
agora.
— O que aconteceu?
— Merda! Apenas isso. É complicado. Não acho que seja certo eu contar,
mas Nicolai está mal. Enfim… é melhor deixar eles resolverem.
— Eu sei — o tom da sua voz está bem mais calmo —, mas esse assunto é
bastante complicado, mas fique calma, ok? Eles vão dar um jeito.
— Luiza!
Me viro novamente.
— O que foi? — pergunto.
— No próximo mês, dia 8, mas você não precisa ir, está tudo bem. — Me
viro novamente para entrar.
Respiro fundo.
Ela sorri.
— O que foi?
Ela sorri.
— Se não tiver nenhum contratempo, daqui a dois meses. Espero que até lá
já esteja tudo resolvido.
Ela não precisa terminar a frase para que eu saiba que está falando de
Nicolai e Isabela.
No outro dia, estou no carro com Elai. Ele está quieto e pensativo. Não fala
nenhuma gracinha. O que não combina com ele em nada.
— Estou pensando em umas coisas, mas pode ficar tranquila, não é nada
sério. — Ele sorri. — Mudando de assunto, quando será a sua próxima sessão de
fotos?
— Adoro você sabia, Lu? Você acha mesmo que não vou descobrir de um
jeito ou de outro.
Dou um suspiro.
Ao entrar no apartamento, tudo está arrumado, sem nada fora do lugar. Elai
vai direto para o escritório de Nicolai, e como sempre vou até o quarto de
Elizabeth. Isabela está lá. Ela não fala muito, mas ainda dá para ver as manchas
roxas abaixo dos seus olhos.
Fico sozinha a manhã toda. Nicolai sai com Elai e Paollo, só confirmando
o que eu já suspeito, que algo de estranho está acontecendo.
Ao voltar para casa, Elai mais uma vez está calado. Não puxo papo porque
eu sinto que alguma coisa aconteceu. Mas o que seria?
CAPÍTULO 25
Quando volto para casa, ainda estou lembrando da cena do pai de Isabela
pedindo para que Nicolai não fizesse mal à filha dele. Vê-lo ajoelhado pela
maldita filha me faz ficar pensando que o amor de um pai vai a esse extremo.
Implorar pela vida da filha, mesmo sabendo que ela não presta.
Passo a mão pelo cabelo, nervoso. Termino de vestir um terno preto e estou
calçando os sapatos quando ouço uma batida na porta. Me levanto. Ao abrir a
porta, vejo Luiza parada, segurando algo. Ela sorri ao me ver, e algo no meio
peito se aquece. Tento me controlar, mas acabo sorrindo para ela. O que está
acontecendo? Por que o meu coração está tão acelerado só de vê-la?
— A última vez que fiz, você gostou, então resolvi trazer para você — ela
fala, para logo em seguida me entregar uma vasilha de vidro.
— Você se lembrou?
Ela sorri mais uma vez.
— Como não me lembraria? A última vez você quase comeu tudo e ficou
me enchendo a paciência para fazer só para você.
— Eu me lembro bem.
A observo por um momento. Ela não está mais com a roupa de antes.
Observo o seu vestido branco, com pequenas flores, o seu cabelo, agora liso,
amarrado no alto da cabeça, deixando o seu pescoço todo à mostra. Não consigo
nem falar muito da sua boca, que é um verdadeiro pecado. Então, sinto algo
crescendo dentro da minha calça.
— Você nunca atrapalha. Vem se sentar. Tenho algo para você. Ia te dar
mais tarde, mas já que você está aqui...
Vou até o meu quarto e pego o presente. Me sento no sofá e lhe entrego.
— Não é isso. É só que… é a primeira vez que você falou nosso filho.
Então percebo que nunca tinha dito isso e vejo, naquele momento, o tanto
que sou estúpido.
— Me desculpa, Lu, por não ter dito isso antes, eu sou um idiota.
Ela sorri.
Observo, mais do que o normal, o seu rosto, o seu sorriso tão meigo e
sincero e percebo ela ficando corada.
Dou um sorriso.
— Assim como?
— É porque você é linda, Lu. Por isso estou olhando para você assim. —
Decido ser sincero.
Ela não fala nada, apenas me encara. Eu não sei por quê, mas me aproximo
mais, passo a mão pelo seu rosto e ela fecha os olhos.
Estou tão perto, que sinto a sua respiração quente. Quando ela abre os
olhos, me encara.
— Isso.
Seguro na sua nuca e a beijo. Sinto o sabor da sua boca se misturando com
a minha. Seguro na sua cintura, aproximando o seu corpo do meu. Ela abre a
boca e não perco tempo, começo a explorá-la do jeito que eu queria. Sinto a sua
mão tão delicada no meu pescoço.
O que começou com um beijo calmo logo se torna algo mais carnal. A
seguro firme pela cintura e a coloco no meu colo. O meu pau está tão duro que o
sinto doente em contato com a cueca. Não ajuda muito quando Luiza se move no
meu colo. Eu sei que ela está de vestido, o que não ajuda muito, mas também não
quero apenas rasgar a sua calcinha e meter o meu pau com força dentro dela.
Porque com certeza era isso que eu faria se fosse qualquer outra no seu lugar, mas
por algum motivo eu não consigo fazer isso com ela. Me surpreendo com os
meus próprios pensamentos ao parar de beijá-la.
— Você merece muito mais do que isso. — Passo a mão pelo seu cabelo e
retiro uma mecha que cai sobre o seu rosto.
O meu coração acelera só de ficar olhando para ele, mas não consigo
responder.
— Não espero nada menos que isso. — Ele olha diretamente para o meu
rosto.
— Você não é do tipo que fica só com uma mulher. Eu não quero me iludir,
afinal, você já me mostrou várias vezes esse seu lado.
Elai passa a mão delicadamente pelo meu rosto, os pelos do meu corpo se
arrepiam na hora.
— Eu sei que não sou a pessoa mais certa do mundo, eu sei disso, mas
prometo não te magoar. — Ele respira fundo. — Eu não quero te magoar, Lu.
Então acredite quando falo que isso não é brincadeira. Eu nunca falei tão sério
como agora.
— Eu não consigo te dar uma resposta agora. — Sinto cada pelo do meu
corpo arrepiar.
Engulo em seco, e olho para ele. Elai deposita um beijo suave no meu
pescoço e vai deixando beijos pelo caminho, até chegar na minha boca. Ele
pressiona uma mão na minha cintura. Por um momento, penso em me entregar
novamente a ele. Penso em senti-lo dentro de mim. Estaria mentindo se falasse
que não gostaria disso, mas me controlo, não vou cometer os mesmos erros. Não
vou agir por impulso. Darei um tempo a ele para me mostrar que realmente pode
mudar. Respiro fundo, e me afasto dos seus lábios.
Mais uma vez ele me beija, mas desta vez muito mais calmo.
— Te vejo amanhã.
Na manhã seguinte, ele está à minha espera no corredor. Estou evitando
encará-lo porque a todo momento fico pensando em seus lábios juntos aos meus.
Dou um suspiro ao entrar no carro com ele. O meu celular vibra e vejo
uma mensagem de Nathan me avisando que terá uma sessão de fotos amanhã às
17h e me manda o endereço do local. Respondo que estarei lá.
— Cinema?
Ele sorri. Eu me pego encarando aquele maldito sorriso lindo que ele tem.
Elai sorri, mas esse sorriso não tem ironia. É um sorriso de alívio, como se
estivesse com medo da minha resposta ser negativa.
Ao entrar no apartamento, vejo Nicolai na sala e Elai também percebe a
atmosfera pesada.
Quando saímos, Elai não fala nada, está em silêncio e a sua expressão é
dura. Alguma coisa realmente o está deixando preocupado. Quando estamos no
corredor, ele finalmente fala:
Ele suspira.
Conseguir? Dar? Por que eu estou assim? Uma sensação ruim passa pelo
meu corpo, o fazendo arrepiar.
Ele continua.
Não sei o que está acontecendo comigo, mas sinto uma grande necessidade
de abraçá-lo. Então faço isso e afundo o meu rosto no seu peito, sentindo o seu
cheiro, como se eu quisesse guardá-lo para sempre. Ele evita por um momento,
mas depois se rende e me abraça com força.
— Se cuida.
Ele sorri.
Ao entrar no escritório de Nicolai, percebo que algo não está certo. Ele vai
em direção à garrafa de uísque e se serve de uma dose, me oferece, mas nego,
pois estou mais interessado no que ele tem a me dizer.
— A única coisa que eu sei é que ele é um filho de uma puta fodido. Por
quê?
— Era ele?
— Eu não sou contra dar um fim na vida dele, mas e a família? Como vai
reagir à sua morte?
— Provavelmente, sim. Estou conversando com ele e quero que você deixe
tudo certo antes de sair de lá. Quero saber de todos os detalhes. A minha única
vontade é estar na hora que ele finalmente morresse, mas confio em você para
essa missão. E o fato de você ser americano vai ser perfeito. Você vai partir hoje,
o seu voo já está marcado para às 16h.
— Enquanto eu estiver fora, quero que fique de olho na Luiza para mim.
— Pode ficar tranquilo, já informei a Paollo de tudo e ele cuidará dela para
você. Pode ter certeza.
Ela faz uma cara de que não gostou da resposta e saí. Fecho os olhos e
sinto a minha cabeça doer. Sei o que tenho que fazer. Sei disso, mas não muda o
fato de que eu queria estar na Sicília protegendo a pessoa que é mais importante
para mim.
Estou no hall do aeroporto pegando a minha bagagem. Ao me virar vejo
um homem vestido com um terno preto. Ele se aproxima com um sorriso.
Levanto uma sobrancelha, desconfiado.
Ele percebe que eu não vou apertar a sua mão. Então a coloca no bolso da
sua calça.
Ele sorri.
— Provavelmente você já tinha entrado no avião, mas você pode ligar para
ele e confirmar.
Não respondo. Pego o meu celular e ligo para ele. No segundo toque ele
atende e me confirma a história do Luigi. Nas suas palavras, seria melhor ter
alguém ao meu lado que conheça tudo a respeito de Yuri, e nada melhor do que o
próprio filho para isso.
Ele não desvia o olhar, mas não vejo mais o sorriso que estava no seu rosto
quando nos conhecemos.
— Eu sei exatamente o que você vai fazer, só lamento que não seja eu a
fazer isso.
Observo uma sombra negra passando pelos seus olhos.
— Mas não podemos ter tudo que queremos, não é? Mas te ajudarei em
tudo que precisar.
Ele sorri.
— Meu amigo, acho que você vai gostar muito do que eu preparei para
você na minha casa.
Não respondo. Estamos passando pelo centro de Nova York e vejo várias
pessoas passando apressadas. Está nevando, e neste momento lembro do que falei
para Lu naquele parque. De como Nova York era linda no Natal e em como os
seus olhos se iluminaram só de imaginar como seria.
Em outra ocasião gostaria de estar aqui com ela agora, olhando para Lu e
vendo o seu sorriso aumentando a cada coisa nova que visse, mas não estou.
Estou aqui para matar um homem. Na verdade, eu sei que essa não será a única
pessoa a morrer pelas minhas mãos nessa cidade.
— É sempre bom estar preparado. Tem algo que você gostaria de saber
sobre o meu pai?
Suspiro.
— Muitas coisas. Preciso saber o horário que ele sai de casa, quantos
homens estão protegendo-o, segurança da casa, tudo. Se você puder me informar
isso já será de grande ajuda. Eu farei o resto.
— Acho que Nicolai não deve ter te avisado. Eu irei com você.
— Acho que você não entendeu, eu irei, o prazer de ver o meu pai
morrendo… — Ele balança a cabeça, sorrindo. — Isso ninguém vai tirar de mim.
Pode ficar tranquilo, eu sei me cuidar muito bem.
Decido não discutir com ele sobre isso. Tenho coisas mais importantes
para fazer. Luigi me responde tudo o que pergunto. Estou montando um plano
para não dar nada errado, tudo tem que sair perfeito. No outro dia, saio cedo para
confirmar todas as informações passadas para mim. Yuri tinha uma rotina, todos
tinham. Assim penso.
Luiza está bem, e ficamos trocando mensagens, mesmo assim queria estar
lá com ela. Apenas três dias e já estou com saudades. Tento ignorar um pouco
isso, mas eu não estou conseguindo ficar longe dela. Dou um suspiro.
Luigi está comigo. Ele é silencioso e apenas me observa, mas eu sei que
está nervoso, assim como eu.
— Irei perguntar mais uma vez, espero que me responda, onde está Don
Yuri?
— No porão.
Dou mais uma volta e vejo uma porta. Ao abrir, está escuro. Acendo a luz
e o que vejo me deixa paralisado. O quarto tem uma cama com um lençol que um
dia foi branco, mas que agora está todo manchado de sangue. Vejo uma garota
encolhida no canto, nua, amarrada na parede. Ao me aproximar, a observo. Ela
treme sem parar. Vejo o seu corpo todo cheio de hematomas e sangue seco em
várias partes. Ela está com a cabeça baixa. Observo lágrimas rolando pelo seu
rosto. Dou um passo mais para perto. Ela se encolhe ainda mais, como se pudesse
se fundir à parede atrás dela.
Ela não responde, a sua única reação é chorar. Observo o quarto mais uma
vez e vejo uma câmera em um pedestal próximo da porta.
Retiro o meu blazer e me aproximo novamente. Fico agachado para que ela
possa olhar diretamente para mim.
Ela me encara e vejo o seu rosto todo machucado, mas observo os incríveis
olhos azuis que ela tem.
Ela fica calada, mas olhando atentamente as minhas mãos com o blazer.
Aos poucos, me aproximo, colocando-o em seus ombros para cobrir o seu corpo.
— Eu vou te soltar. Temos que sair daqui agora.
Acho que aos poucos ela entende que eu só quero ajudar. Com cuidado, a
ajudo a se levantar. Ela veste o blazer com dificuldade. Essa garota é forte. Não
sei como ela está conseguindo ficar em pé com o corpo nesta situação.
Ao ver Yuri, a garota começa a tremer e vejo que a qualquer momento ela
vai desmaiar, então me aproximo.
— Pode ficar tranquila, ele não vai fazer mais nada com você. É uma
promessa. — Ela me encara, mas fica quieta. — Vamos sair daqui.
Luigi fica um pouco em silêncio, mas se vira para mim. Vejo ódio no seu
rosto.
— Vou trazer alguma coisa para você comer e ligarei para uma médica de
minha confiança para vir aqui dar uma olhada em você.
— Duvido muito, essas pessoas que dão sua filha para pessoas como o
meu pai só pensam em dinheiro, tenho certeza de que a sua família recebeu um
bom valor por ela, mas vou dar uma pesquisada. — Ele suspira. — Vou fazer de
tudo para ajudá-la. O que você vai fazer agora?
— Tenho que ligar para Nicolai e relatar tudo que aconteceu e depois terei
uma conversa com o Don.
Ele desce as escadas. Vou até o quarto que estou, fecho a porta e retiro a
blusa social preta, logo em seguida o colete, e vejo uma grande área vermelha e
ao redor, no local em que levei o tiro.
Cada arquivo é de uma garota diferente. Não consigo ver tudo que está ali.
No último, o número 41, é o da garota que eu salvei. A primeira imagem é dela
sendo jogada na cama, ela ainda está com um vestido de noiva. Aos poucos vão
entrando vários homens. Os únicos que não estão de máscaras são Yuri e o seu
segurança. Ele apenas observa aqueles animais segurarem a garota à força. Ouço
os seus gritos, que logo são silenciados.
Eles a violentam diversas vezes, a espancam, até que ela não consiga
suportar, e desmaie, mas isso não faz com que eles parem, continuam a usar o seu
corpo sem se importar se ela está consciente ou não. Pauso o vídeo e dou um
soco na mesa, de ódio.
Ao olhar a tela do notebook, vejo que tem mais vinte horas de gravação.
Isso foi apenas o começo. Não consigo continuar vendo. Respiro fundo, e destruo
o cartão de memória. Não acho que mais alguém precise ver aquilo.
Tento me controlar ao ligar para Nicolai. Relato tudo que aconteceu, mas
meu único pensamento é colocar as mãos no desgraçado que fez tudo isso. Don
Yuri irá sofrer, nem que seja a última coisa que eu faça.
Ele me encara e sabe o que eu vou fazer logo em seguida. Enquanto ele tira
uma soneca, preparo tudo que preciso. Um pequeno kit que fiz com algumas
coisas que vou precisar.
Aos poucos ele vai acordando e percebe onde está. Dou um sorriso para
ele.
— O que você está fazendo? Você é louco? Por acaso sabe quem eu sou?
Ele me encara.
— Eu não sei.
Dou um sorriso.
Não deixo que ele termine a frase, bato com a meia com força nas suas
partes íntimas.
Ele grita, grita, implorando para que eu pare, mas continuo, cada vez com
mais força.
Vejo sangue escorrendo. Ele treme, se mexe, tentando se soltar, mas não
consegue. Os seus gritos se tornam mais fortes, mais altos, e isso com certeza faz
a adrenalina nas minhas veias ir à loucura.
Quando vou bater de novo, ele suplica para que eu pare. Então repito a
mesma pergunta.
— Uma semana.
— Ela queria uns dez homens a mais para fazer a sua segurança. Então, os
enviei.
— Você não conhece aquela garota, ela vai fazer de tudo para conseguir,
com ou sem a minha ajuda.
— Eu poderia acabar com isso agora, um tiro na sua cabeça daria um fim
nessa sua vida de merda, mas não farei isso, você tem que sofrer e você vai pagar
por cada uma das 41 garotas que vocês espancaram e violentaram. A sua morte
será lenta, e a cada segundo que você estiver agonizando quero que se lembre
delas.
— Não grite — sussurro, mas não demora muito e ele começa a gritar sem
parar quando corto as suas costas.
Ele treme sem parar e eu sei que logo irá morrer, então preciso ser rápido.
Quando finalmente retiro os seus pulmões da caixa torácica, os coloco em cima
das costelas agora abertas.
Ao ficar na sua frente, ainda vejo um pouco de vida nos seus olhos. Me
aproximo mais uma vez do seu ouvido e falo:
Ouço a sua última respiração e limpo as minhas mãos na blusa que estou
vestindo. Estou cansado. Tem tanto tempo que não faço isso com alguém, mas
esse infeliz é uma exceção. Esse mereceu.
Quando chego na sala, vejo Luigi sentado, tomando o que eu acho ser
uísque. Me aproximo. Ele observa as minhas mãos e as minhas roupas, todas com
manchas de sangue.
— E a garota?
Ela está dormindo agora, a médica deu um calmante, ela estava muito
agitada.
— Você fez?
Eu sei o que ele está perguntando, sei que quer saber se o pai está morto.
— Luna.
— O quê?
— O nome dela é Luna. Tem apenas 18 anos, e pelo que pesquisei, adorava
dançar balé.
— Entendo.
— Merda!
— Vou ajudá-la.
— Eu imagino.
Balanço a cabeça.
— Não, acho que você não faz ideia. Aquela garota sofreu coisas que não
tem como eu descrever em palavras. O sádico do seu pai a usou de todos os jeitos
possíveis. Eu sinceramente não sei se ela vai conseguir se recuperar de tudo que
passou, mas sinceramente espero que você consiga ajudá-la. — Suspiro. —
Preciso ir, tenho que ter uma conversa com Nicolai.
Ele não fala nada e apenas o deixo com os seus pensamentos. Vou direto
para o meu quarto. Lavo as mãos e ligo para Nicolai. O informo de tudo que
descobri.
— Irei agora mesmo até esse hotel e descobrirei se a Valentina está lá.
— Te vejo amanhã.
Encerramos a ligação. Tomo um banho, retirando todo resquício de sangue
do meu corpo. Ainda sinto o meu peito doendo. O local está com um hematoma
roxo. Tomo um remédio e tento dormir, mas não consigo.
De manhã, já está tudo arrumado para voltar. Mas decido dar uma olhada
na garota. Luna, este é o seu nome.
— Eu estou indo embora agora, Luna, mas Luigi cuidará de você. Pode
ficar tranquila, mas irei manter contato para saber como você está.
— Ele é uma pessoa boa, não fará mal nenhum a você, ele só quer te
ajudar.
Não sei mais o que falar, então dou as costas para ir embora. Já estou
próximo da porta quando ouço mais uma vez a sua voz.
Ainda sinto os braços de Elai em minha volta. Suspiro ao voltar para casa.
Não sei descrever, mas estou sentindo algo estranho. Por algum motivo sinto que
vai acontecer algo com ele em Nova York.
Hoje estou sozinha, as meninas saíram para resolver algumas coisas. Ana,
trabalhando como professora, Laura, resolvendo problemas do casamento, que
por sinal faltam apenas dois meses, e Isabela… bem, Isabela continua do mesmo
jeito. Tem dias que parece que está tudo bem, mas tem dias que não,
sinceramente, eu não sei.
E tem eu. Passo a mão pela barriga, imaginando quando vou conseguir
sentir o bebê mexendo. No mês que vem já vou poder saber o sexo. Um sorriso
não sai do meu rosto, mas confesso que estou indo devagar com Elai, quero ver
como vai ser. Eu gosto dele, na verdade, nunca deixei de gostar, mesmo assim
preciso pensar no meu filho. Quero que ele tenha tudo que eu não tive. Inclusive
uma família. E, mesmo assim, verei como Elai vai reagir à primeira consulta.
Quero saber o que ele pensa, quero saber se tudo que me falou é verdade.
Elai é uma incógnita, às vezes penso saber o que ele quer, mas ao mesmo
tempo não faço ideia de nada.
— Ele chegou bem em Nova York, tenho certeza de que logo ele dará
notícias.
— Pode ficar tranquila, Luiza, Elai sabe se cuidar muito bem. Ele às vezes
só brinca, mas pode acreditar, ele sabe a hora de ser sério.
Dou um suspiro.
Saudades de vocês.
Paro por um segundo para absorver essas palavras, então recebo outra
mensagem.
Nosso filho.
"Você também."
— Está tudo bem, já não sinto mais enjoos, o que ajuda muito.
— Ainda não, mas sinceramente, não sei se estou preparada para esse
momento.
— Eu tinha uma colega que estava grávida, eu ficava passando a mão na
barriga dela toda hora. — Ela sorri. — Eu adorava sentir o bebê dela mexer.
— Aqui é lindo.
Ela sorri.
— Posso imaginar. Vem, vamos entrar, temos que te arrumar para a sessão
de fotos.
A casa é linda. Vou com Eloíse até um quarto e vejo vários vestidos,
sapatos e maquiagens.
O céu está lindo hoje. As fotos serão dos vinhos. Vejo várias garrafas em
cima de uma mesa.
— Está muito. Eu só faço isso uma vez na semana, imagino você, que tem
que ir em todas as sessões.
Ela sorri.
— No começo era cansativo, mas tenho que confessar que gosto. Graças a
esse trabalho consegui viajar para muitos lugares.
Fico interessada.
— A maioria das vezes é só Nathan que viaja para fora, mas uma vez
fomos a Irlanda. Foi muito bom.
Fico a tarde toda tirando fotos. Estou no carro com Nathan, ele está me
levando para a minha casa.
Ele sorri.
Estou sentada na sala assistindo televisão. São 14h. Laura saiu com Paollo.
Ana saiu com o Gabriel. Troco mensagens com Elai esse tempo todo que ele
ficou fora, mas hoje ele não me responde. Suspiro de frustração. Estou com medo
de que alguma coisa tenha acontecido.
Não falo nada, apenas me jogo nos seus braços. Ele leva um susto, mas
corresponde. Sinto o seu cheiro e fecho os olhos por um segundo.
— Eu senti saudades.
Me afasto, olhando para ele. Elai me encara por um segundo, mas sorri.
Por um momento, não falo nada, apenas o encaro. Dou um pequeno soco
no seu peito, de raiva, mas ele faz uma cara que realmente sentiu dor.
— Você está machucado?
Ele sorri.
Ela o encara.
— Paollo te avisou?
— Sobre?
Ele sorri.
Ele sorri.
Me aproximo.
Mesmo pelo telefone, eu tinha falado por alto o que encontrei lá. Só de
lembrar o meu estômago se revira, e eles sabem disso.
— Você acha que Luigi fará um bom trabalho? — Paollo pergunta, se
aproximando.
— Ele tem muita coisa para colocar em ordem, mas acho sim que ele dará
conta. — Respiro fundo. — E a Valentina? Descobriram algo?
— Sim. Isso que está me deixando preocupado, ou seja, ela não tem nada a
perder. Os seguranças estão de olho em qualquer coisa suspeita.
— Elai!
Ela se afasta e eu entro. Ana fica na sala conversando com Laura, que por
sinal apenas me olha por um segundo e volta a observar a televisão. Vou em
direção ao quarto. Ao me aproximar da porta, vejo a Lu deitada na cama, ela está
com um top preto e uma calça de moletom.
Meu filho!
Um sorriso brota no meu rosto. Eu não acredito que uma parte de mim
cresce no seu ventre. Eu não ia acordá-la, mas ela retira a mão do rosto e vejo que
está acordada.
— Não. É que os meus pés estavam doendo, então resolvi me deitar para
ver se melhorava.
Olho mais uma vez. Luiza é linda. Ficamos assim, encarando um ao outro
por um tempo. Isso é tão novo, tão único. Esse desejo de estar próximo a ela. E
acabo fazendo o que eu queria fazer.
Levanto a mão e coloco na sua barriga. Ela não fala nada, apenas me
encara, surpresa. Passo a mão delicadamente pela sua barriga e fico ali por um
tempo.
— Sua barriga já está grande. — Ela sorri.
— Eu sei que eu fui um completo idiota com você, tento impor tudo do
meu jeito sem tentar fazer diferente. Apenas a minha opinião bastava. Eu não vou
ser o seu segurança. — Ela engole em seco, me encarando. — Não vou atrapalhar
o seu novo emprego, você decidiu que seria modelo fotográfica e eu respeito a
sua decisão. Não irei te atrapalhar. Irei apenas respeitar tudo que decidiu.
Ela fica em silêncio por um tempo. Eu não vou tirar o segurança que está
de olho nela desde sempre, infelizmente a Valentina ainda não foi pega. E não
deixarei a mulher que está carregando o meu filho desprotegido. A mulher por
quem eu estou perdidamente apaixonado.
Ainda estou com a minha mão na sua barriga e sinto algo se mexendo, um
pequeno movimento. Nós dois ficamos nos encarando, sem saber o que fazer.
Eu não consigo falar, algo tão bom cresce no meu peito. Um sentimento
tão bom. Como uma chama de um pequeno fogo crescendo e crescendo sem
parar.
Fico assim com Luiza. Isso está mexendo comigo de um jeito fora do
normal. Acredito que estar perto dela está me tornando uma pessoa melhor, e
sinceramente quero ser assim; uma pessoa melhor para ela e o nosso filho.
Dia 5 chega. Estou nervoso, nem mesmo ficar em fogo cruzado e ser
baleado mais vezes do que uma pessoa normal me deixou tão nervoso como
agora. Estou com Luiza na consulta. Ouço o barulho alto do coração do nosso
filho. O meu olhar vai em sua direção. Vejo lágrimas nos seus olhos. O meu
coração se acelera fortemente.
A médica sorri.
— Sim, é muito alto mesmo. Vocês vão querer saber o sexo do bebê?
— Sim.
Aperto a mão de Luiza com força, como se precisasse desse gesto para
confirmar que isso é real, que não é um sonho. Que realmente teremos uma filha.
Uma filha! Não acredito nos meus próprios pensamentos. Uma filha! Eu terei
uma filha com a mulher que eu estou amando.
Dois meses se passaram tão rápido. A minha relação com Lu está indo tão
bem, que por um momento não consigo acreditar no que está acontecendo. Os
meus pais querem conhecê-la, mas não sei se é o melhor momento para uma
viagem, principalmente quando não encontramos Valentina em lugar nenhum.
Ela simplesmente desapareceu e nada que nós fazemos parece surtir efeito. Isso é
tão frustrante em um nível que não tem como colocar.
Estou me sentindo tão linda neste vestido azul. Olho para Laura com o seu
vestido de renda branco, ela está parecendo uma verdadeira princesa.
— Você está linda — afirmo, me aproximando.
Ela sorri.
— Elas estavam vendo se está tudo certo com a Liz. Como ela está um
pouco com febre, eles acharam melhor ela ficar. — Laura me olha, preocupada.
— Mas pode ficar tranquila. Uma enfermeira ficará com ela. — Ouço ela
suspirar.
— Ele tinha me falado que sim. Já deve estar chegando. Mais alguém vai?
— Paollo ia, mas agora não sei. Vou perguntar, mas provavelmente vamos
encontrar com os outros na cerimônia mesmo.
— Eu também, mas ele falou que foi ordem direta de Nicolai, para que
ninguém realmente soubesse o horário da nossa saída.
Quando tento mandar uma mensagem, não consigo, pois estou sem sinal.
Levanto uma sobrancelha, desconfiada.
— Eu não tenho sinal. Alguém de vocês tem? — Cada uma das meninas
tenta e ninguém consegue.
— Isso está estranho. O que está acontecendo? — Ana fala, tentando mais
uma vez ligar para Gabriel.
— Sinceramente, acho que isso está estranho demais. Porque não temos
sinal, e outra, conheço Nicolai. Ele me avisaria se tivesse mudado o horário. Ele
não faria algo assim sem me avisar. Aí de uma hora para a outra o chefe de
segurança fala para irmos?
— Nem vem com a ideia de querer ser a heroína. Você vai conosco.
— Ela só está querendo a mim. Não vou colocar vocês em risco por minha
causa. — O barulho da porta aumenta.
— Não tem como sair pela janela — Ana diz, respirando fundo.
— Eles podem até tentar, mas iremos lutar, custe o que custar.
— Calma, vai dar tudo certo. — Ouço a voz de Laura ao meu lado.
Ficamos no carro por mais ou menos meia hora. A paisagem aqui é mais
deserta, parece mais uma região de fazendas e plantações. Todas nós nos olhamos
por um momento, em uma conversa silenciosa. Todas percebem o mesmo que eu.
Eles estão nos levando para um lugar afastado, com certeza a irmã da Isabella vai
estar nos esperando. Sinto um frio na espinha, neste momento parece que a ficha
caiu.
Um medo fora do normal faz com que o meu corpo trema sem parar. Eu
estou rezando que tudo possa dar certo, mas sei que não será assim que as coisas
vão terminar. Coloco a minha mão na barriga, temendo pelo meu filho, como
nunca temi até hoje.
CAPÍTULO 29
O carro para em uma antiga vinícola e vejo várias parreiras secas pelo
caminho. Somos tiradas com força pelos braços, e colocadas em um cômodo com
uma pequena janela no alto, eles nos trancam ali e saem.
Procuramos por qualquer coisa que possa ser usado como arma, mas não
encontramos nada, nem um prego sequer.
— Lu, quero que fique o mais longe possível de nós, ok, vamos tentar te
proteger — afirmo, e olho diretamente para ela.
— Mas não vou mesmo, vocês estão loucas se acham que vou deixar vocês
fazerem tudo sozinhas.
— Você se esqueceu?! Você está grávida, pense no seu filho, ok. Não faça
nada que possa prejudicá-lo.
Me viro bem a tempo de ver outros caras entrando com armas em punho.
Luiza tenta ajudar, mas é segurada pelo pescoço com força e jogada no chão. Vou
correndo ajudá-la a se levantar.
Mas antes de chegar até ela, ouço um disparo. Ouço gritos e vejo Isabela
correndo em nossa direção, mas não consegue. Ela é parada quando uma garota
loira a segura pelos cabelos e aponta uma arma para sua cabeça.
Dou um passo em sua direção, mas não consigo dar o segundo, pois sinto
algo molhado na barriga. Quando baixo o olhar, meu vestido branco de noiva está
manchado de sangue. Preciso de uns segundos para perceber que levei um tiro na
barriga. Tento me manter em pé, mas não consigo, e caio no chão. Vejo Ana
correndo na minha direção. Ela se aproxima e coloca a sua mão em cima do
ferimento. Sinto dor, uma dor enorme.
— Vai ficar tudo bem! — ela fala, mas seus olhos estão cheios de lágrimas.
— Me solta, Valentina, por favor, elas vão morrer desse jeito, por favor.
— Sua louca! — A encaro. — Achei foi pouco o que Nicolai fez com ela.
— Eu vou te matar. Você vai sofrer o dobro do que minha mãe sofreu.
Quando eu acabar com você, farei questão de enviar os seus restos para o meu
adorável ex-noivo.
Sinto o gosto de sangue na minha boca e ouvimos o barulho de tiros lá
fora.
Nicolai olha para mim e por um mísero momento vejo medo nos seus
olhos. Elai continua com a arma em punhos, sem tirar os olhos de nós, mas sei
que ele viu Luiza e Laura no chão, baleadas.
— Solta ela agora, Valentina, eu fico no lugar dela, afinal, fui eu que matei
a sua mãe.
Ouço o clique da arma, e por instinto fecho os olhos. O barulho do tiro faz
com que eu ouça um zumbido alto. Quando abro os olhos, vejo Luiza segurando
uma arma, tremendo, e neste momento percebo que ela deu um tiro em Valentina.
O que acaba em uma distração perfeita para Elai acabar com isso.
Olho para a minha irmã, ainda com os olhos abertos, mas sem vida aos
meus pés. Corro ao encontro de Luiza e de Laura, Elai também. Ele retira a arma
da sua mão e vejo sangue escorrendo do seu braço esquerdo.
Vou em direção a Laura. Sei que Elai vai cuidar de Luiza.
É tanto sangue. Vejo Nicolai olhando para mim, ele segura o meu rosto
com as duas mãos e me faz olhar diretamente para o seu rosto.
— Ela vai ficar bem, Isabela, está me escutando! Ela vai ficar bem. Vamos,
precisamos ir ao hospital.
Sou colocada no carro e sinto alguém segurando a minha mão com força.
Ana segura a minha mão manchada de sangue, sangue da minha amiga que
provavelmente está lutando pela vida agora mesmo. Baixo a minha cabeça,
tentando colocar os pensamentos em ordem. Neste momento vejo o meu vestido
molhado de água. Eu não tinha percebido, mas não deixei de chorar em momento
algum. Fecho os olhos com força, sentindo a garganta ardendo. Por favor, Laura,
sobreviva, por favor!
CAPÍTULO 31
O meu braço arde sem parar. Elai está ao meu lado, fazendo pressão, mas o
meu único pensamento é Laura, ela precisa sobreviver. Por favor, sobreviva!
— Fica calma, Lu, vai dar tudo certo. Laura é muito durona, ela vai sair
dessa, você vai ver.
Lágrimas silenciosas rolam pelo meu rosto sem parar. Pensar em tudo que
aconteceu me deixa desesperada. E pensar que tudo isso aconteceu pela raiva de
uma irmã. Eu sei que deveria estar em pânico de atirar em alguém, mas naquele
momento foi a única saída. Laura precisava ir ao hospital o mais rápido possível.
Quando atiraram em mim, por um momento pensei que fosse morrer, mas
esperei o momento certo para ajudar. Fingi estar desmaiada. Um ser indefeso, em
outras palavras. No final, eu não me arrependo. Eu precisava salvar as minhas
amigas de qualquer jeito.
Assim que chegamos ao hospital, eu queria só saber de Laura, mas Elai
praticamente me obriga a deitar na maca para ser examinada. O meu coração está
acelerado, eu preciso saber se Laura está bem.
O médico sutura o meu braço e ver se está tudo certo com o bebê. Assim
que nós ouvimos o barulho do coração batendo forte, me sinto por um momento
mais aliviada. Tomo um remédio, mas o meu pensamento é em Laura.
Ana me explica que Laura está fazendo uma cirurgia, que o estado dela é
grave. O meu coração acelera, me sento ao seu lado, sentindo as pernas bambas.
Abaixo a cabeça e começo a rezar. Eu só quero que Laura fique bem. Esse
é o meu único desejo. Depois de umas duas horas, finalmente o médico chega.
Todos se levantam.
— Ela está bem? — Isabela pergunta, mas sei que está morrendo de medo
de ouvir a resposta. O médico respira fundo, antes de responder.
— Agora não. Ela ficará no CTI por um tempo, mas podem ficar
tranquilos, a cirurgia foi um sucesso, assim que ela sair do CTI será transferida
para o quarto, lá vocês poderão visitá-la.
Elai não sai do meu lado em nenhum momento. Ao me sentar no sofá, olho
para os meus pés e os vejo inchados. Respiro fundo.
— Vamos para o meu apartamento, lá você vai poder tomar um banho mais
tranquilo.
Olho para o outro lado da sala e vejo Gabriel olhando atentamente para a
porta do banheiro. Acho que será melhor deixar os dois um pouco sozinhos.
Balanço a cabeça, concordando com ele. Já no apartamento de Elai, ele me
entrega uma toalha. Entro no banheiro e imediatamente sinto o cheiro dele.
Entro no seu quarto e observo a sua cama arrumada. Visto a blusa e saio do
quarto. Ele me fala para sentar, e eu obedeço. Elai se aproxima e me entrega um
copo de suco.
Ele suspira.
Elai segura o meu rosto entre as mãos e se aproxima. Ele encosta a cabeça
na minha e sinto a sua respiração perto do meu rosto. O meu coração se acelera.
Ficamos assim por um tempo.
— Eu tive tanto medo de te perder. O tempo que fiquei sem saber se vocês
dois estavam a salvos foi a pior coisa que eu já senti. Eu fiquei tão desesperado,
como um animal preso. O meu único pensamento era a segurança de vocês.
— Pode descansar, Isabela, eu e Ana vamos ficar com Laura. Pode ficar
tranquila.
— Estou bem, estou tomando alguns remédios, mas nada muito forte.
— Ana!
Amigas…
Eu nunca pensei que teria mais de uma amiga na vida, mas a cada dia que
passa eu percebo o quanto eu as amo mais e mais.
Dois meses se passam desde que tudo aconteceu. Laura está muito bem,
ela se recuperou, sem sequelas, e está muito feliz com Paollo. Isabela está se
recuperando de tudo que aconteceu, não é fácil para ela, afinal, mesmo não
prestando, Valentina era a sua irmã.
O bom é que Nicolai a apoia em tudo e está sempre presente para ajudá-la.
Ana está cada dia mais feliz com Gabriel, o amor deles é mágico, só de estar na
presença dos dois você sente o amor transbordando.
E eu, bem… estou vivendo cada dia muito bem. Há um mês dei uma pausa
nas sessões de fotos, afinal, falta apenas uma semana para o meu parto. Confesso
que estou muito nervosa para ver o meu filho nos braços.
Elai, bem…. vamos dizer que estamos próximos, muito próximos. Cada
dia que eu fico na sua presença só reforça o meu amor por ele. E ele está mais
nervoso do que eu com a proximidade do parto.
— Você não imagina como fica bonita a cada dia que passa.
Elai me observa curioso, mas sorri, aquele sorriso safado que só ele sabe
fazer.
Abro a boca para responder, mas paro ao sentir uma dor na barriga e um
líquido escorrendo pelas minhas pernas. Elai percebe, pois se levanta
rapidamente e se aproxima de mim.
— Aconteceu alguma coisa? Está sentindo algo?
Respiro fundo, sentindo mais uma vez uma dor forte na barriga.
Elai, mais que depressa, segura no meu braço, me ajudando a levantar. Ele
me ajuda a sentar no carro.
Mando uma mensagem para Ana e peço para avisar Isabela e Laura.
Eu sei que Elai está falando alguma coisa comigo, mas não estou
conseguindo prestar atenção em nada. Eu amo a minha filha, mas eu queria que
isso acabasse logo.
Eu não poderia estar mais feliz. Eu nunca pensei que poderia ser feliz
como agora.
— Sim. Merecemos.
Ana pega Duda e o leva para passear com Gabriel em meio às pessoas.
— Seria um prazer.
— Ela está com Ana. Elai sorri, revelando aquela covinha que eu tanto
amo.
— Palhaço!
Sou pega de surpresa ao sentir os seus lábios nos meus. Sentir Elai assim
tão próximo é tão bom, tão único. Estar perto dele me faz muito bem.
A festa acaba e Laura vai viajar com Paollo na sua lua de mel. Eles vão
ficar um mês viajando para vários países.
Ao voltar para a sala, vejo Elai segurando duas taças de vinho. Ele me
entrega uma. Bebo um pouco e coloco a taça na mesa. Me aproximo dele. Elai
observa cada detalhe atentamente. Retiro a taça da sua mão e a coloco ao lado da
minha.
— Eu já te falei isso, Lu, mas vou ter que repetir. Desde a primeira vez em
que eu te vi, no fundo eu já sabia que seus lábios seriam a minha verdadeira
perdição.
— Sua perdição? Me lembro muito bem que você fazia de tudo para ficar
longe de mim.
— Essa era a minha única saída, porque no fundo sabia que quando eu
finalmente a beijasse eu estaria perdido.
Sinopse
Nicolai era conhecido como o mais novo chefe da máfia italiana, temido
por todos, ganhando o apelido de demônio na Itália.
De uma hora para outra se vê indo para os Estados Unidos para encontrar a
pessoa que teve a ousadia de lhe roubar duzentos milhões, jurando a si mesmo
que encontraria a pessoa, e a faria pagar com lágrimas de sangue.
Isabela é uma garota de apenas dezenove anos que não tem nada a não ser
a sua incrível inteligência, cursando o penúltimo ano de ciências da computação
faz de tudo para ajudar a quem precisa. Isso inclui de vez em quando invadir
algumas contas, e transferir pequenos valores para instituições de caridade pelo
mundo.
Sinopse
Ele vai protegê-la de todos nem que para isso ele coloque fogo em
toda Sicília.
Com seus dezessete anos Laura foge dos maus-tratos do seu pai, ela
viveu um verdadeiro inferno na sua vida, constantemente torturada, mantida
presa pela pessoa que deveria protegê-la, mas não foi isso que aconteceu.
Ela, uma escritora que se faz de durona, mas no fundo é uma garota
sonhadora e romântica.
Ele, um homem arrogante que não aceita um não como resposta, mas
jurou protegê-la.
Sinopse
Mas a obsessão que ele tem por ela, vai longe demais…
Ana vai fazer de tudo para salvar a vida do pai, até mesmo fingir ser
a namorada de um mafioso obsessivo.
Uma proposta, uma escolha, uma noite, mudará a sua vida para
sempre.
Gabriel Zás, não é o herói dessa história, mas com certeza é o vilão.
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