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Sinopse

Lorenzo Santoro, um homem que exala poder e beleza por onde


passa. Contudo, ainda muito jovem, tornou-se o chefão da máfia, sendo
assim temido e respeitado por todos.
Ele assumiu o legado do seu pai, é conhecido no submundo como:
“O coração de gelo.”
Um homem sombrio e imponente, que há anos domina o mundo da
máfia e todo seu império como uma águia, nada foge ao comando de suas
mãos de ferro.
Seu lema é... Nem que seja derramando sangue, uma dívida sempre
será paga.

ATENÇÃO
Este livro contém cenas de sexo explícito, violência física e verbal,
tortura e assassinatos que podem deixar alguns leitores desconfortáveis.
Se este for o seu caso: Não leia!
Esta é uma história de ficção, a autora não concorda com os abusos
relatados aqui. Tenha a mente aberta. Boa leitura.
Proibido para menores de 18 anos.
Copyright © Cecília Smity, 2021
Revisão: Patricia Suellen
Diagramação: Rosana Bezerra (Vivart - Criação e Design)
Capa: T.v designer

Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e acontecimentos descritos são produtos da
imaginação da autora. Qualquer semelhança com nomes, datas e acontecimentos reais é mera
coincidência.

ACORRENTADA AO MAFIOSO
CECÍLIA SMITY
1ª Edição – 2021

Todos os direitos reservados. É proibido o armazenamento, e/ou reprodução de qualquer parte dessa
obra – física ou eletrônica – através de quaisquer meios (tangível ou intangível) sem o consentimento
escrito da autora.
A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na lei nº. 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do
Código Penal 2018.
Esta obra segue as regras da Nova Ortografia da Língua Portuguesa. Todos os direitos reservados.

Sumário
Dedicatória
Prólogo
Capítulo 01
Capítulo 02
Capítulo 03
"Bônus 01"
Capítulo 04
Capítulo 05
Capítulo 06
Capítulo 07
Capítulo 08
Capítulo 09
Capítulo 10
Capítulo 11
"Bônus 02"
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
"Bônus 03"
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40
Capítulo 41
Capítulo 42
Capítulo 43
Capítulo 44
Capítulo 45
Capítulo 46
Capítulo 47
"Bônus 04"
Penúltimo Capítulo
Último Capítulo
Epílogo
Dedicatória

“Dedico a você, leitor dark, que tem uma mente livre, fluída, que com muita
inteligência, sabe diferenciar realidade de ficção!”
Prólogo
Nápoles – Itália
Alguns anos atrás...

LORENZO
M esmo em passos silenciosos eu sabia que ele estava no ambiente.
Mantive os meus olhos fechados numa tentativa que o homem que se tornou o
meu algoz fosse embora.
Eu ainda podia sentir o cheiro de carne queimada, impregnado em
minhas narinas. Nunca em toda minha vida uma dor tão intensa tinha me
atingido e quando eles colocaram aquele ferro em minha pele, algo dentro de
mim, começou a vibrar no mesmo instante que a dor em meu peito se
intensificava com o contato do objeto escaldante.
Fechei a boca para não deixar que nem um som saísse entre meus
lábios, pois eu sabia que as consequências seriam as piores. Levantei a
cabeça e o meu pai mantinha o seu olhar cravado em minha direção, porém,
o homem que sempre admirei não demostrava nenhuma reação ao ver todo o
sofrimento que estavam me infligindo e quando enfim o símbolo da nossa
organização ganhou vida em minha pele, assim que o ferro foi afastado tive
que me segurar para não desabar ao chão.
Meus pensamentos foram interrompidos quando a voz potente dele
ressoou no espaço.
— Levante! Agora!
Diante daquela ordem mesmo com dificuldade fiquei de pé. Seus
olhos me sondaram da cabeça aos pés. O homem de armadura de ferro e
coração de gelo parecia um leão faminto, espreitando para caçar o cervo.
— Vamos! Essa será a última fase do seu treinamento e algum dia vai
me agradecer por tudo que estou fazendo. Hoje você vai aprender que
ninguém é confiável e seu coração assim como o meu ficará tão frio como
uma barra de gelo.
Ele deu um giro rápido nos calcanhares e começou a andar em
direção à porta. Em passos vacilantes fui em sua direção. Passamos pelo
imenso corredor até chegar à sala de treinamento. Meu olhar ficou fixo em
Giovani e agradeci mentalmente pelo meu único amigo estar comigo nessa
última fase. Desvio o olhar dele quando novamente a voz do meu pai chama
nossa atenção.
— Somente o melhor sairá vivo dessa sala.
Fiquei atordoado com suas palavras, no entanto, ele colocou uma
adaga que até então não tinha visto em sua mão em cima da pequena mesa ao
seu lado. Rapidamente o temido chefe da máfia siciliana deixou o cômodo.
Giovani ficou imóvel e só saiu do seu estado de devaneio quando ouviu a
minha voz.
— A nossa amizade está acima de tudo. Vamos sair os dois por
aquela porta.
Em uma fração de segundos desviei a minha atenção do rosto dele ao
sentir um latejar em meu peito e quando levantei a cabeça. Todos os meus
órgãos internos começaram a funcionar a todo vapor. Suas órbitas
esverdeadas estavam furiosas, em uma de suas mãos a adaga deixada,
minutos atrás pelo meu pai. Seus lábios se contorceram e em seguida sua voz
carregada de ódio preencheu o espaço.
— Como o chefe disse, daqui só um de nós sairá vivo, por anos você
vem sendo elogiado em todas as etapas do treinamento. Mas eu irei mostrar
a todos quem é o melhor e o mais indicado para no futuro ser o chefe da
máfia.
Movendo-se na velocidade de um relâmpago, ele avançou em minha
direção. A dor que antes ardia em meu peito tornou-se pior quando uma onda
de calor tomou conta de mim e um ódio descomunal apoderou-se de todo o
meu ser. Antes que o cervo cogitasse atingir o leão, me desviei e desferi um
soco em seu rosto, fazendo-o beijar o chão com força. Nos instantes
seguintes uma luta pela sobrevivência foi iniciada.

Horas depois...
O som das minhas passadas ecoaram pelo corredor vazio. A
sensação que eu tinha era que meu corpo estava em chamas e a minha
atenção estava voltada para o objeto pulsante em minhas mãos, que mesmo
batendo fraco me fez sentir um prazer imensurável ao arrancá-lo do peito do
infeliz. O sangue escorria pelos meus dedos e ao sentir a presença do chefão
da máfia levantei a minha cabeça.
— Você dará continuidade ao legado da nossa família e será temido e
respeitado por todos.
Olhando fixamente para ele, levei a outra mão ao encontro do objeto
e apertei com toda minha força. O esmagando por inteiro.
Uma coisa era certa. Depois de hoje jamais serei o mesmo.
Capítulo 01
Manhattan – Distrito de Nova York
Dezoito anos antes...

SORAYA
M eus pulmões queimavam, e eu corri desesperadamente mais do que
pensei ser capaz a vida toda. Minha respiração estava cada vez mais pesada.
O som das batidas vindas do meu peito ressoava como se tivessem tambores
em minha caixa torácica em vez de um coração. Eu já estava ficando sem
fôlego, me sentia perdida, mas precisa correr mais rápido possível.
Sei que assim que notarem a minha ausência e descobrirem tudo que
fiz, a minha vida chegará ao fim. Mas não posso deixar que tirem a única
lembrança que tenho do único homem que amei na vida.
O demônio certamente ao descobrir que estou grávida daquele que
julgaram ser o traidor da famiglia, mandará arrancarem do meu ventre o meu
filho. Não foi só o meu pai que destruiu a minha vida quando não conseguiu
controlar o maldito vício e acabou apostando a própria filha numa mesa
de jogo como se fosse uma mercadoria.
Enrico Santoro, o homem que parece ter uma pedra de gelo no peito
ao invés de um coração, assim como o seu maldito filho é a própria
personificação do mal. Eles me fizeram conhecer o pior lado da vida,
interromperam todos os meus sonhos e para me manter viva tive que suportar
cada toque daqueles homens asquerosos. Perdi a conta de quantos homens eu
tive que me deitar e me sujeitar a cada desejo sórdido e obsceno.
Em meio àquela prisão cercada de lasciva e com tanto sofrimento a
minha volta, Antony, foi a minha tábua de salvação, porém, ninguém jamais
trai um Santoro e fica vivo para contar história. Dessa forma, após
dois carregamentos e informações que chegaram até os inimigos.
Encontraram provas que o traidor era o homem que nos últimos anos se
tornou a única coisa boa na minha vida.
Quando soube que o próprio herdeiro da máfia italiana arrancou o
coração de Antony com as próprias mãos, meu mundo desabou, pois sabia
que cedo ou tarde eles iriam descobrir que uma das fontes de renda que nos
últimos anos trouxe tanto lucro para aquele bordel e acabou por se tornar a
exclusiva do homem que tanto confiavam, mas se mostrou uma cobra
traiçoeira, estava grávida.
Entrei em desespero quando soube que o demônio em dois dias
estaria vindo para Nova York, no entanto, deu ordens para que eu voltasse a
ativa e assim como as demais ir para o salão e se tornar o prato principal
dos clientes. Eu precisava agir mais rápido possível ou não teria outra
chance.
As trevas estavam a minha volta, mas ainda tinha uma pequena luz no
final do túnel. Além do dinheiro que eu tinha guardado que era de Antony,
pois segundo o que me contou, ele faria de tudo para pagar a dívida que meu
pai contraiu com a máfia e assim poder proporcionar a minha liberdade. Ser
a única do homem que antes era respeitado e admirado por todos tinha as
suas vantagens. Eu sabia muito mais do que deveria e principalmente sobre a
passagem secreta que serviria como passagem rumo mundo afora.
Só precisava agir rapidamente ou não teria outra chance. Não foi
fácil suportar outro homem me tocando, pois a mistura de álcool e nicotina
só ajudavam a embrulhar o meu estômago, pior ainda foi colocar um belo
sorriso no rosto e garantir àquele infeliz a melhor noite da sua vida até o
ponto dele ficar completamente exausto e desabar em cima da cama.
Quando o homem começou a roncar feito um porco me levantei.
Peguei as minhas roupas e os documentos que estavam com o dinheiro e em
seguida coloquei o sobretudo preto.
Era tudo ou nada. Deixei o cômodo e fui me arrastando pela parede,
feito um lagarto pelo deserto, me esforçando ao máximo para que as câmeras
de segurança não me identificasse. Respirei fundo, pois o meu medo era
tanto que meu coração batia forte, como se pudesse escapar por entre os
meus lábios a qualquer momento, e quando enfim consegui me livrar da zona
de perigo, me movi na velocidade de um raio até chegar ao lugar que me
levaria para fora daquela prisão. Vestida toda de preto, a penumbra em volta
do lugar facilitou muito para que eu me camuflasse.
Deixo os pensamentos de lado e procuro correr ainda mais rápido. A
única coisa que tenho fixo em minha mente é que não deixarei nada de ruim
acontecer com o meu filho.
Sete meses depois...
A chuva já caía forte lá fora e batia no vidro da janela fazendo um
enorme barulho. As trovoadas ressoavam fortemente, enquanto os
relâmpagos cortavam o céu.
Os meses se passaram e embora, vivendo cercada pelo medo, saber
que a pessoa mais importante da minha vida daqui a alguns dias virá ao
mundo, me dá forças para superar qualquer obstáculo. Graças ao dinheiro
que trouxe comigo, mesmo que não tenha conseguido sair do país, me serviu
para alugar um quarto bem simples em Camden, que é considerado a cidade
mais pobre dos Estados Unidos. Dessa forma aqueles monstros jamais irão
me encontrar.
Também fiz amizade com uma parteira que mora na vizinhança e
amanhã ela virá ficar comigo até o dia do parto. O som estrondoso que
ecoou no espaço me arrancou dos meus devaneios e assim que meus olhos
foram de encontro a porta. Meu coração disparou quando o som da voz
horripilante reverberou por todo o cômodo, fazendo um tremor muito intenso
apoderar-se de todo o meu ser.
— Te encontrei maldita fujona.
O pânico tomou conta de mim e assim que tentei me levantar, senti
uma dor terrível em minha barriga. Minhas pernas ficaram pesadas, com isso
fui ao chão. Um ruído terrível de dor saiu rasgando a minha garganta, ainda
tentei me erguer, mas ao elevar a cabeça e me deparar com o próprio
demônio em forma humana, todo o meu corpo paralisou. Ele, o próprio,
Enrico Santoro, estava com seus olhos soltando faíscas de ódio em minha
direção.
— Você achou mesmo que eu não te encontraria? Assim como aquele
maldito traidor, você será enviada ao inferno.
— Aiiii — dessa vez o grito foi ainda mais alto e para aumentar o
meu desespero, senti algo molhado escorrendo entre as minhas pernas,
porém, as palavras que foram proferidas pelo demônio à minha frente, fez
todos os meus órgãos internos ficarem em chamas.
— Antes de acabar com a sua vida miserável, veremos qual o sexo
do fedelho e se caso for uma menina, ela me pagará até o seu último suspiro
por cada centavo do prejuízo dado pelos desgraçados dos pais.
Assim que o som da sua última palavra repercutiu no ar, ele puxou
uma adaga e reunindo todas as minhas forças tentei ficar de pé, porém, o
homem foi muito mais rápido e feito um animal feroz subiu em cima de mim.
O tirano levou o objeto cortante em direção a minha barriga e rasgou a minha
roupa, enquanto comecei a me debater tentando me livrar de sua posse, no
entanto, uma dor imensurável como eu nunca tinha sentido na vida pairou
sobre mim, quando ele deslizou o objeto em minha pele.
Gritos e mais gritos se fizeram presentes e à medida que ele estava
rasgando a minha carne, as lágrimas grossas rolavam pela minha face. Eu já
não tinha mais forças para nada, sentia que todos os órgãos dentro da minha
caixa torácica estavam funcionando no seu limite e quando o som mais
bonito que ouvi na vida ressoou a minha volta, tudo começou a girar e a
única coisa que lembro foi de ouvir o nome que ficou registrado na minha
última lembrança.
— Mia!
Capítulo 02
Manhattan – Distrito de New York
Tempos atuais...

MIA
E stava em um sono profundo, mas algo insistia em me tirar do estado
letárgico que me encontrava.
— Mia! Acordaaa!
Diante daquelas palavras, os meus olhos se abriram, mas o
arrependimento veio logo depois. Uma forte claridade incomodou a minha
retina e antes que eu cogitasse em fechar os meus olhos novamente, a voz da
minha mãe ecoou a minha volta.
— Levanta agora! Sua preguiçosa.
Levantei em um pulo. As feições da minha mãe era algo espantoso.
Não conseguia entender o motivo pelo qual os meus pais me tratavam dessa
forma.
Desde que me entendo por gente que eles me tratam como se fosse
um nada. Conforme eu fui crescendo os insultos ficavam piores, no entanto,
jamais levantaram as mãos para me bater. Contudo, seria muito melhor do
que as palavras e as humilhações.
Deixo as lamentações de lado e vou correndo para o banheiro.
Minutos depois já estou arrumada, deixo o meu quarto e sigo até à sala onde
os dois já estavam me esperando.
— Vamos! — disse o meu pai.
— Cadê as caixas? — questiono.
— Toda a mercadoria já está dentro do carro — minha mãe
esclarece.
Passos largos foram dados em direção à porta e instantes depois já
dentro do veículo, ele foi colocado em movimento. Desde pequena sempre
vou com eles até o centro da cidade vender os potes de doces, enquanto os
meus pais ficam dentro do veículo à medida que o telefone deles tocam, me
entregam a mercadoria e levo ao destinatário. Ainda lembro-me da primeira
vez que fui entregar a caixa e um homem enorme me deu muito dinheiro,
mesmo sendo tão pequena eu disse para ele que era muito, afinal um simples
pote de doce não poderia ser tão caro.
Quando entreguei o dinheiro ao meu pai e disse que o homem tinha
pago muito mais, eles me explicaram que a mercadoria vinha de outro país
por isso o valor era aquele. Até hoje não consigo entender o porquê que
todos os clientes são homens e jamais permitiram que eu provasse os doces,
já que segundo eles a mercadoria é somente para os clientes.
De tanto que eu ficava perguntando e cada vez mais confusa por
receber tanto dinheiro. Numa certa amanhã de domingo quando acordei e fui
até à cozinha e encontrei um pote em cima da mesa e minha mãe logo surgiu
no meu campo de visão, ela disse que eu poderia comer e confesso que era
muito delicioso e talvez por esse motivo sempre eram as mesmas pessoas
que compravam.
Afasto os devaneios de lado assim que chegamos ao nosso destino,
respiro fundo, pois hoje não é mais um dia diferente dos que tenho
sobrevivido. Uma rotina árdua faça chuva ou um sol escaldante.

Nápoles Itália
LORENZO
Os ruídos que ressoavam a minha volta, causados pelo choro de
mamma. Fizeram uma onda escaldante apossar-se de todo o meu corpo. A
sensação que eu tinha era como se tivesse fogo líquido correndo em cada
veia do meu corpo, fazendo meu coração bater em um ritmo alucinante.
Assim que o som da minha voz preencheu todo o ambiente todos voltaram a
sua atenção em minha direção.
— Silenzio! — vocifero.
Meu olhar que até então estava fixo no corpo do homem dentro do
caixão foi direcionado a ela.
— Ele jamais iria querer que uma só lágrima fosse derramada.
Enrico Santoro a essa hora está almoçando com o demônio. E logo eu darei a
ele a chance de ter à sua frente cada um dos malditos que foram responsáveis
pela sua morte.
Minhas mãos se fecharam em punho e voltei novamente a minha
atenção para dentro do caixão. Ao contrário da minha mãe e do meu irmão,
eu não conseguia sentir nada ao saber que o homem que me deu a vida,
aquele que sempre foi temido e responsável por me infligir tanta dor, estava
ali dentro daquele objeto sem vida.
Assim como ele preferiu anos atrás. Destruiu tudo o que havia de
bom dentro de mim, no entanto, ninguém derrama o sangue de um Santoro e
permanece vivo. Minhas mãos se abriram e as movi em direção a tampa, dei
uma última olhada para o rosto do meu pai e em seguida fechei o caixão.
— Vamos acabar logo com isso — sentenciei.
No momento seguinte, o corpo do temido e sanguinário chefe da
Cosa Nostra foi colocado dentro do mausoléu da família, se juntando aos
seus pais.

Dois dias depois...


Gritos e mais gritos era tudo que se ouvia. Minutos se passaram e
Dante ainda não havia conseguido extrair nenhuma informação daquele
infeliz. Encerrei a ligação que tinha recebido e em passos precisos andei em
direção ao barulho.
Se sua lealdade é maior que o amor pela sua própria vida, veremos
como vai reagir ao encontrar o próprio demônio à sua frente. No instante que
passei pela porta a voz do meu chefe de segurança se fez presente.
— O desgraçado não quer falar — bradou meu segurança.
Puxei minha adaga e diminui a distância que nos separava.
— Vamos ver se você não irá dizer nada — provoquei.
Os olhos amendoados que ganharam um tom escuro ficaram
arregalados assim que levei o objeto cortante em direção ao seu rosto. A
cada centímetro que minha adaga era cravada em sua carne, o ritmo da minha
respiração acelerava assim como os demônios que habitam em mim.
Demônios esses que começaram a ficar agitados fazendo ondas de choques
me envolverem quando jatos potentes de sangue começaram a jorrar por
todos os lados.
Deslizei o objeto fazendo uma curva movendo a adaga da direção de
sua boca até chegar próximo a sua orelha. O desgraçado que até então estava
gritando em meio a dor começou a pedir clemência assim que mudei de
posição e iria fazer o mesmo trajeto do lado direito do seu rosto.
— Pieda... eles... est... na Calábri.. — balbuciou.
Antes que ele terminasse de proferir suas últimas palavras, afundei
ainda mais o objeto em sua pele. Quando puxei minha adaga, intensifiquei o
contato da minha mão em volta do cabo dela e uma sequência de golpes foi
desferido contra o seu rosto desfigurado.
A cada golpe as palavras do velho, Enrico, surgiam em minha cabeça
como se fosse um mantra, o que me deixou com uma fúria incontrolável.
"Ninguém é confiável e seu coração assim como o meu, ficará tão
frio como uma barra de gelo".
Quando diminui o ritmo dos meus movimentos, a cabeça do homem
estava estraçalhada. Com um giro nos calcanhares caminhei em direção à
porta e antes de deixar o cômodo, o som da minha voz preencheu os quatro
cantos do ambiente.
— Coloquem fogo no corpo desse miserável e preparem tudo que
iremos para a Calábria. Todos aqueles ratos precisam ser exterminados —
ordenei sombriamente.
Capítulo 03
Calábria – Região italiana

LORENZO
O s soldados ficaram todos em puro êxtase assim que pisamos em território
inimigo.
— Ele é meu! — orientei meus soldados.
O barulho de tiros ressoava por todos os cantos. Além dos homens
que vieram comigo de Nápoles, outra equipe veio de Nova York. Cercamos
todos os cantos em volta da região. Enquanto Dante liderava a maior parte
dos homens que foram pela região sul, avancei com alguns homens rumo ao
galpão. O som era ensurdecedor e à medida que o ricochetear das balas
aumentavam, meu corpo inteiro vibrava ansiando para o momento de fazer
com o infeliz a mesma coisa que fazemos ao matar os porcos.
Enquanto a batalha estava sendo travada, com a minha arma em
punho em uma das mãos e minha adaga na outra, segui em direção à entrada
principal. Minha mandíbula se contraiu, meu coração começou a bater
descontroladamente assim que entrei no recinto. Uma verdadeira chuva
acontecia naquele lugar, no entanto, em vez de água eram de balas. Sangue
fresco começou a mudar todo o cenário, fazendo a cor do chão ganhar outro
tom.
A cada infeliz que surgia à minha frente recebia em troca uma bala no
meio do peito, quando meu olhar se voltou para a imagem adiante, o som de
mais um disparo entoou no espaço e um latejar percorreu a minha carne, e
com ele um grito estrangulado de ódio saiu rasgando a minha garganta.
— Aaaaaaaah — grunhi.
Se antes eu sabia que as trevas habitavam dentro de mim, ao senti um
tremor muito maior que tudo que havia sentido, causar um desconforto
terrível. Eu tive a confirmação que vários demônios tinham acabado de
assumir o controle do meu corpo e da minha mente. Quando um esboço de
um sorriso surgiu na face do miserável, ele levou o dedo em direção ao
gatilho, um movimento que não precisou de muito esforço lancei minha
adaga em direção a sua mão. Em uma fração de segundos ele baixou a
guarda, e foi nesse exato momento que as minhas pernas se moveram, e feito
um tigre em busca da sua presa, avancei em sua direção.
Tiros eram trocados a nossa volta, mas era como se ali só nós dois
estivéssemos ali. Joguei minha arma, pois não iria precisar dela para acabar
com aquele maldito. Uma sequência de golpes foram dados e cada vez que
meu punho atingia o seu rosto só me incitava a continuar. O adversário não
era um qualquer, já que foi o responsável pela morte de Enrico, aquele que
invadiu territórios e enviou centenas de almas ao inferno, como ao paraíso
se é que isso existe.
Perdi a noção do tempo e cada vez que ele revidava um soco meu e
eu sentia o contato do seu punho contra o meu corpo, ao invés de dor aquilo
me deixavam com uma vontade incontrolável de arrancar cada osso de suas
costelas com as minhas próprias mãos. Deixei a brincadeira de lado e
apertei minha mão, concentrando no meu punho toda força que existia dentro
de mim e antes que ele fizesse qualquer movimento o último golpe foi dado,
fazendo-o ir ao chão.

Horas depois...
O lugar à minha frente está impregnado pelo odor de sangue. Os
gritos dos covardes que ainda respiravam tem o cheiro de morte. Levantei a
cabeça e contemplei a imagem adiante, todos os desgraçados tiveram suas
cabeças penduradas, para que qualquer um que ousar desafiar a famiglia
saiba o destino que terá.
Movi meu corpo no sentido contrário ao escutar os gritos do maldito
que estava tendo os membros superiores perfurados.
— Pela glória e pela honra da famiglia. Eu Lorenzo Santoro te
enviarei para as profundezas da escuridão, porém, ao contrário do que fez ao
meu pai, farei com que os últimos momentos da sua vida sejam
inesquecíveis.
Levei a faca que estava sendo tomada pelo fogo ao encontro da sua
pele e cravei em sua carne. Quanto mais ele gritava mais deslizava e
aprofundava o objeto cortante em seu corpo. Minutos se passaram e quando
cheguei na extremidade, soltei o objeto e com as duas mãos fixadas em cada
lado que foi aberto das suas costas, fui puxando até que consegui ver todos
os seus órgãos internos. Um líquido amarelado começou a cair no chão
indicando que o covarde estava se mijando, mas eu só estava começando.
O sangue apossou-se de minhas mãos quando comecei a puxar cada
osso da sua coluna vertebral, os gritos dele logo chegaram ao fim, quando
ainda estava puxando a segunda costela. E quando enfim terminei, senti que
finalmente algo dentro de mim, havia se acalmado..

Dias depois...
Nápoles, Itália
— Não! Não! Nãoooo...
Acordo com o corpo pesado, como se tivesse sido atropelado por um
caminhão. Novamente os mortos insistem em querer me manter junto a eles.
Por mais que o tempo tenha passado não consigo esquecer o dia que foi
responsável por qualquer sentimento bom que havia em mim, ter chegado ao
fim. O dia em que a luz se apagou e somente as trevas vêm prevalecendo.
Sabia desde criança que como primogênito do grande Enrico
Santoro, teria que algum dia assumir todas as minhas obrigações perante a
nossa organização. Fui tratado por todos como o único príncipe da máfia,
aquele que no futuro traria muito mais que riqueza e sim ainda mais poder,
nos tornando soberanos em todos os territórios. Mas como disse o homem
que tratou de me transformar em algo muito pior que ele, ninguém é confiável
e não foi só através das palavras ou do gesto daquele que tinha como amigo
que aprendi isso.
O ódio, a inveja estavam visíveis em seus olhos e mesmo depois de
todas as lições uma pequena luz acabou por invadir as trevas, quando Antony
começou a se destacar entre os demais soldados. Contudo, nele eu tive a
confirmação que Enrico estava certo e todos não passam de cobras
traiçoeiras esperando o momento certo para destilar o seu veneno.
Assim como Giovani, aquele maldito traidor teve o mesmo fim, mas
Enrico sempre gostou de controlar tudo ao seu redor e devido à sua
interferência eu não dei a mulher que estava carregando o filho do verme no
ventre o mesmo destino. Ele planejou tudo e aproveitou a minha viagem ao
Brasil, e foi pessoalmente atrás da vadia e assim que retornei soube que ele
havia deixado viva aquela que carregava em suas veias o sangue dos
traidores.
Possuído pelo ódio, assim que soube iria terminar com o serviço e
enviar aquela coisa para junto dos pais. No entanto, jurei acima de tudo
lealdade ao meu soberano, fidelidade aos interesses da famiglia e sempre
respeitar a sua ordem. Deixo as lembranças no passado e ao levantar meus
olhos, eles foram ao encontro do maldito curativo em meu corpo. Peguei meu
celular e ao deslizar o dedo na tela, ele atendeu.
— Chefe!
— Tem uma nova mercadoria. Quero que façam uma visita daqui a
três dias aos Matini.
— Assim será feito.
— Preparem tudo que estarei indo para Nova York. Chegou a hora
daquela maldita começa a pagar por todo prejuízo, dados pelos pais.
"Bônus 01"
Três anos atrás...
Manhattan – Distrito de New York.

LORENZO
Estou indo em direção ao bordel. Entediado de um dia cheio de
problemas e somente duas coisas são capazes de me acalmar: ter uma boa
foda e a outra é enviar algumas almas ao inferno.
Só de imaginar ver alguém sucumbindo na minha frente faz todos os
meus demônios vibrarem. Enrico, acabou por me enviar para Nova York, já
que os malditos incompetentes não foram capazes de resolver algumas
questões com os execráveis devedores.
Uma das coisas que não suporto e não admito são os infelizes que
tentam passar a perna em nossa organização, achando que vivemos de
caridade, no entanto, para mim só existe uma única lei. Uma dívida sempre
deve ser paga nem que seja derramando sangue. Assim como uma traição é
algo que nunca deve ser perdoado, para um Santoro não existe lugar para
uma segunda chance e o preço de uma traição é a morte.
Meus pensamentos foram interrompidos no momento em que o carro
parou e por instinto uma de minhas mãos como se tivesse vida própria foi ao
encontro da minha pistola. Logo em seguida o som da minha voz repercutiu
dentro do ambiente.
— O que está acontecendo? — questiono já irritado.
— Os seguranças acabaram de informar que ocorreu um acidente
com uma caminhonete. Por esse motivo o fluxo de veículos está bastante
intenso — respondeu Luigi, meu motorista, mas minha vontade era mandar
ele passar por cima de todos. Deixo os devaneios de lado quando novamente
ouço o som da sua voz.
— A única alternativa será pegar o desvio que passar em frente à
praça.
— Então faça ou serei obrigado a fazer uma verdadeira chacina
nesse lugar.
Assim que o som das minhas últimas palavras, retumbou no espaço o
veículo começou a se mover. Fechei os meus olhos e vários pensamentos se
passaram em minha mente. De repente, senti um desconforto terrível,
inquieto abri os meus olhos e o carro novamente estava parado devido a uma
grande multidão que estava passando pela faixa de pedestres. Em questão de
segundos voltei meu olhar através do vidro do automóvel e avistei a
perfeição à minha frente.
Uma bela bambina, magricela por volta de quinze anos e mesmo com
a cabeça abaixada dava para notar que a sua beleza era estonteante a ponto
de deixar qualquer um embevecido, num estado de quase torpor. A menina se
encontra com dois potes de doces em suas mãos e no instante que o veículo
começou a se mover uma onda escaldante tomou conta do meu corpo, assim
que ela levantou a cabeça e pude avistar aqueles olhos brilhantes como
nunca tinha visto em toda a minha vida.
Capítulo 04
Dias atuais...
LORENZO
N ovamente acordo em um sobressalto. Meu coração estava acelerado.
Estremeci, de repente, com frio e somente um lugar poderia fazer com que os
demônios do passado me deixassem em paz.
Tentando freneticamente ignorar a sensação de desconforto, me
levantei e depois de alguns passos, parei em frente a parede. Levei uma de
minhas mãos até o concreto e assim que a parede se moveu adentrei ao
cômodo e logo comecei a descer a escada.
A cada passo era como se eu tivesse me arrastando, prolongando o
momento de chegar ao meu destino, assim como os pesadelos que assolavam
minha mente, desde que matei aquele infeliz. Depois do dia que marcou a
minha vida para sempre e despertou por completo algo diabólico que
habitava dentro de mim, perdi as contas de quantas pessoas já havia
assassinado, pois quanto mais eu matava mais ansiava por enviar uma maior
quantidade de almas ao inferno, porém, eu me lembraria da imagem daquele
que foi o primeiro para o resto da minha vida.
Deixo os devaneios de lado assim que parei à frente da porta do pior
lugar do mundo. Aquele onde você só sairá vivo se lutar contra os seus
piores medos e se caso se entregue ao momento de lucidez só terá um único
destino, a morte. Meus demônios logo se manifestaram no momento que a
porta do próprio inferno foi aberta."Room 101".

Manhattan – Distrito de New York.


Dia do aniversário de 18 anos de Mia.
MIA
Meus olhos se abriram quando ouvi vozes através da porta do meu
quarto. Um único pensamento surgiu em minha cabeça e com ele um sorriso
largo tomou conta da minha face. Será que finalmente eles se lembraram que
hoje é o meu aniversário?
Movida pela minha curiosidade, corri para o banheiro e minutos
depois já tinha feito minha higiene matinal e trocado de roupa. Deixei o
quarto rumo à sala e assim que entrei no ambiente, alguns pares de olhos
escuros olharam em minha direção mais no momento que o som da voz da
minha mãe preencheu todo o cômodo. Por uma fração de segundos a minha
respiração falhou, parecia que o tempo havia parado e nada se movia.
— Aqui está ela, pode levar essa imprestável. — Ela soltou uma
risada diabólica que ecoou pelas paredes do ambiente.
Nada daquilo fazia sentido. Mil pensamentos se fizeram presentes e
antes que o meu cérebro tentasse encontrar as respostas, pois esperava
desesperadamente que tudo isso fosse apenas um sonho ruim, dois dos
homens se moveram e caminharem em minha direção. Eu senti como se todo
o sangue do meu corpo tivesse sido drenado, causando arrepios em todo o
meu ser.
Não me dando chance de reagir, senti quando as mãos ásperas de um
deles segurou firme o meu braço e um grito devastador escapou entre meus
lábios.
— Nãooooooooo — supliquei desesperada.
Quando a mulher a quem sempre amei apesar de toda crueldade que
vem demostrando comigo, ouviu o som do ruído, deu alguns passos enquanto
o homem intensificou o contato contra o meu corpo, sendo assim comecei a
me debater pedindo para ele me soltar.
— Mãe eu não fiz nada — justificava já com os olhos cheios de
lágrimas, mas ela se deteve ao ficar à minha frente. Encontramos os nossos
olhares, seus olhos esverdeados fixos nos meus e tudo que via dentro deles
era um ódio que jamais havia percebido.
— Nunca mais eu terei que ouvir a sua voz irritante e olhar para o
seu maldito rosto. Por dezoito anos tive que suportar você e hoje eu estou
livre desse tormento. Eu não sou a sua mãe, não somos os seus pais e você
não passa de uma órfã, é simplesmente um nada.
Lágrimas escorreram pelo meu rosto enquanto o som daquelas
palavras me atingiram como se tivesse cravado algo no meu peito. Tanto ela
quanto o meu pai pareciam ter ganhado na loteria, tamanho era a felicidade
estampada em suas expressões e quando enfim sair do estado catatônico que
me encontrava, notei algo perfurando a minha pele e fui envolvida por uma
escuridão sem-fim.
Escutei alguns barulhos, meu corpo estava dolorido e meus olhos
pareciam grudados, mal consegui entreabri-los.
Respiro fundo e abro os meus olhos bem devagar e minha cabeça
dolorida começa a latejar e a vista enevoada. As lembranças recentes
surgem me causando uma sensação de mal-estar no estômago e o medo cruza
minha mente. De imediato meus olhos se abriram por completo e assim que
tentei me levantar, senti todo o meu corpo dolorido, mas toda minha atenção
se voltou para as mulheres à minha frente e principalmente para o som da
voz de uma delas que reverberou no ar.
— Bem-vinda a Luxuries.
— Eu quero sair desse lugar! — disse firme.
— Você precisa ficar calmar e fazer tudo que mandarem. Daqui a
pouco todas devem tomar banho e estar arrumadas, pois à noite aqui nesse
lugar é uma criança.
Engoli em seco. E não precisava ser muito esperta para saber onde
eu estava, já que o nome do ambiente e o jeito como estavam vestidas me
deram a confirmação. Embora a minha vida não tenha passado de uma
mentira eu não vou ficar aqui, para isso eles terão que me matar.
Horas depois...
Toda uma movimentação acontecia a minha volta. O som de várias
vozes se fizeram presentes, no entanto, permaneci sentada no chão,
encolhida, enquanto as mulheres andavam de um lado para o outro. O cheiro
de diversas fragrâncias impregnavam o lugar assim como a multiplicidade
de cores se fizeram presentes. O brilho e o luxo em excesso predominavam o
recinto, mas logo minha atenção se voltou para uma mulher, que possui cerca
de uns cinquenta anos, que surgiu no meu campo de visão.
— O que você está esperando para se arrumar?
— Se deseja tanto isso, terão que fazer a força. Pois não pertenço
a esse lugar e não vou sair daqui.
Sua expressão que era uma máscara fria, logo deu lugar a um largo
sorriso e novamente o som da sua voz repercutiu.
— Pobre criança. Quero todas vocês em cinco minutos no hall, já
você não será comigo que terá que mostrar toda essa determinação e sim
com o seu pior pesadelo.
Fiquei desorientada diante de suas palavras. Ela caminhou em
direção à porta e depois de alguns instantes, no lugar que antes estava
lotado, fiquei sozinha. Encolhi-me ainda mais e somente um pensamento se
repetia em minha cabeça.
"Seja quem for a pessoa que ela se referiu, ele e nem ninguém poderá
me obrigar a nada."
Capítulo 05
New York
MIA
M inha cabeça continuava latejando. As palavras que ouvi daquela que
sempre pensei que fosse a minha mãe, se reproduziam em minha cabeça
como se fosse um mantra. Sempre busquei dar o meu melhor, até porque
acreditava que eles só me tratavam daquela forma já que eu fazia tudo
errado. Embora cansada por passar a tarde toda sob o sol escaldante, eu
acordava cedo para ir para escola e sempre me esforcei para ter as melhores
notas, quando chegava o final de semana acreditava que poderia descansar,
no entanto, eles sempre diziam que precisávamos do dinheiro por isso em
vez de ir só na parte da tarde eu trabalhava os dois turnos.
Nunca passei fome, porém, jamais me foi permitido ter nenhum
brinquedo e ainda lembro-me da primeira vez que minhas mãos seguraram
uma boneca. Enquanto todos brincavam, eu não desgrudei um só minuto do
brinquedo da Alicia, e foi através da minha amiga que pude experimentar a
sensação de como era ter algo que para alguns, era somente um objeto, mas
que para mim, significava muito. Ela passou a levar todos os dias e assim
pude brincar. Contudo, apesar de toda falta de carinho eu era feliz por ter
uma família, entretanto, tudo foi uma mentira já que não passo de uma órfã
que nem os próprios pais quiseram e muito menos aqueles que só esperavam
o momento certo para se livrar de mim.
Não posso prever o futuro, mas nunca irei aceitar que meu corpo
sirva de mercadoria. Acabei por perder a noção do tempo que passou. Meus
olhos já estavam ardendo de tanto chorar, o barulho de uma melodia
ressoava no espaço e pelo visto a pessoa que aquela mulher se referiu deve
ter se convencido que não poderia me obrigar a nada. Deixei as lamentações
de lado e era hora de me levantar para sair desse lugar, eu que até então
estava com a cabeça abaixada, assim que um estrondo se fez presente,
levantei a minha cabeça a fim de verificar o motivo de tal barulho. Meu
coração parou de bater por uns segundos, um desconforto subiu pela minha
garganta e com isso ela se fechou de imediato, assim que meus olhos
encararam o homem que estava com uma expressão aterrorizante no rosto. O
maxilar estava rígido, suas pupilas dilatadas, as veias do pescoço estavam
saltando e os seus olhos avermelhados de ódio.
LORENZO
Passei boa parte da viagem grudado no meu notebook. Dessa forma
consegui resolver boa parte dos assuntos que estavam pendentes para hoje.
Quando enfim pisei em solo americano os meus homens já estavam me
aguardando.
Ao contrário das ruas de Nápoles. O povo desde lugar pareciam ter
um formigueiro em casa, pois as ruas estavam sempre com um enorme fluxo
tanto de pedestres como de veículos. Antes de deixar a Itália coloquei Pietro
sendo auxiliado por Dante, à frente de tudo. Mesmo que meu irmão sempre
tenha usufruído de todas as regalias que o dinheiro é capaz de proporcionar,
ele sempre se mostrou indiferente com os assuntos da máfia, pois ao
contrário do que fez comigo, o velho Enrico sempre fez de tudo pelo seu
filho amado fazendo vistas grossas para tudo que ele aprontava. Contudo,
chegou o momento de ele fazer jus ao sobrenome que carrega e ao contrário
do meu pai, farei dele um homem de verdade.
No entanto, mesmo se mostrando um irresponsável, ele é o único em
que posso confiar para ficar à frente dos negócios. Não por ser meu irmão e
ter o sangue dos Santoro correndo em suas veias, mas por ver através dos
seus olhos um brilho que há muitos anos deixou de existir nos meus olhos.
Deixo os pensamentos de lado assim que o carro se aproximou do desvio
que dava acesso à praça e bastou um comando para que o homem à frente do
volante seguisse adiante. Quando passamos pelo local meus olhos foram
direcionados para o lugar onde há anos conheci a dona dos olhos que jamais
saíram das minhas lembranças, embora tão bonita ela ainda era uma fedelha.
Eu cresci ouvindo em todos os anos de treinamento que somente uma coisa
jamais era permitida em nossa organização e apesar de todas as atividades
ilícitas, para mexer com o tráfico humano, todas as “vítimas” deveriam ser
maiores de idade.
A Luxuries, vem por anos dando lucros incalculáveis a nossa família,
porém, todas as mulheres que fazem parte da maior casa de luxo do país, são
maiores de idade. Algumas vieram pelo pagamento de alguma dívida já que
os malditos que tinham por pai com medo da morte entregavam a própria
filha como forma de pagamento. Outras pela ganância, por querer faturar uma
boa quantia em um lugar que o poder e a luxúria são predominantes.
— Chegamos, chefe!
O som da voz do meu motorista me arrancou dos meus devaneios.
Instantes depois, sai do veículo e pela quantidade de carros a casa estava
lotada. Em passos precisos andei em direção à porta principal e já dava para
ouvir o som vindo do ambiente, assim como alguns sussurros. Depois que
passei pelas portas duplas, observei o cenário adiante.
O lugar parecia àquelas festas de carnaval que existe no Brasil, os
homens por sua vez estavam muito diferentes do habitual e totalmente
entregues a luxúria se esbaldando de bebidas e rodeados por mulheres. Meu
olhar foi em direção a um grupinho em particular e logo avistei o milionário
Ricardo Miller, que ao contrário dos demais tinha uma expressão fechada de
quem estava insatisfeito, mas assim que estava indo ao seu encontro a voz da
mulher que surgiu em minha frente se fez presente.
— Boa noite, chefe. Temos um problema e por esse motivo Ricardo
está insatisfeito. Já havia informado que hoje teríamos uma novata, no
entanto, ela se negou a tomar banho e sair do quarto. Ainda confrontou-me
dizendo que não iria sair daquele lugar, como já estava previsto a vinda dela
desde que o seu pai nos avisou e não tínhamos ordens para toc...
Eu nem deixei que a mulher terminasse de concluir suas palavras. O
sangue em minhas veias estavam borbulhando tamanho era fúria que tomou
conta do meu corpo. Passos rápidos foram dados e como em piscar de olhos
parei em frente à porta, com um movimento brusco escancarei-a e ao ver a
imagem à minha frente o calor intenso me envolveu por completo, eu podia
sentir que meu rosto todo estava se contorcendo, meus olhos estavam
queimando, flamejantes, mas antes que eu tentasse fazer qualquer movimento
a infeliz que estava encolhida no chão levantou a cabeça e o que vi diante de
mim, fez tremores percorrerem por todo o meu corpo. Não...Não, ela não
pode ser a filha daqueles dois malditos traidores.
Meus olhos escuros encontraram aquelas órbitas azul-brilhantes. O
medo estava transparente em seu olhar, porém, assim que dei um passo à
frente a mulher de corpo frágil ficou de pé.
— Tire a roupa agora! — ordenei sem paciência.
No instante que o som da minha voz repercutiu no espaço um ódio
descomunal me envolveu por completo assim que a maldita atrevida retrucou
a minha ordem.
— Não! Eu vou dizer novamente eu não per...
Avancei em sua direção como se fosse algo sobrenatural, meu punho
encontrou sua mandíbula antes que ela terminasse a última palavra. Sua
cabeça foi jogada para trás e ela cambaleou enquanto o sangue jorrava entre
seus lábios, minhas mãos alcançaram o seu corpo antes que ela caísse ao
encontro do chão, em seguida a lancei em cima da cama.
Os olhos que por anos ficaram em meio as minhas lembranças agora
espelhavam o puro medo, com uma movimentação precisa minhas mãos
arrancaram a sua roupa e os gritos da mulher tanto de dor como de medo
ressoaram por todos os cantos do ambiente.
— Na... Não, por favor — implorou desesperada.
Aproximei minha boca da sua e passei a língua pelo sangue que havia
próximo a sua cavidade bucal. Ela não parava de espernear como se aquilo
fosse me deter, fiz uma trilha com a minha língua, passando pelo seu pescoço
até minha atenção ficar presa naqueles seios que foram feitos na medida
certa para minha boca.
Na primeira sugada a mulher começou a gritar ainda mais alto,
enquanto eu vibrava por dentro ao ver seu desespero, porém, um pensamento
surgiu em minha cabeça e imediatamente me afastei. Levei segundos para
analisar cada polegada do seu corpo despido e a certeza de que irei fazê-la
minha novamente se fez presente.
— Poderia agora mesmo te foder até que você não conseguisse mais
sentir suas pernas, mas tenho outros planos e preciso que continue virgem.
Mas da próxima vez que você questionar uma ordem minha, eu vou dar um
tiro em sua boca. Agora tome um banho que vou mandar alguém trazer algo
para você vestir.
Movi-me em direção a porta, com uma única certeza: que farei de
cada segundo da vida dessa desgraçada um verdadeiro inferno. E nada
melhor que tê-la presa numa gaiola chamada casamento.
Capítulo 06
Manhattan – Distrito de New York

MIA
N unca em toda a minha vida havia sentindo tanto medo. Quando aquele
homem avançou em minha direção, eu pensei que seria o meu fim e foi muito
maior que a dor que senti pelo golpe desferido que fez o sangue jorrar entre
meus lábios. Foi o pânico que me envolveu por completo.
Meu coração estava acelerado, meus lábios tremiam. Olhei
aterrorizada quando ele arrancou minhas roupas. Lágrimas e gritos se
fizeram presente, eu pedia desesperadamente para ele parar, mas o demônio
me ignorou e sua boca logo alcançou os meus seios.
Sempre fui uma sonhadora. Pensei que algum dia eu teria o carinho
dos meus pais e que quando chegasse a hora encontraria o homem com quem
teria uma família e nossos filhos iriam crescer cercados de tudo aquilo que
nunca tive "AMOR". Contudo, naquele momento o meu desespero era tão
grande, pois sabia que ele não iria só violar o meu corpo, mas sim os meus
sonhos que jamais se tornariam realidade.
Eu mais parecia uma ratinha debaixo daquele predador monstruoso.
Então ele parou do nada me deixando perdida com sua atitude. Assim que
ele se afastou, dois pares de olhos sombrios que pareciam sem alma se
voltaram em minha direção, não desviei o olhar nenhum minuto daquele ser
capaz de fazer tremores percorrerem cada centímetro do meu corpo, só
através do jeito como estava me olhando. Seu olhar ficou preso no meu
corpo desnudo como se ele estivesse memorizando cada detalhe e quando
ouvi novamente sua voz, minha respiração falhou, porém, após proferir suas
palavras ameaçadoras, caminhou em direção à porta, enquanto as lágrimas
escorriam pela minha face, espancada.
O meu corpo ficou imóvel em cima da cama e acabei perdendo a
noção de tudo ao meu redor. Segundos que logo foram substituídos por
minutos e minutos que pareceram uma eternidade, quando enfim consegui me
levantar além da dor no meu rosto a minha mandíbula emitiu um som assim
que abri a boca. Passos lentos foram dados em direção ao banheiro e
temendo que aquele monstro pudesse voltar, liguei o chuveiro e deixei que a
água morna caísse sobre a minha pele, assim que terminei fui em busca de
toalha. De banho já tomado e com o tecido enrolado em volta do meu corpo,
deixei o enorme cômodo que por sinal era muito luxuoso e bem maior que o
quarto onde dormi a minha vida toda.
Assim que entrei no ambiente havia roupas limpas em cima da cama,
aumentei o ritmo dos meus passos, com os objetos em mãos voltei para o
banheiro e tratei de fechar a porta com a chave. Quando já estava arrumada
ao retornar para o quarto a mulher que tinha visto mais cedo, aquela que não
mentiu em dizer que eu iria ficar de frente com o meu pior pesadelo. Aquele
que embora fosse o homem mais lindo que já tinha visto na minha vida,
duvidava que ele realmente tivesse um coração, surgiu em minha frente.
— Vamos! Não sei o que você fez, mas o chefe mandou que a
colocasse em um quarto separada das outras.
Ela se moveu em direção à porta eu não hesitei em segui-la, pois eu
darei um jeito para fugir desse lugar. No corredor dava para ouvir
claramente qual era a melodia que estava tocando, de dentro do quarto que
eu estava escutava apenas ruídos. Ela continuou andando e fiquei imóvel
decidindo qual direção me levaria para fora daquele inferno, no entanto, ela
nem precisou se mover um centímetro para descobrir o que eu estava
planejando, somente falou e continuou a se mover.
— Não adianta nem tentar fazer o que está pensando, se não for com
a permissão dele, daqui você só sairá morta.
Engoli em seco ao ouvir suas palavras, mas a única coisa que me
resta e a esperança e não importa o que eu tenha que fazer eu não ficarei
aqui. Assim como ela, continuei o trajeto e depois de algumas passadas ela
parou e abriu uma porta e ao contrário daquele quarto gigantesco de minutos
atrás com várias beliches, agora era um ambiente no tamanho normal e tinha
uma cama de casal e uma mesa de cabeceira ao lado. Olhei para cima da
cama e havia uma bandeja com comida.
Meus pensamentos foram interrompidos pelo som da voz da senhora.
— Entre!
Eu não tinha alternativa mesmo. No momento que passei pela porta e
dei alguns passos, me virei assim que a ouvi ser fechada. Trancada feito um
animal. Deixei as lamentações de lado assim que meu estômago começou a
se manifestar e segui até a cama. Em menos de vinte e quatro horas a minha
vida se transformou em um vendaval, porém, estava com muita fome e assim
que me acomodei comecei a comer.
Depois que terminei fui até o banheiro e encontrei uma escova de
dentes e creme dental, ambos lacrados, mas um só pensamento se fazia
presente em minha cabeça e por mais que tentasse não conseguia entender o
motivo de tanto ódio que vi naquelas órbitas diabólicas.

No dia seguinte...
Se afaste de mim. Não! Nãoooo...
Acordei em um sobressalto, o corpo banhado em suor e assim que
levantei a cabeça, meus olhos arregalados fixaram na imagem do homem que
estava me observando. Estremeci de repente, com frio e todos os pelos do
meu corpo estavam em pé.
Agindo por puro instinto me levantei em um pulo. O silêncio era
ensurdecedor em torno de mim eu só fiquei olhando para os seus gestos, ele
colocou as mãos no bolso e em seguida sua voz demoníaca ressoou no
espaço.
— Se arrume que vamos sair dentro de meia hora.
Antes que eu pensasse e dizer algo ele voltou a falar.
— Use a roupa que está sobre o móvel e assim que eu voltar, quero
encontrar você arrumada.
Quando ele sumiu do meu campo de visão, tratei de obedecer a sua
ordem. Corri para o banheiro e fiquei assustada quando olhei meu reflexo no
espelho. Tinha uma mancha roxa enorme próximo a minha boca.
Instantes depois já estava caminhando com ele pelo corredor e a
cada passo que eu dava meus pensamentos corriam em minha mente, com
isso o meu desespero aumentava pela expectativa do que poderá acontecer.
Depois de alguns passos, chegamos ao que parecia ser uma garagem. Havia
três carros pretos e um deles estava com as portas abertas. O ambiente à
nossa volta estava cercado por vários homens vestidos de preto e bem
armados.
— Entra logo no carro — ele ordenou.
Senti um nó preso em minha garganta, a minha vontade era ficar
parada no mesmo lugar, mas ao levantar a cabeça e ver aqueles olhos
cravados em mim, entrei de imediato no veículo. Durante o percurso me
mantive bem afastada dele, o silêncio se fez presente. Quando o automóvel
parou a porta foi destravada, antes de deixar o veículo ele disse:
— Vamos! — Assim que sai do carro, ele começou andar em direção
a um elevador e comecei a segui-lo. Já dentro da pequena caixa de metal, ele
levou o dedo em direção a um dos botões e o elevador começou a se mover.
Quando chegamos ao andar desejado por ele, a porta foi aberta, um calafrio
atravessou a minha espinha.
Desorientada, era assim que eu estava diante daquele ambiente e
fiquei ainda mais quando uma mulher vestida toda de branco e dois homens
empurrando uma maca surgiram à nossa frente. Quando a voz da mulher que
parecia ser uma médica reverberou no espaço. Todos os meus órgãos
começaram a funcionar freneticamente e recuei, porém, senti algo perfurar a
minha pele.
— Tudo já está pronto, mas como já havia informado. O ligamento
cirúrgico das tubas uterinas quando no seu êxito total, jamais poderá ser
revertido.
Capítulo 07
LORENZO
D e todas as coisas que aprendi quando era criança e nos treinamentos que
me foram infligidos tanta dor. Eu ainda tive a chance de não querer pertencer
a esse mundo sombrio, mas bastaram alguns minutos para que o meu destino
fosse traçado. Tirar a vida daquele a quem via como amigo me transformou
no que eu sou.
Se me arrependo? A resposta é não, eu escolhi mergulhar na
psicologia do mal e essa é a minha verdadeira essência. Eu não sou bom e
nunca pretendo ser, já matei muitos e vibrei com a morte de cada um. Por
anos eu fiquei com raiva do meu pai por ter permitido que a filha daquele
traidor continuasse viva, não sei se ele conhecia a verdadeira aparência
dela, mas jamais fiz questão de saber como estava à maldita fedelha, já que
cada fibra do meu ser se rebelava para matá-la. E sabendo que acima da
minha vontade estava a do chefão da máfia, tentei esquecer da sua existência.
No momento que a olhei naquele quarto, algo que só sentia quando
estava prestes a enviar alguém ao inferno aconteceu. Um duelo havia sido
iniciado dentro de mim, capaz de deixar minha pele em chamas, mas muito
maior que o desconforto que estava sentindo foi a lembrança de quem ela era
filha e quando a infeliz se atreveu a questionar a minha ordem. A adrenalina
bombardeou através de mim, fazendo-me avançar em sua direção, bastou um
golpe, que nem foi desferido com um terço da força do meu punho, para o
corpo frágil por uma fração de segundos não chegar ao chão.
A raiva me dominou e tudo que vinha em minha cabeça era que
daquele quarto assim que a possuísse de todas as formas possíveis, ela sairá
morta.
Minha boca trabalhava sobre os seus seios, sentindo sua pele macia
contra meus lábios, seu coração estava no ritmo acelerado e tremores
percorriam por todo o seu corpo. Mas assim que o momento de lucidez
pairou sobre mim, eu tive a certeza que seria pouco acabar com sua
miserável vida tão depressa e no instante que meus olhos percorreram
aquele corpo delicioso, me detive na sua face espancada.
Com os olhos cravados naqueles lábios carnudos, senti todo o meu
corpo fervilhar e sob o tecido da minha calça o latejar do meu pau era
insuportável, querendo se libertar da sua prisão e deslizar entre seus lábios
rosados.
Meus pensamentos eram tão conturbados que eu questionei minha
decisão de não possuí-la, porém, tudo tem o tempo certo para acontecer.
Depois de algumas palavras, deixei o cômodo e liguei de imediato
Elizabeth, para providenciar tudo para que hoje fosse feito o procedimento.
— Chefe!
A voz da mulher à minha frente interrompeu os meus devaneios.
Assim que nossos olhares se encontraram o som da voz dela entoou dentro
do ambiente.
— Podemos fazer o procedimento pelo umbigo ou uma mini
laparotomia, onde terá uma pequena incisão no abdômen que terá entre 5cm
a 8cm.
— Faça o que seja mais doloroso possível, após passar o efeito da
anestesia.
Toda uma movimentação ocorreu diante dos meus olhos. Quero que
essa desgraçada sempre tenha em seu corpo a marca para se lembrar do que
foi feito.
O tempo parecia que havia parado e quando enfim terminou e todos
deixaram o quarto me aproximei dela e meu olhar encontrou o seu rosto
pálido. Mia esse foi o nome que o meu pai mandou que fosse dado à mulher
a minha frente, e eu jamais correria o risco que em seu ventre o sangue dos
Santoro fosse misturado com o sangue daquele desgraçado. Isso é só o
começo de tudo que farei.
Há dezoito anos, Enrico interferiu no destino que eu havia traçado
para a criança que Soraya levou em seu ventre ao fugir, ele como líder da
nossa organização a manteve viva por todos esses anos, porém, ela agora
está sob o meu domínio e ao contrário do que fiz ao pai dela. Mia não terá
seu coração arrancado pelas minhas mãos e sim quebrado em vários pedaços
a fazendo sucumbir dia após dia.
Tudo já havia sido preparado para que ela fosse removida para o
bordel e assim que ela se recuperar iremos para Itália, pois será tempo
suficiente para providenciar toda cerimônia para o casamento e logo a
bonequinha que mais parece uma porcelana conhecerá o lugar que se tornará
o seu pior pesadelo.
Horas depois...
"Tudo ocorreu bem e ela só precisará manter repouso. E pelo
sucesso do procedimento, ela jamais terá uma criança em seu ventre".
MIA
A angústia consumia meu corpo e minha mente. Minha cabeça estava
pesada e por mais que eu tentasse abrir os meus olhos algo me puxava para
as profundezas do tormento que estava destruindo cada célula do meu ser.
Tudo que me lembro foi de ouvir sussurros ao meu redor que me levaram
direto para escuridão sem-fim.
As lembranças recentes surgiram, fazendo várias emoções aflorarem
dentro de mim, de maneira que eu nunca pensei ser possível e por mais que a
escuridão me puxasse algo me dizia para resistir. Um latejar insuportável
tomou conta de todo o meu corpo e um gemido alto saiu entre meus lábios.
— Hummmm.
Os sussurros que tinha ouvido antes se tornaram claros em minha
mente. Senti meu coração bater mais forte. O medo cru e agudo me envolveu
por inteira, meus olhos que pareciam estar grudados se abriram e ao me
mover sinto algo perfurando o meu braço e um incômodo forte em minha
barriga.
Assim que levei minha mão em direção ao meu ventre. O pânico me
dominou e no impulso minha mão começou a percorrer o tecido da minha
roupa até que levantei a barra da camisola que estava vestindo, revelando a
minha pele. E quando meus olhos ficaram cravados na imagem à minha
frente, um grito estrangulador saiu rasgando a minha garganta.
— Nãoooooooo.
Naquele momento eu senti que algo dentro de mim, havia se
quebrado para sempre. Lágrimas de dor e desespero se fizeram presentes,
uma dor que sucumbia não só no meu corpo, mas em minha alma. Destruída,
de tal forma que não consegui me mover e mesmo com a visão embaralhada
pelas lágrimas que escorriam cada vez mais grossas, mantive meu olhar
direcionado para um único lugar.
Não era um sonho, ali estava a prova que o meu corpo havia sido
violado sem a minha permissão. Sonhos foram roubados e jamais terei a
chance de ser mãe. De carregar no meu corpo o dom da criação e no coração
um amor que não conhece limites pela vida toda. De ter no colo o poder de
acalmar, no sorriso o poder de confortar.
Meu coração está cheio de dor. Entretanto, o meu corpo que até então
estava imóvel, logo foi tomado por uma adrenalina que corria em minhas
veias, pulsando através do meu sangue e se apoderando de cada polegada do
meu corpo ao ponto de fazer o meu coração dilacerado bater ainda mais
forte contra o meu peito, assim que um estrondo ecoou no espaço. Minha
visão afunilou aquela figura alta, vestido todo de preto que tinha a alma tão
sombria quanto o tecido em volta do seu corpo.
Ele deu alguns passos e parou à minha frente. Com o seu olhar
vidrado e frio lançado em minha direção. As expressões faciais sempre
revelam algo sobre a pessoa, mas ali parecia um corpo sem alma e tudo à
sua volta era uma escuridão. No entanto, assim que um esboço de um sorriso
surgiu entre seus lábios, tentei me levantar, mas as dores em volta do meu
corpo protestaram contra o meu movimento e gemidos saíram da minha boca.
Quando pensei que nada mais poderia me afetar. Ouvir as palavras
frias ditas por ele me fizeram sentir algo que jamais pensei que fosse capaz
"ÓDIO".
— Você deveria agradecer, porque o destino que foi traçado para
você não terá lugar para uma criança.
Capítulo 08
MIA
E u nunca esqueceria as palavras que saíram da boca daquele homem pelo
resto da minha vida.
— Você deveria agradecer, pois, o destino que foi traçado para você
não terá lugar para uma criança.
Meus batimentos estavam a mil, meu peito arfava e o ar se tornou tão
espesso que estava difícil respirar. Abri minha boca para dizer algo, mas a
sensação que eu tinha era que havia um pedaço de bolo preso em minha
garganta e nada passava por ela. Quando enfim achei que conseguiria falar,
fui interceptada e como se tivesse lendo minha mente, ele disse:
— Espero que sua recuperação seja a mais breve possível, pois a
sua nova vida te aguarda.
O homem que não fazia questão de deixar transparecer toda sua
crueldade se moveu em direção à porta, me deixando perturbada ao
confirmar que pessoas más como ele, fazem coisas ruins e monstros
realmente são reais, até porque eu estava nas garras do próprio demônio.
Puxei o objeto que estava fixado em minha pele, mesmo com
dificuldade e lutando contra as dores no meu corpo me forcei a levantar. Fui
praticamente me arrastando em direção ao banheiro e assim que entrei no
ambiente meu olhar ficou grudado no espelho à minha frente e quando
levantei a minha camisola. O reflexo me revelava a constatação de todo o
meu desespero.
Meus olhos novamente lacrimejarem e meus lábios tremiam com a
verdade que jamais o meu grande sonho se tornará realidade.

Duas semanas...
LORENZO
Enquanto as lágrimas rolavam pela face da maldita, meu corpo
inteiro vibrava ao ver todo o seu sofrimento. Fracos como ela, deixam que
os inimigos vejam o seu medo e isso se torna uma arma letal. Olhei
fixamente para Mia, deixando transparecer toda a minha indiferença com a
sua situação.
Durante esses últimos dias, eu providenciei tudo para que dois dias
após nossa chegada, a cerimônia fosse realizada. Ainda lembro-me da
reação de todos, quando através de uma videoconferência com o conselho da
nossa organização, comuniquei os meus planos.
Como eles não têm conhecimento do verdadeiro destino que Enrico
deu a criança que aquela desgraçada tinha em seu ventre, eles desconhecem
a existência de Mia Ferrari e por enquanto deixarei que todos continuem a
pensar que a bastarda foi morta com aquela traidora.
Todos ficaram em festa com a notícia dada, já que muitos
acreditavam que isso jamais iria acontecer. Para ser dono da porra toda não
precisava me unir a alguém que só me teria serventia para abrir as pernas.
Sexo eu sempre tive e na minha vida não tem espaço para sentimentos tolos,
principalmente esse que chamam de amor, ele leva os homens mais fortes a
conhecer suas fraquezas. Todavia, o ódio que sinto pela infeliz é tão
imensurável que nada me dará mais prazer que tê-la ao meu lado.
Eu serei aquele que levará Mia mil vezes ao inferno e a sua
perdição, mas somente eu poderei trazê-la de volta e dar a ela a chance de
entregar a mim a sua alma ou permanecer para sempre nas profundezas do
inferno.
Ao contrário dos membros da máfia, minha mãe teve uma reação
totalmente contrária, acredito que na sua cabeça ela pensou que eu iria ter
algo com a oferecida que ela tem por sobrinha. Não que Antonella, não seja
dona de uma beleza estonteante e curvas perfeitas, mas nada comparado com
a da infeliz que além daquelas bolas gigantescas azuis que fazem o contraste
perfeito com o formato da sua face, Mia tem uma beleza exuberante e
aparência de um anjo.
No entanto, como diz o velho, ditado beleza não se põe mesa. Deixei
os devaneios de lado e uma risada horripilante ressoou no espaço. Em
passos largos andei em direção à porta.
"Chegou o momento de revelar a noiva sobre o seu casamento".

Instantes depois...
MIA
Os minutos deram lugar a horas e elas se tornaram dias. Cada parte
de mim, estava dilacerada e as dores do meu corpo haviam passado, mas a
da minha alma era infinita. As únicas pessoas com quem tive contato nos
últimos dias foram com uma enfermeira e Sarah, uma das meninas que foi
encarregada de trazer minhas refeições.
O demônio que acabei por descobrir que se chamava Lorenzo, não
voltou ao quarto desde o dia que proferiu aquelas palavras se achando um
Deus para decidir o destino das pessoas. Fora poucos os minutos, porém,
sempre conversava com Sarah e quando questionei se assim como eu ela
havia vindo parar nesse lugar contra sua vontade eu me surpreendi com sua
resposta.
Ela me contou que veio por livre espontânea vontade. Depois que sua
mãe morreu e o ver sua família passar necessidade viu aqui a oportunidade
de conseguir tudo que sempre desejou. Havia um brilho intenso em seus
olhos e eu nunca tinha cogitado que alguém poderia ser feliz ao ter o seu
corpo exposto como uma mercadoria, no entanto, todo o meu corpo ficou
rígido quando ela disse algo semelhante às palavras ditas por aquele ser
monstruoso, que de todos os males eu não iria correr o risco de acontecer
comigo o que muitas delas acabaram tendo que fazer quando o método
contraceptivo que faziam uso apresentou falhas e vieram a fazer um aborto.
Eu estava tremendo, pois eu vi frieza em meio as suas palavras
enquanto, por outro lado, quando falou de todo conforto e o dinheiro que já
havia ganhado, além do sorriso visível em sua face novamente seus olhos
pareciam duas bolas de gudes cristalinas que não paravam de brilhar.
Deixo os meus pensamentos de lado e meus pés arrastam-se pelo
chão, me levando para o banheiro. Apesar da pele pálida, fisicamente a
minha aparência já não é tão horrível como alguns dias atrás. A vida parece
estar fluindo através de mim novamente, pois eu passei momentos terríveis e
achei que não iria suportar, porém, em meio a tanta dor não poderia desistir
de viver.
A vida é uma dádiva e não seria certo deixar que a maldade de
Lorenzo me levasse ao limite da minha lucidez a ponto de atentar contra a
minha própria vida. Dando a ele o gosto da vitória, todavia, ele destruiu os
meus sonhos e embora tenha muito medo dele nada que venha a fazer agora
poderá ter um efeito tão grande como a dor de ter me aleijando por dentro.
De banho tomando, passei a toalha em volta do meu corpo e em
seguida deixei o cômodo em busca de algo para vestir. Assim que adentrei o
ambiente, meu pulso acelerou eu tive a sensação que meu coração estava na
minha garganta de tão alto que eram os batimentos. Nossos olhares se
encontraram e dentro das órbitas sombrias eu vi um brilho que nunca tinha
visto antes. Seu olhar malicioso direcionado para o meu corpo que estava
envolvido pela toalha, me fez sair do estado de torpor que me encontrava e
assim que dei um passo para trás, ele avançou em minha direção e antes que
eu chegasse até à porta, senti suas mãos ásperas enlaçando a minha cintura.
Um desafio silencioso foi lançado. Embora estivesse tremendo feito
uma vara verde quando ele colou o meu corpo junto ao seu e no momento
que aproximou sua boca do meu rosto eu senti coisas que jamais soube que
existia, assim que uma onda de calor atravessou cada polegada do meu ser.
Ele parecia estar travando uma luta interna, mas o barulho que antes era
somente da nossa respiração e as fortes batidas do meu coração, logo deu
lugar ao som das palavras que nem no meu pior pesadelo eu achei que iria
ouvir, fazendo meu sangue congelar.
— Agora que você já está melhor. Amanhã iremos à Itália e em dois
dias será o nosso casamento.
Capítulo 09
Manhattan – Distrito de New York.

MIA
U m choque completo e total passou por mim. Eu pisquei algumas vezes,
instantaneamente desejando que não tivesse ouvido aquilo. Meu estômago
revirou e fiquei ainda mais horrorizada ao ver a expressão fria estampada no
rosto do homem, que parecia ter o coração de gelo e os olhos tão afiados
como o de uma águia. Mas eu já estava no último fio do meu limite e não iria
aceitar tal disparate. Encarando aqueles olhos sombrios o som da minha voz
entoou a sua volta.
— Eu não vou viajar e muito menos casar com você.
Toda minha autoconfiança desapareceu no ar assim que sua
mandíbula travou e seus olhos escuros refletiam nada além de uma intensa
raiva e frieza. Engoli em seco e senti meu rosto ficar branco de pânico
quando as mãos do demônio do Lorenzo, na velocidade de um
raio começaram a percorrer toda extensão da parte superior do meu corpo.
A partir do meu quadril, passando pelos meus seios, fazendo
sensações perturbadoras pairarem sobre mim. E sem mais delongas agarrou
o meu pescoço e um ruído alto saiu da minha boca e em seguida o som da
sua voz demoníaca chamou minha atenção.
— Você quer morrer? — o demônio me ameaçou.
— Você já conseguiu matar boa parte de mim. Prefiro morrer a casar
com voc...
Antes que eu terminasse de formular minhas palavras ele intensificou
o aperto em volta da minha garganta. Meu peito arfava, eu estava sufocando
e minhas pupilas estavam cheias de medo. Lágrimas começaram a encher
meus olhos e o sangue nas minhas veias congelou quando escutei sua voz
cruel.
— Da sua boca eu jamais voltarei a ouvir a palavra não. Você vai
casar comigo ou se tornará uma puttana muito pior que todas desse lugar, eu
farei de tudo para que todas as noites todos os clientes possam estar enfiados
entre suas pernas. Me certificarei que você sofra em seu próprio corpo o que
é realmente uma crueldade.
Seus dedos apertaram mais meu pescoço, me fazendo ofegar por ar.
Comecei a tremer incontrolavelmente e por instinto fechei os meus olhos e
quando abrir novamente Lorenzo, jogou-me com força ao chão, fazendo
minha cabeça bater no concreto. Um gemido alto de dor escapou entre meus
lábios. Minha visão ficou turva por alguns segundos e tudo perdeu o foco.
Como se nada tivesse acontecido, ele colocou as mãos nos bolos e
começou a caminhar em direção à porta e antes de deixar o ambiente se
virou novamente em minha direção e disse friamente antes de sair do quarto.
— Seja uma boa menina, pois até agora só te mostrei o meu lado
bom, então não volte a questionar novamente uma ordem minha ou saberá
realmente o que é sofrimento.
Senti uma aura sombria, acrescentando uma sensação de frio ao meu
redor. Eu não irei suportar ficar nesse lugar e só em pensar nas palavras
ditas por ele, sinto uma dor aguda no coração, como se uma agulha estivesse
pressa nele. De um lado me tornar a esposa de um homem frio que por trás
do rosto perfeito não mostra expressão e esconde um perigo oculto, por
outro me tornar um objeto a ser usado por todos como se fosse um pedaço de
carne que eles poderão devorar até saciar sua vontade.
Fiquei parada como se estivesse congelada no chão. Minha cabeça
estava a mil, eu só queria acordar desse pesadelo e ir para bem longe de
tudo isso. Estava tão absorta em meus próprios pensamentos que só deixei
de lado quando a porta foi aberta e a mulher de estatura mediana, cabelos
lisos, levemente ondulados, usando um vestido tão curto que parecia uma
blusa surgiu no meu campo de visão. O silêncio que antes era ensurdecedor
foi quebrado pelo som dos seus passos e logo depois da sua voz.
— Mia! Trouxe a sua comida — ela estreitou os olhos e mesmo
tentando esconder a expressão curiosa em saber o porquê eu estava jogada
ao chão, não conseguiu ficar de boca fechada.
— Está tudo bem com você? — pergunta visivelmente curiosa.
— Sim, só acabei escorrendo e já iria me levantar — esclareço
como se não fosse nada importante.
Instantes depois quando eu já estava sentada na cama a voz dela
novamente reverberou no espaço.
— Você deve estar muito feliz — fiquei confusa com suas palavras,
mas a mulher logo tratou de concluir sua frase.
— Qualquer uma de nós daria até um rim para ter a atenção daquele
Deus grego — confessou como se fosse a melhor coisa do mundo, pois seus
olhos brilhavam a cada palavra.
— Ele é um monstro! — protestei de forma rude.
— Pode até não ser um príncipe dos contos de fada, no entanto, é
lindo, gostoso, rico e o chefe da maior máfia do mun..
Meu coração começou a bater no ritmo frenético. De repente as
feições dela mudaram e todo o seu corpo ficou rígido, certamente por
perceber que havia falado mais que o permitido e quando eu abri a
minha boca, como se lesse os meus pensamentos ela se antecipou.
— Eu preciso ir. Tenho que ajudar as outras. — Sarah rapidamente
andou em direção à porta e sumiu do meu campo de visão.
Eu estava incrédula e as suas últimas palavras se repetiam em minha
cabeça incansavelmente.
"O chefe da maior máfia do mundo."
Tudo começou a fazer sentido, pois atrás da bela aparência, existe
um ser que representava todo lado sombrio da natureza humana, mas aqui
nesse lugar luxuoso estava cheio de ganância e só via desesperança, dessa
forma não terei nenhuma possibilidade para fugir.
Se Lorenzo que casar comigo certamente deve sentir alguma coisa
por mim... Um pensamento ficou fixo em minha cabeça e a única chance que
tenho é aceitar ir com aquele demônio, porque só assim eu poderei me livrar
de tudo isso.

No dia seguinte...
Acordei logo nas primeiras horas da manhã. Para ser bem sincera eu
mal consegui fechar os olhos, imaginando como seria hoje.
Eu ainda tentei dormir, porém, era inevitável não pensar em tudo que
aconteceu em tão pouco tempo em minha vida. Logo nas primeiras horas da
manhã a senhora que me trouxe para esse quarto entrou no cômodo com
Sarah e trouxeram duas malas cheias de roupas, desde peças íntimas até
vestidos que jamais sonhei que algum dia iria ver à minha frente. Segundo o
que ela falou será dessa forma que irei me vestir, pois era o tipo de roupa
que usam na Itália.
Como a viagem seria só na parte da tarde e já com medo que o ser
furioso não me encontrasse pronta. Tratei de me arrumar logo após o almoço
e ainda tive tempo para me despedir de Sarah, mesmo sendo o oposto de
mim, ela me ajudou muito nesses últimos dias. Lorenzo no horário exato foi
até o quarto onde eu estava. Deixamos o lugar e depois de alguns minutos já
estamos dentro de um avião, quando o mesmo estava perto de decolar o
medo me dominou e fiz de tudo para fechar os meus olhos, pois meu coração
batia tão forte que parecia que a qualquer momento iria sair do meu peito.
Meu pânico era tão grande que acabei caindo no sono profundo.
Acordei atordoada quando ele me chamou avisando que já havíamos
chegado. Olhei pela janela e me assustei ao constatar que já era noite.
Minutos depois, nos levantamos e caminhamos em direção ao corredor que
dava acesso à saída. Quando chegamos à pequena escada vários veículos já
estavam a nossa espera e assim como ele, desci os degraus indo em direção
ao automóvel que estava com as portas abertas.
Eram poucos os faróis de carro que brilhavam nas ruas. As grandes
construções e as luzes vindas através das faixadas de vidro acabavam
criando um cenário noturno lindo e admirável. Nervosa, com as mãos suando
era dessa forma que eu estava e quando o carro parou toda minha agonia só
aumentou.
— Vamos!
Tentei me acalmar respirando fundo, inspirado e expirando
lentamente. Saímos do carro e se antes meu coração já estava batendo
rapidamente, só piorou quando ele segurou a minha mão e sua voz rígida
soou.
— Coloque um sorriso no rosto e só fale quando eu permitir.
Ele começou a me puxar em direção a enorme porta. Minha mão que
estava livre tremia enquanto caminhamos em direção à entrada principal,
quando chegamos próximo à porta dourada assim que entramos na sala,
todos os olhares se voltaram em nossa direção, mas dois pares de olhos em
especial ficaram cravados em mim e pela expressão fria em suas faces.
"Ali eu tive a certeza que tinha feito à escolha errada”.
Capítulo 10
MIA
P aralisada, sobre os diversos olhares afiados e curiosos lançados em
minha direção. Algumas dezenas de homens presentes no ambiente. Havia
duas mulheres, uma jovem e outra que aparentava ter uns 60 anos.
A expressão no rosto das duas mostrava que eu não era bem-vinda
nesse lugar. No entanto, ao contrário da mulher mais velha o olhar frio e
firme da loira à minha frente me fez sentir uma energia poderosa carregada
de sensações ruins. O silêncio predominava no ambiente, estava ficando
incomodada com o jeito que alguns homens dentro do cômodo estavam me
olhando e mesmo tentando disfarçar pelo visto Lorenzo também percebeu já
que em seguida a calmaria foi quebrada pelo som da sua voz que soou no
espaço.
— Gostaria de apresentar a todos a futura senhora Santoro, Mia
Ferrari.
Depois das palavras proferidas pelo homem que segurava firme a
minha mão. Eu estava perdida em meio a tantas pessoas que não conhecia,
ele me apresentou a vários homens presentes que me analisavam com um
olhar de aprovação. Nem nos meus piores pesadelos eu cogitei estar cercada
por criminosos que assim como Lorenzo, tinham uma alma sombria.
Meus pensamentos foram interrompidos quando as duas mulheres
acompanhadas de um homem muito afeiçoado diminuíram a distância e
vieram em nossa direção.
— Mia, esses são Pietro meu irmão, Graziela minha mãe e Antonella
minha prima, que está passando um tempo conosco.
— Benvenuto! Você é una bella donna. Não foi à toa que meu filho a
escolheu.
Embora não tenha entendido de início o que ela disse, pelas suas
últimas palavras, sabia que não era algo ruim. Eu não sabia se devia dizer
algo, mas assim que senti um aperto mais intenso em minha mão aquilo me
incitou a falar.
— Obrigada.
— Seja bem-vinda, cunhada — disse Pietro com um sorriso largo no
rosto. Não sei explicar, mas gostei dele, porém, como em um piscar de olhos
a expressão dele logo ficou séria.
Antonella também me deu as boas-vindas, mas não senti sinceridade
em nada tudo que ela havia falado e o jeito como olhava para Lorenzo, com
o brilho intenso em seu olhar. Mesmo não sendo a pessoa mais experiente do
mundo estava claro que ela não o via só como um primo.
Nos instantes seguintes o ambiente se transformou no palco de uma
verdadeira comemoração, principalmente quando o monstro que não soltava
a minha mão, no instante que a dona Graziela anunciou que o jantar seria
servido. Pediu atenção de todos e sem delongas, após dizer algumas
palavras que eu nem sabia o significado levou uma das mãos no bolso e
puxou uma caixa pequena preta e dentro continha um anel com um enorme
diamante.
Eu passei o resto das horas seguintes com o olhar direcionado para
aquele objeto brilhante em meu dedo e depois que todos os convidados
foram embora. Lorenzo me puxou em direção à escada e já no corredor o
homem bipolar soltou a minha mão e quando paramos em frente a uma porta,
ele a abriu e mandou que eu entrasse no cômodo. Aquele seria o quarto em
que eu iria ficar até o dia do casamento, após proferir suas palavras ele
sumiu do meu campo de visão.
Dois dias depois...
Quando é para algo bom acontecer, parece que o tempo simplesmente
passa na velocidade de uma tartaruga, mas quando é para algo ruim, o tempo
passa como um foguete. Fora os dois dias mais rápidos que já vivi e agora
estou eu aqui em frente ao espelho, olhando para o reflexo de uma Mia,
completamente vestida de um jeito que nunca imaginei.
Não nego que a imagem à minha frente demonstre muita opulência e
esplendor. Entretanto, jamais imaginei que o dia que sempre sonhei em estar
vestida como uma princesa com um belo vestido branco, hoje se tornaria
realidade, no entanto, estaria casando com o homem por quem sinto somente
rancor e vestida com a cor que representa a alma desse ser que em pouco
dias conseguiu trazer o caos a minha vida. Por alguns segundos, fecho os
meus olhos e as lembranças do dia que ele entrou no quarto com um enorme
embrulho em suas mãos, surge em minha mente.
— Você está linda — elogiou dona Graziela, enquanto a costureira
fazia os últimos acertos.
— Obrigada — Realmente o vestido era muito lindo, além de branco
é todo trabalhado em rendas italianas feitas com fios de prata. Minha atenção
que até então estava cravada no espelho voltou-se para a mulher de voz
enjoativa que ecoou no espaço.
— Ainda não entendi o que levou o chefão da máfia a querer casar
com você?
— Antonella! Isso só diz respeito ao meu filho. Se ele escolheu Mia,
para ser a sua esposa, certamente tem os seus motivos.
Antonella era o tipo de pessoa que não conseguia conter a língua
dentro da sua boca e suas palavras só me deu a confirmação que realmente
ela gosta dele como mulher e não como prima.
— Tia não podemos fechar os nossos olhos. Pelo comportamento
dela durante as refeições, onde mal tocou na comida e parece sempre estar
impressionada com tudo à sua frente. É claro que não pertence ao nosso
círculo soci...
Antes que ela terminasse de me atacar com as suas palavras a porta
foi aberta, revelando uma figura com expressão indecifrável, segurando um
enorme embrulho em suas mãos.
— Figlio! Você não pode vê-la vestida de noiva antes do casamento.
Lorenzo, ignorando as palavras da sua mãe. Deu alguns passos e sua
voz ríspida ecoou no ambiente.
— Respondendo à sua pergunta, Antonella. Justamente por ela não pertencer
a tudo isso que foi a minha escolhida. E se não deseja voltar antes do tempo
para Sicília te recomendo a não se intrometer em assuntos que não é dá sua
conta. Quanto a você mamma, já sabe que mesmo sendo a matriarca. Mia,
será a minha esposa e o que isso representa perante a famiglia.
Ele se virou em minha direção e novamente voltou a falar.
— Mandem jogar esse vestido no lixo. Todo esse branco é
deplorável.
Ele estendeu a caixa em direção a costureira e logo deixou o
ambiente.
— Mia!
O som da voz da mulher que daqui alguns minutos se tornará a minha
sogra me fez sair dos meus devaneios.
— Vamos!
Em passos trêmulos segui ao lado dela em direção ao hall, onde
todos estavam aguardando para dar início a uma cerimônia a qual não era da
minha vontade. Eu estava prestes a me tornar a esposa do algoz que destruiu
todos os meus sonhos e a cada instante eu via que a esperança de ser livre
estava cada vez mais distante.
Capítulo 11
Nápoles – Itália
MIA
O casamento será realizado no grande salão da própria mansão, que era
grande o suficiente para fazer a cerimônia. Assim que chegamos à escada,
todos os olhares caíram sobre nós. Dirigi meus olhos para o homem à minha
frente e Lorenzo estava como sempre impecável. Com o terno azul e os
cabelos bem alinhados.
Desci os degraus e após me livrar do último, ele logo estendeu sua
mão para que eu a pegasse. Entre sussurros ele disse.
— Você já sabe que qualquer gracinha que fizer, hoje mesmo te
enviarei para aquele bordel. E você terá uma bela recepção.
Engoli em seco e ao seu lado caminhei em direção ao homem que
será o responsável por realizar a cerimônia. O silêncio prevaleceu no
ambiente por alguns minutos, porém, logo foi suspenso quando a cerimônia
foi iniciada.
— Boa noite a todos. Vocês foram convidados para compartilhar este
momento com Mia Ferrari e Lorenzo Santoro. Pois o casamento é a união,
uma caminhada rumo ao futuro e fui escolhido como anunciante desta boa
nova...
Durante as palavras proferidas por ele, era como se todo um filme
estivesse passando diante dos meus olhos, desde o primeiro momento que
aqueles que acreditava ser meus pais começaram a me agredir verbalmente
até o pior dia da minha vida, onde descobri que jamais terei um filho.
Afasto as lembranças quando as palavras dele foram dirigidas a mim.
— Senhorita Mia Ferrari, aceita Lorenzo Santoro, como seu legítimo
esposo, para amá-lo, respeitá-lo, ser fiel na alegria, na tristeza, na saúde e na
doença, enquanto dure?
Um silêncio terrível envolveu por completo o recinto. Um nó
gigantesco trancou minha garganta, eu já estava sufocando, porém, quando
senti o contato da mão dele, na minha se intensificar e meu olhar ficou
grudado naqueles olhos tenebrosos. O olhar que ele me lançou fez todo o
meu corpo estremecer. Rapidamente a saliva presa desceu rasgando a minha
garganta e a resposta saiu de imediato.
— Sim.
— E assim, tendo testemunhado sua troca de aliança diante de todos
que estão aqui hoje é com grande alegria que declaro que vocês estão
casados.
— Pode beijar a noiva — anunciou o celebrante.
Quando os convidados começaram a bater palmas, ele sem cerimônia
alguma, tomou a minha boca num beijo avassalador abalando todas as
minhas estruturas. A princípio o beijo é lento, quase casto, porém, à medida
que ele se apossa dos meus lábios, intensifica o contato, até que mergulha em
minha boca em um beijo vigoroso, me roubando a alma. Todavia, quando sua
boca deixou a minha, meu coração estava batendo em minha garganta, e
fiquei em choque ao ouvir as palavras que me fizeram arregalar os olhos.
— Não vejo a hora de você saciar o seu marido na cama.

Horas depois...
Nunca em toda minha vida fiquei tão nervosa quanto agora. Um
imenso nó se formou em minha barriga pela expectativa do que acontecerá
nesse quarto. Embora, sabendo que havia me casado com um monstro, ainda
tinha esperança que ele não fizesse desse momento mais uma terrível
lembrança.
Depois da cerimônia e de toda bebedeira e comilança, quando todos
foram embora eu vim para o quarto que é tão enigmático quanto o dono. As
gravuras nos quadros as cortinas vermelhas, tudo era bem confuso. Depois
que tomei o meu banho, já estava vestida com uma camisola branca que
minha sogra havia me dado de presente, ele entrou no quarto e quando
nossos olhares se encontraram mandou que eu retirasse a minha roupa e
seguiu em direção ao banheiro.
Minha atenção se voltou para porta à minha frente assim que o
motivo da minha agonia surgiu no meu campo de visão. Meu olhar fixou na
imagem do homem que acariciou o seu membro ereto, grosso e agigantado.
Embora nunca tenha visto um homem adulto nu, o tamanho do membro dele é
descomunal para um ser humano.
Ele caminha em minha direção sem desviar seus olhos perspicazes
de mim, meu coração bate tão forte que parece que logo me abandonará e
sairá pela minha boca. Lorenzo se detém, encarando-me sem piscar, a
energia que ele irradia é bruta e só em pensar na ideia de estar ao seu lado,
respirando o mesmo ar que ele e que daqui a alguns minutos, estarei me
entregando a ele, fez meu estômago revirar.
Ele dá dois passos e me agarra de imediato, trazendo-me para perto
si. Pressionando meus seios contra seu tronco e a sua boca contra a minha
garganta, enquanto suas mãos ávidas seguravam firme as minhas nádegas.
Um ruído saiu entre meus lábios quando uma de suas mãos se afastou
e o golpe foi dando contra a minha carne, ao ouvir suas palavras o meu
nervosismo só aumentou.
— Que bundinha durinha. Não vejo a hora de ter o meu pau todo
enfiando dentro dela — Lorenzo murmura próximo ao meu ouvido.
Eu estava tão impactada diante de suas palavras, mas logo voltei a
minha lucidez quando sua boca faminta pressionou a minha e sem cerimônia
ele me beijou. Seus lábios massacrando os meus, enquanto sua língua
explorava minha boca no beijo que só estava me machucando.
Seu membro endureceu e cresceu ainda mais, roçando a minha
barriga. Sinto o ar me faltar e quando ele parou o beijo, antes que eu tenha
qualquer outra reação, me ergue tirando os meus pés do chão, carregando-me
até à cama. Seu corpo grande e musculoso me pressiona sobre o colchão.
Uma de suas mãos alcançou a minha intimidade e Lorenzo voltou a me beijar
novamente no mesmo instante que seus dedos começaram a acariciar o meu
clitóris, senti meu corpo todo estremecer. Com um calor desconhecido que
atravessou o meu corpo me deixando totalmente atordoada.
Seu pênis quente pulsava em cima da minha barriga e por uma fração
de segundos eu pensei ter visto dentro daquelas órbitas que sempre estavam
vazias o mais puro desejo, porém, sua expressão logo mudou e as palavras
que eu ouvir em seguida, fizeram o medo cru e agudo atravessar o meu peito,
provocando ondas de tremores por todo o meu corpo.
— Vire de bruços — ordenou ao afastar o seu corpo do meu.
O encaro com os olhos arregalados quando a lembrança do que ele
tinha dito minutos atrás surgiram em minha mente. Movida pelo meu
desespero minha voz logo preencheu o espaço.
— Não.
Sua mandíbula travou e naquele momento o pânico me dominou por
completa. A única coisa que passa na pela minha cabeça era levantar e sair
correndo para bem longe. Sinto suas mãos fortes segurarem meu quadril e em
um movimento brusco ele me virou.
— Você vai aprender do modo mais difícil a jamais dizer NÃO,
quando eu te der uma ordem.
Medo! Pânico! Desespero! Um misto de sensações ruins se fizeram
presentes. Meu coração parecia estar batendo na garganta, enquanto a mesma
parecia estar seca e poderia facilmente ser considerada com uma lixa. De
repente, sinto a cabeça dilatada do seu membro entre as dobras da minha
bunda. Olho para trás e vejo seu rosto completamente transfigurado.
— Por favor!
Um grito horripilante, me rasgando por dentro saiu da minha boca
quando sem permissão. Ele me penetrou por trás, firme e entrando tudo de
uma só vez. Sinto minha pele queimar ao ser obrigada a se expandir para
receber toda aquela monstruosidade. Lágrimas começaram a escorrer pelo
meu rosto, podia ouvir os ruídos de minha carne sendo esfolada.
Seus quadris começaram a se mover e estocadas violentas foram
dadas contra o meu traseiro. A dor era insuportável, parecia que eu estava
sendo rasgada ao meio, era como se várias agulhas tivessem sido encravadas
em minha pele.
O atrito do seu membro grosso entrando e saindo sem parar, estava
me levando ao limite da minha resistência. Suas investidas eram constantes e
inabaláveis. Quando segurou firme em meus cabelos, ele começou a ranger
os dentes e sons guturais saíram de sua garganta, parecendo um animal
raivoso.
Eu sentia que a qualquer momento a escuridão iria me envolver, pois
aquilo não parecia ter fim. Quando achei que não iria mais suportar, um
barulho alto saiu dos seus lábios dele, no mesmo momento que senti algo
melado ser derramado dentro de mim. Meu corpo desabou quando ele se
afastou de mim, porém, quando achei que nada poderia ser pior, senti sua
respiração quente próximo do meu rosto e o som da sua voz me deixou
petrificada.
— Tinha certeza que essa bundinha era deliciosa e se tornará o
segundo lugar para saciar os meus desejos. Agora se prepare que chegou a
hora da melhor parte.
"Bônus 02"
Nápoles – Itália
LORENZO
C onvidei todos os membros do conselho, para estarem presentes no jantar
que minha mãe havia organizado, para nossa chegada. Quando passamos
pela porta dupla, a sala que estava repleta de pessoas e com vários sussurros
ecoando no ar, porém, ao perceberem a nossa chegada o silêncio se fez
presente e todos os olhares se voltaram em nossa direção, para ser mais
claro para a mulher ao meu lado.
Mesmo tentando disfarçar alguns olhares maliciosos foram lançados
em sua direção. Embora sinta um ódio mortal pela infeliz, não posso deixar
passar despercebido que qualquer um ali por não saber quem ela realmente
é, faria tudo para ter uma ragazza como ela para satisfazer todos os
pensamentos obscenos que passam em sua cabeça.
No entanto, ela é minha propriedade e como tal. Ninguém além de
mim, tocará em um fio de cabelo da infeliz. Se isso vier acontecer, eu não
irei hesitar em enviar quem seja ao inferno. Pela expressão dela, sabia que
estava constrangida com toda aquela situação, bastou o som da minha voz
chamando a atenção de todos, para que toda uma movimentação ocorresse ao
nosso redor.
Como eu já havia cogitado, o meu irmão já estava com seu melhor
sorriso estampado no rosto. Mas assim que nossos olhares se encontraram,
ele já sabia o que deveria ser feito e o seu rosto se transformou numa
máscara fria. Os momentos que sucederam a nossa chegada até hoje foram
para resolver tudo que faltava para a cerimônia. Sabendo que mamma havia
providenciado o vestido, tratei de me antecipar, pois toda a luz refletida
naqueles olhos gigantes terá que ser substituído pelas trevas, assim como a
sua alma será envolvida pela escuridão.
Chegava a ser irônico, pois aquele infeliz do Antony certamente
estava se contorcendo de raiva no inferno por saber que sua bela filha agora
seria uma marionete em minhas mãos. Que o homem que arrancou o seu
coração estaria prestes a roubar a inocência da filha que nunca chegou a
conhecer. Como também será aquele que a levará para beira do abismo.
Abstinência sexual, definitivamente, é algo com que não estava
acostumado, mas nos últimos três dias depois que deixei o bordel, acabei
direcionando toda a minha atenção para os assuntos da nossa organização.
Depois de a cerimônia e de tomar banho. Deixei o ambiente, indo em
direção ao quarto. Muito ao contrário do que pensei anos atrás, a existência
dela teve alguma serventia, além de acalmar os meus demônios com tudo que
tenho em mente para fazer com ela. O seu belo corpo servirá para saciar
todos os meus pensamentos impuros, que desde o momento que a
olhei naquele quarto do bordel estão gritando uma única coisa, "fodê-la até
que ela não sinta mais as suas pernas".
Gentileza jamais vez parte da minha vida, ainda mais se tratando de
sexo. Porém, depois de três dias com as mãos quase criando calos, eu até
cogitei em pegar leve com a maldita. No entanto, o seu cheiro inebriante, a
sua pele e aquele corpo cheio de curvas perfeitas só fez o meu corpo ficar
em chamas, exalando calor como uma fornalha. Meu pau pulsava
violentamente e quando nossos olhares se encontraram, um forte incômodo
me envolveu e era como se novamente houvesse iniciado uma batalha dentro
de mim. Minha reação foi mandar que ela mudasse de posição, porém, todo
o calor que incendiava minha pele ficou ainda pior quando mais uma vez a
atrevida questionou uma ordem minha.
Mia precisa aprender que sua vida já não pertence mais a ela, e quem
dá as cartas, sou eu. No movimento que não precisou de muito esforço a
virei de bruços, olhando para aquela bundinha arrebitada, sabia qual seria a
pior forma possível para ela enfiar dentro da sua cabeça que não deve me
desobedecer. Novamente o som da voz dela se fez presente e aquilo foi tudo
que precisava para enfiar numa arremetida firme toda a longa extensão do
meu cacete duro, dentro daquele cuzinho apertado.
Um ruído alto reverberou no espaço. Sua respiração escapava com
força dos pulmões a cada investida do meu quadril. Longas e fortes
estocadas a fazendo sentir o meu pau ser sugado pelo seu orifício, enquanto
entrava e saía, colocando o meu membro e o sentindo pulsar freneticamente.
Gemidos escapavam da sua garganta, enquanto aumentava ainda mais
os meus movimentos, mantendo o meu cacete encravado dentro dela.
Meu corpo todo está vibrando, sensação de um êxtase violento me
atingiu quando em jatos potentes, meu sêmen jorrou inundando aquele buraco
tão apertadinho e delicioso. Quando tirei o meu pau melado por um líquido
avermelhado de dentro dela, a mulher caiu afundando o colchão, e tremores
tomaram conta de todo o seu corpo, mas tudo que passava pela minha cabeça
era que sua boceta iria me proporcionar ainda mais prazer.
Assim que me levantei olhei para o seu rosto que estava banhando
em lágrimas o que fez o meu corpo vibrar ao ver o seu estado. Caminhei em
direção ao banheiro, pois precisava de um banho antes de mostrar a ela que
a noite só estava começando.
Capítulo 12
Nápoles – Itália
MIA
N ão conseguia respirar direito, estava me sentindo entorpecida. Uma dor
avassaladora tomava conta de mim o suficiente para roubar o ar dos meus
pulmões. Minha pulsação acelerada ressoava nos meus ouvidos e ainda
conseguia sentir toda aquela monstruosidade me preenchendo por inteira,
expandindo todo o meu orifício a ponto de ferir as paredes internas da minha
bunda.
Eu nunca em toda a minha vida achei que poderia existir uma dor
física tão imensurável, quando o membro dele continuou a desligar em meio
à corrente de esperma que fez jorrar dentro de mim. Eu perdi as forças e o
meu corpo desabou sobre a cama. O sofrimento e o latejar vindo da minha
bunda por uma fração de segundos se desmancharam diante das palavras que
ecoaram no ambiente, pois quando achei que tudo tinha chegado ao fim.
Assim que ouvi o que ele disse só fez o pânico me envolver por completo.
Eu acreditava que esse monstro não pudesse me quebrar mais do já
não havia feito, mas estava dentro de um pesadelo, a diferença é que me
encontrava lúcida e um simples abrir e fechar de olhos não seria capaz de
me fazer sair das profundezas da escuridão que tomou conta da minha vida.
Não sei quanto tempo havia se passado, porque permaneci paralisada
com medo de me remexer e a dor ficar ainda pior. No entanto, meu peito se
expandiu em um suspiro profundo quando percebi uma movimentação e o
colchão balançou. Antes que meu cérebro processasse o que estava por vim,
senti o meu corpo sendo puxado e ele me mudou de posição. Estremeci
violentamente diante daquela figura que aparentemente era a perfeição da
beleza masculina. Só aparência quando, na verdade, Lorenzo é a
personificação do próprio mal.
Quando ele se afastou e começou a retirar a toalha que estava
enrolada em volta da sua cintura. Meu olhar não conseguiu ser desviado
daquele pênis gigante, duro, latejante e com a cabeça rosada apontada para o
alto como se me cumprimentasse. Arrepios de medo tomaram conta de mim e
no momento que ele diminuiu com a distância, ainda tentei me levantar, mas
ao ver suas feições se contorcerem e uma repentina transformação ocorrer
em seu rosto, gelei.
Seus olhos se tornaram perigosamente sombrios e seu olhar paralisou
meus movimentos. Não demorou muito para o som da sua voz entoar dentro
do cômodo.
— Eu sempre tenho tudo aquilo que desejo e te garanto que você
ainda não sabe o que é dor de verdade. Então se não deseja descobrir nesse
exato momento, seja uma boa menina e abra as pernas.
Sentimentos e sensações se misturaram. Desde raiva ao medo assim
como as lembranças de minutos atrás se fizeram presentes, fazendo as
lágrimas surgirem em meus olhos. A consciência me atingiu como um balde
de água fria e por mais que minha vida tivesse se transformado em um
verdadeiro inferno. Eu não vou deixar esse homem me transformar no que
eu não sou, me levando à beira de um precipício onde não terei como dar um
passo atrás e a única alternativa será me jogar dele.
Abri minhas pernas e fiquei imóvel, enquanto Lorenzo se posicionou
em cima de mim. Minha respiração ficou acelerada diante da
vulnerabilidade de estar de pernas abertas, enquanto seus dedos calejados e
habilidosos começaram a explorar os meus seios, beliscando com força
fazendo gemidos altos de dor saírem dos meus lábios. O sangue em minhas
veias, congelou o meu corpo instantaneamente travou quando senti seu pênis
quente e pulsante próximo à entrada da minha intimidade.
Não demorou muito e seu membro pincelou em minha abertura para
logo em seguida começar as investidas, tentando me penetrar no mesmo
instante que os movimentos da sua mão logo foram substituídos pela sua
boca. Lorenzo lambeu os meus mamilos e começou a sugar meus seios com
violência, ferindo os meus mamilos.
Ele me olhou com seus olhos negros intensos e sem delongas o seu
pau escorregou em minha vagina. Lágrimas escorriam pelo meu rosto quando
ele movimentou o quadril, forçando com mais veemência até que me
penetrou por inteira, alargando-me por dentro ao romper as barreiras da
minha virgindade. Um gemido estrangulado foi o único som a escapar
enquanto tentei aprisionar a dor insuportável dentro da minha mente.
Remexendo ainda mais o quadril, ele me invade cada vez mais forte,
parece que quer me quebrar ao meio. Suas mãos diabólicas percorriam
incansavelmente o meu corpo. Lorenzo continuou com seus movimentos
incansáveis e implacáveis, com estocadas ritmadas e precisas.
Contorcia-me e arqueava todo o meu corpo a cada investida
calculada e profunda. Seu corpo grande e pesado é inteiro revestido por
músculos firmes como rochas. O vapor dominava o ambiente e o cheiro
misturado com o suor estava impregnado no ambiente. Os seus gemidos
ressoavam no ar enquanto ele me preenchia completamente.
O monstro estava tão duro e tão profundamente dentro de mim que eu
mal conseguia respirar. Ofeguei profundamente, fechei os meus olhos e só
pedi que aquilo acabasse logo.
— Abra os olhos — mandou ríspido.
Meu olhar foi de encontro as suas órbitas e estremeci ao ver que elas
pareciam estar em chamas. Seus bíceps se contraiam a cada movimento e
conseguia sentir cada veia latejante e pulsante dentro de mim. Sua pele
esquentou e seu calor espalhou por mim. Quando enfim um grito
estrangulador saiu rasgando a sua garganta, com uma estocada mais rígida e
forte, senti seu líquido quente me invadindo em jatos potentes, enquanto sons
guturais incompreensíveis saíam entre seus lábios.
Meu peito arfava e o ar se tornou escasso devido ao peso esmagado
do seu corpo sobre o meu. Senti sua respiração acelerada de encontro a
minha face, seus batimentos cardíacos descompassados e constatei que
realmente aquele demônio tinha um coração batendo dentro do
peito. Instantes depois que ele saiu de dentro de mim, rolou na cama.
Dolorida eu tentei me levantar, mas fui impedida quando ele segurou
firme o meus braços. E no momento que ouvir a firmeza com que sua voz
ecoou no ambiente fiquei estupefata.
— Você não vai a lugar nenhum. Como foi uma boa menina eu peguei
leve com você, agora realmente vou te foder do jeito que eu gosto.

No dia seguinte...
LORENZO
CARALHO!
Dou mais uma tragada no meu charuto. E na penumbra observo cada
polegada do corpo quebrado da mulher desfalecida sobre a cama. Seu belo
rosto estava vermelho e inchado de tanto que a maldita havia chorado, levei
alguns segundos com o olhar preso em cada traço da sua face, eternizando
esse momento na minha memória.
Não cogitei quer a infeliz fosse me proporcionar tanto prazer, não só
carnal como ver todo o pânico em sua face ao ter sua inocência sendo
grosseiramente arrancada dela me deixou em puro êxtase. Passei o resto da
noite transando com ela em todas as posições possíveis conhecidas pelo
homem e quando me dei por satisfeito já estava surgindo os primeiros raios
do sol.
Permaneci deitado enquanto ela foi praticamente se arrastando para o
banheiro. Minutos se passaram e quando fui ver o motivo da sua demora a
encontrei desmaiada com a toalha em volta do seu corpo. Pelos cabelos
molhados percebi que havia tomado banho, porém, não teve forças para
deixar o cômodo.
Por horas deixarei que ela se recupere, pois além de saciar minhas
vontades até o momento que eu assim desejar. Ela conhecerá o mundo das
trevas e irei me alimentar da sua agonia dia após dia, até seu sofrimento
me entediar e seu destino será a morte.
Capítulo 13
Nápoles – Itália
PAOLO
M aledetto!
Um século e os Santoro vem comandando a gerações da lendária
Cosa Nostra, a maior organização criminosa de todos os tempos. Se não
fosse pela existência do infeliz do Enrico Santoro, que era o único herdeiro
do meu tio Vincenzo Santoro, eu teria sido escolhido para ser o grande líder,
por ser o segundo na linha de sucessão ao cargo.
No entanto, o homem por quem sempre tive um ódio profundo não só
interferiu em minha vida quando foi escolhido para ser aquele que daria
continuidade ao legado da nossa família. Como ele quase me roubou a única
mulher que amei na vida. Eu tive que me sujeitar a seguir as ordens do
miserável e nunca deixar transparecer para todos, o quanto a minha raiva por
ele só aumenta a cada dia.
Com o nascimento de Lorenzo, eu vi os meus sonhos escaparem
diante dos meus olhos. Fui um dos responsáveis por seu treinamento e fiz de
tudo para que uma fatalidade com o pequeno demônio viesse a acontecer.
Mas foi através dos olhos de Giovani que minhas esperanças se renovaram
ao ver que ele tinha um olhar frio e se tornava ainda mais sombrio quando
direcionados para o pequeno herdeiro.
Jamais poderia esperar que dentro de um ser tão pequeno, morava um
verdadeiro monstro. Ele não hesitou ao arrancar o coração daquele que
considerava o seu melhor amigo. Os anos se passaram e consegui
alguns aliados que assim como eu, desejavam derramar o sangue de Enrico e
toda sua descendência.
Foram várias emboscadas fardadas ao fracasso, mas com ajuda de
Leonel que não falhou em enviar o temido Enrico Santoro para as
profundezas da escuridão, que agora estou mais próximo de enfim pegar o
que por direito pertence. Contudo, Lorenzo ao contrário do pai é bem astuto
e seus olhos de águia sempre estão atentos a tudo em sua volta.
— Papà!
O som familiar que ressoou no ambiente, me tirou dos meus
devaneios.
— Espero que tudo tenha saído como planejamos.
— A mercadoria já foi entregue aos mexicanos. E o único
sobrevivente foi encontrado à beira da morte.
— O infeliz já foi avisado?
— Sim! Vim justamente avisar-lhe que todos os membros do
conselho foram convocados e não faço ideia do que aquele infeliz esteja
planejando.
— Logo o reinado dele como chefe da máfia italiana chegará ao fim
e será um prazer ver seu fracasso, antes de enviá-lo para junto do pai.

LORENZO
Meus pensamentos impiedosos dos momentos que a fazia
minha, logo foram deixados de lado assim que o barulho vindo do meu
celular ecoou no ambiente.
Desvio meu olhar da mulher que ainda dormia profundamente à
minha frente e passos largos foram dados em direção ao objeto em cima da
mesa de cabeceira. No instante que atendi a ligação a raiva percorreu cada
fibra do meu corpo ao saber que na madrugada, o carregamento de armas que
havia sido enviado para Milão foi interceptado.
Assim como aquele desgraçado, do Antony, que passou anos
infiltrado na nossa organização e foi o grande responsável não só por vários
prejuízos matérias, como pela morte de vários soldados. Os membros do
conselho tinham plena convicção que eliminando o desgraçado que acabou
matando o nosso líder, a paz seria restaurada. Porém, com o último
acontecimento, eu só tive a confirmação que novamente tem um maldito
traidor dentro da própria famiglia.
"E dessa vez eu vou exterminar essa erva-daninha e qualquer outra
que esteja ao seu lado. Seja homem, mulher ou criança não terei piedade."

Três dias depois...


Desde a manhã seguinte que sucedeu o dia do meu casamento que a
adrenalina tomou conta de todo o meu ser. Enquanto Mia passou os demais
dias em repouso, além de resolver alguns assuntos em Nápoles, fui
pessoalmente para Milão.
Deixei os problemas de lado por enquanto e era hora de procurar a
única que poderia me fazer colocar para fora toda raiva que estava me
incendiando por dentro. Nada melhor que presenciar o sofrimento daquela
infeliz para acalmar os meus demônios.

MIA
Passei os últimos dias, trancada no quarto. Não que o demônio com
quem me casei tivesse proibido, mas eu mal conseguia me levantar da cama.
Nunca tinha me sentido tão fraca. Meu corpo embora fisicamente intacto, por
dentro estava totalmente quebrado. As lembranças dolorosas daquela
maldita noite não saíam da minha cabeça, ele mais parecia um animal
raivoso querendo estraçalhar a sua presa, que no caso era "eu".
Cada centímetro do meu corpo gritava em meio a dor. As batidas do
meu coração se tornavam mais e mais intensas, cada vez mais rápidas.
Minha respiração falhada e ofegante, deixava-me com dificuldade de puxar o
ar para os pulmões. Lorenzo, explorou cada polegada do meu corpo, sua
devassidão era tão grande, que ele fez comigo coisas que jamais achei que
poderia ser feitas entre um homem e uma mulher.
Pela atmosfera sombria que sempre paira no ar quando ele está
presente. Eu sabia que ele não era um homem qualquer, mas ver que por trás
daquela bela aparência, exibi um corpo perfeito e grande em todos os
sentidos. Eu jamais cogitei que um ser humano pudesse ser tão insaciável, a
uma certa altura eu já não sabia qual dor era pior. Se era a que ainda estava
intensa vindo do latejar da minha bunda ou da minha intimidade que a cada
entrada e saída do seu membro incansável piorava. Com estocadas
implacáveis, acabava por ficar batendo no colo do meu útero e parecia que
estava me ferindo, causando um forte desconforto.
Quando ele se deu por satisfeito. Eu não estava sentido nem as
minhas próprias pernas. Era uma tremedeira que parecia não ter fim, no
entanto, mesmo com dificuldade eu conseguir me levantar. Meu olhar foi de
encontro a imagem do homem esparramado sobre a cama, seus olhos
estavam fechados e pela expressão rara de suavidade em sua face. Decerto
devia estar satisfeito por toda dor que me infligiu por horas.
Em passos lentos, consegui chegar até o banheiro e logo depois
entrei no box. Mesmo com a água numa temperatura agradável, ainda sentia
incômodo nas minhas partes íntimas. De banho já tomado, só consegui
enrolar a toalha em volta do meu corpo, assim que um tremor violento me
envolveu por completo. Minhas pernas começaram a ficar pesadas e depois
de algumas passadas tudo começou a rodar a minha volta.
Um silêncio constrangedor. Um vazio profundo. Uma tristeza sem-
fim. Minha visão ficou turva e uma escuridão infinita me engoliu. Quando
acordei me encontrava sobre a cama. Com fortes dores pelo meu corpo, tudo
que sei ouvi da própria boca de Lorenzo, me deixando enojada com suas
palavras.
Ele havia dito a todos que eu estava me sentindo indisposta e
precisava recuperar as minhas forças para cumprir com meus deveres como
sua esposa, já que estamos no período de celebração privada. O que para
muitos seria a tão falada lua de mel, mas no meu caso poderia definir como
lua de fel, pois em vez de amor era o ódio que estava sendo predominante.
Meus pensamentos foram interrompidos assim que a porta foi aberta
e o motivo de todo o meu sofrimento surgiu à minha frente. Ele diminuiu a
distância entre nós dois e parou próximo à cama. Sua voz ecoou no ambiente
fazendo meu estômago embrulhar com suas palavras.
— O jantar em breve será servido. Então se levante agora e terá
vinte minutos para se arrumar. Quero você com toda energia possível, pois
tudo que não fará essa noite será dormir.
Capítulo 14
Nápoles – Itália
MIA
F iquei imóvel por alguns segundos após ouvir suas palavras. Como
resposta o medo tomou conta de mim e as lembranças daquela maldita noite
surgiram para me atormentar. Lorenzo, o homem que parece estar possuído
por vários demônios no seu interior. Não só deixou uma marca em meu
corpo que representa a dor profunda da minha alma, como foi o responsável
pela pior noite da minha vida. Muito ao contrário do corte que recebi em
minha pele, quando ele resolveu interferir para que o meu maior sonho nunca
fosse realizado. Uma outra ferida foi aberta, porém, essa jamais será
cicatrizada.
Fecho os meus olhos para que as lembranças pudessem ser afastadas,
mas os abrir de imediato quando senti um forte aperto em meu pulso e de
abrupto fui forçada a me levantar. Meu olhar ficou fixo nos deles e o som da
sua voz se fez presente
— SE VOCÊ NÃO DESEJA QUE TODOS POSSAM VER UM
BELO ESTRAGO NO SEU ROSTO, É MELHOR FAZER O QUE MANDEI
— vociferou meu algoz.
Ele soltou o meu braço e fui praticamente correndo em direção ao
banheiro. Minutos depois de banho já tomado e arrumada, deixei o closet
indo ao seu encontro.
Lorenzo segurou firme em minha mão e juntos saímos do quarto.
Descemos pela escada, depois de alguns passos assim que paramos, levanto
a cabeça e me deparo com três pares de olhos direcionados para nossa
entrada no ambiente.
A senhora Santoro, ao contrário da primeira vez em que cheguei
nessa casa. Tinha uma expressão agradável em sua face ao notar a minha
presença e não demorou muito para ela se manifestar.
— Fico feliz que já esteja melhor e hoje vamos jantar todos juntos.
Fiquei feliz em ouvir suas palavras. A expressão de Pietro é
indecifrável, já Antonella essa sempre tem um olhar frio e por mais que
tentasse esconder a energia que vinha dela sempre é negativa. Seguimos
todos para a mesa de refeição e instantes depois a comida começou a ser
servida. Com tantos objetos à minha frente as palavras ditas por Antonella,
dias atrás vieram à minha cabeça.
Meu mundo era completamente o oposto de todo esse luxo em
excesso, posso até estar casada com um homem poderoso, mas essa união só
aconteceu porque ele decidiu que eu me tornaria o alvo o qual usaria como
objeto para brincar até deixar ao ponto de ser quebrado.
— Mia!
A voz da mulher à minha frente interrompeu os meus pensamentos.
Movi a cabeça para o lado e me concentrei na minha sogra assim que ela
voltou a falar, no entanto, seus olhos estavam cravados na direção do filho.
— Figlio! Com a sua permissão amanhã começarão as aulas de
etiqueta de Mia, como uma Santoro você sabe que isso é necessário.
O silêncio pairou no ar, ele só fez um gesto com a cabeça e em
seguida todos começaram a comer. Jantamos em silêncio e quando todos se
deram por satisfeitos deixamos a mesa em direção ao hall. Instantes depois,
enquanto as duas mulheres se acomodaram, Pietro que ostentava um belo
sorriso no rosto caminhou em direção à porta, mas logo se deteve assim que
o som da voz no tom frio de Lorenzo, ressoou no ambiente.
— Espero que você não se esqueça que amanhã irá comigo para
Calábria.
O sorriso em seu rosto logo desapareceu, ficou nítido que não sou só
eu que tenho medo do senhor todo-poderoso. Lorenzo, com um simples olhar
é capaz de congelar os ossos de qualquer um.
— Estarei pronto no horário estipulado.
Dito isso, Pietro caminhou em direção à porta e o homem ao meu
lado segurou em uma das minhas mãos e em seguida disse:
— Vamos!
Nenhuma palavra foi dita por mim, pois, fui acometida por tremores
em meu corpo ao pensar nas palavras que ele disse horas atrás no quarto.
Novamente meu corpo serviria para saciar suas vontades e desejos
obscenos.
Só deu tempo de dizer boa-noite e passos foram dados para fora do
cômodo, porém, fiquei supressa quando ele em vez de ir em direção à
escada seguimos até à porta. Um vento gelado passou pelo meu rosto, o céu
estava estrelado. A beleza da lua cheia me hipnotizou por alguns segundos
até que ele se moveu me incitando a acompanhar seus movimentos. Desde
que deixei o lugar que sempre acreditei ser o meu lar não sentia uma
sensação tão boa.
A cada passo dado eu não conseguia desviar o olhar da diversidade
de flores no jardim e depois de alguns minutos meus olhos se arregalaram
diante do cenário à minha frente. Sob as luzes do céu, refletidos na mais
linda imagem que eu já tinha visto em toda minha vida.
Era como se eu tivesse em frente ao paraíso e toda luz em volta
daquele lugar renovasse as minhas esperanças. Que em meio a escuridão que
ele emanava ao seu redor, nem tudo estava perdido. Mas a sensação de paz
logo desapareceu quando eu olhei em volta de toda aquela luz o nome que
surgiu no meu campo de visão.
"Torre da Ostentação do Mal".
Meu coração começou a bater em um ritmo fora do normal, sinto um
calafrio percorrer todo o meu corpo, voltei minha atenção para o homem ao
meu lado que estava imóvel. Sua mandíbula travou. O seu belo rosto
começou a se contorcer e suas feições deram lugar a algo diabólico.
Lorenzo saiu me puxando em direção a uma enorme porta de vidro.
Quando adentramos o lugar outra porta se abriu revelando um elevador, ele
me forçou a entrar no cômodo e levou um dos dedos em direção a um dos
botões, em seguida o objeto começou a se mover. Assim que o elevador
parou e a porta foi aberta, novamente ele voltou a me arrastar.
Tropeço nas minhas próprias pernas, seus passos eram longos eu não
estava conseguindo acompanhar o seu ritmo e assim que ele parou, quase fui
ao chão.
— Eu disse a você que hoje a última coisa que faria seria dormir —
ele fez uma pequena pausa e a porta foi aberta, no entanto, se antes eu já
estava em pânico o que veio em seguida, não só congelou o sangue em
minhas veias, como o meu coração parou de bater por alguns segundos, me
causando um desconforto terrível em meu peito.
Eu fiquei em estado de choque e como resultado, meu corpo começou
a tremer violentamente. As lágrimas surgiram em meus olhos no mesmo
instante que minhas pernas tremeram, o meu corpo pareceu oscilar de um
lado para outro.
Nunca tinha visto algo tão assustador em toda a minha vida, ao
contrário da bela aparência externa que era pura luz, se realmente o inferno
existe, as portas dele acabaram de ser abertas, pois os tremores me
envolveram por inteiro. A névoa encobria o chão, as paredes eram
espelhadas no tom escuro e outras em vermelho, como se tivessem sido
pintadas com sangue. Meu desespero só aumentou quando o silêncio foi
interrompido por ele.
— Bem-vinda ao lugar que hoje, você só me proporcionará prazer,
no entanto, ele será capaz de levá-la direto ao inferno.
Capítulo 15
Nápoles – Itália
LORENZO
A expressão da mulher à minha frente demostra toda sua inquietação e no
fundo daquelas órbitas esverdeadas o desespero era visível. Fazendo
tremores tomarem conta do seu corpo frágil e seu rosto ficar pálido. Seu
coração disparou ao ponto que cada batida contra o seu peito, fez um calor
insuportável me queimar por dentro, pois o medo pairou no ar servindo
como fonte vital para alimentar os meus demônios.
Seus olhos arregalados estavam atentos a tudo ao seu redor e ver
toda a sua agonia fez com que as lembranças do passado surgissem me
levando para o dia da minha ascensão. Depois do que aconteceu naquela
sala, passei dias atormentado pelas lembranças do que havia acontecido.
Jamais esperava que existisse tanto ódio em seu coração, mas suas palavras
e a sua atitude serviram para destruir tudo de bom que existia em meu
coração.
Enrico Santoro, aquele que deveria ser um protetor não me via como
um filho e sim como o enviado que daria continuidade ao seu legado. Ao
contrário de Pietro eu não tive a chance de conviver com a minha mãe, já
que o temido chefe da maior organização criminosa acreditava que todo o
seu afeto poderia me afastar do destino que tinha traçado e talvez esse foi um
dos motivos que me levou a ter tanta consideração por aquele que acreditava
ser um amigo.
Giovani assim como eu só tinha dez anos, mas ele já tinha escolhido
o caminho a seguir e depois que ouvir suas palavras e ver o puro ódio em
seus olhos, entendi que só um de nós sairia vivo daquele lugar. No entanto,
eu ainda estava atordoado e enquanto lutávamos ele enfiou aquela adaga em
minha barriga. O ódio me dominou, era como se tivesse um animal dentro de
mim e naquele momento eu só queria sentir o seu coração pulsando em
minhas mãos.
Enrico disse que eu jamais seria o mesmo e isso ele tinha razão,
foram vários dias de tormento e tudo que eu queria era voltar para casa e
depois de tantos anos ver a mamma. Eu achava que o treinamento havia
chegado ao fim, sempre suportei tudo, pois assim poderia voltar para casa,
mas arrancar o coração do único que considerava o meu amigo não foi o meu
maior desafio e sim o que estava por vim. Enrico, disse que eu só estaria
pronto e teria o que desejava o dia que passasse pelo maior desafio da
minha vida e foi aqui, nesse lugar que aprendi que não precisava morrer para
conhecer o inferno.
Mesmo que eu tivesse só onze anos na época, aceitei o desafio. Nem
a dor que senti ao ser marcado com o símbolo da nossa organização foi
comparado com tudo que vivi dentro desse quarto. Mas lá fora havia um
motivo maior e precisava ver nem que fosse pela última vez o rosto que
jamais saiu das minhas lembranças. Eu superei tudo que me foi imposto, aqui
dentro tive que lidar com todos os meus medos, cheguei a um passo da
loucura ao ficar dias nesse lugar tão sombrio. Havia momentos que não sabia
mais o que era realidade ou ilusão, o meu corpo inteiro estava em
chamas como se o meu sangue estivesse se transformado em fogo, tomando
conta de cada fibra da minha pele e quando achei que não poderia aguentar,
descobrir que dentro de mim, existia algo que por anos esteve preso e tudo
aquilo foi o estopim para que viesse a se libertar de uma vez.
Quando me tiraram do lugar que ele sempre considerou como pior do
mundo, a última lembrança que tenho foi do rosto da minha mãe, banhado em
lágrimas ao ver a minha roupa toda suja de sangue. Eu voltei para casa, mas
jurei que a cor que muitos têm como símbolo de tristeza faria parte da minha
vida para sempre, pois a mamma jamais veria na sua frente novamente a
mesma imagem de anos. Essa cor me ajudaria a esconder qualquer marca de
sangue ou até mesmo se estivesse ferido.
Por anos a cada nova lembrança do passado foi aqui que encontrei
refúgio, o lugar que me causou tanta dor acabou se tornando o único que
acalma os meus demônios. Enquanto Mia, estava se recuperando fiz algumas
alterações e vai ser nesse lugar que acabarei com tudo de bom que existe
dentro dela. Além de me proporcionar prazer com seu belo corpo, a sua dor
e o seu medo será a forma de controlar todo o ódio que sinto pela filha
daquele maldito traidor.

MIA
Eu não conseguia desviar os meus olhos do cenário à minha frente. E
olhar para a imagem no centro do ambiente, estava me causando uma ânsia e
meu estômago não parava de se contorcer. Como alguém pode ser tão
psicopata e sádico a ponto de colocar nesse lugar horrendo uma cama
e ainda sentir prazer por estar dentro desse mundo de trevas. Eu estava tão
aturdida com tudo isso que só voltei a realidade quando em um movimento
brusco ele começou a rasgar as minhas roupas e só ai me dei conta que ele já
estava despido.
Suas mãos envolveram a minha cintura, apertando o seu corpo contra
o meu. Seu hálito quente roçou em minha pele fria e arrepios desceram pelo
meu pescoço. Podia sentir seu membro ganhando vida sobre mim, não
demorou muito para suas mãos escorregarem e apertarem com força as
minhas nádegas.
Comecei a suar frio, mas ele me suspendeu e quando dei por mim já
estávamos próximo à cama. Lorenzo se afastou um pouco e o monstro estava
exalando masculinidade, duro, grosso e com as veias do seu membro tão
inchadas que pareciam que a qualquer momento iriam estourar. Afastei meus
devaneios assim que o som da voz dele ressoou a minha volta.
— Chegou a hora de você usar essa boquinha para acalmá-lo. Então
se abaixe e o chupe.
Meu coração bate a mil por segundos, enquanto as minhas pernas
estavam perdendo toda força. O pânico me dominou assim que uma corda
começou a descer vinda do teto do inferno e temerosa pelo pensamento que
passou pela minha cabeça. Instintivamente meus lábios se moveram e assim
que a minha boca foi aberta as palavras saíram sem que eu pudesse evitar.
— Isso não... Não...
Meu olhar foi de encontro aos olhos flamejantes me fazendo engolir
em seco ao lembrar o que aconteceu da última vez. Meus pensamentos foram
interrompidos quando senti o objeto tocando a minha pele e Lorenzo
começou a me amarrar de uma forma que eu sentia que a corda iria me
enforcar, assim que ele terminou novamente escutei a sua voz grave.
— Você continua querendo me desobedecer. Então faça, porém,
agora a sua vida está em suas mãos se tentar resistir o seu destino será a
morte.
Eu só tinha dois caminhos lutar e como consequência novamente
sentiria toda sua crueldade e seria enforcada ou ficar quieta e deixar que ele
usasse o meu corpo até o momento em que se desse por satisfeito. Uma vez
eu li que mais vale um covarde vivo que um herói morto, no entanto, é
preciso avaliar e agir com inteligência, até porque não vou deixar que ele me
leve à loucura.
Abaixei-me e ao levantar a cabeça me deparei com toda aquela
monstruosidade dura como uma rocha, apontado em direção ao meu rosto.
Minhas mãos tremem e suam.
Coragem, Mia, coragem. Respirei fundo e levei minhas mãos
trêmulas ao encontro daquela criatura que pulsava como se tivesse vida
própria. Seu pênis é quente e estava tão rígido que fez a minha coragem
desaparecer e no impulso tentei me levantar, mas senti o ar sendo arrancado
dos meus pulmões por alguns segundos, eu estava sufocando. Respirei
rápido e não me restava outra alternativa ou eu mesma iria dar a ele o gosto
de presenciar meus últimos suspiros, quando senti que a corda em volta do
meu pescoço tinha se afrouxado um pouco, agarrei firme base do membro e
abri a minha boca, quanto mais rápido eu for esse momento chegará ao fim.
Desajeitada comecei a fazer movimentos à espera do que viria
acontecer. Percorri com a língua aquelas veias grossas e depois abri bem a
boca e abocanhei o seu pênis. Suas mãos se enterraram nos meus cabelos,
puxando-os pela raiz me causando um enorme desconforto. Ele forçou toda a
longa extensão do seu pênis a entrar na minha boca e quanto mais eu tentava
me afastar a maldita corda estava a ponto de me estrangular.
De duas uma; ou morreria pela corda, ou sufocada com esse membro
em minha boca, seus movimentos dentro da minha cavidade bucal se
tornaram ritmados, ele ficava cada vez mais bruto. Minha mandíbula já
estava doendo, porém, continuei chupando, tentando não perder o fôlego
enquanto ele remexia o quadril atacando com força a minha garganta,
enfiando ainda mais fundo aquele pau faminto. Seus gemidos guturais
ecoavam no ambiente, ele puxou com mais força os meus cabelos e o
primeiro jato quente invadiu a minha boca, tentei recuar, mas a dor que senti
fez meus olhos se encherem de lágrimas e senti meus pulmões em chamas.
Seu membro preenchia todos os espaços da minha boca e quando um
urro alto ressoou no espaço minha boca foi invadida por jatos grossos do seu
sêmen, não me restou outra alternativa a não ser engolir. Meu estômago se
convulsionou em protesto ao que engoli, mas nem tive tempo de assimilar
direito toda aquela situação, pois ele me levantou e logo em seguida em um
movimento rápido me desamarrou, entretanto, meu corpo foi lançado em
cima da cama.
Meus olhos arregalaram-se ao ver que ele teve uma ereção com uma
velocidade como se fosse sobrenatural, pois seu membro já estava pronto
para atacar sua presa. Lorenzo, subiu em cima de mim e atacou a minha
boca. Seu corpo quente irradiando ondas de calor sobre o meu, seus lábios
cobriram os meus de forma bruta, possessiva, sua língua se movia rápido e
diante da vulnerabilidade eu só deixei que ele fizesse o que estava querendo.
Enquanto me beijava seus dedos habilidosos alcançaram o meu sexo
e sem delongas ele enfiou dois dedos dentro de mim e começou a
movimentá-los. Minha intimidade dolorida estava sendo massacrada pelos
seus movimentos, ele retirou os dedos e voltou com três. Não consegui
segurar os gemidos, pois as sensações começaram a me envolver, estava
quente muito quente, mas assim que ouvi suas palavras um calafrio
apoderou-se de cada centímetro do meu corpo.
— Eu vou arrebentar essa bocetinha.
Dito essas palavras ele puxou os dedos molhados de mim e substituiu
pela cabeça do seu pênis e entrou com tudo. Um gemido de dor saiu da
minha boca, eu queria me desvencilhar daquela plenitude dura, sentindo a
ardência dos músculos da minha vagina que se alargavam. Minha respiração
estava acelerada e tudo que eu sentia era dor, ele começou a movimentar o
quadril, deslizando seu membro com precisão e os músculos internos da
minha intimidade começaram a latejar violentamente.
Minha respiração ficou pesada quando ele começou a me estocar,
enfiando o seu pênis todo dentro da minha boceta. Senti seu membro inchar
no instante que ele acelerou seu ritmo com movimentos implacáveis e
quando ele levou a boca até os meus seios e começou a sugar como se fosse
uma criança em busca de saciar sua fome. Ele continuou socando o meu
sexo, com golpes cruéis e impiedosos. Seu membro incansável me invadindo
cada vez mais firme. Meu sexo doía de tantas estocadas rígidas e violentas,
seu corpo se contorceu e enrijeceu enquanto ela continuava a deslizar o pau
sentindo o calor e o aperto do meu sexo contra aquele membro avantajado.
Minutos que se tornaram uma eternidade e quando o vapor começou a
dominar o ambiente ao nosso redor, novamente ele soltou um gemido
deixando seu líquido viscoso me preencher.

Horas depois...
Eu estava me sentindo quebrada e exausta. Embora não dava para
saber se era dia ou noite, eu preferir acreditar que já estava amanhecendo,
pois enfim o demônio se deu por satisfeito. Deixo os pensamentos de lado e
meu olhar vai ao encontro do homem que dormi profundamente, sua
expressão que antes era suave logo começou a mudar. Sua boca se entreabriu
e ele começou a balbuciar sussurros incompreensíveis, no entanto, senti uma
sensação como se tivesse algo queimando o meu peito ao ouvir o som que
escapou pelos seus lábios.
— Antony!
Capítulo 16
Nápoles – Itália

No dia seguinte...
MIA
T udo está tão tranquilo que me nego a abrir os meus olhos e me deparar
com a minha atual realidade. Nunca pensei que pudesse existir um lugar tão
sombrio, carregado de uma energia tão negativa e assustadora.
Minha garganta ainda está doendo e muita seca. Tenho a sensação
que todos os músculos no meu corpo fora arrancados e estraçalhados. Fiquei
tão perdida em meio as palavras que ouvi enquanto aquele monstro estava
dormindo que achei que teria um pouco de paz, mas depois de sussurrar por
diversas vezes aquele nome que de alguma forma me causou uma sensação
ruim como se tivesse algo queimando o meu peito. Ao perceber que ele
estava agitado, temerosa que viesse acordar, fechei os meus olhos de
imediato achando que isso seria uma forma de proteção, mas depois de um
ruído alto sabia que ele havia despertado.
No entanto, meu fingimento de nada adiantou, pois senti o calor
daqueles dedos diabólicos entre os grandes e pequenos lábios da minha
intimidade. Explorando o meu sexo como se fosse um brinquedo que ele
pudesse pegar, usar e descartar a hora que assim desejasse.
Parecia surreal que esse homem só pense em sexo. Algo que para
mim já é a pior coisa do mundo, porque a única coisa que consigo sentir é
dor e mais dor. Meus pensamentos logo foram afastados quando sentir seu
peso sobre o meu corpo e sem que eu pudesse controlar meus olhos se
abriram de imediato e um ruído saiu entre meus lábios quando bruscamente
ele introduziu seu membro viril e começou estocar forte a minha vagina.
Seus movimentos como sempre eram ritmados, implacáveis, ele
enfiava cada vez mais fundo o seu membro como se quisesse me partir ao
meio. A cada entrada e saída daquele pênis latejante contra o meu sexo,
gemidos agonizantes de dor escapavam da minha boca. Lorenzo mais parecia
um animal no cio, trepando de forma selvagem, me alargando com suas
estocadas ferozes, remexendo o quadril sem cessar. Meu peito estava tão
apertado que estava difícil respirar, mas o demônio assim que soltou um
grunhido ensurdecedor, começou a meter com mais força até um orgasmo
devastador o atingir e ele desabou em cima de mim.
Depois disso, comecei a suar frio e meus olhos ficaram escuros.
Tudo se transformou em uma enorme escuridão. Deixo as lembranças de lado
assim que o cheiro inebriante dele invadiu minhas narinas, só de pensar que
além de ver o demônio com quem casei ainda vou me deparar com o cenário
diabólico. Sinto todo o meu corpo tremer, mas de nada vai adiantar
permanecer de olhos fechados. Então respiro fundo, abro os meus olhos
lentamente e fico totalmente desorientada assim que olho ao meu redor.
Eu estou confusa e, ao mesmo tempo, aliviada. Além de não me
deparar com o meu carrasco, jamais pensei que ficaria com uma sensação de
paz tão grande por estar nesse quarto, onde para sempre ficará em minhas
lembranças como o lugar que aquele homem roubou a minha inocência e
violou o meu corpo com tanta brutalidade. Contudo, comparado com aquele
local sinistro, embora não tenha boas lembranças aqui pelo menos consigo
controlar os meus medos.
Levantei-me devagar, indo em direção ao banheiro. Fiz minha higiene
matinal e tomei um banho demorado. Coloquei uma saia preta e blusa de
gola alta branca, assim poderia esconder as marcas vermelhas ao redor do
meu pescoço. Minha atenção ficou direcionada para o barulho na porta, mas
quando ouvi a voz da minha sogra, respirei aliviada.
— Mia!
Assim que respondi, a porta foi aberta e ela surgiu à minha frente. No
entanto, era estranho Lorenzo ainda não ter aparecido. O som da voz de
minha sogra me arrancou dos meus devaneios.
— Você dormiu a manhã toda. E como Lorenzo havia dado ordens
para não acordá-la, acabei não vindo antes, mas o almoço será servido daqui
alguns minutos e não é bom você ficar tanto tempo com estômago vazio.
Havia preocupação em suas palavras. Nem dava para acreditar que
ela fosse mãe daquele monstro, mas do jeito que aquele insaciável não me
deixou fechar os olhos, não era estranho que eu tivesse apagado por tanto
tempo, porém, não pensei que já estava tão tarde.
— Lorenzo, está no escritório?
— Não! Achei que ele tinha lhe avisado que iria com Pietro para
Calábria, certamente só voltarão à noite.
Se ela soubesse que as únicas palavras que saem da boca dele,
direcionadas a mim, é para fazer suas vontades enquanto explora o meu
corpo como se fosse um pedaço de carne.
— Tinha esquecido que ele comentou ontem, após o jantar. E como
estava dormindo não o vi quando saiu.
— Então vamos, à tarde começarão as suas aulas.
Isso seria tempo perdido já que não pretendo ficar nesse lugar por
muito tempo, mas ela tem me tratado tão bem que não posso desapontá-la.
— Vamos! — Abri um largo sorriso em sua direção, quem sabe no
futuro ela não possa me ajudar a sair dessa prisão ao ver que não estou aqui
pela minha vontade.
Deixamos o quarto e quando chegamos no hall a voz enjoativa que
Antonella preencheu o cômodo.
— Bom dia, Mia. — Um sorriso falso estava estampado no seu rosto.
— Bom dia.
Caminhamos para mesa de refeição e agradeci mentalmente que ela
passou a refeição toda em silêncio. Parecia um tanto pensativa e depois que
terminamos ficamos na sala até o horário que uma mulher muito elegante
chegou. A dona Carlota, será responsável por me ensinar tudo que uma dama
da alta sociedade deve saber. Fiquei totalmente perdida em meio a tantos
detalhes, minha cabeça já estava doendo só em pensar que isso é só o
começo.
Horas depois quando enfim terminou todos aqueles ensinamentos,
subi para o meu quarto e acabei adormecendo. Quando acordei o dia estava
dando lugar à noite e a escuridão já se misturava com os últimos lampejos de
claridade. Aproveitei para tomar um banho relaxante e aromático com
lavanda, antes que Lorenzo chegasse, pois não queria que ele me encontrasse
no quarto, pois com certeza iria querer se enfiar entre as minhas pernas.
Andei para fora do quarto, porém, assim que cheguei ao corredor
ouvir uns ruídos e um vento frio passou por mim, dando voltas em meu
corpo. Por uma fração de segundos a claridade deu lugar a escuridão e tive a
sensação que um vulto passou por mim. Senti um latejar em meu braço como
se algo tivesse perfurado a minha pele. Respirei ofegante e o ar passou como
uma faca pelos meus pulmões.
A claridade voltou e certamente houve uma queda de energia. Minha
cabeça começou a doer de repente e meus olhos ameaçavam a ficar escuros.
Continuei caminhando e quando me dei conta, já estava no topo da escada.
Meu olhar foi ao encontro da minha sogra e Antonella que surgiram na sala
com uma expressão assustada no rosto.
Fechei os olhos por alguns segundos, pois estava me sentindo tonta e
quando desci o primeiro degrau tudo começou a rodar, minhas pernas assim
como todo o meu corpo ficaram pesados e tudo que me lembro foi do som da
voz de desespero da minha sogra e o meu corpo rolando pela escada abaixo,
enquanto batia meu quadril e as costas no concreto.
— Miaaaaaaa.
Capítulo 17
Calábria – Itália
LORENZO
A cordei num sobressalto e embora tenha dormindo por minutos tive a
impressão de ter sido uma eternidade. Por mais que eu tentasse acordar, me
encontrava preso em meio as trevas e ao contrário dos incontáveis pesadelos
que já tive na vida, dessa vez não era Geovani que estava nele e sim o
desgraçado do Antony. Quando me livrei das profundezas daquele tormento,
deixando a escuridão para trás e a claridade invadiu minhas retinas, acabei
dando um grito capaz de fazer qualquer um acordar, porém, a mulher que
estava ao meu lado mantinha seus olhos fechados e sabia que ela estava
fingindo.
Lembrar das feições daquele maldito traidor só fez todos meus
órgãos internos dispararem e uma onda escaldante tomou conta do meu corpo
inteiro e a única coisa capaz de fazer meus demônios adormecerem e aquela
sensação ruim se dissipar, é ver o sofrimento nos olhos dela.
Quanto mais me deliciava daquele belo corpo, sentir sua boceta
apertar o meu pau só aumenta ainda mais o meu desejo, me fazendo querer
mais e mais. Não que eu estivesse satisfeito, mas ao lembrar que dentro de
uma hora terei que encontrar o Pietro, tive que aumentar a velocidade dos
meus movimentos e assim que fui envolvido por um orgasmo devastador a
ponto da minha respiração ficar alterada, quando levantei cabeça ela estava
desfalecida à minha frente. Depois disso a peguei em meus braços e
caminhei em direção a passagem secreta que nos levará até o nosso quarto.
Tomei um banho rápido e antes de ir ao encontro do meu irmão,
passei pelo quarto de mamma, avisando para não incomodar Mia, não por
saber que ela estava cansada, mas sim porque quando chegar, eu quero
encontrá-la com suas forças revigoradas, já que tenho ótimos planos para
noite e ela será o centro da minha diversão. Quase uma hora depois
chegamos à Calábria, já estava na hora de Pietro começar a participar
diretamente dos assuntos da máfia, já que sempre teve em sua vida mundana
uma rotina cheia de extravagância. Depois do roubo das cargas na
madrugada do meu casamento, todos os pensamentos ficaram voltados para
uma ideia fixa na minha cabeça. Fiquei tão cego pelo ódio imensurável que
sinto pelo miserável do Antony, que antes não havia cogitado que alguém
dentro da nossa organização pudesse ser seu aliado e durante todo esse
tempo o nosso pior inimigo esteve mais próximo que imaginamos.
Poderia matar todos os membros do conselho e dessa forma acabaria
de vez com essa erva-daninha, porém, além de perder grandes aliados, se
tem uma coisa que aprendi em meio a toda dor, tanto sofrimento que passei
para me tornar quem eu sou, foi que quanto maior o obstáculo, a conquista
será mais gratificante, na hora certa eu farei esse infeliz cair na própria teia
que vem tecendo, e seja quem for farei com que os seus últimos dias na terra
sejam repletos de muita dor e desespero. Pois o preço de uma traição é a
morte.
Deixei os devaneios de lado e passamos o dia todo percorrendo os
lugares na região da Calábria, onde temos aliados e aproveitando para ir ao
encontro do chefe da Ndrangheta. Com todos os problemas resolvidos e
satisfeito por ver pela primeira vez o meu irmão tão focado nos assuntos da
organização. Deixamos o lugar e assim que chegamos à pista de pouso em
Nápoles, três carros já estavam a nossa espera.
Depois que os veículos entraram em movimento, minutos depois
saímos da estrada principal nos deparando com um enorme fluxo de
veículos. O que era estranho já que aquele trecho da estrada sempre foi
tranquilo e segundo os meus homens um acidente havia acontecido e com a
lentidão, levaremos quase uma hora para chegar em casa. Um raio não cai
duas vezes no mesmo lugar e não era a primeira vez em tão pouco tempo que
me deparava com uma situação onde a estrada estava bloqueada por algo
semelhante ter ocorrido.
Enquanto Pietro estava com sua atenção voltada para o celular em
suas mãos, comecei a ficar inquieto. Meu corpo inteiro parecia mais uma
fornalha de tão quente, me causando um desconforto enorme. Por uma fração
de segundos tudo que surgiu em minha frente foi a imagem da mulher que se
tornou a maior fonte do meu prazer como do meu ódio. Algo estava me
queimando por dentro fazendo com que as trevas que habitam dentro de mim
me envolvesse por completo.
Saí do veículo e com minha arma em punho, meus olhos varreram o
lugar ao meu redor até ir ao encontro do sujeito que estava falando no
celular em cima de uma moto. Assim que acabei com a distância entre nós
dois, antes que ele tivesse qualquer reação o puxei de cima da moto e
quando coloquei o mesmo em movimento ainda pude ouvir o som da voz de
Pietro me chamando, mas a sensação que se apoderou de mim era
inexplicável e algo me puxava em direção à mansão Santoro.
O vento gelado batia em meu rosto. Segurei firme no acelerador
fazendo a moto atingir a velocidade máxima permitida, quando cheguei
próximo ao portão principal, rapidamente ele começou a ser aberto, mas um
blecaute tomou conta do lugar à minha frente, travando o objeto. Desci da
moto e ao me virar constatei que a metros de distância havia um clarão que
dava a certeza que a falta de energia foi somente na mansão.
Como um passe de mágica a escuridão deu lugar a claridade e na
velocidade de um raio corri para dentro. Antes que eu chegasse até à porta
ouvi alguns gritos e quando adentrei na sala a imagem que surgiu à minha
frente fez meu corpo inteiro sacudir com espasmos incontroláveis. Meu
coração batia com muita força, minha pulsação ficou irregular, nunca em
toda minha vida havia sentido uma sensação dilacerante como se tivesse um
grande vazio dentro de mim.
Avancei em sua direção ao ver o corpo que parecia sem vida,
esparramado no chão. Sua pele estava fria, seu rosto horrivelmente pálido.
Os batimentos cardíacos fracos e ao levantar suas pálpebras, pude constatar
que seus olhos estavam ficando opacos e sem brilho. Meus pensamentos
foram interrompidos assim que som da voz de Antonella, ressoou no espaço.
— Ela tropeçou e caiu da escada.
— Leve ela para o carro e eu irei com vocês. Só preciso pegar algo
no meu quarto — meus olhos encontraram os da minha mãe e pela sua
expressão, eu sabia o que aquilo significava. Respirei fundo para manter
todo o meu autocontrole, a peguei em meus braços, caminhando em direção a
garagem. Ainda pude ouvir o som da voz de mamma, dando ordens para
Antonella ligar para o médico da famiglia.
A sorte daqueles infelizes que estavam causando o engarrafamento na
estrada era que o percurso para o hospital era outro, caso contrário teria que
matar todos para chegar mais rápido ao nosso destino. Minutos depois,
mamma surgiu em meu campo de visão e o carro entrou em movimento. Meu
olhar foi em direção ao frasco em uma de suas mãos e assim como eu, ela
sabia que o estado de inconsciência de Mia, não era somente pela queda e
sim porque estava morrendo.
Apertei o portão levantando a divisória nos separando do motorista.
Enquanto dava o antídoto a ela, suas palavras se fizeram presentes.
— Quando a vi no topo da escada, percebi pelas expressões faciais
que havia algo de errado. Dava para ver que ela estava com dificuldade para
respirar, e era justamente o que aconteceu com você e o seu pai no passado.
Graziela Santoro, além de ser a matriarca da famiglia é a melhor
herborista que existe. Sempre foi a pessoa que mais admirei na vida e meu
pai não teria chegado tão longe se não fosse pela sabedoria e conhecimentos
da mulher que sempre esteve ao seu lado. No mundo em que vivemos se
você não é morto por uma bala, será de alguma forma envenenado.
Atrás da sua estufa, cheias de belas orquídeas, ficam suas ervas
medicinais as quais ela não só salvou a vida do meu pai como a minha
também. Algo totalmente desconhecido por todos já que Enrico, guardou
essa informação como se fosse o maior tesouro do mundo, assim nossos
inimigos nunca saberão o verdadeiro motivo de continuarmos vivos.
O ódio estava inflamando em minhas veias. Pelo celular acessei
todas as câmeras de segurança desde o momento que ela deixou o quarto,
mesmo com a queda de energia isso não afetou o sistema, porém, no
momento que teve o blecaute ela parou e pela sua expressão era como se
tivesse sentindo dor e seu olhar foi em direção ao seu braço esquerdo, mas
não tinha ninguém além dela no lugar.
Se não fosse pelo envenenamento poderia cogitar que ela caiu de
propósito da escada. Contudo, além dos sintomas, encontrei uma pequena
mancha avermelhada em seu braço o que confirmava as nossas suspeitas.
Passei o restante do percurso até o hospital organizando os meus
pensamentos. A viagem para Calábria, o acidente na estrada que certamente
foi para retardar a nossa chegada. Um blecaute repentino, a queda da escada
e se não fosse pela minha mãe, a Mia a essa altura estaria morta.
Todavia, tudo aconteceu nesse curto intervalo de tempo. Embora
ainda tenha algo que preciso descobrir para chegar até o infeliz, uma coisa é
certa, alguém que sabia da minha viagem e tinha acesso à mansão, porém, o
maior erro do infeliz foi ter escolhido o alvo errado, e isso só despertou
ainda mais a minha fúria.
Enquanto eu respirar, vou enviar qualquer um que seja ao inferno se
fizer algo a ela. Pode ter mil formas de matá-la, mas ninguém além de mim
fará isso.
Capítulo 18
Nápoles
LORENZO
A ssim que chegamos ao hospital a equipe de Salvatore já estava de
prontidão para recebê-la. Embora minha mãe tivesse dado o antídoto a ela,
mas ainda assim é necessário que ela realize vários exames.
Enquanto a levaram, ficamos em uma sala privativa. Mamma estava
falando com Pietro ao telefone e um turbilhão de pensamentos passaram pela
minha cabeça ao mesmo tempo. Certamente que nada tem me dado mais
prazer do que vê-la sofrendo e principalmente quando o medo cru e agudo
está visível naquelas órbitas esverdeadas, porém, saber que o estado em que
ela se encontra não foi causado por mim e que a essa altura a fonte da minha
diversão poderia estar morta, só despertou ainda mais a minha fúria.
Segundos que rapidamente se transformaram em minutos. Minutos
que estavam próximos a dar espaço para uma hora, mas quando o homem que
por anos vem cuidando dos Santoro surgiu à minha frente ele se tornou o
centro da minha atenção. Tanto minha quanto de Graziela Santoro, já nos
conhecendo ele sem rodeios começou a falar.
— Ela está fora de perigo, no entanto, se vocês não tivessem agido
rapidamente o pior teria acontecido. A substância que ainda encontrei no
sangue dela era a mesma que foi usada em você quando era somente um
garoto.
— Então se trata da mesma pessoa — elucidou minha mãe.
O homem continuou a falar, passando algumas recomendações. Mia
ficaria ainda em observação por alguns dias. Graziela continuava a
conversar com o homem, todavia, meus pensamentos estavam voltados para
o que ele havia dito minutos atrás. Quando ainda criança Enrico, anunciou a
todos que meu treinamento iria começar, porém, uma semana depois acordei
suando frio e o implacável chefe da Cosa Nostra, ciente do que aquilo
significava acabou me dando a substância feita por mamma, antes que
chamasse Salvatore. Mesmo sabendo que eu não corria mais perigo, acabou
por pedir segredo ao seu velho amigo e todos os membros do conselho
acabaram por acreditar que era somente uma virose.
Desde então ele passou a controlar tudo que me era servido, o
envenenamento não ocorreu por algo que eu tivesse ingerido, já que todos
comiam a mesma comida. O que ele acreditava ser algum inimigo que no
passado quis acabar com sua vida e como não conseguiu, voltou a sua
atenção para o próximo alvo que era eliminar o herdeiro que daria
continuidade ao seu legado, enfrentando mais uma vez o chefe da nossa
organização estava errado, o inimigo, na verdade, estava mais próximo do
que ele cogitava.
No mundo sombrio que é a máfia, sangue é derramado. A ambição
leva muitos ao caminho da traição e mesmo tendo muitos inimigos que
cobiçam o nosso território ninguém conseguiria facilmente chegar até ela, as
palavras de Salvatore só me deram a confirmação das minhas suspeitas. O
fato de não aparecer nada nas imagens não significa que não estivesse
alguém, pois nem tudo que se vê é o que parece, nem tudo que parece é o que
realmente é.
"Farei o infeliz acreditar que tudo está saindo como ele tanto deseja
e no momento certo, ele caíra na própria armadilha".
Enquanto isso...
PAOLO
— Espero que tudo tenha saído como planejamos.
— Fiz exatamente como o senhor ordenou, papà. Mesmo o maldito
chegando até à mansão já era tarde demais, pois até descobrir o que
realmente tinha acontecido a substância já estava correndo pelas veias da
vadia.
— O demônio do Enrico teve muita sorte e acabou trazendo ao
mundo aqueles dois desgraçados, mesmo tentando eliminar o fedelho, algo
saiu errado e o infeliz que acabei matando para não descobrirem o que eu
tinha feito, falhou quando disse que tinha envenenado Lorenzo, mas dessa
vez não deixarei que ele tenha um herdeiro.
— Um obstáculo foi eliminado e agora vamos atingi-lo no ponto que
certamente nos levará ao caminho da vitória. Graziela Santoro logo estará
fazendo companhia ao seu querido esposo.
MIA
Sinto meu corpo dolorido como se um caminhão tivesse passado por
mim. Minhas pálpebras estão pesadas, mas o som das vozes ecoando ao meu
redor me incitaram a lutar para abrir os meus olhos, no entanto, antes que
isso viesse acontecer as lembranças invadem a minha mente. Imagens
começam a surgir aos poucos, depois se transformam em flashes rápidos em
meu cérebro.
O desespero tomou conta de mim, me forçando a abrir imediatamente
e por fim me deparo com uma forte claridade. Meus olhos ficaram fixos nos
dois responsáveis pelos sussurros que estava ouvindo segundo atrás, porém,
eu não sabia o que era pior ficar naquela escuridão sendo consumida pelo
meu desespero ou sair dela e encarar a personificação da crueldade.
— Mia, que bom que acordou — disse minha sogra.
Fiquei desorientada, não por ver a expressão dela que de
preocupação deu lugar a um largo sorriso e sim pelo jeito como Lorenzo
estava me olhando, por alguns segundos, vi um brilho que já tinha visto
antes, porém, como um estalar de dedos suas órbitas ficaram mais sombrias
que a escuridão onde eu me encontrava antes.
Meus olhos circularam por todo ambiente, no calor do momento não
tinha me dado conta do lugar onde estava, mas ainda estava confusa. Antes
de deixar o nosso quarto eu estava me sentindo tão bem, porém, no momento
que passei por aquele corredor tudo mudou. Desde a sensação ruim que
pairou sobre mim, como um latejar em meu braço, depois disso era como eu
tivesse aos poucos perdendo o controle de todos os meus sentimentos dos.
Saio dos meus devaneios ao ouvir a voz da dona Graziela
novamente.
— Você vai ficar em observação, mas graças a Deus que não estava
grávida ou teria acontecido uma fatalidade.
Suas palavras me atingiram como se em vez de ter quebrado só o
meu braço, todos os ossos do meu corpo estivessem sido estraçalhados.
Fechei os meus olhos para conter as lágrimas que já insistiam em cair.
Grávida! Isso é algo que jamais acontecerá.
Nos momentos seguintes a minha sogra continuou falando, enquanto o
demônio do Lorenzo parecia perdido em meios aos seus pensamentos
sombrios. Quando ela deixou o ambiente, ele permaneceu, mas eu já não
conseguia manter os meus olhos abertos e a única coisa que lembro antes de
me entregar ao sono foi do seu olhar fixo em mim.
Na manhã seguinte...
Acordei sentindo um forte desconforto. Meu coração batia
descompassadamente dentro do meu peito. Tentei respirar fundo algumas
vezes para afastar aquele incômodo, no entanto, o calor começou a irradiar
por todo o meu corpo me deixando em chamas. Abri os meus olhos ficando
totalmente incrédula com a imagem que surgiu à minha frente.
“Isso só pode ser um pesadelo”.
Capítulo 19
Nápoles – Itália
MIA
A cabeça do homem que estava até segundos atrás enfiada entre minhas
pernas, logo foi erguida e seus olhos encontraram os meus. Eu me negava
acreditar que a imagem que estava vendo era real, como esse demônio pode
pensar em fazer sexo depois de tudo que passei e principalmente
estando nesse lugar. Diante das últimas palavras que passaram pela minha
cabeça e com medo que alguém entrasse no cômodo, pois estando ali, com as
pernas escancaradas, minha vagina exposta totalmente indefesa à mercê
dele. Instintivamente tentei fechar as pernas, obviamente, não consegui
movê-las mais do que alguns centímetros. Lorenzo acabou por interceptar o
meu ato e ele que até então estava calado somente me observando resolveu
quebrar o silêncio.
— VOCÊ CONTINUA QUERENDO ME CONFRONTAR!
Engoli em seco ao ver suas feições mudarem e seus olhos ganharem
um tom mais escuro. Ainda estava sentindo o meu corpo dolorido e só de
imaginar o que ele poderia fazer, resolvi me manifestar na tentativa de
controlar a fera que a qualquer momento poderia avançar em cima de mim.
— Al... Alguém pode entrar — disse com um tom fraco, pois quase
que as palavras não saíram. Ele desviou seu olhar do meu rosto em direção à
porta e acabei por direcionar minha atenção para ela também. Mas quando
ele voltou sua atenção novamente para mim, minha garganta se fechou e meu
coração acelerou ainda mais.
— Mia, sua inocência chegar a me irritar. Você acha mesmo que o
fato de estar nesse lugar vai me impedir de fazer o que tenho vontade.
Ninguém é louco o suficiente para entrar por aquela porta, pois sabe que o
destino será a morte. Então querida esposinha, abra mais suas pernas
e aproveite, porque hoje você saberá que mesmo tendo mil motivos para me
odiar o seu corpo diz totalmente o contrário.
Antes que eu assimilasse direito suas palavras ele abaixou sua
cabeça, se enfiando novamente entre minhas pernas. Fiquei na expectativa,
pois novamente tudo que iria sentir era dor, porém, um gemido alto
escapou entre meus lábios quando senti sua boca quente na minha intimidade.
Sua língua começou a deslizar pela minha vagina como se ele tivesse
lambendo um delicioso picolé, e ciente que poderia derreter iniciou
movimentos implacáveis, passando pela minha fenda até chegar em meu
clitóris me fazendo estremecer. Lorenzo me lambia, chupava meu clitóris,
mordia meus lábios vaginais enquanto uma onda de prazer tomou conta do
meu corpo inteiro. Então o calor escaldante pressionou ao longo do
meu corpo, minhas mãos se moveram até os seus cabelos, pois meu
desespero era tão grande diante das sensações que me envolveram que
comecei a empurrar sua cabeça numa tentativa de aprofundar ainda mais o
contato de sua boca faminta na minha boceta. Naquele momento a única coisa
que eu tinha certeza era que não desejava de forma alguma que ele parasse.
A cada toque daquela língua habilidosa em meu clitóris inchado,
sentia o meu corpo todo tremer em meio ao prazer. Ele continuou explorando
cada fibra do meu sexo e a sensação que eu tinha era que estava recebendo
pequenas descargas elétricas, fazendo arrepios percorrerem pelo meu corpo.
Segurei firme em seus cabelos quando senti minha vagina se contrair,
ele como se soubesse o que eu estava sentindo, enfiou dois dedos dentro de
mim e começou a me acariciar. Minha boceta se apertava em volta dos seus
dedos, enquanto Lorenzo esfregava a língua rudemente pelo meu clitóris.
Algo estava me queimando por dentro e quando um ruído agudo saiu
rasgando a minha garganta uma sensação inexplicável se espalhou pelo meu
sexo, um prazer deliciosamente doloroso e o toque da sua boca no botão
sensível da minha vagina só aumentou os tremores pelo meu ventre.
Com a respiração ofegante, fechei os meus olhos ainda sentindo o
meu corpo todo se contorcer. Minha cabeça estava dando voltas e meu corpo
flutuando. Durante todo esse tempo eu estive no inferno, mas hoje por alguns
minutos eu tive a certeza que estava no paraíso.

Horas depois...
LORENZO
Suguei, lambi, cheirei, esfreguei o meu rosto inteiro naquela boceta
deliciosa. A cada gemido de arrebatamento que ecoava no ar, intensificava
ainda mais a pressão da minha boca contra seu sexo pulsante.
Mia somente gemia e me agarrava pelos cabelos, enquanto
sugava cada gota do mel lubrificante que pudesse estar naquela gruta. Meu
pau latejava freneticamente querendo sair de dentro das minhas calças e se
enfiar dentro dela. Mas depois dos últimos acontecimentos e sabendo que
não iria me controlar e certamente só agravaria o seu estado, respirei fundo e
quando deixei sua boceta totalmente limpa levantei a cabeça e a mulher à
minha frente estava desfalecida sobre a cama.
Levantei-me num pulo e ao checar seus batimentos cardíacos,
percebi que ela só havia desmaiado. No entanto, um esboço de um sorriso
surgiu em minha face. De duas uma; Mia não aguentou as próprias sensações
que tomou conta do seu corpo ou temerosa pelo que estava por vim, acabou
caindo no sono do esquecimento.
"Meu olhar ficou fixo em seu rosto que tinha uma expressão suave e
por hoje eu a deixarei descansar, mas assim que voltar para casa mostrarei
que o inferno é o único lugar que desejo que ela permaneça para sempre".

PAOLO
Maldição!
— Se você não fosse o meu filho, eu acabaria agora mesmo com a
sua vida miserável. Seu incompetente!
— Eu fiz exatamente como havíamos planejado, mesmo que o
desgraçado tenha levado aquela infeliz para o hospital não teria como
sobreviver, após ter passado tanto tempo com aquela sustância no corpo.
Algo ele deve ter feito.
Fiquei alguns minutos em silêncio, talvez as palavras dele façam
sentido, pois nas duas tentativas de matar o maldito do Enrico e o fedelho
que ele tinha por herdeiro, milagrosamente os dois acabaram escapando.
Decerto que Salvatore é um dos melhores médicos desse país, fez várias
especializações e sei que agindo imediatamente conseguiria descobrir o
sintoma de um envenenamento sem precisar de nenhum exame, mas no caso
do miserável do Lorenzo, eu fiz de tudo para retardar sua chegada à sede da
máfia, mas o fedelho acabou saindo ileso e disseram que era somente uma
virose. Possuído por uma fúria incontrolável, nem deixei que o imbecil
responsável pelo serviço se explicasse direito, mesmo afirmando que havia
feito tudo certo, enviei o direto para as profundezas da escuridão. Voltei
minha atenção novamente para o homem à minha frente e o som da minha voz
entoou no ambiente.
— Agora com os pensamentos mais claros a única explicação que
vem em minha mente é que eles usaram algum antídoto para eliminar o efeito
do veneno. Sendo assim ele intensificará a segurança em volta daquela vadia
e de todos ao seu redor.
— O senhor não acha estranho ele nunca em casamento e do nada
voltou de Nova York pronto para se casar? Algo me diz que se descobrimos
quem é Mia de verdade, conseguiremos atingir aquele infeliz.
— Você tem toda razão, Lorenzo não iria se unir a alguém somente
pelos encantos daquela rapariga. Mia pode ser o passaporte para destruir de
vez aquele miserável.
Capítulo 20
Nápoles – Itália
MIA
A inda não consigo acreditar que meu corpo correspondeu ao homem que
nos últimos tempos não só é responsável pela dor imensurável que sinto em
meu peito, como me fez sentir tanta dor física que achei que não iria
suportar.
Era tantas sensações que não conseguia controlar. Meu corpo inteiro
parecia que estava pegando fogo e fui tomada por algo tão devastador que
sentia que estava flutuando. Quando senti minha cabeça girar em meio a tudo
que estava sentindo, o medo apoderou-se de mim e já conhecendo o homem
que tenho como marido, sabia que o pior estava prestes a acontecer.
Temerosa me entreguei a escuridão, dessa forma eu estaria segura.
Quando acordei, me deparei com ele com o olhar fixo na tela do
notebook e não demorou muito para que uma enfermeira adentrasse no
quarto. Antes do meu almoço, ela iria me ajudar a tomar um banho. Mas a
mulher logo deixou o cômodo quando o desalmado de forma grosseria disse
que ninguém iria entrar comigo no banheiro. Depois que a mulher saiu,
Lorenzo me pegou em seus braços e fiquei em silêncio já que não iria
adiantar lutar uma batalha que não se pode vencer, mas fácil é deixar o
inimigo baixar a guarda e no momento certo atacar.
Nem banho pude tomar sozinha e mesmo não transando comigo, seus
dedos diabólicos passaram um bom tempo se esfregavam em meu sexo, para
logo depois se moverem levemente sobre o meu corpo até pararem em meus
mamilos e massageá-los ao ponto de novamente uma onda de calor apossar-
se de todo o meu corpo. Um banho que durou mais tempo que o normal, seus
olhos estavam ardentes, sua expressão era de quem estava se controlando
para não se livrar das suas roupas, mas sendo quem era acabou transando
comigo ali mesmo, porém, seus movimentos não estavam violentos e não
demorou muito para que ele gozasse dentro de mim.

Dois dias depois...


Como tudo que é bom dura pouco a minha passagem aqui chegou ao
fim. Qualquer um no meu lugar estando no hospital ficaria louca para volta
para casa. Entretanto, desde que soube que já estava liberada e que dentro de
alguns minutos irei embora, estou inquieta, pois novamente a minha vida será
um mar de sofrimento.
Embora o tempo que fiquei aqui, tive a infelicidade de estar boa
parte do tempo junto com Lorenzo, pelo menos eu me sentia segura e livre
das suas maldades. O homem mais parecia um cão de guarda, praticamente
se mudou para esse quarto e com seu notebook em mãos foi suficiente para
ele só sair do quando foi fazer suas refeições.
— Mia, vamos.
Deixei as lembranças de lado no instante que escutei o som da sua
voz. Levantei-me e ele logo pegou em minha mão e assim que passamos pela
porta ele deu ordem para que um dos seus seguranças, que estava feito uma
estátua, próximo à porta, para pegar as minhas coisas. Juntos, caminhamos
em direção a garagem e no momento que o carro entrou em movimento,
enquanto ele falava ao telefone, vários pensamentos martelavam a minha
mente. Desde que acordei naquele quarto tenho observado que ele não se
afastou de mim. Mesmo sabendo que ele é um mafioso, toda aquela
segurança na porta do quarto, assim como os carros que estavam fazendo a
nossa escolta de volta para casa, só fez com que aumentasse a minha
curiosidade do porquê toda essa movimentação a nossa volta.
Instantes depois, quando chegamos à casa assim que entramos no
ambiente me deparei com minha sogra, Pietro, Antonella e também tinha um
homem muito bem-apessoado por sinal. A minha sogra demostrava pela sua
expressão que estava feliz por estar de volta, também observei pelas feições
do meu cunhado que suas palavras foram sinceras. O homem que estava na
sala descobri que se chamava Dante, ele é conselheiro da organização.
O telefone de Lorenzo tocou e ele se afastou para atender, Antonella
estava com a minha sogra e Pietro, falando algo que não compreendi por ser
em italiano. Eu não sei explicar mais de repente senti um calafrio percorrer
o meu corpo, como se uma rajada de vento tivesse passado por mim, ao
levantar a cabeça os olhos do tal Dante estavam cravados em minha direção,
era um olhar estranho, como se estivesse me estudando, como se estivesse
tentando desvendar alguma coisa.
Horas depois...
DANTE
Depois que descobrimos que desgraçada tinha sobrevivido e ciente
que precisamos investigar o passado da infeliz. Não poderíamos nos afastar
da Itália, já que o maldito poderia desconfiar, no entanto, com alguns dos
nossos aliados infiltrados em Nova York, o que poderia levar dias para que
pudéssemos descobrir, acabou levando somente questão de
horas. Alessandro, ao ir até o bordel para nossa sorte uma das puttanas de lá
chamada Sarah, pensou que ele poderia ser um milionário o qual ela poderia
tirar proveito, depois de algumas taças de champanhe, acabou revelando uma
informação muito valiosa que certamente é a chave para descobrir quem ela
é, e principalmente o porquê o miserável de repente ficou rendido aos
encantos da maledetta.
Pelo que a vadia falou, uma das novatas que se chamava justamente
Mia, acabou se tornando a exclusiva do chefe e pelo que tinha ouvido falar,
ela já estava destinada a ir para o bordel desde o seu nascimento. Com essas
informações nossos homens após subornar um imbecil que trabalhava no
bordel, descobriu o lugar onde ela vivia antes de chegar à casa de luxo.
Sei que a qualquer momento, receberemos a notícia que tanto
estamos almejando, porém, com o desgraçado enfiado naquele hospital,
certamente para não deixar que outra tentativa contra a vida da sua querida
esposa venha a acontecer. Ele acabou por omitir o que realmente aconteceu
naquela noite, para os membros do conselho a esposa da família
simplesmente teve um mal-estar, se desequilibrou e caiu da escada.
Tive que vir até à mansão Santoro já que tinha alguns assuntos
pendentes e documentos que precisavam da assinatura do traste. No entanto,
ao olhar atentamente para a mulher à minha frente, não nego que ela é uma
coisinha bem deliciosa e poderia facilmente me divertir com ela, assim que
acabar com a vida do maledetto. Conhecendo o demônio, ele jamais faria de
uma puttana a dama da máfia, o que só confirmava que havia um grande
segredo em volta dela.
Horas se passaram e com tudo já resolvido, segui em direção ao meu
carro e no momento que entrei no veículo. Meu celular começou a vibrar e
ao atender a ligação a voz do meu pai se fez presente.
— Preciso que venha imediatamente até à minha casa.
— Aconteceu alguma coisa?
— Você não faz ideia de quem realmente é Mia Santoro.
Capítulo 21
Nápoles – Itália
PAOLO
A ssim como o infeliz do meu primo. Lorenzo, se tornou uma pedra muito
maior em meu caminho.
Sempre soube que Enrico viu naquele fedelho, que tenho por
sobrinho, um grande potencial para se tornar o seu sucessor, acabou fazendo
dele uma cópia melhorada de si, já que transformou uma criança em um
verdadeiro monstro. Ver aquele garoto de aparência frágil e magricelo me
fez cogitar que seria fácil tirá-lo do meu caminho. Contudo, como sempre
para acompanhar de perto tudo que acontecia com as pessoas que mais odeio
nessa vida, tive que esconder todas as minhas emoções e ser o membro
dedicado que estava ali só para servir aos interesses da famiglia, que daria
a sua vida pela organização.
Nunca imaginei que aquela criança chegaria tão longe, certamente
assim que iniciou o seu treinamento ele foi marcado com o símbolo da nossa
organização, notei que o pirralho era muito mais forte do que eu havia
pensado, depois que matou Giovani, começou a ser admirado por todos os
membros do conselho o que não era conveniente para os meus planos.
Quando achei que tinha dado um fim na sua vida, para a minha supressa ele
sobreviveu, então achei que o infeliz tinha feito algo de errado, por isso não
colocou a substância que levaria o herdeiro da máfia a morte.
Agora depois de tantos anos, diante dos últimos acontecimentos, veio
a confirmação que ele se salvou por ter ingerido algum antídoto e foi
certamente o que deram para a Mia Santoro. Dante, tinha realmente razão e a
melhor arma para enfrentar o capeta estava ligado a vadia que ele escolheu
como esposa. Depois da ligação que recebi minutos atrás vários
pensamentos se fizeram presentes em minha mente, e com eles muitas
dúvidas estão fazendo a minha cabeça ficar quente como se estivesse em
chamas.
— Pai!
A voz do homem que surgiu no meu campo de visão. Trouxe-me de
volta a realidade. Com passadas longas, ele veio andando em minha direção,
embora o lugar não tenha uma forte claridade, aqui sempre foi o nosso ponto
de encontro. Dessa forma ninguém jamais soube de fato a nossa verdadeira
ligação. Assim que ele parou à minha frente novamente o som da sua voz me
chama a atenção.
— O que o senhor descobriu? — estava nítido em sua expressão o
quanto estava curioso.
— Te faz lembrar alguma coisa o sobrenome Ferrari? — seus olhos
logo ficaram arregalado e só piorou quando voltei a falar. — A mulher que o
desgraçado tomou como esposa é Mia Ferrari, a filha daquela vadia e o
maldito do Antony.
— Enrico disse a todos que havia matado Soraya e a criança que ela
carregava em seu ventre.
— Parece que o miserável acabou salvando a criança. Dessa forma a
usaria para ser uma das prostitutas do bordel. Porém, Lorenzo traçou um
plano totalmente diferente quando conheceu a infeliz, no entanto, todos temos
conhecimento que ele fez questão de arrancar o coração de Antony com suas
próprias mãos e se não tivesse fora do país, teria feito o mesmo com Soraya.
Entretanto, a dúvida é por que resolver casar com a filha do homem que ele
tanto odiava e principalmente esconder de todos quem ela realmente é?
— A não ser que achou melhor mantê-la viva e fazer da sua vida um
verdadeiro inferno ou simplesmente mesmo tendo um ódio descomunal existe
algo muito mais forte que o impedi de acabar com ela. Chega a ser irônico
que o homem de coração de gelo veio a sentir algo justamente pela filha
daquele que acredita ser um traidor. Quando, na verdade, foi um objeto que
usamos para esconder tudo que estávamos fazendo.
— Lorenzo assim como Enrico, sempre foram dominados pela raiva
e isso foi um trunfo a nosso favor. Já que com todas as evidências indicando
que ele era o culpado, eles não deram tempo para que Antony contasse o que
havia descoberto e depois de termos cortado a língua do maldito, só deu a
confirmação que ele tinha feito isso para omitir os fatos e não entregar seus
aliados.
— Então temos uma vantagem muito maior ainda. Ele casou com ela
por vingança, podemos usar isso para benefício próprio, pois daremos um
jeito de fazê-la descobrir da pior forma possível como pai e filho, mataram
os pais dela.
— Dessa vez nada irá me impedir, e Mia Santoro será assim como o
seu pai mais um peão em nossas mãos, sabendo usar a influência dela, ela
tornará a peça mais importante desse jogo. E assim acabaremos de vez com
o Lorenzo Santoro.
LORENZO
Acabei por passar os últimos dias no hospital. Qualquer pessoa que
trabalhe ali, se tornou uma ameaça em potencial para segurança de Mia,
poderia facilmente concluir o serviço que havia começado.
Quando ela desmaiou, aproveitei para deixar minha mãe com ela,
pois precisava resolver alguns assuntos entre eles, saber realmente como ela
havia sido envenenada. Ciente que o inimigo conhece muito bem o território
que está percorrendo, em vez de fazer uso dos serviços do pessoal da nossa
organização, pedi ao Pietro que entrasse em contato com um velho amigo
dele que conheceu em Londres, em uma de suas viagens pelo mundo, onde
vivia esbanjando dinheiro gastando-o com farras, mulheres, jogos e bebidas.
Depois que entrei em contato com Cláudio, passei a ele as
informações que desejava e ao voltar para o hospital, minha atenção se
voltou para tela do aparelho em minha frente. Desde o momento que juntei os
fatos do acidente na estrada, o blecaute e a expressão dela no corredor. Tudo
aquilo tinha ligação e a confirmação veio horas depois, quando um dos
maiores gênios da tecnologia conseguiu de fato recuperar a verdadeira
imagem que havia sido interrompida, dando assim ao infeliz tempo para
atingi-la. Meu olhar ficou grudado na imagem do homem, vestido todo de
preto e com o rosto coberto, no exato momento do apagão, ele se moveu
rapidamente e injetou a substância no corpo dela.
Meu corpo todo logo ficou em chamas, mas tentei acalmar os meus
demônios que já estavam agitados, gritando por sangue fresco. Diante
daquela situação precisava pensar como os malditos, se Mia foi um alvo que
deveria ser eliminado por ter se tornado uma Santoro e dessa forma iriam me
atingir, eles sabendo que não haviam conseguido, buscarão outra forma para
fazer isso.
Provavelmente eles devem estar querendo descobrir a origem dela.
Um risco que eu teria que correr, mas se o inimigo realmente for aliado de
Antony, depois de algumas informações saberão quem ela realmente é, caso
contrário não terá como ligar os fatos. Pensei no casal que estava com ela
durante os dezoito anos da sua existência justamente o que deveriam fazer
caso minhas suspeitas viessem a se tornar realidade.
Quando cheguei à nossa casa meu celular tocou tive a confirmação
que o desgraçado realmente fez o que eu estava pensando e sem dúvidas o
seu próximo passo será revelar a verdade. Algo que eu mesmo já teria feito,
cogitei por diversas vezes e a única coisa que aconteceria era me alimentar
ao ver seu sofrimento quando descobrisse a verdade. Embora, ela seja o
passaporte para acabar com o miserável do traidor, eu não irei deixar que
nada venha acontecer a ela. No entanto, esse infeliz só estará vindo direto
para a toca do lobo.
"Mia é minha, querendo ou não, e ainda não fiz com ela nem a metade
do que tenho em mente e se ela tentar me trair terá um fim muito pior que os
pais."
Capítulo 22
LORENZO
D epois dos assuntos que tinha para resolver com Dante. Ainda permaneci
no meu escritório já que aguardava ansioso pela ligação do homem que me
levará a descobrir o nome do maldito traidor.
Minutos se passaram e o dia deu lugar à noite. Graziela me informou
que em poucos minutos já iriam servir o jantar. Enquanto Mia, deixei a
infeliz descansar a tarde toda, já que hoje ela irá me pagar pelos dias que
não pude me deliciar do seu belo corpo direito e deixar meus demônios
quietos ao ver o medo estampado naquelas órbitas esverdeadas.
Com a possibilidade que Dimitri ainda não tenha descoberto entre os
comparsas do desgraçado o nome do seu chefe, já que não poderíamos
levantar suspeitas e o maldito descobrir que eu estava a um passo de saber
sua verdadeira identidade. Levantei-me e assim que iria me mover em
direção à porta, meu celular começou a vibrar e ao atender a ligação a voz
grave do homem que foi destinado para essa missão ressoou do outro lado.
— Chefe!
— Você já tem as informações que solicitei?
— Ainda não, porém, consegui me infiltrar entre os homens que
foram enviados para descobrir tudo sobre a vida da senhora Santoro, mas o
motivo da minha ligação é para informar que já eliminei os dois infelizes.
— Você sabe que o prazo que te dei o está terminando. Espero que
seja tão eficiente quanto o seu falecido pai.
— Quanto antes o senhor saberá o nome do infeliz. Caso contrário
não será pela sua arma que sairá a bala que acabará com a minha vida, eu
mesmo farei isso.
Dito isso encerrei a ligação. Em passos largos andei para fora do
cômodo, embora não muito satisfeito por ainda não saber o nome do
miserável, mas o meu corpo inteiro estava vibrando pela notícia da morte do
casal que há anos foi fiel ao meu pai e tornou a vida de Mia mais difícil
possível. De nada me agrada saber que alguém além de mim, foi capaz de
fazer com que seu rosto fosse banhado pelas lágrimas e muito menos que
passou dezoito anos sofrendo e não era eu a razão do seu sofrimento.
Assim que cheguei próximo à sala, ouvi a voz do meu irmão e não só
os risos das outras duas mulheres como de Mia, ecoando na sala. Se antes
meu corpo interior estava vibrando pela notícia que havia recebido, agora
estava em chamas. O puro ódio inflamou em minhas veias fazendo o meu
sangue correr por elas igual fogo líquido, o barulho que ressoava a minha
volta logo deu lugar ao silêncio por alguns minutos ao notarem a minha
presença. Assim como o sorriso largo no rosto dela desapareceu, no entanto,
o som da voz de mamma quebrou o silêncio constrangedor que predominava
no recinto.
— Só estávamos o aguardando para mandar servir o jantar.
— Então vamos, estou faminto — falei direcionando minha atenção
para minha esposa.
Aproximei-me de Mia, e assim que estendi a minha mão, ela logo se
levantou. Além de trêmula sua mão estava gelada, mais tarde ela não sabe o
que a espera. Seguimos para sala de refeição, mas ainda assim, mesmo com
o banquete à minha frente o meu pensamento estava fixo em algo muito mais
prazeroso.
MIA
Tudo estava tão bem até que Lorenzo chegou e uma pancada de medo
tomou conta de mim. Engoli em seco ao ver o olhar que foi lançado em
minha direção e meu estômago se contorceu, mas não era de fome e sim por
ele ter mencionado que estava faminto. Passei todo o jantar pensando no que
ele iria fazer comigo e nunca desejei tanto que as horas não passassem tão
rápido, mas parece que tudo conspira a favor daquele monstro já que o
tempo passou voando e depois que deixamos a mesa de refeição ainda
ficamos alguns minutos na sala, já que ele e Pietro começaram a conversa
enquanto se serviam do seu uísque favorito. Minha sogra e a chata da
Antonella, estavam falando algo que de tanto me preocupar com o que estava
por vim nem dei importância.
Quando deixamos a sala, ao chegar ao quarto, eu nem tive tempo para
pensar em mais nada. Fiquei paralisada, sentindo o meu coração disparar
dentro do peito, enquanto uma de suas mãos foram ao encontro da minha
garganta. A sensação de estar presa pelo pescoço e saber que a qualquer
momento ele poderia me estrangular me deixou a um ponto de desfalecer,
antes mesmo que ele intensificasse o contato.
Seus olhos faiscavam de raiva e embora já desconfiasse o motivo.
Quando sua voz ecoou dentro do ambiente, tive a confirmação.
— Então você estava se divertindo com as palavras ditas pelo meu
irmão? — Ficando calada ou não ele sempre faz de tudo para me mostrar sua
crueldade, então resolvi falar.
— Todos estavam, o que iriam pensar de mim se ficasse quieta? — rebati.
Ele passou os dedos pelas veias pulsantes do meu pescoço, fazendo a
minha respiração fica descompassada. Quando achei que ele iria intensificar
o contato, com a mão livre me puxou para mais junto de si e sua boca buscou
a minha. Senti seus lábios firmes contra os meus, abrindo caminho para sua
língua macia invadir a minha boca em um beijo profundo e erótico. Sua mão
deixou a minha garganta e agarrou um dos meus seios por cima da blusa.
Enquanto o massageava, sua boca devorava a minha me beijando com ardor,
sua língua acariciando a minha no duelo que fez uma sensação semelhante a
senti no hospital se espalhar por todo o meu corpo.
Eu já estava ficando sem fôlego e assim que sua boca abandonou a
minha. Suas mãos com uma agilidade impressionante começaram a tirar as
minhas roupas e logo em seguida ele fez o mesmo com as roupas dele. Em
questão de minutos aquele corpo enorme estava sobre o meu, me fazendo
prender a respiração quando senti meus mamilos se endurecer e sua boca
alcançar um deles, remexendo a língua e sugando com força. Enquanto ele
mamava em dos meus seios, acariciava o outro com uma das mãos, passando
os dedos pelo bico túrgido e depois começou a intercalar entre um e o outro.
Comecei a gemer e me contorcer, impaciente e excitada. Sua boca fez
uma trilha pelo meu corpo e se deteve próxima as minhas coxas, com a
língua ele foi subindo lentamente e parou na minha intimidade. Senti seu
hálito quente junto aos lábios da minha vagina.
— Tão linda — ele murmurou, antes que a primeira lambida fosse
iniciada.
Um ruído alto saiu da minha boca quando o faminto mexeu a língua,
esfregando-a no meu clitóris com a pressão ideal. Tremores começaram a se
espalhar pelo meu corpo.
— Lorenzooo!
Dei um grito quando meu corpo estremeceu violentamente.
— Eu vou continuar até você implorar para ter o meu pau dentro
dessa bocetinha gulosa.
Para acabar comigo, Lorenzo abriu bem sua boca para que pudesse
sugar com vontade o meu sexo. Aquilo era enlouquecedor, ele começou a
enfiar a língua dentro da minha fenda e depois tirava e começava a esfregá-
la no ponto inchado e sensível de nervos que a qualquer momento me faria
gozar. Eu só podia estar ficando louca, mas movida pelo meu desespero as
palavras saíram da minha boca, pois não fui capaz de segurá-las.
— Por favor!
— Basta você pedir.
— E... Eu quero você agora — senti minhas bochechas ficarem
vermelhas, contudo, todos os meus sentidos estavam voltados para o prazer
que estava me envolvendo.
Ele se acomodou sobre mim, esfregando aquela glande inchada do
seu membro nos lábios da minha intimidade, para depois fazer o mesmo na
minha abertura. Lorenzo remexeu o quadril e me penetrou com uma estocada
furiosa e profunda.
Lágrimas desceram pelo meu rosto, mas já ansiava por tê-lo todo
dentro de mim. Seus movimentos logo iniciaram, seu pênis avantajado
entrando e saindo furiosamente de mim. Comecei a me mexer também e ele
por sua vez empurrou um pouco mais fundo, enfiando até o talo. Comecei a
suar frio ao sentir aquele cacete grande e grosso me causando além de um
ardor por ser alargada, sensações que faziam minha intimidade latejar e
apertá-lo para segurá-lo lá dentro.
— Puta merda! Engole ele todinho, gostosa.
Meu quadril não parava de se mover, tentando seguir o ritmo dele.
Quando ele saiu de dentro de mim uma sensação de vazio me atingiu, porém,
em um movimento rápido ele me colocou de lado e se posicionou atrás de
mim e novamente meteu o seu pênis dentro da minha boceta que, dessa vez, o
engoliu com precisão. Os sons eróticos produzidos pelo atrito dos nossos
corpos se tocando, só fazia a minha mente ficar ainda mais enlouquecida
pelo prazer.
Suas estocadas se tornavam mais fortes, meu corpo estava cada vez
mais quente ao ser bombardeado por um desejo devastador. Ele meteu com
mais força, atacando com gosto a minha boceta, enquanto eu não parava de
gemer. Senti minha vista escurecer e todos os meus sentidos sobrecarregados
pelos tremores de deleite que tomaram conta do meu corpo. No meio de uma
sequência de estocadas brutais ele chegou ao clímax junto comigo.
Meu peito subia e descia, com as fortes batidas do coração dele.
Pelas contrações em meu ventre eu sentia que seu membro ainda estava duro
dentro de mim. Mas a sensação que me envolveu era inexplicável, uma paz
tão grande como nunca havia sentido antes.
Lorenzo retirou o seu pênis de dentro de mim, ainda podia ouvir sua
respiração pesada próxima ao meu ouvido. Entretanto, não precisei de muito
tempo, para que o choque da realidade me atingisse como um soco no meu
estômago.
— Agora que você foi ao paraíso, chegou a vez de voltar para o
inferno.
Dito isso ele me virou e subiu em cima de mim. E o que vi dentro das
órbitas negras me fez estremecer.
Capítulo 23
ANTONELLA
E mbora a mamma seja somente prima da tia Graziela Santoro, ela sempre
me incentivou que o casamento com Lorenzo, seria o mais apropriado para o
meu futuro, me tornar a esposa da máfia. Mesmo gostando muito mais do
Pietro, a união com o príncipe herdeiro da máfia era mais importante.
— Droga! — disse assim que terminei de ler a mensagem, enviada
por mamma.
Tia Graziela, sempre gostou muito de mim, o sentimento é recíproco
já ela é a minha tia favorita. No entanto, o meu pai já têm planos bem
diferentes, já que soube do casamento de Lorenzo e deseja que eu retorne
quanto antes para Milão.
Dessa forma, eu serei mais uma entre as milhares de mulheres da
máfia que tem o casamento arranjado. Somente para que a famiglia,
mantenha seus interesses. Eu tentei fazer de tudo para chamar atenção de
Lorenzo e assim que ele se tornou o chefe da organização acreditei que com
sua posição eu teria uma chance, pois logo ele teria uma esposa ao seu lado.
Todavia, ele trouxe essa desconhecida e por mais raiva que eu sinta
não posso negar que ele sente algo muito forte por Mia, pois vi como ele
ficou quando ela caiu da escada. Pensei em fazer de tudo para tornar a vida
dela um verdadeiro inferno, porém, a tia também gosta dela e temendo que
viesse a ficar com raiva de mim, achei melhor deixar de lado e me
concentrar na pessoa que realmente sempre foi a razão do meu coração bater
mais forte.
Agora com a notícia que recebi. Um vazio tomou conta do meu peito,
se voltar para Milão, não terei outro jeito a não ser fazer a vontade do meu
pai.

LORENZO
Por mais ódio que eu sinta da filha do desgraçado. Não posso negar
que ela é a única que além de me deixar satisfeito também é capaz de fazer
com que os meus demônios internos fiquem sossegados. Sentir o calor dela
se espalhar pelo meu corpo, enquanto seus olhos estavam em um tom azulado
de tanto desejo e sua boceta faminta apertando o meu cacete só me deixou
ainda mais insaciável.
Uma onda escaldante apoderou-se de mim, assim como um desejo
incontrolável de ter muito mais do que me pertence. Assim que ela chegou ao
limite do prazer e olhei toda aquela alegria visível em sua expressão. O som
da sua risada começou a ecoar em minha cabeça assim como a imagem do
sorriso largo em seu rosto passou como flashes à minha frente, do momento
que a encontrei na sala. O meu corpo estava tão quente que se tornou
insuportável e naquele momento tudo que eu queria era ver e ouvir o medo
em seu olhar e seus gemidos de dor.
Passei quase a noite toda a possuído de todas as formas possíveis e
quando meu alvo maior se tornou aquela bundinha deliciosa. Uma tremedeira
violenta tomou conta dela por inteira, embora o seu desespero sirva para
alimentar os meus demônios, dessa vez estava disposto a aproveitar muito
mais do que fiz na primeira vez. Eu até peguei leve com ela de início, mas
logo os meus golpes se tornaram mais fortes e gemidos de dor soaram como
música para os meus ouvidos, no entanto, do jeito que suas costas estavam
banhadas de suor e ela tremendo incontrolavelmente.
Sabendo que ela poderia desfalecer a qualquer momento, então
diminuir o ritmo já que não tinha intenção de parar tão cedo. Depois de
horas de muito prazer, fui vencido pelo sono. Deixo os pensamentos de lado
e enquanto a Bela Adormecida ainda está dormindo, andei em direção à
porta já que dentro de algumas horas os membros do conselho estarão aqui
para uma reunião, que além da prestação de contas mensal. Teremos que
fazer um balancete de todo o prejuízo com o roubo das cargas.

MIA
Eu acordei no sobressalto. Tive a impressão de ter ouvido a voz de
Lorenzo me chamando, mas respirei um tanto aliviada ao confirmar que
estava sozinha no quarto. Com dificuldade me levantei, ter o meu corpo
dolorido já não era novidade, porém, aquele homem só pode fazer uso de
algumas dezenas de pílulas azuis, pois não é possível que sua ereção seja tão
rápida e duradoura. Calafrios tomaram conta de mim e ficou ainda pior
quando ele me colocou de quatro e ao lembrar da primeira vez que ele me
violentou sem dó e nem piedade de maneira cruel. O pânico pairou sobre
mim, todo o prazer que havia sentido horas atrás nem de perto se comparou
com o sofrimento que passei. Como ele mesmo disse se eu estava no paraíso,
voltei para o inferno e a recepção foi a pior possível.
Lágrimas grossas, ruídos de dor, muito suor se fizeram presentes e
quando achei que não iria mais aguentar. Ele aliviou um pouco o ritmo das
suas pancadas contra a minha bunda e consegui estabelecer o ritmo da minha
respiração e dos batimentos cardíacos.
Horas que para ele foram prazerosas, todavia, para mim, foram um
pesadelo. Mesmo sem forças quase dou um grito de tanta alegria quando ele
foi vencido pelo sono, porém, novamente em meio aos seus pesadelos
novamente ouvi o nome do tal Antony. Não sei o porquê voltei a sentir um
aberto profundo no meu peito.
Afasto as lembranças e caminho em direção ao banheiro. Já dentro
do ambiente meu olhar foi em direção ao espelho e meu rosto estava tão
pálido que era quase transparente. Primeiro que vivo trancada desde que cai
nas garras do meu algoz, e segundo que ainda fiquei trancada por dois dias
no hospital. Tomei meu banho, fiz minha higiene pessoal e depois de
arrumada, sai do quarto, quando me livrei do último degrau da escada, segui
em direção à porta, entretanto, me detive.
Embora o médico tenha dito que precisava tomar sol, antes de fazer
isso vou avisar o tirano que irei ao jardim. Uma das funcionárias surgiu no
meu campo de visão, vindo do escritório dele, então resolvi perguntar se ele
estava lá.
— Bom dia!
— Bom dia — respondeu a mulher e em seguida abaixou a cabeça.
Nunca que vou me acostumar com isso.
— Lorenzo está no escritório?
— Sim.
— Obrigada.
Ela seguiu o seu caminho enquanto eu fui ao encontro dele. Passos
largos foram dados na direção do recinto, porém, sentir uma inquietação à
medida que fui caminhando e assim que cheguei próximo à porta que estava
entreaberta. O barulho vindo de dentro da sala me fez ficar imóvel e quando
cogitei em me afastar algo chamou minha atenção e novamente senti um
aperto no meu peito e meu coração disparou ao ouvir o mesmo nome:
Antony.
— Precisamos descobrir quanto antes quem é o infeliz que está
passando informações aos nossos inimigos. Assim como o desgraçado do
traidor do Antony o destino dele será a morte.
Capítulo 24
MIA
C om o coração batendo muito forte e os pulmões funcionando aos
espasmos. Minhas pernas se moveram e passos largos foram dados, tentando
me afastar mais rápido possível daquele lugar. Por mais que eu pensasse não
conseguia entender o porquê que toda vez que ouvia o nome desse
desconhecido, é como se tivesse enfiado uma adaga em meu peito e uma dor
insuportável tomava conta do meu corpo inteiro, assim como a minha
respiração ficava tão pesada que parecia que eu estava sufocando.
Quando cheguei à sala, resolvi ir tomar o meu café da manhã. Já
acomodada, perguntei pelo restante do pessoal, já que sabia que certamente
meu cunhado deveria estar com o irmão no escritório. Fui informada que
Antonella e a minha sogra haviam saído, foram às compras.
Eu ainda estava me sentindo inquieta e quase não toquei na comida.
Era como se algo estivesse preso na minha garganta, o que só aumentava o
mal-estar que estava sentindo, no instante que terminei, deixei o cômodo e
resolvi voltar para o quarto na esperança que ao me deitar aquele
desconforto pudesse passar.

Horas depois...
Acordei enjoada, sentido uma forte queimação na parte de cima do
meu estômago e muita dor de cabeça. Levantei-me em um pulo, saí correndo
em direção ao banheiro, acabei vomitando tanto que achei que iria colocar
até as tripas para fora. Sentindo-me muito fraca consegui ficar de pé,
aproveitei para tomar um banho e escovei os meus dentes. Assim que saí do
banheiro me deparei com Lorenzo entrando no quarto e seu olhar
ficou cravado em minha direção.
O silêncio se fez presente por alguns segundos, ele por sua vez só
ficou me observando. Mas quando deu alguns passos e parou à minha frente
o som da sua voz ressoou no ambiente.
— Soube que você já havia descido e tomou o café da manhã.
— Eu voltei para o quarto logo depois, pois não estava me sentindo
bem.
— Por isso resolveu tomar banho novamente? — estava muito
estranho, ele nunca tinha trocado mais que duas palavras comigo. Ora para
me dar alguma ordem, outra sobre sexo o que pelo visto é seu assunto
favorito.
— Acabei dormindo e acordei enjoada. Depois de vomitar tudo que
tinha comido, resolvi tomar outro banho.
Eu tive impressão que um esboço de um sorriso surgiu entre seus
lábios, mas logo depois deu lugar a uma expressão indecifrável. Antes que
eu tentasse entender o que esse tirano estava pensando, sua voz em um tom
rude e autoritário voltou novamente.
— Vai se arrumar agora. Que o almoço em breve será servido.
Afastei-me indo em direção ao meu closet. Mas ainda estava
desorientada pensando o porquê acordei com tanta náusea. Não sei se era só
fruto da minha imaginação, mas eu tinha a sensação que algo estava
acontecendo com o meu corpo, pois a única vez que sentir algo semelhante
foi depois ele mandou fazer aquela monstruosidade comigo.

LORENZO
Como sempre a reunião do conselho foi tumultuada.
O meu tio por sua vez foi o primeiro a mencionar sobre o grande
prejuízo com o roubo das cargas, enquanto Dante relembrou que o
desgraçado do Antony havia traído a organização, todos cogitaram que entre
os soldados e associados deve estar o infiltrado que repassa as informações
aos inimigos. Fiquei quieto analisando todos, já que com essa teoria se
consideram livres de alguma suspeita, algo que para mim, é só a forma de
desviar a atenção do verdadeiro culpado.
Entre números e muita discussão enfim a reunião chegou ao fim,
mesmo com todos os prejuízos o lucro que tivemos passou o dos meses
anteriores e milhões foram incluídos para o nosso patrimônio. O que fez os
olhos de todos brilharem como dois faróis gigantes, mas entre eles o brilho
intenso no olhar de Paolo de alguma forma chamou a minha atenção.
Embora ele seja um Santoro, e há anos vem mostrando ser um dos
conselheiros que mais vem se empenhando para o crescimento da famiglia e
sempre disposto a fazer tudo pela organização. Toda essa dedicação só faz
com que ele se torne um dos maiores suspeito, pois lugar de um bom
samaritano não é no mundo da máfia. Entretanto, espero que isso seja
somente uma ideia que pairou em minha cabeça, até porque caso ele ou
qualquer outro conselheiro esteja envolvido nisso, a dor que irão sentir será
algo descomunal, capaz de percorrer todo o corpo e se tornar cada vez mais
intensa. A cada tentativa de respirar, irá sentir como se os pulmões tivessem
se inundando.
Deixei os pensamentos de lado assim que todos começaram a se
retirar. Assim que saí do meu escritório perguntei sobre Mia e fui informado
que já havia tomado café e subiu novamente para o quarto, no momento que
entrei o ambiente meus olhos foram ao encontro do seu rosto que estava
pálido feito um cadáver, quando ela me respondeu o que havia acontecido.
Já sabendo que aquilo poderia acontecer, tratei de mandá-la logo se vestir.

Algum tempo depois...


Horas se passaram. A manhã deu espaço para a tarde e ela por sua
vez estava prestes a dar lugar à noite. Enquanto todos estavam na sala
conversando a minha atenção ficou direcionada para o meu celular, pois o
prazo que dei a Dimitri estava acabando. O barulho das vozes ecoavam a
minha volta e para minha surpresa, Graziela começou a contar justamente a
história do meu nascimento, fazendo várias gargalhadas preencherem o
ambiente já que segundo o que ela sempre relata é que eu cheguei ao mundo
gritando a plenos pulmões, algo que é comum a um recém-nascido, porém, a
minha expressão era algo que já fazia todos ficarem temerosos.
Dona Graziela sempre dizia que este foi um dos raros momentos que
me viu chorando, assim como sorrindo o que para ela era uma tristeza, já que
para o meu pai foi motivo de felicidade. De fato o nascimento de Pietro fez
muito bem a mamma, assim ela conseguiu presenciar todas as fases do seu
crescimento, algo que não aconteceu comigo.
Todos os meus sentidos se voltaram para o tremor que se fez presente
na minha mão direita, pois o celular começou a vibrar insistentemente.
Levantei-me e me afastei de todos assim que toquei na tela do celular o que
escutei fez todos os meus órgãos internos se retorcer e um ódio visceral e
incessante tomar conta de todo o meu ser.
— Chefe o nome do homem que mandou que descobrisse tudo sobre
a vida da sua esposa é Paolo Santoro.
Capítulo 25
LORENZO
M inha respiração se tornou irregular, estava respirando com tanta
dificuldade que parecia que estava prestes a ter um ataque cardíaco, pois
parecia que eu havia me esquecido de como respirar. Sentia-me sufocando
aos poucos.
Meu corpo estava prestes a entrar em combustão. Então direcionei os
meus pensamentos para longe daquela informação e suspirei fundo, tentando
levar ar para os meus pulmões. Segundos se passaram enquanto a voz do
homem continuava a repercutir do outro lado da linha.
A minha única vontade era ir ao encontro daquele velho maldito,
arrancar o seu coração e esmagá-lo com as minhas próprias mãos. No
entanto, uma morte tão rápida seria um presente ao desgraçado depois de
tudo que ele fez. Minha respiração enfim voltou ao normal e o nó que estava
preso em minha garganta se desfez e o som da minha voz saiu me rasgando
de dentro para fora.
— Reúna o pessoal, dentro de dois dias.... Quando terminei de
ordenar tudo que ele deverá fazer, encerrei a ligação. Assim que voltei para
sala todos os olhares caíram sobre mim.
— Figlio! Aconteceu alguma coisa?
Sobre os olhares curiosos, mamma foi à única que se atreveu a me
dirigir a palavra, certamente por notar algo diferente em minha expressão.
Entretanto, embora o ódio estivesse me queimando por dentro ainda não era
o momento para que todos saibam que aquele desgraçado não só traiu a
famiglia, como também era o responsável pela morte de Enrico Santoro.
Não que minhas feições fossem assustar a mulher à minha frente, até porque
ela é a única no mundo que realmente me conhece de verdade.
— Tive alguns problemas em Nova York. Agora vamos jantar que
tenho um assunto a tratar logo em seguida com você, Pietro.

No dia seguinte... Sede da máfia.


— Você já sabe tudo que deve fazer.
— Sim, ainda não consigo acreditar que ele todo esse tempo era o
infeliz que estava traindo a nossa organização.
— Enrico apesar de ser implacável e considerado por todos a
personificação do mal, ele lhe proporcionou tudo aquilo que nunca me foi
permitido. O homem que nos deu a vida foi um verdadeiro pai para você e
agora chegou o momento de você mostrar que realmente tem o sangue dos
Santoro correndo em suas veias.
— Eu farei o que preciso for e aquele maldito irá pagar com a
própria vida.
— Vamos!
Deixamos o carro e andamos em direção à porta principal da sede da
nossa organização. Durante todos esses anos aquele lobo em pele de
cordeiro enganou a todos e será perante todos que irei revelar a sua
verdadeira face. Deixei os pensamentos de lado no instante que chegamos
próximo à sala de reuniões. Como era de se esperar a raposa velha já estava
no ambiente. Vesti a minha armadura de homem frio, impiedoso e minhas
feições se tornaram as piores possíveis, o que logo despertou a atenção do
Judas que mesmo tentando disfarçar estava nítido a sua curiosidade. Após
chamar Dante seguimos para minha sala, já que precisava ter acesso alguns
documentos que eram da responsabilidade dele. Pietro permaneceu na sala e
agora tudo iria depender dele para que esse rato traiçoeiro venha direto para
a ratoeira.

PIETRO
Sempre vivi uma vida cheia de luxo e regalias. Mulheres, bebidas,
viagens e tudo que o dinheiro era capaz de me proporcionar. Com toda
atenção direcionada para o meu irmão em relação aos assuntos da máfia. Eu
sempre vivi livre como um pássaro, no entanto, a morte do meu pai foi como
se eu tivesse levado um soco tão grande no meu estômago, que me fez
acordar pra vida. Sempre me senti protegido já que por mais que aprontasse,
ele sempre foi o meu herói e aparecia para me socorrer. Contudo, a morte
dele me fez ver o quanto sempre fui um inútil e egoísta, enquanto desfrutava
da boa vida meu irmão sempre teve uma vida difícil desde a sua infância.
Mesmo que o nosso pai tenha conseguindo aquilo que tanto almejava,
transformar Lorenzo em um monstro, acredito que se algo bom surgiu nele, é
devido à dona Graziela a qual é a única pessoa, antes de Mia surgir em sua
vida, por quem ele demonstrou alguma preocupação. Não que o julgue já que
ele foi moldado para se tornar o que é. Um coração de gelo que fica em
êxtase ao ver o sangue de quem cruza o seu caminho sendo derramado,
enquanto seus últimos suspiros ecoam a sua volta.
Afastei as lembranças e assim que ele e Dante sumiram do meu
campo de visão, enquanto os demais conselheiros estavam ocupados em sua
função me aproximei do miserável que infelizmente tem o mesmo sangue que
o meu. Quando acabei com a distância, me sentei e peguei alguns papéis que
estavam sobre a mesa. O silêncio se fez presente por alguns minutos até que
o infeliz se achando muito esperto, logo tratou de sondar o que estava
acontecendo.
— Lorenzo parecia preocupado.
— Ele está assim desde que recebeu uma ligação, dizendo que
sabiam quem era o verdadeiro responsável pela morte de Enrico Santoro.
— Como assim, ele mesmo enviou todos ao inferno.
— Eu disse a mesma coisa, mas você o conhece e pelo que ouvi,
amanhã ele vai encontrar com esse sujeito. Então sendo ele quem é acredito
que resolverá tudo isso sozinho.
Novamente a calmaria predominou no ar, e certamente ele fará
exatamente o que meu irmão havia pensado. Será o momento ideal para
acabar de vez com a vida de Lorenzo Santoro.
MIA
Não que eu esteja reclamando, mas embora aliviada por Lorenzo
não ter feito nada comigo na noite anterior. Achei estranho já que ele depois
do jantar passou horas falando com o irmão em seu escritório e quando veio
para o quarto tomou banho e dormiu.
Hoje quando acordei, o insaciável estava em cima de mim e aí já viu.
O tormento começou e os minutos deram espaço para horas até que ele se
deu por satisfeito. Depois que seguimos para tomar banho onde novamente
seu membro já estava rígido e a todo vapor, ele nem me deu tempo para
respirar e avançou em cima de mim. Quando saímos do banheiro, ele já
estava arrumado antes de deixar o cômodo disse que eu poderia ir até o
jardim e tomar um pouco de sol. Deixo as lembranças de lado e caminho em
direção à sala de refeição, assim como ontem encontrei o ambiente
completamente vazio. No exato momento que me sentei, uma das
funcionárias apareceu.
— Bom dia!
— Bom dia, senhora!
— Todos já tomaram café?
— Sim, a dona Graziela foi com a senhorita Antonella até o
mausoléu da família.
— Obrigada! Vou tomar o meu desjejum, depois vou dar uma volta
pelo jardim.
Depois de trazer o suco que eu havia pedido, ela sumiu, decerto
voltou a fazer os seus serviços. Satisfeita, pois hoje eu havia acordado
faminta ainda mais depois daquele maníaco sexual ter me deixado acabada,
me levantei e instantes depois já estava próxima ao lugar que me transmitia
uma sensação tão boa.
Aproximei-me das flores inalando o perfume delicioso que vinha
delas, porém, um calafrio passou pelo meu corpo assim que olhei para o
lado e meus olhos foram ao encontro do objeto que estava próximo às rosas
e tinha o meu nome. Movida pela minha curiosidade, peguei o pedaço de
papel e assim que o abri, meus olhos passearam por cada palavras que
estavam escritas. Meu coração acelerou e minha respiração ficou difícil.
— Se você quer saber tudo sobre os seus pais me encontre amanhã
na garagem.
Capítulo 26
LORENZO
A s palavras ditas por Pietro, ontem certamente fizeram o desgraçado
pensar que estaria a um passo de se livrar daquele que se tornou o seu maior
obstáculo para enfim alcançar o seu maior objetivo, pelo qual ele deixou a
ganância falar mais alto e resolveu trair não só a famiglia como aqueles que
tinham seu próprio sangue.
Tudo estava minuciosamente planejado. Assim que os primeiros
raios do sol surgiram. Deixei a mansão rumo ao meu destino. Pietro seguirá
logo em seguida com os homens que vieram da Calábria na
madrugada, assim o miserável ou qualquer aliado não terá como descobrir o
que estava por vim. Conhecendo aquela raposa velha, ele não perderia a
oportunidade de fazer uma emboscada e ser da sua arma a bala que acabaria
com a minha vida.
Seguir no meu carro sozinho e no meio do percurso o meu celular
começou a tocar. Sabendo de quem se tratava atendi de imediato.
— Chefe!
— Espero que já tenha feito o combinado.
— Todos os homens que foram enviados por Paolo a Nova York, já
estão queimando no fogo do inferno — a resposta de Dimitri veio logo em
seguida, eliminar os abutres só me fez querer acabar logo com a vida do
miserável, no entanto, a morte dele servirá para que ninguém dentro da
organização no futuro pense em trair um Santoro.
Minutos se passaram e quando cheguei ao meu destino, saí do carro
indo em direção ao homem que estava me aguardando. Quando criança
Enrico me trouxe aqui e o lugar que sempre foi conhecido somente pelos
líderes da Cosa Nostra, tinha como finalidade encurralar o inimigo, se
viesse acontecer dentro da famiglia alguma traição. Frente a frente com o
suposto informante, ele começou a falar enquanto as minhas feições
mudavam a cada palavra que saía pela sua boca. De repente meu corpo
inteiro se convulsionou em raiva ao notar que o lugar que segundos
atrás parecia ter somente nós dois, se transformou num verdadeiro campo de
batalha assim que a calmaria foi interrompida pelo barulho dos
motores, para logo em seguida dar lugar aos estrondos de tiro por todos os
lados.
O barulho da explosão foi terrível quando o carro do homem que
estava me aguardando foi atingindo e as chamas começaram a envolvê-lo por
completo. Puxei a minha arma e o sujeito que estava próximo a mim, logo foi
ao encontro do chão quando um tiro certeiro foi ao encontro do seu peito.
Os tremores em volta do meu corpo só aumentaram quando um calor
insuportável me atingiu e algo dentro de mim começou a se contorcer e a
cada movimento interno eu podia sentir como se fogo líquido estivesse
percorrendo por cada veia do meu corpo assim como a minha mandíbula se
contraía de forma violenta. Meus olhos começaram a arder como se tivesse
areia dentro deles e com a arma em punho me esquivei para perto do meu
automóvel.
Trocar de tiros foram iniciadas. Uma chuva de projéteis ricocheteou
no carro, tentando perfurar a lataria blindada. Mesmo usando um armamento
de alta potência, com toda tecnologia que mandei desenvolver para o
veículo, Paolo só terá uma única alternativa, mandar os abutres virem com
tudo pra cima de mim, caso contrário ele certamente temeria que seu plano
pudesse dar errado. Meus pensamentos foram interrompidos no instante que
outra explosão ressoou no ar, dessa vez, o impacto foi tão forte que uma das
portas se abriu me atingido, a ponto de ser arremessado a alguns metros. O
ato foi tudo que eles estavam esperando, pois toda uma movimentação
aconteceu a minha volta e por mais que todos os meus demônios internos
estivessem tentando assumir o controle do meu corpo e esses malditos não
teriam chegado perto de mim, se não fosse pela minha vontade.
Uma verdadeira luta interna começou a ser travar por mim, pois eu precisava
controlá-los e esperar o momento certo de agir.
No instante que ouvi o som da voz do infeliz entoando no espaço.
Fechei uma das mãos em punho, tentando controlar a fúria descomunal que
tomou conta de mim.
— Há muito tempo você era para estar fora do meu caminho, mas
valeu a pena esperar tanto tempo só para vê-lo do mesmo jeito que o
desgraçado que te deu a vida.
Levantei a cabeça me deparando com um sorriso vitorioso em sua
face e no instante que seu olhar ficou fixado no meu, ele moveu o braço até a
arma que estava em sua mão ficasse apontada em direção a minha cabeça e
novamente o som da sua voz se fez presente.
— Assim que te enviar direto para o inferno. Não pense que ficará
sozinho, pois assim como o fedelho do teu irmão, Graziela e a vadia com
quem você casou em breve te farão companhia.
Suas palavras foram o estopim para que uma descarga avassaladora
me fizesse perder o controle das minhas ações e eles assumissem o controle
do meu corpo e da minha mente. Paolo moveu um dos dedos em direção ao
gatilho, mas antes que ele concluísse o que estava pensando. O silêncio foi
quebrado e o barulho que tomou conta do lugar se tornou infernal, pois tiros
ressoavam por todos os lados deixando o maldito atordoado sem saber o que
estava acontecendo.
E antes que ele saísse do estado de choque que se encontrava,
concentrando toda a minha força o meu punho entra como um raio, atingindo
o seu estômago em cheio e o arremessando em direção ao chão. Nem dei
tempo para que ele viesse a entender o que de fato estava acontecendo ao
seu redor, pois avancei feito um predador diante da sua presa e o alcancei.
Comecei a dar fortes socos no seu rosto e em seu estômago, enquanto gotas
de sangue escorriam pelo canto dos seus lábios.
Ele começou a tossir e embora a minha vontade fosse acabar com sua
miserável vida. Paolo Santoro, eu não farei como um animal, que movido
pelo instinto destrói de imediato seu inimigo. Farei com que cada minuto dos
últimos que lhe restam seja de puro sofrimento.
MIA
Respirei fundo e continuei caminhando, mesmo tomada pelo pânico
ao estar nesse lugar sombrio e ciente que ele viesse a descobrir. Desde
ontem não consegui esquecer o que estava escrito naquele pedaço de papel,
algo dentro de mim era muito mais forte que o medo pelas consequências que
poderia sofrer, descobrir esse lugar era como se fosse um sinal para que eu
tirasse essa angústia que estava me correndo por dentro.
Trêmula aumentei o ritmo dos meus passos, já que cada segundo é
precioso e quando parei em frente à porta do inferno comecei a suar
freneticamente por novamente estar prestes a entrar nesse labirinto sombrio.
Agora é tudo ou nada, essa será a única forma de chegar até à garagem sem
ter que passar pela sala e correr o risco de ser vista por alguém.
Essa torre ao contrário daquela que vivia a Rapunzel é realmente a
ostentação do mal. Deixei os devaneios de lado e já sabendo o caminho que
deveria percorrer, consegui chegar até à porta que me levará para fora dali,
só preciso de alguns passos para estar no lugar combinado. Passos longos
me levaram até onde queria, já que os cães de guarda de Lorenzo, focam
toda sua atenção para o outro lado, já que aparentemente não teria como
chegar até esse setor a não ser pelo lugar que muitos desconhecem.
Quando atravessei a entrada. Meu coração se descontrolou e as
fortes batidas me causaram um incômodo terrível, porém, nada se comparou
com a imagem que surgiu à minha frente.
— Você!
Capítulo 27
Um dia antes...
MIA
— Se você quer saber tudo sobre os seus pais, me encontre amanhã
na garagem.
Novamente sentir aquela sensação ruim, envolvendo cada fibra do
meu corpo e quando sair do estado de choque que me encontrava. Olhei para
os lados, amassei o pedaço de papel e comecei a caminhar para dentro de
casa. Parecia que estava no piloto automático, pois quando dei por mim já
estava dentro do quarto para logo em seguida ir até o banheiro, joguei o
papel dentro do vaso e dei descarga.
Aquilo poderia ser uma armadilha do demônio com quem me casei,
mas os meus pensamentos dançavam em minha mente e com eles as dúvidas
se tornaram ainda mais persistentes.
Todo esse ódio de Lorenzo por mim, mesmo sendo um mafioso não
pode ter surgindo do nada. Será que tem a ver com o passado dos meus pais?
Será que realmente esse ser é tão desumano que por um capricho me
escolheu para ser sua marionete? Ele não pode ser desprovido de
sentimentos bons, mesmo que os únicos que povoam em seu coração seja
ódio, algo que não surge como um piscar de olhos, então decerto deve ter
algo por trás de tudo isso. Se colocasse uma frigideira com óleo e um ovo
em cima da minha cabeça. Acredito que iria fritar de imediato, pois ela
estava tão escaldante que eu achei que a qualquer momento iria estourar.
Afastei-me do vaso e resolvi tomar um banho já que meu corpo inteiro
estava quente.
Minutos depois deixei o cômodo indo em direção ao meu closet. Eu
já estava vestida e quando comecei a me mover ouvir um barulho causado
pelo estrondo do quadro que estava na parede e caiu ao chão. Em passos
firmes caminhei até o local na tentativa que pegá-lo e colocar novamente no
lugar, mas no instante que iria me agachar algo chamou a minha atenção.
Fiquei desorientada ao perceber que havia algo de estranho na
parede. E quando levei minhas mãos até o objeto, ele começou a se mover e
apareceram alguns degraus. Sinto meus batimentos cardíacos
descompassarem, minha respiração pesada e ao desviar os olhos em direção
ao objeto caído no chão não precisou ser tão inteligente para entender que
tinha ligação com a passagem que era totalmente desconhecida por mim.
Se minutos atrás, eu estava tomada pela dúvida a situação agora
estava pior. Minha curiosidade estava a mil, assim como o medo que se
apoderou de mim. Tremores me atingiram, mas era como se uma força
estranha me puxasse naquela direção e diante de tudo que estava sentindo e
pensando, saí praticamente correndo em direção ao banheiro. Peguei a
lanterna que estava dentro de uma das gavetas e retornei para onde estava
antes. Respirei fundo, tentando controlar o ritmo da minha respiração e com
passos largos comecei a descer os degraus. A cada passo dado o meu corpo
vibrava com grande intensidade, eu já não conseguia controlar todas as
sensações que tomaram conta de mim, pois aquele lugar tinha uma energia
tão sombria que até os meus ossos pareciam que estavam congelando e
depois de alguns minutos, fiquei petrificada diante da porta que surgiu à
minha frente. Naquele momento senti algo semelhante quando ele me levou
naquele lugar que era tão reluzente por fora, mas que por dentro era
semelhante ao inferno.
Não tinha mais volta, então, mesmo em pânico levei umas das mãos
até a maçaneta e abri a porta. Em seguida tive a infelicidade de ver o lugar
que desejei nunca mais voltar.
Tempo atual...
— Você?
Estremeci por dentro, pois jamais pensei que fosse justamente esse
homem que encontraria nesse lugar. Ele deu alguns passos e movida pelo
meu desespero me movi também, porém, o pânico me dominou quando a
porta atrás de mim se fechou e para sair desse lugar eu só tinha uma
alternativa, passar por ele e chegar ao acesso que era dos veículos, sem
alternativa, levantei a cabeça e ao ver um sorriso cínico em sua face, reuni
toda minha coragem, já que estava ciente que minha curiosidade me trouxe
até aqui e resolvi confrontá-lo.
— Dante, qual o seu intuito com tudo isso? Lorenzo te mandou vir
aqui para que assim ele tivesse motivo para mostrar ainda mais toda sua
crueldade?
Em questão de segundos ele acabou com a distância entre nós, e
ouvir suas palavras era como se eu tivesse levado uma punhalada.
— Doce Mia, eu quero mais é que aquele miserável vá para o quinto
dos infernos, algo que não vai demorar muito para acontecer. Poderia muito
bem acabar com a sua vida nesse instante, porém, chegou o momento de você
saber o motivo pelo qual aquele demônio casou com você.
— Eu quero sair daqui! — retruquei firme, tenho a sensação que a
qualquer momento Lorenzo vai aparecer dando aquela risada diabólica e as
consequências serão as piores possíveis, por eu ter vindo a esse lugar.
— Você sairá daqui comigo e não será contra a sua vontade ou deseja
ficar ao lado do homem e da família responsável pela morte dos seus pais?
No instante que o som das suas palavras ressoaram no espaço, toda a
sensação ruim que vinha sentindo há dias me envolveram e o incômodo foi
mil vezes pior. Algo dentro de doía tanto que era semelhante a uma ferida
aberta e estava latejando sem parar. "Ele matou os meus pais" aquilo soou
como um mantra e não cessava e antes que eu tivesse qualquer outra reação o
som que reverberou no ambiente me arrancou do meu estado de devaneio,
fazendo a dor se intensificar no meu peito.
— Enrico não só matou Soraya, sua mãe, deixou você órfã e à mercê
daquele casal para que quando atingisse a maioridade idade se tornasse uma
prostituta. Como foi o homem com quem você casou que matou cruelmente,
Antony, o seu pai por achar que ele era um traidor, quando, na verdade,
dedicou toda a sua vida a famiglia.
— Antony! Antony! Antony!
As lágrimas já desciam pelo meu rosto. A minha cabeça, começou a
doer de forma violenta e mesmo com a visão embaraçada. Meus olhos
ficaram fixos no objeto a minha frente e não consegui desviar o olhar das
imagens que surgiram.
— Veja com os seus próprios olhos como o desgraçado matou o seu
pai, arrancando o coração dele sem piedade.
Palavras não eram suficientes para explicar tudo que estava sentindo.
Senti uma dor dilacerante que estava rasgando a minha carne, enquanto as
palavras do tirano ecoava no ar para logo em seguida se aproximar do
homem que estava todo ensanguentado e sem dó e nem piedade enfiar o
objeto cortante em seu peito. Antony abriu a boca, certamente para gritar o
que fez, eu quase cai de encontro ao chão, pois só havia um buraco sem
língua e o sangue surgiu da sua garganta em jatos potentes, escorrendo pelo
seus lábios.
Mas nada me preparou para ver a cena que passou diante dos meus
olhos. Quando o encapetado jogou o objeto no chão e moveu suas mãos em
direção ao peito do meu pai e com um movimentado brusco puxou de uma só
fez o coração pulsante que estava envolvido pelo líquido avermelhado,
sujando suas mãos. Seu ato acabou com os últimos suspiros do homem
inocente e com toda sua perversidade juntou as mãos esmagando o coração
como se fosse um brinquedo qualquer.
"EU TE ODEIO LORENZO SANTORO"
Capítulo 28
DANTE
E nquanto a mulher à minha frente tinha sua atenção voltada para o aparelho
em minhas mãos. Assistindo tudo que se passava no dia da execução do
infeliz que ela jamais chegou a conhecer, as lembranças invadiram a minha
mente, me levando direto para alguns dias atrás.
Embora o meu pai tenha revelado quem era Mia Santoro e ter
decidido que iríamos usá-la para acabar com o desgraçado do Lorenzo. Eu
estava totalmente disposto a seguir com o que tínhamos combinado, mas
ontem tudo mudou quando no momento de distração de Lorenzo, eu tive
conhecimento da conta bancária que ele abriu no nome da sua querida
esposa. Uma quantia exorbitante que me faria viver como rei e diante dos
últimos acontecimentos com a revelação sobre o plano perfeito de Paolo, em
acabar com maldito. Eu deixarei ela viva até colocar minhas mãos naquela
fortuna.
Paolo Santoro, pode se tornar o chefe da Cosa Nostra e revelar a
todos que eu sou seu filho. Mas sempre serei visto perante todos como um
bastardo, já que minha origem sempre foi algo totalmente desconhecido
pelos membros da organização, pois antes do seu casamento, que resultou
somente no nascimento de Giulia, ele teve um caso com a minha mãe e eu fui
o fruto do seu envolvimento passageiro.
Os anos se passaram e com o casamento da minha mãe, arranjado
pelo próprio Paolo, com um dos soldados da máfia. Eu acabei me tornando
um membro da Cosa Nostra e depois de fazer de tudo para demostrar minha
lealdade e dedicação me tornei o conselheiro da máfia.
— Não! Não! Nãooo...
O ruído que escapou da boca da idiota me trouxe de volta a
realidade. Ela estava em choque e certamente foi por ouvir as últimas
palavras ditas pelo seu falecido sogro.
— Quero que traga a Soraya Ferrari. Aquela vadia deve saber quem
são os aliados desse traidor.
Esse era o momento certo de entrar em ação e não iria perder a
oportunidade. Com as câmeras que foram desligadas da garagem eu tinha
tempo suficiente para sair com a imbecil sem levantar suspeitas, já que para
todos a minha presença na mansão Santoro, foi somente para trazer uns
documentos que precisavam da assinatura de Graziela, e com ajuda de uma
das empregadas que logo ficou com os olhos brilhando com a quantia que
ofereci foi fácil deixar aquele bilhete que despertaria a curiosidade e ela
viria direto para toca do lobo.
— Você tem duas alternativas. Permanecer aqui na cova dos leões ou
vir comigo e daqui a alguns dias, darei um jeito de fazer você ficar longe
para sempre dessa família.
As lágrimas grossas inundavam o seu rosto, ela desviou sua atenção
do meu celular e sua voz ecoou a minha volta.
— Por que eu deveria acreditar em você?
— Além de ser amigo do seu pai, eu desconhecia o fato de que você
estava viva já que todos achavam que Enrico matou sua mãe ainda grávida.
Mas há poucos dias com a investigação que mandei fazer cheguei até o casal
que esteve com você por dezoito anos e descobri toda a verdade. E olhando
bem, Mia, seus olhos são iguais aos do seu pai e não posso deixar você à
mercê desse monstro. Lorenzo matou Antony e não pude fazer nada para
impedir, passei todo esse tempo investigando e por fim descobri que ele era
inocente e agora para se vingar ele a tem como esposa e dessa forma pode
fazer as piores atrocidades com a filha do homem que sempre odiou e matou.
MIA
Tudo que vi, tudo que ouvi, estava acabando comigo, pois senti uma
dor na alma e um aperto intenso no peito. Tudo começou a fazer sentido e
por mais que dúvidas se fizessem presentes, no fundo, eu sabia que aquele
homem era o meu pai, já que tudo que senti ao ouvir o nome dele quando o
facínora mencionava, era prova que tínhamos uma ligação e se não fosse por
esse tirano, eu teria tido uma família de verdade. Eu não precisaria estar
mendigando por atenção ou crescer com pessoas que jamais me deram pouco
carinho.
Lorenzo, você destruiu os meus sonhos. Roubou a minha inocência,
violando o meu corpo, no entanto, eu me mantive firme. Mas eu nunca vou
esquecer que os meus pais estão mortos por culpa da sua famiglia. Se os
teus demônios se alimentam ao ver o meu sofrimento chegou o momento de
acabar com tudo isso. Sem medo, sem reservas. Era chegada a hora de fazer
a coisa certa, com os olhos cravados no do homem à minha frente, meus
lábios se moveram novamente e o som da minha voz saiu rasgando a minha
garganta, pois um ódio descomunal havia me envolvida por inteira.
— Eu irei com você.
LORENZO
Jatos de sangue escorriam pelos lábios do miserável. E quando o
barulho deu lugar ao silêncio o homem a quem vim supostamente encontrar
se levantou. Paolo ficou ainda mais desorientado e tudo se tornou mais
interessante quando Pietro surgiu à nossa frente.
— Como isso é possível?
Ele lançou um olhar mortal em direção ao meu irmão. Embora a
situação estivesse divertida eu tinha algo ainda mais interessante para
resolver. Então tratei de matar a curiosidade que estava o correndo por
dentro.
— Você sempre se achou muito esperto. Uma raposa astuta que aos
poucos foi levando seus inimigos para dentro do seu covil, porém, jamais
imaginou que nem tudo sobre a nossa organização tinha chegado ao seu
conhecimento ou de qualquer outro membro do conselho. Assim como foi
repassado ao meu pai, quando criança ele me trouxe até aqui, um lugar
construído para que pudesse encurralar o inimigo caso dentro da famiglia
houvesse uma revolta. Bastaram algumas palavras ditas por Pietro e você
achou mesmo que poderia acabar com a minha vida, como fez com o seu
próprio primo, derramado o sangue do líder da organização a fim de usurpar
o meu lugar. Maldito traidor eu te mostrarei o que realmente um Santoro é
capaz.
No instante que minhas palavras foram proferidas, levantei uma das
mãos e um dos meus homens apareceu trazendo a marreta. A peguei de
imediato e já sabendo o que estava por vim o desgraçado começou a falar.
— Não! Não! Não...
Levantei o objeto e o primeiro golpe foi ao encontro da sua perna
direta, em seguida outros golpes foram desferidos me dando a certeza que
seus ossos quebraram. Ruídos de dor e desespero se fizeram presentes, e
com ele uma nova sequência de ataques foram dados contra os seus membros
inferiores e superiores e no instante que iria atingir suas costelas, mesmo
tomado pela dor um fio de voz quase imperceptível se fez presente.
— Você pode me matar, mas nesse momento a vadia, filha do Antony,
já deve estar morta.
O olhar dominador foi dado em sua direção.
— Eu até iria acabar com a sua vida neste momento, mas você
acabou de me recordar que não há nada mais prazeroso do que matar pai e
filho juntos ou você achou mesmo que Dante iria chegar perto dela sem que
eu permitisse. Levem esse infeliz direto para a prisão das águas.
Uma risada diabólica dada por mim, reverberou. Enquanto passos
firmes foram dados em direção ao meu carro. Chegou a hora do predador e
ir ao encontro das suas presas e Mia Ferrari, foi pior erro foi se aliar àquele
desgraçado.
"Bônus 03"
PAOLO
I nferno! Assim como Enrico, esse maledetto estragou todos os meus planos
quando estava a um passo de conseguir tudo que sempre sonhei.
Além da raiva que tomou conta de mim, por inteiro, senti uma dor
excruciante por todo o meu corpo, porém, comecei a lutar desesperadamente
em busca de ar e toda vez que as rajadas de água vinham ao encontro do meu
rosto tudo ficava ainda mais insuportável. Todas as comportas foram abertas
e o inferno ao contrário de fogo foi invadido por uma corrente de água que
em questão de minutos envolveu todo o meu corpo quebrado, me sufocando.
Perdi a noção do tempo que havia se passado, pois quando achava que não
tinha mais forças o recipiente era esvaziado, para minutos depois começar
todo o meu tormento.
Instantes depois quando pareceu que a tortura havia cessado.
Completamente exausto tudo que veio em minha cabeça foram as lembranças
de anos atrás. As quais foram o início para o plano que nos fez chegar até o
imbecil do Antony e fazê-lo o único suspeito sofrendo assim a fúria de pai,
filho e o ódio descomunal de todos os membros da máfia.

Dezoito anos antes...


— Você sabe exatamente o que deve fazer?
— Durante todos esses anos eu venho servindo de informante para
você. Agora chegou o momento de me deixar em paz, pois essa é a chance de
sair dessa vida miserável.
Dei alguns passos e me aproximei da vadia da Soraya e ao parar à
sua frente uma de minhas mãos ficaram fixas em sua garganta. Com os olhos
fixos nos dela que já estavam cheios de lágrimas o som da minha voz soou
ameaçador.
— Isso não é um pedido e sim uma ordem. Se não fosse por mim
você jamais teria chegado perto daquele idiota, então cabe a você me passar
todas as informações de cada movimento dele e quem sabe futuramente
vocês dois possam ficar juntos. Se bem que te conheço desde que veio ao
mundo, assim como a sua mãe, você não foi feita para um homem só, e não
pense que não sei o que você anda fazendo enquanto o tolo participa das
missões mais perigosas somente por desejar te tirar dessa vida.
— Como você disse ele é o meu passaporte para sair daqui, assim
como sei que você precisa de mim para se manter informado de tudo que
acontece nesse lugar e quando os Santoro menos esperar, você vai dar o bote
como uma cobra traiçoeira. Então somos iguais ao querer algo que a vida
nos roubou nos deixando assim à mercê dessa famiglia maldita.
— Boa menina. Em troca da sua colaboração, deixarei o desgraçado
vivo e poderão ir embora desse lugar, se bem que será o pior erro da vida
dele confiar em você. Falando nisso como irá fazer se o filho que espera não
for do idiota? Pior ainda se Enrico descobrir que você está grávida?
— Eu irei sair daqui, isso você pode ter absoluta certeza.
Deixei as lembranças de lado assim que o nível da água chegou até o
meu pescoço. Travando novamente uma luta pela sobrevivência, no
entanto, em meio a todo esse desespero a minha última esperança é que
Dante tenha eliminado a vadia que de fato nunca saberá quem realmente é o
seu verdadeiro pai. Deixando assim aquele infeliz que se acha tão esperto
sofrer para sempre com a dor da partida dela, pois mesmo parecendo
desprovido de sentimentos o capeta, acabou sendo enfeitiçado por aquela a
quem deveria odiar eternamente.
Capítulo 29
MIA
O veículo continuava a se mover pela estrada. Um flash de imagens passou
velozmente pela minha cabeça, o coração do meu pai sendo arrancado pelas
mãos do tirano que se tornou o meu pior pesadelo.
Depois que vim para Itália e sabendo que o demônio era o chefe de
uma organização criminosa. Eu tentei justificar para mim mesma que talvez
esse era o motivo pelo qual o meu algoz era tão cruel comigo, que já era da
sua natureza se alimentar do sofrimento daqueles que ele subjugava através
da sua tirania. Por diversas vezes eu cheguei perto do meu limite e quando
pensamentos ruins passavam pela minha cabeça. O amor pela vida, já que
muitos não tiveram nem a dádiva de vir ao mundo me mantinha forte para
não tentar algo contra mim mesma.
Entre lágrimas, dor, medo e ódio, deixei sempre que a esperança
falasse mais alto, no entanto, desde que ouvi o nome de Antony saindo pelos
lábios do seu assassino. Algo dentro de mim, fazia o meu coração se contrair
e sempre sentia um forte aperto em meu peito.
Meus pensamentos foram deixados de lado quando senti uma forte
pontada em minha cabeça, me forçando a mover minhas mãos até ela. A dor
se tornou insuportável e de repente tudo começou a ser envolvido pela
escuridão e a única coisa que me lembro foi de ver o rosto daquele maldito
antes de perder os meus sentidos.

Algum tempo depois...


— Mia! Mia! Mia!
Eu queria permanecer onde estava, mas senti o meu corpo ser
sacudido e o som grave ecoando próximo ao meu ouvido. Quando meus
olhos se abriram e a claridade invadiu as minhas retinas, antes que eu
cogitasse fechá-los novamente meu olhar foi direto para o rosto do homem à
minha frente.
— Você acabou desmaiando.
— Onde eu estou?
— Você ficará aqui até o momento de tirá-la do país.
Meus olhos passearam pelo local que tinha a mesma energia sombria
daquela torre demoníaca e quando iria me levantar já que estava deitada
sobre o estofado, ele se manifestou.
— Deixe que eu ajudo você.
Eu nem tive tempo para dizer nada, pois um estrondo terrível ecoou e
como se não fosse suficiente o som de vários disparos se fizeram presentes.
A expressão do homem logo mudou e no instante que ele iria se mover uma
voz horripilante que fez os meus ossos estremecerem.
— Então é nesse lugar que a esposa fujona veio se esconder.

LORENZO
Enquanto Pietro estava concentrado na estrada, tudo que vinha à
minha mente era o que faria com Mia, quando colasse minhas mãos nela.
Não nega ser a filha daquele desgraçado, pois o sangue ruim que corre em
suas veias gritou mais alto a ponto dela não cogitar que o único motivo
daquele maldito tê-la viva é justamente por acreditar que eu a essa altura
pudesse estar morto e assim ele poderá colocar suas mãos imundas em todo
o dinheiro que está em seu nome.
Por alguns segundos, fecho os meus olhos e as lembranças dos
últimos dias invadem a minha mente. Sempre soube que Dimitri, assim como
seu pai, além de leal a famiglia Santoro não deixaria de cumprir com a
tarefa que havia dado. Entretanto, o homem foi muito mais além e acabou me
dando a informação para acabar com Paolo e seu maior aliado.
Quando ele me revelou que Dante estava ligado ao facínora, tudo
começou a fazer sentindo, porém, a minha intuição dizia que tinha algo que
ainda estava oculto e aquela dúvida me levou a mandar não só ele acabar
com todos no dia combinado, como checar a fundo a ligação de Paolo com
Dante. Aquela raposa velha só enganou a todos durante todo esse tempo,
como ele era encarregado pelo controle dos arquivos omitiu o fato do infeliz
ser seu filho, pois se qualquer um antes tivesse visto a ficha de Dante,
descobriria que os dois tem o mesmo tipo sanguíneo já que para se tornar um
membro da organização todos passam por vários exames antes de iniciar os
treinamentos.
Tenho conhecimento que eles já sabiam quem de fato era Mia, a
pessoa mais indicada para se aproximar dela seria justamente o infeliz, que
sempre teve passe livre pela mansão. Com traidores a nossa volta sei que
Mia, era o alvo mais fácil deles atingirem e para evitar isso eu precisava
fazer com que ela se tornasse aos olhos de um deles alguém que teria mais
serventia viva do que morta.
Após ter arquitetado tudo com Pietro, assim que soube que Dante foi
quem indicou uma das funcionárias que a essa altura já foi enviada para o
lugar que logo mandarei todos os outros ratos ao exterminar essa raça
maldita. Sabia que ela seria usada por ele para chegar até Mia, a infeliz sem
saber estava sendo monitorada, enquanto meu irmão jogava a isca para a
velha raposa eu deixei com que Dante, olhasse o conteúdo que despertaria
ainda mais a sua ambição a ponto de trair o próprio pai.
Mia achou mesmo que eu não soubesse o conteúdo daquele bilhete e
não só tinha conhecimento como facilitei para que ela descobrisse a
passagem secreta. No fundo, eu cheguei a pensar que ela não se atreveria a ir
ao encontro do miserável, mas pelo sinal do rastreador colocado na aliança
dela tudo indicava que o idiota a levou para o lugar onde os meus homens já
tinham ordens para vir e acabar com todos os aliados que ficaram vivos de
Paolo, mas já que eles estão no local matarei dois coelhos com uma
cajadada só.
— Chegamos!
A voz de Pietro me fez abrir meus olhos no momento que paramos
perto do carro de Dante, que estava próximo à mansão do miserável. Saímos
do automóvel no instante que as dezenas dos veículos que vieram conosco
também pararam e os soldados começaram a se mover cercando toda a
propriedade. Com uma arma em punho e o celular em outra mão me movi em
direção ao sinal emitido pelo rastreador.
Detive-me quando parei em frente a uma guarita que ficava ao fundo
da residência. Um disparo ecoou no ar quando o idiota que estava nela
puxou sua arma em minha direção. Adentrei no lugar que além de um
computador com um grande monitor só havia uma porta que parecia ser um
banheiro, porém, assim que entrei descobri que se tratava de um elevador.
Segundos se passaram e quando cheguei ao local de destino o sinal ficou
mais forte e com passadas rápidas segui o caminho que me levará até os
dois.
Ouvi sussurros e ao me aproximar um estrondo se fez presente para
logo em seguida os ruídos de tiros preencherem o ambiente. Contudo, a raiva
me dominou assim que parei em frente à porta e a cena a minha frente fez
todo o meu corpo ficar em chamas.
— Então é nesse lugar que a esposa fujona veio se esconder.
Quando o som da minha voz ressoou no ar. Os olhos da mulher que
parecia atordoada ficaram ainda maiores e no momento de distração o
desgraçado pegou sua arma e apontou em minha direção.
— Parece que você tem pacto com o demônio, mas vamos ver se a
vadia também tem.
Quando ele começou a desviar sua mão na direção dela, meu coração
disparou e antes que ele chegasse na posição desejada o som de um disparo
seguido do ruído de dor ecoou dentro do ambiente.
— Aiiiii.
Assim que a arma de Dante caiu no chão, ele deu alguns passos em
minha direção e som da voz dele se fez presente novamente.
— Atira infeliz, mas antes diga a mulher com quem você casou que
matou o pai dela a sangue-frio. Que o tão esperto Lorenzo Santoro, tirou a
vida de um homem inocente que foi somente um peão no jogo de Paolo.
As palavras daquele maldito ficaram martelando em minha cabeça
como se várias agulhas tivessem sido cravadas em mim. Isso não podia ser
verdade? Todos os meus órgãos internos pareciam que estavam
descontrolados e só sai do estado catatônico que estava quando a voz da
mulher que até então estava quieta entoou no espaço, porém, era o objeto que
estava em suas mãos que roubou a minha total atenção.
— Você matou o meu pai — disse aos berros.
— Mia!
— Foi ele o responsável por você ter se tornando uma órfã. Cabe a
você acabar com tudo isso.
Capítulo 30
MIA
F oi ele o responsável por você ter se tornando uma órfã. Cabe a você
acabar com tudo isso.
Essas palavras de Dante reverberaram no ar, causando um grande impacto.
— Mia! — o assassino disse.
O som daquelas palavras pareciam não ter fim, pois ficaram se
repetindo na minha mente como se tivessem sido gravadas por uma longa
duração.
Minhas mãos estavam trêmulas já que nunca havia segurado uma
arma antes, embora o homem que eu acreditava ser o meu pai tinha uma e por
diversas vezes eu o vi praticando tiros no quintal, então sabia exatamente
como usar. Meu coração começou a bater muito forte e meus olhos estavam
ardendo tanto que ficou difícil mantê-los abertos, mas ainda assim, quando
meu olhar se fixou naquelas órbitas negras todo um filme passou à minha
frente.
Desde o momento que ele surgiu em minha vida naquele bordel
emanando uma força sombria e poderosa. Do desespero que senti quando
acordei após ele ter me levado para aquele lugar e me depararei com a
cicatriz que não somente me marcou fisicamente como está cravada em
minha alma. E, em meio a todo aquele sofrimento ele ainda desdenhou
dizendo que eu deveria agradecer, pois o destino que foi traçado para mim
não teria lugar para uma criança, foi como se o tirano estivesse enfiado uma
faca em meu peito e lentamente ficasse movendo-a em círculos e a dor se
tornava ainda mais cruciante.
A voz diabólica dele entoou no ar novamente e aquele barulho só fez
com que um forte incômodo se intensificasse no meu peito.
— Mia! Você não é uma assassina.
O demônio já havia decidido que eu seria o objeto que ele usaria
para dissipar aos poucos todo ódio que sentia pelo meu pai, e saber a
verdade não faria com que esse monstro mudasse. Então eu deveria acabar
com tudo isso, movi minha mão em direção a minha cabeça sentindo o objeto
metálico em contato com a minha pele.
— Não! Solte a arma e tudo ficará bem.
Medo! Era isso que vi refletido em seus olhos e certamente era por
temer ficar sem seu brinquedinho favorito.
— Não faça isso, Mia! Não deixe que a morte do seu pai seja em
vão, a sua morte só fará com que Lorenzo triunfe por ter levado a filha do
homem que ele matou ao limite da sua sanidade e com a sua partida, ele fará
da vida de outra pessoa um mar de sofrimento — Dante falou aos berros e
um grunhido saiu da boca dele quando Lorenzo deu um chute forte em suas
costelas. Os olhos sombrios agora faiscavam de ódio e no momento que seu
dedo deslizou pelo gatilho as imagens dele arrancando o coração do meu pai
surgiu como um clarão à minha frente e naquele momento era como se a
minha mão tivesse vida própria e depois de fazer o trajeto desejado meu
dedo puxou com força o gatilho. O som que preencheu o espaço seguido da
imagem que estava diante dos meus olhos, fez o meu corpo convulsionar
para depois a minha vista escurecer e tudo que lembro foi do líquido
vermelho escorrendo.

PIETRO
Eu cresci na máfia, mas sempre sentir que não fazia parte desse
mundo. Contudo, saber que aquele desgraçado foi o responsável pela morte
do meu pai acabou despertando um lado sombrio totalmente desconhecido
por mim. De todas as loucuras que já fiz e de ser considerado um
irresponsável, algo eu sempre carreguei no meu coração. A minha famiglia
ainda era o meu porto seguro, eu sabia que por mais erros que cometesse
tanto meus pais como Lorenzo, que mesmo vestindo aquela armadura que
parecia indestrutível, estaria ali para me proteger.
Entretanto, Enrico se foi e era chegada hora de assumir assim como
meu irmão o controle de tudo que é nosso. Meu corpo todo vibrou com
adrenalina de horas atrás, pois ver aquele infeliz sendo desmascarado e que
em breve ele pagará por todos os seus atos me causou uma sensação
inexplicável. Como diz a minha mãe, todos temos um lado sombrio, às vezes
fica oculto, todavia, a qualquer momento devido às circunstâncias pode nos
envolver.
Assim como ele me contou sobre Paolo e Dante, eu fiquei em choque
ao descobrir a verdade sobre Mia.
Quando seguimos para mansão do infeliz, o Lorenzo se manteve em silêncio
total e eu sabia que era por causa da única mulher que foi capaz de penetrar
o coração que mais parecia uma barra de gelo, porém, entendi que os
demônios que habitam nele estavam travando uma luta. Era como a luz e as
trevas, o amor e o ódio, tudo porque ela é filha de um traidor.
O meu pai fez questão de privá-lo de todas as coisas boas, para que
no seu coração o ódio fosse predominante e graças a dona Graziela e Mia,
parece que os planos de Enrico Santoro, estão sendo ameaçados. Todavia,
ele perante todos da máfia é a lei suprema e ninguém contestará a sua
palavra, caso ela venha a decretar que ela não pode pagar pelas iniquidades
dos pais.
No instante que o carro parou, ele não deixou que eu fosse com ele,
pois queria acabar com Dante sozinho. Enquanto o homem seguiu feito um
leão faminto indo caçar suas presas, assumi o controle do pessoal e comecei
a dar ordens, em questão de instantes o silêncio deu lugar ao barulho infernal
dos disparos, minutos se passaram e o cheiro de sangue fresco tomou conta
de tudo, porém, meu coração disparou de repente e as fortes batidas eram tão
altas que eu pensei que a qualquer momento iria sair do meu peito.
Com todos os ratos eliminados, ignorando as ordens dele segui pelo
percurso que ele tinha ido e quando cheguei dentro da guarita ao abrir a
porta apertei o botão e em questão de segundos o elevador chegou ao andar.
Minutos depois já estava no corredor que estava na penumbra, no entanto, o
mal-estar que senti antes ficou pior quando me aproximei da claridade. Já
estava alguns passos de chegar até o ambiente de onde o som das vozes
estava vindo e quando o ruído de um tiro entoou no ar, assim que parei
próximo à porta a imagem que vi à minha frente fez um ódio descomunal
apoderar-se de todo o meu ser.
"Eu vou matar esses dois infelizes".
Capítulo 31
PIETRO
Fiquei petrificado por alguns segundos diante da imagem à minha
frente e no instante que a filha do maldito traidor caiu ao encontro do chão.
Com a minha arma em punho, movi o meu dedo puxando o gatilho e o
barulho preencheu o espaço.
Um gemido de dor saiu rasgando a garganta do infeliz que estava
prestes a colocar suas mãos imundas na arma que estava na mão de Lorenzo.
Meu olhar ficou fixo no corpo do meu irmão esparrando ao chão e ver todo
aquele sangue envolvendo a sua camisa fez com que um ódio desmedido me
envolvesse por inteiro. Movi o meu braço deixando a arma apontada na
direção a cabeça da infeliz e quando iria arrastar novamente o gatilho,
escutei alguns sussurros vindos de Lorenzo.
— N... Na... Não. Pegue a arma da mão dela.
Essas foram às últimas palavras ditas antes daqueles olhos que já
estavam opacos e sem vida serem tomados pela escuridão. O desespero
pairou sobre mim e depois de checar que ele ainda estava respirando quando
ouvi sons de vozes e passos pelo corredor, avancei na direção dela. Embora
possuído pela raiva, eu tinha que fazer a última vontade de Lorenzo.
Abaixei-me e depois de tirar as balas da pistola. Andei em direção
ao desgraçado, que também estava desfalecido e deixei o objeto ao alcance
da sua mão direita. Nos momentos que sucederam ao meu ato, o recinto foi
invadido por vários homens armados que ao se depararem com o cenário
deduziram que o traidor havia atingido o chefe. Liguei de imediato para
Graziela e uma equipe já ficaria preparada para a chegada dele ao hospital.
Enquanto Dante foi conduzido para o mesmo lugar onde Paolo estava
Lorenzo foi levado por alguns soldados. Peguei Mia em meus braços e
deixei aquele inferno.
Com os dois já dentro do veículo, mandei que o motorista fosse mais
rápido possível. Conhecendo o meu irmão e o fato dele ter levado somente
um tiro isso não seria suficiente para tê-lo deixado nesse estado a não ser
que tivesse atingindo algum órgão interno. Toda a calmaria dentro do
automóvel deu lugar ao pânico quando o corpo dele começou a convulsionar,
como se ele estivesse passando por um ataque epiléptico e várias gotas de
sangue escorrendo pelo canto dos seus lábios.
— Você quer andar mais rápido — gritei para o homem que estava
no controle do veículo.
— Senhor eu já estou na velocidade máxima, ninguém pode passar.
— Passe por cima de todos, pois se algo acontecer com o meu irmão
você não sairá vivo desse carro.
Rapidamente ele pegou a faixa mais à esquerda e minutos depois o
carro parou em frente ao hospital. A equipe médica liderada pelo velho
Salvatore já estava em prontidão, colocaram tanto Lorenzo como a mulher
que ainda estava desfalecida e com o rosto muito pálido, em cima de uma
maca e saíram às pressas.
Em passos largos segui para dentro do hospital e fiquei numa sala
privativa aguardando por notícias. Naquele momento só uma ideia passava
pela minha cabeça. A morte daquele miserável já é algo inevitável, porém,
se o pior vier acontecer com Lorenzo, Mia terá o mesmo destino que Dante e
Paolo.

GRAZIELA SANTORO
Eu estava incrédula diante de tudo que Lorenzo havia me contado
dias atrás. O inimigo estava todo esses anos mais perto do que todos
imaginávamos e se não fosse por aquele infeliz, o Enrico ainda estaria vivo.
Hoje antes de deixar a mansão, ele passou pelo quarto e pediu que
não fosse incomodar Mia. Pietro, como combinado, saiu logo em
seguida, segui para o banheiro, tomei banho em seguida deixei o meu quarto.
Tomei o meu café da manhã e o homem que estava tanto aguardando chegou
uma hora depois.
Terminei de assinar os documentos que Dante trouxe e fiquei na sala
com Antonella, porém, algo estava me deixando inquieta o que me fez subir
os degraus da escada e fui em direção ao quarto que Mia estava. Depois de
chamar por várias vezes ao tentar abrir a porta me deparei com ela fechada.
Imediatamente fui procurar a chave reserva e quando consegui abrir a porta
o cômodo estava vazio. Meu coração acelerou mais do que já estava e só
havia um lugar pelo qual ela poderia ter passado, no entanto, me veio à
cabeça que Lorenzo certamente havia omitido alguns fatos já que além de
nós dois nem Pietro, sabia da existência da passagem secreta.
Deixei o ambiente e quando voltei para o primeiro andar, perguntei a
minha sobrinha se ela tinha visto Mia, e ela respondeu que não. Caminhei em
direção ao jardim e nada, pelo que fui informada ninguém a tinha visto e o
único que deixou a mansão havia sido Dante.
Segui para sala de monitoramento do escritório, porém, era como se
as câmeras estivessem sido desligadas. Mas em seguida entrei no sistema
que Lorenzo havia instalado pessoalmente e meus olhos ficaram atentos a
cada movimento dela desde o momento que saiu da Torre, indo em direção a
garagem. Aumentei o volume e o que aconteceu em seguida me deixou
totalmente desorientada.
Pelo horário da filmagem esse maldito já devia estar bem longe.
Peguei o celular e liguei para Lorenzo, tanto ele como Pietro não atendeu e o
que me deixou ainda mais agoniada. Minutos se passaram e as palavras ditas
por Dante dentro da garagem, ainda ressoavam em minha cabeça e se eu
fiquei atordoada com tudo que escutei, ela deveria estar completamente
perdida com tudo que foi revelado.
De repente senti uma pontada no meu peito e foi no exato momento
que o meu celular começou a tocar. Temerosa e com a mão tremendo,
conseguir atender e quando ouvir o que foi dito por Pietro, meu coração
parecia que iria sair pela boca. Liguei para Salvatore e sai da sala
praticamente correndo.
Antonella, ao ver meu estado perguntou o que estava acontecendo,
mas tudo que eu queria era chegar logo ao hospital. Ela acabou me seguindo
e nunca o trajeto até aquele local pareceu tão demorado. Assim que
chegamos, sai do veículo e sabendo onde encontrar Pietro fui direto para
sala onde ele estava.
— Como ele está? — perguntei assim que adentramos o recinto.
— Ainda não vieram informar.
— Quem atirou nele?
No momento que sua boca se contorceu e seus lábios se moveram, a
porta foi aberta e nossa atenção se voltou ao homem vestido de branco.
Todavia, meu sangue gelou assim que Salvatore começou a falar.
— A situação do Lorenzo é muito grave. A bala perfurou o pulmão
provocando hemorragia no órgão, conseguimos controlar, mas precisamos
urgente de uma transfusão de sangue. Vocês na condição de parentes mais
próximo certament...
— Eu vou doar — minha respiração se alterou e os batimentos
cardíacos aumentaram instantaneamente.
— Não, eu faço isso.
— Mas mamm...
— Já disse que eu irei, fique aqui com Antonella.
Respirei fundo e caminhei ao lado de Salvatore. Eles dois jamais
poderão descobrir a verdade.
Capítulo 32
GRAZIELA
D epois que terminei de doar sangue, ainda permaneci na sala de coleta
por alguns minutos e assim que deixei a sala fui em direção ao quarto que
meu filho estava. No momento que abri a porta fiquei imóvel feito uma
estátua, me perguntando o que eu faria da minha vida se algo pior
acontecesse com ele.
Sai do devaneio que me encontrava e depois de entrar no quarto,
fechei a porta e andei até onde ele estava. Seu rosto estava pálido, esgotado
e desde que tinha nove anos quando foi envenenando eu jamais o tinha visto
tão frágil novamente. Puxei a cadeira que estava ao lado e assim que sentei
segurei firme em sua mão direita, pois vê-lo nessa cama de hospital com um
monte de fios ligados ao corpo, enquanto o silêncio era interrompido pelo
som do monitor que soltava um breve bipe toda vez que seu coração batia só
fez com que as lágrimas descessem fartamente pelo meu rosto.
Lorenzo, embora duvide, você sempre foi muito amado. Por várias
vezes eu quis lutar contra Enrico, para que não o afastasse de mim, o culpei
por cada dia, mês e ano que não pude ficar ao lado do meu filho amado,
porém, em meio a toda crueldade que ele fez para que uma criança viesse a
se tornar tão cedo aquilo que ele almejava. Anos depois eu acabei por
entender que era obra do destino, pois de alguma forma os instintos do seu
pai já previam que você seria o seu sucessor e o único filho que ele teria na
vida.
"O único e verdadeiro herdeiro dos Santoro e da Cosa Nostra".
Enrico, mesmo do seu jeito tirano sempre te amou, no entanto,
colocou o futuro da famiglia em primeiro lugar. Descobrir que eu não
poderia mais ter filho, talvez foi um dos maiores motivos que o fez agir
diferente com Pietro, pois era a forma que ele encontrou de poder vivenciar
tudo aquilo que não foi permitido com você. No entanto, jamais soube que o
nosso verdadeiro filho morreu justamente na noite que ele fez você sujar
suas mãos ao arrancar o coração daquele a quem considerava um amigo.
Talvez se vocês dois estivessem comigo, hoje Pietro não seria um
Santoro e sim o filho de uma empregada que deu à luz justamente no mesmo
horário que eu e assim como o meu verdadeiro filho, não resistiu. Tereza
sempre foi uma boa funcionária que infelizmente se deixou envolver por um
homem que colocou a ambição acima de tudo e não hesitou em ir para Nova
York, assim que foi escolhido para ser um dos chefes de segurança daquele
bordel.
Com todas as complicações que tive no parto assim como Tereza, e
depois de tudo que já havia passado para me manter firme na posição que
ocupava. Um único herdeiro para um chefe da máfia, seria um prato cheio
para que ele viesse a ter várias amantes. Jamais me arrependi do que fiz,
pois Pietro foi um grande presente em minha vida e espero que nunca tenha
que revelar toda verdade da sua origem.
Eu fiquei tão perdida em meio aos meus pensamentos que só sai do
estado que me encontrava, assim que sentir uma mão gelada ao encontro do
meu ombro e ao levantar a cabeça me deparei com a face do meu filho do
coração, banhada em lágrimas.
— Mamma!
— Tudo ficará bem.
Pietro se aproximou ainda mais da cama e seu olhar ficou fixo no
rosto do irmão. Para muitos o meu menino sempre foi um inconsequente, mas
ele acabou fazendo o coração sombrio do temido chefe da Cosa Nostra, ser
invadido por um pouco de luz. Assim como Enrico, Lorenzo embora alguns
anos mais velho e manter perante todos essa armadura de homem frio e
implacável. A chegada do irmão em meio a todas as provações do seu
treinamento fez com que aquela criança que sempre tinha um olhar triste por
diversas vezes, o brilho se fez presente dentro das suas órbitas negras
quando direcionadas para o seu irmãozinho. Interrompi meus pensamentos ao
lembrar da minha nora.
— Salvatore informou como a Mia está?
— Mamma, eu quero que ela morra! — ele pronunciou as palavras
cheias de ódio e rancor, olhando ainda fixamente para Lorenzo.
— Mia faz parte da nossa famiglia e sendo esposa do seu irmão.
Como você se atreve a pronunciar essas palavras.
— Por culpa dela, ele está nessa cama.
— O que ela tem a ver com o fato daquele infeliz do Dante ter
atirado nele?
— Isso foi o que Lorenzo quis que todos pensassem. Mas a única
verdade é que foi essa traidora que quase tirou a sua vida.
Novamente veio em minhas lembranças tudo que aquele maldito
disse a ela. Embora sendo o meu filho, eu sei que Lorenzo, mesmo não
querendo aceitar senti algo por ela, porém, ele insiste em colocar o ódio que
sentia por achar que Antony era um traidor acima de tudo. E perante tudo que
essa menina tem sofrido e casada com o homem que matou o seu pai,
qualquer um no lugar dela chegaria ao limite da sua sanidade.
— Tem algo que você precisa saber.
Nos minutos seguintes comecei a contar tudo que aconteceu na
garagem e as feições dele eram semelhantes à minha quando estava
assistindo aquelas imagens. Depois que terminei de relatar todo o ocorrido,
Pietro mesmo tão perplexo quanto eu ainda assim estava irredutível.
— Por mim, hoje mesmo Dante e Paolo, seriam enviados ao inferno,
no entanto, sei que Lorenzo, ficará furioso por não estar presente. Quanto a
Mia, mesmo Antony sendo inocente, e embora ele tenha me mandado fazer
com que todos acreditassem que foi o desgraçado do Dante que atirou nele, a
senhora sabe que assim que ele acordar as consequências do ato dela serão
as piores possíveis.
— Vamos nos preocupar com o presente, pois até lá muita coisa pode
acontecer. Agora vou ver como ela está.
Dei um beijo no seu rosto molhado pelas lágrimas e caminhei em
direção à porta. Estava andando pelo corredor e me detive assim que o
homem quem estava procurando surgiu à minha frente.
— Como a minha nora está? — perguntei a Salvatore.
— Eu já havia dito ao Lorenzo que ela precisava retornar. Com a
pancada que recebeu na cabeça quando caiu da escada, algumas células
cerebrais foram danificadas provocando um desiquilíbrio químico no
cérebro o que, em geral, resulta em um desmaio, no entanto, no caso dela era
provável que viesse a desenvolver tontura e fortes dores de cabeça.
— Ela já acordou?
— Eu não sei o que aconteceu com ela, já que pelos exames feitos.
Sua nora já deveria ter acordado, entretanto, continua no estado de
inconsciência se negando a despertar.
— Eu vou vê-la — informo ao Salvatore.
— Tem algo ainda mais grave que você precisar sab..
A cada palavra que saía da sua boca mais incrédula e horrorizada eu
ficava. Um misto de sensações me envolveu por inteira e naquele momento
tudo que eu queria era estar ao lado dela. Em passos largos segui em direção
ao quarto que ela estava.
"Mia certamente prefere ficar na escuridão, a ter que encarar
novamente o homem que mudou a sua vida".
Capítulo 33
Dois dias depois...
PIETRO
G raziela Santoro, assim como eu, está extremamente preocupada com toda
essa situação. Lorenzo e Mia resolveram entrar em uma história de contos de
fadas e continuam em um sono profundo.
O nosso pai sempre dizia que nós dois éramos como uma moeda,
feitos da mesma fábrica, porém, um era a cara e o outro a coroa, já que
somos completamente diferentes. No entanto, ele jamais soube que, na
verdade, sempre desejei ser como Lorenzo, pois o meu irmão passou a
conduzir o seu próprio destino e nunca mostrava ter medo do que estava por
vim. Ele sim era semelhante ao nosso pai não só fisicamente, mas os dois
tinham personalidades parecidas.
Diante de tudo que aconteceu recentemente percebi o quanto o meu
irmão significava na minha vida. O medo cru e agudo atravessou o meu peito
ao cogitar que ele pudesse não estar mais entre nós e ver como minha mãe
está sofrendo só me deixou ainda mais desorientado. A famiglia roubou toda
a infância do meu irmão e não deixou que mãe e filho pudessem desfrutar da
companhia um do outro. Fez uma criança crescer cercada de criminosos,
onde os seus únicos brinquedos eram as pistolas que já deveria manusear
sendo tão novo. Enquanto Graziela sofria por saber que o seu filho estava
sendo transformado em uma máquina de matar.
Eu sim fui privilegiado e acabei não sabendo aproveitar todo o
carinho e dedicação que ao contrário de Lorenzo, os nossos pais tiveram
comigo.
— Senhor!
Deixei os devaneios de lado ao chegar ao local que estavam os dois
infelizes. Dei algumas passadas e o cheiro de morte impregnado no lugar
invadiu as minhas narinas. Gritos de medo e dor ressoavam no espaço e
parei assim que fiquei frente a frente com os dois malditos. Com os olhos
cravados na imagem à minha frente, já que não posso matá-los, nada mais
justo que sofram até o dia que Lorenzo dará fim as suas miseráveis vidas.
Contemplei a bela visão dos desgraçados, onde seus membros
inferiores estavam presos por correntes fixadas na parede enquanto os
braços foram imobilizados pelo objeto vindo do teto.
Com o pescoço envolvido por uma corda, a cabeça de cada um deles
ficou inclinada, deixando a testa exatamente na direção do balde cheio de
água que estava preso no teto. Algo que pode parecer até uma brincadeira
perto de toda crueldade que esses dois fizeram, porém, como diz meu irmão
uma morte rápida seria até um presente.
Foi feito um furo minúsculo no fundo dos baldes, assim a água pinga
lentamente na testa dos prisioneiros o que se tornará uma agonia, pois a
privação do sono é considerado o pior tipo de tortura psicológica, já que as
gotas não permitiram que eles durmam. Acabará por levá-los a insanidade,
pois depois de algumas horas que o gotejamento parar e eles ficarem
aliviados. Os soldados vão encher os baldes novamente, o barulho e a força
da água em contato com a pele vai torna a dor cada vez mais insuportável.
Os olhares lançados em minha direção estavam carregados de ódio e
mesmo tomados pela dor assim que a água cessou a voz do velho maldito se
fez presente.
— Você acha que isso irá nos deter. Assim como o seu pai, aquele
fedelho está a caminho do inferno.
A fúria incontrolável pairou sobre mim. Imagens do meu irmão
agonizando dentro daquele carro se fizeram presentes em minha mente. Levei
uma das mãos em direção a minha arma e no instante que apontei na direção
do infeliz, fiquei imóvel ao ouvir o som da voz que ecoou no espaço.
— Podem encher novamente os baldes.
Virei-me em direção à porta e mamma estava com uma expressão
sombria no rosto.

New York
SORAYA
Meus olhos estavam fixos na cena à minha frente. Depois de dezoito
anos ainda ficava impactada toda vez que olhava para a imagem da minha
barriga que era refletida no espelho. Meu rosto mudou, meu corpo com um
tempo sofreu mudanças, porém, essa maldita cicatriz ficou cravada em minha
pele para sempre.
— Depois de todo esse tempo, você continua sendo assombrada pelo
passado?
Meus pensamentos foram interrompidos ao ouvir o som da voz do
homem que adentrou o ambiente, assim que meus olhos encontraram as suas
órbitas esverdeadas as lembranças daquele maldito dia surgiram como
flashes à minha frente.
Enrico, puxando sua adaga enquanto reunir todas as minhas forças
para me levantar, mas o homem foi muito mais rápido e feito um animal feroz
subiu em cima de mim. O tirano levou o objeto cortante em direção a minha
barriga e rasgou a minha roupa, enquanto comecei a me debater tentando me
livrar de sua posse, porém, uma dor imensurável como nunca tinha sentido
na vida pairou sobre mim, quando ele deslizou o objeto em minha pele.
Gritos e mais gritos se fizeram presentes e à medida que ele estava
rasgando a minha carne as lágrimas grossas rolavam pela minha face. Eu já
não tinha mais forças para nada, sentia que todos os órgãos dentro da minha
caixa torácica estavam funcionando no seu limite e quando o som mais
bonito que ouvi na vida ressoou à minha volta. Tudo começou a girar e a
única coisa que lembro foi de ouvir o nome que ficou registrado na minha
última lembrança.
— Mia!
Esse foi o nome que aquele infeliz deu a menina que veio ao mundo e
sem saber ela acabou por salvar a minha vida.
— Soraya!
Novamente fui arrancada dos meus devaneios.
— Se não fosse por você, eu estaria morta.
— Se não fosse pela pirralha, você a essa altura estaria fazendo
companhia ao infeliz do Antony. Se bem que acredito que sua alma não iria
para o mesmo lugar que a dele.
— Não gosto quando você se refere a ela dessa forma. Eu sei que
Enrico, acabou desviando toda sua atenção para ela assim que nasceu e ele
viu que era uma menina. A ponto de me ver desfalecendo e cogitou que eu já
estava morta. Se não fosse por você ser o encarregado em sumir com o meu
corpo eu não teria sobrevivido.
— Mas você está viva. Agora que o desgraçado morreu e pelo que
soube Lorenzo está à beira da morte será o momento exato para se aproximar
da herdeira dos Santoro.
— Enrico levou a minha filha e com aqueles homens vigiando o lugar
eu não consegui me aproximar dela. Minha esperança foi quando ela esteve
no bordel, porém, o destino mais uma vez nos afastou. Eu já errei muito
nessa vida e a minha filha merece ser feliz.
As feições do homem logo mudaram. Seus olhos ficaram no tom mais
escuro e antes que eu tivesse qualquer reação ele diminuiu o espaço que nos
separava. Sua mão grande segurou minhas bochechas e manteve minha
cabeça exatamente onde ele me queria. Eu gemi de dor e estremeci toda
quando seus olhos faiscando de ódio encararam os meus e o som da sua voz
preencheu o espaço.
— Você vai fazer exatamente o que eu mandar. Se a morte ainda não
quer levar Lorenzo, eu darei um jeito de ir contra a vontade dela e você será
a pessoa que fará Mia Santoro, nos deixar completamente ricos.
Capítulo 34
Nápoles – Itália

Dois dias depois...


VICENT
D urante todos esses anos tive que me contentar em estar em um cargo
inferior ao que sempre almejei. Fiz de tudo para ganhar a confiança não só
dos membros do conselho, como do miserável do Enrico Santoro. Meu ódio
só aumentava ao ver meus sonhos serem jogados no lixo, porém, ao salvar a
vida da puta da Soraya eu sabia que cedo ou tarde a infeliz me seria útil.
Os anos se passaram e sempre mantive meus olhos e ouvidos
atentos e mesmo sabendo dos planos de Enrico para aquela fedelha, jamais
pensei que o temido chefe da Cosa Nostra ao ir direto para o inferno os seus
planos também mudariam de rumo e Lorenzo movido pela sede de vingança
faria de Mia sua esposa. Uma luz se acendeu no final do túnel e com os
últimos acontecimentos, ontem chegamos a Nápoles.
Deixo os devaneios de lado e minha atenção se voltou para mulher
que surgiu em minha frente.
— Quando eu verei a minha filha?
Meus olhos foram ao encontro ao relógio do meu pulso e ao constatar
que horas eram levantei a cabeça e meu olhar ficou fixo no rosto dela.
— Dentro de alguns minutos, Lorenzo jamais acordará e sendo assim
você entrará em ação. No momento certo faremos com que toda fortuna
deixada pelo maldito venha direto para minhas mãos.
Caminho a passos largos pelo corredor do hospital. Já faz cinco dias
desde o ocorrido e assim como Mia, Lorenzo que segundo Salvatore já
deveria ter despertado se mantém no sono profundo.

GRAZIELA
O meu filho sempre foi uma verdadeira rocha. Desde o seu
nascimento, assim como Enrico, eu sabia que ele estava predestinado para a
se tornar o maior chefe que nossa organização já teve, por isso o pai não
hesitou a mantê-lo distante de mim.
Lorenzo teve que passar por tantas provações sendo somente uma
criança e encarar a cada fase do seu treinamento e todos os seus demônios
internos. No entanto, jamais esperei que após tantos anos o ódio que sentia
pela traição de Antony, viesse a aflorar ainda mais e sua filha fosse o alvo
do seu lado mais obscuro.
Afastei os diversos pensamentos da minha mente e depois de
adentrar o quarto, andei até a cama onde ela estava. Com a distância
reduzida meu olhar ficou cravado no rosto da mulher que tinha uma
expressão suave em sua face como se tivesse enfim encontrado a paz.
— Para a famiglia uma traição deve ser paga com sangue e os filhos
acabam sendo julgados pelas iniquidades dos pais. Depois da crueldade que
ele fez a você eu farei de tudo para que nada mais de ruim venha lhe
acontecer. Mia Santoro a nossa família mudou no passado o rumo da sua
história e agora foi você a escolhida para trazer um pouco de luz ao coração
sombrio do meu filho.
Minutos depois...
Acabei perdendo a noção do tempo transcorrido e ao ver que ela
continuava do mesmo jeito, irei aproveitar para ir ao quarto do meu filho.
Com um giro nos calcanhares me movi em direção à porta, assim que levei
minha mão até à maçaneta senti um forte incômodo no meu peito. E no
instante que a porta foi aberta fiquei desorientada com a grande
movimentação no corredor.
Meu coração começou a bater no ritmo frenético, meus pensamentos
foram direcionados para uma única pessoa e movida pelo meu desespero, fui
praticamente correndo na mesma direção que eles estavam indo, só me
detive quando cheguei próximo à porta e assim que abri, Salvatore pareceu
no meu campo de visão.
— O que aconteceu? — a resposta que veio em seguida me deixou
completamente sem rumo.
— Lorenzo teve uma parada cardíaca, estamos fazendo de tudo para
trazê-lo de volta.
O silêncio é predominante no ambiente e pela primeira vez sinto uma
paz tão grande em meu coração. Não quero e nem vou sair desde lugar.
— Lorenzo! Lorenzo! Lorenzooo...

LORENZO
O som da voz que sempre foi como um pesadelo para mim não
parava de ecoar a minha volta. Levantei-me e comecei a caminhar em
direção do barulho e a cada passo dado, meus batimentos cardíacos
aumentavam. Depois de minutos que mais pareciam uma eternidade, fiquei
imóvel diante do homem que apareceu à minha frente e pela primeira vez
havia um brilho intenso em seus olhos ao serem direcionados em minha
direção.
— Enrico!
— Filho!
O sossego pairou novamente, ele deu alguns passos e ficou a
centímetros de distância e antes que eu tivesse qualquer reação. O homem
que nunca havia me tratado como um filho e que parecia ter uma barra de
gelo dentro do peito, me envolveu em um forte abraço. Meu corpo todo
estava pesado eu não conseguia mover nenhuma fibra e de repente todos os
órgãos internos disparam.
Minha pele estava emanando um calor insuportável. O ar começou a
se esvair dos meus pulmões enquanto uma imensa escuridão começou a me
envolver. Ele desfez o contato e a calmaria foi interrompida pelo som
potente da voz de Enrico.
— Você sempre foi o meu filho amado e mesmo vestindo aquela
amadura de homem frio e deixando transparecer que não me importava com
o seu sofrimento. No fundo, a dor que estava sentindo por dentro sempre
esteve me correndo como um maldito câncer, mas você é único que pode
fazer a famiglia alcançar tudo àquilo que nenhum Santoro foi capaz. Você é o
único que pode proteger a nossa família. Você precisa viver, pois aqui não é
o seu lugar. Acordeeee!
Uma força muito maior que tudo que já tinha visto antes estava me
puxando em direção as trevas e por mais que meu pai falasse que não era o
meu lugar. Eu tinha certeza que aquele era o caminho a seguir e quando os
meus olhos estavam a ponto de se fechar, uma imensa claridade surgiu no
espaço e a imagem daqueles olhos gigantes como se fossem duas esmeraldas
ficaram fixos em minha mente. Por mais que a escuridão me puxasse algo
naquela luz me dizia que deveria resistir e quando senti uma forte contração
no meu peito os meus olhos se abriram e o som da minha voz reverberou no
espaço, me rasgando por dentro.
— Miaaaa...
Capítulo 35
LORENZO
M eus pulmões que antes estavam quase estourando, pararam de se
contrair e meu coração agora batia no ritmo normal.
— Ele voltou...
O barulho estava presente no ambiente e toda aquela movimentação a
minha volta já estava me irritando, porém, meus olhos ficaram fixos na
mulher à minha frente que tinha o rosto banhado pelas lágrimas. Quando
desviei o meu olhar em direção ao meu corpo e reparei que fios se ligavam
ao meu peito, segui os fios e um monitor que media meus batimentos
cardíacos surgiu no meu campo de visão, no entanto, quando movi umas das
mãos para arrancar os objetos do meu corpo a voz de mamma ecoou no
espaço.
— Não faça isso, figlio!
Diante da sua ordem me detive, porém, ao ouvir novamente o som da
minha voz, as feições de Graziela Santoro mudaram de imediato.
— Onde está Mia?
Um dia depois...
Graziela e o velho Salvatore, cogitaram que podiam me manter por
muito tempo sobre aquela maldita cama. Quando ontem ela me relatou tudo
que havia acontecido, durante o tempo que estive desacordado. Tentei
levantar da cama, mas fui impedindo pela mulher que nunca tinha visto tão
furiosa e sabendo que seria em vão travar uma batalha contra a minha mãe,
me mantive quieto enquanto organizava todos os meus pensamentos.
Ela por sua vez acabou por confirmar que as palavras ditas pelo
desgraçado a respeito de Antony, era verdade o que só aumentou a minha
fúria em querer matar aqueles dois. Pietro relatou que com a punição que
estavam recebendo os dois lutavam para se manterem lúcidos, ambos
estavam no limite da sua sanidade, entretanto, mesmo sabendo que a "A gota
chinesa" sempre foi um método de tortura que já levou vários traidores a
morte. Seria um grande presente para eles, se fossem enviados ao inferno de
uma forma que não sentisse uma dor excruciante.
Deixei os pensamentos de lado assim que parei em frente à porta do
quarto em que aquela atrevida estava. Abri a porta e com passos largos
diminui a distância que nos separava, meus olhos ficaram cravados em sua
face e as palavras da minha mãe por alguns segundos surgiram em minha
cabeça. Graziela achou mesmo que o fato da verdade sobre a inocência de
Antony e o estado de Mia, me fariam esquecer que foi ela quem me deu
aquele maldito tiro, me impossibilitando de ter matado antes aqueles dois
vermes.
Não posso negar que a verdade sobre o seu pai acabou por mudar o
rumo dos meus planos, mas antes farei essa coisinha deliciosa me pagar por
cada dia que fiquei sobre aquela cama.
Ninguém vai derramar o meu sangue e não sofrerá as consequências.
Olhei para o relógio em meu pulso e era chegada a hora de acertar as
contas com Dante e Paolo. Dei mais uma última olhada para Mia e em
seguida, antes de deixar o cômodo o som da minha voz se fez presente.
— Aproveite bastante, querida esposa, pois quando você acordar te
darei uma recepção que jamais irá esquecer.
Horas depois...
— Você deveria ter descansado mais alguns dias. — Minha
mandíbula logo se contraiu assim que ouvi as palavras de Pietro.
— Eu passei cinco dias fazendo isso e não vou deixar que esses dois,
enquanto eu me dou o luxo de descansar como você disse, venham a morrer.
O silêncio se fez presente por alguns minutos, mas logo foi
interrompido quando o carro parou, saímos do veículo, prontamente me
deparo com o barulho que fez todo o meu corpo ficar febril e os órgãos
internos se agitarem de formar descontrolada. Passos precisos foram dados
em direção ao centro do pátio, meus olhos circularam pelo ambiente que
continha uma grande movimentação dos membros da famiglia. Contudo, a
atração principal estava em cima do palco o que fez com que os meus
demônios se agitassem diante dos dois miseráveis que já estavam ajoelhados
próximos às garras de ferro.
Depois dos últimos passos assim que me aproximei a raposa velha
levantou a cabeça e seus olhos espelhavam um ódio mortal em minha
direção.
— Desgraçado, achou mesmo que eu não estaria presente para ver os
últimos suspiros de vocês dois?
— Eu te odeio fedelho maldito. Deveria ter matado a vadia da
Graziela e assim você não teria nas...
Parecia que meu corpo todo estava em chamas, como se tivessem
jogado gasolina e as palavras do infeliz foi o fósforo que iniciou o fogo,
antes que ele terminasse de proferir suas palavras me movi feito uma bala e
peguei um dos machados e o primeiro golpe foi deferido na altura do seu
tórax. Um grito ensurdecedor ressoou no espaço e para aumentar a minha
raiva desta vez foi Dante que falou.
— Parece que nem o diabo te quer no inferno, porém, a nossa maior
vitória é saber que o demônio encontrou um anjo que penetrou o seu coração
de pedra, mas você vai conviver pelo resto dos seus dias com o ódio dela
por ter matado aquele infeliz que sempre foi leal a sua famiglia. Se não
tivéssemos cortado a língua do idiota e forjados aquelas provas, ele
certamente teria contado tudo que havia descoberto.
De alguma forma as palavras ditas me atingiram como um soco no
estômago.
— Lorenzo!
Fui arrancado do estado de devaneio quando meu irmão me chamou.
— Com ódio ou sem ódio. Mia é minha e nada e nem ninguém
mudará isso. Agora vocês dois podem se preparar que farei com que os
últimos minutos das suas miseráveis vidas, seja exemplo para quem pensar
em trair a famiglia.
Virei-me em direção a multidão e comecei a falar.
— Esses dois infelizes que por anos vem tramando contra a nossa
organização. Se aliaram a vários inimigos para alcançar seus objetivos e são
responsáveis pela morte de Enrico Santoro. Eu como chefe da Cosa Nostra
declaro que serão punidos com a morte.
No instante que minhas palavras ecoaram no espaço os membros
tanto do conselho como os demais integrantes começaram a se agitar e gritar
o nome da tortura que foi a primeira que meu pai me fez assistir quando
criança.
— Águia de Sangue! Águia de Sangue! Águia de Sangue!
Pietro pegou o outro machado e se juntou a mim. Enquanto ele
caminhou em direção ao Dante, segui rumo ao Paolo e quando ficamos atrás
dos dois levantamos ao mesmo tempo, o objeto que tínhamos nas mãos. E em
questão de segundos o primeiro golpe foi deferido contra a medula espinhal.
Ruídos de dor dos malditos se misturavam aos de prazer do público
presente. O que só fez com que continuássemos a desferir os golpes que
consistia em abrir as costas dos dois. Só paramos quando os órgãos internos
ficaram expostos e a imagem à nossa frente simulava as asas ensanguentadas
de uma águia.
Afastei-me e fiz o sinal, alguns soldados vieram ao meu encontro.
Enquanto os dois estavam jogados no chão, os homens começaram a pegar os
ganchos de ferro e fixar nas costelas dos dois. Assim que terminaram, antes
que suspendessem os infelizes me movi em direção à mesa que tinha alguns
utensílios e peguei o saco que continha sal e fui novamente em direção a
eles. Parei e comecei a despejar o sal sobre as feridas, depois em direção ao
pulmão e o coração que ainda estavam pulsando em um ritmo lento. Quando
terminei o som de correntes se fizeram presentes e o corpo já quase sem vida
foi levantado do chão.
— Já que vocês queriam ir tão longe. Farei com que cheguem ao
inferno voando, mas espero que antes de morrer os abutres possam acabar
com os órgãos de vocês enquanto ainda respiram.
Aplausos ecoavam no ar mais minha atenção agora estava voltada
para outra pessoa.
GRAZIELA
— Será que ela vai demorar acordar?
— Acredito que não.
Enquanto Salvatore e Graziela Santoro estavam conversando, foram
interrompidos pelo som de um bip que se fez presente e logo deu lugar a
mais outro e outro, seus olhos foram ao encontro da imagem da mulher que
mantinha seus olhos verdes fixos na direção deles.
— Mia!
Capítulo 36
VICENT
D esgraçado!
O maldito parece ter sete vidas, quando achei que o infeliz iria se
juntar ao Enrico Santoro. Eis que o miserável surgiu no portão principal da
sede da máfia, levando todos ao delírio com os momentos agonizantes de
Paolo e Dante, antes de darem seus últimos suspiros. Como sempre, assim
como os demais tive que colocar um belo sorriso de satisfação no rosto. Se
bem que foi merecido o final que tiveram já que aquela raposa velha sempre
foi muito astuta e decerto se tivesse acabado com o desgraçado do Lorenzo,
teria feito todos de seus lacaios enquanto ele seria o tirano que acabaria por
usufruir sozinho de todo patrimônio da organização.
O que parecia ser fácil uma aproximação de Soraya com a fedelha,
agora com o maldito vivo só me restou fazer uso do plano B. Além de
desconhecer que a sua sogra está viva, ele também não terá como reconhecê-
la já que para sobreviver todos esses anos, Soraya mudou sua aparência e
principalmente o nome.
Agora tudo é uma questão de tempo até colocá-la próximo a Mia e
assim conseguir tudo que almejo. Lorenzo pode ter sobrevivido e tudo indica
que o infeliz tem pacto com o demônio, porém, vou atingi-lo no seu ponto
fraco "Mia Santoro".

MIA
Tudo é tão calmo, tão sereno, tão tranquilo e tão branco.
— Filha! Filha! Filha!
— Pai! Pai! Pai!
— Venha!
Corri em sua direção e assim que parei à sua frente. Seus braços
fortes me envolveram e pela primeira vez pude sentir o seu braço acolhedor.
As lágrimas que rolavam pelo meu rosto agora eram de pura felicidade e
jamais quero sair desse lugar.
O silêncio que predominava no ambiente, aos poucos, foi quebrado
por sussurros que ressoavam no espaço. O coração do meu pai começou a
bater muito forte, senti algo melado ao encontro do meu peito e quando ele
se afastou o desespero tomou conta de mim por inteira com a imagem que vi.
Um grande buraco no meio do seu peito e os olhos que antes estavam cheios
de vida foram se fechando. Eu queria gritar, mas o som não saía e quando o
seu corpo foi ao encontro do chão, um forte clarão apareceu à minha frente.
A forte claridade parecia que estava perfurando a minha retina sem
piedade. Minha cabeça lateja tão forte quanto o meu coração e dói como se
dentro dela houvesse uma britadeira. Meu cérebro se torce em algum lugar
do meu crânio e sinto que a qualquer momento a minha cabeça vai explodir.
Quando fechei os meus olhos as lembranças começaram a surgir,
martelando em minha mente.
— Mia! Mia!
Meus olhos foram ao encontro da mulher à minha frente e o homem
que estava com ela logo se aproximou. Ele colocou um aparelho próximo ao
meu peito enquanto os sussurros continuavam ecoando a minha volta.
— O que ela tem. Por que não responde?
— Aparentemente está tudo normal, mas é como se somente o seu
corpo estivesse aqui e sua alma já não pertencesse mais a esse lugar.
— Mia, filha você precisa ser forte.
— Tudo agora vai depender de ela querer reagir. E principalmente
que vocês façam de tudo para que o estado dela não venha a piorar ou
poderá ser fatal.
— Ela é forte e farei de tudo para que ela tenha uma boa
recuperação. Com tudo isso que passou ela deve temer encarar a realidade
que só lhe trouxe sofrimento.
A dor no meu peito é forte, não sinto mais vontade de viver e tudo
que desejo é continuar em meio à escuridão.

LORENZO
Meu corpo todo estava vibrando com o fim daqueles dois
traidores. No entanto, ter a confirmação da inocência de Antony só aumentou
ainda mais o meu desejo de ter aquela coisinha deliciosa para sempre ao
meu lado. Todavia, nada mais justo que ela me pague na Torre da Ostentação
do Mal pelo que me fez.
Dessa forma aquela atrevida saberá que jamais se livrará de mim e
que cada ação tem uma reação. Seu ato poderia muito bem ter resultado em
algo pior, Dante se não fosse pela ganância em colocar as malditas mãos no
dinheiro não teria hesitado em ter acabado com sua vida, antes mesmo que
eu viesse a encontrá-la. Apesar de estar louco para deixar o lugar, os
conselheiros acabaram me fazendo perder mais tempo do que esperava. A
revelação sobre Antony, pegou todos de surpresa e para completar contei
toda verdade sobre a origem de Mia, o que deixou todos extremamente
incrédulos já que desconheciam os planos que Enrico traçou no passado.
A sede da máfia ainda estava em festa e o cheiro de sangue fresco
estava impregnado no local. Minutos depois, enquanto Pietro permaneceu no
lugar, caminhei em direção ao veículo e assim que entrei fiz o sinal e o meu
motorista colocou o carro em movimento.
Assim que chegar ao hospital, irei falar com Salvatore, ele terá que
dar um jeito para que a Bela Adormecida acorde mais rápido possível. Para
aumentar a minha raiva o tráfego de veículos estava intenso, acabamos por
levar o dobro do tempo para chegar ao nosso destino. Sai do carro e fui em
direção à entrada, e só parei assim que cheguei próximo ao elevador.
Depois de digitar o número do andar em que ela está, a caixa
metálica se moveu e por uma fração de segundos senti um forte aperto em
meu peito. De repente meus batimentos cardíacos aceleraram, respirei fundo
assim que a porta foi aberta e depois de alguns passos ao me aproximar da
porta me detive ao me deparar com Graziela Santoro, com uma expressão
totalmente indecifrável no rosto.
— Mia acordou.
— Espero que Salvatore a libere amanhã mesmo, pois não vejo a
hora de dar as boas-vindas que ela merece.
— Pietro me contou que foi ela quem atirou em você. Mas você não
fará nada a respeito disso, ela já sofreu o bastante.
Minha mandíbula começa a se contorcer e a raiva inflamar em
minhas veias e antes que ela se manifestasse novamente, o som da minha voz
no tom rude se fez presente.
— O fato de Antony ser inocente de nada me fará esquecer que ela se
atreveu a fugir e o tiro que levei. Assim que chegarmos à mansão, irei levá-
la direto para o lugar onde fará com que ela jamais cogite fazer isso
novamente.
Os lábios dela se moveram o que fez minha fúria aumentar, porém, as
palavras ditas por mamma me deixou atordoado e o medo cru e agudo me
envolveu por completo.
— Você não fará nada ou vai acabar matando ela e o filho que está no
ventre dela, além da gravidez, Mia desenvolveu um aneurisma cerebral que
pode se romper a qualquer momento.
Capítulo 37
LORENZO
E ra como se o mundo tivesse parado de girar ao meu redor. Meu coração
parou por alguns segundos para depois voltar a bater mais acelerado do que
nunca.
Minha respiração havia cessado. Eu estava estarrecido diante das
palavras que foram ditas por mamma. Grávida! Grávida! Aneurisma!
Aneurisma! Aquelas duas palavras ecoam em minha cabeça e as repito como
um mantra. Só saí do estado de choque que me encontrava quando o som da
voz de Graziela Santoro reverberou no ar num tom acusatório.
— Está surpreso, hein? Dessa vez você se superou e Enrico criou
mesmo um monstro a ponto de você mandar cortar ela para simular uma
laqueadura, somente para acabar ainda mais com o psicológico dessa menina
que por dezoito anos já vinha sofrendo.
Suas últimas palavras fizeram com que as lembranças daquela manhã
surgissem como flashes à minha frente.
— Podemos fazer o procedimento pelo umbigo ou mini laparotomia,
onde terá uma pequena incisão no abdômen que terá entre 5cm a 8cm.
— Faça o que seja mais doloroso possível, após passar o efeito da
anestesia.
Toda uma movimentação ocorreu diante dos meus olhos. Quero que
essa desgraçada sempre tenha em seu corpo a marca para se lembrar do que
foi feito. Assim que Elizabeth que já havia feito corte na pele da filha
daquele miserável e iria cortar as duas extremidades das tubas uterinas. Uma
onda de calor tomou conta de todo o meu corpo, os meus demônios internos
começaram a se agitar era como se uma luta estivesse sendo travada dentro
de mim e sem que eu pudesse controlar, as palavras saíram pela minha boca.
— Pare!
O silêncio predominou no ambiente e todos os olhares ficaram fixos
em minha direção. Ter um filho com sangue daquele desgraçado é algo que
jamais passou pela minha cabeça, no entanto, pode ser um trunfo que terei
nas mãos caso essa infeliz desista de viver antes que eu acabe com ela. E
não sabendo de fato o que aconteceu, eu ainda poderei me deliciar de todo o
seu sofrimento.
— Chefe!
Meus pensamentos foram deixados de lado quando ouvi o som da voz
da mulher à minha frente.
— Pode dar por encerrado o procedimento e para todos os efeitos
ele foi concluído. Assim que encerrar, providencie algum método
contraceptivo injetável que eu mesmo possa aplicar nela todos os meses.
Por mais ódio que eu tivesse dela o brilho intenso daquelas órbitas
esverdeadas sempre causava algo dentro de mim que jamais havia sentido
antes. Quando ela caiu da escada, Salvatore avisou que pela pancada ela
poderia sentir fortes dores de cabeça e tontura.
Achei que seu mal-estar fosse consequência da queda, porém, uma
gravidez ainda não estava em meus planos e mesmo que agora que a verdade
sobre Antony tenha vindo à tona e isso já não é mais um obstáculo,
entretanto, por mais que a ideia fosse fazê-la pagar pelo tiro que me deu, não
irei permitir que ela morra.
— Lorenzo!
Novamente o som da voz da minha mãe se fez presente me trazendo
de volta a realidade. Ao seu lado adentramos o quarto e me detive assim que
meu olhar se fixou na mulher que estava acordada, mas os seus olhos
pareciam sem vida e o brilho que sempre fez um misto de sensações
pairarem sobre mim, tinha desaparecido. A calmaria que tomou conta do
quarto logo deu lugar a toda uma movimentação quando ela que começou a
se debater ao perceber a minha presença.
Como um simples estalar de dedos o ambiente foi invadido por
Salvatore e duas enfermeiras.
— O que está acontecendo?
Quando fui me mover, Mia ficou ainda mais agitada. Senti algo
segurando o meu braço no mesmo instante que a voz de Salvatore me chamou
a atenção.
— Preciso que vocês saiam, agora.
Meus batimentos cardíacos dispararam. Meus olhos começaram
arder de raiva e antes que eu fizesse algo, mamma saiu me puxando em
direção à porta.
— Venha comigo, figlio, é para o bem dela.
Mesmo contra minha vontade, acabei fazendo a vontade dela e já fora
do ambiente. Fiquei desorientado com o que ela disse.
— Salvatore disse mais cedo que por ela estar em um estado
depressivo, precisamos ter muito cuidado, ainda mais por causa da gravidez.
Assim que o meu neto nascer, será feito a cirurgia, enquanto isso, devemos
fazer de tudo para que ela não se altere.
Sempre tive o controle de tudo ao meu redor, mas saber que eu
poderia perdê-la, só fez uma sensação de impotência me acometer e isso me
causou algo que só senti quando ela caiu daquela maldita escada, "MEDO E
APREENSÃO".

Dois dias depois...


Algumas horas atrás, chegamos à nossa casa e assim como há dois
dias, toda vez que me aproximo, ela começa a ficar agitada. Se debatendo e
esperneando feito uma louca e nada além de um medo descomunal fica
visível em sua expressão. Graziela achou melhor contratar alguém para ficar
cuidando dela porque que se for pela sua vontade, ela não se alimenta e
muito menos toma banho sozinha.
Jamais pensei que ao vê-la com tanto medo, o que sempre me deixou
em êxtase, pudesse me causar outro tipo de sensação. Salvatore achou
melhor ainda não contar sobre a gravidez, já que não sabemos qual será sua
reação, porém, a única certeza que tenho, é que nada vai tirá-la de mim.
Um dia depois...
SORAYA
Minha ansiedade está me matando. Entre as diversas palavras ditas
por Vicent, a única frase que ficou cravada em minha mente foi que e
finalmente estarei com a minha filha.
Sei que fiz muita coisa errada nessa vida, mas fiquei imensamente
feliz desde o momento que soube que estava grávida. Embora mesmo
sabendo que minha vida mudaria para sempre.
Quando se é jovem acabamos cometendo muitos erros. Trilhamos
caminhos que cada ato, traz consequências terríveis e em meio ao mundo que
sempre vivi. Ter cruzado o caminho de Enrico, Paolo e Vicent. Antony foi a
única coisa boa que me aconteceu, porém, acabei não dando valor a tudo que
ele fez por mim.
E o preço do meu egoísmo foi a sua vida.
— Vamos!
Deixo as lamentações de lado quando escuto a voz do homem que
tratou de dar um jeito para que eu entrasse como cuidadora na mansão
Santoro. Em seu rosto havia um largo sorriso de satisfação, ontem passou o
dia todo comemorando.
— Você já sabe o que deve fazer. E se alguma coisa vier a dar
errado, eu acabo com você e aquela fedelha.
Balancei a cabeça em concordância, no entanto, não importa o que
acontecerá comigo. Eu não posso deixar que ela continue sofrendo, nem que
para isso tenha que enfrentar a fúria desse lobo em pele de cordeiro.
Capítulo 38
SORAYA
M inha respiração começou a ficar muito forte e meu coração palpitava,
parecia que iria sair pela boca. Eu olhava para o celular e o tempo parecia
passar devagar. Ruídos ecoavam a minha volta, entretanto, meus
pensamentos estavam fixos em Mia.
Quando finalmente o carro parou, as lembranças das palavras
ameaçadoras ditas por Vicent se fizeram presentes. Minhas pernas ficaram
trêmulas, minhas mãos começaram a suar.
— Vamos!
Em passos vacilantes caminhei ao lado do motorista. Não sei o que o
capeta tinha feito, que fui eu a escolhida para cuidar da minha própria filha.
Instantes depois assim que passei pelas portas duplas uma mulher muito
elegante surgiu à minha frente.
— Seja bem-vinda, sou Graziela.
— Obrigada, me chamo Donatella.
— Venha comigo que a levarei até aos aposentos da minha nora.
Embora tenha sido levada para New York muito jovem além de falar
inglês. Meu italiano ainda era perfeito o que facilitou para que não viessem a
desconfiar que de fato não pertencia a esse lugar. Ao lado dela subi os
degraus da escada, passamos pelo enorme corredor e quando a porta à minha
frente foi aberta, um calafrio intenso pairou sobre mim, assim que uma figura
alta, vestida de preto ficou diante dos meus olhos. O silêncio se fez presente,
o desgraçado que arrancou o coração de Antony sem dó nem piedade, estava
ao lado da minha filha que dormia profundamente, ele se levantou e depois
de alguns passos me olhou profundamente como se quisesse ler no mais
fundo recôndito de minha alma. Se antes meu coração já estava agitado agora
parecia que iria explodir no peito e no momento que a voz grave dele ecoou
no espaço interrompendo a calmaria, engoli em seco.
— Qualquer coisa que venha acontecer com a minha mulher. Você
pode ter certeza que dessa casa sairá somente o seu corpo, pois terei todo
prazer em estourar seus miolos. Estamos entendidos?
Quando fui responder quase que engasguei, então os sons saíram
confusos da minha boca.
— Si... Sim senhor.
Os momentos seguintes foram de muitas recomendações. Fiquei um
tanto confusa, até porque jamais pensei que o homem de coração
empedrado, cheio de ódio pudesse sentir algo por alguém. Contudo, do jeito
como ele olhava para Mia, o brilho dentro das órbitas sombrias se tornaram
reluzentes, tão chamativo quanto o reflexo de um farol em uma noite escura.
Quando ela começou a dar sinal que estava prestes a despertar ele caminhou
em direção à porta.
— Mia está grávida, então todo cuidado é pouco.
— Cuidarei dela como se fosse minha própria filha.
Ela lançou um sorriso na direção de Mia e minutos depois, Graziela
Santoro saiu do recinto. Meu olhar ficou fixo na cama, meu coração mal
cabia no peito de tanta emoção estava até descompassado. As lágrimas
surgiram em meus olhos e queria correr em direção a minha filha e abraçá-
la. Ouvi-la me chamar de mãe, mas isso certamente seria o passaporte para
que Lorenzo Santoro descubra tudo, porém, estar perto dela fez várias
sensações me envolverem.
Deixei os meus devaneios de lado quando um par de olhos gigantes
ficaram fixos em minha direção.

LORENZO
Meus demônios internos estavam descontrolados, me causando um
desconforto terrível. Mamma continuava a falar, no entanto, meus passos
eram largos e só ouvi sussurros ecoando a minha volta e depois de me livrar
do último degrau da escada. Assim que comecei caminhar até o meu
escritório, parei quando o som da sua voz entoou no ambiente e dessa vez
era no tom mais alto que o normal.
— Lorenzo! Eu estou falando com você.
— Eu preciso resolver algo e assim que terminar conversaremos.
Antes que ela voltasse a se manifestar, comecei a andar rumo ao meu
destino. Quando entrei no ambiente, peguei o meu celular e depois de
acessar minha agenda. O nome de Dimitri surgiu e no primeiro toque a voz
dele ressoou do outro da linha.
— A sua disposição chefe.
— Preciso que você investigue como Enrico chegou até Soraya
Ferrari. E qual destino foi dado ao corpo da infeliz, quero tudo mais rápido
possível e aproveite para descobrir tudo sobre Donatella Rossi.
— Farei isso agora mesmo.
Nos instantes seguintes passei todas as informações e logo depois
encerrei a ligação. Jamais esqueço um olhar e meus demônios só me deram a
certeza que minhas dúvidas têm fundamento.

Horas depois...
Graziela acabou por ocupar boa parte do meu tempo. Já estava
fazendo planos para a criança que daqui a alguns meses virá ao mundo e
como era de se esperar deseja que seja uma menina. E de uma certa forma
ouvir suas palavras, fez todo o meu corpo estremecer. Segundo ela, tendo eu
e Pietro como os herdeiros da máfia agora seria a vez de uma mulher vim
para carregar o sobrenome Santoro. Durante o jantar fiquei surpreso ao ver a
troca de olhares entre Pietro e Antonella, enquanto mamma ostentava um
sorriso de orelha a orelha.
Antes de deixar a sala avisei mamma que quando a mulher que
estava cuidando de Mia, descesse que mostrasse a ela o quarto que iria
ocupar, mesmo com os ataques da minha mulher, não irei dormir longe dela.
Quando entrei, pedi que ela saísse e depois de alguns passos me
detive próximo à cama. Sentei-me ao seu lado e meus olhos ficaram
cravados no seu rosto, movi uma das minhas mãos em direção ao seu rosto,
deslizando pela sua pele macia, porém, pálida enquanto ela dormia feito um
anjo.
"Ninguém tocará em um fio de cabelo seu. Nem que para isso você
tenha que perder o que nunca tive".

No dia seguinte...
GRAZIELA
— Achei que a reunião seria na sede da organização?
— Lorenzo achou melhor que fosse aqui.
— Depois da traição daqueles dois abutres. Precisamos fazer uma
operação pente-fino, por esse motivo também estarão presentes alguns dos
membros de Nova York.
Nossa atenção logo foi direcionada para porta assim que Nina a
abriu e os rostos familiares se fizeram presentes. Todavia, senti meu coração
disparar e minha respiração ficou pesada quando o maldito miserável que
jamais pensei ver na vida surgiu entre os demais membros da famiglia
"Vicent".
Capítulo 39
SORAYA
D epois da tentativa de fazer a minha filha tomar o café. Consegui levá-la
para o banheiro e com muita relutância, tirei as suas roupas. Fiquei
horrorizada e me negava a acredita que a imagem que vi em seu corpo era o
que estava pensando e por alguns segundos quando ela passou a mão pela
cicatriz algumas lágrimas desceram dos seus olhos.
Não era à toa que a minha menina estava naquela situação. Eu fui um
fracasso como mãe e a primeira a desistir dela, cresceu ao redor daqueles
dois infelizes e veio parar direto nas garras do homem que tinha um ódio
mortal de seu pai.
Meus olhos caíram sobre sua face, enquanto a minha mão direita
segurava firme a colher numa tentativa desesperada de introduzir algo em
sua boca.
— Você precisa comer algo.
Nem mesmo um piscar de olhos foi dado por ela e continuava em um
estado de devaneio. Um corpo sem alma, os olhos sem brilho e com muita
dificuldade consegui deslizar a sopa para dentro de sua boca.
Senti um aperto profundo em meu peito e as lágrimas já estavam se
formando em meus olhos. Minutos depois, ela ingeriu um pouco de água
enquanto me levantei para colocar a bandeja sobre a mesa de cabeceira,
quando me virei, a Mia já estava encolhida, abraçando o próprio como se
quisesse se proteger e seus olhos já estavam fechados.
Quando iria caminhar em sua direção meu corpo todo estremeceu ao
sentir o aparelho escondido vibrando em meu bolso. Com as mãos trêmulas
peguei o objeto e já sabendo de quem era a imagem que surgiu na tela do
aparelho. Meus batimentos se tornaram mais intensos, pois estava temerosa
que o conteúdo fosse o que já estava imaginando. Sem delongas meu olhar
ficou cravado no visor e minha atenção em cada palavra que estava lendo.

VICENT
— Acabei de sair de uma reunião com o desgraçado e por culpa do
infeliz irei continuar ocupando o mesmo cargo. Com o livre acesso ao quarto
do demônio e responsável por cuidar da inútil da sua filha, você só precisa
colocar a substância no closet do maldito. Quando ele usar uma de suas
roupas, o pó que estará impregnado no tecido entrará em contato com sua
pele e em questão de minutos, Lorenzo Santoro, não será mais uma pedra em
meu caminho, no entanto, você terá até amanhã à noite para fazer o que
mandei, caso contrário pode ter certeza que não será você, Soraya, a pessoa
que sofrerá as consequências e sim a sua filha. Pois não importa que ela
esteja sob os domínios do próprio demônio, você sabe que darei um jeito
para acabar com ela.
Com passos vacilantes andei até à cama, com a distância entre nós
duas, reduzida. Levei uma de minhas mãos em direção ao seu rosto.
— Dessa vez eu irei proteger você.

LORENZO
Assim como as demais reuniões com os membros da organização,
essa foi mais uma cheia de opiniões contraditórias, e cansado de ouvir tantos
argumentos, onde muitos só estavam querendo um cargo superior ao que já
ocupava. Acabei por fazer uma verdadeira reviravolta na diretoria da Cosa
Nostra.
A primeira delas foi nomear Pietro o consigliere, que era o cargo
mais cobiçado. Santiago, para ocupar o cargo daquela raposa velha do Paolo
e muitos deles incluindo Vicent, permaneceram na mesma função.
Por Enrico ser o chefe, passei muitos anos sendo enviado direto para
o confronto já que segundo ele assim a operação teria sucesso, algo que
sempre gostei de fazer, porém, isso fez com que o nossos inimigos
ganhassem total liberdade e resultou em toda essa merda que
aconteceu. Depois que tudo já estava como eu queria, alguns satisfeitos e
outros que mesmo não estando, tiveram que acatar a minha decisão. Dei a
reunião por encerrada já que algo estava me intrigando e só uma pessoa
poderia me dar a resposta que quero.
A sala que antes estava cheia só não ficou completamente vazia já
que eu e Pietro ainda estávamos dentro do meu escritório e depois de passar
a ele algumas instruções, fui ao encontro da minha mãe. Pietro acabou por
sair com Antonella que desde o momento que soube que o pai estava
querendo que ela voltasse para casa, mudou completamente já que estava
temerosa, pois com o meu casamento, ele já tinha um novo destino traçado
para ela e desde criança sempre se deu bem com o meu irmão e se mudou foi
por influência não só da minha tia como de mamma que a queria como minha
esposa.
— Figlio — meus pensamentos foram interrompidos ao escutar a voz
da mulher que era justamente quem eu queria encontrar.
— Estava justamente a sua procura.
— O que aconteceu?
— Os demais podem não ter percebido, mas notei como você ficou
no instante que Vicent passou por aquela porta.
O silêncio se fez presente. Graziela parecia inquieta e eu tinha
certeza que ela era conhecedora de algo que eu não sabia.
— Você sabe que se tiver me escondendo algo eu irei descobrir,
mesmo que não seja por você. — Ela respirou fundo e começou a falar.
— Quando Enrico levou você para Sicília, no intuito de iniciar o seu
treinamento. Vicent era um dos seguranças da mansão, mas com toda sua
dedicação no ano que Pietro nasceu ele foi promovido e designado para ir
para Nova York.
— Então ele fez algo a você, por isso ficou naquele estado? Se for
isso eu mesmo irei acabar com a vida desse miserável.
— Se acalme, Lorenzo. Não tem nada a ver comigo, só não gosto
dele porque esse maldito ambicioso é responsável por destruir os sonhos de
uma pessoa que tinha uma vida longa pela frente e acabou se iludindo com as
promessas que ele tinha feito.
— Tia!
A voz de Antonella chamou a nossa atenção e ao seu lado Pietro
surgiu no meu campo de visão.
— Eu disse para Pietro que vamos fazer o bolo que a senhora falou.
Pietro é tipo uma formiga humana e bolo é algo que ele ama desde
criança. Minha mãe que só estava procurando um pretexto para fugir das
minhas perguntas, logo seguiu para cozinha com sua sobrinha favorita a qual
sempre amou como uma filha.

Algum tempo depois...


Depois do jantar, me despedi de todos e fui para o quarto, Mia já
estava dormindo. Tomei o meu banho, vesti uma roupa e me deitei ao seu
lado, passei um bom tempo olhando-a até que fui vencido pelo cansaço e
dormi.
Horas mais tarde...
— Não! Não! Tire-me daqui pai, estou com medo. Por favor me tire
daquiiii...
Acordei sobressaltado com o corpo banhando pelo suor. Minha
respiração irregular e no instante que girei a cabeça para o lado, as batidas
do meu coração ficaram tão altas que o barulho ressoou em meus ouvidos e
um grito de desespero saiu do fundo da minha garganta.
— Miaaaaaaa...
Capítulo 40
LORENZO
Num pulo me levantei da cama, minha primeira reação foi ir
correndo em direção à porta e ao confirmar se ela estava fechada. Um tremor
violento atingiu o meu corpo quando um pensamento assustador passou pela
minha cabeça. Sem mais delongas, avancei rumo ao banheiro e quando abri a
porta meu olhar ficou cravado na banheira, respiro aliviado por alguns
segundos ao ver o objeto vazio e quando desviei o olhar sondando todo o
espaço. Novamente fiquei agoniado por ver que ela não estava. Um
novo pensamento se formou em minha mente e fui até o closet e quando
cheguei ao ambiente, olhei para a parede e o quadro estava no chão assim
como a passagem secreta estava aberta.
— Mia! Só espero que você não tenha feito uma loucura.
Passos largos foram dados por mim assim que passei pela entrada.
Comecei a correr já que conhecia aquele corredor sombrio como a palma
da minha mão e assim que avistei a porta que dava acesso à torre, percebi
que ela estava aberta e nem tive tempo para pensar em mais nada já fui
entrando no lugar.
A calmaria era predominante. Mas o lugar estava tão frio que dava
para congelar até os ossos da minha espinha e quando ia seguir em direção
ao elevador, ouvi vozes vindo do único lugar que não pensei que ela estaria,
já que a única vez que entrou lá, vi aqueles olhos grandes ficarem ainda
maiores, o medo era tudo que refletia dentro deles.
Eu me aproximo e a única claridade era a que estava adentrando pela
porta. Aqui eu aprendi que se continuasse a relutar a aceitar o destino que,
Enrico, havia traçado para mim, jamais iria superar os meus medos e os
obstáculos impostos por ele.
— Não, Vou... Sim pai, eu...
Os sons vindo de um dos cantos do cômodo, me fez deixar as
lembranças de lado e minha atenção ficou direcionada para a mulher à minha
frente. Mia estava sentada e com os braços envolvendo os joelhos. Os
cabelos pareciam que jamais tinham visto uma escova e suas feições
totalmente mudadas, já que ela não parava de contorcer os lábios para
direita toda vez que ruídos escapavam pela sua boca. Os olhos estavam mais
escuros e no momento que arrastei o pé esquerdo para frente o som da voz
dela voltou a ecoar.
— Tome cuidado, pai, o homem malvado não pode nos encontrar.
As órbitas gigantes em sua face se moviam para direita e depois para
esquerda como se tivessem procurando alguma coisa e uma expressão de
pânico a envolveu. Reduzi o espaço entre nós dois e quando ela levantou a
cabeça, eu vi ao invés de medo um ódio mortal direcionado a mim o que me
fez sentir um latejar intenso no meu peito. Respirei profundamente e voltei a
encará-la.
— Não! Você não vai matar o meu pai. Se afasteeee...
Se antes ela já estava parecendo uma louca, quando começou a se
debater ficou pior ainda. Mia esperneava sem parar e era como se alguém
tivesse a segurando, me agachei e quando meus braços envolveram o seu
corpo dessa vez o barulho que entoou no ambiente veio da minha garganta.
— Eu não vou machucar vocês.
A peguei em meus braços, ela girou a cabeça me olhou por alguns
segundos para logo depois fechar os olhos.
Na manhã seguinte...
GRAZIELA
Como já era parte da minha rotina, acordei assim que os primeiros
raios do sol surgiram. Achei estranho que Lorenzo ainda não tinha vindo ao
meu quarto, algo que sempre fez desde que terminou o seu treinamento e
voltou para casa. De banho tomado e arrumada deixei o quarto, assim que
me aproximei do quarto dele encontrei
Donatella, com uma bandeja em suas mãos, parada perto da porta.
— Bom dia!
— Bom dia!
— Mia não quis comer? — pergunto preocupada com a minha nora.
— Ainda não entrei no quarto, porque que o seu senhor Lorenzo
ainda não saiu.
— Então me dê à bandeja que eu mesma darei o café dela, enquanto
isso você pode tomar o seu e volte em seguida para ajudá-la no banho.
A mulher à minha frente me entregou a bandeja e começou a andar em
direção ao corredor que dava acesso ao primeiro andar. Depois de duas
batidas na porta entrei no recinto, Mia estava dormindo e nada do meu filho.
Dei mais alguns passos e antes que eu chegasse até aonde ela estava,
Lorenzo surgiu vindo do banheiro.
— Bom dia, filho.
— Bom dia!
— O que aconteceu? Você sempre acordou bem cedo.
— Mia acordou ontem pela madrugada e acabei encontrando-a na
torre.
— Precisamos fazer algo para que ela saia desse estado.
— Se daqui a dois dias ela continuar assim, deixarei de lado as
recomendações de Salvatore e direi a ela.
Fiquei em silêncio e ele andou em direção ao closet e assim que ele
sumiu do meu campo de visão movi o pescoço para o lado, a mulher que
estava esparramada sobre a cama mudou de posição. Meus olhos ficaram
arregalados, meu coração disparou e fiquei incrédula com a imagem que
apareceu diante dos meus olhos.
"Isso não pode ser possível ".
Horas depois...
LORENZO
Meus olhos estão fixados na tela do notebook e o meu celular em
cima da minha mesa. Dimitri pode me ligar a qualquer momento, portanto,
resolvi adiantar algumas coisas que estavam pendentes, já que Salvatore
ficou de vir mais tarde para ver como Mia estava.
Minutos se passaram e no momento que o aparelho começou a vibrar,
o ruído vindo da porta chamou a minha atenção, quando dei autorização
permitindo a entrada, peguei o meu celular, antes de atender a ligação de
Dimitri, a voz da mulher ressoou no ambiente.
— Eu preciso falar com você.
Capítulo 41
SORAYA
H oje meu coração que tanto estava inquieto se alegrou ao entrar no quarto
de Mia. Graziela Santoro, conseguiu que ela comesse bem no café da manhã
e enquanto falava com ela durante o banho, tive a impressão que estava
prestando atenção em minhas palavras ao invés de ficar perdida no próprio
mundo que estava criando para ser o seu refúgio.
De banho tomado e arrumada, ela ficou prestando atenção no
programa que passava na TV. Minha cabeça estava latejando, porque o prazo
que aquele maldito me deu está se esgotando.
Olhei bem para minha filha e novamente fui tomada por vários
pensamentos. Fazer a vontade de Vicent, é deixá-la livre do demônio do
Santoro, porém, será que isso seria o certo a fazer? Será que não estarei
acabando com qualquer possibilidade de ela ser feliz? E com Lorenzo morto
não será pior, pois, Vicent pode tornar a vida da minha menina um inferno?
Dúvidas e mais dúvidas, rondavam a minha mente. O tempo era
pouco e precisava fazer o que era certo não para mim, Vicent, ou Lorenzo,
mas sim para que minha filha ao sair desse estado depressivo possa
recomeçar sem ser o alvo de ninguém. Minutos depois ela acabou
adormecendo, era como se tivesse muito cansada por não ter dormindo na
noite anterior.
Desliguei a televisão, ajustei a temperatura do ar-condicionado e
puxei o edredom a deixando bem confortável. Caminhei para fora do quarto
e mesmo temerosa cheguei ao meu destino.
— Preciso falar com você.
Disse assim que entrei no cômodo. Minhas mãos estavam trêmulas e
suando frio, ele que estava com o celular próximo ao ouvido disse.
— Pelo visto, Dimitri, em vez de ouvir o que você descobriu, será a
própria Soraya Ferrari que vai me contar como depois de tudo ela ainda
continua viva.
Meu coração parou de bater por alguns minutos. Minha garganta
ficou seca e parecia que a qualquer momento eu cairia ao chão, pois minhas
pernas ficaram trêmulas e não queriam continuar sustentando o meu corpo.
Não sei quantos minutos se passaram só sai do transe que estava, quando a
voz dele ecoou novamente fazendo arrepios tomarem conta do meu corpo
inteiro.
— Você vai começar a mexer esses lábios ou terei que fazer o
serviço que Enrico não concluiu? — Lorenzo ameaçou.
Aproximei-me e em seguida comecei a contar como tudo havia
acontecido. Os olhos negros estão fixos em mim e pela sua expressão
algumas coisas se passaram pela sua mente, desde surpreso, para um ódio
mortal quando disse o nome de Vicent.
— Depois de todos esses anos você resolveu se aproximar da minha
mulher e não vai me dizer que estava com saudade da sua filha — Lorenzo
retrucou debochado.
— Eu fiz muita coisa errada nessa vida, porém, jamais abriria mão
dela por livre espontânea vontade. Seu pai arrancou o meu bebê a força e se
ele soubesse que eu tinha sobrevivido, teria dado um jeito de acabar comigo.
— Supondo que eu acredite em suas palavras, qual o motivo de me
contar somente agora a verdade?
— Vicent foi quem conseguiu que eu viesse para Itália, o intuito dele
era que eu colocasse isso aqui entre suas roupas, já que ele fracassou na
tentativa de matar você quando estava em coma no hospital. Eu só estou
contando isso a você, porque tenho até hoje à noite para concluir esse
serviço, caso contrário, ele dará um jeito de matar a Mia.
Se antes eu já estava temerosa ao ver as feições dele. Depois de
ouvir minhas últimas palavras os olhos do homem à minha frente ficaram
vermelhos como se fosse duas bolas de fogo e sua expressão diabólica era
algo assustador. No entanto, tive a confirmação que fiz a escolha certa.

LORENZO
Como mamma tinha dito, o desgraçado é tão ambicioso que se
atreveu a cruzar o meu caminho. Mas ao envolver a Mia em seus planos,
esse maledetto acabou de assinar a sua sentença de morte. Voltei minha
atenção para o rosto de Soraya e o som da minha voz reverberou no ar.
— Amanhã é a sua folga, e, Mia ficará aos cuidados da minha mãe.
Você fará exatamente tudo que vou mandar.
Contei a ela tudo o que faremos. Dessa vez não precisaria envolver
mais ninguém no meio dessa porra toda. Aquele desgraçado planejou acabar
com a minha vida em silêncio e será dessa forma que chegarei até o seu
esconderijo.
No dia seguinte...
Desde ontem, já estava na expectativa que o dia de hoje chegasse,
Soraya assim como tinha ordenado acordou cedo e juntos deixamos a
mansão. Uma bala será suficiente para acabar com a vida do maldito.
Quase uma hora depois chegamos ao lugar que ela informou como
esconderijo do Vincent. Soraya vai adentrar o ambiente e dirá ao infeliz que
colocou o veneno que ele havia mandado, seria apenas uma questão de
tempo até que a notícia da minha morte viesse a se espalhar.
— Chegamos!
Deixe os devaneios de lado, é hora de acabar logo com mais esse
obstáculo.
— Você entrará primeiro.
Ela desceu do carro e seguiu em direção ao portão de entrada. Eu já
tinha uma cópia da chave então só irei esperar alguns minutos. Olhei para o
relógio em meu pulso e com a raiva que desde ontem estava inflamando em
minhas veias, deixei o veículo e caminhei na mesma direção que ela tinha
ido. Passos cautelosos e firmes foram dados e quando atravessei o corredor,
ouvi sussurros ressoando no espaço. Aproximei-me da porta e fiquei
ouvindo o que os dois estavam conversando.
— Espero que tenha feito o que mandei.
— Coloquei ontem à noite. Agora é só esperar que ele troque de
roupa e você terá o que tanto queria.
— Você sabe que se eu descobrir que está mentido. Antes de acabar
com você, irei me deliciar com o seu sofrimento ao ver os últimos suspiros
daquela vadia.
Uma onda escaldante como eu nunca havia sentindo antes tomou
conta de todo o meu corpo. Eu estava tão quente que comecei a suar, meus
pulmões funcionando aos espasmos e antes que ele voltasse a abrir a maldita
boca, entrei feito um furacão dentro do lugar.
— Seu maldito traidor, vamos ver quem hoje irá acertar as contas
com o capeta.
No piscar de olhos ele puxou a sua arma e o estrondo de dois tiros
ecoaram no dentro do recinto. Dei alguns passos para atrás devido à força
do impacto e senti uma dor excruciante no meu peito me fazendo fechar os
olhos por alguns segundos. Por exigência de Graziela Santoro, que começou
a dizer que estava com um mau pressentimento e eu não era um gato para ter
sete vidas. Fui obrigado a colocar um colete, mas parece que o impacto foi
exatamente no mesmo local que Mia havia acertado.
Deixei os pensamentos de lado quando ouço a voz dele fazendo os
meus olhos se abrirem de imediato.
— Eu vou para o inferno, mas te levarei junto.
Antes que eu puxasse o gatilho, outro tiro foi dado e meus olhos
foram direcionados para a mulher que estava do outro lado.
— Soraya!
Capítulo 42
Horas depois...
MIA
V ozes ecoavam ao meu redor, assim como surgiram várias imagens de
pessoas totalmente desconhecidas por mim. Eu podia ver o meu pai sempre
sorrindo em minha direção, mas toda vez aparecia uma sombra e o levava
para longe de mim. Tudo está muito confuso em minha cabeça e por mais que
eu quisesse sair de tudo aquilo, algo sempre me puxava e os sussurros se
tornavam cada vez mais altos. O único jeito de fugir era me entregar ao sono
profundo.
O som da voz da minha sogra e outra da desconhecida que me olhava
de uma forma carinhosa sempre me causavam uma sensação de paz, mas ele
o homem que só trouxe sofrimento para minha vida ainda estava tão perto e o
medo sempre tomava conta de mim. Hoje eu sonhei que estava no jardim, me
sentindo muito feliz, porém, logo fiquei em pânico quando Lorenzo apareceu
à minha frente. Meus batimentos aceleraram, minha respiração tornou-se
descompassada, contudo, novamente fui envolvida por uma sensação de
êxtase quando ele se afastou me dando a visão que fez meu coração
transbordar de alegria.
— Mamma! Mamma! Mamma!
Aquilo parecia surreal, o medo e o vazio que sentia no meu coração
deu lugar a um sentimento inexplicável, pois quando iria me mover para ir
em direção ao meu filho. Fiquei imóvel com a imagem que se formou,
aumentando a minha felicidade, porque ao abaixar a cabeça encarei dois
bracinhos rodeando as minhas pernas e um rostinho exibindo um sorriso
banguela.
— Eu peguei você primeiro, mamma.
No entanto, acabei acordando e por mais que tentasse voltar a dormir
e continuar desfrutando de tudo aquilo não consegui. Lorenzo não estava
mais no quarto, a desconhecida também não apareceu e minutos depois foi a
dona Graziela que entrou com uma bandeja nas mãos exibindo um sorriso
acolhedor.
Olhei para a comida e por mais que não quisesse comer e assim
poderia acabar com o meu tormento ao me livrar do tirano. Era como se
tivesse um buraco dentro de mim, estava com uma fome enorme e não
consegui me controlar. Depois que tomei banho com a ajuda dela acabei
dormindo, pois não sei se estavam me dando alguma coisa para dormir mais
sempre me sentia muito sonolenta.

Minutos mais tarde...


Acordei desorientada ao ouvir sussurros a minha volta. Não sabia se
era fruto da minha imaginação ou realidade, mas acabei me levantado e indo
em direção à porta.
— Ela ainda está dormindo? — parecia a voz da desconhecida
— Sim! — agora era a voz da minha sogra.
— Eu queria agradecer por você ter salvo a vida do Lorenzo, ele me
contou que seu verdadeiro nome é Soraya, e que você á a mãe de Mia.
Soraya! Mãe! Mãe! Aquelas duas palavras martelaram em minha
cabeça e senti um nó gigantesco se formar em minha garganta. Movida por
uma raiva incontrolável, pois parecia que tinha enfim conseguido me libertar
dos meus devaneios, da minha falta de lucidez. Abri de imediato a porta e as
duas mulheres ficaram os olhos vidrados em minha direção.
— Você estava viva toda esse tempo e me deixou? — esbravejei
indignada.
— Filha! — a mulher que se diz minha mãe me chamou.
— Eu não sou a sua filha. Sou uma órfã que foi entregue para dois
infelizes que me exploraram. Que me trataram como um nada e jamais me
deram um pouco de afeto.
— Mia, por favor, se acalme — Graziela tenta me acalmar.
— Eu estou cansada de tudo isso. Cansei de pagar pelos erros que
não foram cometidos por mim.
— Eu sei que errei, mas eu peço que me perdoe — a tal Soraya tenta
se justificar.
— Eu não preciso de você. Não preciso de uma mãe que me
abandonou por mais de dezoito anos.
— Mia!
Olhei para o lado e ele surgiu no meu campo de visão, quando
começou a caminhar em minha direção, o som da minha voz voltou a ecoar
no ambiente.
— Você não chegue perto de mim — vocifero em direção ao
demônio que é meu marido.
— Você precisa ficar calma pelo seu bem e do nosso filho.
— Filho! Filho! Filho! — deve ser mais uma jogada dele. De
repente sinto uma pontada em minha cabeça e a última coisa que lembro foi
de Lorenzo avançado em minha direção.

LORENZO
Depois do ocorrido no esconderijo daquele infeliz, onde a mulher
que tanto desejei arrancar o seu coração, acabou por salvar a minha vida, já
que arma que entreguei a ela para se defender do maldito, caso algo viesse
acontecer antes que eu entrasse no lugar, serviu para dar fim na vida daquele
traidor. Com o desgraçado eliminado, tive que informar a todos os
conselheiros e pelo ato de Soraya, ela se salvou de ter o mesmo final que
Vicent, já que a sua morte só foi pedida por todos por acreditarem que ela
era cúmplice de Antony.
Deixei o meu escritório e quando me aproximei da escada, sons de
vozes alteradas ressoavam no ar e ao ouvir uma delas, fui na velocidade de
um raio. Fisicamente ela parecia normal, porém, seus olhos estavam
faiscando de ódio assim como o dia que ela me deu aquele tiro. O único jeito
que achei foi contar a verdade sobre a sua gravidez, mas não havia pensado
nas consequências e quando vi que ela estava prestes a cair, avancei em sua
direção.
— Mia!
Meus pensamentos foram afastados ao ouvir a voz da minha mãe.
Olhei para mulher que estava sobre a cama e sua expressão era fechada seus
olhos continuavam escuros e sem brilho.
— A senhora pode nos deixar sozinhos?
— Claro, filha. Só não fique alterada — aconselhou a minha mãe e
em seguida foi em direção à porta.
Mia levou umas das mãos em direção a barriga e logo depois o som
da sua voz se fez presente.
— Aquilo que você falou, é verdade?
— Sim, você está grávida.
— Então tudo aquilo foi só uma mentira, para me torturar da forma
mais cruel ao pensar todo esse tempo que jamais poderia gerar um filho?
— Eu me arrependo do que fiz a você, quanto aos outros não, por
mais que Antony seja o seu pai ao entrar no mundo da máfia ele sabia as
consequências. Eu fui criado para ser quem sou e não importa quem seja. O
preço de uma traição para famiglia sempre será a morte. — Suas feições
mudaram ao ouvir minhas palavras, quando o som da sua voz repercutiu
novamente, ela estava praticamente gritando.
— Você é um psicopata, um maldito demônio e não vou ter um filho
do homem que se tornou o meu carrasco e matou o meu pai — respiro
fundo, pois o meu corpo todo começou a ficar quente, meus demônios
internos estavam se agitando e eu precisava controlar a fúria que já estava
tomando conta de mim. Levantei-me e antes de seguir em direção à porta
voltei a falar:
— Você é minha e jamais deixarei você ir embora. Poderia ser
diferente, no entanto, não foi e esse filho que está em seu ventre pode trazer
um novo recomeço para nós, mas caso você continue com essa ideia louca
de não tê-lo. Não será muito diferente de mim, a quem você considera um
demônio, a diferença será que eu jamais fui responsável pela morte de uma
criança.
Capítulo 43
MIA
P or dezoito anos eu me senti sozinha no mundo, mesmo sabendo que tinha
um pai e uma mãe. Quando descobri o motivo pelo qual me tratavam daquele
jeito foi como se tivessem cravado uma faca no meu peito e com a ferida
ainda aberta, Lorenzo surgiu e destruiu o único sonho que eu tinha. Com
todos os obstáculos jamais deixei que sentimentos ruins tomassem conta do
meu coração, mas esse homem me fez conhecer não só a dor, mas também o
ódio e descobrir que depois de tudo que passei a mulher que me trouxe ao
mundo estava viva, me deixou ainda mais destruída. Contudo, em meio a
raiva que estava sentido, ouvir o que ele disse fez o meu coração disparar e
quando tive a confirmação que suas palavras eram verdadeiras, por mais
ódio que eu estivesse sentindo, todo o meu corpo vibrou, queria gritar
tamanha era felicidade que tomou conta de mim, mas era hora de deixar de
ser a marionete da história onde todos pegam o controle e usam como
querem.
Com a verdadeira montanha-russa que vivi nos últimos meses,
entendi que Lorenzo Santoro, o homem de alma demoníaca, que só pelo fato
de ser filha de quem sou daria motivos suficientes para acabar com a minha
vida há muito tempo. De alguma forma não era só ódio, mas sim uma
obsessão e o seu ponto fraco é saber que pode me perder. A minha morte
seria o seu maior desespero e ciente que ele não se atreveria a levantar as
mãos para mim no estado em que estou. Precisava dizer tudo que estava
preso em minha garganta ou era capaz de voltar novamente para as
profundezas do tormento que estava.
No momento que o algoz fechou a porta, passei uma de minhas mãos
em volta da minha barriga. As palavras ditas por ele fora tão impactantes
que parecia que tinha levado um tapa, lágrimas grossas surgiram em meus
olhos e começaram a descer pelo meu rosto.
— Perdoe-me filho, pelas palavras que disse. Jamais teria coragem
de desistir de você, pois sempre foi o meu maior sonho. Eu sempre imaginei
como seria a minha vida tendo alguém que seria parte de mim. Alguém para
dar todo amor que está em meu coração, proteger, amar incondicionalmente e
não importa que ele seja o seu pai, mas sim que você é meu e por você eu
serei capaz de tudo. Só não queria que você crescesse no meio de tudo isso,
que descobrisse que o seu avô foi morto injustamente pelo seu próprio pai e
que agora de nada adianta saberem que Antony era inocente, pois isso não o
trará de volta.
Continuei a acariciar o meu ventre. Em meio a toda escuridão que estava a
minha volta o meu filho foi a luz que surgiu no final do túnel.

GRAZIELA
A situação ficou ainda mais tensa. Lorenzo me contou sobre a reação
de Mia, o que para mim, com tudo que aconteceu já era o esperado.
Entretanto, o conhecendo o temperamento explosivo do meu filho, sei que
está se controlando como nunca havia feito.
Mia, está ferida por dentro, magoada e com a descoberta não só da
gravidez como a existência da mãe. Tudo veio como uma bomba justamente
no momento que ela já estava destruída por dentro. A conhecendo sei que
jamais abrirá mão do próprio filho, levei o seu almoço no quarto, já que ela
não queria a aproximação de Soraya. Comeu em silêncio, assim como meu
filho passou o resto do dia enfiado no escritório.
Minha cabeça estava latejando sem parar. Os diversos pensamentos
pareciam se misturar e tudo aquilo estava me enlouquecendo. Dúvidas e
mais dúvidas cresciam em minha mente e eu precisava fazer uma escolha.
Permanecer no silêncio e deixar os segredos do passado enterrados
ou contar a eles algo que não mudaria tudo de ruim que Lorenzo fez com ela,
mas poderia ajudar Lorenzo conquistá-la e consequentemente criar um
melhor ambiente para minha neta crescer, longe do duelo de sentimentos tão
ruins entre os próprios pais. No entanto, antes de qualquer decisão preciso
falar com a única pessoa que poderá esclarecer o que descobri para que não
reste nenhuma dúvida.

Algum tempo depois...


Eu estava incrédula com tudo que ouvi. "Maldito desgraçado eu
espero que esteja ardendo no fogo do inferno."
Depois de subir a escada caminhei em direção ao corredor que dava
acesso ao quarto de Lorenzo. Pietro e Antonella saíram logo após o jantar,
então era o momento de ter uma conversa com aqueles dois. Instantes depois
já estava parada em frente à porta e mesmo temerosa pela reação do meu
filho, preciso trazer o passado para o presente.
Respiro fundo e antes de perder a coragem bato na porta.
— Lorenzo!
— Entre.
Quando abri a porta e suas órbitas negras ficaram fixas em minha
direção, sua expressão estava fechada já ciente que algo devia ter
acontecido para vir ao seu quarto esse horário. Enquanto ele estava sentado
na poltrona com o notebook em cima das pernas, minha nora estava a uma
certa distância esparramada sobre a cama com o rosto virado para parede.
Como se o fato dela ocupar todo espaço iria impedir que ele deitasse ao seu
lado. Ao presenciar essa cena me lembrei de quando me casei com Enrico, a
diferença era que eu já sabia que nunca poderia escapar das suas garras e o
jeito foi usar minha inteligência.
— Aconteceu alguma coisa, mamma?
O som da voz dele afastou minhas lembranças.
— Preciso falar com vocês dois. E como sei que Mia não está
dormindo peço que prestem bem atenção em tudo que irei dizer.
LORENZO
Enquanto meu olhar ficou grudado na direção da mulher que
caminhou até à outra poltrona. Mia que até então fingia estar dormindo se
levantou de imediato e ficou sentada com sua atenção em Graziela Santoro.
No entanto, quando os lábios de mamma começaram a se contorcer e quando
as palavras escaparam da sua boca, comecei a ficar inquieto.
— Não pensem que é fácil ter que vir aqui e quebrar uma promessa
que fiz no passado. Mas não quero que a minha neta — ela fez uma pequena
pausa quando Mia arregalou os olhos como se tivesse perguntando quem
falou que era uma menina e logo depois voltou a falar. — Como eu estava
dizendo, eu não quero que a criança que logo virá ao mundo cresça cercada
de ódio. Mia, eu sei que você está magoada e tem todo direito, mas nós duas
sabemos que ele não deixará você sair daqui, porém, você Lorenzo, errou e
não foi pouco — minhas feições logo mudaram. — E não me olhe desse
jeito — minha mãe ralhou. — Todavia, toda essa vingança ocorreu
justamente por causa do Antony e a morte dele por ser inocente, você
acredita ser o seu pai é o que mais está doendo. No entanto, você sabe que
na máfia, nesse mundo sombrio o preço da traição é a morte, e hoje ao
revelar a verdade, não só você sofrerá as consequências, por ser realmente a
filha de um traidor, eu e Pietro também sofreremos.
— O meu pai era inocente — Mia falou aos berros e já alterada.
— Graziela que diabos está acontecendo?
— Antony sim era inocente e acabou sendo uma peça descartável no
jogo da ambição, mas, você não tem parentesco algum com ele e tão pouco, é
filha dele.
— Não! Não! Isso é mentira.
Não estava entendendo onde ela queria chegar e principalmente o
motivo de dizer toda essa mentira. Mas a resposta veio logo em seguida me
deixando desorientado com que ouvi.
— Você, Mia, assim como Pietro são filhos do desgraçado do Vicent.
Que ao tentar matar Lorenzo foi morto pela sua própria mãe.
As lágrimas surgiram no rosto da mulher que estava sobre a cama e
pela expressão da minha mãe eu sabia que aquilo era só o começo, de tudo
que ela ainda tinha para contar.
— Quando eu vi a marca que você tem nas suas costas, tive a certeza
que você era irmã do Pietro, já que ele também tem uma.
— Como isso pode ser possível. Você e aquele desgraçado...
— Nem se atreva a continuar. Quando você e Enrico estavam na
última etapa do seu treinamento, era justamente no período que o seu irmão
estava prestes a nascer. Entretanto, naquela noite sombria tudo se complicou
e o meu bebê acabou nascendo morto e como o destino tem seus mistérios, a
verdadeira mãe de Pietro que foi deixada pelo ambicioso do Vicent, também
estava em trabalho de parto aqui mesmo na mansão e assim como o meu
bebê, ela não resistiu. Eu não poderia mais ter filhos por toda complicação
que tive, aquela criança estava desprotegida e eu poderia oferecer a ele um
lar e todo amor de uma mãe.
As lágrimas banhavam a sua face. Por mais que eu tivesse possuído
de raiva por ela ter me escondido isso por todo esses anos. Eu sei o quanto
ela sofreu quando o meu pai me afastou dela.
Graziela, só soube o que foi conviver com um filho por causa de
Pietro.
— Todos sempre disseram que Antony era pai do bebê que Soraya
esperava.
— Até ela tinha dúvidas, já que mesmo estando com Antony foi
obrigada a se deitar com Vicent, já que o infeliz descobriu a existência de
Sophia que era a irmã de Soraya e tinha somente quatorze anos. Ele ocupava
um cargo maior que Antony e com a chantagem que assim como ela a irmã
viria para o bordel, Soraya se submeteu ao homem que ganhou muito
prestígio entre os conselheiros a ponto de ser o chefe de toda segurança em
volta daquele lugar. Não foi à toa que conseguiu enganar até o temido chefe
da Cosa Nostra e deixá-la viva.
O silêncio se fez presente por um longo período. Até que Graziela
voltou a se manifestar.
— Você é o chefe e sabe que pelo que eu fiz, por Pietro e Mia serem
filhos de um traidor e a criança que está em seu ventre, aos olhos do
conselho, todos nós, devemos pagar com a morte. E será você a dar a
sentença que decidirá o nosso destino.
Capítulo 44
LORENZO
M eu coração disparou e por um longo momento, nada parecia se mover,
foi como se tudo tivesse parado no ar. Ao meu redor, apenas o vazio; um
silêncio profundo, mas dentro da minha cabeça as palavras ditas por
mamma se repetiam como marteladas.
"Mia e Pietro são filhos daquele maldito traidor. Graziela escondeu
por todo esse tempo que o meu verdadeiro irmão estava morto e acabou
enganado não só Enrico, mas sim todos da nossa organização"
Minha cabeça latejava freneticamente, minha visão começou a ficar
turva e o ar ao meu redor já não era mais suficiente para me saciar e de
repente vários flashes surgiram trazendo as lembranças do passado.
— Você nunca pode esquecer, Lorenzo, que um traidor sempre será
um traidor e assim como ele toda sua descendência deve ser eliminada. A
famiglia estará sempre acima de tudo e de todos. Você entendeu, Lorenzo?
— Sim. Eu irei enviar quem seja ao inferno para proteger os
interesses da famiglia.
— Isso mesmo, jamais tenha piedade, você será um líder temido e
respeitado por todos.
O som da voz de Enrico me atingiu como uma lâmina afiada e quando
achei que não poderia ficar pior. Era como se o demônio que mora dentro de
mim, tivesse iniciado um duelo. Algo dentro de mim, arde e grita, como se
fosse uma fera faminta, um predador em meio a escuridão me incitando a
fazer jus aos ensinamentos de Enrico.
Tudo à minha volta parecia que estava sendo envolvido pela
escuridão, quando senti a raiva inflamada por cada veia do meu corpo. Meus
lábios se contorceram, ao virar a cabeça havia entre as sombras uma
claridade vinda dos olhos que mesmo perdendo o brilho ainda eram capazes
de fazer todo o calor emanado do meu corpo se dissipar e rapidamente
fechei os meus olhos. Tentando assumir o controle do meu próprio corpo as
lembranças de Graziela Santoro, quando me viu chegar ainda criança depois
de anos afastados, segurando em seus braços o menino de olhos negros que
fez o vazio do meu coração ser preenchido de felicidade, tomaram conta da
minha mente.
Pietro, mamma, Mia e o meu filho, preciso fazer o que dever ser
feito e jamais irei me arrepender da decisão que será tomada. Respirei fundo
enchendo os pulmões, sentia meu sangue correr normalmente pelas
veias. Meus olhos se abriram ofuscados pela claridade, aos poucos minha
visão se ajustou e as duas mulheres me encaravam completamente assustadas
e suas feições ficaram piores quando afastei os lábios e abri a boca.
— Quem mais está sabendo dessa história? — perguntei a Graziela,
que respirou fundo e começou a falar.
— Sobre a origem de Pietro só nós três. Sobre Vicent ser o pai da
Mia, tive que ir confirmar com Soraya, porém, não falei nada da ligação com
Pietro, só disse que uma vez vi a mesma marca nas costas de Vicent, quando
os soldados estavam em treinamento no pátio da mansão e acabei ligando os
fatos.
— Pois bem, para todos os efeitos, a Mia vai continuar sendo a filha
de Antony e quanto a Pietro, ele é um Santoro, pois você é a única mãe que
ele conhece. Você e ninguém mais passou noites acordadas, cuidou
pessoalmente dele, deu além de um lar, ofereceu todo amor que só uma mãe
de verdade seria capaz.
— Eu sei que não está sendo fácil para você tomar essa decisão.
— Disso você tem toda razão, mas não adianta ser o chefe se eu não
sou capaz de proteger a minha própria família. Essa conversa jamais existiu,
se Enrico foi capaz de esconder por dezoito anos para todos os conselheiros
e para mim, a existência de Mia Ferrari, isso prova que no mundo da máfia
todos sempre guardam um segredo.

MIA
Eu estava incrédula com tudo que ouvi. Novamente seria o alvo da
fúria do demônio, porém, dessa vez, estava preocupada e com muito medo já
que agora eu tenho alguém por quem devo permanecer viva. Soraya, Paolo,
Dante e Vicent no meio de todo esse jogo sujo, Antony foi o único
injustiçado e sofreu pelo jogo de mentiras, intrigas e ambição. Ganhei um
irmão que nunca saberá a verdade, ganhei um filho, entretanto, tudo isso
estava a um fio de acabar, pois a imagem que se formou à minha frente era
assustadora a ponto de fazer até a minha sogra fica temerosa.
Parecia algo sobrenatural que alguém pudesse ficar com o rosto
transfigurado, assustador, amedrontador e perigoso. Tive a impressão que
ele estava em transe e lutando contra algo interno. Minhas pernas ficaram
congeladas e o pânico tomou conta de mim, quando Lorenzo quebrou o
silêncio e eu já esperava pelo pior.
Confesso que nunca imaginei ouvir tais palavras ditas por ele. Sei
que seu relacionamento com a mãe é a única coisa que me fazia acreditar que
o capeta tinha em sua vida alguém por quem tinha algum afeto, mas sempre
achei que ele não gostasse do Pietro e depois de tudo que fez comigo por ser
a filha de um traidor, agora não seria diferente.
Ele sempre colocou o que chama de famiglia acima de tudo e até
agora estou surpresa com tudo que aconteceu. Dona Graziela deixou o
quarto, ele se levantou e seguiu para o banheiro. Estremeci quando um ruído
alto me tirou dos meus devaneios, depois ouvi um barulho como se tivesse
quebrando algo dentro do banheiro. Rapidamente puxei as cobertas e fechei
os meus olhos.
Minutos se passaram, escutei a porta sendo aberta, logo depois
passos indo em direção ao closet e quando achei que ele iria se deitar,
percebi que a porta foi aberta e fechada de maneira brusca. Passei um bom
tempo, perdida em meus próprios pensamentos.
Sempre quis ter uma família, o amor dos meus pais. Acreditei que
minha mãe estava morta e Antony era o meu pai, sofri por uma história que
não era minha, por um pai que não era meu e no meio de tudo isso saber que
Soraya, estava viva e tão perto. A única certeza que tenho é que não estou
preparada para tê-la em minha vida.

Na manhã seguinte...
Acordei assim que uma forte claridade invadiu o quarto. Meus olhos
foram em direção à janela que estava aberta o que achei estranho. Lorenzo
não estava mais no quarto, agradeço mentalmente por isso e quando virei o
rosto para o outro lado, vejo uma enorme bandeja com bolo, suco e frutas.
Será que foi ele quem deixou ou a minha sogra? O meu estômago
logo se manifestou e meu olhar ficou grudado no corpo de suco de goiaba
que era o meu favorito. Peguei o copo e tomei um gole, o sabor parecia
diferente, mas estava muito delicioso, portanto, sorvi de uma só vez todo o
líquido que estava no copo e em seguida olhei para fatia de bolo e quando
iria pegá-lo senti uma forte tontura. Tudo começou a girar e meu corpo foi ao
encontro do colchão.
Capítulo 45
MIA
N ão sabia o que estava me acontecendo, minhas pálpebras ficaram
estranhamente pesadas, me forçava para não fechar os meus olhos, queria
gritar, pedir ajuda, mas acabei me entregando a escuridão.

Horas depois...
Acordei inquieta, com a bexiga insuportavelmente cheia. Abri os
olhos com dificuldade e no momento que eles se ajustaram a claridade. Meus
batimentos cardíacos aumentaram ao constatar que é um lugar totalmente
desconhecido por mim. O medo tomou conta de mim, levei uma de minhas
mãos até a minha barriga por instinto.
Os meus olhos varreram o ambiente, era um quarto grande e luxuoso.
Respirei fundo e aquele cheiro que invadiu as minhas narinas fez uma revolta
crescer dentro de mim.
"Lorenzo" o que esse demônio está aprontando? Eu nem tive tempo
de esperar que uma resposta surgisse em minha mente. Levantei-me
atordoada e fui até o banheiro quando entrei no cômodo caminhei direto até
o vaso. Minutos depois ao direcionar minha atenção para a bancada da pia
tinha uma escova de dentes na embalagem, assim como todos os meus
cremes estavam arrumados em cima do móvel.
Acabei tomando um banho e encontrei várias roupas minhas e
algumas que nunca tinha visto antes no closet do quarto. Deixei o quarto sem
saber o meu destino e depois de descer o último degrau. Meu olhar ficou
cravado em direção à porta e o barulho que vinha lá de fora chamou minha
total atenção. Acabei com a distância e fui até à varanda, fiquei admirada
com tudo à minha volta, o ar era puro e a cor predominante era o verde
devido às diversas árvores. Quando olhei para o outro lado, perto das
palmeiras próximo à piscina estava Lorenzo, com seu peitoral
esplendidamente bem definido à mostra, assim que ele começou a arrumar o
seu calção, repousou uma das mãos em cima daquela monstruosidade que
estava escondida. Meus olhos ficaram em repouso naquela direção e no
instante que um vento frio atravessou a minha espinha, entrei rapidamente.
Depois de atravessar a porta um cheiro delicioso acabou por ser o
meu guia, já que meu estômago não parava de fazer vários ruídos indicando
o quanto estava faminta. Foram longas passadas até que me deparei com uma
mesa magnífica e farta, um verdadeiro banquete. O deleite já começava
pelos olhos e pelo relógio medieval fixado na parede, à minha frente já
estava na hora do almoço. Aproximei-me e era estranho, pois não havia
ninguém, mas tudo indicava que a comida tinha acabado de ser colocada
sobre a mesa.
Sem delongas, precisava que me alimentar, pois tenho uma criança
que precisa crescer forte dentro de mim. Sentei-me e meu primeiro alvo foi o
rellete de peixe defumado. Tudo estava tão delicioso que fiquei tão entretida
comendo, que só notei aproximação do homem que surgiu no meu campo de
visão assim que o som da sua voz ecoou à minha volta.
— A Bela Adormecida finalmente despertou — disse exibindo um
sorriso irônico e as lembranças invadiram o meu cérebro e a preocupação
pairou sobre mim.
— Você colocou algo naquele suco?
— Nada que faria mal a vocês dois, até porque de qualquer forma
você iria ter que tomar a pedido de Salvatore.
— E você se aproveitou disso para me trazer para esse lugar?
— Se avisasse que iríamos viajar, certamente você iria relutar e
paciência é algo que não faz parte da minha vida. — Ele começou a
caminhar em direção à porta e antes de deixar o lugar voltou a se manifestar,
me deixando indignada com suas palavras.
— Encare isso como a nossa viagem de lua de mel, querida esposa.

Minutos depois...
Depois que já estava satisfeita, me levantei da mesa e segui em
direção à varanda. Por mais que tivesse com raiva do tirano, tinha que
reconhecer que esse lugar me causava uma sensação muito boa. Andei até à
rede e já acomodada, fiquei me embalando até que o sono que levou.
Quando acordei fui em busca de algo para comer, era como se
tivesse um grande buraco em meu estômago. O silêncio pairava no ar, porém,
não vi nenhum funcionário, mas em cima da mesa tinha suco, frutas, frios,
bolo e pão de queijo que ainda estava quentinho.
O restante tarde não vi Lorenzo, ao cair da noite depois de tomar o
meu banho, desci e o encontrei já sentado jantando. A calmaria reinou à
nossa volta já que ninguém falou nada e quando terminei voltei para o
quarto. Estava deitada quando ele entrou no quarto.
— Eu não vou dormir no mesmo quarto que você — protestei.
O homem à minha frente parecia conter uma fúria que estava o
corroendo por dentro, mas acabou caminhando em direção à porta. Voltei a
me deitar e esparramada sobre a cama disse:
— Agora sim.

LORENZO
Precisava descontar toda raiva que estava sentindo ou era capaz de
enlouquecer e só um lugar seria capaz de acalmar os meus demônios. Passei
um bom tempo dentro daquela torre, quando a temperatura do meu corpo se
estabilizou, os meus órgãos internos voltaram a funcionar normalmente.
Comecei a colocar as ideias no lugar e uma coisa é certa, preciso resolver a
minha situação com Mia, pois o estado que ela se encontra, como disse
Salvatore, é necessário muito cuidado e paciência. Não estava sendo fácil
ter que controlar as trevas que me envolviam iniciando uma guerra dentro de
mim, querendo fazer dela o meu alvo já que a atrevida que antes parecia um
bichinho indefeso agora estava colocando as garras de fora.
Deixei o lugar e acabei encontrando mamma na sala perdida nos seus
próprios pensamentos. Sei que o ocorrido de horas atrás, era responsável
por deixá-la nesse estado.
— Graziela!
— Figlio. Achei que estava no quarto.
— Precisava colocar as ideias no lugar. Preciso da sua ajuda.
Aproximei-me e sentei ao seu lado.
— É sobre a Mia?
— Sim. Tudo isso que aconteceu, sei que a notícia da gravidez foi à
única coisa que a manteve lúcida. Saber a verdade da sua origem, que a mãe
estava viva e pelo que Salvatore disse, ela vai precisar tomar o
medicamento para que façam a cirurgia assim que o nosso filho nascer.
— Por que você não a leva para fazenda?
— Faz muito tempo que não vou àquele lugar.
— Por isso mesmo. Lorenzo, como você mesmo disse, do que
adianta ser o chefe se não pode proteger a sua família. Agora eu te digo com
toda certeza, a sua raiva, fúria e ódio a ponto de fazer dela o alvo de uma
vingança, era justamente porque não queria aceitar que você a ama, caso
contrário teria acabado com a vida dela assim que a conheceu. Filho assim
como existem trevas e luz, tem o ódio e o amor. Gostar de uma pessoa, amá-
la e protegê-la não fará de você um líder fraco, muito pelo contrário, terá a
chance de se tornar muito mais forte, vai entender que um mafioso para ser
respeitado e temido, não precisa ter punhos fortes para serem levantados
para uma mulher e sim para seus inimigos.
Seguindo o conselho de Graziela, a trouxe para fazenda. Encontrei-a
durante o almoço, porém, tinha algumas coisas para resolver, já que com a
morte de Vicent, precisava enviar alguém para Nova York. Quanto a Soraya,
sei que a infeliz não entregou o seu aliado só porque estava preocupada com
Mia, mas sim para salvar a própria pele e se ainda estava respirando não é
porque salvou a minha vida e sim pela própria filha, que depois de tudo que
passou acabaria caindo novamente em depressão ao saber da morte da
maldita. Aproveitando que Mia, não a quer por perto antes de viajar a
mandei de volta para Nova York, e deixei avisada que ninguém jamais
deverá saber que Vicent era o verdadeiro pai de Mia ou, dessa vez, irei
terminar o que Enrico começou.
Assim que terminou de jantar, ela se levantou e foi para o quarto. Ao
entrar avistei a Mia com um olhar desafiador, proferiu suas palavras e
mesmo sabendo qual seria sua reação. Senti a raiva querendo tomar conta do
meu corpo, mas ao lembrar das palavras da minha mãe, segui em direção ao
quarto de hóspedes.
“Se fui capaz de quebrá-la, preciso lutar para restaurá-la e nada
melhor que mostrar a ela um mundo não de dor, mas sim de muito prazer.”
Capítulo 46
MIA

A bri os olhos, me espreguicei e olhei ao meu redor. Nunca dormir tão


bem, a cama além de enorme era muito confortável e aconchegante. Estava
quase me enrolando de novo na colcha macia para dormir novamente, porém,
tomei consciência que precisava levantar e comer nos horários certos.
Levantei da cama e fui para o banheiro. Fiz minha higiene pessoal,
vesti uma roupa confortável em seguida deixei o quarto. Passei pelo enorme
corredor e tudo estava em silêncio, instantes depois, após descer a escada,
cheguei à sala de refeição e sobre a mesa que ontem estava farta só tinha um
grande jarro com flores. Caminhei até à cozinha e não encontrei ninguém,
estava toda arrumada, porém, não conseguir ver nenhuma comida.
— Bom dia!
A voz de Lorenzo interrompeu os meus pensamentos.
— Bom dia.
Antes que eu viesse a voltar a perguntar o que estava acontecendo,
ele se manifestou:
— Os funcionários estão de folgas, durante o período que estivermos
aqui, só a equipe de limpeza virá as segundas.
— E a comida?
— Os armários e o refrigerador estão abastecidos. Preciso ir até o
meu escritório enquanto você faz o nosso café da manhã.
Ele girou em seus calcanhares e caminhou para fora do cômodo. Um
pensamento passou pela minha cabeça e com ele um esboço de um sorriso
surgiu no meu rosto. Andei até à geladeira e peguei algumas coisas, logo
depois fui até os armários. Desde criança aqueles dois infelizes que eu
achava que eram os meus pais me colocavam para fazer todo trabalho da
casa, e assim aprendi a cozinhar. Avistei um pequeno rádio que estava na
bancada de um dos armários, liguei o aparelho e a melodia invadiu o
cômodo.
Minutos se passaram e tudo estava pronto. Suco de laranja, ovos
mexidos e torradas com geleia de morango. Levei tudo para mesa e comecei
a comer, não demorou muito para ouvir o som de passos se aproximando,
quando o barulho cessou, levantei a cabeça e os olhos negros estavam fixos
em minha direção.
— Você não fez só isso?
— Sim, eu preparei o meu café. Se você dispensou os funcionários,
era porque não precisava que alguém fizesse algo por você.
Abaixei a cabeça e continuei comendo. Eu sei que estava cutucando a
onça com vara curta, mas Lorenzo quis acabar com o meu psicológico, agora
eu vou pagar na mesma moeda. Vamos ver se ele aguenta ficar com fome. Só
voltei a levantar a cabeça quando ouvir os passos dele indo em direção à
cozinha.
Concentrei minha atenção no restante da comida que tinha, mas não
demorou muito para que desviasse assim que um cheiro delicioso impregnou
o ambiente. Tentei me concentrar, porém, o meu estômago
parecia enfeitiçado por aquele aroma e começou a reclamar como se eu não
tivesse comido nada. Levantei-me e fui até à cozinha, fiquei petrificada com
a imagem à minha frente. O homem estava em frente ao fogão e manuseava
com precisão os utensílios à sua frente. O cheiro de bacon frito, ovos
mexidos com queijo pairavam no ar, enquanto estava batendo no
liquidificador uma mistura para fazer panquecas. Sai do meu estado de
estupor quando ouço a voz dele.
— Apreciando a imagem do seu marido ou surpresa por saber que
sua tentativa em ficar viúva fracassou? — engoli em seco, pois por essa eu
não esperava que um homem como Lorenzo, soubesse cozinhar e digamos
que muito melhor que eu.
— Você não achou que um mafioso seria bom só manuseando uma
arma, né? — gracejou me lançado um olhar malicioso e voltou a se
concentrar no que estava fazendo. Alguns minutos depois, tinha à minha
frente um café da manhã farto. Queria sair dali, mas estava escorrendo água
da minha boca e não sei de onde tirei coragem, entretanto, me sentei
novamente e com o alvo em mente resolvi me manifestar.
— Não que eu faça questão, porém, o seu filho precisa comer isso
também.
Gemidos saíam da minha boca, tudo estava tão delicioso que acabei
comendo a maior parte do que ele tinha feito.

Horas depois...
Com o meu plano fardado ao fracasso, fiz o almoço para nós dois.
Não iria adiantar de nada, depois que terminamos de comer ele foi até o
centro da cidade, pois precisava resolver algumas coisas. Passei boa parte
da tarde dormindo na rede que já estava virando um vício, quando acordei
aproveitei para dar uma volta pelo lugar.
A paisagem de toda a propriedade era esplendorosa. A cor verde,
era um alento para os olhos de quem contemplasse. A casa era grandiosa e
os pássaros cantavam nas árvores enquanto o sol estava se pondo como se
estivesse tocando o mar.
Fiquei tão encantada com tudo que quando dei por mim. A claridade
tinha dado lugar a escuridão da noite. Jantamos a macarronada que eu fiz,
depois de tomar um banho quente, aqui estou eu deitada lendo um livro que
encontrei na estante da sala.

Algum tempo mais tarde...


Meus olhos já estavam ficando pesados, então deixei o livro de mão
e com a luz do abajur acessa, me enrolei nas cobertas. Quando estava prestes
a pegar no sono a escuridão tomou conta do lugar.
— Huum.
Cobri minha cabeça no instante que um ruído profundo ecoou pelos
quatros cantos do ambiente. Um grito alto saiu pela minha boca.
— Lorenzoooo!
— Huuuuuuu.
Outro ainda mais longo fez o medo me envolver. Quando a porta foi
aberta uma claridade invadiu o recinto, já que Lorenzo tinha uma lanterna em
uma das mãos e pela toalha em volta do seu corpo, tudo indicava que tinha
acabado de tomar banho.
— Mia!
— Está tudo escuro e tem algo lá fora.
— Queimou algum fusível e o barulho é o pio das corujas. Assim que
amanhecer, mandarei alguém arrumar.
Dito isso ele caminhou em direção à porta, mas parou assim que
reclamei:
— Você vai me deixar sozinha?
— Esqueceu que foi você quem falou que queria dormir sozinha? —
ele voltou a se mover e novamente outro ruído alto veio lá de fora.
— Huuuuuuu...
— Hoje você pode dormir aqui.
Lorenzo se virou em direção à cama e puxou o tecido que
estava cobrindo a sua nudez. Imediatamente chamei a atenção de Lorenzo.
— Eu não disse que iria transar com você.
— E nem eu pensei nisso. Mas se vou dormir aqui, será do jeito que
me sinto mais confortável.
O desgraçado andou até o outro lado da cama e se esparramou sobre
ela e nem se preocupou em se cobrir. Virei meu rosto na direção oposta,
pensando no quanto essa noite será longa.
Capítulo 47
MIA
O quarto estava na penumbra e a luz da lanterna iluminava o ambiente.
Lorenzo estava inquieto e se remexia na cama, de um lado para o outro e
aquilo me deixou incomodada. Minutos se passaram e quando o silêncio
pairou no ambiente, acreditando que ele havia dormido me virei, no entanto,
meus olhos se arregalaram como se fossem saltar a qualquer momento do
meu rosto.
Ele estava com os olhos fechados com uma expressão de puro êxtase
enquanto uma de suas mãos percorria lentamente toda extensão do seu
membro. Como a claridade que iluminava o quarto estava vindo do objeto
que estava em cima da mesa de cabeceira ao seu lado, dava para ver
claramente as veias inchadas, latejantes e principalmente a cabeça rosada do
seu pênis. Levei meu olhar novamente até o seu rosto e parecia que ele
estava degustando algo delicioso, em seguida continuei a observar os
movimentos da sua mão que se tornaram frenéticos em torno da criatura que
pulsava e ganhava ainda mais vida a cada gesto que ele fazia.
Minha garganta ficou seca que até a saliva estava difícil descer por
ela, uma onda de calor apoderou-se do meu corpo e já não conseguia afastar
meus olhos daquela imagem. Minutos que pareciam uma eternidade e quando
um líquido viscoso começou a surgir em cima da cabeça do seu pau, fui
tirada do estado de devaneio quando novamente o barulho vindo do lado de
fora penetrou dentro do quarto.
— Huuuuuuu.
Rapidamente me virei e meus batimentos estavam tão fortes que o
som ressoava em meus ouvidos. A imagem de minutos atrás ficou fixada em
minha mente e não sei por quanto tempo fiquei pensando naquilo até que o
cansaço me venceu e acabei adormecendo.

Na manhã seguinte...
Uma ânsia me fez acordar. Levanto da cama e vou para o banheiro
praticamente me arrastando, vomitei tanto até que um líquido verde saiu pela
minha garganta, mas estranhamente me senti melhor. Já deviam ter arrumado
a peça que Lorenzo falou, já que a energia tinha voltado. Depois de fazer
minha higiene pessoal, voltei para o quarto e quando meus olhos caíram
sobre a cama às lembranças da noite anterior invadiram a minha mente.
“Você precisa ser forte Mia e não fazer como Eva que provou do
fruto proibido”.
Andei até o closet, coloquei uma roupa limpa e sai do quarto.
Quando cheguei ao andar debaixo fui direto para sala e ao contrário de
ontem a mesa não estava vazia, eu me sentei e comecei a comer. Eu poderia
passar o resto dos meus dias me saciado dessas maravilhas. Antigamente os
mais sábios afirmavam que uma mulher segurava o seu homem pelo
estômago, mas acredito eu que se provassem a comida de Lorenzo Santoro,
diriam outra coisa. O demônio tem mãos perfeitas para fazer qualquer um ir
do paraíso ao inferno.
Continuo com minha atenção na comida à minha frente até o momento
que foi direcionada para porta e quase que me engasguei com a imagem que
avistei. As palavras saíram da minha boca sem que eu pudesse controlar.
— Você vai andar pela casa desse jeito? — ele me olhava fixamente
como se fosse um predador. O homem que é enorme em todos os sentidos,
não sou cega para negar que ele é dono de um corpo espetacular, deve ter
batido a cabeça ontem quando faltou energia, é a única explicação para esse
surto de ser o Tarzan. Meus pensamentos foram afastados quando ouço o som
da voz dele.
— Ao contrário de Nápoles, aqui é muito quente e ele — falou
apontado para o próprio membro como se fosse uma pessoa. — Precisa de
liberdade.
Ele caminhou até à mesa e se sentou, em seguida começou a comer.
Um Lorenzo totalmente diferente do capeta que conheci, assim como o
demônio já foi um anjo e mostrou sua verdadeira face, preciso ficar esperta,
pois a tentação pode vir disfarçada de várias formas.

Dois dias depois...


Dois dias se passaram desde que o Tarzan invadiu a fazenda.
Lorenzo passa o dia todo andando pelado pela casa e por mais que eu tente
ignorá-lo uma hora ou outra me vejo com olhos cravados em direção ao seu
corpo. Depois de tudo que passei não consigo entender como o meu corpo
pode vibrar tanto ao estar perto dele. Um fogo que arde a minha pele, um
desejo que faz a minha intimidade latejar, uma excitação insuportável a
ponto de começar a me tocar e explorar o meu próprio corpo.
Hoje é segunda-feira e ele disse que a equipe de limpeza viria para
limpar toda a casa. Como a internet não estava boa desde ontem, Lorenzo
avisou que iria bem cedo falar pessoalmente com o pessoal da empresa
responsável. Tenho até medo de imaginar a reação deles ao se depararem
com o próprio demônio e pior ainda se não resolverem logo o problema.
Deixei os pensamentos de lado e como já havia tomado café desde cedo
resolvi dar uma volta pela fazenda antes de fazer o almoço.
Com passos firmes caminhei em direção à entrada principal, ao me
aproximar da porta da sala, o som de vozes me paralisou.
— Tia se eu soubesse que ele não estava aqui não teria vindo.
— Angelina, o patrão é casado, além do mais, você sabe que aquele
homem é o próprio demônio.
— Quem disse que um homem como ele vai se contentar com uma
mulher só?
Levei uma de minhas mãos até à minha nuca e não entendi o porquê
que as palavras daquela estranha me causaram tanta irritação. Mas logo
voltei minha atenção para o que elas voltaram a dizer.
— Até onde eu sei, todos acreditavam que ele não iria se casar tão
cedo, agora além de uma esposa, em breve terá um filho.
— Isso não quer dizer nada. Com a esposa grávida, tenho certeza que
ele precisa de alguém para satisfazê-lo.
— Menina, não sei como você ficou desse jeito. Você só tem
dezessete anos como pode pensar nessas coisas.
— Relaxa, tia, daqui a uma semana terei dezoito anos. Um homem
bonito como ele, rico e dono da porra toda. Eu mesma aceitaria ser sua
amante e faria tudo que ele quisesse.
Um nó gigantesco se formou em minha garganta. Meus pulmões
funcionaram aos espasmos e como se tivesse vida própria minhas pernas se
moveram, quando dei por mim, já estava no mesmo ambiente que as duas
mulheres.
— Bom dia! — falei assim que parei na frente da mulher que
aparentava ter uns cinquenta anos e da fedelha que pretende ser amante do
meu marido.
— Bom dia! — respondeu a senhora mais velha.
— Vocês devem ser o pessoal responsável pela limpeza?
— Sim. Sou Tereza e essa é minha sobrinha, Angelina — a mulher
respondeu educadamente mesmo não sabendo quem eu era, já a sobrinha que
me lançou um olhar da cabeça aos pés, ficou sem reação assim que informei
meu lugar nessa casa
— Sou Mia Santoro, a esposa do dono.
Tereza ostentava uma expressão de quem estava se questionando se
eu tinha ouvido as palavras da safada de sua sobrinha. Enquanto a tal
Angelina que de anjo não tinha nem o rosto, pegou a flanela que tinha nas
mãos e começou a limpar os móveis.
Caminhei em direção à cozinha, porém, um pensamento começou a
me deixar inquieta e eu me negava a acreditar que fosse verdade.
"Eu não posso estar sentindo ciúmes dele".
"Bônus 04"
LORENZO
D epois da ligação de Dimitri, quando ele ia me enviar o e-mail com as
informações que descobriu sobre a infeliz. Os equipamentos não estavam
captando o sinal da internet, portanto, avisei Mia e saí logo nas primeiras
horas da manhã.
Qualquer um que estava no ambiente, conseguia me ouvir bufando a
cada linha que lia do documento, começou a crescer um ódio imensurável em
meu coração, motivado pela revolta que sentia por não ter matado aquela
maldita traidora. Levantei-me e liguei imediatamente para Dimitri, aquela
desgraçada pode ter certeza que ela jamais voltará a ver a filha novamente.
Soraya não estava envolvida só com Vicent, mas foi graças a essa miserável,
que Paolo conseguiu envolver Antony em sua teia de mentiras, fazendo dele
o alvo a ser eliminado.
Depois de resolver tudo que tinha para fazer, segui em direção ao
meu carro.
Minutos depois...
Com olhos fixos na estrada e mãos firmes no volante, o silêncio
predominava dentro do veículo. No entanto, minha cabeça estava a mil, tudo
vinha como uma avalanche de emoções e sentimentos. A vontade em tê-la
sobre a minha posse, enquanto me saciava do seu pelo corpo estava me
deixando sedento de desejo. A raiva e uma fúria descomunal pairava sobre
mim, não estava sendo fácil travar uma luta interna contra os meus próprios
demônios, já que ainda não haviam esquecido do tiro que ela me deu.
Uma força sombria totalmente desconhecida por mim, queria a todo
custo me dominar e a cada gesto dela, sentia como se o meu lado mais
obscuro entrasse em conflito querendo atrapalhar os meus planos. Sempre
consegui tudo que almejava, Mia já é minha e nada mudará isso. Poderia
facilmente me deliciar do seu belo corpo, porém, agora já não quero uma
boneca inflável que vai permanecer como se fosse um objeto. Não quero
somente o seu corpo, mas sim a sua alma e o seu coração.
Ouvir ela dizer que eu não dormiria naquele quarto, fez um fogo
líquido correr em minhas veias. Meus pulmões começaram a funcionar no
ritmo alucinante e quando senti que estava prestes a perder o controle, deixei
o cômodo. De uma coisa, Enrico tinha toda razão, um mafioso para conseguir
tudo o que deseja não precisa manusear com precisão uma pistola, mas sim
usar uma boa estratégia com as armas que estão ao seu alcance.
Com todos os funcionários dispensados, o próximo passo era
desligar o gerador assim nada sairia errado, no momento que a chave central
fosse desligada. Além das corujas que já habitam na região, o som vindo de
fora da casa era da gravação que estava programada para o momento certo.
Temerosa do jeito que é, tinha plena certeza que dormiria ao seu lado, no
momento que ela me deu as costas, bastou me mover na cama por alguns
segundos e em seguida colocar o próximo passo do plano em ação. Embora
estivesse de olhos fechados, sabia que ela estava me observando e por
pouco não avancei em cima dela e acabei logo com todo esse joguinho de
gato e rato.
Preparar o café da manhã foi o único jeito que consegui colocar no
suco o remédio que Salvatore indicou. Dessa forma evitaria que ela viesse a
perguntar o porquê de estar ingerindo aquilo. Depois da revelação da
gravidez e tudo que aconteceu, ele achou melhor omitir o fato de ela estar
com um aneurisma, já que ela poderia voltar ao estágio depressivo por achar
que esse obstáculo a impediria de ver o nosso filho crescer, privando-a de
concretizar o seu maior sonho.
Por outro lado, andar pela casa totalmente pelado, até que, teve suas
vantagens, mas como tudo na vida tem limites, e paciência não é o meu forte,
até porque Mia aproveitou bastante achando que estava no controle da
situação. Tentei seguir o conselho de mamma, entretanto, se ela continuar
colocando pedra no meio do caminho. Uma coisa é certa, hoje ela será
minha de qualquer maneira e danem-se as consequências.
Penúltimo Capítulo
MIA
O feijão já estava quase pronto, mas mal ouvia o barulho da panela de
pressão, encoberto pelas duas vozes que ainda ecoavam dentro da minha
cabeça. Por mais que estivesse concentrada, terminando de preparar a
salada, as lembranças do que aquela assanhada falou horas atrás, ainda me
incomodavam, me dando a confirmação que realmente toda essa raiva era
por causa do Lorenzo.
Afastei esses pensamentos para bem longe, assim que a dita cuja
entrou na cozinha e caminhou em direção à despensa. Desliguei o fogo,
assim como a carne assada o arroz já estava pronto. Minha atenção se voltou
para o outro lado quando ela surgiu novamente no meu campo de visão,
seguindo em direção à porta com alguns utensílios de limpeza. Enquanto ela
caminhava, os meus olhos caíram sobre o seu corpo, o short era tão justo e
curto que mostrava parte do bumbum, deixando à mostra as pernas torneadas.
Praticamente uma arma que ela desejava usar no alvo que eu já conhecia
bem.
Movi a cabeça rumo a pia. Nunca tinha me sentido tão irritada e no
instante que arrastei o pé direito na tentativa de pegar o recipiente com a
salada.
Respirei fundo assim que senti uma forte pontada em minha cabeça,
por alguns segundos a minha vista escureceu. Era como se tivessem enfiado
uma agulha em minha cabeça, a dor era insuportável, andei até à cadeira e
me sentei, fechei os meus olhos e aguentei as lágrimas, esperando que a dor
passasse.
"O que está acontecendo comigo?"
Minutos se passaram e quando me senti melhor, me levantei e
comecei a colocar os pratos sobre a mesa da sala. Além de ter ouvido as
palavras daquela fedelha, sobre seu súbito interesse pelo meu marido, como
se não fosse o suficiente, ela ainda vai comer a comida que fiz. Tudo já
estava arrumado, então resolvi tomar um banho pelo horário não iria
demorar muito para Lorenzo chegar, se bem que ele poderia voltar só à
noite, quando essas duas já terão ido embora.
Minutos mais tarde...
Uma sensação boa tomou conta do meu corpo inteiro, a água estava
deliciosa. Deixei o banheiro e fui até o closet.
Fiquei alguns minutos olhando para imagem do meu corpo refletida
no espelho. A minha barriga ainda não deixava em evidência a minha
gravidez, porém, os meus seios estavam enormes e depois que cheguei aqui
acabei ganhando peso. Olhei para o vestido à minha frente e instantes depois
já estava vestida, dei um sorriso de satisfação ao ver o resultado.
Com passos precisos, deixei o cômodo e as duas estavam acabando
de sair do quarto que Lorenzo estava ocupando. Detive-me assim que Tereza
se manifestou.
— Daqui a pouco irei limpar o seu quarto.
— Só não deixe o ambiente muito perfumado, depois do almoço você
pode limpar já que sempre durmo à tarde na rede da varanda.
Assim como eu, as duas se dirigiram para o primeiro andar e após
descer o último degrau da escada. Meus olhos ficaram fixos na imagem que
surgiu na porta, para logo em seguida ser desviada para o rosto da tal
Angelina, as duas desceram primeiro e estavam seguindo rumo à cozinha,
quando o som da voz de Lorenzo chamou a atenção dela.
— Tereza!
— Sim, patrão — disse a mulher e parecia temerosa já que se
mantinha com a cabeça abaixada.
— Rosalia não veio com você?
— Ela está doente, então trouxe a filha dela, Angelina.
Fiquei com os olhos cravados em cada movimento de Lorenzo, que
mantinha seu olhar em direção ao projeto de puttana. A menina parecia que
estava enfeitiçada, pois ficou paralisada como se tivesse diante de um Deus
grego. Se bem que o demônio era a personificação não só da maldade como
da beleza, também.
— Não esqueça de avisar ao João, para vir limpar a piscina amanhã.
— Sim, senhor.
Dito isso ela segurou no braço da sobrinha e andaram em direção à
cozinha. Senti que meus batimentos cardíacos aceleraram, fiquei observando
o homem à minha frente que ainda tinha os olhos fixos na mesma direção e
certamente estava olhando para bunda da garota. Meus pensamentos foram
interrompidos quando ele me chamou.
— Vamos almoçar, pois estou faminto.
Percebi que tinha duplo sentindo em sua frase, só não sabia se ele
estava se referindo à oferecida. Enquanto as duas estavam fazendo a refeição
na cozinha, nós estávamos na sala e Lorenzo, mantinha uma expressão
indecifrável, como se tivesse perdido em seus próprios pensamentos.
Quando terminamos, ele me ajudou a retirar as coisas de cima da mesa e ao
chegarmos à cozinha, Tereza estava lavando a louça e a sobrinha limpando a
mesa. Notei como ela comia ele com os olhos, tive a impressão que Lorenzo
parecia estar interessado. Ele colocou a travessa em cima da mesa
justamente perto de onde ela estava, antes de deixar o ambiente se
manifestou.
— Tereza o meu quarto já foi limpo?
— Sim, senhor.
— Com todo esse calor preciso de um banho.
A última palavra proferida por ele, me fez lembrar dos últimos dois
dias que por causa do tal calor ele andou o tempo inteiro pelado pela casa.
Lorenzo, se moveu em direção à porta e assim que sumiu do meu campo de
visão, antes que eu fosse falar com ele precisava deixar logo as coisas bem
claras. Depois de tudo que já passei e ciente que ele não vai me dar a minha
liberdade, não irei aceitar que me fizessem de trouxa. Movi minha cabeça na
direção das duas mulheres.
— Tereza!
— Senhora!
— Você gosta muito desse emprego. Estou certa?
— Sim, senhora.
— Acredito que tanto você como a sua irmã precisam dele?
— Já trabalhamos há mais de quinze anos para família Santoro e aqui
na Catânia, ninguém pagar melhor que eles.
— Mais um motivo para você manter o seu emprego. Sendo assim
comece dando um conselho para sua querida sobrinha manter não só os
olhos, mas sim o corpo inteiro bem longe do meu marido. E quanto a você,
Angelina, ele já tem uma mulher e não precisa de uma amante.
O silêncio tomou conta do lugar e eu nem estava me reconhecendo.
Com um giro nos calcanhares comecei a andar para fora do cômodo. Se o
Tarzan acha que vai fazer da selva um harém está completamente enganado.
Depois de subir os degraus da escada e percorrer o corredor, parei
em frente à porta do quarto dele. Respirei profundamente e levei uma das
mãos em direção a maçaneta quando abri a porta olhei em volta do lugar e
nada dele. No instante, que entrei no ambiente e dei alguns passos para ir até
o banheiro, ele surgiu em frente à porta que dava acesso ao closet do quarto.
Não estava pelado, mas sim vestido somente com um calção muito curto e
não estava de camisa.
— Mia! Aconteceu alguma coisa?
O som da voz dele ressoou no ambiente.
— Ainda não, porém, antes me diz se você vai sair do quarto desse
jeito?
— Claro que sim. Estou dentro da minha própria casa.
Virei-me e caminhei até à porta depois de fechá-la me virei
novamente na direção dele.
— Não era um homem como você com quem sonhei passar o resto
dos meus dias, entretanto, acabei caindo no meio de tudo isso e virei o seu
maior alvo. Chorei e não foi pouco, você me apresentou um mundo cheio de
dor a ponto de trazer sentimentos ruins para o meu coração. Mas não vou
viver me lamentando do que já aconteceu, até porque agora eu tenho um
motivo muito maior que encheu meu coração de alegria. No entanto, já
entendi que você nunca me deixará viver longe de você, mas não vou aceitar
que fique com outras mulheres e muito menos que olhe para aquela tal
Angelina, como se eu não estivesse presente.
Ele tinha um sorriso sarcástico no rosto, deu alguns passos reduzindo
à distância entre nós.
— Está com ciúmes?
Engoli em seco com sua pergunta.
— Claro que não...
Antes que eu terminasse de falar, suas mãos já estavam em volta da
minha cintura e ele me puxou para mais perto dele, me apertando ao seu
corpo perfeito. O contato da pele dele era como brasa, despertando o desejo
que crescia dentro de mim. Sua boca buscou a minha numa ânsia
descompassada. Nossos lábios moveram-se em perfeita sincronia e sua
língua logo encontrou a minha, acariciando-a, fazendo sensações
inexplicáveis percorrerem o meu corpo inteiro. Um beijo interminável e
devastador, pois tudo parou e só existia Lorenzo à minha mente.
Com a respiração ofegante quando a sua boca deixou a minha, suas
mãos ágeis começaram a retirar toda a minha roupa, assim que ele retirou a
última peça que foi o meu sutiã. Ele me pegou em seus braços e caminhou em
direção à cama. Lorenzo se afastou e seus olhos brilhavam de excitação, ele
me observou como se tivesse contemplando todo o meu corpo, no instante
que ele levou as duas mãos até cós do calção. Minha mente implorou para
que eu saísse dali, contudo, meu corpo não reagia, necessitava dele.
Um calor insuportável apoderou- se de mim quando meu olhar ficou
cravado na bela imagem que surgiu à minha frente.
O seu membro estava rígido como nunca tinha visto antes, exibindo
várias veias saltadas em sua longa extensão. O homem se moveu e não sei o
que era maior, o meu desejo ou o medo ao lembrar de toda dor que sempre
senti. Seu olhar era tão venenoso e avassalador que eu me senti atraída como
uma presa e ele o predador à espreita da sua vítima. Lorenzo alcançou a
cama e suas mãos percorrem minhas pernas enquanto ele lentamente se
enfiou no meio delas. Meu corpo todo vibrou ao sentir o seu hálito quente
contra a minha intimidade, que a essa altura já estava toda molhada.
— Perfeita e molhadinha — rosnou com a voz rouca e beijou a
minha intimidade.
Com a língua ele afastou os grandes lábios da minha vagina quente e
úmida, para logo depois deslizá-la suavemente em ritmos alternados, para
cima, para baixo e ambos os lados como se tivesse chupando uma laranja.
Gemidos altos saíam da minha boca e pouco me importava se aquelas duas
estavam limpando o quarto que fica ao lado. Aquela exploração era
deliciosa, seus movimentos eram torturantes e estavam me deixando
enlouquecida. Quando ele afastou a cabeça o som abafado da minha voz se
fez presente.
— Não pare, por favor.
— Eu só estou começando.
Senti o toque dos seus dedos que deslizavam pela minha boceta,
pincelando minha entrada e voltando para o nervo pulsante que estava
clamando pelo seu toque. Ele continuou a explorar a minha carne e quando
levou a boca novamente ao encontro do meu sexo latejante, comecei a me
contorcer toda, pois enquanto ele ia me penetrando com seus dedos, investia
deliciosamente em meu clitóris. Fui sugada, lambida, sua língua atacava
furiosamente a minha boceta, com puxões rápidos e profundos no meu
clitóris. Não conseguia mais me controlar, uma onda de calor se espalhou
por todas as partes do meu corpo.
— E... Eu...
— Goze para o seu homem.
Diante de suas palavras meu sexo se contraiu, meu corpo todo
estremeceu e uma onda de prazer explodiu dentro de mim, me deixando em
chamas. Meu coração estava disparado, minha respiração alterada e quando
Lorenzo se arrastou e seu corpo ficou sobre o meu. O medo me dominou ao
sentir a cabeça do seu pênis em contato com a minha fenda. Seus olhos
encontraram os meus e em seguida o som da voz dele me tirou do estupor.
— Como você disse, te apresentei só um mundo de dor. Agora
chegou a hora de você conhecer um novo mundo, chamado prazer.
Suas palavras me trouxeram uma sensação de conforto e antes que
qualquer outro pensamento tomasse conta da minha mente, seu membro
mergulhou fundo para dentro de mim, um ruído estava prestes a escapar pela
minha boca, mas ele me beijou enquanto iniciou um movimento de vai e vem
delicioso e a dor que senti aos poucos foi se dissipando. Sua língua
explorava a minha e suas estocadas cresciam numa potência que senti o seu
pênis bater no colo do meu útero. Ele afastou a sua boca da minha e as
palavras que foram ditas por ele, incitaram os meus instintos primitivos e
selvagens.
— Não reprima as suas emoções, se permita.
Comecei a remexer os quadris acompanhando os seus movimentos. A
cabeça do seu pênis não parava de acariciar as terminações nervosas que
jamais soube que tinha. Ele continuou com seus golpes ferozes, socando
fundo todo o seu membro grosso e pulsante dentro de mim. Minha boceta se
contraiu ao redor da cabeça faminta do seu pau no mesmo instante que ele
praguejou e atacou os meus seios, sugando-os.
Lorenzo, parecia que estava possuído, seus olhos ficaram tons mais
escuros. Seu pênis inchou ainda mais e suas estocadas se tornaram
velozes. A tensão se acumulou dentro de mim, um rígido feroz escapou das
nossas bocas ao mesmo tempo. Meu corpo todo vibrou, o prazer foi intenso,
elétrico enquanto o seu sêmen viscoso explodia com a força do orgasmo.
Depois, ficamos deitados tentando recuperar o fôlego, com os corpos
grudados um ao outro por causa do suor. E o que foi dito por ele em seguida
fez o meu coração disparar.
— Aquela fedelha e nenhuma outra me interessa. Já que você é a
única capaz de me satisfazer.
Último Capítulo
LORENZO
S aí do closet e ao me aproximar da cama, meus olhos caíram sobre o
corpo da mulher esparramada sobre a cama. As lembranças de horas atrás
invadiram a minha mente.
Depois que alcançamos o êxtase do prazer, minha respiração se
estabilizou, peguei o controle do ar-condicionado e precisei ajustar a
temperatura, já que os nossos corpos pareciam que estavam em chamas.
Minhas mãos passearam pelo corpo dela que estava sobre o meu e assim que
ela levantou a cabeça, nossas bocas se chocaram iniciando um beijo faminto
e selvagem. Senti todo o seu corpo estremecer quando dei um tapa em sua
nádega. Minhas mãos deslizaram pela carne macia, massageando-a e em
contrapartida Mia, começou a remexer o quadril se esfregando no meu pau,
que já estava ereto novamente, como uma torre. Assim que afastei a boca da
dela, a provoquei.
— Quero ver você sentada em cima do meu pau e essa bocetinha o
engolindo por inteiro.
Enquanto se movia seu olhar não deixou o meu por nenhum segundo.
Mia sentou sobre o membro duro, como aço, e lentamente começou a se
movimentar, fazendo com que a cabeça robusta entrasse em sua vagina
apertada. Gemidos delirantes escaparam pela minha boca, a safada parecia
que tinha pegado jeito, pois os sons que eram dados por mim, a incitaram a
continuar e não demorou muito para sua boceta gulosa tomasse posse de toda
extensão do meu membro. Minhas mãos alçaram os seus seios, que estão
ainda mais apetitosos e ela começou a se movimentar freneticamente.
A sensação que invadiu meu corpo era inexplicável. Mia se empalou
no meu pau enquanto sua boceta se apertava em volta do meu cacete
repetidamente, ela continuou movendo o quadril para frente e para trás.
Segurei firme a sua cintura e quando Mia super excitada começou a subir e
descer, deixando-me cada vez mais insano com aqueles movimentos
alucinados, levei uma de minhas mãos até o seu clitóris inchado, esfreguei
por repetidas vezes, friccionando meu indicador naquele botão ereto que
precisava de atenção. Gemidos altos escapavam do fundo da sua garganta, eu
já estava fervendo, meu pau pulsava descontroladamente em busca de alívio.
Seus movimentos se tornaram ainda mais implacáveis e senti uma corrente
de eletricidade passar por mim. Um barulho alto escapou da minha boca e
ela deixou a cabeça cair para trás e soltou vários gemidos de deleite.
Meu sêmen jorrava em jatos potentes e a sensação dela gozando em
cima de mim, foi sensacional. Quando seus olhos se abriram, sua boca
buscou a minha num beijo selvagem, enquanto o meu pau ainda latejava
dentro dela, liberando as últimas gotas do líquido queimante em suas
entranhas.
A respiração dela estava ofegante. Seu corpo ainda tremia devido os
últimos espasmos do orgasmo. Instantes depois a peguei em meus braços e
seguimos em direção ao banheiro. Um banho que acabou levando quase uma
hora, quando entramos dentro do box, enquanto ela estava concentrada
ajustando a temperatura da água do chuveiro, avancei em sua direção. Mia,
foi encurralada à parede, minha boca foi em direção aos seus seios e
capturei o mamilo direito, chupei na maior ânsia ao mesmo tempo que
massageava o outro com a mão. O que era para ser gemidos abafados se
tornaram ruídos altos, passei a língua sobre a carne macia e comecei a
mordiscar, para logo em seguida alternar entre um e outro enquanto uma de
minhas mãos já estava concentrada na sua boceta. Levantei o seu corpo e
com a boca grudada na sua o meu pau deslizou entre as dobras da sua vagina.
Enquanto o meu cacete pulsava dentro dela, nossas línguas duelavam, com
movimentos de forma animalesca, gritos de desejos e arrebatamento
ecoavam no ar. Mia, continuava com os olhos fechados, aumentei a
velocidade e a força das minhas estocadas, ela começou a galopar
velozmente, como se tivesse em cima de um touro. Suas costas se
esfregavam na parede, mas ela assim como eu parecia ensandecida pelo
prazer.
Seu corpo já não a pertencia mais, assim como sua alma em breve
será minha e nossas vidas estarão para sempre em sintonia.
— Lorenzo!
Meus pensamentos se perderam no ar quando a voz dela chamou a
minha atenção.
— Você vai sair do quarto?
Logo me lembrei da razão da sua pergunta e confesso que meu corpo
todo vibrava ao ver o ciúme refletido dentro dos seus olhos esverdeados.
Desde quando coloquei os pés dentro de casa, percebi o jeito como ela ficou
ao olhar para aquela garota que vi a oportunidade de tirar vantagem na
situação.
— Preciso falar com a mamma e o Pietro.
Mia ficou em silêncio, me aproximei e após beijá-la caminhei em
direção à porta.

MIA
Meu corpo estava todo dolorido, mas o prazer foi muito maior que a
dor. Jamais pensei que pudesse sentir tantas sensações ao mesmo tempo, e
que o homem que só me mostrou a dor pudesse me fazer ir do inferno ao
paraíso. Eu estava em chamas, uma onda de calor tomou conta de mim por
inteira, já não conseguia controlar o meu corpo que tremia violentamente,
como se eu tivesse tendo um ataque epilético. O que antes me deixava
temerosa quando ele alcançava o êxtase e seu esperma me invadia, fazendo
minha intimidade arder, pois sabia que novamente eu iria sentir toda sua
crueldade e a dor iria apodera-se de mim. Dessa vez eu já está ansiosa na
expectativa para que ele me fizesse dele de novo e de novo.
Como todas as tardes, o sono logo me venceu e não consegui resistir,
mas ao acordar e vê-lo já todo arrumado, ao mesmo tempo, que fiquei feliz
pelo Tarzan ter voltado para selva. Também fiquei inquieta ao lembrar da
puttana que ainda estava em algum andar da casa.
Lorenzo deixou o cômodo e no instante que a porta foi fechada, me
levantei e fui direto para o banheiro. Quase uns cinco minutos, depois já
tinha escovado os dentes e dado um jeito no meu cabelo, voltei para o quarto
e fui em busca de uma roupa. Arrumada deixei o quarto, não havia sinal
delas no andar de cima então aumentei os passos e não demorou muito para
chegar até à sala. Ouvir vozes vindo da varanda e ao ficar próxima à porta
as duas estavam limpando toda área, quando senti mãos fortes ao encontro da
minha cintura, o cheiro intoxicante e inebriante dele invadiu minhas narinas.
Senti como se minhas bochechas tivessem pegando fogo ao ser pega em
flagrante.
— Estava me procurando?

Três semanas depois...


— Vem, Mia — chamou Lorenzo, já dentro da piscina. Estamos há
quase um mês no lugar o qual dei o nome de paraíso. Depois do dia que me
entreguei a ele, sem medo e por vontade própria, muita coisa mudou.
Primeiro que ele logo mudou para o meu quarto, deixou de andar pelado pela
casa e por alguns momentos quando eu tentava ir contra algo que ele dizia,
via suas feições se tornarem diabólicas, mas ao contrário de antes que eu era
o alvo da sua perversidade, ele se controlava.
Lorenzo, jamais será um príncipe encantado o qual sonhava quando
acreditava que a vida era como um conto de fadas e que os obstáculos da
minha vida iriam desaparecer, quando um belo homem chegasse e me
resgatasse, me levando para um lugar onde só existia paz e amor. Contudo, a
realidade foi bem diferente e aqui estou eu, uma sobrevivente em meio a um
mundo que sempre foi rodeado de sangue, traições, ambição e crueldade.
Entretanto, o destino me deu dois caminhos a seguir, poderia passar o resto
da minha vida reclamando ou continuar seguindo em frente.
Levei uma de minhas mãos até a minha barriga que estava à mostra, e
hoje eu digo com toda certeza que Mia Santoro, passaria por tudo
novamente, pois maior que toda dor e a tristeza que senti. É o amor que não
tem tamanho, é o sentimento grandioso e inexplicável que sinto pelo meu
filho, se fosse possível passar uma borracha para apagar o meu passado eu
estaria abrindo mão dele. E isso jamais irei fazer.
Tirei a calcinha e comecei a caminhar em direção à escada e ao
descer dois degraus, Lorenzo me pegou pela cintura.
— Não me solte que não sei nadar.
— Você sabe que pelo resto da sua vida sempre estará nas mãos do
mafioso. Então jamais irei soltá-la.
Senti até um calafrio ao ouvir suas palavras. Com seu corpo colado
no meu, ele inclinou a cabeça e seus lábios tocaram a minha pele. Lorenzo,
começou a beijar a curva de meu pescoço, subindo para minha boca e em
seguida tomou-a no beijo quente e delicioso. Senti o primeiro toque quente
da língua dele e ofereci a minha como resposta. Sua boca se moveu sobre a
minha, uma de suas mãos deixou a minha cintura e imediatamente afastei
minhas pernas em um convite despudorado. Enquanto o homem estava
praticamente me fodendo com a boca em um beijo que me deixou
enlouquecida, começou a explorar a minha boceta com seus dedos vorazes.
Gemidos abafados pela boca dele saíram do fundo da minha garganta e só
ficaram piores quando ele enfiou dois dedos dentro da minha intimidade. Ele
afastou a boca da minha por alguns segundos e seus olhos encontraram os
meus.
— Tão molhadinha e quente.
Ele começou com movimentos lentos e torturantes. Comecei a mover
os quadris na tentativa que ele me invadisse mais fundo e rápido. Seu olhar
continuava fixo nos meus, brilhando de desejo, mas o safado estava disposto
a me torturar.
— Por favor — comecei a implorar.
Como resposta, ele puxou lentamente os seus dedos me causando uma
sensação de vazio. Quando minha boca voltou a se abrir foi para soltar um
ruído, assim que ele me suspendeu e começou a caminhar comigo até ficar à
lateral da piscina, me fazendo sentir o contato da minha pele tocando a
cerâmica. Com as pernas em volta da sua cintura, dessa vez não foi aqueles
dedos diabólicos que me invadiram e sim o seu membro grosso,
orgulhosamente ereto, que eu esperava ansiosamente que me invadisse. Ao
contrário de minutos atrás, seus movimentos eram rápidos, profundos me
arrancando ruídos de arrebatamento. Preenchendo-me com força, chegando
fundo. Seu pênis entrando e saindo do meu sexo enquanto ele devorava os
meus seios, que se tornaram um grande alvo da sua boca insaciável. Minha
boceta pulsava em torno do seu pau e ele aumentou o ritmo da sua invasão.
Eu não iria aguentar por muito tempo, pois uma sensação de êxtase
que estava se aproximando, tomou conta de mim. Lorenzo parecia que tinha
perdido o controle e começou a xingar repetidamente.
— Caralho!
— Sua safada é disso que você gosta.
Segurou ainda mais firme minha cintura, aprofundando o contato da
sua posse. Uma sequência de estocadas foram dadas contra minha carne
pulsante e meu corpo todo começou a estremecer. Os olhos deles ficaram em
chamas e quando minha intimidade começou a latejar freneticamente, rugindo
como um animal ele se libertou, alcançando o limite do prazer.
Encostei minha cabeça no seu peito, ouvindo as fortes batidas do seu
coração. Nada na vida acontece por acaso e já estava escrito que eu
acabaria caindo nas mãos do mafioso.
Epílogo
Uma semana depois...
MIA
L ágrimas rolavam pela minha face entristecida. Dei uma última olhada em
volta do lugar o qual vivi dias inesquecíveis. Meu coração estava apertado,
mas sabia que não haveria outra solução.
No fundo, estava morrendo de medo que ao voltar para casa, tudo
voltasse a ser como antes. Que o sonho se tornasse um terrível pesadelo e
mais uma vez não seria quebrado só o meu corpo, mas a dor chegaria até a
minha alma.
— Vamos!
Lorenzo falou e avistei sua expressão fechada. Era difícil conviver
com alguém que tinha tantos demônios ao seu redor, mas eu sabia que ele
estava lutando para controlá-los.
Respirei fundo e caminhei em direção ao carro.
Horas depois...
— Acorda, Mia!
Meus olhos se abriram diante daquele comando. Eu
estava desorientada ao constatar que havia perdido a noção do tempo e do
espaço, pois desde o instante que entrei no avião acabei caindo em um sono
profundo, não me lembro do momento em que ele me tirou de dentro da
aeronave e muito menos que já estávamos na mansão.
Saí do veículo segurando a mão dele, andamos juntos para dentro da
casa. Assim que a porta foi aberta a voz das três pessoas que estavam na
sala ressoaram no ar.
— Bem-vindos.
A minha sogra logo veio me abraçar e começou a dizer que eu estava
bem gordinha. Mas a minha atenção se voltou para o casal que estava de
mãos dadas, porém, o meu alvo era o homem à minha frente. Era a primeira
vez que olhava Pietro, após descobrir que ele era o meu irmão. Um segredo
que jamais será revelado, mas mesmo assim sentia uma grande alegria por
saber que no meio desse jogo sujo, ele cresceu cercado de muito amor.
Fui tirada do meu estado de devaneio quando ele começou a falar, no
entanto, logo foi interrompido por Lorenzo, que parecia ser algum vidente.
— Eu tenho um comunicado a faz...
— Que vocês dois vão se casar.
— A mamma te contou? — perguntou meu irmão.
— Não precisa ser nenhum vidente para saber que isso logo iria
acontecer. Se Antonella, colocou na cabeça que gostava de mim e não de
você foi por culpa da mãe dela e de Graziela Santoro.
— Lorenzo! — minha sogra tinha uma expressão fechada.
— Não falei nenhuma mentira. Agora vamos que estou faminto e Mia
precisa comer no horário certo.
Como ninguém é louco de contrariar o demônio, ainda mais depois
de ele proferir que estava com fome, seguimos todos para mesa de refeição.
Depois do jantar acabei vindo para o nosso quarto, estava cansada e nem
parecia que havia dormido a viagem toda. Agora estou deitada com um livro
em minhas mãos enquanto Lorenzo está tomando banho, embora tenha
passado momentos maravilhosos ao seu lado tudo ainda está muito confuso
em minha cabeça. Eu sinto o meu corpo todo em chamas a cada toque dele,
uma atração carnal que é fatal. No entanto, ainda existe uma grande ferida
dentro do meu peito e não sei se algum dia vai cicatrizar.
Afasto os pensamentos devido ao barulho da porta e meu olhar ficou
fixo no homem que estava com uma toalha em volta da cintura. Uma
verdadeira perdição, se vou passar o resto dos meus dias ao seu lado, vou
aproveitar cada momento bom que ele possa me proporcionar e o sexo se
tornou o melhor deles. Nem tive tempo de pensar em mais nada quando ele
puxou a toalha, a minha boca salivou, o homem avançou em cima de mim e
instantes depois sua boca já estava tomando posse da minha. A única certeza
que tenho nesse momento que hoje à noite será muito longa.

Alguns dias depois...


— Tem certeza? — O som da voz de Lorenzo preencheu todo o
ambiente. Eu não conseguia acreditar no que estava vendo e assim como a
minha sogra que segurava as minhas e já estava com os olhos cheios de
lágrimas. Eu comecei a chorar de felicidade quando a voz da mulher que
estava ao lado do Dr. Salvatore anunciou a novidade.
— Tenho sim. Quando foi feita o primeiro ultrassom, só constou que
tinha um saco gestacional. Agora dá para ver claramente mais três bolinhas
que já estão bem desenvolvidas, assim como o som que não é só de um
coraçãozinho batendo e sim de quatro.
Uma explosão de sentimentos tomou conta de mim. O médico se
afastou e estava conversando com Lorenzo, que parecia nervoso e
certamente era porque o demônio que me fez acreditar naquela
monstruosidade. Agora viu as coisas se reverterem e terá quatro filhos de
uma vez. Um sorriso surgiu no meu rosto.
— Mia, você ficou pensativa de repente.
— Eu estou muito feliz e só estava imaginando uma coisa.

Meses depois...
Feliz e com o coração transbordando de muito amor. Os meses se
passaram e cada um deles eu vi o meu corpo se modificando mais a cada
fase que estava passando, palavras não são capazes de explicar todos os
sentimentos e sensações que tomaram conta de mim. Ainda lembro de
quando cheguei com dona Graziela, depois do último ultrassom onde
descobri o sexo dos bebês. Quando a mulher começou a falar, Lorenzo ficou
paralisado assim que ouviu que seria pai de três meninas.

LORENZO
Daqui alguns dias, chegará o grande momento. Meses que as
palavras ditas por Salvatore, ainda estão martelando dentro da minha
cabeça. Segundo ele com a gravidez de quádruplos agora tudo deveria ser
mais cauteloso, até porque corríamos o risco do aneurisma se romper logo
após o parto. Tive que vim com Pietro, resolver alguns assuntos já que ele
chegou de viagem ontem com Antonella.
Um casamento que foi celebrado por todos da nossa organização.
Acabando assim com os planos do ambicioso do pai dela, que já estava
prestes a entregar a filha para um homem que tinha idade para ser o seu pai.
— Lorenzo!
Meus pensamentos foram afastados ao escutar a voz do meu irmão.
— Seu celular.
Estava tão perdido em meio as lembranças que não ouvir tocar, já
tinha várias ligações perdidas. No instante que olhei o nome de mamma
retornei de imediato a ligação.
— Lorenzo estou há tempos te ligando. Mia, sentiu fortes dores e
viemos para o hospital. Os bebês já estão nascend...
Eu nem deixei que ela terminasse de falar, saí feito um raio na
direção do carro. Meu sangue já estava fervendo, o ódio me dominou e se
não fosse por Pietro, tinha estourado os miolos dos infelizes que decidiram
sair de casa justamente no momento que eu precisava chegar ao hospital
rapidamente. O veículo mal parou, saí praticamente correndo, minutos
depois quando entrei na sala, foi justamente quando estavam retirando a
última criança. Ouvir o som do choro deles ressoando entre os quatro cantos
da sala, fez algo inexplicável pairar sobre mim, porém, o que veio em
seguida afastou toda sensação de êxtase que estava sentindo e deu lugar ao
desespero, quando um grito ensurdecedor tomou conta do espaço e os
aparelhos dispararam. O barulho de vários bips ressoaram e a minha esposa
começou a tremer até que seus olhos se fecharam.
— Miaaaa.
Dois meses depois...
MIA
Meus olhos estão fixos em direção a porta. Dois meses se passaram e
foi como se eu tivesse renascido novamente. Quando senti aquela dor
terrível e minha visão começou a ficar turva, tudo que eu lembrava era o som
mais lindo que ouvi na vida. Segundo o Dr. Salvatore por alguns minutos
eles acharam que eu não fosse resistir, mas parecia algo surreal, pois senti
quando a minha alma deixou o meu corpo e conseguia ver todos eles lutando
para me trazer de volta. Eu senti uma paz tão grande quando uma claridade
surgiu à minha frente, porém, havia algo mais forte que me incitou a voltar
para dentro do meu próprio corpo. Os meus filhos, são os meus maiores
tesouros e não poderia deixá-los. Nada que já havia sentido se comparou
com a emoção de tê-los em meus braços a primeira vez e poder olhar cada
rostinho dos meus bebês. Uma semana depois voltei pra casa e foram dias de
muita felicidade, mas ontem quando olhei o jornal e vi a notícia de uma
mulher que foi atropelada em Nova York, no instante que olhei a imagem do
rosto de Soraya acabei sendo envolvida pela escuridão.
— Mia!
Minha atenção se voltou para porta assim que Lorenzo e minha
sogra entraram com os meus filhos. Eu já estava morrendo de saudades.
Graziela me entregou Vitor, já que Ana e Tereza estavam dormindo e a
pequena Alice se encontrava nos braços do pai.
Fiquei olhando a cena à minha frente. O homem que por pouco não
me quebrou em mil pedaços, me deu o maior tesouro da minha vida. O
homem que jamais disse eu te amo assim como eu nunca falei. Eu acreditava
que ele não conhecia o amor, porém, a minha maior felicidade é ver o quanto
os seus olhos brilham quando são direcionados para os nossos filhos.
Dizem que o amor verdadeiro não aparece, se constrói. Quem sabe algum
dia essas palavras serão confidenciadas, mas até que isso aconteça, teremos
uma longa jornada, porque o amor é uma semente que deve ser regada e
cuidada todos os dias.

Fim.
Table of Contents
Dedicatória
Prólogo
Capítulo 01
Capítulo 02
Capítulo 03
"Bônus 01"
Capítulo 04
Capítulo 05
Capítulo 06
Capítulo 07
Capítulo 08
Capítulo 09
Capítulo 10
Capítulo 11
"Bônus 02"
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
"Bônus 03"
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40
Capítulo 41
Capítulo 42
Capítulo 43
Capítulo 44
Capítulo 45
Capítulo 46
Capítulo 47
"Bônus 04"
Penúltimo Capítulo
Último Capítulo
Epílogo

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