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Copyright 2023 Karen Trujillo

Todos os direitos reservados.

Os personagens e eventos retratados neste livro são fictícios. Conteúdo


recomendado para maiores de 18 anos, contém cenas de sexo e uso de
linguagem coloquial e palavras infantilizadas destacadas em itálico em
algumas situações na história, visando se aproximar da vida real. Qualquer
semelhança com pessoas, local, data e acontecimento, é mera coincidência.
Nenhuma parte deste livro pode ser reproduzida, ou armazenada em um
sistema de recuperação, ou transmitida de qualquer forma ou por qualquer
meio, eletrônica, mecânica, fotocópia, gravação ou não, sem permissão
expressa por escrito do editor.
A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na lei nº 9.610/98
e punido pelo artigo 184 do Código Penal.

Revisão: Patrícia Suellen


Capa e Diagramação: Karen Trujillo
Ilustrações, capa e avatares: Midjourney

Matteo – No limiar da destruição


KAREN TRUJILLO
1ª Edição – 2023
SUMÁRIO
NOTA DA REVISORA
NOTA DA AUTORA
EPÍGRAFE
DEDICATÓRIA
ILUSTRAÇÃO
PRÓLOGO
CAPÍTULO 1
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 3
CAPÍTULO 4
CAPÍTULO 5
CAPÍTULO 6
CAPÍTULO 7
CAPÍTULO 8
CAPÍTULO 9
CAPÍTULO 10
CAPÍTULO 11
CAPÍTULO 12
CAPÍTULO 13
CAPÍTULO 14
CAPÍTULO 15
CAPÍTULO 16
CAPÍTULO 17
CAPÍTULO 18
CAPÍTULO 19
CAPÍTULO 20
CAPÍTULO 21
CAPÍTULO 22
CAPÍTULO 23
CAPÍTULO 24
CAPÍTULO 25
CAPÍTULO 26
CAPÍTULO 27
CAPÍTULO 28
CAPÍTULO 29
CAPÍTULO 30
CAPÍTULO 31
CAPÍTULO 32
CAPÍTULO 33
CAPÍTULO 34
CAPÍTULO 35
CAPÍTULO 36
CAPÍTULO 37
CAPÍTULO 38
CAPÍTULO 39
CAPÍTULO 40
CAPÍTULO 42
CAPÍTULO 43
CAPÍTULO 44
EPÍLOGO
BÔNUS
EI, LEITOR!
OUTRAS OBRAS
O texto a seguir foi revisado conforme as novas Regras Ortográficas,
entretanto, com o intuito de deixar a leitura mais leve e fluida, a revisão pode
sofrer alterações e apresentar linguagem informal em vários momentos,
especialmente nos diálogos, para que estes se aproximem da nossa
comunicação comum do dia a dia.
Alguns termos, gírias, expressões podem ser encontrados bem como
objetos que não estão em conformidade com a Gramática Normativa.
Quando comecei a escrever Matteo – No limiar da destruição, não tinha
magnitude de como sua história se desenvolveria e como os personagens
tomariam frente perante tudo o que lhes aconteceram.
Chiara é o típico de mocinha que adoro escrever, é forte e resiliente com
tudo que precisou passar em sua vida, mas mesmo assim, ela como um ser
humano normal, erra e age precipitadamente, por isso, caso queiram matá-la
no meio do percurso, tenham empatia com nossa ragazza, e dêem uma
chance de finalizar sua história.
O mesmo para Matteo, que apesar de um mafioso inescrupuloso, possui
um grande coração, mas também se magoa com a atitude daqueles que são
importantes para si.
Outro ponto importante, esse livro apesar de ser uma história com o
objetivo de entreter os leitores, possui alguns gatilhos que podem atingir
algum lado sensível que tenha, por isso, saiba reconhecer seus limites.
Essa história, contém gatilhos como: morte, violência física e
psicológica, tortura, desmembramento, estupro, aborto, uso de drogas lícitas,
ilícitas e armas de fogo, como também tráfico de drogas e armas, além de
cenas gráficas de sexo explícito.
No entanto, como todos os meus outros livros, espero que apesar de
toda a montanha russa de sensações que sentirá, finalize-o com o coração
quentinho e apaixonada pelo meu mafioso e sua oncinha.
Preparei tudo com muito carinho, cada cena, cada ilustração e detalhe e
espero que se apaixonem por tudo, assim como eu.
Desde já agradeço a todos que resolveram tirar um tempinho para os
conhecer e ficarei muito feliz de surtar junto com vocês, podem me chamar
no direct do Instagram que irei adorar (@katrujillo_escritora).
Desejo a todos uma excelente leitura e preparem o coração!
Beijos e até o final da história.
“Dizem que o tempo cura todas as feridas, mas quanto maior é a perda mais
profundo é o corte. E mais difícil é o processo para ficar inteiro novamente.
A dor pode desaparecer, mas as cicatrizes servem como lembrete do
sofrimento.
E o deixam preparado, para nunca mais ser ferido.”
Niklaus Mikaelson, The Originals
Dedico a todos aqueles um dia julgaram ou foram julgados precipitadamente,
mas foram humildes em reconhecer os seus erros e os corrigir.
4 ANOS ATRÁS
Há quem diga que mafiosos são ricos e possuem uma boa vida
financeira.
Sentia muito por esses desinformados, mas não era o que pensava a
respeito. Não quando seu pai se viciou no produto que vendia para a maldita
família Lucchese, que governava a máfia Cosa Nostra e dominava grande
parte da Itália. Obviamente, eles não tinham esse conhecimento desde que
meu pai pagasse o que era devido, tampouco sabiam se a carga que Davide
Caruso, mais conhecido como meu pai, pegava deles era apenas para venda
ou também para uso próprio.
Mas nós sabíamos e não era nada interessante o que essa merda fazia
com a nossa vida.
Tínhamos uma boa vida, antes de ele entrar para o mundo dos vícios,
antes disso até éramos considerados como uma família normal da máfia. Meu
pai era um dos soldados do capo, Salvatore Lucchese, ele tinha uma boa
convivência com cada um deles, estava até sendo cogitado para se tornar um
caporegime, caso continuasse tendo um bom desempenho com suas
atividades.
No entanto, com o tempo as coisas começaram a desandar,
principalmente dentro de casa, com as cobranças insistentes de minha mãe
sempre por mais. A verdade era que ela nunca se sentia satisfeita com o que
tínhamos, a ambição dela sempre foi seu grande problema e como se não
bastasse, ela começou a cogitar a possibilidade de me apresentar ao futuro
Don, para um casamento arranjado com seu filho, Matteo Lucchese.
Tinha apenas oito anos na época e meu pai não concordou com essa
opção, pois, segundo ele, minha mãe não pensava em mim como filha,
apenas queria dar o golpe na grande fortuna da famiglia e apesar de fazerem
parte da máfia, meu pai não queria que eu passasse a ter um alvo nas costas.
Não era o que queria para mim.
Meu pai sempre foi o único que demonstrava afeto por mim, já minha
mãe me enxergava apenas como a galinha dos ovos de ouro, que no momento
certo lhe daria o grande retorno esperado. Tinha medo de seus planos para
mim.
Com o passar do tempo, o convívio entre eles era tão desgastante e as
brigas pareciam tão corriqueiras, que meu pai começou a beber mais do que
deveria e certo dia resolveu experimentar a maldita cocaína que seu capo
vendia. Depois disso, não ficava difícil imaginar o que aconteceu, meu pai
virou um viciado.
Consequentemente, seu trabalho foi afetado e aquele cargo que tanto
almejava, já não importava o bastante. Assim como colocar comida dentro de
casa, na verdade, isso virou luxo. Pois para pagar seus vícios, ele passou a
vender tudo que tinha dentro de casa e daí foi só ladeira abaixo.
Por esse motivo, me encontrava nesse momento junto de meu primo e
fiel companheiro, Leonardo Caruso, indo até a feira da madrugada da Sicília
para tentar resgatar alguns alimentos que sempre eram descartados, para
termos o que comer nesse dia. Minha irmã, Genevive, tinha apenas quatro
anos e chorava com fome, minha mãe andava mais estressada do que o
costume, enquanto meu pai para variar tinha desaparecido, esperava que
voltasse vivo para casa, apesar de tudo.
— Tenho um pouco de dinheiro que sobrou da minha mesada, não
precisa procurar nada no lixo dessa vez — meu primo comentou, quando nos
aproximávamos de uma viela estreita e vazia. Para ser sincera, não gostava de
passar por ali, ainda mais sozinha, mas adiantava bem o caminho, por isso,
como Leonardo se encontrava ao meu lado, não vi problemas.
— Não se preocupe com isso, não quero que fique gastando sua mesada
conosco.
— Pare de falar asneira, cazzo![1] Sei que se fosse comigo, faria o
mesmo. Não tem discussão!
Bufei resignada, sabendo que não conseguiria vencer essa briga. Meu
primo era tão teimoso quanto eu, ou até mais, caso isso fosse possível.
— Vá bene![2] Mas assim que conseguir te devolvo... — Pelo menos
essa era a intenção, mas, infelizmente, ele sabia que não seria tão fácil
cumprir essa promessa. — E você poderia... hum...
— Não falarei nada para sua mãe. Não se preocupe, mia ragazza[3].
Esse era o nosso nível de amizade, eu nem precisava completar a frase,
pois ele já sabia o que eu queria dizer.
Meu primo que já estava completando a maioridade, se sentia animado
para dar início ao seu cargo como soldado em breve, meu tio, que era um dos
caporegimes, tinha conseguido uma oportunidade para que entrasse para a
máfia e ele se sentia eufórico cada vez mais com essa ideia. Sentiria sua falta,
pois ele e minha irmã eram as minhas únicas fontes de distração.
— Cazzo! Há alguns soldados da máfia à frente, vamos continuar o
caminho, senão chamaremos ainda mais atenção e torcer para que eles nos
deixem passar sem mais problemas.
Olhei em direção de onde Leonardo indicou e vi os homens bem-
vestidos, muito parecidos com um policial da Sicília, o que os diferenciavam,
era o emblema redondo branco em frente à sua roupa, com CN, indicando
serem da Cosa Nostra.
Já tinha ouvido falar muito sobre alguns soldados corruptos, que
extorquiam e abusavam de mulheres quando se encontravam sozinhas, então
torcia em meu interior para que não fosse o caso deles. Pois a grande maioria
protegia todas as famílias da máfia e esperava que desempenhassem esse
papel.
Senti o ar faltar em meus pulmões com a possibilidade de ter ainda mais
problemas. Respirei fundo, tentando tranquilizar meu interior e segui meu
caminho, nos aproximando cada vez mais dos três homens que se
encontravam ali já nos observando com maus olhos.
— Ora, ora, ora. O que temos aqui? — um deles falou. Ele era alto e
tinha tanta maldade em seu olhar, que senti um arrepio subir pela minha
espinha. Infelizmente, meu alerta de que aquele fazia parte dos corruptos, se
acendeu e nunca desejei tanto ter me equivocado.
— Não queremos problemas, senhor! — Leonardo falou, se colocando à
minha frente e me empurrando para seguir adiante. Porém, fui interceptada
pelo outro soldado, fechando completamente nossa passagem. Engoli em
seco, mas fazendo o possível para não demonstrar minha aflição.
Meu pai sempre dizia que o segredo era nunca demonstrar nossas
fraquezas, por mais que estivéssemos morrendo de medo.
— Que pena, adoro um problema... — o mais alto disse, olhando em
minha direção, perpassando seu olhar cheio de malícias pelo meu corpo,
fazendo com que me sentisse nua, mesmo que estivesse bem coberta, graças a
calça jeans larga e a camiseta manga longa preta que cobria meus seios
medianos.
Por instinto de proteção, coloquei meu antebraço sobre eles, tentando
me cobrir o máximo que conseguisse do olhar asqueroso que emanava
daquele soldado. Ele deu alguns passos em minha direção, e o medo voltou
com afinco para me dominar.
— Abaixe o braço, ragazza! — Porém, não abaixei. Algo me dizia que
deveria me manter protegida pelo meu bem. — Você está surda? Cazzo! —
gritou, com o rosto próximo ao meu e meu primo deu um passo à frente,
empurrando-o, sem medir as consequências de seus atos.
Ele cambaleou para trás por ter sido surpreendido e soltou uma
gargalhada asquerosa, olhou para seus comparsas que entenderam no mesmo
instante o que queria e foram por trás de meu primo, seguraram seus braços
com força, impedindo que Leonardo conseguisse sair.
Foi então que o maldito soldado que ainda se encontrava ao meu lado,
se aproximou de meu primo num rompante e desferiu com força um soco em
seu estômago, tirando-lhe o ar no mesmo instante.
Gritei com o susto, colocando a mão sobre minha boca e tentei correr
em sua direção para lhe ajudar, mas dois braços robustos me seguraram com
força me impedindo de seguir adiante.
— Me solte, seu covarde. Ele não fez nada para fazer isso — gritei, me
debatendo em seus braços.
— É das rebeldes que gosto! — o asqueroso disse, adentrando seu nariz
em meus cabelos loiros-claros e me apertando ainda mais sobre seu corpo. —
Isso me deixa tão excitado, que se soubesse teria se comportado de maneira
adequada para que nada lhe acontecesse.
— Solta ela, seu desgraçado! — gritou Leonardo. Tentando se
desvencilhar dos braços dos outros soldados que ria das atrocidades que seu
parceiro dizia. — Juro que te mato se você encostar um dedo nela!
— Adoro um desafio. — Ele fez um barulho irritante com a língua e
continuou. — Já tinha boas intenções quando coloquei meus olhos nessa
gracinha, mas agora você me estimulou ainda mais.
Nesse momento, senti meu coração disparar e o sangue que corria pelas
minhas veias gelou com a mera possibilidade de suas palavras se tornarem
reais. Um dos soldados amarrou um tecido na boca de meu primo que o
impedia de chamar a atenção de outras pessoas.
Enquanto o que me segurava me empurrou com brusquidão até a parede
da viela e imprensou seu antebraço em meu pescoço, deixando com que o ar
me faltasse e, por consequência, me impedia de gritar.
— Você vai se comportar direitinho, senão será pior para você,
entendeu, ragazza? — Ele acariciou meu rosto com seu dedo indicador e
tentei me afastar, empurrando-o para longe, mas não tinha a força necessária
para tal ação. Ele me puxou e voltou a bater com mais força meu corpo na
parede, fazendo com que sentisse o impacto da pancada na parte de trás de
minha cabeça, me deixando atordoada por um instante. — Você não tá
ouvindo o que tô falando, porra?
Foi nesse momento que percebi que tentar lutar de fato seria pior, minha
esperança de conseguir fugir era maior, mas percebi que caso quisesse sair
com vida da situação que me encontrava, teria que obedecê-lo. E foi o que
fiz, fiquei quieta e deixei que fizesse todas as suas vontades comigo.
Senti seus dedos ásperos descer pela minha jugular, seguindo pelo meio
da minha camiseta e antes que eu percebesse o que faria, a rasgou num único
golpe, expondo meus seios dentro de meu sutiã rosa-claro, o medo junto do ar
frio da madrugada fez com que minha pele se arrepiasse e isso pareceu
agradá-lo ainda mais.
Num único rompante, senti a peça ser jogada longe e as lágrimas
começaram a cair de meus olhos, mesmo que tentasse segurá-las. Antes que
pudesse me preparar, senti sua boca abocanhar meus mamilos, enquanto meu
primo continuava lutando para se soltar dos dois soldados que o seguravam
com força.
Suas mãos desceram até minha calça e a puxou com força, ouvindo
apenas o botão que a fechava cair no chão, fechei os olhos com força,
prevendo o que aconteceria a seguir.
Tinha apenas quatorze anos e ainda era virgem, sempre sonhei em
seguir as regras exigidas pelas famílias da máfia e guardar minha virgindade
para o dia de meu casamento. Não sabia muito sobre o que aconteceria na lua
de mel, mas tinha uma ideia pelo que tinha ouvido algumas amigas na escola
comentar.
Não queria continuar enxergando o horror estampado nos olhos de
Leonardo, nem a maldade nos olhos desse soldado, muito menos a diversão
no rosto daqueles que seguravam meu primo. Por isso, continuei de olhos
fechados quando ele me empurrou de joelhos para o chão e gritou:
— Abre a porra do olho, garota! Quero que você olhe bem dentro dos
meus olhos enquanto me chupa, desgraçada.
O horror tomou conta de mim nesse momento e as lágrimas começaram
a cair convulsivamente, enquanto balançava a cabeça de um lado para o
outro, me negando a fazer o que me mandava.
Ouvia os gritos contidos de Leonardo, que ainda tinha a boca tampada e
os olhos furiosos em sua direção.
— Quando mais você se debater, mais vou descontar nela, não percebeu
ainda que só tá prejudicando sua namoradinha?
Olhei em direção ao meu primo e quando seus olhos furiosos
encontraram os meus, pedi para que ficasse quieto, que estava tudo bem,
mesmo que não estivesse e apesar de não ter proferido nenhuma palavra, ele
pareceu entender meu pedido e apesar de ainda consternado, ficou quieto,
mesmo que sua respiração mostrasse que não passava de uma fachada.
Tive meu rosto virado para a frente com brusquidão.
— Olhe para mim, cadela! — rosnou o soldado, enquanto desafivelava
seu cinto, abriu seu zíper e tirou seu pau ereto para fora da cueca. — Você vai
me chupar com essa boquinha gostosa que parece ter e se ousar pensar em me
morder, vou fazer você encontrar com seu pai num piscar de olhos.
Não tive tempo de assimilar suas palavras, quando pegou minha nuca e
levou até seu pau sujo, que fedia a urina em minha boca, as lágrimas
escorriam ainda mais de meus olhos e perdi a conta das vezes que cheguei a
engasgar com a brusquidão que metia no fundo de minha boca.
Depois do que pareceu uma eternidade o desgraçado gozou em minha
boca.
— Engole, desgraçada! — Mas não consegui fazer o que me mandava,
a ânsia subiu com força pela minha garganta, quase me fazendo vomitar, ele
puxou meu cabelo com força para trás e senti quando desferiu um murro em
meu maxilar, fazendo com que caísse para trás com a pancada, me deixando
completamente atordoada. — Quando eu mandar engolir, você engole, porra!
Agora levanta, que ainda não acabei com você.
Juro que roguei aos céus nesse momento para que me levasse embora,
pois era a única coisa que aliviaria a tristeza iminente que envolvia meu
coração.
Tentei me levantar, não conseguindo sentir a força necessária devido à
pancada recente que recebi na cabeça, mas meu cérebro foi comandando meu
corpo e apesar da dificuldade, consegui me levantar.
Antes que percebesse, senti minhas costas coladas com seu corpo forte,
de frente para meu primo.
— Olha como sou legal? Vou deixar você se divertir com a imagem
dela, enquanto a fodo bem gostoso. — Senti seus dedos descerem e
começando a mexer em minha intimidade com brusquidão, e quando
começou a penetrar em mim, chegando a sentir uma dor descomunal em meu
hímen, seu celular começou a tocar disparado.
Ele soltou minhas partes doloridas por um instante, alcançou seu
aparelho e grunhiu irritado.
— Cazzo! Fique quietinha, senão será pior para você... — De toda
maneira ele não confiou em mim, quando tampou minha boca com a outra
mão e atendeu sua ligação. — Sim, senhor Ferrari? Claro, em dez minutos
estaremos lá.
Reconheci com quem falava no mesmo instante e senti um alívio me
envolver, com a possibilidade de que meu salvador tenha sido o subchefe,
mesmo que ele não soubesse nada sobre o que acontecia no momento.
Assim que desligou, fui lançada no chão com brusquidão, como se não
passasse de um objeto descartável, e ele começou a arrumar sua calça,
olhando em direção dos outros guardas.
— Temos que ir, Marco exigiu que cheguemos o mais rápido possível
em uma das entregas prevista para agora, parece que houve algum problema e
somos os que estamos mais próximos. — Ele abaixou seus olhos cheios de
malícia em minha direção, abriu aquele sorriso horripilante, enquanto eu
tentava esconder o que restava da minha dignidade com os braços, e fechava
o máximo de que podia das minhas pernas, que ainda tinham as calças
abaixadas até as minhas coxas. — Até breve, ragazza.
Ouvi o baque do corpo do meu primo ser arremessado no chão, depois
de desferirem alguns socos em seu estômago. Deixaram-nos prostrados no
chão, enquanto se afastavam rindo, como se nada tivesse acontecido e não
tivessem acabado de destruir a ingenuidade que um dia tive.
Meu primo me envolveu em sua blusa de moletom e senti seus braços
me abraçarem, tentando acalmar toda a tristeza que me envolvia. Ficamos
abraçados sabe-se lá por quanto tempo naquele beco, quando o dia começava
a amanhecer e sabia que tinha que terminar minhas obrigações se não
quisesse que piorasse ainda mais o meu dia quando chegasse em casa, caso
isso ainda fosse possível.
— Temos que ir — forcei-me a dizer. — Se chegar em casa sem os
legumes, sabe que minha mãe vai me matar.
— Você não tá em condições de fazer feira depois de tudo que te
aconteceu, ficou maluca?
— Não tenho tempo para refletir sobre todas as merdas que ele fez
comigo, tenho apenas que levar os legumes, senão minha mãe vai ficar
furiosa comigo. — Respirei fundo e continuei a falar. — Quando terminar
minhas obrigações, terei tempo para colocar minha cabeça no lugar.
Ele suspirou frustrado e me levantei com a ajuda de sua mão estendida.
Leonardo me ajudou a comprar todas as coisas que precisava para o
almoço e quando nos aproximávamos da rua de casa, sabendo o quanto me
sentia angustiada, ele colocou nossas sacolas no chão e me deu um abraço
apertado e foi onde permiti que toda a merda que me acometia saísse num
choro sufocado. Não ficamos dessa maneira por mais de dez minutos e
quando me recompus, enxuguei todas as lágrimas de meu rosto, me
obrigando a seguir para o próximo inferno que vivia, mais conhecida como
minha casa.
O que não esperava, era encontrar minha mãe com uma cinta em sua
mão, me aguardando quando deixava as sacolas na cozinha.
— Então, mando você ir à feira pegar comida e fica nos amassos com
Leonardo no meio da rua? É isso mesmo, sua ingrata? Sabe muito bem como
funcionam as coisas e ficar se engraçando com macho é inadmissível e eu
vou te ensinar a nunca mais se esquecer disso agora!
Retirava o que disse, era possível piorar meu dia e as muitas marcas no
meu corpo, não deixavam dúvidas para isso.
Dezoito anos!
Não sei se fiquei feliz ou entristecida por ter chegado à data de 10 de
abril e, assim, completado a maioridade.
Uma parte de mim se sentia satisfeita que caso eu decidisse, poderia
pegar minhas coisas, arranjar um trabalho ou me casar com Vitto, meu
namorado – mesmo que não tivéssemos assumidos –, e seguir minha vida
longe dessa família de merda que era a minha.
Infelizmente, nem tudo eram flores e a minha vida se parecia mais
como um dia eternamente chuvoso, com muitas tempestades. Torcia para que
o sol entrasse em meu caminho e trouxesse um pouco de luz e calmaria. Mas,
isso parecia cada vez mais distante de se concretizar para ser sincera, perdia
cada vez mais a esperança de que isso viesse a acontecer algum dia.
A parte que me deixava em completo desespero de completar a tão
sonhada idade, pelo menos para a maioria dos adolescentes normais, era
saber o que me aguardava daqui para frente: a vingança.
Eu era a esperança que minha mãe tinha para finalmente dar início à sua
vingança contra família Lucchese, que não eram nada mais nada menos, do
que a maior máfia dos Estados Unidos e Itália, conhecida como Cosa Nostra,
comandada atualmente por Matteo Lucchese, nosso capo ou Don como
costumava ser chamado. E o que você tinha a ver com a pior máfia que
existia, Chiara?
Simples, minha mãe queria me usar como moeda de barganha e me
arranjar um casamento com o próprio Don.
Claro que ela já tinha tentado, por meio de meu padrasto – alguém que
odiava com todas as minhas forças –, arranjar um acordo de casamento para
nós dois. Mas, ao que parecia, seu pai, Salvatore Lucchese, que na época
ainda era o Don responsável, tinha permitido que seu filho escolhesse alguém
de seu interesse para o casamento, claro, desde que estivesse dentro das
exigências estipuladas pela máfia. Por esse motivo, não o forçaria a nada.
No entanto, caso ele não encontrasse ninguém que despertasse seu
coração gelado, até completar trinta anos, Matteo não teria mais seu poder de
escolha e teria que se casar com Elisa Moretti, pois até onde tínhamos
conhecimento, todos os líderes da máfia não aceitariam que continuasse
sendo o solteiro irresponsável que era.
Não que ele fosse irresponsável com suas obrigações como Don, muito
pelo contrário, Matteo Lucchese conseguiu conquistar a confiança de todos
ou o medo, por assim dizer, em menor tempo que seu próprio pai, com sua
frieza descomunal, suas táticas mirabolantes de tortura e, também, com seu
feeling para expandir os negócios, além do tráfico de drogas, produção e
vendas de armas.
Pois é, o cara parecia uma máquina para os negócios.
Por esse motivo, todo o conselho da máfia aceitou a sugestão de seu pai
para que aguardassem que ele completasse trinta anos. Entretanto, seu prazo
estava próximo do fim, como completaria essa idade dentro de três meses.
Enquanto isso, ele continuava curtindo sua vida com quem queria e da
maneira que desejava, sem se preocupar com o que pensavam ou falavam ao
seu respeito. Sinceramente, tinha minhas dúvidas se ele seguiria a exigência
de seu pai, caso não encontrasse alguém de seu interesse, ele não parecia
muito interessado em cumprir essa parte do acordo.
E torcia por isso em pensamento.
Eu o odiava, odiava sua família mesquinha, que se achavam superiores
a todos à sua volta e que tratavam todos os seus subordinados como se não
servissem para nada, além de os servir e protegê-los das merdas que eles
faziam. Sem contar as drogas que fabricavam e comercializavam, destruindo
milhares de famílias.
Meu sangue fervia todas as vezes que me recordava de que a minha
família foi destruída por culpa desses malditos e por esse motivo, às vezes, a
vingança que minha mãe tanto exigia de mim, fazia sentido, desde que
pudesse vingar meu pai pelo que lhe fizeram.
Olhava minha imagem no espelho, enquanto penteava meus cabelos
dourados, e me recordava do que esperavam de mim.
Fui preservada, ensinada como uma primeira-dama deveria se
comportar, todas as etiquetas necessárias para mostrar a boa educação que
tive, ser a submissa que o Don gostava, segundo minha mãe e meu padrasto.
Como eles sabiam dessa informação? Não tinha a menor ideia, mas era o que
esperavam que eu fizesse, fosse submissa à sua frente, mas esbanjasse
sensualidade para chamar sua atenção no baile das escolhidas. Isso não seria
problema para mim, segundo Irene.
Ela dizia que tinha o olhar de anjo e o corpo, assim como minha alma,
repleta de malícias. Portanto, com o rosto delicado, e o corpo com as curvas
nos lugares certos, seria o suficiente para despertar seu interesse.
Talvez fosse verdade e o fato de conseguir ser sensual com a minha
pouca experiência, talvez fosse por ter tido a minha ingenuidade tirada de
mim, antes do necessário.
O problema era o tamanho da repulsa que sentia por aquele homem.
Queria ele, como ansiava por uma mordida de um escorpião, ou seja, o mais
distante possível.
Por esse motivo, torcia com todas as minhas forças para que ele me
odiasse, não sentisse nenhum interesse, assim não seria culpa minha de não
conseguir seguir com os planos horripilantes de minha mãe.
Por outro lado, sabia que caso não desse certo, minha mãe tentaria jogar
minha irmã, Genevive, na cova dos leões, e ela não passava de uma criança
ainda, pelo menos para mim era como a enxergava, mesmo que já tivesse
com seus quatorze anos.
O fato do Don ter que escolher sua futura esposa dentro de três meses,
deixaria muito pouco para que desse certo algum plano que envolvesse minha
irmã. Entretanto, quando envolvia a ganância de vingança de Irene e
Federico, seu atual marido, sabia que aceitar que perdeu não era uma opção.
Nem que precisasse aceitar que se casasse com uma filha menor de idade,
eles permitiriam sem pestanejar, só conseguir o que queriam.
Suspirei frustrada, sabendo que não tinha muita opção, precisava
chamar a atenção de Don, para preservar a ingenuidade de minha irmã, até
mesmo de meu querido padrasto.
Por esse motivo, mesmo querendo seguir para o caminho contrário do
que me exigiam, tinha que obedecê-los e fingir que queria participar dessa
vingança tanto quanto eles.
Meu celular indicou o recebimento de uma mensagem e pelo seu visor,
percebi que era de Vitto e um sorriso sincero finalmente apontou em meus
lábios.
Nós estávamos juntos há um ano e eu o amava, mesmo que não pudesse
seguir com a vontade que tinha de fugir e me tornar sua por completo.
Vontade não faltava e ficava cada vez mais difícil, em nossos encontros
sorrateiros, manter minha calcinha em seu lugar. Mas a minha vida tinha um
propósito e não era ser feliz ao lado de Vitto, mas infeliz ao lado de Matteo,
conhecido também como o assassino de meu pai, lhe entregaria minha
virgindade e deixaria que fizesse de meu corpo seu objeto preferido diário.
Respirei fundo, tentando desvencilhar os pensamentos que tanto me
atormentavam e abri a mensagem que Vitto me encaminhou, desejando um
feliz aniversário e pedindo para que eu o encontrasse mais tarde. Mordi o
canto de meu lábio inferior, indecisa se conseguiria escapar de minha mãe,
mas eu tentaria e, por esse motivo, respondi que estaria no local e horário
combinado.
— Chiara! Perdeu a noção da hora, sua professora de piano a está
aguardando já tem horas — gritou minha mãe, enquanto esmurrava a porta.
Sabia que não passava de mentira, pois em nenhum momento a
campainha tocou, mas ela exigia que eu sempre estivesse já pronta na
banqueta e com os dedos aquecidos, quando a professora chegasse para a
minha aula. Expirei o ar de meus pulmões, tentando criar a calma que parecia
cada vez mais escassa dentro de mim e me levantei, olhei o vestido preto
recatado que vestia, junto do sapato de salto no mesmo tom, a maquiagem
bem-feita com um batom rosa-claro, assim como minha mãe exigia que
usasse, e meus cabelos soltos com leves ondas, com a franja jogada para o
lado esquerdo.
Olhei para saber se tudo estava no lugar certo e apesar de tudo parecer
perfeito, para mim, parecia completamente errado. Como se fosse outra
pessoa, alguém que não conhecia, mas que fazia o que me era exigido, pois
era o necessário.
Odiava minha mãe. Odiava meu padrasto. Odiava a merda de vida que
levava, mas amava minha irmã e era por ela que me submeteria a tudo que
me era exigido.
Respirei fundo mais uma vez, tentando encontrar um pouco de paz para
mais um longo dia e disse para mim mesma em frente ao espelho, antes de
descer tomar meu café da manhã e me preparar para a aula de piano:
— Feliz aniversário, Chiara!

Sair de casa não foi tão difícil quanto imaginei.


Avisei minha mãe que Giana, minha melhor amiga, havia me ligado
para que eu fosse até sua casa e por causa disso, não tive maiores problemas
para encontrar com Vitto.
O local onde nos encontraríamos, era um pouco afastado do centro da
cidade em que morava, justamente para evitar que fôssemos vistos, afinal,
para todos os efeitos ninguém sabia que estávamos juntos, visto que na
cabeça de minha mãe eu me casaria com o Don.
Arfei resignada conforme adentrava na casa abandonada que tínhamos
combinado de nos ver, sentindo um embrulho no estômago apenas em me
recordar da possibilidade de que seus planos se concretizassem.
Balancei a cabeça dispersando os meus pensamentos, pois nesse
momento encontraria com meu amor de infância, aquele que me conquistou
assim que o conheci na escola em que estudávamos, Vitto Gambino, herdeiro
de uma grande empresa no ramo de logística, mas só descobri que também
tinha interesse em mim há um ano, foi então que começamos a nos encontrar
escondidos, depois de tê-lo explicado minha real situação. Claro que a parte
da vingança deixei de fora, confiava nele, mas se por algum motivo sequer
minha mãe descobrisse o que tinha feito, me mataria sem sombra de dúvidas.
E isso não era uma forma de expressão.
Senti dois braços me agarrarem por trás, envolvendo minha cintura e
por instinto levei minha mão até a minha bolsa, para alcançar a pequena
adaga que carregava em seu interior, mas quando reconheci o perfume
amadeirado ainda mais forte e aquela voz, que sempre balançava meu
coração, dar uma risada alta e um beijo estralado em meu rosto; um sorriso
apontou em meus lábios ao mesmo tempo em que meus olhos procurava pelo
loiro alto, de olhos doces, como um chocolate, que trazia um pouco de paz
para a minha vida infernal.
— Que saudades estava da minha gatinha!
Virei-me de frente para ele e antes que pensasse em responder qualquer
coisa, senti seus lábios tomarem o meu em um beijo quente e cheio de desejo,
seus braços aproximaram seu corpo do meu e ficamos dessa maneira, até que
foi preciso nos afastar para tomar fôlego e nos recuperar.
— Feliz aniversário, gatinha! — disse Vitto, finalizando nossa sessão de
beijos com um demorado selinho e um sorriso satisfeito apontou em meus
lábios, pois com exceção dele, minha amiga Giana e minha irmã Genevive,
não recebi as felicitações de mais ninguém, o que era algo que já tinha me
acostumado para ser sincera. — Trouxe um presente para você!
— Já disse que não precisava se incomodar com isso... — tentei
protestar, mas cortou meus argumentos.
— E eu já disse que isso está fora de cogitação.
Revirei meus olhos, mas tocada com seu gesto. Percebi quando tirou da
mochila que se encontrava próximo de onde estávamos uma caixinha preta de
veludo, abriu a minha frente um lindo e extravagante colar de ouro branco.
— Nossa, é lindo! — comentei, sem saber ao certo o que dizer. De fato,
era lindo, mas não era o tipo de colar que usaria, era muito chamativo para
uma garota que tinha acabado de completar dezoito anos, talvez em uma festa
de gala, ou até mesmo naquele maldito baile, minha mente me recordou, seria
uma opção de uso, mas, para ser sincera, não era o tipo que escolheria para o
meu look. Entretanto, apreciava sua tentativa em tentar me agradar. —
Obrigada.
— Adoraria vê-la usando isso e nada mais... — Arregalei meus olhos ao
compreender suas palavras e fiquei sem saber o que dizer. — Calma, gatinha.
Estou brincando...
Soltei um riso anasalado, com um misto de alívio e frustração, pois
sabia que não era brincadeira. Vitto insistia cada vez mais em darmos mais
um passo em nosso relacionamento e apesar da vontade me rondar a todo
instante, ainda me sentia insegura com essa possibilidade. Além de não poder
seguir com esse ato e frustrar todos os planos daqueles dois, afinal, era
esperado que fosse virgem na lua de mel, caso ela de fato acontecesse.
— Vitto, você sabe que não posso seguir em frente com isso, por mais
que eu queira. — Tentei explicar mais uma vez.
— E se fugíssemos? Fôssemos para bem longe, em um lugar onde não
terá ninguém da máfia te pressionando a se casar com alguém sem amor,
seria apenas nós dois e nada mais? Tenho milhares de filiais espalhadas pelo
mundo, com certeza meu pai não veria problema que eu assumisse algumas
delas, na verdade, tenho certeza de que ficaria muito satisfeito em finalmente
conseguir me dobrar em relação a isso.
Respirei fundo, sentindo a frustração me dominar junto da expectativa
de fazer algo imprudente e pensar em mim uma vez na vida.
— Não precisa responder agora! — Vitto tornou a dizer, cortando meus
pensamentos conflituosos. — Mas fica de pé o convite, caso queira fugir
comigo.
— Você sabe que é o que mais quero, odeio a possibilidade de ter que
me casar com alguém sem amor, ainda mais ele... — Não consegui disfarçar
o asco em minha língua ao dizer a última palavra. — Mas não posso ser
egoísta, tenho que pensar em minha irmã. Não quero nem imaginar nela ter
que assumir os planos que minha mãe tem para mim, ela é apenas uma
criança.
Vitto continuou em silêncio por algum tempo e quando a falta de
conversa ficou incomoda, ele limpou a garganta, e prosseguiu:
— Não conseguirei ir hoje à boate com vocês.
Giana me convenceu a ir, sem precisar de muito argumento, na verdade,
na boate Club Paradiso. Claro que minha mãe e padrasto não teriam esse
conhecimento, diria que dormiria na casa de minha amiga, algo que por um
milagre divino minha mãe permitia de vez em quando e, então, seguiríamos
para lá aproveitar e festejar meu aniversário. Tinha convidado Vitto assim
que combinamos e descobrir que não compareceria, me desanimou.
— Sério? Pensei que poderíamos aproveitar bastante a noite...
— Aproveitar bastante a noite... — Ele soltou um riso curto e frustrado
por seus lábios, senti a ironia de suas poucas palavras. — Dando alguns
beijos e uns amassos como sempre.
Suspirei frustrada, sem saber o que lhe dizer para argumentar e pedir
por uma paciência que sabia que não tinha mais.
— Vitto... por favor... me entende.
Ele deu uma olhada em seu relógio de ouro no pulso, e disse:
— Tenho que ir, meus pais marcaram um jantar de negócios e não
posso me atrasar.
Então esse era o motivo de sua ausência na comemoração do meu
aniversário. Assenti frustrada, sem ter muito o que responder.
— Vá bene, também preciso me arrumar.
Ele me deu um beijo rápido, com bem menos volúpia do que quando me
encontrou e me acompanhou até a entrada da casa abandonada, pois não
poderíamos sair juntos de lá e correr o risco de sermos vistos juntos. Isso
seria uma grande tragédia para mim.
— Caso mude de ideia me dê um toque — comentou, sem acreditar que
isso aconteceria e bufou quando fiquei em silêncio, saindo de perto de mim
sem nem se dar ao trabalho de se despedir.
Observei-o se afastar a passos largos, com as mãos escondidas no bolso
dianteiro da calça, sabendo que eu o estava perdendo e não poderia fazer nada
para mudar a situação.
Retornei devagar, pensando em tudo que tinha acontecido no breve
encontro que eu e Vitto tivemos, sem a mínima vontade de voltar para o
inferno de casa em que morava, ainda mais depois de constatar que a
paciência de Vitto apenas diminuía. O ânimo de dar seguimento na festa com
Giana parecia ter evaporado.
Mas se antes tinha pouca vontade de sair, quando entrei pela porta de
casa e encontrei minha mãe, encarando-me com seu completo desgosto por
mim, ao lado do imprestável do meu primo, Alessandro, irmão de Leonardo,
com seu sorriso maldoso que sempre estampava seu belo rosto ao me encarar,
sabia que a noite tinha ido por água abaixo.
— Já não mandei você se afastar daquele garoto? Hoje vou te dar uma
surra como nunca dei antes! — Estremeci, mediante sua ameaça, pois já me
deixaram até desacordada com a quantidade de surras que levei. — Para a
próxima vez que pensar em se encontrar com aquele cara, se lembrará das
consequências que terá.
Alessandro saiu de perto de minha mãe, com um sorriso ainda maior no
rosto, esbarrando em meu ombro de propósito, enquanto o fuzilava com a ira
que me dominava.
— Feliz aniversário, prima! — sussurrou em meu ouvido, enquanto
saía, batendo a porta de entrada, fiquei apenas com minha mãe que segurava
um fio de cobre em suas mãos.
Quinze dias se passaram desde que levei mais uma das surras que minha
mãe e meu padrasto adoravam me dar. Para a minha sorte, caso pudesse dizer
isso, ele não participou da última, já que viajava a pedido do Don, mas sua
visita em meu quarto, não tão inesperada como gostaria, na calada da noite,
alguns dias depois apenas comprovou o que já sabia, que jamais deixaria
passar despercebido o que ficou sabendo.
Sentia-me arrepiada e o asco subia em minha boca apenas em me
lembrar de seu toque indesejado pelo meu rosto, enquanto dizia bem próximo
de meu ouvido.
— Sua mãe me contou o que andou aprontando por aí com aquele
moleque metido a rico, espero que não se esqueça dos nossos planos,
ragazza! Do contrário, farei tantas coisas maravilhosas com seu corpinho,
que terá desejado se casar com aquele maledetto.
— Jamais permitirei que encoste um dedo em mim! — rosnei, tentando
conter meu instinto para não o golpear ali mesmo, mas ele não poderia
descobrir do que era capaz. Não ainda.
Federico soltou uma risada asquerosa, enquanto num rompante
prendia meu corpo contra o seu com toda sua força, segurando meus braços
para cima do meu pescoço, expondo a camisola curta que usava naquela
noite, seu olhar em meus seios marcados pela camisola me enojava e rogava
aos céus para que ele não cumprisse nenhuma das suas ameaças e lembrasse
do maldito plano. Afinal, esse acabava sendo a minha salvação nos últimos
anos.
— Você sabe muito bem por que ainda não fiz tudo que gostaria com
você, ragazza. Mas assim que se casar com aquele desgraçado, nada mais
me impedirá de cumprir tudo que tanto desejo com a minha enteada querida.
Antes que conseguisse me segurar, cuspi em sua cara, demonstrando o
completo nojo que tinha dele. Ele poderia ser mais forte do que eu, mas
jamais me entregaria sem lutar contra minha honra.
— Maledetta! — grunhiu, assim que percebeu de fato o que fiz e antes
que tivesse tempo de tentar soltar meus braços, que nesse momento era
segurado por apenas uma de suas mãos, senti o baque de seu soco com força
em meu maxilar, me deixando atordoada por alguns instantes. — Nunca mais
se atreva a fazer isso, do contrário, vou esquecer dessa merda de vingança e
te dar umas boas lições.
Senti minhas mãos serem soltas e o bater da porta, sem se importar que
minha mãe percebesse onde ele se encontrava, coloquei as mãos no local que
levei a pancada, sentindo a dor descomunal me envolver, e antes que
tentasse me conter, desatei a chorar.
Ódio era o que sentia por eles, talvez até mais do que do próprio Don,
pelo que fizeram com meu pai. Pois minha mãe e meu próprio padrasto
apenas o alimentavam diariamente, se tornando cada vez mais difícil
controlar meu instinto em me defender, mas ainda não poderia mostrar tudo
que praticava por anos a fio escondido de cada um deles. Ele poderia me
matar e não sei se conseguiria evitar isso, consequentemente usariam minha
irmã para seus propósitos e só de imaginar que fizesse todas as coisas
horripilantes que fazia comigo, meu sangue fervia em minhas veias.
Pelo que conversávamos, sempre me confirmava que ele mal lhe
direcionava a palavra e nunca tinha levantado um dedo em sua direção, o que
me deixava aliviada. Mas não negava que me intrigava o motivo de ter tal
obsessão comigo. Até mesmo a falta de afeto completa de minha mãe por
mim. Ela não era dessa maneira com Genevive, também não era carinhosa e
amorosa, mas pelo menos não saía espancando-a sem motivo algum.
Claro que Genevive era contida, diferente de mim, que era considerada
a ovelha negra da família, pois mesmo sabendo que tinham planos para mim,
não deixava de fazer o que gostava nas pequenas brechas que conseguia.
Vitto era uma delas, sabia que jamais deveria ter me envolvido, afinal, nunca
poderia ter um final feliz ao seu lado. A não ser que resolvesse fugir,
conforme sugeriu em nosso último encontro, mas não teria coragem de seguir
com isso e largar minha irmã na jaula dos leões.
Suspirei fundo, enquanto me deitava com o vestido preto e justo colado
em meu corpo por baixo da camiseta do pijama, para o caso de alguns deles
entrarem para conferir se eu já havia adormecido.
Não era de praxe que isso acontecesse, geralmente as visitas de meu
padrasto aconteciam quando eu tinha feito alguma coisa que o desagradava
ou quando lhe desse vontade de me provocar. E minha mãe passava por volta
das 22h para conferir que tinha organizado todas as coisas do meu quarto e já
dormia, pois ela conhecia muito bem a filha que tinha e queria evitar que eu
aprontasse alguma coisa que colocasse em risco seus objetivos. Apenas por
esse motivo passava em meu quarto, jamais para desejar uma boa-noite de
sono ou me dar um beijo e desejar bons sonhos.
Quando ouvi seus passos se aproximarem, fechei os olhos e torci para
que apenas conferisse tudo da porta, como costumava fazer. Ouvi o barulho
do trinco se abrir e apesar de continuar com os olhos fechados, senti sua
presença observando tudo ao meu redor, ela deu alguns passos para dentro do
quarto e precisei me conter ao máximo para não demonstrar que estava em
alerta e não dormia como imaginava.
Ouvi seus passos se afastarem, o barulho da trinca do quarto se fechou
e, finalmente, respirei aliviada. Percebi que trancou a porta do quarto, mas
não me importava, não sairia por ali mesmo.
Levantei-me quando não ouvi mais nenhum barulho próximo e fui
terminar minha maquiagem, cobrindo o leve arroxeado que ainda permeava
meu maxilar com o soco que ganhei do meu querido padrasto.
Passei um delineador preto em meus olhos, destacando seu tom de
verde, finalizei com um blush e um batom vermelho-rouge em meus lábios
carnudos.
Soltei meus cabelos, jogando para o lado de uma maneira que me
deixava sexy, peguei minha bota de couro preto com cano curto e saltos finos
com aproximadamente dez centímetros. Ela era toda trabalhada em seu couro
e com algumas pedras brilhantes na parte da canela, que formavam uma
folha. Era perfeita para a ocasião.
Dei uma olhada em meu vestido, observando seu trabalho rendado ao
final do tecido preto, cobrindo até metade de minhas coxas e adorei o modelo
que usava. Sentia-me sensual nessa noite e queria arrancar longos suspiros de
Vitto quando me encontrasse.
Alcancei a corda com alguns grandes nós para facilitar minha descida e
escalada na noite, meu quarto ficava no segundo andar da casa, abri a janela
com cuidado para não fazer barulho, olhei os três metros abaixo, sentindo um
misto de adrenalina me envolver, com a possibilidade de aproveitar um
pouco depois de ficar trancada por longos quinze dias, graças à surra que
levei que nem uma condenada de minha mãe, a ponto de ter deixado meu
corpo todo marcado com os cortes causados pelo fio que usou para me
açoitar, além claro de ter sido ameaçada. Precisava aproveitar um pouco, do
contrário enlouqueceria caso continuasse mais um minuto dentro do inferno
dessa casa.
Dei uma olhada e percebi que não tinha nenhum segurança nessa parte
do quintal, joguei a corda, lancei meus sapatos no chão dentro de uma bolsa,
sentei-me na janela, segurei com firmeza na corda que amarrei em um dos
pilares do meu quarto e comecei a descer com cuidado para não despencar no
gramado.
Ao longe vi o carro de minha amiga parado na rua ao lado, que dava de
frente para o meu quarto, correi até lá ainda descalça. Desativei o alarme do
pequeno portão e o abri com cuidado com minha chave, chegando finalmente
à calçada, minha amiga abriu a porta do passageiro e pulei para dentro,
enquanto acelerava para escaparmos antes que sentissem a minha falta.
— Dio mio, ainda não me acostumei com essas suas fugas. Todas as
vezes sinto medo que seja pega — comentou Giana, tentando acalmar sua
respiração, enquanto eu ria e calçava minhas botas.
— Se fosse pega, tomaria outra surra. — Dei de ombros, fingindo
desdém, à medida que colocava o cinto de segurança. — Não é algo que já
não esteja acostumada.
Pelo canto dos olhos, percebi que minha amiga encolheu os ombros,
angustiada com a minha situação, mas não tinha muito o que fazer, ela sabia
disso tanto quanto eu. Dificilmente conseguiria escapar de uma família de
mafiosos, eles tinham contatos e Federico usaria todas as suas artimanhas
para usar cada uma delas comigo caso eu resolvesse fugir.
— Vitto vai nos encontrar lá? — perguntou, tentando mudar de assunto,
e agradeci em pensamentos.
Peguei meu celular rapidamente para saber se tinha alguma mensagem
dele e me decepcionei com o que encontrei.

Vitto: Desculpe, gatinha. Ainda estou preso no jantar que


meu pai fez, não vou conseguir te encontrar.

Tentava não parecer a namorada ciumenta e paranoica, mas sentia que


Vitto se afastava de mim desde nosso último encontro. Eram poucas as vezes
que me encaminhava uma mensagem e quando me respondia, eram sempre
sucintas. Foram raras as ocasiões em que me fez uma ligação nesses quinze
dias e quando finalmente poderíamos nos encontrar, senti que usou a
desculpa de outro jantar para não nos vermos.
Talvez fosse criatividade de minha mente, mas algo me dizia que se
cansou de mim.
Senti as lágrimas quererem se avolumar em meus olhos, mas não
permiti que caíssem. Olhei meu vestido perfeito, e o impacto que causaria
nele, sabendo o quanto adorava quando usava meu batom vermelho, mas não
permiti me desanimar.
Essa noite era minha. Era o meu momento de escape, de curtir e ser uma
adolescente normal com seus dezoito anos. Não permitiria nem que Vitto,
nem ninguém a estragasse. O fato de nossa noite há quinze dias ter sido
privado, apenas fez com que adiasse nossa noite, não que a cancelasse de vez
e não permitiria estragá-la pela ausência dele.
Olhei para minha amiga, coloquei um sorriso forçado no rosto e me
lembrei de respondê-la:
— Seremos só nós duas. A noite das garotas!
Ela percebeu que tentava não me entristecer com o furo de meu
namorado e, então, fingiu comemorar, dando um grito em comemoração e
entrei na dela.
A boate Club Paradiso era deslumbrante, com um estilo contemporâneo,
moderna e, ao mesmo tempo, elegante. E parecia encher a cada minuto que se
passava, conforme aguardávamos nossas bebidas em um dos bares
disponíveis para consumo.
Havia alguns pequenos palcos de pole dance espalhados pela boate,
com dançarinas que usavam nada mais que uma calcinha fio dental em seu
corpo todo e pequenas máscaras em seu rosto, no mesmo tom de sua
calcinha. Era algo extremamente sensual e fiquei satisfeita de Vitto não ter
vindo até aqui, afinal, não gostaria de ver o desejo estampado em seus olhos
ao observar a desenvoltura e sensualidade dessas dançarinas ao meu lado.
Por um pequeno instante me peguei pensando como seria dançar dessa
maneira entre quatro paredes, acreditava que levaria jeito para essa dança,
quem sabe um dia conseguisse aprender.
Desviei minha atenção das dançarinas e passei a prestar atenção nos
detalhes do bar em que nos encontrava, admirando a iluminação suave, que
dava um ar aconchegante, criando um ambiente acolhedor e convidativo. Os
balcões eram de mármore polido e as banquetas com estofados confortáveis,
proporcionando um ambiente sofisticado e, ao mesmo tempo, instigante.
A pista de dança se encontrava a poucos metros de distância, meus
cotovelos se apoiaram no balcão de frente para as pessoas que dançavam
animadas ao som da batida enlouquecedora.
Remexia meu corpo de maneira contida, ainda aguardando meu
coquetel chegar para poder seguir até o centro da pista e dançar até cansar.
Sempre adorei dançar, até cheguei a fazer algumas aulas de balé quando era
mais nova na escola, mas depois que meu pai faleceu, perdi o interesse em
dar continuidade. Mas sempre que ouvia as batidas frenéticas de uma boa
música, era impossível conter meu corpo.
— Parece que o Don virá hoje aqui, foi o que ouvi falar pelo menos. —
Precisei segurar meus olhos para não se revirarem ao Giana me contar essa
informação. — Ei, calma! Achei que seria interessante lhe falar. Você nunca
o viu pessoalmente, apenas algumas fotos pelas manchetes da Sicília e ele
parece ser bem... interessante, quem sabe isso te estimule com esse
casamento.
Bufei audivelmente e bem nesse momento para meu alívio meu
coquetel chegou, minha intenção era desfrutar dela com calma, mas com a
informação que Giana me concedeu, virei o copo todo em poucos goles,
enquanto minha amiga me observava com os olhos esbugalhados com minha
atitude.
— Hoje eu só quero ser uma garota normal, que não está sendo vista
como um objeto que será dado para o Don da máfia pela sua mãe. Quero
apenas curtir minha noite com minha amiga, sem me importar se o dono do
Club que, por sinal, é o que querem para mim, como marido, virá aqui. Não
irei vê-lo, muito menos interagir com ele. Não tenho interesse e por isso
ficarei bem distante das áreas VIPs, para evitar qualquer possibilidade desse
encontro.
Ela respirou fundo, parecendo envergonhada com o que disse e me senti
mal com minha sinceridade.
— Você está certa, a noite é nossa. Os homens e seus planos que se
fodam! — Levantou seu coquetel ainda cheio para um brinde e acompanhei,
mesmo que minha taça já estivesse vazia.
— Eles que se fodam mesmo e agora quero dançar!
Fomos até a pista de dança e deixei que a música me levasse,
esquecendo das surras, das ameaças, da vingança que fui incluída com
vontade ou não, de tudo. Naquele momento, eu era apenas Chiara Caruso,
curtindo uma noite na boate com minha melhor amiga e sendo uma mulher
normal em sua idade.
Dancei a maior parte das músicas sozinhas, mas me permiti aproveitar
uma dança ou outra com alguns rapazes que se aproximavam, mas quando
percebia que um deles tinham outras intenções, me afastava para pegar uma
bebida no bar. Fiquei revezando entre coquetéis e águas, pois não queria ficar
bêbada, muito menos de ressaca. Tinha que chegar em casa bem, afinal,
precisava ser silenciosa e escalar a corda para o meu quarto ainda. Não
poderia me deixar levar pelo momento completamente.
Horas se passaram e já tinha perdido noção do tempo, tínhamos
retornado para a pista de dança e uma música sensual tocava, até que um
barman se aproximou de mim, a fim de me entregar um coquetel que não
pedi. Neguei com a cabeça no mesmo instante.
— Não pedi nada... — Mas ele me cortou.
— Foi cortesia dele! —Apontou com a cabeça para uma área reservada
e encontrei um homem deslumbrante me olhando com volúpia em seus olhos,
enquanto me lançava um meio-sorriso cheio de malícias e levantava sua
bebida na cor âmbar, imaginava que fosse uísque, como um brinde.
O sorriso apontou em meus lábios, sem que percebesse, aceitei o
coquetel exatamente como tinha pedido nas últimas horas e fiquei admirada
por ter acertado o sabor que gostava.
Levantei a taça assim como ele, em um brinde silencioso, agradecendo
com um meneio de cabeça, que foi retribuído pelo moreno desconhecido.
Seus olhos não deixavam os meus e por mais que tentasse me distrair,
também não conseguia soltar meus olhos dele. E como já tinha bastante
álcool em minhas veias, comecei a balançar meu corpo de maneira sensual e
insinuante, tomando um gole do coquetel e sem desviar nossos olhares.
Seu olhar parecia transparente e enxergar a clareza do desejo de um
homem tão lindo quanto ele, que exalava poder e masculinidade, fez com que
isso me estimulasse ainda mais em continuar dançando para ele, pois era isso
que fazia, uma dança exclusiva.
Sabia que não deveria fazer isso, afinal, eu tinha um namorado que
nesse momento estava em casa, talvez dormindo, enquanto eu me encontrava
flertando com o lindo desconhecido, mas não pensei nisso e apenas quis
agradecer por ter sido notada, de ter se dado ao trabalho de enviar minha
bebida preferida, mesmo que soubesse quais eram suas reais intenções para a
noite. Não chegaria tão longe, mas isso não me impediu de me deixar ser
apreciada e desejada por ele.
Assim que a música acabou, uma outra mais agitada começou e isso fez
com que saísse do estupor que tinha entrado.
Minha amiga começou a dançar comigo, enquanto me provocava.
— Bonitão, hein. Caía fácil na sua rede... — Gargalhou, fazendo com
que eu a acompanhasse.
— Se não fosse comprometida, quem sabe... — Mas no meu
subconsciente sabia que nem assim me envolveria com um completo estranho
numa boate.
Alguns minutos se passaram, então senti as pessoas se afastarem de
onde nos encontrávamos e estranhei, quando olhei para trás, percebi que três
homens vestidos de preto se aproximavam, olhando diretamente para mim.
— Boa noite, senhorita. — Não respondi, apenas o olhei intrigada. — O
senhor Lucchese convidou você e sua amiga para se juntarem a ele na área
reservada da boate, para tomarem um drinque junto dele.
Engoli em seco, com as engrenagens começando a trabalhar em minha
mente atrapalhada com o álcool.
Família Lucchese?
— Q-quem? — Forcei-me a perguntar, tentando confirmar de quem se
tratava e ele apontou para a área reservada, foi então que vi o moreno
deslumbrante ainda me olhando como um caçador à procura de sua presa, e
eu era a presa que escolheu para a noite.
Nesse momento, meu raciocínio começou a entender a merda que
aconteceu, o moreno que me insinuei, era ninguém mais, ninguém menos que
o Don, Matteo Lucchese, aquele que minha mãe queria que eu casasse e já
tinha me dado diversas dicas para o fisgar, quando tivesse a oportunidade de
encontrá-lo pessoalmente.
Comecei a raciocinar com o que deveria fazer, ir até ele parecia algo
esperado, considerando que dentro de pouco tempo aconteceria o baile das
escolhidas, que era o evento que minha mãe tinha esperanças de nos unir. Ele
estava ali, próximo a mim, querendo me conhecer, beber comigo, o momento
não poderia ser mais oportuno, em contrapartida, não me sentia preparada
para isso.
Fugir não rolaria, seus guardas estavam em meu encalço e me pegariam
antes que desse dois passos para longe.
— Senhorita? — O guarda mais próximo chamou minha atenção e
percebi que ainda não tinha respondido nada.
— Preciso ir ao banheiro antes. — Precisava ganhar tempo. Olhei para
Giana que me encarava desacreditada quando se tocou com o que acontecia.
— Já volto.
Ela assentiu e permaneceu onde estava, enquanto ia em direção aos
toaletes femininos, sendo seguida pelos cães de guardas daquele que odiava.
Dei uma olhada de canto de olho em sua direção e percebi que seus olhos
ainda me acompanhavam. Respirei fundo, tentando organizar meus
pensamentos com uma maneira de fugir ou encarar logo isso de vez.
— Esperaremos aqui — disse o mesmo segurança, enquanto entrava
dentro do grande banheiro. Para minha sorte a única mulher que tinha nele,
tinha acabado de sair e comecei a andar de um lado ao outro, como um leão
enjaulado, procurando uma maneira de sair daquela situação.
Olhei à minha volta e encontrei uma janela de vidro, no alto da parede,
ela era grande e talvez conseguisse passar por ela, se conseguisse quebrá-la,
pois ela servia apenas para iluminar o ambiente durante o dia.
Mordi meus lábios com a inquietação me tomando, a dúvida emergia se
era melhor correr o risco de me cortar toda com os estilhaços do vidro ou
encarar logo meu futuro. Respirei fundo, procurando pela força que sabia que
tinha, por aguentar tudo que me acontecia e ainda estar de pé e soube nesse
momento o que faria!
— Seu filho da puta! Não aguento mais ficar vendo nosso nome ser
manchado na boca desses abutres! — Meu papa jogou uma das revistas de
fofocas mais famosa da Itália contra a mesa em que eu tomava meu café
calmamente, enquanto ouvia mais um de seus grandes sermões. — Quando
que você vai tomar vergonha nessa sua cara e agir como o Don que lhe
ensinei a ser, cazzo! — grunhiu, ainda irritado, se sentando em seu lugar à
ponta da mesa, colocando a cabeça dentro de suas mãos.
Prendi o riso para não o irritar ainda mais, enquanto tomava mais um
gole de café na xícara de porcelana.
Quem conhecia o grande e temido Salvatore Lucchese, não acreditaria
em como eu conseguia fazer com que perdesse a linha com tanta facilidade.
— Por favor, se atente em seu palavreado, pois quem está sendo
ofendida com seus berros para o nosso bambino, sou eu! — ralhou minha
mãe, tomando um gole de seu suco de laranja, tão serena quanto eu.
Meu pai levantou seus olhos acinzentados, como os meus, em sua
direção e lhe deu um sorriso envergonhado. Ela era a única que conseguia
fazer com que ele perdesse a compostura tão rápido e deixá-lo com vergonha
de seus atos e palavras esdrúxulas.
— Desculpe, amore mio. Seu filho me tira do sério!
Revirei os olhos, por dizer como se eu fosse apenas o filho dela e
precisei segurar minha língua para não o provocar ainda mais.
— Nosso filho! — ela frisou a primeira palavra. — Não fiz sozinha.
Meu pai respirou fundo, tentando se controlar e se serviu de uma xícara
de café puro, assim como o meu. Dando-nos alguns minutos de silêncio, mas
o conhecendo tão bem, como conhecia, sabia que isso era temporário, que ele
voltaria ao seu tão cansativo discurso sobre a importância e necessidade de
que eu me casasse.
Meus trinta anos se aproximava cada vez mais e sabia da necessidade de
ter uma boa esposa para comandar ao meu lado o império de máfia que
tínhamos conquistado anos após anos. O problema era encontrar essa mulher!
Meu pai tinha alguém ao seu lado que amava e fazia tudo que estava ao
seu alcance para a fazer feliz e protegê-la. Não era um desses românticos que
acreditava que cada um tinha sua alma gêmea, apenas queria alguém que me
agradasse, a ponto de passar o resto de meus dias ao lado.
Não tinha interesse em ser infiel em meu casamento, não fui criado
dessa maneira, por esse motivo evitava tanto por escolher a minha futura
esposa.
Caso a questão fosse apenas fisicamente, já teria escolhido.
Meu desejo era que fosse alguém além de linda, também inteligente,
que não se preocupasse apenas com que roupa usaria nos diversos festas que
frequentávamos, ou em como sairia sua foto nos noticiários ao lado do atual
Don da temida Cosa Nostra. Queria uma mulher amável, que fosse carinhosa
com os nossos filhos, mas que se preocupasse com coisas mais importantes
do que sua mídia social. E, infelizmente, as mulheres com as quais eu me
envolvia e conhecia dentro da própria máfia, que se enquadrariam dentro do
esperado para estar ao meu lado, eram todas assim.
Elas me viam e seus olhos brilhavam em expectativas de me agradar,
mas não me enxergavam, apenas olhavam o meu posto e tudo que
conquistariam para elas e sua família, alcançando o cargo de primeira-dama.
— Não dá para esperar mais! Tentei ser paciente e você sabe que falo a
verdade. — Ele de fato falava. — Mas não há mais como aguardar seu bom
senso em escolher alguém do seu interesse. Já recebi diversos convites para
que conhecesse as muitas bambinas que se enquadram perfeitamente no que
precisa, e sempre respeitei que quisesse ter interesse por elas, mas para mim
acabou! Você está sujando a nossa imagem com sua libertinagem nas boates
Paradiso.
— Papà... foi apenas uma foto, não significou nada e sabe disso. O que
importa foram os muitos benefícios que trouxe para todos nós.
Ele bufou, me olhando enviesado e soube que não consegui reverter
seus pensamentos com meus argumentos.
Mas que cazzo!
— Foda-se você e seus benefícios! — Ele bateu o pulso fechado nas
mãos. Eu realmente tinha conseguido irritá-lo com aquela manchete. Com
todo o cuidado que tomava de não ser fotografado ao lado de nenhuma das
muitas mulheres que me esquentavam a noite, aconteceu de uma foto ser
vazada e eu faria questão de descobrir quem foi a traidora e lhe dar um belo
susto para que não cometesse mais esse deslize. — Tenho sido cada vez mais
pressionado por todas as famílias do conselho a respeito de seu status social e
as muitas manchetes que saem ao seu respeito nas mídias.
— Deixe que eu me resolva com a comissão...
— Não, Matteo! A única coisa que você vai resolver é encontrar a
mulher que vai se casar, do contrário, eu mesmo farei você se casar e já até
sei com quem.
Estreitei os olhos em sua direção, perdendo o apetite ao imaginar quem
fosse a pretendente.
— Não irei me casar com Elisa! — declarei, sentindo a ira se apossar de
mim com esse assunto logo cedo. — Já disse isso e repito.
— Você não tá em poder de escolha, Matteo — debateu, de maneira
ríspida, e me contive pelo respeito que sempre tive por ele. — Ou escolhe
uma mulher até o dia do baile, ou eu fecharei acordo com o pai de Elisa no
dia seguinte, antes que você pense em abrir os olhos pela manhã, estará em
todos os jornais a notícia de seu noivado com ela.
Respirei fundo e apertei minhas têmporas, sabendo que falava sério e
meu tempo já tinha acabado para resolver isso. Tentei acalmar meu interior,
olhei em direção de minha mãe e seu silêncio deixava claro que concordava
com as palavras de meu pai.
As reuniões que envolviam nosso trabalho, aconteciam no escritório,
mas nesse momento, ele não se conteve em dizer em sua presença, para que
eu soubesse que ela concordava com sua decisão.
Mesmo eu sendo o atual Don, ainda respeitava suas opiniões pelo
grande tempo que passou comandando nosso império e se ele se tornou o que
era, foi ao seu esforço e dedicação.
Sabia que de fato não facilitava sua vida, que desde os meus dezoito
anos era pressionado para tomar tal decisão e fui conseguindo tempo, com as
desculpas de faculdade, as muitas viagens ao exterior e experiência que
adquiria com os nossos negócios. No entanto, eu já tinha adquirido toda a
bagagem e até feito o meu nome não só na Itália, como no mundo todo e
todos conheciam Matteo Lucchese. Ou seja, não tinha mais motivo para adiar
o inevitável.
Meus pais me deram uma chance de resolver isso por conta própria, isso
jamais poderia negar. Então, por mais que gostasse de curtir a noite com uma
ou mais mulheres diferentes, precisava procurar alguma que me interessasse
para fazer o que era certo pelo nosso império.
— Certo, papa. Resolverei isso até o baile, fique tranquilo.
Seus ombros relaxaram no mesmo instante em que ouviram minhas
palavras, pois ele me conhecia bem, a ponto de saber que quando dava minha
palavra, não voltava atrás. Nunca tinha dado uma data específica para
resolver isso, por isso acreditou quando concordei com ele.
Os convites para o baile já tinham sido enviados para todas as famílias
que possuíam filhas solteiras e pertenciam à máfia Cosa Nostra, enquanto
minha mãe se dedicava dia após dia em fazer dele um espetáculo, para que eu
tivesse a oportunidade de conhecer o máximo de pretendentes possíveis.
Agora precisava encontrar a ragazza certa em menos de um mês!

Encontrava-me sentado em uma das poltronas na área reservada


exclusivamente para mim, no Club Paradiso, enquanto fumava meu charuto e
tomava mais um gole de meu uísque, entre Marco Ferrari, meu sottocapo e
Carlo Ricci, meu consigliere.
Ambos estavam comigo há anos. Marco era dois anos mais velho do
que eu, enquanto Carlo, um ano mais novo. Crescemos juntos, como nossas
famílias trabalhavam juntas desde a época que meu avô, Giuseppe Lucchese,
comandava a famiglia. E assim continuou se sucedendo desde então, nossas
famílias continuaram passando seus cargos de geração em geração e esperava
que continuasse dessa maneira para as próximas que viriam.
Por esse motivo, sempre precisávamos ter nossos herdeiros, para passar
adiante nossas atividades quando tivessem idade apropriada para isso. Por
enquanto, nenhum de nós três tínhamos e precisávamos resolver isso em
breve. Eu, como capo dessa porra toda, poderia exonerar qualquer um de suas
funções, em casos de traição, para que a família correspondente perdesse a
honra de continuar fazendo parte de nossa facção. Claro, depois de acabar
com a vida do desgraçado que nos traiu.
Também podia oferecer um cargo importante a algum membro que
mostrasse seu valor, para esses cargos estimável, era difícil de acontecer,
considerando que a confiança não era algo fácil de se conquistar, mas era
possível.
No início, Marco tentava evitar essas informalidades entre nós, pois
para ele seu cargo exigia total atenção e não discordava dele, mas para que
serviam as dezenas de soldados espalhados ao nosso redor e em volta do lado
externo e interno da boate? Se nem em minha própria boate, em um lugar que
apenas quem eu convidei era permitido sua entrada, onde mais poderia estar
seguro? Precisava de um momento de descontração depois do longo dia que
tive.
Mais uma vez tivemos problemas com uma das nossas exportações de
drogas para o estado de Calabria e isso tirava minha paz nos últimos tempos,
pois precisava descobrir quem era o maledetto que não tinha amor a própria
vida, a ponto de se meter com meus negócios.
Não consegui acompanhar de perto a entrega, como resolvia as questões
em aberto com grandes exportações que teríamos no final do mês para os
Estados Unidos. Mas meus soldados conseguiram apreender alguns dos
capangas no local que tentaram nos render e trouxe para que tivesse uma
conversinha com cada um deles.
Resumindo, precisei usar toda a minha criatividade infinita de tortura
com cada um deles para tentar extrair alguma informação que prestasse de
suas bocas, no entanto, foi em vão, além do mais, eles não sabiam quem era o
responsável pela exigência, apenas lhes deram um bom dinheiro e
protegeriam suas famílias caso fossem descobertos.
Óbvio que como cooperaram um pouco, assim que retirei um dos
mamilos do primeiro sequestrado, ele abriu a boca e disse o que sabia, com o
segundo não foi diferente, só precisei puxar um de seus dedos, a ponto de
desprender de sua mão que também começou a me contar tudo que precisava,
por esse motivo, lhes dei uma morte rápida, ao invés de uma lenta e dolorosa.
Uma mentira naqueles em quem confiaram por sinal, pois quando meus
soldados foram visitar suas famílias, para tentarmos retirar mais alguma
informação relevante, todos já estavam mortos, inclusive as crianças. Algo
que eu costumava relevar em minhas lições, por assim dizer.
Isso mexia comigo, mesmo que não gostasse de admitir para mim
mesmo, odiava ver crianças indefesas sendo maltratadas ou mortas por causa
de seus pais serem traidores.
Desviei meus pensamentos para a conversa que acontecia entre meus
amigos, além de colegas de trabalho e vi que o assunto eram algumas das
mulheres que tinham ficado na noite anterior, mas não me interessei nesses
detalhes, até mesmo porque isso me lembrava ao casamento que meu pai
queria que eu tivesse dentro de três meses. Pois um mês seria para escolher a
mulher com quem devia me casar, depois apenas dois meses para nos
casarmos.
— Ainda pensando no casamento que seu pai exigiu? — Carlo
perguntou, ele me conhecia o suficiente para saber onde meus pensamentos
estavam.
— Pois é! Não deve ser tão difícil encontrar alguém que me interesse o
suficiente para me casar — comentei, nem acreditando em minhas palavras e
os desgraçados riram, soltando a fumaça do charuto por suas narinas.
— São quase doze anos enrolando seu pai com a mesma desculpa. Se
fosse fácil, já teria se casado.
Bufei audivelmente e me levantei, seguindo até ao guarda-corpo de
vidro, que me permitia observar as áreas VIPs e, também, tudo que acontecia
na parte debaixo do Club.
A música pulsava e as pessoas enlouqueciam com as batidas frenéticas
que o excelente DJ contratado tocava, claro que isso tudo misturado ao
grande teor de álcool e até mesmo drogas em suas veias.
Observei as lindas ragazzas no pole dance, mostrando sensualidade em
cada um de seus passos e como eram atraentes. Já tinha ficado com algumas
delas, apesar de não gostar de misturar negócios com prazer, algumas vezes
resisti em experimentar toda a sua elasticidade dentro de quatro paredes.
Permaneci observando cada uma das mulheres na multidão dançando,
sem que nenhuma prendesse a minha atenção.
Quando pensei em me virar e retornar à minha poltrona ao lado de
Marco e Carlo, enxerguei uma loira linda dançando sensualmente, como se
nada existisse ao seu redor que não fosse ela e não consegui desviar mais
meus olhos para nenhum outro lugar que não fosse em sua direção.
Debrucei-me no guarda-corpo, apoiando meus antebraços e perdi a
noção do tempo em que fiquei ali, apenas escrutinando cada uma de suas
ações.
Percebi que se encontrava acompanhada de uma amiga, imaginei pelo
menos que fosse. Dançou com alguns homens diferentes, mas não permitiu se
envolver com nenhum a mais que uma dança casual. E não me passou
despercebido que intercalava o mesmo coquetel de todas as vezes com água,
mostrando que não tinha o mínimo interesse de acabar bêbada e acabar na
cama de qualquer um.
Gostei disso, mais do que deveria. Mostrava que estava atenta ao seu
redor.
— O que tanto te prendeu aqui? — Carlo se aproximou e perguntou,
enquanto também se debruçava como eu.
Indiquei com meu rosto em direção da linda loira, com os lábios
vermelhos, deixando-o ainda mais chamativo do que fosse possível.
— Ela! — Não consegui desviar meus olhos de gavião, nem para
mostrar a Carlo quem era. — Sabe quem é? Não lembro de tê-la visto por
aqui.
Ele limpou a garganta, respondendo minha pergunta.
— Sei sim. — Isso chamou a minha atenção e virei em direção de seu
rosto, ansioso para descobrir mais sobre a loirinha. — É Chiara Caruso,
enteada de Federico Bonanno, um de nossos caporegimes, dizem que é a
filha rebelde da família, sempre está em confusão. Federico já chegou a
insinuar algo sobre um casamento arranjado entre vocês dois para mim,
tentando uma oportunidade de apresentar sua filha para Salvatore, mas seu
pai recusou na época, assim como todos os outros pedidos que recebia, dando
o seu precioso tempo. — Soou irônico e revirei meus olhos.
Não soube dizer o porquê, mas saber que ela era uma das pretendentes
que se interessavam por mim, me agradou. Mesmo que não fosse muito com
a cara de Federico, não sabia dizer o motivo de tal implicância, considerando
que trabalhava bem em seu posto, mas algo nele me parecia errado, porém,
não poderia fazer nada apenas por pensar assim.
— Chiara Caruso... — testei seu nome em minha língua e gostei. —
Interessante!
Carlo arqueou a sobrancelha em minha direção e voltei minha a atenção
nas belas curvas de Chiara, enquanto se deixava levar pelo ritmo sensual da
música.
Pedi para que Marco pedisse ao barman entregar sua bebida preferida a
Chiara e isso fez com que finalmente me notasse, pensei que me
reconheceria, mas ficou claro que não aconteceu de imediato e, porra, a
maneira como dançou para mim sem desviar seus olhos dos meus, foi uma
das coisas mais excitantes que já presenciei na vida. Ela conseguiu despertar
minha libido por completo e eu não costumava ficar dessa maneira por
qualquer mulher, com facilidade. Na verdade, nem me recordava a última
mulher que despertou algo tão arrebatador, como essa ragazza conseguiu
com uma simples dança a metros de distância.
Já tive muitas mulheres em minha cama e minha libertinagem começou
logo no início de minha adolescência, por isso, estranhei a maneira como
meu corpo reagiu. Pois era isso que ela era, ainda uma garota, tinha certeza
de que não passava de seus dezenove anos. Ainda mais para o padrasto ter
tentado arranjar um casamento comigo, comprovava isso.
Cheguei a pensar em convidá-la a passar o resto de sua noite na suíte
que tinha disponível para mim, no andar de cima da boate. Preferia fazer o
que queria aqui mesmo, do que me arriscar em ser visto de novo com outra
mulher e ter meu pai enchendo o meu saco, esse espaço foi feito com apenas
esse objetivo mesmo, além de descansar quando fosse apropriado. Afinal, era
normal que viesse aqui não apenas para me divertir, mas também para
resolver algumas questões que poderiam surgir. Apesar de querer muito
chamá-la, precisei me conter, pois passar a noite com ela, acabaria com sua
honra e não seria tão cafajeste a esse ponto. Sabia da importância que as
filhas da máfia tinham em preservar sua virgindade e imaginava que apesar
de toda a rebeldia que Chiara demonstrava, ela não deveria ter infligido isso,
do contrário, ela perderia sua honra e dificilmente conseguiria um bom
casamento dentro da famiglia.
Pensar nessa garota e a ter em minha cama pela primeira vez, me deixou
com um gosto adocicado na boca, fazendo com que a curiosidade vencesse e
pedisse por algo que pensei não ser possível.
— Pesquise sobre ela — disse a Marco, que também chegou ao meu
lado em determinado momento. — Descubra tudo, o que gosta ou não, onde
vai e deixa de ir, se já se envolveu com alguém e se permanece com sua
pureza intacta. Tudo!
Ele me olhou desconfiado, enquanto continuava observando a garota
dançando com sua amiga de costas para mim. Não consegui impedir que
meus olhos vagassem por seu traseiro que parecia ter a medida certa para as
minhas mãos. Gostosa! Era isso que Chiara era. Uma ragazza fodidamente
gostosa!
— Posso perguntar por qual motivo devo pedir que pesquisem sobre a
garota? — Ele não tinha o costume de questionar as minhas ordens, mas já
sabia para onde seus pensamentos iam e a curiosidade falava mais alto que o
seu bom senso. — Por acaso pensou nela como sua...
— Não sei, cazzo! Só faça o que mandei, cacete.
Ele acenou e pegou o celular, em seguida fez uma ligação no mesmo
instante, para o nosso investigador de confiança, aquele que sempre
pesquisava a respeito de todos que se aproximavam de nossa família.
Assim que desligou a rápida ligação, olhei para ele e fiz o impensado
pela segunda vez na noite.
— Vá até ela e a convide para vir aqui com sua amiga, para
conversarmos apenas. — Frisei a última parte, pois sabia o que pensaram e
não ferraria com a honra da garota se não tivesse intenção de me casar com
ela.
Mas não deixaria que meu pau comandasse meu futuro dessa maneira,
por isso, apenas queria me aproximar e ver o que sentiria e o pensaria ao seu
respeito primeiro. Talvez assim que abrisse sua boca, o encanto se romperia e
perceberia que ela era exatamente como as demais mulheres que me envolvi,
interesseiras.
Marco assentiu e saiu acompanhado de dois de seus seguranças para
fazer o que ordenei.
— Espero que saiba o que está fazendo, não vá acabar com a vida da
garota se não for a levar a sério!
— Cale a porra da boca, cazzo! Se quisesse tua opinião teria pedido,
parece que nem me conhece.
Carlo voltou a beber seu uísque, dando de ombros, sem se importar com
a maneira ríspida que o respondi, afinal, já tinha se acostumado.
— Só estava garantindo que não tinha se esquecido.
Minutos se passaram, daqui pude ver a incredulidade permear seus
olhos quando descobriu quem a convidou e isso apenas me deixou ainda mais
intrigado com seu comportamento.
Qualquer mulher que tivesse oportunidade de ser convidada para a área
reservada do Don, teria vindo sem nem esperar Marco terminar de falar. Com
Chiara não foi como a maioria, ela ficou receosa, parecia estar prestes a fugir
dali e isso foi me deixando ainda mais ansioso para que viesse até mim de
uma vez. Depois de longos minutos, ela disse que iria até o toalete e Marco
junto dos outros seguranças a acompanharam para guiá-la até a área VIP na
sequência, só sabia disso, pois meu amigo me informou enquanto a
acompanhavam. Entretanto, os minutos se passaram e de onde me encontrava
era nítido a apreensão dos seguranças ao olhar para dentro do banheiro a todo
instante.
Será que a ragazza passou mal apenas em saber que viria até mim?
Fiquei confuso com sua atitude, pois se o próprio padrasto a queria
arranjar para mim, ela deveria ter saltitado quando a convidei e não
começado a passar mal, ou ficar enrolando para talvez fazer com que eu
mudasse de ideia.
Caso fosse essa sua intenção, ela de fato não me conhecia, pois estava
longe de desistir de algo quando o queria, não era à toa que consegui
expandir meus negócios cada vez mais. Medo não existia em meu
vocabulário, muito menos desistência. Se eu queria, eu conquistava. Era esse
o meu legado!
Passei a ficar impaciente quando já fazia mais de quinze minutos que
tinha entrado no banheiro, ela deveria ter desmaiado, não era possível! Não
tinha como ter saído de lá com três seguranças a esperando. Mulheres
entravam e saíam a todo instante e nada de Chiara.
Percebi quando Marco entrou dentro do banheiro, mesmo com outras
mulheres lá dentro e os outros seguranças começaram a sair em direção ao
lado de fora da boate, enquanto Marco corria para fora junto deles.
— Mas que porra tá acontecendo lá dentro? — indaguei mais para mim
mesmo, intrigado com a repercussão de uma simples ida ao banheiro.
— Boa pergunta — Carlo comentou ao meu lado, também observando a
movimentação.
Não aguentei mais esperar e resolvi ir até lá, a fim de entender o que
acontecia e sem que pedisse, quatro seguranças me acompanharam, junto de
Carlo.
Não precisei me esquivar das pessoas, pois elas mesmas me
reconheciam e liberavam espaço para que eu passasse, apenas Chiara não me
reconheceu, o que me deixava completamente surpreso.
Quando encontrei com Marco entrando na boate sozinho, não perguntei
nada e segui até o banheiro para entender que merda aconteceu com Chiara.
Entrei mesmo com algumas mulheres na parte interna, espantadas com
a quantidade de vidro espalhado pelo chão e olhei incrédulo para a vidraça
quebrada no alto da parede.
Fiquei alguns minutos assimilando o que aconteceu, o que teria feito ela
tomar uma atitude tão drástica em fugir de mim, por tê-la convidado apenas
para uma conversa. E como essa ragazza conseguiu subir e pular de uma
altura tão alta, ela devia estar toda machucada.
Passei as mãos pelos cabelos, jogando-os para trás e olhei para Marco
que me olhava irritado por ter perdido uma garota, que nem tinha dezenove
anos, de seu radar.
— Vocês não a encontraram nos arredores? Ela deve ter se machucado
— questionei, inconformado com a falha básica de minha equipe e pasmo
com a atitude dessa garota.
— Não encontramos em lugar nenhum, ela deve ter pegado um táxi ou
o carro estava próximo para ter conseguido fugir tão rápido.
Não esperei que terminasse de falar e voltei pisando duro na direção de
onde me encontrava, sendo seguido por todos.
A indignação me assolava. Ela não era obrigada a ter tal atitude, jamais
a obrigaria a ficar comigo em um ambiente que não quisesse, era só ter
respondido que não queria, mas sua atitude apenas me deixou ainda mais
intrigado, além de curioso.
Assim que cheguei, um dos barmans me entregou um uísque pronto,
sem que fosse necessário pedir, parecia saber que precisaria de um naquele
momento e Marco desatou a se explicar.
— Não ouvimos o barulho da vidraça quebrando por causa do barulho
alto das músicas, quando percebemos que ela parecia demorar demais, pedi
para que uma das moças que entrou olhasse se ela estava bem, assim que
saiu, ela disse que não tinha ninguém lá dentro. Quando entrei vi o estrago
que fez, mas já era tarde para encontrá-la.
Exatamente, Chiara parecia ser um belíssimo estrago.

A atitude de Chiara não abandonava meus pensamentos, até mesmo


quando me cansei de ficar pensando em tudo que aconteceu mais cedo na
boate e resolvi subir com algumas das mulheres que tinham interesse em me
agradar pelo restante da noite.
Fiz com que todas assinassem um termo de confidencialidade, pois não
queria mais problemas com a imprensa e muito menos com meu pai, afinal,
era possível que ele resolvesse não esperar até o baile e já conversasse com
Lourenço, pai de Elisa, sobre nós dois, sendo assim não poderia correr o risco
que isso acontecesse. Então, por esse motivo, pedi para que Carlo e Marco
fossem bem convincentes que caso elas traíssem minha confiança, dizendo
sobre o que aconteceria naquela noite, seria considerado como traição e todos
sabiam o que acontecia com quem nos traía.
Todas aceitaram de bom grado, afinal, não conhecia nenhuma mulher
que não quisesse passar algumas horas tendo e proporcionando prazer ao seu
Don, apenas a ingrata de Chiara que parecia não se enquadrar nessa situação.
Ficamos lá por horas, até que o dia amanheceu e eu segui para a
mansão. Deixei alguns seguranças de olho em cada uma delas para as colocar
em um táxi assim que acordassem.
Mas o mais frustrante era saber que apesar de todo o prazer que recebi
durante a madrugada, uma loira com cara de anjo e um corpo sensual como
uma diaba não saía de minha mente, nem mesmo quando outras mulheres tão
lindas e gostosas faziam tudo que eu queria para me agradar.
Minha vontade era de seguir até a minha casa, localizada em Palermo
para colocar minha cabeça no lugar e evitar a empolgação de minha mãe com
os detalhes do baile das escolhidas, ou do meu pai me imprensando em saber
se tinha alguma mulher em vista logo cedo, no entanto, teríamos algumas
reuniões importantes que ele participaria na mansão e, por esse motivo,
preferi seguir para lá e descansar um pouco antes que meu dia assoberbado já
começasse.
Uma coisa era fato, Chiara com sua atitude inesperada, apenas me
estimulou em conhecê-la e descobrir mais a seu respeito, pois já tive certeza
de um detalhe, ela não se enquadrava no perfil de mulher que estava
acostumado a conhecer e isso por si só, já era encantador.
Desde o momento em que entrei no táxi, ligava para Giana a fim de
avisá-la que fui embora, mas nas milhares de ligações realizadas, ela não
atendeu nenhuma sequer, enquanto ainda se encontrava na balada.
Ainda não acreditava que consegui fugir por aquela vidraça, graças ao
cabo de minha adaga, que nunca a deixava longe de mim, junto da força nos
braços que adquiri devido ao treinamento árduo que tinha. Depois de ter
tirado com a ponta da adaga o máximo de cacos possíveis por onde meu
corpo passaria, subi nas paredes que separavam os banheiros com a ajuda do
vaso sanitário e com um impulso, escapei por lá.
Não foi fácil e pensei em desistir em diversos momentos, cheguei a
pensar que entrariam e me pegariam em fuga, mas para minha sorte e azar
deles, escapei dessa vez.
Talvez tivesse sido imaturidade de minha parte? Sim, era provável.
Mas não me sentia preparada para esse embate, não quando tinha mais
um mês até o dia do baile para preparar o meu psicológico e tudo que
precisasse fazer para o encantar, com minha delicadeza e submissão.
Aí estava outra preocupação, caso ele se lembrasse de mim apesar de
usar uma maquiagem extravagante e uma roupa completamente diferente do
que usaria no baile, tinha grandes chances de que percebesse que tudo não
passava de uma máscara, que precisava usar, de boa moça para o agradar.
Caso isso acontecesse, os planos de minha mãe poderiam escapar por entre
seus dedos.
Gemi, com o coração descompassado com o tormento que minha noite
se tornou de repente. Nunca imaginei que ele se interessaria justo por mim,
em meio às centenas de mulheres muito mais atraentes do que eu e me
convidaria para subir até onde estava?
Ainda não acreditava em tudo que me aconteceu nessa noite.
Mas só de pensar que estaria cara a cara com o assassino de meu pai, do
culpado pelas drogas que se viciou e de todo o tormento que vivi depois de
tê-lo perdido, ainda não me sentia preparada para enfrentar meu algoz. Por
isso, não achei a atitude que tive imatura, apenas de uma garota de dezoito
anos que ficou desesperada por ter que encarar seu futuro antes do previsto.
Inspirei e expirei, tentando conter a arritmia que sentia em meu peito ao
me recordar de tudo que aconteceu e o pior, o que poderia acontecer no dia
seguinte.
Pois se por acaso Matteo soubesse a qual família eu pertencia, estaria
perdida. Ele contaria que me neguei a ir ao seu encontro e essa era a
oportunidade que meu querido padrasto tanto ansiava, caso descobrisse a
excelente brecha que tive de me destacar dentre todas as convidadas do baile,
o conhecendo e talvez até despertado seu interesse para um casamento, ele
com certeza usaria isso para me punir. Todavia, preferi fugir, jogando fora
qualquer chance de alcançar seus objetivos.
Um arrepio horripilante subiu por todo o meu braço, imaginando a
criatividade que Federico teria em me castigar ao descobrir o que perdi.
— Eu tô fodida! — sussurrei, antes que o taxista parasse em frente à
minha casa e o pagasse.
Entrei pelo mesmo local que saí e para minha sorte a corda permanecia
no lugar em que a deixei.
Tive um pouco mais de dificuldade em escalar, graças aos cortes que
ganhei de presente em minha fuga, mas consegui entrar em meu quarto.
A adrenalina corria solta em minhas veias, por isso me despi, tirando
qualquer indício que saí de casa da vista de alguém que entrasse em meu
quarto. Tomei um banho rápido e tentei cuidar dos cortes que recebi da
maneira que pude, mas pelo que percebi tinham sido apenas superficiais.
Deitei-me na cama e fiquei me remexendo o restante da noite, pensando
no que falaria a minha mãe quando descobrisse o que fiz e como escaparia de
mais uma surra que me dariam.
Não entendia como ela conseguia ser tão fria, em querer que me
entregasse ao assassino de meu pai dessa maneira. Nunca se preocupava
como que eu lidaria com tudo o que ele faria comigo, ela simplesmente me
tratava como um objeto que servia para os negócios e nada mais.
Já tinha me acostumado com o tamanho de sua frieza, mas nem por isso
doía menos cada vez que me batia sem uma necessidade concreta. Ou porque
Alessandro tinha contado uma mentira, ou simplesmente me entregado por
algo que não lhe dizia respeito, e ela simplesmente acatava o que quer que
aquele desgraçado falasse. Como Alessandro conseguia ser tão diferente de
Leonardo? Um eu tinha como um irmão, porém, do outro queria o máximo de
distância possível, pois o que ele pudesse fazer para me machucar e me ver
sangrar, ele faria.
Mas nada seria pior do que a minha progenitora, que deveria ter a
função de cuidar e zelar por minha vida, em contrapartida, era a que mais me
machucava e ainda me jogaria nas covas dos leões para executar uma
vingança que nem me perguntou se queria participar.
Não sabia se conseguiria seguir com tudo que me era esperado e a
atitude equivocada que tive mais cedo, só mostrava que talvez não estivesse
de fato preparada para me entregar a ele, lhe dar o meu corpo, fingir ser uma
mulher recatada e inocente, que não teria opinião para nada, sendo que o que
mais exalava dentro de mim eram os meus pensamentos conflituosos.
Não conseguia fingir ser algo que não era, tentava fazer o que queria,
mesmo sendo proibida praticamente de respirar, mas como conseguiria
enganar o capo da Cosa Nostra? Como faria ele acreditar em minha falsa
modéstia? Como olharia em seus olhos e o beijaria ternamente sabendo de
toda desgraça que me assolava por culpa dele e de sua família? Como faria
tudo isso e esqueceria o inferno de vida que levava, o que ainda poderia
piorar ao me casar com ele?
Só em imaginar que precisaria entregar meu corpo, permitir seus toques,
que me possuísse e o pior, teria que gerar um filho do maldito, a bile subia
por meu estômago. Precisava me recompor e colocar meus pensamentos em
ordem.
Tinha que lembrar do real motivo de tudo isso e não era a vingança, era
privar que minha irmã passasse a ser usada em meu lugar, queria preservar
nela a inocência que tiraram de mim. Esse era o real motivo de não fugir
junto de Vitto.
Vitto, ainda tinha ele. Como me deitaria com outro sendo apaixonada
por ele? Como terminaria completamente nossa relação se os planos dessem
certos e conseguisse me aproximar de Matteo? Antes torcia para que isso não
acontecesse, mas depois de seu visível interesse em mim, não duvidava de
mais nada.
Não sabia ainda como encontraria forças para terminar com ele, mas
seria necessário, até mesmo para o seu bem. Pois caso continuássemos juntos
e ficasse noiva de Matteo, ele poderia descobrir sobre meu envolvimento com
Vitto e não pensaria duas vezes em matá-lo, sendo algo que jamais permitiria
que isso acontecesse por minha causa.
Mas nesse momento não poderia pensar em como me resolveria com
Vitto, até mesmo porque algo me dizia que ele tinha de cansado de mim, o
seu sumiço iminente demonstrava isso. Sabia que seus pais o pressionavam
para assumir as empresas da família e o obrigavam a participar de diversos
jantares de negócios, mas ele sempre dava um jeito de me ver e isso não
acontecia desde o meu aniversário.
Tentei distrair meus pensamentos para a minha preocupação do
momento, como explicaria à minha fuga para uma boate quando minha mãe
descobrisse, considerando que imaginava que estaria em casa dormindo. Ela
vivia irritada com a imagem de garota rebelde que diziam a meu respeito e
esse era um dos motivos para me trancar dentro de casa.
Então, caso esse boato sobre a minha rebeldia se espalhasse e caísse no
ouvido do Don ou de seu conselheiro, poderia colocar seu plano em risco e
era apenas por esse motivo que ela se preocupava com isso e ao saber o que
fiz e no lugar inadequado que me encontrava ontem, com certeza mancharia a
imagem que tinha intenção de manter a meu respeito.
Fiquei pensando em tudo que me acontecera por mais poucas horas e,
por isso, adormeci quando o sol apontava.
Sentia-me atenta a cada passo que Leonardo dava em minha direção,
sempre tentando prever suas ações para me defender. Pela sua postura,
percebi que me daria um chute frontal e consegui antecipar seu movimento,
me movi rapidamente para a lateral oposta, desviando do caminho que o
chute seguia. Inclinei o corpo ligeiramente, dobrei os joelhos, movendo meu
corpo para fora da trajetória de seu pé, assim pude evitar o impacto de seu
chute.
Cruzei os braços por instinto em frente ao meu abdômen para bloquear
qualquer possibilidade de conseguir me agredir e tirar meu fôlego.
Aproveitei a oportunidade, como se encontrava próximo o suficiente de
mim, para contra-atacar. Pisei em seu pé com toda a minha força,
considerando que era bem menor que ele e consegui desequilibrá-lo e, antes
que se recuperasse fui para cima dele, golpeei-o com chutes e socos
direcionando toda a minha ira com o que tinha me acontecido há duas noites.
Leonardo com muito esforço conseguiu se defender, até que finalmente bateu
a palma da mão no chão pedindo para que eu parasse.
— Desculpe, me empolguei — assumi, ao me afastar dele, estendi a
mão para que se levantasse. Ele aceitou mesmo que não precisasse e se
levantou num impulso.
Segui até próximo de onde treinávamos e peguei a minha garrafa de
água para me hidratar e ouvi sua pergunta.
— Você está cada dia melhor. Mas aconteceu alguma coisa que não me
contou?
— Ela tá nervosa porque fugiu do Don na boate e tá com medo de que
nossa mãe descubra. — Genevive me delatou para Leonardo, enquanto
balançava seus pés sentada no muro do jardim, assistindo ao nosso treino.
Olhei enviesada em sua direção e vi que encolheu seus ombros, por
conta de sua tagarelice.
— Eu ia te contar de toda maneira.
— Então foi à boate e nem me convidou? Vou deixar isso anotado.
Dei um sorriso em sua direção, por saber que tentava me acalmar para o
real motivo da minha inquietação.
— Você estava trabalhando nesse dia, por isso nem comentei. Acabou
sendo o dia das garotas, acho que não se sentiria à vontade com apenas nós
duas.
— Se Giana estivesse lá, você sabe muito bem que tornaria tudo ainda
mais interessante.
Revirei os olhos em sua direção, lhe entregando outra garrafa de água
que ele nem hesitou em aceitar.
— Mas me conte o que houve. Por que fugiu, afinal? — indagou e
começou a tomar um longo gole de água.
— Recebi uma bebida de um homem na balada, aceitei e não o
reconheci de imediato, e coloco a culpa no álcool pelo meu vacilo. Ele se
interessou em meu conhecer e pediu que seus seguranças viessem me
convidar e foi aí que me disseram seu nome, Matteo Lucchese. — O queixo
de meu primo quase alcançou seu peitoral definido ao descobrir de quem se
tratava, contive meu sorriso, pois ainda me sentia irritada. — Pois é, fiquei
atordoada em perceber quem era e disse que ia ao banheiro, os seguranças me
seguiram e enquanto me esperavam do lado de fora, quebrei a vidraça do
banheiro, pulei e escapei deles. — Dei de ombros, fingindo desdém enquanto
secava meu suor com uma toalhinha.
— Espera aí... deixa ver se entendi direito. Você escapou dos
seguranças do Matteo? — Assenti sem entender a surpresa estampada em sua
voz e ele desatou a gargalhar, perdendo até a força em suas pernas, enquanto
continuava olhando sem compreender em sua direção. — Como eu queria ver
a cara deles ao perceber que foram deixados para trás por uma ragazza de
dezoito anos.
O orgulho invadiu meu peito ao perceber o que fiz.
— Não tinha pensado por esse ângulo. Mas até que faz sentido, devem
ter ficado irritados.
Depois de alguns minutos em silêncio, enquanto Léo se recompunha de
sua evidente surpresa, ele finalmente concluiu minha apreensão.
— Agora está com medo de que Matteo saiba quem você é e conte a
Federico? — Assenti angustiada, enquanto me sentava ao lado de Genevive
que me abraçou pelos ombros e precisei desviar meus ombros de sua mão,
como acabou esbarrando em um dos meus cortes.
— Desculpe, esqueci dos cortes — disse, entristecida.
Dei-lhe um sorriso acolhedor para não se preocupar, e vi o arquear de
sobrancelhas de Leonardo ao cruzar seus braços, mostrando toda sua
prepotência aguardando que eu contasse o restante das informações.
— Acabei me machucando com alguns pedaços de vidro, mas já está
bem melhor, Genie está cuidando deles para mim.
Não era como se não estivesse acostumada com a dor dos machucados
que sempre ganhava mesmo!
Ele bufou audivelmente e balançou a cabeça desacreditado com o que
fiz.
— Até agora ninguém falou nada? Então talvez o Don não a tenha
reconhecido.
— Ainda não, Federico está em uma reunião com ele agora, pelo que
ouvi Irene comentando, quando saía com sua dama de companhia. Espero
que sejam apenas sobre negócios, e não sobre mim. Pelo visto, em breve
descobriremos. — Fingi não me importar com o assunto, mas sentia meu
estômago embrulhado com a possibilidade de ser descoberta.
— Talvez não seja nada de mais, mia ragazza. — Ele segurou minha
mão em compaixão, mas sabia tanto quanto eu que quando queriam descobrir
alguma coisa, eles conseguiam.
Nada passava do radar da família Lucchese.
Suspirei frustrada, pulei do muro e disse:
— Preciso me arrumar e fingir que treinava incansavelmente piano
durante a tarde toda, minha mãe deve estar prestes a chegar.
Ele assentiu, enquanto Genie abraçou Leonardo em despedida, fiz o
mesmo com cuidado para não me machucar, ela se juntou a mim e seguimos
para dentro de casa, observando meu primo se afastar pelo portão lateral do
quintal.
Assim que o perdi de vista, pedi que Genie ficasse de olho se nossa mãe
retornava, enquanto fui jogar uma água no corpo rapidamente para não deixar
claro que estava toda suada, vesti a roupa que usava antes que ela saísse,
deixando a calça justa e a camiseta que costumava usar para treinar guardada
escondida dentro do guarda-roupa e desci rapidamente ajeitando os cabelos
em um coque, ao entrar na sala de música, sentei-me na banqueta em frente
ao piano, respirei fundo, a fim de tentar acalmar a minha inquietação e ouvi
os passos de minha irmã se aproximar.
— Ainda não chegaram, tome um copo d’água para se acalmar, você
está muito agitada.
Aceitei de bom grado e depois que terminei de tomar, escolhi uma
música que me agradava quando me sentia dessa maneira.
De todas as exigências que minha mãe fazia, a aula de piano era a que
mais me agradava. Fazer os bordados, por exemplo, para mim, parecia uma
tortura, diferente de minha irmã que parecia gostar de praticar. Tanto que se
sentou em um sofá no canto do salão, retirou seus bordados e deu
continuidade de onde tinha parado, antes que fosse assistir meu treinamento.
Assim que completou seus quatorze anos, pedi que Leonardo começasse
o treinamento com ela também, mesmo que ela não achasse necessário, como
as damas não eram treinadas para isso. Mas eu sabia bem como era
importante saber se defender, mesmo que ainda não usasse nos momentos
necessários.
— Sou uma péssima influência para você! — admiti, iniciando o toque
suave nas teclas.
— Não vejo dessa maneira, queria ser mais corajosa como você...
— Você quis dizer imprudente. — Rimos em sintonia, e ela tornou a
falar.
— Você faz aquilo que seu coração manda, não aquilo que te obrigam a
fazer. Isso faz de você corajosa.
Em partes concordava com ela, mas não era o que eu faria no final das
contas. Faria o que me foi imposto! Expirei o ar lentamente de meus pulmões
e ficamos em silêncio, enquanto me perdia nas notas delicadas da melodia
que tocava.
Poucos minutos depois, ouvimos a porta da entrada se abrir e vozes
animadas se aproximarem e a agitação voltou a tomar conta de mim.
— Chiara! — gritou minha mãe. — Chiara, cadê você, cazzo!
— Na sala de música — respondi alto o suficiente para que me ouvisse
e olhei preocupada em direção de Genie.
Ela sibilou um: calma, assenti e treinei mais uma vez a respiração até
que minha mãe nos encontrasse.
A porta de vidro se abriu, me virei de frente para ela e um sorriso
malicioso surgiu em seus lábios.
— Federico ligou e disse que Don Matteo nos convidou para um jantar
em sua mansão daqui a dois dias. Parece que nosso plano começará a dar
certo!
O ar pareceu fugir de meus pulmões conforme assimilava suas palavras
e começavam a fazer sentido em minha mente turva. Depois do que
pareceram horas, mas não se passaram de segundos, consegui perguntar:
— Jantar?
— É, Chiara, pensei que ficaria mais animada com a notícia que lhe dei.
Se recomponha, faça-me o favor, dê uma olhada nas suas roupas e encontre o
melhor vestido e o deixe preparado. Você tem que estar deslumbrante.
Meiga, mas, ao mesmo tempo, com um tom de sensualidade, não se esqueça.
Precisa deixá-lo de boca aberta e encantado com seus dotes.
E por seus dotes, ela não quis dizer pelo que eu era ou o que sabia fazer,
mas sim por minha aparência.
Como disse, era vista como um objeto com apenas um intuito, seduzir o
Don.
Assenti, segurando minha língua afiada para não lhe dar uma resposta
atravessada, pois ao que tudo indicava, consegui escapar de uma bela surra
ou castigo mirabolante pela minha ida a boate, ou fuga do capo, não seria
besta de dar motivo para apanhar com os recentes cortes que tinha ganhado,
sendo que por algum motivo que ainda não sabia qual era, Matteo resolveu
não dar com a língua nos dentes com minha má postura de dois dias atrás.

Nunca me senti tão aflita como me sentia nesses dois dias, desde que
soube que Don pediu para que fôssemos jantar na mansão de sua família.
Tudo parecia como um pesadelo e não conseguia pensar em mais nada
que não fosse em inventar que estava doente. Será que minha mãe se
compadeceria de mim ao menos uma vez e pediria para alterar a data do
jantar, usaria esse tempo sobressalente para pensar em outra desculpa mais
convincente para ganhar tempo? Poxa, na minha cabeça nosso encontro
aconteceria no baile, junto de dezenas de garotas, que estariam disputando
sua atenção, sendo algo que não faria.
Mas não sabia que merda tinha feito com a minha vida, que tudo parecia
conspirar contra mim nos últimos dias, e isso somado a curiosidade no
motivo de Matteo em querer tanto me conhecer, me deixava agoniada com a
possibilidade de estar tramando alguma coisa contra mim.
Será que ele me desmascararia em frente à minha família?
Caso esse fosse o real motivo da convocação desse jantar, estaria
perdida, pois seria a minha palavra contra a dele, do dono da porra toda, do
maior mafioso dos últimos tempos e por mais que eu não quisesse admitir,
minha fama não ajudava muito e sabia que acreditariam nele sem pestanejar.
Suspirei frustrada, enquanto observava a pantalona, riscada em preto e
branco com uma renda preta na barra larga da calça, junto do cropped de um
ombro só no mesmo tom, com o mesmo estilo de renda no caimento em meu
peito. Sentia-me elegante, sexy apesar de não ter muita carne à mostra, pois
meu cropped permitia ver apenas um pequeno pedaço de pele de meu
abdômen.
No pé calçava uma sandália com salto alto de couro branco, destacando
o esmalte vermelho que usava em minhas unhas. Minha mãe implicaria com
isso, sem sombra de dúvidas, mas me neguei a trocar a minha cor favorita por
um nude, como era esperado que uma primeira-dama usasse.
Foda-se a primeira-dama e suas unhas no tom nude, não me privaria até
disso.
Por esse motivo, me fingi de sonsa e diria que esqueci de tirar. Vesti
uma roupa que gostava e era apropriada para a situação, isso tinha que servir.
Pelo menos era assim que esperava.
Terminei minha maquiagem e apesar da vontade de usar meu batom
rouge, passei um rosa-claro e uma maquiagem delicada que destacasse meus
traços, mas que não parecesse nada exagerado. O cabelo, deixei jogado de
lado com pequenas ondulações em seu caimento. E para mim parecia
perfeito, mesmo que preferisse uma coisa ou outra.
O real motivo desse jantar não deixava meus pensamentos e apesar de
não saber o que me aguardava, dessa vez estaria preparada para encontrá-lo.
Tive longos dois dias para isso, claro que não era como o mês inteiro que
teria até o baile, mas já era melhor do que os segundos que tive na boate.
Dessa vez, pelo menos sabia com quem me encontraria e quem ele era.
Uma batida à porta, cortou meus pensamentos e, então, me virei para a
porta e encontrei Genie com um sorriso delicado no rosto, com seu vestido
florido.
— Mamãe pediu para vir te chamar, temos que sair.
Assenti, alcancei minha bolsa pequena de mão com meu celular dentro
e segui em direção à minha irmã, até a entrada de casa, onde Federico nos
aguardava com o carro estacionado para seguirmos em direção à mansão
Lucchese, como uma repleta família feliz, algo que não poderia estar mais
longe da verdade.
Assim que a Mercedes de Federico fora estacionada na guarita onde um
dos muitos seguranças que rodeavam a mansão se encontrava, o grande e
imponente portão de ferro forjado, se abriu revelando um caminho
pavimentado ladeado por palmeiras majestosas.
A mansão se localizava em uma grande colina, afastada do centro de
Sicília e era cercada por muros imensos, feitos de pedras, garantindo a total
privacidade de seus moradores.
Conforme seguíamos pelo longo pavimento, admirava o lindo jardim
iluminado nas laterais, com alguns canteiros de flores e até mesmo árvores
frondosas, mostrando o belo e extenso gramado verde. Em frente à entrada da
mansão era possível visualizar uma grande fonte ornamental jorrando água
em cascata, encantando ainda mais a beleza e os detalhes do local.
Assim que saí do carro, admirei a fachada da mansão que exibia uma
combinação de pedras e estuques, enriquecendo seus detalhes requintados.
Percebi alguns seguranças espalhados andando em volta da propriedade
com toda a sua seriedade, sempre atentos ao seu redor.
Uma mulher com seu uniforme social preto abriu a porta, com um
sorriso no rosto, se apresentando como Francesca, disse que era a governanta
da família. Conforme entrávamos no hall espaçoso da entrada, fiquei
deslumbrada com os detalhes sofisticados do grande lustre de cristal que
iluminava o ambiente e deixava o piso de mármore ainda mais bonito.
Ela nos direcionou até uma enorme sala de estar, com grandes e
confortáveis estofados e pediu que nos sentisse à vontade, que avisaria sobre
a nossa chegada.
Sentei-me com a postura ereta, me mantendo silêncio admirando as
lindas telas de artes penduradas nas paredes, visto que não queria prestar
atenção nos cochichos entre minha mãe e seu marido.
Poucos minutos se passaram e uma linda mulher sorridente, que vestia
um conjunto social de saia e um casaco em um tom de vermelho, apareceu,
seus braços enganchados no homem alto, com cabelos pretos jogados para
trás e seu bigode bem-feito, o reconheci no mesmo instante. Salvatore
Lucchese e mesmo que não quisesse admitir, adorei o fato de sua esposa usar
uma roupa em um tom forte, como eu gostava, sem se importar com o que a
sociedade diria.
— Boa noite a todos, desculpem a demora — ele nos cumprimentou. —
Essa é a Sandra, minha esposa. Matteo está em uma ligação importante e já
descerá, pediu para que viesse recebê-los enquanto isso.
Levantamo-nos para os cumprimentar e Sandra o fez com um sorriso no
rosto, que parecia ser verdadeiro, nada forçado como o de minha mãe.
Voltamos a nos sentar nos estofados e Sandra se juntou a nós, enquanto
os homens conversavam tomando uma bebida de cor âmbar em pé próximos
à pequena mesa.
Francesca retornou com algumas taças de champagne e água, e apesar
de querer aceitar o champagne, precisava manter as aparências e aceitei a
água, assim como minha irmã.
Nós duas permanecemos caladas e minha inquietação aumentava com a
demora que Matteo levava. Como não fazia parte da conversa sobre o baile
que tinham e nem fazia questão de participar, me levantei e fui até a enorme
vidraça que dava a vista para o lindo jardim lá fora, fiquei o admirando por
alguns minutos, até que senti um arrepio subir por minha espinha e um
perfume masculino cítrico, que me lembrava limão e capim-cidreira, adentrar
em minhas narinas e invadir o ambiente, mesmo que nunca tivesse ficado
frente a frente com ele, eu soube que Matteo tinha chegado.
— Boa noite a todos, desculpem pelo meu atraso. — Virei-me na
direção da voz grossa e máscula que exalava tanto energia quanto confiança,
e percebi que me enganei ao pensar que estava preparada para o encarar pela
primeira vez. — Como vai, Chiara?
Um sorriso indecente surgiu em seus lábios, que fez com que eu me
esquecesse por alguns segundos quem ele era e onde estávamos. Senti meu
corpo por completo se esquentar com a mera menção de meu nome em seus
lábios e, por isso, fiquei grata quando Federico tomou frente indo até Matteo
e cortando nossos olhares.
Essa distração serviu para me recompor e tomei um longo gole de água
para tentar acalmar as batidas frenéticas de meu coração, que obviamente
ficou nervoso com a intensidade de seu olhar para cima de mim.
Aproveitei a oportunidade para observar melhor a maneira como Matteo
era e não podia negar que apesar de tudo, era um excelente colírio para os
olhos.
Ele era alto, bem mais alto do que imaginei aquele dia na boate. Tinha
os cabelos escuros, talvez pretos, assim como os do pai. Vestia-se todo de
preto também, com seu terno de três peças, uma camisa bem passada e uma
fresta da gola aberta, permitindo visualizar um pouco de sua pele bronzeada.
Mesmo com toda a sua roupa, era possível perceber o quão forte era, pois
suas vestes se colavam em sua pele, deixando pouco para a imaginação.
Minha mãe me chamou em volume baixo e me lembrei de me
aproximar para cumprimentá-lo, segui até onde todos estavam e aquele
sorriso insolente surgiu em seu lindo rosto assim que me aproximei.
— É um prazer te conhecer, Chiara!
Estendi minha mão em sua direção, parecendo que tinha perdido minha
voz e senti um choque percorrer das pontas dos meus dedos e caminhar por
todo o meu braço, conforme ele a segurava com cuidado e deixava um beijo
casto sobre ela.
Não esperava por seu cavalheirismo, isso me surpreendeu e acreditava
que não consegui disfarçar.
— Chiara, cadê os seus modos? — ralhou minha mãe. Fazendo com que
forçasse minha voz a sair de minha boca.
— O prazer é todo meu, senhor Lucchese.
— Pode me chamar de Matteo.
Engoli em seco, sem saber o que pensar, pois ele não corrigiu nenhum
outro até então, deu apenas essa liberdade para mim. Não soube o que dizer e
apenas assenti, conforme puxava minha mão pequena de seus dedos longos.
Fiquei remexendo minha mão, inquieta com tudo que senti em sua
presença, tentando entender o que tinha acontecido comigo naquele
momento, enquanto todos voltavam a conversar, incluindo Matteo, dentro de
seus assuntos. No entanto, eu fingia que prestava atenção na conversa tediosa
entre minha mãe e Sandra, mas vez ou outra meus olhos traidores seguiam
em direção ao lindo moreno que conversava com uma intimidade invejável
com seu pai.
Federico tentava chamar a atenção do Don, o que ficou claro que
tentava o impressionar, talvez para não gerar suspeitas com todas as coisas de
errado que fazia. Mas o fato de ele o ignorar ou ser apenas educado nos
momentos propícios, deixou a minha noite um pouco mais agradável.
Não me passou despercebido que a todo instante nossos olhares se
cruzavam e sentia uma quentura me envolver, mas quando em uma dessas
trocas de olhares, ele levantou seu copo de uísque como se brindasse a algo,
foi aí que tive a certeza de que ele sabia de fato quem eu era e engoli em
seco, com o medo de que dissesse alguma coisa durante o jantar.
Desviei o olhar no mesmo instante e senti aquele sorrisinho irritante em
seu rosto. Precisei me conter para não o mandar se foder.
Após esse episódio, fiz o máximo para evitar que meu olhar vagasse em
sua direção, o que consegui até o momento do jantar.
Tudo corria bem apesar de tudo. Federico conseguia fingir
deslumbramento por cada um deles, sabendo muito bem o quanto os odiava.
Minha mãe também conversava animada com Sandra, mesmo que soubesse
suas reais intenções para com sua família. Enquanto eu e minha irmã
permanecemos em silêncio e só respondemos o essencial, quando nos era
perguntado diretamente. E Matteo permanecia conversando sobre negócios
com seu pai e Federico, mas sentia sua atenção em mim a todo instante.
— Chiara toca piano tão graciosamente, tenho certeza de que nosso Don
ficaria encantado com seus dotes.
— Adoraria ouvi-la tocando qualquer dia desses.
— Caso queira, ela pode tocar alguma coisa para...
— O que gosta de tocar, Chiara? — Seu corte em minha mãe e sua
pergunta direta a mim, me surpreendeu mais uma vez, mas o respondi com
toda a educação que fingi que tinha.
— Toco bastante Mozart, mas algumas mais novas, como Imagine de
John Lennon.
— Também é fã de Beatles? — Sua pergunta soou curiosa e me peguei
intrigada se apenas estava sendo educado ou se de fato tinha interesse em
saber mais sobre mim.
— Pode-se dizer que sim, conheço a maioria de suas músicas.
Um sorriso satisfeito surgiu em seus lábios, mas voltou a exalar toda a
sua seriedade quando meu padrasto interferiu na conversa.
O jantar transcorreu bem, mas em toda a oportunidade que tinha minha
mãe tentava mostrar o quanto eu sabia me comportar como uma dama, que
tinha um currículo impecável, falava três idiomas, além de saber bordar e até
mesmo cozinhar. Ela tentava mostrar o quanto fez o possível para me
preparar para um bom casamento, mesmo sabendo que não precisaria usar
alguns deles, pois se me casasse com um bom marido, teríamos uma
cozinheira em casa.
Segurava-me para não demonstrar minha completa insatisfação e tédio
com toda aquela conversa furada e quando todos jantaram, fui surpreendida
quando Matteo se aproximou de minha cadeira.
— Quer conhecer o jardim? — indagou, estendendo sua mão em minha
direção, como um completo cavalheiro.
— Perdão, senhor. Mas para evitar qualquer maldizer sobre nossa
ragazza preferiria que Genevive os acompanhasse.
Matteo empertigou seu corpo, deixando claro sua falta de paciência com
minha mãe e estralou seu pescoço, enquanto a respondia com total frieza,
colocando-a em seu lugar:
— Tenho certeza de que no jardim da minha mansão, que está cercado
de seguranças, não causará nenhum falatório indesejado. Prefiro ter um
momento com Chiara a fim de conhecê-la melhor. — Ele voltou seus olhos
acinzentados em minha direção, estendendo a mão novamente. — Caso
assim, você queira.
Percebi que minha mãe engoliu em seco, com a ira estampada em seus
olhos por ter sido repreendida em frente a todos, mas segurou sua língua por
ele ser quem era. Minha irmã abaixou o rosto, contendo seu sorriso e quando
estava prestes a respondê-lo, minha mãe indicou com a cabeça para seguir
logo com ele.
— Claro.
Aceitei sua mão, me levantei e segui com os braços encaixados em
direção ao imenso jardim, em silêncio. Na dúvida de como deveria agir ao
seu lado, optei pelo silêncio, afinal, uma mulher submissa mal tinha voz para
nada, logo, imaginei que estivesse no caminho certo dessa maneira.
— Pela maneira como admirava o jardim pela vidraça, imaginei que
gostaria de passear por aqui, como está uma noite agradável. — Matteo
cortou o silêncio, tentando puxar conversa e tentei ser o mais educada
possível.
— Sim, é muito bonito.
— Você também está deslumbrante essa noite — assumiu, acariciando
em círculos minha mão encaixada em seu braço, com sua mão livre e senti
uma fisgada em meu peito com seu comentário.
— Obrigada! O senhor também está bem atraente. — Tomei cuidado
com minhas palavras, precisava ser submissa, mas, ainda assim, demonstrar
interesse.
Aquele seu sorriso indecente voltou a surgir em seus lábios e precisei
respirar fundo para não me deixar levar pelo seu sorriso, era deslumbrante,
não poderia negar o contrário.
— Mas admito que senti falta do batom vermelho em seus lábios.
O espanto me tomou por completo, pensei que continuaria a fingir que
não sabia quem eu era, mas obviamente esse foi o real motivo de ter pedido
por uma caminhada longe de todos, queria privacidade para dizer as verdades
que o incomodavam.
— Desculpe, mas não sei do que o senhor está falando.
Ele revirou os olhos e tornou a acariciar minha mão de uma maneira
lenta e torturante. Seu contato com a minha pele, por menor que fosse, fazia
com que sentisse coisas inapropriadas para a situação.
— Ah, qual é, Chiara, estamos apenas nós dois aqui, não precisa fingir
ser algo que não é ao meu lado. Quero conhecer sua verdadeira personalidade
e sei que não é aquela que demonstrou o jantar inteiro.
Engoli em seco, pois tudo que eu mais temia aconteceu. Tinha certeza
de que não conseguiria enganá-lo depois que soubesse quem eu era.
— Não tenho nada para esconder, senhor. Tenho sido eu mesma o
tempo todo. — Continuei em minha farsa, torcendo para que acreditasse e
talvez pensasse que se enganou com a mulher da balada.
— Primeiro, não me chame de senhor, já pedi para que me chame de
Matteo. E segundo, uma garota que mal falou o jantar todo, não condiz com
aquela que fugiu por um simples convite de conversa, a ponto de quebrar
uma vidraça, pular por ela e deixar vários seguranças que matam milhares de
bandidos por aí a ver navios.
Era fato, ele não cairia em meu teatro fajuto, mesmo que continuasse
insistindo na mentira, por isso, já que ele sabia da verdade, resolvi ser eu
mesma, pelo menos em algum momento da minha noite.
— Acredito que deva trocar seus seguranças, talvez eles não sejam tão
bons como imaginava. Acabei te fazendo um favor. — A gargalhada viril
ecoou o jardim, e vi o mesmo segurança que veio falar comigo atrás de nós,
limpar a garganta incomodado com meu comentário.
— Tenho que concordar contigo, talvez eu realmente deva fazer isso.
Dei de ombros, fingindo não ter gostado de como ele se parecia à
vontade ao meu lado.
— Fiquei preocupado que tivesse se machucado, mas admito que fiquei
ainda mais admirado com sua atitude. — Ele preocupado comigo? Com
certeza devia tá brincando com a minha cara! — Mas, antes de mais nada,
deixarei claro uma coisa, era só ter dito que não tinha interesse, não precisava
se dar ao trabalho de fugir daquela maneira. Não sou um monstro.
— Não é o que ouço dizer — falei, antes que conseguisse conter minha
língua e me arrependi no mesmo instante.
Mas para a minha surpresa, Matteo não se importou e um riso malicioso
surgiu em seus lábios, conforme me olhava intrigado.
— Sou um monstro apenas com quem merece ser tratado como tal. Não
é o seu caso, principessa. Pelo menos não até onde eu saiba.
Um arrepio me tomou por inteiro com o final de sua frase, pois mal ele
sabia que sim, talvez eu lhe desse motivo para ser um monstro comigo.
Ficamos em silêncio por alguns instantes, enquanto assimilava suas
palavras que me pareceram sinceras, junto do apelido carinhoso que até então
nunca tinha sido chamada.
— É por isso que tem ficado nervosa ao meu lado? Percebi sua
inquietação tanto durante o jantar e agora enquanto está ao meu lado. —
Como ele poderia ser tão observador dessa maneira? — Tem medo do que
posso fazer com você?
Talvez eu devesse ter mantido minha boca fechada, mas já que ele
gostaria de me conhecer, faria exatamente o que pediu.
— Na verdade, não tenho medo de você, nem de ninguém. E jamais
permitirei ser intimidada por você, só porque é o dono de todo esse império.
Já passei da fase de ser amedrontada por tão pouco.
Ele estreitou os olhos em minha direção e um sorriso torto surgiu em
seus lábios, enquanto passava os dedos em seu cavanhaque bem-feito, o que
fez com que meus olhos vagassem até seus lábios bem desenhados, por um
momento até me esqueci que ele era o inimigo.
— Além de tudo é corajosa! — Seu olhar me estudava, como se fosse
algum de seus brinquedinhos que ainda não soubesse manusear. — Então
qual foi o motivo de ter fugido de mim daquela maneira na boate?
— Não sou obrigada a te dar um motivo. Apenas fiz o que achei melhor
naquela ocasião, talvez esteja tão espantado com meu gesto, pois não está
acostumado a te deixarem esperando, ainda mais as muitas mulheres que
costuma sair por aí.
Ele arregalou seus olhos, boquiaberto com a coragem que tive de o
afrontar e sabia que estava colocando tudo em risco com os planos de minha
mãe e padrasto. Mas, cazzo, quando que realmente imaginei que fosse
conseguir segurar a minha língua ao seu lado apenas porque a minha mãe
queria?
— Touché! — Ele parou de caminhar, ficou de frente para mim com
uma distância muito pequena, permitindo que sentisse o cheiro forte de álcool
de seus lábios, misturado com o odor de charuto e seu perfume cítrico, não
podia negar que a mistura ao invés de revirar meu estômago, teve a reação
contrária. Olhei na direção de seus lábios e subi para os seus olhos, tão
intensos e me perdi dentro deles. — Realmente não tenho o costume de ficar
correndo atrás de ninguém, mas vou adorar ver isso acontecendo com você,
ainda mais quando ficar implorando para que eu te foda com força e gostoso.
Suas palavras esdrúxulas se fixaram em minha mente, desacreditada
com a coragem do que disse e pior ainda, achar que um dia imploraria para
que me fodesse, ele só poderia ter ficado louco.
Dei um passo em sua direção, ficando com apenas um centímetro de
distância.
— Só se for nos seus sonhos! Nunca pedirei por isso a você —
retruquei, sentindo aquela sensação de fogo me tomar novamente, mas lutei
contra meus instintos de dar atenção a eles.
— Isso é o que veremos, principessa!
Aquele sorrisinho insolente retornou em seus lábios, ele umedeceu seu
lábio inferior de maneira sedutora e antes que entregasse a maneira como
mexia comigo, recuei um passo para tomar fôlego.
— Acho melhor voltarmos antes que minha mãe venha atrás de mim,
pensando que fiz algo de errado ou que comprometa a minha honra.
Ele assentiu, como um leão prestes a devorar a sua presa e disse:
— E mais uma vez você me surpreende com suas atitudes e a forma
como pensa. Você tem me deixado cada vez mais intrigado, principessa.
Fitei seus olhos intensos, sem saber ao certo o que dizer, mas algo me
dizia que ele tinha se agradado de alguma coisa que fiz ou falei, e não era
pela maneira recatada que me comportei seguindo as instruções de minha
mãe. Talvez ele tivesse se interessado apenas por eu ter sido eu mesma, e isso
me agradou, mesmo que não quisesse admitir.
Faltavam apenas três dias para o dia do baile.
Três semanas se passaram desde que aconteceu meu encontro
desastroso com Matteo.
Para a minha progenitora e seu marido, tudo acontecia melhor do que o
esperado, apenas pelo fato de ele ter se interessado por mim. Mas minha mãe
sempre me questionava o que tinha acontecido entre nós dois em nosso
pequeno passeio pelo jardim.
Queria saber tudo que conversamos e se me comportei da maneira
adequada, óbvio que dizia que fiz exatamente como fui instruída. Mal sabia
ela que isso não passava de uma grande mentira, pois Matteo conseguia
despertar o pior em mim e quando percebi, já tinha falado tudo que pensava a
seu respeito.
Se esse era o motivo de ele ter se afastado por essas três semanas, ao
invés de tentar mais uma reaproximação, não sabia dizer. Mas acreditava que
os dois esperavam por mais contato da parte dele, depois de seu visível
interesse. O problema era que talvez eu tivesse colocado tudo a perder e não
queria nem imaginar o que fariam comigo, caso descobrissem isso.
Um dos motivos que talvez os tivessem deixado mais tranquilos que
não fiz nada de errado, fora a viagem que Matteo fez para os Estados Unidos
que durou mais de dez dias, pelo que Federico comentou. Por isso, deviam
imaginar que ele não teve tempo para vir atrás de mim.
Sinceramente, não sabia o que pensar a respeito, pois uma parte de mim
ainda se sentia confusa com a maneira que me senti ao seu lado, pois pensava
que a única coisa que sentiria dele seria repulsa, e isso nem chegou perto de
acontecer. O que me assustava na mesma proporção que me preocupava.
Minha mãe agendou com a costureira que faria o meu vestido para o
baile, fez questão de fazer sob medida para que saísse perfeito e chamasse
ainda mais a atenção de Matteo. Uma parte de mim, queria distância desse
baile, ainda mais por causa da preocupação que o sumiço de Vitto me afligia,
ainda precisava conversar com ele e não sabia como.
Já outra parte de mim, uma bem pequena, por sinal, se sentia ansiosa
para saber a reação que o Don teria ao me ver usando o vestido sob medida,
não porque me importava com o que pensasse ou deixasse de pensar. Era
apenas porque gostei da maneira como me olhava, afinal, que mulher não
gostaria de ser olhada com tamanho desejo por um homem poderoso,
confiante e com uma beleza enlouquecedora? Mas era apenas isso, meu ego
que queria ser inflado por aquele desejo que ficou estampado em seus olhos.
Claro, caso ele não tivesse perdido o interesse por mim, visto seu
sumiço nas últimas semanas.
Assim que fiz a última prova do vestido, fiquei deslumbrada em como
enriqueceu meus traços e minhas curvas. Apesar de saber que chamava a
atenção das pessoas, não conseguia me achar tão bonita assim, mas naquele
momento isso aconteceu e um sorriso apontou em meu rosto enquanto olhava
para o lindo vestido na cor marsala.
— Você tá tão linda, Chichi! — Genie cortou meus pensamentos e sorri
em sua direção.
— Sua irmã está certa, com certeza vamos conseguir destacar você das
demais convidadas — disse minha mãe, com seu tom ácido enquanto meu
sorriso sumia.
Retirei o vestido e saímos da boutique famosa na Sicília, seguindo em
direção ao carro, onde nosso motorista nos aguardava.
Irene e Genie, caminhavam lado a lado à minha frente, enquanto eu as
seguia sem muito interesse observando as vitrines das lojas, mas quando
olhei para uma livraria com diversas revistas na vitrine com letras garrafais
falando sobre uma notícia bombástica, meus olhos por curiosidade subiram
em direção à foto do casal e perdi o ar por um momento, ao parar
abruptamente e me virar de frente para a maldita vitrine.
Nesse momento, uma mulher saía com a própria revista nas mãos e
antes que percebesse, peguei dela a ouvindo me xingar, mas não me importei.
— Tá louca, garota! Me devolve isso, cazzo.
Mas parecia que meus ouvidos zumbiam, o ar parecia ter fugido de
meus pulmões e a decepção assolava meu peito com força.

Finalmente os herdeiros das maiores empresas de logística da Itália,


assumem romance e marcam seu casamento.

Para alguns não passava de uma fofoca qualquer, para mim foi pior,
senti o gosto da traição em meus lábios, ainda mais por Vitto não ter me dito
em nenhum momento que se casaria com a herdeira da empresa concorrente
de logística.
Meus olhos se encheram de lágrimas e antes que percebesse ou
conseguisse conter, as lágrimas escorriam por meu rosto de maneira nada
contida, a mulher que tinha pegado a revista, tomou-a de minhas mãos com
ignorância, me xingou de alguma palavra não tão educada e saiu irritada. Eu
continuei parada olhando para a foto do casal estampado nas revistas,
posando com um sorriso no rosto, enquanto se olhavam nos olhos,
parecendo... Dio mio... era difícil até pensar nisso, mas pareciam apaixonados
e isso foi o que mais me doeu.
Vitto me fez de idiota, mentiu para mim, enquanto estava de caso com
outra.
Nesse momento, tive meus pensamentos cortados, quando senti um
puxão com força em meu braço, junto de um apertão em minha pele com as
unhas afiadas de minha mãe.
— Mas que merda você pensa que está fazendo, chorando no meio da
rua, enquanto pega a revista de outra pessoa, Chiara?
Engoli em seco, pois mesmo que quisesse, não poderia lhe contar a
verdade, mas isso nem seria necessário.
Quando minha mãe me soltou, deu um passo em direção à vitrine da
loja e reconheceu de quem se tratava a fofoca, ela me olhou primeiro com um
sorriso vitorioso no rosto, pois sabia que isso apenas a ajudaria a seguir com
seu plano, sempre a merda do seu plano nos pensamentos. E na sequência a
fúria começou a tomar seus olhos, ao invés de verdes como os meus,
começaram a ficar num tom de preto horripilante, dei um passo para trás,
sabendo que ela deveria estar se segurando para não me dar uma bela de uma
surra ali mesmo na frente dos outros.
Engoli em seco, sem saber ao certo o que lhe dizer.
Ela cortou o espaço que havia entre nós, me puxou com força contra seu
corpo.
— Se você fez alguma merda com esse riquinho metido a besta, Chiara,
eu te mato e não estou exagerando, eu vou te matar! — grunhiu, enfurecida
em meus ouvidos.
Ela começou a me puxar irritada, sem se importar com o que pensavam
ao ver uma mulher puxando sua filha pelo meio da rua, como se fosse uma
menina que tivesse acabado de aprontar.
— E-eu não fiz...
— Cale a porra da boca, Chiara!
O olhar enviesado que me lançou fez com que eu ficasse quieta e
tentasse argumentar quando chegasse em casa. Vi o olhar entristecido que
Genie me lançava, enquanto tentava nos acompanhar. Apenas reconheci o
que me disse, sem emitir som “força” e mesmo com as lágrimas ainda
escorrendo de meus olhos, não pela surra que levaria, mas ainda pelo impacto
que recebi da notícia, apenas assenti, tentando recuperar o choque que recebi
de uma das poucas pessoas que me importava nessa merda de vida.

Minha mãe foi o caminho inteiro gritando comigo, que isso não era a
postura esperada de uma dama que se casaria com o capo da máfia, ainda
mais chorar por outra pessoa que não fosse o meu noivo. Em sua cabeça era
isso que eu já era, a noiva de Matteo.
Fiquei calada o caminho inteiro e nas poucas vezes que tentei lhe dizer
que nunca me deitei com Vitto, tomei um belo e forte tapa na cara, fazendo
com que tivesse que respirar fundo para não me voltar contra aquela que me
deu a vida.
Nas poucas vezes que não me xingava, fazia algumas ligações e uma
delas reconheci como uma das médicas que costumava tratar das pessoas da
máfia, alguém confiável e que sempre mantinha em segredo a podridão que
nos envolvia. Meu sangue gelou quando minha mãe exigiu que ela fosse em
nossa casa com urgência.
Assim que entrei em casa, minha mãe voltou a gritar a plenos pulmões
em minha cara, por ser uma vagabunda em me envolver com outro, uma
ingrata por eles terem planos que eu seria a mais beneficiada com tudo isso e
colocar tudo a perder por um rapaz que não estava nem se importando
comigo.
Ela me trancou no quarto e não me importei, pois naquele instante a
única coisa que queria era chorar todas as lágrimas possíveis. Minha vontade
também era de ligar para Vitto e o xingar com as piores palavras existentes,
mas nem isso tinha força. Meu único desejo era me encolher em posição fetal
e cair nas lágrimas que pareciam nunca ter fim.
Uma hora depois, ouvi a porta ser destrancada e o receio voltou a me
envolver, pensei que seria minha mãe vindo me dar a surra que ainda não
tinha acontecido, mas quem eu vi, fez meu ar escapar dos pulmões por alguns
segundos. Era a doutora De Luca, a médica que conversou no telefone e a
hipótese do que ela faria comigo começou a me amedrontar.
— Doutora, conforme te expliquei mais cedo, quero que confira que
minha filha continua sendo pura.
Ela assentiu, me direcionando um olhar tão frio quanto o de minha mãe
e apertei minhas pernas por puro instinto.
Minha mãe fechou a porta atrás de si e a doutora colocou sua maleta em
cima da minha cama, então disse em seu tom frio.
— Chiara, por favor, tire a calcinha, como está de vestido não será
necessário retirar mais nada.
Prendi a respiração, olhando com total incredulidade na direção de
minha mãe.
Como ela conseguia ser tão fria com sua própria filha? Como podia
não me dar um voto de confiança na minha palavra.
Mesmo com a médica aguardando que eu fizesse o que me pediu, e
minha mãe com os braços cruzados com sua carranca fechada em minha
direção, tentei lhe mostrar a racionalidade que pensei que talvez ainda
pudesse ter.
— Mãe, eu nunca fiz nada com Vitto, eu juro. Isso não é necessário.
— Cale a boca, Chiara — gritou, sem se importar com a visita dentro do
quarto. Ela respirou fundo, se contendo para não avançar sobre mim e
continuou com seu tom frio. — Pode dar continuidade, doutora.
— Mas eu... — Tentei voltar a dizer. Não queria ser exposta dessa
maneira, ainda mais humilhada da maneira que seria.
— Já mandei você se calar e fazer o que ela mandou. — Ela perdeu a
paciência, vindo em minha direção num rompante, pegou meu rabo de cavalo
e puxou com força, enquanto segurava meu rosto com força, afundando suas
unhas enormes em minha pele. Precisei conter o choramingo com a dor e
antes que conseguisse raciocinar, ela jogou minha cabeça com toda sua ira
para a cama. — A culpa disso é toda sua! Se não se comportasse como uma
vadia, nada disso seria necessário.
Se fosse em uma situação normal com um exame ginecológico eu sabia
que seria necessário fazer isso, mas não era o caso. Aquilo era humilhante de
tantas formas, que o meu ódio por ela aumentou gradativamente, segurei os
lençóis com força, para não avançar sobre ela, engoli em seco, a fim de tentar
me recompor.
Levantei-me, retirei a calcinha e voltei a me deitar na cama com as
pernas dobradas, para que a médica fizesse sua função.
Ela não me avisou de nada do que faria, para que me preparasse e o
incômodo junto da humilhação me tomavam por completo. Ela colocou
alguma coisa em mim, fazendo com que fosse possível me enxergar por
completo e disse:
— Ela continua virgem, Irene.
— Tem certeza? Não posso ter dúvida nenhuma em relação a isso. Sua
honra seria exposta e jamais poderia permitir que isso acontecesse, ainda
mais com quem ela se casará.
A médica respirou fundo e voltou a afirmar:
— Sim, tenho certeza, o hímen está intacto.
Minha mãe respirou fundo, passando a mão aliviada por seu rosto,
enquanto precisei segurar minha língua para não gritar em sua cara que eu
falava a verdade e nada disso era necessário. Porém, me sentia cansada de
lutar contra ela, por esse motivo apenas permiti que as lágrimas escorressem
de meus olhos. Não eram mais lágrimas por um coração partido, mas pela
humilhação de ter que comprovar a minha virgindade.
Assim que a médica saiu de meu quarto, permaneci deitada com o
antebraço em meus olhos, não querendo olhar para mais nada, apenas me
perder no vazio que crescia dentro de mim.
— Nossa conversa ainda não terminou, Chiara. Não pense que o que
você fez mais cedo e tudo que poderia causar aos nossos planos, ficará por
isso mesmo. — Senti um arrepio subir por minha espinha e sabia que não
escaparia de qualquer que fosse seu castigo.
Mas não me dei ao trabalho de argumentar em nada, afinal, de nada
adiantaria.
Ouvi a porta se bater com força e a fechadura ser trancada, soltei a
respiração que nem percebi ter segurado.
O restante da tarde, fiquei pensando em tudo que acontecia à minha
volta. No motivo de Vitto ter me traído dessa maneira. Eu já sabia que nosso
namoro tinha data de validade, mesmo que não quisesse, tinha essa ciência,
mas ele poderia ter me contado os planos de sua família, ao invés de me
convidar para fugir com ele ou ficar me pedindo a todo instante para que me
deitasse com ele.
Será que esse era seu real desejo? Que me entregasse e depois
continuaria o casamento que seu pai exigia?
Não conseguia acreditar que ele também me usaria dessa forma, a ponto
de apenas querer tirar minha virgindade e me descartar como se não fosse
nada. Será que todas as palavras doces que me disse eram mentiras? Será que
não passava de um troféu em suas mãos? Uma conquista que estava disposto
a ter e nada mais?
Aquela foto não parecia de alguém que se via obrigado a entrar em um
casamento forçado. Parecia que seu olhar era sincero ao admirá-la.
O fato de ele ter se afastado tanto depois que me neguei mais uma vez a
me entregar, também não ajudava. E todo o amor que dizia sentir por mim?
Onde tinha ido parar?
Pelo menos para uma coisa tudo isso serviu, ficaria mais fácil seguir
pelo caminho tortuoso que minha mãe planejou, não tinha mais nada a
perder.
Fiquei me remoendo por mais um tempo, até que a porta foi destrancada
e meu peito deu um solavanco com o medo me assolando com o que
aconteceria. Sabia que uma visita para saber como estava, com certeza não
era. E quando enxerguei a cabeça raspada surgir pela fresta da porta, com
aquele sorriso cheio de malícia em seus lábios, que sempre aparecia quando
vinha me torturar, torci para que realmente tivesse me entregado a Vitto e
minha mãe tivesse cumprido sua palavra em me matar.
Pois sabia que a morte era a melhor opção mediante ao que ele faria a
seguir.
Vi o chicote passar por seus dedos cheio de calos, enquanto seu olhar
gelado me percorria de cima a baixo, com a maldade estampada em cada um
deles e me retesei no mesmo instante.
— Fiquei sabendo o que aprontou mais cedo, Chiara, e como ficou
depois de saber do casamento daquele moleque.
Ele se aproximou e encolhi meus joelhos, envolvendo meus braços
como se pudesse protegê-los. Sabia que dessa maneira mostraria a minha
vulnerabilidade, mas muita coisa tinha me acontecido naquele dia e não
estava em meus melhores momentos de ser forte.
— Você sabe como sou ciumento e ficaria ainda mais decepcionado se
tivesse entregado seu corpo a ele. Preservar você até o casamento já tem sido
bem difícil, então pense em como fiquei irritado ao descobrir que seu
namorico estava mais sério do que imaginei.
Fiquei quieta, olhando-o com todo o ódio que tinha desse desgraçado, já
prevendo a diversão que teria dessa vez.
— Mas para a sua sorte, você continua intacta e não colocou em risco
nossos planos. Mas... — Fez pausa passando aquele dedo asqueroso em meu
rosto e dei um tapa em sua mão antes que conseguisse me conter, o que fez
com que gargalhasse de minha atitude. — Como dizia, vou te lembrar do
porquê você deve continuar com essas pernas fechadas e só abrir no maldito
casamento.
— Vá se foder, Federico.
— Não dá ideia, porque a vontade que tenho é de fazer exatamente isso
com você! — rosnou, com aquele hálito nojento perto do meu rosto, me
causando ainda mais nojo.
— Eu te mato antes disso, pode ter certeza!
A gargalhada reverberou pelo meu quarto e antes que tivesse reação, ele
puxou meu vestido com brusquidão rasgando-o toda a sua frente e me
derrubou no chão com força.
— Agora fique na posição que eu tanto gosto de te ver, ragazza.
A vontade de me levantar, voar em cima dele e matá-lo com minha
adaga surgiu de uma maneira tão forte, que precisei respirar fundo e me
lembrar de que até que eu conseguisse alcançar minha adaga, Federico já
teria grande vantagem e não seria forte o suficiente para derrubá-lo, por esse
motivo, engoli minha ira e me ajoelhei de costas para que ele começasse a
sua diversão.
— Muito bem, cara mia. Isso é para aprender a nunca mais colocar
nossos planos em risco. Do contrário, a próxima vez será pior.
Não terá próxima vez!
Nem que eu tivesse que matá-lo e ser presa, ou até mesmo morta pelo
próprio Matteo, mas isso não se repetiria, foi o que prometi a mim mesma
nesse momento.
Senti o chicote estralar em minhas costas, cortando minha pele com a
intensidade da força que o desgraçado colocou no braço, segurei o choro e
qualquer resmungo de dor, pois sabia que isso apenas o deixava ainda mais
satisfeito, ver a maneira que me atingia.
Sabia que sua ira seria intensificada quando não demonstrasse a emoção
que esperava, pois adorava me ver chorando e pedindo que parasse, ele
bateria o dobro de vezes para tentar tirar alguma reação de mim, mas graças a
eles, eu já me acostumei a ser torturada e lidar com a minha dor. Por isso,
com muito esforço consegui trancar minhas emoções dentro de mim,
deixando que o desgraçado do meu padrasto continuasse sua tortura até se
cansar.
O tão esperado dia pelos meus pais chegou. O dia em que aconteceria o
baile planejado com tanto cuidado por minha mãe e a data de minha escolha
para meu pai.
Acabou o meu prazo para encontrar uma noiva e a dúvida ainda me
corroía do que deveria fazer. Odiava a ideia de me casar com alguém sem
amor, mas não via alternativa.
Sempre que pensava no assunto ou olhava as várias fotos com o resumo
de cada uma das mulheres que compareceriam ao baile, para que eu já
estivesse a par, afinal, talvez isso facilitasse minha escolha, até mesmo para
que eu me aproximasse, Chiara Caruso voltava em minha mente e nosso
jantar, no mínimo intrigante, por assim dizer.
Suas palavras e a maneira como me afrontou, sem demonstrar medo
com quem falava ou com o que poderia lhe fazer, sempre voltava em meus
pensamentos e sempre me tirava um sorriso do rosto.
Cheguei até a ser questionado certa vez por Carlo que me pegou com
um sorriso estampado na cara, enquanto divagava pelas atitudes inadequadas
do que era esperado para a esposa de um Don, mas que Chiara não se
importou de esconder para mim.
E, porra, se sua intenção fosse fazer com que eu desistisse com suas
ações, mal sabia ela que surtiu o efeito contrário. Só conseguiu atiçar ainda
mais meu lado caçador e dominador. Pois era isso que queria fazer com ela,
dominá-la por completo.
Como ansiava em tê-la em minha cama, gemendo para que eu a fodesse
de todas as formas inimagináveis, e como adoraria demonstrar cada um dos
meus desejos dentro de quatro paredes.
Minha vontade foi de inventar alguma desculpa para revê-la nessas três
semanas que se passaram, todavia, além de ter tido que viajar e não ter
sobrado tanto tempo livre em minha agenda, também tinha a questão que
precisava agir com a razão. Aquela ninfeta mexia comigo mais do que
gostaria de admitir, meu corpo despertava ao seu lado e minha mente parecia
prestes a entrar em ebulição com tudo que planejava para nós dois.
Mas não podia agir assim, precisava ser racional, não me tornei o
mafioso mais temido dos últimos tempos agindo com a emoção, mas sim
colocando a razão e a frieza acima de tudo. Por esse motivo, permaneci
distante, para conseguir colocar meus pensamentos em ordem.
Li e reli várias vezes todas as fichas de cada uma das pretendentes que
seriam mais adequadas para ficar ao meu lado, e claro que a ficha de Chiara
sempre parecia chamar mais a minha atenção.
Sabia que seu pai trabalhava para mim há alguns anos e acabou
morrendo, quando se viciou com os próprios produtos que vendia, a ponto de
ter deixado uma dívida imensa com seus vícios para sua esposa Irene. Foi
onde um tempo depois, ela se casou com um dos meus subchefes, Federico,
que quitou toda sua dívida e tinha criado suas filhas, Chiara e Genevive.
Para ser sincero, a atitude de Federico me surpreendeu, pois ele sempre
me pareceu uma pessoa fria e gananciosa para ter se compadecido de uma
mãe com duas filhas sozinhas e ter pegado o problema para si. Talvez ele não
fosse tão desprezível como imaginava.
E isso era outra coisa que chamava minha atenção em Chiara, ela já
sofreu e lidou com a perda, o que a tornava mais forte para ocupar seu lugar
ao meu lado. Além de ela não parecer uma garota tão ingênua e medrosa para
enfrentar todas as adversidades que poderiam se levantar contra nós.
Sabia que era temido e que tinha o respeito de muitos, pois apesar de
não perdoar ser traído por ninguém e ser extremamente exigente nos meus
negócios, não era inocente de imaginar que ninguém tentaria me derrubar.
Pois no meio em que trabalhava o que mais existiam, eram cobras
peçonhentas prontas para tentar me morder e me matar. Sempre precisava me
manter em alerta e não ser surpreendido.
Ouvi uma batida à porta chamar minha atenção, então virei minha
cadeira giratória em direção dela, soltando a fumaça entre meus lábios do
charuto que segurava entre meus dedos, junto da metade do uísque em minha
outra mão.
Minha mãe entrou sem que eu lhe autorizasse, era assim que fazia,
independentemente de ser o novo capo da máfia Cosa Nostra, para ela eu
sempre seria seu bambino e nunca fiz questão de lhe tirar esse costume.
Tinha minha completa admiração e respeito pelos meus pais e não era um
cargo como o que carregava que mudaria isso. Acima de tudo, eles eram
meus pais.
Claro, caso precisasse ir contra suas opiniões para o bem dos negócios,
iria sem pestanejar, como já fui em outros momentos. Mas eles sempre
souberam separar os negócios do nosso relacionamento familiar.
— Vim te lembrar que já deveria ter ido se arrumar, em menos de uma
hora nossas convidadas começarão a chegar.
Lancei-a um sorriso insolente, depois de tragar o restante de meu
charuto.
— Estava apenas aproveitando meus últimos momentos como solteiro.
Seus olhos brilharam com a possibilidade que seu sonho realizasse, pois
essa era a verdade, minha mãe ansiava para que eu encontrasse uma boa
esposa, pois sempre quis ter uma filha e para ela essa seria sua maneira de
conseguir conquistá-lo.
— Espero que realmente essa fase de sua vida esteja acabando — minha
mãe comentou, se aproximando de mim e acariciando meu rosto, como se
ainda tivesse meus cinco anos de idade. — Sabe que já passou da hora de
sossegar, certo? Hoje não as olhe como objetos para um fim, mas procure por
aquela que fará seu coração dar um solavanco, que tenha química, que te tire
do eixo, mas, acima de tudo, para aquela que seu coração escolher. Você
pode ainda não a amar, mas o amor pode vir com o tempo.
Assenti sem saber ao certo o que lhe dizer, depois de seu conselho.
— Tentarei fazer isso. — Ela estreitou os olhos, desconfiada com minha
aceitação repentina e lhe dei um sorriso sincero, um dos poucos que dirigia a
alguém. — Estou falando sério, prometo que vou tentar. Dei minha palavra
que de hoje não passaria e vou cumpri-la.
Ela me deu as costas, indo em direção à porta, mas vi que tinha um
sorriso no rosto, satisfeita com a minha atitude.
— Fico feliz em saber disso — comentou ao longe. Quando estava
prestes a fechar a porta, voltou a dizer. — Pietro chegou há pouco e está
ansioso para te ver, então acho melhor se arrumar logo, do contrário vai se
atrasar para receber suas convidadas.
Terminei de tomar o restante de meu drinque, ansioso para rever meu
irmão que tinha se ausentado por alguns meses cuidando dos nossos negócios
nos Estados Unidos. Apesar de sempre viajar para o mesmo país que residia
no momento, nem sempre conseguia encontrá-lo, tanto que nem contava com
sua presença nesse baile, saber que conseguiu vir me animou um pouco mais
para a noite que teria.
Segui até meu quarto e quando estava prestes a fechar a porta, senti um
braço envolver meu pescoço, na mesma hora um sorriso perverso surgiu em
meus lábios por saber de quem se tratava. Antes que ele atingisse o ponto
sensível que me tirasse o fôlego, segurei seu antebraço, joguei meu corpo um
pouco para trás para pegar impulso e antes que percebesse, o trouxe de volta
num rompante, inclinando meu corpo, ele caiu com seus quase cem quilos de
costas no chão, gargalhando.
Cruzei os braços, ainda rindo junto dele, enquanto observava Pietro
resmungar do impacto que recebeu, conforme se levantava.
— Maledetto, ainda vou conseguir te pegar desprevenido.
— Continue tentando, quem sabe um dia consiga.
Sempre era assim o nosso cumprimento, ele ficava à espreita de uma
brecha e tentava me golpear de maneira diferente da última, mas eu era mais
velho e tinha muitos anos a mais que ele de experiência nas artes marciais,
por isso seria difícil conseguir me derrubar com facilidade.
Ele rolou os olhos e me deu um meio-abraço, dessa vez me
cumprimentou adequadamente.
— Soube que hoje será o dia da sua escolhida. Já tem uma ideia de
quem será a felizarda a tirar o título do mafioso mais cobiçado do momento?
— provocou, se sentando em minha poltrona, com as pernas abertas em seu
traje social preto.
Bufei pelo assunto que me rondava a todo instante, mas optei por não
comentar a respeito de Chiara e como ela dominava minha mente nas últimas
semanas.
— Ainda não tenho certeza. Não sei por que está com esse sorriso
debochado na cara, logo, logo será sua vez e quem não vai perder a
oportunidade de tirar com a sua cara, serei eu.
Ele jogou uma caneta em minha direção e me esquivei gargalhando,
enquanto terminava de retirar minhas roupas para tomar meu banho.
— Nem me fale, papà já tem me perguntado a respeito.
Ri ainda mais alto, enquanto entrava debaixo do chuveiro escaldante,
sabendo muito bem que era a cara de nosso pai.

Não demorei muito tempo para terminar de me arrumar e assim que


entrei no banho, Pietro fez o mesmo e se dirigiu até seu quarto, pois assim
como eu, ele também deveria estar presente para receber cada uma das
famílias que compareceriam em nossa mansão naquela noite.
Desci as escadas e não foi surpresa ao perceber que meus pais já se
encontravam no salão, aguardando apenas por nós dois.
— Tão lindo! — Minha mãe apertou meu rosto entre suas mãos,
deixando um beijo estralado em minha bochecha. — Tenho certeza de que
causará uma pequena rivalidade entre as nossas convidadas nessa noite, para
saber quem conquistará seu coração de gelo.
Era assim que minha mãe costumava me chamar, de coração gelado,
pois para todos os efeitos e pessoas ao nosso redor, era um cara introspectivo,
de poucas palavras e muitas ações, mas sempre sério. Esse homem que se
deixava ser ele mesmo, rindo e lutando com meu irmão, apenas permitia ser
ao lado deles. Por esse motivo, fui surpreendido por ter rido mais do que
esperava ao lado de Chiara em nosso jantar, não era do meu feitio tal gesto.
E era nela que meus pensamentos não paravam de pensar, a ansiedade
em revê-la e saber como agiria depois de nosso último encontro me assolava
a todo instante. Depois que Pietro me deixou sozinho em meu quarto, voltei a
pensar naquela bocuda que tanto me intrigava, queria conhecê-la cada vez
mais. Sabia que sua falta de interesse poderia ser real e ter confundido tudo,
mas algo me dizia que o que sua boca saía, era diferente do que seu corpo
sentia. O pouco contato que tivemos me mostrou isso e contava os minutos
para ter outra oportunidade de lhe provocar e comprovar meus pensamentos
libidinosos.
— Assim vou ficar com ciúme... — Ouvi Pietro dizer, ao se aproximar
de mim e minha mãe, enquanto enxerguei meu pai rolar os olhos ao ouvir
meu irmão, conforme Carlo lhe dava alguma informação sobre a chegada dos
convidados.
— Você também está divino, bambino. — Minha mãe fez a mesma
coisa com ele e vi ele me dar uma piscadela, que me provocava, mas preferi
não cair na sua naquele momento.
Tanto eu, como meu pai e Pietro nos vestíamos da mesma maneira, com
um smoking preto, mas eu optei por uma gravata tradicional preta, diferente
de meu irmão que preferiu a borboleta.
Meus cabelos estavam bem penteados para trás, impedindo que minha
franja caísse em meus olhos com a pomada que a segurava. Enquanto meu
irmão usava o cabelo desalinhado, deixando-o mais jovial.
Como se usássemos uma máscara, nós três vestimos a nossa de
seriedade e começamos a receber nossos convidados que chegavam a todo
instante.
Minha mãe não fazia questão de esconder sua real personalidade e não
me importava com isso, no entanto, para nós homens de poder dentro da
máfia, não poderíamos ser muito receptivos, pois as pessoas poderiam
confundir, pensando que estávamos baixando a guarda e isso era inaceitável.
As moças convidadas para me impressionar, capricharam em suas
vestes e tinha de todos os tipos. Mas a maioria procurou ser mais reservada,
como era esperado da esposa do Don, todas estavam deslumbrantes, mas até
o momento nenhuma despertou meu interesse em seguir com uma conversa
mais calorosa.
Mas resolvi fazer a minha parte como prometido e dei a oportunidade a
todas que chegaram para conversar, para assim nos conhecermos e quem sabe
surgir algum interesse a mais. Tentaria separar uma música para as que mais
chamassem minha atenção, no entanto, como esperado todas as conversas
pareciam supérfluas, como se tivessem decorado o que poderiam ou não
responder, pareciam pisar em ovos ao meu lado e isso apenas aumentava a
minha repulsa em lhes dar uma chance.
A todo instante meus olhos vagavam para a entrada do salão, que se
encontrava cada vez mais cheio, à procura daquela que meu peito ansiava e
seu atraso me deixava inquieto.
Será que ela desistiu de vir?
Tomava um gole de uísque, enquanto ouvia o tagarelar de Elisa, a
respeito do quanto estava ansiosa para me conhecer, que seu pai falava muito
a meu respeito e o quanto me admirava. Sendo algo que já me sentia cansado
de ouvir, eram sempre os mesmos assuntos para puxar meu saco e tentar uma
aproximação.
Estava procurando uma desculpa qualquer para sair de perto dela, vendo
meu irmão se divertindo por trás de seu drinque, quando um burburinho
aumentou e muitos olhares se voltaram para a entrada do salão, foi então que
finalmente a vi.
Senti meu peito dar um solavanco e um meio-sorriso surgiu em meus
lábios.
Meus olhos não se importaram de serem indelicados, por deixar Elisa
falando sozinha, enquanto vagavam pelo corpo delicado de Chiara e o ar
pareceu faltar em meus pulmões graças a roupa deslumbrante que usava
naquela noite.
O vestido era num tom de vinho que destacava sua pele clara e seus
cabelos loiros. Mesmo à distância, ficou visível que aqueles lábios que tanto
me torturavam estavam no tom vermelho que tanto gostava, exatamente
como da vez que a encontrei na boate. Seu vestido deixava pouco para a
imaginação, apesar de ser bem fechado em seus seios, tinha uma fenda do
meio de sua coxa, o que a deixava ainda mais sensual do que fosse possível.
Seus olhos cor de esmeralda observava ao seu redor, como se
procurassem por alguém e fiquei satisfeito quando encontraram os meus e
ficamos presos um no outro. Um vislumbre de um sorriso surgiu em seus
lábios, mas como a orgulhosa que era, ela não queria facilitar para mim e isso
não me surpreendeu, abaixou o rosto para tentar disfarçar e, em seguida,
levantou o olhar em outra direção. Entretanto, eu não me importava de deixar
claro meu interesse claro e mesmo que percebesse que conversava com outras
pessoas, sempre contida, fingindo ser aquela garota recatada que eu sabia que
não era, não me importei em ser sincero com Elisa e me afastar.
— Desculpe, mas preciso conversar com outra pessoa. — Nem sabia ao
certo se cortei o que dizia, mas tinha certeza de que não era do meu interesse,
diferente de Chiara.
Ficou visível sua decepção, ainda mais quando tentou argumentar
abrindo a boca e a fechando algumas vezes, mas não lhe dei oportunidade,
virei as costas e saí em direção àquela que ocupava meus pensamentos.
Seu padrasto conversava com outro subchefe, enquanto sua mãe fazia o
mesmo com sua esposa, Chiara e sua irmã pareciam entediadas em silêncio
apenas observando suas conversas, quando me aproximei e coloquei minha
mão em sua lombar, controlando-me ao máximo para não lhe dar um apertão
em sua cintura.
Seu corpo se retesou no instante em que sentiu minha aproximação em
suas costas e não me passou despercebido a careta que tentou esconder,
estreitei os olhos desconfiados, mas tentei pensar que isso fosse coisa de
minha cabeça. Ela se virou em minha direção e seus olhos brilharam ao meu
reencontrar.
— Como vai, Chiara?
Ela me estendeu a mão e lhe dei um beijo casto, mas aproveitando a
oportunidade para acariciá-la. Não me fugiu quando engoliu em seco e
afastou nossas mãos com delicadeza.
— Vou muito bem, Matteo, e você?
— Muito melhor agora. — Ela mordeu os lábios, que a denunciaram
que ela queria sorrir, e não me importei em lhe dar uma piscadela. — Você
está linda!
Ela assentiu, parecendo envergonhada e seus olhos vagaram por meu
corpo.
— Você também não está nada mal.
Um sorriso debochado surgiu em meus lábios, pois sabia que não
passava de provocação de sua parte, pois seus olhos denunciavam como se
sentia a meu respeito.
Cumprimentei Genevive que nos observava com atenção e para minha
frustração, seus pais me notaram e junto da família do outro subchefe, vieram
conversar comigo. Mas meus olhos a todo instante se mantinham sob Chiara
e sabia que mesmo que ela não admitisse e tentasse não demonstrar, sua
atenção também se encontrava em mim.
Tentei deixar meu trabalho um pouco de lado durante o baile, mas as
cargas não paravam de ser exportadas, por isso não foram poucas às vezes
que precisei me ausentar para o escritório para fazer uma ligação importante
ou que Marco me chamasse para dar algum parecer.
Considerando os problemas que vínhamos tendo nos últimos tempos
nas entregas, sempre me sentia inquieto até que soubesse que seus
compradores receberam sem mais delongas. Claro que precisei aumentar a
segurança para não sermos surpreendidos novamente. Pois até que
descobríssemos quem estava por trás desses infortúnios, precisava ser
cauteloso para não prejudicar minhas cargas.
Assim que me afastei de Marco, meus olhos já foram procurando por
Chiara, mas fui interrompido por Elisa, que entrou em minha frente, me
obrigando a lhe dar atenção.
— O senhor me deve uma dança — exigiu, exibindo um sorriso com a
intenção de me dobrar, precisei me conter para não bufar, mas como havia
lhe dito que dançaríamos antes que Chiara chegasse, deveria cumprir com a
minha palavra.
— Claro, mas tenho uma outra pessoa na frente. — Ela assentiu e me
afastei sem mais delongas, deixei para trás me observando seguir em direção
daquela que almejava.
Chiara percebeu que me aproximava e passou a remexer suas mãos,
parecia que se sentia nervosa, enquanto sua mãe me olhava com expectativa
ao perceber para onde me encaminhava.
Assim que cheguei até elas, não perdi tempo enrolando e fui direto,
afinal, queria um tempo sozinho com ela e no meio dessa festa isso ficaria
difícil de ter.
— Aceita dançar comigo? — Ofereci minha mão, meus olhos vagaram
para seus lábios que mordiscava o interior com nervosismo, mas assentiu e a
segurou.
Encaminhei-a em direção ao grande espaço reservado que tinha alguns
casais dançando. A música que tocava era lenta, o que era propício para
aproximar ainda mais nosso corpo, mesmo sabendo que deveria manter certa
distância para não a deixar malvista.
Quando coloquei minha mão em sua lombar, senti que seu corpo voltou
a se retrair, mesmo que evitasse demonstrar sua reação e essa atitude voltou a
acender meu sinal de alerta.
— Tá nervosa, principessa? — provoquei, tentando tirar minha cisma
da cabeça.
Não deveria ser nada de mais.
— Por que estaria? — revidou, sentindo suas mãos em meu pescoço
enquanto me segurava para não cheirar seu delicioso perfume em sua pele.
— Talvez por estar dançando agarradinha com seu capo, no meio de
centenas de pessoas? Sabe que sou irresistível, né?
— Um pouco presunçoso também.
Mais uma vez um meio-sorriso surgiu em meus lábios, com sua
sinceridade, sabendo que não passava de uma provocação.
— Pode fingir que não tá nem aí, sei que o que sai da sua boca não é
uma verdade — constatei, apertando sua cintura de leve, pois isso me parecia
irresistível e, também, queria confirmar minhas suspeitas. Seu corpo voltou a
se contrair e um resmungo saiu de seus lábios. — Aconteceu alguma coisa,
principessa?
— O que teria acontecido? — Seu desentender não me convenceu e
quando senti seu corpo rígido com minha pergunta, tive certeza de que sabia
do que falava.
— Parece que tem sentido algum incômodo nas costas, ou é impressão
minha?
— Esqueci de te responder... você está enganado, tudo que sai da minha
boca é a mais pura verdade. — Sua mudança de assunto, apenas confirmou o
que desconfiava.
— Não mude de assunto, Chiara! — falei em um tom um pouco mais
duro, mas em nada comparado com o que costumava usar no meu trabalho.
— Se alguém te machucou, saiba que pode me contar e acabo com a vida de
quem ousou te tocar.
Ela engoliu em seco e demorou um pouco para responder, o que não
parecia ser algo normal vindo dela. Mas assim que se recuperou, tornou a
falar.
— Obrigada, mas não precisa se preocupar. Primeiro, porque não temos
nada para que me proteja de tal maneira. Segundo, porque nada me
aconteceu, apenas tive um tombo e acabei machucando minhas costas.
Meus ombros relaxaram e tentei acreditar em suas palavras, mesmo que
ainda não me sentisse cem por cento certo quanto a isso.
— Espero que esteja dizendo a verdade, mas em relação a te proteger,
você está enganada, pois protejo a todos que estão sob meu comando e fazem
parte da famiglia, ou seja, o que quer que venha lhe acontecer,
independentemente do que acontecer entre nós dois, é minha obrigação como
seu Don protegê-la.
Ela voltou a ficar perdida em pensamentos, mas não me passou
despercebido os olhares de canto de olho que disparava em minha direção,
durante nossa dança.
Assim que a música terminou, pensei em dar seguimento na seguinte,
para tentar melhorar o clima pesado que pairou entre nós com nosso último
assunto, mas fui interrompido por Elisa, que apareceu atrás de Chiara sem
vergonha alguma.
— Acredito que chegou a minha vez, meu Don! — disse, com a voz
mansa e um leve sorriso nos lábios.
Essa mulher não tem um pingo de amor à vida, para ficar me rodeando
dessa maneira pensando que conseguirá algo a mais com sua insistência.
Quando fui lhe dar uma resposta atravessada, Chiara afastou nossos
corpos, olhou em direção de Elisa, parecendo incomodada com nossa
aproximação, mas nada disse que a mantivesse longe.
— Vá bene, nós já acabamos e preciso ir ao banheiro — comentou, sem
me olhar nos olhos, afastou-se e me deixou com Elisa, que antes que dissesse
alguma coisa, já pendurou seus braços finos em meus ombros, me obrigando
a seguir com aquela dança.
Depois que dancei com Elisa, fui obrigado a dançar com mais algumas
convidadas para não dar brecha ao meu pai em dizer que não cumpri com a
minha parte do acordo, em tentar escolher a próxima dama da máfia.
O dia mal amanheceu e parecia que nem tinha dormido.
Meu celular não parava de tocar com pedidos de última hora de alguns
peixes grandes da região que tinham meu contato direto, além de outros
problemas que pareciam surgir a todo instante.
Alguns vândalos que nos últimos tempos se rebelaram e estragaram
nossas propriedades e até chegaram a pichar todo o prédio de uma das minhas
boates, o que me deixou extremamente puto.
Tive que mandar uma equipe para arrumar o estrago que fizeram e parte
da equipe de segurança dar uma olhada nas câmeras para descobrir quem
foram os maledettos que ousaram me afrontar dessa maneira.
Para piorar, o celular de meu pai não parava de tocar durante o café da
manhã, porque os frouxos do conselho não tinham coragem de me perguntar
e ficavam azucrinando meu pai com a minha decisão.
— Já disse que mais tarde teremos uma reunião para mostrar sua
decisão, até lá peço que aguardem. Dei minha palavra que seria hoje a
resposta e não mudei minha opinião. — Ouvi meu pai encerrando mais uma
ligação, enquanto me segurava para não tomar seu celular e mandar a todos
que se fodessem.
— Eles deveriam vir falar diretamente comigo ao invés de ficarem te
incomodando — disse, tentando conter a irritação em meu tom de voz.
— Se todos não morressem de medo de te perguntar sua decisão, pode
ter certeza de que isso aconteceria.
— Não tenho culpa se são um bando de frouxos, não vou sair matando
ninguém só porque querem saber a decisão que tomei, apesar de já me sentir
irritado com esse assunto! — bradei, incomodado.
— Quem está irritado sou eu, caspita! Quem será a escolhida, afinal?
Lhe dei até hoje, às 16h será a reunião com o conselho e preciso que já esteja
tudo encaminhado até lá.
— Se tenho até a tarde, por que a pressa?
Seu rosto ficou vermelho com a raiva que o tomava e respirei fundo,
sentindo-me cansado de tanto problema e pressão. Não tinha a merda de um
minuto de paz!
— Por que a pressa? — gritou, batendo as mãos na mesa e nem me
mexi, apenas o observando com suas crises da meia-idade. — Você está há
anos me enrolando com essa merda de casamento e se não me falar agora
quem será a escolhida, eu mesmo resolverei, vou ligar para Lourenço agora
mesmo e marcar o noivado!
Ficamos nos encarando por alguns segundos e ouvi o riso anasalado de
Pietro quebrar nosso silêncio, nós dois o olhamos enviesado, fazendo com
que ele ficasse desconcertado.
— Desculpe, mas é que pelo visto ele ainda não sabe quem quer. E
achei engraçado.
Era fato, minha vontade era esmurrar Pietro e tirar aquela maldita língua
de dentro de sua boca.
— Por que você não cala essa sua boca, cazzo?
— Não fale assim com Pietro se ele apenas disse a verdade — minha
mãe o defendeu, como sempre. — Com tantas mulheres encantadoras ontem,
você ainda não conseguiu se decidir, Matt? Assim fica difícil te defender,
oras.
— Quem disse que não me decidi? — indaguei, sem ter certeza de
minha decisão.
Os olhos de meu pai e dos demais se voltaram para mim com visível
curiosidade.
— Então se já escolheu, por que ainda não nos contou ao invés de ficar
me estressando sem necessidade? — Voltou a se sentar, passando os cabelos
grisalhos para trás, tentando se acalmar.
— Talvez porque goste de te irritar — provoquei, prendendo o riso.
Salvatore passou a mão no rosto, contendo sua ira enquanto
resmungava.
— Onde foi que errei na criação desses ingratos?
Minha mãe encostou sua mão por cima da minha e voltou a me
perguntar:
— Agora nos diga, quem será a escolhida?
Voltei a tomar um gole de café, pensando nos prós e contras de minha
decisão. Repassei todos esses pontos a noite toda e cheguei à conclusão de
que não teria outra pessoa que não pudesse ser ela, mas, ao mesmo tempo,
não sabia dizer o motivo de minha inquietação, algo me dizia que talvez eu
pudesse me arrepender de insistir nesse casamento.
Não sei se era porque Chiara se mostrava resistente em relação a nós
dois. Ela dizia que não queria nada comigo e sempre sua rispidez ao invés de
me afastar, me excitava ainda mais. Talvez eu fosse masoquista e não sabia,
mas tinha para mim que era apenas o instinto de caça se intensificando cada
vez mais quando envolvia aquela loirinha.
Mas, ao mesmo tempo, não via alternativa, porque a única mulher que
chamou a minha atenção e despertou meu interesse foi ela, por isso não
enxergava chances de dar certo um casamento arranjado que não fosse com
ela.
Lembrei-me das palavras que minha mãe me disse antes que o baile
começasse, sobre escolher alguém que meu coração disparasse e quando a vi
chegar, meu coração deu um solavanco em meu peito. Então não tinha mais
dúvidas.
— Não vou esperar mais. Você está me enrolando, não sabe porra
nenhuma de quem quer!
Meu pai cortou meu devaneio, pegou seu celular e começou a discar,
mas assim que percebi para quem era, tirei seu celular do ouvido e encerrei a
ligação que fazia para Lourenço e disse antes que perdesse a coragem.
— Chiara Caruso! — Todos os olhares da mesa voltaram em minha
direção, enquanto minha mãe sorria, afirmando a cabeça como se já esperasse
por essa resposta. — Será Chiara Caruso. Já está tudo certo — menti,
olhando para Marco lhe instruindo naquele momento sem que meu pai
soubesse. — Já orientei meu sottocapo para que entre em contato com
Federico para agendar nosso noivado.
Vi Marco assentir enquanto saía sem chamar a atenção, ao mesmo
tempo em que pegava seu celular para resolver o que lhe pedi em paralelo.
Esse era o tipo de intimidade que tínhamos, às vezes não era necessária uma
ordem específica, ele sabia o que deveria fazer ao captar a mensagem.
Meu pai respirou aliviado, jogando seu corpo na cadeira confortável da
mesa, enquanto um sorriso malicioso surgia nos lábios de Pietro e me dava
uma piscadela.
— Tinha certeza de que seria ela! — disse minha mãe, com um sorriso
imenso no rosto. — Além de linda, percebi a química que vocês possuem.
Ficou visível a todos quando o viram dançando.
Fiquei confuso com seu comentário, pois para mim ela não tinha
demonstrado nada além de provocações, mas minha mãe dificilmente se
enganava e com as poucas vezes que a toquei, percebi como seu corpo reagiu
ao meu, portanto, esperava que estivesse certa.
Pois eu me sentia ansioso para saber como seria o desenrolar de nosso
casamento. Só torcia parar ter tomado a decisão certa.

Desde que Federico recebeu a ligação de Marco pedindo que comparece


no escritório do Don, andava de um lado para o outro nervosa.
Depois da conversa estranha que tivemos no momento do baile e de sua
visível desconfiança de que algo tivesse me acontecido, passei a ficar ainda
mais tensa.
Não sabia o que pensar ou o que lhe dizer, ainda mais pela preocupação
que demonstrou comigo, ficava confusa se não passava de farsa para passar
uma imagem de bom moço, caso isso fosse possível, considerando quem ele
era, acreditava que bom estava bem longe de ser.
Mas não podia negar que suas palavras tocaram em algum ponto bem lá
no fundo de meu peito e senti que tinha certa sinceridade nelas. Entretanto,
não poderia me deixar levar, pois ele tinha lábia e a prova disso era o
excelente trabalho comercial que fazia ao expandir seus negócios.
Tinha que tomar cuidado com cada uma das minhas atitudes ao seu
lado, se era que ainda teria essa oportunidade, pois dependendo do que
desconfiou ontem ao me ver machucada e caso confrontasse Federico para
saber o que aconteceu, tudo poderia dar errado, visto que não tive tempo de
contar a eles sobre o que fui questionada. Mas também como o faria? E como
poderia imaginar que ele perceberia, mesmo com as costas completamente
escondidas dentro do meu vestido, que tinha me machucado?
Já tinha percebido o quanto era observador nas poucas vezes que
interagimos e começava a entender por que conquistou seu posto e o respeito
de todos, ele era perspicaz e nada lhe passava batido.
Pelo menos não tudo.
Mas voltando a pensar sobre as suas indagações, como comentaria que
ele estava prestes a matar minha própria família? Se ele soubesse que nem
com eles, eu conseguia ter a segurança que era esperado.
— Federico disse que o assunto era sobre você? — minha amiga
perguntou, roendo uma de suas unhas.
Assenti, ainda aflita. Minhas costas ainda estavam cicatrizando,
conforme me mexia os cortes repuxavam e acabava ardendo. Caso levasse
outra surra, provavelmente não conseguiria ser forte o suficiente para segurar
o choro.
Ou a raiva tomaria forma e me defenderia de seu ataque, com sorte
colocando um fim na vida de Federico ou não teria forças suficiente para
seguir adiante, pois como ele sabia que estava machucada, facilitava para que
eu perdesse o controle e saísse ainda mais machucada.
Sua ameaça não parava de rondar minha mente desde que colocou sua
arma no coldre de sua calça.
— Espero que você não tenha feito nenhuma merda, do contrário, a
surra que levou há três dias, terá sido um carinho perto do que farei com
você.
Minha mãe ouviu sua ameaça e apenas me olhou enviesado, à medida
que me mandava subir para o quarto e aguardar que ele retornasse da reunião.
Pouco tempo depois, Giana chegou e minha mãe apenas permitiu que
ela subisse, para que não deixasse nenhuma desconfiança com as outras
famílias da máfia, ao saber que era privada de receber visitas de qualquer
amiga.
Tudo não passava de encenação, jamais porque ela permitia que eu
tivesse algum envolvimento social.
— Não deve ser nada de mais — Genie comentou, sentada ao lado de
Giana em minha cama, observando meus passos de um lado para o outro,
impaciente.
— Vocês não entendem, ele percebeu que estava machucada e ficou
desconfiado, se ele questionar Federico e ele der uma resposta diferente da
minha, Matteo saberá que menti e já era a chance de me casar com ele. Minha
mãe me mataria sem pensar duas vezes. — E isso era o que realmente
pensava a respeito, não era blefe.
— Talvez não seja nada disso, você está sofrendo antes da hora. —
Giana tentou me acalmar e me deitei frustrada entre as duas. — Mas vem cá,
Genie me contou que rolou um clima entre vocês enquanto dançavam? —
Seus olhos sorriam em expectativa pensando que realmente poderia vingar
algo bom disso tudo.
Bufei resignada, não querendo admitir o quanto aquela proximidade
mexia com minhas entranhas.
— Genie está viajando, ele só ficou me provocando como sempre e eu
fiz o mesmo. — Dei de ombros como se não fosse nada de mais e não tivesse
gostado das nossas farpas mais do que gostaria de admitir.
Mas a verdade era que todas as vezes que ele se aproximava, sentia uma
quentura me envolver desde a ponta de meus pés até o último fio de cabelo.
Sabia que ele era o inimigo, e que não deveria me deixar enganar por aquele
rosto másculo, mas era difícil manter a racionalidade quando sentia seus
lábios tão próximos dos meus.
Nem Vitto conseguia manter meus pensamentos em ordem quando
estava próximo de Matteo e isso me preocupava cada vez mais.
— Vocês formam um belo casal e já que viu que Vitto não se
preocupou com o que pensaria a seu respeito com o que fez, talvez seja uma
oportunidade de ser feliz ao lado de Matteo — relatou Giana, tentando me
convencer de algo bem improvável.
Como poderia ser feliz ao lado do assassino de meu pai? Seria
impossível.
Além de que, ela não sabia da vingança orquestrada que fui incumbida
de executar.
— Justamente pelo que Vitto me fez que tenho que manter a guarda em
pé. Confiava nele e mesmo sabendo que não poderia seguir em frente,
esperava que tivesse a consideração de me contar seu real envolvimento, mas
pelo visto ele apenas queria me usar.
Todas nós ficamos em silêncio por alguns segundos, assimilando a
merda que Vitto havia me feito, até que Giana voltou a perguntar:
— Ele não entrou em contato depois do que saiu na mídia?
Respirei fundo, organizando meus pensamentos.
— Mais ou menos, depois que me recuperei da surra que levei,
encaminhei uma mensagem com a foto do que tinha na internet e fui irônica,
agradecendo por ter me feito de besta. Ele ficou tentando me ligar, mas não
queria conversar. Já bastava a surra que levei pelo que me fez e a humilhação
que precisei passar, quero esquecer tudo que me aconteceu e que um dia
conheci Vitto Gambino.
Seus olhos se compadeceram de mim e suspirei frustrada com a merda
de vida que levava.
— Talvez esteja aí a sua oportunidade, dizem que se cura um amor
antigo com um novo amor, quem sabe essa não seja a sua chance, né?
Ri alto do seu romantismo convicto.
— Se você realmente acha que Matteo um dia seria um bom marido é
porque está mais iludida do que pensei. Ele seria a última pessoa para esse
papel. Ele é frio, arrogante, presunçoso e, acima de tudo, ruim. Como poderia
sair amor de dentro de uma pessoa assim?
— E você sabe que ele é tudo isso por cinco minutos de conversa? —
Minha irmã se meteu e a olhei enviesado por defender Matteo. Ela não sabia
tudo que aquela família havia nos feito, por isso ainda tinha esperanças para
nós dois.
— Não precisaria nem de um minuto ao lado dele para saber —
respondi, sem muita paciência.
— Claro, porque a sua mãe, aquela que te espanca, te humilha e não
demonstra um pingo de carinho por você, disse isso — Giana comentou com
seu tom sarcástico, fiquei irritada porque suas palavras tinham um fundo de
verdade e mesmo que não tivesse a intenção, me machucaram.
Não deveria ser uma verdade, deveria ser o contrário. Minha mãe
deveria me proteger, cuidar e zelar por mim, não me jogar na boca dos leões.
Encolhi meus ombros, angustiada por ainda me afetar com o desprezo
que recebia e, então, Giana segurou minha mão entre as suas.
— Desculpe por isso. É que você sofre tanto dentro dessa casa, que às
vezes penso que talvez não seja tão ruim esse casamento.
Já tinha pensado nisso, mas achava improvável, entretanto, quando
estava ao lado de Matteo e sentia tudo que sua presença fazia comigo, me
sentia ainda mais confusa com a possibilidade de estar errada.
— Vá bene. Não disse nenhuma mentira. — Dei de ombros, fingindo
indiferença, mas ainda me corroendo por dentro com suas palavras.
Mas o que mais me irritava nessa história, era tudo que passei por culpa
daquela família. Pois desde que minha mãe e Federico se uniram para essa
vingança contra a família Lucchese, minha vida virou um inferno na terra, e
isso mais o fato de ele ter matado o meu pai, que era o único que
demonstrava um pouco de amor por mim, já era suficiente para que eu
odiasse a todos que tinham o mesmo sangue nas veias.
Fiquei quieta, porque não queria mais continuar me defendendo. Era
exaustivo e não podia sair falando a verdade para elas, por mais que confiasse
em ambas. Apenas colocaria suas vidas em risco e jamais me perdoaria por
isso.
Alguns minutos depois, Giana voltou a quebrar o silêncio pesado que
nos rondava graças ao último assunto.
— E o seu primo? Nossa, o vi fazendo ronda ontem na rua com outros
seguranças da máfia e, Dio Mio, que homem mais lindo. Todo de preto com
aquela cara de mau. Foi um belo colírio para os olhos.
Ri com seu comentário. A verdade era que minha amiga sempre teve
uma queda por Leonardo, meu primo, apesar de a achar linda e sempre me
provocar quando seu nome surgia em nossos assuntos, ele nunca deu a
entender querer nada sério. Não sabia se era por causa de nossa amizade ou
apenas não se sentia pronto para investir, mas, no fundo, sempre torci para
que eles se entendessem.
— Amanhã ele vem começar meu treino — Genie disse, empolgada, e
um sorriso sacana surgiu nos lábios de minha amiga.
Seria meu dia de treino, mas como meus machucados ainda não
cicatrizaram e se encontravam doloridos, pedi que começasse a treinar minha
irmã, sem lhe contar o real motivo do meu pedido.
— Talvez eu passe por aqui então. — Encostei meu cotovelo e sorri
para ela, que retribuiu. — Posso até não fazer nada, mas pelo menos posso
apreciar aqueles músculos treinando.
Foi a minha vez de segurar sua mão, me compadecendo dela, pois seus
pais a tinham prometido a um casamento arranjado desde que era pequena e
assim que o subchefe retornasse da viagem que fazia, provavelmente
marcariam seu noivado.
Giana não estava feliz com seu desenrolar, mas parecia ter aceitado.
Diferente de mim que andava na contramão, fazendo o que queria antes de
perder a minha completa liberdade, ela já se conformou com seu futuro e
aceitou que se casaria com um homem sem amor e, ainda por cima, que lhe
causava arrepios.
Pouco tempo depois, Giana foi embora, pois tinha aula de violino e
Genie também precisava terminar seus crochês. Comecei uma leitura para
tentar distrair o incômodo e a apreensão que continuava me rondando, até que
a porta se abriu num rompante e meu padrasto entrou sendo acompanhado de
minha mãe, senti meu sangue gelar com o sorriso malicioso que carregava em
seu rosto, ao me olhar de cima a baixo.
Sempre que ele estava em casa, tentava me vestir com a roupa mais
larga e mais fechada possível, tudo para não ter esse olhar cheio de desejo em
cima de mim, mas parecia que nada do que fazia surtia efeito. Seus olhares
me causavam cada vez mais náuseas.
— Parece que alguma coisa certa você acabou fazendo, afinal!
Fiquei em silêncio para que continuasse, enquanto assimilava suas
palavras que se fiz algo certo, então Matteo não deveria ter dito nada que me
ferrasse ainda mais.
— Nosso plano está caminhando como o planejado, Matteo a escolheu
como sua noiva e marcou o noivado para o próximo final de semana. Veja se
não coloque tudo a perder! — ralhou minha mãe, enquanto saía do quarto
acompanhada do irritante do meu padrasto.
Fiquei estarrecida pensando em suas palavras, sem saber ao certo o que
pensar com tudo isso.
— Noiva? Matteo me escolheu como sua noiva? — sussurrei, ainda
confusa com tudo que me acontecia.
Agi de forma contrária ao que minha mãe me orientou e, ainda assim,
chamei sua atenção a ponto de me querer como sua esposa. Pensei que
tivesse colocado tudo a perder e parece que minhas ações tiveram o efeito
contrário.
Permaneci pensativa por longos minutos, ainda tentando entender o que
ele tinha visto em mim, afinal de contas, toda essa obsessão que parecia ter
desde o dia da boate era, no mínimo, estranha. Quando me levantei num
rompante para tomar um banho e quem sabe clarear meus pensamentos
turbulentos, senti a fisgada repuxar minha pele e resmunguei.
Tranquei a porta do meu quarto para que não tivesse risco de meu
padrasto entrar, então retirei minha camiseta com cuidado para não encostar
nos cortes, virei meu corpo para o grande espelho que tinha ao lado da minha
cômoda. Observei as marcas em vermelho vivo, com o sangue ainda parado
sobre elas e percebi que algumas começaram a cicatrizar. Coloquei a ponta
dos dedos em algumas peles sobressaltadas num tom rosa-claro, que eram as
cicatrizes que carregava em meu corpo com outras surras piores do que essa
que levei há três dias, a ponto de me deixar marcada pelo restante de meus
dias.
Esperava que essas que ainda cicatrizavam não aumentassem as marcas
em minha pele, respirei fundo e foi onde me toquei a burrada que eles
mesmos fizeram.
Afinal, se me casaria com Matteo, como esconderia deles as marcas que
carregava em minha pele?
Ele lidava com tortura e sabia muito bem o que seriam quando me
enxergasse nua.
Talvez ele não se importasse, como era algo antigo.
Mas se seu comentário da noite anterior fora verdadeiro, talvez ele
desconfiasse de quem as causou e não sabia se realmente queria que ele não
descobrisse a respeito.
Só tive certeza de uma coisa, dificilmente conseguiria escondê-las dele
por muito tempo. Uma hora ou outra ele as veria e teria que pensar no que lhe
responder quando chegasse o momento, mas a desculpa que usei ontem, com
certeza, não teria o mesmo efeito.

Estávamos a caminho da mansão Lucchese e os olhares de Federico


para cima de mim me incomodavam cada vez mais.
Usava um vestido justo em meu corpo num tom de verde, mas que
chegava ao joelho e tinha um leve decote em meu busto, tive que optar por
um que mantivesse minhas costas cobertas, para não chamar atenção e,
também, porque sentia vergonha das marcas que carregava, sem contar que
queria evitar certos olhares e indagações em minha direção.
O vestido não era nada indecente, me deixava sensual, mas, ao mesmo
tempo, comportada e me irritava cada vez mais os olhares que ele lançava em
direção à minha perna, com sua mulher ao lado.
Será que minha mãe não notava a maneira como me olhava ou só se
fingia de sonsa por um bem maior? Não conseguia entender a dinâmica desse
casamento deles, pois não enxergava nem um pouco de amor entre eles.
Parecia apenas ser cômodo para ambos e isso me causava arrepios, pois
em breve estaria em um casamento não tão diferente do que eles tinham.
Poucos minutos depois, fiquei agradecida por termos chegado à
mansão, por poder me ver um pouco mais distante de Federico do que dentro
daquele carro.
Para a minha completa surpresa, assim que estacionamos o carro,
enxerguei que Matteo se encontrava com Pietro nos aguardando e pelo seu
olhar penetrante, percebi que me procurava pelo vidro escuro, graças ao
insulfilm.
Prendi o ar em meus pulmões para me acostumar com a forte presença
de meu noivo, vestindo um terno de três peças na cor preto, como sempre
costumava encontrá-lo. Mas diferente do dia do baile, dessa vez a camisa
também era no mesmo tom.
Ele exalava poder e mistério de sua pele, mas sua beleza era
indiscutível, algo que ainda não tinha conseguido me acostumar, mas que
precisava, com uma certa urgência, pelo bem de minha sanidade.
Assim que subimos as escadas, Federico os cumprimentou com sua
falsa camaradagem, enquanto Matteo permanecia sério, sendo sua maneira
padrão com as demais pessoas, pelo que percebi. Depois de cumprimentar
minha mãe, com educação. Um leve sorriso surgiu em seus lábios ao beijar o
dorso de minha mão.
— Espero que esteja bem, Chiara! — comentou, dando seu braço para
que eu apoiasse o meu e apesar do nervosismo iminente que me envolvia,
aceitei e caminhamos em direção ao interior da mansão, sendo arrebatada por
seu perfume cítrico, enquanto Pietro conversava com meu padrasto.
— Estou sim, obrigada por perguntar. — Forcei minha educação, visto
que minha mãe avaliava meu comportamento pelo canto dos olhos.
Seguimos em direção à sala de estar que ficamos no jantar da primeira
vez e encontramos seus pais nos aguardando. Após todos os cumprimentos,
conversamos mais um pouco e a governanta avisou que o jantar seria servido,
sendo assim, seguimos para a sala de jantar.
Para a minha completa surpresa, Matteo arrastou a cadeira ao seu lado
direito para que me sentasse e fiquei envergonhada, até porque ainda não
tínhamos nos casados. Mas acatei seu pedido silencioso e vi um pequeno
sorriso nos lábios de dona Sandra.
Ainda não sabia lidar bem com a minha futura sogra, ela sempre era
gentil e não parecia ser algo forçado, não estava acostumada com esse tipo de
comportamento comigo. Quando ela me abraçou ao me cumprimentar, disse
em meu ouvido que ficou muito feliz por eu ter sido a escolhida e que torcia
por isso.
Fiquei sem saber o que lhe responder, por isso apenas sorri em
agradecimento.
O jantar corria normalmente, permaneci calada, como costumava fazer,
para evitar maiores questionamentos, mas óbvio que isso não aconteceu.
— Ficou surpresa quando soube que Matt a escolheu, Chiara? — Para
minha surpresa a pergunta veio de Salvatore, que me olhava com visível
curiosidade.
Limpei a garganta, sendo surpreendida por aquela pergunta tão fora de
contexto, considerando que conversavam sobre algumas viagens e negócios a
serem feitos.
— Sim, para ser sincera fiquei. — Pelo menos isso não era uma
mentira.
— Espero que tenha ficado feliz, vocês dois formam um lindo casal.
Não vejo a hora de ganhar meus netos! — dona Sandra comentou, sonhadora,
e me engasguei com a água que tomava naquele momento. Ouvi a risada de
Matteo, enquanto batia de leve em minhas costas.
Merda!
Respirei fundo, grata por meus cortes estarem menos doloridos e lhe dei
um olhar atravessado por se divertir com aquele comentário descabido.
Eu mal tinha me acostumado com a ideia de me casar, quem dirá com
filhos. Ainda não conseguia nem pensar no que aconteceria na noite de
núpcias.
— Também adoro a ideia de ter netos logo — minha mãe emendou,
mas diferente do comentário de dona Sandra, sabia o real motivo de sua
emenda e senti a pressão me corroer no mesmo instante.
Nem em sonho que teria filhos com Matteo.
— Calma, principessa. Minha mãe sempre sonhou com os netos, mas
não precisa se preocupar com isso agora.
Não me passou despercebido a maneira carinhosa que me chamou na
frente de todos, meus olhos encontraram os seus e sem que percebesse,
ficamos perdidos por alguns instantes dentro de nossos olhares.
Eles continuaram a conversar sobre um possível neto em breve e isso
me deixava cada vez mais enojada, mas nada se comparava a gastura que
sentia cada vez que percebia o olhar indesejado de Federico para cima de
mim.
Geralmente, ele era um pouco mais controlado, mas nesse dia parecia
que tinha perdido o controle por completo de seus atos. Não sei se queria
afrontar Matteo ou apenas me irritar, mas ele estava conseguindo deixar uma
situação indesejada ainda pior do que imaginei e, por incrível que parecesse,
não era por causa de meu noivo e sim por causa dele.
Por causa da atitude de meu padrasto, fiquei ainda mais quieta do que o
normal durante o restante do jantar, por isso respondia apenas o básico
quando me era questionado.
E se já não fosse tudo ruim o suficiente, perceber que Matteo me
observava com seu olhar intrigado e, ao mesmo tempo, direcionava seus
olhos acinzentados em direção à minha mãe e padrasto, com visível
desconfiança que parecia piorar ainda mais a minha situação. O problema era
saber o que tanto rondava seus pensamentos, pois, com certeza, ele não me
falaria nada.
Assim que terminamos as sobremesas, chegou o momento de celebrar o
nosso noivado e para a minha completa surpresa, Matteo fez questão de o
fazer na sala de estar, enquanto os homens tomavam um drinque e as
mulheres, com exceção de minha irmã, tomavam champagne.
Ele retirou de seu bolso uma pequena caixinha de veludo preto e
respirei fundo para acalmar as batidas frenéticas de meu coração.
Tudo não passava de uma farsa. Tudo era uma farsa.
Continuava repetindo meu mantra em pensamento, pois não podia me
deixar levar pela situação romantizada que me apresentava.
Não acreditei quando vi o poderoso e destemido Matteo Lucchese se
ajoelhar em minha frente e abrir a caixinha, mostrando um lindo e enorme
anel de diamante que me tirou o ar.
— Chiara Caruso, é com muito gosto que gostaria de pedir a sua mão
em casamento, você aceita se casar comigo, principessa?
Não consegui olhar à minha volta, pois aquele olhar penetrante me
tomou por completo, conseguindo me surpreender cada vez mais com suas
atitudes inesperadas.
Foi então que me recordei que deveria sair do transe em que me
encontrava e forcei minha voz a sair.
— S-sim, aceito!
Não sabia muito o que me esperava desse casamento, mas se Matteo
continuasse agindo dessa maneira, dificultaria muito minha vida e com tudo
que me era esperado.
Ele deu um sorriso aliviado, fazendo com que um pequeno sorriso
surgisse em meus lábios, e depois de colocar o anel que serviu perfeitamente
em meu dedo anelar, deixou um casto beijo sobre ele, fazendo com que
minha sogra e minha irmã suspirassem, encantadas com seu gesto.
Depois que todos nos cumprimentaram e minha mãe se aproximou para
fingir me parabenizar, disse em tom vitorioso:
— Isso tudo está muito melhor do que planejávamos.
Planejávamos não, vocês planejaram. Corrigi em pensamento.
Mas no momento em que meu padrasto veio em minha direção me
abraçar, senti um desconforto tão grande que queria apenas fugir dali o
quanto antes, olhei em direção à saída e quando abri a boca para dizer que iria
ao banheiro, Matteo cortou minha atitude, impedindo que Federico se
aproximasse.
— Chiara, podemos dar uma volta no jardim?
Nunca fiquei tão feliz em ter a oportunidade de sair daquele ambiente
que parecia estar prestes a me sufocar.
— Sim, claro — respondi de imediato, ao ver o olhar desconfiado de
Federico em minha direção e a raiva estampada quando olhou em direção de
Matteo.
Aceitei seu braço e seguimos em direção ao jardim, a fim de contemplar
a linda noite que se desenrolava, sendo seguidos a uma distância considerável
pelos seguranças de meu noivo.
A todo instante meus olhos desciam para a mão que estava apoiada
sobre o braço do Don, e observava com encanto o lindo anel que ele me deu,
isso não tinha como ser dito o contrário.
— Tive a impressão de que precisava sair um pouco lá de dentro,
principessa.
— E por que você achou isso? — Tentei mais uma vez ganhar tempo
para pensar em uma resposta adequada que não entregasse o pavor de
permitir que meu padrasto encostasse em mim.
— Não sei, você quem tem que me dizer, talvez tenha sido apenas
impressão minha...
Percebi que me observava de soslaio, mas fingi não perceber isso ainda
olhando para a frente. Tinha certeza de que ele saberia responder exatamente
como agi para ter percebido isso, mas o fato de ter notado que não queria
falar a respeito e ter optado por se fazer de bobo, me deixou boquiaberta. Não
era algo que esperava de alguém que torturava as pessoas para conseguir as
informações desejadas.
Alguns minutos se passaram e continuamos em um silêncio confortável,
mas meus pensamentos não paravam de questionar suas atitudes tão
diferentes de como o imaginava. Não sabia dizer se ele agia como de costume
e se seria assim que me trataria daqui em diante, ou se apenas tentava
conquistar a minha confiança para depois retirar sua máscara.
— Gostaria de ter mesmo um momento a sós com você... — Seu
comentário atiçou a minha curiosidade e não resisti em levar meus olhos até
seu belo rosto. — Sei que nosso casamento vai começar de uma maneira que
nenhuma mulher gostaria, como é visível que você não vai muito com a
minha cara...
— Ainda bem que você é observador — provoquei, e ele riu sem se
importar com meu humor ácido. Mas o engraçado foi que nesse momento não
tive a intenção de ser ríspida.
— Sou muito observador e você já percebeu isso. — Ele me deu uma
piscadela muito sensual, que causou uma reação em meu ventre, virei meu
rosto de imediato para a frente, a fim de tentar manter o foco do que falava.
— Mas como dizia, apesar de ter começado de uma maneira indesejada,
quero fazer a minha parte para que ele dê certo.
Isso eu já achava impossível, visto que nunca conseguiria ser tão falsa
de fingir ser feliz ao lado daquele assassino inescrupuloso. Não era porque
era da máfia que deveria compactuar com tudo que faziam. E relembrar desse
detalhe importante em minha vida, foi como ganhar um balde de água fria em
minha cabeça e me relembrar sobre como me sentia em relação a ele.
Por esse motivo, como ele disse ter sido sincero, optei por agir como
ele. Já bastava mentir a todo instante sobre quem eu era, pelo menos isso eu
seria sincera.
— Caso o que tenha dito seja verdadeiro, fico grata por pensar dessa
maneira. — Um meio-sorriso começou a apontar em seus lábios, mas que
desapareceu assim que terminei de expor meu raciocínio. — Mas quero que
saiba que não é algo que vá acontecer.
— Caso o que tenha dito seja verdadeiro? — repetiu, com incredulidade
minhas palavras. — Você realmente acha que inventaria algo assim apenas
para levá-la para a cama? — questionou, de maneira ríspida, mas não me
importava.
— Na verdade, eu acho que você me levaria para a cama mesmo contra
a minha vontade.
Minhas palavras fizeram com que ele parasse seus passos abruptamente,
num rompante senti meu corpo ser imprensado na parede próxima de onde
passávamos e meu coração acelerou de maneira drástica com o contato
inesperado. Minha respiração se elevou e por instinto de proteção, levei
minha mão até próximo da minha coxa para sacar minha adaga que estava
presa entre minhas coxas, caso fosse necessário.
— Se realmente acha que eu faria qualquer coisa com você contra a sua
vontade, é sinal de que realmente não me conhece.
Engoli em seco com suas palavras, pois apesar de ter dito o que
realmente pensava, senti sinceridade em suas palavras e me senti uma vadia
por tê-las dito. Mas meu orgulho era muito maior para pedir desculpas, pois
realmente não tinha certeza se acreditava nelas.
— Não, eu não te conheço, mas sei das muitas coisas que é capaz de
fazer, tomar meu corpo para si, com certeza, seria o menor dos seus
problemas.
Um sorriso maldoso surgiu em seus lábios, conforme aproximou o
nosso rosto, a ponto de sentir seu hálito com cheiro de bebida forte e charuto
me envolver, só nunca imaginei que esse odor mexeria comigo de uma
maneira tão excitante. Observei seus lábios bem desenhados e foi impossível
não os admirar.
— É bom que saiba que realmente faço coisas que te deixariam de boca
aberta com aqueles que merecem tal destino. — Matteo fez questão de frisar
o aqueles, tornando a falar. — Mas estuprar uma mulher, está longe de
minhas ações, nem aquelas que já traíram minha confiança, mereceram tal
destino. Posso te garantir, que todas que se deitaram em minha cama, foram
por livre e espontânea vontade. — Um sorriso perverso tornou a surgir em
seus lábios e ele se aproximou ainda mais de mim, deixando nossas bocas a
poucos centímetros de distância. — E não foram poucas...
Maledetto!
Só de imaginar a vasta experiência que tinha dentro de quatro paredes,
fez meu sangue esquentar, mas tentei controlar o traidor de meu corpo.
— Espero apenas que consiga controlar o que tem no meio das pernas a
partir de agora, não quero ser taxada de corna antes mesmo que me case.
Ele jogou sua cabeça para trás aos risos, por isso precisei conter que
meu sorriso aparecesse quando voltou a olhar para mim, senti seus olhos
queimarem em minha direção.
— Pode ter certeza de que serei só seu a partir de agora.
Suas palavras tiveram o efeito esperado e gostei delas mais do que
admitiria, por isso voltei a provocá-lo.
— Melhor se acostumar com sua mão, pois no que depender de mim vai
até cair de tanto que a usará.
Aquele sorriso devasso, que estava aprendendo a apreciar, surgiu no
canto de sua boca e senti meu ventre se contorcer.
— Não se preocupe, principessa. Sei que será apenas por pouco tempo
— disse, com a confiança exalando de seus poros.
— Se eu fosse você não seria tão confiante assim.
Naquele momento, o sorriso se espalhou por seu rosto e, cacete, precisei
respirar fundo para não demonstrar o quanto ele ficava ainda mais lindo,
sorrindo daquela maneira.
Ele deveria sorrir mais vezes, isso era um fato incontestável.
— Como disse no outro dia, vou adorar quando implorar para que eu te
foda. E isso vai acontecer, escreva o que digo.
Suas palavras foram como brasas em minhas veias, mas, ao mesmo
tempo, fiquei irritada por meu corpo reagir dessa maneira a ele e pela
convicção com que dizia aquilo.
Por isso aproximei meu rosto ainda mais, deixando um pequeno
centímetro de distância e disse pausadamente para que entendesse todas as
minhas palavras:
— Isso nunca vai acontecer! — Seus olhos brilharam em expectativas.
— Veremos, carino[4]. Veremos.
Continuamos nos encarando, como se não tivéssemos acabado de
declarar uma guerra entre nós dois, seus olhos desceram de meus olhos até
meus lábios e vi o brilho tomá-lo por inteiro, criando em mim uma certa
expectativa com tudo que passava em sua mente.
Ainda presa entre seus fortes braços que me cercavam, com os pulsos
cerrados na parede, impedindo que eu olhasse em qualquer direção que não
fosse ele, seu rosto desceu lentamente até o meu pescoço, nesse momento
minha respiração acelerou ainda mais e me odiava por deixar que ele
percebesse como me comportava ao seu lado.
Senti seu cavanhaque bem-feito descer pelo meu maxilar até o meu
pescoço e acariciar a minha pele devagar, fazendo com que um arrepio
delicioso percorresse todo o meu corpo. Seu nariz passou de maneira lenta na
mesma região e ele inalou meu perfume sedutoramente, enquanto voltava a
passar a aspereza de sua barba em minha pele delicada.
O atrito de sua barba com meu corpo, fazia com que meu corpo reagisse
de uma maneira irreconhecível para mim, o meio de minhas pernas parecia
queimar, sentindo minha calcinha umedecer com o pouco contato que ele nos
permitia.
Sabia que deveria afastá-lo, porém, a essa altura era impossível. Minha
razão brigava com meu lado emocional, a curiosidade de uma garota de
dezoito anos que tinha necessidades a serem saciadas, pedia para que tomasse
uma atitude, mas parecia que minhas forças se esvaíram de meu corpo.
Seu rosto subiu lentamente, colocando uma mínima distância entre nós.
— Amo o seu cheiro. — Uma de suas mãos saiu da parede que
segurava e senti a aspereza de seus dedos tocar em meus lábios pintados de
vermelho, exatamente como sabia que ele gostava. — Mas a sua boca com
esse batom, é uma tentação imensa.
Ele lambeu seus lábios de maneira sedutora e perdi o ar com a
possibilidade de um beijo. Seu rosto se aproximou do meu e quando senti
seus lábios resvalarem sobre os meus, as batidas de meu coração dispararam
drasticamente com o mísero toque.
Pensei que fosse me beijar, mas seus dentes morderam levemente meu
lábio inferior, mas não com menos intensidade e o puxou sedutoramente.
Quando o soltou, aquele mesmo sorriso que adorei há poucos minutos
retornou.
— Vou adorar derrubar cada uma das suas birras, principessa.
E como se tivesse jogado um balde de água fria sobre mim, retomei
minha postura, irritada comigo mesma por ter baixado a guarda para ele com
tanta facilidade.
— Vá se foder, Matteo! — Empurrei seu peitoral cheio de músculos
com força, ainda mais irritada por ter percebido como seu corpo era e, em
seguida, saí pisando duro de volta para a mansão, ouvindo sua gargalhada
atrás de mim, enquanto me acompanhava.
— Não corre, principessa. Não quero que caia no chão, senão terei que
te carregar no colo e essa aproximação vai exigir muito do meu autocontrole.
Mostrei-lhe o dedo médio sem parar de andar e seu sorriso aumentou
ainda mais.
Esse cara só podia ser louco.
— Não faz isso, senão vou me apaixonar ainda mais, amore mio.
Bufei, indignada com suas palavras, mas ainda mais furiosa comigo
mesma porque precisei segurar para que meus lábios não demonstrassem de
como gostei em um sorriso.
Mas, para minha sorte, ele ainda estava atrás de mim e não podia ver
minha expressão facial.
Não sabia como seria esse nosso casamento, mas tive certeza de uma
coisa, seria mais difícil do que imaginava para manter distância dele, tudo
que pensei caiu por terra, assim que o conheci e percebi o poder que tinha
sobre meu corpo.
O que seria um problema ainda maior, pois era o que minha mãe queria,
que eu me deitasse com ele, que o agradasse na cama e lhe desse um
herdeiro. E era o que eu mais queria evitar.
— Você tem entendido tudo que tem que fazer, Chiara? Parece que tudo
que lhe falo entra por um ouvido e sai pelo outro — reclamou minha mãe
pela milésima vez.
Esse era o único assunto da casa, desde que fiquei noiva de Matteo, as
instruções de Irene pareciam cada vez mais recorrentes. Nunca tinha visto
minha mãe conversar comigo tantas vezes como acontecia nas últimas duas
semanas.
Ela enxergava em mim a possibilidade de concretizar sua tão sonhada
vingança e o fato de que meu casamento aconteceria em uma semana,
deixava-a em êxito. Diferente de mim que não sabia o que pensar a respeito.
Considerando a maneira que Matteo parecia me tratar, começava a
pensar que talvez não fosse ser tão torturante ter que conviver ao seu lado
todos os dias, como imaginava inicialmente. Claro, até que eu tivesse com
um filho seu em meu ventre, além de ter a confiança do meu marido o
suficiente para ter todas as informações sobre suas táticas e rotas, para que
dessa maneira meu nada querido padrasto o matasse.
Não queria fazer parte disso, nem mesmo saber dos reais planos que
tinham para o pai de meu filho. Eu tinha perdido o meu e sabia como era
horrível crescer cercada por pessoas que não tinham nenhum sentimento por
você, e isso era exatamente isso que eles queriam que eu fizesse. Que gerasse
uma criança com seu sangue para ter direito a todos os seus bens. Depois de
algum tempo para não gerar suspeitas, seus pais e irmão também morreriam e
só sobraria um único herdeiro da Cosa Nostra, no caso meu filho.
Eu ainda achava aquilo um plano muito ganancioso da parte deles e
ficava quieta como se concordasse com eles. Mas eles não eram os mais
temidos mafiosos sem motivo e, então, acreditava que não seria tudo tão
simples assim para se executar.
Sabia que Federico tinha seus contatos com alguns rebeldes da famiglia
que queriam tirar a família Lucchese do poder e até mesmo certa proximidade
com poderosos dentro da Camorra, a máfia inimiga da Cosa Nostra e apesar
de não ser tão forte quanto ela, também era uma das maiores da atualidade.
Graças a essa parceria, Federico conseguia com cada vez mais
frequência atrapalhar as entregas das cargas de drogas de Matteo e ele parecia
estar longe de descobrir o real motivo. A intenção de meu padrasto era
apenas demonstrar que havia insatisfação em seus seguidores e que não eram
todos que o apoiavam como imaginava.
Ele queria causar uma rachadura na famiglia e, aparentemente, estava
conseguindo alcançar seu objetivo.
Seria muito difícil ver isso cada vez mais de perto estando casada com
Matteo e me manter neutra, por isso, em partes preferia não ter mais esse
conhecimento de seus atos, pois me sentiria menos infiltrada dentro dessa
vingança.
Minha vontade era apenas vingar a morte de meu pai, mas, ao mesmo
tempo, quando me encontrava ao lado dele, tudo isso parecia fugir de dentro
de mim e não enxergava o assassino inescrupuloso que minha mãe sempre
relatou para mim.
Sabia que ele era tudo isso e muito mais, Matteo não se tornou
respeitado no mundo todo por suas criatividades em torturas, sem motivo.
Apenas não sentia isso do homem que sempre tentava se aproximar de mim,
quando nos encontrávamos dentro do mesmo ambiente e isso mexia com a
minha cabeça mais do que gostaria. Deixava-me cada vez mais confusa.
— Está me ouvindo, Chiara? — Irene puxou meu rosto em sua direção,
afincando sua unha afiada em meu rosto, o que cortou meus pensamentos por
um instante e me lembrou de que ainda morava junto dela e que precisava
acatar suas ordens.
— Sim, eu já sei. Você tem dito os mesmos planos há duas semanas,
sem parar. Não vou esquecer assim de um dia para o outro — respondi,
cansada de ouvir a mesma coisa repetidamente.
Suas unhas me apertaram ainda mais e senti minha cabeça ser jogada
para trás com a raiva que a assolou com minhas palavras ácidas.
— Você aprenda a falar comigo, garota! Se alguma coisa fugir do que te
mandei fazer, porque não prestou atenção no que disse, não será o fato de
estar casada com a merda do capo que vai me impedir de te dar uns belos
corretivos.
— Claro, vai me espancar, como sempre faz. Vamos ver o que Matteo
pensará ao descobrir a maneira que minha doce mãe trata sua tão amada
filha... — desdenhei, cansada demais de suas infinitas ameaças.
Senti o tapa forte estalar em meu rosto e minha pele ardeu com o
impacto. Levei minha mão até o rosto, trincando meu maxilar para não a
xingar por tudo que me fazia.
Sabia que deveria respeitar minha mãe, mas até que ponto seria
aceitável? Ela poderia fazer tudo que queria comigo, me usar como uma parte
de sua vingança, me bater por qualquer motivo, deixar que seu marido me
torturasse de diversas maneiras que jamais desejaria para a minha inimiga.
Sentia-me cansada de tudo isso.
— Você é uma ingrata. Deveria ter dado essa honra à sua irmã, pois
você só me traz vergonha com tudo que faz. Não sei como Matteo se
interessou por você para ser sincera, deve ser apenas pelo rostinho bonito que
tem, mas mal sabe ele que você não tem nada de submissa. É apenas uma
rebelde mimada que deveria ter apanhado mais quando criança!
Tá aí algo que nunca escondi de Matteo, que estou longe de ser uma
mulher submissa.
O que será que ela pensaria a respeito se soubesse que ele tinha se
interessado por mim, apenas por ser quem eu era. Sem todas as exigências
que ela me exigia e que se caso as tivesse seguido, não estaria noiva dele
possivelmente.
Pois nada me tirava da cabeça que foi isso que lhe despertou a atenção,
o fato de não agir conforme o esperado, assim como as demais garotas que
foram criadas para serem boas esposas aos seus maridos e apenas isso.
Vi as costas de minha mãe se afastar, respirei fundo e segui em direção
ao meu quarto no segundo andar para continuar a organizar as minhas coisas.
Faltava apenas uma semana para o meu casamento e uma parte de mim
começava a ficar ansiosa para me ver livre deles, a única coisa que me
preocupava era deixar Genevive aqui.
Mas tentava acreditar que fazendo a minha parte do acordo, eles a
deixariam em paz. E com ela aprendendo a se defender com Leonardo, minha
irmã conseguiria agir caso Federico a procurasse para a infernizar, como eu
não estaria mais aqui para isso.
Sabia que tudo era uma questão de tempo, para minha mãe procurar um
marido para ela também, mas até lá eu seria a primeira-dama da Cosa Nostra,
consequentemente, teria bons contatos e poderia lhe arranjar um bom marido,
alguém que de fato lhe despertasse o real interesse.
Tudo corria muito rápido, há duas semanas fiquei noiva e dentro de uma
semana me tornaria a senhora Lucchese e me sentia inquieta com tudo que
me era esperado.
Pensar em como manteria minha sanidade ao lado de Matteo era outra
coisa que me preocupava. Não conseguia esquecer da sensação que senti com
os míseros toques que tivemos. Ele me fazia sentir coisas que nem com Vitto,
que cheguei a me apaixonar, senti e isso me preocupava demais. Tinha medo
de misturar as coisas e não poderia permitir que isso acontecesse.
Precisava sempre me lembrar da dor que me causou no passado, para
que não perdesse o foco e o real motivo de estar casada com ele.
As horas se passaram e consegui distrair minha cabeça com a
quantidade de malas que precisei fazer, minha irmã entrou por um momento e
apesar da visível tristeza que a atingia, me ajudou a organizar minhas coisas.
Imaginava como devia se sentir, ela ficaria sozinha nessa casa e não seria
fácil para ela, mas no que dependesse de mim, sempre me visitaria e faria o
possível para mantê-la longe daqui.
Deixei poucas roupas em meu guarda-roupa para usar até meu último
dia dentro dessa casa, junto de um vestido para a noite seguinte, pois Matteo
me buscaria para jantarmos fora.
Não poderia negar que ele parecia se dedicar em se aproximar de mim,
enquanto eu não fazia muito para o ajudar nessa questão.
Depois de tomar banho e vestir um pijama mais fresco por causa da
noite quente, tranquei a porta para que pudesse tentar ter uma noite tranquila.
Era algo quase impossível de se alcançar, mas me sentia esgotada. Precisava
dormir e o medo de que Federico invadisse meu quarto, não permitia que
conseguisse fazer isso, por isso, vivia exausta e cada vez mais difícil de
manter minhas enormes olheiras escondidas com a maquiagem.
Sabia que caso soubesse que deixei minha porta trancada, ele faria
minha caveira para minha mãe e seria motivo o suficiente para que me
espancasse, mas preferia correr o risco e conseguir descansar por poucas
horas pelo menos.
Assim que a tranquei, senti o alívio me envolver e segui em direção à
minha cama, com a exaustão me tomando por completo, em poucos minutos
entrei um sono profundo.

Senti um cheiro forte de bebida, junto de mãos ásperas pegarem meu


seio e o apertar, enquanto outra mão batia algo em meu traseiro, que se
encontrava com minha camisola levantada e pelo pouco contato que tive nos
milésimos de segundos que acordei a ânsia me tomou, levantei-me num pulo
ao perceber que Federico se masturbava atrás de mim em minha cama.
Ele tentou me agarrar quando percebeu que saía do seu lado,
desnorteada com sua invasão e usando meu corpo contra meu consentimento.
Precisei segurar minha boca com as mãos e respirar fundo com a bile
que subia por meu estômago, tentando retirar o pouco que ainda havia em
meu estômago.
— Infeliz, eu tava quase lá.
Ele se levantou com seu pau nojento para fora, ainda duro e o nojo de
meu corpo aumentou drasticamente.
Seus passos vieram lentamente em minha direção com seu sorriso
horripilante no rosto, então dei um passo para trás com medo do que poderia
fazer comigo. Desviei meu olhar por um milésimo de segundo para meu
travesseiro, pois minha adaga se encontrava embaixo dele para me defender
justamente em uma situação como essa. No entanto, acordei tão assustada
quando percebi o que fazia que nem me recordei de alcançá-la.
— Se afaste de mim, seu porco nojento — ameacei, tentando me afastar
ao máximo que poderia.
Ele deu uma risada diabólica, diminuindo nossa distância.
— Você já devia ter percebido que esse seu joguinho de difícil só me
deixa ainda mais atiçado para terminar o que comecei...
Quando a distância entre nós dois era tão pequena e minhas costas
bateram na cômoda, me impedindo que fugisse dele, senti seu cheiro nojento
cortar o pouco espaço entre nós dois, o desespero me tomou e o empurrei
com toda a força que tinha em mim e ele cambaleou para trás surpreso por ter
tentado afastá-lo.
Ele sempre insinuava tocar em mim, me olhava com maus olhos e até já
senti seu dedo tocar levemente em meu corpo nas poucas vezes em que dormi
mais pesado, mas nunca tinha chegado a ponto de se masturbar em meu
corpo.
— Ah, ela quer me enfrentar hoje? Você é louca ou o quê? Olha o teu
tamanho e o meu, garota! Acabo com você em dois segundos...
— Isso é o que você pensa, seu maldito!
Sua gargalhada maquiavélica reverberou pelas paredes do meu quarto e
um arrepio ruim subiu por meu corpo.
— Você pensou mesmo que trancar a porta me impediria de entrar caso
eu quisesse? Mostra que é mais inocente do que eu pensava...
Procurei ao meu lado alguma coisa que pudesse usar como arma contra
ele, para o caso de me atacar, mas não tinha nada pontiagudo para machucá-
lo o suficiente.
Ele deveria ter a merda da chave reserva e nunca soube disso, não
poderia ter baixado a guarda para descansar. Nunca poderia fazer isso.
— Sabe, Chiara... — tornou a dizer —, minha intenção não era perder o
controle agora, mas me dá uma raiva tremenda em enxergar você expondo
todo esse corpo gostoso para aquele maldito. Era para eu ser o seu primeiro e
único homem. — O desespero tomou o meu peito com suas palavras, com a
possibilidade de ele me tomar como sua. — Por isso não resisti em tirar uma
casquinha, em me contentar um pouquinho até poder terminar de fazer tudo
que quero com você. — Aquele sorriso horripilante voltou a enfeitar seu
rosto e antes que raciocinasse com o que fazia, cuspi em sua cara.
— Você nunca vai encostar seu pau nojento em mim, seu desgraçado.
— E o que ele fez? Ele riu, aumentando ainda mais o meu receio com a
loucura que esse cara tinha. — Você é doente!
— Ah, ragazza! Eu não só vou te foder em todos os buracos que possui,
como você vai gostar e ainda vai pedir mais. Só estou esperando que perca
sua virgindade com aquele desgraçado para não atrapalhar meus planos.
— Nunca! — gritei, perdendo o controle sobre meus atos e antes que
conseguisse raciocinar sobre o que fazia, arqueei meu braço para trás e joguei
todo o meu peso com a pouca distância que tínhamos, desferindo um soco em
sua boca.
A surpresa tomou seu rosto, conforme se recompunha, colocou uma
mão em seus lábios cortados e viu o pouco sangue que consegui tirar dele.
Abri e fechei minha mão com a dor me assolando com o impacto, mas não
tive tempo de pensar em que atitude tomar quando senti sua mão segurar meu
cabelo com força e me lançar para o meio do quarto, fazendo com que me
desequilibrasse e caísse estirada no chão.
— Maldita! Vou te dar uma lição para nunca mais levantar a mão para
mim.
Virei meu rosto, apoiando minhas mãos no chão e olhei em sua direção,
enxergando a fúria estampada em seus olhos, ele pegou meu pescoço, me
colocou de frente para ele e levantou o braço para trás, fechei os olhos me
preparando para o impacto que receberia, pois sabia que não teria forças
suficiente para conter sua ira.
— Mas que merda tá acontecendo aqui? — Ouvi minha mãe adentrar no
quarto com seu olhar inquisidor quando percebeu o que meu padrasto estava
prestes a fazer. — Você tá louco, Federico, bater no rosto dela? Vai deixar a
noiva de Matteo marcada e nos arranjará problemas.
Nesse instante que seus olhos se abriram e ele abaixou o braço com
raiva, proferindo um palavrão.
— Sua filha tá me provocando! — O desgraçado começou a falar. — Já
mandei deixar a porra da porta aberta e ela além de trancar, quando chamei
sua atenção, tentou me enfrentar, por isso vou ter que lhe dar um corretivo
para nunca mais levantar a mão para mim.
— Seu menti.... — Senti-o puxar com força meu cabelo, jogando minha
cabeça com força no chão. Perdi meu raciocínio por um instante, me sentindo
atordoada com o impacto.
Minha mãe ao invés de perceber a mentira deslavada que falava,
respirou fundo e balançou a cabeça e foi nesse momento que percebi pelo
pouco que minha mente nublada raciocinava, que ela fecharia os olhos para o
que ele faria comigo, mais uma vez.
— Só não faça muito barulho, isso pode chamar a atenção dos vizinhos
e não a deixe marcada em lugares que Matteo possa ver.
— Claro, amore mio.
Ouvi a porta se fechar e precisei segurar as lágrimas que estavam
prestes a cair.
Estava perdida, mal tinha cicatrizado minhas feridas e já ganharia
novas.
Coloquei a mão na cabeça tentando fazer com que ela voltasse a
funcionar direito, mas tudo doía, minha visão ainda se encontrava turva por
causa da queda que levei no chão.
Senti o impacto de seus dedos rasgarem minha camisola pelas costas e
seu dente me mordeu com força. Um grito saiu de meus lábios e antes que
conseguisse me recuperar de seu ato, ele voltou a puxar meu cabelo com
força me colocando de joelho, ainda nua, em sua frente.
— Agora sim, está marcada por mim, sua desgraçada, e vai aprender a
nunca mais levantar a mão em minha direção.
Apesar da tontura que ainda me envolvia. Olhei em sua direção com a
ira me tomando por completo e disse aquilo que sentia dentro do meu
coração.
— Eu ainda vou acabar com a sua vida, por tudo que você já me fez! E
a primeira coisa que vou fazer, vai ser cortar essa merda nojenta que carrega
no meio das pernas.
Senti um tapa encontrar meu rosto e meu corpo chegou a desequilibrar
com sua força.
— E eu vou adorar calar essa sua boca malcriada, com essa merda
nojenta.
Não tive tempo de respondê-lo, apenas senti o impacto do fio de ferro
assolar minha barriga algumas vezes, depois minhas costas, meu quadril e em
todos os lugares que uma roupa conseguia cobrir.
Ele me bateu por tanto tempo que chegou um momento que parecia ter
me familiarizado com a dor que me envolvia e, por isso, me peguei pensando
enquanto era açoitada como se fosse um animal, com o consentimento de
minha mãe, para piorar a situação.
Será que Matteo conseguiria fazer da minha vida pior do que a que
vivia hoje?
Duvidava disso, afinal, ninguém conseguiria superar a minha própria
família, nem o maior mafioso dos últimos tempos.
A única coisa que sabia era que meu ódio alcançava níveis
estratosféricos e tinha cada vez menos interesse em participar dessa vingança
que eles me obrigaram. Minha vingança começava a tomar rumos diferentes,
e eram para as pessoas que diziam cuidar de mim.
Nesse momento prometi a mim mesma, que essa seria a última vez que
eu permitia ser humilhada e machucada dessa maneira, nem por minha irmã
aguentaria mais isso. Nem que tivesse que pedir a ajuda de Matteo para
resguardá-la, mas eu mataria Irene e Federico com as minhas próprias mãos,
caso voltassem a me tocar.
Depois que Federico se cansou de me machucar e ouvi a porta se fechar,
deixei meu corpo se esparramar em posição fetal, ainda nua e toda cortada no
chão do meu quarto, e desatei a chorar.
Permiti ser uma garota de dezoito anos normal que chorava pela vida de
merda que levava, pelos traumas que carregava e por ser machucada por
aqueles que deveriam me proteger.
Não conseguia me mexer, tudo doía. Meu corpo ardia nas dezenas de
cortes que o desenhava, minha cabeça parecia prestes a explodir com o
impacto da pancada e o tapa que recebi queimava minha bochecha.
As lágrimas banhavam meu rosto e perdi noção do tempo que me
permiti ficar naquela posição. Sabia que precisava tomar um banho gelado
para tentar amenizar o ardor dos cortes, mas não conseguia ter forças de me
levantar. Sentia-me exausta!
Alguns minutos se passaram, quando ouvi o barulho da porta ranger,
virei meu rosto assustada em direção à porta, com medo dele ter voltado, mas
respirei aliviada quando percebi se tratar de minha irmã com uma maleta de
primeiros socorros nas mãos.
Seus olhos entristecidos me encontraram e vi a compaixão estampados
em cada um.
Ela se sentou no chão ao meu lado e colocou minha cabeça em seu colo
e começou a acariciar meus cabelos lisos, isso foi o meu fim. Desatei a chorar
ainda mais, não sabia o quanto precisava de carinho nesse momento, mas
recebê-lo depois da merda de dia que tive, fez com que todos os meus muros
caíssem aos meus pés.
Conforme acalmava a dor que me envolvia em meu peito, Genie passou
a cuidar dos muitos cortes em minha pele, para que não infeccionassem.
— Você não merece continuar passando por isso. Não consigo entender
por que fazem isso com você e comigo não.
Isso era uma boa pergunta.
Sabia que enquanto estava ali, Federico mantinha seu interesse em mim
e meu medo era justamente que quando saísse, passasse a descontar sua ira
nela. Ainda não sabia como conseguiria a proteger mesmo distante. E a mera
possibilidade de ele encostar um dedo em minha irmã, acabava comigo.
— Talvez esse casamento tenha vindo em um bom momento, mesmo
que você não queira admitir isso.
Não queria concordar com Genie, mas em partes pensava como ela,
pois todas as vezes que me encontrava ao lado de Matteo, ele sempre
demonstrava carinho e até quando me provocava não sentia medo, mesmo
quando o afrontava. Diferente de onde morava, que nem dormi eu conseguia.
Jamais admitiria isso, pois, afinal de contas, ele ainda era o assassino do
meu pai, mas me sentia cada vez mais ansiosa para morar junto dele, pois
duvidava que conseguisse me machucar mais do que já era.
Desde que eu e Chiara ficamos noivos, há duas semanas, mal tivemos
contato um com o outro.
Houve apenas uma vez que fui até sua casa, para conhecer o local em
que morava atualmente, mesmo que já tivesse pedido para Marco averiguar
pessoalmente, também fiz questão de lhe dar meu número particular, para
caso precisasse de alguma coisa, claro que ela resistiu dizendo não ser
necessário, mas consegui convencê-la do contrário.
Nas outras duas vezes em que nos encontramos rapidamente, foi quando
veio junto de sua mãe e irmã até a mansão escolher alguns detalhes
importantes para a decoração, assim como o que serviríamos no buffet
contratado em nossa festa de casamento. Para a minha completa surpresa, ela
pediu minha opinião se tinha alguma coisa que gostaria de acrescentar, mas
deixei para que ela fizesse como mais desejasse.
Não me importava com nada disso, nem de festa eu gostava,
comparecia, pois era obrigado a fazer. Durante essas festas eu apenas
marcava minha presença, por ser quem era, diferente de quando seguia até
uma das minhas boates para espairecer minha cabeça pelo dia turbulento que
tive.
Desde que fiquei noivo de Chiara não compareci em nenhuma, mesmo
que o desejo me rondasse, optei por não o fazer sem que minha noiva
estivesse junto e como faltava pouco para o casamento, achei melhor não a
levar por enquanto. Sabia que seus dias estavam agitados com os preparativos
para o casamento, o vestido e a organização de suas coisas para sua mudança
de casa. Caso nosso casamento fosse acontecer em situações normais, por
assim dizer, que poderíamos nos conhecer como um casal normal, sair para
namorar seria uma situação diferente e teríamos tempo para isso.
Infelizmente, não era o que aconteceria conosco. Nosso tempo corria,
afinal, nos casaríamos depois de três semanas que ficamos noivos, e já se
passaram duas.
O que consegui organizar em minha agenda, com um pouco de
dificuldade foi apenas um jantar que aconteceria nessa noite e me sentia
extremamente ansioso para que chegasse o horário que avisei a Chiara que a
buscaria.
Seguia em direção ao calabouço, estalei meus dedos e pescoço de um
lado para o outro durante meu caminho, ansioso para que as horas passassem
rápido e anoitecesse para que eu buscasse minha linda e birrenta noiva.
Respirei fundo para retirar Chiara de meus pensamentos por alguns
instantes, pois precisava me concentrar no que faria a seguir.
Mais uma vez, tive problemas com a entrega de umas de minhas cargas,
dessa vez o maledetto fez a loucura de atear fogo em um dos caminhões que
seguia para fazer uma grande entrega à cidade de Palermo.
O que eles não esperavam era que já tinha enviado uma equipe para
ficar de alerta para o caso de algum problema, como nos últimos tempos, o
que acontecia com frequência. Como a bela equipe que preparei, meus
homens conseguiram capturar alguns deles, porém, mesmo com toda a
sutileza que Marco não tinha, eles não abriram a boca por enquanto e isso
apenas aumentou minha ira em não lhes dar uma morte digna.
Abri o portão do calabouço escuro em que se encontravam, na mesma
hora, senti o odor forte de sangue e podridão que intoxicava o local, mas
apenas torci o nariz já familiarizado com essas situações desde pequeno.
Encontrei Marco encostado em uma mesa repleta de apetrechos de
tortura, com os pés cruzados, parecendo entediado enquanto seus dedos
passavam pela tela do celular.
— Cansou de tentar tirar alguma informação dele? — provoquei, pois
sabia que não era por isso que se encontrava parado.
— Estava te esperando para ver o que consegue, como pediu. Mas te
aviso que eles estão bem resistentes em abrir a boca e olha que já fui bem
criativo com cada um deles.
Observei os três homens jovens que me olhavam com a raiva estampada
em seus olhos, com seus braços pendurados e seus pés presos também em
algemas, mas nenhum se dignou a dizer nada que piorasse ainda mais sua
situação.
Suspirei e olhei com afinco na direção de cada um deles. Realmente
Marco já havia feito um belo estrago, por isso, teria que ser ainda mais
meticuloso se quisesse tirar alguma coisa deles.
Olhei a mesa e passei os dedos sobre cada um dos equipamentos que
aguardavam minha escolha e estalei a língua.
— Por quem devo começar, Marco? Alguma sugestão? — indaguei,
enquanto escolhia um pedaço de ferro com o formato de CN, que poderíamos
usar para marcar a pessoa com a nossa letra, mas o coloquei de volta no local
e escolhi um alicate bem afiado, um sorriso perverso surgiu em meus lábios
mediante a minha escolha.
— Por que não prende um deles na cadeira de pregos? Talvez seja uma
boa opção para iniciar, já que eles não querem ajudar.
Observei o pavor tomar os olhos dos três e se entreolharam
aterrorizados.
Fingi pensar no assunto e continuei.
— Boa ideia, mas vou começar com esse simples alicate e ver se será
necessário seguir para a cadeira que Marco sugeriu — comentei, olhando em
direção ao que parecia ser o responsável por aquela atividade.
Ficou nítido o terror estampado em seus olhos, mas ele não desviou o
olhar em nenhum momento, o que mostrava que era o mais durão.
Adorava quando se faziam de difíceis, me dava um pouco mais de
respeito por serem fiéis com quem trabalhavam.
Fui até ele e, sem mais delongas, coloquei o alicate em seu mamilo e o
puxei sem muita força, lhe dando uma oportunidade de dizer sem a
necessidade de terminar o serviço.
— Para quem vocês estão trabalhando? — Ele permaneceu com o olhar
raivoso em meu olho e nada disse. Por isso, apertei o alicate com força e o
puxei em minha direção, retirando num rompante seu mamilo inteiro. Seu
maxilar travou e abaixou os olhos para baixo, contendo o desejo de gritar ou
chorar, mas ele foi duro e não se permitiu mostrar vulnerabilidade.
Assenti, surpreso para Carlo que chegou há poucos minutos e olhava a
cena à sua frente com admiração.
Ouvi o choramingo do mais novo deles, era um adolescente que, com
certeza, mal deveria saber o que fazia lá. Resolvi seguir até ele, talvez abrisse
a boca com mais facilidade pelo pouco que soubesse.
Um de seus olhos mal se abria e girei o alicate em meus dedos ao me
aproximar, seu pomo de Adão subiu e desceu, visivelmente nervoso com a
minha presença.
— E você, vai querer colaborar ou vou precisar te machucar ainda
mais? — Ele ficou em silêncio, mas seu olhar o denunciava. — Isso é uma
pena...
Estiquei minha mão, até a sua e coloquei a ponta de seu dedo mindinho
entre o alicate e apertei levemente, cortando sua pele, e vi o sangue jorrar,
enquanto as lágrimas começavam a escorrer entre seus olhos.
— Eu não sei de nada, só cumpri ordens.
— Que ordens? Ordens de quem? — Silêncio, apertei mais um pouco,
chegando ao nervo de seu dedo e um grito rompeu de seu lábio. — Fala,
porra! Ordem de quem? — gritei, perdendo o pouco de paciência que me
restava.
— Fui contratado por ele. — Apontou a cabeça na direção do homem
que tirei o mamilo e pelo olhar que direcionou ao seu capanga, soube que
caso eu não o matasse, com certeza ele o faria. — Pediu apenas para
atrapalhar a entrega e queimar o caminhão. Como eu precisava da grana e me
pagaram bem para isso... aceitei, mas não sei de mais nada. — Passou a
atropelar as palavras, choramingando com a dor que sentia com o dedo que se
encontrava pendurado.
— Mais alguma informação relevante? — indaguei, enquanto seguia até
a mesa e pegava um revólver Glock, a carreguei enquanto ele balançava a
cabeça freneticamente dizendo que não. Apontei a arma no meio de sua testa.
— Não sabe mais nada mesmo?
Ele voltou a chorar e, então, perdi a paciência que me restava, apertei o
gatilho e estourei seus miolos. Seu sangue respingou em minhas roupas e
meu rosto. Alcancei um pano limpo e limpei um pouco da minha pele.
— Odeio gente frouxa. Você deveria aprender a contratar seus
capangas, abriu a boca por tão pouco que dá até preguiça lidar com gente
assim — comentei com o líder da gangue, enquanto voltava para trocar a
arma por outro apetrecho.
— Realmente, os garotos de hoje em dia estão cada vez piores —
Marco comentou, ainda parecendo entediado.
— É melhor voltar pro primeiro, ele parece estar mais disposto a animar
nossa tarde — sugeriu Carlo, exalando seu sorriso maldoso no rosto e notei a
cara de poucos amigos que o rebelde o direcionou.
— Vou para o segundo e deixar o melhor por último. Espero que
colaborem, pois tenho um encontro com a minha noiva e não quero me
atrasar por causa de vocês — comentei, com um pedaço de ferro para o
marcar com as iniciais da famiglia.
Um sorriso perverso surgiu no rosto do líder da gangue, quando
mencionei Chiara e não gostei nada da maneira desdenhosa que enxerguei em
seu olhar.
— Alguma coisa para me dizer? Ou tá querendo passar na frente de seu
colega? — Apontei a adaga em sua garganta, fazendo um pequeno furo em
sua carótida, notando o sangue jorrar enquanto seu sorriso foi substituído pela
raiva, mas ele continuou em silêncio. — Foi o que imaginei.
Quando virei meu corpo em direção ao outro rapaz que interrogaria,
ouvi sua voz infiltrar pela primeira vez desde que foi capturado e não gostei
nada do que disse.
— Posso até não estar aqui para ver sua cara quando acontecer tudo que
está por vir, com a grande e inalcançável famiglia, mas só de saber o quanto
você vai se ferrar, já morrerei satisfeito!
Da maneira que me encontrava, com a adaga em minhas mãos, apenas
me virei rapidamente e, em seguida, cortei seu braço num único e potente
corte. Quando ele gritou, um sorriso perverso surgiu em meus lábios e, em
seguida, disse:
— Só não corto sua língua, pois temos muito o que conversar.
Por mais de uma hora torturei seu comparsa e ele não disse muito mais
do que o primeiro havia dito, a única coisa que me soltou de novidade e me
deixou em alerta, foi que imaginava que eram pessoas da Camorra, nossa
facção inimiga, que tramavam contra mim, pois ele tinha visto uma tatuagem
em um dos homens que tratou e a reconheceu.
Já o maledetto que os liderava, apenas ficou em silêncio, mas vez ou
outra quando não aguentou a dor e gritou alguns insultos referindo-se a mim
e os meus antepassados, mas esse por causa da sua audácia em falar merda
sobre o que nos aconteceria, fiz questão de torturar o máximo, para sofrer
bastante durante a sua morte.

Estacionei meu Audi em frente à casa de Chiara e um sorriso apontou


por, enfim, termos essa oportunidade a dois. Pedi que meus seguranças
fossem no outro carro ao invés de meu motorista dirigir, junto de Marco.
Queria um tempo a sós com ela, mesmo que não me importasse com
que ouviam ou não, como já havia me familiarizado com essa situação, mas
Chiara ainda não estava e não seria dessa maneira que ganharia sua
confiança.
Saí do carro e percebi que Marco fazia o mesmo me acompanhando,
mas ergui a mão para que permanecesse em seu local e ele ficou próximo à
entrada do meu Audi. Assim que entrei no pequeno jardim em frente à
residência dos Carusos, observei os seguranças de Federico apenas me
olhando ao longe, à medida que caminhava em direção à porta de entrada.
Não era uma mansão, nem uma casa tão pequena. Parecia ser aconchegante,
olhando do lado de fora.
Antes que fosse necessário apertar a campainha, a porta se abriu e
Federico surgiu, vestindo seu usual terno escuro, assim como também
costumava fazer e me cumprimentou.
— Chegou em ponto, fique à vontade. — Estendeu a mão para que
entrasse no pequeno hall de entrada, me encaminhando em direção à sala de
estar. — Vou pedir para que Chiara desça.
— Sem problemas!
Federico se afastou por poucos minutos e, então, aproveitei a
oportunidade para observar o local em que minha noiva morava. Fui até um
porta-retrato que se encontrava pendurado na parede e notei Chiara, um
pouco mais nova, ao lado de Federico, e Genevive ao lado de sua mãe.
Atentei-me mais um pouco na feição que demonstrava e tive a impressão de
dar um sorriso forçado, não era daqueles que chegavam aos olhos e fiquei me
questionando o motivo de não estar feliz nesse momento. Ou será que ela não
era feliz ao lado de sua família?
Eram detalhes que queria descobrir com o tempo e por esse motivo,
gostaria de um momento a sós nessa noite para conhecer um pouco da mulher
que ocupava cada vez mais os meus pensamentos, mesmo que nosso contato
tivesse sido mínimo.
Federico retornou e me ofereceu uma bebida e apesar de não ter
nenhum interesse em socializar com ele, aceitei para não ser indelicado,
afinal, nos tornaríamos da mesma família em breve.
Ouvi passos descerem as escadas e me empertiguei, com a ansiedade
aumentando dentro de mim.
Chiara surgiu em meu campo de visão, linda como sempre, usava um
vestido preto justo em seu corpo delineando suas curvas, com uma sandália
salto alto no mesmo tom. Seus cabelos estavam presos bem no alto de sua
cabeça e seu rosto se encontrava maquiado, mas não usava o batom vermelho
que tanto apreciava, mas sim o rosa-claro, deixando-a ainda mais delicada.
Nossos olhares se encontraram e não consegui disfarçar como gostei do
que vi, um sorriso surgiu em meus lábios e mesmo sabendo que Federico nos
observava, me aproximei dela, a ponto de sentir seu perfume adentrar em
minhas narinas. Deixei um beijo casto em seu rosto, me segurando para não
tocar nossos lábios pela primeira vez.
Precisava ir com calma com Chiara, ela não era como as outras.
— Você está linda, principessa. — Um pequeno sorriso de canto surgiu
em seus lábios, ela olhou para baixo, parecendo envergonhada e retornou
seus olhos verdes na direção dos meus.
— Obrigada, Matteo.
Ouvi um limpar de garganta ao nosso lado e encontrei o olhar intrigante
de Irene, nos observando.
— Como vai, senhor Lucchese? — Estendeu sua mão em minha
direção, dei um passo para longe de minha noiva e a cumprimentei, mesmo
sem qualquer interesse.
— Muito bem, espero que a senhora também esteja.
— Estou sim, animada com o casamento que se aproxima ainda mais.
— Observei minha futura sogra comentar e apenas enxerguei a mesma
ganância que enxergava na maioria dos pais que tentavam me casar com suas
filhas, o que só aumentou o meu asco em relação a ela. — Queria aproveitar a
oportunidade que está aqui, para conversar a respeito de onde Chiara vai
morar para levarmos suas coisas, que já estão praticamente arrumadas e,
também, para saber como será os momentos de visitas, pois precisamos ver a
nossa menina.
Em um relance, percebi que Chiara endireitou de maneira rígida seu
corpo, parecendo incomodada com o assunto, e resolvi lhe dizer o que de fato
faria.
— É um assunto que vou tratar com sua filha durante o jantar, Irene.
Pelo seu estreitar de olhos, ficou nítido que não aprovou minha resposta
e tentou contra-argumentar.
— Sei que tem as melhores intenções, mas preferia que resolvesse esses
assuntos conosco. Chiara ainda é uma menina, não vai saber o que é melhor
para ela ou não.
Nesse momento tudo à minha volta ficou vermelho e precisei conter
minha fúria pela maneira desdenhosa que comentou sobre a própria filha.
— Se bem me lembro, a senhora disse que sua filha seria uma excelente
primeira-dama da máfia, que foi treinada para isso sua vida toda, então te
pergunto como que uma primeira-dama que terá que tratar de assuntos muito
mais sérios e importantes do que uma visita que receberá, conseguirá
acompanhar o meu ritmo se não consegue resolver sobre os horários que seus
pais podem ou não lhe visitar?
— Estou totalmente apta para todas essas funções, Matteo. — Para a
minha surpresa, Chiara quem respondeu. Olhei em sua direção, orgulhoso por
ter se defendido e, depois, voltei minha atenção à sua mãe.
— Está vendo! Ela mesmo resolverá essa questão, comigo! — frisei a
última parte. — Quando retornarmos do jantar, saberá para onde meus
seguranças levarão suas coisas.
— Não me entenda mal, não quis dizer que Chiara não consegue fazer
isso...
— Foi assim que entendi — cortei-a. — Mas agora temos que ir, não
quero me atrasar para nossa reserva. — Estendi minha mão para Chiara que,
por um milagre, pegou sem pestanejar e enlacei nossos dedos.
Quando estava de costas para eles, ouvi a voz de Federico chamar
minha atenção.
— Não há necessidade de deslocar seus homens até aqui, para levar as
coisas de nossa filha. — Senti a mão de Chiara me apertar, talvez sem que
percebesse. — Nós fazemos questão de levar suas coisas, sabemos que são
muito ocupados e não queremos atrapalhar.
Suas insistências começaram a me incomodar, o motivo de tanta
questão com um assunto tão insignificante.
— Não será incômodo. Vou ver com Chiara o que prefere e ela os
informará — falei, sem me dignar a virar de frente e segui com minha noiva
até o carro, ainda incomodado com a atitude de sua família.
Assim que nos aproximávamos, Marco abriu a porta do passageiro para
Chiara.
— Boa noite, senhorita Chiara — cumprimentou Marco e Chiara
assentiu, fazendo o mesmo com um leve sorriso.
— Boa noite, Marco. Acertei seu nome? — indagou, enquanto se
ajeitava no banco de couro do carro.
— Sim, sou Marco, com sua licença. — Ele fechou a porta e segui para
o banco do motorista.
Passei a dirigir, ouvindo a música que tocava no aparelho do meu carro
e resolvi cortar o silêncio que nos rondava.
— O que você prefere? Faz tanta questão que sua mãe e padrasto levem
suas coisas até onde vai morar? — indaguei, olhando para ela vez ou outra,
enquanto o trânsito transcorria de maneira tranquila.
Ela me olhou, parecendo confusa com a minha pergunta, talvez um
pouco surpresa por realmente ter pedido sua opinião.
Será que ela não imaginava que fosse fazer isso?
— Não faço questão que eles levem. — Ela deu de ombros, voltando
sua atenção para a frente.
— Então, vou pedir que meus homens busquem suas coisas, me avise
quando tudo estiver pronto, que peço a eles.
— Pode pedir quando quiser, o casamento é dentro de cinco dias e só
deixei separado roupas até ele. O resto já se encontra guardado.
— Combinado. Vou pedir para irem amanhã.
Ela assentiu e pelo canto do olho, percebi que retornou sua atenção para
mim.
— Vamos morar na mansão? — Senti seus olhos percorrendo meu
corpo e precisei me conter para não deixar claro que sabia o que fazia. Não
queria a deixar constrangida.
— Se você preferir, sim.
— Se-eu preferir? — gaguejou. — Pensei que morasse lá hoje.
— E moro, mas como estaremos casados, talvez queira um pouco mais
de privacidade no início, para nos conhecermos melhor. — Não resisti e
lancei a ela um sorriso malicioso e percebi que Chiara ficou corada, ao virar
seu rosto para a frente de novo. — Peguei sua mão, e enlacei nossos dedos,
quando parei no semáforo. — O que prefere? Infelizmente, não conseguirei
me ausentar para a nossa lua de mel. Podemos ficar em minha casa em
Palermo e depois vamos para a mansão, ou viajar para algum lugar mais
próximo caso queira, assim que conseguir uma brecha na minha agenda.
— Para mim não faz diferença. — Ela tirou sua mão da minha e
começou a remexer seus dedos, parecia nervosa.
Fiquei pensando na frieza que Chiara demonstrava com esse casamento
e, em partes, a compreendia. Ela estava tendo que se casar sem amor, mas por
que eu lhe causava tanta repulsa dessa maneira para não querer nem tentar,
afinal?
Era um cara boa-pinta. As mulheres sempre demonstravam gostar do
que viam e até mesmo com Chiara sentia isso, mas não entendia por que
lutava contra seu desejo. Já que precisaríamos conviver, seria melhor que
tentássemos da melhor maneira. Pelo menos era assim, a maneira que eu
pensava, mas aparentemente ela pensava diferente de mim.
Alguns minutos depois, chegamos ao restaurante e assim que entrei com
Chiara ao meu lado, a hostess nos encaminhou até a área reservada para que
tivéssemos um pouco de privacidade.
Assim que nos acomodamos, demos uma olhada no cardápio e fiz
nossos pedidos.
— Aceita tomar uma taça de vinho comigo, ou prefere outra coisa? —
Tentei mais uma vez puxar conversa.
— Aceito sim.
Finalizei o pedido para o garçom e percebi que Chiara voltou a ficar
quieta, ela parecia incomodada, não se sentava confortavelmente na cadeira,
não encostava suas costas no encosto e me recordei que a última vez que a
encontrei, fez o mesmo, mas parecia ainda mais incomodada nesse momento.
Percebi que no carro ela até encostou, mas mal se mexia, pensei que
fosse nervosismo, mas estávamos em um ambiente público, mesmo que
estivéssemos isolados, não teria necessidade de estar com medo ao meu lado.
Ou será que outra coisa a afligia?
Optei por tentar amenizar o clima denso entre nós, voltando ao assunto
de nossa moradia.
— Retomando ao assunto sobre onde vamos morar. — Seus olhos
encontraram os meus e desceram até meus lábios. — Como ainda não temos
muita intimidade e você parece cada vez querer ter menos, pensei em
morarmos em minha casa em Palermo, a fim de nos conhecermos melhor.
Entretanto, tenho muitas reuniões na mansão e como você terá muitas
atividades que minha mãe terá que passar para você, pensei em morarmos nos
dois locais. Durante a semana na mansão e nos finais de semana em Palermo.
O que você prefere?
Ela ficou me encarando por alguns segundos e, por isso, consegui
reconhecer a surpresa em seus olhos.
— Acho uma boa sugestão. Preciso aprender minhas atividades e não
precisaria viajar todos os dias até a Sicília.
— Exato. Até mesmo, pois muitas vezes irei me ausentar por alguns
dias e não ficaria sozinha.
— Vá bene, mas gosto de ficar sozinha. Isso não seria um problema.
O garçom chegou com nossas bebidas e continuei tentando conhecer um
pouco mais da mulher que me casaria, mas atento a todo instante que Chiara
jamais permitia encostar suas costas na cadeira em que se sentava.
O jantar transcorreu bem e para minha surpresa, Chiara não me
provocou com seu humor ácido. Algo que senti falta para ser sincero, por isso
resolvi a provocar para saber qual seria sua reação.
— Senti falta do batom vermelho. Não que não goste do que usa, mas
prefiro o outro.
Ela tentou conter um sorriso, mas me respondeu:
— Minha mãe acha inadequado para uma primeira-dama.
Alcancei sua mão, pois sentia a necessidade de ter um toque um pouco
mais próximo dela.
— Sinto dizer, mas sua mãe não sabe de nada. Não há regras sobre a cor
que a mulher do Don deve usar. Se você se sente bem com o vermelho, então
o use. O importante é estar bem consigo mesma.
Chiara ficou me admirando, com pensamentos longe e fiquei curioso
para descobrir o que tanto passava em sua cabecinha. Ela piscou algumas
vezes, tentando voltar de seu estupor.
— Percebi pela maneira que sua mãe se veste... — comentou,
cautelosamente. — No dia em que jantamos na mansão, até suas roupas eram
vermelhas.
Tomei um gole do vinho.
— Acredito que vocês duas vão se dar melhor do que imagina.
Chiara baixou os olhos em direção de nossas mãos e, como se
lembrasse nesse momento que não poderia baixar a guarda ao meu lado, as
afastou com cuidado para não chamar a atenção, alcançou sua taça e tomou
um longo gole de seu vinho.
O jantar transcorreu muito bem, apesar de ter estranhado o modo
submisso de Chiara. Ela não costumava ser assim, parecia cansada, seus
olhos estavam fundos e parecia ter até emagrecido alguns quilos. Não sabia o
que pensar.
Senti que quando saímos de sua casa, ela respirou aliviada, como se não
saísse há dias, mas, ao mesmo tempo, continua reservada dentro de seus
pensamentos.
Como se estivesse apenas fazendo o que lhe era exigido, ou seja, me
aturando.
Todavia, também parecia com um olhar entristecido e fiquei me
perguntando se eu era o motivo dessa tristeza.
Pelos relatórios que Carlo fez sobre ela, soube que chegou a se envolver
em um namoro com Vitto Gambino, um herdeiro de uma das maiores
empresas de logística da Itália, mas que não deu certo, pois o garoto resolveu
se casar com a filha do dono de uma empresa concorrente. Fiquei enciumado
em imaginar Chiara apaixonada por ele, pois pelo que Carlo comentou, ela
chegou a dar uma cena de ciúme no meio da rua quando descobriu do
noivado do garoto pelas revistas, mas ele me garantiu que nada de mais
aconteceu entre eles e esperava que estivesse certo.
No entanto, pensar em Chiara entristecida ao meu lado, enquanto sofria
pelo coração partido com outro, me incomodava mais do que imaginei ser
possível. Ela era minha e seria completamente muito em breve, não queria
que seus pensamentos estivessem com outro.
Respirei fundo, tomando o último gole de meu vinho, enquanto
observava Chiara comer seu petit gâteau.
O que será que tanto lhe aflige, principessa?
Continuei prestando atenção em minha noiva, sem me importar de que
percebesse que a analisava com afinco.
Vez ou outra percebi que retorcia seu rosto, como se estivesse com dor
e me cansei de esperar que me dissesse alguma coisa.
— Continua com dor na coluna? — sondei, como em nosso último
encontro disse ter caído e se machucado.
Ela se retesou no mesmo instante, enquanto olhava para o doce e nele
tivesse a resposta de seus problemas.
Chiara limpou sua garganta e, em seguida, subiu seus olhos em minha
direção e foi então que conheci a máscara que usava. Quando se sentia na
defensiva, atacava contra quem fosse e usava seu humor ácido para não
demonstrar sua fraqueza.
— Sempre tão observador, não é, Matteo? — Tentou disfarçar, mas
percebendo que não desistiria da minha resposta, continuou. — Sim, devo ter
dormido de mau jeito, amanhã estarei melhor.
Assenti, sem nada dizer, mas não acreditando em suas palavras.
— Está triste com alguma coisa, então? Pois em nada se pareceu com a
mulher que conheci há poucas semanas.
Ela arqueou sua sobrancelha, mais uma vez surpresa com meu
comentário. Desconfiava que Chiara não estava acostumada a ter tanta
atenção para si mesma, por isso, se surpreendia com a maneira que notava
tudo que a envolvia.
— Apenas cansada. — E monossilábica também.
— Certo, então vamos embora para que descanse e esteja mais animada
no dia de nosso casamento.
Pelo menos era isso que esperava, que demonstrasse um pouco mais de
ânimo até lá. Nunca fui o tipo de homem inseguro, mas a hipótese de que
estivesse tão entristecida por causa daquele moleque maledetto me
incomodava cada vez mais e não admitiria me casar com uma mulher com
pensamento em outro.
Pedi a conta ao garçom e deixei uma boa gorjeta.
Estendi a mão a minha noiva, a ajudando a se levantar e apesar de tentar
esconder, ficou óbvio o quanto algo a incomodava e isso me irritava ainda
mais, pois não queria estar certo do que passava em meus pensamentos e,
então, fiz questão de os comprovar, por isso, soltei sua mão, coloquei em sua
cintura e o corpo de Chiara pareceu ficar tenso, entretanto, a questão era
descobrir se era pela minha presença ser repulsiva a ela, ou algo a machucava
de fato.
Conforme a guiava até o estacionamento e esperávamos meu carro
chegar, um repórter ao longe bateu uma foto nossa e resolvi provocá-la.
— Parece que amanhã estará nos noticiários da Itália.
Um vislumbre de sorriso surgiu em seu rosto.
— Isso ficará mal para sua reputação, suas amantes não gostarão de
saber que está noivo e indisponível no mercado.
— Verdade, elas não vão gostar nada disso.
Ela me olhou, com a indignação estampada em seu olhar com minhas
palavras, e meu sorriso se alargou ao seu lado.
— Que foi? Não sou de se jogar fora, só você parece pensar isso —
acusei, tentando não levar as minhas próprias palavras a sério. Tentava
continuar pensando que era apenas uma questão de tempo para conseguir
conquistar minha Oncinha. — Que tal dar mais motivos para suas
manchetes?
— C-como assim...
Não respondi, apenas trouxe seu corpo pequeno para mais perto do
meu, abaixei meu rosto até seu pescoço e senti seu cheiro, subi meu rosto até
seu lóbulo e o mordisquei, enquanto apertava sua cintura com o desejo que
me assolava, o que era para ser um momento de descontração e amolecer seu
corpo contra o meu, tornou-se ao contrário, quando um resmungo de dor saiu
dos lábios de Chiara. Isso para mim foi o ápice.
Afastei-me dela, mantendo apenas a pose social, como inicialmente e
nesse momento meu carro chegou, abri a porta e como se tivesse percebido a
merda que fez, ela entrou de uma vez em seu lugar, mas sem encostar suas
costas no banco. Dei a volta e pisei fundo no acelerador, contendo minha ira.
Não aguentei mais, desviei da rota e como conhecia a região como a
palma de minha mão, segui para uma área menos movimentada e parei o
carro abruptamente, notando pelo retrovisor que os dois carros que me
acompanhavam também o fizeram.
— Por que paramos aqui? — Chiara perguntou, alarmada, virando-se de
frente para mim.
— Abaixe seu vestido! — disse, firme. — E se vire para mim.
— O q-quê? — gritou, ao retirar seu cinto e tentar sair do carro, que se
encontrava travado.
— Chega de teatro, Chiara. Faz a porra do que tô mandando! — falei
alto, mas sem me exaltar.
— Você tá louco se pensa que vou me deitar com você antes do
casamento.
Ri alto com a maneira que seus pensamentos corriam para o outro lado.
— Quem disse que vou te foder aqui nesse carro antes do casamento?
Eu sei que tá louquinha para que isso aconteça, mas não é o que farei, agora!
— frisei a última palavra. — Abre a porra do vestido, quero ver suas costas,
senão eu mesmo o farei.
Ela arregalou os olhos desacreditada com minhas palavras, mas parecia
que finalmente entendeu o que queria dizer.
— Estamos na rua, podem nos ver... — tentou contra-argumentar.
— O carro possui insulfilm e ninguém pode nos ver lá de fora, e aí vai
abrir por si própria ou eu terei que fazer?
Ela ficou quieta, parecia tremer pensando no que fazer ou como me
atacar a qualquer momento e teria achado graça se não estivesse tão irritado
com o que poderia encontrar. Perdi a paciência de vez e ordenei, num tom de
voz frio e firme:
— Vire-se de costas para mim, agora mesmo!
Ela suspirou frustrada, percebendo que não conseguiria fugir do que
exigi e se virou.
Afastei seu rabo de cavalo para a frente, alcancei o zíper de seu vestido
e o abaixei lentamente. Acendi a luz interna do carro e a raiva tomou conta de
mim por completo, conforme notava as muitas saliências em sua pele, muitas
com o vermelho pesado do sangue ainda sobre elas, outras com a cicatriz
vermelha, mostrando que eram recentes e outras mais claras, que indicava já
serem antigas.
Conhecia-as muito bem, pois além de carregar algumas ao longo de
minha vida, também marcava muitas pessoas que mereciam com esse mesmo
tipo de tortura.
Chiara estava sendo torturada e açoitada, isso me enfureceu como nunca
achei possível.
— Quem está fazendo isso com você? — indaguei, contendo meu tom
de voz para não a assustar.
Chiara retomou sua pose para frente e começou a fechar o zíper do
vestido, como se não tivesse ouvido a minha pergunta.
— Quem é o louco que tá fazendo isso com você, Chiara? — falei mais
alto e ela me olhou enviesado, mas quando percebeu como me encontrava
enlouquecido, retornou seu rosto para frente e permaneceu em silêncio. Perdi
completamente o pouco de sanidade que ainda tinha, alcancei seu braço e a
puxei para perto de mim, não com a intenção de machucá-la, mas querendo
que me levasse a sério. — Dá pra você responder, porra! — gritei, tendo seu
rosto muito próximo ao meu.
Ela engoliu em seco, desconfortável, e seus olhos vagaram em direção
de meus lábios e retornaram ao encontro dos meus.
— Não foi nada de mais — disse, em tom baixo, parecendo
envergonhada.
— Como não foi nada de mais? Quem foi que fez isso com você? Eu
exijo saber agora mesmo!
Ela balançou a cabeça e tentou se afastar de meu braço. Eu a soltei, para
não perder o controle e correr o risco de a machucar sem perceber.
— Já falei que não foi nada de mais, não vou dar nomes a ninguém. Isso
não importa.
Passei as mãos frustrado por meus cabelos, desalinhando-os, e soltei um
murro enraivecido no volante do carro, fazendo com que Chiara desse um
pulo em seu local, assustada com o que eu lhe fizesse.
Inspirei e expirei algumas vezes, tentando colocar minha cabeça no
lugar e virei meu rosto em sua direção, que me olhava desconfiada.
— Você pode me contar por bem quem lhe fez isso ou eu posso
descobrir da minha maneira e já te adianto, quando descobrir, porque eu vou,
farei com que a pessoa sofra lentamente com tudo que lhe fez.
— Não tem nada para descobrir, cazzo.
Assenti, tudo fazendo sentido em minha cabeça.
— Foram seus pais, não é? — questionei, logo de uma vez e Chiara
arregalou os olhos. — Por isso está com medo de me contar e eles te
machucarem de novo — deduzi, analisando cada uma de suas feições.
— Claro que não. — Ela tentou rir, tentando me distrair, mas não
conseguiu me convencer. — Claro que não foram eles. Preciso ir embora...
você vai me levar? Senão peço um táxi daqui mesmo...
— Você não vai voltar para aquele lugar! — decretei e enxerguei o
momento que minhas palavras começaram a fazer sentido em sua cabeça e a
incredulidade a tomou por completo.
— O quê? Ainda não me casei com você para pensar que pode mandar e
desmandar em mim e mesmo que já tivesse me casado, não sou sua cadelinha
para te obedecer como está acostumado.
— Não estou mandando em você, Chiara — respondi, no mesmo tom
de voz que usou comigo. — Estou apenas cuidando do que é meu e quer você
queira ou não, você já é minha. Um casamento não muda nada, é apenas
questão de dias para formalizar tudo.
— Você tá é louco, se acha que um papel formalizando que sou sua
esposa, me fará ser sua. Sinto lhe dizer, mas está muito enganado — rebateu,
aproximando seu rosto do meu, com a ira estampada em seus olhos.
Foi impossível não rir nesse instante, com nossos rostos tão próximos
que possibilitava sentir sua respiração entrecortada em meus lábios.
— Ah, cara mia, se você quer se enganar, por mim tudo bem. —
Aproximei ainda mais o meu rosto do seu e nossos lábios nesse momento
estavam praticamente colados um ao outro, mas nenhum dos dois se
afastaram. — Mas a partir do momento que se tornou minha noiva, se tornou
minha e, então, por isso eu decido que vai ir para a minha casa hoje e não tem
mais conversa.
— Nem em seu sonho — disse, pausadamente, com seus olhos
revezando entre meus lábios e olhos, parecendo em dúvida em qual lugar
permanecia seu olhar.
— Ah, principessa, vou calar essa sua boca marrenta agora mesmo para
você aprender a nunca mais me desafiar.
A confusão perpassou em seu olhar e antes que dissesse algo que sabia
ser mentira, fiz aquilo que não saía de minha cabeça desde o dia da boate,
colei nossos lábios e, finalmente, pude sentir a textura macia de seus lábios.
Chiara ficou surpreendida com a minha atitude, mas não se afastou, por
isso, subi minha mão até a sua nuca e, então, lhe pedi passagem entre seus
lábios com minha língua e quando senti seus lábios volumosos se
entreabrirem, foi minha perdição.
Minha língua tomou posse da sua e as duas deram início a um delicioso
embate, o que era para ser terno, se tornou fogo puro, sentia meu corpo arder
e queimar ao mesmo tempo. Precisava mais dela, mas tentava controlar o
meu corpo, pois não era assim que queria tomá-la como minha. Ainda não
pelo menos.
Subi minha outra mão em seu braço, acariciando-a ternamente,
enquanto com a outra puxei seu rabo de cavalo para baixo, liberando espaço
em seu pescoço e desci meus lábios pelo seu pescoço irresistível.
Mordisquei, beijei e até o chupei, mas não quis a deixar marcada, ainda
não era o momento e não queria lhe causar mais problemas e só o fato de
lembrar desse pequeno detalhe foi o suficiente para amenizar o desejo
incontrolável que domava o meu corpo. Voltei meus lábios ao encontro do
seu e tornei a beijá-la um pouco mais controlado.
— Isso é para você aprender que entre nós dois, sempre serei eu a dar a
última palavra e que estou longe de aceitar receber ordem de outra pessoa.
Nossas bocas ainda estavam muito próximas, minhas palavras foram
como um balde de água fria sobre Chiara, que a fez retomar os sentidos que
havia perdido por um momento pelo nosso beijo e adorei constatar que não
era o único afetado, ainda me sentia completamente aéreo com tudo que senti
com nosso beijo.
— Mas serei eu a decidir se farei ou não!
— Pare de me afrontar, carino[5]. Só quero o seu bem, falta pouco para
o casamento, que diferença faz quatro dias a mais ou a menos? — Optei por
ser mais carinhoso em minha fala, tentando dobrar minha Oncinha aos
poucos, então percebi o quanto ficou mexida com a maneira que me
direcionei a ela. — Eu vou matar quem ousar se aproximar de você, pois não
sei quem pode ser o covarde que fez isso com você, é o que quer? Que eu
saia matando todo mundo por aí? Pois eu faço, carino, faço sem sombras de
dúvida, desde que seja para te ver segura.
Ela levantou seu queixo, tentando não se dobrar, enxergava a luta
interna sobre qual decisão tomar. Queria a levar embora a todo custo, não
brinquei quando disse que mataria quem a tocasse de novo, pois era
exatamente o que faria quando descobrisse quem ousou machucá-la dessa
maneira.
Entretanto, não queria conquistar as coisas na base da força, queria que
confiasse em mim e me enxergasse como seu ponto de escape, alguém que
poderia confiar acima de tudo e não seria dessa maneira que ganharia sua
confiança.
— Não posso deixar minha irmã, já me preocupo que vai ficar sozinha
quando tiver que sair de casa, não posso abandoná-la antes da hora.
Acariciei seu rosto, controlando meu corpo de voltar a tomar seus lábios
para mim, afastei-me um pouco e encostei minha cabeça no banco do meu
carro, pensando no que fazer e apesar de poder deixar alguns seguranças
junto de sua irmã, para que Chiara se sentisse confortável, percebi pela
maneira com que falou que esses dias junto de Genevive eram importantes e
não se privaria disso.
Já notei que Chiara me enxergava como monstro e precisava retirar essa
má impressão que tinha sobre mim. Poderia até ser um monstro com algumas
pessoas, mas ela não se enquadrava nessa situação e precisava entender isso.
— Certo, posso até não te levar embora hoje por consideração ao amor
que tem pela sua irmã e como não quero começar nosso casamento da
maneira errada, não vou continuar batendo nessa tecla, mas deixarei dois
guardas em frente à porta do seu quarto, 24h por dia ou para onde quer que
vá, eles irão juntos. — Ela arregalou os olhos e percebi que ficou
incomodada, mas quando abriu a boca para rebater, a cortei. — Isso não tem
conversa, amore mio. É isso ou ir para a mansão ainda hoje! O que prefere?
A incredulidade tomou conta de seu olhar e soltou um riso anasalado.
— Agora era só o que me faltava. Ter que ficar sendo acompanhada
para onde for com seus cachorrinhos. Eles vão entrar quando for tomar banho
também? Ou quando for trocar minha calcinha? — Ela arqueou sua
sobrancelha, me desafiando.
— Não me provoque, Chiara! Se ousar me trair, eu quebro seu pescoço
com as minhas próprias mãos.
— É você quem tá colocando um monte de homem para ficar me
seguindo, não eu que estou pedindo.
Respirei fundo para não voltar a calar a boca dessa onça raivosa.
— Você já estava sendo escoltada desde que ficamos noivos, só não
sabia disso. — Seus olhos saltaram do rosto, boquiaberta com minha atitude
sem ter lhe avisado. — Carino, você vai se casar com o Don da famiglia, sem
contar que tenho muitas pessoas que entrariam em frente a uma bala para me
salvar, também tenho muitos que atirariam em mim assim que tivesse uma
oportunidade. Desculpe, mas é melhor se acostumar, todos nós sempre
andamos com seguranças ao nosso lado.
Ela ficou em silêncio olhando para o lado da rua, perdida em
pensamentos e quando suspirou frustrada, soube que ganhei àquela batalha,
ela sabia que estava certo e decidido.
— O que vou falar para minha mãe e Federico? Eles vão estranhar ter
alguém em minha porta o tempo todo, eles não vão aceitar isso...
— Eles não têm que aceitar! Fui eu quem mandei, o capo da Cosa
Nostra e se eles acharem ruim que venham falar comigo. Como você não
quer me ajudar contando quem lhe fez isso, terei que tomar atitudes drásticas
e já te informo, as pessoas que entrarem no seu quarto será apenas com seu
consentimento, mas se, por acaso, ouvirem qualquer barulho suspeito, eles
entrarão independentemente da sua vontade.
Ela balançou a cabeça, parecia desacreditada com o que ouvia de minha
boca e esperei que rebatesse o que lhe disse, mas isso não aconteceu para
minha surpresa.
— Você tá exagerando. — Poderia estar errado, mas vi um vislumbre
de sorriso em seus lábios, ela poderia não assumir, mas percebi que ganhei
um ponto com minha atitude e para mim isso já era motivo para se
comemorar. — Você tá enlouquecendo... — comentou, consigo mesma e
apesar de não dever, toquei meus dedos em seu rosto delicado, atraindo seu
olhar para mim.
— Realmente, você tem me enlouquecido, principessa! Você tem sido o
motivo de minha loucura.
Continuamos nos encarando, sem nada dizer e apesar da vontade
avassaladora de puxar seu rosto para junto do meu e continuar aquele beijo
que começamos, não quis perder o pouco que consegui avançar ao seu lado e,
por isso, afastei minha mão de seu rosto e deixei um beijo em seu dorso.
— Vou te deixar em casa, você precisa descansar.
Pensei em comentar que meu médico a visitaria pela manhã para olhar
seus machucados, pois pareciam prestes a infeccionar, mas não quis entrar
em outro embate, por isso, deixei que descobrisse quando ele chegasse em
sua casa.
Jamais admitiria isso ao Matteo, mas há dois dias desde quando seus
cães de guarda começaram a ficar em minha porta, consegui dormir
finalmente e graças a isso, parecia que tinha conseguido recuperar minha
energia.
Pensei que quando retornasse para casa, voltaria sozinha e ele colocaria
alguém para ficar comigo a partir do dia seguinte, no entanto, mais uma vez
fui surpreendida, pois ele ordenou que dois dos seus seguranças, que se
encontravam nos outros carros nos acompanhando, ficassem comigo e depois
Marco os orientariam se seriam meus seguranças oficiais ou não.
Até pensei em debater, mas me sentia cansada, mental e, também,
fisicamente. As noites maldormidas tinham seu preço, por esse motivo, seria
muito grata ao Don por ter me dado alguns dias de descanso, sem que
soubesse. Mas era muito orgulhosa para o agradecer por isso, além de
também não poder o fazer, pois isso geraria muitas perguntas que não poderia
lhe responder.
Não sabia quando tinha sido a última vez que consegui sonhar, mas isso
aconteceu nessa noite, eu sonhei. Ria sozinha ao me recordar disso, até meu
semblante cansado tinha melhorado, desde que tinha meus seguranças.
O mais engraçado de tudo isso, foi o sonho que tive.
Acabei sonhando com ninguém mais, ninguém menos que meu noivo.
A verdade era que não queria admitir, mas o beijo que tivemos em meio à
nossa briga mexeu comigo mais do que poderia um dia admitir.
Nem mesmo às vezes em que fiquei com Vitto, cheguei perto de sentir
todas as sensações que Matteo fez com que sentisse com um simples e único
beijo.
Algo que deveria ter feito eu me sentir humilhada, por ter visto minhas
feridas e as cicatrizes que carregava pelo meu corpo, não teve o efeito que
esperava para a nossa noite de núpcias. Pensava que quando me enxergasse
como realmente era, machucada e ferida, sentiria repulsa e talvez até perdesse
o encanto, ou nem quisesse mais nada comigo, entretanto, nada disso
aconteceu, muito pelo contrário.
Pensei também que me sentiria mal, como costumava acontecer comigo
quando pensava expor, todavia, a única coisa que senti em meio à nossa
briga, foi um desejo descomunal de me fazer ser sua e isso não saía de minha
mente nesses dois intermináveis dias.
Era algo novo para mim, não estava acostumada em me sentir desejada
dessa maneira, com ele parecia ser diferente, não enxergava a mesma malícia
horripilante que infelizmente encontrava em outros homens, como em meu
padrasto. Matteo parecia querer cuidar de mim, zelar pelo meu corpo e cuidar
de minhas feridas. Realmente ele parecia ser bem diferente do que costumava
pensar a seu respeito e isso mexia cada vez mais com minha cabeça, pois
acabava esquecendo vez ou outra de quem ele era e o que fez.
Por esse motivo, quando sonhei com o nosso beijo, fiquei ainda mais
confusa com a maneira que me sentia com tudo isso, pois sempre imaginei
que entraria nesse casamento o odiando, com repulsa e nojo. No entanto, isso
parecia estar longe de ser uma realidade.
Outra coisa que acontecia desde que seus seguranças chegaram, foi o
grande incômodo de minha mãe e seu marido, que não poderiam mais encher
minha cabeça com suas milhares de perguntas sobre meu jantar com Don e
nem podiam falar de seu plano mirabolante, afinal, qualquer palavra dita
poderia gerar desconfianças em meus seguranças e eles delatariam ao seu
chefe.
Notei meus lábios pelo espelho, levei minha mão livre e a toquei de
leve, lembrando-me do quanto ardeu com o contato de sua barba quando nos
beijamos. Ouvi uma batida à porta, deixei a escova de cabelo sobre minha
penteadeira, fui até ela para abrir parcialmente, pensando que seria um deles
para questionar alguma coisa, mas me senti surpresa quando encontrei o
maledetto do meu padrasto puxando conversa com eles em frente à minha
porta e me deu um sorriso mais falso do que seria possível.
Respirei fundo, já me preparando para o que seria.
— Bom dia, minha filha. — Como odiava quando me chamava dessa
maneira na frente dos outros para demonstrar uma família feliz. — Queria ter
uma conversa com você, poderia vir até o meu escritório?
Negar, geraria desconfianças entre aqueles que me observavam nesse
momento com atenção, Matteo deve ter comentado o motivo de eles estarem
aqui e estavam de olho em descobrir quem era.
— Desço em cinco minutos. — Primeiro que em um dia normal, sem
meus seguranças, isso não aconteceria, ele entraria em meu quarto sem nem
pedir licença e falaria ali mesmo o que precisava. Segundo, que se me
chamassem e não descesse no mesmo instante, geraria algum de seus castigos
em minha pele. Por esse motivo, antes de me casar, quis ter o gostinho de o
fazer esperar pelo tempo que eu bem entendesse e mesmo que tivesse atiçado
em me castigar, não poderia encostar um dedo sequer em mim. — Com
licença. — Voltei a fechar a porta em sua cara, contendo minha gargalhada
com seu olhar mordaz para cima de mim.
Enquanto terminava de me arrumar, passei a recordar em como minha
mãe e Federico não ficaram nada satisfeitos em saber que não poderiam levar
minhas coisas até a casa de Matteo ou a mansão. Óbvio que não disseram
nada em alto e bom som, mas pela cara que fizeram e como tinha
conhecimento de seus planos, para mim ficou mais do que claro.
Suas intenções eram conhecer a mansão de Palermo que era de Matteo,
eles tentariam descobrir algumas vezes colocando seus infiltrados para segui-
lo até lá, no entanto, seus seguranças sempre conseguiam despistar e até o
momento não haviam descoberto. Já a mansão da Sicília, apesar de terem ido
algumas vezes, em todos os momentos que foram era à noite, logo, não
conseguiram descobrir muitos detalhes para uma futura invasão em um dos
dois locais.
Outro ponto que despertou um alerta em Irene, foi a visita do doutor
Vittorio Rossi, um dos médicos de confiança de Matteo, não sabia que ele
viria e quis matar meu noivo naquele momento, ele poderia ter marcado a
consulta em outro local, até mesmo no consultório do médico e eu inventaria
uma desculpa qualquer para ir até lá. Mas não, fez o homem vir até a cova
dos leões e minha mãe não queria nos deixar a sós em meu quarto,
desconfiada do que pudesse ser.
Ela não era boba, apesar de não ter me perguntado em nenhum
momento sobre a última surra que levei de seu marido, ela sabia que estaria
marcada, como sempre acontecia. Como sabia que não arredaria o pé de meu
quarto, inventei que era apenas alguns exames e consulta de rotina pré-
nupcial e isso pareceu convencê-la, o fato de o médico confirmar minha
desculpa e ter dito que era algo corriqueiro e exigido entre a família
Lucchese, fez com que ela aceitasse e saísse de meu quarto.
Quem olhava até pensava que sua preocupação era comigo mesma, mas
todo aquele teatro era medo do que poderia lhe acontecer caso descobrissem
sobre tudo que me fizeram.
Deveriam ter pensado nisso antes de me machucarem tanto, ainda mais
na semana do meu casamento. Jamais sairia minhas marcas até lá.
Depois de dez minutos enrolando para descer ao encontro do meu
querido padrasto, desci sendo acompanhada de Fabrizio e Mattia, meus
seguranças do momento, e apesar da vontade de permitir que entrassem
comigo dentro do escritório de Federico, não o fiz, pois sabia que ele
encontraria alguma maneira de me castigar.
— Podem esperar aqui, por gentileza. Imagino que não vá demorar.
Eles se entreolharam, mas assentiram desconfiados, respirei fundo, dei
duas batidas à porta para anunciar minha chegada e entrei no cômodo pouco
iluminado.
— Até que enfim, ragazza. Fechou a porta?
Federico estava sentado em sua poltrona confortável, de frente para a
vidraça que dava para o quintal, fumando um de seus charutos e girou a
poltrona para a frente de sua mesa, encontrando-me próximo à porta.
Assenti, sem nada dizer.
Ele me chamou com dois dedos, para que me aproximasse e assim o fiz,
mas permitindo que a mesa nos separasse, dei uma olhada nos objetos que
tinham sobre ela para o caso de precisar e apertei discretamente sobre minha
pequena adaga que estava presa entre as minhas pernas.
Não aceitaria que me machucasse de novo, dessa vez estaria prevenida.
— O que gostaria de falar? — indaguei, querendo terminar esse assunto
de uma vez. Não aguentava ficar muito tempo no mesmo cômodo que esse
imprestável.
Ele se levantou, vestindo sua camisa social azul-claro e foi arregaçando
suas mangas até o cotovelo e meu alerta disparou, com o que tentaria fazer.
Quando ficou a dois passos de distância, senti meu braço ser puxado ao
encontro de seu corpo, num rompante e no mesmo instante coloquei minha
mão sobre minha adaga. Meu vestido ficava nos joelhos, o que não
atrapalharia em pegá-la caso necessitasse.
— Quem você pensa que é para me fazer esperar só porque tá com dois
merdas de segurança daquele maledetto? — Fiquei incomodada com suas
palavras desdenhosas em relação ao Matteo, mas tentei não me apegar a isso.
— Você realmente pensa que por eles estarem aqui, me impedirá de fazer
alguma coisa com você?
Engoli em seco, segurando-me para não o mandar se foder.
— É o que parece, afinal, qual foi a vez que pediu que eu descesse até
aqui ao invés de invadir o meu espaço? — afrontei-o e a fúria tomou seus
olhos castanhos, escurecendo ainda mais do que fosse possível.
— Sua pira... — Ele levantou a mão para acertar meu rosto, mas além
de levantar ainda mais o meu rosto o enfrentando, também levantei a minha
mão e segurei seu braço, impedindo-o de descer em meu rosto.
— Bate! — rosnei, contendo meu tom de voz para não o denunciar. —
Vai, bate, seu covarde! Quero só ver o que Matteo vai fazer com você quando
seus seguranças contarem que saí daqui com o rosto marcado depois de nossa
pequena conversa — desdenhei, notando ele trincar seu maxilar com a raiva
aflorando sua pele, a ponto de ficar vermelho de raiva por ver que tinha
razão.
Ele abaixou o braço e se soltou do meu, voltando para trás de sua mesa,
enquanto passava a mão em sua cabeça raspada, visivelmente nervoso por
não poder fazer o que queria por tê-lo enfrentado.
Suspirei devagar, enquanto ele permanecia distraído andando de um
lado para o outro, aliviada por ter escapado de outro tapa em meu rosto. Ele
era forte, muito mais do que eu, nem sempre seus tapas apenas ardiam,
muitas vezes me lançavam longe fazendo com que batesse minha cabeça no
chão com o impacto.
Foi até o pequeno bistrô de bebidas e se serviu com gelo e uma bebida
de cor âmbar em seu copo, enquanto tornava a falar, tentando se acalmar.
— Incrível que o pouco de convivência que teve com aquele moleque,
fez com que ficasse corajosa e pior, colocou seus dois cachorrinhos atrás de
você, só para aumentar sua confiança.
Permaneci quieta, ele sabia que não era apenas isso, mas o fato de ter
cansado de ser maltratada por eles a todo instante.
Ele apoiou suas mãos na mesa de escritório e me olhou, ainda irritado.
— Por que eles estão aqui, afinal? Por que Matteo enviou seus
seguranças para dentro da nossa casa e não apenas para ficar lá fora, como
qualquer segurança normal?
Imaginei que pudesse ser esse o motivo de sua conversa, por isso já
tinha me preparado para responder.
— Não sei. Ele apenas disse que como nos casaria, queria garantir a
minha segurança, pois estava exposta por estar noiva dele, isso poderia me
causar problemas.
— E você realmente quer que eu acredite nisso?
Dei de ombros, sem me preocupar se acreditaria ou não. E quando notei
sua mão se fechar, segurando-se para não esmurrar a mesa e chamar a
atenção dos seguranças, sabia que tinha conseguido o irritar ainda mais.
— Não sei se vai acreditar, mas foi o que ele me disse. Você pode
perguntar a ele, caso queira, sabe onde o encontrar. — Seus olhos se
estreitaram em minha direção e consegui enxergar a incredulidade com as
minhas palavras. — Mais alguma coisa?
Federico soltou um riso indignado e tomou o restante de seu uísque num
único gole.
— Ah, Chiara. Pode tentar se fingir de esperta e corajosa, mas quando
menos esperar vou me vingar pela maneira que tá agindo nesse momento e
como eu quero me vingar por isso. — Um arrepio horripilante subiu por
minha espinha e engoli em seco, sabendo que tipo de castigo ele tanto queria
aplicar em mim. Entretanto, forcei em me recompor e finalizei antes de sair.
— E como já te disse, antes de fazer o que quer, eu te mato.
Virei minhas costas e fui em direção à porta, dando por mim mesma o
assunto como encerrado.
Depois que saí da sala de Federico, precisei de uma hora para acalmar
meus nervos que se encontravam à flor da pele a todo instante.
Assim que consegui colocar minha cabeça em ordem e tratei com a
ajuda de Genevive os meus cortes, que estavam bem melhores, graças a
pomada que o doutor Rossi me passou, as feridas pareciam sarar bem mais
rápido, sem contar que quase não doíam e a prova disso, foi ter aceitado
treinar nessa tarde com Leonardo.
Minha mãe tinha saído há pouco tempo, para experimentar seu vestido
para o casamento e comprar algumas coisas que faltavam, enquanto treinava
piano e Genevive tricotava alguma coisa que não sabia ao certo o que era.
Mattia e Fabrizio pareciam entediados enquanto permaneciam na porta
da sala de música, à espreita de que alguma coisa mais interessante
acontecesse para que pudessem ter alguma diversão em seus dias tediosos ao
meu lado.
Quando faltavam dez minutos para que Leonardo chegasse, instruí que
Genie o levasse até um pequeno salão vazio que tinha nos fundos da casa,
para que pudéssemos treinar sem gerar desconfianças nos seguranças.
Nesse meio-tempo, subiria para me trocar no quarto e como subiriam
juntos, eles não veriam meu primo entrar em casa.
Fiz conforme o planejado e quando minha irmã subiu até meu quarto
para avisar que ele já se encontrava no local indicado, desci acompanhada
dela e de meus novos guardas.
— Podem aguardar aqui, por gentileza, vou apenas treinar com minha
irmã.
Eles assentiram e entramos no cômodo iluminado, graças as grandes
vidraças. Assim que encontrei meu primo, com seu cabelo louro-escuro
curtos e seus olhos verdes, vestindo sua camiseta manga curta exibia seus
músculos e as tatuagens no antebraço, corri em sua direção e pulei em seus
braços, me sentindo feliz por vê-lo depois de tanto tempo.
Não fazia tanto tempo, na verdade, mas para mim parecia como uma
eternidade.
— Senti saudades, mia ragazza.
— Também senti, Léo. Tenho tanta coisa para te contar...
— Fiquei sabendo que seu noivado vai indo muito bem. — Lançou-me
uma piscadela, com seu sorrisinho travesso no rosto. — Está em todas as
manchetes da Itália.
Arregalei os olhos, pois até tinha me esquecido da demonstração que
Matteo fez, quando notou o paparazzi tirando uma foto nossa. Nem tinha me
lembrado de procurar por alguma notícia que nos envolvesse na internet.
— Dio mio, depois preciso ver o que tanto estão dizendo, mas agora
vamos treinar porque daqui a pouco minha mãe está aqui e agora tenho dois
seguranças que se desconfiarem que está aqui, vão dizer para Matteo.
— Também já estou sabendo sobre os seus novos seguranças.
Arqueei a sobrancelha, não tão surpresa por saber de tanta coisa ao meu
respeito antes de mim mesma, e ele deu de ombros, tomando distância para
começarmos nosso treino.
— Faço parte da parte de segurança da Sicília, lembra? Marco
comentou em uma de nossas reuniões sobre a importância de proteger a noiva
do capo.
Dio mio, não queria nem pensar em como Matteo parecia cada vez mais
diferente do que imaginava, cumprindo com cada uma de suas palavras.
Ele é o inimigo, Chiara. Ele é o inimigo! Voltei a dizer para mim em
pensamentos, para que não deixasse que sua demonstração de segurança por
mim afetasse meu lado emocional e esquecesse o que ele de fato significava
para mim.
— Vamos começar, que não sei como será depois que me casar, ainda
não sei se vou conseguir continuar treinando com você. Preciso ver como
serão as coisas primeiro, então quero aproveitar nosso último treino.
Depois disso paramos de conversar e focamos de fato em nosso treino e
foi muito bom, pois consegui extravasar a raiva que me envolvia de tudo que
aconteceu durante essa semana com Federico.
Permanecemos por uma hora em um treino árduo e nem percebi que
Genie tinha saído em certo momento, apenas percebi quando retornou para
dentro de onde nos encontrávamos com uma cara de espanto e senti meu
sangue esvair de minhas veias no mesmo instante, pensando que minha mãe
poderia ter chegado e caso pegasse Leonardo aqui, me mataria sem sombra
de dúvidas.
Desde que Alexandre inventou quando era mais nova que estávamos
agarrados no meio da rua, minha mãe não permitia que encontrasse meu
primo, nem mesmo acompanhada de Genie. Por isso, nossos encontros eram
sempre sorrateiros.
— O que aconteceu? — questionei, quando terminei de beber um longo
gole de minha garrafa de água.
Ela olhou de mim para Leonardo, ainda espantada e disse:
— Estava voltando para cá, quando ouvi Mattia conversando com o
Don, Chichi, sobre você estar sozinha aqui dentro com um homem, com
alguns barulhos suspeitos.
Senhor! Era pior do que se fosse apenas minha mãe.
Olhei para Leonardo e ele já sabia o que deveria fazer.
— Você precisa ir embora, Léo. Tenho que pensar em alguma desculpa
para não te causar problemas com Matteo.
Ele se aproximou e me envolveu em um abraço caloroso, que tentava
me acalmar.
— Fique em paz, não fiz nada de errado, não tenho por que me
preocupar.
Assenti, sem saber se pensava da mesma maneira, observei-o abraçar
minha irmã e seguir embora pela porta da entrada normal, ao invés de sair
pela janela.
Esse garoto não tinha amor à vida!
— Senhores! — meu primo cumprimentou os seguranças e saiu
calmamente de minha casa, como se não devesse nada para ninguém e, de
fato, ele não devia. Mas não era isso que eles pensavam.
— Tô ferrada! — soltei, enquanto permitia meu corpo cansado cair no
chão. Senti minha irmã se aproximar de mim nesse momento, com a cara de
culpa em sua feição.
— Desculpe, Chichi. Precisava ir ao banheiro urgente, senti que minha
visita mensal chegou e tava com cólica, precisei tomar um banho para me
limpar e tomei um remédio para dor, por isso demorei, pois aguardava a
medicação fazer efeito.
Lancei um sorriso fraco para a acalmar e coloquei minha mão em seu
joelho.
— Fique tranquila, nem percebi que tinha saído. Você deveria ter
comentado que estava com dor, nem teria marcado o treino com o Léo.
Ficamos em silêncio por alguns instantes e ela quebrou o ar pesaroso
que nos rondava.
— Será que ele vai ficar bravo?
Ela não precisou dizer o nome para saber de quem falava e respondi
aquilo que tentava acreditar para não me preocupar. Mas que, no fundo, não
era o que sentia.
— Talvez nem tenha se importado. Deve ter coisas mais importantes
para se preocupar do que um primo que me visita.
— Tomara.
Suspirei frustrada e me levantei, estendendo minha mão a ela.
— Vou tomar um banho, antes que nossa mãe chegue.
Ela assentiu e saímos, com o olhar intrigado de meus dois seguranças
em minha direção. Parecia que me julgavam como se tivesse cometido algum
erro inconcebível, enquanto voltava em direção ao meu quarto.
Tinha acabado de sair do banho quente, pensando no que poderia me
acontecer caso Matteo me confrontasse. Vestia um roupão vermelho e apenas
uma calcinha, com a toalha enrolada ainda sobre meus cabelos enquanto
olhava nas poucas roupas que separei para usar antes do meu casamento, que
seria no próximo dia.
— Não vai acontecer nada, Chiara — tentei me acalmar mais uma vez.
Quando escolhi uma calça jeans e uma camiseta preta para usar,
coloquei sobre minha cama para começar a me trocar. Retirei minha toalha da
cabeça e dei mais uma secada para não molhar minha roupa, mas parei o que
fazia quando ouvi uma pequena discussão se aproximando do meu quarto e
estranhei, pois não podia ser quem imaginava.
— Quero ver você me impedir!
— Senhor, ela estava tomando banho, não é correto entrar em seu
quarto neste momento... — A porta se abriu num rompante e meu coração
deu um solavanco em meu peito quando me deparei com quem pensei ter
ouvido há poucos segundos.
Matteo entrou em meu quarto de uma maneira que nunca o tinha
presenciado. Ele parecia irado, e meu peito passou a retumbar
descompassado sabendo muito bem o motivo de sua visita inesperada.
Seus olhos, apesar de enraivecidos, desceram por meu corpo que estava
coberto apenas com o roupão e notei quando a raiva cedeu para o desejo.
Minha parte íntima parecia ter despertado, pois senti uma quentura me
envolver e precisei me conter para não me denunciar esfregando minhas
pernas.
— Está vendo, ela não está vestida de maneira apropriada para uma
visita. Por favor, espere ela se trocar para que conversem. — Minha mãe
voltou a dizer, mas quando Matteo a olhou, se calou no mesmo instante.
Respirou fundo e assentiu. — Ok, vou esperar lá embaixo, mas não se
esqueça de que o casamento será amanhã, senhor.
Ela disse uma coisa, mas pela cara que me olhou antes de sair
demonstrava outra e quando disse, sem emitir som: o seduza. Tive certeza de
que isso foi apenas uma cena para não dizer que estava o jogando para cima
de mim, porém, era exatamente o que queria e aproveitou a oportunidade que
teríamos neste momento.
Mas ela só poderia ter enlouquecido se pensava que faria algo assim,
ainda mais nesse momento.
Voltei meu olhar em direção ao meu noivo, que continuava me olhando
de uma maneira excitante e, ao mesmo tempo, aterrorizante, finalmente
recuperei o susto que levei, empertiguei meu corpo e respirei fundo, a fim de
me preparar para o nosso costumeiro embate e disse.
— Custava esperar eu me trocar para que descesse? Aqui não é lugar
nem hora para conversas, Matteo.
Ele deu alguns passos de maneira lenta, e meu coração batia cada vez
mais forte com sua proximidade. Meus olhos voltaram para seus lábios e
flashes de nosso beijo há dois dias voltaram em minha mente e por mais que
ele não saísse de minha cabeça nos últimos dias, esse não era o momento para
pensar nisso, ainda mais seminua.
— E estar com outro em um cômodo, sozinha, de maneira totalmente
inadequada é correto, Chiara? — rosnou tão perto de meu rosto, que pude
sentir seu perfume cítrico se infiltrar em minhas narinas. — Tá me fazendo de
otário, porra?
Ele voltou a passar as mãos em seus cabelos que estavam perfeitamente
arrumados para trás e ficaram todos desalinhados, como eu gostava quando
os deixavam assim.
Foco, Chiara.
— Não estava fazendo nada de errado! — Forcei minhas palavras a
saírem de meus lábios, tentando dispersar meus pensamentos que seguiam
para áreas inapropriadas para o momento.
— E o que faziam então, me conte? Estou ansioso para descobrir? Pois
a partir do momento em que deixou meus seguranças do lado de fora,
colocou um cara escondido dentro de casa, antes que descessem para que não
desconfiassem de nada, depois ficou sozinha com ele e o pior, fazendo
diversos barulhos suspeitos, me deixou ainda mais intrigado com que merda
faziam! Então, vamos me conte? — Matteo apontou com seu queixo,
enquanto percebia pelo canto dos olhos suas mãos abrir e fechar, parecia
tentar se controlar.
Suas palavras e sua atitude de ter vindo tão rápido, a ponto de nem dar
tempo de me trocar desde que chegou, me surpreendeu mais do que pensei
ser possível. Parecia até que Matteo estava enciumado, o que quase me fez rir
com essa possibilidade. Como se isso fosse possível. Nosso casamento não
aconteceria por amor, ele talvez se sentisse atraído, mas apaixonado? Até
parece.
Possivelmente fosse seu ego, devia ter ficado ferido com a possibilidade
de ficar mal falado perante a famiglia. Com certeza, isso fazia mais sentido,
por esse motivo, como não sabia o que lhe responder, pois não tive tempo o
suficiente para encontrar uma desculpa plausível, resolvi fazer o que fazia de
melhor, o provocar.
— Nossa, Matteo, se continuar agindo desse jeito, vou pensar até que
está enciumado. — Passei a ponta de meus dedos, conforme falava sobre seu
terno fino e apesar de ter chamado sua atenção para minha mão, seus olhos
acinzentados voltaram a olhar com fúria, talvez, em minha direção.
Para a minha surpresa, ele tirou minha mão de seu corpo e a segurou,
enquanto com a outra mão apertou meu rosto para olhar dentro de seus olhos.
— Não brinque comigo, ragazza! Você não sabe com quem tá lidando.
Arqueei minha sobrancelha e estreitei meus olhos, afrontando-o.
— Ah, mas eu sei. É Matteo Lucchese, o mafioso mais temido de toda a
Itália e de três semanas para cá, também é o meu noivo, sei muito bem que
você é, mio caro[6]. — Não ficou dúvida para a maneira irônica que soei ao
dizer essas palavras.
Era fato, eu não devia ter amor à minha própria vida, para ficar o
provocando dessa maneira. Mas não conseguia resistir e, no fundo, achava
que ele gostava disso tanto quanto eu.
Sua mão soltou meu rosto e permaneceu apenas segurando a minha.
— Ainda bem que fez seu dever de casa, mas errou num ponto.
Também sou conhecido por tramar as torturas mais mirabolantes possíveis,
além de não ser o mais temido apenas na Itália, mas em muitos outros países
também, principessa. — Também notei a maneira irônica que me respondeu,
mas voltou a falar. — Por isso mesmo, acho bom você me falar nesse
momento que merda faziam aqui, do contrário, caso descubra que me traíam
na cara de meus seguranças, vou fazer questão de te pendurar na praça mais
movimentada da Sicília e te queimar viva, pois assim todos poderão ver o que
faço com as pessoas que traem a minha confiança.
Estremeci no mesmo instante, não pela insinuação da traição, pois com
isso minha consciência estava tranquila, mas pela possibilidade de que
descobrisse a real intenção desse casamento e, assim, cumprir com sua
palavra.
Tinha pavor de fogo e pensar na possibilidade de ser queimada viva, me
dava arrepios.
— Já disse que não fazia nada de mais, cazzo! — obriguei minha voz a
sair de maneira firme, para não demonstrar como suas palavras mexeram
comigo.
— Então o fazia, porra? — rosnou tão perto de meu rosto, que pude
sentir seu hálito de charuto e hortelã em meu rosto. — É a última
oportunidade que te dou antes que faça as coisas do meu jeito.
— E vai fazer o que, se não te falar? — Nem eu me aguentava às vezes.
Conta para ele, caspita! Chamei minha própria atenção em pensamentos. —
Vai me matar? Cortar minha língua talvez? — Continuei o afrontando e um
sorriso perverso surgiu em seus lábios.
Ou quem sabe ele poderia voltar a calar minha boca com outro beijo,
como deu no outro dia! Meus pensamentos voltaram mais uma vez para
aquele bendito beijo e minha respiração falhou entrecortada, com a mera
possibilidade de que voltasse a acontecer.
Mas que merda aconteceu com a minha cabeça?
— Não dá ideia, principessa. Mas cortar sua língua não é algo que me
agrade, tenho outras intenções que a envolve e isso frustraria muitos dos
meus desejos.
Suas palavras esdrúxulas fizeram com que meu rosto corasse e mais
uma vez minha calcinha umedeceu.
— Babaca! Já disse que pode sonhar à vontade, isso não vai rolar. —
Não sei se tentava convencê-lo ou a mim mesma, pois nem eu mesma
acreditava em minhas palavras, ainda mais depois daquele beijo.
Ele riu, mostrando que não acreditava em nada do que falava e fiquei
ainda mais irritada comigo mesma, por ter sido tão fraca naquela noite e ter
permitido que me beijasse.
— Bom, o papo está bom, mas se não vai me dizer o que preciso, então,
farei do meu jeito.
Empertiguei meu corpo quando se afastou e o desespero começou a
tomar conta de mim, pensando em milhares de possibilidades do que poderia
lhe dizer, mas nada parecia ser convincente o suficiente.
Ele abriu a porta e quando ouvi sua ordem a Mattia, o desespero me
tomou por completo.
— Peça para Marco buscar o rapaz e o leve até meu calabouço, que
quero ter uma conversinha com ele, já que Chiara não quis colaborar.
— Não! — gritei, correndo até a entrada de meu quarto e puxei meu
noivo pelo braço, ganhando sua atenção, ele arqueou uma sobrancelha, então
continuei. — Não faça nada com ele, por favor — implorei, frustrada,
sabendo que não teria jeito, talvez isso me ferrasse, mas jamais permitiria que
machucasse meu primo, ainda mais por inconsequência minha. Como ele
ainda me olhava esperando pelas palavras certas, suspirei derrotada e assenti.
— Vou lhe contar tudo. — Pelo menos a parte que poderia.
— Agora começamos a conversar melhor, principessa. Aguarde mais
um pouco e te confirmo se vai precisar fazer o que pedi — instruiu a Mattia
antes de voltar seu corpo para dentro do meu quarto e fechar a porta. —
Estou ouvindo.
Matteo cruzou os braços em frente ao seu corpo, todo-poderoso,
exalando força e autoridade, nesse momento me senti ainda menor. Além de
irritada por ter que dividir algo que guardava para mim, não era sábio exibir
as cartas que tinha na manga para meus inimigos, afinal, nunca saberíamos
quando poderia ser o caso de precisar usar.
Sentei-me na beirada de minha cama, olhei em minhas unhas ainda
pintadas de vermelho, me recordando que as arrumaria para o casamento no
dia seguinte, pois, infelizmente não poderia usá-las dessa maneira, comecei a
descascá-las com a ansiedade me tomando e, então, forcei minha voz a sair
para dizer de uma vez o que precisava.
— Leonardo é meu primo, ele tem me ensinado legítima defesa quando
minha mãe sai de casa para resolver alguma coisa. — Subi meus olhos em
sua direção e percebi a confusão, junto da compreensão tomar seu rosto. —
Como você percebeu recentemente, já aconteceu algumas vezes de passar por
algumas situações indesejadas e, por esse motivo, não gostaria de ser pega
desprevenida, por isso pedi para ele que me ensinasse a me defender, desde
então é o que temos feito. Aprendi a me defender com meu próprio corpo,
mas também aprendi a atirar e a manusear uma adaga. Tudo graças ao Léo,
por isso, por favor, não faça nada com ele, pois se ele se expôs dessa maneira,
correndo o risco que alguém o descobrisse, foi para me proteger, então jamais
aceitaria que algo lhe acontecesse, ainda mais por minha culpa.
Matteo deu alguns passos e se sentou ao meu lado, pensativo com o que
lhe contei.
— Desde quando ele tem te treinado? — Sabia o que fazia nesse
momento, perguntou de maneira indireta, desde quando comecei a ser
machucada e resolvi ser sincera, sem saber ao certo o motivo.
— Há alguns anos.
A surpresa tomou seus olhos e suspirou, voltando a passar seus dedos
longos por seus cabelos.
— Anos? — indagou, incrédulo, mas parecia ser algo para si mesmo e
não para que eu respondesse, por isso permaneci quieta. — Isso é um
absurdo! E onde a merda da sua mãe estava que não viu isso durante esse
tempo todo? — Ajudando a me bater? Pensei em responder, mas apenas dei
de ombros.
— Talvez ela não tenha percebido, não sei.
— Foi o Federico? — Seu olhar voltou a encontrar o meu de maneira
tão penetrante, que precisei desviar nossos olhares para não me denunciar.
— Isso não importa agora! A questão é o Leonardo, ele tem me ajudado
e não quero que o prejudique.
Ele assentiu, ainda pensativo com a minha declaração.
Como Matteo apesar de surpreso, não se opôs ao que fazia e não
pareceu se importar, mas sim entender o que me levou a isso, resolvi exigir
mais um pouco, ao invés de deixar esse assunto morrer e talvez perder a
oportunidade.
— Tem mais uma coisa... — ele soltou um riso anasalado.
— Claro que tem. — Continuou me olhando, aguardando que
continuasse e dissesse logo de uma vez.
— Quero continuar treinando após o casamento.
Ele ficou em silêncio por alguns segundos, que pareciam como horas, e
quando um sorriso de canto surgiu naqueles lábios tentadores, meu coração
se acalmou mais um pouco.
Talvez ele não fosse tão ruim assim.
— Vá bene.
Olhei desconfiada para ele e não resisti em lhe provocar.
— Tão fácil assim? Só um tudo bem e pronto?
— Você é dura na queda, hein, mia cara. — Dei de ombros, sentindo-
me um pouco mais à vontade ao seu lado e um leve sorriso surgiu em meus
lábios. — Eu permito que continue com seu treinamento, desde que...
— Sabia que tinha um “que” na frase. — E isso fez com que
gargalhasse e nunca gostei tanto de um sorriso como gostei neste momento.
— Continuando, desde que meus seguranças participem de seus treinos.
— Tá com medo, Matteo? Não se sente seguro o suficiente contra meu
primo, é? — Voltei a provocar porque simplesmente não resistia e, por algum
motivo, não queria que fosse embora, pelo menos não ainda.
Sua gargalhada voltou a tomar o ambiente e me peguei rindo junto, pois
sua risada era daquelas contagiantes que fazia com que o acompanhássemos.
Assim que ele parou, seus olhos foram tomados por duro desejo e seu
olhar desceu até meus lábios e permaneceram neles por alguns segundos,
como se meu corpo já o reconhecesse, mordisquei-os, a fim de tentar conter o
desejo de avançar sobre ele e tomá-los para mim de novo. E quando fiz isso,
um gemido escapou dos lábios de meu noivo e seus olhos escureceram por
completo, com a dilatação de sua pupila.
— Principessa, inseguro é tudo que eu não sou — esclareceu, algo que
já tinha até esquecido do que falava. — Mas não é por isso que vou permitir
que fique sozinha com outro rapaz, que não seja apenas eu. Confio no meu
taco, mas também cuido do que é meu. — Ele me lançou uma piscadela e
mais uma vez senti minha calcinha umedecer com o pouco que me permitia
ter.
— Obrigada, isso é muito importante para mim. — Resolvi baixar a
guarda por um segundo, pois o que fazia me passava segurança de que não
tinha intenção de me machucar, até porque ele conseguiria caso quisesse, e
perceber sua real intenção, acalmou ainda mais aquela inquietação em meu
peito.
Mais uma vez aquele pensamento sobre sua atitude, ser muito parecida
com uma demonstração de ciúme, voltou a surgir em meus pensamentos, mas
não quis dar trela para ele. Não queria alimentar tais pensamentos
equivocados, talvez ele se preocupasse comigo e ainda mais com o que
falariam ao seu respeito, caso o que aconteceu mais cedo caísse nas línguas
erradas.
Sua mão tomou a minha para si e apoiou em sua perna, distraindo meus
pensamentos, enquanto a acariciava em círculos lentos e torturantes, mas uma
tortura que aceitaria passar pelo resto de meus dias de bom grado. Seu dedo
indicador levantou meu rosto que nem percebi ter se abaixado para observar
nossas mãos entrelaçadas e quando encontrei seus olhos, só enxerguei
carinho e compreensão.
— Isso nunca mais vai te acontecer, principessa! Eu te prometo, que
jamais permitirei que alguém te machuque de novo.
Sabia que não deveria, que era errado, que ele era o inimigo, ficar
tocada com suas palavras, no entanto, eu fiquei, e o pior, acreditei em cada
uma delas, mesmo sabendo que não poderia.
Quis acreditar que jamais seria machucada, que apesar de torto,
finalmente entraria no caminho certo, mas sabia que isso era a mente de uma
mulher sonhadora que se sentia cansada de apanhar da vida. A ideia de que
talvez nosso casamento não fosse ser tão errado assim, começou a perpassar
em minha mente, entretanto, eu sabia que não seria assim que funcionaria,
por mais que não quisesse, teria que seguir os planos de Irene e Federico,
então quando ele descobrisse que eu o traí, meu castelo, nada encantado,
desmoronaria perante meus olhos.
Nosso final feliz não era uma opção. Só não contava que no percurso a
pessoa que prometeu jamais me machucar, seria a que um dia destruiria o
meu coração.
Sentia-me extremamente nervosa ao me admirar no grande espelho que
me arrumava em um dos quartos da mansão Lucchese, que foi reservado para
virar o meu salão pessoal.
O vestido era lindo, elegante, leve e romântico. Não poderia negar o
dom que a costureira tinha para fazer exatamente o que lhe pedi. Não queria
nada extravagante e ficou como imaginei: simplesmente, perfeito.
Possuía uma silhueta fluida, mas levemente estruturada, realçando
minhas curvas. O tecido principal do vestido era de seda chiffon, o que
proporcionava um caimento suave, possibilitando que me movimentasse
tranquilamente durante a festa.
No busto, apresentava um decote em V suave, permitindo alongar a
silhueta e realçar meu colo. Nele continha detalhes delicados de renda floral,
que traziam um toque romântico e feminino. Já as mangas eram curtas e
transparentes, enquanto a saia tinha várias camadas de chiffon.
Encontrava-me sozinha no aposento, com apenas o pessoal que me
arrumava para o grande dia, por assim dizer, sabia que esse casamento estava
longe de ser real, mas nem por isso me sentia menos nervosa.
A maquiagem também era leve e suave, como o casamento aconteceria
durante o dia. Meus olhos pareciam mais iluminados, destacando o verde
graças ao delineado marrom sobre meus cílios, entretanto, nos lábios não quis
deixar de usar um tom vermelho forte. Sentia-me mais eu mesma quando o
usava e sabia que Matteo gostava. Apenas minha mãe implicaria, mas não me
importava muito com isso.
Jamais conseguiria agradá-la, na verdade, já tinha desistido de tentar.
Outra coisa que me incomodava cada vez mais era que, para meu
completo terror, Federico insistia que me levaria para o altar produzido no
lindo jardim da mansão. Dizia que era o mais correto, já que ele era o
responsável por nossa família, mas não o queria próximo a mim de jeito
nenhum e disse que entraria sozinha para a mãe de Matteo, óbvio que ela
estranhou, mas entendeu quando eu disse que, apesar de tudo, ele não era o
meu pai, o meu morreu e não entraria com outra pessoa que não fosse ele.
E só não ganhei novas marcas porque meus seguranças ficavam comigo
em todos os lugares que me encontrava, como se fossem minhas sombras e
não poderia ser mais grata por isso.
Quando a assessora do casamento bateu à porta para avisar que poderia
descer, meu coração deu um solavanco em meu peito, mas respirei fundo e
saí acompanhada dela, que me ajudava para que não caísse de cara no chão
por causa do vestido, mesmo que não se arrastasse no chão, dificultava que
eu pudesse enxergar os degraus.
Mattia e Fabrizio me acompanhavam como sempre, iriam comigo até
próximo à entrada, depois fariam minha segurança a distância, afinal, estaria
com seu chefe e não seria necessário.
Assim que comecei a descer os degraus da longa escada curvada,
enxerguei a peste do meu padrasto me aguardando com toda a sua pose de
mafioso durão para a entrada da noiva e precisei respirar fundo para não o
mandar se tocar, pois já tinha informado que não entraria com ele. Talvez se
fosse um bom padrasto eu até poderia aceitar, mas além de não ser o caso,
não queria a mera possibilidade de tocar em seu braço, não queria ter fotos de
nós dois um ao lado do outro no dia do meu casamento, pois apesar de tudo,
sabia que jamais me casaria de novo, independentemente de como fosse meu
futuro com tudo que estava prestes a acontecer.
Quando faltava dois degraus, o escroto abriu um sorriso, mas em seus
olhos apenas enxergava malícia conforme percorriam meu corpo.
Nojento. Minha vontade era esmurrar sua cara com minha adaga e
tirar esse olhar e esse sorriso falso do rosto.
— Está linda, minha filha. — Mordi minha língua para não dizer na
frente dos demais que não era sua filha. — Preparada para o grande dia? Seu
noivo já a aguarda no altar. Vamos? — Ficou ao meu lado, oferecendo seu
braço para que eu o aceitasse e entrasse junto dele.
Entendi muito bem o que fazia, fez questão de fazer toda essa ceninha
para que eu não tivesse coragem de fazer com que passasse vergonha, no
entanto, ele, de fato, não me conhecia e não me renderia a sua vontade,
mesmo que tivesse medo dele.
— Como disse, vou entrar sozinha. Não mudei de ideia.
Percebi quando travou seu maxilar, com a ira o dominando, contudo,
tentava se manter sob controle para não fazer uma cena perante os demais.
Além dos meus seguranças, havia diversos espalhados pela casa e jardim,
devido ao grande número de convidados.
— Minha filha, sua mãe insistiu para que eu viesse te acompanhar, não
queremos desapontá-la, não é?
Suspirei frustrada com esse assunto.
— Minha mãe entenderá que não quero outra pessoa nesse momento,
que não seja o meu verdadeiro pai e como ele não pode voltar dos mortos
para me acompanhar, sinto muito, mas o farei sozinha. Preciso ir, pois Matteo
me aguarda.
Quando dei um passo à frente, senti meu braço direito ser segurado com
força por ele e olhei em sua direção, sem me dar ao trabalho de tentar
desvencilhar. De esguelha, notei que tanto Mattia quanto Fabrizio, deram um
passo à frente prontos para afastar Federico de mim, mas assim que ele
percebeu o que fez por instinto, afrouxou seus dedos e me soltou.
— Não me faça essa desfeita, ragazza. Me considero como um pai para
você — disse as palavras contendo seu tom de voz, mas como o conhecia
bem, sabia que se controlava para não gritar em meus ouvidos.
— Sinto muito, minha decisão já está tomada, agora preciso ir. Matteo
deve estar estranhando minha demora.
Dei alguns passos adiante, respirando aliviada por ter vencido aquela
batalha. Fui firme em minha decisão e não agi pelo medo do que poderia me
acontecer, afinal, já saberia o que faria para evitar que descontasse o que fiz
em minha irmã, assim que a festa terminasse, pois conhecendo a peste, ele
tentaria me machucar nem que fosse a distância. Mas antes eu o mataria.
Segui pelo caminho ladrilhado, que me levava ao local da cerimônia.
Optamos para que tudo fosse realizado na própria mansão, então Matteo
pediu para que o reverendo viesse até aqui para realizar nossa cerimônia.
O sol estava escaldante, iluminava a beleza natural do jardim.
O local foi escolhido por sua beleza exuberante, com um cenário repleto
de árvores frondosas, arbustos bem-cuidados e um gramado verde a se perder
de vista.
Conforme me aproximava, notava a decoração com estilo romântico e
elegante, conforme pedi a decoradora e minha sogra que o fizessem,
aproveitando a própria decoração do jardim para o cenário. Cadeiras brancas
com lados de tecido delicado alinhavam o corredor que levava ao altar, uma
passarela adornada com pétalas de rosas suaves estavam espalhadas, iria
através dela até o meu noivo, a decoração foi finalizava com um arco de
flores frescas e exuberantes que foi montado onde Matteo me esperava.
Quando olhei em direção ao arco, pude vê-lo.
Lindo, poderoso e exalando confiança, à medida que me encarava com
um sorriso de canto, sua atitude aqueceu meu corpo no mesmo instante.
Nossos olhares ficaram presos um ao outro e só desviei quando a
assessora me orientou que poderia entrar, a marcha nupcial deu início ao som
de um violinista e como se seu olhar me hipnotizasse, não olhei ao meu
redor, não observei quem eram os convidados que compareceram em nosso
casamento, o único que prendia minha atenção era Matteo.
Minha respiração acelerava e meu peito parecia prestes a sair do peito,
ao passo que me aproximava cada vez mais dele. Sentia-me confusa, pois
uma grande parte de mim se sentia ansiosa com o que poderia vir a acontecer
na noite de núpcias, já a outra ainda resistia a me entregar com facilidade,
mas parecia cada vez mais difícil tentar manter distância de tudo que sentia
quando me encontrava ao seu lado.
Matteo desceu os três degraus quando me aproximava do pequeno altar,
me alcançou e um sorriso que atingia os olhos surgiu em seu rosto.
— Linda não é suficiente para descrever como está hoje, principessa.
— Ele alcançou a ponta do pequeno véu que cobria meu rosto e o levantou,
jogando para trás de meu cabelo e antes que conseguisse me preparar para o
que faria, senti seus lábios macios encontrarem minha testa e deixar um beijo
casto sobre ela.
Sua atitude demonstrava carinho e respeito, o que me surpreendeu de
uma maneira boa, no mesmo segundo, ouvi o suspiro de minha irmã e minha
sogra próximas a nós dois e um vislumbre de sorriso surgiu em meus lábios.
Ele ofereceu sua mão, que aceitei sem delongas, e me ajudou a subir os
pequenos degraus até o altar, assim foi dado início à cerimônia.
Permanecemos com as mãos dadas durante toda a cerimônia. Apesar de
me sentir extremamente nervosa, sua presença tinha o dom de me acalmar.
Quando repetimos as palavras pelo reverendo, que nos tornaria
oficialmente marido e mulher, um embrulho passou a se avolumar em meu
ventre e sabia que era consequência do que viria a seguir: o beijo. E por mais
errado que fosse, ansiava por esse momento desde aquele maldito beijo que
aconteceu no carro.
— Pode beijar a noiva. — O padre autorizou e quando ficamos de frente
um para o outro, parecia que teria um enfarte a qualquer momento.
É só um beijo, você já o beijou, não é como se fosse o primeiro.
Senti seu perfume se aproximar cada vez mais e, finalmente, o toque de
seus lábios encontraram os meus. Diferente da outra vez que nos devoramos,
dessa vez o beijo foi rápido e calmo, não envolveu língua. Ele apenas deu um
selinho mais demorado e puxou levemente os meus lábios para o seu,
deixando-me excitada com o mísero contato e, de certa forma, frustrada que
foi apenas isso.
Quando se afastou e abriu aquele sorrisinho cretino que odiava, sabia
que soltaria uma de suas pérolas que me irritaria profundamente, ele se
aproximou próximo do meu ouvido e disse:
— Calma, amore mio, vamos deixar para depois o beijo mais gostoso.
Fiquei boquiaberta com suas palavras e quis tirar aquele sorriso
indecente de sua boca, na base do soco naquele instante.
— Você é um cretino se pensa que quero mais algum beijo seu mais
tarde — menti, não querendo dar o braço a torcer do meu real desejo.
Será que ficou tão nítido como me senti frustrada por não ter me
beijado decentemente?
Soltei um gemido frustrado, por conta do meu pensamento.
Quando viramos para a frente, as palmas e assovios cessaram em meio à
nossa pequena troca de farpas.
Ele puxou minha cintura para perto de si e um fotógrafo tirou nossa
primeira foto como marido e mulher para o álbum. Antes que os padrinhos
viessem nos cumprimentar, ele aproximou seus lábios de meu rosto e me
surpreendeu mais uma vez com sua pergunta:
— Te machuquei? — Fiquei confusa com seu questionamento e meu
semblante devia ter transparecido isso, pois ele explicou na sequência:
— Desculpe, acabei esquecendo das suas costas.
Por essa eu não esperava, ele não só se lembrou como se preocupou.
Balancei a cabeça em negativa, sem saber ao certo o que lhe responder,
na verdade, sua atitude desarmou minhas barreiras e fiquei sem palavras.
Giana e Leonardo vieram me cumprimentar, como meus padrinhos
oficiais, Pietro junto de Genevive fizeram o mesmo.
Pietro não quis convidar ninguém para entrar junto dele como padrinho
de Matteo, pois isso poderia dar uma esperança que ele não queria para quem
quer que convidasse para um evento tão importante como esse. Por isso, para
a minha surpresa Matteo sugeriu que fosse minha irmã e ele aceitou.
Fiquei muito satisfeita com o decorrer de como tudo aconteceu, pois
não queria de jeito nenhum que ela entrasse com Alexandre. Caso pudesse,
teria impedido até que comparecesse em meu casamento, mas como isso não
seria possível, ele se encontrava entre os convidados.
Para variar, minha mãe ficou possessa quando soube que Leonardo seria
meu padrinho e disse que caso Don descobrisse meu passado com ele,
colocaria tudo a perder. Mas não tinha passado nenhum entre nós dois,
apenas em sua cabeça, por isso não tinha com o que me preocupar.
Apesar de ser um grande evento, não abrimos para muitas pessoas, só as
pessoas mais próximas de nós.

Faz exatamente uma hora que tínhamos saído da festa para a nossa
primeira noite juntos e apesar de uma parte minha ansiar para que ela de fato
acontecesse, outra parte se sentia insegura com o que poderia vir a acontecer.
Com o que poderia sentir tendo tanto contato com Matteo e isso me
deixava atordoada, na mesma proporção que me excitava.
Tinha sentido muitas coisas com um mísero beijo e apesar de não ser
uma mulher medrosa, me sentia assim durante toda a festa com medo do que
sentiria quando fosse tocada por ele, quando me fizesse dele, assim como
prometeu. Tinha medo de que perdesse a razão e esquecesse o real objetivo
de tudo isso.
Ele assassinou o meu pai, ele era o meu inimigo e não poderia me
deixar esquecer disso assim, só porque me sentia mexida pelo que poderia
fazer, mas era exatamente isso que temia: que ele me fizesse esquecer.
Uma coisa pelo menos eu consegui agilizar desde que o doutor foi em
casa cuidar de meus ferimentos, sem que soubesse, pedi uma indicação de
anticoncepcional para começar a tomar assim que me casasse, óbvio que
questionou se meu noivo estava de acordo e comentei que conversaria com
ele a respeito, mas não o fiz, pelo menos ainda.
Não queria dar seguimento no plano de minha mãe e ainda carregar o
filho do assassino de meu pai no ventre, por isso, desde que ele foi em casa,
em uma pequena oportunidade que tive de ir ao centro da cidade, comprei o
remédio e comecei a tomar no mesmo dia. Sabia que o primeiro mês não era
confiável, então precisava exigir que Matteo usasse camisinha quando não
conseguisse mais escapar de suas investidas, pois algo me dizia que seria
nessa noite. Mesmo que me sentisse insegura, ele não se importaria com o
que queria ou não, apenas me tomaria para si, como os homens costumavam
fazer. Já tive prova o suficiente disso, para que não confiasse em nenhum.
Assim que entramos no grande quarto que seria nosso a partir dessa
data, pedi licença e fui me trocar no banheiro para ganhar tempo e colocar
minha cabeça no lugar.
Joguei uma água no corpo para tirar o cansaço e suor da longa festa,
coloquei uma camisola que minha mãe comprou para esse momento, que
apesar de ser longa e sofisticada, era transparente em meu corpo, com
exceção dos meus seios que eram cobertos por bojos e rendas, por esse
motivo, não mostrava nada além de um pequeno decote. Respirei fundo,
criando coragem e saí em direção ao quarto. Nesse momento, perdi o ar de
meus pulmões quando o notei, Matteo usava apenas uma boxer preta e, Dio
mio, ele era mais lindo do que pensei ser possível.
Encontrava-se sentado na poltrona próximo à porta da varanda e era
possível ouvir as batidas frenéticas da música que soava em nossa festa. Ele
abriu uma pequena fresta da porta para que soltasse a fumaça do charuto que
fumava, com a outra mão segurava um pequeno copo largo com uma bebida
de cor âmbar e algumas pedras de gelo enquanto as remexia. Sentia seus
olhos presos em mim, como um predador da ponta dos meus pés até chegar
em meus olhos e vi o desejo estampado pelas suas pupilas dilatadas assim
que me encontraram.
Não resisti em descer meus olhos por ser corpo voluptuoso e senti um
calor me tomar quando encontrei seu peitoral completamente definido, assim
como os gomos de seu abdômen. Havia uma pequena pelugem que levava à
sua masculinidade, mas não conseguia ver muito, pois sua cueca não me
permitia. Seus braços desenhados repletos de tatuagens e uma delas
reconheci, era o símbolo da Cosa Nostra em seu bíceps direito.
Também não me passou despercebido as cicatrizes que carregava em
seu corpo, não eram muitas, mas tinha umas quatro pelo que pude contar
rapidamente.
Continuei a descer meus olhos e encontrei suas pernas definidas, eram
longas, com poucos pelos espalhados e nunca senti tanta vontade de me
sentar em seu colo, como naquele momento e me deixar levar pelo fogo que
me atingia. Mas por mais que quisesse, não seria eu a tomar a primeira
atitude, ainda mais com a confusão que ainda me atormentava, mesmo que
soubesse em meu interior que já tinha perdido qualquer possibilidade de não
seguir adiante com o que era necessário. Matteo precisava entregar o lençol
que comprovaria minha virgindade a famiglia e só em pensar nisso, sentia
uma certa gastura por algo tão arcaico como isso ainda ser necessário dentro
da máfia.
Chegou um momento em que cansei de esperar que ele tomasse alguma
atitude e me sentei na cama, pois nós dois parecíamos presos em uma luta
interna para saber quem cederia primeiro, já que nenhum dos dois tomava
nenhuma atitude.
Depois de meia hora que saí do banheiro, ele se levantou com seu ar
prepotente e inquisidor, veio até a minha frente com aquela monstruosidade
visível através de sua cueca que não tinha o poder de esconder o que me
aguardava sobre ela, e ficou parado me encarando com seu olhar sensual, e
sua intimidade ficou próxima ao meu rosto por ele estar em pé e eu ainda
sentada.
Será que ele queria que eu o chupasse logo de cara, por isso estava
parado na minha frente?
Cheguei a pensar nessa possibilidade, mas nem em sonho que faria isso
logo de cara, sem nem ao menos ter alguma intimidade com ele para tal
atitude.
Ele estendeu sua mão, cortando meu devaneio e me puxou para ficar em
pé, eu o obedeci sem saber ao certo o que fazer ou o que falar.
— Você tá tão linda, principessa. — Meu coração disparou mediante
seu comentário, não estava acostumada a ser elogiada e ele sempre o fazia
quando tinha oportunidade, sua atitude mexia com a minha libido mais do
que gostaria de admitir. — Não precisa ficar nervosa... — Seus dedos
másculos, encontraram meu rosto e senti o acariciar com carinho, prendendo
um pouco do meu cabelo que se soltou atrás de minha orelha.
— Não estou nervosa... — menti, pois mais uma vez não admitiria o
quanto me sentia aterrorizada mediante sua presença.
Ele soltou um riso anasalado, enquanto aproximava seu rosto do meu,
pensei que fosse me beijar, mas foi até meu pescoço e inalou meu perfume,
enquanto perpassou seu nariz em minha pele, me fazendo arrepiar com seu
mísero toque.
— Não é o que parece, principessa.
Sempre tive comigo que conseguia guardar bem as minhas emoções,
mas sempre ficava na dúvida se eu me enganava pensando que conseguia,
contudo, na verdade, sempre fui tão transparente assim e apenas me iludi
durante todos esses anos. Matteo sempre conseguia me deixar em dúvida
sobre as minhas ações, ou ele era muito bom em ler as pessoas, ou eu fui uma
tola ao imaginar que vestia bem minha máscara.
Por esse motivo fiquei quieta, sem saber o que fazer ou falar. Mas nada
foi necessário, Matteo me puxou de maneira lenta em direção à cama e me
deitou sobre ela. Meu coração disparava tão rápido que parecia estar prestes a
explodir em minha caixa torácica.
Ele se deitou ao meu lado e lambeu seu lábio inferior com puro desejo,
enquanto encarava o decote dos meus seios, mas não o tocou.
Depois de longos minutos nessa mesma posição, ele me surpreendeu
quando num rompante colocou suas pernas em minha volta, me deixando de
costas na cama e se posicionou sobre mim. Perdi o fôlego momentaneamente
sabendo o que estava prestes a fazer comigo, sentia minha boca seca e engoli
em seco, a fim de tentar conter o nó em minha garganta.
Seu nariz desceu até a minha barriga e subiu lentamente, mal sentindo o
toque dele em minha pele, mas nem por isso ficava menos arrepiada com o
pouco contato que tivemos. Passou pelo vão dos meus seios mais devagar do
que fosse possível, como se quisesse aproveitar ao máximo o que fazia, sua
atitude fez com que minha calcinha ficasse ainda mais encharcada. Ele
chegou até meu pescoço e fez a mesma coisa, mas dessa vez senti seu
cavanhaque fazer o trabalho e, Dio mio, fiquei ainda mais arrepiada com a
fricção dele com minha pele.
Estava perdida!
— Você é uma deliciosa e linda tentação, sabia? Será mais difícil do
que imaginei cumprir a minha palavra.
Minha cabeça ficava tão confusa com as sensações que ele me causava
que não entendi no momento o sentido de suas palavras.
Quando ele ajeitou sua coluna, mas ainda com sua masculinidade
roçando sobre meu ventre, puxou alguma coisa de trás de sua cueca e quando
vi o canivete em sua mão, enrijeci no mesmo instante.
Que merda ele faria com aquilo?
E se me machucasse? Será que descobriu que era uma infiltrada para
destruir sua família? Se fosse isso, estaria, de fato, perdida.
Meu coração disparou novamente em meu peito, mas nesse momento,
por puro desespero. Minha adaga estava em minha bolsa, dentro da parte que
foi reservada para mim, minha intenção era colocá-la abaixo de meu
travesseiro, mas como entramos juntos, não tive oportunidade até então.
Matteo levantou um de seus braços e antes que percebesse, levou o
canivete até ele e cortou seu antebraço.
— V-você tá louco? — indaguei, incrédula, vendo o sangue escorrer
por seu braço. Mas em nenhum segundo ele sequer resmungou, nem fez
nenhuma careta de dor pelo corte que recebeu. — Por que tá se machucando?
Procurei alguma coisa ao meu redor que pudesse colocar sobre seu
braço, para estancar o sangue, mas o lençol estava preso abaixo de nossos
corpos.
Quando forçaria seu corpo para sair de cima do meu para procurar
alguma coisa, ele abaixou seu braço e passou sobre o lençol que nos
deitávamos.
Não entendi o sentido de nada do que fazia.
— Calma, principessa. Não sou nenhum suicida, muito menos
masoquista.
— Não foi o que pareceu — disse, antes que conseguisse pensar em
outra coisa melhor. — Por que se machucou?
Ele arqueou a sobrancelha e saiu de cima de mim, me deixando ao lado
da mancha de seu sangue no lençol e foi então que, finalmente, meus
pensamentos se organizaram e entendi o que fez. Mas, ao mesmo tempo, não
conseguia acreditar em sua atitude.
Olhei desacreditada em direção à porta e quando saiu de lá, com uma
toalha de rosto segurando seu braço, nossos olhares se encontraram e forcei
minha voz a sair, ainda confusa.
— P-por que fez isso? Pensei que nós... — não consegui finalizar a
frase, mas ele entendeu o que quis dizer, quando balançou a cabeça em
negativa.
— Você está nervosa, você disse diversas vezes que não quer. Não te
forçarei a nada. — Ele amarrou uma faixa no pequeno corte de seu braço, foi
até a poltrona e vestiu a camisa que usava inicialmente e sua calça, sem
arrumá-la direito, em seguida, se virou em minha direção. — Pode me dar
licença? Preciso pegar o lençol.
Ainda não acreditava na atitude que teve e o que isso dizia a seu
respeito, forcei minhas pernas a pararem de tremer e saírem da cama, num
único puxão ele retirou o lençol de cima, virou-se de frente para mim
enquanto segurava o emaranhado de lençol em suas mãos.
— Fique à vontade para descansar, mais tarde eu retorno.
Quando virou as costas e abriu a porta para sair, me forcei a sair do
transe que me encontrava e o chamei em volume alto, ele virou metade de seu
corpo, com a porta ainda entreaberta.
— Por que você fez isso? — Voltei a perguntar, porque nada fazia
sentido. Desde quando alguém se preocupava com o que eu queria ou não?
Não estava acostumada com esse tipo de atitude. — Por que simplesmente
não me tomou como sua? — Precisava ouvir com todas as palavras.
Ele voltou a fechar a porta, se aproximou lentamente e precisei prender
o ar em meus pulmões quando tocou meu rosto, de maneira delicada e
carinhosa.
— Eu quero você por completo, principessa. Te disse há pouco tempo
que você pediria para que eu te fodesse, então não vou te tocar até que
realmente me queira e peça por isso.
Suas palavras tocaram algo bem fundo dentro de mim e meus olhos
lacrimejaram pela atitude que jamais imaginei que teria comigo, soltei o ar
devagar de meus pulmões, sentindo meu peito ainda acelerado, mas devido à
pouca distância que tínhamos. Ele abaixou seu rosto em minha direção e
deixou um beijo no canto de meus lábios.
— Agora descanse. — Seus guardas estarão na porta para que ninguém
a incomode. — Vou voltar lá para a festa, pois preciso mostrar o lençol.
Mais uma vez tocou meu rosto ternamente, virou as costas para mim e
saiu de nosso quarto, me deixando perdida em milhares de pensamentos que
perpassavam em minha mente com a atitude mais surpreendente que poderia
ter dele.
Cresci ouvindo falar horrores de Matteo e sua família. Minha mãe
sempre disse o quanto ele era uma pessoa inescrupulosa, ruim e machucava
as mulheres que tinha. Não sabia como ele se comportaria comigo na cama,
se me machucaria ou não, mas considerando o cuidado e preocupação que
demonstrava nas poucas vezes que tivemos contato e o que fez nessa noite
por mim, colocava em xeque qualquer comentário que já ouvi falar sobre ele.
Que pessoa tão ruim cortaria seu próprio braço para provar que nos
envolvemos para a famiglia, quando isso não chegou nem perto de acontecer?
Como ele poderia ser tão horrível, quando percebeu que não me sentia
pronta para essa noite e pediu que esperasse pelo meu tempo?
Nem minha mãe nunca tinha se preocupado com o que queria ou não,
mas Matteo, sendo um estranho até então para mim, teve mais preocupação
do que minha família jamais demonstrou por mim.
E, nesse momento, com sua atitude tão diferente do que um dia
imaginei alguém ter, ele ganhou um pouco do meu respeito e talvez,
dependendo de como nosso dia a dia passasse a ser, eu conseguisse parar de o
olhar como meu inimigo e o enxergaria como meu marido.
Ouvi uma batida à porta, conforme despertava e virei em sua direção,
com os olhos inchados por ter acabado de despertar.
Olhei ao meu lado e Matteo já tinha saído, o que ainda não conseguia
definir como algo bom ou não.
A verdade era que praticamente não preguei os olhos durante a noite,
pensando em tudo que me aconteceu nesse dia. A atitude de meu marido
mexeu comigo mais do que poderia imaginar e, por isso, não consegui dormir
com os pensamentos a todo vapor em minha cabeça. Depois de horas me
revirando na cama, ele chegou cheirando ainda mais forte a álcool e se deitou
ao meu lado, mas não encostou em mim em nenhum momento.
Fingi assim que entrou em nosso quarto que dormia e fiquei apenas
atenta às suas ações, até que percebi que tinha adormecido. Para a minha
própria surpresa, virei de frente para ele e não resisti em o admirar enquanto
dormia, seu semblante denotava serenidade. Nem parecia que era um mafioso
tão temido quem o enxergasse dormindo naquele momento.
Meus olhos desceram por seu corpo e fiquei deslumbrada ao admirar
ainda mais perto seu corpo excepcional. Ele era lindo, sem sombra de
dúvidas e não duvidava de suas palavras quando disse que não me tocaria,
ainda quando comentou que todas as mulheres se deitavam com ele porque
queriam, era impossível se duvidar disso vendo o vestido, depois de vê-lo
seminu então, qualquer objeção caiu por terra. O homem era magnífico, nem
os doze anos de diferença entre nós mudava a maneira que o enxergava.
Fiquei daquela maneira em uma intensa observação por horas, pensando
em suas atitudes que me confundiam e causavam tantas coisas diferentes do
que pensei jamais sentir ao seu lado.
Fui conseguir pegar no sono, quando o dia já apontava e nem notei
quando Matteo despertou e saiu da cama.
Outra batida quebrou meu devaneio e me lembrei de que não tinha dito
nada.
— Pode entrar.
Sentei-me na cama, penteando meus cabelos com os dedos, para o
ajeitar um pouco e enxerguei a governanta pedir licença e entrar em meu
quarto, segurando uma linda bandeja de café da manhã.
Minha barriga roncou no mesmo instante e foi nesse momento que
percebi mal ter me alimentado durante a festa com o nervosismo que me
tomava.
— Bom dia, senhora Chiara. Sou Francesca, já nos conhecemos outro
dia. Vim trazer seu café da manhã.
Ela puxou algum suporte que facilitava para que colocasse a bandeja
sobre ela e se aproximou de minha cama para que eu me alimentasse.
— Bom dia, obrigada, mas não precisava se preocupar. Eu desceria
assim que me levantasse para tomar café.
Ela abriu um sorriso terno, enquanto terminava de ajustar o suporte ao
meu tamanho na cama.
— Foi um pedido do senhor Lucchese. — Olhei em sua direção, com
visível curiosidade estampada em meu rosto. — Ele pediu que preparasse
uma caprichada bandeja e te trouxesse na cama. — Ela soltou um risinho,
como se estivesse orgulhosa da atitude de seu chefe e disse o restante em tom
baixo, como se fosse um segredo: — Pela maneira que falou, queria te mimar
um pouco.
Um rubor tomou minha face, sem saber ao certo o que dizer sobre seu
comentário.
Limpei minha garganta, tentando controlar minhas emoções ainda mais
conflituosas com sua atitude.
— Sabe onde meu marido está? Não vi quando saiu da cama — quis
saber, preparando uma xícara de café puro, era o que precisava nesse
momento.
— Senhor Lucchese saiu bem cedo, tinha uma reunião importante com
o conselho.
— Ah... — soltei, antes que conseguisse me conter e um sorriso
compreensivo surgiu em seus lábios.
— Não se preocupe, senhora Chiara, ele disse que não demoraria,
voltaria para almoçar com a senhora.
Não sabia definir o motivo pelo qual me senti frustrada em saber que
não estaria comigo em nossa lua de mel, mas foi exatamente isso que senti,
frustração.
Dio mio, me sentia tão confusa.
— Obrigada e, por favor, não mexe chame de senhora, Chiara está
ótimo.
Ela ficou em silêncio, talvez surpresa com o que pedi e depois de alguns
segundos tornou a falar:
— Desculpe, mas não quero problemas com o senhor Lucchese.
Pensei em contra-argumentar, mas estava chegando naquele dia e não
queria já arranjar confusão com meu marido, ainda mais depois das coisas
que fez por mim. Por isso apenas assenti, anotando em minha mente que
veria isso depois com ele.
Quando Francesca estava prestes a sair do quarto, disse:
— Estava quase me esquecendo, dona Sandra pediu que assim que se
arrumar, desça até a sala de estar que ela vai começar a passar suas
atividades.
Não negava o quanto fiquei surpresa pelo comentário de Francesca, mal
dormimos essa noite e, sinceramente, pensei que não fosse querer trabalhar
depois da longa festa que tivemos. Todos estávamos exaustos, pelo menos eu
me sentia dessa maneira, mas para a família Lucchese, isso parecia não
atrapalhar de seguir sua rotina normal.
Poderia ter me equivocado, mas isso não me parecia atitude de pessoas
mesquinhas que não faziam nada, que não fosse dar ordens aos seus
seguidores, como sempre fui informada que acontecia com eles.
Fiquei as próximas três horas junto de Sandra, que me levou até o
escritório que se encontrava desocupado, tomando ciência de todas as minhas
atividades.
Já tinha uma vaga ideia de algumas das ações que deveria ter a partir do
momento que me tornasse a primeira-dama da máfia, todavia, percebi que
tinham muitas outras que não imaginava precisar ter a minha participação.
Não negava que fiquei mais satisfeita do que imaginei com a quantidade
de atividades que ocupariam os meus dias, assim não precisaria ficar apenas
trancada em meu quarto, como acontecia em casa, ou ficar treinando piano
incansavelmente.
Gostava de tocá-lo e não queria perder a prática, entretanto, não
precisava ficar o dia inteiro apenas nele.
Comecei a organizar minha agenda em um notebook que Sandra me deu
para não perder nenhum prazo dos eventos que precisaria comparecer com
meu marido, como também organizar.
Por isso, aproveitei para também organizar pelo menos nesse início um
dia para ter meu treinamento com Leonardo, conforme Matteo tinha
autorizado.
Quando comentei com meu primo em um momento da festa de meu
casamento, até ele mesmo se surpreendeu com essa notícia, aparentemente
não fui a única a ficar espantada, visto que pensei que meu marido jamais
aceitaria tal ação, afinal, não era um costume nada comum entre as mulheres
dentro da máfia.
— Como você está se sentindo em plena lua de mel já estar
trabalhando? — minha sogra perguntou, cortando meus pensamentos,
enquanto nos servia uma xícara de café que Francesca nos trouxe há pouco
tempo. — Não tinha intenção de te trazer aqui hoje, mas como Francesca
avisou que Matteo saiu logo cedo, pensei que preferiria isso do que ficar sem
ter nada para fazer.
Ela não poderia ter acertado mais, nem que quisesse. Seu comentário,
permitiu que eu abrisse um sorriso sincero, conforme sorvia um gole de café.
— Sim, agradeço por ter pensado dessa maneira. Realmente não gosto
de ficar parada e isso vai me ajudar a distrair.
— Mas não se apegue apenas com isso, agora somos família, então
sempre que quiser conversar, dar uma volta pelo jardim, ficarei muito
satisfeita em te acompanhar. — Suas palavras me tocaram e precisei engolir
em seco, surpresa com a maneira sincera com que as dizia. Abaixei meus
olhos para minha mão, quando senti as dela me tocar e fiquei ainda mais
inquieta com o toque carinhoso que demonstrava por uma completa estranha.
— Agora você também é uma filha para mim, não quero ser aquela sogra
chata que sempre afasta a família quando meu filho se casa.
Não conseguia entender como conseguia agir dessa maneira comigo,
fiquei desconfiada de início, será que ela dizia a verdade ou era alguma tática
para que eu abaixasse a guarda e pudesse me destruir.
Não era acostumada com esse tipo de tratamento e, por isso, não
esperava os receber quando viesse morar aqui.
Fiquei sem saber que palavras dizer, por isso apenas assenti com um
sorriso singelo no rosto.
— Desculpe, não quero te assustar. — Ela deu uma risada tão gostosa,
que me deu vontade de rir junto e soube naquele instante de quem Matteo
havia herdado sua risada. — Mas fiquei esperando tanto tempo que meu
bambino trouxesse alguém para nossa vida que agora que você chegou, quero
fazer com que as coisas deem certo conosco, assim como com o seu
casamento também.
— Ele nunca trouxe nenhuma mulher para cá? — indaguei, incrédula,
antes que conseguisse segurar minha língua, minha curiosidade falou mais
alto, ainda mais pela quantidade de notícias que surgiam sobre ele nas
manchetes.
Ela balançou a cabeça, com um brilho no olhar.
— Nunca, bambina, acredita? Para ser sincera, já tinha até perdido as
esperanças de que Matt um dia se casaria.
Matt... bambina... não me passou despercebido a maneira carinhosa que
direcionava a nós dois. Sandra parecia tão leve, tão diferente de minha mãe,
que comecei a pensar que não poderia ser fingimento, ela não demonstrava
em nada que pudesse ser.
Seu comentário também me pegou desprevenida, pois pensei que pelo
menos uma namorada ele tinha trazido, afinal, ele completaria trinta anos
dentro de uma semana, isso era, no mínimo, surpreendente e me fez pensar o
que ele tanto enxergou em mim que fez com que se interessasse e até tivesse
se casado?
Minha cabeça parecia a ponto de explodir com tantas questões sem
respostas, como também sem saber o que pensar das que descobri há poucos
minutos.
— Espero que não esteja enchendo a cabeça de minha esposa contra
mim, dona Sandra! — Aquela voz que sempre mexia comigo cortou nossa
conversa, fazendo com que sentisse um solavanco em meu peito. Ergui meus
olhos e o encontrei, precisei conter a agitação em meu coração, inspirei
lentamente e soltei o ar de meus pulmões, visto que precisava ser discreta.
Matteo parecia ainda mais sexy, de maneira tão despojada, vestia
apenas uma camisa preta com dois botões abertos, permitindo notar um
pouco de seu peitoral definido e as mangas dobradas até o cotovelo. Seus
cabelos não se encontravam penteados para trás como de costume, mas
estavam desalinhados, daquela maneira que achava tão sensual.
Cenas do nosso beijo permearam meus pensamentos em um momento
inapropriado e senti minha bochecha ruborizar com a mera lembrança.
Ele se aproximou da mãe, deixou um beijo carinhoso em sua bochecha
e acariciou seu rosto. Depois olhou em minha direção e meu coração que
havia se acalmado, voltou a retumbar no peito com a intensidade de seu
olhar.
— Bom dia, amore mio, dormiu bem? — questionou, de maneira
sedutora, mais uma vez não soube como agir, afinal, nunca tinham me
perguntado se havia dormido bem. Por isso, me limitei a dizer o mínimo.
— Dormi sim. — Em dois passos ele cortou a distância entre nós dois e
quando pensei que beijaria meus lábios, senti seus lábios macios tocarem
meu rosto.
Não soube o que senti naquele momento, alívio por não ter me beijado
ou frustração. Mentira, eu sabia que não tinha sido alívio, o que me irritava
ainda mais, porque desejei que me beijasse nos lábios e isso me intrigava
mais do que poderia, pois não poderia sentir esses desejos ao seu lado. Era o
que sentia e sabia que era muito errado, mas parecia tão certo ao mesmo
tempo.
— Que bom, pois tenho uma surpresa para você. — Seu comentário
chamou minha atenção, ainda mais pelo vislumbre de euforia com que
demonstrou. — Conversei com a estilista que desenha as roupas de minha
mãe, ela virá aqui amanhã depois do almoço para tirar suas medidas e trazer
alguns modelos, que já tem em estoque para você. Pode ficar à vontade e
compre tudo que achar necessário, quero que fique ainda mais linda do que já
é, mesmo que não ache isso possível.
Dio mio, como conseguiria odiar esse homem, quando me tratava como
uma princesa? Isso era tão frustrante.
Apesar da dificuldade de formar as palavras coerentes para esse
momento, forcei minha voz a sair.
— Muito obrigada, mas trouxe roupas suficientes para os próximos
eventos e, também, para o dia a dia.
— Minha filha — senti as mãos de Sandra voltar a tocar nas minhas e
olhei em sua direção, encontrando seu olhar caloroso em minha direção —,
aproveite as mordomias que sua posição lhe proporciona, pois nem sempre
terão só vantagens, muito pelo contrário, na maioria das vezes só terão
espinhos no caminho.
Engoli em seco com seu comentário e voltei meu olhar na direção
daqueles olhos acinzentados que me tiravam de órbita, respirei fundo e
assenti, tentando deixar um pouco minha insegurança e desconfiança de lado
por um instante.
— Vá bene, talvez eu esteja precisando de um ou outro vestido mesmo.
— Matteo me lançou uma piscadela, enquanto abria um sorriso de lado
encantador, sabendo que tinha levantado uma bandeira de trégua naquele
momento, pelo menos.
Ele estendeu a mão em minha direção e olhei confusa em sua direção,
percebendo pelo canto do olho o sorriso nada discreto que sua mãe nos
lançava e tive vontade de rir.
— Espero que esteja com fome, nosso almoço está pronto.
Certo, era um almoço normal, não era nada de mais, teria que almoçar
todos os dias, certo? Certo, respondi a mim mesma, tentando não ver nada
além do que seu gesto demonstrava.
Aceitei sua mão, afinal, não poderia demonstrar a frieza rotineira em
frente à sua mãe, ela, com certeza, não acharia normal para um casal recém-
casado.
— A senhora não vem? — indaguei, um pouco nervosa com a
possibilidade de que ficaríamos a sós.
O olhar de cúmplice surgiu em seus olhos e soube naquele momento
que alguma coisa aconteceria.
— Não, querida. Pode ir, vou esperar pelo Salvatore que deu uma saída
e almoçarei com ele.
Mais uma vez precisei treinar minha respiração para não deixar o
nervosismo me tomar por inteiro. Assenti e Matteo me guiou em direção à
saída da mansão.
Fiquei confusa, pois a sala de jantar era na outra direção.
— Não disse que vamos almoçar? — Não resisti em perguntar, com a
curiosidade me inundando por completo.
— Vamos sim! — Não disse nenhuma palavra a mais e precisei saber
de mais detalhes.
— Mas a sala de jantar é na outra direção dentro da mansão —
constatei, tentando entender o que ele queria afinal de contas.
— Eu sei! — Um sorriso zombeteiro surgiu em seus lábios e rolei meus
olhos, desistindo de tentar descobrir algo, ele queria me provocar e, por
incrível que parecesse, não queria o mesmo. Talvez fosse culpa de sua atitude
na noite anterior, em não me tomar como sua à força, ou ter se preocupado
em pedir que uma estilista renomada saísse de sua loja para vir aqui me
mimar. Só sabia que queria um pouco de paz e, por incrível que parecesse,
parecia que isso acontecia ao lado dele. — Fique tranquila, quero fazer uma
surpresa para você.
Arqueei minha sobrancelha, mais uma vez espantada com sua dedicação
e fiquei ainda mais ansiosa para o que viria a seguir.
— Mais uma? — Não consegui conter meu comentário.
Um sorriso sincero surgiu em seu lábio e, dessa vez, não consegui
segurar o meu de aparecer, não como o dele, mas era um sorriso leve e
contido.
— Já te falei que quero fazer esse casamento dar certo, mesmo que
tenha começado de forma errada.
Mordi meu lábio, ainda o encarando, pois sua sinceridade me deixou
perplexa.
Era engraçado como Matteo, um mafioso inescrupuloso, poderia ser tão
romântico em alguns momentos. Isso era tão contraditório para uma pessoa e
me deixava ainda mais confusa com o que me fazia sentir.
Caminhávamos de mãos dadas pelo imenso jardim da mansão e apesar
do silêncio confortável que pairava entre nós dois, ficava pensando na
sensação aconchegante que era sentir sua mão junto da minha. Era como se já
reconhecesse o seu toque e ansiasse por isso.
Depois de alguns minutos caminhando, avistei em uma pequena mesa
com dois lugares e alguns garçons à nossa espera e entendi tudo, Matteo
havia organizado um almoço ao ar livre apenas para nós dois, Sandra sabia
disso e por isso me olhou daquela maneira.
Mais um sorriso quis surgir em meu rosto, mas tentei não demonstrar
com facilidade o quanto seus gestos me alegravam, algo que não era
familiarizada.
Assim que nos aproximamos do local reservado para nós dois, avistei
um lago enorme à nossa frente, com pedalinhos e, também, um balanço de
madeira que serviam talvez uns dois adultos sentados frente a ele.
Anotei mentalmente para vir qualquer dia aqui para distrair a mente,
seria um excelente local para colocar meus pensamentos em ordem.
Sempre gostei de ser sozinha, mediante a tudo que passei em minha
vida na casa de minha mãe, por isso apreciava esses momentos. Ainda mais
quando tinha uma vista tão linda quanto essa.
Depois de nos acomodarmos de frente um para o outro, passei a
remexer minhas mãos sobre minhas pernas, nervosa com o andar desse
almoço.
É apenas um almoço, Chiara. Não surta! Não é nada de mais.
— Espero que minha mãe não a tenha enlouquecido — comentou,
rindo. Nós nos servindo de um gole de vinho.
Caso ele soubesse o que era enlouquecer, nem brincaria com isso na
mesma sentença que tivesse sua mãe também.
— Não, ela só parecia bem... — hesitei por um instante —, animada.
Aquele riso que já me familiarizava cada vez mais, voltou a ecoar pelo
jardim e me peguei o admirando por um instante.
— Isso ela é a todo instante, dificilmente encontro minha mãe de mau
humor.
Mais uma grande diferença entre a minha progenitora e a dele. A
minha vivia dessa maneira.
A comida chegou e o cheiro da lasanha à carbonara invadiu minhas
narinas, aumentando a minha fome.
Assim que coloquei a primeira garfada em minha boca, não consegui
conter um gemido prazeroso com o sabor da refeição.
— Nossa, está uma delícia essa lasanha — elogiei, observando um
sorriso dos lábios de Matteo, que visivelmente apreciou a minha sinceridade.
Algo que convenhamos, era raro de se expor.
Entre uma garfada e outra, Matteo perguntava sobre o que achei das
atividades que precisaria realizar e, também, se propôs a me ajudar no que
pudesse, apesar de não ser algo que ele dominasse.
Mesmo que soubesse que não era algo que costumava fazer, fiquei
admirada com sua proatividade em oferecer ajuda, não podia negar que ele
mais uma vez me surpreendeu, algo que já parecia se tornar corriqueiro do
que o envolvia.
Quando terminava a última garfada, Matteo voltou a quebrar o silêncio
entre nós.
— Gosta de ler?
Olhei em sua direção, interessada com o desenvolvimento da conversa e
assenti, ainda mastigando.
— Então talvez goste da surpresa que preparei para você — comentou,
tomando um gole de seu vinho.
Arregalei os olhos, incrédula com suas palavras.
— Mais uma?
Sua mão alcançou a minha e a acariciou, o mísero contato fez com que
sentisse uma quentura que sempre me envolvia quando ele o fazia, no
entanto, tentei disfarçar para não me deletar.
— Na verdade, essa é a surpresa que comentei mais cedo. Claro que o
almoço e as roupas também imaginei que fosse gostar, mas quis arriscar
minha intuição com outra coisa. Espero não estar errado.
Tomei um longo gole do vinho, para evitar que meu sorriso estampasse
meus lábios.
— Vamos descobrir se é um homem intuitivo, então — zombei e ele riu
alto.
— Ah, amore mio, tenho certeza de que sou e você já percebeu isso! —
Mais uma vez ele me lançou aquele maledetta piscadela, que apreciava cada
vez mais.
Assim que ingerimos a sobremesa, Matteo mais uma vez entrelaçou
nossas mãos e me direcionou de volta à mansão.
Sentia-me cada vez mais ansiosa com a surpresa que disse que me daria
e acreditava que ele percebia isso em mim, pois estava a todo instante me
observando de soslaio, mas tentava, inutilmente, disfarçar a minha grande
curiosidade.
Depois de virarmos em alguns corredores que poderia fazer com que me
perdesse sem sombra de dúvidas, caso viesse sozinha, ele parou em frente a
uma porta, colocou a mão sobre uma maçaneta e me olhou com os olhos
animados.
Ele empurrou a porta cautelosamente e, em seguida, com a cabeça
indicou que eu entrasse.
Assim que dei dois passos adentro, parei espantada com a biblioteca
gigantesca disponível dentro da mansão.
— Meu Deus! Uma biblioteca... — Não resisti em conter o riso dessa
vez e olhei em sua direção, encantada por ter me apresentado esse cômodo.
— É imensa, posso ver?
O sorriso que abriu, me encantou mais do que fosse possível e deu um
passo à frente.
— Ela agora também é sua! Aproveite da maneira que quiser! — Senti
seu dedo indicador perpassar em minha pele. — Tem todo tipo de leitura por
aqui, acredito que não faltarão opções a você.
Ele abaixou seu rosto do meu e, por um instante, pensei que fosse me
beijar e ansiei para que o fizesse, mas era óbvio que isso não aconteceu e
apenas deixou um beijo terno em meu rosto, depois deu dois passos para trás.
Senti que não era o que queria fazer, ele queria que o beijo fosse em outro
lugar, assim como eu, contudo, também se conteve, com certeza, me
lembrando da merda da promessa que me fez.
Porém, mesmo que uma grande parte de mim desejasse que ele voltasse
a me beijar, não daria meu braço a torcer para pedir.
— Preciso resolver algumas coisas, se precisar de alguma coisa pode
me ligar ou pedir que Mattia, ou Fabrizio, me avisem e venho ao seu
encontro.
Assenti, me sentindo um pouco frustrada por se afastar tão rápido,
depois de algumas horas tão agradáveis ao seu lado.
Fiquei o observando sair, até que a porta se fechou e virei em direção à
imensa biblioteca sem saber por onde começar a vasculhá-la.
Mas não perdi mais tempo, comecei a olhar as imensas prateleiras
disponíveis e fiquei o restante da tarde sentada em um dos puffs gigantes
espalhados para apreciar a leitura, nesse momento, tive certeza de que tinha
acabado de encontrar o melhor cômodo da mansão Lucchese sem sombra de
dúvidas.
Odiava pedófilos e estupradores.
Quando os pegávamos, eu nunca pegava leve em meus castigos e
sempre ordenava aos meus seguranças para judiarem deles ao máximo, assim
como eles se dignavam a fazer com mulheres ou crianças.
Suas mortes eram sempre bem lentas e torturantes, não sentia o mínimo
remorso com isso, muito pelo contrário.
Esse maledetto, por exemplo, tinha sido delatado para nós pela mãe da
criança. Ela chegou desesperada aqui, pois seu marido fazia parte da famiglia
e foi preso pela polícia da Sicília em flagrante por ter espancado esse cara que
está preso nesse momento sob meus cuidados, a ponto de o desfalecer, no
entanto, ele não conseguiu o matar, porque os policiais o prenderam antes.
Pelo que a mãe do garoto me explicou, o desgraçado era o motorista da
van da escola que a criança frequentava e o levava embora. Seu pai deu uma
bala ao bambino, com a mais pura inocência e o garoto, sem saber o que
fazia, pegou no saco de seu pai. Óbvio que num primeiro momento seu pai
enlouqueceu com sua atitude e chamou sua atenção, porém, algo o alertou a
respeito e questionou seu filho no motivo de ter feito isso, então ele com a
maior inocência, apenas disse: “Mas o tio Lorenzo nos dá bala e pede pra
fazer isso, papà.” E nesse momento o pai se encontrava preso porque quase
matou o desgraçado que ficava pedindo para o seu filho pegar na rola dele.
Esse era o tipo de justiça que acontecia em nosso país, por isso, não me
importava de ser o fodido mafioso que me tornei, desde que pudesse
massacrar esses desgraçados que faziam esse tipo de coisa.
Observei Lorenzo, o maledetto pedófilo que pedi para meus homens
buscarem, sentado sobre um “Culla di Giuda[7]”, como era conhecido aqui
na Itália. Isso nada mais era que um dispositivo que foi inventado na era
medieval, tinha um formato piramidal feito de madeira sobre o qual o
estuprador ficava amarrado, prendíamos suas pernas e braços em algumas
correntes na parede para que ficássemos brincando com seu querido corpo.
Nesse momento, o desgraçado chorava como uma bambina indefesa,
porque sabia o que aconteceria quando mandei mexer nas correntes que o
seguravam no ar.
— Pode colocar ele de novo na ponta — ordenei ao Carlo, que não
perdeu tempo em começar a mexer de um lado das correntes, enquanto
Marco o fazia do outro lado.
Seu corpo começou a cair sobre a ponta da pirâmide e a ponta a invadir
seu ânus, não satisfeito com o grito que o infeliz dava, enquanto me
encontrava sentado observando a cena ao lado de Pietro, que fazia uma cara
de dor, com certeza imaginando o quanto deveria doer.
— Abaixem mais o corpo do infeliz! — grunhi, com meu tom de voz
frio. Seu grito reverberou pelo calabouço e um sorriso satisfeito surgiu em
meu rosto. Levantei-me, fui até a mesa de apetrechos e peguei uma adaga,
como também uma pinça comprida e segui em direção ao local onde ele se
encontrava urrando de dor. — Tá gostoso, seu estuprador de merda? — Mais
gritos invadiram meus ouvidos. — Você gostou quando ficava pedindo para
as crianças pegarem nessa merda que chama de pau, não é? Ou quando
estuprava as mulheres e, também, as crianças que sua longa ficha delatou
sobre você?
— Eu errei, mas não vou fazer mais isso! — Voltou a chorar, conforme
as correntes o puxavam para baixo rasgando seu cu.
Gargalhei alto com sua falsa promessa.
— Claro que não fará mais, cazzo! Você não vai ficar vivo para isso.
Mais lágrimas caíram de seus olhos e ele voltou a implorar:
— Então me mate, acabe logo com isso, seu mafioso de merda.
Arqueei a sobrancelha e olhei em direção à risada espantada de meu
irmão.
— Virou machinho de repente, vê se pode? — ironizei e meu irmão
assentiu.
— Tão inocente, talvez deva forçar mais as amarras para baixo, o que
acha, brother?
Fingi pensar e assenti, olhando para os meus amigos.
— Por favor, façam o que meu irmão sugeriu. — E Marco com seu
sorriso diabólico o fez. Ele também adorava torturar esse tipo de gente.
Quando cansei de ouvir seus gritos invadirem meu ouvido, voltei a me
aproximar ainda com os instrumentos em mãos.
— Deixe que eu te explique um pouco sobre sua morte lenta. — Seus
olhos se arregalaram. — Sim, você realmente pensou que morreria assim de
um minuto para o outro? — Ele engoliu em seco e balancei a cabeça negando
a ele. — Não, não será assim que acontecerá. Agora, Pietro, explique a ele
como será — pedi, enquanto o sorriso inescrupuloso de meu irmão desenhava
seu rosto e se levantava vindo até próximo a mim.
— Então, Lorenzo. Esse dispositivo que tá te rasgando por dentro, não
vai te matar, sinto te informar. Você vai passar com seu rabo nele por alguns
dias, vai dormir, acordar dia após dia nessa mesma posição que se encontra.
Nossos amigos Carlo e Marco, virão aqui frequentemente para mudar sua
posição, afinal, não queremos você desconfortável, não é? — Mais lágrimas
molharam seu rosto. — O que talvez possa te matar, seja a infecção que
poderá pegar nesse momento de outros estupradores, igual a você, que
também passaram por essa mesma situação.
— Puta que pariu, esqueci de avisar que isso não foi esterilizado! —
Fingi inocência, conforme lançava um murro no ar, como se tivesse cometido
uma atrocidade. — Que vacilo o meu.
Meu irmão soltou um riso anasalado, pois era algo que sempre
fazíamos.
— Pois é, como você acabou de ver, não temos nenhum cuidado com
isso, ele está exposto a várias doenças de outras pessoas, como também a
vermes do próprio local e assim por diante. — Meu irmão suspirou, como se
estivesse cansado. — Ah, outra coisa, vai chegar em um momento que a dor
que vai sentir será tão agonizante, em decorrência do tempo que permanecerá
sentado aí, que você vai desmaiar, mas um dos seus companheiros dos
próximos dias, mudarão você de posição para que te acorde. Então, não se
preocupe com isso. — Seus olhos prateados, se voltaram em minha direção.
— Acho que é isso, brother.
Assenti e me aproximei mais dele, rodando de um lado a outro a adaga
em minhas mãos.
— Parem um pouco. — E o infeliz suspirou aliviado, pensando que
deixaria que descansasse. — Agora vem a melhor parte. — Seus olhos se
esbugalharam com o medo os tomando por completo. — A parte em que
corto fora sua rola. — Lancei um sorriso irônico e ele começou a se debater
em cima da pirâmide, para tentar impedir que tivesse acesso à sua parte
íntima.
— Não! Por favor, não faça isso. Eu prometo...
Marco deu um murro, com um pedaço da corrente grossa que o
amarrava na cara, para que calasse a boca.
— Não tenho paciência quando começam a implorar.
— Nem eu! — Carlo compactuou.
— Abram as pernas dele. — Ambos manusearam as correntes e
expuseram toda aquela nojeira. Segui até lá, mesmo que ainda tentasse se
remexer, isso apenas o machucava ainda mais. Levei a pinça até suas bolas e
comecei a cortar lentamente com a adaga uma por vez, como se estivesse
cortando um pedaço de bife.
Seus gritos pareciam que explodiriam o local em que nos
encontrávamos, mas não me importei.
Joguei suas bolas no chão, com um nojo descomunal me invadindo.
Depois joguei um pouco de álcool sobre ele e lancei um fósforo para que o
desgraçado visse aquela merda queimando, mas a mariquinha chorava tanto
que era capaz de nem perceber.
Já havia anoitecido e me sentia exausto.
— Amanhã eu volto para cortar a minhoca que você um dia chamou de
pau — avisei, virando as costas.
— Porra! Ele desmaiou, cazzo! — Carlo resmungou.
— Já sabem o que fazer — ordenei, saindo com Pietro ao meu lado. —
Depois que ele acordar, vão descansar, mas deixem outro guarda de olho nele
para que não o deixem dormir, nem desmaiar de novo.
Já se passaram duas semanas que me casei com Matteo e, para meu
espanto, tinha me familiarizado bem melhor do que imaginei.
A melhor coisa de tudo isso, era que passei a dormir tranquilamente
durante à noite, o que era, de certa forma, bizarro meu psicológico aceitar
isso, pois Matteo ainda poderia ser considerado um estranho para mim,
estávamos começando a nos conhecer, por isso, estranhei quando não tive
medo de dormir ao seu lado e que me fizesse algum mal.
Não sei se era a confiança que me passava com suas atitudes e o fato de
nem em nossa própria lua de mel ter me obrigado a fazer nada, mas isso fez
com que ganhasse um pouco de minha confiança. Algo que sabia que não
deveria fazer, mas quando percebi já tinha conseguido.
Ele não tentou nada comigo durante todo esse tempo, mas nem por isso
se tornava mais fácil não o admirar como homem, pois modéstia à parte, o
homem era lindo demais. Seria impossível que eu negasse isso apenas pelo
meu orgulho. Matteo também não me beijou mais, mas nem por isso o desejo
que o fizesse desapareceu, muito pelo contrário, parecia ter aumentado ainda
mais.
E a prova disso era que nesse instante, me encontrava deitada em nossa
cama de casal, lendo um romance que encontrei dentro da biblioteca, para
meu azar o casal se encontrava perdidamente apaixonados e se beijavam. Não
teria nenhum problema em ler esse tipo de coisa, caso a descrição da autora
com o que a personagem sentiu não lembrasse em praticamente tudo o que
senti quando meu marido o fez. Isso era frustrante, pois apenas aguçava meu
desejo em tomar seus lábios para mim.
Suspirei frustrada, pensando seriamente em mudar a página para sair
dessa parte da história, mas não o fiz e continuei com a minha sessão de
tortura.
Poucos minutos depois que tentava me concentrar na história e não
imaginar que o casal da história, éramos eu e meu marido, o barulho da
maçaneta se abrindo chamou minha atenção e só de imaginar quem seria, fez
com que meu coração desse um solavanco no peito em expectativa.
Sabia que meus seguranças estavam na porta, afinal, Matteo ainda os
manteve, mesmo dentro da mansão, não reclamei como me encontrava em
uma casa de estranhos e isso mostrou mais uma vez o quanto se mostrava
diferente do que imaginei.
Enxerguei por cima do livro, Matteo entrando, parecia cansado e seu
estado físico era deplorável. Suas roupas estavam imundas, parecia ter rolado
no chão com as marcas espalhadas por sua roupa, sua camisa no tom cinza-
claro entreaberta se encontrava com diversas manchas de sangue e mesmo
que não quisesse o fazer, me peguei preocupada com o que havia lhe
acontecido, se por acaso se machucou para ter ficado dessa maneira.
Apenas uma coisa era certa, algo tinha dado errado, afinal, seu estado
denotava isso e precisei conter a frustração por imaginar de quem teria
causado isso a ele.
Seus olhos que se encontravam perdidos e pensativos, encontraram os
meus e um leve sorriso em seu rosto imundo, surgiu.
— Boa noite, amore mio. Pensei que já estivesse dormindo.
Por mais que o odiasse, amava quando me chamava dessa maneira,
parecia tão real.
— Boa noite, Matteo. — Mexi o livro no ar para indicar o motivo de
minha falta de sono, pelo menos um deles, mas isso não vinha ao caso. —
Estou lendo, ainda sem sono.
Ele assentiu, então voltei a tentar a ler. No entanto, meus planos caíram
por água abaixo quando percebi o que fazia. Meu marido começou a se
despir, de maneira lenta e torturante, enquanto admirava o jardim escuro, por
causa da noite, sobre nossa porta de vidro que dava para a varanda. Poderia
fechar a porta escura, mas gostava de sentir os raios solares invadirem meu
quarto pela manhã e isso não me impedia de dormir. Nem Matteo, que
sempre levantava cedo para trabalhar.
Enquanto continuava perdido em pensamentos ao desabotoar cada um
dos botões da camisa, eu o observava por cima do livro, fingindo que ainda
lia, no momento em que ele tirou sua camisa pelos braços musculosos,
precisei conter minha respiração, para não me deletar com o que fazia. Queria
lamber cada um dos seus gominhos abdominais. Observei as tatuagens
espalhadas pelo corpo e como isso conseguia o deixar ainda mais lindo, caso
fosse possível. Elas o deixavam com um ar de perigo, poder e era
extremamente sensual.
Queria percorrer meus dedos por cada uma delas, além de também o
fazer com a minha língua.
Dio mio, nem me reconhecia com o desejo descomunal que surgia
dentro de mim ao lado desse homem.
Será que ele também me trataria bem? Caso entregasse meu corpo a
ele? Ou será que me machucaria? Era algo que sempre voltava a passar em
minha mente nos últimos dias, mas tentava dispersar tais indagações, para
não alimentar esses sentimentos. Mas ficava cada vez mais difícil o fazer,
enxergando a própria criatura exibindo toda a sua perfeição e protuberância à
minha frente.
Matteo já se encontrava praticamente todo despido, mas usava apenas a
cueca boxer, o que deixava pouco para imaginação mesmo que fosse escura,
era possível notar quão grande ele era e a ansiedade voltou a tomar forma
dentro de mim.
Quando se virou para seguir até o banheiro, seus olhos se encontraram
com os meus e o maledetto gostoso, lançou uma piscadela em minha direção,
o que me deixou com as bochechas rubras.
Ai que ódio de mim mesma por ser tão fraca!
Óbvio que para piorar a situação, ele não ficou quieto e o que disse a
seguir, fez com que eu quisesse cavar um buraco e enfiar minha cabeça
dentro.
— Você não precisa ficar espiando, principessa. Sabe o que tem que
fazer para me ter todinho para você! — provocou, com seu ar zombeteiro no
rosto e meu desejo de tirar aquele sorrisinho diabólico nos murros de seu
lindo rosto, apenas aumentou.
— Vê se me erra! — disse, sem conseguir montar nenhuma frase
mirabolante que o quebrasse, afinal, ele me pegou no flagra e nada do que
dissesse, conseguiria contradizer minha atitude.
Por isso, de fato voltei minha atenção à leitura, ou pelo menos mostrei
isso com meus olhos nas palavras descritas e, em seguida, ouvi sua
gargalhada tomar o ambiente de nosso quarto, enquanto seguia seminu para o
banheiro tomar seu banho. Mas não dei meu braço a torcer, quando percebi
que não fechou a porta, possibilitando que o espiasse, se assim eu quisesse,
enquanto se ensaboava. Entretanto, nem por isso as coisas foram menos
difíceis para que mantivesse meus olhos na história.
Depois de um tempo, consegui voltar a ter minha atenção na leitura,
mas aquele bendito perfume cítrico, que já conhecia muito bem, começou a
invadir o ambiente e me desconcentrou. Matteo usava apenas uma calça de
moletom preta, com seus cabelos molhados desalinhados e o infeliz
conseguiu ficar ainda mais sexy.
Estava ferrada!
Ele se deitou ao meu lado, ficou com o corpo de lado e o rosto apoiado
em sua mão, enquanto continuava a fingir que lia meu livro.
— O que está lendo que te prende tanto?
— Orgulho e preconceito.
— Muito bom esse livro. — Parei de ler por um instante e fitei seus
olhos intensos, que mudava do livro para mim, observando se brincava
comigo ou falava sério, aparentemente falava sério. — Que foi?
— Você já leu esse livro? — perguntei, incrédula.
— Por que o espanto, cara mia? Costumava ler bastante antigamente,
hoje leio menos do que gostaria, mas sempre que posso procuro por algum
livro na biblioteca para espairecer a cabeça um pouco.
— Está aí algo que nunca imaginei, que um Don da máfia faria, como
ler um livro de romance — soltei, sem que conseguisse segurar minha língua,
e sua risada ecoou ao meu lado, fazendo com que sorrisse junto, aliviada por
não ter ficado irritado com meu comentário.
— Só porque sou um mafioso foda, não posso ler romance, então? —
zombou de mim, com um arquear de sobrancelha.
Dei de ombros, sem saber o que lhe responder.
— Não é que não possa. Você pode fazer o que achar melhor, só
estranhei. — Fui sincera, um pouco envergonhada por tê-lo julgado por causa
de um livro.
Ele se deitou com a barriga para cima e cruzou as mãos atrás de sua
cabeça, mantendo-as como apoio.
— Na verdade, não costumo ler romance de fato, apenas li há alguns
anos, como já ouvi comentários positivos muitas vezes, me peguei curioso e
li, como tinha na biblioteca, pois minha mãe ama essa obra.
Assenti, admirada com sua sinceridade em admitir isso, pois apesar da
minha pouca experiência, sabia que muitos homens não admitiriam isso por
pensar que os deixariam menos másculo.
Continuamos conversando sobre a história de Jane Austen, como
também sobre outras obras que ele leu e gostou, fiz o mesmo também e
indiquei alguns livros que li. Talvez se interessasse, conforme fomos
descobrindo algumas semelhanças entre nós.
Depois que o assunto livros cessou, começamos a conversar sobre
filmes e até seriados, continuei descobrindo que realmente nossos gostos
eram muito parecidos.
Quando percebi, tinha deixado o livro de lado sobre a cabeceira e fiquei
deitada de lado com minha cabeça sobre meu braço, enquanto passamos
horas entre algumas conversas, assim pudemos nos conhecer melhor.
Chegou um momento que apesar de todos os assuntos interessantes,
meus olhos começaram a pesar e a vontade de continuar naquele clima
descontraído já não era suficiente, então Matteo começou a acariciar meu
cabelo, recebendo pela primeira vez algo que nunca tinha acontecido, conheci
a sensação de receber um cafuné em minha cabeça e foi tão gostoso, que
quando percebi adormeci ao seu lado.

Quando o dia começava a amanhecer, despertei, ainda deitada na


mesma posição que adormeci sendo acariciada por meu marido. Para a minha
surpresa, ele continuava dormindo tão sereno, que nem parecia aquele
homem que chegou repleto de marcas de sangue e sujo com o que quer que
tivesse lhe acontecido.
Aproveitei a oportunidade rara que não teria risco de ser flagrada e
fiquei admirando cada detalhe de seu rosto que parecia ter sido esculpido à
mão. Notei que tinha uma pequena cicatriz no canto de seu olho direito, mas
mal era possível notá-la, caso não prestasse muito a atenção.
Peguei-me lembrando do momento agradável que tivemos na noite
anterior, em como a conversa simplesmente fluiu sem que fosse necessário
forçar. Não me lembrava de ter curtido tanto uma simples conversa com Vitto
ou até mesmo Leonardo, como aconteceu na noite anterior com Matteo.
Isso tudo tem me deixado ainda mais confusa do que poderia. Não
deveria me sentir dessa maneira, era para ser algo claro para mim. Ele era o
inimigo, assassinou meu pai, minha mãe me criou e fez de tudo para que me
casasse com ele por um único motivo, engravidar dele e, depois, conseguir
informações concretas de seu paradeiro para que Federico armasse alguma
emboscada e acabasse com sua vida.
Senti um aperto estranho em meu peito, apenas em pensar na
possibilidade de que algo viesse a lhe acontecer. Mas deveria ser apenas o
medo de que não morresse e descobrisse que estava atrelada a isso, afinal,
estaria completamente ferrada se essa informação vazasse. Matteo me
mataria, sem sombra de dúvidas.
Coloquei minha mão embaixo de meu travesseiro, para que ficasse mais
confortável e, por isso, senti a madeira dura e fria de minha adaga e isso fez
com que meu peito pesasse ainda mais, ao me recordar do motivo que sempre
a mantinha embaixo de meu travesseiro.
No início, coloquei porque tinha medo do que ele poderia fazer comigo
durante a madrugada, assim estaria preparada para me defender. Outro
motivo, foi a questão de ter me acostumado a dormir com ela, devido a tudo
que passei na casa de minha mãe.
Com o passar dos dias, percebi que não tinha motivos para me
preocupar com meu marido, pois se quisesse me tocar contra a minha
vontade, o teria feito em nossa noite de núpcias e isso não aconteceu, nem
mesmo depois de duas semanas de casados. Além disso, ele sempre jogava
em minha cara o que teria que fazer para tê-lo em meu corpo e isso apenas
comprovava que faria aquilo que eu desejasse.
E isso era algo que, no fundo, já sabia que acontecia em meu interior.
Entretanto, não queria admitir para mim mesma e muito menos pedir por
isso. O problema era que sabia que caso me deitasse com ele, estaria dando
início à vingança que fui incumbida de realizar e não sabia se me sentia
preparada para isso, por mais errados que os familiares da família Lucchese
tivessem sido comigo, não conseguia pensar em fazer algo que os
machucasse.
Todos me tratavam tão bem desde que fiquei noiva, quando vim morar
aqui as coisas ficaram ainda mais diferentes.
Dona Sandra me tratava como uma filha, até me chamava de bambina,
assim como fazia com seus filhos. Pietro, também era sempre atencioso e
brincalhão comigo, mesmo que eu não costumasse lhe dar abertura, ele
parecia tão persistente quanto seu irmão em tentar quebrar minhas barreiras e
mesmo que não quisesse, já não o enxergava como o vilão. Senhor Salvatore,
também era sempre muito educado e parecia se preocupar que me sentisse em
casa na mansão.
Já Matteo, nem tinha o que falar, ele parecia mesmo levar a sério seu
comentário sobre tentar fazer nosso casamento dar certo, pois não houve um
dia sequer que não me tratou com carinho, até mesmo quando me provocava,
sentia o carinho em cada uma de suas palavras e até a devoção que emanava
de seus olhos.
Como conseguiria ser fria a esse ponto?
Observava a interação de Matteo e Pietro e como meu marido parecia
leve ao lado de sua família, rindo, brincando e provocando seu pai, que em
alguns momentos perdia a paciência e levava as brincadeiras do filho a sério.
Não tinha como, mas isso chegava a me divertir, contudo, depois que
percebia isso, me recriminava por me sentir dessa maneira ao lado deles.
Mas era tão diferente do que presenciava em minha antiga casa, ali eles
pareciam agir de fato como uma família e isso me chamava cada vez mais
atenção, além de me deixar ainda mais confusa com tudo que deveria fazer.
Por isso, coloquei dentro de mim que faria o que eu quisesse apenas.
Caso algum dia decidisse me deitar com Matteo, seria apenas porque era o
que desejava. Como tomava anticoncepcional, não correria o risco de
engravidar, pois se isso acontecesse, sabia o que minha mãe armaria para ele
e não permitiria que continuasse mandando em mim, nem mesmo depois de
casada.
O que antes me preocupava em fazer o que me era exigido, era minha
irmã. Que poderia ser machucada por Federico como eu fui, no entanto, para
a minha completa surpresa, quando fui pedir para Matteo que deixasse algum
segurança com ela, assim como fez comigo, ele disse que já tinha pedido para
Marco cuidar disso, quando ela saísse da festa. Nesse momento, quis jogar
tudo para o alto e lhe dar um abraço forte, pois mais uma vez Matteo foi a
minha frente e mostrou de fato que se preocupava com o que eu prezava e
ganhou alguns pontos comigo nesse momento.
Ainda não sabia como lidaria com ela, o fato de ser minha mãe mexia
muito comigo, mas, aos poucos, tentava controlar os meus desejos e minha
vida. Queria decidir as coisas por mim mesma, não porque era o que ela
desejava para mim, como fez minha vida inteira.
Por isso coloquei dentro de mim, que tomaria as ações que achasse
melhor e decidiria por mim mesma.
Não agiria por impulso, tentaria lidar com a razão para que não me
arrependesse depois de minhas atitudes.

Defendi-me de mais um golpe que Leonardo soltava sobre mim,


começava a sentir que tinha evoluído bastante nos últimos treinos depois que
comecei a praticar aqui na mansão, fui surpreendida ao receber uma rasteira
por trás da minha perna e caí estirada no chão.
— Ouch! — resmunguei, permitindo ter um minuto de descanso, já que
havia caído mesmo.
— Você percebeu por que caiu? — meu primo perguntou, conforme se
aproximava a passos lentos.
— Me distraí — constatei, ao olhar para ele colocando o antebraço em
frente ao meu rosto para esconder o sol que atrapalhava minha visão.
— Exatamente!
Como o dia se encontrava ensolarado, optamos por nos exercitar no
jardim. Quando chovia, nós nos exercitávamos em uma academia que havia
dentro da mansão.
Meu primo se sentou ao meu lado sem se importar com os seguranças
que nos observavam a uma certa distância, conforme exigência de meu
marido.
Percebi que até Leonardo se sentia mais relaxado depois que passamos
a treinar aqui na mansão, era engraçado que ele não tinha medo de Matteo,
mas se incomodava de frequentar a casa de meus pais.
— O casamento parece que tem te feito bem, afinal, não é? — indagou,
com um sorriso zombeteiro no rosto, como sabia o quanto fui contra me casar
com Matteo. — Até seu desempenho melhorou depois que veio para cá.
Dei de ombros, fingindo não ser nada de mais, mas também me sentia
mais leve morando aqui, por mais estranho que parecesse.
— Ele não é tão ruim como imaginei que fosse... — comentei, sem
saber ao certo o que lhe responder, pois ainda não éramos marido e mulher de
fato, tínhamos uma bagagem muito grande por trás de tudo isso. Soltei um
riso anasalado, quando vi o arquear de sobrancelha de Leonardo devido ao
meu comentário, e completei: — Pelo menos comigo!
— Agora sim. Fico feliz em saber que tem se sentido melhor aqui, no
fim seu casamento não foi o fim do mundo, como imaginou antes. Pelo
menos alguma coisa certa sua mãe fez na vida, ao que parece.
Levantei meus olhos para o céu azul anil e fiquei o observando,
enquanto pensava em suas palavras.
Talvez poderia ser uma verdade, ainda me sentia muito confusa com
tudo que nos acontecia.
A noite anterior e as altas horas que ficamos conversando, foi realmente
muito agradável, mas não sabia se já poderia dizer que confiava nele. Ainda
não sabia o que faria com o plano que minha mãe acreditava que já tinha
dado início, mas que até o momento não tinha realizado.
Não conseguia ser tão fria a tal ponto. Todos eles me tratavam tão bem,
sentia como era ter uma família, e teria que os apunhalar pelas costas? Isso
não parecia certo.
E tinha Genie lá ainda sob os cuidados daqueles que me maltratavam,
sabia que ela não sofria o mesmo que eu, por causa dos guardas que a
mantinham em segurança, mas não sabia até quando conseguiria mantê-los
lá, não duvidava que Federico desse um jeito neles, caso desconfiasse que eu
não cumpria a minha parte.
— Talvez tenha feito mesmo — respondi, sem ter certeza do que dizia.
Pois sabia que minha mãe nunca teve boa intenção comigo, seu intento
era apenas enriquecer através de mim, nada mais.
— Mais tarde vou passar lá para ver Genie, depois te envio uma
mensagem para contar como ela foi no treino.
Um sorriso sincero surgiu em meu rosto e fiquei aliviada em ouvir isso,
pois pelo menos eu também preparava minha irmã para qualquer imprevisto
que viesse a ter com aquele merda do nosso padrasto.
Ouvi alguns passos se aproximarem e levantei minha cabeça, apoiando
meu corpo no antebraço e enxerguei meu lindo marido.
Seus olhos que conhecia tão bem percorreram meu corpo suado, percebi
quando engoliu em seco. Não me vestia de maneira indecente, no entanto,
como treinava, vesti uma roupa justa para me movimentar com facilidade.
— Já cansou, principessa? — provocou, com aquele sorriso cafajeste de
lado que eu começava a gostar cada vez mais.
Observei sua camiseta preta justa em seus músculos, exibindo suas
tatuagens nos braços e contive para não soltar um gemido de frustração.
— O treino já acabou. — Dei de ombros, me sentei e apoiei meus
braços sobre os joelhos, enquanto enxergava meu primo se levantar e limpar
as mãos na roupa, para cumprimentá-lo.
— Como vai, senhor?
Ambos apertaram suas mãos e para a minha surpresa, Matteo o tratou
melhor do que no dia do casamento. Lá ele tinha sido mais frio, talvez por ter
sido muito próximo de nossa briga e ele ter sido o motivo, mas talvez
também tivesse percebido que realmente o que acontecia entre nós dois não
passava de amizade.
Levantei-me a contragosto e tomei um gole de água, prestando atenção
em suas conversas.
— Alguns problemas, mas nada que não vá resolver.
Leonardo assentiu, senti um frio na espinha percorrer meu corpo com a
mera possibilidade de ser algo que Federico fazia contra ele.
— Caso precise de mim para alguma coisa, ficarei satisfeito em ajudar.
Engoli em seco, pois não queria que Leonardo começasse a se envolver
nas coisas que minha mãe e seu marido tramavam contra a famiglia. Ele não
sabia de nada do que faziam, isso poderia lhe causar mais problemas e até
mesmo se machucar.
— Na verdade, queria bater um papo com você, quero te fazer uma
proposta. — Meu olhar encontrou com o de Matteo e fiquei ainda mais atenta
com o que tinha em mente para meu primo. — Podemos conversar agora?
— Claro! — Meu primo se aproximou de mim, deixou um beijo em
meu rosto e bagunçou meu cabelo como sempre fazia, revirei meus olhos,
enquanto Don parecia rir pelo olhar, ao observar o que fez comigo. — Até
mais, Chichi. Depois te falo sobre sua irmã.
Assenti, ainda intrigada com essa conversa. Matteo se aproximou de
mim e para minha completa surpresa deixou um selinho, finalizado com um
repuxar do meu lábio inferior, senti meu corpo pegar fogo com o pequeno
toque. Assim que se afastou, me lançou uma piscadela e seguiu em direção à
mansão com meu primo, enquanto conversavam.
Coloquei minha mão em meu lábio, quando percebi me encontrava
sorrindo como uma boba apaixonada e foi nesse momento que meus olhos
encontraram com o de Mattia, que me observava com um semblante
divertido, então fechei a fisionomia no mesmo instante me xingando em
pensamento, por me deixar levar por tão pouco com esse homem.
Ele ainda era o assassino de meu pai e parecia que isso fugia dos meus
pensamentos, com mais frequência do que deveria.
Tinha acabado de voltar do escritório que costumava trabalhar e me
sentia cansada em minha mente. Nunca fui muito fã de eventos, gostava de
curtir as festas que, às vezes, conseguia ir, mas organizar nunca foi o meu
sonho de vida para ser sincera, no entanto, era o que eu mais fazia nos
últimos dias.
Havia um evento que aconteceria na próxima semana, para arrecadar
doações para um grande orfanato aqui na Sicília e eu era a responsável por
sua organização. Claro que dona Sandra continuava me auxiliando, mas
praticamente fazia tudo sozinha, como já tinha pegado todos os trâmites que
me passou.
Pensei na possibilidade de me deitar um pouco e terminar minha leitura
atual para descansar, mas uma batida à porta, mostrou que obviamente me
iludi.
— Pode entrar — ordenei, enquanto retocava o batom.
Como era a esposa do Don, tentava sempre estar apresentável para caso
precisasse sair rapidamente para alguma emergência.
— Dona Chiara. — Francesca entrou em meu quarto. — Sua mãe e sua
irmã acabaram de chegar, disse que a senhora não respondeu sua mensagem,
por isso veio sem sua confirmação, pois está com muita saudade. — Um
sorriso surgiu em seu rosto ao dizer a última parte da informação e precisei
conter de revirar os olhos, pela encenação fajuta de minha mãe.
Respirei fundo, sentindo a exaustão me abater ainda mais, com a
possibilidade de ter que recebê-la, sem o mínimo interesse.
— Vá bene, obrigada por avisar. Pode servi-las com um chá e petiscos
que já desço para as encontrar — disse, tentando agir como dona Sandra me
instruiu a fazer. Já que desde que me casei todas as ordens para os
empregados, sobre cardápios e como receber as visitas, passaram a ser minha
responsabilidade.
Assim que ela saiu do quarto, deixei que meu corpo caísse na cama,
buscando paz interior para ter que encontrar minha progenitora.
Fiquei menos de cinco minutos daquele jeito, quando me levantei, senti
como se tivesse vestido minha armadura para o combate que viria a seguir e,
então, desci para recebê-las.
Ouvi a voz animada de sempre de Sandra, no mesmo local em que
minha mãe tinha sido direcionada e fiquei me perguntando se ela não
percebia quão falsa era correspondida, ou se apenas fazia sua parte como uma
boa anfitriã. Sentia-me mal por isso, pois ela parecia ser uma boa pessoa e
ganhava a minha simpatia cada dia mais.
Antes de entrar na sala, hesitei por um instante, respirei fundo e, então,
dei o primeiro passo para o espaço.
Minha mãe me notou rapidamente e me mediu de cima a baixo com
menosprezo em seu semblante, enquanto Sandra dizia algo para mim com
animação que não consegui prestar atenção. Apenas o fato de estar na
presença dessa mulher, deixava-me desestabilizada.
Cumprimentei-as e fiz questão de abraçar minha irmã, pois era a única
que realmente sentia a minha falta. Queria tanto encontrá-la sozinha, para
conversarmos melhor e era algo que tentaria resolver depois.
— Como Chiara chegou agora, vou dar uma saída, pois combinei de
encontrar com uma amiga, mas, por favor, fiquem à vontade, a casa é de
vocês! — disse, com simpatia, e precisei me conter em dizer para que
tomasse cuidado com o que desejava à minha mãe, pois ela de fato poderia
acreditar em suas palavras.
— Obrigada, querida! Não vamos demorar, preciso chegar em casa
antes de Federico que está trabalhando.
Só de ouvir esse nome, sentia uma gastura no estômago.
Assim que Sandra saiu, minha mãe revirou os olhos e fez uma cara de
nojo, que me irritou.
— Mulherzinha sem-noção, pensei que não fosse embora nunca.
Engoli as palavras que diziam que a única sem-noção era ela e me
sentei, fingindo ser a boa anfitriã que não fazia a mínima questão de ser nesse
momento.
Puxei conversa com minha irmã, pois era meu único interesse de saber
algo a respeito, mas óbvio que minha mãe chamou a minha atenção.
— Não vim até aqui para ficar jogando conversa fora, garota!
Olhei em sua direção, sem o mínimo interesse e segurei a mão de minha
irmã que falava animada sobre um livro que começou a ler e pedi por
paciência.
— Veio para que então? — questionei, de maneira ríspida com ela.
Ela arqueou a sobrancelha com visível surpresa, pela minha resposta
atravessada e, depois de conferir que ninguém nos ouvia, voltou a me
responder.
— Só porque agora virou a primeira-dama, já tá se achando, é? — Seu
tom era baixo, contudo, arrogante. — Não se esqueça qual o seu propósito
aqui, você não se casou com esse maledetto para viver um conto de fadas,
mas sim para fazer o que combinamos.
Respirei fundo, precisando conter meu desejo de mandá-la se foder, mas
apenas fiquei em silêncio. Não queria mentir que não fiz nada e não me sentia
certa se começaria.
— Agora me conte, o que descobriu sobre ele? Há alguma informação
importante que seja interessante para nós? E a gravidez? Acha que talvez
possa estar grávida? — Pela primeira vez minha mãe começou a tagarelar,
com empolgação, como se tudo estivesse correndo como seus planos, quem
enxergasse a distância poderia até pensar que éramos melhores amigas, mas
era triste perceber que ela só demonstrava isso por puro interesse.
Completamente diferente da relação que acontecia entre os Lucchese,
Sandra brincava com seus filhos, apenas por amor, sem nenhum interesse, e
eu nunca tive isso. Na verdade, comecei a descobrir de um mês para cá, desde
que nos casamos, o que começava a significar família.
Quando ela finalmente ficou em silêncio, respondi, sem saber muito o
que lhe dizer:
— Matteo é bem discreto em relação aos seus compromissos, ainda não
temos tanta intimidade para me dar detalhes de seus negócios. — Optei por
responder meia-verdade, ela não precisava saber que nas últimas duas
semanas, desde que me apresentou a biblioteca, conversávamos cada vez
mais.
Sua fisionomia demonstrou que não gostou nenhum pouco do meu
comentário.
— E a gravidez? Acha que pode estar grávida? — perguntou, já com
bem menos empolgação.
Respirei fundo, para não perder o controle e a deixar falando sozinha.
— Não é como se com apenas um mês de casada, já garantisse isso,
certo? Tem pessoas que levam anos para conseguir engravidar — revidei,
sem nenhuma paciência.
Quem me garantiria que se caso tivéssemos praticado e não tomasse
remédio para evitar que isso acontecesse, já estaria grávida de verdade.
Minha mãe ficou me observando, de uma maneira que me deixou
inquieta e ficou em silêncio por alguns minutos tensos entre nós. Genie nem
sequer tentou abrir a boca, pois sabia que sobraria para ela, e eu não fazia a
mínima questão.
— Só espero que esteja fazendo a sua parte! — Foram poucas as
palavras, mas ficou claro a sensação de ameaça entre cada sílaba proferida.
— Agora outra coisa, por que há dois seguranças na porta de Genevive?
Percebi que minha irmã, ficou rígida no mesmo instante com sua
indagação e engoli em seco, pois não duvidava que se dissesse o real motivo,
que tinha certeza de que sabia qual era, tomaria um belo e dolorido tapa na
cara. Como não fazia questão de que isso acontecesse, resolvi omitir, mesmo
sabendo que minha progenitora não acreditaria.
Ela poderia se fingir de cínica, mas sabia a realidade.
— Matteo, achou melhor manter a segurança dela redobrada, como é
minha irmã...
— Se for por isso, também deveria ter feito o mesmo comigo e com seu
pai! — Fechei minhas mãos, com a ira me tomando ao ouvir se referir àquele
cara como meu pai e não permiti que terminasse seu questionamento.
— Não se refira a ele como meu pai! Eu tive um pai e ele morreu.
— Você é uma bela de uma ingrata por destratar Federico dessa
maneira, ele nos tirou da lama, conseguiu que você se casasse com Matteo e
ficasse aqui agora nessa vida boa, para o tratar dessa maneira...
— Prefiro ser ingrata do que ter ele sujando a imagem de meu pai! —
Não esperei que rebatesse meu comentário, me levantei abruptamente e dei
um abraço rápido em minha irmã. — Obrigada pela visita, mas tenho coisas a
fazer. Vou pedir que Mattia as acompanhe até lá fora.
Senti minhas costas queimarem com a maneira ríspida que tratei Irene,
mas não me importei e segui meu caminho, ainda irritada com a maneira com
que defendia aquele canalha, mesmo com tudo, ou quase tudo, que ele já me
fez.

Tinha a impressão de que nosso encontro não passou de quinze minutos,


não cheguei a me atentar em relação a isso, entretanto, para mim parecia que
foram horas. Longas e incontáveis horas.
Sentia-me exausta o restante da tarde, tentei ler um pouco como já tinha
feito tudo que precisava para o evento que organizava, mas nada parecia ser o
suficiente para distrair minha mente das palavras ácidas de minha mãe.
Como ela podia defender aquela maledetto e ainda dizer que era meu
pai?
A fúria não deixava meu coração, cheguei a ir até a academia e soquei
tanto o saco de areia, devia ter ficado lá por uma hora no mínimo, a cada soco
imaginava a feição de minha mãe e de seu marido.
Isso também não me ajudou a desestressar.
Na verdade, eu sabia o que queria, mas não aceitava admitir isso para
mim mesma.
Meu coração ansiava para que Matteo chegasse logo do que quer que
estivesse fazendo, apesar de ele ter me dado seu número de celular, não
queria ser tão indiscreta a tal ponto de enviar uma mensagem para saber de
seu paradeiro e que horas chegaria.
Dio mio, me sentia tão carente! Só isso explicaria minha necessidade de
o encontrar. Claro que não estava apaixonada por ele, era apenas vontade de
conversar, pois meu marido conseguia tirar um pouco do peso que carregava
em minhas costas, mesmo que não soubesse disso.
Sua atenção, seu cuidado em me proporcionar detalhes para que eu me
sentisse cada vez mais à vontade ao seu lado e em sua casa, deixava minhas
barreiras cada vez mais baixas.
E quando me tocava, por mais leve que fosse, por mais inocente que
parecesse ser aos olhos de quem enxergava, fazia com que meu corpo
entrasse em combustão, o que era algo que não havia me acostumado ainda.
Parecia tudo novo para mim, na verdade, ansiava cada vez mais para
conhecer mais e mais dele, mesmo que lutasse diariamente contra isso,
percebia que começava a perder a raiva que me conduzia até então, isso
parecia assustador e, ao mesmo tempo, excitante. E a prova disso tudo, era
que a simples lembrança do selinho que me deu no dia em que Leonardo veio
treinar comigo, fez com que meu corpo entrasse em ebulição.
Por esse motivo, fui até meu closet e busquei por um biquíni que
comprei da estilista que veio aqui há algumas semanas, escolhi um verde-
musgo, que lembrava o tom de meus olhos. Assim que o coloquei, observei
como valorizava meu corpo e mordi o canto de meus lábios com a mera
possibilidade de conseguir provocar Matteo o usando, contudo, não sabia se
seria possível, como não tinha a mínima ideia da hora que chegaria.
Balancei a cabeça, para tirar esses pensamentos de minha mente, vesti
um vestido curto por cima, peguei uma toalha e segui em direção à piscina.
Sempre gostei de ficar na piscina, não sabia nadar, afinal, quem me
ensinaria? Minha mãe fez questão de pagar as aulas de piano, mas achava
perda de tempo natação. Não era algo que poderia exibir em um evento à
máfia. Meu pai dizia que me ensinaria, mas isso tudo foi antes dele falecer, já
Federico nunca fez questão de colocar uma piscina em nossa casa, algo que
sinceramente, não entraria de jeito nenhum com ele lá. Ou seja, de nada
adiantaria.
Às poucas vezes que entrei em uma, foi na casa de Giana, costumava
ficar apenas em uma boia redonda ou boiando, que aprendi sozinha certa vez,
conforme observava minha amiga fazer.
Cheguei até o imenso jardim e segui meu caminho, sendo seguida ao
longe por meus seguranças. Eles não continuavam em minha porta, como
acontecia em minha última residência, aqui não havia necessidade, por
incrível que parecesse, Matteo me respeitava e não havia necessidade. Ele
não pediu que saíssem de lá, eu quem tomei essa decisão depois de duas
semanas de casada e pedi que ficassem apenas rondando a casa, ou na parte
que achassem melhor, caso resolvesse sair, os avisaria para me acompanhar,
eles acataram ou informaram ao meu marido minha decisão, que
aparentemente autorizou que saíssem da porta de nosso quarto, desconfiava
que fosse isso, na verdade.
Não me sentia à vontade de nadar na frente deles, mas sabia que eles
não me deixariam completamente sozinha por ali. Tinha vergonha das minhas
cicatrizes e, também, não me sentia à vontade na frente de outros homens, a
maneira com que Federico me olhava me incomodou por anos e não queria
sentir esse mesmo olhar de outros.
Por mais estranho que fosse, o único olhar cheio de malícia que
apreciava era o de Matteo e de Vitto, quando estávamos juntos, mas esse era
um que me proibia de lembrar e quando voltava à minha mente, fazia questão
de expulsar tais pensamentos, visto que ele não merecia nem uma sequer
lembrança.
Notei a linda piscina conforme me aproximava e senti um pouco da
exaustão psicológica que me acometia, se esvair com a possibilidade de
finalmente estreá-la, sendo algo que queria desde que a vi pela primeira vez,
mas o fato de ser tão grande, me deixou receosa.
A piscina ao longe parecia ter o formato de uma joia lapidada com
bordas arredondadas, que proporcionavam um toque de elegância natural,
graças à transição da natureza suave entre a terra e a água. O vinil que
revestia seu interior, era de um tom de azul suave, que evocava uma sensação
de serenidade e relaxamento, o que era exatamente do que precisava.
Assim que cheguei até ela, dei uma olhada em direção dos seguranças e
percebi que já se encontravam virados para direção contrária a mim, apreciei
não ser necessário pedir nada a eles. Retirei de uma vez meu vestido e joguei
sobre uma espreguiçadeira ao meu lado, queria pular sobre ela, como não
tinha medo de algumas artes, entretanto, como não conhecia sua
profundidade, não o faria para me colocar em risco de um afogamento, não
era tão tola a tal ponto.
À medida que entrei na água, a temperatura agradável acariciou minha
pele, como se me convidasse para deixar meus problemas do lado de fora e
foi exatamente o que fiz.
A parte rasa, batia sobre meus seios e passei a conhecer com cuidado
até onde poderia arriscar. Depois que tomei os conhecimentos necessários,
tentei mergulhar algumas vezes e me permiti relaxar por um instante.
Após algum tempo, segui até a cascata delicada que foi construída em
uma das extremidades da piscina e permiti que sua água caísse em meus
ombros e o seu impacto sobre minha tensão muscular, fez com que aliviasse
ainda mais toda a tensão que carreguei o dia todo. Quando me afastei da
cascata, apoiei meus braços de costas para os seguranças e me permiti
observar a paisagem que ela me proporcionava, e era simplesmente
magnífica.
Já havia anoitecido e a área da piscina se transformou em um ambiente
mágico, com uma iluminação suave que realçava a beleza das bordas
arredondas, assim como algumas luzes de LED que de alguma maneira
pareciam estar dentro dela, dando um toque ainda mais especial e até
romântico.
Minha pele já se encontrava enrugada, mas não me importava, queria
morar aqui caso pudesse, mas sabia que já deveria entrar, o jantar em pouco
tempo seria servido, considerando o tempo que havia escurecido. Resolvi
boiar mais um pouco enquanto meus pensamentos seguiam em direção ao
meu mafioso e o quanto me sentia mexida ao seu lado, fiquei me perguntando
se demoraria para chegar e se conversaria comigo essa noite também, antes
de dormir, como parecia ter virado o costume de fazermos depois do jantar.
Também cheguei a pensar quando que ele me levaria para conhecer a
casa que disse que poderíamos morar, em Palermo, caso quiséssemos um
pouco mais de privacidade. Sabia que para os planos de minha mãe, o ideal
era conhecer cada vez mais os detalhes da mansão, pois isso a ajudaria em
seus planos. Mas não tinha o mínimo interesse de lhe passar essas
informações, muito pelo contrário, cada vez mais me perguntava se caso
tivéssemos mais privacidade, será que ainda continuaria firme em não me
entregar a ele? Afinal, isso já parecia uma tortura cada vez maior.
Perdi a noção do tempo que fiquei naquela posição, perdida em
pensamentos, mas eles foram interrompidos, quando senti que estava sendo
observada, meu corpo parecia cada vez mais quente, mesmo com a
temperatura baixa da água e um leve sorriso apontou em meus lábios,
sabendo de quem se tratava. Abri meus olhos levemente e mudei minha
posição ficando de pé, assim que virei meu corpo para a frente, eu o vi.
Lindo, com seu olhar repleto de desejos, enquanto se encontrava
sentado na espreguiçadeira que havia deixado meu vestido e a toalha para me
secar. Ele apoiava seus antebraços em seus joelhos e não se importou de
disfarçar seu olhar cobiçoso para a visão que tinha de meu corpo, e claro que
gostei muito do que enxerguei em seus olhos.
Mordi o canto de meus lábios e brinquei com a água, sem desviar
nossos olhares. Ele ainda usava a roupa social que saiu pela manhã, mas tinha
se livrado do terno, provavelmente o deixou em nosso quarto quando não me
encontrou nele.
— Sabia que não é muito educado ficar olhando dessa maneira para
uma mulher enquanto nada? — provoquei, ele abriu aquele sorriso
zombeteiro que fazia meu coração errar um compasso.
Mas isso devia ser completamente normal, considerando o gato que
meu marido era.
— Se essa mulher é gostosa pra cacete e ainda é minha esposa, não vejo
problema com isso. — Mordi um sorriso que tentou surgir, pelo sorriso que
desenhou seu rosto, soube que minha tática não foi eficaz em disfarçar o
quanto apreciei suas palavras. — Só não gostei de uma coisa, principessa.
— E posso saber o quê? — indaguei, com curiosidade e uma certa
apreensão de que poderia não gostar de sua resposta.
Ele se levantou de maneira sensual, abriu os botões do punho de sua
camisa e as dobrou até o antebraço, sem desgrudar nossos olhos, fiquei um
pouco decepcionada por só ter aberto isso e não a retirado inteira. Jamais
pediria isso, mas queria muito que entrasse comigo na piscina. Quem sabe ele
poderia repetir aquele beijo que tivemos em meio à nossa briga.
Ainda o odiava, claro, mas isso não impedia que sentisse um desejo
descomunal de o beijar, mais uma ou duas vezes apenas.
Ele colocou suas mãos dentro dos bolsos dianteiros da calça e seu olhar
desceu até os meus seios, que não escondiam os bicos intumescidos, por
causa da água fria, obviamente. Não poderia ser excitação também, ele nem
sequer me tocou, não acreditava que teria tanto poder sobre mim desse jeito.
— Sou um pouco ciumento e o fato de minha mulher estar vestida
apenas com esse pedaço de pano que não esconde absolutamente nada, com
dezenas de seguranças espalhados pelo jardim, em especial, na área da
piscina, me deixou um pouco... — ele limpou a garganta, parecendo pensar se
deveria continuar sua confissão e torci para que o fizesse —, incomodado.
Dessa vez não consegui segurar o sorriso repleto de maldade que surgiu
em meu rosto e Matteo bagunçou seus cabelos que se encontravam bem-
arrumados, visto que fiquei muito satisfeita em notar o quanto ele admitir seu
ciúme por mim o incomodava, porém, ainda o fez.
— Não sabia que você se enquadrava nesse papel.
— Que papel? — Matteo estreitou os olhos, não gostando do rumo que
nossa conversa seguia.
— De homem ciumento, oras.
Ele balançou a cabeça, em completa negação enquanto revirava os
olhos e passava seus longos dedos por seu cavanhaque bem-feito.
— Não sou ciumento! — defendeu-se ao arrumar sua postura. —
Apenas estou cuidando do que é meu, não fico confortável que meus
seguranças vejam mais do que eu mesmo não tenho visto.
Arqueei a sobrancelha em sua direção, sem acreditar em suas palavras e
uma ideia surgiu em meus pensamentos.
— Que bom que não é ciumento. Porque agora que conheci a piscina,
ela se tornou meu lugar preferido da mansão e acho que virei aqui todos os
dias.
Ele engoliu em seco e deu uma olhada ao redor, para observar se havia
seguranças próximos para ouvir meu comentário, percebi que ficou receoso
de que cumprisse a minha palavra e seus seguranças começassem a visitar
com mais frequência essa área.
— Chiara... não me provoque! — disse em tom baixo, mas se sua
intenção era soar ameaçadora, teve o efeito contrário.
Comecei a seguir em direção à escada, deitei minha cabeça na água para
arrumar meus cabelos e passei as mãos sobre eles para escorrer o máximo
que desse, não sei se consegui, mas tentei ser o mais sensual possível. Não o
olhei em nenhum momento, mas senti a todo instante seu olhar sobre mim e
isso apenas me estimulou a continuar o que faria.
Meus cabelos estavam para trás e escondiam um pouco minhas
cicatrizes e, por isso, me deixou um pouco mais confiante em continuar.
Segurei as alças da escada e saí lentamente, para que ele apreciasse meu
quadril que se movia devagar de um lado para o outro, não tinha uma bunda
muito grande, mas poderia admitir que tinha bastante carne, graças às lutas
que praticava várias vezes na semana, não tinha celulites. Já bastavam as
diversas cicatrizes espalhadas em meu corpo, tentava cuidar do resto para me
sentir melhor comigo mesma.
Quando alcancei o chão de fora da piscina, Matteo já se encontrava ao
meu lado com a toalha estendida para cobrir o meu corpo e foi o que fez,
assim que teve a oportunidade. Precisei segurar o riso, que se avolumou em
minha garganta com sua demonstração de ciúme.
— Isso porque não é ciumento — comentei, sentindo seus braços em
torno de mim conforme colocou a toalha em meu corpo.
Nossos corpos estavam muito próximos e seu olhar queimava os meus,
com o tamanho de seu desejo.
— É apenas cuidado, já disse!
Arqueei a sobrancelha e ele suspirou, sabendo que sua resposta não
seria suficiente para mim.
— Então posso voltar sem toalha nenhuma para a mansão, afinal, você
está ao meu lado e nenhum deles fará nada comigo, concorda? Não precisa
cuidar de mim.
Ele engoliu em seco e fechou a cara com a mera possibilidade de
cumprir o que sugeri.
— Jamais deixaria você fazer isso, Chiara! — ralhou, em tom
ameaçador. Dei um passo em sua direção e falei devagar:
— Então admita que tá com ciúme, do contrário é o que farei, afinal,
você não manda em mim! E se quiser, ando nua ao invés de biquíni.
Seu rosto foi tomado pela raiva e senti um leve aperto em minha
cintura, mostrando toda a sua possessão sobre mim e aguardei que admitisse,
do contrário, teria coragem de cumprir a minha palavra apenas para que
percebesse que não abaixaria minha cabeça para ele.
A verdade era que me sentia como uma criança mimada, mas não me
importei, não sabia o porquê, apenas queria que admitisse o quanto mexia
com ele, talvez para que não me sentisse tão tola por sentir o mesmo.
— Você não teria coragem de fazer isso.
Abri a boca, desacreditada com suas palavras, à medida que empurrava
seu peitoral definido para trás e assim ganhar um espaço entre nós. Quando
fui soltar a toalha que suas mãos prendiam, elas voltaram a fechar com força
em meu corpo e sua boca ficou a meros centímetros de distância da minha.
— Não se atreva, principessa. Tenho tentado ser controlado ao seu lado,
pois quero respeitar o seu espaço e sua vontade acima de tudo, mas para tudo
nessa vida há um limite e não ouse acabar com a minha paciência, pois do
contrário eu vou adorar quebrar minha promessa e te foder com força a noite
inteira para aprender a não me desafiar dessa maneira!
Sua ameaça deveria causar medo dentro de mim, considerando que
ainda não me entreguei a ele, no entanto, ela teve o efeito contrário e senti o
meio de minhas pernas ficar ainda mais úmido, a ponto de ter que roçar uma
perna na outra.
— Então, admita! — Continuamos num duelo de olhares, sem desviar
nossos olhares por um segundo sequer, quando seus ombros pareceram
relaxar e seus dedos começaram a acariciar minha pele por cima do tecido
macio da toalha, soube que admitiria.
— Tá bom, talvez você tenha conseguido despertar uma parte de mim
que até então parecia ser desconhecida.
Um meio-sorriso surgiu em meus lábios, mas queria que dissesse com
todas as letras.
— E isso quer dizer o quê? — fiz-me de desentendida e ele revirou os
olhos.
— Que sou extremamente ciumento, possessivo e não quero de jeito
nenhum ter que compartilhar com ninguém a perfeição que é o seu corpo,
nem na porra da piscina da minha casa.
Um riso alto escapou de meus lábios.
— Sinto muito, amore mio! Mas não vou deixar de nadar por causa de
seu ciúme. — Percebi quando seu maxilar travou com meu comentário e
como consegui fazer com que admitisse, resolvi ser boazinha e lhe dar uma
sugestão que também me agradaria. — Mas você pode entrar comigo quando
estiver aqui, para evitar que seus seguranças fiquem me olhando, sabe...
Jamais diria o quanto queria vê-lo de sunga, todo molhado e quem sabe
nos beijando, talvez pudesse rolar até uns amassos dentro dessa piscina, essa
era a minha maneira discreta de convidá-lo a vir comigo na próxima vez.
— Nossa, principessa, se não te conhecesse tão bem, até pensaria que
queria ver como fico bem de sunga.
Realmente ele me conhece muito bem!
Mas revirei meus olhos e dei de ombros.
— Apenas estou sendo uma boa esposa, seria uma maneira de conter os
olhares de seus seguranças.
Seu olhar cinzento, sorria para mim e não resisti em provocá-lo ao
morder o canto de minha boca. Ele olhou o que fiz e consegui ver o quanto
isso mexeu com ele, ainda mais pelo toque mais forte em minha cintura.
Cansei de me fazer de difícil e desci meu olhar para seus lábios macios,
seu rosto passou a se aproximar lentamente e meu coração disparou,
mediante a possibilidade do que faria. Senti seu nariz se aproximar do meu
pescoço e inalar o resquício de meu perfume, enquanto uma de suas mãos
subiram para meu rosto e acariciou lentamente meu maxilar e afastou meus
cabelos que caíram para a frente, sem que percebesse. Ele passou de maneira
lenta e torturante sua barba em minha jugular, fazendo com que minha pele
toda se arrepiasse e ansiei apenas para que continuasse.
Não sei em que momento cedi aos meus instintos, mas quando percebi
minhas mãos apenas puxavam sua camisa para mais perto possível de mim,
mas não me importei com isso, apenas o queria e mesmo tendo consciência
do meu desejo, isso não esfriou nenhum pouco meu anseio por ele.
— Tão cheirosa! — Senti seu hálito em minha pele e, de repente, uma
mordida a marcou, ele não me machucou, mas também não foi leve.
Entretanto, apenas aumentou meu desejo para que continuasse. Senti seus
lábios beijarem o mesmo local em que mordeu, por isso precisei soltar o ar
rarefeito que se encontrava em meus pulmões.
Sua barba resvalou meu maxilar, até que finalmente senti seu lábio tão
próximo do meu, a ponto de inalar seu cheiro de hortelã, misturado ao de seu
charuto. Senti a quentura e maciez de seus lábios brincar com os meus e senti
isso como se fosse uma completa tortura, mas apenas aumentou minha ânsia
pelo que aconteceria.
Finalmente experimentei a sensação de seus lábios encontrarem os
meus e o simples toque, fez com que esquecesse onde estava ou o que fazia,
apenas desejava que ele me desse mais e mais dele.
Matteo não me decepcionou e como se lesse meus pensamentos, senti
sua língua pedir passagem entre meus lábios, não me fingi de rogada ao
aceitar que tomasse meu beijo para si.
Nossas línguas dançavam de maneira lenta e deliciosa, o que fazia com
que meu corpo entrasse em combustão, como se os centímetros que nos
separavam fossem muitos, senti os braços de meu marido grudar nossos
corpos, fazendo com que nada além de sua roupa e minha toalha nos
separassem.
Sua mão apertava minha cintura e nunca quis tanto me livrar dessa
toalha, como queria nesse instante.
Já a outra mão caminhou até minha nuca e acariciou meu pescoço com
cautela, como se precisasse tomar o máximo de cuidado possível para não
quebrar algo valioso que tivesse em sua mão e adorei a sensação que me
transmitia com apenas um beijo. Mas não era qualquer beijo, era o beijo.
Não resisti em manter minhas mãos presas em sua camisa e subi até seu
pescoço e o enlacei, levando meus dedos até seus cabelos sedosos e macios,
finalmente sentindo a sensação de tê-los entre meus dedos, puxei-os, segundo
meus instintos e continuamos a nos perder um no outro sem medir o tempo,
só sabia que não queria parar, pois tinha medo de que essa bolha que criamos
se estourasse e tudo voltasse à realidade, algo que ainda não me sentia pronta.
As duas mãos de Matteo seguravam meu maxilar, como se quisesse me
prender naquele momento para sempre, o que fez meu coração se aquecer,
pois parecíamos que nos encontrávamos na mesma sintonia. Contudo, para a
minha angústia, porém, me excitando ainda mais, ele finalizou nosso beijo
puxando meu lábio inferior para si, o que fez com que escapasse um gemido
de meus lábios para a minha própria surpresa.
Esse homem ainda acabaria comigo!
— Venha, você precisa tomar um banho, senão é perigoso ficar
resfriada. — Suas palavras e preocupação mais uma vez me surpreenderam e
não consegui dizer nada para descontrair a situação.
Segui até onde minha roupa estava e percebi quando pegou um roupão
que não havia trazido, quando pensei em tirar minha toalha para o colocar,
ele segurou minha mão e fez uma negativa com a cabeça, então ele colocou o
roupão em mim, o que achei engraçado com o tamanho de seu zelo e depois
puxou a toalha num rompante por baixo, impedindo que qualquer um de seus
seguranças enxergasse meu corpo por dez segundos que fosse.
— Isso tudo é medo que me vejam de biquíni? — Não resisti em
provocar, pois ele com ciúme era fofo demais para a situação e nem eu
conseguia resistir a tanto.
Aquele seu sorriso cretino voltou a surgir em seus lábios e quando
percebi, o correspondia.
— Não é medo! Só não quero que vejam o que é apenas meu. — Soltei
um riso anasalado e mordi meu lábio inferior inchado, devido ao longo beijo
que demos.
— Ainda não sou sua. Até onde me lembro, não me entreguei a você
por completo — provoquei, adorando a interação que criamos com nossos
joguinhos.
Matteo acariciou meu rosto com esmero, o que voltou a me surpreender,
pois ainda não tinha me acostumado com suas demonstrações de afeto, que
ainda não aconteciam com tanta frequência e imaginava que era pela
distância que eu mesma colocava entre nós dois, mas sempre que meu
mafioso tinha a oportunidade, ele mostrava o quanto eu perdia em não o
aceitar como meu.
Apreciei seu toque e senti seu dedo desenhar o contorno de meus lábios,
admirando cada local que tocava, seu olhar era uma mistura de carinho e
desejo, isso tinha um efeito surpreendente dentro de mim.
— Você é minha, independentemente de ter se entregado ou não. Mas
isso é o de menos. — Arqueei a sobrancelha, aguardando que terminasse e
ele concluiu seus pensamentos: — Pois tenho certeza de que em breve isso
acontecerá.
Um sorriso presunçoso surgiu em seu lindo rosto, enquanto cruzei os
braços em frente ao peito, como se o desafiasse, ainda com minha
sobrancelha arqueada.
— Ah, é? Você tá se achando muito, não é?
Ele deu uma gargalhada deliciosa, que fez com que risse junto dele,
mesmo que tivesse sido insolente com seu comentário.
— Não estou me achando, tenho apenas certeza de que é questão de
tempo, pois você me quer da mesma maneira que eu te quero. Muito em
breve, você não vai resistir e ver o quanto tá perdendo com essa birra boba
que colocou dentro de si.
— Não é birra boba! — defendi-me, para tentar disfarçar o quanto ele
acertou em cada uma de suas palavras. Não queria deixar tudo tão claro
assim.
Ainda me sentia em um conflito interno gigantesco e, de fato, não sabia
até quando aguentaria continuar resistindo às suas investidas.
— Eu sei, amore mio. Mas isso não muda que me quer e eu te quero
muito mais, mas sei que valerá a pena cada minuto de espera.
Abri a boca e a fechei algumas vezes, sem conseguir montar nenhuma
frase coerente para lhe responder e ouvimos um pigarrear próximo a nós, que
nos chamou a atenção e permitiu que ganhasse tempo para assimilar suas
palavras.
Olhamos em direção de onde o barulho veio e notamos Marco, o
sottocapo de Matteo, parecendo envergonhado de atrapalhar nosso momento
e ouvi quando meu marido respirou frustrado, pois tinha certeza de que algo
havia acontecido e precisaria resolver.
— Só um momento, principessa. — Ele se afastou até onde Marco se
encontrava, segui até onde meu chinelo estava e o calcei, tentando ouvir o
que diziam.
Eles não conversavam em volume alto, mas consegui entender quando
disse ao meu marido.
— Tivemos novamente um problema com as cargas, dessa vez mataram
dois dos nossos e a roubaram inteira.
— Mas que cazzo! Vou matar quem quer que seja esse desgraçado que
tá tentando me afrontar de uma maneira tão lenta que vai rogar a todos os
seus antepassados que os salve.
Senti um arrepio percorrer meu braço e, dessa vez, não era de uma
maneira boa, pois não queria imaginar quem estava envolvido com isso, pois
se fosse quem eu imaginava, eu também estaria e caso Matteo descobrisse,
seria minha derrocada.
Respirei fundo e devagar, com meus pensamentos acelerados e ouvi
quando Matteo disse para Marco.
— Já te encontro em meu escritório para sairmos.
Ele assentiu e seguiu em direção à mansão, enquanto já me encontrava
pronta para voltar sozinha para a mansão. Pois sabia que Matteo não
participaria do jantar comigo naquela noite.
— Tenho que resolver um problema, amore mio. Venha, vou te deixar
no quarto para tomar um banho e jantar.
Assenti, sem saber o que dizer, no entanto, não me passou
despercebido, mesmo com todo meu nervosismo, quando senti seus dedos
entrelaçarem com os meus com tanta naturalidade e fez o que disse, deixou-
me em nosso quarto.
Ele abriu a porta do quarto e entrei um pouco desanimada com a
ausência que teria nas próximas horas, pois por mais que ainda não quisesse
admitir, tinha me acostumado com sua presença ao meu lado da cama e
nossas conversas por horas antes de adormecermos, então só em saber que
isso não aconteceria, me entristeceu mais do que imaginava ser possível.
Matteo me virou de frente para ele e, em seguida, voltou a acariciar meu
rosto e colocou meu cabelo molhado atrás de minha orelha enquanto disse:
— Tenho que resolver um problema que surgiu, mas vou tentar voltar
logo, tá bom? — Assenti, ainda incerta com a quantidade de pensamentos
que me rondavam. Ele se aproximou e senti o toque de seus lábios sobre o
meu em um beijo calmo e rápido, apenas como despedida e disse, sem
aguardar por uma resposta: — Por que você tem que ser tão teimosa?
Apesar de toda a apreensão, um sorriso surgiu em seus lábios e acalmou
por segundos meu peito, o que me fez retribuir seu sorriso, ele saiu e toquei
meus lábios, como se pudesse sentir a textura dos seus, apenas torci para que
cumprisse sua palavra e retornasse logo. Nesse momento, notei que eu já
estava perdida e Matteo nunca esteve mais certo em todas as suas afirmações.
Eu o queria muito e não sabia se conseguiria resistir mais por muito
tempo.
Após constatar isso, surgiu um desejo descomunal que precisei conter
em não correr atrás dele e pedir que não saísse, que não fosse no que quer que
tivesse acontecido, no entanto, não o fiz e ele se foi. Deixando meu coração
ainda mais aflito do que um dia ficou.
Algo acontecia dentro de mim e isso me deixava aterrorizada, ao
mesmo tempo em que enchia meu peito de algo, que não sabia ao certo o que
era, mas que era bom, terno e parecia como uma droga que começava a tomar
conta de mim. A verdade, era que antes que percebesse, já me sentia viciada e
não conseguiria mais me ver livre dela. Essa droga era Matteo que com seu
jeito carinhoso, sarcástico e protetor, aos poucos tomava conta de meus
pensamentos e ações, já não me reconhecendo com a atual Chiara que me
tornava a cada dia.
O problema era que isso também parecia me estimular a continuar e ver
no que daria, no que poderia nos tornarmos juntos. Ele me fazia sentir tantas
coisas com tão poucos segundos que apenas me instigava a querer conhecer
mais e mais dessas novas sensações que me proporcionava.
Não sentia medo, de fazer algo obrigada para não apanhar, nem ser
açoitada. Sentia-me admirada em receber carinho, ser cuidada e protegida,
mesmo que soubesse me proteger, apreciava o cuidado que tinha comigo, de
ser zeloso com o meu bem-estar e tentar proporcionar uma mísera felicidade
que fosse por trás de um livro, ou de roupas, um simples carinho no rosto ou
até mesmo um almoço ao ar livre.
Por isso, soube naquele momento que não adiantava mais fugir, queria
descobrir mais do que ele poderia me dar e resolvi que tentaria deixar um
pouco de lado meus pensamentos duvidosos e, quem sabe, nos dar uma
chance.
Fiz tudo no automático, assim que Matteo saiu, tomei um banho depois
de algum tempo refletindo sobre o turbilhão de pensamentos que me
atingiam, em relação a tudo que começava a sentir por ele.
Desci para jantar, com Sandra, Salvatore e Pietro que tinha retornado
nesse dia de uma viagem que precisou fazer aos Estados Unidos. Fiquei em
silêncio a maior parte do jantar, ainda inquieta com o que ele havia ido fazer
e se corria algum risco de vida, não sabia por que, mas algo me dizia que o
acontecido tinha o dedo de Federico e, por isso, o medo de que fosse uma
emboscada para machucar meu marido, me assolava cada vez mais.
— Está tudo bem, querida? — Sandra tocou minha mão e olhei em sua
direção, percebendo que mal havia tocado em minha comida.
— Sabe o que aconteceu para Matt não ficar para jantar? — meu sogro
questionou, visivelmente incomodado por não ter sido avisado e nem ter
acompanhado meu marido.
— Não sei, ele não entrou em detalhes. Só disse que precisava resolver
um problema que surgiu.
Ouvi Pietro bufar, conforme enchia sua boca com um grande pedaço de
carne e assim que mastigou, também disse:
— Matt sempre foi um teimoso, ele sabia que tinha chegado, poderia ter
me avisado e seguiria junto dele. Tem aumentado cada vez mais esses
problemas com as nossas cargas, como não sabemos que não é uma
emboscada para sequestrá-lo?
Engoli em seco com seu comentário e senti minha mão tremer com a
mera possibilidade de que Federico o fizesse.
Será que pelo fato de não ter colaborado mais cedo com as respostas
que minha mãe queria, a fez desconfiar de algo e, então, resolveu agir por
conta própria, já que não tinha minha ajuda? Para ser sincera, não duvidava
que isso acontecesse, os dois eram o casal perfeito, ambos eram loucos e não
tinham medo de fazer o que queriam, não se importavam com as
consequências que teriam, pois achavam que alcançariam o que almejavam.
— Quem será que ele puxou? — Sandra disse, revirando os olhos ao
sorver um pouco de seu vinho.
— A mãe, com certeza! — Salvatore rebateu com um sorriso irônico no
rosto, que me lembrou no mesmo instante de Matteo e senti uma saudade me
invadir, que até então parecia desconhecida.
— Claro que não, puxou o pai. Teimoso e turrão, igualzinho a você,
querido!
— Começaram a jogar os erros dos filhos de um para o outro — Pietro
comentou, revirando os olhos, mas com um sorriso zombeteiro no rosto,
enquanto olhava para mim e acabei sorrindo junto.
Pietro me surpreendia cada vez mais, diferente do irmão sempre se
encontrava com um sorriso no rosto. Matteo só demonstrava isso entre a
família. Seu irmão brincava inclusive com seus seguranças, soldados e
qualquer pessoa que estivesse à sua frente. Ele dizia que não precisava ser
mal-humorado como Matteo para conquistar o respeito das pessoas ao seu
redor. Ainda não tinha meu ponto definido em relação a isso, mas pelo mês
que convivi entre eles, percebi que de fato todos o respeitavam, mas alguém
na posição de Don, precisava não só do respeito de todos, mas também causar
um certo medo, por isso também entendia Matteo por ser como era.
— Encontrei sua mãe e irmã saindo daqui, quando cheguei de viagem.
— Respirei fundo, tentando não demonstrar o quanto ouvir a menção de
minha mãe me incomodava. — Deviam estar com saudades — sondou,
prestando atenção em minhas reações.
— Minha irmã estava, vou tentar trazê-la aqui para passar o dia comigo,
a qualquer momento.
Ele tomou um longo gole de sua bebida de cor âmbar, sem tirar os olhos
de mim e fiquei curiosa para saber o que tanto passava em sua mente.
— Posso buscá-la quando quiser, para passar o dia com você — sugeriu
Pietro, com muita devoção para meu gosto e meu alerta soou em minha
cabeça.
Olhei em sua direção com atenção, enquanto ouvia Sandra responder
Salvatore, distraída.
— Você sabe que ela tem apenas quatorze anos, certo? — inquiri, de
maneira ameaçadora, em seguida Pietro levantou as mãos em completa
rendição, mas era visível que se divertia com o meu comentário.
— Ei, calma, ragazza. Foi apenas uma sugestão, fazendo a minha parte
como um bom cunhado.
Estreitei os olhos e ele voltou a beber sua bebida, mas sem desviar os
olhos dos meus.
— Acho bom que seja apenas isso mesmo, pois ela ainda não tem idade
para casamento.
Ele arqueou a sobrancelha e notei seus olhos cinzas como os do irmão.
— E quem disse que quero me casar? Relaxa, Chiarinha, tive apenas
boa intenção.
Resolvi acreditar nele e voltei a me forçar a jantar. Enquanto ouvia
Salvatore comentar:
— Claro que ela é muito nova para você, Pietro. Já está com vinte e
cinco, precisa começar a procurar uma noiva, agora que seu irmão finalmente
se casou, preciso começar a me preocupar com você.
— Pronto! Tá vendo o que você fez? Deu ideia pro velho e agora eu que
sofro as consequências.
— Velho é o teu passado, caspita! Coloco você e seu irmão no bolso.
Comecei a rir da provocação que Pietro fazia com seu pai e em como
Salvatore, aquele que achei ser tão temido, como minha mãe dizia
antigamente, caía com tanta facilidade nas provocações do filho.
— Bom, o papo está bom, mas agora que começou esse papo chato de
casamento, vou ligar para Matt para saber o que aconteceu e se precisa que eu
vá para lá.
— Vou te acompanhar! — meu sogro disse, se levantando junto dele da
mesa e, juntos, seguiram em direção ao escritório. — Mas não pense que vai
escapar desse assunto, Peter. — Ouvi Salvatore ainda dizendo ao longe e não
consegui segurar o riso junto de Sandra.
Depois que nos recompomos, fiquei curiosa.
— Por que Peter? — indaguei a Sandra que sorriu com a mera pergunta.
— Porque quando eles eram pequenos, Matt tinha apenas cinco anos
quando Pietro nasceu e ainda falava um pouco errado, ele o chamava de Peter
e acabamos nos acostumando a chamá-lo assim, se tornou seu apelido.
— Sério? Nunca notei Matteo o chamar assim — comentei, adorando a
interação que todos tinham um com o outro. Nunca tive um apelido carinhoso
de minha família, que não fosse de minha irmã e Leonardo que me
chamavam de Chichi.
— Ele parou de chamar quando virou adolescente, sabe como são, né?
— Imaginei que falasse sobre a famosa fase da aborrecência. — Hoje ele só
chama quando quer o provocar.
Ri com seu comentário e fiquei satisfeita de ter descido para jantar, me
ajudou a distrair um pouco com o imprevisto que Matteo teve.
Assim que terminamos, Francesca retirou nossos pratos e resolvi subir
para ler um pouco, quem sabe nesse meio-tempo Matteo retornasse.

Já se passava das 23h e até o momento, Matteo não tinha voltado.


Não consegui me concentrar na leitura, não consegui assistir nada na
televisão, meus pensamentos não saíam de onde Matteo deveria estar e o que
fazia.
Fiquei observando meu celular desde que retornei do jantar e pensei em
ir atrás de Pietro para saber se teve alguma notícia, mas ele poderia estranhar
o fato de eu ser a esposa e não ter entrado em contato com o meu marido, ou
pelo menos tentado, pois não necessariamente ele me atenderia, talvez
estivesse muito ocupado.
Nós havíamos nos beijado mais cedo, ele me trouxe até o quarto
segurando minhas mãos, sendo algo que não costumava fazer. Tínhamos nos
aproximado nas duas últimas semanas e criamos uma certa amizade, que mal
faria eu tomar a iniciativa de enviar uma mensagem a ele, afinal? Nada, não
é?
Então por que escrevia pela terceira vez e a apagava, antes que
enviasse? Seria vergonha ou orgulho? Não sabia dizer.
Respirei fundo e antes que perdesse a coragem, fiz outra coisa. Disquei
para o número que conhecia há anos e no segundo toque, ela me atendeu.
— Que milagre a primeira-dama da famiglia resolveu me ligar! —
Arrependi-me no mesmo instante que ouvi seu comentário irônico.
Disfarce, Chiara, ela não pode perceber quão preocupada você está
com seu marido.
— Oi, mãe, queria tirar uma dúvida com você — disse de uma vez.
Queria finalizar essa ligação rapidamente.
— Já imagino o motivo de sua curiosidade e sim, fomos nós que
armamos para emboscar a carga de Matteo.
Sabia! Era muita coincidência isso acontecer no mesmo dia em que
vieram aqui. Provavelmente ela me contaria algo, mas como não lhe dei
margem, não conseguiu fazer.
— A intenção era dar um susto no próprio Matteo, ao sequestrá-lo, mas
você não colaborou quando fui tentar saber sobre o paradeiro dele. —
Fiquei extremamente aliviada por não saber e não ter colaborado com isso, ao
ter certeza de suas ações. Vai saber o que fariam com ele. — Por isso,
Federico resolveu mais uma vez tentar atraí-lo com sua carga, sabia o
quanto ficaria louco em perder milhares de euros com o sumiço delas.
Engoli em seco, receosa com o que planejavam.
— Eles estão com ele? — indaguei, não conseguindo disfarçar o
nervosismo em meu tom de voz e me xinguei por ser tão fraca.
— Não! Ainda não, mas não sei de notícias há um tempo, espero que
tenham conseguido o pegar. Federico só ficou decepcionado em não poder
ser ele mesmo a torturá-lo, como ele costuma fazer com seus inimigos.
Respirei devagar, tentando pensar positivo que Matteo era muito bom
no que fazia e escaparia dessa, mais uma vez.
— Está preocupada com seu maridinho, Chiara? — Sua voz era um
pouco ameaçadora e talvez desconfiada, por isso senti um medo descomunal
que percebesse a verdade em minha voz, então limpei a garganta e tentei ser
o mais fria possível.
— Claro que não. Quero mais é que ele se foda.
Ela soltou um riso maldoso, que atingiu a minha espinha.
— É assim que se fala, agora preciso falar com Federico para saber se
tenho notícias.
— Certo, qualquer coisa me liga.
Ela nem sequer se despediu e desligou na minha cara, mas não me
importei.
Comecei a andar de um lado ao outro, nervosa com a possibilidade de
terem o pegado e não aguentei mais. Procurei seu número em minha agenda e
liguei para ele. Nas duas tentativas que fiz, as ligações chamaram até cair e
minha apreensão apenas aumentou, a ponto de meus olhos lacrimejarem, mas
não permiti que nenhuma lágrima caísse deles.
Voltei a digitar uma mensagem e dessa vez não a apaguei, mas sim,
cliquei em enviar.

Está tudo bem? Vai demorar?

Uma parte de mim ficava irritada por ter baixado a guarda tão fácil com
esse homem, não podia me esquecer de tudo que sofri pelo que fez com meu
pai, mas, ao mesmo tempo, ele me tratava tão bem que não conseguia me
preocupar com ele.
Uma hora se passou, até que, enfim, meu celular indicou o recebimento
de uma mensagem e abri rapidamente para ler, era dele e meu coração
disparou no mesmo instante.

Matteo: Se ficar agindo desse jeito, amore mio,


vou começar a pensar que tá preocupada comigo!

Foi impossível conter o riso de surgir em meu rosto com seu comentário
e fiquei um pouco mais aliviada, pois isso indicava que os planos de Federico
não saíram como o planejado.

Só tome cuidado!

Ele não me respondeu mais e tentei pensar que era apenas porque estava
ocupado. Ele estava bem, era o que tentava me convencer.
Mas a todo instante, os pensamentos de mais cedo voltavam à minha
mente e, então, percebi que precisava encarar de vez tudo que me começava a
sentir, parar de me enganar e encarar minha nova realidade.
Nada saiu como o esperado nessa noite, minha intenção era apenas
jantar em paz com a minha família e, quem sabe, conseguir avançar mais
alguns passos com minha linda Oncinha, ainda mais depois dos deliciosos
beijos que trocamos na área da piscina.
Chiara pensava que me afastaria com as farpas que trocávamos, mas
isso apenas me excitava ainda mais e aumentava meu desejo de dobrar aquele
orgulho que ela insistia em carregar.
Mas isso apenas me dava a certeza de que valeria muito a pena no
futuro.
Sempre fui muito bom em ler as pessoas e Chiara, desde que a encontrei
pela primeira vez naquela boate, mexeu comigo mais do que pensei ser
possível. Ela parecia uma pessoa que buscava pela felicidade, parecia
procurar por um escape e quando percebi a diferença com que agia quando
estava ao lado da família, apenas me deu a certeza de que meus pensamentos
andavam na direção correta.
Quando nos casamos, obviamente ela continuou tentando se manter
afastada, mas percebi que minha atitude de não a forçar a se entregar a mim,
como era esperado, por causa daquela merda de prova dos lençóis da noite de
núpcias, conseguiu surpreendê-la e percebi que a minha atitude a fez perceber
que não era o monstro que imaginava que fosse em sua cabeça.
Afinal, duvidava muito que qualquer homem normal aguentaria um mês
após o casamento sem tocar na esposa.
Não negava que isso parecia uma tortura infinita e nunca bati tanta
punheta na vida, como fazia nos últimos tempos, mas me negava a trair
minha esposa. Mesmo que nas vezes em que precisei comparecer à boate para
resolver alguma coisa e até mesmo encontrar alguém lá para os negócios,
algumas mulheres, assim como as próprias dançarinas, se ofereciam a mim.
Teria sido tudo muito mais fácil para conter minha tensão sexual até que
minha esposa resolvesse se entregar a mim, não tinha como não admitir que
ela era mais difícil do que imaginei, mas eu a queria e, por isso, não deixaria
meu tesão estragar tudo.
Entrei na mansão acompanhado de Marco e Leonardo, que começou a
trabalhar comigo nessa semana, mas Chiara ainda não sabia, sem contar que
pedi para que seu primo não lhe contasse os meus planos por enquanto.
A verdade era que pensei nele como segurança de minha esposa, desde
que os vi treinando no jardim certo dia e sabia que não teria pessoa melhor
para cuidar de sua segurança do que ele próprio, só que queria o ver em
prática para ter certeza se seguia com o que pensei e depois dessa noite, tive
certeza de que ele seria perfeito para a segurança dela, pois seu desempenho
fora impecável. A desconfiança que tive no início, quando descobri que
treinavam juntos, não me importava mais, pois, para mim, ficou claro que
tudo entre eles não passava de um carinho fraternal, algo que nunca percebi
ela demonstrar por mais ninguém de sua família que não fosse ele e sua irmã.
Isso tudo mexia com minha cabeça e me intrigava ainda mais com a
verdadeira relação que eles tinham e para mim ficava cada vez mais nítido
que não passava de uma fachada. Mas esperava ter me equivocado.
As surras que Chiara recebia também me intrigou muito e queria ter
certeza de quem o fazia, queria que minha esposa confiasse em mim, para me
vingar daqueles que ousaram a machucar. Eu e ela ainda tínhamos uma
relação de vidro e poderia rachar a qualquer momento com uma atitude
errada de minha parte, apenas por isso ainda não peguei Irene e Federico para
tirar da boca deles o que faziam com a minha esposa.
Pois se eles, ou até mesmo sua mãe, que acreditava ser inocente nessa
questão de açoitá-la, não tivessem nada a ver com o que aconteceu, perderia o
pouco que construí e não queria regredir ainda mais com ela. Por esse
motivo, tentava conquistar sua confiança, pois imaginava que não confiava
em ninguém pelo que já sofreu em vida e não poderia imaginar que se abriria
para mim com facilidade de um dia para o outro. Essas coisas nós
ganhávamos com o tempo e paciência, algo que não era muito o meu forte,
mas tentava melhorar, somente por ela.
Subi os degraus que me levavam aos meus aposentos e pensei que
precisava levar Chiara até nossa casa em Palermo. Minha intenção era passar
os finais de semana lá pelo menos, ou quem sabe até morarmos lá, se assim
ela quisesse, mas tantas coisas estranhas aconteciam nos últimos meses que
ficava difícil pensar nisso, além do mais, não queria deixá-la sozinha naquela
casa imensa, apenas com nossos seguranças. Na mansão pelo menos ela tinha
minha mãe para a distrair.
Já passava da 1h e me sentia exausto, além de todo sujo de sangue, com
os murros e ações que precisei fazer com os capangas que chegamos a
capturar. Sofremos uma grande emboscada e por pouco não conseguiram me
pegar, mas eles não imaginavam que realmente era muito bom com minha
mira, apenas eu e Marco, juntos, conseguimos nos livrar de metade de seu
grupo.
Marco e Carlo, prenderam os dois capangas no calabouço e no dia
seguinte eu e Pietro tentaríamos tirar alguma coisa deles, no momento só
queria tomar um banho para tirar a sujeira do corpo e descansar ao lado da
minha principessa.
Abri a porta devagar e assim que entrei no cômodo parcialmente escuro,
percebi que minha Oncinha dormia com um livro ao seu lado, me aproximei
devagar da cama e percebi a sobrancelha que demonstrava preocupação,
mesmo dormindo, e me recordei da mensagem que me encaminhou mais
cedo, pedindo para me cuidar e um sorriso se formou em meu rosto, com a
mera possibilidade de sua preocupação ser por minha causa.
Talvez ela já estivesse começando a se envolver, mesmo que não
admitisse para si mesma, mas ansiava pelo dia que o fizesse.
Retirei com cuidado algumas mexas de cabelos loiros que caíam sobre
seu rosto e coloquei atrás de sua orelha para que eu pudesse a admirar, em
seu sono profundo.
Meus olhos desceram por seu corpo voluptuoso, completamente
descoberto pelo lençol de seda que deveria cobri-la e me arrependi no mesmo
instante de ter feito, pois Chiara usava apenas um pequeno baby-doll no tom
azul-escuro, com um tecido que parecia ser extremamente macio, apenas de
notar minhas mãos coçaram em agonia para tocar um pouco de sua pele
macia. Seus seios pareciam pular para fora, como se pedissem para que eu os
tocasse e, finalmente, os experimentasse.
Respirei fundo, tentando controlar meu impulso de agir como um
canalha ao fazer algo enquanto dormia, isso seria tão errado, mas como era
difícil me controlar com uma mulher tão linda e gostosa dormindo quase nua
em minha cama, depois de um dia desgastante. Como eu a queria, não
conseguia nem descrever o quanto ansiava por tê-la em meus braços.
Alcancei o lençol com cuidado e a cobri, para esconder seu corpo
delicado de minha vista e não fazer algo que me arrependeria no dia seguinte.
Dei um passo para trás, ainda sem desgrudar meus olhos dela e comecei
a desabotoar os botões de meus pulsos e depois de minha camisa, sem pressa
alguma. Queria decorar cada detalhe enquanto dormia para gravar em minha
mente.
Retirei a camisa e a deixei no chão, desafivelei o cinto e soltei o botão
de minha calça social, assim como o zíper e deixei que caíssem aos meus pés.
Suspirei frustrado por não poder acordá-la e segui em direção ao banheiro, a
fim de tomar um banho gelado, para quem sabe diminuir o fogo que
queimava meu interior, como o tamanho do meu desejo de foder minha
Oncinha.
Deveria ter fechado a porta do banheiro, mas como Chiara parecia
dormir em um sono pesado, optei por não a fechar e poder admirá-la durante
meu banho. Eu era um safado, não tinha como negar isso e minha longa
ereção mostrava a real intenção, queria gozar olhando para ela e era egoísta
nesse ponto. Nunca o tinha feito, pois todas as vezes fechava a porta, para
que ela não presenciasse o que fazia no banho, com meus pensamentos nela.
Apenas uma vez deixei a porta aberta para provocar minha principessa,
mas ela permaneceu firme em não dar nenhuma espiada, algo que não
aconteceria caso fizesse comigo.
Abri o chuveiro e deixei que a água caísse desenfreada sobre minha
cabeça e corpo, era relaxante conseguir sentir toda a sujeira se esvair de meu
corpo. Espalmei as mãos na parede, pensando se deveria seguir meu desejo
de me masturbar, mas lembranças de nosso beijo mais cedo e em como ela se
entregou de verdade neles pela primeira vez, avivaram ainda mais minha
mente fértil e não resisti em despejar um pouco de sabonete líquido em
minhas mãos e passei a acariciar meu membro. Levantei meu rosto em
direção à água que caía forte em meu rosto e precisei conter que um gemido
escapasse, conforme massageava meu mastro devagar, enquanto me
recordava daquela boca carnuda que adorava me afrontar e o quanto beijava
bem. Era o melhor beijo que tive o prazer de provar e isso era a melhor coisa
que poderia ter acontecido.
Imaginei aquela mesma boca, engolindo meu pau com volúpia enquanto
enxergava seus lindos olhos esmeraldas, me observando com frenesi ao me
engolir. Abri meus olhos, cada vez mais excitado e virei meu rosto em
direção ao quarto levemente escuro e meu coração chegou a errar uma batida
quando encontrei aqueles mesmos olhos que imaginava, olhando em minha
direção com desejo estampado neles, isso foi o que precisava para continuar a
me masturbar, pois ela parecia gostar do que via e isso apenas me estimulou a
continuar.
Para a minha surpresa, minha Oncinha se levantou lentamente,
intercalando seu olhar entre meu pau, mão e olhos. Assim que ficou em pé,
para o meu completo delírio, ela retirou seu minisshort e junto da calcinha
por suas pernas torneadas, na sequência segurou a barra de sua camisa
soltinha em seu corpo de alcinha e puxou de uma vez por sua cabeça e parei
por um instante de me tocar, para admirar o corpo perfeito que possuía.
Era a primeira vez que a enxergava completamente nua e minha
imaginação não poderia ter feito jus a realidade o suficiente. Seus peitos eram
do tamanho perfeito para minhas mãos, durinhos e firmes, com as aréolas
num tom de rosa-claro. Seus bicos apontavam em minha direção, como se
pedissem para que eu os chupasse com vontade e precisei engolir em seco
para conter meu desejo.
Meus olhos desceram por sua barriga negativa, com leves gominhos
definidos com certeza por causa da luta que praticava com seu primo. O
quadril não era tão largo, mas não poderia me excitar mais. E sua vulva, tinha
apenas um pequeno filete de pelos claros que pareciam como uma perdição
para mim.
Meu pau parecia prestes a explodir apenas em vê-la dessa maneira, subi
meus olhos para seu rosto e percebi que se encontrava nervosa com o que
fazia, mas a leve insegurança que demonstrou pareceu evaporar, quando deu
o primeiro passo em minha direção e entrou no banheiro. Ela abriu a porta do
boxe de vidro, sem desgrudar nossos olhos e precisei passar a língua em
meus lábios que se encontravam secos, antes que conseguisse pensar em
alguma coisa para lhe dizer, ela cortou o espaço que havia entre nós, puxou
minha nuca em sua direção e tomou meus lábios para si, pela primeira vez,
ela tomou a atitude de me beijar e isso por si só, foi uma das melhores
surpresas que poderia ter recebido nesse momento.
Nossas línguas duelavam com desejo, diferente do beijo do final da
tarde que tivemos, dessa vez ele era puro fogo, excitação e necessidade de
termos o máximo que pudéssemos um do outro. Minhas mãos foram até sua
cintura e passei por suas costas nuas e já encharcadas com a água que nos
molhava. Queria explorar seu corpo todo, mas tinha receio de que uma
atitude a fizesse se afastar de mim, por isso esperei que ela tomasse as ações
que desejava.
E como se lesse meus pensamentos, uma de suas mãos desceu por meu
tórax devagar, como uma deliciosa tortura, passou pelos gomos de meu
abdômen e quando alcançou a minha masculinidade, foi como se tivesse
chegado ao céu naquele instante.
Sua mão delicada, começou a subir e descer em toda a minha
protuberância, não consegui conter que um gemido escapasse de meus lábios
em sua boca e um sorriso safado surgiu nos seus, satisfeita por conseguir me
agradar.
Não aguentei mais e levei minhas mãos até seus seios, sem desgrudar
nossas bocas que pareciam se engolir com a ferocidade que nos beijávamos,
quando senti o peso de seus peitos, levei meu polegar até seu bico
intumescido e comecei a fazer círculos de maneira lenta e excitante, Chiara
pareceu ter aprovado minha ação, como empertigou seu corpo em minha
direção, pedindo por mais.
Nem pensei duas vezes e comecei a intercalar entre circular e beliscar
os mamilos, visto que minha intenção era agradar minha esposa, quando ela
gemeu em minha boca, foi o meu fim. Desci uma de minhas mãos até sua
intimidade e a toquei, notei como se encontrava ensopada e em nada tinha a
ver com a água que nos molhava.
— Molhadinha para mim, minha Oncinha.
Quando começaria a massagear seu clitóris, Chiara se afastou um
pouco, me olhou um pouco insegura, aguardei para saber o que deveria fazer.
— Quero tentar uma coisa, se eu fizer errado, você me ajuda.
Olhei intrigado com seu comentário, enquanto minha mente libidinosa
caminhava para várias possibilidades que poderia fazer, mas quando ela se
ajoelhou à minha frente, parecia que um sonho muito recente se realizava.
Ela encarou meu pau em sua pose de sentido e umedeceu seus lábios,
como se fosse o prato mais suculento que tivesse à sua frente. Guardaria em
minha cabeça essa imagem pelo resto de meus dias.
Seus olhos encontraram os meus e neles apenas enxerguei a ânsia
estampada, suas pupilas haviam dilatado e fiquei surpreso com o quanto meu
apetite por essa mulher aumentava a cada minuto, mesmo que pensasse não
ser mais possível.
Ela segurou meu pau em uma de suas mãos, aproximou seu lábio e
lambeu ao redor da glande devagar, como se experimentasse algo pela
primeira vez e apreciasse o que começava a conhecer.
Joguei minha cabeça para trás, ainda desacreditado no que acontecia e
tentava conter meu desejo avassalador de não meter com força em sua
garganta como costumava fazer com as mulheres que saía.
Chiara começou a abocanhar lentamente meu pau, indo e voltando
devagar, testando até onde aguentaria. Eu era grande, sabia disso e
dificilmente encontrava uma mulher que conseguia me engolir por completo,
por isso não esperava que ela fosse conseguir, ainda mais em sua primeira
vez.
Não resisti mais em manter minha mão longe e, então, puxei seus
cabelos no alto de sua cabeça incentivando em como deveria continuar e
Chiara não me decepcionou ao seguir no ritmo que pedia. Para a minha
completa surpresa, ela me abocanhava cada vez mais fundo e tentava distrair
minha mente com o que de fato acontecia à minha frente para não gozar em
sua boca com dois minutos de boquete.
Sentia-me completamente excitado ao vê-la fazer isso logo de cara,
parecia ser demais para meu autocontrole.
— Cazzo... — gemi, desnorteado com tudo que me fazia sentir.
Comecei a perder o controle de mim mesmo, quando Chiara passou a
aumentar ainda mais o ritmo de sua sucção em meu pau, a ponto de sentir
minha glande atingir sua garganta, minha Oncinha afastava rapidamente
quando a ânsia queria surgir, mas voltava a me engolir com puro desejo e não
aguentava mais. Tentei puxar meu pau para não gozar em sua boca, porém,
ela segurou minhas nádegas e puxou com afinco.
— Amore mio, me solta, não to aguentando, vou gozar... — tentei
alertá-la do que aconteceria se não me soltasse, mas a cachorra apenas
intensificou sua ânsia em me engolir ainda mais rápido e não consegui mais
resistir, explodi com todo o meu desejo em seus lábios, soltando uns
palavrões incoerentes enquanto encontrava o meu ápice.
Chiara continuou a me chupar, enquanto meus espasmos duraram e
quando abaixei a cabeça, completamente sem fôlego para vê-la, ela lambia
seus lábios como se tivesse acabado de chupar um sorvete de chocolate. Seus
olhos encontraram os meus e enxerguei como adorou a sensação de conseguir
me satisfazer em sua primeira vez e não consegui impedir que um sorriso
cafajeste surgisse em meu rosto, com tudo que gostaria de fazer com ela. O
pouco de contato que tivemos apenas mostrou o quanto nossa química era
perfeita.
Estendi minha mão, que segurou e a ajudei a se levantar, ficando de
frente para mim, ainda presos dentro dos olhos um do outro.
— Você é simplesmente perfeita, principessa.
Um leve rubor tomou conta de seu rosto e um pequeno sorriso surgiu
em seus lábios, grudei nossas bocas novamente e ela não pensou duas vezes
em aceitar meu beijo que parecia arder as chamas que habitavam em nosso
interior.
Ainda não tinha tomado banho, mas não queria perder a oportunidade
de a satisfazer, por isso, segurei suas pernas ao redor de minha cintura, que
me abraçaram no mesmo instante e fui caminhando com minha Oncinha em
direção à nossa cama, sem me importar que molhávamos o quarto todo.
Deitei seu corpo delicado com cuidado sobre nossos lençóis e fiquei por
cima dela, ainda perdido em nossos beijos.
Acariciei seu rosto com delicadeza, tentando conter todo o meu desejo,
desgrudei nossos lábios e passei a beijar seu rosto, seu maxilar, mordisquei o
lóbulo de sua orelha e notei quando estremeceu excitada com minha ação.
Usei meu cavanhaque para acariciar sua pele macia, pude notar que ela
ficou completamente arrepiada para meu deleite.
— Tão linda. — Beijei um lado de seu rosto. — Tão perfeita. — Beijei
o outro lado de seu rosto. — Tão minha. — Beijei a ponta de seu nariz.
Um riso anasalado escapou de seus lábios e ela negou com seu sorriso
zombeteiro no rosto.
— Ainda não, garanhão. Não vou me entregar completamente ainda.
— Nem por isso, deixa de ser minha. — Dei de ombros. — Agora fique
quieta que quero te agradar.
Ela mordeu os lábios, extasiada e deduzi que isso era como sua
aprovação para mim.
Desci meus lábios, deixando rastros de beijos por sua jugular, seus
ombros, até que finalmente encontrei seus seios, tão perfeitos e não perdi
mais tempo ao abocanhar cada um deles.
Torturei minha Oncinha, por cada dia que me fez esperar para prová-los
e enxerguei a loucura que a tomava, remexendo seu corpo em completa
euforia abaixo de mim, o que apenas me incentivava a continuar.
Intercalava entre mordiscar, chupar, beijar seus bicos e mordiscar seus
seios. Chiara parecia prestes a enlouquecer, conforme bagunçava meus
cabelos entre seus dedos.
Continuei descendo meus lábios por sua barriga e notei uma de suas
cicatrizes, com a cor clara. Minha principessa percebeu para onde olhava e
seu corpo ficou rígido no mesmo instante, quando pensou em puxar meu
rosto até o seu para distrair a minha mente, eu beijei o contorno de cada uma
delas. Mostrando o quanto eu a queria mesmo com cada uma de suas
cicatrizes, talvez fosse isso que mais me deixava encantado por essa garota
forte que se tornou.
O corpo de Chiara relaxou no mesmo instante e continuei meu caminho
para onde tanto almejava chegar.
Segurei suas coxas, arreganhando sua boceta completamente úmida em
minha direção e salivei com o desejo que me invadia.
— Como disse, perfeita!
Ela respirou fundo, sem desgrudar seus olhos inseguros de cada uma de
minhas atitudes, passei minha mão acariciando sua pele, até chegar em seus
pés. Tão pequenos e delicados, exatamente como ela. Suas unhas estavam
pintadas de vermelho, com um anel em seu segundo dedo, que o deixava
ainda mais encantador. Não resisti em chupar o seu dedão do pé, sem
desgrudar nossos olhares, enquanto notava cada reação que causava em
minha Oncinha.
Depois de subir meus lábios beijando todo o seu pé, calcanhares, toda a
extensão de sua perna, desisti de adiar meu real objetivo nisso tudo e a lambi
de baixo para cima toda a sua vulva, Chiara contraiu seu corpo, com visível
timidez, mas deixou um gemido escapar de seus lábios e foi a minha deixa.
Afundei minha boca em sua intimidade, penetrei minha língua em sua
vulva, chupei seu clitóris e depois de tanto me deliciar, com seu pré-gozo
invadir minha boca, senti suas mãos puxarem meus cabelos, como se
precisasse me tocar de toda maneira.
Levei meu polegar até seu clitóris e passei a circulá-lo em sentido
horário e senti meu pau completamente duro com a cena à minha frente,
Chiara se remexia fora de si, com o prazer e sensações que imaginava ser
desconhecidas até então.
— Dio... isso é muito bom...
Continuei torturando minha esposa e quando senti sua boceta se contrair
em minha boca, sabia que se aproximava de seu clímax.
Aumentei ainda mais a velocidade da movimentação de meu polegar e
penetrei fundo minha língua e senti seu gozo explodir em minha boca, para
não só o prazer dela, mas o meu também.
Chupei cada jato que soltou, encantado por ter conhecido o sabor de seu
prazer e tive certeza de que se tornava o meu novo sabor preferido.
— Você é uma delícia, Oncinha!
Subi para cima dela, quando seus espasmos acabaram e não resisti em
deixar que meu pau brincasse levemente com sua boceta deliciosa e um
sorriso de orelha a orelha surgiu em seu rosto e tive certeza daquilo que já
imaginava, mas não queria admitir ainda, eu já estava completamente fodido,
apaixonado por essa mulher e faria qualquer coisa para fazê-la feliz.
Poderia nunca ser correspondido, mas se conseguisse desenhar todos os
dias esse sorriso em seu rosto, já me sentiria completamente satisfeito com
meu plano de vida.
Continuei brincando com meu pau, torcendo para que mudasse de ideia
e pedisse por mais e resolvi provocá-la.
— Sabe que tem muito mais para você, do que já provou, né? Posso te
mostrar se você quiser. — Um sorriso de lado surgiu em meu rosto, quando
sua risada tomou nosso quarto.
— Cala a boca, vai! — Suas mãos bagunçaram meu cabelo, mas não me
afastou dela e mordeu seu lábio inferior com visível excitação e pensativa
com minhas palavras. No entanto, minha Oncinha não cedeu.
Mas não me importei, pois sabia que, enfim, tínhamos alcançado outro
patamar em nossa relação e tínhamos dado um grande passo à frente.
Levantei-a e puxei para meus braços, nos abraçando pela primeira vez e
melhor ainda, nus.
— Venha, vamos tomar um banho para descansarmos.
Ela assentiu e foi assim que tomamos nosso primeiro banho juntos,
entre carícias e muitas trocas de beijos.
Quando voltamos para a cama, minha principessa usava de volta seu
baby-doll, enquanto eu apenas uma cueca boxer, puxei seu corpo delicado
para se encaixar com o meu e dormimos de conchinha pela primeira vez, com
meu nariz infiltrado em seus cabelos perfumados para a minha completa
satisfação.
Uma semana se passou desde que eu e Matteo demos um passo a mais
em nossa relação e desde então, passou a ficar mais difícil manter distância.
Na verdade, não queria manter e isso ainda me assustava.
Como eu poderia ter mudado tanto em um tempo relativamente curto?
Antes não queria vê-lo pintado de ouro à minha frente, no entanto, nesse
instante ansiava para que chegasse logo em nosso quarto e repetisse tudo que
fizemos na última semana.
Pois como demos esse passo adiante, Matteo não permitiu que
regressássemos à estaca zero e simplesmente também não fiz questão de o
afastar, eu também o queria. Tanto que o momento em que me tornaria sua
começava a tomar meus pensamentos por completo cada vez mais.
Não conseguia esquecer o real motivo de estar ali, ainda mais quando
minha mãe insistia em ligar para saber como andava minhas tentativas para
engravidar, começar a ter relação com Matteo era dar início definitivo ao que
eles queriam, mesmo que tomasse anticoncepcional, sabia que se
começássemos a nos dar bem de fato, em um momento viria o pedido por um
herdeiro e o que faria?
Além de que, mesmo com minha inexperiência sexual, sabia que
nenhum remédio contraceptivo era cem por cento eficaz.
Não sabia o que fazer! Eu o queria, mas não dessa maneira, não com
tanta mentira entre nós dois. Mas não era como se eu tivesse escolha, não é?
Pois se resolvesse lhe contar a verdade, ele me mataria como um dia me
ameaçou, mataria até a minha irmã que nem sabia de nada do que acontecia
naquela família.
Respirei frustrada conforme terminava de me arrumar, irritada por esses
pensamentos terem me atormentado o dia todo.
O grande evento que organizei, finalmente chegou e em partes me
sentia animada para ver algo acontecer por meio de meu trabalho, isso era
extremamente animador. Mas também me sentia nervosa, pois tinha medo de
que tudo desse errado, isso seria uma vergonha para a família Lucchese e não
queria envergonhá-los, mesmo que isso fosse animar minha mãe e seu
marido, não era o que queria, afinal, também era o meu nome. Todos sabiam
que era a atividade da esposa de Matteo, logo, a pior vergonha seria minha.
Optei por usar um dos vestidos que comprei da estilista que Matteo me
disponibilizou, ele era num tom de vermelho-vivo, simplesmente magnífico e
ficava ansiosa para quando meu marido me encontrasse, torcia para que
gostasse mesmo que não tivesse escolhido pensando em agradá-lo, mas seria
muito hipócrita se não admitisse que pensei em como me elogiava quando
usava vermelho, então, talvez, uma pequena parte minha tivesse pensado em
agradá-lo, um pouco pelo menos.
Meu vestido era bem sensual e apesar de ter nas costas apenas um corte
pequeno, pois não queria expor minhas cicatrizes, na frente seu decote era
bem ousado. Um sorriso surgiu em meu rosto ao pensar quando Matteo me
visse, se ele realmente era ciumento como demonstrou em alguns momentos,
isso o deixaria possesso, mas era o que queria, vê-lo com ciúme. Nunca tive
esse tipo de envolvimento e me agradava vê-lo dessa maneira.
Segurei o lindo colar que tinha uma corrente fina e delicada, feita de
ouro branco 18 quilates, que se curvou de maneira graciosa ao redor do meu
pescoço. O pendente central era um diamante excepcionalmente lapidado, de
quilate generoso e claridade impecável. O diamante era envolvido por um
intrincado encaixe de ouro branco, cuidadosamente trabalhado para criar um
contraste sutil e enfatizar a pedra preciosa deslumbrante. Ao redor do
diamante central, havia diminutos diamantes adicionando um toque de brilho
extra à peça.
Foi um presente que Matteo fez questão de deixar mais cedo em nosso
quarto, para que eu usasse essa noite. Ele não era em nada extravagante, o
que mostrava como meu marido me conhecia e sabia que se fosse ao
contrário, não usaria.
Passei o batom rouge para finalizar a maquiagem e fiquei grata por ter
comprado um que não borrasse. Considerando o envolvimento recente com
meu marido, seria bom evitar que me parecesse com o coringa no primeiro
evento que organizei como dama da máfia.
Uma batida à porta chamou minha atenção, mas não foi necessário
liberar sua entrada, pois meu elegante e lindíssimo marido entrou vestido em
seu smoking preto, precisei conter um suspiro para não me delatar em sua
frente.
Tudo isso ainda era muito estranho para mim. A maneira como me
sentia realizada ao lado desse homem, deveria ser inadmissível, mas parecia
ser o contrário. Podia afirmar que em meus dezoito anos de vida, pela
primeira vez, me sentia feliz.
Sabia que não deveria ser assim, a realidade deveria ser outra. Devia
sentir saudades de casa, de minha mãe e fazer questão de sua visita, como
também realizá-la, em contrapartida, isso era algo que não acontecia.
Comecei a atender suas ligações justamente para não receber suas visitas
inesperadas, não queria. Já minha irmã, pedi para Pietro a buscar um dia
durante a semana e passamos o dia juntas na piscina, ela adorou,
principalmente quando mostrei a linda biblioteca que existia na mansão. Ela
sempre leu até mais do que eu, então para ela foi o melhor presente que
poderia ter recebido.
— Você está... Uau... — Matteo balançou a cabeça me medindo de
cima a baixo, não resisti em soltar um riso contido, como pela primeira vez
consegui deixar meu marido sem palavras. — Você está maravilhosa,
deslumbrante, vai ser simplesmente a mulher mais linda da festa, sem sombra
de dúvidas.
Mordi o canto de meus lábios, adorando ouvir a maneira como se sentiu
em me encontrar e fiquei ainda mais satisfeita por ter investido nesse vestido.
— Você também está um arraso! — admiti, mesmo que essa palavra
não fizesse jus ao que ele realmente era.
Um meio-sorriso surgiu em seu rosto, conforme dava passos lentos em
minha direção com as mãos dentro do bolso dianteiro de sua calça e, Dio mio,
ele ficou tão sexy andando dessa maneira, que senti um calor envolver meu
corpo no mesmo instante, sem sequer ter sentido seu toque.
— Só não vou poder desgrudar de você a noite inteira...
— Ah, é? E posso saber o motivo, senhor Lucchese?
— Porque esse decote está mostrando mais do que gostaria de
compartilhar, amore mio. Você sabe que não gosto que vejam o que é meu,
lembra-se? — Matteo arqueou a sobrancelha, tentando me intimidar, mas
levantei o queixo, a fim de mostrar que não mudaria o vestido por causa
disso.
Como imaginei, ele implicaria com isso e adorei ver seu ciúme exposto
por mim. Suas mãos tocaram minha cintura e uma delas subiu até meu
decote, contornando meus seios com extrema delicadeza, deixando minha
pele completamente arrepiada e repercutindo em minha intimidade.
— Então, aparentemente terá que ficar ao meu lado a noite inteira,
garanhão. Pois não tenho intenção de trocar esse vestido.
— Você está linda demais nele para trocar, não teria coragem de pedir
isso a você. Opto por ficar colado em você, não será nenhum sacrifício, afinal
de contas. — Ele deu de ombros, com um sorriso travesso no rosto e
aproximou seus lábios dos meus, tomando um beijo quente, exatamente como
me sentia desde que entrou em nosso quarto.
Nossas línguas duelavam com excitação, suas mãos colaram ainda mais
nossos corpos e nos perdemos por um tempo, até que para minha decepção,
Matteo finalizou com um selinho e deu um passo para trás, ainda me
encarando com as pupilas dilatadas.
— Queria fazer tanta coisa com você nesse momento, por que você tem
que ser tão difícil, carino?
Soltei um riso alto com o tamanho de seu desespero e mal sabia ele que
me sentia da mesma maneira.
— Se eu fosse fácil, talvez não teria a mesma graça, concorda?
— Você tem ideia de que nunca fiquei tanto tempo sem transar na
minha vida, desde que descobri o que era sexo? — indagou, com um olhar
fingindo compaixão, seu argumento conseguiu tirar uma gargalhada de mim.
— Tá vendo só como você é forte! Fico satisfeita em saber que não tá
morrendo por manter esse exagero de... você sabe dentro das calças. —
Fiquei ruborizada em tentar mencionar sua masculinidade, não era como se
nunca tivesse dito isso antes, mas por algum motivo, fiquei envergonhada em
sua frente.
— Tá com vergonha de dizer isso, principessa? Vamos lá, eu te ajudo.
Pau, repete! — sugeriu em tom lento, para continuar a me torturar e fiquei
ainda mais vermelha. — Pode ser pica, essa pica monstruosa que você tem,
diz para mim, vai? Ou piroca, espigão, mastro...
Gargalhei alto com a maneira que falava de si mesmo, negando com
minha cabeça enquanto secava uma pequena lágrima que caiu de meus olhos
de tanto que ri ao seu lado.
— Cala a boca, vai. Temos que ir, vamos nos atrasar — decretei,
tentando ser mais forte e não continuar o beijando.
Um sorriso terno decorava seu rosto e ele levou seus dedos até meu
rosto e me acariciou.
— Já vamos, mas antes, tenho uma coisa para você.
Arregalei os olhos, incrédula que esse homem realmente existisse.
— Como assim? Você já me deu esse colar lindo, não cansa de me
presentear? Vai me deixar mal-acostumada dessa maneira.
— Essa é a intenção, carino.
Ele retirou de dentro do smoking uma caixa de veludo preto, ela era
grande e pensei que era outro colar, pelo estilo da caixa, mas não fazia
sentido, afinal, ele já tinha me dado um naquele mesmo dia, ficaria muito
cafona se usasse os dois juntos.
Matteo colocou a minha frente e meus olhos não desgrudaram do que
segurava com a curiosidade me tomando por completo, então com uma mão
apoiando na parte debaixo, levantou a tampa de cima, com a caixa virada
para mim e dei um passo para trás, desacreditada com o que me mostrava.
Levei a mão até minha boca, que tinha se aberto com o espanto do
presente que recebi e olhei em direção de seus olhos, que brilhavam em
expectativa.
— N-nossa... — gaguejei, sem conseguir formar as palavras corretas. —
É linda.
Na caixa continha uma linda adaga de ouro branco, com o comprimento
de aproximadamente vinte centímetros, com uma lâmina de metal reluzentes
e curvada, seu cabo era ornamentado, com cristais de diamantes cravados
sobre ela, assim como a guarda protetora.
As palavras escaparam de meus lábios e fiquei sem saber o que dizer
com o gesto inesperado que recebi.
— É sua... não quer pegar e ver o que acha? Pedi para que não fosse
muito pesada, para facilitar o seu manuseio, caso não goste, posso pedir para
trocar, mas...
— Eu amei! — constatei, passando meus dedos em seu entorno com
cuidado, ainda não acreditando que me deu uma das coisas que mais
desejava.
Eu tinha a minha, que Leonardo tinha conseguido certa vez para mim,
mas era simples e nem tão afiada como gostaria, mas faria um belo estrago,
caso precisasse.
Mas essa era magnífica, linda e ainda tinha um elástico para prender na
minha perna caso quisesse.
— Como você sabia? — Forcei minhas palavras a saírem e tentar
entender o que o motivou a me dar isso.
— Que você deixava uma adaga debaixo de seu travesseiro? — Meus
olhos se arregalaram com suas palavras, não sabia que ele tinha
conhecimento do que fazia. — Relaxa, principessa. Sabia o motivo que a
guardava lá, você não me conhecia, não poderia te julgar por tentar se manter
protegida.
Engoli em seco, sem saber ao certo o que lhe dizer.
— Mas você nunca ficou com medo de que fizesse algo com ela
enquanto dormisse? — Pois eu ficaria pensando nisso se descobrisse que meu
marido dormia armado ao meu lado, ainda mais escondido.
— Era um risco. — Ele deu de ombros. — Mas algo me dizia que não
era para me matar que você a tinha, mas sim para se defender. Errei? —
Neguei com a cabeça. — Ótimo, agora temos que ir, não vai olhar seu
presente? Tô começando a achar que não gostou.
Balancei a cabeça, com um sorriso nervoso no rosto.
— Não é isso, eu adorei. Só fiquei surpresa por saber e por ter me dado
uma, não esperava essa atitude de você.
Seus dedos acariciaram meu rosto e levantou meu queixo para olhar em
meus olhos.
— Carino, eu quero que se sinta confortável, não só ao meu lado, mas
longe de mim também e se uma adaga te faz se sentir mais segura, por mim,
tudo bem. Esse seu jeito sempre arisco, essa sua necessidade de se defender
tem um motivo e espero que um dia confie em mim para se abrir, mas, por
enquanto, quero apenas que te apoiar na necessidade que tem de se defender
e o que puder te proporcionar para isso, eu o farei.
As lágrimas tomaram meus olhos com suas palavras e antes que
conseguisse pensar no que fazia, joguei meus braços em volta de seu pescoço
e o abracei forte. Por ele se preocupar comigo, por cuidar de mim e por não
tentar impedir que eu tivesse meu poder de escolha em saber me defender.
— Obrigada! Você não tem ideia do quanto isso foi importante para
mim — assumi, com algumas lágrimas escorrendo por meus olhos.
Assim que nos afastamos, Matteo me deixou um beijo carinhoso nos
lábios, retirou a adaga da caixa e colocou em minhas mãos.
— Então que tal já a usar hoje?
Meus olhos se espantaram com sua sugestão e engoli em seco pensando
se esse homem realmente existia.
— Tá falando sério?
— Claro! Por que te dei, afinal? Para ficar apenas debaixo do
travesseiro? Aqui você não corre perigo, amore mio. Então, por que não usar
no evento de hoje?
Abri um sorriso de orelha a orelha animada, olhei com atenção os
detalhes da adaga fenomenal que ganhei, levantei a fenda do meu vestido aos
olhos de Matteo e retirei a minha antiga adaga.
— Por que não pensei que você já iria armada, não é? — brincou, com
os olhos em puro desejo ao admirar minhas pernas e lancei uma piscadela em
sua direção.
— Não uso apenas debaixo do travesseiro, não é?
— Pois é... é o que parece. Vem, deixa que eu faço isso.
Ele se ajoelhou à minha frente e quando sua mão tocou em minha perna,
minha respiração ficou falha com o contato puramente sexual, enquanto
prendia o elástico firme em minha coxa e a adaga sobre ela.
— Nossa, você fica muito sexy com isso na coxa. — Ele lambeu seu
lábio, de maneira sensual, sem tirar os olhos de minha coxa, enquanto
passava os dedos em uma tortura alucinante. — Quando você parar de me
enrolar, vou querer te foder usando apenas isso entre nós dois.
E como a louca que era, suas palavras fizeram com que uma quentura
deliciosa percorresse meu corpo e encharcou minha calcinha, algo que
acontecia com cada vez mais frequência.
— Talvez eu queira isso — admiti, com um sorriso travesso no rosto,
olhando para meu marido ainda ajoelhado aos meus pés.
— Você é a mulher dos meus sonhos, principessa. — Matteo deixou
alguns beijos em minha coxa nua e não consegui evitar o pensamento que
passou por minha cabeça, após sua declaração.
Talvez você também seja o homem dos meus.
Uma batida à porta cortou o clima sexual que nos assolava e Matteo se
levantou, depois de arrumar o meu vestido.
— Entra! — autorizou.
Pietro entrou de uma vez e disse:
— Ufa! Vocês estão vestidos, dá para parar de namorar que temos que
ir, dona Sandra pediu para vir buscá-los.
— Estamos indo — disse, Matteo. — Quem dera realmente
estivéssemos pelados — lamentou em tom baixo, foi impossível não rir de
seu comentário enquanto seguíamos em direção ao corredor.

Tudo acontecia conforme o planejado no primeiro evento que organizei.


Depois de passar por um tapete vermelho que foi estendido até a entrada
do espaço, assim que o manobrista abriu a porta de nosso carro. Matteo saiu
primeiro e estendeu sua mão para que eu o acompanhasse. Vários flashes nos
fotografaram juntos e sabia que no dia seguinte, notícias sobre o grande
empresário Matteo Lucchese e sua esposa estariam estampadas nas capas da
revista.
Assim que adentrei ao local, conferi se tudo saiu conforme o planejado
e fiquei satisfeita com o que presenciei.
O salão ficava situado em uma vila antiga na Sicília com uma vista para
o mar mediterrâneo deslumbrante. Conforme entrávamos, éramos cativados
pela atmosfera calorosa e acolhedora. As paredes caiadas de branco eram
emolduradas por arcos elegantes, exibindo uma rica história arquitetônica. O
piso de mosaico de terracota acrescentava um toque autêntico à decoração,
lembrando a tradição e a cultura da Sicília.
O ponto focal do salão era um impressionante lustre de cristal pendente
do teto abobadado, espalhando uma luz suave e brilhante sobre o ambiente.
Mesas de jantar foram espalhadas pelo espaço, de maneira elegantemente
dispostas, e cobertas com toalhas de linho de alta qualidade, cada uma
adornada com arranjos florais delicados que incorporaram flores nativas da
Sicília, como laranjas e jasmim.
As cadeiras estofadas em tons neutros proporcionavam conforto aos
convidados, enquanto desfrutavam da experiência gastronômica excepcional
que a Sicília tinha a oferecer. Os pratos eram uma fusão de sabores
tradicionais e contemporâneos, com ingredientes frescos e locais que
destacavam a culinária rica e diversificada da região.
O palco à frente já se encontrava com alguns músicos tocando músicas
tradicionais da região e muitos convidados tinham chegado e pareciam à
vontade.
Tudo parecia correr melhor que o planejado e minha ansiedade tomava
conta de mim para saber como seriam as doações que começavam a acontecer
com o leilão no palco disposto.
A assessora contratada me informou que a maioria dos empresários
convidados compareceram e pareciam disputar quem doava mais. Todos os
fundos arrecadados seriam distribuídos entre alguns orfanatos que teria que
escolher, pelo que dona Sandra comentou, os Luccheses já faziam doações
mensais para alguns específicos e mesmo com os milhares investidos nesse
evento, recebi a informação de que meu marido fez também sua doação, não
poderia ter ficado mais surpresa e satisfeita com sua atitude nobre, que em
nada se parecia com a imagem que tinha dele há mais de um mês.
Encontrava-nos sentados observando algumas viagens que foram
leiloadas, ao mesmo tempo em que sentia a mão de meu marido caminhar de
maneira lenta e torturante pelo vão da fenda de meu vestido, senti minha pele
ficar completamente arrepiada, mesmo com o calor do local que nos assolava.
Pietro se encontrava distraído ao lado de meu marido, enquanto
conversava freneticamente com alguém pelo seu aparelho celular.
Queria retribuir o carinho de meu marido, mas me sentia travada, pois à
nossa frente, do outro lado da mesa, encontravam-se minha mãe e padrasto, e
isso por si só, já tirava qualquer liberdade que pudesse ter.
Não queria que percebessem o entrosamento interessante que eu e
Matteo passamos a ter, minha mãe começaria a desconfiar que não estivesse
fazendo a minha parte de seu plano e isso seria pior, pois não saberia o que
poderiam fazer para proteger os Lucchese.
Em que momento comecei a me preocupar com o que aconteceria com
eles que não percebi?
Tive que morder o sorriso que teimava em querer surgir em meu rosto e
segurei a mão de meu marido vez ou outra, receosa de que fôssemos
flagrados em algum instante.
— Mas como você é controlada, principessa — comentou, de maneira
sedutora ao pé de meu ouvido, não resisti em enfincar minhas unhas em sua
coxa. — Não faz isso, se não me apaixono ainda mais.
Olhei espantada em sua direção, devido às palavras que proferiram em
minha direção e engoli em seco, com a possibilidade que falasse sério.
Quando encontrei seu olhar que emanava carinho e devoção soube que em
nenhum momento brincou comigo.
— Não brinca com isso, Matteo — disse, sentindo meu coração
retumbar ainda mais forte em meu peito com a possibilidade de que fosse
verdade.
— Não estou brincando, amore mio.
Meu coração parecia prestes a explodir com seu comentário e quando
seus lábios se aproximaram dos meus, não impedi que deixasse um beijo
neles, mesmo que tivéssemos em público.
Ainda não tinha certeza do que realmente sentia, só percebia cada dia
mais que aquele ódio que um dia senti, aos poucos se transformava em outra
coisa que em nada se parecia com o sentimento que corroía meu peito.
Virei meu rosto para a frente quando notei a luz de flashes sobre nós e
me arrependi no mesmo instante, pois me deparei com o olhar afiado de
Federico sobre nós dois. O ódio exalava em seu rosto e senti um arrepio subir
minha espinha, fazendo com que tivesse que passar minha mão em meu braço
com o frio que me tomou.
Tentei desviar minha atenção para o restante do leilão, mas a todo
instante me recordava das palavras de Matteo sobre se apaixonar ainda mais
por mim e do olhar diabólico que Federico nos lançou.
Meu marido ficou mais contido depois de nossa conversa, como se
estivesse pensativo.
Será que ele esperava ouvir que também me apaixonei por ele? Talvez
sim, mas não poderia confirmar nada, afinal, não tinha certeza. Vitto brincou
com meus sentimentos e isso me destruiu, por mais que tivesse começado
odiando Matteo, não faria o mesmo com ele, pois isso se tornou passado e
não brincaria com seus sentimentos, pois sabia o quanto era ruim. Já bastava
tudo que carregava em meus ombros, não precisava piorar minha carga para o
inferno.
Assim que o leilão finalizou, comentei para meu marido.
— Preciso ir ao toalete. — Ele assentiu, enquanto olhava para um
homem que reconheci fazer parte da famiglia se aproximar.
— Certo, não demore. Estarei aqui com o senhor Marcondes.
Levantei-me e segui em direção ao toalete, sentindo minhas costas
queimarem com o olhar atento de meu padrasto e isso me irritou ainda mais.
Entrei no banheiro e depois de usá-lo, lavei minhas mãos e fiquei me
observando no espelho pensando em tudo que me aconteceu na última meia
hora, ainda perdida em meus sentimentos por Matteo e com a ameaça
silenciosa proferida pelo marido de minha mãe.
Molhei minha mão e umedeci minha nuca, meu desejo era jogar água
em meu rosto, mas minha ação deixaria claro a todos, pois estragaria minha
maquiagem. Ouvi o barulho da porta se abrir e uma mulher muito elegante
entrou, não me lembrava quem era, mas me parecia familiar. Ela não me
olhou com repulsa, mas parecia me avaliar de cima a baixo e isso disparou
meu sinal de alerta.
— Então, você é a famosa Chiara Caruso, aquela que conseguiu roubar
o coração do cobiçado Matteo Lucchese?
A mulher que tinha aproximadamente a minha idade, talvez um ou dois
anos a mais, retirou um batom de sua pequena bolsa de mão preta, assim
como seu vestido, e começou a retocar o batom intocado.
— Na verdade, sou Chiara Lucchese. — Levantei minha mão esquerda,
exibindo meu lindo anel de noivado, junto da enorme aliança de ouro branco
que decorava minha mão.
Ela olhou parecendo desacreditada com o que enxergava e balançou a
cabeça, como se estivesse em negação.
— Então, é verdade? — Apesar de ter me perguntado, pareceu que fez
para si mesma.
Não entendi seu comentário, afinal, saiu nas manchetes sobre o nosso
casamento, mesmo que nem todos os clãs da máfia tivessem sido convidados.
— Desculpe, não quis ser indelicada. — Continuou a dizer, enquanto
apenas a observava para tentar entender o que queria na realidade. — Apenas
não queria acreditar que realmente ele se casou e queria conhecer a mulher
que conseguiu conquistar o coração de gelo que tem no peito.
Suas palavras me incomodaram ainda mais e não pensei duas vezes em
defendê-lo.
— Acredito que não esteja falando do mesmo Matteo que eu, pois
coração de gelo está longe de ser o que ele tem. — Abri um sorriso irônico,
que ficou nas entrelinhas o que realmente quis dizer e ela assentiu,
visivelmente envergonhada.
— Fico feliz em saber disso, mostra que minha intuição em relação a
ele nunca esteve errada e que tinha escolhido bem a pessoa que queria como
meu marido.
Fiquei pasma por dizer na minha cara o quanto queria meu marido. Que
falta de amor-próprio essa mulher tinha para ficar pensando nos homens
alheios e que ainda eram comprometidos.
— Pois é, espero que avalie o próximo da mesma maneira,
considerando que Matteo não se encontra disponível.
Ela guardou seu batom, ainda incomodada e resolvi retocar meu batom
apenas para ver o que faria. A possibilidade de que já tivesse se envolvido
com meu marido começava a me incomodar e tentava conter a ira que se
espalhava por meu sangue, com a possibilidade de que ela o conhecesse
melhor do que eu.
— Sim, fique tranquila. Não tentarei me aproximar mais, agora que sei
que realmente se casou. Não nego que fiquei com muita raiva quando soube
que a minha chance foi tomada por alguém que ele mal se encontrava,
diferente de nossas famílias, que sempre estavam juntas.
Arqueei a sobrancelha surpresa com suas palavras, ainda mais curiosa
para descobrir mais a respeito.
— Desculpe, você é quem mesmo? Não me recordo de tê-la visto em
nosso casamento, considerando que são tão próximos assim. — Sim, fui
irônica, simplesmente era mais forte do que eu.
A raiva tomou seu rosto momentaneamente, mas não negava que ela era
bem mais controlada do que eu.
— Sou Elisa Moretti, Salvatore tinha conversado algumas vezes com
meu pai sobre arranjar um casamento entre nós dois, mas ele preferiu esperar
o tempo de Matteo, mas caso ele não tivesse escolhido ninguém até aquele
baile, eu seria sua esposa hoje.
Matteo, não senhor Lucchese. Realmente tinham intimidade.
— Uma pena para você que me escolheu, não é?
— Sim, uma pena — confirmou, empertigando sua postura. — Espero
que sejam felizes, senhora Lucchese.
Claro que não acreditei em suas palavras, mas fui tão irônica quanto ela.
— Obrigada, espero que encontre o homem certo na próxima vez.
Peguei minha bolsa e fui seguindo em direção à saída do banheiro, mas
suas próximas palavras fizeram com que parasse espantada com seu desafio.
— Eu sei que as chances de um Don se separar são quase nulas, como
levam os casamentos a sério. Mas se por algum motivo você errar e ele tomar
a decisão de se separar, saiba que estarei ali pronta para lhe dar todo o amor
que merece.
Um arrepio caminhou por toda a minha espinha, no entanto, não
demonstrei o medo de que estivesse certa e isso de fato acontecesse algum
dia.
Virei-me lentamente e olhei em seus olhos, com a mão na maçaneta
pronta para sair.
— Ainda bem que não vou errar, não é? Agora se me der licença,
preciso retornar para meu marido, ele está me devendo uma dança.
Pisquei em direção à abusada e saí, com suas palavras ainda martelando
em minha cabeça e com a mera possibilidade de que ela soubesse de alguma
coisa a meu respeito para ter me ameaçado de maneira tão descarada.

A maneira desdenhosa de que Elisa pareceu torcer para que cometesse


algo errado em meu casamento, não parava de me incomodar.
Como tinha dito, assim que voltei até nossa mesa e as músicas passaram
a ser mais lentas, meu marido me convidou para uma dança, que fiz questão
de aceitar.
Não aguentava mais os olhares horripilantes de Federico para cima de
mim e contava os minutos para que pudéssemos ir embora. Ficava me
perguntando se não tinha amor a sua vida, pois caso Matteo o pegasse com
aquele olhar em minha direção, achava difícil que conseguisse alguma
desculpa que o justificasse.
— Algo te incomoda, principessa? — perguntou Matteo, conduzindo
nossa dança com perfeição.
Talvez o fato de sua ex ou seja lá o que você teve com ela, ter dito na
minha cara que ainda o quer? Ou talvez seja a maneira maldosa que meu
digníssimo padrasto tem me observado. — Essas palavras vieram na porta da
língua para o responder, entretanto, optei apenas por:
— Não, só estou cansada.
Suas mãos acariciavam minhas costas e pareciam que apenas isso já
tinham o poder de acalmar um pouco a agitação em meu peito.
— Se quiser, podemos ir embora — sugeriu, cheirando meu pescoço
com malícia à frente de todos à nossa volta e não negava o quanto adorei seu
contato.
— Talvez seja uma boa ideia — respondi, com um sorriso no rosto
assim que a música finalizou. Mas meu sorriso morreu no mesmo instante,
quando percebi quem se aproximava por trás de meu marido.
— Poderia ter uma dança com minha filha? — Federico disse com
completa convicção e foi impossível impedir que meu corpo se enrijecesse no
mesmo instante.
Se Matteo percebeu, sinceramente não soube dizer. Ele se afastou a um
passo de distância, desgrudando nossos corpos e se virou de frente para meu
padrasto que aguardava uma resposta. Mas eu não sabia o que fazer, pois não
queria que ele sequer encostasse em meu braço, muito menos dançar.
O problema foi o olhar que me lançou quando Matteo se virou de frente
para mim, perguntando:
— Tudo bem para você, principessa?
Engoli em seco, algumas pessoas nos observavam. Caso eu negasse,
despertaria o alerta de Matteo, assim como entraria minha atitude mal-
educada com minha família na boca daqueles que prestavam atenção em
nossas ações. Além disso, recordei-me de que na última vez que não quis
conversar com minha mãe, eles armaram uma emboscada para Matteo e não
duvidava de que foi por minha causa. Eles começavam a desconfiar de
minhas atitudes, sentia isso no olhar que me lançavam, por esse motivo,
recuperei-me ao respirar fundo, empertiguei meu corpo como se me armasse
para um embate e apenas assenti, para tentar evitar o pior.
— Certo, te aguardarei para irmos embora. — Deixou um beijo casto
em meus lábios e perguntou baixo em meu ouvido: — Sua adaga está aí? —
Olhei espantada em sua direção, mas apenas assenti com sua insinuação de
que eu a usasse. — Ótimo!
Será que está desconfiado de que seja Federico quem me espancava?
Era o que me perguntava, quando senti aquelas mãos calejadas
encostarem na minha e outra em minha cintura. Tentei manter o máximo de
distância que fosse possível entre nós dois e apenas seu odor fazia com que a
bile me invadisse.
Como eu o odiava!
— Pensei que minha querida filha fosse me fazer outra desfeita —
comentou, com ironia, e fiquei em silêncio, afinal, não fazia questão de jogar
conversa fora. — Até que você leva jeito para organizar esses eventos, não
nego que pensei que seria um fiasco!
— Uau! Obrigada pelo grande elogio. — Soei irônica, assim como ele.
— Tava com saudade das suas patadas, ragazza. Ou melhor,
principessa — disse, essas últimas palavras próximas do meu ouvido e
precisei me conter para não afastar meu rosto e manter uma distância maior.
Sua provocação apenas aumentou minha raiva e respirei fundo, não
podia demonstrar que não gostei da maneira desdenhosa que imitou Matteo.
— Não posso dizer o mesmo, não senti nenhum pouco falta de sua
presença. — Fui sincera e direcionei um sorriso mais falso possível.
— Ah, Chiarinha, não vejo a hora de poder continuar o que começamos
há um tempo. — Meu corpo enrijeceu com a possibilidade que encostasse o
dedo em mim. — Agora não tem mais nada que nos impeça, não é?
— Já disse que te mato antes que isso aconteça! — frisei, com frieza em
meu tom de voz.
— Ah, ragazza, já disse o quanto gosto das rebeldes? Não deveria ficar
falando dessa maneira, apenas me atiça.
Pensei em mandá-lo calar a boca, mas isso apenas o incentivaria a
continuar com seu joguinho, por isso fiquei quieta, contando os segundos
para acabar de uma vez essa maledetta dança.
— Como está nosso plano? Sabe, ragazza, sua mãe está desconfiada de
que você está mais envolvida do que combinamos com aquele maledetto.
Disse a ela que você não seria tão tola de se apaixonar com o assassino de seu
pai, não é mesmo?
Engoli em seco, pensando em uma maneira de o responder que não me
comprometesse e de fato confirmassem suas suspeitas, afinal, ainda não
estava apaixonada por ele, não é? Claro que não. Só aprendi a não o odiar
tanto, talvez até gostasse um pouco.
Não faz isso, se não me apaixono ainda mais.
As palavras que Matteo me disse mais cedo voltaram a minha mente e
me recordei o quanto adorei ouvi-las e mexeram comigo. Mas isso não
significava que também me sentisse assim.
— Você está, Chiara? — Sua entonação subiu de tom e senti sua mão
apertar com força minha pele, como se quisesse me machucar e recuperei
meu torpor.
— Não ouse me machucar, seu desgraçado! — rosnei, segurando minha
mão para não o empurrar para longe de mim e fazer uma cena na frente de
todos.
— Então, me responde, porra! Porque se estiver se apaixonando por
aquele babaca, eu juro que vou te foder tanto, em todos os seus buracos
possíveis e depois que cansar de tanto te usar, vou te cortar em pedacinhos
pela sua traição, sua desgraçada.
De um lado eu era ameaçada a ser estuprada e picotada pela minha
traição, do outro lado, com meu marido no caso, era ameaçada de ser
queimada viva em praça pública se o traísse. Eu realmente estava fodida e
precisei conter o meu riso por puro desespero com a lástima que seria o meu
futuro.
— Chiara, seu silêncio tá me irritando...
— Não estou apaixonada, cazzo! — cortei-o. — Agora vê se me
esquece um pouco, já te disse que se tentar encostar esse negócio que tem no
meio das pernas em mim, eu te mato antes! Você nunca vai relar em mim,
seu desgraçado! — ralhei, já de saco cheio desse assunto.
Não sentia a mínima falta de ter que falar com esse merda.
— Eu espero que não esteja mesmo, pois se eu desconfiar que está
mentindo, a vingança não será apenas para os Lucchese, mas com você
também.
Um arrepio subiu em minha espinha e precisei esconder que o medo de
sua ameaça se estampasse em meu rosto.
Para o meu alívio, a música finalmente acabou e me afastei
abruptamente dele, sem me importar que pudessem perceber.
— Não precisa se preocupar, o plano segue conforme o planejado! —
menti e saí disparada em direção ao banheiro, tentando me recompor com
tudo que me fez ouvir.
Precisava dar um jeito na merda da minha vida. Necessitava de um
plano para salvar a minha vida, a de Matteo e sua família, mas não tinha a
mínima ideia do que fazer. Caso lhe contasse, ele me mataria por ter se
casado com uma traidora.
Dio mio, eu me sentia tão perdida! Por que tudo tinha que ser tão difícil
nessa merda de vida que eu tinha?
Continuei andando rápido em direção ao banheiro, sabendo que meus
seguranças deviam ter me seguido pela maneira com que saí da pista de
dança, mas não me importei, apenas precisava de um minuto sozinha.
As lágrimas pareciam se acumular em meus olhos, com a mera
possibilidade de perder Matteo, ao descobrir que fui obrigada a participar. Ele
não entenderia que fui obrigada e que meu ódio por ele mudou. Meu marido
era um mafioso, estava acostumado a lidar com esse tipo de pessoas e a
traição vir de sua esposa, faria com que perdesse a confiança em todos que
um dia confiou. Isso o destruiria e ele fazia tanto por mim, como poderia
fazer isso com ele? Como poderia o livrar das emboscadas de Federico se
nem eu sabia o que tramavam nos últimos tempos?
Bati forte em alguém corpulento e alto, afastei-me para pedir desculpas
e quando levantei meu olhar, a incredulidade me atingiu.
Mas que merda de noite era essa?
— O que você tá fazendo aqui? — grunhi, já sem a mínima paciência.
Vitto Gambino abriu aquele sorriso que um dia pensei ter amado em
minha direção, mas seu sorriso morreu ao notar minha reação, que nada
parecia com o que já foi um dia.
— Tentei uma brecha a noite inteira para me aproximar e conversarmos,
mas seu maridinho — se referiu a Matteo de maneira desdenhosa —, não saiu
de perto de você em nenhum minuto.
— Diferente de sua noiva, não é? Cadê ela, não estou enxergando ao
seu lado. Mas quer saber, não me importa, agora me dê licença que não tenho
mais nada para falar com você!
Fui tentar sair de perto, mas ele foi para o lado me encurralando e
respirei fundo para não fazer uma cena. Parecia que as pessoas me seguiam
com o olhar, principalmente Elisa, que a poucos metros notei me observar,
como se esperasse um passo errado para abocanhar meu marido. Pelo canto
dos olhos notei Mattia se aproximar pronto para me defender, mas levantei a
mão de maneira discreta para não o fazer, afinal, tinha tudo sob controle.
— Ela está na mesa da família, que foi convidada para vir, fiquei
magoado que a mulher de Matteo Lucchese não me convidou para um evento
tão prestimoso, só se esqueceu de não convidar a família dela, não é, carino?
Merda, realmente nem me atentei que era a família dela, do contrário,
não teria convidado de fato.
— Não me chame assim! — Cocei minha sobrancelha, incomodada em
estar diante de sua presença. — O que você quer, afinal, Vitto? Tenho coisas
a se fazer e você não está envolvido em nenhuma delas.
— Queria conversar, explicar o que aconteceu, não tive oportunidade,
quando tentei te ligar você não me atendeu e ainda me bloqueou.
— Exatamente, continua bloqueado por sinal. Continuo sem interesse
em saber por que resolveu se casar sem nem sequer me falar. Enfim, não
estou interessada, agora quem está casada sou eu e muito bem casada! —
admiti, sem um pingo de remorso, quando engoliu em seco com meu
comentário, sendo visível sua insatisfação.
— Algum problema, principessa? — Aquela voz que mexia com meu
corpo rosnou de maneira irritada e me virei rapidamente em sua direção.
Será que Matteo sabia quem era o Vitto em minha vida? Não era
possível que soubesse.
— Matteo Lucchese! — Meu marido estendeu a mão em direção de
Vitto para o cumprimentar e quando ele aceitou, com irritabilidade, percebi
que fez uma careta e soltou sua mão massageando seus dedos, precisei conter
o riso diante a situação.
Maridinho ciumento!
— Vitto Gambino!
Senti a mão de meu marido apoiar em minha cintura, com
possessividade e me senti mais segura em seus braços.
— Já sei quem você é — comentou, sem demonstrar nenhuma
satisfação em o conhecer e algo me disse que sim, ele sabia quem meu ex-
namorado era. Engoli em seco com medo de que pensasse o pior de mim, que
tivesse o procurado e ainda o convidado. — Não estou enxergando sua noiva,
não sabia que tinham sido convidados.
— Está na mesa de sua família, eles foram convidados, vim como seu
acompanhante.
— Ótimo, ela deve estar à sua procura, não é? — Ele olhou em minha
direção e enxerguei que controlava sua ira, fiquei receosa com o que me
aguardaria quando ficássemos sozinhos. — Vamos embora, principessa?
Assenti, sem nem olhar em direção de Vitto e nem me importei mais de
ir ao banheiro, tanta coisa aconteceu depois de Federico que precisaria muito
mais do que uma água na nuca para me recompor.
O caminho inteiro, voltamos em completo silêncio. Aquele clima
ameno que nos rodeava se esvaiu por inteiro.
Matteo parecia irritado e perdido em pensamentos, parecia que tinha se
afastado de mim para que pudesse controlar sua raiva, fiquei grata por ter
esse autocontrole.
Já eu, remoía tudo que me aconteceu durante essa noite. A afronta de
Elisa e sua promessa de que ainda tinha esperanças de ter meu marido. A
ameaça de Federico e as coisas nojentas que gostaria de fazer comigo, para
piorar a aproximação de Vitto.
A única vantagem em nosso encontro, foi ter percebido que não sentia
mais nada por ele, pois em nenhum momento meu coração disparou, nem
senti qualquer indício de que ainda o queria. Aquela sensação que meu
marido causava em mim, nem chegou perto de acontecer com a aproximação
de meu ex-namorado e isso foi muito bom para perceber o quanto o superei.
No entanto, o que mais me incomodava no momento não eram todas as
coisas que me aconteceram há algumas horas e sim o silêncio indigesto que
Matteo me dava. Ele não me provocava, não me abraçou, nem sequer tocou
em minhas mãos e isso me deixava agoniada.
Não conseguia mais negar como me acostumei com sua presença. Isso
eu já tinha percebido, mas só nesse instante, com o gelo que me dava, percebi
o quanto precisava dele comigo e isso era surpreendente para mim.
Isso, somado ao medo de que realmente Elisa conseguisse conquistar
sua confiança, caso Matteo descobrisse a verdade, não parava de me
atormentar.
Além disso, precisava saber quem ela foi em sua vida, pois parecia ter
sido muito mais do que apenas uma pretendente.
Continuei me remoendo, tentando encontrar uma brecha para puxar
conversa com Matteo o restante do caminho, mas sua cara enfezada
espantava qualquer tentativa.
Assim que chegamos à mansão, subi para nosso quarto e Matteo me
acompanhou, ainda em silêncio.
Retirei as sandálias e a adaga de minha perna, enquanto observava pelo
canto dos olhos ele se servir de uma dose de uísque com duas pedras de gelo.
Cansei de continuar esperando que nosso clima melhorasse e perguntei
de uma vez, em tom direto e ríspido:
— O que você teve com Elisa Moretti?
Seu rosto se voltou para mim com um arquear de sobrancelha e sorveu
um gole de sua bebida com uma calma que me irritava ainda mais.
— Nada que deva se preocupar.
— Não foi o que pareceu, considerando a esperança que ela ainda tem
em se casar com você — soltei, logo de uma vez, queria ver sua reação e se
gostaria de ter conhecimento disso, porém, um riso irônico saiu de seus
lábios.
— Ela só não deve ter percebido que já me casei, não é?
— Ela pareceu bem ciente dessa informação e, mesmo assim, continua
disposta a te ter, caso eu falhe com você! — admiti, ainda irritada com a
possibilidade de ela estar certa.
— E você vai falhar, amore mio?
Aproximou-se devagar, exalando sua confiança enquanto me analisava.
— Não pretendo. — E era uma verdade, pois minha intenção era tentar
bolar algum plano que pudesse o livrar dessa maldita vingança e se tudo
desse certo, nunca descobriria no que me envolvi.
— Então, não há o que temer, concorda? — Ele estava a apenas poucos
centímetros de distância e parecia me avaliar. — Mas vou deixar claro uma
coisa a você, já que entrou nesse assunto. Tenho sido muito paciente,
considerando tudo que já passou, mas não vou admitir ficar casado com uma
mulher que ainda é apaixonada por outro.
Olhei confusa em sua direção, desacreditada que realmente soubesse
sobre meu passado com Vitto.
— Não estou apaixonada por Vitto, se é o que está sugerindo —
defendi-me. — C-como você soube? — indaguei, de maneira insegura.
— Eu sei de tudo, carino. — Estremeci com seu comentário e o medo
me atingiu em cheio. — Fazemos uma pesquisa minuciosa sobre os passos de
cada pessoa que se aproxima de nós, com você não foi diferente. — Ele deu
de ombros, como se não fosse nada de mais.
Engoli em seco, confusa com seu comentário.
— Mas não vou admitir que minha esposa fique convidando seu ex-
namorado para um evento, para ter uma oportunidade de revê-lo, então se
você tem um pingo de amor a sua vida, acho melhor que conte de uma vez se
sente ainda alguma coisa por aquele moleque, porque não vou admitir ficar
casado com alguém que pensa em outro enquanto tá comigo!
— Claro que não sinto mais nada! — disse com convicção. — Não me
atentei de ter convidado a família da noiva dele, nem sequer lembrei quem ela
era. Mas se soubesse que tinha uma pretendente tão determinada a ficar com
você, não teria convidado os Moretti também — admiti, para a minha própria
surpresa.
Ele deu um passo à frente e pude sentir seu hálito roçar minha pele.
— Se continuar agindo dessa maneira, vou pensar que tá com ciúme,
principessa.
Não podia negar a mim mesma que me sentia completamente
enciumada, no entanto, não admiti para ele em palavras claras, mas ele já
sabia, só queria ouvir com todas as letras.
Sua mão subiu devagar até meu rosto e me acariciou lentamente.
— Não precisa se preocupar com Elisa, amore mio. Quando tive
oportunidade de me casar com ela, não me casei, por que me casaria depois?
Não tem motivos para ciúme, considerando que sou completamente seu, só
você não percebeu isso ainda.
Meu coração disparou completamente e as palavras que eu também era
dele, vieram na ponta de minha língua, mas as segurei, ainda insegura do que
sentia.
— Nem você precisa se preocupar com Vitto, o que tive por ele foi
apenas uma paixonite de adolescente, mas hoje apenas tive certeza de que
não sinto mais nada.
Minhas palavras pareciam ter o agradado, mas senti que esperava um
pouco mais.
No entanto, nada disse, Matteo tomou meus lábios num rompante, como
se precisasse de contato o mais próximo possível para dissipar essa tensão
que nos acometia.
Entreguei-me em um beijo cheio de desejos, nossas línguas dançavam
em uma sintonia perfeita, o fogo nos tomava por completo.
Suas mãos alcançaram minha perna e, em seguida, me levaram em seu
colo em direção à nossa cama e me deitou, ficando por cima de mim, sem
desgrudar nossos lábios.
Senti a maciez de sua boca beijar meu pescoço e o ar faltou em meus
pulmões, o que me fez ficar ofegante. Ansiava por cada vez mais e não
aguentava a tortura deliciosa que intercalava entre beijar minha boca e meu
corpo.
Puxei seu rosto para o meu e o segurei entre minhas mãos, olhei seus
lábios inchados por causa de nossos beijos, seus olhos acinzentados tinham
apenas uma fina risca, por causa de suas pupilas dilatadas que me encaravam
em completo êxtase e meu coração retumbou prestes a explodir com tudo que
esse homem me fazia sentir.
Eu o queria, irremediavelmente precisava dele para mim, por completo,
por isso fiz o que em um dia jurei não fazer.
— Me faça sua! — pedi, rouca, não reconhecendo meu próprio tom de
voz. — Eu quero ser sua, Matt.
Um sorriso sincero, mas repleto de malícia surgiu em seus lábios, seus
olhos brilharam em expectativa por finalmente ter cedido e me entregado ao
que realmente queria e não precisei dizer mais nada.
— Você não tem ideia do quanto sonhei com o dia que pediria por isso,
amore mio.
Ele voltou a tomar meus lábios em um beijo mais quente do que da
primeira vez, mas dessa vez apreciava cada detalhe que nos tomava.
— Você tem certeza de que está pronta para isso? — indagou, assim
que afastou nossos lábios e assenti com um sorriso sincero no rosto.
— Nunca tive tanta certeza, amore.
Seus olhos brilharam ainda mais ao ouvir a maneira carinhosa com que
o tratei.
— Dio, você ainda vai acabar comigo. — Não tive oportunidade de
dizer mais nada, como colou nossos lábios com tanta vontade, até me esqueci
de qualquer outra coisa que passou pela minha cabeça.
Matteo soltou meus lábios e senti sua barba roçar em minha jugular,
atrás da minha orelha e nunca imaginei que seria tão excitante o que fazia
com ela. Ele intercalava entre alguns beijos, mordidas leves, assim como me
torturava com a sensação de sua barba em minha pele.
Ele perpassou de maneira lenta por meu colo, deixando alguns beijos ao
redor de meu decote.
— Esses peitos me enlouquecem. — Suas palavras eram afrodisíacas
para mim.
Suas mãos alcançaram meus seios e os massagearam por cima do
vestido, enquanto deixava uma mordida em meu bico intumescido por cima
do tecido. A sensação foi tão deliciosa que afetou diretamente minha
intimidade e não resisti em remexer meu quadril em expectativa com o que
faria comigo.
— Você gosta deste vestido? — indagou, com sua voz rouca.
Quem se importa com vestido nesse momento? Pensei em falar.
— Aham... — consegui responder forçando meu cérebro a raciocinar.
— Que pena...
Não entendi seu comentário ainda atordoada com o que fazia em meus
seios e quando pensei em perguntar, ele levantou seu corpo, segurou o tecido
que escondia meus peitos e puxou em lado contrário, abrindo seus braços e
consequentemente dividindo meu lindo vestido em dois.
Arregalei os olhos, desacreditada em como o rasgou num piscar de
olhos e isso me excitou ainda mais, algo que pensei não ser possível.
— Você é louco... — soltei, ainda pasma, e enxerguei seu olhar
inebriante sobre meu corpo, mordi o canto de meus lábios ansiosa para o que
faria comigo. — Gostava desse vestido. — Tentei falar, sentindo seus lábios
desenharem o contorno de meus seios nus, como não usava nenhum sutiã.
Soltei um gemido quando os mordiscou e os chupou na sequência.
— Compro outros dez, se quiser.
Dane-se o vestido, só quero que continue o que está fazendo.
— Presunçoso... — provoquei, enquanto puxava seus cabelos com o
tesão tomando conta de mim.
Seus dedos contornaram uma marca de nascença que tinha abaixo de
um de meus seios e um sorriso de apreciação surgiu em seu rosto, ele foi até
ela e a beijou de uma maneira que nunca mais a olharia do mesmo jeito, de
tão sensual que foi.
Seus dedos alcançaram minha calcinha, levantei meu quadril para
ajudá-lo a retirar. Mas a maneira maliciosa que me olhou mostrou o que
realmente faria. Num rompante rasgou o pedaço de pano que cobria minha
intimidade.
— Nunca vou me cansar de ver essa bocetinha gostosa. — Seus dedos
passaram lentamente em minha vulva e remexi meu quadril em sua direção,
soltando um gemido enlouquecida. — Parece tão apertadinha. — Seu polegar
circulou algum ponto sensível naquela região que era uma delícia e apenas
aumentava minha ânsia em ter mais do que fazia comigo.
— Isso é tão bom! — Desde que começamos a nos acariciar
intimamente, Matteo fazia com que eu gozasse todos os dias, tinha a
impressão de que essas sensações que me proporcionava se tornavam como
um vício.
Ainda atordoada com o que seu dedo fazia lá embaixo, senti quando
seus lábios e língua começaram a me dar cada vez mais prazer ao me chupar,
beijar, mordiscar e penetrar.
Meu quadril involuntariamente ia cada vez mais em direção à sua boca
e me sentia alucinada com tudo o que esse homem me fazia sentir.
Aquela sensação que meu corpo já reconhecia, começou a se avolumar
em meu baixo-ventre e soube que não aguentaria mais. Gemia cada vez mais
alto, puxava seu cabelo entre meus dedos, pois precisava pegar em alguma
coisa nele e adorava a sensação de tê-lo em minhas mãos.
Ele aumentou o ritmo e poucos minutos da melhor tortura que poderia
receber, explodi em sua boca com um orgasmo intenso que me deixou
completamente mole.
Minha respiração se encontrava ofegante, tentava me recuperar do que
acabou de fazer, quando senti seu corpo sobre o meu e tomou minha boca em
um beijo repleto de sentimentos. Ele era lento e tão bom que poderia fazer
isso a noite toda.
Minhas mãos foram até seu peitoral e percebi que enquanto me
recuperava do orgasmo fenomenal que me proporcionou, ele já se despiu e a
prova disso, foi sentir a cabeça de seu pau roçando em minha vulva e como
se não tivesse acabado de gozar, senti uma sensibilidade que almejava por
mais.
Não imaginava que ainda o queria com tanto afinco depois de ter
gozado.
— Você sabe que vai doer um pouco, não é? — perguntou com
cuidado, entre um beijo e outro.
Balancei a cabeça afirmando que tinha conhecimento. Se ele soubesse o
que já passei, saberia que dor era o de menos.
Mas não queria levar meus pensamentos para isso nesse momento,
queria apenas do remédio que parecia curar minhas feridas cada vez mais e
esse remédio me torturava com seu pau imenso, ao acariciar em meu clitóris.
Não negava que me sentia um pouco apreensiva com a dor que me faria
sentir, considerando o tamanho de seu monumento. Poderia ser virgem, mas
não era tão inexperiente assim, infelizmente fui obrigada a perdê-la antes da
hora, por isso, sabia que Matteo, com certeza, foi agraciado por Dio quando o
fez.
Matteo tinha um pau grande, que combinava com ele. Era grosso que
mal permitia que minha mão fechasse ao seu redor, sua cabeça não tinha
aquela pele que o cobria, nem era reta, parecia maior que o resto e isso me
assustou a primeira vez que o vi, pois só em pensar no que faria comigo e se
de fato não me machucaria, me deixava pensativa. Mas eu o queria tanto
nesse instante, que deixei os pensamentos de lado, pois duvidava que fosse
me machucar mais do que já fui em muitos momentos, além do mais, se ele
me fizesse sentir algo parecido com o que fazia com a boca, para mim já
valeria a pena pelo que passaria.
Pensando nisso, alcancei suas nádegas firmes e puxei em minha direção,
ouvindo um riso repleto de malícia sair de seus lábios.
— Tá com pressa, principessa?
— Quero você, quero sentir você por completo — admiti, ofegante com
a tortura que me fazia.
— E você vai ter. — Ele acariciou meu rosto e deixou um beijo casto no
lóbulo de minha orelha. — Se você não aguentar, você me fala que eu paro,
não precisamos fazer hoje, podemos tentar outro di...
— Faremos hoje! — cortei-o, decidida, e isso apenas incentivou para
que me beijasse mostrando o quanto me queria e retribui com o mesmo
desejo avassalador que me consumia.
Senti sua masculinidade se encaixar entre minhas pernas e entrar com
cuidado. Sua mão circulava o bico de meu seio, me deixando inebriada,
enquanto seus lábios não soltavam os meus em nenhum momento.
Ele não tinha nenhuma dificuldade em entrar em mim e quando seu pau
parou com uma barreira impedindo de continuar, senti uma dor me
incomodar, mas meu desejo ainda era maior. Matteo levou seu polegar até
meu clitóris e o massageou, comecei a gemer com aquela sensação deliciosa
que me tomava e esqueci da dor que me incomodava antes.
Quando outro orgasmo começava a se aproximar, Matt rasgou meu
hímen de uma vez, fazendo com que arqueasse meu corpo com a dor que
senti.
— Desculpe, amore mio. Já vai passar...
Seu lábio voltou a me beijar, tentando me distrair da dor, que era ter seu
membro em meu interior, e quando percebeu que voltei a me contorcer
agoniada por mais, voltou a se movimentar de maneira lenta, para que fosse
me acostumando com a sensação estranha de tê-lo.
Sua boca desceu de novo até meu seio e o chupou, me levando ao
êxtase e, aos poucos, aquela sensação prazerosa foi tomando conta de mim.
— Dio! Você é tão apertada, que não vou durar nada desse jeito —
assumiu, inebriado enquanto gemíamos cada vez mais. — Você me
enlouquece, amore mio.
— Você também faz o mesmo comigo. — Consegui dizer, ofegante
entre um gemido e outro.
Conforme Matt percebeu que me acostumei com o que fazia, passou a
aumentar o ritmo e fiquei completamente atordoada com o que me fazia
sentir.
Soltava palavras incoerentes, meu suor escorria por meu rosto.
— Olha para mim, carino. — Abri os olhos que nem percebi ter
fechado e olhei aqueles olhos acinzentados que amava cada vez mais —
Quero ver você gozar com meu pau olhando pra mim.
Como se meu corpo obedecesse ao que me pediu, aquela sensação em
meu ventre voltou a surgir com muito mais intensidade do que da última vez,
comecei a gemer alto, notando um sorriso devasso no rosto de Matt, enquanto
metia mais rápido e mais intenso. Depois de mais duas estocadas, foi o meu
fim e explodi em outro orgasmo ainda melhor do que o primeiro.
Matteo continuou afundando seu membro em mim e depois de poucas
estocadas, começou a gemer fora de si.
— Porra! — grunhiu enquanto ainda se remexia até que todos nossos
espasmos se acabassem e quando parou, sua língua invadiu minha boca,
como se exigisse mais um beijo, o que não neguei mesmo exausta.
Assim que terminou deitou seu corpo ao meu lado, suado, exausto.
Olhamo-nos um em direção do outro e sorrimos.
— Acho que agora entendi por que as pessoas gostam tanto disso —
brinquei, ainda atordoada com todas as sensações que senti nessa última hora.
— Falei que tinha muito mais do que tava te dando — provocou com
aquele sorriso zombeteiro, então revirei os olhos.
— Tão presunçoso... — cantarolei, com um sorriso de orelha a orelha.
— Mas bem que você gosta, admite?
Depois de tudo que passamos nesse dia, com o ciúme descomunal que
senti com a possibilidade de ele ter se envolvido com aquela garota, não tinha
por que continuar negando para ele o que de fato sentia. Por isso, sorri e
balancei a cabeça, confirmando seu comentário.
— Sim, eu gosto muito.
Talvez goste mais do que quero assumir para mim mesma, mas um
passo de cada vez.
— Não acredito que estamos indo à boate com o mandante da porra
toda! — comemorou Giana, com uns gritinhos que faltaram perfurar os meus
tímpanos, depois de ter pegado sua bolsa de mão para sairmos de seu quarto.
Não resisti e apenas dei risada, enquanto seguíamos em direção à
entrada de sua casa.
Seus pais não queriam deixar que ela fosse, mas como foi a meu pedido,
a esposa de Don Matteo, eles cederam, mas fizeram a prometer que se
comportaria, afinal, minha amiga era comprometida.
Minha amiga revirou os olhos assim que saiu com o semblante bem
mais desanimado do que quando cheguei, enquanto seguíamos em direção ao
carro luxuoso que nos aguardava na entrada de sua casa.
Matt nos esperava lá dentro junto de Marco, que dirigia o veículo, eu
vim buscar minha amiga porque ela disse estar com vergonha de meu marido,
algo que parecia surreal, considerando que timidez não parecia fazer parte de
suas características.
— Não fique assim. — Apertei suas mãos em solidariedade. — Talvez
ele não seja tão ruim quanto você pensa.
Ela me olhou com um arquear irônico de sobrancelhas e disse, pasma,
para me relembrar de um detalhe importante:
— Ele tem sessenta anos, Chichi.
Fiquei sem saber o que falar, quando meu marido lindíssimo saiu do
carro em que estava para entrarmos, com Leonardo na parte de fora do carro
de trás e Marco junto de meu marido, assim como Carlo, um leve sorriso
surgiu em meus lábios.
Já imaginava que meu primo nos acompanharia, como começou a
trabalhar diretamente com meu marido desde aquele dia no treinamento que
ele o chamou para conversar. Não chamei minha amiga por isso, mas sabia
que isso a animaria a ir. O rosto ruborizado que ficou assim que colocou seus
olhos nele apenas comprovaram os meus pensamentos.
— Talvez eu consiga te ajudar com isso. — Tinha que aproveitar as
regalias de ser casada com Don e as coisas que antes pareciam surreais,
passaram a ser possíveis, então, quem sabe encontrar um marido menos
horripilante para Giana também fosse possível.
Seus olhos brilharam em expectativa, mas não consegui mais me
concentrar em nada assim que os olhares promíscuos de meu marido
desceram por meu corpo e um sorriso de canto surgiu em seus lábios.
Como se meu corpo estivesse em brasa, senti um calor descomunal se
apoderar de mim, com a mera lembrança das noites quentes que vínhamos
tendo essa semana, desde que deixei minhas barreiras caírem de uma vez e
me entreguei a ele.
Em alguns momentos, ainda me sentia incomodada por ele ser quem era
e por ter feito o que fez, mas isso parecia me afetar cada vez menos, ainda
mais quando nos encontrávamos dentro de quatro paredes. E quando percebia
que acontecia isso, me sentia ainda pior, pois como uma filha poderia
esquecer de vingar o seu pai?
Talvez eu merecesse tudo o que Matt faria comigo quando descobrisse
do que escondi dele e o quanto isso o prejudicou.
Balancei a cabeça, pois não queria pensar nisso nesse instante.
— Como vai, Giana? — Matt a cumprimentou e seu sorriso só faltou
rasgar o rosto, mas sabia que era apenas pela beleza exorbitante que ele tinha,
mas que ela nunca se interessaria em roubar o meu marido, como outras
mulheres o faziam.
— Vou muito bem, senhor Lucchese. Obrigada pelo convite e carona.
Ele assentiu e puxou minha cintura, colando nosso corpo, senti os
compassos de meu coração dispararem freneticamente com o mísero toque,
ele mordiscou meu lábio inferior e minhas pernas amoleceram, sem me
importar com a cena romântica ou erótica que dávamos para a minha amiga e
seus seguranças.
Sempre que sentia seu corpo colado ao meu, uma sensação diferente se
apoderava de mim, uma dorzinha incômoda que nunca senti até então parecia
dominar meu coração. Ela era quente, única e deliciosamente dolorida.
E a frustração me golpeou assim que Matt se afastou e me empurrou de
leve para que entrasse no carro, logo atrás de Giana, que já se encontrava
sentada. Odiava aquela sensação que beijá-lo me fazia sentir. Mas era
exatamente assim que me sentia todos os dias, uma ânsia incontrolável para
que me beijasse a todo instante.
Marco se apossou do banco do motorista e Carlo seguiu para o carro de
trás, junto de Leonardo e mais dois seguranças.
Seguimos em direção à boate e minha ansiedade começava a aumentar
conforme nos aproximávamos.
Quando Matt me convidou no dia anterior para ir com ele, fiquei um
tanto surpresa, mas muito animada. Ele disse que precisava seguir até lá para
resolver algumas questões com o gerente responsável pelo estabelecimento,
mas poderíamos aproveitar a oportunidade para curtirmos a noite juntos.
Óbvio que não pensei duas vezes em aceitar, dessa vez não precisaria ir
escondida e ainda estaria na companhia de meu marido, daquele que me
sentia cada vez mais apegada.
Não negava que isso sempre me incomodava, nas vezes que chegava
tarde e não era nada que fazia no calabouço, imaginava que fosse lá na boate
que se encontrava e só em pensar no que poderia fazer, nas mulheres
praticamente nuas que me lembrava de dançarem naqueles poles dance
estarem à sua disposição, ficava um tanto irritada. Ainda mais porque na
época eu não fazia nada com ele, mas também não aceitava admitir tais
sensações dentro de mim. Para mim era inaceitável.
Mas a partir do momento em que cansei de lutar contra meus
sentimentos e assumi que Matt era a pessoa certa para mim, mesmo que
tivesse começado em circunstâncias escusas, me entreguei a ele, não deixaria
margem para que procurasse fora de casa considerando o que tinha dentro de
casa. Mas não era por isso, que doía menos a mera possibilidade de ele ter me
traído em alguns momentos pela necessidade de sua carne.
Respirei fundo, sentindo suas mãos acariciarem meu braço desnudo,
olhei em seus olhos e fiquei presa naquele abismo prateado que era seu olhar,
então esqueci no mesmo instante toda a insegurança que me tomava segundos
atrás.
Assim que chegamos, Marco organizou nossa passagem pela parte de
trás, para não ser necessário passarmos pela aglomeração da entrada que se
encontrava cada vez mais cheia, e seguimos direto para um elevador que dava
na área reservada em que o vi pela primeira vez, enquanto dançava, também
possibilitava subir para outros dois andares pelo que Matt me explicou certa
vez, que apenas ele e sua equipe de segurança tinham acesso.
Uma eu sabia que se tratava de seu escritório no último andar, mas
minha curiosidade não era para ela e sim para o outro andar, naquele que ele
não me falou do que se tratava e meu sexto sentido dizia que não gostaria
nada de saber do que era.
Ele nos deixou na área reservada e, em seguida, um barman veio nos
atender e anotou nossos pedidos. Havia alguns puffs, como também sofás
confortáveis brancos espalhados pelo grande espaço, uma varanda imensa
que era possível ir até lá para fumar e ainda tinha como enxergar tudo que
acontecia por ali na boate inteira. Era simplesmente magnífico e fiquei
estupefata com a visão que nos dava.
Giana remexia seu corpo de um lado para o outro, de maneira ainda
contida ao meu lado, enquanto tomava sua saquerita, olhando de esguelha a
todo instante em direção ao Leonardo, que se mantinha sério, prestando
atenção ao nosso redor.
Matteo me abraçava por trás, sentindo seu corpo colado ao meu,
enquanto seu nariz me torturava resvalando em meu pescoço.
As dançarinas que não tinham nada além de uma máscara em seu rosto
e uma calcinha fio dental que não passava de um enfeite, dançavam
espalhadas pelo salão enorme e fiquei ainda mais incomodada com o fato de
meu marido ver isso e não resisti em o alfinetar.
— Bela visão, não é?
Olhei por cima de meu ombro e notei um sorriso presunçoso desenhar
seus lábios.
— Não é melhor do que a visão de ter você aqui, principessa! —
Cachorro! Ele entendeu muito bem do que falei.
Virei-me de frente, não conseguindo conter a minha língua.
— Mas não estou com você todas as vezes em que vêm aqui. — Forcei
um sorriso no rosto, o safado mordiscou meu lábio inferior e desceu sua mão
da minha cintura até a minha coxa, incendiando meu corpo inteiro.
— Nem eu costumo vir!
Olhei intrigada, tentando me concentrar em descobrir se falava a
verdade, ao invés de ser distraída com o caminho que sua mão levava.
— Ah, conta outra...
— Quer que eu minta, amore mio?
— Não, quero que me fale quantas vezes veio aqui desde que estamos
juntos, e juntos digo, noivos.
— Está com ciúme, carino?
Sim e odiava ter que admitir isso. Mas não o faria para você, amore
mio.
— Apenas curiosa — menti, descaradamente e o maledetto riu alto,
jogando a cabeça para trás, enquanto colava ainda mais o nosso corpo.
— Adorei saber que está curiosa, principessa. Isso elevou meu ego nas
alturas. — Respirei fundo, tentando controlar minha língua e não o mandar se
foder. — Mas você sabe que não precisa se preocupar, não é? Só tenho olhos
e pensamentos para você, minha linda!
Suas palavras acalmaram um pouco o meu coração, mas notei que ainda
não me respondeu.
— Quantas vezes, senhor Lucchese? — indaguei, de maneira séria,
enquanto o encarava.
— Duas vezes. Mas ambas foram a trabalho e nada mais.
Quando fui questionar se não tinha dado uma passadinha aqui para
apreciar a vista, ele me calou com um beijo e pediu passagem entre meus
lábios com sua língua. Senti meu corpo se derreter entre seus braços e aquela
dorzinha incômoda em meu peito se apossou ainda mais de mim.
Era sempre assim e Matteo parecia ter percebido, todas as vezes que me
tomava para si, me tirava de órbita e simplesmente me esquecia de tudo e
todos ao meu redor, esse era o tamanho do domínio que esse homem
começava a ter sobre mim.
Meus braços enlaçaram seu pescoço e não resisti a levar meus dedos até
seus cabelos, para o desalinhar como tanto amava.
Senti sua mão direita, que se encontrava escondida entre nossos corpos,
alcançar minha adaga e contornar seus dedos sobre ela e, Dio, como isso era
excitante. Ele continuou caminhando seus dedos, sem desgrudar nossos
lábios e contorci minhas pernas, sentindo a umidade aumentar em minha
intimidade, necessitada que ele encontrasse logo o meu ponto mais sensível.
Meu vestido era preto, justo e longo, e tinha uma imensa fenda a partir
de minha coxa direita, o que facilitava que ele continuasse a me torturar.
— Você tem ideia do quanto está gostosa com esse vestido,
principessa? — indagou, de maneira excitante, no canto de meu ouvido, e
mordi o lábio, sentindo meu corpo entrar em combustão. — Como vou
trabalhar e deixar você aqui sozinha com esse vestido?
— Não trabalhe! — sugeri, com uma voz angelical, torcendo para que
acatasse minha sugestão.
— Porra! Você me enlouquece, sabia? Você tem ideia de como estou
me segurando nesse momento para não te levar lá para dentro e te foder?
Se antes eu já me sentia quente, nesse momento tudo parecia entrar em
chamas em meu peito e, principalmente, em minha calcinha.
— Então, não se segure, cazzo!
Ele afastou seu rosto e seus olhos escureceram com as pupilas dilatadas,
provoquei-o mordendo meu lábio inferior, que se encontrava com um batom
rouge, como ele adorava.
— Vem comigo! — Ele puxou minha mão e só tive tempo de olhar para
Giana e a procurar para avisar que já voltava, mas fiquei tranquila quando a
vi ao lado de meu primo, conversando animadamente, mesmo que ele não lhe
desse muita trela.
Matt me colocou em frente de seu corpo, que por um milagre não usava
seu eventual terno preto, ele vestia uma calça jeans de lavagem escura, uma
camiseta preta que se moldava perfeitamente em seus músculos e exibiam
suas tatuagens nos braços.
Senti sua ereção completamente desperta em meu quadril e não resisti
em encostar ainda mais sobre ele e dar uma reboladinha para provocá-lo.
Matt soltou um gemido e voltou a apertar o botão do elevador com
pressa, precisei conter o riso para não me delatar.
Assim que a porta se abriu, ele me empurrou para dentro, apertou o
botão do segundo andar, que era o local que tinha curiosidade em conhecer,
considerando que no terceiro e último andar ficava seu escritório, a porta do
elevador se fechou e não tive tempo de questionar nada, pois senti minhas
costas baterem no espelho frio do elevador e meu marido começou a devorar
meus lábios, como se o mundo estivesse acabando e só tivéssemos esse
momento para nós.
Ele puxou meu vestido, liberando minhas pernas e as enlacei à sua
volta, conforme apertava meu traseiro. Aquelas mãos que pareciam brasas em
meu corpo, seguiram ao caminho que mais ansiava, senti seu dedo afastar
minha calcinha fio dental para o lado e penetrar em minha umidade.
— Porra! Você tá ensopada, sua safada — rosnou, ao mesmo tempo em
que o elevador indicava ter chegado ao andar correspondente.
Ele não me colocou no chão e saiu comigo em seu colo, com nossos
lábios engolindo um ao outro, parou por um instante quando a porta se
fechou, apertou alguma coisa no painel e uma luz vermelha se acendeu.
Quando pensei em olhar ao meu redor para sanar minha curiosidade,
Matt puxou meu cabelo, conforme me afundava em uma cama macia e
imensa, voltando a reivindicar meus lábios para si. Ele começou a manusear
o zíper em minhas costas para abrir meu vestido e o ajudei com pressa a me
livrar da peça. Assim que o vestido foi jogado longe, comecei a puxar sua
camiseta por suas costas largas e definidas, lançando-a ao chão.
Sentia que estávamos desesperados um pelo outro e a necessidade que
tínhamos parecia fora de nosso controle.
Ele parou por um instante e se afastou, conforme abaixava sua calça,
junto de sua cueca de uma vez e me olhou com tanto desejo que poderia ter
gozado apenas com o olhar avassalador que me lançou.
— Tão gostosa. Tão minha — disse, segurando em meus seios que se
encontravam duros pelo tesão que sentia.
Quando fui me livrar da adaga para continuarmos, ele segurou minha
mão.
— Não, quero te comer com ela, do jeitinho que você tá, sexy pra
caralho!
Seu palavreado desbocado, teve o efeito esperado e minha necessidade
de tê-lo aumentou ainda mais, algo que pensei não ser possível, com a
imagem que tinha de ele me comendo com os olhos ao observar meu corpo
usando apenas um conjunto de lingerie vermelha de renda, a adaga que
ganhei dele presa em minha coxa e com um sapato salto 15 também vermelho
em meus pés.
Ele puxou uma de minhas mãos para ficar de pé e me fez rodar para ele
e, porra, como me senti sexy nesse momento, não fiquei com vergonha, não
me importei com as diversas cicatrizes que estragavam meu corpo, me senti a
mulher mais linda desse mundo nesse momento.
— Definitivamente, vermelho é a minha cor preferida — brincou,
massageando meus seios com lentidão. — Você não tem ideia do quanto
sonhei em te ver exatamente dessa maneira.
— Então, faça aquilo que sonhou comigo — aticei, torcendo para que
fizesse todas as suas vontades comigo. Era o que eu queria, o que ansiava.
Sua mão me puxou para si com brusquidão e seu lábio voltou a me
devorar. Contornei minhas pernas em sua cintura e mais uma vez ele deitou
meu corpo na cama. Meu marido segurou meus braços no alto de minha
cabeça e começou a descer seus lábios macios por meu corpo em uma tortura
alucinante.
Contorcia meu corpo embaixo do seu, com a ansiedade tomando
controle de meus atos, assim como minha boca soltava gemidos com tudo
que sua boca fazia em meus seios, que em algum momento ficaram nus.
— Matt... Dio... por favor... — implorei, ainda tentando me acostumar a
pedir o que de fato queria a ele.
— O que você quer, amor? — pediu, ao descer seus lábios e resvalar
sua barba rala por minha barriga.
Joguei minha cabeça para trás, quando senti que chegava ao local que
tanto pedia e gemi alto quando senti sua barba friccionar aquele ponto
sensível que parecia consumir todas as minhas forças.
— Fale, principessa. Senão eu vou parar.
Filho da mãe!
— Me come logo, cazzo! — grunhi, irritada por me provocar a usar o
mesmo palavreado que costumava usar.
O riso satisfeito que soltou, só não me irritou mais e o mandei se foder,
porque senti abocanhar minha intimidade com tanto desejo que saí de órbita
por um instante, ao jogar minha cabeça para trás e envergar meu corpo.
Gemia alto sem me importar se era possível alguém ouvir, só queria que
continuasse aquela tortura deliciosa.
Matt continuou me fodendo com sua língua e, também, beliscando meu
bico intumescido, o que me levava à loucura.
Sua outra mão seguiu até meu quadril e senti seu dedo pegar a umidade
de minha boceta e melar minha entrada traseira. Pensei em pedir que não
mexesse lá, mas quando senti a sensação de sua língua, junto com seu dedo
mexendo lá atrás, junto com os beliscões do meu seio, nem me lembrei de
mais nada.
Aquela sensação já conhecida começou a se avolumar em meu ventre
de maneira monstruosa, enquanto gemia fora de mim, Matteo intensificou
ainda mais as fricções e explodi em um orgasmo descomunal em sua boca.
— Cazzo! — gritei, fora de controle, conforme os espasmos me
tomavam por completo.
Meu marido não esperou que me recuperasse, ao virar meu corpo como
se fosse uma pena em sua mão, puxou meu quadril para cima e ainda com a
respiração descompassada, abaixei meu rosto no colchão, tentando me
recuperar.
— Vou te foder gostoso de quatro, se não gostar você me fala que eu
paro, mas tenho certeza de que vai adorar!
Senti suas mãos espalmarem em meu quadril, enquanto o apreciava e
me arreganhava por completo para sua vista e apesar de pensar que ficaria
incomodada com o que fazia, isso apenas atiçou algo dentro de mim.
— Ainda vou comer esse seu cuzinho apertado.
Gargalhei alto, pronta para dizer que nem sonhando, mas fui calada
quando senti aquela monstruosidade que chamava de pau penetrar em mim
e...
— Porra! — Não conseguir conter o palavrão de sair de meus lábios.
Matteo começou a me foder com força, enquanto segurava meus cabelos em
sua mão, deixando minha cabeça levantada e meu corpo envergado, a miríade
de sentimentos se intensificou ainda mais com o tapa que desferiu em meu
traseiro.
— Boceta gostosa da porra!
Dio mio, um dia pensei que jamais permitiria que fizessem algo assim
comigo, considerando tudo que já passei, em contrapartida, nesse momento o
que mais queria era que continuasse fazendo tudo que quisesse.
Gemia cada vez mais alto e falava palavras desconexas, sentindo seu
pau me preencher por completo e parecia que explodiria a qualquer instante
de tanto tesão.
Perdemo-nos um no outro por sabe-se lá quanto tempo e tudo o que
mais queria era que isso nunca acabasse.
Matteo começou a intensificar ainda mais suas estocadas, conforme
puxava meu quadril ao encontro do seu com força e gemia fora de si.
— Que delícia... Dio... eu vou... — de novo tentei dizer, mas não
consegui, pois explodi em outro orgasmo fantástico, junto de Matt que
encontrava seu prazer ao mesmo tempo em que eu.
Assim que nossos espasmos acabaram, ele saiu de dentro de mim e
caímos, completamente exaustos sobre a cama. Eu de bruços e ele de costas,
ao meu lado.
— Isso... foi... — começou a dizer.
— Fodástico — brinquei, ainda sem palavras com tudo que senti.
Ele gargalhou alto, senti meu corpo ser puxado para junto do seu e um
beijo ser depositado em minha têmpora de maneira carinhosa e isso que fazia
sempre que terminávamos de transar, intensificava aquela dorzinha em meu
peito, sua atitude me fazia desejar permanecer dessa maneira por todos os
dias.
Conforme nossa respiração se normalizou, comecei a prestar atenção ao
meu redor e parecia que me encontrava naqueles quartos de motéis que tinha
de tudo para o prazer de quem o frequentava. Notei uma poltrona preta que
lembrava um divã no canto do quarto, um pole dance do outro lado, espelhos
de ponta a ponta no teto e em todas as paredes que olhava.
Levantei meu tronco, desacreditada. Os poucos espaços que não tinham
espelhos, as paredes eram num tom mais escuro, notei que o espelho para o
banheiro era transparente e tinha dois chuveiros enormes, assim como uma
hidromassagem imensa.
Que merda era tudo isso?
Fiquei chocada e apreensiva com a quantidade de mulheres que, com
certeza, vieram aqui, nesse quarto de motel particular.
— Aqui por acaso é seu abatedouro? — ironizei, tentando conter a
incredulidade que tomava o meu peito.
Percebi nesse instante que Matteo também tinha se sentado e observava
a minha reação, parecendo pensar no que me respondia.
— Era, seria a palavra correta.
Olhei enviesada em sua direção.
— Sério isso? Você me trouxe para o lugar que comia várias mulheres e
fala isso com toda essa naturalidade?
Levantei-me irritada, ao imaginar tudo que fazia ou faz em suas
festinhas particulares neste local nojento.
— Chiara, por favor, não vamos brigar, não é? — Tentou apaziguar, em
seguida se levantou e veio em minha direção, enquanto vestia minha
calcinha. — Queria que soubesse daqui, mas tinha receio exatamente dessa
sua reação.
— Que reação? Aquela que tá pensando milhares de coisas, por
exemplo, que enquanto eu durmo naquela mansão, você deve tá fodendo uma
mulher atrás da outra em seu abatedouro particular, afinal, considerando a
quantidade de mulher disponível na boate, não seria um problema a você, não
é?— rebati em volume alto, irritada comigo mesma por ser uma idiota na
mão dele e ter me apaixonado.
— Não é bem assim. Eu fiz esse local realmente para ter mais
privacidade, quando vinha aqui, mas na época eu não te conhecia, amore mio.
— Não vem com amore mio, coisa nenhuma. — Comecei a vestir o
sutiã, ainda irritada. — Como vou saber que não vai me trair quando vir para
cá? Como vou saber que tá sendo fiel a mim?
Uma lágrima escapou de meus olhos, com a mera possibilidade de que
fizesse exatamente o que falei.
Desde quando virei essa ciumenta possessiva?
Senti seus braços envolverem minha cintura e me trouxe para perto de
seu corpo, apesar de não dever, deixei que me acalmasse.
Ele levantou meu queixo para cima para que o olhasse em seus olhos.
— Você deve confiar em mim, principessa, sabe por quê?
Neguei com a cabeça, sem ter certeza se realmente deveria.
— Porque eu amo você, carino.
Seus lábios desceram até os meus e deixou um beijo casto sobre eles,
enquanto meu peito galopava em minha caixa torácica, depois de ouvir suas
palavras.
— E desde o dia em que coloquei meus olhos em você, só tenho tido
olhos e pensamentos para você, minha linda.
Até o dia em que eu trair sua confiança.
Algumas lágrimas começaram a descer por meus olhos, com a mera
possibilidade desse amor se transformar em ódio. Dio, como me odiava por
ter permitido me envolver nessa merda de vingança. Ele nunca me perdoaria.
— Não chore, amore mio. — Senti seus dedos enxugarem minhas
lágrimas. — Se isso não for motivo suficiente para você acreditar em mim,
pode vir comigo quando eu precisar vir para cá. O que acha? — indagou,
com aquele sorriso lindo de lado que sempre me derretia.
Sabia muito bem que parecia uma ragazza mimada e infantil com
minha crise de ciúme, então tentando agir como a mulher madura que
precisava ao seu lado, respirei fundo e disse aquilo que meu coração pedia,
porque era a verdade.
— Eu acredito em você. Acredito por cada atitude que demonstra por
mim, como cuida de mim e zela pela minha felicidade em pequenos detalhes.
Não importa o que fez aqui antes de nós dois, o que me importa é o que fez
desde que estamos juntos. Você ficou com mais alguém depois que ficamos
noivos?
Ele negou com a cabeça, com aquele sorriso ainda iluminando seu rosto
e parecia tão lindo, que até me esqueci por um momento que era um mafioso
temido.
— Você é a única, principessa.
Suas palavras desmontaram qualquer raiva que ainda sentia por ele e
puxei sua nuca, tomando seus lábios para mim em um beijo lento, que
demonstrava tudo aquilo que sentia, mas ainda não me sentia pronta para lhe
dizer.
Não sabia se era verdade tudo que me falou, mas meu coração
acreditava que era, então, por ora, era nisso que me apegaria.
— Mas de toda maneira prefiro vir com você, quando precisar vir aqui
— avisei, assim que afastei nossos lábios e sua risada ecoou pelo quarto que
nos encontrávamos.
— Amo esse seu lado ciumento, principessa.
Revirei os olhos e o abracei, satisfeita com o desenrolar de nossa
conversa e ainda lembrando da declaração que me fez há poucos minutos.
Sentia meu corpo flutuando de pura felicidade por tê-lo encontrado.
Ao seu lado sentia como se estivesse no local certo, como se em seus
braços fosse o meu mundo, o meu tudo!
Assim que retornamos para a área reservada da boate, encontrei minha
amiga com a cara enfezada tomando uma cerveja, sem mal respirar entre um
gole e outro.
Matt me acompanhou e deixou um beijo casto em meus lábios ao
perceber a mesma coisa que eu, havia acontecido alguma coisa que chateou
Giana.
— Tenho que resolver algumas coisas com o gerente, vou estar lá no
meu escritório. É só pedir pro Marco ou Carlo te levar lá, se quiser subir.
Fiquei curiosa em conhecer o local onde trabalhava, mas nesse
momento senti que minha amiga precisava de mim, por isso, só assenti com
um sorriso no rosto.
Meu marido se afastou sendo seguido por Carlo e mais um segurança.
Enquanto Leonardo, Mattia e Marco ficaram comigo.
O olhar que meu primo direcionava a todo instante em nossa direção me
alertou de que talvez ele fosse o motivo da angústia de Giana.
— Ei, o que aconteceu?
Fiquei ao seu lado no guarda-corpos fingindo que observava as pessoas
que dançavam enlouquecidas na pista de dança.
— Não aconteceu nada. — Ela me olhou nos olhos e eles diziam outra
coisa, que não dava para falar ali.
— Quer ir dançar? — sugeri, para sairmos e poder se abrir.
— Se os seus cães de guarda manterem distância, seria legal. — Giana
me lançou um sorriso, que retribui, peguei sua mão e avisei a Marco,
conforme seguimos em direção à escada para irmos até o térreo.
— Vamos para a pista, Marco.
— Senhora... — Ele tentou falar, mas não lhe dei tempo e corri em
direção à pista com minha amiga a tiracolo, rindo de nossa pequena fuga.
Olhei por cima do ombro e notei que os três desceram para me
acompanhar de longe. Pelo menos teríamos um pouco de privacidade.
— Desembucha, o que o Leonardo fez? — indaguei em volume alto,
por causa do barulho ensurdecedor da música.
— Para variar ele não fez! — ela gritou, inconformada, mas como as
pessoas estavam distraídas se atracando ou dançando não perceberam.
Chegamos ao meio da pista e começamos a dançar de frente uma para a
outra, ainda tentando conversar.
— Amiga, conte direito.
Ela abaixou os olhos para o chão, pensando se me contaria e aguardei
seu tempo.
— Ele disse que sou muito nova para ele, acredita? Olha você aí de
exemplo com doze anos de diferença de seu marido e tá superfeliz. — Cazzo!
Eu era tão transparente assim? — E outra olha para o cara que tô
comprometida e ele verá o que é diferença de idade — resmungou,
entristecida, e me apiedei dela.
Puxei-a para um abraço apertado, enquanto movíamos nosso corpo um
pouco mais lento do que a música.
— Leonardo é todo certinho, amiga. Talvez não seja a idade que o
impeça de querer algo, talvez seja o seu compromisso.
— Mas eu tô pouco me lixando para essa merda de noivado que vai
acontecer, ainda não aconteceu. Se ele me chamasse para fugir com ele, não
pensaria duas vezes.
Olhei em direção de meu primo que nos olhava intrigado, parecia um
pouco chateado com o semblante sério e suspirei frustrada.
— Já falei que vou tentar te ajudar com esse seu noivado, não disse?
Mas talvez seja melhor você tentar esquecer meu primo — disse a verdade.
Não era que não acreditasse que ele poderia se apaixonar por Giana,
porque só se fosse muito babaca para não conseguir. A questão era que ele
era apenas um soldado e sabia que seus pais não o aceitariam como um
possível pretendente, não seria um noivado vantajoso para sua família e,
infelizmente, como conhecia seu pai, ele prezava pelo retorno financeiro
antes da felicidade de sua filha.
Uma lágrima escapou dos olhos de Giana e nesse momento um rapaz
apareceu entre nós, com uma bebida em mãos.
— Ei, gatas. Aceitam um drinque? — Ele carregava duas bebidas e me
olhava de cima a baixo com uma malícia estampada nos olhos, o que arrepiou
toda a minha pele.
— Obrigada, eu aceito. — Giana aceitou e foi bebendo de uma vez, fui
tentar impedi-la, mas já era tarde, num único gole ela já tinha bebido mais da
metade.
Tirei de sua mão num rompante.
— Ei, eu tava bebendo.
— É, gata, deixa a ragazza beber... e você não vai tomar a sua? —
ofereceu com um sorriso horripilante nos lábios.
— Agradeço, mas não tô bebendo hoje. — Era mentira, eu tinha bebido
na área reservada, mas não podia bobear, eu me tornei uma mulher visada
quando me casei com o Don, qualquer um poderia ter alguma intenção errada
comigo.
— Qual é, gata. Só esse, prometo que não vai se arrepender.
Ele tentou se aproximar de mim, para dançar pegando em minha cintura
e tentei o afastar, mas isso pareceu incentivá-lo a continuar. Ele agarrou
minha cintura com força, puxando em direção do seu corpo, e isso me
enfureceu de uma tal maneira que quando percebi, empurrei-o com força de
meu corpo e quando cambaleou para trás, dei-lhe uma joelhada com toda a
minha força em seu estômago.
O cara buscou por ar por um instante.
— Sua vadia! — xingou, quando se recuperou e me preparei para me
defender, mas seu corpo foi jogado longe por Leonardo que o esmurrava.
— Chame ela de vadia de novo, que você não vai ver mais o sol nascer,
seu desgraçado.
Marco se aproximou de mim e Giana que parecia mais alegre do que o
normal, gargalhando sem motivo algum.
— Vamos, senhora Lucchese. É melhor retornarmos para a área
reservada.
Mas que cazzo, não tinha mais nem como me divertir.
Não contestei, pois sabia que estava certo, por isso peguei na mão de
Giana que puxou sua mão de mim de maneira estúpida.
— Eu não vou subir para lá, vou me divertir e impedir do meu jeito esse
noivado. — Sua voz se encontrava embolada e seus olhos pareciam pesados.
Mattia sumiu com o cara que Leonardo batia, quando o vi ao meu lado
olhando com irritabilidade em direção à minha amiga.
Ele percebeu a mesma coisa que eu. Meu primo foi até ela, que tentou
empurrá-lo também, mas ele não lhe deu margem para nada, puxou seu corpo
e a carregou no colo, mesmo sob seus protestos. Juntos, todos seguimos de
volta ao lugar em que estávamos.
Leonardo a colocou num sofá confortável e ouvi dizendo a Marco.
— Acho que foi drogada.
Exatamente o que pensei, Giana já parecia perder sua consciência,
fechando os olhos.
Matteo chegou nesse instante e seus olhos preocupados procuraram por
mim no mesmo instante, vi o alívio o envolver quando me encontrou.
Ele conversou com Carlo e Marco a uma certa distância de nós, que
continuávamos ao lado de minha amiga e o ouvi instruir Marco.
— Peça para Mattia levar ele até o calabouço.
Arregalei os olhos ao entender a situação e não consegui deixar de
perguntar, preocupada:
— Será que ele sabia quem eu era?
— Não sabemos, amore mio. Isso é o que veremos, se foi apenas um
babaca querendo drogar vocês ou se tem alguma coisa por trás para me
atingir.
No mesmo momento pensei em Federico e na possibilidade de tentar
me sequestrar ou assustar Matteo, caso tivesse percebido como nosso
envolvimento evoluiu para o atingir.
Depois daquela festa de caridade, tinha certeza de que perceberam
nossa proximidade, mesmo que tivesse respondido às mensagens de minha
mãe e atendido uma ou outra de suas insistentes ligações, para tentar
despistá-los. Sempre mentia para que não descobrissem a verdade sobre nós,
mas sabia que meu tempo se acabava e precisava resolver isso, o quanto
antes, só não sabia como o fazer sem perder a confiança de Matteo.
Fiquei imersa em meus pensamentos e não percebi que Carlo olhava sua
pulsação, seus olhos, enquanto Marco fazia uma ligação para que Mattia
fizesse conforme Matteo ordenou.
— Vamos levá-la para o hospital, precisamos colher seu sangue e
medicá-la para a droga sair mais rápido de seu organismo.
Dio mio! Peguei nossas bolsas rapidamente, aflita de que pudesse lhe
dar algo mais forte que prejudicasse sua saúde, Matt pegou de minha mão as
bolsas e me puxou para junto de si, em seguida fomos em direção ao elevador
que nos levaria até o estacionamento.
Leonardo mais uma vez a carregou e assim seguimos para os nossos
carros. Ela foi com eles no outro, para que ficasse mais confortável e nos
direcionamos para o hospital da máfia.
Depois de poucos minutos, já tinha uma equipe médica nos aguardando
e fiquei impressionada com a rapidez que a pegaram dos braços de Leonardo
e a levaram para dentro. Não precisei perguntar, tinha certeza de que isso era
influência de meu marido.
— E se ela morrer? — questionei, choramingando com a mera
possibilidade de terem a envenenado.
Meu marido me abraçou, conforme esperávamos na sala de espera, por
alguma notícia que parecia nunca vir.
— Não acredito que tenha sido veneno, estou pensando mais que tenha
sido rape drugs, conhecido como Boa noite, Cinderela. — Arregalei os olhos,
com a mera possibilidade de Federico ter sido tão baixo.
Fiquei quieta depois disso e Matt permaneceu ao meu lado, como se
entendesse que precisava pensar sobre tudo o que aconteceu.
Vez ou outra, Carlo o chamava para lhe dizer alguma coisa, assim como
Marco também o fazia. Leonardo para minha surpresa também continuava ali
e fiquei satisfeita de que meu marido o realocou em sua equipe de segurança,
apesar de temer por ele, sabia que a partir do momento em que escolheu essa
profissão para si, correria riscos diariamente, assim como eu também, por ter
me casado com o Don da famiglia.
Depois de algum tempo, o médico apareceu e me levantei rapidamente,
sabia que em uma situação normal eles só dariam informações à família dela,
mas como Matteo se encontrava junto, ele não ousou negar informações.
— A paciente está estável e tomando medicação intravenosa para aliviar
os sintomas da droga.
— Então, realmente ela foi drogada? — questionei, aflita.
Ele assentiu e continuou.
— Tudo indica que sim, colhemos seu sangue e daqui a pouco teremos
o resultado para confirmar. Ela terá que passar o dia em observação, seria
bom pedir para alguém da família vir ficar com ela, até que tenha alta.
Assenti, me recriminando por não ter ligado antes aos seus pais.
Quando alcancei meu celular para o fazer, meu marido respondeu ao
médico:
— Meu segurança entrou em contato com a família e já estão vindo
para cá.
— Posso ficar com ela, até que eles cheguem — sugeriu Leonardo,
solícito, e olhei intrigada em sua direção.
Mas não devia ser nada de mais, Leonardo sempre se preocupou com as
pessoas ao seu redor e Giana era importante para mim.
Abri um sorriso em sua direção satisfeita com sua proatividade e ele
meneou a cabeça, ainda preocupado.
Ficamos mais um tempo até que sua família chegou, meu marido tomou
à frente da situação e explicou o que aconteceu, mas que Giana não estava em
risco. Poucos minutos depois, o médico retornou confirmando nossas
suspeitas de que realmente ela havia sido drogada e vi a fúria estampada nos
olhos de Matteo, Leonardo e o senhor Innocenti.
Donato Innocenti, também fazia parte da famiglia e tinha um cargo
respeitável, assim como o traste de Federico, era um caporegime há muitos
anos e participava de alguns comitês que Matteo organizava para situações
estratégicas. Ele o chamou de canto, junto de seus homens e, com certeza,
comentou suas suposições para ele, apenas o ouvi dizer que resolveria isso e
descobriria quem estava por trás. Mas que imaginava que a intenção não era
prejudicar sua filha, mas sim ele, pois também me ofereceram a bebida.
Senti o ar me faltar repentinamente em imaginar a mera possibilidade
de ter aceitado, como fiz quando Matteo ofereceu quando nos conhecemos,
caso fosse mesmo Federico por trás de tudo isso, eu estaria como ele queria,
completamente vulnerável para fazer comigo aquilo que sempre ameaçou.
Senhora Graziana, percebendo que cambaleei para trás com o
pensamento aterrorizante que me passou, segurou minha mão e me ajudou a
se sentar.
— O que aconteceu, ragazza? Fique tranquila, eles vão descobrir quem
fez isso e será uma pessoa morta!
Aparentemente não fui a única que ouvi essa parte da história, assenti
sem dizer nada ainda aérea com o tamanho da maldade que tiveram conosco.
Meu celular vibrou nesse momento e quando o alcancei, meu coração
gelou no mesmo instante, ao ler o nome daquele desgraçado em meu visor de
celular.
Olhei em direção ao meu marido e percebi que continuava distraído
conversando com os demais e abri a mensagem.

Federico: Gostou da surpresa que recebeu hoje, principessa?


Espero que o recado tenha sido dado, da próxima vez eu mato
sua amiguinha e dopando você ou não, eu te pego de jeito.

Senti meus músculos enrijecerem no mesmo instante com a ameaça


recebida, precisei segurar o ar em meus pulmões e o soltei devagar, para
conter a crise de ansiedade me tomava.
Precisava dar um jeito urgente em minha vida, necessitava encontrar
alguma saída, pois eles estavam fora de si, a ponto de colocar até minha
amiga em risco e foi isso que eles quiseram provar, que conseguiriam me
atingir sem que fosse necessário apontar uma arma em minha cabeça, eles
tinham contatos e isso já era suficiente.
Depois de algumas horas, voltamos para casa, com minha mente
exausta com tudo que nos aconteceu durante a noite.
Matteo cuidou de mim, sabendo o quanto me sentia angustiada com o
que houve com minha amiga e com o que poderia ter acontecido comigo.
Ele me deu um banho, foi carinhoso comigo, beijava meu rosto, dizia o
tempo todo que estava comigo e não permitiria que nada jamais me
aconteceria e quis acreditar em suas palavras.
Que realmente estaria comigo o tempo todo, por isso em um momento
de vulnerabilidade em que sentia a esperança ruir entre meus dedos,
perguntei, conforme ele secava meu cabelo:
— Promete que você sempre vai estar ao meu lado?
Aqueles olhos prateados que tanto amavam, me encararam com
confusão por conta da minha pergunta, considerando que havia acabado de
dizer isso.
— Claro, amore mio. Não tem nada que possa fazer para mudar isso —
brincou, mas soando convicção em cada uma de suas palavras e uma lágrima
escorreu de meus olhos.
— E se algum dia eu te decepcionar? Você vai se lembrar dessa
promessa?
Um sorriso compreensivo surgiu em seu rosto e trouxe seus lábios até
os meus, depositando um beijo lento repleto de amor e carinho que acalentou
meu peito pelo tempo que durou.
— Você nunca vai me decepcionar, amore mio. Sabe por quê? —
Neguei com a cabeça, querendo apenas que voltasse a me beijar e a esquecer
tudo que aconteceu. — Porque eu te amo tanto, então mesmo que você queira
me afastar, eu não permitirei e sei que errar é humano, então se, por acaso,
você me decepcionar, terá sido por um bom motivo.
Naquele momento, eu quis acreditar em suas palavras com todo o meu
coração, que a vida seria como um conto de fadas e que apesar de ele
descobrir que o traí e conspirei contra a sua família, seu amor seria maior do
que tudo, ele me perdoaria e viveríamos felizes para sempre.
Sabia que isso não aconteceria, mas naquele momento me apeguei no
que disse, por isso puxei seu rosto ao encontro do meu e pedi:
— Faz amor comigo, amore mio.
Um sorriso repleto de cuidado e carinho desenhou seu rosto e seus olhos
pareciam me dizer que sim, ele faria, mas sua boca disse:
— Faço tudo que você quiser, amore mio. Te dou o mundo se assim o
quiser.
Fiquei na ponta dos pés, envolvendo seu pescoço com os meus braços e
deixei um beijo casto em seus lábios.
— Desde que você esteja nele, para mim é o que importa.
Naquele momento, Matteo tomou meus lábios para si e eu me apeguei a
isso, tentando esquecer o pesadelo de noite que tivemos e no quanto poderia
ter sido pior.
Ele me pegou no colo, sem desgrudar nossos lábios, e nos encaminhou
até a cama.
Matteo me beijou como se aquele fosse o nosso momento, ele foi
carinhoso, cauteloso, completamente diferente da maneira que me tomou na
boate. Naquele instante, eu sentia que de fato ele fazia amor comigo e quando
me penetrou, senti como se eu fosse a coisa mais importante em sua vida.
— Eu te amo tanto, principessa.
Saiu de dentro de mim e voltou a me penetrar lentamente, enquanto
arqueava minhas costas.
— Que vou te provar todos os dias o quanto é importante em minha
vida.
Seus beijos voltaram a tomar meus lábios, enquanto sentia toda a sua
protuberância me preencher por completo.
— E jamais permitirei que encostem um dedo em você.
Matteo continuou estocando em mim e passou a aumentar sua
intensidade, conforme nos aproximávamos do clímax, queria dizer que
também o amava. As palavras pareciam vir até a ponta de meus lábios, mas,
ao mesmo tempo, algo dentro de mim, duelava e mesmo que estivesse
disposta a lutar ao lado de meu marido, sentia que era uma luta perdida e que
declarar que o amava, faria tudo que eu sentia descer ladeira abaixo.
Calcei uma luva com vários pregos no dorso de minha mão e abri meu
sorriso maquiavélico que sempre era reservado para esses momentos.
Capturamos outro maledetto em mais uma emboscada que tentaram nos
fazer essa semana, ele parecia ter um pouco mais que minha idade e se
encontrava irreconhecível, com as brincadeiras que eu e meu irmão fazíamos
nele há longos dois dias.
O outro que trouxemos para cá no dia da boate, nada mais era que um
moleque qualquer que foi contratado para oferecer as bebidas à minha
ragazza e sua amiga. Depois que elas ingerissem, ele disse que o mandante as
levaria embora.
Óbvio que depois de todas as informações necessárias, nós o matamos,
pois uma pessoa assim só mostrava seu mau-caráter e que não pensou duas
vezes em ganhar uns trocados, mesmo sabendo o que poderia acontecer a
duas mulheres que estariam completamente vulneráveis.
Não sabia em que sonho o desgraçado que armou isso pensou que seria
possível, sair com a minha mulher de dentro de minha boate, que se
encontrava repleta de seguranças que trabalhavam para mim. O que apenas
comprovava meus pensamentos, que isso foi apenas um alerta que queriam
nos dar. Mas qual?
Que estavam de olho em mim e atingiriam minha mulher? Seria
possível e atingiram sua melhor amiga, porque sabiam que de tabela isso
também me impactaria. Pois ver Chiara daquela maneira me deixou
devastado, apenas queria cuidar dela e provar que nada jamais a aconteceria.
Por isso, mexi alguns pauzinhos para deixá-la mais segura e permiti que
fosse visitar sua amiga em sua casa, junto de seus seguranças, algumas vezes
durante esses quinze dias que se passaram, desde o episódio da boate, para
que se sentisse mais calma, mas todos nós estávamos acompanhando e sabia
que Giana apesar de assustada, se encontrava bem.
Voltei a minha atenção ao meu irmão, que mostrava uma garrafa de
água para a nossa vítima da vez e seus olhos pareciam suplicar por apenas um
gole.
— Quer? Você deve tá com uma sede, não é? — Meu irmão abriu a
tampa da garrafa e levou até sua boca, tomando um longo gole sem desgrudar
seus olhos claros de nosso alvo, que engolia em seco de sede.
Meu irmão havia feito vários cortes para que todo o líquido que tinha
fosse drenado de seu corpo e começasse a se desidratar. O fato de o
calabouço não ter uma janela e ser muito quente, apenas piorava sua situação.
Por isso, durante esses dois dias, o cara já mal aguentava ficar em pé.
Além disso, tínhamos o machucado bastante, mas, mesmo assim, ele
parecia firme em não abrir a boca. Não negava que as pessoas que
pegávamos para tentar extrair algumas informações eram bem resistentes e
soltavam apenas uma ponta solta ou outra. Mas que em nada adiantava para
montar o quebra-cabeça que nos afligia nos últimos meses.
Precisava descobrir o motivo de estragarem minhas cargas e quem
realmente era. Desconfiava de que fosse a facção Camorra, nossa inimiga que
tentava ganhar território, mas, ao mesmo tempo, isso não indicava ser atitude
deles, pois se a facção resolvesse entrar em guerra comigo, não me
provocaria com pequenos gestos como destruir uma carga ou outra.
Meu irmão levou a garrafa até perto da boca do coitado e ele já abria a
boca para receber um pequeno gole, com os olhos esperançosos de que o
faria, mas então meu irmão jogou no chão de maneira lenta em frente aos
seus olhos e ele só faltou chorar, mas acho que nem tinha mais lágrimas para
sair de seus olhos.
— Ops... caiu... — Ele deu de ombros, com aquele seu sorriso de canto
que em nada parecia com a pessoa carismática que costumava ser com os
demais.
Precisei conter o riso, percebi que Marco e Carlo faziam o mesmo. Não
éramos tão ruins assim, caso ele colaborasse o daria uma morte rápida e
digna para não ficar sofrendo assim, mas eles pareciam gostar de serem
torturados.
— Tem alguma coisa a nos falar? Tenho muita água para te dar, é só
você colaborar que também te ajudo — Pietro sugeriu, com seu tom irônico
enquanto remexia minha mão ansioso para usar a luva que já vestia.
O maledetto continuou em silêncio e ouvi o suspiro frustrado de Pietro
sair de seus lábios.
— Mas como você é burro, cazzo! — Meu irmão olhou em minha
direção, dando de ombros. — Ele é todo seu, brother.
Como meu irmão sempre ficava nos Estados Unidos, ele sempre voltava
com algumas gírias americanas e essa era a que costumava usar comigo.
— Finalmente! — rosnei, estralando meus dedos em frente ao capanga,
ainda calçando a luva com pregos. — Seus olhos se arregalaram já sabendo o
que viria a seguir. — Seria tão mais fácil se colaborasse com a gente, mas
como você não quer ajudar.
Fechei minha mão, levantei meu braço para trás e desferi um soco com
força em seu rosto, cortando-o em vários cortes.
Seu grito reverberou no espaço, mas nada disse. Por isso desferi outro
soco em seu estômago e outro grito invadiu meu ouvido. Levantei meu braço
para lhe atingir do outro lado do rosto, mas ele finalmente reagiu.
— Eu falo o que sei, eu falo... — falou, desesperado.
— Finalmente começou a colaborar. Então, me diga, quem está por trás
disso? — indaguei já sem paciência, querendo resolver logo isso de uma vez.
— Eu não sei o nome do mandante... — Bufei resignado, cansado de
ouvir as mesmas respostas com todos que eram capturados. — Tem um grupo
de rebeldes que não estão satisfeitos com a família Lucchese no poder e
querem te derrubar, são pessoas de dentro da famiglia, pelo pouco que
consegui descobrir — comentou, ofegante.
— E você seria um dos rebeldes?
Ele deu de ombros, sem se dar ao trabalho de mentir.
— Eles me pagaram bem para isso e juraram proteger minha família.
Ri alto dessa vez, pois isso era algo que sempre prometiam e nunca
cumpriam.
— Como você é ingênuo. Eu costumo cumprir esse tipo de promessa,
porque tenho palavra, mas em todos que capturei e fomos até a casa deles
depois, encontramos toda a família morta, inclusive crianças e idosos, algo
que eu não costumo matar.
Seus olhos se arregalaram com o que disse e apesar de ser o inimigo, ele
demonstrou acreditar no que falei.
— Me conte quem está por trás disso que poupo a vida de sua família,
caso dê tempo de salvá-los — sugeri, tentando pegar em seu ponto fraco.
Ele engoliu em seco, balançando a cabeça de maneira negativa.
— Eu realmente não sei quem é o mandante, só ouvi dizer que é alguém
próximo a você.
Essa informação me surpreendeu e virei meu rosto em direção ao meu
irmão, que estreitou os olhos, pensando em uma maneira de descobrir quem
era o desgraçado que nos traía dessa maneira.
Meus olhos foram em direção de Marco e Carlo, ambos demonstravam
surpresa com essa informação, sendo assim nada os colocava em pauta para
uma possível suspeita, mas não fecharia meus olhos para ninguém depois de
saber que era alguém próximo a mim.
— Sabe o cargo que ocupa? Como é?
Ele voltou a negar e quando fui pegar meu revólver para acabar com sua
vida, ele tornou a dizer.
— Tem mais uma coisa que sei... — disse com dificuldade. — Se eu
contar, você promete proteger minha família?
Respirei fundo, contendo minha ira de não matar o desgraçado que além
de me trair ainda queria negociar comigo, no entanto, eu precisava de
informações e qualquer uma nos ajudaria.
— Dependendo da informação, posso fazer isso por você.
— Ele tá prometendo pegar o seu lugar. — Estreitei o olhar em sua
direção, confuso, pois se algo acontecesse comigo, como não tinha nenhum
herdeiro, quem assumiria minha posição era Pietro. — É assim que tá
conseguindo aumentar o grupo que tá montando. Prometendo que mudará as
leis, políticas entre outras coisas, além dos cargos.
Dei risada, incrédulo com o que ouvia.
— Isso é impossível. E a Camorra? Sabe de alguma coisa?
— Só que tem algumas pessoas envolvidas de lá e estão ajudando com
armamento.
Isso sim fazia mais sentido, pois não imaginava que fosse eles
diretamente que tentavam me derrubar.
— Você vai proteger os meus? — disse, com sangue escorrendo de seu
rosto.
Assenti, sem saber se daria tempo de fazer isso, mas tentaria, pois ele
me tirou do escuro finalmente.
Ele respirou aliviado e antes que percebesse, apertei o gatilho de meu
revólver e disparei no meio de sua cara para morrer de uma vez.
— Vamos nos reunir em meu escritório, precisamos encontrar um plano
para tudo isso — proferi, deixando minha luva em cima da mesa de
apetrechos para a empregada limpar e esterilizar depois.

Encontrava-me em reunião com Pietro e meu pai, junto de Marco e


Carlo há duas horas e apesar de o dia ter começado há poucas horas, contava
os minutos para voltar para o quarto, encontrar minha Oncinha e poder
continuar aquilo que ficamos a noite inteira fazendo, fodendo como dois
coelhos.
Essa mulher parecia ser insaciável, mas não reclamaria, pois adorava
que nesse último mês que começamos a nos envolver intimamente, ela
começasse a se sentir ainda mais à vontade ao meu lado, como acontecia
gradativamente dia após dia.
— Não faz sentido o que esse cara falou! — Carlo comentou, ainda
indignado com um dos caras que pegamos da última emboscada que tentaram
nos fazer, nessa semana.
— Não imagino que quis dizer que seja alguém daqui desta sala, mas
sim, da famiglia, talvez do próprio conselho.
— Faz mais sentido — disse meu irmão, ainda pensativo.
— Podemos jogar uma isca para eles — sugeriu meu pai, sentado em
uma das poltronas fumando seu charuto.
— O que sugere? — indaguei, ansioso para pegar esses desgraçados.
Meu pai começou a dizer o que pensou e, juntos, o aprimoramos de
maneira que não o colocasse em risco.
— Vou marcar uma reunião com o conselho para esta tarde — indiquei,
me levantando, e segui atrás de minha Oncinha.
Todos me acompanharam para fora do escritório, um pouco mais
confiantes de que daria certo nosso plano e nesse momento minha mãe
apareceu, ao lado de Francesca.
— Ah, ainda bem que terminaram a reunião na hora certa, o almoço já
está pronto, vamos almoçar. — Ela olhou em direção de Francesca. — Pode
pedir a bambina para parar de trabalhar um pouco e vir almoçar? — sugeriu
com seu tom de voz calmo, como sempre, quando Francesca assentiu e foi se
virar, meu olhar se encontrou com aquela que dominava meus pensamentos a
todo instante e senti meu coração dar um solavanco, ainda mais depois de
abrir um sorriso enorme em seu rosto, daqueles que iam até as orelhas e foi
impossível conter que o meu surgisse.
Para a minha surpresa ela começou a correr em minha direção, ansiosa,
sem se importar com a plateia que nos encarava em silêncio, percebendo o
desenvolver da nossa trama, mas não me importava, apenas queria saber o
que minha principessa tanto queria.
Ela usava um vestido social comportado e, também, saltos, mas isso não
a impediu de continuar correndo em minha direção, quando se aproximou de
mim, ela pulou em meu colo, entrelaçou suas pernas ao redor de minha
cintura e tomou meus lábios em um beijo cheio de desejo que fez com que
meu pau despertasse no mesmo instante.
Ouvi o suspiro encantado de minha mãe e a risadinha maldosa de meu
irmão ao meu lado e mostrei meu dedo médio em sua direção, sem desgrudar
meus lábios de minha Oncinha. Passei a caminhar de volta ao meu escritório
sem me importar com o que pensavam a nosso respeito e apenas ouvi Pietro
dizer.
— Não vou mais me sentar naquelas poltronas, nem que me paguem!
Fechei a porta atrás de mim, ainda sendo devorado por minha esposa
ninfomaníaca e a deitei na poltrona que meu pai se encontrava sentado antes.
Comecei a beijar o seu pescoço, ansioso para o que viria a seguir e um
gemido escapou de seus lábios.
— Posso saber qual o motivo de toda essa animação? — questionei,
chegando em seus seios, e os mordisquei ainda por cima de sua roupa.
Seus dedos desarrumaram meus cabelos, algo que já percebi que
adorava fazer e começou a levar seu quadril em direção à minha ereção que
pedia para ser libertada da cueca que o apertava.
— Por causa da surpresa que me fez essa manhã — respondeu, sem
fôlego enquanto puxava minha camisa de dentro da calça e retirava os botões
de suas casas com rapidez.
Já imaginava do que falava, mas queria ter certeza.
— Que surpresa, principessa?
Ela puxou meu rosto em sua direção afoita e me empurrou para o chão,
fazendo com que gargalhasse com urgência que sentia de me ter. Ela subiu
em cima de mim, começou a lamber todo o meu peitoral e abdômen,
enquanto sentia seus dedos abrirem o zíper de minha calça e libertar meu pau.
Chiara parecia uma devassa e isso era como um sonho para mim.
Minhas bochechas chegavam a doer com o sorriso que tinha no rosto ao notá-
la dessa maneira. Ela levantou seu vestido até a cintura e quando vi que nada
escondia toda sua bocetinha melada, arregalei os olhos, com o ciúme me
tomando por completo.
— Você pulou em mim de vestido, com um monte de homem do nosso
lado, sem calcinha?
Um sorriso travesso surgiu em seu rosto, mas não me respondeu, em
contrapartida, manuseou meu pau em sua entrada encharcada e desceu
lentamente sobre meu mastro, até esqueci o que falava momentaneamente,
com o prazer que invadia meus pensamentos.
Ela arqueou suas costas para trás e levantei seu vestido para tê-la
completamente nua para mim, ela puxou seu vestido pela cabeça, mostrando
apenas seu sutiã de renda preto.
— Porra! Como você é uma ninfeta gostosa — ralhei, apertando seus
seios em minhas mãos, enquanto ela cavalgava ainda mais rápido em cima de
mim.
— Você é tão lindo! — disse, passando suas mãos pequenas em meu
peito, conforme subia e descia. — Te quero tanto, sabia? — assumiu, ainda
inebriada com o desejo, e sua admissão apenas aumentou minha excitação,
segurei sua cintura fina e comecei a movimentá-la mais rápido, aumentando o
desejo que nos assolava.
Sempre quando estávamos juntos, Chiara parecia se deixar levar por
nossos momentos de amor e às vezes assumia algumas coisas que, em
momentos normais, era mais contida.
Aos poucos, ela demonstrava mais carinho, tanto com palavras como
com atitudes e isso por si só já me enlouquecia.
A fricção de nossas peles me enlouquecia cada vez mais e seus
gemidos aumentavam ainda mais, mas não me importei de fechar sua boca
para que não nos ouvissem, caso estivesse certo, eles já deveriam estar
almoçando e não nos ouviriam.
— Como você é gostoso! Dio! — gritou, fora de si.
— Fala que você é minha, fala...
Ela soltou um riso anasalado, toda vermelha com o calor que nos
envolvia e negou com a cabeça.
— Ah, mas você ainda vai falar, sua safada!
Ela gargalhou ainda mais e aumentei as estocadas em sua pele, sabendo
que se aproximava de gozar e como se lesse meus pensamentos, senti sua
vulva se contrair em meu pau e se derramar em meu corpo, gozando forte em
meu pau.
Estoquei mais algumas vezes e me derramei dentro dela, com todo o
meu prazer.
Ficamos ofegantes abraçados, sem desgrudar nossa intimidade por
alguns segundos, quando ela apoiou seu antebraço em meu peitoral, abriu um
sorriso de quem foi muito bem comida e disse com os olhos brilhando:
— Obrigada!
— Por ter te fodido gostoso? Não há de quê, podemos fazer isso a tarde
toda se quiser — sugeri, lançando uma piscadela em sua direção.
Ela riu, mas negou com a cabeça.
— Não por isso, mas por ter colocado Léo como meu segurança.
Eu sabia que era esse o motivo, mas adorava a provocar.
Acariciei seu rosto e desenhei o contorno de seus lábios.
— Faço tudo para o seu bem-estar, amore mio.
— Você não tem ideia do quanto eu te... — Meu coração deu um pulo
com o que estava prestes a dizer e ela engoliu em seco, como se tivesse se
tocado de algo que diria e não deveria, ansiei por ouvir suas palavras. —
Adoro, por ter feito isso por mim.
Suspirei frustrado, contando os minutos que, enfim, admitiria o que
sentia por mim. Poderia parecer muito confiante, mas o brilho nos seus olhos
e a maneira com que me recebia sempre cheia de desejos, já me mostrava que
Chiara também tinha se apaixonado por mim, mas algo a impedia de se
declarar. Em contrapartida, tentava me conter para não parecer o homem
grudento que ficava se declarando a todo instante, não queria afastá-la no que
avançamos e minha atitude poderia fazer isso.
Faz um mês que eu e Chiara começamos a nos entender, com isso o
nosso envolvimento pareceu ter evoluído drasticamente.
Ela parecia ter deixado de lado o rancor que carregava por mim, pelo
menos era essa a impressão que me passava, considerando que não se fazia
mais de difícil e começou até a me procurar, fosse para um carinho que
procurava, para um beijo que queria ou até mesmo para que eu a fodesse bem
gostoso.
Desde que nos casamos não tinha conseguido uma brecha para ter um
tempo com ela e como a linda Oncinha também não fazia a mínima questão,
não a forcei a isso e usei a desculpa da correria de meu dia a dia para não nos
dar esse momento, afinal, seria muita tentação em tê-la dentro de quatro
paredes por dias e não poder fazer com ela.
Como essa situação finalmente mudou, eu a levaria para a minha
mansão em Palermo para termos um pouco mais de privacidade.
— Vamos almoçar, pois quero que você arrume uma mala para irmos
até a mansão mais tarde.
Ela arregalou os olhos, parecendo gostar de minha ideia.
— Vamos conhecer sua casa?
— Nossa casa, amore mio. — Chiara mordeu o canto dos lábios,
tentando esconder o sorriso que surgiu em seus lábios pela minha correção.
— Quem sabe você queira se mudar para lá, acho que estamos precisando de
um pouco mais de privacidade.
Ela soltou um riso e afundou seu rosto em meu pescoço, enquanto
acariciava seus cabelos macios.
Assim que se levantou, beijou meus lábios com delicadeza e mordiscou
meu lábio inferior.
— Acho que não seria má ideia.
— Ótimo, tenho uma reunião a tarde e depois dela, nós seguimos para
lá e passaremos o final de semana todo juntos!
Ela arregalou os olhos, surpresa com o que lhe informei e não impediu
seu sorriso de surgir.
— Sério? Não vai precisar trabalhar?
— Só se algo sério acontecer, mas quero ficar um pouco com você,
sozinhos.
Para a minha surpresa, Chiara tomou meu lábio em um beijo cheio de
fervor e ao invés de irmos almoçar, ficamos lá por mais uma hora nos dando
prazer.

Tínhamos chegado no dia anterior aqui em nossa mansão de Palermo, o


dia já havia amanhecido e nesse instante ela ainda dormia, completamente
nua, ao meu lado, enquanto eu como o bobo que me tornei desde que a
conheci, ficava admirando minha principessa adormecida. Esse era o cara
que passei a ser, o tipo de homem que ficava olhando sua esposa linda e
gostosa dormir, tão clichê que caso Pietro descobrisse tiraria sarro de mim
pelo restante de meus dias.
Chiara parecia tão serena dormindo, que nem deixou mais sua adaga
embaixo de seu travesseiro e como eu sabia? Pois desde que a empregada foi
arrumar nosso quarto e viu o que guardava abaixo dele, fez questão de me
contar, pois achou importante. Claro que qualquer pessoa que descobrisse
isso acharia estranho, já eu não, pois sabia um pouco do que Chiara passou,
mas nem por isso deixei de pensar se teria coragem de usá-la contra mim,
considerando que me enxergava como o próprio diabo à sua frente de início,
pelo menos no início.
Conforme nossa relação evoluiu de inimigos para amigos, se era que
poderia comparar a isso, continuei observando se ainda a mantinha e sempre
sentia o metal frio escondido.
Quando ela por conta própria pediu que seus seguranças aguardassem
na parte debaixo da mansão, ao invés de sua porta, fiquei muito satisfeito
com sua atitude, pois isso apenas demonstrava que sua confiança em mim
aumentava, além de ter percebido que jamais teria coragem de fazer algum
mal a ela. Depois que lhe dei sua adaga nova, foi o que faltava para perceber
que alguém que forneceu uma arma mais potente, jamais a machucaria,
afinal, por qual motivo daria a própria arma para que me matasse?
Isso pareceu mudar algo dentro dela e senti que derrubou todo o muro
que carregava ao seu redor quando eu me aproximava.
Tinha alguns assuntos que precisava conversar com a minha Oncinha,
mas não queria a assustar e como não usávamos camisinha em nossas
relações, precisava resolver isso antes que Chiara engravidasse. Começamos
a nos envolver há pouco tempo e não queria que uma gravidez indesejada a
afastasse de mim.
— O que tanto você tá pensando? — perguntou, acariciando os
desenhos que cobriam meu peitoral.
Tinha me perdido em pensamentos que nem percebi que despertou.
Um pequeno sorriso surgiu em meu rosto e puxei seu rosto para o meu e
lhe dei um beijo casto nos lábios.
— Bom dia, Bela Adormecida!
Seus olhos verdes se reviraram, mas sabia que se divertia com a
maneira carinhosa que a tratava.
— Ah, mal dormimos durante a noite, fico impressionada em como
consegue dormir pouco.
Dei de ombros, fingindo não ser nada de mais. Mas a verdade era que
sempre me mantinha em alerta e não poderia dormir por muito tempo, por
isso, também nunca tinha um sono pesado.
— Já me acostumei.
— Sei bem como é... — disse, mais para si mesma do que comigo e
algo me dizia que isso envolvia com as surras que levava.
— Você também não dormia bem? — sondei, tentando descobrir mais a
respeito de seu passado, mas Chiara engoliu em seco e resolveu mudar de
assunto, então entendi seu recado.
— No que você estava pensando? Parecia tão aéreo.
Já que ela não quis se abrir comigo, não inventaria um assunto que a
deixasse mais tranquila, por isso, optei pela verdade.
— Estava me perguntando se você quer ter filhos logo. — O corpo de
Chiara se enrijeceu no mesmo instante. — Não conversamos sobre isso até o
momento e não estamos nos prevenindo.
Ela assentiu, pensativa e por um tempo ficou em silêncio, já começava a
me incomodar sua falta de resposta.
— Eu tenho tomado anticoncepcional. — Sua resposta me surpreendeu,
pois não era uma decisão que deveria ter tomado sozinha, o olhar que lancei
em sua direção deve ter deixado claro que não aprovei sua decisão sozinha,
pois continuou a se explicar. — Eu sei que deveria ter comentado com você
logo que decidi por isso, mas fiquei com medo de que me obrigasse a
engravidar logo de início e ainda não me sinto preparada para ter um filho.
Sua sinceridade me desarmou momentaneamente e, por isso, resolvi
pegar leve.
— Não gosto que me escondam as coisas, Chiara! — Senti seu corpo
estremecer mediante a pronúncia de seu nome, afinal, não era algo que fazia.
— Se não está preparada para me dar um herdeiro, tudo bem, mas não quero
que me esconda mais nada.
Ela assentiu, sem me olhar nos olhos e isso me incomodou muito, como
se alguma coisa lá no fundo do meu subconsciente me alertasse que era
exatamente o que fazia, me escondia muitas coisas.
Levantei seu queixo para olhar em meus olhos e quando seus olhos
verdes encontraram os meus, perguntei, lentamente:
— Você me entendeu?
— Entendi — assumiu, num tom baixo, e o desvio rápido de seu olhar
me intrigou ainda mais.
Ela continuou em silêncio por mais alguns minutos, enquanto também
pensava na maneira que Chiara sempre parecia escapar de meus dedos.
— Você sabe que em algum momento vai precisar me dar um herdeiro,
certo? — Ela assentiu e depois de respirar fundo, me perguntou:
— Mas isso é algo que quer logo? — A apreensão em seu tom de voz
não me passou despercebido e fiquei imaginando o motivo pelo qual Chiara
parecia tanto temer em ter um, será que tinha medo do parto? Ou apenas não
gostava de crianças?
Por enquanto, resolvi apenas amenizar a situação e deixar esse assunto
para outro momento.
— Não. Quero apenas aproveitar minha esposa gostosa, não tenho
pressa. Quem sabe daqui a alguns anos.
Os ombros de Chiara relaxaram no mesmo instante e respirou aliviada.
— Não sou um monstro, amore mio. Não precisa ter medo de conversar
comigo, vou tentar entender os seus medos e fazer o que for melhor para nós
dois.
Seus olhos brilharam e tive a impressão de que umedeceram.
— Eu sei, você não é o monstro que pensei que fosse — admitiu,
subindo em cima de mim, e tomou meus lábios em um beijo repleto de
carinho.
Me contentaria por enquanto com isso, sabia que já era um grande passo
para alguém que me odiava há mais de dois meses.
— Na verdade, há um monstro aqui louco para te devorar.
Sua gargalhada invadiu nosso quarto, quando mudei nossa posição,
deixando-a costas na cama king size que nos encontrávamos.
— Nesse monstro eu me encontro viciada.
— Ainda bem, porque ele tá doido para comer você.
Depois disso, não tivemos mais tempo de falar mais nada, pois a
necessidade de nos fundirmos um ao outro era maior do que qualquer outra
coisa.
O final de semana não poderia ter sido mais perfeito.
Era tão bom ter um tempo apenas com Matt, que pensei seriamente em
pedir para que viéssemos morar aqui, nem que para isso precisássemos viajar
todos os dias, ou pelo menos vir mais vezes do que costumávamos fazer.
Esse último mês que começamos a nos envolver, simplesmente me
permiti ser feliz, tentei esquecer a merda da vingança e a cobrança iminente
que minha mãe continuava sobre mim. Ela estava cada vez mais desconfiada
que meu envolvimento com Matteo não era apenas por obrigação, mas
porque queria e ela não poderia estar mais certa nem que quisesse.
Quando me encontrava em seus braços, tudo parecia fazer sentido. Ele
me ajudava a esquecer um pouco da merda de vida que sempre tive e isso era
tão bom, que não conseguia mais resistir ao seu charme.
Parecia como um novo vício, mas um vício que me fazia bem.
Por esse motivo, evitava atender as ligações que minha mãe tanto fazia
e em algumas vezes que apareceu sem ser convidada, pedi que Francesca
dissesse que não me encontrava. Claro que me mandou algumas mensagens
falando um monte para mim, mas apenas ignorei.
Em paralelo a tudo isso, tentava encontrar uma coragem que parecia ter
se esvaído de mim em contar para Matt o que fui obrigada a fazer, pois sendo
verdadeira era possível conseguir seu perdão. Mas não conseguia encontrar
força de vontade suficiente para me abrir. E se ele cumprisse sua palavra e de
fato me matasse?
Eu estava tão fodida!
Era tudo tão simples, ele assassinou meu pai, eu o odiava, odiava sua
família, ajudar minha mãe não deveria ser tão difícil, mas tudo mudou. Seu
cavalheirismo, a maneira carinhosa que fazia amor comigo e até mesmo
quando dizia me foder, não conseguia ver isso como algo ruim, para ser
sincera, na verdade, parecia despertar algo em mim que nem eu mesma me
reconhecia. Sentia um fervor tomar conta de mim, todas as vezes que se
aproximava, todas as vezes que encostava em mim, parecia que meu corpo
entrava em combustão. Era algo inexplicável e muito bom.
Ele foi me conquistando aos poucos e quando percebi, já me encontrava
completa e fodidamente, apaixonada por ele. Pois é, era assim que me sentia
e a prova de tudo isso, foi ter reencontrado meu ex-namorado naquele
maledetta festa e não ter sentido nada! Nem uma palpitação sequer no peito, a
única coisa que senti foi um ciúme avassalador por Elisa ter me afrontado
daquela maneira e ter deixado claro que torcia para que eu falhasse em meu
casamento.
Por isso, pensava dia após dia em alguma maneira de tentar ajeitar a
merda de minha vida. De não perder Matt, de fazer alguma coisa que ele
pudesse me perdoar e, ainda por cima, continuar com ele.
Senti os dedos carinhosos de meu marido, acariciar em volta de meu
umbigo e perpassar seu cavanhaque de maneira lenta e tortuosa em meu
pescoço, isso foi o suficiente para sentir meus pelos se eriçarem por inteiro.
Como eu amava quando fazia isso!
— Queria ficar aqui todos os dias — comentou, mordiscando o lóbulo
de meu ouvido. — Só assim, nus e entre quatro paredes.
Soltei um riso e me virei de frente para ele, que se encontrava deitado
de lado, enquanto me torturava.
— Poderíamos vir para cá mais vezes — sugeri, mordendo um sorriso
safado em meus lábios, pois a minha intenção era apenas tê-lo todo para mim,
sem ninguém para o chamar a todo momento, igual acontecia na mansão.
Não que estivéssemos completamente sozinhos aqui. Não estávamos,
Leonardo e Mattia vieram juntos e estavam na parte debaixo da mansão,
como alguns seguranças de Matteo que também vieram.
— Se você quiser, podemos vir sim. Podemos revezar entre morar na
Sicília e Palermo sim.
Matteo sorriu e antes que eu pensasse em responder alguma coisa,
cortou a distância de nossos lábios e começou a me beijar sem pressa, suas
mãos apertaram minha cintura e colou nossos corpos nus. Senti sua ereção
crescendo gradativamente, conforme nosso beijo esquentava, mas como o
momento mais inapropriado possível, minha barriga roncou alto, fazendo
com que meu marido finalizasse nosso beijo e soltasse um riso, que fez com
que me ruborizasse.
— Vamos comer alguma coisa que não seja você. — Ele piscou seus
olhos acinzentados e revirei meus olhos.
— Vamos, afinal, nem só de sexo vive o homem — brinquei, ao me
levantar e vestir um roupão de seda vermelho.
— O que você quer comer? Quer que eu peça para entregar alguma
coisa aqui?
Até que seria uma boa ideia não ter que ir para a cozinha, mas por
algum motivo era o que eu queria, fazer alguma coisa para agradar Matteo,
por isso, neguei com a cabeça.
— Na verdade, vou fazer o jantar para a gente.
Era sábado à noite e ficaríamos aqui o domingo todo, iríamos embora
apenas na segunda de manhã.
Matteo vestiu apenas sua cueca boxer preta, que deveria ter dezenas
disponíveis em seu closet, me abraçou por trás e deixou um beijo, junto de
uma leve mordida em meu cangote.
— Ótimo! Te ajudo se quiser — sugeriu e quando ia respondê-lo que
não precisava, pois realmente queria o agradar, seu celular começou a tocar.
Ele se soltou de meu corpo e já senti sua falta. Observei quando
encontrou seu celular na cabeceira da cama e bufou assim que identificou
quem o ligava.
— Só um momento, amore mio. — Assenti e aguardei que atendesse a
ligação para irmos até a cozinha. — Fale, cazzo!
Matteo atendeu como se estivesse irritado pela interrupção, comecei a
pensar se talvez ali, apenas nós, não seria o momento de contar tudo que fui
obrigada a me envolver. Talvez se o contasse desde o início com o que
precisei passar, ele poderia me entender e não me matar. Quem sabe até
poderia me perdoar.
Suspirei frustrada em saber que meu castelo de areia desmoronaria
assim que o contasse, mas não aguentava mais o olhar e mentir sobre minha
vida, o que realmente já fiz. Se fosse esperar o momento certo, ele nunca
aconteceria, por isso, respirei fundo tomada por uma coragem que não sabia
de onde veio, decidida a lhe contar mais tarde depois do jantar, ou quem sabe
amanhã à noite no máximo.
Matteo andava de um lado a outra e aquela expressão de entediado
passou para nervoso de um segundo para o outro e um alerta acendeu em meu
interior no mesmo instante, com a possibilidade de não serem boas notícias
que viriam com esse telefonema.
— Eles estão aí ainda? — indagou, preocupado. — E meus pais, Pietro?
Mordi o canto de meus lábios, nervosa, conforme o observava andando
de um lado para o outro colocando suas roupas no corpo com apenas uma
mão.
Pelo visto acabou meu final de semana com Matt.
— Estou indo para aí! Chame reforços se precisar e tente manter alguns
vivos para descobrirmos algo a mais.
Ele desligou o telefonema enquanto vestia uma camiseta preta que
colava em seu corpo, então fui alcançar meu vestido para me arrumar, mas
ele segurou minhas mãos e me virou de frente para ele.
— Tentaram invadir a mansão, preciso ir para lá! — Deixou um beijo
casto em meus lábios. — Você vai ficar aqui com os seguranças.
— De jei...
— Não tem discussão, Chiara! Isso é uma ordem.
Engoli em seco com a maneira decidida que falou e tentei contra-
argumentar.
— Mas eu posso ajudar...
— Não, amore mio. Com você lá vou ficar ainda mais preocupado e o
que eles querem é me desestabilizar, por isso ficarei mais tranquilo sabendo
que você está aqui e em segurança, tá bom?
Suas palavras fizeram sentido e como não queria que nada de mal o
acontecesse, assenti a contragosto.
Ele me deu um beijo quente, segurando meu rosto com as duas mãos,
afastou-se, pegou seu revólver, olhou se estava carregado, seu celular e
quando foi sair, o desespero com que ele se machucasse e não voltasse me
tomou, por isso, corri até ele e o segurei.
— Matt? — Ele parou e olhou para mim. — Fique aqui comigo — pedi,
mas ele negou com a cabeça, com os olhos exalando compreensão. — Por
favor, fique aqui, deixe que seus seguranças cuidem disso... — supliquei,
abraçando-o.
— Que tipo de líder eu seria se deixasse que meus homens ficassem à
frente, enquanto fico escondido dentro de um quarto?
Eu sabia que estava certo, mas algo me dizia que ele não deveria ir.
— Eu sei, mas e se alguma coisa te acontecer... — Tentei mostrar o que
me afligia e ele voltou a segurar meu rosto com cuidado, abrindo um sorriso
terno.
— Fique tranquila, amore mio. Já estou acostumado com esse tipo de
situação e nem é a primeira vez que tentam invadir a mansão.
Respirei fundo, tentando acreditar em suas palavras, ele deixou um
beijo casto em meus lábios e quando abriu a porta, falei alto, com a voz
repleta de esperanças.
— Se cuida e volta logo, tá bom? — Ele deu aquele sorriso arrebatador,
lançou uma piscadela e respondeu.
— Com certeza, principessa. Você não vai se livrar tão fácil assim de
mim.
Dei um sorriso e vi suas costas se virarem e sair de nosso quarto,
deixando meu coração em frangalhos e preocupada com o que poderia
acontecer.

Já se passaram dois dias que estava enclausurada dentro dessa mansão e


os pensamentos pareciam cada vez mais aterrorizantes em minha cabeça.
Não tinha como ter certeza, mas alguma coisa me dizia que tinha o dedo
de Federico nisso tudo, assim como de minha mãe.
O fato de terem percebido que não podiam contar comigo, deviam tê-los
feito mudarem seus planos e, por isso, começaram a atacá-los diretamente.
Isso nunca fez parte dos planos, pelo menos não até onde me contavam.
Eu sabia que um dia o embate chegaria contra eles e talvez nem saísse
dessa com vida, pois minha mãe não pouparia a minha, considerando que não
fiz o que me foi exigido, mas não me importava mais. Genevive estava
protegida, até onde eu sabia. Leonardo sempre a visitava e dizia que seus
seguranças sempre iam com ela para qualquer lugar e ficavam em sua porta,
assim como acontecia comigo antes.
O problema era que se algo acontecesse comigo e Matt descobrisse que
eu o traí, provavelmente não me perdoaria e ainda tiraria os seguranças dela,
isso se não se vingasse inclusive de minha irmã.
Dio, como fui me meter nisso tudo?
Não sabia mais o que fazer, nem o que pensar. Todas as possibilidades
que passavam por minha cabeça acabavam comigo morrendo ou com meu
marido morrendo, só de pensar nessa hipótese, meu peito doía a ponto de
explodir.
Eu o amava. Mesmo que não quisesse assumir isso era o que sentia e
não adiantava mais fugir de meus reais sentimentos. Eu aprendi o amar e
precisava perdidamente dele, essa falta de informação de seu paradeiro e o
que lhe acontecia, parecia estar prestes a acabar comigo a qualquer instante.
Desci até o hall de entrada onde Mattia e Léo se encontravam, meu
primo se virou em minha direção no mesmo instante que ouviu meus passos
se aproximarem.
— Alguma notícia de Matteo? — indaguei, logo de uma vez, antes que
surtasse de vez.
Ele balançou a cabeça, com visível preocupação.
— Mas o que tanto aconteceu lá, afinal de contas, para ninguém atender
a merda do celular? — questionei, frustrada, sentando-me nos degraus sem
me importar com etiqueta e com quem me tornei.
Meu primo se sentou ao meu lado e me deu um meio-abraço, não resisti
mais e apoiei minha cabeça em seu ombro, enquanto percebia o olhar
intrigado de Mattia em nossa direção.
Ele não devia saber do nosso parentesco, por isso resolvi lhe esclarecer
para não dizer besteira ao meu marido.
— Ele é meu primo, Mattia. Não precisa correr e envenenar seu chefe
contra mim não — esclareci, com acidez em meu tom de voz.
— Não ia fazer isso, senhora. — Aham, vou fingir que acredito.
— Parece que vieram mais rebeldes do que o Don imaginava e eles
estavam preparados para enfrentar quem estivesse lá — confidenciou meu
primo e notei o olhar enviesado de Mattia em sua direção, com certeza ele me
deu uma informação que deveria ter sido confidencial, talvez para não me
alarmar.
Levantei-me num rompante, preocupada com o que poderia ter
acontecido com Matt.
— E vocês só me avisam agora? — indaguei, incrédula, enquanto subia
correndo para meu quarto e me troquei de roupa, sem pensar direito no que
fazia.
Depois de vestir uma calça preta justa que gostava de usar para treinar,
coloquei minha adaga na cintura e, também, meu revólver, algo que Don
também tinha deixado para alguma eventualidade eu ter como me defender.
Coloquei um casaco confortável preto e calcei uma bota confortável, depois
de prender meu cabelo em um rabo de cavalo no alto de minha cabeça.
Respirei fundo, ainda me sentindo insegura com o que faria, mas não
tinha treinado há tanto tempo para ficar aqui como uma mocinha indefesa, ao
invés de estar lá ajudando meu marido no que quer que fosse.
Eu tinha que ter escolhido um lado e desde que conheci Matteo, ele se
tornava minha melhor escolha. Ele sempre cuidava de mim, zelava por minha
segurança, ainda me machucava pensar que tirou meu pai de mim, mas eu
precisava seguir em frente, ajudar minha mãe e aquele verme do meu
padrasto não parecia o correto. Não quando eles queriam destruir aqueles que
me acolheram, me deram mais carinho e amor do que os do meu próprio
sangue.
Voltei descendo as escadas, disposta a ir até a mansão e chamei por meu
primo assim que o avistei sozinho.
— Léo, preciso que me leve até a mansão agora.
Ele me mediu de cima a baixo e arqueou uma sobrancelha, sabendo o
que eu pretendia.
— Nem por cima do meu cadáver que vou jogar você na cova dos leões,
você ficou maluca?
Respirei fundo, tendo certeza de que nada me impediria de fazer o que
queria.
— Não, mas não vou ficar aqui enquanto Matteo tá precisando de mim.
— Você tá vendo a tempestade que tá caindo lá fora? — Tentou colocar
juízo na minha cabeça, mas não me importei.
— Não é uma chuvinha que vai me matar.
— Chichi, você não tá sendo racional, está agindo por impulso e sabe
que as coisas nunca dão certo quando isso acontece — esclareceu, mas de
nada adiantou.
— Eu preciso ver meu marido! — falei, enfática. — Ele não me atende,
não me responde e se aconteceu alguma coisa com ele? Você não entende?
— Meus olhos lacrimejaram, irritada por ter que ficar pedindo autorização
para sair da minha própria casa.
— Mas foi ordem de seu marido que não deixasse você sair daqui, mia
ragazza.
— Leonardo, era para você me apoiar e não fazer o que ele mandou! —
gritei, virando as costas, e voltei para meu quarto, enquanto ouvia ele dizer
em volume alto.
— Estou apenas cuidando de você!
— Então cuide menos — rebati, irritada, como uma menina mimada,
mas não me importei.
Fiquei andando de um lado para o outro no quarto enorme que
dormimos apenas uma noite, alcancei meu celular e tentei mais três vezes
ligar para Matt e todas as ligações caíram direto na caixa postal. Resolvi ligar
para Sandra, talvez ela soubesse alguma coisa, pelo que Matt comentou ela e
Salvatore também tinham saído na sexta da mansão, o que achei bem
estranho por sinal.
Apenas Pietro ficou lá com o exército que trabalhava para a famiglia.
Será que eles sabiam de alguma coisa, por isso resolveram nos tirar de lá?
Comecei a raciocinar conforme ligava para minha sogra que atendeu no
segundo toque.
— Bambina querida, está tudo bem, minha filha?
Respirei aliviada ao ouvir sua voz, pelo menos ela se encontrava bem.
— Sim, estou ainda na mansão de Palermo, a senhora já voltou para a
mansão? — sondei. — Tô tentando falar com Matt, mas ele não me atende e
estou enlouquecendo sem nenhuma notícia.
— Ah, querida, não, ainda estou no nosso apartamento na Sicília.
Salvatore também está agoniado porque os seguranças não o deixam sair
daqui, foram ordens de Matt.
Pelo menos não fui só eu que fiquei enclausurada nessa casa.
— E ele sabe se tá tudo bem com ele? Com Pietro? Ninguém me
atende... — resmunguei, à beira de chorar.
— Infelizmente, não, bambina. Marco apenas atendeu Salvatore há
algumas horas dizendo que tiveram alguns contratempos.
Mas isso significava que meu marido estava vivo, certo? Do contrário,
ele teria falado para o pai de seu chefe.
Depois de conversarmos mais um pouco, desliguei o telefone ainda
inquieta com tudo que descobri, fui até a varanda de nosso quarto e olhei ao
redor do jardim que me cercava, não havia nenhum guarda nessa parte, talvez
eles estivessem olhando pelas câmeras, mas não me importei com o que
surgia em minha cabeça.
Olhei para o chão, notando a distância e voltei para o quarto,
procurando por lençóis que pudesse usar, com certeza encontraria alguma
corda na mansão, mas não perderia tanto tempo procurando por algo nessa
casa imensa, pois tinha certeza de que me perderia.
Amarrei o mais forte que pude, fazendo alguns nós no caminho para
facilitar que eu me segurasse, enlacei na grade da varanda, procurando por
algum segurança que não apareceu e, também, procurei por alguma câmera
em minha varanda e a única que achei, virei para o lado oposto para que não
me pegasse em flagra.
Respirei fundo, observando que a chuva que caía parecia muito forte e
isso não facilitaria minha fuga, mas segurei firme na grade, coloquei um pé
por vez para fora dela e tentei não olhar para baixo.
— Por favor, não solte — pedi, segurando no bendito lençol.
O local era um pouco mais alto do que a minha antiga casa e precisei de
quatro lençóis para conseguir chegar até o chão. Soltei um gritinho quando só
me segurava no lençol que balançava de um lado para o outro.
Calma, Chiara, se você cair, no máximo vai ganhar uma perna
quebrada ou um traumatismo craniano. Meu subconsciente não me ajudou
muito, mas me apeguei na parte que não morreria.
Desci devagar, já com meu corpo completamente ensopado da chuva,
mas tentei não me importar com os pingos fortes e gelados que feriam minha
pele – eu já passei por coisa pior –, e quando estava a cerca de um metro do
chão, soltei o lençol, caindo de pé no gramado. Suspirei aliviada e segui
devagar até a garagem que Matteo estacionou o carro, torcendo para que as
chaves estivessem lá, senão teria que sair daqui e procurar por um táxi.
Para a minha completa sorte, depois de ter me escondido de alguns
seguranças até saírem de minha vista, finalmente consegui entrar em uma
Land Rover que para minha completa sorte era automática e estava com a
chave na ignição.
Parecia até que a sorte estava ao meu lado.
— Calma, Chiara, é apenas um carro automático, não é como se você já
não tivesse dirigido um. É só não bater no poste e em nenhum outro carro —
disse para mim mesma.
Digitei o endereço da mansão no GPS do meu celular e liguei o motor,
sabendo que teria que ser rápida, pois o ronco dele atrairia olhares e não
queria ter que machucar nenhum dos seguranças que prezavam pelo meu
bem-estar.
Engatei o câmbio para que pudesse funcionar e afundei o pé devagar em
um dos pedais, tomei um susto, mas respirei fundo e voltei a acelerar, à
medida que sentia meu coração quase saltando pela boca.
Obviamente que os seguranças começaram a vir em minha direção,
apontando a arma para me parar, mas quando o Leonardo apareceu gritando
para que as abaixassem, porque era eu, eles obedeceram e tentaram entrar na
frente do carro para impedir que eu seguisse meu caminho, mas apertei a
buzina e comecei a acelerar ainda mais. Ou eles saíam, ou eu passaria por
cima, mas nada me impediria de ir até onde Matteo estava.
— Sai! — gritei, mesmo mal enxergando nada à minha frente por causa
da chuva torrencial que prejudicava minha vista, mas vi quando pularam da
frente do carro e o portão foi aberto no último instante, para que eu não o
quebrasse todo, afinal, isso prejudicaria a segurança da mansão.
Respirei aliviada por não ter atropelado ninguém e segui o caminho que
o GPS me indicava, aliviada pelas ruas estarem vazias a essa hora da noite.
Sabia que meus seguranças me alcançariam em breve, mas isso não me
impediria de chegar em Matteo primeiro.
A todo instante meu coração parecia prestes a saltar do peito e ele só se
acalmou quando finalmente cheguei próximo à mansão e estacionei um
pouco distante da entrada para não chamar a atenção. Não era idiota assim de
me expor, não sabia como se encontrava a segurança dela, mas algo me dizia
que não ia nada bem.
Tranquei o carro, coloquei o capuz e andei pelas árvores que dariam no
jardim da mansão.
Depois de andar por sabe-se lá quanto tempo, finalmente enxerguei a
parte lateral da mansão, onde tinha aquele calabouço que Matt sempre estava,
mas nunca me deixou conhecer, não que eu tivesse muita vontade, mas já me
peguei curiosa.
A chuva tinha dado uma amenizada, mas ainda chovia continuamente.
Fiquei observando um pouco mais para ver se enxergava alguma coisa que
mostrasse que nada ia bem e poderia me colocar em risco, caso seguisse até
lá, mas como não vi ninguém, além de poucos seguranças, todos sujos de
sangue e parecendo exaustos.
O jardim estava um caos, todo quebrado e com várias marcas de
sangues espalhadas pelo gramado, mas não conseguia ver direito por estar de
noite. Meu coração voltou a descompassar com medo de que o sangue de
algum deles fosse de meu marido e, por isso, precisei inspirar e expirar
algumas vezes para não surtar ali mesmo.
Quando saí devagar do meio das árvores com meu revólver em uma
mão e a adaga na outra, pronta para entrar na mansão, enxerguei Matteo subir
as escadas do calabouço, acompanhado de Marco e Carlo atrás deles.
Respirei aliviada finalmente por vê-lo bem. Ele parecia exausto e se
encontrava imundo, mas aparentemente não estava machucado.
A chuva molhava todo o seu cabelo e meu marido passava as mãos,
jogando-o para trás, sem se importar de estar todo ensopado enquanto seguia
em direção à mansão.
Não resisti mais a distância que nos separava e gritei por ele.
— Matteo! — Como se não acreditasse no que ouvia, ele estancou no
lugar, se virou procurando por minha voz e quando seus olhos encontraram
os meus, aquele sorriso de lado que tanto amava surgiu em seus lábios e
comecei a correr em sua direção.
Deixei cair minha arma e minha adaga no chão, sem me importar,
diminuindo cada vez mais a nossa distância. Matteo também começou a
correr em minha direção, parecendo desacreditado com a cena à sua frente.
Pulei em seu colo, no meio da chuva sem me importar com mais nada e
colei nossos lábios, matando a saudade que me matava aos poucos com a
distância que tivemos. Nossas línguas pareciam prestes a se engolir, tamanho
era a nossa saudade. Ele segurava em meu quadril, enquanto meus dedos
adentravam em seus cabelos molhados.
— Você é maluca! — disse entre um beijo e outro. — Como veio parar
aqui? Ordenei que ficasse lá, em segurança, você tem ideia do risco que
correu? — repreendeu, e eu encolhi meus ombros, sabendo que fui
inconsequente, mas estava enlouquecendo naquele lugar.
— Eu precisava saber se você estava bem. Você não me atendeu, não
me mandou uma mensagem.
— Meu celular quebrou no meio do alvoroço, agora que as coisas
acalmaram, ia te ligar do celular do Marco — explicou e relaxei no mesmo
instante em que ouvi suas palavras. — Mas como que você conseguiu chegar
aqui, não estou vendo nenhum dos seus seguranças? — indagou, incrédulo,
colocando-me de volta no chão e já senti falta de nossa proximidade.
— Eu fugi. — Fiz uma careta, encolhendo meus ombros de novo,
sabendo que levaria uma bela de uma bronca. — Mas eles devem estar
chegando... — Tentei amenizar a situação, mas parei de falar quando ouvi um
disparo próximo de onde estávamos.
Soltei um grito assustada, mas não senti nada me atingir, foi quando
olhei para a frente e vi o corpo de Matt envergar para a frente e sua mão ir até
próximo do peito e ela começar a umedecer de sangue. Arregalei meus olhos,
tentando segurar seu corpo que parecia prestes a cair a qualquer instante
sobre mim e gritei.
— Ajuda! Marco, Carlo, me ajuda! — Continuei gritando, tentando
colocar Matteo deitado no chão com cuidado. — Amor, por favor, fica
comigo. — Comecei a chorar compulsivamente, apertando o local que foi
atingido em seu peito para estancar o sangue.
— F-foge! — Matt tentou falar, mas balancei a cabeça, negando-me a
deixá-lo dessa maneira.
— Marco, me ajuda! — Voltei a gritar, quando percebi que ordenava
que seus seguranças fossem atrás de onde veio o tiro e como tudo se
encontrava escuro dificultava suas vistas.
Por um segundo, olhei na direção de onde a arma disparou e enxerguei
aquele sorriso diabólico que já aterrorizou meus dias tantas vezes. Logo
depois, ele desapareceu na escuridão.
— Me ajuda a levar o chefe para dentro! — Marco pediu a Carlo, que se
prontificou no mesmo instante.
Continuei com a mão no peito tentando estancar o sangramento,
enquanto eles o levavam para dentro.
— Fique acordado, amor. Não feche os olhos... — continuei pedindo,
vendo meu marido cada vez mais distante e o terror se avolumava dentro de
mim.
Assim que o colocaram no chão, Marco rasgou sua camiseta e começou
a fazer algumas ligações gritando do outro lado, enquanto Carlo correu para a
dispensa.
— Princi... — Tentou falar, mas eu coloquei um dedo sobre seu lábio,
aos pratos.
— Xii... não se esforce para falar agora... — Chorei ainda mais. — Você
vai ficar bem, você vai ver... — Deitei meu corpo sobre o dele e me debulhei
aos prantos com a culpa me tomando por completo. — Desculpe, amore mio.
Desculpe, é tudo culpa minha, me perdoa, por favor. Fique comigo — desatei
a pedir sem parar, repetindo as mesmas palavras a todo instante. — Eu te
amo, Matt, te amo, tá me ouvindo, você não ouse se afastar de mim agora! —
ralhei, beijando sua boca, que sangrava um pouco.
Um leve sorriso surgiu no rosto dele e o acariciei em meio às lágrimas.
— P-precisei... l-levar um tiro — disse com esforço em volume muito
baixo —, para ouvir...
— Desculpe por isso, amor! Prometo que daqui em diante vou te falar
todos os dias de nossas vidas para recompensar meu erro.
Alguns segundos ou minutos, não sabia dizer, senti um braço me puxar
de cima dele.
— Venha, Chiara! — Deixe o Carlo cuidar dele.
Senti meu corpo ser afastado de cima dele e Carlo se abaixou, me
olhando com um olhar intrigado enquanto retirava algumas coisas de dentro
de uma maleta médica. Não gostei do olhar que direcionou para mim, mas
não tinha tempo para pensar nisso nesse instante, apenas Matt me importava.
Ele jogou um líquido rançoso e vermelho no local atingido pela bala e
disse ao meu marido:
— Isso vai doer. Marco segura ele, preciso tirar a bala, até a ambulância
chegar.
Engoli em seco, desacreditada com o que faria.
— Mas o que você vai fazer? Você tá louco de mexer nele e se você o
matar?
Ele não me respondeu, continuando seu trabalho, mas Marco o fez.
— Ele é médico especialista em primeiros socorros, ele sabe o que fazer
nesses momentos. Acho melhor você ir para lá — pediu.
— Não, vou ficar ao lado de Matt o tempo todo.
Eles trocaram um olhar e Carlo cortou com um bisturi o local, depois de
ter colocado uma luva cirúrgica e foi colocando seu dedo para sentir a bala.
Uma poça de sangue embaixo de seu corpo aumentava e meu desespero
também, cada vez mais.
— Acabei de sentir, parece que não atingiu o coração.
Senti meu ombro relaxar um pouco, pois mesmo que eu fosse leiga
nesses assuntos, sabia que ali seria vital e, possivelmente, nem estaria mais
vivo.
Ele puxou sua mão, pegou um alicate fino e comprido, colocou dentro
de seu peito e puxou devagar até que retirou a bala dele.
Nesse momento, ouvi um barulho imenso se aproximar e soube que era
um helicóptero. Carlo colocou vários gases no local que ficou aberto de seu
peito para estancar o sangramento e enfaixou com uma faixa branca.
Avistei alguns homens vestidos de branco entraram na casa com uma
maca e alguns equipamentos, acompanhado de Leonardo e Mattia, que se
encontravam ofegantes.
— Dio! — exclamou Léo, ao ver a cena à sua frente. — Como isso foi
acontecer? — E só dele perguntar, as lágrimas em meu rosto voltaram a se
intensificar porque era tudo culpa minha.
Leonardo me puxou de perto de Don, que continuava com minha mão
segurando as suas, para que a equipe médica fizesse o seu trabalho.
Agarrei meu primo e desatei a chorar ainda mais em sua camiseta toda
suja.
Depois deles colocarem algumas coisas em Matt, o deitaram sobre a
maca e o levaram para o helicóptero, sendo acompanhado de Marco e Carlo,
saí dos braços de meu primo e fui correndo junto.
— É melhor você voltar para a mansão, senhora! — Marco disse,
enquanto o colocavam no helicóptero.
— Nem em sonho vou voltar para lá, enquanto meu marido foi baleado.
— Passei pelo brutamontes que eram e corri para ir junto.
Carlo parou em minha frente com cara de poucos amigos e disse,
colocando uma mão a sua frente para me parar:
— É melhor ir de outra maneira.
Estreitei os olhos, incrédula.
— Eu sou esposa dele, vou com ele e quero ver alguém me impedir! —
Empurrei com toda a minha força e ele nem saiu do lugar, mas não me
importei, dei a volta em seu corpo e subi com a ajuda de um socorrista, me
sentei ao lado de meu marido e segurei a sua mão por todo o caminho.
Não me passou despercebido o olhar que Carlo continuou me lançando.
Virei meu rosto e voltei a olhar para meu marido, que se esforçava para se
manter acordado, mas se encontrava cada vez mais pálido.
— Nunca vou te abandonar, amore mio. Vou compensar tudo que te fiz,
eu prometo — disse, em seus ouvidos enquanto acariciava seus cabelos sujos
do sangue que escorreu pelo chão.
Assim que chegamos aquele mesmo hospital, que era destinado para
cuidar da famiglia, Matt foi levado ao centro cirúrgico e ali não pude mais
acompanhá-lo.
Já me encontrava há quatro horas naquela sala de espera o aguardando e
parecia que as lágrimas tinham se secado de meu rosto, pelo tanto que chorei.
Fiquei reclusa em meu canto, sem querer conversar com ninguém
pensando em tudo que aconteceu nas últimas horas.
A sala estava reservada para a família e as pessoas que nós
autorizássemos, por isso Leonardo e Mattia se encontravam aqui, para a
minha segurança e porque precisava de meu primo. Dona Sandra chegou uma
hora depois, junto de Salvatore e seu estado era deplorável, assim como o
meu. Seu pai também se encontrava abatido, mas era mais duro e ficou
abraçado em sua esposa o tempo todo lhe apoiando. Pietro se encontrava
sentado ao meu lado, indignado por não ter conseguido alcançar aquele
maledetto, pois assim que Matt foi baleado, ele correu em direção do atirador,
junto dos seguranças, mas de nada adiantou, pois não o encontrou.
Uma equipe ainda continuava o procurando, mas assim que ele ouviu o
barulho do helicóptero, quis vir ficar com seu irmão, até que estivesse fora de
perigo, pois era assim que pensávamos, que ele sairia dessa. Ele precisava
sair, do contrário, nunca me perdoaria.
Eu ter aparecido lá, bem naquele momento, distraiu Matteo exatamente
como ele dissera que poderia acontecer, mas a necessidade de vê-lo e saber
que se encontrava bem foi maior do que meu raciocínio em ficar em casa
aguardando que voltasse.
Sentia-me tão imatura certas vezes, que chegava a ficar com raiva de
mim por ter atrapalhado e colocado sua vida em risco. Outra coisa que não
saía de minha cabeça, era a imagem daquele desgraçado sorrindo assim que
atingiu seu alvo e viu o estado em que fiquei.
Não sabia o motivo para me odiar tanto e descobrir que fazia parte da
equipe de Federico, não deveria ter me surpreendido, considerando como
sempre foi ruim, entretanto, não negava o quanto fiquei surpresa quando o vi
e torci muito para que não só o pegassem, como também o matassem com
muita lentidão, pois era isso que eu o faria caso colocasse minhas mãos sobre
ele.
— Você quer um café? — Leonardo, que se encontrava ao meu lado
direito, perguntou. — Você precisa comer alguma coisa.
Não respondi nada, apenas neguei com a cabeça, ainda perdida em
pensamentos.
Senti um olhar em cima de mim e já sabia de quem se tratava, Carlo,
que a todo instante me olhava pensativo, parecia desconfiado e isso
começava a me incomodar mais do que gostaria. Não o olhei mais, não queria
lidar com o que quer que fosse nesse momento, mas algo não me agradava
em seu modo de agir desde que Matteo foi baleado. Por isso, ignorei-o, mas
sentia seu olhar em cima de mim em todas as horas que nos encontrávamos
ali.
Depois de sabe-se lá quanto tempo, um médico por volta dos cinquenta
anos apareceu, cansado e tirando sua máscara ao chegar à sala de espera.
— Família Lucchese? — Todos nós nos levantamos num rompante.
— C-como ele está, doutor? — Sandra começou a perguntar
— Ele está fora de perigo? — Pietro perguntou, com os olhos fundos de
quem não dormia há dias.
— Deixem o médico falar, cazzo! — ralhou meu sogro, impaciente, e
assim que olhou para o médico, fez um gesto para que ele continuasse. —
Fale, caspita!
Ele respirou fundo e começou.
— O senhor Lucchese perdeu muito sangue, mas para nossa sorte
nenhum órgão vital foi atingido, o fato de ter sido socorrido na hora,
facilitou. Mas isso não impediu que tivesse que receber muitas bolsas de
sangue para o ajudar na sua recuperação. Ele se encontra inconsciente no
momento, o colocamos em coma induzido para que não se esforce quando
acordar. Ele precisa descansar para se recuperar e as primeiras 48h serão
essenciais, dependendo de sua evolução nesse período, começo a retirá-lo do
coma.
Um nó se formou em minha garganta ao imaginar meu marido tão
exposto dessa maneira e olhei para Pietro.
— É melhor colocar alguns guardas de confiança na frente da porta em
que ele se encontra.
Como não me encontrava mais por dentro dos planos de minha mãe,
achei melhor evitar que alguém fizesse alguma coisa contra ele.
— Sim, já pedi para Marco providenciar isso assim que chegamos.
Fiquei aliviada em ouvir isso, pois mostrava que Pietro pensava o
mesmo que eu e estava um passo à frente.
Ter ouvido as palavras do médico, aliviou um pouco o peso que sentia
afundar meu peito, pois sabia que Matt sairia dessa, era apenas questão de
tempo.
Quando o médico começou a sair, corri até ele.
— Doutor, posso ver meu marido?
— Daqui a pouco, ele está sendo transferido para o semi-intensivo e
vocês poderão vê-lo um pouco, apenas os familiares mais próximos, tá bom?
Assenti, satisfeita em poder vê-lo nem que fosse um pouco.
Voltei a me sentar mais calma e comecei a recordar de como reagi
quando Matt foi baleado, fiquei desesperada, a ponto até de ter me declarado,
dizendo que o amava, algo que pensei que não admitiria com facilidade,
mesmo que já soubesse o que sentia.
Não falei porque ele não merecia saber e ouvir isso, mas era porque
nunca tive esse tipo de tratamento de ninguém, então não era fácil me
declarar, mesmo que quisesse, era como se algo me impedisse de dizer as
palavras necessárias, ficava travada, envergonhada. No entanto, quando o vi
daquela maneira, elas simplesmente saíram num rompante, com o medo me
envolvendo de que nunca as ouvisse.
Fiquei arrependida por não ter contado a verdade, pois talvez ele
estivesse mais preparado para o que enfrentou e nada disso teria acontecido.
Se arrependimento matasse, com certeza, não me encontraria respirando
nesse instante.
Levantei-me e resolvi ir lavar meu rosto no banheiro, para acalmar a
enxurrada de pensamentos que me bombardeavam a todo momento e fiquei
incomodada com o olhar intenso que Carlo continuava me lançando. Era
como se soubesse de algo e senti minha pele se arrepiar com a mera
possibilidade de que meu sexto sentido estivesse certo.
Assim que abri a porta do banheiro, fui direto para a pia e joguei água
no meu rosto e lavei melhor minhas mãos, que ainda tinha resquícios do
sangue de Matteo.
Olhei em direção ao espelho, o dia começava a amanhecer e o cansaço
começava a cobrar seu preço. Desde sábado à noite que não dormia,
preocupada com meu marido, minhas olheiras e olhos fundos pareciam ainda
mais evidentes.
Respirei fundo, voltando a me recordar das palavras que cheguei a dizer
para Matteo, eu não sabia dizer se ele tinha entendido o que quis dizer e o
motivo pelo qual pedia desculpas, ele não se encontrava em um bom
momento para raciocinar minhas palavras, mas eu baixei a guarda e tomei
para mim a culpa do que lhe aconteceu, isso já era suficiente para que tomar a
decisão de que independentemente do que ele me fizesse, eu contaria tudo
que sabia e o que fui obrigada a fazer.
Quem sabe me perdoasse como fui sincera, torcia para isso, pelo menos.
Mesmo que ele resolvesse me matar, seria melhor do que continuar com a
culpa me assolando, jamais me perdoaria se algo de pior lhe acontecesse. Por
isso, precisava saber e pelos meus lábios, para que sua raiva fosse menor.
Depois de usar o banheiro e me sentir mais composta, abri a porta do
banheiro e dei de cara com Carlo, com seu corpo escorado no batente da
porta, enquanto acariciava seu revólver, como se estivesse tentando
amedrontar alguém e suspeitava que essa pessoa, fosse eu.
Quando coloquei meu pé para passar por ele, sem entender o que fazia
ali, ele colocou um braço em minha frente, impedindo minha passagem.
— Me dê licença, por favor? — pedi com educação, não gostando
nenhum pouco de sua abordagem.
— Sabe, Chiara... — Chiara, não senhora Lucchese. — Dificilmente
erro com alguém e meu alerta se acendeu com a reação e a maneira
desesperada que pediu desculpa ao Matteo, eu espero de verdade que esteja
errado referente a você. — Senti os pelos do meu braço se arrepiarem com
seu comentário, mas tentei não demonstrar como me amedrontava. — Porque
se você fez alguma coisa, eu vou descobrir e não quero nem ver o que Matteo
fará com você se estiver certo.
Engoli em seco, mas levantei meu queixo, afinal, não iria abaixar minha
cabeça para ele.
— Sim, eu pedi desculpas a ele, porque fui uma fonte de distração
naquele momento, se não tivesse aparecido, ele talvez não teria sido baleado.
— Era uma verdade. — Mais alguma coisa, senhor Ricci? — indaguei,
olhando dentro de seus olhos, mesmo que sentisse meu corpo inteiro
tremendo com sua afronta.
Ele abaixou seu braço, mas seu olhar ainda exalava desconfiança.
— Não, senhora Lucchese, pelo menos por enquanto — disse meu
nome com o mesmo deboche presente em minha fala anterior.
Não esperei que dissesse mais nada e passei pisando duro, em direção à
sala de espera, ainda mais decidida a resolver minha situação e contar ao
Matteo de uma vez, antes que Carlo o fizesse, caso descobrisse de fato
alguma coisa que me comprometesse.
Uma coisa era fato, de toda maneira eu o perderia, mas pelo menos ao
saber pela minha boca, tinha pelo menos uma pequena chance de ser
perdoada.

Depois de uma hora aguardando, o médico responsável pelo caso de


meu marido veio me chamar para vê-lo, por educação perguntei à Sandra se
ela queria visitá-lo primeiro, mas ela deu um sorriso fraco e disse que iria
depois de mim. Por isso, não perdi tempo e segui até meu mafioso, ansiosa
para o ver.
Notei quatro seguranças mal-encarados no corredor e imaginei que
fosse o quarto de meu marido, assim que o médico parou entre eles, abriu a
porta e disse:
— Você pode ficar apenas quinze minutos, tá bom? Ele ainda está bem
debilitado, por isso não quero ficar arriscando com muitas visitas.
Assenti e entrei no quarto que se encontrava.
Assim que o olhei, deitado como se dormisse, mas ligado a vários
aparelhos e bem mais pálido do que de costume, não resisti mais em segurar,
as lágrimas voltaram a invadir meus olhos e caíram desenfreadas, conforme
me aproximava da cama. Era tão angustiante vê-lo dessa maneira.
Acariciei seu rosto com delicadeza e mesmo não devendo, aproximei
meus lábios do dele e deixei um beijo casto nos seus.
— Me perdoe, amore mio. Me perdoe! — Voltei a dizer, com a culpa
ainda mais presente depois das palavras de Carlo. — Eu prometo que vou
fazer de tudo para que você me perdoe um dia. — Caso ele não te mate
antes. Meu subconsciente me recriminou.
Sentei-me ao seu lado, em uma poltrona disponível, segurei sua mão e
deitei minha cabeça sobre ela para sentir o máximo de seu contato que fosse
possível, sem me importar de que as lágrimas não cessavam em nenhum
momento.
Depois que os quinze minutos se passaram, uma enfermeira bateu à
porta, me avisando que já tinha dado o meu tempo, assenti e voltei a minha
atenção para o meu marido.
— Eu te amo, tá bom? Vou ficar lá fora te esperando até eu poder ficar
aqui do seu lado o tempo todo, quero te ver bem e acordado. — Deixei um
beijo casto em seus lábios, toquei seu rosto com delicadeza e saí, me sentindo
mais deprimida ainda por ter que deixá-lo ali, sozinho.
Havia passado dois intermináveis dias, até que finalmente o médico
avisou que começaria a tirar Matt do coma induzido, como seu corpo se
recuperava melhor do que o esperado.
Fiquei tão feliz, ainda mais porque havia saído do quarto semi-intensivo
e já se encontrava em um quarto normal.
Por esse motivo, não saí de perto dele em nenhum momento sequer,
queria estar ao seu lado quando abrisse seus olhos. O doutor chegou a dizer
que poderia levar de horas até alguns dias para que despertasse, mas me
sentia esperançosa de que meu Matt acordaria logo.
O dia todo se passou, mas nada aconteceu e já começava a ficar
agoniada de que demorasse, sentia sua falta, da maneira carinhosa que me
tratava e como pronunciava “amore mio” e “principessa”. Minha saudade
era tão grande que chegava até a sonhar nas poucas vezes que o cansaço falou
mais alto e dormi ao seu lado na poltrona disponível em seu quarto.
Minha sogra trouxe algumas roupas para que eu me trocasse e tomasse
banho no banheiro em seu quarto, pois apesar de ela ter insistido para que
fosse para a mansão para descansar, não arredei o pé do hospital por nenhum
momento.
Estranhei quando comunicou que voltaram para a mansão, pois o jardim
pelo menos estava um caos quando fui lá, não reparei no pouco que entrei em
seu interior, pois não tive cabeça para pensar nisso, mas ela comunicou que a
área mais afetada foi a parte externa, pois seus guardas não permitiram que
conseguissem invadir nossa mansão, o que me deixou extremamente aliviada.
Ela também me contou que Pietro quem estava no comando com o
auxílio de seu pai, até que Matt se recuperasse.
Chegava até ser engraçado vê-lo em ação, Pietro sempre foi tão
carismático, com uma aura mais leve ao seu redor, que nem parecia o mesmo
quando se encontrava envolvidos nos problemas que a máfia lhe trazia,
parecia que vestia uma máscara e se tornava outra pessoa completamente
diferente. Esse Pietro era mais temido e chegava a ter receio de mexer com
ele.
Comecei a passar a mão em seu rosto, que parecia mais magro do que
de costume e meus olhos lacrimejaram, com a tristeza me envolvendo pelo
que poderia ter lhe acontecido, se Carlo não o tivesse socorrido a tempo,
apesar de não ter atingido nenhum órgão vital, ele perderia muito sangue e
isso poderia ter sido fatal.
Não queria nem imaginar como me sentiria caso alguma coisa lhe
acontecesse, isso me destruiria e não queria passar por isso novamente.
Nunca mais.
Suspirei frustrada, deitada sobre seu braço, mas sem jogar meu peso
sobre ele, como tinha alguns acessos intravenosos em sua veia para passar o
soro e os remédios.
— Acorde, amore mio. Por favor, acorde por mim, para ficar comigo.
— Algumas lágrimas despencaram de meus olhos, algo que parecia
corriqueiro nesses últimos dias. — Eu te amo tanto, me desculpe por não ter
assumido antes, eu sou cabeça-dura, mas isso você já sabe, não é? —
brinquei, mas assumindo algo que todos sabiam ser verdade. Desde que Matt
ficou desacordado, eu ficava falando com ele, pois minha esperança era de
que seu subconsciente ouvisse e isso talvez o incentivasse a voltar para mim.
— Prometo que vou tentar melhorar nisso e te ouvir quando me prender
dentro de casa, eu sei que não fiz por mal, mas tenho esse problema de ser
impulsiva às vezes.
Continuei acariciando sua pele, perdida em milhares de pensamentos,
inclusive como a vida poderia ser uma filha da puta.
— É engraçado sabe, às vezes fico desacreditada que fui me apaixonar
justamente pelo homem que matou meu pai. — Soltei uma risada anasalada,
sem nenhum humor. — Na verdade, não é engraçado, eu sei, chega a ser bem
trágico, mas se alguém me dissesse que aconteceria isso comigo há dois
meses, eu gargalharia da piada que a pessoa me contou, mas foi exatamente o
que aconteceu comigo.
Beijei sua mão com carinho, como sempre fazia e voltei a deitar meu
rosto sobre ela.
— O que importa é que eu amo você e você precisa voltar logo para
mim, pois não tô aguentando mais de tanta saudade — reclamei e, de repente,
senti alguma coisa mexendo em meus cabelos.
O ar me faltou por um instante, apreensiva que estivesse imaginando
coisas e levantei meu rosto de maneira lenta, foi então que notei aqueles
olhos acinzentados que tanto amava olhando para mim.
— Ah, Dio mio! — Levantei-me num rompante, segurando seu rosto
entre minhas mãos observando um leve sorriso em seu rosto. — Você
acordou, amore mio, você acordou, você voltou para mim... — Comecei a
deixar vários beijos em seu rosto, seus lábios, enquanto as lágrimas voltavam
a cair descompassadas de meus olhos.
Ele soltou um riso, conforme o enchia de beijos e quando me afastei,
lembrando que precisava avisar a enfermaria, disse em tom baixo, por causa
da garganta machucada por ter ficado entubado:
— T-também amo você, principessa.
O fato de poder ouvir isso de novo, depois de toda a apreensão que
aconteceu nos últimos dias, a saudade que me matava aos poucos e o medo
de perdê-lo, fez com que as lágrimas começassem a inundar meus olhos e
comecei a chorar como nunca.
Depois de alguns segundos que o abraçava e tentava acalmar meu
histerismo, sentindo seu acariciar em meus cabelos de maneira leve, me
levantei, segurei seu rosto com minhas mãos e deixei um beijo casto em seus
lábios.
— Desculpe por isso, tenho estado mais sentimental nos últimos dias do
que o normal. — Ele sorriu e meu coração se derreteu. — Como senti falta do
seu sorriso. — Acariciei o desenho volumoso de seus lábios, mas então me
lembrei de que precisava chamar os médicos. — Agora, deixe eu cuidar de
você, pois teremos tempo para nós dois depois.
Matteo tentou protestar, mas fingi não ouvir e apertei a campainha,
chamando os médicos e enfermeiras. Assim que uma delas apareceu, abriu
um sorriso satisfeita por vê-lo acordado e informou que chamaria o doutor.
Poucos minutos depois, o doutor apareceu e fez todos os exames
necessários.
— Você está ótimo, senhor Lucchese. Talvez dentro de alguns dias já
consiga ter alta.
Meu marido mesmo ainda abatido, arqueou a sobrancelha de maneira
ameaçadora e precisei conter o riso, abaixando o rosto.
— Alguns dias, doutor? Não posso esperar por alguns dias. — Sua voz
ainda se encontrava rouca, mas depois de tê-lo dado um pouco de água, havia
melhorado.
— Sinto muito, senhor. Mas os pontos ainda estão muito recentes e caso
não se cuide, é perigoso abrir e voltar a perder sangue, e isso você já perdeu
demais.
Ele respirou fundo, procurando por uma paciência que não tinha e
voltou a debater.
— Qual é, cazzo? Foi apenas um raspão.
Foi a vez do médico arquear a sobrancelha e meu marido teimoso
revirou os olhos.
— Deixe o médico fazer o seu trabalho e pare de seu turrão. — Seus
olhos amenizaram a ira quando me encontraram e fiquei ainda mais feliz em
ter esse poder sobre ele. — Você precisa cuidar de sua saúde agora, para
poder trabalhar depois — falei, de maneira dura e com convicção.
Um sorriso de lado sensual surgiu em seus lábios e não consegui evitar
de retribuir.
Ouvimos o pigarrear do doutor e olhamos em sua direção, sem nos
importar com nossa demonstração erótica há poucos minutos.
— Bom, então estamos entendidos. Dependendo de sua recuperação,
posso tentar lhe dar alta em dois dias. Vou pedir para trazerem algo para que
coma, senhor Lucchese.
Dito isso, ele saiu, preenchendo alguns papéis, e voltei minha atenção
ao meu marido.
— Você fica tão sexy sendo mandona. — Gargalhei alto e mordi meu
lábio, tentando conter minha euforia.
— E você é um devasso, mesmo quando acorda de um coma, Dio!
— O que posso fazer, faz parte de quem sou.
— E eu amo isso em você — assumi, deixando um beijo úmido em seus
lábios que sorriam.
— Nunca vou cansar de ouvir isso. Acho que preciso ouvir mais vezes,
sabe, para me recuperar mais rápido. — Ri alto de seu cinismo.
Apoiei meus braços sobre a cama, ficando com o rosto próximo do seu,
sorri e respondi:
— Eu te amo, meu amor. Amo tanto que vou te falar isso todos os dias
de minha vida.
E isso era verdade, provaria minha promessa para que quando
descobrisse a verdade, quem sabe, se lembrasse desse momento e me
perdoasse.

Quando Marco me ligou avisando que a mansão estava sendo invadida


por rebeldes, fiquei cego de raiva e não pensei duas vezes em seguir até lá.
Tudo fazia parte do plano e isso apenas provou que realmente havia
algum infiltrado dos rebeldes entre nós. Havíamos espalhado a notícia apenas
para funcionários que trabalhavam diretamente conosco, na mansão, de que
eu e Chiara não estaríamos no local naquele final de semana e como
premeditado, eles invadiram o local.
A questão era: se não me queriam lá, então o que queriam, afinal de
contas? Pegar meu pai desprevenido? Era uma opção que já passou por
minha cabeça, considerando que ele fez muitos inimigos durante sua vida
como o capo da Cosa Nostra. Ele estaria vulnerável lá, sem muitos
seguranças que imaginavam que me acompanharia e fizeram exatamente
como deduzi.
Mas não esperavam que, com a desconfiança de que algo poderia
acontecer, tiraríamos meus pais de cena.
Mas não negava que fui surpreendido com a quantidade de pessoas que
havia lá e os armamentos pesados que usavam contra nós.
Pietro não tinha saído da mansão e como precisava de alguém à
espreita, preferi que fosse ele, Marco e Carlo. Tinha que tirar Chiara de lá e
usei a oportunidade para isso sem pensar duas vezes, levando-a até nossa
mansão em Palermo. Também não tinha lhe contado a respeito, não porque
não confiava em minha esposa, claro que confiava. Mas apenas porque não
quis lhe preocupar.
Foram dois dias intensos, quando pensava que tinha acabado aquelas
pragas, outros apareciam do nada e até chegaram a lançar bombas caseiras,
sobre nós.
Sinceramente, o tiro que levei foi pouco do que poderia ter acontecido.
Pietro chegou a levar um de raspão, mas não o machucou muito. Carlo
ganhou um corte em seu rosto de presente e Marco também foi atingido por
uma bala, só que naquele momento usava um colete de proteção que impediu
que o pior acontecesse.
Caso eu estivesse usando no momento que fui baleado, também teria
evitado todo esse transtorno, mas tinha tirado aquela merda no calabouço.
Como as coisas tinham se acalmado poucas horas antes e tínhamos acabado
com todos os homens que foram loucos o suficiente de vir contra nós.
Deixamos alguns vivos e os prendemos para tentar tirar novas informações
relevantes para nos auxiliar a desvendar esse mistério que tinha nos dado
mais dor de cabeça do que imaginava.
Acreditava sim que fui distraído por Chiara, afinal, nunca imaginava
que a encontraria ali no meio daquele caos, então achava que não teria sido
atingido, caso ela não tivesse surgido. Mas fui muito idiota por não ter
imaginado que minha principessa rebelde, não arrumaria uma maneira de
escapar de meus homens, afinal, era Chiara Lucchese e ela não conhecia
limites e o pior, eu amava isso nela.
Deveria ter tentado contatá-la, talvez teria evitado seu surto para fugir
da mansão. Mas realmente não tive tempo para pensar nisso.
Quando a vi, pensei primeiro no quanto sentia saudade de minha
Oncinha e depois me recordei que não nos encontrávamos nas melhores
situações e era perigoso ela ficar exposta ali, ainda mais se as pessoas que
armaram tudo isso, quisessem me atingir. Não pensariam duas vezes em usar
meu ponto fraco contra mim. E a prova disso, foi quase terem conseguido
drogá-la naquela noite da boate.
Pouco tempo depois que acordei, meu quarto foi invadido por aqueles
que daria minha vida para impedir que algo os acontecesse. Minha mãe, não
parava de chorar e me abraçar, grata a Dio por ter acordado finalmente, meu
pai também exalava emoção, mesmo que tentasse disfarçar, Pietro já agia
diferente com seu jeito sarcástico, dizendo que finalmente poderia descansar,
pois em breve eu voltaria a trabalhar e que era para tomar mais cuidado da
próxima vez. Carlo e Marco também se encontravam lá e não me passou
despercebido a maneira que Carlo encarava minha esposa e parecia querer me
dizer alguma coisa.
Conhecia o meu homem de confiança o suficiente para saber que nem
precisaria me dar ao trabalho de lhe questionar, assim que tivesse
oportunidade ele tomaria atitude por si só.
Começamos conversar sobre o que descobriram nos últimos dias que
me encontrei ausente e minha mãe convidou minha esposa para comer
alguma coisa na lanchonete, como a conversa iria longe. Percebi que ela saiu
a contragosto, mas lancei um sorriso para que assim o fizesse e ela foi.
— Então, o que descobriram, afinal? — indaguei, sem conseguir
disfarçar a ansiedade para resolver logo toda essa merda.
— Descobrimos que suas suspeitas estavam certas e a intenção deles era
pegar nosso pai desprevenido — Pietro começou.
— E Pietro também — disse meu pai, com cara de poucos amigos.
A fúria tomou conta de mim por completo, com a mera possibilidade de
tocarem em minha família e quis me levantar no mesmo instante, mas a dor
aguda atingiu meu peito com o esforço, me lembrando de que de fato não
poderia ser negligente nesse momento.
— Ainda bem que pensamos nisso e o tiramos de lá, não é, papà.
Ele revirou seus olhos prateados como o meu e debateu:
— Coloco muito daqueles rebeldes ainda no bolso com uma mão.
— Não duvido disso, mas não precisamos ter mais uma coisa para se
preocupar num momento daquele — rebati. — O que mais descobriram?
Dessa vez foi Marco quem tomou à frente.
— Disseram que não era para te matar, tinham outros planos para você.
Estreitei os olhos desacreditado com a ameaça recebida.
— Que planos?
Ele deu de ombros, visivelmente irritado.
— Não sabiam dizer. Apenas disseram que sua hora ainda não tinha
chegado. Que no máximo poderiam brincar com você, assim como
costumava fazer com aqueles que capturavam, mas era para o manter vivo.
Enchi meu pulmão de ar e o soltei devagar, tentando acalmar a raiva
que tomava conta de mim a cada instante mais.
Olhei para Carlo que prestava atenção em nossa conversa sem muito a
dizer e o questionei:
— E quanto a você? Descobriu alguma coisa?
Ele me encarou de uma maneira que senti os pelos do meu corpo se
arrepiarem, em seus olhos podia enxergar a dúvida, como algo parecido como
empatia, não tinha certeza, mas o que o dominava por completo era o ódio.
— Tenho algumas suposições, mas não quero dizer até ter certeza.
— Você não acha que seria interessante contar para que todos talvez te
ajudassem a desvendar? — ironizei, arqueando minha sobrancelha.
— Talvez sim, se fosse outra situação. Por enquanto, peço que confie
em mim que se estiver certo, você saberá em breve.
Não gostei do seu tom de voz e a convicção que pareceu ter que eu não
gostaria de saber, mas apenas assenti, sem dizer mais nada.
Continuamos conversando, afinal, precisava descobrir todos os
prejuízos que tivemos, tanto financeiro, na mansão e a quantidade de homens
que perdemos.
Pedi para que Marco abastecesse nossos estoques de armamento, com
os mais pesados possíveis para que não fôssemos surpreendidos novamente.
Ficamos algumas horas reunidos ali no meu quarto, bolando estratégias
para que resolvêssemos tudo o mais rápido possível, Chiara e minha mãe já
tinham retornado e participado de uma parte da conversa.
O telefone de minha esposa começou a tocar sem cessar e a todo
instante ela rejeitava a ligação, imaginei que fosse para não interromper nossa
reunião.
— Pode atender, principessa — sugeri, segurando em sua mão.
— Não é importante.
— Não é o que parece, seu celular não para de tocar.
Ela respirou fundo, visivelmente inquieta e seu celular voltou a tocar.
— Com licença — pediu e, se afastou para o canto do quarto. — Alô.
Meu pai voltou a falar, mas não conseguia prestar atenção em nada do
que dizia, me atentando no corpo rígido de minha esposa com a ligação que
atendeu. Notei pelo canto do olho que Carlo fazia o mesmo e isso também
chamou a atenção de Marco.
— Ele não está em condições de receber visita, outro dia vocês fazem.
Seu rosto, que era branco como a neve, parecia estar em chamas e sabia
que algo a irritava mais do que tentava demonstrar.
— Quem é, Chiara? — indaguei, em volume alto, querendo saber o que
a incomodava.
— Só um minuto — disse para a pessoa do outro lado a contragosto, e
voltou seu rosto em minha direção, engolindo em seco. — É minha mãe e
meu padrasto, eles querem subir aqui para vê-lo. — Ela limpou a garganta e
continuou: — D-diseram que estão preocupados quando souberam o que
aconteceu.
Então era isso, Chiara apenas se preocupava, pois não queria me expor e
me estressar sem necessidade, por isso lancei um sorriso terno a ela e disse:
— Não tem problemas, pode permitir que subam.
Ela foi protestar, visivelmente contrariada, mas a cortei.
— Eles são sua família, por consequência a nossa também. Pode
permitir que subam.
Ela abaixou os olhos, respirou fundo e voltou a ligação.
— Ok, podem subir, vou liberar a entrada de vocês. — Depois disso, ela
desligou com a cara fechada.
O clima pareceu pesar depois disso, Marco e Carlo disseram que
aguardariam ao lado de fora, como era um momento entre família.
Chiara mudou depois disso, ficou mais contida, um pouco fria,
principalmente quando sua família chegou alguns minutos depois.
— Senhor Lucchese, fiquei tão preocupada quando soube que foi
baleado naquela rebelião — sua mãe disse, assim que me viu, depois de
cumprimentar Chiara com um beijo no rosto e um abraço, que pareceu ser
forçado da parte de minha esposa.
Prestava atenção em cada detalhe que fazia, visto que conseguia saber
quando era verdadeira e quando fingia ser. E, definitivamente, ela fingia
cordialidade ao lado de seu padrasto e mãe, em especial na frente dele.
Já havia percebido que não tinham uma boa relação como a minha com
os meus pais, mas percebia que boa chegava a ser eufemismo. Ela parecia
não os querer por perto e isso era, no mínimo, intrigante. O que será que eles
tanto lhe fizeram?
Desconfiava que eram eles quem a espancavam e não me admiraria se
descobrisse que sua mãe fizesse parte disso, mas uma parte de mim ainda
tentava acreditar que ela não infligiria a própria filha. Mas já tinha visto
tantas coisas com meros trinta anos que não duvidava de mais nada.
Era algo que estava disposto a resolver e tentar tirar de Chiara essas
informações, ainda mais como havíamos nos aproximado muito, talvez ela,
enfim, se sentisse à vontade de se abrir comigo.
— Deviam ter me contatado para ajudar vocês no dia da invasão, só
soube depois que já tinham resolvido tudo — Federico se prontificou, não
sabia o motivo, mas não acreditava que de fato fazia tanta questão com isso.
Devia estar paranoico, pois ele nunca havia dado motivos para desconfiarmos
de seu trabalho com a famiglia.
— Agradeço a preocupação, mas não foi nada de mais. Só estou
internado porque acabei perdendo muito sangue até chegar ao hospital, mas o
atirador deveria treinar melhor sua mira, para atingir certo da próxima vez.
— Matt! — repreendeu-me Chiara e lhe lancei um sorriso apaziguador.
Percebi a maneira que sua mãe a observou, parecia intrigada com a
maneira preocupada que Chiara demonstrou e isso me deixou ainda mais em
alerta.
Ela não deveria ficar satisfeita com isso? Afinal, era algo que eles
queriam.
— Mas ainda bem que ele era um péssimo atirador, do contrário,
poderíamos ter perdido nosso capo — Federico bajulou e assenti, sem ter
interesse nenhum em interagir com ele, ainda mais percebendo a maneira
rígida que Chiara ficava apenas em ouvir sua voz.
— Mas agora meu filho está bem, vamos acabar com a vida desses
maledettos que estão tentando nos destruir — ralhou meu pai, indignado.
— Com certeza, conte comigo para o que precisarem — Federico
respondeu com solicitude.
Depois de mais alguns longos minutos de visita, finalmente eles foram
embora e para meu alívio, meus pais e Pietro também.
Claro que os amava, mas me sentia cansado, ainda mais por causa dos
remédios que tomava e queria ficar apenas com minha principessa.
Depois que tomei banho com sua ajuda e ela também o fez, minha
esposa se sentou ao meu lado e segurou minha mão. Mas fui um pouco para o
canto da cama e bati ao meu lado vazio.
— Deite-se aqui comigo — pedi e ela não pensou duas vezes em o
fazer.
Chiara subiu e deitou seu rosto em meu ombro, como meu peito estava
sensível ainda e ficou fazendo círculos com seu dedo macio em meu
antebraço. Todas as coisas que notei com a visita de sua família ainda me
incomodavam, por isso resolvi sondar, como nos encontrávamos sozinhos.
— Você não se dá muito bem com sua família, não é?
Percebi que a mera menção fez com que seu corpo se enrijecesse. Mas
ela respirou fundo e negou com a cabeça.
— Não, sempre senti que era um peso para a minha mãe — assumiu,
envergonhada. — Quando conheci sua mãe e vi a maneira carinhosa que trata
você e seu irmão, cheguei a desacreditar que ela de fato poderia ser tão
carinhosa, afinal, nunca tive isso.
Fiquei indignado com a possibilidade de uma mulher tão linda, meiga e
carinhosa nunca ter recebido carinho de sua mãe.
— Mas aos poucos eu vi que era dela, pois ela também começou a me
tratar como os trata e comecei a descobrir o que é ser amada. — Ela me olhou
de canto de olho e abaixou seus olhos. — Desculpe, talvez seja coisa de
minha cabeça, mas é assim que me sinto quando ela me chama de bambina.
— E seu pai, você tinha uma boa relação com ele? Lembro vagamente
dele e ficamos bem chateados quando soubemos de sua morte — comentei,
por cima ao relembrar que tinha visto no dossiê que fiz de Chiara alguns
detalhes sobre ele e me recordei que meu pai o adorava.
Chiara se empertigou no mesmo instante com o que falei e estreitei
meus olhos sem entender.
— Que foi? Falei alguma coisa de errado? — questionei, um pouco
apreensivo com a maneira com que me olhava, parecendo incrédula com as
minhas palavras.
Ela olhou para frente e ficou em silêncio perdida em pensamentos, mas
não mais deitada em meu corpo. Parecia com os pensamentos distantes e
queria ter o poder de acessá-los para lhe entender melhor.
— Ele era o único que demonstrava amor por mim — disse depois de
alguns minutos. — Claro, antes de começar a se envolver com as drogas,
depois disso ele mudou.
Assenti, sem saber ao certo o que lhe falar, afinal, era algo que me
sentia mal. Vendia as drogas, era um grande traficante, mas nem por isso,
queria que boas pessoas se afundassem nela. Seu pai foi um dos homens que
se viciou no meu próprio produto.
— Sinto muito que ele tenha se viciado no que vendia. — Resolvi ser
sincero. — Chegamos a perdoar sua dívida e sugerimos que ele se internasse,
meu pai tinha vários planos para ele, queria que assumisse um cargo bom,
tínhamos bons planos para ele. Fiquei decepcionado quando soube de seu
assassinato, era um bom homem.
Ela se levantou num rompante balançando a cabeça de um lado para o
outro, parecia desacreditada com algo que ouviu e chegou a rir com puro
nervosismo.
— O que está acontecendo, principessa?
Ela abriu a boca para dizer algo, mas a fechou de novo.
Depois de alguns segundos, que pareceram horas, finalmente disse:
— Desculpe, não sabia disso. Que ele informou a vocês que ia se
internar, minha mãe nunca me disse isso. Talvez não soubesse.
Seu comentário me pegou de surpresa e não hesitei em lhe dizer.
— Como não, ela estava junto da reunião que meu pai e eu fizemos com
ele? — Vendo a fúria estampada nos olhos de minha esposa, optei por tentar
amenizar a situação. — Talvez ela não tenha achado relevante entrar nesses
detalhes.
As lágrimas começaram a despencar sobre seus olhos voltando a se
sentar, enquanto chorava.
Levantei-me mesmo com um pouco de dificuldade, sentei-me em outra
poltrona que tinha disponível e a puxei para meu colo, ela se sentou de lado,
apoiou seu rosto em meu ombro e desatou a chorar por longos minutos.
Fiquei acariciando seus cabelos e beijando sua têmpora, enquanto dizia:
— Fique calma, amor. Estou aqui com você, pode contar comigo para o
que precisar.
Dez dias se passaram desde que Matt teve alta do hospital. No entanto,
mal tivemos tempo juntos, pois meu marido se encontrava pilhado tentando
descobrir quem estava por trás dos atentados que sofremos.
Deveria ter lhe falado? Sim. Tive coragem? Não.
Sabia que muitos me julgariam no meu lugar, mas não era fácil tomar
essa decisão, não quando eu romperia a bolha em que nós vivíamos desde
que me entreguei a ele. Não queria perder mais disso e mesmo que de
maneira inconsciente, sabia que era exatamente o que aconteceria. Eu o
perderia.
Outra coisa que também não me incentivava nenhum pouco era o fato
de ter grandes chances de morrer junto de Federico e Irene, nem queria
pensar na possibilidade de que o mesmo acontecesse com Genie, sendo que
nem sabia das coisas que aconteciam.
Remexi-me na cama imensa e quando fui procurar por meu marido,
suspirei frustrada sabendo que já tinha saído e mais uma vez dormi além da
conta, algo que acontecia mais do que gostaria. Nunca fui o tipo dorminhoca,
uma porque onde morava eu mal conseguia dormir, principalmente quando
meu padrasto se encontrava lá, tinha medo de cair em um sono profundo.
Desde que me casei e percebi que Matt não me faria mal, comecei a dormir
bem melhor, mas de toda maneira não dormia por tanto tempo.
Não sabia dizer se era por conta do estresse que cada dia mais me
tomava e chegava a me deixar sonolenta, ou se era apenas cansaço mesmo.
Observei uma foto minha e de Matt que se encontrava em cima da mesa
de cabeceira e um sorriso surgiu em meu rosto, peguei em minha mão e
acariciei o contorno de meu marido.
As coisas que me falou aquele dia no hospital não saíam de minha
cabeça e ficava me perguntando se seria verdade ou se era alguma forma de
me manipular. Pensei em ligar ou até ir a minha antiga casa para questionar
minha mãe sobre isso, mas eu tinha certeza de que tentaria me manipular
contra meu marido e não era isso que queria.
Precisava descobrir quem de fato matou meu pai, tal descoberta corroía
meu coração cada vez mais.
Sempre odiei Matteo e a família Lucchese por achar que havia o matado
e era esse o principal motivo que me apeguei a tentar ajudar minha mãe. Não
que eu tivesse muita escolha, preferia que fosse eu do que minha irmã, claro.
Mas pelo menos entraria em um casamento sem o ódio descomunal que
carregava em meu peito.
Saber que até sugeriram interná-lo para que ficasse bem e saísse daquilo
que se enfiou, me deixou atordoada. Minha mãe nunca comentou nada a
respeito comigo. E ficava me perguntando por que teria escondido tal
informação?
Será que era essa sua intenção? Continuar alimentando meu ódio pelos,
até então, assassinos de meu pai? Fazia sentido a conhecendo tão bem.
Ela se encontrava doente e precisava de tratamento, pois essa obsessão
para os destruir passava dos limites aos meus olhos. O que ela achava? Que
eu engravidaria de Matteo e teria o próximo sucessor da famiglia? Até aí
sabia que sim, mas não era bem assim, demoraria muitos anos para que
crescesse e pudesse assumir seu cargo. Isso, se fosse ele, tinha chances de vir
uma menina.
Ou talvez...
Engoli em seco com a mera possibilidade do que realmente queriam e
quando me levantei num rompante, senti uma tontura me envolver, precisei
me sentar na cama novamente para que não caísse. Mas que merda acontecia
comigo?
Assim que normalizou meu mal-estar, respirei devagar, mas continuei
sentada refletindo sobre os reais planos daqueles dois.
Será que pensavam que eu como a única integrante viva da família
Lucchese colocaria Federico para comandar até que meu filho tivesse idade
para isso?
Comecei a rir em puro desespero, com a mera possibilidade de um dia o
fazer.
Jamais faria isso! Nem que tivesse que atirar em minha cabeça e me
matar antes, mas então meu filho ficaria sob os cuidados deles e eles
tomariam o poder.
— Cazzo!
Então eu mesma assumiria essa merda, mas jamais permitiria que ele o
fizesse. Na verdade, se algo acontecer com Matt, eu mataria esse desgraçado
antes.
— Calma, Chiara! Vai dar tudo certo. Ninguém daqui vai morrer, você
vai dar um jeito nessa merda que se enfiou. — Tentei acalmar meu
nervosismo, mesmo que nem eu acreditasse em minhas palavras.
Mas tinha que ter um jeito, apenas tinha que ter.
Levantei-me devagar para ter certeza de que não me sentia mais zonza e
fui até a vidraça, usando apenas meu baby-doll. Passei a olhar o imenso
jardim e como minhas atividades estavam em dia, pensei na hipótese de pegar
um novo livro e ler sentada em frente ao lago, na cadeira de balanço.
Precisava tentar distrair minha cabeça, quem sabe assim eu conseguisse
planejar algo mais sensato, porque a única escolha que enxergava era revelar
tudo a Matt.
Nesse momento, notei Carlo caminhando ao telefone e parecia irritado.
Ele era outro que desde que Matt foi baleado, andava me olhando de uma
maneira estranha, me deixava incomodada e muito desconfortável.
Não sabia se meu marido chegou a perceber, se sim, não comentou nada
comigo. Mas eu tentava até evitar ficarmos juntos no mesmo ambiente desde
então, pois não gostava nenhum pouco do olhar recriminador que me lançava.
Cheguei a pensar na hipótese de ter descoberto a verdade sobre mim,
mas então ele também saberia sobre minha mãe e seu marido, sendo assim
Matt não estaria sofrendo para descobrir o que acontecia.
Uma batida à porta chamou minha atenção e olhei em sua direção.
— Pode entrar — autorizei, indo em direção a ela.
Francesca apareceu com uma bandeja repleta de café da manhã.
— Bom dia, dona Chiara. O senhor Lucchese pediu que trouxesse para
a senhora, pois perguntou há pouco se tinha descido para se alimentar.
Como poderia destruir isso que tínhamos, com tanto cuidado que tinha
por mim?
Será que era tão egoísta querer ter um pouco mais de amor por mais um
tempo? Nunca tive isso e era tão triste saber que me odiaria depois disso.
— Obrigada, Francesca. Não precisava se incomodar, já ia me arrumar
para descer — menti, pois me sentia tão perdida em pensamentos que nem
me lembrei do café da manhã, sendo que já tinha perdido metade da manhã.
Sentei-me na cama e Francesca me ajudou colocando a mesa portátil
para facilitar.
— Matt está lá embaixo? — perguntei, pegando um pouco do café para
tomar.
— Ele está no escritório, com o senhor Pietro e Marco. Estão tão
preocupados com tudo isso que tem acontecido, que não saem de lá. Às vezes
preciso levar algo para que comam, do contrário ficam até sem comer o dia
todo.
Fui rir, mas, de repente, senti uma ânsia me tomar por completo,
coloquei a mão na boca, empurrei a mesa que graças a Dio era de rodinhas e
saí correndo até o banheiro da suíte.
Levantei a tampa do vaso e despejei o pouco de café que tinha tomado e
aquele ácido estomacal, afinal, me encontrava de estômago vazio.
Senti as mãos de Francesca segurando meus cabelos, enquanto ficava
ajoelhada até que o mal-estar passasse.
— Grazie![8]
Levantei-me com aquela bendita tontura me tomando de novo e escovei
meus dentes, em seguida joguei também um pouco de água em minha nuca.
— Está melhor? — Francesca perguntou e assenti. Mas seu olhar
preocupado pelo espelho dizia que não acreditava. — Não seria melhor ir ver
se o bebê está bem? Tomar algum remédio para aliviar o enjoo...
Arregalei os olhos perante seu comentário, enxaguei minha boca e me
virei para ela.
— Do que você tá falando? Não tem bebê nenhum aqui.
Ela soltou um riso, veio até mim segurou minha mão e me guiou de
volta à cama.
— Querida, você tem dormido mais do que o normal recentemente. —
Fato! — Vez ou outra sente tontura e vomitou algumas vezes essa semana,
pensa que não sei?
Olhei-a com pura incredulidade.
Dio mio! Tudo menos isso, per favore[9].
— Estou há muito tempo sem me alimentar, deve ter caído minha
pressão, não há de ser nada de mais.
— Querida, já tive três filhos, sei muito bem quando alguém está
grávida. Acho melhor ir logo até o médico, quer que eu chame o senhor Lu...
— Não! — gritei, exasperada. — Não, por favor. Desculpe por ter
gritado, mas ele já está cheio de problemas na cabeça e não quero lhe
incomodar com uma tontura boba.
— Não é uma tontura boba, dona Chiara. E conhecendo o senhor
Matteo como conheço, tenho certeza de que vai amar a novidade, mas ficarei
quieta por enquanto, para que saiba pela senhora.
Neguei com a cabeça, a verdade era que não queria acreditar na mera
hipótese de que estivesse certa.
— Isso não faz sentido, tomo anticoncepcional certinho, todas as ve...
— Sentei-me ao me recordar do tempo que Matteo ficou internado, não voltei
para a casa e nem lembrei da merda do remédio. — Dio! Eu tô tão ferrada.
Senti o colchão se afundar com Francesca ao meu lado, que pegou
minha mão com carinho.
— Bambino é bênção, querida. Vai dar tudo certo e você tem a mim e
dona Sandra para lhe ajudar.
As lágrimas tomaram meu rosto e abracei Francesca, me debulhando
em lágrimas, sabendo o quanto isso ferrava minha vida. Não poderia ter me
esquecido de tomar meu remédio, não poderia ter engravidado de jeito
nenhum. Isso era tudo que minha mãe queria para poder matar Matteo e
tomar posse do que queriam.
Voltei a me deitar depois de um tempo em posição fetal, completamente
desesperada com o que faria. Não poderia seguir com essa gestação, mesmo
que isso acabasse comigo, mas eu não poderia fazer isso.
Francesca disse que pegaria um chá de camomila para me acalmar e
saiu, me deixando sozinha.
Continuei chorando por horas a fio e agradeci por meu marido estar tão
ocupado que não veio me ver.
Isso era uma catástrofe.
Era tudo que não poderia ter acontecido. Depois de sabe-se quanto
tempo que fiquei chorando, as lágrimas pareciam finalmente terem secado de
meu rosto, me levantei e fui tomar um banho, para tentar melhorar um pouco
do desastre que me encontrava.
Observei o almoço intocado em cima de uma mesinha no canto do
quarto e minha barriga roncou de fome. Obriguei-me a ir até lá e comer um
pouco, mesmo que a contragosto. Depois que me senti mais recomposta, fiz
uma maquiagem para tentar disfarçar os olhos inchados de quem chorou o dia
todo e saí, querendo confirmar as suspeitas que Francesca colocou em minha
cabeça.
Leonardo e Mattia me acompanharam até a farmácia mais próxima e
antes de entrar, pedi que aguardassem lá fora e comprei três testes de
gravidez.
Assim que retornei para o carro, sentia meu peito descompassado que
parecia a ponto de explodir a qualquer instante.
Mattia dirigia e percebi que meu primo me olhava desconfiado, mas
ignorei seus olhares. Seria tão bom se pudesse desabafar sobre a merda que
acontecia na minha vida, quem sabe ele me ajudasse a bolar alguma coisa que
me tirasse dessa, mas não queria o envolver nisso.
Quando saí do carro, ele puxou meu braço devagar e olhei em sua
direção, fingindo normalidade.
— Está tudo bem? — indagou, preocupado.
Assenti e forcei um sorriso no rosto.
— Está sim, Léo. Só acordei indisposta.
Ele continuou me encarando, talvez pensando se acreditava ou não em
minha desculpa e continuou.
— Sabe que pode contar comigo para o que precisar, não é?
Dessa vez o sorriso foi verdadeiro.
— Eu sei, obrigada. Está tudo bem.
Dito isso, voltei para a mansão e tentei passar desapercebida por
Francesca e dona Sandra. Não me sentia em clima de ficar batendo papo,
precisava confirmar tudo e queria o fazer sozinha, em breve Matteo voltaria e
não daria para fazer mais nada.
Subi as escadas rapidamente e assim que cheguei em meu quarto o
tranquei, para não ter risco de ninguém entrar. Muito menos, Matteo.
Fui direto para o banheiro, li as instruções das caixinhas e fiz conforme
era informado.
Alguns minutos depois, que pareciam horas, voltei em direção às réguas
que mostrariam o que aguardava para meu futuro, respirei fundo, pensando se
realmente queria descobrir o que tinha ali e meu celular começou a tocar
disparado.
Fui até ele, para ganhar mais alguns minutos antes de ter certeza do que
me aguardava e vi que era minha mãe que me ligava. Deixei que a ligação
caísse na caixa postal, não passou nem dez segundos e a ligação voltou a me
atormentar, rejeitei a ligação, sem a mínima paciência.
Quando virei o corpo para voltar em direção ao banheiro, ouvi uma
notificação de mensagem de voz, já imaginava de quem era, por isso disquei
a caixa postal para ouvir o que me cobraria nesse dia.
— Chiara, qual a merda da dificuldade de atender esse telefone? Temos
negócios a tratar. Federico está me infernizando dizendo que você não tá
fazendo a sua parte do trato. Nunca nos dá informações relevantes sobre
esse desgraçado, nem de ninguém aí dos Lucchese, cazzo. Já tô perdendo
minha paciência com você, garota! Já se casou há meses e até agora nada de
engravidar, se eu descobrir que tá fazendo algo que impeça isso, eu te mato,
desgraçada, você tá ouvindo? Eu mato você junto de todos eles, sem pensar
duas vezes. Vou te dar mais uma chance, se não receber nenhuma
informação relevante até amanhã, vou mandar Alexandre fazer uma visitinha
para sua querida amiga, para terminar o que começamos aquele dia na
boate!
Dito isto, ela desligou a chamada e senti uma tristeza ainda maior me
envolver com a possibilidade de Giana ser machucada por minha culpa. Isso,
acumulado a tudo que já me atingia durante o dia, foi motivo suficiente para
voltar a chorar.
Depois de meia hora sentada no chão chorando, sem saber que merda
fazer de minha vida, me levantei e fui em direção ao banheiro para confirmar
minhas suspeitas e quando observei as duas tirinhas em destaque, uma
mistura de tristeza e alegria começou a me envolver.
Coloquei a mão sobre meu ventre, sentindo a sensação de ter um ser tão
pequeno em meu gerando aqui dentro, que se fosse em outro momento,
estaria pulando de alegria, por finalmente ter alguém do meu sangue que
tinha certeza de que me amaria e que faria tudo por ele. Mas era um sonho
num momento errado e não poderia me apegar a essa gravidez.
Deitei-me na cama, com as tirinhas em minhas mãos, enquanto me
afundava em uma tristeza sem-fim. Tudo estava perdido. Eles estavam
ganhando essa batalha e só havia uma maneira para que não a vencessem.
Engoli em seco, tentando criar coragem para fazer o que se formava em
minha mente.
Amava Matteo, amava sua mãe, seu pai e até mesmo Pietro. Não
poderia permitir que esse pequeno ser que começava a crescer dentro de mim,
matasse a todos ao nosso redor, por causa da ganância descabida de minha
mãe.
O dia começava a escurecer e sabia que meu marido chegaria a qualquer
instante.
Sentei-me, alcancei meu celular e comecei a procurar pelo que
precisava fazer com urgência, para evitar que tudo ao meu redor desabasse de
vez. Isso me matava, mas não tinha alternativa.
Disquei o número indicado, sentindo meu corpo todo tremer em
nervosismo e com as lágrimas cegando minha vista, enxuguei-as com o dorso
da mão, pois teria o pouco que me restava de vida para chorar por isso. Pois
se Matteo não me matasse por descobrir minha traição, me mataria pelo que
teria que fazer.
Assim que terminei de agendar o que precisava para o dia seguinte,
Matteo abriu a porta, que havia destrancado assim que escondi as tirinhas em
minha gaveta de calcinhas, um local que não costumava mexer.
Agradeci e encerrei a ligação de uma vez.
— Tudo bem, carino? — perguntou, ao se aproximar e se sentar ao meu
lado, com um semblante preocupado.
Assenti, forçando um leve sorriso no rosto.
— Sim, só estava agendando uma consulta para amanhã. Ando muito
sonolenta, devo estar com ausência de alguma vitamina e vou fazer um
exame.
— Quer que eles venham até aqui?
Neguei no mesmo instante.
— Não, preciso sair um pouco, tenho ficado muito aqui dentro de casa.
Ele assentiu, parecendo pensativo com o que me afligia.
— Tem alguma coisa te incomodando tanto para estar com esses olhos
vermelhos? Ou pensou que não perceberia que anda chorando?
Claro que ele perceberia. O que não passa por esse homem que me
envolve?
— Só estou preocupada com tudo que tem nos acontecido. — E isso
não era bem uma mentira.
Ele suspirou frustrado, aproximou seus lábios do meu e pediu acesso
aos meus para um beijo calmo, como se soubesse que isso me tranquilizaria
por um instante e mais certo não poderia estar.
Assim que nos afastamos, que para mim foi mais rápido do que queria,
disse.
— Fique tranquila, vamos resolver isso, tá bom? — Assenti, sabendo
disso, pois eu estava disposta a isso e ele saberia quem procurar para resolver
tudo. — Tenho uma coisa para lhe dizer, vou precisar viajar essa madrugada.
Não queria me ausentar com você desse jeito, tão abatida, mas realmente não
tenho alternativa.
— Para onde você vai? — questionei, já sentindo sua falta.
— Para o México, tenho algumas coisas importantes para resolver com
uma grande remessa que temos que entregar lá. Considerando tudo que tem
acontecido com as minhas cargas, não posso deixar de acompanhar a entrega
dessa, ela é muito grande. Mas queria pedir uma coisa a você.
— Sim, o que quiser.
— Por favor, não fique saindo daqui. Nesse tempo que vou estar
ausente, fique apenas na mansão, tudo bem amanhã você vai à consulta e
depois já volte para cá e não saia mais até eu retornar. Não vou ficar em paz
se algo lhe acontecer comigo longe, carino. Promete para mim que vai me
ajudar.
Assenti, sabendo que não o distrairia de novo, como fiz na última vez.
— Prometo, amore mio. — Seus ombros relaxaram visivelmente mais
calmo. — Vai voltar logo?
— Talvez em dois ou três dias. Eles já foram de navio para lá, vou ir de
jatinho pela madrugada para chegar lá antes da entrega. — Não disse nada,
não sabia o que dizer. — Agora venha aqui, principessa, quero animar você
um pouquinho antes de ir embora.
Um riso fraco, mas sincero surgiu em meus lábios.
— Talvez eu tenha uma ou outra ideia de como pode me ajudar —
provoquei, tendo meu corpo deitado, e senti os lábios de meu marido
mordiscarem os meus.
— Ficarei satisfeito em fazer cada um deles.
Matteo tomou meus lábios em um beijo repleto de desejo, ternura e
muito amor. Sabia que nossos dias estavam com o tempo contados, por isso,
me permiti ter uma noite de despedida daquele que eu tanto amava. Naquele
momento, não quis pensar em bebê, nem em vingança, nem em como ele me
odiaria quando voltasse, só queria demonstrar o quanto eu o amava e sentir o
quanto ele me amava.

Saí bem cedo da mansão e como Matt já tinha viajado há algumas


horas, facilitou para que não tivesse problemas com isso. Tinha pensado em
pedir para que Giana fosse comigo, mas não queria que carregasse esse peso
sob os ombros, já bastava eu com a culpa me assolando.
— Fiquem aqui, por favor — pedi a Leonardo e Mattia, eles assentiram
mesmo a contragosto. — Qualquer coisa ligo a vocês.
A clínica por fora parecia um pequeno hospital bem requintado, mas
sabia a verdade e apenas poucos, os que realmente a frequentavam, sabiam.
Era uma clínica clandestina e quando fiz minha ficha, me sentei e senti meu
corpo todo em completa aflição com o que me aguardaria. Nunca imaginei
que pisaria num lugar como esse, por isso, optei por tomar o
anticoncepcional, para que nunca precisasse chegar a ponto de assassinar o
meu próprio filho, alguém que já amava mais que tudo.
Mas era preciso. Não podia permitir que ele nascesse em prol de uma
vingança, pois não seria apenas eu a usada para que ela acontecesse, ele
também começaria a sofrer tudo o que sofri por anos e não poderia permitir
isso.
Talvez quando eu contasse para Matteo ele matasse minha mãe e
Federico a tempo, mas de toda maneira meu filho morreria também. Só não
queria correr o risco de que Federico vencesse e ganhasse o poder usando
meu filho, pois infelizmente tinha as chances de que matasse meu marido
primeiro.
Fiquei por longos trinta minutos esperando e minha vontade de sair
correndo de lá apenas aumentava. Olhei mais uma vez em direção à porta de
saída, abaixei meus olhos para meu ventre que não tinha nada aparente por
enquanto e uma lágrima escorreu de meus olhos.
— Chiara Lucchese. — Uma voz me chamou e senti os pelos de meu
corpo se arrepiarem. Olhei em direção à voz da mulher, que vestia branco
com um leve sorriso no rosto e me chamou com as mãos. — Vamos, querida?
Engoli em seco, sentindo minhas pernas bambas e assenti.
Dessa vez tudo parecia acontecer conforme o planejado.
Cheguei de jatinho ao porto de Novo México conforme o previsto.
Pietro e Carlo vieram comigo, enquanto Marco comandava a equipe que
traria a imensa remessa com diversos tipos de drogas, assim como
armamentos.
Tentava fornecer meus produtos para esse comprador há anos, como era
um dos maiores traficantes do México. Há muito tempo tentava expandir
meus negócios para esse país e fiquei muito satisfeito quando consegui uma
reunião com ele há algumas semanas. Pedi que ele viesse até a Itália para lhe
mostrar todo o processo de nossa fabricação, como os estoques e deu certo.
Fechamos um grande negócio nesse dia, que consequentemente amenizaria
os grandes prejuízos que tive com esse grupo de rebeldes que só me
causavam dores de cabeça.
Mas cada vez conseguia novas informações e acreditava que seus dias
estavam contados.
Aguardávamos em um galpão abandonado, próximo ao porto a chegada
do navio com as cargas, para que avisasse a Santiago, o traficante que fechei
negócio.
Na verdade, assim que estivessem próximos de chegar, Marco me
ligaria avisando para que Santiago viesse com sua equipe transferir a carga
para os caminhões que levaria as entregas. Como também pagaria o restante
do valor acordado, em espécie.
Observei Carlo quieto com sua cara enfezada e os pensamentos longe,
fiquei me perguntando o que tanto o incomodava, desde que acordei no
hospital ele estava estranho. Mais quieto do que o normal e isso já começava
a me incomodar.
Alguma coisa havia acontecido e como Don da famiglia, precisava
saber no que poderia lhe ajudar.
— Aconteceu alguma coisa, Carlo? — indaguei, observando sua reação
para perceber se mentiria.
Meu irmão que estava entre nós dois, olhou de mim para ele, com
visível curiosidade.
— Que foi? Tá na seca, Carlinho? Quer que consiga alguma mulher
gostosa para você comer e melhorar essa sua cara de...
— Não provoque, Peter — repreendi-o, e o abusado me mostrou o dedo
do meio, pelo apelido de infância que o chamei.
— Não tem medo de perder o dedo, não? — provoquei e o infeliz me
mostrou o dedo do meio das duas mãos, o que me fez rir.
— Desde quando preciso de ajuda para conseguir uma mulher, Pietro?
— Carlo o questionou, mesmo que soubesse que ele apenas o provocava.
— Para estar com essa cara, talvez a noite não tenha sido boa. Já a
minha, foi excelente. — Cruzou os braços em frente ao corpo, jogando-o na
cadeira com seu sorriso insolente no rosto.
— Não me lembro de ter perguntado — comentou meu amigo, ainda
mal-humorado.
Pietro abriu a boca para responder, mas resolvi os cortar, porque já me
sentia sem paciência por ter deixado minha principessa na mansão sozinha,
tão chorosa como estava.
— Dá para você me responder, Carlo, ao invés de ficar fugindo do
maldito assunto?
Ele revirou os olhos e precisei me conter para não enfiar meus dois
polegares em seus olhos para aprender a me respeitar.
— Não é nada, cazzo! Tô apenas com algumas coisas na cabeça, mas
em breve você vai saber.
De novo essa resposta, para fugir do assunto e isso me irritava cada vez
mais. Não estávamos no local apropriado para ter uma conversa confidencial
e apenas por isso, optei por respeitar seu tempo, mas quando voltássemos
para a Itália, o pegaria de jeito até que contasse o que acontecia.
Pietro começou a ficar inquieto depois de alguns minutos.
— Não está demorando demais, não? — indagou, olhando em seu
relógio de pulso.
Nesse momento, meu celular começou a tocar e vi que era Marco,
atendi no mesmo instante e avisou que dentro de uma hora estaria no porto.
Fiquei aliviado, avisei ao meu irmão e Carlo, que passaram as informações
para nossa equipe.
Liguei para Santiago que disse que estaria aqui antes desse horário e
poucos minutos depois, algumas dezenas de caminhões começaram a chegar,
com logos diferentes estampados sobre eles, para camuflar a carga que de
fato carregariam e não gerar suspeitas.
Cumprimentamo-nos e conversava com Santiago, junto de Pietro sobre
negócios, quando ouvimos um barulho de helicóptero se aproximar, voltei
minha atenção ao barulho, assim como os dois ao meu lado.
— Esse helicóptero é seu? — questionei, estranhando ter um
helicóptero próximo ao meu navio, que já era possível ser avistado.
— Não! — respondeu Santiago, pensando a mesma coisa que eu.
Nós três retiramos nossas armas no mesmo instante, nos preparando
para disparar em quem tentasse aparecer para nos atrapalhar e com a outra
mão, disquei para Marco.
— Sim, chefe?
— Esse helicóptero não é nosso, nem de Santiago, prepare seus homens
e um míssil.
Mal terminei de falar e ouvi Marco gritando para nossos homens o que
fazer. A ansiedade começou a tomar forma, conforme ficávamos de olho se
tinha algum carro suspeito se aproximando também ou se era apenas aquele.
De repente, avistei uma pessoa surgir na porta do helicóptero que estava
aberta, com uma metralhadora, arregalei os olhos.
— Eles vão atirar! — gritei, com a ligação ativa no fone de ouvido via
bluetooth de Marco e ouvi os disparos acontecerem em direção ao nosso
navio, que se encontrava já perto da orla.
Começamos a disparar em direção ao helicóptero, mas sua altura
impedia que nossos disparos o atingissem.
— Maledettos! — gritei, revoltado por não conseguir fazer nada, as
armas pesadas estavam no navio. — Cadê a porra do míssil, Marco? — gritei.
Nesse momento, percebi que foi lançado uma granada do helicóptero
para o navio e temi pelo pior.
Puxava meus cabelos irritado e vi Carlo correndo com uma granada,
que possivelmente pegou com Santiago, inseriu em um lançador, mirou em
direção do helicóptero e o disparou. No mesmo instante, ouvi o barulho do
míssil ser direcionado em direção ao helicóptero, atingindo em cheio nosso
alvo.
O helicóptero começou a pegar fogo no ar e, em seguida, caiu
desgovernado na água e, para nossa sorte, não atingiu nosso navio que se
encontrava a uma distância mínima do porto. Poderia ter sido uma catástrofe.
Respirei aliviado, mas continuamos em alerta para o caso de
aparecerem mais.
— Apenas um apareceu? Que estranho — Santiago comentou, com o
mesmo pensamento que eu.
— Estava pensando o mesmo — Pietro concordou, com um olhar
intrigado, à procura de algo que indicasse ser uma pegadinha.
— Marco, a granada atingiu vocês? — questionei, ouvindo o barulho
dentro do navio.
— Atingiu alguns de nossos homens, mas conseguimos apagar o fogo
com os extintores, sem danificar muito o navio.
— Não atingiu a carga? — perguntei, receoso.
— Não, chefe. A carga está na parte debaixo, conseguimos nos
defender a tempo, antes que jogassem outra.
O alívio me tomou e balancei a cabeça, respondendo a Santiago, que
também havia ficado apreensivo.
— Peça para a equipe médica disponível dizer o que precisa para
ajudarmos e tratarmos nossos homens.
— Sim, senhor. Eles já estão os socorrendo.
Fiquei aliviado e desliguei o telefonema, pedindo para Carlo se preparar
para ajudá-los, afinal, ele se especializou para essas situações.
Poucos minutos depois, conseguimos acessar o navio, uma parte da
equipe de Santiago já pegava a carga, assim que me pagou a diferença que
faltava. Abri a mala enorme e pesada cheia de euros e as guardei em meu
jatinho. Enquanto, uma ambulância chamada por Santiago chegava para
socorrer nossos homens.
O restante do dia foi um caos. Ajudei a transportar toda a carga, para
evitar mais transtornos e depois segui para o hospital para ter notícias de
meus homens, que felizmente tiveram apenas ferimentos superficiais e dentro
de poucos dias teriam alta.

Subia as escadas da mansão, me sentindo exausto com esses quatro dias


que fiquei longe de casa. Mas a saudade e preocupação com a minha
principessa parecia ainda maior.
Liguei para ela algumas vezes, não tanto quanto gostaria e apesar de
dizer que estava bem, algo me mostrava que não era uma verdade. Minha
preocupação era tanta, que cheguei a ligar para minha mãe e a questionei, ela
disse que Chiara mal saía de seu quarto, cabisbaixa e mal se alimentava.
Convidou-a para passear no jardim, algo que adorava e nem isso a
tirava da cama. Ela se sentia preocupada, mas não a forçaria a dizer algo que
obviamente não sentia vontade.
Não queria ter ido viajar com sua atual situação, mas não tive escolha,
ainda mais com todo o caos que aconteceu no México, apenas comprovou
que fiz a escolha certa em ir até lá.
Tudo poderia ter dado errado se não tivesse uma excelente equipe à
minha disposição.
Assim que cheguei ao corredor de meu quarto, senti meu coração
acelerar, apenas por saber que finalmente teria minha ragazza nos braços.
Dei uma batida à porta e abri devagar, o quarto estava escuro, com
apenas a luz da lua clareando um pouco.
Assim que entrei, como se sentisse minha presença, Chiara virou seu
rosto em minha direção, ainda deitada e um sorriso surgiu em seu rosto,
parecendo aliviada.
— Você chegou! — comentou, se levantando rapidamente, enquanto
aumentava meus passos até ela. Envolvi-a em meus braços e afundei meu
nariz em seus cabelos macios para sentir seu cheiro de lavanda.
— Senti tanto a sua falta. — Segurei seu rosto entre minhas mãos e
depois de admirar cada detalhe delicado dele, não resisti e matei o desejo que
matava, aproximei nossos lábios e afundei minha língua em sua boca. Chiara
não pensou duas vezes ao retribuir e mostrava que não fui o único cheio de
saudades. — Estava tão preocupado com você — assumi, deixando vários
beijos em seu rosto, em seus lábios, fazendo com que soltasse aquele riso que
alegrava meu coração aflito.
— Eu também senti muito a sua falta, amor.
Um sorriso sincero se formou em meu rosto ao ouvir a maneira
carinhosa que me chamou. Tudo ainda parecia um sonho, não tinha me
acostumado com essa Chiara de guarda baixa e a amava ainda mais.
Minha esposa fogosa voltou a tomar meus lábios e começou a
desprender os botões de minha camisa, com pressa e apesar de me sentir da
mesma maneira, segurei sua mão com delicadeza e rindo em seus lábios
disse:
— Carino, preciso tomar um banho antes. Essa viagem foi um caos...
— Depois a gente toma — tentou argumentar, voltando a desabotoar
minha camisa, devido à sua pressa e a minha saudade, tive outra ideia.
— Então, venha, vamos tomar um banho juntos.
Como se tivesse dito tudo que queria, minha Oncinha pulou em meu
colo animada, enquanto nos beijávamos cheio de desejo e a levei no colo para
nosso banheiro. Abri a torneira da banheira para que a enchesse, coloquei-a
no chão e como se ambos precisassem um do outro como ar para respirar,
começamos a nos despir rapidamente.
Entramos na banheira que enchia aos poucos. Chiara se sentou sobre
mim, com uma perna de cada lado e senti sua boceta encharcada brincar em
meu pau ereto, fazendo com que gemesse extasiado com o que me fazia
sentir.
— Que saudade dessa bocetinha gulosa — provoquei, mexendo com o
polegar em seu clitóris e adorei vê-la rebolar em meu dedo, jogando sua
cabeça para trás, fora de si.
— Preciso de você, amore. Por favor, faz amor comigo.
Não precisou pedir duas vezes, segurei sua cintura e fui encaixando seu
corpo em meu mastro que parecia prestes a explodir de tanto tesão. Ambos
gememos, conforme nossas intimidades se encontravam, Chiara começou a
cavalgar de início lentamente, enquanto suas mãos apoiavam em meu peitoral
e nos beijávamos saudosos.
Conforme nosso desejo foi ficando insustentável, levantei meu quadril
ao encontro da sua boceta e segurava em sua cintura para aumentar nosso
atrito, nos deixando fora de órbita.
Perdemo-nos um no outro, até que não aguentamos mais e, finalmente,
encontramos nosso prazer, em completa sintonia.
Chiara caiu sobre meu corpo extasiada, com a sensação abrasadora do
orgasmo que tivemos e passei a acariciar suas costas, enquanto
normalizávamos nossa respiração.
— Eu te amo tanto — disse, levantando seu rosto e olhando no fundo de
meus olhos, com aquelas íris esmeraldas que tanto amava.
Acariciei seu rosto, como se não o fizesse há anos.
— Também te amo muito, minha ninfomaníaca.
Ela deu risada, enxugando uma lágrima que escorreu de seus olhos e
soube que algo ainda a incomodava.
— O que tanto tá te incomodando, principessa?
Ela balançou a cabeça, se negando a dizer e mais lágrimas começaram a
descer de seus olhos.
— Você sabe que pode contar comigo, sempre, não é? — Frisei o de
sempre e ela confirmou com a cabeça. — Odeio ver você dessa maneira.
Ela engoliu em seco, mordendo o lábio inferior.
— Talvez você não pense mais da mesma maneira se eu falar tudo que
preciso.
Não gostei de seu comentário e um arrepio subiu por minha coluna, mas
me neguei a dar atenção a isso.
— Isso é impossível. — Tentei acalmá-la.
Ela deixou um beijo casto em meus lábios, passando seus dedos por
meu cavanhaque, respirou fundo e disse:
— Vamos deixar esse assunto para amanhã, pode ser? Amanhã te conto
tudo, prometo. — Assenti, não gostando muito do rumo dessa conversa. —
Hoje só quero sentir você e matar a saudade que tive durante esses dias.
Fiquei intrigado com o comentário de Chiara. Tanto a curiosidade,
como a apreensão me tomou por completo, mas respirei fundo e fiz o que
sugeriu, me preocupei apenas em matar a saudade que tínhamos um do outro
naquele momento.

Sentia uma mão pequena e quente manuseando meu pau, semiereto,


enquanto ainda me encontrava sonolento e um sorriso surgiu em meus lábios.
— Hum... tem gente que acordou animada — brinquei e um gemido
escapou de meus lábios, quando senti aqueles lábios volumosos que me
enlouqueciam engolir meu pau com completa habilidade. — Vou ficar mais
tempo longe desse jeito — brinquei, gemendo conforme a ninfeta de minha
esposa engolia cada vez mais fundo minha ereção.
Senti seus dedinhos abrasadores mexerem em minhas bolas e isso me
enlouqueceu, não resisti em pegar sua cabeça e a trazer com mais força ao
encontro do meu pau. Chiara não me decepcionava nunca e mesmo quando
sentia meu pau bater em sua garganta, ela segurava a ânsia, chupava, lambia
minha glande e voltava a me engolir cheia de desejos.
Como se escolhesse o pior momento possível, meu celular sobre a
cabeceira da cama começou a tocar em volume alto, peguei ainda extasiado,
não querendo que nada nos atrapalhasse e rejeitei a ligação ao ler o nome de
Carlo no visor.
Continuei sendo sugado pelos lábios gulosos de minha esposa, quando a
merda do celular voltou a tocar, rejeitei de novo para que se tocasse, mas na
terceira vez que voltou a tocar, Chiara se afastou de meu pau e gemi
frustrado.
— É melhor atender, talvez seja importante — disse, de maneira
madura, mas tão frustrada quanto eu.
— É melhor ter um ótimo motivo para me ligar no pior momento
possível! — Atendi irritado, sem me importar de estar sendo um escroto.
— Chefe, preciso que desça até o escritório, agora!
— Daqui a meia hora eu desço, tenho algo mais importante no
momento. — Olhei com malícia para minha Oncinha, que para me provocar,
lambia de ponta a ponta minha grande extensão, sem tirar os olhos de mim e,
porra, queria guardar essa imagem para sempre.
— Não dá, cazzo! É importante, se não fosse não estaria insistindo.
Suspirei frustrado.
— Mas que porra! — grunhi, irritado por Carlo ser literalmente um
empata-foda. — Tá bom, cazzo! Espero que seja realmente importante, do
contrário vou te pendurar pelas bolas no calabouço, seu desgraçado.
— Não será o caso, garanto!
Não perdi meu tempo o respondendo e desliguei.
Chiara pareceu entender e subiu em cima de mim, sentando-se com
aquela boceta ensopada em minha barriga.
— Tudo bem, amore mio. A gente termina depois de sua conversa com
Carlo.
Respirei fundo e mesmo sabendo que não deveria, virei seu corpo num
rompante tirando uma gargalhada de minha esposa e penetrei nela de uma
vez.
— Vamos fazer uma rapidinha, não vou conseguir me concentrar em
nada de pau duro.
Ela gargalhou alto e foi o que fizemos.
Se eu soubesse o que viria a seguir, teria desligado a merda do celular e
ficado dentro dela o resto do dia.
— Porra, Matteo. Falei que era importante e aparece aqui depois de
meia hora? — rosnou Carlo, ao andar de um lado para o outro com Marco o
observando, com um semblante estranho.
— Não enche a porra do meu saco que tenho prioridades, cazzo!
Agradeça a Chiara por ter me acalmado, senão era perigoso cumprir o que te
falei no telefone se viesse do jeito que estava àquela hora, seu empata-foda do
caralho!
Ele balançou a cabeça, olhando para o chão com a mão na cintura e
quando seus olhos encontraram os meus, não enxerguei raiva, mas sim algo
como compaixão, talvez tristeza.
— O que tá acontecendo aqui, que não poderia esperar?
Carlo não disse nada, apenas foi até minha mesa, alcançou um envelope
pardo e entregou em minhas mãos.
— Descobri quem está por trás de tudo que tem nos acontecido.
— O quê? — ralhei, desacreditado, à medida que abria o envelope e
retirava os muitos papéis que se encontravam dentro, os joguei sobre a mesa.
— Quem é o desgraçado, porra?
— Na verdade, é desgraçada!
Marco continuava calado, parecendo decepcionado, mas depois
resolveria isso, no momento apenas queria descobrir quem era o louco que se
metia comigo.
Comecei a ver diversos históricos de ligações, tanto como cópias de
mensagens entre Chiara e sua mãe, como também com Federico.
Enruguei a testa sem entender.
— Que porra é essa, Carlo?
— Leia, cazzo! — ralhou sem paciência.
Meu coração disparava dentro de minha caixa torácica, desacreditado
com o que meus olhos viam.
Eram mensagens de sua mãe questionando como estava nosso
envolvimento, se ela já tinha engravidado conforme o planejado, pois
precisavam disso para seguir com o plano de vingança contra a minha
família.
Minha cabeça começou a girar, com as milhares de informações que
recebia de uma só vez e meu corpo chegou a cambalear com o baque de ser
traído pela pessoa que mais prezava em minha vida.
O ar ameaçou faltar em meus pulmões por um instante, mas me neguei
a me deixar esmorecer por aquela desgraçada.
— C-como você susp... — Não consegui terminar, ainda impactado
com o que lia, mas ele entendeu e respondeu:
— Desconfiei no dia que foi baleado, ela não parava de pedir desculpas
para você de uma maneira que dizia ser mais do que apenas ter chegado num
momento inoportuno. Sem você saber, pedi para o investigador grampear seu
telefone e conseguimos acessar as informações que trocava com sua mãe e
até seu padrasto. Também conseguimos recuperar as mensagens que apagou,
com certeza para evitar que você pegasse.
Sentei-me na poltrona mais próxima e infiltrei meus dedos em meus
cabelos, não conseguindo acreditar em tudo que enxergava.
Como ela pôde?
Levantei-me num rompante de repente e prendi Carlo com tudo na
parede, mas ele não me impediu de fazer o que quisesse.
— Como você pôde me esconder isso, porra? Você tinha que ter
compartilhado suas desconfianças.
— Você tá obcecado por ela, Matteo! Jamais me ouviria, quis ter
certeza de minhas suspeitas antes de jogar a bomba no seu colo — defendeu-
se gritando em minha cara e o soltei.
Lancei um murro com força na parede, louco de raiva de Chiara, mas
com mais raiva ainda de mim mesmo por ter me apaixonado por uma
desgraçada como ela.
A mesa que estava ao meu lado, voou pelos ares e Marco apenas se
desviou dela, como se esperasse por isso.
— Tem mais — Carlo continuou. Olhei enviesado em sua direção,
desacreditado que pudesse ter algo a mais nisso tudo. — Ela quem contou
para Federico sobre nossa ida ao México.
Soltei um riso desacreditado e balancei a cabeça, completamente sem
palavras.
— Eu vou matar essa desgraçada! — Saí enfurecido do escritório e nem
Marco, nem Carlo me impediram de fazer a loucura que me tomava por
completo, mesmo que tivessem me seguido. — Busquem os outros —
ordenei, seguindo até onde aquela maledetta estava.
Não enxergava nada à minha frente, parecia ter ficado cego por tudo
que descobri e pelo baque ter vindo de quem menos esperava.
Subi as escadas de três em três degraus, enlouquecido. A raiva pulsava
cada vez mais em minhas veias, tudo parecia ter evaporado, todo o amor que
senti se transformou em um ódio descomunal em questão de segundos. Eu a
avisei que a mataria se me traísse, lhe dei a oportunidade de conversar
comigo, fiz tudo que pudesse para confortá-la, porque eu a amava, mas olha o
que ela fez como recompensa. Traiu-me da pior maneira possível, mas isso
acabava nesse momento.
Abri a porta num rompante e Chiara virou assustada em minha direção.
Ela se encontrava próximo à varanda, ainda com seu baby-doll e quando me
viu um sorriso surgiu em seu rosto, mas algo que enxergou em mim, fez com
que sua feição mudasse aos poucos ao me olhar assustada.
Fui me aproximando devagar, sem me dar ao trabalho de fechar a porta
atrás de mim e ficou claro quando engoliu em seco e se afastou, andando para
trás, como um animal que sente que seu predador o encurralava e sabia que
seus dias estavam contados.
— Você realmente pensou que não fosse descobrir tudo que fez contra
mim, sua desgraçada? — disse em tom baixo e frio.
Cortei o espaço que havia entre nós, alcancei seu pescoço com uma das
mãos e Chiara tentou soltar meus dedos que a seguravam com força.
Ela forçava suas mãos contra mim, tentando retirar meus dedos que
cortavam seu ar cada vez mais, mas não me importava, apenas a queria
morta.
— Como você pôde me trair desse jeito? Dizendo até que me amava! —
Joguei-a longe com a raiva me cegando por completo.
Fui até onde sabia que guardava sua adaga e a peguei, ela se levantou
com os olhos arregalados, chorando sem parar.
— D-desculpe, Matt, eu posso te explicar. E-eu q-que...
— Cale a porra da boca! — gritei, segurando minhas mãos para não lhe
dar um murro na cara e a calasse.
Peguei a adaga que havia lhe dado e coloquei em sua mão com
brusquidão, ela engoliu em seco sem entender, ainda chorando copiosamente.
— Não era isso que queria? Então, vai! — incentivei, próximo o
suficiente para que pudesse fazer o que mandava. — Vamos, acabe com isso.
Estou te dando a oportunidade de acabar com o que começou. Não era isso
que queria? Me matar? Vamos! Faça logo antes que eu faça isso com você —
exigi, totalmente fora de controle.
Chiara jogou a adaga longe e tentou me abraçar.
— Não vou fazer isso, eu te amo! Tudo mudou, eu posso explicar, eu
não queria...
— Cale a boca, caralho! — Voltei a segurar seu pescoço em minhas
mãos e a imprensei na parede, tentando criar coragem de acabar logo com
isso.
Comecei a apertar meus dedos e Chiara voltou a se debater em minha
mão, procurando por ar e apesar do que fazia estar acabando comigo, não
parei.
— Matteo! Pare com isso agora mesmo — minha mãe gritou, me
puxando por trás. Mas não parei. — Ela está grávida, cazzo! Você vai ter um
filho, se a matar, também vai matar seu filho. Solte ela agora mesmo.
Afrouxei minhas mãos, por um instante e dei um passo para trás,
enquanto Chiara abaixava seu tronco buscando por ar.
Olhei-a desacreditado e procurei por minha mãe que respirava aliviada.
— O-o quê? — perguntei, incrédulo.
Francesca parecia tão aflita quanto minha mãe, na porta de nosso quarto
e nesse momento Pietro e meu pai apareceram, sem entender nada.
— Francesca acabou de me contar, quando viu que disse que a mataria.
Ela está grávida, por isso está abatida, passando mal... — desatou a falar.
Olhei em direção daquela que um dia amei, sem acreditar e o que
enxergava dentro deles era apenas medo.
— É verdade? Ou vou precisar chamar um médico para comprovar isso.
Ela estremeceu mediante meu comentário no mesmo instante e assentiu.
— S-sim, é verdade.
Comecei a gargalhar, com o tamanho da ironia de minha vida e me
sentei, puxando meus cabelos desacreditado, enquanto balançava minha
cabeça, com pura incredulidade.
Olhei para ela que continuava acuada no canto do quarto, chorando cada
vez mais e disse, num tom tão frio, que nunca havia direcionado a ela:
— Parabéns, Chiara! Você conseguiu concretizar seu plano. —
Levantei e segui a passos lentos até ela e olhei dentro de seus olhos. — Você
vai ficar presa nesse quarto até essa criança nascer, mas nunca o tocará, nem
o verá, assim que o tiver, você vai ter o fim que merece, sua desgraçada,
como a bela traidora que é, assim como seus pais.
Virei minhas costas para sair daquele quarto, que parecia me causar
fobia e quando dei apenas dois passos senti aquelas mãos que um dia amei,
puxar as minhas.
— Matt... por favor, me ouça... — Puxei minha mão com brusquidão
das suas, não aguentando nem sentir o seu toque e continuei meu caminho,
mas ela voltou a me puxar. — Por favor, deixe eu falar. Eu errei, mas
Genevive não tem nada a ver com isso. Por favor, não a machuque! —
Começou a gritar, caindo no chão aos prantos e apesar de me doer vê-la dessa
maneira, continuei meu caminho. — Por favor, ela é inocente, fiz tudo isso
para salvar minha irmã. Por favor, ela é só uma criança.
Segui meu caminho com meu coração despedaçado, ainda ouvindo seus
gritos ao longe, cada vez mais baixo. Meu irmão e meu pai estavam atrás de
mim, mas só queria ficar sozinho.
Sabia do carinho que Pietro tinha por Genevive, já tinha percebido e
soube que as palavras de Chiara o tocaram. Mas não sabia o que pensar por
enquanto sobre a ragazza. Por isso, disse sem parar meu caminho:
— Coloquem Genevive em outro quarto e a deixem presa, até eu decidir
o que fazer. E tirem o celular de Chiara, ela não é mais uma hóspede, mas
sim uma prisioneira.
— E os pais? — Pietro questionou, ainda me acompanhando.
— Prendam no calabouço.
Continuei meu caminho sem saber ao certo para onde iria, considerando
que ainda era de manhã, por isso, segui até meu escritório. Meu pai
continuava me seguindo em silêncio, ele sabia que não era o momento certo
de falar comigo e quando viu que não faria nenhuma besteira, conforme
enchia meu copo de uísque, fechou a porta do escritório para me deixar
colocar a cabeça no lugar e, em seguida, saiu, com o semblante tão abatido
quanto eu.
Perdi noção do tempo que fiquei bebendo, chegou um momento que
deixei o copo de lado e comecei a beber diretamente no gargalo da garrafa,
sem me importar que o mundo estivesse desabando lá fora.
Nada mais me importava.
Lembranças das vezes que disse me amar me invadiram, assim como o
primeiro beijo no jardim. Nossas provocações pareciam ser algo só nosso. O
momento em que Chiara finalmente me pediu para fazer dela minha. As
muitas trocas de carinhos.
O ódio se avolumou em meu peito por ter sido tão inocente em acreditar
que aquele ódio que demonstrava no início teria se transformado em amor.
Mas foi exatamente o que aconteceu, fui inocente, deixei o amor me cegar e
não agi como o capo que a famiglia merecia e o pior, coloquei a todos nós em
risco por um bando de gananciosos.
Sentei-me no chão, com um braço apoiado em um dos meus joelhos,
conforme continuava esvaziando a garrafa em minhas mãos.
Quando foi que Chiara se apossou completamente de meu coração, que
me cegou para não enxergar o que estava na minha cara o tempo todo?
Ela deveria ter sido a pessoa mais suspeita, afinal, ela me odiava e
nunca fez questão de esconder isso, apenas na frente de sua família e isso por
si só, já era muito suspeito.
Fui tomar mais um gole de meu uísque e vi que a merda tinha acabado,
lancei-a longe para a parede vendo a se estilhaçar por completo no chão, mas
não me importei. Nada mais me importava.
Minha cabeça parecia prestes a explodir e uma tristeza desconhecida até
então se apoderou de mim, a ponto de lágrimas se avolumarem em meus
olhos, mas não aceitava derramar uma sequer por uma traidora como Chiara.
Ela não merecia minha tristeza, muito menos qualquer lágrima minha.
Estiquei minhas pernas no chão, apoiei minha cabeça na poltrona e
fechei meus olhos, querendo apenas apagar por um instante e esquecer como
minha vida virou um inferno de um minuto para o outro.
Mas nada acontecia. Não conseguia dormir, não tinha fome, queria
apenas me afundar na bebida, ela era boa porque me entorpecia e fazia com
que me esquecesse de onde estava e tudo que vivia.
Pela vidraça, notei que o dia virou noite e permanecia da mesma
maneira.
Acendi um charuto, com um pouco de dificuldade graças ao meu estado
alcoólico e comecei a inalar nicotina que também causou o efeito esperado de
amenizar a dor que me envolvia.
Poucos minutos depois, ouvi uma batida à porta, continuei em silêncio,
quem sabe a pessoa se tocaria e iria embora. Mas óbvio que isso não
aconteceu e a porta se abriu devagar.
Passos pesados mostraram que era um homem e pelo canto de olho
sabia que se tratava de Marco.
— Que foi? Mais alguma merda para me contar?
Ele ficou em silêncio e tirou a outra garrafa de uísque que estava ao
meu lado, quando observou que uma vazia se encontrava quebrada a poucos
metros de distância.
— Acho que já bebeu demais.
Queria protestar e mandá-lo para o inferno, mas não tinha forças nem
para isso. Meus olhos se encontravam pesados e parecia cada vez mais difícil
os manter abertos.
— Acho que ele não tá em condições de tomar nenhuma decisão. —
Ouvi-o falando com alguém e tentei debater, mas meus sentidos pareciam
cada vez mais longe.
— Vamos levá-lo até um quarto, amanhã a gente resolve isso.
— Q-quero... a-aqui... — tentei falar, mas tudo parecia difícil demais.
Parecia que estava sendo carregado e nunca me senti tão confuso como
me encontrava. De repente, senti jatos de água gelada em meu rosto, tentei
me desvencilhar, mas algo me prendia e depois do que pareciam horas,
finalmente apaguei.

Minha cabeça doía tanto que a claridade da janela incomodava minhas


vistas. Com muita dificuldade abri meus olhos, ficando contra a claridade e
observei ao meu redor. Encontrava-me apenas com uma cueca, deitado em
um quarto de hóspedes. Olhei no relógio disponível na mesa de cabeceira e vi
que já passava das 07h.
Havia uma roupa limpa para mim, junto de um comprimido e um copo
com suco de laranja. Coisa de minha mãe, com certeza.
Minha vontade era continuar deitado submerso de toda a merda que me
aguardava lá fora, mas não podia ficar me afundando em tristeza por causa de
uma traidora que não me deu valor e me apunhalou pelas costas.
Chiara não merecia que eu agisse dessa maneira, precisava vingar
minha família e aqueles que morreram graças às artimanhas desses
desgraçados que tentaram nos destruir.
Por isso, me levantei da cama e segui direto para o chuveiro, lembrava
vagamente de terem me dado banho gelado de madrugada, mas precisava
colocar minha cabeça no lugar, sem o álcool em minhas veias.
Depois de meia hora no banho, me vesti e tomei o remédio junto do
suco que minha mãe deixou e segui pelo corredor, quando vi ao longe a porta
do fim do corredor que indicava onde eu dormia até a noite anterior, com
Mattia e Leonardo de vigia, senti um aperto no peito, mas balancei a cabeça e
desci as escadas, não querendo pensar naquela maledetta.
Assim que adentrei à sala de jantar, todos se encontravam sentados
tomando café da manhã e cessaram o assunto quando cheguei, o que apenas
deixaram óbvio que o assunto em questão era eu ou a minha ex-esposa, pois
era isso que em breve ela se tornaria.
— Bom dia! — cumprimentei a todos, me sentando, e me servi uma
xícara forte de café.
A verdade era que não queria comer nada, mas me forçaria a isso, pois
precisava voltar à minha vida normalmente, não poderia sucumbir por causa
de alguém que não merecia.
— Está melhor, bambino? — Minha mãe foi a corajosa a perguntar e
apesar de tentar lançar um sorriso para acalmar seu coração, não consegui ser
tão hipócrita, por isso apenas assenti.
— Estou sim. Desculpe pela minha indisposição no dia anterior, isso
não acontecerá mais — falei a todos, voltando a tomar um gole de meu café.
Pietro assentiu e meu pai ficou me encarando de uma maneira que me
incomodou, parecia triste e isso acabou comigo.
Por isso, desviei meu olhar dele e olhei em direção de Pietro.
— Alguma notícia sobre o que mandei que fizesse?
— Sim, mas não são nada boas.
Revirei meus olhos, apertando minha têmpora que ainda doía, mas
ninguém mandou beber uma garrafa e meia de uísque na noite anterior.
— O que aconteceu dessa vez? — falei, com impaciência.
— Marco e Carlo, junto da equipe, estão procurando por Irene e
Federico que desapareceram.
Olhei desacreditado em sua direção.
— Como assim? Chiara não tinha como saber de nada, vocês pegaram o
telefone no momento em que ordenei? — exigi saber.
— Eu estava com a ragazza até que Pietro voltou com suas ordens, ela
estava arrasada, nem pensou em pegar o celular — minha mãe a defendeu.
— De que lado a senhora está, afinal de contas?
Ela foi responder, mas optou por ficar quieta e depois falou, de maneira
calma:
— Quando você se acalmar, voltamos a conversar sobre ela.
— Esse assunto para mim, morreu. Só volto a falar sobre isso quando
meu filho nascer.
— Sobre isso... — Pietro voltou a falar. Olhei com ira nos olhos e
mesmo incomodado, continuou. — Melhor comentar sobre isso depois. —
Mudou de ideia. — Respondendo à sua pergunta inicial, com exceção do
sumiço de Irene e Federico, Genevive está trancada no quarto, sem entender
nada. Nossos seguranças continuavam lá em frente ao seu quarto, quando
Marco chegou. Parece que alguém falou alguma coisa para seu padrasto, pois
os dois saíram correndo, apenas com a roupa do corpo e nada mais.
— Alguém delatou para eles, só precisamos descobrir quem — meu pai
concluiu por nós dois. — Mas Chiara, com certeza, não foi.
— Temos mais um infiltrado aqui — deduzi.
— Será que foi o Leonardo? — Pietro perguntou, olhei em sua direção,
estreitando os olhos. — Eles são primos, provavelmente sabe de tudo que ela
fazia.
— Faz sentido, onde ele está? — indaguei.
— De vigia na porta de Chiara, junto de Mattia.
Algo me dizia que não era ele. Pelo que Chiara comentou comigo, ele
não se dava bem com a família Caruso, tanto que sua mãe ficou maluca
quando soube que seria nosso padrinho, mas considerando que minha esposa
me traiu, nada mais passaria batido por mim.
Alcancei o celular e liguei para Marco.
— Sim, chefe?
— Peça para o Leonardo comparecer em meu escritório e coloque outra
pessoa em seu lugar como vigia de Chiara. Você venha junto.
— Estou chegando à mansão e vou direto para lá.
— Ótimo. — Desliguei a ligação e olhei para meu irmão. — Vamos
conversar com Leonardo.
Ele assentiu e se levantou no mesmo instante.
Conforme seguíamos em direção ao escritório, Pietro cortou o silêncio
que nos rondava.
— Acho melhor saber logo o que queria dizer lá na mesa, mas não
queria dizer na frente de nossa mãe.
Bufei audivelmente conforme, entrávamos no escritório.
— O que aconteceu agora? — ralhei, já prevendo o pior.
— Mattia veio falar comigo sobre o local que Chiara foi quando
viajamos.
— Uma clínica, o que tem?
— Não era bem uma clínica qualquer... — começou, inseguro, e pelo
nervoso que demonstrava, algo não me cheirava bem.
— Desembucha, cazzo!
— Era uma clínica clandestina. — Estaquei no lugar, virando de frente
para ele. — Como ele ouviu falar que ela está grávida ontem com os gritos,
deduziu que deve ter ido abortar a criança.
— Ela o quê? — gritei, enfurecido. Já seguindo meu caminho em
direção à saída do escritório, mas meu irmão me barrou.
— Calma, porra! Deixe eu terminar de falar.
— Falar mais o que, cacete? Se ela ousou matar o meu filho, eu juro
que a mato agora mesmo! Na verdade, era isso que me impedia de acabar
com sua vida, se ela fez essa burrice, é o seu fim, sem sombra de dúvidas.
— Ela não fez! — Pietro gritou, consternado como eu. Voltei a lhe dar
atenção, sentindo as batidas do meu peito voltarem a se normalizar, mas com
minha respiração ainda ofegante. — Mattia desconfiou como sabia que se
tratava de uma clínica clandestina, ele inventou ao Leonardo que precisava ir
ao banheiro para investigar, bem nesse momento Chiara foi chamada, mas ela
se negou, dizendo que não faria mais e saiu correndo para o carro, chorando.
Um alívio tomou meu peito, por ela não ter sido tão inconsequente em
tirar a vida de um inocente.
— Parece que ela saiu tão transtornada lá de dentro que nem viu Mattia
na clínica. Quando ele voltou para o carro, ela já estava sentada com
Leonardo, esperando-o.
Fiquei em silêncio por alguns segundos, tentando acalmar o susto que
levei, mas então um pensamento invadiu minha mente, fazendo com que tudo
fizesse sentido.
— Claro que ela não faria isso, como que conseguiria o herdeiro dos
Luccheses depois que me matassem? — perguntei, soltando um riso irônico,
e enchi mais um copo de uísque, sem me importar que eram 08h da manhã.
— Já vai beber a essa hora, cazzo? — repreendeu meu irmão.
— Vá se foder, cacete e me erra!
— Você quer ser um turrão logo cedo? Então, faz o que bem quiser.
Mas pare e pense, caspita! — Olhei em sua direção, com cara de poucos
amigos. — Se ela queria tirar o bebê, era justamente para não fazer o que
queriam na vingança, não porque ela não ama o bebê. Talvez ela, de fato, não
quis nada disso para si.
Gargalhei alto, me negando a acreditar em suas palavras.
— Se você realmente acredita que ela pensou na criança ou até mesmo
em mim, mostra que você é mais inocente do que pensei ser. A única coisa
que interessa para essa gente é a porra da nossa fortuna, você não leu as
milhares de mensagens sobre a vingança?
Ele balançou a cabeça, parecendo não concordar com meu argumento e
isso me incomodou.
— Você está transtornado, quando se acalmar, talvez veja o mesmo que
eu.
— Não acho que vou me acalmar um dia — falei, e nossa conversa foi
interrompida com uma batida à porta e quando disse para entrar. Leonardo o
fez.
— Senhor Lucchese, Marco disse que pediu que viesse até aqui.
Um mês que minha vida desabou. Um mês que não saía de meu quarto
para absolutamente nada que não fosse ir ao médico, acompanhada de meus
seguranças, que não tinha mais Leonardo entre eles.
A apreensão do que poderia ter lhe acontecido, por minha culpa, não
parava de me atormentar. Tentei não contar nada a ninguém para que não
fossem prejudicados e mesmo assim, era o que acontecia.
Minha intenção não era contar nada a Irene e meu padrasto sobre a ida
de Matteo para o México, mas quando aquele maledetto do Federico me ligou
no dia seguinte de sua ameaça para pedir por alguma informação relevante,
do contrário, Alexandre além de estuprar Giana, também a mataria
lentamente e enviaria sua cabeça para que eu recebesse, não tive outra opção
que não fosse contar que eles viajaram para o México.
Não sou muito boa de Geografia, mas sabia que era um país imenso,
não lhe dei nenhuma outra informação, disse que Matt não tinha
compartilhado nada comigo, apenas que tinha uma grande remessa para fazer
e queria acompanhar.
Quando conversamos depois que ele chegou e me contou que tiveram
um imprevisto, a culpa me corroeu, mas era isso ou dar minha amiga de
bandeja para aquele desgraçado. Como o navio já tinha saído há alguns dias e
Matt estava lá, pensei que não daria tempo de conseguir fazer nada, afinal,
era do outro lado do oceano.
Talvez justamente por ter avisado em cima da hora, que nada mais sério
aconteceu, pois não tiveram tempo suficiente para se programarem.
Não queria ter feito o que fiz, mas não conseguia me arrepender disso,
pois não poderia arriscar a vida de minha melhor amiga e tinha certeza de que
se fosse meu marido em meu lugar, não teria pensado duas vezes para salvar
aqueles que amava.
Pensar em Matteo me causava um aperto no peito aterrorizante, pois a
saudade que sentia dele me matava aos poucos, mas, ao mesmo tempo, me
lembrava da maneira odiosa que me olhou e isso era ainda pior.
Não o tinha visto mais desde aquele dia e o cheiro de seu perfume já
tinha saído completamente de nosso quarto, talvez de tanto que o procurava
na cama. Antes ainda conseguia adormecer quando o sentia, no entanto, isso
parecia cada vez mais difícil. A gestação corria bem e apesar da sonolência
que me causava, não conseguia dormir muito, pois minha consciência pesada
não permitia, além da ausência de meu marido.
Ficava angustiada, agoniada com o que fazia longe de mim. Não foram
poucas às vezes que me recordei das palavras ácidas de Elisa. Será que ela
sabia do problema que enfrentávamos em nosso casamento? Talvez sim. Não
sabia mais o que pensar.
Será que Matt contou a todos a traidora que sua esposa era? Ou será que
aguardava que meu filho nascesse para que contasse, para assim me matar?
Acreditava na segunda opção, para proteger seu herdeiro, mas, de toda
maneira, isso me machucava. Pois não faria por mim, por nós, com intenção
de que talvez nos reconciliássemos e ficássemos juntos, sem mais nada para
nos atrapalhar. Mas isso não passava de uma mera ilusão.
Nada nunca mais voltaria a ser como um dia já foi e a culpa era toda
minha.
As lágrimas voltaram a cair compulsivamente de meus olhos, algo que
parecia fora de meu controle, talvez por causa dos benditos hormônios
gestacionais que o médico comentou que me deixaria ainda mais sensível.
A agonia em saber o que acontecia lá fora não parava de me corroer.
Será que capturaram minha mãe e meu padrasto? Será que os mataram? E
minha irmã, pouparam sua vida conforme pedi? E Leonardo? Por que não
estava mais como meu segurança? Até tentei perguntar a Mattia quando
fomos à clínica para ter minha consulta com o obstetra, mas ele simplesmente
me ignorou e disse que não tinha autorização para falar comigo. Já Fabrizio
era muito estranho, principalmente a maneira que me olhava, me causava
arrepios, por isso, nunca tentei nenhum diálogo com ele.
Já tentei abrir a porta e fazer o mesmo com o segurança das portas, que
revezavam com eles, mas obviamente a deixavam trancada.
Levantei-me sem um pingo de ânimo e fui até a varanda e antes que me
sentasse na poltrona disponível, observei no gramado alguns seguranças que
estavam de guarda logo abaixo de onde me encontrava.
Parece que Matt está se prevenindo de todas as minhas artimanhas
dessa vez.
Foi impossível não sorrir perante esse pensamento, pois apenas
mostrava o quanto ele me conhecia. O que ele não sabia, era que dessa não
tinha intenção de fugir.
Errei, não me orgulhava das coisas que fiz, mas não fugiria de meu erro.
Às vezes pensava em tentar reconquistar sua confiança, seu perdão, mas
na sequência me recordava do olhar repleto de ódio que me direcionou e
qualquer força de ânimo se esvaía de mim.
Por isso, apenas aproveitaria minha gestação com o pouco de vida que
me restava e torcia para que Matt de fato, se livrasse de Irene e Federico, para
que nada colocasse a vida de meu pequeno em risco. Só Dio sabia o quanto
tinha chorado por ter pensado e tentado acabar com sua vida naquele dia na
clínica clandestina, mas quando chegou no momento, não consegui. O amor
maternal que senti ao descobrir que um pedacinho do amor que eu e Matt
tínhamos estava aqui dentro de mim crescia, foi impossível o destruir, apenas
para tentar acabar com uma vingança que nunca pedi que acontecesse.
Depois daquele dia, como Matteo viajava, tive tempo para pensar no
que faria. Eu o contaria assim que voltasse e realmente essa era a minha real
intenção, tanto que lhe disse que falaria no dia seguinte, mas fui uma idiota,
por esquecer de meus planos iniciais quando sua boca tomou a minha. Enfim,
quando contasse tudo que fiz e o que queriam fazer com eles, também
contaria do meu equívoco com o remédio e sobre ter engravidado. Imaginava
que ao saber disso, não me mataria, pelo bebê apenas.
Caso isso acontecesse e ele não me perdoasse, ou na pior das hipóteses,
não conseguisse matar aqueles que aterrorizavam minha vida, daria um jeito
de fugir com meu filho, caso alguma coisa acontecesse ao meu marido. Mas
jamais permitiria que Irene e Federico colocassem os olhos em meu bebê.
Uma batida à porta cortou meus pensamentos e meu tolo coração mais
uma vez disparou no mesmo instante com a possibilidade de que fosse meu
marido, mas quando enxerguei Sandra colocando a cabeça para dentro, com
um singelo sorriso no rosto e entrar, a frustração me tomou.
— Desculpe não ser quem queria. — Ela encolheu os ombros,
desconcertada, e me repreendi por ser tão transparente em certos momentos.
Balancei a cabeça, entrando no quarto, e me sentei na cama.
— Gosto de sua companhia, mas não posso mentir que, às vezes, me
sinto esperançosa de que ele vai me aparecer.
Sandra, por incrível que parecesse, não me abandonou, mesmo com as
ordens do filho de que eu não pudesse receber nenhuma visita que não fosse
do médico e da empregada que viria arrumar o quarto, assim como Francesa
que traria minhas alimentações.
Tornei-me de fato uma prisioneira em domicílio.
— Dê tempo ao tempo, bambina. Matteo ainda está muito magoado
com o que aconteceu, mas ele tem um bom coração.
Assenti, sabendo que isso era verdade, mas cortei o que diria na
sequência, porque não queria continuar alimentando algo que não
aconteceria.
— Seu filho tem o maior coração que já conheci. — Um sorriso sincero
surgiu em meu rosto ao lembrar de tudo de bom que já me fez. — Mas
perdoar uma traidora, ainda mais uma de quem ele um dia disse amar, é
demais para ele, e eu o entendo.
Seus olhos marejaram e ela tentou disfarçar, desviando seu olhar.
— Ouvi Matteo conversando com Pietro sobre uma coisa, que me
deixou intrigada... — Ela pareceu pensar por um instante se deveria
continuar, mas respirou fundo e terminou. — Que você chegou a ir em uma
clínica clandestina para abortar meu neto. — Não senti julgamento em seu
tom de voz, mas sim uma tristeza imensa, que acabou comigo e me deixou
ainda mais envergonhada de minha atitude imatura. — É verdade, bambina?
Você quase fez isso?
Engoli em seco, mas prometi a mim mesma que não mentiria mais, por
isso, mesmo ruborizada tomada pela vergonha, confirmei.
— Sim, é verdade.
Baixei meus olhos, sem ter coragem de olhar dentro dos seus. Senti seus
dedos cheio de ternura, levantar meu queixo para que a olhasse.
— E por que não fez?
— Não tive coragem — assumi em tom baixo. — Quando descobri que
estava grávida fiquei desesperada, porque sabia que era o que minha mãe
queria. Permitir que a gestação fosse em frente... — tentei dizer, mas não
consegui e as lágrimas voltaram a escorrer de meus olhos.
— Seria seguir com a vingança que você não queria fazer. — Terminou
por mim, e mesmo de cabeça baixa, assenti.
Ela se aproximou de mim e puxou meu rosto e o posicionou em seu
ombro, o simples gesto maternal, foi o suficiente para que as portas que
impediam que chorasse de soluçar, despencassem e foi o que aconteceu.
Chorei tanto e por tanto tempo em seus ombros que perdi a noção do tempo
que permanecemos ali.
— É uma pena tudo que aconteceu, quando finalmente você aceitou o
sentimento que nutria por meu filho, as coisas desandam dessa maneira.
Afastei-me por um instante, olhando-a intrigada com seu comentário e
como se lesse meus pensamentos que tentavam entender como ela sabia,
considerando que nunca falei nada ou demonstrei o rancor que tinha na frente
dos outros, ela respondeu minha pergunta mesmo que não a tivesse feito.
— Pensou que não tivesse percebido? — indagou, com um ar risonho
no rosto. — Sempre percebi que você não o amava, na verdade, que seus
sentimentos eram o oposto.
— C-como?
— Sei reconhecer um quando vejo e percebia que apesar de odiá-lo, ele
também mexia muito com você e isso lhe atormentava.
Dio, como conseguia ser tão transparente dessa maneira?
Assenti sem saber sobre o que dizer.
— Conheço muito bem esse sentimento, pois era assim que me sentia
com meu Salvatore. — Sua revelação me pegou desprevenida, pois não
imaginava que também tivesse tido um casamento arranjado. — Também me
casei sem amor, só não tinha um momento em específico para odiá-lo, apenas
o odiava por tudo que ele me fazia sentir. — Ela riu ao se lembrar do que
vivia com seu marido, com um ar saudoso. — Mas, aos poucos, percebi que
não adiantava fugir que já me sentia completamente apaixonada.
Um sorriso singelo, mas sincero, surgiu em meu rosto por ter
conhecimento de sua história.
— Não imaginava que tivesse percebido. Minha mãe sempre me disse
coisas sobre ele. — Engoli em seco, assumindo mesmo que com vergonha o
restante. — Sobre vocês e isso apenas fez com que os odiasse, mas... —
enxuguei algumas lágrimas persistentes com o dorso da mão —, conforme fui
conhecendo vocês, percebi que não pareciam em nada com os monstros que
minha mãe sempre disse que eram.
— Meu filho não é santo! — Soltou um riso anasalado. — Nenhum de
nós somos, protegemos os nossos acima de tudo, mas também não somos
ruins, apesar de tudo, temos bons corações, fazemos o que achamos ser o
certo, mas, às vezes, podemos errar! — Olhei em sua direção, me
arrependendo de não ter tido essa conversa antes. — Também sempre percebi
que sua mãe não gostava de mim e sempre agia com falsidade quando me
encontrava, mas tentava fazer minha parte como a anfitriã dessa casa e,
também, como sua sogra.
Arregalei os olhos, desacreditada que tivesse percebido tudo isso e
nunca tivesse demonstrado o mesmo por ela, por nós. E isso apenas
comprovava como ela merecia ter se tornado a primeira-dama da máfia,
nunca conseguiria ser como ela. Por isso, mesmo com o coração apertado,
perguntei:
— E quanto a mim?
Sua mão enrugada acariciou a minha com ternura.
— Também percebia seus conflitos internos, mas você é apenas uma
ragazza, sabia que havia sido influenciada por sua mãe, por isso, nada melhor
do que mudar um conceito de alguém com atitudes, não é? Portanto, preferi
mostrar como somos uma família unida, como eu sou de verdade, para que
tirasse suas próprias conclusões. — Assenti envergonhada, mas satisfeita por
ter conseguido enxergar isso neles.
— Mas por que permitiu que me casasse com Matteo mesmo tendo
percebido tudo isso?
— Porque percebi a maneira que meu filho te olhava desde que te viu
no baile, você foi a única que fez com que seus olhos brilhassem. E mesmo
que você não admitisse para si mesma, era claro o quanto ele também mexia
contigo. Também não enxergava a maldade que tinha na sua mãe e em seu
padrasto, em você, nem em sua irmã. Por isso, incentivei ao casamento, pois
sabia que era a única maneira de serem felizes.
Algumas lágrimas voltaram a escorrer de meus olhos, me culpando por
ter sido tão cega, ter me deixado que o ódio me cegasse, por não ter me
entregado ao amor antes e, principalmente, por não ter dito a verdade quando
foi possível.
— E eu consegui estragar tudo... — lamentei, tampando meu rosto com
as mãos, completamente envergonhada com minhas atitudes.
Sandra puxou minhas mãos do rosto e voltou a me abraçar, acariciando
minhas costas para cima e para baixo.
— Você vai sair dessa, bambina. Não sei o que te levou a isso, mas sei
que não fez por mal e se arrepende. Não vejo maldade em seus olhos e sei
reconhecer uma maldade quando a encontro.
Não queria acreditar em suas palavras, mas mesmo que não quisesse,
elas entraram em meu peito e uma pontinha de esperança voltou a surgir. Não
sabia dizer se eram os hormônios que me deixavam confusa, ou se era o fato
de ela ser a mãe daquele que amava, mas se ela enxergou a verdade em mim,
mesmo que não tivesse lhe dito nada ainda. Talvez Matt também enxergasse,
quando parasse de fugir de mim.
Queria perguntar a ela como meu marido estava, mas tive medo de
descobrir que já tinha voltado a agir como um homem solteiro, por isso,
segurei a pergunta na ponta da língua, quando me afastei de seu colo.
Uma batida à porta fez com que voltássemos nossa atenção para lá e
Francesca entrou com meu almoço.
— Bom dia, ragazza! — Ela era outra que não me tratava mal, uma das
poucas, pois a empregada nem olhava em minha cara.
— Bom dia! — disse com a voz fraca por causa dos choros de minutos
atrás.
— Trouxe seu almoço, precisa se alimentar para que seu bambino
cresça bem e saudável.
Sorri agradecida, mesmo que mal sentisse fome, fazia questão de comer
justamente por ele. Precisava cuidar dele, não seria inconsequente com meu
bambino pelos erros que cometi.
— Matteo já foi? — indagou Sandra, a Francesca que assentiu, sentindo
meus olhos sobre elas.
— Saiu com Pietro, Marco, Carlo e Leonardo há poucos minutos.
Leonardo? Junto de Matt? Então ele não o matou? Um alívio
descomunal me tomou naquele momento, mas minha ansiedade em tentar
descobrir mais do que envolvia aquele que amava era maior.
— Matt foi para onde? — questionei, antes que conseguisse segurar
minha língua.
Francesca apertou seus lábios, contorcendo suas mãos uma na outra,
contendo-se para não me responder, mas era visível que queria.
— Precisou viajar, querida. Tiveram outras cargas queimadas, dessa vez
nos Estados Unidos e no local que são produzidas.
Arregalei os olhos, imaginando que aquilo só poderia ser obra de
Federico. Sabia que não deveria perguntar, pois isso poderia parecer que me
preocupava com a minha antiga família, mas precisava saber da realidade.
— Não conseguiram pegar Federico e minha mãe então? — Sandra me
observou por um instante e fiquei com medo de que pensasse justamente o
que não queria. Por isso já voltei a dizer. — Desculpe, não quis parecer
preocupada com eles, muito pelo contrário, só pensei que já tivessem mortos.
Ela assentiu e segurou em minha mão.
— Ainda não estão, mas Matteo está resolvendo isso, com a ajuda de
seu primo.
Meus olhos lacrimejaram por saber que Leonardo soube escolher o lado
certo e Matteo lhe deu uma chance de provar sua inocência.
— Pensei que tinha morrido — disse, em voz baixa. — Ele nunca soube
de nada do que era obrigada a fazer. Não porque não confiasse nele, mas não
queria que se envolvesse também.
Ela acariciou meu rosto e enxugou algumas de minhas lágrimas.
— Leonardo é um bom rapaz. Meu filho deve ter percebido o mesmo.
— Assenti, sem saber o que lhe dizer. Pensei em lhe perguntar sobre minha
irmã, que era a única que não sabia o paradeiro, mas mordi meu lábio
inferior, insegura. Sandra voltou a olhar para Francesca, enquanto se
levantava. — Já levou o almoço para Genevive?
Meus olhos se arregalaram e, dessa vez, não apenas marejaram, mas
voltei a chorar.
Ela estava viva! Matteo mesmo com um ódio descomunal de mim, não a
matou, conforme eu lhe pedi.
— Sim, senhora. A ragazza já até almoçou.
— Ótimo! — Assim que meus olhos encontraram o seu, ela me deu
uma piscadela em cumplicidade, pois sabia que queria saber dela, mesmo que
não tivesse perguntado e não pensei duas vezes em levantar e lhe dar um
abraço apertado, chorando ainda mais, por ela ser mais minha mãe, do que a
minha um dia foi.
— Obrigada por tudo! Obrigada por permitir que conhecesse um amor
de mãe, mesmo que por pouco tempo, muito obrigada! Tenho certeza de que
meu bambino terá a melhor avó para criá-lo, junto do melhor pai.
Senti um aperto no peito me envolver, com a possibilidade de não
presenciar isso, mas ficava aliviada em ter pessoas tão boas ao seu redor para
o ensinar aquilo que não tive o prazer de conhecer.
Ela envolveu meu corpo, enquanto dizia.
— Nem tudo está perdido, bambina, e acredito que você estará conosco
o criando.
Ela deixou um beijo repleto de carinho em meu rosto.
— Agora vá comer para que meu neto não fique com fome.
Soltei um riso, me sentindo mais calma e foi o que fiz.
A agonia com o que Matteo poderia enfrentar ainda me corroía, mas
uma pequena parte acreditava que talvez Sandra tivesse razão e nem tudo
estaria perdido.

Chegava a ser engraçado que o que me impediu de contar para Matteo a


verdade, foi o medo de morrer e era justamente isso o que aconteceria
comigo, assim que meu bambino nascesse. Se não morresse pelas mãos de
minha mãe, morreria pelo de meu marido.
Por qual motivo não lhe contei antes?
Fui uma frouxa e merecia esse um mês e meio que me encontrava
enclausurada dentro desse quarto.
Continuava agoniada com a demora no retorno de Matteo. Todos os
dias perguntava a Francesca quando me trazia alguma refeição se já havia
retornado e todas as vezes ela me olhava entristecida dizendo que não.
Mais cedo, quando trouxe meu jantar, disse que eles tiveram alguns
contratempos e isso causou o atraso para voltarem, meu peito parecia prestes
a explodir com tanta agonia de que Federico conseguisse o matar. Não sabia
se tinham conhecimento de minha gestação e caso soubessem, isso seria o
suficiente para não perderem mais tempo.
Mas pelo menos Matteo sabia o que esperar e de quem esperar dessa
vez. Não continuava cego com as pessoas ao seu redor.
Depois de ter tomado um banho e jantado, me deitei na cama e não
parava de me remexer sobre ela de um lado para o outro.
Não tinha mais meu celular para poder olhar as fotos que tiramos no
pouco tempo que passamos juntos, mas pelo menos tinha o porta-retrato com
nossa foto para poder ficar matando um pouco da saudade que sentia.
Coloquei minha mão no ventre que começava a formar um pequeno
calombo, para quem não me conhecia não perceberia a diferença, mas quando
me encontrava nua, já conseguia perceber a diferença em meu corpo.
— Papai deve tá chegando, bambino. Ele tá bravo com a mamãe, mas
tenho certeza de que vai te amar muito, tá bom?
Coloquei o porta-retrato de volta ao seu lugar, me deitei de lado e senti
o metal frio embaixo de meu travesseiro. Não sabia se meu marido se
esqueceu da adaga que me deu ou simplesmente permitiu que eu tivesse
alguma arma para me defender em caso de necessidade, mas fiquei grata por
não ter tirado isso de mim.
Para ser sincera, não acreditava que ele tivesse lembrado, pois como
permitiria que continuasse com uma arma que poderia matar seu herdeiro,
ainda mais depois que soube que quase o abortei?
Tentei não dar atenção para aquela vozinha que insistia em me dizer que
ele ainda se preocupava comigo e tentei tentar dormir.
Depois de quase uma hora pensando no motivo que Matteo estaria
demorando tanto para voltar para a mansão, o sono começou a dar as caras.
Mas quando comecei a fechar meus olhos, um estouro fez com que pulasse
da cama assustada.
Como se soubesse que precisava me proteger, alcancei rapidamente
minha adaga debaixo de meu travesseiro e fiquei em alerta.
Outro estouro, dessa vez mais perto, e comecei a tremer com o medo de
que poderia ser outra invasão.
Corri até o closet e peguei uma calça preta confortável, junto de uma
camiseta e uma blusa de moletom com capuz na mesma cor. Tranquei a
porta, retirei rapidamente minha camisola e vesti as roupas e calcei um tênis.
Destranquei a porta, ouvindo algumas trocas de tiros cada vez mais
próxima, e sentia meu coração descompassado, imaginando quem havia
armado mais essa cilada.
Alguma coisa foi jogada em minha porta e ela estremeceu, dei alguns
passos para trás, com medo de que algo acontecesse com meu filho, à medida
que segurava a adaga apontada para a entrada de meu quarto, repleta de
medo.
Minhas pernas pareciam bambas, meu coração batia cada vez mais
rápido em minha caixa torácica.
Os barulhos me amedrontavam. Ouvia batidas como se as pessoas
estivessem se esmurrando do outro lado, tiros eram trocados, bombas
estouravam e não sabia o que esperar.
De repente, mais um tiro aconteceu, próximo à minha porta e,
aparentemente, as brigas que pareciam acontecer, cessaram.
Perguntei-me se isso significava que quem matou quem? Mattia ou
Fabrizio mataram aqueles que se aproximavam, ou foram mortos?
A porta começou a ser destrancada, mas isso não me parecia um bom
sinal e quando ela se abriu, senti minhas pernas se enfraquecerem de vez,
quase me fazendo cair.
— Te achei, desgraçada!
Minha mãe, junto de seu marido entraram dentro de meu quarto
rapidamente e fecharam a porta atrás de si.
— O que vocês estão fazendo aqui? — gritei, abaixando por um
momento minha adaga. — Vocês estão atacando a mansão? Vocês estão
loucos?
Os dois se aproximaram rapidamente, mas quando percebi os olhares
repletos de ódio que os dois me lançavam, notei que me tornei a inimiga
deles.
Senti meu cabelo ser puxado com brutalidade por meu padrasto,
gritando em minha cara, enquanto minha mãe apenas me observava sem se
importar.
— Você quase colocou tudo a perder quando foi até aquela clínica de
aborto, sua maledetta!
— C-como vocês sabem? — perguntei, desacreditada que conseguiram
descobrir isso.
Federico me jogou longe, fazendo com que me desequilibrasse em
minhas próprias pernas e caísse no chão. A adaga escapou de meus dedos e
senti uma dor descomunal em meu ventre me envolver com o impacto.
Coloquei minhas mãos sobre ele, pedindo a Dio que não permitisse que
nada de mal acontecesse ao meu bambino.
— Você realmente pensou que confiaríamos apenas em você aqui
dentro, Chiara? — minha mãe questionou, com seu ar autoritário. — Temos
um infiltrado dentro da mansão, pois se dependesse das informações que
você nos dava, estaríamos até agora sem fazer nada.
Um infiltrado, por que não pensei nisso?
Abri meus olhos tentando me recuperar da dor que parecia aumentar e
procurei minha adaga, assim que a encontrei a um metro mais ou menos de
distância, comecei a planejar uma maneira de pegá-la mais rápido do que
minha mãe que se encontrava mais perto.
— Vocês fizeram essas emboscadas nos Estados Unidos e no galpão,
não é? — deduzi, tentando ganhar tempo.
Minha mãe parecia nervosa, ouvindo as trocas de tiros e bombas que
eram lançadas a todo instante.
— Claro, como é que conseguiríamos esvaziar a mansão com a maioria
dos seguranças — disse, seu marido com orgulho. — Agora, se levante,
temos que ir — ordenou, sacando seu revólver e apontando em minha
direção.
Levantei-me com um pouco de dificuldade, por causa da dor que me
tomava, mas aproveitei para ficar mais perto da minha adaga.
— Você vai se arrepender de ter me escondido essa gravidez, sua
ingrata! — gritou minha mãe, me dando um tapa na cara. — Se apaixonar
pelo assassino do seu pai, Chiara? Quando foi que virou essa frouxa que não
sabe deixar o coração de lado? — Ela me chacoalhou com força, me
empurrando ao demonstrar toda a ira que sentia em cada uma de suas
palavras.
— Matteo disse que não foi ele quem o matou! Você mentiu para mim,
por quê? Foi você, não foi? — Olhei em direção ao meu padrasto que parecia
adorar o assunto que surgiu.
Ele arqueou a sobrancelha em completo deboche e cruzou os braços em
frente ao peito.
— Realmente acha que fui eu? Bem que poderia ter sido, mas, dessa
vez, não fui, principessa — provocou, com ainda mais deboche do que no
início.
— Não acredito em você!
Ele deu de ombros.
— Não vou nem dormir a noite por isso.
— Você realmente é uma tola! Nunca deveria ter confiado uma
vingança tão importante nas suas mãos. Você foi meu maior erro! Deveria ter
te jogado no lixo quando pude — ralhou, me olhando com desprezo e mesmo
sabendo o quanto parecia me odiar, doeu cada uma de suas palavras.
— Por que você me odeia tanto, afinal? — Aproximei-me, de maneira
lenta, cansada da maneira com que sempre me tratou. Os tiros não paravam
do lado de fora, mas não me importava. — Qual o seu problema comigo? —
gritei, fora de mim. — Nunca me deu amor, carinho, só me batia, nunca se
importou com a quantidade de surras que levei desse desgraçado que só me
espancava e quase me estuprou várias vezes.
Nada do que dizia parecia lhe atingir, ela apenas continuava me olhando
com a raiva estampada em seus olhos.
— Quer saber mesmo a verdade? — falou baixo, mas de uma maneira
tão fria, que arrepiou todos os meus pelos. — Você sempre foi uma bastarda,
graças ao desgraçado e infiel do seu pai que teve um caso com a vadia da
minha irmã e ganhou você de brinde.
Suas palavras me chocaram e dei um passo impactada com sua
informação.
— S-sua irmã? — comentei, tentando assimilar suas palavras. — Mas a
tia morreu em um parto e o bebê não sobreviveu.
Uma gargalhada maquiavélica ecoou no quarto, mesmo que fosse óbvio
que ela não se divertisse com nada.
— Essa foi a desculpa que inventei depois de matá-la no hospital. —
Olhei espantada em sua direção, com meus olhos turvos sem acreditar no
quanto essa mulher que sempre disse ser minha mãe podia ser um monstro.
— Pensei sim em me livrar de você, mas o babaca do seu pai não saiu de
perto naquele berçário, parecia que sentia o que poderia lhe acontecer, por
isso, ele a pegou para criar sem pensar duas vezes.
Suas palavras se repetiam em minha mente a todo instante, me deixando
transtornada com as informações que recebia e tudo finalmente começava a
fazer sentido. O fato de eu ser odiada e Genevive não.
Então Leonardo é meu irmão?! Pensei pasma.
— Bingo! Descobriu a América. — Soou irônica, o que indicou que não
pensei, mas disse em voz alta o que deduzi.
— Pronto? Dá para deixar essa conversa para depois, porra! — gritou
Federico. — Vamos logo, antes que não consigamos mais sair daqui.
Podemos até não conseguir assumir a famiglia, mas pelo menos vou
conseguir uma boa grana com o seu sequestro.
Mais uma vez ele me pegou desprevenida, ainda impactada com a
informação que recebi da mulher que pensei ser minha mãe, e puxou meus
cabelos com força me colocando à sua frente. Depois de alguns segundos,
voltei a mim e lhe respondi com ironia, pois ele estava muito enganado:
— Você é muito idiota se pensa que Matteo vai pagar um centavo que
seja por mim, ele me odeia por culpa de vocês, seus desgraçados.
Senti o golpe com uma arma na minha cara e cheguei a virar meu rosto
impactada, meu rosto ardia e senti o sangue escorrer por ele. Olhei em
direção da mulher que me maltratou a vida inteira, com mais ódio do que um
dia senti de alguém.
— Ele pode não pagar nada por você, mas pelo herdeiro dele, ele vai
pagar o quanto quisermos! — respondeu com convicção e foi até a porta,
indicando a Federico que a seguisse e senti o empurrão em minha cabeça para
que eu andasse.
Olhei pelo rabo de olho que minha adaga estava ao meu pé, mas não
conseguia pegar por causa do puxão firme desse desgraçado em minha
cabeça.
Minha barriga doía demais e começava a me preocupar com o que
estaria acontecendo com meu bebê. Se eu fosse com eles, meu filho não
resistiria e nem teria bebê para Matteo resgatar, isso fez com que meus olhos
lacrimejassem, mas, ao mesmo tempo, me recriminei por isso, pois se havia
uma coisa que Irene me ensinou foi a ser forte, por tudo que já me fez passar.
Ela abriu a porta, respirei fundo, pensando em algum golpe que poderia
desferir em Federico para ganhar tempo, assim que ela deu um passo para
fora, um barulho ainda mais de perto de tiro invadiu meus tímpanos e me
encolhi, pensando se foi em mim, mas foi nesse momento que vi Irene com
seu corpo cair no chão, com um tiro no meio da testa.
Poderia dizer que fiquei triste com a cena em minha frente, mas
sinceramente, não foi o que senti. Era o que ela merecia por toda a desgraça
que fez com que eu passasse.
Outros tiros foram trocados e aproveitei a oportunidade com o susto que
Federico levou, lhe dei uma cotovelada com toda a força que tinha em seu
estômago e isso permitiu que se afastasse de mim alguns centímetros,
urrando de dor.
— Sua desgraçada!
Abaixei rapidamente e alcancei minha adaga na mão, sentindo minha
barriga queimando, mal conseguindo ficar em pé. Quando ele voltou a se
aproximar, virei encurvada por causa da dor, mas com um ódio tão grande
por tudo que esse desgraçado já me fez que enfinquei com toda a minha força
em seu abdômen.
Seu grito reverberou além do meu quarto e ele cambaleou para trás,
colocando a mão no local atingido. Se um olhar pudesse matar alguém, com
certeza, o dele o faria.
— Você vai pagar tanto com o que vou fazer com você por isso, sua
maledetta.
— Você nunca mais vai encostar seu dedo, muito menos essa merda
que tem no meio das pernas em mim — falei com dificuldade, sentindo algo
quente esquentar minhas pernas.
— Cadê vocês, porra? — Um homem entrou com tudo em meu quarto e
quando olhei em sua direção, meus olhos pareciam não acreditar no que
viam.
Minhas pernas perderam a força, meu corpo começou a tremer de tal
maneira que pensei ter um colapso nervoso a qualquer instante.
— Saudades de mim, ragazza?
Cenas de quatro anos atrás começaram a invadir minha mente, minha
ida à feira com Leonardo e tudo que esse desgraçado me fez passar. Ódio
caminhava por minhas veias e não acreditava que depois de tanto tempo o
veria aqui, ao lado daquele outro verme que tanto me fez mal e odiava com
todas as forças.
— Gostou da surpresa, principessa? — Federico soou irônico, mesmo
com dificuldade por causa da dor. — Eu e Ítalo vamos nos divertir muito com
você, mais tarde, não é, irmão?
Aquele sorriso horripilante que tanto atormentou minhas noites, surgiu
em seu rosto e senti minha espinha inteira se arrepiar, sabendo muito bem
quais eram os seus planos. Mas eu morreria lutando, mas jamais permitiria
que tocassem em mim.
— Vocês nunca vão tocar em mim — falei, pausadamente com toda a
fúria que me envolvia.
Nesse momento, alguns guardas começaram a aparecer e respirei
aliviada ao reconhecer o rosto da maioria. Os poucos que faziam parte dos
rebeldes liderados por Federico foram morrendo pelo pouco que conseguia
ver nos corredores, graças à porta que Irene abriu. Federico observando a
mesma cena que eu, disparou com mais lentidão por ter sido atingido junto
do desgraçado do tal Ítalo que o ajudava em direção à minha varanda para
fugir.
Queria correr até eles e acabar com o restante de suas vidas, mas a dor
que me tomava era muito forte e não conseguia.
Ajoelhei-me no chão, apertando meu ventre, enquanto começava a
chorar compulsivamente.
— Por favor, não posso perder você, você é tudo que tenho, por favor.
De repente, alguns guardas finalmente invadiram meu quarto no
momento que meu padrasto e seu irmão tentavam pular a janela, mas ao olhar
para baixo devem ter visto outros seguranças, pois ambos xingaram e
balançaram a cabeça desacreditados. Ítalo sacou sua arma e começou a
disparar em direção deles, mas eram muitos e mesmo que tivesse atingido um
ou outro, não conseguiriam sair dessa.
Um alívio me invadiu, por saber que dessa vez eles não escapariam e
ouvi o barulho das pancadas que alguns guardas desferiam sobre eles, quando
finalmente pegaram ambos.
Ouvi alguns passos correrem em direção do corredor e vi Leonardo
surgir na porta do meu quarto, seu olhar encontrou o meu e respirou aliviado
por me encontrar viva. Seus olhos caíram em minha mãe e seus olhos verdes
como os meus pareceram escurecer. Quando ele levantou seus olhos e viu
Federico e Ítalo, percebi que reconheceu quem era o maledetto no mesmo
instante, pois seu maxilar trincou, fechou seus punhos, preparando-se para a
briga e ouvi sua ordem reverberar no ambiente, tomado pela raiva de uma
maneira que o vi apenas uma vez. Naquele dia a maldito quatro anos.
— Soltem ele.
Nesse momento, como se meu corpo sentisse sua presença, olhei para
trás e enxerguei aquele que tanto amava, parado na porta. Seus olhos
encontraram os meus e não sei se era a ilusão me tomando, mas tive a
impressão de ver o alívio o invadir. Ele olhou em direção de Federico e seu
comparsa, seu maxilar cerrou, junto de suas mãos. Ele estreitou os olhos para
meu primo, mas não disse nada, podia estar errada, pois tudo parecia cada
vez menos claro aos meus olhos, com a dor cada vez mais intensa, mas
parecia que ele queria ver o que Leonardo faria.
— Agora eu mato você, seu desgraçado! — ralhou Leonardo, pegando-
o pelo colarinho e lhe dando um soco atrás do outro, Ítalo cambaleou para
trás e tentou revidar, mas já tinha apanhado tanto que não conseguia.
— Qual é? Pensei que iria me divertir com a vadia de novo na sua
frente. Você deveria me agradecer com o que te fiz, teve uma vista
privilegiada — provocou o desgraçado, cuspindo sangue pela boca, mas suas
palavras me machucaram, como se tivesse sido no dia e abaixei meu rosto
para o chão completamente envergonhada.
— Se soubesse o quanto sonhei com esse dia, jamais ousaria me
provocar — gritou Leonardo em sua cara, não parando de avançar sobre ele.
Matteo foi até Leonardo e o puxou, ficando cara a cara.
— Que merda tá acontecendo aqui? Do que você tá falando? — Ele
olhou de meu primo para mim e percebi que seus olhos não queriam acreditar
no que passava por sua cabeça. — Levem-no para o calabouço agora mesmo!
Leonardo olhou para mim e apenas disse em voz baixa:
— Não é assunto meu para dizer, você deveria conversar com sua
mulher.
Queria me afundar em um buraco nesse momento com o olhar cheio de
ira que Matteo me lançava por ter escondido tanta coisa dele. Meu primo
passou por ele, foi até Ítalo novamente e o pegou para o levar até o
calabouço, passando por nós.
Meu marido, apesar da raiva que exalava, veio até mim e puxou meu
corpo para seu colo, ao perceber que não estava bem. Matteo olhou para o
chão e viu minha mãe deitada sobre uma poça de sangue, assim como o chão
que me encontrava, também sujo de sangue.
— Dio! O que você tá sentindo?
A dor era tão grande, a saudade que sentia de Matteo tão avassaladora,
o alívio por ele ter me encontrado talvez a tempo que foi impossível segurar o
meu choro, puxei sua roupa imunda, também ensanguentada, mas não me
importei, precisava dele perto de mim, nem que fosse uma última vez, do
contrário não conseguiria suportar.
— Dor!
— Fica comigo, Chiara! Não feche seus olhos, vou te levar para o
hospital.
Eu fechei meus olhos?
Sentia-me tão fora de mim, que nem percebi já termos saído do meu
quarto e que nos encontrávamos ao lado de fora da mansão.
— Você vai ficar bem, você e nosso bambino ficarão bem, eu prometo!
Queria acreditar em suas palavras, mas como tudo na minha vida
parecia desmoronar, não tinha mais esperanças de nada.
Talvez a morte seria melhor, caso eu perdesse meu bambino. Já tinha
perdido Matteo mesmo, Irene morreu, Federico e Ítalo também teriam o
mesmo destino, minha irmã ficaria bem, afinal, ela tinha Leonardo.
— Chiara, abre o olho, cazzo! — gritou Matteo, segurando meu rosto
com as duas mãos. Estávamos dentro do carro? — Você tem que lutar pelo
bebê, Chiara! Por mim! Entendeu, porra? Você tem muito pelo que viver, não
se atreva a desistir.
Eu queria lutar, mas parecia cada vez mais difícil, me sentia fraca, meus
olhos cada vez mais pesados.
— M-me p-perd-doa... — tentei dizer, mas as palavras saíram num
sussurro.
— Xii... quietinha. Teremos tempo para conversar sobre isso depois.
Mas eu precisava falar, visto que fazia quase dois meses que eu não o
via, precisava que soubesse a verdade, por isso me obriguei a falar, mesmo
com dificuldade.
— E-eu não q-queria fazer n-nada d-daquilo. V-você p-precisa acreditar
em m-mim.
Senti suas mãos acariciando meu rosto, voltando a pedir para que eu
ficasse quieta.
— Depois a gente conversa, tá bom? Agora temos que nos preocupar de
salvar vocês dois.
Mesmo sentindo as forças se esvaindo de meu corpo, senti uma porta de
esperança acender dentro de mim, de que talvez eu pudesse ter uma segunda
chance de ser feliz.
— P-prome... — Não consegui finalizar, sentindo uma pontada muito
forte em meu ventre que me fez gritar e contorcer de dor.
Senti as mãos de Matteo segurarem minha cabeça em seu peito, a fim de
me acalmar, à medida que gritava alguma coisa para Marco, mas não
conseguia entender direito, então tudo sumiu de minhas vistas.
Assim que fui informado por meu pai que a mansão tinha sido invadida,
percebi que minha intuição não estava errada. Fomos vítimas de uma
emboscada.
De fato, aqueles retardados colocaram fogo em meu galpão que
armazenava a maior parte das drogas que eram produzidas e se não fosse pelo
alto investimento que fiz, para conter qualquer incêndio que viesse a
acontecer, já prevendo que isso um dia poderia acontecer, teria tido um
rombo milionário em minha conta.
Nem conseguia descrever o tamanho da fúria que me tomava desde que
descobri que minha esposa era uma traidora e que a sua família era o motivo
da dor de cabeça que vinha tendo nos últimos meses.
Mas seus dias estavam contados, tinha isso para mim, pois sabia com
quem lidava e Chiara não tinha mais como passar nenhuma informação para
eles, mas isso ainda não era o suficiente, pois mesmo com ela incomunicável,
eles continuavam sabendo dos meus passos, então, alguém de minha
confiança ainda me traía e coitado desse desgraçado quando colocasse
minhas mãos sobre ele.
Foram dias conturbados, tivemos que viajar para os Estados Unidos,
visto que lá também tivemos problemas na entrega de alguns clientes
importantes. Poderia ter deixado para que Pietro resolvesse isso, mas não
achava certo. Por isso, viajei com ele para a América e quando já nos
encontrávamos próximos de pousar, meu pai ligou dizendo o que havia
acontecido.
Como havia previsto que poderia ser uma artimanha para invadir a
mansão mais uma vez, deixei boa parte de meus seguranças escondidos, à
espreita do que poderia acontecer. Inclusive os que estavam na mansão não
sabiam a verdade, pensavam que eram os únicos, dessa maneira diminuiria
para trinta por cento as chances de descobrir quem era aquele que me traía e
não deu outra.
Quem quer que fosse, avisou Federico, pois eles não perderam a chance
de invadir a mansão.
Assim que cheguei, estava tudo um caos e me irritei ao perceber a
quantidade de homens que havia perdido.
Eles vieram preparados dessa vez.
Acessei a câmera do meu celular, ainda escondido em meio às árvores
do jardim e vi quando Chiara parecia acuada no canto de seu quarto
preparada para quem tentava entrar.
Ela não sabia, mas nesse período todo que não fui mais em seu quarto,
sempre a observava por meio de algumas câmeras escondidas que coloquei
em seu quarto e apenas eu tinha acesso. Era a melhor maneira de não ser
surpreendido de novo por nenhum de seus truques.
E para matar a saudade que te afligia diariamente. Meu pensamento
tentou me acusar, mas mais uma vez balancei a cabeça, a fim de não dar
vazão para tal distração.
Olhei em direção de Leonardo que parecia pronto para invadirmos o
local e Pietro ao meu lado esperando meu aval.
— Estão tentando entrar no quarto de Chiara — falei em tom baixo e
indiquei por meio de códigos com as mãos as direções que deveriam tomar e
assim o fizemos.
A intenção era pegar os rebeldes desprevenidos, pois contavam que
ainda estávamos viajando.
Dois rebeldes me viram e começaram a disparar em minha direção, que
usava colete a prova de balas. Não hesitei em nenhum momento, me escondia
atrás de alguns pilares para recarregar minha arma e não errava meus alvos,
como a maioria também usava colete, não perdia tempo e mirava na cabeça.
Derrubei quatro em poucos minutos, enquanto observava Leonardo e
Pietro atrás de mim fazendo o mesmo.
Marco e Carlo já tinham entrado e passei um rádio para eles, para que
conseguissem impedir de pegar Chiara, pois já imaginava qual era seus
objetivos. Queriam meu filho e minha mulher.
Ex-mulher! Repreendi-me no mesmo instante.
Finalmente consegui subir os lances das escadas e segui em direção aos
aposentos, que meus pais se encontravam e Chiara foi aprisionada, assim
como Genevive.
Quando continuava seguindo, ouvi um grito de minha mãe invadir meus
ouvidos e meu coração disparou no mesmo instante que alguns tiros foram
trocados. Pietro e eu nos entreolhamos e começamos a correr em direção ao
seu quarto o mais rápido que podíamos.
— Não! — gritou minha mãe aos prantos.
Conforme chegávamos mais próximos, observei um homem parecendo
familiar nos encarar e começou a correr na outra direção, ao nos reconhecer.
Eu e Pietro em completa sintonia começamos a disparar tiros no
desgraçado e percebi quando um de meus tiros o atingiu na perna e Pietro
acertou na outra perna.
— Matteo, corre aqui! — Ouvi Leonardo gritar e como percebi que o
homem caía e meu irmão já corria até o maledetto. Deixei que conferisse
quem era e sua morte, enquanto entrava no quarto de minha mãe.
Não estava preparado para a cena que me deparei e por um instante, me
deixei abalar com a imagem que observava à minha frente.
— Papá! — gritei, correndo até ele que estava caído no chão com um
tiro na garganta, afinal, ele também usava colete no peito.
O sangue escorria de seu corpo formando uma imensa poça, minha mãe
se encontrava debruçada sobre ele aos prantos, enquanto gritava e chamava
por ele de uma maneira que cortava meu coração.
Foi impossível impedir que as lágrimas me invadissem, mas tentei ser
racional naquele momento, eu era o capo dessa porra e precisava agir com a
cabeça.
Tentei medir seu pulso e apenas tive certeza do que já sabia assim que o
vi, o desgraçado o matou no mesmo instante.
A fúria tomou meu corpo por completo, pois acabaria com qualquer
desgraçado que ousasse tocar na minha família.
— Mammina! — Fui até ela e a abracei, enchendo meu corpo de sangue
daquele que sempre considerei meu herói.
— Ele se foi, Matt. Ele se foi! — ela gritava, chorava e foi o pior
momento que presenciei em minha vida, ainda mais por tentar ser forte
quando queria apenas cair meu corpo e chorar junto dela.
Mas eu não podia!
Segurei seu rosto em meio às lágrimas com minhas duas mãos e lhe
disse com todo o meu coração:
— Vou vingar a morte de meu pai!
Ela assentiu e voltou a se deitar sobre ele, enquanto Leonardo falava.
— Chiara, vou até lá!
Ele saiu correndo a minha frente, assim que Pietro chegou à porta e viu
a mesma cena que eu, ficou desolado.
— Fique aqui com ela. Vou terminar com esses desgraçados.
Meu peito parecia prestes a explodir com o tamanho da tristeza que me
invadia e isso apenas serviu como gás para que eu descontasse toda a minha
raiva em cada maledetto que aparecia na minha frente.
Notei ao longe quando Leonardo entrou e depois de ter matado os
outros três que apareceram para me enfrentar, finalmente cheguei ao quarto
de Chiara.
Eu a odiava com todas as minhas forças, mas era impossível negar o
alívio que senti me envolver quando a encontrei viva, apesar de assustada e
encolhida no canto do quarto. Nem parecia a mesma ragazza que sempre me
enfrentava. Algo estava errado.
Quando ouvi o que Leonardo ordenou e a provocação que aquele
desgraçado fez em relação à minha mulher, não quis acreditar em sua
insinuação. Ele não poderia ter ousado tocar nela, poderia?
O que eu tinha perdido nessa merda?!
Assim que ordenei a Leonardo que o levasse para o calabouço junto ao
desgraçado do Federico que ainda teve a ousadia de me olhar com ódio
estampados nos seus olhos, fui até Chiara para ver o que acontecia, pois ela
parecia longe apesar de me olhar, como se sentisse a mesma saudade que
lutei tanto para não ter.
Assim que a puxei para levantá-la, vi seus braços com sangue, então de
início pensei que fosse da desgraçada de sua mãe que enfim morreu, não da
maneira que queria, mas pelo menos tínhamos um problema a menos.
No entanto, quando percebi que não estava machucada e o chão que
havia se sentado também se encontrava repleto de sangue e a sua mão
apertava sua barriga, percebi o grande problema que tinha em mãos.
Ela estava abortando.
Não pensei duas vezes, deixei qualquer ódio de lado, peguei-a no colo e
corri em direção ao carro para a levar ao hospital.
Carlo nesse momento junto de Marco me encontraram no caminho.
— O que está acontecendo? Ela foi ferida? — perguntou Marco.
— É o bebê, ela tá sangrando.
— Dio! Vamos eu cubro vocês — Carlo tomou frente enquanto Marco
fazia o mesmo, matando aqueles poucos que ainda restavam da invasão.
Tentava conversar com Chiara para que ela se mantivesse acordada,
mas parecia que isso estava cada vez mais longe de acontecer.
Ela me pedia perdão, tentava falar as coisas, mas não conseguia prestar
atenção e pela primeira vez dentro desses quase dois meses, era o que eu
queria, ouvir o que tinha para me falar, me explicar o porquê fez tudo que fez.
Por que me traiu dessa maneira?
Mas não era o momento disso e tentei deixar de lado e acalmá-la.
Assim que enfim chegamos ao jardim, encontrei meu carro nos
aguardando, como Marco já havia pedido que o trouxessem e corremos em
direção a ele, mas o disparo de um tiro próximo de onde estávamos chamou
minha atenção, procurei de onde veio o barulho e encontrei um dos meus
seguranças me encarando com a arma apontada para mim e Chiara
praticamente desfalecida em meus braços.
Fabrizio!
O tiro seria certeiro, pois quando percebi a bala já me alcançava. Fechei
os olhos tentando virar meu corpo para proteger a mulher em meu colo, junto
de meu bambino, e de relance apenas vi um corpo se jogar na frente da bala,
sendo atingido no mesmo instante. De repente, vários tiros dispararam em
direção do desgraçado traidor e vi que seu corpo caiu no mesmo instante,
cheio de balas.
Olhei em direção de quem havia sido atingido em meu lugar e me
amaldiçoei por ter sido surpreendido.
— Carlo! — gritei, me abaixando com Chiara ainda no colo. Ele havia
sido atingido no rosto e a vida havia se esvaído de seu corpo no mesmo
instante. — Não! — gritei, fora de mim. — Você também não!
Marco apareceu ao meu lado e se ajoelhou ao lado de nosso amigo de
infância e começou a procurar sinais de que ainda tinha vida, mas negou com
a cabeça o que já sabíamos, mas queríamos conferir.
Levei minha mão direita, com um pouco de dificuldade e fechei seus
olhos semiabertos, com pesar sobre mim.
Era para ter sido eu e ele me salvou!
— Seu tolo, não devia ter feito isso! — falei com seu corpo, sentindo
algumas lágrimas caírem de meus olhos, ao perceber que já tinha perdido
duas pessoas importantes em minha vida e ainda tinha Chiara e meu filho
próximo de acontecer o mesmo. — Vou vingar sua morte, meu amigo, eu te
prometo!
Engoli em seco e me levantei, tentando nutrir uma frieza que havia se
esvaído de meu corpo.
Entrei no carro com Chiara e a acomodei em meu colo enquanto Marco
tomava posse do volante e corria em direção ao hospital.
Meu amigo buzinava para que saíssem da frente, sempre com o pisca-
alerta ligado indicando ser um caso de emergência, enquanto isso liguei no
mesmo instante para o doutor Vittorio Rossi, que devido à quantidade de
pessoas machucadas da famiglia já tinha sido convocado para o hospital da
máfia.
— Preciso que prepare uma equipe de neonatal com urgência, Chiara tá
abortando! — ordenei ao celular assim que atendeu.
— Sim, senhor Lucchese, estou preparando agora mesmo — respondeu,
solícito.
— Corre, Marco, porra! — gritei com o coitado que já corria contra o
tempo e pedia a Dio que não permitisse que tivesse mais essa perda. Não
sabia o que seria de mim se também perdesse a mulher que amava e meu
bambino. — Chiara, abre o olho, cazzo! — gritei, segurando seu rosto com as
duas mãos. — Você tem que lutar pelo bebê, Chiara! Por mim! Entendeu,
porra? Você tem muito pelo que viver, não se atreva a desistir.
Sabia que não deveria gritar com ela, mas precisava mantê-la acordada
de toda maneira, em contrapartida, ela parecia cada vez mais longe, apenas
abria seus olhos com dificuldade quando eu a trazia para mim.
— M-me p-perd-doa... — sussurrou, parecendo mais fraca e meus olhos
voltaram a lacrimejar, algo que nunca acontecia comigo.
A morte sempre andava ao meu lado, matava mais gente do que
salvava, mas a mera possibilidade de perdê-la sem conseguir ouvir tudo que
lhe aconteceu e o motivo de ser como era, me deixava transtornado.
— Xii... quietinha. Teremos tempo para conversar sobre isso depois —
disse, tentando nutrir uma esperança que parecia cada vez menor dentro de
mim.
— E-eu não q-queria fazer n-nada d-daquilo. V-você p-precisa acreditar
em m-mim. — Mais uma vez tentou dizer, com dificuldade.
Acariciei seu rosto, pedindo que ficasse quieta, mas acordada, visto que
ela não podia se esforçar.
— Depois a gente conversa, tá bom? Agora temos que nos preocupar de
salvar vocês dois.
Um singelo sorriso surgiu em seu rosto com minhas palavras e tentou
pedir que eu prometesse, mas então ela desmaiou de vez em meu colo. E só
sabia que havia desmaiado e não me abandonado porque no mesmo instante
comecei a buscar sua pulsação na garganta e a senti fraca, mas senti e o alívio
me tomou.
— Ela desmaiou, Marco, corre pelo amor de Dio.
— Tô correndo, estamos chegando, a equipe já está preparada ali na
frente.
Olhei em direção ao hospital e senti um alívio me envolver por
finalmente termos chegado.
Eles ficariam bem, tinham que ficar.
Mal paramos o carro e uma equipe médica veio em nossa direção, o
médico a deitou sobre uma maca e correu em direção à área de emergência,
enquanto percebia ao longe colocarem respirador em seu rosto.
Fiz sua ficha no automático e fui direcionado a uma área reservada,
enquanto me sentava com a cabeça entre as mãos, revoltado e angustiado
com todas as merdas que me aconteceram nesse último mês.
Caso Chiara tivesse confiado em mim, talvez teria conseguido conter
todas essas desgraças que aconteceram à nossa volta.
Por que ela não me contou, porra? Será que ela pensou que de fato a
mataria?
Mas não era isso que você disse a ela? Minha consciência me acusou,
me fazendo lembrar de quando disse que a queimaria viva se me traísse.
Além de lembrar da reação transtornada que tive quase a sufocando quando
soube de tudo que fez.
Será que eu teria coragem de ter ido até o fim? Perguntei-me, mesmo
sem saber a resposta.
Mas a maneira fora de mim que fiquei ao encontrá-la tão abatida,
acuada e pior ainda, com risco de perder nosso bambino, fez com que
enxergasse o que meu ódio não me deixava ver até então.
Não teria coragem de matá-la, não quando ainda a amava.
Mas isso não queria dizer que a perdoava por tudo que me fez e por
tudo que me fez passar. Talvez quando esse tormento passasse e ela se
recuperasse, porque ela tinha que sair dessa com vida, ela e meu bambino,
então lhe daria a oportunidade de se explicar e quem sabe um dia, eu
conseguisse lhe perdoar, porque nesse instante, mesmo querendo passar por
cima de tudo para ficar ao seu lado, eu sabia que não conseguiria, pois a
mágoa me dominava por completo, mas não era por isso que a queria fora de
minha vida por completo.

Depois de duas horas ou mais, não sabia dizer, finalmente o doutor


Vittorio apareceu, parecendo cansado.
Levantei-me no mesmo instante com Marco ao meu lado, sentindo meu
coração acelerado com a mera possibilidade de que não tivesse boas notícias.
Tentei ler a expressão que o médico demonstrava, mas nada conseguia
enxergar.
Respirei fundo, preparando minha cabeça para o que viria e perguntei:
— Então, doutor? Minha mulher e meu filho estão bem?
— Senhor Lucchese, dona Chiara teve um descolamento na placenta
considerável e por esse motivo quase perdeu o bebê, estamos a medicando
para tentar segurar a gestação, mas como ela está com quase três meses de
gravidez, temo que não consiga segurar o feto.
— O bebê! — repreendi-o no mesmo instante, por se dirigir daquela
maneira desdenhosa ao meu filho.
Ele assentiu, envergonhado e continuou.
— Sim, o bebê. Vamos mantê-la medicada e assim que o risco maior
passar, lhe darei alta, mas já adianto que ela terá que ficar em repouso
absoluto pelas próximas semanas ou meses. Ainda não tenho como ter
certeza. Tudo vai depender de seu corpo.
Assenti, sem saber ao certo o que falar, mas tendo certeza de que faria
tudo que estivesse ao meu alcance para que ela e meu filho tivessem a melhor
recuperação possível.
— Outra coisa, vou deixá-la a base de calmante aqui no hospital, claro
um que não prejudique o fe-bebê — corrigiu-se. — Mas considerando tudo
que tem acontecido na mansão, vou manter por um tempo quando já estiver
em casa, por isso, peço que colabore em relação a isso.
Ou seja, não a perturbe!
— Com certeza! Farei o que precisar. — Ele assentiu e se virou para
sair, mas o chamei. — Quando poderei vê-la?
— Ela já está acordada, caso queira, pode vir comigo.
Não pensei duas vezes em o acompanhar.
— Senhora Lucchese, tem visita. — O doutor me anunciou e entrei na
sequência.
Meu peito descompassou no mesmo instante, ao encontrar aqueles olhos
esmeralda que tanto senti falta me olharem, cheios de lágrimas, enquanto
remexia suas mãos em agonia.
Isso porque ela estava à base de calmante, imagine só se não estivesse.
— Vou deixar vocês à vontade, qualquer coisa aperte a campainha que
um de nós virá até aqui.
Assenti, colocando minha mão dentro de meus bolsos dianteiros, sem
saber ao certo o que falar pela primeira vez na vida. Marco tinha pegado uma
roupa limpa para mim dentro de meu porta-malas e me troquei enquanto
aguardava notícias.
Sentei-me na poltrona, com uma vontade descomunal de segurar suas
mãos, mas precisei conter meu desejo. Ainda não era o momento.
— O doutor disse que o bebê está bem — cortou o silêncio pesado que
nos rondava, desviando a todo instante nossos olhares, parecendo
envergonhada.
— Sim, você teve um descolamento, mas se ficar em repouso absoluto
talvez não tenha mais problemas — falei, tentando soar o mais tranquilo
possível. Deixando de lado a informação que existiam grandes chances de o
perdermos.
Não aceitava acreditar nessa possibilidade.
— Não é como se conseguisse sair batendo pernas por aí, não é? —
brincou, tentando descontrair, mas minha cara fechada deve ter deixado claro
que sua brincadeira teve o efeito oposto. Precisei segurar minha língua para
não jogar em sua cara que ela era a causadora de ter ficado presa, mas fiquei
quieto. — Desculpe... — pediu em tom baixo, percebendo o que falou.
Assenti sem nada a dizer.
Respirei fundo, não querendo entrar nesse assunto, mas era necessário.
Pois uma parte de mim a todo instante me atormentava de que ela talvez
tivesse causado essa tentativa de aborto de propósito, mas me negava a
acreditar que depois que desistiu naquela clínica, o faria de novo.
Por isso, tentei sondar de uma maneira não tão invasiva, para não a
deixar nervosa.
— O que aconteceu lá? Por que você quase perdeu nosso bebê? —
Recriminei-me por ter dito nosso, ao invés de o meu, pois isso poderia lhe
causar uma esperança em relação a nós que ainda não tinha certeza se teria.
Ela mordeu os lábios, apreensiva e depois de suspirar pesadamente,
respondeu.
— Federico avançou sobre mim, me jogou longe e me desequilibrei. —
Desgraçado! Fechei meus punhos, contendo de demonstrar minha ira. — Sei
o que deve ter pensado, que tentei tirar o bebê de novo, não é? — indagou, de
maneira triste e envergonhada, abaixando seus olhos sem coragem de olhar
em minha direção.
— Você plantou essa possibilidade dentro de mim, Chiara! — falei, me
arrependendo no mesmo instante.
Ela assentiu.
— Eu sei. Mas eu já o amo, sabe? Desde que descobri, por isso não tive
coragem de ir em frente — assumiu, ainda em tom baixo, mas disposta a falar
a verdade pela primeira vez na vida.
Ou talvez para seguir com a tão sonhada vingança que queriam!
Pensei, mas mais uma vez e contive meus pensamentos só para mim. Ainda
não era o momento para essa conversa.
— Tenho certeza de que pensa que não foi esse o motivo, mas a única
coisa que me levou até aquela clínica e tirá-lo, foi justamente para evitar que
ela se concretizasse, como sabia que era o que minha mã... Irene — corrigiu-
se. — Queria. Mas... — engoliu em seco —, não tive coragem, espero que
um dia acredite em mim.
Eu também espero! Pensei, mas só assenti.
Meu celular começou a tocar e vi que era Leonardo, deslizei o dedo
pelo celular e atendi.
— Sim.
— Senhor Lucchese, como Chiara está?
— Está bem, terá que fazer repouso absoluto, mas está bem. Como
minha mãe está? — perguntei, sentindo meus olhos umedecerem ao me
lembrar da imagem de meu pai e Carlo estirados naquele chão, sem vida.
— Nada bem, senhor. Pedimos que Genevive fique com ela, para não a
deixar sozinha, demos calmante e já vieram buscar os corpos para darmos
seguimento com o velório.
Engoli em seco, apertando minha têmpora, com os cotovelos sobre
meus joelhos, sem conseguir olhar para Chiara, mas sabendo que ela o fazia,
tentando descobrir o que aconteceu.
— Certo, você pode pedir para Pietro ficar de olho nela, que já estou
indo para aí resolver algumas coisas. Já falaram com a família de Carlo?
— Sim, senhor! Eles já estão a caminho do IML.
— Leonardo, pode vir ficar aqui com Chiara, para eu ir até aí? — Tentei
fazer com que eles ficassem distantes, até eu ter uma conclusão da índole de
Leonardo depois de termos tido uma conversa bem esclarecedora, que
mostrou realmente não saber de nada referente à vingança que sua prima
conspirava contra mim. Dei-lhe uma chance de mostrar se realmente estava
ao nosso lado e foi graças a ele que tivemos êxito em muitas ações.
Pois graças ao seu irmão, que desconfiava que estava envolvido junto
de Irene e Federico, ele conseguiu pistas que até então não tínhamos.
— Claro. Estou indo agora mesmo.
Desliguei o telefone, ainda sem coragem de olhar para Chiara, uma
parte de mim queria culpá-la por tudo que aconteceu com meu pai e Carlo,
mas não queria esse sentimento dentro de mim, por isso pedi que Leonardo
viesse para cá. Ela precisava de ajuda e não poderia ficar sozinha, ele e
Genevive eram os únicos que ela tinha. Não sabia se me enquadrava nessa
situação.
Claro que cuidaria dela para que tivesse meu filho, com saúde, mas
ainda não sabia dizer onde o nós se encaixaria.
— Sabia que Leonardo é meu irmão? — perguntou, em seguida virei
meu rosto em sua direção no mesmo instante, tentando entender de onde tirou
isso. Minha cara deve ter deixado claro não ter entendido nada, pois
continuou: — É verdade, a mulher que me criou, disse isso antes de morrer.
— Mas será que é verdade?
Ela assentiu, com o maxilar trincado de raiva.
— Sim, ela disse que matou minha mãe quando me teve, pois ela traiu o
pai de Leonardo com o meu pai. Pelo menos isso tudo faz sentido agora... —
disse para si mesma e não resisti em perguntar, por finalmente dizer algo
sobre sua vida.
— O que faz sentido?
— Ela ter me odiado a vida inteira. Era uma bastarda, como disse. —
Fechei meus punhos, querendo tê-la em minha frente para esmurrá-la pela
maneira desdenhosa que se referiu à Chiara. — Pelo menos ela me contou
antes de morrer, agora tudo fez sentido.
Sabia que deveria humilhá-la, magoá-la como me magoou, mas não
conseguia ser tão frio a tal ponto, de apenas a distratar para que sentisse um
pouco da maneira que tenho me sentido. Por isso, apenas disse:
— Azar o dela, ela quem perdeu a oportunidade de aproveitar sua
companhia, morreu tarde a maledetta.
Ela assentiu mordendo o lábio inferior, com os pensamentos longe e
secou uma lágrima que escorreu de seus olhos.
Queria saber mais do que essa filha da puta lhe fez, mas não podia
estressá-la e, também, não era assunto para esse momento.
— Todos estão bem na mansão? — Não, sua família matou meu pai e
meu amigo de infância. Era o que queria respondê-la. Mas obviamente não
foi o que falei.
— As coisas vão se ajeitar.
— Quando você vai cumprir o que me prometeu?
Olhei enviesado em sua direção, pois ela parecia quase desmaiada, mas
a memória pelo visto estava ótima e não me passou despercebido que se
aproveitava da situação para se aproximar de mim.
Meu olhar devia ter sido o suficiente para que entendesse o meu recado,
pois encolheu os ombros, visivelmente desconcertada.
— Desculpe, só senti a sua falta nesse período que não te vi e queria me
explicar, contar tudo que me aconteceu, para que um dia, quem sabe, você me
perdoe.
Foi impossível conter o riso irônico que soltei dessa vez e balancei a
cabeça desacreditado com o que ouvia.
— Você teve meses para conversar comigo. No início, você me odiava,
sem nem eu saber o motivo, depois eu te provei dia após dia que poderia
confiar em mim e o que você fez? Continuou compactuando com uma família
que nunca te deu amor. — Os olhos de Chiara lacrimejaram e virou seu rosto
para a janela, visivelmente magoada com as minhas palavras e me xinguei em
pensamento por ser um filho da puta insensível. — Desculpe, não quis te...
— Tudo bem, você não disse nenhuma mentira.
— Chiara... — tentei dizer alguma coisa que amenizasse a tristeza que
envolvia sua expressão, mas eu também me encontrava angustiado com tanta
desgraça que me aconteceu nesse dia, por isso quando ela balançou a cabeça
pedindo que não falasse, foi o que fiz.
— Você não precisa ficar aqui. Leonardo já deve estar chegando, pode
ir embora fazer as coisas que precisa — disse, de maneira ríspida, mas
visivelmente entristecida.
— Não vou deixar você aqui sozinha. Você quase perdeu um bebê.
— Não estou sozinha, ou vai me dizer que os cães de guarda não estão
aí na porta? — Minha expressão deve ter deixado claro, pois ela arqueou a
sobrancelha. — Viu, não estou sozinha e nem tenho como fugir, caso esse
seja o seu medo.
— Vou aguardar Leonardo chegar e fim de papo.
— Que seja! — resmungou, voltando sua atenção para a janela.
Meu celular não parava de tocar, para resolver as burocracias dos
velórios, como também as outras questões, pois tivemos um desfalque muito
grande em nossos homens, além de a mansão que também se encontrava
completamente destruída.
O mais difícil foi fazer isso sem que Chiara entendesse o que realmente
acontecia, pois apesar de não tentar mais falar comigo. Ela prestava atenção
em minhas conversas, mesmo que eu falasse em código, ela devia ter captado
uma mensagem ou outra.
Uma batida à porta fez com que olhasse na direção dela e Leonardo
apareceu, assim que seus olhos encontraram o de Chiara, ele se apressou em
ir em dia direção, ela nem disfarçou a emoção que sentiu ao abraçá-lo forte e
desabou em um choro sentido.
— Você vai ficar bem, mia ragazza. Está tudo bem agora.
Ele acariciava seus cabelos, que eu sabia muito bem serem macios,
como também suas costas, tentando a acalmar e nunca senti tanta inveja de
alguém como tive naquele momento, pois eu daria qualquer coisa para fazer o
mesmo com minha princip... não, com Chiara.
Ainda tinha a questão com aquele desgraçado que Leonardo perdeu o
controle completamente, nunca o tinha visto daquela maneira e me sentia
ansioso para saber mais, mas precisava esperar Chiara se recuperar e sair de
perigo de lhe causar outro aborto.
Só não sabia ainda se esperaria Chiara me contar, ou se tiraria as
informações do próprio filho da puta.
— Leonardo, vou lá resolver as questões. Qualquer coisa me ligue, ok?
— Ele assentiu, tentando conter a emoção em seus olhos. — Assim que tiver
uma oportunidade volto aqui.
— Fique tranquilo, você tem muitas coisas para resolver.
Olhei para Chiara, que desviou o olhar para seu colo no mesmo instante,
parecendo sem jeito, mas o pior era que me sentia da mesma maneira. Por
isso, não consegui nem me despedir e saí de seu quarto, sentindo meu
coração se estilhaçar com a minha própria atitude.

Foram dois dias intensos e terríveis para dizer no mínimo.


A angústia me tomava por completo e a única coisa que queria, era me
deitar ao lado de minha mulher e receber seu carinho, mas nem isso eu podia
fazer, pois a mágoa ainda me corroía. Não conseguia olhar em seus olhos sem
me recordar das traições que cometera. Tive bastante tempo para pensar
durante esses quase dois meses longe e acreditava que talvez ela tivesse sido
obrigada a isso, talvez o que disse quando a levava para o hospital que não
queria, fosse verdade. Mas nem por isso se tornava mais fácil.
Evitei visitá-la no hospital e Francesca ficou um pouco com ela, assim
como minha mãe também, mesmo que eu dissesse que não precisava, mas ela
disse que precisava se distrair e ficar no local em que sempre se encontrava
com meu pai era pior. Por isso, entendi quando quis ir.
Todos os dias eu ia até o hospital, conversava com o médico, mas não
entrava no quarto. Precisava de um tempo longe de Chiara e sabia que não
conseguiria fugir por muito tempo, devido à sua situação. Precisava agir com
a razão, no entanto, ficar ao seu lado, apenas faria com que sucumbisse ao
que sentia e não poderia agir com os sentimentos. Não me tornei quem era
agindo dessa maneira.
Respirei fundo, sabendo o que me aguardava e abri a maçaneta da porta
de seu quarto, para levá-la embora. Poderia pedir a Marco que o fizesse? Sim,
no entanto, depois de tanta coisa que me aconteceu, não correria o risco.
Federico e Ítalo se encontravam presos no calabouço, enquanto meu
irmão se divertia com ele, junto de Carlo e Leonardo. Ainda não os queria
mortos, não até descobrir o que fizeram com a minha mulher.
Se eles a fizeram sofrer como entendi que fizeram, suas mortes seriam
bem lentas e tortuosas.
— Olha só quem chegou — falou Francesca, com uma animação que
não acontecia comigo e Chiara.
— Como você está? Pronta para ir para a casa?
— Sim, não aguento mais comida de hospital, ficar presa por ficar,
prefiro em casa.
Revirei meus olhos perante sua ironia, mas para a minha completa
surpresa Chiara tinha um sorriso singelo no rosto, tentando descontrair.
— Bom, então vamos.
Ajudei-a se levantar com cuidado e a coloquei na cadeira de rodas, para
que não fizesse nenhum esforço sequer.
Teríamos que ir para a mansão em Palermo, visto que a de Sicília estava
em reforma nos lugares mais afetados, mas como tinha uma grande equipe
trabalhando arduamente, acreditava que seria necessário ficar ausente
somente por quinze dias. Depois disso, preferia ficar lá, junto de minha mãe
que se recusava a sair da mansão e vir para Palermo.
Marco abriu a porta do carro e quando peguei Chiara no colo, não
querendo que andasse nem mesmo três passos, tive a impressão de que ela
acariciou meu cabelo e o cheirou, mas fingi não ter percebido o que fez,
impactado com o singelo gesto.
— Entre, Francesca — pedi, mas ela já seguia para o carro de trás com
os outros seguranças.
— Não, meu filho. Vou aqui com Mattia conversando um pouco.
Olhei em direção dela e não sabia o motivo, mas para mim isso era
proposital para me deixar sozinho com Chiara.
Respirei fundo e entrei no carro, me sentando a uma distância segura.
O caminho foi tranquilo e não tivemos mais problemas, mas sentia o
tempo inteiro o olhar de Chiara em cima de mim, sem nem tentar disfarçar.
Se fosse em outro momento, teria adorado provocá-la e me aproveitado da
situação, mas os dias haviam mudado e, infelizmente, não tinha clima para
isso no momento.
— Estamos indo para Palermo? — perguntou, em um tom mais
animado do que esperava.
— Sim, a mansão está em reforma.
— Ah, verdade. Sua mãe comentou, acabei me esquecendo.
Continuamos em silêncio por mais alguns minutos, até que ela voltou a
puxar conversa.
— E as minhas coisas?
— Francesca já trouxe, junto de Leonardo.
— Ah!
Meu telefone tocou e vi que era Pietro, mas ignorei a ligação e enviei
uma mensagem perguntando o que precisava, queria evitar certas conversas
ao lado de Chiara. Não que ela tivesse para quem contar as coisas sem
celular, mas ainda não me sentia à vontade e, também, não queria deixá-la
nervosa.
Poucos minutos depois, chegamos à mansão, peguei Chiara no colo
novamente e a levei para o andar de cima, sentindo seus braços me
envolverem pelo pescoço com muita proximidade, para alguém que queria
continuar com meu autocontrole em ordem, ela não facilitava.
— Está com fome? Francesca deixou algumas coisas preparadas para
sua chegada e vai te trazer o que precisar.
Deixei-a sobre a cama com cuidado, mas ela foi se levantar, mas não
permiti.
— O que precisa, caspita? Não ouviu o médico dizendo que precisa
ficar em repouso absoluto?
— Sim, segundo orientação dele mesmo, preciso me manter o máximo
possível deitada, mas isso não quer dizer que não posso nem ir ao banheiro e
tomar banho. Se for assim, terei que ficar quase sete meses tomando banho de
gato e usando sonda? — soou irônica, revirando os olhos, e se levantou.
— Se tiver que tomar banho de gato, terá que tomar, cazzo!
— Tome você então para ver como é. Vou tomar banho agora e depois
me deito, estou cansada daqueles banhos de hospital e quero colocar uma
roupa confortável.
A ninfeta desgraçada começou a tirar seu vestido pelo pescoço, me
dando uma magnífica visão de seu corpo voluptuoso, com apenas uma
lingerie branca com uma calcinha de renda pequena que deixava muito pouco
para a imaginação.
— Mas que merda você tá fazendo?
— Me despindo? — perguntou, olhando por cima de seu ombro com
aquela cara de safada que tanto amava.
Revirei os olhos, não conseguindo desviar meus olhos de seu corpo, que
parecia como um ímã para mim, ela soltou o sutiã e o jogou longe, quando foi
retirar a calcinha passando devagar por seu quadril, com uma reboladinha, foi
o meu fim e, então, saí disparado do quarto, como se meu corpo estivesse em
brasa.
— Mas que cazzo, mulher dos infernos! — ralhei, revoltado comigo por
tudo que me fez sentir apenas por se despir.
É só um corpo, Matteo. Não é algo que já não esteja acostumado,
caspita!
O pior foi ter ouvido sua risadinha, de que adorou ver a maneira com
que agi, como um adolescente na puberdade ao vê-la daquela maneira e o que
falou, na sequência.
— Quem diria que Matteo Lucchese fugiria de uma mulher nua.
Fingi não ter ouvido aquela provocadora do cacete e desci até a cozinha,
a fim de tentar recuperar minha compostura que ainda se sentia afetava com a
imagem daquela traidora gostosa de uma figa, comecei a pensar em outras
coisas para que meu pau voltasse ao seu estado normal e não desse uma
imagem constrangedora à Francesca.
Não me passou despercebido que Chiara ainda estava bem magra, por
não ter se alimentado direito no início da gestação, sendo algo que o médico
disse que precisava recuperar, pois perdeu peso ao invés de ganhar. Por isso,
instruí a Francesca que a alimentasse de duas em duas horas, mas com uma
dieta saudável.
Depois de um tempo que acreditava ter sido o suficiente para que
tivesse se arrumado, subi de volta ao nosso antigo quarto, para lhe dar as
vitaminas que o médico pediu, junto de um suco de laranja.
Sentia-me exausto e precisava dormir, pois mal sabia o que era isso na
última semana e o dia seguinte seria intenso.
Abri a porta de seu quarto, tentando controlar os meus ânimos e Chiara
já estava deitada na cama, coberta com um edredom, para meu alívio.
— Trouxe seu remédio. — Entreguei-lhe, ela tomou e agradeceu. —
Precisa de mais alguma coisa? Vou tomar um banho e descansar.
— Você não vai dormir aqui? — perguntou em tom baixo, como se
tomasse coragem para o fazer.
Suspirei frustrado, bagunçando meu cabelo, incomodado com o fato de
uma parte de mim querer ficar ao seu lado.
— Você sabe que não — fui sincero. Ela abaixou seus olhos de volta
para suas mãos que se remexiam inquietas, algo que fazia com mais
frequência do que antigamente. — Ainda não consigo fingir que nada
aconteceu, desculpa.
— Eu sei... Fiz por merecer.
Não disse nada, pois sim, ela fez.
— Bom, tem uma campainha que pedi para instalarem aqui, então
qualquer coisa é só tocar.
Mais uma vez assentiu, perdida em pensamentos.
— Bom descanso, qualquer coisa me chame. Sairei cedo, mas
Francesca estará aqui e talvez minha mãe apareça durante o dia.
Mais silêncio, por isso virei as costas para parar de prolongar minha
saída e fui em direção à porta.
— Quando você vai me deixar explicar o meu lado da história?
Sua pergunta me pegou desprevenido, pois não tinha muito mais motivo
para fugir dele, mas era uma ferida ainda tão recente que não queria cutucá-
la.
— Duvido muito que tenha muita coisa para me falar que eu já não
saiba. Suas trocas de mensagens com sua família, não deixou muita margem
para dúvidas.
— Você pode se surpreender. Afinal, muita coisa lá eu dizia para
ganhar tempo para encontrar uma maneira de resolver essa situação, mas
você não acredita em mim.
— Você fez por merecer minha falta de confiança, cazzo!
— E você acha que não sei disso, merda? — ralhou, fora de si,
enxugando algumas lágrimas que começaram a escorrer. Odiava vê-la
chorando! — Eu nunca me lamentei tanto como faço todos os dias por ter te
escondido algo por medo, como me arrependo de ter feito com você.
Passei meus dedos entre meus cabelos, me sentindo esgotado com esse
assunto.
— Olha, Chiara, de verdade. Agora não é um bom momento, muita
coisa aconteceu que você ainda não sabe. Realmente não estou em um bom
dia e para entrar nesse assunto eu preciso no mínimo estar com a cabeça
descansada, sendo algo que não estou.
— Desculpe, sei que deve estar exausto, só não queria dormir longe de
você, sabe? Depois de tudo que aconteceu... — murmurou, apreensiva com o
que disse, por um instante quase me deixei levar pelo momento e cedi ao seu
pedido, mas eu não poderia fazer isso.
— Ninguém conhece aqui, estamos seguros e aqueles que tentaram se
meter conosco, estão presos ou debaixo de sete palmos da terra. Então, fique
tranquila que nada vai lhe acontecer. Outra coisa, Mattia e Leonardo podem
ficar na sua porta, talvez isso faça com que se sinta segura.
Ela negou com a cabeça.
— Não precisa, obrigada. Vá descansar.
Assenti, sentindo um aperto no peito em ter que me afastar, mas Chiara
precisava entender o grau do que me fez, que não seria tão simples que a
perdoaria.
Quando coloquei minha mão na maçaneta, sua voz interrompeu o
silêncio mais uma vez que nos pairava.
— Sinto muito pelo seu pai, Matt, e por Carlo. Realmente não queria
que nada disso tivesse acontecido...
Olhei em sua direção, respirando fundo para não matar a boca aberta
que disse a ela o que aconteceu.
— Você também perdeu sua mãe, ou aquela que te criou, apesar de
tudo, acredito que você a amava e deve ter sentido.
Ela negou com a cabeça.
— Também pensei que sentiria, mas a única coisa que consegui sentir
foi alívio. Talvez isso me faça uma pessoa horrível, mas pelo menos agora
não preciso ficar agindo por medo e posso tomar as minhas atitudes pelo que
realmente quero, não pelo que fui obrigada.
Suas palavras tocaram em um ponto dentro de mim, que despertou uma
vontade de descobrir realmente o que tanto lhe aconteceu.
— São situações diferentes, você teve uma boa convivência com seu
pai, que realmente era um pai, então, por isso, eu peço desculpas e sinto
muito pela sua perda.
— Tudo bem, vamos deixar essa conversa para outra hora.
Ela assentiu e, dessa vez, abri a porta e quando a fechava ouvi-a
sussurrando, em um tom que ainda me permitiu ouvir suas palavras.
— Eu te amo, Matt!
Terminei de fechar a porta e ao invés de seguir para o meu quarto,
apoiei minha cabeça sobre a madeira, controlando meu impulso de não entrar
lá de novo e dormir ao seu lado, conforme me pediu. Mas depois de alguns
minutos me repreendendo, respirei fundo e segui para o meu quarto, para
pensar em tudo que acontecia e tentar descansar pelo menos uma noite
inteira.
Mal consegui dormir, pois minha cabeça parecia muito pilhada com
tudo que acontecia à minha volta e, principalmente, porque minha ansiedade
em ter uma conversinha com aqueles filhos de uma puta me corroía cada vez
mais.
Por esse motivo, quando eram 05h da manhã, não perdi mais tempo e
me levantei seguindo até a Sicília para fazer aquilo que ainda não tinha tido
oportunidade.
Meus homens me acompanharam como sempre, mas deixei uma grande
equipe junto de Chiara.
Precisava encontrar outro segurança de confiança para ficar junto de
Mattia, considerando que Fabrizio que imaginava ser fiel, era o traidor que
conspirava contra as minhas costas, tinha para mim que quando ficou na casa
de Chiara, antes de nosso casamento, Federico deve ter conseguido
corrompê-lo, mas pelo menos esse traidor não se encontrava mais entre nós.
Outra coisa que precisava resolver era encontrar um novo consigliere,
afinal, perdi o que tinha, mas eu já tinha em mente alguém que poderia se
qualificar nesse aspecto. Mas no momento certo resolveria isso.
Assim que cheguei à mansão, como ainda era muito cedo, não quis
incomodar minha mãe, que provavelmente dormia a base de calmante.
Encaminhei uma mensagem a Pietro, avisando que havia chegado, e
segui direto para o local que ansiava.
Desci os degraus escuros, com pisos de cimentos acompanhado de
Marco em meu encalço, abri o portão de ferro forte e entrei no ambiente
escuro que tinha apenas algumas lâmpadas amarelas fracas para não deixar o
ambiente completamente escuro.
Conforme caminhei pelo corredor estreito com o odor forte de sangue,
encontrei Federico, Alexandre, o desgraçado que ousou matar meu pai, e
Ítalo, pendurados pelos braços e pernas por correntes, como um X. Os outros
que capturamos se encontravam mortos, depois de muitos dos meus homens
os torturarem, porém, esses três eu pedi que me esperassem antes de finalizar
com suas curtas vidas.
— Olha só quem apareceu, pensei que não fosse nos dar a honra de sua
ilustre presença — provocou Federico, com seus dentes contornados de
sangue em um sorriso repleto de ironia.
Arqueei a sobrancelha, cruzando meus braços em meu peito para
mostrar que não me afetava com sua tentativa de me irritar.
— Se eu fosse você não me provocava, pois já tenho motivos
suficientes para te dar uma morte bem lenta e torturante.
— Mas qual seria a graça não te provocar? Já que vou morrer mesmo,
que seja vendo essa sua calma indo para o inferno.
Fiz um barulho com a língua, balançando a cabeça, e me aproximei em
passos lentos para perto desse desgraçado.
— Duvido muito que consiga me surpreender.
Uma gargalhada horripilante saiu de seus lábios ao jogar a cabeça para
trás, enquanto Ítalo, que soube depois que era irmão de Federico, o olhava
com um sorriso tão malicioso quanto de seu irmão.
— Vamos ver então, por quem eu começo... — Fingi pensar, mas nesse
momento Leonardo chegou, com a cara mais fechada do que o normal ao
olhar para Ítalo e Alexandre, seu irmão, que apesar de vivo, permanecia em
silêncio repleto de ódio em seu olhar nos encarando, principalmente seu
irmão. Olhei em direção ao Ítalo, pois minha curiosidade para descobrir o que
aconteceu entre eles foi maior. Apontei com minha cabeça em sua direção e
ele estreitou os olhos. — Vamos bater um papo. Quero saber o que aconteceu
entre você, Leonardo e Chiara.
Um sorriso maldoso surgiu em seus lábios e entreolhou de mim para
Leonardo.
— Mas sua mulher ou seu segurança não te contaram ainda? Como
puderam esconder uma cena tão quente de seu capo? — provocou Leonardo
e pelo canto dos olhos vi quando deu um passo à frente, fechando seus
punhos, mas coloquei meu braço a frente, a fim de o impedir de prosseguir.
— Você vai começar a falar ou precisa que te incentive? — perguntei,
apontando minha cabeça para a mesa repleta de apetrechos.
Ele ficou em silêncio e fechou a cara, sabendo o que viria, mas algo me
dizia que ele apanharia tanto independentemente de me falar ou não, talvez
até mais depois de falar.
— Você quem sabe...
Segui até minha mesa e peguei um alicate afiado para começar.
Fui até onde sua mão se encontrava presa pela corrente de ferro, segurei
seu dedo indicador e comecei a puxar sua unha inteira com o alicate, o
desgraçado mordia os lábios para não gritar, mas pela sua feição de dor era
possível saber como não tinha dificuldade de se esconder.
Quando cansei de lhe causar dor, a puxei de uma vez, tirando
finalmente um urro de dor do filho da puta.
— Vai começar a falar ou preciso te incentivar mais um pouco?
Seus olhos pareciam lançar chamas em minha direção, mas não me
importei, apenas me incentivou a ser mais algoz com cada um deles.
— Se eu fosse você, talvez não iria querer saber — disse, com um
arquear de sobrancelha e um sorriso cheio de maldade. — Mas se você quer
saber, vou te contar como aquela boquinha macia da sua mulher me chupou
gostoso um tempo atrás.
Soltei um riso anasalado desacreditado em suas palavras.
— Você só pode estar louco! — soltei, ainda rindo. Porque inventar
uma mentira dessas para me provocar parecia algo surreal e não cairia nessa.
— Acho que você precisa de outro incentivo.
Fui com o alicate que ainda se encontrava em minha mão até seu peito,
como todos se encontravam completamente nus, e comecei a apertar seu
mamilo, rodei o alicate, apertando cada vez mais forte, seus gemidos e urros
de dor apenas aumentava, o que era como música para os meus ouvidos.
Depois de alguns minutos, o tirando de maneira lenta para que sofresse
cada sensação, puxei-o com brusquidão, tirando um grito de dor de seus
lábios.
— Seu desgraçado, filho da puta! Se eu colocar minha mão em você...
— Uma pena que não vai colocar, não é?
Sua respiração estava entrecortada por causa da dor e uma lágrima
escorreu de seus olhos, mas tinha que admitir que o vagabundo era duro na
queda.
— Na verdade, preferia colocar minha mão naquela vadia da sua mulher
e terminar o que começamos.
Voltei a fechar meus punhos pela menção desdenhosa que se referiu à
Chiara e meu sangue esquentava cada vez mais.
— Do que você tá falando?
— Do encontro caliente que tivemos um tempo atrás, não é? —
perguntou, apontando a cabeça para Leonardo, que continuava em silêncio,
com ódio em seu olhar com algo que lembrava. — Quer contar para ele,
alemão? Ou eu conto?
— De que porra você tá falando? Fala logo antes que tire mais alguma
coisa de você, desgraçado — ralhei, alto e firme.
— Eu tô falando... — respondeu o filho da puta. — Ela me chupou
gostoso, em um beco na Sicília, não é, alemão?
— Eu vou te matar, seu desgraçado! — gritou Leonardo, que disparou
até ele e começou a esmurrá-lo tanto, que permiti para que extravasasse sua
ira, mas depois de tanto batê-lo, puxei-o para longe e olhei em direção dele.
— O que eu tô perdendo aqui, caralho?
Os olhos verdes, como os de Chiara, me olharam com tanta tristeza que
entendi de fato o que aconteceu, esse desgraçado quase a estuprou, pois sabia
que não chegou até o fim porque eu tirei sua virgindade.
Tudo ficou vermelho à minha frente, quando olhei em direção ao
desgraçado, engolindo em seco ao imaginar Chiara sendo obrigada a fazer
esse tipo de coisa.
— Quando aconteceu isso? — disse num tom de voz baixo, mas com
tanta fúria que Leonardo quebrou o silêncio.
— Há quatro anos. Quando íamos para a feira da madrugada.
— E você não fez nada? Ficou apenas olhando? — Comecei a me
aproximar dele, fechando meus punhos, mas Leonardo não se afastou em
nenhum momento.
— Você acha que não quis? — enfrentou-me, tão irritado como eu. —
Ele tinha mais três seguranças com ele, os três me prenderam e me obrigaram
a ver a cena nojenta que esse maldito fazia com Chiara.
Meus olhos se enfureceram com a mera possibilidade de terem a
machucado de tal forma, mas eu queria saber tudo. Por isso, olhei em direção
do infeliz, peguei uma adaga afiada e empunhei em seu estômago e rodei para
que aumentasse ainda mais sua dor. O sangue começou a jorrar, mas então
peguei uma agulha cirúrgica, ouvindo seus gritos e seu corpo se contorcer e
comecei a fechar sua pele para que seu sangramento não tivesse para onde
sair.
— O que você fez exatamente com ela? — quis saber. Enquanto Ítalo
começava a chorar de dor. — Quanto mais demorar para falar, pior será para
você, daqui a pouco vai começar a coagular seu sangue e rapidamente irá até
o seu pulmão, estou aguardando.
Sua boca espumava de raiva, mas tinha certeza de que não era maior do
que a minha.
— Fiz ela me chupar — disse com dificuldade —, peguei naqueles
peitos durinhos, a deixando louquinha de tesão.
— Mentiroso, filho da puta! — gritou Leonardo e Marco o segurou.
— Quando começaria a melhor parte, coloquei ela de costas para poder
ver aquela bunda gostosa, esse infeliz — apontou a cabeça para Marco —,
me ligou pedindo um trabalho e não pude acabar com o que comecei,
infelizmente — disse, olhando dentro de meus olhos.
A fúria me tomou por completo e comecei a desferir tantos socos em
sua cara, em seu estômago já com um corte profundo e resolvi fazer pior.
Peguei minha adaga e num rompante cortei seu pau nojento longe,
depois seus testículos, o desgraçado gritava tanto, mas isso apenas me
estimulava.
Depois de tanto ter batido no corte recém-feito em seu abdômen, os
pontos se abriram e não pensei duas vezes em enfiar minha mão dentro dele,
ao sentir seus órgãos, os puxei com brusquidão para fora uma parte de seu
intestino.
Seus olhos se encontravam arregalados, era possível ver a vida se
esvaindo aos poucos de seu corpo.
Não satisfeito, porque não conseguia enxergar mais nada à minha
frente. Com a adaga extremamente afiada e comprida em minha mão,
comecei a picotá-lo em vários pedaços. Cortei sua mão que ousou tocar na
minha mulher, na época uma garota de quatorze anos apenas. Cortei a outra
mão que tocou em sua intimidade. Cortei sua língua que se vangloriava em
falar todas aquelas merdas. Furei seus olhos que um dia ousaram olhar para a
minha garota. Cortei suas pernas, o restante de seus braços e, por último,
cortei sua cabeça em um só golpe.
Quando parei sentindo a exaustão me tomar, fazendo com que
respirasse ofegante com meu surto repentino com as coisas que esse
desgraçado já fez, olhei em direção as correntes e vi somente suas mãos e pés
pendurados, o restante se encontrava completamente esquartejado, mas ainda
parecia não ser suficiente.
Olhei em direção a Federico, com a mesma ira me atingindo e, pela
primeira vez, vi o medo estampado em seus olhos arregalados.
— Fica o aviso para você!
Não me passou despercebido quando engoliu em seco o completo
covarde que era. O que apenas me dava a certeza de que também não gostaria
de saber o que sairia de sua boca.

Saí completamente ensanguentado e segui até o quarto que não dormia


há dois meses, desde que descobri a traição de Chiara, me sentei em nossa
cama, sem me importar em sujar todo nosso lençol de sangue e peguei a foto
de nós dois que ainda se encontrava na cabeceira e comecei a chorar, como
não me lembrava de ter feito um dia ao imaginar tudo que passou na mão
daquele desgraçado.
Eu odiava com todas as minhas forças pessoas que faziam esse tipo de
coisa e só de pensar que o mesmo aconteceu com a minha mulher, a mulher
que amava, aquela que cuidei com todo o cuidado desde que coloquei meus
olhos sobre ela, fazia com que tudo se estilhaçasse dentro de mim.
Deitei-me exausto, abraçado a nossa foto, sentindo o resquício de seu
perfume e fiquei daquela maneira por tanto tempo que cheguei a perder a
noção do tempo.
Quando dei por mim o dia havia escurecido e me obriguei a me
levantar, a fim de tomar um banho e seguir para a mansão de Palermo, ver
como Chiara e meu bambino estavam.
As imagens que projetei de seu sofrimento não saíam de minha cabeça
e, por isso, esmurrei tanto a parede do boxe que tomava banho repleto de
raiva que machuquei todos os meus dedos, em completa angústia.
Depois de um longo banho, com mais dificuldade de me limpar do
sangue que secou daquele maldito, vesti uma roupa básica preta em meu
closet e segui com Marco ao meu alcance, que me aguardava com um
semblante preocupado do lado de fora de meu quarto.
— Minha mãe está onde? — perguntei, me recriminando por não ter
tido cabeça de ter ido até ela depois de tudo que descobri.
— Acabou de entrar no quarto, chegou da mansão em Palermo há
pouco tempo.
Segui até lá, bati em sua porta e encontrei ela junto de Genevive, que
me olhava com um certo medo em seus olhos.
Ainda não tinha permitido que ela revesse sua irmã, como queria
penalizá-la por toda a traição que me fez.
Olhei em sua direção e vi muitos traços parecidos de minha ragazza e
senti um aperto em minha garganta fechar minha respiração. Pigarrei para
limpá-la e a perguntei:
— Quantos anos você tem mesmo, Genevive?
— Quase quinze, senhor Lucchese.
Assenti, sentindo aquele aperto no meu peito mais uma vez, a mesma
idade que tudo aquilo aconteceu com Chiara.
— Pode me chamar apenas de Matt ou Matteo, como preferir. — Dei de
ombros, já tinha pedido para Carlo antes de falecer, fazer uma busca no que
se referia a irmã de Chiara e não foi encontrado nada que a colocasse no
posto de traidora também, por isso lhe daria uma chance de fazer as coisas
diferente do que sua mãe fez, considerando o amor que Chiara demonstrava
por sua irmã, imaginava que não teria com o que me preocupar. — Quer ver
sua irmã?
Seus olhos brilharam no mesmo instante com algumas lágrimas a
invadiram e, então, assentiu diversas vezes.
— S-sim, por favor.
— Certo, vá fazer suas malas que vou deixar você lá alguns dias, se a
senhora não se incomodar — comentei com minha mãe, afinal, não queria
deixá-la sozinha.
— Claro que não, bambino. Chiara está há meses sem ver a irmã, tudo
que fez foi para protegê-la, nada mais justo que possa pelo menos vê-la de
vez em quando.
Tudo isso para protegê-la?
— Como assim? — questionei assim que Genevive passou por mim
rapidamente, em direção ao seu quarto para fazer o que pedi.
Ela deu de ombros.
— Quando você ouvir sua mãe e dar uma chance de sua mulher explicar
o que fez e o porquê, vai saber!
Odiava que as pessoas todas as vezes me colocavam na parede ao invés
de simplesmente falarem o que sabiam.
— Eles estão bem? — Mudei de assunto.
— Sim, Chiara ainda se encontra bem abatida, está claro o quanto se
arrepende, mas mesmo sem fome tem se esforçado em se alimentar melhor
pelo bebê — comentou, entristecida. — Fico pensando no quanto seu pai
ficou feliz quando descobriu do neto que ganharia — lembrou, saudosa, com
um sorriso triste no rosto. — Apesar de tudo que aconteceu, ele sempre
enxergou criança como bênção e ficou feliz mesmo assim, pois ele enxergava
a mesma coisa que eu.
Engoli o nó preso em minha garganta ao pensar em meu papà.
— E o que era?
— Que Chiara era apenas uma ragazza repleta de feridas, sendo
obrigada a fazer coisas que não queria, mas que precisou fazer, ainda mais
alimentada por um ódio que injetaram nela.
— Você sabe por que ela me odiava tanto?
— Nos odiava, você quis dizer — soltou um riso sem humor. — Mas
não, ela soltou uma coisa ou outra, mas não entrou em detalhes, mas tenho
para mim o que possa ser.
Respirei fundo, quando Genevive bateu à porta, entrando com uma
pequena bolsa nas mãos.
— Estou pronta, se... Matt — corrigiu-se e lancei um sorriso a ela.
Não sei por que resolvi abrir uma exceção de castigar Chiara,
considerando que ela tinha me traído. Mas, talvez, por saber tudo que passou
e nessa criança aqui sozinha, sem mãe, sem pai e com a sua irmã também
sozinha, fez com que algo dentro de mim se abrandasse e resolvesse lhe dar
um pouco de felicidade. Quem sabe isso a animasse um pouco mais, como
todos diziam o quanto ainda se encontrava abatida.

— Boa noite — disse, assim que entrei no quarto com apenas uma
pequena luz fraca acesa.
Chiara se encontrava deitada lendo algum livro e seus olhos se
encontravam vermelhos e inchados de tanto chorar, senti meu peito apertar
em angústia, com a mera possibilidade de que eu fosse o motivo de sua
tristeza.
Outra coisa que mexeu comigo mais do que gostaria, foi lembrar das
palavras ácidas e desprezíveis de Ítalo, queria a confrontar e tirar todas as
informações dela. Mas, ao mesmo tempo, sabia que isso a machucaria e não
queria lhe causar isso, visto que ela parecia sofrer bastante com o gelo que
lhe causava, além do fato de estar praticamente isolada, porque era para ter
acontecido isso se minha mãe não fosse uma teimosa e viesse sempre aqui,
ou até mesmo na mansão da Sicília, quando a visitava mesmo contra as
minhas ordens.
Ela tentou esconder o rosto e secou algumas lágrimas com o dorso das
mãos para tentar disfarçar, mas eu já tinha notado e não era possível me
esconder.
— Tudo bem, Matt? — perguntou com a voz rouca, causada pelo choro.
Assenti, me sentindo ainda pior pelo que lhe causava, mesmo sabendo
que ela quem provocou tudo isso, mas nem por isso me machucava menos
vê-la dessa maneira.
— Tem alguém querendo te ver.
Ela arregalou seus olhos, visivelmente interessada e empertigou seu
corpo para a frente com curiosidade e antes que eu pedisse para que Genevive
entrasse, ela o fez. Chiara colocou a mão em sua boca, espantada com o que
via, um sorriso lindo surgiu em seu rosto e começou a chorar, à medida que
abria os braços para que a irmã fosse até ela. Claro que a ragazza não perdeu
tempo e correu, pulando na cama, deixando a mala no chão no caminho e
mesmo que não quisesse admitir a cena à minha frente, fiquei comovido com
o sentimento que ambas exalavam.
Chiara a abraçava tão forte, olhava como ela estava e quando me olhou
ainda agarrada em sua irmã, seus olhos demonstravam gratidão por ter
permitido isso.
— Trouxe ela para te fazer companhia por uns dias, depois ela vai
retornar para a mansão, pois não quero deixar minha mãe sem companhia. Se
você não se importar.
Ficou óbvio o quanto minhas últimas palavras a surpreenderam, pois ela
não esperava que pedisse sua autorização para tal ação.
Ela balançou a cabeça de um lado ao outro, soltando sua irmã por
alguns segundos.
— Claro que não, sei que dona Sandra está precisando, como estou
longe e — jogou as mãos para o lado — , presa, não tenho muito com o que
ajudar.
Assenti e mesmo que uma parte de mim pedisse para continuar ali, me
obriguei a sair, pois precisava colocar minha cabeça para pensar.
Quando fechava a porta ouvi Chiara me chamar e mesmo com ela
entreaberta, disse:
— Obrigada por isso.
Um sorriso singelo desenhou seu rosto e senti meu peito um pouco mais
aliviado por saber que lhe daria um pouco menos de tristeza em seus dias.
Dez dias se passaram desde que voltei para a mansão em Palermo e
nesse momento Matteo me levava até o retorno com o médico para ver como
andava o descolamento de placenta.
Realmente não fiz nada nesses últimos dias que não fosse ficar deitada,
me levantava apenas para tomar banho e ir ao banheiro, nada mais.
Já me encontrava cada dia mais ansiosa com a chegada do bebê e
começava até a pensar em alguns nomes que poderia lhe dar.
Estava aí algo que não costumava pensar, em ser mãe, eram tantas
coisas ruins que me envolvia que não tinha tempo para pensar nisso, não que
minha vida tivesse voltado aos eixos, pois não tinha.
No entanto, me sentia esperançosa de que talvez Matteo me perdoasse,
ou pelo menos me permitisse ficar viva quando o bebê nascesse e pudesse ser
sua mãe, afinal, ele não tinha tempo para isso. Não queria pensar que seria
obrigada a fugir com a criança, pois sabia que isso seria quase que impossível
sair de seu radar e para ser sincera, nem queria.
Não sabia se essa esperança que carregava se dava com as poucas
conversas que ele voltou a ter comigo, ou por ter trazido Genie para
matarmos a saudade, ou até mesmo pela injeção de ânimo que dona Sandra
me deu em minha última visita, dizendo que nunca viu seu filho tão abatido
como tinha visto desde que nos separamos.
Claro que tinha a questão da saudade do pai e do amigo, sentimentos
que era muito bem familiarizada, considerando que perdi cedo a única pessoa
que demonstrava amor a mim dentro de casa.
Ele ainda se encontrava distante de mim, não sabia se me dando tempo
ou a si mesmo, considerando que já tive tempo demais para pensar, tentei
algumas vezes pedir que me ouvisse, depois do dia que chegamos à mansão,
mas todas as vezes ele fugia do assunto dizendo que ainda não era o
momento. Acreditava que devido à minha situação era o que lhe causava essa
preocupação, em esperar pelo melhor momento.
Seguíamos em direção ao hospital em completo silêncio e isso corroía
meu peito, odiava esse gelo que Matt insistia em me dar, não parecia o
mesmo homem, não me tocava a não ser que fosse para me levar até o carro,
para que nem as escadas eu descesse, nem nos corredores me permitia andar.
Queria pedir que tocasse na pequena protuberância já evidente em meu
ventre, mas ele nunca aparecia em meu quarto, sabia que perguntava sobre
mim a Francesca, como também a sua mãe, porque elas o deduravam, mas só
por isso, pois para mim era como se simplesmente não existisse. O único
momento em que ele parecia ainda demonstrar um certo ciúme, se era que
poderia comparar a isso, eram nos momentos em que precisava sair do quarto
e ele não permitia que nenhum segurança me pegasse no colo.
Tentava não ficar cabisbaixa, pois segundo minha sogra e Francesca o
bebê sentia tudo isso, mas isso era quase impossível e o coitadinho deveria
estar bem angustiado, considerando como me encontrava.
Mas não sabia mais o que fazer para tentar me aproximar dele, ou fazer
com que me ouvisse. Rogava aos céus que tivéssemos uma boa notícia nessa
consulta para que talvez esse fosse o pontapé inicial que precisávamos para
sair dessa situação.
— Você não tem dormido direito? — Para minha completa surpresa,
Matteo me perguntou ainda olhando para fora.
Não, tenho tido pesadelos horríveis desde que reencontrei aquele
desgraçado. Era o que queria dizer.
— Não muito. — Foi o que optei por dizer.
Não queria que se aproximasse de mim por pena, sabia que quando o
momento de contar minha história chegasse, essa seria uma das coisas que
teria que contar, mas era algo tão humilhante, algo que me machucava tanto
que não conseguia imaginar o fazendo. Na verdade, não queria, pois sabia
que seu olhar mudaria, não seria mais o mesmo e tinha medo de enxergar
pena neles, não mais aquela paixão abrasadora que antes possuía.
Percebi que seu maxilar ficou tenso e tive que segurar minhas mãos
para não levar meus dedos até sua barba rala e bem-feita e o acariciar. Já me
aproveitava sempre que podia nas poucas vezes que me pegava no colo.
Tinha medo de que me mandasse parar, mas para minha sorte ele
também não o fez.
Outra coisa que me atormentava cada vez mais quando nos
encontrávamos como nesse momento, era como meu corpo ansiava pelo dele,
pelo que lia recentemente nos livros que dona Sandra me trouxe sobre
gravidez, como ainda continuava sem meu celular, era que os hormônios
afetavam a libido de algumas mulheres, algumas elas perdiam o desejo, em
outras, aumentava gradativamente. Percebi que era o meu caso, pois eu mal
podia vê-lo que sentia o meio de minhas pernas umedecer de tal forma que
precisava sempre me ajeitar para não me denunciar o quanto o queria.
Mas sabia que ele não faria nada comigo, isso se já não estivesse
saciando sua carne com outras lá em sua boate.
— Podemos ver com o médico se tem algum remédio que possa tomar
que não afete o bebê para dormir, já que o calmante não está sendo o
suficiente — sugeriu, parecendo preocupado com meu sono, enquanto eu
pensava em sexo.
Dio, como sou patética.
Mas entre pensar em sexo e o real motivo das minhas noites
maldormidas, preferia pensar no sexo descomunal que fazíamos, isso era o
que me ajudava a espairecer um pouco da tristeza que me tomava, lembrar
dos momentos bons que tivemos, mas infelizmente foram poucos.
Suspirei frustrada e vi que Matteo continuava aguardando uma resposta,
por isso lembrei de lhe responder:
— Sim, pode ser.
Chegamos à consulta e não demoramos nada para ser atendidos,
provavelmente por causa de quem era.
Doutor Vittorio conversou um pouco comigo, assim como meu marido
e depois de ver que me sentia bem melhor, disse:
— Bom, vamos dar uma olhada em como está esse descolamento e no
desenvolvimento do bebê?
Uma ansiedade me tomou por completo, me recordando do quanto me
emocionei a primeira vez que ouvi as batidas frenéticas de seu pequeno
coração. Matteo ainda não tinha acompanhado nenhuma consulta e o fato de
ele ter feito questão de vir, aumentava minha ânsia de que isso pudesse de
alguma forma nos reaproximar.
Isso mostrava que ele finalmente colocava a vontade de participar do
desenvolvimento de nosso bebê acima de qualquer coisa, ao invés de deixar
aquela maledetta vingança nos destruir.
— Será que já podemos descobrir o sexo? — indaguei, com evidência
ansiedade.
O doutor riu e percebi que Matt também mostrou um pequeno sorriso
no rosto, mesmo que ainda mantivesse sua pose de homem sério.
Sentei-me na maca ginecológica, sem precisar me dar ao trabalho de
subir sozinha, pois meu marido fez questão de me colocar e precisei me
conter de não agarrar seu pescoço na frente do médico pela saudade que
sentia de sentir seu perfume.
— Grazie — agradeci e o doutor levantou minha camiseta justa até
abaixo de meus seios, colocou um gel gelado na ponta do aparelho e
começou a passar em meu abdômen procurando meu pequeno mafioso.
Tinha que parar de falar como se fosse um menino, mas para mim era.
Mas eu amaria se fosse uma ragazza também, mesmo que tivesse me
equivocado em seu sexo.
Notei que Matteo observou meu corpo e suas pupilas dilataram quando
caíram em meus seios que já cresciam cada vez mais, mesmo que se
encontrassem escondidos em minha camiseta discreta, que nem permitia ver
meu decote.
Mas no momento em que ouvi aquela batida rápida invadir meus
tímpanos, nós dois voltamos nossa atenção para a tela que nos mostrava um
pequenino bebê, mas já bem maior do que a última vez que o vi.
Era impossível não me emocionar todas as vezes que o via e quando
olhei para Matteo, percebi que não era a única mexida com o que
enxergávamos. Sua mão que segurava seu queixo, completamente vidrado
naquele pequeno serzinho que não parava de dar cambalhotas dentro de meu
ventre, mesmo que não sentisse, considerando que estava próxima de entrar
no quarto mês.
— Olha que o bebê parece ser bem agitado, fica até difícil conseguir
enxergar o sexo — brincou o doutor.
Não resisti mais e puxei a mão de Matteo para as minhas, seus olhos
encontraram os meus, com pura cumplicidade quando lancei um sorriso para
ele, feliz de tê-lo finalmente comigo num momento tão importante quanto
esse.
— Consegui. — Ainda segurava as mãos de meu mafioso, mas olhei em
direção ao que o doutor apontava, em uma imagem congelada para que
conseguíssemos visualizar com exatidão.
Não conseguia entender direito o que enxergava como era tudo preto e
branco, mas uma coisa chamou minha atenção, tinha algo em pé para cima e
um sorriso se formou em meu rosto ao imaginar o que era.
— Parabéns, papais. É um garotão!
Minhas bochechas começaram até a doer com o tamanho do sorriso
sincero que finalmente dei depois de meses em meio à tristeza.
Olhei em direção de Matteo, olhando com puro encantamento e se um
dia pensei que não poderia me apaixonar ainda mais por esse homem, percebi
que me enganei, pois a maneira repleta de amor que observava a imagem à
nossa frente, apenas encheu meu coração de esperança de que um dia
conseguiríamos nos tornar uma família feliz.
— Nosso garoto! — disse, apertando minhas mãos.
— Sim, nosso garoto! — concordei, me sentindo em paz novamente.
Pelo menos por alguns minutos.
— Tenho excelentes notícias — disse o doutor, animado, rompendo
nossa bolha. — O descolamento da placenta já se normalizou, mas ainda
quero que pegue leve por enquanto, já pode voltar a caminhar um pouco, ao
invés de ficar apenas deitada. — Um alívio me tomou ao ouvir suas palavras
e percebi que os ombros de Matt também relaxaram. — Mas evite fazer
esforço e nada de relações sexuais por enquanto, ok? — orientou aos risos,
olhando de um para o outro.
Foi impossível não ruborizar com a menção do doutor, pois era o que
meu corpo mais pedia nos últimos dias, mas aparentemente não precisaria me
preocupar com isso, considerando que meu marido parecia imune a mim nos
últimos meses.
Depois que o doutor terminou de limpar minha barriga com um papel,
questionou:
— Vamos dar uma olhada nos seus mamilos?
— Mas que porra é essa, Rossi? — Matteo perguntou com um arquear
de sobrancelhas e os braços cruzados em frente ao peito, para intimidar o
médico, que apenas riu.
Não podia mentir que simplesmente adorei a crise de ciúme de meu
mafioso, talvez de fato, nem tudo estivesse perdido.
— Preciso olhar para ver se ela está se preparando da maneira adequada
para sofrer menos quando o bebê nascer — explicou com paciência.
A carranca fechada ainda se encontrava em seu rosto, mas soltou os
braços vencidos, mas não saiu de perto, o que aqueceu meu peito.
Ele terminou de levantar minha blusa para cima dos seios e puxou meu
sutiã de renda para baixo e não resisti em olhar para meu marido que teve
suas pupilas expandidas por completo com a visão de meus seios. Ele engoliu
em seco e juro que pude ouvir um gemido escapar de seus lábios, o que
aumentou minha expectativa de que ele não era imune a mim, assim como
também não era por ele.
— Você deve esfregar com as escovinhas conforme te expliquei, no
banho e quando faltar dois meses para o nascimento, te darei também uma
pomada. O maridão também pode ajudar — brincou, enquanto já ajustava
minha roupa. — Pode brincar bastante com eles, isso tudo vai ajudar para
fortalecer os bicos para a sucção do bebê.
Queria rir quando percebi o quanto as palavras do médico o afetaram,
pois era algo que seria normal entre um marido e uma mulher, que
obviamente estivessem bem um com o outro, o que não era o nosso caso.
Seus olhos caíram de novo para meus seios já compostos, engoliu em
seco e respirou fundo com visível frustração, assim como eu.
— Olhe para mim, cadela! — rosnou o soldado, enquanto desafivelava
o cinto, em seguida abriu seu zíper e tirou seu pau ereto para fora da cueca.
— Você vai me chupar com essa boquinha gostosa que parece ter e se ousar
pensar em me morder, vou fazer você encontrar com seu pai num piscar de
olhos.
Não tive tempo de assimilar suas palavras, quando pegou minha nuca e
levou até seu pau sujo, que fedia a urina em minha boca, as lágrimas
escorriam ainda mais de meus olhos e perdi a conta das vezes que cheguei a
engasgar com a brusquidão que metia em minha boca.
Depois do que pareceu uma eternidade o desgraçado gozou em minha
boca.
— Não! — gritei, me contorcendo de um lado para o outro enquanto
mais uma vez o pesadelo me invadia.
Senti braços fortes me envolverem e pedindo para me acalmar, mas eu o
queria longe. O chutava, batia nele fora de controle.
— Você não vai encostar em mim de novo, seu desgraçado! — gritei.
— Chiara! Sou eu, Matteo! — gritou, segurando meu rosto, mesmo que
eu tentasse me soltar, mas conforme ele me abraçou à força e senti aquele
perfume cítrico, misturado ao charuto e uísque que tanto aprendi a amar, fui
me acalmando e olhei ao redor, percebendo que tudo não passava de mais um
maldito pesadelo. — Xii... calma, sou apenas eu aqui. Nada de ruim vai mais
te acontecer, eu prometo!
Suas palavras foram como um calmante natural para meu peito e, aos
poucos, senti minha respiração se normalizar, assim como meus batimentos
que tinham se acelerado.
Não aguentava mais esses pesadelos, todas as noites desde que
reencontrei aquele maldito, eles apareciam com mais frequência e era tão
real, que parecia que tinha voltado há quatro anos quando tudo aconteceu.
— Desculpe te acordar... — falei, mas antes que ele conseguisse
responder alguma coisa, puxei sua camiseta para o mais próximo de mim,
considerando que ele já me abraçava e desabei em meio às lágrimas, cansada
de carregar isso dentro de mim.
— Xii... fique calma, tá? Não estava dormindo.
Senti seus dedos enxugando as minhas lágrimas e isso fez com que, aos
poucos, ela fosse diminuindo cada vez mais.
Um soluço ou outro ainda escapava de minha garganta, mas tentei puxar
conversa para tentar tirar aquelas imagens horripilantes de minha mente.
— Você ouviu lá do seu quarto?
Ainda estávamos em Palermo, mas como o resultado da consulta de
mais cedo foi bom, ele tinha comentado que pensou em voltarmos para a
Sicília para que sua mãe e até mesmo eu tivesse mais companhia, até porque
Francesca ficava se desdobrando de uma casa à outra. Por isso voltaríamos no
dia seguinte.
— Não. Estava sentado ali. — Indicou com a cabeça em direção a uma
poltrona próximo à porta de entrada.
Meu coração errou uma batida com sua confissão e mesmo que tentasse
não pensar, meu coração se avolumou de esperanças, pois ele mal entrava
aqui desde que nos separamos.
— Por quê? — questionei, curiosa, mas com medo do que diria.
— Estava pensando... — Fiquei em silêncio, esperando que terminasse
seu comentário, mas segurando minha língua para não perguntar no quê. —
Em te dar uma chance de se explicar.
Afastei-me dele por um instante para olhar em seus olhos prateados que
tanto amava.
— E vai me dar essa chance? — Engoli em seco apreensiva com sua
resposta.
Ele lambeu seu lábio inferior, enquanto seus olhos esquadrinhavam meu
rosto de ponta a ponta, como se sentisse a mesma saudade que me matava aos
poucos.
— Você vai me dizer tudo? — frisou a última palavra. — Será sincera
em cada palavra? — Nem pensei para responder e assenti com convicção
minha cabeça.
— Prometo que sim. Eu sei que deveria ter feito isso há tempos, mas...
— Então vamos deixar para ter essa conversa amanhã, antes de
voltarmos para a Sicília, tá bom? — Pensei em protestar e pelo meu rosto ele
deve ter percebido. — Nem ouse pensar o contrário, Chiara. Nosso filho
precisa que descanse e você mal tem dormido.
Ele foi se levantar e meu peito se apertou em angústia. Matteo olhou
para seu braço que segurava, esperando que dissesse algo.
— Pode dormir comigo? — pedi, em um fio de voz, mas determinada a
não voltar atrás e vi que hesitou no mesmo instante, por isso continuei meu
argumento. — Com você aqui me sinto segura, tenho medo do pesadelo
voltar.
Seus olhos demonstraram compaixão e compreensão, então ele respirou
fundo e assentiu.
Precisei conter a euforia que meu peito sentiu em não demonstrar a ele.
Fui para o lado lhe dando espaço e apesar da vontade imensa de abraçá-lo,
optei por ir com calma, do contrário, poderia colocar tudo a perder no pouco
que avançamos.
Ficamos deitados um de frente para o outro com aproximadamente dez
centímetros de distância, sem desgrudar nossos olhos, e quando senti seus
dedos acariciarem meu rosto com ternura, foi impossível impedir que um
sorriso surgisse em meu rosto, fechei meus olhos e dormi perdida naquelas
íris prateadas que tanto senti falta.

Chiara adormeceu e continuei com os olhos atentos sobre cada


respiração calma que finalmente dava.
Ela pensava que não a visitava, todavia, o que não sabia, era que todas
as noites depois que adormecia era para cá que eu vinha. Possuía algumas
câmeras escondidas em nosso antigo quarto e quando não a observava por
elas, entrava de maneira sorrateira apenas para zelar por seu sono.
Infelizmente, esse foi o homem que me tornei, percebi que seu sono não era
tão calmo como nesse instante, que sabia que me encontrava ao seu lado, e
aquela parte de mim que insistia em amá-la tentava me dizer que isso era o
amor que ela sentia por mim. Mas se realmente me amava como disse nas
últimas semanas antes de descobrir sua farsa, por que mentiu e tinha intenção
de me matar? Era a pergunta que me rondava e atormentava o tempo todo.
Desde que nos casamos não presenciei seus pesadelos, mas depois
daquele dia desastroso na mansão, percebi que sempre acontecia. Às vezes
ela chegava a dizer certas coisas, certa noite ouvi o nome de Federico em
seus lábios, pedindo que a soltasse e nunca mais a tocasse.
Era algo bem angustiante de presenciar e apesar de ter tentado tirar
alguma coisa de Federico, aquele humor provocativo que esboçava quando
cheguei e o encontrei no calabouço a primeira vez, desapareceu, talvez
porque tivesse feito seu irmão de sushi à sua frente, quem sabe isso tivesse
tirado um pouco de sua suposta coragem. Covarde, era isso que ele era.
Algo dentro de mim dizia que ele era o responsável pelas cicatrizes que
Chiara carregava e dependendo do que ela me falasse no próximo dia, o
maledetto se arrependeria por cada marca que deixou em seu corpo pelos
restos de seus dias.
Nesse período que aguardava Chiara se recuperar dessa fase arriscada
do aborto, eu, Pietro, Marco e Leonardo usamos com afinco os apetrechos
que tínhamos disponível naquele calabouço, mas, no entanto, não queria que
o infeliz morresse. Ainda não era o seu momento, queria saber o que Chiara
tinha a me dizer antes. Por esse motivo, sempre depois de torturá-lo, o doutor
Rossi o visitava para cuidar de seus ferimentos de uma maneira que não
permitisse sua morte, afinal, precisava dele vivo.
Minha intenção era fazer o mesmo com o desgraçado do seu irmão, mas
quando soube o que fez com Chiara, a fúria me tomou por completo e perdi
completamente o controle de mim. Em contrapartida, não me arrependia,
apenas me arrependia de não ter feito durar mais para que implorasse por sua
vida.
O dia já se encontrava amanhecendo e tinha passado mais uma noite em
claro, algo que se tornava corriqueiro desde que me afastei de Chiara e apesar
de querer dormir ao seu lado, a ansiedade com o que finalmente descobriria
no dia seguinte, não permitiu que o sono vencesse. No entanto, precisava
dormir um pouco para ter cabeça para o que enfrentaria, porque algo me dizia
que não seria uma história muito bonita de se ouvir, por isso me obriguei a
descansar um pouco.
Tive um restante de noite bem mais tranquilo por ter a presença de Matt
ao meu lado. Sentia que tinha uma chance de talvez recuperar sua confiança e
faria tudo que estivesse ao meu alcance para o fazer.
Fui imatura, tive medo, mesmo que tentasse vencê-lo diariamente, mas
fui fraca. Deixei que o medo de que Federico vencesse me dominasse e
perdesse Matteo, e no fim, ele venceu de alguma maneira, pois conseguiu
acabar com o pouco de felicidade que descobri ter.
Mas não estava disposta a permitir que isso continuasse assim e lutaria
pelo seu perdão com todas as minhas forças. Ainda não sabia quem era o
responsável pela morte do meu pai, mas acreditava no que Matt me disse e
sabia que não havia sido ele. Era o que sentia dentro de mim e não me
surpreenderia se soubesse que tinha sido o próprio demônio do meu padrasto,
afinal, quando imaginaria que aquele desgraçado que me molestou na rua
trabalhava com o próprio filho do capeta. Além da suspeita de eles terem
relação consanguínea, isso se for verdade a maneira como se dirigiu a ele.
Como nunca percebi o quanto o infeliz do Federico me lembrava daquele que
destruiu a minha inocência?
Desde que o reencontrei, as imagens do que me fez se avivaram dentro
de mim e saber que teria que começar por aí quando Matt voltasse para o
quarto para, enfim, conversarmos, não era nada estimulante. Porém,
necessário, afinal, ele precisava de fato me conhecer.
Como se tivesse o chamado em pensamentos, Matteo abriu a porta de
meu quarto, afinal, com exceção de quando dormimos aqui quando vim
conhecer a mansão, apenas eu ficava aqui, por isso nem conseguia dizer que
era nosso.
Encontrava-me sentada com uma das pernas dobradas sobre a poltrona
da varanda. Fiquei muito tempo deitada por causa do risco de aborto e como
podia finalmente andar um pouco, nem que fosse dentro do quarto, optei por
observar o imenso e lindo jardim da mansão para que talvez a paz de espírito
que parecia habitar ali, acalmasse a apreensão que morava em meu peito.
— Já tomou seu café? — indagou Matt ao se sentar em uma poltrona
próxima, mas com uma distância maior do que de fato desejava.
— Sim, já tomei. Quer conversar agora? — questionei de uma vez, pois
queria me livrar logo do peso que carregava em meu peito.
— Se for um bom momento para você e estiver se sentindo bem, você e
o bebê, quero dizer... — corrigiu-se.
— Estamos bem, se for esperar pelo momento certo, talvez ele nunca
chegue. — Fui sincera e ficou claro na sua expressão que minha resposta o
incomodou, pois seu maxilar ficou tenso.
— Certo. Quando quiser...
Fiquei em silêncio por alguns poucos minutos, olhando para o roseiral à
minha frente, percebendo pela primeira vez o quanto éramos parecidas e
tentando encontrar uma maneira de começar a falar.
— Sabe, sempre gostei muito de rosas e acabei de descobrir o motivo.
— Matteo estreitou a sobrancelha, não entendendo onde queria chegar, por
isso, continuei. — As rosas são lindas, mas todas elas carregam espinhos em
seu corpo, assim como eu. São marcas que me fizeram ser quem sou.
"Posso dizer que antes da morte do meu pai, poderia ser comparada com
uma orquídea, delicada, cheia de vida, apesar de sempre ter convivido entre a
máfia, meu pai me dava amor, carinho e, talvez, graças a isso, não me tornei
um cacto, repleto de espinhos que ninguém ousaria tocar, porque conheci um
pouco do que era ser amada quando pequena. — Uma lágrima escorreu de
meus olhos e a sequei, não queria chorar. — Antes que se envolvesse com as
drogas, era um excelente pai. Presente, sempre brincava comigo, inclusive de
bonecas, mesmo com aquela pose de durão de homem da máfia que vocês
possuem. — Um sorriso sincero surgiu em meu rosto, com as lembranças. —
Já minha mãe, ou melhor, aquela que pensei que fosse a minha mãe. — Não
escondi o rancor em meu tom de voz. — Sempre foi uma pessoa difícil de se
conviver e muito mais em lhe agradar. Ela sempre queria mais, vivia
reclamando, cobrando meu pai de que precisava crescer mais em suas
funções, já o cobrava de me arranjar um bom casamento para quando eu
tivesse idade suficiente me casar. Eu era apenas uma criança e sei que isso
ainda acontece aqui dentro da famiglia, mas mesmo sendo algo normal, meu
pai não queria me comprometer com algo tão sério.
Ele queria que eu fosse feliz. Já Irene, nunca fez questão de me dar
qualquer sinal de querer o mesmo, ela sempre foi ríspida, me deixava de
castigo sem nem fazer nada e, também, sempre me batia quando meu pai não
se encontrava em casa. Isso fez com que me tornasse uma criança retraída,
principalmente quando estávamos apenas nós duas.
Depois, quando minha mãe engravidou de Genie, pensei que mais uma
criança em casa pudesse melhorar nossa convivência, mas não foi o que
aconteceu, começou a piorar pouco a pouco. Meu pai já não aguentava mais
as cobranças de minha mãe, assim como seus consumos exorbitantes
desnecessários, pois ela sempre adorou viver de aparências, por isso, apesar
de nunca me tratar bem e me dar carinho, ela me mantinha sempre com as
melhores roupas, me obrigava a treinar piano diariamente, fiz um pouco de
balé, tudo em prol de manter a boa aparência de uma família exemplar da
máfia.
Quando Genie nasceu, percebia, mesmo com a pouca idade, a diferença
no tratamento de minha mãe com minha irmã, mas meu pai tentava amenizar
minha tristeza, falando que era por ser um bebê que exigia mais atenção. Por
isso, tentava ser compreensiva e ajudar minha mãe com o que pudesse para,
quem sabe, um dia ela também se orgulhar de mim e me tratar com o mesmo
cuidado que tinha com minha irmã.
Não vou dizer que era carinhosa com Genie, pois também não era. Mas
pelo menos não xingava a todo instante, nem agredia sem motivo algum e
isso foi até quando cresceu, ou seja, não era porque ela era bebê. O problema
sempre foi comigo, só não entendia o motivo.
Enfim, quando Genie estava por volta dos quatro anos, meu pai já tinha
começado a se envolver com as drogas, acredito que por causa da
convivência insustentável com minha mãe, ele começou a beber mais do que
costumava, chegava tarde quase todas as noites e começou a gastar tudo que
recebia em drogas ou bebidas. Consequentemente, as coisas começaram a
faltar dentro de casa, mas minha mãe ainda tentava manter sua pose, mas
parecia cada vez mais difícil.
Certa vez, minha mãe pediu que eu fosse até a feira da madrugada para
pegar alguns legumes e verduras que, às vezes, sobrava e estavam em bom
estado para fazer comida para nós, como mal tínhamos o que comer dentro de
casa."
— Não sabia que tinha chegado nessa situação, seu pai nunca comentou
nada conosco — disse Matteo, com visível angústia.
Dei de ombros.
— Talvez tivesse vergonha de assumir para as demais pessoas o que se
tornou. Bom, Leonardo e eu sempre tivemos um excelente relacionamento,
ele sempre cuidava de mim e me acompanhava até a feira por ser de
madrugada, não queria que eu fosse sozinha mesmo que protestasse não ser
necessário, mas, no fundo, ficava grata.
Respirei fundo, sentindo minha garganta secar, pois sabia a parte que
mais me machucaria relembrar e continuei, mas sem ter coragem de olhar
para Matteo dessa vez.
— Certo dia quando chegávamos até a feira, resolvemos cortar caminho
por uma viela, na época vimos ao longe quatro homens que sabíamos que
eram da máfia, uma porque o Leonardo já começaria a trabalhar como
soldado e pela maneira que estavam vestidos. Até pensamos em mudar nosso
caminho, mas isso chamaria a atenção deles, por isso, resolvemos continuar.
Léo pediu que eu ficasse calma, mas me sentia apreensiva porque tinha
ouvido alguns rumores na época de alguns soldados da famiglia que estavam
abusando das moças e... — engoli em seco, sentindo o asco me envolver —,
acabei comprovando que era verdade o que diziam.
Matteo fechou o punho enquanto olhava para baixo, tentando se conter,
e aproveitava que não olhava para secar algumas lágrimas que desceram ao
relembrar o inferno que vivi.
— Ítalo... — murmurou para si mesmo em um tom tão sombrio que
senti os pelos de meu corpo se arrepiarem.
Assenti, um pouco desconcertada em como sabia.
— C-como você sabe quem foi?
— No dia da invasão na mansão, ele soltou algumas coisas e Leonardo
perdeu o controle.
— Não lembro disso — sussurrei, tentando me recordar de algo, mas
lembrava vagamente de alguns detalhes por causa da dor que sentia. —
Bom... você já deve saber o que aconteceu...
— Um pouco... — Empertigou o corpo e enxerguei a raiva dentro de
seus olhos. — Mas o que ele fez? Se não tiver problema em contar, porque
sei que ele não foi até o final.
Minha garganta parecia que estava fechada, mediante a dificuldade que
precisava fazer para que as palavras saíssem.
— Não foi, mas me humilhou bastante. — Abaixei a cabeça ao falar
enquanto as lágrimas caíam densamente. — Ele tirou parte de minha roupa e
seus outros homens seguraram o Leonardo e tamparam sua boca para que não
ouvissem seus gritos. Ele me obrigou a c-chupar e-ele — comentei,
envergonhada. — E quando me penetraria recebeu uma ligação que fez com
que me livrasse do pior. Ele me jogou longe, bateram no Leonardo até ele
cair no chão, pois diziam que quanto mais ele se debatesse, mais ele brincaria
comigo e a intenção era que todos tivessem a mesma “brincadeira” — fiz
entre aspas com os dedos —, comigo.
— Filhos da puta! — gritou, se levantando num rompante, e andou de
um lado ao outro ao puxar seus cabelos. — E depois?
— Depois Leonardo me deu a camiseta dele para eu não andar nua na
rua, como começava a amanhecer e fui para a feira.
— Você ainda foi para a feira? — questionou com incredulidade.
— Sim. — Dei de ombros, ao me lembrar de que não tinha escolha e
soltei um riso sem humor algum. — Pensei na época, que se voltasse para
casa sem os legumes apanharia e Genie precisava comer. Por isso, mesmo
sem a mínima força, fui com Léo até lá. Sabe o mais engraçado? — Matteo
negou com a cabeça com o semblante entristecido. — Foi que apanhei do
mesmo jeito.
Ele estreitou os olhos, colocando a mão na cintura.
— Por que você apanhou? Ainda mais depois de tudo que aconteceu?
— Porque quando chegávamos próximo de casa, Leonardo vendo que
precisava de um momento para mim, me levou até o canto da rua, me
abraçou e desabei em seus braços. O que eu não sabia que aquele desgraçado
do Alexandre, meu primo e irmão do Leonardo, agora meu irmão também ao
que parece — falei com ironia —, nos viu daquela maneira, ele correu até
minha casa e falou de maneira errada para minha mãe, quando cheguei lá, ela
me falou um monte, porque sabia como funcionava as coisas da máfia, no
caso casamento, e ia me ensinar a não ficar se engraçando na rua com meu
primo. Essas foram suas palavras. Depois disso, ela me bateu com aqueles
fios de ferro por um bom tempo.
— Desgraçada! — ralhou Matteo, inconformado.
Fiquei em silêncio por um tempo, me recordando da maneira que me
senti destruída naquela época.
— Uma coisa que na época o Ítalo falou, mas no momento não tinha
dado atenção, por conta de tudo que aconteciam, ele tinha me mandado ficar
em silêncio, do contrário me enviaria para junto de meu pai mais cedo. Na
hora não tinha entendido, sabe? Ele tinha desaparecido, mas isso já tinha
virado corriqueiro, então pensei que voltaria dentro de algumas horas ou dias,
como sempre acontecia.
Matt suspirou frustrado, sabendo o final da história.
— Mas não voltou... — deduziu e assenti.
— Não, no final daquele dia que já tinha sido um verdadeiro inferno,
descobri que ele havia sido morto. — Olhei em sua direção, para ver qual
seria a sua reação. — Por você!
Matteo olhou no mesmo instante em que entendeu minhas palavras e
parecia tentar formular as palavras que não faziam sentido.
Ficamos em silêncio por alguns segundos e ele soltou um riso, como se
estivesse nervoso.
— Por isso você me odiava? — indagou, confirmando o que já sabia.
— Sim! E mesmo assim minha mãe queria que eu me casasse com o
assassino de meu pai. Agora entende um dos motivos que me fizeram aceitar
participar dessa vingança maldita?
— Queria vingar a morte de seu pai! — concluiu, sem tirar os olhos de
mim. — Como te disse daquela vez, não fui eu que o matei, nem meu pai,
nem nenhum dos meus homens, pelo menos não sob a minha ordem. De fato,
ele nos devia, como ao invés de vender a carga, a usava. Mas conforme te
falei, havíamos perdoado sua dívida, com a condição de que ele se tratasse e
foi o que disse que faria, mas quando Marco foi o procurar para ver se já
tinha ido para a clínica, soube pela boca do próprio Federico que ele havia
sido encontrado morto.
Balancei a cabeça angustiada com as informações que descobria, mas
algo dentro de mim dizia ser verdade.
— Acredito em você. Mas só descobri isso recentemente. Durante esses
quatro anos minha mãe apenas alimentava meu ódio por vocês, dizia que meu
pai tinha ficado devendo e por isso o mataram, o fizeram sofrer, torturando-o
de diversas maneiras, e isso apenas fazia com que meu ódio aumentasse. Eu
sei que ele errou e apenas colheu o que plantou, mas nem por isso doía menos
saber que teria que dormir com o assassino de meu pai.
— Sua mãe deveria ganhar o prêmio do Oscar de melhor atriz —
ironizou e não entendi seu comentário. Ele deve ter percebido, pois explicou:
— Pois tudo indica que tenha sido ela quem o fez.
Neguei com a cabeça, desacreditada que pudesse ser tão fria e eu tão
inocente a tal ponto.
— Ela não faria isso, deve ter sido Federico — constatei o óbvio que
mostrava em minha cabeça.
— Talvez. — Deu de ombros. — Mas ela tinha bastante raiva dele, a
ponto de ter matado sua mãe no parto quando descobriu a traição de seu pai.
Fora que queria uma vida estruturada e seu pai acabou por destruir o castelo
que morava ao se viciar nas drogas. Quando ela começou a se envolver com
Federico?
Suas palavras pareciam tirar uma venda de meus olhos, como se tudo de
fato fizesse sentido.
— Poucos meses depois, ele comprou uma casa maior, minha mãe teve
uma vida melhor do que tinha antes, sem contar que o cargo de Federico era
melhor. O mesmo que seu pai havia oferecido para o meu, caso ele se
tratasse. Tudo começou a entrar nos eixos, pelo menos para ela, mesmo que
me perguntasse como ela o esqueceu tão rápido.
— Para Ítalo ter dito aquilo, já sabia o que acontecia. Por isso,
comprova meu argumento que já foi tudo premeditado e ela só não se casou
mais rápido com seu padrasto, para não ficar feio para ela.
Soltei uma gargalhada sentida, por me sentir uma idiota, como um
fantoche nas mãos de Irene.
— Ela me usou... — constatei o óbvio. — Inventou que tinha sido vocês
para que eu aceitasse me casar e, então, me vingar.
Ele assentiu, tendo tanta certeza como eu.
Alguns minutos se passaram, como se precisássemos absorver a
informação que descobrimos, ou pelo menos eu precisava, e se ele percebeu
isso, não sabia dizer.
— Você disse que tudo começou a entrar nos eixos, pelo menos para
ela, por quê? — Voltou a se sentar com o antebraço apoiado nos joelhos,
observando minha reação.
E já não me importava em dizer mais nada, parecia que me encontrava
anestesiada.
— Porque para mim, um novo inferno começou. — Respirei fundo e
soltei de uma vez. — Federico se tornou o meu inferno pessoal.
— O que ele fazia? Ele também te batia?
Confirmei com a cabeça.
— Mas não só isso. Ele sempre tirava minha roupa para me bater,
sempre me ameaçava com o que faria comigo depois que perdesse minha
virgindade e que só não terminava com aquilo que de fato queria, porque eu
fazia parte do plano que ele e minha mãe tinham, sendo mais clara, tirar
minha virgindade colocaria tudo a perder.
Tomei um susto quando ouvi Matteo dar um murro na parede, vendo
sua mão sangrando no mesmo instante.
— Vou matar esse desgraçado!
— Era o que eu falava para ele. Dizia que se encostasse em mim de
novo, eu o mataria antes.
— Ele chegou a tocar em você?
— Sim, na última vez que tomei aquela surra que você chegou a ver as
marcas, acordei com ele se masturbando em cima de mim, ele ainda disse que
comeria todos os meus buracos depois que perdesse a minha virgindade —
comentei em tom baixo, mas deixando claro o quanto aquilo me destruía em
me recordar.
— Filho da puta! — grunhiu, jogando a mesa de ferro que tinha na
varanda longe, fazendo com que me assustasse com seu surto. — Desculpe,
por isso. Mas... — Ele balançava a cabeça de um lado para o outro, puxava
seu cabelo fora de si, completamente descontrolado, ou tentando encontrar
controle em algum lugar. — E a sua mãe? — perguntou depois de um tempo,
que domou sua fúria.
Dei de ombros.
— Fingia que não sabia ou não via. Houve certa vez que Federico ia me
dar um murro no rosto, mas já tínhamos ficado noivos, foi então que ela
apareceu e pensei que o faria parar de me açoitar, mas não, apenas disse para
não me marcar em local visível, pois você o mataria se descobrisse.
Ele se sentou e colocou a cabeça entre as mãos, parecendo fora de si e
fiquei ainda mais entristecida pela maneira que o enxergava.
— Se quiser, posso parar.
— Por que você aguentava tudo isso, Chiara? Você treinava com o
Leonardo, por que nunca falou nada para ele? Quem sabe ele te ajudaria, ou
vai me dizer que ele sabia de tudo e nunca fez nada para impedir?
Neguei no mesmo instante.
— Não! Leonardo nunca soube, nem daquela surra que levei por culpa
de seu irmão e nem da humilhação que tive que fazer quando Alexandre disse
que estava nos amassos com Vitto. Nesse dia, minha mãe fez uma médica
conferir que não mentia sobre nunca ter perdido minha virgindade. — Dei de
ombros, tentando fingir não foi nada de mais, mas me lembrando o quanto
sua atitude me angustiou. — Já tinha pensado em fugir de casa várias vezes,
mas tinha Genie, então ela se tornaria o alvo de Federico e seria usada para se
casar com você, ela era apenas uma criança, entende? Tinha para mim que
deveria protegê-la, mesmo que no caminho, eu me perdesse cada vez mais...
— Nunca me casaria com sua irmã, ela é apenas uma adolescente.
— Imaginava que sim, mas minha mãe falava tanta besteira sobre você,
que era sórdido, que adoraria ficar com uma novinha como Genie, ela sabia
que isso me impediria de dar para trás. Afinal, já tinha percebido o que
realmente me segurava naquela casa, porque apesar de não ter dinheiro,
preferia morar na sarjeta do que continuar naquela vida. Mas engoli meu
orgulho por ela.
— Por isso dormia com a adaga embaixo do travesseiro? Por causa de
Federico?
— Sim, quando Leonardo me deu, comecei a dormir com ela, mas
nunca tive coragem de usar, já cheguei a tentar, mas foi na noite que ele me
pegou desprevenida antes de casarmos e ela ficou longe... enfim...
— E por que não trancava a porta, porra? — gritou, inconformado.
— Você realmente acha que não fazia isso? Nesse dia eu tinha trancado,
porque me sentia exausta e precisava dormir, mas nunca conseguia dormir
direito com a porta destrancada, só o que eu não sabia era que ele tinha uma
reserva e invadiu meu quarto do mesmo jeito. Quando eu trancava, e ele
percebia, Federico falava para minha mãe horrores e a colocava contra mim,
e eu apanhava, por isso quando deixava destrancada para não apanhar,
também não dormia.
Matteo se aproximou e se ajoelhou à minha frente, meu peito
descompassou no mesmo instante com a proximidade que teve por si mesmo.
Alcançou minhas mãos e a apertou em um gesto de companheirismo.
— Ele vai se arrepender tanto pelo que fez a você, eu te garanto!
Assenti com um leve sorriso no rosto, porque era o que eu queria, que
ele comesse o pão que o diabo amassou.
— Não queria me casar com você — continuei —, mas não tinha
escolha, entendeu? E por isso era ríspida, por tudo que me fizeram acreditar,
foram anos sendo envenenada por eles. Pela mulher que pensei que fosse
minha mãe. Pensava que ela não mentiria sobre isso.
Matteo voltou a se sentar na poltrona, prestando atenção em cada
palavra que saía de meus lábios.
— Obviamente me equivoquei. Conforme o tempo foi passando,
percebi que vocês em nada pareciam com os monstros que sempre pensei que
fossem. A imagem que tinha de você começou a mudar quando percebeu que
tinha os meus traumas e não forçou a termos intimidade. Você sempre tentou
me proteger, até mesmo quando viu as marcas das surras que levava, tudo
isso foi mudando, aos poucos, meus pensamentos, mesmo que sempre me
repreendesse por me apaixonar pelo assassino do meu pai. Achava que estava
traindo sua memória, porque era isso e Genie as únicas coisas que me
incentivavam a seguir com essa maldita vingança. Mas quando me casei e vi
que Genie estava segura com os seguranças que você colocou para protegê-
la, mesmo que não tivesse te pedido, tinha a questão de vingar meu pai que
me incentivava a prosseguir com isso, porque não o faria pela minha mãe e
seu marido.
O maxilar de Matteo estava tenso, mediante o que assumia.
— Mas conforme fui percebendo que vocês não eram nada daquilo que
imaginava, comecei a tentar encontrar uma maneira de reverter a situação,
mas não conseguia pensar em nada, a não ser lhe contar a verdade.
Entretanto, as palavras que me disse sobre me queimar viva se te traísse, não
paravam de me atormentar. Então, me sentia em um beco sem saída. — Ri
sem nenhum humor. — Se te contasse morreria queimada, mas, por outro
lado, minha mãe e Federico também ameaçavam me matar junto de vocês,
caso não seguisse com o plano. E uma prova viva disso foi o que fizeram
com Giana na boate, aquilo foi um aviso para mim, tanto que Federico me
enviou uma mensagem depois me ameaçando que ele a mataria da próxima
vez.
— Desgraçado! — Apertou sua têmpora com indignação.
— Em paralelo a isso, minha mãe não parava de me cobrar a gravidez,
pois ela queria que eu tivesse um herdeiro, pois assim todos vocês seriam
mortos. Pois na cabeça deles isso garantiria toda a fortuna dos Lucchese,
então a maneira que encontrei de evitá-la foi tomando o anticoncepcional,
mas sabia que uma hora ou outra, você pediria por um filho.
— Por isso tentou fazer o aborto — concluiu, e eu assenti. — Mas não
teve coragem ou resolveu colaborar com eles? — perguntou, com visível
tristeza ao se recordar do que quase fiz.
— Não tive coragem de matar um ser indefeso, pois era isso que faria se
tivesse seguido com a única saída que encontrei, assassinaria meu filho e
jamais me perdoaria por isso.
— Mas você mesmo depois de tudo isso contou para eles onde
estávamos no México — acusou.
— Porque eles me ameaçaram — me defendi. — Eles me
encaminharam mensagem pedindo informações do contrário Alexandre
estupraria Giana e, depois, me encaminharia sua cabeça numa caixa de
presente. Não queria contar nada para eles, mas não vi alternativa. Desculpe
por isso, mas não me arrependo. Na hora, só pensei no tamanho do México,
não falei o local que iriam, nem o que fariam, apenas disse que foram para lá.
Você já estava lá e a mercadoria tinha ido há dias, não imaginava que fossem
conseguir encontrar vocês para ser sincera.
— Mas encontraram, além do mais, poderia ter perdido diversos
homens com as bombas e metralhadoras que dispararam no navio, por pouco
não perdi toda a carga que carregava ao afundar o navio.
— Desculpe, não queria que nada disso acontecesse — falei, sincera. —
Minha intenção era te contar no dia que estávamos aqui, mas então você foi
chamado por causa da invasão na mansão. Depois que você se recuperou do
tiro, esperei que melhorasse e falaria quando retornasse de viagem, naquele
mesmo dia que descobriu tudo.
— Mas não deu tempo — concluiu, pesaroso.
Ficamos em silêncio por um tempo e não sabia mais o que falar. As
lágrimas voltaram a escorrer ao me recordar de tudo que fui obrigada a fazer,
sentindo que o tinha perdido de vez.
Levantei-me e agarrei seu pescoço, pegando-o desprevenido e comecei
a chorar compulsivamente com tudo que fui obrigada a reviver na última
hora.
— Eu te amo, Matteo, nunca menti sobre isso, fiquei aterrorizada por
perceber que tinha me apaixonado pela única pessoa que não poderia, mas
aconteceu, mesmo que não soubesse que não foi o culpado por toda a
desgraça que aconteceu em minha vida. Sei que pode nunca me perdoar, mas,
por favor, me perdoe, eu te amo tanto e prometo que vou tentar recompensar
toda a dor que te causei. — Segurei seu rosto, desesperada entre minhas mãos
e beijei seus lábios, precisando sentir mais dele com urgência, necessitava
sentir que ele ainda era meu, que me perdoaria, que entenderia o motivo pelo
qual fiz tudo isso. Mas o desespero aumentou ainda mais, conforme percebi
que ele segurava minhas mãos e me afastava com cuidado.
Olhei sem chão, com os olhos vermelhos e inchados de tanto chorar,
não vi nojo, nem pavor por tê-lo tocado depois do que descobriu, mas
enxerguei a mágoa e isso fez com que destruísse ainda mais o pouco de
esperança que tinha criado dentro de mim.
— Você precisa descansar — disse, ao me pegar no colo com cuidado e
me depositar na cama. — E eu preciso pensar... — murmurou, parecendo
buscar por um autocontrole inexistente.
Quando ele foi se afastar, puxei sua camiseta molhada com as minhas
lágrimas.
— Por favor, não me abandone. Me perdoe, Matt, eu sei que errei, mas
não sabia o que fazer...
— Chiara! — disse, sério, mas não com estupidez. — Acredito em tudo
que me falou e até que não teve má intenção, mas a confiança é como um
vidro quebrado, depois que se estilhaça é impossível colar todos os pedaços.
Nunca mais será a mesma coisa, entende?
Suas palavras foram como um tapa na cara, meus olhos voltaram a
marejar, mas tentei de toda maneira impedir que minhas lágrimas voltassem a
cair, teria o resto do dia para isso.
— Não estou dizendo que não vou te perdoar, preciso pensar em tudo
que me contou, estou irritado, tentando me controlar para não descontar
minha ira na pessoa que não merece, mas também entendi o seu ponto de
vista, no motivo pelo qual fez tudo que fez, mas preciso de um tempo para
colocar os pensamentos em ordem, tá bom? — Ele me deixou um beijo casto
na testa. — Descanse um pouco, mais tarde volto ou alguém vem te buscar
para voltar para a Sicília.
O desânimo me tomou por completo, apenas confirmei com a cabeça ao
me virar de costas para ele e me deitar, assim que ouvi a porta ser fechada,
caí num choro descomunal, sentindo que não existia mais volta para nós,
mesmo sendo sincera e contando tudo que sofri, não foi o suficiente. Matt me
odiava e a culpada era eu mesma.
Não enxergava nada à minha frente desde que saí daquele quarto e
deixei Chiara.
Tinha ciência de que a deixei angustiada com a minha atitude, mas
simplesmente não conseguia pensar em mais nada no momento que não fosse
em fazer com que o desgraçado do Federico sofresse o máximo possível
baseado no que fez com a minha ragazza.
Sentia-me completamente transtornado e não sabia do que seria capaz
de fazer quando colocasse minhas mãos sobre ele. Por isso, assim que saí
com meu carro disparado em direção ao calabouço na Sicília, liguei para
Pietro pelo bluetooth do carro.
— Manda — disse, assim que atendeu no segundo toque.
— Você está na mansão? — Percebi pelo retrovisor que os outros dois
carros que sempre me acompanhavam, já haviam me alcançado.
— Sim, o médico acabou de sair do calabouço.
— Ótimo, porque tenho muitas coisas em mente para fazer com esse
desgraçado e quero que você não deixe que eu o mate, caso perca o controle.
— Caralho! Tá com tanta raiva assim para chegar a ponto de me pedir
para te segurar? — indagou, surpreso.
— Você não tem idéia do quanto. Daqui a pouco estou aí.
— Não perco isso por nada.
Desliguei assim que ouvi seu comentário, pois não estava com cabeça
para ficar jogando conversa fora.
Nunca havia feito esse caminho tão rápido quanto dessa vez, meu
sangue fervia em minhas veias mediante a ansiedade que me corroía para
acabar com esse infeliz. Mas eu não podia perder o controle como fiz com
Ítalo, esse era outro que merecia ter ficado sofrendo por vários dias, mas
quando soube o que fez com a minha mulher, não pensei em mais nada que
não fosse matá-lo.
Mal estacionei o carro próximo à entrada do calabouço, diferente de
onde costumava estacionar, em frente à mansão. E já segui direto a passos
largos para as escadas que me levariam até onde eu queria.
Ouvi os passos acelerados de Pietro e Marco chegando até mim,
tentando entender o que havia acontecido comigo para estar descontrolado.
Mas nem os respondi conforme me chamavam.
Assim que passei pelo corredor, enxerguei meu alvo preso pelos braços
e pernas, bem mais machucado do que o vi no dia anterior.
Ele levantou a cabeça com esforço e grunhiu ao saber que não teria a
noite para descansar. No que dependesse de mim, depois de muitas semanas a
base de tortura, ele apenas descansaria no inferno, que era o seu lugar.
Não parei nem para procurar por alguma coisa para nocauteá-lo,
simplesmente coloquei uma de minhas mãos no chão para me dar o apoio que
precisava e joguei meus dois pés de uma só vez naquele pau murcho que
carregava no meio das pernas de uma só vez. Num impulso, fiquei de pé
ouvindo seu grito com a dor que sentiu, puxei meu braço para trás e o golpeei
em sua cara, estômago, apenas alternando entre um braço e outro.
— O que deu nele, afinal? — Pietro perguntou ao Marco sem entender
nada.
— Não sei, mas deixe ele extravasar um pouco da raiva. Senão é
perigoso sobrar pra gente.
— Boa ideia!
Continuei o golpeando sem cessar, peguei um de seus braços e o
contorci com rapidez num golpe e ouvi os estalos indicando que quebrei seus
ossos. Não parei e fiz o mesmo com o outro, seu grito repercutiu um atrás do
outro, enquanto ele não parava de me xingar, mas me sentia cego, parecia que
nada era suficiente.
Peguei sua mão pensando nas vezes que açoitou Chiara, assim como
tentou tocá-la e as quebrei.
— Seu filho da puta! Vou te matar... — gritou, completamente
descontrolado com a dor que sentia.
— Você não é homem de ficar se masturbando em uma garota enquanto
dorme? — Quebrei seu joelho com outro golpe. — Você não gostava de
açoitar minha mulher nua, seu maldito! — Quebrei seu nariz.
Fui até a mesa de apetrechos e alcancei um alicate, percebendo que
Leonardo também havia se juntado a plateia.
— Você não ficava se tocando e dizendo o quanto ia comer a minha
mulher, depois que ela perdesse a virgindade? — Puxei um de seus dedos e o
cortei, ouvindo outro grito ecoar pelo espaço fechado.
Fui até o canto e peguei o taco de beisebol e bati tanto em suas costelas,
que percebi que já começava a ficar desacordado.
— Você não vai morrer ainda, infeliz — grunhi, indo para trás dele. —
Segurem as pernas dele e abram o cu desse desgraçado.
Marco e Leonardo puxaram a perna dele, expondo-o completamente,
enquanto ele se contorcia e pedia para parar.
— Pare, por favor. Eu te imploro...
— Você parou quando Chiara dizia para você não a tocar? — Ele
continuou me pedindo para não fazer o que percebeu que faria. — Você
parou, porra? Responde! — gritei.
— Não, não parei.
— Você não dizia que ia comer ela em todos os buracos possíveis, se
ela não colaborasse com a vingança que fizeram contra a minha família?
Talvez para me provocar e acabar com sua vida de uma vez, ele criou
coragem e me respondeu.
— Disse mesmo!
— Então agora prove do seu veneno. — Antes que o vagabundo
ousasse falar mais alguma coisa, enfiei a ponta do taco em seu ânus de uma
vez, ouvindo seu grito explodir meus tímpanos, enquanto chorava fora de si.
Depois disso me afastei, vendo meus homens me olhando com
completo espanto, olhei em direção de Pietro, que, por um milagre, se
encontrava sem fala e ordenei:
— Peça para o médico voltar, quero que esse desgraçado continue vivo.
Não vou dar o prazer de uma morte rápida para esse daqui de jeito nenhum.
Meu irmão assentiu, ainda surpreso e começou a fazer o que pedi,
enquanto dizia para Marco e Leonardo.
— Traga o burro espanhol.
Marco arregalou os olhos, pois raramente usávamos esse método que
era considerado uma das piores torturas que existiam, afinal, ele foi usado na
era medieval.
Observei quando Marco aproximou de Federico o aparelho que tinha o
formato de um V invertido.
— Coloquem o sentado aí até o médico chegar para ele ir se
acostumando com seu novo banco — ironizei, soltando um riso sem humor
nenhum. — Está confortável? — inquiri, repleto de ironia, enquanto
enxergava Marco e Leonardo o arrumarem.
— V-vai s-se f-foder — disse com dificuldade, enquanto eu me
aproximava com os braços cruzados.
— Você conhece essa tortura? — perguntei, tentando não demonstrar
diversão em minha voz. — Bom, deixe que eu te apresente. Esse aparelho
superconfortável que está sentado, vai começar a te cortar ao meio, por
enquanto não vou colocar o peso nas suas pernas, porque quero que o médico
melhore os ferimentos que lhe causei, porque você ainda tem muito o que
viver
— Maldito...
— Não tanto quanto você — ironizei. — Agora se me der licença,
preciso resolver algumas coisas, enquanto você vai ficar se divertindo em seu
brinquedo novo.
Saí de lá me sentindo um pouco mais leve com tudo que esse infeliz
passaria em minha mão a partir daquele momento, até que decidisse acabar
com sua maldita vida.
Havia se passado duas semanas que me abri com Matteo e parecia que
tudo havia voltado à estaca zero.
Não sabia mais o que fazer, mal conseguia dormir me penalizando com
tudo que nos aconteceu e Dio já deveria estar cansado de ouvir minhas
preces. Em minhas orações pedia que ele me perdoasse e amolecesse seu
coração, porque acreditava que ele me amava sim, mas talvez seu ódio o
cegasse.
Voltei para a Sicília naquele mesmo dia em que lhe contei tudo, mas
não o via desde então.
Mas pelo menos ele tinha permitido que tanto Sandra, quanto minha
irmã e até mesmo Giana, me visitassem em meu quarto. O que era
maravilhoso, porque conseguia distrair um pouco da tristeza imensa que
sentia por não o ver.
Minha barriga começava a ficar mais aparente e já começava a sentir
um leve remexer em meu ventre, nada aparente, mas sentia meu bambino
dando suas cambalhotas e isso tinha o poder de me tirar da depressão que me
afundava dia após dia, pelo menos quando o sentia.
Dona Sandra dizia para que eu lutasse contra essa depressão que queria
me destruir, em prol do meu filho e era nisso que tentava me apegar,
considerando que já tinha perdido as esperanças de recuperar meu casamento.
Mas não era fácil, a saudade que sentia de Matt e o olhar decepcionado que
me lançou não paravam de me atormentar.
A luz solar entrava em meu quarto, no entanto, não tinha ânimo, nem
vontade para me levantar e me arrumar, afinal, por que o faria? Para ir da
cama até a varanda?
Não sabia onde tinha ido parar meu amor-próprio, mas não sabia o que
fazer, não tinha vontade de mais nada, apenas em me afundar na imensa
tristeza que me consumia.
Uma lágrima, uma de tantas que costumavam sair de meus olhos nos
últimos tempos, escapou deles e a sequei rapidamente assim que ouvi uma
batida à porta.
Olhei em direção dela, sentindo meu coração galopar com a esperança
de que fosse Matteo, mas dona Sandra apareceu, me deixando novamente
desanimada.
— Bom diorno, bambina — fingiu uma animação que sabia que
também não sentia depois que perdeu o amor de sua vida.
— Bom dia, dona Sandra.
— Vamos levantar, colocar um vestido bem bonito e irmos passear um
pouco lá fora, você só fica deitada aqui e precisa caminhar um pouco, é
importante para sua saúde física por conta da gravidez, mas principalmente
pela mental.
Lancei um sorriso singelo em sua direção, me sentando, ao ver a
bandeja de café da manhã que me trouxe.
— Se esqueceu de que sou uma prisioneira aqui e não posso sair do
quarto?
Um sorriso de orelha a orelha surgiu em seu rosto, foi até o meu closet,
pegou um vestido justo nos seios, com um decote discreto e soltinho no
abdômen até os joelhos, todo florido.
— Parece que o coração de seu carcereiro começou a amolecer, ele
pediu para te avisar que pode sair duas vezes ao dia para caminhar no jardim.
Essa informação me pegou desprevenida e devia ter demonstrado que
de fato teve o efeito esperado em me animar um pouco.
Será que finalmente ele começava a me perdoar?
— Não quero que crie esperanças infundadas, bambina. Mas estou
esperançosa de que esse seja apenas o início do processo de reaproximação
de vocês dois — comentou, escovando meu cabelo de maneira carinhosa,
algo que minha mãe nunca fez.
— É o que mais tenho pedido a Dio.
— Então vamos se animar e ir à luta, ragazza. Use as armas que tem
disponíveis para o reconquistar. Já que ele te deu a oportunidade de descer,
fique linda, coloque aquele sorriso maravilhoso que sempre teve o poder de
dobrar meu bambino e use as armas que tem para o trazer para perto.
Como se suas palavras fossem uma injeção de ânimo, senti algo
revigorar dentro de mim e comecei a pensar que talvez ela estivesse certa,
então ao invés de ficar me debulhando em lágrimas o dia todo e deixando que
a tristeza me consumisse, deveria lutar pelo que amava, por mim e
principalmente pelo meu filho, que merecia uma família amorosa, uma que
nunca tive o prazer de ter, mas que ele merecia.
Tomei todo o café que ela trouxe, sentindo até uma fome que havia
tempos que não tinha, apenas me obrigava a me alimentar para não prejudicar
meu bebê.
Vesti a roupa que Sandra separou, calcei uma sandália de salto baixo e
grosso como ainda não estava com barrigão e passei uma pequena
maquiagem em meu rosto para disfarçar o rosto abatido.
— Minha irmã pode nos acompanhar também? — indaguei, receosa.
— Claro, ela já está te esperando lá embaixo. Não veio aqui porque
estava tomando o café.
Fiquei feliz por saber disso, Sandra tomou meu braço nos seus e
descemos.
A esperança de encontrar Matteo me tomava por inteiro, mas
infelizmente não tive essa sorte. Talvez como sabia que desceria, evitou estar
em meu caminho. Isso fazia muito mais sentido.
Minha irmã me esperava no hall da mansão e me abraçou forte quando
nos encontramos. Fez um carinho em meu pequeno ventre.
— Como está o sobrinho mais lindo da tia? — disse para minha barriga
e tive a impressão de sentir um leve remexer de meu bambino e mais uma vez
um sorriso desenhou meu rosto.
— Está animado por poder passear um pouco — comentei, um pouco
mais animada.
— Então, vamos.
Sandra e Genie me acompanharam, sempre conversando e tentando me
animar e não podia negar que conseguiram. Começava a renovar minhas
forças e rogava aos céus que me desse uma oportunidade de reconquistar o
meu marido.

Um mês se passou desde que fui liberada de caminhar pelo jardim duas
vezes ao dia, já estava com quase seis meses de gestação.
Mas, infelizmente, não tive muito progresso com Matteo, foram raros os
momentos em que o encontrei e quando voltava a pensar nisso, o desânimo
voltava a me afundar. Minha barriga já estava bem aparente e me entristecia
que ele estivesse perdendo a oportunidade de ver seu bambino crescer por
causa do que fiz. A única coisa que mudou depois de uma semana que
comecei a sair de meu quarto, foi que ele também liberou que fizesse minha
refeição na sala de jantar normalmente, não mais apenas trancada em meu
quarto como antes. Mais uma vez me enchi de esperanças de que pudéssemos
nos encontrar na mesa e, quem sabe, nos reaproximar, mas com exceção de
duas vezes que me viu e disse que voltaria depois, não o vi mais.
Pietro continuava o mesmo comigo, aos poucos voltou ao seu normal,
pelo menos. Pensava que se seu irmão pôde passar por cima do que fiz, por
que Matteo também não o faria?
Sandra e Genevive sempre tentavam me animar dizendo que não
perdesse minha fé, mas parecia cada vez mais difícil, mesmo vendo o quanto
a situação já tinha melhorado.
O que não esperava era que depois de um mês e meio com ele me
evitando a todo custo, finalmente as coisas começariam a mudar nesse dia,
por isso, ao final da tarde, quando ele bateu à porta e entrou, enquanto lia um
livro na varanda, quase não acreditei.
As palavras fugiram de minha boca, conforme me levantei ficando de
frente para aquele que tanto amava, meu coração batia tão rápido e
descompassado que parecia que estava prestes a explodir minha caixa
torácica.
Seus olhos estavam mais fundos do que o normal, seu cabelo um pouco
maior e até a sua barba que antes era apenas um cavanhaque, cobriu todo o
seu rosto. Ele colocava as mãos em seu bolso dianteiro e parecia tão sem jeito
quanto eu, conforme seus olhos me mediam da cabeça aos pés.
Nesse dia usava apenas uma calça de legging confortável e uma
camiseta justa que deixava bem aparente minha barriga pontuda.
— Ele já cresceu bastante — comentou e não me passou despercebido a
tristeza que o acometeu, ao notar isso.
Aproveite a oportunidade, Chiara. Disse a mim mesma em
pensamentos, tentando me recompor da surpresa que me envolveu com sua
visita.
— E sinto quando ele se mexe também — comentei, demonstrando um
sorriso em meu rosto, que para minha surpresa foi retribuído.
— Isso é ótimo. — Ele caminhou pelo quarto e seus olhos foram até o
nosso porta-retrato, mas desviou o olhar rapidamente. — Queria conversar
algo com você. Sente-se, por favor. — Indicou a cama e apesar de não ter
gostado de seu tom de voz, me causando insegurança, fui até lá e me sentei,
começando a remexer minhas mãos com o nervoso.
— Sobre o que seria? — perguntei, não conseguindo evitar mostrar
minha apreensão em meu tom de voz.
— Como sua gestação está mais tranquila, estava pensando, desde
aquele dia que os rebeldes invadiram a mansão, Federico se encontra como
meu prisioneiro. — A informação me pegou desprevenida, pois pensei que já
estivesse morto. — Venho causando imensas torturas de diferentes formas a
ele, principalmente depois do que descobri o que lhe causou. Quis que
sofresse muito mais do que um dia te fez sofrer.
Sabia que suas palavras não indicavam uma reconciliação, mas saber
que ele queria vingar tudo que passei na mão daquele maledetto fez com que
aquela esperança ressurgisse dentro de mim.
— E o que queria ver comigo? — perguntei com curiosidade.
— Certa vez você me disse que falou a ele que o mataria, por isso,
queria saber se mesmo carregando nosso bambino no ventre, gostaria de fazer
isso ou quer que eu faça por você?
Um brilho surgiu em meus olhos e apesar de nunca ter desejado matar
ninguém de verdade, essa possibilidade era a que mais almejava, pois ele foi
o único que de fato despertou esse desejo insano em mim.
Não pensei duas vezes em respondê-lo.
— Com certeza, quero! — respondi, me levantando, e fiquei ainda mais
próxima dele, a ponto de sentir aquele cheiro que aprendi a amar, misturado a
uísque e charuto. — Tenho certeza de que nosso bambino entenderá sua mãe,
aquele desgraçado acabou com a minha vida, ele aterrorizou minhas noites e
se puder me vingar nem que seja um pouco, é o que mais desejo.
Um sorriso orgulhoso surgiu em seus lábios e indicou as mãos para que
eu fosse à frente.
— Então, me acompanhe, por favor.
Meu coração passou a retumbar em meu peito a cada passo que
acompanhava Matteo. Ambos estávamos quietos, em um clima tenso entre
nós ou talvez fosse a única que sentia isso, pois me encontrava com as mãos
suando em ansiedade em finalmente poder me vingar daquele infeliz.
Nos últimos meses, tentei pensar o menos possível nele e em minha
mãe, porque me sentia cansada de tudo que me fizeram passar, além do mais,
quase perdi meu filho por conta de suas ações e a maneira brusca com que me
jogou longe. Precisava parar de pensar naquilo que me fazia mal e,
definitivamente, Federico e Irene eram o caos de minha vida.
Além disso, tantos meses se passaram e minha vida continuava um
caos, que pensei que ele já tivesse morrido no mesmo dia que Irene, por isso,
meu único pensamento se encontrava em Matteo e em meu bambino, aqueles
que realmente mereciam minha atenção e esforço.
Mas saber que aquele que me aterrorizou tanto ainda se encontrava vivo
e no quanto ele me atormentou, do nojo que senti quando invadiu minha
cama no meio da noite, de ter tocado em mim enquanto me encontrava
inconsciente. Das vezes que ousou rasgar a minha roupa para seu único
deleite enquanto me açoitava. Eu o odiava tanto, que jamais perderia a
oportunidade de vê-lo sofrendo.
Chegamos ao calabouço que até então Matteo nunca havia me permitido
entrar, nem convidado a conhecer e, para ser sincera, nunca tive interesse.
Antes que começássemos a descer as escadas, ele parou à minha frente,
com um ar preocupado, que aqueceu meu coração.
— O cheiro aqui dentro é forte e como já faz alguns meses que ele se
encontra sendo torturado e remendado, talvez você não o reconheça. —
Assenti, sentindo a palpitação em meu peito acelerar mediante o que poderia
encontrar lá dentro. — Se você não aguentar, você me fala que...
— Fique tranquilo, Matt, não perderia por nada a oportunidade de vê-lo
da pior maneira que fosse possível.
Um brilho algoz tomou seus olhos e me indicou para que o seguisse.
Respirei fundo e o fiz.
O cheiro de fato era horrível e de início cheguei a ficar enjoada, mas
tampei meu nariz com a mão e continuei indo.
Depois de passarmos por um corredor estreito e pouco iluminado,
avistei o infeliz que me maltratou durante anos, sentado sobre um aparelho
pontiagudo que parecia cortar suas partes íntimas. Caso fosse com qualquer
outra pessoa, eu poderia ficar comovida com a dor descomunal que deveria
sentir, todavia, não era o caso com ele.
Percebi que aqueles olhos ardilosos, que tanto me amedrontavam
encontraram os meus e a raiva ficou ainda maior.
Olhei ao redor e notei que aquele que descobri recentemente ser meu
irmão, também se encontrava ali, acorrentado nas mãos e pernas, ambos nus,
totalmente cortados, remendados, os rostos deformados, ambos estavam
irreconhecíveis.
— Eles estão lúcidos? — perguntei a Matt que me olhava com
curiosidade.
— Sim. Pensei em cortar a língua de Federico fora, mas achei que você
pudesse querer tirar alguma informação dele.
Por isso que amava esse homem, ele sabia o que queria antes que esse
infeliz morresse.
— Sim, quero.
Leonardo, Pietro e Marco se encontravam no mesmo ambiente nos
observando. Fiquei pensando no quanto deveria ser difícil para Leonardo
enxergar o irmão, que deveria ter sido seu melhor amigo, seu companheiro,
naquela situação horripilante. Entretanto, foi o que o Alexandre procurou
para si mesmo.
— Olhe só quem apareceu por aqui... se não é a principessa da famiglia
— ironizou, com dificuldade na fala o infeliz do meu ex-padrasto.
— Não poderia perder a oportunidade de te encontrar em uma situação,
tão... — fingi pensar —, interessante, como a que está!
Ficou claro o quanto a acidez de minhas palavras o irritara, pois seus
olhos soltaram faíscas em minha direção e não resisti em devolver um sorriso
irônico.
— Sua vadia! — grunhiu, irritado, e tentou se soltar das correntes que o
prendiam naquele instrumento. — Isso é tudo culpa sua! Se tivesse feito seu
trabalho direito, esse desgraçado não estaria morto, você seria milionária e eu
comandaria a famiglia. Mas foi uma burra, deixou se envolver, imagine só
como seu pai deve tá se contorcendo debaixo do túmulo em saber que se
apaixonou pelo assassino dele... — Tentou me envenenar com suas palavras,
mas já me encontrava vacinada contra eles.
Quando fui responder, Matt puxou com força alguns pesos que tinham
em suas pernas e o grito do infeliz reverberou pelo espaço com todo o seu
sofrimento.
— Filho da puta! — gritou em completo desespero.
— Pare de mentir, seu desgraçado, do contrário, vou jogar meu peso
nessa corrente e te cortar em dois — ralhou Matteo, fiquei admirada em vê-lo
na imagem do mafioso terrível que sempre ouvi falar.
Federico engoliu em seco, com o medo assolando seus olhos e me
aproximei, segurando nas mesmas correntes que Matt havia puxado para
baixo.
— Quem matou o meu pai? — indaguei, com a voz firme, mostrando
que não me encontrava para brincadeira.
O desgraçado permaneceu em silêncio, despejando todo o seu ódio
sobre mim.
— Não vai falar? — questionei, sem paciência. — Então, tá bom. —
Puxei com força a corrente para baixo e outro gritou ecoou dele, conforme
notava seu pau ficar cada vez mais dividido. Estava praticamente pendurado e
se forçasse um pouco mais, suas bolas e aquela nojeira seria jogado longe.
— Vadia, desgraçada! — Continuei puxando, tomada pela ira, com
relapsos das imagens de tudo que senti nesses anos com o que fazia comigo.
— Foi sua mãe, caralho! Já falei, foi sua mãe.
Afrouxei a corrente, sentindo minha respiração acelerada com o que
assumiu.
— Você tá mentindo, ela não seria tão fria em fazer isso. — Mesmo
com a clareza dos pensamentos que Matt fez no outro dia, me negava a
acreditar em tamanha crueldade.
Mesmo cheio de dor, ele abriu um sorriso repleto de maldade, que me
arrepiou inteira.
— Ela era o monstro por trás de tudo — asseverou, com dificuldade. —
Quem você acha que bolou todo o plano? Foi ela quem matou seu pai
envenenado, teve a ideia brilhante de envenenar as próprias drogas que ela
mesma entregou para ele usar. — Balancei a cabeça, desacreditada que pude
viver tantos anos com uma pessoa monstruosa dessa e não ter percebido a
magnitude do que era capaz. — Seu pai era um peso para sua mãe. Ela queria
se tornar a dama da máfia, seu pai era uma besta, que não tinha ganância
nenhuma. Então ela procurou alguém que pensasse grande como ela e
fizemos acontecer o que precisava.
— E veja onde estão hoje? — ironizei, tentando conter as lágrimas que
se formavam em meus olhos. Não permitiria que elas caíssem em frente desse
infeliz. — Por que mentiram para mim?
Ele deu de ombros.
— Sua mãe sabia que era a única maneira de conseguir te convencer a
se casar com esse daí... — Apontou com desgosto para Matt, que continuava
atento a cada palavra, com mais ódio do que no início. — Ela só foi uma
idiota de acreditar que o seu ódio por ele, te impediria de se apaixonar pelo
assassino de seu pai.
— O assassino que vocês me fizeram acreditar — disse, entredentes.
Aproximei-me dele, fechando meus punhos com a ira me tomando. — Quero
que você e ela apodreçam no quinto dos infernos!
— Vou te esperar lá para terminar o que começamos, príncipes...
Antes que pudesse terminar de dizer, Matteo pegou seu rosto o trouxe
para perto com força, colocou um alicate sobre sua boca com força e puxou
sua língua com brutalidade, apenas a vi saindo num rompante pendurada no
alicate.
Arregalei os olhos desacreditada com o que enxergava.
— Desculpe, mas só eu posso te chamar dessa maneira, e se ele te
chamasse de vadia mais uma vez eu juro que o mataria.
Federico se contorcia de dor, mas só saía resmungos que deveriam ser
gritos. Sangue jorrava de sua boca e para a minha completa surpresa, não
senti a mínima compaixão com o que observava.
— Tire ele desse negócio, por favor.
Matteo estreitou os olhos, mas o fez com a ajuda de Marco e o
pendurou pelas correntes.
Federico parecia fora de órbita com a dor descomunal que deveria
sentir, mas não me importei. Olhei em seus olhos repletos de pavor e disse:
— Eu disse um dia que cortaria seu pau fora, você nunca penetrou essa
merda em mim, mas já chegou bem perto e sabe disso, por isso vou cumprir
minha palavra, antes que meu marido termine de te matar...
Peguei minha adaga, retirei de sua proteção sob os olhos amedrontados
de Federico, me aproximei daquele desgraçado lentamente e me lembrei de
quando ele se masturbou, enquanto eu dormia, fiz o que tanto almejei, enfiei
com toda a minha fúria de anos reprimida naquele nojo que carregava entre
as pernas. Gritei tanto conforme picotava seu pau, suas bolas que me
encontrava fora de mim.
Federico se remexia tanto que isso apenas me incentivou a continuar,
penetrei minha adaga em seu abdômen e quando me lembrei daqueles olhares
repletos de malícia que me ameaçavam, perfurei seus dois olhos e, por
último, pelas vezes que disse que eu o chuparia, que tentou me forçar a isso,
mas acabava me açoitando como não conseguia que eu o fizesse; comecei a
cortar sua pele em diversas camadas em cortes profundos, vendo aquele
desgraçado definhar sobre meus olhos.
Matteo segurou meu braço, fazendo com que parasse.
— Acho que já tá bom, você não pode se exaltar tanto e acho que já o
fez demais.
Assenti, grata por ele ter me dado essa oportunidade, mas não consegui
formular nenhuma frase com tudo que fiz e passei nos últimos minutos.
Olhei uma última vez em direção àqueles que me destruíram, sabendo
que com a quantidade de sangue que Federico perdia, dentro de minutos ou
horas, ele padeceria e um alívio me tomou por saber que isso aconteceria.
— Deixe que ele se vá dessa vez — pedi a Matteo, que me olhou com
compreensão e assentiu. Meus olhos vagaram até Alexandre que me olhavam
com puro espanto e terminei de jogar a bomba no ventilador. — Esqueci de te
contar uma coisa aquele dia. — Matteo estreitou os olhos, sem entender.
— Do que você tá falando?
— Foi o Alexandre quem atirou em você naquela invasão. — Os olhos
de Matteo escureceram e sabia que ele sofreria muito mais por conta disso,
mas era o que queria, o que ele merecia. — Podemos voltar para a mansão?
Seus olhos pareciam reluzir em perceber o que tinha acabado de fazer e
não me abalei, não tanto pelo menos.
— Claro. Vamos, principessa?
Um singelo sorriso surgiu em meu rosto, mediante ter usado o apelido
que sempre falou para mim e roguei aos céus que esse fosse o início de uma
possível reconciliação.
Despertei no meio da noite, sentindo o bebê inquieto em meu ventre,
quando fui mudar minha posição, não esperava encontrar Matt sentado
naquela mesma poltrona da outra noite me observando com o pensamento
longe.
Mas, dessa vez, não enxergava a mágoa habitual que costumava
perceber, ele parecia exalar a dúvida com a ruga entre suas sobrancelhas.
— Oi! — falei, sem jeito. Apoiando minha cabeça em cima de meu
braço, ainda deitada. — Não sabia que estava aqui — tentei puxar assunto.
— Depois do dia de hoje, pensei que seria melhor ficar de olho em
você, foram muitas emoções num só dia, isso poderia fazer mal para o bebê.
Assenti, concordando com ele, talvez esse fosse o motivo da agitação
do bebê. Mesmo que não tivesse me sentido afetada de fato pelo que
aconteceu mais cedo naquele calabouço.
Claro que fiquei pensando em tudo que fiz, em como a fúria tomou
conta de mim e nem me reconheci ao lembrar de meu surto com a adaga
naquele desgraçado, mas não sentia o mínimo de remorso. Na verdade,
parecia um alívio saber que finalmente realizei a verdadeira vingança e isso,
sim, era acalentador.
Resolvi me sentar apoiada na cabeceira, usava apenas um baby-doll
verde-claro de seda, como se encontrava calor nos últimos dias, ele era de
alças bem finas e bem decotado. Depois que me sentei, me lembrei das dicas
de Sandra, de usar as armas que tinha para me aproximar de Matt e mesmo
ainda sonolenta, resolvi colocá-las em prática.
— Realmente o bebê está agitado. — Coloquei a mão em meu ventre
protuberante e o acariciei. — Quer sentir ele mexer? — perguntei, olhando
em direção de Matteo que observava o movimento de minhas mãos com
pesar.
Deveria ser tudo tão diferente!
Quando ele ouviu minha sugestão, seus olhos brilharam e ele assentiu,
se levantando com apenas uma calça de moletom e uma camiseta justa no
corpo. Fui mais para o lado, ele se sentou ao meu lado, olhou em meus olhos
parecendo inseguro de fazer esse contato tão próximo, mas depositou sua
mão sobre minha barriga.
Sabia que deveria ser um gesto inocente entre nós, mas a minha saudade
era tão imensa que meu peito galopava em minha caixa torácica, o local que
tocou parecia incendiar mesmo que fosse sobre a roupa. Sonhei tanto com
esse momento, que não consegui descrever a alegria que finalmente senti.
Um sorriso de felicidade surgiu em meus lábios por finalmente sentir
seu toque em meu ventre. Alcancei sua mão e levei até o outro lado, fazendo
com que seu braço quase envolvesse minha barriga toda, pois o bebê chutava
naquele ponto e não arredei meus olhos ao observar cada detalhe de seu
rosto. Quando meu pequeno jogador de futebol chutou com força, um riso
anasalado saiu de Matt e seu rosto sério se transformou em pura alegria, algo
que nunca mais tinha presenciado, desde aquele maldito dia.
— Nossa, que chute forte! — falou, surpreso com seu primeiro contato.
— Sim, nosso bambino será um excelente jogador de futebol —
brinquei.
Ele continuava observando minha barriga com afinco e como se nosso
pequeno exibido sentisse a presença de seu papà pela primeira vez tão
próximo, não parava de se remexer.
— Acho que ele está sentindo a sua presença.
— Será? — perguntou, inseguro, nem parecia o mesmo mafioso que
emanava segurança.
— Acho que sim, dizem que eles sentem, conversar com eles também
ajuda, para quando nascer já reconhecer quem somos — esclareci. — Sua
mãe, Francesca e os livros de maternidade dizem isso pelo menos —
brinquei, mordendo meu lábio inferior, sentindo meu peito tão acelerado com
o singelo toque e proximidade entre nós.
Seus olhos caíram sobre meus olhos e ele engoliu em seco, desviando
sua atenção de volta para meu ventre.
— Ei, bambino, você tá querendo bagunçar com seu papà, é? — Outro
chute forte foi depositado em sua mão e a gargalhada de Matt ecoou pelo
quarto, fazendo com que minhas bochechas começassem a doer de tanto que
também sorria.
— Parece que sim, bagunceirinho — comentei, ao acariciar ao lado da
mão de Matt, seu olhar brilhava ao encarar os meus pela primeira vez em
meses e sorri em sua direção, contendo minha mão para que não fosse até seu
rosto e o acariciasse.
— Você precisa deixar sua mamá descansar um pouco, agora não é hora
de ficar brincando, sabia? — disse, com o rosto próximo de minha barriga, se
sentindo mais à vontade, sem desgrudar nossos olhos.
Como se entendesse o que seu pai pediu, ele se remexeu mais um pouco
e ficou quieto, fiquei espantada com a conexão forte que já tinha com o nosso
bambino.
— Pelo visto ele entendeu o que pediu.
Matt acariciava o ponto em que se mexia antes, como se acariciasse o
próprio bebê e sorriu, completamente satisfeito ao perceber o mesmo que eu.
— Parece que sim — comentou, percebendo que havia baixado a
guarda por causa do bebê e ficou nítido o momento que voltou a levantar seus
muros contra mim de novo, em questão de segundos.
Uma tristeza começava a me envolver ao perceber os passos para trás
que dávamos, mas não aceitava regredir de novo, mesmo sabendo que
deveria ser paciente.
Quando ele foi se levantar para ir embora ou voltar a poltrona que
sempre ficava, segurei seu braço.
— Fica aqui comigo — pedi, sem me importar de parecer desesperada
por qualquer migalha que fosse possível.
— Não sei se seria uma boa ideia — disse com insegurança, ao descer
seus olhos de meu rosto para meus seios, mas da mesma maneira que desceu,
subiu rapidamente de volta para os olhos.
Ele ainda me queria. Era o que percebi quando suas pupilas dilataram
ao notar meu corpo.
Meus seios haviam crescido consideravelmente depois da gestação e a
camiseta do baby-doll que usava não escondia nenhum pouco essa questão,
considerando que ainda não tinha comprado novas.
— O bebê ficou mais calmo com você perto — disse, sem me importar
de usar nosso bambino para uma possível reaproximação, mesmo que não
tivesse mentido, porque de fato ele se acalmou depois que sentiu a presença
de seu papà.
Seu olhar dizia que sabia o que fazia, pois olhou para baixo para
esconder o sorriso que tentava surgir em seus lábios, por isso sorri
descaradamente em sua direção e fui sincera.
— Não estou mentindo, ele estava agitado, por isso acordei. Depois que
você o tocou, ele ficou mais calmo, talvez esteja se sentindo mais seguro,
assim como eu.
Ele umedeceu seus lábios, respirou fundo e soube o momento que venci
essa batalha, pois voltou a se ajeitar em seu lugar.
Deitamos frente a frente, mas queria que ele segurasse em meu ventre,
por isso, com toda a minha cara de pau, virei de costas e me encaixei em seu
corpo, peguei seu braço ouvindo um gemido escapar de seus lábios e
coloquei sobre minha barriga.
— É pelo bebê, Matt — menti, descaradamente, com um sorriso
travesso no rosto, que ele não poderia ver.
Ele afastou sua virilha que começava a inchar em meu quadril, pegou
um dos travesseiros e colocou entre nossos corpos, me deixando
completamente frustrada.
Olhei em sua direção sem me importar de deixar claro que gostei nada
do que fez e para minha surpresa ele sorria, sabendo o que tramava de início.
— Não força a barra, Chiara! Um passo de cada vez.
Confirmei e deitei minha cabeça no travesseiro, não tão satisfeita se
tivesse seu corpo colado ao meu, mas sentindo uma grande esperança tomar
conta de mim, por tê-lo ali ao meu lado, com sua mão acariciando meu
ventre.
Precisava ser paciente, depois de meses, ele finalmente se permitiu dar
um passo em minha direção, mesmo que não tivesse sido por mim, mas por
nosso filho, no entanto, poderia ser o início de um recomeço, por isso, resolvi
aceitar e me contentar com o passo que demos.
Sua presença me acalmava, o carinho de sua mão aquecia meu peito e,
aos poucos, o sono começava a dar as caras, por isso, antes que adormecesse,
disse, sem saber se ainda se encontrava acordado e ouviria:
— Sinto sua falta, Matt!
Ele suspirou frustrado por um instante e soube que ouviu minha
declaração e fiquei satisfeita por isso. Quando quase dormia depois de alguns
minutos, ouvi-o dizer, ao acariciar levemente minhas mechas de cabelo.
— Também sinto a sua falta, carino.
Ouvindo isso, um sorriso se formou em meus lábios e adormeci, em um
sono profundo, como há tempos não acontecia. Em meu sonho apenas
enxergava aquelas íris prateadas e sentia meu peito repleto de esperança de
que ele ainda seria meu mais uma vez.

No dia seguinte, quando despertei, não encontrei seu corpo junto ao


meu, o que indicava que ficou até que eu adormecesse e foi embora de
madrugada quando viu que nos encontrávamos bem.
Isso deveria ter me angustiado, no entanto, não foi o que aconteceu,
pois sabia que havia sido um grande passo e me apegaria a isso para nos
reaproximar cada vez mais.
Como se tivesse recebido uma injeção de ânimo, me levantei animada,
tomei um longo banho, vesti um vestido solto vermelho, que ficava até os
joelhos e tinha um leve decote e exibia meu barrigão cada vez maior.
Passei uma leve maquiagem, como há muito tempo não o fazia e um
batom nude, como era de dia e vermelho ficaria muito carregado para o
horário.
Desci animada para tomar o café, com a esperança de que encontrasse
meu marido nele, mas infelizmente ainda não aconteceu, assim que entrei na
sala de jantar. Pietro, Genevive e Sandra já se encontravam sentados
conversando e me deram bom-dia quando apareci.
Pensei que a nossa pequena evolução do dia anterior, faria com que
Matteo parasse de fugir de mim, pois apesar de ele ter liberado que descesse
para me alimentar com sua família, nunca participava do momento e sabia
que era por minha causa.
Aquela insegurança já tão conhecida tentou fincar suas garras no meu
peito, mas não me permiti me contaminar com isso, tivemos um momento
maravilhoso na madrugada anterior e era nisso que me apegaria.
— Como você está linda, ragazza! — comentou dona Sandra, com um
sorriso no rosto. Fui até ela e lhe deixei um beijo estralado no rosto, assim
como no de minha irmã, que também parecia gostar do que notava.
— Acordei animada.
— Será que viu um passarinho verde? — brincou meu cunhado e
baguncei seu cabelo bem-arrumado, conforme seguia para o lugar que
costumava me sentar.
Será que Pietro o viu entrar ou sair de meu quarto? Bom, não fizemos
nada de errado, queria mais era que ele voltasse a dormir lá de vez.
Lancei um sorriso a ele e pelo olhar zombeteiro que me retornou ao
sorver um gole de seu café, sabia que sim, ele tinha visto.
— Matt já tomou café? — indaguei, com minha curiosidade me
vencendo, ao tomar um gole do suco de laranja que Francesca colocou para
mim.
— Sim, tomou bem cedo e saiu com Leonardo. Tinha um assunto para
conversar com ele — Pietro quem respondeu.
— Ah!
Isso queria dizer que não fugiu de mim, pelo menos não exatamente,
certo? Certo, era nisso que me agarraria.
Tomamos o café entre conversas, quando Pietro saiu e fomos para o
jardim caminhar, não resisti em compartilhar com minha sogra e irmã o
pequeno avanço que tive com Matteo.
Sandra me envolveu em um abraço apertado e depois acariciou meu
bambino.
— Já disse, minha bambina, filho é bênção, esse bambino aqui será sua
arma mais poderosa para essa reconciliação. Você sabe o que deve fazer para
agarrar meu filho orgulhoso e quebrar aqueles muros que levantou contra
você.
Mordi o canto de meus lábios, me sentindo bem mais animada, mas
resolvi dizer o que me incomodava.
— Mas ele ainda foge de mim, tanto que tomou café antes.
— Talvez, mas hoje de fato ele tinha um compromisso cedo com
Leonardo. Mas vocês já deram um grande passo e percebo que ele não
carrega a mesma raiva do início, por você. Ele está tentando te perdoar, tenho
certeza disso, mesmo que não me fale. — Ela se aproximou como se me
contasse um segredo e disse em voz baixa: — Se ele ainda não te amasse, não
ficaria todas as madrugadas invadindo seu quarto apenas para te observar.
Seu comentário me pegou de surpresa.
— Mas ele não faz isso todas as noites, apenas vez ou outra.
Ela soltou um riso anasalado, enquanto acariciava meu rosto.
— Isso é o que ele quer que você pense, bambina.
Dei uma risada inconformada em como essa mulher sempre sabia das
coisas.
— Como você sabe de tudo isso? — perguntei, surpresa.
— Tenho minhas fontes, querida. Tenho minhas fontes e não sou a
única que vê o quanto Matt têm sofrido longe de você, vocês possuem uma
grande torcida pela sua reconciliação.
— Torço tanto para isso — assumi, me enchendo de alegria e esperança
depois de suas confidências.
— Então não deixe escapar a oportunidade, ragazza.
Assenti, sentindo uma ansiedade me tomar para a possível visita que
poderia me fazer durante a noite.
Quando a noite chegou, me preparei para a batalha de novo. Tomei
outro banho, passei creme em meu corpo todo, com a intenção de estar bem
perfumada para Matteo, mas também para me hidratar e evitar que as estrias
aparecessem, conforme a barriga crescia.
Vesti um baby-doll um pouco mais ousado, além de borrifar o perfume
que costumava usar e sabia que meu marido adorava.
Deitei-me na cama com apenas um lençol fino e esperei por ele, mas ele
não aparecia. Horas se passaram e comecei a ficar angustiada que estivesse
sendo uma boba ao criar esperanças de onde não existia. Não o vi o dia todo e
meus olhos já começavam a lacrimejar com a tristeza que me envolvia por
sentir as esperanças que criei mais cedo, aos poucos, se esvair de minhas
veias.
— Sou uma idiota, uma tola.
Virei-me de lado irritada para tentar dormir e meu bebê começou a se
remexer inquieto.
— É melhor você ir dormir também, seu pai pelo visto tem coisa mais
interessante para fazer do que vir nos ver. — Acariciei o local que remexia e
o senti se remexer ainda mais. — Ele te ama, bambino. O problema é
comigo, mamãe o magoou e ele não quer me perdoar, mas quando você
nascer, não vai mais ser prejudicado por minha culpa, sei que ele será um
excelente pai para você, tá? — falei, entristecida, me lembrando da ameaça
de que me mataria depois que ele nascesse.
Quando pensava que havíamos dado um passo à frente, dávamos outros
dez para trás, por isso, não duvidava mais de quem realmente cumprisse o
que prometeu. O jeito era não tentar mais alimentar esse maldito coração que
ficava tentando me iludir de que ainda me amava, pelo visto foi tudo ilusão
de minha cabeça.
Comecei a chorar copiosamente por ter feito tudo para chamar sua
atenção e não ter obtido êxito, quando ouvi sua voz quebrar o barulho do meu
choro.
— Não acho bom ficar falando essas coisas para o bambino.
Levantei-me rapidamente ao ouvir sua voz, sentindo meu coração
disparar descompassado em meu peito.
— Você veio... — comentei mais para mim mesma do que para ele.
Ele deu alguns passos de maneira lenta e sedutora e se sentou no canto
da cama.
— Vim... talvez não deveria, mas quando percebi já estava aqui —
assumiu, parecendo pensar se deveria ter dito o que disse.
— Estávamos sentindo a sua falta e só foi ele ouvir sua voz, que ficou
ainda mais agitado, deve ter ficado feliz. — Assim como eu. Queria ter
falado, mas um passo de cada vez, lembra-se, Chiara?
Aquele sorriso que tanto amava surgiu em seu rosto com o que lhe
contei e fiquei ainda mais surpresa com o que disse a seguir.
— Posso ver?
Joguei meu lençol para longe, completamente ansiosa para sentir o seu
toque de novo e foi então que me lembrei da roupa que usava, quando vi seu
pomo de Adão subir e descer ao notar meu baby-doll praticamente
transparente, com rendas que não escondiam meus mamilos intumescidos e
bem maiores devido à formação do bico para a amamentação.
— Acho melhor você trocar de roupa — sugeriu, sem conseguir
desgrudar os olhos de meu corpo.
Nem lascando que me trocaria depois de ver o quanto isso o afetou,
talvez começasse a usá-la diariamente.
— Qual é, Matt? Você já viu muito mais do que estou mostrando —
provoquei, com um sorriso zombeteiro em meu rosto e ouvi um resmungar
sair de seus lábios, mas não consegui entender o que disse. Alcancei sua mão
e o puxei para a cama, ao meu lado e mesmo ouvindo sua respiração forte, ele
o fez, tentando se concentrar em nosso filho. — Nosso bambino está pedindo
por sua atenção — comentei, ao pegar sua mão e a colocar em meu ventre no
local que ele se remexia.
— Ei, garotão, papai já está aqui, pode parar de judiar de sua mãe agora.
— Como se entendesse o que Matt dizia, ele foi se acalmando, mas era
apenas ele ficar em silêncio que voltava a se remexer, fazendo protesto para
pedir que continuasse conversando com ele.
Gargalhei alto.
— Ele puxou você — brinquei, admirando o contorno de seu rosto. —
Já sabe o que quer desde cedo, se você para de falar, ele já protesta pedindo
por mais.
Um sorriso cúmplice desenhou seu rosto e para minha surpresa, se
aproximou ainda mais de minha barriga, não resisti em tocar seus cabelos e
os acariciar, à medida que conversava com nosso bambino, dizendo todas as
coisas que fariam quando nascesse.
— Espero que goste de avião e não seja tão medroso como seu tio,
porque no que depender de mim, você vai aprender a pilotar. Também serei
eu que irei te ensinar a usar uma arma e até uma espada — ele começou a
sussurrar a próxima parte como se contasse um segredo —, sua mãe também
sabe manusear uma, não conta para ela, mas sou muito melhor que ela, então
é melhor que aprenda comigo. — Puxei seu cabelo, trazendo seu rosto para
cima que ria de minha cara.
— Ei! Sou muito boa com a adaga e você sabe disso, viu meus dotes
recentemente — me defendi.
— Não disse que não seja boa, só disse que sou melhor. — Deu de
ombros, como se fosse algo óbvio. — Agora fique quieta, estou conversando
com meu filho — chamou minha atenção e um sorriso ainda maior se
desenhou em meu rosto, como uma boba apaixonada que admirava a cena à
minha frente. — Voltando ao assunto...
Ele continuou me provocando ao conversar com nosso filho, mas a todo
momento com um sorriso no rosto, bem mais à vontade do que no dia
anterior.
Alguma coisa mudava dentro dele, mudava entre nós e quando nosso
filho deve ter cansado da brincadeira e possivelmente adormeceu, pois ficou
quietinho em meu ventre, pedi sem me importar.
— Dorme comigo de novo? — Matt hesitou, mas se deitou ao meu
lado.
— Não sei por que, mas algo me diz que você está usando nosso
bambino para fazer com que durma com você. — Olhei por cima de meus
ombros, tentando ver se isso era uma crítica ou não, mas o sorriso zombeteiro
em seu rosto indicava que talvez ele também não estivesse achando isso tão
ruim.
Dei de ombros, puxei meu cabelo para o lado da cama e exibi meu
pescoço.
— Cada um usa a arma que tem para si — assumi, lançando uma
piscadela, e arrebitei meu quadril em direção à sua masculinidade, mas meu
mafioso controlado, se afastou e colocou aquele maldito travesseiro entre nós
de novo.
— Mas não abusa! — disse, abraçando minha barriga sem que eu
pedisse, e mesmo não tendo seu corpo completamente colado ao meu, dormi
com um sorriso no rosto, ao passo que sentia seu carinho em minha barriga e
em meu cabelo.
O sentimento em meu peito era tão abrasador, tão monstruoso que não
aguentava mais guardar para dentro de mim e mesmo achando que Matt
havia adormecido, o chamei:
— Matt...
— Hum? — resmungou, sonolento.
— Eu te amo, obrigada por ficar aqui conosco.
Seu braço me apertou contra o travesseiro um pouco mais e disse:
— Sempre estarei ao lado de vocês.
Ele não disse que também me amava e isso me destruiu, mas pelo
menos continuava ali e não se afastou com a minha declaração.
Um passo de cada vez,, Chiara!
Faz um mês que eu e Chiara começamos a nos reaproximar. Sua barriga
não deixava dúvida a ninguém sobre sua real situação.
Tentei evitar nossa aproximação por meses, mas a distância de
participar do desenvolvimento de meu bambino acabava comigo dia após dia.
Não queria assumir que a distância que tinha dela, me causava o mesmo
sofrimento, algo que para ser sincero, nunca tive o costume de sentir,
geralmente eu os causava, não os sentia.. Entretanto, era o que acontecia
desde que nos separamos.
Tentava seguir minha vida em frente, mas parecia cada vez mais difícil,
como se uma parte de mim faltasse e essa parte, por mais que odiasse por me
sentir um frouxo, era ela.
Sempre entrava em seu quarto quando adormecia para observá-la e ver
um pouco da barriga que se encontrava cada vez mais aparente. Até que ela
começou a perceber e usar nosso bambino para nos aproximar. Sabia o que
fazia, não era idiota, porém, quando sugeriu que eu o sentisse, não resisti.
Nem todo o ódio do mundo que sentia, foi o suficiente para impedir de ter a
sensação de sentir meu pequeno mafioso em seu ventre e, porra, foi
simplesmente indescritível.
Depois disso, era como se finalmente tivesse conseguido deixar um
pouco do rancor que sentia por sua traição de lado, a fim de aproveitar aquilo
que realmente me importava.
Os dias eram tensos, meu trabalho me consumia por completo e ter a
possibilidade de um momento de escape, vendo como meu filho sentia minha
falta mesmo sem nunca ter me conhecido, foi surpreendente e isso começou a
me ajudar a colocar minha cabeça no lugar, para dar conta do que realmente
precisava.
Pietro sendo o inconveniente que era, disse que precisava transar um
pouco, porque me encontrava muito estressado e deixava todos ao redor
pilhados. Mandei-o se foder e ele disse para eu ir foder a minha mulher.
Desgraçado.
Depois que percebeu que realmente isso não aconteceria devido ao
tamanho de minha mágoa, sugeriu que eu fosse até a boate e resolvesse meus
problemas, o que não dava era para ficar um porre e descontando em todos o
meu mau humor. Claro, sua sugestão foi antes de saber tudo que passou na
mão daqueles desgraçados.
Juro que me contive demais para não cortar sua língua fora naquele dia,
Chiara merecia tomar um belo par de chifres? Com certeza, mas não seria eu
a trair aquela que me traiu. Além disso, não tinha cabeça para o fazer. Por
isso, minha mão nunca foi tão usada como nesses últimos meses.
Depois que Chiara, enfim, se abriu e contou tudo que lhe aconteceu
naquela maldita casa, ou pelo menos uma parte, porque obviamente não tinha
como relatar tudo, afinal, foram anos morando debaixo do mesmo teto
daqueles que apenas a maltrataram. Imaginava que se fosse me contar tudo,
ficaríamos trancados no quarto por dias e isso acabava comigo.
Imaginar tudo que precisou passar, me dava um ódio tão grande e
mesmo que já tivesse matado aqueles desgraçados e tendo permitido que
Federico sofresse por meses, nada parecia ter sido o suficiente, tudo parecia
ter sido pouco para o que de fato mereciam. Logo após descobrir o que fez
com que se infiltrasse em minha vida e tudo que a motivou, não poderia
mentir que o ódio começou a se dissipar aos poucos.
Ainda não conseguia confiar nela e todas as vezes que olhava em seu
rosto, me lembrava das vezes que disse que a amava e, em contrapartida, me
apunhalou pelas costas, mesmo dizendo que também sentia o mesmo. Como
poderia acreditar que realmente me amava, como falava todas as vezes que
saía de seu quarto ou nas noites que costumavam serem mais corriqueiras em
dormirmos juntos?
Pois era isso que acontecia, todas as noites eu me enganava dizendo que
ia até seu quarto para sentir o remexer de meu bambino e ela fingia que
precisava de mim ao seu lado, para que ele ficasse mais calmo.
Às vezes, acreditava em sua desculpa, pois quando entrava na
madrugada, notava que seu sono parecia mais conturbado, diferente do que
percebia depois que voltei a dormir com eles. Ela realmente ficou mais
tranquila e mesmo que não quisesse admitir no início, acontecia o mesmo
comigo.
Meu corpo sentia sua falta, ansiava por cada mísero contato, era apenas
sentir o toque de seus dedos entre os fios de meus cabelos, que me sentia em
casa. Era um gesto tão singelo, mas que tinha o poder de me acalmar.
Aos poucos, a ansiedade para que anoitecesse e pudesse encontrá-la,
parecia cada dia maior.
Chiara já tinha praticamente saído de sua prisão domiciliar, meus
homens não ficavam mais em frente à sua porta, impedindo-o de sair de seu
quarto. Ela já tinha sido liberada há alguns meses para que fizesse suas
refeições entre a família e, por isso, eu evitava todas. Pois ainda não me
sentia preparado para tanta proximidade. Meu coração pedia para que o
fizesse, mas a angústia ainda vencia.
Conforme os dias passaram, começamos a nos reaproximar e dormir
juntos, achei que almoçar ao seu lado era o menor de meus problemas.
Mesmo que ainda tivesse com aquele maldito travesseiro nos separando, ele
não me impedia de sentir seu perfume, nem de enxergar como seu corpo
mudava constantemente e, porra, nunca imaginei que me tornaria um homem
obcecado por mulher grávida, mas era a imagem dela usando aqueles baby-
dolls indecentes que invadiam minha mente todas as noites quando precisava
aliviar o tesão incubado dentro de mim.
Chiara não pegava leve comigo, já tinha entendido que sua real intenção
era me seduzir e nunca foi tão difícil resistir a alguém, como era nos últimos
meses e, em especial, nas últimas semanas. Dormir ao seu lado e não a tocar
era a pior tortura que poderia me acontecer, parecia até que eu quem merecia
o castigo, pelo que passava todas as noites.
Mas sabia que o mesmo lhe acontecia, pois ela não disfarçava o desejo
que a corroía todas as noites ao me ver.
Uma batida à porta cortou meus devaneios e autorizei a entrada,
Leonardo quem apareceu ao lado de Marco.
— As pessoas estão começando a chegar — avisou, de terno preto
assim como Marco.
Há um mês, coloquei meu cunhado como meu novo consigliere e ele
comprovou que era digno de tal cargo, por ter me ajudado a desvendar os
problemas que aqueles maledettos nos causaram. E a prova final, foi ter dito
para que acabasse com a vida de seu irmão, que também foi uma das pessoas
que mais nos deram dores de cabeça, quase acabou com a minha vida e
conseguiu fazer com a do meu pai.
No entanto, mesmo que não tivesse hesitado em o fazer, não permiti que
carregasse esse peso sobre seus ombros, pois apesar de saber que isso poderia
acontecer com qualquer um de nós, uma vez que não escolhíamos nossos
traidores, eu mesmo quis acabar com a vida do desgraçado que tirou uma das
pessoas que mais amava de minha vida.
Isso foi a prova que faltava, por isso lhe dei a oportunidade e o nomeei
como meu consigliere.
Respirei fundo, me levantei e afundei meu charuto no cinzeiro para me
encaminhar ao lado deles para o salão que aconteceria mais um dos eventos,
dessa vez realizado por minha mãe, com a ajuda de Chiara.
Minha mãe precisava de uma distração e quando resolvi fazer esse
evento, Chiara ainda continuava enclausurada, por isso pensei que era a
melhor opção, como ajudaria a distrair a cabeça de minha mãe.
Não me sentia em clima de festa, pois tivemos muitas perdas para
qualquer comemoração, mas depois de tudo que passamos a famiglia
precisava de algo para espairecer e mostrar que tudo, enfim, caminhava como
deveria.
— Chiara já desceu? — indaguei, ao abotoar os primeiros botões de
meu smoking.
— Genevive já foi buscá-la para descerem juntas — Marco quem
respondeu.
— Certo!
Mesmo que quisesse eu mesmo a buscar e a trazer junto de mim, ainda
não conseguia agir com completa naturalidade ao seu lado.
Eu queria, mas ainda não conseguia, mesmo que já tivesse superado boa
parte da mágoa e decepção que me causou, meu receio ainda me impedia de
ser eu mesmo e baixar a guarda por completo.
Notava seu esforço diário para nos reaproximar, algo que sempre sonhei
e almejei quando a situação era ao contrário. Um dia estive em seu lugar e,
então, precisei conquistar sua confiança e provar que não era o monstro que
pensava que fosse. Os papéis se inverteram e ela precisava provar ser
merecedora de meu perdão e amor.
Chegamos ao salão que já contava com diversas famílias da máfia
socializando e bebendo, cumprimentei alguns, conversamos, mas a todo
instante olhava em direção às escadas que trariam quem meu coração ansiava
em ver.
Pietro ficava ao meu lado, aproveitando seus últimos dias na Sicília.
Meu irmão teria que retornar para os Estados Unidos cuidar de nossos
negócios, ele sempre ficou lá desde que os expandimos e não confiava em
mais ninguém como nele, por isso, mesmo já sentindo sua falta, ele teria que
retornar, visto que tínhamos revolvido as coisas por aqui e tudo tinha voltado
a normalidade possível para um padrão da máfia.
— Como vai, senhor Lucchese? — cumprimentou Elisa ao se
aproximar e beijei o dorso de sua mão, como de costume, assim como meu
irmão.
— Vou bem, Elisa, e você?
— Melhor agora que posso ver com meus próprios olhos que o senhor
está bem depois de tudo que aconteceu nos últimos meses. Fiquei tão
preocupada, principalmente quando soube que foi baleado. — Não gostei da
maneira com que tentava se aproximar, ainda mais quando encaixou seu
braço no meu, como se fosse algo completamente normal entre nós. — Pedi
tanto para que meu pai permitisse o visitar no hospital, mas ele não deixou,
disse que era perigoso sair de casa.
Foi impossível ouvir seu comentário e não associar com a minha
pequena rebelde, que nem que precisasse pular uma varanda ou janela teria
feito, como no dia da invasão na mansão.
— Agradeço, mas não precisava se preocupar, minha esposa ficou o
tempo todo comigo, me ajudando no que era necessário.
Assim que citei Chiara, algo em seu semblante murchou. E algo passou
em minha cabeça, será que alguém daqui de dentro da mansão espalhou que
nós dois havíamos nos separado?
Era só o que faltava! Só isso explicaria o motivo de Elisa se sentir tão à
vontade ao meu lado e com um brilho de esperança no rosto ao tentar se
aproximar de mim. Mal sabia ela que mesmo com todas as atrocidades
causadas por minha Oncinha, ela era a única que dominava meu coração.
— Que bom que ela estava ao seu lado — mentiu, descaradamente, e
precisei me conter de não revirar meus olhos para seu falso teatro. — Tinha
ouvido falar que o senhor mandou Chiara para fora da Itália, pensei que...
Desvencilhei meu braço, cortando-a de vez, sem me passar
despercebido que Pietro ficou surpreendido com a mesma informação que eu.
— Não, Chiara sempre ficou aqui na mansão, onde é o seu lugar.
Elisa nem disfarçou o quanto a maneira ríspida que lhe dirigi ao
defender minha mulher a angustiou, mas ela era muito abusada em vir sugerir
coisas na minha cara.
— Falando no diabo... — Pietro soltou e foi quando olhei para o lado e
meu peito faltou saltar pela boca, quando encontrei aquela que não
abandonava meus pensamentos caminhar decidida, como se viesse pronta
para um combate, soltando faíscas em minha direção e na de Elisa,
certamente concluindo alguma besteira em sua cabecinha repleta de
hormônios.
Não negava que passou pela minha cabeça me aproveitar da situação
para lhe causar um pouco mais de sofrimento, mas sabia o quanto já peguei
pesado e depois que Chiara engravidou, parecia mais sensível e com seu
humor mais instável que antigamente, por isso optei por não mexer com a
Oncinha que morava nela, ainda mais aqui na frente de todos.
Meus olhos traidores desceram por seu corpo cheio de curvas, seus
seios muito maiores do que já eram e ela sempre teve uma boa comissão de
frente, mas cada dia que nosso bambino crescia, o mesmo acontecia com eles
e, porra, como queria mamar em cada um como aquele desgraçado do
Vittorio sugeriu em sua consulta. Se ele soubesse o que passávamos, jamais
teria dito e feito com que presenciasse seu exame naqueles dois melões, que
pediam por uma boa espanhola.
Só Dio sabia quantas punhetas precisei bater para saciar um pouco do
desejo descomunal que me afligia todas as vezes quando me lembrava da sua
imagem.
Chiara vestia um vestido de festa, feito sob medida para seu corpo
formoso. Dessa vez, ela não usava vermelho, mas sim um rosa-choque, um
decote ousado que deixou minha garganta seca ao notar o vão de seus seios.
Ele marcava perfeitamente sua imensa barriga redonda, assim como seu
quadril que se alargou, o comprimento caía até seus pés com uma cauda na
parte de trás. Seu cabelo estava preso bem no alto, com uma franja de lado
em seu rosto, na boca aquele maldito batom vermelho parecia pedir para que
eu a beijasse até o dia amanhecer e, porra, só de ver a cena à minha frente, fez
meu pau, que sofria em abstinência, despertar no mesmo instante.
Ela veio para matar. Ou melhor, me matar, só isso explicaria.
Pensei que faria uma cena na frente de todos, mas, mais uma vez,
Chiara mostrou o quanto amadureceu nos últimos meses com tudo que
passou.
Assim que nos alcançou, um sorriso falso, mas digno de receber um
Oscar, desenhou seu rosto.
— Como vai, Elisa. Se tivesse lembrado que viria, teria convidado
alguns dos melhores homens solteiros disponíveis para, quem sabe, você
conseguir um bom casamento.
Precisei conter o meu sorriso, pois ver minha mulher repleta de ciúme,
era tão afrodisíaco quanto vê-la nua.
— Agradeço sua preocupação, senhora Lucchese. — Elisa não
escondeu o quanto suas palavras carregavam desdém. — Mas não estou
preocupada com isso, tenho muita paciência e sei que a pessoa certa ficará
disponível, é apenas uma questão de tempo.
Se eu tinha alguma dúvida de que rumores a nosso respeito vazaram de
dentro da mansão, talvez sobre a ameaça que fiz a Chiara quando descobri
sua traição, não o tinha mais. Elisa deixou claro que tinha esperança para nós
dois, imaginando que cumpriria o que ameacei quando nosso bebê nascesse.
O problema era que isso não aconteceria, não quando já me sentia tão
envolvido com ela, de novo.
— Cuidado, querida! A idade está passando e ninguém vai querer ficar
com uma mulher que não pode gerar herdeiros, você sabe como as coisas na
máfia são, não é? — Meu irmão soltou um riso anasalado e lhe dei uma
cotovelada, mesmo que estivesse me divertindo com o embate à nossa frente.
Mas não permitiria que continuassem alimentando algo que apenas pertencia
a mim e a Chiara.
Por isso, abracei minha esposa, em sua cintura e lhe deixei um beijo
casto em sua têmpora, mas um sorriso travesso surgiu em seu rosto, ao me
olhar por cima do ombro.
— Desculpe, amore mio, fiquei aqui preocupada em encontrar um bom
rapaz para Elisa e esqueci de te cumprimentar — disse a safada, desenhando
um sorriso cúmplice em meu rosto.
O que não tinha me preparado, era de que a ninfeta se aproveitaria da
situação, envolveria meu pescoço com seus braços e me puxaria para um
beijo repleto de saudade, sem se importar com quem observava nossa cena.
Sua língua pediu passagem entre meus lábios e permiti que me beijasse,
apreciei e aproveitei cada duelo que nossas línguas deram, porque era o que
mais queria. Porra! Quem eu queria enganar? Era o que mais ansiava desde
que quase a matei enforcada.
O beijo apesar de ter demonstrado milhares de sentimentos, foi rápido e
precisei me segurar para não a pegar no colo e levá-la para nosso quarto, a
fim de terminar tudo que minha cabeça planejava.
Assim que nos separamos, nossos olhares se cruzaram e uma saudade
imensa parecia nos conectar. Minha Oncinha ciumenta voltou sua atenção em
direção à Elisa, que se encontrava vermelha com raiva. Minha provocadora
preferida não resistiu em provocar ela e Pietro, que ria sem disfarçar.
— Desculpe por isso, sabe como é, os hormônios têm me deixado à flor
da pele e não consigo resistir quando encontro meu marido. — Abaixei a
cabeça segurando meu riso, mas quando ouvi suas próximas palavras, não
resisti mais. — Dio mio, como sou uma péssima cunhada, Pietro está solteiro,
querida. Talvez ele seja um excelente partido para você, fiquei sabendo que
está precisando encontrar alguém para ficar ao seu lado, já que Matt não está
mais disponível, como percebeu. — Gargalhei alto e Pietro fechou a cara.
— Chiara, sua...
— Olhe a boca, cazzo! Ou quer perder a língua? — ameacei, mesmo
que ainda me divertisse pela saída surpreendente que teve de desbancar os
dois.
Mesmo que não tivesse me passado despercebido que os olhos de
Genevive se entristeceram e abaixaram para o chão no mesmo instante.
Com certeza, sua irmã ainda não tinha percebido o sentimento que sua
irmã nutria por meu irmão, ou nem se tocou com o que disse no momento da
raiva.
— Agradeço sua atenção, mas não vejo necessidade — Elisa disse ao
empertigar seu corpo, inventando uma desculpa de que precisava conversar
com sua mãe e se afastou.
— Olha, minha cunhada, não me coloque no meio dos seus problemas,
você sabe muito bem que não tenho a mínima intenção de me casar no
momento, ainda mais agora que voltarei para os Estados Unidos e lá a noite é
uma criança.
— Da próxima vez, cunhado, segure esse seu risinho cínico, porque
provocar uma mulher com raiva e grávida é pedir para que eu faça
exatamente aquilo que você não quer.
— Falta muito para o meu sobrinho nascer? Porque não aguento mais
esse mau humor de vocês dois... — disse meu irmão, que saiu resmungando
que precisava de uma bebida.
— Genie querida, pode vir comigo por um instante? — pediu minha
mãe que apareceu não sei de onde, me deixando apenas com minha Oncinha
ciumenta.
— Não sabia que era tão ciumenta, principessa. — Depois que falei, foi
que percebi a naturalidade com que a chamei e isso não passou batido por ela,
que teve seus olhos verdes brilhando ainda mais.
— Não sou ciumenta, amore mio. Apenas cuido do que é meu. — Usou
as mesmas palavras que um dia usei com ela e um sorriso surgiu em meu
rosto.
A aproveitadora do cão, que se chamava Chiara, envolveu seus braços
mais uma vez em meu pescoço e minhas mãos abraçaram sua cintura, de
maneira automática, como se reconhecessem seu lugar.
— Sabe que não menti sobre o que falei... — Começou mordiscando
meu lábio inferior e, porra, essa mulher parecia ser usada pelo capiroto nessa
noite, pois só isso explicaria sua obsessão para desbancar todo o meu
autocontrole que lutava para manter.
— Do que você tá falando? — questionei, tentando colocar minha
cabeça de cima e a debaixo em ordem.
— De que os hormônios me deixam fogosa ao seu lado. — Seus
dedinhos queimavam minha pele como brasas e percebi que muitos
observavam nosso entrosamento, principalmente minha mãe, que nem
disfarçava seu sorriso no rosto ao lado de minha cunhada. — Sabe que o
médico já liberou que tenhamos relação normal, não é?
Engoli em seco, lambendo meu lábio inferior, conforme meu pau
crescia gradativamente com a notícia que já sabia, pois a acompanhava
sempre em suas consultas.
— Sim, tenho conhecimento disso — lembrei-a. — Mas além de
estarmos em um evento, também não sei se é o momento para isso, muita
coisa aconteceu, tenho tentado te perdoar, tenho tentado esquecer, mas a todo
instante me lembro do quanto você poderia ter evitado tudo isso se tivesse
sido sincera comigo e...
— Quer saber? Foda-se você e sua mágoa, foda-se você e esse
sentimento dos infernos que só me consome. Pra mim já deu!
Seu surto me surpreendeu, principalmente quando se afastou e foi
caminhando a passos largos em direção à escada.
Quando fui segui-la, minha mãe me alcançou e puxou meu braço, me
afastando dos demais.
— Até quando vai continuar deixando essa merda de orgulho e mágoa
te cegarem, Matteo? — Seu tom de repreensão não me passou despercebido,
pois não era algo que costumava fazer.
— Não est...
— Está sim, e não ouse mentir para sua mamá. Olhe só o que aconteceu
comigo! A vida é curta, meu filho — disse, tocando meu rosto com carinho.
— Em um dia eu e meu Salvatore estávamos aqui, fazendo planos para nosso
nipote[10] e no outro, meu amado havia sido atingido por uma bala certeira
que levou sua vida em segundos para longe de mim.
Engoli em seco, com a tristeza nos envolvendo ao nos recordar da
imagem daquela maldita noite.
— Eu sei, mas não é fácil. Eu tenho tentado, mas a todo instante, fico
me perguntando se é real seu sentimento, pois mentiu uma vez, por que não
mentiria de novo? E se tudo isso ainda fizer parte de seu plano? — Não era
algo que de fato acreditava, mas que ainda me afligia.
Ela respirou fundo, perdendo a paciência.
— Não me faça desacreditar de sua inteligência, bambino. — Arqueei a
sobrancelha, incrédulo com suas palavras. — Você viu o que a ragazza
passou, você mesmo perdeu o controle com aquele desgraçado que tocou em
nossa bambina, não acha que ela já sofreu demais?
Sim, eu sabia disso e me odiava por fazer com que ela sofresse ainda
mais, mas também não conseguia passar por tudo que me fez, como se não
tivesse tido importância.
— Sei que ela sofreu, mas...
— Pare de inventar desculpas, Matteo. Você ficou magoado? Eu te
entendo, porque eu também me decepcionei, mas ela mudou, não é mais a
mesma de quando entrou nesta casa e você sabe disso, tanto quanto eu. Ela
nunca escondeu o quanto nos odiava, mas isso foi mudando aos poucos, nós a
ensinamos o que era amor, nós lhe ensinamos a amar. Acho que ela já
aprendeu que não deve agir por impulso e que a sinceridade é essencial em
um casamento, tenho certeza de que ela nunca mais fará nada que possa te
afastar, porque vejo dia após dia o quanto tem sofrido de saudade sua. Só um
cego, como você, não vê.
Dito isto, minha mãe saiu e me deixou sozinho pensando em tudo que
falou.
Servi-me de um copo de uísque, com duas pedras de gelo e comecei a
lembrar das palavras de Chiara, que pensou várias vezes em fugir de casa e
apenas não o fez por sua irmã, para protegê-la. Ela nunca teve ganância em
querer mais como sua suposta mãe tinha, a prova disso era o quanto
insistíamos para que gastasse um pouco de nossa fortuna com o que quisesse.
Em um único gole, terminei com a bebida e caminhei em direção ao
nosso quarto, sem me importar em deixar os convidados sem o anfitrião da
festa.
Não tinha certeza do que faria, mas me sentia cansado de fugir do que
meu coração pedia e as palavras de minha mãe, não paravam de me
atormentar.
Em um dia eu e meu Salvatore estávamos aqui, fazendo planos para
nosso nipote e no outro, meu amado havia sido atingido por uma bala
certeira que levou sua vida em segundos para longe de mim.
Era para que eu tivesse morrido se Carlo não tivesse entrado na frente
daquela maldita bala e poupado minha vida. Poderia ter sido eu, poderia ter
sido Chiara e só em pensar que não a teria mais em meus braços, esquentando
minhas noites, mesmo que com um travesseiro entre nós, parecia algo
inadmissível.
Bati à porta e entrei devagar, vendo Genie ao seu lado, mas assim que
me viu, se levantou e caminhou para fora do quarto, sem me olhar no rosto,
provavelmente angustiada por permitir que sua irmã continuasse sofrendo,
depois de tudo que já lhe aconteceu.
Suspirei frustrado e assumi.
— Eu quero tentar, Chiara. Tenho tentado te perdoar dia após dia, não
menti no que disse lá embaixo, mas não sei, você me deixa inseguro, cazzo!
Você tem ideia do quanto me odeio por ainda te amar? Você tem ideia do
quanto queria conseguir tirar esse sentimento que me consome de dentro de
mim? Você acha que é fácil perdoar uma traição da pessoa que eu mais
confiei e amei? Isso me destruiu de tantas maneiras diferentes que não
consigo nem mensurar, cacete!
Ela se levantou da cama, ficando de frente para mim, com seus olhos
vermelhos e inchados. Porra, isso acabou comigo, contudo, eu precisava ser
sincero, ela tinha que entender que por mais que tentasse dar um passo à
frente, precisava compreender o que causou em nosso relacionamento e não
sabia se conseguiria esquecer tudo o que nos causou.
— E eu cansei! Cansei de ficar toda noite tentando me aproximar de
você, mas quando penso que finalmente demos um passo à frente, sinto que
regredimos outros dez. Eu errei? — questionou, abrindo os braços, a fim de
mostrar sua completa frustração. — Errei e não tem ideia do quanto me
arrependo por ter sido uma idiota, ter agido pelo medo, por não ter confiado
em você como deveria. De início, foi o medo de me matar que me impedia de
te contar, depois o medo de te perder, porque eu sabia que quando lhe
contasse, isso... — apontou entre nós dois —, se romperia. Quem em sã
consciência cavaria sua própria cova, Matteo? Era isso que eu precisava
fazer, pois se eu não morresse, sabia que tinha grandes chances de nosso
amor morrer. Ou melhor, do seu amor morrer.
— Se eu soubesse o motivo pelo qual foi obrigada a tudo isso, talvez
não teria perdido minha confiança, se tivesse descoberto pela sua boca e não
por outra pessoa, talvez tudo seria diferente...
— E você não acha que me pergunto isso, todos os dias, por todos esses
meses que me afastou de você? Mas o que você precisa entender é que eu só
sofri. — Suas lágrimas desciam descompassadas em seu rosto e precisei me
conter para não as enxugar. — Minha vida inteira foi apenas sofrimento. Fui
conhecer o que era amor, o que era alegria quando, enfim, deixei de lado o
meu ódio por você e aceitei o meu sentimento. Então, eu sempre adiava um
pouco mais de te contar, porque não queria perder a alegria que me restava.
Suas palavras me machucaram, pois por mais que não tivesse tido uma
infância fácil, por ter um pai mafioso e ter sido treinado em toda a minha
infância, como na adolescência para me tornar quem me tornei, sempre tive
uma família amorosa, um pai presente, uma mãe carinhosa e um irmão que
sempre foi meu amigo. Não conhecia isso que passou, mas saber de tudo isso,
fez com que finalmente retirasse a venda que me cegava com o rancor e
mágoa.
Ela não merecia isso. Era apenas uma ragazza alimentada pelo ódio e
mesmo que eu soubesse disso, parecia que finalmente consegui deixar de
lado um pouco aquele rancor que me angustiava e, então, pude enxergar o
quanto ela também foi uma vítima dessa história.
— Como você acha que me senti por ter me apaixonado pelo homem
que matou o meu pai? Eu me recriminava diariamente, porque isso me
destruía, ao mesmo tempo em que ansiava para me entregar a você.
— Já falei que não fui eu e o próprio maledetto assumiu, cazzo! —
gritei, fora de controle por ser acusado de novo disso.
— Eu sei, cacete! Mas na época não sabia e era como me sentia, mesmo
não podendo, me apaixonei perdidamente por você, se eu soubesse o quanto
seria importante em minha vida e que ela não passou de uma mentira, teria
feito tudo diferente... — asseverou, chorando compulsivamente. Aproximou-
se segurando meu smoking com as duas mãos, aos prantos e continuou. —
Como eu poderia imaginar que era tudo mentira? Se fui criada sendo
alimentada para odiar você? Odiar sua mãe, seu pai e seu irmão? Como
poderia ignorar o que me falaram por anos e confiar cegamente em uma
pessoa, se todos os homens, com exceção do Leonardo, me destruíram pouco
a pouco?
Suas palavras foram como um tapa em minha cara, não aguentava mais
vê-la sofrer, por isso, toquei seu rosto por livre e espontânea vontade, algo
que não acontecia desde que nos separamos e trouxe seu rosto para meu
peito, à medida que acariciava seus cabelos macios que tanto amava.
— Me perdoe, Matt. Eu te imploro, me perdoe. Eu errei, traí sua
confiança, mas aprendi. Fui inocente em confiar naquela que jamais mereceu
nada de minha confiança, juro que se você me der uma nova chance, vou te
provar todos os dias o quanto eu te amo e o quanto me arrependo por ter te
magoado.
— Xii... pare de se desculpar — falei, deixando um beijo casto em sua
têmpora. — Não quero continuar te vendo dessa maneira, porque isso acaba
comigo. Odeio que sofra desse jeito, tentei te odiar, sim, mas nem isso
consegui. O amor que sinto por você é muito forte para permitir que o ódio
domine meu peito.
Seus olhos esmeraldas encontraram os meus e enxerguei a esperança os
dominar.
— Você me perdoa?
Seu rosto se aproximou do meu, a ponto de sentir o calor de seus lábios
próximo dos meus. Umedeci-os com a língua, sentindo a necessidade de
senti-los como mais cedo, mas sem ninguém para nos atrapalhar, nem nós
mesmos.
— Vou tentar, carino. Quero passar por cima de todas as desconfianças
que fui criado para ter e assumo que enxergo como você mudou e sua
sinceridade, mas nem por isso é mais fácil fingir que nunca aconteceu. Mas
eu prometo que tentarei, por nós dois, porque eu quero que você seja feliz e
quero ser o motivo dessa felicidade, cazzo. Eu e nosso bambino!
Um sorriso sincero surgiu em seu rosto e colou nossos lábios, segurando
meu rosto entre suas mãos macias.
— Eu te amo tanto e prometo que vou fazer de tudo para que consiga
esquecer que um dia isso aconteceu. A cicatriz sempre existirá, mas um dia,
que espero não demorar, ela não doerá mais.
Não aguentava mais a distância que tínhamos um do outro, precisava
senti-la, como precisava de ar para respirar, talvez fosse isso que faltava para
que tudo voltasse ao seu devido lugar, por isso, cansei de falar e puxei seu
rosto ao encontro do meu num rompante para sentir aquilo que tanto ansiava.
Sua boca recebeu a minha com a mesma ânsia e euforia com que a
tomei para mim, elas duelavam em repleta agonia, por toda a saudade que
sentimos um do outro, pelo o amor reprimido que sentíamos e fomos
obrigados a deixar de lado por permitir que a mágoa comandasse nossos
sentimentos.
Não queria pensar em mais nada que não fosse nela e em como a queria
completamente para mim.
Minha ereção parecia a ponto de explodir apertado em minha cueca, por
saber o que, enfim, teria. Suas mãos pequenas incendiavam meu corpo,
desgrenhavam meus cabelos, que até então se encontravam bem-arrumados.
Acariciava meu rosto, minha barba rala, com a mesma pressa que eu também
sentia, desceu até minha roupa e começou a afrouxar o nó de minha gravata e
a jogou longe. Livrei-me do smoking, jogando-o aos meus pés, enquanto
alcançava minhas mãos no zíper de seu vestido e o descia, liberando aquele
corpo que tirava meu sono todos os dias e noites.
Minha Oncinha terminava de liberar o último botão de sua casa e a
ajudei a nos livrarmos de minha camisa.
Seus olhos repletos de desejo, observaram meu corpo, minhas tatuagens
e seus dedos contornaram cada uma delas.
— Como senti falta delas, de seu corpo, você é tão gostoso — disse,
exalando toda a luxúria que também sentia.
— Então, mate a saudade que sentiu, principessa.
Aquele sorriso cheio de malícia incendiou seu rosto, depois segurou o
cós de minha calça e me puxou em direção à nossa cama, ela terminou de
abrir minha calça e a retiramos por minhas pernas, na sequência me empurrou
de maneira sensual, indicando que era ela quem estava no comando. E eu
deixei, porque adorava vê-la no controle.
Apoiei meu corpo no antebraço, ao notar a strip-tease que minha ninfeta
começava a fazer e precisei me controlar demais para não liberar meu pau da
cueca e manuseá-lo. Ela liberou seus braços do vestido que caiu no chão,
exibindo todo o seu corpo protuberante à minha frente e, porra, só queria
gravar essa imagem em minha mente pelo restante de meus dias.
A safada mordeu o canto de seus lábios de maneira sedutora e jogou o
sutiã que segurava aqueles dois melões em minha cara. Levei-os até meu
nariz e inalei o cheiro de seu perfume, aumentando ainda mais o meu tesão,
caso isso fosse possível.
Seus dedos seguraram o fio de sua calcinha e, em seguida, a desceu de
maneira lenta e sedutora por suas pernas, com a ponta dos pés a jogou
também de maneira certeira em meu rosto e quando notei que se encontrava
encharcada, meu autocontrole foi para a puta que pariu.
— Puta merda, carino. Você está ensopada. — Um riso escapou de sua
boca e ela pulou em cima de mim, quando não aguentava mais a distância. —
Como você está gostosa, cacete! Não vou sair mais desse quarto até o bebê
nascer — decretei, fazendo com que gargalhasse, conforme se sentava em
cima de meu mastro e rebolava me torturando.
Segurei seus seios pesados, belisquei seus bicos intumescidos e Chiara
jogou sua cabeça para trás, soltando um gemido de seus lábios. Sentei meu
corpo e senti seus dedos adentraram em minha cueca, a fim de manusear
minha glande com o pré-gozo já brilhando, e abocanhei seus mamilos.
— Cacete, Matt! — Chiara começou a gemer, enlouquecida com o que
meus lábios faziam em seus seios e, Dio, queria apenas me perder em cada
um deles. — Dio mio! Vou gozar se continuar fazendo isso comigo.
— Então senta em mim, senta — pedi, com a voz rouca, com o tesão
me consumindo por completo.
Não precisei pedir duas vezes, ela abaixou minha cueca de vez e sem
dificuldade nenhuma senti quando sua boceta gulosa engoliu meu pau por
completo, gememos juntos e joguei meu corpo para trás, extasiado com a
sensação de finalmente tê-la no lugar que nunca deveria ter saído.
— Como senti falta disso, Dio! — Ela começou a cavalgar
completamente fora de si, com uma mão voltei a beliscar um de seus
mamilos, enquanto a outra, levei até seu ponto sensível e o acariciei
levemente, foi apenas o que precisava para que começasse a gemer fora de si,
sua boceta me apertava com os espasmos que lhe causava, gozando
fortemente em meu pau.
Virei seu corpo com cuidado, deixando-a de quatro na cama e me
afundei nela.
— Se te machucar você me fala... — pedi, com dificuldade com o
prazer que me envolvia, cada vez maior. — Puta merda, como você é uma
delícia, minha Oncinha.
— Só continua, por favor, só continua.
Ela não precisou pedir duas vezes, estocava até o fundo e Chiara gritava
fora de si.
Levantei seu corpo e deixei suas costas coladas a minha, em seguida
segurei seus seios pesados e, porra, simplesmente queria ficar naquela
posição para sempre. Mas não aguentava mais segurar e quando senti que o
clímax se aproximava, passei a estocar cada vez mais rápido ouvindo seus
gemidos se intensificarem junto aos meus e não aguentamos mais,
explodimos em um orgasmo avassalador.
— Porra! — gemi, estocando até que nossos espasmos acabassem e
Chiara caiu de lado deitada, enquanto me jogava ao seu lado, me sentindo
finalmente em casa, ao lado da única pessoa que me importava.
— Isso foi tão... — começou a dizer, apoiando seu queixo em meu
peito, enquanto me olhava com admiração, carinho e amor.
— Fodástico! — brinquei, como um dia ela falou e sua risada
reverberou pelo nosso quarto, aquecendo meu coração.
Como se estivéssemos completa sintonia, nossos lábios se conectaram
em um beijo lento, mas que exalava saudade de todos os meses reprimidos.
Acariciava sua costela, enquanto seus dedos bagunçavam meus cabelos, algo
que adorava, sem desgrudar nossos lábios.
Quando Chiara se afastou para buscar por ar, seus olhos demonstravam
o quanto parecia não acreditar no que vivíamos, assim como eu.
— Eu te amo tanto, nunca vou me cansar de dizer isso — assumiu,
deixando um beijo em meus lábios.
— Eu também te amo, principessa, e creio que esse é apenas o início do
nosso felizes para sempre.
Um sorriso se formou em seu rosto.
— Não acredito em felizes para sempre, mas se tiver você e nosso
bambino comigo, o restante será fichinha. Já terei as únicas coisas que
realmente preciso.
Segurei seu rosto e trouxe seus lábios até o meu.
— Isso você já tem, você sempre teve. Até mesmo quando te odiava,
você me tinha por completo.
— E vou honrar a chance de reconquistar a sua confiança todos os dias
de minha vida, eu te prometo, amore mio.
Ela tomou meus lábios em outro beijo, como se selasse nossas juras de
amor, sentindo aquela angústia cada vez mais longe. Nesse momento, soube
que por isso evitei tanto me entregar a ela, porque sabia que quando
abaixasse a guarda, nada mais resistiria, nem a mágoa, nem o rancor, tudo se
dissolveria de vez, porque nosso amor era de outro mundo. Nosso amor
venceu o ódio, as intrigas e as mentiras, porque nosso amor era único e
verdadeiro.
— Queria te pedir desculpas por ter sido tão cabeça-dura por tanto
tempo...
Ela balançou a cabeça, colocando sua mão em meu peito.
— Você estava machucado, e eu te entendo completamente. Mas o que
importa é que agora estamos aqui, um ao lado do outro, e o passado ficará em
seu devido lugar, no passado.
— Concordo com você, vai chegar um dia que não vai machucar tanto
ao se lembrar, por isso, vamos combinar de deixar esse assunto para trás,
porque remexer é como continuar cutucando em uma ferida recém-
cicatrizada, ela sempre volta a sangrar, por isso, vamos apenas deixá-la
cicatrizar em paz.
— E eu te amo tanto por isso — assumiu, sentando-se em minha perna,
em seguida abaixou sua cabeça e lambeu a extensão de meu pau já semiereto.
— E vou te mostrar o quanto suas palavras me agradaram.
Um sorriso presunçoso surgiu em meu rosto, soltando um gemido
quando aquela boquinha gostosa engoliu meu mastro com ganância.
— Vou te agradar o tempo inteiro, então, carino.
Chiara estava certa, não existia felizes para sempre, mas o que pudesse
fazer para lhe dar um pouco da alegria e do amor que me fazia sentir, eu o
faria.
Ela foi ferida, machucada, usada, humilhada, mas minha principessa
amadureceu, mesmo errando, mas isso apenas a tornou a mulher foda que era
e mesmo por nossos caminhos tortos, repletos de espinhos no caminho, nós,
enfim, começaríamos a vencer. Não seria fácil e tinha certeza de que seria
uma luta diária, porém, o mais importante nós já tínhamos, que era a vontade
em fazer acontecer e isso ambos possuíamos de sobra.
5 MESES DEPOIS
Despertei com o pequeno Luigi mostrando o quanto seus pulmões se
encontravam em excelente estado e ao perceber que minha linda esposa se
encontrava desmaiada, devido ao cansaço exaustivo que a maternidade lhe
exigia, me levantei e fui até o pequeno berço no canto de nosso quarto e
peguei meu garoto no colo com cuidado.
Seus olhinhos verdes como os da mãe me notaram e seu choro se
abrandou no mesmo instante em que reconheceu quem era. Passei a mão em
seus cabelos escuros como os meus, notando mais uma vez em como puxou a
mim, com exceção de seus olhos.
— Vamos deixar a mamãe descansar um pouco — sussurrei em seu
ouvido, ao notar que o sol já aquecia o início da manhã e fui para fora do
quarto, para dar uma folga à sua mãe, que precisou amamentar a noite
inteira.
Não que eu não o entendesse, se pudesse mamava a noite toda também.
Mas, infelizmente, só ficava na vontade desde que Luigi chegou há dois
meses.
Conforme caminhava para o andar debaixo, me recordava em como
ficava difícil saciar a saudade da gostosa de minha mulher, tínhamos que
fazer alguns malabarismos para conseguirmos ter um tempo só para nós e
nossas maiores cúmplices, eram minha mãe e Genevive, que inclusive seria
sua madrinha. Algumas vezes, Giana aparecia e deixávamos ela como babá
por um tempo com a pequena desculpa que precisávamos descansar um
pouco, mas a risada que lançava para minha esposa, quando saíamos
apressados, mostrava que não acreditava em nada do que dizíamos.
— Cadê o bambino mais lindo da vovó? — questionou minha mãe, ao
me encontrar no hall da mansão.
Nós havíamos nos mudado para a mansão em Palermo, desde que
Chiara e eu resolvemos nossas pendências e quisemos perder o tempo
perdido que ficamos separados.
Genevive ficou morando aqui com a minha mãe, para lhe fazer
companhia, como Pietro voltou para os Estados Unidos logo depois daquele
evento que nos reconciliamos. Não queria que ficasse sozinha por aqui, mas
também queria um pouco de privacidade com minha Oncinha, pois sabíamos
que depois que nosso pequeno mafiosinho nascesse, não teríamos.
Quando ele nasceu, voltamos para a Sicília, para que minha esposa
tivesse a ajuda de minha mãe e sua irmã para cuidar de nosso bambino.
Afinal, minha mãe quem tinha experiência, eu não. Claro que no que
dependesse de mim sempre a ajudaria, como fazia nesse momento, para que
assim pudesse descansar um pouco.
Chiara já tinha voltado ao seu corpo habitual, com exceção das curvas
que ganhou após a sua gestação, pois seus peitos apenas aumentaram ainda
mais depois que começou a amamentar e seu quadril ficou ainda mais
delicioso.
Minha mãe pegou Luigi de meu colo e deixou um cheiro em seu
pescoço, tirando uma risada gostosa de sua garganta, o que fez com que nós
dois o acompanhasse como dois bobalhões.
Não podia negar, que continuava sendo o mesmo temido mafioso dos
últimos tempos, mas se tinha duas pessoas que conseguiam me deixar
completamente rendido, essas duas pessoas eram minha Oncinha e o pequeno
Luigi.
Ainda sentia um incômodo vez ou outra quando me lembrava das coisas
que Chiara me fez, mas tentava focar no que realmente importava, que era em
como ela mostrava todos os dias o quanto me amava e mudou desde que lhe
dei uma segunda chance. Ela provava dia após dia que tinha dado valor à
oportunidade que ganhou e preferia me apegar nisso, ao invés de me remoer
com o que fez ou deixou de fazer no passado.
Ela errou, mas aprendeu com cada um de seus erros. Eu amava ainda
mais a mulher madura que se tornou, a mãe amorosa e carinhosa que era para
o nosso pequeno. Para quem um dia pensou em dar fim a essa gestação, ela se
tornou uma mãe extraordinária.
— A bambina passou mais uma noite em claro? — questionou minha
mãe, ao devolver meu pequeno para o meu colo, para que pudesse seguir
nosso passeio matinal.
— Sim, ele não aceita chupeta e fica fazendo o peito dela de distração,
consequentemente não sabe o que é dormir.
— Seu irmão fez o mesmo comigo, foi uma fase difícil e exaustiva.
— Então, está explicado quem ele puxou... — Meu celular começou a
tocar no bolso e ao alcançar, vi o nome do próprio me ligando por chamada
de vídeo. — Falando no diabo...
Ela deu risada.
— Mande um beijo para meu bambino e diz para que venha nos visitar
logo.
Assenti, caminhando para o jardim ao atender com uma das mãos.
— Fala, tranqueira, não tem nada mais interessante para fazer em plena
07h? — provoquei, ao atendê-lo.
— Nem dormi ainda, cazzo! Passei a madrugada toda na boate que
inauguramos aqui. — Seus olhos fundos de quem quase não dormiu, não
deixava mentir.
Tínhamos aberto uma nova filial da Paradiso Club em Palermo e,
também, em New York, o local que meu irmão costumava morar, para ficar
mais fácil para que ele fizesse a gestão de nossos negócios.
— Ótima notícia! Quem sabe quando Luigi estiver maior, a gente faça
uma visita para conhecer o local.
— Sabe que isso é o de menos, é só deixar Chiara em casa e ir com seu
brother — provocou, gargalhando, pois ele sabia que caso o fizesse, seria um
homem morto e para ser sincero, nem fazia questão de ir à boate para curtir a
noite sem minha mulher, ela só parou de me acompanhar depois que o bebê
nasceu, mas depois disso só marcava presença para trabalhar e nada mais,
aliás, costumava comparecer durante o dia para resolver as questões
administrativas, para que minha mulher não imaginasse besteira em sua
cabecinha fértil, ainda mais com seus hormônios ainda em ebulição.
— Quer perder esse pedaço de minhoca que carrega no meio das
pernas, Peter? Pois sabe que é isso que minha principessa fará com você se
ouvir sua sugestão.
O desgraçado gargalhou de minha cara.
— Minhoca? Você sabe muito bem que o meu pau tá mais para uma
serpente.
Ri de sua cara e percebi que Luigi parecia gargalhar junto de mim da
piada contada por meu irmão.
— Nem Luigi com seus dois meses acredita em sua mentira, irmão.
Enxerguei Pietro revirando seus olhos, com minha provocação, o que
fez com risse ainda mais.
— Como está meu afilhado?
— Estamos passeando no jardim para deixar sua mãe descansar um
pouco — expliquei, afastando o celular para que visualizasse o jardim atrás
de nós dois.
— Sabe, Luigi, quando você chegar à adolescência, vou trazer você
para cá ficar com seu tio preferido e vou te apresentar as melhores baladas,
boates e te ensinar tudo que mais vai precisar saber para deixar as mulheres
louquinhas por você. Vai ser o Lucchese mais foda, porque vai aprender com
o melhor. — Revirei meus olhos, com um sorriso de orelha a orelha ao notar
a interação de meu irmão com meu filho e no quanto ele tão pequeno parecia
prestar atenção em tudo que falava.
— Chiara não vai gostar nada desses seus planos mirabolantes, até
mesmo porque sua futura esposa talvez também não aprove, ao saber que vai
para a balada, sendo que estará casado — zombei, sabendo o quanto o
assunto o aterrorizava.
Parecia alguém que eu conhecia muito bem.
— Muito engraçado, brother. Já falei para tirar essas caraminholas de
sua cabeça. Você é o capo da famiglia, está na hora de mudar algumas
tradições, não acha? — Arqueei a sobrancelha, pois ele sabia que não era
bem assim que funcionava. — Ah, qual é? O papo foi para um lado que não
me agradou, então vou dormir que ganho mais.
— Então, vá dormir, porque você sabe que uma hora ou outra esse
assunto virá à tona e terá que resolver sua vida, cazzo! Aproveite enquanto
tem tempo para isso... — provoquei, vendo-o me mostrar seu dedo médio,
fazendo com que gargalhasse, enquanto o maledetto desligava na minha cara.
— Seu tio é tão previsível, Luigi, sempre cai em minhas provocações, nem
parece ter vinte e sete anos.
Continuei caminhando com meu pequeno que observava tudo ao seu
redor com curiosidade, mesmo que ainda lutasse com sua sonolência, algo
que adorava fazer durante o dia, para não nos permitir descansar a noite.
Depois de um bom tempo, voltamos para a mansão e encontrei minha
esposa, usando um macaquinho preto e, porra, como ela conseguia ficar
gostosa com qualquer roupa? Meus olhos desceram por seu corpo repleto de
curvas e lambi meus lábios sedentos para deixar Luigi com sua avó por
algumas horas para aproveitar um pouco de minha Oncinha.
Seus olhos demonstravam o mesmo desejo que o meu quando desceram
por meus bíceps tatuados, que eram exibidos pela camiseta de manga curta
preta, um sorriso cheio de malícia surgiu em meu rosto e a ninfeta gargalhou,
balançando a cabeça.
— Nem vem, porque Giana está vindo para cá, pois quer conversar
comigo — disse, quando me aproximei e colei nossos corpos, deixando um
beijo quente em seus lábios.
— Até ela chegar temos tempo... — informei.
— A portaria avisou que já chegou.
— Merda! — grunhi, ao mordiscar o lóbulo de sua orelha, tirando um
gemido de minha Oncinha. — Podemos fazer uma rapidinha — sugeri,
vendo-a morder o lábio inferior daquela maneira que me enlouquecia e sabia
que estava próxima de ceder ao meu pedido. Olhei para meu bambino e disse:
— Você não está morrendo de saudades da sua tia? — Como se me
respondesse e ajudasse seu pai com suas necessidades fisiológicas, abriu seu
sorriso banguela, fazendo com que Chiara gargalhasse. — Viu, só?! Até
nosso bambino concordou comigo que quer ficar um pouco com sua tia e nos
dar privacidade, já que durante a noite tá meio complicado.
Ela me deu um tapa no músculo, se fazendo de difícil, mas sua
expressão não escondia o quanto adorava nossa interação. Chiara sempre
vivia com um sorriso no rosto depois que nos reconciliamos, o que mostrava
que de fato conseguia cumprir minha promessa de fazê-la feliz depois de todo
o inferno que passou e isso era a porra da melhor sensação do universo para
mim.
Como eu amava essa ragazza!
— Pare de me provocar, Matt. O assunto é sério! — Seu tom de voz me
mostrou que realmente algo aconteceu e, por isso, parei com as brincadeiras.
— Precisava da sua ajuda para resolver aquela questão que conversamos um
tempo atrás, lembra?
Chiara sempre que tinha a oportunidade tentava me induzir a me meter
nos assuntos da família de Giana, para interceder por sua amiga e a livrar do
casamento que Donato Innocenti, seu pai, se comprometeu com um homem
da máfia, que possuía um bom dinheiro e traria muitos lucros para sua
família, o problema era que o cara era muito mais velho do que a ragazza.
Isso até costumava acontecer na famiglia, mas não podia negar que uma
diferença de 42 anos era demais, do meu ponto de vista.
O problema era que levávamos nossas promessas muito a sério e a partir
do momento em que o pai dela deu sua palavra para que esse casamento
acontecesse, e eu me metesse, o deixaria como um homem sem palavras
perante à famiglia e para sermos respeitados levávamos anos, mas para
perder por uma palavra não cumprida, levava segundos.
— Porra, Chiara! Já conversei com você que é complicado eu ficar me
metendo nisso — tentei mais uma vez explicar.
— De que adianta você ser o capo da famiglia se quando deveria fazer
uma boa ação e impedir que uma ragazza se case com um cara que tem idade
para ser seu avô, não serve para nada? — me enfrentou e precisei respirar
fundo para não calar essa boca abusada com o meu pau.
— Você fica muito sexy quando está brava, já te disse isso? — Ela
revirou seus olhos verdes e cruzou os braços em protesto, quando seus olhos
ficaram com um brilho algoz, soube que não gostaria nenhum pouco da ideia
que passava por sua cabeça.
— Quer saber? Talvez você precise de uma motivação para ajudar
minha amiga — informou, com um sorriso maldoso no rosto e perpassou seu
dedo indicador no contorno de minhas tatuagens, o que me deixou arrepiado
e despertou meu pau com o mísero toque. — Sem sexo até que você resolva a
situação dela.
Gargalhei alto, tendo meu abdômen doendo com a gargalhada que soltei
mediante a piada que Chiara me contou, mas a sua fisionomia decidida me
mostrou que não brincava com a situação.
— Amore mio, por que você não faz uma promessa que consiga
cumprir? — provoquei.
— É o que veremos então.
Poderia ter deixado ver no que daria, por mais que amasse nossos
embates e provocações, depois de ficar seis meses em abstinência daquela
Oncinha, não conseguia a mesma proeza e sabia que nós dois não
aguentaríamos.
Quando ela foi sair, puxei-a pelo braço trazendo seu corpo até o meu e
contra-argumentei: — Cu ou nada?
Seus olhos esmeraldas se arregalaram e um riso desacreditado saiu de
seus lábios.
— Tá falando sério? — indagou, pasma, mas se divertindo tanto quanto
eu. — Você está negociando meu cu, para salvar minha amiga de um futuro
aterrorizante?
A verdade era que já tinha me decidido a ajudá-la logo quando disse
que a situação era séria, mas ela não precisava saber disso, e eu como o bom
negociador que era, me aproveitaria da situação para o meu bem pessoal
também, afinal, teria que ganhar algo em troca de arranjar confusão com um
dos maiores empresários da máfia.
— Estou! E aí?
Ela estreitou os olhos que brilhavam em expectativa, mesmo que tivesse
medo de doer, como dizia, sua curiosidade também era grande.
— Ok, aceito! Mas só depois que resolver tudo.
Cortei a distância que tínhamos, selando nosso acordo com um beijo
quente e Leonardo apareceu nesse momento.
— Que pouca-vergonha é essa, vocês dois aos beijos com meu sobrinho
no colo — disse, bem mais à vontade ao meu lado com o passar dos meses, e
nos afastamos.
— Não é culpa minha se sua irmã não resiste a mim — provoquei,
lançando uma piscadela em sua direção, e ganhei outro tapa no braço.
— Giana já chegou? — perguntou ao seu irmão, depois que lhe deu um
abraço apertado.
— Sim, foi para isso que vim cortar a cena traumatizante que eu e meu
sobrinho somos obrigados a presenciar — defendeu-se e nós dois reviramos
os olhos.
— Ótimo, vou lá contar a novidade para a minha amiga — comentou,
eufórica, deixando um beijo nas bochechas gordinhas de nosso bambino e
saiu animada, rebolando aquele traseiro que adorava comer de quatro.
Não via a hora de chegar à noite para fodê-la bem gostoso de novo.
Pensei ainda babando no corpo de minha mulher, Dio, parecia um homem
descontrolado perto dessa Oncinha.
— Que novidades Chichi dizia? — indagou Leonardo, fingindo ser uma
conversa normal, mas já tinha sacado os olhares que meu cunhado sempre
disparava em direção à amiga de minha esposa e, por isso, resolvi sondar o
terreno.
— O que acha de Giana se casar com Pietro? Ou quem sabe com
Marco?
— O quê? — Virou o rosto em minha direção no mesmo instante, não
entendendo de onde tirei tais sugestões.
— Sua irmã conseguiu me convencer a interceder por Giana, para tirar
ela dessa enrascada de noivado.
— E por que eles? — questionou, parecendo incomodado.
— Não sei. Não pensei direito no assunto, mas não vou tirar ela de um
casamento ruim para colocar em outro, concorda? — Pelo canto do olho notei
seu maxilar trincado e precisei conter meu riso, pois ele mordeu a isca. — Ou
tem alguma outra sugestão? — questionei, fingindo não ser nada de mais.
Ele respirou fundo e balançou a cabeça, soltando o ar dos pulmões de
maneira lenta.
— Tenho certeza de que encontrará alguém à sua altura. Agora se me
der licença, preciso resolver algumas questões com Marco.
Assenti e observei o orgulhoso se afastar.
Subi com meu filho para o andar de cima e depois de ver minha ninfeta
protestante e sua amiga se trancarem no quarto, fui até a varanda imensa que
permitia observar grande parte de nosso terreno e mostrei ao meu filho a vista
magnífica que tínhamos.
— Pelo visto teremos muito trabalho pela frente, bambino. Mas eu
como seu papá e, também, o Don da famiglia, já te ensino desde cedo que
podemos intervir até certo ponto. O restante é com eles — comentei ainda
pensando em Leonardo e Giana, que pareciam ter assuntos pendentes entre
eles. — Está vendo tudo isso à sua frente? Um dia você será o Don em meu
lugar e vai cuidar dessa porra toda, vou te ensinar a ser melhor do que eu fui
um dia e olha que sou foda, modéstia à parte — brinquei, sentindo seu
cheirinho de bebê que tanto amava. — Vou te ensinar como seu avô me
ensinou, então será melhor que nós dois um dia fomos, porque vai aprender
com os melhores, mesmo que ele não esteja aqui para te ensinar e ver se
tornar o capo foda que será um dia!
A vida se assemelhava a uma roda-gigante, um dia estávamos lá em
cima e no outro tomávamos uma rasteira tão grande que se levantar parecia
impossível, mas nada como viver um dia de cada vez. Um dia pensei em
matar minha mulher e não enxergava mais solução para nós, mas ao olhar
onde chegamos e só pude ter certeza de uma coisa: tendo um ao outro,
daríamos conta do resto, sem sombra de dúvidas.
10 MESES DEPOIS
Sentia-me ansiosa com a surpresa que me preparei por meses para fazer
a Matt e a insegurança me dominava cada vez que nos aproximávamos da
boate Club Paradiso.
Pedi para que viéssemos até aqui para termos uma noite só nossa, como
era algo difícil de acontecer desde que nosso bambino chegou. Claro que
sempre dávamos nosso jeitinho e o fato de morarmos com sua vovó e tia,
ambas babonas, facilitava nossa vida, todavia, não seria por isso que abusaria
da boa vontade delas.
Sempre que vínhamos até aqui, antes de nosso bebê nascer, ficava
incomodada com o fato de Matt sempre ter tido uma vida sexual muito
movimentada e conhecido todos os tipos de mulheres em sua cama. Quando
observava as mulheres exuberantes, exibindo seus movimentos sensuais e
elegantes em cima daquele pole dance, tendo certeza de que apreciava suas
danças, do contrário, não teria colocado tantas espalhadas por aquele salão,
algo dentro de mim se enfurecia, pois não queria deixar nada faltar para o
meu mafioso.
Por esse motivo, um pouco depois que me adaptei na maternidade e
com a cumplicidade de minha sogra e irmã, que cuidavam de Luigi, entrei na
aula de pole dance duas vezes por semana e não negava que fora muito
difícil, mas já conseguia ter uma excelente desenvoltura na barra. Meu
marido sequer desconfiou, visto que no mesmo estúdio tinha outras danças e
inventei que fazia outras, queria surpreendê-lo de verdade.
Usava um sobretudo de couro preto, que chegava até os joelhos e meu
mafioso não imaginava o que usava por baixo, ou melhor, o que não usava.
Claro que tentou ver quando nos encontramos no hall para seguirmos até
aqui.
Mas não permiti, fingindo ser uma moça comportada, como meu irmão
Leonardo, Genevive e Giana estavam próximos, pois eles ficaram
responsáveis de cuidar de nosso bambino naquela noite. Preferimos deixar
meu irmão e, também, consigliere de meu marido, na mansão para proteger
nosso bem mais precioso, junto de diversos seguranças.
Já Marco nos acompanhou como sempre. Apenas por isso que meu
marido sem-vergonha se comportou no carro, pois odiava compartilhar
qualquer coisa que me envolvesse com outras pessoas, principalmente
homens.
Assim que chegamos e entramos no elevador, Matt foi apertar o botão
que nos levaria para o andar de sua área reservada, todavia, impedi que sua
mão apertasse o botão e apertei o do quarto que tinha disponível, seu antigo
abatedouro, como costumava dizer. Passou a ser nosso espaço de fodas, pois
todas as vezes que o acompanhava até a boate, ficávamos lá por horas
fodendo como dois coelhos.
— Tem alguém aqui com má intenção comigo, hein, Oncinha?
Puxei seu blazer preto para que viesse ao meu encontro e mordisquei
seu lábio inferior.
— As piores possíveis — provoquei e quando o safado veio começar a
abrir meu sobretudo, estralei um tapa em sua mão. — Ainda não, garanhão.
Um brilho perverso tomou seus lábios e o elevador indicou nossa
chegada. Segurei sua gravata e o puxei com toda a sensualidade que tentei
ter, mesmo que me sentisse completamente insegura dentro de mim.
Ele foi me acompanhando como um cãozinho obediente, adorando me
ver no comando, com a curiosidade estampada em seus olhos com o que
aprontava.
— Você tem se comportado muito mal, senhor Lucchese — disse,
retirando sua gravata e lhe dando uma chicotada em sua perna, o que o fez rir,
adorando o que viria a seguir.
— E como pensa em me castigar, minha ninfomaníaca? — questionou
com sua voz rouca, já estampando o tamanho de seu tesão.
— Tenho algumas ideias em minha mente.
Puxei seu rosto para mim, retirei seu blazer, sem desgrudar nossos
lábios e quando ele tentou fazer o mesmo com meu sobretudo, neguei com a
cabeça, indicando que ainda não era hora.
Livrei-me de sua camisa preta, abri o botão e abaixei seu zíper, em
seguida puxei sua calça e mordisquei suas coxas torneadas, ouvindo alguns
gemidos de seus lábios escaparem. Quando passei com meu rosto em frente à
sua cueca boxer, também preta, percebi o volume daquele monstro que
habitava nele já se fazia presente e minha boca salivou em ansiedade para o
abocanhar, porém, apenas o mordisquei por cima da cueca, ouvindo o
grunhido sair de sua boca.
Empurrei-o até uma cadeira que tinha próximo e deixei que ficasse
sentado.
Segurei o cinto de meu sobretudo, mas dei as ordens antes de
prosseguir:
— Você vai se comportar direitinho e ficará aí, apenas olhando como
castigo por seu péssimo comportamento, entendeu?
Seus olhos brilhavam em expectativas e seu corpo se contorceu em
ansiedade.
— Entendeu, senhor Lucchese?
— E se não aguentar ficar aqui, o que fará comigo? — me desafiou,
sendo o provocador de sempre.
— Não será recompensado e acredite em mim, você vai querer essa
recompensa.
Seus olhos prateados se estreitaram, sabendo que falava a verdade e
lambeu seus lábios, como um verdadeiro predador pronto para dar o golpe em
sua vítima.
Fui até o canto do cômodo, vesti minha máscara preta e ajeitei meu
cabelo, jogando-o de lado e o deixando sensual, coloquei uma música lenta e
sensual em volume alto, mesmo sabendo que as paredes eram à prova de
som.
Voltei para o centro do quarto e fiquei em frente a haste do pole dance e
comecei a desfazer o nó de meu cinto de maneira lenta e o joguei longe.
Comecei a abrir meu sobretudo no mesmo ritmo da música Cruel Summer de
Taylor Swift, que era uma música que nos definia perfeitamente e apropriada
para o momento, e quando o joguei longe, Matteo arregalou os olhos que
tanto amava, ao notar que não usava nada mais que uma calcinha fio dental
preta, com abertura em meus lábios vaginais, e meu sapato de salto alto.
Mexia em meus cabelos, adentrando os dedos entre os fios sedosos, me
virei de costas para ele e rebolei meu quadril, a fim de o atiçar. Olhei por
cima de meus ombros e vi o quão vidrado se encontrava, mal piscando para
não perder nenhum movimento meu.
Alcancei a barra de pole dance e rodopiei, jogando minha cabeça para
trás, depois encostei meu corpo completamente nele, segurei firme com uma
das mãos e inclinei minha coluna para trás, expondo os meus seios. Apoiei
minhas mãos sobre o piso frio e joguei minha perna contra a haste, ficando
com minhas pernas esticadas no alto e as abri no alto, deixando meu corpo
como um T, ouvi o gemido de meu marido indicar o quanto a imagem de
minha boceta completamente arreganhada o deixava transtornado. Depois
desci uma perna de cada vez em sua direção, expondo-a de frente para ele e
subi meu corpo, ficando de pé.
Voltei para o pole dance, dei um impulso, ao mesmo tempo em que
segurava firme com minhas mãos, subi alguns centímetros, sempre
envolvendo a haste, e abri minhas pernas da maneira mais sensual possível,
rodopiei em um novo espacate no ar, conforme girava com meu corpo me
expondo por completo, arqueei minha coluna, me segurando apenas com as
mãos na barra, de maneira que exibia meus seios e toda minha intimidade
encharcada, à medida que rodava lentamente para que notasse cada detalhe.
A música chegava ao fim, joguei meu corpo até o chão e engatinhei de
maneira lenta, como uma leoa selvagem, com um braço e uma perna de cada
vez no chão, vez ou outra virava meu corpo em um rodopio e levantava
minha perna, me expondo mais uma vez enquanto Matt não perdia nenhum
movimento. Levantei-me e me sentei sobre ele, à medida que remexia meu
corpo com as mesmas manobras, como se ele fosse minha cadeira. Esfreguei-
me e repeti o mesmo movimento, joguei uma perna sobre sua cabeça,
fazendo com que enxergasse de perto minha intimidade exposta, andei em
volta da cadeira que me sentava, passei meus dedos em seu peito, depois
costas de maneira provocante e quando cheguei à sua frente de volta, finalizei
a dança junto da música em uma pose sensual e, puta merda, queria ter
fotografado a cara de surpreso que Matt tinha, pois deixar meu mafioso sem
palavras não era uma tarefa fácil.
— Puta que pariu! — Ele me puxou ao encontro do seu corpo e envolvi
minha perna em sua cintura, sentindo toda a sua extensa ereção pedir
passagem entre sua cueca. — Só diz que fará isso todas as noites para mim?
— pediu com sua voz rouca.
Gargalhei alto e tomei sua boca para mim, necessitada para
continuarmos, enquanto jogava para o alto todo o autocontrole que tive nos
últimos minutos.
Abaixei necessitada sua cueca e liberei aquele monumento que
carregava entre as pernas, em seguida me sentei com facilidade sobre ele.
Nós dois gememos com a fricção de nossas peles e comecei a movimentar
meu corpo com todo o desejo que me consumia, Matt chupava meus seios e
os beliscava, enquanto com suas mãos ajudava a impulsionar meu corpo
sobre o dele, com cada vez mais força.
Adorava quando fazíamos amor, mas amava na mesma proporção
quando ele me fodia.
Matt caminhou comigo no colo e, em seguida, me colocou de quatro na
cama, empinei meu quadril e fui preenchida com toda a sua monstruosidade,
daquele mesmo jeito que adorava. Depois de suas estocadas aumentarem o
ritmo, meu corpo começou a sentir aquela sensação que me levava ao céu
todas as vezes e foi dessa maneira que encontramos nosso prazer, em nossa
sintonia perfeita.
— Você pode repetir isso tudo para mim? — questionou, ofegante, e
arqueei a sobrancelha, ao passo que procurava por ar em meus pulmões.
— Agora? — indaguei, pasma.
— Claro, amanhã também e depois de amanhã...
Gargalhei alto, com sua cara de pau, aproximei nossos lábios e o beijei,
amando cada sensação que me causava.
— Faço quantas vezes você quiser, amore mio.
— Porra! Por isso que eu te amo — declarou, me beijando ainda mais
fogoso do que antes.
— Ah, só por isso seu safado? — Fingi incredulidade.
— Claro que não, principessa. Amo sua boquinha marruda, suas
afrontas, sua ingenuidade, seu jeito carinhoso e amoroso de ser, seu jeito
ninfomaníaca e agora sua desenvoltura como dançarina de pole dance, porra,
amo tudo em você, cazzo!
— Fico feliz em saber disso, porque também amo seu pau espetacular,
seu jeito protetor, seu coração genuíno, a maneira como me enxergou quando
ninguém mais fez, como me protegeu, derrubou todas as minhas barreiras e
se apossou de cada pedacinho do meu coração, me ensinando o que era amar.
E como disse, vou te provar todos os dias de minha vida o quanto te amo.
Nenhuma palavra mais foi necessária, quando ele tomou meus lábios
para si, que simplesmente falavam por nós dois.

Finalmente nosso bambino completava seu primeiro aninho e só nós


sabíamos como foi árduo o caminho desde que descobrimos sua existência
até esse momento, no entanto, mais feliz não poderíamos estar.
Observava o jardim todo decorado com poucas pessoas presentes,
convidamos só as mais importantes.
Matteo conversava animado com Pietro, que segurava Luigi no colo,
Leonardo e Marco.
Minha irmã com seus dezesseis anos mais distante, ao lado de Giana
conversando animadamente sobre a viagem que faria assim que finalizasse
seus estudos no próximo ano.
Não queria que fosse obrigada a se casar logo que completasse dezoito
anos, por isso, eu e Matt demos uma viagem pelo mundo para que adquirisse
experiências, estudasse e quando estivesse pronta, se casasse com aquele que
despertasse um pouco do que eu tinha com meu marido em seu coração.
Minha sogra, que ajeitava as coisas na mesa para almoçarmos junto de
Francesca, me lançou um sorriso em cumplicidade ao perceber o quanto
observar toda a cena mexia comigo.
Sem que percebesse, meu marido se aproximou e me abraçou por trás,
deixando um beijo carinhoso em meu rosto e deitei minha cabeça em seu
peitoral.
— Você está feliz, amore mio? Está tudo como imaginou que um dia
seria?
Virei-me de frente para ele, com meus olhos lacrimejados, por ter me
proporcionado muito mais do que um dia sonhei que teria.
— Na verdade, tudo está muito melhor do que pensei que poderia ter.
Nunca pensei que seria feliz, pensava apenas que sobreviveria dia após dia,
mas você chegou com seus dois pés e num só golpe, destruiu tudo que um dia
acreditei e ao olhar todos que amo aqui, juntos, faz com que perceba tudo
isso é o melhor que poderia ter acontecido. Tudo está, simplesmente, perfeito
e só posso te agradecer por ter me dado uma nova chance e uma família de
verdade.
Matt deixou um beijo casto em meus lábios, com carinho e acariciou
meu rosto.
— Eu que agradeço por ter entrado em minha vida, mesmo que de uma
maneira errada e, para mim, isso é a única coisa que importa.
E era nisso que pensava todas as noites, entrei de uma maneira errada
para a família Lucchese, mas que acabou sendo a certa e, graças a isso,
descobri o que era amar e ser amada, e finalmente ganhei uma família de
verdade. Por eles, eu iria até o inferno se fosse preciso.
Porque família era isso, nem tudo eram flores, mas juntos éramos mais
fortes.
Fico muito feliz que tenha chegado até aqui, espero que tenha se
apaixonado como eu, por esse casal.
Gostaria de aproveitar a oportunidade e pedir a sua colaboração na
avaliação do meu trabalho, pois o seu feedback é muito importante para o
meu desenvolvimento profissional e ainda poderá contribuir para que futuros
leitores possam conhecê-lo.
Avalie, comente (irei amar ler o que acharam) e compartilhe com as
amiguinhas (os) para surtarem juntas (os).
Outra coisa, para quem viu meu story, sabe que presentearei os
primeiros 50 leitores, que após finalizar a leitura, avaliar e me encaminhar um
e-mail (karen.trujilloautora@gmail.com), com o print da avaliação, junto do
seu nome e endereço, ganhará um Kit mimo desse lançamento.
Meu muito obrigada de coração S2.
Me acompanhem em minhas redes sociais abaixo, vou adorar respondê-
los.
Beijos e até os próximos surtos literários!
ANTES DE VOCÊ CHEGAR
SÉRIE JOGOS DO DESTINO – VOL. 1

Katarina, mais conhecida como Kit Kat ou Kat, é uma linda pediatra bem-sucedida, estruturada
financeiramente e determinada. Entretanto, extremamente traumatizada com homens. Seu sonho
sempre foi ser mãe, mas em decorrência de um trauma o seu sonho está cada vez mais distante.

Em meio a todas essas transformações, Derek surge em sua vida, um lindo homem que parece ser mais
um deus grego do que uma pessoa em si, ao conhecê-lo a química entre eles é mútua, mas Kat não quer
nenhum envolvimento que atrapalhe seus objetivos. Ainda mais com uma pessoa que não busca
relacionamentos, assim como ela.

Derek, com seus lindos olhos azuis e seu corpo escultural, faz um grande sucesso com o mulherio, um
excelente engenheiro civil e sócio da empresa DM Arquitetura e Construções, um ótimo pai e um
tremendo cafajeste. No entanto, tudo muda quando ele conhece a Katarina. Ao mesmo tempo em que
nele é despertado o instinto de caça, nela é aflorado o de fuga.

Quando o destino intervém brincando com a vida dos dois, será possível resistir a química que os
envolve?

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RENASCE UM CORAÇÃO
SÉRIE JOGOS DO DESTINO – VOL. II

Sofia é uma pediatra bem-sucedida, que adora ouvir sertanejo e tem como filosofia de vida o famoso:
pegar sem se apegar.
É uma mulher guerreira, que luta com afinco para alcançar seus objetivos. Possui um grande instinto
protetor com todos aqueles que ama.
Ela gosta de curtir a vida, sua vontade sempre é absoluta. Sua única regra é não sair mais de uma vez
com o mesmo homem.
Anthony é um consultor de investimento, lindo, educado, roqueiro e ainda luta jiu-jitsu. No entanto, um
deslize no passado faz com que todos o enxerguem como vilão.
Eles se conhecem em um momento inusitado, sem imaginar que fazem parte do mesmo círculo social.
O problema é que Sofia tem dificuldade de confiança. Enquanto Thony exala desconfiança.
Ambos possuem segredos obscuros e buscam uma solução.
É possível dois corações quebrados aprenderem a amar?

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CASAMENTO POR CONVENIÊNCIA + SLOW BORN + SÓ TEM UMA CAMA + STRANGERS


TO FRIENDS TO LOVERS + FOUND FAMILY

Ana Luíza é uma mulher batalhadora, alegre e que sempre carrega um sorriso no rosto, mesmo com
uma vida tão difícil. Depois de ter tido sua vida virada de cabeça para baixo, ela tenta se desdobrar para
conseguir alcançar seus sonhos e objetivos. Como se não tivesse problemas suficientes, ela recebe uma
notícia que faz seu mundo desmoronar.

Gustavo é um cirurgião cardiotorácico, que exala confiança e arranca suspiros por onde passa. Ele tem
tentado esquecer os erros cometidos em seu passado, mas nunca conseguiu se perdoar pelos mesmos.
Seu objetivo passou a ser exclusivamente sua carreira, como perdeu alguém importante em sua vida.

Ele e Ana Luíza se conhecem de maneira inusitada e o que era para ser um ato de caridade, se torna um
casamento por conveniência. Eles só não esperavam que a atração entre ambos pudesse vir a atrapalhar
o acordo firmado inicialmente.

Será que Ana Luíza e Gustavo conseguirão vencer seus próprios medos e encontrarão uma luz no fim
do túnel?

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UM REENCONTRO INESPERADO NO NATAL
LIVRO ÚNICO

Lily é uma arquiteta renomada da cidade de Chicago, que tem por sua vida, apenas seu trabalho.
Ao ponto de não dar mais atenção às festas de fim de ano. Sendo uma época que sempre adorou quando
morava em Amarillo, Texas – a cidade em que seus pais moram.
Após um ocorrido inesperado, Lily percebe que ficará completamente sozinha.
Por isso, aceita o insistente convite de sua mãe para viajar e passar ao lado de sua família. Mesmo
receosa, ela compra sua passagem e decola para o lugar que fugiu por anos.
Lily, só não esperava reencontrar seu ex-namorado de adolescência, ainda mais bonito e atraente.
Seria possível ela ganhar uma nova chance de refazer suas escolhas?
Será que uma viagem indesejada, pode lhe dar um amor de Natal?

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Mais uma vez, agradeço a Deus em primeiro lugar, por me capacitar e
dar criatividade para chegar até aqui.
A todos que de alguma forma participaram da chegada de Matteo.
Meus pais, marido e filhos por me aguentarem com meus momentos de
estresse, muitas vezes tendo que deixar de lado minhas obrigações de casa
para finalizar minha história.
Minha revisora, Patrícia, e Layce por terem me incentivado a entrar no
mundo da máfia, sinceramente, não imaginei que conseguiria escrevê-lo e
aqui estou nos agradecimentos, muito obrigada por terem acreditado em mim.
As minhas betas lindas, que estão comigo desde meu relançamento, me
aturando, com meus surtos (e surtando muito também haha), inseguranças e
sendo sempre meu termômetro para vocês, queridos leitores.
As parceiras também só tenho a agradecer, por me ajudarem a levar
essa linda história até vocês, em especial a Manu, Camila e Silmara, que
sempre me ajudam desde o início de tudo.
Por último, mas não menos importante, a vocês, meus amores, que
chegaram até aqui, é sinal de que finalizaram a leitura e só tenho a agradecer
por terem dado uma chance de conhecê-los, espero de todo meu coração que
tenham se apaixonado e surtado muito, assim como eu, minhas betas e
revisora.
Se continuo insistindo nessa empreitada, mesmo que em alguns
momentos pense em desistir, são graças a vocês que não o faço.
Amo vocês, um beijo e até o próximo surto literário.

[1]
Merda.
[2]
Tudo bem!
[3]
Minha menina.
[4]
Carino – Gracinha em italiano.
[5]
Cariño – gracinha em italiano.
[6]
Mio caro - Meu querido em italiano.
[7]
Dispositivo de tortura, conhecido como Berço ou cadeira de Judas.
[8]
Obrigada!
[9]
Por favor.
[10]
neto

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