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ATENÇÃO
A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na Lei nº 9.610/98 e punido pelo
artigo 184 do Código Penal.
ROMEO CAVALIERI
ROMEO CAVALIERI
(...)
Chiudo gli occhi e penso a lei
Fecho os olhos e penso nela
Il profumo dolce della pelle sua
O doce aroma de sua pele
E' una voce dentro che mi sta portando
É uma voz interior que está me levando
Dove nasce il sole
Onde o sol nasce
Sole sono le parole
Solitárias são as palavras
Ma se vanno scritte tutto può cambiare
Mas se as escrever tudo pode mudar
Senza più timore te lo voglio urlare
Sem mais temer eu querer gritar
Questo grande amore
Esse grande amor
Amore, solo amore
Amor, só amor
È quello che sento
É o que eu sinto
(...)
ISABELA MORAES
Malditos hormônios.
Estava andando de um lado para o outro em meu quarto,
quase à beira de um ataque de nervos. Giordana estava dormindo
no bercinho, enquanto eu lidava com os meus pensamentos
tumultuados, agitados.
Romeo saiu daqui há poucos minutos, e sua presença ainda
estava por todos os espaços. Seu cheiro impregnou em mim de uma
maneira que eu mal podia aguentar, isso que ele sequer havia me
tocado.
Deus!
Era raiva misturada com tesão. Saudade misturada com
mágoa. Eu não sabia mais o que fazer. Pensei que tanto tempo sem
o ver daria uma trégua nessa loucura toda que eu sentia, mas não.
Só parecia aumentar.
Quando escutei a campainha, pensei que era Maitê. De vez
em quando ela esquecia a sua chave e voltava para buscar, eu já
estava acostumada.
Mas nada, nada havia me preparado para ver Romeo na
minha frente depois de tanto tempo. Primeiro veio a surpresa, o
choque. Depois a realidade bateu com força, não havia mais como
esconder.
Ele viu Giordana. E eu registrei cada emoção que passou pelo
seu olhar. Parecia tão sincero, mas, das outras vezes ele também
pareceu sincero e só havia mentido, enganado. Eu sempre tive em
mente que a confiança era como um cristal delicado que, uma vez
partido, jamais voltaria ao que era antes.
Não tinha como voltar a confiar em Romeo, não havia garantia
nenhuma de que ele estava sendo sincero nas suas palavras.
E se ele fizesse tudo de novo? Se nos quebrasse ainda mais?
Antes era apenas eu. E eu poderia lidar com uma traição.
Agora, no entanto, eu não estava sozinha, tinha a minha filha. E eu
jamais permitiria que ela sofresse. Eu a defenderia com unhas e
dentes. Ninguém a machucaria. Nunca, nunca.
Senti-me culpada por ter permitido a aproximação dele,
mesmo que breve. Eu o deveria ter mandado embora, ter sido mais
incisiva, mesmo sabendo que ele não desistiria tão fácil.
Eu não queria Romeo perto de nós duas. Era o que eu tentava
fixar na minha mente, porque, na verdade, o que eu queria mesmo
era o contrário daquilo.
Ele prometeu não machucar você, e foi o que fez; a minha
razão ponderou.
Peguei o meu celular e liguei para a Alícia. Eu precisava
desabafar, precisava de respostas para as minhas perguntas.
Precisava de um conselho, de alguma coisa que me fizesse parar
de desejá-lo tanto.
— Oi, Isa! Como você e a minha ameixinha estão? — minha
amiga indagou ao atender no segundo toque.
— Ele veio aqui, amiga. Ele... sabe sobre Giordana — falei,
não respondendo o que ela havia me perguntado.
— Ele... como? Romeo? Não é possível, como ele descobriu
onde vocês estavam?
— Não faço ideia, aparentemente não há nada que Romeo
não descubra.
— Ah, meu Deus! Como eu sou idiota! — disse, parecendo se
lembrar de alguma coisa.
— O quê, Alícia? — perguntei.
— Eu não fui de jatinho para o nascimento da Gio, peguei um
voo normal. O jatinho estava fretado naquele dia e eu estava tão
eufórica para chegar aí logo que nem me dei conta de que Romeo
poderia estar me rastreando. Droga! Me esqueci completamente!
O jatinho ao qual ela se referia, pertencia a empresa de um
grande amigo de Max. Tanto que, quando vim para Buenos Aires,
foram eles que organizaram tudo para que as informações com os
meus dados fossem excluídas das bases. O mesmo acontecia com
Alícia todas as vezes que vinha me ver. Resolvi me precaver, pois
sabia que Romeo era capaz de tudo.
— Me desculpe, Isa, mil desculpas!
— Tudo bem, amiga. Não há motivos para se desculpar, agora
já foi. Está feito.
— Eu vou cumprir com aquilo que disse, vou acabar com
aquele rostinho bonito e ordinário! — bradou, protetora como
sempre. — Como foi? Como você está?
— Ainda em choque, me sentindo culpada.
— Culpada pelo quê? — indagou.
— Por ter permitido que ele visse Giordana.
— Não se culpe, a culpa foi toda minha! — Suspirou, como se
ainda estivesse incrédula. — Como ele reagiu?
— Ele olhou para a filha da mesma maneira que me olhou
tantas vezes, com amor, como se ela fosse tudo de mais importante
na sua vida — falei. — Ela pareceu reconhecer o pai, acredita? O
procurou com os olhinhos curiosos quando ouviu a sua voz.
— Minha amiga, queria tanto estar aí com vocês.
— Ele não a merece, amiga. Não nos merece.
— E se ele quiser assumi-la? Você precisa começar a pensar
nessa possibilidade.
— Por que ele iria querer isso? Para me machucar ainda
mais? — Respirei fundo, não queria cogitar a possibilidade. — E se
ele quiser tirá-la de mim?
— Ele não pode fazer isso, não se preocupe. No entanto, se
quiser assumir a paternidade e realmente lutar por isso, ele poderá,
Isa.
Eu tinha tanto medo de que isso acontecesse. Por mais que
tivesse dito que lutaria por nós duas, eu não acreditava. E mesmo
que fizesse o que disse, ele nunca me teria de volta. Entre nós dois
não havia mais nada.
Tudo que tínhamos terminou no momento em que saí da Itália.
Não tinha mais volta.
— Agora me fale como você está? O que sentiu quando viu
ele?
— Sinceramente? Eu estou uma verdadeira bagunça. Sei que
os hormônios têm uma grande parcela nisso tudo. — Suspirei ao
lembrar do quanto ele estava bonito, cheiroso. Tão perto de mim. —
Se Giordana não estivesse em meus braços eu teria pulado no seu
colo e me entregado mais uma vez. Quão masoquista eu sou por
isso?
— Você não é masoquista, amiga, você é mulher. Tem seus
desejos, suas vontades... vocês tiveram uma filha juntos. Não foi
uma relação de uma noite.
— Ele me destruiu. Como posso continuar o amando depois de
tudo?
Já tinha desabafado tantas vezes com a minha amiga que
perdi as contas.
— Não temos controle sobre o nosso coração. — Suspirou. —
Mas, Isa, você já pensou na possibilidade de ele realmente amar
você?
Não. Na minha cabeça não havia espaço para essa
possibilidade. Eu fui apenas um meio para um fim. Não confiava
mais em Romeo, nem em nada do que ele me dizia.
— Não. E nem pensarei.
Aquela era a deixa para que não falássemos mais sobre o
assunto. Minha amiga nunca interferiu em nenhuma decisão minha.
Tudo que eu fiz e escolhi, foi porque eu quis. E sempre tive o seu
apoio. No início, sempre que falávamos dele, ela também ficava
enfurecida. Com o passar do tempo, no entanto, as coisas foram
mudando.
Eu sabia que Romeo a procurava para saber de mim, e não
duvidava que tivesse falado coisas bonitas para ela para convencê-
la do amor que sentia. Eu também sabia muito bem como o efeito
das suas palavras era poderoso. Senti na pele a dor de ter sido
iludida.
Giordana deu um resmungo baixo e foi o bastante para que os
meus pensamentos focassem inteiramente nela.
Aconcheguei-me, trazendo-a para perto e beijei sua testinha,
sentindo-me cada dia mais apaixonada.
ROMEO CAVALIERI
ISABELA MORAES
Tim-tim!
Alícia e eu brindamos à nossa galeria, que enfim, havia sido
inaugurada. Nem nos meus melhores sonhos eu imaginei que
estaria me sentindo tão realizada profissionalmente. Era uma
sensação gostosa, a certeza de que depois da tempestade, sempre
vinha a calmaria.
E eu estava vivendo dias de paz.
A inauguração oficial aconteceu há uma semana, em uma
pequena celebração somente para a sua família. Queríamos algo
bem intimista, apenas para não passar em branco o momento que
tanto havíamos almejado.
Todos os dias, minha amiga e eu brindávamos com uma xícara
de chá, assim que chegávamos no nosso local de trabalho.
Era para dar sorte.
Alícia acabava ficando ali a maior parte do tempo, já que eu
precisava me dividir entre a galeria e a minha filha. E, como
Giordana não pegava a mamadeira de jeito nenhum, eu precisava
me ausentar várias vezes ao dia.
Felizmente, não era muito longe da casa de Alícia, o que
facilitava bastante. Além do mais, a tia Clarice estava ficando com
ela durante a minha ausência, então eu podia ficar mais tranquila.
Minha garotinha era cheia de vontades, e teimosa. O que tinha
de parecida comigo na aparência, era a cópia do pai no gênio. Tão
pequenina e o sangue quente italiano já falava mais alto.
Giordana... o nome da sua mãe. Eu ainda não acreditava em
tamanha coincidência.
Não havia um dia desde que Romeo a segurou pela primeira
vez em seus braços, que eu não relembrava daquela cena. Ele todo
grande, forte, vestido de preto, calça jeans, camiseta e casaco de
couro, segurando um pacotinho cor-de-rosa com a maior delicadeza
do mundo.
Eu não confiava mais em Romeo, contudo, não podia negar
que ele amava a filha de verdade. Ele até sorriu, coisa que eu
mesma nunca vi. E era, de fato, inevitável não se apaixonar por
Giordana. A pequena traidora ainda fez graça, como se soubesse
que era filha dele.
Era só pensar nele que eu me agitava inteira. Tudo em mim,
reagia a tudo dele.
O olhar, o cheiro, a presença imponente e poderosa. Senti um
calor descomunal, queria ser tocada quando não deveria. Queria
que me pegasse com força, daquele jeito bruto e urgente dele.
Ultimamente andava tendo uns pensamentos nada puros, e atribuí
isso a falta de sexo.
A falta de sexo com ele.
Romeo Cavalieri havia me machucado de uma maneira
irreparável, eu não deveria sequer cogitar uma reaproximação. Mas,
ao mesmo tempo, eu ficava excitada só de pensar no que ele
poderia fazer comigo entre quatro paredes.
Eu só podia estar ficando maluca.
Sacudi a cabeça e freei os meus pensamentos. Precisava
focar no meu trabalho, e não em um homem que não significava
mais nada para mim. Tudo que Romeo era, era pai da minha filha.
Apenas isso. Mais nada.
ROMEO CAVALIERI
Depois de algum tempo sem voltar ao meu país, não tive mais
como postergar a vinda. Tinha algumas coisas para resolver na
AURUM, e precisava assinar a documentação de compra da minha
nova casa em Palermo.
Entretanto, só vim até aqui porque Lucca havia ido ao Brasil e
retornaria para a Itália apenas quando eu voltasse para lá. Não
poderia deixar Isabela e Giordana sozinhas sabendo que o infeliz do
Marcos estava desaparecido, por mais que estivessem cercadas de
seguranças por todos os lados.
E isso não significava que eu não confiava em Gustavo,
porque eu confiava muito. Mas, não havia outra pessoa além de
Lucca que eu pudesse confiar os meus bens mais preciosos.
Cheguei à AURUM após um breve cochilo na minha casa que,
em breve não seria mais minha. Eu a tinha colocado à venda. Não
suportava mais ficar lá sabendo que havia sido o fim de tudo que eu
vivi com Isabela.
Havia comprado uma mansão ainda maior, próximo de onde
era a minha casa atual. Fiz a negociação toda à distância, com a
mesma empresa que cuidava dos meus imóveis espalhados pela
Itália. E agora, que tínhamos fechado negócio, tive que vir para
assinar os papéis.
Logo que o elevador me deixou no meu andar, esbarrei com o
meu pai. A expressão de Salvatore Cavalieri era um sinal de que eu
não teria mais para onde correr, nós precisávamos conversar.
— Filho! — disse de maneira entusiasmada ao me
cumprimentar. — Achei que não voltaria mais.
— Minha casa agora é em Ouro Preto — falei e ele me
encarou.
— Eu sei, eu sei. Romeo, nós precisamos conversar. Faltou
pouco para eu não ir ao Brasil — afirmou, enquanto me seguia até a
minha sala.
— Melhor assim. As coisas não estão fáceis por lá, com
Isabela.
— Eu sinto tanto, tanto por isso. Me perdoe, Romeo... se
houver qualquer coisa que eu possa fazer para ajudar, eu farei.
— Não há o que fazer — respondi, categórico. — Eu a destruí,
e não sei se algum dia conseguirei recuperar a confiança de Isabela.
— Você não é o culpado, eu sou. Por ter alimentado durante
todos esses anos esse ódio dentro de você.
— Não, pai! Eu sou adulto e homem o suficiente para assumir
os meus erros. Fiz tudo que fiz com consciência, e agora estou
pagando caro.
— Eu jamais permitirei que você carregue essa culpa sozinho.
Por causa dessa maldita vingança, você perdeu momentos
importantes da vida da sua filha. E quase a perdeu t...
— Não ouse, não ouse terminar essa frase. Minha filha está
viva, bem, saudável.
— Me desculpe, eu... — Senti que embargou. — Como ela é?
A nossa italianinha? — perguntou, curioso.
— Giordana é a melhor parte de mim — confessei, cheio de
saudades.
— O quê? — indagou e eu o encarei, meu pai estava pálido,
em choque.
Só então eu percebi que havia falado o nome da minha filha.
Já tinha me acostumado com a ideia de que ela carregava o mesmo
nome da minha mãe. Era tão incrível, neta e avó. Mas, assim como
Lucca havia ficado perplexo quando soube, meu pai também teve a
mesma reação.
— Ela se chama Giordana.
— Como pode ser? — Não apenas chocado, pude ver a
emoção estampada dele.
Minha mãe havia sido o grande amor da sua vida. Depois que
ela se foi, ele ficou ainda mais perdido, distante. Tanto que, depois
de todos esses anos, ele nunca mais se relacionou com ninguém.
— Foi uma surpresa para mim também. Isabela sequer sabia o
nome da minha mãe, quando sonhou com uma garotinha que se
chamava Giordana — comentei.
— Eu quero conhecê-la. Quero tanto! Como eu pedi durante
todos aqueles meses em que vivemos pensando que ela havia ido
embora, para que fosse eu no seu lugar. Mas ela não se foi, minha
italianinha está viva.
Peguei o meu celular e mostrei uma foto dela. E logo ele,
Salvatore Cavalieri, que há anos me disse que homens não
choravam, estava prestes a soltar as lágrimas presas em seus
olhos.
Existia um abismo de distância entre mim e o meu pai. No
entanto, apesar de tudo, eu não achava justo privá-lo de conhecer a
neta. Se eu estava disposto a mudar por Isabela, não podia
continuar agindo da mesma forma de anos atrás com ele.
Não seria fácil nos aproximarmos, levaria um tempo. E eu não
sabia sequer se conseguiríamos estreitar os nossos laços de pai e
filho. Contudo, eu daria essa chance. Já remoí demais o passado
para continuar preso nele.
— Ela é linda... minha neta — disse, cheio de orgulho.
— Giordana é a cópia de Isabela.
— Mas ela tem uns traços da nossa família, veja bem.
Só se for o branco dos olhos, pensei.
— De jeito nenhum — contestei.
— E como andam as investigações? Quando aqueles infelizes
serão presos por tudo que fizeram? — indagou.
Certamente Gustavo o mantinha a par de tudo relacionado ao
processo da Mineradora Cavalieri, mas, ainda assim, estava me
sondando para saber se tínhamos tido algum progresso.
— Iremos colocá-los na cadeia em breve! Marcos, no entanto,
já está sendo procurado pela polícia por outras razões.
— O desgraçado que matou o irmão?
— Ele mesmo! O filho da puta espancou a mulher, quase a
matou! — exclamei, cada vez que eu me lembrava daquilo, o nojo e
a raiva vinham com tudo.
— Esse homem é um assassino! — meu pai disse, raivoso. —
Se a justiça não se encarregar desse filho da puta, eu mesmo o
mato com as minhas próprias mãos!
Era difícil que alguma coisa conseguisse me assustar, mas a
forma como as palavras cheias de ódio saiu da boca do meu pai me
assustou de verdade. Não era apenas uma ameaça, Salvatore
Cavalieri realmente parecia prestes a sujar suas mãos de sangue.
— Pai, não faça nada, não se iguale àquele bandido — pedi,
sabendo que eu mesmo já tive vontade de acabar com ele.
— Ele destruiu as nossas vidas, matou o irmão, espancou a
mulher... merece morrer!
— Morrer é muito pouco para ele, Marcos Moraes merece
apodrecer na cadeia. Isso que ele merece — falei.
— E como ela está? A mulher? — questionou.
— Se recuperando, é uma sobrevivente. — Meu pai andava de
um lado para o outro, parecia uma fera enjaulada.
Vi-me nele. Éramos parecidos não apenas na aparência, como
no ímpeto, na impulsividade, no gênio forte e no sangue quente.
Eu precisaria mantê-lo na Itália, não poderia arriscar a sua ida
para o Brasil, eu temia que ele realmente fizesse algo contra
Marcos, não apenas por tudo que o desgraçado havia feito de ruim,
mas para aliviar um pouco da culpa que sentia.
Porque eu já havia me sentido assim.
ISABELA MORAES
ROMEO CAVALIERI
Eu havia renascido.
Quando uma das turbinas do jatinho que me levava de volta ao
Brasil falhou, estávamos voando pela região de Cabo Verde, um
arquipélago vulcânico localizado na África Ocidental.
O pouso de emergência teve um impacto brusco contra o
chão, mas não fatal. Vivi momentos de completo horror junto à
equipe de bordo que estava comigo. Havíamos pousado em uma
área florestal, em plena madrugada, e, ainda por cima, havia
dificuldade de comunicação.
Por sorte, ninguém se feriu gravemente, apenas uns arranhões
e cortes superficiais. Conseguimos nos alimentar e nos hidratar com
as comidas e bebidas que tinham no jatinho, enquanto esperávamos
por resgate.
E após quase três dias de desespero, finalmente o piloto
conseguiu se comunicar com as torres de controle e pedir ajuda.
Porém, até que nos resgatassem, levou mais um dia, já que
estávamos em um local de difícil acesso.
Tudo que eu mais temi durante aqueles dias que pareceram
uma eternidade, foi ficar longe de Isabela e Giordana. Tive que lidar
com o pavor de saber que ficariam desamparadas, e de que eu não
estaria ao lado delas para protegê-las do mundo.
A primeira coisa que eu desejei fazer quando o resgate
chegou, foi ligar para ela. Mas, meu celular estava sem bateria e,
num estado completo de desespero, não me lembrei do número de
ninguém.
A segunda coisa que eu desejei fazer quando o resgate
chegou, foi voar direto para o Brasil. No entanto, fomos levados para
um hospital de Cabo Verde e, após realizarmos alguns exames mais
urgentes, eu simplesmente apaguei.
Talvez pela exaustão por não ter dormido direito naqueles dias,
ou pelos medicamentos que estava recebendo direto na veia. Ou
pela mistura dos dois.
Não me lembrava de nada, nem mesmo de como fomos
transferidos para Palermo. Só me recordava de ter acordado meio
grogue e da presença do meu pai. Foi quando eu percebi que
estava na minha terra.
Em meio aos meus pensamentos, ouvi as vozes de Lucca e
Salvatore. Os dois conversavam baixo na antessala que dava
acesso ao quarto em que eu estava internado. Das outras vezes
que eu tentei me manter acordado, não consegui. Mas, agora que já
tinha colocado o meu sono em dia, estava um pouco mais disposto.
— Lucca? Você não deveria estar no Brasil? — indaguei,
chamando a atenção deles.
Tínhamos combinado de que ele só sairia de lá quando eu
voltasse, e não podia acreditar que o meu amigo havia deixado
Isabela e minha filha lá, sozinhas. Pedi que ele não saísse de perto
delas, sob nenhuma hipótese.
— Fique calmo, Romeo! Como você está? — perguntou,
aproximando-se.
— Eu estou bem. E Isabela e a minha filha?
— Elas estão bem, estão aqui, em Palermo.
O quê? Será que eu estava sonhando? Ou tinha morrido e ido
para o céu?
— Elas...
— Sim... estão na sua casa, esperando por notícias.
Achei que morreria de tanta felicidade. Saber que as duas
estavam ali, por mim, fez com que eu me sentisse de um jeito que
eu nunca havia me sentido. Elas estavam na nossa casa. Ergui-me
imediatamente. Nada me seguraria nesse hospital.
— Romeo, nem pense nisso. Você ainda deve ficar em
observação por mais algumas horas — Salvatore disse.
— Eu estou ótimo, e ficarei melhor ainda quando estiver com
elas. Chame o médico, eu quero ir para casa! — ordenei.
Lucca e meu pai me conheciam o suficiente para saber que eu
não desistiria. E foi o mais velho que saiu do quarto para chamar o
médico.
— Porra, cara! Que susto! — Lucca disse, referindo-se ao
acidente. — Como foi? Seu pai me contou mais ou menos o que os
médicos disseram de acordo com o relato de vocês.
— Nem me fale... não sei dizer o que foi pior, a pane na
turbina, o aviso de pouso de emergência, o pouso em si, ou ficar
quase quatro dias naquela floresta sem ter ideia se sairíamos vivos
de lá.
— Foram dias angustiantes para nós também.
— E a minha bambina?
— Cara, ela cresceu desde a última vez que a vi. Está linda,
como sempre. — Pensei no quanto eu era sortudo. — Felizmente
ela puxou a mãe — provocou e, mesmo sendo meu amigo, não
pude evitar o ciúme de Isabela.
Eu era completamente louco por aquela mulher.
— Vá se foder! — grunhi.
— Com todo respeito, irmão — disse debochado.
Fiquei feliz por ver que, aos poucos, Lucca estava se
recuperando do baque pela perda de Laura. Eu sabia que aquela
era uma dor que nunca cessaria, ele a amou muito, e ainda a
amava.
Não demorou muito tempo para que o meu pai voltasse
acompanhado pelo médico.
— Romeo, não acho prudente dar alta a você agora. Por mais
que esteja se sentindo bem, gostaria que ficasse em observação por
mais umas horas.
— Se você não me der alta, eu sairei daqui por conta própria
— falei, categórico.
Observei que meu pai o chamou novamente e os dois
trocaram umas palavras. Ele questionou sobre o resultado dos
exames, e disse que se estava tudo bem, não havia motivos para
me manter ali. O médico respondeu que era apenas por precaução,
mas que eu estava fora de perigo. Até que, por fim, Salvatore
Cavalieri o convenceu.
Até mesmo na insistência e na teimosia éramos parecidos um
com o outro.
Eu estava em choque.
Romeo havia me contado tudo. Tudo que aconteceu anos
atrás na Mineradora Cavalieri, e que culminou na morte do meu pai.
Meu coração esmagou dentro do peito, mas eu precisava passar por
aquilo. Fugi a minha vida inteira do assunto, estava na hora de
encarar.
Meu pai não era o bandido que eles pensavam, eu nunca
estive enganada. Eu era sua filha, apesar de ter convivido apenas
os primeiros anos da minha vida com ele, eu sabia quem era Paulo
Moraes. Um homem honrado, forte, justo, e que me amava muito.
— Eles são uns monstros, todos eles! — falei, referindo-me ao
Cícero e ao Marcos.
Mesmo que ainda estivessem em busca de mais evidências,
tudo levava a crer que eles foram os responsáveis pela tragédia. Eu
não podia acreditar que o homem que eu chamei de tio por anos, o
homem pelo qual tive muito carinho e gratidão foi capaz de matar o
próprio irmão.
Ele matou o sangue do seu sangue, espancou a mulher,
roubou e destruiu a vida da família de Romeo e colocou a culpa em
uma pessoa inocente. E o Cícero foi conivente com tudo.
— Os dias deles estão contados, bella.
— E agora com o Marcos desaparecido, fico ainda mais
apavorada de que possa fazer algo conosco... ele já deve saber
quem você é.
— Não se preocupe, estou cuidando de tudo.
— E essa questão toda da herança, eu não quero esse
dinheiro, ele é sujo. Ele só existe às custas da morte do meu pai!
Era muita informação para processar. Sem saber que o
dinheiro que eu pensava que era meu havia sido roubado, eu
permitia com que Marcos administrasse tudo. Eu fui manipulada
durante anos para fazer as vontades dele, pois fez com que eu me
sentisse acolhida e me deu uma falsa liberdade.
Ele era dissimulado ao ponto de se fazer de coitado, dizer que
havia prometido ao meu pai que cuidaria de mim... sendo que tudo
que queria, na verdade, era o dinheiro. Apenas o dinheiro.
— Depois que completei dezoito anos eu assinei tantas coisas
sem ler, confiei nele.
— Já imaginávamos, bella. O montante da sua herança era
muito maior do que é hoje. Não sabemos o que ele usou para gastar
esse dinheiro todo, mas iremos descobrir.
— Esse dinheiro é podre, ele está manchado com o sangue do
meu pai.
— Eu sinto muito, muito mesmo. Porém, continua sendo seu...
continua na mesma conta.
Naquele instante, uma ideia surgiu em minha mente. Uma
ideia antiga, e que agora eu poderia colocar em prática.
— Vou doar tudo — afirmei. — Farei uma pesquisa em todos
os orfanatos do Brasil, e irei distribuir esse dinheiro entre os mais
carentes de recursos.
— Tem certeza? — Romeo questionou.
— Eu já faria isso de qualquer forma, com parte do dinheiro.
Mas, agora, sabendo de onde veio, não quero nem um centavo.
— Está bem, se você prefere assim, assim será.
— Como eu não suspeitei de que havia algo errado no
processo da tutela? Sequer me atentei ao fato de a maioridade no
Brasil ser aos dezoito anos.
— Ele fez tudo para que você não desconfiasse, inclusive a
manipulou — Romeo falou ao me apertar ainda mais em seus
braços. — Mas, não se culpe, você é inocente nessa história toda...
você e seu pai.
Meu paizinho.
Só de pensar que se não fosse a maldade humana ele ainda
estaria vivo. De todas as coisas que Marcos fez, ter matado o meu
pai era a pior delas. Ter matado o meu pai e espancado a tia Gisele.
Ambas as situações eram estarrecedoras, e graves, muito graves.
Ele representava um risco muito grande estando foragido.
— Deus! Ele queria que eu me casasse com o Bruno. — Só de
lembrar eu sentia asco. — Para continuar controlando o dinheiro...
que homem sujo!
— Filho da puta! — Romeo disse, enfurecido, somente à
menção do nome do Bruno.
— Tudo isso por ambição, poder...
— A justiça será feita, e não vai demorar.
— Romeo! Você precisa me garantir que não irá fazer nada por
impulso, e nada que possa colocá-lo em risco.
— Fique tranquila, bella. Eu jamais me arriscaria... além do
mais, a justiça que eu me refiro é a do Brasil. Iremos desarquivar o
caso da mineradora, e então será o fim deles.
Eu estava arrasada, porém, me mantive firme, segura. Romeo
me garantiu que a justiça seria feita e que, em breve, todos os
envolvidos na morte do meu pai estariam atrás das grades. Marcos,
Cícero, o juiz corrupto.
Todos eles pagariam pelos crimes que cometeram.
ROMEO CAVALIERI
ISABELA MORAES
ISABELA MORAES
“O amor é paciente, o amor é bondoso. Não inveja, não se vangloria, não se orgulha.
Não maltrata, não procura seus interesses, não se ira facilmente, não guarda rancor.
O amor não se alegra com a injustiça, mas se alegra com a verdade.
Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.”
VENEZA, VÊNETO, ITÁLIA
ROMEO CAVALIERI
ROMEO CAVALIERI
De acordo com o dicionário, redenção é o ato ou efeito de
redimir ou remir, que significa libertação, reabilitação, reparo,
salvação.
O amor que eu senti por Isabela no instante em que a vi pela
primeira vez foi a minha salvação.
Eu demorei, e por muito pouco não perdi tudo. Entretanto,
aprendi que a vingança não vale a pena, o ódio não vale a pena, o
rancor não vale a pena. Tudo isso só nos corrói, e destrói toda e
qualquer possibilidade de sermos felizes.
Havia acabado de chegar na casa do meu pai para buscar
Giordana. Ele e a Gisele, que resolveram dar uma chance ao que
sentiam um pelo outro há tanto tempo, tinham ido buscar Giordana
no balé enquanto eu voltava de uma rápida viagem da Espanha com
Lucca.
Meu pai e eu, depois de tantos anos, finalmente passamos a
ter uma relação de pai e filho. Ele mudou muito depois que tudo
aconteceu... e até os dias de hoje tentava se redimir de alguma
forma, compensar o tempo que perdeu.
Salvatore Cavalieri era apaixonado pelos netos. Um vovô
babão e que os deixava fazer tudo que tinham vontade. Os meus
filhos eram igualmente apaixonados pelo avô, e também pela avó
Gisele. Quase todos os finais de semana Isabela e eu ficávamos
sozinhos em casa, já que eles vinham para cá com bastante
frequência.
Adentrei pelos portões da casa do meu pai, e ele já aguardava
com Giordana. Notei que ele tentava explicar alguma coisa para ela,
e quando saí do carro ainda pude ouvi-lo pedindo que ela
mantivesse segredo.
Seria muito difícil, a minha ameixinha não segurava a língua.
— Papà! — disse e correu na minha direção.
Seu vestidinho rosa e cheio de brilho estava esvoaçante pela
sua empolgação. Abaixei-me para pegá-la e ela pulou em meus
braços, toda feliz. Era minha grudezinha, cópia da mãe. Giordana
seria a responsável pelos meus cabelos brancos, isso era um fato
incontestável.
— Bambina! — Beijei o seu rostinho e em seguida, levantei-me
novamente para cumprimentar o meu pai.
Trocamos algumas palavras e depois que nos despedimos,
segui para a casa com Giordana, onde Isabela, Noah e Paolo nos
aguardavam.
— Papà, o que é segredo? — perguntou, curiosa como a mãe.
— É uma coisa muito importante que alguém conta para você,
mas você não pode contar para ninguém.
— Hum...
— Por quê? — indaguei.
— Porque a mamãe me contou que tem um bebezinho na
barriga dela e me pediu segredo — disse, e, somente após falar a
última palavra foi que ela se deu conta de que havia me contado. —
Ops... — murmurou e colocou as mãozinhas na boca.
Meu coração bateu forte e acelerado com a novidade, e um
sorriso curvou meus lábios. Eu seria pai novamente... a constatação
me deixou sem palavras, mas extremamente feliz.
Ah, Isabela!
Eu sabia que ela estava me escondendo alguma coisa, a
conhecia como a palma da minha mão. Ela ainda me mataria de
tanto amor... e eu não via a hora de chegar em casa e abraçá-la,
abraçar os nossos filhos e ser preenchido por aquele sentimento
único.
Ouro nenhum, fortuna nenhuma no mundo valia mais do que o
amor que eu sentia por Isabela e pelos nossos filhos.
Eles eram a minha vida e eu os amava com tudo de mim.
Para todo o sempre.
FIM
Em 2022
AURUM
A HISTÓRIA DE LUCCA MASERATI
Agradecimentos
Primeiramente a Deus.
À minha família que tanto amo e que sempre me apoia em
todas as minhas decisões.
Às minhas queridas amigas, Eva Oliveira, Luciana Pezzatto e
Mirian Soares que são meus braços direito e esquerdo e estão
sempre dispostas a me ajudar. Obrigada por existirem, vocês são
maravilhosas.
À minha querida amiga, Lara Chaves, que foi um dos
presentes que ganhei nesse mundo literário incrível.
À minha revisora maravilhosa, Lidiane Mastello, que sempre
trata meus livros com muito carinho e dedicação, e, que fez um
trabalho incrível em tempo recorde. Obrigada por tudo.
Às minhas parceiras, blogueiras e donas de IG’s literários, que
me apoiam, divulgam meus trabalhos e abraçaram essa história
com muito amor. Gratidão.
À todas as leitoras que me acompanham e sempre aguardam
ansiosamente por novas histórias.
Muito obrigada.
Notas da Autora
“Vós, que sofreis, porque amais, amai ainda mais. Morrer de amor é
viver dele.”
Victor Hugo
♦♦♦
Com carinho,
NAH CHRISTINE
Outras Obras da Autora
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Solidão.
Esse é o maior medo de Catarina de Albuquerque, de viver eternamente na solidão. Uma
jovem que, ainda criança, teve que aprender a lidar com a dor da perda, do luto e da
saudade. Ela tinha sonhos. Os mais belos. No entanto, todos eles tiveram que ser
esquecidos. Criada por avós extremamente conservadores, ela foi forçada pela sua própria
história a amadurecer cedo demais.
Impiedoso.
É assim que Guilherme Bragança é conhecido no mundo dos negócios por toda a Europa.
Herdeiro da maior indústria siderúrgica de Portugal, ele comanda a empresa da família com
mãos de ferro. Um homem frio, rigoroso, marcado por uma tragédia a qual não é capaz de
superar. Ele está preso no passado. Foi lá que ele enterrou o seu coração. Para sempre.
Os caminhos se cruzarão... já estava predestinado.
E sem que consigam prever, estarão envoltos por uma teia de ambição, inveja e obsessão.
Em meio a tantas incertezas, uma atração inesperada surgirá entre eles.
O poderoso CEO jamais permitirá que os acontecimentos do passado se repitam.
Se for preciso, ele moverá o céu e a terra para manter Catarina protegida, mesmo que isso
custe a sua própria vida.
Até que ponto as nossas escolhas podem interferir no nosso futuro e mudar as nossas
vidas?
Laurel Mitchell é uma mulher admirável, decidida e forte. Nascida em uma família
tradicional de Chicago, retornará para a sua cidade natal após um período morando em
Sydney, na Austrália, onde concluiu sua formação superior e mestrado em psicologia.
Conhecida por seu imenso coração, ela mudará a vida de muitas crianças e adolescentes
através da profissão que escolheu.
Kalel Barton é um homem que sofreu duras perdas, e após uma grande tragédia que
marcou sua vida, passou a se dedicar completamente ao trabalho, se tornando um
renomado investigador da polícia de Chicago. Conhecido por ser um profissional íntegro e
rigoroso, ele não admite nenhum tipo de injustiça e sempre lutará pelo que acredita.
Eles estão focados em suas carreiras e não pensam em relacionamento sério, mas um
encontro mudará o rumo das suas vidas para sempre, fazendo-os perceber que o presente
é consequência de certas decisões que tomaram no passado.
Laurel e Kalel serão capazes de renunciar àquilo que está enraizado em suas essências?
Para essa pergunta, uma única resposta: o amor sempre será a melhor escolha.
O paradisíaco litoral espanhol foi palco de estreia da paixão arrebatadora entre Aline Muniz
e Lucas Ferrari. A bordo de um cruzeiro internacional, eles viveram momentos
inesquecíveis que ficariam para sempre gravados em suas memórias.
A viagem chegou ao fim, mas o que sentiram um pelo outro durante todos aqueles dias,
não. No entanto, agora que estão em terra firme, de volta às suas rotinas, eles irão
perceber que as suas diferenças vão muito além da idade.
Aline deseja conquistar o mundo.
Ela é uma jovem tímida e sem muitas experiências amorosas. Nasceu em uma família de
origem humilde e apesar de todas as dificuldades, se formou com méritos em Pedagogia.
Vive uma vida simples no interior de Minas Gerais com os pais e os irmãos, em um lar
cheio de amor.
Lucas possui o mundo aos seus pés.
Ele é um homem experiente, workaholic assumido, tem compulsão não somente por
trabalho, mas, também, por mulheres. Nasceu em berço de ouro e é um poderoso CEO e
herdeiro da maior da maior indústria farmacêutica do Brasil, com sede na capital de São
Paulo.
Alguns obstáculos surgirão pelo caminho e a atração que os uniu será colocada à prova.
Será que o que eles sentem um pelo outro vai ser forte o suficiente para superar as
dificuldades?
Descubra em “Depois da sedução, o amor”.