Você está na página 1de 434

Copyright 2023 — ©Renata Gonzaga

Todos os direitos reservados.


Criado no Brasil.
Esta é uma obra de ficção. Seu intuito é entreter as pessoas.
Nomes, personagens, lugares e acontecimentos descritos são
produtos da imaginação da autora. Qualquer semelhança com
nomes, datas e
acontecimentos reais é mera coincidência.
São proibidos o armazenamento e/ou a reprodução de qualquer
parte dessa obra, através de quaisquer meios – tangíveis ou intangíveis –
sem o
consentimento escrito da autora.
A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na lei n°.
9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal.
INDICE
INDICE
SINOPSE
PRÓLOGO
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40
Capítulo 41
Capítulo 42
Capítulo 43
Capítulo 44
Capítulo 45
Capítulo 46
Capítulo 47
Capítulo 48
Capítulo 49
Capítulo 50
Capítulo 51
Capítulo 52
Capítulo 53
Capítulo 54
Capítulo 55
Capítulo 56
Capítulo 57
Capítulo 58
Capítulo 59
Capítulo 60
Capítulo 61
Epílogo
Agradecimentos
Sobre a autora
Onde me Encontrar
SINOPSE
CEO Arrogante / Mocinha Virgem / Autoritário /Criança Fofa/ Adoção / Age gap de 12 anos /
Patrão e Empregada

A vida de Gabriela nunca mais foi a mesma desde que passou por uma
cirurgia de retirada de útero, que a deixou impossibilitada de conceber um
filho. Enquanto ela lida com as emoções e os desafios dessa jornada, o
destino reserva uma surpresa: o encontro com Bernardo, um homem que
carrega suas próprias cicatrizes emocionais.

Bernardo, por sua vez, carrega a dor da perda de sua noiva, que estava
grávida quando tragicamente faleceu. Desolado, ele decide fazer uma
vasectomia, acreditando que nunca mais terá a chance de ser pai.
Entretanto, o destino os coloca frente a frente, e a pequena filha de sua
falecida noiva se torna um elo inesperado entre eles.

Gabriela e Bernardo se encontram em um momento em que ambos


estão lidando com suas feridas emocionais. Unidos pela necessidade de
cuidar da pequena criança, eles embarcam em uma jornada de descobertas,
afeto e amor incondicional. Juntos, aprendem a superar seus medos e
inseguranças, formando um vínculo familiar improvável, mas poderoso.

"Uma Mãe Para a Herdeira do Bilionário" é uma história que nos


mostra que a maternidade vai além dos laços sanguíneos, e que o amor tem
o poder de transformar vidas. Prepare-se para se emocionar e se apaixonar
por essa trama de superação, família e o poder dos laços que o destino cria.

Esteja pronto para se envolver e se emocionar com Gabriela, Bernardo


e a pequena Brenda que unirá seus caminhos, em uma história que nos
mostra que a família pode ser construída de maneiras surpreendentes.
PRÓLOGO
Bernardo estava prestes a se casar com a mulher dos seus sonhos, uma bela
morena de olhos castanhos e cabelos compridos.

Há nove meses, Laís descobriu que estava grávida de seu grande amor. Tudo
aconteceu tão rápido e, ao mesmo tempo, foi lindo. Ela já sonhava com o vestido
branco. Por decisão dos dois, resolveram se casar, mas o sonho seria realizado
próximo ao nascimento do bebê que já era tão amado. Faltando um dia para a
chegada do bebê, eles se casariam e passariam a lua de mel no hospital,
aguardando a chegada do novo membro da família.

— Ainda acho isso uma loucura. Você está com apenas três meses de
gestação. Por que esperar tanto tempo? – perguntou a mãe de Laís, indignada com
a decisão.

— Mãe, eu quero passar minha lua de mel com ele e nossa filha. Então,
chega desse assunto – respondeu Laís, encerrando a conversa.

Bernardo mimava a noiva mais do que tudo, prestes a se tornar pai e CEO
da empresa da família, uma grande empresa de tecnologia, o mesmo lugar onde
ele conheceu a tão sonhada namorada.

— Cheguei, amor! – ele gritou da entrada da porta.

A noiva estava no quarto com a mãe, discutindo possíveis nomes para o


bebê.
— Amor, se for menina, se chamará Brenda; se for menino, Benício. Quero
que o nome pareça com o do pai – disse Laís, radiante.

— Aceitarei qualquer nome que escolher, amor – respondeu Bernardo,


abraçando a noiva e acariciando sua barriga, que ainda não estava visível.

No dia seguinte, Laís foi para a consulta com o ginecologista/obstetra que


acompanhava sua gestação.

— Sua pressão está alta. Controle o consumo de sal, ou poderá ter sérios
problemas na gestação – alertou o médico.

Laís saiu de lá com a cabeça cheia de preocupação. O que ela faria para não
prejudicar o bebê?

Meses depois, chegou o grande dia. Após enfrentar dias difíceis com a
pressão descontrolada, Laís finalmente se casaria e logo seguraria a pequena
Brenda em seus braços.

— Mamãe, não estou me sentindo muito bem – disse Laís, olhando-se no


espelho. Seu vestido branco de renda estava perfeito em seu corpo, mesmo com
a barriga de grávida à mostra.

— Calma, filha. É apenas nervosismo – a mãe tentou acalmar.

O bebê em sua barriga não parava de se mexer. O futuro marido já a


esperava no altar, mas Laís não estava se sentindo bem.

— Ligue para o Bernardo e diga que não estou me sentindo bem – insistiu.

— Vou buscar um copo de água e volto em seguida.

A mãe de Laís saiu do quarto, deixando a filha andando de um lado para o


outro. Quando a mãe retornou, encontrou a filha desmaiada no chão, sem saber
o que fazer.
Eugênia ligou para uma ambulância e, logo em seguida, os paramédicos
chegaram. Ela não sabia como dar a notícia ao genro, mas ligou para ele de
qualquer maneira. Quem atendeu foi seu irmão mais novo, que era padrinho do
casamento. Após receber a notícia, os familiares correram para o hospital, onde
Laís havia sido levada às pressas.

Ao chegar no hospital, Bernardo se deparou com a mãe de Laís chorando e


conversando com o médico.

— Onde ela está? O que está acontecendo com minha noiva? – perguntou
Bernardo, em estado de choque.

— Sinto muito – disse o médico, balançando a cabeça em negação.

— Como assim? Conversamos hoje de manhã, ela estava bem! – exclamou


Bernardo, incrédulo.

— Laís apresentou um quadro grave de pressão alta. Ela estava tomando


medicamentos e, com a ansiedade do casamento, desenvolveu eclâmpsia –

explicou o doutor. Bernardo caiu de joelhos no chão, o choro era mais forte do
que ele.

Após alguns minutos de choro compulsivo, o médico falou novamente:

— Conseguimos salvar sua filha. Ela está na UTI neonatal, mas poderá ir para
casa daqui a três dias – O médico se afastou, deixando a família desolada.

Ao ver seu grande amor sendo enterrada, algo dentro de Bernardo morreu.
Parecia que seu coração estava no caixão junto com a amada.

Ele voltou ao hospital para levar a pequenina para a casa de seus pais. Sua mãe o
ajudaria a cuidar da recém-nascida.
— Como assim eu não vou assumir a presidência? – perguntou furiosamente
ao pai.

— Filho, você não está em condições de cuidar de uma empresa agora –

disse o pai, mantendo a calma.

— Pai, eu preciso disso. Preciso me distrair – protestou Bernardo.

— Quando Brenda completar cinco meses, poderá assumir, mas até lá, cuide
de sua filha. Nada faltará para você. Você é um homem privilegiado, filho –

respondeu o pai, colocando a mão no ombro do filho.

— Como pode dizer isso depois do que aconteceu? Eu perdi minha mulher
– disse o filho, indignado.

— E ganhou uma filha. Não reclame da sorte, filho. Existem pessoas que
passam por coisas muito piores e ainda mantêm a cabeça erguida – concluiu o pai,
enquanto o filho se afastava, deixando-o falando sozinho
Capítulo 1
Dez anos depois

Meu nome é Gabriela, sou formada em pedagogia e filha única. Cuidar do


meu pai, que está lutando contra um câncer terminal no estômago, tem sido uma
parte significativa da minha vida. Apesar de parecer uma princesa, minha vida
nunca foi um conto de fadas. Meu pai lutou muito para me criar depois que minha
mãe me abandonou aos dois anos de idade. Enquanto trabalho para manter nossa
casa em ordem, meu pai recebe cuidados das nossas vizinhas. Com apenas vinte
e três anos, carrego a responsabilidade de chefe de família. Tudo o que desejo é a
saúde do meu pai, e mesmo diante das dificuldades, tento sempre ser feliz. Nasci
e fui criada em Nova York.

— Vou me atrasar novamente para o trabalho hoje.

— Filha, coma devagar, ou vai acabar como eu, com câncer no intestino –

meu pai fala sentado.

Somos de classe baixa, e com muito esforço consegui me formar em


pedagogia. Trabalhei em dois lugares: durante o dia, em uma lavanderia, e à noite,
em um bar próximo da minha casa. Não foi fácil, mas consegui. Ganho pouco mais
de dois salários e, se continuasse trabalhando nos dois lugares, com certeza
ganharia melhor. Pago o aluguel da nossa casa, água e energia, além de um
empréstimo que tive que fazer para concluir a faculdade. Meu pai cuida das
compras e dos remédios dele. Ele foi diagnosticado com câncer no estômago
alguns meses atrás, e ainda não consigo me acostumar com essa ideia. É tão
deprimente vê-lo cada dia mais fraco. As comidas dele precisam ser batidas no
liquidificador. Todas as manhãs acordo com medo de não vê-lo vivo novamente.
Essa ideia me apavora.

— Eu tenho que ir, vou pegar o ônibus ainda, pai. Qualquer coisa, me ligue.
– falo pegando meus livros que estavam em cima da mesa.

— Se cuide e coma direito. – ele fala assim que saio de casa.

— Oi dona Lurdes, como estão seus netos?

— Estão bem, filha. E seu João?

— Está bem, estou atrasada. – dou passadas largas até o ponto de ônibus.

O ônibus está parado. Corro até ele e entro.

— Atrasada de novo?

— Obrigada, seu Francisco. Prometo acordar mais cedo amanhã. – falo e


sento no banco da frente.

Seu Francisco é amigo do meu pai. Ele sabe o que enfrento todos os dias
para estar aqui de pé pela manhã. Eu não conheço minha mãe. Ela foi embora
quando eu tinha dois anos. Papai foi quem me criou. Estou com vinte e três anos
e não faço mais questão de conhece - la. Até agora, isso não me afetou. Depois de
uma hora no ônibus, finalmente chego à escola. Dou aulas em uma escola
particular. A mãe de uma amiga me arrumou esse trabalho. Não é o trabalho dos
sonhos, mas pelo menos não passamos necessidade.

— Obrigada, seu Francisco. Hoje à noite é lá em casa. – falo ao descer do


ônibus, só então percebo que a frase ficou meio contraditória. – o jantar, gente –
tento explicar.
Saio rapidamente dali e caminho mais alguns metros para chegar à escola.
Os alunos já estão adentrando o prédio, um carro passa bem perto de mim, até
demais.

— Seu filho da puta, não vê por onde anda não?

Xingo.

Uma menina morena de cabelos longos sai de dentro do carro.

Ela entra na escola e o carro se vai. Entro na escola também e vou para a
minha sala. Hoje de manhã, tenho duas aulas seguidas de biologia e, depois, uma
de física. À tarde, tenho que fazer o cronograma escolar. Hoje o dia será longo.

Os alunos já estão na sala, a maioria em silêncio.

— Bom dia, turma – falo olhando para eles.

— Bom dia. Respondem em uníssono. – dou aula para uma turma de


crianças de dez a doze anos.

Vejo a menina que chegou no carro que passou bem perto de mim.

— Você?

Ela me olha assustada.

— Eu?

Ela pergunta, olhando para todos na sala.

— Sim, você é nova aqui, certo?

Pergunto.

— Sim, eu estudava em outra escola. – ela fala sem graça.

— Qual é o seu nome?

— Brenda Lumière. – ela fala, e tento lembrar de onde já ouvi esse nome.
— Muito prazer, Brenda. Meu nome é Gabriela, e vou dar aula de biologia e
física para você. Espero que se sinta bem aqui conosco. – falo e volto a ficar atrás
da mesa.

Dou início à aula.

— Obrigada, professora, por me receber tão bem. – a aluna nova fala depois
que todos já saíram.

— Sentiu - se bem?

Pergunto.

— Sim, foi uma das melhores aulas que já tive. – ela fala animada.

— Fico feliz que tenha gostado – falo.

— Desculpe-me, mas da próxima vez, xingue um pouco mais baixo – fico


vermelha como um tomate.

— Você...

Ela me interrompe.

— Sim, eu ouvi. – ela diz e sai da sala sorrindo, essa pestinha.

Terminei minhas aulas e fui para a sala dos professores. Meu celular
começou a tocar, peguei rapidamente com medo de ser algo relacionado ao meu
pai.

O nome da Sandra aparece com frequência na tela. Nos conhecemos na


escola. Ela não quis fazer faculdade, pois sempre sonhou em ter seu próprio
negócio. Aos vinte e dois anos, ela conseguiu. Sandra é da minha idade e, há três
anos, possui uma loja onde vende bolos de todos os tipos. Ela está prestes a abrir
outra loja. Fico muito feliz em ver o sucesso dela. É tão bom realizar nossos
sonhos.

— Por que demorou tanto para atender?

— Desculpe, amiga. Estou fazendo o cronograma da minha próxima aula.

— O que vai fazer hoje?

— Depois que eu sair?

— Claro, essa escola faz mal para você.

— Para, você sabe que eu gosto do meu trabalho.

— Passe aqui quando estiver indo para casa. Vou levar um bolo para o meu
pai e te dou carona.

— Adoro suas caronas.

— Sua idiota.

— Tchau, beijo.

Desligo o celular assim que vejo o professor Samuel entrar. Ele é muito
bonito, mas infelizmente é casado. Fazer o quê se os melhores partidos são
casados?

—Oi, Gabriela. Ele me cumprimenta.

—Oi, Samuel. Volto a me concentrar no meu trabalho.

Olho para o relógio e já passa das duas da tarde. Meu estômago reclama da
falta de alimento. Já perdi três quilos em uma semana e meia. Não tenho me
alimentado bem. Meu pai não sai da minha cabeça, e isso tira meu apetite. Tenho
tanto medo de receber a notícia de que ele se foi. Como não consigo pagar alguém
para cuidar dele, minhas vizinhas me ajudam. Maria sempre está lá, preparando
a comida para ele, e a Nice me ajuda com a casa. Dou aula três vezes por semana
de manhã e duas vezes por semana à tarde. Amanhã será à tarde.

Termino o que estava fazendo, junto meus materiais, pego minha bolsa e
saio da sala dos professores.

Caminho cerca de um quilômetro até chegar à loja de bolos da Sandra.

— Cheguei – aviso.

— Até que enfim. Pensei que tinha ido embora – ela fala vindo me abraçar.

— Você sabe que eu nunca iria rejeitar essa carona – ela me olha feio e
depois sorri.

— Nossa, amiga, cadê aquele corpinho seu? Está ficando muito magra. – ela
me avalia de cima a baixo.

— Está indo pelo ralo – falo ao sentar.

Fui líder de torcida por dois anos seguidos, mas saí quando descobri minha
doença. Felizmente, meu caso teve cura, mas meu pai não teve a mesma sorte.
Ainda espero por um milagre.

—Vamos?

Falo, desviando meus pensamentos para algo melhor. Não gosto muito de
pensar sobre meus problemas passados. Isso não vai afetar minha vida. Sempre
penso nisso quando acordo.
Capítulo 2
Chego à empresa e entro. Todos os funcionários fingem que não me veem e
sigo para o elevador. Ele se abre e duas funcionárias saem gargalhando. Assim que
me veem, elas param de rir e desviam o olhar. Entro no elevador e aperto o botão
do vigésimo andar. Leva alguns minutos até a porta se abrir.

— Bom dia, se...

A interrompo.

— Quero o relatório da reunião passada na minha mesa e minha agenda


para hoje — falo sem dar a ela a chance de terminar sua fala.

— Sim, senhor. – Abro a porta e a fecho, deixando a garota constrangida.


Ela trabalha para mim há um mês e ainda não se acostumou? Bando de
incompetentes.

Tiro meu paletó, afrouxo a gravata, pego o uísque e sirvo uma dose no copo.
Sento na cadeira atrás da mesa e ligo o computador.

O dia passa rápido, como sempre. Desde a morte de Laís, eu me afundei no


trabalho. Tento não lembrar muito do que aconteceu, isso só me machuca ainda
mais. Na verdade, acho que tudo dentro de mim está morto, até mesmo minha
filha, a quem eu deveria amar e cuidar mais do que tudo, eu não tenho feito isso.
Eu a amo muito, mas sempre que olho para ela, vejo o quanto ela se parece com
a mãe, e isso me deixa furioso. Deus foi tão injusto quando a levou de mim.

— Aqui está, senhor. — a garota fala abaixando a cabeça.

— Quem mandou você entrar?

Pergunto com raiva.

— Eu bati na porta cinco vezes, senhor, então entrei para entregar os


relatórios. — Ela fala assustada.

— E se eu estivesse nu? Diriam que eu estava te assediando, não entre na


minha sala sem permissão, entendeu?

Grito, fazendo—a dar um pulo para trás.

— Sim, senhor. — Ela responde encolhida.

— Pode sair, Ester. — Meu irmão fala por trás da garota assustada.

— O que pensa que está fazendo?

— Evitando que você faça besteiras, seu infeliz. — Meu irmão me enfrenta,
e a garota sai correndo da minha sala.

— Você pensa que é quem para falar assim comigo?

Esbravejo.

— Meu querido irmão mais velho e mais sem noção. A garota não fez nada
para você descarregar sua raiva nela. — Ele fala e senta na cadeira, ficando de
frente para mim.

— Que ótimo — murmuro.

— Deveria procurar alguém, isso deve ser falta de sexo. — Ele fala, e eu me
sento na minha cadeira.
— Eu não sou como você, seu pervertido. Agora saia da minha sala, que
tenho muito o que fazer. — Ele faz pouco caso.

Bruno fica ali como se eu não tivesse dito nada. Às vezes, o jeito dele me
irrita muito, mas finjo que ele não está aqui. Não preciso de mais um motivo para
ficar com raiva pela manhã.

Ele fica até dizer que está com fome e vai embora. Quando já passa das onze
e meia, saio para almoçar.

— O de sempre, por favor. — Peço ao garçom sem nem olhar o cardápio. Há


dez anos como neste mesmo restaurante, que está cada dia mais sofisticado, mas
eu continuo comendo bife com batatas fritas e salada. Era a comida favorita dela,
uma porção de batatas com uma porção de salada, o equilíbrio perfeito, como ela
costumava dizer.

Fico olhando as pessoas passarem do lado de fora do restaurante. Às vezes,


a saudade dela vem mais forte e me consome por dentro.

Quando a comida chega, começo a comer devagar. A fome passou, vou


comer só para não ter que sair mais cedo da empresa. Deixo algumas batatas fritas
no prato e uma rodela de tomate. O bife eu quase nem toquei. Lembrar dela me
faz perder o apetite.

— Pode trazer a conta para mim, por favor?

O garçom logo traz a conta. Pago e saio dali. Fica um pouco longe da
empresa, mas gosto de caminhar até aqui.

Chego à empresa e vou direto para a minha sala. Como sempre, todos vão
embora, e eu fico sozinho na sala. As luzes já foram apagadas, exceto as da minha
sala. Continuo digitando o formulário de inscrição para novos aprendizes. Aqui na
empresa, temos um programa para contratar cinco novos aprendizes. Fazemos
isso uma vez por ano e temos vagas para vinte pessoas, mas apenas cinco serão
selecionados para trabalhar aqui. Eu adaptei essa ideia na empresa e achei muito
boa. Há muitas pessoas inteligentes que não são reconhecidas.

Saio da empresa já passando das nove e meia da noite. O trânsito está


calmo, e logo chego em casa. As luzes estão apagadas. Brenda, nessa hora, já deve
estar dormindo. Vou até o quarto dela e abro uma pequena fresta da porta. Ela
está deitada de costas, virada para a porta. Todas as noites, quando chego, ela
está assim. Saio cedo o suficiente para não vê-la acordada e chego tarde o
suficiente para que já esteja dormindo. Moramos com meus pais até ela
completar dois anos. Depois, decidi que era hora de termos nossa própria casa.
Comprei uma casa não muito longe da casa dos meus pais. Depois que ela chega
da escola, Brenda vai para a natação e depois para a aula de música. Seu dia é
sempre muito cheio.

Vou para o meu quarto, tomo um banho e deito na cama usando apenas
uma cueca boxer. Logo adormeço.
Capítulo 3
Já faz um mês desde que Brenda entrou na minha turma, e ela está se
adaptando bem. Agora ela se tornou minha amiga. Meu pai teve uma piora
recentemente e está no hospital. Então, tenho alternado meu tempo entre
a escola e o hospital. Hoje, temos uma reunião de pais e professores.

— A reunião vai começar. — Samuel fala colocando a cabeça para


dentro da sala dos professores.

— Obrigada, já estou indo. — Falo olhando para ele.

Ele sai e fecha a porta. Respiro fundo e fecho o notebook que ganhei
de presente da Sandra.

— Boa tarde. — Falo entrando na sala. Quase todos estão presentes,


só falta a diretora.

Pouco tempo depois, ela chega e a reunião é iniciada. Falamos sobre


os planos de estudo, as viagens que faremos durante o ano para uma
fazenda de plantações agrônomas, as provas e, por fim, o desempenho dos
alunos.

—Minha filha entrou há pouco mais de um mês. Ela está tendo o


mesmo desempenho dos outros alunos?
Um dos pais pergunta. Enquanto mostro as fotos no slide da viagem,
procuro pelo pai em questão.

— O senhor é pai de...? — Ele me interrompe.

— Da Brenda Lumière. — Senhor Amado, que homem perfeito é esse?


Perdi até o fôlego. — respira, Gabi — mentalizo.

— Ela certamente tem grandes chances de ter um desempenho tão


bom quanto os outros. Ela é muito esforçada e inteligente. — Falo, tentando
me recompor.

— Ótimo. Não pago tanto nessa escola para que ela tenha um
desempenho ruim. — Ele fala de forma arrogante.

— Que ótimo, um troglodita. — Balbucio virando de costas.

— O que você disse? — Ele pergunta.

Merda.

— Eu disse que é ótimo ver um pai preocupado com a filha. — Faço


um sinal com as mãos.

Mil vezes merda.

— A reunião está encerrada. Por favor, deixem suas assinaturas com a


coordenadora. Agradeço a compreensão de todos.

Estava prestes a sair quando a diretora me chama.

— Você não, senhorita Kepner. — merda.

Vejo todos os professores e pais saindo da sala. Através do grande


vidro da sala, vejo o pai de Brenda me olhando — eu heim, que cara louco.
— Senhorita Kepner, esse tipo de comportamento é intolerável aqui.
Na próxima vez, não será apenas um aviso. Tenha modos da próxima vez.
Agora pode ir. — ela fala, e eu saio rapidamente da sala.

Chego em casa e vou direto para o banheiro. Hoje não terei tempo de
visitar meu pai antes do trabalho, mas à noite, vou dormir lá. Hoje vou
trabalhar à tarde e amanhã será no turno da manhã, então já levo minhas
roupas e fico lá mesmo.

— Ai, pai. Espero que você me dê esse trabalho por bastante tempo e
forças para continuar. — Falo, pegando as roupas que vou levar para o
hospital.

Pego minha bolsa e saio de casa.

— Oi, menina. — Maria fala da janela.

— Oi, Mar. — ela mora em frente à minha casa.

— Como está aquele velho rabugento?

Sorrio.

— Ele está melhorando. A infecção está sendo controlada com os


antibióticos. A previsão é que ele saia na próxima semana. — falo, animada.

— Vai dar tudo certo, menina. Agora vá, filha, para o seu trabalho. —
mando um beijo para ela e sigo para o ponto de ônibus.

Maria se tornou uma mãe para mim. Ela esteve ao meu lado nos
momentos mais difíceis, assim como Sandra, que sempre me apoiou. Maria
não teve filhos, seu marido era estéril, e eles não conseguiram adotar uma
criança porque não tinham uma boa casa e uma renda suficiente. Seu
marido faleceu há cinco anos. Ele trabalhou por trinta anos em um
frigorífico, enquanto ela cuidava da casa devido a um problema na coluna.
Quando minha mãe me abandonou com meu pai, que era mecânico na
época, ela se ofereceu para cuidar de mim enquanto ele trabalhava. Ele não
ganhava muito, mas conseguia pagar um pouco a ela com parte do seu
salário. Geralmente, ele pagava em alimentos, pois era a forma como ela
aceitava.

Ela e seu marido faziam as refeições na minha casa, e era assim que meu pai
se sentia bem, sem achar que estava devendo algo a eles.

Vejo o ônibus chegando.

— Boa tarde, seu Francisco. — falo.

—Boa tarde, menina. E seu pai, como está?

Ele é um senhor de sessenta e três anos, amigo do meu pai há muito


tempo. Meu pai sempre arrumava o ônibus para ele.

— Ele está bem melhor. A previsão é que ele saia na próxima semana.
— falo.

— Maravilha. Estou com saudade daquela sua torta de carne seca. —


ele gargalha.

— Assim que ele sair, eu faço. — sento no banco da frente, como de


costume.
Depois de uma hora, finalmente chego à escola. Vou para a sala dos
professores e ligo meu notebook. Edito os trabalhos que vou passar hoje e
sigo para a sala de aula.

— Boa tarde. — falo animada.

— Boa tarde. — eles respondem em uníssono.

— Hoje vamos falar sobre ecossistema, um assunto um pouco


diferente da aula passada.

Eu me esforço ao máximo para que eles gostem da aula. Não é apenas


assistir, eles precisam gostar de estar na aula. A maioria dos alunos vem
porque são obrigados pelos pais, principalmente nessa idade. Eu já passei
por isso e sei que a maioria das aulas é bem chata. Por isso, faço o possível
para tirar um pouco da seriedade do assunto e diverti-los um pouco.

As horas passam rapidamente. Os alunos que participaram da aula,


respondendo às perguntas, gostaram bastante. Alguns reclamaram porque
não tivemos tempo de ouvir as respostas de todos.

— Na próxima vez, vou incluir aqueles que não tiveram a chance hoje.
— falo, e eles comemoram.

Foi minha última aula do dia. Os alunos saem em filas, e eu junto meu
material e vou para a sala dos professores.

— Você já está indo?

A diretora Forbes pergunta.

— Sim, vou dormir no hospital com meu pai. — falo.

— Gabi, você não quer tirar uns dias de folga para cuidar dele?
Fecho meu armário e olho para ela.

— Diretora, eu não posso me dar ao luxo de fazer isso. Se eu fizer o


que está me oferecendo, não terei uma casa para morar. Então, não preciso
de férias, preciso de um aumento generoso. — ela gargalha.

— Tudo bem. — ainda bem que ela não levou isso a sério, embora ela
pudesse considerar o aumento. Mas isso não depende dela, e sim do
governo.

E lá vou eu novamente. Pego minha bolsa e sigo para o hospital.


Capítulo 4
— Você vai sim, ela é sua filha e você tem que começar a participar da
vida dela.

Minha mãe grita do outro lado da linha.

— Eu não posso largar meus compromissos para ir a uma reunião


escolar. —falo com raiva.

— Bernardo Lumière, você não me faça ir aí para lhe dar umas


palmadas. Quando você fez essa menina, você ficou todo contente. Agora,
aja como um pai e vá à reunião.

Ela desliga o celular, me deixando ainda mais frustrado. Pego o


telefone e ligo para a minha secretária.

— Cancele minha reunião.

Pego minha maleta e saio da sala.

— Mas, senhor...

Não espero ela terminar de falar e entro no elevador.

Brenda foi transferida da outra escola porque não estavam ensinando


corretamente para ela. Já faz um mês que ela está nessa nova escola, mas
eu não sei bem onde fica. O motorista que sempre a leva também vai me
levar. Gosto de dirigir para espairecer, ou caminhar quando não é muito
longe da empresa.

—Chegamos, senhor. — ele fala, parando o carro.

Ele vem até a porta e a abre para mim. Coloco meus óculos escuros e
desço do carro, arrumo meu paletó e respiro fundo. Ouço algumas mulheres
suspirando ao olhar para mim.

Eu sempre gostei de cuidar de mim, fazer caminhadas e ir à academia.


Quando tenho insônia, vou para a academia que tenho em casa.

A diretora vem me receber.

—A reunião está prestes a começar. — ela fala, mostrando o caminho.


Ando devagar pelo corredor. Estou passando em frente a uma sala
quando alguém me chama a atenção. Não consigo ver o rosto dela, mas ela
está sentada olhando algo no computador. Parece preocupada, sua mão na
testa indica que as coisas não estão indo do jeito que ela esperava. Eu
poderia ficar mais tempo ali olhando para aquela mulher, talvez até
conseguisse ver seu rosto, mas um homem chega e põe apenas a cabeça
para dentro da sala. Ela olha para ele e faz um sinal com a cabeça. Ele fecha
a porta e é minha deixa para seguir meu caminho.

Sento em uma das cadeiras. A sala de reunião é bem espaçosa. Pego


meu celular e vejo uma chamada perdida da minha mãe. Finjo que não vi e
coloco o celular novamente no bolso. Olho para a frente quando uma voz
suave começa a conversar. Ela explica como será o ano letivo dos alunos, as
atividades, os trabalhos e o passeio no meio do ano, que ainda não sei se
será possível que Brenda vá, por ela ter muitos afazeres no decorrer da
semana. Só agora que meus olhos focam na mulher, percebo que é a mesma
da sala anterior.

— Minha filha entrou há pouco mais de um mês. Ela está tendo o


mesmo desempenho dos outros alunos? — pergunto.

— Professora Kepner pode responder?

— O senhor é pai de...?

A interrompo.

— Da Brenda Lumière. — falo.

— Ela com certeza tem grandes chances de se sair tão bem quanto os
outros. Ela é muito esforçada e inteligente. — ela fala sem graça.

— Ótimo, não pago tão caro nessa escola para ela ter um péssimo
desempenho. —falo arrogante.

— Que ótimo, um troglodita. — ela balbucia, mas minha audição é


perfeita.

— O que falou?

Pergunto, cruzando os braços. — Que professora abusada. — penso


comigo mesmo.

— Falei que é ótimo ver um pai preocupado com a filha. — ela faz um
sinal engraçado com as mãos.

Fico olhando para ela de cima a baixo. Não consigo evitar ter
pensamentos impróprios sobre ela. Não vi nenhuma aliança em seu dedo.
A diretora encerra a reunião. Antes de sair da sala, consigo ouvir a
diretora chamando o nome dela. Saio da sala e fico observando-a de longe.
Nossos olhares se cruzam e ela rapidamente desvia o olhar.

Saio da escola com a imagem dela em minha mente. — Meu Deus, o


que estou pensando?

—Volte para a empresa. — falo para o motorista, e ele nos leva de


volta.

Durante o dia, comi apenas uma barra de cereal. Tive duas reuniões
por videoconferência. Quando a última reunião acaba, desato o nó da
gravata, respiro fundo e me encosto na cadeira. Aquela mulher ocupou
meus pensamentos o dia todo. Desde a morte de Laís, nenhuma outra
mulher teve espaço em meus pensamentos. O que há de diferente nela?
Apesar de as duas terem alguma semelhança, com cabelos castanhos na
altura da cintura e olhos perfeitamente desenhados, além de corpos bem
esculpidos, Laís tinha alguns quilos a mais, o que tornava seu corpo ainda
mais bonito. Como sinto falta dela. Olho no relógio e já passa das cinco. Sem
pensar duas vezes, junto minhas coisas e saio da empresa. Hoje, quero jantar
em casa.

— Pode ir para casa. — falo para o motorista.

O trânsito está caótico. Depois de uma hora preso em um


engarrafamento horrível, finalmente chegamos em casa.

— Não vou precisar dos seus serviços hoje. Pode descansar. — falo e
saio do carro.
Entro em casa, e Brenda está sentada no tapete da sala com os
cadernos em mãos. Assim que ela me vê, abaixa o olhar. Parece ter medo de
mim.

— Oi, filha. — falo, colocando minha maleta na mesa de centro. Sento


no sofá e olho para ela.

— Oi, papai. — ela fala, sem me dar muita atenção.

— Já jantou? — pergunto.

— Ainda não está pronto. Assim que jantar, vou me deitar. — ela fala,
de cabeça baixa.

— Filha — ela olha para mim, apreensiva — Por que está assim? —
pergunto.

— O senhor quer brigar comigo? — ela me olha com os olhos


marejados.

— Por que eu faria isso?

Uma lágrima escorre do seu olho.

— O senhor foi à reunião da escola e agora chegou cedo. O senhor


nunca chega cedo do trabalho. — sinto o peso de suas palavras.

Sempre fui muito distante da minha filha. Até mesmo chegar em casa
mais cedo causa medo nela.

— O quê? Não, princesa, eu fui sim à reunião, mas só recebi


comentários maravilhosos sobre você. Eu quis vir jantar com você hoje.

Ela enxuga a lágrima e um pequeno sorriso aparece em seus lábios.

— Sério?
Me aproximo dela e coloco uma mecha de seu cabelo atrás da orelha.
Nossa, como ela se parece com a mãe.

— Sim, meu amor. Agora, vou tomar um banho e daqui a pouco desço
para jantarmos juntos. — falo, e ela sorri.

Subo para meu quarto e vou direto para o banheiro. Tiro minha roupa
e entro debaixo do chuveiro. A água morna deixa o box embaçado.

— O cheiro está muito bom. — falo, sentando à mesa.

Brenda senta a duas cadeiras de distância de mim.

— Sente-se mais perto, filha. — falo, e ela se muda para a cadeira ao


meu lado.

Ruth nos serve e depois volta para a cozinha.

— E o que está achando da sua nova escola?

— Gostei muito de lá, na verdade, mais do que da outra. — ela fala


animada.

— E as professoras, gostou de alguma? — pergunto.

— São todas muito legais, mas de todas, eu gostei mais da Gabriela.

Busco na mente quem seria essa.

— Que bom, mas quem é Gabriela? — pergunto, levando um pedaço


de brócolis até a boca.

— Você deve tê-la conhecido lá. Ela me dá aulas de biologia e física.


— ela fala, cortando um pedaço do bife.

— Este é o sobrenome dela?

— Desculpa, papai. — ela fala, baixando a cabeça.

— Desculpar o quê, filha?

— Ela me pediu para chama-la pelo nome. Disse que não gosta de
formalidades. O nome dela é Gabriela Kepner.

Ela fala, de cabeça baixa. Uma das coisas que exijo da minha filha é
que sempre trate as pessoas pelo sobrenome. Foi assim que minha mãe me
educou, então tento transmitir isso para minha filha.

— Se foi um pedido da sua professora, então não precisa se desculpar


comigo. Está tudo bem.

Acalmo ela.

— Amanhã, vou leva-la para a escola. — falo, e ela me olha de forma


engraçada.
Capítulo 5
O hospital fica um pouco mais próximo da escola, então consegui
chegar um pouco mais cedo.

— Bom dia. — falo, entrando na sala dos professores.

— Bom dia. — eles respondem em uníssono.

— Acordou de bom humor, Gabi? — Samuel pergunta, com um sorriso


de lado.

— Meu pai terá alta amanhã, mais cedo do que eu esperava. Então
sim, amanheci de bom humor. — falo.

— Que coisa boa, espero que ele fique bem. — ele fala e sai da sala.

— Sem querer me intrometer, mas já me intrometendo, acho melhor


cortar relações com ele. A esposa dele adora uma briga, e se fosse você, não
daria motivos para uma demissão.

Uma das professoras me alerta. Nós duas não conversamos muito,


mas ela sempre é simpática comigo.

— Sério?
— A mulher dele não bate muito bem da cabeça. Ela vê coisas que não
acontecem. — ela fala e pega a bolsa.

— Farei o possível para me afastar dele. — falo, pensando na


possibilidade disso acontecer. Não seria nada bom para minha imagem.

Saio da sala dos professores com os braços cheios de livros e


segurando um copo de café quente.

Malabarismo nunca foi meu ponto forte. Sem falar que até mesmo um
copo de café eu derrubo facilmente. Estou andando devagar e olhando para
as minhas mãos quando, sem querer, acabo batendo de frente com alguém.
Todo o café cai no meu corpo. Sinto o líquido quente queimar minha barriga.

— Tá quente, tá quente.

Solto todos os livros no chão e, sem pensar duas vezes, tiro minha
blusa, ficando apenas de sutiã.

— O que está acontecendo aqui?

Ouço a voz da diretora por trás de mim. Merda.

Olho ao redor, vários alunos e professores estão olhando para mim.


Coro ferozmente. Olho para a pessoa ao meu lado, e é... O pai da Brenda.
Ela está ao seu lado, me olhando com a mão na frente da boca. O homem
está fixado olhando para meus seios.

— Eu quero uma explicação, senhorita Kepner. — a diretora fala, e


meus olhos se enchem de lágrimas.

Sinto algo ser colocado em meu corpo. Olho e é o paletó do senhor


Lumière.
— Perdão, diretora. Eu estava olhando no celular e acabei batendo de
frente com a senhorita Kepner, e o café queimou seu corpo. Se não for pedir
muito, queria compensar levando—a para casa. Essa queimadura pode
piorar.

Ele fala, e olho para ele rapidamente.

— Sim, claro, senhor Lumière. Ela está liberada por hoje. — a diretora
fala e olho para ela.

— Por favor, senhorita Kepner, deixe-me recompensá-la por meu


descuido.

Ele fala de uma forma sexy. Se eu não fosse virgem, com certeza eu me
entregaria facilmente a ele.

— Eu estou bem.

Me abaixo para pegar meus materiais. Alguns dos trabalhos que fiz
ficaram perdidos por causa do café que caiu neles. Terei que passar mais
duas horas para imprimir tudo. Minha impressora está uma porcaria, e
tenho que passar duas horas para conseguir trabalhos sem defeitos.

— Eu insisto. — ele fala e me estende a mão.

— Aproveite, senhorita Kepner, e vá ver seu pai. Soube que ele terá
alta amanhã.

Fuzilo a diretora com o olhar. Que velha safada.

— Senhor Lumière, agradeço, mas não posso ir. Tenho muito trabalho.
Se puder esperar alguns minutos, logo eu devolvo seu paletó. — falo,
olhando nos seus olhos.

Ele é lindo. Pena que não é para o meu bico.


— Está liberada hoje, senhorita Kepner. Não tem nada a fazer aqui. —
a diretora fala e sorri para o senhor Lumière.

— Ok. — falo, arrumo minhas coisas, vou para a sala dos professores
e entro no banheiro.

— Merda, o que eles pensam que estão fazendo? Ela está me


entregando de bandeja para aquele homem. Eu já sei que ele não é casado,
porque a Brenda me disse que sua mãe morreu no dia em que ela nasceu.

Mas um homem do seu nível nunca iria querer algo comigo. Então, o que ele
quer insistindo em me levar para casa?

Pego minha blusa e começo a passar o sabão líquido que sempre


carrego em minha bolsa. A mancha de café não vai sair apenas com isso, mas
pelo menos não ficará cheirando a café, e sim a lavanda. Tiro o paletó do
meu corpo e olho para minha barriga.

— Isso com certeza vai deixar uma cicatriz. Nossa, como dói.

Algumas lágrimas escorrem do meu rosto. Ainda bem que aqui tem
um chuveiro. Termino de tirar minha roupa e entro debaixo da água fria. A
água alivia um pouco a ardência, mas ainda não para de doer. E eu não posso
me dar ao luxo de pedir alguns dias de folga, porque pode ser descontado
do meu salário.

Termino de me lavar e visto a roupa que estava usando ontem. Pego


minhas coisas e saio da sala dos professores. Algumas lágrimas escorrem do
meu rosto, porque está cada vez mais ardendo.

— Vamos? — me assusto.
— O que faz aqui? — ele está encostado na parede, com os braços
cruzados.

— Está chorando?

Ele se aproxima de mim e seca uma de minhas lágrimas. Sua pele é tão
quente. Eu poderia ficar o dia todo sentindo sua mão em meu rosto. Mas
algo me faz acordar para a realidade, e tiro sua mão rapidamente do meu
rosto.

— Eu estou bem, não precisa se preocupar. — tento parecer forte.


— Eu sei que queimou sua barriga, me deixe te ajudar. — ele fala, com
a voz suave.

Olho para frente, e a diretora está nos observando.

— Não preciso de ajuda, estou bem. Agradeço por não ter feito
nenhuma reclamação com a diretora. Já foi o suficiente.

Começo a caminhar pelo corredor e sinto sua presença atrás de mim.


O que esse cara quer? Sendo quem ele é, poderia pegar até mesmo a Gisele
Bündchen, se ela fosse solteira, claro.

Samuel vem até mim e segura meu braço.

— Eu soube o que aconteceu. Você está bem? — ele pergunta,


olhando para mim.

— Sim, a diretora me liberou. Então, vou para casa e depois para o


hospital. — falo, e percebo que o senhor Lumière está nos observando com
um olhar feroz.

— Melhoras para ele e para você também. Se precisar de algo, me


ligue. — ele fala e olha para o senhor Lumière.
— Obrigada, Samuel. — falo e continuo a andar.

Quando estava perto da saída, sinto meu braço ser puxado, me


fazendo bater no tórax do senhor Lumière.

— Eu vou te levar para casa, e não diga que não. — ele fala, com o

maxilar travado.

— O que pensa que está fazendo? Me solte agora. — falo, tentando


soltar meu braço.

— Não me irrite, senhorita Kepner. Minha filha gosta muito de você.


Não me faça muda-la de escola por causa de um capricho.

Seus olhos estão fixos nos meus. Por mais que eu tente, não consigo
desviar a atenção dele. E, sem falar que, apesar de ser um ogro, senhor
Lumière é muito bonito. Não posso deixar de notar isso.

— Tudo bem, me solte. Eu vou aceitar sua carona. — falo, desviando


nosso olhar.

—Viu que não é difícil dizer sim?

Ele fala, dando um sorriso de canto.

Ele abre a porta do carro para mim, e eu olho mais uma vez para ele.
Será que ele vai me matar e me jogar numa vala? Merda, eu deveria ter
ficado mais tempo dentro da sala dos professores. Talvez ele tivesse
desistido e ido embora. Agora a merda já está feita, então não tem como
fugir. Se esse for meu destino, então pronto.
Capítulo 6
Finalmente consegui convencê-la a aceitar a carona, o que não foi fácil,
posso garantir.

— Está quieta. Conte-me mais sobre você. — puxo assunto.

— Não tenho muito o que falar, e para ser sincera, o que você quer
comigo? — ela pergunta de forma seca.

— Você é professora da minha filha, e ela gosta muito de você. Então,


preciso saber se você não está apenas querendo se...

Ela me interrompe.

— Se você ousar insinuar que quero me aproveitar da sua filha, abro a


porta do carro e pulo fora. — ela me olha com ódio.

— Me desculpe, não queria ofendê-la. — que idiota eu sou.

— Mas começou a ofender. Meu pai sempre tentou passar as coisas


certas para mim, e aproveitar das pessoas nunca foi uma delas, ainda mais
de uma criança. — ela cruza os braços na altura dos seios e suspira com
raiva, desviando o olhar.

— Me desculpe, foi um instinto desconfiar das pessoas que se


aproximam dela. — tento justificar.
— Pode parar aqui, por favor? — ela pergunta, olhando para fora da
janela.

— Sua casa é aqui perto?

— Não, mas não quero mais dividir o mesmo espaço que você. — ela
me olha com raiva.

— Estar perto de mim é tão ruim assim?

— Estar perto de pessoas como você não faz bem para ninguém. —
ela fala e olha para o outro lado.

— Deveria saber que pessoas como eu não desistem do que querem.


— continuo dirigindo, ela me olha com raiva. Pelo visto, ela é mais teimosa
do que pensei. Talvez isso seja bom, estava precisando de uma boa
distração.

Ela não fala mais nada. No início da viagem, ela tinha me dito onde fica
sua casa, e eu coloquei no GPS. Sua casa é bem longe da escola em que ela
trabalha, com certeza ela demora muito para chegar ao trabalho de ônibus.

— Aquele rapaz é seu namorado? — pergunto, lembrando—me da


forma como ele olhou para ela.

— Está se referindo a quem? — ela me olha e arqueia a sobrancelha.

— Aquele rapaz que falou com você antes de virmos. — falo.

— Não, ele é colega de trabalho e muito bem casado. — ela fala e


desvia o olhar.

— Que bom. Sussurro.


— O que disse? — ela pergunta, olhando para mim com a sobrancelha
arqueada.

— Nada, senhorita Kepner. Ajeito-me no banco do carro, e o GPS avisa


que estamos próximos da casa dela.

— Pode me deixar aqui. — ela fala, arrumando a bolsa no ombro.

— Aqui indica que sua casa fica mais à frente. — falo.

— Será que não entendeu que não quero dar motivos para fofocas
entre meus vizinhos? Por isso pedi que me deixasse lá atrás. — ela suspira,
parecendo aliviada por ter falado.

— Não me importo com o que as pessoas falam. — falo, parando o


carro para olhar para ela.

— Eu não sou você. A única coisa que tenho é minha dignidade, e não
vou arriscar perde-la por causa de um riquinho. Agora, abra a droga desse
carro e me deixe sair. — ela fala entre dentes.

— Tudo bem, não pensei por esse lado. — tento amenizar.

— E quando um rico pensa num pobre?! — ela sorri de forma


sarcástica e sai do carro.

Bato as mãos no volante, porque ela tinha que ser tão teimosa? É
apenas uma carona.

— Nenhuma será tão boa quanto você, Laís. — murmuro.

Faço a volta com o carro e sigo para a empresa. Pego meu celular e
vejo três chamadas perdidas da minha mãe. O que ela quer dessa vez?
Disco o número dela e coloco no viva—voz.
— Onde você está?

— Bom dia, estou indo para a empresa. — falo de forma sarcástica,


pois ela nem se deu ao trabalho de me dar bom dia.

— Seu pai marcou um jantar aqui em casa com alguns acionistas.


Queremos você aqui, e traga a Brenda. — ela fala, e antes que eu possa dizer
que não, ela desliga.

Desde que conheço minha mãe, sei que se eu não for a esse jantar, ela
irá na minha casa me buscar.

—Ótimo, melhorou ainda mais o meu dia. Esbravejo.

Chego à empresa e deixo o carro no estacionamento. Dirijo—me a


passos largos até o elevador. Assim que chego ao décimo andar, minha
secretária me olha receosa.

—Não consegui evitar, senhor. Tem uma pessoa esperando por você.
— ela fala, baixando o olhar.

Não respondo nada e entro na sala.

— Pensei que, como CEO, você chegasse mais cedo para dar bons
exemplos. — meu sogro fala, olhando-me de canto de olho.

— O que faz na minha sala a essa hora?

— Sempre direto. — ele fala.

— Não tenho tempo a perder. Fale o que quer e me deixe trabalhar. —


falo de forma séria.

— Quero saber como está minha neta. Ela nunca vai à minha casa. —
ele fala.
— Tenho certeza de que você não está aqui apenas para saber como
está minha filha. Sei que você não se preocupa com ela. — digo de forma
seca.

— Você tem razão. Vim cobrar minha pensão. Afinal, minha filha
morreu porque você a engravidou. — eu me aproximo dele com raiva, pego
seu colarinho, mas minha raiva é tão grande que, assim que recobro minha
consciência, lembro-me de que não vale a pena sujar minhas mãos com esse
desgraçado.

— Isso, Bernardo, me bata. Mostre ao mundo o homem que você é.


— ele debocha.

— Saia da minha sala, seu filho da puta. Você nunca mereceu ter uma
filha como Laís. — falo com raiva.

Ele sai cantarolando, o que me deixa ainda mais frustrado.

Eu sei que não devo nada a ele pela morte da minha mulher. Foi uma
tragédia. Eu não sabia que ela estava passando por problemas de saúde.
Naquela época, eu estava trabalhando tanto para cuidar da empresa que
nem sequer a acompanhava nas consultas médicas. Eu não sabia que sua
pressão estava alterada e nem que ela corria o risco de ter uma eclâmpsia.
Foi tudo tão rápido para mim. Mas eu não sabia que ela já vinha sofrendo
em silêncio com aquilo. Eu pago a ele e à mãe de Laís uma boa pensão todos
os meses, mesmo que os dois sejam de classe média. Só não quero que
digam que os deixei na mão. Acredito que ela ficaria agradecida. De
qualquer forma, eles são os avós da minha filha.

Pego o telefone e ligo para a diretora da escola onde minha filha


estuda.
— Senhora Forbes, aqui é Bernardo Lumière.

— Em que posso ajudá-lo?

— Gostaria que me passasse o endereço da senhorita Kepner, por


gentileza.

— E o que o senhor deseja com a senhorita Kepner?

— Não é da sua conta, mas ela se queimou por minha causa. Ela
passou por uma situação constrangedora porque eu estava distraído. Por
isso, quero poder mandar alguns medicamentos para que ela se recupere
logo.
— Entendo. Só um momento, vou verificar no registro dela.

Não demora muito, ela me passa o endereço. Desligo o telefone e olho


fixamente para o papel onde anotei o endereço dela.

— Você não vai escapar de mim tão facilmente. — resmungo.

Não sou um psicopata, mas depois que Laís morreu, não senti atração
por nenhuma outra mulher. Claro, fiquei com muitas mulheres depois disso,
mas foi apenas uma relação casual e nada mais. No entanto, com Gabriela é
diferente. Confesso que sinto muita atração por ela e quero poder conhecela
melhor.
Capítulo 7
O pai da Brenda só pode ser louco, não consigo encontrar uma
explicação melhor para o que ele fez.

— Oi, Gabi. — Maria fala acenando para mim.

— Oi, Maria. Como você está? — pergunto, parando em frente à


minha casa.

— Estou bem. Como foi a noite com seu pai? Ele está melhor?
— Está sim. Se tudo der certo, amanhã ele terá alta. — falo animada.

— Muito bom. Eu arrumei suas coisas. Agora vá descansar, filha. — ela


fala e entra em sua casa.

Faço o mesmo, entro em casa e está tudo tão arrumadinho. Não sei
como agradecer tudo o que ela faz por mim e pelo meu pai. Se minha mãe
não fosse tão egoísta, seria ela quem estaria aqui cuidando de nós.

Entro no banheiro e tiro minha roupa. Deixo a água fria lavar meu
corpo. Sinto—me tão cansada. Essa correria está me desgastando. Se eu
pudesse, ficaria apenas cuidando do meu pai. Mas não posso me dar ao luxo
de sair do trabalho só para ficar com ele. Onde nós dois iríamos morar?
Quem pagaria nossas contas e colocaria comida na mesa? Apenas o salário
dele não seria suficiente.

Talvez, se eu conseguir um trabalho noturno, possamos viver um


pouco melhor. Quem sabe o seu Antônio precise de alguém para trabalhar
no bar dele? Seriam apenas alguns trocados, mas já ajudaria.

Tenho que pensar nisso com calma. Posso tentar ajustar meus dias de
trabalho pela manhã. Vou ver o que posso fazer para dar certo.

Saio do banheiro, secando meus cabelos. Alguém bate na porta e eu


caminho a passos curtos até lá. Abro e um rapaz me entrega um buquê de
flores vermelhas e uma cestinha com algumas coisas que não consigo
decifrar.

— Que brincadeira é essa? — pergunto em choque.

— Entrega para a senhorita Kepner. É você? — ele pergunta,


mostrando os dentes aparelhados.

— Sim, sou eu. — ele me entrega as coisas e vai embora. Olho de


relance para as flores. Nunca recebi flores antes.

Entro e fecho a porta. Coloco as rosas em um vaso com água e pego a


cestinha. Tiro o laço que estava amarrando o embrulho.

O que mais chama minha atenção entre os chocolates caros é uma


pomada para queimaduras. Será que... Procuro algum cartão nas flores e
encontro um.
"Gostaria de me desculpar mais uma vez. Receba estas flores como
forma de desculpas. Meu número está no verso deste cartão. Vou esperar
sua ligação.
Atenciosamente, Bernardo Lumière."

Olho para o verso do cartão e o número dele está bem destacado.


Sorrio involuntariamente, mas assim que percebo o que estou fazendo, me
recrimino.

— O que você pensa que está fazendo, sua idiota? Ele nunca será um
homem para você. — falo alto.

Observo as flores no jarro e pego um dos chocolates. Tiro o papel e


dou uma mordida pequena. A sensação é maravilhosa.

Coloco uma música no celular e vou para a frente do espelho. Pego a


pomada e começo a aplica-la no local da queimadura.

Olho para o relógio e já passa do meio—dia. Hoje, não estou com


fome. Assim, não tem como ganhar peso. Meu corpo está cada dia mais
magro. Não que eu queira ficar assim. Gostava mais do meu corpo quando
estava mais cheio. Parecia que eu tinha mais vida do que tenho hoje em dia.

Como não tenho nada para fazer, decido ir para o hospital passar mais
tempo com meu pai. Visto uma calça jeans e uma blusa branca folgada, para
não atrapalhar a pomada que acabei de aplicar. Pego uma bolsa e coloco
alguns livros e uma roupa. A diretora disse que eu poderia ficar em casa
amanhã, então vou aproveitar para trazer meu pai para casa.
Pego minhas chaves e a bolsa com algumas coisas. Saio de casa.
— Maria, estou indo para o hospital. Não precisa ir lá em casa. — grito
na porta de sua casa.

— Ok, querida. E seu pai, amanhã ele estará aqui?

— Se tudo der certo, sim. Amanhã eu o trago, se Deus quiser. — falo e


me despeço dela.

— Vá com Deus, filha. — é assim que considero ela, uma mãe para
mim. Ela faz coisas por mim que minha mãe nunca fez.

Depois de esperar meia hora, consigo pegar o ônibus. Sento em uma


das primeiras cadeiras e encosto minha cabeça na janela. É inevitável não
pensar no senhor Lumière. Por que ele foi gentil comigo? Mandou até flores.
Tanto faz, não devo pensar nisso, muito menos nele.

Uma hora depois, chego ao hospital. Cumprimento as pessoas que já


estou acostumada a ver sempre e sigo para o quarto onde meu pai está.

— Oi, pai. — falo me aproximando dele.

— Bonequinha. — ele fala abrindo um lindo sorriso.

— Como o senhor está?

Vou até ele e lhe dou um beijo na testa. Meu pai está cada dia mais
magro. A alimentação por sonda não sustenta como a comida pela boca.
Depois dessa doença, meu pai ficou tão magro. É doloroso vê-lo assim, mas
sou egoísta demais para aceitar que Deus o leve. Farei tudo o que estiver ao
meu alcance para que ele permaneça comigo.

— Estou bem. E você, o que faz aqui?


— Fui liberada mais cedo, então vim ficar com o senhor. — ele não
precisa saber que me machuquei.

— Sente-se. Está prestes a começar minha novela favorita. — ele fala


e eu sento na cadeira ao lado dele. Enquanto ele presta atenção na novela,
eu o admiro. Senhor, não leve meu pai. Não sei o que seria de mim sem ele
aqui para me alegrar. Independentemente de estar doente, ele é tudo o que
tenho.

Depois que a novela acaba, ficamos conversando sobre assuntos


aleatórios, até que ele começa a falar sobre a mesma coisa de sempre.

— Filha, você tem que arrumar alguém. Eu não vou durar muito
tempo. — ele fala e eu suspiro.

— Pai, de novo esse assunto? — pergunto, olhando para a TV.

— Enquanto eu não te ver com alguém, nunca vou conseguir


descansar. — ele fala.

— Pai, esqueça isso. Eu não vou arrumar ninguém. — falo, perdendo


a paciência.

— Filha, eu preciso deixar você bem antes de morrer. Quero ver você
feliz. Que merda. — ele xinga.

Levanto frustrada.
— Quem vai querer uma mulher como eu, pai? Sou infértil, não tenho
útero. Qual homem aceitaria isso, ficar com uma mulher que nem mesmo
pode lhe dar um filho? Quem pai?

Eu não queria falar sobre isso, mas só de pensar em me relacionar com


alguém, isso me vem à mente. Qual homem aceitaria isso? Ficar com uma
mulher que não pode lhe dar um filho?

— Filha... me perdoe. — ele fala com pesar na voz.

— Esqueça isso, pai. Só não me cobre mais, por favor. — falo — vou
tomar um pouco de água. — digo e saio do quarto.

Respiro um pouco de ar fresco enquanto seguro um copo com água.


Minha história de vida não é das melhores. Evito pensar nela, não quero ter
motivos para questionar Deus. Mas ao lembrar de toda a minha trajetória,
hoje me sinto forte. Não preciso de um homem para viver, além do meu pai.

Aos quatorze anos, fui diagnosticada com endometriose. Foi um


período muito difícil. Esse foi um dos motivos pelos quais não quis me
relacionar com nenhum rapaz. Foi decidido que meu útero seria retirado.
Como eu era menor de idade, implorei ao meu pai para que ele assinasse o
papel autorizando a cirurgia. Eu não tinha chances de ter um útero saudável.
Então me vi diante de uma escolha difícil. Tentar a sorte e talvez ter um filho
ou remover logo o que me causava tanto sofrimento. Passei por coisas que
nenhuma mulher deveria passar. Em casos mais simples, não é necessário
tomar uma medida tão drástica. No meu caso, não tive escolha além de
tentar viver em uma condição de vida mais saudável. Desde que fui
diagnosticada, apenas meu pai, Maria e Sandra sabem sobre isso.
Capítulo 8
— Pode mandar essa, está perfeito. — falo, olhando o lindo buquê de flores
vermelhas.

— Qual mulher não gosta de um lindo buquê, um gesto de carinho, ou algo


do tipo? — pergunto.

— Neste endereço, vou fazer o depósito em segundos. — falo e desligo o celular.


Entro no aplicativo e faço a transferência.

Eu e Brenda estamos a caminho da casa dos meus pais. Brenda não é muito
falante, acho que foi uma das coisas que ela puxou de mim.

Meu celular toca no bolso, pego o aparelho e vejo o nome do meu pai na
tela.

— Já estou a caminho. — falo.

— Filho, sua mãe sofreu um pequeno acidente na cozinha. Estou levando—


a para o hospital. — ele fala.

— Vou deixar a Brenda aí e encontro vocês lá. — falo.

Brenda me olha e quando olho para ela, vejo que ela desvia o olhar.
— Você ficará um pouco na casa da sua avó. Eu vou ter que sair, mas logo
chego, ok? — ela assente com a cabeça.

Deixo—a na casa dos meus pais e vou para o hospital. Não demora muito
até eu chegar lá. Estaciono o carro e vou para dentro do hospital.

Meu pai está sentado em uma cadeira.

— Pai?

— Oi filho, onde está a Brenda?

— Deixei ela na sua casa e vim para cá. Onde está a mamãe?

— Ela está lá dentro. Se cortou com a faca e teve que levar alguns pontos.
— ele fala sério.

— Ainda bem que não foi nada muito grave. — falo.

— Sim, ela me deu um susto e tanto. — ele fala.

Ficamos calados por alguns segundos. Vejo uma pessoa que me parece
familiar.

— Pai, eu volto já. — falo me levantando. Começo a caminhar em direção à


pessoa que vi.

Ela usa um vestido longo florido, os cabelos soltos chamam atenção.

— Gabriela, queria mesmo falar com você. — um senhor fala se


aproximando dela.

— Senhor Gregório, é algo sobre meu pai? — ela parece preocupada.

— Mais ou menos, é um assunto um pouco chato. O plano de saúde não


quer cobrir as despesas do seu pai. — ele suspira pesadamente. — eu até tentei
explicar a situação, você sempre trabalhou muito para pagar o plano e sei que não
está fácil para vocês, mas eles não querem cobrir os custos da última cirurgia dele.
Eu fiquei todos esses dias adiando esse assunto, mas o valor está cada dia mais
alto. Me desculpe, filha. — ela coloca a mão na boca e vejo seus olhos cheios de
lágrimas.

— E quanto está?

— O valor total é de dez mil dólares. Eu sinto muito. — ele fala.

— O que? Dez mil dólares? Onde vou conseguir esse dinheiro?

— Eu não posso te ajudar dessa vez. — ele fala, pondo a mão em seu ombro.

— Eu posso tentar parcelar no cartão?

— Vou ver se eles aceitam e te aviso. — ele sai, deixando—a sozinha.

Fico observando-a de longe. Gabriela senta em uma cadeira e coloca as


mãos no rosto. Ela parece chorar baixo. Algo em mim grita para que eu vá até ela,
a abrace e diga que tudo ficará bem.

Mas isso não seria bem visto pelas pessoas.

— Filho, sua mãe já está bem. Podemos ir. — ele fala, e olho para ele. Assinto
com a cabeça e, quando começo a caminhar para o lado oposto em que ela está,
paro e olho mais uma vez para ela.

— Podem ir na frente. Logo chegarei lá. — aviso.

Eles se vão e eu subo para o quarto andar.

— Papai, o senhor demorou. — Brenda fala, levantando do sofá.

— Me desculpe, filha. Tive um imprevisto. — sento ao seu lado. Logo os


sócios da empresa também chegam, e, como sempre, o assunto é sobre negócios
e empresas concorrentes. Nossa empresa de tecnologia avançada se destaca em
todos os países, inclusive no Brasil. Meu pai fundou a empresa, e eu e meu irmão
damos continuidade. Ele é o vice-presidente e eu sou o CEO. Faço questão de
cuidar eu mesmo dos negócios, incluindo a contratação de novos funcionários.
Estou com uma ideia na cabeça e quero fazer dar certo logo mais à frente.

— Mudando de assunto, e você, Bernardo? Quando pretende arrumar uma


namorada? Hanna está vindo esta semana para cá. Poderia leva-la para um
passeio.

Olho intrigado para o senhor Josef. Ele é amigo de longa data do meu pai,
mas nunca gostei muito dele. Se mete onde não deve. Ao ver o que ele acabou de
fazer, só me deixa ainda mais raivoso. Hanna é sua filha mais nova. Ela está na
Europa e estuda música, está se tornando uma violinista profissional. Sei bem sua
história. Nossos pais faziam jantares onde nós dois éramos obrigados a estar. Ela
me falou algumas vezes sobre esse sonho. Hoje ela está com trinta anos, mas nós
dois nunca tivemos nada. Sei que meu irmão é apaixonado por ela, e com certeza
ele ficou feliz ao saber que ela virá para cá nesses dias.

— Não preciso me casar para ser bom no que faço. E acho que Brenda não
quer uma madrasta, não é mesmo, filha? — olho para Brenda, e ela assente com
a cabeça.

— Não deveria perguntar esse tipo de coisa para uma criança. Pode deixa-
la confusa. — ele fala.

— Ela tem que aceitar uma madrasta. Afinal, ela fará parte da nossa família.
Não quero que minha filha passe por certos tipos de coisas. — falo e levo um
pequeno pedaço de carne à boca.

— Os rumores com o seu nome não são nada bons. Acha que sua empresa
se dará tão bem quando for questionado publicamente sobre sua sexualidade?

Fuzilo—o com o olhar.


— Filha, você já terminou de jantar?

— Sim, papai. — ela fala.

— Poderia nos dar uma licença?

Ela levanta da mesa sem falar mais nada e vai em direção às escadas.
Certifico—me de que ela não está nos ouvindo e ponho o garfo no prato.

— Se esses rumores se espalharem, posso garantir que darei conta de


mantêlos sob total controle. Mas e se, por acaso, sua esposa descobrir que o
senhor tem um caso com a sua secretária? Será que isso ficará sob total controle?

— Filho, do que está falando?

Minha mãe, percebendo o que estava acontecendo, sai rapidamente da mesa.

— Isso mesmo, pai. Ele está tendo um caso com a secretária, que é vinte
anos mais nova que ele. Posso garantir que, além de não ser gay, não traio minha
esposa, porque não tenho uma. — falo, cruzando os braços.

— De onde tirou essa história absurda? Seu moleque impertinente. — ele


fala, batendo as mãos na mesa.

— Não levante o tom de voz. Isso deixa sua culpa ainda mais nítida. Se
controle, volte a comer e nunca mais fale sobre esse assunto comigo. Não sou
obrigado a casar por causa da sociedade. Ofereça sua filha a outra pessoa que
queira ela. — levanto da cadeira e olho para meu irmão, que está com um sorriso
no canto da boca. Vou para o segundo andar, onde minha filha provavelmente
está.
Capítulo 9
Finalmente estou levando meu pai para casa. Não sei como vou fazer para
pagar minha dívida, mas vou conseguir.

— Papai, como o senhor está se sentindo?

— Estou bem, filha. Não se preocupe comigo. — ele fala sorridente.

— Então vamos. — falo, entrando na ambulância com ele.

Chegamos em casa e havia uma recepção de boas-vindas para ele. Ele ficou
tão feliz em ver todos os seus amigos ali esperando por ele.

— Obrigado. — ele agradece emocionado, contendo as lágrimas.

Ficamos conversando e dando risada com as coisas que meu pai falava sobre
as enfermeiras. Eu me sinto tão bem vendo—o assim sorridente. Com certeza, ele
é meu presente. Às vezes, acho que não foi Deus que me mandou para ele, mas
sim ele que mandou meu pai para mim. O presente maior fui eu quem ganhei.

— E que flores são aquelas? — Maria pergunta, olhando para o buquê que
ganhei do Senhor Lumière. Olho de relance para todos ao meu redor, os olhares
estão todos em mim.

— Está namorando, filha? — meu pai pergunta, olhando para mim.

— O que? Claro que não, pai. De jeito nenhum. — falo.


— Mas esse buquê é de uma paquera, e parece ter sido muito caro. — o
marido de Nice fala.

— Foi de uma aluna. Ela foi pedida em namoro e disse não, então eu peguei
o buquê. Ele é tão lindo. — minto na cara dura.

Eles me olham por um tempo. Eu já estava prestes a dizer que era mentira
quando Maria olha para mim e fala.

— Nossa, que idiota ela é. — ela fala e logo engata em outro assunto.
Suspiro aliviada.

Depois de um tempo, cada um vai para suas casas, e ficamos só eu e meu


pai.

— Vou tomar um banho. Amanhã vou trabalhar cedo. — falo, dando um


beijo na testa dele.

— Está bom, filha. Te amo. — ele fala.

— Te amo, pai. — vou para meu quarto, pego minha roupa e toalha, e depois
vou para o banheiro.

Assim que tiro minha roupa, vejo que a queimadura está bem melhor. Talvez
seja a pomada que ele mandou. Mas ainda assim ficará uma marca.

Termino meu banho, me seco e depois passo a pomada. Meu pai já está
deitado, então apago as luzes e vou me deitar também.

Acordo ao som do despertador, levanto e vou até a cozinha. Passo um pouco


de café e vou tomar banho. Visto uma calça jeans e uma blusa branca social. Calço
minha sapatilha e solto meus cabelos. Passo um gloss nos lábios e pego minha
bolsa.

— Bom dia, pai. Já tomou seus remédios?

Às vezes, ele esquece de toma-los pela manhã.

— Bom dia, filha. Já tomei todos. E você está linda. — ele me dá um beijo
na testa e volta para o quarto.

Eu sei que está cansativo para ele. Meu pai não come alimentos sólidos,
toda a comida é ingerida por sonda. Isso o deixa muito estressado. Às vezes acho
que ele deixa de tomar os remédios de propósito. Será que ele não entende que
eu preciso dele? O que farei quando ele se for? Ele foi pai aos vinte anos, muito
cedo para quem queria montar a própria oficina. Isso dificultou um pouco os
planos dele. Logo minha mãe nos abandonou, e ficamos apenas nós dois.

Deixo tudo arrumado para ele e, por fim, saio de casa. Maria já está
limpando a frente de sua casa. Dou tchau para ela e vou pegar o ônibus. Dessa vez
não me atrasei, sento um pouco no banco do ponto de ônibus, e poucos minutos
depois, lá vem ele.

— Bom dia. — cumprimento o motorista.

— Bom dia. Como está aquele velho teimoso?

— Está bem melhor. Já está em casa. Senti sua falta ontem no jantar de
boas—vindas dele. — falo.

— Eu tive um compromisso e não pude ir, mas vou visita-lo ainda hoje. —
ele fala e dá partida no ônibus.

Ficamos conversando amenidades até chegarmos ao meu ponto de descida.

— Até mais tarde, seu Francisco. Vá lá ver ele. Sei que ele terá muita coisa
para contar. — desço do ônibus e me dirijo à escola. Fica um pouquinho longe,
mas é muito bom caminhar pela manhã... mentira, é horrível. Eu já passo o dia
todo em pé.

Finalmente chego no portão da escola, e alguns alunos ainda estão


entrando. Estava prestes a entrar também até ouvir meu nome ser chamado.

— Senhorita Kepner. — olho para o dono da voz e meus pelos se arrepiam.


— Senhor Lumière. — falo, olhando-o de cima a baixo.

Ele olha para as pessoas entrando, como se estivesse se certificando de que


não teria ninguém para ouvir o que ele tem para me falar.

— Não vou mentir que esperei sua ligação. — ele fala, me olhando nos
olhos.

— Eu não... bom, eu agradeço pelo presente que mandou para mim, mas eu
não tenho nada a tratar com o senhor fora daqui. Nosso assunto se refere à sua
filha, e ele pode ser tratado aqui mesmo na escola, como qualquer outro pai.
Agora, se me der licença, eu tenho que trabalhar. — dou as costas para ele, mas
antes que eu possa me afastar, ele segura meu braço, me fazendo olhar para ele.

— Seu pai está melhor?

— Como sabe sobre meu pai?

Será que ele está me vigiando?

— Você mesma falou sobre ele aquele dia, com a diretora. Se não me
engano, ele iria sair ontem do hospital, certo?

Me perco em seus lábios por algum tempo. Ele é tão lindo, o cheiro
amadeirado de seu perfume exala no ar. Tenho certeza de que a mulher que
ganhar seu coração será a mulher mais sortuda do mundo. Retomo minha
sanidade assim que ouço o sino tocar.
— Até mais, senhor. Preciso trabalhar. — saio em disparada para a sala de
aula.
Capítulo 10
Por que ela tem que ser assim? Será que ela tem medo de eu fazer algo com
ela?

Merda, o que estou pensando? Eu preciso trabalhar. Ficar aqui olhando para
ela só me faz ficar mais frustrado.

Volto para o carro e dirijo até a empresa. Assim que entro na minha sala,
vejo meu irmão Bruno sentado mexendo no celular.

— O que faz aqui?

— Como pode ver... te esperando. Esqueceu que temos que ir para a Europa
hoje ainda?

Realmente, eu não lembrava disso.

— Você poderia muito bem ir sozinho. Você é o vice-presidente. — falo,


tirando meu paletó.

— E você é o presidente. Faça jus ao seu cargo e encare seus compromissos.


— ele fala, levantando.

— Está bravo ainda por causa do jantar?

Eu percebi que ele não gostou muito da forma que eu falei sobre a Hanna.

— Ela não é um objeto. Ela é uma pessoa. — ele fala, me olhando sério.
— Deveria ficar feliz. Eu dispensei sua amada. Agora você tem o caminho
livre com o pai dela. — falo, lançando um sorriso de canto para ele, que sai
bufando da minha sala.

Sento na minha cadeira e ligo meu notebook. A foto da Brenda sorrindo me


faz, por um minuto, sorrir também. Tento incansavelmente me convencer de que
ela não é infeliz com o pai que tem, mas às vezes me sinto um fracassado. Eu não
consigo sequer ter um bom diálogo com a minha filha.

Algo surge em minha mente. Isso talvez dê certo. Pode ser uma ponte entre
nós dois. Logo colocarei meus planos em andamento.

Ao entardecer, eu e meu irmão Bruno sairíamos no nosso jato rumo à


Europa. Queria poder levar minha filha, mas é uma viagem a negócios. Não a faria
feliz nessa viagem.

— Feche meu escritório. Estou indo viajar e amanhã não irei chegar a tempo
das reuniões na parte da manhã. Então, desmarque. — falo para minha secretária.
Ela anota tudo em uma caderneta.

Entro no elevador e desço até a garagem.

Depois de algum tempo, chego ao meu destino. Resolvi passar em um lugar


antes de viajar.

Chego ao cemitério e vou direto ao túmulo da Laís. Coloco as tulipas, que


eram suas flores preferidas, em cima do seu túmulo.

— Minha querida, quanta falta você me faz. Sei que, se pudesse me dizer
algo, seria para eu seguir minha vida e amar nossa filha incondicionalmente. Mas
sem você aqui, é tão difícil. Eu sinto tanto a sua falta. — passo o dedo indicador
em sua foto.

Às vezes, ainda penso que estou em um sonho e a qualquer momento vou


acordar e ela estará ao meu lado, com aquele sorriso deslumbrante que só ela me
lançava.

— Até outro dia, meu amor. — saio do cemitério e vou direto para minha
casa. Pego a mala que pedi para a governanta preparar para mim.

— Pai, está indo viajar? — Brenda pergunta, me olhando curiosa.

— Sim, amanhã à noite estarei de volta. O motorista vai levar você até sua
avó. — falo, dando um beijo em sua cabeça.

— Tudo bem. — ela entra no quarto e eu desço as escadas.

— Me leve até o aeroporto e, depois, leve minha filha para a casa dos meus
pais. — falo para o motorista.

Entro no carro e seguimos para a pista de decolagem.

— Não falei aquilo para te ofender. — falo, sem tirar a vista do tablet.

— Você nunca faz as coisas por mal, Bernardo. Esse é seu problema. —
Bruno fala.

— Eu sempre soube do seu amor por ela. Só quis mostrar para o pai dela
que eu não estava e não estou afim de arrumar uma mulher. E achei a ocasião
perfeita para deixar o caminho livre para você. — falo.

— Se você fosse tão esperto assim, saberia que eu não a quero e que já
estou com uma pessoa. — ele fala e olho para ele.
— Está namorando?

Pergunto, me ajeitando na poltrona.

— Não é bem um namoro ainda. — ele fala, com um sorriso de canto.

— Espero que dê certo. Pensei que ficaria solteiro para sempre. — falo.

— Olha quem fala. Parece que a Laís levou sua alma com ela. — ele fala,
sem se importar se isso seria doloroso para mim ou não.

Fico em silêncio. Às vezes, eu me sinto assim. Acho que todos os meus


sentimentos relacionados ao amor foram com ela naquele caixão.

— Eu não medi as palavras. Me desculpe. — ele fala, por fim, desviando o


rosto para a janela.

Fecho meus olhos e lembro de alguém que está roubando meus


pensamentos ultimamente. Gabriela vem na minha mente. Eu não quero ficar
dependente de alguém como eu fiquei da Laís. Não sei se deveria colocar meus
planos em ação. Talvez seja um erro.

Horas depois, finalmente estamos desembarcando na Europa. Tento esticar


um pouco meus músculos, que estão doloridos por causa da viagem.

— A reunião é agora na parte da manhã. Depois, poderemos voltar para


casa. Preciso resolver algumas coisas amanhã. São quatorze horas de viagem de
Nova York à Europa. Por mais que o jato seja espaçoso, ainda assim cheguei
dolorido de ficar sentado.

— Tudo bem. — Bruno fala, passando na minha frente.


Seguimos para o hotel onde será a reunião. Meu irmão não falou muito no
caminho. Eu agradeci por isso. Às vezes, o silêncio é a melhor coisa entre duas
pessoas.

— Senhores. — uma moça de cabelos loiros fala, nos mostrando a mesa.

— Obrigado. — Bruno fala, sério.

— O senhor Valentiny já vai descer. — ela fala, lançando um sorriso para


mim.

— Tudo bem. — Bruno torna a falar.

— Desejam alguma coisa?

— Pode me trazer uma salada de frutas, por favor. — ele fala e olha para
mim.

— Uma dose de whisky puro, por favor. — meu irmão me lança um olhar de
reprovação.

A moça sai, nos deixando sozinhos.

— Whisky em plena oito horas da manhã?

— E daí? Qual a diferença? Eu sou o irmão mais velho aqui. — falo, cruzando
a perna.

— Idiota. — ele resmunga.

Faço de conta que não ouvi. Meu whisky chega e tomo tudo de uma vez.
Bruno me fuzila com os olhos.
— Me perdoe pelo atraso. — Valentiny fala, se aproximando, com as mãos
no bolso da calça.

— Tudo bem. — Bruno fala, educadamente.

— O que são quarenta e cinco minutos para quem ficou quatorze horas
dentro de um avião, não é mesmo? — falo, sarcástico.

— Verdade. Vou recompensar vocês por isso. Não precisa nem discutir o
negócio. Eu vou ser sócio na nova filial de vocês. Sei que são ótimos garotos, então
sei onde meu dinheiro vai entrar e o retorno que terei dele. Me dê os papéis que
vou assinar. — olho para Bruno, que me olha confuso.

— Você não vai nem mesmo pensar sobre isso? — pergunto.

— Vocês ficaram quatorze horas dentro de um avião. Eu tive tempo para


pensar. — Ele fala e pega a pasta de documentos da minha mão.
Capítulo 11
Fico pensando no porquê sempre que vejo ele, meu coração dispara. Às
vezes, acho que já vi aqueles olhos em algum lugar, mas não me lembro bem.

— Professora, a senhora está bem? — uma das alunas pergunta.

— Sim, estou bem. Só estou cansada. Essa caminhada às vezes me cansa um


pouco. — minto. Elas não precisam saber que sinto atração pelo pai de uma das
alunas.

Respiro fundo e começo a abrir meu livro.

— A aula de hoje será sobre oxigênio. — falo, olhando para os alunos.

— Sério? — um dos alunos pergunta.

— Sim, e alguém aqui pode me dizer quem precisa de oxigênio além de nós?

— Os animais? — uma das alunas responde.

— Também, mas tem muito mais coisas que precisam de oxigênio. — falo,
andando pela sala.

Eu gosto de ver eles interagindo. Fico feliz porque sei que estão aprendendo.
— Queria saber o que você faz para deixar todas as crianças assim. —uma
das professoras pergunta, olhando para meus alunos sentados.

— Diálogo. Faço com que eles se sintam bem na minha aula. Você deveria
aderir. — saio da sala, dando espaço para ela dar a aula de espanhol dela.

O dia para mim já está encerrado. Agora é ir para casa e cuidar do meu pai.
Meu celular começa a vibrar no bolso.

— Oi amiga, onde está que não veio mais me ver?

— Desculpa, Sandra. Vou dar uma passadinha aí.

— Estou te esperando.

Desligo o celular e coloco no bolso. Pego minhas coisas e saio da escola.


Caminho devagar até a loja de bolos da Sandra. Olho o movimento dos carros indo
e voltando. Esse cotidiano das pessoas chega a ser engraçado. Todos os dias a
mesma coisa: acorda, vai para o trabalho, almoça, volta para o trabalho. Quando
chega à noite, vão para suas casas. Muitos curtem uma balada à noite, outros nem
isso. Assim como eu, outras pessoas têm coisas mais importantes a fazer quando
chegam em casa. Às vezes, essa rotina se torna rotineira demais.

— Cheguei. — aviso ao entrar na loja.

— Ah, que saudade que eu estava de você. — ela vem até mim e me dá um
abraço apertado.

— Eu também estava com saudade de você, mas está me sufocando. — ela


sorri e me solta.

— Vem, senta aqui. Tenho muita coisa para te contar. — ela fala e me puxa
para uma cadeira. — vou pegar um bolo de laranja que fiz agora pouco para você.
Sei que é um dos seus favoritos. — ela sai e fico olhando o movimento das
pessoas.
Às vezes, só queria desligar, esquecer dos problemas e curtir cada segundo
com meu pai. Por mais egoísta que eu seja, sei que ele não irá durar por muitos
anos ao meu lado. Sei que ele tenta me deixar preparada para uma vida sozinha,
e às vezes isso me assusta imensamente.

— Sente só o cheiro dessa delícia. — ela fala e senta perto de mim. Sandra
tira uma fatia de bolo e coloca em um prato para mim.

— Obrigada. — falo.

— Eu conheci uma pessoa. — ela fala e olho para ela.

Espero que ela continue.

— Ele é irmão de um ex-namorado meu. Aquele que te falei que viu uma
pessoa no hospital e se apaixonou. — ela fala e bebe um gole de suco.

Há alguns anos, na adolescência, ela arrumou um namorado. Passaram


alguns meses juntos, mas um dia ele chegou estranho e disse que queria terminar.
Ela, sem entender o que tinha acontecido, insistiu até que ele falou que tinha se
apaixonado por uma moça que ele tinha visto no hospital. O mais engraçado é
que foi na mesma época da minha cirurgia. Talvez tenha sido em outro hospital.
Que loucura! Depois disso, eles terminaram e ela não tinha me falado mais sobre
ele.

— Lembro que você ficou muito mal por causa dele. — falo.

— Nossa, eu o amava. — ela fala pensativa.

— E como você conheceu esse irmão dele? — pergunto.

— Ele veio aqui há alguns dias. Estava comprando um bolo para um amigo
do trabalho e indicaram aqui para ele. Daí nós nos vimos, ele voltou e começamos
a conversar. Já saí com ele algumas vezes, mas hoje ele foi viajar com o irmão dele.
— levo um pequeno pedaço de bolo à boca.
Termino de mastigar e respondo.

— Nossa, que louco. Daria um belo livro. A namorada rejeitada e a volta por
cima com o cunhado. O título ficaria um pouco grande, mas renderia bastante. —
falo e ela gargalha.

— Sua idiota. — ela me dá um tapa no ombro.

— Espero que ele não seja um babaca como o irmão. — falo.

Conversamos, brincamos e damos boas gargalhadas. Sandra me leva para


casa. Ela queria ver como meu pai estava, e ele ficou muito feliz em vê-la.

— Já vou indo. Preciso fechar a loja. Passa lá amanhã. — ela fala, olhando
para mim.

— Vou ver se consigo. — falo, e ela vai embora.

Fecho a porta e vou para meu quarto. Meu pai já foi deitar. Os remédios
deixam ele muito sonolento.

Tomo um banho e vou me deitar.

SEMANAS DEPOIS

Essas duas semanas que passaram foram tranquilas. Hoje recebi meu
salário, então vou começar a pagar a conta do hospital. Termino de tomar banho
e seco meus cabelos com a toalha.

— Já está saindo, filha?

— Sim, pai. Tenho umas coisas para resolver e depois vou para a escola. Sua
comida já está pronta. Qualquer coisa, me liga. Mais tarde, a Maria vem aqui saber
como o senhor está. — eu falo e ele afirma com a cabeça.
Vou até onde ele está e dou um beijo em sua cabeça.

— Te amo, pai. — pego minha bolsa e saio de casa.

Fico alguns minutos esperando o ônibus chegar. Como vou para o centro, o
ônibus que vou pegar é outro. Demora mais do que o esperado. Pego meu
celular e começo a navegar na internet. Uma notícia me chama a atenção.
"Bernardo Lumière é visto entrando em um hotel luxuoso acompanhado da
Miss de Londres."

— Até parece que alguém como ele sairia com alguém de classe baixa. —
resmungo revirando os olhos.

Uma mulher que está ao meu lado me olha de forma engraçada.

Vejo o ônibus vindo, levanto e aceno com a mão. O ônibus para e entro nele.

— Bom dia. Eu gostaria de falar com o coordenador do hospital. Diga que é


a Gabriela Kepner. — falo para a recepcionista.

Ela liga para ele, e poucos minutos depois ela se dirige a mim.

— Ele está esperando por você. — fala gentilmente.

— Obrigada. — sorrio amigavelmente e começo a caminhar em direção à


sala dele.

Bato na porta e ouço um "entre".

— Bom dia, senhor Francês. — falo, entrando na sala.

— Bom dia, senhorita Kepner. Como está seu pai?


Ele pergunta, levantando-se.

— Ele está bem. Vim resolver aquele nosso assunto. — falo e ele aponta a
cadeira para mim.

— Que assunto?

Ele pergunta, parecendo confuso.

— Sobre as despesas do meu pai. Eu recebi meu salário e vim ver como vão
ficar as parcelas. — falo, já abrindo a bolsa.

— O hospital não te notificou?

— Notificou o quê? — pergunto, preocupada.

— As despesas do seu pai foram todas pagas. — ele fala, me pegando de


surpresa.

— O quê? Como assim?

Ele dá um sorriso de canto.

— Anualmente, temos um sorteio aqui. E a dívida de algum dos nossos


pacientes é quitada. Seu pai foi o sorteado dessa vez. — ele fala calmamente.

Tapo minha boca incrédula pelo que ele acabou de me dizer.

— Nossa, eu não sabia disso. Que sorte. — falo, não conseguindo conter as
lágrimas. Eu estava com tanto medo de ter que procurar outra casa para mim e
meu pai morarem porque eu não tinha todo o dinheiro do aluguel. Tantos
pensamentos se passaram por minha cabeça.

— Não chore. Fiquei feliz. — ele fala carinhosamente.

Ficamos conversando alguns instantes e ele me entregou a papelada com a


quitação da dívida.
— Obrigada. Eu preciso ir agora. — falo, levantando-me. Saio da sala dele
ainda atônita. "Obrigada, Senhor, por ter feito isso por mim e pelo meu pai."

Bruno

Depois de comprar um buquê de rosas para Sandra, sabendo que as


mulheres gostam de flores e precisando demonstrar o quanto ela está sendo
especial para mim...

— Oi. — falo, entrando na loja.

— Oi, não esperava você aqui hoje. — ela fala com um lindo sorriso no rosto.

— Desculpe se estou atrapalhando. — falo, olhando o movimento da loja.

— Claro que não. Venha, acabei de fazer um bolo de framboesa, quero que
experimente. — ela fala, me puxando pelo braço.

— Não tem problema eu entrar na cozinha? — pergunto, olhando para os


lados.

— Não, se você for o namorado da dona. — fico olhando enquanto ela me


puxa. Então, ela considera nosso relacionamento um namoro?

Não tenho palavras para expressar o quanto fiquei feliz ao ouvir essas
palavras.

Paro de andar e ela me olha.

— O que houve? — ela pergunta, confusa.


Puxo-a para perto de mim, fazendo seu corpo encostar no meu. Passo
meus dedos por sua nuca e trago seu rosto para perto. Meus lábios encontram
os dela, e nosso beijo se intensifica.

Sentir seus lábios é uma sensação única. Já tive meus relacionamentos, mas
nada se compara a isso. A emoção que sinto ao vê-la, o sabor de seus lábios, suas
mãos macias acariciando meus cabelos enquanto sinto seu sabor... Ainda não
fizemos sexo, e isso não é tão importante para mim. Só de estar ao seu lado já é
uma emoção única.

— O que você vai fazer mais tarde? — pergunto, sem afastar muito nossos
lábios.

— Preciso ver uma amiga. Já te falei sobre ela. — ela fala calmamente.

— O que acha de irmos jantar amanhã então? — pergunto.

— Tudo bem. — ela fala, e nos afastamos um pouco.

— Agora venha experimentar o bolo. — ela fala e me leva até a cozinha.

Alguns funcionários andam de um lado para o outro, com vários tipos de


bolos. Sandra vai até um dos bolos, corta um pedaço e o coloca em um prato,
trazendo-o para mim.

— Sente-se aqui. — ela aponta para um banco.

Coloco um pedaço do bolo na boca e mastigo devagar.

— Nossa, que maravilha! O sabor não tem comparação. Não me lembro de


já ter comido algo parecido.

— Então você gostou?

— Não tem como não gostar. Está perfeito. — falo, e ela sorri
animadamente.
Bernardo

Não sei por que esse sentimento de que algo está faltando dentro de mim.
Já faz algumas semanas que não vejo Gabriela, e isso está me deixando confuso.

— Marque uma reunião com a diretora da escola da minha filha. — Falo


para a secretária. Entro na minha sala e vou direto para o meu carrinho de
bebidas. Coloco uma dose de whisky e vou até a vista da minha sala, olho para a
cidade pelo meu grande arranha—céu.

Eu não posso me apaixonar, não depois de tudo que já passei.

Lembro—me de um dia em que estava jogando basquete com alguns


amigos da faculdade. Eu caí e quebrei o braço. Fui para o hospital e, logo em
seguida, minha mãe chegou para me levar para um hospital público. Fiquei em
uma sala de espera até ser atendido. Na época, meus pais estavam passando por
dificuldades na empresa e nosso plano de saúde estava bloqueado. Então, minha
mãe me levou para o hospital público por isso. Fiquei sentado por um tempo,
esperando, até que vi uma moça passando mal. De alguma forma, aquilo me
afetou. Percebi que ela estava prestes a cair, então corri até onde ela estava, sem
me importar com a dor que sentia por ter um osso quebrado. Segurei seu
pequeno corpo. Ela aparentava ter uns quatorze a quinze anos. Senti meu braço
doer ainda mais, mas aquilo não estava tão ruim quanto ver ela naquele estado.
Uma enfermeira estava passando, então gritei por ela com todas as minhas forças.

Os enfermeiros vieram e tiraram ela dos meus braços. Tentei ir até onde eles
estavam levando—a, mas fui barrado.
Desde aquele dia, não soube mais nada dela. Não sei se ela está viva ou se
aquela foi a primeira e última vez que a vi. Depois disso, terminei com a menina
com quem estava namorando. Me apaixonei por Laís e ela acabou me deixando.
Acho que esse tal de amor não é para mim.

Saio dos meus devaneios assim que ouço meu telefone tocar.

— Lumière. — falo.

— Sobre a diretora da escola, ela está disponível hoje à tarde. Ela disse que
estará à sua espera.

— Tudo bem. Desmarque as outras reuniões. — falo e desligo o telefone.

Ligo o notebook e organizo alguns documentos da nova filial.

Quando chega a hora do almoço, me apresso em sair. Almoço em um


restaurante perto da empresa. Hoje, não vou comer bife com batatas fritas.
Preciso tentar me desapegar dela, por mais difícil que seja.

— Boa tarde. — falo, entrando na sala da diretora.

— Que prazer tê-lo aqui. — ela fala sorridente.

— Agradeço por ter tirado um pouco do seu tempo para me receber. — falo
educadamente.

— Sente-se. — ela fala, apontando para a cadeira em frente da sua mesa.

— E então, senhor Lumière, qual o assunto desta reunião? Está acontecendo


algo que não está agradando o senhor?

— Pelo contrário, estou muito satisfeito. Mas eu gostaria de saber sobre as


notas da minha filha. — falo.
— Mas agora que ela começou, não há muito o que ser questionado sobre
as notas dela. — ela fala, apoiando os braços sobre a mesa.

— Minha filha entrou aqui há pouco tempo, e acho que seria bom para ela
ter uma professora de reforço. — falo, cruzando os braços.

— Isso está a seu critério. Se quiser colocar uma professora de reforço para
sua filha, então depende de você. — ela fala.

— É aí que está o problema. — levanto e vou até a porta, trancando-a. Olho


para ela. — eu quero a Gabriela. Preciso que a demita para que ela aceite o
trabalho que tenho a oferecer a ela. — digo.

— Como assim?

— É simples. — caminho até a mesa dela. — eu quero que você demita a


Gabriela, uma professora eficiente como ela, por mero capricho meu.

Ela parece não ter gostado.

— Isso não sairia de graça. Farei um bom depósito em nome da escola, uma
doação para a reforma. Percebi que a pintura está um pouco desbotada.
Quem sabe trocar o piso? Não acha que seria um bom negócio?

Sugiro.

— Olha, senhor Lumière, eu não sei que tipo de pessoa o senhor acha que
eu sou, mas não posso aceitar suborno. Agora, se o senhor me dá licença, tenho
muito o que fazer. — me levanto da cadeira e vejo um bloco de notas em sua
mesa.

Pego uma das folhas e uma caneta do meu bolso. Escrevo o valor da doação
que faria para a escola e meu número.

— Pense com carinho na minha proposta. Todos sairão ganhando. — falo e


entrego o papel a ela. Saio da sala sem mais delongas.
Capítulo 12
Senhor Lumière sai da minha sala normalmente, como se não tivesse
tentado fazer um suborno pouco tempo atrás. Disquei o número do governador
e, em pouco tempo, sua secretária me atendeu.

— Boa tarde, gostaria de falar com o governador, é a diretora da escola. —


informei o nome da escola e segui todos os protocolos.

— Só um minuto, ele está ocupado. —fiquei mais ou menos uma hora na


linha, já sem paciência.

Já estava sem paciência de tanto esperar.

— Ele já vai atender. — a secretária falou.

Logo a ligação é transferida para ele.

— Diretora. — ele falou.

— Boa tarde, gostaria de falar sobre as reformas da escola, não sei se o


senhor lembra que tínhamos conversado sobre isso. — falei.

— Olha diretora, eu acho que a senhora não está sabendo, mas estamos
enfrentando uma crise, não podemos fornecer a verba para a reforma da escola,
sinto muito.
— Como assim? Os pais estão reclamando da escola, a tinta está desbotada,
o piso está estragado, já faz um bom tempo que não fazemos reforma.

— Não temos verba para isso.

— E o dinheiro das mensalidades, que não são nem um pouco barata?

— Assunto encerrado.

Ele desligou o telefone na minha cara, como pode, as mensalidades dessa


escola são altíssimas, como podem vim falar que não tem dinheiro para reformar
a escola?!.

— Diretora, tem um vazamento no banheiro feminino. — a professora falou


entrando na minha sala.

— Vazamento?

— Sim, uma das alunas que viu. — saí andando rapidamente até o banheiro.

O segurança e o zelador já estão tentando conter o vazamento.

— Já estou até imaginando o que vão dizer, a notícia vai se espalhar


rapidamente. — falei pondo a mão na testa.

— Isso não é nada bom. — a professora falou.

Voltei para a sala, e sentei na cadeira, o que vamos fazer agora?

Eu não posso demitir a professora Gabriela, ela é muito boa no que faz e o
que eu falaria para ela? E se ele for rude com ela?

— Aí o que eu vou fazer? — peguei o papel onde ele deixou anotado o valor
que pagaria e o número dele. Cem mil dólares, daria uma boa reforma na escola
e quem sabe contratar mais alguns professores para diminuir a carga horária
deles.
Levantei e olhei pela janela de vidro, alguns alunos estão fazendo educação
física, quando eu vim para essa escola, pensei que faria diferença, que deixaria
tudo bem organizado e se por acaso eu sair daqui, sairia de consciência limpa por
ter deixado tudo bem organizado, mais agora me vejo tendo que implorar a um
governador para liberar a verba que por direito é nossa, essa é uma escola
particular, mas o pior disso tudo é que o dono é o governador. Talvez seja por isso
que os pais colocam os filhos aqui, achando que aqui terá tudo do bom e do
melhor, e o que os alunos ganham é isso.

Peguei meu celular e disquei o número.

— Precisamos conversar.

— Estou no meu escritório, pode vim aqui.

Desliguei o celular, espero não está sendo equivocada demais, mas se por
acaso esse trabalho que ele quer dar para ela não der certo, ela sempre vai ter
espaço aqui, irei fazer o possível para que ela não passe sufoco, Gabriela é uma
professora como nenhuma outra aqui nessa escola.

— Garanto que não vai se arrepender da sua decisão. — ele falou


estendendo a mão para mim.

— Espero que não mesmo. —falei me sentindo péssima por isso.

— Amanhã mesmo poderá começar a fazer a reforma da escola, não se


preocupe, ela terá um futuro bem melhor trabalhando para mim. — ele falou com
um sorriso de lado.
Eu não sei o que ele viu nela, Gabriela é apenas uma moça simples que cuida
do pai doente, quando ela veio me pedir um trabalho, eu gostei dela logo de início,
nunca demonstrei muito isso, afinal eu sou a diretora e não posso demonstrar
afeto pelos meus subordinados, não em uma escola particular.

— Para não dar muito na cara, eu vou conversar com ela semana que vem,
vou falar que peguei o número dela com a senhora. — ele falou e apenas afirmou
com a cabeça.

Saí da sala dele ainda com o peito apertado pelo que eu fiz, minha vontade
mesmo é voltar na sala dele e falar que não vou fazer isso e ele pode colocar o
dinheiro dele onde o sol não bate.

Vou direto para a escola, não sei como vou falar isso para ela. Passei na sala
em que ela está dando aulas e fico por um tempo apenas observando a forma
como ela trata os alunos.

— Diretora, entre por favor. — ela falou olhando para mim.

— Eu não quero atrapalhar sua aula. — falei

— Venha, estou apenas explicando um pouco de física para eles, mais está
quase na hora de irem embora. — ela falou olhando no relógio de pulso.

— Passe na minha sala por favor, temos um assunto para tratar. — falei e fui
direto para minha sala, sentei e fiquei pensando no que dizer.

Gabriela
Eu fiquei um pouco nervosa com o que ela falou, mas continuei olhando
para as crianças que estavam todas sentadas, apenas esperando o sinal bater.

Após os alunos saírem da sala me dirigi a sala da diretora e bati na porta da


sala e escutei um "entre". Assim que entrei na sala, percebi que ela estava com
uma expressão nada boa.

— A senhora queria me ver? — perguntei, juntando minhas mãos na altura


da cintura.

— Sente-se, temos que falar sobre um assunto muito delicado. — ela falou,
apontando para a cadeira.

Sentei e esperei ela começar.

— Senhorita Kepner, eu sinto muito, mas a senhora está dispensada do seu


cargo de professora. — ela falou, e meu coração falhou algumas batidas no
momento.

— Co... como assim? O que eu fiz? — perguntei, sentindo meus olhos


marejados, com a voz embargada.

— Muitos pais vieram até mim. Eu até tentei amenizar a situação, mas foi
impossível. O incidente com o senhor Lumière veio à tona, e os pais ficaram
sabendo que a senhorita tirou sua blusa na frente dos alunos. — ela falou, e me
lembrei daquele dia.

— Eu estava me queimando. O que eu deveria ter feito? — perguntei,


tentando fazê-la entender que não foi minha culpa.

— Mas você estava na frente de um colégio cheio de crianças que são todas
filhas de pais muito ricos, Gabriela. — ela colocou a mão na testa em sinal de
estresse, e eu me ajeitei na cadeira.
— Tudo bem, eu não vou insistir. Vou pegar minhas coisas hoje mesmo. —
falei e levantei da cadeira. Dirigi-me até a porta, e assim que segurei na maçaneta,
ela falou.

— Algo melhor está por vir. Aqui foi apenas o seu ponto de partida. — ela
falou, e não fiz questão de olhar para ela. Saí da sala, e meus olhos derramaram
as lágrimas que tanto tentei segurar.
Capítulo 13
Seria até irônico dizer que eu não estou arrasada. Eu não sei como vai
ser agora. Eu ajudo meu pai nas despesas da casa.

Os livros com os quais eu estava tendo dificuldades para arrumar caem


no chão.

— Droga. — falo, me abaixando. Tento arrumar a bolsa no meu ombro,


mas ela insiste em cair.

— Eu te ajudo. — Samuel fala e me ajuda a pegar os livros. Nos


olhamos por alguns segundos. — Está chorando?!. — nos levantamos ao
mesmo tempo.

— Eu estou bem. — falo, pegando os livros da sua mão.

— Para onde vai com todos esses livros? — ele pergunta, me


encarando.

— Estou indo embora, fui demitida. — falo, dando um sorriso de


deboche, não para ele, e sim para a minha situação atual.

— Como assim? O que aconteceu?

— Não importa mais, eu só quero ir embora daqui. — falo seca.


— Eu te levo. — ele fala e na hora penso em recusar, mas estou com
tantos livros que preferi aceitar.

— Tudo bem, agradeço. — falo e ele pega alguns livros das minhas
mãos.

— Posso saber o que aconteceu? — Samuel pergunta, caminhando ao


meu lado.

— Para falar a verdade, nem eu mesma sei bem o porquê. — falo


dando de ombros.

Falo pensativa. Isso está me afetando, mais do que deveria. Eu amo


dar aulas, eu amo ser professora. Foi a profissão que eu escolhi, e agora isso
foi tirado de mim. Tantos anos tentando ser a melhor, acabei sendo uma
para nada.

— Você quer saber? Isso é injusto. Aquilo foi um acidente. Merda, eu


me queimei. Até hoje estou com a cicatriz porque virou uma bolha enorme
na minha barriga. E agora fui demitida porque tirei minha blusa na frente
dos alunos. O que os pais queriam em? Que eu fosse bem plena até a sala
dos professores e tirasse a droga da minha roupa? — grito as últimas
palavras a todo pulmão.

— Nossa, isso sem dúvidas foi um desabafo. — ele fala e sorri.


Não consigo controlar e sorrio também.

— E agora, o que vai fazer? — Samuel pergunta, dirigindo até minha


casa.

— Ainda não sei, preciso organizar meus pensamentos que estão uma
loucura, e procurar um trabalho o mais rápido possível. — falo.
— Vou procurar algo para você. — ele fala, olhando para mim.
— Minha casa fica logo ali abaixo. — falo, olhando para a casa onde
moramos.

— Ok. — ele para o carro em frente à minha casa, desço e abro a porta
de trás do carro.

— Eu vou abrir a porta e volto para pegar as coisas. — falo.

— Tudo bem. — Samuel fala, batendo continência.

Sorrio pelo jeito bobo dele. Se ele não fosse comprometido, talvez eu
pudesse investir nele... Nossa, o que estou pensando? Agora só posso
pensar em procurar um emprego para mim.

Pego todos os livros com a ajuda dele e deixo tudo na sala. “Depois
organizo isso.” Esses dias não vou ter trabalho mesmo, apenas ficar em casa
e procurar um trabalho. Sei que não vai ser nada fácil, mas por sorte eu
guardei um pouco do dinheiro que recebi e não vai faltar nada esses dias.

— Obrigada, Samuel. Não sei nem como te agradecer. — falo


gentilmente.

— Não tem o que agradecer. Só me fala se precisar de algo. — ele fala


educadamente.

— De um emprego, e de preferência que ganhe muito bem. — ele sorri


e fico olhando para ele.

— Desculpe, vou ver se acho esse trabalho para você. — me despeço


dele e entro novamente em casa.

— Oi, pai. Não sabia que estava aí. — falo, vendo meu pai saindo do
quarto.
— Eu estava tirando um cochilo. O que aconteceu? — ele pergunta,
olhando para a pilha de livros e outras coisas minhas que estavam na escola.

— Eu fui demitida. — falo naturalmente. Na verdade, estou com muita


vontade de chorar, mas meu pai não precisa saber disso.

— E como você está? — ele pergunta, se aproximando de mim.


— Estou bem, muito bem na verdade. — minto.

— Sabe que não é o fim do mundo, né? E que nada vai faltar para nós.
— ele fala confiante.

— Sim, pai. Estamos juntos e isso é o que importa. — falo, segurando


sua mão.

Nada é impossível. Sei que as coisas vão se resolver e logo vou achar
algum trabalho para poder oferecer coisas melhores para meu pai.

— Está certa, filha. Nós dois estamos juntos. — ele sorri


carinhosamente.

Durante o resto do dia, fiz uma bela faxina na casa, joguei tudo o que
não tinha utilidade fora, separei algumas roupas para doação. Sempre que
posso, faço doações para orfanatos e dou roupas para pessoas em situação
de rua. Eu tento fazer a minha parte como cidadã.

— Nossa, quase não consegui terminar de limpar essa casa. — falo,


passando a mão na testa, que está molhada de suor.

— Filha, fiz um lanche para você. — meu pai fala, chegando na porta
do meu quarto.

— Pai, você sabe que não pode ficar perto do fogo, aquece o seu
corpo. — falo, repreendendo-o.
— Eu não posso nem preparar um lanche para você? — ele pergunta,
fazendo uma cara engraçada.

— Tá bom, pai. Mas se cuida, por favor. — falo, pegando o prato. Ele
preparou ovos mexidos e uma torradinha que estava uma delícia.

— E então, o que são todas essas coisas? —ele pergunta, apontando


com a cabeça para as coisas que separei, algumas em sacos de lixo e outras
com os nomes das instituições para as quais vou doar. Tenho muitos livros
infantis. Sei que posso precisar deles mais tarde, mas agora que não preciso,
vou doar para que crianças sem pais possam ter o interesse de ser alguém
na vida. É muito doloroso ver crianças que não são adotadas se perdendo
na vida. Quero poder fazer nem que seja uma pequena diferença para
algumas delas. Sei que não vou mudar o mundo, mas o pouco que faço pode
ajudar alguém. Eu sei disso.

— Livros para orfanatos e roupas para moradores de rua. — falo,


olhando para as caixas onde coloquei as coisas que serão doadas.

— Fazia um tempo que você não se desapegava das suas coisas. — ele
fala.

— Verdade, mas agora vou tentar mudar algumas coisas na minha


vida. — falo.

— Só falta um namorado. — papai fala.

— Isso fica para depois. Agora meu foco é outro. — ele balança a
cabeça em negação.

Meu pai tem mania de sempre querer encontrar um namorado para


mim. Às vezes, isso é um pouco chato, mas sempre relevo.
Sei que ele só quer me ver bem, mas ainda não estou pronta para
entrar em um relacionamento. Como vai ser quando eu encontrar alguém,
isso é, se eu encontrar? "Eu preciso te falar que não tenho útero e nunca
vou ter filhos. Então... está nessa comigo ou não?" Ou será que falo: "Olha
aqui... " —aponto para minha barriga— "nunca vai gerar um filho seu."

Sorrio irônica para mim mesma.

— O que houve? — papai pergunta.

— Nada, pai. Obrigada pelo lanche. Vou terminar aqui. — falo e viro
as costas para ele.

Eu não tenho tempo para pensar em como falar isso para um suposto
namorado, então não preciso pensar nisso.
Capítulo 14
Meu plano já está dando certo. A diretora me ligou dizendo que Gabriela já
não faz mais parte da equipe de professores. Agora é só esperar alguns dias e
convidá-la para ser professora particular da minha filha. Mas, pensando bem,
estou precisando de uma secretária. Talvez ela possa ocupar esse cargo. Sei que
ela não é formada nessa área, mas o trabalho não é muito difícil, e eu poderia
ficar ainda mais perto dela. Irei pensar com calma nesse assunto. Quando eu for
procura-la, já quero ter tudo planejado para que nada dê errado.

Há algumas noites, venho tendo sonhos estranhos. A moça do hospital está


sempre presente nos meus pensamentos. Será que ela ainda está viva? Eu queria
saber o que aconteceu com ela aquele dia.

— Está sonhando acordado? — meu irmão pergunta, entrando na minha


sala.

— O que você quer? — pergunto, voltando a olhar alguns papéis na minha


mesa.

— Como você não para com nenhuma secretária, eu tenho que fazer o
trabalho. A reunião já começou e só falta você. — ele fala sério.

— E por que não me avisou antes?

— Para você saber que uma secretária serve para isso e não para você gritar
com ela o tempo todo. — ele fala e sai da sala.
Caminhamos rapidamente até a sala de reuniões.

— Me perdoem o atraso. — falo, entrando na sala cheia de homens e


mulheres todos formalmente.

— Vamos dar início à reunião. — meu irmão fala e vai até o telão.

— A Lumini Teck está investindo em novos projetos, e estamos prestes a


fechar um contrato bilionário com a Emycompany. — Bruno fala confiante.

— Mas essa não é a empresa da senhorita Lee? — um dos acionistas


pergunta.

— Sim, ela nos mostrou uma proposta muito boa, então iremos assinar o
contrato. — Bruno fala.

— Mas essa empresa não tem nem um ano de existência. Como já quer
investir um valor tão alto nela?

— Eu não concordo. —Outro acionista fala.

— E se não apostarmos nela e depois ela render trilhões? — Bruno pergunta


confiante.

— E se ela não der retorno? Esse dinheiro sairá dos nossos bolsos. Você
arcará com os custos? — um acionista questiona.

— Sim, eu irei arcar com os custos. Não podemos perder a oportunidade de


investir em algo com futuro. Ela está criando novas tecnologias. — Bruno fala.
Penso por um tempo. Meu irmão não toma muitas decisões assim, então tenho
que apoiá-lo nessa.

— Eu concordo com ele. Acho que deveríamos investir nessa empresa. E se


os senhores não têm confiança para investir em novas empresas, podem vender
suas ações para nós dois. Homens de negócios não têm medo de investir.
— falo, levantando.
— Então você concorda com essa loucura? — o pai da Hanna pergunta.

— Sim, estou de acordo. E se os senhores não estiverem, ficarão fora do


negócio e não receberão nada da empresa. — falo, por fim.

— Como assim ficar fora?

— Não receberão nada, apenas eu e meu irmão. Portanto, peço que se


decidam logo. Quero a resposta de todos até as cinco da tarde. — falo e olho para
o meu irmão. — seja firme nas suas decisões. Estou com você. — falo baixo para
que apenas ele me ouça e saio da sala.

O restante da tarde foi um pouco mais tranquilo. Tive duas


videoconferências, nada muito demorado, uma com o meu gerente de finanças e
outra com o CEO de outra empresa.

Depois da última reunião, me pego pensando: e se eu demorar muitos dias


e a senhorita Kepner arrumar outro emprego?

Pego minhas coisas rapidamente e saio da minha sala. Pego o elevador e


desço direto para a garagem.

Entro no carro e, enquanto dirijo, penso no que falar para ela.

— Senhor Lumière. — Gabriela pergunta assim que abre a porta.

— Desculpe aparecer assim na sua casa. — falo.

— O que o traz aqui?

Ela está tão linda. Gabriela está usando um short jeans e uma blusa regata.
Os cabelos estão soltos. Ela está de uma forma como eu ainda não tinha visto.
— Eu posso entrar? — pergunto.

— Bom... claro. — ela fala e me dá passagem.

Entro na casa de Gabriela. É tudo tão simples, mas ao mesmo tempo muito
organizado. Vejo algumas caixas e sacos em um canto. Meu coração falha algumas
batidas com o pensamento de que ela possa ir embora.

— Está se mudando? — pergunto sem muita formalidade.

— Aquilo... não, não. Eu separei alguns livros para levar ao orfanato e alguns
agasalhos para moradores de rua. — ela fala, cheia de orgulho. Mas não aquele
orgulho fútil, e sim aquele orgulho de quem ama ajudar as pessoas.

— Nossa, muito bonito da sua parte. — falo e olho para ela.

— Tenho certeza de que não veio aqui apenas para me dizer isso. — ela fala,
cruzando os braços.

— Gosto do seu jeito. Você vai direto ao ponto. — falo, cruzando os braços
também.

— Não sei se o senhor já sabe, mas eu não sou mais a professora da sua
filha. Então, tenho certeza de que não temos nenhum assunto para tratar. — ela
fala.

Sento no sofá e cruzo as pernas.

— Minha filha comentou sobre isso, e é por isso mesmo que vim aqui. —
minto. Ela senta na poltrona em minha frente e cruza as pernas. Gabriela apoia o
queixo em uma das mãos.

— Continue. — ela fala, sem parecer muito interessada no que vou dizer.

— Tenho um trabalho para lhe oferecer. — falo.

— Do que se trata? Vai me dizer que tem uma escola também? — ela fala
irônica.
— O que vou lhe oferecer é um trabalho um pouco diferente, mas posso
garantir que será muito melhor do que qualquer trabalho em uma escola. — falo,
e ela arqueia a sobrancelha.

— Não tenho interesse. — ela fala e levanta.

Levanto também e me questiono por que ela é tão teimosa.

— Você nem mesmo ouviu o que eu tenho a dizer. — falo, já ficando


nervoso.

— Olha, senhor Lumière, eu não tenho interesse, porque eu sei bem que
tipo de trabalho o senhor quer me oferecer. Eu não sou dessas que o senhor
imagina. Meu pai me criou com muito esforço para eu ser alguém de respeito.
Então, eu não quero o seu emprego. E por favor, vá embora da minha casa. — ela
fala, com constrangimento no olhar.

— Está achando que quero que seja minha submissa? — pergunto, confuso.

— Eu não sou desse tipo. — ela fala, e só aí percebo que ela está realmente
constrangida. Será que ela é...

— Eu vim lhe oferecer um cargo de secretária na minha empresa. Estou há


alguns dias sem uma secretária e, por isso, vim fazer uma proposta. — falo, para
tentar quebrar o clima que ficou um pouco estranho.

— Filha, cheguei. — Vejo um senhor de mais ou menos cinquenta anos


entrando.

— Oi, pai. — ela vai até o senhor e pega algumas sacolas que ele carregava.

— Boa tarde. — falo, assim que ele olha para mim.

— Boa tarde. Filha, você não me falou que teria visita. —O pai dela fala de
forma engraçada.

— Ele já está de saída. — ela fala e olha para mim.


— Não seja mal educada. Venha, rapaz, vou fazer um café para nós. — o pai
dela fala, e ela olha com repreensão para ele.

— Pai, o senhor não pode ficar perto do fogão assim. — Gabriela parece
estar ainda mais constrangida com a situação.

— Por favor, senhor, não precisa do café. Na verdade, vim aqui oferecer um
emprego para sua filha. Mas ela ainda não me deu resposta. — falo, olhando para
ela.

— Do que se trata? — o pai de Gabriela pergunta.

— Quero que ela seja minha secretária. A empresa paga vale-refeição, tem
um bom plano de saúde que cobre qualquer doença e cirurgias, tem
valetransporte, auxílio-moradia e paga um bom salário. Também pagamos horas
extras, ao todo uns vinte mil dólares. — deixo bem claro sobre o plano de saúde.
Quero que ela aceite minha oferta, se não for por ela, mas tenho certeza de que
aceitará pelo pai.

— O plano cobre tudo? — ela pergunta, um pouco envergonhada.

— Sim, passe na empresa se tiver interesse. Aqui está meu cartão. —


entrego o cartão da empresa para ela.

— Vou pensar com calma sobre isso. — Gabriela fala, olhando para o cartão.

— Já estou de saída então. Foi um prazer conhecer o senhor. Me perdoe


pela falta de educação. Meu nome é Bernardo. — estendo a mão para ele, que
pega logo em seguida.

— O prazer foi meu, rapaz. Meu nome é João. — ele fala com um sorriso
calmo.

— Até mais, senhorita Kepner. — falo e viro as costas.


— Filha, você não ia levar essas coisas para o orfanato hoje? — o pai de
Gabriela pergunta.

— Pai...

Olho para os dois, que estão se encarando.

— Eu posso ajudar. — falo.

— Não precisa. — ela fala séria.

— Não custa nada. — senhor João fala.

— Pai...

Gabriela repreende o pai novamente.

— Tudo bem, não é incômodo. Vamos, é só me falar onde fica. — falo e vou
até uma das caixas.

Gabriela olha para o pai, ainda sem acreditar que ele falou.
Capítulo 15
Eu não sei o que fazer com o meu pai. Ele quase me jogou nos braços do
senhor Lumière.

— É nesta rua? — ele pergunta dirigindo.

— Sim, vire à direita e logo você vai ver o orfanato. — falo séria.

— Não precisa ficar com essa cara amarrada. — ele fala, e olho para ele.

— Cara amarrada?

— Sim, desde que saímos da sua casa você está assim. — ele fala
naturalmente.

Olho para o meu rosto no retrovisor do carro e percebo que realmente estou
como ele falou. Tento mudar minha expressão.

— Minha filha gosta muito de você. Até pensei em pedir que fosse
professora de reforço dela, mas eu estou precisando de uma secretária com
urgência. — ele fala e olha para mim. Seus olhos carregam um misto de solidão e
tristeza.
— Eu também gosto muito dela. Brenda é uma menina incrível. Poucas
crianças daquela escola são como ela. — falo.

— Então, aceite trabalhar para mim. Assim poderá vê-la algumas vezes. —
ele fala e me lança um olhar.

— Eu não sou formada nessa área. — falo.

— Não preciso de formação. Só preciso de você... bem, quero dizer, dos seus
serviços. — ele fala, e por um segundo, sinto minha consciência me alertando.

— É ali. — aponto para o lugar.

— Obrigada mais uma vez, querida. — a orientadora do orfanato agradece.

— Sabe que faço isso com todo carinho. Quero que essas crianças tenham
um futuro promissor. — olho as crianças se alimentando. Isso aquece meu
coração.

— Por favor, passe o número da conta. Quero fazer uma doação. Quero que
compre roupas, brinquedos para eles e mais mantimentos. Vou depositar uma
quantia todos os meses para eles. — senhor Lumière fala, olhando as crianças. Ele
está tão lindo. As mãos nos bolsos da calça social, ele está sem o paletó, o que o
deixa ainda mais atraente.

— Você não imagina o quanto isso é importante para as crianças. Agradeço


muito. — ela fala sorridente.

— Temos que ir. O senhor Lumière precisa voltar para casa. Ele também tem
uma filha, e ela precisa de atenção. — sorrio ao lembrar dela. Que saudade que
já estou daquela sapeca.
— Obrigada mais uma vez. E venha sempre que quiser nos fazer uma visita.
— ela fala.

— Sempre que eu puder, vou passar aqui para ver as crianças. — falo.

—Até mais. — Bernardo fala, e saímos do orfanato.

— Obrigada por ter me acompanhado. Se quiser, pode me deixar em algum


ponto de ônibus. — falo.

— Se a senhorita não se incomodar, eu poderia passar na minha empresa


para pegar alguns papéis que esqueci. Depois, a levo para casa. Já está um pouco
tarde, e a essa hora fica perigoso andar na rua. — olho para ele com um pouco de
receio, mas aceno com a cabeça que sim.

— Não vou demorar. — ele fala.

Não demora muito para ele entrar na garagem de um grande arranha-céu.


Fico perplexa com o tamanho do prédio.

Assim que ele para o carro, vem até o meu lado e abre a porta para mim.

— Venha conhecer a empresa. — ele estende a mão para mim, e fico


olhando por alguns segundos. Talvez eu esteja pensando em trabalhar para ele.
Mas ele mexe comigo de alguma forma, e tenho medo de perder o controle.

— Eu posso sair sozinha. — falo, saindo do carro. Ele me olha por alguns
segundos, e, incrivelmente, vejo um pequeno sorriso se formando em seus lábios.

— Tudo bem, me acompanhe. — ele caminha lentamente até o elevador.


No estacionamento, não há muitos carros, provavelmente por causa do horário.
Assim que entramos no elevador, ele aperta o botão do vigésimo sexto andar. Por
isso o prédio é tão grande. Talvez seja a cobertura.

Assim que o elevador se abre, ele passa por mim. Saio do elevador e me
encanto com a grandiosidade do lugar. Tudo tão bem arrumado. As cores cinza e
nude se destacam nas paredes. Os móveis parecem ter sido feitos especialmente
para aquele lugar.

— Se vier trabalhar para mim, você terá uma sala só para você. Venha, vou
lhe mostrar. — passamos por uma recepção, e depois ele me leva até uma sala.
Os tons branco e lilás definem que apenas mulheres ocupam aquele espaço.

Os móveis, assim como na recepção, são todos perfeitamente combinados


com o ambiente. Tem uma parede de vidro que mostra a cidade e seus arranha—
céus, mas nenhum deles parece ser tão grande como este.

Viro para ele, que me olha atento a cada movimento que faço.

— Se... eu disser "se" eu aceitar trabalhar para você, eu realmente vou ter
um bom plano de saúde? — pergunto, e ele cruza os braços na altura do peito.

— Sim, você, como secretária particular do CEO, receberá regalias que


nenhum outro recebe. — ele fala formalmente.

— E por que me escolheu? — pergunto.

— Já falei... minha filha elogia muito você, e eu preciso de alguém de


confiança para trabalhar para mim. — ele fala, e eu suspiro.

Eu realmente preciso de um trabalho, e ele vai me pagar um bom plano de


saúde. Meu pai poderá receber tratamento em hospitais particulares sem eu me
preocupar com isso.

— Tudo bem, eu aceito. — falo, e ele abaixa os braços que antes estavam
cruzados.

— Amanhã mesmo você pode vir. Vá até o RH, no segundo andar, e


acertaremos tudo. Você já pode ser incluída no plano de saúde e receberá um
adiantamento. — senhor Lumière caminha até uma porta que até então eu não
tinha prestado atenção, e a abre.

Ele caminha a passos curtos para o interior da sala.

— Aqui é a minha sala, e a sala de reuniões fica no vigésimo quinto andar.


Vou leva-la até lá, e depois a levo para casa. — a sala dele tem um tom mais
rústico. Assim como a outra sala, tem uma grande parede de vidro com vista para
a cidade.

Ele volta para a minha futura sala e depois vai para a recepção. Nós dois
seguimos para o elevador.

— Aqui fica a sala de reuniões e o andar da administração. No vigésimo


quarto, fica toda a equipe de advogados. No vigésimo terceiro, a equipe de design
dos nossos aparelhos. Estou passando isso para você porque sempre preciso que
você trabalhe nessa área. Eu preciso aprovar os designs de tudo o que será
divulgado. Os advogados estão sempre à disposição para questões jurídicas, e a
administração para eu ter sempre o controle dos gastos e dos lucros.
Fique atenta a isso. — ele fala, e volta para o elevador.

Bernardo

Não tem como eu negar minha felicidade por ela ter aceito a minha
proposta. Vendo por fora, eu pareço ser obsessivo, mas eu não me considero
assim. Algo nela me chama a atenção, e eu posso estar indo longe demais com
isso, mas eu a quero perto de mim. Quero saber onde ela vai, com quem ela anda,
se tem alguém em sua vida ou se eu posso ter algo com ela, nem que seja uma
noite.
— Esteja na empresa às sete. Você trabalha de segunda a sexta, entra às
oito e sai às onze para o almoço, retorna às duas e sai às cinco. Nossos horários
são bem flexíveis. — falo.

— Tudo bem. — ela responde, e saímos do elevador. Assim que chegamos


perto do meu carro, abro a porta e ela revira os olhos. Gabriela entra no carro, e
vou para o lado do motorista.

— A empresa fica longe da sua casa. Com o auxílio moradia, poderá procurar
um apartamento mais perto do trabalho. — falo, dando partida no carro.

— Eu não vou sair da casa em que moro. Gosto dos meus vizinhos, e elas
me ajudam muito a cuidar do meu pai. —Ela fala, olhando pelo vidro do carro.

— A senhorita pode achar novos vizinhos. — falo.

— Isso está fora de questão. Não vou sair da minha casa, e assunto
encerrado. — ela fala e cruza os braços.

—Tudo bem, foi apenas um palpite. — falo, dando o assunto por encerrado.

O trânsito hoje estava bem agitado. Demorou mais do que o esperado para
deixa-la em casa. Não que eu tenha achado isso ruim. Muito pelo contrário.
Andar de carro nunca foi tão bom.

— Chegamos. — falo, parando o carro na frente de sua casa.

— Obrigada, amanhã estarei lá. — ela sai do carro e logo entra em casa.
Apenas seu perfume me resta dentro do carro.

— Quero que disponibilize um carro da empresa para a minha secretária.


— falo para meu irmão, que é quem fica responsável por essa parte.
— Como assim? Você tem secretária?

— Ela assinará a carteira amanhã, e mora muito longe do trabalho. — falo.

— Você nunca se importou com isso, por que só agora? — Ele pergunta.

— Porque, como CEO da empresa, estou mandando você disponibilizar um


carro para ela. — falo com raiva.

— Ok, ok, mas você sabe se ela tem carta de motorista? — Bruno pergunta,
cruzando os braços.

— Se ela não tiver, dê um jeito. Compre uma carteira, faça qualquer coisa
do tipo. — falo e bebo um gole de whisky.

— Com certeza, eu preciso conhecer essa mulher. Se ela durar um mês, pode
ser considerada uma fada. — ele fala e sai sorrindo da sala.

— Seu moleque, acha que sou o quê? — pergunto furioso.

Bruno faz de conta que não ouviu e vai embora.

(Dia seguinte)

Não consegui dormir bem à noite, então me levantei e segui para a


academia da minha casa. Meia hora fazendo flexão e depois meia hora fazendo
abdominal. Ainda não estava satisfeito, então decidi sair para correr.

Minha cabeça está cheia de pensamentos inapropriados com a senhorita


Kepner. Quando consegui dormir, sonhei com ela. E posso garantir que o que
estávamos fazendo não era apenas trabalhar juntos. Foi um sonho tão real. E logo
depois sonhei com a moça do hospital. Frequentemente, ela está me visitando em
meus sonhos.
Dou três voltas no quarteirão, olho no meu relógio e já são seis e meia da
manhã. Sigo para casa, e assim que entro, vejo minha filha sentada no sofá.

— O que faz acordada a essa hora? — pergunto.

— Hoje tenho aula de balé na escola e depois aula de piano. — ela fala,
passando a mão nos olhos.

— Eu te levo. Só vou tomar um banho. — subo as escadas rapidamente,


entro embaixo da água morna. Deixo a água tirar todas as impurezas do meu
corpo. Passo meu sabonete líquido e depois ligo o chuveiro novamente. Tiro todo
o sabonete e saio do banho.

— Vamos? — pergunto, e ela não parece muito animada. Brenda levanta, e


seguimos até o carro.

— Aconteceu algo? — pergunto.

— A professora que eu gostava foi demitida. As minhas aulas agora são


todas chatas. — ela fala, fazendo um bico.

— Qual delas? — me faço de desentendido.

— Aquela que derramou café em você. — ela fala.

— Ah, sim, lembrei dela. — falo.

— A Gabriela é a melhor professora que já conheci. Fiquei muito triste


quando soube que ela foi demitida. — mal sabe ela que Gabriela vai trabalhar
para mim. Daqui um mês, tenho uma viagem a negócios. Estou pensando em leva-
las. Acho que Brenda vai ficar muito feliz quando ver ela. Já imagino que Gabriela
também ficará da mesma forma.

— Logo você conhecerá uma bem melhor. — falo, querendo fazer uma
surpresa para ela.
Deixo Brenda na escola e vou para a empresa. Entro com o carro na garagem
e vou direto para o elevador. Estou me sentindo como uma criança de cinco anos,
quando a mãe ou o pai fala que vai dar um presente. Estou sentindo meu
estômago revirar.

— Se recomponha, Bernardo. Você não é mais um adolescente. — me


repreendo.

Passo pela recepção e vou a passos largos até a sala onde Gabriela irá
ocupar. Assim que abro a porta rapidamente, vejo ela. E algo dentro de mim se
suaviza. Só aí percebo que estava com medo dela não ter aceito o trabalho. Medo
de que ela não estivesse aqui.

— Bom dia, senhor Lumière. Eu cheguei um pouco mais cedo e já olhei sua
agenda de hoje. Está tudo anotado e as reuniões confirmadas. — ela fala de forma
calma.

Respiro fundo e tento me recompor.

— Ok, pode me acompanhar até minha sala. Enquanto isso, pode falar sobre
a minha agenda. — falo, fingindo descaso, e vou para minha sala.
Capítulo 16
Já faz um mês que estou trabalhando para o senhor Lumière, e até
agora estou adorando. Já recebi um adiantamento, o que me ajudou a
comprar novas roupas para mim e para o meu pai, alguns utensílios que eu
estava precisando e outros para facilitar a vida do meu pai. Eu não deixo ele
chegar perto do fogo. Tenho medo de algo acontecer, de ele se machucar ou
desmaiar perto do fogão. Várias coisas passam pela minha cabeça.

— Bom dia, senhorita Kepner. Pode vir até minha sala? — senhor
Lumière fala e entra para a sua sala. Me apresso a ir até lá.

— Eu já deixei sua agenda toda organizada. Todas as reuniões da


segunda já estão em ordem. — falo, segurando o tablet.

— Eu tenho uma reunião e preciso que me acompanhe. Leve poucas


roupas. Se precisar de algo, compre lá. — ele fala, e fico tentando entender
do que ele está falando.

— Pode repetir? Acho que não entendi. — falo, pondo uma mecha de
cabelo atrás da orelha.

— Desculpe, vou ser mais específico. Temos uma reunião em São


Francisco, na Califórnia, e preciso que a senhorita me acompanhe. Iremos
hoje e voltaremos no domingo à noite. — ele fala, e engulo em seco.
— Mas hoje é sexta. Eu não trabalho nos finais de semana. — falo,
franzindo a testa.

— Não se preocupe. Receberá hora extra. Está liberada. Arrume suas


coisas e depois pode vir para cá. E daqui nós vamos para o aeroporto. — ele
fala, enquanto pega alguns papéis.

— Bom... tudo bem. — falo e saio de sua sala.

Eu não vou mentir e dizer que não fiquei chateada com isso, porque
fiquei. Assim como fiquei zangada quando, no meu segundo dia de trabalho,
ele apareceu na minha sala falando que tinha um carro disponível para mim.
Eu não tenho carteira de motorista. O que eu iria fazer com um carro?

Respiro fundo e arrumo minha bolsa, que estava na cadeira. Entro no


elevador e desço para a recepção. Eu não aceitei o carro. Ele argumentou de
todas as formas, mas eu não quis. O que eu iria dizer para meus vizinhos
quando eu chegasse lá com um carro? Com certeza iriam pensar que estou
roubando ou algo do tipo. Chamo um táxi e sigo para minha casa.

— Pai, cheguei. — falo, entrando.

Ele não responde. Provavelmente saiu. Vou para o meu quarto e pego
uma pequena mala. Coloco algumas mudas de roupas e dois pares de
sapatos. Pego um nécessaire e coloco meus produtos pessoais:
desodorante, perfume, etc. Acho que o único benefício que a endometriose
me trouxe foi não me preocupar em ficar menstruada. A maior
consequência foi a falta de autoconfiança. Tiro minha roupa e me enrolo em
uma toalha. Vou para o banheiro e ligo o chuveiro. Aproveito para fazer
minha depilação: pernas, axilas e a virilha, mesmo que ela não seja usada.
Mas sempre a mantenho bem limpinha. Pego o vidro de shampoo e despejo
um pouco na mão. Passo nos meus cabelos aos poucos. Depois, tiro o
produto e passo o condicionador. Aproveito e faço uma rápida hidratação
nos meus fios. Acho que vou precisar cortar algumas pontinhas. Saio do
banheiro e vou para o meu quarto. Pego as roupas que vou usar na viagem.
Escolhi um vestido branco soltinho e uma jaqueta jeans. Calço um salto
preto e me olho no espelho. A roupa combinou perfeitamente comigo.
Ainda não tinha usado o vestido. Como é uma viagem um pouco longa,
tenho que me vestir de uma forma que me sinta bem. Acho que está
perfeito.

Termino de arrumar minha bolsa e saio do quarto. Assim que cruzo a


porta, vejo uma cena inusitada. Meu pai está aos beijos com uma mulher.

Tento voltar para o quarto sem ser notada, mas assim que a bolsa que
eu estava carregando bate em uma mesinha de canto, um porta-retrato cai,
e os dois me olham.

— Filha...

Sorrio sem graça.

— Me desculpem, eu não queria...

— Eu não sabia que você estava aqui. Você deveria estar no trabalho
a essa hora. — ele fala, visivelmente desconfortável.

— Eu volto outra hora. — a mulher fala. Só aí que meus olhos recaem


sobre ela. Não tem como negar que ela é muito bonita. Os cabelos castanhos
na altura do ombro, a pele morena. Mas o que me chamou a atenção foram
seus olhos. Poderia facilmente dizer que nós duas nos parecemos.
Eu não acho tão estranho meu pai estar com uma mulher. Apesar de
ter um câncer, ele ainda pode levar uma vida normal. É irônico pensar que
eu sou virgem às vezes.

— Por favor, fique. — falo, e ela me olha de forma diferente. — pai,


meu chefe teve uma viagem de última hora. Eu não queria ir, mas é
inevitável. Eu liguei para a Maria e pedi para ela sempre vir aqui. Mas me
parece que o senhor já tem uma companhia. Por favor, cuide-se. — falo, me
aproximando dele.

— Pode ir tranquila, meu amor. Vou ficar bem. — ele ainda está
estranho. Talvez seja vergonha por eu tê-lo pego no flagra, mas acho isso
normal.

— Ok, estou de saída. — falo e saio de casa.

Assim que chego do lado de fora da minha casa, um carro se aproxima.


O vidro baixa, e lá está ele, o bonitão do meu chefe. Esse cara poderia ter
uma beleza moderada, mas não. Ele tem que ser tão bonito e me deixar
excitada às vezes.

— Entre. — ele fala, sério e de forma sexy.

Reviro os olhos e entro no carro.

— Eu já estava indo para a empresa. — falo, depois de alguns minutos.

— Iria demorar. Eu já estava aqui perto. — ele fala, colocando uma das
mãos no queixo enquanto a outra está no volante.

Por que ele tem que ser tão bonito e sexy? Deveria ser proibido
alguém com tamanha beleza.
Capítulo 17
Olho para ela saindo da minha sala, claramente insatisfeita com o que
falei. Ligo o computador e a observo através da câmera de sua sala. Gabriela
balbucia algo que imagino ser vários xingamentos direcionados a mim, mas
isso não me afeta. Sei que não sou o melhor chefe, mas preciso estar perto
dela nesses dias.

Para ela, é apenas uma viagem a trabalho. Para mim, é uma chance de
descobrir quem é realmente Gabriela Kepner.

— Nossa. — ela fala, olhando para o meu jato particular. Nós iríamos
de helicóptero, mas o piloto precisou fazer algumas verificações e não estava
apto para uma viagem tão longa. Afinal, são seis horas de viagem.

— Deixe-me ajudar. — falo, abrindo a porta do motorista para descer.


Vou até o lado do passageiro e estendo a mão para que ela desça também.

— Obrigada, senhor Lumière. — ela fala, visivelmente constrangida.

Ela desce do carro, e fecho a porta do veículo. Logo, um dos meus


funcionários se aproxima, e faço sinal para que pegue as malas no carro.

— Vamos? — pergunto, e ela me olha. Como ela pode ser tão bonita
e, ao mesmo tempo, tão simples? Já faz um mês que ela trabalha para mim,
e mesmo nos dias em que estou estressado, ela me suporta sem reclamar.
Talvez seja apenas por causa do plano de saúde, que é muito bom para seu
pai, ou pelo salário, que não é nada mal em comparação ao que ela recebia
antes. Não sei quais são seus motivos, mas espero que ela tenha muitos para
não querer sair de perto de mim.

Entramos no jatinho, e logo o piloto avisa que estamos decolando.


Gabriela não para de olhar para os lados e fazer batuques com as unhas no
braço da poltrona. Percebo que ela está nervosa.

— É sua primeira vez? — pergunto, e ela me olha com espanto.


— Como assim?

— A primeira vez que viaja de jatinho?

— Sim, e, para falar a verdade, não gostei. — ela fala, me fazendo


soltar uma leve gargalhada.

— Não fique nervosa. Feche os olhos e imagine-se no melhor lugar do


mundo. — falo suavemente. O piloto anuncia que já estamos decolando, e
ela abre os olhos que eu havia conseguido fazer fechar há pouco e me olha.

Gabriela e eu estávamos bem próximos um do outro. Em um


movimento rápido, ela segura minha mão com força. Sua pele é tão macia,
mas sua mão está fria. Talvez seja pelo nervosismo do primeiro voo. Mesmo
com sua pele gelada, ainda assim, gostei do seu toque.

Quando a aeronave fica estável, ela percebe que estamos bem


próximos e que sua mão ainda está junto da minha.

— Me desculpe, senhor. Foi o nervosismo. — ela fala, e seu rosto fica


ruborizado.
— Não se preocupe. — falo, me ajeitando na poltrona. — você verá o
quanto São Francisco é lindo. Tem lugares maravilhosos para serem
visitados.

— Não teremos tempo para isso. — ela fala, e lembro que não estou
levando-a para um passeio, mas sim a trabalho, pelo menos é isso que ela
pensa.

— Verdade. Quem sabe algum dia você possa ir novamente, quem


sabe com o namorado. — falo, e ela me olha séria.

— Eu não namoro, senhor Lumière. — ela fala séria.

Quem sabe eu a faça mudar de ideia. Tenho meus valores e posso falar
com convicção que não são poucos.

Não toco mais no assunto, e ficamos algum tempo em silêncio. Estou


fazendo algumas anotações no tablet. Olho para ela, que está em silêncio
durante todo esse tempo, e me surpreendo quando vejo que ela está
dormindo. Uma mecha de cabelo está sobre seu rosto. Me aproximo
lentamente e passo o dedo na pequena mecha, fazendo-a ficar atrás de sua
orelha. Seu rosto me parece tão familiar, mas não lembro onde posso tê-la
visto. Com certeza, eu me lembraria.

Continuo fazendo minhas anotações, mas, vez ou outra, olho para ela
dormindo. Gabriela tem um jeito simples e calmo. Acho que é por isso que
ela era professora. Durante esse mês que ela está trabalhando para mim,
me perguntei várias vezes se foi certo o que eu fiz. A pessoa que segue a
profissão de professora de crianças, com certeza, tem o dom para isso. Não
é qualquer pessoa que consegue essa dádiva.

As horas passam rapidamente, e logo estamos em nosso destino.


Conseguimos pousar na pista do hotel onde ficaremos. O hotel
pertence a um dos meus sócios, então ele liberou a pista para meu jato
particular.

Gabriela está dormindo tão tranquilamente que não consigo acordá-


la. A pego no colo, com todo cuidado para não a acordar, e saio da aeronave.
Seu corpo é tão leve que nem precisei fazer muito esforço para carrega-la.

Entro no hotel pela porta particular, levo-a até o quarto e a coloco na cama.
Eu poderia facilmente ficar olhando-a dormir por um tempo indeterminado,
mas não posso. Esse sentimento que estou desenvolvendo por ela acabará
me machucando profundamente. Gabriela nunca me entenderá. Ela precisa
de alguém que a ame acima de tudo, e não alguém que esteja ligado a
alguém que não está mais entre nós.

Saio de seus aposentos e vou até a recepção.

— Boa noite. Fiz as reservas hoje de manhã. — falo para a


recepcionista, que me olha com um olhar malicioso.

— Está tudo certo. — ela fala, lançando um sorriso de lado.

Não gosto de mulheres oferecidas. Outros homens em meu lugar não


dispensariam uma noite de sexo com ela, mas não considero as mulheres
como um pedaço de carne que serve apenas para uma refeição. Não posso
negar que cheguei a pensar em passar apenas uma noite com a senhorita
Kepner, mas meus motivos são fortes o suficiente para saber que ela não me
aceitará como marido.

Logo depois do que aconteceu com a minha falecida noiva, fiz uma
vasectomia. Além do medo de que isso acontecesse com outra pessoa que
eu amasse, frequentemente vinha à minha cabeça que poderia ter filhos
com qualquer um dos meus casos. Não preciso de outro filho ou filha. Não
consigo sequer ter uma boa conversa com a minha filha. Imagina ter outros?
Gabriela é uma mulher jovem, com certeza tem planos para o futuro, como
formar uma família, educar os filhos e ensiná-los o que é certo e errado.
Ninguém da minha família sabe disso, nem mesmo meu irmão, que é meu
confidente. Não preciso de pessoas para me criticar. E eu, em minha plena
consciência, sei que eu e Gabriela nunca seremos mais do que patrão e
funcionária.

— Obrigado. — saio da recepção e vou até o restaurante. Faço minhas


refeições e peço para levarem algo para ela comer. Subo para o meu quarto
e, assim que entro, logo tiro minha roupa. Retiro a gravata, os sapatos, a
camisa e, por último, a calça. Tiro também as meias e a cueca boxer. Vou
para o banheiro e ligo o chuveiro.

Apesar da viagem ter sido longa, não estou com sono. Minha cabeça
está cheia de pensamentos inconvenientes. Sento—me na varanda do
quarto e tomo um gole do meu whisky. A noite está bonita, com uma lua
cheia que deixa o céu com uma visão perfeitamente linda. Meu quarto fica
ao lado do quarto de Gabriela. Meu subconsciente está travando uma
batalha com o meu eu interior para não ir até seu quarto. Preciso me
controlar, preciso fazer algo que me faça esquecê-la. Por que a trouxe para
essa viagem? Esse seria o momento perfeito para afastá-la de mim.

Com muita persistência, depois de tomar mais um pouco da minha


bebida, decido deitar e tentar dormir.
Capítulo 18

Meu corpo está tão leve, como se tivesse dormido em uma nuvem. Abro os
olhos e percebo que não estou em casa, e para falar a verdade, nunca estive em
um lugar tão lindo. O quarto é enorme, tudo bem arrumado, com paredes claras,
móveis perfeitamente alinhados e combinando com o ambiente. Só não me
lembro de como vim parar aqui, acho que sou sonâmbula.

Pego meu celular e vejo a hora, droga, já estou atrasada. Levanto


rapidamente, faço minha higiene pessoal e visto uma das roupas que trouxe. Calço
a mesma sandália de ontem e saio do quarto. Meus cabelos estão soltos, tento
prendê-los enquanto ando rapidamente para o elevador, mas nem mesmo sei
onde fica. Vou para um lado do corredor e vejo que não é por ali, então vou para
o outro lado e finalmente encontro o elevador. Me apresso para chegar até ele,
mas meu cabelo ainda está desarrumado. Quando estava perto de finalizar o
penteado, meu corpo se choca com alguém.

— Me desculpe, eu...

Paro de falar quando vejo o homem à minha frente. Ele é alto, forte e muito,
muito bonito. Uma beleza dessas só encontrei em uma pessoa, que
provavelmente está querendo me matar agora.
— Tudo bem, vejo que a senhorita está com pressa. — ele fala com um lindo
sorriso no rosto.

— Eu... me desculpe mais uma vez, eu preciso ir. — entro no elevador e o


rapaz que está nele pergunta para onde quero ir.

— Para o restaurante. O senhor Lumière me falou que sua reunião seria no


restaurante do hotel e depois ele se encontraria com o dono do hotel.

Provavelmente será aqui mesmo.

Não demora muito e já estou atravessando a grande porta do restaurante.


Vejo ele sentado em uma mesa, com expressão tranquila. Minha amiga lá embaixo
dá sinal de que queria passear naquele parque de diversões.

— Se controle, sua louca. — sussurro para mim mesma, e seus olhos


encontram os meus. Abaixo a cabeça sem graça.

— Bom dia, senhorita Kepner. — senhor Lumière fala, e olho para ele.

— Bom dia, senhor. Estou muito atrasada? — pergunto, apertando uma mão
na outra.

— Não se preocupe com isso, dormiu bem? — ele pergunta e aponta uma
cadeira para mim.

— Sim, obrigada. — falo, sentando.

— Tome seu café, peça o que quiser. — ele fala, e me pergunto o que mais
eu queria, a mesa está repleta de coisas, uma mais gostosa que a outra.

— Não precisa. Pela manhã, eu não como quase nada. — então pego apenas
uma pera. — não estamos atrasados para a reunião?

Pergunto, e ele me olha. E que olhada, poderia dizer que senti minha
calcinha se encharcar só com esse olhar.
— Eu já fui à reunião, não se preocupe. — ele fala, fazendo—me engasgar.

— Como assim, eu dormi tanto assim? — ele abre um pequeno sorriso.

— Não, não tinha nada que a senhorita pudesse fazer, então deixei que
dormisse e fui sozinho. — ele fala e toma um gole do que parece ser um café.

— Me desculpe se dormi demais. — falo.

— Bernardo. — uma voz masculina fala por trás de mim.

— Erick. — ele levanta e me prontifico a levantar também. Viro e dou de


cara com o homem do corredor.

— Nossa, que prazer rever a senhorita. — ele fala, e senhor Lumière nos
olha.

— Você já conhece a senhorita Kepner? — ele pergunta de forma dura.

— Não. — falo.

— Nós nos encontramos no corredor, ela estava com bastante pressa. — ele
fala e olha para senhor Lumière, que está com cara de poucos amigos.

— Já vi que não posso deixar minha secretária sozinha, nem por um


segundo. — ele fala e senta onde estava há pouco. Não entendi bem sua reação.

— Jamais faria algo contra a vontade dela. — ele fala e senta perto do
senhor Lumière.

— Senhorita Kepner, pode ir para seus aposentos se assim desejar. — senhor


Lumière fala, me olhando sério.

Faço que sim com a cabeça e viro para sair. Assim que dou alguns passos,
ouço a voz do senhor Lumière.

— Tire o olho dela, você não é homem para ela.


Finjo que não ouvi nada e vou para meu quarto. Na verdade, tentei chegar
até meu quarto, mas me perdi duas vezes. Até que perguntei para uma das
camareiras e ela me disse onde ficava o meu quarto. Elas carregam um tablet onde
informam o quarto de cada hóspede. Achei uma ideia muito inovadora.

A frase que o senhor Lumière falou não sai da minha cabeça. O que ele quis
dizer com "Você não é homem para ela"? Será por causa da minha conta bancária,
que não chega nem perto da deles? Aquilo me deixou bastante chateada.

Entro no banheiro, tiro minha roupa e ligo o chuveiro. Entro embaixo da


água morna, que deixa o box do banheiro todo embaçado. Passo a mão em minha
barriga e, por um minuto, penso: qual seria a sensação de ter uma criança
crescendo em meu útero? Eu nunca vou saber verdadeiramente esse sentimento.
Levanto a cabeça e, por um minuto, imagino tê-lo visto me olhando. Desligo o
chuveiro rapidamente e, quando olho novamente, não tem ninguém. São apenas
frutos da minha imaginação.

Como pensei, não tem ninguém no quarto. Separo uma roupa e vou pentear
meus cabelos. O reflexo que vi dele era tão real. Será que estou enlouquecendo?

Meu celular começa a tocar. Pego e vejo o nome da Sandra na tela.

— Por que não me contou que estava indo para San Francisco? — ela grita
do outro lado da linha.

— Desculpa, amiga. Foi tudo de última hora, não tive tempo de fazer nada.

— E como é aí?

— Ainda não saí do hotel, mas a vista da varanda é linda. Tem um mar bem
em frente. O hotel é muito sofisticado, e só faltou você aqui.

— Aí, amiga, precisamos nos ver para colocar os assuntos em dia. Depois
que foi trabalhar para esse cara, que não lembro o nome, você não tem tempo de
nada.
— Me desculpe. Esses dias estão um pouco difíceis. Ele tinha muito trabalho
acumulado, estou terminando de organizar tudo e vamos marcar algo.

— Que dia você volta?

— Ainda não sei. Você poderia ir ver meu pai para mim?

— Claro. E o que acha de, quando você voltar, fazermos um jantar na sua
casa? Quero apresentar meu namorado para seu pai, e ele está louco para te
conhecer.

— Ok, combinado então.

— Vou deixar você fazer suas coisas. Me liga quando quiser. — ela fala e
desliga logo em seguida.

Termino de me arrumar e, quando pego o celular, vejo um e-mail do senhor


Lumière.

“De: Bernardo Lumière Para:

Senhorita Kepner

Assunto: Relatório

Prezada senhorita Kepner,

Estou precisando que venha até meus aposentos. Estou com dificuldade de
entender um dos seus relatórios da última reunião. Fica ao lado do seu quarto.

Atenciosamente:

Bernardo Lumière

CEO LUMINI TECK”

Suspiro pesadamente. Saio do quarto e vou até o dele. Bato na porta e ouço
um "entre".
Meu coração falha algumas batidas quando vejo que ele está usando apenas
uma calça jeans e sem camisa.

— Me desculpe, senhor. — Falo, desviando o olhar de seu abdômen sarado.

— Tudo bem, senhorita Kepner. Não precisa ficar assim. — ele fala
normalmente.

— Eu não estou... O senhor poderia vestir uma camisa? — ele não fala nada
por alguns segundos.

Só aí percebo que ele saiu.

— Pode olhar agora. —ele está usando uma camisa polo branca.

— Obrigada, e me desculpe. — falo envergonhada.

— Tudo bem, não imaginei que te deixaria constrangida. — ele fala e senta
em uma poltrona. Seu quarto é bem parecido com o meu. — sente-se, por favor.
Vou mostrar a parte que não entendi. — ele procura algo no notebook, enquanto
eu fico apenas observando seu rosto.

Minha vontade é questioná-lo sobre o que ouvi mais cedo, mas não tenho
coragem.

— Aqui. — ele vira a tela do notebook para mim.

Expliquei para ele o que tinha acontecido na hora da reunião. Ele estava um
pouco distraído e não viu quando dois acionistas estavam discutindo por causa de
um investimento que não deu muito certo. Alguns perderam uma boa quantia,
quantia essa que eu não precisaria trabalhar nem tão cedo. Mostrei os números
que caíram um pouco devido à compra de um dos produtos lançados esses dias.
Não tivemos um bom alcance de vendas, e isso desestabilizou a equipe de sócios.
— Ok, vou resolver isso assim que chegarmos. — ele fala e coloca o
notebook em cima da mesinha de canto. — já está com fome? Percebi que não
comeu nada no café.

— Estou um pouco. — falo sem graça. Na verdade, estou com muita fome.

— Vamos almoçar? — ele pergunta, olhando a hora em seu relógio de pulso.

— Ok, só vou pegar minha bolsa. — falo, saindo de seu quarto.

Bernardo

Quando percebi que ela ficou constrangida ao me ver sem camisa, imaginei
que ela pode ainda ser virgem. Claro que não é muito comum ver uma mulher tão
linda assim sendo virgem.

Mais cedo, quando vi a forma como o Erick olhou para ela, minha vontade
foi de jogá-lo dentro de uma panela de água fervente. Porém, jamais faria algo do
tipo.

Ela seguiu para seu quarto enquanto eu trocava de roupa. Vesti uma calça
de lavagem escura, uma camisa social e um sapato preto. Passei meu perfume e
arrumei o cabelo.

(Horas antes)

Bernardo teve uma pequena reunião com Erick, dono do hotel. Assim que a
reunião acabou, ele decidiu passar no quarto de Gabriela. Sua intenção era
chama-la para um almoço com ele e tentar se desculpar pelo ocorrido mais cedo.
A porta do quarto de Gabriela não estava fechada, o que o deixou preocupado,
levando-o a adentrar no cômodo sem anunciar sua chegada.

Bernardo viu que ela não estava no quarto e seguiu até o banheiro, que
também estava com a porta destrancada. No entanto, ele não podia imaginar que
ela estivesse tomando banho. Mesmo com o box do banheiro embaçado pela
fumaça do chuveiro, Bernardo pôde ver perfeitamente o corpo nu de Gabriela.
Seu pensamento naquele momento era entrar ali e agarrar aquela mulher que
vinha tirando seu sono. No entanto, seu respeito por ela era maior do que seu
desejo carnal.

Assim que percebeu que ela o havia visto, Bernardo saiu rapidamente dos
aposentos de Gabriela e seguiu para seu quarto. Sem conseguir se segurar, ele se
aliviou lembrando da imagem do corpo nu dela.
Capítulo 19
— Podemos ir. — ela fala, me tirando dos meus devaneios.

—Sim, claro. — saímos do meu quarto e seguimos para o elevador.

Eu estava envergonhado de ter visto ela nua mais cedo, porém ela não
precisa saber que eu a vi. Não quero sair nessa história como um pervertido.

— Tem alguma preferência de comida? — pergunto, tentando quebrar o


silêncio.

— Massa. — ela fala sem graça.

— Muito bom, e bebida?

— Não sou muito boa com bebidas. — ela fala, parecendo lembrar de algo.

— Ok. — cruzo os braços e, depois de alguns minutos, o elevador para.

Começamos a caminhar e, quando vi, ela estava indo em direção ao


restaurante do hotel.

— Senhorita Kepner. — chamo e ela me olha. — por aqui. — falo e ela me


olha engraçado.

— Não vamos almoçar aqui? — pergunta.

— Não, me acompanhe. — falo e ela vem para o meu lado.


Aluguei um carro para levá-la a alguns lugares, já vim aqui várias vezes a
trabalho, e sempre me perco na beleza desse lugar.

— Vamos? — pergunto, abrindo a porta do carro para ela.

— Obrigada. — ela fala.

Fecho a porta assim que ela entra e vou para o outro lado, entro no lado do
motorista e dou partida no carro.

— Aqui é muito bonito. — ela fala, olhando para o mar.

A minha reunião da parte da tarde foi cancelada, então quero poder


proporcionar um dia diferente para ela.

— Vou levá-la a um restaurante muito bom, sei que não vai esquecer desse
lugar nunca mais. — falo, olhando para ela.

Gabriela está com um pequeno sorriso no rosto. Meu coração palpita só de


vê-la dessa forma. Será que estou me apaixonando por ela?

Nossos pratos chegaram, o restaurante fica à beira do mar.

— Meu Deus. — ela fala depois de colocar um pouco da massa na boca.

— Gostou? — pergunto, sorrindo ao ver sua reação.

— É maravilhoso. — ela fala e engole a pequena quantidade de comida.

Levo o garfo até a minha boca. A massa é uma delícia. Escolhi um prato bem
típico, uma massa italiana ao molho branco.

— Acho que nunca comi uma massa tão deliciosa na minha vida, que meu
pai nunca fiquei sabendo disso. — ela fala e sorri, mas ao mesmo tempo seu
sorriso fica triste. Acho que não deveria tê-la trazido para essa viagem, sei que a
saúde do seu pai é instável.

— Como ele está? — pergunto.


— Está levando. Tem dias que está melhor, outros já nem tanto, obrigada
por ter me dado essa oportunidade, o plano cobre tudo que eu não poderia pagar.
— ela fala e toda a dúvida que eu tinha de ter feito ela ser demitida evapora.

— Você é uma ótima profissional, eu que agradeço de tê-la na minha


empresa. — falo e ela coloca uma mecha de cabelo atrás da orelha.

— Agora eu aceito aquela taça de vinho. — ela fala com as bochechas


vermelhas.

Conversamos amenidades, bebemos uma garrafa toda de vinho. Quando


terminamos o vinho decidimos ir embora, como eu já tinha bebido acima da
média, pegamos um taxi, Gabriela ria eufórica de algo que eu nem fazia ideia o
que era.

— Eu levo você até seu quarto. — falo trocando os pés.

Ou o vinho era muito forte, ou eu que estou muito fraco.

— Olha senhor Lumière, tem outra garrafa aqui. — ela fala levantando uma
garrafa de vinho.

— Deixa que eu abro. — pego a garrafa de sua mão.

Abro a garrafa e pego duas taças que estavam na pequena mesa de canto.

— Aqui não tem nenhuma música? — ela pergunta procurando em todos os


lugares.

— Acho que tem, pega o controle. — falo e ela pega o controle do ar


condicionado. — Esse não, o outro. — falo.

Depois de muita luta, consegui abrir a garrafa. Enchi duas taças, entreguei
uma a ela, e outra deixei na mesinha enquanto ajudava ela a achar alguma música.

— Essa. — ela fala e sorri.


Estávamos na metade da garrafa, Gabriela cantarolava as músicas que ela
gosta, enquanto eu ficava apenas admirando seu rosto sereno. Estamos os dois
sentados no chão do seu quarto.

— O meu copo secou. — ela fala e se aproxima para pegar a garrafa que está
ao meu lado.

Quando ela começou a derramar o líquido na taça, a mesma caiu por cima
de mim, me molhando completamente.

Gabriela, ao mesmo tempo que me pedia desculpas, ela sorria do


acontecido.

— Tira... tira sua camisa para que eu possa lavar, ou vai manchar tudo. —
ela fala ainda sorrindo.

Levanto e tiro a camisa, ela vai até o banheiro e eu a acompanho. Ela começa
a lavar a camisa com sabão líquido. Assim que termina, ela se vira para sair do
banheiro e seu corpo se choca contra o meu.

— Nossa... que forte. — ela fala e toca seus dedos em meu abdômen.

Gabriela olha para mim e nossos olhos se encontram.

— Posso? — pergunto, aproximando meu rosto do seu em um pedido


silencioso para lhe beijar.

— Pode. — ela fala e não penso muito.

Tomo seus lábios em um beijo feroz, levanto seu corpo e a faço sentar no
mármore do banheiro.

Minha mão vai para debaixo dos seus cabelos, desço o beijo até seu
pescoço. Gabriela joga a cabeça para trás, tiro sua blusa e tenho a visão
maravilhosa dos seus seios.

Toco seus seios devagar por cima do sutiã, ela geme baixo.
Continuo beijando seus lábios, minha mão direita acaricia seu seio direito.
Com a mão esquerda, abro seu sutiã, fazendo seus seios ficarem totalmente
expostos.

Olho para seu rosto que está vermelho, não sei dizer se é de vergonha ou
por causa da bebida. Espero que ela peça para eu parar, mas ela não faz. Então
me abaixo um pouco para sugar um de seus seios. Ela joga a cabeça para trás e
geme mais alto do que antes.

Mordo seu seio devagar enquanto acaricio o outro. Pego Gabriela pela
cintura e a levo até a cama.

Termino de tirar sua roupa e tiro minha calça junto com a cueca boxer.

— Quer que eu continue? — ela me olha com desejo.

— Sim. — ela fala.

Observo cada detalhe do seu corpo. Algo me chama atenção, mas não faço
perguntas sobre isso. Estou prestes a penetrar meu membro em sua intimidade
quando ela fala algo que me faz paralisar.

— Eu... eu sou virgem. — ela fala e paro.

— Você o quê? — pergunto, olhando seu rosto ficar ainda mais vermelho.

— Eu sou virgem, eu nunca fiz sexo. — ela fala e sento na cama.

Não que pra mim isso seja um problema, de forma alguma, mas eu não
posso fazer isso com ela. Eu nunca vou ser o cara que ela merece.

— Me desculpe, senhorita Kepner, não deveríamos ter feito isso, foi um


erro. — ela senta na cama e puxa uma coberta para seu corpo.

Sinto a bebida sair do meu organismo, já posso ver as coisas de forma mais
lúcida.
— O senhor pode se retirar do meu quarto? — ela pede e percebo que seus
olhos estão marejados. Merda, o que eu fiz?

— Me desculpe... — ela me interrompe.

— Saia, por favor. — ela levanta e segue para o banheiro. Vou atrás, mas
antes que eu entre, ela fecha a porta.

Ouço seu choro baixo, meu coração dói só de saber que a fiz chorar.

Mesmo não querendo deixá-la dessa forma, saio de seu quarto.

Passei a noite sem dormir. Liguei para o restaurante para saber se ela comeu
algo e eles disseram que não. Minha vontade mesmo era ir até seu quarto para
saber se está tudo bem, mas sei que ela não quer me ver. Então achei melhor ficar
aqui.
Capítulo 20
Sento no chão do banheiro ainda sentindo as lágrimas escorrendo pelo meu
rosto. Será que ele não quis ficar comigo apenas pelo fato de eu ser virgem? Ou
ele percebeu que realmente era um erro?

Desligo o chuveiro depois de um tempo embaixo da água, pego uma toalha


e me seco. Respiro fundo e pego meu celular, procuro uma passagem para Nova
York, se possível ainda hoje. Eu não quero ter que ir com ele no mesmo avião. Não
posso pedir demissão agora, o plano cobre todas as despesas do meu pai, e ele
precisa muito disso. Eu vou esquecer o que aconteceu e seguir em frente da
melhor forma possível, pelo menos é isso que eu espero.

— Isso, achei. — falo vendo uma passagem disponível ainda hoje, mas agora
são nove horas da noite, e o voo só sai depois de meia-noite.

Pego a mala que trouxe, coloco todas as minhas roupas e me olho no


espelho. Eu, sem dúvidas alguma, estou horrível. Passo uma maquiagem para
esconder que chorei e saio do quarto. Me certifico de que ele não está aqui, saio
rapidamente do quarto e vou para o elevador.

— Boa noite, você poderia entregar isso para o senhor Lumière? A essa hora,
ele já está dormindo e eu não quero incomodá-lo. — falo, entregando um papel
para a recepcionista.

— Sim, claro. — ela pega o papel com um sorriso no rosto.


— Obrigada. — falo e saio do hotel.

Chamo um táxi e peço para que me deixe no aeroporto.

Estou sentada esperando para o embarque. Ainda não consegui esquecer o


que aconteceu. A vontade de chorar vem a todo momento, mas faço de tudo para
que as lágrimas não caiam.

Eu não merecia passar por algo assim. Sei que fui culpada por ter deixado
tudo aquilo acontecer. Eu deveria ter parado quando começou, mas eu deixei
continuar. E agora cá estou eu, me sentindo um nada.

Meu voo é chamado. Me apresso para chegar logo no portão do embarque.


Só quero esquecer esse dia de hoje.

Bernardo (Domingo de manhã)

Termino de me arrumar e saio do quarto. Só consegui pregar os olhos pela


manhã e ainda assim não consegui dormir quase nada. Tenho uma reunião agora
às dez horas. Vou tentar amenizar a minha atual situação com a Gabriela e quem
sabe eu consiga fazer ela dar um passeio comigo para me desculpar.

— Senhorita Kepner. — bato na porta e não tenho resposta. Talvez ela já


tenha ido tomar café.

Pego o elevador e quando chego no hall, uma das recepcionistas me chama.

— Senhor Lumière. — ela fala e me dirijo até onde ela está.

— Pois não?

— Desculpe incomodá-lo, mas sua secretária pediu que entregasse isso ao


senhor. — ela me estende um pequeno papel.

— Obrigado. — falo e saio de seu campo de visão.


"Me desculpa senhor, mas tive um imprevisto na minha casa e tive que ir
embora. Espero que me entenda.

Ass: Gabriela"

— Merda. — falo e amasso o papel com toda minha força.

Você é um tremendo idiota, Bernardo. Por que você tinha que fazer isso com
ela? Você desejou tanto aquela mulher, e agora você comete a maior burrice da
sua vida. E se ela pedir demissão? Se quando eu chegar no escritório segunda ela
não estiver lá?

Não consegui prestar atenção em nada que Erick falou. Seu pai estava
presente na reunião e percebeu que eu não estava muito bem.

— Acho que já podemos encerrar por hoje, qualquer dúvida nós ligaremos
para você. — ele fala levantando. Só aí prestei atenção neles.

— Me desculpe, estava distraído. — falo levantando.

— A reunião toda? — Erick pergunta.

— Tive um contratempo e provavelmente terei que voltar ainda hoje para


Nova York. — falo.

— Pelo visto sua secretária também teve o mesmo contratempo, vi quando


ela saiu daqui. — ele fala de forma acusatória.

— Creio que não deveria se meter na vida pessoal da minha secretária. —


alo apertando a mão em punho.

O pai dele coloca a mão em seu ombro.

— Vamos, filho, a reunião já terminou. — o pai dele fala.

— Vamos, pai. — ele dá as costas e começa a caminhar, mas antes que saia
da sala ele me olha. — pelo que descobri, ela não tem namorado, e depois da
minha viagem em Nova York, o status dela pode mudar. — ele fala e antes que eu
fale algo, ele vai embora.

Maldito filho da puta. Pego o celular no bolso e disquei um número.

— Arrume o jato, estou indo para Nova York. — desligo o celular e ponho o
mesmo no bolso onde estava.

Subo para o quarto onde estou hospedado e arrumo minhas coisas.

Algumas horas depois, estou pisando no solo nova—iorquino. Só espero que


amanhã ela esteja lá e possa me perdoar pelo erro que cometi.

— Papai. — Brenda fala assim que cruzo a porta.

— Oi filha, está tudo bem? — pergunto e ela me olha apreensiva.

— Sim, não sabia que voltaria mais cedo. — ela fala.

— Tive um imprevisto, eu vou me deitar um pouco. — falo e ela faz que sim
com a cabeça.

(Segunda de manhã)

A dúvida se ela estará ou não na empresa me acompanhou todo o caminho.


Estaciono o carro na garagem e vou para o elevador. Aperto o botão da cobertura
e minutos depois as portas se abrem. Passo pela recepção onde ficam duas
funcionárias e, com o coração quase saltando da boca, abro a porta da sala dela.

— Bom dia, senhor Lumière. — ela fala formalmente.

Ao vê-la, solto a respiração que nem mesmo percebi que estava presa.

— Bom dia, senhorita Kepner. — falo formalmente. Minha vontade mesmo


era pedir desculpas e beijar seus lábios novamente.
— Já mandei tudo para o seu e-mail. — ela fala e volta a digitar algo no
computador.

Vou para minha sala.

Não consigo me concentrar no que estou fazendo. Coloco uma dose de


uísque e tomo um gole. Planejo minhas próximas falas. Como eu sou burro, eu a
deixei escapar por entre os meus dedos. Talvez eu nunca tenha a chance de tê-la
novamente tão próxima a mim.
Capítulo 21
Solto a respiração, que nem sabia que estava presa. Não foi fácil ter que
voltar para cá. Eu não queria ver ele, mas tenho que fazer isso pela saúde do meu
pai.

Termino de revisar alguns relatórios e o telefone toca. Antes que eu fale


minha fala de sempre, ele se pronuncia.

— Venha até minha sala. — sua voz rouca me faz arrepiar.

Ele desliga e eu me levanto para ir até sua sala. Bato na porta e ouço um
"entre".

— Precisa de mim, senhor? — pergunto formalmente. Ele levanta e


caminha até mim devagar.

— Preciso... Preciso primeiramente me desculpar pelo que aconteceu em


San Francisco. Eu não queria que aquilo tivesse...

O interrompo.

— Eu peço que o senhor pare, por favor. — olho para ele com raiva. Ele ia
mesmo repetir que aquilo foi um erro? Já não basta o que ele me fez passar, ainda
ia me humilhar mais uma vez? — o senhor não precisa se desculpar, assim como
o senhor falou, aquilo foi um erro e jamais voltará a se repetir. Então, se o senhor
ainda precisar dos meus serviços como secretária, é melhor pararmos essa
conversa por aqui. — falo e ele engole em seco.

— Tudo bem, só não quero que aquilo tenha alguma interferência no nosso
dia a dia. — por um segundo, quis gargalhar dele e chamá-lo de um tremendo
filho da puta. Mas não vou descer a esse nível.

— De forma alguma. — falo.

— Pode ir para sua sala. — dou as costas para ele e vou para minha sala.

Respiro fundo e me sento.

— A senhorita já pode ir. — ele fala passando perto de mim.

— Eu ainda não terminei de atualizar sua agenda de amanhã. — falo sem


olhar para ele, mas percebo quando ele para antes de sair da minha sala.

— Já passa das seis e meia. A essa hora, você já deveria estar em sua casa.
— ele fala.

— Eu não quero receber horas extras, só preciso terminar algumas coisas


aqui e vou embora. — falo finalmente olhando para ele. Sua camisa está com
alguns botões abertos e a gravata já não está mais em seu pescoço.

Eu o tive tão perto de mim. Eu o desejei de uma forma que nunca desejei
homem nenhum. E ele me disse que aquilo foi um erro. Como ele pode me tratar
daquela forma?

— Faça como quiser. — ele sai da sala, me deixando sozinha e ainda mais
confusa. O que ele realmente quer? Me confundir? Eu não sei se ele me tratou
bem apenas para me levar para cama ou se ele apenas queria me humilhar. Isso
está me deixando louca.

Quando cheguei em casa naquele dia, meu coração estava tão apertado. Eu
nunca senti nada parecido com aquele sentimento. Minha cirurgia de retirada do
útero foi um baque muito grande para mim, mas o que Bernardo fez comigo me
deixou tão arrasada. Eu me senti uma mulher baixa. Pude sentir minha autoestima
ser jogada do vigésimo quinto andar. Sentir ele me desprezando quando estava
prestes a ser dele me deixou de tal forma que não sei se ainda tentarei ter alguma
coisa com outro homem, pelo menos não enquanto eu lembrar do que ele me fez.

Pego minha bolsa e saio da minha sala. Todos já foram embora desse andar.
Talvez tenha mais alguém trabalhando. Sempre vem o rapaz da faxina a esse
horário. Vou para o elevador e quando as portas se abrem, adentro o pequeno
transporte. Desço e passo pelo hall da empresa. Vou para a saída e respiro o ar
puro. Estamos na primavera e o vento traz o cheiro das rosas.
Respiro bem fundo, trazendo toda a fragrância para minhas narinas.

— Fica ainda mais linda desse jeito. — ouço a voz e tomo um baita susto.

— Senhor Lumière... O que faz aqui? — pergunto assustada. Pensei que ele
já estivesse em casa ou sei lá onde.

— Te assustei? — pergunta com o olhar malicioso. Diferente de outros


homens que já me olharam assim, eu não fico com raiva ou tímida. Claro que não
vou mostrar para ele que me sinto bem, mas, apesar de tudo, eu gosto.

— Não, está tudo bem. Só estava distraída. — falo arrumando minha


jaqueta.

— Eu esqueci uma pasta lá em cima. Meu motorista foi pegar. Aceita uma
carona?
Meu coração fala que sim, mas meu cérebro, que é mais inteligente, grita
que não.

— Não precisa, vou de táxi. —falo.

— Eu insisto. Está muito perigoso andar a essa hora com qualquer pessoa.
Me deixe levá-la até sua casa. — merda, o que estou fazendo?

— Tudo bem. — falo sem graça. Eu sei que ele não vai desistir fácil, então é
melhor aceitar logo e acabar com isso de uma vez.

Percebo que ele dá um sorriso de lado, mas faço de conta que não vi.
Quando ele quer, consegue ser bem irritante e persistente.

— Deveria ter aceitado o carro. É perigoso andar com qualquer pessoa por
aí. —ele fala mexendo em algo no tablet.
— Realmente é muito perigoso. — falo com desdém.

Ele tira a atenção do aparelho e olha para mim.

— Está se referindo a mim? — ele pergunta sério.

— Não citei nomes. Por favor, volte ao que estava fazendo. — falo e olho
para as luzes dos postes que passam rapidamente.

— Deveria medir suas palavras, senhorita Kepner. Acha que já esqueci que
me chamou de troglodita? — olho para ele rapidamente.

— O senhor ouviu?

— Claro que sim. Minha família tem uma ótima audição, não esqueça disso.
— ele volta a mexer no tablet e fico olhando fixamente para ele.

— Pode parar aqui. — falo para o motorista do senhor Lumière.

— Esta não é sua casa. — ele fala olhando para mim.


— Eu vou descer aqui. Como já falei desde o início, não quero dar motivos
para falatórios. — pego minha bolsa e saio do carro.

Ao contrário do que eu queria, ele não desceu do carro para falar comigo.
Apenas deu partida no carro e foi embora.

Não posso negar que pensei que ele desceria do carro para falar algo, mas
agora vejo que realmente somos totalmente diferentes. E agora percebo que foi
melhor não termos tido nada aquela noite.
Capítulo 22
Não foi apenas porque não queria que ela fosse para casa sozinha, mas sim
para que eu pudesse ter mais tempo com ela. Esses dias têm sido uma tortura
desde o dia em que ela voltou de San Francisco. Não parei de pensar o quanto fui
burro. Não deveria ter iludido ela daquela forma e depois dizer que aquilo tinha
sido um erro.

Volto para casa com a cabeça cheia de pensamentos voltados a ela.

Dias depois

— Organize tudo, ela merece uma boa comemoração esse ano. — semana
que vem é o aniversário de onze anos da Brenda. Não costumo fazer festa nem
nada do tipo, apenas o presente e pronto. Mas este ano, sinto—me um pouco
mais leve, e acho que ela ficaria feliz.

— Tudo bem, vou fazer uma apresentação em 3D e te envio. — a


cerimonialista fala.

Ela sai da minha sala e ligo para a sala da Gabriela.

— Venha até minha sala. — desligo o telefone e, poucos minutos depois, ela
entra.
Tenho me segurado ao máximo esses dias para não me aproximar dela.
Gabriela precisa de tempo para me perdoar, mas não estou mais conseguindo me
manter distante.

— Precisa de mim para algo?

E como preciso. Ela não imagina o quanto eu preciso dela. Isso está me
consumindo. Todas as noites, estou bebendo para tentar dormir. Ela está tirando
minha paz, e nem sequer sabe disso.

— Sim, surgiu uma reunião de última hora, e preciso que vá almoçar comigo.
Sairemos daqui meia hora. — falo sem olhar para ela.

— Tudo bem, precisa de algum documento? — ela pergunta suavemente.


Essa mulher vai me levar à loucura.

— Não, apenas de você. — olho para ela com o meu melhor olhar. Gabriela
engole em seco, sua postura falha por alguns segundos. Eu posso ver que ela me
deseja, assim como eu a desejo.

— Bom... eu vou desligar o computador então. — Gabriela fica


desconcertada e, depois de me olhar sem graça, ela sai da minha sala.

Desligo meu notebook, levanto e pego meu paletó. Saio da minha sala e ela
está escrevendo algo no celular.

— Vamos? — ela me olha rapidamente.

— Sim. — ela levanta e pega a bolsa. Seguimos para o elevador. Ela


cumprimenta as meninas que trabalham na recepção e alguns dos funcionários
do sexo masculino também. Isso me deixa com raiva por algum motivo.

— Gabi, estávamos combinando de ir a uma balada essa semana. O que


você acha? — um rapaz da administração fala passando por ela.
— Oi Edgar, eu não gosto desses ambientes assim. Obrigada pelo convite. —
ela fala sem ao menos parar para responder. Sorrio de lado porque ela recusou.

Entramos no elevador. Ela parece estar mais nervosa do que o normal. Sei
que posso ser bem intimidante às vezes, mas com ela eu me perco dentro de mim
mesmo. Meu sentimento por ela parece que só aumenta, e tenho medo de que
isso possa machucá-la assim como aconteceu com Laís. Eu não suportaria perder
outra pessoa que amo.

— Semana que vem é o aniversário da Brenda. Gostaria que você estivesse


presente. — falo, tentando quebrar o silêncio.

— Obrigada pelo convite. — ela fala.

— Não é apenas um convite, é uma intimação. Ela reclama com frequência


por não te ver. — falo.

— Também estou com saudade dela. — olho para ela, que está com o
pensamento longe e um pequeno sorriso no rosto.

Parece que ela realmente gosta da minha filha. Por que não aproveitei a
oportunidade que tive de tê-la naquele dia? Como sou burro. Ela seria uma ótima
amiga para minha filha. Mas vou mudar essa situação. Vou tê-la para mim e não
vou deixá-la sair da minha vida fácil assim.

O celular dela começa a tocar.

— Oi Sandra.

Esse nome me lembrou de uma ex-namorada.

— Sabe que eu não gosto desse tipo de ambiente.

Estou curioso sobre o que elas estão conversando.

— E precisa comemorar em uma boate? O som é muito alto, tem muitas


pessoas, e você sabe que não sou boa com bebidas.
Boate?

— Tá, eu vou pensar. Não prometo. Me passa o endereço por mensagem.

Ela desliga o celular, e volto à minha postura normal.

— Então você vai para uma festa. — falo.

— Não sei se vou. — ela me olha séria.

— Desculpe, não teve como não ouvir. — falo.

Ela não diz nada, e isso me deixa furioso. Ficamos apenas os dois em
silêncio. As portas do elevador se abrem, saímos e seguimos até meu carro.

Abro a porta para ela, que me olha de forma engraçada. Vou até o lado do
motorista e entro. Ligo o carro e dou partida.

Ela está em silêncio. Não sei o que falar agora, então apenas ligo o som
baixinho. Começa a tocar uma música (Chord Overstreet).

Gabriela começa a cantarolar a música. Desvio a atenção algumas vezes da


estrada para olhá-la. Aos poucos, sua voz vai aumentando, e é tão bom ouvi-la
cantar.

A música acaba, e ela fica sem graça.

— Sua voz é linda. — Gabriela olha pelo vidro do carro.

Depois de um tempo, ela me olha.

— Obrigada. A música foi um refúgio para mim. — ela fala, e percebo que
ficou triste ao lembrar de algo.

— Chegamos. — falo, parando o carro.

— Nossa. — ela fala, olhando o restaurante.


Desço do carro e vou até o lado dela, abro a porta e estendo a mão para que
ela segure. E, por incrível que pareça, ela fez, segurou minha mão e desceu do
carro.

— Eu já vi fotos desse lugar. É tão lindo por dentro, a vista é deslumbrante.


Tem um aquário lindo lá dentro. — ela fala, encantada com a fachada.

— Tem razão, é muito bonito. Vamos? — pergunto, e ela assente com a


cabeça.

Seguimos para dentro do restaurante.

—Signor Lumiere, quanto tempo é passado. — o gerente fala assim que nos
aproximamos.

— Onorevole Cassano, che piacere vederla. Ho fatto oggi una prenotazione


per due persone. —falo.

Tradução:

(Senhor Cassano, que prazer revê-lo. Fiz uma reserva hoje cedo para duas
pessoas.)

— Il tuo tavolo è pronto, come da te richiesto. — ele fala.

Tradução:

(Sua mesa já está pronta, como o senhor pediu.)

— Grazie. —uma moça nos leva até a mesa que reservei.

Tradução: (obrigado)

— Aqui é tudo tão bonito. — Gabriela fala.

Não respondo nada. Só de ver os olhos dela brilhando ao olhar para este
lugar, meu coração fica cheio de sentimentos desconhecidos. Mas há quem diga
que é amor. Não acho que seja, pelo menos não ainda.
Reservei a mesa mais afastada e a que tem a melhor vista. Além de ver todo
o aquário de um lado, do outro dá para ver toda a cidade ao longe. O restaurante
fica um pouco longe da cidade, não muito, digamos que a meia hora de carro.

— Acho que chegamos adiantados. — Gabriela fala, olhando para os lados.

— Sente-se. — puxo a cadeira para que ela se sente.

— Obrigada. — Gabriela senta, e vou para a cadeira que fica de frente para
ela. Pego o cardápio e abro.

— Na verdade, será apenas nós dois. — falo, olhando o cardápio.

— Como assim? Eles cancelaram a reunião?

— Não, eu queria conversar com você, e sabia que você não aceitaria.
Então tive que fazer isso. — falo e olho para ela. Gabriela parece estar furiosa.
Capítulo 23

Eu não sei se xingo ele até a próxima encarnação ou se apenas respiro


fundo e deixo passar.

— A senhorita não vai dizer nada? — ele pergunta, me olhando.

— E o senhor quer que eu diga o que? — pergunto, optando pela


segunda opção.

— Estou esperando que diga algo. Afinal, eu a forcei a vir aqui. — ele
fala, me olhando de uma forma sexy.

— O senhor não me forçou a vir aqui, apenas mentiu. Eu não gosto de


mentiras, e eu jamais iria aceitar isso em um relacionamento. Mas não
temos um relacionamento, nem nada relacionado a isso, então tudo bem.
— falo, cruzando a perna.

— Então, se nós tivéssemos um relacionamento, você ficaria zangada


comigo por ter trazido você até aqui? — ele pergunta, e engulo em seco.

Tomo um gole da água que está em cima da mesa. Penso em uma


resposta para dar a ele.

— O lugar é muito bonito, e tem que ser muito bem aproveitado.


Então, eu deixaria passar dessa vez. — falo, e ele sorri.

— Ótima resposta. — ele fala e abre o cardápio novamente.

— Essa "Lagostas e coquilles saint jacques" é muito boa, deveria


experimentar. — esse homem está me levando à loucura.

Aquele dia em que cheguei em casa da viagem, meu pai já estava


sozinho. Assim que o vi, comecei a chorar. Ele me acolheu em seu colo e me
perguntou o que tinha acontecido. Eu inventei uma história qualquer, não
iria falar para ele o que aconteceu. Naquele domingo, chorei a noite toda.
Me olhei por horas no espelho procurando meus defeitos, apesar da cicatriz
que carrego no meu corpo.

Ele tentou conversar comigo na segunda-feira, mas eu não quis falar


com ele sobre o assunto. Eu precisei de um tempo para colocar minha
cabeça no lugar. Hoje, já encaro a situação normalmente.

— Ok, o senhor pode pedir para mim? — pergunto, e ele me avalia.

— Sim. — ele faz sinal para um dos garçons, que logo chega à nossa
mesa.

— Duas Lagostas e coquilles saint jacques, e o melhor vinho que tiver


na vinícola. — senhor Lumière fala, entregando o cardápio para o garçom,
que anotava tudo em um tablet.

— Com licença. — o garçom fala, se afastando.

— Eu queria explicar o que aconteceu aquele dia. — senhor Lumière


começa a falar.

— Esse assunto já foi encerrado. — digo.


— A senhorita poderia me deixar falar? Não é do meu feitio fazer tal
coisa, mas eu fiquei desconcertado quando me disse que era...

O interrompo.

— Por favor, senhor Lumière, não percebe o quanto isso é


constrangedor para mim? — Pergunto, sentindo minhas bochechas
vermelhas.

— Me desculpe tocar nesse assunto novamente, mas gostaria de


explicar por que agi daquela forma.

— Eu não sou o tipo de mulher que o senhor se envolve. — falo,


sentindo a garganta trancar.

— Não é nada disso. Você é perfeita, Gabriela. Sabe quantos homens


desejariam uma mulher como você? Muitos. Você é linda, educada,
inteligente e... — Ele sussurra a última parte. — virgem.

Sinto minhas bochechas arderem quando ele fala a última parte.

— Ai, céus. — falo, colocando a mão no rosto.

— Não estou querendo deixar a senhorita constrangida, só estou


enaltecendo suas qualidades. Eu quero dizer que eu não sou um homem
para formar uma família. Meu último relacionamento deu muito errado,
então, por isso, não prossegui aquele dia. Eu desejei muito ter você, mas
quando me disse aquilo, eu pensei que não seria certo fazer sexo com a
senhorita sem depois me comprometer a um relacionamento. — senhor
Lumière fala, me deixando pensativa e envergonhada ao mesmo tempo.

— Não precisa se explicar. — falo, e o garçom se aproxima.

Ele nos serve e abre a garrafa de vinho.


— Obrigado. — ele fala, e o rapaz sai.

— Eu não me sentia bem sem explicar isso a senhorita. — agora, eu


que estou me sentindo mal por ter xingado tanto ele.

— Obrigada por me falar isso, sen... Bernardo. — falo.

— Não se sinta mal por minha causa. — ele fala e despeja vinho na
minha taça.

Comemos em silêncio. Ele não falou mais nada sobre, e eu tentei


entender o lado dele. Afinal, ele perdeu a esposa e mãe de sua filha.

Assim que começo a comer, sinto minha garganta fechar. Começo a


tossir, e senhor Lumière olha aflito para mim.

— O que aconteceu? Você está vermelha. — não consigo falar direito.


— Minha... garganta. — procuro formas de respirar e não consigo.
Meu ar está faltando.

— Merda, está tendo uma reação alérgica. — ele vem até mim e me
pega no colo.

Senhor Lumière anda o mais rápido possível comigo no colo. Tento


respirar, mas minha garganta está muito fechada.

Às vezes, quando passamos por uma situação como essa, vemos


nossas vidas passarem diante dos nossos olhos. É como um flash de tudo
que fizemos, os acertos e os erros, os momentos felizes com os amigos e
com a família. No meu caso, só com meu pai e minhas vizinhas, que fizeram
o papel de mãe para mim.
— Eu quase a matei. Eu nunca iria me perdoar se acontecesse algo
com ela. Como você é burro, Bernardo. — ouço a voz longe, e sua mão
encosta em meu rosto.

Abro os olhos com dificuldade por causa da claridade.

— Você está bem? — ouço a voz dele longe.

— Vou apagar a lâmpada para que possa abrir os olhos. — a luz é


apagada, e consigo abrir os olhos.

— O que aconteceu? — pergunto.

— Me perdoe, eu não sabia. — ele fala, parecendo preocupado.

Será que ele sabe sobre minha cirurgia?

— Como assim?

— Eu não sabia que você era alérgica a Lagostas. — ele fala, e respiro
aliviada.

— Nem eu mesma sabia disso, então não se preocupe. — falo.

— Logo o médico vai passar aqui e te dar alta. Seu rosto ainda está um
pouco vermelho. — coloco as mãos nas minhas bochechas.

Ele me olha fixamente.

— Está ainda mais linda assim. — ele fala, me deixando


completamente sem graça.

— Boa tarde. — um senhor fala, entrando.

— Boa tarde, doutor. — ele se aproxima de mim e me examina.


— Quando soube que era você, vim rapidamente te atender. — ele
fala, olhando para mim.

Senhor Lumière olha para ele e depois para mim.

— Não lembra de mim? Eu fiz sua cirurgia de retirada do...

O interrompo, meu coração palpitando. Não quero que ninguém saiba


o que aconteceu comigo.

— Lembro, lembro sim. — ele percebe meu desconforto ao tocar


nesse assunto.

— Ah, sim. A senhorita está bem. Só fiquei longe das Lagostas. Já pode
ir. — ele fala de forma engraçada.

Harry, o nome dele. Ele fez minha cirurgia e cuidou de mim quando
tive complicações no pós-operatório. Lembro que uma vez eu estava
sentada em um corredor onde chegavam pessoas do trauma. Eu vi um rapaz
muito bonito, e estava cantarolando uma música aleatória. Quando levantei
minha vista, escureceu. Senti que meu corpo estava caindo, e antes que
tocasse o chão, alguém me segurou. Não consegui ver mais nada até acordar
no dia seguinte.

— Vamos, a senhorita precisa descansar. — senhor Lumière fala.


— Eu agradeço, mas eu estou bem, e o senhor ainda tem uma reunião
presencial e uma videoconferência hoje. — falo.

— Eu já cancelei, não se preocupe. Vou levar a senhorita em casa. —


ele fala e estende a mão para me ajudar a levantar.

— Mas, senhor... — ele me interrompe.


— Me chame de Bernardo, por favor. E é o mínimo que posso fazer
depois de ter feito você comer lagosta e quase morrer. — ele parece tão
preocupado comigo.

— Ok, sen... Bernardo. — olho para ele, que me olha com a


sobrancelha arqueada. — Bernardo. — falo.

Ele me ajuda a levantar da cama.

— O remédio pode dar um pouco de sono. — ele fala quando já estou


de pé. Sinto o cheiro do seu perfume entrando nas minhas narinas. Que
cheiro delicioso, amadeirado. Por que esse homem mexe tanto comigo?

Nossos olhos se cruzam por alguns segundos. Desvio o olhar quando


lembro da nossa conversa.

— Obrigada, sen... Bernardo.

Ele me levou até em casa. Dessa vez, eu aceitei que ele me deixasse
na porta da minha casa.

— Gostaria de entrar? — pergunto.

— Sim. — merda, eu pensei que ele falaria que não.

— Sério? — pergunto.

— Você me convidou, esperava que eu falasse que não? — era... eu


esperava que ele dissesse que não e fosse embora. Pronto, era isso.

Descemos do carro e entramos na minha casa.

— Filha, o que aconteceu? — meu pai pergunta assim que atravesso a


porta.
— Nada demais, estou bem. E temos um convidado. — falo, e
Bernardo entra.

— Boa noite, senhor Kepner. — ele fala, estendendo a mão para meu
pai.

— Boa noite, senhor Lumière. — meu pai fala, apertando sua mão.

— Me chame de Bernardo, por favor. Como o senhor tem passado?

— Estou muito bem, obrigado. — meu pai fala.

— Sente-se, por favor. O sen... você deseja algo? — pergunto.

— Não, obrigado.

— Filha, por que não faz aquela sua deliciosa lasanha? Comprei os
ingredientes hoje. — meu pai fala, e olho para ele séria.

— Você cozinha? — Bernardo pergunta, me olhando.

— Às vezes, meu pai exagera um pouco. — falo.

— Ela cozinha muito bem. Desde pequena, ela gosta de fazer comidas
diferentes. — papai fala, me deixando sem saída.

— Tá, pai, já chega. Eu vou fazer a lasanha. — falo e vou para a cozinha.

Pego todos os ingredientes e coloco em cima da pia. Pego a cebola e


começo a tirar a primeira camada, corto ao meio e começo a cortar em
pedaços pequenos. Pego uma panela grande e coloco a cebola para fritar
com um pouco de alho picadinho. Meu pai não pode comer, mas ele sempre
compra os ingredientes para que eu faça essas receitas. Às vezes, eu ainda
quebro a dieta dele e bato um pouco no liquidificador e dou para ele. Não
consigo ver ele comprar as coisas com tanto carinho e não poder comer.
Meu pai entra na cozinha, e olho para ele.

— Onde está o senhor Lumière?

— Ele saiu. — papai fala, e não consigo não ficar triste ao saber que
ele foi embora. Mas o que eu estava pensando? Que ele ficaria para comer
uma simples lasanha, quando ele pode comer as melhores comidas?

Meu celular começa a tocar.

Vejo o nome da Sandra e lembro que ela me chamou para uma boate.

— Oi, amiga.

— Oi, só liguei para dizer que hoje não vai dar para ir na boate.

— Sério? Que chato, eu já tinha até escolhido a roupa. — minto.

— Deixe guardada. Amanhã nós vamos. Bruno teve um pequeno


imprevisto e não pode ir hoje, mas amanhã é sábado. Muito melhor.

Faço uma careta e solto uma risada.

— Tudo bem.

— Tchau, te amo.

Ela desliga antes que eu responda.


Capítulo 24
Saio da casa de Gabriela e procuro algum supermercado próximo.
Pensei em comprar um vinho, mas lembrei que ela tomou antialérgico,
então não pode ingerir álcool.

Encontro um supermercado, paro o carro, pego minha carteira que


estava no painel e desço. Travo as portas e caminho até o meu destino.

Procuro algo para beber. Acho que suco natural cairia bem. O pai dela
também não pode ingerir álcool, então acho que suco natural é a melhor
opção.

— Boa noite. — falo para o rapaz que está no caixa.

Pego duas garrafas de suco natural, um pote de sorvete grande e um


bolo de chocolate branco. Quando vi o supermercado, achei que seria bem
pequeno e simples, mas a variedade de coisas me surpreendeu.

— Trinta dólares. — o rapaz fala, e tiro cem dólares da carteira.


— Fique com o restante. — pego minhas compras e saio, ouvindo ele
me agradecer.

Dirijo de volta para a casa de Gabriela. O que estou fazendo? Eu


deveria me afastar dela e deixá-la viver.
— Você nunca vai conseguir se afastar dela. — meu subconsciente
grita.

— Veremos onde isso vai parar. — falo, olhando para mim mesmo.

Saio do carro e vou até a porta. Abro devagar e entro. Gabriela está
cantando. Vou até a cozinha, de onde vem o som de sua voz.

Seu pai está olhando a filha cantar. Ele está encostado no batente da
porta, e ela está de costas para ele. Assim que me vê, ele faz sinal para não
fazer barulho.

Ela está cantando "Hold On". Sua voz sai tão suave. Poderia ficar horas
e horas escutando o som de sua voz. Assim que ela vira e nos vê olhando
para ela, Gabriela toma um susto e deixa uma xícara cair no chão. A mesma
se quebra em vários pedaços. Me aproximo rapidamente para ajudá—la a
catar os cacos de vidro.

— Deixa que eu pego. Não quero que se machuque. — falo.

Gabriela olha para mim, e eu olho para ela. Por que seu rosto me é tão
familiar? Vendo—a assim tão perto, Gabriela parece muito com a moça do
hospital, mas não poderia ser ela. Aquela moça parecia tão frágil, e Gabriela,
apesar de passar por tanta coisa, é forte até demais.

— Obrigada. — ela fala, olhando nos meus olhos.

Gabriela levanta, e termino de catar os cacos de vidro. Ela fala para


mim colocar no saco de lixo. Olho para o lugar onde seu pai estava, e ele já
não está mais aqui.

— A lasanha está pronta. — ela fala, olhando para mim.

— O cheiro está delicioso. — falo.


— Não tenha tanta expectativa com o gosto. Às vezes, meu pai
exagera. — ela fala e sorri.

— Tenho certeza de que está deliciosa. — Gabriela me olha por alguns


segundos. Talvez eu quisesse que a frase tivesse duplo sentido.

— Eu vou... eu vou arrumar a mesa. — Gabriela sai rapidamente da


cozinha.

Seu pai entra na cozinha e pega os talheres, depois os pratos.

— Poderia levar os copos para mim, por favor? — faz que sim com a
cabeça, e ele sai.

Pego os copos e vou para a sala de jantar.

— Sente-se. Espero que goste. Não é nada comparado a lagosta ou


comidas chiques como está acostumado. — Gabriela fala.
— Eu gosto de comidas simples. Só não tenho quem faça elas para
mim. — falo, e ela tenta disfarçar que está com vergonha.

— Bom, é ótimo estar com vocês aqui, mas tenho uma partida de
xadrez na casa do Francisco. — o pai dela fala, pega um casaco e sai de casa,
deixando apenas nós dois.

— Pai... — ela tenta falar, mas ele não espera e sai.

— Desculpe, meu pai, por favor. Ele adora jogar xadrez. — ela fala.

— Da próxima vez, espero que ele me convide. Eu também gosto de


xadrez. — falo.

— Sério? Não imaginei que gostasse desse tipo de jogo.

— Eu joguei muito com o meu pai, aprendi muita coisa. — falo.


— Eu joguei por um tempo na faculdade. Não tinha muita coisa para
fazer nos horários vagos, então sempre juntava uma turma para jogar. Só
que, quando eles resolviam jogar apostado, eu sempre saía. — ela fala, e
parece lembrar de algo.

— Não era tão boa? — pergunto.

— O quê? Eu era a melhor da nossa turma em xadrez. — ela fala de


forma engraçada.

— Então por que não jogava apostado com os outros? — pergunto.

— Bom... eu sempre fiquei com medo de perder, mesmo sabendo que


eu era uma das melhores. O pouco dinheiro que eu levava era para as minhas
refeições. — ela fala, enquanto brinca com um pequeno pedaço da lasanha
no prato. — hoje eu e meu pai vivemos bem. Sempre sobra um pouquinho.
Mas quando eu estudava, não tínhamos esse privilégio. — ela me olha, e
percebo o quanto a vida dela foi difícil.

— Sua vida foi bem difícil. — falo.

— Sim, mas eu fui muito feliz. Eu sempre tive meu pai ao meu lado. —
Gabriela fala, e sorri.

— Essa é a melhor parte, saber que ele sempre esteve ao seu lado,
independentemente das dificuldades. — falo.

— Eu vou ao banheiro. — Gabriela se levanta, e eu me levanto


também. Ela segue para uma porta que suponho ser o banheiro, e eu vou
até uma estante onde tem vários livros e algumas fotos.

Pego uma das fotos, e minhas lembranças voltam a anos atrás,


especificamente no dia em que quebrei o braço e fui para o hospital.
— É ela? — na foto, ela está ao lado de seu pai. Ela está deitada, e seu
pai está ao seu lado em pé, dando um sorriso de lado.

— O que o senhor está fazendo? — ela pega a foto da minha mão e


tenta escondê-la.

— Quem é essa? — pergunto, atônito.

— O senhor não deveria se meter em assunto que não foi chamado.


— ela fala, parecendo nervosa.

— Me desculpe, eu não quis me intrometer, mas a foto me chamou a


atenção. — tento me justificar.

— Acho que já está na hora do senhor ir embora. Já está tarde, e eu


preciso dormir. — ela fala, olhando o relógio de pulso.

— Tudo bem, me perdoe. Não achei que você ficaria assim. — falo, e
pego minhas chaves que estavam na mesa.

Ela não olha para mim, e então saio de sua casa.


Capítulo 25
Quando o vi segurando minha foto, não pensei duas vezes antes de mandalo
ir embora. Aquela foto representa um momento de dor para mim, e não quero
que ninguém saiba o que aconteceu. Não preciso de ninguém sentindo pena de
mim.

— Filha. — meu pai fala, entrando em casa.

— Oi pai, como foi o jogo?

Abro a gaveta do armário e coloco o porta-retratos dentro.

— Por que está guardando a foto?

Olho para ele e dou um sorriso forçado.

— Eu não quero lembrar desse momento, pai. Já chega. Vamos superar isso.
— falo.

— Tudo bem, é o que mais desejo para você. Que esqueça tudo o que
passou e que siga sua vida. — ele me abraça, e então olho para ele.

— Eu não vou namorar. — ele faz "shi" e empurra minha cabeça contra seu
peito. Sorrio com o gesto.
Termino de me arrumar e saio de casa. Sandra insistiu para que eu vá para
a balada com ela e seu namorado hoje. Ainda não conheci formalmente o
namorado dela, embora ela fale muito sobre ele. Na verdade, nem sei o nome
dele ainda. Resolvi comprar algo mais especial para essa noite. Conheço bem
minha amiga, e mesmo sabendo que odeio festas, ela vai me arrastar de qualquer
forma. Não basta ficar em um lugar barulhento, ainda vou ter que ser a terceira
roda.

— Bom dia, posso ajudar a senhorita? — olho para a mulher, e é a mesma


que estava com meu pai no dia em que viajei para San Francisco.

— Bom... eu não a reconheci. — ela fala sem graça.

— Tudo bem, eu quero ver os vestidos, por favor. — falo.

— Qualquer um ficará lindo em você. — ela fala e fica me olhando de uma


forma constrangedora. Será que ela pensa que é minha mãe para me olhar assim?

Não é porque ela está tendo sei lá o que com meu pai que nós duas teremos
algum vínculo. Não sou mal-educada, pelo contrário, só não quero muita
aproximação. Se ela fizer meu pai sofrer, ela se verá comigo. É melhor manter uma
certa distância.

Olho alguns vestidos, e um deles chama minha atenção.

— Vou experimentar esse. — falo e entro na cabine.

Olho meu corpo dentro do vestido, e ficou perfeito. Não sou uma mulher
para ser descartada. Deveria me valorizar um pouco mais, tentar arrumar um
namorado. Quem sabe ele me aceite como sou. Hoje em dia, adoção é tão normal.
Muitas mulheres preferem adotar em vez de arruinar o corpo com uma gravidez.
Vou pensar nisso.

— Vou levar esse. — falo, e a mulher sorri carinhosamente. Nossa, essa


mulher é um pouco esquisita.
— Divirta-se. — ela fala assim que estou saindo da loja.

Passo no salão e arrumo meu cabelo. Não podia ter essas regalias antes,
mas depois que comecei a trabalhar para o senhor Lumière, minha vida melhorou.
Não preciso mais me preocupar com plano de saúde. Agora, meu dinheiro sobra
um pouco para eu comprar roupas e ter outras regalias. Assim que entro no salão,
uma moça vem me atender.

— Bom dia, senhorita. O que deseja fazer hoje?

Ela pergunta, e explico o que quero fazer. Há algum tempo, queria mudar
um pouco o visual, clarear meus fios.

— Você vai ficar deslumbrante. — ela fala e me leva até uma cadeira.

Enquanto estou saindo do salão, escuto alguém me chamar.

— Gabriela?

Olho para a dona da voz.

— Diretora. — falo.

— Nossa, você está muito bem. — ela me olha de cima a baixo.

— Obrigada. — falo, não dando muita atenção para ela.

— Vejo que seu trabalho está lhe fazendo muito bem. — ela fala com uma
pitada de sarcasmo.

— Sim, nunca me senti tão bem. Mas como sabe que estou trabalhando? —
pergunto.

— Bom, pela forma como está se vestindo, e o senhor Lumière é um grande


colaborador da escola. Ele comentou que você está trabalhando para ele. — ela
fala sem graça.
— Entendi. Agora, se a senhora me der licença, preciso ir embora. — dou as
costas para ela e vou para outras lojas. Compro algumas roupas para meu pai e,
melhor ainda, um celular novo para ele.

Passo em mais algumas lojas, mas não compro nada, apenas olho mesmo.
Sigo para casa, entro, e meu pai está sentado no sofá, lendo um livro.

— Bom dia, pai. — falo, fechando a porta.

— Oi, filha. — ele olha para minhas sacolas e depois para meu cabelo.

— Resolvi fazer umas compras e mudar o visual. — falo, levantando as


sacolas.

— Que maravilha! Você tem que aproveitar. E ficou lindo seu cabelo.
Inclusive, a Sandra me ligou, disse que te chamou para uma festa e perguntou se
eu deixava. — ele solta uma risada engraçada.

— Por que está rindo? — pergunto.

— Porque ela me pediu, como se fosse eu quem não deixasse você sair.
Filha, é você quem não gosta de sair. — ele fala, e balanço a cabeça em negação.
— Eu trouxe um presente. — falo, indo até onde ele está.

— Não precisa ficar gastando dinheiro comigo. — ele fala, mas finjo que não
ouvi.

— Pegue. Seu aniversário está perto, e quero que você fique sempre
conectado. —entrego a sacola para ele, que me olha e depois olha para a caixinha
dentro da sacola.

Ele pega o aparelho, feliz da vida. Fico ainda mais feliz em vê-lo assim. Farei
qualquer coisa para ver esse sorriso em seu rosto, porque ele fez tudo o que podia
por mim. Agora, só quero retribuir, nem que seja um pouco.

Ele experimentou as roupas que comprei, e depois fomos fazer um lanche.


Como ele não come comidas sólidas, sempre bato no liquidificador. Ultimamente,
ele está cuidando de suas próprias refeições. Às vezes, fico preocupada que ele
exagere, mas preciso trabalhar. Estou ganhando tão bem, fazendo coisas que
nunca fiz na vida, e estou feliz com meu trabalho. Tirando o fato do que aconteceu
com o senhor Lumière, é claro, mas estou levando tudo numa boa.

Já passam das sete horas da noite. Suspiro e me levanto do sofá. É hora de


me arrumar para ir nessa tal festa.

Tomo um banho, faço minha higiene pessoal e saio do banheiro.

— Pai, eu esqueci de falar. Vi aquela mulher que estava aqui com o senhor.
Ela trabalha em uma das lojas do shopping. — falo, e ele me olha.

— E... e ela falou com você? — ele pergunta.

— Não conversamos muito. Ela me atendeu, só que eu não tinha muito o


que falar com ela. — falo.

— Filha, eu não quero que você se aproxime dela. Aquela mulher não
presta. — ele fala, e fico observando. O que ele quer dizer com isso? Por que ele
a trouxe aqui em casa, e estavam se beijando? Será que ela o traiu?

— Por que está dizendo isso, pai? — pergunto.

— Só estou avisando, filha. Eu a conheço há muito tempo, e garanto que ela


não é uma boa pessoa. — ele fala e vem até mim. Ele dá um beijo em minha testa
e vai para a cozinha.

Não vou dizer que não fiquei com uma pulguinha atrás da orelha, porque
sim, fiquei e muito.
Capítulo 26
Chego em casa depois de uma corrida matinal e vou direto para meu quarto.
Tomo um banho e visto um moletom preto. Coloco uma camisa regata e depois
desço para a cozinha.

— Oi, pai. — Brenda fala.

— Oi, filha. Pensei que estivesse na aula de piano. — falo.

— Hoje é sábado, pai. — ela deita no sofá.

Verdade, hoje não vou para a empresa. Me dei uma folga, pelo menos por
hoje.

Meu celular começa a tocar, e pego o mesmo.

— Oi, Bruno.

— O que está fazendo? Vim na sua sala e você não está.

— Me dei folga por hoje. O que quer comigo?

— Quero que vá a uma festa comigo hoje.

— Você sabe que não gosto dos mesmos eventos que você.

— Você é o irmão careta, mas eu vou sair com minha namorada e ela vai
levar uma amiga. Queria que fizesse companhia para ela.

Sorrio.
— Eu não sou quebra-galhos, obrigado pelo convite, mas dispenso.

— Você não vai fazer nada, então o que custa me fazer esse favor? Depois
você leva a garota para casa e acabou.

— Não.

Desligo o celular e pego uma garrafa de água na geladeira.

— Bom dia, Bernardo. — Matilde fala entrando na cozinha.

Ela é governanta da casa, me ajudou a cuidar de Brenda todos esses anos.


Ela fez o papel de mãe e avó ao mesmo tempo.

— Bom dia, Matilde. Hoje você está de folga, o que faz aqui?

— A Brenda está aqui, então vim fazer o almoço dela. — ela fala.

— Eu vou levá-la para almoçar fora, não se preocupe. — Matilde então vai
embora depois de me fazer um imenso questionário. Eu a considero da família,
ela é mais que uma governanta, é uma figura materna para minha filha.

— Filha, arrume-se. Iremos sair para almoçar. — falo.

— Tá bom, papai. — ela levanta e vai rapidamente para seu quarto. Subo
para meu quarto também, e meu celular começa a tocar.

— Bruno.

— Você lembra de dois anos atrás, quando você tirou a virgindade da prima
Paula? Ela está até hoje sem se casar. Acho que papai e o tio Lúcio não ficarão
muito felizes em saber disso, né?

— Eu vou, seu filho da mãe.

Meu irmão solta uma gargalhada e desliga o celular.

Aquela foi uma das besteiras que fiz na minha vida. Tirei a virgindade de
uma mulher, e o pior, ela é minha prima. Depois do que aconteceu, acabei
contando para o Bruno, e agora ele está usando isso contra mim, só para me fazer
ir a uma festa.

Tomo um banho e me arrumo. Passo meu perfume, que ganhei de presente


da minha mãe. Ela me dá quase todo mês um perfume. Será que ela acha que eu
não lembro de comprar um perfume?

Termino de me arrumar e desço para a sala. Minha filha já está sentada no


sofá, usando um vestido longo florido. Nos pés, uma sapatilha dourada. Seus
cabelos estão trançados de lado. Ela é a cópia perfeita da mãe dela. Às vezes,
chega a ser assustadora a semelhança entre as duas.

— Papai? — ela me chama, e só então percebo que estava parado olhando


para ela, com os pensamentos vagos.

— Vamos? — pergunto.

— Sim, estou pronta. — ela levanta rapidamente, e saímos de casa.

Sei que não sou um bom pai para minha filha. Não temos muito o que
dialogar, e às vezes sou mais grosso do que deveria. Sei que a ausência da mãe
dela nos afastou, e já deveria ter me conformado com isso, mas ainda dói lembrar
dela. Talvez o que me afaste da minha filha seja a semelhança entre as duas. Não
estou querendo justificar minha falta de atenção com minha filha. Só queria que
fosse mais fácil.

Chegamos ao restaurante e entramos.

— Senhor Lumière, que prazer em vê-lo aqui. — o gerente fala, estendendo


a mão.

Aperto sua mão rapidamente. Ele nos direciona a uma mesa. Eu e Brenda
fazemos os pedidos e ficamos esperando.

Não tínhamos muito o que conversar.


Quando nossa refeição chega, começamos a comer. Até que me lembro.

— Filha, quando formos embora, vou te deixar na casa da sua avó. Tenho
um compromisso à noite. — falo, e ela apenas assente com a cabeça.

Terminamos de comer e decidi comprar um presente para ela. Saímos do


restaurante e seguimos para o shopping.

— Venha, vou comprar um presente para você. — falo, e ela sorri ao ver o
logotipo da loja.

Ela olha tudo atenciosamente.

— Pode escolher. — falo.

— Sério?

— Claro que sim. — falo, e ela me abraça empolgada.

Não consegui expressar o que senti ao receber o abraço da minha filha. O


abraço da minha própria filha. Me abaixo um pouco e a abraço de volta. Algo
dentro de mim mudou. Eu senti isso. Senti o quanto a amo, e o quanto esse
simples gesto dela me deixou feliz.

— Obrigada, papai. — ela fala e me solta.

Respiro fundo e a vejo indo escolher seu celular novo. Cancelamos a festa
de aniversário de onze anos dela. Minha filha preferiu ganhar uma viagem para
outro país em vez da festa.

Deixo minha filha na casa da minha mãe e sigo para a empresa. Tenho
algumas coisas para fazer lá antes de ir para casa.

— Senhor Lumière, não esperava vê-lo novamente hoje. — a recepcionista


fala assim que saio do elevador.

— Boa tarde. Só vim pegar alguns documentos. — falo e me dirijo à minha


sala.
Pego os documentos e volto para casa.

Assino os documentos que já havia revisado e leio os outros que ainda estão
em avaliação pelos advogados. As horas passam rapidamente. Quando percebo,
já passa das oito da noite. Vou até a geladeira e pego pão, presunto e queijo. Não
é porque faço academia e tenho uma alimentação balanceada que não como
carboidratos às vezes.

Termino de me arrumar e me olho no espelho. Talvez eu encontre alguma


mulher interessante essa noite. Claro que não para ter algo sério. Se eu pensasse
nessa possibilidade, com certeza seria com Gabriela. Mas sei que ela merece algo
melhor do que eu.

Coloco uma calça jeans de lavagem escura, uma camisa preta de gola polo
e um sapato casual. Passo meu perfume e, por último, coloco meu relógio no
pulso.

Saio de casa já passando das nove da noite. Não demora muito para chegar
à boate para a qual meu irmão me obrigou a vir.

Ligo para ele, que atende no segundo toque.

— Já estou aqui na portaria.

— Estou indo aí.

Desligo o celular e logo o vejo se aproximando.

— E aí, vamos entrar? — ele fala alto.

— Ainda estamos aqui fora. Pode falar normal. — falo, fazendo careta para
ele.

— Desculpe, esqueci. — ele fala sorrindo.


Entramos na boate e seguimos para o camarote.

— Minha namorada logo chega aqui. Ela está lá embaixo, dançando com a
amiga. — ele fala e bebe uma dose de uísque.

— Eu nem queria vir aqui. Não faço questão de conhecer sua amiga. — falo
e me sento na poltrona. Bebo uma dose de Vodka.

— Bernardo, Bruno, que prazer tê-los aqui. — Júlio, o dono da boate, fala ao
entrar no camarote.

— Júlio, faz tempo. — falo ao levantar.

— Amor, não sabia que estava com amigos. Vou descer. — olho para a
mulher que fala e me surpreendo.
Capítulo 27
Olho mais algumas vezes até reconhecer a pessoa.

— Oi, Bernardo. — ela fala e vem até mim.

— Sandra?

— Quanto tempo, não é mesmo?

Ela pergunta, e minha memória volta a anos atrás.

Estava jogando basquete com alguns amigos da faculdade quando caí


e senti uma das piores dores da minha vida. Não lembro bem quantos anos
tinha na época, talvez uns vinte e seis, porque já estava namorando com a
Sandra. Descobri que meu braço tinha quebrado, minha mãe estava
trabalhando, estávamos passando por dificuldades na empresa, e tive que ir
para um hospital público.

Ela foi fazer minha ficha, e eu fiquei na recepção. Foi quando vi aquela
moça, ela estava sorridente, e logo depois eu já estava segurando—a para
que seu corpo não se chocasse contra o chão. Depois, não a vi mais. Eu
namorava com a Sandra, mas nosso relacionamento esfriou depois daquele
dia.
— Filho, a Sandra está aqui. Ela pode subir? — minha mãe pergunta,
olhando para mim da porta.

— Diga que estou dormindo. Não quero ver ninguém agora. — falo.

E assim minha mãe faz, e isso se repete por alguns dias, até que não
aguento mais aquela situação e coloco um ponto final na relação. Falei toda
a verdade para ela, e ela aceitou numa boa o fim do namoro.

Mas agora, vendo-a e meu irmão juntos, me faz rir da situação. Não é
deles, é das voltas que o mundo dá. Agora ela está com meu irmão.

— Faz um bom tempo mesmo. — falo, estendendo a mão para ela.

— Vocês se conhecem? — Bruno pergunta.

— Sim, lembra do cara que me deixou por uma miragem? Pois bem, é
ele, seu irmão. — solto uma gargalhada.

— E se eu te disser que eu achei a minha miragem? — falo, e ela me


olha.

— Sério? — ela pergunta de forma engraçada.

— Longa história. — falo e me sento novamente.

Conversamos um pouco mais, mas não conto quem é a pessoa para


ela. Ela me conta como se conheceram. Fico feliz por meu irmão, ela é uma
ótima pessoa. Sandra conta sobre a loja de bolos que ela tem. Acho que é
um negócio bem rentável. Passamos um bom tempo conversando. Júlio se
junta a nós.

— Onde está sua amiga? — pergunto, por educação, apenas porque


meu irmão havia me pedido.
— Ela não quis subir. Ela já bebeu muito, e não é boa com bebidas. —
ela fala e sorri, parecendo lembrar de algo.

— Nossa, quem é aquela gostosa que está dançando em cima da


mesa? — Júlio pergunta, olhando para baixo.

Levanto e vou até onde ele está.

— Não acredito que ela está fazendo isso. — Sandra fala.

— Espera, aquela é a...

— Aí, Gabriela, você não tem jeito. — Sandra sai em disparada atrás
da amiga, e eu fico atônito.

— Bernardo!

Olho para meu irmão e só então percebo o que está acontecendo. A


mulher por quem estou apaixonado está dançando em cima de uma mesa.

— Merda!

Desço e entro no meio da multidão. Empurro as pessoas sem me


importar com nada. Vejo Sandra tentando tirá-la de cima da mesa, mas ela
puxa o braço e continua a dançar.

Quando estou próximo o suficiente, puxo-a pelo braço e a jogo em


meu ombro. Ouço os homens ao redor reclamando, mas não me importo
com isso. Subo para o camarote, e assim que entro no local, vou em direção
a um sofá grande de veludo e a coloco nele. Ela me xinga de vários palavrões.

— O que pensa que está fazendo, seu babaca? — sua voz está
arrastada por causa do excesso de álcool.

Assim que ela olha para mim, sua expressão muda.


— Sua louca, o que estava fazendo? — Sandra pergunta para a amiga.

— Obrigada, Bernardo, por tê-la tirado de lá. — ela fala, olhando


rapidamente para mim.

— Ele só me tirou de lá... porque ele é meu chefe. — ela fala com a
voz arrastada.

— O que? Ele é seu chefe?

— Sim. — falo.

— Caramba, Gabi, não pensei que gostasse tanto de umas biritas. —


meu irmão fala de forma sarcástica.

— Cala boca, Bruno. — falo.

— Desculpe. — ele fala de forma engraçada.

— Eu vou levá-la para casa. — falo, e Sandra me olha.

— Sabe onde fica a casa dela?

— Sim, inclusive estive lá essa semana. — falo.

— Caramba, você está muito gostoso nessa roupa. Na verdade, você


já é bem gostoso de terno, e assim com essa calça apertada... — Sandra a
interrompe.

— Cala a boca, sua louca. Você só pode estar muito bêbada mesmo.
Amanhã ela vai ficar morrendo de vergonha. — Sandra fala.

— Tudo bem, eu vou indo. — vou até onde ela está e a ajudo a se
levantar.
— Não faça nada com ela, ou eu mesmo vou te matar. — Sandra fala,
olhando para mim.

— Esqueceu quem eu sou? — pergunto grosso. Como ela pode supor


que eu faria algo com Gabriela nesse estado?

Ajudo Gabriela a descer, e seguimos para meu carro. Ela fala coisas
aleatórias que não faço questão de entender.

— Quer saber... não me leve para casa. Meu pai vai ficar muito, muito
mesmo, com raiva de mim. E eu não quero ver o olhar de decepção dele
para mim de novo. — paro de andar e olho para ela. Gabriela está com o
pensamento longe, talvez lembrando de algo.

— Por que ele faria isso? Seu pai parece sentir muito orgulho de você!

— Nenhum pai... — ela aponta o dedo para frente, como se estivesse


brigando com alguém. — olha da mesma forma para um filho quando ele
tenta tirar a própria vida. — ela termina de falar e começa a gargalhar. — eu
acho que vou desmaiar. — antes que seu corpo se choque contra o asfalto,
eu a seguro.

Ela tentou tirar a própria vida? Por que ela faria isso? Será que foi
quando a conheci no hospital?

São tantas perguntas, mas não tenho nenhuma resposta.

Coloco—a no carro e vou para minha casa. Talvez ela se sinta melhor.
Amanhã, quando ela estiver bem, eu a levo para casa. Coloco o número do
Bruno para discar.

— Fala aí.

— Estou levando Gabriela para minha casa. Quero falar com a Sandra.
— Oi, Bernardo.

— Ela pediu para não a levar para casa. Estou levando-a para minha
casa. Se puder, traga uma roupa para ela amanhã cedo.

— Tudo bem. Não faça nada com...

Desligo o celular antes que ela termine de falar.


Capítulo 28
Abro os olhos, mas me arrependo no mesmo instante. A dor de cabeça que
estou sentindo é terrível. Droga, nunca mais beberei álcool na vida.

— Bom dia. — tomo um susto ao ouvir a voz do senhor Lumière no quarto.

Sento rapidamente na cama.

— O que o senhor faz aqui? — pergunto.

— Você está na minha casa, então acho que essa pergunta deveria ser feita
por mim em outras ocasiões. — ele fala e deixa uma bandeja ao lado da cama
onde estou.

Passo a mão na cabeça, sentindo uma dor imensa no lóbulo frontal.

— Como vim parar aqui? — pergunto. Ele me estende a mão, com dois
comprimidos em sua palma. Olho para ele e ele faz sinal para que eu os pegue.

— Obrigada. — falo, pegando os remédios e colocando na boca.

— Não faça mais aquilo. É arriscado para sua vida. — ele fala e vai até a
cortina, puxando as costuras e abrindo as grandes janelas de vidro.

Fecho os olhos, incomodada com a claridade.

— O que eu fiz ontem que foi tão perigoso? — tento me lembrar do que
aconteceu, mas está tudo turvo em minha mente. Só me lembro de ter tomado a
quarta dose de Vodka, e estava mais forte que as outras. Talvez eu tenha
misturado as bebidas.

— Sua amiga vai te contar. — ele fala e sai do quarto. Forço-me a levantar
da cama para segui-lo. Como assim minha amiga vai me contar?

— Senhor Lumière, — chamo — como assim minha amiga vai me contar?

Ele para de andar e olha para mim. Seus olhos descem até minhas pernas.
Olho para minhas vestimentas e coro freneticamente. Estou usando uma camiseta
que provavelmente é dele.

— O que aconteceu com as minhas roupas?

— Você vomitou tudo. — ele fala, e eu mordo o lábio inferior.

— Me... me desculpe por ter feito o senhor passar por isso. — falo,
envergonhada.

— Por favor, me chame apenas de Bernardo. Quanto a isso, tudo bem. O


Bruno virá aqui mais tarde com a Sandra. Provavelmente ela ligou para seu pai e
disse que você dormiria lá com ela. — ele fala de forma suave.

— Obrigada mais uma vez. — falo ainda envergonhada.

— Não tem o que agradecer. Sua amiga trará roupas para você. Por
enquanto, essa está perfeita em você. — ele fala e se vira, dando as costas para
mim.

— E então, me conta tudo! — Sandra sorri ao me perguntar.

— Não tem nada entre nós, se é isso que quer saber. — falo, cortando o
assunto. Mas conhecendo—a como eu conheço, sei que ela não vai desistir fácil.
— Ah, por favor né, Gabi. Se você estivesse sóbria, teria visto a forma como
ele te pegou no colo. Sabe, como um cachorro bem valente marcando território.
Foi bem isso. — ela fala.

— Obrigada pela comparação, Sandra. — olho rapidamente para o dono da


voz que está encostado no batente da porta, usando apenas uma calça moletom.

Fico bastante envergonhada.

— Essa é uma conversa particular, Bernardo. — ela fala, e ele sorri de lado.

— Não quando o assunto sou eu. — ele rebate.

— Vá se ferrar, filho da mãe. — ela fala, e é inevitável não rir.

— Ainda está magoada comigo por causa do término? — ele pergunta,


sarcástico. Tento entender do que os dois estão falando, até começar a ligar os
pontos direito. Ela me falou sobre isso, na verdade, ela me disse que estava
namorando com o irmão de um ex-namorado.

— Espera... vocês dois? — pergunto, olhando de um para o outro sem saber


o que dizer.

— Sim, amiga. Esse foi o babaca que me deixou por uma miragem no
hospital. — Sandra fala, e fico olhando de um para o outro, sem saber o que dizer.

— Só vim avisar que o Bruno está preparando o almoço e queria convidar


vocês para almoçar aqui conosco.

— Claro que sim, isso não é nada esquisito. — Sandra fala, e olho para ela,
que merda. Eu estava com planos de irmos para casa e esquecer que isso
aconteceu.

— Gabriela? — Bernardo me chama.

— Sim, por mim tudo bem. — falo, sem querer ser mal educada.
— Ótimo, Brenda vai ficar muito feliz em te ver. — ele sai do quarto, e pego
as roupas que Sandra trouxe para eu usar.

Vou até o banheiro e visto a roupa. Ela trouxe um mini short jeans.

— Sandra, que porcaria é essa? — pergunto, saindo do banheiro e


apontando para o short.

— Desculpa, amiga. Você sabe que minhas roupas são todas assim, e você
é bem mais magrinha que eu. Então foi o único que achei que poderia servir em
você. — ela tenta se justificar.

— Com que cara eu vou chegar lá embaixo com uma roupa dessas? —
pergunto, indignada.

— Aquela camisa que você estava usando ficará perfeita com esse short.
— ela fala e dá uma piscadinha de olho para mim.

— Isso não se faz. — falo, apontando o dedo para ela.

— Amiga, aproveita. Ele está caidinho por você. Se fosse eu, não iria
dispensar, assim como não dispensei o Bruno. — ela fala, e balanço a cabeça em
negação.

— Sua pervertida. Eu não vou ficar com meu chefe. Nossa relação
certamente será bem mais simples assim, do jeito que está. — visto a camiseta
que eu estava usando, e até que deu certo.

— Vamos. Ouvi eles falando sobre churrasco e banho de piscina. — ela fala,
e olho confusa para ela.

— Banho de piscina? — pergunto.

— Sim, sei lá. — ela faz sinal com as mãos. — só acho que ouvi isso. — ela
caminha para fora do quarto, enquanto eu fico olhando para ela.

Lembro que não conheço a casa e começo a segui—la.


Descemos uma grande escadaria. A casa é muito bonita, e os móveis
combinam com o ambiente.

— A casa dele é muito bonita. — falo para Sandra, que olha ao redor.

— Sim, é sim. Mas com certeza foi um decorador. — ela fala.

— Pelo contrário, Sandra. Eu escolhi cada móvel da casa. — ele fala,


surgindo não sei de onde, com uma bandeja na mão, onde há várias bandejas de
isopor com carne vermelha e frango.

— Você pode parar de aparecer assim? Isso é assustador. — Sandra fala, e


eu sorrio disfarçadamente.

— Desculpe, estava vindo da cozinha. Se quiserem algo, fiquem à vontade.


— ele fala, e continua a caminhar para o que acredito ser a área de lazer da casa.

— Você não sente nada por ele? — pergunto, como quem não quer nada.

— Claro que não. Eu nem gostava tanto assim dele. Mas eu amo o Bruno. —
ela fala, e dá um sorriso de lado.

— Desejo felicidades para vocês. Acho que esse sentimento é bloqueado


para mim. — falo.

— Para, amiga. Você só tem que deixar alguém entrar em sua vida. Você é
linda e precisa superar seus traumas. — ela fala, olhando para mim.

— Talvez um dia. — falo, e ela nega com a cabeça.

Seguimos para a área de lazer.


Capítulo 29
Saio da casa e vou para a área de lazer, peguei algumas bandejas de
carne e frango.

— Aqui está, pode temperar para mim? — pergunto para meu irmão,
que está acendendo a churrasqueira.

— Claro né! — ele exclama com deboche.

— Está mesmo gostando dela, não é? — olho para ele rapidamente.

— Como assim? Do que está falando? — pergunto.

— Você está gostando da Gabriela. Lá na empresa, até achei estranha


a forma como olhava para ela. — ele corta o plástico e retira a carne das
bandejas, colocando em uma bacia para temperar. — mas depois de ontem
à noite, eu percebi. Você gosta dela. — ele fala, me fazendo ficar calado.

— Viu? Quem cala consente. — ele diz por fim, dando um sorrisinho
de lado.

— Eu não sei o que sinto por ela. Só não quero coloca-la na confusão
que é minha vida. — falo.
— E se ela quiser entrar na confusão? O que você vai fazer? — ele
pergunta, me encarando.

— Eu não sei. Só sei que gosto de estar perto dela. Gosto de vê-la
falando, gosto quando ela passa por mim e seu cheiro fica exalando no meu
nariz. E detesto quando vejo algum homem olhando para ela. — falo, com o
pensamento longe.

Só de ver a forma como os homens a desejavam ontem naquela boate,


fiquei possesso de raiva. Se eu tivesse uma arma, teria matado todos
naquele momento. Eu queria que aquele momento estivesse só nós dois ali,
e apenas que eu pudesse olhá-la daquela forma.

— Aí, que bonitinho. Você está apaixonado por ela. — saio dos meus
devaneios e olho para ele.

— Cala a boca e prepara logo essa carne. Ela deve estar com fome. —
falo, e ele continua me provocando.

Vou até a mesa e coloco uma dose de whisky para mim.

Sento em uma das espreguiçadeiras e coloco meus óculos de sol.

— Que horas a Brenda chega?

— Daqui a pouco. Papai vai viajar para Berlim, lembras? — pergunto,


e ele faz uma cara engraçada.

— Quando aqueles dois vão sossegar o facho?

Nego com a cabeça e sorrio.

— Amor, estava contando para Gabriela sobre o dia em que me pediu


em namoro. — Sandra fala, se aproximando. Olho para trás e vejo Gabriela
um pouco sem jeito, usando minha camisa, que, por sinal, ficou perfeita
nela.

— Achei que ia dizer não. — ele fala, e ela dá um beijo nele.

— Vocês ficam bem juntos. — falo, e ela me olha de forma engraçada.

— Eu sei. Você foi um mal maior, me largou para eu poder ficar com
seu irmão, que é bem mais bonito que você. — ela fala, e Bruno gargalha.

Reviro os olhos.

— Amiga, você quer beber algo? — ela pergunta para a amiga que está
em pé apenas nos observando.

— Água. Não pretendo encostar em bebidas esses dias. — ela fala, e


suas bochechas ficam vermelhas.

— Você fica muito engraçada bêbada, Gabi. Eu ri muito ontem. —


Bruno fala, e olho para ele.

— Sente-se, Gabriela. Logo o almoço estará pronto. — olho no relógio


e depois para ela. — daqui a pouco, Brenda chega. Ela ficará feliz em vê-la
aqui. — falo.

Ela se senta em uma das espreguiçadeiras e cobre um pouco das


pernas com a blusa. Eu realmente estou apaixonado por ela? Esse
sentimento estava tão apagado em meu coração, e agora está surgindo tão
fortemente. Penso nela todos os dias, lembro do seu corpo, do seu cheiro,
sua pele macia, seus gemidos baixos ao sentir meu toque.

— E então, Gabi, você tem namorado? — Bruno pergunta, e olho para


ele rapidamente.
— Não, acho que não fui feita para relacionamentos. — ela fala, e dá
um sorriso sem graça.

— Estou com uma lista de pretendentes para ela, já marquei os


encontros. — Sandra fala, e olho para ela.

— Encontros? Como assim? — pergunto, me levantando incomodado.

— Isso mesmo. Ela já até aceitou, não é mesmo, Gabi? — ela olha de
mim para a amiga, e Gabriela confirma, desviando o olhar de mim.

Dou as costas para eles e vou para dentro de casa. Entro no meu
quarto e quebro um dos porta—retratos da cabeceira.

— Ela... ela vai a um encontro. E se ela gostar do cara? E se ele a levar


para um hotel e ela tiver sua primeira vez com ele? E se nunca mais eu
conseguir tê-la? E depois de um tempo, os dois se casarem e ela tiver filhos?
Eu sei que não posso dar filhos a ela, mas talvez nós possamos adotar, sei lá.
Só não quero perdê-la, não assim! — tomo um banho para esfriar a cabeça
e visto uma bermuda de moletom preta. Hoje está quente, então fico sem
camisa. Talvez eu queira provocá-la um pouco, mas só um pouco.

Saio do quarto e volto para a área externa. Vejo Brenda abraçada a ela,
que sorri e acaricia a cabeça da minha filha. Não tem como não dizer que
aquilo me deixou emocionado. Ver elas tão próximas assim...

— Filha. — falo, e ela olha para mim.

— Obrigada, papai, por trazer a Gabi aqui. — ela fala e vem me abraçar.

— Salve o número dela em seu celular, e sempre que quiser vê-la,


pode ligar e ir ao encontro dela. — falo, olhando para Gabriela.
— Obrigada. Eu estava com saudade dela. — Brenda fala, e vai até ela
novamente.

— Filha, a Gabriela está trabalhando na empresa. E agora, eu preciso


de uma ajudinha dela para revisar uns papéis para mim. Depois, eu deixo
você conversar com ela, tá bom? — falo, e ela confirma.

— Depois, eu fico aqui com você, tá bom?

— Tá bom, Gabi. Você toma banho de piscina comigo? — Brenda


pergunta.

— É... Vamos ver... — a interrompo.

— Sim, ela irá. Gabriela, pode me acompanhar até meu escritório, por
favor?

Começo a caminhar, e sinto ela vindo atrás de mim. Entro na casa e


vou até meu escritório. Assim que ela passa pela porta, seguro seu pulso.

— O quê? — não deixo ela falar mais nada e a puxo para um beijo.
Sentir seu gosto novamente me deixou excitado tão rapidamente.

Ela passa uma das mãos em minha nuca, mostrando que ela também
anseia por isso. Faço ela se prender ao meu corpo e a levo até a mesa do
meu escritório. Jogo todas as coisas no chão e a ponho sentada, sem
desgrudar nossos lábios. Minha língua explora sua boca, suas unhas fazem
uma trilha em meu pescoço, me fazendo arrepiar. Paramos o beijo quando
o fôlego nos falta.

— Não vá a esse encontro. Eu não suportaria ver outro te tocando. Me


deixe te levar a um encontro, só nós dois. — suplico.
— Tá bom, eu vou a um encontro com você. — ela fala, e tomo seus
lábios em mais um beijo.

Ah, se ela soubesse como está me deixando louco.


Capítulo 30
Depois do nosso beijo, Bernardo me abraça. Ele pediu para que eu o trate
assim, e na empresa formalmente pelos sobrenomes. Achei justo, porque não
quero misturar as coisas.

— Me desculpe por aquele dia. Sei que fui um idiota com você. — ele diz,
ainda abraçado a mim.

— Não vamos falar sobre isso. Já passou, tá! — exclamo.

— O que você está fazendo comigo? — ele pergunta, roçando sua barba em
meu pescoço.

— Eu que tenho que perguntar isso. — falo, sentindo minha pulsação


acelerar.

Desço da mesa, fazendo ele se afastar um pouco e me olhar confuso.

— Podem estar se perguntando por que essa demora. Acho melhor eu ir na


frente. — falo, respirando fundo.

— S—sim, claro. É melhor você ir primeiro. — ele fala, e dou as costas para
sair. Mas antes que eu passe pela porta, ele fala.

— Eu poderia ganhar mais um beijo!

Sorrio e olho para ele.


— Só mais um. — falo, e vou até onde ele está. Sua mão toca minha nuca, e
meu corpo se arrepia. Sua mão está fria.

— Eu poderia ficar aqui o dia todo com você. — ele fala entre o beijo.

— Talvez, mas você tem visitas na sua casa, então isso não é possível. — dito
isso, me afasto e saio do escritório.

Na sala, tem um grande espelho. Me olho rapidamente e vejo o quanto meu


rosto está rosado.

— E então, resolveram? — Bruno pergunta, me fazendo ficar mais


constrangida.

— É... sim, está tudo resolvido. — falo, olhando para Sandra, que me lança
um sorriso perverso, como quem sabe o que aconteceu lá dentro.

— E onde está meu irmão?

— Ele me deixou no escritório e saiu de lá. Não sei dele. — minto.

— O almoço está pronto. Podem se servir. — Bruno fala, terminando de


colocar uma panela de porcelana na mesa.

— Eu trouxe o vinho. — Bernardo fala, chegando por trás de mim.

— Sério que você vai abrir sua garrafa de Domaine Leroy Musigny? — Bruno
pergunta, e eu olho para a garrafa. Esse é um dos cinco vinhos mais caros do
mundo. Olho confusa para Bernardo, que exibe um grande sorriso no rosto.

— É uma ocasião muito especial. Meu irmão namorando, amigas reunidas


e o melhor, a minha filha. Então, vai valer cada gota do vinho. — Ele fala e me
lança um sorriso largo, mostrando seus dentes perfeitamente alinhados e
brancos.

— Então, abra logo essa garrafa, homem. Não sabe quanto tempo eu desejei
esse vinho. — Bruno fala, nos fazendo sorrir.
O almoço foi legal. Conversamos, Bruno e Bernardo falaram sobre suas
infâncias. Bernardo perguntou a Sandra como ela abriu o próprio negócio, e ela
contou tudo. Ele disse que, se ela precisar, ele pode se tornar um sócio da sua
pequena empresa.

Sandra, como uma boa CEO de sua pequena empresa, aceitou de cara, mas
pediu uma avaliação primeiramente.

— Eu vou para casa. Meu pai deve estar preocupado. — falo, levantando.

— Eu vou te levar. — Bernardo fala, levantando também.

— Não, fique aqui. Está seu irmão, sua filha e Sandra. Eu posso ir sozinha.
— falo.

— Eu insisto! — ele é teimoso.

— Eu vou ficar bem. Por favor, me deixe ir sozinha para casa. Não somos um
casal de namorados adolescentes. — falo baixo, para que apenas ele ouça.

— Não somos ainda. — ele fala, sem se importar com os presentes.


— Senhor Lumière, estou indo embora. Tchau. — falo e dou as costas para
ele.

— Gabi, deixa o papai te levar. Acho bem fácil ele te seguir até a saída. —
Brenda fala, me fazendo corar.

— Tudo bem. Brenda, poderia vir também, conhecer meu bairro. Não é
nada chique como esse, mas é um bom lugar. — falo, e ela sorri.

— Posso, papai? — ela pergunta.

— Sim, venha com a gente. — ele fala, e seguimos para a garagem. Ele entra
em uma SW4 preta, e entramos também no automóvel.
— Eu moro aqui, Brenda. — falo, assim que Bernardo para o carro.

— Nossa, você andava tudo isso até chegar na escola? — ela pergunta,
surpresa.

— Não, eu pegava dois ônibus e andava mais um pouco a pé depois de sair


do segundo ônibus. Eu gostava, era um bom exercício. — falo, e ela sorri.

— Filha, tchau para ela. Amanhã, Gabriela trabalha cedo. — ele fala, e
Brenda me olha.

— Tchau, Gabi. Eu estava com muita saudade de você. — ela fala, e dou um
beijo em sua bochecha.

— Eu também estava com muita saudade de você. Qualquer dia, eu vou ficar
com você, tá bom? — Brenda assente com a cabeça.
— Até amanhã, senhor Lumière. — falo, olhando fixamente para ele, que
mantém o mesmo olhar sincero para mim.

Desço do carro e vejo os dois irem embora. Assim que entro em casa, ouço
a voz daquela mulher do shopping falar.

— Quando você vai contar para Gabriela?

Fico intrigada com aquilo.

— Ainda não está na hora. Esse assunto precisa ser conversado com
delicadeza. — meu pai fala.

— Ela tem que saber. Já fazem dois meses que você só fala nisso. Ela precisa
saber a verdade. — a mulher rebate.

Do que eu preciso saber?


— O que eu preciso saber, pai?

Os dois me olham assustados.

— Gabriela? — meu pai fala, por fim.

Bernardo

Estávamos voltando para casa, eu e Brenda. Ela estava olhando para as casas
e os grandes arranha—céus da cidade.

— Filha, o que você acha da Gabi? — pergunto, como quem não quer nada.

— Eu gosto dela. Acho ela uma pessoa verdadeira, sincera e muito gentil.
— Minha filha fala, sorridente.

— Que bom que gosta dela. — falo.

— Pai, eu tenho dez anos. Eu sei que hora ou outra você vai namorar
alguém, e sei também que gosta da Gabi. Eu quero uma figura materna como ela,
mas você não pode fazer burrada com ela. — minha filha fala, me deixando de
boca aberta.

— Como assim, eu gosto dela? De onde tirou isso? — tento disfarçar.

— Pai, todos perceberam. Acho que até mesmo os talheres lá de casa


perceberam isso. Eu gosto dela, e ficaria feliz se ela fosse morar lá em casa. — ela
fala, me deixando sem palavras.

— Calma, Brenda. Não é simples assim. Eu nem mesmo sei se ela gosta de
mim. — falo.

— Pai, ela te olha com um brilho nos olhos. Ela está apaixonada. E, por favor,
não estraga isso!
Quando minha filha se tornou tão madura a ponto de me dar conselhos
amorosos?

Chegamos em casa, e Bruno já tinha ido embora. Ele me mandou uma


mensagem dizendo que Sandra precisou ir para a confeitaria. Surgiu uma grande
encomenda, e ela não poderia dispensar.
Capítulo 31
— Você viu como os dois estavam se olhando? — pergunto para Bruno
enquanto ele dirige.

— Claro que vi. Eu acho que nunca vi ele daquela forma, nem mesmo com
Laís ele tinha aquele sorriso. — ele fala.

— Ela também gosta dele. Espero que ele seja um bom partido para ela.
Minha amiga merece! — comento, sorrindo ao imaginar.

— Bernardo está cada dia mais suave. Eu nunca o ouvi gritar com ela. As
outras secretárias não suportaram ele nem duas semanas. — sorrio só de
imaginar.

— Espero que ela se abra com ele. — falo, e Bruno me olha.

— Como assim? — ele pergunta.

— Não é nada. — falo, mas ele insiste.

— Agora eu quero saber. Eu não vou falar nada, prometo. — ele faz bico.

—Tá, eu vou falar, mas primeiro me ajuda aqui. — ele abre a porta para mim,
e entramos.

Recebi uma ligação de um grande evento de inauguração para amanhã


(segunda—feira). Está sendo inaugurada uma grande empresa de marketing, e
pediram um grande bolo e petiscos. Eu, além de fazer os bolos, faço petiscos e
salgados, apenas para esses tipos de ocasiões. Dá uma renda muito boa.

— Pega esses ingredientes para mim. — falo, e ele vai até onde estão os
ingredientes.

— Para de me enrolar e fala logo. — ele diz.

Falo sobre tudo que aconteceu com minha amiga no passado. Bruno fica de
boca aberta a cada frase que falo.

— Ela não pode saber que eu te disse isso. Ela tem medo, insegurança. Ela
passou mais de um ano fazendo terapia, e até hoje ela é insegura com seu corpo.
— falo.

— Ela não parece ter passado por isso. Gabriela é tão extrovertida. — ele
fala.

— Ela é sim, mas só eu e o tio sabemos da verdadeira dor dela. Alguns


vizinhos mais íntimos sabem da história, porque ajudaram a cuidar dela na época.
Gabi não podia ficar sozinha. — Falo, lembrando daquela época.

— Nossa, que barra ela enfrentou. — Bruno diz e quebra os ovos em um


recipiente que acabei de entregar para ele.

— Eu sempre estive ao lado dela. Viramos amigas na escola, depois disso eu


não desgrudei mais dela. Para mim, é como uma irmã. — falo, lembrando dos
nossos momentos juntas.

— Eu e Bernardo somos assim, apesar das nossas brigas frequentes! —


sorrio da forma como ele se refere ao irmão.
— Terminamos! — falo, pondo a última letra do nome da empresa em cima
do bolo.

Como era final de domingo, eu não quis chamar meus funcionários. Eles não
são obrigados a trabalhar no domingo. Então, fiz tudo praticamente sozinha,
porque Bruno se encostou no balcão e dormiu.

Guardo tudo nos freezers, que ficam apenas conservando, e vou até onde
Bruno está.

— Vem, vamos! — puxo ele pelo braço.

— O quê? Onde? — ele pergunta atordoado.

— Vamos para casa! — ele entra no carro e já vai logo pegando no sono.
Sigo direto para minha casa. Acho que meu relacionamento com Bruno está
avançando mais rápido do que imaginávamos. Ele só dorme na minha casa, suas
roupas já estão ocupando espaço no meu guarda—roupa, e acho que não consigo
mais me adaptar a ficar sem ele em casa.

Gabriela

Isso só pode ser brincadeira, depois de tantos anos?

— Filha, fala alguma coisa! — olho para os dois que estão na minha frente
e sorrio nervosamente, ou com raiva, não sei qual sentimento estou
experimentando agora.
— Você não tem o direito de me chamar assim, não depois de tantos anos.
— falo, sentindo lágrimas escorrerem pelo meu rosto.
— Não fala isso, deixa eu explicar! — passo as duas mãos no rosto e respiro
fundo.

— Onde você estava quando eu caí pela primeira vez de bicicleta? Meu pai
não tinha tempo para me ensinar porque ele precisava trabalhar para me
sustentar. Onde você esteve quando eu concluí meu ensino fundamental? Meu
pai estava lá, ou melhor, onde você estava quando eu precisei fazer uma
histerectomia? Porque a essa altura você já sabe, não é? — pergunto com tanta
raiva que nem mesmo me importo se ela sabia ou não.

A mulher à minha frente chora como um bebê que perdeu sua chupeta
preferida.
— Ele estava lá, meu pai esteve comigo. Então, depois de mais de vinte
anos, não venha querer tentar amenizar a situação. Não agora. — falo e saio da
sala, indo direto para o meu quarto.

— Filha, vem aqui. — meu pai vem logo atrás, mas pela primeira vez na vida,
bato a porta em sua cara.

Deito na cama e deixo o choro vir com força. Já senti muitos tipos de
sentimentos: dor, tristeza, arrependimento, fraqueza, mas esse sentimento agora
é algo bem diferente. É raiva, e sei que não é um sentimento bom. É algo que toma
conta do seu corpo, trazendo uma energia negativa, e eu não quero isso, não para
mim, não agora, depois de tudo que passei.

Não consigo sair do quarto naquela noite. Sinto meu rosto bem inchado do
choro prolongado. Ao amanhecer, que para mim foi uma bela virada de noite
acordada, levanto assim que meu celular desperta e sigo para o banheiro. Ligo o
chuveiro e deixo aquele sentimento de amargura ser levado pela água. Não sei
como vou encarar meu pai agora. Ele sabia que ela estava por perto e não me
contou. Ele trouxe ela aqui na nossa casa!
Visto uma calça jeans de lavagem escura e uma blusa social branca. Coloco
um blazer preto por cima e pego minha bolsa. Saio de casa antes que meu pai
acorde. Não quero falar com ele, não agora.

— Bom dia! — Cumprimento as meninas que já estão na recepção.

— Bom dia, Gabi. Que carinha é essa? — Luiza pergunta, me avaliando.

— Só tive uma insônia daquelas. — minto.

— Senhor Lumière já chegou. Pediu que fosse até lá assim que chegasse.
— Miranda fala, apontando para a sala do chefe.

— Tudo bem, obrigada meninas. Eu não vou almoçar com vocês hoje, tá. —
falo e me afasto delas, vou até a sala do Senhor Lumière e bato duas vezes.
Ouço um "entre" e então adentro a sala.

Sou surpreendida por mãos em minha cintura.

— Bom dia, linda. — ele fala, me puxando para junto de seu corpo.

Minha vontade era poder tocar seus lábios em um beijo quente como o de
ontem, mas os acontecimentos de ontem à noite não me fizeram ter outra reação
a não ser chorar contra seu peito.

— O que houve? Está chorando? — Bernardo não tem outra reação a não
ser me abraçar forte contra seu peito.

— Alguém te maltratou? Falou algo para você que a deixou ofendida? — ele
pergunta preocupado, enquanto eu não consigo parar de chorar em seu terno
caro de grife.
Capítulo 32
Me doeu ver ela chorando daquela forma. Será que foi algo que eu fiz? Mas
se fosse algo por minha causa, ela não estaria abraçada a mim.

— Gabi está me deixando preocupado. — falo, apertando-a em meus


braços.

— Eu só quero... ficar quieta. — ela fala entre meio ao choro.

— Tudo bem. Sente-se aqui!

Levo-a até o sofá, e ela se senta. Vou até o frigobar e pego uma garrafa de
água. Volto até onde ela está, que agora tenta secar as lágrimas. Abro a garrafinha
e sento ao seu lado. Gabriela pega a garrafa da minha mão e beberica alguns goles
de água.

— Pode me falar o que aconteceu? — ergunto.

— Me desculpa, eu molhei seu terno. — ela fala, me olhando de canto de


olho.

— Não estou preocupado com isso. Quero saber o que aconteceu para você
estar assim. — falo.

— Problemas familiares. — ela fala.

— Seu pai está bem? — lembro do problema dele.


— Meu pai está bem. O problema é minha mãe. Agora ela lembrou que tem
uma filha e ressurgiu das cinzas. Chega a ser engraçado. — ela fala com sarcasmo
na voz.

Fico calado por um tempo. Eu não sei o que aconteceu em sua família, então
não posso dar palpites. Se ela quiser se abrir, eu estarei aqui para ouvir e, se puder,
aconselhar. Mas, na verdade, não sou a melhor pessoa para dar conselhos,
principalmente quando se trata de família. Além disso, tenho uma filha de dez
anos e nem sei o que falar para ela às vezes.

— Minha mãe me abandonou quando eu era apenas um bebê. Ela disse


para meu pai que não conseguia viver uma vida simples como aquela. Meu pai
era mecânico, e nossas condições sempre foram fracas. Agora, depois de todos
esses anos, eu a encontrei trabalhando em uma loja de shopping. — ela fala com
mágoa na voz.

— E você não quer contato com ela, certo?

— Não, eu não quero. Depois de ela ter me largado como se eu fosse um


objeto qualquer, eu estava sempre ao lado do meu pai. Quando ele foi
diagnosticado com câncer, quando eu parei minha vida para cuidar dele, porque
ele fez tudo por mim. Se sou essa pessoa hoje, não foi por causa da minha mãe, e
sim por causa do meu pai. Agora ela quer voltar para a família? Ela não esteve
quando eu mais precisei dela. — Gabriela fala com mágoa na voz.

— Eu não sou a melhor pessoa para dar conselhos, principalmente quando


se trata de família, mas se precisar de mim, sabe onde me encontrar. — falo,
pondo a mão em sua perna.

— Obrigada. Agora eu vou voltar para minha mesa! — ela levanta e sai da
minha sala a passos largos. Me pergunto se deveria contratar alguém para
descobrir mais sobre essa mãe dela. Afinal, como Gabriela falou, ela foi embora já
faz um bom tempo. Ela não voltaria assim do nada, sem querer algo em troca.
Volto a analisar alguns papéis, enquanto a ideia de falar com Lúcio não sai
da minha cabeça.

Lúcio é o faz-tudo, até mesmo os trabalhos mais difíceis de serem feitos. Ele
é meu detetive particular. Sempre que quero descobrir algo, ele faz o trabalho
para mim.

Eu e Gabriela não tivemos nenhum tempo a sós. Ela saiu para almoçar com
as colegas, e eu pedi para que ela trouxesse algo para mim. Tive duas reuniões
com acionistas pela manhã. Já passa das cinco da tarde, e ainda estou ocupado
com alguns assuntos. Logo, Gabriela irá embora, e não terei tempo de beijar seus
lábios hoje.

Ouço batidas na porta, e falo um "entre".

Gabriela passa pela porta com seus famosos saltos agulha.

— Ainda está ocupado? — ela pergunta calmamente.

Eu fiquei preocupado com ela quando a vi daquela forma, mas sei que não
poderia fazer nada. Não sou um bom exemplo de pai e tampouco de filho.

— Só um minuto. Daqui a pouco retorno para você!

Desligo o notebook e levanto. Estico um pouco minha coluna e sorrio ao vê-


la me olhando.

— Me desculpa, eu atrapalhei sua reunião?

Vou até ela e seguro sua mão.

— Você não me atrapalha. Já estava pensando que não conseguiria te ver


antes de você ir embora. — falo, puxando-a para perto do meu corpo.

— O que acha daquele jantar ser hoje? — ela pergunta timidamente.


— Acho uma ideia maravilhosa! — Gabriela sorri de canto.

— Te busco às sete. — olho no meu relógio de pulso.

— Acho melhor às oito! — ela fala sorrindo. Já passa das seis e meia da
noite, e não percebi que se passou tanto tempo assim.

— Eu te deixo em casa. — falo e vou até minha mesa.

— Não precisa. Eu vou de táxi. — ela fala se aproximando.

— Eu insisto. — digo.

— E eu também. Não precisa me levar. Seriam duas viagens. Você pode ir


para sua casa. — Gabriela fala e põe as duas mãos no meu rosto. Aproximo nossos
rostos e beijo seus lábios.

— Aceite o carro. Facilitaria muito sua vida, até mesmo para a locomoção
do seu pai. — falo depois do beijo. Ela fica em silêncio.

— Eu não quero ser favorecida só porque estamos nos pegando. — ela fala,
me fazendo dar uma gargalhada. — do que está rindo? — pergunta séria.

— Porque você não está sendo favorecida com nada. Aqui, vários
funcionários usam carros da empresa. Eu não estou querendo te favorecer,
apenas te ajudar. — falo.

— Eu não tenho CNH. — ela fala.

— Eu já providenciei isso. — Vou até a mesa e pego a habilitação que foi


feita para ela.

— O que é isso? — ela pergunta, pegando a habilitação.

— Sua CNH. — falo.

— Mas isso é falsificado! — ela fala, me olhando séria.


— Não se preocupe, ela é muito bem feita. Agora pegue e escolha o carro
que está disponível na garagem. — falo, e ela tenta protestar. Mas não quero
prolongar o assunto e tomo seus lábios em um beijo quente.

Ficamos alguns minutos trocando carícias até ela resolver ir embora.

Pego minhas coisas e saio da empresa. Hoje vou oficialmente pedir ela em
namoro. Se ela aceitar, vou na casa dela pedir a seu pai. Eu sou um homem das
antigas, gosto das coisas certas, e pretendo fazer isso com o nosso
relacionamento. Se ela aceitar o fato de eu ser estéril.
Capítulo 33
Desço até a garagem segurando a CNH, um dos seguranças me
acompanha até o local onde estão estacionados os carros.

— Chegamos! — ele fala assim que as portas do elevador se abrem.

Saio do elevador e começo a olhar os carros. É um mais lindo que o outro.

— Qual eu posso pegar? — Pergunto.

— O que a senhorita quiser, mas acho que esses não fazem seu estilo. —
Ele fala e começa a andar para outro lado da garagem.

Acompanho—o. Andamos um pouco até ele parar de frente a um


Mustang branco.

— Ele é... lindo. — Falo, apreciando a beleza do carro.

— Pode pegar ele, acho que combina mais com o seu estilo. — Ele fala,
olhando o carro.

— Eu não posso. Esse carro é muito caro. — Falo.

— A senhorita é secretária do senhor Lumière. Acho que não ficaria bem


para a empresa se a senhorita chegasse em um carro qualquer. — Ele fala,
deixando-me pensativa.
Talvez seja por isso que ele queira tanto que eu pegue um carro. Se eu
precisar ir a alguma reunião quando ele não puder me levar, ou não houver
motorista disponível... Penso por mais alguns minutos. Meus vizinhos vão falar
muito sobre isso. Eu não quero ter uma má reputação. Todos sabem que não
tenho condições de comprar um carro desse porte, e eles vão dizer que estou
fazendo programa ou coisa pior.

— Eu prefiro aquele ali, o primeiro que vi. — Falo, lembrando de um carro


simples que vi logo que chegamos aqui.

— Aquele modelo de carro não está disponível! — Ele fala, e suspiro.

— Tem algum carro simples aqui, que eu possa usar sem chamar
atenção? — Pergunto, ficando impaciente.

— Quer saber, não vou levar nenhum. — Começo a andar em direção ao


elevador novamente, e ouço o homem protestar.

— Senhorita, não dificulte, por favor. O senhor Lumière ficará muito


irritado comigo se a senhorita sair daqui sem um carro. — Ele fala, e olho para
ele.

— Você sabe onde eu moro? Não? Eu moro em um bairro muito simples,


com pessoas simples que vivem de aposentadorias e outras que vivem de
serviços onde nem pagam vale—transporte. Imagine o que vão dizer quando
eu chegar com um carro desse porte? — Pergunto, passando a mão na testa.

— Senhorita, agradeça. Eu aceitei a ajuda da empresa e economizei o


dinheiro do vale—transporte. Agora comprei o meu próprio carro. O senhor
Lumière tem um jeito muito fechado, mas é uma ótima pessoa. — Respiro
fundo e estendo a mão para ele.

— Eu aceito esse carro, então. — Falo, vencida.


Sandra me ensinou a dirigir. Ela disse que um dia eu teria o meu próprio
carro e precisaria saber o básico para tirar minha carteira de motorista. Graças
ao poderoso Bernardo, eu não vou precisar.

Entro no carro com cuidado, passo as mãos no volante e um pequeno


sorriso brota em meus lábios. O segurança que estava aqui saí e me deixa
sozinha no carro que vou usar esses dias.

Giro a chave na ignição e as luzes do painel se acendem. Dou partida no


carro e saio da vaga onde ele estava estacionado.

Saio da garagem, e algumas pessoas olham para o carro. Sei que não
posso me achar por causa desse carro, afinal, ele não é meu, mas eles não
precisam saber disso.

Ligo o som do carro, e começa a tocar uma música da Beyoncé ("Ego").


Vou cantarolando até começar o refrão, onde eu me solto e começo a cantar
de verdade.

Assim que entro na rua da minha casa, as pessoas param para olhar o
carro. Dirijo devagar até chegar em frente à minha casa. Assim que paro o

carro, várias pessoas se aproximam. Pego minha bolsa que estava no


banco do carona e saio do carro.

— Gabi? — Algumas pessoas perguntam com espanto.

— Onde arrumou esse carro?

— De onde tirou dinheiro para comprar esse carro?

— Você ganhou na loteria?

Essas foram algumas das muitas perguntas que pude ouvir.

Vejo meu pai se aproximando.


— Filha? O que faz nesse carro tão chique? — Ele pergunta, me olhando
com uma grande interrogação na testa.

— Eu não ganhei na loteria, e também não comprei esse carro. Ele


pertence à empresa em que trabalho. Só estou com ele porque todos os
funcionários que não têm transporte e moram longe podem usar um. Não se
apavorem, por favor! — Falo, mas sei que muitas pessoas estão pensando que
estou me prostituindo. De fato, eu não queria aceitar esse carro, mas fui quase
forçada.

— E eles liberam carros tão chiques para meros funcionários? — O


vizinho mais fofoqueiro da cidade fala. Ele não pode ser considerado somente
do meu bairro, mas sim da cidade toda. Acho que ele daria um bom paparazzi.

— Senhor Flores, eu não sou uma mera funcionária. Eu sou secretária do


presidente e fui professora da filha do CEO! — Afirmo com orgulho. Eu não me
rebaixo a ele. Se quer pensar que sou uma mera vagabunda, o problema é dele.
Mas se eu puder fazer meu pai ter uma vida melhor, eu farei, mesmo não
estando muito de boa com ele.

— Subiu rápido de cargo! — Ele atiça.

— O que está querendo dizer com isso? Anda, fale logo! — Meu pai parte
para cima dele.

— Só acho estranho. Uma professora assalariada, agora andar em um


carro tão chique e só de roupas de grife. — Ele fala, e seguro meu pai antes que
ele avance no homem.

— Está duvidando do caráter da minha filha? Ela sempre foi um exemplo


de mulher. Eu jamais sentiria vergonha da minha filha por andar em um carro
que nós não temos condições de ter. Se o trabalho oferece isso a ela, eu fico
feliz, porque lá ela é valorizada, ao contrário do antigo trabalho dela, onde ela
se matava de trabalhar para cuidar do meu tratamento. Agora saiam da minha
porta! — Meu pai fala alterado. Puxo-o para dentro da nossa casa. Ele está
inquieto, mas assim que entramos, sua reação muda.

— O que você está fazendo, Gabriela? Não foi para isso que eu te criei!
— Ele fala, e percebo que suas falas anteriores foram apenas para tentar calar
a boca dos fofoqueiros da rua.
Capítulo 34
Sorrio sem nenhum humor.

— Então é isso, o senhor também acha que estou o quê? Me prostituindo?


— Pergunto com raiva.

— Eu não disse isso!

— E nem precisou, pai. Afinal, para um bom entendedor, meia palavra basta,
não é mesmo?

Sinto meu peito apertar.

— Filha, pelo amor de Deus, eu jamais diria isso sobre você. Só me preocupo
com você!

— Eu não menti, pai. Realmente foi a empresa que me emprestou o carro.


Mentir não é minha especialidade. — Falo e vejo ele engolir em seco.

— Você quer insinuar alguma coisa com esse comentário?

Sorrio e balanço a cabeça.

— Não, pai. Espero que sua consciência esteja tão limpa quanto a minha.
Mas antes que fique sabendo por terceiros, hoje eu tenho um encontro!

Falo, e posso ver seus olhos tomados por um brilho.

— Você está namorando?


— Não, estou conhecendo—o melhor. Não crie expectativas. — Falo e me
dirijo até meu quarto.

Fecho a porta atrás de mim e vou até minha cama. Essa pequena discussão
com meu pai me desgastou muito. Eu não quero decepcioná-lo, mas estou muito
triste por ele ter trazido aquela mulher para cá. Eu a vi aqui, e ele nem sequer me
disse quem ela era. Isso me deixou decepcionada com ele. Não esperava isso, não
vindo dele.

Depois de alguns minutos pensando, ouço batidas na porta. Sei que é ele, e
que certamente vai se desculpar. Eu conheço meu pai, sei como a mente dele age,
principalmente depois de nós dois nos desentendermos.

— Entre. — Falo, me arrumando na cama.

— Filha. — Ele fala, passando pela porta.

— Entra, pai. Algum problema?

— Não, está tudo bem. Só queria vir te ver. — Ele começa a rodear.

— Senta aí, pai. — Falo, apontando para a ponta da cama.

— O seu encontro é com o senhor Lumière? — Ele pergunta, e confirmo


com a cabeça.

— Está gostando dele?

Confirmo novamente com a cabeça.

— Ele parece ser um bom homem. Só peço que não se perca no meio de
tudo isso. Ele é muito rico, e as pessoas ao redor dele esbanjam luxúria. Não se
esqueça de onde veio. — Ele fala, e suspiro.

— Eu sei, pai, e não pretendo mudar quem eu sou. — Me aproximo dele e


seguro sua mão. — Se hoje eu estou nessa empresa, é porque penso sempre em
nós dois. Eu quero que tenhamos uma vida melhor, que você possa fazer seus
tratamentos sem nos preocupar em como vamos pagar. Eu quero o melhor para
você, assim como você sempre quis o melhor para mim. — Falo, e vejo uma
lágrima escorrer de seu olho direito. Trato de secá-la.

— Eu te amo, filha. Me desculpe pelo que eu disse, e me perdoa por não ter
te falado logo sobre sua mãe. — Ele fala, e respiro fundo.

— Tudo bem, pai. Eu te perdoo. Mas eu não quero nenhuma proximidade


com essa mulher. Ela não faz parte da minha vida. — Falo, e é a vez dele suspirar.

— Ela é sua mãe, meu amor. Vocês precisam conversar. — Ele fala, e levanto
da cama. Vou até a pequena janela e olho para fora, na esperança de não magoar
meu pai com palavras.

— Ela foi a mulher que me colocou no mundo, mas ela não é minha mãe.
Você foi pai e mãe. Ela não esteve comigo em nenhum momento. Ela não faz parte
da minha vida. Não tente fazer eu ter nenhuma proximidade com ela, por favor,
pai. — Falo, e ele balança a cabeça em concordância.

—Eu vou respeitar sua decisão!

—Obrigada!

—Vou deixar você se arrumar. Depois conversamos. — Ele fala e sai do meu
quarto.

Vou até meu guarda-roupas e procuro um vestido apropriado para a noite.


Sei que quando eu sair com o Bernardo, os falatórios só irão aumentar a meu
respeito. Não estou me importando muito com isso. Eu vivi toda a minha vida
fazendo tudo certo. Não namorava, não ia a festas, não saía com ninguém além
de Sandra. Agora, só por arrumar um bom trabalho e poder ter a oportunidade
de dar uma vida melhor para o meu pai, as pessoas começam a me julgar e duvidar
do meu caráter. Chega a ser hilário.
Entro no banheiro, aproveito o silêncio na casa. Sei que meu pai já não está
mais aqui. Faço minha higiene pessoal, lavo meus cabelos e passo meu óleo
hidratante.

Saio do banheiro e vou para o meu quarto. Sequei meus cabelos. Ainda não
me acostumei com a cor deles. Achei muito lindo, mas foi a primeira vez que fiz
algo tão radical. Essa cor é novidade para mim.

Visto o vestido que separei para usar essa noite. Ele é preto, longo e tem
uma fenda na perna direita. Nos pés, coloco um salto médio na cor nude. Deixo
os cabelos soltos e passo uma maquiagem leve. Pego minha bolsa de mão e me
olho no espelho. Nunca tive condições de comprar roupas e calçados bons. Eu não
acho que seja pecado eu poder usufruir um pouco do que ganho. O tratamento
do meu pai está indo bem, nosso aluguel não atrasa mais, sempre compro
presentes para ele. Não falta nada para nós. Será que é tão ruim assim eu
aproveitar um pouco dessa luxúria?

Meu celular começa a tocar. Pego e vejo o nome do Bernardo.

— Oi.

— Estou te esperando aqui na frente.

— Já estou saindo.

Desligo o celular e saio do quarto. Caminho rapidamente até a porta. Assim


que abro, vejo o carro dele parado na porta da minha casa. A essa hora, todos já
viram. Como não chamaria atenção? Ele precisava mesmo parar uma Ferrari
vermelha na frente da minha casa? Ele poderia ter pegado aquele carro que estava
lá na empresa, o mais velhinho, e vindo. Que merda, hein.

Bernardo desce do carro, e meu coração erra uma batida. Ele está vestindo
um terno de linho, perfeitamente ajustado em seu corpo. Suspiro e olho-o de cima
a baixo. Seu perfume exala em meu olfato.
— Está perfeita, meu amor. — Eu poderia facilmente dizer que tive um mini-
infarto ao ouvi-lo falar a palavra "meu amor".
Capítulo 35
Termino de me arrumar e me olho no espelho. Pego uma pequena
caixinha aveludada que está em cima da mesinha de cabeceira e olho mais uma
vez a pequena joia. Passo o perfume que mais gosto. Acho que já faz mais de
vinte anos que uso essa mesma fragrância.
No caminho para casa, pensei muito sobre isso. Quero que ela seja
oficialmente minha namorada. Quero poder apresentá-la à minha família e
levála para os melhores lugares. Mas tem coisas sobre mim que não sei se ela
está pronta para saber. Coisas do meu passado que ainda não se apagaram da
minha vida, e isso me assombra. Será que ela vai aceitar algumas coisas que
carrego comigo?
Desço até a garagem e procuro o carro que vou usar hoje. Escolho minha
Ferrari, faz alguns meses que não ando nela.

Vejo Gabriela saindo de sua casa, e meu coração falha uma batida. Ela está
linda. Seu jeito me encanta a cada dia mais. Posso dizer para o meu
subconsciente que sou louco por ela, mas poucas pessoas precisam saber disso.
— Está perfeita, meu amor. — As palavras saem naturalmente, não são
forçadas nem muito menos sem querer. Vêm de dentro de mim. E olhando a
forma como ela me olha de volta, sei que o sentimento é recíproco. Depois de
alguns minutos em silêncio, ela finalmente resolve falar, mas não o que eu
queria ouvir.
— Bernardo, precisava vir com um carro desse porte? — Ela pergunta,
visivelmente zangada.
— Sabe o que meus vizinhos vão falar? Na verdade, eles já estão falando,
que estou sendo garota de programa. E se eles me virem saindo com você nesse
carro, aí é que serei alvo de críticas. — Ela fala e suspira. Talvez eu devesse ter
vindo com um carro um pouco mais simples. Mas minhas intenções com ela são
as melhores. Quando a vi pela primeira vez, pensei que apenas uma noite com
ela seria suficiente para me satisfazer. Mas quando ela me falou, com toda a
pureza do mundo, que era virgem, soube que ali seria diferente. Tentei não
pensar nela, mas foi impossível. Ela chamou minha atenção de uma forma
inexplicável. E ao saber que ela era a mulher dos meus sonhos, soube que, se
Laís partiu para outra dimensão, é porque meu caminho e o dela tinham que se
cruzar. Hoje, não abro mão dela.
— Me perdoe, não foi intencional. — Tento me redimir.
— Desculpe a minha falta de educação, hoje o dia não foi muito fácil. — Ela
fala, e parece envergonhada por seu pequeno surto de raiva.
— Vamos? Tenho um lugar especial para te levar!
Ela sorri de lado, e vou até o outro lado do carro. Abro a porta, e ela se
apressa em entrar.
Dou a volta e entro pelo lado do passageiro. Dou partida no carro, e
seguimos para o local onde farei a surpresa para ela.
— Seu pai está bem? — Pergunto, ao perceber que ela está muito quieta,
olhando pela janela do carro.
— Sim, ele está bem!
— Está pensativa. Aconteceu alguma coisa?
Ela fica em silêncio por um tempo e depois me olha e sorri.

— Estou lembrando de quando te vi pela primeira vez. — Ela fala, e me


pergunto se ela sabe que nos conhecemos no hospital.
— Sério, eu era ainda mais bonito! — Falo, lembrando quando a vi pela
primeira vez. Ela sempre foi linda, e com o tempo ficou ainda mais.
— Não faz nem um ano que nos conhecemos!
Ela fala, e percebo que realmente ela não sabe que nos encontramos no
hospital.
— Verdade, não faz tanto tempo assim!
Não vou mentir, fiquei triste por ela não ter me reconhecido. Na verdade,
quando a segurei, seus olhos já estavam quase fechados. Seria pedir muito que
ela lembrasse de mim.
— Chegamos! — Anuncio, parando o carro. Ela olha para o restaurante e
depois olha para mim.
— Se soubesse que me traria aqui, eu teria me arrumado mais. — Ela diz,
parecendo sem jeito.
— Se você ficar ainda mais linda do que isso, eu não te levo para lugar
nenhum. E se eu levar, eu vou preso segundos depois!
Falo, e ela me olha.
— Como assim?
Ela pergunta, e tiro o cinto, me viro um pouco para ela e falo.
— Porque vários homens iriam te desejar, e eu quero você só para mim.
Ninguém pode te desejar mais do que eu desejo!
Vejo seus lábios tremerem levemente ao ouvir minhas palavras.
— Bernardo, vamos?
Ela desvia os olhos dos meus. Saio do carro e vou até o lado do passageiro.
Ajudo-a a sair e jogo a chave no ar para que o manobrista pegue. Ele pega a
chave e faz um aceno de cabeça para mim. Seguro a mão de Gabriela, e
seguimos até a entrada do restaurante. Reservei todo o espaço para nós dois.
Quero ficar a sós com ela.
— Por que não tem ninguém? — Ela pergunta assim que entramos.
— Porque hoje a noite é nossa!
Falo, e sua boca se abre em um pequeno "Ó".
O restaurante contém apenas uma mesa no centro e algumas luzes
centralizadas na mesa. O ambiente está meia-luz, o que dá o clima perfeito para
a nossa grande noite. Não estou falando de sexo, mas sim do que estou prestes a
fazer.
— Você mandou fazer tudo isso? — Ela pergunta, e olho para ela.
— Sim, quero que nosso primeiro jantar seja especial!
Falo, e vejo seus olhos brilharem.
— Bernardo, eu preciso te falar uma coisa!
Ela fala, e ponho o dedo em seus lábios.
— Hoje a noite é especial. Espero que seja tanto para mim quanto para você!
Falo, e ela dá um meio sorriso.
— Tudo bem!
Caminhamos até a mesa. Puxo a cadeira para que ela se sente, e assim que
ela já está acomodada, vou para o meu lugar.
— Eu sempre tive vontade de vir aqui, mas nunca tive dinheiro para tal luxo.
— Ela fala, e olha ao redor.
— Que bom que fui o primeiro a te trazer aqui, então. — Falo.
— Eu lembro que minhas colegas da faculdade falavam sobre esse lugar,
mas eu não pensava em vir, porque sempre soube o meu lugar. Sabia que não
conseguiria vir aqui, nem mesmo com o salário de professora. — Gabriela fala, e
percebo a tristeza em suas palavras.
Capítulo 36
— Quer fazer seu pedido logo? — Bernardo pergunta, olhando para
mim. Sei que ele só quer sair do clima pesado que ficou na conversa. Não
tenho vergonha do meu passado. Passei e ainda passo por dificuldades.
Não temos uma casa própria, meu pai ainda faz o tratamento contra o
câncer, e mesmo com o fato de que agora ganho melhor do que antes,
ainda sinto falta da minha turma. Amo cada um dos meus alunos. Acho
que a pedagogia infantil foi a forma mais próxima que encontrei de chegar
perto de ser mãe.
— Sim, claro!
Não vou falar para ele, mas estou com muita fome. Só comi no
almoço e ainda não comi muito bem. Estava sem apetite por causa dos
acontecimentos da noite passada.
— Eu tenho uma sugestão para você, se me permite. — Ele fala, com
todo o seu cavalheirismo.
— Fique à vontade para escolher. — Falo.
— Vou pedir ao chef pessoalmente. — Ele se levanta e vai para o que
suponho ser a cozinha. Fico observando o lugar. É muito refinado, tudo é
muito bem planejado. Acho que se estivesse cheio de gente, eu ficaria
constrangida.
Ouço uma música calma começar a ecoar pelas paredes do
restaurante. Tento descobrir de onde vem, mas não vejo nenhuma caixa de
som ou algo do tipo.
"Against All Odds (Take A Look At Me Now)"

Um refletor se acende perto da mesa, e a luz ofusca minha visão.


Tento ver mais, mas não consigo. Ouço passos vindo em minha direção.
Acho que Bernardo só pode estar fazendo alguma gracinha. Ele aparece no
centro da luz e sorri para mim. Será que estou tendo algum sonho erótico?
Ou romântico? Ou só estou ficando louca mesmo?
— Dança comigo? — Ele pergunta, e sorrio sem graça. Nunca fui muito
boa em dançar com alguém, e muito menos sóbria.
— Tem certeza? — Pergunto, e ele se aproxima de mim. Bernardo
estende a mão para que eu pegue. Merda, ele não imagina a fome que
estou.
Ele poderia deixar isso para depois, seria bem mais agradável.
— Claro. — Sorrio e seguro sua mão. Ele me puxa para o centro, e
todas as luzes se acendem. Posso ver o lugar ainda melhor.
Bernardo segura minha cintura, e começamos a dançar. Me aproximo
mais do seu corpo e deito minha cabeça em seu peito. Esse cheiro me
lembra algo. Tento inalar ainda mais. A música lenta me faz me aconchegar
ainda mais em seu corpo. Sua mão segura firme em minha cintura.
Flashbacks vêm à minha mente. Aquele dia no hospital... Eu tive uma
queda de pressão por causa da dor que estava sentindo. Foi então que o
médico suspeitou que eu teria que fazer a cirurgia quando eu ficasse
maior. Eu lembro que tinha mais ou menos dezesseis anos naquela época.
Eu vi um rapaz próximo a mim. Ele estava esperando para ser atendido. Eu
lembro desse cheiro. Era ele.
Me afasto um pouco de seu corpo e olho em seus olhos.
— Era você? — Pergunto, sentindo um sentimento estranho dentro de
mim.
— Você lembra?

— Sim, quer dizer, mais ou menos!


— Você não imagina o quanto eu quis te encontrar. — Bernardo fala,
abrindo um lindo sorriso.
Eu não acredito em destino, que alguém seja destinado a outra
pessoa. Mas, por muitos anos, pensei em encontrar o rapaz que me
segurou. Tive uma hemorragia grave e tive que ficar no hospital por um
bom tempo. Eu me levantei sem que ninguém visse e estava no corredor,
vendo as pessoas. Eu o vi próximo a mim, e do nada minha visão foi
perdendo o foco. Foi então que senti que estava prestes a cair. Se ele não
estivesse ali, com certeza eu teria caído e me machucado. Talvez até
mesmo tivesse outra hemorragia. Eu estava muito debilitada naquela
época. Lembrei-me desse perfume por muitos anos. E agora, vendo-o na
minha frente, não acredito que o rapaz que me salvou é o mesmo por
quem estou apaixonada.
— Como... como pode ser você?
— Eu não sei. Só descobri que era você no dia em que fui na sua casa
e vi aquela foto de vocês dois no hospital.
Ele fala, visivelmente emocionado.
— Você foi namorado da Sandra. Você a largou por uma...
— Eu não a amava. A deixei porque, no momento em que te vi, algo
em mim mudou. Voltei lá várias vezes, mas não te achei. Tentei descobrir
seu nome, mas não puderam me falar. E alguns meses depois, comecei a
namorar e logo estava noivo. Foi tudo tão rápido.
— É muita coisa para assimilar. — Falo, e procuro uma cadeira.
Bernardo se aproxima de mim e se agacha, ficando bem próximo ao
meu rosto.

— Eu não sei se foi destino, se foi acaso ou algo do tipo. A única coisa
que sei é que gosto de você e que, se você permitir, posso te fazer feliz!
Ele fala com a voz calma. Seus lábios são tão atraentes. Não penso
muito e colo meus lábios aos seus. Bernardo põe uma mão em minha
cintura, e aos poucos, o beijo que foi uma resposta de aceito se torna algo
avassalador. Algo que meu íntimo não consegue controlar.
— Namora comigo? — Ele fala entre o beijo. Sinto uma coisa na
minha barriga e, quando desvio a atenção para essa coisa, é um lindo anel
de ouro branco com uma pedrinha de diamante.
— Meu Deus, Bernardo!
Falo, colocando as mãos na frente da boca.
— Seja minha, Gabriela. Não tenha vergonha de mostrar para o
mundo o que sentimos. Aceita ser minha namorada?
— Sim!
Falo, e ele sorri.
Ele se afasta um pouco e, depois de segundos, me estende um lindo
buquê de tulipas vermelhas.
— É lindo!
Falo, e ele segura minha mão direita. Bernardo desliza a pequena joia
em meu dedo, selando nosso compromisso.
— Quero o consentimento do seu pai também. As minhas intenções
com você são as melhores!
Sorrio e seco algumas lágrimas que escorrem dos meus olhos.
Aceitar esse pedido dele significa que logo terei que falar tudo para ele.
Que não posso formar uma família com ele. Que nunca poderei dar filhos a
ele e muito menos irmãos para Brenda.
Capítulo 37
Desço do carro e vou abrir a porta do passageiro para ela.
— Tem certeza? — Pergunto assim que ela sai do veículo.
— Sim, não quero acordar meu pai. Amanhã de manhã, eu vou
embora. — Ela fala, e assinto com a cabeça.
— Tudo bem, fique à vontade. — Falo, abrindo a porta da minha casa.
Quando saímos do restaurante, já passava das onze da noite.
Gabriela disse que não queria acordar o pai, que toma remédio para
dormir. Então, sugeri que ela viesse para cá. Seus planos eram ir para a
casa de Sandra, mas sei que meu irmão está ficando mais lá do que em
casa.
— Acho que vai chover. O tempo está bem fechado. — Gabriela fala,
olhando para o céu mais escuro que o normal. Alguns relâmpagos
iluminam, mostrando nuvens carregadas.
— Espero que Brenda esteja bem. Ela tem medo de trovões. — Falo.
— Eles são aterrorizantes. — Ela fala, e percebo que não é apenas
minha filha que tem medo.
— Quer beber algo? — Pergunto.
— Só uma água, por favor!
Ela senta no sofá, e vou até a cozinha. A essa hora, todos os
funcionários já estão dormindo. Pego a água e volto para a sala. Depois
que o céu se ilumina novamente, vem o estrondo. Gabriela solta um grito
e se encolhe no sofá. Vou até ela o mais rápido possível e, sem pensar
duas vezes, a tomo em meus braços, na intenção de protegê-la de
qualquer coisa. — Calma, já passou. Está tudo bem! — Falo enquanto ela
está encolhida em meus braços.
— Vou levar você para a cama! — Falo e me levanto do sofá com ela
nos meus braços. Subo as escadas e penso se deveria levá-la para o quarto
em que ela dormiu da outra vez ou se a levo para o meu quarto. Outro
estrondo faz os vidros da janela estremecerem. Ela se agarra ainda mais ao
meu corpo. Então, tenho a resposta de que ela não pode ficar sozinha.
Abro a porta do meu quarto e a levo até minha cama.
— Deite-se aqui. Só vou fechar a porta do quarto. — Ela deita e se
encolhe no meio da cama.
Vou até a porta e fecho. Volto para a cama e deito perto dela.
Gabriela está deitada, segurando as pernas. Ela ainda está com os saltos.
Sento na cama e retiro as sandálias de seus pés, colocando—as ao lado da
cama. Me deito novamente ao seu lado.
Gabriela se vira e fica de frente para mim. Ponho meu braço direito
em seu corpo.
Outro trovão faz com que ela feche os olhos.
— Não precisa ter medo. É apenas um trovão! — Falo.
— Eu sei, mas todo esse barulho me apavora. — Ela fala.
— Abra os olhos. — Falo.
Ela me olha nos olhos, e fico observando suas pupilas.
— Você é tão linda, Gabriela. — Falo e selo nossos lábios.
Desejo-a como um lobo selvagem. Minha vontade é devorá-la com
meu desejo. Vê-la gemer e gritar meu nome enquanto goza em meu
membro. Mas, ao mesmo tempo, minha vontade é apenas admirá-la. Ver
suas reações em cada momento do dia, nos dias felizes e nos tristes
também. Poder acalmá-la como fiz agora pouco. Dizer o quanto ela está se
tornando especial e essencial para mim.
— Me faça sua, Bernardo. Me faça sua mulher hoje. — Aquelas
palavras me tocam como uma das melodias mais belas de ser ouvida.
Não sei se conseguirei controlar o desejo que tenho guardado dentro de
mim. — Você tem certeza?
— Não me pergunte de novo, e não pare no meio do caminho, por
favor. — Gabriela, em um ato de pura rapidez, sobe em cima de mim. Seu
vestido atrapalha um pouco, mas não o suficiente para diminuir o desejo
que está me consumindo.
Tento várias vezes descer o zíper do seu vestido, mas são tentativas
em vão. Puxo o tecido, fazendo-o se rasgar. Ela não protesta, apenas me
olha com desejo. Retiro o vestido de seu corpo e o jogo ao lado da cama.
Passo a mão em sua barriga e costas.
Gabriela retira o sutiã, me dando a visão de seus belos seios. Deito-a
na cama e faço uma trilha de beijos do seu pescoço até seu seio direito,
mordendo levemente o bico rosado. Ela geme baixo, e meu membro lateja
dentro da calça.
— Por favor... Bernardo.
Sua voz sai rouca e arrastada. Sei que ela quer isso tanto quanto eu.
— Sim, meu amor. Eu vou te dar tudo o que você quiser. — Falo e retiro
a calcinha de renda que ainda está em seu corpo.
Retiro minha roupa e olho mais uma vez seu corpo. Deito lentamente
sobre ela, sem quebrar nosso contato visual. Mais uma vez, o fato de ela
ser virgem me vem à mente. Vou até a gaveta do meu criado-mudo e pego
um lubrificante. Quero que ela se sinta o mais confortável possível.
Despejo um pouco em meu membro e faço movimentos de vai e vem,
deixando-o completamente lubrificado. Ela morde o lábio inferior, e me
ajeito novamente entre suas pernas.
— Qualquer coisa, me fala, por favor. — Falo, e ela confirma com a
cabeça.
Me encaixo devagar em sua entrada. Ela aperta a mão no lençol.
Tento ser o mais carinhoso possível. Assim que estou todo dentro dela,
espero alguns segundos para que ela se acomode. Gabriela solta alguns
gemidos involuntários.
— Continua, por favor. — Ela pede, olhando para mim.
Faço o que ela pede e começo a me movimentar dentro dela. Nossos
movimentos viram uma bela sincronização. Gabriela geme baixo enquanto
faço os movimentos, aumentando um pouco mais as estocadas.
— Você é ainda mais gostosa do que imaginei. — Falo.
Tomo seus lábios em um beijo feroz. Gabriela está totalmente
entregue a mim, assim como estou a ela.
Paro os movimentos e saio de dentro dela. Gabriela me olha sem
entender. Puxo-a, fazendo-a ficar por cima de mim. Ela se encaixa em cima
do meu membro e começa a se movimentar. Seguro sua cintura enquanto
ela cavalga em mim. Tomo um de seus seios na boca, e ela geme alto,
mostrando que eles são seu ponto fraco. Conheço a minha mulher ao
ponto de esquecer meu próprio prazer e apenas dar prazer a ela. Estou
conhecendo os pontos fracos de Gabriela para proporcionar-lhe prazer
sem fim.
Enquanto ela se movimenta, ponho as mãos em suas nádegas e sugo
um de seus seios. Ela geme e fala alguns palavrões.

— Que boquinha suja essa sua. — Falo, e ela me olha. Sua pele está
corada, talvez pelo que eu disse ou talvez pelo que estamos fazendo.
Sugo o outro seio, não demorando muito para que ela dê indícios de
que vai gozar.
— Goza para mim, meu amor. — Falo e mordo seu seio.
Ela geme e chama meu nome. Não consigo me controlar e chego ao
ápice junto com ela.
Capítulo 38
Abro os olhos devagar e sinto meu corpo mais cansado que o normal,
mas as lembranças da noite passada fervem em minha mente.
Olho ao redor e não o vejo no quarto. Sento na cama e passo a mão
no rosto. Levanto e vou para o banheiro.
Assim que entro no cômodo, lembro do sexo que tivemos na
bancada da pia e dentro da hidromassagem. Tomo um banho e escovo os
dentes com a escova que ele me entregou durante a madrugada. Nunca
imaginei que fazer sexo seria tão bom.
Saio do banheiro usando apenas um roupão. Será que ele vai se
incomodar se eu pegar uma camisa dele? Afinal, não trouxe roupa e a
única que tinha se rasgou.
Caminho devagar até o closet, que fica do outro lado do quarto.
Assim que chego à porta do closet, admiro a beleza de seus ternos, todos
organizados e separados por cor. Talvez as camisas fiquem ali. Como ele é
bem maior que eu, serviriam como um vestido. Antes que eu possa abrir a
porta, ele segura minha mão.
— Ai, que susto. — Falo, olhando para ele. Seu semblante está
diferente.
— Não abra essa porta. — Ele fala, e abaixo minha mão que estava
parada no ar.
Sinto algo ruim percorrer meu corpo. Há algumas horas atrás, eu
estava sendo dele, e agora ele fala assim comigo. O que aconteceu?
— Me... me desculpa, eu só queria uma camisa. — Falo sem graça.

— Aqui não tem camisa. As camisas ficam do outro lado. — Bernardo


está sério, e isso me incomoda.
— Eu não preciso mais. Vou tentar arrumar meu vestido. — Saio do
closet com raiva. Sinto sua presença logo atrás de mim.
— Me perdoe, eu não quis ser rude. — Ele fala, mas a essa altura do
campeonato já estou engolindo o choro e respirando fundo.
— Tudo... tudo bem. — Estava prestes a pegar o que sobrou do
vestido quando sinto sua mão segurar minha cintura. Bernardo me puxa
para junto de seu corpo.
— Me perdoe, meu amor. Eu não quis ser rude com você. — Ele
sussurra em meu ouvido, e meu corpo entra em êxtase com esse ato. Mas
não vou ceder em fazer sexo com ele depois do que ele fez.
— Eu estou indo para casa! — Me solto dos braços dele e pego o
vestido do chão. Vou até o banheiro, ainda ouvindo Bernardo falar.
A sorte é que o vestido tem alguns botões por dentro, o que foi uma
grande sorte mesmo. Consigo vesti—lo mesmo com o zíper quebrado.
— Por favor, Gabi, não precisa ir só por causa disso. — Ele fala assim
que saio do banheiro.
— Não estou indo por isso. Eu avisei que iria embora pela manhã. —
Falo.
— Desmarquei todos os nossos compromissos para passar o dia com
você! — Ele diz.
— Sinto muito, mas estou de saída. — Falo e pego minha sandália.
— Já que insiste, vou apenas trocar de roupa e te levo. — Bernardo
fala, caminhando para o closet.
— Não perca seu tempo. Vou sozinha. — Falo e saio do quarto.
Sinto ele vindo atrás de mim. Bernardo alcança minha mão, e sou
obrigada a olhar para ela.
— Gabi, para. Me deixa pelo menos te levar. — Ele fala, me encarando.
— Já falei que vou sozinha. — Solto minha mão e volto a andar.
Desço as escadas e saio da casa dele.
Respiro fundo e começo a caminhar. Não estou bancando a difícil,
mas o pedido de namoro dele, o fato de ele ser o menino que me segurou
no hospital e o fato de termos feito sexo essa noite ainda estão sendo
processados em minha mente. Quando ele falou que era o mesmo do
hospital, lembrei de Sandra. Ele a largou por uma pessoa que nem
conhecia. E se ele fizer o mesmo comigo? Ele me pediu em namoro e se
declarou sem sequer saber que sou infértil. Qual será a reação dele? E,
pela primeira vez, fiz sexo. O que isso vai mudar na minha vida? O que vão
falar sobre mim na empresa? São tantas perguntas e nenhuma resposta. E,
para completar, no final de semana será o aniversário da filha dele. Me
pergunto se ele revelará nosso relacionamento para todos.
Meu celular começa a vibrar na bolsa. Pego-o e vejo o nome do doutor
que cuida do meu pai.
— Doutor Oscar?
— Olá, Gabriela. Como está?
— Estou bem. Há algum problema?
— Na verdade, seu pai tem uma consulta amanhã e gostaria de fazer
novos exames nele. Se puder trazê-lo aqui.
— Sim, inclusive acho que eu também quero fazer alguns exames.
— Tudo bem. Amanhã, uma hora da tarde.
Termino de falar com ele e desligo o celular. Ando até minhas pernas
cansarem. Ainda bem que choveu muito durante a noite. Meus pés estão
descalços enquanto caminho.
Meu celular volta a vibrar.
— Oi, amiga?
— Oi, como você está?
—Estou bem. Aconteceu alguma coisa?
— Não, só queria saber onde você está.
— Estou indo para casa. Estou passando em frente à praia.
Explico para ela de qual praia se trata, e ela diz que vem me encontrar.
— Menina, que vista linda hoje. — Ela fala se aproximando.
— Deixa eu adivinhar... Bernardo te ligou?
Ela sorri de lado, e tenho a resposta.
— Só me faltava essa agora!
— Ele disse que estava preocupado e me pediu para saber onde você
estava. O que aconteceu entre vocês?
Explico para ela o que aconteceu, desde o pedido de namoro até a
hora do closet. Sandra tem o dom de me escutar e não me julgar.
— Você precisa falar com ele. — Ela fala.
— Eu até ia contar ontem, mas aí ele saiu e quando voltou, foi logo me
pedindo em namoro. Você acha que eu fiquei como?
— Ai, amiga, eu não queria estar na sua pele. Mas faça um esforço e
conte. — Ela fala, e confirmo com a cabeça.

Ficamos mais algum tempo olhando as ondas da praia. Depois, ela


me levou para casa. Como hoje ainda é terça-feira, vou trabalhar à tarde e
arrumar alguns documentos que estão bastante desorganizados.
Capítulo 39
Termino de me arrumar e saio do quarto. Meu pai está sentado no
sofá da sala, com o pensamento longe.
— Pai?
Chamo.
— Oi, filha. Estava aqui pensando. — Ele fala e dá um sorriso de lado.
— Está tudo bem? O senhor está bem?
— Sim, e como foi seu jantar ontem?
— Foi bom... ele me pediu em namoro. — Falo, e ele se levanta.
— Sério? E você gosta mesmo dele? — Ele pergunta atencioso.
— Sim, eu gosto dele, mas tenho medo do que nossos vizinhos vão
comentar. — Falo.
— Não se preocupe com isso. Porém, eu tenho algo a dizer sobre isso!
Ele fala, e sento no sofá para podermos conversar.
— Você não ficou feliz?
— Sim, meu amor. Eu quero que você seja feliz, mas peço que não
mude por ele. Seja essa mesma menina de sempre, simpática, alegre e
com essa energia positiva. — Ele fala, e sorrio.
— Eu fui criada e educada pelo melhor pai do mundo. O senhor acha
mesmo que vou deixar de ser quem sou por causa de alguém?

Pergunto, segurando suas mãos. Tenho muito orgulho de ser quem


sou, e ainda mais por ter sido educada por ele. Meu pai é minha maior
riqueza.
— Eu te amo, pai. Me perdoe se às vezes sou incompreensível, se às
vezes te deixo preocupado, e pelas vezes que falei coisas absurdas. — Falo,
sentindo minha garganta apertar.
— Você é a melhor filha do mundo. Não esqueça que eu te amo!
Ele passa a mão em meu rosto e depois deposita um beijo em minha
testa.
— Já estava esquecendo, amanhã é sua consulta! — Falo, e ele faz
uma careta.
— Não faça isso. Você sabe que precisa cuidar da saúde. — Falo, e
levanto. —Estou indo trabalhar até mais tarde.
Saio de casa e entro no carro. Alguns vizinhos me olham com
curiosidade, mas não dou muita importância.
Chego na empresa, pego minha bolsa no banco do passageiro, tranco
o carro e vou para o elevador.
— Segura para mim!
Ouço alguém falar e aperto o botão para que as portas não se fechem.
— Obrigado. — Assim que nossos olhos se cruzam, lembro dele
rapidamente.
Desvio meu olhar do dele e aperto o botão para que o elevador suba.
— Eu lembro de você, a secretária do Bernardo, certo?
Faço que sim com a cabeça.
— Como eu poderia me esquecer de uma mulher tão bela!

Fico sem graça.


— Obrigada. — Falo.
As portas do elevador se abrem e vou rapidamente para minha sala.
Penso que estou livre dele, mas me engano.
— Está me seguindo?
Pergunto, incomodada.
— Não especificamente, mas estou procurando seu chefe. Posso
sentar aqui?
Ele pergunta, apontando para uma poltrona.
— Sim, fique à vontade. — Falo e sento atrás da minha mesa. Ligo o
computador e começo a ocupar minha mente.
Lembro que Bernardo falou que desmarcou todos os compromissos
para hoje, então provavelmente ele não virá aqui.
— Provavelmente, o senhor Lumière não virá à tarde!
Ele olha para mim e dá um sorriso de lado.
— Não me importaria de ficar aqui olhando para a senhorita!
Ele fala de modo galanteador. Não posso mentir e dizer que ele não
é bonito, porque seria uma mentira descabida. Mas eu gosto de outra
pessoa, então ele não faz meu tipo, principalmente por suas cantadas
baratas.
— Agradeço pelos elogios, mas se está esperando por ele, acho
melhor voltar outra hora!
Ele suspira e se levanta. Erick caminha devagar até chegar bem perto
da minha mesa e puxa a cadeira. Ele se senta e me encara.
— Qual seu salário trabalhando para Bernardo?
Ele pergunta, pegando—me de surpresa.

— Como assim?
Pergunto, cruzando meus braços na mesa.
— Eu pago o triplo se quiser. Gostei de...
— Se afaste dela!
Ouço Bernardo falar em alto e bom som.
— Bernardo, o que faz aqui?
Erick pergunta com ironia.
— Pelo visto, vim salvar minha namorada de ser assediada por você!
Ele fala, fazendo a boca de Erick se abrir em um "o", e minha reação
com certeza não foi diferente.
— Na-namorada?
Erick pergunta, olhando de mim para Bernardo.
Bernardo, com seu instinto que eu ainda não conhecia, mas bem
visível, ciúmes, se aproxima rapidamente e fica ao meu lado. Ele põe sua
mão direita em minha cintura e me puxa de lado, deixando nossos corpos
bem próximos.
— Sim, namorada!
Ele segura minha mão e levanta, mostrando claramente o anel em
meu dedo.
— Pelo visto, você tem um belo gosto, não é mesmo, Bernardo?
Erick pergunta com sarcasmo.
— O que faz aqui? Tenho certeza de que não deixei negócios
inacabados com você!

Bernardo fala, e percebo que sua voz está carregada de raiva. Será
que foi o fato de ele encontrar Erick aqui? Ou o fato de eu ter saído da
casa dele daquela forma? Ou pode ter sido por eu ter vindo trabalhar
quando ele tinha planos para nós dois.
— Vim deixar esses documentos que meu pai pediu, e não poderia
deixar de admirar sua linda namorada. — Bernardo trava o maxilar, e sua
respiração está pesada. — Minha proposta ainda está de pé. Vou deixar
meu cartão. — Ele põe o cartão na mesa, e preciso segurar firmemente o
braço de Bernardo para que ele não vá para cima de Erick.
— Eu não quero seu cartão. Acho melhor ir embora. — Ele sai da
minha sala com um sorriso no rosto.
— Quem esse cara pensa que é?
Bernardo esbraveja, batendo a mão na minha mesa.
— Fica calmo, tá? Ele só queria te provocar!
Falo, e sento na cadeira novamente. Sinto seu olhar em mim, mas finjo
que ele não está aqui.
— O- o que ele queria com você? Que proposta ele te fez?
Ele pergunta, tentando disfarçar.
Cruzo os braços e olho para ele.
— Ele me ofereceu o triplo do salário que você me paga. — Falo.
— Filho da mãe, e o que você disse?
Percebo que ele está com medo de que eu acabe aceitando.
— Se esse fosse o caso, eu já teria ido embora, principalmente
depois do que aconteceu mais cedo. Porém, eu amo o meu chefe, o que
deixa a situação um pouco mais complicada. — Falo, e ele abre a boca
várias vezes para dizer algo, mas nada sai.
— Vo-você disse... disse que me ama?
Ele pergunta, ainda atônito.
— Se eu não te amasse, acha que eu estaria com você? Você duvida
do que eu sinto?
Pergunto, e ele se aproxima de mim. Levanto, e ficamos nos olhando.
— Claro que eu não duvido, só não esperava ouvir assim, dessa forma.
— Ele fala, e sorrio. Me aproximo dele, e nos beijamos.
Capítulo 40
— Eu amo você! — Gabriela fala enquanto estamos os dois deitados
no sofá da minha sala. Ela está deitada sobre meu peito. Não conseguimos
conter nosso instinto e fizemos sexo ali mesmo.
— Você me faz uma pessoa diferente — falo. Essa é a mais pura
verdade. Ela me torna diferente de quem eu era alguns meses atrás.
Meu celular começa a tocar, e pego o aparelho que estava no chão.
— Sim?
— Senhor Lumière, Rebeca. Estou responsável pela organização do
seu evento.
— Ah, sim. Pode falar.
— Quero mais alguns detalhes do que o senhor está pensando para a
decoração, onde será realizado e o buffet.
— À noite, irei mandar uma lista. Agora estou muito ocupado.
— Ok, estarei esperando!
Desligo a ligação e coloco o celular novamente no chão.
— Seu pai irá na festa? — pergunto.
— Ainda não sei. Ele não me deu a resposta. Amanhã ele tem uma
consulta. Irei me atrasar um pouco amanhã. — Ela fala, olhando para mim.
— Tudo bem. Tire a manhã livre. Se ainda não tiver comprado sua
roupa, aproveite e vá logo. Só não quero que faltem!
— Por que toda essa vontade de me ter lá? — ela pergunta, sorrindo.

— Você agora é minha namorada e precisa participar dos eventos da


família. — falo.
— O aniversário da filha do CEO, que por acaso é meu chefe, é uma
bela história. — Ela fala e sorri.
— Vamos dormir juntos hoje? — pergunto. Ela me olha e depois se
levanta. Gabriela pega a blusa que estava na mesinha de centro. Sento e a
vejo colocar os sapatos.
— Gabriela? Ainda está chateada comigo por hoje mais cedo?
— Quer mesmo saber? Sim, parece até que tinha algo naquele
armário que eu não poderia ver. Seria algo como uma arma? Algo terrível?
Alguém morto?
Merda, eu não queria falar sobre aquilo, não agora, não assim, e muito
menos no primeiro dia de namoro.
— E-eu vou te falar, mas não agora. Volta aqui!
Bato a mão no sofá. Ela olha para mim e suspira.
— Não, eu vou terminar de arrumar alguns documentos no
computador. Depois nós conversamos. — Ela termina de se arrumar e sai
da minha sala.
Passei o restante da tarde pensando. Se eu não tivesse chegado aqui
naquele momento, provavelmente Erick teria assediado Gabriela. Eu
conheço bem o caráter dele, sei da fama dele de assediador, e sei também
que a família passa a mão na cabeça dele. Mas eu não quero que ele se
aproxime de Gabriela. Acho que terei que proibir a entrada dele aqui.
Pensei também no fato de falar para Gabriela o que tem no meu
armário. Sei que já deveria ter me livrado daquilo, mas ainda não consegui.
Talvez ela possa me ajudar a fazer isso.
Pego o telefone e ligo para ela.
— Venha até minha sala, por favor.
Coloco o telefone novamente no gancho, e logo a porta é aberta.
— Precisa de mim?
— Sempre! — Gabriela me olha e sorri de lado.
— Você entendeu!
Sorrio, e ela se aproxima da minha mesa.
— O que deseja, senhor Lumière?
Gabriela fala formalmente.
Levanto e me aproximo dela.
— Naquela porta do meu armário, tem muitas coisas, coisas que eu
ainda não consegui me desapegar. Mas se você me ajudar, eu vou conseguir.
— Falo, e ela me olha confusa.
— S-se trata dos pertences da...
Ela para de falar, parecendo constrangida.
— Sim, são as coisas da mãe da Brenda. Eu não consegui me desfazer
delas ainda, mas sei que se você estiver ao meu lado, eu vou conseguir.
Então, me ajude hoje. — Suspiro ao terminar de falar.
Quando a Laís morreu, imaginei que chegaria o momento em que eu
teria que me desfazer das coisas dela, mas não pensei que seria depois de
dez anos. Agora que estou com Gabriela, não é justo nem para mim, nem
para ela. Com Gabriela ao meu lado, eu terei forças para fazer isso.
— Você tem certeza disso?
Ela pergunta, e puxo-a para perto de mim.
— Sim. Por muito tempo, me apeguei a bens materiais, mas a melhor
lembrança que ela poderia ter me deixado foi a minha filha. Eu quero
seguir em frente, e quero que seja com você!
Gabriela sorri de lado, e dou um beijo calmo em seus lábios.
— Tudo bem. Eu vou estar ao seu lado sim. — Ela fala, ainda perto dos
meus lábios.
— Obrigado.

E assim fizemos. Assim que saímos da empresa, Gabriela e eu fomos


para minha casa.
— Gabi?
— Oi, Brenda. Nossa, como você cresceu. Faz tão poucos dias que te
vi. — Gabriela fala, abraçando minha filha.
Brenda
Vejo Gabi entrar, e levanto rapidamente do sofá. Gabi me abraça e
fala o quanto eu cresci nos últimos dias. Gosto que os dois estejam juntos.
Meu pai merece ser feliz. Acho que ele passou muitos anos de solidão,
talvez por minha causa. Não sei bem o motivo, mas acho que eu era um
deles.
Sinto algo estranho na minha intimidade quando eles olham para
Matilde, que está entrando na sala. Olho para o meu short jeans, que
agora tem uma mancha vermelha nele.
O que é isso?
Saio correndo para o meu quarto. Ouço a voz do meu pai, mas não
faço o mínimo esforço para saber do que se trata. Entro no quarto e vou
logo ver o que é isso.
— Brenda? Está tudo bem?
Ouço a voz da Gabi e as batidas na porta.
Abro um pouco a porta, e ela me olha preocupada.
— O que houve? Está tudo bem?
— Entra!
Ela passa pela porta, e eu fico sem jeito de falar.
— Gabi, eu não estou bem. Acho que estou morrendo!
Falo, já sentindo minhas lágrimas descerem. Uma dor se espalha pela
minha barriga.
— Espera, como assim?
Gabriela se aproxima de mim, e sento na cama.
— Eu estou sangrando lá embaixo!
Falo.
— Lá embaixo? Aonde?
Faço sinal com a cabeça para indicar do que estou falando, e ela logo
entende.
— Meu Deus, sério?

Ela pergunta, eufórica.


— Você está achando isso interessante?
Faço cara de brava, e ela sorri. Gabriela me abraça e começa a falar.
— Isso acontece com todas, meu amor. Se chama menstruação.
Todos os meses, isso irá acontecer. Os ciclos são diferentes para cada
mulher. Algumas passam três dias, outras passam cinco, e algumas até
mesmo sete dias. Se acostume, e parabéns, agora você é uma mocinha!
Ela fala, e vejo seus olhos brilharem. Será que isso é uma coisa boa aos
olhos dela?
— E o que eu faço?
— Eu vou te explicar direitinho, e vou na farmácia comprar o que você
vai precisar. Fique aqui quietinha. — Ela fala e sai do meu quarto.
Capítulo 41
Desço as escadas apressada.
— O que houve? Brenda está bem? — Bernardo pergunta,
visivelmente preocupado.
— Sim, eu... preciso do seu carro!
Falo, e ele me olha com uma interrogação na testa.
— Por favor!
— Sim, pode pegar!
Ele me entrega a chave, e saio da casa. Pego o carro e dirijo até a
farmácia mais próxima. Compro vários tipos de absorvente, alguns com
abas e outros sem. Talvez ela goste de algum. Lembro da primeira vez que
fiquei menstruada. Foi doloroso e humilhante. Eu estava na escola. Minha
sorte foi Sandra, que me ajudou. Ela me levou ao hospital, e daí começou o
meu dilema. Até chegar o dia da minha cirurgia, desde os meus quatorze
anos, não passo mais por isso.
Compro remédios para cólicas e alguns chás que podem ajudar.
Dirijo novamente até a casa deles. Bernardo não está mais na sala.
Subo as escadas e chego até a porta do quarto da Brenda. Bato e ouço ela
falar "entre".
— Cheguei, me desculpa a demora. — Falo, indo até onde ela está.
— Tudo bem, o que trouxe?
Pergunta curiosa.

— Vou lhe ensinar como usar. — Falo, pegando os absorventes da


sacola. — Onde tem uma calcinha sua?
Pergunto, e vejo ela ficar sem jeito.
— Me desculpa, eu não sei bem como explicar. Eu nunca precisei
ensinar isso para alguém!
Sorrio nervosamente.
— Esse absorvente você vai colocar na calcinha, para evitar de sujar
suas roupas. Mas você vai ter que trocar no máximo de quatro em quatro
horas, para a sua saúde!
Falo, e ela senta na cama para prestar atenção ainda mais no que estou
dizendo.
— Na escola onde estuda, eles não falam sobre isso. É um fato muito
importante e um assunto que deveria ser abordado com as meninas. Mas
se precisar de ajuda, me avise. — Falo, e ela sorri.
— Obrigada, Gabi. Eu vou pegar a calcinha. — Ela fala e sai para o
closet.
Segundos depois, ela volta segurando a pequena peça íntima.
Explico para ela como colocar o absorvente na calcinha, e ela fica
animada.
— Beba isso. Vai ajudar a aliviar a cólica. Se caso não melhorar, me
avise. — Falo, e ela consente com a cabeça.
Brenda vai para o banheiro, e fico mais alguns segundos esperando
ela.
— Isso... é desconfortável. — Ela fala, e sorrio.
— Sim, por isso trouxe outro. Você irá se adaptar. — Falo.

— Estou com fome, vamos comer?


— Sim, vamos!
Descemos para a cozinha. Matilde estava preparando um lanche para
nós.
— Obrigada! — Ela agradece assim que Brenda sai da cozinha. Olho
para ela sem saber do que ela está falando.
— Por quê? — Pergunto.
— Por ter ajudado minha menina. Eu não saberia como explicar isso a
ela. — Ela fala, me olhando.
— Isso não foi nada demais. Eu fico feliz em ter ajudado ela. — Digo.
— Você trouxe alegria para esta casa. O Bernardo mudou muito depois
que te conheceu!
Penso por um tempo. Realmente, quando o vi pela primeira vez,
percebi o quanto ele era amargurado, com a feição séria, o jeito carrancudo.
— Brenda precisava mesmo de uma pessoa assim como você. A
pessoa que ela teve mais próxima de uma mãe fomos nós. — Matilde fala,
fazendo sinal com as mãos para as outras meninas que trabalham na casa.
— O que eu puder fazer para ajudá-la, eu farei. — Falo, fazendo todas
sorrirem concordando.
— Quer ajuda? — Pergunto, entrando no quarto onde Bernardo está
sentado.

— Estava te esperando. — Ele fala, e entro completamente no quarto.


— Me perdoe, agora sou toda sua! — Falo, e ele me olha com malícia.
— Sério? Posso fazer o que eu quiser então?
Ele se aproxima rapidamente, faço sinal com a mão antes que ele me
agarre.
— Não, só depois que retirarmos o que estava combinado. Não acho
apropriado fazer sexo e depois retirar as coisas dela daqui. — Falo, e ele
passa a mão na testa.
— Tudo bem, então vamos lá. — Ele fala, e me dá as costas.
Bernardo para em frente à porta do armário e suspira. Assim que ele
abre aquela porta, levo um susto. São tantas coisas. Roupas, perfumes,
joias, sapatos e fotos. Ele montou quase que um santuário para ela. Tudo
bem organizado, cada coisa em seu devido lugar.
Me afasto um pouco dele. Aquilo, de certa forma, me chocou um
pouco. Eu não esperava que fosse dessa forma. Pensei que tivesse apenas
algumas coisas, e não tudo isso.

— Gabriela?
— E-Eu preciso tomar um ar. — Saio do quarto e vou direto para o
jardim.
Capítulo 42
Saio atrás dela, eu sei que é demais para ser assimilado. Talvez eu devesse
ter alertado ela. Todos esses anos, nunca deixei outra pessoa tocar aqui, a não
ser eu mesmo. Achava que as pessoas que vissem o que tem aqui poderiam me
tachar de louco ou obsessivo. Talvez eu até possa ter sido assim todos esses
anos. Mas agora que a Gabriela está em minha vida, eu devo isso a ela. Eu quero
poder me libertar desse sentimento que mantive por ela todos esses anos.
Gabriela precisa saber que o que eu sinto é verdadeiro, e agora eu quero que ela
me ajude a me libertar para que possamos seguir em frente.
Saio à procura dela, e quando penso que ela tinha ido embora de vez, a
vejo perto da piscina. Caminho devagar até onde ela está, seu pensamento está
longe.
— Não pensei que ficaria assim!
Falo, e ela me olha.
— Eu não sei se consigo te ajudar. Aquilo foi mais do que eu pensei!
Ela fala de forma seca, talvez eu realmente tenha assustado ela de verdade.
— Eu entendo se não quiser me ajudar. Só pensei que ao lado da mulher
que amo seria mais fácil!
Ela me olha com brilho nos olhos.
— O que você falou?
Ela pergunta.
— Falei que ao lado da mulher que amo seria mais fácil!
Repito sem entender o motivo.
Gabriela se aproxima de mim e me olha nos olhos.

— Ainda sente por ela todo o sentimento que demonstrou naquele


armário?
— Não, eu sinto apenas gratidão por ela ter me deixado a Brenda, e respeito
pelo que vivemos. O que eu sinto agora é por você!
— Fala mais uma vez!
Ela pede, e entendo do que ela está falando.
— Você é a mulher que eu amo.
Puxo Gabriela para meus braços e dou um beijo em seus lábios.
— Eu vou tentar ao máximo te ajudar.
Seguro sua mão, e seguimos novamente para o meu quarto.
Gabriela entra e suspira. Sei que para ela não é fácil saber que eu guardei
essas coisas por todo esse tempo. Nem mesmo Brenda teve acesso a tudo que
tenho aqui: fotos, pertences pessoais, roupas e calçados.
— Algumas coisas nunca foram usadas. Pensei em doar para alguém que
precise.
Falo, abrindo novamente a porta.
— Talvez orfanatos?
— É uma opção. Pessoas de bairros carentes. Pensei em vender as joias e
doar o dinheiro para instituições de caridade.
Falo, pegando uma das correntes de ouro branco.
— Elas ficarão muito felizes.
Ela fala e segura minha mão novamente.
— Eu vou separar as roupas. Você pode separar essas outras coisas?
Pergunto.
— Você não acha que a Brenda deveria ver isso?

Ela pergunta, olhando para mim. Eu nunca pensei na possibilidade de


trazer minha filha aqui para ver as coisas da falecida mãe dela. Talvez ela tenha
uma reação ainda pior do que a Gabriela.
— Eu vou tirar algumas coisas para ela. As peças mais preciosas e as que a
mãe dela mais gostava. E algumas fotos de bons momentos.
Falo. Gabriela parece desconfortável.
Ela fica em silêncio e pega as embalagens para colocar o que indiquei.
— Gabi, eu não quero que se sinta pressionada em estar aqui!
Falo sinceramente.
— Estou bem, vamos continuar?
Deixo os cabides que peguei e vou até ela. Passo minha mão direita por
sua nuca e puxo-a para um beijo. Gabriela se rende às minhas carícias. Já sinto
uma ereção vindo, só de estar ao lado dela. Meu corpo já dá sinais de que deseja
tê-la novamente.
Me afasto um pouco e olho para ela. Seus lábios estão avermelhados, sua
pele está ruborizada.
— Chega, Bernardo. Vamos fazer logo isso.
Ela fala, afastando-se de mim.
Sorrio e seguimos fazendo o que viemos fazer.
Passamos uma longa tarde nisso. Gabriela começou a falar sobre o que
tinha acontecido com a Brenda, mas como pai, não quis ouvir todos os detalhes,
pois não é um assunto que eu entenda muito bem e não ajudaria muito saber
todos os pormenores.
— Essas são as últimas.
Falo, pegando as últimas caixas para levar para baixo.

Gabriela procurou as instituições para onde seriam destinadas as roupas e


os calçados. As joias, eu deixei tudo guardado para vender. Já conversei com
meu advogado, e ele irá se encarregar dessa parte. Separei também uma caixa
com algumas coisas para Brenda.
— Filha?
Bato na porta do seu quarto.
— Oi, pai. Pode entrar!
Ela fala, e entro. Ela está deitada.
— Eu não sabia bem como fazer isso, mas acho que a gente procura as
formas certas na prática.
Sento na cama e olho para ela.
— Eu nunca fui um bom pai, nunca falei muito sobre a sua mãe, nunca tive
tempo para você. Eu trabalho muito, e agora estou namorando a Gabriela. Talvez
você possa ter se sentido diferente com isso.
Falo, e ela senta na cama.
— Pai, eu sempre entendi tudo isso. O senhor amava minha mãe, e ela se
foi. Não é fácil falar sobre isso. Eu entendo tudo isso, pai.
Ela fala de forma carinhosa.
— Eu trouxe algumas coisas para você. Eram alguns pertences de sua mãe
que ela mais gostava. Acho que você pode gostar de algo.
Falo, e levanto da cama.
Saio do quarto de Brenda e desço até a sala. Gabriela está sentada, falando
ao telefone.
— Sim, daqui a pouco. — Hoje não, logo mais irei. — Ok, até mais.
Ela desliga o celular e olha para mim.
— Atrapalhei?

Pergunto, e ela levanta.


— Claro que não. Estava falando com o meu pai. Preciso ir para casa.
Ela fala, e puxo-a para perto de mim
— O que você acha de eu ir com você? Preciso ter uma conversa com o seu
pai.
Falo, e ela me olha levemente assustada.
— Acho que ainda...
A interrompo.
— Não é muito cedo. Eu amo você, e quero que seu pai esteja ciente disso
também. Ou você não quer que eu vá?
Ela tenta achar as palavras certas. Depois de alguns segundos, ela fala.
— Eu quero sim, mas tenho receio do que vão falar sobre mim. Que estou
com você só por causa de dinheiro ou algo do tipo.
Ela fala, desviando o olhar.
— Domingo é o aniversário da Brenda, e seu pai precisa estar presente.
Então, o correto é eu me antecipar e pedir sua mão em namoro para ele. Quanto
à sua vizinhança, eles deverão falar bem menos se assumirmos nosso namoro.
Falo.
— Então vamos. Mas o que acha de levamos a Brenda?
Ela pergunta, e concordo com a cabeça. Ver que ela sempre quer incluir
minha filha em nossas atividades é muito bom.

— Chegamos!
Ela fala, assim que paro em frente à casa dela.

— Estou ansiosa para conhecer seu pai, Gabi.


Brenda fala, visivelmente animada.
— Então vamos. Eu já avisei a ele que viríamos.
Descemos do carro e seguimos até a porta da casa da Gabi. Alguns
vizinhos já nos olham com curiosidade. Gabi está de costas para mim, então
seguro sua mão desocupada.
— O que está fazendo? — Ela pergunta, com um meio sorriso.
— Estou dando assunto para suas vizinhas. — Falo, e ela sorri envergonhada.
— Pai? — Gabriela chama, entrando na casa.
Capítulo 43
O jantar foi ótimo. Meu pai aceitou numa boa o nosso namoro. Eu
ainda estava com receio do que poderia acontecer, mas foi tudo bem.
Brenda adorou o meu pai.
— Filha, quase esqueci. Fui à consulta hoje. Estava na casa do John e
me ligaram dizendo que tinha sido adiada para hoje, então eu fui lá. —
Meu pai fala, e olho para ele atenta.
— E os exames? Está tudo bem? Ele pediu mais algum? Passou novos
medicamentos? — Pergunto tudo de uma vez.
— Está tudo bem. Ele disse que não se desenvolveu mais. Está tudo do
mesmo jeito de antes. — Ele fala.
— E as quimioterapias?
Faz algum tempo que suspenderam as quimioterapias dele. Mesmo
vendo o quanto ele estava sofrendo, nunca quis deixá-lo partir. Quando ele
começou a responder ao tratamento, deu um alívio tão grande.
Finalmente, ele não teria mais crises de vômito, insônia e fraqueza.
— Eu queria estar com você. Deveria pelo menos ter me avisado!
Falo, e ele põe a mão em minha bochecha.
— Estou bem, não se preocupe. — Ele fala.
Quando terminamos de jantar, segui para lavar a louça. Brenda e
Bernardo ficaram conversando com o meu pai. Ele sabe que ainda não
pode tocar no assunto da minha cirurgia. Não sei como falar sobre isso
com o Bernardo. Ainda acho estranho.
Termino de limpar toda a cozinha e volto para a sala. Papai está
falando sobre o dia em que briguei na escola. Na verdade, não fui eu, as
meninas queriam me bater, e a Sandra me defendeu.
— Ainda bem que tenho a Sandra para me defender! — Falo, e eles
sorriem.
— A cozinha já está toda organizada. O senhor quer alguma coisa? —
Pergunto, sentando perto dele.
— Não, está tudo bem!
Bernardo fez o pedido oficial do nosso namoro na hora em que
estávamos jantando. Meu pai apenas nos fez companhia na mesa. Ele ficou
contente e pediu para que Bernardo cuidasse de mim e nunca me
magoasse. Era um desejo dele que eu arrumasse um namorado. Acho que
o medo dele era eu ficar solteirona a vida toda, assim como uma vizinha
aqui de casa.
— Gabi, precisamos ir. Você vai comigo?
Bernardo pergunta, levantando do sofá. Já passava das nove e meia da
noite.
— Eu acho melhor... — Meu pai me interrompe.
— Pode ir, filha. Eu vou ficar bem. E Bernardo, amanhã estarei
presente no aniversário da menina. — Meu pai fala, e Brenda sorri.
— Obrigado, senhor!
Bernardo fala, estendendo a mão para o meu pai.
— E então, Gabi?

— Vá, filha. Aproveite!


Meu pai fala, passando a mão em meu rosto.
— Tem certeza, pai?
— Estou bem. Amanhã você pode vir me buscar.
Ele fala, e confirmo com a cabeça.
Pego uma roupa para dormir e outra para ir ao trabalho amanhã. O
aniversário da Brenda é durante a noite, então o dia será normal. Mas
tenho que tirar da minha agenda a consulta do meu pai.
Depois de me despedir, seguimos para a casa do Bernardo
novamente. Estou preocupada. Meu pai mal tocou na comida dele. Vi ele
jogando fora sem que ele percebesse que eu estava olhando. Isso me
preocupa.
— Está tudo bem?
Bernardo pergunta, parando o carro em frente à sua casa.
— Sim, está tudo bem!
Minto. Estou preocupada. Meu pai mal tocou na comida dele. Eu vi
ele jogando fora sem que ele percebesse que eu estava olhando. Isso me
preocupa.
— E por que está com essa carinha?
Olho para ele e lanço meu melhor sorriso.
— Está tudo bem. Vamos entrar?
Desço do carro, e logo Brenda desce também. Ela sai em disparada
para o quarto, e posso imaginar que esteja muito desconfortável com o
que está usando.
Assim que chegamos no quarto, Bernardo me puxou para perto de
seu corpo. Não fizemos muito durante o dia, mesmo eu querendo muito a
todo momento beijá—lo.

— Estava louco para sentir seu cheiro. Enquanto seu pai falava das
suas travessuras, eu só ficava imaginando o que fizemos há duas noites.
Sinto minhas bochechas corarem.
— Bernardo! — O repreendo.
— Não estou mentindo. — Ele beija meu pescoço, e todos os pelos do
meu corpo se arrepiam.
Fico mole em seus braços. Não imaginei que alguém pudesse me fazer
ter essas sensações.
— Eu quero te proporcionar ainda mais prazer. Quero te mostrar todas
as formas de prazer possíveis.
Ele fala, e morde o lóbulo da minha orelha esquerda.
— E-eu preciso... tomar um banho.
Me afasto um pouco dele e respiro fundo.
— Eu posso ir com você?
Ele pergunta, e faço que sim com a cabeça. Seguimos para o
banheiro dele. Bernardo tira a roupa sem pudor algum, enquanto eu ainda
sinto vergonha de me despir na frente dele.
— Não precisa sentir vergonha de mim. Eu venero o seu corpo, suas
curvas, seus seios. Tudo em você me deixa fascinado.
Ele fala, se aproximando de mim.
— Bernardo...
Sussurro seu nome, sentindo suas palavras me atingirem em cheio.
Até mesmo a forma como ele fala comigo me causa mil e uma sensações
diferentes.
Bernardo segura o meu corpo e me levanta, me pondo sentada no
mármore da pia. Suspiro, e ele abre a minha blusa de botões.
Provavelmente é mais uma peça de roupa que não irá servir para concerto.
Ele tira a minha blusa e se afasta um pouco do meu corpo. Bernardo
analisa os meus seios, ainda dentro do sutiã de renda branco. Eu não
amamentei, então os meus seios são durinhos, o bico é rosado e pequeno.
Provavelmente, se eu tivesse sido mãe, teria dificuldade para amamentar.
— Você é tão linda.
Ele beija meus lábios e depois beija o meu pescoço. Já sinto minha
intimidade ficar extremamente excitada. Solto gemidos baixos, e ele desce
até os meus seios. Bernardo desabotoa o meu sutiã, e seguro um dos meus
seios. Suspiro com o seu toque. Ele abocanha um enquanto faz uma
deliciosa massagem no outro. Bernardo sabe trabalhar muito bem com as
mãos. Ele suga o meu seio direito, e a sua mão desce até a minha calça. Ele
abre o botão com uma só mão. Seus dedos entram pelo pano fino da
minha calcinha e alcançam a minha intimidade. Bernardo começa a me
estimular.
Jogo minha cabeça para trás, e ele suga o meu outro seio.
— Eu vou...
— Pode gozar, meu amor.
Ele fala, e logo sinto meu orgasmo se aproximar. Não demora muito, e
estou gozando em seus dedos.
Capítulo 44
A organização do aniversário da Brenda está linda. Ela parece uma
princesa com um vestido rodado. Bernardo olha radiante para a filha. Fico
feliz em vê-los mais próximos. Sei que ele está aprendendo agora a ser pai.
Falando nisso, meu pai está aqui. Apesar de não poder comer essas
comidas, ele fez questão de vir prestigiar a pré—adolescente.
— Está linda, meu amor!
Bernardo fala, se aproximando de mim. Ele está de uma forma
diferente, parece estar radiante. Quando o conheci na escola, ele tinha
uma expressão muito dura, aparentava ser um homem muito rígido. Hoje,
não o vejo mais daquela forma.
— Você também está perfeito.
Falo, arrumando a gravata estilo borboleta.
— Ela está perfeita!
Falo, olhando para Brenda.
— Sim, está. Eu praticamente nem vi minha filha crescer. Hoje, ela já é
uma mocinha.
Ele fala, e posso ver a emoção em suas palavras.
Estávamos distraídos olhando para Brenda conversando com alguns
amigos, até que uma pessoa chega, chamando nossa atenção.
— Bernardo, vejo que conseguiu superar a morte da minha filha!
Uma mulher de cabelos castanhos fala, parando em nossa frente.
Muito elegante, por sinal, mas nem um pouco educada.

— Senhora Germano, que prazer tê-la em minha casa!


Bernardo fala, cordialmente.
— Essa será a próxima?
Ela pergunta, me olhando de cima a baixo.
— Não sei a que a senhora se refere. Essa é minha namorada, Gabriela.
Gabriela, essa é a avó materna da Brenda.
Ele fala, e percebo que ele não está nem um pouco contente com
essas acusações dela.
— Espero que não tenha o mesmo destino da minha filha. Afinal,
Bernardo continua o mesmo de anos atrás.
Ela fala, e Bernardo aperta minha cintura, talvez na intenção de se
acalmar e não mandá-la para a puta que a pariu.
— Olha, minha senhora, eu não a conheço, assim como a senhora não
me conhece. Então, aproveite a festa e deixe Bernardo se divertir.
Falo, não me importando se estou sendo mal educada ou não. Será
que ela não sabe que ele também sofreu com a morte dela? Ele não pode
carregar esse fardo.
— Você tem uma língua muito afiada para uma pequena ninfeta.
Deveria se redimir. Depois que ele jogar você fora, só sobrará a sarjeta. –
ela fala, e sai antes que eu possa responder à altura.
— Essa mulher pensa que é quem para falar tal coisa? – Pergunto, mais
para mim do que para ele.
— Não deixe que ela te intimide. Ela só está com medo de perder a
pensão gorda que recebe todos os meses. –Ele fala, visivelmente mais
calmo.
— Ainda assim, ela não me conhece para falar tais besteiras. – Falo,
bufando de raiva.
— Venha, quero te mostrar uma coisa.
— O que? – Pergunto, curiosa.
— Me acompanhe e saberá. – Ele fala e sai andando na minha frente.
Seguimos para dentro da casa, que está bem movimentada, e depois
para o quarto dele.
— O que tem para me mostrar? – Pergunto, fechando a porta. Então
ele me puxa.
— Quero fazer amor com você! – Ele fala, e sinto minhas bochechas
corarem.
— Bernardo! – O repreendo.
— Então tá, já que não quer, vamos descer. – Ele me solta, e estava
indo para a porta quando eu o puxei.
— Claro que eu quero. – Falo, então ele me beija.
Bernardo me leva até a cama e me deita com cuidado. Fico olhando
seu corpo. O volume em sua calça já é visível. Será que ele iria mesmo sair
assim, com essa ereção?
— Não vou tirar sua roupa. Estou com tesão desde a hora que te vi
com esse vestido! – Ele fala de forma sexy.
— Eu queria tirar a sua gravata, rasgar os botões da sua camisa, jogar
sua calça bem longe e depois te ver assim, bem excitado.
Entro no jogo. Eu não tinha feito sexo, mas ele me ensinou, me amou
das melhores formas possíveis. Ele me fez conhecer o lado prazeroso da
vida, então eu tenho que descobrir as formas de deixá-lo extasiado
também. — Está ficando bem saidinha.

Ele fala, e volta a me beijar com fervor. Não demora muito, e


Bernardo me penetra devagar. Por mais que já tenhamos feito sexo
algumas vezes, ele ainda toma esse tipo de cuidado comigo. Isso me deixa
feliz e ainda mais apaixonada por ele.

— Eu te ajudo com o batom! – Ele fala, limpando minha boca.


— Obrigada. Agora, volte e cumprimente seus convidados. Vou ver se
meu pai precisa de algo. – Falo, e ele me dá mais um beijo. Bernardo sai do
quarto, e eu termino de me arrumar. Saio minutos depois.
Procuro meu pai entre as pessoas, até que o vejo sentado em uma
mesa afastada. Talvez ele já esteja querendo ir para casa. Meu pai não
gosta muito desses eventos.
— Está pensando em alguém? – Pergunto, parando na frente dele.
— Oi, filha. Estava sim. Senta aqui! – Sento perto dele e olho para onde
ele estava olhando.
— Estava aqui lembrando. Eu nunca consegui fazer uma festa tão
linda para você. O máximo que consegui foi pedir para a Maria fazer um
bolo simples. – Ele fala, visivelmente triste. Viro para ele e seguro sua mão.
— Pai, você sabe o que me deixava mais feliz no meu aniversário? –
Pergunto, e ele me olha.
— Não, o que?

— Você nunca me perguntou, mas na verdade, o que me deixava


mais feliz era quando você saía mais cedo do trabalho para ficar comigo.
Aquilo me deixava tão feliz que, à noite, no meu quarto, eu chorava e pedia
para Deus nunca me tirar você!
Meu pai já derrama algumas lágrimas, e eu trato logo de secá-las.
— Não se culpe por não ter me dado uma festa assim. Eu nunca
precisei disso. Só preciso que esteja sempre comigo e não me abandone
nunca.
Ele, assim como eu, fica emocionado. Meu pai é tudo para mim, e
tenho medo de perdê-lo. Isso eu deixo bem claro. Sei que essa doença que
está com ele é traiçoeira. Então, vou conversar com o médico dele na
semana que vem. Preciso estar a par de tudo.
A festa está ótima. Bernardo, depois de conversar com os
convidados, vem nos fazer companhia. Seus pais não puderam comparecer
porque estão em uma viagem de navio. Porém, eles prometeram
compensar a Brenda com um presente que trarão de lá.
Uma semana depois...
Saio da empresa e sigo direto para o hospital. Desmarco meu almoço
com Bernardo para vir aqui. Preciso eu mesma saber como foram os
exames.
— Olá, marquei com o doutor Philip! – Falo com a recepcionista.

— Ah, sim. Ele já aguarda a senhorita. – Ela fala, e então me dirijo até
a sala dele.
— Boa tarde, doutor! – Falo, entrando.
— Boa tarde. Sente-se, por favor! – Ele fala, e me sento de frente para
ele.
— Eu queria saber como está o meu pai. Ele disse que fez alguns
exames, e que estava tudo bem, mas fiquei preocupada mesmo assim. –
Ele me olha com um olhar de desentendido.
— Como assim? Ele não veio à consulta. Inclusive, ele ligou
desmarcando, disse que você estava doente e não poderia acompanhá-lo.
Ele fala, e parece que uma tonelada de preocupação e raiva caiu sobre
minha cabeça.
— Mas, doutor, ele disse que o senhor ligou um dia antes, e ele veio
consultar. Inclusive, fez exames, e o senhor disse que está tudo bem.
Falo, ainda sem acreditar que meu pai mentiu para mim.
— Eu sinto muito, ele não veio. – Ele fala, e levanto da cadeira.
— Obrigada pelo seu tempo. Eu vou resolver isso. – Falo, e saio do
consultório dele.
Sigo para minha casa. A raiva que estou não está escrita. Não sei o que
falar quando eu o vir. Como ele pode fazer isso?
Chego em casa e já vou logo entrando.
— Pai? – Chamo, e ele não responde.
— Pai, eu sei que está aí. Pode sair e me explicar essa história de não
ir à consulta. – Falo, indo até o quarto.

— Pai, me responde. Onde você está? – Alguém entra e me chama.


Volto para a sala, e é o neto do seu Francisco.
— Gabi, ainda bem que está aqui! – Ele fala, visivelmente nervoso.
— O que aconteceu? Está tudo bem com o seu avô?
Ele tenta reformular as palavras, mas não consegue.
— Fala logo, está me deixando nervosa! – Falo, já preocupada.
— É... É o seu pai, Gabi. Ele desmaiou lá na casa do vô.
Saio correndo, sem que ele fale mais nada. Corro até a casa do seu
Francisco, e eles me olham desesperados.
— O... O que aconteceu?
Pergunto, com dificuldade.
Meu pai está deitado no sofá.
— Já chamamos a ambulância. Logo eles chegarão.
Seu Francisco fala, visivelmente preocupado.
Não demora muito, e o socorro chega. Vou na ambulância com ele.
Estou com as mãos trêmulas, meu coração acelerado. Por que isso
aconteceu?
Chegamos ao hospital, e levam ele para dentro. Não consigo fazer
outra coisa a não ser chorar. Por que com o meu pai?
Meu celular toca, e tiro do bolso. Atendo sem olhar quem é.
— Oi.
— Gabi? Está chorando?
— Bernardo, meu pai está no hospital.
— Estou indo aí.

Ele desliga, e fico andando de um lado para o outro.


Capítulo 45
Chego ao hospital onde o pai da Gabi está e adentro o local, pergunto onde
ele está e só me falam que ela está na sala de espera.

Assim que chego na porta da sala, vejo um médico conversando com ela,
Gabriela chora compulsivamente, percebo seu corpo caindo e vou até ela, consigo
segurá-la antes que seu corpo se choque contra o chão.

Olho para o doutor que apenas balança a cabeça em negação para mim,
entendo o que ele quer dizer.

— Eu sinto muito. – Ele fala e olho para minha mulher deitada em meus
braços, seu rosto está pálido.

— Como isso aconteceu? – Pergunto.

— Ele não estava se tratando já fazia alguns dias, a doença se agravou


bastante, já tinha se espalhado por outros órgãos. – Ele fala e então pego Gabriela
nos braços.

Coloco ela deitada no sofá e ele me olha.

— Vou mandar preparar um soro para ela. – Ele fala e sai.

— Eu sinto muito, meu amor. Não consegui fazer você não sentir essa dor. –
Falo segurando a mão dela.
Já faz duas horas que ela está sem se mexer, os médicos aplicaram um
sedativo no soro.

— Onde ela está? – Ouço a voz de Sandra alterada.

Vou até a porta do quarto e ela logo me vê.

— Cadê ela? – Ela pergunta preocupada.

— Está sedada, eu já cuidei do funeral dele. – Falo.

— Obrigada, vai descansar um pouco, eu fico com ela! – Ela fala.

— Eu não vou sair do lado dela. – Falo e ela concorda.

— Minha amiga, eu sinto muito. – Uma mulher na base dos seus quarenta
e poucos anos fala se aproximando.

Gabriela olha para ela com desprezo.

— Só agora eu soube. – Ela fala e tenta se aproximar mais, porém, a filha


levanta e põe a mão na frente para que ela não dê mais um passo.

— Se afaste de mim e do meu pai, você não tem o direito de estar aqui, não
tem o direito de se despedir dele. – Ela fala e levanto também, ela apoia a outra
mão na cadeira.

— Filha, por favor, não faz isso. – A mulher começa a chorar.

— Gabi, deixa ela se despedir. – Falo.

— Ela não tem o direito, onde ela estava quando ele cuidou sozinho de mim?
Quando ele deixou de cuidar de si mesmo para cuidar de mim? Não me chame de
filha, a única pessoa que teve esse privilégio está aqui. – Ela põe a mão no caixão.
– Morto, ele está morto. – Ela grita, fazendo todos olharem ainda mais para a
cena.

Gabriela se desequilibra e eu a seguro.


— Chega, vamos ali tomar um ar fresco. – Falo carregando ela para fora da
igreja.

Uma semana depois...

Essa semana foi bem complicada. Gabriela está de licença, tento animá-la
todos os dias, mas está difícil. Insisti para que ela fosse para minha casa, mas ela
não quis. Até que Sandra conseguiu convencê-la a ir para sua casa. A dificuldade
agora é fazê-la comer e sair de casa. Hoje ela me disse que um advogado iria vêla,
Gabriela ainda não sabia do que se tratava, então perguntei se poderia estar
presente nessa visita dele. Ela aceitou de boa.

— Briana, pode desmarcar meus compromissos de hoje, tenho outro


compromisso. – Falo.

— Senhor Bernardo, sem querer ser intrometida, mas já sabemos do seu


namoro com a Gabi. Queria saber se ela está bem? Soubemos o que aconteceu. –
Ela fala e olho para ela.

— Ela está se recuperando, só não sei quando ela voltará ao trabalho. Peço
que segure as pontas por enquanto. – Falo e ela confirma com a cabeça.

Saio da empresa e sigo para a casa da Sandra.

— Oi, como você está?

— Estou bem!

Sei que é mentira. Gabriela perdeu cerca de cinco quilos essa semana. Já
conversei com Sandra sobre o que devemos fazer, mas nada dá certo. Ela precisa
sair do luto, e isso demora mais do que o esperado.

— E o advogado?
— Ele me ligou agora pouco, já está chegando. – Ela fala.

— Você comeu alguma coisa? – Pergunto.

— Sim, a Sandra fez um sanduíche para mim antes de sair, estou bem. – Ela
fala sem me encarar.

— O que acha de passar alguns dias na minha casa? A Brenda gosta muito
de você. – Tento.

— Talvez na semana que vem, por enquanto aqui está bom. – Ela fala.

— Ok, quando quiser, é só ir. – Falo e ela concorda com a cabeça. Me


aproximo ainda mais e seguro sua mão.

— Obrigado!

Ela olha para nossas mãos e depois olha para mim, as lágrimas já começam
a descer dos seus olhos, e faço o máximo para deixa-la desabafar essa dor.

Depois de alguns minutos, alguém toca a campainha. Vou até a porta e abro,
peço para que o advogado entre, ele entra e senta em frente a Gabriela.

— Eu sinto muito. – Ele fala e ela faz que sim com a cabeça.

Gabriela está sentada com as pernas dobradas ao lado do corpo. Eu não vejo
mais o brilho que ela tinha quando a conheci. Mesmo sabendo que a doença do
pai era tão severa, ela não aceitava que isso aconteceria tão cedo.

— O que o senhor tem para me falar?

— Seu pai deixou um testamento. – Ele fala e ela olha confusa para ele.

— Meu pai não tinha nada, por que ele deixou um testamento? – Pergunta
confusa.

— Ele não queria que a senhorita soubesse, mas ele deixou, uma boa
quantia em uma conta, e duas casas no centro da cidade. Ele também deixou essa
carta para a senhorita, onde explica tudo. Poderia assinar esse documento, por
favor?

Ele pergunta e Gabriela olha para mim.

— Eu posso olhar? – Pergunto.

— Fique à vontade!

Ele me entrega o papel e verifico linha por linha. Realmente, ele deixou uma
boa quantia para Gabriela no banco e dois imóveis em um lugar bem centralizado.

— Está tudo correto. – Entrego o papel para ela, que olha para mim e
confirmo com a cabeça. Gabriela assina os papéis e o advogado entrega as cartas.
Ele então vai embora e ela olha para mim.
Capítulo 46
(Carta 1)

Sei que se está lendo esta carta é porque já não estou mais ao seu lado.
Deve estar com raiva de mim, eu entendo, mas peço que me compreenda.
Nos últimos meses, meu corpo deu sinais de que estava piorando. Eu não te
falei porque sabia que ficaria triste assim como está agora. Até algum tempo
atrás, eu fazia o uso da medicação e mesmo assim não estava me sentindo
bem. Apenas na sua frente, para você ficar feliz. Sentia muitas dores quando
me alimentava e quando me deitava para dormir. Me perdoe, filha. Eu fui
fraco e hoje não posso mais te proteger, mas eu vou cuidar de você onde
quer que eu esteja. Vou te contar uma história sobre sua mãe que nunca te
contei. Eu e ela nos conhecemos na oficina onde eu trabalhava. Eu vi aquela
menina ali, tão linda, e fiquei deslumbrado por tamanha beleza. Ela também
não parava de me olhar, então começamos a namorar escondido. Eu era
alguns anos mais velho que ela, e ela uma menina ingênua. Até que casamos
porque ela descobriu a gravidez. O que eu não sabia era que ela era
prometida a um rapaz de família rica. Ela tentou ao máximo esconder de
mim, mas depois eu descobri. Foi então que a família do rapaz fez ameaças
a ela, pois o seu avô devia dinheiro a eles. Ela não teve outra alternativa a
não ser casar. Então ela me deixou você, o melhor presente que eu poderia
ter ganhado em minha vida. Quando soube que ela teve uma filha e foi
casada por alguns meses, o rapaz a humilhou e rejeitou ela. Sua mãe não
teve coragem de vir atrás da gente, então ela se afastou. Ela não teve
escolha, minha querida. Não carregue essa mágoa por toda a sua vida.
Perdoe quem te ama e seja feliz.

(Carta 2)

Filha, eu economizei muito. Muitas vezes, quando eu falava que tinha


ido às consultas, eu estava mentindo porque quis guardar dinheiro. Eu sabia
que esse dia chegaria, independentemente de eu fazer o tratamento ou não.
Então, preferi saber que você ficaria bem. Não se cobre muito, não se culpe,
não deixe de viver. Afinal, Jesus morreu na cruz por todos nós, e eu daria
minha vida por você quantas vezes fosse necessário. Viva, conte ao Bernardo
sobre sua cirurgia, não esconda isso dele. Ninguém merece viver no escuro.
Você foi minha luz, agora seja luz para outras pessoas. Faça o que quiser
com os seus patrimônios, eles são seus. Não fique com raiva, foi uma forma
de eu te recompensar todos esses anos. Não lembre que eu morri, lembre-se
que eu descansei dessa dor constante que eu vinha sentindo. Faça o
Bernardo feliz e seja ainda mais feliz. Agradeça a Sandra e a todos os meus
amigos. Eu vou ficar bem, se cuide por mim. Beijos do homem que mais te
amou nessa vida.
Passei toda a carta chorando, mas o choro mais forte veio quando eu
terminei. Aquilo me doeu, saber que nunca mais terei ele ao meu lado. Mas
vendo a forma como ele se expressou aqui, eu fui tão egoísta. Ele estava
sofrendo, sentindo dores insuportáveis todos os dias, e eu só pensando em
não perde-lo.

— Você está bem? – Bernardo pergunta, olhando para mim.

— Sim! – Falo, secando as lágrimas.

— Quer dar uma volta? – Ele pergunta, e olho para ele.


— Sim, acho que estou precisando! – Falo, e ele abre um pequeno
sorriso.

Visto uma roupa um pouco mais quente e saímos. Ele segura minha
mão e começamos a andar pelas ruas de Nova York. Parece que faz séculos
que não saio de casa. Talvez eu só precisasse dessa carta para me voltar à
vida. Sei que não vai ser fácil, haverá dias em que não vou querer sair de
casa, haverá outros em que estarei disposta a viver. Mas também virão os
dias de saudade agonizante, que parecerão dilacerar meu peito. Nessas
horas, eu não vou me importar em magoar as pessoas, então vou preferir
não encontrar ninguém.

— O dia está lindo. – Falo, olhando os raios de sol. Passou a noite


chovendo, então o sol hoje saiu mais preguiçoso.

— Está sim, e você também. – Ele fala, olhando para mim.

— Para, Bernardo. Estou há uma semana chorando, não arrumei os


cabelos e estou cheia de olheiras. – Falo, me sentindo envergonhada.

— Ainda assim, você é linda. – Ele fala e olha para um ponto fixo atrás
de mim.

— Espere só um minuto. – Ele fala e vai até onde estava olhando. Olho
e vejo uma menina vendendo flores.

Ele volta pouco tempo depois, carregando a cesta da menina, repleta


de flores de todas as cores. A menina sai saltitante de alegria.

— Você comprou todas as rosas? – Pergunto quando ele para perto de


mim.
— Sim, fiz duas mulheres felizes hoje! – Ele fala e me entrega as flores.
Me aproximo dele e tomo seus lábios em um beijo calmo.

— Agora quero fazer a terceira! – Ele fala e olho confusa.

— E quem seria? – Pergunto com medo da resposta. Eu não sei se já


consigo fazer sexo, ainda está muito recente.

— A Brenda, que está louca para ver você! – Ele fala, e solto o ar que
estava preso em meus pulmões.

— Claro, eu não a vi depois de tudo que aconteceu. – Falo.

— Vamos para a minha casa. Se você se sentir melhor, pode dormir em


outro quarto, ou até mesmo no quarto dela. – Bernardo fala, visivelmente
preocupado.

— Eu preciso dela, mas também preciso do seu colo. – Falo, manhosa,


me grudando ao corpo dele.
Capítulo 47
Chegamos na minha casa, e Brenda, assim que viu que era Gabriela,
veio correndo abraça-la.

— Gabi, eu estava com muita saudade de você! – ela fala, agarrada a


Gabriela.

— Eu também estava com saudade de você, meu amor. Me deixe ver


como você está! – Gabriela fala, afastando-se um pouco da Brenda para
olhá-la de cima a baixo.

— Linda como sempre. – Gabriela fala, e as duas se abraçam


novamente.

— Vamos entrar, parece que vai chover novamente. – Falo, olhando o


céu bem nublado.

— Sim. – Elas falam em uníssono.

Entramos e logo Matilde se aproxima.

— Que bom que está bem, menina. Estou fazendo um jantar especial
para vocês. – Matilde fala, e Gabriela agradece.

— Você quer descansar? – Pergunto, e ela me olha.


— Vou conversar um pouco com a Brenda, depois eu subo. –
Gabriela fala, e as duas sentam no sofá.

Brenda
Eu e Gabi sentamos no sofá. Meu pai sobe as escadas e provavelmente
vai tomar banho.

— E como foi esses dias na escola? – Gabriela pergunta, segurando


minha mão.

Eu não sei o que é perder alguém. Quando eu nasci, minha mãe


morreu no parto, então eu não perdi ninguém ainda.

— Foi tranquilo. – Falo.

— Alguma novidade? – Gabriela pergunta, parecendo saber que


aconteceu algo.

— Na verdade... teve uma olimpíada de matemática essa semana, e


um dos alunos que estava participando era bem bonito. – Falo,
envergonhada.

— Brenda, sabe que ainda é nova para pensar nisso, seus estudos são
fundamentais para você. – Gabriela fala.

Sei que sou nova, afinal só tenho onze anos, mas não faz mal achar um
menino bonito. Isso não quer dizer que eu já vá me apaixonar e casar com
ele.

— Ok, Gabi, eu vou subir. – Falo, indo para o meu quarto.


Gabriela
Estávamos todos à mesa para jantar. Matilde dá sinal para que as
meninas coloquem as comidas na mesa. Assim que sinto o cheiro, meu
coração aperta. Era o que eu mais fazia para ele quando ele ainda podia
comer: lasanha.

— Obrigada, Matilde. – Falo, engolindo o choro.

— Bernardo disse que é sua comida favorita. – Matilde fala


carinhosamente.

— Eu agradeço pelo cuidado que vocês têm comigo. – Seguro a mão


de Bernardo e de Brenda, que está sentada perto de mim.

— Estamos aqui para o que precisar, Gabi. – Brenda fala.

Fico lisonjeada com tantas pessoas me apoiando.

— Amanhã eu volto a trabalhar. Sei que deve ter muito trabalho


atrasado. – Falo.

— Não se preocupe com isso. Eu coloquei uma das meninas para me


auxiliar esses dias que você não estava. – Bernardo fala.

— Obrigada. – Falo.

Conversamos sobre assuntos aleatórios. Começa a chover e trovejar.


Tento fingir que está tudo normal, mesmo estando com muito medo. Minha
vontade agora era só estar debaixo de um edredom e não ouvir nada disso.
— Vamos deitar? – Bernardo pergunta depois de um tempo.

— Sim, esses trovões estão me deixando apavorada. – Falo.

Subimos para o quarto dele. Brenda também nos acompanha. Ela


segue para o quarto dela, e nós vamos para o de Bernardo. Sigo para o
banheiro e tomo um banho rápido. Já fiz isso na casa da Sandra, então não
há necessidade de tomar um banho longo. Além do mais, eu só quero ficar
bem quietinha deitada na cama.

— Talvez seja cedo para isso. Eu posso estar sendo precipitado em


falar sobre isso agora. Mas o que você acha de vir morar aqui comigo e com
a Brenda? – Bernardo olha rapidamente para mim.

— O quê? – Pergunto, e logo ouvimos um grande estalo, talvez de um


raio que tenha caído um pouco perto.

— Não me leve a mal, mas você sabe que eu amo você. Não estou
falando isso porque... enfim, só quero ter você perto, poder te olhar todas
as noites, sentir seu corpo perto do meu todos os dias. – Bernardo fala, me
fazendo abrir um pequeno sorriso com suas palavras bonitas.

— Eu também amo você, mas agora não é o momento. Eu preciso por


minha vida em ordem primeiro. – Falo, colocando meu lado racional para
funcionar.

— Tudo bem, mas quando quiser, sabe onde me encontrar. – Bernardo


fala e me puxa para mais perto do seu corpo.

Passamos a noite assim, agarrados um ao outro. Não fizemos sexo,


apenas nos abraçamos e falamos sobre amenidades. Logo Bernardo pegou
no sono, e eu fiquei como todas as outras noites, sem conseguir pregar os
olhos.
Quando eu perdi o útero, eu entrei em depressão. Pensei que não iria
mais sair dela, mas eu tive apoio: meu pai, minha amiga Sandra e os pais
dela, que foram sempre boas pessoas para mim e meu pai. Hoje só me resta
ela, por mais que Bernardo se declare para mim, eu ainda tenho o receio de
que uma hora tudo isso acabe. Afinal, qualquer romance pode acabar, mas
uma boa amizade como a minha e a da Sandra jamais se acabará.

Após o dia amanhecer, eu já estava de pé, antes mesmo do Bernardo


levantar. Resolvi tomar um banho para aguentar o longo dia que vinha pela
frente.

— Posso? – Me assusto ao ouvir a voz dele próxima a mim.

Estou sentada no box do banheiro, nem me dei conta de que estava


assim. Às vezes estou fazendo coisas que nem percebo. Acho que é o famoso
"automático" que as pessoas dizem.

— Sim. – Falo, e ele se aproxima de mim. Bernardo está usando apenas


uma cueca boxer preta.

— Venha, acho que já passou muito tempo aqui. – Ele fala e me


estende a mão.

Não reluto em aceitar sua ajuda. Seguro suas duas mãos e forço um
pouco meu corpo a levantar.

— Eu vou tomar banho, ligue o aquecedor e deite um pouco. – Ele fala,


passando a mão em meu rosto.

Eu sei que ele está excitado. Eu mentiria se dissesse que não estou.

— O que acha de nós dois tomarmos banho? E depois irmos os dois


deitar? – Falo, e ele sorri de lado.
— Acho que você ainda não está pronta, que deveria ir deitar um
pouco, e depois nós dois podemos conversar. – Ele fala, e sei que está
fazendo a mesma coisa que fiz ontem, usando o lado racional das coisas.

— Tudo bem, você tem razão. – Falo e saio do banheiro.

Deito na cama e me cubro.


Capítulo 48
Bom, o que dizer sobre os últimos meses? Já fazem onze meses que
meu pai me deixou, eu e o Bernardo oficializamos o nosso namoro, agora
toda a empresa sabe da nossa relação, a Sandra está literalmente morando
com o Bruno, isso me deixa muito feliz, eu não estou morando com o
Bernardo, um mês depois da morte do meu pai, eu resolvi que era a hora de
viver, mesmo sendo difícil, foram momentos dolorosos, eu visitei as casas
que ele me deixou, e resolvi me mudar para uma delas, descobri também
que todos esses anos ele guardou o dinheiro do aluguel, a casa era de um
amigo, eu entendi que o que meu pai fez não foi me enganar, e sim me
preparar para uma vida sem ele, é difícil compreender os planos que nossos
pais têm para a gente, eu nunca me importei muito em saber quem era o
dono da casa que moramos por tantos anos.

Caminho devagar até chegar onde meu pai está sepultado, às vezes
não damos valor quando temos em vida, nesses onze meses eu vim aqui
muitas vezes, perdi a conta, mas olhando os outros túmulos, quase ninguém
se importa em vir aqui, passar alguns minutos conversando ou até mesmo
trazer uma flor, digamos que é muito triste além de perder, não se importar
em vir visitar às vezes.
— Oi pai. – Falo passando a mão na lápide onde contém uma foto dele
sorrindo, seu nome e a data de nascimento e a data da sua morte. – Espero
que esteja bem, o senhor não imagina o quanto me faz falta aqui. – Falo
sentando próximo à lápide, seco algumas lágrimas que teimam em cair.

Para mim, esse lugar virou minha segunda casa, quando eu não estou
no trabalho, eu estou aqui, acho que às vezes eu deveria ficar alguns dias
sem vir, por mais que eu diga para mim mesma que estou bem, sei que é
uma mera ilusão, eu não estou bem, eu nunca vou ficar bem, ele era meu
tudo, e hoje a única forma que posso falar com ele é em um cemitério, ou
em casa, nas minhas orações. Deixo a pequena rosa branca que trouxe e me
levanto.

Saio do cemitério e sigo para o trabalho, sempre passo aqui na hora


do almoço, à tarde Bernardo e Sandra nunca me deixam em paz, então
divido meu tempo com eles. Sei que eles se preocupam comigo, mas às
vezes me estressa e tenho que desligar o celular para não ser achada.

Chego até onde deixei o carro e me surpreendo quando vejo Bernardo


encostado no carro. Sorrio de lado e caminho até ele.

— Colocou um GPS em mim ou no carro? – Pergunto e ele sorri,


mostrando os lindos dentes.

— Nenhum dos dois, mas que bom que achei você. – Ele fala e paro de
frente a ele.

— O que faz aqui? – Pergunto.

— Brenda queria trazer flores para a mãe, foi apenas uma


coincidência. – Ele fala e vejo a Brenda no carro dele.
— Vamos, eu já estou indo para a empresa!

— Pode ir na frente, eu vou deixá-la em casa. – Ele fala e me puxa


devagar, Bernardo cola nossos lábios e se afasta indo em direção ao carro.

Entro no carro e sigo para a empresa, há alguns dias atrás ele me disse
que o carro é meu, que ele tirou o carro para mim, eu tinha minhas dúvidas
em relação a isso, mas deixei de lado, agora sei que o carro é realmente meu.
Eu e ele nunca tivemos a conversa, ele não sabe que sou estéril, e nunca fez
perguntas sobre a minha cicatriz, eu já percebi que ele olha muito para ela,
mas ele não tocou no assunto, eu preciso falar para ele, mas tenho medo
das consequências disso, hoje eu não estou me sentindo muito bem, acho
que meu corpo está lutando contra uma provável gripe.

Chego na empresa e vou para a minha sala, tento ao máximo me


concentrar no que estou fazendo, tenho que revisar os e-mails e repassar
todos para Bernardo, e depois fazer o PDF de alguns arquivos para a próxima
reunião, mas eu não paro de espirrar e, para completar, não comi nada, meu
estômago está muito ruim.

— Gabi, você está bem? – Monaliza pergunta.

Ela trabalha na recepção do nosso andar.

— Não, meu estômago está muito ruim, eu vou ao banheiro. – Falo


saindo em disparada para o banheiro.
Bernardo
Chego à empresa e vejo Gabriela sair apressadamente para o
banheiro.

— Acho que o senhor Lumière vai ganhar mais um herdeiro. – Ouço


uma das recepcionistas falar.

— Deveria trabalhar ao invés de falar besteiras. – Falo irritado.


— Me perdoe, senhor. – Ela fala visivelmente envergonhada.

Vou para minha sala ainda com aquela frase, é impossível isso
acontecer, Gabriela não faria isso! Assim que vejo ela voltar para sua sala,
ligo para ela.

— Poderia vir aqui? – Ela desliga e logo bate na porta.

— Está precisando de ajuda? – Ela pergunta se aproximando, sua pele


está mais pálida que o normal.

— Está tudo bem? – Pergunto.

— Sim, só estou ficando resfriada, nada demais. – Ela fala e vou até ela.

— Você pensa em ter filhos? – Pergunto sem me importar muito se


estávamos no assunto ou não, Gabriela fica visivelmente tensa.

— O-o que? Por que está perguntando isso? – Ela pergunta nervosa.

— Nada demais, só uma dúvida, vá para casa, descanse um pouco,


quando eu sair passo lá. – Falo voltando para trás da minha mesa.

— Ok. – Ela fala e sai da minha sala.


Não posso negar que ouvir o que a recepcionista falou me deixou com
uma pulga atrás da orelha, já faz mais de um ano que estamos juntos, ela
não perguntou nada sobre filho, mas eu vi a cicatriz que ela tem, será que já
fez alguma cirurgia grave? Também vi as marcas em seus pulsos de corte,
sempre tentei disfarçar para ela não ficar constrangida, mas isso me deixa
curioso.
Capítulo 49
Chego em casa e vou direto procurar algum analgésico. Tomo um e me
deito um pouco, minha cabeça está doendo bastante hoje, além da dor no
corpo. Fecho os olhos e tento dormir, mas meu celular começa a tocar.

— Merda, quem está me ligando a essa hora? – Pergunto, pegando o


celular e vendo o nome da Sandra.

— Amiga, onde você está? – Ela pergunta.

— Estou em casa, tentando dormir. – Respondo.

— Estou indo aí. – Ela desliga antes que eu possa dizer que não.

Levanto e tomo um banho antes que ela chegue. Pego alguns remédios
para gripe e procuro o que faz efeito mais rápido. Tomo um deles e me sento
no sofá.

Não demora muito e o furacão chamado Sandra adentra como se


estivesse tirando alguém da forca.

— O que aconteceu? – Pergunto, observando - a andar de um lado para o


outro.

— Estou desesperada! – Ela fala.


— Isso eu percebi. Mas posso saber o motivo? – Pergunto, e ela joga uma
sacolinha para mim.

— Sério? – Pergunto, olhando dentro da sacolinha e vendo um teste de


farmácia.

— Eu não sei, eu vim fazer o teste aqui, estou com medo do resultado. –
Ela fala.

Levanto e vou até ela.

— Se der positivo, fique feliz, tá? Tenho certeza de que o Bruno vai amar!
– Falo, tentando confortá-la.

— Vou fazer o teste! – Ela diz e vai até o banheiro.

— E então? – Pergunto.

— Meu Deus! – Ouço ela gritar, e fico desesperada.

— Abra essa porta, por favor Sandra, me fala o que aconteceu. – Falo
batendo na porta.

Ela abre a porta e me olha com os olhos marejados.

— Positivo! – Ela fala, mostrando o teste com os dois traços rosas.

— Parabéns, amiga! – Abraço-a emocionada.

— Me perdoa, amiga, eu não deveria ter vindo assim. – Ela fala, e olho
para ela.

— Para, amiga, você é como uma irmã, sua felicidade é a minha


felicidade. – Falo, secando algumas lágrimas de seu rosto.
— Obrigada, como vou falar isso para o Bruno? – Ela pergunta, olhando
novamente para o teste.

— Compre uma roupa de bebê e faça o teste de laboratório, aí você


entrega a ele. É a forma mais clichê. – Falo, e ela sorri ao mesmo tempo em que
chora.

— Você vai comigo? – Ela pergunta, e faço careta.

— Amiga, estou com começo de gripe, não estou a fim de sair. – Falo.

— Por favor, amiga, você foi a primeira a saber, vai ser a madrinha e
deveria me acompanhar. É perigoso uma grávida sair sozinha. – Ela fala, e olho
para ela com os olhos estreitos.

— Tudo bem, só vou trocar de roupa. – Falo, e vou para o quarto.

Troco de roupas, pego minha bolsa e então saímos de casa, no carro da


Sandra. Seguimos para o shopping, acho que é o lugar mais provável para
encontrar o que procuramos.

Depois de andarmos muito, finalmente chegamos a uma loja que vende


roupas infantis, e passamos um bom tempo lá até ela decidir o que levar. Acho
que não demorou menos de duas horas para ela escolher uma roupa e um
sapato branco, com a frase "Parabéns, papai".

— Obrigada, amiga. – Ela fala assim que desço do carro.

— Por nada. – Falo, e assim que olho mais à frente, reconheço o carro do
Bernardo. Ele realmente falou que viria aqui, tinha me esquecido.
Sigo para dentro de casa, a porta está aberta, ele deve ter chegado há
pouco tempo.

— Bernardo? – O olho com um olhar indecifrável.

—Desculpa, eu... – Começo a falar, mas ele me interrompe.

— Eu confiei em você, como você teve coragem de fazer isso comigo? –

Ele pergunta, aparentemente decepcionado.

— Como assim? – Pergunto, tentando entender o que está acontecendo.

— Agora está agindo como se não soubesse? Acha que não sei que está
tentando me dar o golpe da barriga? Eu pensei que você fosse diferente. –

Sorrio sem humor, surpresa com o que ele pensa. Quero ver até onde ele vai,
sem saber que eu não posso ter filhos. – Estava só esperando completar um
ano de namoro para tentar me dar o golpe? – Ele pergunta com raiva, punho
fechado.

— Eu nunca faria isso, nem com você nem com qualquer outra pessoa. O
que está me falando só prova o que eu pensei todos esses anos, todos os
homens são iguais. – Falo com raiva, sem acreditar no que estou ouvindo.

— Então, o que é isso? – Ele joga o teste que a Sandra fez em cima de
mim.

— O que tem a me dizer sobre isso? De quem é esse bebê? – Ele pergunta,
com raiva e punho fechado.

— Se tem tanta certeza de que não é seu, então deve ser de qualquer
outro. – Falo com raiva. Eu nunca imaginei que ele faria isso comigo.
— Ainda está querendo dizer que é meu? Isso é impossível, eu fiz
vasectomia logo após a morte da mãe da Brenda. – Ele fala, e suspiro cansada.

Minha cabeça está doendo, meu corpo está cansado, e minha mente
agora está perturbada assim como meu coração. Saber que ele pensa isso de
mim está me doendo muito, mas não vou demonstrar fraqueza na frente dele.

— Parabéns, Bernardo, você foi enganado todo esse tempo, eu estava te


traindo, estou grávida de outro, agora faça a única coisa que pode, vá embora
enquanto é tempo. – Falo, tentando manter minha voz firme, apesar das
lágrimas que ameaçam cair.

Ele dá um soco na parede, ao ver sua mão sangrando, minha vontade era
de cuidar dele, porém isso não cabe mais a mim.

— Ainda tem coragem de me falar isso assim? Onde eu estava com a


cabeça que não vi quem você era de verdade? Você não passa de uma... – Ele
para de falar, e fico olhando para ele.

— Não passo de quê? Uma vadia? Ou apenas uma interesseira? –


Pergunto, sentindo a raiva e a tristeza misturadas.

— Tudo isso que você falou, se fez de amiga da minha filha, e agora está
querendo me dar um golpe. – Ele fala, e vejo seus olhos vermelhos como brasa,
sei que ele está com raiva.

— Vai embora, por favor, e aproveita e leva seu carro. – Falo, saindo de
perto dele, mas meus olhos estão fixos no chão.

— Agora vai tentar me convencer do contrário? – Ele pergunta, com raiva


e descrença.
— Estou pedindo minha demissão também. Eu não vou ser humilhada
por você. Amanhã estarei na sua empresa, me mande os documentos para eu
assinar, por favor. – Falo, sem olhar para ele, meus olhos estão banhados em
lágrimas, mas não vou baixar a cabeça.

Eu não falei para ele sobre eu não poder ter filho porque, quando ele me
acusou no começo da nossa discussão, eu quis saber até onde ele confiava em
mim. Ele sequer me deixou falar algo, ele deduziu tudo. Então, tenho plena
certeza de que ele não confia em mim. Do que adiantaria eu falar que sou
estéril? Ele acharia que eu estava mentindo também.

— Amanhã passe na empresa para assinar sua demissão. – Ele fala, e ouço
a porta da minha casa bater.

Assim como a porta bate no portal, meus joelhos batem no chão. Perdi a
força totalmente e o choro foi inevitável.
Capítulo 50
Faz exatamente uma semana que não vejo Gabriela. Se está fácil?
Nunca foi tão difícil. Por mais que esteja com muita raiva dela, esses dias eu
não consegui fazer nada. Não consegui me concentrar no trabalho, nem
mesmo fazer minhas caminhadas matinais. Por enquanto, apenas a garrafa
de whisky está me consolando.

— Bernardo? – Ouço a voz do meu irmão do outro lado da porta.

Esses dias estou sem usar o celular, sem contato com ninguém. Não
quero nem mesmo ouvir o nome dela. E se Bruno está aqui, tem a ver com
ela.

— Vai embora, Bruno, não quero falar com ninguém. – Falo, mas ele
insiste.

Bruno continua batendo na porta várias vezes, mas finjo que não estou
ouvindo.

Quando terminei com Gabriela, saí de lá e liguei para ele. Falei que ela
tinha pedido demissão e disse para ele cuidar de tudo, inclusive da empresa
nesses dias. Eu preciso desse tempo para mim. Mas agora ele está
incansavelmente na porta do meu quarto, gritando.
Não aguento mais ouvi-lo bater na porta e levanto da cama.

— Graças a Deus. – Ele fala entrando no quarto.

— Fala logo o que você quer! – Digo com raiva e bebo mais uma dose
de whisky.

— Eu vou ser pai. – Ele grita empolgado.

— Parabéns. – Falo no automático.

— Pensei que ficaria mais feliz. – Ele fala.

— Talvez seja porque Gabriela quis me dar um golpe da barriga que eu


não esteja empolgado. Só me fez lembrar dela. – Falo e olho para a garrafa.
Já está pela metade.

Bruno começa a sorrir. Olho para ele com raiva.

— Agora virei a chacota da família?

— Do que você está falando?

— Vai dizer que não sabe?

Ele balança a cabeça em negação.

— Ah, Bruno, por favor. Veio aqui só para me ouvir falar? Que Gabriela
engravidou de outro, eu fiz vasectomia, Bruno, e ela está grávida. Como me
explica isso?

— Cara, você está louco, só pode. Chega até ser engraçado você falar
isso. – Ele fala, e vou até ele com ódio.

— Está vendo algum palhaço aqui? Sai daqui antes que eu faça alguma
besteira. – Falo, empurrando-o.
A bebida já está em um nível mais alto do que o normal.

— Então você deixou a mulher que mais te amou ir embora por achar
que ela estava grávida de outro? – Ele pergunta, e olho para ele incrédulo.
Caminho a passos largos até ele e seguro Bruno pela camisa.

— O que você falou?

— Falei que o filho é meu. Aquele teste era da Sandra, não da Gabi.
Parabéns por ter sido um idiota mais uma vez. – Ele fala, me empurrando
para trás.

— Do que está falando?

— Estou falando do grande idiota que você é, do cara inseguro que


não consegue ser amado por insegurança. Você perdeu a mulher que tanto
te amou, só por insegurança. – Ele fala, e tento assimilar tudo.

— Está falando que...? – Pergunto, caminhando dentro do quarto,


tentando juntar todas as informações.

— Aquele teste que eu vi, era da Sandra e não da Gabi? – Pergunto,


sentindo meu peito apertar.

— A Gabriela, além de nunca ter te traído, não pode gerar filho,


Bernardo. Você tocou na parte mais dolorosa dela. Você a acusou de uma
coisa que ela nunca poderia ter feito. Gabriela não tem útero. Ela tentou
suicídio várias vezes por isso, e você conseguiu destruí-la ainda mais. – Bruno
fala, e não consigo conter minhas lágrimas.

— Eu preciso... eu preciso ir atrás dela, preciso pedir perdão. – Falo,


procurando uma camisa.
— Você não vai conseguir. Deixe-a viver em paz. Você já fez o bastante
na vida dela. – Bruno fala e começa a andar em direção à porta.

— Por que não vou conseguir? Onde ela está? – Pergunto, sentindo
minha respiração falhar.

— Longe de você. Não tente consertar o que não tem conserto. – Puxo-
o pelo braço e faço-o me olhar.

— Onde ela está? Por que está falando isso? – Pergunto, com medo da
resposta.

— Ela foi embora. Pelo pouco que sei, ela vendeu uma das casas e foi
embora do país. Nem Sandra sabe para onde ela foi. – Sinto meu peito
apertar, algumas batidas falharem, e sem esperar, as lágrimas brotam em
meus olhos.

— Ela me deixou? – Pergunto, mais para mim do que para ele.

— Na verdade, você a deixou. Não se arrependa agora por saber o


outro lado da história. Lembre-se do ódio que estava sentindo por ela agora
pouco, lembre-se da mulher desprezível que ela era até agora pouco, e
esqueça-a de vez. – Bruno fala, batendo o dedo em meu peito.

— Por que você está assim, jogando tudo isso na minha cara?

— Porque a mãe do meu filho não está dormindo preocupada com a


amiga, não está comendo e não para de chorar com medo da Gabi tentar
suicídio mais uma vez. Porque, além de eu ficar preocupado com ela, eu me
preocupo com a Gabi, que não merece o que está passando. – Bruno sai da
minha frente, batendo o pé com raiva.
Suicídio? Então, foi por isso que ela tentou suicídio? Eu vi as marcas
no pulso dela, assim como vi a cicatriz que ela carrega em seu corpo de uma
cirurgia, mas nunca poderia imaginar que ela não podia ter filhos.

Volto para o quarto e sento no chão perto da cama. O que eu fiz?


Acabei com tudo de bom que tive um dia. Acabei com o meu amor. Acabei
com a mulher que eu amo.

Eu preciso descobrir onde ela está.


Capítulo 51
4 dias atrás

Meu coração parece querer saltar da boca todas as vezes que lembro
dele. Fui à empresa um dia depois, assinei minha demissão, entreguei o
carro e saí de lá de cabeça erguida. As palavras dele ainda estão bem vivas
na minha cabeça.

— Eu posso deixar por esse valor! – Falo para o comprador de uma das
minhas casas.

Minha mãe veio me procurar um dia depois do que aconteceu entre


mim e Bernardo. Eu disse que a perdoava, mas não quis muita aproximação.
Não falei nada para ela, mas pretendo vender a casa e dar um pouco de
dinheiro para ela. Já estou com minha passagem comprada para a Itália.
Recebi uma proposta de um grande empresário de lá. Acho que não vou
conseguir ficar aqui, não depois de tudo que aconteceu. Sem falar no fato
de que também descobri que minha demissão da escola foi por culpa do
Bernardo. Eu não esperava que ele fizesse a diretora me demitir, mas não
vou guardar rancor por isso. As palavras que ele me lançou foram muito
piores.

— Hoje mesmo o dinheiro estará em sua conta. – ele fala, e então me


despeço dele.
— Amiga, por favor, não me deixa assim. – Sandra fala com os olhos
inchados de tanto chorar.

— Para, amiga, vai ser muito bom para mim, e não precisa se
preocupar. – Falo, na intenção de acalmá-la.

— Como eu não me preocuparia com você? Nossa relação é tipo irmã


mais velha. Não me diga para não me preocupar. – Ela fala, e eu seguro sua
mão.

— Eu sei que hora ou outra Bruno vai perguntar, então não vou falar
para onde eu vou, mas saiba que vou fazer bom uso da minha vida. Não se
preocupe. Quando eu estiver melhor, eu volto. – Falo.

Antes que ela prolongue mais a conversa, me levanto e saio de sua


casa sem olhar para trás.

Não preciso me arrepender de nada agora. Só preciso mudar minha


vida. Sei que se eu ficar aqui, hora ou outra ele virá atrás de mim. Eu amo o
Bernardo e não sei se serei capaz de dizer não para ele. Então, prefiro me
mudar antes que seja tarde.

Ando devagar pelas ruas de Nova York. Não posso dizer que não vou
sentir falta daqui. É doloroso pensar na partida, mas sei que é o melhor para
mim. Estou de coração partido ao lembrar da Brenda. Ela não tem culpa dos
meus problemas com o pai dela, mas talvez já esteja sabendo de tudo que
aconteceu e não queira me ver. Eu conheci os pais dele, mas não tive
nenhuma relação afetiva com ambos. Essa parte não me incomoda. Mas ao
lembrar da Brenda, meu peito dói. Acho que foi a sensação que minha mãe
sentiu ao ter que me deixar com meu pai. A vida fora da vida deles é difícil,
mas sei que não será impossível. Acho que serviu de exemplo para mim não
esconder mais a minha história.

— Embarque para o voo com destino à Itália, portão onze liberado!

A comissária de bordo anuncia.

Caminho para o portão, suspiro e ergo a cabeça. Não quero levar


pensamentos ruins. Agora se inicia uma nova fase na minha vida.

"Meses depois"
Já estou bem instalada e me adaptando a uma nova vida. Nesse meio
tempo de trabalho, estou escrevendo um livro sobre minha vida. Meu chefe,
que é um ótimo presidente, me indicou fazer isso após eu ter falado sobre
minha vida. Ele já é um homem maduro e muito sábio. Sua esposa é ainda
mais legal que ele. Estou trabalhando como secretária. Fiz um curso de
especialização em secretária, o que me ajudou muito.

Posso dizer que estou levando uma vida bem tranquila. Não arrumei
namorado nesse tempo. Não consegui esquecer o Bernardo. Talvez ele já
esteja com outra, e isso me incomoda, mas sei que não poderemos mais
ficar juntos.

— E então, Gabi, como está o seu livro?


A senhorita Monteiro pergunta. Sim, eles são parentes do Erick, que
por sinal já tentou várias vezes algo comigo, mas não conseguiu. Ele não faz
o meu tipo.

— Está na editora, falta pouco para ser lançado. – Falo, empolgada.

— Isso é ótimo! Vou ser a primeira a comprar, e por favor, o primeiro


autógrafo é meu!

Ela fala e sai do meu campo de visão.

Sorrio ao lembrar. Não coloquei o nome de ninguém que conheço,


apenas o meu. São nomes aleatórios, mas expressei toda a minha emoção
ao escrever cada página.

— Senhor Monteiro, já deu minha hora. – Falo pelo telefone.

— Ok, pode ir. Ainda tenho uma reunião hoje, mas não vou precisar
de auxílio. – Ele fala, e desligo o telefone.

Pego minhas coisas e saio da minha mesa. Aqui eu não tenho uma sala
como tinha antes, mas gostei daqui e da equipe também.

Aperto o botão do elevador e vejo que já está subindo. Espero por


alguns segundos, e quando finalmente chega e as portas se abrem, meu
coração falha algumas batidas, minhas pernas perdem as forças e tremem.
Meu primeiro pensamento é sair correndo, mas isso seria muito
constrangedor. Meu segundo pensamento é fingir que esqueci algo e sair
disfarçadamente, mas sei que também seria antiético. Então, opto por agir
naturalmente na frente de quem eu tanto amo.

— Gabriela? – Bernardo fala, ainda atônito.


— Senhor Lumière! – Tento soar o mais profissional possível.

— Por favor, sem formalidade! – Ele dá alguns passos em minha


direção, e eu dou passos para trás.

— Acho que o senhor Monteiro está à sua espera! – Falo e tento passar
ao seu lado para entrar no elevador.

— Vamos... vamos conversar? – Ele pergunta de costas para mim.

— Não temos o que conversar. – Aperto o botão para descer, e quando


as portas estavam se fechando, ele entra.

— Eu não posso deixar você ir embora de novo, não assim. – Ele fala,
e sinto meu peito apertar.

— Bernardo, me deixa em paz. Você não acha que já me falou o


bastante naquele dia? – Pergunto.

— Naquele dia eu não falei tudo. Eu não falei que te amo. Eu apenas
fui um babaca que se arrepende amargamente de tudo que disse naquele
dia.
– Ele fala, e sorrio com a garganta trancada pela vontade de chorar.

Bernardo segura minha cintura, e nossos corpos ficam bem próximos.

— Me perdoa! – Ele sussurra em meu ouvido.

— Eu... – Aperto o botão sem que ele perceba. Assim que o elevador
para onde vou descer, me afasto dele.

— Eu não posso. – Saio apressadamente do elevador. Bernardo não


vem atrás de mim, e eu agradeço por isso.
Capítulo 52
Como me senti vendo-a me deixar? Mais impotente do que nos
últimos seis meses que se passaram. Ver ela me deixar me deixa ainda mais
culpado do que antes. Falar com ela só me mostrou o quanto fui um imbecil
por ter dito tudo aquilo para ela.

Quando vim para a Itália, não imaginava encontra-la. Vim apenas para
uma reunião com os tios do Erick, e para minha surpresa, a encontrei aqui.
Mas agora não estou com cabeça para falar de negócios. Minha vontade
mesmo é sair correndo atrás dela, mas sei que, a essa altura, Gabriela já está
bem longe do meu alcance.

Saio da empresa e ligo para o senhor Monteiro.

— Me perdoe, tive um contratempo e não pude comparecer na


empresa.

— Tudo bem. Marcamos para amanhã. Quando você irá embora?

— Ainda não tenho previsão.

— Ótimo. Quero que conheça minha secretária. Você vai adorar ela.

— Tenho certeza que sim.


— Até mais, Bernardo.

— Até.

Com toda certeza, vou adorar a secretária. Eu pude ver o crachá que
ela tinha pendurado no pescoço com o nome "Secretária do Presidente".
Então, sei que amanhã vou encontra-la.

Não pretendo voltar para Nova York sem ela.

— Oi, filha.

— Oi, pai. Como está aí na Itália?

— Bem frio. Você iria adorar.

— Na próxima, eu posso ir?

— Claro que sim.

— E então, quando o senhor vem?

— Ainda não sei. Estou pensando em como levar a Gabriela comigo.

— O quê? O senhor achou a Gabi?

— Sim, ela está trabalhando aqui. E só pretendo voltar com ela.

— Pai, por favor, não volte sem ela. Gabriela ama o senhor, e estou
sentindo falta dela. Ela nem me deu parabéns no meu aniversário.

— Vou fazer tudo que estiver ao meu alcance, filha.

— Agora vou dormir. Te amo, pai.

— Te amo, filha.
Brenda encerra a ligação, e eu me sento na cama. Depois que Gabriela
saiu das nossas vidas, eu e minha filha nos aproximamos muito. Ela ficou
muito abalada ao saber que Gabriela tinha ido embora. Expliquei para ela
que foi tudo culpa minha, e minha filha apenas falou para mim não desistir
do que sinto por Gabriela. Todos esses meses, não toquei em outra mulher,
não senti desejo por nenhuma outra. Apenas Gabriela está em meus
pensamentos.

Deito, ainda lembrando daquela que eu tanto amo. Todos esses


meses, não teve um dia sequer que eu não tenha me arrependido de tudo
que disse para ela.

Assim como nas outras noites, não durmo. Apenas ela vem à minha
mente. Estava tudo indo tão bem, até que ouvi aquelas meninas falarem que
eu teria outro herdeiro. Eu fiquei tão cego que nem sequer percebi. Eu e
Gabriela passamos um ano juntos, e ela em nenhum momento ficou
menstruada. Laís sempre ficava menstruada até o momento que engravidou
da Brenda. Eu fui tão burro e tão precipitado.

Tomo algumas doses de whisky, e quando menos espero, o dia já


amanheceu.

Gabriela

A noite foi mais longa do que o normal. Ver ele me deixou atordoada.
Eu não esperava encontra-lo aqui na Itália. De tantas empresas que existem
aqui, ele tinha que ser sócio do senhor Monteiro. Apesar de que eu não
liguei bem os pontos. Ele tem negócios com o pai do Erick, não seria difícil
ele ter negócios com o tio dele também. Merda! Como vou trabalhar
amanhã? Ele com certeza irá na empresa.

Levanto assim que o dia está claro. Vou ao banheiro e faço minha
higiene pessoal. Aproveito e tomo meu banho matinal. Opto por um vestido
tubinho preto e um blazer na cor nude. Calço meu scarpin também na cor
nude e pego minha bolsa. Saio de casa e vou direto para a cafeteria onde
sempre compro meu café da manhã.

— Bom dia, Jheovane. O de sempre, por favor!

— Buon giorno, mia bella. (Bom dia, minha linda).

— Sempre cavalheiro. – Falo, e ele sorri.

— Sarò sempre così dopo che ci saremo sposati. (Serei sempre assim
depois que nos casarmos).

— Já deixei claro que somos apenas amigos. – Falo, e ele faz careta.

— Non rinuncerò così facilmente ad avere il tuo amore. (Não desistirei


assim tão fácil do seu amor).

— Tenho que ir. Até amanhã. – Saio da cafeteria ainda ouvindo-o falar.

— Buon lavoro, amore mio. (Bom trabalho, meu amor).

Sorrio com seus comentários hilários. Nem se eu quisesse, eu


conseguiria te amar, Jheovane. Meu coração só pertence a uma pessoa, e
agora ele me achou.
Chego à empresa e adentro. Vou para o elevador e subo para o andar
onde trabalho.

— Bom dia, Gabi. – Uma das meninas que trabalha no RH me


cumprimenta.

— Bom dia, Suzy. Como está a Cláudia?

— Ela pegou um resfriado daqueles, então está de atestado. – Ela fala.

— Melhoras para ela. – Falo e sigo para minha mesa.

Logo depois, o senhor e a senhora Monteiro chegam também. Os dois


me cumprimentam e seguem para a sala deles.

Os dois tomam conta da empresa. Acho bonito vê-los trabalhando


assim. Se não me falha a memória, a senhora Monteiro tem cinquenta e
cinco anos, e o senhor Monteiro já está na casa dos sessenta. Às vezes, me
imagino nessa idade e me vejo sozinha. Será que esse será meu futuro?

— Como sempre, pensando em quem não deveria!

Erick se aproxima com aquele ar superior de sempre. Ele, sem dúvidas,


é um homem muito bonito. Acho que o único defeito é se achar demais.

— Com certeza não era em você. – Falo, e ele bufa.

— Deveria me dar uma chance. Eu posso te fazer mais feliz do que ele.
– Ele fala, me tirando uma risada.

— É o que todos dizem. – Falo.

Erick se aproxima de mim. Sua mão vai até o lado direito do meu rosto.
Erick tira uma pequena mexa de cabelo do meu rosto e põe atrás da minha
orelha.
— Eu não sou como todos. Eu sou melhor que ele. – Tiro sua mão
suavemente de perto do meu rosto.

— Eu não preciso de ninguém além de mim mesma e do Deus que


cuida de mim. Então, tente suas cantadas baratas com outra pessoa. – Falo
e levanto. Assim que saio de perto dele, vejo que Bernardo nos observa com
um semblante sério.

— Bernardo, nossa, quanto tempo não é mesmo? Se não me engano,


da última vez, Gabriela era sua namorada. – Erick fala, provocando Bernardo.

— Por favor, Erick. Seu tio já deve estar à sua espera. – Falo, tentando
quebrar o clima chato que se instaurou no ambiente. Erick então adentra a
sala do tio, e ficamos apenas eu e Bernardo.

— Erick? A mim trata como senhor Lumière, a ele trata como Erick?
– Bernardo pergunta se aproximando.

— Daqui a pouco, o senhor Monteiro deve chama-lo. Pode esperar.


Estava prestes a sair para pegar uma água, então Bernardo me puxa pelo
braço.

— Não faz isso comigo. Você não imagina o quanto foi difícil esses
meses sem você. – Meu coração palpita algumas vezes. Eu imagino sim,
porque estou passando pelo mesmo, mas eu não posso voltar para alguém
que só confia em mim porque descobriu por outra pessoa a minha
fidelidade.

— Por favor. – Tiro a mão dele do meu braço. – Siga sua vida e esqueça
que um dia tivemos alguma coisa. – Falo e vejo seus olhos marejados.
— Como fala para mim te esquecer depois de tudo que vivemos? Das
nossas viagens, das nossas noites quentes, enquanto sussurrava no meu
ouvido o quanto me amava. – Bernardo fala se aproximando de mim. – Pode
se passar cinquenta anos, eu nunca vou te esquecer.
Capítulo 53
Me afasto um pouco dele e sorrio sem humor. Vê-lo me deixa
desconcertada.

— Eu já te esqueci desde o dia que me disse tudo aquilo. Não precisou de


muito para saber que não confiava em mim, apenas um teste positivo e alguns
comentários sem nexo. – Falo.

— Vamos conversar mais tarde. Se não conseguir se convencer de que me


ama mesmo, eu vou embora e não te perturbo mais. Apenas mais uma chance. –

Ele fala.

— O que tínhamos para conversar já foi conversado. Agora, por favor, siga
sua vida. A minha já está seguindo. – Me afasto dele e saio sem mais delongas.

Entro no banheiro feminino, lavo meu rosto incansáveis vezes para aliviar a
vontade constante de chorar.

— Eu ainda te amo, Bernardo. – Sussurro para mim mesma.

Respiro várias vezes, mentalizando tudo que ele me disse naquele dia.
Pensar nisso só me mostra que não devo voltar com ele. Se nós dois pudéssemos
gerar uma vida, será que ele teria feito a mesma coisa comigo? Dito na minha cara
que não era o pai do bebê?
Depois de ficar alguns minutos ali no banheiro, apenas meditando e
relembrando tudo que aconteceu, finalmente me sinto pronta para voltar ao
trabalho.

Bernardo já não está mais aqui. Isso me deixa mais aliviada, mas sei que o
que nos separa é apenas uma parede. Sento na minha cadeira e volto a digitar
alguns arquivos no computador. Meu coração está apertado. Sei que não deveria
ter sido tão dura com ele, mas eu só quero viver minha vida, e espero que ele viva
bem a dele. Nesses meses, conversei quase todos os dias com a Sandra. Ela me
falou que ele não estava bem. Aquilo me doeu, mas eu não posso ficar com
alguém que, a qualquer momento, pode duvidar do meu amor por ele. Eu não
posso passar por isso de novo.

Passaram-se algumas horas desde que ele entrou. Eu não sabia o que os
dois conversavam lá dentro. Só queria não estar sentindo esse mar de sensações
que estou sentindo agora.

— Gabi, você viu o quanto aquele cara que entrou é lindo? Eu preciso de um
desses em minha vida. – A outra menina que trabalha no RH fala, sentando perto
de mim.

Minha vontade mesmo era dar uma famosa voadora em seu tórax, mas fiz
o de sempre, respirei fundo e dei o meu melhor sorriso.

— Sério que achou tudo isso dele? – Pergunto com a cara cínica.

— Claro que sim! Nossa, eu acho que vou pedir o número dele. Será que ele
é solteiro? – Ela pergunta, mordendo o lábio inferior.

— Não... ele não é solteiro. – Falo sem pensar duas vezes.

— Nossa, calma, você sabe quem é ele? – Ela pergunta, e bufo de raiva.

— Você não tem o que fazer lá no seu setor, não? – Pergunto.


—Eu vim entregar uns papéis para o senhor Monteiro. – Ela fala.

— Eu posso fazer isso. – Falo, pegando os papéis da mão dela. – Pode ir,
devem estar precisando de você. – Falo.

— Pede o número dele para mim, por favor. – Ela fala e vai embora.

Fico fazendo caras e bocas para não xingá-la e a próxima geração dela.

A porta se abre, e vejo Bernardo sair acompanhado do senhor Monteiro.

— Esperava que ficasse mais alguns dias aqui conosco. – Senhor Monteiro
fala.

Bernardo olha para mim com o semblante triste e abatido.

— Não, eu vou voltar para Nova York amanhã cedo. – Ele fala, e meu coração
parece dançar dentro da minha cavidade torácica. Ele já vai embora amanhã?

— Espero que volte logo. Podemos marcar algo. – Senhor Monteiro fala,
dando um tapinha no ombro de Bernardo.

— Acho que não. Estava pensando, e acho que nossos negócios, a partir de
agora, só serão tratados por e-mail ou videoconferência. Viagens como essas são
cansativas. – Bernardo fala, e meu peito aperta. É como se alguém tivesse
apertado entre os dedos.

— Tudo bem, eu entendo. Boa viagem. – Senhor Monteiro fala.

— Obrigado. – Bernardo fala e aperta a mão do meu chefe.

— Quase esqueci... onde está hospedado?

— Estou no Hotel Oriana Homèl, Torino. – Bernardo fala e se despede do


homem.

Ele nem sequer me olhou. Aquilo doeu. Eu pensei que quando ele fosse
embora, não iria doer tanto, mas sim, doeu e muito. Minha vontade agora era
correr até ele e dizer o quanto eu o amo e quanto aquilo era doloroso para mim.
Ver ele sair da minha vida mais uma vez, mesmo que nas duas vezes tenha sido
eu que tomei as decisões.

— Aproveite, Gabriela. Não é fácil encontrar um verdadeiro amor. – Senhor


Monteiro fala, se dirigindo à sua sala novamente.

— Como ele sabe? – Ele apenas sorri e entra na sala.

Como ele sabe sobre mim e Bernardo? Então ele perguntou de propósito?

O restante do dia foi mais longo do que o normal. Parecia que o dia não
tinha fim. Assim que deu meu horário, tratei logo de avisar ao senhor Monteiro
que estava indo embora.

Saí da empresa e segui para o apartamento onde moro. A empresa paga


auxílio moradia, então não tenho muitas despesas. Tomo um banho e depois me
jogo na cama. Meu coração está palpitando mais que o normal. Se não tivesse
feito um check-up semana passada, eu acharia que estou com problema no
coração.

Mas sei que isso é só pelo fato de eu saber que não vou vê-lo tão cedo.
Meu celular começa a tocar. Vou até onde ele está e vejo o nome da Sandra.

— Oi, amiga.

— Gabi, por favor, Gabi, volta para o meu pai.

Meu coração acelera ao ouvir essa voz novamente. Ela está com a voz
chorosa.

— Brenda?

— Por favor, Gabi, perdoa ele. Não fica mais longe de mim.

— Fica calma, Brenda. Como você está?


Meu coração está apertado, e não consigo evitar o choro. Eu amo essa
menina, e saber que ela está chorando por culpa minha me parte o coração.

— Volta para nós, volta para casa, por favor, Gabi.

— Olha, não fica assim, tá bom? Eu preciso desligar, tem uma pessoa
batendo na minha porta.

— Gabi, volta para nós, não me abandona.

Desligo sem falar mais nada. As lágrimas e os soluços são involuntários. Não
consigo controlar o choro. Tive que mentir para conseguir desligar. Eu não sabia
que ela também estava assim. Sandra não me falou sobre ela. Evitei perguntar
porque só me deixava pior.
Capítulo 54
Saio da empresa e suspiro pesadamente. Ela realmente não me quer
mais, então eu não posso insistir. Tenho que deixa-la viver a vida dela.

Chego no hotel onde estou hospedado e subo para meu quarto. Meu
celular começa a tocar, e atendo.

— Oi, pai. Conseguiu falar com ela?

— Oi, filha. Você está bem?

— Sim, conseguiu falar com ela?

— Filha, ela não me quer mais. Gabriela falou para mim que não me
ama mais.

— Pai, pai, por favor, não desiste dela.

— Eu não posso fazer mais nada, filha. Ela falou com todas as letras
que não me ama mais.

— Pai, isso é mentira. Ela ama o senhor sim.

— Filha, Gabriela não me quer mais. Talvez até já tenha outra pessoa
na vida dela.
— Eu não me conformo.

Ela desliga o celular, e sorrio pela forma como ela age às vezes. O
temperamento dela, sem dúvidas, puxou a mim.

Deito na cama e suspiro. Eu realmente a perdi, e isso é fato.

Depois de algumas horas deitado, levanto e vou tomar um banho. Tiro


minha gravata, minha camisa social e depois a calça e minha cueca boxer.
Entro embaixo da água morna. Meus pensamentos nunca saem daqueles
olhos, daquela boca que tantas vezes eu beijei, mas que agora parece ser
insuficiente a quantidade de beijos que eu dei nela.

Pensar nela só me deixa ainda mais arrasado. O que vou fazer sem ela?
Como vou seguir minha vida sem sentir seu cheiro, seu calor, suas carícias
depois de termos feito amor?

Termino meu banho e coloco uma toalha na cintura. Volto para o


quarto, e ouço alguém bater na porta do quarto. Caminho devagar até a
porta, não lembro de ter pedido nada.

Abro a porta, e um pequeno sorriso brota em meus lábios.

— Gabi? – Ainda estou atordoado em ver ela aqui.

— Desculpa vim assim. – Quando ela termina de falar, puxo ela para
um abraço.

Não quero soltá-la, por mim ela não sairia de perto de mim nunca
mais.

— Está me sufocando. – Ela fala.


— Eu não posso te deixar ir embora denovo. – Falo e involuntariamente
as lágrimas saem dos meus olhos. Sim, estou chorando.

— Bernardo! – Gabi se afasta um pouco, o suficiente para olhar em


meus olhos.

— Está chorando? – Ela pergunta olhando em meus olhos.

— Só me abraça, por favor. – Puxo ela novamente para meus braços.

Ficamos assim por alguns minutos. Só queria sentir ela perto de mim
novamente. Esses meses foram perturbadores.

— Bernardo, por favor, não chora.

Gabriela quebra a única distância que existia entre nós e seca minhas
lágrimas.

— Eu te amo, amo você mais do que a mim mesmo. – Falo sem me


importar com o tal do amor próprio.

— Não fala isso, Bernardo. Olha para você, pode ter alguém muito
melhor em sua vida, uma mulher da alta sociedade. Quem sou eu para você?
– Ela pergunta de forma simples.

— Você é a pessoa que eu amo, a pessoa que me trouxe alegria depois


de dez anos na solidão. Você é a mulher por quem eu cometi suborno pela
primeira vez em minha vida. Você é a pessoa que eu quero para o resto da
minha vida, e a mulher por quem eu cometeria um crime, se fosse
necessário.
Bruno me falou que ela ficou sabendo sobre o suborno com a diretora.
Talvez tenha sido um dos motivos por ela ter vindo embora. Mas, se ela me
aceitar novamente, quero que nossa relação seja limpa, sem segredos.

— Por que o suborno? – Respiro fundo e falo.

— Porque desde a reunião, não consegui tirar você da cabeça. Eu não


pensei direito quando fiz aquilo, mas eu queria poder te ver todos os dias.
Quando fomos para San Francisco e quase fizemos amor pela primeira vez,
eu pensei que não seria justo com você, porque eu também não poderia te
dar um filho. Então, tentei me afastar, mas não consegui. Eu deveria ter
falado, mas achava que você não ficaria comigo.

Falo sinceramente.

Sem que eu esperasse, Gabriela toma meus lábios em um beijo calmo.

— Eu te amo, eu não te esqueci. Mesmo que passem oitenta anos, eu


não poderia te esquecer. – Ela fala, arrancando uma risada alta de mim.

— Fica comigo? – Ela faz que sim com a cabeça.


Capítulo 55
Estamos os dois deitados no sofá, onde fizemos amor depois de
meses. Bernardo desliza a mão por meu corpo, subindo e descendo, apenas
fazendo carícias em meu corpo. Fico apenas sentindo seu cheiro
amadeirado. Ele continua usando o mesmo perfume.

Bernardo então suspira, e olho para ele. Seu pensamento está longe.

— No que está pensando? – Pergunto. Ele me olha e sorri. Bernardo


então me dá um selinho, levanta um pouco a cabeça e olha para o teto.

— Em como foi difícil ficar sem você esses meses. – Passo o dedo
indicador em seu lábio.

Não falo nada, apenas fico admirando seu rosto. Bernardo então olha
para mim.

— Por que está tão calada? – Ele pergunta.

— Não é nada. – Falo e paro de olhar para ele.

— A Brenda vai ficar muito feliz quando ver você. Em todos esses
meses, ela não parou de falar em você, nem sequer uma vez. – Bernardo se
vira um pouco, e ficamos um ao lado do outro.
— Eu não vou voltar com você para Nova York! – Falo. Bernardo me
olha de forma preocupada e confusa.

— Como assim? Quer dizer que não quer voltar para mim? – Ele
pergunta, e então me sento no sofá.

— Eu não posso ir assim, Bernardo. Eu construí uma vida aqui


também. – Falo e puxo a toalha que está jogada no chão.

— E a nossa vida juntos? Como fica? – Ele pergunta e veste a cueca e a


calça.

— Bernardo, eu não vou fazer como fiz meses atrás. Eu só vim embora
porque saí da sua empresa e aceitei essa proposta de trabalho. Eu tenho um
contrato a cumprir. – Falo, pegando minhas roupas.

— Quando você chegou aqui, eu finalmente pensei que estava


disposta a voltar comigo. – Ele fala, passando a mão no cabelo.

— Então você não quer ficar comigo porque estou aqui? – Pergunto.

— Como assim? – Ele se aproxima de mim.

— Eu não disse que não quero ficar com você. Só disse que não vou
voltar agora para Nova York. – Falo, e ele põe a mão no meu rosto.

— Então você vai voltar para mim? – Ele pergunta, e confirmo com a
cabeça.

—Pode me esperar por alguns meses? – Pergunto.

— Sim, mesmo sendo difícil ficar longe de você, quando eu tiver um


tempo, eu venho te ver. – Ele fala, e sorrio. Passo meus braços por sua
cintura, e colamos nossos corpos.
Fico na ponta dos pés para poder roubar um beijo de seus lábios.

— Eu te amo! – Ele fala, e sorrio.

—Eu também te amo! – Falo.

— Eu pretendia te dar isso, mas infelizmente não consegui antes.


Agora ele precisa ser seu. —Bernardo fala, e vai até a mala dele.

— O que é isso?

Bernardo volta e se ajoelha próximo a mim.

— Eu não sei como, mas eu realmente me apaixonei por você à


primeira vista. No dia que te vi naquela escola, eu não imaginei que você era
a mesma garota por quem me apaixonei no hospital. E por obra do destino,
realmente era você. Depois, quando descobri, soube que você estava
destinada a mim. Mesmo com as minhas falhas, você me amou da melhor
forma possível. Hoje, quero oficializar meu amor por você, Gabriela Kepner.
Você aceita se casar com esse cara imperfeito, mas que te ama acima de
tudo?

Ponho a mão na boca ao ver o lindo anel de ouro branco com algumas
pedrinhas de diamante. Lágrimas escorrem dos meus olhos.

— Sim, eu aceito. – Falo.

Bernardo levanta e põe o anel em meu dedo.

— Agora você é minha, e jamais eu vou te largar. – Ele fala, e me puxa


para um beijo.

— Eu sempre fui sua. – Falo.


Bernardo me abraça, e fico olhando o anel em meu dedo.

— Quando comprou esse anel? – Pergunto.

— Um dia antes de brigarmos. – Ele fala.

— E por que ele estava aqui?

— Porque eu sempre tive a esperança de te encontrar. Ele nunca ficou


longe de mim. – Bernardo fala, me tirando um sorriso.

— Sério? Você não andava sem ele? – Pergunto.

— Não, desde o dia que comprei, ele ficava ou no meu paletó, ou no


bolso da calça. Às vezes, chegava até a incomodar um pouco, mas eu não
podia nunca ficar sem ele e perder a oportunidade de te pedir em
casamento.

— É, sem dúvidas, muito bonito. —Falo, olhando a joia em meu dedo.

— Vamos jantar? Quero aproveitar a noite ao seu lado. – Faço que sim
com a cabeça, e então vamos tomar banho.

Já estávamos no restaurante, e diga-se de passagem que é um dos


melhores que já frequentei. Claro que escolhemos o típico, uma massa
italiana e um bom vinho para acompanhar.

— Quando seu contrato se encerra? – Bernardo pergunta, e bebe uma


golada do vinho.

— Só no final do ano. – Falo.


— Acho que é melhor pagar a multa. – Ele fala, e olho para ele de olhos
semicerrados.

— De forma alguma. Eu vou cumprir meu contrato e depois vou para


Nova York. Tem o lançamento do meu livro também. – Falo, e ele me olha de
forma engraçada.

— Livro? – Bernardo pergunta.

— Sim, estou escrevendo um livro. Fala sobre a minha vida e o


procedimento que tive que fazer!

— Isso é muito interessante. Quero ser o primeiro a comprar o livro e


receber o primeiro autógrafo. – Ele fala, me fazendo sorrir.

Bernardo me olha com sobrancelha arqueada.

— Do que está rindo? – Bernardo pergunta.

— Vai ter que entrar na segunda fila, porque a senhora Monteiro já


me pediu isso, então ela está na sua frente. – Falo, e ele solta uma risada
gostosa.

— Tudo bem, mas só porque ela é uma ótima pessoa. – Realmente, ela
é uma ótima pessoa. Me ajudou muito. Foi ela que me fez a proposta de
trabalho. Então, falei que não poderia assinar minha carteira, e ela fez um
contrato. Eles me receberam muito bem. Então, devo muito a eles dois. Não
quero deixar a relação que construí com eles assim, para trás do nada.
Espero que eles me entendam.
Capítulo 56
Eu deixei Bruno cuidando da empresa por uma semana. Queria matar
um pouco da saudade da Gabi, afinal passamos meses separados e logo
passaríamos mais algum tempo. Mas hoje é dia de voltar. Eu preciso retornar
ao trabalho. Ficar longe dela, sem dúvidas, não será fácil. Mas eu não posso
obriga-la a ir embora comigo. Apesar de que eu já pensei em dar um
remédio para ela dormir e só acordar em Nova York. Mas isso seria um
crime, então eu desisti.

— Que horas você vai? – Gabriela pergunta, terminando de abotoar a


blusa.

— Vou sair daqui a uma hora. – Falo.

— Então podemos almoçar juntos. – Ela fala, se aproximando de mim.

— Com certeza faremos isso. E ainda vai dar tempo de namorarmos


um pouco. – Falo, e ela sorri.

Gabriela passa os braços pelo meu tronco e me abraça.

— Vou sentir saudade. – Ela fala, e passo a mão em seu cabelo.

—Eu também vou, mas farei o possível para vir logo te ver. – Falo,
tentando encaixar essas viagens em minha agenda mental.
— Poderemos conversar todos os dias. – Ela fala, e me afasto um pouco
para olhar em seus olhos.

— Eu vou até o fim do mundo por você. De Nova York para a Itália é
um pulo para mim. – Falo, e ela me mostra seu melhor sorriso.

— Apenas não suma. Não precisa ir até o fim do mundo, porque eu


estou aqui. – Ela fala, e me aperta contra seu corpo.

— Eu vou leva-la na empresa, depois vou voltar e arrumar minhas


coisas. – Falo.

— Não precisa. Eu vou andando, é tão perto. – Ela fala, soltando-se de


mim.

— De forma alguma. Todos os minutos que eu passar com você ainda


serão poucos. – Falo.

E assim fizemos. Tomamos café em uma cafeteria perto da empresa.


Depois, deixei-a lá e segui para o hotel novamente. Pego algumas peças de
roupas que estão no banheiro e arrumo tudo dentro da mala. Vejo uma peça
de roupa da Gabriela e pego a mesma.

Um sutiã de renda bordado com alguns detalhes em pérolas. Sorrio ao


lembrar de como ele foi parar ali.

As horas passaram rápido até a hora de ela sair para almoçar. Acho
que é por causa do fato de eu ter que voltar para Nova York hoje. As horas
estão passando tão rápido.

Visto meu terno preto, passo meu perfume e então saio do hotel. Acho
que já vou fechar logo a hospedagem, e de lá mesmo vou para Nova York.
Não vou mentir dizendo que é fácil não leva-la comigo, mas acho que esse
tempo será bom para que possamos amadurecer ainda mais. Quando
Gabriela finalmente voltar para nossa casa, vou agilizar nosso casamento o
quanto antes. Não quero que ela fique longe de mim, não mais.

Chego na empresa e subo até a cobertura. Assim que saio do elevador,


Gabriela me olha, e um pequeno sorriso brota em seus lábios.

Ela então levanta e vem até o meu encontro.

— Poderia vir um pouco menos arrumado. – Gabriela então dá um tapa


em meu braço.

— Ai... mas eu não fiz nada! – Me justifico.

— Fez sim. Olha como você está vestido. As mulheres aqui são todas
loucas por um CEO, e você ainda vem assim!

Sorrio ao notar que ela está com ciúmes.

— Sabe por que eu vim assim? – Pergunto, e ela faz bico.

— Não, por quê?

— Apenas para você. Nenhuma outra me agrada. – Gabriela sorri e me


dá um beijo.

— Já estou pronta, vamos? – Ela pergunta.

— Sim. – Assim que damos as mãos, seguimos para o elevador,


ouvimos o senhor Monteiro chamar.

— Esperem, por favor. – Ele se aproxima ao lado de sua esposa.

— Bernardo, que prazer revê-lo. – A senhora Monteiro me


cumprimenta.
— O prazer é meu. – Falo, e damos um aperto de mãos.

— Estavam indo almoçar? – Senhor Monteiro pergunta.

— Sim, estávamos de saída. – Gabriela fala.

— Podemos fazer companhia? Só se não formos atrapalhar o casal! –


Ele fala, e eu e Gabriela nos olhamos.

— Claro que não atrapalha. Por favor, nos acompanhem. – Falo, e então
entramos no elevador.

Estávamos em um restaurante que serve massas e também frutos do


mar. A conversa está animada. De início, pedimos apenas um vinho.

— E então, vamos comer? – Senhor Monteiro pergunta.

— Acho que podemos pedir um molho de camarão branco e uma


lagosta. O que acham? – A senhora Monteiro pergunta.

— Acho ótimo. —Gabriela fala.

— Amor, esqueceu que é alérgica a lagosta? Não me dê outro susto


daquele. —Falo, e ela sorri.

—Eu realmente esqueci. – Ela fala naturalmente.

— Eu percebi. – Falo, olhando para ela. – Podem pedir a lagosta.


Nós pediremos outra coisa!

Falo, e ela segura minha mão.


— Obrigada. – Gabriela fala, e apenas sorrio.

— Nossa, Bernardo, você ganhou um ponto comigo agora. – A senhora


Monteiro fala.

— Por quê? – Pergunto.

— Para ser sincera, eu aconselhei a Gabriela a não voltar com você.


Achei infantil e inconsequente da sua parte o que fez com ela. Mas mesmo
depois desses meses afastados, você ainda lembra de algo que nem mesmo
ela lembra. Se fosse o Robert, ele não lembraria. Mas ver sua atitude me
mostrou o quanto ama Gabriela. Fico feliz por terem reatado o namoro e
triste por saber que logo Gabriela irá nos deixar. – Ela fala, e seus olhos ficam
marejados.

— Por favor, senhora Monteiro, não chore. Eu não vou embora agora.
Ainda ficarei alguns meses com vocês. – Gabi fala e estende a mão para a
senhora.

— Obrigada, Gabi. Quando você chegou na nossa empresa, ela ganhou


um brilho diferente. Espero que sua vida seja repleta de coisas boas e novas
aventuras. Espero que sejam muito felizes, vocês dois. – Ela fala, deixando
Gabriela emocionada.

— Eu agradeço por suas palavras. Realmente, o que fiz com a Gabi foi
incoerente e irresponsável. Acho que não tenho muitas definições para o
que fui. Mas prometo, de agora em diante, apenas trazer alegria para ela. –
Falo, e Gabriela sorri para mim.

— Agora vamos pedir, porque estou com fome. – Senhor Monteiro fala,
nos fazendo sorrir.
O almoço foi ótimo. Infelizmente, eu e Gabriela não tivemos um
tempo a sós. Meu voo estava marcado para uma hora em ponto, e eu não
gosto de me atrasar, mesmo sendo por um bom motivo. Depois do almoço,
ainda ficamos conversando, mesmo eu e Gabriela nos olhando com olhares
acusatórios.

— Boa viagem, meu amor. Me ligue assim que chegar. – Gabriela fala,
soltando-me do abraço.

— Não vou demorar muito, eu prometo. – Falo, beijando sua testa.

— Dê um beijo na Brenda por mim. – Ela fala.

— Pode deixar. Eu te amo. Cuide-se por mim. – Falo.

— Eu te amo. – Ela fala, e então nos beijamos.

Me afasto dela e vou para a área de embarque.


Capítulo 57
Esses meses não foram nada fáceis. Por mais que eu e Bernardo
conversássemos todos os dias, ainda assim não era a mesma coisa. A falta
do toque dele em mim me deixa frustrada.

— E então, está tudo pronto? – O diretor da editora pergunta.

— Sim, estou ansiosa para isso, e com receio do que as pessoas vão
achar, mesmo que a prévia tenha sido muito bem recebida. – Falo.

Hoje finalmente é a publicação do meu livro físico. Estou nervosa,


ansiosa e eufórica. É tanta emoção para um dia.

— Está tudo pronto! – A organizadora do evento fala. Desço do carro e


entro na grande livraria onde meu livro está sendo apresentado às pessoas.

Me dirijo à mesa onde darei os autógrafos. Quando o livro foi


divulgado, logo venderam duas mil cópias em dois dias. Confesso que não
imaginei isso de imediato, mas fiquei feliz.

Já tem uma grande fila de pessoas com livros na mão. Algumas


folheiam as páginas. Sento na cadeira e passo as mãos na mesa. Eu nunca
imaginei que passaria por essa sensação. Acho que é uma mistura de euforia
e nervosismo na mesma frase.
— Eu amei sua história, seu livro me inspirou muito. – Uma moça fala
e me estende o livro para que eu autografe.

— Eu agradeço muito. – Falo sorrindo.

Escrevo meu nome na capa e pergunto o nome dela. A mesma fala, e


então coloco o nome dela.

O dia foi bem longo e cansativo, mas foi maravilhoso. Nunca imaginei
que daria tantos autógrafos assim em minha vida.

— Parabéns, Gabi. As vendas foram maravilhosas. Aqui está o total de


cópias vendidas hoje. – Ela me entrega uma folha e abro minha boca em
formato de O.

— Vendemos tudo isso? – Pergunto surpresa.

— Sim, e já tem mais alguns encomendados. – Ela fala, e sorrio de


felicidade.

— Estou muito feliz. Não imaginei que meu livro faria tanto sucesso.
– Falo, olhando para o livro em minhas mãos.

— Parabéns, Gabi. Espero que faça ainda mais sucesso. Agora eu


preciso ir. – Ela fala e sai da livraria.

Fico arrumando minhas coisas antes de sair também. Pego alguns


livros e os levo até a prateleira. Organizo tudo e, quando viro para pegar
minha bolsa, tomo um susto ao ver Bernardo parado me olhando.

— Perdoe-me pelo atraso. Pelo visto, eu fui o último! – Ele fala, mas
minha única reação é correr até ele.

— Estava com saudade. – Falo, abraçando Bernardo.


— Eu também, meu amor. Essa distância está me matando. – Ele fala,
no sentido figurado.

Nos beijamos, e assim que paramos o beijo, ele levanta um lindo


buquê de rosas vermelhas e brancas.

— Parabéns. – Ele fala, e seguro o lindo buquê.

— É lindo. – Falo, olhando cada mínimo detalhe.

— Esse é o meu, e esse é o da Brenda. – Ele fala, pegando dois livros


na mesa.

— Ok. – Falo, e ele me abraça novamente.

— Já terminou aqui?

— Sim, vamos para a minha casa? – Pergunto.

— Sim, mas meus planos hoje com você são outros. – Ele fala,
arrancando um sorriso meu.

— E o que seria?

— Vamos, e descobrirá. – Ele fala.

Bernardo não sabe ainda, mas minhas coisas já estão todas arrumadas
e prontas para voltar para minha casa. Quero conhecer meu sobrinho de
coração e afilhado, que nasceu há um mês. Infelizmente, eu ainda tive que
cumprir o prazo do contrato. Agora, já está tudo certo, e eu posso voltar para
casa. Esses meses aqui foram uma ótima experiência, mas já está na hora de
eu voltar para minha cidade.

— Onde pretende me levar? – Pergunto.


—Vamos a um show. Eu vi seus posts há alguns dias, sobre uma banda.
Então, comprei os ingressos, e cá estou eu. – Ele fala, e paro de andar para
olhar para ele.

— Sério?

— Sim, os ingressos foram difíceis, mas nada é impossível para mim.


– Ele fala, e dou uma gargalhada com a forma como ele falou.

— Baixa a bola, tá? Eu gosto sim dessa banda, mas tenho certeza de
que não veio aqui só por isso. – Falo, e ele me puxa para seus braços.

— Não, vim porque estava com saudade. – Ele fala, e me beija.

Sua língua percorre toda a minha boca, me fazendo gemer baixo de


prazer.

— Vamos para casa. Eu preciso de você dentro de mim. – Falo entre


sussurros.

— Vamos. – Bernardo segura minha mão, e então entramos no carro


que acho ser alugado por ele.

E assim fizemos. Mal deu tempo de entrar no meu apartamento.


Bernardo tira meu vestido e o joga em algum lugar na casa. Desabotoa sua
camisa o mais rápido que consigo, e tiro a mesma, jogando-a também na
sala. Tento abrir o cinto várias vezes, até que Bernardo faz isso por mim.
Jogo meu sutiã, e então chegamos ao quarto.

Bernardo tira toda a roupa e me dá a melhor visão possível.

— Que saudade de você, meu amor. – Ele sussurra em meu ouvido.


Minha intimidade já está em êxtase.
— Por favor, sem preliminares, não agora. Faremos isso depois. – Falo.

— Tudo bem, como você quiser. – Bernardo me deita na cama com


cuidado, e então tira minha calcinha, que era a última peça que nos
atrapalhava.

Estávamos os dois deitados na minha cama. Bernardo, como de


costume, apenas acaricia minhas costas com as pontas dos dedos.

— Obrigada pela surpresa. Eu estava com muita saudade. – Falo,


olhando para ele.

— Eu também. Eu cruzaria o oceano Pacífico para ver você. – Bernardo


sorri e me beija.

— Não vai precisar cruzar mais nada por mim. – Falo, e ele senta
rapidamente, com a expressão séria e preocupada ao mesmo tempo.

— O-o que você quer dizer com isso? – Bernardo pergunta, com a fala
entrecortada.

Sento também na cama e seguro sua mão.

— Quero dizer que estou indo embora para Nova York. – Falo, e ele
abre um largo sorriso.

— Está falando sério? – Ele pergunta.

— Sim, não percebeu as caixas espalhadas pelo chão? – Pergunto, e


então ele olha ao redor do quarto.
— Nossa, você me deu um baita susto. – Ele fala, e solto uma
gargalhada.

— Achou que estava me deixando?

— Sim, por um momento, eu achei isso. – Ele fala.

— Eu não vou deixar você, não mais. – Falo, e ele me agarra, e nós
deitamos novamente, só que ele está por cima de mim.
Capítulo 58
Finalmente chegou o dia de eu voltar para Nova York. Bernardo não
pôde me esperar, porque ele teve uma reunião de emergência sobre uma
das empresas. Infelizmente, foi descoberto um grande roubo por parte de
um dos sócios, mas ele levou a maioria das minhas caixas.

— Você vai fazer falta aqui. – A senhora Monteiro fala, sorrindo entre
algumas lágrimas.

— Quando eu puder, venho fazer uma visita. – Falo.

— Eu desejo felicidade para vocês. Infelizmente, não consegui me


despedir do Bernardo. – Ela fala.

— Sim, mas ele entendeu, e espero que entenda também o lado dele.
– Falo.

— Claro que sim. Nós que trabalhamos com esse tipo de negócio
estamos sujeitos a tudo. – Concordo com a cabeça.

— E o senhor Monteiro? – Pergunto.

— Ele vai se despedir apenas no aeroporto. Ele também tinha uns


assuntos para resolver. – Ela fala.
Termino de fechar minha bolsa de mão e então suspiro.

— Então é isso, já estou indo. – Falo.

— E quanto a você? Vai voltar a trabalhar com o Bernardo?

Penso por um tempo e então falo.

— Não, eu vou voltar a fazer o que amo. Vou voltar a dar aulas,
continuar minha trilogia de livros e tentar ter um bom relacionamento com
o Bernardo. – Falo, decidida.

— Fico feliz com sua decisão. Acho que todo esse tempo que você
trabalhou como secretária te fez infeliz. – Ela fala, e penso em meu trajeto.

— Eu não definiria assim. Ganhei muita experiência, trabalhei com


pessoas ótimas que me ensinaram muita coisa. Agradeço esse tempo de
experiência, mas o fato de eu não poder ter filhos me faz querer ter mais
proximidade com as crianças, sabe?

Ela sorri e confirma com a cabeça.

— Na hora certa, sua filha chegará para você. – De alguma forma,


aquilo me tocou. Eu não sei explicar, a forma como ela falou foi muito
profunda.

Depois de me despedir de todos, finalmente estava dentro do avião.


Vou sentir falta dessa família que me acolheu tão bem aqui, mas meu
coração grita pelo Bernardo, e eu não posso negar isso para mim mesma.

Depois de horas no avião, finalmente estava em Nova York. Estava com


saudade, estar aqui traz um sentimento de paz. Vou poder visitar o túmulo
do meu pai a qualquer momento. Ando devagar pelo corredor de
desembarque. Estou com muita saudade da Brenda, espero que ela esteja
bem. Estou louca para conhecer a filhinha da Sandra. Nossa, que amiga eu
sou! A bebê já está com três meses, e só agora estou indo conhece-la.

Procuro meu nome entre as plaquinhas e não vejo, até que uma me
chama a atenção. Um sorriso escapa dos meus lábios, apresso meus passos
até estar diante daquela pessoa que se tornou tão especial para mim.

Sinto meu peito apertar, algumas lágrimas já escapam dos meus olhos.
Ela está aqui! Sorrio e choro ao mesmo tempo, caminho apressada até ela,
solto minha bolsa no chão e me ajoelho perto de Brenda. Ela mantém seu
sorriso sereno no rosto. Passo a mão em seu rosto. Parece que fazem anos
que não nos vemos. Como eu pude deixa-la assim? Puxo-a para um abraço
e não consigo segurar o choro.

— Me perdoe, não quis magoar você. – Choro. – Eu fui uma amiga


horrível e uma madrasta horrível. Eu não vou me perdoar por ter te
abandonado. – Falo, e ela se afasta um pouco, fazendo-me olhar em seus
olhos.

— Não fique assim. Eu sei de toda a história. Eu estou feliz que você
está aqui. – Brenda fala, secando meu rosto.

— Me perdoa, por favor. Eu prometo que não te deixo mais. – Falo, e


ela sorri.

— Dessa vez, eu vou cobrar. – Ela fala, fazendo-me sorrir entre meio às
lágrimas. — Vamos para casa? Alguém está louco para te ver!

Ela fala e me ajuda a levantar do chão.

— Sim, vamos para casa!


Ela segura minha mão, e então pego minha bolsa. O motorista leva
minha mala para o carro.

— Você gostou de lá? – Ela pergunta, olhando para mim.

— Eu gostei sim, mas estava faltando vocês comigo. Por mais que eu
tentasse, a saudade era constante. – Eu estava receosa de que ela não
quisesse mais falar comigo ou algo do tipo, mas ao vê-la no aeroporto, meu
coração se encheu de alegria.

— Aqui não foi muito fácil. Na sua ausência, meu pai bebeu por meses,
não se concentrou no trabalho e bateu de carro uma vez. Fora isso, foi tudo
normal. – Ela fala tranquilamente.

— Nossa, realmente aconteceram muitas coisas em minha ausência. –


Falo.

— Você precisava ver quando ele chegou aqui quando você o perdoou.
Acho que ele entrou em outra dimensão. Nunca vi meu pai tão calmo. – Ela
fala, tirando uma risada minha.

— Não deixe mais ele, por favor. Meu pai sofre de bipolaridade. –

Sorrio, e ela me acompanha.

Não demora muito e finalmente chegamos à casa deles.

— Fique aqui no carro. Quero dar um susto no meu pai. – Ela fala com
olhar travesso. – Ou melhor, venha e fique escondida para ver a reação dele.
Ponha seu celular no silencioso, ele vai ligar.

Ela fala, e assim fazemos.

— Pai? Pai. – Brenda chama, fazendo drama.


— Filha, estou aqui! – Vejo ele se aproximar. Seus olhos procuram por
algo, e depois ele olha para Brenda.

— Onde está Gabriela?

— Ela não veio. – Brenda olha triste para ele.

— Como assim? Aconteceu alguma coisa? O voo dela atrasou? Você já


ligou para ela?

— Sim, eu já liguei, mas ela não atendeu. Pai, eu acho que ela não quer
mais ficar conosco. – Ela fala, fazendo cara de choro.

Bernardo senta no sofá e passa a mão na cabeça. Meu coração aperta


só de saber que ele ficou triste. Me aproximo, e Brenda olha para mim.

— SURPRESA! – Gritamos juntas, e ele olha para mim.

— Vocês estavam me enganando? – Afirmamos com a cabeça.

Bernardo então se aproxima de mim e me puxa para um abraço.

— Eu estava prestes a ir atrás de você. – Ele fala, me apertando.

— Eu não te largo mais. – Falo, e ele segura meu rosto com as duas
mãos.

— Eu te amo. – Ele se afasta um pouco e se ajoelha. – Chega de ficar


longe da gente. Eu e Brenda queremos você aqui todos os dias, para dar
broncas e maratonar qualquer série durante a noite. Queremos fazer
almoços em família nos finais de semana, e pretendemos fazer muitas
viagens juntos. Casa comigo?

— Eu aceito! – Falo, e ele levanta. Bernardo me pega pela cintura e me


roda no ar. Sorrio ao ver a alegria dele e da Brenda.
Capítulo 59
Já se passaram algumas semanas desde que eu voltei. Consegui matar
um pouco da saudade da Brenda e da Sandra. Quando cheguei em casa, tive
uma grande surpresa. Bernardo mandou derrubar toda a casa. Sandra disse
que ele pediu a ela para fazer isso, então ela aceitou, até porque eu deixei
ela cuidando da casa. Ele mandou construir uma bela casa no lugar. Não é
muito grande, mas tem um segundo piso, sala, cozinha e um banheiro
embaixo, e em cima tem um quarto de visita, um banheiro e uma suíte. Ficou
muito linda. Eu prometi pagar a ela depois da venda dos meus livros, que
por sinal está indo muito bem, mas é claro que ele recusou. Disse que era
um presente e que não precisava eu me preocupar com nada.

— O que está pensando aqui sozinha? – Bernardo me abraça por trás,


e sorrio.

— Estava pensando em você! – Falo, fazendo ele me virar de frente


para ele.

— Vamos jantar fora hoje?

— Sim, a Brenda pode ir com a gente! – Sugiro.


— Claro, vou falar com ela. – Ele fala e me dá um beijo. Bernardo então
sai do quarto, e decido tomar um banho para irmos ao nosso jantar.

Tiro minha roupa e a deixo caída ao lado do box do banheiro. Canto


algumas músicas enquanto passo sabão pelo meu corpo, passo shampoo no
cabelo e depois ligo o chuveiro para tirar o sabão do corpo. Sinto aquelas
mãos que muitas vezes me levam à loucura segurarem meus seios, sorrio
ainda de olhos fechados.

— Esperei o convite formal, mas como ele não veio, decidi por conta
própria. – Ele fala, e abro os olhos.

Bernardo está completamente nu, me proporcionando a bela visão de


seu membro já ereto.

— Você nunca precisa de convite. – Falo, e ele me agarra e me coloca


contra a parede fria do banheiro.

Solto um gemido baixo ao sentir a frieza da parede.

Bernardo me segura pela cintura, fazendo-me entrelaçar minhas


pernas em sua cintura. Ele então me penetra lentamente, solto gemidos
baixos em seu ouvido.

Bernardo me penetra várias vezes, seus lábios tocam meu pescoço, me


fazendo gemer um pouco mais alto. Não demora muito e sinto meu orgasmo
se aproximar. Bernardo aperta minha nádega direita, e então não consigo
controlar e gozo logo em seguida.

Não demora muito, e logo sinto seu jato quente dentro de mim.
— Eu te amo! – Bernardo fala, com a respiração irregular.
— Eu também te amo! – Terminamos nosso banho e seguimos para
nos arrumarmos.

Saímos de casa já passando das sete horas. Bernardo fez uma reserva
em um restaurante italiano não muito longe de sua casa. Assim que
chegamos, meus olhos não conseguem se desviar da praia. O restaurante
fica de frente para ela, o que deixa o ambiente ainda mais lindo.

— Podemos dar um passeio depois que jantarmos! – Bernardo fala, e


Brenda se anima.

— A lua está perfeita hoje. – Falo, e então adentramos o


estabelecimento.

Como já era esperado, cada um pede um prato de massa. Eu peço ao


molho branco, Bernardo pede com molho de camarão, o que significa que
devo ficar bem longe, e Brenda pede uma massa com molho branco ao
creme.

Ficamos conversando sobre assuntos aleatórios. Brenda fala


animadamente sobre seu dia na escola, e isso me deixa com um pouco de
saudade das salas de aula. Ainda não voltei a trabalhar, mas pretendo fazer
isso em breve.

— Eu gostaria de comunicar uma coisa a vocês! – Bernardo fala,


parando de comer e olhando para mim e Brenda.

— O que é, papai?

— Está tudo bem? Aconteceu alguma coisa?

— Sim, está tudo bem. Na verdade, estou com um novo projeto.


Pensei nisso alguns meses atrás, mas não sabia bem por onde começar. –

Bernardo fala, olhando para o vinho em sua taça. – Conversei com algumas
pessoas experientes e vi que isso ajudaria muito nossa cidade e os bairros
mais pobres. Confesso que já estou curiosa. – Eu vou abrir uma escola para
crianças carentes. Meu coração palpita forte no peito.

— V-você vai abrir uma escola? – Pergunto confusa.

— Sim, tive o apoio de muitas pessoas. Conversei com alguns


deputados que também gostaram da ideia. Claro que sei o motivo, mas isso
é irrelevante. Quero poder ajudar de alguma forma essas crianças que não
podem frequentar uma escola particular, e as escolas municipais estão
sempre superlotadas. – Bernardo fala, e mesmo sem querer, derramo
algumas lágrimas de emoção.
— Gabi, por que você está chorando? – Brenda pergunta, colocando a
mão em cima da minha.

— Eu só fiquei muito feliz com essa notícia. – Falo.

Eu sei quantas crianças crescem sem estudo por causa das condições
de seus pais. Então, para mim, é uma felicidade imensa saber que ele está
montando esse projeto, mesmo não sendo a área em que ele trabalha. Ver
o quanto de esforço ele está fazendo para trazer algo tão importante só me
mostra o quão grande é o coração dele.

— Eu quero que você seja a diretora dessa escola. Sei que, para isso,
você terá que fazer algumas especializações, mas eu conheço o seu
potencial. – Bernardo fala, me fazendo olhar para ele confusa.

— Eu? Diretora? – Pergunto.


— Sim, você tem potencial para isso. Eu sei que você quer voltar para
a sala de aula, mas enquanto achamos uma boa diretora, gostaria que essa
pessoa fosse você por enquanto. – Ele fala, e Brenda me olha com um grande
sorriso no rosto.

— Vai, Gabi. Você é ótima para esse trabalho. – Ela fala.

— Já estamos começando a construção. Tudo já foi liberado, o local, o


início da obra e os materiais, tudo legalizado. Logo a escola estará de pé, e
quanto mais rápido formos organizando os professores, diretores e
coordenadores, mais rápido será a inauguração. – Ele fala, e sorrio.

— Tudo bem, eu vou ser a diretora da escola, mas apenas por pouco
tempo. Quero voltar a dar aulas. – Falo, empolgada.

Para comemorar, Bernardo pediu sorvete de chocolate para nós três.


Terminamos nossa sobremesa e saímos do restaurante.

— Obrigada pela surpresa. – Falo, enquanto caminhamos pela praia.

— Eu sei que você ama dar aulas, e sei também o quanto nosso
governo é falho quando se trata de educação. Então, eu só uni o útil ao
agradável. Você poderá dar aulas, e as crianças poderão ter um bom ensino.
– Bernardo fala.

— Ainda assim, não é qualquer pessoa que quer se envolver com


tamanha responsabilidade. – Falo, parando perto da água.

— Por você, eu faço qualquer coisa, Gabi. Ver você e a Brenda felizes
me faz feliz. Me faz um homem realizado. Esse tempo que ficamos afastados
foi tão doloroso. Eu não imaginei que sentiria por alguém o que sinto por
você, e te fazer feliz é o que eu mais quero. – Abraço seu corpo, me sentindo
em paz.

Eu também me senti estranha longe dele. Por mais que eu tentasse


odiá-lo, não conseguia. Minha vontade a todo custo era saber como ele
estava, se estava bem, se estava se alimentando. Saber como Brenda estava,
se estava estudando direitinho. Mas tentei me manter forte e longe para
tentar superar algo que era insuperável.

—Podemos nos casar semana que vem? – Ele pergunta, me fazendo


olhar para ele rapidamente.

— O-o quê? – Pergunto, me afastando dele.

— Eu quero que seja minha mulher o mais rápido possível. Quero que
possamos adotar uma criança. Quero formar uma grande família com você
e Brenda. Quero poder dar irmãos para ela. Eu quero poder te dar filhos,
mesmo não sendo legítimos. – Ele fala, e sinto meu coração pulsar.

— Bernardo, vamos com calma, está bem? Isso tudo tem que ser
planejado. Não podemos fazer tudo de uma vez. Eu sei que você quer uma
família maior, eu também quero, mas temos que ter um pouco de calma.
Adotar uma criança é complicado. Precisamos conversar com a Brenda sobre
isso também. Precisamos de um pouco mais de tempo. —Falo, mesmo
sentindo meu coração bater rápido com tudo isso.

Adotar uma criança sempre esteve em meus planos, com ou sem ele.
Mas temos que ter um pouco de paciência para tudo isso. Não quero
magoar a Brenda com isso. Ela sempre foi a prioridade, e talvez ela possa
ficar triste com tudo isso de uma vez.
— Tudo bem, acho que foi muito repentino. Mas se você quiser,
podemos nos casar semana que vem. – Sorrio e dou um tapa em seu braço.

— Podemos conversar sobre isso. – Falo, e voltamos a caminhar.


Capítulo 60
Os dias estavam passando rápido. Faltava um pouco mais de uma
semana para o nosso casamento. Eu mal podia esperar para ser oficialmente
o esposo de Gabriela. Esses dias ela não está dormindo na minha casa.
Passou uma semana na casa da Sandra e do Bruno, o que me deixou louco.
Agora está na casa dela. Por mim, ela não sairia do meu lado, mas não posso
obriga-la a nada, infelizmente.

— Senhor, sua reunião está começando. – A secretária fala, entrando


no meu escritório.

—Tudo bem, já estou descendo!

Desligo o computador, pego meu blazer e saio do escritório, descendo


para a sala de reunião.

— Boa tarde a todos! – Falo, entrando e indo para minha cadeira.

— Boa tarde, senhor Lumière! – Todos falam, e me sento.

— A pauta de hoje ainda é sobre o desvio de dinheiro. Sei que vocês


podem estar cansados de ouvir sobre isso, mas finalmente tenho provas
concretas de quem fez isso. Hoje será tudo colocado em pratos limpos.
Olhem as imagens a seguir. – Falo, e todos olham para a tela.
Há algumas semanas, descobri que o Senhor Josef, que até então era
uma pessoa de confiança, estava desviando dinheiro da empresa junto com
seu sobrinho, que trabalha na contabilidade. Já fazia algum tempo que as
contas não batiam, e quando fui para a Itália visitar Gabriela, um rombo
ainda maior aconteceu. Foi então que tive que tomar providências. Será que
ele realmente achou que eu não descobriria?

— Aqui estão as evidências. Consegui juntar todas as informações. –

Viro a cadeira de frente para os acionistas e olho para ele. – O que passou
pela sua cabeça quando pensou que eu não descobriria? – Pergunto, e ele
sorri de lado.

— Você está ficando louco. Isso é tudo armação sua. Quer me tirar da
empresa e armou isso. – Ele fala, despretensioso.

— Por favor, Josef, não piore sua situação. Todos aqui sabem da sua
ganância. Deveria ter tido mais cuidado. – Falo.

— Isso é por causa desse seu amor platônico por aquela garota. Ela só
quer te usar. Talvez tenha sido ela que te roubou. – Levanto para dar um soco
nesse bastardo filho da mãe, mas os outros acionistas me seguram.

— Saia da minha empresa agora. O dinheiro que você roubou será


descontado de suas ações. Agradeça por eu não mandar te prender. Saia e
não volte, a não ser para assinar os papéis de venda

— Você ouviu o que ele disse? – Pergunto, andando de um lado para o


outro.

— Sim, e isso não tem nada a ver. Apenas respire, você precisa ficar
calmo. Seu casamento está chegando, cara!
Bruno fala, e mesmo estando com raiva, foi inevitável conter o sorriso
de lado.

— Sim, nós vamos casar, cara. Ela aceitou casar comigo. Falo, todo
bobo.

— Se fosse eu, não teria aceitado. Mas tudo bem. – Dou um soco em
seu braço.

— Não fale isso nem de brincadeira, seu idiota. Falo, sentando.

Ele sorri, ainda passando a mão onde acertei.

— Já escolheu seu terno? Tenho certeza de que Gabriela deve estar


enlouquecendo com os preparativos do casamento. Ele fala, e só aí paro
para pensar. Talvez seja por isso que ela não está dormindo na minha casa
esses dias.

— Ainda não. Você poderia ir comigo. Falo, e ele faz uma careta.

— Não, obrigado. Estou indo para casa curtir minha filhota. Ele fala e
sai do meu escritório.

— Tudo bem, Bernardo. Então somos apenas nós. Falo para mim
mesmo.

Saio do meu escritório e vou até a secretária.

— Remarque minha agenda para amanhã. Tenho algo urgente para


fazer. Saio sem esperar uma resposta dela.

Desço para a garagem e sigo até meu carro.

Depois de sair da empresa, decido onde ir primeiro. Talvez Gabriela


não esteja em casa, mas ainda assim quero ir lá.
Piso no acelerador e, em pouco mais de vinte minutos, chego à casa
dela. Saio do carro e caminho a passos largos até a porta. Adentro a casa, e
ela está sentada no chão com algumas revistas ao seu redor.

— Bernardo?

— Oi, meu amor!

Falo, me aproximando dela, estendendo minhas mãos para ajudá-la a


levantar.

— O que faz aqui?

— Senti saudade de você, e lembrei que eu te deixei sobrecarregada


com os preparativos do casamento. Falo.

— Eu não sei muito bem o que fazer. Nunca planejei um casamento.


Ela fala, passando a mão direita no cabelo.

— Nessas horas, uma irmã faz falta. Falo, e ela sorri.

— Talvez. Ela fala e abraço ela.

— Eu vou te ajudar!

Falo, e ela me olha de forma engraçada.

Eu também nunca planejei um casamento. Da outra vez, foi Laís quem


cuidou de tudo. Então, eu também estou um pouco perdido.

Mas eu quero o casamento mais elegante de todos. Eu quero que seja


um dia inesquecível para nós dois. Gabriela merece uma bela cerimônia.

— Vou contratar alguns organizadores. Eles podem nos ajudar


também. Falo, e ela consente com a cabeça.
E assim fizemos. Falta pouco mais de uma semana, então será bem
corrido.

— Agora que já resolvemos essa parte, eu quero resolver outra coisa.


Falo, e ela me olha com os olhos semicerrados.

— Seu pervertido. Gabriela fala, me dando um tapa no ombro.

— Ai. – Falo, e puxo ela pela cintura. – Estou sentindo sua falta à noite.
Falo, e Gabriela sorri de lado.

— Eu também estou sentindo sua falta, mas preciso me concentrar


nos preparativos. – Ela fala, abraçando minha cintura.

— Agora eu vou te ajudar, então podemos fazer algo a mais. – Falo, e


pego ela nos braços. Gabriela dá um grito de susto.

— Seu louco. – Ela fala, e subo as escadas com ela.


Capítulo 61
Sem dúvidas, estou me sentindo uma mulher realizada. Nossa festa de
casamento foi perfeita. Toda a família do Bernardo compareceu, inclusive os
funcionários da empresa. Minha mãe também estava na cerimônia. Foi tudo
muito lindo. Já estamos em casa, passava das dez da noite. A cerimônia foi pela
manhã e durante todo o dia tivemos a festa. Confesso que estou bem cansada.

— Como está se sentindo? – pergunta Bernardo, me abraçando por trás.

Viro para ele e sorrio.

— Realizada! – falo, e então ele me beija.

— Sairemos amanhã depois do almoço. Meus pais querem almoçar


conosco – diz ele, e confirmo com a cabeça.

Bernardo reservou a cobertura de um hotel para passarmos a noite.


Talvez achem bobagem não termos ficado em casa para termos nossa noite de
núpcias, mas ele quis preparar algo diferente, e eu concordei.

— Brenda estará nos esperando na casa dos meus pais. Ela vai conosco,
e eu achei bem legal. Poderemos ter momentos especiais juntos.

—Ok, eu vou terminar de arrumar minha mala. – falo e me afasto um


pouco dele.
— De forma alguma, nós já estamos indo para o hotel. – Bernardo me
puxa pela cintura e toma meus lábios em um beijo quente.

Paramos o beijo quando o ar nos falta.

— Agora podemos ir. – ele fala, me fazendo sorrir.

Saímos da casa dele, na verdade, da nossa casa, e seguimos para o hotel.

— Posso saber para onde vamos? – pergunto, olhando para ele.

— Só vou falar quando já estivermos no avião. – ele fala, me fazendo


suspirar.

— Por que todo esse mistério? Não vai estragar a viagem se me falar para
onde vamos! – tento mais uma vez.

— Eu posso fazer uma surpresa para minha esposa? – ele pergunta, e


semicerro os olhos.

— Tudo bem, eu vou esperar. – falo, me dando por vencida.

— Você vai gostar. Será uma bela surpresa para você e para a Brenda. –

Bernardo fala, e então chegamos ao hotel.

Descemos do carro e seguimos para o elevador. Bernardo já tinha feito a


reserva e o check-in, então poderíamos subir direto para o quarto.

— Vou ter que tirar meu salto, meus pés estão doendo muito. – falo, e
Bernardo então se abaixa na minha frente.

— O que está fazendo? – pergunto.

— Vou te ajudar. – ele desabotoa minhas sandálias e segura minha mão


para que eu as tire dos pés. Bernardo pega minhas sandálias e fica segurando.
Assim que as portas do elevador se abrem, Bernardo me pega no colo,
fazendo-me dar um grito de susto.

— Agora oficialmente se inicia nossa vida de casados. – ele fala, e então


tomo seus lábios em um beijo.

Bernardo caminha comigo no colo até a cama. Ele me deposita


lentamente no colchão macio e sorri travesso. Mordo o lábio inferior e ele
arqueia um pouco o corpo.

Bernardo então desabotoa os botões da camisa social preta. Já tínhamos


tomado banho e trocado de roupa em casa. Bernardo joga a camisa no chão e
vem me beijar.

— Eu te amo! – ele sussurra em meu ouvido.

— Eu te amo! – falo, olhando em seus olhos.

Bernardo então beija meu pescoço e depois meus lábios. Forço seu corpo
a deitar na cama, e eu fico por cima dele.

— Minha mulher é cheia de atitude. – ele fala, me fazendo sorrir.

— Você não viu nada, senhor Lumière. – falo, e então ele sorri de lado.

— Então me mostre, senhora Lumière. – ele fala, pondo a mão em minha


nuca.

Pego nas barras do meu vestido e puxo para cima, tiro a peça de roupa e
jogo no chão. Bernardo trata logo de tirar meu sutiã.

— Eu juro te recompensar. – ele fala, e fico sem entender.

— O quê?
Não demora muito e a renda que cobria minha intimidade é rasgada em
uma só puxada.

— Bernardo! – esbravejo.

— Eu vou te recompensar! – ele me vira na cama e fica em pé. Bernardo


tira a calça e a cueca boxer e deixa no chão. Mordo o lábio inferior e ele sorri
de lado.

— Ainda não se acostumou a me ver pelado? – ele pergunta


maliciosamente.

— Sim, mas eu gosto de admirar essa bela visão. – provoco.

— Gabriela, Gabriela, o que fazer com você? – Bernardo se abaixa e passa


a língua em minha intimidade já úmida. Solto um gemido baixo ao sentir aquela
língua quente em mim.

Bernardo continua a fazer sexo oral em mim, sua língua quente penetra
minha entrada úmida, me fazendo contorcer de prazer. Ele então introduz um
dedo em minha entrada e começa um movimento de vai e vem. Solto um
gemido mais alto.
Epílogo
Um ano depois

Um ano se passou rapidamente. Foram tantos acontecimentos que nem sei


descrever todos eles. Minha lua de mel mais se assemelhou a férias em família.
Aproveitamos cada momento na Flórida. Fomos à Disney para realizar meu sonho
de conhecer as princesas (risos). Depois, fomos para a Alemanha e, em seguida,
visitamos conhecidos do Bernardo na França. Também passamos pela Itália.
Nossas férias foram bem intensas. Nos divertimos muito em cada lugar. Talvez
tenha sido pelo fato de estarmos juntos.

Eu e Bernardo entramos na fila de adoção. Após conversarmos com Brenda,


decidimos adotar uma criança, independentemente do sexo ou da idade. Adotar
um filho é uma grande responsabilidade e um ato de amor. Já visitamos alguns
orfanatos, mas a fila está muito grande.

— Senhora Lumière? – a coordenadora da escola me chama, tirando-me dos


meus devaneios.

— Sim?

— Gostaria de pedir uma orientação. Sei que a senhora não é a orientadora


da escola, mas achei certo vir aqui!

Ela fala, e faço um sinal para que ela sente.


— Agora pouco, quando estava chegando aqui, vi uma menininha lá na
frente. Pelo que tudo indica, ela foi abandonada ali na calçada. Cheguei a pensar
em chamar a polícia ou algo assim, mas por algum motivo quis vir aqui. – ela
termina de falar, e eu me levanto da cadeira.

— Onde ela está?

— Está ali na frente. – ela fala, e saio correndo para a frente da escola.

Assim que chego lá, vejo uma menina de aproximadamente três anos
sentada na calçada. Me aproximo devagar dela. Ela está toda suja e descalça.

— Oi. – falo, me agachando perto dela.

— Oi. – ela responde, tão inocentemente.

— Onde está sua mamãe ou seu papai? – Pergunto.

— Eu não sei. Minha mamãe disse que eu sou um estovo. – ela fala de forma
engraçada, mas entendo bem o que ela disse.

— Samanta, ligue para o Bernardo e fale para ele me encontrar na delegacia.


– falo, ainda olhando aquela criaturinha tão pequena e indefesa na minha frente.

— Farei isso agora. – ela volta para dentro da escola.

— Vamos ali comigo. Prometo comprar sorvete para você no caminho.


Você está com fome? – Pergunto.

— Sim, estou com fome. – ela fala e se levanta.

— Como é seu nome?

— Liz. – ela fala, e sorrio. Meus olhos se enchem de lágrimas. Como alguém
teria coragem de abandonar uma criança assim?

Levo-a até o carro e dou partida rumo à delegacia. Antes de chegarmos lá,
me certifico de alimentá-la e comprar o sorvete prometido.
Assim que chego à delegacia, Bernardo já está me esperando na frente.

— Você está bem? O que aconteceu? – ele pergunta, me olhando ainda


dentro do carro. Abro a porta e desço.

— Calma, não sou eu! – falo, e ele suspira aliviado.

— Então por que estamos aqui?

Vou até o banco do passageiro e abro a porta. Bernardo me olha atento.

— Dê oi para o titio. – falo, pegando Liz no colo.

— Oi titio. – ela fala e abre um sorriso.

Ele me olha assustado e depois olha para ela.

— Oi, princesinha!

Ele fala e se aproxima mais de nós.

— Quem é essa menina? – Ele pergunta.

— Eu não sei direito. Ela estava na frente da escola, então trouxe ela aqui
para descobrirmos. – falo.

— Então vamos entrar. Talvez ela tenha se perdido dos pais. – ele fala.

— Talvez. – falo, e adentramos.

Abrimos o processo de busca pela mãe dela, e, apesar de ser uma cidade
tão grande, conseguimos encontrar a mãe dela depois de avaliar as câmeras de
segurança da escola. Ela deixou a menina no mesmo lugar onde ela estava quando
Samanta a encontrou.

Ficamos o dia todo ali até obtermos uma resposta clara sobre por que ela
deixou a menina na rua. Assim que os policiais levaram uma mulher de
aproximadamente vinte e cinco anos, percebemos que era ela.
Os policiais a levaram para a sala de interrogação, e pudemos assistir através
do vidro.

— Senhorita Meredithe, gostaríamos de saber por que abandonou a


pequena Liz na frente da escola Jhosef de Castela hoje de manhã?

— Eu não tenho condições de criá-la. Eu não queria deixa-la lá, mas eu não
tenho trabalho. Estou morando na casa de uma amiga e, recentemente, descobri
um tumor no cérebro. – ela fala, e vejo uma lágrima escorrer de seus olhos.

— E o pai da criança? Não tem nenhum parente que possa ficar com ela?

O policial pergunta.

— Não, meus pais já morreram. O pai dela não é uma boa pessoa, está
envolvido com tráfico. Não quero isso para ela. Prefiro que ela vá para um abrigo.
– ela fala.

Olho para Bernardo, que também me olha.

— Podemos conversar com ela! – falo.

— Sim, pode ser uma oportunidade. – ele fala.

Ligamos para nosso advogado, e logo ele apareceu com os papéis. Talvez dê
certo.

— Podemos falar com a acusada? – Bernardo pergunta ao delegado.

— A senhora foi quem trouxe a menina, certo? – confirmo com a cabeça.

— Estamos na fila de adoção e gostaríamos de falar com ela sobre a menina.


– falo.

— Tudo bem. Acho que ela poderá descansar em paz sabendo que deixou a
filha em boas mãos. – o delegado fala e vai para sua sala.

Adentramos a sala. Ela está com a cabeça baixa.


— Oi. – falo, sentando de frente para ela.

— Foi você quem a encontrou? – a mulher pergunta, olhando para mim.

— Sim, na verdade, não. Foi outra pessoa, mas ela me avisou, e eu a trouxe
aqui. – falo.

— E o que você quer? – Ela pergunta, me encarando.

— Eu pude ouvir sua conversa. Você quer manda-la para adoção? –

Pergunto.

— Sim, você é a assistente social?

— Não, na verdade, sou a diretora da escola onde você a deixou na frente.


Eu... na verdade, eu quero adotá-la. – falo de uma vez.

— Você quer adotar minha filha? – Ela pergunta.

— Sim, ouvi toda a sua história e gostaria muito de adotá-la. – falo, sentindo
meu peito apertar. Uma vontade imensa de chorar e o desespero de que ela não
aceite e mande a menina para um abrigo.

— Por que uma mulher tão jovem como você quer adotar uma criança como
ela? Você não vê que ela não vem de bons pais e está toda maltrapilha, você pode
ter seus próprios filhos. – ela fala.

— Eu não posso ter filhos. Fiz uma cirurgia quando tinha quatorze anos que
me impossibilitou de ter filhos. – falo.

— Então você é a moça do livro?

Ela pergunta, olhando fixamente para mim.

— Eu escrevi um livro relatando minha história. Você leu? – pergunto.


— Sim, sua história é, sem dúvidas, tão triste quanto a minha. – ela fala. – Eu
dou a guarda dela para você. Não quero nada em troca, só peço que cuide bem
dela. – ela fala.

Não tenho palavras para descrever o que estou sentindo. Quando vi aquela
menininha, meu coração acelerou de uma forma tão intensa. Era como se ela já
estivesse predestinada a ser minha.

— Eu prometo cuidar dela. – falo, emocionada.

— Ela terá um futuro brilhante com vocês. Infelizmente, não poderei vê-la
crescer. – ela fala, e lembro da conversa dela com o delegado.

— Podemos ajudar você, se quiser! – falo.

— Não precisa. Só cuide dela. Podem trazer os papéis que eu assino.


Agora, vocês poderiam me deixar sozinha, por favor? – ela fala.

— Obrigada. – deixo as lágrimas escorrerem dos meus olhos.

— Obrigada por querer cuidar da minha filha. Espero que ela seja tão boa
quanto você. – ela fala, e me levanto, saindo da sala. Assim que vejo Bernardo, ele
vem até mim, me puxa para um abraço, e deixo as lágrimas saírem dos meus
olhos. Nunca senti isso. É um sentimento tão diferente de tudo o que já
experimentei. Talvez seja o sentimento de ser mãe, o medo de não poder
protegêla, a insegurança de que algo possa acontecer com ela.

— O que ela disse? – Bernardo pergunta.

— Que podemos arrumar os papéis. Ela vai passar a guarda da menina para
nós. – falo.

— Podemos fazer isso sem envolver a justiça, Gael? —Bernardo pergunta ao


advogado.
— Vamos fazer o máximo para que seja uma adoção definitiva. Precisamos
apresentar a declaração ao juiz. – ele explica.

— Claro, quero que tudo seja feito corretamente. Não quero correr o risco
de perde-la. – falo, secando algumas lágrimas.

E assim fizemos. Depois que ela assinou todos os papéis, apresentamos ao


juiz. Claro que já esperávamos que demorasse um pouco. Levou cerca de um mês
para que tudo estivesse pronto. A assistente social nos ligou avisando que ela já
poderia vir para nossa casa. Ela chegaria às dez e meia. Não consegui comer nem
ficar sentada. Minhas mãos estão trêmulas. Brenda se aproxima de mim e me olha
atentamente. Ela também está ansiosa para conhecer a nova integrante da
família. Já separou algumas bonecas para a irmã e ajudou a decorar o quarto dela.
O quarto de Liz ficará ao lado do quarto de Brenda e em frente ao nosso.

— Está ansiosa? – Brenda pergunta, sentando perto de mim.

— Sim, muito. – falo.

— Eu quero muito conhecer ela. – Brenda fala, esfregando as mãos.

— Vem cá. – puxo-a para perto de mim, abraço Brenda de lado e sorrio.

— Obrigada por ter voltado para o meu pai. Eu não conheci minha mãe, mas
conheci você. Faz tempo que queria perguntar... posso te chamar de mãe?

Ela pergunta, fazendo meu coração pular uma batida.

— O que você falou?

— Posso te chamar de mãe?

Ela pergunta, olhando para mim apreensiva.


— Claro que pode, meu amor. Você não imagina a felicidade que é te ver me
perguntando isso. – falo.

—Obrigada, mãe. – ela fala, e algumas lágrimas escorrem dos meus olhos.

A campainha toca.

— Eu abro. – Bernardo fala, vindo do escritório.

Eu, Brenda e Bernardo sorrimos e nos aproximamos da porta.

— Bom dia! – Bernardo fala assim que abre a porta, e vemos a assistente
social com Liz nos braços.

— Bom dia! – ela responde.

— Entre, por favor! – falamos.

— Obrigada. – ela entra e vai até o sofá.

— Posso pegá-la? – pergunto.

— Sim. – vou até onde ela está e pego Liz no colo.

— Fazemos visitas de três em três meses durante um ano. Como já fizemos


a visita em sua casa e vimos que estava tudo bem, só precisamos garantir que ela
está bem durante esse tempo. – ela fala, e faço que sim com a cabeça.

— Aceita alguma coisa? Água? Café? Ou suco? – pergunto.

— Não, obrigada. Já estou de saída. – ela fala e se levanta.

— Obrigada. – falo.

— Espero que ela se adapte bem a vocês. Fico feliz quando uma criança
encontra uma família para receber amor e carinho. Já vou indo. – ela fala e vai até
a porta. Bernardo a acompanha e abre a porta. Nos despedimos dela, e eu me
sento no sofá com Liz no colo.
— Oi, Liz. Você é muito linda. – Brenda fala para a irmã.

— Bligado. – ela fala engraçado.

— Você quer conhecer seu quarto? Tem muitas bonecas nele. – falo.

— Quelo. – ela fala, e sorrimos.

Seguimos os quatro para o quarto onde ela dormirá.

— Tão lindo. – Liz fala quando abrimos a porta do quarto.

— Este é seu quarto. Agora vamos te mostrar o quarto da Brenda e, depois,


o nosso. – falo.

— Posso pegar ela? – Bernardo pergunta.

Passo Liz para ele, e seguimos para o quarto da Brenda. Ela entra primeiro,
e depois Bernardo, com Liz no colo. Depois de mostrar o quarto da Brenda,
seguimos para o nosso. Mostramos quase toda a casa para ela. A piscina ainda
precisa ter algumas medidas de segurança tomadas, mas já está tudo combinado
para que eles venham cercar toda a área.

— Estou cansada, quelo dormir. – Liz fala.

A cozinheira faz um mingau de aveia para ela, e depois de comer e tomar


banho, ela dorme.

Eu, Bernardo e Brenda ficamos observando-a dormir. Agora minha família


está completa.

FIM
Agradecimentos
Hoje, um dos meus sonhos está se tornando realidade: meu primeiro
livro está sendo publicado! Eu e toda a equipe envolvida nesse projeto
maravilhoso nos dedicamos intensamente para alcançar este momento.
Gostaria de expressar minha gratidão à minha família e amigos, que me
incentivaram incansavelmente a tornar esse sonho realidade.

Quero agradecer especialmente a uma pessoa que se tornou uma


amiga muito especial, mesmo sem nos conhecermos pessoalmente:
Samanta Marinho. Sua amizade tem sido um apoio inestimável. Também
não posso deixar de agradecer às incríveis meninas que participaram de
toda a organização desse mais um projeto, Joyce e Letícia. Vocês fizeram
parte da transformação desse sonho em realidade.

Aproveito para agradecer também a TL Editorial pela capa e os


banners maravilhosos para este livro.

Este livro foi escrito com imenso carinho e esforço, com o objetivo de
alcançar o coração de cada um de vocês. Agradeço a todos que reservaram
um tempo para conhecer essa história.
Sobre a autora
Renata Gonzaga estava pronta para compartilhar com o mundo sua
inspiração e o que a impulsionava diariamente a escrever histórias de
romance. Aquela seria uma jornada emocionante, capaz de despertar os
corações dos leitores.

Desde sua infância, Renata sempre nutriu o desejo de ser reconhecida


e admirada pelas pessoas ao seu redor. Experimentou diferentes sonhos,
considerou ser cantora, mas logo percebeu que suas habilidades vocais não
estavam à altura. Também não se destacou no futebol ou na dança. Durante
um tempo, temeu as críticas que poderia receber. No entanto, aos seus 25
anos, encontrou sua verdadeira paixão: ser uma escritora de romances.

Tudo começou quando Renata mergulhou na leitura de livros de


outras autoras no Wattpad. Cada história a fascinava, despertando em sua
mente a pergunta: por que não criar sua própria história? E assim fez.
Escrever tornou—se um combustível para sua inspiração, especialmente
quando recebia comentários positivos e construtivos, que alimentavam
ainda mais sua motivação.

Atualmente, Renata encontra inspiração em músicas e momentos


felizes, que lhe impulsionam a seguir fazendo o que ama. Afinal, a vida está
repleta de histórias incríveis esperando para serem contadas.

Com essa determinação e paixão em seu coração, Renata Gonzaga


estava pronta para escrever e compartilhar suas histórias de romance,
levando os leitores em uma jornada de emoções, paixões intensas e finais
felizes. Era hora de abrir as páginas de seus livros e deixar que sua inspiração
tomasse forma nas palavras, cativando a imaginação de todos aqueles que
embarcassem em suas histórias.
Onde me Encontrar
INSTAGRAM: @renatagonzaga_autora
FACEBOOK: @autorarenatagonzaga
ASSESSORIA: Fênix Assessoria Literária

@grupofenix.assessoria / fenixassessorialiteraria.com

CAPA E BANNERS: @t.l_designer


AVATARES PERSONALIZADOS: @jpdesignereditorial

Você também pode gostar