Você está na página 1de 287

PERIGOSAS

Copyright © 2017 Deby Incour


Copyright © 2017 Editora Angel

Produção Editorial: Editora Angel


Capa e projeto gráfico: Débora Santos

Diagramação Digital: Beka Assis


Revisão: Beka Assis

Todos os direitos reservados.

A violação dos direitos autorais é crime


estabelecido na lei n°. 9.610/98 e punido pelo
artigo 184 do Código Penal.
É proibida a cópia do material contido nesse
exemplar sem o consentimento do autor. Esse livro
é fruto da imaginação do autor e nenhum dos
personagens e acontecimentos citados nele tem
qualquer equivalente na vida real.

NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

Nota da autora
Capíulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Epílogo
Agradecimentos

NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

Nota da autora
Caros leitores, este livro... melhor dizendo,
este conto foi feito com muito amor e carinho.
Torço para que gostem. Fazer uma história que
envolva um lado criminal, mesmo sendo muito
curta, não foi fácil, e foram feitas algumas
pesquisas. Tudo aqui é totalmente ficcional.
Pulei alguns atos da lei para não falar demais e
acabar falando coisas sem sentido. Espero que
gostem.
Com amor, Deby.

NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

Para Liziara Aráujo, uma


grande amiga e inspiração.

NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

Capíulo 1

NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

David Escobar

Meu celular toca. — Merda!


Paro o que estou fazendo. Olho na tela e é
minha mãe. Dona Paula sabe como ligar ou
aparecer quando estou ocupado.
— Oi, mãe!
— David, eu sei que você é delegado, e com
isso trabalha muito. Mas eu sou advogada, seu
irmão também, sua irmã promotora, e seu tio é
Juiz, mas todos, sem exceção sabem dar um
tempo para família! Hoje é aniversário da sua
sobrinha Yasmim, e até agora você não chegou. É
o primeiro aninho dela. Seu irmão e sua cunhada
estão loucos com você! — ela dispara em falar.
— Mãe, em 20 minutos estarei aí. Estou
finalizando um serviço ao qual me dedico muito
há anos. Prometo que chegarei logo. Fale para o
Henrique e para a Ana Louise que eu vou para o
aniversário da Yasmim.
— 20 minutos, ou eu juro que vou nesta
delegacia e faço com que você passe a maior

NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

vergonha da sua vida toda!


— Está bem. Vou finalizar esse serviço que é
muito importante e já vou. Te amo!
— 20 minutos! — ela diz e desliga.
Porra, minha família sabe como apressar um
serviço.
Jogo o celular na cama.
Olho para a bela loira de quatro na minha
frente. Sorrio.
— Temos 10 minutos!
Dou um tapa em sua bunda e ela sorri.
Penetro-a com força e a safada grita ao
mesmo tempo que geme.
Enrolo seu cabelo em minha mão e o puxo.
— Rebola bem gostoso... — Ela faz — Isso!
Em minutos estamos gozando como loucos.
Principalmente ela, que grita alucinadamente.

Entro no meu carro e ligo para Liziara, uma


grande amiga. Nós nos conhecemos a quase dois
anos, quando fui na universidade em que ela
estudava para interroga-la. Ela simplesmente foi

NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

de grande ajuda para resolver o caso da minha


cunhada, Ana Louise, que naquela época foi
acusada de ter assassinado o noivo. Desde então
criamos uma grande amizade, com alguns
benefícios.
— Oi, delegato! — Sorrio.
— Maluquinha, está pronta?
— Estou sim. Vai vir me pegar? Meu carro
está na revisão.
— Vou sim. A Beatriz vai?
— Vai, consegui convencê-la a ir.
— Está bem, em dez minutos estarei aí.
— OK.
Ela desliga.

NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

Liziara Araújo
Quando se tem 22 anos, e não se tem juízo, é
um caso muito sério. E este é meu caso. Eu
confesso que não tenho juízo. Sou muito
impulsiva, faço as coisas, e depois que vou
pensar na loucura que fiz. Há meses larguei o
curso de psicologia em uma renomada
universidade. Meus pais ficaram loucos, não
porque querem um futuro bom para mim, mas
porque se preocupam demais com o que a
sociedade vai dizer, já que são empresários, e
tem amigos que adoram uma fofoca. Desde que
larguei o curso, eles tornaram um inferno minha
vida, e por isso sai de casa. Não aguentava mais
ter que ficar dependendo deles para tudo e
aguentando os surtos que eles davam. Então
arrumei um emprego como barwoman e vim
morar em um apartamento junto a minha
melhor amiga, Beatriz, que é coordenadora da
universidade que eu estudava. E confesso que
estou mais feliz agora do que antes. Quem sabe
daqui um tempo eu decida se é psicologia que eu

NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

realmente quero fazer?


Ter o David como amigo é muito importante
para mim, pois ele me compreende quando
ninguém é capaz disso. Porém, ter a amizade
dele me deixa as vezes em cima do muro em
relação a minha melhor amiga, pois ela se dá
bem com todos da família Escobar, menos com o
tio do David, o Juiz Marcos Escobar; e onde um
está, o outro não vai. Foi um inferno convencê-la
a ir ao primeiro aninho da Yasmim, filha do
irmão mais velho do David, porque ela sabe que
ele vai estar lá. E por isso, muitas vezes tenho
que ficar com ela, porque não posso deixa-la
sozinha e pôr o David sempre em primeiro lugar.
Porém, o pior de tudo é que eu desenvolvi
uma paixão por ele, e isto tem me deixado bem
confusa, ainda mais por ele não querer
relacionamentos sérios. Quer saber apenas de
trabalho e nada mais. Sempre está saindo com
alguma mulher por aí, e isso me deixa puta da
vida, mas me controlo. Temos uma amizade
colorida, ou amizade com benefícios, como ele
gosta de dizer... e foco nisso, porque o amor é
uma roubada das grandes.
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

— Ele chegou, Lizi. Vamos?


— Vamos sim. Me promete que não vai voar
no Marcos?
— Se ele não vier me provocar, já ajuda
bastante.
— Ele não vai, assim eu espero.
— Também espero. Vamos logo. Está
perfeita, pare de ficar se olhando no espelho.
— Está bem, vamos.
Pego a caixa de presente da Yasmim e quase
caio.
— Cuidado, Lizi! Nunca vi pessoa mais
desastrada que você.
— Quanta calunia!
Rimos
Beatriz pega o presente que ela vai dar e
saímos do apartamento.
No lado de fora damos de cara com a Range
Rover Evoque na cor branca, do David. Ele abre a
porta e sorri para mim.
Entro no carro e a Bia também. Dou o
presente para ela deixar no banco traseiro.
Fechamos a porta e coloco o cinto.
Ele me cumprimenta com um beijo na
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

bochecha.
— Oi Bia, dormiu comigo essa noite? — ele
provoca.
— Dormi, e foi uma maravilha! — ela rebate
e eu rio.
— Pare de atormentá-la.
— Sou um anjo.
— Sabemos! — ela e eu dizemos em
uníssono.
Ele da partida no carro.
O celular dele começa a tocar.
— Pega aqui, amor. Deve ser minha mãe
pirando comigo.
Pego o celular no bolso que ele indica
enquanto continua dirigindo. Olho na tela e é a
própria.
— O que eu devo dizer?
— Que está trânsito, e por isso estou
demorando.
— Resumindo: você mentiu dizendo que
estava na delegacia, e na verdade estava perdido
no meio das pernas de uma mulher, acertei?
— Basicamente.
— Bia, fica com essa função... não sou boa
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

com mentiras, nunca dá certo.


— Dispenso a Dona Paula nervosa.
— Muito amiga você hein!
— Você já foi mais nossa amiga, Bia. — David
diz.
Atendo o celular.
— David, eu vou te matar! Onde você está,
menino!
— Oi Paulinha, estamos no trânsito. Está
tudo parado.
— Oi, meu amor. Já pensei que ele estava me
enrolando. Beatriz vem? Estou com saudades
dela.
— Vai sim, está aqui conosco. Logo
chegaremos.
— Está bem. Beijos, minha querida!
— Beijos, gostosa!
Ela ri e desligamos.
— Prontinho.
— E depois diz que não sabe mentir. — Ele
ri.
— Tenho meus momentos.
— Sei.
— Liziara, é impressão minha, ou o cara do
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

carro ao lado está te tarando? — Beatriz diz. —


Odeio homens que agem assim. Vê se pode uma
coisa dessas!
Olho e rio. Não é que o palhaço está mesmo?
— Que ridículo! Odeio homens assim.
— Vamos ver se ele vai gostar disso.
David joga o carro na frente dele, o cortando,
e ele buzina.
— Você é louco? — pergunto.
— Sei o que faço. Não virei delegado à toa.
— Ok, mas não tenho sete vidas não! —
Beatriz diz.
— Nem eu. Não precisava disso.
— Se continuar, faço pior.
— Não está mais aqui quem falou.
— Que bom que nos entendemos. — ele diz e
dá uma piscadela para mim.
Chegamos a casa da Dona Paula, onde ocorre
a festa da Yasmim.
David pega o meu presente, pois me conhece
e sabe que pode ser que não chegue inteiro.
Henrique e Ana Louise, pais da Yasmim,
quiseram algo mais familiar, pois assim evitaria
o holofote dos paparazzi, já que os Escobar são
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

bem conhecidos.
— Até que enfim chegaram! — Daiane, a
irmã mais nova, diz.
— O trânsito estava péssimo. — digo e David
sorri.
— Sei qual é este trânsito. A mim ele não
engana. Sigam para o Jardim dos fundos, mamãe
e Ana estão lá.
Deixamos o presente no sofá e fomos para o
jardim dos fundos enquanto Daiane ficou na
sala.
Dona Paula vem rapidamente nos
cumprimentar, seguida da Ana.
— Achei que não viriam. — Ana diz.
— E perder festinha de criança com muitas
besteiras para comer? Nunca! — brinco.
Sorrimos.
— Beatriz, isso é uma miragem? Não
acredito que veio! — ela diz, e a Bia sorri
timidamente.
— Adoro a Yasmim, faço sacrifícios por ela.
Rimos, pois sabemos ao que ela se refere.
Beatriz e Marcos não se dão bem desde a vez
em que ele foi meio estupido com ela na
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

Universidade, e na festa da mesma.


— Cadê o Henrique e o Marcos?
— Nem me pergunte. Quero matar o
Henrique! — Ana diz.
— O que o pateta número um aprontou?
— Esqueceu de encomendar o bolo. Foi com
o Marcos a procura. — Paula diz sorrindo. —
Esse é o meu filho mais velho, uma
responsabilidade absurda. — rimos.
Daiane aparece com a Yasmim no colo. Está
linda, com maiô rosa de bolinhas pretas. Está
muito calor hoje, e a piscina dela está montada.
— Ai que coisa mais gostosa! — Pego ela no
colo. — Parabéns, minha princesinha, mais
linda... e pesada! — Todos riem.
— Liziara, só tenta não cair. — David
provoca.
— Idiota!
— Quer segurar? — pergunto para Bia.
— Claro! Vontade de morder. Está cada vez
mais linda.
— Só não deixe o Henrique escutar isso,
porque vai ficar dizendo que puxou a ele. — Ana
diz.
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

— Nem pensaria nisso. — Beatriz ri.


— Por falar nele... — Paula fala.
Olhamos para trás, e ele está entrando com o
Marcos.
— Porra, hoje o mundo acaba! Beatriz. —
Henrique diz dramatizado.
Rio.
Ele nos cumprimenta.
— Quero beijo também! — David pede.
— Cuidado, nem sempre o volume em
minhas calças é uma ereção.
Rimos.
— Marcos, quem diria, sem terno! —
provoco.
— Uma hora tenho que tirar a armadura! —
Me cumprimenta.
Olha para Beatriz, que finge nem o notar, e
assim continua brincando com a Yasmim em seu
colo.
Ele se aproxima dela, e dá um beijo em seu
rosto sem dizer nada, e ela muito menos.
Quando ele se afasta, vejo que ela ficou
vermelha.
— Então David, muito serviço hoje? —
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

Marcos pergunta.
— Claro, tio!
— Essa porra não presta nem para mentir.
Passei na delegacia e você estava de folga hoje.
— ele diz, rindo.
— Definitivamente não é meu irmão! Não
sabe nem mentir. — Henrique provoca ainda
mais.
— Seu filho de uma boa mãe! Eu não
acredito que me enganou. E você ajudou, Liziara!
— Paula diz e dá um tapa em seu braço.
— Em minha defesa, fui obrigada! Não foi,
Bia?
— Total! — ela responde com ironia.
— Muito obrigado, pela ajuda! — ele diz
para a gente.
— Lizi, pegue as bebidas lá dentro, por favor.
Preciso ligar para minha mãe, e ver o que ela
quer dessa vez. Nunca vou ter paz, pelo visto. —
Ana diz.
— Claro, mas vou precisar de ajuda se for
muita coisa.
— Vamos, porra louca, eu te ajudo. —
Marcos fala.
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

A mãe da Ana é um pouco complicada.


Sempre liga para infernizar a vida dela e pedir
dinheiro.
Entro na cozinha com o Marcos e pegamos as
bebidas na geladeira.
— Por favor, ela nunca vem quando você
está, então não a provoque!
— Nem pensei nisso.
— Obrigada.
Voltamos para fora e colocamos as bebidas
em cima da mesa.
Passamos uma tarde muito gostosa,
brincando muito com a Yasmim e rindo das
loucuras de todos juntos. Cantamos parabéns, e
ela ficou bem cansadinha; o que já era de se
esperar por ter brincado bastante.
Henrique foi trocá-la para irem embora,
porque ela começou a ficar enjoadinha. Bia e eu
ajudamos a limpar um pouco da bagunça, pois
hoje foi a folga da faxineira, e apesar dela vir
amanhã, não queremos deixar tanta sujeira para
ela.
— Vamos? — David pergunta.
— Vamos sim. — respondo enquanto ajudo
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

Daiane a carregar os presentes da Yasmim para


o carro do Henrique.
— Se quiser levamos a Beatriz, e você e o
David podem ficar sozinhos. Sei que querem
isso. — Ana diz ao aparecer para ajudar.
— Tudo bem, vou ver com ela.
— Já falei com ela.
— Que rápida!
— Aprendeu comigo. — Daiane diz.
— Depois me diz o que achou do meu
presente e da Bia, e se a gatinha gostou.
— Claro! — ela sorri.
Henrique e Ana se despedem da gente, e Bia
também. Logo foram embora.
Marcos foi em seguida. Agradeci muito por
ele e a Bia não terem se matado depois de tanto
tempo sem se verem, mas pude ver os olhares
que um dava para o outro.
Eu me despeço da Paula e da Daiane, e vou
embora com o David.
Fomos para seu apartamento.
Assim que chegamos, me jogo no sofá e
retiro o sapato.
— Estou exausta.
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

— Eu também.
Temos uma regra: Quando um vai para cama
com outra pessoa, nada de sexo entre nós.
— Vai dormir aqui?
— Não sei. Amanhã entro cedo no trabalho.
— Eu te levo.
— OK. Devo ter roupa ainda aqui.
— Tem sim. Vou tomar um banho.
— Pega o controle da TV para mim.
— Folgada!
— Quanta calunia!
Ele ri e me joga o controle.
Depois que ele toma banho, eu faço o
mesmo, e coloco uma camiseta dele, pois as
minhas roupas que estão lá não são nada
confortáveis.
Deitamos na cama. Ele me agarra e deito a
cabeça em seu peito. A TV está ligada, e está
passando um filme.
O celular dele toca e ele atende.
— Oi... Amanhã?... OK... Te aguardo... Beijos...
Ele desliga.
Interrompem o filme para uma alerta.
— Acabamos de recebe a notícia, que Jorge, o
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

traficante que comanda uma pequena cidade no


interior do Estado, fugiu da cadeia. A polícia já
está à procura. Jorge foi preso há cinco anos, e
teria que cumprir pena de 20 anos. Foi preso
quando a polícia invadiu a cidade que ele
comanda, e a polícia acabou matando sua irmã.
Se você vir este homem... — Uma foto dele é
mostrada — Ligue imediatamente para a polícia.
O nível de alerta para sua procura é máximo.
Jorge tem um histórico aterrorizante...
David desliga a TV.
— O que foi? Ficou estranho. Parece
assustado.
— Esse filho da puta! Foi por minha causa
que ele foi preso, e eu matei a irmã dele... uma
grande traficante como ele. Quem deu a ele a
pena de 20 anos de prisão foi meu tio. Esse
desgraçado tem um ódio mortal por mim, e se
ele fugiu é porque chegou o tempo de ele fazer o
que disse dentro do tribunal.
— O que ele disse?
— Que mataria a mim, mas começaria por
aqueles que mais amo. Porra!
Ele esfrega o rosto.
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

— Ei... calma. Vão encontrar ele. Esse cara


não vai fazer nada.
— Assim espero. Você tem que me prometer
que enquanto ele não for pego, você vai tomar
muito cuidado.
— Eu prometo...
Ele me agarra e me beija com intensidade.
Sua língua explora minha boca em uma invasão
profunda e gostosa. Ele se inclina um pouco
sobre mim e segura minha cintura, morde meu
lábio inferior e encerra o beijo com um selinho.
— Preciso encontrar esse filho da puta antes
que ele encontre aqueles que amo.
— Nada vai acontecer.
— Assim espero, minha maluquinha. Assim
espero!

NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

Capítulo 2

NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

Liziara Araújo
David me deixou na boate em que trabalho.
Não consegui dormir nada bem. Ele ficou quase
que a noite toda acordado, levantando e
deitando. Está preocupado; e eu no lugar dele
também ficaria. Ser um Escobar exige muita
segurança, e para piorar, ele é um delegado, o
que complica ainda mais a situação.
Quando começamos a ter uma amizade, ele
sempre me disse que todos que entram para
família, seja da forma que for, passam a correr
riscos; e por isso começou a me treinar, me
ensinar a atirar e lutar. Sou um desastre com
tudo, eu confesso, mas faço porque sei que isso o
deixa tranquilo.
Daniel, o dono da boate, me chama.
— Sim?
— Você está com a cara péssima. Dê um jeito
ou vai espantar nossos clientes. Sair com o
delegado está acabando com você! Passe um
blush e um corretivo!
Sim, ele é gay, e um amor quando quer.

NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

— Não estou assim pelo que você está


pensando.
— Brigou com ele?
— Não. São alguns problemas pessoais dele,
que acabam interferindo na minha vida e no
meu sono de beleza também. Vou passar um
reboco melhor no rosto.
Ele ri.
Vou para o banheiro dos funcionários. Eu me
olho no espelho e contenho um grito. Estou pior
do que os zumbis de The Walking Dead, e só sei
disso porque o David assiste e me faz assistir
algumas vezes, por livre e espontânea pressão.
Prefiro Arrow, e não é só pelos personagens
gostosões... é que não tem zumbi, e eu odeio
zumbis. Meu foco mesmo é livros. Sempre que
tenho um tempinho, corro para ler algum.
Pego meu kit de maquiagem na bolsa. Passo
um corretivo, um pó compacto e blush. É o que
tenho para o momento.
Não sou feia, também não sou uma Gisele
Bündchen. Tenho um corpo magro e bonito. Sou
alta, meus cabelos são escuros e cacheados nas
pontas, e longos. Uso aparelho fixo —
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

recentemente — e odeio. Às vezes uso óculos


porque não está fácil para ninguém. Tenho meus
dias de lutas e glórias com a minha aparência, e
hoje é um dia de muita luta, tipo... uma guerra.
A boate abre mais cedo hoje, porém de dia
fica vazia. Somente quando tem DJ novo na casa,
ou evento, aí sim lota. Funcionamos 24 horas, e
por isso há um revezamento por parte dos
funcionários.
Meu celular toca. Olho e a foto da Lúcia
aparece na tela. — Mamãe.
— Oi, mãe.
— Sua desnaturada, onde está?
— Trabalhando. É, eu vou bem; e a senhora?
— Você nunca diz por onde anda. Sabia que
querendo ou não, tem um pai e uma mãe?
— Sim, e vocês sabiam que tem uma filha? E
não diga que sabem só porque a mídia e seus
amigos lembram que eu existo.
— Como ousa? Nós nos importamos com
você!
— Mamãe, diz logo o que eu tenho que fazer?
— Tem um almoço hoje em casa. Um casal de
amigos de seu pai vem. Você poderia vir com o
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

delegado e prometer se comportar. Eles adoram


se gabar, dizendo que a filha é isso e aquilo...
— Nossa, me lembram alguém... só que não
se gabam pelo dinheiro que tem.
— Liziara!
— Meu nome.
— Você vem ou não?
— Vou, mãe.
— Não esqueça de trazer o delegado.
— Vou ver se ele estará disponível. E você
sabe que ele não é nada mais que amigo, não é?
— Sim eu sei. E também sei que todos os dias
almoçam juntos. Não será problema então. Te
espero. Venha vestida como gente, e não como
uma doida que não sabe a diferença entre uma
Prada e uma Louis Vuitton.
— E eu não sei mesmo. Tudo é caro. Prefiro
as bolsas de brechó, que não tenho medo de ser
roubada; e se estragar não irei chorar até o resto
da vida; ao contrário da Prada, e a Louis alguma
coisa, que eu teria que vender um rim para
comprar uma... Na verdade não venderia,
porque não compraria. Pense no tanto de
comida e livros que eu poderia comprar com o
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

valor de uma bolsa dessas marcas?


— Você foi trocada no berçário, só pode! —
diz com raiva.
Sorrio.
— Beijos, mamãe. Amo você.
— Beijos. Te espero.
Desligo e guardo o celular no bolso da calça.
Deixo minha bolsa no armário e vou para o
balcão.
Ajeito as bebidas por ordem alfabética. Acho
que assim facilita.
— Oi, gata!
— E aí, Joaquim.
Vou me levantar e bato a cabeça.
— Ai, merda!
— Cuidado. Ainda se mata um dia.
— Eu também acho.
Esfrego onde bati.
— Seu delegado estava passando na TV.
Sinto meu corpo gelar na hora.
— Por que? Aconteceu algo?
— Não. Parece que um cara fugiu, e já teve
uma informação que ele estava aqui na cidade, e
aí o caso foi para as mãos dele.
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

— Merda!
— O que foi?
— Um rolo bem grande. E tenho medo de
como isso vai acabar.
— Esse cara é furada. Se meter com um
Escobar é furada. Você mesmo sabe disso desde
que o tal do Henrique se casou com a cliente que
foi acusada de assassinar o noivo.
— Mas foi provado que ela não fez nada. E
tem mais, ambos se amam. Foi amor à primeira
vista. E saiba que eu queria muito um dia ter um
amor como o deles.
— Que seja. Se cuida, os caras vivem no
perigo. Não é brincadeira se envolver com um
delegado. Te conheço desde que entrou na
faculdade, e sei que seu estilo é diferente do
dele... Você não está pronta para enfrentar o que
ele enfrenta. Você foi interrogada por ele e pela
família para resolver o caso da esposa do irmão
dele que eu sei, e colocou eles dentro da festa da
faculdade quando trabalhamos nela...
— Eu não fiz...
— Não minta. Eu sei, te conheço bem.
Sempre quer ajudar, e acho legal isso. Mas desde
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

que firmou uma amizade com o delegado, você


vive mais distraída que antes. As vezes chega
machucada pelos treinos que faz, largou a
faculdade, saiu de casa. Você vive para ele, e é
capaz de se colocar na frente dele por um tiro.
Você precisa saber se quando mais precisar, ele
vai ser capaz de fazer algo grande por você. Um
dia você pode precisar muito dele, e ele estar
ocupado... e aí, será que ele vai largar o que está
fazendo para te ajudar, mesmo que seja uma
coisa boba? Pense bem. Você se sacrifica demais.
E falo isso porque gosto de você.
Ele se afasta, me deixando sozinha.
Eu não me sacrifico tanto. Claro que as vezes
queria que tudo fosse diferente e ele fosse uma
pessoa “normal”, mas eu gosto dele e da vida
dele. Eu aceitei a amizade dele assim, mesmo
depois que descobri estar apaixonada, e não foi
apenas por ele, foi pelo pacote completo.
Joaquim é um cara legal, mas as vezes
consegue ser um irritante, que acha que sabe
tudo. E pelo visto, hoje ele está insuportável.
Terei que aguentar, já que é nossa vez de
trabalhar de dia.
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

A boate abre.
Joaquim não tocou mais no assunto, e
agradeci por isso.

NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

David Escobar
Estou parecendo louco desde que soube que
o filho da puta do Jorge fugiu. Não dormi de
noite. Estou uma pilha de nervos. E para ajudar,
fui informado que receberam uma ligação que
ele foi visto aqui na cidade. Dobrei a segurança
da minha mãe e minha irmã. Já falei com o
Henrique e meu tio Marcos para dobrarem a
segurança deles. Mandei seguranças disfarçados
para ficarem de olho na boate que a Liziara
trabalha, e na faculdade da Beatriz. Ela não
convive muito conosco, mas é muito amiga da
Liziara, e quanto mais segurança, melhor.
Cleber, grande policial e amigo, entra na
minha sala.
— Está péssimo.
— E como! Alguma novidade sobre o Jorge?
— Nada. O cara parece fantasma, some e
aparece.
— Precisamos encontrá-lo antes que ele
tente algo.
— Faremos o necessário.

NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

— Nenhuma notícia da Poliana?


— Parece que já chegou e está vindo para cá.
— Certo.
— Vou com os homens rodar na cidade, e ver
se encontramos algo sobre o paradeiro do Jorge.
— Certo. Vou continuar investigando daqui e
cuidando dos outros casos.
— Vê se relaxa. Chama a doidinha, ela te
anima. — provoca.
— Nem poderei ver ela hoje, e nem sei
quando vou ter tempo. Com o Jorge à solta, a
Poliana chegando para trabalhar aqui, e eu
tendo que ajudar ela nos treinos, vai me deixar
sem tempo.
— Poliana era uma amiga de faculdade sua,
não é? Lembro que você disse algo sobre.
— Sim. Amiga antiga.
— Isso não vai ser bom.
— O que quer dizer? — Eu me ajeito na
cadeira.
— Essa história de amiga antiga não dá
certo. Sou casado e sei o que digo, vai por mim.
— Eu e a Liziara somo apenas amigos, nada
demais. Não tem porque isso ser um problema.
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

— Vocês têm uma amizade e um


relacionamento aberto. Mas você é muito idiota
se ainda não notou que ela sente muito mais que
amizade por você. Com a Poliana na área, vai dar
B.O.
— Eu não posso ter relacionamento sério
com ninguém e a Liziara sabe disso. Minha
carreira e meu tempo me privam disso, e estou
bem desta forma. E você está enganado... ela
apenas tem um carinho por mim, assim como eu
tenho por ela. A Poliana é uma amiga antiga e
nada mais. E repito, minha carreira me priva
disso. É perigoso demais. Você soube o que
aconteceu com meu pai, e eu não suportaria
perder mais ninguém.
— Se o delegado diz, quem sou eu para
discordar? Só não diga depois que eu não avisei.
— Que foi? Além de policial é conselheiro
amoroso? Porra, deveria ter dito antes, que eu te
colocaria para arrumar uma mulher para meu
tio. Aquele cara é muito amargo.
Rimos.
— Estou fora do caminho do juiz.
— Bunda mole.
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

— Você me ama, fala sério!


— Muito, delicia.
— Vai se foder.
— Posso te prender por desacato.
— Só se você se prender comigo. — Ele dá
uma piscadela.
— Vá à merda!
Ele ri.
— Meu negócio é outra fruta. Então pode
esquecer.
Sai rindo da sala.

NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

Liziara Araújo
Já está quase na hora do almoço. Minha mãe
vai me matar, mas vou chegar atrasada.
Ligo para o David, que depois de uma
eternidade, atende.
— Hoje o almoço será nível família Araújo.
— digo e escuto sua risada.
— Bem que eu queria aguentar as loucuras
dos seus pais e provocá-los, mas não poderei
almoçar com você hoje.
— Mentira. Não me deixe sozinha! Um casal
de amigos dos meus pais vão estar lá, e minha
mãe me ligou enchendo o saco. Sabe que nunca
dá certo almoçar com eles porque sempre
brigamos. Você tem que ir junto, é um caso de
vida ou morte.
— Eu sinto muito, mas não poderei. Hoje
chega uma nova policial e ela vai precisar de
mim. E tenho muita coisa para fazer.
— OK. Sem problemas. Nos vemos a noite?
— Não sei, mas é provável que não. O dia
será cheio hoje. Na verdade, parece que a

NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

semana vai ser cheia. Desculpe.


— Tudo bem. Até qualquer dia, então.
— Não fica brava, está bem? É que está
complicado hoje.
— Não estou. Bom, tenho que me apressar.
Tchau.
— Beijos. E boa sorte.
— Valeu.
Desligo.
Fiquei chateada, mas ele tem
responsabilidades. Porém a merda que o
Joaquim disse me veio a memória. Que inferno!
Ele nem sequer disse que o tal do Jorge está na
cidade, e se o Joaquim não dissesse, eu ficaria
até agora sem saber; o que é estranho já que
ontem o David pareceu muito preocupado, falou
o que aconteceu, mas hoje nem comentou nada,
e ele sempre me conta tudo, ainda mais quando
envolve minha segurança. Temos um pacto forte
em nossa amizade: Jamais esconder nada um do
outro, mesmo que pense que esconder protegeria
de algo.
Mas não farei tempestade em um copo
d’água.
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

Pego minha bolsa e peço um taxi. Vou para


meu apartamento, e de lá para a casa dos meus
pais. Meu chefe liberou a mim e o Joaquim para
ficar em casa depois do almoço. O movimento
está fraco demais, e hoje a noite é minha folga
Chego em casa e tomo um banho rápido. Eu
me arrumo rapidamente e peço outro taxi para a
casa dos meus pais, pois só pegarei meu carro
amanhã.

Encontro todos na sala. Minha mãe me olha


com alivio, mas a procura de alguém, e este
alguém é David.
— Perdoem meu atraso.
— Sem problemas. — minha mãe falsamente
diz.
Cumprimento os convidados, e em seguida
fomos almoçar.
Como já era de imaginar, minha mãe está
tentando ser sempre melhor em tudo e fingindo
ser boa mãe. O casal, Pamela e Junior, e meus

NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

pais juntos... não sei distinguir quem é o pior.


Um mais esnobe que o outro. Chego a me sentir
mal perto deles.
— Sua mãe me disse que está saindo com o
delegado David Escobar. — Pamela fala.
— Somos apenas amigos.
— Por mim seriam mais que isso. — minha
mãe rebate.
— Eles só não estão juntos porque ainda
estou analisando se isso seria a melhor coisa. —
meu pai fala. Mentiroso.
— Minha filha está noiva de um empresário
no ramo da tecnologia. O rapaz é um gênio e
muito bem de vida. Marcarei um dia para que o
conheça, Leandro. — Junior diz ao meu pai.
Afasto minha comida. Está me dando nojo
toda essa palhaçada. Eu deveria imaginar que
seria assim, sempre é.
— Soube que largou a faculdade... isso é
loucura. Minha filha está prestes a se formar. —
Pamela me diz.
— Que bom. — digo e meu pai me olha de
lado.
— Nossa filha apenas trancou a faculdade,
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

pois vai para uma melhor. — minha mãe


provoca.
— Sei. — Junior diz e toma um gole do
champanhe.
— Achei que teria a oportunidade de
conhecer o David. Sua mãe me falou tanto sobre
ele, mas...
— Ele é um homem ocupado, e eu também.
Eu sinto muito, mas preciso ir.
Todos me olham.
— Liziara... — meu pai diz.
Levanto e saio.
Pego minha bolsa na sala.
Minha mãe segura meu braço me
assustando.
— O que pensa que está fazendo?
— Indo embora. Me solte, por favor. — Ela o
faz.
— Você nos envergonhou!
— Eu? Poupe-me! Vocês pediram para eu vir,
apenas para ficarem se gabando e criando uma
Liziara que não existe para seus amigos, como
sempre fazem. Vocês têm vergonha da própria
filha, e não cansam de deixar isso claro quando
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

ficam mentindo para os outros, e me fazendo


uma moça perfeita. Eu não sei porque perco meu
tempo.
— Você é uma vergonha para nós! Não
presta para fazer nada do que pedimos! Cadê o
David?
— Trabalhando, coisa que você não tem
ideia do que seja, já que nunca precisou
trabalhar na vida.
Ela me acerta um tapa na cara, que minha
cabeça chega a virar.
Meu sangue ferve. Estou tremendo de raiva.
Seguro as lagrimas.
— Um dia você vai se arrepender por este
tapa, e tomara que não seja tarde.
Passo por ela e saio.

Chego no meu apartamento, e só então me


permito chorar.
Desde de pequena ela sempre inventou uma
Liziara perfeita para os outros, e nunca disse

NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

quem eu era de verdade. Meu pai e minha mãe


nunca aceitaram que eu fosse desastrada, doida,
brincalhona, e que não me importasse com
dinheiro, fama ou poder. Eles não aceitam que
eu sou o oposto deles. Já me humilharam tantas
vezes. Quando pequena estudei em um colégio
interno porque eles não queriam me ver. Tinha
finais de semana que nem iam me buscar, só
faziam quando tinham eventos, ou festas em
casa e queriam fazer a família perfeita.
Ela nunca me bateu, e por causa de um
almoço idiota e fútil, ela o fez.
Envio uma mensagem para a Beatriz, para
saber se ela vem almoçar em casa, mas ela diz
que vai trabalhar até tarde.
Eu não quero ficar sozinha, só quero me
distrair, depois de tudo.
Ligo para o escritório da dona Paula e dizem
que hoje ela está de folga.
Vou fazer uma surpresa para ela, que sempre
pede para passarmos um dia juntas. Me distrair
vai ser bom.
Chego na casa dela, e como sou conhecida,
me liberam sem questionar.
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

— Luciano, Henrique te mandou embora? —


brinco com o segurança.
Ele sorri.
— Não, senhorita. Ele foi viajar com a família
e levou outros seguranças, e pediu para eu ficar
no controle daqui.
— Que bom que foram viajar!
— Sim. O patrão e a patroa trabalham muito.
— E como. Bom, dona Paula está?
— Está sim... e...
— Valeu. Quietinho, vou fazer surpresa.
Ele me olha estranho e não entendo.
Não tem ninguém na sala e nem na cozinha.
No segundo andar também não.
Desço e faço o caminho para ir até o jardim
dos fundos.
— Acho que o Luciano precisa de um exame
de vistas ou memória. Ou dona Paula saiu e ele
não viu, ou ele esqueceu que ela saiu.
A porta de vidro fume está um pouco aberta.
Olho no vão dela, e não acredito no que vejo.
David, Paula e uma loira bem bonita
conversam e riem enquanto almoçam juntos.
Eu me assusto com a Marcela, a faxineira da
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

família. Ela vai dizer algo, mas faço um sinal para


que fique calada. Afasto-me da porta e ela entra.
— Não diga que eu estive aqui.
— Mas, meu anjo...
— Não. Não quero atrapalhar. Era bobagem
o motivo da minha vinda. Vou indo.
— Não vai querer nem um pedaço da
lasanha que a dona Jurema fez? É a sua favorita.
Sorrio.
— Obrigada, mas fica para uma próxima.
Dou um beijo nela e saio.
Encontro Luciano na saída, e agora entendo
o olhar dele. Talvez fosse isso que ele ia dizer
quando o interrompi. Eu me despeço dele, ele
pergunta se quero que algum dos seguranças me
leve, mas recuso.
Se o David não queria almoçar comigo, não
precisava mentir. Era só dizer que tinha que
almoçar com outra pessoa e a mãe dele. Hoje
não é meu dia.
Vou embora, mais magoada e com mais raiva
do que eu vim.

NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

Capítulo 3

NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

David Escobar
Levei Poliana para almoçar em casa. Não
porque eu realmente queria, mas porque minha
mãe soube da vinda dela e me intimou a isto. Ela
e eu éramos muitos apegamos na faculdade, e
com isso sempre estávamos juntos. Minha mãe
criava uma expectativa com a gente, porém
mesmo que naquela época eu quisesse algo, não
rolaria. Poliana parecia cortar para o outro lado.
Enfim, eu deveria estar trabalhando com ela
e buscado pelo Jorge ao invés de estar
almoçando.
Minha mãe está animada com ela, e a
conversa flui. Dou risada algumas vezes para
não deixar elas constrangidas por acharem que
estou dando atenção a tudo, quando não estou.
— Que bom que retornou. Eu sabia que não
se adaptaria a tanto tempo no interior. Você é
agitada demais. — minha mãe diz e ela sorri. —
Poliana Gonçalves, é uma moça de adrenalina.
Igual aos meus filhos, que não tem amor a vida e
a mim.

NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

Sorrio.
— Viver no interior é muito bom, mas
apenas para descanso. Eu realmente gosto de
agitação. Me enviarem para cá foi a melhor
coisa, e não evitei. Quando soube que era para
trabalhar na equipe do David, vim rapidamente.
— Ela sorri para mim, e retribuo para não deixá-
la sem jeito.
Vejo a Marcela disfarçadamente me
chamando.
— Já venho. — digo a elas e me retiro.
Entro em casa.
Marcela está com uma cara estranha.
— O que houve, mulher? Parece que alguém
morreu.
— Senhor...
— David! Ainda não aprendeu?
— David, a senhorita Liziara veio aqui. Ela
pediu para eu não dizer nada, mas ela saiu tão
triste... o Luciano disse que ela chegou estranha
e foi embora pior, e nem aceitou carona dos
seguranças. Estou preocupada. Ela viu vocês lá
fora. Eu a encontrei... coitadinha, estava mal. Um
lado de seu rosto estava bem marcado, e os
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

olhos de quem chorou. Nem aceitou lasanha.


— Porra!
— Menino, olha a boca!
— Ela disse para onde iria?
— Não.
— Obrigado por avisar.
Retorno para o jardim.
— Poliana, vamos? Tenho um compromisso.
— Claro!
Ela se levanta junto a minha mãe.
— Vem jantar conosco. Assim matamos mais
a saudade. — minha mãe diz, abraçando-a.
— Venho sim. Quero ver todos.
— Henrique viajou com a esposa e a filha,
mas Daiane e Marcos virão, pode ter certeza.
Hoje aqueles dois não me enrolam. Daiane só
trabalha, e Marcos é um caso a ser estudado pela
NASA.
— Normal isso nos Escobar. — Poliana diz
sorrindo.
Dou um beijo na minha mãe.

NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

Deixo a Poliana na delegacia.


— Não vai ficar?
— Tenho algo importante.
— Jorge?
— Mais importante que isso.
Ela me olha sem entender e desce do carro.
— Até daqui a pouco, então. — ela diz.
Concordo e ela fecha a porta.

NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

Liziara Araújo
Estou deitada na sala, lendo um livro, mas
não estou prestando muita atenção. Prova disso
é que já li o mesmo parágrafo cinco vezes.
Olho meu celular toda hora, e não tem uma
alma boa me ligando.
A campainha toca, e só pode ser alguém com
autorização para subir.
— Não tem ninguém!
— Esse ninguém poderia abrir a porta? —
David! Merda.
Levanto e abro a porta.
Ele me olha e sorri.
— Posso?
— Entra. — digo secamente.
Ele entra e eu fecho a porta. Sento no sofá e
coloco as pernas em cima dele.
Ele se senta ao meu lado e puxa minhas
pernas para seu colo.
— Não estaria ocupado? — pergunto.
— Sim. Mas fiquei sabendo que alguém me
viu hoje e nem foi me dar um beijo. Talvez um

NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

“oi”, pelo menos.


— Eu fui ver sua mãe, mas estavam
ocupados. Seria chato atrapalhar.
— Por que não ficou com a gente?
— Porra, sério essa pergunta? Você mentiu
para mim. Disse que estaria ocupado, e eu,
idiota, acreditei. Então fui ver sua mãe e te
encontro lá com uma mulher. Nós tínhamos um
pacto de nunca mentir. Se ia sair com outra, era
só dizer, caramba!
— Eu não ia sair com ela. Poliana é a nova
policial, foi transferida para cá. Somos amigos da
época de faculdade, e minha mãe soube que ela
estava aqui e pediu para eu levar ela lá para
almoçar.
— E eu sou idiota? Porra, você simplesmente
estava lá rindo e se divertindo. Nem sequer me
disse que o tal do Jorge está na cidade... eu fiquei
sabendo por terceiros.
— Eu não disse para não te assustar, mas eu
ia dizer.
— Mas não disse, e teve oportunidade
quando te liguei.
— Me desculpa, mas não tem motivos para
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

você ficar assim.


— Eu... só não estou bem.
Ele vira meu rosto e toca onde minha mãe
me bateu. Ainda dói um pouco.
— Quem fez isso?
— Isso o que? — me faço de desentendida.
— Você sabe.
— O almoço em casa não acabou bem.
— Quem fez isso?!
— Depois do ridículo "circo" que me
convidaram a participar, eu disse algo que
minha mãe não gostou e me bateu. Simples. —
rio nervosa.
Ele acaricia meu rosto.
— Eu deveria ter ido com você. — Ele fica
nervoso. — Que porra ela tem na cabeça?
— Já foi. Agora pode voltar para os seus
compromissos.
Ele sorri.
— Está com ciúme?
— Tanto faz. Vai embora, quero ficar
sozinha. Meu dia não está bom, então não piore.
— Você odeia ficar sozinha, meu amor.
— Não me chame de meu amor. Estou puta
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

da vida com você, seu idiota!


— Eu sei, e você tem razão. Me desculpa, eu
devia ter falado sobre o Jorge e que a policial era
uma amiga de faculdade.
— Sim, ainda bem que sabe!
Afasta minhas pernas e se coloca no meio
delas.
— O que pensa que está fazendo? — Quase
berro.
— Me beija.
— Não. Acha que isso resolve o que fe...
Ele invade minha boca. Sua língua entra com
voracidade. Suas mãos vão para cada lado do
meu rosto. Ele se esfrega, e sinto sua ereção em
minha intimidade. Solto um gemido
involuntário.
Crio forças não sei de onde e o empurro. Ele
não insiste e aceita o que fiz.
— Eu tenho que voltar para a delegacia.
— É melhor. Eu iria me sentir uma idiota que
deixa o sexo ser a resolução do problema.
— Você não é idiota. Me perdoa. Não fique
com raiva... Eu sinto muito pelo o que aconteceu
na sua casa.
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

— Minha maior raiva foi isso, e acabou


acumulando com minha chateação com você.
Ele me dá um selinho.
— Vai ser corrido, minha vida, mais do que
já é. Preciso encontrar o Jorge, e ajudar a treinar
mais a Poliana, porque ela ainda é nova nisso. O
delegado da cidade que ela estava me pediu esse
favor, e não pude negar, pois quando mais
precisei ele me deu forças para chegar onde
estou. Então não terei muito tempo. Tentarei ver
você, mas não garanto que será frequente.
— Sem problemas. Estarei ocupada também.
— minto.
— Com o que? — pergunta sorrindo. Merda,
tenho que mentir melhor.
— Horas extras na boate.
— Tome cuidado por lá.
Concordo.
— Tenho que ir, já fiquei tempo demais na
rua. — Ele se levanta.
— Qualquer coisa me ligue.
— Sei me virar. — ele respira fundo.
Levanto e abro a porta.
Ele para na minha frente e me dá um beijo
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

no rosto.
— Se cuida, minha maluquinha.
— Está falando com uma pessoa que
aprendeu a atirar, então não tente me comprar
com carinho.
— Esse é meu medo. A maioria das pessoas
que morrem afogadas é porque sabiam nadar.
— Relaxa, não sei nadar.
— Você entendeu o que eu disse. — Sorrio.
Ele sai.
— David? — Ele me olha — Não me esconda
mais nada, por favor.
— Pode deixar. — Ele dá uma piscadela.
Fecho a porta e me jogo no sofá.
Polivaca chega depois de não sei quanto
tempo e vem querer tirar meu tempo com o meu
delegato. Estava demorando para eu dançar
nessa merda. Eu preciso me desapaixonar do
David com urgência, antes que pire de vez!
— Vou tomar um banho, porque aquele
idiota me deixou molhada. Que broxe com todas
as mulheres! — Merda, falando sozinha de novo.
Tomo um banho e coloco um vestido.
Pego bolacha e vou para o sofá tentar
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

terminar minha leitura.


Depois de horas, termino de ler e fico
encantada, sonhando com uma vida igual à da
personagem. A autora me deixou querendo um
Ian Clarke do livro “Perdida”.
Levanto e pego o pacote vazio de bolacha
para jogar no lixo. Estou entediada.
Escuto barulho na porta e sei quem é.
Beatriz entra já tirando os saltos e se
jogando junto a bolsa no sofá.
— Eu ainda mato aquele reitor. O cara não
sai do meu pé! Estou me sentindo incomodada.
— Eu não confio naquele velho. Toma
cuidado, Bia.
— Tomarei. Mas me diga, por que perguntou
se eu viria para casa? Não almoçou com o
David?
— Não, meu dia foi um inferno.
— O que houve?
— Joaquim falou coisas que me deixaram
pensativa. Almoço com meus pais, e foi daquele
jeito que você sabe bem. Minha mãe me acertou
um tapa na cara. David me escondeu que a nova
policial que chegou era uma amiga de faculdade.
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

Encontrei a tal na casa da mãe dele, e os três


almoçando juntos, sendo que ele disse que não
poderia almoçar comigo, porque estaria muito
ocupado... É, acordei com o pé esquerdo.
— Uau! Liziara, seus pais são terríveis. E sua
mãe agora deu para te bater? Por isso esse lado
do rosto meio avermelhado e inchado. — Ela
aponta.
— Ser muito branca faz isso, deixa marca
infinita. — sorrio.
— Ela deixou uma marca infinita dentro de
você. Que ódio. Deveria ter me dito, e eu tinha
dado uma desculpa e vindo para cá.
— Relaxa, já passou. — ela concorda.
— Quer dizer que chegou uma policial nova
que é amiga antiga dele?
— Sim. Nem a conheci e já estou odiando.
— Segue um conselho da solteirona aqui:
Você está apaixonada por ele, e para virar amor
é rapidinho. Se não quiser perder seu delegado,
fica de olho. Amigas antigas raramente são boas
coisas. Quando o passado retorna, quase sempre
vem trazendo um furacão.
— Aí, Bia! Minha paixão pelo o David vai
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

acabar. Paixão é passageira. Eu vou me


desapaixonar, já decidi.
— Cuidado para não cansar. Afinal vai ser
difícil, com o sexo, carinho, e o grude da parte de
ambos.
— Nossa, hoje está para me desanimar! —
brinco.
— Estou sendo sincera.
Ela solta o cabelo que estava preso em um
coque.
— Parece estressada. Foi só o reitor ou
aconteceu algo? Aquele velho tentou abusar de
você? Eu castro ele.
— Não! Ficou louca?! Ele não tentou nada.
— Então?
— Aquele juiz, filho da puta! Que ódio!
— Encontrou com ele?! — pergunto
animada.
— Ele foi palestrante hoje na universidade.
— Mentira! Que babado. E ai?
— E ai, que quando terminou, uns
professores, funcionários e o reitor chamaram
ele para tomar um café, e eu tive que ir. Seria
fácil, já que eu não precisaria dar atenção a ele.
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

Mas aquele tarado, sempre que ia falar com


alguém, fazia questão de passar se esfregando
em mim. Ainda fingiu que não me conhecia
quando o reitor veio nos apresentar. Que ódio. E
eu não podia fazer nada. Para todo lado que eu
ia, aquele imbecil ia atrás... Arg!
Ela está bem irritada.
— Marcos é terrível. Que cara de pau! Mas
ele é bem gostoso... vai dizer que não gostou das
esfregadas dele?
Ela atira a bolsa em mim e eu desvio.
— Deixa de ser besta! Claro que não gostei.
Eu juro que da próxima vez que ele aprontar
algo assim, eu enforco ele.
— Cuidado, ele é um Juiz. Faça o crime bem
feito, ou ele vai te pegar bem de jeito. — rio.
— Vai à merda! Não sei porque perco meu
tempo com você.
Ela se levanta e pega o sapato e a bolsa. Vai
para o quarto dela. Fico rindo. Esses dois são
complicados.
O interfone toca. Atendo e dizem que é uma
encomenda que deixaram na portaria e pediram
para me entregar.
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

Desço até a portaria e pego a caixa, um


pouco pesada.
Subo com a caixa. Entro na sala e me sento
no sofá. Bia está na cozinha.
Abro a caixa e sorrio.
— Delegado mandando presentes, acertei?
Sorrio para a Bia, que está com um pão na
mão.
Ela vem para perto ver o que é.
— Esse é realmente sobrinho do
Juiz! Apronta e tenta agradar.
Rio.
Retiro da caixa um conjunto de lingerie
vermelha. Fico vermelha. Tem um livro, o último
da série Bridgerton, da Julia Quinn. Ele sabe que
amo livros, e faltava apenas o último para
completar a série. Há também uma caixa de
bombons, dos meus preferidos.
— Que fofo, manda lingerie junto com
bombom e livro para amenizar a safadeza. É tipo
mandar uma foto nua e postar nas redes sociais
que é santa. — Bia diz, rindo.
Meu celular toca e é uma mensagem dele:

NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

Para te animar depois do dia difícil que teve. E fui eu


mesmo que fui comprar, antes que pense que mandei
alguém. Essa lingerie e para usar apenas comigo, ou
arranco o pau de quem estiver com você quando usar ela.
Obs: Espero que goste. Não mandei flores porque não
curto muito, me lembra velório.
Beijos, minha maluquinha.

— Filho da puta! Que ódio. Faz merda e vem


me agradar... e pior que pegou pesado, justo meu
bombom e autora favorita?
— Preciso de um homem assim. Só
aparecem encrencas na minha vida.
— Não arranja porque não quer...
— Porque não encontrei o homem certo.
Homem para mim tem que ser com H
maiúsculo.
— Conheço um!
— Se disser o nome daquele idiota, eu me
jogo dessa sacada!
— Não digo nada.
Respondo a mensagem:

Amei tudo.
Mas deveria saber que suborno é crime.
Vou pensar no seu caso sobre a lingerie. Estou
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

precisando relaxar hoje e pensei em sair. Ela pode ser útil,


se é que me entende. Obrigada pelo belo presente.
Beijo, delegato.

Ele responde:

Não me provoque sua atentada!!


(Conseguiu me irritar)

Sorrio e não respondo.


Levo as coisas para o meu quarto.
Meu celular toca e é uma mensagem do meu
chefe pedindo para eu trabalhar hoje à noite,
pois uma das meninas está doente.
Pelo visto eu realmente acordei com o pé
esquerdo.

NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

Capítulo 4

NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

David Escobar
Estou na sala de treinamento. Depois que me
despedi de Liziara, comprei os presentes para
ela e vim para delegacia.
Poliana está treinando tiros, e estou
observando. Ela tem equilíbrio quando atira,
mas tem alguns pontos muito negativos que
podem prejudicá-la.
— Abra um pouco mais as pernas. — digo a
ela e ela o faz.
— Assim?
— Isso. Outra coisa, você tem que ver qual
olho te faz ter a melhor mira. Está acertando
quando atira, mas depois de várias tentativas.
— É porque você está me deixando nervosa.
Nunca treinei com um delegado! — sorrio.
— Esquece que sou delegado. Sou apenas o
David aqui.
— Ok.
— Tenta de novo.
Ela respira fundo e tenta novamente, mas
erra.

NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

— Jamais atire para matar de primeira. O


alvo vai esperar por isso.
Pego a arma e atiro mirando no braço.
— E se ele continuar sendo um perigo, ou
não mostrar que vai parar, atire na perna. —
atiro no alvo, na perna direita. — Ele vai pensar
que você atirou nestes lugares porque falhou.
Provavelmente vai zombar, e então você atire
em algo muito próximo a sua cabeça, como a
parede por exemplo. — Atiro, e a bala passa
raspando na lateral esquerda da cabeça do alvo.
— E se não parar e não tiver outra solução, aí
sim atira para matar. — Atiro no peito do alvo.
Olho para ela, que está boquiaberta.
— Uau. Tipo, uau mesmo. Eu deveria ter
treinado com você quando iniciei.
— Não é minha função, apenas estou te
ajudando. Você teve um bom professor, só está
um pouco nervosa.
— Pode ser. Estou um pouco cansada. Vamos
parar por agora.
— Vamos sim. Eu vou ver se meus homens já
têm alguma coisa.
— Certo. Vou beber água.
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

Saio da sala de treinamento e vou para a


minha. Paulo, o escrivão, está nela, se
arrumando para ir.
— Já vai?
— Tenho uma vida fora daqui. Deveria fazer
o mesmo. Passou quase o dia todo treinando a
nova policial.
— Tenho muita coisa ainda.
— Descanse, não vai conseguir procurar nem
um elefante se estiver cansado.
— Seguirei seu conselho, só não hoje. — ele
sorri.
— Não tem jeito mesmo! Qualquer coisa, me
ligue.
— Pode deixar.
Ele sai da sala.
Sento-me na minha cadeira.
Pego as papeladas sobre o Jorge e começo a
reler tudo. Preciso de alguma pista do paradeiro
dele.
Alguém bate à porta.
— Entre. — continuo lendo.
— Cheguei para alegrar seu dia! — Largo o
papel e sorrio.
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

— Débora! O que faz por aqui? — ela sorri.


— Meu marido não vai para casa, eu tenho
que vir atrás dele. — Olho para a bela moça, alta,
com lindas curvas, loira, e de óculos. — OK...
Vim a mando do seu tio.
— O que ele quer?
Débora é esposa do policial, e meu amigo,
Cleber. Trabalha para o meu tio.
— Mandou trazer esses papeis aqui. — Ela
retira da bolsa e me entrega. — É sobre o idiota
do seu melhor amigo. — Franzo o cenho — É
lerdo mesmo! É sobre o Jorge. Não entende
ironia não? Eu hein!
— Você não muda mesmo!
— Me amo assim. — sorri.
A porta se abre e é o Cleber.
— Eu não fiz nada! — ele diz quando vê ela,
e isso me faz rir.
— Está se entregando, meu amor? — Ela
ergue a sobrancelha esquerda e cruza os braços.
— Claro que não. O que faz aqui? — ele
pergunta.
— Dar uns pegas no delegado é que não é.
Vim trazer uns papeis, mas já vou indo. O
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

Marcos está acabando comigo hoje. Aquele


homem precisa de uma mulher para tirar o
estresse dele. Não aguento mais ouvir meu nome
na boca dele.
Rimos.
— Podem rir mesmo... queria ver se
estivessem no meu lugar. Bom, vou indo, mas
antes preciso comer algo, nem almocei hoje...
OK, não me olhem assim, eu almocei, mas estou
com fome. Estou estressada e fico com fome. Fui,
amores!
Ela contorna a mesa e me dá um beijo no
rosto. Para na frente do Cleber e dá um beijo
nele.
— Estou aqui, pessoal!
— Estou sabendo! — ela diz.
— Eu devia ter continuado sendo policial!
— Não está com alguém porque não quer.
Cadê a desastre? — Olho para ela sem entender
— A porra louca, como diz o Marcos. Está lerdo
mesmo!
— Está na casa dela. E eu e ela não temos
nada além de uma amizade.
— Eu tive essa amizade, e resultou em três
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

anos de casamento, até agora.


— Deus me livre! Como aguentou ela,
Cleber? — provoco, e ele se segura para não rir.
— Está pedindo para morrer, essa porra! Fui,
não aguento muito tempo ficar com um Escobar.
Já bato meu recorde com o Marcos.
Um celular começa a tocar, e é o dela. Ela
atende.
— Já estou indo, homem! Estou saindo da
delegacia... Vim de taxi, bati o carro... estou sem
por uns dias, esqueceu? Vou pegar um taxi agora
e já vou... Reclama não! Está achando ruim, me
dê uma carona! Acho bom. Até daqui a pouco.
Ela desliga. Estou rindo como um idiota.
— Como vocês dois sobrevivem um com o
outro? — pergunto.
— Conheço ele há 8 anos, sei como lidar com
a fera. Nossa amizade é tapas e murros, mas a
gente sobrevive. Fui! — Ela joga beijo e se retira.
Cleber me olha e sorri. Ele se senta.
— Por sorte ela não viu a Poliana. Quando
soube que tinha policial nova, e viu quem era,
surtou. Disse que se eu relar nela, ou ela me
olhar, corta minhas bolas fora. Estou fodido!
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

— Estamos. Débora e Liziara podem dar as


mãos! Estão morrendo de ciúme. Poliana não é
nada mais que uma amiga para mim e colega de
trabalho para você.
— Para mim realmente é uma colega de
trabalho, já para você...
— Não seja idiota! Vamos, o que tem de
novidade?
— Nada. O cara está como um fantasma.
— Fantasmas não existem, mas ele sim.
Temos que encontrar o filho da puta.
— Está certo. A única pista que temos é que
ele foi visto próximo a rodoviária, mais nada.
— Esse pouco pode ser um muito. Ele deve
estar muito próximo, mais do que imaginamos.
— Mas sua preocupação não é apenas essa. O
que está acontecendo além disso?
— Liziara. Eu e ela somos sempre vistos
juntos. Ela trabalha em um lugar que tem muito
movimento. E se for ela a primeira que ele for
atrás? Ela é toda doida e desligada.
— Quer que eu peça para os seus seguranças
reforçarem a equipe?
— Na verdade quero que envie amanhã
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

policiais à paisana, atrás dela. Hoje ela não vai


trabalhar mais, era apenas para ela trabalhar de
dia.
— Pode deixar. Mas ela sabe se virar. É
doida, mas nem tanto.
— Espero que sim.
— Outra coisa... Você confia mesmo que essa
Poliana é apenas amizade?
— Claro. Acredito até que ela goste de
mulher.
— Não acho. O jeito que ela te olha... Tome
cuidado, David, ou vai ficar bem encrencado.
— Porra, entenda, a Liziara e eu não temos
nada. É sexo, amizade e nada mais. Não vejo
motivos para você ficar insistindo nesses
assuntos.
— Quando vai admitir?
— O que?
— Que o que sente pela Liziara é muito mais
que um carinho de amigos. Pare de mentir para
si mesmo. Você fica louco quando ela sai sem
você, quando não dá notícias... Ela ama você
também, e não é um amor de amiga. Uma hora
ela pode cansar. Ela é humana, e não vai
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

aguentar esconder o que sente por muito tempo,


ou aguentar você saindo com outras ou com essa
Poliana na área... E o pior que somente você não
vê que ela te ama. — Ele se levanta. — Pense
bem.
Ele sai da sala.
Porra, não aguento mais ninguém insistindo
nesse assunto. Eu não sou idiota, sei que o que
ela sente por mim é muito mais que amizade,
mas eu não posso dar nada a ela além do que já
dou. Já a coloco em risco não tendo um
relacionamento sério, e não quero coloca-la no
precipício, tendo algo com ela. E na verdade,
nem sei o que realmente sinto por ela, não posso
fazê-la sofrer, mais do que já faço as vezes.
Meu celular vibra. É uma mensagem da
Liziara.

Estou a caminho do trabalho. Vou ter que ficar no


lugar de uma menina hoje. Me busca amanhã de manhã?
Pegarei meu carro só amanhã.

Caralho, não acredito. Pior que o Cleber já


foi, deve ter ido para a rua. E quando aquele

NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

louco sai para a rua, não atende celular. Preciso


que ele mande policiais à paisana para a boate.

Te busco. Qualquer coisa me ligue. Tome cuidado, por


favor. Não fique dando mole para qualquer um e preste
atenção no que faz!

Ela responde:

Relaxa! Beijos.

Relaxar? Com o Jorge à solta, e Poliana me


complicando com a Liziara? Tudo que não dá
para fazer é relaxar. E ainda tem jantar na minha
mãe hoje!

Chego na casa da minha mãe depois de um


banho e trocar de roupa. Daiane e Marcos já
estão aqui, posso escutá-los discutindo.
Entro na sala de jantar.
— Uau, já estão se matando? — provoco.
— Às vezes acho que ele não é meu tio, e sim
um irmão insuportável.
— Ai, essa doeu! — Marcos finge estar
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

ofendido.
— Até que enfim chegou, meu filho! —
minha mãe diz, entrando junto com a Dona
Jurema.
— Olha só, Henrique vai ficar enciumado que
está cozinhando para mim, Juju. — brinco e dou
um beijo nela. — Está cheirosa. Não quer ir para
meu apartamento?
— Me respeite, menino! — Ela bate com o
pano de prato no meu braço e sorrio.
Ela deixa a jarra de suco na mesa e se retira.
— Deixe ela em paz. Já basta o Henrique a
atormentando. — minha mãe diz, se sentando.
— O Henrique tem sérios probleminhas, eu
já disse.
— E você tem o que? — Daiane provoca.
— Fica quieta ai que a conversa ainda não
chegou na miss Sabe Tudo.
— Como você é idiota, David!
— Parem os dois. Parece que têm dois anos.
Por favor! — minha mãe repreende.
Olho para a Daiane e começamos a rir.
— Vocês ainda vão me enlouquecer! —
minha mãe fala.
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

— Mais? — Marcos provoca.


— Não me provoque, Marcos! — ele sorri.
— Pode deixar, cunhadinha. — ele diz e ela
finge não escutar.
— Cadê Poliana? — minha mãe pergunta.
— Deve estar a caminho.
— Não acredito que não deu uma carona
para ela!
— Mãe, eu não sou chofer de ninguém. Eu
tinha que passar no meu apartamento também.
— Entenda, Paula, ele não pode ficar saindo
por aí com outra mulher, ou a porra louca, deixa
ele de castigo. — Marcos provoca.
— Vá à merda! — digo a ele. — Apenas estou
tentando ao máximo evitar problemas. Já tenho
o suficiente.
— Faz bem. Não gosto dela. Poliana é uma
falsa. Se deixar, ela senta no seu colo e rebola! —
Daiane fala.
— Daiane, tenha modos!
— Só disse a verdade, mãe! Não a suporto, e
não sei fingir.
— Estou com a pirralha. Essa daí é cobra
vestida de ovelha. Tome cuidado! — Marcos
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

rebate.
— Não sei porque agem assim. Ela é uma boa
moça, um pouco vulgar as vezes e oferecida, mas
é boa moça. Porém jamais desejaria ela para
algum dos meus meninos... mas não escolho,
infelizmente.
— Mãe, eu não quero nada, nem com ela e
nem com ninguém.
— E a Liziara sabe disso? — Marcos
pergunta sorrindo.
— Porra, chega desse assunto. Vamos
comer? — Estou irritado.
— Vamos esperar mais um pouco para ver se
ela vem. — minha mãe diz. — E cadê a minha
menina?
— Trabalhando. — respondo.
— Estou com saudades dela. Ela anima
qualquer um. — não consigo evitar e sorrio.
Minha mãe se levanta sorrindo. Viro para
trás.
— Que bom que chegou! — minha mãe diz
educadamente.
Poliana está com um vestido preto, justo, de
mangas longas, um pouco acima dos joelhos. E
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

sapatos pretos. Sorrio.


Estou fodido, em tudo sempre terá um pouco
da Liziara. O vestido é idêntico ao que eu dei a
ela para irmos a um evento beneficente no mês
passado. Porém na minha maluquinha ficou
muito melhor.
— Desculpem a demora. Estava um pouco
ocupada.
— Não tem problema! — minha mãe diz.
— Daiane, quanto tempo! — ela se aproxima
da Daiane, que agora está de pé e cumprimenta.
— Pois é. Mas cá estamos nós... de novo... —
Daiane diz e bufa. Minha mãe olha feio para ela.
— Marcos! — Ela cumprimenta, a ele que
não emite um som sequer.
— Sente, querida! — minha mãe pede.
Ela se senta ao meu lado.
Daiane cochicha em meu ouvido:
— Acho que alguém está tentando imitar a
Liziara. Será que viu a foto de vocês dois no
evento, e quis copiar para te conquistar? — Dou
um tapa em sua perna e ela sorri.
— Vou pedir a Dona Jurema que já pode
servir. Com licen... Ai está ela! — minha mãe diz
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

se sentando novamente. — Pode servir, Ju!


— Irei servir, mas antes vim dar um recado.
A menina Liziara, ligou... está tentando falar
urgente com o menino David e não consegue.
Viro rapidamente, e com o coração
acelerado. Mil coisas ruins passam por minha
mente.
— O que ela queria?
— Disse que é para não se preocupar. Não
precisa ir buscar ela de manhã, que vai pegar
carona com um amigo chamado Joaquim. Disse
que vai ficar sem celular a noite toda, pois está
muito cheio a boate, e caso ligue e ela não
atenda este é o motivo.
— Uma porra que ela vai voltar com o
Joaquim! Esse bastardo está começando a me
irritar. E que porra, como vai ficar sem celular? E
se acontece algo?
— Se acalme, meu filho!
— Quem é ela? Parece alguém muito
importe, ficou muito preocupado. — Poliana
pergunta um pouco estranha.
— É a namorada dele que ele não quer
assumir que é a namorada dele. Nossa, que
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

confuso! — Daiane diz.


— Sua namorada?
— Ela não é minha namorada. Daiane não
tem o que fazer e fica inventando coisas... Vou
ligar para o Cleber e já venho. Um instante.
— Não pode ser depois? — Poliana indaga.
— Nem tente. Quando se trata dela, ele
cancela uma reunião até com a rainha. Não só
ele, como todos nós, pois fazemos de tudo para
proteger quem amamos. — Marcos diz
rispidamente enquanto saio da sala.
Ligo para o celular do Cleber, mas só chama.
Ligo para a casa dele e depois de alguns toques,
atendem.
— Alô?
— Debi, é o David.
— Você me ama muito... Te vi hoje e já está
com saudades? — brinca.
— Viu só. É muito amor! — ela ri. — O
Cleber?
— Foi na mãe dele.
— Tem como você tentar falar com ele, e
pedir para ele enviar a boate o que seria para
amanhã? É urgente.
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

— Peço sim. Aconteceu algo?


— Não, e quero evitar que aconteça.
— Vou ligar na minha sogra e falo com ele.
— Obrigado.
— Beijos!
— Beijos... Sonha comigo... — provoco.
— Pode deixar, será um sonho bem erótico!
— Débora! — ela ri.
— Diz o que quer, o ouve o que não quer! Até
mais.
— Até.
Desligo.
Retorno e todos me olham.
— Então? — Daiane pergunta.
— Já resolvi. Vamos jantar? — pergunto para
mudar de assunto.
Poliana me olha estranhamente e disfarça
com um sorriso.
Dona Jurema nos serve. E assim começamos
a comer.
— Então, Poliana, veio para ficar mesmo? —
pergunto.
— Pelo que parece, sim. Me transferiram
para cá com uma oportunidade melhor para
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

mim. Quero aproveitar.


— Está ficando onde? — Daiane pergunta.
— Em um hotel. Estão pagando até eu
arranjar um lugar.
— Não te ofereço um lugar por um tempo,
porque só temos um sítio longe, uma casa na
praia; e acredito que vá querer um pouco de
privacidade, e não ficar em uma casa
movimentada. — minha mãe diz.
— Sim. Privacidade é ótimo. — ela diz
sorrindo.
— A quanto tempo virou policial? — Marcos
pergunta.
— Não tem nem um ano. Quando terminei a
faculdade, fui fazer cursos.
Marcos concorda e bebe o vinho.
— Fiquei sabendo que o Henrique se casou, e
tem até filha. — ela diz.
— Sim. Minha primeira netinha, e menininha
da casa. O xodó de todos. A esposa é um amor,
Ana é maravilhosa. Estão casados a dois anos, e
a Yasmim completou um aninho recentemente.
— minha mãe diz orgulhosa e sorrio.
— Que maravilha. Quero muito conhecê-las.
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

— São realmente muito amadas. — Daiane


fala. — Agora o projeto é casar o David e o tio.
— Dispenso! — Eu e Marcos respondemos
juntos.
— Entendo-os. Casamento com a vida de
vocês é complicado — Poliana diz e me olha,
sorrindo.
— Complicado é, mas não impossível. Vejo
pelo Henrique. Casou, tem uma linda filha, e
continua trabalhando. Cuida muito delas e faz de
tudo por elas. Sabe conciliar a carreira e a
família. É claro que ambas têm uma imensa
proteção. — Daiane diz.
— Concordo com a Pirralha. O problema dos
Escobar é apenas encontrar a pessoa certa. O
meu caso, é não querer encontrar a pessoa certa.
— Marcos rebate.
— Um dia vai encontrar! — Minha mãe diz.
— E vou adorar assistir a cena.
— Pare com isso que fiquei sabendo que
suas pragas pegam!
— E como! — digo.
Rimos.
— E você não tem ninguém? — minha mãe
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

pergunta a Poliana.
— Não encontrei a pessoa certa ainda. — ela
responde sorrindo.
Tomo um gole do meu vinho.
Terminamos de comer e nos retiramos para
a sala. Sento, e a Poliana faz questão de sentar ao
meu lado. Esse grude está começando a me
irritar.
— David está te ajudando a treinar? —
minha mãe pergunta animada.
— Está sim. E estou melhorando cada vez
mais.
— Apenas está pegando rápido o que eu
ensino. — digo e sorrio.
Meu celular vibra e é uma mensagem da
Beatriz. — Franzo o cenho, estranhando.
— Algum problema? — Marcos pergunta em
alerta.
— Beatriz me enviando mensagens.
— A praga sabe atrapalhar uma boa
conversar!
Sorrio.
— Não ligue, Poliana. Beatriz é uma amiga da
família... e ela e Marcos são como cão e gato. —
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

minha mãe fala.


Abro a mensagem:

Busque a Liziara na boate, mas não diga que eu disse


nada. E lá vai descobrir o que aconteceu. Ela mentiu quando
ligou na sua casa. A boate foi até fechada. Fiquei sabendo
agora e não tenho como ir lá; estou presa ainda no
trabalho.

— Gente, eu sinto muito, mas tenho um


compromisso. Preciso ir.
— Então eu vou aproveitar e já vou. Me dá
uma carona? — Poliana pede. Olho
disfarçadamente para o Marcos.
— Eu te levo, Poliana.
Ela parece não gostar muito mas concorda.
Despeço-me de todos.

Estaciono na parte de trás da boate. Vejo o


idiota do Joaquim abraçado a Liziara. Ela parece
estar chorando. Quando o filho da puta me vê, dá
um beijo em seu rosto, bem próximo a sua boca.
— Eu vou passar em cima dele com o carro!

NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

Saio do carro, e fecho a porta com força.


Liziara se vira assustada, e assim que me vê, se
despede do amigo e vem até a mim, se jogando
em meus braços. Abraço-a. O bastardo fica
olhando irritado, e logo entra na boate.
— O que houve, amor? — pergunto a ela.
— Nada, apenas queria um abraço seu.
Sei que está mentindo.
— Entra no carro.
Ela se afasta e entra no carro. Faço o mesmo.
Colocamos o cinto. Ela disfarça e enxuga o olho.
— O que aconteceu? — pergunto colocando
a mão em sua perna.
— Só vamos embora daqui. Depois eu falo,
eu prometo.
— Está bem.
Ligo o carro.

Chegamos em meu apartamento. Ela vai


direto para o quarto, onde retira, os saltos e se
deita na cama.

NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

Ela cobre o rosto com as mãos e começa a


chorar.
Eu me aproximo dela e a puxo para mim.
— Hey, o que houve? Se não me contar, não
posso ajudar.
Ela começa a se acalmar e se senta na cama,
virada para mim.
— Hoje tinha DJ novo, estava lotado. Estava
tudo normal, mas do nada, eu vi que começou
uma movimentação estranha. Os seguranças
começaram a correr de um lado para o outro.
Começou um bochicho que era briga, e até ai não
me importei. Do nada, chegou um cara todo
estranho encapuzado e armado, e simplesmente
veio na minha direção. Não que eu quisesse que
fosse em outra pessoa, mas é como se ele tivesse
um único objetivo, e esse objetivo fosse eu. Ele
começou a gritar que se chamassem a polícia
seria pior. Quando vi, ele estava me segurando...
Eu não tive ação nenhuma. Eu fiquei estática.
Não conseguia fazer nada. Ele pegou meu celular
e todo dinheiro do caixa. Quando tentei enfim,
me soltar, porque ele estava me machucando,
ele simplesmente cochichou no meu ouvido que
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

isso só seria o começo, que ele não foi ali para


roubar, mas todos tinham que pensar isso. E aí
atirou perto do meu pé, jogou meu celular no
chão e sumiu.
Sinto meu sangue ferver. Foi aquele filho da
puta!
Puxo ela para mim.
— Me desculpa. Foi culpa minha. Esse
desgraçado não queria você. Ele quer atingir a
mim.
— Eu não fiz nada. Eu entrei em pânico.
Nada do que você vem me ensinando eu
consegui fazer. Parecia uma mocinha indefesa.
— Amor, você fez bem em não fazer nada.
Poderia ter sido pior.
— Eu me senti um lixo, sem função alguma!
— Liziara, você não é um lixo... é normal o
que aconteceu. Eu vou matar esse filho da puta!
— Não faça nada, não hoje. Só fique comigo.
— Ficarei. Eu prometo que não vou deixar
mais nada te acontecer. Eu prometo.
— Estou com medo.
— Não se preocupe. Esqueça isso. Você está
nervosa. Vá tomar um banho, você tem que
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

descansar.
Ela concorda e se levanta, indo ao banheiro.
Quando ela entra no banheiro ligo para o
Marcos.
— O que houve? — ele já pergunta.
— Aquele filho da puta mexeu com a pessoa
errada. Vai ser do nosso jeito agora. Fodam-se as
leis. Eu quero esse filho da puta morto!
— Estava me perguntando quando diria isso.
Quando começamos a agir do nosso jeito?
— Amanhã. Avise Daiane... menos ao
Henrique, ele precisa descansar.
— Pode deixar. Até amanhã.
— Passo no seu escritório.
— Ficarei no aguardo.
— Até.
Desligo.
Entro no banheiro e vejo o sutiã que dei a ela
no chão.
Abro o box, e ela está apenas com a calcinha
do conjunto do sutiã. Está lavando os cabelos.
— Achei que eu tinha dado um aviso sobre
essa lingerie. Eu não acredito que descumpriu
uma ordem de um delegado!
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

— David! — ela grita assustada.


Tiro os sapatos e a roupa sob seu olhar.
Entro no box e ela caminha, e acaba
encostando na parede. Massageio meu pau,
ereto.
— Acho que alguém será presa por não
cumprir minha ordem.
— David...
Puxo a com força para mim e invado sua
boca com brutalidade. Desço minhas mãos e
puxo sua calcinha com força, rasgando-a, e assim
jogo no chão. Empurro-a para parede com força,
pego-a no colo, e ela enrola as pernas ao meu
redor, sem desgrudar nossas bocas. Eu me
encaixo em sua entrada e a penetro com força.
Afasto minha boca da sua a tempo de escutar
seu grito rouco sair.
Ela enrosca os braços ao redor do meu
pescoço.
— Nunca... mais... descumpra... uma...
ordem... minha... — digo a cada vez que a
penetro com força.
Ela geme. Alguns fios molhados de seus
cabelos, caem em seu rosto, de uma forma sexy.
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

Beijo seu pescoço e dou leves mordidas. Suas


unhas cravam em minha pele, me deixando mais
louco ainda.
Ela joga a cabeça para o lado. Abocanho um
de seus seios, e sugo com força, arrancando um
grito de prazer seu. Eu me afasto um pouco,
tendo visão de seu clitóris. Começo a massageá-
lo, sem interromper minhas estocadas. Ela geme
alto. Uma de suas mãos puxam meu cabelo, e
solto um grunhindo de prazer.
Penetro-a sem parar. Ela grita meu nome.
Cada vez mais fico excitado. Seus seios
chacoalham a cada estocada que dou. A água do
chuveiro deixa meu pau deslizar com mais
facilidade ainda.
Ela começa a se desmanchar, gozando.
Penetro-a mais algumas vezes, e gozo
fortemente chamando por seu nome.
Ela deita a cabeça em meu ombro. Está fraca.
— Preciso te desobedecer mais vezes.
— Safada! — ela sorri.

NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

Capítulo 5

NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

Liziara Araújo
Acordei sem o David na cama. Ele apenas
deixou um bilhete, dizendo que tinha que se
encontrar com o Marcos e a irmã. Por mim, eu
passaria o resto do dia na cama, mas tenho
coisas para fazer.
Levanto, e prendo o cabelo.
Entro no banheiro e paro em frente ao
espelho. Estou com cara de quem passou a noite
na balada. Eu me aproximo do espelho para
olhar uma pequena manchinha no meu pescoço.
— Filho da puta, ele fez de propósito. Eu não
acredito que o David me deixou um chupão!
Pequeno, mas deixou! Ele sabe que odeio isso.
Estou me sentindo no início da faculdade
vendo isso, quando eu simplesmente queria
saber de sair cada semana com um cara
diferente, e eu sempre aparecia com marcas.
Acho que é por isso que odeio que me marquem.
Foi uma época difícil. Eu tinha 18 anos, meus
pais me obrigaram a entrar para a faculdade, e
eu, como sempre, só queria ter atenção deles, e

NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

fazia de tudo para ter. Foi desta forma ridícula


que conheci a Beatriz.
— Esqueça essa época! — Chacoalho a
cabeça.
Escovo os dentes e me maquio, aproveitando
para esconder a marca do David.
Eu me arrumo, e peço um taxi para ir buscar
meu carro na revisão.

Chego no apartamento, depois de um


trânsito dos infernos. Mal peguei o carro e já
estou pirando novamente.
Bia aparece na sala calçando os sapatos.
— Acho que alguém se atrasou. — digo.
— Nem me fale. Virei a noite adiantando
coisas do trabalho e me lasquei.
Ela termina de calçar os sapatos.
— Merda, minha bolsa! — ela sai correndo
pelo corredor.
— Os vizinhos debaixo devem amar quando
você se atrasa e sai correndo de salto! — brinco.

NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

Vou para o meu quarto e separo uma roupa.


Hoje vou até a dona Paula ver como ela está, e ir
à casa dos meus pais. Preciso pegar meu
notebook que esqueci lá.
Bia entra no meu quarto e pergunta:
— Como estou?
— Depende.
— Depende o que?
— Se for para uma reunião, está sexy sem
ser vulgar. Se for para conquistar um cara, está
com cara de quem quer ser pedida em
casamento.
— Idiota! Tem reunião hoje com o dono da
faculdade, e depois um almoço.
— Está gata.
— Ótimo.
Ela está saindo quando diz:
— Na próxima vez pede para o David não
marcar tanto. Está pequeno, mas está visível. —
Começa a rir. — E se não foi o David, quero ver a
explicação que vai dar para ele. — provoca.
Eu vou matar o David!
Se não fosse ele, eu não teria que explicar
nada, afinal não temos nada sério.
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

Vou para o banheiro e tomo um banho. Estou


exausta e suada.

Chego a casa da Dona Paula, e dou sorte por


ela já estar aqui antes do almoço.
Ela está no quarto dela, sentada na cama,
enquanto mexe em alguns papeis.
— Será que alguém tem um tempinho?
Ela me olha e sorri.
— Meu amor! — Ela se levanta. Entro no
quarto e a abraço.
Nós nos afastamos. Fecho a porta.
— Sente-se.
Sentamos.
— Estava preocupada. Não veio nem ao
jantar em casa.
— Que jantar?
— Fiz um jantar. Veio Marcos, e Poliana, uma
amiga antiga do David. Daiane também estava,
por incrível que pareça. Minha filha mora
comigo, e a vejo menos do que meus filhos e

NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

cunhado, que não moram aqui.


— Ontem foi esse jantar... Por isso dona
Jurema disse que ele estava aqui, e um pouco
ocupado.
— Foi sim. Ele não te falou?
— Não. O David anda bastante misterioso
ultimamente.
— Deve ter esquecido. Ele estava bem
distante ontem. Esse Jorge reapareceu para
tornar a vida dele um inferno.
— Sim. É o Jorge... — digo, talvez para
convencer a mim mesma.
— Você parece triste também. Vocês dois
brigaram?
— Não. Estamos bem... eu acho.
— O que houve, minha menina?
Sorrio.
Dona Paula tem sido uma mãe para mim. Ela
me conhece tão bem que não consigo esconder
nada dela.
— O David está diferente. Ele parece distante
mesmo estando comigo... É complicado.
— Não é complicado, vocês jovens que
complicam. Você o ama, mais do que um grande
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

amigo. E ele sabe disso, só não quer acreditar.


Sei que não vai dizer, pois te conheço bem, mas
Poliana não é nada mais que uma velha amiga.
David nunca teria nada com ela. Eu conheço
meus filhos, cada um deles, perfeitamente. Eles
acham que me enganam, mas não conseguem.
Sorrimos.
— Estou fazendo um processo de
desapaixonar do David. Será que consigo? — ela
ri.
— Duvido. Um vive grudado ao outro.
— Nem tanto. Como disse, ele anda distante.
— David foge quando se trata de
sentimentos. Parece que não aprendeu ainda. —
sorri — Ele é igual ao pai neste aspecto. Joseph
era um homem amoroso, mas quando tinha que
demostrar sentimentos, preferia ser com ações
do que com palavras. Se tivesse que dizer... Meu
Deus, fugia como o diabo foge da cruz. — rimos.
— Ele é o mais parecido com o pai neste aspecto.
Talvez seja por isso que foi o que mais sofreu
quando recebemos a notícia que Joseph havia
sido morto em um arrastão no meio do transito.
— Noto a tristeza em seu olhar. — Não pense
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

que ele demonstrou o quanto sofreu. Sofria


calado. Sumiu por um tempo em uma longa
viagem. Quase não mantinha contato. Porque ele
sempre foi assim. Se ele tiver que dizer que te
ama, ou se jogar da ponte, ele fica com a segunda
opção.
Rimos.
— Ele é difícil, mas o entendo. Eu fui a
culpada, por me apaixonar por ele. Eu sempre
soube que ele jamais iria ter um relacionamento
sério... pelo menos comigo.
— Porque diz isso, querida?
— Porque o David tem 35 anos, eu tenho 22.
Claro que idade não muda nada, mas enquanto
ele quer saber de caçar um bandido, eu quero
saber de ir para uma balada. Nem a faculdade
terminei porque sou indecisa, e não sei se é o
que eu quero. Sou toda desastrada, maluca. É
difícil. Ele é um delegado, e eu a filha odiada
pelos pais ricos. Ele é um Escobar e eu sou uma
Araújo. São tantos empecilhos, que eu poderia
passar o dia todo falando.
— Deixe disso! Nunca ouviu dizer que os
opostos se atraem? Se dissesse que está
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

apaixonada pelo Marcos, eu até acreditaria que


seria um pouco difícil. Mas o David é meu filho
mais extrovertido depois do Henrique. Não é o
que mais demonstra carinho, mas é as vezes o
mais responsável. — sorri — E ser um Escobar
ou ser delegado não quer dizer nada. Quando
conheci Joseph, eu trabalhava na biblioteca da
faculdade para poder estudar nela. Era uma
simples Paula Assis, e isso nunca foi empecilho.
Joseph me amou do jeito que eu era, nos
casamos, tivemos três filhos, e sempre
acreditamos ter controle sobre eles, e vivemos
muito felizes até seu último momento.
Segura minha mão e sorri.
— Será melhor desapaixonar. Vou até fazer
uma listinha de passo a passo. — ela sorri.
— Se conseguir, me avisa!
— Claro! — rimos.
A porta se abre nos assustando.
— As duas das mulheres da minha vida
reunidas, devo me preocupar? — sorrio.
— Estava dizendo para sua mãe como irei
cortar suas bolas, depois do que fez! — Aponto
para a marca no meu pescoço.
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

— Liziara! — Paula diz.


— Só ficou aí? Merda! Não fiz direito.
— David! — Paula o repreende.
— Sim, minha rainha?
— Você e a Liziara não tem jeito!
— Eu tenho sim! — digo.
— Melhor eu voltar ao trabalho depois
dessa! — David fala.
Rimos.
— Fica para almoçar? — Paula me pergunta.
— Bem que eu queria, mas tenho que pegar
uma coisa na casa dos meus pais. E depois quero
descansar, porque hoje à noite tenho que
trabalhar.
— Que pena! Mas apareça mais, ou irei te dar
uns puxões na orelha! — Sorrio e dou um beijo
nela.
— Vou indo.
Passo pelo David, que me olha e ergue uma
sobrancelha.
— Não esqueceu de nada, Liziara? — ele
pergunta e Paula ri.
— Não. — respondo.
Saio, e sei que o David me segue.
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

— Não preciso de escolta policial! —


provoco.
Ele me puxa, me virando para si.
— Esqueceu disso!
Ele ataca minha boca. Sua língua procura
pela minha com intensidade. Suas mãos vão para
minha cintura. Sinto sua ereção pulsar.
Eu me afasto, empurrando-o.
— O que foi?! — pergunta aborrecido.
— Você nem se quer me disse sobre o jantar
ontem aqui. E me deixou um chupão no pescoço
sabendo que odeio isso.
— Lizi, por favor, não vamos brigar.
— Não estou brigando. Só tentando entender
porque anda me escondendo as coisas. Primeiro
me escondeu que o Jorge está por aqui. Depois
que Poliana é uma amiga antiga. Aí me esconde
sobre o jantar, e agora me deixa com um chupão.
O que está acontecendo?
— Me perdoa por não avisar sobre o jantar.
Eu nem queria vir. Foi insuportável! Mas larguei
todos, para ir até você. Não falei sobre o Jorge
para não te preocupar no trabalho. Eu sempre
faço tudo pensando no melhor para você. E o
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

chupão é apenas um aviso para aquele idiota


bastardo do Joaquim.
— Que aviso? Você está testando drogas?
— Que a próxima vez que ele tiver um dedo
em você, será um cara morto!
— Ah... agora eu entendi. Você pode sair com
várias por aí, e conviver com uma policial que é
amiga antiga de faculdade, mas eu tenho que
ficar livre para você me usar e descartar sempre
que quer? E aí, como um ato machista, me
marca? Vá para a merda!
Entro no carro, irritada. Ele me chama, mas
não respondo.
Vou para casa dos meus pais, e agradeço por
eles não estarem. Pego rapidamente meu
notebook e vou para casa.

NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

David Escobar

NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

Dias Depois...
Não vejo a Liziara a dias, e não tenho uma
pista sequer sobre o paradeiro do Jorge. Estou
enlouquecendo.
Meu tio e Daiane estão me ajudando na
procura daquele imbecil, mas está difícil… é
como procurar uma agulha no palheiro. Cleber
também tem feito de tudo, mas não posso
arriscar muito com ele, porque não quero que
ele se prejudique fazendo algo fora da lei. É meu
melhor amigo, mas não posso arriscar tanto.
Poliana não desgruda de mim, e tendo que
treiná-la, prejudica mais ainda meu tempo.
Sei que a Liziara deve estar pirando comigo,
porque nem tempo de pegar no meu celular
ando tendo. Está foda a situação, e não sei mais
para onde correr ou o que fazer.
Entro na minha sala. Paulo ainda está
trabalhando.
— Ainda aqui? Pode ir já.
— Estou finalizando umas coisas. E você, já
não era para ter ido?

NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

— Não quando tem um filho da puta à solta.


— Ele sorri e volta a digitar no computador.
— Essa sua cara não parece ser apenas por
isso.
— Estou com muitos problemas.
— A Poliana veio te procurar. Disse que iria
para a sala de treino.
Caminho até minha mesa e sento na minha
cadeira.
— Ela anda trazendo muitos problemas pelo
visto.
— Por que?
— Sua cara quando eu falei sobre ela.
— É foda, Paulo. Desde que ela apareceu e o
Jorge fugiu, tudo começou a ficar cansativo.
— Parece que não só para você. Cleber
também não estava com uma cara boa.
— Sabe de algo? — pergunto preocupado.
— Ele estava vendo uns papeis aqui na sala,
e eu tive que sair para resolver umas coisas, e
quando sai, Poliana entrou trazendo uns papeis.
Mas a esposa do Cleber chegou na hora, que ele
ajudava Poliana que derrubou umas pastas que
estavam em cima da mesa... Os dois sozinhos...
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

— Foda.
— E como. Encontrei ele e a esposa na sala
quando cheguei, e ela saiu bem brava daqui. Aí
ele me contou o que aconteceu.
— Débora não a suporta… e nunca
conviveram juntas.
— Estou com a esposa do Cleber. Não
suporto a Poliana. Acho ela muito vulgar,
oferecida. E me desculpa, mas ela é louca por
você. Essa daí é perigosa, fique de olho.
Alguém bate na porta.
— David? — É a Poliana.
Olho para o Paulo.
— Eu não estou! — cochicho para ele.
Levanto rapidamente e entro no banheiro.
Espero uns minutos até que Paulo diz que já
posso sair.
— Porra, vivi para ver você fugir de mulher!
Rio.
— Hoje não estou com cabeça para nada.
Olho no relógio e são nove horas da noite.
— Estou saindo, não volto hoje. — digo a ele.
— Oh vida boa! — brinca.
— Nem tanto!
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

Vou para meu apartamento. Tomo um


banho, me troco e saio.

Estaciono o carro em frente à boate. Preciso


ver minha maluquinha. Está lotado. Tem um
banner dizendo que tem DJ novo.
Vasculho para ver onde irei estacionar, mas
meus olhos param na cena a poucos metrôs de
mim.
Liziara e Joaquim se beijando.
Sinto uma raiva me dominar de uma forma
que nunca senti. Aperto o volante com raiva.
Dou partida no carro e saio dali.
Vou para delegacia, mas só percebo que
cheguei lá quando estaciono o carro. Estou com
tanta raiva que sequer percebi para onde ia.
Saio do carro e fecho a porta. Olho para o
carro na frente do meu e vejo ser do Cleber.
Entro na delegacia. Passo por alguns
policiais, mas devo estar com uma cara péssima,
porque me olham assustados. Entro na minha

NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

sala e dou de cara com o Cleber.


— Nossa, já matou ou vai matar alguém?
— Estou me segurando para não matar!
Porra!
Dou um chute na mesa, e a mesma se afasta
derrubando algumas coisas que estavam de pé.
— O que a mesa te fez? — brinca.
— Ela nada. Mas o que eu vou fazer… tenho
inúmeras possibilidades.
— Hey... Se acalma. O que aconteceu?
— Tudo anda acontecendo! É sempre
problemas atrás de problemas!
— David, você precisa relaxar antes que faça
uma merda!
— O que faz por aqui? — Ignoro o que ele
fala.
— Vim pegar meu celular que tinha
esquecido.
— Vai sair hoje?
— Não.
— Vamos para uma boate? Vou ligar para o
Marcos e minha irmã. Preciso me distrair, ou
vou fazer uma grande merda.
— Vamos sim. Vou falar com a Débora. Me
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

diz qual boate, que a gente se encontra lá.


— A que a Liziara trabalha.
— OK. Fui, e te acalma, porra!
Ele sai.
Ligo para o Marcos e Daiane. Meu tio diz que
vai; já Daiane, nem consigo falar com ela. Essa
menina anda sumindo demais. Se eu sonhar que
tem homem envolvido nessa porra, tranco ela
em uma cela pelo resto da vida.
Chego na boate, e por incrível que pareça,
junto com todos.
Estacionamos e descemos dos carros.
— Só pode ser piada. Me ama mesmo hein,
patrão! Desapega. — Débora brinca. — Hoje era
minha folga e ficou com saudades.
Sorrio.
— Ainda vou te demitir! — Marcos diz
sorrindo e cumprimenta.
— Ótimo. Mais distancia da minha mulher!
— Cleber diz, puxando a esposa e colocando o
braço ao redor da cintura dela.
Rio.
— Relaxa. É linda, gostosa, mas quero
distância! — Marcos provoca.
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

— Está querendo morrer, porra? — Cleber


pergunta irritado.
— Que sexy. Dois homens lindos brigando
por mim! — Débora brinca.
— Eu estou aqui, gente, deixem de ser
românticos. — brinco.
— Eu vi… Estou velho, mas não cego! —
Marcos fala.
— Vamos entrar ou não? — Cleber pergunta.
— Agora! — respondo.
Entramos na boate e fomos para a área VIP.
— É folga da Liziara? — Marcos pergunta.
— Não sei dela.
— Agora sei o motivo da mesa ter sido
chutada. — Cleber provoca.
— Brigaram. Ela está trabalhando hoje, e
você veio aqui para provocá-la. — Débora fala.
— Débora! — Cleber a repreende.
— Oi, meu amor. — ela diz sorrindo.
— Não vim provocar ninguém. Apenas vim
aqui porque é a mais próxima, e preciso me
distrair.
— Vixi, a coisa foi feia. Se tivesse tido aulas
comigo, não estaria assim. — Marcos diz
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

sorrindo.
— Cala a boca, porra!
— Me respeita, sobrinho! — provoca.
— Melhor pedir bebidas! — Débora diz.

NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

Liziara Araújo
Estou querendo matar o Joaquim. Como
aquele filho da puta foi capaz de me agarra e me
beijar?
Acertei um tapa na cara dele, e só não fiz
mais porque eu tinha que entrar para trabalhar.
Esse imbecil foi longe demais!
Beatriz encosta no balcão.
— Com essa cara vai espantar os clientes. —
ela brinca.
— Eu quero espantar a praga que trabalha
comigo!
— Essa cara não é apenas porque o Joaquim
foi um idiota. Você e o David não se veem há
dias. O que aconteceu?
Preparo as bebidas dos pedidos.
— Ele é outro filho da puta. Vive mentindo
para mim desde que aquela idiota da amiga dele
apareceu. Nem sequer me liga, e quando eu ligo
da caixa postal. Se ligo na delegacia, ele está
treinando aquela mulher; e se ligo na dona
Paula, aquela vadia está lá. Porra, estou pirando.

NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

Ele me largou assim que “carne” nova apareceu.


— Lizi, não fica assim...
— Eu estou puta de raiva dele. Estou
cansada de ser apenas uma foda para quando ele
não tem nenhuma mulher para se colocar entre
as pernas.
Termino as bebidas e entrego as pessoas que
pediram.
Joaquim anota mais pedidos e me passa.
— Acho melhor segurar a raiva. Olha quem
está na área VIP, e olha quem acaba de encostar
no balcão.
Olho para a área VIP e vejo David, Marcos,
Débora e Cleber. Olho para onde o Joaquim
atende, e vejo uma loira muito linda. Poliana!
— É mais bonita que na internet!
— Beatriz!
— Amiga, sinceridade sempre!
— Foda... Mil vezes foda!
Eu me afasto do balcão e entro no estoque.
— O que foi? Que cara é essa, menina! —
Daniel pergunta.
— Tem um imbecil no balcão com uma vaca.
E na área VIP um filho da puta!
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

— Nossa! Vai com calma, gata! Tamires


chegou e Luciana também. Elas vão te cobrir
agora. Pode ir embora.
— Não...
— Liziara, você trabalhou todos os dias. Pedi
que apenas viesse hoje até que as meninas
chegassem. Vá embora ou vá curtir a noite. Se
ficar é por conta da casa!
— Te amo, sabia?
— Eu sei, sou muito amado! — Dou um beijo
nele.
Vou para o banheiro dos funcionários. Tiro o
avental e pego minha bolsa.
Saio e encontro a Beatriz ainda no balcão.
— Liberada?
— Sim.
— Vamos curtir a noite?
— Sim, mas em outro lugar.
— Nem pensar. Aqui! Mostre para a loira e
para o David que você pode mais!
— Será?
— Sim.
— Certo. Então vá estudar a área primeiro.
— Eu o que?
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

— Suba lá, finja que vai falar com alguém e


retorne.
— Nem pensar. Com o Marcos lá, eu não vou!
— OK, iremos juntas. Vamos fingir que nem
o vimos. Tem uma mesa vaga lá. Vamos!
— Estou me arrependendo da ideia de ficar
aqui.
— Agora já era. Vamos logo, mulher!
Subimos para a área VIP. Controlo ao
máximo para não olhar a mesa deles.
— Estão olhando?
— Não sei, porra. Eu não vou olhar! — Bia
diz.
— OK, você é boa em fazer “a que não viu”…
olhe lá.
Ela o faz enquanto caminhamos para a mesa.
Finjo estar falando algo com ela.
— Estão olhando. David não tira os olhos de
você, e a Poliana dele. Marcos está de costas.
— Ótimo.
Tropeço e Beatriz me segura.
— Liziara! — ela diz.
— Foi mal, esses saltos são muito altos.
— Liziara! — Escuto a voz da Débora.
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

Não tenho mais como fingir. Olho para eles e


finjo estar surpresa.
Eu me aproximo da mesa, junto com a
Beatriz.
— Se junte a nós! — Débora diz.
— Que coincidência. — digo.
— Sério? — Marcos diz ironicamente.
Cumprimento a todos, até a Poliana, menos
ao David. Beatriz cumprimenta a todos, menos o
Marcos.
“Isso não vai ser bom!”
Cleber puxa duas cadeiras, uma ao lado do
Marcos e uma ao lado do David. Eu me sento ao
lado do Marcos, e a Beatriz ao lado do David,
ficando de frente para o Marcos.
— Vou apresentar, já que ninguém fez.
Poliana estás são Liziara e Beatriz. E meninas,
essa é Poliana, nova policial da delegacia, e que
por pura coincidência, nos encontrou aqui. —
Cleber diz.
— Prazer, meninas. — Ela diz sorrindo.
— Prazer! — eu e a Bia dizemos juntas.
David me olha, e sei que está com raiva de
algo. Eu o conheço bem, e sua cara entrega isso.
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

— Pensei que trabalhava hoje. — Marcos diz.


— Apenas tinha que ficar até que as outras
meninas chegassem.
— Trabalha aqui? — Poliana pergunta.
— Sim. — respondo apenas.
— Liziara é a namorada do David. — Débora
diz, e Cleber se engasga com a bebida.
— Eu não sou namorada dele, apenas somos
conhecidos. — David ergue a sobrancelha
esquerda e aperta firme o copo.
— Já ouvi falar sobre você no jantar na casa
da dona Paula. — ela diz.
— Que bom. — respondo.
— E você, Poliana… gostando do trabalho
por aqui? — Beatriz questiona.
— Sim. Estou amando. Trabalhar com David
é excelente. — Ela coloca a mão no braço dele.
— Isso não vai ser bom. — Marcos fala.
— Perdão? — Poliana fala.
— Nada não. — Marcos responde.
Todos começam a conversar e participo,
porém David não se dirige a mim. Poliana fica o
tempo todo passando a mão no David, e ele não
faz nada, parece gostar. Isso está me irritando
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

profundamente. Eu me sinto sobrando aqui.


— Gente, o papo está ótimo, mas eu vou
dançar. A Beatriz estava louca por isso.
— Estava? É, estava! — ela diz.
— Então vamos todos! — Débora fala.
— Concordo. — David rebate. — Vamos,
Poliana?
Filho da puta, eu vou matá-lo!
— Claro, David. — ela diz, toda se
insinuando. Está com um vestido bem curto e
justo. E para meu azar tem um belo corpo.
— Eu não irei. — Marcos fala.
— E por que não? Pare de ser rabugento! —
Débora fala, fazendo todos rir.
— Apenas não quero dançar agora. Some
daqui, loira! — brinca.
Estamos todos saindo quando ele chama por
Beatriz.
— Fala! — ela diz sem se virar. Todos olham
para ele.
— Fique.
— Não.
— Fique! — diz autoritário.
— Por que? — ela indaga irritada.
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

Ele se levanta, e olha para ela cruzando os


braços.
— Se eu disser, não vai ser bom.
— Ficarei, mas você tem um minuto!
— Bia, se quiser, eu fico... — Não quero
dançar mais, não com o David junto a sua amiga.
— Pode ir, porra louca. Sua amiga estará viva
quando voltar. — ele diz.
— Vamos, Lizi! — Cleber fala.
— OK. Qualquer coisa é só gritar. — digo a
ela sorrindo e dou uma piscadela.
Começamos a descer, mas a Débora fica
olhando.
— Amor, vamos! — Cleber diz.
— Eu quero ver isso. Eu sempre escutei ele
falar dela com tanta raiva, mas não parece ter
raiva dela. Olha o olhar de quem vai devorá-la.
— Amor, por favor! — Cleber insiste.
— OK, vamos! Depois faço ele me contar
tudo.
Descemos e fomos para a pista de dança. O
povo vai à loucura.
OMI - Cheerleader (Felix Jaehn Remix),
começa a tocar. O DJ realmente é bom.
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

Começamos a dançar animadamente. Cleber,


eu e Débora, dançamos juntos, enquanto David
dança juntamente, bem colado, com a Poliana.
Não acredito na cena que vejo. Sinto um
embrulho no estômago só de ver.
Eu me afasto. Esbarro em algumas pessoas.
Subo correndo para a área VIP, que está um
pouco vazia agora.
— Merda! — digo ao ver a cena.
Marcos segurando a Beatriz pela cintura, e
quase a beijando. Mas param com meu “merda”.
— Acho que interrompi algo...
— Você é foda! — Marcos diz.
— Desculpa, eu vim pegar minha bolsa que
acabei esquecendo aqui.
— Já vai? — Beatriz pergunta um pouco
nervosa.
— Vou sim.
— Vamos!

Chegamos em casa.

NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

Sento no sofá.
— Está mal. O que houve dessa vez?
— Nada, Bia. Mas foi surpreendente ver você
com o Marcos.
— Você me salvou! Aquele homem sabe
como hipnotizar uma mulher. Vou tomar um
banho, para tirar o cheiro dele de mim. Arg!
Entra no corredor.
Tiro os saltos, e não consigo mais segurar.
Começo a chorar.
O Joaquim estava certo quando disse tudo
aquilo sobre o David. Eu sempre fui uma idiota.
Foi só aparecer outra mulher e ele me esqueceu.
Fui uma burra! Beatriz tinha razão quando dizia
para mim que os Escobar são para foder o juízo,
e não de um bom jeito. Eu não consigo me
desapaixonar. Estou ferrada. Eu estou mais que
apaixonada por ele… eu estou amando. Eu
jamais devia ter dado continuidade a essa
loucura depois do dia que ele foi até o evento da
universidade junto ao irmão e o tio para coletar
coisas e ajudar a Ana Louise, esposa do
Henrique.
A campainha toca, seguida de batidas na
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

porta.
— Liziara, abre essa porta. Sei que já está aí.
— David grita.
— Vai embora daqui!
— Se não abrir, eu a coloco abaixo. Abre
logo, porra!
Abro a porta. Ele está nervoso, seu olhar
entrega.
— Vai embora, por favor!
— A gente precisa conversar.
— Sobre o que? Como fui idiota? Ou como é
bom estar com sua amiga Poliana? Ah, já sei!
Falar sobre tudo isso, e que nada mais pode
acontecer entre a gente.
— Você quer o que? Enquanto estou
trabalhando que nem louco, você está aos beijos
com o Joaquim. E agora quer falar da Poliana?
Nosso trato sempre foi nada de relacionamento,
então não me venha falar sobre Poliana, ou a
porra que for.
— Ah... então você viu ele me beijar. Pena
que não ficou para ver eu acertar um tapa na
cara daquele outro idiota! E sim, nosso trato foi
este, mas eu me apaixonei por você. Vai me
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

prender por isso? Vamos lá, me condene, porra!


Eu suportei tudo, mas suas mentiras e sua
aproximação com essa Poliana foi demais para
mim. Posso não ser uma policial, ter um corpão
ou saber lidar com um bandido, mas tenho
consciência de quando sou feita de idiota! E tem
mais, se não posso falar de quem quer que esteja
com você, não venha falar de qualquer homem
que esteja comigo. Direito iguais, querido! —
grito.
— Eu nunca te fiz de idiota! Se você se
apaixonou por mim, a culpa foi extremamente
sua!
— Veja só, concordamos com algo. —
respondo na ironia. — O seu problema é que não
sabe se contentar apenas com uma, tem que ter
várias. Passei dois anos sem ter ninguém além
de você, e nunca te exigi o mesmo. E se tivesse
saindo com alguém, não precisaria ficar me
esfregando com ele na sua frente! Uma pessoa
me disse que eu estava largando minha vida por
você, e eu realmente fiz isso e maldita a hora que
fiz.
— Está querendo jogar as coisas na minha
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

cara? Ótimo, vamos então colocar tudo em


pratos limpos. Eu nunca te pedi para não ficar
com mais ninguém. Também nunca mandei
largar nada por mim. Se ficou comigo e largou
tudo foi porque quis! Deixa de ser uma vez na
sua vida uma menina, e seja uma mulher e
assume suas atitudes.
— Que? Eu não ouvi isso. É essa menina aqui
que te fazia implorar por sexo. Essa menina, que
te acalmou quando ninguém mais podia. E essa
menina, que te entendia quando ninguém era
capaz. — Limpo as lagrimas com as mãos — E é
essa menina que te manda sumir daqui neste
momento, e sumir para sempre. E te aconselha
que uma vez na vida, pare de usar essa máscara
de delegado Escobar, e mostre que não passa de
um moleque!
Bato a porta com força e tranco.
— Liziara! — ele grita e soca a porta.
Beatriz aparece de toalha e com espuma no
corpo.
— O que está acontecendo?
Não consigo dizer. Apenas choro.
Ela abre a porta.
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

— David!
Ele olha para ela de toalha, e ela fica
ruborizada.
— Queremos dormir! — um vizinho grita.
— Vá embora, David. — ela diz.
— Eu não vou. Preciso terminar minha
conversa com a Liziara!
— Você está alterado, bebeu. Vai embora.
Amanhã vocês conversam. É tarde. Os vizinhos
estão reclamando. Por favor.
Ele me olha.
— Isso não acabou.
— Acabou sim, e a tempos, apenas você não
viu. — digo a ele.
— Eu vou voltar!
— Tchau, David! — Beatriz diz.
Ele se afasta e ela fecha a porta.
— Eu nunca mais quero ver esse filho da
puta! — grito de ódio.
Ela vem até a mim e me abraça, me
molhando toda.
— Amiga, vai passar. Vocês vão se entender.
— Nunca brigamos assim. Ferimos um ao
outro demais hoje. Não tem perdão. David foi ao
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

limite.
— Shiu... Vou terminar meu banho. Vá tomar
banho, e depois iremos assistir algum filme e
comer besteiras. E amanhã será um novo dia.
— Um péssimo dia, pelo visto.

NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

Capítulo 6

NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

Liziara Araújo
Faz dias que não vejo o David, e não tenho a
mínima vontade de ver. Ele me magoou muito.
Foda-se se fui idiota, ciumenta, burra. Não
importa. Ele não tinha o direito de me dizer
tantas merdas como fez!
Sei pela mídia notícias dele e da família dele;
e não porque eu fico procurando, mas porque
calha de eu encontrar acessando sites, redes
sociais, essas coisas. O canalha ainda deixou
nossa foto juntos no whatsapp. Sei também que
já foi a dois eventos com a tal da Poliana. A
família dele estava junto, mas mesmo assim isso
me deixa com raiva. Ele poderia tanto ser como
o irmão dele, Henrique, um homem amoroso,
que sabe demonstrar isso. Ana Louise foi uma
mulher de sorte, e fico feliz por ela ter um
Henrique em sua vida. Já eu sou cagada no amor,
família e amizade. Bem, minha amizade com a
Beatriz continua boa, e espero que dure muito,
porque perder ela também seria demais para
mim.

NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

Mas o que me deixa mais puta de raiva é ver


tantos elogios que o David faz a Poliana na TV e
jornais quando são entrevistados sobre o caso
do Jorge; e por sinal, o filho da puta ainda não
apareceu. E para minha tristeza, a policial
intrometida está ajudando no caso e recebendo
treinos do David. Ela é linda também, com um
corpo de dar inveja, e parece ser boa no que faz.
Tudo oposto de mim. Merda, estou na fossa
mesmo, me lamentando e me rebaixando.
Acorde Liziara, você é forte e nunca precisou ficar
assim, e não vai ficar agora.
Fico assistindo a série Arrow, ao mesmo
tempo que leio No mundo da Luna, da Carina
Rissi. Sim, eu consigo fazer as duas coisas ao
mesmo tempo.
A porta da sala se abre.
— Se estiver ainda na fossa, eu me jogo da
sacada! — Beatriz diz se jogando no sofá ao lado.
— Estou muito bem. Lendo e assistindo
séries.
— Você não sai de casa mais!
— Saio para trabalhar.
— Isso não conta, Liziara. Ele vive te ligando,
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

e tentando contato...
Sim, ele vive fazendo isso, mas em nenhum
momento veio realmente atrás de mim. Nada se
resolve por telefone.
— Problema dele. Eu tenho mais o que fazer.
— Eu sempre disse que os Escobar são para
foder o juízo, e não é no bom sentido.
— Estou bem, Bia. Relaxa.
— Sua mãe não te procurou mais? — ela
muda de assunto.
— Não, desde o almoço desastroso.
— Amiga, se benze, reza, ora, chama o Papa,
mas faça algo para tirar a nuvem negra de cima
de você. — ela ri.
— Palhaça. Como eu sofro! — digo
dramatizada.
— Atriz P, você precisa reagir. Não dá para
ficar vendo ele bem, e você fingindo estar.
— Atriz P? — franzo o cenho.
— Você tem uma cara de atriz pornô quando
está de óculos.
— Beatriz!
Ela ri.
— Sou sincera, meu amor! Vou tomar banho
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

e comer. Hoje foi difícil o dia.


— Não me diga que aquele reitor idiota fez
algo!
— Relaxa.
— Bia, tome cuidado. Ele cerca muito você.
— Eu preciso do emprego, e se ele tentar
algo, mato ele.
— Tome muito cuidado!
— Pode deixar. Vou para o banho.
Ela sai da sala com sua bolsa. Sorrio.
Como ela aguenta trabalhar o dia todo com
esses saltos? É um maior que o outro a cada dia!
Meu celular vibra e é uma mensagem do
Daniel, meu chefe:

Gatinha, preciso de você hoje. Te pago a mais se vir.


Beijos. Obs: Capriche na maquiagem, e não me venha como
uma louca, que tenho cólicas só de imaginar.

Sorrio.

Vou sim. Beijos, gato!

Daniel é um amor. O melhor chefe que eu


poderia ter. E como preciso de grana, eu vou.
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

Saio da Netflix e desligo a TV. Fecho o livro e


vou para meu quarto.
Separo a roupa de hoje e arrumo minha
bolsa. Meu celular toca e aparece a foto da
Daiane.
Atendo.
— Oi, Dai.
— Oi? Oi uma porra. Libera a minha subida,
precisamos conversar seriamente!
— OK! — Desligo o celular.
Vou até o interfone na sala e libero a subida
dela.
Minutos depois a campainha toca. Abro a
porta, e ela entra e me cumprimenta.
— Precisamos conversar e a sós. Bia está?
— No banho.
— Vamos para seu quarto. Melhor.
Concordo.
Caminho até meu quarto e ela me segue.
Entramos e eu fecho a porta. Ela se senta na
cama e eu permaneço de pé.
— O que aconteceu?
— Como assim?! — pergunto.
— Você sumiu. Minha mãe está muito
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

preocupada, e eu também. A Poliana vive em


casa e na cola do David. Meu tio não sabe o que
houve, já que esse era o seu papel, e não o dela.
O David nem sequer fala de você e está bem
estranho. Tentei descobrir com o amigo dele, o
Cleber, mas nem ele sabe o que aconteceu. O que
houve?
Respiro fundo.
— Brigamos feio, e desde então não nos
falamos.
— Foi tão tensa a briga ao ponto de ele
matar?
Arregalo os olhos e sinto um aperto no
coração. Engulo a seco.
— Matar?! — pergunto apavorada.
— Teve um assalto a banco hoje, e o David
matou um dos bandidos quando não tinha
necessidade. Você sabe que ele jamais atira para
matar, a não ser que seja a única opção. Mas ele
teve várias opções hoje, e mesmo assim atirou
certeiro. Foi a porra de uma burocracia terrível
para amenizar a confusão toda e acalmar o
delegado geral. Porra, o David está
descontrolado.
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

— Eu não posso fazer nada. Eu não pedi para


ele vir me humilhar. E não pedi para ele me
deixar de lado e ficar com a Poliana. Ele escolheu
isso, e merece conviver com isso.
— Certo. Ele é um idiota, mas é meu irmão e
não vou deixar ele se prejudicar. Ele está assim
porque está longe de você. Liziara, por favor, dê
uma chance a ele… Nem que seja para dar na
cara dele. Eu apoio, mesmo que seja apenas para
socá-lo.
— Me desculpa Daiane, mas ele escolheu
isso. Ele é bem maduro para decidir o que quer e
ver as próprias burradas. Ele nem sequer teve
coragem de vir pessoalmente me pedir
desculpa!
— Como meu irmão pode ser tão anta as
vezes? É um pateta mesmo! Eu tenho que ir,
tenho um compromisso agora. Mas por favor,
tentem se resolver… ou tenho medo de como
isso vai acabar.
Ela se levanta. Levo ela até a porta. Nós nos
despedimos e ela se retira.
A Bia aparece na sala e me olha estranha.
— Aconteceu algo?
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

— Nada. Vamos fazer algo para comer?


Ela concorda.
Preparamos o jantar e sentamos juntas a
mesa para comer.
— Vou trabalhar hoje.
— Vou com você. Quero me distrair, e, sei
lá… estou com vontade de ficar próxima de você
hoje. Não sei, uma sensação estranha.
— Credo Bia. Sai pra lá.
Bato na mesa e ela sorri.
Terminamos de jantar. Ela diz que limpa
tudo enquanto me arrumo.
Tomo um banho. Coloco uma calça jeans
preta, uma blusa branca de alcinha e sapatilhas.
Hoje é sexta-feira e lota demais a boate, e não
vou aguentar ficar de salto.
Faço uma maquiagem boa no rosto e arrumo
meu cabelo. Passo perfume e coloco uma
correntinha com a torre Eiffel de pingente.
Pego a bolsa e saio do quarto.
Beatriz já está pronta me esperando.
— Que mulher rápida!
— Muito! — ela ri.
Pego a chave do meu carro e a derrubo sem
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

querer.
— Merda! — digo vendo o que aconteceu. —
Quebrou. Jura? Já derrubei de tantos lugares e
uma queda idiota faz quebrar!
— Vamos com o meu.
— Relaxa. Tenho a outra chave. Essa acho
que foi a que estava com defeito já. Quando
deixei o carro na revisão deixei as duas, e depois
não sabia qual estava boa. — Deixo a bolsa no
sofá. — Já venho.
Vou para meu quarto e começo a procurar a
chave reserva.
Guardei tanto, que guardei de mim mesma!
Vou até o último lugar que pode estar, a
última gaveta da cômoda. Costumo guardar ela
embaixo das roupas… não sei porque, é uma
mania.
Puxo as roupas do fundo da gaveta e
encontro algo além da chave. Uma das armas do
David.
Na hora me vem o que ele disse quando
deixou aqui.
— Ela sempre vai estar carregada. Se algo
acontecer, jamais mostre que está armada. Pegue
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

a pessoa de surpresa, e não tenha medo, pois


estará agindo em legitima defesa. Meu mundo é
perigoso, e quando você entrou nele, os riscos de
vida e segurança te ampliaram. Se alguém entrar
aqui ou você for para um lugar perigoso, use ela,
ainda mais se eu não estiver por perto.
Sinto um calafrio estranho. Pego a chave e
guardo a arma como estava antes.

Chegamos na boate, e está lotada como eu


imaginava. Daniel liberou a entrada da Bia
gratuita.
Descubro que ficarão apenas eu e as duas
novas funcionárias no balcão, porque foi
contratado garçons novos para ficar circulando
pela boate. E os outros antigos funcionários
estão de folga.
Começo a trabalhar. Atendo aos pedidos e
dou atenção a Beatriz. Ajudo as funcionárias
com algumas dúvidas. Hoje tem aniversariante, e
com um monte de gente, fiquei responsável por

NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

fazer as bebidas da mesa deles também.


A Bia entra atrás do balcão enquanto pego
bebidas embaixo dele. Ela se agacha ao meu
lado.
— Vou me arrepender de dizer isso, mas se
eu não estiver louca ou bêbada, tem um cara um
pouco distante do balcão que lembra muito a
foto do tal do Jorge que saiu no jornal.
Solto a bebida com força e ela quebra.
— Não pode ser. Como ele entraria aqui com
um monte de seguranças e com a foto dele
circulando por tudo quanto é lugar? Se bem que
quando assaltaram... Merda, claro que pode ser
ele. Por isso o calafrio estranho que senti.
Sensações ruins nunca são em vão… aprendi isso
na época da faculdade de psicologia.
— O que vamos fazer? Precisamos ligar para
o David.
— Não! Antes preciso ter certeza que é ele.
— Isso é loucura! Ele não veio à toa, veio por
sua causa!
— Eu sei. E não irei recuar. Posso ser mais
que uma menina, e bem melhor que a Poliana.
— Pare de ser louca! Isso não é hora de
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

provar nada.
— Confie em mim!
Levanto e ela faz o mesmo.
Ela cochicha em meu ouvido
disfarçadamente onde está o cara. Olho e o vejo.
A luz é escura e as luzes que piscam atrapalham,
mas realmente parece o tal de Jorge. Ele sorri, e
sinto novamente o calafrio.
— Preciso limpar isso aqui. Daniel vai me
matar.
— Pegue a vassoura e eu fico aqui te
cobrindo. Não faça nenhuma loucura!
— Obrigada, Bia. Pode deixar.
Olho para o cara, e ele sai pela saída dos
fundos da boate.
Saio dali e olho para ver se a Bia me olha.
Quando ela se distrai, eu saio em direção a saída
dos fundos da boate, onde tem as latas de lixo…
nada demais além de uma rua morta que
somente saímos para pôr o lixo para fora.
Preciso saber se é ele e assim ligar para a
polícia.
Saio e a rua está um pouco escura. Não tem
ninguém. Finjo mexer no lixo.
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

Escuto passos lentamente.


Sinto um medo terrível. Tento entrar
novamente, mas mãos me agarram. Sei que caí
em uma cilada, e sei que o pior pode acontecer.
Mas não posso ter medo, tenho que ser forte. Eu
tenho que conseguir.
Tento me soltar, mas meu nariz e boca é
tapado por um pano com um cheiro forte de
alguma mistura com álcool. Tento não respirar
isso, mas é inevitável. Meus movimentos
começam a ficar fracos e minha visão turva.
A última coisa que escuto é:
— Te peguei branquinha!

NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

David Escobar
Estou na delegacia com o Cleber e Poliana.
Estamos vendo estratégias para encontrar o
Jorge do jeito Escobar.
Estou um inferno, sem cabeça para nada.
Ficar longe da Liziara está sendo difícil demais.
Só quero que esse inferno termine logo. Sei que
magoei muito a ela, e que talvez ela jamais me
perdoe, porém preciso tentar conquistar seu
perdão. Mas com a situação desse jeito, não tem
como, simplesmente não dá. Eu me sinto um lixo
longe dela, e a cada dia piora. Me prejudiquei ao
assalto no banco, mas naquele momento
descarreguei a raiva que estou guardando desde
a briga com a minha maluquinha. Estou fodido.
A porta da sala se abra fortemente. Olhamos
assustados. Marcos e Beatriz entram juntos.
Beatriz está pálida.
— Não acredito. Vivi para ver uma mulher te
denunciar, tio! — brinco.
— Eu vou acabar com sua vida, sua vadia! —
Beatriz grita.

NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

Ela vai para cima da Poliana e acerta um tapa


na cara dela com força. Marcos corre para
segurá-la.
— Você é louca? Isso é um desacato a
autoridade! — Poliana grita e tenta ir para cima
da Beatriz, mas a impeço.
— Foda-se a lei! Foi por sua culpa... E sua
culpa David! — ela grita desesperada, chorando.
— Beatriz, o que aconteceu com a Liziara? —
grito.
— Ele levou ela. Ele a levou! — ela grita
desesperada e Marcos a segura.
Ele a coloca sentada na cadeira. Ela está
tremendo.
Sinto meu mundo desabar.
— O que realmente aconteceu? — pergunto
tentando ser calmo. Meu coração está um
inferno.
— Estávamos na boate e vimos um cara
parecido com o Jorge. Ela saiu para pegar a
vassoura para limpar a garrafa que ela tinha
quebrado, mas eu deveria ter desconfiado que
ela iria atrás dele. O filho da puta sabia que ela
iria atrás quando ele saísse. As câmeras da boate
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

mostraram ela saindo para os fundos da boate,


onde ela saiu e depois sumiu! E tudo para provar
que era melhor que essa vadia que fica se
jogando para cima de você, e provar que não era
uma menina.
— Eu vou matar aquele filho da puta. Eu vou
matar! — grito e jogo tudo da mesa no chão.
Pego a arma na gaveta da mesa e me viro
para sair da sala. Marcos me segura.
— Me solta, porra! — grito.
— Você não vai sair daqui assim! Não vai
resolver nada nesse estado! — ele grita comigo.
— Eu mandei me soltar! — Dou um murro
nele e me solto.
Cleber me segura. Marcos vem para cima de
mim, mas Beatriz se põe na frente dele.
— Parem os dois! — ela grita.
— Isso não é hora para brigas, caralho! —
Cleber diz.
— Você me respeite, David. Sou teu tio,
porra! Você nunca me levantou a mão, e agora
me dá um murro? Não me faça perder a merda
da paciência com você. Se acha que sair daqui
desse jeito vai fazer alguma coisa, está
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

enganado. Não vou permitir que se coloque em


risco. Vamos pegar a Liziara de volta, mas antes
temos que agir com calma. Mete a porra da
calma nessa cabeça e se controle!
Cleber me solta e me ajeito. Jogo a arma na
mesa.
Poliana se aproxima, colocando a mão em
mim.
— Tira a mão, porra! — falo e ela recua. —
Se coloca na porra do seu lugar!
— Mas David, eu só queria...
— Você não quer caralho algum. Eu sou o
delegado nessa merda. Você apenas obedece! —
grito com ela. A mesma concorda e seus olhos
exibem raiva, mas foda-se.
Se alguma coisa acontecer com a Liziara, eu
nunca vou me perdoar… nunca.
— Desculpa, tio!
Ele concorda e se senta na cadeira. O canto
da sua boca está sangrando.
— Pegue algo para ele limpar o sangue. —
Cleber diz a Poliana, e ela assente.
— Vou reunir todos. Quero saber o que a
equipe à paisana fez que não impediu! — digo.
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

Poliana vem do banheiro com papel e a


Beatriz pega.
Beatriz começa a limpar o Marcos.
— Não preciso de babá. — ele diz.
— Cala a boca! E não me tire do sério,
porque não tenho unhas grandes à toa. E hoje
para eu matar um, é apenas um estalar de dedos
que faço.
— Nós vamos encontrá-la, David! — Cleber
disse.
— Vamos, ou não me chamo David Escobar!

NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

Capítulo 7

NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

Liziara Araújo
Acordo um pouco zonza e com dor de
cabeça. Meu estomago está embrulhado. Meu
corpo, dolorido. Tento me mexer, mas estou
completamente imobilizada. Olho ao redor e não
reconheço o lugar que estou. É um quarto, e não
parece ser de um hotel, mas de um apartamento
ou casa.
Onde estou?!
Tento me soltar, porém não consigo.
A porta do quarto é aberta. Jorge entra
sorridente. Seu olhar é assustador. Parece um
louco.
— Até que fim acordou, branquinha.
— O que você quer comigo?
— Com você? Nada. Mas com seu
namoradinho, tudo.
— Eu não sou namorada do David, seu
idiota.
— Não me engane. Ele é louco por você, o
que te torna importante para mim.
— Me solta, seu filho da puta! — grito.

NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

— Pode gritar, se debater, chorar, porque


ninguém poderá fazer nada. Você está na minha
cidade, e quem comanda tudo aqui sou eu. Todos
só fazem o que eu permito. Se você cooperar,
prometo pensar se te deixo sair viva daqui. Do
contrário, você e aquele merdinha vão conhecer
um outro mundo, se é que ele existe.
Suas palavras são repletas de ódio e seu
olhar reflete vingança. Eu preciso dar um jeito
de sair daqui.
— Você é louco. David nunca vai deixar você
sair livre dessa. Você está cavando a própria
cova. Se pensa que ter me pegado facilitou você
ter o David em suas mãos, está enganado… pode
ter certeza que só aumentou o ódio dele por
você. E merdinha é como vai ficar a sua vida
quando vierem me tirar desse lugar.
Espero realmente que consigam me tirar
daqui!
— Cala a boca! Odeio pessoas que me
enfrentam, Normalmente elas terminam mortas,
e meus dedos coçam para te estrangular e
depois dar um tiro bem no meio da sua testa,
assim como aquele desgraçado fez com minha
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

irmã.
Ele se aproxima e acerta um tapa meu rosto,
fazendo a cadeira em que estou se arrastar um
pouco. Sinto a ardência e a dor do lado direito do
meu rosto.
— Filho da puta! Vai se arrepender por ter
feito isso! — digo com raiva.
— Sua voz me irrita, garota! — ele grita. —
Vou sair, e não tente nada. Como eu disse, essa
cidade é minha, e meus parceiros estão ao lado
de fora. Nenhum deles tem um pingo de
consideração quando veem uma mulher jovem,
gostosa e teimosa. Não irei impedi-los de
abusarem de você. Então tome cuidado, aqui
ninguém tem pena de nada. — Ele segura meu
rosto com força e solta bruscamente.
Sai do quarto e fecha a porta com força.
Desgraçado.
Por que fui tão teimosa ao ponto de me
colocar em perigo? Que inferno. Minha mania de
ser impulsiva só me prejudica!

NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

David Escobar
Estou exausto. Já rodei a cidade inteira atrás
de pistas e não encontro. Deixei a todos em
reunião antes de sair horas atrás. A notícia já
vazou na mídia devido a confusão que ficou na
boate pelo desespero da Beatriz. Os pais da
Liziara me ligam sem parar, e não sei o que
dizer. A delegacia está uma zona de repórteres
na porta. Tudo está uma confusão em poucas
horas. Eu me sinto o verdadeiro culpado de
tudo. As câmeras da boate não revelam nada que
possa ser usado. Estou uma pilha de nervos
prestes a explodir.
Estou na estrada, mas meu pensamento está
longe. Não sei o que ela está passando e nem se
está viva ainda. Não sei mais o que pensar.
Meu celular começa a tocar novamente, e
pego no bolso para ver quem é. O nome da
minha mãe aparece na tela, mas não tenho
tempo de atender. O volante gira sem meu
controle. O celular cai. Tento controlar o volante,
mas não consigo. Vejo o acostamento da estrada,

NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

e é nele que meu carro acerta fortemente. O


airbag ativa. Minha cabeça bate na janela ao meu
lado. Sinto uma pressão forte. Coloco as mãos na
cabeça e vejo o sangue em meus dedos.
Porra, deve ter óleo na estrada e não vi. Ligo
o pisca-alerta do carro e me retiro dele. O
estrago na frente dele foi grande, e por pouco o
acidente não foi pior.
Pego o celular no carro e ligo para meu tio.
A estrada está bem escura, e poucas são as
iluminações. É madrugada, quase não tem carro
passando.
Marcos atende.
— Seu porra, cadê você? — ele grita.
— Estou na estrada. Bati o carro e preciso de
ajuda.
— Você o que? Como você está? Porra!
— Estou bem. Perdi o controle do carro.
Devia ter óleo na pista.
— Cacete! Diz onde está que estou indo para
ai!
— Não avise minha mãe ou a Daiane, ou vão
se preocupar à toa.
— Certo. Está armado?
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

— Sim. Mas é bem perigoso onde estou. Saí


tão atordoado que não sei se a arma está
carregada.
— Ativa o rastreador do seu celular que
estou indo com os seguranças.
— OK. Fico no aguardo.
Desligo. Ativo o rastreador do celular. Sento
no banco do motorista com as pernas para fora.
Mesmo com isso, só tenho na mente a minha
maluquinha.
O que você fez, David?
Desde que eu a conheço sempre foi assim,
impulsiva e maluca. Por não ter carinho dos pais
desde pequena, ela se apega muito as pessoas, e
comete loucuras para chamar atenção ou provar
que pode ser boa como alguém que ela pensa
estar roubando seu lugar.
Ninguém jamais substituiria o lugar dela.
Ninguém está à altura dela para ocupar um
espaço que ela tem dentro de mim.
Minutos se passam até que um carro branco,
estaciona atrás do meu. A porta é aberta
rapidamente. A pessoa que sai dele é quem eu
menos esperava neste momento.
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

— Débora? — pergunto.
— O que você faz aqui, David? Meu Deus,
você está sangrando. Droga, olha seu carro! Você
está bem?
— Calma, eu estou bem. O que você faz essa
hora por aqui?
— Estou vindo da casa da minha mãe.
— E sozinha? — Eu me controlo para não
gritar com ela.
— Sim. Nada demais.
— Você é esposa de um policial, porra!
Trabalha para um juiz. Tem merda nessa
cabeça?
— Talvez eu tenha um pouco. E se contar
para o Cleber que resolvi voltar a esta hora, eu te
mato, e ninguém vai encontrar os vestígios.
Agora vamos dar um jeito nisso. Não vou te
deixar sozinho aqui!
— Começa ligando o pisca-alerta do seu
carro!
— Ótima ideia.
Ela se afasta.
Débora é uma ótima amiga de anos, porém
as vezes é pior do que uma criança. É louca!
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

— David, onde fica o pisca-alerta daqui?


Só pode ser brincadeira!
— Você comprou a carteira?
— Não. Eu passei e fui muito bem para sua
informação. É que esse carro é do Cleber, porque
o meu bati novamente. Então ele deixou um dos
carros dele comigo. O automático desse carro é
perfeito...
— Débora, foco! Sai daí!
Ela se retira e quase cai… se eu não tivesse
segurado ela. Ligo o pisca-alerta.
— Já ligou para alguém vir te socorrer?
— Sim. Marcos deve estar a caminho.
Ela olha para atrás de mim.
— Deve ser ele e o exército. Para que três
carros? Porra, um é o carro do Cleber. Eu vou ser
morta!
— Se ele não fizer o ato, eu faço! Sua louca!
Olha a hora, e você por aí sozinha.
— Cala a boca. Preciso pensar em uma boa
desculpa!
— Não me mande calar a boca!
— Já mandei!
Os carros encostam. Marcos, Cleber, Luciano
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

segurança do Henrique e Simon segurança do


meu tio saem dos carros.
Eles se aproximam.
— Eu sei que o David bateu o carro, mas por
que essa louca está aqui? — Marcos pergunta.
— Fiz a mesma pergunta! — digo irritado.
— Bom, como está tudo resolvido, eu vou
indo... — ela diz.
— Entra na porra desse carro e fica aí até eu
mandar seguir. Em casa a gente conversa. Tem
merda na cabeça, Débora? — Cleber diz
alterado.
— Quanto rancor, homem. Não grite com
uma anja!
Ela entra no carro e fecha a porta enfurecida.
— Eu vou matar essa mulher ainda. —
Cleber diz com raiva.
— Não faça isso, preciso dela. Espera eu
achar outra funcionária… aí faz o que quiser! —
Marcos fala.
— Comece a procurar hoje!
— Ninguém vai matar ninguém. Vamos logo
resolver isso e sair daqui. — falo.
— O Simon e o Luciano vão levar seu carro
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

junto ao que eles vieram. Você vem comigo, e o


Cleber vai acompanhando eles e a louca da
mulher dele.
— Certo!
Débora coloca a cabeça para fora da janela.
— Gente, temos um probleminha. Olhem
para trás.
Olhamos.
Porra, Daiane!
Ela encosta o carro e sai dele como um
tornado.
— Que porra aconteceu? Acham mesmo que
eu seria idiota, ao ponto de não perceber a
preocupação do Luciano ao sair de casa como
um louco? David, tem merda na cabeça? Isso é
hora de sair procurando a merda que for?
Ela grita.
— Não venha dizer o que posso ou não fazer.
Eu estou bem!
— Estou vendo. Seu carro batido, você
sangrando. Que inferno! Acha mesmo que vai
encontrar a Liziara quando estiver morto? Você
tem sorte do Henrique estar viajando, ou seria
um cara morto.
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

— Eu só quero ir embora daqui. Entra no seu


carro e vamos embora. E espero que não tenha
aberto a boca para a dona Paula.
— Nem pensei nisso, ou ela estaria morta de
preocupação. Você é literalmente o chefe dos
três patetas!
Ela me abraça.
— Se alguma coisa acontecer com você por
sua irresponsabilidade, eu te ressuscito para te
matar novamente!
— Eu estou bem... Vamos embora daqui
antes que mais um Escobar chegue.

NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

Liziara Araújo
Estou cansada. Tento me manter acordada,
mas não consigo. Está amanhecendo, vejo pelas
frestas da janela. Estou dolorida. Meu estômago
implora por comida.
Eu preciso dar um jeito. Não vou aguentar
ficar muito tempo aqui. Eu devia ter pego a
arma, mas fui idiota!
Beatriz deve estar desesperada e deve ter
ido atrás do David. Ele deve estar me achando
uma louca agora, porque eu estou me achando
louca.
Esse cara é mais louco do que eu pensei.
Esfrego os pulsos para tentar lacear a corda,
mas não adianta, apenas me machuca mais.
— Filhos da puta, isso não vai ficar assim! —
grito irritada.
Foda-se! Se entrei na chuva, não vou me
proteger. Vou me molhar e encarar a
tempestade, custe o que custar!

NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

Capítulo 8

NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

Liziara Araújo

NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

Três dias depois...


O idiota do Jorge resolve me soltar daquelas
cordas, porém tem um bando de seus homens na
porta ao lado de fora do quarto que estou. Só
tenho acesso ao banheiro que fica no quarto e
uma janela, de onde já olhei e vi que estamos
muito alto. A rua é desconhecida, jamais vi nem
em fotos. É um lugar feio, lembra aquelas
cidades de filmes de faroestes antigos. As
pessoas que passam na rua são estranhas, e
homens andam armados para cima e para baixo.
Ele não brincou quando disse que era tudo dele
aqui.
Estou fraca, não comi nada nesses dias, por
medo de tudo que me oferecem. Meu estômago
está embrulhado, minha cabeça latejante. Já
desmaiei duas vezes nesses dias. Eu quero sair
logo daqui, e estou com medo, não posso negar.
Maldita hora que decidi ir atrás desse infeliz,
porém se ele não me pegasse na boate, me
pegaria em qualquer lugar. Não sai da minha
cabeça que a Beatriz e meus pais deve estar

NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

pensando que aconteceu o pior, porque se não


estão, eu estou pensando que vai acontecer o
pior. Jorge está calmo demais, e isso me
preocupa. Não temos que ter medo do inimigo
agitado, temos que ter medo do inimigo calmo.
Em pensar que fiz toda essa merda por amor...
Amor, quatro letras que pode levar uma pessoa
a fazer burradas. Talvez seja por isso que a
palavra sofrimento na maioria das vezes vem em
seguida da palavra amor.
A porta se abre e me afasto da janela para
olhar.
— Apreciando a vista, branquinha? Espero
que seja apenas isso, e não pensando em uma
forma de fugir.
Ele carrega uma bandeja de marmita na mão
esquerda, e na direita uma garra d’água.
— Não sou tão idiota como pensa!
— Ótimo saber disso. — ele deixa as coisas
na cama. — Coma. Dessa vez foi comprado em
um restaurante para a princesinha.
— Não quero nada.
— Garota, você vai comer. Acha mesmo que
eu colocaria algo na comida? Eu preciso de você
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

inteirinha para pegar quem eu realmente quero.


Você só sai daqui morta e usada se em até dois
dias aquele filho da puta não der um sinal.
Afinal, não acha que está demorando demais?
Será que foi esquecida? Não seria uma má
coisa… eu e meus homens iriamos adorar ter
uma escrava de dia, e uma puta de noite.
Sinto meus olhos lacrimejarem. Minhas mãos
tremem.
— Vocês não vão encostar um dedo em mim!
Ele se aproxima me forçando a encostar na
parede. Tento me afastar, mas sou
completamente impedida. Ele aproxima a boca
do meu ouvido e então diz:
— Não gaste sua saliva dizendo bobagens.
Deixe para gastar quando estiver de joelhos na
minha frente com essa boquinha atrevida em
torno do meu pau.
Ele me dá um beijo no pescoço e se afasta. As
lágrimas escorrem por meu rosto. Antes de sair
do quarto, ele me manda comer a comida. Sento
na cama aos prantos. Que nojo desse infeliz!
— Porra David, cadê você? Cadê os Escobar
que tem fama por sua rapidez e por sempre fugir
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

da lei.... Aceito qualquer policial, qualquer


delegado, qualquer coisa que me tire desse
inferno!

NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

David Escobar
Três dias de puro inferno, mas amanhã é o
grande dia. Recebi informações pelo Cleber, que
a cidade no interior do estado que o Jorge
comandava continua sob controle dos homens
dele. É uma cidade muito pequena e bem
perigosa. Os policiais têm receio de invadir o
lugar, porque na última invasão, na qual eu
participei, houveram muitas vítimas feridas. O
lugar talvez seja pior que o inferno. E é lá que
temos certeza que ele esconde a Liziara. Não
estou fazendo isso dentro da lei, estou colocando
meu tio e meu amigo em perigo e arriscando
nossas carreiras; mas se fossemos agir dentro a
lei, chamaria mais a atenção e isso pode ser
perigoso. Cada Escobar está com uma função
para que nada de errado. E cada membro fora da
família que vai participar, também. Nada pode
dar errado, qualquer desvio pode colocar tudo a
perder. Estou arriscando minha carreira, mas
por ela vale tudo.
Descobri que meus homens, que ficaram

NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

apaisana naquele maldito dia, foram distraídos,


por uma briga na entrada da boate. Jorge sabia
deles, ele não é idiota. Fez tudo esquematizado!
Estou na delegacia.
A porta se abre e os pais da Liziara entram.
Sua mãe está abatida como nunca vi.
— David, não aguentamos mais. Precisamos
da nossa filha. Fomos péssimos pais, mas ela é
nossa filha, nossa única filha. Se algo acontecer
com ela, eu jamais irei me perdoar. Eu preciso
dela. Encontre ela, David… eu estou te
implorando. — Lúcia diz aos prantos.
— David, ela é nossa filha, precisamos dela,
encontre-a, custe o que custar. Se o problema for
o dinheiro, pagamos o que for! — Leandro fala.
— Eu vou encontrar ela e trarei com vida.
Não se preocupem, e saibam que fico muito feliz
por ver que amam ela. Pena que só demostraram
diante das circunstâncias... — como talvez eu
esteja fazendo.
— Sempre a amamos. Demonstramos das
piores maneiras. Mas sempre amamos ela. —
Lúcia diz alterada.
— Vou encontrá-la. Peço que evitem jornais,
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

é o melhor até o momento.


Eles concordam.
— Agora terei que me concentrar nas coisas
e em alguns trabalhos. Vão para casa, tentem se
acalmar, e eu prometo que amanhã mesmo ela
vai estar aqui, derrubando tudo por onde passa,
dando os sorrisos perfeitos dela, se machucando
com o próprio aparelho dentário, e perguntando
onde está o óculos de grau dela quando está em
seu rosto, tremendo como uma louca quando
está com fome, e perdida nos livros e nas séries
que ama. Eu prometo isso a vocês, ou não me
chamo David Escobar.
Lúcia sorri.
— Você a ama tanto. Ela merece alguém que
a ame e demostre como nunca fizemos.
Não digo nada, apenas fico olhando para ela.
Eles se retiram da sala me deixando perdido em
meus pensamentos.

Quase não dormi noite passada. Estamos

NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

todos na sala de investigações da delegacia. Hoje


iremos invadir aquele maldito lugar.
— Hoje nada pode sair errado! — Daiane
fala. — Não façam nada com o coração e sim com
a mente. Qualquer ato emocional pode colocar a
vida da Liziara em um risco pior.
— Eu sei. E por isso tudo ficará como
combinamos. — eu falo.
Daiane ficará responsável por manter meu
superior e toda a polícia fora disso, sem que haja
suspeitas que tem algo errado. Minha mãe
tentará manter a impressa longe disso quando
invadirmos a cidade. Poliana e Cleber vão ser
meu reforço. Meu tio será a chave surpresa caso
aconteça qualquer deslize, e que vai abafar todo
o caso perante a lei. Luciano ficará de escolta
com a família da Liziara, para que não tenhamos
surpresas. Simon, o segurança do meu tio, fará
escolta da Beatriz, para evitar qualquer loucura
dela, e protegê-la, pois não sabemos se eles têm
olheiros por aqui. E eu serei o troféu, me
entregarei a eles de bandeja.
— Eu acho isso arriscado, David, Deixe a lei
cuidar disso! — Poliana diz.
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

— Eu não vou perder a Liziara por passos de


tartaruga da lei. Cada minuto lá, ela pode estar
sofrendo algo e encurtando suas chances de
sobrevivência. Então não se meta. Se quer
ajudar, faça isso calada.
— Cala a boca, loira. Você é a única aqui que
tem que agir ou cair fora; e se algo desta sala
vazar por aí, saiba que não sobrará um fio de
cabelo seu para conta a história. Ou fica e calada,
ou sai antes que eu te enforque, porque se você
não tivesse aparecido, nada disso teria
acontecido. — Beatriz diz, e percebo a falha
tentativa do meu tio de disfarçar o sorriso. — E
se a Liziara tiver um arranhão, é melhor você
fugir do país antes que eu te encontre e se
esconda muito bem, porque eu te caçarei até o
inferno se for preciso.
— Toma cuidado como fala comigo! —
Poliana diz alterada.
— Tome você, cuidado comigo. Presta muita
atenção nas suas ameaças, ou acabo com sua
vida profissional e pessoal em segundos. — meu
tio diz em um tom sério e Poliana me olha
envergonhada, na tentativa de que eu a defenda.
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

— Foquem no que será feito! — minha mãe


diz alterada. — Todos sabem suas funções. Eu só
quero que todos saiam sem machucados disso.
Hoje será um dia marcante na vida de todos.
Nunca os Escobar se colocaram tanto em perigo
como hoje. Pensem antes de agir. Olhem por
onde andar. Tomem cuidado com o ar que vão
respirar. Eu já perdi meu marido Joseph, e não
quero perder mais ninguém.
Daiane passo o braço ao redor da minha
mãe.
— Sei que estou arriscando a vida e carreira
de todos, mas se faço isso, é porque estou
desesperado, e cada minuto que se passa é uma
parte de mim sendo afetada pela dor e
desespero.
— Estamos juntos com você para o que der e
vier, David. — Cleber fala, e agradeço com um
aceno.
A porta se abre e uma loirinha, alta, de
óculos, saltos altos, calça jeans preta, uma blusa
regata preta, coque no cabelo e um batom
intenso vermelho, entra na sala. Sorrio.
— O que faz aqui? — Cleber pergunta.
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

— Quando conheci David e Marcos, foi nas


piores circunstâncias; ambos me livraram de um
tarado na lanchonete em que eu trabalhava.
Depois quando achei que nunca mais
encontraria eles pessoalmente, o destino cuidou
de traçar nossos caminhos novamente. Mais
uma vez estive em perigo quando delinquentes
tentaram me sequestrar junto com meu carro, e
se não fosse por eles, talvez eu nem estivesse
mais aqui. E foi nesse dia que esse policial lindo
e gostoso ajudou a eles me proteger. Larguei a
faculdade de artes cênicas, fui embora da cidade
por problemas pessoais que prefiro não dizer, e
quando voltei, vim decidida a fazer faculdade de
direito. Estava mais velha e decidida, porém sem
dinheiro algum, e fui atrás da fera conhecida por
Marcos… ele me deu emprego, juntei dinheiro, e
então iniciei a faculdade que termino em breve.
Os Escobar me receberam de braços abertos, e
de brinde ganhei um marido. Sempre que estive
em perigo de alguma forma, eles estavam lá para
me defender.
Ela recupera o folego.
— E hoje o destino me deu a chance de pagar
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

a primeira parcela de tudo o que me fizeram e


de toda a ajuda em tantos momentos pessoais
que seria uma lista enorme, daria um livro...
Melhor, um conto já seria o suficiente. Posso não
ser uma boa pilota, a melhor secretaria, saber
chutar alguém sem cair ou dar um soco sem
atingir a mim mesma, mas eu gosto da Liziara e
gosto de vocês… Na verdade amo vocês, e isso é
o suficiente para me torna mais forte e lutar
para trazer ela de volta. — Débora fala, e minha
mãe chora emocionada.
— Amor, não faça isso... — Cleber implora.
— Fazer o que? — pergunto preocupado.
— Sou mulher de um policial e a melhor
secretaria de um juiz, e a amiga mais gata de um
delegado, eu preciso fazer isso. É uma vida em
risco, e se eu estivesse no lugar dela, queria que
alguém fizesse isso por mim.
— Débora? — indago.
— David, quem vai na frente não será você,
serei eu. Ninguém me conhece. Não saio muito
na mídia… o que é uma lastima, eu sei. Mas se
você for, aqueles caras podem nunca mais
devolver você e ela. Sei que terá uma imensa
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

equipe preparada para qualquer coisa, mas eu


irei na frente, e quando eu tiver o local que ela
está, vocês saberão; e não se preocupe tenho
uma carta na manga.
— Isso é loucura. Ficou louca! — Digo a ela.
— Loucura ou não eu irei.
— David, ela pode ter razão. Seriam duas em
perigo, está certo, mas ninguém a conhece. Com
ela na frente dando informações é melhor. —
Daiane diz.
— Não posso colocar você em risco!
— Não vai. Eu sei o que estou fazendo.
— Qual sua carta na manga? — Marcos
pergunta.
— Segredo, mas saberão na hora. Agora
tenho que ir, porque aquele fim do mundo é
longe. E hoje não sou Débora Alencar Fernandez.
Hoje serei, Paloma Almeida, uma mulher gravida
de um traficante que não assumiu o filho, e meu
pai quer me matar por isso, e fugi para lá.
— Você não vai! — grito.
— Vamos fazer um teste. Se ela me
convencer da história, ela vai, e juro que trarei
ela viva. — Marcos fala. — Sou um dos
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

traficantes que cerca a cidade, e você tem que


passar por mim e eu te impeço de entrar
pedindo para saber o que quer ali e quem é você.
Ela se aproxima dele, retira os óculos, solta o
cabelo.
— Eu estou desesperada. O filho da puta do
meu namorado me largou quando soube que
estava gravida. Meu pai quer me matar. Meu
namorado era um dos traficantes da minha
cidade, e não sei o que fazer, estou desesperada.
O único lugar que sei que teria proteção é aqui.
Preciso ficar por uma noite apenas, ou amanhã
não estarei aqui... — Ela se aproxima mais dele,
ficando com o corpo colado, passa a mão por seu
braço e diz chorosa — Não vai negar abrigo a
mim, vai? Deve ter irmãos ou alguém que ame, e
eu amo demais está criança que nem sequer a
conheço… preciso ficar. — Lágrimas escorrem
por seu rosto.
Porra, onde ela aprendeu fazer tudo isso?
— OK, me convenceu. E sai de perto de mim,
ou seu marido vai me matar. Porra, tem certeza
que quer ficar na faculdade direito? — Marcos
pergunta.
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

— Tenho. Mas agora preciso trocar de roupa


por algo mais simples e colocar as lentes de
contato. Irei na frente, conhecerei o lugar e
manterei vocês informados. Só saiam daqui
quando eu disser que podem ir. Descobri que
hoje tem uma festa na cidade, e isso pode ajudar.
Cleber se aproxima dela e a beija.
— Não faça loucuras. E tome cuidado! Se
algo te acontecer...
— Eu vou voltar inteirinha, eu sempre volto.
— Cuidado, Debi! — Dou um abraço nela. —
Faça o que for preciso para se defender.
— Está bem...
Antes de sair da um último sorriso e fecha a
porta.
Cleber está tenso, assim como todos.
— Vai dar tudo certo! — Beatriz diz a ele. —
Confie.
— Essa daí vai colocar tudo a perder! —
Poliana fala.
Cleber se vira para ela e conheço esse olhar.
— Cala a boca, porra! Tome muito cuidado
como fala da minha esposa. Essa daí, tem nome e
sobrenome. Uma palavra sobre ela, e esqueço
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

que você é mulher e colega de trabalho!


— Preciso tomar um ar. — Ela sai da sala
enfurecida.
— Ou você manda essa demônia para o
quinto dos infernos de onde ela veio, ou alguém
ainda vai matá-la; e sou a primeira da lista para
cometer o ato. — Daiane fala.
— Foda-se a Poliana, o que importa é a
minha mulher que está na porra das mãos
daqueles desgraçados!
Minha mãe sorri.
— O que foi mãe?
— Nada, apenas me deixa feliz ouvir isso.
Alguém bate na porta.
— Entre. — digo.
A porta abre e um dos meus homens
aparece.
— Tem um rapaz aí… chama-se Joaquim e
quer falar com você.
— Mande ele para minha sala, estou indo.
Ele concorda e se retira.
— Quem é esse? — Marcos pergunta e
Beatriz sorri.
— Um idiota que trabalha com a Liziara.
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

Você o conhece, é o mesmo cara da festa da


universidade que fomos para resolver o caso da
Ana Louise com o Henrique. Ele te tirou do sério
por causa da Beatriz.
— Ah, aquele merdinha? Não sabia que a
delegacia recebia lixo. — diz com ironia. — Esse
bosta, não tem medo de morrer mesmo!
Sorrio e saio da sala.
Entro na minha sala e ele me olha.
— Olha aqui, só vim dar um recado... Eu
sempre fui contra você e a Liziara terem algo, e
sempre disse que isso traria problemas… e veja
só, eu estava certo. Se algo acontecer com ela,
quero que saiba que você é o único culpado.
— Acabou o discurso? Quem pensa que é
para vir aqui me falar isso? Isso tudo é raiva por
saber que ela nunca te quis? Enquanto você ia,
eu já estava prestes a retornar novamente ao
lugar. Não sou idiota, e sei que tem interesse
nela. Mas saiba que ela jamais será sua. Eu irei
trazer ela de volta só que para mim e ninguém
mais. Então saia daqui e leve esse seu
discursinho bosta para longe, e nunca mais
apareça na minha frente, ou vai conhecer um
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

David que quem já viu, não deseja ver nunca


mais.
— Eu irei mesmo, mas não se esqueça, o
único culpado será você! Levará a culpa até o
último dia da sua vida!
Ele sai da sala e me sento na mesa.
Não precisa ninguém me dizer que a culpa
vai ser minha, porque sei disso. E sei também
que se algo acontecer com ela, matarei o filho da
puta sem remorso algum.

NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

Capítulo 9

NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

David Escobar
Estamos agoniados à espera de notícias da
Débora. Eu devia estar louco ao permitir a ida
dela. Agora são duas correndo risco. Estou
tentando me concentrar nas papeladas na minha
mesa, mas não consigo. Outros casos precisam
de mim. As horas estão passando e nada de
notícias. Temos que pegar a Liziara hoje. Eu não
aguento mais esse inferno. A cidade que Jorge
comanda é pequena, porém pode ser difícil
encontrar ela...
Porra, é isso!
— Cleber! — grito por seu nome.
Ele entra rapidamente na sala, junto a
Poliana.
— O que aconteceu?
— Eu sei onde ele deixou a Liziara. Débora
só precisa nos dar certeza.
— Onde? — Ele pergunta
— Quando invadimos aquele lugar, ele tinha
um prédio de seis andares ao lado de uma
lanchonete. Era ali que ele morava, fazia o

NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

escritório dele e prendia as pessoas que ele


pegava. É nesse prédio que ela deve estar, só
pode ser. Como fui idiota por não me lembrar
disso antes? Foi nesse maldito lugar que ele
tentou se esconder junto a irmã dele!
— Agora precisamos que a Débora de
notícias para termos noção do que fazer. —
Poliana fala.
— Não me lembre disso. Estou com a cabeça
fervendo. Quando eu desejei uma esposa
diferente, juro que não passou por minha cabeça
uma louca. O foda é ter que ser frio para não
atrapalhar a operação.
— Nós vamos trazer as duas, eu prometo! —
digo a ele.
— David, você precisa comer algo. Está o dia
todo sem comer.
— Poliana, tudo o que eu menos quero neste
momento é comer. — Ela fica sem jeito, mas
disfarça.
— Devemos avisar aos outros. — Cleber diz.
— Sim. Vou avisar a eles e deixar todos
preparados. Meu tio em breve deve retornar. Ele
teve que ir ao escritório dele com urgência.
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

— Dessa vez, aquele filho da puta do Jorge


não escapa. — Cleber fala e suas palavras
exalam raiva.
— Pode ter certeza que não!

São quase nove horas da noite e nenhuma


notícia da Débora. Não estou gostando deste
silêncio. Não estou mesmo!
— Aquela filha da puta não iria fazer
burrada. Conheço-a há oito anos. É bem esperta
para fazer burradas! — Meu tio diz agoniado,
andando de um lado para o outro.
— Já era para termos notícias dela, porra! —
Soco a mesa com raiva.
A porta se abre com força. Cleber entra e
coloca o celular dele na mesa.
— Amor, pode falar, está no viva-voz o
celular. — ele diz.
Solto o ar. O alivio toma conta de mim. É ela.
— Gente, serei rápida. Estou no banheiro da
lanchonete que tem aqui e, por incrível que

NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

pareça, é a única. — ela faz uma pausa e


continua. — Consegui entrar na cidade sem
problema algum. O cara que cuida da entrada
tomou conta disso. Hoje realmente tem uma
festa para o Jorge e isso deixou falhas. Tem
apenas um cara de vigia na entrada da cidade.
Está um alvoroço devido a festa. Escutei pela
lanchonete que o prefeito vai mostrar para
todos a isca que pegou para se vingar da morte
de sua irmã. É, com toda certeza, a Liziara. Eu vi
vários homens armados saindo do prédio ao
lado da lanchonete que estou, e tem dois
homens na entrada dele. Acredito que seja ali
que ela está. Porém terei que dar um jeito de
descobrir onde ela está no prédio, só assim para
mandar informações e facilitar para vocês.
— Certo. Eles não podem desconfiar de nada.
Tome muito cuidado e não faça loucuras. Tente
ficar ao máximo nessa lanchonete. Estamos indo.
Débora, aconteça o que acontecer, não interfira
em nada. Tente descobrir por onde o Jorge está,
e nos avise assim que puder. Mantenha contato,
você será nossos olhos e ouvidos neste lugar.
Esses caras não são brincadeiras. — digo.
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

— Certo. Tenho que desligar, ou vão


desconfiar do meu tempo no banheiro. Porém
esperem minha próxima ligação para
começarem a vir. Me prometam isso?
— Claro que não! — Cleber grita.
— Débora, o que vai aprontar? — Marcos
pergunta.
— Confiem em mim. Eu sei o que estou
fazendo. Até mais. — Ela desliga.
Porra!

NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

Liziara Araújo
Algo está acontecendo. Está tudo muito
calmo aqui dentro, porém lá fora está bem
movimentado, vi pela janela. Não escutei os
homens do Jorge e nem ele retornou aqui.
Preciso pensar com calma. Se tem uma coisa
que aprendi muito bem nesses dois anos ao lado
do David, é que nenhum crime é perfeito,
sempre tem falhas. Jorge deve ter deixado falhas
e irei descobrir, pois será minha chance de
sumir deste lugar, porque não aguento mais.
Escuto um falatório estranho, parece ser voz
de mulher e está aqui dentro.
— Me solta, seus desgraçados! Socorro! Eu
quero sair daqui. Vocês vão se arrepender de
terem feito isso. Eu vou sair daqui, e minha vai
irmã vai junto! Vocês mexeram com a família
errada! Me soltem!
A porta do quarto se abre e me assusto.
— Jorge vai amar descobrir isso! — um dos
homens dele diz com um sorriso malicioso.
Um outro surge e joga uma pessoa que eu

NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

conheço, e que não esperava, dentro do quarto.


— Débora! — grito.
— Minha irmã! — Ela corre até a mim e me
abraça e então cochicha no meu ouvido — Sou
sua irmã!
— Eu não acredito! — Começo a chorar.
Eles saem e trancam a porta.
— O que faz aqui sua louca? — pergunto.
— Vamos falar bem baixo. Eu sabia que você
ia estar aqui, e meu plano de fingir ser sua irmã
daria certo para me colocarem junto com você.
— O que quer dizer?
— Os Escobar estão vindo te salvar. Agora
preciso dar notícias a eles.
— Como? Eles vão nos matar se tentarmos
algo.
— Amor, eu não queria ser atriz no passado
à toa.
Ela retira da bota de cano longo o celular.
Fico olhando para a porta preocupada.
— É melhor falar no banheiro. — digo baixo.
Entramos no banheiro e deixamos a porta
um pouco encostada.
— Não podemos demorar, se eles entrarem
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

no quarto e ver que estamos as duas no


banheiro, vão desconfiar.
Ela concorda e então liga para o David.
— David! — Eu me aproximo do seu ouvido
para ouvir a conversa.
— O que aconteceu? — Ouvir sua voz, me
traz uma sensação única. Um arrepio intenso.
— Estou com a Liziara. Ela está no prédio.
Vou ser rápida. O Jorge não está aqui, mas vai
ser avisado. Eu menti dizendo que era irmã dela
e que inventei uma história para entrar na
cidade, e acabei junto com ela agora. Arrisquei e
deu certo. Tem uma tropa vigiando ela, mas só
agem pelo comando do Jorge ao que notei. Ela
está bem e está ao meu lado. Venham para cá às
pressas, porque acho que posso ter ativado a
fera de um certo bandido. Estamos, ao que
parece, no sexto andar. Pelo que contei, é a
última porta à direita.
— Estamos indo, sua retarda! Cuidado, e não
façam nada! Não deixe descobrir que está aí por
minha causa.
Escuto barulho na porta. Ela me olha
assustada e desliga o celular, escondendo o na
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

bota.
Saímos correndo do banheiro e nos
sentamos na cama.

NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

David Escobar
O caminho até essa maldita cidade foi um
inferno. Porém agora estou me aproximando, a
cada quilometro sinto meu coração acelerar.
Nunca senti isso antes.
Os outros vão ficar alguns quilômetros atrás
à espera do sinal para virem.
Uma moto sai do matagal e surge na minha
frente. O cara está armado. Ele desce na moto.
— Desce do carro, porra! — ele grita.
Saio do carro com a arma na mão, pois faz
parte do plano.
— Delegado! — ele diz sorrindo. — Muito
otário mesmo para aparecer aqui. — ri —
Coloca a arma no chão... Vai, caralho! — ele
grita e aponta a arma para mim.
Eu me abaixo lentamente, indicando que
colocarei a arma onde pediu, mas quando estou
próximo de encostar ela no chão, miro em sua
perna direita e atiro em seu joelho.
— Filho da puta! — ele grita e cai no chão.
— Isso é pelo xingamento! — Dou outro tiro

NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

na sua outra perna.


Isso vai ganhar tempo.
Ele se torce de dor. Pego sua arma e jogo
longe.
Entro no carro às pressas e saio cantando
pneu dali.
Entro na cidade, que esta calma. A festa deles
deve ter começado.
Nada mudou desde a última vez que estive
aqui a anos. Dirijo até o local que Liziara está.
Olho pelo retrovisor e vejo o carro do Cleber
e Marcos seguindo o meu.
Avisto o prédio, mas o que está na frente
dele faz o meu mundo parar. Freio o carro
bruscamente.
Ele está na porta, rindo, enquanto dois
homens seguram a Liziara e a Débora, com arma
apontada na cabeça de cada uma. Ele também
está armado.
Desço do carro com minha arma. Olho para
trás e vejo que Marcos, Poliana e Cleber fazem o
mesmo.
— Demorou, David! — Jorge grita em tom de
deboche. — Acho bom todos vocês largarem
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

essas armas antes de se aproximarem mais, ou


essas duas aqui morrem, e você sabe que
cumpro minhas promessas!
O olhar da Liziara cruza com o meu e vejo o
pavor em seus olhos. Solto a arma no chão que
faz um estrondo. Ela balança lentamente a
cabeça em sinal de “não”.
Escuto barulhos, e sei que foram as armas
atrás.
Caminho até eles lentamente, ficando bem
mais próximo.
— Era a mim que você queria, estou aqui! —
digo ao Jorge.
Nunca pensei que um plano que desse
errado me deixaria tão apavorado como eu
estou agora.
— Enviar uma outra mulher para nos
enganar… isso mostra o quanto você é um
merdinha, David!
— Solta elas. É a mim que quer. Deixe elas ir,
Jorge. Seu problema é comigo. Porque você não
aceita que eu matei sua irmã naquele dia. Não
admiti que eu fui o único a conseguir fazer uma
equipe policial invadir essa porra! — grito com
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

ele.
Seu olhar tem ódio. Ele mira a arma em mim.
— Esperei tanto por esse dia. Porém, você
atrapalhou minha festa. Todos estão lá
comemorando, e eu aqui. Isso é errado… sou o
rei deles, o prefeito que amam. Eu planejei tudo.
Pesquisei cada ponto de vocês. Infiltrei pessoas
dentro da boate que ela trabalhava. Na cadeia já
recebia informações de vocês. Foi tão fácil. Tudo
foi esquematizado. Nada poderia dar errado. E
vejam só, não deu. Você deixou muitas brechas,
delegado. — ele gargalha. — Sua princesinha é
ingênua. Descobri todos os pontos fracos dela, e
o principal é a família. Não teve atenção dos pais
desde cedo, e claro que faria qualquer loucura
por aquele que ama. Tão burra. — Ele acaricia o
rosto dela, e ela vira o rosto bruscamente. Um
ódio me consome. Tento me aproximar, mas ele
vira a arma para ela, me fazendo recuar.
Porra, tenho que ser frio, não posso colocar
tudo a perder!
— Você ficou mais louco do que já era...
SOLTA ELAS, SEU FILHO DA PUTA! — Empurro
ele com força, e ele se equilibra para não cair. —
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

Eu vou acabar com você, seu filho da puta! — ele


ri ainda mais, me empurrando e apontando a
arma novamente para mim.
— Quer mesmo que eu te mate na frente da
sua protegida e do seu tio? Não teria problema
algum. Seria bom... Mas antes você tem que
sentir o que eu senti naquele dia, quando minha
irmã caiu sem vida no chão. Você tem que sentir
aquela dor, seu desgraçado. Ver a pessoa que
ama cair no chão sem vida. Ver os olhos dela
parados, sem brilho. Ver sua pele começar a
gelar e a empalidecer. O sangue escorrer por ela.
Você precisa sentir essa sensação. E agora temos
duas escolhas… seu tio e sua protegida. Porém
algo me diz que ela poderia ser a primeira... —
Seus olhos estão arregalados, sua fala é como de
um louco. Ele está mais fora de si do que o
normal.
Olho para Liziara. Ela está assustada e isso
me destrói. Eu estou sem saber o que fazer.
Qualquer ato meu pode colocar tudo a perder.
Não posso agir emocionalmente!
— Você... — tento dizer.
— Eu o que? Cala a boca, que nessa porra
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

quem manda sou eu!


— Jorge, não é a Liziara que você quer, e
nem a mim. É o David, somente ele. Matá-lo
rapidamente de nada vai resolver, o prazer
acabará rápido. Você quer torturá-lo… e sabe
que apenas matando ela não vai resolver, não
será o suficiente. — Débora diz e ele a olha
atentamente. — Você está assustado. Sonhou
tanto com isso, que sua mente está confusa, e
cada palavra que digo te irrita mais. Uma voz diz
para você matar a todos, e a outra diz que isso
não será suficiente. Você está vazio por dentro,
tudo está confuso...
— Cala a boca, sua maldita! — Ele a
chacoalha e a joga no chão. Olho assustado, mas
quando vou me aproximar dela, ela me dá um
olhar estranho e recuo.
Ela começa a se contorce de dor.
— Débora? — chamo por ela, preocupado.
— Débora! Filho da puta! — Cleber grita.
— Não chegue perto ou ela morre! — Jorge
grita para ele.
— Me deixe ver ela, por favor? Ela se
machucou, por favor! Se vai mesmo me matar,
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

me deixe fazer uma única coisa! — Liziara


implora a ele.
— Se tentar qualquer coisa, ele morre! —
Jorge diz e ela concorda.
Ela se joga ao lado da Débora, porém tudo
isso é estranho.
— Débora, o que você tem? Está bem? —
Liziara pergunta.
— Meu pé, devo ter torcido, dói muito... Ai!
— ela grita.
— Vai ficar tudo bem! — Liziara diz a ela.
Liziara coloca a mão por dentro da sua bota,
e tenho a impressão que tirou algo. Ela segura a
mão da Débora.
— Chega, peguem elas! — Jorge grita, e seus
homens a pegam rapidamente. — Vamos
terminar logo com isso, porque tenho uma festa
para aproveitar. Atirem nela! — ele grita.
O homem que segura a Liziara puxa o gatilho
da arma. Sinto meu peito apertar. Olho para trás,
e todos me olham assustados. Meu tio coloca a
mão para trás, é a arma reserva. Olho para a
Liziara e ela fecha os olhos.
— Não… hoje não, e nem depois! — Débora
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

fala a ele com ódio.


Ela enfia uma faca pequena na perna do
homem que a segura, e a Liziara faz o mesmo.
Era isso que ela tirou da bota da Débora. Jorge
olha assustado, e os dois xingam de dor. Liziara
chuta um deles em seu membro, fazendo-o o cair
no chão de joelhos. Débora dá um chute no
estômago do outro, fazendo ele perder o ar e
cair também. Ela pega a arma dele e joga para
mim. Liziara corre para o lado dela.
Cleber e Marcos se aproximam, armados.
Jorge atira mas consigo desviar. Poliana tenta se
aproximar, mas o que segurava a Liziara
consegue pegar a armar e atira, fazendo com que
ela recue. Mais homens aparecem, nos deixando
em desvantagem. Atiro no que segurava a
Liziara, e ele cai de vez no chão. O outro tenta se
levantar e atiro nele. Jorge tenta atirar na
Liziara, mas a Débora joga ela para o lado.
Marcos luta com um cara. Um homem tenta
me segurar por trás, mas consigo me livrar dele;
e antes que atire em mim, eu disparo de volta.
Liziara grita e olho rapidamente, Jorge a pega
por trás. Tento me aproximar, mas sou impedido
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

por um homem. Cleber atira em dois caras.


Poliana se aproxima deles, é a única livre no
momento. Ela vai atirar no Jorge. — Porra, não!
— Poliana, não! — grito.
Dou uma cotovelada no estomago do cara
que me segura. Eu me viro para ele quando me
solta e dou um soco em seu queixo. Ele cai, então
arranco sua arma e dou um tiro em sua coxa.
— Jorge, você não precisa disso! — falo
ofegante.
— Preciso sim, eu preciso! — ele grita e
começa a gargalhar.
Olho para a Poliana, que tem um ângulo
perfeito para atirar nele sem atingir a Liziara.
Um tiro apenas e coloca ele no chão. Mas ela não
vai conseguir, seu olhar está confuso. Se ela
atirar, pode ser que atinja Liziara.
— Poliana, não faça isso. Não atire... — Ela
posiciona o dedo para atirar — Caralho, Poliana!
O olhar da Liziara se transformar em raiva
quando Jorge a aperta mais.
— Hoje não. Eu não serei a porra da mocinha
indefesa, não mais! — ela grita com ódio.
Ela dá um cotovelada nele com força.
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

— Maldita!
Ela se vira para ele e dá um soco em seu
rosto. Chuta a mão dele, que está com a arma, e
ela cai no chão.
— Filho da puta! — ela grita para ele quando
o mesmo chuta sua perna.
— Poliana, não! — grito para ela quando
vejo que vai atirar, mas não há a menor chance
de acertar o Jorge.
Ele consegue recuperar a arma de uma
forma muito rápida e começa uma luta com a
Liziara. Tento me aproximar, mas meu tio me
segura. Os outros homens já estão no chão.
— Me solta! Essa arma pode disparar! Me
solta, porra! — Cleber ajuda a me segurar.
— David, não! — Débora grita.
E então um barulho que conheço muito bem
ecoa. Sinto meu mundo congelar. Quero gritar,
mas não consigo. Não...
Liziara está com os olhos arregalados. Ela e o
Jorge caem no chão. Ambos repletos de sangue,
Eles me soltam. Meu peito dói fortemente.
Poliana olha assustada. Débora se aproxima
deles e se joga ao lado da Liziara.
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

— Liziara, fala comigo! — ela grita. —


Droga! Cacete, não vim para esse fim de mundo à
toa, sua filha da mãe! Reage! — Ela chacoalha a
Liziara.
Então vejo uma pessoa caminhando até nós.
Olho assustado para a Liziara, que se levanta
com a ajuda da Débora. E é aí que vejo que foi o
Jorge que levou o tiro e o sangue é somente dele.
A pessoa se aproxima e sorri.
— Eu nunca erro um tiro, afinal nem sempre
o volume em minhas calças é uma ereção!
— Henrique, o que faz aqui? — Meu tio
pergunta.
— Digamos que eu era o plano B da loira ali.
Acham mesmo que com minha família em
perigo, eu ficaria longe? Porra, jogaram praga
para cima de mim, pois não consigo tirar férias.
Ele abraça meu tio e o Cleber, e em seguida
me abraça.
— Obrigado. — Agradeço. — Agora eu
preciso...
— Sim, vai lá. Mas seja rápido… temos que
sair logo daqui antes que outros apareçam.
Eu me aproximo dela, mas ela recua.
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

— Agora não, David, Vamos sair daqui,


apenas isso.
Concordo.
— Apenas me diga se ele fez algo com você.
— Não. Quando ele soube que era uma
armação da Débora porque investigou toda
minha vida e viu que eu não tinha irmãos, ele
ficou louco; e então recebeu a notícia que
mataram o cara que vigiava a entrada da cidade,
e aí trouxe nós duas para cá. Eu só preciso sair
daqui, tomar um banho e descansar. Eu me sinto
fraca e enjoada por tudo. Preciso agradecer a
todos eles por isso.
— Não precisa agradecer. Você faz parte
dessa turma, merece nossa ajuda. — Henrique
diz.
— Obrigada, Henrique, por ficar preparado
para meu sinal de socorro. — Débora agradece
a ele.
— Desde quando sabia? — Marcos pergunta
a ele.
— Débora me ligou e contou tudo. Porra,
vocês são loucos! Enfim, ela mandou eu ficar em
alerta, pois se ela não ligasse até certa hora, era
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

para eu vir que algo estava acontecendo, e foi o


que eu fiz. Estive sem acesso à mídia, ou estaria
aqui a muito tempo.
— Vamos sair daqui. — digo a eles.
— Meu amor... — Cleber abraça a Débora e a
beija.
— Por que não escolhi ser atriz? — ela
pergunta e sorrimos. — Viram como atuei bem
para pegar a mini faca na minha bota? Botas são
tudo na vida de uma mulher em perigo… dentro
delas pode sair o mundo.
Sorrimos.
Olho para Liziara, que está pálida.
— Liziara?
Seguro ela.
— O cheiro do sangue, e ele... Estão...
— Vem, vamos sair logo daqui.
— Eu ajudo ela. — Poliana fala.
— Não precisa. Acho que você já fez muito,
pelo o que a loira disse. — Henrique diz.
— Aprenda uma coisa, Poliana, nunca atire
para matar. E não tente bancar a heroína quando
você não é nada! — Liziara diz e sorrio.
Poliana a olha com ódio.
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

— Você não passa de uma menina indefesa!


— Poliana grita com ela. Henrique e Marcos se
aproximam. Débora se afasta do Cleber.
— Menina indefesa? É, até pode ser, mas não
precisei de uma arma para lutar com o Jorge… já
você, nem com uma arma e sendo uma policial
conseguiu fazer algo útil! — Liziara fala para ela
e Débora gargalha.
— Vamos sair daqui. Agora! — Marcos fala.
— Poderia dormir sem essa, loira aguada! —
Débora diz passando pela Poliana.
— Você é apenas mais uma na lista dele.
Acha mesmo que ele realmente ama você?
Bastou eu reaparecer que e ele te esqueceu
rapidinho. Ninguém quer uma garota com pose
de mulher. Não passa de uma mal-amada, que
acha que um dia será uma Escobar! — Poliana
grita para Liziara.
— Agora você me irritou, vadia!
Liziara vai para cima da Poliana e acerta um
soco em sua boca. Poliana tenta puxar seu
cabelo, mas a Liziara dá um chute em sua canela
e uma rasteira em seguida, fazendo ela cair.
Monta em cima dela e começa a estapear seu
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

rosto.
Fico olhando e rindo.
— David, não vai fazer nada? — Marcos grita
e sorrio.
— Deixa um pouco. Liziara merece isso, e
Poliana ainda mais. — Sorrio.
— Porra! Você é foda, delegado! — Henrique
diz, segurando a Liziara.
Meu tio segura a Poliana, que está com a
boca sangrando e com o rosto todo vermelho e
arranhado.
— Eu vou te processar, sua puta! — Poliana
grita.
— Tenta! Tenta, porra! Mete processo ou o
caralho que for, que sou capaz de te arrebentar
na frente do Juiz, do Papa, ou o que for. Não
tenho medo de você. E puta, é somente você.
— Na verdade você já fez isso na frente de
um Juiz! — Meu tio diz a ela, e sorrio mais ainda.
— David, essa maldita! Como pode? Eu toda
linda. Vim de longe para tentar uma chance com
você que sempre foi louco por mim na faculdade.
— Poliana diz chorando.
— Eu? Louco por você? Poliana, eu sou louco
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

pela minha profissão e pela Liziara. De você


tenho pena. E isso que levou é apenas para
aprender a não mexer com a mulher de um
delegado, principalmente de um Escobar. E
espero que essa boca inchada fique boa logo,
porque amanhã mesmo você vai voltar para a
puta que pariu de onde não deveria ter vindo, e
torça para eu não fazer relatório seu. Agora de
boca calada vai entrar no maldito carro e ir
muda o caminho inteiro, ou deixarei a Liziara ir
no mesmo banco que você, afinal ela tem muitos
aqui para provar que nunca relou um dedo em
você… já você é o oposto.
— Isso não vai ficar assim! — ela grita. — Ela
deveria ter morrido!
Meu sangue ferve. Eu me aproximo dela, mas
Cleber me segura.
— Não ameace um Escobar. Mocinha, tome
muito cuidado! Ele é homem e delegado e pega
mal bater em você, mas você está fazendo todos
perderem a paciência aqui. Caso algo aconteça
com você, tudo pode ter saído em legitima
defesa, afinal, temos muitas testemunhas que
confirmariam isso, e você não quer isso não é
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

mesmo? — Meu tio diz a ela, e a puxa pelo braço


até um dos carros.
Todos entram nos carros. Saímos dali o mais
rápido possível.
Só consigo sentir um tremendo alivio que
tudo isso terminou... Bom, agora falta nos livrar
dessa bagunça toda.

NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

Capítulo 10

NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

Liziara Araújo
Estou ainda muito assustada com tudo o que
aconteceu. Os Escobar conseguiram abafar o
caso e tirar um pouco do foco da mídia. David
recebeu uma advertência… uma bronca para
melhor dizer. E tudo isso eu sei através da
Daiane, que veio me visitar junto a Paula. Depois
de tudo eu vim para casa, e a Bia tem me
ajudado. A fraqueza já passou, me alimentei
bem, porém será um pouco complicado tirar
aquele momento da minha mente. Dormir noite
passada foi difícil, e fiquei revivendo o momento.
David não veio me ver, deve estar ocupado
resolvendo a bagunça. O que mais me irrita é
saber que a culpada de destruir minha vida com
o David teve a cara de pau de ir até aquele fim
do mundo me ajudar. Quando ataquei o Jorge foi
porque a raiva me subiu à cabeça. Fui louca,
irresponsável e orgulhosa, porque não queria ter
ajuda dela, e por isso o ataquei; mas se eu disser
que me arrependo, estarei mentindo. Meu único
arrependimento é ter me apaixonado por um

NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

Escobar, mesmo com todos os conselhos da


Beatriz dizendo que seria uma roubada.
Enfim, quem é que manda no coração?
Daniel e Joaquim vieram me ver também, e
disseram que a boate sem mim não é a mesma e
torcem por minha recuperação. Joaquim foi um
pouco pegajoso, mais que o normal. Sinto um
pouco de pena e culpa, pois talvez eu tenha dado
algum tipo de esperança que um dia estaria com
ele; e se dei isso não foi de proposito, pois todos
sabem que ajo e depois vou pensar.
Mas tem uma coisa boa diante de toda essa
confusão. Eu acho que finalmente sei o que eu
quero fazer, o que eu quero ser. Percebi que de
alguma forma eu sempre estive colada ao perigo,
como se fosse uma conexão. Primeiro foi com
uma ex-aluna da universidade, a Luana, a louca
era uma psicopata e já tentou me matar. Depois
ajudei os Escobar a ter certeza de quem era o
verdadeiro assassino do ex-noivo da Ana Louise,
esposa do Henrique, e então fui sequestrada e
fiquei colada com a morte. Acho que isso foram
mais do que sinais, do que eu realmente tenho
que ser.
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

Ontem meus pais queriam vir me ver, mas eu


estava tão exausta que queria apenas banho,
comida, cama e esquecer tudo aquilo. E hoje
estou à espera deles. Beatriz foi trabalhar depois
de eu obriga-la a ir. Estou sozinha em casa.
A campainha toca e me levanto com cuidado
do sofá para atender. Estou com a perna um
pouco dolorida. Insistiram para eu ir ao médico,
porém me recuso, afinal, não fizeram nada
comigo. Estou com dor na perna pelo Jorge ter
chutado ela uma vez e eu ter caído no chão. Já
fico roxa à toa, imagine com um chute e um
tombo.
Abro a porta e meus pais sorriem. Eles
entram e fecho a porta. Sentam no sofá e eu faço
o mesmo.
— Filha... — minha mãe começa a dizer. —
Eu nunca pensei que um dia sentiria tanto
remorso em minha vida. Se arrependimento
matasse, eu estaria morta. Nada vai justificar
tudo o que nós fizemos com vocês. Fomos cruéis,
péssimos pais. E olha para você... Machucada,
quase foi morta... — Ela chora, e confesso que
estou estranhando essa reação.
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

— Se pudéssemos voltar no tempo e corrigir


nossos erros, faríamos. Se pudéssemos começar
de novo, começaríamos. Não iremos pedir seu
perdão, porque não somos dignos dele, mas
queremos que saiba que mesmo quando
agíamos como monstros com você, no fundo
sempre te amávamos. O dinheiro, a fama, o
poder nos cegou e perdemos a maior riqueza
que poderíamos ter tido… você. — meu pai diz,
emocionado.
Meus olhos embaçam devido as lagrimas, e
pisco forte para voltarem ao normal.
— Mãe, pai...
— Não. Não diga nada. Sabemos que nem
deveríamos estar aqui. Porque se isso aconteceu,
foi por nossa culpa, que não te demos amor…
por isso você cresceu desse modo, impulsiva,
carente. Nós fomos os culpados. Mas Deus sabe o
quanto estamos completamente arrependidos.
Como eu queria voltar no tempo e não ter te
colocado em um colégio interno! Queria ter ido
as suas apresentações escolares, ter dito todos
os dias que te amava, ter dado amor e carinho,
ter falado o quanto está linda. Minha menininha
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

cresceu, e temos sim muito orgulho de você,


porque sem nosso apoio se virou sozinha e
batalhou pelas coisas que queria. — Minha mãe
chora como nunca vi, e meu pai tem uma
expressão cansada, ele está abalado.
Levanto do sofá e com cuidado me ajoelho na
frente deles. Seguro uma mão de cada.
— Vocês não precisam de perdão. Pai e mãe
só temos uma vez na vida. Se passaram vinte e
dois anos, mas ainda temos muitos para corrigir
todos os nossos erros. Se tem uma coisa que
aprendi nesses dias sequestrada é que a vida é
curta demais. Não podemos perder tempo com
brigas, temos que curtir a todo instante, porque
não sabemos o dia de amanhã. Saiba que mesmo
com tudo, eu sempre amei vocês, e sempre
continuarei amando. — Abraço os dois ao
mesmo tempo e choramos.
— Te amamos, minha filha… muito, muito,
muito! — meu pai fala.
— Nunca esqueça que te amamos. E jamais
poderemos pagar o tanto de sofrimento que lhe
causamos.
— Esqueça isso, mãe. O passado já foi. O
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

presente está aqui e nos dá a chance de


consertar nos erros.
Me afasto e me sento no sofá. Limpamos as
lagrimas.
— Infelizmente temos que ir a uma reunião
importante... — meu pai fala.
— Tudo bem. Em breve a Beatriz chega e não
ficarei sozinha.
— Por favor, não faça mais loucuras! —
Minha mãe diz e sorrio.
— Relaxem, estou pronta para outra.
— Nem brinque com isso! — meu pai diz
seriamente.
Eles se levantam e me dão um beijo.
— Não precisa nos acompanhar até a porta,
descanse...
— Gente, estou dolorida, andando que nem
um pinguim, mas ainda me movimento.
Levanto e levo-os até a porta. Me despeço e
tranco a porta.
Infelizmente muitas pessoas só enxergam os
erros diante dos acontecimentos graves da vida.
Mas o importante é enxergar os erros, mesmo
que as vezes seja tarde demais.
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

Estou prestes a me sentar no sofá e a


campainha toca novamente.
— Gente, é sério… não irei inventar de me
jogar da sacada!
Vou até a porta e abro. Eu me assusto.
— David?
Ele sorri daquele jeito meigo e ao mesmo
tempo safado, que apenas ele sabe fazer.
— Posso? — pergunta indicando com a mão
dentro do apartamento.
— Claro.
Dou passagem a ele. Fecho a porta.
Droga, eu tinha que estar com shorts de
pijama e com uma blusa que faz conjunto, e para
piorar tudo repleto de minis cupcakes?
— Está muito dolorida ainda?
— Que nada... Apenas estou a cópia de um
pinguim andando, mas estou de boa!
Ele sorri.
— Mentira, estou com as pernas doloridas.
Porra, aquele cara sabia chutar bem uma perna.
— ele ri — E você ainda ri? Eu sofro viu!
— Queria conversar com você...
— Estou sozinha. Obriguei a Beatriz ir
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

trabalhar, e foi a tarefa mais difícil da minha


vida; e olha que tentei ser psicóloga.
Eu me sento no sofá, e ele se posiciona ao
lado de onde estou.
— Me perdoa? — pergunta em um quase
sussurro.
— Pelo o que? — Sei pelo o que ele pede
perdão, mas quero ouvir.
— Por ter sido um completo imbecil e ter te
levado para as mãos dele.
— Você não foi culpado. Eu que agi como
uma louca, como sempre. Mas acredito que não
seja esse o perdão que quer. — digo em um tom
sério.
— Sim, eu fui o culpado. Fiquei tão focado
em pegar o Jorge e treinar logo a Poliana que
deixei você de lado, e resultou em tudo isso. Se
hoje me perguntasse qual foi o maior erro que
eu já cometi como Delegado, eu diria ter sido
descuidado com você. Mas se perguntasse qual
foi o meu maior erro como David Escobar, eu
diria ter sido orgulhoso ao ponto de negar para
mim mesmo que eu desde que coloquei os olhos
em você, eu te amei.
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

Acho que fui ao céu e voltei. Devo ter


entendido errado, só pode!
— Você o que? — pergunto com medo de ter
entendido errado.
— Eu te amo, minha maluquinha. E fui um
merda quando vim alterado até aqui e te disse
que era uma menina. Você é uma mulher
maravilhosa, é a minha mulher maravilhosa.
Liziara, eu pouco me importei se perderia meu
cargo, se seria preso… eu apenas queria te trazer
de volta para mim. Você sempre vai ser mais
importante do que meu sobrenome, minha
carreira, meu dinheiro, minha fama. Por você eu
jogaria tudo isso fora, para ter certeza que você
sempre estaria segura e em meus braços e que
nos amaríamos para o resto da vida. Pode ser
tarde para tudo o que te digo, mas eu te amo; e a
cada vez que penso que eu poderia ter te pedido,
uma parte de mim morre. Eu só te peço uma
chance... me dê uma chance de te fazer feliz ao
meu lado, eu imploro.
Choro, emocionada. Droga, hoje tiraram o
dia para me fazer chorar. Sorte que não passei
rímel, porque está caro.
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

— E quem me garante que nada vai voltar a


ser como antes? Que na primeira oportunidade
você vai me largar. Não sou mais a mesma David.
Cansei de baixar a cabeça para suas merdas. Não
vou competir com a Poliana, ou quem quer que
seja. Não sou de ninguém pela metade, e não
aceito que ninguém seja meu pela metade. —
Tento me controlar. Não irei gritar, não mais.
Chega de me humilhar.
— Eu mandei ela de volta para onde tinha
vindo. Poliana não existe mais. Ela tentou ficar,
insistiu, mas mesmo ela sendo vulgar ou como
quiser dizer que ela era, também tinha um
coração; e quanto mais ela ficasse, mais
confusão seria, e mais iludida ela ficaria. Não sou
idiota, sei que ela estava interessada em mim
antes do show dela naquele inferno e da surra
que você deu nela, mas não tenho nada com ela e
nunca tive. Também não pretendo ter. Ela foi
embora com ódio, mas paciência.
— Sem mentiras?
— Sem mentiras, sem Poliana, sem mulher
alguma entre nós, sem bandido algum tentando
te sequestrar, sem nada além de nós dois.
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

— Será do meu jeito, David. Se você vacilar,


esqueça que eu existo. Eu passei o inferno e você
sabe disso. Precisou eu ser sequestrada para
você vir até aqui me dizer tudo isso. Então não
torne suas palavras apenas meras palavras.
Torne elas em atitudes.
— Te peço apenas essa chance de mostrar
que meu coração só tem lugar para uma mulher,
e é você. Eu te amo, sempre amei, mas me neguei
a dizer. Uma chance... Se eu vacilar, não será
preciso pedir duas vezes para eu sumir da sua
vida. Mas saiba que não irei vacilar com você,
não mais. Aprendi da pior forma, e não quero
mais aprender assim. — Suas palavras refletem
a verdade em seus olhos. — Parece que estou
destinado a aprender sempre da pior forma. Foi
preciso meu pai morrer para eu me apegar mais
a família, e preciso você quase morrer para eu
deixar meu coração falar, e não mais meu medo.
Não quero aprender mais assim… não com você,
pelo menos.
— Então vem até aqui me dar um beijo,
porque estou com a perna doendo para levantar.
Ela ri.
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

— Folgada.
— Sempre.
Ele se aproxima e me pega no colo.
— David! — grito rindo.
Ele caminha comigo em seus braços até o
quarto, onde me coloca com cuidado na cama e
fecha a porta.
Ele sobe em cima de mim com cuidado.
— Eu te amo, meu delegado.
— Só seu, minha maluquinha. Eu também te
amo, meu amor.
Sua boca ataca a minha com uma gostosa
necessidade. Como eu senti falta do beijo dele!
Sinto um frio na barriga. Ele esfrega sua ereção
em mim, e isso me deixa excitada. Solto um
gemido involuntário. Agarro seu cabelo e puxo
com força, e o safado gosta.
— Eu deveria te prender por puxar meu
cabelo desse jeito. — ele diz com a voz rouca de
desejo.
— E o que diria em sua defesa? Afinal, quem
me colocou na cama e me atacou foi você. E tem
mais, não pense que isso é sexo de reconciliação,
porque não sou dessas… ainda estou puta de
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

raiva com você.


— Diria que você me enfeitiçou... E não
penso nisso porque te conheço. Penso que é sexo
de “estou morto de tesão e preciso de você”.
Ele beija meu pescoço e fecho os olhos de
prazer.
— Isso... seria uma péssima... mentira... Ah...
— Falaria que apenas apertei seus seios e os
chupei... — Ele o faz. Eu me contorço e agarro a
colcha. — Depois diria que desci minha mão
para dentro da sua calcinha e te estimulei... —
Sua mão desce para dentro da minha calcinha e
ele faz o que disse.
— David... — Ele puxa meu short com a mão
livre e o arranca. Logo depois faz o mesmo com a
calcinha.
— Depois eu diria que não resisti e coloquei
minha cabeça entre suas pernas e a chupei.
— Porra! — digo quando sinto sua boca me
chupando.
Ele chupa com força, e sei que não irei
resistir por muito tempo.
— Falaria também que você gozou na minha
mão, quando penetrei dois dedos dentro de
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

você... — Ele faz e não resisto. Suas palavras


instigaram a isso, e eu gozo em sua mão.
— Você quer acabar comigo...
Ele começa a tirar a roupa rapidamente, e
em segundos está completamente nu. Retiro a
blusa.
— Você é linda. — ele diz me admirando.
Ele se encaixa entre minhas pernas.
— Tentarei ser cuidadoso afinal você está
dolorida… e também terei que dizer na minha
defesa que fui cuidadoso... — ele provoca.
— Se for cuidadoso, eu te enforco. — ele
sorri. — Mete logo, porra!
— Boquinha suja. — diz rindo.
Ele encaixa seu membro na minha entrada
gozada. David se inclina em cima de mim e vai se
encaixando.
— Caralho... você é sempre tão apertada e
tão quente... Assim fode a minha ideia de tentar
ser romântico.
— Não pedi por isso... — Arranho suas
costas.
— Se ficar marcado vai pagar caro, meu
amor. — sorri com malicia.
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

— Adoro pagar car... — Não consigo


terminar, pois ele me penetra com força. —
David!
Sua boca vem até a minha, e ele me penetra
com rapidez. O som dos nossos corpos se
batendo é nítido. Ele afasta a boca da minha.
— Você a única mulher que irei foder e fazer
amor… a única. Você é minha! — ele sussurra
roucamente no meu ouvido, e eu grito de prazer.
O suor escorre por nós. O cheiro do David
me deixa ainda mais louca. Suas estocadas são
firmes e rápidas. Meus seios chacoalham no
ritmo que sou penetrada. Estou sentindo o
orgasmo vir e começo a intensificar meus
gemidos. Ele sabe, pois me penetra ainda mais
forte.
— E por último... direi que você gozou no
meu pau e teve um orgasmo debaixo do meu
corpo… e que eu gozei dentro de você como um
louco...
— Ah... David! — grito seu nome quando o
orgasmo me atinge. Gozo como uma louca. Meu
corpo tem espasmos. Ele continua investindo,
mas em segundos sinto seu gozo dentro de mim,
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

e ele goza me chamando.


Sua boca vem até a minha e me dá um beijo
casto.

Estou na cozinha de apenas calcinha e sutiã.


Tomei banho, e como está calor, não ligo de ficar
assim em casa; e foda-se se tiver vizinhos
olhando, não mando ninguém olhar o
apartamento alheio. Mas o David saiu fechando
todas as cortinas que tinha, puto de raiva
comigo.
Estou comendo nutella com a colher. David
entra na cozinha e encosta no batente da porta.
— Que foi? — pergunto.
— Seu corpo... — Tiro a colher da boca.
— O que tem? Estou mais roxa do que eu vi?
Droga! — Abaixo a cabeça olhando para meu
corpo.
— Não... é que... Deixa pra lá. Estou atrasado,
tenho um caso para resolver.
— Nem pense nisso. Diga logo o que tem

NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

meu corpo!
— Amor, eu tenho que me trocar. Não tem
nada demais, foi apenas uma coisa que reparei,
nada demais.
— Como assim nada demais? Se reparou é
porque está grave. David, você como delegado é
um bom observador, não iria dizer isso à toa.
Diga logo! — Largo o pote de nutella e a colher
na pia.
— Deixa eu me trocar primeiro.
— Você está fugindo do assunto... Fala logo!
— Está bem. — Ele respira fundo. Até parece
que vai dizer a rainha da Inglaterra que o cabelo
dela está péssimo. — Desde que estávamos no
quarto eu notei, e agora percebi ainda mais. Seus
seios estão maiores, seu quadril um pouco largo,
e você sempre teve a barriga lisa, mas ela está
parecendo um pouco inchada...
— David Escobar, você está me chamando de
gorda?!
— Não... Eu apenas quis dizer que seu corpo
está mudado.
— As características foram basicamente me
chamando de gorda!
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

Saio da cozinha e paro na sala a tempo a


porta ser aberta. É a Bia.
— Resolveu desfilar de lingerie hoje? — ela
brinca.
— O idiota do David me chamou de gorda!
Porra, olha para mim, eu estou gorda? — ela
sorri.
— Eu não chamei você de gorda, Liziara!
— Merda, espero que não tenham feito nada
em cima da pia! — Beatriz diz tampando o rosto.
— Não fizemos. E se fosse acontecer, não
daria… afinal sou gorda! — grito com uma puta
raiva.
— Liziara, você está meio... Bom, está
diferente. Chorona, surtada, para não dizer
bipolar... — Bia diz ainda com os olhos
tampados.
— Até você, Bia?
— Beatriz, descobre esse olho. Não estou
nu... E vai me dizer que nunca viu um homem de
cueca? — ele provoca ela.
— Vocês ainda vão me enlouquecer. Eu
preciso de férias de vocês.
Ela vai para o corredor e entra no quarto
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

dela.
David para na minha frente e segura minha
cintura.
— Amor, eu não te chamei de gorda. Não
precisa surtar. Apenas fiz um comentário
inocente. Porém quero te fazer uma pergunta
séria.
— Faça.
— Você está tomando regularmente o
anticoncepcional?
Engulo a seco. Acho que fiquei pálida porque
ele me olha estranho. Eu me afasto e me sento
no braço do sofá.
— Anticoncepcional?
— Sim.
— Aquele que evita gravidez?
— Liziara...
— Claro... Estou tomando certinho. Afinal
você confiou em mim, pois sou a única que você
foi para a cama sem camisinha. Eu jamais, em
hipótese alguma eu ferraria com tudo...
— Não confiei no que disse, mas irei deixar
passar porque tenho que ir. — Ele me dá um
beijo — Tenho que me trocar.
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

Ele sai da sala e me levanto, sentando direito


no sofá. Estou tão preocupada, que só lembro da
dor nas pernas quando sento com tudo.
— Quando foi mesmo que eu tomei? —
Esfrego a testa — Merda, não lembro! Estou
fodida!

NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

Capítulo 11

NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

Liziara Araújo
Faz alguns dias desde o sequestro e estou
mais calma. David não desgruda de mim, e amo
isso, sua preocupação, amor e carinho sem
limites. Ainda estou afastada da boate… Daniel
preferiu assim até eu me recuperar totalmente.
As pernas já não doem mais, porém o que as
vezes acontece são alguns enjoos, mas é muito
raro… e, sim, eu estou com medo sobre o que
pode estar causando os enjoos; o que me deixa
longe dos hospitais e farmácias, porque a única
coisa que se passa na minha cabeça é gravidez, e
estou apavorada que seja isso, afinal minha
menstruação está atrasada, e pelas minhas
contagens a dois meses. Louca por ainda não ter
feito um teste? Sim, eu sou. Mas, eu irei fazer,
estou criando a coragem que me falta. Se o David
sonhar que eu comecei a me atrapalhar com os
horários do anticoncepcional e esquecia de
tomar devido ao trabalho na boate, que me
gerava muita canseira e me tirava muito tempo,
e o tempo livre eu queria saber de dormir, estar

NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

com ele e sair, e esquecia até meu nome do jeito


que sou, com toda certeza ele vai surtar comigo.
— Liziara, foca! — Beatriz e Daiane falam.
Ambas estão de folga e resolvemos nos juntar no
apartamento.
Quero fazer uma surpresa para o David, algo
bem sensual e romântico ao mesmo tempo, e
elas estão me ajudando nas ideias.
— Eu conheço bem meu irmão. David é do
tipo que faz de tudo, se é que me entendem, mas
não é o tipo de cara que faz isso em lugares
públicos. Henrique e ele são mais travados nesse
quesito, a não ser que estejam à beira de
gozarem nas calças. — Olhamos chocadas para
elas — Meninas sou sincera. Uma vez o
Henrique ficou tão excitado com uma menina na
boate que transou com ela no banheiro
feminino, e eu e mais outras tivemos o azar de
ver isso, tenho trauma até hoje. David transou
com uma funcionária na piscina do clube que a
família reservou apenas para nós, e minha mãe
pegou ele, coitada. — Ela toma folego e continua
— Então pense bem na loucura que vai fazer. Ele
nunca faz, e quando faz tem tendência a ser
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

pego.
— Na piscina? Que cachorro! Irei focar na
parte que agora ele está comigo. — digo e elas
riem. — Mas eu pensei em um determinado
lugar... Droga. Por que ele não puxou ao tio dele?
Esse sim tem cara que não liga para fazer certas
coisas em lugares inapropriados. — Daiane ri.
— Sorte sua que não puxou ao meu tio.
Aquele ali é o pior de todos da história da
safadeza. Ele é dono do cabaré todo. São tantas
cenas que vi sem querer e que fui obrigada a
ouvir da boca dele, que sinceramente, tenho até
nojo. Não é algo que uma sobrinha quer ver ou
saber do tio. Uma vez peguei ele na sala dele
com a Débora...
— Com quem? — Beatriz quase grita.
— Vocês não sabiam? — franzimos o cenho
— Ele e ela tiveram um relacionamento a anos
atrás... Bom, eles diziam que era apenas um caso
e nada mais, porém não era o que parecia...
Enfim, o assunto é o David. Você quer algo
romântico e sensual. Por que não vão para a
fazenda da família? Lá é lindo para isso. Ou a
casa de praia.
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

Ainda estou chocada em saber que o Marcos


e a Débora... Preciso focar no David, mas a
fofoca é tão boa. Merda, a cara da Bia não está
boa.
— Quero algo por aqui. Ele não vai querer
viajar agora.
— O que quer afinal? Poderia fazer algo
único e que fosse ficar marcado para o resto da
vida dele. — Beatriz fala.
— É isso, Bia! Tive uma ideia. Meninas vocês
são ótimas, mas eu tenho que sair, preciso fazer
umas comprinhas.
— Liziara, pelo amor de Deus, o que vai
aprontar? — Beatriz pergunta preocupada.
— Prometo contar tudo depois.
— Me poupe de certos detalhes... Ele é meu
irmão, é nojento.
— É tudo, menos nojento. — digo, indo para
o quarto me trocar e pegar minha bolsa.
Hoje será um dia marcante.

NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

David Escobar
É tarde, estou praticamente só na delegacia.
Não fui ainda ver a Liziara, mas depois daqui
irei. Estou cansado. Quero férias, eu preciso de
férias.
Meu celular toca. É a Liziara.
— Oi, meu amor. — digo a ela.
— Está na delegacia? Me diz que sim!
— Estou. Por que?
— Está sozinho?
— Estou... Mais ou menos, tem policiais, e
mais ninguém.
— Ótimo. Eu já imaginava. Estou entrando.
— ela desliga.
O que está acontecendo?
Minutos depois a porta se abre. As persianas
estão fechadas. Ela entra. Está com um
sobretudo preto, saltos altos, bolsa. E isso até
seria sexy se não fosse preocupante.
— Amor, está um calor terrível lá fora. Por
que está...
Não tenho tempo de dizer. Ela retira o

NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

sobretudo e revela o que escondia. Ela veste um


sutiã preto, acompanhado de uma calcinha preta
com uma mini saia rendada da mesma cor. Ela
retira da bolsa um enfeite de orelhas de gato e
coloca na cabeça.
Tento me conter, mas não aguento e começo
a rir.
— O que foi? — ela pergunta inocentemente.
— Liziara, eu não acredito. Roupa de mulher
gato? — gargalho.
— David, eu não acredito! Estou toda sexy
aqui. Rodei tudo quanto é sexy shop para achar
essa roupa e você ri?
— Amor, é que está engraçado, apenas isso.
— Eu me acalmo da gargalhada — Você é louca?
Estamos na delegacia.
— Devo ser por achar que te encantaria. Que
humilhação. Quanta calúnia!
Ela pega o sobretudo e a bolsa e caminha até
a porta.
— Onde pensa que vai assim?
— Embora. Na rua alguém pode achar
atraente.
Levanto rapidamente da mesa e a seguro,
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

puxando para mim.


— Uma porra! Você sair assim, eu juro que te
mato!
— Me solta! Já te diverti muito.
— Não foi porque eu ri que não estou
excitado. Você é gotosa e muito linda, sabe disso.
Acha mesmo que não me atrairia vestida assim?
Porém você veio ao local errado, pois se eu
perder meu cargo, a culpa será apenas sua.
Puxo as coisas da sua mão e jogo para baixo
da mesa.
Coloco ela no espaço livre em cima da mesa.
Eu me coloco entre suas pernas e tomo seus
lábios para mim. Esfrego minha ereção e ela
geme.
— Mulher gato... É, combina com você. Bem
arisca como uma quando está com ciúme.
Beijo seu pescoço e ela enrola as pernas ao
meu redor. Desço até seu sutiã, abro o fecho na
frente, e chupo seu seio enquanto massageio o
outro.
— Merda... Se... Eu gritar aqui... Os outros
policiais... — Ela desiste de falar.
— O que ia dizer, amor? — pergunto
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

provocando.
Pego ela no colo e caminho até minha
cadeira. Coloco ela no chão. Eu me sento na
cadeira e puxo-a para se sentar em meu colo de
costas para mim. Assim que ela senta, afasto
suas pernas, e sem cerimonias, invado sua
entrada com um dedo enquanto aperto um de
seus seios. Ela grita, e pouco me fodo para quem
vai ouvir. Faço um vai e vem com o dedo, e ela se
abre mais para mim. Desço a outra mão e
massageio seu clitóris. Ela tenta fechar as
pernas, mas a impeço. Meu pau está cada vez
mais duro e irei gozar nas calças se ela rebolar
mais um pouco em meu colo como faz.
— David, eu vou...
Escuto barulho na fechadura da porta. Tiro
rapidamente meu dedo de dentro dela. Ela se
levanta, assustada, e se coloca embaixo da minha
mesa. Eu me ajeito e tento esconder a porra da
ereção que estou, mas não resolve muito… justo
hoje vim com uma calça bem justa.
Cleber entra na sala e finjo estar olhando uns
papeis. Coloco os pés em cima da mesa, para
tentar esconder mais a ereção.
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

— Esqueci meu celular. Não imaginei que


ainda estivesse aqui. — ele diz e sorri.
— Muito trabalho.
— Entendo... Olha, achei... — Ele pega na
mesa do escrivão. — Vai para casa e toma um
banho bem gelado...
Ergo o olhar dos papeis.
— Por que diz isso? — tento ser sério.
— Não adiantou a forma de esconder que
está com uma porra de uma ereção. A sala cheira
a sexo. E Liziara, boa noite, adorei seu sapato…
comprarei um igual a Débora.
— Merda! — Ela bate a cabeça na mesa. —
Boa noite, Cleber.
— Vocês dois são loucos. — ele diz rindo e
sai da sala.
Ela sai de baixo da mesa e começamos a rir.
— Poderia ter sido pior. — ela diz.
— Sim. Poderia ter sido meu superior.
Vamos terminar isso em casa.
— Pensei no carro...
— Chega de complicações por hoje.

NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

Liziara Araújo
É sexta-feira. David e eu, junto aos Escobar e
a Beatriz, estamos na fazenda da família que
ninguém vem a tempos. É tudo lindo como já
poderia se imaginar. Dona Paula não quis vir, diz
ainda não estar preparada para vir para cá sem
o falecido esposo, Joseph, pois quando recebeu a
notícia da morte dele, ela estava aqui. E desde
todos esses anos, nunca mais quis vir para cá.
É noite e faz um pouco de frio. Estamos ao
redor de uma fogueira, contando histórias,
rindo, comendo marshmallow e nos divertindo
bastante. Estou no meio das pernas do David.
Henrique tem a cabeça deitada no colo da Ana.
Daiane e Bia estão juntas em um cobertor, e
Marcos está deitado com a cabeça nas minhas
pernas. Yasmim, a filha do Henrique e da Ana
está dormindo lá dentro, mas a babá eletrônica
está aqui para qualquer alerta.
— Então, qual era a novidade que queria nos
contar, Liziara? — Ana pergunta animada.
— Contarei se prometerem não rir.

NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

— Ninguém vai rir, amor.


— Eu não prometo nada, porra louca. —
Marcos diz e dou um tapa na testa dele — Ai, sua
porra! Anda pior do que uma gata arisca! — ele
diz esfregando onde bati.
David, eu, Daiane e Beatriz começamos a rir,
pois elas sabem do que aconteceu na delegacia,
com a fantasia de mulher gato.
— O que foi? — Henrique pergunta.
— Nada. Piada interna. — David e eu
dissemos juntos.
— Diga logo, estou curiosa! — Daiane fala.
— Certo. Eu decidi que não darei
continuidade no curso de psicologia, mas
iniciarei outro curso.
— E qual curso? — David pergunta.
— Direito. Quero ser delegada.
Todos começam a gargalhar.
— Gente, não era para rir, poxa. Falo sério.
— Liziara, você delegada? Me recuso a viver
em um país que uma das delegadas seja você. —
Marcos provoca.
— Problema seu. Posso ser uma boa
delegada para sua informação.
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

— Tem certeza? — Henrique pergunta


zombeteiro. Ana dá um tapa nele — Que foi,
minha advogata ruiva?
— Acho que ela seria uma boa delegada.
Seria atrapalhada, mas seria boa. — Daiane diz
sorrindo.
— Ufa, pelo menos uma. — digo.
— Sou sua amiga e serei sincera. Você não
tem jeito para isso… é toda atrapalhada, é capaz
de se prender no lugar do bandido. — Beatriz
diz rindo.
— Vou me arrepender disso, mas tenho que
concordar com a Senhorita Invocada. — Marcos
fala.
— Não me provoca, seu Juiz de quinta! — ela
diz.
— Não comecem! — Falo.
— Amor, o que quiser fazer, eu irei te apoiar.
Seria ótimo ter uma delegada gostosa e linda
como você ao meu lado ao invés daqueles
homens todos. — ele diz e me dá um beijo.
— Acho que vou vomitar! — Daiane fala.
— Estamos torcendo por você. — Ana fala e
sorrio para ela.
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

Beatriz coloca um marshmallow na fogueira


e o cheiro adocicado me embrulha o estomago.
Sinto um enjoo forte. Levanto rapidamente e o
Marcos bate a cabeça no chão e me xinga. Saio
correndo sobre os gritos de todos atrás de mim.
Entro na casa e corro para o primeiro banheiro.
Fecho a porta e me jogo ao lado do vaso
sanitário; levanto a tampa e começo a vomitar
tudo o que comi.
A porta se abre e escuto passos e logo ela
fecha.
— Hey, o que aconteceu, Lizi? — Bia
pergunta.
Limpo a boca com o papel higiênico e dou
descarga. Abaixo a tampa da privada e sento em
cima. Estou fraca e tremendo.
— O cheiro do marshmallow me enjoou. Sei
lá...
— Liziara, vire mexe você anda tendo enjoos
e teima em ir ao médico. Não contei ao David do
dia que estávamos em seu apartamento e quase
colocou os órgãos para fora, mas terei que
contar. Olha como está. — Daiane diz
preocupada.
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

— Linda, quanto tempo anda assim? — Ana


pergunta.
— Há um tempo já.
— Sua menstruação está atrasada, não é? —
ela pergunta novamente.
— Sim.
— Você realmente deu uma engordada… não
tão drástica, mas é notável, já que é bem magra.
— Bia fala.
— Liziara, eu fui mãe, e conheço bem os
sintomas. Você está grávida. — Ana diz animada.
— Precisa fazer um teste, mas tenho certeza!
— Não posso... — Sou interrompida por
batidas na porta.
— Liziara, abre a porta! — David diz.
— Não... Se ele sonhar, não sei o que é capaz
de acontecer... — digo baixo.
— Ele tem que saber. — Daiane diz.
— Eu não posso perder o David!
— Liziara, abre logo, ou coloco essa porta
abaixo! — ele grita.
A Ana abre.
— Vem, precisamos conversar. — ele fala em
um tom sério.
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

— David... — Henrique tenta dizer, mas


David faz sinal para ele parar.
— Quero conversar com a minha namorada
e tenho esse direito. Vamos, Liziara.
Levanto da privada e saio do banheiro.
Subimos para o quarto que estamos. Ele
fecha a porta. Eu me sento na cama, pois ainda
estou um pouco fraca.
— Quando ia me contar que sua
menstruação está atrasada e que anda tendo
enjoos? Eu escutei quando disse a elas!
— David, eu não contei porque estava e
ainda estou com medo.
— Eu te dei a chance de dizer quando
comentei que notei mudança em seu corpo. Por
que não aproveitou aquele dia e disse?
— Porque eu tive medo!
— Amanhã cedo irei comprar o teste de
gravidez porque esta tarde. Mas pelo visto já
temos certeza, não é mesmo?
— David, eu sei que falhei. Droga, fui
irresponsável com o remédio, quando confiou
em mim. Eu mereço que me xingue, surte, mas
só não me deixe, por favor. Eu não tenho
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

vergonha de me humilhar pedindo isso a você.


Eu já sofri demais por você, e não vou sofrer
novamente. Se me deixar, é para sempre, pois
não retornarei mais. — digo com a voz
embargada pelo choro.
— Eu não irei te deixar. Que tipo de homem
pensa que eu sou? Eu sempre soube que era
atrapalhada, desligada, e sim, eu confiei que
você tomaria corretamente o medicamento, mas
não sou idiota ao ponto de acreditar que isso
não iria falhar, e sabia que logo iria acontecer
isso em relação eu não querer camisinha. Não
estou te culpando, Liziara, e tenho certeza
absoluta de que espera um filho meu e vou
assumir a criança. Eu não irei te deixar por isso,
jamais pense nisso. Eu te amo e isso jamais
mudará. Eu tinha medo, e construir uma família
diante do medo é difícil. Quando perdi meu pai,
prometi que não sofreria a dor da perda
novamente, preferia morrer ao sofrer aquilo.
Mas você chegou em minha vida e tudo mudou.
Não irei te deixar, acredite em mim. — Ele se
aproxima e me dá um beijo na testa.
— Por que senti que esse beijo foi uma
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

despedida? — pergunto preocupada.


— Vou sair, mas eu volto, não se preocupe.
Sempre irei voltar para você, meu amor.
— David, onde vai? É tarde.
— Tome um banho e descanse, quando
acordar eu estarei ao seu lado.
Ele então sai do quarto.
Fico deitada olhando para o nada por um
bom tempo.
Depois de talvez horas, tomo um banho,
escovo os dentes para tirar o gosto ruim que
ficou na boca e desço.
Apenas Ana está na sala, amamentando a
Yasmim.
Eu me sento no sofá de frente para o que ela
está.
— Ele não voltou, não é? — ela pergunta.
— Sim. Não disse para onde iria.
— Vimos ele sair. Não saiu de carro. Marcos
disse que ele deve estar no chalé da família, que
fica depois do lago. Disse que é o lugar predileto
dele aqui.
— Ana, estou com medo. Eu não sei se vou
ser uma mãe boa... — digo em um quase
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

sussurro.
— Eu sei. Também fiquei quando engravidei.
É difícil ser mãe quando não teve um bom
exemplo. Minha mãe, todos sabem que nunca me
suportou, mas tem coisas que nunca contei a
ninguém, mas sinto que devo te contar. Quando
pequena ela nunca me fez uma festa sequer de
aniversario, e nem me dava parabéns. Certa vez
escutei ela dizer ao meu pai que eu fui o pior
erro dela, e ele concordou. Eles nunca quiseram
ter filho, mas aconteceu. Nunca foram a
nenhuma apresentação escolar minha, nem ao
menos a minha formatura da faculdade. Sempre
odiaram eu ter escolhido Direito Criminalista...
Yasmim dorme mamando e ela retira a
mamadeira.
— Quando conheci o meu ex-noivo, Rodolfo,
o seu antigo professor. — ela sorri — Eu
trabalhava, estudava e mantinha a vida dos
meus pais, que só queriam meu dinheiro. Mas
então quando fui morar com ele, decidimos que
eu deixaria o emprego e focaria na faculdade e
ele me ajudaria; e foi neste momento que tudo
piorou. Eu não tinha mais dinheiro para oferecer
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

a eles, e eles simplesmente passaram a me


suportar ainda menos. No dia do meu casamento
com o Henrique ela apareceu, mas eu vi em seus
olhos que ela não tinha mudado, e que foi ali
apenas ver se era verdade que eu estava me
casando com o advogado criminalista mais
famoso. E como já viu, ela só me liga para pedir
dinheiro… diz que tenho obrigação de dar
dinheiro a ela e meu pai, e ele ainda confirma.
— Eu sinto muito, Ana... Não imaginava que
eles poderiam ser assim.
— Diante de tudo isso, que exemplo eu
poderia ser a minha filha? O que ensinaria a ela?
Como no futuro diria que quase fui presa por um
crime que não havia cometido? E foram essas
perguntas e muitas outras que me fizeram ter
medo. Mas eu descobri que eu poderia ser uma
boa mãe e dar a ela o que nunca recebi dos meus
pais, amor, carinho e proteção. E claro, com o
Henrique ao meu lado, tudo ficou mais fácil. —
Seus olhos brilham ao falar dele. O amor dos
dois é lindo.
— Acha que eu posso ser uma boa mãe?
Mesmo que o David desista de mim e cumpra
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

apenas com o papel de pai?


— Você vai ser uma boa mãe. E ele jamais vai
desistir de você. Ele te ama e vai amar essa
criança como todos nós.
— Obrigada, por confiar em mim para contar
tudo isso. — ela assente e sorri.
Henrique aparece na sala.
— Aconteceu algo? — ele pergunta
preocupado. Estava dormindo pelo visto.
— Não. Estávamos conversando apenas. —
Ana diz.
— David retornou? — ele pergunta e nego.
— Vá deitar Liziara, é tarde. Amor, você
também. Vou acender a lareira do quarto da
Yasmim, pois está frio.
— Vai em algum lugar? — ela pergunta.
— Vou atrás do meu irmão. Está muito tarde
e estou preocupado, e não consigo dormir em
paz. Meu tio é capaz de descer daqui a pouco,
pois vi a luz do seu quarto acesa e escutei
barulho.
— OK. Tome cuidado. Vamos Lizi, você me
acompanha. — Ana pede.
Subimos. Fui para meu quarto e ela foi ao da
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

Yasmim, que é ao lado do dela.


Deitei na cama e me cobri. Estou
preocupada. E se o David não estiver no chalé?!
Acordo sentindo um carinho na minha
bochecha. David me olha e sorri.
— Onde estava? Fiquei preocupada.
— No chalé. Precisava ficar um pouco
sozinho. — ele sorri.
— Está bravo comigo, não é? Pisei feio na
bola.
— Não amor, eu não estou. Apenas um pouco
assustado, porque ter filho é mais
responsabilidade do que ser um delegado e
envolve muita coisa. Mas não estou bravo com
você e não ficaria. Eu te amo e sempre vou te
amar.
Sua mão desliza para minha barriga, onde
ele faz contornos com os dedos.
— Eu também te amo, e estou assustada
também. Mas vamos ser bons pais, eu tenho
certeza... Se bem que eu como mãe é algo
grave... — ele sorri.
— Será uma mãe perfeita… louca, mas
perfeita. — Ele franze o cenho.
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

— O que foi?
— Liziara, há quanto tempo a sua
menstruação está atrasada?
— Dois meses... por ai.
— Eu não acredito. Então quando você se
meteu em perigo, lutou com o Jorge e sabe se lá
o que mais aprontou, estava gravida! Eu vou te
enforcar! — ele diz nervoso.
— Em minha defesa, ainda não confirmei
que estou gravida.
— Quer mais provas? Menstruação atrasada,
enjoos, engordando, comendo mais que o
normal e ficando bipolar não são o suficiente?
— Em minha defesa? Não. Apenas amanhã
cedo depois do teste você surta... Nossa, estou
com um sono. — Eu me viro para o outro lado.
— Isso não acabou. Depois desse teste você
vai ao médico, e pode ter certeza que vai
implorar para eu te deixar, porque serei mais
protetor do que nunca, porque você é louca! E
pode esquecer sexo, porque não irei machucar
nosso filho.
— David, isso é demais! Mulher gravida pode
fazer sexo, porém tem que ter mais cuidado.
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

— Pode esquecer. Criarei a porra de calos na


mão e viverei como uma porra de um
adolescente virgem, mas sem sexo a partir de
hoje.
— Porra!
A Bia estava certa ao dizer: Os Escobar são
para foder o juízo, e não é no bom sentido.

NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

Capítulo 12

NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

Liziara Araújo

NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

Meses depois...
Estou com quatro meses. Minha barriga já é
notável. E como não seria? Estou gravida de
gêmeos. Isso mesmo. David quase morreu
quando soube, e eu desmaiei, literalmente. Mas
aos poucos nos acostumamos com a ideia. Ainda
não sabemos o sexo, porém Marcos provoca
dizendo que serão duas meninas para arruinar a
vida do David, e ele diz que se isso acontecer é
porque está pagando os pecados.
Hoje vou almoçar com ele. Irei me encontrar
na delegacia, onde acabo de chegar.
Saio do carro sem esperar pela porta ser
aberta pelo Alex, contratado pelo David e
escolhido pelo Luciano e Simon, seguranças
mais velhos da família. Ele está ao meu dispor a
todo momento.
Encontro Cleber na entrada. Ele me
cumprimenta.
— Quem matou? — ele brinca.
— Vim para matar o que está me matando.
— A fome. Adivinhei?

NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

— Totalmente. — sorrimos.
— David está ocupado agora, mas entre e
espere na sala de reuniões se preferir.
— Certo. — Olho para ele e percebo que não
está de farda. — Folga?
— Não. — Ele sorri. — Não sou mais policial.
— Que?! Como? Por que? — pergunto
preocupada.
— Vim trazer a notícia ao David. Sou o mais
novo investigador da delegacia.
— Ai que maravilha!
Dou um abraço ele.
— Parabéns. Você merece.
— Obrigado! Agora entre, se David te pegar
aqui, me enforca e te enforca.
— Nem me lembre. Boa sorte na nova
carreira. Mande a Débora ir me visitar, ela some.
— Mando sim. — Ele me da um beijo no
rosto. — Até mais.
— Até mais! — Ele se afasta.
Entro na delegacia. Cumprimento algumas
pessoas que já me conhecem.
Eu me aproximo da sala do David ,e ele está
saindo com uma moça chorando
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

desesperadamente. Fico preocupada e


angustiada por vê-la assim.
— Vamos encontrar. Não se preocupe! — ele
diz a ela.
Ela se afasta e ele respira fundo.
— O que aconteceu? — pergunto
preocupada.
— O filho desapareceu. Saiu para ir até a
casa de um amigo no mesmo condomínio de
casas e não voltou. Faz três dias. Ninguém tem
notícias e não tem pistas do paradeiro.
— Meu Deus! Quantos anos?
— Sete anos. O amigo mora na casa ao lado.
— Gente! E você acha que tem possibilidades
de encontra-lo?
— Infelizmente não sei dizer. Ele é branco,
olhos claro, loiro, sabemos que são as
características procuradas por pessoas que
comandam tráficos de crianças, trabalho
escravo, entre outros.
— Sinto tanto pela família.
— Odeio quando envolve criança. Fico puto
de raiva.
— Imagino...
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

— Vamos almoçar.
— Vamos sim.
Ele olha para trás de mim e xinga.
— Porra, estou pagando meus pecados!
Vocês novamente! Acho que vou dar um jeito de
contratar vocês, já se tornaram parte de mim!
João Ricardo e Maximiliano, o que aprontaram
agora?
Eu me viro e sorrio.
Desde que conheço o David, perdi as contas
quantas vezes vierem parar aqui.
Cleber está com eles e sorri.
— Tinha que trazer os dois até aqui dentro
antes de sair. Não resisti. Pedro trouxe eles, mas
eu tive que fazer essa honra. — rimos.
— Senhor, esse moço implica muito! Toda
vez nos pega. A gente dessa vez não fez nada. —
João Ricardo diz.
— Não fizeram nada? Santos, claro! — David
fala. — Leve eles para sala. E chame Pedro para
relatar o que aconteceu.
— Esses vão entrar para o livro de recordes
de tanto que estão vindo aqui! — Cleber fala.
— Senhor, livra nós! — Maximiliano pede.
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

— Livrar? Infelizmente é o que vai


acontecer. Esse é o nosso país. Se pudessem ter
um corretivo melhor, não estariam mais
aparecendo aqui. — David diz.
Eles são levados para sala do David. Cleber
se retira rindo. Pedro entra na sala.
— Já iremos, espera um momento, amor. —
David pede.
— Sem problemas. — sorrio.

Estamos indo almoçar no restaurante


próximo a delegacia. David mantem o braço na
minha cintura.
— David, tira essa arma da cintura, porra!
Todo mundo está olhando! Já não basta estar de
óculos de sol para te deixar mais sexy!
— Devem estar olhando a porra desse
vestido curto. E não implique com minha
amante.
— Sério que terei que ouvir que sua arma é
sua amante?

NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

— Sim. — ele diz como se fosse a coisa mais


normal do mundo.
Uma mulher passa por nós e fica olhando
para o David.
— Boa tarde, Delegado. — ela diz.
— Boa tarde. — ele diz sorrindo e ela
continua andando.
— Que porra é essa?
— Apenas fui educado, amor.
— Ela te comeu com os olhos!
— Paciência, amor!
— Quais são as chances do Henrique ser meu
advogado, e o Marcos, meu juiz?
— Depende. Por que?
— Porque irei te matar! Filho da...
— Olha a boca. — Ele me para no meio da
calçada, me agarra e me dá um beijo. — Eu te
amo e só tenho olhos para você, minha
maluquinha.
Sinto alguém agarrar minha perna. Eu me
assusto e me afasto do David. Olho para baixo e
vejo um menininho, assustado e chorando.
— Tia, me ajuda! — ele pede. Meu coração se
aperta.
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

David retira o óculos, colocando na camisa e


olha assustado para o menino, e se abaixa
ficando na altura dele. Faço o mesmo com
cuidado, devido a barriga. Eu me apoio no David.
O menininho é lindo. Está meio sujinho e
assustado.
— Qual é seu nome, meu amor? — pergunto.
— Diego. Eu quero minha mãe. — ele pede
esfregando os olhos, chorando.
— É ele, Liziara! O menino que a mãe
procura. Ela me deixou foto dele e é o nome dele.
É ele!
— Tio, me leva até minha mãe... — Ele olha a
arma do David e se assusta, mas eu sorrio para
ele entender que está tudo bem. — Você é da
polícia. Polícia ajuda. Se for, me ajuda, tio!
Olho emocionada para o David, que está
emocionado com o menino.
— Vem, o tio vai ajudar. — Ele se levanta e
pega o menino no colo. Em seguida me ajuda a
levantar — Como chegou até aqui?
— Eu fugi. Um homem me pegou, mas eu
fugi.
— Sabe dizer como era o homem?
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

— Não tio. Eu tinha medo de olhar tanto pra


ele. — Ele chora e esconde a cabeça no pescoço
do David.
Sinto as lagrimas rolarem pelo meu rosto.
— Amor...
— Eu sei. Vamos voltar para a delegacia.
Esse menininho vem em primeiro lugar. —
sorrio.

Voltamos para delegacia. Fomos direto para


sala dele. David e sua equipe começam a
trabalhar no assunto. O menininho não quer sair
do colo dele de jeito algum.
— Vem com a tia. Prometo que não vamos
sair daqui. Eles vão falar com sua mamãe.
— Não. Eu quero ficar com ele. Ele é herói
igual o Batman. — todos sorriem.
— Está tudo bem. — David diz.
Fico emocionada com a atitude do David.
Nunca vi ele agir em um caso dessa maneira.
Quando a mãe chegou, foi um lindo
reencontro. David cuidou junto a sua equipe,
para que todos os trâmites fossem feitos, mas
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

eles terão que vir outras vezes, para mais


depoimentos, e outras coisas muito importantes.
Quando foram liberados, David fez a eles a
promessa de que encontraria quem pegou o
menino, para que não acontecesse nunca mais..
— Vem aqui. — ele pede me chamando para
seu colo.
Vou até ele e me sento em seu colo. Ele
coloca a mão na minha barriga.
— Se um dia acontecer algo com essas
crianças, não sei do que sou capaz. Hoje senti
como se aquela criança fosse meu filho. Senti a
dor daquela mãe.
— Eu sei. Também senti a dor dela.
Ele dá um beijo na minha barriga e mexo em
seu cabelo.
— Vamos almoçar e tirar esse clima. Vamos
relaxar.
— Só conheço uma forma de relaxar, David.
— Nem pensar. Não vou machucar eles.
— David, por favor. Eu estou pirando! — ele
sorri. — Não faça isso comigo. É tortura. Está me
fazendo pirar a meses — Eu me esfrego
propositalmente em seu colo.
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

— Não me provoque. Sei o que está fazendo.


— Não estou fazendo nada...
Beijo ele com desejo. Me mexo em seu colo e
sinto sua ereção ganhar vida.
— Liziara... — ele sussurra em meus lábios.
— Vamos para casa. Porra, não aguento mais,
você venceu!
— Vamos agora!
Me levanto e ele se levanta.
— Vamos antes que o escrivão chegue e me
pegue nesse estado.
— Adoro esse seu estado.
Ele pega as coisas dele.
— Vamos, safada. — Ele me dá um tapa na
bunda e rio.
Saímos de mãos dadas. O almoço? Bom,
ficara para depois, já tinha comido antes de sair
de casa mesmo.

NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

Epílogo

NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

Liziara Araújo

NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

Tempos depois...
David está na delegacia e eu estou na casa da
Dona Paula. Meus pais tiveram que viajar com
urgência, e com a Bia trabalhando, David ficou
com medo de me deixar sozinha, porque estou
nos dias finais da gravidez. Meu médico disse
que tenho como ter o parto normal, pois as
minhas meninas Laura e Helena, estão na
mesma posição. Fiquei muito feliz, pois meu
sonho é o parto normal.
Estou deitada na cadeira embaixo do guarda
sol na beira da piscina. Marcos e Daiane estão na
piscina. Dona Paula está trabalhando. Ana foi
levar a Yasmim ao médico, pois ela está
gripadinha; e o Henrique, assim como o irmão,
está trabalhando.
Marcos se empoleira na beira da piscina.
— Se o David sonha que está de biquíni e
comigo na casa sem ele, eu terei minhas bolas
cortadas. — Ela brinca e eu rio.
— Com toda certeza. Mas seria divertido. —
Provoco. Ele me joga água e Daiane ri.

NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

— Porra, Marcos! — digo passando a mão


onde ele me molhou, mas de repente sinto um
dor forte no pé da barriga. — Ai! — grito.
Marcos sai da piscina como um louco e
Daiane faz o mesmo.
— O que houve, Liziara? — eles perguntam
juntos.
Respiro fundo. E me sento com cuidado.
— Uma dor forte. Parecia que algo estava me
rasgando.... Ai! — a dor vem novamente e mais
forte.
— Tio, eu acho que vai nascer. Temos que
ligar para o David agora!
— Ele está em uma operação!
— O que? — grito assustada, e com isso sinto
mais dor ainda e me contorço.
— Tio! — Daiane o repreende.
— Tenho um plano!
— Marcos, eu não sou um réu, que você
analisa como vai ficar a situação! — digo a ele.
— Cala a boca, porra louca! — ele diz
nervoso — Daiane tenta contato com o David e
diz que estamos levando a Liziara ao hospital.
Vou me trocar correndo. Enquanto isso, ajuda
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

ela se arrumar e se arruma. Pega tudo dela. Vou


ligar para a Beatriz e Paula, e mandar elas irem
para o hospital. Vamos, vamos! — ele grita.
— É impressão minha, ou ele está mais
desesperado que eu? — pergunto.
— Não é impressão. Vamos Lizi.
Levanto e sinto a dor novamente e mais forte
ainda. Daiane me ajuda. Seguro para não gritar.
Com sua ajuda, me troco rapidamente, e ela
se troca correndo. Pega as minhas coisas e a
bolsa dela e saímos para o carro, onde o Marcos
aguarda. Vou no banco da frente.
— Beatriz está indo para o hospital e Paula
também. — ele diz.
— Vou tentar falar com o David. — Daiane
fala.
Marcos sai com o carro, e vejo o carro do
Alex seguindo atrás junto com o do Simon.
— Cai direto na caixa postal! — ela diz, e isso
me deixa com medo e preocupada.
A dor vem novamente e vejo Marcos me
olhar preocupado.
— Vamos chegar logo. Aguenta. — ele diz.
O caminho foi uma loucura. Marcos
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

provavelmente perderá a carteira por tantos


pontos que deve ter levado. Passou em tantos
sinais vermelhos, entrou em ruas que eram
contramão para cortar caminho. E ver ele
apavorado me deixou mais apavorada.
Ao chegarmos no hospital, Daiane ficou
dando meus dados e Marcos me acompanhou
junto a enfermeira.

Depois de todos os procedimentos


necessários, eu estou na sala de parto. Estou
com medo. Ninguém me dá notícias do David.
Estou com medo demais.
— Mamãe, vai dar tudo certo! — o médico
diz.
— Sério? Não estou achando isso! — digo a
ele, que sorri.
As enfermeiras, o médico, tudo está me
deixando mais apavorada. Porra, cadê o David?
— É um parto arriscado. Mas vai dar tudo
certo. Apenas faça o que irei pedir. — concordo

NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

— Ninguém vai acompanhar a senhora? — nego


chorando. Ele se posiciona e as enfermeira
também. — Vai dar certo, confia.
Sério mesmo que justo nesse momento o
David vai me largar?
A porta se abre e olho na esperança de ser o
David. Uma enfermeira entra acompanhada do
Marcos, todo vestido adequadamente.
— Marcos? — pergunto com preocupação.
Ele se aproxima e segura minha mão.
Percebo seu sorriso mesmo por detrás da
máscara.
— Estou com medo.
— Vai dar certo. Estou aqui. Nada vai
acontecer. Confia, porra louca.
— Pronto papais?
— Não sou o pai.
— Ele não é o pai! Deus me livre disso!
— Não precisa ofender também, porra!
— Olhem a boca! E foquem no que é
importante, ou as crianças vão morrer
sufocadas, pois elas precisam nascer agora. Sua
bolsa já rompeu, e não podemos mais esperar.
— o médico diz.
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

Foram horas de dor e sofrimento. Foi


desesperador. Marcos tentava me ajudar, mas
sei que ele mesmo estava apavorado. Eu via o
olhar das enfermeiras assustadas. Mas eu não
desisti. Não desisti por elas. Lutei até a segunda
nascer, minha Helena.
Ambas são tão diferentes. Laura nasceu toda
agitada, e é nítido seus olhos azuis, iguais ao do
pai. Já Helena é mais calma e sorridente, e
mesmo não entendendo nada, sorri bastante. Ela
tem a cor dos olhos diferentes, são escuros como
os meus. Gêmeas, porém já se nota o quanto são
diferentes. Marcos segura Laura e chora
emocionado.
— São lindas. Sabe fazer meninas lindas…
quem diria porra louca.
— Marcos não diga palavrão perto delas!
Vou te cobrar cada vez que disser!
— Estou lascado! — sorrio.
Elas são levadas para os cuidados das
enfermeiras.

NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

Horas depois e sem notícias, não tinha mais


ninguém, além das minhas meninas que estão ao
meu lado; então a porta se abre. David entra
como um furacão. Ele caminha até a mim,
chorando como um louco, e me beija com força.
Segura meu rosto com ambas as mãos.
— Me perdoa. Eu fui para casa, tomei banho
e estava indo para casa da minha mãe quando
lembrei que deixei o celular desligado; e quando
liguei vi as chamadas e mensagens. Quando
cheguei aqui você já estava em trabalho de
parto. Não me deixaram entrar na sala. Passei o
inferno lá fora. Ninguém dava notícias. E uma
enfermeira que saiu disse que estava
complicado. Porra. Me perdoa?— Ele está
apavorado.
— Amor, eu estou bem. Se acalma. Marcos
foi muito bom, me deu apoio do jeito dele, mas
deu. — Sorrio.
— Nunca serei capaz de agradecer o que ele

NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

fez.
— Eu também não...
Ele se afasta e caminha até onde as meninas
estão. Sorri emocionado. Helena dorme,
enquanto Laura está bem acordada.
Ele segura as mãozinhas delas com fitinhas.
— Minhas princesinhas. — ele diz e enxuga
as lagrimas.
— Parece que cada uma será uma mini nós.
— digo enquanto ele pega a Laura no colo que
começa a chorar, mas ele a acalma.
— Por que diz isso? — pergunta sorrindo
para ela e acariciando seu rostinho.
— Laura é bem agitada, brava, e os olhos
bem azuis. Helena é calma, sorridente, se deixar
come toda hora, e tem os olhos escuros como os
meus.
— Então quer dizer que você é uma mini
David. — ele diz a Laura e sorrio. — Estou
fodido! — me olha assustado.
— O que foi?
— Duas meninas, uma mulher e uma irmã!
Estou fodido.
— David, olha a boca perto delas! — Ele dá
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

de ombros.
Helena acorda e começa a chorar. David me
entrega a Laura e pega a Helena.
— Outra princesa do papai. — Ele dá um
beijo nela. — Sabe, princesinha, acho que já está
na hora do papai algemar de vez sua mamãe, e
prender ela totalmente a mim.
Olho para ele franzo o cenho.
— Será que a mamãe aceita casar comigo e
ser oficialmente uma senhora Escobar?
— O que? — Lembro da Laura e olho para
meu colo.
— Amor, cuidado. — ele diz sorrindo. —
Pelo visto papai terá que ficar de olho nas três,
ou receberei ligações de que estão no hospital.
— David, eu ser o que?
— A senhora Escobar. Aceita? — Ele pega no
bolso da calça uma caixinha e me entrega. —
Não aceito não como resposta. — Sorrio
emocionada.
Abro a caixinha e vejo o lindo anel dentro
dela.
— Então Laura, acha que a mamãe deve
aceitar? Se eu tiver que aceitar, você chora. —
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

Brinco.
— Se ela não chorar? — David pergunta.
— Então não casarei. — provoco.
Ele se aproxima com cuidado para não
derrubar a Helena de seu colo. Coloca a boca no
ouvido da Laura e diz algo bem baixo, não é
nítido. E por incrível que pareça, ela começa a
chorar.
— David! — repreendo ele. — O que você
fez?
— É, parece que tenho uma cumplice já.
Ele coloca a Helena no lugar dela e pega a
Laura, fazendo o mesmo.
Pega o anel e coloca em meu dedo.
— Futura senhora Escobar. — Ele me dá um
beijo nos lábios que me deixa louca.
— Epa! Não esqueça do que o médico disse.
Quarentena, Liziara. — Marcos entra sorrindo.
— Mentira? — David pergunta e eu nego.
Marcos para ao lado dele e bate em seu
ombro.
— É, meu sobrinho. Duas filhas e sem sexo.
Não queria estar na sua pele.
— Eu realmente estou fodido! — David diz
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

fazendo a gente rir.


— Entrem, pessoal. — Marcos fala.
— Como deixaram todos entrar? —
pergunto rindo.
— Ainda pergunta? Sou um Escobar, tenho
meus meios, porra louca. Menos a Beatriz… ela
só entra depois.
— Tio, o que fez? — David indaga sorrindo.
— Nada. Apenas não consegui que ela
entrasse. — diz com cara de inocente.
— Marcos, eu não acredito! Você não deu o
nome dela! — digo.
— Talvez eu tenha esquecido. Isso não
importa.
Todos começam a entrar sorridentes e
animados. Mas quando a Beatriz entra, Marcos
muda o jeito e seu olhar é de um predador.
— Você me paga, juiz de quinta! — ela diz
seriamente a ele.
David bate no ombro dele e diz:
— Retiro o que eu disse. É você quem está
fodido!
— Olhem a boca suja perto das meninas! —
Eu, Daiane, Paula e Beatriz dissemos em
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

uníssono.
Essa família vai ser minha loucura e minha
maior alegria.
David me dá uma piscadela, e então se
aproxima enquanto todos estão admirando as
meninas. Ele cochicha em meu ouvido:
— Sexo oral não deve ter problema. — Sinto
um arrepio no corpo, e tenho certeza de que
fiquei vermelha.
— Eu ouvi. — Marcos fala. — Acho que não
tem problema, e que não custa nada tentar.
Começamos a rir e todos nos olham sem
entender.
Eles estão aqui. Pela primeira vez estão
perto de mim em um momento muito especial.
— Mãe, pai, venham!

Fim

NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

Agradecimentos
Agradeço primeiramente a Deus por mais
um sonho realizado, e por sempre me dar forças
e alegrias no decorrer do caminho.
Obrigada a Editora Angel, mais uma vez, por
acreditar no meu trabalho.
Obrigada ao senhor Google, por me ajudar
em diversas dúvidas.
Um obrigada bem especial a um alguém que
me ajudou muito, inclusive nas inspirações.
Minhas amadas betas e amigas, Liziara
Araújo e Beatriz Ferreira, muito obrigada por
todas as dicas, inspirações e por aguentarem
minhas loucuras por essa série, e entrarem na
loucura também.
Obrigada as minhas leitoras da plataforma
Wattpad, que me animaram e me deram carinho
e muito amor, e tornaram a série Escobar um
sucesso.
Obrigada a blogueira Joyce Penedo por
apoiar sempre meu trabalho, e estar apoiando
recentemente a série e divulgando em seu blog
NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

Livros Encantos.
Meninas do grupo fechado no facebook e do
Whatsapp, obrigada a vocês também, pois são
demais.

E por fim, obrigada a você que está lendo


este livro. Você é também digno de estar aqui.

NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

VISITE NOSSO SITE

WWW.EDITORAANGEL.COM.BR

NACIONAIS - ACHERON

Você também pode gostar