Você está na página 1de 353

Copyright © Greenelly, 2021

Editora Chefe: Waldinéia Oliveira Gomes


Revisão: Mariana Santana
Capa: Grazi Fontes
Diagramação: Grazi Fontes (grazifontes.artesgraficas)

Todos os direitos reservados ao Grupo Editorial The Books. É proibida a reprodução de parte ou totalidade da obra sem a autorização
prévia da editora. Todos os personagens desta obra são fictícios e qualquer semelhança com pessoas vivas ou mortas terá sido mera
coincidência. Texto revisado conforme o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


Greenelly.
Por Você/Greenelly - 1ed.: 2021
Livro 2 - Série Carter’s
Unaí, MG by The Books Editora
1. Literatura Brasileira. 2. Ficção. 3. Romance

The Books Editora


Rua Três 572 - 38613-221 – Santa Luzia
Unaí / MG
Site: www.thebookseditora.com
NOTA DA AUTORA
Este é segundo livro da série Carter’s, que pode ser lido individualmente, mas para o melhor
entendimento dos personagens, recomendo que leia o primeiro livro da série.

Um amor de cretino.

Por você.

Doce conquista.

Por você conta com mais de 4 milhões de leituras na internet e um público apaixonado por
romance e comédia na dose certa, com o tão famoso clichê que só Grennelly oferece.
SINOPSE
+18

*contém gatilhos*

Menções à violência e gatilhos psicológicos para leitores com sensibilidade ao assunto.

Amor pode morar ao lado.

Um vizinho.

Ódio instantâneo.

Sorrisos safados, e a vida organizada de Elizabeth Norris nunca mais foi a mesma.

Ter Allan Carter como vizinho era ao mesmo tempo terrível e totalmente irresistível, o idiota
era tão quente que fazia minha calcinha molhar, enquanto meu cérebro gritava que o odiava.

Não estava nos meus planos me apaixonar pelo canalha da porta ao lado.

Mas eu não deveria estar surpresa, ter sorte nunca foi mesmo a minha coisa.

Embarque nesse romance com altos e baixos, uma boa dose de humor, mas com um drama que
só um Carter pode oferecer.

Instagram: Ethanwhiteofc

E-mail: Janyellyladeira@gmail.com
Nota da autora
SINOPSE
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capitulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40
Capítulo 41
Capítulo 42
Capítulo 43
Capítulo 44
Capítulo 45
Capítulo 46
Capítulo 47
Capítulo 48
Capítulo 49
Capítulo 50
Capítulo 51
Capítulo 52
Capítulo 53
Capítulo 54
Capítulo 55
Capítulo 56
Capítulo 57
Capítulo 58
Epílogo
AGRADECIMENTOS
CAPÍTULO 1
— Só mais um pouco... — Estalo as juntas dos meus dedos e puxo mais uma vez.

Mala estúpida. Escada estúpida. Universo estúpido.

Respiro fundo e escalo mais um degrau, olho para enorme mala com todo meu
arrependimento.

Se eu soubesse que o elevador do prédio quebraria justamente no dia da minha mudança, teria
dividido minha bagagem em pequenas outras malas. Isso me pouparia do esforço físico e dores nas
costas.

Mas não estou surpresa com isso, da minha constante onda de má sorte, estou até mesmo
satisfeita com o fato de não ter rolado escada abaixo.

Ainda.

Considero essa subida de andares como um mal necessário, afinal, são calorias extras
perdidas, só vejo vantagens nisso.

Pena que meu pensamento positivo se quebrou na metade do percurso.

— Eu vou definitivamente morrer nessas escadas, estou subindo para o Olimpo nessa porcaria
— resmungo, limpando o suor da testa.

Meu pequeno cubículo se localiza no terceiro andar, e já não tenho certeza se chegarei até ele
nessa década. Isso me faz recordar do principal motivo para ter abandonado a academia anos atrás,
odeio me exercitar.

Preparo-me para continuar a subida, mas assim que dou o primeiro passo, um peitoral duro
vem de encontro a mim e, como se o mundo ficasse em câmera lenta, me vejo caindo no chão feito
uma folha seca e minha linda mala cor-de-rosa com todas as minhas coisas desce todo o percurso que
lutei para subir na última hora.

— Merda! Tanto esforço para nada!

Luto contra o ímpeto de chorar ou, pior, gritar.


Fico tão aturdida com minha perda que não percebo que o causador do meu maior problema
atual está me encarando.

— Se machucou?

Puta merda.

Minha vantagem era que já estava sentada, ou provavelmente faria companhia a minha mala, o
dono da voz pode ser facilmente o homem mais impressionante que já vi na vida. Embaraçada por
ainda estar sentada no chão olhando para ele como um filhote de cachorro olha um bife, me levanto.

— Estou bem, ou algo entre bem.

De pé, ele é tão enorme quanto parecia e tenho que levantar meu queixo para olhá-lo nos
olhos. Meu erro, o azul profundo e límpido reflete meu reflexo de volta.

Tão lindo. Será que ele vai se importar se eu o tocar para ver se é real?

— Na próxima, olhe pra onde anda! — diz simplesmente.

Abro a boca com a surpresa. Obviamente a beleza exterior não compensa o interior. Idiota.

— Você me derrubou, o culpado é você, homem grande, e derrubou minha mala. Sabia que é
um idiota?

— Isso foi uma pergunta? — Seu olhar desce para meu rosto. — Eu trarei sua mala, loira, se
for de ajuda.

— Mais do que sua obrigação.

Segundos depois, ele está subindo com minha mala em mãos. SEGUNDOS DEPOIS! Enquanto
demorei uma eternidade. Uh, não é lindo o jeito que seu músculo flexionou?

— Aqui está — diz, pondo minha mala próxima a mim. — Na próxima, olha por onde anda!

E ele abre a boca novamente...

— Tanto faz, espero que tropece e machuque seu rosto bonito!

Se ele ouviu minha gafe no final, não demonstrou ou olhou para trás, mas tive certeza de ouvir
uma risada de fundo, não muito longe.
Lar doce lar.

FINALMENTE.

Depois de muito esforço, consegui chegar viva até o apartamento, totalmente esgotada, mas
ainda sim viva.

Olho em volta com orgulho, esse pequeno lugar é meu e só meu. Não se parece com um
palácio, mas posso pagar com meu próprio dinheiro, o que faz dele ainda melhor. Tudo que vem do
dinheiro da minha mãe foi deixado no passado. Inclusive ela. Não são todas as pessoas que podem
aguentar por duas décadas minha mãe, sou uma fênix.

Susana Norris é a típica cidadã nova-iorquina, classe média alta. Uma casa perfeita, amigos
perfeitos, vida perfeita, e eu sou a peça que não se encaixava. O sonho de vida da minha mãe
consiste em ver casada com um homem rico e político ou, pior ainda, com algum filho de seus
amigos.

Vivi por anos seguindo essa ideia estúpida de status, mas não é quem quero ser, eu não me
vejo como esposa troféu de algum político cheio de merda. No momento em que decidi ir para
Faculdade de Letras, foi o início da guerra.

Cumpri alguns trabalhos autônomos para agências como revisora e, depois de um tempo,
juntei dinheiro suficiente para sair do teto dela, e hoje sou funcionária de uma editora emergente
bem-sucedida. O trabalho dos meus sonhos, qual mulher apaixonada por livros não gostaria de lê-los
com antecedência? Eu sim, o mundo da fantasia me dá toda felicidade que preciso. Mas a vida real
não é tão bela.

Suspiro e olho para minha mala cor-de-rosa. Tenho todas minhas coisas para serem
organizadas e uma limpeza me aguardando.

Outra hora.

— Vou dormir.
Aqui está o preço por me esforçar tanto essa manhã, fiquei esgotada. Deito na almofada do
sofá com um sorriso, dormir é a solução sempre.

Droga.

Oh, céus, seria demais pedir por uma dose de boa sorte?

A resposta é sim.

O universo me odeia, melhor dizendo, não me suporta. Todo destino, com seu plano perfeito e
linear, simplesmente não dá a mínima para mim, tudo sempre piora ao meu redor.

O pneu do carro furar numa nevasca? Eu tive.

Um enxame de abelhas no passeio da escola? Confere.

O poste caindo na sua bicicleta nova? Porra, sim, aconteceu comigo.

Entre todas as vezes em que meu azar interferiu na minha vida pessoal. Como a vez em que
tropecei no nada e caí na poça de lama podre no meu primeiro dia de trabalho.

Azar. Azar. Azar.

Não consigo xingar alto o suficiente quando o dia de sol, que estava quando saí para ir ao
mercado, se transformou em uma tempestades violenta bem na minha vez de ir para casa, na rua.
Junte isso ao meu tênis destruído pela água e meu humor está abaixo do zero.

Nova Iorque não é conhecida por seus táxis amarelos que salvam vidas?

Uma merda, nenhum à vista.

Eu poderia chorar se não estivesse congelando minha bunda na chuva, é óbvio que ficarei
doente após tudo isso, essa é minha sorte. E, ao correr para dentro do prédio por um triz não
escorrego. Deus, ou seja, lá a força suprema existente, sorri para mim, pois o elevador voltou a
funcionar e isso é tudo de agradável que me aconteceu hoje.
Eu começo a relaxar e quando as portas se fecham, uma mão enorme intervém.

O grandão de olhos azuis e rosto bonito entra. O reflexo do espelho me faria chorar se não
tivesse acostumada a estar em situações piores, o deus do Olimpo está de branco e tão limpo,
enquanto sou um gato escaldado, com o cabelo arrepiado e roupa pingando.

Realmente meu rímel é a prova d'água, ao menos.

Olhos azuis me encaram eu faço o melhor para parecer inabalável, mesmo que esteja
tremendo.

— Vejo que está molhada.

Sua voz grossa fez muito para molhar onde a chuva não molhou.

— Como percebeu? — ironizo.

— Parece que seu plano de me evitar não funcionou.

Idiota. Bonito, cheiroso.

— Não, mas posso fingir que não existe.

Com isso, o elevador se abre e saio primeiro e o grandão me segue. Mesmo andar? Sorte,
cadela. Os meus passos param e ele para de frente para porta oposta a minha.

— Terá que se esforçar mais, vizinhardes sacudindo as chaves.

Foda-se.
— Péssima vizinhança — resmungo, abrindo a porta, e o desconhecido ri.

— Te vejo em breve, vizinha!

Bato a porta e seguro um sorriso, ele é tão cheio de merda, mas é bom para os olhos.

Deixo as compras sobre a mesa e vou para um banho quente e longo no meu novo lar.

E sim, a água ficou fria após dois minutos. Elizabeth Norris não poderia ser sortuda para água
quente.

Que dia longo.


CAPÍTULO 2
Allan Carter

Está escuro, ele virá, ele sempre vem. Todas as noites, durante todos esses anos, ele nunca
me deixa em paz. Estou sempre com medo de fechar os olhos.

Sempre.

— Criança! — Escuto sua voz e meu desespero se torna grande.

Não posso chorar, se chorar, ele irá me agredir, se não fizer o que exige, ele irá pegar uma
das meninas, não posso deixar que ele faça nada com aquelas garotinhas. Elas não merecem.

Ninguém nesse inferno merece, exceto eu.

Levanto-me da cama e sigo para o corredor, é sempre assim. O encontro encostado na


parede, fumando seu cigarro barato.

Nojento.

Paro diante dele com minha melhor expressão de frieza, já estou acostumado a fingir não
sentir nada.

É assim por anos, não sentir, não amar, sobreviver.

Sobrevivem aqueles que se adaptam.

— Bom garoto! — diz, cuspindo a fumaça em meu rosto. — Traga uma boa quantia pra
mim, sabe o preço se não trouxer.

Eu o odeio. Odeio o que sou, o que me tornei por sua culpa, odeio ceder.

Mas não tenho escolha.

— Sim — digo a ele.

— Se falhar, as menores terão uma longa história para contar — debocha e meu sangue
ferve.
Se existe mesmo um Deus, que esse verme não toque nas crianças mais novas. Eu juro que,
quando sair desse inferno, irei salvar cada uma delas.

— Sim.

Bill sorri satisfeito e me entrega um revólver, já fantasiei milhões de vezes como seria
puxar o gatilho em sua cabeça, não vale o risco de ir para prisão.

— Faz seu trabalho, criança — diz e me dá as costas.

Odeio ser obrigado a roubar. Por que minha família me deixaria nesse lugar? Eu tenho
família? Não faz diferença pai ou mãe, monstros se moldam com a necessidade.

— Vamos, Seller, não seja um fraco — digo a mim mesmo e respiro fundo.

Um dia serei livre. Até lá, guardo o cano da arma. Serei o monstro que preciso ser.

— Não! — grito e me sento na cama, meu coração bate acelerado e o suor desce frio por
minha nuca.

O pesadelo nunca se esvai.

Essas memórias nunca saem de mim, dos dezoito anos em que vivi naquele orfanato maldito,
de todas as vezes que aquele verme me obrigou a roubar pra ele. E pensar que tudo poderia ter sido
diferente, de maneira diferente.

Foda-se, Robert Carter.

Caminho em direção à cozinha, desviando das dezenas de brinquedos espalhados pelo meu
apartamento, Damon e sua mania de mimar Gabe.

Gostaria que meu pequeno estivesse aqui, desde que vi Gabriel pela primeira vez, desejei
cuidar e proteger o pequeno garotinho de olhos azuis, com uma mãe alcoólatra e que não liga se o
filho está bem ou não, tudo que mais quero é adotá-lo e trazer para mim o garotinho que eu amo como
filho.

Uma criança não merece ser tratada mal. Ser pediatra foi a minha melhor decisão.

Pego tudo que preciso para preparar um café, como de praxe, nunca consigo dormir após um
pesadelo e preciso estar desperto em algumas horas para o trabalho. Não posso me atrasar
novamente.

Aquela mulher desastrada me fez chegar atrasado, a culpa foi minha por ter derrubado sua
mala, mas ao invés de correr contra o relógio, eu simplesmente não podia me afastar, ela era tão
linda com seu olhar irritado.

Inusitado, faz muito tempo em que me atraio por uma mulher tão rapidamente. Vê-la
completamente encharcada pela chuva foi engraçado e excitante, sua camiseta colada ao corpo só fez
minha mente suja trabalhar ainda mais. Sorrio com os pensamentos, será interessante conhecer minha
nova vizinha. E se tudo rolar bem, conhecerei também sua cama.

Um homem pode sonhar.

Bato à porta do apartamento e me xingo por ter esquecido os ovos na panela e queimado meu
café. Odeio cozinhar, e a única pessoa pior do que eu na cozinha, é a minha cunhada.

Tranco a porta e, no momento exato, minha nova vizinha sai do apartamento usando um
vestido social que, diga-se de passagem, valorizou todo aquele corpo maravilhoso. E assim que ela
percebe minha presença, fecha a cara. Acho que não consegui esconder meu olhar de fome, e dessa
vez não pelos ovos. Que culpa tenho se uma mulher dessas agracia minha manhã?

— Bom dia, vizinha! — cumprimento e dou meu melhor sorriso.

Não vai ser eu que vou esconder o quanto gostei do vestido. — Não fale comigo, não olhe
para mim, finja que não existo! — diz irritada e sai pisando duro, me dando a bela vista de sua
bunda. — E não olhe para minha bunda!

Solto uma risada abafada e a sigo.

— Não irá me dizer seu nome, vizinha? — Paro bem ao seu lado enquanto aguardamos o
elevador.

— Não é da sua conta. — Difícil, linda.


— Me chamo Allan. — Ela fica por um momento em silêncio até suspirar.

— Elizabeth, só estou dialogando com você, pois tenho educação.

— Não vejo onde, mas se diz que sim, vizinha. — É ridículo a forma como estou agindo com
ela, mas não consigo evitar. Essa mulher me deixa sem fala.

— Deveria tentar um dia, a educação lhe fará bem.

— Se quiser, posso fazê-la gritar, por favor. — Minha insinuação é eficaz, pois suas
bochechas coram.

O elevador se abre e ela sai, me deixando com um sorriso cafajeste e sua bela visão de
costas.

Ótima vizinhança. Faço meu percurso até meu carro sorrindo. Essa mulher ainda estará na
minha cama. Apenas aguarde, Liza.
CAPÍTULO 3
Liza

Idiota. Gostoso, mas um idiota! Odeio-me por ficar tão admirada com a beleza dele, um
homem como ele não deveria ser tão lindo, suas malditas roupas brancas só destacam o corpo
esculpido e seus olhos tão cor de céu. Recuso-me a perder meu tempo babando em Allan. Ele
certamente é o típico cara que procura uma única noite de sexo e logo após descarta.

Não estou disposta a criar um clima ruim com meu novo vizinho.

Entro no prédio da editora e cumprimento com um aceno as pessoas no caminho. Gosto de ser
simpática, graças ao bom Deus, meu trabalho é ótimo, minha chefe, também. Caminho até meu
pequeno espaço entre outras dezenas de cubículos e me acomodo na minha cadeira. O lado ruim da
segunda-feira é que parece que todo o trabalho se multiplica durante o fim de semana.

— Elizabeth!

Mal tive tempo de ligar meu computador e a voz de Andy gritando meu nome pode ser ouvida
do outro lado do mundo, ser escandaloso é sua marca registrada e péssimo para o meu mau humor
matinal. Viro-me e encontro meu amigo de trabalho caminhando na minha direção com um olhar
mortal. O que eu fiz dessa vez?

Tento me lembrar de algo que possa ter feito ou quebrado.

— Posso saber do que estou sendo acusada? — pergunto assim que ele se aproxima.

Andrew Willians é meu amigo desde os 16 anos, crescemos próximos e talvez possa
considerá-lo um amigo íntimo pelos anos.

— Disse que me ligaria pra ajudar com a mudança!

Realmente teria me poupado todo o esforço com a mala.

— Eu sei que estava tendo um fim de semana romântico com a Chloe, não quis incomodar.

Sua nova namorada é o brilho dos olhos dele, sei que ele tenta passar tempo com ela com toda
essa rotina maluca em que eles vivem.
— Mas te ajudar não iria atrapalhar, Chloe quer te matar.

Andy também é dono da editora na qual trabalho, foi por estímulo dele que me apaixonei por
livros, é o chefe do meu chefe.

— Deu tudo certo, foi per feito.

— Sua definição de perfeição é um tanto estranha e por isso irei visitar esse seu novo lugar.

Sua preocupação é adorável.

— Tudo bem, leve Chloe com você e pediremos pizza enquanto falamos mal da comunidade
masculina.

Ele revira os olhos, mas sorri.

Eu sei que é importante pra ele que me dê bem com sua namorada.

— Falarei com ela, agora trabalhe e tente não quebrar nada!

— Eu nunca quebro algo!— dito isso, meu cotovelo bate na porta canetas e tenho seu
conteúdo no chão.

— Claro que não, Liza.

Sorte, sua cadela.

Chego no prédio acompanhada de Andy e Chloe, que observam tudo com atenção.

— É um prédio legal, perto do trabalho — Chloe diz sorrindo.

— Você merece algo melhor, mas não é tão ruim quanto esperava — Andy acrescenta e reviro
os olhos.

Seguimos em direção ao elevador e meu corpo automaticamente se retrai quando vejo Allan
parado, esperando o mesmo. Será que nunca terei um momento longe dele?

Foco em ignorá-lo.

Aproximamo-nos e vejo Chloe andar em direção ao dito cujo, que por sinal está muito lindo e
altamente capacitado a molhar minha calcinha.

— Doutor Carter! — ela o cumprimenta com um sorriso genuíno.

Doutor?

— Boa noite, Chloe — fala com um sorriso simpático — Veio visitar alguém?

Então ele tem mesmo educação, digno. Andy se aproxima e segura na cintura da namorada.
Sinto o seu ciúme de longe.

Xixi no poste, diria.

— Doutor, esse é meu namorado, Andrew, e aquela é nossa amiga, Elizabeth Norris.

O imbecil sorri para mim, e seus olhos cintilam.

— Quanta coincidência, não é mesmo, vizinha?

Argh.
— Não fale comigo, vamos, Andy. — Entro no elevador e faço minha melhor cara de brava, enquanto
Allan continua sorrindo e para bem ao meu lado.

Muito próximo. Muito cheiro. Gostoso.

Seria tão ruim assim se eu desse uma fungada nele?

— Você me cheirou?

Arregalo os olhos.

— Eu não, você me cheirou?

Ele me encara um segundo.

— Sim.
— Sim? — pergunto ainda meio fraca com sua admissão.

— Adoraria saber se o gosto é tão bom quanto o cheiro — ele sussurra.

Ofego e o elevador se abre, levando Allan para longe de mim, ele se vira e me lança uma
piscadela.

— Até amanhã, vizinha.

Fico ali, sendo encarada por Andy e Chloe enquanto meu coração gira dentro do peito.

— Vejo que se deu bem com a vizinhança — Andy provoca.

— Eu o odeio! — digo firme.

— Ele é super sério lá no hospital, um médico excelente e super carinhoso! — Chloe informa.
Tanto faz.

— Ele não me interessa, por mim, poderia se mudar daqui.

— Gostou dele, não é? — Andy questiona.

Óbvio.
— Não, odiei, ficou surdo?

Mesmo que eu ache o bastardo um lindo e irresistível. Ele não se enquadra no que quero, não
preciso de um homem agora. E Allan Carter se parece com o tipo de cara que quebra corações. Eu
posso ser desastrada e até mesmo azarada, mas me recuso a partir meu coração.

Não por ele, nem por ninguém.

— Peçam a pizza, já volto — dito isso, entro no banheiro minúsculo e suspiro. Água fria é
isso que preciso.
CAPÍTULO 4
Liza

A minha noite não saiu como planejada, meus amigos só sabiam falar de um assunto em
questão: "Allan". Como ele é bonito, como ele é simpático, inteligente e todo o blá blá blá que
ignorei. Já estava quase indo convidar meu vizinho para participar da conversa, afinal, falaram tanto
dele que, no mínimo, sua orelha deve estar doendo.

Quando Andy e Chloe foram embora, agradeci mentalmente, já estava com alergia ao nome de
certo médico metido.

Não o bastante, minha terça-feira já começa mal, não ouvi o despertador e fui agraciada com
mais um encontro com o babaca da porta ao lado. Ele continua sorrindo e piscando ou até mesmo
usando seu charme.

Uma garota só quer paz.

O resto da semana passou voando, e todos os dias encontrei Allan pela manhã, me esperando
para descermos o elevador juntos. Eu fingi que odiei, mesmo sentindo meu coração disparar. Só o
via pelos nossos encontros matinais, nunca à tarde ou noite, duvidava até que ele voltasse para casa.

Sua vida no hospital deve ser exigente. Pelo menos, algum talento ele tem. Além de ter braços
fortes e ser bom para os olhos.

Preciso de foco!

No sábado à tarde, eu já tinha decidido que não aguentava mais ficar na cama.

— Que fome — resmungo e me lembro que as compras que fiz no domingo passado já
acabaram.

E morar sozinha tem a desvantagem de que os alimentos não surgem na geladeira


magicamente. Pego meu casaco e minha bolsa e saio do apartamento.

Instantaneamente olho para porta da frente e suspiro aliviada, nenhum sinal de Allan.

Isso sim é sorte.

Vou normalmente até o supermercado caminhando, tenho que me lembrar de comprar um


carro. Mas foi burrice achar que tinha sorte. Justo na calçada onde estou, o homem enorme de sorriso
brilhante vem em minha direção. Tênis de corrida nunca foi tão quente, e Allan vestindo moletom faz
coisas para meu corpo que o horário não permite serem ditas.

— Vizinha — cumprimenta.

Sua presença me deixa consciente da minha roupa larga e confortável nem um pouco sexy.

— Carter.

Seus olhos azuis me avaliam.

Ele é sim muito lindo, mas é o típico canalha, não quero embarcar nessa.

— Para onde está indo?

— Para longe de você, tenha um bom-dia, Allan.

Ele ri como se eu não acabasse de dar um fora.

— Te vejo mais tarde, Loira, adoro seu humor.

Ignoro seu comentário e continuo andando sentindo seus olhos em mim, ou melhor, em certa
parte de mim.

Canalha.
Com um sorriso no rosto, faço minhas compras na mercearia perto do prédio e volto segurando as
sacolas com comida suficiente para dias. O elevador demora a chegar e quase lamento possibilidade
de ter que ir pelas escadas. Foi quando ouvi as vozes.

— Por que nós não viemos à tarde? Eu não gosto de acordar cedo num sábado —disse uma
voz masculina bem próxima de mim.

— Ninguém te obrigou a vir, não suporto ter que ouvir sua voz pela manhã, mas mesmo assim
não estou reclamando.

— O seu cabelo oxigenado está começando a afetar sua audição, Damon, você acha que é
possível seu irmão ter uma máquina de barbear?

São pelo menos três homens atrás de mim e, quando o elevador chega e tenho a visão dos
visitantes, quase deixo minha sacola de compras cair.

É como entrar em um universo paralelo de homens gostosos.

Os dois morenos e um loiro são como modelos de alguma revista feminina.

O de olhos azuis-escuros encosta no cabelo do loiro e leva um soco.

— Não toca!

— Viu, você está irritado, deveria procurar uma namorada, está ficando amargurado, sei do
que estou falando.

— Vocês podem ficar sem brigar por um único minuto? — o outro homem estranhamente
familiar reclama.

Acho que eles nem se deram conta que estou assistindo a tudo.

— Não estamos brigando, Britney está muito nervosa ultimamente.

Não seguro o riso com a clara implicância do homem. Três pares de olhos pousam em mim
pela primeira vez.

— Oi, você é nova no prédio? — o de barba e claramente o mais bem-humorado pergunta.

— Me mudei essa semana.

— Allan tem sorte com vizinhas — diz o loiro, me dando um sorriso.

Claro, são amigos do idiota.

— Queria dizer o mesmo — respondo.

O elevador se abre e, parado no corredor, está Carter com um olhar sério, mas quando me vê,
exibe seu sorriso de canto que tanto vi nos últimos dias.
— Saudades, vizinha?

— Nos seus sonhos.

Os três atrás de mim riem alto.

— Eu gosto dela! — diz um deles. — Sou Damon Carter, irmão do idiota ali.

Então me lembro de onde o reconheço. Esse é o empresário bilionário que se casou


recentemente e que saiu em todas as revistas por semanas.

Minhas mãos começam a suar.

— Sou Dominic Carter, primo dos dois idiotas aqui — fala o loiro que beija minha mão.

Que genética abençoada.

— Eu sou Ethan... — o interrompo.

— Carter?

— Deus me livre, sou Ethan White, o mais bonito desse lugar e da cidade.

Diferente dos outros, ele simplesmente me puxa para um abraço e tem Allan tão rápido me
puxando para longe dos três homens.

— Sem tocar — meu Carter diz.

Meu não, digo, meu vizinho. Que é irmão de uma celebridade que provavelmente tão rico
quanto.

— Sou Elizabeth Norris, mas podem me chamar de Liza.

— Um prazer conhecê-la, Liza. — Damon sorri e sorrio em troca.

— O prazer é meu, conheço seu trabalho e é espetacular!

Existe publicidade e existe Imperion. Damon é dono da maior rede publicitária da América e
talvez do mundo. Eles são perfeitos.

— Obrigado, algo me diz que em breve vai estar na família. — Ele aponta para onde Allan
está me segurando na cintura.
— Não mesmo, preciso deixar essas compras em casa, foi um prazer conhecer vocês.

— Eu sabia que você tinha gostado de me conhecer — diz Allan sorrindo. — Cadê o meu
beijo Atrevido.

— Nunca nessa vida, Carter.

— Seus planos em relação a mim não estão dando certo, vizinha, admita.

Ignoro sua implicância e me livro de seus braços.

— Te vejo amanhã, loira.

— Já dizia o ditado, nunca diga nunca! — Dominic diz rindo.

— Isso não é uma música do Bieber? — Ethan pergunta olhando para o loiro.

— O quê? Que música?

— Não fique envergonhado, todos nós vamos compreender se você admitir ser fã de cantor
adolescente, Dom, não tenho preconceitos.

Não consigo segurar o riso quando Ethan e Dominic começam uma nova briga sobre gêneros
musicais. Damon revira os olhos, mas Allan, ele sim olha para mim tão intensamente que minhas
pernas tremem.

— Eu vou cuidar para uva-passa ter um tio com cultura — diz White ao fundo.

— Minha filha não é uma uva-passa! — Damon responde.

Allan desvia a atenção de mim para os três homens discutindo algo sobre uvas e bebês.

— Essa é minha família — diz orgulhoso.

Seja lá o que for, meu vizinho ama sua família.

— É mil vezes melhor que a minha — afirmo.Minha mãe nunca soube o significado de amor.

— Deveria agradecer por ter uma família, é solitário quando não se tem.

Os olhos azuis de Allan são ao mesmo tempo tristes e profundos, como se refletissem sua
alma. Como se ele quisesse me mostrar alguma coisa. O que um homem com uma família boa e
profissão respeitada esconde?

Deixar-me levar pelo charme de Allan vai ser minha ruína, e já sou destruída demais para
mais um impacto. Dou as costas aos homens e entro no meu novo apartamento.
CAPÍTULO 5
Allan Carter

Estou pagando caro por cada provocação que fiz ao meu irmão e a Ethan.

Desde que encontraram Liza, não conheço paz, tudo bem que não tenho nenhum tipo de relação
com ela fora a vizinhança, mas isso não importa quando o assunto é me irritar. E Ethan e Damon são
mestres nisso.

— E eu achando que a Emma me dava foras! Sua garota te odeia!

— Ela não é minha garota — resmungo.

Como previsto, não adiantou nada negar.

— Mas você está interessado nela, vi seu sorrisinho e seu braço nela. Ela é uma boa cunhada,
nunca tive uma cunhada — Damon diz enquanto ri. — Lia vai ficar tão feliz.

Droga! Eles não irão me deixar em paz.

— Ela não é e não será sua cunhada, Damon! Meu único interesse em relação a ela é físico.
— Aviso, e meu irmão dá de ombros.

— Eu disse a mesma coisa quando conheci Lia, e olha só onde estou.

Casado, com um bebê a caminho.

— Então não irá se importar se eu chamar ela pra sair, não é? Sou o Carter solteiro, afinal. —
Dominic provoca.

Ele está realmente achando que tenho ciúmes?

— Ela não é minha propriedade, Dom, não posso e não irei te impedir — digo passando por
eles, não dou a mínima se ela aceitar o convite dele, ou se beijá-lo e nem me importo se ela...

Não é problema meu.

Liza é difícil, incrivelmente linda e meu passatempo predileto é provocá-la. Já perdi as contas
de quantas vezes fantasiei aquela nervosinha em minha cama. Mas tudo não passa de desejo, não
quero um relacionamento e isso significa que não tenho direito de impedir alguém de se aproximar
dela. Mesmo que odeie dividir.

— Para de dar em cima da garota do Allan, sua oxigenada! Procura uma pra você! — Ethan
bate

E eles entram em uma briga novamente como as duas crianças que são.

— Como Gabe está? — Damon pergunta.

Meu coração se aperta só com o pensamento do meu garotinho longe de mim, sendo mal
tratado pela vadia da Hilary, aquilo não deveria ser mãe. O que me mantém em paz é que Jhon cuida
do meu pequeno quando estou longe. Há pouco mais de dois anos eu tratei de um garotinho na minha
ala e mesmo sendo anti ético eu não consegui me desapegar.

Sua mãe biológica é terrível, e eu faço o que posso por ele.

Jhon é um comerciante de meia-idade que mora próximo à casa de Gabriel, graças a ele Gabe
não morreu de fome antes de mim. O ajudo com dinheiro sempre que possível, e tenho sorte por
existir pessoas boas no mundo.

— Tenho feito plantão no hospital, não tive tempo de ir buscá-lo — digo triste.

A rotina do hospital está deixando suas marcas em mim.

— Estou com saudades do pirralho... Descobri que gosto de crianças — Ethan diz com um
suspiro.

— Deve ser porque sua mentalidade é igual à de uma — Dominic revida e tiro minha atenção
dos dois idiotas que não conseguem passar cinco minutos sem implicar um com outro.

— Irei buscá-lo hoje, duvido que a mãe dele se importe.

— Eu deveria deixar a Emma socar essa mulher, acreditem, minha noiva é pequena, mas tem
um soco de direita maravilhoso.

Fico tentado a aceitar.

— Eu não acredito que vou dizer isso, mas concordo com o Ethan — Dom diz.
— Bom, apareça lá em casa! Tenho que ir senão a Lia me mata — Damon diz e me dá um
meio abraço. — Ela ficou muito agressiva com a gravidez!

Tenho que concordar.

— Não quero nem imaginar Emma grávida... Eu morro no primeiro mês — Ethan diz, fazendo
careta.

— Pra quem não gostava de relacionamentos, pensar em filhos é um grande avanço —


provoco.

Ver White se casar será épico.

— Pra você ver o que aquela demônia fez comigo — diz, sorrindo.

É esse tipo de amor que espero encontrar.

— Aparece na empresa, vir até aqui cansa— Dom se despede rindo. — Boa sorte com a
vizinha!

Vou precisar.

— Eu ainda a chamarei de cunhada!

Nem em sonhos.

Me despeço da minha família e volto para a solidão do meu apartamento. Preciso ver meu
pequeno. Mereço essa felicidade.

Estaciono o carro na frente da mercearia de Jhon e entro no local. Gabe sempre está por aqui,
brincando com as etiquetas. Mas hoje não vejo sinal da cabeleira loira do pequeno.

— Gabriel — chamo e nada. Um desespero começa se instalar em mim.

— Allan — Jhon surge de trás das prateleiras e me olha com tristeza. Não, esse olhar não.
— Onde está ele, Jhon?

— Meu jovem, saí para receber as entregas e o deixei brincando no balcão... — Ele abaixa o
olhar. — Quando voltei, ele não estava mais aqui... Procurei pelo bairro e nada!

Não. Não. Não.

— Ele é uma criança! Sozinho... Em Nova York — grito desesperado.

Eu não posso perder Gabriel, não posso perder outro filho!

— Ele pode ter ido para seu prédio.

Não respondo, corro para o carro e, depois de muitos anos, rezo. Rezo para meu pequeno
estar seguro. Eu irei até o fim do mundo para trazer Gabriel de volta.
CAPÍTULO 6
Liza

Nesses últimos dias, tenho estourado a cota de vezes que saí na chuva, e se não peguei um
resfriado até agora é porque meu santo é forte. Tudo culpa da minha grande lerdeza! Fui ao mercado
e não comprei café. Conclusão: tive que voltar para o mercado no meio da chuva de novo. As
balconistas já estão quase me comprando um guarda-chuva.

— Odeio chuva! — reclamo assim que chego ao prédio. — Preciso de um carro!

Tudo estava normal, exceto por um garotinho sem agasalho nenhum tentando apertar o botão
do elevador. Como uma criança de aparentemente cinco anos pode estar sem uma blusa de frio? Que
tipo de mãe faz isso? Crianças são o meu ponto fraco, o fato de ter sido negligenciada de afeto na
infância fez o meu desejo por ser mãe aumentar.

Me aproximo do pequeno e juro que meu coração se derrete. Os olhos azuis e cabelos loiros,
parece um anjo.

— Oi! — cumprimento e ele me encara sério. — Onde estão seus pais?

Ele olha para o elevador e não diz nada. Será que os pais dele moram aqui?

— Seus pais moram aqui? — questiono e ele nega. — Alguém que cuida de você?

— Uhum.

Oh, meu Deus, uma criança não pode ficar nesse frio.

— O que acha de um chocolate quente com biscoitos? — proponho e ele sorri.

Com delicadeza, seguro em sua mãozinha e o levo para meu apartamento. Eu nunca cuidei de
uma criança por muito tempo, mas é uma necessidade tão grande de cuidar desse garotinho que
apenas faço o meu melhor.

— Qual o seu nome?

— Gabliel — responde inocente.


Que vontade de apertar. Ponho Gabe no sofá e busco um cobertor, não tenho ideia do que fazer
com ele. Levar na polícia talvez? Sorte que sou totalmente fanática em chocolate e preparo um
pequeno chocolate quente e pego alguns biscoitos. Não é nada saudável, mas é gostoso.

— Toma! — Entrego a caneca do Pernalonga e ele sorri. — Eu sou a Liza!

Eu já disse que ele é lindo? Totalmente fofo e educado. Não me parece um garoto de rua.
Ouço batidas na porta e franzo a testa, não estou esperando visitas. Corro pra atender e, assim que
abro, encontro Allan totalmente o oposto do que costumo vê-lo, no lugar do sorriso debochado, está
uma expressão de desespero e tristeza.

— Desculpa te incomodar, mas viu um garotinho de cinco anos, loiro, perto do prédio? —
pergunta sério. Essa é uma prova que destino existe. Gabe é parente de Allan?

— Sim — digo e ele suspira aliviado. — Está bem aqui no meu sofá!— Dou espaço para ele
entrar e assim que vê Gabe, corre em direção ao pequeno.

— Gabriel! Eu fiquei com tanto medo de te perder, pequeno — diz o abraçando — Está se
sentindo bem? Está conseguindo respirar?

Em uma hora dessas, eu estou sorrindo feito uma idiota olhando para cena. Ver meu vizinho
idiota agindo como um pai preocupado é demais para meu coração frágil. — Estou bem, Lan... Vim te
fazer uma surpresa!

O danadinho é esperto!

— E conseguiu! Quase me matou do coração! Gabriel, não pode fugir de casa — repreende.

Me recuso a achar Allan sexy quando está nervoso.

— Disculpa — pede, baixinho.

— Tudo bem, meu amor... Fica aqui que vou buscar sua bombinha — pede e se levanta.

É agora que ele me mata por ter trazido seu filho para meu apartamento.

— Eu o vi sem agasalho no saguão e o trouxe pra cuidar... Não queria ter deixado você
preocupado... — começo a dizer, mas Carter me abraça.

ME ABRAÇA.
Fico sem jeito no início, mas acabo deixando me levar pelos braços fortes à minha volta. E
tiro uma casquinha, óbvio.

— Obrigado, Liza, não sei o que seria de mim se algo tivesse acontecido a ele — confessa e
sinto a sinceridade de suas palavras.

O homem me abala.

— Seu filho é um amor — elogio.

Allan se afasta com um sorriso tímido. Essa é novidade.

— Ele não é meu filho... Não ainda — diz e fico confusa — Ele é meu paciente, mas farei de
tudo para adotá-lo.

— Ninguém em sã consciência diria não para isso, vai conseguir a guarda.

— Queria que fosse fácil... — Suspira. — Vou buscar minha maleta, pode...

— Cuido dele!

Allan sai do meu apartamento e sorrio para o garotinho com a boca suja de chocolate. Ele tem
um pai maravilhoso.

— Tia Liza?

Ai meu coração.

— Oi, meu amor?

— Você gosta do Lan?

Dou um sorriso nervoso. Como explicar para uma criança que o único interesse que tenho
sobre seu pai de adoção é vontade de agredir? Bom... Tirando a vontade de agarrar, mas isso não
vem ao caso.

— Ele é bem legal — digo, torcendo para o assunto sumir.

Legal é bom, né?

— Voltei — Allan entra na sala com uma maleta. — Vamos ver como está esse pulmão!
Com maestria, ele passa o estetoscópio sobre o pulmão de Gabe e começa a examiná-lo. Eu
não sabia que Allan era pediatra, e me sinto uma idiota por estar quase surfando na minha própria
baba ao olhar essa cena. Tinha que ser tão perfeito?

— Use a bombinha — Ele entrega o objeto para Gabe e me olha — Gabriel tem asma e
costuma ter crises com frequência.

Não posso imaginar o quanto deve ser difícil.

— Ainda bem que ele tem você — digo e Allan sorri — Quer um café?

— Aceito!

Ainda bem que comprei o maldito pó mais cedo. Caminho para cozinha e ele me segue, tento
não parecer intimidada pela sua presença, mas acho que estou indo mal. O celular dele começa a
tocar e ele sorri. Hum. Sorriu demais para o celular não acha, não?

— Lia — cumprimenta — Sim, fale devagar que não te entendo... não grite comigo.

Lia? Quem diabos é Lia?

— Gabe está bem, pode ficar tranquila, não se estresse, faz mal para o bebê... Eu estou bem...
Manda o Ethan parar de gritar.

Ethan White é uma figura.

— Tudo bem, Liza o encontrou— Allan me olha e sorri — Eles querem te agradecer.

Me agradecer? Eles quem?

— Não há de quê.

Ele tira o telefone do ouvido e põe no viva-voz.

— Quem é Liza? — uma voz feminina questiona.

— A garota do Allan — Ethan responde, e fico vermelha.

— Eu não sou a garota do Allan! — deixo isso claro.

Silêncio.
— Allan Carter! Como você não me contou sobre ela? Juro que se não estivesse grávida,
iria pessoalmente te socar!

Ah, essa é a mulher do Damon... Ai, meu Deus, outra Carter falando comigo! Estou me
sentindo importante.

— Eu também te amo, cunhadinha! Liza é minha vizinha e encontrou o Gabe no prédio, agora
ele está bem e seguro!

— A vizinha que te deu um fora épico! Só deixando claro que sou sua fã, Lizz!

— Obrigada, Ethan.

— Viu! Uma mulher que me respeita, vocês deveriam seguir o exemplo. Ai, Lia, tá bom,
você é minha preferida!

Rio e Allan revira os olhos. Essa família é louca

— Liza, obrigada por cuidar do nosso pequeno, Gabe é da família, e fique à vontade para
socar esse Carter metido — Lia acrescenta.

Já gostei dela.

— Que mania de me agredir — Allan resmunga.

— Pra você ver o que sofro com essas mulheres... No dia que eu desistir, elas vão me dar
valor — Ethan lamenta, e rio.

Termino de preparar o café e entrego uma xícara a Allan.

— Ligo mais tarde pra vocês, diga ao Damon que estou bem.

— Allan, seu pai ficou preocupado — Lia conta. O sorriso no rosto de Carter some e, no
lugar, fica uma expressão de ódio.

— Eu não tenho pai, Lia, já deveria saber disso — responde grosso e desliga o telefone.

Nunca o vi tão frio. Acho que ele não gosta muito do pai.

— Problemas com seu pai?


Ele sorri sem humor e bebe o café.

— Teria que ter um pai em primeiro lugar, e Robert não conhece essa palavra.

Prefiro não estender o assunto, eu entendo como é horrível problemas familiares.

— O jeito é ignorar o passado.

Allan fecha a cara e desvia o olhar.

— Não o meu passado...

Seja qual for, não parece ser algo bonito.


CAPÍTULO 7
Allan.

— Só isso, moleque? Eu pedi dinheiro vivo e não uns trocados — grita, tento manter a
calma.

Esse verme fedido está cada vez mais ambicioso.

— Foi o que consegui, Bill! O caixa não tinha muito dinheiro!

Levo um soco na cara e sou jogado no chão. É tão comum apanhar que não sinto tanta dor
como antes. As pessoas em volta não movem um músculo para me ajudar, ninguém é bom o
suficiente pra intervir por mim, estou sozinho. Como sempre.

— Pegasse outro! Sua incompetência me irrita, seu pivete — grita e me chuta nas costelas.
— Hoje terei que punir alguma garotinha pra te dar motivação...

— Nãooooo! Por favor! Eu te recompenso... Trago o dobro da próxima vez! — peço


desesperado.

Esse monstro não pode tocar nas crianças inocentes desse inferno, não por minha culpa.
Esse homem imundo!

— Você irá, criança... Eu sei que irá! Mas hoje suas amiguinhas não serão poupadas — diz
e sorri com aqueles dentes amarelos.

— Bill, por favor, não! São crianças! Castigue a mim — imploro.

Não me importo de morrer por elas, minha vida será mais útil se a perdesse em função de
algo bom.

— Já estou castigando... — zomba e traga mais uma vez seu cigarro barato. — Sabe seu
maior defeito, Allan? Você tenta ser um herói... Mas sabe que nunca será um!

Vejo o homem que mais odeio no mundo sair em direção às crianças e choro. Choro por ser
fraco, choro por elas, choro por ter sido abandonado aqui. No dia que eu sair desse inferno, vou
salvar todas as vidas que conseguir. E depois vou encontrar o homem que me colocou nesse
inferno, e sei que ele existe! Eu juro!
Acordo suado e com o coração disparado. Odeio essas lembranças! Odeio meu passado!
Sento-me na cama e tento controlar minha respiração.

Sou um homem de trinta anos que se transforma em um garotinho assustado a cada maldito
pesadelo. Não posso deixar aquele verme destruir a única sanidade que me resta. No dia que
encontrar com Bill novamente, o farei passar pelo próprio inferno.

Caminho em direção ao quarto de hóspedes, que se transformou no quarto de Gabe com o


passar dos anos. Aproximo-me do pequeno corpinho de Gabriel e verifico sua temperatura, perdê-lo
hoje só me trouxe memórias que tento esquecer. Não suportaria perder outro filho, o que a vadia de
Anabela fez ainda está marcado.

Beijo a testa de Gabriel e sorrio, ele é uma das melhores coisas da minha vida. E preciso
encontrar uma forma de adotá-lo, nem que para isso tenha que pedir alguém em casamento... O que,
afinal de contas, funcionou para o meu irmão.

Saio do quarto rindo, Damon é louco. A única pessoa que me vem à cabeça para uma ideia tão
ridícula é Liza. Que além de me dar um não tão grande, ainda levaria uns tapas. Mas tenho que
admitir que fiquei admirado com sua atitude, outras pessoas não cuidariam de um garotinho perdido.

São oito da manhã, acho que nem me lembro a última vez que acordei tão tarde. Começo a
preparar algo comestível para mim e Gabriel, não sou um chefe de cozinha, mas consigo ser melhor
que a Lia. Se bem que até um cego e sem paladar consegue cozinhar melhor que a Lia...

Alguém bate na porta e corro pra atender, não tive tempo para trocar de roupa, então vou sem
camisa e de calça moletom mesmo. Só espero que não seja a senhora do 112 do 4° andar me pedindo
açúcar de novo. A mulher tem idade para ser minha bisavó e dá em cima de mim descaradamente.
Que Ethan nunca suspeite disso!

Morreria sendo zoado.

Abro a porta e o que encontro faz meu sorriso se abrir sem que pudesse controlar.

Liza está parada, segurando uma enorme bandeja com cupcakes coloridos. Não sei se fico
feliz por não ter que cozinhar ou pela visita.

— Oi! — diz tímida, e devo dizer que ela fica sexy pra caralho com as bochechas coradas. —
Eu fiz cupcakes para o Gabe... Ah, pra você também, já que ele não irá comer sozinho... Mas se não
gostar, posso voltar e... Por que eu vim aqui, meu Deus?!

Tento não rir para não deixá-la mais nervosa. Ela fica tão linda assim.

— Eu adoro cupcakes! Gabe também! — digo e dou espaço para ela passar. — Entre.

— Ah não, só vim entregar mesmo.

— Entra logo, Liza — ordeno e ela engole em seco. — Pode colocar aqui no balcão.

Seu olhar é cuidadoso e olha cada detalhe do meu apartamento, os brinquedos no chão, minha
estante de livros, meus diplomas. Principalmente meus diplomas.

— É uma boa profissão, percebi que é um bom médico — elogia e sorri.

É uma das poucas coisas que posso me orgulhar. Ser pediatra e salvar vidas, é uma forma que
encontrei de repor o mal que já causei há outras crianças.

— Obrigado, no que trabalha?

Ela põe a bandeja com os doces sobre o balcão e sorri de canto. Um sorriso sincero que me
fez desejar ser o motivo desse sorriso mais vezes. Esse desejo que sinto por ela está cada vez maior,
as outras mulheres nunca chegaram perto desse efeito.

— Trabalho como revisora em uma editora aqui perto — diz orgulhosa.

Não poderia existir trabalho melhor.

— Um trabalho ótimo... Ler os livros antes do lançamento — digo, e ela dá de ombros.

— Sortuda!

— Não é nenhum doutorado, mas tem seu valor — provoca.

Sorrio e ela fica vermelha. Quem diria que quando não estamos brigando, poderia

haver um diálogo legal.

— Lan... — Gabriel aparece na sala esfregando os olhinhos.

Eu amo esse garoto demais.


— Oi, campeão. — O pego no colo e beijo seu rosto. — Olha quem veio te ver!

Liza nos olha com ternura e algo dentro de mim fica feliz com esse olhar.

— Lizaaa — Gabe grita, sorrindo. — Quer ver meus carrinhos?

— Eu vou adorar! Percebi que seus brinquedos são lindos!

Ponho Gabriel no chão e ele corre até os seus preciosos carrinhos que Damon faz questão de
presentear. Fora Ethan e Dominic na briga infinita de tio preferido. Desse jeito, não terei espaço para
tantos brinquedos.

— Se ele for te mostrar todos os brinquedos, não sairá daqui hoje — digo, e ela ri.

— Ele tem mesmo tantos assim?

Afirmo positivamente.

— Tios bilionários... Ele é o mimo do Damon!

— Para um bilionário, você é bem humilde — brinca — Seu irmão é diferente do que as
revistas dizem...

Ninguém nunca é o que dizem.

— Eu sei, ele é mais chato e irritante.

— Ia dizer mais bonito e mais simpático... Mas se você diz.

Ah, jura que ela vai elogiar Damon?

— Eu sou o Carter mais bonito, fique ciente disso — aviso.

— Mais convencido.

Dou de ombros e ela revira os olhos.

— Mas meu irmão é casado e pai de família... O que te resta sou eu — provoco.

Nem ferrando que iria perder uma oportunidade dessas, não é todo dia que minha

vizinha me faz uma visita. E vê-la corar se tornou muito interessante.


— Não consegue manter uma conversa normal sem seu charme barato?

— É um dom! Não posso evitar ser charmoso.

— Idiota!

Quanto mais ela me nega, mais me interesso.

— Lizza, olha só meus carrinhos! — Gabe volta segurando seus brinquedos.

— São lindos, meu bem — elogia.

Deixo os dois se divertirem. Liza, Liza, adoro um desafio.

E o prêmio final será você doce e calma na minha cama. Sorrio satisfeito.
CAPÍTULO 8
Liza

O dia não pode ficar pior! Tenho uma pilha de trabalho pra ler, cheguei atrasada, está
chovendo lá fora e eu não tenho um carro. E, pra finalizar com chave de ouro, minha mãe, a dona
querida Suzana Norris, irá jantar no meu apartamento esta noite.

Minha vida está um inferno! E só a vinda da minha mãe já é o suficiente.

Ela irá criticar meu prédio, meu apartamento, minhas roupas, irá indiscretamente dizer que já
tenho 25 anos e ainda não tenho namorado, que serei malsucedida e, como não poderia faltar o
drama, tentará me convencer a voltar morar com ela e me casar com um de seus amigos ricos.

— Odeio minha vida — reclamo.

Queria sumir do mapa e só aparecer daqui a dez anos, milionária, linda e sem celulite. É pedir
muito?

— Como está, raio de sol?

Escuto Andy com seu bom humor irritante. Hoje eu queria estar na cama.

— Péssima! — resmungo.

— Brigou com o vizinho? — zomba.

Desde que ele conheceu Allan, seu maior prazer é me irritar com isso.

— Antes fosse! Minha mãe irá vir jantar lá em casa hoje.

Andy conhece a peça, já está cansado de saber que eu e minha mãe não nos damos bem.

— Quer que eu vá com você? Como nos velhos tempos.

Bem que eu queria, mas depender do meu melhor amigo é demais até pra mim.

— Está tudo bem, já estou vacinada contra Dona Suzana.

O que de pior pode acontecer?


NÃO.

Vejo minha mãe, uma mulher de meia-idade com aparência de trinta, vestida impecavelmente
em seu vestido de grife entrar na minha sala de estar. E ao seu lado, o puxa-saco número um do
universo, Pietro Belmonte, mais conhecido como meu ex-namorado no colegial e genro dos sonhos
da minha mãe.

Que droga.

— Boa noite, mãe!— cumprimento fingindo falso entusiasmo. — Boa noite, Pietro.

Minha mãe olha com repulsa para minha decoração e móveis (já esperava por isso), e Pietro
me olha com cobiça como sempre, ele é tão fútil quanto à minha mãe, sua gravata deve valer mais
que meu apartamento.

— Cada dia mais linda, Liza.

Quero vomitar.

— Essa espelunca é o que quer pra sua vida? Você só me dá desgosto, Elizabeth! — mamãe
reclama como sempre.

Ignoro seus comentários ofensivos e a guio até a mesa, que graças às aulas forçadas de
etiqueta que fiz, está organizada corretamente, preparei todo jantar refinado que esse povo metido
gosta.

— Também senti saudades, mamãe — ironizo, e ela finge não ouvir.

Deixo os dois se acomodarem e busco a entrada.

— Como anda seu empregozinho, Liza? — ele pergunta com deboche.

Homem ridículo! Só porque é um playboy sustentado pelo pai, acha que os outros são
inferiores. Babaca.
— Ótimo! Meu emprego está cada dia melhor Pietro! E você? Já experimentou se sustentar
sozinho?

— Elizabeth! Onde estão os modos?! — minha mãe repreende.

Quando iria responder, ouço batidas na porta. Quem será? Corro pra atender e encontro Allan
sorrindo e instantaneamente sorrio de volta. Por que um homem assim não gosta de mim?

— Uau! Isso tudo é pra me receber? — brinca e olha descaradamente para meu corpo.

Ele não disfarça o quão galinha é.

— Está se achando muito, Allan! Aconteceu alguma coisa?

Como eu queria que houvesse um motivo para sair correndo desse jantar idiota.

— Senti saudades! — provoca e me joga uma piscadela — Quero te propor um jantar!

Como que queria dizer sim!

— Algum problema, Liza? — Pietro surge atrás de mim e vejo o rosto de Allan se fechar —
Quem é esse?

— Ninguém que te interessa, Pietro! — respondo grossa.

— Tudo que te envolva é do meu interesse!

— Desculpa incomodar... Vejo que já tem companhia! — Allan diz com sarcasmo.

Oh, não! Justo quando estávamos tendo uma boa convivência

— Allan, espera! — peço e olho para Pietro: — Vá fazer companhia para minha mãe e me
esqueça, droga!

Ele se afasta bufando e me viro para encará-la os olhos azuis que tanto gosto. Por que ele não
poderia ser menos cafajeste?

— Não quero incomodar seu jantar de família! — diz grosso.

— Allan... Por que está bravo comigo?

Eu não entendo! Ele está irritado como se fosse meu dono!


— Porque vim te chamar pra jantar e tem outro homem no seu apartamento, só isso!

— Não é o que parece! — digo com calma. — Ele veio com a minha mãe...

— Ah, que emocionalmente! O genro dos sonhos! Estou emocionado!

Estou começando a perder a paciência! Com que direito ele quer cobrar de mim?

— Você não é ninguém para vir me cobrar alguma coisa! Eu ponho quem quiser dentro do meu
apartamento! E já disse que ele não é ninguém!

Allan me olha com raiva.

— Um ninguém que te quer na cama? Pois é isso que vejo! — rosna.

O sujo falando do mal lavado! São dois idiotas!

— E você quer exatamente o mesmo, Carter! Absolutamente a mesma coisa! Ter-me na cama e
descartar no dia seguinte — afirmo, e ele perde a fala. — Pelo menos, nisso, vocês são diferentes,
porque Pietro, ao menos, quer um relacionamento.

— Está certa! Eu só queria te levar pra cama mesmo!— afirma e sinto a dor da verdade. —
Tenha uma boa noite, Norris!

Ele entra na porta a frente e fico segundos encarando o nada. Definitivamente esse foi o pior
dia da minha vida.

Volto para dentro sem um pingo de vontade de socializar com minha família. Não posso e não
mereço ficar mal por culpa daquele doutor idiota. Allan Carter só queria me usar, foi bom ter me
livrado dele. Não era isso que eu queria?

É vida que segue!


CAPÍTULO 9
Allan.

Odeio-a! Odeio quando ela está certa! Odeio mil vezes mais sentir falta dela!

Não tenho direito de me sentir mal, Liza está certa, afinal, ela seria apenas mais uma na
minha cama e seria apenas isso. Ela tem todo direito de levar quem quiser para seu apartamento, ter
um compromisso, um namorado...

— Merda! — grito frustrado e soco o volante.

Ela merece um homem completo, que goste dela de verdade, e não só uma noite boa de sexo.
Não um homem quebrado e sujo como eu, ela teria nojo de mim se soubesse tudo que já fiz. Desço do
carro sentindo o cansaço do dia me atingir, por mais mexido que tenha ficado com relação à Liza, não
posso deixar o lado profissional. O que não funcionou muito, já que, nas últimas duas semanas, todo
meu pensamento é direcionado pra loira mais irritante do mundo.

Fecho meu carro e caminho distraído pelo estacionamento minúsculo do prédio, sigo em
silêncio até que meu corpo se retrai com a cena na minha frente. Liza.

— Estou cansado de ser ignorado pela garotinha indefesa! Você nunca me deixou ter nada com
você, Elizabeth! Sempre sendo essa vadia egoísta que sempre foi! — o tal Pietro que estava no
apartamento dela grita e segura forte no braço de Liza.

Eu quero gritar, salvá-la, mas não sou ninguém nesse relacionamento.

— Está me machucando Pietro... Me solta! Eu já disse que nunca vou ter nada com você!

Então esse filho da puta não é nada da minha loira?

— Sua mãe está certa! Você é um fracasso! Uma sem futuro e irá morrer solitária... Não
merece o sobrenome que tem! Todos te querem longe!

Ah, não! Ninguém ofende MINHA Liza.

— Acho bom tirar as mãos dela! — rosno e ele me olha.

Ele não tem chances contra mim, sou duas vezes mais forte do que ele, e levanto em conta o
quanto estou irritado, sou extremamente perigoso.

— Pode ficar! — diz com desdém e se solta dela — Eu cansei!

Seria uma pena alguém quebrar aquele rosto ridículo. Mas assim que vejo Norris em
lágrimas, nada mais importa.

— Suma da minha frente e nunca mais volte, ou juro que não sairá andando daqui! — ameaço,
e ele se afasta.

Aproximo-me de Liza, mas ela se afasta.

— Não preciso de mais ninguém para me humilhar! — grita entre soluços.

Droga! Será que ela não percebe o quanto me afeta?

— Eu não vou fazer isso! — digo com calma e me aproximo novamente. — Vem...

Liza não se afasta quando a envolvo em meus braços, tudo que mais quero é protegê-la e foda-
se meus princípios. Eu não quero mais estar longe dela, não sei o que estou sentindo, mas é novidade.

— Tudo de ruim só acontece comigo! — Chora em meu peito — A pior parte é que ele está
certo...

Como ela pode dizer isso?

— Ei, Norris... — Seguro seu queixo e a forço olhar pra mim. — Ele não está certo! Você é
brilhante, incrível e, sem dúvidas, é a melhor pessoa do mundo.

Onde foi que aprendi a ser tão cafona? Isso deve ser meu convívio com Damon.

— Não minta para me fazer sentir melhor Allan! — choraminga. Oh, mulher!

— Não estou mentindo, Liza, não quero que leve a sério o que aquele babaca disse.

— Mas ele tem razão! Eu sou o desgosto da minha mãe, uma boba e afasto todos ao meu
redor... — conta e suas lágrimas surgem — Afastei até você... Em menos de um mês!

Droga! Eu sei lidar com pessoas doentes, cirurgias, mas quando se trata de ver Liza chorando,
me torno um fraco. Por que essa mulher mexe tanto comigo meu Deus.
— Eu estou aqui não estou? Pare de pensar mal de si mesma — falo e a puxo para um abraço.
— Vamos subir, precisa se acalmar.

Entrego uma xícara de café a ela e me sento à sua frente. Tão linda, o azul de seus olhos é
intenso e calmo, assim como ela.

— Obrigada.

— Se sente melhor? — questiono preocupado.

Estou virando um idiota por essa mulher. Isso não pode ser normal.

— Essa foi uma pergunta clínica ou emocional?

Sorrio e me acomodo mais na cadeira, o dia foi cansativo.

— Ambas.

Quero dormir até o próximo século e, de preferência, nunca mais ter que ter contatos com a min

Essa mulher deve ser horrível.


— Se te consola, eu também odeio meu pai. — confidencio, e ela sorri —
Minha mãe morreu no meu nascimento.

Devo estar louco, não posso sair contando meu passado pra ela.

— Sinto muito, de certa forma, sei o que é crescer sem mãe


— diz suspirando — Mas sua família é bonita e te amam.

—Só faço parte da família há um ano e meio—digo tentando não transparecer

tristeza— Digamos que ser filho da traição não me rendeu bons amigos.

Odeio mais meu pai por isso. Não culpo Damon por me rejeitar, ele é a única família que
realmente vale a pena enfrentar, Lia e minha sobrinha, e até mesmo Dominic, que apesar de tudo, é
meu primo.

— Me desculpe, achei que se desse bem com seu irmão— diz envergonhada.

Já disse que adoro quando ela cora?

— Eu amo aquele pirralho, na realidade, Damon é a melhor parte da minha família — afirmo
sorrindo — Só não conte isso a ele, o ego dele já é enorme.

Ela ri e sempre me sinto um bobo por admirar seu sorriso.

— A minha mãe odeia meu trabalho, diz que não me criou para ser pobre, o maior sonho dela
é me ver casada com um homem rico e gerar um herdeiro...—diz com desdém.

E eu achei que Anabela era uma oportunista de primeira.

— Conheci alguém assim... — digo neutro. — Ela tentou engravidar do meu irmão, de
Dominic e de mim.

Maldita seja Anabela!

— Minha nossa! E conseguiu?

Sinto a pontada de dor no peito, mesmo como uma mãe daquela, eu queria um filho!

O Meu Filho.

—Conseguiu—digo olhando para ela—ela me dopou e conseguiu sua tão esperada gravidez!

Liza segura minha mão e acaricia.

— Está tudo bem, Allan.

—Ela se matou, Liza!—digo sério.—Com o meu filho! Com a única coisa que eu queria! Tudo
porque não sou o bilionário que ela desejou.

— Ei, você têm o Gabe, o melhor filho do mundo! A culpa não foi sua— diz se aproximando.

Tudo que consigo pensar é em sua boca na minha, em como desejo esquecer esse dia e só ela
é capaz disso. Mas se tentar algo, tenho certeza que não ficarei só com
beijos, não posso me aproveitar dela.
— Obrigado por entender, Liza.

—Obrigada por me ajudar, Allan, sem você, não sei o que poderia ter acontecido—diz
nervosa.

Acho tão lindo o modo como ela fica nervosa sem saber o que dizer.
— Não fiz nada demais!— digo me levantando — É isso que...

O quê? Vizinhos fazem? Não seja ridículo, Carter!

— Amigos fazem! — completa. — Boa noite, Allan.

AMIGOS? Eu não quero ser amigo dela, droga! Quero essa mulher pra mim!

— Amigos! — confirmo, e ela sorri — Boa noite, vizinha.

— Boa noite!

Assisto a ela sair e me sinto um estúpido. Não acredito que fui rebaixado a amigo da mulher
que mais desejo na vida. Mas o que eu seria? Norris não merece ser apenas mais uma, e eu não estou
pronto para ter um relacionamento. Talvez como amigo, eu parei de desejar tanto essa mulher.
CAPÍTULO 10
Eu já disse que odeio sair com casais? Caso não tenha dito, que fique bem claro o quanto
odeio segurar vela. Andrew insistiu tanto pela minha companhia que aceitei, o que não percebi é que
estaria sozinha e desconfortável enquanto ele beija e abraça sua namorada.

Eu tive a notável percepção de como é ruim ser solteira. Pensei que se saísse para um
barzinho próximo ao meu prédio me alegraria, me enganei de novo. Aqui não toca músicas legais,
casais bêbados, bebida ruim e homens bêbados irritantes.

Má sorte.

Afasto-me dos meus amigos — não que eles tenham percebido, claro — e resolvo sair para
tomar um ar. Essa semana foi tão turbulenta, Pietro me magoando, Allan sendo legal. Mesmo que
tenha dito que somos amigos, desde aquele dia nunca mais o vi pelo prédio, acho que nossos horários
não batiam. Ou ele está me ignorando.

— Nunca te imaginei em um bar.

Pulo com o susto e me viro rapidamente, Allan está parado com as mãos no bolso e o sorriso
debochado de sempre.

Lindo

Sem a roupa branca, ele é ainda mais lindo.

— Bem, meus amigos me convenceram.

— E te esqueceram, típico, mas está com sorte.

Sorte é algo fora do meu dicionário.

— Sorte por ser esquecida?

Ele abre mais seu sorriso.

— Porque cheguei, agora você está acompanhada do mais bonito da cidade.

Ego?
— Você realmente se acha.

Ele sorri e faz aquela cara que mexe com uma área em mim que não liga se ele é um cafajeste.
Allan me estende o braço e seguro. Esse homem não pode ser real, é muita beleza pra uma pessoa só.
Ele me leva de volta para dentro e caminha até meus amigos que, por algum milagre, não estão se
beijando feito animais no cio.

— Boa noite, Chloe! Andrew! — cumprimenta os dois.

Primeiro Andy me olha, depois olha para meu braço unido ao de Allan e, pra finalizar, faz
aquela cara de assassino que qualquer irmão mais velho faria. Sempre foi assim, meu melhor amigo
cuidando de mim.

— Boa noite doutor, Allan! — ela cumprimenta tímida.

— Não precisa me chamar de doutor aqui, Chloe.

— E aí — Andy responde.

Allan percebe o olhar de Andy e mantém seu sorriso. Oh, Jesus.

— Quer beber alguma coisa, Liza? — Olho para o meu vizinho e aceno.

— Refrigerante. — digo, e ele ri. — Não ria, não sou forte para bebidas!

Uma única dose já me faz dançar Macarena com o Aslan.

— Tudo bem, Loira, vou pedir uma Coca-Cola pra você ou um danone.

— Idiota!

Ele sai rindo de mim e reviro os olhos.

— Achei que se odiassem! — Andy implica.

Eu também achei. Mas até que gosto lá no fundo desse estúpido.

— E odeio.

Andy não acreditou, nem eu.

Minutos depois Allan aparece com dois refrigerantes.


— Um pro bebê e outro pra mim! — zomba.

— Você é insuportável.

— Estou dirigindo, não iria beber de qualquer forma, fico feliz em provocar você.

— Eu já percebi isso — resmungo.

Andy e Chloe saem para dançar qualquer coisa e me restam Allan, minha Coca-Cola e todas
as mulheres solteiras e casadas babando no meu vizinho. Por que tão lindo?

— Vai ficar com essa cara de velório em plena sexta-feira à noite? — Ele estala os dedos na
frente do meu rosto e suspiro.

Eu não queria estar aqui.

Não deveria estar aqui ou desejando meu vizinho.

Não queria sentir vontade de embalar Allan em papel bolha.

Mas eu estou. E estou lidando o ciúme de mil mulheres o desejando também, ele não é meu.

— Eu não gosto de bares, de música de bar, pessoas de bar e putas de bar — digo olhando
para ele.

O idiota ri e vira seu refrigerante.

— E por que veio?

Porque sou idiota.

— Tentei me distrair, essa semana foi intensa.

— Tudo bem, Norris, você venceu, vamos dar o fora daqui.

Essa foi a melhor frase da noite.

— Se você insiste! — digo me segurando em seu braço — Mas não vá achando que estou te
dando mole, você continua sendo um idiota.

Ele ri e começa a me puxar para fora.


— Não seria você se facilitasse minha vida. — Ele pisca e me puxa.

E, lógico, não poderia deixar de me agarrar mais a ele quando passamos perto do cardume de
mulheres que estava olhando para meu vizinho.

— Não precisa ir embora por minha causa — digo, me sentindo um pouco culpada.

Allan se vira para mim e sorri.

— Eu também não gosto muito de bares, honestamente.

— Por que veio então?

Ele dá de ombros e se aproxima do seu carro.

— Não gostaria de saber... — diz e abre a porta pra mim.

Ah, merda!

Ele veio conseguir alguma mulher.

— Desculpa atrapalhar sua noite.

— Não estragou, bom, sim estragou, mas eu te perdoo — brinca, e reviro os olhos.

Queria dizer que me sinto mal. Mas seria uma pura mentira.

— Não sinto nem um pouco de remorso por isso — admito.

Allan ri e da partida rumo ao nosso prédio.

— Você me lembra a minha cunhada quando diz algo assim.

Eu? Parecida com Lia Carter? Que absurdo!

— Quem me dera me parecer com ela, vi as fotos do casamento do seu irmão e simplesmente
duvidei que existisse uma mulher tão linda! Ela é perfeita! — elogio.

Allan ri alto e fico sem entender.

— Diz isso porque não experimentou a comida dela... Lia é uma péssima cozinheira e uma
ditadora.
— Não gosta dela?

— Claro que gosto! Se Damon não se casasse com ela, juro que eu mesmo casaria! — brinca.

E eu me casaria sem pensar duas vezes com Damon! Abençoada seja a genética Carter.

— Ethan é uma figura.

— Diz isso porque não conheceu a noiva dele... Emma é bem pior.

O olho com espanto e ele acena.

— Pior? Tadinho dos filhos!

— Eu digo o mesmo... Serão impossíveis.

— Você será tio em breve, não é?

Pra finalizar, Lia ainda está grávida! Essa nasceu com toda sorte do mundo!

— Mal posso esperar para pegar a uva-passa no colo! — diz sorridente.

Uva-passa?

— Uva-passa?

— Foi o nome que o Ethan deu pra ela antes de descobrirmos o sexo...

E bom, é o Ethan!

Agora faz sentido.

— Damon está ferrado.

— Eu sei disso.

Se a uva-passa herdar a beleza dos pais, irá ser uma beldade. Me recuso até a continuar
vivendo. Uma criança será milhões de vezes mais bonita que eu.
CAPÍTULO 11
Liza

Como faz para respirar?

Longe de toda aquela bagunça do bar, consigo reparar com mais atenção em Allan, jeans
surrado e blusa preta é uma combinação perfeita, fora o perfume maravilhoso que tem. Desde que
saímos do carro, nenhum dos dois disse uma palavra, mas sinto que não conseguiria falar mesmo. Eu
nunca desejei tanto um homem como desejo Allan, mesmo tendo consciência que ele me jogará fora
no dia seguinte.

Como eu já disse, estou agindo como uma idiota.

Só desejo homens que não me merecem. Mas Allan é envolto em uma maneira calma e
perigosa, tão amável, mas tão intenso. Ele é imprevisível como o mar.

É muita água para o meu barquinho. E me recuso a ser o próximo Titanic.

— Quer entrar? — ele quebra o silêncio assim que nos aproximamos da porta.

E agora? Eu digo não e fico com meu orgulho intacto, ou aceito e seja o que Deus quiser? Ele
perdeu a noite por minha culpa... E não é o tipo de homem que me agarrará a força.

— Tudo bem. — concordo, e ele parece se surpreender com minha resposta — Surpreso?

— Um pouco... — admite e me dá passagem para seu apartamento — Quer comer alguma


coisa?

Beber...

— Estou bem.

Allan me encara pensativo e suspira.

— Que tal um filme?

Sorrio com a ideia, nunca imaginei que ele fosse me propor um cinema em casa.

— Será ótimo! — concordo, e ele sorri. — Eu escolho o filme e você faz a pipoca.
— Ok... Não escolha filmes melosos.

— Não gosto de filmes melosos! — informo, e ele sorri satisfeito. — Gosto de ação e muito
sangue.

Andrew sempre disse que eu sou um garoto no corpo de menina.

— Certo, vou fazer a pipoca! — diz e sai em direção à cozinha.

Como a boa folgada que sou, jogo meus saltos no canto e pego o controle, daria tudo pelo meu
pijama agora. Tenho certeza que Allan perderia qualquer interesse em mim se me visse vestindo meu
pijama de ursinhos.

Mas quem liga mesmo?

— Allan!? — grito e ele aparece na entrada da cozinha. — Vou ao meu apartamento vestir
algo melhor que esse vestido!

Meu vestido preto não é sinônimo de conforto, mas quando que iria imaginar que estaria
assistindo a filme com meu vizinho?

— Acho uma ótima ideia! — concorda aliviado.

— Não gostou do meu vestido?

Ele sorri daquele jeito debochado de sempre. Que homem.

— Gostar é o problema, Liza! Fica difícil ter pensamentos puros com você nesse pedaço de
pano! — diz sério.

Fico vermelha e ele sorri mais. Por que tudo tem que dar tão errado na minha vida? Por que
não posso me deixar levar por esse deus grego que me deseja?

— Não demoro! — digo e corro para meu apartamento.

Vou até meu guarda-roupa e pego meu fofíssimo pijama de frio, todo trabalhado nos ursinhos
arco-íris e com direito à toquinha. É agora que Allan perde o interesse. Visto-me e aproveito para
tirar toda maquiagem que tinha feito mais cedo, não quero acordar toda rebocada de rímel, e sou
mestre em acordar feito um panda.
Por que não existe maquiagem a prova de sono?

Volto para o apartamento dele me sentindo uma criança, entro sem bater e percebo que ele
ainda está na cozinha. Ótimo, agora preciso escolher um filme bom o suficiente para me fazer
esquecer que o homem mais lindo do mundo está do meu lado.

— Já escolheu o. — Allan para de falar assim que me vê.

Ponto pra mim! Aposto que ele está pensando seriamente onde estava com a cabeça para se
interessar por mim. Nenhum homem se interessaria por uma mulher vestida de ursinho no seu sofá.

Se tudo der certo, esse clima entre nós se dissipa agora.

— Acho que encontrei um filme interessante! — digo, fingindo não me importar com seu olhar
surpreso. — Você vêm?

Ele concorda com a cabeça e se aproxima de mim sem tirar os olhos do meu pijama. Eu sou
mesmo um gênio para afastar homens.

Deveria escrever um manual: Como afastar um homem em 30 dias.

— Gostei do pijama... você sabe se existe para homens?

O QUÊ?!

— Gostou? — pergunto surpresa. — Estou vestida de urso, Allan!

— Eu percebi... Está a coisa mais fofa do mundo! — diz, apertando minhas bochechas.

Droga! Nem pra afastar um homem lindo eu presto. Se eu não conseguir fazer ele perder o
interesse em mim, provavelmente não irei resistir ao charme natural desse doutor abusado. E, no
final, terei que catar minha dignidade no chão.

— Não aperta minhas bochechas! — resmungo.

O idiota sorri travesso e mais uma vez aperta minhas bochechas. Eu odeio isso.

— Fica tão bonitinha brava! — provoca.

— Cala boca, Allan! — rosno, e ele continua sorrindo. — Para de ficar sorrindo feito um
idiota!
Dou play no filme e sento o mais longe possível dele. Não confio nos meus próprios atos.

— Jura? — questiona irônico. — Para de frescura e vem aqui!

— Estou bem aqui!

Por que aceitei vir? Por quê? Por queee!

— Liza — pede impaciente.

Ele é tão lindo bravo!

— Estou conseguindo ver o filme perfeitamente bem de onde estou!

Allan bufa e se dá por vencido. Sorrio satisfeita e foco na TV. Se ele pensou que com uma
sessão de cinema seria o suficiente para me levar pra cama, está muito enganado.

Eu não vou ser fácil! Não mesmo!

Eu não sei em que momento da noite deixei toda minha noção de vergonha na cara em casa, e
me transformei na pessoa mais folgada do mundo. Até tentei ser difícil no início do filme, não manter
contato físico, mas, como esperado, fracassei fielmente.

O resultado final é: minhas pernas largadas no colo de Allan, e ele todo jogado no sofá. Essa
nossa habilidade de ser espontâneos um com o outro me assusta, a única outra pessoa no universo
que conhece meu lado folgada é Andrew, e olha que demorei anos para ter essa intimidade. Mas
bastou um vizinho metido e idiota me convidar para um filme e cá estou eu, jogada feito um zumbi
sobre um sofá que nem é meu.

Ah, Elizabeth, você é tão idiota.

— Allan... — chamo e ele me olha com tédio. — Acabou a pipoca.

— E?
— Estava tão boa... — digo, fazendo minha melhor cara de cachorrinho pidão.

— Eu sei, fui que fiz.

— Poderia fazer mais.

Ele arqueia uma sobrancelha e sorri debochado.

— Não sou seu escravo.

— Mas eu sou a visita! E precisa tratar bem as visitas! — acrescento.

Ele não tem dó de mim? Será que não é notável o tamanho da minha preguiça?

— É. Mas eu não sou um bom anfitrião, então irá ficar sem a pipoca! — completa.

Bufo e ele sorri satisfeito.

— Está tarde... Tenho que ir pro meu apartamento — penso alto.

Ele fica pensativo e suspira.

— Não me lembro da última vez que me diverti fazendo nada... Obrigado, Liza.

— Me diverti também — admito, e ele sorri — Você não é tão ruim quanto pensei...

— Tão ruim, tipo um tarado psicopata? — brinca.

—Psicopata não...—afirmo, e ele ri—Não te imaginei como um cara legal, do tipo que chama
uma garota para assistir a um filme.

Allan me olha com atenção, eu sempre me sinto transparente quando ele faz isso.

— Eu não sou um cara legal que faz esse tipo de coisa—diz e suspira. — Fiz por você.

Que atire a primeira pedra qual mulher não gostaria de ouvir isso.

— Obrigada, foi legal da sua parte, você é mais do que deixa transparecer.

Ele acena e sorri de canto.

— Nunca conte isso ao Ethan! — brinca e acabo rindo.


— Seu segredo está seguro soldado! — Bato continência, e ele revira os olhos. — Boa noite,
Allan!

Caminho até a porta e ele me acompanha com as mãos no bolso.

— Boa noite... Hã, quer ir no parque comigo e o Gabriel amanhã? — pergunta, tímido.

Quem eu estou tentando enganar! Eu já sentenciei meu final, tenho que me preparar pra
recolher meus caquinhos.

— Eu vou adorar! — confirmo e sorrio.

— Ótimo, te vejo de manhã! — diz alegre.

— Estarei na porta da frente! — brinco, apontando para meu apartamento.

Ele ri e acena.

— Eu não vou me esquecer disso!

Despeço-me dele e entro no meu apartamento sorrindo feito uma idiota. Ansiosa para rever o
garotinho de olhos azuis, ele ativa meus instintos maternais.

Ah, Elizabeth, você é tão idiota.


CAPÍTULO 12
Allan

Onde foi que eu bati a cabeça e me tornei mais brega que meu irmão mais novo? Que tipo de
cara convida a garota que quer pegar para um cinema em casa? Eu não sou assim! Comigo sempre foi
simples e objetivo, uma noite e tchau. Mas aquela mulher embaralha minha cabeça e me faz agir feito
um adolescente virgem.

Por que diabos não a esqueço e sigo minha vida de solteiro como antes?

A resposta mais simples é: ela me atrai mais do que qualquer outra, me puxa como um imã em
sua direção, cada vez que ela tenta se afastar, meu desejo se multiplica, eu a quero pra mim com tanta
necessidade e intensidade que começo a me preocupar. Passar a noite assistindo a filmes idiotas
nunca foi meu programa preferido, ou não era até aquela mulher desastrada, vestindo um pijama de
ursinho, mudar minha opinião.

Em outra ocasião, eu teria achado infantil e desmotivante uma mulher vestida de ursinho, mas
tudo que tive vontade de fazer vendo Liza daquela forma foi ao contrário. Quis apertar e beijar todo
aquele rosto até perder o ar, mas me contive. Vê-la sorrindo e sendo tão espontânea valeu por todo
banho gelado que tomei.

— Como estou fresco! — resmungo sozinho e pego as chaves do carro.

Prometi a Gabriel que o levaria no parque nesse fim de semana, e por que não usar isso como
desculpa por mais uns minutinhos com Liza? Saio do meu apartamento e olho para porta da frente, o
que será que ela está fazendo? Respiro fundo e bato na porta.

Segundos depois escuto a fechadura ser aberta e Liza entra no meu campo de visão.

Uau.

— Oi! — cumprimenta, e eu não sei onde foi parar minha fala.

Ela está usando um vestido florido que só deixa minha mente suja com muito trabalho, como
pode ser tão linda assim?

— Oi... Pronta?
Um adolescente virgem, é isso que me tornei. Por que diabos não a empurro contra parede e
mostro o verdadeiro parque de diversões?

— Estou, vou pegar minha bolsa! — ela diz e se afasta para buscar o pequeno acessório. —
Amo parques de diversões! E não me aguento de saudades daquele lindinho do Gabe!

Exatamente por isso! Não sou capaz de agir feito um canalha com uma mulher como Liza,
alguém que sorri por coisas simples, que se apegou ao meu filho. Ela faz minhas emoções variarem
mais do que pulsação cardíaca, mesmo me deixando irritado e com uma ereção incontrolável cada
vez que conversamos, continuo insistindo. Se isso não for alguma síndrome, não sei do que se trata.

— Ele também gostou de você! — informo, e ela sorri radiante.

— Ele é a única criança que consegui manter contato sem surtar!

É difícil imaginar algo que ela não faça bem.

— Crianças não são monstros, são a única pureza da humanidade — digo, olhando pra ela.

Se eu pudesse salvar todas que precisem, certamente o faria.

— Sua profissão é gostar de crianças, não me surpreende sua fala.

— Você nunca pensou em filhos? — questiono.

Já posso ficar orgulhoso, acabei de tirar meu segundo doutorado, o desta vez é de idiota. Em
que mundo eu estaria discutindo sobre filhos com uma mulher que acabei de conhecer?

— Claro que já... Mas não sei se seria uma boa mãe! Não tive bons exemplos — diz dando de
ombros.

— O fato de se preocupar com sua forma de agir já te torna uma boa mãe.

Liza me encara e sorri de lado. Eu desisto de tentar compreender o que ela causa em mim, vou
ter que conviver com a ideia de que perco o ar cada vez que Elizabeth Norris sorri.

— Você é um bom pai, Allan! Gabe tem sorte.

Eu tenho sorte.

— Obrigada, Norris, é bom ouvir isso.


É uma prova que meu DNA não foi contaminado com o de Robert.

O bairro de Gabe é próximo ao meu, o que leva apenas alguns minutos para meu carro
estacionar bem na frente de uma casa antiga e mal cuidada. Hilary prefere se preocupar mais com um
copo de uísque do que com a imagem de sua casa e o bem-estar de seu filho. Não sei o que seria de
Gabe se não fosse por mim, e não quero imaginar.

— Ele mora aqui? — Liza diz, olhando com desconfiança para casa.

— A mãe dele mora... Acredite, eu não gosto de deixá-lo aqui! — informo e toco a
campainha.

Se dependesse de mim, Gabe viria morar comigo, mas não tenho tempo ou direito legal para
isso. Pago uma creche aqui perto para cuidar dele durante a semana e, nos horários livres, Jhon fica
com ele. Eu preciso conseguir a guarda dele.

A porta é aberta e o olhar de ressaca de Hilary me encara; bem ao seu lado, meu pequeno com
o rosto triste olha para baixo. Que porra é essa?

— Gabriel não irá a lugar nenhum! — rosna.

— Hilary, não enche meu saco, Gabriel é uma criança e precisa ir ao parque! — respondo
grosso — Volta pra sua bebida!

— Eu disse que essa praga não vai a lugar nenhum! — berra.

A sorte dela é que não bato em mulheres, mas desejo que ela tenha o que merece com todas
minhas forças.

— Lan... Tia Liza... — Gabe choraminga e meu coração se aperta.

Essa mulher não pode tratar o filho dessa forma.

— Quanto você quer, Hilary? — pergunto sério, e ela sorri irônica. — DIGA!
— Alguns dólares... Não vai fazer falta para o bilionário do seu irmão!

Vadia.

— COMO É? ESTÁ VENDENDO O BEM-ESTAR DO SEU PRÓPRIO FILHO? ESCUTA


AQUI, SUA ALCOÓLATRA, NÃO VAMOS PAGAR UM CENTAVO! — Liza grita.

Sorrio de lado. Merda de mulher perfeita!

— E quem é você? Uma vadia do doutorzinho?

Achei que Liza fosse gritar ou se defender, mas tudo que ela faz é sorri debochada e segurar
na mão de Gabe.

— Eu sou Elizabeth Norris, sou a futura mãe do Gabriel! Uma bem melhor que você!

MÃE? MÃE?

ACHO QUE PERDI O OXIGÊNIO.

— Nunca darei a guarda pra você!

Liza sorri e ergue uma sobrancelha.

— Não é você quem decide, agora, se me der licença, tenho coisa melhor pra fazer do que
discutir com você! — diz e vira as costas com Gabriel no colo.

— Allan! Não pode estar falando sério!

— Nunca falei mais sério! — digo e volto para o carro, deixando uma Hilary irritada para
trás.

Ela não chamará a polícia, pois tem mais segredos a esconder dos fardados do que eu.

O quanto isso é fodido?

Eu não sei onde me meti ou se Liza falou sério, mas ela definitivamente é uma boa mãe.

Uma boa mulher. Minha mulher.

Não há como negar.


CAPÍTULO 13
Liza

Me abduziram, trocaram minha alma de lugar.

Essa é a única explicação para minha atitude com aquele palito de fósforo que é mãe de Gabe.
Eu não sei cuidar nem de um peixinho dourado, imagine uma criança! Não faz diferença, eu não
pretendo deixar meu pequeno com aquela puta egocêntrica. Mas só de imaginar esse pequeno com o
olhar triste perto daquela mulher fico em pânico, ninguém nasce sabendo ser mãe, e se for preciso
fazer um curso para isso, eu farei. Pode ser repentino, mas sei que amo essa criança de uma forma
intensa e infinita, é difícil explicar em como me apeguei a Gabe tão rápido.

Meu maior medo é Allan se opor a minha atitude e afastar Gabriel de mim.

— Vai ser minha mamãe, tia Liza?

Volto à realidade assim que Gabe diz e me olha com expectativa. Como não amar? Olho para
o banco do motorista e encontro o olhar atento de Allan.

— É o que mais quero no mundo, você quer?

Do que adianta se ele não gostar de mim?

— Siiiiiim! — grita, e sorrio feito uma idiota. — Lan, quer ser meu papai?

Meu coração acelera.

Olho para Allan com pânico e ele sorri de canto.

— Eu vou adorar, meu amor! Vamos ao parque?

— Siiiiim!

"Ele vai adorar", ele vai adorar! Como assim? Deus, terei um filho com Allan? Não, ele está
brincando. Sem perceber, o carro estaciona novamente em nosso prédio e Allan sai e se volta para
pegar Gabe. Que ele é um bom pai, eu não posso negar.

— Vamos vestir você com roupas quentinhas! — Carter diz para Gabe.
Sigo em silêncio com eles até o elevador, estou processando a informação que em breve terei
um filho. Não que me arrependa dessa decisão, mas hoje acordei sem namorado ou possibilidade de
filhos, agora tenho um futuro filho e o meu vizinho maravilhoso como pai do mesmo.

— Norris?

Olho para Allan temerosa e ele sorri de canto.

— Foi legal o que fez pelo Gabe — elogia.

— Não está bravo?

Caminhamos até seu apartamento e ele me dá passagem para entrar, sem formalidades,
Gabriel corre em direção ao corredor. Allan se vira pra mim e prendo a respiração.

— Estou surpreso, Liza, não quero que tome essa decisão se estiver confusa ou tomada pela
emoção, ser mãe implica em muito de uma mulher e se não estiver ciente disso, é melhor nem dar
esperanças para ele.

— Não estou confusa, Allan, amo Gabriel e faria de tudo pra tirá-lo de perto daquela mulher.

E faria mesmo.

Ele sorri de canto e suspira.

— Sabe que também quero a guarda dele, não é? — diz e meu coração acelera a níveis
absurdos. — Proponho que façamos uma adoção conjunta, está pronta para isso?

Eu não tenho coração pra isso

— Tipo um casal? — questiono.

— Eu sei que sua visão sobre mim não é a de um príncipe, mas amo aquele garoto mais do
que tudo e ser pai é... tudo pra mim! — confessa.

Eu não duvido disso nem por um segundo.

— Eu não vejo pessoa melhor, Allan — admito, e ele sorri. — Quem é a louca de perder
médico grátis?

Provoco, mas sinto novamente a névoa do desejo quando imagino o que isso implica. Quem
sou eu pra me enganar? Estou totalmente atraída por ele. Ele está errado sobre não achá-lo um
príncipe encantado.

— Eu posso ser o seu médico.

Eu não perco quando seu olhar se fixa na minha boca.

— Allan...

— Você me tenta, Norris, mais do que deveria.

Sinto minhas bochechas corarem e ele sorri mais ainda.

— Você não é o único, Carter.

Ele suspira.

— Não posso ter essa conversa enquanto uma criança está por perto, logo, Norris, iremos
terminar essa conversa.

Allan vai para o quarto vestir Gabe, e eu fico aqui feito uma estátua, pensando em como eu
estou ferrada.
CAPÍTULO 14
Liza

NASA CONFIRMA, Allan Carter andando em brinquedos infantis é a coisa mais fofa do
universo, e adverte: CORAÇÕES FRACOS E CARDÍACOS NÃO DEVEM PRESENCIAR A
CENA.

Quando resolvemos vir ao parque de diversões, imaginei que Gabe iria se divertir e Allan
ficaria "apenas" observando, foi um erro achar isso. Enquanto Gabriel se diverte nos brinquedos e
vive sua infância, Allan está do seu lado com olhar de pânico e uma bombinha contra a asma na mão,
ele praticamente esfregou seu diploma no rosto do pobre moço dos brinquedos por não deixá-lo
entrar com o pequeno. Acho que o lado médico dele se aflorou.

Nesse passeio, minhas únicas finalidades são garantir que Carter não mate ninguém que o
proíba de ir no carrossel e nadar na minha própria baba. Ver os dois em um momento tão fofo é
demais para mim, cada gargalhada de Gabe é só mais uma prova de que me apaixonei por esse
menino, cada sorriso convencido de Allan só me provam o quanto sou idiota por estar nutrindo
afeição por ele. Eu não sei como será adotar um filho com ele, nos ligar de uma forma tão definitiva,
a mais de um mês atrás, ele era um estranho.

— Graças a Deus acabou!

Sou puxada para vida normal quando Allan e Gabe param na minha frente sorrindo, os dois
são fisicamente parecidos e isso prova que o DNA Carter afeta até por convivência.

— Vamos de novoooooo! — Gabe grita animado, e começo a me perguntar se as baterias não


acabam.

— Chega por hoje, campeão! Você não pode abusar! — Allan informa e o pega no colo —
Não queremos ir para o hospital, não é?

— Não gosto de lá!— o pequeno resmunga, e sinto vontade de embalar essa fofura com
plástico bolha e nunca soltar.

Allan sorri carinhoso e beija a bochecha dele.

Eu ainda desmaio com tanta beleza, anotem aí!


— Que tal a gente abusar no fast food agora? — proponho, e Gabe aplaude.

— Fast food?

— É... Sabe, comida gordurosa, felicidade... Já ouviu falar? — implico, e ele revira os olhos.

— Gabriel tem cinco anos, Liza, ele não pode comer tanta besteira! — adverte com a voz
séria.

Eu deveria me sentir uma lerda por não pensar nisso, mas estou ocupada demais encantada
com a voz dele séria. Sério, preciso de um médico. Se Allan fosse psiquiatra, certamente já teria o
pedido em casamento.

— Para de ser chato, Allan! Uma criança precisa de batata frita! — respondo, e tomo Gabriel
de seu colo. — Vamos, querido, seu pai é um velho chato!

Lógico que Gabriel ficou do meu lado, e devo admitir que assistir Allan emburrado é super
sexy.

— Trocado por uma batata frita e uma loira sem noção! — resmunga.

— Não seja ciumento! Só te deixa mais fofo — provoco, e ele revira os olhos.

— Não sou fofo!

— Ele não é fofo, Gabe?

Gabriel sorri para Allan e estica os bracinhos em sua direção.

— É fofu! — concorda, e Carter sorri carinhoso.

— Assim é golpe baixo! — brinca e me olha. — Obrigado por vir, Liza.

Sorrio de lado e seguro em seu braço.

— Obrigada por me convidar, Allan, foi um dia ótimo.

Foi o melhor dia da minha vida.

— Estar com você é ótimo, Lizz...

Apenas sorrio e sigo para lanchonete. Não sei se sou capaz de formar frases coerentes após
essa fala.

Ah, Elizabeth, você é tão trouxa!


CAPÍTULO 15
Liza

O tempo pareceu correr durante a semana, a cada tempo livre meus únicos pensamentos eram
Gabe com a mãe vadia e oportunista, por que eu não posso trazê-lo logo? O mundo seria um lugar
melhor se aquela mulher desaparecesse. Deixei Allan organizar a parte burocrática da nossa futura
adoção, eu não saberia nem para onde ligar.

Carter tem sido bem diferente do que imaginei, solidário e divertido na maior parte do tempo
que estamos juntos. Nos últimos cinco dias, nossa relação tem sido estranha e boa, sempre acabo em
seu apartamento preparando o jantar e jogando conversa fora. Nunca passamos disso, em nenhuma
maldita vez ele tentou algo a mais!

Não era isso que eu queria? Ser amiga dele? Por que é tão difícil aceitar que o deus grego
idiota está seguindo o roteiro? Deve ser porque eu estou completamente atraída por ele, atraída ao
ponto de estar a cinco minutos olhando pra ele sem dizer uma única palavra.

— Liza!— Allan estala os dedos na frente do meu rosto e desperto. — Está bem?

Acomodo-me mais ao sofá e tento disfarçar minha nítida cara de boba.

— Estou, é que estava pensando longe... — Ou mais precisamente no homem sentado ao meu
lado.

— Eu mencionei com meu irmão a sua ideia de adotar Gabriel... — diz e sorri de canto. —
Ele está feliz!

— Ele não achou uma ideia louca? Ou me achou louca?

No mínimo é o que qualquer um pensaria.

— Liza, Damon é formado em ideia loucas... Sabia que ele pediu a Lia pra casar com ele de
mentirinha só pra agradar os pais?

Não creio! Essa mulher tem muita sorte!

— Que sortuda! Queria ter a sorte dela!


Se meu chefe fosse Damon Carter e ele me pedisse em casamento, eu tatuaria um SIM na testa.

— Sorte?— questiona rindo. — Minha cunhada é um poço de azar, Lia consegue fazer Murphy
ser uma teoria ridícula.

Porque ela não conheceu minha má sorte!

— Mas ela tem um marido lindo, amigos bons e uma família... No meu conceito, isso é ter
sorte!

Allan fica tenso e desvia o olhar, toda vez que menciono família ele reage dessa forma. O que
será que aconteceu com ele?

— Ninguém vê o lado ruim da família, Norris — diz vago.

— Por que diz isso? — pergunto, e ele se levanta.

Sempre se esquiva.

— Porque é verdade... Quer beber algo? — tenta mudar de assunto, mas não hoje.

Não é justo ele conhecer meus problemas, enquanto não sei nada sobre ele.

— Você sempre se esquiva do assunto família, Allan! Pode confiar em mim.

Ele sorri irônico e nega com a cabeça

— Quer que deite no seu colo e conte o quanto meu passado foi ruim? Dispenso! — diz
grosso.

— Seria um começo... — digo calmamente, e ele nega com a cabeça. — Não pode fugir pra
sempre do passado, Allan!

Algo ou alguém feriu esse homem e isso o destrói por dentro, como alguém pode fazer mal a
ele?

— EU NÃO PRECISO DE PSICÓLOGA, ELIZABETH! — rosna.

— Eu só queria te ajudar, Carter! Queria que confiasse em mim, mas vejo que não é possível
ter um diálogo com um homem babaca como você! — grito, e ele fecha a cara.
Sei que pressionei, mas não gostei de sua grosseria. Me viro e sigo em direção à porta.

— Droga, Liza! — ele resmunga e me segue. — Eu não quis gritar com você...

— Mas gritou! — digo séria e me viro. — E age feito um idiota cada vez que tento me
aproximar... Você repele todo mundo que se importa, Allan!

Ele bagunça os cabelos — ato sexy demais — e bufa.

— Eu não quero afastar você, droga! Você não entende que de todas as pessoas você é a que
eu quero do meu lado? — grita e meu coração dispara. — Odeio você por me fazer agir feito um
adolescente idiota.

— Isso foi uma declaração?

— Quer que eu desenhe?— ironiza e sorrio feito uma idiota.

— Eu não quero me afastar, Allan, mas você me irrita pra caralho e faz meu coração acelerar
cada vez que está do meu lado.

Ele sorri de canto e dá um passo na minha direção.

— Isso foi uma declaração? — repete minha pergunta.

— Quer por escrito?

Allan revira os olhos e, sem que eu perceba, já estou contra à porta e sua boca, a centímetros
de mim. É agora que morro.

Então ele me beija.

Não foi nada como os livros descrevem, não senti borboletas ou mãos suando, tudo que
conseguia sentir eram minhas células aderindo seu mais novo vício.

Allan não me beijou com delicadeza, somos urgentes e loucos por um desejo reprimido que
inunda minhas emoções, eu só sei que preciso de mais beijos.

— Por que não fiz isso antes? — pergunta e desce os beijos para meu pescoço.

— Porque é um idiota! — respondo, e ele ri contra meus lábios.


— Somos idiotas — confirma e me beija lentamente. — Me lembra de te beijar mais vezes.

Difícil será esquecer.

— Muitas vezes...

Ele sorri e era uma vez meu coração. Esse já está contaminado.

— Não te deixaria esquecer! Você é minha agora.

Sou! Posso fazer disso um mantra

— Eu sei, Carter... Eu sei — assumo para ele o que eu já sabia faz tempo: Eu estou
apaixonada.
CAPÍTULO 16
Allan.

Ferrado.

Completamente ferrado! O mais ferrado dos homens, o sinônimo de estupidez. Mas a porra de
homem mais feliz desse mundo! Estou ultrapassando meu limite de idiotice, não é possível alguém
ficar tão satisfeito com beijos. Aquela mulher deve ter alguma droga alucinógena que certamente me
viciou. Estou malditamente viciado em Elizabeth Norris.

Viciado em seu sorriso, seu cheiro, e oh, Deus... Em seu beijo. Poderia beijá-la para sempre.

Mas que droga.

Respiro fundo e saio do elevador, situações desesperadas pedem medidas desesperadas. E


aqui estou eu prestes a ir até a cobertura de Damon falar com a única pessoa que pode me ajudar
agora, uma pessoa especialista em relacionamentos, que resolve todos os problemas entre os
Carter’s, grávida de nove meses e com mau humor de gestante.

Lia Harper Carter.

Mais conhecida como a mulher mais mandona do universo. Só Lia para me ajudar com
conselho útil. Aperto a campainha e aguardo. Segundos depois, meu irmão, com a sua melhor cara de
pau, abre a porta e, a julgar seus lábios inchados e cabelos bagunçados, cheguei em uma péssima
hora.

— Trabalhando no próximo filho? — zombo, e ele sorri de lado.

— Se eu soubesse que mulheres grávidas teriam esse apetite sexual, seria pai antes! —
brinca, e acabo rindo.

Esse já está adestrado, se um dia ele foi um cretino e galinha, hoje está na coleira com um
sorriso enorme.

— O que disse, Damon? — Lia entra na sala com o olhar assassino, e meu irmão ri. — Olha
só, quem vivo sempre aparece!

Devo admitir que amo demais essa parte da família.


— Ando muito ocupado, cunhadinha! — Beijo seu rosto, e ela me olha desconfiada. — Vim
ver como está essa gravidez!

— Diz logo o que você precisa, Allan!

Não se pode enganar uma mulher grávida.

— Preciso de conselhos...

— Achei que o irmão fosse eu! — Damon resmunga, e Lia revira os olhos.

— Você não entende sobre relacionamentos, amor.

— Eu te pedi em casamento, não pedi?

— Duas vezes! — completo, e ele me olha feio. — Não vim pra brigar, estou em desespero!

Os dois me olham e tenho a certeza que responderei o maior questionário da minha vida.

— Deixa-me adivinhar... Liza? — Lia pergunta, e aceno. — Eu já gosto dessa mulher!

O problema é que eu também gosto.

— Estou totalmente ferrado, Lia! — admito, e ela sorri.

— Eu avisei que iria ver cada um de vocês de quatro por uma mulher!

Maldito azar!

— Amor, vou ter dois casamentos para ir — Damon provoca, e bufo.

— Três, se o Dom desencalhar — ela completa.

Dominic tem sorte por não ter uma mulher que mexe com seus miolos! O único sortudo da
família Carter.

— Será que podem focar no meu problema? — chamo a atenção deles e suspiro derrotado. —
Eu não sei o que fazer...

Nunca tive um relacionamento, sempre fui focado na minha carreira e evitei laços o quanto
pude, no entanto, agora estou babando pela minha vizinha e próximo de realizar meu desejo de
adoção.
— Nos conte o que aconteceu, só assim poderei ajudar. — Lia diz e se senta no sofá. —
Minhas costas estão horríveis.

Será uma longa história.

Conto detalhadamente tudo que passei com Liza até aqui e meu irmão está com um sorriso
debochado desde que pronunciei a primeira sílaba.

Idiota.

— Quer dizer que ela além de não ser como as mulheres fáceis que está acostumado, ainda
quer adotar uma criança que mal conhece por simplesmente ter se apaixonado? — Lia questiona, e
aceno. — A pergunta é... por que você veio?

Franzo o cenho, e Lia bufa indignada.

— Se eu não fosse apaixonado por Lia, já teria ido atrás da sua vizinha há muito tempo! —
Damon diz e olha para mulher. — Com todo respeito, amor...

Adestrado. Eu disse! Deus me livre me transformar em um idiota como Damon.

— Allan, você deveria estar com ela agora e não me fazendo perguntas idiotas! — Lia brada,
e suspiro. — Está meio óbvio que está apaixonado!

— Eu não estou apaixonado!

Isso não é paixão, atração forte, talvez! Paixão? Não mesmo!

— Por que vocês, Carter’s, são tão lerdos? Allan, você dirigiu até aqui para falar sobre uma
mulher, sorri feito um idiota quando menciona o nome dela e está no processo de negação!

Olho para Damon em pânico e ele apenas dá de ombros.

— Concordo, quando percebi que estava apaixonado, foi no momento errado, cara, não espera
ela te dar um pé na bunda pra perceber seus sentimentos! — aconselha e sorri para Lia. — Minha
sorte é que eu sou o chefe dela.

— Se está com tanto medo, vá com calma, Allan, saiam, se conheçam melhor. Você irá se dar
conta do que sente — ela diz, e aceno.

Lia tem razão, ir com calma é a melhor solução.

— Tudo bem... Acho que iam gostar de se conhecer.

— Traga até aqui pra jantar.— Damon propõe e Lia sorri. — Um jantar entre casais!

— Não somos um casal! — corrijo

Ou somos?

— Então virem um! Quero vocês dois aqui, hoje à noite! — Lia ordena, e logicamente
obedeço. — Vou ligar pra Emma, ela vai adorar a Liza!

Droga! Ethan irá me atormentar.

— Relaxa, o White não é burro de fazer piadas sobre relacionamentos com a Carson perto —
Damon me tranquiliza.

— Amém, Emma!

Agora tenho que, de alguma forma convencer, Liza a jantar com a minha família sem parecer
que estou desesperado.

Estou ferrado!
CAPÍTULO 17
Liza

Acabei de concluir que pessoas desastradas não foram feitas para tarefas domésticas. Eu, com
minha ótima ideia para desestressar, resolvi dar uma arrumada no meu apartamento, resultado? Está
mais ou menos limpo, enquanto ganhei hematomas e uma unha quebrada. Tudo culpa daquele médico
idiota! Se ele não tivesse me dado o melhor beijo que já ganhei, eu não estaria aqui limpando casa
pra tentar esquecê-lo. Que fique registrado, Allan Carter consegue me desestabilizar com muito
pouco.

Médico gostoso filha da puta.

No meio dos milhões de pensamentos sobre como dar sumiço em Allan, ouço batidas na porta.
Que merda, nem limpar minha casa sou capaz.

— O que é? — digo abrindo a porta rudemente.

Encontro Allan parado com um sorriso de canto. Esse ser maravilhoso se impregnou em mim
desde ontem à noite e agora está aqui com essa cara lavada.

— Quanto mau humor, vizinha!

— Oi. Allan — respondo neutra.

Ele me mandou embora ontem à noite e agora quer que o receba sorrindo?

— Podemos conversar?

— Estou arrumando casa — digo séria. — Te vejo em outra hora — recito as mesmas
palavras que ele me disse ontem.

Ele me olha atento e seguro seu olhar.

— Me perdoe por te pedir para ir embora, Liza... Eu não quis te dispensar — diz calmo.

— Suas interpretações de dispensar estão um pouco erradas, Carter.

Ele sorri de lado e se aproxima de mim.


ALERTA.

Meu corpo grita assim que me vejo a centímetros do médico metido.

— Eu não sou tão idiota a ponto de te dispensar, Liza, eu só te pedi para ir embora porque sei
que se ficasse mais alguns segundos perto de você, provavelmente não iria ter forças pra te pedir pra
sair — confessa.

Sinto aquele familiar sentimento em minha barriga.

Borboletas.
— Eu odeio quando fala essas coisas e não tenho como brigar com você — resmungo.

Abro passagem para ele entrar.

— Então me perdoa? — pergunta tocando o nariz no meu.

O que estava pensando mesmo? Com essa proximidade, não tenho total controle dos meus
atos.

— Te desculpo — digo com o resto de oxigênio que me resta.

Allan deve se divertir com minha cara, estou praticamente imóvel o encarando.

— Ótimo.

Dito isso, ele mais uma vez comprova minhas teorias de que eu não tenho controle algum de
mim mesma. Seu corpo me empurra contra a porta e tudo que consigo fazer é corresponder ao seu
beijo com toda necessidade existente. Seguro firme em seu ombro e ele envolve minhas pernas
entorno de sua cintura.

Queria declarar que se não morri até agora com esse homem, certamente morrerei na cama.
Porque, nem nos meus sonhos mais loucos, euzinha iria desperdiçar esse deus grego da medicina.
Mas meu momento de maravilha termina abruptamente com Carter me pondo de volta ao solo. Abro
os olhos e o encontro me encarando.

— Eu não vim aqui pra te levar pra cama! — diz ofegante. — Apesar de ser fodidamente
tentador...

Muito tentador.
— E o que veio fazer?— pergunto tentando regular minha respiração.
— Conversar com você! — responde e suspira. — Mas fica difícil quando você está usando esse
pedaço de pano.

Paro pra analisar minha roupa e instantaneamente coro. Um short minúsculo e uma regata do
Bob Esponja certamente não são tão atraentes.

— Ahh, entre, vou me trocar — digo e abro espaço para ele passar. — Já volto.

Lavo meu rosto também para ajudar os pensamentos sexuais irem embora. Troco minha roupa,
por um short e uma blusa apresentável. Volto para sala e encontro Allan encarando meus porta-
retratos sério. Ele fica tão lindo sério. A que ponto cheguei!

— Você tem muitas fotos com Andrew.

Me aproximo e vejo a foto que ele segura. Estou sentada nos ombros de Andrew, desfrutando
a praia no fim da tarde, é uma foto linda.

— Tenho mesmo, essa, por exemplo, foi no Havaí! — informo, e Allan permanece sério. — O
que é?

— Sempre foram só amigos?

É impressão minha, delírio ou falta de oxigênio no cérebro... Mas Allan está com ciúmes?

— Andy é a minha única família, Allan, se não fosse por ele ou pelos pais dele, não sei o que
seria de mim.

Nunca terei gratidão o suficiente por Angelina e Michael Williams.

— Não respondeu minha pergunta, Norris — diz neutro.

Com o nosso tempo de convivência, percebi que um Carter quieto não é um bom sinal.

— Quando éramos adolescentes, tentamos namorar, mas não durou uma hora — digo, e Allan
permanece sério. — É impressão minha ou está com ciúmes?

— Ciúmes? — questiona, e sorrio de lado. — Me poupe, Norris!

— Meu álbum com fotos dos meus ex-namorados está no quarto, caso você queira...
— Ok, Liza, estou com ciúmes! — resmunga a contragosto. — Não quero ver álbum nenhum!

Ainda bem, não tinha mesmo.

— Não existe álbum, seu idiota! — provoco, e ele me olha feio. — Mas foi bom saber que te
causo ciúmes.

Ele me puxa contra seu corpo e cola nossos lábios rapidamente.

— Eu posso fazer uma lista de quantas mulheres já peguei, querida — provoca.

Que devem ser muitas, incalculáveis, mais bonitas. Ótimo, Elizabeth, se ilude com um homem
que pode ter todas.

— Bom pra você — respondo grossa e tento me afastar, mas Allan me impede. — Me larga,
Carter!

O babaca sorri abertamente e me aperta mais contra si.

— Viu como é bom sentir ciúmes.

— Eu não senti ciúmes! — minto.

— Mas deveria ter, sou muito gostoso.

— E com o ego muito grande! — respondo, tentando me afastar.

Ele ri e isso me irrita mais.

— Não é só o ego que é grande, vizinha — provoca.

Oh, Deus! Por que um homem desses na minha vida?

— Insuportável! — Bato contra seu peito, e ele ri. — Me deixa ir, Allan!

— Não— responde e ataca minha boca.

Como posso negar um beijo do homem que eu me apaixonei? Estou totalmente aos domínios e
encantos de Allan Carter.
Entrego o café para Allan e me sento na cadeira à sua frente, finalmente, depois de um longo
tempo, conseguimos afastar nossos corpos (não que eu goste dessa decisão), mas foi necessário, algo
sério que ele tem para me falar.

— Fui até o apartamento de Damon hoje pela manhã, ele e minha cunhada estão ansiosos para
te conhecer! — diz calmamente.

Engasgo-me com o café e começo a tossir, ótimo, vou morrer por cafeína!!

Allan dá a volta e faz uma espécie de massagem nas minhas costas e instantaneamente paro de
tossir. Ele é mágico agora?

— Obrigada.

— Sorte sua que sou médico! — zomba.

— COMO ASSIM ME CONHECER? — grito, e ele volta calmamente para seu lugar.

Odeio essa calma que ele tem.

— Liza, nós iremos adotar uma criança e automaticamente você é incluída na minha família —
diz firme.

Eu não pensei por esse lado. Eu, uma simples mortal, incluída na família Carter?

— Eu, participando de uma das famílias mais ricas do país? — pergunto, e ele acena. — Eu
não tenho coração pra isso, Allan!

— Não seja dramática! Você vai adorar a Lia!

E se ela não gostar de mim?

Se ela não ir com a minha cara?

Allan sorri carinhoso e beija minha mão estendida sobre a mesa.


— Ela ameaçou minhas bolas se não levasse você para jantar lá, hoje à noite, Liza, não quero
contrariar uma mulher grávida.

— Hoje? Allan! E você me diz isso agora? — pergunto irritada, e o idiota ri.

— Tentei te contar antes, mas estava com a boca ocupada... — diz sorrindo maliciosamente.
Será que ele só pensa com a cabeça de baixo?

— Isso não melhora as coisas, Allan! Eu não sei com que roupa irei! Meu Deus! — grito
desesperada.

Como vou jantar na casa dos Carter’s se minha roupa mais nova é um pijama de ursinhos?! É
uma droga ter melhores amigos que namoram, Andy e Chloe estão em algum encontro clichê e eu,
sem um único amigo para ir ao shopping comigo.

— Não precisa se desesperar! É apenas um jantar.

— Meus melhores amigos estão ocupados namorando, eu não posso ir ao shopping sozinha!
— resmungo frustrada.

Triste vida.

— Eu vou me arrepender disso. — começa a dizer, e o encaro. — Vamos ao shopping, Liza.

— Sério? — pergunto entusiasmada.

— Sério — confirma, e amplio meu sorriso. — Mas não me deixe decompondo à sua espera.

Droga de homem perfeito. Lanço-me em seus braços e o beijo rapidamente.

— Obrigada! Obrigada! Vai ser rápido, juro! — Beijo meus dedos em promessa.

— Estou ferrado!
CAPÍTULO 18
Imaginem uma criança de cinco anos indo pela primeira vez a Disney, pois esse é meu estado
de espírito assim que entrei no shopping com Allan ao meu lado. Lógico que eu não sou uma criança
e muito menos fui a Disney, mas se fosse, certamente seria assim.

— Olha só aquela vitrine, Allaaaannn! — digo empolgada e o arrasto até a frente do vidro.

Um lindo vestido preto se encontra no manequim, e eu limpando a baba que escorre do meu
rosto. Mas provavelmente não teria dinheiro para esse vestido.

— Se gostou, compre — ele diz como se fosse óbvio.

Quem dera fosse tão simples.

— Se a moça da loja aceitar minha alma como pagamento, quem sabe eu não compre —
brinco.

Allan revira os olhos e encara pela primeira vez o vestido.

— É bonito, ficará ainda mais em você — elogia, e instantaneamente coro.

Essa minha mania de ficar vermelha por tudo.

— Eu não tenho dinheiro para comprá-lo... Vamos procurar outro.

Começo a me afastar da vitrine, mas ele me segura.

— Esse vestido será seu, Liza.

— Não será, não Allan.

— Eu vou comprar aquele vestido pra você, e você irá vesti-lo para mim.

Impressão minha ou sua voz ficou rouca?

— Eu não posso aceitar, vamos.

— Elizabeth, não seja a porra de uma dor na bunda.

— Não tente me comprar com presentes caros.


Ele se vira pra mim com a cara irritada, e me preparo para guerra. Definitivamente somos
ótimos oponentes em discussão.

— Acha que estou te comprando? — Sua voz sobe um tom. — Eu não quero esbanjar o meu
dinheiro, tudo que desejo é ver a mulher que gosto em um vestido incrível. Isso é mais para o meu
prazer do que seu.

Mulher que gosto.

— Gosta de mim? — pergunto, não escondendo meu sorriso.

— Só ouviu essa parte?

— É que meu cérebro só funciona com palavras-chaves — respondo, e ele sorri.

— Talvez eu goste, lá no fundo.

Sinto meu sorriso abrir.

— No fundo, a ponto de comprar um vestido caro? — provoco.

— Meu coração é raso — brinca.

Idiota.

— Eu não quero um vestido caro, Allan, ou nada extravagante, de fato, aquele vestido é lindo,
mas tenho certeza que existem outros vestidos lindos disponíveis para uma cidadã classe média como
eu.

— Isso não muda nada, ainda levará o vestido.

Teimoso.

— Eu odeio você.

Seus olhos azuis cintilam diversão.

— Não, você não odeia.

Ele está certo.

Eu não odeio.
Vou me lembrar de nunca mais ir ao shopping com Allan, o idiota comprou mesmo o vestido, e
praticamente todas as atendentes ficaram babando nele, estava quase pedindo um desconto por
excesso de beleza.

E agora estou aqui nervosa esperando meu vizinho idiota vir me buscar, e torcendo para a
família dele não me achar uma oportunista.

Cinco minutos depois, ouço batidas na porta e corro para atender — literalmente corro — e
quase vou de encontro ao chão graças aos meus belíssimos saltos caros que aquele médico metido
me obrigou a comprar, não que eu não tenha gostado dos presentes, mas é estranho vestir uma roupa
mais cara que meus móveis!

— Oi. — Abro a porta e o choque de beleza me atinge.

Meu coração não é preparado para ver Allan de smoking, graças a Deus, não sou cardíaca.

— Uau! — sibila, e fico vermelha. — Está linda, loira.

— Eu sei, mas você também é lindo... Quer dizer, está lindo hoje. — Ele sorri. — Não que
seja só hoje, mas...

— Eu sei, você está nervosa, vizinha?

— Vai sempre me chamar de vizinha?

Ele dá de ombros.

— Sempre.

Tento parecer brava, mas ele sabe que eu adoro quando me chama assim.

— E se seu irmão não gostar de mim?

— Ele vai gostar, se eu te aturo, ele também consegue.


— Como consegue ser tão idiota? — pergunto olhando em seus olhos azuis.

É maravilhosamente maravilhoso.

— Como consegue ser tão linda?

Desgraçado, sabe me deixar vermelha.

— Você é um cretino, Carter.

— Cretino é o meu irmão.

— Você é pior.

— Adoro te fazer corar, Norris... — admite e segura meu queixo. — Adoro te deixar sem
graça.

— Por quê?

Ele sorri de canto e me dá um selinho demorado.

— Eu vivo em um mundo de porquês sem respostas desde que te vi nas escadas, Liza.

Apenas confirmo com a cabeça, eu também vivo dessa situação. Seguimos para o
estacionamento em silêncio, é agora ou nunca.

Queria deixar registrado que a ideia de apartamento de Allan precisa ser estudada, Damon
não reside em um apartamento, ele simplesmente mora em uma cobertura magnífica, que nem em
meus sonhos mais insanos imaginaria conhecer. O lugar é tão lindo que tenho medo de deixar meu
DNA e contaminar todo o local.

— Esse piso é mais lustroso que meu espelho, Allan! — sussurro, e ele ri.

— Porque você não viu o banheiro! — diz e toca a campainha. — Damon é exagerado.

Jura? Nem tinha percebido os luxos no andar, certeza que o tapete de entrada vale mais que
meu colchão. A porta é aberta e uma versão olhos castanhos de Allan nos recebe, abençoada seja a
genética Carter!

— Você está ferrado, cara! — Damon diz e abraça o irmão.

Fico olhando a cena e me segurando para não suspirar. Damon é tão bonito que nem parece
real, mas o meu coração só dispara com o Carter mais velho. Triste vida.

— Eu sei, se lembra da Liza?

Damon me olha e sorri.

— A mulher que te deu um fora épico? Como esquecer! — diz e me estende a mão. — Um
prazer revê-la cunhadinha.

Fico sem graça e o cumprimento.

— Não estamos namorando! — informo tímida.

Damon olha para o irmão com um sorriso debochado e já vi que esse é uma marca registrada
na genética dos Carter’s.

— Ah, não? Lia vai gostar de saber disso! — sorri diabólico.

Por que eles têm tanto medo da Lia?

Entramos no apartamento e realmente fico maravilhada com o lugar.

— ETHAN, EU VOU TE MATAR!

Ouço uma voz feminina gritar e logo uma mulher incrivelmente linda surge na sala e, a julgar
pela barriga de grávida, essa é a tão temida Lia.

— Estou salvando o jantar! Não confio em você na cozinha! — Ethan surge atrás dela e ao seu
lado está uma mulher linda, com os cabelos rosa choque.

— A cozinha é minha! — ela resmunga e percebe minha presença e a de Allan. — Eu não


acredito!

Lia caminha até nós e Allan sorri abertamente para cunhada.


— Essa é a Liza — ele me apresenta, e fico vermelha.

— Olá, Sra. Carter! — digo, e ela me olha de cima a baixo.

Meu Deus.

— Realmente você não exagerou, Allan, ela é linda! — elogia e sorri. — Então é você que
deixou esse idiota de quatro?

— Não é pra tanto — respondo tímida.

— Ai, ela fica tão fofa tímida! Emma, por que você não é fofa assim, demônia? — Ethan
pergunta olhando para mulher de cabelos coloridos.

Que casal mais estranho. Mas consigo ver o olhar apaixonado entre eles.

— Por que você não cala boca, idiota? — ela responde, mas sorri quando o marido a beija.

É engraçado ver Emma perdendo a pose de brava.

Vejo Lia revirar os olhos e sorrir para mim. Ela é tão linda e tão simpática, tem tanta sorte.

— Ignora o Ethan— pede e olha para Allan. — Ela é muito tímida!

— Diz isso porque não a viu pela manhã...

Que absurdo.

— Você é que me irrita! Eu sou totalmente pacífica! — informo séria.

Ele arqueia uma sobrancelha e sorri debochado.

— Pacífica? Norris, você me ameaçou hoje pelo menos dez vezes.

Foram 11.

— Foram ameaças pacíficas! — minto.

— Ameaçou me matar com meu estetoscópio!

— Você me obrigou a usar saltos! — me defendo.


Eu odeio saltos, minha preferência sempre será um tênis.

— Que tipo de mulher não gosta de saltos?

— Eu não gosto! Minha má sorte não me permite sair ilesa de um dia com saltos! — digo
séria.

Foi com uma gargalhada de Ethan que me lembrei que estou no meio da sala dos Carter’s
discutindo com Allan.

Droga.

— Outra azarada? — Damon questiona e ri. — Deve ser mal de família.

Franzo o cenho, e Lia sorri para mim.

— Relaxa, sou um pouco azarada também.

— UM POUCO? — todos gritam e ela bufa.

— Ok, eu sou muito azarada... — conserta.

— Como faz pra viver? Seu azar não incomoda sua gravidez? — questiono.

— Quem você acha que ela escraviza? Essa mulher é uma ditadora! — Ethan resmunga.

Agora faz sentido

Olho para Allan e sorrio diabólica.

— Isso é interessante, Lia...

— Vamos nos dar muito bem, Liza!

Com toda certeza.


CAPÍTULO 19
Eu nunca fiquei tanto tempo rodeada de pessoas tão lindas, e ainda por cima simpáticas e
divertidas, certamente Allan tem sorte em fazer parte dessa família maravilhosa.

— Como se conheceram? — Lia pergunta direta, e eu quase engasgo com meu vinho.

O que é isso, meu Deus! Não estava nos meus planos responder um questionário.

— Bom, ele me derrubou nas escadas de emergência! — conto e vejo Allan se preparando
para protestar. — E foi um idiota.

— Você não olha pra onde anda e a culpa é minha? — protesta. — Eu estava atrasado para o
plantão!

— Custava ser um pouco gentil? Gentileza, gera gentileza.

E lá está o sorriso debochado que se impregnou em mim.

— Eu não sou gentil, Liza — diz malicioso.

Odeio quando ele me deixa corada.

— Respeitem a uva-passa! — Ethan protesta e simplesmente olha para barrigada de Lia. —


Seu tio é um imoral, bebê, por isso eu sou o tio preferido.

E, para minha surpresa, Allan se levanta e igualmente olha para barrigada da cunhada. Jura
que eles estão conversando com uma barriga?

— Eu sou o tio preferido, Lottie! Não escute o imbecil do White.

— Não ensine xingamentos para o bebê, seu estúpido — Ethan implica e soca o amigo.

Não sei se acho fofura ou loucura.

— Dá licença que a filha é minha! Ethan, faça um pra você! — Damon se intromete.

Emma, que estava em silêncio observando a cena, revira os olhos

— Eu não vou gerar um filho desse babaca — responde, e Ethan sorri.


— Temos que dar continuidade à espécie, amor... É a lei do universo — diz e beija o rosto da

noiva.
— O mundo agradece sem o seu DNA — provoca, e rimos.

Eles se amam tanto.

— Mas, amor, se nós não tivermos um filho, quem irá namorar a uva-passa?

Meu Deus.

— Ethan, eu ainda vou te matar! — Damon ameaça, e não seguro o riso.

Essa é a família Carter.

— Já chega! — Lia chama a atenção e eles instantaneamente param. — Liza, será que pode
me ajudar com a sobremesa?

Por que não?

— Claro — Me levanto e Allan também. — Você se chama, Liza?

— Não confio em duas azaradas na cozinha! — responde, e reviro os olhos.

— Larga do pé dela um minuto, Seller! — Lia protesta, e Allan bufa.

Seller?
— Ok, não demora! — ele diz a contragosto e sela nossos lábios lentamente.

Fico completamente vermelha por esse ato e ele sorri, sigo Lia até a cozinha e, pra variar,
estou sorrindo feito uma idiota.

— Consigo perceber que está apaixonada! — ela diz assim que entramos na cozinha (diga-se
de passagem, maior que minha sala e meu quarto juntos).

Eu gosto de Allan, gosto de estar com ele, dos seus beijos, da forma como ele sorri
debochado. Mas apaixonada?

— Não estou apaixonada — digo e isso soa como uma verdadeira mentira.

Os olhos azuis-escuros de Lia me avaliam e depois de um tempo ela sorri.


— Sim, você está, faz pouco tempo, mas eu conheço Allan o suficiente para saber que ele
jamais apresentaria uma mulher para nós se não tivesse interesse — ela diz e abre a geladeira — E
você não esconde o olhar admirado quando o olha.

É tão óbvio assim? Eu sempre me considerei boa na arte de fingir indiferença.

— Eu não sei se ele se sente no mínimo interessado... — confesso, e ela se vira pra mim. —
Ele não é bom em demonstrar sentimentos.

Lia acena e suspira.

— Ele sofreu muito, Liza, muito mais do que eu possa imaginar — conta, e franzo o cenho
confusa. — Não deveria te contar, mas, Allan viveu dezoito anos em um orfanato qualquer... Ele
nunca me contou muito sobre a época, Damon é o único que sabe de tudo.

Meu Deus.

As peças se encaixam, o pai afastado, o carinho por Gabe, agora entendo porque ele não gosta
de tocar no passado.

— Eu nunca iria imaginar— encaro a mulher a minha frente —, ele nunca iria me contar.

Uma parte de mim se magoou por não ter sido confiável o suficiente.

— Claro que iria! — ela diz tocando meu ombro. — Dê um tempo, ele irá te irritar e fazer
coisas idiotas e principalmente irá ser um babaca na maior parte do tempo.

— E isso é bom?

— Isso é ser um Carter, Liza, não desista dele — ela pede, e a única coisa que consigo fazer é
acenar. — Agora vamos pegar as sobremesas.

Com muito cuidado, pegamos as taças com sorvetes e...

— Batata frita? — questiono, olhando estranho para taça.

— Você irá adorar... Essa gravidez me fez comer coisas bem estranhas!

OK, quem sou eu pra julgar.

Tudo que nós teríamos que fazer, era levar as taças em segurança. Tudo que não deveria
acontecer era Allan e Damon surgirem do nada à nossa frente e o sorvete e a batata não deveriam ter
voado neles. Mas, como essa minha vida, tudo deu errado.

— Ops! — dizemos juntas.

Damon sorri, mas Allan me encara sério. Ferrou.

— Lia, é a terceira vez que isso acontece! — Damon diz e sorri para esposa. — Me lembra
de pôr uma geladeira na sala.

Allan vem se aproximando e meu corpo congela. Com uma delicadeza desconhecida, ele me
beija.

Sim, me beija.

E me faz esquecer que estou na cozinha dos Carter’s sendo beijada com plateia.

— Tá vendo, uva-passa, seu tio é um sem escrúpulos!

Com um sorriso Allan, se afasta de mim e olha para Ethan.

— Eu ainda sou o tio preferido!

— Se iluda aí.

Com isso eu só me toquei de uma coisa.

Estou apaixonada por Allan Carter.

A volta para casa foi feita em silêncio, Allan, segurando minha mão durante todo o percurso,
só causou batidas aceleradas ao meu humilde coração. Nem me toquei quando o carro estacionou no
nosso prédio.

— Desculpe pela roupa!— Quebro o silêncio e ele me encara. — Posso lavá-la se quiser.

— Não se preocupe, essa não é a primeira vez que a Lia derruba algo em mim — responde e
me puxa para mais perto. — O que achou?

Hoje foi intenso.

— Foi bom, acho que fiz amizade com a Lia.

Chegamos próximo à nossas portas.

— Sei que ela te contou algumas coisas sobre mim... — diz um pouco mais sério.

Como eu queria que ele confiasse em mim para tirar esse peso dos ombros.

— Sim, ela contou que você está disputando o pódio de tio preferido! — digo, e ele me olha
sério.

— Não foi só isso, Liza, ela te contou que fiquei em um orfanato — diz rude.

Como eu consigo achar esse homem lindo até irritado?

— E daí? Allan, eu não acho que o fato de ter ficado em um orfanato interfira em nada. — Ele
se prepara para responder, mas não deixo. — Hoje, você é um médico que salva vidas, tem uma
família que te ama e eu...

— Não diria isso se soubesse o que já fiz! — responde com pesar.

Será que ele não percebe que eu não ligo?

— Ei... — Seguro seu queixo e o beijo castamente. — Entenda de uma vez por todas que não
ligo para o seu passado ou o que fez nele... Eu gosto de você assim.

E estou apaixonada.

— Eu não sei o que faz comigo, Liza... — diz e toca meu rosto —, mas estou completamente
ferrado por gostar de você.

— Já passei desse nível, Allan, você se impregnou no meu coração.

Ele sorri e circula com o polegar o contorno dos meus lábios.

— Estou apaixonado por você, Elizabeth, não posso dizer que isso é fácil para mim, se fosse
mais forte, ficaria longe.
— Por quê?

— Porque eu não sou bom o suficiente pra você. — admite, e minha respiração falha. — Mas
não sou capaz de me afastar, não sou capaz de não ter você, você é como um vício.

— Você é mais do que o suficiente, Allan, sempre foi.

— Não diria isso se soubesse quem eu fui.

— Seu passado é apenas isso, passado — sussurro contra seu rosto. — Eu sou apaixonada
pelo homem que está aqui agora, não por seus fantasmas.

— Eu vou te beijar agora.


— Já deveria ter feito isso.
Ele segura meu cabelo e todo meu corpo se arrepia.

— Agora você é minha. — E me beija.

Foda-se, sim, eu sou totalmente dele.

— Então me faça sua.

O brilho em seus olhos foi o suficiente para me deixar mais que molhada.

— Até onde vai esse atrevimento vizinha? — diz me erguendo, e minhas pernas vão a sua
cintura. — Sua cama ou a minha?

— A sua... — Sua boca vai no meu pescoço, e solto um gemido.

— Tão gostosa, vou te provar em todos os lugares. — Em segundos, ele me coloca na cama e
sinto a falta do seu corpo.

— Sem preliminares...

Ele não me escuta.

— Eu quero tempo para admirar a mulher mais gostosa que já vi esperando por mim. — Suas
palavras só me aquecem mais.

— Allan... — Ainda estou usando o vestido que ele me deu.


— O que você quer, vizinha?

— Você. — Seu controle se quebra um pouco quando ele retira a camisa.

— Levante os braços. — Eu obedeço. Meu vestido é arrancado e tudo que tenho para me
cobrir é minha calcinha preta.

— Não me faça implorar, Carter.

Ele me olha com tanta intensidade que não sei se posso suportar. Sua mão aperta um seio e me
derreto na cama.

— Foda-se. — Ele abaixa a boca e tudo se torna um borrão de gemidos. Minha calcinha é a
próxima a sair e Allan abre minha perna para encaixar seus ombros.

— Quando terminar com você, tudo que pensará será em mim. — E passa a língua por todo
caminho até meu centro. — Em como você é minha, e como eu vou te foder.

Eu grito.

Ele realmente me foder, sua língua me traz tremores e suspiros e me transformo em uma poça
quando ele se afasta.

— Eu... — começo, mas perco a fala quando ele finalmente se livrar das roupas.

— Eu não acabei com você.

Abaixo o olhar e realmente não é só o ego que é grande. Allan joga uma cartela de
preservativos na cama e arrepio ao olhar para a quantidade.

— Tudo isso?

Ele me puxa para mais perto e gemo quando seu pau passeia pelo meu clitóris.

— Não é o suficiente, abra pra mim.

Eu obedeço.

— Não vai ter volta, sabe disso não é? — ele provoca. — Quando eu entrar nessa bocetinha,
você será toda minha.
Suas palavras me deixam quente.

— Por que está falando? Me fode.

Era tudo que precisava. Allan Carter, meu vizinho e o homem que amo, realmente toma meu
corpo. Ele entra em mim e nós dois gritamos.

Ele tinha razão, uma cartela não será o suficiente.


CAPÍTULO 20
Allan

O cheiro de fumaça faz os meus pulmões arderem, mas não posso me mover, se Bill descobre m

— Eu pago bem por uma delas! Pago o quanto for necessário para ter aquela vadia na
minha cama!— um dos homens que anda frequentando o orfanato diz.

Meu estômago se retrai, Bill é um homem da pior espécie, diretor de um orfanato da pior qua

Falta menos de um ano e me livro desse lugar, vou atrás de algum parente e logo depois irei f

— Você irá ter quantas quiser, Roger, meu caro!

Pela fresta da cortina, consigo espiar o rosto velho do tal Roger, um nojo, um senhor idoso co

— É sempre bom fazer negócios com você, Bill!

Os homens se cumprimentam e, aos poucos, a sala volta ao seu silêncio natural, foi uma
péssima ideia ter vindo até aqui procurar por informações sobre minha família. Olho com atenção
e provavelmente tenho dez minutos até Bill voltar para sala. Saio de trás da cortina grossa no
fundo do cômodo e começo a dedilhar sobre as pastas na gaveta, até que acho algo que me chama
a atenção.

Doações frequentes.

Jogo a pasta na mesa e começo a ler, muito dinheiro é doado para cá, o que obviamente não
é investido. Folheio o documento até me deparar com uma foto recortada de jornal, um homem de
talvez quarenta anos, e um garoto de aproximadamente treze anos sorrindo para foto.

"Robert Carter e seu herdeiro Damon Carter visitando a sede das empresas Imperion nos
EUA" Meu coração se aperta e toco na foto do garoto, não existem dúvidas que somos parecidos.
Sorrio e guardo tudo novamente onde estava e saio da sala às pressas.

Eu tenho um irmãozinho!

Abro os olhos lentamente e sinto um corpo quente ao lado do meu, sorrio e olho para Liza,
que dorme lindamente em meu peito. A lembrança dessa mulher gemendo meu nome me faz quente.
Essa mulher mexe comigo de uma maneira tão forte que me assusta, apaixonado como um
idiota é o que eu sou desde que a vi nas escadas pela primeira vez e, depois de ontem, não tenho
forças pra dizer menos do que isso.

Gostaria de ficar o dia todo na cama com ela

Mas infelizmente eu tenho que trabalhar e isso envolve levantar da cama, coisa que não quero
fazer nunca mais. Beijo carinhosamente as bochechas de Liza e vou distribuindo beijos por todo seu
rosto até vê-la sorrir.

— Desse jeito eu me apaixono... — diz e abre os lindos olhos azuis.

Ela é perfeita.

Eu a amo porra.

— Não mais do que eu, minha linda — respondo e selo nossos lábios.

Nunca desejei tanto ficar em casa.

— Devo estar parecendo um espantalho atropelado — diz e tapa o rosto. — Você não sabe
ficar feio?

Rio e retiro sua mão do rosto e beijo a ponta de seu nariz.

— Mas é o meu espantalho. — Passo minha mão por seu cabelo e sinto meu pau pulsar. Porra,
como seria bom só puxar esse fio dourado.

— Precisa melhorar seus elogios, querido.

Retiro minha mente da sarjeta e dou risada da sua carinha franzida.

— Sou novo nesse lance de namorar.

Liza arregala os olhos e se senta na cama.

— Estamos namorando? — questiona.

Será que não fui óbvio?

— Elizabeth, eu disse que estou apaixonado por você, não acha isso um bom pedido de
namoro?

— Na verdade, não! — responde, e reviro os olhos. — Você precisa me perguntar se aceito


ser sua namorada!

É cada coisa que eu tenho que ouvir às sete da manhã.

— Ok, vou trabalhar no seu pedido — digo me levantando.

— Agora, Allan — exige.

— Está brincando? — pergunto irônico, e ela nega. — Quer seu pedido de namoro aqui? No
quarto?

Ela se levanta e a camisa que emprestei a ela ontem sobe, só me dando a vista de suas pernas.

Prefiro vê-la nua, mas isso seria demais para resistir agora.

— Pareço o tipo que espera pedidos clichês?

Avalio sua postura e não seria louco de ir contra a uma mulher irritada.

— Quer um pedido de namoro aqui e agora?

— Exatamente!

Aonde eu vim parar.

— Certo, você é a mulher mais linda do mundo, desde que te vi na escada, meu mundo mudou
e tudo que eu faço ou penso me leva a você, quero estar ao seu lado a cada minuto do meu dia, beijar
você mil vezes e foder outras mil. — seus olhos se arregalam de surpresa e desejo —... você é minha
mulher, aceita logo ser minha namorada.

— Allan... — ela diz com a voz rouca e sei que está molhada. Ela caminha lentamente até mim
com seu corpo desnudo e toca meu rosto. — Só digo sim porque você é gostoso.

Puxo seu corpo contra o meu e ela sente o quanto a acho deliciosa.

— Acho excelente, pois te acho gostosa também, e toda minha. — A beijo e, sem menos
perceber, estou com ela na cama. Uma pena que tenho que ir para o hospital. — Tenho plantão! —
digo entre beijos.
— Hoje é domingo... — resmunga, e sorrio.

— Eu sei, prometo vir mais cedo.

Nos afastamos e vejo o sorriso que está fazendo meu coração errar batidas.

— Eu vou estar te esperando, Allan, não se preocupe com a hora — diz e tudo que consigo
pensar é como tive a sorte de encontrar essa mulher.

— Até logo, minha namorada gostosa. — Beijo um seio depois o outro. — Até mais tarde
meninos, eu não demoro.

— Está falando com o meu peito? — Ela ri, mas está vermelha.

Porra, perfeita.

— Meu peito, você quer dizer, todo esse grande e delicioso peito me pertence agora.

Ela continua rindo, mas eu não estou brincando.

Eu os amo.

Quando nos esbarramos nas escadas, ela derrubou minhas barreiras.

Mas quem caiu de amores fui eu.

— Vá logo para o hospital, vejo você mais tarde.


CAPITULO 21
Liza

Quem diria que eu, Elizabeth Norris, iria estar apaixonada por um idiota. E, além disso,
namorando esse idiota lindo e sexy que fez da minha vida uma bagunça. Eu não queria ficar sozinha
em pleno domingo, pensando no quão bom será estar nos braços de Allan novamente, esse homem
parece um vício. Por isso, faço o que qualquer pessoa faria no meu lugar, pego meu telefone e ligo
para Andy.

Amigo que se esquece de mim, esse babaca.

— Alô?— atende, e sorrio.

— Olá, melhor amigo, que me deixou de lado! — cumprimento e ouço a risada de Andy.

— Você também não está podendo me acusar, vive com aquele seu vizinho.

— Pelo menos, o Allan lembra que existo — provoco e não preciso ver pra saber que ele
revirou os olhos. — E ele me pediu em namoro!

Derreto-me só de lembrar seu olhar.

— Como assim, namoro, Elizabeth? Vocês se conhecem há o quê, um mês?

Lá vem.

— São dois meses, OK! Eu não tenho culpa se fui me apaixonar por aquele idiota, e vamos ter
um filho juntos, então... — Ouço algo cair e me assusto.

— VOCÊ ESTÁ GRÁVIDA? — Andy grita, e tenho que afastar o ouvido do telefone.

— Não seu idiota! Lembra que disse que irei adotar o Gabe? — O ouço suspirar, e não seguro
o

riso. Eu grávida? Não tão cedo.

— Nossa, você me assustou, Liza! Eu tenho que ter uma conversa com esse cara! — diz sério.

— Tem?
— Mas é claro que sim!

— Certo, direi ao Allan que você quer conhecê-lo.

— Diga que eu vou usar a violência caso ele te magoe.

— Ele é muito maior que você — Lembro.

Oh, Deus, tão grande.

FOCO.

— Você é estúpida.

— Você já sabia disso. — Ele ri.

— Sim, eu sabia, preciso desligar, Liz. — Despeço-me e Jogo o celular longe, agora eu estou
sozinha novamente.

Acho que vou ao mercado abastecer a geladeira.

Nova Iorque é a capital da bipolaridade, a qualquer momento pode chover. E, pela primeira
vez, fui esperta e trouxe comigo um guarda-chuva. Meus lindinhos chocolates não irão se molhar
dessa vez. Tenho que dar umas dicas para Allan que amo chocolates, super aprovo a ideia de receber
caixas de bombons.

— Não! Não! Nãooo! — Ouço gritos na calçada e me viro.

Uma mulher resmungando e olhando para o guarda-chuva que se quebrou, odeio quando isso
acontece comigo. A morena está tão ocupada xingando o objeto que nem percebe minha aproximação.

— Oi, precisa de ajuda? — pergunto, e ela levanta o olhar pra mim.

— Preciso de sorte enlatada, tem aí? — ironiza, e rio. — Desculpa moça, não quis ser grossa.

— Eu também preciso disso — admito, e ela sorri. — Mora longe?


— Não, me mudei para um prédio aqui perto ontem e, como já percebeu, vou chegar nele com
estilo.

— Vai por mim aconteceu o mesmo comigo— conto, ela se surpreende. — Sou Liza Norris.

— Jade Winters — se apresenta, e ponho meu guarda-chuva sobre ela também.

Ela me encara estranha.

— Não, eu não vou te assaltar ou doar seus órgãos — informo, e ela arqueia uma sobrancelha.
— O quê? Eu pensaria isso caso alguém fosse legal comigo.

— Desculpe, mas pessoas legais em Nova Iorque são raras! Por que você me ajudaria?

— Porque eu sou azarada e toda vez que meu guarda-chuva se quebra, ninguém dá a mínima.

Ela parece cogitar a ideia e sorri.

— Ok, eu aceito a ajuda! Moro a uma quadra daqui.

— Eu também! — digo empolgada.

Ando com Jade dividindo um guarda-chuva e descubro que ela é uma confeiteira e muito
azarada. Assim que paramos em frente ao prédio, meu queixo vai ao chão.

— Chegamos! — ela diz e sorri.

— Eu moro aqui também! — falo olhando para o meu prédio. — Isso soou muito psicopata.

— Muito psicopata! — afirma, me olhando atenta. — Você é uma assassina?

— Eu não! — me defendo e olho pra ela. — E você?

— Não te diria se fosse — diz franzindo o cenho. — Coincidência?

— Sim, moro no terceiro andar.

— Eu moro no quarto — diz sorrindo. — Isso é muito legal, estranho, mas legal.

Entramos no prédio rindo, acho que fiz uma amiga.

— Pode aparecer no meu apartamento quando quiser — convido.


— E você, no meu! Vai amar meus bolos! — diz, e sorrio feito uma criança. — Ainda bem
que a chuva não estragou minha caixa de ovos.

Jade tira sua caixa de ovos da sacola para verificar, e foi nesse exato momento que um corpo
forte foi de encontro a ela com tudo.

Ops.

— MAS QUE PORRA É ESSA? — ele grita e olha para o terno que agora contém gemas o
suficiente para fazer bolos até o Natal.

E pra melhorar a situação, adivinhem quem é o homem que levou gemada?

Se você disse Dominic Carter, parabéns.

— PUTA QUE PARIU, MEUS OVOS! — Jade grita e olha feio para o loiro. — Não olha pra
onde anda?

Dom olha mortalmente para morena e juro que estou quase pegando a pipoca.

— Você é que tem que prestar atenção, garotinha! Olha o que fez com meu terno!

— Eu fiz? A culpa é sua, que não olha pra onde anda seu imbecil! Olha o que fez com meus
ovos! — briga.

Fiquei com pena dela, tanto trabalho jogado no lixo.

— Você arruinou meu terno e quer que eu sinta pena de você? — diz irritado.

— Foi muito bem feito ter se sujado! Babaca!

Melhor que novela mexicana, vou contar para o Allan.

— Esse terno vale muito mais que todo seu apartamento sua pirralha irritante! — brada.

— Ninguém pediu sua opinião, loiro metido!

Seguro riso, ah, o Ethan vai amar a Jade.

Dominic me encara irritado e finjo cara de paisagem.

— Avise ao idiota do Allan que tenho que falar com ele! — diz grosso.
Aceno.

— Eu digo... Você está indo para Imperion?

— Prefiro levar outra chuva de ovos a deixar Ethan me ver assim!

Justo.

Será que tiro uma foto.

— Não, você não vai tirar uma foto, Elizabeth! — grita, e percebo que falei em voz alta.

— Me deve uma dúzia de ovos! — Jade interrompe, e Dom a olha irônica.

— Me deve um terno!

Ela bufa, e ele sorri debochado.

Maldito sorriso Carter.

— Tenho coisa melhor pra fazer do que gastar saliva com um neandertal!

— Você nem deveria estar aqui, sua pirralha!

Reviro os olhos e puxo Jade em direção ao elevador e me viro para Dom.

— Bom te ver, Dom! Apareça mais vezes!

Jade resmunga, ele sorri pra ela.

— Irei sim, nos vemos outra hora, Liza! — se despede e sai do prédio.

Entro no elevador e Jade fecha a cara.

— Está tudo bem?

— Um idiota quebrou meus ovos e me chamou de pirralha, fora isso, estou ótima! — reclama.
— Ele é uma pessoa legal...

Com o olhar irônico, ela sorri.

— Percebi! De onde se conhecem?


— Ele é primo do meu namorado. — informo, e ela acena — Admite que achou ele bonito!

— Achei... E senti vontade de arrancar aquele sorriso debochado no tapa. — admite.

Tadinha, não sabe o que vivo com Allan.

— Eu sei como é, o babaca do meu namorado tem o mesmo sorriso.

— Que triste...

— Eu supero! — digo e meu andar chega. — Nos vemos em breve!

— Bom te conhecer!

— Eu também! — me despeço e sigo para o meu cafofo.

Tenho a leve impressão que logo ela entrará pra família.

Lá se foi o último Carter solteiro.


CAPÍTULO 22
Allan.

O dia demorou tanto pra passar que, no instante em que meu plantão, acabou dirigi o mais
rápido possível pra casa, e agora estou chamando essa droga de elevador que não chega.

— Abre logo! — resmungo e, pelo canto da minha visão, percebo uma mulher parada me
olhando estranho.

A morena percebe que a peguei me olhando e acena.

— Olá! — cumprimenta.

Ela é bonita, mas não consigo me imaginar com outra, a desgraçada da Norris me amarrou
direitinho.

— Olá! — reparo nas sacolas que ela segura e fico em dúvida — Moradora?

— Exato, me mudei ontem! — conta e o elevador chega.

Vejo que ela está com problemas pra segurar suas sacolas me ofereço.

— Precisa de ajuda com as compras?

— Obrigada, mas não, hoje cedo um idiota quebrou todos meus ovos da sacola e não quero
arriscar de novo! — diz frustrada.

— Precisa ser muito idiota. — concluo.

— Estava chegando no elevador e aquele loiro metido apareceu! — Reclama.

Loiro metido? Só conheço um único loiro metido.

— Loiro, alto e terno caro? — questiono e ela me encara surpresa.

— Esse mesmo!

Tão fácil reconhecer Dominic, sorrio.

— Dominic é um idiota mesmo! — digo e ela ri — Sou o Allan!


— Sou a Jade... Espera... Você é o namorado da Liza?

Namorado. Sorrio de lado e aceno.

— Sou, E primo do idiota que acabou com suas compras.

Ela faz careta e me divirto, ver uma mulher rejeitando Dominic é muito interessante.

— Espero não vê- lo nunca mais! Sem ofensas!

O elevador para no meu andar e saio

— Eu não tenho essa sorte, foi uma prazer Jade.

— Manda um oi pra Liza por mim! — diz antes das portas se fecharem.

Parece que minha namorada fez amizades.

Bato na porta dela e espero, não demora muito para Liza abrir e meu coração disparar.

Merda de mulher gostosa. Não precisamos de palavras ou cumprimentos, ela se joga nos meus
braços e a beijo com toda vontade que guardei durante o dia. Ali mesmo, no corredor do prédio,
beijo seu pescoço e a envolvo em um abraço apertado que faz parecer que não nos víamos há anos e
não horas.

— Senti sua falta, praga! — digo, sufocando um sorriso.

— Eu também senti sua falta, Doutor!

Porra.

— Você me faz ter pensamentos muitos sujos quando fala assim, Norris... — digo no seu
ouvido e a vejo corar. — Minha linda.

— Você não faz ideia de como minha mente trabalha quando te vejo todo de branco! —
admite, e rio.

— Mas sabe que eu sou muito melhor sem a roupa branca! — provoco, e ela revira os olhos.
— Vou tirar esse cheiro de hospital e já venho, a menos que queira me ajudar com o sabonete?

Meu pau se anima.


— Deixa de ser tarado, te espero.

— Nua? — pergunto esperançoso. Não seguro o sorriso idiota, e ela cora.

— Talvez...

— Merda, mulher, eu já volto.

Ela ri quando corro.

Acaricio os cabelos dela que estão no meu colo e fico pensando na sorte que tive em me
envolver com essa mulher maravilhosa.

— No que está pensando? — Ela me olha e disfarço um sorriso.

— Em uma mulher...

— Hum.

Ela fica tão linda de cara emburrada.

— Muito linda, gostosa, que faz minha paciência evaporar em segundos — digo, aproximando
nossos rostos. — Conhece?

— Se gosta de respirar, acho bom essa mulher ser eu! — diz calmamente.

— Eu gosto de respirar! — digo e a beijo.

Seguro seu rosto e, aos poucos, vou me pondo sobre ela no sofá, Liza não me afasta e sorrio
entre o beijo, desço meus beijos por todo seu pescoço e a ouço gemer.

— Quer que eu pare?

— Se você parar eu te mato, Allan! — ordena, e quem sou eu pra negar um pedido desses com
tanto carinho.
Com todo equilíbrio, a pego no colo, pondo suas pernas em torno da minha cintura e caminho
em direção ao quarto, sem parar de beijá-la, deito na cama e mostro o quanto estou excitado por ela.

— Agora vou foder você, depois que você estiver gemendo o meu nome para todos nesse
prédio ouvir, vou fazer amor lento, do jeito que merece. — Ela pisca seus olhos azuis límpidos para
mim.

— Isso é uma promessa? — Com meus dedos, encontro o meio de suas pernas e ela morde os
lábios.

— Que sua boceta está molhada para mim? — Ela geme. — Ou que vou foder com você até
que tudo que pense seja em mim dentro de você?

— Não me faça esperar, Allan.

— Nunca, querida.

Nossas roupas saem com pressa e seu corpo me acolhe quando entro em seu canal quente, é
como o céu.

— Você é minha.

— Sim!

Beijo seus lábios em uma prece para que isso nunca termine.

— Amor... — sussurro em seu ouvido, e a sinto me apertar — , goza pra mim, minha linda,
goza para mim, amor.

Ela quebra. Gritando meu nome, me arranhando, e eu amo isso.

Amo-a.
Estou amando Elizabeth Norris, e Deus me ajude, não quero que isso acabe.

Pela primeira vez na vida, não foi só sexo, não foi só uma foda. Com ela, fiz amor; por ela,
sou um romântico bobo; por ela, sou um adolescente.

Por ela, só por ela.


CAPÍTULO 23
Nunca pensei que iria amar tanto uma segunda-feira quanto hoje, e isso não tem nada a ver
com o dia da semana, e sim com o homem maravilhoso que está dormindo ao meu lado. Se acordado,
é lindo como um inferno, dormindo, parece um anjo. Não tenho coragem de acordá-lo, por isso beijo
levemente seus lábios e me levanto, hoje é dia de trabalho. Pego um vestido neutro e corro para o
banho.

Ontem à noite tudo foi tão perfeito, senti que não foi só sexo, colocamos todo sentimento nos
toques e é como uma idiota que percebo o quanto amo o babaca dormindo serenamente na minha
cama. Sei que é muito repentino e não quero assustá-lo com todas minhas declarações.

Sem pressa, me visto e rumo para cozinha acalmar minha fome. Definitivamente eu estou
morta de fome.

Ouço batidas na porta e estranho, a única pessoa que costuma me infernizar pela manhã está
dormindo, quem pode ser? Caminho até a porta e a abro.

— Quem é o melhor amigo do mundo?

Olho para Andy com um sorriso e o abraço. O moreno ri e retribui.

— Lembrou que existo, seu traidor? — Soco seu ombro.

— Nunca me esqueço de você, pirralha! — diz, bagunçando meus cabelos.

Dou espaço para ele entrar e o folgado se joga no meu sofá.

— O que devo à sua ilustre visita, caro amigo?

— Vim te dar carona até o trabalho, e te contar uma novidade... — Sorri de canto. Esse
sorriso só surge quando ele fala da namorada.

— Diz logo, Andrew!

— Vou pedir a Chloe em casamento! — confessa e tudo que consigo fazer é dar pulinhos.

Jogo-me em seus braços e o abraço feliz. EU VOU SER MADRINHA.


— Amor, eu... — Ouço outra voz na sala e me viro para Allan, que, por sua vez, está olhando
para Andy com ódio.

Isso não vai dar certo, muito menos por Allan estar de cueca — sexy demais inclusive— e
Andy sendo ciumento.

Meu amigo me afasta e se levanta rapidamente.

— Que porra é essa, Elizabeth? Você abriu suas pernas pra esse filho da puta? — rosna e não
tive tempo de responder, meu namorado já estava socando meu melhor amigo.

— Isso é por estar tocando na minha namorada! — ele grita, e Andy revida com outro soco.

Droga.

— PAREM! — grito e me ponho no meio deles. — Conseguem agir feito pessoas civilizadas?

— Civilizadas? Eu acordo e encontro você no colo dele... Quer que eu seja a porra de um
homem civilizado, Norris? — brada, e respiro fundo.

Ele entendeu tudo errado.

— Você entendeu errado, seu idiota! Andy é meu melhor amigo!

Allan sorri sem emoção e meu coração se desespera.

— Não vou ficar no meio do seu melhor amigo — diz, limpando o canto da boca sujo com
sangue. — Fique com ele.

— Allan, não diga besteira! — imploro, segurando o choro. — Eu não fiz nada!

Hoje era pra ser uma manhã feliz.

— Eu vou me casar, seu babaca, e amo minha mulher! — Andy diz, e Allan permanece sério.
— Acabei de contar isso à minha melhor amiga!

— Você precisa se jogar em cima dele? — Carter resmunga de cara fechada.

— Você precisa desconfiar de mim na primeira oportunidade? — afronto.

— O que faria se a situação fosse inversa? — provoca.


Deus me livre ele com outra.

— Mataria você, obviamente!

O idiota sorri de lado e me concentro para não cair no charme.

— Isso não muda o fato dele estar de cueca no seu apartamento, Elizabeth! — Andy rosna, e
me viro para encarar a fera. — Estou muito puto com você!

— Não é o que está pensando — digo com calma.

— É exatamente isso que está pensando! Nós transamos sim e foi ótimo, caso queira saber! E
se não estivesse aqui torrando minha paciência, nós estaríamos transando de novo! — Andy olha pra
ele sério e já vi que esses dois não vão me dar paz.

— Sabe que quero socar sua cara, não é?

— Problema seu! Eu sou o namorado dela, você querendo ou não! — Allan responde, e reviro
os olhos.

Dois ciumentos na minha vida.

— Andy, não seja ciumento! O Allan é legal! — digo, e ele fecha a cara. — Prometeu que iria
me apoiar em tudo!

— Eu não sou nem um pouquinho legal! — Allan provoca.

Droga de homem implicante!

— Carter, cala merda da boca!

— Estou sendo sincero! — responde, dando de ombros.

— Sua sinceramente só atrapalha! — resmungo.

Olho para Andy e ele nos encara estranho.

— Como estão apaixonados se brigam o tempo inteiro? — questiona.

Pergunta sem resposta.

— Demonstramos afeto por farpas — Allan responde — ou gemidos, mas não pretendo te
contar como.

— Eu não quero saber, só quero minha amiga bem.

Allan o encara por um instante.

— Eu quero o melhor pra ela, e serei o melhor que ela merece.

Andy apenas acena.

— Vejo que não precisa da carona, já disse o que tinha pra dizer.

— Andy...

— Tudo bem. Liza, se cuida.

Ele bate a porta e me sinto péssima.

— Por que ele não pode simplesmente aceitar nós dois?

Carter suspira.

— Liza, você é tão cega?

— Do que está falando?

— Seu amigo não te vê como amiga.

Impossível.

— Ele vai se casar, Chloe é incrível.

— Ela é sim, mas o seu amigo nunca consegue ficar com a noiva por muito tempo, ele está
sempre insistindo por você e não sei o que se passa com ele, mas não caio nessa de só amigos.

— Espero que esteja errado.

Mas eu sabia que ele não estava.


CAPÍTULO 24
Allan.

Uma das melhores coisas da vida é o sono, particularmente aprecio muito dormir,
principalmente logo após uma noite de plantão cansativa. E tudo que menos quero é o meu celular
tocando em plena madrugada para seja lá o quê. Um pouco desnorteado, procuro o celular no criado-
mudo antes que ele acorde Liza, ela não é a pessoa mais adorável acordada, imagine sendo desperta
durante a madrugada.

— Alô? — atendo sem olhar no visor.

— VEM LOGO PRO HOSPITAL! MEU DEUS, ONDE ESTÃO MINHAS CHAVES? — Ethan
berra no telefone, e me assusto. — EMY, ONDE ESTÃO MINHAS. ACHEI!

Hospital? Meu Deus!

— O que aconteceu, Ethan? — digo desesperado e a essa altura Liza já acordou.

— CALA BOCA, DAMON, EU ESTOU CALMO! — ele grita, e ouço a voz do meu irmão ao
fundo. — ESTOU SUPER CALMO!

— White, me diz quem está no hospital!! — peço desesperado.

— A BOLSA ESTOUROU! A UVA-PASSA VAI NASCER! — grita novamente.

Ai, meu Deus!

— Ok, encontro vocês lá! Como ela está?

Ouço gritos e acho que isso responde minha pergunta.

— AHH, ELA ESTÁ JOGANDO XADREZ! — diz irônico — Tem UM BEBÊ QUERENDO
NASCER, SEU IDIOTA! LÓGICO QUE ELA ESTÁ COM DOR!

— Levem-na para o hospital!

— Estamos indo... Meu Deus, ainda tenho que informar o Dominic! Vem logo, Allan! — diz e
desliga.
Minha sobrinha vai nascer! Eu estou em choque! Jogo o celular na cama e corro para o closet,
para vestir algo melhor do que apenas uma cueca. Se eu que sou o tio estou apavorado, meu irmão
deve ter desmaiado.

— Quem está no hospital? — Liza pergunta coçando os olhos.

Ela consegue ficar tão sexy usando minhas camisas.

— Lia entrou em trabalho de parto! Estou indo para o hospital!

— Minha nossa! Eu vou com você! — Ela corre e pega sua roupa que veio pra cá.

Preciso dizer que assistir a ela se trocar me deixou duro?

Eu acho que não!

— Damon deve estar surtando! — digo, e ela sorri. — Quando descobriu que Lia estava
grávida, ficou cinco minutos desmaiado.

Parece que foi ontem. O tempo voa mesmo.

— Vamos logo! — ela diz, e a sigo para fora do meu apartamento. — Espero que não reparem
na minha cara de sono!

— Charlotte nem nasceu e já conseguiu fazer todos os Carter’s acordarem de madrugada! —


digo rindo.

Essa é a uva-passa que eu conheço!

Chego ao hospital e corro para ala onde são realizados os partos, de longe avisto os cabelos
pink de Emma com Ethan andando de um lado pro outro acompanhado de Dom.

— Como Damon está? — pergunto me aproximando.

— Parece que ele quem está parindo! — Ethan resmunga


— Damon é um exagerado nato! Não esperava menos que isso! — Emma diz e se senta nas
cadeiras próximas.

— Retiro o que eu disse! Não quero passar por isso não, Emma! Esquece filhos!

— Agora você quer esquecer? — Fuzila o noivo com o olhar e Ethan perde o sorriso.

— Não me olha assim, não, demônia! Deus me livre te deixar sozinha na hora do parto, quem
vai segurar o bebê primeiro?

Impossível não rir com esses dois.

— Ethan, às vezes duvido do tamanho da sua habilidade para falar merda! — Dominic ironiza
e se senta ao lado de Emma.

Aproximo-me de Liza, que assiste à cena com um pequeno sorriso.

— Eles vão se casar em dois meses, por alguma razão não explicada, formam um casal
bonito. — digo sorrindo e abraço sua cintura.

Amo o cheiro dela, amo estar com ela.

— Mas eles se amam, consigo perceber isso no olhar deles! — diz.

Não deve ser algo diferente do meu olhar por ela.

— Tenho o mesmo olhar pra você — confesso, e ela me encara surpresa. — É um péssimo
momento, mas eu te amo, Norris.

— Eu também te amo, Carter!

— PORRA! CHEGA DESSA MELAÇÃO AÍ, ALLAN! — Dom resmunga e fico corado.

— Isso tudo é inveja! Nós somos comprometidos e ele, na seca! — Ethan provoca.

— Pra sua informação, tenho a mulher que quiser aos meus pés! — ele se defende.

Olho para Liza e ela ri entendendo.

— Engraçado, Dom. Conheço uma que não quer te ver nem pintado de ouro! — Liza provoca.

Dominic revira os olhos e já vi que Jade fez estrago.


— Aquela pirralha é a última pessoa que me interessaria!

— Opa, o que eu perdi? — Ethan nos olha curioso, e o rosto de Dominic vira a
personificação do

pavor.
— Nada! — ele desconversa, mas para o azar dele Ethan é inteligente.

Eu vou adorar me vingar!

— Tenho uma ótima história, Ethan! — Sorrio diabólico, e Dom me fuzila com o olhar.

— Allan, não se atreva!

— Vingança é um prato que se come frio, priminho!

— Eu adoro essa família! — White aplaude e olha para o amigo. — Não pode ser mais
cômico que Damon desmaiando!

Isso será uma ótima história.

— Eu quero morrer! — Dominic faz drama.

— Está fodido!
CAPÍTULO 25
Damon Carter.

Um homem pode ser forte em todas as situações da vida, mas não há lágrimas que possam ser
contidas quando se ouve o primeiro choro da sua nova razão de viver.

Eu, um dia, fui o pior dos cretinos, cada mulher era jogada fora, achei que estava feliz assim.
Mas só conheci felicidade no instante em que admiti para mim que Lia Harper era dona do meu
coração, e agora descubro que meu coração também foi dominado por outra mulher.

Minha pequena Charlotte, minha princesinha.

— Você conseguiu, amor! — digo, limpando as lágrimas e olho apaixonado para Lia.

Minha mulher fica a cada segundo mais linda, e eu, apaixonado.

— Conseguimos, Damon! — Sorri, e a enfermeira nos entrega Lottie embrulhada em uma


manta.

Tão linda. Vai ser freira.

— Oi, princesa! — Seguro seu dedinho minúsculo. — Papai te ama!

— Oi, amor... Bem-vinda!

Já tive a comprovação que Charlotte irá me controlar, minutos de vida e sou capaz de tudo por
ela.

— Senhor Carter, nós iremos limpar sua filha e sua mulher, por favor, pode esperar no quarto.
— A enfermeira retira Lottie dos nossos braços e sinto um vazio.

— Eu não vou deixá-las — digo firme.

— Amor, tudo bem. Vá avisar aos outros que estamos bem!

Com muito custo, saio da sala e encontro todos ali no corredor, Allan abraçado a Liza, Emma
e Ethan dividindo uma mesma cadeira, Dominic, no chão, e meus pais.

Minha família.
— Aplausos para o pai do ano! — chamo a atenção e todos me olham.

— Parabéns, cara! — Dom me abraça e sorri orgulhoso.

— Estamos com você, Bro! — É a vez de Allan me abraçar e ri. — Pirralho!

Reviro os olhos e sorrio.

— O pirralho é um pai de família! — digo.

Meu pai espera Allan se afastar para chegar até mim, eu não o perdoei, mas ele continua
sendo meu pai, e espero que ele se arrependa do mal que nos fez.

— Parabéns, meu filho! — Estende a mão e aperto. — Será um pai melhor que eu!

Disso, não tenho dúvidas.

— Ele reconhece um filho, só isso já o faz melhor que você — Allan alfineta.

Meu pai suspira e não revida, a verdade é dolorosa.

— Meu Deus! Vocês demoraram tanto que achei que a uva-passa fosse sair de lá formada! —
Ethan se pronuncia, e minha mãe o belisca. — Ai, tia, isso dói!

Certas coisas nunca mudam.

— Oh, meu menino! Aproveite bem seu bebê e me dê muito mais netos! — minha mãe diz me
beijando.

Mães...
— Tia, Damon não é um coelho! Vai com calma! — Dominic resmunga.

Dom e seu sarcasmo.

— E você não me corrija, Dominic James Carter! Quero saber de você, que não está com uma
mulher boa para casar! — minha mãe briga.

— Isso é um absurdo, tia Marta! Um homem dessa idade sem mulher! Claramente um idiota!
— Ethan diz, e Allan e Liza riem.

O que eu perdi?
— Eu vou te socar, White!

— Quer um ovinho pra acalmar?

Eles nunca irão parar.

— Vou ver minha mulher e minha filha! — digo e sigo em direção ao quarto.

Abro a porta e me deparo com Lia amamentando Lottie, minhas princesas.

— Papai chegou! — ela diz, e me aproximo todo bobo.

— Oi, filha! — Acaricio seu rostinho e olho para Lia. — Obrigado!

— Pelo quê?

— Ter aceitado uma proposta louca e me transformado em um homem melhor!

Nunca serei grato o suficiente.

A porta é aberta e todos entram, não sei quem Ethan subornou para isso, mas funcionou.

— Oi, amiga! Não é que esse babaca fez algo certo! — Emma diz olhando para Lottie.

— Não xinga perto dela, Carson! — brado baixinho.

Dominic se aproxima e acaricia minha filha, mas ela resmunga.

— Ela não gostou de você!— Allan provoca.

— Claro que não gostou! Esse seu cabelo oxigenado faz mal para vista do bebê, seu estúpido!
— Ethan provoca e brinca com as mãozinhas dela. — Oi, uva-passa! O tio preferido chegou!

E, para surpresa do mundo, Charlotte aperta o dedo dele e não choraminga.

Droga! Tantos tios e tinha que ser o mais louco?

— Você não é uma boa influência, White! — Dominic protesta.

— Vá fritar ovo, Dominic! — diz e sorri para Lottie. — Você sabe que o tio Ethan é o melhor!

Quem é o tio que conta histórias pra você?


— Você lia o jornal para ela, Ethan!— digo.

— Estava incentivando ela ser intelectual! De nada!

Por que eu ainda discuto?

— Melhor aceitar, amor... — Lia diz sorrindo.

— Ela herdou seu azar! — brinco.

Mas estou começando a suspeitar.

— Vou fingir que não fui comparado a azar! — Ethan reclama.

— Amo você, Lia!

— Amo você, meu cretino.


CAPÍTULO 26
— Quer que eu peça algo para te acalmar? Um suco talvez?— proponho, e Allan permanece
sério. Ele está assim desde a chegada do pai, e não sei o que há entre eles, mas me parece sério, não
gosto de vê-lo sem seu sorriso debochado. Nunca pensei que diria isso, mas prefiro ele implicando
que em silêncio.

Um Carter em silêncio não é um bom sinal.

— Estou bem.

Quem ele acha que está enganando?

— E eu sou a Beyoncé! — ironizo, e ele me encara. — Se não quer me contar o que está
acontecendo, entendo e aceito, mas não minta para mim, ok?

Não posso obrigá-lo a me revelar seu passado em uma cantina de hospital, mas eu mereço a
verdade, seja ela mínima ou não.

— Me desculpe, Lizz... Eu não gosto de ficar perto de Robert! — admite e suspira. — Assistir
ele bancando o pai bacana é demais para mim!

Seguro sua mão acaricio com carinho.

— Você não precisa de um pai bacana... Eu sou uma namorada mega bacana, que irá cuidar de
você! — brinco, e ele sorri de canto.

Mas ainda não é o sorriso que amo.

— Acho que tive sorte em te encontrar, então! — responde, e aceno. — Obrigado por estar
aqui!

— Eu sempre vou estar aqui, seu idiota.

— Suas declarações me encantam, Norris... — debocha.

Meu sorriso começa a surgir, mas para infelicidade de todos Robert caminha em nossa
direção. Droga.
— Seu pai está vindo pra cá! — sussurro, e ele se vira. — Super discreto você...

Na frase olha e disfarça, Allan não é o sujeito.

Com toda graciosidade, meu sogro se aproxima de nós, e Allan mantém sua expressão fria.

— Filho, podemos conversar?

— Não me chame de filho e não tenho nada para falar com você — responde grosso.

— Allan, você já é adulto, pare de fugir de conversas! Você querendo ou não, eu sou seu pai!
— Robert brada irritado.

Acho que essa é minha deixa.

— Com licença, vou ver se alguém precisa de mim! — digo, e Allan me olha reprovando
minha atitude. — Ouça um pouco, qualquer coisa estou aqui!

— Obrigada, querida! — Robert sorri, e me mantenho séria. — Fico feliz por você participar
da família.

— Com todo respeito, Sr Carter... Eu não gosto de você e até que trate meu namorado como
filho, minha opinião será essa! — digo direta, e ele parece surpreso.

Allan sorri orgulhoso e me afasto. Não faço parte dessa equação entre os dois.

Allan.

Olho para meu pai e sinto uma tremenda vontade de revirar os olhos, ele nunca me procurou e
agora quer ser um pai presente?

— Sua namorada realmente gosta de você! — diz e suspira. — Eu sei que você me odeia
compreendo que te fiz sofrer muito... Mas hoje eu não sou o mesmo homem de trinta anos atrás!

— Isso não muda o passado! Você me deixou em um inferno, Robert! Não sabe o que eu vivi
naquele orfanato! — rosno.

Ele não sabe como eu sofri nas mãos do verme do Bill.

— Eu mandava uma boa quantia pra você! Te mandava roupas...— se defende.

Não seguro uma risada irônica e ele me olha sem entender.

— Muito generoso da sua parte, pai! Mas eu nunca vi um centavo do que me mandava, não
tinha o que vestir e só Deus sabe o que tive que fazer para ter comida! — digo com dor.

Eu fui um demônio naquele inferno, fiz coisas ruins para não morrer de fome ou deixar as
crianças mais novas serem abusadas.

— Allan... — meu pai diz em choque e vejo suas lágrimas —, não posso imaginar o que
viveu!

— Não, você não pode! Porque estava na sua mansão esbanjando riqueza... — digo irônico.
— E eu estava lá abandonado, rezando para ser adotado! Então não me venha com desculpas, Robert,
eu te odeio sim!

— Mas eu quero me redimir, filho! Quero ser avô do Gabriel sem seu ódio, quero ter Damon
e Charlotte na minha casa... Seu ódio irá te matar, Allan!

Respiro fundo e enxugo as lágrimas.

—Não vou impedir Gabriel de conviver com você, mas não espere nada de mim! Eu vivi
trinta anos sozinho e isso não se recupera com um pedido de descupas!

Ele suspira derrotado e me encara.


— Posso encontrar o homem que fez tanto mal a você, Allan... Te dar justiça! —

diz sério e meu corpo congela.


Não quero olhar para ele de novo!
— Por que faria isso?
— Porque você é meu filho, Allan, e não vou mais negar isso! Não importa se você me quer longe,
sobrevivi ao Damon adolescente... Posso enfrentar um filho de gênio forte.

— Encontre aquele desgraçado! — digo firme e suspiro. — E quem sabe não te inclua na
minha vida...
Ele sorri e lhe dou as costas.

Uma parte bem no fundo, a parte de um garotinho que sonha com a família, se alegrou. A parte
de um menino frágil e medroso se alegrou.

Não posso me dar luxo de ser ferido novamente. Não mesmo.


CAPÍTULO 27
Liza

— Anda logo, Allan! Eu estou com muita saudade!—grito da sala e não demora muito para
meu lindo namorado sair do quarto.

Finalmente estamos indo ver Gabriel, eu estou eufórica, só pensei nisso durante toda semana. E

— Para de gritar, Norris, estou aqui!— resmunga e pega as chaves do carro. — Nada de levar
o Gabriel para comer fast food!

— Quer alimentar uma criança de cinco anos com salada?— protesto— Sem chance! Ele vai
comer porcaria sim!

Saímos do apartamento dele e o ouço resmungar. Não vejo a hora dessa adoção ser efetuada.

— Será que pode largar de ser irritante? Ele precisa ter uma educação alimentar!

— Será que pode desativar o modo pediatra e pensar como um pai legal?

Allan me olha sério e seguro seu olhar. Comigo não tem essa, não, baby.

— Está insinuando que eu não sou legal?

— Que tipo de criança gosta de salada?

— Crianças saudáveis! — responde e o elevador se abre. — Sabia que crianças com


educação alimentar desde cedo têm menos riscos de sofrer hipertensão e doenças do coração no
futuro?

Reviro os olhos e o encaro.

— Eu comi chocolate a vida inteira e odeio verduras... Estou ótima! Além do mais, comer
porcaria faz bem para o cérebro!

— Quem disse? O teor de gordura nos alimentos é... — Tapo a boca dele e bufo.

— Sem dados científicos, Carter! Se quisesse um consulta, iria ao hospital ou procurava no


Google! — Retiro minha mão e ele fecha a cara.
— O Google não é confiável, a maioria dos resultados sobre sintomas é... — ele começa, mas
meu olhar mortal o faz parar — Ok, sem dados!

— Nerd! — retruco e saio do elevador.

— Ah, claro! Você trabalha com livros, e o nerd sou eu? Não se esqueça que sou de exatas!

Ah, ele quer vir falar de humanas? Pois se preparem para Terceira Guerra Mundial.

— Eu sou de humanas, que, por sinal, é muito mais útil do que sua matemática idiota!

A maior parte da matemática que aprendi não me serviu para nada!

Allan sorri debochado e cruza os braços.

— Sem a matemática, você não teria nada! O mundo é em torno dos números!

— Sem a escrita, você não entenderia a matemática! Sem a escrita, você não teria
conhecimento! — listo e ele revira os olhos. — Eu ganhei, amor! Aceite!

— Não se iluda, Norris.

Sorrio satisfeita e entro no carro.

— Eu sei que estou certa!

— Não está não!

— Estou sim! — digo firme.

— Você é muito infantil! — diz no mesmo tom.

— Azar seu que me ama! — Cruzo os braços e arqueio uma sobrancelha em desafio.

— Eu te amo, mesmo você sendo irritante!

— Eu te amo, mesmo você sendo um nerd de exatas! — digo, e ele ri abafado.

Nunca pensei que diria isso, mas, por ele,eu amo matemática.

— Eu não sou um nerd! — se defende.


— Qual foi sua pior nota?

Ele bufa e liga o carro. Eu disse que ele era um nerd!

— 8,6! — responde a contragosto, e dou uma gargalhada. — Só era um bom aluno!

— N— E— R— D! — soletro.

— Cala boca!

Rio mais e beijo sua bochecha.

— Te amo meu gêniozinho!

— Vá se ferrar, Norris!

O amor é lindo!
CAPÍTULO 28
Liza

Quando Allan disse que seria apenas um café da manhã na casa de Damon, imaginei pessoas
civilizadamente bebendo seus devidos cafés e jogando conversa fora. Afinal de contas, a pequena
Charlotte só tem duas semanas de vida, e um bebê merece total silêncio.

Mas me esqueci de um pequeno detalhe, eles são os Carter’s.

— Tio Dom! — Gabriel grita assim que avista Dominic sentado no sofá.

Olho para Allan, que ainda está emburrado pela nossa pequena discussão mais cedo, se ele
soubesse como fica lindo sério, não faria essa cara de mau perto de mim.

— Oi, amigão! — Dom sorri genuinamente quando avista Gabe.

Olha só! Não é que ele tem sentimentos!

— Pode ser o tio preferido dele! Eu tenho a uva-passa! — Ethan diz entrando na sala com
Lottie no colo. — Olha lá, bebê, seu primo!

Rio da cena, Ethan segurando um bebê chega a ser fofo e assustador.

Gabe olha curioso para a pequena Charlotte. Tomara que ele não se sinta menos importante
que ela, não quero nem por um minuto que ele se sinta inferiorizado.

— Gabe, essa é a Charlotte, filha do tio Damon e da tia Lia! — Dom apresenta, e Gabriel nos
olha confuso.

— Ela saiu da barriga? — pergunta curioso e olha estranho pra Lottie. — Quem a colocou lá?

Vejo todo mundo ficar apavorado e Ethan ri.

— Então, quando duas pessoas se amam, elas vão para o...

— ETHAN! — falamos juntos, e ele bufa.

— Foi a cegonha, Gabe! — Allan diz por fim, e suspiro aliviada.


Não sei como iria explicar para uma criança de cinco anos como são feitos os bebês.

— ETHAN, DEVOLVE MINHA FILHA! — Damon desce as escadas correndo e olha feio
para o amigo. — Era pra ela estar dormindo!

— Não grita! — ele protesta e entrega a pequena para o pai. — Ela estava pedindo para
passear!

— Ela não sabe falar, seu imbecil!

— Quem é formado em comunicação? — ironiza e sorri. — Isso mesmo, sou eu e se digo que
entendi um bebê, é porque entendi!

Não seguro o riso. White deve ser estudado.

— Por que ainda discuto com você? — Damon resmunga e ajeita Charlotte nos braços. — Por
favor, filha, não fique igual a ele!

— Eu avisei pra trancar o Ethan no porão e só tirar quando Lottie completasse dezoito anos!
— Dominic provoca e recebe um olhar mortal de Ethan.

— Eu só não te xingo porque tem crianças na sala!

— Sem brigas rapazes! — Lia diz chegando na sala — Oi, Liza! Oi, Allan!

Nossa! Ela está perfeita, nem parece que acabou de sair de uma gravidez.

— Oi, Lia! — cumprimento, e ela sorri. — Como está?

Ela dá de ombros e sorri.

— Pesando bons quilos a menos e você?

Dou de ombros e olho para Gabriel brincando com Dominic. É tão diferente ver um homem
fechado e sério se divertindo com uma criança.

— Eu estou com fome! Fui acordado brutalmente por uma mulher irritante! — Allan reclama e
beija o rosto da cunhada

Que mentira!
— Eu te entendo perfeitamente!— Ethan se manifesta. — Emma não conhece o significado da

palavra carinho!

Por falar em Emma, onde será que ela está?

— Onde ela está? — questiono.

— Me deixando falido juntamente com sua cópia maligna! — ele responde fazendo careta.

Olho para ele confusa e Allan sorri.

— Emma tem um irmão gêmeo, Arthur! — meu namorado explica, e aceno.

— Falido em dose dupla! Dominic ainda tem o porão? — Ethan pergunta sério e todo mundo
ri. — Não foi piada!

Ajudo Gabriel a se arrumar na cadeirinha e ele nem percebe, o sono de uma criança cansada
deve ser estudado. O que seria apenas um café da manhã se arrastou até o fim da tarde.

— Ele adorou a Lottie! — Allan diz atrás de mim e sorrio.

— Todo mundo se apaixona por ela! Damon terá muito trabalho!

Com um DNA daqueles, impossível não ser linda até com duas semanas de vida.

— Nem brinca com isso... Ele está fiel que a filha será freira!

Rio e me viro para ele, o sol de fim de tarde só deixa todos os seus traços mais lindos.

— Sua família é incrível! — digo e sorrio.

— Eu sempre quis ouvir isso! — admite e se aproxima perigosamente de mim. — Amo você,
Norris.

— Eu também te amo! — digo, e ele me beija delicadamente.


Envolvo meus dedos por seu cabelo curto e me deixo levar pelas borboletas que passeiam
pelo meu estômago.

Malditas borboletas!

— Vamos pra casa, minha praga! — diz entre o beijo.

— Vamos nessa, nerdzinho!

— Liza! Não estraga o momento! — resmunga.

— Ok. — digo rindo, e ele revira os olhos. — Medicogato!

— Esse apelido é interessante... — Sorri maliciosamente. — Vizinha gostosa!

Fico vermelha e o sorriso dele se amplia.

— Só dirija, Allan!

Com uma gargalhada gostosa, ele vai para o banco do motorista.

De volta para casa.


CAPÍTULO 29
Hoje é apenas um dia normal, somente um dia comum na cidade que nunca dorme, nada de
especial para esse dia monótono e normal. NADA

N— A— D—A.

Se hoje não fosse meu belo e lindo aniversário. Aniversário que todo mundo se esqueceu,
inclusive, não que eu esteja me importando com isso... Longe de mim... Mas ficaria muito feliz se
alguma alma nessa droga de universo me desse os parabéns.

Minha mãe nunca se importou com meu aniversário, meu pai morreu quando completei doze
anos, e meu namorado está ocupado demais salvando vidas para lembrar os meus 26 anos. Nem o
Andrew me ligou hoje.

— Eu deveria adotar uns gatos! — resmungo zapeando os canais da TV.

Por que eu pedi folga justo no dia que me sinto uma ninguém? Se ao menos estivesse no
trabalho, minha mente não estaria jogando na minha cara que não sou importante o suficiente.

Ouço batidas na porta e meu coração dispara. Eu sabia que eles se lembrariam de mim. Corro
para abrir pronta para sorrir feliz para meus amigos, mas não foi o que encontrei.

— Ethan?

White está bem na minha frente vestindo um terno que certamente vale mais que meu
apartamento e segurando uma sacola enorme com fraldas.

OK, fraldas?

— Oi, Liza, ocupada?

Quis rir da minha própria derrota, mas me contive.

— Não estou fazendo nada, por que está segurando fraldas?

Ele olha para sacolas e sorri.

— São para uva-passa, a Lia ama me escravizar, e aquele bebê é uma máquina de xixi!
— E o que se deve essa visita? — vou direto ao ponto, e Ethan mantém seu sorriso.

— Damon e Lia estão trabalhando e como hoje eu não tinha nada pra fazer... me deixaram de

babá! Por isso trouxe a uva-passa pra passear.

— Meu Deus, você deixou a Lottie no carro? — pergunto desesperada.

Ele não pode deixar um bebê preso em um carro.

— Claro que não! Bebê, diz oi pra tia Liza! — ele fala e olha para o canto do corredor.

Charlotte estava quietinha em sua cadeirinha, mordendo sua chupeta. Quem foi o louco que
deixou Ethan cuidar de uma criança?

— Meu Deus, Ethan, ela só tem um mês! — reclamo, e o idiota continua brincando com a
criança de longe. — Você é uma babá muito ruim!

— Eu sou ótimo! Não é, bebê? — diz pegando a pequena. — Quem é a uvinha do tio?

Tadinho dos filhos dele.

— Quer entrar? — ofereço, e ele acena. — Damon sabe que está aqui?

— Óbvio que não! Ele me mataria se soubesse... Ele acha que estou em um parquinho no
condomínio! — diz com deboche — Aquele lugar é um inferno, cheio de crianças chatas perguntando
se pode pegar minha uva-passa!

Não consigo segurar o riso, acho que ninguém consegue.

— Como andam os preparativos do seu casamento?— mudo de assunto e brinco com as


mãozinhas gordinhas de Lottie.

— Continuo achando que estou louco por querer me casar com aquela demônia... Mas tudo
indo bem, Emma está me levando à falência!

— Você diz isso, mas sei que ama sua noiva! Percebo os olhares apaixonados! — digo, e ele
revira os olhos.

Ethan pode ser bem-humorado, uma pessoa leve, mas sei que ele é um grande homem com
sentimentos.
— Sim, eu amo a Emma, com todas as forças, inclusive! — admite e acomoda Lottie no meu
sofá. — Isso me assusta às vezes.

— Te assusta estar apaixonado?

Ethan, pela primeira vez, não estampa um sorriso feliz, seu sorriso é de alguém machucado e
nunca imaginei presenciar essa cena.

— Me assusta ficar apaixonado sozinho... — responde, dando de ombros.

— Como assim? Emma te ama também!

— Meus pais se amavam também... Eram um casal feliz, mas meu pai passava tanto tempo no
trabalho que um casamento, que antes era feliz, se tornou em um divórcio difícil!— conta e sorri de
lado. — Por isso eu passava mais tempo na casa dos Carter’s do que com eles...

Estou passada, dobrada e mortificada.

— Ethan... Você será um bom marido! Um homem que sai do trabalho para ser babá não é
ruim — brinco, e ele olha para Lottie que está dormindo.

— Obrigado, Liza, fico feliz pelo Allan ter encontrado alguém boa em conselhos.

E aí está o Ethan que eu conheço.

— Allan não me conta muito as coisas para que eu dê conselhos... — admito, e Ethan arqueia
uma sobrancelha.

— O passado do Seller é um mistério, Liza, ele nunca contou a ninguém sobre seus traumas...
Dê um tempo pra ele, não faz muito tempo que ele entrou pra família.

Todos parecem saber mais do que eu!

— Todo mundo me diz isso, mas eu não consigo olhar o homem que eu amo sofrer em
silêncio! — resmungo.

— Ele foi abandonado pelo pai em um orfanato imundo, abusado por um diretor psicopata,
assistiu ao inferno... Isso gera marcas, Elizabeth, você não pede a uma vítima da guerra para fazer
uma dissertação! — diz grosso.
Engulo em seco, e ele suspira.

— Desculpe, não quis ser grosseiro, Liza... Entende o lado dele agora?

Sinto-me uma idiota.

— Tudo bem, mereço a bronca! Hoje eu já vi que não é meu dia...

Somos interrompidos pelo chorinho de Lottie e Ethan faz careta.

— Máquina de xixi!

Rio e ele pega a pequena no colo.

— Você leva jeito com crianças...

— Diz isso para Emma!

Ethan pai será digno de um livro.

Ou uma nova bíblia.


CAPÍTULO 30
Allan

Ela vai me matar, ou talvez esconder meu corpo em uma vala qualquer, mas ainda sim vai
gostar da surpresa. Liza deve estar pensando que ninguém se lembrou do aniversário dela, isso me
deixa angustiado, mas, por uma boa causa, tive que fingir indiferença hoje.

— Eu não confio minha filha com o Ethan! Quem teve a brilhante ideia de deixar White
encarregado da Lottie? — Damon reclama pela milésima vez.

Estou me segurando para não socar aquele rosto irritante.

— Cala a porra da boca, Damon! Sua filha não foi sequestrada! — respondo grosso.

Tento me concentrar na organização da festa surpresa de Liza, não vejo a hora de ter minha
namorada comigo. Essa droga de amor me deixa como um idiota.

— Cala boca você! A minha filha está sozinha com o Ethan! Você deixaria o Gabe por horas
com o White?

Por que eu tinha que ter um irmão irritante?

— Primeiro que o Ethan não é um baba ruim, segundo, Gabe prefere o Dominic! — informo, e
Damon bufa.

Até hoje ele não se conforma que o loiro conseguiu conquistar Gabriel.

— Você é um idiota! — reclama.

— Você é um babaca! — respondo.

Foi uma péssima ideia ter ficado sozinho com Damon cuidando da organização. Meu irmão é
insuportável.

— Cala boca, Allan! — diz e me joga uma almofada.

Ah, ele não fez isso...

— Você cavou sua cova, pirralho! — digo, pegando outra almofada.


Jogo com força e acerto em cheio seu rosto. Damon me olha com ódio e me joga uma fita
adesiva que, por muito pouco, não me deixa cego.

— Na próxima, acerto!

Jogo o grampeador nele e o bastardo desvia, enquanto ele ri, dou uma almofadada em sua
cara.

— Otário! — digo rindo.

Damon me olha com ódio e se aproxima. Droga!

— Eu vou te matar! — diz, e me afasto.

— Vai ter que me pegar primeiro! — zombo

Pode ser extremamente infantil, mas nem ferrando que aquele pirralho vai me pegar.

— Eu vou contar para seus filhos que te venci no pega! — Damon diz sorrindo e se
aproximando. — Vai ser humilhado!

— Vou contar para seus filhos que você corria feito uma menina! — debocho.

Dammy começa a correr na minha direção e eu, como um bom irmão, corro mais rápido,
corremos pela sala por minutos incontáveis, mas meu erro foi não ter visto a almofada no chão, o
resultado foi nós dois caindo de cara no carpete.

— Eu venci! — ele se gaba rindo.

— Óbvio que não! Eu caí, é diferente.

— Aceita que perdeu, Allan! — O empurro

— Você perdeu! — Ele me empurra de volta.

— Não! Foi você!

— Foi você! — brigo.

— Foi você que caiu seu lerdo! — Sorrio irônico e olho pra ele.

— Você também caiu seu burro! — Ele bufa e ouvimos um arranhar de garganta.
— Por que os garotos estão no chão? — Robert está parado na entrada de braços cruzados,
olhando para nós dois com o semblante sério. Quem o convidou mesmo?

— Allan me derrubou, esse idiota! — Damon diz se levantando.

— Eu? Você caiu sozinho, seu imbecil!

— Você começou!

Ah, que ótimo! Eu vou matar esse pirralho! Soco o braço de Damon e ele revida.

— Parem já os dois! — Robert grita e paramos. — Damon, peça desculpas ao seu irmão!

Sorrio debochado e Damon me fuzila com o olhar.

— Não! Ele começou!

— Damon, quer a sua mãe aqui? — Robert ameaça.

— Mas, pai, eu...

— Agora, Damon! — exige.

Meu irmão, com a cara fechada, se vira pra mim.

— Desculpa! — pede a contragosto.

Isso sim faz bem para meu ego.

— Allan, peça desculpas ao seu irmão!

Olho incrédulo para meu pai, e ele me encara sério.

— Mas eu não fiz nada!

— Eu não quero saber! Peça desculpas ao seu irmão ou os dois irão ficar de castigo!

Ele não tem moral para isso.

— Eu não vou pedir!

— Allan Seller Carter, eu mandei você pedir desculpas ao seu irmão! — ele grita e nem
penso em irritá-lo mais.

— Desculpa! — peço olhando para Damon.

— Muito bom, agora parem de brigar e me ajudem com as sacolas! — diz e reparo na
quantidade de doces que ele traz.

— Quem te convidou? — pergunto direto.

— Lia, e, para sua informação, gosto muito da minha nova nora! — responde.

Difícil é não gostar.

— Onde está o Dominic? Alguém precisa ir buscar o bolo! — Damon resmunga.

Sorte é Jade ter se oferecido para fazer o bolo da festa, o problema será deixar Dominic perto
dela de novo.

— Tem certeza que quer o Dom lá? — questiono.

— É a única opção!

Isso não vai prestar.

— Ela pode vir sozinha... Eu não aconselho deixar Jade e Dominic no mesmo ambiente com o
bolo de Liza ao alcance! — informo, e Damon bufa.

— Eu busco... aproveito e ligo para Ethan trazer de volta minha filha!

Tadinha de Lottie, tem um pai babão. Espero que Ethan esteja cuidando bem da uva-passa.
CAPÍTULO 31
Liza

Jogo mais pipoca na boca e calculo mentalmente quantas horas até esse dia horroroso acabar.

Ninguém se importou comigo hoje, nem minha família, meus amigos ou meu namorado.

Ninguém.
Allan foi o que mais me deixou mal, eu passei o último mês preparando mil e uma alternativas para
comemorar meu aniversário com ele e Gabe, minha nova família. Mas parece que eu estou destinada
a passar meus aniversários em uma solidão chata e trancada no quarto.

Isso aí, Elizabeth, você está destinada a assistir a todas as temporadas de Lost e continuar ano
após ano sem entender o final. Porque é isso que faço nos meus aniversários fracassados, me tranco
em um quarto e fico torcendo para ser levada para uma ilha deserta, onde ninguém sentirá falta.

Eu deveria ganhar o Oscar de melhor drama.

— Amor, cheguei! — Ouço Allan gritar, mas permaneço em meu quarto e não demora muito
para seu corpo másculo atravessar a porta. — Como está?

Com raiva!

— Bem.

— Como foi seu dia? — questiona se aproximando de mim.

Ah, foi uma merda!

— Normal.

Ele me olha atentamente, e ignoro seu olhar.

— Está irritada?

— Não! — minto e me levanto da cama.

Não quero ser presa por matar meu namorado.


— Liza, você parece irritada... Aconteceu alguma coisa?

Meu interior quer gritar que sim, mas minha expressão neutra não deixa.

— Hoje não é meu dia Allan, então se puder fazer o favor de ir para o seu apartamento e não
atrapalhar meu seriado, eu agradeço! — digo grossa.

— Liza, minha cunhada nos chamou para um jantar hoje à noite!

Eu quero que ele engasgue com esse jantar.

— Diga a ela que não estou bem hoje! Agora saia do meu quarto! — exijo.

— Amor, é a minha família! Eu passo para te buscar em uma hora!

— Eu não vou a lugar nenhum com você, Seller! E não quero ouvir a sua voz hoje, então suma
da porra do meu quarto! — grito.

Eu nunca o chamei pelo sobrenome da mãe e isso certamente o deixou surpreso.

— Nós vamos sair sim e, se em uma hora você não estiver arrumada, eu irei te levar de
pijama! — diz rude.

Eu não vou e ponto.

— Escuta só uma coisa, Allan, eu posso até amar você, mas não sou obrigada a nada! — digo
pausadamente. — Some da minha frente ou juro que te faço sumir da minha vida!

Eu não vou ficar mal e aos pedaços porque uma pessoa que eu amo se esquece de uma coisa
tão importante.

— Para de ser irritante, mulher! — ele diz e cola nossos corpos. — Me expulse da sua vida
depois do jantar então!

— Eu não quero sair, Allan, você me magoou tanto hoje que não consigo sorrir para sua
família e fingir que está tudo bem​! — digo, me afastando e limpando uma lágrima solitária.

Carter me olha com dor, e não entendo.

— Meu amor, eu te amo. Liza! — diz segurando meu queixo. — Eu nunca quis te magoar...
— Você sabe que dia é hoje? — pergunto com um fio de esperança.

Ele fica tenso.

— Sei, quarta-feira! — diz e me beija rapidamente. — Passo pra te buscar em uma hora, não
esqueça que amo você! — diz e sai do quarto, me deixando com o coração em pedaços.

Ele não lembrou.

Assim que o elevador da cobertura de Damon se abre me pergunto por que vim. Ninguém aqui
realmente liga pra mim, sou apenas a namorada boba de humanas do Allan.

— Eu te amo, Liza! — Carter sussurra mais uma vez, e tudo que faço é acenar.

Não sei o quanto disso é real.

Allan abre a porta do apartamento e tudo está completamente escuro.

— Quem apagou a luz? — questiono e, do nada, as luzes são acesas e uma multidão de rostos
me encarara.

— SURPRESA!

Todos estão aqui, os Carter’s, Andy, Chloe e Jade e Ethan com Emma.

— Mas — digo e me viro para Allan — é pra mim?

Ele sorri e me abraça.

— Lógico que sim, meu amor! Eu nunca me esqueceria de você! — diz beijando minha testa.
— Me doeu fingir indiferença!

— Lizaaa! — Ouço a voz de Gabe e meu coração se aperta.

— Oi, bebê! — digo o abraçando. — Até você me enganou!


O loirinho sorri e olha para Allan.

— O Lan disse que você é minha mamãe!

Pronto, já posso morrer de felicidade.

— Sou sim, amor! — digo sorrindo, e ele me abraça.

— Parabéns, cunhadinha! — Damon me cumprimenta, e sorrio tímida. — Você já é da família!

Então, todos eles me enganaram? Olho para Ethan e ele sorri amarelo.

— Você sabia disso quando estava no meu apartamento? — questiono.

Ele olha para o melhor amigo e automaticamente Damon fecha a cara.

Ops.
— Ethan, diga que você não levou minha filha para esse episódio! — Damon diz entredentes e vejo
pela primeira vez na vida White realmente ficar tenso.

Mas muito pior que Damon sendo um pai protetor, é Lia sendo uma mãe protetora.

— Estou esperando uma resposta, Ethan! — Lia exige.

— Esse é o aniversário da Liza! Eu apenas fui distraí-la, quem, por sinal, estava muito triste!
Eu cuidei perfeitamente da uva-passa!

Realmente ele cuidou, ele é meio estranho, mas é notável sua preocupação pela Lottie. Vejo
White receber broncas e Allan me arrasta para o canto deixando Gabe brincando com Dom.

Meu bebê.

— Ainda me quer fora da sua vida? — ele questiona assim que chegamos a uma sacada longe
da vista de todos.

Nova Iorque é linda daqui de cima, mesmo que milhares de pessoas lá embaixo não se
importem com nada além de seus problemas.

— Quer sair da minha vida? — pergunto com uma pitada de dúvida.

Allan sorri e vejo seus olhos se iluminarem.


— Eu não tenho uma vida longe de você, Norris, é por você que minha vida começou a fazer
sentido.

Não escondo o sorriso.

— Eu achei que tivesse se esquecido de mim... Todos sempre esquecem... — admito meia a
contragosto.

Meu namorado acaricia meu rosto e me deixa uma trilha de beijos até minha boca, nosso beijo
não é urgente como sempre, é carinhoso, como de dois amantes que possuem a vida toda para
desfrutar do que o outro tem a oferecer.

Talvez realmente tenhamos esse tempo.

— Eu nunca vou me esquecer de você, minha linda... Você é a minha família.

Essa última frase fez uma pequena lágrima cair, uma lágrima de felicidade. A felicidade de
uma garotinha que encontrou um amor para viver.

— Você é minha família, Allan! Obrigada por me amar...

Ele sorri e vejo seus olhos cintilarem o mais puro azul.

— Eu sempre te amei. — Então ele me beija. O meu beijo favorito nada comparado ao
anterior.

Meu amor.

Meu homem.

Minha família.
CAPÍTULO 32
Dominic Carter.

Na minha vida, só possuo três certezas:

A primeira: um dia vou morrer.

A segunda: sou um puta cara sortudo.

A terceira e não menos importante: Eu sempre consigo a mulher que quiser, na hora que
quiser e onde quiser.

É um fato. Eu sempre tenho todas que quero, sempre por vontade própria, é lógico, sou um
canalha, mas um canalha que respeita o sexo oposto. Não que alguma mulher resista ao meu charme
ou lábia... Se existe algo que sou bom nessa vida, além de ser lindo, esse algo é ser canalha.

O que posso fazer? Sou um milionário, lindo e, modéstia a parte, gostoso pra caralho. Se
fosse mulher, certamente me pegaria. O único compromisso em que sou fiel é com a minha família.

Ah, família... Ou será que posso nomear esse bando de homem babão de família? Ser um
Carter é ser o centro das atenções, ou era até Damon ficar de quatro por uma mulher, como se não
bastasse, meu primo e melhor amigo ficar um bobo apaixonado, ainda contaminou o restante.

Eu achei que veria o mar virar Coca-cola antes de assistir a Ethan apaixonado. Mas parece
que não só vivi para isso, como também tive que presenciar Allan seguindo o caminho do irmão.

Esses bastardos me trocaram por alguns pares de peitos.

Não que eu não goste das "garotas Carter's", realmente tenho um carinho incondicional por
Lia, sem ela, nunca teria voltado a falar com Damon e continuaria sendo um ser desprezível que fui
durante um tempo. Eu era um homem frio e insensível graças a ex suicida de Damon. E tomara que
Anabela esteja queimando no inferno por transformar nossas vidas em uma merda. Graças a Lia, hoje
tenho meus primos e um sobrinho favorito.

Quem diria que eu fosse gostar de crianças? Gabe se superou!


— Um beijo pelos seus pensamentos! — Ouço a voz que inferniza minha existência desde
sempre.

— Vá se foder, Ethan!— resmungo, e o idiota rir com gosto, Damon, que está ao seu lado,
revira os olhos.

White pode ser um gênio na empresa, ele realmente tem a mente brilhante, mas, na maior parte
do tempo, ele não utiliza seus neurônios.

— Sempre soube que seu interesse no Dominic era mais que implicância! — Allan surge, e
rolo os olhos.

— Eu sou irresistível mesmo, sinto muito, White, o que você tem não me agrada! — provoco.

Quem disse que sou maduro?

— Sou alérgico à água oxigenada, lamento, loira! — revida.

Meu cabelo é lindo, deixando claro.

— Dom, preciso de um favor... — Allan começa a dizer e olha na direção de Liza, que está de
papo com aquela pirralha dos infernos.

Jade Winters, aquela morena irritante, de boca suja e baixinha, que simplesmente me derrubou
ovos há alguns meses. A pirralha dos infernos não só é vizinha do meu primo, como se tornou
amiguinha das garotas. Tenho vontade de jogá-la do último andar do prédio e no mesmo momento
tenho vontade de fazer coisas muito sujas com aquele corpo fodidamente perfeito.

Porque não basta ser uma diaba irritante, ainda precisa ser linda.

A odeio.

— Fala logo! — peço impaciente e me recrimino por ter pensado naquela peste.

— Preciso que pegue o presente que comprei pra Liza no quarto de hóspedes discretamente...
— Ele me olha com expectativa.

Presente?
— Por que o presente dela estaria no quarto de hóspedes?
— Você é burro, Dominic! — Ethan reclama e me soca o braço. — O presente tinha que ficar
escondido, sua besta! O quarto de hóspedes é o mais próximo da escada, mas a Liza vai suspeitar se
algum de nós sumir pra buscar!

Faz sentido.

— Está dizendo que não faço falta? — resmungo.

Ethan bufa e esfrega o rosto.

— Quer uma declaração de amor pra você ir buscar um presente? Isso tudo é carência ou falta
de sexo?

É impossível discutir com Ethan.

— Eu busco e, pra sua informação, tive um sexo maravilhoso antes de vir pra cá! — digo com
um sorriso safado.

Certamente a morena de hoje cedo terá desconforto ao sentar, foi uma bela foda. Com sorte,
nunca mais irei ver a mulher que não faço a mínima ideia do nome.

— Obrigado, primo! — Allan agradece e sorri abertamente.

Algo me diz que eles estão aprontando.

— Já volto! — digo e ando em direção ao quarto.

A cobertura de Damon é exageradamente grande. Prefiro meu apartamento de solteiro, onde


mulher nenhuma, fora a minha mãe, pode pisar. Lá é meu canto sagrado. Entro no quarto e procuro
por algum sinal de presente, vasculho tudo lentamente, mas não acho. Filhos de uma boa mãe!!!

Eu vou jogar o cadáver de Ethan em uma fogueira.

— O QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO AQUI?

Fico paralisado ao ouvir a voz que povoa meus melhores sonhos quentes. Viro-me e dou de
cara com Jade me olhando com ira.

Ela fica sexy com essa cara de má.

— Eu é que faço a pergunta — respondo neutro.


— Vim buscar a chupeta da Lottie! — responde olhando em volta.

Bom... Espera.

— Lottie não tem... Merda! — Corro na direção da porta e vejo o instante que Ethan a tranca.
— ABRE ESSA PORTA, ETHAN! EU VOU MATAR VOCÊ, ETHAN MATTHEW WHITE! — grito
e ouço a risada do babaca. Eu não acredito que caí nesse truque de novo! Ele sempre fez isso na
adolescência!

— Por que eles trancaram a porta? — Jade questiona.

Droga! Tinha que me trancar justo com essa pirralha?

— Pra jogar damas que não foi! — respondo irônico e soco a porta. — Desgraçados!

Todas as vezes que White me trancou em um cômodo com alguma garota, no final, eu soube
aproveitar muito bem a situação. O problema é que estou preso com a mulher que odeio e que me
deixa com um tesão da porra só por estar a centímetros de uma cama.

— Eu prefiro morrer a ter qualquer contato com você! — ela diz irritada.

— Idem! — revido e me sento na cama. — Não tenho o mísero interesse em uma pirralha!

Obviamente mentira.

— Pirralha? Quantos você acha que eu tenho seu estúpido!

Reparo em seu rosto lindo e juvenil. Ela aparenta ter 21 anos no máximo.

— 16? — provoco.

— 24! — responde grossa e fico surpreso.

— Você é muito baixinha, por isso parece uma adolescente!

Eu nem tive tempo de desviar quando um de seus saltos me acertou.

— Chama a mãe de baixinha, seu idiota oxigenado!— ela grita e distribui tapas em mim. —
Babaca!

Seus tapas não fazem cócegas, mas seguro seu pulso e a forço parar de me bater.
— Mas você é baixinha!

Seu rosto está tão próximo do meu...

— Me solta! — ela exige e obedeço.

Mais um segundo perto dela e teria a beijado.

— Eles não vão abrir a porta tão cedo! — digo o óbvio, e ela bufa.

— Por que eu? Eu só quero distância de você! Eu te odeio!

Senti-me incomodado com isso, mas ignorei.

— Também te odeio e quero muita distância entre nós!

Jade se senta em outra ponta da cama e suspira. Por que ela tem que ser linda?

Ignoro sua presença e tento focar minha mente em coisas broxantes para ver se a dureza na
minha cueca diminui o tamanho. É sacanagem desejar essa mulher.

Eu tentei, tentei mesmo! Cheguei até imaginar minha vó de lingerie, posando para Playboy,
mas não funcionou. Meu amiguinho aqui resolveu brincar de criar vida própria, e minha única
alternativa foi sentar e pôr um travesseiro na frente do corpo para não parecer um tarado. Eu sou um
canalha de naipe maior, mas não quero que essa pirralha saiba o quanto controla meu pau.

— Já se passou uma hora! Por favor! Nem se estivéssemos transando seria necessário tanto
tempo! — Jade resmunga mais uma vez.

— Suas fodas são tão curtas assim? — pergunto na maior cara de pau.

Ela me olha irritada e dou de ombros.

— Cala boca, Dominic! Estou a um passo de te matar! Cala boca!

Rio e jogo a cabeça para trás.


— Se estivesse transando comigo, duvido que diria isso! — provoco e vejo seu rosto corar.
— Ou você estava pensando nisso?

— N— não! — diz e sorrio ao vê-la gaguejar. — Eu tenho coisa muito melhor do que você!

Como é?

— Tem? Por acaso possui um namorado Winters? — questiono e me aproximo dela. — Um


homem pra te fazer gemer como eu faria? Um homem pra te fazer esquecer o próprio nome?

Foda-se! Esse pirralha não pode me deixar de pau duro e dizer que tem outro melhor!

— Dom. — ela sussurra assim que prendo seu corpo pequeno contra parede.

— Diga, Jade! Você tem um homem melhor do que eu? — pergunto esfregando meu volume
contra sua barriga.

Seguro seu queixo e mordo seu lábio inferior com força.

— Dominic... — ela geme baixinho e sorrio.

MEU NOME!

No momento em que finalmente eu iria beijar aquela boca rosinha e matar o meu desejo, a
porta é aberta.

NÃO!

Com um clique, Jade recupera os sentidos e me empurra.

— Não me toque! Eu não sou as suas vadias! — ela rosna e corre literalmente para fora do
quarto.

Ela se vai e eu fico frustrado e de pau duro.

— Foi tão bom assim que ela precisou correr pra não repetir? — White entra no cômodo.

Bufo e me seguro para não matar meu amigo.

— Você fodeu com tudo, Ethan! — rosno.

— Era pra você ter fodido! — ele completa e olha para mim sério. — Você fez algo contra
ela?

— Não, porra! A desgraçada da mulher foi embora e me deixou de pau duro! — reclamo e
soco

meu amigo travesseiro. — Ela não é minhas vadias, caralho!

Foi bom! Se eu tivesse feito o que queria, provavelmente a veria de novo, e não quero uma
mulher pra encher meu saco com sentimentalismo.

— Tem razão... Ela merece um homem que a trate como namorada e não como só uma noitada
de sexo! — Ethan diz firme. — Esse cara não é você, Dominic!

Desgraçada!
— Eu sei... Eu sei! — admito.

— Ela vai ser de outro, vai ficar com outro! — completa e sinto meus punhos se fechando —
Vamos, ainda temos que ouvir a bronca da Lia!

Ele sai do quarto e fico mais um pouco. Jade é do tipo que se dá flores, chocolates e faz
coisas melosas. Eu sou o cara que só pode oferecer bons momentos de prazer. Tenho que lidar com
isso.

Jade Winters não está na minha lista de conquistas.

Só preciso convencer meu pau disso.

Pirralha dos infernos!


CAPÍTULO 33
Liza

— Você não vale nada! — digo, segurando o riso.

Allan ignora minha ofensa e segue dirigindo com um sorriso no rosto. Eu não acredito que
Dominic realmente caiu no plano.

— Ele saiu de lá estranho... Nem sequer gritou ou ameaçou um de nós!

— Isso é bom, não é? — questiono.

Allan nega com a cabeça e estaciona o carro no nosso prédio. Nem percebi que havíamos
chegado.

— Dominic não é de guardar suas opiniões, muito menos sua ira! — informa. — Deve ter
acontecido algo muito sério naquele quarto.

Deixo esse assunto de lado, não é da minha conta os problemas de outro Carter que não seja
meu doutor gostoso. Caminhamos até o elevador em um silêncio confortável.

— Queria que Gabe estivesse aqui...Como vai os preparativos da adoção?— pergunto.

Foi com muito custo que deixei Gabriel na casa de John, me senti melhor do que deixá-lo na
casa com aquele projeto de piranha que o colocou no mundo, daria tudo para o meu bebê estar aqui
comigo.

— Hillary não quer facilitar... Mas temos provas que ela é uma mãe negligente, e o fato de não
termos um laço matrimonial dificulta — ele admite com um suspiro. — Isso me deixa frustrado!

Seguro sua mão e sorrio.

— Eu estou aqui com você! Logo vamos ter nosso pequeno!— eu digo convicta.

Allan me encara de uma forma tão intensa que minha respiração falha.

— Nosso filho terá a melhor mãe do mundo!

Nosso filho.
Nosso. Meu e de Allan. Um filho.

— Você é o melhor pai do mundo, Allan, tenha orgulho disso.

Ele sorri e me puxa para um abraço apertado. Como amo estar nos braços dele!

— Agora chegou a melhor hora da festa... — sussurra em meu ouvido. — No meu apartamento
ou no seu? Sinto saudade dessa sua bunda no meu rosto.

Solto uma risada e nos arrasto até a porta do meu apartamento.

— Hora de aproveitar meu presente! — digo maliciosamente.

— Porra de mulher gostosa!

Corro pulando em um pé só na falha tentativa de calçar meus saltos e não deixar o café da
manhã queimar. Acordar nunca foi minha atividade favorita, acordar atrasada então...

— Carter, é pra hoje! — grito enquanto despejo o bacon bem passado no prato de Allan.

O ser humano que chamo de namorado parece mulher se arrumando.

— Estou aqui! Não grita! — Ele surge do corredor vestindo sua camisa branca.

Branco deve ser a cor internacional dos homens sexys. Meu coração é fraco para lidar com
Allan vestido de médico gostoso.

— Eu vou me atrasar e Andy vai doar meu fígado para os cães!

Andrew é um grande filho da mãe, ele pensa que não vi o momento em que ele saiu da minha
festa para ter "privacidade" com Chloe. Ele está me evitando nas últimas semanas e isso me magoa
bastante, ele está se afastando e sinto que não há o que possa fazer.

— Se a noite dele foi como a nossa, aposto que mau humor ele não tem! — Carter diz
sorrindo debochado.
Instantaneamente fico corada. Só de lembrar a noite passada meu corpo se arrepia. Mal vejo a
hora de fazer aniversário de novo.

— Cala boca! — resmungo, e ele ri.

As batidas na minha porta interrompem meu momento descontraído.

— Espera alguém?

Nego com a cabeça e Allan se levanta.

— Eu atendo! — O impeço de ir e faço o percurso até a porta.

Adivinhem minha cara de tacho quando encaro minha mãe toda trabalhada no conjunto perua e
bolsa Prada, parada na minha frente.

— Elizabeth! — ela exclama sem entusiasmo. — Me deixe entrar, não quero ser assaltada
nesse muquifo!

Dou passagem a ela e tento me lembrar de algo que possa ter feito minha mãe vir até mim.

— Mãe? O que faz aqui?

Dona Suzane olha para um ponto e me lembro que Allan está parado no meio da sala com uma
cara nada boa.

— Eu te criei para isso, Elizabeth? Trazer qualquer um para passar a noite com você? —
incrimina.

Deus, me dê paciência!

— Que eu saiba, quem criou sua filha não foi você... Sogrinha! — Allan revida e olha com
desprezo para minha mãe.

Como não amar esse homem? Não sinto um pingo de pena da minha mãe.

— Mãe, esse é meu namorado, Allan Carter! — apresento.

Sabe aqueles desenhos infantis onde o personagem ganha olhos em forma de dinheiro? Pois
foi esse o mesmo olhar da minha mãe ao ouvir o sobrenome de Allan.
— Carter... De Robert Carter? — minha mãe questiona.

Ele sorri irônico e cruza os braços.

— Mais conhecido como meu pai! — ele informa e se aproxima de mim. — Vai se atrasar
para o trabalho.

Sim, eu vou.

— Vou conversar com ela primeiro... Você precisa ir antes que se atrase! — digo arrumando
sua camisa.

Ele olha de mim para minha mãe e suspira.

— Qualquer coisa, me ligue! — pede e acena. — Amo você!

— Também te amo! — sibilo, e ele beija meus lábios rapidamente. — Dirija com cuidado.

— Sim, senhora! — brinca e se vira para minha mãe. — Foi um desprazer te conhecer,
Senhora Norris!

Seguro o riso e ele deixa a sala.

— Que homem abusado! Como pode me desrespeitar assim?

Tenha santa paciência!

— Diz logo o que quer, mãe, eu tenho trabalho!

— Eu sou sua mãe, Elizabeth! Respeite-me! — exige e reviro os olhos. — Soube que estava
namorando... Só não sabia que era um herdeiro Carter!

— Não namoro Allan por dinheiro!

Eu não vou admitir ser acusada dessa forma.

— Claro que não... Você é idiota e busca sentimentalismo! — desdenha. — Pois saiba que
amor não existe!

Ela realmente deve desconhecer esse sentimento, afinal de contas, nunca foi capaz de
demonstrar.
— Não é problema meu se você não é amada, meu namorado me ama e estou feliz! — digo
perdendo a paciência. — Diz logo o que quer, porque tenho trabalho pra fazer!

— Só vim conferir sua péssima escolha para homem! Acha mesmo que seu namorado irá te
amar pra sempre? Ele é podre de rico, Elizabeth, pode ter a mulher que quiser!

Suas palavras soam como um tapa, mas me mantenho firme, sei que Allan me ama. Ele já
provou isso diversas vezes.

— Eu não sei o futuro, mãe, mas, no presente, sei que ele me ama!— digo convicta e abro a
porta. — Agora se retire do meu apartamento, não estou a fim de ouvir suas falas envenenadas!

Com a cabeça erguida, ela sai para o corredor e se vira.

— Não diga que eu não avisei, Elizabeth!

Deixo minha mãe para trás e fecho a porta com força, ela não irá estragar meu bom humor.
Allan é meu e tenho certeza que ele me ama.

Mas se ele me ama tanto... Por que não me conta seu passado?
CAPÍTULO 34
Allan

Respiro fundo antes de entrar na mansão, minhas visitas à casa do meu pai não foram lá muito
agradáveis. Principalmente por parte dele, que fez questão de ser um pai desgraçado. Toco a
campainha sentindo um frio na barriga, quando Robert me ligou hoje cedo, dizendo que queria me
ver, não pude deixar de pensar no que ele me disse no hospital. E se ele encontrou Bill? A porta se
abre e dou de cara com uma empregada, que sorri em cumprimento.

— O senhor Carter o espera no escritório! — informa, e aceno.

Passo rapidamente pela sala, como seria se eu tivesse feito parte dessa família desde sempre?
Sigo até o escritório do meu pai e bato na porta.

— Entre! — Ouço, e obedeço. — Oh, Allan, achei que não viria!

— Saí do hospital agora! — digo, e ele sorri. — O que quer?

Robert, querendo ou não, é meu pai, isso é notável em nossa aparência, herdei de minha mãe
apenas os olhos e o cabelo claro.

— Sente-se filho! — Ele aponta a cadeira, e obedeço. — Eu sinto orgulho em ver o médico
que se tornou.

— Será que pode dizer o que quer logo? Eu tenho uma namorada preocupada comigo me
esperando em casa... — retruco.

Não estou a fim de ouvir elogios, e estou sentindo saudades daquela loira briguenta. Liza se
impregnou em mim e, cada maldito segundo que respiro, penso nela.

— Você tinha que herdar o lado temperamental da sua mãe... — ele resmunga, e olho pra ele
confuso.

Tudo que sei sobre minha mãe é que ela era atendente de um bar e se chamava Catarina Seller;
no orfanato, me entregaram uma foto dela, que anos mais tarde foi queimada por aquele porco do
Bill.

— Minha mãe? — O olho com expectativa. — Como ela era?


Robert sorri tristemente.

— Era muito bonita... era a atendente mais bonita do bar do Rocky, teimosa feito uma mula e
não dava atenção para ninguém! — conta e suspira. — Mas, na noite em que a conheci, eu estava com
raiva da Marta... bêbado...um fracassado!

— Então resolver ir pra cama com outra para afastar os problemas? — ironizo. — Se você
tivesse ficado longe, ela estaria viva!

— Eu era jovem e burro, Allan! Era bem mais novo do que você agora... Acha que não me
arrependo de ter estragado a vida dela? A sua vida?

— Por que não a salvou?— questiono.

Ele abaixa o olhar e suspira.

— Eu descobri da gravidez no final da gestação, Catarina estava tendo problemas graves... Eu


já havia me casado e amava minha esposa! — diz com pesar. — Dei uma boa quantia para ela, mas
sua mãe se recusava a se afastar de você... Como eu iria cuidar de uma criança? Nunca havia
planejado filhos!

Limpo uma lágrima que insiste em cair do meu rosto.

— Então você me deixou naquele orfanato...

— Eu achei que era o melhor pra você, Allan, não me orgulho do mal que lhe causei... Eu não
sabia o quanto você sofria!

— Nunca passou pela sua cabeça que eu queria um pai? Que eu estava longe? Que eu gostaria
de ter um irmão?

Deus, como eu queria ter visto Damon criança! Como eu queria ter feito parte da vida dele.
— Quando descobri a gravidez de Damon, eu mudei... Fui o melhor pai que deveria ter sido pra
você! Seu irmão teve o amor que eu sei que você daria... — informa.

Pelo menos isso, não sei do que seria capaz se meu irmão sofresse nas mãos desse homem.

— Você já destruiu um filho, dar carinho a outro é o mínimo que você poderia fazer.

— Eu também o amo, Allan! Entenda isso de uma vez por todas, você e Damon são meu
legado e não aceito que se menospreze!

— Eu não consigo te perdoar, tá legal?! Eu não consigo me afastar do meu passado... das
coisas

que já fiz... Sinto nojo e raiva de mim mesmo! — confesso.

Fungo e Robert caminha até mim, me puxando para um abraço.

— Você precisa desabafar, Allan... Não comigo, e sim com a pessoa que mais ama no mundo!
— diz calmo.

Ela vai me odiar.

— Ela vai me deixar se souber... Pai, não posso viver sem ela... Elizabeth é tudo pra mim!

Meu pai sorri confiante e segura meu ombro.

— Mentir irá destruir esse amor, Allan... Se ela te ama, irá superar isso com você!

Será?

— Eu... tenho medo! — admito, e meu pai me empurra fracamente.

— Você é um Carter! Está no seu DNA superar os problemas, principalmente com mulheres!

— Você não conhece minha namorada... Uma briga com ela é equivalente à Terceira Guerra
Mundial!

Ele ri e acena.

— Eu sei como é, todas as mulheres dessa família são assim... Até as que ainda não fazem
parte!

Olho pra ele confuso.

— Ainda?

— Que eu saiba, Dominic ainda mantém o título de o último Carter solteiro! — debocha.

Rio, ele vai se ferrar com a Jade.


— Por enquanto... — afirmo.

— Volte para casa, Allan, e conte tudo que guarda no peito para ela... Se ela não te ouvir...
você corre atrás dela de novo, é assim que a vida funciona!

Enxugo as lágrimas e me preparo para sair, me viro para Robert e, pela primeira vez na vida,
sorrio sinceramente.

— Obrigado, pai.

Ele me olha emocionado quando saio de seu escritório.

Com o coração e a mente bagunçados, bato à porta dela, tenho a chave, mas quero que ela
venha até mim. Parece que ela escuta minha prece silenciosa e abre a porta. Eu nunca irei me
acostumar com sua beleza, com sua maneira de ser perfeita pra mim.

— Oi.

— Allan, é quase uma da manhã! Quer me matar de preocupação? — briga, e sorrio. — Entra,
meu amor, você deve estar cansado! — Briga e depois me trata bem, vai entender as mulheres. Ela
me puxa para seu apartamento e acende a luz.

— Desculpe o atraso... Estava na casa do meu pai! — conto.

Liza me encara atentamente, de uma maneira estranha.

— Na mansão Carter?— Afirmo com a cabeça. — E não poderia ter ligado?

— Desculpe... Tive uma conversa séria com ele! — digo buscando a coragem para falar sobre
meu passado. — Sobre minha infância.

Ela parece surpresa.

— Como eu sei que você não irá me contar... vou dormir! — diz baixinho, caminhando para o
quarto.
Mas o quê?!

— Liza! — chamo, e ela não para. — Norris, o que você quis dizer com isso?

Será que fiz algo para deixá-la irritada?

Paro na entrada do quarto e a vejo voltar para cama.

— Você não me conta nada sobre você, Allan! Essa é a verdade, tento não te pressionar, mas
fica difícil... Eu te amo, mas o quanto você me ama? — diz chorosa.

Droga! Meu pai estava certo! Sento-me ao seu lado na cama e suspiro.

— Me perdoa, sou um idiota! — Acaricio seus fios loiros. — Meu passado me envergonha,
Liza... Tenho medo de perder você!

Ela segura minha mão e funga.

— Eu te amo, seu médico burro! Qual parte do não vou te abandonar sua mente brilhante não
decorou?

Rio e beijo levemente seus lábios, como amo essa mulher.

— Eu vou te contar tudo... — digo, e ela arregala os olhos. — Prometa que não irá sentir nojo
de mim!

— Allan...

— Prometa, Elizabeth! Eu não posso ficar sem você, minha bravinha! Eu não posso perder a
felicidade assim... — exijo.

Ela acaricia meu rosto carinhosamente.

— Eu prometo, meu amor! Eu nunca vou te abandonar... A menos que você me traia, sendo
assim,te deixo e mato a vadia! — diz séria.

Solto uma risada abafada. Como ela pode achar que tenho olhos para outra? Ela me domina
por

completo!
— Eu sou totalmente seu, Liza! Totalmente!

— Então se abra para mim, Allan, me conte seus segredos! Deixe-me cuidar de você! —
pede.

Eu tenho que fazer isso. Eu preciso!

É por ela que tenho que sair dessa escuridão. Por ela.
CAPÍTULO 35
Allan Seller Carter.

Minha respiração ofegante é tudo que consigo ouvir, neste momento, minha mente não está no
quarto junto da mulher que amo, meus pensamentos estão em anos atrás, na pior fase da minha vida.
Na adolescência.

— O orfanato não era o pior lugar do mundo no início, quando era criança, de certa forma, fui
uma criança boa, tinha comida e atenção dos empregados... — engulo em seco e continuo — até que
trocaram o diretor do orfanato... No início, achei que seria bom, o que uma criança de onze anos
poderia saber? Fui tolo em achar que poderia ser feliz, depois que Bill chegou, descobri o
significado de inferno! — falo sentindo o ódio me consumir. — Ele mudou tudo, antes todos tinham
seus horários de estudo, comida, roupa...

— Amor, olhe pra mim! — ela chama, e levanto meu olhar para ela. — Eu estou com você.

Ainda. Minha consciência acusa.

— Me deixe continuar! — peço, e ela acena. — Bill nos tirou tudo! Quem quisesse ter comida
e cama teria que trabalhar pra ele... nos tornar escravos de suas vontades! Eu era o mais velho entre
todos, mas só tinha onze anos... Como poderia ter enfrentado um homem como ele sendo tão fraco?
— Mergulho nas lembranças. — Nos primeiros anos, ele apenas pedia para que alguns de nós
pedíssemos dinheiro em semáforos... Era isso até a ganância dele ser maior. Eu não suportava mais
ver aquelas crianças apanhando e sofrendo por culpa daquele verme! Então, com quatorze anos, me
ofereci no lugar de todos eles, seria eu que faria tudo de ruim por ele, enquanto Bill pouparia as
crianças mais novas.

Sinto Liza fungar, mas não sou capaz de olhar para ela.

— Começou com furtos aos comércios próximos, roubar carteiras — continuo —, até que eu
não aguentava mais aquilo... Bill ameaçou estuprar todas as garotas do orfanato se eu recuasse! Não
tive alternativa... Ele me ensinou a usar uma arma — digo com pesar —, assaltei muitas pessoas, bati
em outras como pagamento de dúvidas... Mas isso não foi o suficiente pra ele! Bill se envolveu com
máfias e, como pagamento, ele vendia as crianças... Eu tentei impedir, mas tudo que consegui
tentando ser um herói foi deixá-lo irritado.
Não seguro as lágrimas.

— Allan... — ela chama, e abaixo o olhar.

— Naquela noite, ele estuprou uma criança, Liza! Na minha frente! Eu vi o momento em que
ela perdeu a vida sendo vítima daquele porco... Era uma criança de seis anos! Uma garotinha que não
merecia ter sua vida arrancada... Ele espancou a mim e os outros, a cada erro meu ou pouco dinheiro,
era uma noite igual a essa... passei por três noites assistindo a ele estuprar crianças e vendo-as me
acusarem! Eu quis morrer muitas vezes, pegar aquela arma e terminar com tudo, mas e as outras
crianças?! Não podia deixá-los!

Norris funga e segura em minha mão.

— A culpa não foi sua!

— Elas estariam vivas se eu tivesse coragem de puxar o gatilho nos lacaios dele! — digo com
dor.

— A culpa é minha, Elizabeth! Eu fui culpado por elas terem sido mortas bruscamente... Eu
machuquei tantas pessoas... Passei fome, sede, e fiquei com os ossos quebrados tantas vezes que não
sou capaz de contar.

Eu deveria ter morrido.

— Mas você está aqui! Carter, por favor, olha pra mim! — ela implora, e obedeço. — Eu te
amo!

— Como pode me amar? Eu sou um assassino! Tudo ao meu redor é caos... Eu sou um homem
quebrado, Liza... Meu coração foi morto tantas vezes!

— Eu não te acho um assassino! Eu te amo com todas as minhas forças e vou continuar
amando até meu último suspiro — grita, me fazendo calar a boca. — Você é um médico que cuida de
todos, é um pai amoroso, um irmão carinhoso e o melhor namorado do mundo! Perceba isso, Allan.
Não o deixe vencer mais uma vez.

Deixo minhas lágrimas caírem, e ela me abraça com força.

— Não me abandone, Norris. — Choro e ela acaricia meus cabelos. — Eu preciso me livrar
dessa dor.
Eu preciso esquecer o passado! Preciso ser um homem inteiro para minha mulher e meu filho!

— Eu vou cuidar de você, doutor — diz olhando dentro dos meus olhos. — Colarei todos os
seus pedaços e te manterei seguro.

Não tenho palavras que definam meu amor por ela, por isso a beijo. Beijo com força e paixão
para que ela sinta como minha alma pertence a esse amor. Com urgência, retiro minha camisa e a
ajudo a se despir. Não quero romantismo, necessito sentir nossos corpos unidos. — Por você, não
preciso temer o passado, por você! Só por você, eu faria tudo por um futuro! — digo entre beijos.

— Me ame, Allan! Eu serei sua essa noite, e todas as noites que você precisar de mim! — diz
firme enquanto se põe por cima de mim. — Me deixe amar você! Deixe-me conhecer o seu
verdadeiro lado.

Desnorteado pelo prazer e pelos sentimentos, tenho a maior certeza da minha existência. Eu
quero essa mulher para o resto da minha vida. Inverto nossas posições e beijo seu pescoço nu
enquanto me movo. Ela é tão perfeita. Jogo-me no prazer que só sinto com ela e sorrio. Ela se afasta
um pouco e me pega sorrindo.

Eu a amo.

— Eu descobri o que quero para minha vida — confidencio um pouco mais tarde naquela
noite.

— O quê?

Olho para ela deitada e totalmente entregue após nosso momento de amor.

— Você— digo simplista e feliz. — Quer casar comigo?

Ela arregala os olhos e ri.

— Está me pedindo em casamento assim — questiona sorrindo —, na cama após o sexo?

Talvez seja muito precipitado, mas eu não posso se quer imaginar a minha vida sem ela.

— Eu te amo, sou louco por você e quero passar o resto dos meus dias tendo você em minha
vida— digo sorrindo. — Case-se comigo, vizinha?

Por favor, diga sim!


— Não me importo que seja cedo, eu te amo, Allan, vou me casar com você.

— Agora você não me escapa, minha noiva vizinha gostosa!— digo sorrindo feito bobo. —
Eu te amo!

Acho que, pela primeira vez, na vida estou completo.

— Agora me fode.

— Porra, sim.

Ela grita meu nome, e eu agradeço aos céus por ela.


CAPÍTULO 36
Liza

Primeiro, abri os olhos; segundo, fiz o que qualquer pessoa faria no meu lugar:

— EU ESTOU NOIVAAAAA! — grito a plenos pulmões e só ouço o baque do corpo de Allan


no chão.

Ops.

— QUE PORRA, ELIZABETH!

Allan se levanta atordoado e com o olhar raivoso. Eu tentei não rir, mas estou feliz demais
para segurar minha alegria. O resultado saiu em forma de gargalhadas altas da minha parte.

— Desculpa... — peço, recuperando a fala. — Não quis te assustar.

Carter bufa e se deita novamente com um olhar atento sobre mim.

— Se eu soubesse que te pedir em casamento resultaria nisso... Teria feito o pedido durante o
dia — resmunga.

Ignoro seu comentário e me jogo sobre ele, mal posso acreditar que esse homem lindo e,
modéstia a parte, gostoso será meu marido. Meu, somente meu!

— Eu estou feliz, Allan! Feliz por ser sua noiva, feliz por finalmente estabelecermos um nível
de confiança no nosso relacionamento!

O mar azul que ele chama de olhos me encara fixamente.

— Eu estou feliz por ter encontrado você, minha loira. — Alisa meu rosto com delicadeza e
sorri. — Minha maior conquista.

O que fiz para merecer esse homem? Certamente é um bônus por todo azar que tive na vida.
Allan é muito melhor do que eu poderia imaginar, não entendo como, por um segundo, ele cogitou
minha rejeição após me contar seu passado.

— Estou feliz por meu noivo ser um baita de um gostoso! — conto, e ele ri com gosto. —
Agora vamos nos levantar que tenho um trabalho pra ir.

Mesmo não querendo.

— Quem foi que disse que vou deixar você sair dessa cama? Temos assuntos a tratar... — fala
sorrindo maliciosamente. — Você foi uma garota má me acordando hoje...

— Eu fui?— questiono, e ele beija minha mandíbula, me causando arrepios em locais


certeiros. — Verdade, eu fui.

Carter ri contra minha pele e lá se vai meu raciocínio.

— Hora de pagar.

Como uma boa menina, e nada burra, sorrio abertamente.

— Amo quitar dívidas.

Entro na sala com minha melhor cara de paisagem e sorrio para Andrew, que avalia
atentamente minha expressão. Ainda não sei como estão as coisas entre nós.

— O que você fez? — pergunta direto.

— Por que acha que fiz algo? Vim te ver.

— Diz logo, Liza, estou ocupado.

Tento não me abalar com suas palavras duras.

— Sabe o Allan... meu vizinho?

Ele arqueia uma sobrancelha e me olha sério.

— Sei.

— Que eu amo muito e que vai adotar o Gabe comigo...


— Hmm.

— Então, nós não somos mais namorados.

Andy suspira e sorri aliviado.

— Poxa, Liza, achei que a notícia fosse ruim! — diz contente.

— Agora somos noivos! — falo rápido.

Meu melhor amigo murcha o sorriso e me encara fixamente.

— Noivos? Elizabeth, tem noção do que é estar noiva? Você quer se casar com um cara que
conhece há menos de um ano? Ficar a vida toda com um homem que você não conhece!?

Sim.

— Acabou a ladainha? Já pode ficar feliz por mim! Allan me ama e isso que importa!

Andy bufa e dá de ombros.

— Você não reconheceria alguém que te ama nem se estivesse na sua cara.

Respiro fundo.

— O que você quer dizer?

— Que você busca tanto por amor e aceitação que vai cair em um casamento fracassado
apenas para suprir seu desfalque de afeto durante a vida.

Ai.

Meus olhos ardem com lágrimas contidas.

— Você não sabe nada sobre amor, eu espero que um dia sinta metade do amor que sinto por
Allan e se arrependa amargamente das suas palavras.

— Eu sei o que é amor, por isso falo isso! — ele se altera. — Eu estive com você por anos e
sei como sua mãe te afetou, não quero você se casando com o primeiro par de bolas que se oferece.

Eu não posso acreditar.


— Se é isso que pensa, então não podemos continuar dessa maneira — minha sobe um tom —,
me demito.

Ele não se abala.

— Os Recursos Humanos irá entrar em contato.

Dói como uma cadela passar por isso.

— Adeus, Andrew.

Ele não me responde, e saio de sua sala. Não queria perder meu melhor amigo, mas a decisão
não é minha. Bons amigos te ajudam a ficar de pé, amigos falsos admiram sua queda.
CAPÍTULO 37
Ethan Matthew White.

OK, hoje é só um dia normal, com pessoas normais, nada demais na rotina, vou para
Imperion, trabalho, irrito Dominic, me caso, vou para o Caribe e pronto. Não há motivos para ficar
ansioso.

— Você está ansioso?

Quase tenho um enfarte ao ouvir a voz de Emma, levanto meu olhar e encontro a mulher, que
ferrou meu emocional, somente de toalha, secando os cabelos. Ainda tento entender como essa
demônia conseguiu me dominar.

— Não estou ansioso! — minto e me levanto da cama. — Por que estaria?

Ela arqueia uma sobrancelha e sorri de canto. Agora me lembro o porquê sou dominado,
Emma é a mulher mais perfeita que eu poderia imaginar, com ela,sou completo.

Ela equilibra meu mundo.

Tenho que parar de pensar essas coisas clichês, isso é convivência com Damon.

— Vamos nos casar em algumas horas, isso é motivo para estar ansioso — diz e solta uma
risada nervosa. — Vou me casar em algumas horas!

— Não vai mudar muita coisa, a única diferença é que eu vou poder esfregar na sua cara que é
minha mulher legalmente e que vai ser minha senhora White — provoco e beijo seu ombro vendo se
arrepiar. — E talvez assim você libere o protegido pra mim.

Ela ri e me empurra de leve.

— Está se casando comigo pelo sexo?

— Não, mesmo que seja alucinante foder você todos os dias e todo momento... — Aperto seu
corpo minúsculo contra minha ereção. — Me caso com você porque te amo mais que tudo na minha
vida e trocaria cada centavo no banco por um beijo seu.

Retiro sua toalha, deixando suas curvas bem evidentes. Ela não chega aos meus ombros em
altura, seu cabelo rosa me deixa mais duro. Ela é minha fadinha tão pequena. Olho para meu pau, que
ama a pequena demônia, e sorrio.

Se Deus fez, é porque cabe.

— Não podemos... Vamos nos atrasar — protesta, mas geme quando eu puxo seu corpo para
cama.

— Podemos, vou te foder pela última vez como minha noiva — digo e chuto minha cueca para
longe. — Depois de hoje você vai gozar sendo minha esposa, pra sempre.

Ela se perde. Emma desce sobre mim e sorrio ao ver que libertei a fera.

— Rápido, as meninas vão chegar em breve e não quero perder meu horário no salão.

Pretendo protestar, mas ela se abaixa sobre minha ereção e meu cérebro vira mingau.

— Porra... — sou obrigado a gemer quando ela me monta e preciso pensar em Dominic de fio
dental para não gozar antes da hora. — Eu vou morrer.

Ela grita quando bato em sua bunda e a deito de costas na cama ainda entrando e saindo.

— SIM! MEU... — Ela me marca com as unhas. — FORTE!

Quem vê não imagina que essa pessoinha é tão suja.

— Assim?— provoco metendo fundo. — Diz pra mim quem vai te fazer gozar.

Emma grita e geme e grita e meu Deus Eu a amo.

— VOCÊ! OH MEU... — ela chora quando a viro de quatro e entro lentamente — Eu não...

— Eu vou foder essa boceta para o resto da minha vida, você vai ser minha para o resto da
minha vida — falo bem no seu ouvido enquanto deixo meu pau dentro dela. — Diga que sim.

— Sim, eu te quero para sempre, não para...

Eu não paro até minha futura esposa cair na cama desgastada de tanto gozar e com os lábios
vermelhos dos meus beijos.

— Banho... — ela diz gemendo— de novo.


Eu dou risada, e ela sorri.

— Quer ajuda?

— Não, mantenha esse monstro longe de mim. — Mas ela não protesta quando beijo sua testa.

— Eu te amo, smurfzinha.

— Eu te amo, Ethan, mais que tudo, e o melhor presente da minha vida é ter achado um homem
como você. — Sinto lágrimas, não posso chorar agora.

— Gostoso e de pau grande? — Ela ri.

— Sim, isso também. — Ela beija meu peito.

— Sabia que você não iria resistir à anaconda.

— Isso no meio da suas pernas não deveria entrar em mim. — Eu rio alto.

— Sua safada, vá antes que te foda mais uma vez.

Emma pula da cama, e eu admiro seu corpo.

— Vai olhando, será sua última visão antes de assinar os papéis.

Meu coração fica aquecido.

Minha mulher.

— ESTOU ATRASADA! A CULPA É SUA!— minha noiva grita.

— Você não estava reclamando quando era meu pau dentro de você. — Só tive tempo de
desviar da escova de cabelo que passou raspando em meu rosto. Mulher agressiva!

— Cala essa boca!— ela brada. — EU VOU ME ATRASAR!

— Eu sei usar muito bem a minha boca... — digo maliciosamente, e ela bufa. — Você sabe
que

sim.

— Se não sair desse quarto, vai ficar uma semana longe da minha vagina.

Ela blefa. Mas obedeço, porque amo uma mulher mandona.

Chego na sala e todo exército de mulheres que manda e desmanda em mim e nos meus amigos
está parado, com sorrisos maliciosos. Menos Jade, que está vermelha, só não sei se é de timidez ou
raiva por Dominic estar sentado no sofá, relaxado. Deve ser os dois.

Dois minutos depois, Emma entra na sala já vestida.

— Desculpa, meninas, tive um contratempo! — Emma diz e abraça cada uma delas, sorrindo.
— Vamos antes que eu mate Ethan!

— Pela sua cara, o contratempo foi ótimo! — Lia provoca e ri.

— Até que enfim, Ethan! Achei que teria que mandar sinal de fumaça pra você sair daquele
quarto! — Damon surge da cozinha com Lottie no colo.

Definitivamente eu amo aquela coisa gordinha que se diz filha do meu melhor amigo. Eu tenho
plena certeza que serei o melhor pai do MUNDO.

— Isso tudo é ciúmes, gato? Tem Ethan pra todo mundo! — provoco e jogo um beijo para
Damon.

— Por que eu sou seu amigo? — revida.

Dou de ombros e me aproximo de Emma, que me olha feio. Mulheres! Eu dou o melhor sexo
matinal do mundo e ganho um olhar de reprovação!

— Eu te amo! — digo, tocando o rosto delicado dela. — Te vejo no altar.

— Eu também te amo, muito.

— Não demore tanto ou vou te buscar e vamos nos casar em Vegas.

Eu não estou brincando.


— Não irei... — ela diz e sorri para mim. — Amo você.

Deus, eu estou apaixonado!

— Vegas?

— Chega desse show de amor, por favor! Eu não aguento mais melação nessa família! —
Dominic resmunga.

Anotem, quando ele estiver apaixonado, irei me vingar.

— Cala boca, oxigenada! — respondo e beijo Emma levemente.

E como o time não estava completo, eis que a porta é aberta e o gêmeo do mal surge

acompanhado de Allan.

— Posso saber o que as damas estão fazendo aqui? Emmy, era pra você estar em um SPA
tendo seu dia de noiva! — Arthur brada.

Eu gosto do meu cunhado, mas se Emma é o demônio, Arthur é o rei do inferno.

— Já estou indo, Thur! Tive um contratempo!

— Transar com seu noivo não é um contratempo, maninha! — revida e me olha sério. — Não
é

mesmo, Ethan?

Sorrio e dou de ombros.

— Foi um ótimo contratempo se quer saber! — respondo e levo um tapa de Emma. — Ai,
amor.

Meus amigos traíras riem e fecho a cara.

— Vamos logo! Temos muitas coisas pra fazer! — Liza diz aplaudindo e se aproxima de
Allan. — Tchau, amor!

Allan, como bom bobo apaixonado, sorri feito um idiota e acena.

— Tchau, meus amores! — Lia se despede de Lottie e Damon com um beijo. — Carter, se
nossa filha tiver um fio fora do lugar, se considere morto!

— Também te amo, Lia! — ironiza, e ela sorri.

Eu já parei de tentar entender Lia e Damon.

— Não apronte, Ethan! — Emma pede e me beija com calma. — Ou não vão achar seu corpo!

Eu não quero arriscar! Sou lindo demais pra morrer tão cedo!

— Hm, tchau, rapazes! — Jade diz tímida e sorri para todos, mas quando chega em Dom, ela
fecha a cara.

Dominic mantém sua expressão séria, mas conheço aquele loiro há tempo demais para saber
que ele está a fim da morena. Mas eu sei que não será fácil para os dois admitirem sentimentos. Por
isso e pelo fato de querer ver meu belo amigo oxigenado provando do próprio veneno, irei fazer te
tudo para juntar essas duas mulas empacadas e deixar o último Carter solteiro de quatro por uma
mulher.

— Aqui estamos nós de novo nos preparando para um casamento! — Allan diz sorrindo.

— E o próximo será o seu, bro! — Damon lembra e bate nas costas do irmão.

Quando foi que os caras mais cafajestes do país viraram homens de família?

— Só falta o Dominic assumir que está de quatro pela Jade e podemos ser titulados como os
quatro mais bem casados! — provoco.

Rio de sua careta e rumo para cozinha buscar algo que faça meu nervosismo sumir, álcool é
ótimo nesse quesito.

— Eu não tenho interesse naquela pirralha irritante! Ela não faz meu tipo! — Dom responde
com desdém.

Olho para Damon e ele tem o mesmo olhar que eu. INCREDULIDADE.

Sempre admirei minha relação com Carter, apesar de nossos pais serem amigos de longa data
e eu herdar um lugar como sócio na Imperion, Damon e eu sempre fomos amigos inseparáveis, meio
gay, mas é a pura realidade, Dom sempre fez parte da nossa amizade também e digo que se tudo fosse
diferente, Allan seria o quarto mosqueteiro.
— Que tipo? Você pega tudo que possui seios e não tenha um pênis, Dominic! — Allan
responde revirando os olhos. — Nós sabemos que você tem interesse na Jade!

De fato.

— Desde quando minha vida virou reality? Eu já disse que não quero a Winters!

— Ou ela não te quer? Lia me disse que a garota te abomina! — Damon informa e acomoda
Lottie no colo.

Ainda bem que bebês não possuem memória em longo prazo e minha linda afilhada não saiba
falar, ou nós seríamos mortos por uma loira briguenta, mais conhecida como Lia Harper Carter.

— Azar dela! Meu mundo continua girando com ela gostando de mim ou não! — responde
dando de ombros e olha para uva-passa. — Por que a Lia deixou Lottie com você?

Boa pergunta. Damon é um bom pai, mas não possui talento nenhum para cuidar de uma planta,
não consegue trocar uma fralda sem fazer uma bagunça.

— Deve ser porque sou o pai dela! — responde irônico e o encaramos sérios. — Ok... Ela
disse que confia no Allan e no Ethan pra cuidar do bebê.

Eu disse que serei um bom pai.

— Agora faz sentido! — Allan diz e brinca com as mãozinhas gorduchas de Lottie. — Sorte
que o tio é pediatra, não é, bebê!?

Homem metido!

— Mesmo assim, ela prefere a mim! — revido e sorrio satisfeito.

Sempre irei usar essa vantagem.

— Você não deveria estar se arrumando pra casar? — Damon questiona.

— Eu já sou lindo naturalmente, meu caro melhor amigo, só preciso do meu terno! — digo
presunçoso.

— Terno Branco! — dizem juntos.

E daí que eu gosto de termos brancos? É uma grande metáfora para o meu sobrenome, me
casar de branco significa que a noiva me tem por completo, até na minha cor favorita.

— Eu fico muito gostoso de branco! — me gabo, e eles reviram os olhos.

Só lido com verdades!

Uma coisa que ninguém nunca para pra pensar é no nervosismo do noivo, todos só dão crédito
para as noivas e seu dia mais especial e todo blá blá blá. Mas vocês não imaginam no tamanho do
nervosismo acumulado em um noivo, no meu caso, por exemplo, sou capaz de cavar um buraco no
chão, tamanha minha ansiedade.

— Será que você pode ficar parado, Ethan? Estou ficando tonto! — Dominic resmunga ao meu
lado.

Por que eu chamei esses paspalhos como padrinhos?

— Você já é tonto, Dominic! — respondo irônico, e ele nem se dá o trabalho de me responder.


— Ela está demorando! Será que ela vai aparecer? Eu mato aquela Smurf se me deixar aqui!

Eu não estaria aqui se tivesse mantido meu ciúme guardado, minha vida amorosa começou no
momento que a beijei naquela boate, mas algo me diz que me apaixonaria por ela independente da
forma que nos conhecemos.

— Lá está a Jade! Com certeza as garotas chegaram! — Allan diz, e foco meu olhar na morena
tão baixinha quanto Emma surgindo pela igreja.

Eu não tenho a mínima ideia de que pano possa ser aquele, mas o vestido é lilás e muito
bonito. Olho discretamente pra Dominic e o vejo olhar com admiração para Jade. Loiro burro!

— Limpa a baba — Damon sussurra, e todos nós rimos, com exceção de Dom.

Jade se posiciona do outro lado do altar, onde as madrinhas ficarão. Em busca de coragem,
olho para os bancos e avisto minha mãe chorando emocionada — típico — e meu pai, sorrindo
orgulhoso. George White e Lucie, meus pais, mesmo morando longe por conta da separação, ainda
sim decidiram ficar próximos um do outro, eu queria que meu pai saísse de Londres e voltasse para
cá, mas nem tudo são flores.

Recobro minha lucidez assim que a marcha nupcial se inicia e se me achava nervoso, descobri
que sou capaz de elevar meu estado em níveis absurdos. Mas tudo sumiu, a música, as pessoas, meu
medo, no momento em que o motivo dos meus sorrisos cruzou a porta usando um vestido branco, com
boa parte da saia repleta de brilhos que, ao contato com a luz, criam um efeito de arco-íris. Não
poderia esperar menos de Emma.

Rio assim que ela se aproxima, e Arthur me entrega a irmã.

— Eu vou falir você se fizer minha irmã sofrer! — ele sussurra sério.

Eu não duvido disso.

— Não irei! — digo e faço disso minha promessa.

Emma sorri e vejo que ela está segurando para não chorar. Tão linda.

— Você fica lindo de branco — elogia, e sorrio a trazendo para o altar.

— Você também! — respondo e aponto para o glitter. — Meu arco-íris.

Nos viramos para o padre e ele começou toda uma história na qual eu não prestei a mínima
atenção e acho que tinha a ver com um pombo e almas... Meu único pensamento era o quanto eu
queria ter minha mulher em meus braços, longe de todos os olhares.

— Podem dizer os votos! — o padre sentencia, e olho para Emma.

— Eu primeiro! — digo, mas ela arqueia uma sobrancelha.

— Eu digo primeiro! — responde, arrumando o vestido.

Não seria Emma se não brigasse comigo no altar.

— Par ou ímpar? — proponho, e ela acena. — Par!

— Ímpar! — Jogo os dedos, e ela bufa.

Sorrio vitorioso e olho para o padre, que nos encara perplexo, Damon e Allan estão
segurando o riso, enquanto Dominic está fingindo que não me conhece. Bastardos!
— Emma, ainda tento entender em que momento me tornei um homem apaixonado, se me
perguntassem quando descobri que te amo, eu não saberia responder! — digo tomando fôlego —, não
sei se foi seu tapa naquela boate, ou sua joelhada nas minhas bol... — me interrompo ao lembrar que
estou dentro de uma igreja —, mas quero que saiba que meu mundo não é o mesmo e você apareceu
para colorir minha vida, meu gnomo colorido! Eu quero envelhecer com você, ter filhos com você e
ser o coroa mais lindo do país com a mulher mais linda do mundo! Agora já posso beijar a noiva?

Todos riem e solto uma risada abafada. Nem preciso dizer que estou ligeiramente me
desidratando de tanto chorar, não é?

— Você é um idiota, convencido, metido, com problemas de organização, um troglodita na


maior parte do tempo... Mas, por alguma razão, te amo! — diz sorrindo e limpa as lágrimas. — Eu
amo como você me faz rir, amo brigar com você, amo muito mais saber que você será o coroa mais
lindo do país e que é todo meu! Eu nunca pensei que iria dizer isso, mas... você é o motivo da minha
felicidade, Ethan White.

Olho suplicante para o padre e ele percebe minha necessidade de estar com ela.

— Ethan White, você aceita Emma Carson para amar e respeitar até que a morte vos separe?

— SIM! — respondo sem dúvidas.

— Emma Carson, você...

— ACEITO PADRE! DIZ LOGO QUE ESTOU CASADA! — ela o corta.

Ponho nossas alianças e sorrio orgulhoso.

— Com o poder concedido a mim, eu os declaro marido e mulher, agora pode beijar a noiva!

Sem mais delongas, colo nossos lábios em um beijo cheio de paixão. Que se foda a platéia!

EU ESTOU CASADO!!!

— Guarda o ânimo pra lua de mel, Ethan! — Dom resmunga, e me afasto de Emma.

Emma White.

— Você fica linda casada! — provoco.


— Eu sou linda de todos os jeitos.

A puxo para mais um beijo demorado e abraço sua cintura.

— Eu te amo, senhora White! — declaro.

Ela segura minha gravata e sorri.

— Eu te amo, senhor White!

Eu não poderia ser mais feliz.


CAPÍTULO 38
Allan

Eu nunca me considerei um homem iludido, mas tenho que admitir que fui completamente
burro ao cogitar que depois de pedir Liza em casamento, ela me daria mais atenção. Grande engano,
depois do casamento de Ethan, minha querida noiva simplesmente fez um pacto com minha cunhada e
Jade e aquelas três não se desgrudam mais.

Tecnicamente, são quatro, já que Lottie sempre está com elas e meu querido irmão não pode
fazer nada a não ser observar tudo calado, como um bom homem adestrado. Queria rir dele, mas
estou na mesma situação.

— Eu não entendo a necessidade de todo esse drama para decidir a cor das toalhas de mesa...
Quem repara nas malditas toalhas?— Damon resmunga e olha em direção da mulher e da filha.

Bebo minha cerveja e encaro a TV, onde passa um jogo qualquer de futebol, odeio futebol.

— Ela pode escolher seda para as toalhas que eu não dou a mínima! — digo, e Damon sorri.
— Estar no altar é minha única exigência!

Olho para o lado e vejo Liza folheando um catálogo com um sorriso lindo e olhos brilhando, e
eu seria capaz de me casar com ela centenas de vezes só pra ver essa felicidade.

— Você vai babar em cima de mim! — Damon provoca, e reviro os olhos.

— Como se você não fosse um idiota que sorri feito um bobo cada vez que Lia abre a boca!
— revido.

Ele dá de ombros e toma sua cerveja.

— Eu amo minha família! Sorrir feito bobo é o de menos!

Iria responder, mas meu celular começa a tocar. Olho para o visor e meu sangue gela. Hillary.

— Alô?— atendo prendendo a respiração.

— Boa tarde, sou a enfermeira que está com a paciente Hillary McMillan e encontramos seu
número na discagem de emergência, é algum parente próximo?
Paciente, enfermeira.

— O que aconteceu? Por que ela está em um hospital? — digo me preocupando.

Apesar de Hillary ser uma vaca cruel, ainda é mãe de Gabe e não quero meu pequeno triste.
Meu Deus, Gabriel!

— A paciente sofreu um acidente e meu dever é ligar para um contato de emergência, já que
foi deixada aqui no hospital por um homem não identificado.

Que porra!

— Há uma criança de cinco anos com ela? — pergunto com o coração pesado.

— Sim! — Um tiro no meu peito doeria menos. — Um garotinho que veio acompanhado da
mãe

e está sendo atendido e cuidando dos ferimentos...

Parei de ouvir quando ela disse ferimentos. Não pode ser.

— Estou indo! — digo, e a enfermeira me passa o endereço.

Sinto dedos macios limparem uma lágrima solitária dos meus olhos e encaro Liza. Seu olhar é
de dúvida e preocupação.

— O que houve, meu amor?

Respiro fundo.

— Hillary deu entrada no hospital e Gabriel está lá... — digo a última parte sofrida. e ela fica
com os olhos marejados. — Eu estou com medo!

Eu não posso perder outro filho.

— Eu dirijo!— Damon diz sério, e o agradeço com o olhar.

— Vou com vocês!— Lia surge com Lottie no colo e Jade ao seu lado. — Nem adianta
protestar, Damon!

Meu irmão retira a chave do carro e toca meu ombro.


— Estamos com você, Allan.

Chego no hospital atordoado e corro em direção à recepcionista.

— Hillary e Gabriel McMillan!— digo, e a moça me olha atentamente.

— Parente dos pacientes?

Meu estado de nervosismo é enorme, sou capaz de quebrar esse hospital.

— Sou o pai da criança! O número de emergência, então, por favor, me dê a merda do crachá!

— Preciso da sua identidade e. — ela ia continuar, mas Liza bate com força no balcão.

— Escuta só, garota, o meu filho está nesse hospital sozinho e ferido, e eu não tenho paciência
pra esperar suas perguntas irritantes! — grita, e a recepcionista fica sem saber o que fazer. —
Entrega logo os crachás ou ponho esse hospital a baixo!

Sem pestanejar, a mulher nos dá os crachás e posso ver que ela realmente se sentiu ameaçada.

Liza, quando quer, consegue por medo. Corro para área indicada e encontro um médico saindo
do quarto.

— Somos os parentes de Hillary! — digo, e ele me observa um pouco — Sou Allan Carter!

— A paciente foi trazida por um homem não identificado e deixada na recepção juntamente
com uma criança, ela apresenta sinais de espancamento e os laudos confirmam que estava sob os
efeitos de heroína — diz pausadamente, e meu corpo fica tenso. — A criança possui ferimentos
superficiais, mas está tratada.

Aliviado, consigo sentir o oxigênio voltando aos meus pulmões.

— Você disse que a mulher estava drogada quando chegou aqui?— Damon pergunta sério.

— Sim, hematomas e ferimentos nas mãos.


— Vão cuidar do Gabe, nós cuidamos dos dados aqui. — Damon diz me olhando, e sorrio.

Liza mal espera meu irmão dizer e corre para o quarto sem me esperar. Assim que entro no
cômodo, encontro meu pequeno encolhido na cama com os olhos vermelhos e curativos no braço e
arranhões no rosto.

Eu vou matar quem fez mal para ele.

— Meu amor! — Liza diz com a voz embargada e corre até ele. — Estou aqui agora!

Gabriel não pensou duas vezes antes de abraçá-la e fungar em seu ombro. Reparo na
enfermeira e me aproximo.

— Você fez a ligação? — questiono.

— Sim, fui eu! — A mulher é morena e não deve ser mais velha que Liza.

— Ele teve alguma crise respiratória? Algum inchaço no peito? — pergunto sério.

— Apenas falta de ar leve quando chegou, já foi aplicado uma medicação apropriada, senhor.
— diz com cautela.

Aproximo-me de Gabe e afago seus cabelos, é tão bom ver ele bem.

— Oi, meu pequeno!

— Pai!— diz com os olhos marejados.

Fico em choque por segundos, ele nunca me chamou de pai antes. O abraço apertado e ele
chora.

— Estou aqui, filho! Você está bem? Como está sua respiração? — pergunto preocupado.

— Consigo respirar! — responde, e começo a analisar detalhadamente seus arranhões e


hematomas. — O homem mau chegou gritando com mamãe... Ele era forte, ela me jogou...

Ela feriu o próprio filho?

Trinco o maxilar e respiro fundo, a partir de hoje meu filho irá morar comigo e vou usar todo
poder que tenho para conseguir a guarda dele.
— Vai ficar tudo bem, meu bebê! Nós vamos cuidar de você agora! — Liza diz, fazendo
carinho em Gabe.

— Eu não quero voltar, pai! — pede suplicante. — Eu não quero a mamãe ruim! Quero a Liza!

— Eu estou aqui pra sempre! — ela responde e o abraça. — Você precisa descansar agora,
filho!

— Vou conversar com meu irmão! — aviso e beijo Gabe.

Saio do quarto e encontro meu irmão e Lia distraindo Lottie, enquanto Dominic está
visivelmente abalado andando de um lado para o outro.

— Como está Gabe?— Jade, que estava sentada próximo à porta, é a primeira a me ver.

— Cansado e abalado! — informo com o coração na mão.

— Allan, você é médico, diz que ele vai ficar bem! — Dominic diz desesperado.

— Gabriel não corre perigo, mas vou fazer uma bateria de exames nele assim que estiver mais
calmo! — aviso, e Dom relaxa um pouco. — Quero sua ajuda, Dominic.

Por mais que meu primo não exerça a profissão de advogado em causas fora da empresa, ele
será útil para minha busca a guarda de Gabe. Aliás, nem sei por qual razão Dominic tem um diploma
se tudo que ele faz é verificar contratos jurídicos na Imperion.

— Peça! Tem algo haver com Gabe?

— Quero entrar com um pedido de urgência pela guarda dele! A mãe foi espancada e ele
sofreu com isso, nenhum juiz pode me negar esse pedido.

— Eu irei entrar com o pedido hoje mesmo! — diz sério, mas vejo um sorriso se formando.
— Eu vou ganhar esse caso, Allan, sou o melhor e não aceito sair daquele tribunal sem meu afilhado.

— Não sabia que era advogado! — Jade diz, e recebe um olhar atento de Dom.

Esses dois e o clima que é visível da lua.

— Ele parece burro, mas é o melhor advogado que conheço! — Damon diz se aproximando
com a filha nos braços.
A uva-passa, com três meses, já visitou mais lugares que muita gente.

— Eu sei que sou o melhor! — se gaba, e reviro os olhos.

— Amiga, o ego da família Carter é muito grande! — Lia diz, e Jade acena.

Que absurdo!

— Não só o ego! — dizemos juntos, e elas reviram os olhos.

Meu primo e meu irmão apenas dão de ombros e faço o mesmo. Que culpa tenho se somos os
melhores?

— Eu que achava o Ethan metido! — Winters resmunga.

— Por falar em Ethan, vocês não acham estranho ele não ter ligado nenhuma vez durante a
semana? — Lia questiona.

— Amor, ele está em lua de mel!

— Mas é o Ethan! Ele não vive um único dia sem irritar um de nós!

— Ele está em uma praia paradisíaca no Caribe, sem qualquer sinal de internet ou celular!—
Dominic diz sorrindo.

— Como você sabe disso? — pergunto já suspeitando da resposta.

— Porque foi meu presente de casamento, uma viagem com tudo pago e, de quebra, ganho
duas semanas de paz e sossego! — diz sorrindo, orgulhoso. — Esperei 29 anos por isso!

— Você é um péssimo amigo! — Jade diz rindo.

— Eu sei!— responde metido.

Sorrio para eles e me afasto um pouco, preciso ter uma conversa definitiva com Hillary.
CAPÍTULO 39
Allan Seller Carter.

Eu quero respostas, e não vou medir consequências para conseguir. Posso transparecer a
imagem de um homem pacífico e centrado, mas poucos sabem o quanto consigo ser um verdadeiro
demônio. E vou transformar a vida do filho da puta que assustou meu filho em um inferno.

Passo pela recepção sem me importar com o olhar raivoso da recepcionista, em outro
momento, eu teria feito tudo certo e me cadastrado como visitante, mas estou cego pelo ódio, e estou
orando para não cometer um homicídio quando aquela cadela começar a contar o que aconteceu.
Entro no quarto e Hillary está dormindo, possui manchas roxas pelo rosto e está com o braço direito
engessado.

A escuridão faz parte de mim, e está na hora de ser liberta. Aproximo-me da cama com ódio e
inclino a cama da vadia, segundos depois, Hillary se contorce e ofegante abre os olhos. Sei que essa
posição iria doer seus ferimentos.

— V... você!— diz quando me reconhece. — Não pode me ferir!

Sinto vontade de rir de sua ingenuidade, ela não sabe o que eu sou capaz.

— Eu posso fazer tudo que quiser, inclusive me livrar de você! — digo com desdém, e ela
arregala os olhos. — Mas como sou um cara muito bom, vou te dar a chance de me contar tudo que
quero saber e sumir da minha vida!

— Eu vou te processar por me ameaçar! — afronta.

Não segurei a risada.

— Faça isso, quero ver você conseguir grana para tentar pôr um Carter na cadeia. Será
divertido ver você tentando ganhar! — digo com uma risada abafada.

— Eu não irei dar a guarda do meu filho para você.

Como se eu precisasse dela, qualquer juiz com bom senso enxerga que ela é uma péssima
mãe.

— Uma mulher viciada em heroína, com dívidas em praticamente toda cidade e com um
histórico agressivo... Hmm, de qual lado um juiz irá ficar? — digo sarcástico.

— Eu sou a mãe dele! Você não pode separar um filho de uma mãe! — se altera.

Até sentiria pena, mas perdi essa habilidade há anos.

— Você não ama seu próprio filho, Hillary, nunca se deu o trabalho de ser uma mãe! Gabriel é
uma criança que, definitivamente, não merece viver no meio da sua sujeira! — digo grosso.

Ela me encara furiosa.

— Ele destruiu minha vida! Eu era uma mulher desejada e todos os homens me queriam... Até
eu conhecer o maldito pai daquele pivete! — conta, e me controlo para não voar em seu pescoço. —
Ele disse que ficaria comigo e com o bebê, então deixei aquela peste vir ao mundo para semanas
depois o desgraçado fugir com outra mulher!

Mulher.
— Gabe não tem culpa das suas merdas, sua vadia! Ele não pediu para nascer!

— Não entendo por que você quer tanto aquela peste! Ele é só uma criança com uma doença
que cedo ou tarde irá matá-lo... Você é um riquinho de merda que busca status, adotando uma criança
pobre!

Fecho meus olhos e respiro fundo.

— Eu não preciso de fama, cuido de Gabe porque o amo e não vai ser você que irá me
impedir de cuida do MEU FILHO! — digo, enfatizando a última frase.

— Você nunca será o pai dele e aquela cadela da sua namoradinha nunca será a mãe de
Gabriel! — diz sorrindo debochada. — Aquela puta só irá se iludir!

Perco qualquer lógica quando ela ofende minha mulher. Seguro o pescoço de Hillary com
força e ela fica sem ar. Ótimo.

— Escuta só, cadela, eu te mando com passagem de ida direto para o inferno se abrir essa
boca para ofender minha mulher e meu filho! — ameaço, e ela se debate contra minha mão. — Não
duvide de mim, pois posso transformar sua vida em um inferno!

A solto ela tosse em busca de ar. Patética.


— Louco!

— Quem foi o filho da puta que ameaçou meu filho? — peço impaciente.

— O desgraçado que me espancou você quer dizer...

— Pra mim, ele fez pouco! Você ainda respira! — digo com nojo. — Você teve a coragem de
ferir uma criança e estou por um fio de te matar.

Eu não sou a favor de violência contra mulheres, mas que se foda a porra do bom senso.

— Edgar!— responde seca. — Ele é um traficante barra pesada... Estava devendo muita grana
pra ele e então o desgraçado surgiu e me deixou um lembrete! — diz irônica. — O pestinha se enfiou
na frente, enquanto ele me punia, e acabei o empurrado contra parede.

O que me surpreendeu é Gabe tentando ajudar a mãe.

— Seu filho se machucou!

— Antes ele que tivesse levado mais socos! Foi pra esquecer aquele merda que me viciei nas
drogas! — diz dando de ombros.

Ah, essa é demais.

— Por que não me entrega a guarda, Hillary? Faz algo de bom por ele uma vez na vida!

Ela me olha com um lampejo de dor.

— Porque ele se parece tanto com o pai... — diz e escorre uma lágrima. — Você é
malditamente parecido com Ben!

Ela tem um coração. Que descoberta incrível!

— Hillary, ele não merece sofrer por culpa de um filho da puta! — digo sério.

— E eu mereço? Olhe para, mim Allan! Uma drogada e alcoólatra que não consegue emprego
e precisa vender o próprio corpo para ter comida... Eu sou um fracasso! — Chora.

Eu não sinto pena, sei o que é estar no fundo do poço mais do que ninguém. Hillary é uma
mulher mal-amada e perdida. Uma grande vadia cretina, mas mesmo assim sofrida.
— Eu posso pagar uma clínica de reabilitação e te deixar internada! — digo, e ela me encara
confusa. — Não entenda mal, eu realmente te odeio, mas você é a mãe biológica de Gabriel e faço
isso por ele, não por mim.

— Por que não me deixa morrer em uma overdose futura?

— Porque não quero que, no futuro, meu filho se sinta culpado pela sua vida medíocre,
Gabriel é um bom garoto e merece a mãe viva. — Digo sincero. — Me dê a guarda.

— Eu o verei de novo?

Por mais que queira gritar que nunca, ela é a mãe.

— Depois que sair da reabilitação e conseguir ser um ser humano comum você poderá vê-lo.

Ela pensa um instante e suspira.

— Eu abro mão da guarda, você é um desgraçado, mas é um bom pai... Um que Ben jamais
seria — admite.

Sorrio de leve, mas meu interior explode de tanta felicidade.

— Assim que tiver alta, irá ser internada! — falo sério. — Você fez algo bom para seu filho.

— Eu sei.

Viro-me e saio do quarto, me permitindo sorrir alegremente. Meu filho logo será meu para
sempre. Agora só existem duas coisas que precisam ser resolvidas para que eu finalmente fique
totalmente feliz.

Bill e Edgar.

Pego meu celular e disco o número para Dominic, ele atende no segundo toque.

— Sim?

— Ela me deu a guarda!— digo direto.

— Me dê uma semana e será legalmente pai de Gabriel!

Como é bom ter advogados na família.


— Obrigado!

— Ninguém tenta afastar meu afilhado de mim! — diz sério.

Desligo e suspiro aliviado.

A parte difícil será contar a Liza meu acordo com Hillary, tenho plena certeza que ela irá me
matar.

Droga!
CAPÍTULO 40
Liza

Acomodo Gabe na cama e observo com atenção seu rostinho angelical, eu amo esse garoto
bem mais do que poderia imaginar e só o pensamento de alguém o ferindo me deixa irritada. Mas sei
controlar minha ira.

Allan já não pode se dizer o mesmo, ele está estranho desde que saímos do hospital ontem à
noite, distante e com o olhar perdido. E hoje acordei sozinha na cama, sei que ele foi tirar satisfações
com a vadia da Hillary e temo por isso. Deixo meu pequeno descansar após uma manhã inteira sendo
paparicado por tios exagerados, e Jade que simplesmente se apaixonou pelo encanto de Gabriel.

— Ele dormiu?

Olho para morena que está sentada no meu sofá, no início, ela se pareceu bem tímida, mas só
no início mesmo, essa mulher tem um temperamento explosivo. Por isso a amo.

— Dormiu, acho que ele se cansou de comer todo o chocolate que você trouxe!

Quem não ama uma amiga confeiteira?

— Tenho bem mais lá em casa, estou fazendo experimentos para sobremesas novas... E estou
usando você e Lia como cobaias!

— Não estou reclamando! — respondo rindo. — Já conseguiu um emprego?

O sorriso dela morre, Jade é a melhor doceira do mundo, mas só talento não paga as contas.

— Ainda não, mas não vou desistir!

— Você é a melhor, claro que vai conseguir! — encorajo, e ela sorri. — Quer ser madrinha de
Gabe? E minha madrinha de casamento?

Ela sorri radiante e me abraça com força.

— Claro! Ai de você se não me chamasse, iria por veneno no seu bolo!— ameaça e ri.

Quanto amor.
— Bom, você sabe que será par de Dominic, não é?

Automaticamente ela revira os olhos.

— Nem tudo é perfeito! Dividir o mesmo ambiente que aquele insuportável é o de menos —
diz se levantando. — Quem sabe eu não o mate enquanto ninguém olha?

Dou risada. Sei bem onde essa história vai dar, pena que nenhum dos dois consegue perceber
ainda.

Ouço batidas na porta e, sem esperar, Lia entra no meu apartamento normalmente.

— Folgada! — Jade acusa e ganha um sorriso debochado de Lia.

O que a convivência com Damon não faz.

— Em minha defesa, eu bati! — ela diz e se acomoda no meu sofá. — O que eu perdi?

— Jade vai ser par de Dom no meu casamento!

Lia sorri maliciosamente e bate palmas.

— Aproveita e agarra-o! Dominic não é de se jogar fora! — comenta.

Santa genética Carter!

— Concordo! — digo, e Jade bufa.

— Do que adianta ele ser lindo, e não valer nem o ar que respira?

Tenho que concordar, mas as pessoas mudam.

— Damon era o homem mais cafajeste que você pode imaginar, Ethan e Allan estavam no
mesmo caminho... Olha só onde estamos? — Lia diz sorrindo.

— Sério que Damon era assim? — questiono.

Meu cunhado é tão apaixonado e romântico.

— Aquele babaca era o terror! Antes de me apaixonar por ele, eu o odiava com todas as
minhas forças, o pior chefe.
Dessa, eu não sabia.

— Ainda não acredito que ele te fez uma proposta idiota! — Jade diz rindo.

— Nem eu, quase morri na hora! — sorri nostálgica. — Mas, na época, Dominic era um
nojento.

— Continua sendo! — Jade completa.

— Não mesmo, ele e Damon se odiavam e um queria a morte do outro... Tudo por culpa da
vadia da Anabela — comenta com raiva.

Raiva que compartilho, Allan foi o que sofreu mais, ele ainda não superou a morte do filho.

— Eu não sinto um pingo de remorso por odiar uma morta!— Jade diz dando de ombros.

Ela literalmente merece Dominic.

Iria responder, mas a porta é aberta e a figura de Allan entra e, pela sua expressão, coisa boa
ele não fez.

— Olá, Lia, oi, Jade. — cumprimenta e não sorri. — Onde está Gabriel?

— Dormindo, ele cansou de te esperar para brincar — digo com uma pontada de acusação.

Carter apenas suspira e não responde.

— Lia, você não quer ir comigo no meu apartamento ver aquela coisa? — Jade diz puxando
Lia pela mão.

— Que coisa? — Ela fica sem entender e recebe um olhar mortal de Winters. — Ahhh, aquela
coisa superimportante que temos que ver... Tchau, cunhado, tchau, Liza!

As duas saem correndo, me deixando com meu noivo em um clima tenso.

— É agora que você me conta onde estava e eu relevo?— ironizo.

Allan continua me encarando e se aproxima de mim.

— Estava no hospital com a Hillary... Fui atrás de respostas!

Claro que ele foi, Allan tem o péssimo hábito de ser impulsivo.
— E não poderia ter me acordado e avisado? Custava agir como um noivo normal?

— Queria que eu te acordasse com um café na cama e dissesse sorrindo que fui atrás da mãe
do meu filho? — diz sarcástico.

Esse Allan na minha frente é o mesmo que conheci no início, frio e egoísta. Não é o homem
que amo.

— A mãe do seu filho sou eu! — Altero a voz.

— Jura? Porque eu não vi você fazendo nada para proteger Gabriel daquela vadia! — acusa.

Nocaute.

Só senti o impacto da minha mão no rosto dele e tenho certeza que doeu mais em mim do que
nele, eu não vou admitir ser ofendida. Limpo a lágrima solitária que cai desenfreada do meu rosto e
ajusto a postura.

— Saia do meu apartamento, Carter! — digo tentando manter minha voz inabalável.

Allan me olha arrependido e toca o rosto onde meus dedos deixaram uma marca. Ele me
magoou bem mais do que eu realmente imaginaria.

— Eu não quis dizer isso... — começa, mas lhe dou as costas e abro a porta do apartamento.
— Liza, por favor, me escute.

— Eu te escutei, Allan, sempre te escutei! Eu sempre estou aqui por você!— digo fungando.
— Mas, na primeira oportunidade que tem, você me acusa, se fecha em seu mundinho, e não percebe
o quanto palavras doem.

— Porra, não quis dizer isso dessa forma eu só...

— Eu também amo aquele garotinho, Allan, acha que não me sinto péssima por ele ser
maltratado?— Sinto o salgado das lágrimas, mas não me importo.

— Eu te amo, Liza, mais do que seria saudável.

Me apoio na parede e choro, o dia foi exaustivo.

— Me deixa sozinha, Allan...


Ao invés disso, ele se aproxima e me abraça.

— Eu nunca vou te deixar sozinha, já avisei isso!— completa. — Me perdoa por ser um idiota
e dizer coisas ruins. Eu te amo.

Choro por tudo, por Gabe sofrer, por eu não conseguir impedir isso, frustração por não saber
como lidar com minha vida.

— Eu não sei ser uma mãe, e se tudo que eu conseguir ser para Gabriel for uma mãe ruim e
distante como a minha?

— Olha pra mim! — pede e obedeço. — Você é a mulher mais incrível que conheço e isso te
torna a melhor mãe do mundo! Não ache o contrário.

Seus olhos são tão emotivos que me perco em sua beleza por segundos.

— Eu não sei o que fazer. Allan, não sei como proteger meu filho.

— Hillary nos deu a guarda, Gabe será nosso — diz com um sorriso lindo — Já liguei para
Dominic e tudo vai dar certo.

O olho sem acreditar.

— Como assim, ela nos deu a guarda? Allan, ela nunca faria isso de boa vontade! — digo, e
ele desvia o olhar. — Seller!

— Eu prometi que pagaria uma clínica de reabilitação para ela... Foi isso!

Não, essa não é toda verdade.

— Você não seria um bom samaritano com ela, Carter! Eu sei que fez mais que isso... — falo
pensando em causas e motivos. — Você a ameaçou?

Eu sei que Allan nem sempre foi o bom moço, e que não​ lida bem com a raiva.

— O que importa é que ela fez o certo! Liza, pode ficar feliz!

— Eu estou feliz! Mas você está me escondendo algo, Allan Carter, e isso não ajuda muito sua
situação perante nosso relacionamento!

Eu não gosto de mentiras.


— Você não... — começa a dizer, mas abaixa o olhar — vai gostar do meu lado ruim...

— Seu lado ruim? Eu estou cansada de mentiras e me questionar o tempo todo se você está me
cobrando toda verdade! Para nossa vida dar certo, precisa de confiança mútua e só um de nós
fazendo isso não adianta!

Será que é tão difícil me contar?

— Eu a ameacei, OK? Fiquei no meu limite e por pouco não cometi um homicídio!— confessa
e ri debochado. — Fui atrás de um nome e ela me disse quem fez isso com ela e Gabe, você viu o
estado de medo que nosso filho ficou?

— E qual o seu plano? Vingança?

— Sim, vingança! — admite sem um pingo de arrependimento.

Meu Deus que homem teimoso!

— Você não é o Batman! Será que você não decora que pode acontecer qualquer coisa com
sua vida?

— Quer que eu fique parado?

Reviro os olhos e aceno.

— Claro que quero! Você vivo é muito mais importante, não acha? Eu não vou me casar para
ficar viúva e mãe solteira! — acuso e recebo um sorrisinho. — Não há graça, Seller! Você e sua
vingança é uma combinação perigosa!

— Estou bem!

A maior mentira da humanidade.

— Você tem problemas para superar as coisas! Você não superou Bill!— digo, e ele fica
tenso. — Não superou Anabela, não superou seu pai! Allan, cada segundo que passa, isso te mata por
dentro!

Vejo-o ficar sério e distante.

— Não são coisas simples...


— Claro que não são! Por isso eu estou aqui, para passar por isso com você e te ajudar a ser
feliz! Mas você precisa deixar o passado no passado.

Abraço seu corpo, e ele retribui lentamente.

— Eu vou tentar — diz baixinho.

Eu quero acreditar nisso, mas sei que ele não irá descansar até sua raiva sumir.

— Faça isso por nós.


CAPÍTULO 41
Em algum lugar próximo.

O homem sentado atrás da tela do computador continua encarando sem acreditar na


imagem que a tela exibe, uma mistura de surpresa e ódio é tudo que ele consegue distinguir. Como
aquele bastardo conseguiu chegar ao topo? Ficar rico? Mais rico que ele!Deveria ter o matado
quando teve oportunidade! Deixar aquele pirralho vivo foi seu pior erro, agora ele perambula por
aí com milhões no bolso e um maldito diploma.

Mas agora ele não tem tanto poder como tinha vinte anos atrás, a idade veio e ele não é
mais capaz de matar alguém usando força física, sorte que inventaram as armas de fogo. O
sorriso maléfico no rosto do homem é o mesmo que assombra os pesadelos mais sombrios de
Allan, ele não sabe disso, é claro, poucos sabem. O homem que está na casa dos sessenta não se
arrepende de ter sido "feliz" com crianças, ninguém liga mesmo, um corpo é um corpo, não
importa a idade e isso vale para o prazer.

— Pai! — A voz de seu filho interrompe os pensamentos doentios do homem.

Filhos só servem para dor de cabeça e gastos fúteis, Bill sempre detestou crianças e a
única pela qual conseguiu nutrir um pouco de afeição foi por seu filho, talvez a escuridão que vê
ao olhar para o filho o atraia. Ed sempre foi seu queridinho, não por ser um filho bom, exatamente
por ser o oposto de filho exemplar, problemático, era o que todos diziam mas Bill sabia que o filho
era especial e por isso sentia orgulho do que seu herdeiro se tornou, um líder nato.Durante o dia,
trabalha na empresa de fachada e, por trás de todo terno caro, se encontra a maior facção de
drogas do Brooklin. Edgar não é burro o suficiente para se viciar em heroína ou qualquer outra,
ele é inteligente por atrair suas vítimas para sua teia. Com um sorriso satisfeito, o homem se
levanta e caminha até a sala de estar onde o filho se encontra sentado com uma mulher seminua
em seu colo.

— Oi, filho — responde e joga um sorriso travesso para puta sentada no colo do outro
homem.

— Tenho novidades que irão lhe agradar! — informa e joga a mulher de qualquer forma no
chão. — Descobri mais sobre o doutor, e não vai acreditar!

Bill odiava suspense.


— Seja direto, Edgar!

O filho nem se importa, ao contrário do pai, ele gosta de criar climas perfeitos e dar o bote
na melhor hora. Um show precisa de plateia.

— A vadia que me devia grana é mãe de um pivete que o doutorzinho quer adotar! — Ri
com deboche. — E pra melhorar tudo, a noivinha dele é ex de um dos meus sócios!

Edgar sorri gostando do pensamento, ele detesta trabalhar no escritório de publicidade e


odeia muito mais Pietro, o típico homem mimado e insuportável, pegar sua ex, que por sinal é
maravilhosamente gostosa, seria um pagamento por suportar horas ao lado de uma presença
chata.

— Então, ele quer brincar de casinha? — debocha Bill não acreditando.

Ou melhor, ele não duvida de Allan, o garoto já ajudava as pessoas desde criança,
apanhando e roubando para proteger os mais novos. Um bom samaritano e era impossível não
admirar a coragem do garoto.

— Mas o desgraçado é de uma família importante! O bastardo é um Carter! Uma família


como aquela chama a atenção, Damon é um bilionário muito famoso!

Muito dinheiro da velha escola.

— Vamos pensar em um jeito de nos livrar do bastardo! — afirma o homem e caminha em


direção à mulher, que agora já está nua — Quero Seller morto!

Edgar não entende o ódio do pai, mas obedece, ele gosta de deixar o pai orgulhoso.

— Você o verá morto! É uma promessa! — diz e segura os cabelos loiros da puta.

Edgar não se importa com mulher alguma e seu pai o mataria se soubesse que também
pesquisou tudo sobre a noivinha do Carter e ironicamente se viu atraído pela mulher, a observou
de longe. A mulher é um desastre, e por vezes ele quis apenas proteger a loira do seu próprio azar.
Bill a mataria se soubesse o quanto ele já estava curioso sobre a mulher. Talvez seja desejo ou
curiosidade.

— Sei que irá cumprir, filho! Você não me decepciona!

Bill sabe que o filho ficou estranho ao falar da noiva de Allan, Ed, que decida o que fazer,
uma mulher para o filho não seria má ideia, assim ele daria um neto. Sua fortuna teria herdeiros.

Edgar joga a vadia no sofá e a fode com força. Muitos pensamentos novos.

Dar fim ao Carter.

Do outro lado da cidade, mas precisamente na mansão Carter, Robert aprecia seu vinho
enquanto olha para fotografia dos dois filhos, em uma, Damon está segurando seu diploma do
Ensino Médio com um sorriso satisfeito nos lábios e ao seu lado está Ethan com o braço em volta
do ombro do amigo e em uma das mãos segura uma garrafa de vodca, Ethan é a cópia do seu
querido amigo George White, não há como negar.

Com um virar de páginas no álbum da família, Robert sorri para foto colocada ali
recentemente, Allan segurando seu jaleco e seu diploma na Faculdade de Medicina. O filho mais
velho sofreu tanto e está na hora de ser feliz com sua pequena família, ele fará de tudo para
proteger seus tão preciosos filhos e netos.

Retira o telefone do bolso e disca automaticamente o número de seu velho amigo delegado.
Augusto Medeiros fez parte da vida de Robert e seu irmão Ricardo Carter, juntos eles formavam o
quarteto mais popular da cidade, com a adição de George, é claro.

— A que devo a honra de sua ligação, meu querido engravatado?— Augusto atende no
terceiro toque.

— Preciso de seus serviços, Medeiros! E preciso urgente.

Medeiros sabia que seu amigo não ligaria sem um bom motivo.

— Estou ouvindo.

— Quero a cabeça de um desgraçado que está ameaçando meus filhos.

O delegado sorri só de pensar na prisão do sujeito, ele tem Damon como afilhado e, pelo
que ouviu, o outro filho Allan também é um bom garoto.
— Quando começamos a caçada?

Robert sabia que podia contar com o amigo.

— O mais rápido possível!

Ninguém ameaça um Carter e sai ileso. Bill irá pagar por cada dano.

E Allan é um Carter.
CAPÍTULO 42
Ethan White

Quando era criança, deixei o vaso de cerâmica que estava na minha família há gerações se
partir em dezenas de pedaços, essa foi a primeira vez que fiquei apavorado. A segunda vez que senti
um pavor desse porte foi quando fui flagrado na cama com a filha de um dos meus professores no
Ensino Médio — em minha defesa, eu estava bêbado —, foi nesse dia que descobri que minha
amizade com Damon era forte, o bastardo ameaçou processar a escola por diversas causas que nem
sei se eram jurídicas e sujar a imagem do lugar para sempre, isso tudo porque ele tinha dezessete
anos e era herdeiro de um império. Quando o diretor soube das ameaças, tudo que ganhei foi uma
hora de sermão grátis e um soco de Damon.

Não que tenha adiantado já que na semana seguinte eu estava com a garota novamente... Mas
todo desespero que passei na vida não chega aos pés do que estou vivenciando neste exato momento.
Amar Emma é uma grande montanha russa de sentimentos.

— Você está sendo exagerado, Ethan!— ela resmunga pela milionésima vez desde que saímos
do hotel. — Foi apenas algo que comi!

Tento não perder o resto de paciência que tenho, estou dividido entre preocupação e raiva.

Emma está se sentindo mal há dias, não come, não bebe, vomita e me irrita o dobro, ainda se
recusa a ir até um médico.

— Eu só quero ter certeza que você está bem! — respondo, e ela bufa. — Ou você cala boca
e aceita ir ao médico por bem, ou voltamos para Nova York e será o triplo de pessoas te enchendo o
saco!?

Eu ainda irei matar Dominic afogado em ácido sulfúrico por reservar minha lua de mel em um
lugar sem tecnologia.

— Nós poderíamos estar no quarto aproveitando muito mais nosso tempo... — diz e passa a
mão por meu braço, causando arrepios. — Você não concorda, amor?

Essa demônia me controla, controla meu corpo! E tudo que quero é estacionar o carro e me
livrar desse excesso de roupas! Mas não posso, realmente estou preocupado.
— Emma, estou preocupado e só vou me acalmar quando um profissional me disser que minha
mulher está bem!

Ela sorri de lado e quase perco o controle da direção, meu coração é fraco, essa mulher não
pode ser linda desse jeito, meu Deus.

— Gosto quando me chama de sua... — admite, e acabo sorrindo.

— Mas você é minha! Minha esposa e minha anã colorida.

Emma revira os olhos e ri.

— Como eu fui louca o suficiente para me casar com você?

Não respondo, apenas rio e dirijo até um hospital, estamos em um lugar paradisíaco e com
uma aura de intocado, aqui não há arranha-céus ou carros poluentes, as pessoas andam livremente e
sorridentes. É um bom lugar.

Ando impaciente pelo pequeno consultório e sei que logo Emma irá me mandar ficar quieto
novamente, já faz quase uma hora que o médico, muito babaca a meu ver, coletou uma amostra de
sangue para exames, o desgraçado ficou cheio de sorrisos para minha mulher e quase cometo um
homicídio.

— Está me deixando tonta desse jeito, Ethan! — Olho para ela e suspiro.

— Estou aflito!— confesso e analiso seu semblante. — Você está bem?

— Estou! Pare de ser exagerado por um momento!

Como se eu conseguisse, minha mãe sempre disse que eu era um ator de drama na profissão
errada. Dez minutos depois, o médico metido entra na sala segurando um papel.
— O que ela tem? — pergunto direto, e Emma me soca.

O médico sorri (já mencionei que não gosto dele?) e olha para Emma por tempo demais para
o meu gosto.
— A senhora está grávida! Parabéns, mamãe! — felicita.

Sinto minhas pernas ficarem fracas e me apoio na cama, acho que estou em choque.

— Meu Deus! Ethan! — ela grita e segura meu rosto. — Se você desmaiar, te mato!

Eu vou ser pai?

— Emma, você ouviu a parte que você está grávida? — questiono, e ela acena. — Emma,
você sabe que tem uma criança na sua barriga com o nosso DNA?

Deus, vou ter um enfarte.

— Respira, amor...Inspira...— pede, e obedeço. — Eu comecei a suspeitar há alguns dias.

Como é?

— E não passou pela sua cabeça me contar?— brigo, e ela dá de ombros. — Emma, passei as
últimas horas em pânico, criando teorias sobre todas as doenças que conheço!

Ela parece se culpar e abaixa o olhar. Droga! Eu odeio deixá-la triste.

— Desculpa... Queria que fosse surpresa!— Choraminga.

Isso é sintomas de gravidez?

— Oh, meu amor, te perdoo— digo a abraçando. — Vamos ser pais... Vamos precisar de
fraldas, roupinhas e mamadeiras...

Ela acena e sorrio abertamente, a mulher da minha vida está grávida.

— Nada de por apelidos no nosso filho. — A ignoro e me ajoelho.

— Oi, azeitoninha, o papai ama você! — digo olhando para barriga e limpo uma lágrima que
insiste em correr. — Por favor, não nasça durante a madrugada!

Emma ri e me puxa para perto.

— Eu te amo!

Vejo que ela também chora e sorrio.


— Eu amo vocês!

Beijo seus lábios com ternura e algo me passa pela cabeça.

— Damon vai se vingar! — falo com uma careta.

Droga!

— Pode apostar nisso!


CAPÍTULO 43
Allan

Já sentiram a sensação de estar sendo observado? Tento ignorar esse sentimento e caminho até
o elevador do meu prédio, o estacionamento durante a madrugada fica sombriamente assustador.
Voltar tarde para casa é o que mais detesto na minha profissão, queria chegar mais cedo para
desfrutar da companhia de Liza e ver o sorriso lindo que ela abre toda vez que me vê.

Eu sou um fodido homem apaixonado.

Entro no elevador distraidamente até que sou puxado com força para trás e recebo uma
joelhada na costela. A dor foi dilacerante e, segundos depois, fui jogado contra o chão. Um homem
está parado apontando uma arma diretamente para minha cabeça com um sorriso diabólico. Pela luz
fraca, consigo ver perfeitamente seu perfil, loiro e com um porte atlético, mas, pelo seu terno
impecável, não é o tipo de cara que faz um assalto a moradores, ele sabe quem sou e tenho plena
certeza que sabe muito sobre mim.

— Não vai atirar? — provoco, e o vejo ampliar o sorriso.

— Você é muito suicida, doutor! — responde engatilhando a arma. — Matar você seria
simples demais!

O que ele quer?

— Quem é você?

Eu não sinto medo por mim, não tenho receio algum de levar um tiro, mas o que me motiva a
ficar no chão é Liza e Gabe a alguns andares acima.

— Sou o cara que irá destruir sua vida! — diz pausadamente. — E matar todos que você
ama...

Começando por aquela cadela que você chama de noiva!

NUNCA.

Levanto-me, mas ele aponta a arma novamente para minha cabeça.


— Você não vai tocar nela! — rosno.

— Eu vou sim, e você verá! — zomba — Sua vida é um fracasso, Allan!

— Quem é você? Seja homem e pare de joguinhos!

Meu sangue ferve e meu desejo é matar esse desgraçado.

— Edgar, aliás, como está aquele pivete? — provoca, avanço e ele ri. — Mais um passo e eu
explodo seus miolos e deixo meu pai feliz mais rápido.

Pai? Franzo o cenho.

— O que você quer de mim, porra? É dinheiro? Sua heroína não está te dando lucro?

— Eu quero você morto!— responde sério— Meu pai deveria ter matado você no orfanato!

AR.
Perco o ar e dou alguns passos para trás, não acreditando no que ouvi. Bill tem um filho? Edgar!

Inferno!
— Bill... — sibilo, e o bastardo sorri irônico. — Então é isso, você veio terminar o serviço?

— Viu como você consegue ser inteligente!

Eu nunca irei ter paz?

— Qual o fascínio doentio em mim? Não bastou ter feito da minha vida um inferno, ainda
volta para assombrar! — rosno com os punhos cerrados. — Aperte o gatilho, Edgar! Mate-me!

Termine tudo isso!

Não posso deixar Liza em perigo.

Ele levanta a arma e prevejo minha morte, espero que Liza siga em frente, que Gabe se torne
um bom garoto, e que Damon me perdoe por ter sido um irmão ruim.

— NÃOOOOO! — Ouço um grito vindo do elevador.

Viro-me e vejo Liza com os olhos marejados correndo na minha direção.

Não.
Idiota.

— VOLTE! — grito desesperado, mas ela não recua.

Droga de mulher difícil!

Olho para Edgar, que não tira o olhar de Liza, seu olhar é curioso.

Não.
— NÃO VOU SEM VOCÊ! — diz em meio às lágrimas a cada passo na minha direção.

— ME MATE! — exijo, e Edgar me olha — DEIXE-A IR! SEU PROBLEMA É COMIGO!

Ele me encara com a expressão de dúvida? Sua arma treme e vejo insegurança em seu olhar.
Ele queria me matar há poucos segundos!

— Allan! — Norris chama e me abraça enquanto chora e se vira para o outro. — Pode levar o
que quiser, mas não toque nele, não o machuque! — Edgar aperta a arma e Liza se coloca na minha
frente. — Me mate, mas, por favor...

Ela é louca?

— Matá-la? — ele questiona, e desvia o olhar para mim. — Ela se ofereceu no seu lugar...

— Não vai tocar nela! — rosno e me ponho na frente de Liza. — Faça! Mas a deixe ir... Eu te
imploro!

Eu morreria por ela!

Olho nos olhos de Edgar e pela primeira vez não vejo um assassino, vejo um homem induzido.

Bill moldou o filho no pior soldadinho do mundo.

— Não! — Ela sai da minha proteção e olha para Edgar. — Por que você quer ferir alguém
que nunca te fez mal?

Ele tranca a mandíbula e aperta a arma.

— Porque eu sou mau o suficiente para matar os dois! — rosna.

— E o que vai ganhar com isso? Sangue nas mãos e um número a mais de óbitos?
Liza está brigando com nosso assassino?

— Cala boca, loirinha! — ameaça e aponta arma pra mim. — Meu problema é com seu noivo!

Vejo você no inferno, Allan!

Fecho os olhos e ouço o disparo. Nada.

Um segundo depois, os abro novamente e tudo que senti foi meu coração ser esmagado, vejo o
momento exato em que Liza perde o equilíbrio e seu corpo cai em direção ao chão. Não.

— Nãooo! — grito desesperado e me aproximo com o pavor de ver seu peito sangrar cada
segundo mais. — Fica comigo, amor! Fica comigo!

— C — cuida do nosso filho! — pede com os olhos marejados.

Deus, se o Senhor pode me ouvir, não me tire a mulher da minha vida.

— Se mantenha acordada, amor! — Faço pressão sobre a ferida e me viro, mas não encontro
Edgar. Eu irei matá-lo!

Pego meu celular e disco o número do meu hospital com lágrimas nublando minha visão.

— Emergência, no que podemos ajudar? — a voz de fundo atende.

— Preciso de uma ambulância agora para o estacionamento do meu prédio! — grito e passo
meu endereço. — Doutor Allan Carter!

— Chegaremos em breve, doutor!

Desligo e corro para Liza, que está agonizando. Por que ela tinha que se enfiar na frente? Ela
não entende que eu a amo?

— Shh... Eu vou te salvar, meu amor! — digo como uma promessa e aperto seu ferimento. —
Amor, isso irá doer, mas se mantenha acordada! Preciso ver onde a bala está alojada!

Rasgo seu fino casaco que está encharcado de sangue e ela resmunga, a bala pegou
centímetros abaixo do ombro direto e perigosamente próximo ao pulmão, se a ajuda não chegar, ela
corre riscos de morrer com hemorragia interna.

Não! Não!
Continuo mantendo pressão no local e choro feito um garotinho, se eu não tivesse me

aproximado dela, seria eu e não ela que estaria sofrendo agora. Eu nunca irei me perdoar.

— Não desista, Liza!— peço e ouço a ambulância.

Logo, sinto quando sou arrancado de perto dela e os profissionais começam a removê-la para
maca e só consigo assistir ao amor da minha vida desacordada e suja de sangue.

Deveria ser eu!


CAPÍTULO 44
Allan.

Morta.

É como sinto minha alma, inútil, acabado, deplorável, sem forças para ficar de pé... E eu já
passei por muita coisa na vida, nenhuma delas chega aos pés da dor e do vazio que estou sentindo.
Liza chegou no hospital com um início de hemorragia, foi feita uma cirurgia de remoção da bala e foi
aí que meu inferno começou. Minha mulher perdeu muito sangue, a bala, por muito pouco, não
perfurou o pulmão e ela foi imediatamente levada para UTI. E eu não pude fazer nada a não ser
chorar e desejar milhões de vezes estar no seu lugar. Esse inferno está durando uma semana, malditos
sete dias que ela não acorda, que está pálida e frágil. Sete dias em que eu não saio do hospital, que
não durmo mais que duas horas, não como e sinto meu peito sangrar.

Damon já desistiu de me mandar dormir, Gabe é o único que consegue tirar um mísero sorriso
triste de mim, sei que estou sendo um pai horrível, mas não posso evitar.

— Oi! — Levanto meu olhar e encontro meu irmão tão acabado quanto eu, não queria que ele
se preocupasse, mas Damon parece uma mula.

— Não deveria estar na empresa? — Ele se senta ao meu lado e suspira.

— Dominic está cuidando de tudo por lá, Ethan chega de viagem em algumas horas... — diz
dando de ombros. — Estou aqui te dando apoio emocional.

— Eu posso lidar com isso! — minto.

Não posso envolver meu irmão em tanto problemas.

— Está tentando mentir pra si mesmo? Porque não acredito no que disse!

— Eu só não quero você mal. — admito, e ele revira os olhos. — Eu ainda sou seu irmão
mais velho!

— Allan, não vou te abandonar aqui! Eu sou seu irmão, sua besta!— diz, me dando um soco
fraco. — Sou sua versão mais bonita, não percebeu? Eu estarei aqui sempre!

Dou-lhe um sorriso fraco e agradeço mentalmente por ter encontrado ele.


— Eu não sei como vou viver sem ela... — digo suspirando. — Tudo isso é por minha culpa!

Bill é minha sina, Edgar é uma consequência.

— Você não tem culpa. Allan! Aquele desgraçado causou isso, não você! — fala convicto. —
Seu

defeito é se culpar por tudo, Liza vai sair dessa!

Aceno, mesmo não concordando com ele. Deixo minha cabeça pendurar para baixo e sinto-me
fraco como nunca antes.

Oh, minha loira, não me deixa.

— Ei! — Ouço um grito e olho em direção ao som.

Ethan caminha em nossa direção com o rosto sério e preocupado, pelo seu leve bronzeado, é
notável que aproveitou bem sua lua de mel. Ele deve estar cansado.

— Oi, cara! — Damon cumprimenta e abraça o amigo levemente.

— Vim o mais rápido que consegui! — diz e me olha atentamente. — Como está o estado
dela?

Era pra estar acordada.

— Ela ainda não acordou... Continua inconsciente! — respondo com pesar.

Ela precisa acordar!

— Ela irá acordar e se tornar outra Carter mandona! — White diz, e sorrio fraco. — Ela não
pode deixar meu filho sem madrinha!

— Ela vai... FILHO? — pergunto, e Ethan sorri largamente. — Você será pai!

Uma notícia feliz, enfim.

— EU VOU SER TIO! — Damon grita e assusta as pessoas próximas. — Ethan, por que ele
será o padrinho? Seu melhor amigo sou eu, seu ingrato!

— Porque eu sou o melhor, não percebeu? Serei o tio preferido! — digo o óbvio.
— Vou manter meu filho longe de vocês! — diz sorrindo e olha para Damon. — Se for
menino, a uva-passa está feita.

O sorriso do meu irmão morre na hora, tadinha da Lottie.

— Minha filha vai ser freira! Seguir Jesus!

Ele é tão iludido.

— Ela tem seu DNA... — digo pausadamente, e vejo Damon ficar pálido. — Você tem que
aceitar!

— Bom... Pode ser menina, Ethan! Vai gostar da sua filha com algum garoto? — Foi a vez de
White fechar a cara.

— Ela vai ser freira com a uva-passa! — responde sério.

Os pais dessas crianças são loucos. Mesmo com Ethan tentando me animar nos minutos
seguintes, meu pensamento e coração estão na sala com Liza, só vou estar bem de novo se tiver minha
loirinha comigo. Sinto falta do seu cheiro viciante, das suas brigas pelo controle remoto, daria tudo
para ouvir seus sermões. É impressionante que, quando amamos, esse amor vai até para as mínimas
coisas.

É no momento difícil que percebemos quem está conosco, no caso de Liza, as únicas pessoas
que vieram e choraram por ela foram minha família, a mãe dela não se deu o trabalho de vir.

Suzane Norris não se deu o trabalho de ligar, procurar ou se importar com a filha. Essa
megera não merece uma filha maravilhosa como Liza, e umas das primeiras coisas que irei fazer
quando minha mulher se recuperar será ter um papo com minha sogra. Espero que ela esteja
preparada para lidar com a força de um Carter irritado.
CAPÍTULO 45
Liza

Qual a minha razão de viver? Por que estou viva?

São perguntas que não sei responder, mas sinto que o que me prende a essa vida é um par de
olhos azuis e um irritante sorriso debochado. Sim, sim, é por ele que estou viva! Meu cérebro
trabalha em imagens de nós dois, de suas provocações, da primeira vez que o vi nas escadas de
emergência, cada recordação faz meu peito doer de antecipação. Onde Allan está? Onde meu amor
está?

— Hoje eu levei nosso filho para tomar sorvete. — Ouço a voz de Allan, mas não consigo
responder. — Queria que estivesse conosco... Nós sentimos tanto a sua falta, meu amor! Você
precisa acordar, Liza, precisa voltar pra mim, minha loira.

Eu preciso abrir os olhos! Meu filho e meu noivo estão me esperando... Mas não consigo.

Lentamente vou perdendo a consciência.

Água.

É meu primeiro pensamento quando minha garganta se aperta, meus olhos fitam um teto pálido
e luminoso demais para minha visão, estou viva.

Olho para o lado e o que vejo faz meu coração bater disparado e todos os bips da máquina se
tornam uma melodia. Allan está sentado na poltrona ao meu lado e suas feições mostram cansaço, no
outro pequeno sofá, estão os outros homens que ganharam meu coração, Damon dorme sentado e bem
desconfortável, enquanto Ethan está apoiado em seu ombro, Dom se acomoda no pequeno tapete no
chão, totalmente desproporcional para seu corpo enorme.

Teria sorrido se minha garganta não queimasse.


— A— Allan... — chamo e nenhum dos quatro se movem. — ÁGUA! — grito, mesmo que
minha voz tenha saído uma fina onda de som. Allan abre os olhos lentamente e assim que me vê, ele
esfrega os olhos novamente.

— Você acordou! — diz sorrindo e chorando. — ELA ACORDOU!

Com o grito, os outros três se assustam e o desastre está feito, Damon empurra Ethan do seu
ombro, e acaba pisando em Dominic.

— AI, PORRA! EU ESTOU AQUI! — Dom resmunga, e sorrio.

White está de pé e olha para cena de cara fechada.

— Isso já aconteceu antes! — diz e os quatro acenam.

Pelo visto, acordar em hospitais é tradição na família Carter.

— Água. — peço e os quatro me encaram.

Allan pega o líquido próximo à cama e me dá com auxílio de um canudo, nunca pensei que
ficaria tão feliz ao beber água novamente.

— Chame o médico! — Allan pede e Dominic acena e sai tropeçando em direção ao corredor.

— Está sentindo algo, meu amor?

Com a luz clareando sua expressão, vejo o quanto ele está diferente, sua barba está maior,
seus olhos estão mais fundos e olheiras são visíveis ao longe, não vejo o brilho no olhar que tanto
amo. Tento me sentar, mas uma fisgada no lado direito me lembra o tiro que levei. Droga de azar!

— Meu ombro dói! — respondo rouca.

— Não se mova, meu amor... Você pode abrir os pontos! — diz com o olhar preocupado.

Vejo Ethan se aproximar e sorrir para mim, percebo que até mesmo ele mostra sinais de
cansaço em seu rosto.

— Você quase me mata antes dos trinta, mulher! — brinca, e sorrio fraco pra ele. — Eu não
aguento outra Carter levar um tiro.

Ah... Lia também levou um tiro.


— Nem eu, cunhadinha! — Damon completa e ele está igualmente diferente, como Allan.

Quanto tempo eu fiquei desacordada?

— Quanto tempo eu fiquei aqui? — pergunto com medo da resposta.

Allan segura minha mão e acaricia, esse mínimo contato me faz um bem que não poderia
imaginar.

— Um mês e meio, querida — responde devagar, e me assusto. — Calma! Você não pode se
mexer bruscamente está ligada aos fios.

Eu fiquei em coma? Maldito Edgar!

O médico adentra o quarto e Dominic vem atrás. Meu Deus, deixei todos os Carter’s com
olheiras.

— Boa noite, senhorita Norris, como está se sentindo?

O médico pergunta e vejo Allan o encarar milimetricamente. Certo que o médico é muito
bonito, mas prefiro outro doutor.

— Meu ombro dói! — respondo, e ele se aproxima.

Verifica minhas pupilas, movimentos dos membros, e mais um monte de coisa que achei inútil.

— Não apresenta sequelas, irá passar um tempo em observação e se ficar bem logo, irei dar
lhe alta! — diz com um sorriso simpático.

— Obrigada, doutor.

— Ainda bem que a MINHA MULHER está bem! — Allan entra na conversa com seu jeito
possessivo. — Obrigado, doutor.

O médico se despede e, assim que ficamos sozinhos no quarto, os outros três caem na
gargalhada. Dominic e Ethan estão literalmente chorando de rir.

— Precisava desse show de ciúmes, maninho? — Damon zomba.

Allan revira os olhos e sorrio.


— Ohh, doutor, não mecha com a minha mulher! — Ethan imita a voz de Allan, e Dominic ri.

— Pare com isso, Allan! — Dom afina a voz e nenhum de nós segurou o riso.

Sabia que Dominic era um idiota por baixo daquela aura de sarcasmo.

— Queria ver se fosse a Emma aqui e um médico viesse com sorrisinhos! — Allan provoca, e
Ethan fecha o rosto na hora.

Homem ciumento.

— Não brinque com isso! — White diz sério, e Damon ri.

— Eu estou sentindo pena do meu afilhado! — Allan debocha.

Afilhado?

— MEU afilhado, você quis dizer! — Damon completa. — Eu serei o tio preferido!

Olho confusa para eles, e Ethan sorri todo bobo.

— Emma está grávida! — conta e vejo seus olhos brilharem.

Tadinho dos filhos.

— Parabéns, White — felicito.

— Eu vou ser o tio preferido da azeitoninha! — Allan diz sério, e o irmão revira os olhos.

Azeitona? Meu Deus! Por que todas as crianças dessa família são uma comida?

— Não se iluda! Eu sou o melhor tio!

— Eu me dou melhor com crianças!

— Eu também! Até fiz uma pra mim! — Damon se gaba que eles riem.

Acho que descobri o que me mantém viva.

Essa família.
CAPÍTULO 46
Edgar Foster.

Encaro o céu acinzentado que paira a cidade que nunca dorme, parece que o tempo resolveu
se espelhar em meu estado de espírito. Cinza, frio, sombrio.

Eu sou um cara ruim, um verdadeiro demônio, caso queira me comparar, de acordo com os
fiéis, tenho um lugar reservado no inferno. Não que ligue para isso, sou o tipo de homem que não se
importa com nada.

Sou rico legalmente e muito mais rico ilegalmente, ser a figura por trás de uma facção de
drogas e armas não me traz satisfação, toda essa merda não me satisfaz, meu pai sempre disse que
"seu legado era meu" e não sou burro para ir contra. Contudo, isso não faz de mim um homem bom, e
desejo ser. Sou podre por dentro.

Alguns dizem que meu jeito de ser é moldado por culpa de meu pai, não discordo, ele é toda
minha família e, por mais que não goste de suas vontades, eu as acato. Aprendi a obedecer e desligar
minha racionalidade, não tenho mãe nem ninguém que possa ser ou merecer minha parte boa... Caso
exista parte boa em mim.

Bebo mais um gole do vinho e volto a encarar o céu do alvorecer, meu celular toca
despertando-me do meu encanto com a paisagem.

— Alô?— atendo sem me importar com quem quer que seja do outro lado.

— Ela acordou! Elizabeth Norris está acordada! — Ouço a voz fina da enfermeira que
subornei por notícias.

Meu coração dispara e não evito um sorriso aliviado.

— Seu dinheiro será depositado! — respondo e desligo.

Acordada... Eu nunca liguei para minhas ações, quando meu pai me pediu que cuidasse
daquele doutor, aceitei, nunca entendi o fascínio por Allan. Quando o abordei no estacionamento, só
queria assustá-lo, mas o homem se mostrou bem mais forte do que imaginei, e isso me gerou dúvidas
sobre o quanto meu pai interferiu na vida dele.
Eu vi que o passado lhe deixou marcas e, por um mísero segundo, o compreendi, entendo que
meu pai foi um verdadeiro demônio com suas torturas e seu modo de agir. Eu mais do que ninguém
sofri com ele, mesmo fazendo de tudo para agradá-lo. Mas Allan foi marcado psicologicamente.

Tudo teria dado certo se ela não surgisse como uma louca, Liza realmente estava disposta a
morrer pelo médico metido, e isso me deixou irritado pra caralho. Eu a queria longe e segura, e ela
estava lá sendo suicida por outro. Então apertei o gatilho. Mirei no peito dele, mas a louca se jogo na
frente da bala, Elizabeth tem alguma doença por ser tão estúpida, achei que seria mais uma vítima
sem importância, mas quando a vi cair no chão, tive a pior dor do mundo. Eu não queria feri-la,
assistir Allan se desesperar e entrar em pânico.

Ele a ama. O maldito doutor a ama de verdade.

Sai dali direto para o bar mais próximo, bebi até não lembrar mais do sentimento de culpa e
repulsa de mim mesmo, bebi até esquecer que, na verdade, tudo que eu sentia do Allan era inveja,
inveja do amor que ele tinha, inveja da atenção que meu pai lhe dava e sempre lhe deu.

A culpa é do meu pai! Do seu ego grande, de sua personalidade psicopata, foi por ele que eu
me tornei esse homem vazio, podre. E, pela primeira vez na vida, senti repulsa do homem que me
criou, senti ódio.

Para o azar dele, ele me transformou em um demônio, e vou mostrar como é estar em um
inferno. Posso estar louco, mas não ligo. Pego o meu celular e jogo no bolso, corro pelo meu
apartamento em busca da chave do carro. Eu não sei exatamente o que sinto por Elizabeth, antes eu só
a via como uma bela mulher, porém agora tudo que eu quero fazer é conferir se ela está bem, se
precisa de algo e isso é uma merda!

Desde quando me importo com a integridade de uma pirralha?

Aquela louca tira de mim um instinto protetor e estou me sentindo um lixo desde que puxei o
gatilho. Espero que minha visita aos Carter’s me tire esse sentimento.

Não estou acostumado a sentir.


CAPÍTULO 47
Allan.

Felicidade? Eu estou mais feliz do que tudo!

Minha mulher está comigo! Acordada, bem! Oh, como eu senti falta de sua voz!

Poderia passar o dia todo somente olhando para sua beleza, mas, por insistência de Liza, tive
que vir buscar roupas para ela, a mulher se recusa a ficar somente com o vestido do hospital. E
concordo de bom grado! Aquele médico metido fica olhando para minha mulher.

E não são ciúmes!

Retiro a chave do apartamento de Liza do bolso e a ponho na fechadura, mas me assusto com a
porta aberta. Eu tenho absoluta certeza que tranquei a porta! Merda!

Fecho minhas mãos em punho e entro no apartamento, sentindo meu corpo tenso. Era tudo que
me faltava ser azarado justo agora que minha mulher está bem. Acendo a luz e nada está fora do
lugar, olho cautelosamente tudo e não acho uma explicação para alguém ter invadido e não ter levado
nenhum pertence. Será que deixei a porta aberta?

— Se fosse um bandido, já teria matado. — Me assusto com a voz e olho em direção ao


corredor. O que esse desgraçado tá fazendo aqui?

— Veio terminar o serviço? — afronto.

Pode ser burrice, já que da última vez eu atirou na minha mulher. ATIROU NA MINHA
MULHER!

— Não, vim conversar com você! — diz calmamente.

Ele só pode estar brincando!

— Conversar? Você atirou na minha mulher! Deixou-a em coma! — rosno e vou me


aproximando. — Eu deveria matar você!

Ele não se afasta, permanece quieto.


— Você não irá me matar... Não é como eu! — responde e suspira. — Eu realmente vim
dialogar, Carter, acredite, não queria ferir Elizabeth.

Quem ele acha que engana?

— Cala boca! Você é igual ao seu pai! Um psicopata que brinca com as emoções de todos! —
acuso.

Como um clique, Edgar me olha com fúria.

— NÃO ME COMPARE! — brada e aponta o dedo na minha cara. — EU NÃO SOU COMO
ELE!

— Ah, não? Porque suas atitudes e fama dizem ao contrário, Edgar! Você atirou em uma
inocente!

Ele me encara e consigo reparar nas suas feições, olheiras e olhar confuso. Seria possível ele
ter um pouco de humanidade?

— Eu não queria ferir Liza droga! Mas a louca se jogou na sua frente! Porra, como ela sai por
aí se jogando na frente da bala? — diz irritado. — Eu iria atirar em você e, acredite, eu quis muito te
matar naquela hora!

Por que ele soou preocupado com a minha mulher?

— Qual o seu interesse na minha mulher? Não bastar foder minha vida? Essa merda nunca vai
acabar, Edgar?

Ele bufa e anda inquieto pela sala.

— Meu pai simplesmente te odeia! Ele nutre uma obsessão por você e, acredite... passei a
vida inteira tentando fazer com que ele parasse de me comparar com você! — diz a contragosto. —
Eu não sou um bom moço, Carter, mas estou cansado disso tudo tanto quanto você!

Ele... Deus, Bill é muito pior do que eu imaginava.

— O que ele fez a você? — pergunto, e ele fica tenso.

Não posso imaginar o quanto Edgar sofreu com um pai daqueles.


— Me transformou nisso. — responde amargo. — Não vim aqui discutir traumas.

— O que quer?

Ele me olha com um sorriso diabólico. Eu sei o que esse sorriso significa.

Vingança.
— Quero meu pai a sete palmos! — diz sem hesitar. — Eu cansei de ser o filho obediente!

Wow!
— Quer seu próprio pai morto?

Minha relação com Robert não é boa, mas eu não o desejo morte.

— Qual parte do eu sou mau você não decorou, Carter?

— Eu não confio em você! — aviso, e ele revira os olhos. — Nem em nada que disse.

E se for um plano de Bill?

— Burro seria se confiasse! — diz se aproximando e me entrega um cartão. — Esse é meu


número... Pra quando você perceber que precisa de mim pra se vingar do meu pai!

— Eu não sou um assassino! — rosno.

E nem serei.

Edgar revira os olhos novamente.

— Eu sei que não... Você é bonzinho e blá blá blá... Pode deixar que puxo o gatilho, princesa,
te deixo na retaguarda! — Quando ia protestar, ele me repreende: — Você também não é santo,
Seller.

Me calo por um segundo, ele tem razão.

— Continuo te odiando, Edgar! — digo e, no momento que ele, se distrai lhe dou um soco. —
Foi por ter encostado no meu filho e atirado na minha mulher!

Ele limpa o nariz e sorri.

— Justo — diz e aponta para o cartão. — Ligue para esse número.


Olho para o papel onde em letras douradas estampa o nome de uma empresa. Essa é boa.

— Jura que usa uma empresa de disfarce?

Ele dá de ombros.

— Eu sei seguir leis quando quero — debocha e bufo. — Como Elizabeth está?

— Não te interessa — digo seco.

Por que o interesse?

— Eu... Só queria saber, okay? — diz a contragosto. — Eu me importo com ela... — Meu
sangue ferve e dou um passo, mas ele estica os braços. — Eu não a quero com segundas intenções!
Juro! Mesmo que ela seja linda... Eu me preocupei com ela!

Tenha paciência!

— E desde quando você sabe o que é sentimentos? Você atirou nela!

— Eu estou mais surpreso que você, OK? Passei o mês tão ruim quando você! — rosna e isso
soa verdadeiro. — Eu não tenho culpa se aquela louca me faz ficar preocupado! Admito sim que, no
início, até tive pensamentos obscenos... Mas eu realmente fiquei preocupado com ela!

— Por quê?

— Não, sei tá legal! — responde e bufa. — Ela é familiar, me sinto responsável por ela.

Só pode ser coisa da minha cabeça! Edgar se parece muitíssimo com minha loira.

— Ela está bem, agora pode ir embora!

Ele franze o cenho e aponto a porta.

— Qual é? Eu não mereço nem me desculpar com ela?

Tive que rir.

— Eu não te deixaria se aproximar da minha mulher nem se você virasse um monge tibetano!
— digo irônico e aponto a porta. — Suma!

Foi engraçado ver ele fechar a cara.


— Não se esqueça da minha proposta! — diz, e aceno. — Ah, já ia esquecendo... — ele se
aproxima de mim com um sorriso diabólico — faça Elizabeth sofrer e eu mato você lenta e
dolorosamente.

Se vira e sai me deixando de queixo caído.

Puta merda, eu tenho a impressão que ele não está brincando, e pior ainda, que ele realmente
sente um instinto por Liza.

Droga! Vou ter que adiantar minha visita até minha sogrinha, ela irá me dar respostas.
CAPÍTULO 48
Eu odeio hospitais.

Comida de hospitais.

Cheiro de hospitais, e claro... Eu odeio enfermeiras de hospitais que ficam babando no MEU
MÉDICO GOSTOSO!

Talvez esteja exagerando, mas ficar debilitada em uma cama, sendo tratada como se fosse de
vidro, me irrita. Não posso fazer nada, nem me sentar feito uma pessoa comum eu consigo. Consegui
convencer Allan de que nem ferrando continuaria usando esse vestido ridículo de hospital enquanto
estivesse aqui. E meu lindo noivo prestativo foi buscar roupas dignas.

Roupas que estão demorando muito, e sem Allan e sua beleza estonteante esse quarto fica
tedioso, ainda não consigo assimilar que fiquei em coma durante um mês, é um milagre a bala não ter
perfurado meu pulmão.

Por que me joguei na frente de uma arma mesmo?

Ah é... Porque tinha um louco apontando a arma para o amor da minha vida, Edgar é um louco!
Mas a mais louca sou eu, de jurar ter visto em seus olhos o arrependimento quando caí no chão.

Eu vi, o vi, mais precisamente, me olhando como se tivesse acabado de ferir a si mesmo. E
sou a merda de uma pessoa burra e estupidamente idiota por ter me importado com o olhar o meu
quase assassino. Edgar merece meu ódio, não minha pena.

Ouço a porta ser aberta e abro meu sorriso no aguardo do meu noivo. Mas não é Allan que
está fechando a porta do quarto e caminhando na minha direção. O cabelo loiro cortado
modernamente, os olhos verdes como grama, vestido com um jaleco nitidamente roubado e, para
completar o conjunto, ele está segurando uma única flor na mão direita.

Eu sou uma presa?

— Edgar. — Não tenho certeza se minha voz foi emitida ou se foi apenas um sussurro
inaudível.

— Elizabeth! — responde e mantém uma distância considerável de mim. — Como está?


Jura?

— Ótima! Adoro hospitais... Aliás, muito obrigada por atirar em mim e me mandar para cá!—
digo ácida. — Veio me matar de vez?

Vejo o rosto dele se contrair em um pequeno sorriso.

— Você é abusada... Isso pode te matar, hmm? — diz calmo. — Eu não mirei em você.

— Mas acertou!

— Você se jogou na frente da bala! — se defende começando a perder a paciência. — Burra!

Desgraçado!
— Escuta aqui, seu imbecil! Quem você pensa que é para mirar a arma para meu noivo e agredir meu
filho? — grito.

Ele fechou a cara e isso não é um bom sinal.

— Eu não feri o menino! Gritei com ele para sair, não machuco crianças — completou e eu
estava prestes a matá-lo aqui mesmo. — A mãe dele me devia dinheiro, a vadia estava abrindo o
bico para quem não devia e fui alertar, metade dos ferimentos que ela tinha não foram feitos por mim.
Quando cheguei lá, ela já estava alta com heroína e o menino chorando. Eu os trouxe para o hospital.

— Oh, cale-se! Isso não faz com que eu perdoe você.

— Eu não me importo com seus sentimentos em relação a mim! — diz grosso. — Eu só vim
para...

Ele foi interrompido por Allan entrando no quarto e vi o exato momento em que meu noivo
fechou o sorriso e Edgar abriu o seu.

— EU MANDEI NÃO SE APROXIMAR!

Edgar revirou os olhos e se apoiou na cama totalmente despreocupado.

— Eu não preciso da sua permissão para nada, Seller! — responde com desdém. — Esse
hospital possui uma péssima segurança, aliás!

— Segurança que você invadiu facilmente, não é? — Allan acusa.


— Não fale como se fosse difícil dominar um bando de homens sedentários que se acham... —
desdenha e me olha. — Sabia que seu noivo era muito bom no crime?

Meu peito arde com esse comentário. Quem é Edgar?

— V— você... Como?— questiono e Allan se aproxima de mim. — Allan!

O que eu perdi!?

— Você não pode se levantar, Liza! — meu noivo brada e percebo que estava fazendo
movimentos bruscos. — Deita e não se mova!

— Me responda, Allan! — exijo.

Ele olha para Edgar e o loiro dá de ombros.

— Edgar é filho de Bill...

Puta merda!

— Filho? E você está aqui com ele? Ele tentou te matar! Atirou em mim! Bateu no nosso filho,
tem o mesmo DNA daquele verme! — brado e os dois me encaram. — Eu quero respostas!

Allan se cala, e Edgar parece pensativo.

— Agora! Ou vou me levantar dessa cama e ir eu mesma tirar satisfação com o Bill! —
ameaço.

Eu nunca faria isso, e nem sei como o faria.

— NÃO! — os dois gritam juntos.

— Não fale merda, Norris! — Allan grita.

— Meu pai irá te matar tão facilmente que nem verá o que te matou! Sua louca! — Edgar
brada irritado. — Quer morrer? Você não vai a lugar nenhum!

— Ele tem razão, Liza, Bill não é um homem comum! — Carter concorda e é o fim do mundo
mesmo.

— Quando viraram amiguinhos? Já estão trocando telefones e cartões? — ironizo.


— Basicamente — Edgar responde direito. — Escuta só, sua louca suicida, quero meu pai
morto e Allan também, unimos o útil e ao agradável.

— Quer seu próprio pai morto?— questiono, e ele acena. — Allan, jura que vai acreditar
nele?

— Ei! Eu tenho palavra!— Edgar resmunga. — Não tenho motivos para mentir para vocês...
Se os quisesse mortos, já estariam! — diz sério e me encara. — Eu estou arriscando muito vindo até
aqui para ver você.

Me ver?

— Não estaria aqui primeiramente se você não tivesse atirado.

E lá está o olhar arrependido que vi no estacionamento.

Ele... se importa comigo? Droga, ele é tão malditamente parecido com meu pai! Os mesmos
olhos verdes e o mesmo vinco na testa quando está nervoso.

— Você se jogou na frente, não tive a intenção de te machucar! — admite e olha para Allan.
— Eu quero atirar em você.

— Igualmente — Carter responde.

— Eu continuo não gostando de você! — digo, e vejo Allan sorrir de lado. — Vocês não
podem matar um homem!

Como vou criar um filho se Allan for preso?

— Claro que podemos! Não seja tola, Liza! — Edgar resmunga, revirando os olhos. — Acho
que matar meu pai será minha maior boa ação.

— E você, Allan? Quer participar de um crime?

Carter se aproxima.

— Meu amor, não irei matar ninguém... Não diretamente... — diz acariciando minha bochecha.
— Bill não pode ser considerado um ser humano.

— Eu tenho que concordar, olhe... — Edgar começa e toca meu braço ganhando um olhar
mortal de Allan —, meu pai é um psicopata doentio que não vai parar até conseguir ver Allan morto.

Não duvido disso.

— E por que você está contra seu próprio pai? — questiono.

Edgar me lança um olhar ferido que faz uma parte do meu coração se contorcer, imaginar o
que ele deve ter sofrido não faz bem.

— Digamos que ele não pode ser considerado o pai do ano... — responde evasivo.

— E por que precisaria da ajuda do meu noivo?

— Você só sabe fazer perguntas? Isso é irritante! — resmunga.

Calo-me e olho para Allan, que observa a cena com atenção.

— Entro em contato! — finalmente diz e bufo, não me agrada em nada meu noivo se
envolvendo em coisas ilegais.

Edgar acena e meio sem jeito me entrega uma rosa violeta, por que ele é tão mal e está aqui
sendo "agradável" comigo?

— Eu roubei do canteiro do hospital — diz e sorri amarelo.

Tive que rir, até sua boa ação envolve roubar. Admito que gostei da flor e de sua intenção
genuína, se ele não fosse inimigo e não tivesse atirado em mim, seria bom sua companhia.

E se ele não fosse um criminoso, é claro...

— Você não consegue fazer nada sem vandalizar? — Carter protesta.

— É um hábito! — diz dando de ombros e começa a se afastar. — Ah... e peça desculpas ao


moleque por mim!

— Suma! — Allan brada.

Edgar sorri, gostando de irritar, e dá as costas.

Quando estamos sozinhos dentro do quarto, Carter me avalia atentamente.

— Você irá mesmo na vingança de Edgar?


Ele não diz nada e isso já é o suficiente.

— Quer me deixar viúva antes de se casar? O que Damon diria sobre isso?

Damon precisa por juízo nesse louco!

— Provavelmente se ofereceria pra ir comigo! — admite e dá de ombros. — Não se preocupe


comigo.

E quem vai se preocupar com aquele outro loiro louco!?

— Edgar é doentio por vingança como você! Vocês irão morrer!

Somente eu tenho a noção do perigo?

— Eu vou ficar bem, meu amor! Não se preocupe! — diz convicto e beija meus lábios
levemente. — Eu te amo!

— Eu te amo.
CAPÍTULO 49
Damon Carter.

Alguém, por favor, pode me dizer onde fica o botão de desliga nos bebês? Não estou
encontrando na minha filha!

— O papai está cansado, bebê! — digo, mas é em vão.

Lottie herdou absolutamente tudo de Lia, isso inclui sua maneira de me ignorar e a beleza
extraordinária. Minha filha mal completou três meses e já consegue me deixar com cabelos brancos.
Tinha que ser filha da Lia mesmo...

Observo seu rostinho delicado e sou incapaz de não sorrir, com os cabelos castanhos e olhos
igualmente aos da mãe já começo a pensar em qual colégio de freiras irei matriculá-la. Minha
pequena é boa demais para que qualquer engraçadinho queira ousar entrar na calcinha dela. Deus, eu
não posso nem pensar nisso!

— Por que ela ainda está acordada, Damon? — Lia desce as escadas e me fuzila com o olhar.

Eu lá tenho culpa se minha filha gosta de brincar comigo em plena madrugada?

— Ela está ocupada babando na minha blusa! — respondo o óbvio, e minha mulher revira os
olhos.

Parece que o tempo entre nós nunca será o suficiente para aplacar nossas provocações, amo
deixá-la irritada e tenho certeza que ela adora me provocar.

— São duas da manhã, senhor Carter! Nossa filha precisa dormir! — diz e pega com
delicadeza nossa uva-passa.

Nunca vou me cansar de assistir Lia sendo uma mãe coruja.

— Ela está sem sono, senhora Carter! — digo e ganho um sorriso em troca.

— Vem dormir, filha, de manhã, você brinca com o papai! — diz e Lottie estica os bracinhos
na minha direção. — Damon, se despeça dela!

Lottie me olhava com súplica e meu coração mole não resistiu. Eu não sei dizer não pra essa
garota!

Estou ferrado!

— Vem cá, bebê! O papai te leva pro quarto! — digo pegando minha pequena, que se alegra.

Eu admito que nunca me imaginei pai e que tenho um mini-infarto a cada vez que minha filha
espirra, depois que me apaixonei por Lia, o meu mundo foi reduzido em dois, vivo pela minha mulher
e minha filha. Sim, me tornei um bobo apaixonado.

O meu antigo eu iria rir se me visse agora. E não me arrependo, não existe satisfação maior do
que ter uma mulher que te ama e uma filha maravilhosa te esperando em casa.

— Que injusto! Eu a carrego durante nove meses, sinto a dor do parto, os enjôos para quê? —
Lia dramatiza enquanto nos segue até o quarto de Lottie. — Para, no final, ela preferir o pai!

Rio e deito minha filha no berço.

— Eu encanto as mulheres... é um dom! — provoco, e ela bufa.

— Você é um babaca convencido! — responde se aproximando e alisando o rostinho de


Lottie. — Ela é a sua cara!

Abraço sua cintura fina e beijo seu ombro, não trocaria minha família por nada no mundo.

— Ela é linda como você, amor!

— Ela se parece com você até no modo de dormir, Damon! Uma cópia fiel a você! — Sorrio
e jogo um beijo para minha pequena, que começa a fechar os olhos.

— Eu sou tão bom que fiz um clone! — brinco e Lia ri. — Obrigado por entrar na minha vida.

Ela se vira e abraça meu pescoço.

— Não é como se eu tivesse escolha, hm? Você foi muito persuasivo quando me fez aquela
proposta!

A melhor ideia da minha vida, aliás.

— Que tal uma nova proposta? — digo sorrindo safado, e ela automaticamente sorri.
— Estou ouvindo, chefe...

Merda de mulher gostosa! Seguro sua cintura com força e a tiro do quarto da nossa filha, ela é
muito nova para ver os pais se agarrando feitos dois animais no cio.

— Terá que ser minha... Totalmente entregue essa noite! — sussurro com a voz rouca e a
prendo contra parede.

Lia sorri e puxa meu cabelo, me fazendo arfar.

— Eu sou sua desde a primeira vez que te vi Carter! — responde e morde meus lábios —
Será um prazer atender ao seu pedido chefe!

— Chega de enrolar, preciso de você! — digo impaciente, já sentindo meu corpo queimar.

Pego minha mulher no colo e a beijo com força, não sou bom em ser delicado. Nem sei como
chego no quarto tão rápido, em meio aos beijos, retiro sua camisola e tenho certeza que nunca vou me
acostumar com a beleza extraordinária dessa mulher.

— Você tem muita roupa querido! — ela diz e inverte nossas posições. — Prefiro você nu!

Abro um sorriso safado e ela, em um único puxão, retira minha calça e a cueca. Não sei quem
foi o idiota que disse que casamento era monótono. Lia estampa um olhar de satisfação e a puxo
contra mim, voltando a beijar sua boca.

— Eu te amo! — digo firme e me aproximo de seu ouvido. — Mas não vamos fazer amor...

— Está esperando o quê? — provoca e arranha minha pele. — Estou aqui totalmente entregue.

Sorrio e me encaixo contra seu corpo, arrancando suspiros de nós dois. Não foi carinhoso,
não fomos devagar, e principalmente... foi perfeito.

Com um sorriso no rosto e totalmente satisfeito, seguro a cintura de Lia e encaixo nossos
dedos. Olho de relance para o par de alianças e só consigo pensar no quanto sou sortudo.

— Eu te amo, Damon, mas você continua sendo um chefe insuportável! — ela diz na escuridão
do quarto.

— Terei a vida toda para me redimir.


Iria recomeçar com minhas carícias, mas um chorinho que eu já estou acostumado ecoa pelo
apartamento.

— Uva-passa... — resmungo, e Lia ri.

— A filha é sua, você troca a fralda.

— Tenho escolha?

Ela me beija demoradamente e ri.

— Nenhuma, meu amor, você vive para nos obedecer! — provoca.

Não discuto, é a mais pura verdade.

— Papai já está indo, filha! — grito e me levanto da cama.

Eu deveria saber, meu destino já estava fadado no instante que aquela loira cruzou a porta da
minha sala, ela não seria só minha secretária.

Seria minha.

Minha mulher.
CAPÍTULO 50
Edgar

Jogo meu casaco de qualquer jeito sobre o sofá e caminho lentamente pelo apartamento, nunca
fui um homem organizado. O clima frio de Nova York só me deixa com mais tédio, meu corpo está
aqui neste apartamento, mas minha mente se prende na pirralha deitada na cama de hospital. Admito
que me senti muito aliviado ao ver que não causei nada grave, até gostei de irritar aquela loira louca.
Elizabeth me encanta, não como as outras mulheres, por ela, eu sinto afeição e isso me irrita
extremamente, o que ela tem que me causa tanto desespero?

— Se divertiu com seus novos amigos, Edgar?

Assusto-me com a voz estridente e viro-me rápido, encontrando meu pai sentado na ponta do
meu sofá de veludo. Meu desprezo escorre pelo meu olhar, esse homem destruiu minha vida e
consequentemente a de Allan. Eu me preocupando com um Carter? Quem diria. Não sinto um pingo
de remorso por desejar esse velho a sete palmos. Isso faz de mim um monstro, porém não ligo.

— Colocou babá atrás de mim, pai? — zombo e não demonstro o quanto quero que ele suma
do meu apartamento.

Meu pai sorri sombriamente e se levanta.

— Vi que você ficou amolecido por conta do tiro na vadia... Um homem não pensa muito bem
com sentimentos envolvidos! — diz seco.

— Não a chame de vadia! — rosno, fechando minhas mãos em punho.

Ele me olha com desdém e revira os olhos.

— Não seja um fraco, Edgar! Não te criei para abaixar cabeça para uma... mulher!

Foi minha vez de rir.

— Me criou para ser um soldadinho demoníaco que segue suas vontades?— acuso, e Bill me
encara sério. — Grande criação!

— Me respeite, Edgar Foster! Ou irei plantar uma bala na sua testa! — ameaça.
Claro que irá, pra ele tudo se resolve com armas e munições.

— Mataria seu próprio filho?

Bill ri e caminha até a bancada repleta de bebidas.

— Assim como você mataria seu próprio pai! — diz bebericando o uísque. — Você é sujo,
Ed...

Um demônio como se nomeou!

— Você me transformou nisso! Você é um maldito psicopata doentio! — berro.

— Cala a boca! — ele grita furioso.

Tarde demais para controlar minha boca.

— Eu quero ver você morto, papai! Morto a sete palmos e, quando isso acontecer, vou
queimar todo aquele lixo que você usa para viciar os outros! — digo sentindo orgulho nas palavras.

Vejo os olhos de Bill queimarem de ódio e sorrio.

— Você não merecia estar vivo, seu bastardo de merda! — rosna e tira a arma da cintura. —
Quer uma novidade?

Merda! Minha arma estava no casaco, dou passos em direção ao sofá, mas Bill aponta a arma
para meu peito.

— Atira em mim, pai!

Eu sou um louco suicida! Maldita convivência com Liza.

— Ora... — Ele ri de escárnio e balança o Colt no ar. — Eu não sou seu pai!

Perco o ar por alguns segundos e o vejo rir. Ele não é...

— Filho da puta! Por que me adotou, então? — grito.

— Ah, não seja sentimental... a vadia que estava grávida de mim não resistiu ao parto e o
bebê morreu! — diz tranquilamente. — Precisava de um herdeiro... e você era um sortudo que nasceu
no mesmo dia, mesmo hospital...chamo isso de destino!
Meu chão se abre, quer dizer que tenho uma família? Uma merda de vida normal e esse porco
me condenou?

— Você é doente! E vou matar você!

Sem ligar para minha ameaça, ele ri.

— Sou eu que estou armado! — diz e sacode a arma.

Tenho que sair daqui, não daria tempo de destravar minha Glock sem que um assassino
experiente como ele não me matasse. Pela primeira vez, preciso fugir.

Olho para o copo posto na mesa ao meu lado e agradeço por ser tão bagunceiro. Com um
movimento rápido, pego o objeto e arremesso diretamente na cabeça de Bill, o fazendo xingar e a
abaixar a arma, não o suficiente para evitar um tiro que passa a centímetros do meu corpo, mas, para
minha sorte, ele anda com a maldita arma antiga, o que me dá tempo para sumir pela porta de entrada.
Corro pelas escadas o mais rápido que posso e sinto uma vontade absurda de parar e lamentar minha
vida perdida. Saio no frio da cidade sem o maldito casaco e me questiono: aonde irei? Não posso
voltar para os lugares habituais, e a única opção que me resta é certo apartamento que irei invadir
pela segunda vez no dia.

Espero sinceramente que Allan não me vire as costas, eu estou sozinho. Perdidamente sozinho,
mas com dois objetivos em mente.

•Matar Bill

• Encontrar minha família.


CAPÍTULO 51
Liza

— Eu consigo andar, Allan! — resmungo quando ele ameaça me pegar no colo.

Graças ao bom Deus, tive alta, e isso não significa nada, já que o meu médico particular,
vulgo meu noivo gostoso, está me tratando como se eu fosse de vidro. E Allan é exagerado.

— Só quis ajudar! — responde fazendo um bico lindo.

— Amor, não faz essa carinha de cão abandonado que me sinto culpada!

— Mas é pra se sentir culpada, Elizabeth! Eu quase morri vendo seu corpo imóvel naquela
cama e agora que você está bem fica aí, me rejeitando! — faz seu drama.

Será que todo Carter é dramático assim?

— Eu não te rejeitei, homem! Pare de drama! — brigo, e ele continua de cara fechada. — Eu
te amo, tá legal?

— Eu sei que você me ama! Eu sou irresistível — diz sorrindo de lado.

Quanto ego.

— Está andando muito com o Ethan! — digo saindo do elevador. — Está metido demais.

Ele ri e me acompanha.

— Ethan está surtando com a Emma grávida! — diz rindo. — Ele me ligou outro dia, às duas
da manhã, para saber se mulheres grávidas podiam tomar refrigerante.

Não seguro o riso, é bem a cara de Ethan.

— Ele deveria ligar para Damon.

— Damon bloqueou Ethan de todos os meios de contato... estou seriamente pensando o


mesmo.

Tadinho, White é exagerado de um jeito fofo.


— Não seja mau! Não quer ser o tio preferido?

Allan dá de ombros e retira a chave do meu apartamento do bolso, mas assim que ele roda a
fechadura, seu rosto se contorce em uma careta.

— Edgar... — resmunga e entra no apartamento pisando duro.

Logicamente o sigo sem entender nada, mas paro assim que meus olhos pousam na figura de
Edgar sentado no chão frio com a cabeça entre os joelhos. O que houve?

— Edgar?— chamo seu nome, e ele levanta a cabeça, me encarando com seus olhos num
verde opaco.

Droga, Elizabeth, ele é um criminoso, não sinta dó!

Fodam-se os títulos! Tem um homem problemático no chão da minha sala, com o olhar
perdido, e eu me importo.

— Virou mania agora? — Allan brada, mas o loiro não se move. — O que houve?

— Descobri certas coisas... — responde suspirando. — Entre elas, que tenho sentimentos!

Qual o problema dos homens ao meu redor? Eles não sabem que meu coração é fraco?

— Ei... — digo, me aproximando com cautela. — O que faz exatamente aqui?

Quero tanto o abraçar, mas sei que o ciúme de Allan certamente iria para os ares.

— Eu só... — ele abaixa o olhar — não tenho onde ir.

Toco seu ombro, e ele acompanha o movimento com os olhos.

— Conte-nos o que aconteceu. — peço delicadamente.

Olhe só para mim, sendo gentil com o cara que me mandou pro hospital.

— Eu não sou filho dele... — ele sibila, e faço cara de confusa. — Bill não é meu pai!

OK, por essa, não esperava.

— Isso te deixou triste? Francamente, Edgar! — Carter diz irritado.


Como uma faísca de brasa, Edgar se levanta, ficando na sua posição defensiva.

— EU TENHO UMA FAMÍLIA, PORRA! AQUELE MERDA ME TIROU DE UMA VIDA


NORMAL PARA ME TRANSFORMAR EM SEU COBRADOR DA MORTE! — grita furioso.

— Fique feliz por não ter o DNA daquele porco! — Allan revida.

Edgar anda como um animal enjaulado pela sala.

— Eu não sei se meus pais estão vivos, se tenho irmãos... merda, não sei se meu verdadeiro
nome é esse! — diz afobado.

A angústia em suas palavras me faz perder o controle e puxá-lo para um leve abraço, o
máximo que meu ferimento suporta.

— Shii... — digo, e ele retribui o aperto, afundando a cabeça no meu ombro.

— Me perdoe por ferir você, Liza...

— Eu tentarei.

Ouço a tosse forçada de Allan e solto o loiro meio constrangida.

— Acabou a sessão drama? — Seller ironiza e olha para Edgar. — Eu sei o que você está
sentindo... Passei anos com essa dúvida.

— Você encontrou sua família...

Allan assente e suspira.

— Não foi fácil no início, odiei Damon e meu primo por anos... ainda não tenho convívio com
meu pai.

— Você era um órfão com histórias de vândalos, Carter! Eu sou um assassino, líder de uma
máfia, consegue ver a diferença entre os passados?— ironiza. — Não é algo que uma família busca.

— Você se arrepende?— pergunto.

O verde cristalino me fita e ele não responde de imediato.

— De algumas coisas, sim, outras, nem tanto... — admite. — Não gosto de comandar aquele
buraco cheio de heroína.

— Por que fazia? — Allan questiona.

— Porque o meu ex-pai era um psicopata a quem eu obedecia cegamente, talvez? — diz
sarcástico.

— Chega desse assunto, você quer o quarto de hóspedes? — interrompi.

Carter me olha em negação, mas Edgar sorri.

— Você me deixaria passar a noite aqui? — pergunta receoso.

— Sim, mas tem uma condição — completo, e ele acena —, irá pedir perdão de joelhos para
o meu filho.

O sorriso dele morre, e Allan abafa o riso.

— Sério? — pergunta, franzindo o cenho.

— Sim e vai brincar com ele até que Gabe canse! — completo, sorrindo triunfante.

Edgar olha para Allan que dá de ombros.

— Eu também achei que ela era boazinha quando a conheci! — meu noivo diz e passa por ele.
— Descanse, Gabriel adora brincar.

— Eu não sou bom com crianças, Elizabeth!

— Eu não sou boa em receber homens que atiram em mim na minha casa, mas estou fazendo,
não é?

Ele fecha a cara.

— Jogo sujo!

Sorrio e puxo Allan para o meu quarto.

— Nunca disse que jogava limpo, Ed!

Gosto assim.
Eu vou matar aquele loiro bagunceiro.

— Me explica como você conseguiu tornar o quarto em uma zona de guerra, Edgar? — grito
com as mãos na cintura, olhando feio para ele, que, por sua vez, faz cara de paisagem.

— Eu? — Se faz de vítima, e aperto o olhar. — Eu não sou organizado... até tentei melhorar
um pouco...

— Que você é bagunceiro, eu já percebi! — acuso e, em um movimento brusco, meu ombro


dói — Porra.

Edgar corre até mim com o olhar preocupado.

— Você está bem? Está sangrando? — pergunta, examinando meu ombro. — Odeio quando
você sente dor!

— Não sentiria se você não tivesse atirado em mim!

— Você se jogou na frente da bala! — corrigi-me

Reviro os olhos e ele sorri lindamente, um sorriso sincero.

— Gosto de quando briga comigo — admite, e fico confusa. — Você faz um bico muito
fofinho.

— Sabe que Allan te mata se ouvir isso, não é?

Ele ri e acena.

— Não estou dando em cima de você, Liza, é a primeira mulher que eu realmente quero só sua
amizade — diz sincero.

Recíproco, me preocupo com ele.

— Até porque não trocaria meu noivo por você! — digo a verdade, e ele arqueia uma
sobrancelha. — Amo-o.

— Você fere meu ego!

Iria responder, mas o grito alegre da criança da minha vida me faz correr para sala. Gabe está
tão mais lindo do que a última vez, seus cabelos loiros foram cortados modernamente e ele veste um
conjunto jeans que o deixa infinitamente lindo.

— Bebê! — grito, e ele corre, me abraçando. — Senti tanta saudade, meu loirinho!

— Mãe, eu fiz pra você!— Ele me entrega um papel dobrado. — Tio Ethan disse que o bebê
da tia Emy também vai desenhar pra você!

Com quase seis anos, Gabe não falava muito, creio que a convivência com Hillary o
traumatizou, mas, desde que ele se mudou conosco, ele se soltou mais, não sei como foi durante o
meu mês em coma.

— Obrigada meu amor! — agradeço e abro o desenho, onde há uma família digna de um
desenho de criança.

Eu e Allan estamos na frente, Damon e Lia ao lado esquerdo, e Lottie é um pequeno rabisco na
mão de Lia, Ethan e Emma, no lado direito, e o Dominic, no final, com chifres vermelhos.

Ethan certamente tem algo a ver com isso.

— Você gostou? — meu pequeno pergunta sorrindo.

— Eu amei, filho! — admito e me lembro de Edgar. — Quero que conheça um amigo da


mamãe.

Gabe acena e Edgar surge na sala.

— Oi.

Gabe dá um passo para trás e não o julgo, crianças são assim.

— Ele agora é bonzinho — digo suavemente — Não é tio, Ed?

— Sou? — pergunta, e o olho feio. — Tem razão, sou o tio mais legal!

— Tio Damon me dá abraços! — Gabe acusa.


Edgar me pede ajuda e finjo que não vi.

— Seu tio é bobo! Eu posso te dar pizza!— Edgar propõe, e o olho incrédula. — E milk-
shake!

— Vai comprá-lo com comida?— Allan se pronuncia.

— Vou! Eu não sou bom com crianças... mas todo mundo ama pizza! — responde o óbvio. —
Então?

— Eu gosto de pizza! — Gabe responde desconfiado.

Eu não acredito que Edgar está comprando uma criança com comida.

— Eu também adoro pizza! Já podemos ser amigos! — Ed comenta, estendendo o braço para
o pequeno.

Gabe olha de relance para o pai e Allan suspira.

— E eu lá tenho poder nessa casa?

Gabriel me olha pedindo silenciosamente pela minha permissão para poder aproveitar a
pizza.

— Sem refrigerantes! — informo, e ele sorri animado.

— Ebaaaa! — grita eufórico.

Olho para Edgar, que está discando para o fast food, ele se vira em minha direção e revira os
olhos.

— O que é?

— Sem refrigerantes! — digo séria.

— Você é irritante, deixa o garoto ser feliz! — resmunga e olha para Gabriel, sorrindo. —
Quem é o tio preferido?

— Tio Dom! — Gabe responde prontamente.

Parabéns ao Dominic.
— Aquele loiro metido! Esquece o Dominic, sou o tio preferido!

— Tio Dom tem um barco!

— Eu tenho uma arma! — Edgar responde normalmente.

Meu Deus!

— EDGAR! — Allan e eu gritamos juntos.

O infeliz sorri de lado e ignora.

— Pai, posso ter uma arma?

— Não! — responde Carter, sério.

OK, talvez não seja uma boa ideia deixar Edgar com uma criança.

Foi uma péssima ideia!


CAPÍTULO 52
Liza

Respira Liza, respira, é apenas uma visita. Filhos visitam os pais, mesmo estes sendo uns
desnaturados.

— Pode esperar no carro se preferir, meu amor! — Allan diz sorrindo para mim.

Eu amo o sorriso desse homem, e me sinto uma pervertida ao imaginar ele sorrindo assim só
pra mim, no nosso quarto.

— Eu quero ir, ela é minha mãe! — respondo com convicção.

Allan acena e olha para o banco de trás, onde um Edgar emburrado está revirando os olhos.
Por que ele está aqui?

Não faço ideia, Allan insistiu.

— Pronto?

— Eu só quero me livrar da presença de vocês! — resmunga, saindo do carro.

Corpo de homem maduro, mentalidade de uma criança de dez anos.

— Olhe como fala comigo, seu idiota! — digo ameaçando, mas Ed só revira os olhos.

Nunca tinha reparado nele na luz do sol, sua pele é levemente bronzeada e seus olhos cintilam
o mais puro verde. Por que ele tem esse cabelo dourado impecável, e eu nasci com essa palha seca?

— Pare de falar e vamos logo, quanto mais rápido sair daqui, mais tempo terei para preparar
a morte de Bill! — Ele fala em matar pessoas com a mesma tranquilidade em que fala do tempo.

Vai ser difícil colocar juízo nesse homem.

Se está no meu plano encher a paciência de Edgar por um longo tempo? Óbvio que sim! Esse
loiro pode até não ser um anjo, mas, com paciência e uns socos, ele se torna um homem menos mal-
humorado e homicida.

— Edgar, você fica por aqui! — Allan se aproxima, e Ed acena.


— Ele só veio pra ficar do lado de fora? Qual a necessidade? — brigo.

— Será que vou ter que te dar outro tiro pra você lembrar que tenho a arma?— ironiza e
levanta a blusa, revelando o cabo da pistola. — E tem um psicopata na nossa cola!

OK, ele está armado.

— Eu não gosto de armas... — Faço careta e Edgar sorri.

— Posso te ensinar a usar, autodefesa! — propõe.

— Eu passo! — digo rápida, e ele dá de ombros. — Você não quer entrar?

Eu estou levando um ex-psicopata (não tão ex assim) para dentro da casa da minha mãe?

— E conhecer Suzane Norris? Não, obrigado, não quero gastar minha munição com ela.

— Como sabe o nome da minha mãe?

Edgar ri e põe as mãos no bolso com seu sorriso sombrio.

— Eu investiguei sua vida, Elizabeth, sei cada passo que você já deu durante a vida, seus
gostos, comida preferida, como gosta do café — responde e dá de ombros. — Sei da sua relação
com Suzane, e não quero te deixar triste matando sua mãe...

Não evito uma risada abafada, é estranho a forma como ele mostra que se importa. Estranho e
louca.

— Muito gentil da sua parte não matar minha mãe! — ironizo.

Sinto o braço de Allan apertar minha cintura e o olhar, e Ed segue o movimento com
descontentamento. Ele age como meu irmão mais velho, fica cheio das frescuras.

— Vamos?— Carter chama, e aceno. — Edgar, já sabe o que fazer.

Respiro fundo e atravesso o jardim da casa onde passei boa parte da minha vida, o luxo
estampado até nos mínimos detalhes só me sufocam, sinto saudade do meu apartamento pequeno, das
manchas na parede, do giz de cera colorindo um pedaço da parede da sala, onde Gabe registrou sua
arte. Mas aqui, nesta, casa tudo que tenho são lembranças opacas, de como eu era uma Barbie no
jogo da minha mãe, de como chorei pela morte do meu pai, das vezes que passei meu aniversário
olhando pela janela e desejando sumir. Só percebi que uma empregada havia aberto a porta quando
Allan levemente me empurrou para dentro do cômodo. Todo lugar estava exatamente como me
lembrara.

— Um bom filho a casa torna! — Ouço a voz grave e alta da minha mãe, me viro.

Descendo as escadas, ela se aproxima usando um de seus vestidos finos.

— Mãe! — cumprimento, e ela nem sequer sorrir.

Quero ir embora.

— Senhora Norris! — Allan, diz e ela arqueia uma sobrancelha. — Viemos conversar, afinal,
somos família! — A ironia na voz de Carter é sentida até por quem é surdo.

— Família é algo que o senhor entende, não é, senhor Carter? — responde e caminha até o
sofá disposto na sala. — Sentem-se e fiquem à vontade!

Sento-me ao lado de Allan no sofá, de frente para minha mãe. Por que aceitei vir mesmo?

— Vamos nos casar, como deve saber, conhecer minha sogra faz parte! — Allan começa e
sorri. — Nosso último encontro não foi o melhor.

— Sua falta de educação é inadmissível, senhor Carter! Elizabeth, mais uma vez, não soube
escolher um bom homem!

Ah, não, por favor...

— Mãe, Allan é um bom homem!

— Bom? Um filho bastardo de uma família rica não é bom, Elizabeth! Onde estão os
ensinamentos que te dei?

Quais?

— Eu não irei me casar por dinheiro! — digo séria, e olho para Allan. — Não vou!

E se ele achar isso?

— Eu sei, meu amor, eu sei! — ele me acalma e acaricia meu rosto. — Sua mãe não sabe a
filha maravilhosa que tem!
— Elizabeth só me dá desgosto! Nunca me obedecendo, indo contra minhas regras e indo
trabalhar naquele lixo de editora! — reclama.

Ex-trabalho, mas não falo nada. Dizer que estou desempregada iria gerar mais críticas

— Eu sempre fiz tudo que você queria! Vestia-me aos seus gostos, vivia por você... mas nunca
era o suficiente! Nunca! — grito e limpo uma lágrima solitária. — Por que, mãe? Por que me odeia
tanto? O que eu te fiz?

— EU NÃO QUERIA UMA MENINA! — grita e sinto as palavras como um tapa. — Eu... eu..
— ela desvia o olhar e segura o colar com a imagem de um bonequinho — eu tive um filho, meu
menino lindo...que foi arrancado de mim no dia do seu nascimento!

Ar, preciso de ar!

— O QUÊ? — digo entre soluços, e Allan me segura. — Eu tenho um irmão?

— Ele foi tirado de mim... — ela diz com pesar. — Deveria ter sido você, Elizabeth! Seu pai
insistiu em uma gravidez... pra logo depois morrer e me deixar com você pra cuidar!

Como uma mãe pode ser tão má? Hillary é bem melhor do que minha própria mãe.

— E resolveu descontar tudo em mim? Eu sempre fui uma boa filha! — grito e as lágrimas
embaçam minha visão. — Vamos embora, Allan!

Carter segura minha mão e vejo seu rosto arrependido de ter me trazido até aqui. Quando dou
o primeiro passo, a porta é aberta e Edgar entra com seu olhar sombrio até que ele me vê. Tudo que
vejo são suas esmeraldas pararem na minha mãe com ódio.

— Carlos!— Me assusto com o nome do meu pai sendo gritado por Suzane.

Viro-me e vejo minha mãe olhando pálida para Edgar, sim ele se parece com meu pai, mas
bem mais jovem.

— Errou, meu nome é seu pior pesadelo! — o loiro rosna e anda até ela. — É um desprazer te
conhecer, Suzane Norris, e o único motivo para não meter uma bala na sua testa é porque gosto da
sua filha!

Sorrio e olho para Allan, que mantém um sorriso satisfeito.


Por que ele está assim?

— Não pode ser... — Minha mãe começa a chorar e do nada se joga nos braços de Edgar. —
Oh, meu filho! Você cresceu tanto... — diz passando os dedos no rosto dele. — Eu te amo, meu
bebê...

FILHO?

NÃO...

NÃO...

— Eu não sou seu filho sua louca! — Ele empurra minha mãe e me olha sem entender. —
Avisa a sua mãe que eu não sou um bebê!

Minha mãe sai de perto e volta com um porta-retratos, estendendo para Edgar.

— Veja... esse é meu marido com a sua idade! — Edgar pega relutante e olha para imagem. —
Diga-me quantos anos tem... Faz 32 anos que meu bebê foi tirado de mim...

— Edgar... — Me aproximo e olho a foto por cima do seu ombro, é uma réplica dele em anos
atrás. — Vamos embora!

Quero sair desse lugar!

— Eu não sou seu filho! — ele diz por fim e joga o porta-retratos longe. — Eu não sou!

— Mas... — minha mãe chora e sorri — não sente? Olhe para mim...

— Tudo que sinto de você é nojo! — responde e começa a se afastar. — Ninguém merece
você como mãe...

Allan me puxa para saída, e Edgar corre para o carro.

Que dia. Sento-me no carro e Allan acelera, de longe, vejo minha mãe chorar na porta. Não
me sinto mal, ela que sofra com suas atitudes.

— Foi por isso que eu vim, não é? — Edgar quebra o silêncio, e Allan o olha pelo retrovisor.
— Você é um desgraçado, Carter!

— Isso não pode ser verdade... seria muito absurdo! — comento em dúvida.
O silêncio perpetua por um tempo até ouvir Edgar suspirar.

— Carter, para o bem da sua saúde, é melhor rezar para que não seja seu cunhado! — ameaça,
e vejo Allan rir. — Você será um homem morto!

Eu não acredito que tenho a possibilidade de ter um irmão.

— Merda de azar! — resmungo.


CAPÍTULO 53
Uma semana depois.

Conviver com a possibilidade de Edgar ser meu irmão legítimo fez uma bagunça a minha vida,
não só na minha, já que, na família Carter, "problemas de um Carter, é problema de outros Carter's",
de início, houve muita divergência entre Edgar e os outros, principalmente entre ele e Dominic.
Mesmo a contragosto, Dom se permitiu a aceitar Edgar, não totalmente, é claro.

— O que é tão interessante para você ficar encarando o nada?

Levo um susto com a voz de Ed vinda atrás de mim. Tiro meus olhos da vista magnífica que
ele tem em seu apartamento e me viro. Não estamos no antigo, e sim no seu novo lugar.

— Pensando em tudo... — admito e suspiro. — Se nós somos irmãos, se o destino pode ser
aplicado...

Ele sorri relaxado e se senta na cadeira ao meu lado. Edgar aumentou a segurança de seu novo
apartamento​ a níveis altamente exagerados, há dois dias, ele foi atacado na volta de um de seus
prédios de fachada, os capangas atiraram contra ele e, por sorte, Ed estava com colete, é, bem...
agora os dois atiradores estão a sete palmos. Deveria me sentir mal com isso, certo? Eu sou
cúmplice de um homicídio.

— Que você é minha irmã, não tenho dúvidas, já se olhou no espelho?— implica e sorrio. —
Não acredito em destino.

— No que acredita? Teoria do caos?

Ele ri e nega.

— Eu acredito em Deus, não sou um homem de religião definida, porém acredito que há
alguém por nós! — responde serenamente. — Eu não sou um bom homem, apesar de tudo.

— Você ainda pode mudar! — digo mais uma vez.

— Não se podem mudar as trevas de um homem, Liza, não sei viver de outra forma.

Suspiro e deito minha cabeça em seu ombro.


— Não quero que mude, quero que se transforme em alguém longe da escuridão que carrega
consigo, Ed. — digo calmamente. — Você precisa se abrir para o amor...

— Amor, Liza? Não sou capaz de nutrir tais sentimentos... Não sei o que é! — diz amargo.

Imagino o quanto ele sofreu, por que o destino foi tão cruel?

— Agora você tem a mim, a nossa mãe... Os Carter’s! — digo, e ele ri. — E o Ethan!

— Você é a única coisa boa na minha vida, sabia? — diz, e me viro para olhar em seus olhos.
— Quero que você seja minha irmãzinha.

— Bom, nós vamos fazer coisas de irmãos? — proponho.

— Que coisas?

— Fotos com caretas, pijamas iguais, dia no parque... esse tipo de coisa! — respondo
empolgada, e Edgar gargalha. — Não foi uma piada!

— Eu não vou fazer isso! Não mesmo! — responde rindo. — Eu e você usando pijamas
iguais? Enlouqueceu, só pode.

— Edgar!

— Elizabeth! — responde ainda rindo de mim. — Peça ao seu noivo para fazer isso!

Allan nunca consegue deixar nossa noite de cinema sem sexo.

— Allan não consegue só assistir ao filme, ele fica sempre com. — Ed tapa minha boca e faz
careta.

— Eu não quero ouvir! — diz rápido e com cara de nojo. — Meu Deus, não gosto de imaginar
minha irmãzinha na cama...

— Awnnn! — grito e aperto sua bochecha. — Você me chamou de irmãzinha!

Edgar se levanta de cara feia.

— Porra, Liza, pare com isso, caralho!

— Fofo!
— Argh! — resmunga e sai de perto, — Onde está Allan, que não te leva daqui!

— Larga de ser chato, homem! Foi você que me arrastou para cá! — o lembro e me levanto.

Parece que estou vivendo acorrentada, com o terrorismo de Bill, meu noivo e Edgar estão
insuportáveis com todo excesso de segurança, e isso não vale apenas para mim, Damon está
dobrando a segurança de Lia e Lottie, Dominic providenciou mais segurança para sua boate e Ethan...
Bom, o Ethan está surtando e mil vezes pior, tadinha de Emma, pois o White está superprotetor com a
gravidez e consegue fazer loucuras para manter a mulher salva.

— Eu me importo com sua segurança e isso basta! Se for preciso acorrentar você no sótão, eu
irei! — responde sério e caminha para cozinha. — Estou com fome.

Bufo e olho em sua direção.

— Cozinhe, então! — respondo grossa.

O bastardo sorri e me olha com aquelas esmeraldas pidonas.

— Eu não sei cozinhar e dispensei a cozinheira...

Azar dele.

— Se vira! — digo, indo em direção ao quarto de hóspedes. — Pede pizza!

— Liza! Eu estou enjoado de pizza, custa fazer comida pra mim? — grita.

— Custa, não sou sua esposa, nem sua namorada, muito menos sua escrava... Então, querido
futuro irmão, se vira!

Saio tranquilamente para o quarto e o ouço me xingar.

Que cheiro de queimado é esse?

Edgar.
Saio do quarto correndo e encontro o loiro tossindo, olhando para frigideira com cara de ódio.

— Quer nos matar carbonizados, seu idiota? — brigo, e ele me olha.

— Eu disse que não sabia cozinhar! — resmunga — Sou muito azarado na cozinha... É
impressionante!

Olho de relance para ele.

— Azarado?

— Você não acha? Elizabeth, fui roubado da minha família no meu nascimento, fui criado por
um homem sem escrúpulos, treinado para ser um assassino experiente... Eu sou muito azarado, não
acha? — diz de cara feia.

Realmente, literalmente, indiscutivelmente. Edgar é meu irmão.

— Agora sim nós somos irmãos! — comemoro, e ele arqueia uma sobrancelha. — Eu também
sou azarada!

Ed sorri de lado e revira os olhos.

— Cala boca e cozinha pra gente! — manda, e o olho feio. — Por favor!

— Ótimo, agora saia daqui e me deixe trabalhar! — brigo, o batendo no braço — Falta pouco
para o Allan vir me buscar!

Ele bufa e se senta na bancada.

— Quer se livrar de mim? Jura, Elizabeth? — faz drama.

— Eu tenho uma casa, um noivo, um filho... Então, sim, quero me livrar de você! — respondo
tranquila.

— Lá não é seguro o suficiente, e se forem atacados? Se machucarem você? Nem pensar, você
passa a noite aqui!

Exagerado.
O celular de Edgar toca e ele atende.

— Sim? Estou em casa... Espera, O QUÊ? — ele grita furioso. — MERDA! MERDA!
MERDA! NÃO ME PEÇA DESCULPAS, EU IREI MATAR CADA UM DE VOCÊS SE NÃO O
ACHAREM!

E desliga, Edgar me olha com dúvida.

— O que houve, Ed? — questiono já preocupada.

— Tente não ficar desesperada, OK...

— Me diga, Edgar! — exijo.

Ele respira fundo e solta o ar.

— BILL PEGOU O ALLAN!


CAPÍTULO 54
Algumas horas antes.

Allan Seller Carter.

Amo meu trabalho, porém fazer plantões com frequência me deixa um lixo e tudo que mais
quero é buscar minha mulher no apartamento de Edgar para sentir seu corpo ao meu. Liza faz parte do
meu DNA, meu suprimento para viver. Passo pela recepção e, no momento em que saio, sou
trombando com um senhor que não consigo ver seu rosto.

— O senhor está bem? — pergunto.

— Oh, garoto, estou com dor... — ele diz rouco e tenta se afastar. — Me ajuda a encontrar
meu carro?

Sabem a sensação de estar em perigo? É o que sinto.

— Entre no hospital, irão lhe atender!

— Seja um bom garoto com um pobre velho... — diz e, por fim, decido ajudar.

O ajudo andar até um furgão estacionado bem ao lado.

— O senhor consegue dirigir? Quer um táxi? — ofereço.

Para minha surpresa, o homem me empurra e, como foi de supetão, bato com força na lataria
do carro, olho para ele e meu sangue para de circular quando reconheço o olhar doentio. O mesmo
olhar dos meus pesadelos.

— Sua bondade irá matá-lo garoto! — Bill diz e, antes que perceba, ele crava uma agulha no
meu braço. — E eu irei enterrar.

Não consegui impedir meu corpo de cair no chão, nem meus olhos de fecharem, a minha
última visão foi do sorriso orgulhoso de Bill.

Meu primeiro pensamento foi que Liza nunca encontrará meu corpo.
Momento atual, 19h53min PM.

Quarta-Feira

Oito horas e cinquenta e três minutos após o sequestro.

Abro os olhos e gemo de dor, meus olhos demoram a se fixar no ambiente escurecido ao meu
redor e sinto minhas mãos presas atrás de meu corpo, a julgar o formato, creio que seja uma cadeira.
Tento me soltar, porém é em vão, sinto a vertigem como efeito colateral da droga aplicada em minhas
veias. Não sei onde estou, ou há quanto tempo estou inconsciente, sinto cheiro de chuva e mofo. A
única luz do local vem de uma lamparina no canto direito do cômodo, bruxelando sua luz fraca nas
paredes, um cenário de filme de terror seria pouco em comparação.

Onde estou?

— A donzela acordou! — Me assusto com a voz na escuridão e busco pelo dono, a silhueta de
Bill se forma na frente da luz e meu coração dispara.

Calma, Allan, você não é um garotinho.

— Você é doente! — respondo com a voz rouca. — Um louco!

Ele ri e acena.

— Azar seu, não? — diz e se aproxima. — Você sempre teve potencial para ser mais, Allan...
mas preferiu ser um doutorzinho de periferia!

— E deveria ser como você? — zombo com nojo. — Um estuprador barato que precisa de
crianças para se satisfazer!

Com um golpe, Bill soca meu rosto, fazendo, por pouco, a cadeira não tombar para o lado
com a força que meu corpo exerceu. E não foi somente um golpe, em seguida, vieram chutes e mais
socos.

— Eu irei matá-lo garoto! Vou assistir ao seu corpo ser queimado vivo e ouvir seus gritos
pedindo por socorro! — ele diz rindo. — E, depois disso, vou ter uma noite muito prazerosa com sua
mulher!

Fecho meus punhos e tento me soltar.

— NÃO CHEGUE PERTO DELA! — grito.

Edgar não irá permitir, minha mulher estará segura, tenho certeza que Damon irá cuidar de
Gabe.

— O amor enfraquece o homem, garoto... Até mesmo Edgar sucumbiu! — diz sombriamente.
— Ele será outro que verei morrer com gosto!

Permaneço em silêncio, não quero ouvir os planos diabólicos desse monstro. Bill ri alto e
começa a pegar galões que, para meu pânico, suspeito ser gasolina, com animação, ele espalha o
líquido por toda cabana e percebo o quanto estou ferrado. Só queria dizer a Liza que a amo pela
última vez, dizer a minha família que os amo.

— Sorria, Allan! Fogo é o bem mais precioso da humanidade! — ele zomba e solta uma
gargalhada. — Irá virar cinzas!

Sinto medo, mas não irei demonstrar.

— Você é doente!

Bill apenas ri mais e continua a jogar combustível por todos os lados.

Estava certo que iria morrer, meu fim seria em uma cabana sendo carbonizado. Mas o barulho
de sirenes fez todo meu coração se encher de esperança.

— Que merda é essa? — rosna e se desespera.

— Isto é o que acontece quando se mexe com um Carter! — respondo com gosto.
CAPÍTULO 55
Ethan White

Horas antes.

Eu não posso falhar, a única esperança de encontrar meu amigo está em minhas mãos. Cerca
de uma semana atrás, instalei um aplicativo rastreador no celular de Allan, bom... não só no celular
dele, talvez eu esteja um pouco paranoico em relação à segurança de meus familiares.

Faz horas que Allan foi sequestrado e a última localização é em uma rodovia bem afastada de
Nova Iorque, depois disso, o sinal se perde. Estou usando todos os recursos necessários para
rastrear qualquer possível local de esconderijo, mas nada parece contribuir.

— Como está indo?

Levanto o olhar e encontro Dominic próximo a mim totalmente abatido, todos nós estamos,
Liza não para de chorar e Edgar e Damon estão literalmente colocando todos os agentes possíveis
atrás de Allan.

— Não encontro nenhum local próximo, é como se eles tivessem desaparecido! — respondo
irritado. Olho para tela do computador e me pergunto o que deixei passar!

— Bom, você não sabe o que deixou de ver... Mas nós temos alguém que conviveu com Bill!
— Dom diz abrindo um pequeno sorriso.

Edgar.
— Chame-o! — peço, e Dominic acena.

Tem que funcionar, preciso tirar meu amigo das mãos daquele verme, quem será o tio do meu
filho? Edgar e Damon aparecem segundos depois acompanhados de tio Robert, que está visivelmente
abalado.

— Em que sou útil? — o loiro pergunta e viro o notebook em sua direção.

— O sinal caiu nesse ponto, porém não há nada nos arredores! — digo, e ele encara a tela
com atenção.

— Eu conheço esse lugar... Há uma cabana que Bill me levou para caçar quando jovem!— Ed
diz e fica pálido. — Merda, já sei o que ele vai fazer!

Por que tenho a impressão que não vou gostar da resposta?

— Peguem o carro! — Damon grita e aceno. — Pai, ligue para Augusto, vamos precisar de
reforços!

Começo a imprimir a localização e as mulheres entram na sala, Liza, Lia, Emma e Jade se
aproximam de nós.

— Vou com vocês! — Norris afirma, e suspiro.

— Não vai não! — Edgar recarrega sua arma e olha para. Liza — Você irá ficar aqui, viva e
bem! Não quero você por perto!

— Meu noivo está lá! Eu vou sim, e você não irá me impedir! — grita.

— Eu sou seu irmão mais velho e estou mandando você ficar aqui! — Ed responde alto e
guarda a arma. — Só irá atrapalhar todo mundo! Fique aqui e me deixe ir salvar seu noivo!

Desvio o olhar da briga e encaro minha mulher com a saliência em sua barriga.

— Eu volto! — digo, beijando seus lábios.

— Por favor, se cuida, Ethan! — ela pede com lágrimas. — Eu te amo!

Abaixo e beijo seu ventre com carinho.

— Cuida da mamãe, azeitoninha, o papai vai buscar o tio Allan e já volta.

Abraço minha mulher e me viro, mas quase engasgo com o ar com a cena a minha frente. Jade
abraça Dominic com força e diz algo em seu ouvido, eu teria provocado se o momento não fosse este.

Eu, os Carter's e Edgar corremos para o carro e logo atrás Augusto, um amigo do meu pai e de
Robert, liga a sirene.

Eu acho bom Allan estampar uma camiseta com a minha foto após essa noite, esses Carter's
ainda vão me matar.
Já assistiram àqueles filmes de ação aonde os mocinhos chegam no momento exato com toda
sua glória e cabelos ao vento? Pura mentira! Assim que o carro estacionou, Damon e Dominic já
saíram correndo na frente feito duas baratas tontas e receberam um sermão de tio Robert. Eles não
assistem a filmes?

Saio do carro acompanhado de Edgar e logo Augusto, com outros policiais, cercam a pequena
cabana.

— Quais as chances de tudo sair pacífico? — pergunto baixinho para Ed.

Ele iria me responder, mas um tiro ecoa e atinge o chão a um metro de onde estamos.

— Isso responde suas perguntas? — ele diz irônico e me empurra para trás do carro. — Fica
aqui, se algo acontecer com você, sua mulher me esquarteja vivo...

Emma é tão amável que até Edgar tem receio dela. Ai, meu amor.

— Não pode entrar lá sozinho! — digo sério e vejo Damon se aproximar. — Damon, diz pra
ele não ir sozinho.

— Salva meu irmão! — Carter​ pede, e bufo.

Eles não assistem a filmes? Porra, será que ninguém assiste à ação nessa merda?

Edgar sai de perto de nós e, contra os protestos de Augusto, empunha sua arma, sumindo de
minha vista.

— Quando a gente sair daqui, quero uma estátua em minha homenagem no centro da sua sala!
— resmungo, e Damon suspira.

— Você instalou um aplicativo de rastreamento em quantos celulares? — Damon se abaixa ao


meu lado. — Quero um também!

Sorrio, sei que esse idiota é mais exagerado que eu.


— Dez pratas que a Lia irá perceber o aplicativo no primeiro dia! — estendi braço, e ele ri.

— Vinte, que Emma te bate por instalar um rastreador nela!

Bater? Ela vai deixar meu filho órfão de pai!

— Se eu sobreviver a isso, ela irá me matar!

Demônia da minha vida!


CAPÍTULO 56
Allan.

Os barulhos ao redor ficam cada vez mais altos, por um momento, cheguei a desistir e aceitar
minha morte nessa cabana, sendo consumido pelas chamas. Mas eu não estou só, não sou mais um
garotinho sem família, sou um Carter.

— Merda! — Bill grita furioso e segura sua arma com força. — Eu vou matá-lo!

Tive vontade de rir debochado, mas o perigo e adrenalina ainda correm em minhas veias. Não
sei que final me espera.

— Não há como fugir, Bill! Está cercado! — zombo.

— Sempre há uma saída, garoto! — ele responde, tateando o chão. — E nessa cabana existe
uma que servirá!

Tento me livrar da corda que prende meus pulsos, mas é inútil. Bill encontra uma espécie de
portinhola no assoalho e sorri de escárnio para mim.

— Morra queimado, garoto! — ele grita e joga um isqueiro no chão.

Automaticamente o fogo entra em contato com o combustível espalhado e mais uma vez acho
que será meu fim. Vejo as brasas se aproximarem de mim e divido minha atenção entre minha morte
iminente e Bill descendo na abertura no chão. Mas me assusto quando o verme é jogado para trás e
uma mão é posta para fora da saída, aos poucos, a silhueta de Edgar se faz presente. Eu nunca fiquei
tão feliz em ver meu cunhado.

— E fugir do show, pai? — Ed provoca.

A fumaça começa a se intensificar e temos que sair daqui logo, a madeira podre não irá
suportar.

— Edgar! — grito, e ele entende meu desespero.

Bill está jogado no chão e sua arma deve ter caído com o impacto.

— Esse é por mim! — Edgar atira na perna direita de Bill. — E esse é por fazer minha irmã
chorar! — Mais um tiro na outra perna.

Sem demoras, o loiro corre até mim tossindo e desamarra meus pulsos, me ajudando a ficar de
pé. O fogo logo irá consumir o local, Bill está jogado no chão, sangrando.

— E ele? — grito, e Edgar abre um sorriso diabólico.

— Que vire churrasquinho do capeta! — responde e me puxa em direção a uma pequena


janela suja. — Vamos ter que pular!

Eu serei capaz de deixar Bill morrer queimado?

— Seremos iguais a ele se deixá-lo aqui! — digo tossindo.

Edgar bufa e me dá um soco.

— Cala a merda da boca, Carter! Estamos quase virando cinzas e você quer salvar o homem
que fodeu sua vida? — berra, e suspiro. — Eu só não te mato, porque é meu único cunhado!

Sorrio, mesmo sabendo que ele não pode ver, me viro para janela.

— No três! — grito.

— Isso não é um filme, porra! Pula agora! — Edgar me empurra.

Com toda força, nós dois pulamos a janela, onde o vidro se rompe com facilidade no mesmo
momento em que uma das pilastras cai no exato lugar onde estávamos. O impacto com o chão foi
dolorido, acho que só não senti mais dor, porque Edgar ficou por baixo.

Respiro aliviado.

— CARA, EU AQUI ACHANDO QUE VOCÊ IRIA BATER AS BOTAS E VOCÊ DE CASO
COM SEU CUNHADO?

Afasto-me de Edgar e rio de alívio, não preciso me virar para reconhecer uma piada de Ethan.

Segundos depois, sinto meu corpo ser amassado por um abraço apertado de Damon, o qual
retribuo com força. Eu amo esse pirralho.

— Eu achei que iria te perder! — ele admite e limpa uma lágrima. — Seu bastardo! É meu
irmão mais velho, não pode me matar do coração assim!
Rio e meu pai se aproxima com o olhar emocionado, quando se tem um experiência de quase
morte nós, percebemos que nutrir ódio só faz mal.

— Pai! — digo realmente abalado, e ele me abraça forte. — Me perdoe!

— Me perdoe, filho... Eu sempre vou cuidar de vocês meninos! — ele diz e Damon também
me abraça.

Minha família, mas, para estar completo, só preciso de uma loira briguenta.

— ABRAÇO QUÁDRUPLO! — Ethan grita e corre até nós. — Eu quero uma estátua com meu
nome na sua sala!

Lógico que ele tem sua participação nisso, um gênio.

— Obrigado, meu amigo! — agradeço e o abraço. — Devo a você minha vida!

Ethan sorri.

— Isso aí, eu quase fui carbonizado para não receber um obrigado! — Edgar resmunga e me
viro. — Mas de nada, estou bem!

Literalmente ele é irmão da Norris.

— Meu Deus, ele é a Liza com barba! — White diz perplexo e logo ri.

Só mencionar o nome dela e meu corpo se arrepia.

— Onde ela está? Ela está bem, não é? — pergunto com medo. — Edgar, onde está minha
mulher?

— Correção, minha irmã!— diz e bufo. — Ela está bem, não deixei que viesse, do jeito que é
louca, iria se enfiar na casa e te tirar de lá no colo!

Tem razão.

— Vamos, filho, você está ferido e precisa ser examinado! — meu pai diz, me puxando em
direção à ambulância que chegava.

Olho de relance a cabana com o crepitar do fogo agora mais contido, Bill teve o que mereceu,
agora ele não irá fazer mal para ninguém, toda sua maldade virou cinzas. Do pó ao pó.
— Não se culpe, agora tudo será apenas lembranças ruins... — meu pai sussurra e aperta meu
ombro.

Estou livre! Estou livre!

Saio do elevador sendo amparado por Damon e Ethan, soube o que Ethan fez para me
localizar e devo admitir que subestimei sua genialidade, Dominic ficou cuidando da parte jurídica,
com Augusto, pelo que soube, um grande amigo da família, eles irão cuidar da morte de Bill e provar
minha inocência. Depois de ser examinado pelo enfermeiro da ambulância, ele me disse o que eu já
havia constatado, torci o pulso e quebrei um dedo no processo. Fora pequenas queimaduras no corpo.

— Como estou? — questiono aos dois, e Damon me olha.

— Vivo, isso é o que importa! — responde sorrindo.

— Seu rosto está inchado, roxo, e seu olho esquerdo está praticamente fechando... Bom, está
lindo! — debocha White.

Rio e, quando a porta do apartamento de Damon se abre, sinto o alívio, Liza, assim que me vê,
corre se aproximando e mal tive tempo de assimilar quando ela me beija.

— Oh, meu amor! — chora aliviada. — Você está bem?

— Vou ficar! — respondo, e ela me abraça. — Acabou, Bill está morto!

Eu amo essa mulher, amei no dia em que esbarrei com ela na escada do prédio, amei quando a
vi de pijama de ursinho no meu sofá, a admirei quando defendeu Gabriel. Eu não consigo não amar
Elizabeth Norris.

— Allan, tive tanto medo de perder você! — choraminga em meus braços.

— Tive medo de não dizer o quanto te amo! — completo, e ela me abraça mais forte. — Eu
amo você!

— Eu te amo! — ela responde sorrindo. — Onde está Edgar?


— Com Dominic e Augusto! — Damon responde saindo dos braços de Lia. — Logo, ele
chega!

Edgar salvou minha vida, quem sabe ele não tem salvação?

— Agora acomodem-se que eu vou contar como a donzela ali foi resgatada! — Ethan grita e
abraça Emma com cuidado. — Amor, decore essa história, ela marcará gerações!

— Merda... — resmungo, e Damon ri.

— Bem-vindo à família, irmão!

Só me restou sorrir, não trocaria isso por nada no mundo.

— Conte somente a verdade, White! — digo, e ele acena.

Isso é ser um Carter, sofrer e se reerguer.

— Até parece que exagero! — resmunga e olha para as meninas. — Tudo começou com uma
cabana enorme e muito mato, não se esqueçam dos animais ao redor...

Vejo Damon revirar os olhos e rir. Ethan não seria ele se não fosse exagerado. Por isso ele é
insubstituível.
CAPÍTULO 57
Liza

Um mês depois.

Com o tempo ao lado de Allan, eu reparei uma mania na família Carter, eles possuem o
incrível dom de serem bisbilhoteiros e adoram admitir isso. Depois de tudo ter se acalmado com o
resgate de Allan, o teste de DNA ter comprovado que Edgar é meu irmão, e Bill finalmente ter sido
morto, chegou o dia em que a família se animou.

Dia em que Ethan e Emma irão descobrir o sexo dos bebês, se vocês pensam que já viram de
tudo, é porque com certeza não tiveram a oportunidade de presenciar Damon e Allan apostando o
sexo do futuro afilhado. Allan tem toda convicção de que será uma menina, já Damon está apostando
dobrado que é um menino. E eu? Bom, deixo os dois Carter's se matarem pelo título de tio preferido.

— Tenho certeza que será menina! — Allan diz mais uma vez empolgado.

A sala de espera do consultório está cheia, Damon e Allan, em pé, discutindo, Dominic, com a
pior cara de ressaca do mundo, e Ethan, conversando com a azeitoninha. Restando-me Lia e Jade
para conversar.

— Claro que será um menino! — Damon rebate convicto. — Ethan, você não concorda
comigo?

— Se vier com saúde, estou feliz! — White responde com um sorriso bobo.

O milagre do amor.

Desvio a atenção deles e olho para Lia, que brinca com a filha no colo. Charlotte é como uma
miragem, idêntica à uma boneca de porcelana.

— Ela está muito parecida com Damon! — digo baixinho e Lia sorri.

— Eu carrego durante nove meses, sinto as dores e, no final, a filha sai a cara do pai!—
resmunga e beija a filha. — Até mesmo a personalidade é idêntica a dele!

— DNA Carter acredito! — zombo e encaro Jade. — Como anda sua relação com o Carter
loiro?
Ela faz cara de paisagem, mas todos nós já percebemos a química entre ela e Dominic.

— O quero a dez metros de distância de mim, fora isso, nada incomum! — responde dando de
ombros.

— Por que vocês não ficam juntos logo!? Ele deixa nítido que te deseja! — Lia diz irritada.

Jade revira os olhos e lança um olhar mortal para Dominic, no canto da sala, distraído com os
primos.

— Eu não sou um objeto de desejo de ninguém, não quero ser usada e descartada no dia
seguinte, entendem? — diz, e confirmamos. — Dom pode ser lindo, porém nunca irá me conquistar!

Discordo, mas decido não me envolver, eles são adultos e sabem o que estão fazendo. O
assunto se dá por encerrado quando a secretária nos informa que é a vez de Emma, como irá caber
todos dentro do consultório é a questão. Damon e Allan se posicionam ao lado de Ethan e tive que
rir, logo depois todos estamos acomodados e Emma pronta para ultrassom, a médica começa o
processo de passar delicadamente o aparelho sob a barriga saliente de Emma.

— Já consegue ver o sexo do bebê? — Damon pergunta ansioso e ganha um beliscão de Lia.

— Cala boca, Carter! — Ethan resmunga e olha para doutora. — Já consegue ver o sexo?

Aposto que ela deve achar que todos na sala são loucos, e não discordo.

— É possível, sim, dizer o sexo dos bebês! — ela responde e sorri.

A sala fica em silêncio e vejo Ethan se apoiar em Damon.

— BEBÊS?

— Oh, sim! Parabéns, papais, vocês terão gêmeos! — a doutora responde normal.

Cinco segundos, esse foi o tempo que vi Ethan ficar pálido, cinco segundos foi o tempo em
que Ethan White levou para chegar até o chão, sim, ele desmaiou.

— De novo! — Dominic resmunga e se abaixa até o amigo. — Qual o problema de vocês?

— Espere só até o dia que descobrir que será pai! — Damon resmunga e ajuda a segurar um
White inconsciente. — Porra, ele não era tão pesado!
Essa família é louca.

— Ele prometeu que não iria desmaiar! — Emma resmunga e olha feio para o marido. —
Joguem um copo de água na cara dele!

Prontamente Dominic faz o que ela pediu e, com um sorriso de vingança, joga todo líquido em
Ethan.

— Aii! — White acorda e cospe água assustado. — Por que estão me olhando assim?

— Você desmaiou! — respondo sorrindo.

— Espera... quer dizer que eu vou ter dois filhos? — Ele se põe de pé e encara a mulher. —
Amor, são gêmeos!

— Eu ouvi, Ethan! Agora pare de fazer drama e fique do meu lado!

Um casal louco.

— E o sexo dos bebês? — Allan pergunta animado.

A doutora sorri e todos se olham em expectativa.

— Um casal! Parabéns, papais!

Passado a surpresa, todos correm para cumprimentar os Whites, e não quero nem imaginar o
que será esses bebês com Ethan como pai.

— Dois de uma vez! — Damon abraça o amigo.

— Que culpa eu tenho se sou tão bom que fiz em escala? — Ethan debocha e ganha um olhar
mortal de Emma. — Brincadeira, amor!

— O próximo a ser pai, por favor, não desmaie! — Dom reclama, voltando a pôr seus óculos
escuros​ para esconder a ressaca. — Eu não aguento mais!

— Seu dia ainda irá chegar, Britney! — White provoca e sorri diabolicamente para o amigo.
— E eu vou assistir a você de quatro por alguma mulher!

Olho de relance para Jade, que finge não ouvir a conversa, eu espero realmente que eles
fiquem juntos.
— Não conte com isso! — revida.

— Bom... quem topa um sorvete pra comemorar?— Lia propõe.

Por favor, sem batata frita, sem batata, sem batata...

— Com batata frita! — Emma completa alegre.

Suspiro.
— Merda... — Ouço Dominic e Damon resmungarem juntos.

Bom, ainda bem que amo meus amigos. São loucos, mas são meus.

Na saída do consultório, Allan segura minha cintura e me abraça por trás.

— O próximo a ser pai será eu! — ele sussurra e beija meu ombro.

Um sorriso se forma em meus lábios, é tudo que mais quero.

— Primeiro, o casamento, senhor Carter, primeiro o casamento...

Ele rir e acena positivamente.

— Claro que sim, minha loira briguenta...

— Eu te amo, meu medicogato!

E amo com todas as minhas forças.


CAPÍTULO 58
— E se eu tropeçar no vestido e cair de cara no chão?

Desespero é a palavra perfeita para me definir, cada célula do meu corpo está se agitando
com a expectativa dos próximos minutos. Em menos de uma hora, serei uma Carter, em menos de uma
hora, irei dizer sim para o homem da minha vida. Não me perguntem como consegui programar um
casamento em três semanas, exigi que a cerimônia fosse para poucas pessoas e muito reservada, no
jardim da mansão Carter. Foi uma correria, mas finalmente chegou o dia.

— Pare de drama! Se eu não caí, não será você que conseguirá esse feito, Liza! — Lia diz e
sorri para mim através do reflexo.

Ela está linda como madrinha, o vestido rosé combina perfeitamente com seu corpo e a cor de
seus olhos.

— Obrigada, Lia, por tudo! — agradeço.

— Somos amigas, sua boba, tudo que mais quero é ver meu cunhado e minha amiga serem
felizes!

Calma, Elizabeth, irá borrar a maquiagem!

Encaro meu reflexo no espelho e gosto do que vejo, um vestido branco, com calda sereia,
rendado até a cintura e delicado como uma pétala. Minha maquiagem é leve e o coque elaborado em
meu cabelo dá um toque de charme.

A porta do quarto se abre e Edgar entra com a cara emburrada.

— Vamos antes que eu te deixe viúva antes da hora! — ele reclama e me olha atentamente. —
Ah, se eu não fosse seu irmão...

Reviro os olhos, aprendi a amar esse idiota, ele tem sido muito presente em minha vida,
ignorando minha mãe e sendo o melhor irmão ex-psicopata que existe.

Às vezes ele se isola em sua escuridão, mas trago-o de volta pra mim.

— Obrigada por me levar até o altar! — digo me encaminhando até ele. — É muito importante
pra mim.
Edgar sorri e toca meu rosto com delicadeza.

— Eu nunca achei que passaria por isso, obrigado por permitir este momento! — responde, e
sorrio.

— Bom, gente, vamos antes que o Allan venha até aqui ou o Dominic mate o Gabe com todos
os doces! — Lia interfere sorrindo.

Oh, meu Deus, Gabe! Dominic e Gabriel perto de açúcar não funcionam, Jade irá matar
qualquer um que toque nos doces antes da hora.

— A morena estava planejando matar o loiro oxigenado! — Edgar informa com um sorriso.
— Gostei dela...

— NÃO! — eu e Lia gritamos em uníssono.

Ed nos olha curioso esperando uma resposta.

— Mantenha suas mãos longe da minha amiga, Edgar Norris! — Lia ameaça, e até eu fiquei
com medo.

— Eu não irei interferir no caso dela e do loiro metido, relaxa! — responde e ri. — Apesar
de gostar de causar ciúmes...

— Oh, por favor! Vamos logo para o altar, quero meu noivo logo! — peço, me agarrando ao
braço do meu irmão. — Ed, se você sequer olhar para Jade, corto seu pau!

Ele sorri, mas para assim que percebe que não menti.

— Okay... Nada de olhar para Jade!

O destino é uma criança com um ótimo senso de humor. Ele te dribla, te derruba, mas, no fim,
cada mísero detalhe faz sentido quando se encontra a felicidade.

Se eu sou feliz?
Seria louca em dizer que não, tenho amigos verdadeiros que se tornaram minha família, um
irmão psicopata em reabilitação, um filho incrível e um homem lindo e amoroso para chamar de meu.
Os problemas sempre irão nos assombrar, porém enfrentar as dificuldades nos torna mais forte.

No fim do pequeno corredor feito no jardim, está minha felicidade, vestido em um terno
impecável e sorrindo para mim, por mim. Allan é meu bálsamo, minha droga favorita, o motivo de
cada pensamento no meu dia. Por ele, eu viveria tudo novamente só para, no final, ter a chance de
estar aqui caminhando para o altar novamente.

Eu não ligo para música que está tocando, não dou atenção para os convidados à minha volta,
meus olhos só se focam no homem de olhos azuis como o oceano. Allan.

Aos poucos, Edgar para de frente para Carter e solta minha mão.

— Está entregue, pirralha! — sibila, e sorrio.

— Obrigado! — Allan diz e segura minha mão com delicadeza.

Mas como meu irmão possui uma péssima mania de fazer ameaças, não tardou.

— Acho bom você fazer minha irmã feliz, Carter... ou nunca acharão seu corpo! — diz
entredentes.

Allan concorda e me leva até o altar.

— Está linda! — elogia.

— Você também! — respondo sinceramente.

Talvez tenha sido pecado não dar ouvidos ao padre enquanto ele dizia coisas bonitas sobre o
casamento, mas meu cérebro só conseguia processar a informação de que logo eu seria uma Carter.

— Os noivos podem dizer os votos!

Regulo minha respiração e me viro para Allan. Seu olhar é amoroso e, sinceramente, meu
coração não resiste a tanta emoção.

— Elizabeth, minha loira briguenta, meu motivo de sorrir a cada dia... — começa e ri —,
você me ensinou a amar, me mostrou a luz, sem você, não sou nada, por você, sou tudo e passaria por
tudo novamente só para te ver sorrir!
As lágrimas já fazem parte do meu repertório, provavelmente meu maquiador deve estar
surtando.

— Eu amei você no primeiro instante, amei seu sorriso, amei sua coragem... — digo sorrindo
— o admirei desde nosso encontro na escada, você é o médico que curou meu coração, te amo!

Allan limpa uma lágrima e sorri apaixonado.

— As alianças — o padre pede.

Com toda fofura do mundo, Gabe caminha até nós sorrindo e chamando a atenção, ele já sabe
ser um Carter.

— Obrigada, filho!— agradeço, e ele sorri.

Com rapidez, ele volta para os braços de Robert no banco próximo a nós. Allan pega as
alianças cautelosamente.

— Allan Seller Carter, aceita Elizabeth Norris como sua legítima esposa, para amar, respeitar
em todos os dias de sua vida até que a morte os separe?

Respiro fundo.

— Sim — ele responde com um sorriso.

— Elizabeth Norris, aceita Allan como seu legítimo esposo, para amar e respeitar até que a
morte os separe?

Nem a morte.

— Sim!— respondo emocionada.

Assim que trocamos as alianças, minhas lágrimas caem, eu não poderia estar mais feliz.

— Pode beijar a noiva!

Não foi preciso repetir, com um puxão, meu marido cola nossos corpos, atacando-me em um
beijo nada digno de um casamento.

— Estão parecendo animais no cio! — Ouço Ethan provocar.


É, agora eu estou casada.

Allan para nosso beijo e olha dentro dos meus olhos.

— Eu te amo, Elizabeth Carter!

Desvio meu olhar para todos da cerimônia, meus amigos, minha família, cada um aqui com
sua história, cada qual vivendo suas lutas e amores, e se eu pudesse voltar no tempo e mudar, não
mudaria nenhum detalhe.

— Eu também te amo, meu vizinho idiota! — digo seu antigo apelido.

— Sabe o que isso me lembra? — questiona e ri — Um dia você disse que nunca iria ter algo
comigo...

— O destino foi irônico! — completo.

Allan beija levemente meus lábios.

— Ele foi sábio, e devo agradecer todos os dias por você, meu amor!

O beijo novamente e me sinto completa.

Não se pode esperar da vida algo previsível, um dia eu tive medo de me afogar, mas hoje
percebi que meu maior medo era meu bote salva-vidas. Eu não vou viver um feliz para sempre, mas é
isso a vida real, certo?

Lutar e superar, se ferir e aprender com suas cicatrizes. A vida real não é perfeita, minha vida
não é perfeita, mas juro que, enquanto viver, nunca mais terei medo de me arriscar.

Eu sou Elizabeth Carter e sou a mulher mais feliz do mundo.

Não tema seu maior pesadelo, enfrente, pois, no final, tudo não passará de um sonho ruim.

FIM.
EPÍLOGO
— Será que os cavalheiros poderiam ir para o banho?

Cruzo os braços e paro para observar os dois homens da minha vida correndo pelo jardim da
minha mais nova casa. Meu querido sogro nos presenteou com uma casa exageradamente grande, e
quando digo isso, quero dizer GRANDE!

— Ahh, não, mãe! — Gabe reclama meio ofegante.

Os olhinhos cintilando e o cabelo loiro bagunçado só provam o quão feliz ele está, faz cerca
de um mês que conseguimos a guarda dele e desde então meu pequeno é um Carter.

— Nada disso, mocinho! Já para o banho! — digo com um sorriso.

O espertinho faz sua melhor cara de cachorrinho sem dono e olha para o pai, que, pra variar,
se derrete todo.

Allan não é imune aos olhos de Gabe, basta um olhar e o outro faz suas vontades. O que seria
desses dois sem mim?

— Sua mãe está com aquela cara de má de novo! — Allan comenta, pegando Gabe no colo.
— Acho que ela precisa de um abraço!

Oh, não! Isso não seria um problema se os dois não estivessem suados e sujos.

— Nada disso! — digo, mas eles correm na minha direção. — ALLAN!

Não funcionou muito, os dois me abraçaram apertado e certamente também irei precisar de um
banho.

— Agora sim vamos tomar banho! — Carter completa, sorrindo debochado.

O mesmo sorriso debochado que começou toda esta história. O meu sorriso.

Reviro os olhos e os sigo pelas escadas até o quarto de Gabriel.

— Pai, podemos ir visitar a tia Jade?


Allan o põe no chão e ri.

— Você quer os doces dela! — acusa, e Gabe não nega. — Talvez...

Eu fico impressionada com o tamanho fascínio de Gabe e Dominic por doces, ainda tenho
medo de descobrir que eles são descendentes de formigas doceiras. Se Dom até hoje não morreu de
diabetes, milagres existem.

— Nada de doces, seu tio já te enche de açúcar cada vez que te vê! — brigo, e ele bufa. —
Agora vá para o banho e seja um bebê bonitinho!

— Mãe, eu não sou um bebê! — Gabe responde no mesmo instante, ofendido. — Já sou um
homem!

Veja se eu posso lidar com isso? Outro dia ele usava fraldas e agora está aí todo metido.

— Ele é um homenzinho, amor! — Allan se intromete rindo. — Mas homens também tomam
banho!

— E comem doce?

Tinha que ter os doces! Tenho que me lembrar de cortar o açúcar para ele.

— Só homens cheirosos ganham sobremesa... e a tia Jade trouxe um pedaço de torta delicioso
para nós... — Carter conta.

Como mágica, o menino saiu eufórico para o banheiro. Allan me encara, e mais uma vez sinto
meu coração acelerado, acho que nunca vou me acostumar com a beleza desse homem.

— Também precisamos de um banho... — comenta, tocando no meu braço.

Por que eu tenho a impressão que não será só um banho?

— Vá na frente! — proponho, mas ele nega.

— Tenho ideia melhor... — diz com a voz rouca no meu ouvido. — E envolve eu, você e um
chuveiro...

Maldito homem e seu poder de fazer minhas pernas ficarem fracas. Eu queria ter autocontrole.

Mas não tenho.


— Hmm, estou gostando! — respondo.

Allan me puxa pelo corredor até nosso quarto e, com um único movimento, ele me pega no
colo.

— Diga-me, senhora Carter... — começa a dizer, mordiscando meu pescoço— Quais seus

sintomas?
Ah... Eu já mencionei que tenho uma bela fantasia sexual com meu marido? A melhor parte é que ele
literalmente é um médico.

— Estou quente, senhor Carter! Muito quente!— respondo ofegante.

Allan sorri maliciosamente e me leva até o banheiro.

— Tenho que cuidar de você... — fala tirando minha blusa. — Querida!

Se eu soubesse que casar seria tão bom, já teria o feito antes!

— Eu te amo vizinho.

— Eu te amo vizinha.

Não precisamos de mais palavras, nossos corpos estão ligados por algo muito maior que
atração carnal, somos um só.

Para sempre! E sempre.

Allan diz que o tirei da escuridão, mas, na realidade, foi ele que me trouxe à vida.

E o amo muito mais por isso.

Por ele, viveria tudo novamente.


AGRADECIMENTOS
Primeiramente gostaria de agradecer minhas leitoras que estiveram comigo durante todos
esses anos e foram o meu suporte em cada passo do meu caminho nesse universo literário, um
agradecimento especial para Wall e Grazi Fontes que seguraram minha mão em todo processo de
publicação. A The Books o meu mais sincero obrigada por tudo.

Você também pode gostar