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DELEGADO AVILAR

SPIN-OFF

Depois dos Felizes Para Sempre

Mari Sillva
Copyright © 2021 – Mari Sillva

Capa: TV. Designer


Revisão: Fabiano Queiroz
Diagramação: DC Diagramações

1ª Edição
Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e acontecimentos
descritos são produtos da imaginação da autora. Qualquer semelhança com
nomes, datas e acontecimentos reais é mera coincidência.

Esta obra segue as regras da Nova Ortografia da Língua Portuguesa.

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consentimento escrito da autora.

A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na lei nº. 9.610/98 e


punido pelo artigo 184 do Código Penal.
SUMÁRIO
PRÓLOGO
CAPÍTULO UM
CAPÍTULO DOIS
CAPÍTULO TRÊS
CAPÍTULO QUATRO
CAPÍTULO CINCO
CAPÍTULO SEIS
CAPÍTULO SETE
CAPÍTULO OITO
CAPÍTULO NOVE
CAPÍTULO DEZ
CAPÍTULO ONZE
CAPÍTULO DOZE
CAPÍTULO TREZE
CAPÍTULO QUATORZE
CAPÍTULO QUINZE
CAPÍTULO DEZESSEIS
CAPÍTULO DEZESSETE
CAPÍTULO DEZOITO
CAPÍTULO DEZENOVE
CAPÍTULO VINTE
EPÍLOGO
NOTA DA AUTORA
OUTROS LIVROS DA SÉRIE
SOBRE A AUTORA
AGRADECIMENTOS
Julia

Aumentei o volume do rádio e cantei junto com a marrom bombom

Alcione enquanto dirigia em meio à loucura que é o trânsito do Rio de

Janeiro em horário de pico. Eu tinha passado o dia todo andando de um lado

para o outro dentro daquele bendito fórum, resolvendo os abacaxis

cabeludos que aparecem aos montes. Estava exausta e com os pés inchados,

tudo o que mais precisava era de um banho quente e uma cama macia com

lençóis de seda. Depois que os gêmeos cresceram, decidi que era hora de

voltar a trabalhar, então estudei pra cacete e fiz a prova para o processo

seletivo em advocacia e passei em primeiro lugar para a vaga na defensoria

pública. Meu dever é lutar pelos direitos dos menos favorecidos que só se

fodem nesse sistema jurídico de merda do Brasil, por isso vou para cima

com tudo em todo caso que cair nas minhas mãos.

Amo o meu trabalho e de fato sou muito boa no que faço, mas para

sobreviver nos tribunais tem que ser corajosa e boa mesmo de briga. E eu
sou. Principalmente quando o caso é de algum pai que se nega a pagar

pensão, faço o machão virar cordeirinho e chorar de medo na frente do juiz e

dar tudo o que é de direito para o seu filho e mais um pouco. Contudo, dar o

meu melhor sempre exige muito de mim. Chego em casa no final do dia com

a exaustão de ter matado uma manada inteira de leões ferozes.

— Mas o importante é que você sobreviveu a mais um dia, Julia. —

Sorri ao estacionar o meu Audi branco na garagem de casa.

Antes de sair do carro peguei a minha maleta no banco de trás e

calcei os meus sapatos que resgatei jogados perto do acelerador. Não

conseguia perder a mania de dirigir descalça e o meu marido, delegado da

polícia civil, vivia brigando comigo por conta disso.

— Lar, doce lar… — Puxei uma deliciosa lufada de ar fresco ao

abrir a porta, morar em um condomínio fora do centro do Rio era a melhor

coisa do mundo.

Eu tinha uma vida perfeita, um marido lindo cheio de amor para dar e

quatro filhos encantadores. Uma família dos sonhos, simplesmente perfeita.


— Eu faço o que quiser da minha vida, pai, você não manda em mim.

— Ouvi o berro da Maria Lara assim que pisei no lado de dentro de casa.

Joguei a minha maleta em qualquer lugar e saí correndo, se a Maria

Lara estava alterada é porque a coisa era muito séria mesmo. Minha filha

mais velha foi uma criança calma e amorosa, e agora, na adolescência,

continua um amor de menina. Muito estudiosa, gentil e bondosa. Prestes a

completar dezessete anos, tenho orgulho de dizer que nunca me deu trabalho,

ao contrário, sempre me ajudou a cuidar dos irmãos menores que são

completamente apaixonados por ela.

— Não ouse bater na minha filha, Ricardo! — Entrei na frente do

meu marido, o homem parecia totalmente fora de si.

Assim que cheguei na sala me deparei com o meu marido vermelho

de raiva, segurando um cinto, e a Maria Lara toda encolhida e chorando

muito, a sorte é que os gêmeos e o Junior estão na casa da minha sogra e não

veriam aquele circo todo com o pai e a irmã mais velha como astros do

show principal.
— Sai da minha frente, Julia, eu vou dar uma surra nessa menina que

ela nunca vai esquecer na vida — ordenou, mas não movi um centímetro.

— Você não vai dar surra em ninguém, delegado Avilar. — Coloquei

as mãos na cintura de cara fechada. — Quero que me conte o que aconteceu

com calma, para que possamos resolver como uma família normal.

— Ah, você quer saber o que aconteceu, meu amor? — Seu tom era

tão irônico quanto o olhar.

— Sim, meu querido esposo, por favor! — Usei o mesmo tom

irônico que o dele.

— Eu estava fazendo uma ronda de rotina com o Barreto agora à

tarde, quando peguei a sua filha no flagra beijando na boca daquele moleque

atrevido, filho dos Quent — os gritos do meu marido quase explodiram os

meus tímpanos.

Era sempre assim, quando um dos nossos filhos fazia algo bom ele

enchia a boca para dizer: “Os meus filhos puxaram a mim”, mas quando
aprontavam, berrava: “Olha o que os seus filhos fizeram, Julia”. Eu amava

o Ricardo, mas às vezes me segurava para não chutar a bunda dele.

— Ele é meu namorado, pai, a gente se ama e o senhor não pode

fazer nada a respeito disso — Maria Lara provocou ainda mais a fera, desde

que conheceu esse garoto ela e o pai viviam discutindo por causa dele.

Nossa última viagem de férias em família foi para Salvador, foi ideia

do Ricardo e eu fiquei em êxtase, sempre quis conhecer a Bahia. Na minha

opinião, é um dos lugares mais bonitos do Brasil. O gerente do hotel onde

ficamos hospedados indicou o melhor restaurante da cidade, então Ricardo

quis ir lá na mesma noite porque ama a culinária baiana. Fomos muito bem

recepcionados pela proprietária e chefe do estabelecimento, Alabá Quent,

mãe do jovem Eliot, que se apaixonou pela nossa filha assim que veio ajudar

o garçom a trazer os nossos pratos e colocou os olhos na nossa ruivinha.

Para o desespero do pai dela, o sentimento foi recíproco.

Os dois adolescentes cheios de juventude e paixão trocaram números

de celular escondidos e combinaram de se encontrar na praia perto do nosso


hotel para se conhecerem melhor. Maria Lara me implorou para deixá-la ir e

eu autorizei, mas fui junto com as crianças e fiquei vigiando de longe. Achei

tão lindo ver a minha filha se apaixonando pela primeira vez, já o pai dela

quando descobriu, meu Deus! Fez um escândalo tão grande que virou toda a

Bahia de cabeça para baixo, ergueu o garoto pela gola da camisa e ameaçou

dar um tiro nele caso se aproximasse da sua garotinha novamente. Isso

chegou no ouvido do pai do Eliot, é claro, o poderoso CEO americano

Oliver Quent, que veio furioso tirar satisfação com o meu marido e, quando

dei por mim, os dois estavam rolando no meio da rua entre socos e chutes.

Tanto eu quanto a esposa do cara ficamos sem saber o que fazer, não

sabíamos se apartávamos a briga ou íamos acalmar os nossos filhos

chorando desesperados com aquela cena pavorosa. Em resumo, nossa

viagem terminou com todo mundo em uma delegacia em Salvador. Ricardo,

por ser o delegado da polícia civil do Rio de Janeiro, teve tratamento

especial, é óbvio, foi liberado rápido e eu tive que brigar muito para que

pedisse para liberar o pai do Eliot também. Desde então a guerra foi
declarada entre nossas famílias, voltamos para o Rio de Janeiro no mesmo

dia e o assunto ficou adormecido por várias semanas, até agora.

— O que você sabe sobre amor, Maria? Você ainda é uma criança.

Além de apanhar, nunca mais vai se encontrar com esse moleque abusado de

novo, ou te deserdo, ouviu bem?

— Eliot não é moleque coisa nenhuma, pai, ele é um homem. O meu

homem — se impôs a minha filha que mal tinha saído das fraudas ainda e eu

olhei para ela, pasma.

Estava tentando defender Maria Lara, mas depois disso a vaca tinha

ido para o brejo de vez. A propósito, depois ela teria que me explicar

direitinho essa história de “meu homem”. Eu, na idade dessa menina, tinha

que trabalhar fora para ajudar o meu pai em casa, estudar e ainda cuidar do

meu irmão mais novo, Fabio Junior.

Não tinha tempo nem para respirar direito, imagina pensar em

namorar.
— Meu Deus, Julia, eu acho que a minha pressão subiu. Liga para o

nosso médico. — Ricardo despencou no sofá com a mão sobre o peito

fazendo o maior drama, porque a saúde dele sempre foi melhor que a minha.

— Olha, eu vou ser bem rápida com vocês dois porque estou exausta

e louca para tomar um banho e descansar, tive um dia de cão hoje. —

Coloquei as mãos na cintura, zangada.

— Mas, mãe…

— Mas coisa nenhuma, Maria Lara Avilar! Seu pai está certo, filha,

você está muito nova para namorar, tem que esperar pelo menos terminar o

ensino médio antes — fui coerente perante tal situação.

— Você quis dizer terminar a faculdade, mestrado e doutorado, não

é, Julia? — Ricardo ficou de pé novamente, de cara azeda, seu mal-estar

passou rapidinho.

— Não, paizinho, minha mãe disse ensino médio e só falta um mês

para a minha formatura. Uhull!!! — Maria agarrou o meu pescoço dando

pulos de alegria.
— Isso só vai acontecer debaixo do meu cadáver, Maria Lara. Com

aquele garoto imoral você não namora nem depois dos sessenta anos —

vociferou Ricardo, descontrolado.

Deslizei as mãos pelo rosto, tudo o que eu queria depois de trabalhar

feito uma maluca naquele fórum era colocar os meus pés na água morna com

duas rodelas de pepinos sobre os olhos e relaxar por um bom tempo.

Ultimamente qualquer coisa tem me estressado, acho que é o peso dos

quarenta anos chegando com tudo. Meu humor anda tão instável que fui

obrigada a procurar um médico e quase caí para trás quando ele disse que

suspeita que estou tendo menopausa precoce devido aos vários sintomas que

relatei, como a menstruação irregular, ondas de calor que começam de

repente e sem causa aparente, cansaço frequente e alterações de humor, como

irritabilidade, ansiedade, tristeza e dificuldade para dormir.

Mas nós só vamos ter certeza do diagnóstico quando os resultados

dos exames saírem, até lá vou tentar não surtar de tanta ansiedade.
— Eliot não é imoral, meu amor, você sabe muito bem disso. Ele é

um garoto incrível. Se não estivesse ocupado demais bancando o pai

ciumento, podíamos ter virado amigos dos pais dele, que parecem ótimas

pessoas. — Usei um tom apaziguador.

Me aproximei do meu marido ranzinza a passos cuidadosos e envolvi

os meus braços em volta do seu corpo musculoso para beijar a sua boca, mas

ele permaneceu duro feito um pedaço de pau, não ia se render fácil assim.

Esse homem é mais teimoso do que uma mula empacada.

— Que se foda, Julia! Eu prefiro morrer do que me tornar amigo

daquele gringo riquinho metido a besta, e assunto encerrado — argumentou

vermelho igual a um pimentão, tive que prender os lábios para não soltar

uma gargalhada na cara do Ricardo.

Fazer drama era com o Ricardo mesmo.

— Um dia Eliot e eu vamos nos casar, pai, acho bom se conformar

com isso. Não adianta lutar contra o inevitável. — A dona rebelde sem

causa jogou a franja para trás, toda cheia de si, colocando as asinhas de fora.
Maria Lara já tinha parado de chorar, mas o rosto continuava

absurdamente corado. Ela é muito branquinha e cheia de sardas, é só alterar

suas emoções que fica evidente na sua face.

— Vá sonhando com isso, ruivinha! — zombou Ricardo.

— Vai fazer o que, hein, delegado Avilar? Me enviar para outro

planeta? Porque só assim para me separar do meu amor — provocou o pai,

sabia que odiava quando ela o chamava assim e não de pai.

— Vou fazer melhor do que isso, Maria Lara, vou te colocar em um

convento de freiras — ameaçou Ricardo gesticulando as mãos no ar e

balançando o cinto de couro junto; por mais que nossa filha estivesse errada,

nunca deixaria que batesse nela com aquele troço.

— Pelo amor de Deus, Ricardo, não fala besteira! — Me sentei no

sofá marrom quadrado e me aconcheguei entre as almofadas grandes em um

suspiro bem profundo, aquela discussão entre os dois iria longe.

— Ah, faz o que você quiser, pai. Tudo para o senhor sempre foram

os gêmeos e o Juninho mesmo, eles você deixa fazer tudo o que quiserem.
— Deixo mesmo, porque os seus irmãos não saem por aí beijando na

boca no meio da rua. Já de você, minha filha, eu infelizmente não posso dizer

o mesmo — disse aos berros.

— Não sabe de nada, inocente. Garotas da minha idade hoje em dia

fazem coisa muito pior, pai, acorda! — soltou a abusada e o meu queixo foi

ao chão, essa adolescência de hoje em dia não tem mesmo medo do perigo.

— Já chega, Maria Lara! — me zanguei, ela foi longe demais.

— O que a sua filha está insinuando com isso, Julia? Não quero nem

saber. Vou deixar o meu cinto resolver as contas com essa menina malcriada.

— Ricardo perdeu a cabeça de vez.

Maria Lara se escondeu atrás de mim assustada, a gatinha de língua

afiada havia perdido toda a sua valentia.

— Já chega você também, Ricardo! Acho bom me dar esse cinto

agora mesmo se não quiser dormir no sofá hoje. — Estendi a mão e ele me

entregou, xingando baixinho.


— Isso, mãe, coloca ordem mesmo nessa porra — debochou a minha

filha, mas o que era dela estava guardado.

— Quero que você vá para o seu quarto agora mesmo, Maria Lara, e

fique lá até segunda ordem. Depois vamos ter uma conversa sobre esse seu

linguajar sujo, entendeu bem, mocinha? — Franzi o cenho.

— Ninguém me entende nessa casa, que droga! — Subiu as escadas

correndo e chorando com os seus cabelos longos ruivos soltos dançando

pelo ar como labaredas de fogo.

Quanto mais a nossa filha crescia, mais linda ela ficava e o pai dela,

se continuar com todo esse ciúme, vai infartar antes de chegar aos cinquenta

anos de idade. Porque gavião atrás da nossa passarinha é o que não vai

faltar.

— Essa menina está assim por sua culpa, Julia. Nunca me deixou

educá-la como deveria, agora aí está o resultado.

— Primeiro, quem sempre mima os nossos filhos é você, meu amor.

Segundo, Maria Lara gosta do Eliot e eu não vejo nenhum problema nisso.
Ele é um bom garoto. — Dei de ombros.

— Como assim não vê mal nenhum, Julia? Esse moleque nem mora

no Rio de Janeiro, só vem para a cidade quando o pai tem algum

compromisso de trabalho.

— Exatamente, amor, não tem nenhum motivo para se preocupar. Em

poucos dias Eliot vai voltar para Salvador e problema resolvido, pelo

menos por enquanto… — Estalei o pescoço de um lado para o outro, estava

com os músculos todos tensos.

— Como assim problema resolvido por enquanto, amor? — Ricardo

se ajoelhou à minha frente, tirou os meus sapatos e começou a massagear os

meus pés, ele ia continuar aquela discussão, mas não deixaria de cuidar de

mim.

Por isso amo demais esse homem rabugento, sabe como me fazer

sentir uma rainha mesmo quando está puto de raiva comigo.

— Quando os dois voltarem a se ver novamente a nossa filha já vai

ter idade o suficiente para namorar, porque do jeito que esses dois se
gostam, vai dar em casamento na certa. — Segurei o queixo quadrado do

meu marido e olhei dentro dos seus lindos olhos azuis e contei:

Um… dois… três…

— Mas nem fodendo! — explodiu em um grito estridente. — Dou um

tiro nesse moleque antes que isso aconteça. E se você e a sua filha insistirem

nessa história de namoro depois do ensino médio, cumpro a minha ameaça e

enfio a Maria Lara em um convento de freiras. — Contraiu a mandíbula em

um rosnado.

Não acreditei que o Ricardo teve a ousadia de tentar me persuadir

com um blefe ridículo daquele como fez com a nossa filha, era óbvio que ele

jamais cumpriria essa ameaça descabida. Não gostava nem que os nossos

filhos dormissem fora de casa, mesmo que fosse em um passeio da escola,

imagina mandar a Maria Lara para longe em um convento? Isso não

aconteceria nunca. E mesmo que tentasse, eu não deixaria, é óbvio.

— Já que gosta de fazer ameaças, Cavalão, eu tenho uma fresquinha

para você. — Mexi o pescoço igual ao de uma cobra naja. — Se não deixar
a nossa filha namorar com o filho dos Quent, pode esquecer desse corpinho

aqui, meu bem. Porque não vai tocar nele tão cedo. — Fiquei de pé e dei

uma voltinha na frente do meu marido, provocando-o.

— Acha mesmo que pode me chantagear com sexo, Marrenta? —

Ricardo jogou a cabeça para trás e soltou uma gargalhada debochada. —

Nada vai me fazer mudar de ideia dessa vez, amor, então pode usar um cinto

de castidade pelo resto da vida se quiser, que não estou nem aí — provocou,

agora a coisa tinha ficado pessoal para mim.

— Isso é o que veremos, querido esposo, não dou nem uma noite

para entrar em abstinência sexual e vir correndo atrás de mim com o pau

duro implorando para estar dentro de mim. — Deslizei o dedo pelo seu peito

largo com cara de piranha, do jeitinho que ele gosta quando trepamos

loucamente, Ricardo sempre gostou de sexo selvagem.

— Pode até andar pelada na minha frente que não me importo, não

vou deixar que leve a melhor dessa vez. — Cruzou os braços e ergueu o
canto da boca em um meio-sorriso sexy, ele parecia mesmo confiante no que

dizia.

— Será que não mesmo, Cavalão? — O puxei pela gola da camisa,

aproximei os nossos rostos e o desafiei com o olhar.

— Sim, Marrenta! E ainda proponho um desafio valendo tudo ou

nada. — Catou a minha cintura e me puxou para perto de si, mas não beijou

como deu a entender que faria.

— Desafio, é? Me fale mais sobre isso. — Beijei a sua boca, sou

competitiva demais e todas as apostas que nós dois fazemos sempre

terminam em putaria e eu adoro isso.

— Quem conseguir levar o outro para a cama primeiro decide o

futuro da nossa filha depois do ensino médio, combinado, amor? — Ergueu a

mão para selar a nossa aposta, certo de que tinha alguma chance de levar a

melhor nessa.

Vai sonhando, delegado!


— Acordo fechado, Cavalão. — Apertei a mão dele rindo, seria

divertido ver o meu marido cair na sua própria armadilha.

— Essa brincadeira vai ser tão interessante, não acha, Marrenta? —

O filho da puta levantou a camisa preta e alisou a barriga tanquinho, ele

estava em ótima forma, nem parecia ter a idade que tinha.

— Interessante é pouco, Cavalão, vai ser excitante. — Puxei a minha

saia para cima e subi as escadas rebolando enquanto os olhos do Ricardo

seguiam o balanço da minha bunda de um lado para o outro até chegar no

último degrau, podia apostar que ele já estava de pau duro agora.

O respeitado delegado Avilar podia ser o fodão lá fora prendendo os

bandidos perigosos, mas dentro de quatro paredes quem mandava era eu. Vou

ganhar essa aposta assim que o meu marido pisar no nosso quarto essa noite,

ou não me chamo Julia Helena. Ele nunca resistiu ao meu charme e hoje não

será diferente.
Julia

Depois de um banho bem relaxante de banheira com essência de

flores eu estava cheirosa e com a pele macia e sedosa, pronta para seduzir o

inimigo assim que ele pisasse no campo de batalha. Ricardo não tinha

nenhuma chance contra mim, sempre foi um tarado e fica excitado até com o

som da minha voz quando nos falamos pelo telefone.

— Mandou muito bem, Julia! — Joguei um beijo para o meu reflexo

no espelho do closet, eu estou gostosa demais com essa lingerie vermelho-

piranha de três peças com direito a cinta-liga e tudo.

Para a minha sorte, eu acabei de renovar o meu estoque de roupa

íntima e tenho muita munição para usar contra o meu querido esposo. Sorri

debochada.

Você não vale nada, Julia!


Para completar o look escolhido para essa noite, fiz uma maquiagem

provocante. Coloquei sombra escura sobre os olhos, alonguei os cílios e

passei um batom nude e deixei o cabelo solto bem armado, do jeito do que o

meu maridão gosta. Irei levá-lo à loucura essa noite. Quando ouvi a porta do

quarto abrindo, corri e pulei em cima da cama e deitei em uma posição sexy

de lado, com a mão apoiada debaixo da cabeça e a bunda empinada, sabia

que assim que entrasse e me visse, pularia direto em cima de mim.

— Vou tomar um banho. — Ricardo passou direto por mim como se

eu fosse invisível, tirou o distintivo e a arma da cintura, guardou sobre a

cômoda e depois se trancou no banheiro.

Sentei na cama e fiquei com cara de idiota durante mais de trinta

minutos tentando entender o que tinha acabado de acontecer, Ricardo me

ignorou completamente sem precisar fazer nenhum esforço. A minha vontade

era ir lá e derrubar a porta na base do soco e tirar satisfação, mas me

controlei. Esperei o meu marido sair do banheiro quase uma hora depois, só

com uma toalha em volta da cintura, a barba feita e o cabelo molhado caindo
sobre o rosto de um jeito afrontosamente sexy. Ele estava tão cheiroso que o

seu perfume impregnou por todo o quarto.

Só respira fundo, Julia! Ele só está jogando com você.

Tentei controlar a minha raiva enquanto Ricardo caminhava pelo

quarto até o espelho fixado na parede e penteou o cabelo molhado com os

dedos, ainda ignorando totalmente o fato de eu estar toda gostosa em uma

lingerie caríssima, pronta para ser fodida por ele em todos os cantos desse

quarto.

— Você se sente bem, amor? — perguntei desconfiada, normalmente

quando o Ricardo me vê usando algo sexy, ele larga o que tiver na mão e

vem para cima de mim igual a uma fera atacando a sua presa.

— E por que não estaria, querida? — Ergueu a sobrancelha,

respondendo à minha pergunta com outra.

— Nada não, só queria saber como você está. — Cruzei as pernas

para tentar chamar a sua atenção, mas ele apenas olhou desdenhoso para mim
por alguns segundos e depois voltou toda a sua atenção para o seu reflexo no

espelho.

— O que acha de vermos um filme, Marrenta? Estou sem sono. —

Como se fosse um desses gogo boys, o cretino arrancou a toalha do corpo e

jogou em qualquer canto do quarto com aquela cara de safado.

Juro que fiquei de boca aberta, ele estava fazendo o seu jogo, porém

de maneira mais sutil. Como se não fosse o bastante, Ricardo veio e deitou

pelado ao meu lado na cama. Pegou o controle no móvel de cabeceira e ligou

a TV na Netflix e colocou o filme Cinquenta Tons de Cinza só para me

provocar, ele nem gostava desse gênero de filmes, preferia os de ação.

Ponto para você, Cavalão!

Minha vontade foi meter a mão na cara do Ricardo por apelar tanto,

mas me contive. Vou entrar no jogo dele.

— Ótima ideia, amor, adoro esse filme. — Virei de bruços e empinei

a bunda para cima, se ele sabe jogar baixo eu também sei.


Durante a maior parte do filme, o clima foi ficando cada vez mais

tenso, parecia que estava pegando fogo naquele quarto, de tão quente.

Resolvi levantar e ir ao banheiro lavar o rosto ou iria derreter de tanto calor,

mas quando voltei a coisa só piorou. Ricardo tinha desligado a TV e estava

deitado na nossa cama se tocando enquanto olhava no fundo dos meus olhos

com aquela cara de safado que ele só fazia quando metia em mim bem

gostoso, cheguei a perder o fôlego com vontade de voar em cima do meu

marido e sentar em cima dele com força.

— Gosta do que vê, amor? — Puxou o canto da boca em um sorriso

sacana enquanto o filho da mãe se masturbava em movimentos lentos de sobe

e desce, a cena mais excitante do mundo para uma esposa fogosa e

completamente apaixonada pelo marido gostosão e ótimo de cama.

— Gosto muito, Cavalão, mas prefiro quando o seu pau está dentro

da minha boca. — Umedeci os lábios com a língua e apertei o seio esquerdo

de um jeito provocante, meu marido trincou os dentes e apertou o pau com

afinco, quase arrancando-o fora.


Acho que enfim ele havia reparado na minha lingerie nova e parecia

ter gostado bastante do que via, vermelho era a sua cor favorita. Tanto que

trincou os dentes e aumentou freneticamente o ritmo dos movimentos, seu pau

estava tão duro que veias grossas e pulsantes contornavam toda a sua

extensão avantajada.

— Então vem aqui brincar com ele, amor. É só pedir que é todinho

seu — fez a proposta indecente.

— Eu acho que eu tenho uma ideia bem mais interessante, delegado

Avilar. — Desfilei até a poltrona de frente para a nossa cama e sentei com as

pernas abertas, agora era a minha vez de dar o meu showzinho erótico.

Com o olhar desafiador, lubrifiquei os dedos com a ponta da língua,

afastei a calcinha para o lado e comecei a me tocar, deixando o meu marido

literalmente de queixo caído.

Ponto para mim dessa vez, Cavalão!

— Puta que pariu, mulher! Você ainda vai acabar comigo — grunhiu

com o maxilar trincado e o rosto corado, ele estava a ponto de explodir de


tanto tesão.

— Ahhh… Quer vir aqui me fazer companhia, Cavalão? — perguntei

entre os gemidos, fazia muito tempo que eu não brincava sozinha com o meu

próprio corpo.

— De jeito nenhum, Marrenta! De onde estou a vista está ótima. —

Piscou sedutoramente.

Apesar de o Ricardo estar louco de tesão por mim e eu por ele, o

teimoso não iria ceder e eu também não. Mas tínhamos a necessidade de

chegar ao clímax naquele momento, então continuamos a nos tocar sem tirar

os olhos um do outro. Acho que nunca tivemos um momento sexual tão

intenso antes sem ao menos nos tocarmos, estava toda molhada e da minha

boca só saíam gemidos e mais gemidos de puro prazer.

— Isso, gostosa, fode essa bocetinha molhada pra mim, vai… —

pediu meu marido com a voz rouca e eu obedeci feito uma cadelinha

adestrada, penetrando os meus dedos dentro de mim incansavelmente.


Fechei os olhos e mordi o lábio inferior embriagada por uma

sensação de prazer indescritível, meu corpo parecia um vulcão em estado de

erupção.

— Abra os olhos, Marrenta! — ordenou Ricardo, queria que eu

estivesse olhando para ele quando gozasse.

— Eu estou quase lá… — Massageei o meu clitóris em círculos com

o polegar entre gemidos e mais gemidos.

— Eu também, Marrenta, goza junto comigo. — Aumentou os

movimentos e eu fiz o mesmo, segundos depois chegamos juntos ao clímax

mais intenso de nossas vidas.

— Isso foi tão… — Ofeguei me contorcendo na poltrona, tão exausta

que não consegui finalizar a frase.

— Incrível! — completou Ricardo, tão ofegante quanto eu.

— Precisamos fazer isso mais vezes, Cavalão. — Joguei uma

almofada nele.
— Com certeza, amor! — Sorriu depravado. — Mas por hoje chega

de joguinhos, vem para a cama porque quero dormir abraçadinho com você.

— Levantou o lençol, corri e me juntei ao meu marido lindo.

Deitei a cabeça sobre o seu peito e sorri preguiçosamente, não

lembro de ter ficado tão exausta assim nem na última vez que viramos a noite

transando loucamente.

— Boa noite, Cavalão, eu te amo! — disse em meio a um bocejo.

— Boa noite, Marrenta, também te amo. — Beijou o topo da minha

cabeça e sussurrou: — A propósito, eu amei a sua lingerie nova. —

Mordiscou o lóbulo da minha orelha, não iria dormir sem antes fazer alguma

provocação.

Eu achei foi é graça, sabia que o Ricardo não iria deixar o look fatal

que vesti para ele passar em branco. Logo dormimos abraçadinhos como

fazíamos todas as noites, amanhã seria um novo dia e o nosso jogo de

sedução continuaria.
Ricardo

Acordei cedo para trabalhar e achei estranho não encontrar a Julia na

cama, hoje é sexta-feira, dia de folga dela, e geralmente eu que faço o café

da manhã e arrumo as crianças para a escola para que o meu amor possa

dormir até mais tarde pelo menos um dia na semana. Nós poderíamos

contratar quantas empregadas ela quisesse em tempo integral, mas fazíamos

questão de passar o máximo de tempo com as crianças, em especial em todas

as refeições diárias. Então conseguimos nos virar bem somente com a moça

que vem três vezes na semana fazer a faxina da casa, ela trabalha conosco

desde que os gêmeos nasceram.

Me levantei bocejando e caminhei até o banheiro coçando o peito,

estava pelado e cheio de sono ainda. Meu plano era tomar um banho para

acordar de vez, parecia que um tanque de guerra tinha passado em cima de

mim mais de uma vez. Ontem a Julia acabou comigo e nós nem chegamos a

transar de verdade, mas devo admitir que foi a punheta mais gostosa de
todos os tempos. Ver a minha esposa vestida com aquela lingerie minúscula e

se tocando bem na minha frente gemendo igual a uma puta de rua foi o fim

para mim, tive que usar até a minha última gota de autocontrole para não

perder a aposta logo na primeira noite e foder aquela cachorra em todos os

buracos do seu corpo.

Julia começou o jogo usando todas as suas armas, ela é viciada por

controle e vai tentar me seduzir a todo custo. Preciso ficar em alerta e atacar

no momento certo. Quando minha esposa menos esperar, vai estar de quatro

implorando para que eu a foda por horas a fio.

— Cacete! — Levei um susto quando abri a porta do banheiro e dei

de cara com uma armadilha.

— Bom dia, amor, pega a toalha para mim? — pediu Julia, ela estava

tomando banho com o vidro do box aberto.

A diaba armou para mim, ela sabe que o meu sexo matinal favorito é

debaixo do chuveiro.
— Bom dia, querida, aqui está a toalha. — Estiquei o braço com o

rosto virado para o outro lado e segurando a toalha na ponta dos dedos, meu

amigão lá de baixo já estava dando sinal de vida, então tinha que fugir dali o

quanto antes para não ser pego no seu bote.

— Obrigada, Cavalão! — Puxou a toalha comigo junto para dentro

do box com ela, agora eu estava fodido de vez.

— Me puxar para debaixo do chuveiro com você nua e toda molhada

assim é jogo baixo, sabia? — Fiz cosquinhas na minha esposa trapaceira

enquanto a água caía sobre os nossos corpos, estava adorando todo aquele

jogo de sedução entre nós.

— Eu sei disso, Cavalão, por que acha que acordei cedo no meu dia

de folga? — Deixou o sabonete cair de propósito, virou de costas para mim

e abaixou para pegar, esfregando aquela bunda deliciosa em mim.

— Minha nossa, Julia, você não vale nada mesmo! — Dei um tapa

com força no seu traseiro enorme.


— Mas você gosta que eu sei, amor. — Abraçou a minha cintura,

rindo divertida.

Eu amo demais essa mulher e não imagino a minha vida sem ela nem

por um segundo, os últimos dez anos que passei ao lado da Julia e dos

nossos filhos foram os melhores da minha vida. Sou um bastardo de muita

sorte e às vezes me pergunto se mereço ser tão feliz assim, tenho tudo o que

um homem pode sonhar e um pouco mais.

— Quais são os seus planos para o seu dia de folga, amor? — A

abracei forte e dei uma cheirada no seu cangote, minha esposa era a mulher

mais cheirosa do mundo.

— Nada de mais, vou passar o dia todo em casa só de pijama

comendo um monte de porcaria e vendo TV. — Deu de ombros.

— Daria tudo para poder ficar em casa com você o dia todo, mas

hoje minha equipe vai trabalhar infiltrada em uma cidadezinha no interior do

Rio de Janeiro, não muito longe daqui, para capturar um bandido que fugiu
da prisão ontem e, segundo informações, está se escondendo naquelas

redondezas — suspirei cansado e não era nem oito da manhã ainda.

Amava o meu trabalho, mas depois de mais de vinte e cinco anos

enfiado dentro de uma delegacia eu já estava me sentindo velho para correr

atrás de bandido.

— Por que vai trabalhar em campo nesse caso, Ricardo? Você é o

delegado e já tem que dar conta de toda a parte administrativa, não precisa

fazer esse tipo de trabalho extra disfarçado e colocar a sua vida em risco. —

Inclinou a cabeça para olhar para mim cheia de preocupação, todo dia Julia

repetia que o seu maior medo é que eu não voltasse para a casa no final do

dia.

— Eu sei, amor, mas esse caso é realmente importante e quero

conferir tudo de perto. — Acariciei o seu rosto, contando menos do que

sabia.

Esse bandido perigoso que fugiu não é qualquer criminoso, mas sim

um traficante de alta periculosidade com vários crimes na sua ficha, como


estupro, assassinato, roubo e tráfico de drogas, entre outras atrocidades. No

mundo do crime é conhecido como Robinho, mas seu nome verdadeiro é

Robson da Silva. Fui eu que efetuei a sua prisão há cinco anos, e quando o

meliante pegou a pena máxima, gritou para quem quisesse ouvir no tribunal

que iria fugir da cadeia um dia e se vingar de mim e de todos que amo. Sei

que isso faz muito tempo, mas mesmo assim não quero arriscar. Da última

vez que um cara que eu prendi prometeu se vingar, o desgraçado mandou

sequestrar a minha filha e levei vários anos para encontrá-la. Por isso, dessa

vez não vou cometer o mesmo erro e vou cortar o mal pela raiz, nem que

tenha que mandar esse filho da puta para os quintos dos infernos antes que

possa encostar um dedo na minha família.

Eu sei que devia conversar sobre isso com a Julia, mas não quero

preocupá-la. Ela já anda estressada demais ultimamente, a coisa está tão feia

que o nosso médico acha que ela está com menopausa precoce. Depois de

ouvir isso o humor dela só piorou, está insegura e desconfiada de tudo e

todos, colocou na cabeça que está velha e acima do peso, sendo que, para

mim, nunca esteve mais linda. Nunca gostei de mulher magrela mesmo, gosto
de ter onde agarrar e a minha sempre teve curvas fartas onde eu amo me

perder.

Mas a Julia não pensa assim, acreditou mesmo nessa baboseira de

menopausa precoce e está sofrendo por antecedência. Tenho certeza de que

os resultados dos exames provarão que não é nada de mais, só excesso de

trabalho mesmo e crise de meia-idade. Foi mais por isso que eu propus esse

desafio sexual, porque sabia que isso reacenderia o fogo da mulher fatal que

existe dentro dela. E de fato acendeu, ontem ela se vestiu para matar com

aquela lingerie vermelha e deu um verdadeiro show de sedução se tocando

para mim.

— Ok, amor, mas pelo amor de Deus, toma cuidado porque não

quero ficar viúva tão cedo — resmungou e eu ri da sua tromba enorme, nem

a morte seria capaz de me separar dela.

— Eu vou morrer se ficar mais um dia sem foder a minha esposa

gostosa pra caralho, sabia? — A imprensei contra o vidro do box embaçado


para que sentisse a minha ereção contra a sua pele, ela me excitava em um

nível fora de controle.

— Você sabe o que fazer para conseguir o que quer, meu amor. —

Passou uma perna em volta da minha cintura e esfregou a bocetinha molhada

em mim, pronta para ser comida, eu estava prestes a ceder à tentação quando

uma das crianças bateu na porta do banheiro.

— O que vai ter de café da manhã hoje, mãe? Estou com fome —

gritou Joaquim, essa criança só pensava em comer o tempo todo.

— Eu já estou descendo, filho, só um minuto — Julia bufou frustrada,

mais um pouquinho e ela tinha levado a melhor na aposta.

— Não, amor! Deixa que eu vou, hoje é o seu dia de folga e quero

que volte para a cama e durma mais um pouco. — Tirei o cabelo molhado do

seu rosto e fui agraciado com um lindo sorriso.

— Ai, muito obrigada, você é o melhor marido do mundo todo. —

Apertou as minhas bochechas.


— Eu sei disso, Marrenta. — Inclinei para beijar a sua boca, mas ela

virou o rosto para o lado.

— Esqueci de dizer, Cavalão, mas as regras da nossa aposta não

incluem beijos. Então, se não quiser perder, pode deixar essa boquinha linda

bem longe da minha. — Sorriu travessa.

Não lembro de regra nenhuma, mas ela sempre gostava de complicar

as coisas, então deixei rolar. Quando mais desafiadora a situação, mais

excitante.

— Tudo bem, Malévola! — Revirei os olhos rindo, minha esposa era

o tipo de pessoa que gostava mesmo de levar qualquer jogo à risca.

— Gente, desce logo antes que os gêmeos quebrem a casa, eles estão

brigando por causa da última caixa de Toddynho que acharam na geladeira e

o Juninho não para de chorar porque não quer ir para a escola hoje. —

Agora foi a vez da Maria Lara bater na porta, vida de pais se resume em ter

zero privacidade e trabalho dobrado.


No nosso caso, quadruplicado. Porque os gêmeos bagunceiros, a

adolescente beijoqueira e o caçulinha manhoso sugavam todas as nossas

energias, nem sabia como Julia e eu ainda conseguíamos tempo para manter

uma vida sexual ativa cuidando deles e ainda trabalhando em cargos tão

tensos.

— Tem certeza de que não quer mesmo que eu desça, amor? — Julia

me olhou com pena, nossos filhos acordavam com uma energia matinal

surreal e a usavam para brigar entre si por qualquer motivo.

E se não tivesse motivo, eles inventavam um.

— Pode deixar, Marrenta! Eu me viro com aquelas pestinhas. —

Joguei uma piscadela para minha esposa linda e fui à luta antes que as

crianças destruíssem a cozinha.

Coloquei o meu uniforme do trabalho e desci para enfrentar as

ferinhas, fiz o café da manhã e ajudei a se prepararem para irem à escola,

que ficava no meio do caminho para a delegacia. Julia estava tão cansada

que depois do banho voltou para a cama e dormiu de novo. Ela amava
trabalhar na defensoria pública, mas depois de alguns anos brigando feito

uma onça nos tribunais, anda sempre exausta e dorme em qualquer lugar que

fique sentada por mais de dez minutos.

— Tenham uma boa aula, crianças, amo vocês! — Acenei para os

meus filhos assim que eles saíram do carro.

Só para ficar com a consciência tranquila, coloquei algumas viaturas

fazendo ronda em volta da escola e da nossa casa pelo menos enquanto eu

não pego esse bandido filho da puta. Talvez isso do Robinho estar se

escondendo no interior possa ser só um truque para me tirar do centro do Rio

de Janeiro e ter livre acesso à minha família, então vou me prevenir.

— Tchau, pai, também te amamos. — Os quatro gritaram em um

coral, sorrindo.

De lá fui direto para a delegacia. Quando cheguei, encontrei o

Barreto na minha sala me esperando para dar início à missão infiltrado. Ele

estava mesmo levando aquilo a sério, tanto que estava vestido de cowboy.
Tive um ataque de riso da barriga chegar a doer, aquele estilo camisa xadrez

brega, calça jeans justa e chapéu de couro não combinava com ele.

Sei que o nosso disfarce é de peões de uma fazenda de gado, mas não

precisava desse exagero todo.

— Você está parecendo aquele cara do desenho Toy Story que o

Juninho gosta de ver. Como é mesmo o nome dele? — Sentei na minha

cadeira rindo.

— É o Woody, delegado. — Girou os olhos em uma respiração

profunda.

— Esse mesmo, está igualzinho! — Tive outro ataque de riso, até o

colete com estampa de couro de vaca com manchas pretas e o lencinho

vermelho no pescoço são idênticos.

Quem escolheu aquele disfarce para o Barreto estava tirando uma

com a cara dele, com certeza, não tinha outra explicação para tanta breguice.

— Se achou o meu disfarce ruim, delegado, espera até ver o do

senhor. — Barreto me entregou a bolsa preta que estava no chão próximo à


sua cadeira, agora era ele que estava rindo da minha cara.

— Fala sério! — resmunguei ao pegar a bota de couro marrom com

estampa de cobra e espora no calcanhar, nunca vi nada mais ridículo.

Mas, pensando por outro lado, aquele disfarce poderia me ser bem

mais útil do que pensei. Dei um sorriso malicioso já com um plano em

mente, minha esposa não perde por esperar pelo meu contra-ataque.
Julia

Quando acordei, meu marido lindo já tinha ido levar as crianças para

a escola e de lá foi para o trabalho, mas ele deixou uma linda bandeja de

café da manhã para mim junto com uma rosa vermelha e um bilhete que dizia

que me amava e desejava que eu tivesse um dia de folga maravilhoso e bem

preguiçoso em casa.

— Com certeza eu vou ter, meu amor! — Peguei a bandeja e coloquei

sobre o colo, comecei me deliciando com a xícara de café ainda quentinho.

Meu dia não poderia ter começado melhor. Depois que terminei de

devorar o café da manhã, bateu uma preguiça enorme, meu plano era dormir

mais um pouco, já que não tinha nada de urgente para fazer. Contudo, assim

que virei para o lado a campainha tocou. Saí da cama resmungando e

coloquei o meu roupão cor-de-rosa e as pantufas felpudas nos pés e fui

atender a porta, não fazia ideia de quem poderia ser, mas iria despachar o

mais rápido possível e voltaria para a cama.


— Minha nossa, Julia, você está com uma cara péssima! — Yudi

entrou na minha casa rebolando com as mãos na cintura curvilínea, estava

com um macacão branco transparente com um decote de fazer os olhares

masculinos caírem da cara.

Aquela criatura não malhava e nem fazia dieta e ainda assim

mantinha o corpo perfeito igual há quinze anos atrás, quando nos conhecemos

no primeiro período da faculdade de Direito. Na época ela trabalhava como

dançarina em uma boate noturna e era a melhor no que fazia.

— Mas não pior que a minha, Yudi. Não dormi quase nada essa

noite. — Dani entrou logo em seguida alisando a barriga grande de oito

meses de gestação, ela e o Léo já estão no quinto filho e tinham planos para

ter mais.

Nunca vi ninguém gostar tanto de ser pai e mãe igual a Dani e o

marido, meus filhos já estão crescidos e ainda assim eles me deixam de

cabelo em pé. Ricardo trabalha muito e eu também, não poderíamos ter outro

bebê nem se quiséssemos. Além do mais, comigo entrando na menopausa


precoce, como o meu médico acredita, só engravidaria por um milagre

divino.

— Bom dia para vocês também, meninas. — Fechei a porta e beijei

os rostos das minhas amigas.

— Que bom dia o que, mulher, vê se isso é hora de acordar, dona

Julia Helena? Aposto que ficou até tarde da noite ontem brincando com o

Cavalão e agora está aí acabada. — Yudi se jogou no meu sofá e colocou os

pés em cima da mesinha de centro, daqui a pouco ela levantaria e atacaria

tudo o que encontrasse na minha geladeira.

Era isso o que mais amava na nossa amizade, tínhamos intimidade o

suficiente para se sentir totalmente à vontade uma na casa na outra como se

estivéssemos na nossa. De nós três, eu era a mais velha. Quando conheci as

duas na faculdade, meus estudos estavam atrasados porque tranquei o curso

quando a Maria Lara chegou na minha vida, então só voltei anos depois.

— Na verdade, Yudi, essa minha cara horrível é falta de sexo

mesmo, amiga. — Me sentei ao lado dela em um suspiro frustrado, ganhar


essa aposta que fiz com o Ricardo me daria mais trabalho do que pensei, o

homem está duro na queda.

— Como assim, o Cavalão não está dando mais no coro, amiga? Até

o Léo comigo enorme desse jeito não me dá sossego. — Dani deitou na

poltrona de couro inclinável que o meu marido pagou uma fortuna só para

relaxar aos finais de semana vendo jogo de futebol com o Joaquim e o

Junior, os três amam todo tipo de esporte.

— Não dando no coro? Meu marido, quanto mais velho fica, mais

fogo ele tem na cama. — Sorri ao lembrar do Cavalão se masturbando para

mim ontem à noite, só de lembrar fico toda molhada e com um calor que não

me pertence.

— Então por que não estão transando, Julia? Não vai me dizer que

estão brigados.

— Nós não estamos necessariamente brigados, Dani. Longa história!

— suspirei pesadamente. — Tudo começou com o escândalo que o meu


marido fez quando viu a Maria Lara beijando o namoradinho dela. —

Revirei os olhos.

— E o garoto sobreviveu, Julia? — brincou Yudiana, rindo.

Mas em breve seria a filha caçula dela que teria idade suficiente para

namorar e o pesadelo chamado “puberdade” começaria, então os gaviões

apareceriam e o Thompson, assim como o Ricardo, surtaria de ciúmes da sua

garotinha.

— Sobreviveu, amiga, mas se eu não ganhar essa aposta será por

pouco tempo. Porque Ricardo não vai deixar que os dois namorem, mas

quem consegue manter dois adolescentes separados? — Soltei uma risada.

— É mais fácil se livrar de um corpo em um lugar público, Julia. —

Dani riu também, eu estava ferrada com o meu marido ciumento.

— Espera, você disse aposta? — Yudi arqueou a sobrancelha. —

Que história é essa, Julia?

— Eu também quero saber de tudo nos mínimos detalhes, amiga. —

Os olhinhos da Dani brilharam de curiosidade, ambas gostavam de uma boa


fofoca.

— Está bem, meninas, eu conto! Mas se preparem porque o babado é

forte — as instiguei.

— É assim mesmo que nós gostamos, Julia. Mas vai abrindo o bico

enquanto troca de roupa, porque viemos te buscar para fazer compras e

depois almoçar juntas. — Yudi levantou e me puxou do sofá, estava evidente

na minha cara que eu não estava nem um pouco animada para colocar o pé

fora de casa.

Mas iria assim mesmo, eu andava meio distante das minhas amigas

nas últimas semanas devido às minhas alterações de humor e sabia que elas

estavam preocupadas comigo e com a minha saúde mental.

— Está bem, suas vacas, eu vou! Mas só se passarmos naquela

açaiteria que abriu no shopping, estou querendo ir lá faz tempo.

— Combinado, Julia! Agora vai tirar essas pantufas horrorosas que

já está me dando agonia. — Yudi me empurrou escada acima.


— E pode contar tudo sobre essa tal aposta antes que o meu bebê

nasça antes da hora de tanta curiosidade, dona Julia — Dani falou de boca

cheia, ela tirou uma barra de chocolate branco enorme da bolsa e estava

devorando como se sua vida dependesse disso.

Enquanto trocava de roupa, deixei as minhas amigas a par do meu

joguinho sexual com o Ricardo, o assunto rendeu muitas brincadeiras e

risadas. Tanto que o primeiro lugar que fomos quando chegamos no shopping

foi em uma loja de sex shop com uma pegada mais sadomasoquista que a

Yudi confessou ir com frequência comprar alguns brinquedinhos para usar

com o marido, Dani e eu trocamos olhares com vontade de rir. Medindo por

aquela cara séria do juiz Thompson, não dava para imaginar que o senhor

todo certinho é adepto desse tipo de coisa. O fato é que minha amiga disse

que todo homem é louco por esse tipo de coisa e ainda garantiu que é tiro e

queda no quesito sedução fatal; pensando nisso, coloquei o meu lado

pervertido para fora e fiz algumas comprinhas bem ousadas para usar à noite

com o Cavalão e levá-lo à loucura.


Já a Dani ficou horrorizada com tudo o que via na sex shop, fazendo

até a atendente ter um ataque de risos, ela era certinha demais para aquele

tipo de coisa. Depois que saímos de lá, passamos em várias outras lojas e

fomos embora do shopping abarrotadas de bolsas, então tivemos um ótimo

almoço juntas e cada uma seguiu o seu caminho. Eu me senti revigorada com

o passeio, ainda bem que as minhas amigas me arrastaram para fora de casa.

Como estava quase na hora de terminar a aula das crianças, passei na escola

para pegá-las. Estranhamente, enquanto dirigia reparei que para todo lado

que eu olhava tinha uma viatura da polícia por perto, acho que o prefeito do

Rio de Janeiro enfim resolveu triplicar o policiamento na cidade.

Foi só chegar em casa que as crianças foram brincar e a Maria Lara,

como sempre, se trancou no quarto grudada no bendito celular, ou seja,

fiquei sobrando. Então aproveitei o tempo livre para dar uma organizada boa

na casa e, depois de um bom banho, estava tão animada que preparei um

menu incrível para um jantar especial em família. O plano era fazer o prato

favorito do meu marido, mas ele iria gostar mesmo é da sobremesa, que
seria eu servida na nossa cama, coberta apenas por uma camada de chantilly

sobre os peitos e duas cerejas nos bicos.

À minha volta, colocaria os brinquedinhos eróticos que comprei na

sex shop hoje para que o Ricardo pudesse usar todos comigo essa noite.

— Nossa, mãe, que cheiro gostoso! — O aroma delicioso da lasanha

assando no forno atraiu Maria Lara até a cozinha, tirando-me dos meus

pensamentos sórdidos, esse era o prato favorito dela, igualzinha ao pai.

— Obrigada, meu amor, onde estão seus irmãos? Daqui a pouco o

jantar vai estar pronto. — Joguei azeite na salada.

— Os gêmeos estão no quarto deles fazendo o dever de casa, mãe. Já

o Junior está vendo desenho animado na sala.

— Está bem, meu amor, obrigada!

— A senhora precisa de ajuda para alguma coisa aqui na cozinha? —

Minha filha sorria sozinha enquanto digitava no celular, aposto que estava

falando com o seu namoradinho.


— Quero sim, filha, pode pôr a mesa para a mamãe? Quero que tudo

esteja perfeito para quando o seu pai chegar. — Ela assentiu, colocou o

celular no bolso da jeans e pegou a pilha de pratos de porcelana no armário

da sala de jantar que só usamos para eventos especiais.

— A senhora é uma esposa muito boa para o meu pai, às vezes até

penso que ele não merece a senhora. — Girou os olhos, tenho certeza de que

não pensava aquilo de verdade, só estava magoada com o fato do pai dela

tratá-la igual a uma criança indefesa que precisa ser protegida de tudo e

todos.

— Seu pai é um homem incrível, filha, sei que está zangada porque

ele não deixa que namore o Eliot. Mas é importante que saiba que ele não faz

isso por maldade, mas sim porque na cabeça dele é o melhor para você,

porque te ama e tem medo de que roubem você dele outra vez. — Afaguei a

sua cabeleira ruiva, seus olhos estavam cheios de lágrimas.

Maria Lara sempre fica muito emotiva toda vez que alguém toca no

assunto sobre o fato de ela ter sido sequestrada quando bebê, o pai dela e eu
fizemos questão de contar tudo para ela assim que fez idade suficiente para

entender o que aconteceu. Mas fizemos tudo com o acompanhamento de uma

psicóloga; por mais difícil que seja, foi a melhor decisão que tomamos.

— Eu sei, dona Julia, por isso amo o meu pai demais. Mas por que

ele tem que ser tão irritante em certos momentos? — bufou emburrada.

— Eu me pergunto isso desde que conheci o seu pai, filha —

brinquei e a Maria Lara soltou uma risada alta, ela ficava linda quando

sorria porque realçava ainda mais as suas sardas.

— Ele nunca vai autorizar o meu namoro com o Eliot, não é, mãe? —

Minha pequena me abraçou.

— Vai sim, filha! E mais rápido do que pensa, só confia em mim. —

Beijei o topo da sua cabeça, faria de tudo para que ela pudesse viver o seu

primeiro amor plenamente.

— Obrigada, mãe, por sempre me apoiar em tudo. Eu te amo! —

Apertou ainda mais o abraço.


— Eu também te amo, querida, agora chame os seus irmãos para o

jantar e peça para eles lavarem as mãos, por favor.

— Sim, senhora! — Fez continência.

Eu estava tão animada, queria que o Ricardo chegasse logo e visse a

mesa linda que montamos para ele, até usei flores naturais que colhi no

nosso jardim. Mas, infelizmente, as horas passaram e ele não apareceu.

Apenas enviou uma mensagem curta dizendo que chegaria tarde do trabalho,

fiquei arrasada com isso. Tanto que nem comi direito, estava meio

indisposta. Mas as crianças se esbaldaram com a lasanha, os quatro estavam

eufóricos contando como foi legal o dia na escola.

Depois do jantar os gêmeos foram assistir um filme da Disney com o

Junior, enquanto Maria Lara e eu arrumávamos a cozinha.

— Eu sinto muito que o papai não apareceu para o jantar especial

que a senhora fez, mãe. Ele deve estar atolado no trabalho, só isso. Tenho

certeza de que se dependesse dele não perderia um jantar com a gente —


comentou Maria Lara enquanto enxugava a louça, ela percebeu que fiquei

triste.

— Eu sei, querida, não se preocupe. Só estou preocupada com o seu

pai, porque ele começou um trabalho infiltrado em uma missão especial e

tenho medo de que aconteça algo ruim. — Guardei na geladeira os potes de

plástico com o que sobrou do jantar, se o Ricardo quisesse comer, que

esquentasse quando chegasse.

Podia ter pelo menos ligado e pedido desculpa por não vir a tempo

para o jantar, já que eu deixei bem claro na mensagem que passei horas no

fogão fazendo o prato favorito dele.

— Delegado Avilar é o melhor em tudo o que faz, mãe. Então relaxa!

— Minha filha beijou o meu rosto e subiu para o seu quarto, é mesmo um

amor de menina.

Com a bagunça do jantar arrumada, ajudei as crianças com o banho,

as coloquei na cama e li uma história para eles até que pegaram no sono.

Antes de sair, ajeitei os seus cobertores e dei um beijo em cada um, passei
no quarto da Maria Mara e fiz o mesmo com a minha ruivinha que dormia

abraçada com o celular. Fui para o meu quarto e coloquei uma camisola

preta de seda e fui para a cama também, mas não consegui dormir. Mandei

um milhão de mensagens para o Ricardo e nada de ele responder, já era

tarde da noite e eu fiquei com muito medo de que algo de ruim tivesse

acontecido com ele.

Sem sono, desci para fazer um chá de erva-cidreira para acalmar os

nervos. Peguei o bule no armário debaixo da pia e enchi de água, mas,

quando pensei em virar para esquentar no fogão, percebi que não estava

mais sozinha na cozinha. Dava para ver a sombra do homem pelo reflexo da

geladeira de inox, então troquei o bule pela maior faca que tinha no faqueiro

sobre o balcão da pia.

— Eu não sei o que quer aqui, mas o meu marido é delegado da

polícia civil, e se encostar um dedo em mim ou nos meus filhos, juro que ele

vai te caçar até o inferno e vai te fazer implorar pela morte. — Me virei de

frente para a porta segurando a faca, eu cortaria a cabeça desse desgraçado

fora antes que pudesse abrir a boca.


— Entendo, dona, mas infelizmente o seu marido não pode te

defender de mim agora — ameaçou o homem misterioso com as costas

apoiadas no vão da porta e os braços cruzados ressaltando os músculos, ele

estava de cabeça baixa e com a metade do rosto coberto pelo chapéu branco.

— Que roupas são essas, Ricardo? — Guardei a faca e soltei uma

risada quando percebi que era o meu marido, o filho da mãe estava um

verdadeiro tesão com essa camisa xadrez em vermelho e preto coladinha e o

jeans justo com uma fivela enorme de cowboy.

— Se eu fosse a senhora, dona, me preocupava mais com o que eu

vou fazer com ocê antes que o seu marido delegado chegue. — Caminhou até

mim com as suas botas de couro, dava para ouvir o chocalho da espora a

cada vez que os seus pés tocavam o chão, Ricardo estava com aquele olhar

escuro de predador.

Filho da puta!

Meu marido estava tocando no meu ponto fraco, sabe que amo uma

fantasia erótica. Já brincamos de médico e enfermeira, bombeiro e vítima em


perigo, policial e bandido, entre tantas outras coisas bem criativas. Mas com

o Ricardo vestido de cowboy, essa era a primeira vez e, para ser sincera, eu

simplesmente amei.

— E o que você pretende fazer comigo, hein, cowboy? — Fiquei nas

pontas dos pés e tirei o chapéu da sua cabeça e coloquei na minha,

aproveitei a proximidade para agarrar o seu pescoço.

— O que você quiser, moça bonita, mas é bom que saiba que sou

bruto na hora do sexo. — Meu marido segurou firme na minha cintura, me

ergueu do chão e me colocou sentada no balcão de mármore escuro sem

nenhuma gentileza, minha camisola subiu para cima da cintura deixando a

minha calcinha minúscula à mostra.

Ricardo soltou um gemido e nem me deu tempo de pensar direito, o

sem-vergonha se enfiou no meio das minhas pernas e aproximou nossos

rostos como se fosse me beijar, mas ao invés disso parou a milímetros de

nossas bocas se tocarem.

— Ricardo… — gemi o seu nome em súplica.


Não tinha como não perder toda a sanidade mental com aquele

homem gostoso com a pegada bruta enfiado no meio das minhas pernas, não

conseguia pensar em mais nada além de senti-lo dentro de mim o mais breve

possível.

— Você quer que eu beije você, moça bonita? — Passou a língua

pelos meus lábios, instigando-me. — Ah! Eu esqueci que beijos estão

proibidos, mas ainda bem que a boca tem várias outras utilidades, não é

mesmo? — Baixou a alça da minha camisola e abocanhou o meu seio

esquerdo.

— Puta que pariu, Ricardo! — Prendi o fôlego enquanto ele sugava

com veemência, era uma mistura de dor e prazer indescritível.

Meu primeiro ato involuntário foi levar a mão dentro da calcinha,

precisava me tocar para aliviar a pressão entre minhas pernas, já que era

óbvio que o Ricardo não pretendia fazer aquilo caso eu não implorasse.

— Nem pensar, moça! — disse Ricardo com a voz rouca ao pé do

meu ouvido, o rosto estava enfiado nos meus seios.


Ricardo prendeu os meus braços atrás do meu corpo impedindo que

me tocasse como fiz ontem à noite, estava disposto a ganhar a aposta a

qualquer custo e estava a um passo disso, porque na posição que eu me

encontrava naquele momento não tinha muito como lutar. Então, apenas

trinquei os dentes e joguei a cabeça para trás para conter os gemidos, não

queria acordar as crianças e o condomínio inteiro.

— Não lute mais, Marrenta, se entregue a mim. — Prendeu a ponta

do meu mamilo entre os dentes e puxou me levando ao êxtase, fiquei

estarrecida.

— Nunca, delegado Avilar! — tentei resistir.

— Ok. Então nossa brincadeira termina aqui, amor. — Parou de

repente e ficou me fitando com um sorrisinho debochado. — Mas, se mudar

de ideia, eu e o meu amiguinho aqui de baixo estaremos te esperando

debaixo do chuveiro. —Pegou a minha mão e colocou em cima do monte

volumoso debaixo do jeans, ele estava tão duro que parecia que escondia

uma pistola dentro da calça.


Sem dizer mais nada, meu marido pegou o chapéu na minha cabeça e

colocou de volta na dele e foi embora assobiando com as mãos enfiadas no

bolso. E eu fiquei ali, deixada para trás sentada sobre o balcão, toda

desalinhada e com um fogo do cão, louca, querendo mais.

Muito mais!

Mas preferia morrer do que entregar os pontos, o jogo tinha que

continuar e não aceitava sair dessa sem a vitória.

— Ahh, mas você vai me pagar por essa, delegado Avilar. — Sorri

maquiavélica.

Depois dessa não deixaria que o meu marido levasse a melhor de

jeito nenhum. Ele podia ser um bom jogador, mas eu era a dona do jogo.
Ricardo

Eu simplesmente não conseguia parar de rir da expressão de

frustação da Julia, sentada no balcão da cozinha, de boca aberta e toda

desalinhada enquanto me observava sair da cozinha assobiando; se o

disfarce de hoje não ajudou em nada no trabalho e não localizamos o

fugitivo, pelo menos em casa teve o efeito planejado com a minha esposa.

Sabia que ela é uma safada e ficaria louca quando me visse vestido de

cowboy, sempre gostou de fantasias sexuais. Fiz questão de dar um bom

esquenta nela e depois saí de campo e agora estou aqui debaixo do chuveiro

à sua espera, sei que dessa vez não vai resistir à tentação, essa aposta já está

no papo.

Foi o que pensei depois de passar um tempão e nem sinal da Julia

aparecer, o banheiro já estava com o vidro todo embaçado e os meus dedos

das mãos e pés todos enrugados. Desliguei o chuveiro e saí pelado mesmo e

todo molhado, cheguei no quarto e encontrei a minha esposa dormindo


pesadamente, virada para o lado contrário do meu, com o cobertor puxado

até o pescoço. Pelo visto, o esquenta que dei nela na cozinha não foi tão

eficaz quanto pensei. Não tive alternativa a não ser dormir também, virado

para o outro lado com o meu ego masculino ferido e muito chateado.

Acordei cedo ainda mordido de raiva e fui trabalhar em jejum

mesmo, antes que a Julia acordasse e a briga fosse formada, eu já estava há

malditos dois dias sem sexo e isso estava me enlouquecendo. Maldita a hora

que inventei essa aposta. Mas não posso pensar nessa porra agora, vou me

concentrar em capturar o fugitivo porque meu plano é não voltar para casa

até colocar as mãos nesse verme.

— Eu pensei que fosse proibido beber em serviço, delegado. —

Barreto veio me encher o saco, nós dois pegamos o bar mais famoso do

povoado de Santa Cruz para trabalhar disfarçados entre os clientes.

O restante da minha equipe se espalhou pelos outros pontos noturnos

também trabalhando disfarçados; como é uma cidadezinha pequena, não tem

muitos espaços de entretenimento. Segundo os nossos informantes, o nosso


alvo costuma sair à noite para beber. Por isso, estou confiante que uma hora

dessas o Robinho vai aparecer e quando isso acontecer, vou enviá-lo para

um lugar onde nunca mais conseguirá ver a luz do sol novamente.

— Fica na sua, Barreto, porque do jeito que eu ando irritado, para

você levar um tiro no meio na testa não custa nada. — Sorvi um longo gole

da minha cerveja enquanto fazia sinal para o garçom trazer outra, tem certas

coisas na vida da gente que só o álcool é capaz de resolver.

— Julia ainda continua firme na greve de sexo, senhor? — Barreto

segurava o riso.

— Aquela desgraçada está acabando comigo, Barreto. Estou em total

abstinência sexual e não passou nem uma semana ainda — rosnei, mesmo

depois de todas as minhas investidas Julia estava dura na queda.

Fazer essa aposta com a minha esposa a deixou bastante distraída em

relação ao estresse, mas o problema é que está me deixando completamente

louco. Ela é competitiva demais e sabe como jogar, tem sangue frio para

resistir às tentações quando o assunto é ganhar, seja qual for o desafio.


— Por que vocês dois não sentam e conversam como dois adultos

normais, delegado? Gastão e eu sempre resolvemos os nossos problemas

assim, numa boa — aconselhou de coração, mas no meu casamento esse tipo

de abordagem não funciona e olha que já tentei e muito.

— Não existe resolver as coisas numa boa com a Julia, nossas

conversas sempre terminam de dois jeitos: ou ela está certa, ou eu estou

errado. Simples assim. — Barreto espirrou longe o gole de refrigerante que

tinha acabado de levar à boca, não deu para descer junto com a gargalhada

presa na garganta que ele soltou, chamando a atenção de todos no bar.

— Desculpa, delegado, mas eu não consigo parar de rir. — Jogou a

cabeça para trás e levou as mãos na barriga em um ataque de riso

escandaloso.

— Eu vou lá fora fumar um cigarro antes que eu soque a sua cara,

Barreto, volto daqui a pouco. — Me levantei totalmente desprovido de

paciência. — Fica de olho por aqui, e qualquer movimentação estranha, me

avise — ordenei.
— Uai, chefe, não sabia que ocê fumava, sô — disse com um tom de

caipira.

— Comecei hoje, Barreto, é isso ou torcer o pescoço da minha linda

esposa. — Fui para fora do bar cuspindo fogo pelas ventas.

Você ainda vai acabar me matando, Julia Helena Avilar!

Debrucei-me sobre o muro da varanda do bar, tirei um maço de

cigarro Marlboro azul do bolso e coloquei um na boca, então lembrei que

esqueci o maldito isqueiro no carro.

— Cacete! Tudo o que eu queria era fumar a porra de um cigarro,

mas nem isso posso fazer — resmunguei para o silêncio dessa noite fria

tomada por uma serração baixa, essa cidadezinha é perfeita para levar uma

vida tranquila, bem longe da loucura que é o centro da cidade grande.

— Noite difícil, moço bonito? — Uma mulher de boné da aba

abaixada escrito “clube das brutas” acendeu o meu cigarro, em seguida se

debruçou sobre o muro quase em cima de mim, empinando a bunda para trás

de um jeito provocativo.
— Obrigado, moça. — Dei um passo para longe dela.

Estou em abstinência sexual, mas a Julia era a única mulher que eu

desejava loucamente cada maldito segundo da minha existência. Às vezes ela

podia até ser uma cobra cascavel manipuladora do caralho, mas também era

a minha esposa amada e mãe dos meus quatro filhos lindos.

Preferia ter o meu pau cortado fora antes de trai-la mesmo que fosse

com um simples olhar, sou homem de uma mulher só.

— Só um obrigado? — Tirou o boné e o cabelo longo ruivo

ondulado caiu sobre o meio das costas, seus olhos eram azuis cintilantes

como dois oceanos sem fim.

Porra! A mulher era a cara da minha falecida esposa Andreia, até a

voz suave era parecida. Bem que falam que o mal, quando quer trabalhar na

vida da gente, ele já entra em cena usando as suas melhores armas, mas o

meu amor pela Julia é maior do que qualquer coisa.

— E o que mais você esperava além de um simples obrigado, moça?

Porque é o máximo que posso lhe oferecer. — Dei uma longa tragada no meu
cigarro e joguei a fumaça no ar, esperançoso que o meu passa-fora

funcionasse e a garota fosse embora.

Ela deveria ser pouco mais velha que a Maria Lara e já estava dando

em cima de homens desconhecidos daquela forma, eu poderia ser um

maníaco sexual ou coisa pior. Cadê o pai dessa garota? Depois a minha

esposa me julga por não deixar a nossa filha namorar tão cedo.

— Me pagar uma cerveja bem gelada, no mínimo, ara só! —

Encostou o ombro no meu se esfregando em mim, ela tinha muita atitude e

pouca vergonha na cara. — Muitos homens já pagaram muito mais do que

isso pelo meu “fogo”. — Piscou para mim maliciosa.

— Olha aqui, moça, eu até te acho muito bonita e tal, mas eu sou

casado com a mulher mais perfeita do mundo e completamente maluca.

Então, se tem amor à sua vida, mantenha o máximo de distância que puder de

mim — fui curto e grosso.

— Tudo bem, moço bonito, eu não sou ciumenta. — A maluca me

tascou um beijo na boca à força, eu a empurrei para longe de mim, furioso


pela sua audácia.

Mas era tarde demais porque o Barreto já estava parado na porta, de

queixo caído olhando para nós, agora ele iria pensar que o chefe e amigo

dele é um infiel.

— O suspeito acabou de entrar no bar pela entrada do lado oeste,

delegado, temos que agir agora mesmo — Barreto disse sério e voltou para

dentro do bar pisando duro e cheio de verdades presas na garganta para

jogar na minha cara.

Ele era padrinho de um dos gêmeos e muito puxa-saco da Julia, e se

acreditasse de fato que eu fui capaz de trair a minha esposa, nunca mais

voltaria a falar comigo direito.

— Espera, Barreto, me deixa explicar o que você viu. — Agarrei o

braço dele.

— Não é para mim que o senhor precisa explicar o que eu vi,

delegado, mas sim para a sua esposa. Agora vamos terminar o que viemos

fazer aqui, que é pegar esse cara e manter a sua família segura. — Mexeu no
chapéu e fez sinal na direção do meliante sentado no balcão do bar tomando

o seu drink tranquilamente, ele estava de jeans e moletom preto com o capuz

na cabeça.

— Você tem razão, policial Barreto! — Tirei a arma da cintura e a

destravei, era hora de levar o passarinho de volta para a gaiola.

— Saiam todos, por favor! — sussurrou Barreto para os clientes

mostrando o seu distintivo, em poucos segundos ficaram apenas nós e o

barman fingindo que estava limpando o balcão para não levantar suspeitas.

Barreto e eu trocamos olhares, era chegada a hora de agir.

— Você está preso, Robson da Silva, levante com as mãos na cabeça

bem devagar. — Coloquei a arma na nuca do meliante, que permaneceu

sentado tranquilamente.

— Olá, delegado Avilar. Que bom te ver por aqui! — Virou o resto

da sua bebida de uma vez só e, estranhamente, se levantou com as mãos para

cima sem demonstrar nenhuma resistência.


Na verdade, o desgraçado sorria de um jeito estranho como se

estivesse sabendo que seria pego por mim. Fiquei cismado. Mas continuei

com a prisão, o mais importante era levar o bandido detido.

— Seus dias de férias terminam aqui, parceiro. — Tirei a algema

escondida no cós da calça e prendi as mãos do Robinho para trás, agora

minha família estaria segura novamente.

Mas o meu casamento já não tinha tanta certeza assim, precisava

contar para a minha esposa que beijei outra mulher mesmo que à força, mas

conhecendo a Julia como conheço, culpado ou não, ela me mataria de

qualquer jeito quando descobrisse.


Ricardo

Tive que dirigir até o presídio de segurança máxima que fica do

outro lado do Rio de Janeiro para fazer o transporte do detento e ainda

fomos obrigados a preencher toda aquela papelada chata da burocracia,

enquanto era obrigado a aturar o Barreto enchendo a minha paciência para

contar sobre o beijo para a Julia que aconteceu contra o meu consentimento e

que não durou nem cinco segundos porque empurrei aquela mulher asquerosa

para bem longe de mim. Mas ainda assim me sentia muito culpado. Precisava

falar a verdade para a minha esposa, mas não fazia ideia de como, sem

causar uma guerra conjugal.

Já era quase de madrugada quando estacionei o carro na garagem e

entrei em casa pisando em ovos, fazendo o mínimo de barulho possível, nem

acendi a luz para não correr o risco de acordar a minha esposa. O plano era

tomar uma ducha rápida, cair na cama e vencer essa noite maldita. Na hora

de entrar no nosso quarto, girei a maçaneta vagarosamente e abri a porta.


Estava escuro, mas não acendi a luz para não correr o risco de acordar a

Julia. Não estou com estrutura psicológica para lidar com ela hoje.

— Mas que porra é essa? — rosnei ao bater a cabeça no que pensei

ser uma barra de ferro.

— Isso faz parte do show que preparei para você, amor! — Julia

acendeu a luz, ela estava só com uma calcinha fio dental comestível sabor

morango e um salto quinze vermelho-agulha.

Minha esposa prendeu o cabelo em um rabo de cavalo trançado,

colocou cílios postiços gigantes e passou batom vermelho. Sim! Ela estava

vestida como uma prostituta barata e devo admitir que gostei muito disso.

— Eu não acredito que você montou uma barra de pole dance bem no

meio do nosso quarto, Julia Avilar. Ficou louca, mulher? Não quero nem

saber quanto isso custou — fingi estar bravo.

Mas a verdade é que achei a ideia maravilhosa e bastante criativa,

mal podia esperar para ver a minha mulher pendurada nesse troço fazendo
uma apresentação bem sexy só para mim. Entretanto, isso só aconteceria

depois que essa aposta infernal terminasse.

— Para de ser rabugento e só senta aí e aproveita o show, delegado.

— Agarrou a gola da minha camisa e me obrigou a sentar na cama, de frente

para a barra de pole dance, queria que eu tivesse uma ampla visão

privilegiada da sua performance.

— Acho melhor deixar isso para outro dia, amor, conseguimos

capturar o fugitivo, mas estou exausto. — Forcei um bocejo tentando escapar

do seu golpe. Com o fogo que essa mulher estava, eu não teria nenhuma

chance.

— Pode deixar que eu te animo rapidinho, Cavalão. — Julia pulou

no meu colo, sentada de frente para mim, usou os meus ombros como apoio

para as mãos e girou o tronco para trás, rebolando em cima do meu pau e

instigando-me.

Aí pronto, minha ereção ganhou vida em um piscar de olhos.


— Minha nossa, Julia, vai com calma! — Tentei tirá-la do meu colo,

mas a mulher agarrou o meu pescoço e ficou esfregando aqueles peitos

enormes no meu rosto, eu mal conseguia respirar.

— Não consigo evitar, Cavalão, você me deixa louca. — Mordeu o

lábio inferior com cara de putinha safada, soltei um gemido involuntário de

tanto tesão.

— Ah, Marrenta, quando essa maldita aposta passar eu vou te pegar

de um jeito que vou afundar o meu pau nesse seu traseiro grande até o talo.

— Dei uma tapa na bunda dela, essa mulher é um verdadeiro furacão.

— E por que não me pega de jeito agora, amor? É só pedir por favor,

e eu sou todinha sua. — Mordicou o lóbulo da minha orelha, me arrepiei

todo.

Fiquei doido de tesão e, quando dei por mim, as minhas mãos

estavam gravadas na cintura da Julia, eu precisava fodê-la loucamente ou

morreria.
— Po… por… favor — gaguejei, Julia abriu um sorriso vitorioso.

— Dance para mim. — Improvisei no último segundo em um fio de sanidade.

— Pensei que não fosse pedir nunca! Espera só um segundo, vou

colocar uma música bem sensual. — Levantou para ligar o aparelho de som

na estante. — Tem alguma música especial que você quer que eu coloque,

Ricardo? — perguntou de costas para mim.

— Que tal aquela música: “não vai ser dessa vez, meu amor”? —

gritei rindo já chegando no corredor, corri para o quarto de hóspedes e me

tranquei lá dentro.

Tomei um banho frio para ver se o tesão passava, mas não adiantou.

Não teve punheta que fizesse a minha ereção ceder, tive que dormir por lá

mesmo e de pau duro. Como era sábado e eu estava de folga, levantei cedo e

preparei uma mesa linda de café da manhã para agradar à minha esposa linda

que deveria estar uma fera comigo depois de deixá-la na mão ontem.

No entanto, só as crianças desceram para o café da manhã. Pensei em

subir para chamar a Julia, mas era melhor não cutucar a onça com vara curta.
— O Joaquim pegou o meu livro do Senhor dos Anéis e sumiu com

ele, papai. — Cecilia colocou as mãozinhas na cintura com uma tromba

enorme.

Maria Cecilia e o irmão dividiram o espaço na barriga da mãe por

vários meses, mas depois que nasceram não dividiam nem a chupeta. Viviam

brigando por causa de tudo, mas no final sempre faziam as pazes. Eram duas

crianças incríveis e amorosas e, para ser honesto, às vezes me pegava

olhando para os dois sem acreditar que já faz dez anos que os gêmeos

nasceram. Foi um dos melhores dias da minha vida, então o Junior veio,

pegando a todos de surpresa, fazendo de mim o homem mais feliz do mundo.

Se tem uma coisa que amo na vida mais do que qualquer coisa é ser pai.

Mas devo admitir que estou feliz de que na idade da Julia a fábrica

dela já fechou, porque quatro filhos já são o suficiente para me deixar de

cabelos em pé.

— Não precisa ficar zangada com o seu irmão, filha, o papai vai

comprar outro livro para você. Está bem assim, querida? — Inclinei e beijei
o rosto da minha princesinha, ela era linda demais com seus cachinhos

castanho-claros e uma cor de pele caramelo em uma mistura perfeita minha

com a da Julia.

— Não quero outro livro, pai. Quero o meu. Joaquim não pode pegar

as minhas coisas, ele sempre faz isso e nunca devolve. — Fez beicinho de

choro, amava os seus livros e morria de ciúmes deles.

Cecilia também era muito inteligente e correta em tudo o que fazia, já

o irmão Joaquim… Meu Deus! Era um malandrinho; apesar de ser um garoto

doce, era o esperto da dupla. Se o sem-vergonha pegou o livro da Ceci, não

foi para ler, com certeza, devia ser para fazer barquinho de papel ou apenas

rabiscá-lo com desenhos sem nexo.

Minha esposa diz que a culpa de ele ser sem limite assim é minha

pelo fato de sempre passar a mão na sua cabeça quando apronta, mas não é

bem assim, porque faço o mesmo com os irmãos dele, principalmente o

caçulinha Junior, e nenhum deles é tão arteiro igual ao Joaquim.


— Se o senhor vai comprar uma coisa nova para a Ceci, eu também

quero, pai — resmungou Junior com a boca cheia de bolo de laranja com

calda de chocolate, o baixinho parecia uma formiguinha quando o assunto

era doce.

— Eu também quero! — Joaquim levantou a mão.

— Claro que sim, meninos. Mais tarde podemos ir ao shopping com

a sua mãe e as suas irmãs fazer compras. Podem escolher o que quiserem. —

Peguei o jornal sobre a mesa e comecei a ler.

— Valeu, paizão! — Os dois me abraçaram.

— Isso mesmo, paizão, por que não busca um pedaço da lua e dá

para as crianças também? — ironizou a ruivinha sentada de frente para mim

de cenho franzido, estava bancando a adolescente rebelde, vestida com um

blusão com a foto do rapper Eminem na frente e o cabelo liso jogado sobre o

rosto.

Não respondi à provocação dela, continuei lendo o meu jornal. Se a

Maria Lara achava que com toda aquela rebeldia juvenil iria me fazer
autorizar o seu namoro com o filho do idiota do Oliver Quent, estava muito

enganada.

— Ninguém vai comprar coisa nenhuma aqui, crianças. Vocês têm

brinquedos e livros novos para pelo menos mais duas vidas. — Julia

apareceu na cozinha de cara fechada, me remexi na cadeira já esperando o

pior.

— Poxa, mãe, por que não?

— Porque você não pode simplesmente sumir com as coisas da sua

irmã só porque o trouxa do seu pai vai lá e compra outro igualzinho e coloca

no lugar, Joaquim. — Me fuzilou com o olhar.

A diaba estava com um vestido branco de renda justo ao corpo e bem

curto, por sinal, obviamente colocou para me provocar e a desgraçada

conseguiu. Julia sempre teve um corpo lindo e, sinceramente, nem parecia ter

quatro filhos praticamente criados, e um deles uma moça. Parece que quanto

mais tempo passa, mais linda fica.


— Mas eu quero terminar de ler o livro do Senhor dos Anéis, mãe.

Isso não é justo! — Cecilia começou a chorar.

— Mas você vai, filhota, não se preocupe. — Beijou a testa da Ceci

e acariciou o seu rosto. — Porque o seu irmão tem vinte e quatro horas para

achar o seu livro ou vai ficar de castigo por duas semanas sem televisão,

videogame e celular — Julia foi firme como sempre, ela criava os filhos

com a mesma rigidez com que atuava nos seus casos.

Mas comigo? Era bagunça, comprava tudo o que eles queriam e mais

um pouco.

— O quê? Isso não é justo, mãe — fez birra.

— Se reclamar de novo, Joaquim, vão ser três semanas. — Julia deu

a volta e sentou na outra ponta da mesa, bem longe de mim.

— Pai, o senhor não vai fazer nada? — Joaquim me olhou com

carinha de cão sem dono pedindo socorro.

— Claro que não, pirralho, você acha que o pai vai ser doido de

desafiar uma ordem da nossa mãe? — Maria Lara riu da minha cara, essa
garota está pedindo para apanhar.

— Mais uma palavra, Maria, e você vai fazer companhia ao seu

irmão no castigo. — Baixei o jornal e olhei para ela sério, depois voltei à

minha leitura.

— Mas que saco! Não aguento mais ficar nessa casa. — Cruzou os

braços e revirou os olhos. — Ainda bem que vou sair com o vovô hoje, já

liguei para ele, que vem me buscar daqui a uma hora e depois vamos pescar

no sítio do tio Binho e passar o final de semana todo por lá mesmo.

— Vai sim, filha, você anda muito nervosinha para o meu gosto e

pescar vai te fazer bem.

— Assim espero, mãe!

— Eu posso ir também, maninha? Os passeios com o vovô são os

melhores. — Junior deu aquele sorrisinho que é impossível dizer não, ele e

os irmãos são completamente apaixonados pelo pai da Julia.

Se eu mimava os meus filhos, o meu sogro nunca dizia não para eles

para nada. Absolutamente nada.


— Eu também quero ir! — Os gêmeos disseram no mesmo instante,

isso sempre acontecia, era como se as mentes deles estivessem ligadas.

— Claro, né, crianças! Eu não iria a lugar nenhum sem as minhas

pestinhas favoritas, já tinha falado para o vovô que levaria vocês comigo e

ele ficou todo feliz.

— Ebaa! Nós vamos pescar! Vem, Joaquim e Juninho, vamos arrumar

a nossa mochila. Eu amo os nossos passeios com o vovô e o tio Binho.

Os três saíram de mãos dadas correndo escada acima, animados e em

total clima de paz.

— Eu vou ajudar os gêmeos. — Maria se levantou e olhou para mim

e depois para a Julia. — E vocês dois aproveitem o final de semanas

sozinhos e façam as pazes, porque tem muitos casais por aí loucos para

viverem a sua história de amor, mas não podem, não é mesmo, pai? —

alfinetou a ruivinha de língua afiada e saiu de queixo erguido, petulante igual

à mãe dela, que me fuzilou com o olhar assim que ficamos sozinhos.
— Que cara é essa, amor, não dormiu bem? — brinquei, mas a minha

esposa não sorriu.

— Não ouse me chame de amor, Ricardo. — Arrancou o jornal da

minha mão, amassou e jogou longe.

— Eu não tinha acabado de ler, sabia? — Segurei o riso,

provocando-a de propósito.

— Vai se ferrar, Ricardo! Tem noção de como foi difícil colocar a

porra daquela barra de ferro no nosso quarto? — atacou e eu soltei uma

risada vigorosa.

— Não sei, mas espero que não tenha ficado muito caro — disse com

cinismo e ela pegou uma torrada sobre a mesa e jogou na minha cara.

— Como pôde dormir no quarto de hóspedes depois do trabalho que

tive para preparar aquela surpresa para você? Aprendi alguns passos de

pole dance em tempo recorde e fiquei um tempão te esperando chegar em

casa, ansiosa, para depois levar um toco daqueles — gritou, estava mesmo

magoada comigo.
— Eu sei, querida, mas no jogo e no amor vale tudo! É óbvio que

está fazendo de tudo para ganhar a aposta e não pretendo facilitar as coisas

para você. Não dessa vez — respondi sincero, mas acho que qualquer coisa

que eu falasse só pioraria as coisas.

— Ok, querido, se você quer guerra, então vai ter! — Fincou a faca

no pobre queijo mineiro na bandeja próxima a ela como se fosse o meu

coração, devo admitir que o seu sorriso psicótico me preocupou bastante.

— Pode vir quente que eu estou fervendo, Marrenta. — Pisquei para

ela com um sorriso de canto.

Sem responder nada, Julia levantou da mesa e foi embora me olhando

ameaçadoramente. Eu engoli em seco, sabia que viria chumbo grosso por aí

e estava certo. As crianças iriam para a casa do tio com o avô, isso

significava passar o final de semana inteiro sozinhos.

Estou muito fodido!

Foi o que eu pensei quando vi as crianças entrando no carro do meu

sogro, Julia me encarava o tempo todo de um jeito tão assustador que minha
vontade era pedir que as crianças desistissem do passeio e ficassem em

casa. Não queria ficar sozinho com essa mulher maluca, ela era capaz de

tudo para vencer.

— Enfim a sós, delegado! — Acenou para os filhos pendurados na

janela do carro.

— Eu não sei o que você está planejando, Julia. Mas não vai rolar,

pode apostar nisso! — disse entre os dentes enquanto mantinha o sorriso no

rosto, também acenava para os nossos filhos.

— É o que veremos, Cavalão! — Piscou para mim, sedutora. —

Você se escondeu ontem à noite, quero ver conseguir fugir de mim o final de

semana inteiro. — Entrou em casa rindo sozinha.

Entrei logo atrás da minha esposa, só que não a vi mais assim que

pisei na sala. Achei estranho, mas não fui atrás dela, poderia ser alguma

armadilha. Resolvi aproveitar essa linda manhã de sábado para dar uma

corrida e ficar o máximo de tempo que eu puder fora de casa. Troquei de

roupa, coloquei os fones de ouvido e só voltei depois que bati a meta de dez
quilômetros percorridos. Cheguei em casa com a camisa toda molhada de

suor e, assim que abri a porta, dei de cara com a Julia fantasiada de

coelhinha da Playboy nas cores rosa e branco, estava muito gostosa, eu

admito, mas aquele estilo não combinava com ela. Ficou artificial demais.

— Hora da brincadeira começar, Cavalão! — Deu uma voltinha na

minha frente, a fantasia tinha até um rabinho de coelho atrás.

Acabei não aguentando e tive um ataque de risos na frente da Julia,

minha barriga chegou a doer de tanto que ri.

— O que o desespero é capaz de fazer com uma pessoa, meu Deus!

— disse em meio às gargalhadas, estava chorando de tanto rir.

— Ah, vai para o inferno, Ricardo, estou farta de você. — Tirou as

orelhinhas de coelho e jogou longe, eu ri mais ainda.

— Eu ganhei essa, Marrenta, admite! Não vai conseguir me seduzir,

acho que está ficando enferrujada nisso — brinquei, mas pelo olhar raivoso

da minha esposa ela levou muito a sério.


— Nunca mais fale comigo, eu odeio você! — Julia subiu as escadas

chorando.

Você é um babaca, Ricardo!

Agora a Julia não iria parar de remoer aquilo e a culpa era toda

minha por falar demais, esqueci que ela está passando por um momento de

crise de idade e uma possível menopausa precoce, e só piorei as coisas.

— Desculpa, amor, eu não quis dizer isso. — Fui atrás dela, mas

Julia entrou no nosso quarto e bateu a porta na minha cara.

Eu quis bater e insistir até que Julia saísse e falasse comigo, mas

achei melhor deixá-la sozinha e esperar que se acalmasse um pouco. Tirei

aquela roupa suada e tomei um banho, mais tarde não aguentei a culpa e bati

na porta e implorei à minha esposa para que falasse comigo. Mas não

respondeu. À noite jantei sozinho e então fui dormir no quarto de hóspedes,

mas não consegui pregar os olhos, preocupado demais com o meu amor.

Decidi então que não esperaria mais, levantei e fui até o nosso quarto
disposto a colocar aquela porta abaixo se fosse preciso, mas nós iríamos

fazer as pazes de um jeito ou de outro.

No entanto, a Julia não estava lá. Na hora do desespero saí

procurando-a por toda a casa. Mas não demorei muito para a encontrar, ela

estava debruçada sobre o balcão da cozinha tomando sorvete de chocolate

direto do pote. Estava usando apenas uma camisa branca minha, com a bunda

praticamente toda de fora e a desgraçada ainda estava sem calcinha, seus pés

descalços tocavam o piso escuro. O cabelo preso em um nó malfeito cheio

de cachos caindo no rosto, linda pra cacete! De todas as lingeries sexy dela

que eu amo, nenhuma delas tem o poder de me deixar tão excitado como vê-

la vestida assim de maneira tão natural.

Quando dei por mim, o meu corpo já estava colado atrás da Julia. Eu

estava excitado e cheio de amor para dar para a minha Marrenta.

— Sem sono também, amor? — Beijei a curva do seu pescoço, mas o

seu corpo se contraiu todo, nem um pouco feliz com a minha aproximação.
— O que você quer, Ricardo, rir de mim novamente? — Olhou para

mim por cima do ombro com desdém.

— Você sabe o que eu quero, Marrenta. — Enfiei a mão debaixo da

camisa e apertei o seu seio do jeito que ela gostava, tinha muita

sensibilidade naquela parte do corpo e eu sempre tirei proveito disso.

— Eu não sei de porra nenhuma, Ricardo! Então tira as suas mãos de

mim. — Continuou tomando o seu sorvete ferozmente.

— Desculpa pelo que eu disse mais cedo, amor. Sou um babaca! Mas

estou arrependido, só quero que as coisas voltem a ser como antes dessa

aposta idiota — sussurrei ao pé do seu ouvido, tudo o que queria era fazer as

pazes com a minha esposa.

— Nunca mais nada vai ser como antes, Ricardo. — Me empurrou

para longe dela, jogou o pote de sorvete sobre o balcão e me deixou falando

sozinho, como se dividir o mesmo ambiente que eu fosse uma afronta.

Mas dessa vez não iria deixar que a Julia fugisse de mim, já chega de

ela agir feito uma criança mimada.


— Como assim nada será mais como antes, Marrenta? — Agarrei o

seu braço no pé da escada, ela tentou se soltar, mas não deixei.

— Como acha que as coisas podem continuar como antes depois de

você dizer que eu não te atraio mais sexualmente, Ricardo? — Colocou as

mãos na cintura e ficou me encarando, eu a encarei de volta, não fazendo a

mínima ideia do que estava falando.

Eu não faço outra coisa na vida além de desejar essa mulher feito um

louco mesmo depois de tantos anos de casados, nossa vida sexual está cada

vez mais ativa, como se vivêssemos em uma eterna lua de mel. Antes da

aposta, não dava uma noite sequer de descanso para Julia. Então, falar que

não me sinto atraído por ela chega a ser algo ridículo.

— Eu nunca disse isso! Ficou louca, mulher?

— Ah, não? Pois foi isso que eu entendi quando disse que estou

enferrujada em te seduzir, ou seja, velha e sem graça. — Começou a chorar,

que mulher louca, meu Deus.

Isso é coisa da menopausa precoce, só pode!


Eu disse uma coisa e ela entendeu outra completamente diferente,

puta que pariu! Não se pode mais nem brincar nessa casa.

— Pelo amor de Deus, amor, isso foi só uma brincadeira. Só estava

curtindo o meu momento de vitória por não me deixar seduzir por você, foi a

primeira vez em dez anos de casados que consigo estar na porra do controle

da situação — perdi a paciência e gritei com ela, nem se passasse um milhão

de anos nunca ninguém conseguiria me irritar tanto quanto a Julia.

Sempre foi assim desde o nosso primeiro encontro, e seria assim

pelo resto de nossas vidas. Eu já aceitei isso, mas às vezes cansa um pouco.

— Ah, então quer dizer agora que sou controladora?

— Você escolhe até as cuecas que eu uso, amor, o que você acha? —

mandei a real.

— Então por que casou comigo, delegado Avilar? Eu era exatamente

assim quando me conheceu e nunca vou mudar, por isso, se tiver alguma

esperança de que algum dia serei perfeita igual à sua falecida esposa, pode
desistir, meu bem — jogou pesado, eu nunca a comparei com a Andreia, mas

a Julia sempre fazia isso quando estava muito nervosa e queria me provocar.

— Não coloca o nome da Andreia no meio dessa porra, ok? O

problema é entre mim e você, Julia, odeio quando envolve terceiros nas

nossas brigas.

— Não tem problema nenhum, Ricardo. Para mim já está tudo bem

claro. — Sorriu com os olhos cheios de lágrimas. — Você não me deseja

mais, me acha controladora e maluca. Provavelmente só está casada comigo

ainda por causa das crianças, mas eles já estão bastante crescidos para

entender que o pai não ama mais a mãe deles e com certeza já deve estar de

olho em outra — disse com a voz de choro.

Bem, maluca eu sempre achei que ela fosse mesmo. Mas achei mais

seguro não falar isso em voz alta.

— Não me irrita, Julia! — Deslizei as mãos pelo rosto, muito puto

com essa situação.


— Não se preocupe, Ricardo, porque essa é a última vez que irritei

você. — Cruzou os braços igual a uma criança emburrada e virou o rosto

para o lado.

— Presta bem atenção porque só vou falar uma vez, Julia Helena

Avilar. — A imprensei contra a parede. — A única coisa capaz de me fazer

parar de te amar e desejar feito um louco a cada segundo do meu dia é a

morte, então posso garantir que nunca vai existir outra mulher na minha vida.

E se por acaso venha a existir, pode ficar tranquila porque será a primeira a

saber — afirmei olhando no fundo dos seus olhos enfurecidos, com a única

certeza de que depois que essa briga terminar eu vou foder tanto essa diaba

que vou virá-la do avesso.

— Já terminou, delegado? Porque quero ficar sozinha agora. —

Subiu as escadas correndo.

— Quer saber? Que se dane essa porra! — Fui atrás da Julia

disposto a colocar um ponto final nessa briga agora mesmo.


Eu era o homem daquela relação e iria pegar as rédeas da situação,

devia ter colocado um cabresto na Julia há muito tempo. Ela é a minha

esposa e tem que cumprir os seus deveres como tal, nem mais nem menos.

— O que você está fazendo, Ricardo? Já disse que quero ficar

sozinha. — A alcancei no meio da escada e a joguei contra a parede.

Agora a Marrenta do morro do Alemão não tinha mais para onde

correr, ela teria que abaixar para mim de um jeito ou de outro.

— Chega dessa brincadeira, Julia! Você é a minha mulher e eu exijo

que cumpra todas as suas obrigações na porra desse casamento, sei dos meus

direitos e quero que cumpra cada um deles, começando pelo sexo. —

Comecei a tirar a camisa, eu vou deixar essa mulher sem sentar por pelo

menos uma semana.

— Como é que é? — Levou as mãos na cintura, balançando o

pescoço igual a uma cobra. — Fodam-se você e os seus direitos de marido,

não pode me obrigar a fazer nada que eu não queira, meu bem. —
Desaforada como era, avançou em cima de mim e apontou o dedo com a

unha pintada de vermelho na minha cara.

— Quem disse que não quer? — Usei o joelho para abrir as suas

pernas e a toquei com os dedos profundamente, fiquei muito excitado quando

percebi o quanto estava molhada.

— Me solta, Ricardo! — Ela tentou me afastar, mas gemia de prazer

a cachorra.

— O seu corpo me pertence, Julia, todo o seu coração e a sua alma

estão ligados comigo. — Ataquei a sua boca, minha nossa, como senti falta

do sabor dos seus lábios.

— Para com isso agora, Ricardo! Assim eu não quero — insistiu, sua

boca dizia uma coisa e o corpo outra.

— Não tente se enganar, meu amor, só se entregue ao momento. —

Mordi a curva do seu pescoço sem parar de tocá-la com os dedos.

— Se ficar comigo contra a minha vontade, juro que nunca vou te

perdoar! — Virou o rosto para o lado com vontade de chorar, eu a soltei


imediatamente.

Nunca obriguei Julia a fazer nada que não quisesse, principalmente

na cama. Não sou esse tipo de homem. Ela pensar que eu seria capaz de

fazer isso me magoa profundamente.

— Está certo, Julia! Mas se você não quer me dar o que é meu por

direito em casa, vou procurar na rua, então não precisa me esperar acordada

essa noite — fiz chantagem emocional esperando que ela viesse correndo me

impedir chorando, mas Julia não deu nem um passo na minha direção.

— Vai nessa, Cavalão, mas depois não reclama quando voltar para a

casa e encontrar outro dormindo no seu lado da cama. — Soltou o cabelo e

jogou para o lado fazendo charme, a desgraçada sabia que era linda e podia

ficar com o homem que ela quisesse, era só estalar os dedos.

— Eu juro por Deus, Marrenta, se eu vir um homem sequer olhando

para você o mato bem na sua frente, entendeu bem? — Agarrei o braço da

minha esposa com sangue nos olhos, enquanto a desgraçada ria de me ver
mordido de ciúmes só de imaginar outro homem ocupando o meu lugar na

nossa cama.

— E se eu pegar você com outra mulher, Cavalão, eu mato a

vagabunda na sua frente e depois mato você, entendeu bem? — Possessiva,

apertou o meu pau duro debaixo da calça me fazendo gemer de dor.

Logo veio a lembrança da maluca que me roubou um beijo ontem,

depois dessa briga com a Julia eu não posso contar para ela de jeito nenhum

o que aconteceu, ou seria a mesma coisa que assinar a minha certidão de

óbito.

— Então isso quer dizer que temos um acordo aqui, Marrenta? —

Passei a língua nos lábios dela, que se arrepiou toda.

— Acho que sim, amor, ainda mais agora que percebi que não estou

tão enferrujada assim em te seduzir. — Baixou a minha calça e olhou para

meu pau duro e chegou a salivar, fiquei doido só de imaginar aquela

boquinha gulosa me engolindo por completo.


Então a cachorra começou a me masturbar bem lentamente e de um

jeito bem gostoso, sua cara de safada quase me fez gozar na mão dela.

— Ótimo, Julia, porque você me deve duas noites inteiras de sexo e

eu pretendo compensar tudo nas próximas horas. — Comecei a desabotoar a

sua camisa, ansioso para me perder nas suas curvas.

— Eu gostei bastante da ideia, mas antes tem que me prometer que

vai pensar sobre deixar a nossa filha namorar o Eliot depois da formatura

dela. — Aumentou os movimentos me levando ao êxtase, eu nem conseguia

mais raciocinar direito.

— Tudo que você quiser, meu amor, só não para, por favor — quase

implorei em um gemido, eu prometeria o que ela quisesse naquele momento.

— Na verdade, eu tenho algo ainda melhor para você. — Deslizou as

costas na parede e agachou à minha frente.

— Puta que pariu, amor! — Apoiei as mãos na parede e fechei os

olhos já ansioso para o que estava por vir, Julia tem lábios carnudos e sabe

exatamente como usá-los.


Joguei a cabeça para trás em um urro de prazer quando segurou o

meu pau com as duas mãos e deu uma sugada violenta, aquilo foi bom

demais, uma sessão de prazer surreal. Mas a diaba parou de repente e

começou a deslizar a língua na pontinha do meu pau brincando com a parte

rosada mais sensível, me torturando de propósito.

— Gosta disso, querido? — Me olhou de baixo para cima com cara

de piranha, juro que quase perdi a cabeça e soquei fundo na boca dela.

— Muito! — Soltei um gemido agudo, foi a única coisa que consegui

dizer.

— Então vai gostar muito mais agora, Cavalão. — Deu uma

risadinha e então caiu de boca no meu pau com maestria, do jeito que só a

Marrenta do morro do Alemão sabe fazer, lento e gostoso.

Minha mulher poderia ser controladora, maluca e irritante, mas no

sexo ela sempre se supera. Não existe ninguém melhor.

— Isso, amor, me engole todinho. — Trinquei o maxilar quando a

Julia engoliu indo até a garganta, tirava e colocava em uma velocidade


perfeita.

Eu urrava feito um cavalo chucro de tanto prazer. Como se não fosse

o bastante, enquanto Julia me chupava ela começou a se tocar sem tirar os

olhos dos meus. Fiquei doido de tesão, prendi o cabelo dela em um rabo de

cavalo e comandei os movimentos indo cada vez mais rápido.

— Isso, amor, estou quase lá. — Estava prestes a gozar quando a

Julia parou de repente.

— Hoje você não vai gozar em nenhum outro lugar que não seja

dentro de mim, delegado Avilar. — Sorriu com os lábios vermelhos e

inchados, linda pra caralho.

— Você manda, Marrenta!

A puxei pelo cabelo sem nenhum tipo de gentileza, a coloquei com as

mãos apoiadas no corrimão da escada e meti tão fundo nela que a fiz perder

a voz, queria comer a sua bocetinha molhada em todos os cantos dessa casa.

Nossas brigas podiam ser pesadas, mas o sexo de reconciliação era insano.
Julia

— Foi brincar com fogo, amor, agora está aí toda assada —

debochou o cretino do Ricardo. Depois da noite de sexo selvagem que

tivemos ontem, eu não conseguia nem sentar direito.

— Vai se ferrar, delegado! — Levantei o dedo do meio para o

abusado do meu marido, tínhamos acabado de acordar, tomamos banho

juntos e aproveitamos para começar a manhã com uma rapidinha debaixo do

chuveiro.

Depois do banho vesti o meu roupão e levei pelo menos cinco

minutos para conseguir sentar na cama para secar o meu cabelo com a toalha,

por isso o Ricardo estava rindo da minha cara.

— Olha a boca, Marrenta! Estava pensando em descer e fazer

panquecas para você, mas agora não sei se está merecendo. — Deitou a

cabeça no meu colo enquanto eu desembaraçava os meus cachos úmidos com


os dedos, meu cabelo nunca esteve tão comprido, estava chegando quase na

cintura.

— Depois de tudo o que fiz com você nessa cama ontem, amor, eu

mereço a lua aos meus pés. — Inclinei e beijei a sua boca.

— Bom argumento, Marrenta, volto já! — Se levantou, então criei

coragem de perguntar antes dele sair do quarto:

— Espera, amor, você já decidiu o que vai fazer em relação à Maria

Lara e ao filho dos Quent? — perguntei baixinho, sabia que ele iria fazer um

escândalo por eu ter tocado no assunto.

— Decidi — disse seco ainda de costas com os músculos do corpo

enrijecidos, ele estava prestes a explodir.

— E o que decidiu, querido? — Caminhei até o meu marido lindo e

abracei as suas costas, não queria que ficasse bravo comigo depois de

termos começado a manhã tão bem.

— Que não posso mais ignorar que a nossa filhinha cresceu e já faz

as suas próprias escolhas, por isso não vou mais impedir a felicidade da
Maria Lara. Vou autorizar o namoro dela com esse garoto, mas se ele der um

deslize acabo com a vida dele — disse a contragosto e eu soltei um grito de

alegria, enfim aquele cabeça-dura estava começando a ceder um pouco.

— Muito obrigada, amor, nossa filha vai ficar tão feliz quando

souber disso. Vou até ligar para ela agora mesmo. — Peguei o celular sobre

a penteadeira, mas a ligação caiu na caixa-postal nas três tentativas que fiz.

Então liguei para o meu pai. Quando ele atendeu logo vi pela voz

dele que havia acontecido alguma coisa muito grave.

— Fala devagar, pai, o que aconteceu com a Maria Lara? —

perguntei já chorando.

Ricardo começou a andar de um lado para o outro pelo quarto,

agoniado, resolvi colocar a ligação no viva-voz para que ele ouvisse o que o

meu pai fosse falar.

— Eu e o seu irmão não conseguimos encontrar a Maria Lara em

nenhum lugar do sítio, filha. Acho que ela fugiu porque levou todas as coisas

dela, também achamos debaixo da cama um comprovante de uma passagem


de avião para Salvador — explicou e o meu coração quase saiu pela boca,

minha filhinha fugiu para outro estado para encontrar o namorado.

— Eu vou matar essa garota! — berrou o Ricardo tirando o roupão e

vestindo a primeira coisa que encontrou no guarda-roupa, nunca o vi tão

nervoso.

— Calma, amor, nós vamos encontrar a nossa filha e trazê-la para a

casa segura.

— Eu sei, Julia, se arruma rápido porque vamos para Salvador agora

mesmo! E quando eu colocar as mãos naquele moleque, ele vai se

arrepender de ter nascido.

— Não vai fazer nada de cabeça quente, Ricardo! Eles são apenas

dois adolescentes apaixonados — tentei argumentar, mas o homem estava

vermelho de raiva.

— Você tem cincos minutos para se arrumar, Julia, vou ligar para o

juiz Thompson e pedir o jatinho particular dele emprestado. — Saiu do

quarto bufando de raiva.


Troquei de roupa o mais rápido que pude, mas quando abrimos a

porta demos de cara com os pais do Eliot, parecendo tão desesperados

quanto nós.

— Nosso filho fugiu de casa, por favor, me diga que ele está aqui —

a mãe do Eliot falava e chorava ao mesmo tempo, ela segurava a filha caçula

de seis anos no colo dormindo serenamente.

— Acho melhor vocês entrarem, porque a nossa filha também fugiu

de casa e teremos que juntar forças para encontrar esses dois — disse aos

prantos, minha garotinha estava perdida por aí, só Deus sabia onde.

— Eu vou colocar todos os meus homens atrás deles, provavelmente

ainda devem estar aqui no Rio de Janeiro. — Ricardo se acalmou e começou

a agir com cautela.

— Eu vou ligar para alguns contatos importantes. Trabalhando juntos

vamos achar as crianças ainda hoje, delegado Avilar.

— Combinado, Oliver Quent. — Ricardo ofereceu a mão para o pai

do Eliot em sinal de trégua, ele apertou firme e eu rezei para que a rixa deles
terminasse ali.

Depois que entraram eu levei a Alabá até o quarto do Junior para que

colocasse a Alexa na cama, a pequena deveria estar exausta da viagem e

dormiria até tarde. Nossos maridos ficaram na sala grudadas no telefone

ligando para Deus e o mundo para que localizassem os nossos filhos.

— Eu sinto muito por tudo isso que está acontecendo, Julia. Mas o

meu filho é um bom garoto e ama a sua filha de verdade, caso contrário

nunca teria fugido de casa. — Alabá segurou as minhas mãos em lágrimas,

ela nem precisava dizer aquilo, porque eu pensava da mesma maneira.

— Eu sei disso, Alabá, e digo o mesmo sobre a Maria Lara, ela gosta

muito do seu filho. E para ser sincera, faço muito gosto do namoro dos dois.

— Peguei um lenço de papel para ela na gaveta e outro para mim, ser mãe às

vezes é mais difícil do que parece.

— Oxe que também faço muito gosto, Julia, sinto que o amor deles

vai ser para a vida toda e nós todos nos tornaremos uma grande família. —

Enfim a mulher abriu um sorriso.


— Difícil vai ser convencer os nossos maridos cabeça-dura disso,

porque quando encontrarem as crianças a coisa vai ficar feia — brinquei.

— Oh, se vai, nem quero estar na pele desses dois fujões, visse? —

Nós duas rimos.

Eu adorava o sotaque baiano da Alabá, ela era uma mulher linda,

forte e bem-sucedida. Um ser humano incrível que já considerava como

minha amiga.

— Mas nós vamos nos unir pela felicidade dos nossos filhotes, não é

mesmo, amiga?

— Com certeza, mulher! Você cuida do seu delegado e deixa que com

o teimoso do Oliver eu me entendo, tenho certeza de que esses dois ainda

serão grandes amigos.

— Assim espero, porque não quero ter que parar na delegacia outra

vez igual aconteceu em Salvador. — Fiz uma careta ao lembrar do fatídico

dia em que em plena viagem de família, o meu excelentíssimo marido caiu

no soco com um dos empresários mais poderosos do Brasil.


Pensei que depois daquilo os dois nunca mais se falariam, mas agora

o Ricardo e o Oliver estão trabalhando juntos pelo bem-estar dos filhos. Isso

só demonstrava que os dois eram pais de verdade, dispostos a passar por

cima do seu orgulho por um bem maior.


Ricardo

Depois de o Oliver e eu passarmos horas ligando para meio mundo,

enfim conseguimos uma pista do paradeiro das crianças. Eles estavam em

uma festa em uma mansão dos pais de um dos amigos do colégio que a minha

filha estudava. Deixamos as nossas esposas em casa e fomos buscar os dois

fujões. Quando eu colocasse as minhas mãos na Maria Lara, ela ficaria de

castigo pelo resto da vida. As informações que vieram ao meu conhecimento

é que tinha mais de duzentas pessoas no evento e vários vizinhos já tinham

reclamado do som alto para a polícia, todos os convidados eram menores de

idade fazendo uso de bebida alcoólica e sabe lá Deus mais que tipo de

substância ilícita. Não quero nem pensar nisso.

— Precisamos agir rápido, delegado, tenho medo dos dois saírem de

lá e sumirem de novo. — Oliver tirou o paletó, devia estar uns quarenta

graus no Rio, e a figura sempre andava dentro de um terno caro para todo o

lado.
Não ia nem um pouco com a cara dele, mas depois do sufoco que

passamos por causa dos nossos filhos percebi que talvez tenha pegado no pé

do Oliver à toa. Ele e a esposa são de fato pessoas boas, em outras

circunstâncias Julia e eu poderíamos ser amigos deles, e talvez um dia até

saíssemos juntos em um encontro de casais.

— Eu já liguei para a central e pedi que as viaturas mais próximas

vigiassem a casa, então pode ficar tranquilo porque a Maria Lara e o Eliot

não vão a lugar nenhum — garanti seguro, eu tinha um plano em mente para

dar uma liçãozinha no casal apaixonado.

— Eu só sei de uma coisa, delegado, depois que eu pegar esse garoto

ele não vai ver a luz do dia por um bom tempo. — Oliver entrou na minha

viatura até roxo de raiva, seria mais rápido chegar no local com a sirene

ligada para evitar o trânsito.

— Eu farei o mesmo com a minha menina, ainda vou tirar o

notebook, celular, a mesada do ano inteiro e tudo o mais que essa molecada

de hoje em dia adora — bufei em um giro de olhos.


— Na nossa época não tinha nada disso, não é, cara? Mal tínhamos

um telefone a cabo, agora esses adolescentes têm aplicativo até para

escolher as roupas que vão vestir — brincou relaxando um pouco, olhar a

bela vista do litoral do Rio de Janeiro pela janela do carro relaxa qualquer

ser humano.

— Nem me fale! Como se não fosse mais fácil só abrir a porra do

guarda-roupa e escolher o que vestir como uma pessoa normal. — Balancei

a cabeça rindo.

— E aquele tal de tik tok, irmão? Até a minha filha de seis anos fica

fazendo essas dancinhas estranhas pela casa.

— Tik o quê? Nunca nem ouvir falar. — Ergui a sobrancelha.

Nós dois rimos.

— Eu estou vendo os dois a menos de dez metros de mim, senhor, só

esperando o seu sinal para podermos agir. — Um dos homens da minha

equipe falou pelo rádio da viatura, chamei a atenção da minha equipe inteira

para trabalhar nessa “missão família” comigo.


Agora o bicho vai pegar! Vou fazer a Maria Lara e o namoradinho

dela passarem uma vergonha tão grande que nunca vão esquecer em suas

vidas.

— Também os estou vendo, delegado, pode dar a ordem quando

quiser — avisa Barreto.

— Certo, rapazes! — Olhei para o Oliver e ele acenou dando a

liberação para a invasão do lugar. — Vamos invadir agora! — dei a ordem e

a loucura começou.

Invadimos o lugar com uma equipe de mais de cinquenta homens

vestidos todos de preto e armados, claro que as armas estavam travadas, era

só para assustar os adolescentes mesmo. Mas pareceu muito real, tipo

quando invadíamos alguma favela, Maria Lara sempre dizia que achava o

máximo e queria participar de uma de nossas invasões. Então esse dia

chegou, só que ela era a fugitiva procurada.

— Aqui é a Polícia Civil, quero todos com as mãos na cabeça agora

mesmo — ordenei pelo alto-falante depois de arrancar os fios do som da


tomada, o garoto responsável por ser o DJ da festa acenou com a cabeça

engolindo em seco, quase urinando nas calças.

— Estamos procurando Maria Lara Avilar e o Eliot Quent, alguém

viu os dois? — perguntou Oliver e todo mundo apontou para a direita e lá

estava o casalzinho apaixonado olhando para nós, paralisados e de boca

aberta literalmente, pensaram que estavam bem escondidos.

— Eu não acredito que você fez isso na frente de todos os meus

amigos da escola, pai! A mamãe sabe disso? — Maria Lara levou as mãos

na cintura, petulante, acho que aprendeu com a mãe dela a como me afrontar

mesmo estando errada.

— Sua mãe, ruivinha? — Dei uma risada irônica. — A vergonha que

eu fiz você passar não é nada comparado com o que sua mãe fará contigo

quando chegarmos em casa, ela está uma fera — fiz medo nela.

— Só que eu não vou voltar para a casa, pai, vou ficar com o Eliot

para sempre. Ele é a minha alma gêmea. — Abraçou aquele moleque que

nem tinha pelo na cara ainda e o meu sangue ferveu nas veias.
— Leva essa menina daqui, policial Barreto, ou eu não respondo por

mim. — Respirei fundo na tentativa falha de abrandar a minha raiva.

— Eu já disse que não vou a lugar nenhum, pai!

— Acho que já chega por hoje, Maria Lara, vem comigo antes que

piore mais as coisas. — Barreto ofereceu a mão para a menina que viu

crescer, usando aquele tom apaziguador que só ele tem.

— Está bem, tio Barreto, mas eu vou na viatura com você. —

Abraçou ele e escondeu o rosto no seu peito para que ninguém visse que

estava chorando, é orgulhosa igual à Julia no quesito demonstrar fraqueza.

Enquanto isso, o namoradinho ficou para trás com cara de cão sem

dono.

— Agora é a sua vez, Eliot! — Oliver olhou direto para o copo de

bebida na mão do filho.

— Esse copo de bebida não é meu, pai, nem sei como veio parar na

minha mão. — Eliot jogou o copo longe, mas pela cara azeda do pai dele a

sua atuação não foi muito convincente.


— Eu não quero ouvir mais nem o som da sua respiração, Eliot, onde

estava com a cabeça quando fugiu de casa e veio para o Rio de Janeiro

sozinho? Essa não foi a educação que sua mãe e eu te demos.

— Desculpa, pai, eu sinto muito! Só queria ver a minha namorada. —

Baixou a cabeça envergonhado.

— Eu até entendo, filho, mas agir pelas costas dos seus pais é

imperdoável. Sua mãe não parou de chorar desde que você sumiu, então

vamos embora agora mesmo, e quando chegarmos em casa conversaremos

sobre o seu castigo — ordenou severo.

— Sim, senhor! — Saiu de cabeça baixa com os olhos marejados.

— Quanto ao restante de vocês, liguem para algum responsável vir

buscá-los agora mesmo. Minha equipe permanecerá aqui até todos irem

embora com uma advertência bem longa — dei o meu recado, todos pegaram

o celular no bolso e ligaram para os seus pais, apavorados.

Quando chegamos em casa com as crianças, Julia e a Alabá primeiro

lamberam as suas crias, enchendo os dois de beijos e abraços. Mas depois,


como o esperado, a bronca foi feia. Rodaram a baiana e colocaram os dois

de castigo por um mês inteiro. Com tudo resolvido, Oliver pegou a sua

família e levou de volta para Salvador. Então, Maria Lara se trancou no

quarto aos prantos e minha esposa e eu enfim pudemos sentar no sofá da sala

e relaxar um pouco, tomando um bom vinho, loucos para que esse final de

semana estranho terminasse.

Na segunda-feira o pai da Julia traria as crianças depois da escola e

poderíamos voltar à nossa rotina normal. Bem, pelos menos foi o que eu

pensei. Mas, infelizmente, na maioria das vezes nada é como a gente espera.
Julia

Depois da fuga das crianças, Maria Lara nunca mais foi a mesma.

Entrou em uma tristeza sem fim, só ficava enfiada no quarto sem comer

direito, só chorava. Nem para o celular ela ligava mais, sinal de que a coisa

estava muito feia mesmo. Eu por fim chorei junto com ela, não aguentava

mais ver a minha filha nesse estado. Então sentei com o Ricardo para

conversar, era hora de ceder um pouco pelo bem da nossa garotinha antes

que o pior acontecesse. Mesmo muito relutante, meu marido concordou em

dar a benção para o namoro dos dois. Com a decisão tomada, fomos para

Salvador falar pessoalmente com os Quent.

Oliver e a Alabá nos receberam com muita alegria, eles se

encontravam na mesma situação delicada com o Eliot enfiado em uma

tristeza infinita. Autorizar o namoro dos dois era de fato a melhor decisão a

se tomar.
— Bom, depois de conversar muito com o meu marido decidimos dar

a benção para o namoro dos nossos filhos — dei início à conversa.

Ricardo e eu estávamos sentados com a Maria Lara de cabeça baixa

em um sofá, e o Oliver e a esposa com o filho no outro, de frente para nós, o

clima não poderia ser mais tenso nessa sala.

— Você quis dizer "ameaçar", não é, Julia? — Meu marido me

cortou ranzinza, ele estava de braços cruzados e uma tromba enorme desde

que saímos de casa.

— Cala a boca, Ricardo, deixa eu terminar de falar. — Olhei feio

para ele, que não ousou dizer mais nada.

Oliver tapou a boca com a mão, rindo do Ricardo; para ele, que era

pai de um menino, aquela situação era bem mais fácil.

— Não sei do que você está rindo, Oliver, a sua vez ainda vai chegar

com a Alexa — meu marido provocou o futuro sogro da nossa filha.

Oliver fechou a cara no mesmo instante só de pensar em tal

possibilidade, agora era o Ricardo que estava rindo da cara dele.


— Como estava dizendo, decidimos autorizar o namoro dos dois.

Mesmo com tanta distância, daremos um jeito de fazer isso dar certo pela

felicidade dos nossos filhos — disse por fim.

Maria Lara e o Eliot trocaram sorrisos e olhares apaixonados, a

coisa mais fofa desse mundo.

— Sério, dona Julia? O senhor Ricardo vai deixar mesmo? — Eliot

perguntou eufórico para mim, ao invés de falar diretamente com o pai da

Maria Lara, morria de medo dele.

— Eu vou sim, garoto. E espero que não faça a minha filha sofrer,

porque vai ter que se ver comigo depois. Ela é a minha princesinha e merece

tudo de bom que esse mundo tem para oferecer — disse Ricardo em um

pigarreio para disfarçar a emoção por trás da sua voz, não era fácil para ele

assumir que nossa filha cresceu.

— Obrigada, pai! — Maria Lara pegou o pai de surpresa com um

abraço apertado. — Eu te amo muito, não faz ideia do quanto é importante

para mim ouvir isso do senhor. — Lágrimas deslizaram pelo seu rosto.
— Não precisa agradecer, filha, eu também te amo! — Enxugou o

rosto dela. — Posso ser meio duro às vezes, mas é só porque quero te

proteger. Nada é mais importante para mim do que a sua felicidade e dos

seus irmãos.

— Eu sei, pai, desculpa por ser tão teimosa às vezes e não facilitar

em nada o seu trabalho de me manter segura. — Sorriu com os olhos

marejados, como era bom ver esses dois enfim voltando a se dar bem

novamente.

— Não chora, filha, vai ficar tudo bem agora. — Os dois se

abraçaram novamente, um momento comovente de pai e filha.

— Eu prometo que não vou desperdiçar a chance que o senhor está

me dando, senhor Avilar. Amo a sua filha e prometo cuidar dela e amá-la

para sempre — prometeu Eliot, convicto demais para alguém na idade dele.

Meu marido esboçou um sorriso para o garoto, acho que enfim

percebeu que o amor dos dois é para valer.


— Acho bom mesmo, filho, porque não te criei para brincar com o

coração das pessoas — Oliver deu uma chamada no Eliot, é muito bom

saber que temos o apoio dele e da esposa nisso.

— Bom, agora que estamos conversados vou pedir para que

coloquem a mesa do almoço. Faço questão que comam conosco — Alabá

convidou tão educada que não teve como dizer não, além do mais as crianças

estavam se divertindo tanto brincando com a filhinha deles no quintal que

não faria mal ficarmos mais um pouco.

Ficamos para o almoço, mas o Ricardo não conseguiu se soltar

completamente e, assim que terminou, quis ir embora. Ele até tinha

autorizado o namoro da nossa filha, mas foi por livre e espontânea pressão

da minha parte. Tanto que mal falou comigo quando saímos da casa dos

Quent.

— Será que dá para você desfazer essa cara azeda, Ricardo? —

Aumentei os passos para conseguir acompanhá-lo até o carro, as crianças

foram correndo na nossa frente.


— Não me provoque mais hoje, Julia, porque já estou no meu limite

com você. — A Alabá mal tinha fechado a porta e nós já estávamos

brigando.

Que homem difícil.

— Já chega você, amor! Nós fizemos a coisa certa, pode confiar em

mim. — Segurei a sua mão.

— Eu confio, Marrenta, ou não estaríamos em Salvador agora, mas

até eu me acostumar com essa ideia da nossa filha estar namorando, vai

levar um bom tempo. Talvez anos.

Amoleceu um pouco e beijou a minha boca, parei de andar e roteei

os meus braços em volta do seu pescoço.

— Nem me fale! Para mim também não será nada fácil, nossa

garotinha está crescendo rápido e não podemos fazer nada a respeito. —

Olhamos para a Maria Lara ajudando os irmãos a colocar o cinto de

segurança no carro, sempre foi uma menina muito boa e gentil com todos à

sua volta.
— Não se preocupe, Julia, você é uma das melhores advogadas do

Rio de Janeiro e eu, um delegado da polícia. Então acho que nós podemos

dar conta de uma filha adolescente, vai ficar tudo bem — me tranquilizou.

— É. Qualquer coisa a gente mata esse garoto e esconde o corpo,

ninguém vai desconfiar — brinquei e ele soltou uma gargalhada.

— Eu adorei a ideia, amor — disse ainda rindo.

— Vocês dois vão ficar o dia todo nesse love ou já podemos ir para

o hotel? — Maria Lara tocou a buzina do carro.

— Nós já estamos indo, filha! — Girei os olhos, esses adolescentes

de hoje em dia estão sempre com pressa.

Ricardo e eu caminhávamos de mãos dadas até o carro quando a

Alabá veio correndo até nós, queria falar alguma coisa conosco.

— O que foi, Alabá, está tudo bem? — perguntei preocupada.

— Está tudo ótimo, Julia! Mas Oliver e eu estávamos pensando, já

que agora somos praticamente uma família só, não faz sentido vocês ficarem
hospedados em um hotel. Então, queremos que passem o final de semana

conosco e assim poderemos nos conhecer melhor — convidou simpática.

Olhei para a porta da frente da mansão e vi o marido dela com a filha

caçula no colo, acenando e sorrindo para nós, dando força às palavras da

esposa. Eliot estava ao lado do pai contorcendo as mãos ansioso, estava

louco para passar a noite debaixo do mesmo teto que a nossa filha. Mas não

sei se era uma boa ideia, Ricardo ainda estava meio cismado com essa

história de namoro e não queria criar problemas com o meu marido.

— Eu agradeço muito a gentileza de vocês, mas não queremos

incomodar. Não é mesmo, amor? — Ricardo assentiu.

— Mas não será incômodo nenhum, ao contrário, será um prazer

recebê-los na nossa casa. Pensei em deixarmos as crianças com a babá essa

noite e assim podemos sair em um encontro de casais, o que acham? Tem

uma roda de samba maravilhosa aqui em Salvador.

— Meu Deus, eu nunca fui em uma roda de samba. Por favor,

Ricardo, vamos com a Alabá e o Oliver? — Juntei as mãos com carinha de


cão sem dono, meu marido não resistiu e acabou cedendo.

— Está bem, amor, mas só vamos ficar por uma noite. Amanhã

voltamos para o Rio de Janeiro.

— Muito obrigada, querido, te amo! — Pulei no pescoço do meu

Cavalão e beijei a sua boca, seria muito bom passar um tempo com os Quent,

isso iria de fato aproximar as nossas famílias de uma vez por todas.

Durante a tarde, Oliver levou o Ricardo para conhecer a empresa

dele. Meu marido mandou eu ficar de olho na nossa filha e no oficial

namorado dela; eu concordei, é claro, mas assim que ele virou as costas

deixei os dois saírem juntos para tomar um sorvete e depois caminhar na

praia. Eliot queria apresentar a namorada para os amigos, tinha orgulho dela

e queria que todos a conhecessem, achei isso tão fofo.

Alabá e eu ficamos cuidando das crianças menores enquanto eles

jogavam bola na piscina mais rasa, nós duas tomávamos sol na borda

deitadas em cadeiras reclináveis, tomando um drink maravilhoso de canudo

com uma roda de limão em volta. Sem tirar os olhos dos nossos filhos, nós
duas conversamos sobre várias coisas, foi muito divertido fofocar sobre as

manias dos nossos maridos possessivos. Ela é uma pessoa muito legal e

descontraída. À noitezinha Ricardo e o Oliver chegaram, a primeira coisa

que o meu marido perguntou foi por nossa filha. Graças a Deus ela já tinha

voltado e estava na sala com o Eliot e os irmãos de ambos vendo um filme.

Então subimos para nos arrumar para sair, fomos acomodados na

suíte de hóspedes mais chique da mansão. Não lembro da última vez que me

senti tão empolgada para sair. Como não tinha trazido nada elegante, Alabá

me emprestou um look bem especial.

— Eu vou tomar banho, amor, quer vir comigo? — Tirei a minha

blusa de frente única e joguei na cara dele, que estava deitado na cama

mexendo no celular com as pernas cruzadas. Diferente de mim, não estava

tão animado assim para sair.

— Claro que eu quero, amor, vem aqui. — Jogou o celular em

qualquer lugar, levantou e me jogou nos ombros, me carregando até o

banheiro.
Tiramos a nossa roupa em tempo recorde e nos enfiamos debaixo do

chuveiro. Ricardo, com um fogo danado, já foi me colocando de costas para

ele e as mãos apoiadas na parede e me penetrou sem aviso prévio. Tive que

apertar os lábios para não soltar um gemido e todos na casa dos sogros da

nossa filha perceberem que estávamos transando loucamente.

— Nossa, Marrenta, eu amo a sua boceta molhadinha assim. —

Ricardo agarrou o meu pescoço obrigando-me a empinar a bunda ainda mais

para ele, essa era uma das suas posições preferidas porque tinha total

controle sobre mim.

— Então me come com força, Cavalão, bem do jeito que eu gosto. —

Olhei para ele por cima do ombro com cara de safada, adoro provocá-lo

durante o sexo.

— Seu desejo é uma ordem, Marrenta! — Prendeu o meu cabelo em

um rabo de cavalo e me fodeu bruto, o som dos nossos corpos molhados se

chocando um contra o outro tornava tudo mais excitante.


Ficamos ali no rala e rola por tanto tempo que acabamos nos

atrasando, tivemos que nos arrumar em tempo recorde. Enquanto me

maquiava, tive que aturar o Ricardo falando na minha cabeça, reclamando do

tamanho da saia que a Alabá me emprestou.

— Mas que porra de saia curta é essa, Julia? Suas pernas estão

praticamente inteiras de fora. — Cruzou os braços e ficou me encarando de

cenho franzido pelo reflexo do espelho.

Ricardo estava lindo de morrer como sempre, dentro de um jeans

escuro e camisa branca de mangas curtas bem coladinha, ressaltando os seus

músculos. Penteou o cabelo para trás com gel e deixou a barba por fazer de

alguns dias, um verdadeiro charme.

— Por favor, não começa agora! Estamos muito atrasados e por sua

causa, que quis transar de novo debaixo do chuveiro. — Alonguei os cílios

dando bastante volume.

— Só vai levar um minuto para colocar uma calça, Julia. Quer que eu

pegue pra você na mala? — perguntou muito sério e eu ri na cara dele, de


jeito nenhum que eu tiraria aquela roupa.

A saia branca que a Alabá me emprestou de fato era um pouco curta,

mas não chegava a ser indecente. Já a blusa de frente única florida em tons

fortes e alegres era de fato bem sensual devido à ondulação que forma o

tecido entre os seios, realçando-os.

— Eu estou me sentindo linda e não vou tirar coisa nenhuma,

Ricardo. — Fiz biquinho para passar o batom rosinha claro só para dar vida

à cor natural dos meus lábios, de fato estava me sentindo um arraso, digna de

todo ciúmes que o meu marido sentia.

— Ok, Julia. Mas que fique bem claro que não estou feliz com isso,

então não se surpreenda se eu socar a cara de algum babaca que der em cima

de você — resmungou emburrado, então fiquei de pé e agarrei o meu marido

lindo.

— Eu sou todinha sua, delegado, então não precisa se preocupar com

os outros caras. Porque eles não significam absolutamente nada para mim. —
Beijei a sua boca de um jeito mais provocativo, queria deixar claro que ele

era o único homem da minha vida e nunca existiria mais ninguém.

— Você é minha todinha, é? — Sorriu com os nossos lábios ainda

grudados aos meus enquanto as suas mãos deslizavam erguendo a minha saia,

eu conhecia esse tom dele, era quando queria me comer, não importava a

hora e o lugar.

— Agora não, amor, estamos atrasados e eu não quero estragar a

maquiagem. — Tentei abaixar minha saia de volta, mas o Ricardo não

deixou.

— Eu vou ser bem rápido, Marrenta, eu prometo! — Me conduziu até

a cama e sentou comigo no seu colo de frente para ele, então a partir dali vi

que não tinha mais como argumentar.

Nem queria. Só pensava em ter o meu marido dentro de mim de

novo… de novo e de novo.

Incontáveis vezes.
Ricardo

— Você tem cinco minutos, Ricardo, mas se bagunçar o meu cabelo

eu te mato — disse a minha esposa entre os beijos que me dava, seus cachos

longos caíam sobre o meu rosto de um jeito sensual.

Julia estava tão linda e sexy que chegava a me causar um calafrio na

espinha, esperava sobreviver ao ciúme de ver todos os homens babando em

cima dela essa noite.

— Tá bom, amor, agora fica quietinha e me deixa foder a minha

esposa gostosa. — Cheguei a sua calcinha para o lado e deslizei para dentro

dela com facilidade, eu amava o fato de a Julia estar sempre molhadinha e

pronta para me receber.

— Isso… mais rápido — gemeu enquanto rebolava no meu pau,

segurei com força na sua cintura e impulsionei para cima e para baixo, dando
um impacto a cada vez que os nossos corpos se encontravam em uma

penetração mais profunda.

— Ai, amor, você fica fascinante quando geme. — Baixei esse

pedaço de pano que ela chama de blusa e abocanhei o seu seio, por mim eu

nem saía desse quarto pelo resto da noite.

— Hey, Julia, vocês já estão prontos? — Alabá bateu na porta do

quarto, minha esposa arregalou os olhos com as bochechas levemente

coradas.

— Estamos sim, Alabá, só um minuto. — Ameaçou sair do meu colo,

mas não deixei, é claro.

— Na verdade, precisamos de mais alguns minutos — disse e a Julia

me fuzilou com o olhar, odeio deixar qualquer coisa pela metade,

principalmente as nossas fodas.

— Sem problemas! Oliver e eu esperamos vocês lá embaixo, não

precisa ter pressa — disse simpática.


— Ah, nós não teremos, com certeza! — respondi e a Julia deu uma

tapa no meu braço.

— Você não vale nada mesmo, Ricardo! — Sorriu lindamente, então

voltou a me beijar.

Julia cavalgou deliciosamente no meu pau até me fazer gozar em um

gemido agudo, nossas rapidinhas eram sempre assim, intensas. Nos

limpamos e enfim descemos com a maior cara de pau, como se não

tivéssemos acabado de transar no quarto de hóspedes da mansão deles, mas

pelo sorrisinho do Oliver ele já imaginava por que minha esposa e eu

atrasamos tanto.

Julia ficou nitidamente com vergonha, mas nem liguei. Como minha

mãe, dona Célia, sempre diz:

“Todo mundo transa.”

Deixamos as crianças aos cuidados de uma babá, uma senhora mais

velha muito simpática. Maria Lara e o Eliot até disseram que podiam cuidar

dos irmãos de boa, mas de jeito nenhum que iria deixar o novo casalzinho de
namorados sem a supervisão de um adulto. No lugar que os Quent nos

levaram acontecia um ensaio de uma escola de samba, da qual o Oliver

obviamente é um dos patrocinadores; pelo que entendi, a esposa dele é a

rainha da bateria. Julia surtou quando soube e agora cismou que quer desfilar

no carnaval também, mas isso só vai acontecer por cima do meu cadáver.

De jeito nenhum que vou deixar a minha esposa sair por aí só com

trinta por cento do corpo coberto e um monte de marmanjo de olho tirando

fotos literalmente de todos os ângulos do seu corpo maravilhoso. Mas a Julia

com certeza amaria todo esse glamour. Mal chegamos no galpão onde

acontecia o ensaio e ela se jogou no samba junto com a Alabá em volta da

bateria. Fiquei puto! Mas não tive alternativa a não ser beber uma cerveja

com Oliver no bar enquanto observávamos as nossas lindas mulheres

literalmente sambando na nossa cara com toda a sua beleza, tinha vários

homens babando em cima delas, mas tentei não focar nisso ou a nossa vinda

em Salvador terminaria em caso de polícia novamente.

— Como consegue lidar com isso, Oliver? — Apontei na direção da

sua esposa dando um verdadeiro show na frente da bateria, Alabá era uma
mulher linda e com um corpo escultural.

Se a saia da Julia era curta, o vestido de pedras douradas que a

Alabá usava era minúsculo, não deixaria a minha esposa nem pisar do lado

de fora de casa dentro daquele pedaço de pano.

— Isso o quê? — Me olhou confuso, então sorveu um gole da sua

cerveja.

— Todo mundo olhando para a sua mulher dessa forma, porque

sinceramente eu mal cheguei aqui e já quero matar pelo menos uma dúzia de

filhos da puta. — Olhei feio para um grupo de amigos olhando para a minha

esposa dançando e cochichando entre si, com certeza falando o quanto ela

era gostosa e deveria ser boa de cama.

— Ah, você quer saber como eu lido com o ciúmes, delegado? —

Deu uma risada descontraída. — Eu sinto, e muito, se é isso que você quer

saber, cara, mas com o tempo aprendi a me controlar. Então não proíbo

minha esposa de nada, os homens podem olhar para ela o quanto quiserem,

mas no final das contas é comigo que aquela mulher deslumbrante volta para
a casa. — Piscou para a esposa orgulhoso, eles parecem ter um casamento

bem sólido.

Eu olhei para a Julia também, ela sorria lindamente para mim

enquanto se divertia com a sua nova amiga. Ela parecia tão bem e relaxada,

nem parecia aquela mulher estressada de algumas semanas atrás. Tudo o que

ela precisava era vivenciar novas experiências em ares completamente fora

da nossa realidade, sem filhos a chamando o tempo todo ou eu tendo que

lidar com as minhas crises de ciúmes digamos que um pouco exageradas.

— E você, Ricardo, como lida com isso de ser pai de quatro filhos?

Porque eu tenho só dois e já é o suficiente para me deixar maluco. — Oliver

me tira dos meus devaneios.

— Eu amo ser pai, cara, então tiro de letra. A Julia diz que mimo

muito as crianças, principalmente o nosso caçulinha de sete anos. — Ri

lembrando da carinha de arteiro do Juninho, de todos os meus filhos ele era

o que mais parecia comigo.

— Então você e a Julia pensam em ter mais?


— De jeito nenhum, ficou louco, Oliver? — Quase engasguei com a

minha cerveja. — Eu amo ser pai, mas quatro já está mais que ótimo. Nosso

plano era parar nos gêmeos, então o Junior veio no susto para alegrar as

nossas vidas. Mas já chega de surpresas iguais a que tivemos quando Julia

descobriu que estava grávida dele, acho que hoje não saberíamos lidar com

a chegada de mais um bebê lá em casa. — Engoli em seco só de imaginar a

possibilidade.

— Imagino! Quatro está mais que bom, cara — disse rindo e eu

acabei achando graça também.

— Nossa, eu preciso beber alguma coisa, estou morta de tanto

sambar. — Julia chegou feliz da vida e agarrou a minha cintura, ela não

conseguia parar de sorrir e isso me deixou muito satisfeito.

— Se divertindo muito, amor? — Beijei a sua boca.

— Muito, Ricardo! O chefe da escola de samba disse que eu danço

muito bem e até me convidou para ser a madrinha da escola de samba no

carnaval desse ano, mas eu disse que não, é claro — contou animada, mas
sabia que não aceitou por minha causa, pois eu não iria deixar de jeito

nenhum.

Porque, se dependesse dela, ficava em Salvador até o carnaval só

para desfilar como madrinha de bateria. Por mim ela jamais aceitaria esse

convite, mas acho que é chegada a hora de começar a controlar o meu ciúme,

como o Oliver disse, e dar mais espaço para a minha esposa e demonstrar

que confio nela.

— Eu achei o convite incrível, amor, pode ensaiar no Rio, e no

carnaval podemos vir para Salvador passar o feriado aqui, em família. As

crianças vão amar ver a mãe deles desfilando no carnaval e eu também. —

Acariciei o seu rosto e sorri para a minha esposa linda, mas ela me olhou de

um jeito estranho, com a boca franzida, como se eu tivesse dito algo absurdo.

— Você está se sentindo bem, amor? — Julia tocou a minha testa com

as costas da mão para medir a temperatura do meu corpo.

— Eu estou ótimo, querida, só quero ver a minha mulher feliz

fazendo tudo o que ela deseja, mesmo que isso me deixe mordido de ciúmes.
— Sorri brincalhão.

— O que colocaram na sua bebida? — Pegou a minha cerveja e

cheirou, desconfiada.

— Para de bobeira, Marrenta! E aceite logo esse convite antes que

eu mude de ideia. — A puxei pela cintura e beijei a sua boca.

— Muito obrigada, meu amor, eu te amo! — Me abraçou forte e

depois foi correndo contar a novidade para a Alabá, ela não ficava radiante

assim há muito tempo.

— Muito bem, delegado, estou orgulhoso de você — Oliver zombou

da minha cara.

— Vai se ferrar, gringo! — Revirei os olhos.

Nós dois rimos enquanto continuávamos a admirar as nossas lindas

esposas dando um show na roda de samba, ambos pensando em como somos

sortudos por termos ao nosso lado mulheres lindas, fortes e empoderadas.


Ricardo

Depois do final de semana incrível que passamos em Salvador na

casa dos Quent, Julia e eu voltamos para a casa em um clima total de

romance. Para a minha alegria, nossa filha voltou a ser a menina doce de

sempre e está vivendo um sonho com a autorização do seu namoro com o

Eliot. Ainda não estou confortável com essa situação, mas pelo menos,

graças a Deus, eles moram longe um do outro e mal irão se ver durante o

ano. Isso se esse namorico dos dois durar tanto tempo, então vou tentar não

surtar com isso no momento.

— Amor, você acha que meus peitos estão muito caídos? —

perguntou Julia.

Fazia mais de quarenta minutos que minha esposa saíra nua do banho

e estava na frente da parede espelhada do nosso quarto, virando o corpo de

um lado para o outro tentando encontrar algum defeito nela, sendo que não

existia nenhum.
— Para mim eles estão perfeitos, amor. Mas ficariam ainda melhores

dentro da minha boca. — Balancei a língua com cara de tarado.

Eu estava quase ficando louco deitado na cama com as mãos

apoiadas debaixo da cabeça olhando aquela cena provocante de camarote,

Julia ganhou alguns quilinhos e estava ainda mais gostosa. Em um mês

faríamos dez anos de casados e ainda a desejava como na primeira vez que a

vi. No entanto, para a minha esposa querida, estar acima do peso era o fim

do mundo. Nunca tinha se importado antes com a aparência, mas depois que

a nossa filha começou a namorar colocou na cabeça que está envelhecendo

rápido. Ontem mesmo fez um escândalo quando achou o primeiro fio de

cabelo branco. Agora vê rugas onde não tem, fica se matando na academia e

fazendo dietas malucas dizendo que quer estar em forma igual à Alabá para

quando for madrinha de bateria no próximo carnaval de Salvador.

Já brigamos várias vezes por causa disso, ela era perfeita aos meus

olhos e não precisava mudar em nada.


— Cala boca, Ricardo, estou falando sério! — Mostrou a língua para

mim por cima do ombro. — Minha bunda também está flácida, acho que

preciso pegar mais pesado na academia — bufou frustrada, sendo que a

mulher já passava horas na academia todo santo dia, não perdoava nem os

domingos.

— Eu também estou falando sério, amor. Sai da frente desse espelho

e vem dar um pouco de atenção para o seu marido, amanhã levanto cedo para

ir trabalhar e só volto à noite — fiz chantagem emocional, mas Julia nem

ouviu porque estava ocupada demais passando pelo menos uma dúzia de

cremes diferentes no rosto.

Aquilo me deixou puto. Me levantei e peguei a minha esposa no colo,

a joguei na cama e deitei por cima dela, ela até tentou levantar, mas não

deixei.

— Pare com isso, Ricardo, eu só quero me cuidar para ficar bonita

para você, meu amor. — Ela gargalhava devido às cócegas que fazia nela.
Antes dessa paranoia repentina com a aparência, ela costumava ficar assim,

o tempo todo sorrindo.

— Na minha opinião você está perfeita do jeito que está, Marrenta.

Não precisa mudar nada. — Esfreguei a minha ereção nela. — O que acha

de um sexo bem gostoso agora, hein, amor? — Mordi a curva do seu

pescoço.

— Você é um sem-vergonha, Cavalão, só pensa nisso. — A safada

pegou a minha mão, colocou sobre o seio e apertou.

— O tempo todo! — Troquei a mão no seu seio pela minha boca.

— Isso está muito bom, mas antes preciso conversar com você,

Cavalão — gemeu.

— Sério mesmo que você quer conversar logo agora, Julia? — disse

com a voz abafada.

— Sim, senhor! — Em um movimento rápido, Julia girou o corpo e

trocou as nossas posições, ficando em cima de mim.


— Então fala logo, porque tenho grandes planos para você essa

noite. — Apalpei a sua bunda.

— Eu pensei em fazer uma festa grande para a renovação de votos no

nosso aniversário de dez anos, o que acha, amor? — perguntou animada, mas

eu não fiquei tão entusiasmado assim com a ideia.

Estava planejando pedir para a minha mãe ficar com as crianças para

que eu pudesse levar a Julia para uma rápida viagem romântica, como uma

segunda lua de mel, numa comemoração linda, simples e íntima, igual à

nossa relação.

— Você acha mesmo que é uma boa ideia fazer uma festa tão grande,

Julia? Pensei em algo mais íntimo, só você e eu — opinei, mas me arrependi

logo em seguida quando a Julia fechou a cara.

— Por que não quer renovar os nossos votos, Ricardo? — Cruzou os

braços e ficou me encarando.

Minha esposa andava muito estranha, conversar com ela ultimamente

era como pisar em um campo minado. Tinha que pensar muito antes de falar,
porque distorcia tudo o que saía da minha boca e então brigava comigo e eu

nem sabia direito por qual motivo.

— Eu não disse que não quero renovar os nossos votos, amor. Mas

também não quero dividir a sua atenção com um monte de gente no dia que

deveria ser toda e exclusivamente minha. — Beijei as costas da mão da

minha marrentinha.

— Está bem, amor, esquece essa história de festa de renovação de

votos. Não sei onde estava com a cabeça quando pensei nisso, desculpe! —

Se enfiou debaixo do edredom e puxou até o pescoço, apagou a luz do abajur

e virou para o canto.

Me dê paciência, senhor!

— Está bem, Marrenta! Concordo com a bendita festa — cedi, como

sempre. — Mas se vamos renovar os nossos votos, quero uma segunda lua

de mel também, só você e eu — fiz as minhas exigências.

— Está combinado, Cavalão. Eu te amo muito. — Julia pulou em

cima de mim feliz da vida, mudando de humor num estalar de dedos.


— Eu também te amo, querida, como já disse, faço qualquer coisa

para te ver feliz.

— Eu sei disso! Mas que tal agora irmos treinando para a nossa

segunda lua de mel, hein, amor? — fez a proposta indecente e eu assenti

várias vezes com um sorriso enorme.

— Por mim podemos treinar a noite toda se você quiser, gostosa. —

Puxei o bico do seu peito esquerdo e ela soltou um gritinho sexy.

— Quero começar por cima hoje, Cavalão! — Montou em mim como

se fosse domar um potro chucro, seu cabelo armado caiu sobre o rosto em

um emaranhado de cachos rebeldes cobrindo-lhe os olhos.

— Serei seu escravo sexual por toda a noite, então use e abuse desse

corpinho aqui o quanto e como quiser, amor. — Coloquei as mãos debaixo

da cabeça totalmente entregue, estava tão excitado que o meu pau saltou para

cima.

— Eu adoro quando você me olha assim, sabia? — Inclinou-se e

beijou a minha boca, a safada se esfregava em mim desavergonhadamente.


— Assim como, amor? — Cravei as mãos uma de cada lado dos

montes macios da sua bunda deliciosa, eu iria me enterrar nela a noite

inteira.

— Cheio de desejo por mim como na nossa primeira vez. — Sorriu

lindamente.

— E vai ser assim para sempre, Julia! Você é a mulher da minha

vida, nunca terei olhos para nenhuma outra. — Coloquei o seu cabelo atrás

da orelha, ela olhava fixamente nos meus olhos.

— Eu te amo, Ricardo Avilar — declarou intensamente.

— Não mais do que eu te amo, Julia Avilar. — Acariciei a maçã do

seu rosto.

Ainda olhando dentro dos meus olhos, Julia segurou o meu pau e

sentou lentamente nele de um jeito que me fez arfar de prazer. Fiquei louco

quando ela apertou os próprios seios enquanto subia e descia em uma

velocidade eloquente, com a cabeça inclinada para trás. Minha esposa, além
de linda, sabia fazer gostoso. Eu era mesmo a porra de um filho da puta de

muita sorte.

Depois de transar feito dois coelhos no cio, caímos na cama exaustos

e dormimos de conchinha a noite toda.

— Bom diaaaa, papai! — Acordei assustado com o Junior pulando

em cima da nossa cama.

A mãe dele já tinha se levantado, porque não estava mais ao meu

lado na cama.

— Bom dia, campeão, dormiu bem? — Ele deitou no lugar da mãe de

frente para mim e ficou pensativo, parecia querer me contar alguma coisa.

— Não, papai, tive um pesadelo. Fiquei preso em um labirinto e não

conseguia encontrar o senhor, estava escuro e eu senti tanto medo. — Tremeu

os lábios como se estivesse com vontade de chorar.

— Não fique assim, filho, foi só um sonho ruim. Está com o papai

agora, nunca vou te deixar sozinho, muito menos alguém machucar você e os

seus irmãos.
— E a mamãe? — perguntou, preocupado de deixá-la de fora da

minha proteção.

— A mamãe também, filho — disse rindo.

— Está bem, papai, eu te amo! — Me abraçou bem forte. — Você é o

melhor pai do mundo todo, o meu herói favorito — cochichou no meu ouvido

e eu me senti o homem mais incrível do mundo.

Junior sempre foi muito sensível, pode ser que seja porque é o caçula

da família e todos o mimam demais, até os irmãos mais velhos estão sempre

protegendo ele, inclusive na escola.

— Obrigado, filhão, eu te amo muito. — Sorri para o meu moleque.

— A mamãe pediu pra dizer que o café da manhã está pronto, ela fez

pão de queijo. — Apertou a ponta do meu nariz achando graça da careta que

eu fiz.

— Uhh, que delícia, Junior! Acho melhor descermos correndo antes

que os seus irmãos devorem tudo. — Levantei e vesti uma calça e uma

camisa.
Joguei o meu caçulinha nos ombros e desci as escadas correndo,

Junior ria tanto que o som fazia eco por toda a casa.

— Vocês estão brincando de cavalinho, papai? Eu também quero. —

Ceci agarrou as minhas pernas assim que cheguei na cozinha.

— Ah, eu também quero, pai! — Joaquim veio e fez o mesmo, fingi

que me desequilibrei e caí no chão, então os três pularam em cima de mim.

— E você, filha, não vai ajudar os seus irmãos a torturar o seu pai?

Ah, esqueci, já está muito velha para isso — Julia brincou com a Maria

Lara, que estava sentada com ela na mesa como sempre, mexendo no celular.

— Até parece, mãe! Eu nunca vou ficar velha demais para isso. —

Soltou o celular e veio brincar conosco no chão da cozinha, meus filhos são

a alegria da nossa casa.

Minha esposa também pensa o mesmo, porque apoiou a mão debaixo

do queixo e sorriu encantada enquanto olhava para nós. Tínhamos uma

família abençoada e eu agradecia a Deus todos os dias por isso, somos tão

felizes que tenho medo de que algo de ruim possa acontecer.


Julia

Eu estou tão animada com a nossa festa de renovação de votos que

tirei todo o meu tempo livre para trabalhar nisso, e mesmo assim não estava

dando conta do recado, então pedi reforço para as minhas duas melhores

amigas.

— Você já escolheu o vestido que vai usar, Julia? Porque eu trouxe

algumas revistas com uns modelitos lindos para que possa dar uma olhada.

— Dani me entregou uma pilha de revistas que eu mal consegui segurar de

tão pesada, quando o assunto era organizar algum evento a loira surtava mais

com os preparativos do que com o próprio evento.

— Eu ainda não escolhi nada, Dani, porque estou me matando na

academia para perder pelo menos mais uns cinco quilos antes de encontrar o

look perfeito — suspirei profundamente.


Agora faltavam menos de duas semanas para a nossa festa de

aniversário de casamento, e eu ainda tinha a formatura da Maria Lara, que

seria no próximo sábado, e eu tinha que organizar um jantar para receber os

Quent na minha casa, que viriam para o Rio de Janeiro só para prestigiar a

nossa menina.

— Emagrecer mais para que, Julia? — Yudi colocou as mãos na

cintura, afrontosa. — Para de ser louca, mulher, você está deslumbrante

assim.

— Deslumbrante igual a uma bola de futebol, você quer dizer, não é,

amiga? — Apalpei um pneuzinho debaixo das minhas costelas bem no

comecinho da curva da cintura.

Engordei muito nos últimos meses e isso acabou com a minha

autoestima, fora o monte de cabelos brancos que vêm brotando na minha

cabeça de uma hora para outra igual erva daninha. Se eu arranco um, no dia

seguinte nascem outros dez no lugar. Fora que o meu emocional só tem

piorado, tenho brigado com o Ricardo sem razão e tudo vira motivo para me
fazer chorar. Estou louca para ver os resultados dos meus exames e saber

logo que merda está acontecendo comigo, a consulta com o meu médico é

amanhã à tarde.

— Sério mesmo que vocês querem falar sobre peso comigo desse

tamanho, meninas? — Dani apontou para o próprio corpo, de fato a barriga

dela estava tão grande que parecia ter mais de um bebê lá dentro.

Rimos muito e passamos uma manhã muito divertida lá em casa,

conseguimos adiantar bastante coisas, como a lista de convidados,

decoração, bufê que será servido, entre tantos outros detalhes mais

importantes em uma cerimônia daquele porte, para mais de cem pessoas.

Quando as minhas amigas decidiram ir embora, eu acompanhei as duas até o

carro.

— Oi, tia Julia, um moço pediu para entregar isso para a senhora. —

A garotinha fofa dos nossos vizinhos do final da rua me entregou um

envelope preto, ela é uma japonesinha muito fofa de sete anos que está

sempre sorrindo com os seus dois dentinhos faltando na frente.


— Muito obrigada, meu amor, mas que moço pediu para você me

entregar esse envelope? — Sorri de volta para ela, mas eu tinha um

pressentimento estranho em relação àquilo.

— Aquele moço lá, tia. — Apontou para a esquina no final da rua,

mas não vi ninguém.

— Mas não tem ninguém ali, Alice. — Ergui a sobrancelha.

— Que estranho, acho que ele foi embora. — Segurou a barra do

vestido lilás rodado e balançou de um lado para o outro.

— Você lembra como esse homem era, querida? — tentei arrancar

mais informação da pequena.

— Eu não sei, tia, porque ele usava jaqueta preta e capacete com o

vidro escuro. — Deu de ombros.

— Está bem, Alice, muito obrigada! — Apertei a sua bochecha

gorducha.

— Posso brincar com o Junior depois que ele chegar da escola? Eu

não fui hoje porque minha mãe me levou ao dentista.


— Claro que pode! E manda um beijo para sua mãe, diz a ela que

qualquer dia desses passo lá para visitá-la. — Acenei para ela antes de

entrar em casa.

Me sentei no sofá da sala e virei o envelope preto de um lado para o

outro, intrigada. Na frente está escrito “Para Julia Helena Avilar, você

merece saber a verdade”. Mesmo receosa, acabei abrindo. A curiosidade é

sempre maior que o medo.

— Mas que merda é essa? — soltei um berro.

Dentro do envelope tinha uma foto do meu marido vestido de

cowboy, beijando uma ruiva muito bonita e com pelo menos a metade da

minha idade, agora eu entendia o motivo por que aquele desgraçado, maldito

filho de uma rapariga, foi tão relutante quando eu disse que queria fazer uma

festa para renovar os nossos votos. O sem-vergonha tem uma amante, uma

ninfeta e ainda por cima a cara da falecida esposa. Comecei a chorar de

raiva, nunca acreditei que o meu marido e pai dos meus filhos fosse capaz de

fazer isso comigo.


Nunca vou perdoar o Ricardo por isso, ele me prometeu que se se

interessasse por outra pessoa eu seria a primeira a saber. Mas ele mentiu

para mim. Só que isso não ficaria assim, não mesmo! Vou cumprir a minha

promessa de matar a vagabunda na frente do Ricardo e depois vai ser a vez

do meu marido de ir para o inferno dos infernos apenas com a passagem de

ida.

— Eu vou te matar, delegado Avilar! — Saí de casa com o diabo no

corpo e fui direto para a delegacia pronta para ficar por lá mesmo, detida

por assassinato, porque é hoje que eu fico viúva.

Estava com uma puta vontade de sentar e chorar até as minhas

lágrimas secarem, mas segurei firme. Podia ser uma chifruda, mas não iria

baixar a cabeça nunca, muito menos para homem nenhum.

— Bom dia, dona Julia, que bom ver a senhora por aqui —

cumprimentou o policial que fica na recepção, sempre achei ele muito

simpático, mas hoje não estou com paciência para nada nem ninguém.
— Bom dia só se for para você, policial Faria. — Fui na direção da

sala do meu futuro marido morto, pisava com tanta força no chão que quase

furei o piso.

Mas parei de andar de repente quando ouvi uma voz feminina vinda

lá de dentro, a porta estava entreaberta, então consegui ouvir com clareza a

conversa.

— Nós precisamos contar a verdade para a sua esposa, delegado,

antes que o pior aconteça — disse a vadia com voz fina chorosa, logo soube

que era a amante do Ricardo.

Essa vagabunda devia ser mesmo muito importante para o meu

marido ter a cara de pau de trazê-la no seu local de trabalho, mas não estava

nem aí para mais porra nenhuma. Eu daria um fim nesses dois ali mesmo,

prendi o cabelo em um nó falso e dobrei a manga da minha blusa.

— Não precisa me contar porra nenhuma, querida, porque outra

pessoa teve pena da corna aqui e abriu os meus olhos. — Abri a porta em um

rompante pegando os pombinhos no susto e joguei a foto dos dois se


beijando em cima da mesa do Ricardo. Dava para ver o desespero nos olhos

do babaca por ter sido pego no flagra.

A minha vontade de chorar veio ainda mais forte, mas segurei. Não

daria esse gostinho aos dois.

— Não é nada disso que você está pensando, Julia — disse o

Ricardo em uma tentativa frustrada de explicar o inexplicável, mas já era

tarde demais para explicações.

Olhei para os dois e era como voltar ao passado, pessoalmente a

vaca é ainda mais parecida com a falecida esposa do Ricardo. Com certeza

quando a viu ele não resistiu a isso, Andreia sempre foi e sempre será o

grande amor da vida dele. A sua alma gêmea.

— Tudo bem, meu amor! Eu sempre soube que as ruivas são o seu

ponto fraco. — Sorri amarga.

— Tente se acalmar, meu amor, você precisa escutar o que essa moça

tem para falar. É muito importante — teve a cara de pau de pedir, soltei uma

risada debochada cheia de sarcasmo.


— Eu quero que você e essa piranha destruidora de lares se fodam,

Ricardo! — Peguei o porta-retrato com uma foto minha com as crianças na

praia em cima da sua mesa e joguei nele. — Quantos anos essa vadiazinha

deve ter, hein? Espero que pelo menos seja maior de idade.

— Não faz isso, querida, me deixa explicar. Essa é a Suzana, ela

veio aqui me contar que fez uma coisa errada, mas está arrependida.

— Então ela abre as pernas para homens casados e agora está

arrependida? Eu vou é matar essa garota sem-vergonha. — Fui para cima da

piranha, mas o Ricardo defendeu a amante entrando na frente dela.

— Pare com isso agora mesmo, Julia! Ficou louca? Não vou deixar

que machuque ninguém — gritou comigo, sabia que se eu colocasse a mão na

sua ninfeta eu não soltaria até que o seu corpo estivesse sem vida em minhas

mãos.

— Que lindo! Defendendo a sua namoradinha, parabéns, querido. —

Bati palmas para ele cheia de ironia.


— Não é isso, meu amor, você está em uma delegacia e não quero

ser obrigado a prender a minha própria esposa por agressão. — Deslizou as

mãos pelo rosto, frustrado.

— Ponha um dedo em mim e eu acabo com a sua vida, Ricardo! —

dei um berro.

— Meu Deus, delegado, bem que você disse que a sua mulher é

maluca. — A ruiva sonsa começou a chorar de medo agarrando a cintura do

Ricardo por trás, fazendo dele o seu escudo para se proteger da minha ira.

Ah, mas eu iria pegar aquela puta nem que precisasse passar por cima do

meu marido antes.

— Pois eu vou te mostrar quem é a maluca aqui agora mesmo. — Fui

para cima dela com Ricardo e tudo, agarrei no cabelo da desgraçada e puxei.

Quanto mais o meu marido tentava me fazer soltar, mais eu puxava.

Queria arrancar cada fio e deixar a vadia careca para sempre.

— Para com isso, Julia, você está totalmente descontrolada. Porra!

— Ricardo me sacudiu pelos ombros para me fazer voltar a mim; parei de


repente, olhei para o meu lado e vi que a delegacia inteira entrou na sala

para ver o barraco.

Nunca me senti tão humilhada antes, fiquei morta de vergonha.

— Eu nunca vou te perdoar por isso. — Me levantei debaixo dos

olhares de pena dos policiais de plantão e fui embora correndo, estava

chorando muito e mal consegui enxergar um palmo à minha frente.

Me sentia tonta, essa situação toda me enojava de tal maneira que

queria vomitar tudo que estava no meu estômago. Enquanto eu estava me

matando para organizar a nossa festa de renovação dos votos, meu marido

me traía com uma mulher com a metade da minha idade.

— Amor, espera, não faz assim. Pelo menos me deixe explicar o que

viu nessa foto. Se mesmo assim quiser ir depois, não vou te segurar —

insistiu Ricardo ao agarrar o meu braço.

— Não quero ouvir porra de explicação nenhuma, o nosso casamento

acabou aqui. — Puxei o meu braço e dei uma bofetada no rosto do homem
que pensei que ficaria para sempre ao meu lado. — Siga o seu caminho, que

eu seguirei o meu. — Fui embora.

Dessa vez Ricardo não veio atrás de mim, ele sabia que nada do que

dissesse me faria voltar atrás. Nosso casamento tinha chegado ao fim para

sempre.
Ricardo

Julia lançou as palavras sem pensar no quanto iria me machucar e foi

embora. Podia tê-la segurado e obrigado a ouvir a verdade dos fatos à força,

mas saber que ela não acreditava em mim acabou comigo. Eu jamais seria

capaz de trair aquela mulher, era a mãe dos meus filhos e tudo o que mais

amava na vida, e provavelmente morreria se ela me deixasse, porém, não

iria me humilhar pelo perdão da minha esposa. Não dessa vez. Sempre que

brigávamos, o que não foram poucas vezes, era o otário aqui o primeiro a se

rastejar aos seus pés para fazer as pazes, mesmo quando não tinha culpa,

como agora.

Fui vítima de uma armação, a ruiva que me beijou à força durante a

“missão infiltrado” veio na delegacia se sentindo culpada e me contou que

foi paga por dois homens para fazer aquilo. Pena que a Julia chegou no

momento errado e fez todo esse show. Quem armou isso queria destruir o
meu casamento e conseguiu, não precisa ser muito inteligente para saber

quem arquitetou essa merda toda para me ferrar.

— Eu vou te matar, Robinho! — Apertei os punhos, foi por isso que

aquele verme não resistiu à prisão e permaneceu o tempo todo na viatura

com um sorrisinho no rosto.

O desgraçado sabe que a minha família é a minha vida, por isso fez a

minha esposa pensar que a traí.

— O senhor está bem, delegado Avilar? — O novato, policial Tiago,

se aproximou de mim preocupado.

— Estou ótimo, novato, obrigado! Agora todos podem voltar ao

trabalho, porque o show acabou.

Voltei para a minha sala enfurecido, pois tinha que continuar o

interrogatório de Suzana, mas a desgraçada já tinha desaparecido. Soquei a

minha mesa furioso, minha vida virou de cabeça para baixo e não faço a

mínima ideia de como consertar as coisas.


— O que aconteceu aqui, delegado? Acabei de chegar de uma

ocorrência e estão todos cochichando pelos cantos. — Barreto entrou na

minha sala alterado, e nem se deu ao trabalho de bater, acho que ninguém me

respeita mais nessa porra de delegacia.

— Nada que seja da sua conta, Barreto, volte para o seu posto e me

deixe em paz. Não estou com paciência para os seus sermões hoje. —

Massageei as têmporas.

— Ah, não, delegado? Então por que a sua esposa me enviou um

monte de mensagens agora há pouco me xingando por encobrir o seu caso

com a novinha ruiva, depois disse que nunca mais vai voltar a falar comigo e

me bloqueou no WhatsApp? — Cruzou os braços e ficou me encarando como

quem dissesse:

“Eu te avisei para contar para ela sobre o beijo.”

— Não tem amante nenhuma, Barreto! Armaram para mim e a Julia

caiu direitinho. Veio aqui e fez um escândalo e quase matou a ruiva. — Me

sentei na minha cadeira, totalmente perdido.


— Meu Deus! O que aquela mulher estava fazendo aqui, delegado?

— Caiu sentado na cadeira em frente à minha mesa, tão pasmo quanto eu

com o rumo que essa história tomou.

— Ela veio aqui me contar que pagaram ela para me beijar à força,

mas ela se arrependeu e veio aqui me pedir desculpas. Então a Julia chegou

aqui no exato momento com uma foto do bendito beijo e fez um escândalo na

frente de todo mundo da delegacia, você sabe como ela é quando está

nervosa.

— Arrependida, essa moça? Sei! — Deu um pigarreio.

— O que está insinuando, Barreto?

— Que essa mulher não veio aqui porque estava arrependida coisa

nenhuma, delegado, mas sim porque sabia que a Julia já tinha recebido essa

tal foto comprometedora e viria aqui no mesmo instante, virada no cão pra

tirar satisfação.

— Então pegaria nós dois juntos, o que daria ainda mais veracidade

aos fatos — constatei me sentindo um completo idiota, fui feito de trouxa


mais uma vez.

— Exatamente, chefe! Armaram para o senhor de novo.

— Aquela filha da puta! Mas isso não vai ficar assim. — Peguei a

chave da viatura na gaveta e saí desnorteado, Barreto veio atrás de mim para

me impedir de fazer alguma merda.

— Onde o senhor vai nervoso assim, delegado? — Tentava

acompanhar os meus passos, mas não deu conta.

— Até o presídio de segurança máxima fazer uma visitinha para o

nosso amiguinho, Barreto. Vou deixar bem claro que ninguém mexe com a

minha família. — Entrei na viatura e coloquei o cinto.

— Então eu vou com o senhor e não aceito não como resposta,

amigos são para isso. — Entrou do lado do carona.

— Certo, Barreto, faça como quiser. — Girei a chave do carro.

Enquanto dirigia liguei para o diretor no presídio e cobrei um favor

de anos que ele me devia, então, quando cheguei o filho da puta do Robinho

já me esperava em uma sala vazia e sem câmeras. O que aconteceria ali


ficaria só entre mim e ele. Sei que isso é totalmente fora da lei e vai contra

toda a minha conduta profissional e o meu caráter, mas ninguém mexe com a

minha família e sai impune.

Esse desgraçado estava prestes a conhecer o meu pior lado, estava

farto de bancar o homem da lei bonzinho.

— Surpreso em me ver, Robinho? — Entrei na sala e tranquei a

porta, o verme estava algemado, sentado em uma mesa de ferro de duas

cadeiras.

E aquele sorrisinho debochado estava lá, dançando no seu rosto. Ele

era muito loiro, quase albino, com todos os pelos do corpo bem claros, sua

pele toda manchada de sol e a maioria dos dentes da frente amarelos e

podres de tanto usar drogas.

— Na verdade, não, delegado. Se está aqui é porque a gostosa da sua

esposa recebeu o meu presentinho. — Mexeu os ombros com ar de deboche,

orgulhoso porque tudo saiu exatamente como o planejado.


— Pode rir o quanto quiser, cara, mas nós dois sabemos que cedo ou

tarde farei as pazes com a minha esposa. Quanto a você, vou garantir que a

sua vida se torne um verdadeiro inferno nesse presídio. Começando por

agora — disse enquanto tirava o colete, eu não iria embora sem antes dar

uma boa lição nesse cara, até que me dissesse quem estava trabalhando para

ele lá fora.

— A minha vida já é um inferno nesse lugar, delegado, e a culpa é

toda sua. Então vou destruir a sua vida também, o que aconteceu hoje foi o

começo da sua queda — ameaçou seguro do que dizia, minha vontade era

acabar com a sua vida ali mesmo.

— Se você se aproximar da minha família, Robinho, eu vou te

torturar até a morte! — Bati as duas mãos sobre a mesa. — Por isso é bom

começar a me dar nomes, quero saber quem mais além daquela vadia ruiva

está trabalhando para você?

— Alguém esperto demais para um delegado de quinta conseguir

pegar, então, se eu fosse você, ficava de olho na sua esposa porque ele
gostou bastante dela. Disse que, para uma negrinha, ela até que é bem

gostosa — teve a ousadia de dizer e eu bati a sua cabeça na mesa de ferro,

quebrando alguns dentes da frente. Pelo tanto de sangue que jorrava, devia

ter quebrado o nariz também.

Eu estava apenas começando com o Robinho, poderia fazer aquilo o

dia todo sem me cansar.

— Fala assim da minha mulher de novo e eu arranco o seu pênis fora

e enfio no seu rabo. — Apertei o seu pescoço até os seus olhos arregalarem.

— É fácil ser machão assim comigo com as duas mãos algemadas,

me solta que eu te mostro como um homem de verdade luta — falou com a

voz abafada, quase sem ar.

— Eu penso o mesmo, Robinho, por isso trouxe a chave das suas

algemas. — Joguei a chave no colo dele, eu queria dar uma surra nesse filho

da puta de maneira justa.

Mais que rápido ele tirou as algemas e veio para cima de mim com

tudo o que tinha, mas eu o derrubei só com um soco e caí em cima dele de
porrada. Eu só não matei o desgraçado porque ouviram os gritos de socorro

dele do corredor e o Barreto e outros policiais abriram a porta e me tiraram

de cima do Robinho, foram precisos cinco homens para conseguir me levar

para fora da sala. Estava furioso.

Mas no fundo sabia que aquilo só pioraria as coisas, precisava

descobrir quem estava trabalhando para esse cara e manter a minha família

em segurança. Mas, se eu matar o maldito antes, não vou conseguir arrancar

nenhuma informação dele.

Saí do presídio com sangue nos olhos, tão nervoso que o Barreto nem

me deixou dirigir e me levou direto para a casa. Precisava conversar com a

Julia sobre a gravidade da situação. Estou esperançoso de que ela esteja

mais calma e aja como uma adulta e não uma criança briguenta, no entanto,

assim que abri a porta o Junior correu até mim chorando tanto que nem dava

para entender direito o que o meu garotinho estava falando.


— A mamãe mandou que os meus irmãos e eu arrumássemos as

nossas coisas, ela disse que vamos embora. Mas eu não quero morar em

outra casa, gosto daqui. — Abraçou a minha cintura aos prantos o

coitadinho, eu o peguei no colo na tentativa de acalmá-lo.

— Ninguém vai a lugar nenhum, amigão. Não precisa chorar, vai

ficar tudo bem. — Limpei as lágrimas no seu rostinho, ele era um garoto

inteligente e muito corajoso.

— Você já arrumou as suas coisas, Junior? Não vou falar novamente.

— Julia apareceu toda descabelada no topo da escada, parecia tão nervosa

como na última vez que a vi, talvez até mais.

— Não grite com o meu filho, Julia! Seu problema é comigo — disse

e a mulher bufou de raiva.

Se a minha esposa tivesse uma arma teria atirado em mim, com

certeza! Estava cega pelo ódio, melhor dizendo, pelo ciúme.

— Eu vou contar até cinco, Ricardo Junior Avilar — ameaçou e o

pobre garoto saiu correndo assustado para fazer o que a mãe mandou. Se eu
estava com medo da fúria dela, imagina uma criança de sete anos.

— Para onde você pensa que vai levar os meus filhos, Julia?

— Não é da sua conta! — Saiu e me deixou falando sozinho.

Mas, se a Julia achava que eu iria deixar que fosse embora daquela

casa com as crianças, estava muito enganada. Fui a passos largos afrontá-la.

Quando cheguei no nosso quarto a encontrei de pé ao lado da cama

terminando de arrumar a sua mala.

— Pare de agir feito uma criança mimada e vamos conversar direito,

amor. Essa é a última chance que dou a você para saber a verdade sobre o

que viu hoje na delegacia. — Ela colocava uma peça na mala e eu tirava

duas.

— Que verdade, Ricardo? Que se apaixonou por uma novinha e que

vai me deixar, ou que vai me oferecer um romance moderno a três?

— Quer saber, Julia? Estou farto dessa porra toda! Se não confia em

mim é porque nunca me amou de verdade, então quem sai dessa casa sou eu.
— Como confiar em você depois de ver a foto de você beijando

outra mulher e logo em seguida encontrar a vadia na sua sala na delegacia?

No meu lugar, Ricardo, você teria dado um tiro no cara por muito menos. —

Olhou para mim cheia de rancor, nada do que eu dissesse iria adiantar.

O pior era que ela estava certa, se visse a foto dela beijando outro

cara eu não ia querer saber de explicação nenhuma, já ia logo descarregando

a minha arma nele antes mesmo que abrisse a boca.

— Eu jamais te trairia, Julia, e você não acreditar na minha

fidelidade parte o meu coração de um jeito que talvez nunca tenha conserto.

— Minha voz saiu embargada, ela ficou mexida com o que eu disse, mas não

baixou a guarda.

— Desculpa, Ricardo, mas eu sou advogada e trabalho com fatos. E,

infelizmente, nessa situação todos estão contra você. — Me olhou de cima

para baixo cheia de desprezo, nem parecia a mesma mulher pela qual me

apaixonei um dia.
— Mas como advogada você também sabe que nem tudo em uma

cena de crime é o que parece, não é mesmo? — Tentei me aproximar em um

tom apaziguador, mas ela se afastou de mim.

— Pode até ser, mas até que se prove o contrário o acusado pego em

flagrante é culpado. — Cruzou os braços irredutível.

— Se é assim que você quer, Julia, assim será. Eu não fiz nada de

errado e não sou obrigado a provar porra nenhuma, te amo e sempre vou

amar. Mas para mim já chega, não posso continuar casado com alguém que

não confia em mim. — Tirei a aliança e joguei sobre a cama.

Virei as costas e fui embora de casa só com a roupa do corpo, mas

coloquei os meus homens vigiando a casa a noite toda cuidando da segurança

da Julia e das crianças. Meu coração estava partido, a mulher que eu amava

não confiava em mim, mesmo depois de dez anos juntos. Pensei que o nosso

amor era perfeito e duraria para sempre. Mas, pelo visto, me enganei.
Julia

O dia mal tinha amanhecido e eu já estava quase enlouquecendo sem

notícias do Ricardo. Mesmo com muita raiva, não conseguia deixar de me

preocupar com aquele traidor. Sim! Além de chifruda, sou uma completa

idiota. O pior era que as crianças não paravam de chorar com saudade do

pai e colocavam a culpa em mim por ele ter ido embora. Não tive coragem

de contar para eles que o homem que viam como um herói colocou outra

mulher no lugar da mãe deles.

— Onde o papai está, mãe? Eu quero falar com ele, estou com

saudades — Ceci me perguntou com os olhinhos cheios de lágrimas, ela e o

Junior dormiram comigo na minha cama no lugar do pai, sentindo o cheiro

dele.

Meus filhos raramente tomam café da manhã sem a presença do pai

ou pelo menos um bilhetinho fofo de bom dia no lugar de cada um deles, mas

hoje Ricardo nem ligou para desejar bom dia, pelo menos para os pequenos
que sentem mais a falta dele. Isso só provava que nunca foi o homem que

pensei que fosse quando me casei com ele. Foi só se envolver com uma

ninfeta que se esqueceu até das crianças.

— Eu não sei, filha, sinto muito! — Apertei os lábios para engolir a

vontade de chorar, nosso café da manhã sem o Ricardo estava parecendo um

verdadeiro velório.

— Não seja boba, Maria Cecilia, o papai foi embora porque não ama

mais a gente e nunca mais vai voltar. — Joaquim saiu da mesa revoltado e

foi para o quarto dele.

— Isso é verdade, mamãe? — Junior começou a chorar, fiquei sem

saber o que responder.

Percebendo isso, Maria Lara tomou a palavra e me salvou.

— Não é não nada disso, Juninho, o papai só está zangado. Mas logo

ele volta para casa. — Sorriu para o irmão mais novo. — Vem aqui na

maninha, vai ficar tudo bem. — Puxou o irmão caçula para o colo dela e o

ninou como se fosse um bebê.


Então a campainha tocou e eu saí desnorteada para atender, essa

situação toda me deixou totalmente fora do eixo.

— Bom dia, dona Célia, está tudo bem? — perguntei preocupada ao

abrir a porta, minha sogra parecia nervosa, suas bochechas rechonchudas

estavam até rosadas.

— Está sim, Julia! Vim limpar a honra do meu filho. — Minha sogra

entrou na minha casa. O seu humor não era dos melhores, e ela não estava

sozinha.

Logo atrás da minha sogra, Barreto entrou com cara de poucos

amigos. Eu estava muito magoada com ele, com certeza sabia do caso

extraconjugal do chefe e ajudava a encobrir.

— O que está fazendo na minha casa, Barreto? Não é mais bem-

vindo aqui.

— Tente se acalmar e só escuta o que eu tenho para dizer, porque

você e toda a sua família estão correndo perigo. — Sua expressão me causou
um calafrio que percorreu as entranhas, então aquele pressentimento ruim

igual a quando recebi o envelope preto se fez presente.

— Como assim em perigo? — Engoli em seco.

— Armaram para o delegado, Julia. Eu estava lá quando esse beijo

da foto aconteceu, Ricardo empurrou a moça para longe depois de ela beijá-

lo à força — contou, mas não fiquei muito convencida.

— O beijo não me pareceu nem um pouco à força na foto, Barreto. —

Deixei o ciúmes falar mais alto de novo, mas, para ser sincera, nem parei

para analisar a foto direito, só vi a boca do meu marido colada na daquela

piranha e surtei.

— Já chega, Julia! Eu te amo como uma filha, mas dessa vez você

cometeu um erro e eu trouxe o Barreto aqui para esclarecer as coisas antes

que seja tarde demais e o Ricardo não te perdoe — minha sogra não pediu,

mandou.

— O Ricardo que me trai e sou eu que precisa do perdão dele? Meu

Deus! Esse mundo está perdido mesmo. — Soltei uma risada irônica.
— Já que você quer continuar agindo como uma criança, vou te tratar

como uma. — Minha sogra me catou pela mão e me obrigou a sentar no sofá.

— Agora cala a boca e só escuta, se eu ouvir um pio vai se ver comigo,

mocinha. — Apontou o dedo na minha cara, eu apenas assenti caladinha.

— O que está acontecendo aqui, mãe? — Maria Lara apareceu na

porta, assustada com todo aquele alvoroço na sala.

— Depois a mamãe conversa com você, filha, pega os seus irmãos e

leve para a sala de vídeo e os mantenha entretidos enquanto os adultos

conversam — dona Célia pediu à neta com carinho, que logo percebeu que o

assunto era sério.

— Está bem, vovó, vou colocar um filme para eles verem no volume

alto — disse a minha filha sem tirar os olhos de mim. — Mas por que a

mamãe está chorando? — perguntou preocupada.

Sinceramente? Eu nem percebi que estava chorando.

— Está tudo bem, filha, faça o que a sua avó pediu. — Ela assentiu e

se foi, Barreto foi até a porta de vidro e fechou para ter certeza de que as
crianças não ouviriam a nossa conversa.

— Presta atenção, Julia, porque é muito importante. — Barreto se

abaixou em frente ao sofá e segurou as minhas duas mãos. — Ontem, depois

da confusão que teve na delegacia, o seu marido foi até o presídio de

segurança máxima do Rio de Janeiro e quase matou um detento com os

próprios punhos — contou e o meu queixo caiu, literalmente.

— Por que ele faria uma coisa dessas, colocando toda a sua carreira

impecável na polícia em risco? — perguntei ainda em estado de choque,

Ricardo podia perder a cabeça em muitas áreas de sua vida, mas nunca no

trabalho.

— Porque foi esse bandido que armou para separar vocês dois, e

acreditamos que ele não vai parar por aí.

— Mas por que esse cara nos quer separados, Barreto? Não entendo.

— Por vingança, Julia. Há cinco anos atrás, Ricardo efetuou a prisão

dele e agora o cara está disposto a tirar tudo o que ele ama. Começando por

você, e agora acreditamos que o alvo do desgraçado são as crianças, então,


por ordem do delegado, vocês só podem sair de casa escoltadas pela nossa

equipe, que está de vigia lá fora desde ontem à noite. — Caminhou até a

janela de vidro e abriu as persianas, então vi pelo menos três viaturas

paradas na frente de casa.

O clima amanheceu tão pesado aqui em casa que nem as crianças e

nem eu colocamos a cara para fora nem na janela, nosso café da manhã

parecia mais um velório. Agora que sei a verdade me sinto culpada, tratei

tão mal o Ricardo ontem, o acusando de ter me traído, que o coitado foi

embora e, mesmo assim, mandou os seus homens nos protegerem.

Meu Deus, Julia! Que merda você fez? Não deu ao seu marido nem o

benefício da dúvida, ficou cega de ciúmes e foi logo soltando os cachorros

em cima dele.

— Então a coisa é grave mesmo, Barreto. — Cobri o rosto com as

duas mãos em pânico, minha família estava em perigo e o meu marido foi

embora de casa e provavelmente nunca mais falaria comigo.


— É sim! Mas o delegado está tão desesperado para manter vocês

seguros que não vai parar até pegar o cúmplice do Robinho aqui fora, ele

tem trabalhado dia e noite nisso. — Suas palavras me fizeram lembrar do

homem de capacete que pediu a Alice para me entregar o envelope, com

certeza era esse cara o tal cúmplice.

— Ele esteve aqui na nossa rua, Barreto. Pediu para a filhinha da

nossa vizinha me entregar o envelope com as fotos da suposta traição do

Ricardo, mas a Alice disse que não viu o rosto do cara porque ele estava

com um capacete de viseira escura — contei a ele o que sabia, esperançosa

de que ajudasse de alguma forma na investigação.

Esses bandidos são perigosos e muito espertos, não faço ideia de

como conseguiram entrar nesse condomínio onde a segurança é bem pesada.

Fora que a mulher que contrataram para beijar o Ricardo à força era a cara

da falecida esposa dele, isso não podia ser coincidência. Essa gente

pesquisou a nossa vida, e estava indo direto no ponto franco de cada um para

nos atingir, e eu caí no plano deles direitinho e destruí a nossa família.


— Mas ainda podemos olhar as imagens das câmeras de segurança

do condomínio, assim conseguimos pelo menos o número da placa da moto

que o suspeito usava. — Pegou o celular no bolso e enviou algumas

mensagens, já trabalhando em cima da informação que eu dei.

— Muito obrigada por tudo, Barreto, e desculpa pela maneira

grosseira como te tratei. — Fui até ele e o abracei, me sentia envergonhada e

ridícula.

— Tudo bem, Julia, no seu lugar também teria perdido a cabeça. —

Tirou um lenço no bolso e me deu para limpar as minhas lágrimas.

— Agora só falta pedir desculpas para o meu filho, Julia, mas, se o

conheço bem, só palavras e lágrimas não vão adiantar. — Dona Célia

arqueou a sobrancelha.

— Eu sei. — Fitei o chão cabisbaixa.

— Então acho melhor tirar esse pijama horrível, coloque algo bem

sexy por baixo de um sobretudo chique e, assim que o Ricardo atender a

porta, mostre a surpresinha que preparou para ele. Vai ser tiro e queda! —
aconselhou a minha sogra na frente do Barreto, que ficou com as bochechas

ruborizadas, quase morri de vergonha.

Sabia que ela não deixaria de soltar uma de suas pérolas, essa é a

dona Célia Avilar. Mãe do grande amor da minha vida e avó tão querida dos

meus filhos, mas uma figuraça quando o assunto é conselhos amorosos.

— A senhora não tem jeito mesmo, dona Célia. — A abracei. —

Obrigada por tudo, eu te amo.

— Eu também te amo, querida, é como uma filha para mim e não

consigo imaginar você em outro lugar que não seja ao lado do Ricardo. Por

isso, não volte para casa antes de fazer as pazes com ele, pode deixar que eu

cuido das crianças enquanto estiver fora. — Sorriu para mim com ternura,

essa mulher é um ser humano incrível.

— Eu vou te levar até onde o delegado está, Julia, te esperarei lá

fora com o pessoal. — Barreto, como sempre, tão prestativo.

— Muito obrigada, Barreto! — Ele assentiu e foi embora.


Corri para o meu quarto e tomei uma ducha rápida, não coloquei

nada sexy ou chamativo. Apenas dei uma ajeitada na cara e vesti um vestido

lilás, eram poucas as peças do meu guarda-roupa que ainda serviam em mim

devido aos quilinhos extras que não conseguia perder de jeito nenhum na

academia. Em vez de emagrecer com a dieta, estava engordando. Prendi o

cabelo em um rabo de cavalo alto e passei uma maquiagem leve para

disfarçar a minha aparência horrível, meu rosto estava todo inchado depois

de passar a noite inteira chorando.

Antes de sair, passei na sala de vídeo e dei um beijo nas crianças,

prometi a elas que faria de tudo para trazer o pai delas de volta para a casa.

No entanto, toda a minha confiança caiu por terra assim que o Barreto

estacionou a viatura em frente ao prédio onde o Ricardo mantém um

apartamento desde que nos casamos, usamos esse lugar como uma espécie de

cantinho especial para quando queremos passar um tempo sozinhos, só ele e

eu. Em outras palavras, fazíamos amor em casa, mas o sexo selvagem de

verdade, valendo tudo, acontece aqui.


Entrei no elevador cada vez mais nervosa e quase tive um troço

quando cheguei no último andar e apertei a campainha, não sabia como seria

recebida pelo meu digníssimo esposo.

— Que Deus me ajude! — disse com a voz trêmula após me despedir

do Barreto e entrar no prédio, ele disse que ficaria ali esperando, e caso

precisasse dele era só mandar uma mensagem.

Ele sabia que tanto eu quanto o chefe dele temos o pavio curto, então

era melhor ficar por perto, porque a chance de colocarmos esse prédio

abaixo era bem grande. Quando cheguei em frente à porta do apartamento do

Ricardo, quase tive um troço antes de bater.

— O que está fazendo aqui, Julia? — foi a primeira coisa que o meu

marido disse assim que abriu a porta, seu tom não fora nada gentil.

Ricardo estava só com uma toalha branca enrolada na cintura e o

cabelo todo molhado e bagunçado como se tivesse parado o banho no meio

só para vir atender à porta, mas, pela sua expressão azeda, se soubesse quem

era não teria vindo.


— Eu vim aqui conversar com você, amor. Posso entrar? — Sorri

para ele, mas não fui correspondida.

— Não pode, Julia! Sei que veio aqui para brigar comigo, então

pode ir embora. De agora em diante, só converso com você na frente do meu

advogado. — Tentou fechar a porta na minha cara, mas eu não deixei, é

claro, ele estava tão zangado em me ver que os seus olhos azuis ganharam

um brilho diferente.

— Como assim na frente do advogado? — praticamente gritei.

— Quando formos assinar o papel do divórcio, ora essa! Você disse

na delegacia que o nosso casamento acabou, então quero deixar tudo

oficializado perante a lei. — Fez um estalo com a língua como se fosse

óbvio.

— Do que você está falando, Ricardo? Nós não vamos nos divorciar.

Vim aqui para pedir que volte para casa, eu já sei de toda a verdade e

imploro que me perdoe por ter desconfiado de você, meu amor. Fui muito
idiota. — Tentei tocar o seu rosto, mas Ricardo deu um passo para trás e

desviou do meu toque.

— Então você só veio aqui porque descobriu a verdade, não é, Julia?

Porque caso contrário ainda continuaria pensando que te traí. — Sua voz

saiu cheia de rancor e mágoa.

Tinha muitos motivos para estar assim, eu no lugar dele também

estaria. Fui imatura e agora deveria pagar por isso.

— Eu admito que errei muito contigo, amor, mas peço que volte para

a nossa casa e eu prometo fazer o que você quiser para me redimir. — Ele

parou por alguns segundos para pensar na minha proposta tentadora, mas não

cedeu.

— Não existe mais "nossa casa", agora aqui é o meu lar. Nosso

casamento acabou, você não confia em mim, então não vejo por que

continuar com essa relação. — Foi aí que o meu mundo caiu.

Pelo olhar do Ricardo aquilo não era um blefe, ele estava mesmo

disposto a terminar o nosso casamento de dez anos.


— Por favor, amor, não faz isso com a gente — implorei, faltou

pouco para me ajoelhar aos seus pés.

— Não fui eu que fiz, Julia. Foi você — disse com frieza e me

deixou falando com as paredes. — Prometo que vou fazer de tudo para

manter você e os nossos filhos seguros sempre, mas não vai passar disso.

— Volta aqui, querido, vamos conversar melhor. Não vivo sem você.

— Fui atrás dele.

— Também pensava que não conseguiria viver sem você, Julia. E

aqui estou eu, de pé, sempre fui um sobrevivente. — Abriu os braços cheio

de ironia.

— Mas e quanto às crianças?

— Quero a guarda compartilhada, estou me separando de você, não

dos meus filhos. Eles são tudo para mim, quase morri de saudades deles

quando acordei hoje de manhã. — Ficou com a voz trêmula, com certeza não

havia ligado para as crianças ainda porque não queria que elas percebessem

na sua voz o quanto estava triste.


— Você sentiu saudades só das crianças, Ricardo? Mas e quanto a

mim? — perguntei com vontade de chorar.

— Como não sentir, Julia? Você é o grande amor da minha vida, não

consegui pregar os olhos um minuto sequer essa noite. É muito estranho

dormir sem sentir o calor do seu corpo. — Balançou a cabeça triste, me senti

pior ainda.

— Eu sou o amor da sua vida e mesmo assim quer me deixar,

Ricardo — disse em meio a um soluço.

— Quero porque estou cansado de ser obrigado a viver provando o

amor que sinto por você, Julia, e eu odeio isso. Não sou um adolescente,

porra! — ele falava sem olhar para mim, como se só a minha presença já o

machucasse.

— Eu sei, amor, mas também não sou mais uma adolescente. Estou

acima do peso, ficando velha e chata. E você sabe disso, porque nem sente

ciúmes mais de mim, tanto que me deixou aceitar o convite pra ser madrinha

de bateria. Por isso pensei que tinha arrumado outra mulher, porque não me
deseja mais. — Abaixei a cabeça envergonhada, eu vinha me sentindo

insegura comigo mesma fazia semanas.

— Que não te desejasse mais, Julia? Pelo amor de Deus! Eu fico

louco todos os dias para chegar logo em casa para fazer amor com você,

depois que casamos não te dei uma noite sequer de folga. Se isso é falta de

desejo, não sei mais o que é sentir tesão por uma mulher. — Perdeu a

paciência e saiu caminhando zangado para o quarto, entrou no closet e saiu

apenas com uma calça cinza de moletom.

Não secou o cabelo e continuou com os pés descalços sobre o piso

frio. Ricardo era naturalmente sexy. Diferente de mim, não envelheceu nada

nos últimos anos. Aparentava ter nem a metade da idade que tinha e estava

mais musculoso do que na época que o conheci, fora que não tinha um fio de

cabelo branco para contar história e nem sinal de rugas no rosto.

— Amor, calça um chinelo, você resfria à toa — pedi preocupada.

— Se isso acontecer, eu procuro um médico. Não precisa mais se

preocupar comigo — foi curto e grosso.


— Já chega disso, Ricardo! Vamos fazer as pazes e voltar para a

nossa casa, nossos filhos estão com saudades de você e eu também. —

Abracei suas costas chorando, ele permaneceu paralisado, totalmente

indiferente ao meu toque.

— Aqui é a minha casa agora, Julia. Quanto aos meus filhos, amanhã

vou buscá-los para passarmos um tempo juntos. — Pegou no meu braço e

praticamente me jogou do lado de fora do apartamento. — E quanto a você,

siga o seu caminho que eu seguirei o meu. Sei que o Barreto está te

esperando lá embaixo para te levar para casa. Adeus! — Trancou a porta na

minha cara, partindo o meu coração ao meio.

Eu tinha estragado o meu casamento com o Ricardo e não sabia o que

fazer para consertar as coisas, conhecia bem o meu marido e ele não voltaria

atrás na sua decisão.


Ricardo

Eu amava aquela mulher mais que a minha vida, mas realmente

estava cansado daquilo tudo, precisava passar um tempo sozinho para esfriar

a cabeça. Magoado do jeito que eu estava, se voltasse para casa, passaria o

resto do dia brigando com a Julia na frente das crianças e não queria que

isso acontecesse. O melhor a se fazer era focar no trabalho e achar o

cúmplice do Robinho. Apesar de tudo, a minha prioridade era manter o que

restou da minha família em segurança. Mas antes precisava colocar os

pensamentos no lugar, por isso tirei o dia de folga para descansar e pensar

com calma nos meus próximos passos.

Com a cabeça explodindo de dor, tomei um remédio e apaguei no

sofá. Acordei com alguém batendo na porta insistentemente, levantei irritado

esfregando os olhos e fui atender. Se fosse a Julia novamente me enchendo a

paciência, eu iria chamar a polícia para prendê-la.


— Porra, Ricardo! Você é a polícia, seu idiota — resmunguei ao

abrir a porta.

— Eu não acredito que você vai se divorciar da Julia, delegado. —

Thompson entrou no meu apartamento sem ser convidado, afrouxando o nó

da gravata, ele tinha uma garrafa de tequila mexicana em mãos.

— Você ficou louco de vez, cara? Não vive um dia sem a Julia. A

Dani quase teve o bebê antes da hora quando a Julia ligou para ela aos

prantos pra dar a notícia. — Léo entrou logo atrás do John com um

engradado de cerveja.

— Pelo visto a fofoca corre mesmo rápido nessa cidade, hein? Puta

que pariu! — Fechei a porta com mais força que o necessário.

Aquela noite seria longa, mas pelo menos aqueles dois babacas

trouxeram bastante bebida.

— Tem alguma coisa para comer aqui, delegado? A Dani saiu de

casa com as crianças e me deixou sozinho com a geladeira vazia, ela e a


esposa do Thompson foram para a sua casa, com certeza para virar a noite

falando mal de nós, homens. — Léo se jogou no meu sofá branco.

— Eu já jantei mais cedo, mas se tiver alguns aperitivos eu aceito.

— Thompson pegou o controle sobre a mesinha de centro, sentou ao lado do

Léo e ligou a minha TV, totalmente à vontade e com cara de quem não iria

embora tão cedo.

— Eu vou ver o que eu encontro na geladeira — suspirei em um girar

de olhos, fui para a cozinha e peguei todo tipo de besteira que encontrei e

coloquei em uma bandeja.

Quando voltei para a sala encontrei John e o Léo assistindo ao filme

“Diário de uma paixão”, aquele era o único canal funcionando na TV, tinha

que mandar arrumar. Me juntei aos meus amigos folgados, então comemos e

bebemos muito.

— Eu não acredito que os dois velhinhos morrem juntos, cara, que

filme triste do caralho. — Léo começou a chorar, ele tinha bebido demais.
— Ele lia o diário para ela todos os dias na esperança de que a

esposa lembrasse dele e pudesse ter o seu amor de volta nos seus braços por

mais pelo menos um instante. Isso que é amor de verdade! — Thompson

fungou o nariz com os olhos fixos na TV passando ainda os créditos finais do

filme.

De fato, o filme é uma história de amor trágica, mas muito bonita.

Nem o tempo, todos os desencontros, a presença de outro cara e até mesmo a

doença da sua esposa fez o cara desistir da mulher que amava. Lia o bendito

diário todos os dias contando a história dos dois só para que ela se

lembrasse dele só por um minuto, porra! Eu faria isso e muito mais pela

Julia. Mas ela obviamente não faria o mesmo por mim, logo na primeira

oportunidade que teve quis me deixar e levar os meus filhos com ela para

longe de mim.

— Eu vou na varanda fumar um cigarro, preciso de um pouco de ar.

Podem ficar à vontade. — Peguei o maço de cigarro na gaveta junto com o

isqueiro e saí quase correndo, meus olhos estavam cheios de lágrimas.


Mas Thompson veio atrás de mim me atormentar ainda mais. Porra!

Será que eles não perceberam que eu quero lidar sozinho com o meu

sofrimento? Não quero papo com ninguém. Estou arrasado e com vontade de

morrer, sem a Julia não quero mais viver. Só não desisto de tudo por causa

dos meus filhos.

— Sabe que a nicotina ajuda com a ansiedade, mas não cura coração

partido, não é mesmo, delegado? — John tomou o cigarro da minha mão, deu

uma longa tragada e soltou a fumaça no ar, nem sabia que ele também

fumava.

— Eu sei, cara, mas preciso tentar alguma coisa para fazer essa dor

passar. — Peguei meu cigarro de volta e dei pelo menos três tragadas

seguidas.

— Você sabe como fazer essa dor passar, Ricardo. É só procurar a

sua esposa e conversar com ela. Sei que está magoado porque não confiou na

sua palavra, mas a Julia já pediu desculpa. O que mais quer dela?
— Sinceramente? No momento não quero nada dela, estou muito

magoado e preciso de um tempo só para mim. — Respirei pesadamente,

amar é bom demais, mas às vezes dói pra cacete.

— Só toma cuidado para que, quando você resolver voltar, não seja

tarde demais e encontre outro no seu lugar — alertou e foi a mesma coisa

que atravessar uma espada no meu peito, minha raiva era tanta só de

imaginar a Julia com outro homem, que amassei o cigarro aceso dentro da

mão.

— Eu não estou preparado para ver a Julia com outro homem, mas se

essa for a escolha dela não posso fazer nada — rosnei entre os dentes, mas

fui sincero.

Joguei o que sobrou do cigarro em qualquer lugar, voltei para a sala

e abri outra cerveja, Léo estava apagado no sofá, ele não bebe, entorna.

Thompson fez o mesmo, estava passando outro filme na TV e graças

a Deus era de ação. Chega de histórias de romances trágicos por hoje. Entre

uma conversa e outra fomos bebendo, a única coisa que lembro é de acordar
com o pé do Léo na minha cara. Dormimos os três todos tortos no sofá,

bêbados e um em cima do outro, nem dava para saber que parte do corpo era

de quem.

— Cacete! Eu estou atrasado para o trabalho, tenho um julgamento

em menos de uma hora. — Thompson acordou no susto esfregando os olhos.

Até acordando de manhã, com ressaca, cabelo todo para o ar e o

rosto todo inchado, o cara ainda continua com pinta de galã de Hollywood.

Fala sério!

— Eu poderia emprestar um terno para você pelo menos trocar de

roupa, Thompson, mas saí de casa só com a roupa do corpo.

— Sem problemas, Ricardo, vou passar em casa correndo para tomar

uma ducha rápida e trocar de roupa. — Levantou contorcendo o pescoço de

um lado para o outro.

— E o que eu faço com o Léo? Parece que não vai acordar tão cedo.

— Cutuquei o bad boy tatuado.


— Ele também está atrasado para o trabalho, mas deixa que resolvo

isso. — John empurrou o cara no chão de qualquer jeito, não sei como não

pensei em fazer isso antes.

— O que aconteceu? A bolsa da Dani estourou? — Léo acordou

desnorteado e John e eu rimos.

— Ainda não, Léo, mas acho melhor correr porque estamos nós três

atrasados para o trabalho. — Ofereci a mão e ajudei ele a se levantar.

— Só um minuto, como eu caí do sofá? — Franziu o cenho

desconfiado.

— Eu não faço ideia, Léo. Estou indo nessa, se quiser te dou uma

carona — mentiu John cinicamente e saiu andando sem prolongar o assunto.

— Quero sim, Thompson, valeu! — Bateu a mão no ombro dele.

— Obrigado por terem vindo me dar apoio, rapazes, vocês são

mesmo amigos de verdade. — Abracei meus amigos, esses dois caras são

parceiros demais.
— Não precisa agradecer, irmão, estamos aqui para isso. Qualquer

coisa pode ligar que viremos correndo. — John se despediu com um aceno.

— Isso aí, delegado, somos seus amigos e vamos ficar do seu lado

mesmo que as nossas esposas arranquem as nossas cabeças fora — garantiu

Léo, mas ele morre de medo da Dani que eu sei.

— Fale só por você, Leônidas, tenho muito amor pela minha vida —

gritou John enquanto chamava o elevador.

— Ah, larga de ser covarde, juiz Thompson, você é um homem da

lei, não deveria ter medo de nada — Léo implicou com ele, então os dois

entraram no elevador discutindo.

Eu balancei a cabeça rindo e fechei a porta, meus melhores amigos

eram dois malucos!

Sem uniforme para trabalhar e nenhuma peça de roupa limpa, resolvi

dar um pulo em casa para pegar as minhas coisas e ver as crianças. E, para

ser sincero, ver a Julia também. Só porque quero dar um tempo no nosso

casamento, não quer dizer que não amo mais a minha esposa ou que não sinto
a sua falta, ao contrário, eu sou louco por ela e vou sofrer muito com a nossa

separação. Mas é o certo a se fazer. Quando cheguei, a primeira coisa que fiz

foi pegar o relatório de vigia da noite anterior com a minha equipe; segundo

os meus homens, não houve nada fora do normal.

Assim que me aproximei da porta da frente de casa, dei de cara com

a Yudiana e a Dani com os seus filhos indo embora, ambas me fuzilaram de

cima a baixo assim que passaram pela porta. Se existe mau-olhado como a

minha mãe diz, eu estaria fodido.

— Oi, tio Ricardo! — as crianças gritaram em uníssono.

— Olá, crianças, que bom ver vocês. — Peguei o caçulinha da Dani,

o pequeno Caio, de três anos, e joguei para cima, sempre fazia isso com ele.

— Agora chega, Caio! Vá com os seus irmãos para o carro e espere

a mamãe. — Dani praticamente pegou o menino do meu colo de cara

fechada.

— Vocês também, crianças, podem ir andando na frente que eu já

alcanço vocês. — Yudiana levou as mãos na cintura com aquele olhar


assassino que te faz engolir em seco, sempre foi muito direta quando o

assunto é defender alguém importante para ela.

Por isso, assim que as crianças saíram o sermão começou.

— O que veio fazer aqui, Ricardo? Terminar o serviço? — Enfiou o

dedo minha cara adentro. — Nunca imaginei que fosse pedir o divórcio para

a minha amiga, pensei que a amasse de verdade.

— E eu amo, Yudi. Sempre vou amar a mãe dos meus filhos.

— Rá! Imagine se não amasse. — Dani cruzou os braços em cima da

barriga, ela até tentou usar um tom irônico, mas ela é uma pessoa doce

demais para isso.

— Olha, meninas, eu não vim aqui atrás de confusão. Só vim aqui

pegar as minhas coisas e ver as crianças, depois da escola vou levá-los para

passear. — Tentei passar entre as duas, mas elas impediram a minha

passagem.

— Ok, Ricardo. Mas fique sabendo que nós estamos indo embora

agora, mas voltaremos à tarde, e se encontrarmos a nossa amiga pior do que


quando saímos, Dani e eu vamos atrás de você e pode esquecer disso que

carrega no meio das pernas — ameaçou e eu engoli em seco, não tive mais

boca para dizer nada.

— É, Cavalão, estamos de olho em você. — Dani apontou os dedos

para os olhos e depois na minha direção, ela era capaz de fazer qualquer

coisa para evitar que eu fizesse a amiga delas sofrer.

— Certo, meninas, eu já entendi o recado! — Revirei os olhos

impaciente.

— Espero que tenha entendido mesmo, e avise para os seus

amiguinhos, vulgo nossos maridos, que se ficarem do seu lado nisso que está

fazendo com a Julia, vai sobrar para eles também. — Yudi tirou os óculos de

sol pendurados na gola da blusa e os colocou, então ergueu o queixo e foi

embora.

Dani fez o mesmo, elas estão com ódio mortal de mim e tinham as

razões delas para isso. Mas eu também tinha as minhas, então decidi
continuar firme na decisão que tomei. Se a Julia estava sofrendo, eu também

estava.
Julia

— Oiii, papai, o senhor voltou! — escutei o Junior gritar no andar de

baixo e o meu coração gelou. Parei de chorar, me levantei cambaleando da

cama e corri pelo corredor, feliz da vida porque o meu marido voltou para

casa.

— Oi, filhão, o papai só veio pegar algumas coisas e ver como você

e os seus irmãos estão — disse e eu paralisei onde estava e me escondi no

topo da escada para que o Ricardo não me visse, ele não voltou para casa

coisa nenhuma, apenas veio buscar as suas coisas.

Sem estrutura para ver o meu marido ir embora outra vez, me

tranquei no quarto de hóspedes e fiquei lá até que ele pegasse tudo o que

precisava e partisse. Passei os dias seguintes só chorando, não comia nada e

acabei emagrecendo os quilinhos a mais à força. Percebendo o meu estado

caótico, minha sogra ficou aqui em casa para me ajudar com as crianças.

Dona Célia é realmente um anjo.


O grande dia da formatura da Maria Lara chegou, mas eu estava um

verdadeiro bagaço e sinceramente não sabia de onde tiraria forças para ir.

Além de emagrecer, só fiquei na cama e a minha cara estava horrível. O

cabelo deu tanto nó que estava parecendo dreads, mais um dia sem lavar e

pentear e teria que cortar bem curtinho. É muito estranho ficar longe do

Ricardo, é como se estivesse faltando a minha outra metade e no lugar

tivesse se instalado um vazio sem fim. Chorei muito quando liguei para

cancelar a nossa festa de renovação de votos, o moço do bufê ficou com

tanta pena de mim que nem quis cobrar a multa por quebra de contrato.

As crianças me contaram que, sempre que o Ricardo vem buscá-las

para sair, pergunta como estou, mas evita ao máximo entrar em casa. Acho

melhor assim, estou evitando contato. Não conversamos mais desde o dia

que me pediu o divórcio, mas hoje à noite na formatura da Maria Lara não

tem para onde correr. Vai ser horrível estar perto do amor da minha vida sem

poder tocá-lo, ver ele sorrindo e saber que não é para mim.

Já chega, Julia! Pare com isso antes que comece a chorar de novo.
Apertei os olhos e respirei fundo, precisava levantar dessa cama

logo, porque os Quent chegariam de Salvador à tarde para a formatura da

Maria Lara e eu não arrumei nada direito para recebê-los aqui em casa. Vai

ser triste recepcionar os sogros e o namorado da minha filha sem o Ricardo

aqui, mas vou me esforçar para dar o meu melhor.

— Mas acho que dormir mais uns vinte minutinhos não vai fazer mal.

— Bocejei preguiçosamente, coloquei o meu tapa olhos de dormir, virei

para o canto e puxei o edredom até o pescoço.

No entanto, assim que comecei a cochilar o meu celular começou a

vibrar sem parar debaixo do travesseiro. Pensei em deixar pra lá, mas era a

Dani me ligando e mandando mensagem sem parar, atendi preocupada e ela

disse que saiu dirigindo sozinha com aquele barrigão e não estava se

sentindo bem. Tentou pedir ajuda para o Léo, mas ele estava trabalhando do

outro lado da cidade e a Yudi não atendia o celular de jeito nenhum.

Eu disse para ela se acalmar e me passar o endereço porque chegaria

lá o mais breve possível, troquei de roupa correndo e saí de chinelo


havaiana mesmo. O Barreto queria ir atrás de mim para fazer a minha

escolta, mas eu não quis, estou farta disso. Já passaram dias e nem sinal

desse tal cúmplice do tal Robinho dar as caras, e olha que, pelo que me

contaram, o Ricardo está trabalhando feito um louco nesse caso vinte e

quatro horas por dia, nem dorme mais, obcecado em encontrar o cara. Mas

para mim já chega! Não vou viver com os cães de guarda do delegado Avilar

me seguindo para todo canto que vou.

As crianças eu concordo que precisam de toda proteção possível até

capturarem esse filho da puta, mas quanto a mim, sei me virar sozinha. Até

porque, se esse cara está de olho em nossas vidas, sabe que o Ricardo me

deixou, então não tenho mais tanto valor para a sua sede de vingança.

— Por que você demorou tanto, dona Julia? — Dani colocou as mãos

na cintura e balançou aquela barriga enorme, ela não parecia nem um pouco

mal, as bochechas estavam até coradas.

— Desculpa, loira, peguei muito trânsito. Mas e quanto a você, o que

veio fazer nesse lugar sozinha prestes a dar à luz, mulher? — Olhei à nossa
volta, estávamos em um dos pontos mais altos do Rio de Janeiro onde só

mora gente bilionária em suas mansões chiques iguais aos dos filmes.

— Na verdade, eu não vim sozinha. — Coçou a nuca sem graça.

— Então veio com quem? — Franzi o cenho sem entender porra

nenhuma.

— Meu Deus, Julia! O que aconteceu com o seu cabelo? — Yudiana

apareceu do nada, levei até um susto, a mulher saiu de trás de mim com um

pirulito na boca.

— Desculpa, meninas! Mas alguém pode me explicar o que está

acontecendo aqui? — Cruzei os braços um pouco irritada, alguma coisa me

dizia que eu fui trolada.

Minhas amigas me enganaram para me trazer a esse lugar, só não

sabia o motivo, mas descobriria agora mesmo.

— O nome desse lugar é “Beleza Renovada”, o centro de estética

mais luxuoso desse país, amiga. — Dani apontou para a mansão cor-de-rosa

a poucos metros de nós com a vista privilegiada do Cristo Redentor. Minha


amiga estava tão animada como uma criança na primeira vez em um parque

de diversões.

— E nós três vamos passar o dia inteiro aqui com você trabalhando

no seu novo visual para a formatura da Maria Lara, não é incrível? — Yudi

soltou um berro com os olhos brilhando, mas eu não estava tão animada

assim.

— Eu agradeço muito o que estão fazendo por mim, meninas, mas

realmente não estou com clima para nada hoje. Só vou mesmo na formatura

da minha filha porque jamais perderia esse dia tão importante na vida dela.

— Abracei o próprio corpo sentindo pena de mim mesmo, lidar com essa

situação de divórcio me levou ao fundo do poço.

— E você vai mesmo aparecer com essa cara na formatura do ensino

médio da sua filha sabendo que o cretino do delegado vai estar presente e

lindo de morrer? — Yudi tirou um espelhinho da bolsa e me mostrou o meu

próprio reflexo, a situação era pior do que eu pensava, no canto da minha

boca tinha até aquela baba seca com que a gente acorda de manhã.
Quando a Dani me ligou, fiquei tão preocupada com ela e o bebê que

deixei as crianças com a minha sogra e saí voando, não deu tempo nem de

lavar o rosto.

— Ok. Vocês me convenceram. — Revirei os olhos. — Mas antes

preciso ligar para a minha sogra e avisar que vou demorar pra voltar pra

casa. — Tirei o celular do bolso do meu moletom.

— Não precisa, mulher, sua sogra e a Maria Lara são nossas

cúmplices nisso. — Dani pegou a minha mão e saiu puxando para o tal

centro de “beleza renovada”, nem sabia que esse tipo de lugar existe.

— Ah, mas é claro que as duas estão no meio disso, nem sei como

não desconfiei que era armação de vocês. — Abracei as minhas amigas, era

muito bom poder contar com elas nesse momento difícil.

— Vai ficar tudo bem, amiga. Como diz a Dani: não existe nada que

uma boa massagem e um corte de cabelo novo não resolvam — filosofou

Yudiana e nós três rimos.


— Obrigada, meninas, vocês não sabem o quanto é importante para

mim dar um up na minha autoestima nesse momento. — Olhei para as minhas

unhas dos pés com a metade do esmalte francesinha descascado, não sei

como deixei as coisas chegarem a esse ponto, sempre fui tão vaidosa.

— Nós sabemos, amiga, por isso te trouxemos nesse lugar cinco

estrelas para que tenha um dia de rainha com tudo por nossa conta. Então

fica tranquila e só aproveita o seu momento.

— Já que estou aqui, eu vou aproveitar cada segundo, meu bem. —

Bati a minha mão na da Dani.

Eu tenho as melhores amigas do mundo todo.

— Essa é a Julia que eu conheço! — Yudi deu um tapa no meu

traseiro, eu ri bem alto.

— Obrigada por cuidarem de mim, meninas, eu amo vocês demais.

— Comecei a chorar do nada, simplesmente não conseguia evitar, minhas

emoções estavam uma verdadeira bagunça.


— Nós também te amamos, mulher, mas agora para com essa

choradeira porque tem três gatões marombados esperando a gente para a

massagem terapêutica mais relaxante de todas as nossas vidas. — Dani deu

uma reboladinha de um jeito muito engraçado, Yudi e eu trocamos olhares

rindo.

— O Léo está sabendo sobre esses massagistas marombados, loira?

Porque se o meu marido desconfia, ele vem aqui e coloca esse spa abaixo —

brincou Yudiana ao adentrarmos o lugar, mas com um certo fundo de

verdade.

Só o juiz Thompson sozinho é mais ciumento do que o Ricardo e o

Léo juntos, depois que casou com a Yudi ele controlou esse seu lado

sombrio e os dois são extremamente felizes com a linda família que

formaram ao lado dos filhos adotivos Max e Lia, mas é melhor não cutucar a

fera com vara curta.

— Como diria a perua da minha mãe, o que acontece em um centro

de beleza permanece da porta para dentro — afirmou a loira e nós três


rimos, seria incrível passar o dia nesse lugar incrível na companhia delas.

A recepção do centro de beleza parecia um salão de festas de tão

grande, para todo o lado que a gente olhava só tinha gente com cara de podre

de rica. Fomos conduzidas até um local onde guardamos as bolsas e

trocamos as nossas roupas por um robe branco de seda com os nossos nomes

bordados à mão sobre o peito. Na boa? Achei isso muito chique. De lá

fomos para a massagem com os boys marombados e, minha nossa, eles

podiam ser gigantes e cheios de músculos, mas tinham mãos de fada a ponto

de fazer toda a minha ansiedade e estresse simplesmente desaparecerem.

Não lembro da última vez que me senti tão relaxada assim.

Depois da massagem, fomos para os tratamentos estéticos à base

somente de produtos orgânicos top de linha. Eu adorei o peeling feito à base

de essência de maracujá, minha pele ficou macia e brilhosa. Saindo de lá

passamos na sauna, em seguida fomos para a aula de yoga, meditação, dança,

entre vários outros programas do folheto. O tempo todo eram servidos

aperitivos deliciosos e taças e mais taças de champanhe francês, eu me

esbaldei e sinceramente fiquei até com vontade de mudar de vez para esse
lugar magnífico e não tirar nunca mais esse roupão de seda e os chinelos de

plumas. Mas a melhor parte ainda estava por vir, à tarde o gerente do centro

de beleza veio pessoalmente me buscar para o tratamento especial no salão

de beleza, só com os melhores profissionais do ramo.

Enquanto o cabeleireiro fazia a magia acontecer no meu cabelo, duas

manicures trabalhavam nas unhas dos pés e mãos ao mesmo tempo. Decidi

mudar o visual radicalmente, então pintei os meus cachos de castanho com as

pontas mais claras e fiz um corte moderno na altura dos ombros em camadas,

dando um ar mais jovial ao meu rosto e realçando o tom caramelo da minha

pele. Com o cabelo e unhas prontos, a maquiadora veio e fez uma verdadeira

obra de arte. Faltava só um look novo, então parei em uma das lojas de

grifes do centro de beleza e resolvi o problema.

Puta que pariu!

Foi o que eu disse quando me olhei no espelho, estava simplesmente

deslumbrante. De fato, uma nova mulher, e não estou falando só da

aparência; além de linda, me senti confiante de novo. E mais que pronta para
ir para a formatura da minha filha e arrasar com a porra toda, ela vai sentir

orgulho de mim quando me vir.

— Já estou até vendo a cara do Ricardo quando colocar os olhos em

você essa noite, vai desistir do divórcio rapidinho — brincou Dani.

— Mas agora talvez seja eu que não quero mais ficar com ele, Dani.

— Peguei a minha bolsa e saí rebolando da loja. Ricardo me tratou muito

mal na última vez que nos falamos, praticamente me enxotando da sua vida, e

nem se arrependeu depois ou pediu desculpa por me jogar para fora do

apartamento.

Minhas amigas e eu saímos daquele lugar desfilando com os cabelos

ao vento iguais às três panteras do filme, lindas, poderosas e renovadas.

— Minha nossa, mãe. A senhora está um arraso! Adorei o cabelo

novo — foi a primeira coisa que a Maria Lara disse quando cheguei em

casa, fazia muito tempo que eu não mudava o visual de maneira tão radical.

Enquanto eu já estava pronta para ir para a formatura da minha filha,

ela nem banho tinha tomado ainda. Maria Lara sempre foi assim, deixa para
se arrumar para sair na última hora e depois tem que correr para não chegar

atrasada.

— Está linda mesmo, Julia, e esse vestido então? Arrasou! — Alabá

veio me abraçar, fiquei com vergonha de não ter estado aqui para recebê-los

quando chegaram.

— Muito obrigada, Alabá, você está deslumbrante. — Toquei a

presilha de pedras douradas presa na lateral do seu cabelo, ela estava

magnífica em um vestido preto longo justo ao corpo.

— E o Oliver e as crianças, onde estão?

— A Alexa está brincando com a dona Célia e as outras crianças

estão na sala de brinquedos, já estão todos arrumados para a formatura. Já o

Oliver e o Eliot deram uma saidinha, mas devem chegar a qualquer

momento. — Sorriu sem graça, com certeza foram conhecer a nova casa do

Ricardo.

— Certo, Alabá! — Abri um sorriso amarelo.


— Caramba, mãe! Não consigo para de olhar para a senhora, sério,

cara! Está tão linda que me dá vontade de chorar. — Minha filha ficou

emocionada, ela viu quão arrasada eu fiquei quando o pai dela me deixou e

só piorei com os passar dos dias.

Em um processo de separação, quem mais sofre são os filhos.

— Ei, mocinha, pelo que eu sei é a mãe que chora na formatura da

filha, e não o contrário. — Abracei a minha ruivinha chorona. — Mas agora

é a sua vez de se transformar, meu amor, vem que eu e a sua sogra vamos

ajudar você a se arrumar para esse dia tão importante na sua vida. — Ela

assentiu sorrindo e chorando ao mesmo tempo.

Naquele momento percebi que, por mais que amasse o Ricardo,

nunca desistiria de lutar pela felicidade dos meus filhos, mesmo que fosse

sozinha. Eles merecem o meu melhor sempre. Chega de sofrer por causa de

homem, essa Julia não sou eu. Cometi um engano e faltou pouco para me

ajoelhar aos pés do meu marido para pedir desculpas, porém, ele escolheu
não me dar uma segunda chance e está tudo bem para mim. Está no direito

dele. Mas também não vou ficar chorando. É hora de seguir em frente.

O bom de ser mulher é que não importa o tamanho do tombo,

sempre levantamos mais fortes.


Ricardo

— Tem certeza de que não quer ir com a gente para a formatura,

senhor Ricardo? — Eliot me olhou com pena.

Ele e o pai fizeram a gentileza de vir me visitar porque sabiam o

quanto é difícil para mim estar longe de casa em um dia tão importante na

vida da minha filha, com quem eu queria estar presente ao seu lado a cada

segundo.

— Tenho sim, rapaz, vá fazer companhia à sua namorada, porque ela

precisa de você. — Sorri triste, eu estava enganado sobre o Eliot, ele de fato

é um bom rapaz.

— Então a gente se vê lá no salão de festa da escola, delegado. —

Oliver acenou para mim antes de irem embora, seu olhar também era de

pena.
Se até eu estava com pena de mim mesmo, imagina os outros. Os

últimos dias foram um verdadeiro inferno para mim, sofrendo longe da minha

família, e não encontrei nem uma pista sobre o cúmplice do Robinho, que

deve estar à espreita só esperando o momento certo para agir. Mas estou

atento, assim que ele colocar as caras para fora eu o capturo.

No entanto, o pior de tudo é a imensa saudade que sinto da Julia.

Todas as noites sonho com ela e durante o dia não tenho pensado em mais

nada além dela, nesse período distante percebi que a amo muito mais do que

pensei e não sei até quando conseguirei sobreviver sem essa mulher. Eu

tenho visto as crianças com frequência e isso tem aliviado a minha dor, mas

não é a mesma coisa de quando morávamos todos juntos na nossa casa.

Estou muito ansioso para ir à formatura da minha filha e encontrar a

mãe dela. Apesar de ainda estar muito zangado com a Julia, preciso vê-la ou

vou morrer.

— Na verdade, já estou morto desde o dia que me separei da Julia.

— Sorvi uma longa lufada de ar, tirei a roupa e me enfiei debaixo do


chuveiro.

Enquanto a água caía sobre o meu corpo, eu fechei os olhos e

imaginei a Julia aqui comigo, tomar banho juntos era uma das melhores

partes do meu dia. Na minha mente eu via a minha esposa de costas para

mim com as mãos abertas apoiadas no azulejo branco, dando um sexy

contraste com a sua pele escura enquanto eu a penetrava lentamente, os

gemidos dela de prazer rebolando no meu pau me deixavam ainda mais

excitado.

— Ah, Marrenta… — rosnei enquanto me tocava, então gozei logo

em seguida.

Agora é essa merda todo dia me masturbando enquanto penso na

Julia, me sinto a porra de um adolescente no início da puberdade. Mas não

tinha outro jeito, porque não tinha olhos para nenhuma outra mulher além da

Marrenta do Morro do Alemão.

Depois que terminei o banho, vesti o terno italiano azul-escuro que

comprei especialmente para ir à formatura da minha filha, calcei os sapatos


pretos sociais e penteei o cabelo com gel. Enfim, estava pronto para sair.

Assim que cheguei ao local logo avistei os meus filhos agarrados com a

minha mãe, próximos ao mural de fotos dos alunos, sorri involuntariamente

ao ver os meus pequenos. Perto deles estavam os Quent, Eliot parecia

ansioso com os olhos na namorada sentada em uma das cadeiras reservadas

só para os formandos. Minha ruivinha estava tão linda, nem dava para

acreditar que já tinha terminado o ensino médio. Estava orgulhoso de ela ter

escolhido fazer faculdade de medicina, queria trabalhar salvando vidas.

Do outro lado do salão estavam o pai da Julia junto com o filho

Fabio Junior e a sua esposa, os cumprimentei de longe, totalmente sem graça,

não sabia a opinião deles em relação ao meu pedido de divórcio.

— Olha, vovó, o papai chegou. — Junior veio correndo e pulou no

meu colo; por ser o mais novinho era o que mais estava sofrendo com o

processo de separação dos pais, sempre perguntava quando eu voltaria para

a casa.

— Oi, campeão, como você está? — Peguei meu caçulinha no colo.


— Estou bem, papai, senti sua falta. — Abraçou o meu pescoço

tristinho, alisei as suas costas com o coração doendo.

— Oiii, papai. — Os gêmeos abraçaram a minha cintura um de cada

lado, a cada dia eles cresciam ainda mais.

— Oi, duplinha do barulho. — Baguncei o cabelo do Joaquim, estava

precisando cortar, era eu que fazia isso a cada quinze dias.

Mas agora comigo morando em outra casa ia ficar mais difícil.

— Que bom que você chegou, meu filho. — Minha mãe sorriu para

mim, ela estava arrasada com a minha separação com a Julia e não parava de

martelar na minha cabeça o tremendo erro que eu estava cometendo.

— A benção, mãe, como a senhora está? — Me inclinei e beijei o

seu rosto enquanto os meus olhos escaneavam todo o salão à procura da

Julia.

Mal posso esperar para vê-la.

— Estou bem, meu amor, mas o que você está procurando não está

aqui. Julia esqueceu o celular no carro e já deve estar voltando. — Deu uma
risadinha com a mão sobre a boca, essa criatura está sempre um passo

adiante de mim.

— Não começa, dona Célia. — Acenei para os Quent. — Não faço

ideia do que a senhora está falando — menti em um pigarreio.

— Sei… — Me olhou de soslaio, fingi que a sua indireta não era

para mim e continuei dando atenção aos meus filhos.

Mas as crianças logo foram brincar pelo salão com a irmãzinha do

Eliot, nesse meio-tempo apareceram Thompson e o Léo com as suas esposas,

que mal olharam na minha cara, mas os meus amigos vieram falar comigo.

— E aí, delegado, como vai a vida de solteiro? — Léo colocou a

mão no meu ombro.

— Um verdadeiro pesadelo — respondi seco.

— Só se for para você, irmão, porque o divórcio está fazendo muito

bem para sua ex. — Thompson apontou para a porta no exato momento em

que a Julia fez a sua entrada triunfal em cima de um salto quinze agulha
vermelho, linda em um grau que fez os meus olhos saltarem para fora do

rosto.

Meu queixo literalmente caiu com o quão sexy era o vestido que a

Marrenta estava usando, ele era branco e justinho ao corpo, com um decote

em V bem cavado na altura do meio das coxas, bem provocante, mas não a

ponto de ser chamativo demais. Era perfeito. Engoli em seco enquanto ela

caminhava em nossa direção com o seu olhar de caçadora, o mesmo de

quando nos conhecemos. Confiante e fatal. Fiquei excitado pra cacete. A

desgraçada mudou o visual e, minha nossa, Julia estava simplesmente

deslumbrante. Cortou o cabelo na altura dos ombros e trocou a cor para um

tom iluminado, fora a maquiagem impecável.

Não conseguia parar de olhar para a Julia, e os outros homens

presentes também não. O professor de educação física da Maria Lara estava

a ponto de pular em cima da minha mulher, apertei os punhos de ódio

querendo arrumar briga e defender o que é meu.

O que era seu, idiota!


— Calma, Ricardão, porque aquele corpinho ali não te pertence mais

— zombou Léo vendo meu maxilar trincar de tanta raiva.

— Calma mesmo, porque o que mais tem aqui é gavião de olho na

Julia — Thompson deu continuidade na zombaria, então Léo e ele

começaram a rir da minha cara.

Com amigos iguais aos dois, não precisava de inimigo. A verdade é

que eles, apesar de estarem ao meu lado, não concordavam com o meu

pedido de divórcio e agora iriam deitar e rolar me vendo morrendo de

ciúmes da Julia bonita desse jeito, chamando a atenção de outros homens.

— Se me derem licença, vou falar com a minha filha antes da entrega

dos diplomas. — Saí dali antes que a Julia chegasse perto demais e eu

acabasse fazendo alguma loucura com algum babaca que desse em cima dela

na minha frente.

Se aquieta, Ricardo!

Respirei fundo, abri caminho entre as pessoas e fui até a Maria Lara,

tinha uma coisa que eu queria entregar para a minha filha que eu tinha certeza
de que ela iria amar.

— Você está linda, filha. — Abracei minha filha com os olhos

marejados, andava muito emotivo e me sentindo sozinho naquele

apartamento silencioso.

Me acostumei com as crianças fazendo bagunça e correndo para todo

canto da casa, também sentia falta da voz da Julia, até mesmo de quando ela

brigava comigo.

— Obrigada, pai, mas não precisa chorar porque senão vou chorar

também e vou borrar a minha maquiagem. — Enxugou com o polegar uma

lágrima fujona que caiu dos meus olhos.

— É que eu estou muito orgulhoso de você, Maria Lara. Por isso

trouxe isso para você, era da sua mãe, Andreia. — Tirei a caixinha preta

aveludada do bolso do paletó e entreguei para ela, que começou a chorar

antes mesmo de abrir.

A Julia sabe desse anel desde que nos casamos, fiz questão de contar

para ela, que achou lindo a Maria Lara poder ter uma lembrança tão linda da
mãe biológica para guardar.

— Ai, é lindo demais, pai, muito obrigada! — Tirou o anel com uma

pedra de diamante em formato de coração de dentro da caixa, que eu dei

para a mãe biológica dela quando ficamos noivos. Quando nos casamos ela

trocou pela aliança, mas guardou porque disse que, quando tivéssemos uma

filha, daria a ela no dia da sua formatura do ensino médio.

Fiz questão de guardar o anel em segredo para entregar à Maria Lara

no momento certo e cumprir o seu desejo, queria muito que a Andreia

pudesse entregar à filha pessoalmente, mas o destino tinha outros planos.

— Mandei ajustar para o tamanho do seu dedo, espero que tenha

ficado bom.

Maria Lara colocou o anel no dedo e ficou virando de um lado para o

outro, seus olhinhos brilhando de tanta felicidade.

— Ficou perfeito, pai. Eu te amo muito! — Me abraçou bem forte, eu

amava tanto ela e os irmãos que o meu coração chegava a doer.


— Eu te amo mais, filha, você é o meu orgulho nessa vida. — Beijei

o seu rosto.

— E você o melhor pai do mundo! Obrigada por nunca desistir de

mim e sempre me manter segura, você é o meu herói. — Sorri feito um bobo

com a declaração da minha garotinha.

— Ei, Maria, vai começar a entrega dos diplomas, querida — a

diretora veio chamá-la.

— Vai lá, meu amor, depois a gente se fala.

— Com certeza, pai! O senhor vai ficar para a festa depois da

cerimônia, não vai? É para todos os convidados.

— Claro que sim, filha — prometi, mas meus planos eram ir embora

logo depois da cerimônia, não estava com ânimo para festa.

— Valeu, delegado! — Me deu um último abraço antes de ir embora

rindo.

Eu saí rindo também, mas o meu sorriso desfaleceu assim que vi a

Julia sentada com os nossos filhos de um lado, e do outro o professor de


educação física babando em cima dela. Um moreno rato de academia todo

tatuado, a Marrenta sorria e mexia no cabelo a todo momento. Flertando!

Fiquei possesso e, sem pensar direito, fui tirar aquele cara do lugar que me

pertencia.

No entanto, parei no meio do caminho quando a minha mãe me olhou

feio de longe e sussurrou:

— Nem pense nisso, Ricardo Avilar! Guardei um lugar aqui para

você. — Apontou para o lugar vazio ao seu lado, ela estava sentada atrás da

Julia e eu seria obrigado a ouvir a conversa daqueles dois durante toda a

cerimônia.

Mas isso não era o pior, Léo e o Thompson estavam sentados na

mesma fileira de cadeiras da minha mãe, prendendo o riso. Ou seja, também

teria que aguentar o deboche dos dois por ter sido idiota o suficiente para

entregar a minha mulher de bandeja para outro cara. E eu sou obrigado a

concordar com o meu amigo.

Você é um completo idiota, Ricardo!


Julia

Não sabia mais o que fazer para tirar esse cara chato do meu pé, ele

até é um gato e devo admitir que é revigorante ver um rapaz bem mais novo

do que eu a fim de mim. Mas o lugar onde ele estava era o que guardei para

o Ricardo ao meu lado e das crianças para que víssemos a formatura da

Maria Lara todos juntos, mas esse sem noção veio e sentou perto de mim e

não parava de falar um segundo, minha cabeça estava até doendo.

— Mamãe, eu estou com sono — choramingou Junior esfregando os

olhos e a formatura mal tinha começado ainda, a avó dele me disse que ele

brincou muito durante o dia.

— Então vem aqui no colinho da mamãe, meu amor. — Ergui os

braços para ele.

— Não, mãe! Eu quero colo do papai. — Fez beicinho para chorar.


— Eu sei, meu amor, mas a mamãe não faz ideia de onde o seu pai

está. — Fiz carinho no seu rostinho lindo, de todos os nossos filhos o

Juninho era o mais grudado com o pai dele.

— Mas ele está aqui com a vovó, olha! — Acenou para trás de mim

com a sua carinha de sem-vergonha, então fiquei pálida.

Estava tão entretida tentando lidar com o chato de galocha que não vi

que o Ricardo estava sentado bem atrás de nós, mas, pensando por outro

lado, era até bom que visse de camarote que, se ele não me quer, tem quem

queira, meu bem.

— Então pode ir com o papai, querido. — Com um olhar matador,

olhei para trás e encarei o Ricardo por cima do ombro afrontosamente com

os meus cílios postiços gigantes feitos fio a fio no volume máximo.

Com o movimento brusco o meu cabelo — agora em cachos

medianos — caiu sobre o rosto, dando aquele ar dramático ao momento.

Ricardo chegou a engolir em seco, isso queria dizer que o meu novo visual
não passara despercebido por ele. Ótimo, Cavalão! Porque se a mudança por

fora te surpreendeu, espera para ver a interior.

A Julia maluca e estressada não existe mais, vou viver um dia de

cada vez da melhor forma possível e que se dane o resto.

— Está bem, mamãe! — Juninho beijou o meu rosto e correu para

ficar com o pai enquanto os gêmeos estavam entretidos jogando no celular.

— Então, Julia, estou tentando entender como uma mulher linda e

jovem como você já tem uma filha moça criada e mais três filhos lindos? —

O professor de educação física se inclinou para cochichar no meu ouvido e

tocou a minha coxa por breves segundos, mas o suficiente para me deixar

incomodada.

Quando abri a boca para responder, o celular do cara apitou várias

vezes, os olhos dele se arregalaram cada vez mais e ele foi ficando vermelho

e suando frio. Sua mão não parava de tremer segurando o celular.

— Está tudo bem, professor Guilherme? — perguntei preocupada,

talvez tivesse acontecido alguma coisa grave com alguém da sua família.
— Eu acho que vou sentar mais na frente, dona Julia, com licença. —

Saiu praticamente correndo.

E que história é essa de começar a me chamar de dona Julia de uma

hora para outra? Eu, hein!

— Oi, mamãe, voltei! — Junior sorriu para mim com aquela carinha

de sapeca que é só dele, ele voltou e não veio sozinho.

Ricardo teve a cara de pau de sentar no lugar do professor

Guilherme, bem ao meu lado, com o nosso caçulinha no colo. Eu tive que

trincar os dentes para não soltar uma gargalhada bem alta na cara dele.

— O Junior queria ficar perto de você — disse o cínico do meu “ex”

marido em um pigarreio, seus olhos estavam no altar onde os alunos iam

sendo chamados um a um para a entrega dos diplomas.

— Sem problemas! Apesar de tudo, estou feliz que vai ver a

formatura da nossa filha ao meu lado. — Abaixei a cabeça e não contive um

sorriso bobo, quando me virei o Ricardo me encarava daquele jeito que ele

sempre fazia, cheio de amor, quando eu estava distraída.


Junior piscava os olhos vagarosamente com uma mão segurando a

gola da camisa do pai, ele sempre dormia assim no colo dele, era como se

tivesse medo de que fosse embora enquanto estivesse dormindo e o deixasse

para trás.

— Eu esqueci como você fica linda quando sorri, Marrenta. —

Puxou o canto da boca de um jeito sexy, ele estava tão lindo naquele terno

azul italiano que as minhas pernas bambeavam como gelatina.

Nós dois ficamos ali presos no olhar um do outro em silêncio por

alguns instantes, queria dizer que o amava e que estava com muitas saudades.

Mas então lembrei que ele pediu o divórcio e então desviei o olhar sem

dizer nada, chega de fazer papel de trouxa. Bastou só um up no visual e o

Ricardo ver outro cara dando em cima de mim para abrir os olhos, mas

agora é tarde demais.

— E agora chamo a brilhante aluna Maria Lara Sofia Avilar para

pegar o seu diploma de conclusão do ensino médio — anunciou o orador da


turma e lágrimas subiram aos meus olhos, meu coração transbordou de

orgulho.

Quando minha filha começou o seu discurso de agradecimento, foi

um dos momentos mais emocionantes da minha vida.

— Boa noite a todos! Para quem não me conhece, sou Maria Lara

Sofia Avilar, mas em casa também sou a ruivinha do papai, a Maricota da

mamãe e a maninha dos meus três irmãos lindos. O dia que os gêmeos

nasceram foi o mais feliz da minha vida, mas quando o Junior veio

inesperadamente… Eu não consigo parar de sorrir até hoje. — Sorriu em

meio às lágrimas olhando para nós, Cecilia e Joaquim jogaram beijos para a

irmã, ambos emocionados com a linda declaração de amor.

Depois de uma longa lufada de ar, minha Maricota continuou a falar:

— Eu nunca contei para ninguém aqui na escola porque não estava

pronta, mas quero que todos conheçam a minha história. Minha mãe

biológica morreu durante o parto, seis meses depois o meu pai, delegado

Avilar, além da perda recente da esposa, teve que lidar com o meu
sequestro. — Ricardo soluçou, estava em prantos, estiquei o braço e segurei

a sua mão.

— Obrigado, Julia — disse com a voz embargada.

— Meu pai me procurou por anos a fio, até me encontrar no Morro

do Alemão aos cuidados de uma mulher que me acolheu e me amou

incondicionalmente como sua filha, e que hoje meus irmãos e eu temos a

honra de poder chamar de mãe. Ela e o meu tio Binho e o vovô me criaram

com tanto amor que só de falar tenho vontade de chorar. — Maria Lara caiu

em lágrimas, meu pai e o meu irmão, sentados na fileira do lado, também.

— Ei, princesa, levanta a cabeça, senão a coroa cai. — Meu irmão

Binho soltou um assobio, ele sempre fez a sobrinha se sentir parte de um

conto de fadas.

O ato do tio fez a Maria Lara sorrir, então ela continuou o seu

discurso.

— Quero que saibam que amo vocês demais, tenho a melhor família

do mundo. Mas devo salientar que a vó Célia é a melhor conselheira


amorosa de todos os tempos. — Soltou uma risada divertida em meio às

lágrimas, quem conhece a dona Célia entende o motivo. — Eu quero dizer

que sou muito grata pela vida que tive, amo minha mãe Andreia mesmo sem

tê-la conhecido. Mas também amo a mãe que me criou, ela é tudo para mim e

a pessoa que mais admiro no mundo todo. Não temos o mesmo sangue, mas

como papai sempre diz, somos iguaizinhas em tudo, principalmente quando

queremos irritá-lo — brincou e todo mundo riu, inclusive o seu pai, que

olhava para ela todo derretido de amor.

— Eu também te amo muito, filha! — gritei para quem quisesse ouvir

e joguei um beijo para ela, agora era eu que estava em lágrimas.

— Eu também amo muito vocês e não importa o quanto as coisas

fiquem difíceis, sempre seremos uma família grande e feliz e eu tenho muito

orgulho de fazer parte dela. — Tremeu os lábios olhando para mim e o pai

dela, era como se dissesse que, apesar de ser muito difícil para ela, nos

apoiaria em relação ao divórcio. — Quero agradecer também aos nossos

amigos que estão presentes, meus tios do coração John, Léo, Yudi e a Dani.

E para finalizar, quero mandar um beijo para a família do meu namorado que
veio de Salvador para o Rio só para a minha formatura, muito obrigada

mesmo. Eu te amo, Eliot! — finalizou o discurso debaixo de uma salva de

palmas enquanto recebia o diploma da mão do orador da turma. Apesar de

tímida, minha Maricota sempre foi boa com as palavras.

— Nós fizemos um ótimo trabalho com ela, Marrenta. — Ricardo

sorriu para mim, e eu acabei sorrindo de volta e tive que me segurar para

não transformar a nossa troca de olhares em troca de saliva.

— É. Nós fizemos, Ricardo. — Apertei a sua mão, nem reparei que

ainda a segurava.

Então a troca de olhares se intensificou e nossas bocas foram se

aproximando lentamente, era como se o que sentíamos um pelo outro fosse

tão forte que era impossível controlar.

— Vem, pai e mãe, quero tirar fotos com todos da família. — Maria

Lara chegou animada e arrastou todo mundo para a sessão de fotos, até

acordou o coitadinho do Junior para participar.


O fotógrafo particular que contratei foi obrigado a tirar fotos de

todos os tipos, a mais legal foi a de Maria Lara sendo erguida no ar pelo pai,

meu irmão e o avô. Minha filha ria tanto que deu gosto de ver, ela estava se

divertindo muito e se sentindo especial com todos a mimando e cheios de

orgulho dela.

— Percebeu que o seu ex-marido não tira o olho de você, amiga? —

perguntou Yudi, ela veio fofocar e a Dani apareceu logo atrás dela.

Nossos maridos, no meu caso futuro ex, estavam de longe olhando

para nós enquanto também cochichavam. Ricardo estava de braços cruzados,

emburrado, com o John de um lado e o Léo do outro rindo, e muito, de

alguma coisa que não eu fazia ideia, aqueles três eram inseparáveis e viviam

de implicância um com o outro.

— Sério? Sabe que nem percebi. — Dei de ombros me fazendo de

desentendida, mas estava rindo por dentro pelas minhas amigas também

terem notado que o Ricardo não tirou os olhos de mim desde que me viu.
— É claro que percebeu, sua mocreia, o Cavalão não para de olhar

para você e quase teve um troço quando te viu conversando com o professor

de educação física gostosão.

— Verdade, Dani! Eu fui obrigada a rir da cara azeda dele. —

Yudiana soltou uma gargalhada, elas pegaram uma implicância com o

coitado desde que contei sobre o divórcio.

— Azar o dele, meninas, porque quem pediu o divórcio foi ele.

Então o Ricardo que lute! Porque vou ficar para a festa dos formandos e

quero rebolar até o chão.

Dona Célia já tinha me falado que iria para casa depois da sessão de

fotos e levaria as crianças com ela e disse para eu ficar e me divertir na

festa, porque ando precisando de uma boa farra. Como eu já disse, a avó dos

meus filhos é a melhor pessoa do mundo.

— Então somos duas, meu bem, porque essa é a última festa que vou

antes do bebê nascer, então quero me esbaldar. — Dani deu um tapa na

própria bunda e eu ri.


— Então somos três, porque amo o DJ que vai tocar aqui essa noite e

já falei para o John que quero me acabar na pista de dança no meio dessa

molecada.

— Então fechou, meninas, vamos colocar para quebrar como nos

velhos tempos. — Juntamos as nossas mãos e depois jogamos para o ar em

um grito de guerra.

Chega de chorar, daqui para frente eu quero é pular de alegria.

Quanto ao resto? Eu quero mais é que se dane.


Ricardo

— Eu e as crianças já estamos indo, meu filho. Viemos nos despedir

de você. — Minha mãe beijou o meu rosto.

— Mas já, mãe? Se a senhora quiser levo vocês em casa.

— Não precisa, meu filho, porque fomos escoltados por duas

viaturas dos seus homens na vinda e agora na volta acho que não vai ser

diferente, não é mesmo? —Apertou a minha bochecha na frente de todo

mundo.

— Mesmo assim, acho melhor eu ir com vocês — insisti.

— Já falei que não precisa, menino, além do mais o seu sogro se

ofereceu gentilmente para nos acompanhar. — Olhou para o senhor Joaquim

de longe e ajeitou a gola da blusa, sempre desconfiei que tem uma paquera

entre esses dois, mas são muito discretos.


— Está bem, mãe, qualquer coisa me liga. — Beijei o seu rosto e me

despedi das crianças, até a filhinha dos Quent estava no meio para ir para a

casa com a vovó Célia.

— Tchau, meu genro preferido, pode deixar que cuido bem da sua

mãe. — Senhor Joaquim veio se despedir de mim, ele sabia do meu

processo de separação com a filha dele e ainda assim continuava me

chamando de genro.

Eu o entendo, porque mesmo que o meu casamento com a Julia acabe,

sempre vou continuar respeitando o senhor Joaquim como meu sogro. É um

homem de bom coração que tem toda a minha admiração e respeito.

A minha mãe e o pai da Julia saem juntos com frequência e eu

desconfio que não é só para jogar bingo e mais esses tipos de programas de

gente idosa, mas os dois negam tudo, dizem que são apenas bons amigos.

Sei…

— Tchau, senhor Joaquim, obrigado por acompanhar a minha mãe até

em casa.
— Não precisa agradecer, filho, será um prazer. — Puxou o canto da

boca de um jeito de quem está aprontando, franzi o cenho e fiquei só

observando ele e a minha mãe.

Os dois são muito fofos juntos, isso tenho que admitir!

Eu pensei em ir embora também, mas a bonita da dona Julia ficou

para trás livre, leve e solta na balada, então tive que ficar de olho nela, já

que recusou-se a ser escoltada por um policial, nem mesmo pelo Barreto,

que é amigo de anos da nossa família. Tive vontade de brigar com ela por

conta disso, mas não tinha mais esse direito. Então iria vigiá-la de longe,

qualquer movimento estranho eu entraria em cena.

— O pior de festa de adolescente é que não tem bebida alcoólica,

minha boca está até seca — resmungou Léo com as mãos no bolso.

Estávamos ele, John eu encostados na parede sem um pingo de ânimo

para essa festa juvenil. Nossas mulheres estavam do outro lado do salão

esperando o DJ começar a tocar, já o Oliver não desgrudava da esposa nem


por um segundo, se existe relacionamento perfeito, acho que o deles chega

bem perto.

— Nem me fale! Na formatura do Max também foi assim, lembra?

Parecia que aquela festa nunca teria fim e a Yudiana quis ficar até o último

minuto. — Revirou os olhos, nós sempre marcamos presença em datas

especiais dos filhos uns dos outros.

— Ainda bem que dessa vez eu vim prevenido. — Tirei um vidrinho

de metal do bolso de dentro do meu paletó contendo vodca e virei no meu

suco de laranja, sabia que não seria fácil lidar com essa noite sem álcool.

Eu estava com os nervos à flor da pele e o DJ nem tinha começado a

tocar ainda. Agora que a Julia era a solteirona do momento, iria dançar do

jeito provocativo que ela gosta e eu odeio quando não é apenas para os meus

olhos.

— Como assim você tem ouro escondido e não divide com os

amigos, cara? Passa logo isso pra cá, delegado! — Léo tomou o vidro
discretamente da minha mão e virou quase tudo no seu refrigerante, ele é um

pé de cana.

— Vai com calma aí, Léo, deixa um pouco para mim. — Thompson

brigou pelo resto da vodca, eu achei foi é graça do desespero dos dois por

um pouco de álcool.

— Eu não acredito que vivi para ver um juiz e um delegado da

polícia civil contrabandeando bebida alcoólica para um evento adolescente,

será que devo ligar para o 190? — Oliver pegou nós três no flagra.

— Eu vou só consumir, Ricardo que é o contrabandista. —

Thompson tirou o dele fora, então nós quatro rimos.

— Se dividirmos com você, promete não nos delatar? — tentei

suborná-lo.

— Na verdade, eu vim aqui para fazer essa proposta a vocês,

delegado. — Ergueu o seu copo e John dividiu com ele o que sobrou da

vodca, então ficamos nós quatro ali degustando a nossa bebida batizada.
De repente tudo ficou escuro, o DJ tocou a primeira música e todo

mundo começou a pular com as suas pulseiras e cordões florescentes

brilhando no escuro. Entre os flashes de luzes eu vi a Julia dançando em

meio à nuvem de fumaça que brotou do chão, de um jeito muito sexy, ela

mexia o corpo de um lado para o outro enquanto deslizava as mãos pelo

corpo sensualmente.

Num determinado momento, a diaba abriu os olhos e ficou me

provocando com o olhar. Eu cheguei a engolir em seco de ódio, ela estava

linda e poderosa e sabia disso. Quando um rapaz foi dançar com ela, aquele

foi o fim para mim.

— Pra mim já chega essa porra! — Eu joguei a minha bebida em

qualquer canto e fui tirar a minha mulher do meio daquele antro de perdição

juvenil, essa história de divórcio termina aqui e agora.

— Você me deve cem pratas, Thompson, eu disse que ele não

aguentava nem a primeira música. — Ouvi a risada do Léo atrás de mim,

eles haviam feito uma aposta sobre até onde o meu autocontrole iria.
Mas não me importei, tinha algo mais importante para fazer e teria

que ser naquele momento.

— Mas o que você pensa que está fazendo, Ricardo? — Julia me

olhou confusa quando a catei pelo braço e saí arrastando-a para fora daquele

monte de gente, eu não queria mais nenhum homem olhando para a minha

mulher.

— Cuidando do que é meu, Marrenta!

— Só que eu não sou mais sua, Ricardo. Então me solta porque eu

quero continuar dançando.

— Você é minha, sim! E se você flertar com outro cara igual fez com

o professorzinho de educação física da nossa filha Julia, ao invés de mandar

uma mensagem ameaçando o cara eu dou um tiro na cabeça dele — disse aos

berros em uma explosão de raiva e ciúmes.

— Então foi você que enviou aquela mensagem para o Guilherme que

deixou ele tão assustado? — Colocou as mãos na cintura, então percebi que

o barraco estava armado.


— Sim, fui eu, amor. Achou mesmo que eu ia deixar um babaca

dando em cima da minha mulher durante a formatura da nossa filha? Mas

nem fodendo, porra! Peguei o número de telefone dele no grupo do

WhatsApp de pais e professores e dei o meu recado — me justifiquei.

Mas, quanto mais eu falava, mais nervosa a mulher ficava.

— Você não tem direito de fazer isso, Ricardo! Não me quer, mas

também não me deixa ficar com mais ninguém?

— E você quer mesmo ficar com esse cara? — perguntei com os

punhos trincados, se ela dissesse que sim eu morreria.

— Isso não é da sua conta, querido! Foi você que disse para eu

seguir o meu caminho porque já estava seguindo o seu, deixou isso bem

claro quando pediu o divórcio e me expulsou da sua vida. — Tremeu os

lábios, mas não chorou.

Julia é orgulhosa demais para isso.

— Mas eu estou arrependido, amor, me desculpa! Estava magoado

porque você não acreditou quando disse que não te traí, só por isso pedi o
divórcio. Mas estou arrependido e quero voltar para casa, quase morri de

saudades de você e das crianças.

— Se você quase morreu, Ricardo, imagina eu vendo os nossos

filhos dormirem chorando todo dia chamando pelo pai. Me senti culpada e

mergulhei em uma depressão profunda, não comi direito por dias e só

chorava enfiada naquela maldita cama. — Virou o rosto para o lado para que

eu não visse as lágrimas caírem.

Me senti um bosta que agiu de maneira egoísta só pensando na minha

dor e de mais ninguém. Quando saí de casa não abandonei só a Julia, mas

sim as crianças também, que acabaram sofrendo no meio dessa confusão

toda sem terem culpa de absolutamente nada.

— Como assim não comeu direito, amor? Tem que voltar no seu

médico, você emagreceu muito em poucos dias. — Me aproximei da minha

esposa, preocupado, a saúde dela já não estava bem antes da nossa

separação.
— Eu já fui ao médico, os exames ficaram prontos há dois dias —

disse entre os dentes.

— E o que ele disse? Desculpa por não ter estado lá com você, se eu

soubesse da consulta teria ido de qualquer forma. — Abracei a sua cintura e

beijei o seu ombro, mas Julia permaneceu paralisada igual a um poste, com

os braços cruzados e uma tromba enorme.

— Não quero falar sobre isso com você agora, Ricardo, quero ir pra

casa. Você estragou a minha noite. — Tirou a chave do carro da bolsa a

tiracolo debaixo do braço.

— Então eu vou te levar em casa e você me conta durante o caminho

o que o médico disse, de jeito nenhum que vou deixar que vá embora

sozinha. Aliás, que história é essa de dispensar a escolta policial?

— Eu não preciso de babá nenhuma me vigiando, então dispenso a

sua carona e os seus cães de guarda. — Saiu andando na direção do seu

Audi branco estacionado do outro lado da rua, ela não iria me perdoar sem

antes me fazer sofrer muito por ter sido tão duro com ela.
— Não seja teimosa, Marrenta, eu só quero manter você segura. —

Saí andando atrás dela como sempre.

— Só que eu já disse que posso me virar sozinha, então me deixa em

paz. — Apertou o botão da chave para destrancar a porta e o carro

simplesmente explodiu, a sorte foi que eu estava logo atrás da Julia e

amorteci a sua queda devido ao impacto com o meu corpo.

— Meu Deus, amor! Você está bem? — Ajudei Julia a se levantar,

ela parecia bem, porém um pouco atordoada.

A essa altura todo mundo da formatura saiu para fora para saber o

que aconteceu, o som da explosão foi tão alto que mesmo com o DJ

tocando deu para ouvir.

— O que aconteceu, pai? Meu Deus! Aquele era o carro da mamãe.

— Maria Lara chegou desesperada.

— Acho que colocaram uma bomba no carro da sua mãe, filha —

disse e tanto mãe quanto filha me olharam chocadas.


— Minha nossa, a senhora está bem, mãe? E o… — Maria Lara

parou de falar de repente.

— Nós estamos bem, meu amor, não se preocupe. — Mãe e filha se

abraçaram, então as amigas da Julia vieram participar do abraço.

Os Quent ficaram assustados com a situação, não devem ver esse tipo

de coisa com frequência em Salvador.

— Está pensando o mesmo que eu, delegado? — Thompson olhava

cautelosamente ao nosso redor; ele, assim como eu, trabalha com criminosos

todos os dias e sabe como a cabeça deles funciona.

— Sim, Thompson! Quem fez isso planejou matar a minha esposa e

todos os meus filhos, então deve estar de tocaia para acompanhar o show de

perto. — Fiz sinal para o meliante de moletom preto e capuz na cabeça do

outro lado da rua, ele era o nosso cara.

— Vai nessa, Ricardo, eu cuido de tudo por aqui. — Assenti para o

meu amigo.
Tirei a arma da cintura e saí correndo atrás do filho da puta que

assumiu a culpa ao fugir de mim desesperado, sabia que se eu colocasse as

mãos nele estaria morto. Não sei que tipo de ligação essa cara tem com o

Robinho para estar disposto a matar uma mulher e quatro crianças inocentes

por ele, mas eu estava prestes a descobrir.

Consegui derrubar o suspeito com um tiro na perna, ele caiu e

continuou tentando fugir se arrastando pelo chão enquanto sangrava.

— Peguei você! — Arranquei o capuz da sua cabeça, queria ver o

seu rosto.

— Por favor, moço, não me machuca! — implorou chorando igual a

um bebê, o cúmplice do Robinho era apenas um garoto assustado, devia ter a

idade da Maria Lara ou menos.

Olhos negros tristes e o rosto em uma mistura de cicatrizes e

tatuagens, o tipo que a gente olha e sabe que se fodeu na vida desde que

nasceu.
— Quem mais está trabalhando com você? — O obriguei a ficar de

pé pisando com uma perna só.

— Ninguém, senhor, meu pai disse que eu devia fazer tudo sozinho e

sem levantar suspeitas — explicou enquanto tremia de cima a baixo, ele

estava com tanto medo que urinou nas próprias calças.

Então o garoto era filho do Robinho, o que explicava muita coisa. O

que eu não entendia é como um pai enfia o filho numa merda dessa só por

vingança; além de cruel, chega a ser patético.

— E aquela moça ruiva, a Suzana?

— Suzana é minha namorada, ela só fez aquilo porque o meu pai lhe

deu dinheiro e achou melhor aceitar porque sempre teve medo dele. Apesar

de meio maluca, peço que não a machuque, senhor — pediu em lágrimas,

seus olhos estavam na arma na minha mão, acho que pensou que eu ia atirar

nele.

Bem, uns dez minutos atrás até eu pensei. Mas, olhando para esse

garoto assustado agora, não consigo sentir por ele nada além de pena.
— Eu não vou te machucar, garoto. Mas o que você fez foi muito

grave, tentou matar a minha família e por isso está preso. Espero que na

cadeia tenha tempo suficiente para repensar a sua vida, não precisa seguir o

mesmo caminho obscuro do seu pai. — Ele assentiu de cabeça baixa

envergonhado pelos seus atos, não parecia um garoto ruim, apenas

influenciado pelo pai.

Bem que dizem que ser pai é um dom, pena que nem todos nascem

com ele. Infelizmente, quem paga o preço são os filhos.


Ricardo

Depois que o filho do Robinho foi levado para o hospital para cuidar

dos seus ferimentos, eu voltei para a escola para ver como a Julia estava.

Ela levou um susto tremendo com a explosão e devia estar em estado de

choque. Quando cheguei a encontrei sentada na sala do diretor com um copo

de água com açúcar na mão, e nossa filha e amigos ao seu lado.

— Como você está, meu amor? — Segurei a sua mão e beijei o seu

rosto, ela olhava para o nada, paralisada, nem piscava.

— Grávida — falou assim à queima-roupa, eu cheguei a cambalear

para trás pensando não ter ouvido direito.

— Grávida, Julia? — Ela assentiu, confirmando que eu seria pai pela

quinta vez prestes a completar cinquenta anos.

— Sim! O resultado dos exames não deu positivo para menopausa

precoce, mas sim para gravidez — disse e eu afrouxei o nó da gravata


sentindo um calor fora do normal, suando feito um porco.

— Meu Deus! — foi a única coisa que saiu da minha boca, estava

com a vista turva.

— Fala alguma coisa, Ricardo, você está pálido. — Minha esposa

segurou as minhas mãos, mas eu não conseguia nem respirar.

— Eu não estou me sentindo bem, amor. — Caí durinho no chão.

Acordei meio desorientado, caído bem no meio da sala do diretor,

com o meu corpo todo dolorido. Em volta de mim, tinha a equipe do SAMU

tentando me reanimar, foi assim que tive minha primeira ameaça de infarto.

Ainda com a vista meio turva, consegui ver a Júlia chorando desesperada

sendo consolada pelas amigas e o semblante preocupado nos rostos do Léo e

do Thompson.

— Ele voltou! — gritou um dos paramédicos.

— O que aconteceu? — perguntei com a voz arrastada, tentei

levantar, mas minha cabeça estava rodando.


— Você desmaiou quando a sua esposa te contou que está grávida.

Parabéns, papai do ano! — foi a última coisa que consegui escutar antes de

apagar novamente após ouvir o Thompson dizer a palavra “grávida”.

Quando acordei da segunda ameaça de infarto consecutiva, estava

deitado em uma cama de hospital com todos os nossos amigos e parentes lá

ao meu lado, menos a pessoa mais importante da minha vida.

— Cadê a sua mãe, filha? Por que ela não está aqui comigo? —

perguntei para Maria, que estava com o rosto vermelho de tanto chorar.

— A pressão da mãe subiu muito ao ver o senhor assim, pai, então o

doutor de plantão a medicou e achou melhor ela ficar no pronto-socorro em

observação por conta do bebê — disse e eu fiquei doido, se acontecesse

alguma coisa com a Julia e o nosso filho por minha causa, eu não me

perdoaria nunca.

— Eu vou ver como a minha mulher está agora mesmo. — Tentei

levantar, mas me impediram.


— Você ficou louco, meu filho? Quase morreu por duas vezes hoje,

não pode simplesmente levantar e sair andando depois de quase ter infartado

duas vezes seguidas. — Minha mãe alisou o meu rosto com carinho.

— Eu não estou nem aí, mãe, eu vou morrer é se não falar com a

Julia!

— Você ama muito essa mulher, não é, meu filho? — Sorriu com os

olhos marejados, tudo o que ela mais queria é ver Julia e eu juntos

novamente, pois a ama como se fosse sua filha também.

— Amo mais do que a minha própria vida, essa mulher é perfeita

para mim. Por isso não quero ficar mais nem um segundo longe dela e dos

nossos filhos, que agora são cinco. — Sorri feito um bobo, meu coração

ainda acelerava ao pensar na Julia grávida de novo.

— Se a ama tanto assim, meu filho, então pare de agir como um

babaca. Primeiro pede o divórcio mesmo depois da sua esposa se desculpar

pelo erro que cometeu, e agora infarta duas vezes só porque descobriu que

vai ser pai de novo. — Revirou os olhos. — Tinha que ver como a sua
mulher ficou assustada, agora está deitada em uma maca no pronto-socorro

em observação, assustada com a possibilidade de perder o bebê porque a

pressão dela subiu demais.

— Como assim risco de perder o bebê? Eu vou falar com a Julia

agora mesmo. — Arranquei aquele monte de fios presos em mim e não teve

quem me segurasse para me impedir de ir ao encontro da minha esposa.

Saí procurando a Julia pelos corredores do PS, logo a encontrei

deitada toda encolhida em uma maca, tomando soro. Ela parecia deprimida

enquanto observava um casal no box ao lado, a mulher estava grávida

também, mas já com a barriga grandona que o marido alisava com carinho

enquanto sorria para a esposa.

Vendo isso, Julia automaticamente levou a mão ao ventre e começou

a chorar. Me senti pior ainda.

— Oi, amor, eu estou aqui agora. Me diz, como você está? —

Cheguei de repente e a Julia levou um susto quando me viu.


— Eu estou bem, mas o médico disse que se eu não cuidar da minha

pressão daqui para frente, posso perder o meu filho. — Ela chorava tanto

que soluçava alto.

— Tente se acalmar, Julia. Vai ficar tudo bem! — Afaguei o seu

cabelo.

— Eu sei que você falou várias vezes que não queria mais ter filhos,

Ricardo, mas aconteceu e quero fazer de tudo para que o meu bebê venha ao

mundo com saúde e muito amor.

— Nosso bebê — a corrigi. — Você não o fez sozinha, ele é tanto

seu quanto meu. Então pare de falar dele fora do plural como se só você

tivesse direito sobre o menino.

— Quem te disse que vai ser outro menino, Ricardo? — perguntou

revirando os olhos ainda cheios de lágrimas.

— O meu instinto de pai, Marrenta. — Sorri com cara de bobo. —

Eu confesso que fiquei muito assustado quando você disse que estava
grávida, mas agora eu mal posso esperar para ver a carinha do nosso filho e

segurá-lo em meus braços.

— Sério que está feliz com o nosso bebê, amor? — perguntou

receosa, sua voz era chorosa.

— Você não sabe o quanto, amor, os nossos filhos estão crescendo

rápido. Vai ser bom ter um moleque correndo pela casa novamente.

— Amor, para de falar dele como se tivesse certeza que vai ser

menino — chamou a minha atenção, mas eu sabia que vinha um macho por

aí.

Deus que me livre ter outra menina, já basta ter que lidar com o

namoro precoce da Maria Lara, e a Ceci em breve vai virar adolescente e

vai começar tudo de novo o meu desespero para mantê-la longe dos gaviões

que vão aparecer aos montes. Vem mais um aí para o time dos meninos, já

tenho até um nome em mente.


Julia

Quando o meu médico ligou dizendo que os resultados dos exames

que fiz chegaram e pediu que eu fosse com urgência ao consultório dele

porque tinha dado uma “alteração”, logo entrei em pânico porque pensei que

era alguma doença grave. Para me acalmar ele acabou dando a notícia da

gravidez por telefone mesmo, só lembro de soltar um grito tão alto que a

Maria Lara e a dona Célia vieram correndo preocupadas ver o que tinha

acontecido. Quando chegaram no quarto me encontraram em total estado de

choque, não conseguia nem falar nada, só chorava sentada na cama, o doutor

ainda estava na linha, coitado, sem entender nada, então minha sogra

conversou com ele, que contou a novidade.

Dona Célia e a minha filha deram pulos de alegria, mas eu não sabia

decifrar ao certo o que sentia naquele momento. Meu marido tinha me pedido

o divórcio há poucos dias e logo em seguida descubro que estava grávida?

Parecia até enredo de filme da sessão da tarde. Fora que o Ricardo já tinha
falado várias vezes que não queria mais ter filhos porque mal damos conta

dos quatro que já temos, e agora vem mais um. Por isso pedi para a Maria

Lara e a sua avó guardarem segredo por enquanto, não havia contado nem

para as minhas melhores amigas, não queria que o Ricardo voltasse para

casa por obrigação, e sim por vontade própria.

Então aconteceu toda aquela loucura bem no meio da formatura da

Maria Lara, por pouco não morremos eu e o meu bebê. Por isso, na primeira

oportunidade que tive, contei para o Ricardo sobre a gravidez, e, como o

esperado, ele entrou em colapso e teve duas ameaças de infarto

consecutivos. Mas agora tudo isso passou e ele está radiante com a ideia de

ser pai novamente, tirou até licença do trabalho só para cuidar de mim

durante a gestação. Achei um exagero danado, mas não tive muito como

argumentar. Também, depois de passarmos tantos dias longe um do outro, vai

ser incrível ter ele em casa em tempo integral.

Mas isso não é a melhor parte, para comemorar o nosso aniversário

de casamento acabamos saindo em uma viagem de segunda lua de mel em

Paris. Desisti de fazer uma festa grande, tem algumas datas especiais onde só
cabem duas pessoas. Deixamos as crianças aos cuidados da avó e tiramos

esse tempo apenas para nós, e decidimos que faremos isso mais vezes

durante o ano.

— Você está feliz, amor? — Meu marido sorriu para mim, ele me

trouxe em um restaurante muito chique no centro de Paris.

Ricardo pode ser um cavalão na maioria das vezes, mas quando quer

ser romântico ele sempre se supera.

— Com você, meu amor, eu sempre estou feliz. — Sorri para ele sob

a luz das velas acesas na nossa mesa, ele pensou em tudo para fazer do nosso

aniversário de casamento um dia especial.

— Não dá nem para acreditar que faz dez anos que dissemos “sim”

um para o outro em frente ao altar, lembro de olhar para você vestida de

noiva e perguntar a Deus o que eu fiz para te merecer. — Cobriu a minha

mão com a sua, seus olhos estavam molhados.

— Que droga, Ricardo! Você está me fazendo chorar. — Limpei uma

lágrima que escapou do canto dos meus olhos.


— Sério, amor, para mim você é perfeita. Nunca imaginei que fosse

possível amar alguém assim, eu amei muito a minha primeira esposa. Mas o

que sinto por você é tão grande que não tenho palavras para descrever. Só

sentir. — Ergueu a minha mão e a beijou, esse homem anda tão romântico

ultimamente que não sei o que fazer com ele.

— Eu te amo mais, amor, obrigada por existir. — O puxei pela

gravata e beijei a sua boca escandalosamente, não estou nem aí para o que

esses europeus irão pensar.

Nesse clima de romance nós terminamos o nosso jantar, depois

caminhamos de mãos dadas pelas ruas de Paris até o nosso hotel, que não

ficava muito longe do restaurante. Encerramos o nosso aniversário de

casamento fazendo amor lentamente, não poderíamos ter comemorado de

maneira melhor.

No outro dia, depois de visitar o Museu do Louvre e outros pontos

turísticos, voltamos para o nosso quarto exaustos. Ligamos para as crianças

e mostramos os vários presentes que compramos para eles e demais


membros da nossa família, então tomamos banho juntos e ficamos de boa,

deitados em um sofá na varanda do luxuoso hotel que o Ricardo reservou por

uma semana inteira em Paris, de frente para a torre Eiffel e com uma bela e

ampla visão de toda a cidade, era o ponto alto do outono e o céu estava

tomado por uma cor amarelada de sol de setembro. Simplesmente perfeito.

— Eu mal posso esperar para que o nosso filho venha ao mundo,

amor. — Ricardo alisou a minha barriga ainda reta, eu estava com apenas

doze semanas.

— Eu também! — Me aconcheguei dentro dos seus braços em meio a

um sorriso preguiçoso, por mim passava o resto da noite ali na companhia

do homem da minha vida.

— Nossa, Marrenta, não fica se esfregando assim em mim porque

estou ficando excitado. — Mordeu o meu ombro o safado.

— Você está sempre excitado, Cavalão. Por isso que eu estou prenha

de novo — brinquei.
— Prenha do meu moleque, temos que começar a montar o quarto

dele, Julia. Pode ser aquele de hóspedes do lado do nosso, assim fica mais

fácil ficar de olho nele — disse o teimoso, ainda com essa mania de se

referir ao nosso bebê com total certeza de que é menino.

Depois do sufoco que foi deixar a Maria Lara namorar, ele está

traumatizado só de pensar que vai passar pelo mesmo com a Ceci, imagina

ter que passar por isso uma terceira vez. Por isso pôs na cabeça que o nosso

bebê vai ser outro menino.

— Eu acho melhor esperar o exame para saber o sexo do bebê antes

de começar a montar o enxoval e a decoração no quarto, amor.

— De jeito nenhum, eu até já comprei ontem uma mantilha azul que

vi em uma loja de bebê ontem quando saí do hotel para fumar — soltou sem

querer e eu me inclinei e olhei feio para ele.

— Quando você começou a fumar que eu não sei, delegado Avilar?

— Não faz muito tempo, mas vou parar. — Revirou os olhos.


— Acho bom mesmo, mas agora me mostra a mantilha que comprou

para o nosso bebê. — Eu ri, porque nem precisava ver para saber qual era a

cor.

Ricardo foi correndo para o quarto e voltou com uma bolsa de loja

infantil com o desenho de um menino, eu apenas comecei a rir. Quando abri a

mantilha, era tão azul que ofuscou os meus olhos.

— Por que tanta graça, Julia? — perguntou zangado.

— Eu só estou pensando em como vou rir da sua cara se vier outra

menina, amor. — Dobrei a mantilha e coloquei de volta na sacola.

— Vai ser menino, Julia. Meu instinto de pai nunca erra! — Encheu o

peito de ar, confiante.

Eu puxei o meu marido teimoso para um beijo apaixonado, ele foi de

longe a melhor coisa que aconteceu na minha vida. E cada um dos nossos

filhos é um milagre que Deus mandou para a nossa vida. Seja menino ou

menina, sei que esse bebê será muito amado e trará muita felicidade para

todos nós.
Alguns anos depois

Ricardo

Acordei cedo para fazer a minha barba antes de ir para o trabalho,

esse mês estamos atolados com a organização do noivado da Maria Lara,

que, depois de apenas quatro anos de namoro, veio do nada com essa ideia

louca de se casar. Até tentei dizer não, mas então se juntaram ela, a mãe e a

sogra em cima de mim, e não tive como fazer nada além de autorizar.

Até porque Eliot se mostrou um rapaz muito respeitador durante os

últimos anos, ama e protege Maria Lara mais do que eu às vezes. Eu que não

gostava do moleque, agora o considero como um filho.

— Papai, o que você tá fazeno ati? — A minha pretinha linda

chegou no banheiro vestida com o seu pijama de ursinho, chupando dedo e

arrastando o cobertorzinho que comprei em Paris.


Sim! Eu estava errado. Veio foi mais uma para o time das meninas, e

a minha esposa chorou durante o parto, mas foi é de rir de mim. Hoje Maria

Julia está com pouco mais de três aninhos, é o amorzinho de todos na casa.

Mas não podia ser diferente, ela é a criatura mais doce e fofa que já existiu

na face da Terra. Pode parecer exagero de pai babão, mas não é, onde

passamos com ela as pessoas ficam encantados com a sua doçura.

— Filha, volta para a cama, ainda está muito cedo, meu amor.

— Não, papai, eu quelo ficar ati com você. — Fez biquinho e eu

achei a coisa mais linda do mundo, não aguentava o jeitinho fofo dela falar

tudo errado.

Na verdade, qualquer coisa que a Maju fazia ou falava era a coisa

mais linda do mundo para mim. Eu amava todos os meus filhos igualmente,

mas a minha caçulinha era o meu xodozinho e faltava pouco para colocá-la

em um pote e guardar para que não crescesse nunca. Eu surtei quando a Julia

me contou que teríamos outro bebê, mas hoje, toda vez que olho para a minha

pretinha linda, não consigo imaginar a nossa família sem esse anjinho.
— Está bem, docinho. — A peguei no colo e a coloquei sentada no

balcão da pia do banheiro enquanto terminava de me barbear.

— Papai, poxo falar uma coisa?

— Claro, amorzinho. — Além de amorosa, é muito educada para a

idade dela, sempre pede para fazer alguma coisa antes, mesmo quando é

alguma arte.

— Sabia que eu te amo, papai?

— Não sabia, princesa, e qual é o tamanho do amor que tem pelo

papai?

— Dexe tamanho assim. — Abriu os bracinhos com tanta força até

não conseguir mais, era incrível como não precisava fazer nada para me

deixar encantado.

É só olhar para essa coisinha fofa à minha frente que acontece

naturalmente. Mas quando faz esse tipo de graça então, eu fico todo

derretido.
— Eu também te amo muito, bonequinha! Promete uma coisa para o

papai?

— Sim, papai, o quê? — Me olhou curiosa com os seus grandes

olhos azuis, Maju nasceu com a pele bem escura igual à da mãe e os olhos

iguais aos meus.

Ou seja, linda demais com esses seus cachinhos lindos caindo sobre

o rosto. Quando crescer, vai me dar muito trabalho, assim como as duas

irmãs dela.

— Promete que nunca vai arrumar um namorado ou querer deixar o

papai? E quando crescer vai se tornar freira?

— O que é flela, papai?

— É uma coisa muito legal, meu amor, mas que você só vai ser se for

da sua vontade e não porque o seu pai quer. Não é, Ricardo? — Julia me

olhou feio, ela estava de pé no vão da porta, de braços cruzados de ouvido

na nossa conversa.
— O que foi que eu fiz agora, amor? Só estava conversando com a

minha filha, não posso?

— Não quando quer induzir a cabeça da menina. Pelo amor de Deus,

homem, ela tem apenas três anos.

— Quanto mais cedo começar, mais resultados terei dela não querer

namorar.

— Mamãe, o que é namolar? — Olhou confusa para a mãe e depois

para mim em busca de respostas, está naquela fase curiosa de querer saber o

porquê disso e o porquê daquilo.

— Algo que nunca vai fazer na sua vida se depender de mim,

princesa.

— Ainda bem que não depende, amor! — bufou Julia antes de pegar

a filha no colo e sair do banheiro, estava no horário do nosso café da manhã

especial em família.

Assim que terminei de me arrumar para o trabalho, desci para fazer

companhia à minha esposa e aos nossos filhos na mesa.


— Bom dia, família! — Beijei o rosto de cada um dos meus filhos e

da minha esposa linda.

Ela está fazendo de tudo para a Maria Julia pegar a mamadeira, mas

está difícil. A baixinha é viciada em mamar no peito.

— Bom dia, papai! — as crianças disseram alegremente.

— Filha, você já está muito grande para ficar mamando no peito. —

Julia colocou a pequena sentada no seu colo, está tentando fazê-la parar de

mamar no peito há mais de um ano e não consegue.

— Mas, mãe, a Maju só tem três anos, tadinha — Junior tenta

argumentar em defesa da irmãzinha, mas a olhadela que recebeu da mãe o fez

parar por ali mesmo.

— O neném da mamãe quer mamá só um pouquinho assim, oh — ela

disse entre os soluços e juntou os dedinhos, a coisinha mais linda desse

mundo.

Pedindo assim, é impossível dizer não. Toda manhã é a mesma coisa,

a pequena não para de chorar tentando puxar a blusa da mãe para pegar o
que quer.

— Isso, mãe! Deixa a minha gatinha mamar só um pouquinho, vai. —

Joaquim se compadeceu ao charme da caçulinha.

— É, dona Julia, que maldade! — resmungou a Ceci.

— Os dois bonitos falam isso porque não são vocês que têm uma

boca cheia de dentes te sugando o tempo todo, eu também tenho dó da nossa

pequena, mas também entendo o lado da mamãe. — Maria sempre fica do

lado da mãe, não importa a situação.

A ligação entre essas duas é única, com o tempo fica cada vez mais

forte.

— Obrigada por me entender, filha. — Jogou beijo para sua

cúmplice.

— Mas e o mamá do neném, mamãe, pode? Só hoje. — Juntou as

mãozinhas como se estivesse orando e fez carinha triste, tanto eu e quanto os

irmãos dela ficamos olhando para ela com cara de dó.


Mas a mãe dela não, Julia é dura na queda quando decide alguma

coisa.

— Desculpe, filha, mas a mamãe, mesmo com o coração doendo, não

vai dar mamá para o neném hoje. — Tentou colocar a mamadeira na boca

dela, mas a miniprojeto da mãe, teimosa que só ela, virou o rosto para o

lado.

Então a choradeira começou, mas eu resolvi o problema.

— Mama sim, filha, o papai deixa. — Puxei a blusa da Julia para

baixo e coloquei o bico do peito na boca dela, que começou a sugar com

vontade no mesmo momento, minha esposa me fuzilou com o olhar.

— Dá-lhe, Ricardão! Mostra mesmo quem manda nessa bagaça. —

Joaquim bateu a mão na minha.

— Isso aí, pai, mandou bem! — Junior comemorou com a gente.

— Vocês homens são tão idiotas! — Maria Lara revirou os olhos.

— Mas você está louca para casar com um, não é mesmo, filha? —

Apertei a bochecha da minha ruivinha.


— Às vezes me pergunto como estou casada com você até hoje,

Ricardo — rosnou a Julia, mas da boca para fora que eu sei.

— A menina ainda é muito pequena para desmamá-la, Julia, talvez

daqui uns dois anos, quem sabe.

— Você fala isso porque não é no seu peito. — Girou o nariz no ar,

afrontosa.

— Mas como você não reclama quando sou eu que ma…

— Cala a boca, Ricardo! — Minha esposa me deu um tapa no ombro

e eu comecei a rir, Julia não aguentou e acabou rindo também, e até as

crianças riram mesmo sem entender a piada.

Então minha esposa e eu trocamos olhares em meio às risadas como

se disséssemos “eu te amo” em silêncio, gratos por termos formado juntos

uma vida tão feliz com filhos lindos. A família Avilar pode não ser perfeita,

mas nela nunca falta alegria e o mais importante de tudo: o amor.


Fim…
Se você gostaria de conhecer a história de amor do Oliver e da

Alabá, sogros da Maria Lara, aconselho a ler o livro “Para sempre

minha”, também disponível na Amazon.


OUTROS LIVROS DA SÉRIE

Para você que é novo por aqui e gostaria de conhecer as histórias de

outros personagens desta série Homens da Lei, vou deixar abaixo em

ordem os nomes dos livros já disponíveis na Amazon.

*POLICIAL BARRETO — Spin-off do livro Delegado Avilar.

*JUIZ THOMPSON — Livro 2

*O GUARDA-COSTAS — Spin-off do livro Juiz Thompson.

*CORAÇÃO FERIDO — Livro paralelo da personagem Dani Flores,

presente nos livros citados acima como personagem secundária, quando

ela nem sabia ainda da existência do Marcelinho.

*CORAÇÃO VALENTE — Segunda e última parte do livro da Dani

*ADVOGADO GONZALES. — Livro 3


(será lançado em breve)

PROMOTOR PEDRO — Livro 4, último da Série Homens da Lei, que

contará a história da nossa querida Paula e a pequena Maria.


SOBRE A AUTORA

Mais informações sobre os próximos lançamentos e todos os outros

livros da autora em:

Grupo no facebook: Romances - Mari Sillva

Instagram: https://imgaddict.com/user/autoramarilia/5458384158

Wattpad: https://www.wattpad.com/user/MarliaSillva
AGRADECIMENTOS

202198671289

Muito obrigada às minhas betas Amanda e Aline, e a todas as minhas

lindonas que tanto amo do grupo no WhatsApp “Amoras da Mari” e do grupo

do Facebook: Romances — Mari Sillva, que fazem os meus dias mais

felizes.

Aos meus amados leitores do Wattpad, onde tudo começou, e estão

firmes e fortes comigo até hoje. Obrigada, amo vocês!

À equipe responsável pela produção deste livro para que ele chegasse

lindão até vocês: O revisor Fabiano Jucá e a diagramadora Denilia

Carneiro.

E, ACIMA DE TUDO E DE TODOS, A DEUS, QUE FOI A MINHA

BASE PARA CHEGAR ATÉ AQUI!

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