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Copyright © 2022 Lily Freitas

Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e


acontecimentos descritos são produtos de imaginação do autor.
Qualquer semelhança com nomes, datas e acontecimentos reais é
mera coincidência.

Capa: One Minute Designer

Revisão: Margareth Antequera

Diagramação Digital: Autora Jack A. F.


Todos os direitos reservados.

São proibidos o armazenamento e/ou a reprodução de qualquer


parte dessa obra, através de quaisquer meios — tangível ou
intangível — sem o consentimento da autora.
A violação dos direitos autorais é crime estabelecido pela lei nº
9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal.

Edição Digital ǀ Criado no Brasil

1º Edição
Julho de 2022
Este livro pode causar desconforto ou gatilhos em pessoas
sensíveis aos temas: violência, prostituição, assassinato, drogas,
tortura, estrupo, violência física e psicológica contra a mulher, entre
outros assuntos complexos que envolvem o submundo da máfia.
Se você tiver sensibilidade a algum desses temas, não inicie
a leitura.
Optamos neste livro usar a linguagem contemporânea, tanto
na narrativa quanto nos diálogos, para ficar um texto mais próximo
do que falamos no nosso dia a dia.
Desde que eu era criança meu pai me ensinou que ser fiel ao
clã era questão de honra, um traidor dentro da máfia condena não
só a sua vida, como a de toda a sua família. Sempre levei esse
ensinamento à risca e fui fiel a Domênico Pizzorni, o homem que me
treinou para ser um letal soldado.
Demonstrei minha lealdade quando defendi a sua esposa
com muito sangue, o que me rendeu uma elevação de cargo, feita
por nosso próprio Capo.
Tornei-me um tenente da máfia e um novo mundo surgiu,
pude levar para minha família todo o conforto que sempre sonhei,
mas quando certa mulher bagunçou meu coração, desestruturou
todos os ideais que sempre fiz questão de seguir.
Ambra pertence ao alto clã da máfia, como irmã do
Consigliere deve se unir a alguém tão poderoso quanto ela. O
problema é que eu a desejo e não consigo conter a atração
explosiva que acontece sempre que nos encontramos.
Resistir a tentações faz parte do meu treinamento, mas como
posso me manter longe quando ela domina todo o meu
pensamento?
Reivindicá-la pode destruir tudo o que conquistei, tenho
noção dos riscos, no entanto, Ambra merece uma grande batalha e
eu nunca fui homem de fugir dos desafios.
Ela será minha e eu não me importo com as consequências
que terei que enfrentar.
Aviso Importante
Nota da Autora
Sinopse
Prólogo
Capítulo 1 – Oferta
Capítulo 2 – Faculdade
Capítulo 3 – Amizade
Capítulo 4 - Honesto
Capítulo 5 – Eu te levo!
Capítulo 6 – Parabéns!
Capítulo 7 – Problema
Capítulo 8 – Entendo seu fascínio
Capítulo 9 – Quer ser beijada?
Capítulo 10 – Abra os olhos
Capítulo 11 – Eu beijei Amaro!
Capítulo 12 – Tentação
Capítulo 13 – Está com ciúmes?
Capítulo 14 – Convite
Capítulo 15 – Desfile
Capítulo 16 – Posso te tocar, Ambra?
Capítulo 17 – Parecemos dois criminosos
Capítulo 18 – Tem certeza?
Capítulo 19 – Sinal de alerta
Capítulo 20 – Acima das possibilidades
Capítulo 21 – Tente ser positiva
Capítulo 22 – Faça o que quiser comigo
Capítulo 23 – Não fala assim
Capítulo 24 – Mundo cruel
Capítulo 25 – Bomba-relógio
Capítulo 26 – O jantar
Capítulo 27 – Que merda de vida!
Capítulo 28 – Estou apaixonada por ele
Capítulo 29 – Quero me casar com ela
Capítulo 30 – Ela é minha
Capítulo 31 – Eu o amo
Capítulo 32 – Noivado
Epílogo 1
Epílogo 2
Agradecimento
Contatos da autora
Estaciono o carro e desligo o motor, olho para o lado onde
meu pai tem uma venda nos olhos. Ele está irritado, é um soldado
antigo da máfia e ter seus sentidos limitados não é algo que o
agrade. Porém, o momento pede um suspense e ele sabe que se
não fosse algo importante, eu não exigiria esse tipo de sacrifício.
— Vou tirar todos do carro, não mexam na venda — aviso à
minha família antes de abrir a porta e receber um jato de vento frio
no rosto.
Não consigo deixar de sorrir, hoje vou poder presentear as
pessoas que mais amo neste mundo, com um conforto que só
imaginei nos meus sonhos.
O meu pai é o primeiro a deixar o veículo, em seguida tiro a
minha mãe e irmãs. As meninas estão empolgadas, elas não
pararam de tentar adivinhar o que estava acontecendo.
— Deem as mãos e sigam as minhas instruções.
— Amaro eu já estou começando a me irritar, vou tirar essa
merda de venda.
— Não vai, pai! — Intercepto a mão dele antes que chegue
aos olhos. — É por um bom motivo, não confia em mim?
Ele bufa, mas não discute, o que é um bom sinal. Seguro sua
mão e começo a dar instruções sobre os passos deles. Abro a porta
da casa e os encaminho para o meio da sala. O meu coração dá um
salto quando vejo a grandiosidade do lugar, agora será aqui que
viverão, com o conforto que sempre sonhei proporcionar a eles.
— Pronto, podem tirar a venda.
Elena é a primeira a arrancá-la, ela olha tudo com
curiosidade. Meu pai enruga a testa e me encara, perguntando
silenciosamente o que está acontecendo.
— Que casa linda, filho — minha mãe avalia atentamente o
lugar. — Quem mora aqui?
— Vocês. — Todos me encaram perplexos, sem entenderem
exatamente o que estou falando.
— Como é? — Stefania, minha irmã do meio, questiona
incrédula.
— Que brincadeira é essa, Amaro? — A voz irritada do meu
pai se espalha pela sala. — Você sabe que não gosto de mentiras.
— Não é mentira, pai, a casa é nossa agora, foi o próprio
chefe Paolo que me deu as chaves.
— Mas esta é a casa da irmã dele — afirma confuso.
— Sim — concordo. — Mas senhora Fiorella não irá mais
morar aqui e como ela é a herdeira do maldito falecido marido, deu
permissão que nosso Capo me entregasse a casa. De acordo com
Paolo o sonho dela é que alguma família seja feliz neste lugar, já
que ela nunca foi.
Os olhos da minha mãe vão para o chão, pois sabe bem,
tudo o que aconteceu com Fiorella. Sempre me abri com meus pais
sobre todos os assuntos e quando soube o tanto que ela sofria no
casamento, desabafei com eles que eu gostaria de matar Carmelo.
Casamentos dentro da máfia são complexos, muitos homens
abusam de diversas maneiras das suas esposas, a covardia que
reina dentro de muitos matrimônios, em alguns casos, me deixa
enojado.
Eu tive sorte em nascer em um lar cheio de amor, meu pai
sempre me ensinou a respeitar as mulheres, nunca o ouvi elevar a
voz com a minha mãe. Sempre que discutiam, faziam isso dentro do
quarto mantendo a discrição.
Tenho um orgulho imenso dele e me espelho nas suas ações
em cada âmbito da minha vida. O dia que eu me casar, vou
respeitar a minha esposa sempre e espero também que tenhamos
amor no nosso casamento. Não quero passar o resto dos meus dias
com alguém por obrigação, quero poder chegar em casa e ser
recebido com expectativa, assim como via acontecer com o senhor
Domênico, meu antigo chefe direto, o homem que me ensinou a ser
um grande soldado.
Posso ser um mafioso, matar quando necessário, mas nem
por isso preciso ser uma besta-fera com a minha mulher, ela, assim
como a minha família, terá o meu melhor lado, já os meus inimigos
não possuirão esse privilégio.
— Está querendo dizer que moraremos aqui para sempre? —
Elena pergunta.
— Sim! — confirmo feliz. — Fiorella nos deu a casa, ela não
quer nada da herança do marido, este lugar para ela só traz más
lembranças. — Foi exatamente isso que Paolo me disse. — Como
ele se sente em dívida comigo por ter salvado Giovanna das garras
do asqueroso sogro, nos presenteou com esta casa.
— Que Deus abençoe a bondade dela, essa menina sofreu
tanto ao lado daquele marido. — Os olhos da minha mãe estão
marejados.
— Não podemos aceitar isso, esse lugar custa uma fortuna,
nunca poderemos pagar. — Meu pai me olha apreensivo.
— Vai recusar um presente vindo do nosso Capo? — o
questiono. — Ele ficará ofendido.
— Amaro tem razão, pai. — Stefania segura o braço dele. —
Se Paolo nos concedeu o imóvel, por ser grato ao ato de bravura do
meu irmão, podemos ficar aqui.
— O seu irmão fez apenas o serviço dele, como um leal
soldado deve proteger os seus superiores.
— Sei disso. — Nos fitamos intensamente. — Só que agora
eu sou um tenente e, como tal, sou um membro de status dentro da
máfia, não posso morar no subúrbio, seria humilhante para mim.
— Pasquale. — A voz da minha mãe é serena, mas o seu
tom é firme. — O nosso Capo sabe o que faz, se ele acha que
nosso filho merece algo assim, só podemos aceitar e sermos gratos
por termos dado a educação necessária para ele sempre ser fiel à
Famiglia. — Ela me olha com orgulho. — Não temos em casa um
stronzo[1] como Ciro, que traía ao clã e envergonhou os pais, nosso
filho é honrado.
Espero ele dizer algo, meu pai corre os olhos por toda a casa
pensativo. Sei o quanto ele é orgulhoso, mas neste caso eu estou
recebendo apenas um presente de gratidão e, quero recebê-lo
unicamente para poder propiciar conforto à minha família.
— Não sei se conseguirei viver no meio de tanto luxo — por
fim diz ao me encarar temeroso.
— Todos nós nos acostumamos com o que é bom, meu
velho, em pouco tempo andará por todos os cômodos sem maiores
problemas e, traremos muitas alegrias para este lugar que um dia
vivenciou tanta dor. — Passo a mão por seu ombro e beijo seu
rosto. — A partir de hoje esta será nossa casa e iremos construir
aqui as melhores memórias possíveis.
As minhas irmãs se aproximam sorrindo e nos unimos em um
abraço caloroso, com um raro amor em família, já que pertencemos
ao obscuro mundo da máfia. A nossa vida acaba de mudar, agora
seguiremos um outro rumo e, eu vou fazer questão de realizar o
sonho de cada um deles.
Dois anos depois

Coloco meus óculos escuros assim que saio da alfaiataria,


caminhando com meus dois novos ternos até onde estacionei o
carro. Por mais que o tempo tenha passado ainda não me
acostumei a poder comprar roupas sob medida.
Antigamente eu comprava ternos prontos, economizar para
poder dar algum conforto à minha família sempre foi meu objetivo,
porém novos ares chegaram e ainda estou tendo dificuldade de me
adaptar a minha nova realidade.
Estendo os ternos no banco de trás, em seguida entro no
carro e ligo o veículo. Enquanto mergulho no trânsito de Roma
coloco minha playlist favorita. Imagine Dragons começa a tocar me
fazendo acompanhar a canção em voz alta.
O meu celular toca, estico o olho na direção do aparelho,
verificando que é Augusto, o meu melhor amigo de infância, que
hoje trabalha comigo.
Quando recebi a promoção do Paolo, ganhei boa parte da
área de atuação do seu falecido cunhado Carmelo. Por ele ter
morrido como um traidor da Famiglia, Paolo assumiu o controle dos
seus bens, já que sua irmã não quis nada que pertencia ao maldito
ex-marido.
— Estou ouvindo.
— Estamos com ele. — Sorrio.
Há dois dias um dos associados, que protejo, teve o local
onde armazena suas drogas roubado. Ordenei uma investigação
para saber quem foi o filho da puta que ousou roubar um dos
associados.
— Estou chegando aí, cuidem bem dele.
Augusto apenas dá uma risada e desliga, ele sabe bem o que
significa “cuidar dele”, o espanhol infeliz terá um belo tratamento da
minha equipe.
Mudo a minha rota e sigo para o subúrbio, na direção do
galpão onde interrogamos nossos prisioneiros. Salazar é um
conhecido traficante. Ele trabalhou por muitos anos com o cartel
mexicano, mas atualmente tem sido o ponto de contato dos
búlgaros na Espanha.
Realmente estou curioso para saber o que levou Salazar a
nos roubar, ele sempre evitou problemas com a Cosa Nostra, atacar
um dos nossos protegidos é bem estranho.
Chego ao galpão e estaciono, entro no local e encontro
Augusto e os outros homens sorrindo ao redor do nosso prisioneiro.
Eles notam a minha presença e ficam sérios. Ainda é difícil assimilar
que agora possuo uma equipe que me deve obediência. Passei
tantos anos sendo apenas um soldado exemplar, que acabo tendo
dificuldade em aceitar que agora estou no comando.
— Cadê o nosso convidado? — pergunto ao arregaçar as
mangas da camisa.
— Já demos as boas-vindas a ele — Augusto comenta.
— Bom, muito bom. — Bato nas suas costas. — Espero que
esteja gostando do tratamento, Salazar — observo seu olho
esquerdo fechado. — Temos muito o que conversar.
— Vai tomar no cu! — Ele cospe essas palavras, o que me
faz sorrir.
— Não me dê ideias, maldito — antes que ele possa
responder algo seguro a sua mão e a viro de uma vez, quebrando
seu pulso com um estalar seco. — Agora você não vai poder roubar
ninguém. — Ouço a risada dos meus soldados. — Preciso de uma
cadeira, quero conversar com nosso convidado.
Enquanto aguardo providenciarem o que pedi, ligo para o
chefe, ele precisa saber que estou resolvendo o problema com
Salazar.
— Novidades? — Paolo pergunta sem rodeios.
— Estou com ele, já começamos a nos entender.
— Hoje estou com muitos compromissos oficiais e, Dom
preso em um problema com um dos nossos hotéis, você terá que
extrair sozinho tudo dele, mas se precisar de ajuda, chame Franco,
ele sabe o que fazer.
— Dou conta de tudo, chefe. Ele já está com uma das mãos
impossibilitada de roubar.
— Não fode, Amaro, vai querer me fazer inveja, quando
tenho duas reuniões tediosas para comparecer quando podia estar
aí me divertindo? — Prendo a vontade de rir, sei o quanto Paolo
gosta de uma ação.
— Desculpa, não foi proposital.
— Sei. — Escuto alguém falar com ele. — Termine sua
diversão, depois me encontre no La Fontaine, quero saber tudo o
que descobriu com o stronzo.
— Não se preocupe, ele vai me dizer exatamente o que
desejo.
Encerro a ligação e pego a cadeira que Sandro me oferece. A
posiciono em frente ao bastardo, terei longas horas com ele, até que
me forneça cada detalhe do que desejo.
Peço mais uma dose de uísque, enquanto aguardo Paolo
chegar. Consegui as informações que precisava e não acho que
meu chefe vá gostar do descobri.
Lidar com traidores é sempre algo complexo, principalmente
quando essa pessoa desdenha da nossa inteligência.
Sinto o meu celular vibrar dentro do terno, quando verifico
quem liga deixo um sorriso discreto se abrir.
— Algum problema? — pergunto à minha irmã Stefania.
— Nenhum. — Sua voz é animada. — Só estou ligando para
avisar que tudo está pronto para começar a minha faculdade, fiz um
jantar especial, você vai conseguir chegar cedo?
— Sinceramente não sei. — Aceno para o barman quando
me entrega outro uísque. — Se eu não conseguir chegar na hora do
jantar mando mensagem.
— Poxa, Amaro, será que não pode nem uma vez sair cedo
do trabalho?
— Você sabe que preciso mostrar serviço. — Stefania se
cala.
— Tudo bem — concorda triste.
Odeio chateá-la, mas quando se trata do meu trabalho eu
preciso ter o máximo de comprometimento.
— Prometo que vou me esforçar para ao menos te encontrar
acordada.
— Combinado. — Agora sua voz se anima, isso me deixa
contente, Stefania é o tipo de garota que fica feliz com muito pouco.
Finalizo nossa ligação e enquanto bebo meu uísque confiro
minhas mensagens. Alguém se senta ao meu lado, ergo os olhos e
encontro Domênico abrindo o terno.
— Fiquei sabendo que teve uma bela distração durante a
tarde. — Ele apoia o braço no balcão para poder me olhar melhor.
— Não foi tão boa assim, Salazar é fraco demais.
— Uma pena. — Dom ergue o dedo pedido uma bebida. —
Como estão as coisas em casa? Sua irmã está animada para a
faculdade?
— Ela acabou de me ligar avisando que está com tudo
organizado para a faculdade, acho que nunca vi Stefania tão feliz.
— Isso é bom. — Ele bate nas minhas costas. — Se precisar
de ajuda na segurança da sua irmã é só me falar, Ambra estará na
mesma faculdade, não sei nem qual o curso escolheu fazer, ando
com tanto trabalho, que deixei nas mãos da minha mãe todo o
processo de matrícula dela.
— Obrigado pela oferta, mas minha irmã não corre os
mesmos riscos que a sua, eu já tenho tudo em ordem.
— Tenha cuidado, você não é mais um simples soldado, é um
dos homens de confiança do Paolo, só esse fato já te deixa exposto.
Realmente não posso discordar dele, a minha vida mudou
muito desde que matei o pai do Dom. Se antes eu já tinha
credibilidade com os meus chefes, agora eu sou um dos primeiros
homens que eles recorrem quando precisam de um serviço
importante.
O problema é que pensar em unir a segurança das duas me
deixa apreensivo, pois ter que ter algum contato com Ambra não me
agrada. Ela cresceu e acabou se transformando em uma mulher
exuberante, que mexe comigo profundamente.
Ela é uma pessoa fora do meu radar, mas não dos meus
olhos que teimam em admirar cada curva do seu corpo. Eu possuo
muito amor à vida, não quero dar um furo e acabar expondo o
quanto me sinto atraído pela irmã do Domênico.
Porém, não posso deixar de pensar em Stefania, ela vem em
primeiro lugar e, se eu juntar as duas seguranças, ficarei mais
tranquilo. É um caso a se avaliar com calma.
— Você tem razão, acho que vou precisar ser mais atento.
— É o certo. — Ele experimenta a sua bebida. — Vamos
conversar com calma depois, podemos manter a mesma segurança
para as duas, tenho certeza de que serão boas amigas.
— Stefania é uma menina muito comunicativa, irá gostar de
se aproximar da sua irmã. — Quanto a isso eu não tenho dúvidas.
— E eu farei gosto nesta amizade. — Ele ergue seu copo na
minha direção.
— Atrapalho a conversa de vocês? — Paolo pergunta ao tirar
o terno e descartá-lo em um banco vazio.
— Sente-se aí — Dom aponta o assento ao seu lado. —
Estava combinando com Amaro para que a segurança da Ambra
também o ajude com sua irmã na faculdade.
— É um bom movimento, entre tantos estudantes elas ficam
mais vulneráveis. Eu tive muita dor de cabeça com meu inferno
vermelho, praticamente monitorava todo o campus. Ela
acompanhada do Leonardo sempre foi algo que me preocupou,
apesar de ele ser mais ajuizado do que minha esposa, quando o
assunto era segurança.
— Essa é minha preocupação com Gio, sei que ela é atenta,
mas não gosto de saber que está em meio a pessoas que não
temos total conhecimento.
— Giovanna sabe dos riscos, Dom, foi criada entre nós,
Masha não, apenas depois do incidente com o russo que ela
entendeu de verdade que segurança não é brincadeira.
— Neste ponto você tem razão.
Sem precisar pedir uma bebida, Paolo é servido pelo barman
com seu uísque favorito, ele experimenta a bebida tranquilamente,
antes de focar a atenção em mim.
— Vamos lá, Amaro, me diga tudo o que descobriu com
Salazar.
— O senhor não vai gostar. — Ele ergue uma sobrancelha. —
O nosso associado estava negociando armas com os búlgaros, não
fez o pagamento corretamente, por isso teve as drogas roubadas. —
Acompanho atentamente a mudança na expressão do chefe, eu
poderia ter pena do traidor, mas já que ele está negociando
escondido, merece o castigo que terá. — Pelo que Salazar falou,
alguns dos nossos associados estão comprando armas
paralelamente ao nosso esquema por conseguirem preços mais
baratos.
— Como é? — A voz rascante do Paolo me arrepia, ele é
bem intimidador quando está furioso. — Esses filhos da puta estão
me passando para trás dentro do meu território?
— Infelizmente, sim. — Pego um papel onde anotei o
endereço que as armas compradas dos búlgaros estão
armazenadas. — É nesse apartamento que eles guardaram as
armas, mandei investigar e pertence a Andreoti.
— Inacreditável que aquele boçal tenha tido essa coragem.
— Dom encerra seu uísque e pede outro.
— Nicolo. — Paolo chama seu fiel segurança. — Reúna
alguns homens e vá até esse endereço. — Entrega o papel que lhe
forneci. — E mande outra equipe ficar vigiando Andreoti Pirlo. Se
acharem nesse imóvel, armas que não são vendidas por nós, pegue
o maldito Andreoti e o leve para o galpão, dê as boas-vindas ao
maledetto [2]ao longo da noite, pela manhã eu e Dom estaremos
com ele.
— Certo, chefe. — Nicolo pega o endereço e o guarda no
bolso. — Com licença.
— Se essa história for real, vou fazer esse desgraçado
sangrar até que não exista uma gota de sangue em seu corpo, não
admito que me traiam. — Paolo bate sobre o balcão de madeira,
atraindo os olhares dos funcionários que estão organizando a casa
noturna para abrir.
— Salazar não mentiria — digo convicto. — Desde que
descobri quem havia roubado Andreoti, eu achei estranho, sabia
que existia algo por trás.
— Tudo o que eu queria era a porra de um minuto de paz. —
Dom sorri da fala do cunhado.
— Paz você encontra em casa, com sua mulher e filha — ele
diz ao olhar o relógio. — E falando em família preciso ir, quero
chegar mais cedo para ficar com Gio e nosso bebê, amanhã nos
falamos.
— Também vou para casa, amanhã o dia será longo.
— E movimentado. — Domênico apoia a mão no meu ombro.
— Vá descansar também e não esqueça o assunto da sua irmã.
— Eu não vou esquecer.
Fico aliviado quando os dois se afastam, vou poder chegar
cedo em casa e aproveitar o jantar que Stefania preparou.

— Não acredito que chegou cedo. — Minha irmã pula em


cima de mim feliz.
Ela já é uma mulher, mas ainda mantém um ar ingênuo que
me deixa preocupado.
— Apesar do dia agitado, consegui fazer tudo a tempo de
apreciar seu jantar. — Beijo seu rosto.
— Filho, estou contente que tenha chegado cedo. — Minha
mãe se aproxima para me beijar.
Eu sou um cara afortunado, consegui nascer em uma família
que manteve todas as maldades da máfia longe da nossa casa.
— Hoje tive sorte. — Passo os braços por seus ombros e
beijo o topo da sua cabeça. — Vou tomar um banho e já desço para
o jantar.
— Tudo bem. — Minha mãe acaricia meu rosto.
Ela é extremamente carinhosa, Stefania é igual, diferente de
Elena, que é mais reservada e arisca.
Subo as escadas na direção do meu quarto, ainda é difícil me
sentir confortável com minha nova realidade. Já estamos nesta casa
há dois anos e todos os dias eu me sinto incrédulo por dar esse tipo
de luxo às pessoas que amo.
Tomo um longo banho, tentando deixar escorrer pelo ralo
toda a maldade que pratiquei em nome do meu serviço. Desde cedo
assumi minha posição como mafioso, mas nem por isso sou feliz
com tudo o que preciso fazer, enquanto estou no trabalho.
Quando termino de me vestir desço e ouço as falas animadas
das minhas irmãs. Encontro todos reunidos na sala, apenas me
aguardando para a refeição.
Meus olhos encontram os do meu pai, ele me fita sério,
certamente já sabe que tive um momento com Salazar. Como
sempre ele é discreto, sempre evita falar sobre os assuntos do clã,
quando estamos em família.
— Preparei um drinque especial para nós, tome um pouco.
— Stefania me entrega um copo. — Espero que goste.
— Você sabe o que faz. — Experimento a bebida e sinto o
gosto refrescante do maracujá.
Passamos um tempo conversando, ouço minha irmã falar
empolgada sobre suas expectativas para a faculdade. A alegria dela
em realizar esse sonho é contagiante, eu me sinto extremamente
feliz por proporcionar essa felicidade a ela.
Quando seguimos para a mesa, sorrio animado quando vejo
que ela fez um delicioso macarrão com molho de camarão. Stefania
tem uma aptidão natural para cozinhar, assim como nossa mãe, ela
tem um tempero perfeito.
— Isso está divino — digo quando termino de mastigar um
dos camarões. — Deveria estudar gastronomia, não arquitetura. —
Ela sorri, feliz com meu elogio.
— Por mais que eu goste de cozinhar, amo ainda mais
desenhar, criar ambientes. — Vejo a paixão brilhar em seus olhos
quando fala.
— O importante é você estar feliz — meu pai comenta ao
lançar um olhar carinhoso a filha.
— Hoje tive uma conversa com o senhor Domênico — digo
ao terminar de provar meu vinho. — Ele lançou a ideia de unir a sua
equipe de segurança com a da irmã dele, ela também entrará na
faculdade.
Sou formal ao falar do Dom, apesar de não o chamar mais de
senhor quando estamos juntos, mantenho o respeito entre minha
família. Meu pai não gosta quando o trato como se fosse um dos
meus amigos.
— Por que isso? — As sobrancelhas do papai se unem ao
fazer a pergunta.
— Ele acha que Stefania pode correr riscos agora que sou
um tenente, não pertencemos mais a base do clã, podemos ser um
alvo. — Todos me olham apreensivos.
— Acho que Domênico está exagerando — minha mãe diz
preocupada.
— Talvez, mas não vou arriscar, prefiro estar resguardado.
— Você está me deixando com medo. — Stefania me olha
aflita.
— Não fique, é só uma precaução — afirmo. — Será bom ter
Ambra ao seu lado, poderão formar uma boa amizade, vocês têm
praticamente a mesma idade.
— Não somos do mesmo meio deles, Amaro. — Meu pai me
olha duramente. — Ambra é do alto clã, nós não.
— Meu irmão é um tenente, isso faz com que nossa família
tenha importância. — Elena se posiciona.
— Nossa linhagem nunca teve status, precisamos saber onde
é nosso lugar. — Certa tensão se instala entre nós com a fala do
nosso pai.
— Discordo, papai. — Limpo a boca com o guardanapo antes
de voltar a concluir minha fala. — As coisas mudaram e precisamos
nos moldar à posição que nos encontramos. — Ele me encara com
desagrado. — Eu sou uma das pessoas mais próximas do alto clã e
eles me tratam com o devido respeito. Se Dom acha que Stefania
merece segurança reforçada, ela terá. — Sou inflexível no que digo.
— Vou me organizar com ele e providenciarei uma segurança rígida
para as duas, não é algo a se discutir.
Noto que ele não gostou do meu posicionamento agressivo,
porém meu pai não debate, assim como eu ele preza pelo bem-
estar das filhas. Nós dois sabemos os riscos que um membro da
máfia pode correr, mesmo que ele não seja pertencente ao alto clã.
Se eu posso proteger Stefania, eu farei isso sem pensar duas
vezes, ainda que eu tenha que me foder sempre que encontrar
Ambra.
Quando estou ansiosa a minha fome simplesmente
desaparece, eu fico muito enjoada, comer vira algo impossível.
— Filha, não pode ir para seu primeiro dia de aula sem comer
nada.
— Não consigo, mãe, mas posso levar algo na bolsa e como
quando eu estiver mais calma.
— Por que tanto nervosismo? — pergunta ao segurar minhas
mãos.
— Estou realizando um sonho, vou poder estudar, nunca
pensei que conseguiria algo assim, se o papai estivesse vivo, jamais
me deixaria passar na frente da universidade.
A minha mãe me abraça, ela sabe o inferno que passamos
nas mãos do marido. A sua morte foi uma grande libertação para a
nossa família, agora temos paz, não sentimos mais medo em viver
na nossa própria casa.
— Você merece essa realização, meu anjinho. — Com
carinho ela segura meu rosto e beija minha testa. — Eu espero que
a faculdade seja tudo o que você sonha.
— Vai ser, eu tenho certeza.
— Ambra, onde você está? — Pulo assustada com a voz
potente do meu irmão me chamando.
— Dom chegou, preciso ir.
— Leve uma fruta para comer. — Ela pega uma maçã.
— Mãe, eu sou grandinha, também posso comprar algo por
lá.
— Para mim sempre será uma criança. — Como não quero
contrariá-la pego a maçã e corro para a sala.
— Pronta? — Dom pergunta ao notar minha presença.
— Nervosa, mas pronta. — Ele me encara com ternura.
— Não fique nervosa — diz ao rodear o braço por meus
ombros. — Só preciso que sempre esteja atenta.
— Eu vou ficar — afirmo. — Onde está a Gio? Pensei que ela
fosse com a gente.
— Hoje ela entra mais tarde, mas certamente vocês se
esbarrarão por lá.
Meu irmão faz um afago no meu cabelo e vai beijar nossa
mãe, eles conversam por alguns segundos, até que o sigo para a
saída sentindo a ansiedade me consumir.
Enquanto Dom dirige tranquilamente pela cidade eu sinto a
agitação crescer dentro de mim a cada minuto que nos
aproximamos da faculdade. Esperei tanto por este momento, é até
difícil acreditar que está acontecendo.
— A irmã do Amaro também começará a estudar hoje, quero
que vocês fiquem juntas, eu combinei com ele que dividiriam a
segurança.
— Que boa notícia, vai ser bom ter alguém comigo do clã.
— Foi o que pensei. — Ele gira o volante ao fazer uma curva.
— Por mais que Giovanna também esteja na mesma faculdade, ela
já está bem a sua frente, vocês não terão tanto contato.
— Sei disso, mas espero sempre a ver no campus.
— Claro que verá, pedi que ela te ajude a se adaptar.
— Obrigada por tudo o que está fazendo por mim, Dom.
— Você merece, meu anjo. — Ele para o carro. — Vamos
sair, Amaro já deve estar nos esperando.
Rapidamente abro a porta e sigo ao lado dele saltitante,
estou parecendo uma criança que ganhou o presente dos sonhos.
Olho ao redor a confusão de estudantes que andam pelo
campus, eles não têm ideia do quanto são sortudos por serem
livres, eu só estou aqui porque, ao contrário do meu pai, Domênico
não é um homem abusivo.
— Amaro está ali. — Dom segura o meu braço e me leva na
direção de uma árvore.
— Bom dia, Domênico. — Amaro cumprimenta meu irmão.
— Bom dia. — Dom faz um leve aceno para a irmã dele. —
Tudo bem, Stefania?
— Sim, senhor — a menina responde encabulada.
Olho para Amaro e fico travada, ele é extremamente bonito,
desde que fiquei adolescente passei a nutrir uma paixão secreta
pelo segurança do meu irmão. Toda vez que eu o encontrava sentia
meu coração acelerar, depois que ele foi promovido raramente o vi,
mas pelo jeito o meu coração não parou de bater sem controle por
ele.
— Bom dia — digo aos dois, porém decido me concentrar na
irmã dele. — Estou feliz em saber que começaremos juntas.
— Eu também. — Ela sorri. — Muito prazer, sou a Stefania.
— Prazer, Ambra. — Trocamos um aperto de mãos.
Sempre soube que Amaro tinha irmãs, mas nunca tive a
oportunidade de conhecer sua família.
— Como vai, Ambra? — Amaro me cumprimenta com sua
voz profunda.
Sinto minhas bochechas ruborizarem, é difícil estar perto dele
sem sentir meu corpo esquentar.
— Oi. — Não sei bem como falar com ele.
— Vocês duas terão a mesma equipe em prontidão, sigam as
ordens dos seguranças, por mais que tenhamos homens rodando
toda a faculdade, é sempre bom que fiquem atentas. — Meu irmão
dita as ordens.
— Não se preocupem com nada — digo tentando acalmá-lo.
— Eu sempre me preocupo. — Dom apoia a mão na minha
cabeça. — Preciso do seu celular, Amaro vai anotar o número dele,
se precisar de algo e não conseguir falar comigo, ligue para ele.
Troco um rápido olhar com Amaro antes de entregar o celular
ao meu irmão. O meu coração começa a batucar
descontroladamente, eu vou ter acesso ao número dele, é uma
tentação imensa, mesmo sabendo que Amaro jamais vai se
interessar por mim.
Com tranquilidade vejo-o digitar seu número na minha
agenda, em seguida estende o telefone para mim. Quando o pego
nossos dedos roçam, imediatamente meu corpo é sacudido por um
tremor incontrolável. Acabo me atrapalhando e meu celular escapa
da minha mão, com uma agilidade incrível Amaro consegue impedir
sua queda.
— Opa! Quase caiu — fala sorrindo, ao voltar a me entregar
o aparelho.
— Eu sou um pouco atrapalhada — comento envergonhada
por ser tão imbecil na sua frente.
— Você só está nervosa. — Ele segura a minha mão.
— Aqui não muda muito da sua escola, só o ritmo de estudo
é diferente e você lida com adultos, que na maior parte do tempo
não são tão adultos quanto pensam — Dom fala dividindo um
sorriso divertido com Amaro. — Não saia sem seus seguranças, não
importa o convite que receba e nada de rapazes te rondando, eu
não quero ter que quebrar o pescoço de algum idiota.
— Para com isso, Dom — digo com a voz nervosa.
— É só um alerta. — Rolo os olhos para o alto.
— Vamos tentar achar nossas salas? Não quero chegar
atrasada no meu primeiro dia de aula — digo a minha nova amiga.
— Também não quero. — Stefania se posiciona ao meu lado.
— Estamos indo.
— Eu venho buscar vocês, hoje mudei minha rotina — Amaro
anuncia.
— Tudo bem, vamos te esperar. — Parecendo me conhecer
há muito tempo Stefania engancha o braço ao meu e começa a
andar. — Finalmente livres, ou quase isso — diz quando os meninos
já não podem nos ouvir. — Eu não acredito que estou na faculdade,
se eu acordar e for um sonho vou ficar furiosa. — Sorrio, ela é bem
engraçada.
— Se for um sonho estamos juntas nessa. — Nos olhamos
sorridentes.
— Não é possível que estamos sonhando, nem nos
conhecemos de verdade, é real sim.
— Claro que é. — Olho para a frente e vejo o antigo prédio
principal da faculdade. — Vamos começar o ensino superior e eu
espero que sejamos boas amigas.
— Seremos, senti boas vibrações vindas de você. — A
encaro com as sobrancelhas unidas, Stefania é bem diferente das
poucas meninas que convivo, ela é espontânea, gosto disso.

Coincidentemente eu e Stefania iremos fazer três matérias


juntas, enquanto ela vai cursar arquitetura, eu farei publicidade.
Estou muito feliz por termos alguns dias da semana na mesma sala.
— Estou tão empolgada, quero que chegue logo amanhã —
Stefania fala quando começamos a caminhar pelo campus.
— Também estou, agora que minha ansiedade baixou, estou
me sentindo mais calma.
— Ei, vocês! — Olhamos ao mesmo tempo para trás e nos
deparamos com Giovanna e Leonardo. — Estávamos procurando as
duas.
— Oi, Gio. — Sorrio quando ela me abraça. — Também
estava tentando te achar.
— Tive que esperar Leo resolver um problema na secretaria.
— Duas novas bambinas nessa faculdade sem ter a minha
proteção não é um bom sinal. — Como sempre Leo é bem-
humorado.
— Somos comportadas — digo ao lançar um olhar para
Stefania. — Já conhece a irmã do Amaro? — pergunto a ele.
— Claro que conheço minha cunhada. — Leo se aproxima
dela. — Ainda espero um convite para jantar na sua casa, de acordo
com fontes seguras você cozinha muito bem, seria maravilhoso
poder comer um belo prato e paquerar seu irmão. — Stefania solta
uma risada.
— Você não muda — ela fala alegre.
— Na verdade, sou persistente, ragazza, quero meu mafioso,
só não ando dando sorte.
— Sossega, Leonardo. — Gio o recrimina. — Vamos embora
meninas, nossa escolta já está nos esperando.
— E como está meu sobrinho Massimo? Quero vê-lo, já tem
quase uma semana que não o encontro.
— Cada dia mais levado, agora solta gritinhos
aleatoriamente. — Giovanna sorri. — Não vejo a hora dele começar
a falar.
— Falta pouco, ele já vai fazer sete meses.
— O tempo passa rápido. — Avistamos nossa equipe de
segurança e entre eles está Amaro, exibindo toda a sua beleza com
as mangas da camisa arregaçadas, revelando suas tatuagens sexy.
— O motivo da minha libido está na minha frente, mais
gostoso que nunca — Leo comenta ao alargar o sorriso. — Ei,
bonitão, quanto tempo.
— Como vai, Leonardo? — Amaro o cumprimenta de maneira
polida.
— Se continuar com esse tom de macho alfa, não respondo
pelas minhas atitudes.
— Meu Deus, Leonardo, você não consegue se controlar? —
Gio reclama.
— Como consigo me conter com Amaro na minha frente, mio
amore? Eu já uso todo o meu controle quando vejo seu marido
gostoso.
Stefania olha para ele de boca aberta, enquanto Amaro
abaixa o rosto para sorrir. Leonardo é uma piada em forma de
pessoa, ninguém consegue ficar sem rir perto dele.
— Como está, Amaro? — Giovanna ignora o amigo.
— Muito bem.
— Você está sumido, nunca mais apareceu lá me casa.
— O trabalho anda agitado.
— Será que nunca conseguem ter uma desculpa melhor?
Dom sempre fala o mesmo.
— Realmente andamos bem atarefados com alguns
problemas chatos. — Ele faz uma careta.
— Tente arrumar um tempo, quero providenciar um jantar
para você.
— Serei convidado? — Leo a questiona.
— Claro que não, Amaro não merece você se jogando para
ele.
— Não me jogo para ele, só deixo claro que estou disponível.
— Vamos embora. — Gio enlaça o braço do amigo. — Quero
você jantando comigo, é uma ordem.
— Vou marcar um dia.
— Acho bom. — Ela nos encara. — Meninas preciso ir,
amanhã vamos tentar nos encontrar no intervalo.
— Óbvio que sim — afirmo empolgada por imaginar meu
próximo dia de aula.
Com um aceno de mão ela se afasta ao lado do Leo, que
sorri para nós, em seguida pisca para Amaro.
— Ele é tão animado e destemido — Stefania diz quando
ambos estão longe.
— É um homem que não tem medo da morte — Amaro
responde a irmã ao girar a chave do carro entre os dedos. —
Venham comigo, vou levar Ambra em casa, em seguida iremos
almoçar juntos, a mamãe e Elena já devem estar a caminho do
restaurante.
— Sério? Teremos um almoço especial?
— Claro que sim, você merece. — Os dois trocam um olhar
repleto de carinho.
É muito bom ver o quanto ele é atencioso com a irmã, parece
Dom comigo. Meus outros irmãos não são maus, mas eles são mais
distantes.
— Quer ir com a gente, Ambra? — Stefania pergunta quando
entramos no carro.
— Obrigada pelo convite, mas minha mãe está me
esperando. — Neste momento meus olhos cruzam com Amaro pelo
retrovisor do carro.
Mais uma vez meu rosto enrubesce, o que faz ele apertar os
olhos ao notar a minha timidez. Fico constrangida, não quero que
descubra que gosto dele, preciso encontrar um jeito de mantê-lo
longe, pois quando está por perto eu não consigo me controlar.
Um mês depois

Quando estamos fazendo algo que gostamos, o tempo passa


em uma velocidade alucinante. Ainda não acredito que há um mês
comecei a faculdade, tanta coisa aconteceu desde então.
Praticamente pulo o último lance da escada quando ouço a
voz da Stefania conversando com a minha mãe. Já a considero uma
grande amiga, desde que nos conhecemos fazemos tudo juntas.
Como ela é do clã a mamãe amou nossa amizade, o que
contribuiu para sempre passarmos algum dia do final de semana
juntas.
— Ambra disse que eu podia trazer Elena, então espero que
a senhora não fique chateada.
— De maneira nenhuma, é uma alegria ter sua irmã aqui. —
Apareço no pequeno hall de entrada.
— Vocês chegaram — digo feliz.
— Só nos atrasamos um pouco. — Stefania sorri ao falar
comigo.
— Foi ótimo, porque dormi até mais tarde. — Me aproximo
um pouco mais de onde estão. — Elena é um prazer te receber pela
primeira vez na minha casa, seja bem-vinda.
— Muito obrigada. — Ela prende os lábios em um sorriso de
satisfação.
Conheci Elena há duas semanas, quando foi buscar a irmã
no campus. Ela é uma menina simpática e diferente da minha
amiga, enquanto Stefania é mais doce, ela é atrevida.
— Vamos para o meu quarto. — Seguro a mão da Stefania.
— Quando o almoço for servido é só nos chamar, mãe.
— Divirtam-se.
Subimos as escadas animadas, é bom ter as meninas aqui,
eu me sinto muito só, tenho poucas amigas e com algumas não me
sinto tão empolgada para encontrá-las.
— Uau! Que quarto lindo — Elena exclama ao entrar.
— Obrigada, eu dei uma reformada depois que fiquei
adolescente, tirei a infantilidade com a qual era decorado.
— Ficou maravilhoso, é elegante como você.
— Para de bobagem, não sou nada elegante. — Ligo o som e
coloco em uma playlist que eu e Stefania montamos juntas.
— É sim e sabe disso. — Ela vai até a janela. — Sua casa
também é linda, obrigada por me convidar para a reuniãozinha de
vocês, eu ficava um pouco chateada quando Stefania vinha ficar
aqui.
— Pode parar, Elena. — A irmã a repreende.
— Deixe-a em paz, entendo bem ela, se eu tivesse uma irmã
também ficaria chateada se ela me deixasse sozinha.
— Acho que para você é difícil só ter irmãos. — Stefania se
senta na minha cama.
— Realmente não é fácil, principalmente porque todos eles
são bem mais velhos e não vivem mais aqui.
— Fora Dom, os outros também são legais? — penso na
pergunta da minha amiga antes de responder.
— Não são ruins, mas distantes — digo ao abraçar um
travesseiro. — Davide é avesso a máfia, depois que papai morreu,
Dom o deixou responsável pelos negócios legais da família, já
Guido nunca fez questão de ser muito próximo de mim, ele me trata
bem, mas não temos nenhum tipo de relacionamento mais próximo
como acontece com Dom.
— Nossa, eu não sei se ficaria bem, caso Amaro fosse tipo
esses seus dois irmãos.
— Nenhum deles se compara ao meu pai, não posso
reclamar muito. — As duas me olham tensas. — Aqui em casa
somos muito gratos ao seu irmão, Amaro foi um herói, não só salvou
Gio de um abuso, como nos livrou de um ser humano péssimo.
— Lamento tudo o que passaram, nós duas tivemos a sorte
de ter um pai amoroso e uma família estável. — Stefania apoia a
mão sobre a minha.
— Vocês são meninas de sorte, mas não vamos falar em
coisas desagradáveis. — Mudo o assunto. — Eu estava pensando
em pedir a Dom para irmos ao La Fontaine, quero sair um pouco e
lá é seguro.
— Eu também quero ir. — Elena me olha empolgada.
— Você ainda tem dezessete anos, não pode entrar lá. —
Stefania rapidamente se posiciona.
— Qual é? O La Fontaine é propriedade do clã, podem fingir
que eu sou maior de idade. — Sorrio, ela realmente é atrevida.
— Não acho que seja um problema, vou conversar com meu
irmão, se ele permitir iremos na próxima semana.
— Ambra, sinto que estamos formando uma bela amizade. —
Elena se aproxima da minha cama. — Nós vamos arrasar por lá,
podemos encontrar uns gatinhos.
— Elena! — Stefania praticamente grita.
— O que foi? — Ela faz uma expressão de desdém, —
podemos flertar com descrição, tenho umas amigas da máfia na
escola que ficam com os meninos sem maiores problemas.
— Ela tem razão — digo um pouco envergonhada. — Não
acho que devemos nos privar de tudo, nossa pureza é o que conta,
um beijo não mata.
— Você já beijou alguém? — Stefania pergunta curiosa.
— Já, na última férias que passei na Sicília. — As duas me
olham surpresas. — Ele era um rapaz do clã local, eu não pude
resistir, foram apenas beijos bobos e foi muito bom.
— Sua mãe sabe disso? — minha amiga pergunta.
— Claro que não. — Rapidamente nego. — Ela me mataria
se soubesse.
— Como é beijar? — Elena se junta a nós na cama. — Eu e
minha irmã nunca beijamos. — Sorrio quando Stefania cutuca as
costelas dela.
— É algo diferente e excitante — digo tentando conter a
timidez. — Ele era quase da minha idade, tinha vinte e dois anos,
mas já tinha experiência em beijar, então foi só seguir o ritmo dele.
— Os homens sempre sabem beijar, eles podem tudo, já nós,
somos obrigadas a esperar que algum deles nos escolham como
esposa. — Os olhos da Elena reviram. — Meu irmão tem uma
namorada, enquanto nós, não podemos nem sair.
— Amaro não namora, pare de exagero.
— Namora sim, sempre ouço-o falando com a tal de Alicia,
eles saem constantemente juntos.
— Sair não significa namoro, você sabe bem disso.
— Quando você sai com a pessoa por mais de três meses é
namoro.
Ouço a discussão delas com interesse, não sei muito sobre o
Amaro, apenas o que Gio fala, ainda assim, ele me causa um
fascínio intenso, se eu pudesse escolher alguém para namorar,
certamente ele seria o escolhido.
— Seu irmão é um homem bonito, natural ele ter mulheres
querendo um relacionamento estável. — Minhas palavras saem
ásperas, pensar nele beijando alguém me deixa com um sentimento
profundo de ciúmes.
— Acha ele bonito? — Agora Elena me encara com
interesse.
— Estou mentindo? — Tento não demonstrar o quanto ele
representa o meu homem ideal.
— Claro que não. — Stefania se encosta na cabeceira da
cama. — Meu irmão é lindo e também um homem íntegro, ele não é
como os merdas da máfia, que maltratam as mulheres.
— Isso é algo extremamente importante — digo pensativa. —
A esposa dele será uma mulher de sorte.
— Eu espero que ela seja legal, porque se for uma chata, eu
não quero nem saber dela. — Elena faz uma careta, o que me faz
sorrir.
— Você é engraçada demais.
— Pode falar que é uma chata, eu sei disso desde criança. —
Uma almofada que enfeita a minha cama vai na direção da Stefania.
— Eu sou uma irmã exemplar.
— Quem disse?
Olhos as duas que começam trocar farpas repletas de humor
e sinto certa inveja delas, pois não sei o que é ter alguém da família
tão próximo para que eu possa ter esse tipo de interação. Domênico
sempre foi bom para mim, mas ele nunca esteve por perto, quando
saiu de casa eu era apenas uma criança e meus outros irmãos
viviam sempre no mundo deles, só tive a minha mãe como
companhia e uma prima que vinha aqui em casa quando meu pai
permitia.
Elas não sabem, mas são garotas de muita sorte.
Deslizo a minha boca pela barriga da Alicia, ela se contorce e
ronrona no instante que alcanço a parte interna da sua coxa e beijo
sua virilha. Ela corre a mão pelo meu cabelo quando exponho sua
intimidade.
Ergo meus olhos para poder fitar seu rosto no segundo que a
ponta da minha língua toca seu clitóris. Alicia geme alto conforme
vou avançando contra sua carne úmida.
Não demora muito e ela explode na minha boca, gritando
meu nome sem controle. Ergo-me e busco por uma camisinha, não
quero dar tempo de ela respirar, até porque eu também não aguento
esperar mais para poder ter meu momento de prazer.
Levanto a sua perna e começo a penetrá-la, ela sorri ao
escorregar a mão por minhas costas, até que aperta minha bunda.
— Meu gostoso — diz ao lamber meu pescoço. — Me fode
forte, do jeito que eu gosto.
Sorrio, Alicia gosta de falar umas putarias quando estamos
trepando, não vou dizer que me incomodo com isso, mas as vezes
ela fala tanto que quase me faz perder o tesão.
Apesar de termos muitos pontos diferentes, acabei
construindo uma conexão sexual potente ao seu lado. Isso me fez
entrar em um acordo com ela, onde nos comprometemos a curtir o
que existe entre nós, sem cobranças ou exclusividade.
Eu não estou disposto a manter um relacionamento agora,
vivencio uma fase que preciso mostrar trabalho para honrar a
confiança que Paolo depositou em mim. Sem contar que Alicia não
é uma mulher da máfia, um casamento entre nós jamais poderia
acontecer.
Por isso, manter as coisas apenas no âmbito sexual foi uma
saída honesta, evito dessa maneira que ela comece a imaginar um
relacionamento estável.
Coloco suas pernas apoiadas nos meus ombros, seguro suas
coxas e começo a estocar nela com rapidez, a minha pele se arrepia
quando sinto meu orgasmo começando a se aproximar.
Alicia apalpa os seios, gemendo alto pedindo que eu vá mais
fundo. Ela gosta de uma transa bruta, esse foi um dos motivos que
nos demos bem desde o primeiro encontro. Dou exatamente o que
me pede, pouco tempo depois ela goza, gritando meu nome
enquanto sua boceta esmaga meu pau.
Agora é a minha vez, posso me deixar levar já que ela teve
seu clímax. Penetro-a mais algumas vezes, até que solto um
rosnado quando meu gozo vem com força. Mais uma vez ela foi
uma parceira perfeita, essa bela loira nunca decepciona.
Jogo o corpo ao lado do seu e tento estabilizar a minha
respiração. Essa foi a segunda rodada e eu estou definitivamente
cansado.
— Cada dia você está mais quente, eu fico louca quando o
sinto dentro de mim — ela diz ao se enroscar ao meu corpo e beijar
minha garganta. — Seu único defeito é sumir demais, queria te ver
com mais constância.
— Você sabe que ando atarefado no trabalho.
— Mas o que tanto você tem que fazer como corretor
imobiliário? Você vende quantos imóveis por dia? — Coloco o braço
atrás da cabeça evitando sorrir, se ela soubesse que, na verdade,
eu cobro proteção dos associados da máfia, ficaria escandalizada.
— Roma é uma cidade com muitos clientes em potencial,
mas não vamos falar sobre isso. — Seguro sua cabeça e a beijo.
Ela beija bem demais, foi justamente por conta do seu beijo
que eu decidi ir adiante nos nossos encontros. Para mim se não
acontece conexão no primeiro beijo, não perco tempo com a
pessoa.
— Agora preciso ir, querida, tenho um jantar em família para
comparecer. — Alicia me olha de maneira estranha.
— Você podia me convidar para ir junto — diz quando estou
me levantando e indo atrás da minha boxer.
— Nós já conversamos sobre esse tipo de intimidade quando
começamos a nos encontrar, eu não vou voltar neste assunto. —
Visto a calça.
— Isso foi quando nos conhecemos e já tem quatro meses,
acho que nossa conversa precisa ser atualizada.
— Eu não vou atualizar porra nenhuma. — Tento não ser
grosseiro, mas pela maneira que me encara eu falhei na missão. —
O que falei está de pé, não busco um relacionamento sério, quero
sexo sem compromisso, com alguém que eu me sinta atraído e
goste de estar junto. Funciona para mim o que acordamos, mas se
você não estiver feliz tudo bem, podemos encerrar nosso lance sem
nenhum drama. — Começo a fechar os botões da minha camisa.
— Você não sente nada por mim depois de todos esses
meses juntos? — Alicia se senta na cama esperando minha
resposta.
— Sinto sim. — Coloco as meias e sapato. — Sinto tesão e
carinho.
— Só isso?
— E o que mais queria, Alicia? — pergunto ao vestir o terno.
— Sempre fui honesto com você, nunca te fiz deitar na minha cama
prometendo romance. — Dessa vez sou duro. — O que eu posso
oferecer é sexo e muitos orgasmos, mas entenderei se você não
achar o suficiente, as pessoas mudam, assim como suas
necessidades.
— Você não tem coração.
— O pior é que eu tenho. — Seguro seu queixo. — Reveja
seus sentimentos, se não quiser me encontrar mais tudo bem, você
é uma menina especial, merece um homem que esteja disposto a te
dar o mundo.
— Por que não pode ser esse homem? — Ela envolve a mão
pelo meu pulso.
— Porque eu não sou a pessoa certa para você. — Beijo sua
testa. — Preciso ir, já estou atrasado para o jantar.
Não espero pela sua resposta, apenas deixo o quarto do seu
apartamento e sigo para a porta de saída. Acho que nosso tempo de
diversão acabou, uma grande pena, já que dividíamos um sexo
incrível.
Odeio arrumar novas parceiras, é cansativo me conectar com
alguém e depois explicar que só quero foder. Se eu não me negasse
a trepar com putas, eu estaria em uma situação bem confortável.

Abro a porta da minha casa e um cheiro delicioso me


envolve, não sei o que minha mãe aprontou, mas certamente está
divino, ela sabe o que faz na cozinha. Deixo as minhas chaves no
aparador e tiro meu terno.
Entro na sala e me deparo com minhas irmãs sorrindo ao
lado da sua mais nova melhor amiga. Ambra me nota primeiro, ela
me fita com seus expressivos olhos.
Eu a conheço há bastante tempo, ela estava no início da
adolescência quando comecei a trabalhar para seu irmão. Ambra
sempre foi uma menina tranquila, apesar de viver sob os abusos do
maldito pai, ela manteve a suavidade e nunca deu trabalho à família.
Sempre a vi como uma das minhas irmãs, afinal ela era irmã
do meu chefe, o homem que eu sempre tive respeito. Só que Ambra
cresceu e um dia eu esbarrei com ela em uma festa e foi um pouco
chocante quando a vi com um vestido provocante, exibindo um
corpo escultural, com uma sensualidade nata.
Ela virou uma mulher que causa estrago por onde passa e eu
que não sou cego, tive que apreciar toda a sua beleza. Claro que eu
não sou louco de esticar os olhos na sua direção, mas tudo fica bem
fodido quando agora frequenta a minha casa constantemente,
desde que minhas irmãs viraram suas melhores amigas.
É estressante ter que encontrá-la sem demonstrar os meus
desejos. Preciso o tempo todo me conter para evitar revelar todos
os pensamentos sujos que passam pela minha mente. Ambra é o
tipo de mulher que você olha e já sente seu pau ficar duro como
pedra.
Você é um merda, Amaro, deveria ter um pouco mais de
respeito pela irmã do homem que te ensinou com maestria a ser um
letal soldado do clã.
— Boa noite, meninas. — Cumprimento todas e tento não
olhar além do apropriado para Ambra.
Hoje ela está com seus cabelos presos em um coque alto,
preso por uma espécie de palito, lembrando as gueixas. Está com
uma blusa azul e calça jeans. Simples e elegante, ainda assim a
acho mais quente que o inferno.
— Boa noite, pensei que não conseguiria chegar a tempo do
jantar. — Stefania pula do sofá e vem me abraçar.
Ela é mais carinhosa entre minhas irmãs, desde criança era
meiga, ao contrário de Elena que tem uma personalidade bem forte.
— Consegui sair mais cedo do trabalho.
— Isso é um milagre. — Elena me olha com sua costumeira
ousadia. — Aposto que tinha bons motivos para isso sem ser o
jantar.
— Não venha com gracinhas. — Infelizmente sou obrigado a
olhar para Ambra, preciso cumprimentá-la com mais educação.
— Como vai, Ambra? É um prazer te ver mais uma vez por
aqui.
Agora que desenvolveu uma empolgante amizade com as
meninas, elas andam grudadas o tempo todo, em certos momentos
até evito chegar cedo em casa, só para não correr o risco de
encontrá-la.
— Eu estou bem. — Um discreto sorriso brinca em seus
lábios no formato de coração.
Que boca linda, se eu pudesse tê-la, daria bons destinos a
esses lábios delicados.
— Vou tomar uma ducha e já volto — digo ao beijar o cabelo
da Stefania.
— Está precisando de um banho mesmo, esse cheiro de
baunilha da sua namorada está enjoativo — Elena comenta ao
passar do meu lado. — Devia dar um novo perfume para Alicia.
— Pode parar de provocar o Amaro. — Stefania a recrimina.
— Eu não fiz nada. — Elena ergue as mãos. — Mas você
não pode negar que esse perfume é da namorada dele, Amaro tem
outro cheiro.
— Já basta! — Paraliso a discussão. — Eu não tenho
namorada e você não tem nada a ver com meu cheiro.
Inevitavelmente olho na direção da Ambra, que acompanha
nossa discussão com as sobrancelhas unidas e uma expressão um
pouco contrariada. Assim que nota que a observo inclina-se e pega
o celular que estava repousado na mesa de centro.
— A mamãe está na cozinha, Stefania? — pergunto
querendo mudar o rumo da conversa.
— Sim, está terminando os últimos detalhes do jantar.
— Avise que eu cheguei, já volto.
Deixo a sala e subo as escadas na direção do quarto puto da
vida, Elena sabe ser indiscreta quando quer. Seu comentário na
frente de Ambra acabou me deixando incomodado, estou me
sentindo sujo e não consigo entender de onde vem essa minha
reação.
Rapidamente me livro das roupas e entro debaixo do
chuveiro, querendo voltar ao meu aroma normal. Acabei de foder
com Alicia, mas depois de encontrar Ambra eu me sinto ainda mais
cheio de tesão. Desejar uma mulher proibida é algo bem foda.
Quando encerro meu banho opto por uma calça jeans e uma
blusa de malha preta. Ajeito meu cabelo e calço um chinelo. Retorno
para a sala e encontro minha mãe conversando animadamente com
as meninas.
— Meu filho, estou feliz em ter você no nosso jantar com
Ambra. — Eu me aproximo e beijo seu rosto.
Ela também caiu nos encantos da irmã do Dom, não sou só
eu que estou enfeitiçado por sua figura graciosa.
— Hoje o dia foi mais leve. — Sorrio para ela. — Onde está o
papai? — É melhor eu ficar afastado delas, já basta o desconforto
da hora que cheguei.
— Lendo no escritório, estávamos esperando apenas você
para o jantar.
— Então, já pode servir, eu estou faminto.
A minha fome não é só de comida, mas ninguém precisa
saber disso.
Enquanto ela ajeita a mesa, vou a caça do meu pai, melhor
manter um pouco de distância de problemas.
— Está se escondendo aqui por quê? — pergunto ao entrar
no escritório.
— Só queria deixar as suas irmãs à vontade com a nova
amiga.
— É uma boa amizade, gosto de vê-las juntas.
— Também gosto, a menina é de uma boa família, só fico
preocupado por suas irmãs pensarem que estão no mesmo nível
dela. — Cruzo os braços, meu pai cisma que ainda estamos na
base do clã, não aceita que agora entramos em um novo nível.
— Esqueça sua preocupação, elas podem ter a amizade que
quiserem, eu sou um tenente, tenho acesso livre a qualquer nível da
Famiglia.
— Não temos uma linhagem pura, sabe disso.
— Pare com isso, as coisas mudaram. — Sirvo dois copos de
uísque e mudo o assunto.
Não quero mais uma vez entrar em um embate com ele sobre
nossa classe social, meu pai é teimoso demais, é melhor evitar um
atrito.
Quando minha mãe avisa que o jantar está servido, nos
encaminhamos para a mesa. Encontro as meninas já acomodadas,
Ambra está ao lado de Stefania, sorrindo de algo que minha irmã
fala.
Sento-me à frente da mamãe e aprecio a mesa farta que ela
preparou. Ninguém no mundo consegue ter o tempero dela, tudo o
que faz fica perfeito.
— O cheiro está maravilhoso — Ambra diz ao correr os olhos
pela mesa.
— Fiz tudo com muito carinho, eu espero que você goste.
— Claro que vou gostar. — As duas trocam um sorriso
carinhoso.
Pego um pouco de salada, é melhor me ocupar com a
comida do que pensar em Ambra.
Fico em silêncio enquanto a conversa se desenrola ao redor
da mesa. Minha irmã fala sobre as novidades da faculdade, ela está
em êxtase, desde que começou a estudar.
Eu me sinto extremamente feliz por poder propiciar esta
realização, Stefania sempre foi uma menina esforçada, eu sou
capaz de tudo para realizar seus sonhos.
Em certo momento do jantar eu não resisto e encaro Ambra,
ela tem o rosto sereno enquanto ouve meu pai contar uma história.
Aproveito para apreciar suas feições delicadas, algumas mechas do
seu cabelo castanho caem por seu rosto, ela está com uma leve
maquiagem e suas unhas estão pintadas em um tom roxo.
Tudo nela grita elegância e sensualidade, sem nenhum
esforço consegue ser uma mulher altamente atraente. Já ouvi
alguns homens do clã cercando Dom querendo sua autorização
para cortejá-la, mas ele se nega a escolher um marido para a irmã.
Entendo-o perfeitamente, também não me sinto confortável
em comprometer Stefania, ela ainda está com vinte anos, pode
esperar mais um pouco para pensar em casamento.
Há algumas semanas tive que conter os seguranças da
escolta das duas, eles passaram a fazer comentários sobre a beleza
de Ambra, que não me agradou em nada. Fui extremamente duro
com eles e espero não ouvir mais nenhum tipo de gracinha.
Sou surpreendido quando ela levanta o olhar até o meu, fico
parado, admirando o tom meio esverdeado dos seus olhos. As
bochechas dela coram, sua timidez é cativante, sem querer ela me
deixa ainda mais fissurado na sua figura tão pura.
Ela quebra o nosso olhar abruptamente e presta atenção na
minha mãe falando. Sua ação me deixa incomodado, Ambra parece
chateada com algo, só não consigo imaginar o que possa ser.
Volto a me concentrar no meu prato, ela é território proibido e,
apesar de me despertar uma intensa atração, sei que é impossível
algo entre nós acontecer.
Deixo uma risada escapar quando Massimo morde meu
queixo com seus novos dois dentes. Ele está uma fofura, se eu
pudesse passava o dia ao seu lado.
— Você está muito levado — digo antes de espalhar beijos
por seu pescoço fazendo-o sorrir.
— Eu queria muito poder tirar uns dias para ficar com você,
Ella, mas com a faculdade e Dom tendo problemas fica impossível.
— Gio entra na sala ao falar no celular. — Será que você não
conseguiria ficar aqui em casa por uma semana? Sei que Thomas
anda viajando a trabalho.
Seguro o corpo rechonchudo do Massimo quando ele se joga
para trás, todo animado.
— Pare com isso. — Pego uma de suas mãos e beijo. —
Seja um menino comportado.
— Tente conversar com seu marido, estou sentindo sua falta,
queria ver Jordan, ele precisa ter o maior contato possível com
Massimo e as primas. — Gio sorri ao ver o filho brincando no meu
colo. — Entendo perfeitamente, mas tente ver se consegue vir nos
visitar. — Ela ouve o que a irmã fala. — Eu também te amo, nos
falamos em breve. — Encerrando a ligação se aproxima de onde
estamos. — Esse menino anda atrevido demais — comenta ao fazer
um carinho no cabelo dele.
Massimo é a mistura perfeita dos pais, tem os olhos azuis do
meu irmão e o nariz delicado da minha cunhada, além do cabelo
castanho. Dom teve muita sorte quando nosso pai o comprometeu
com Giovanna, ela acabou sendo a mulher perfeita para ele, sem
contar que os dois se amam incondicionalmente.
— Ele está apenas curtindo a tia. — Tombo seu corpo e
mordo sua barriga, arrancando-lhe uma gargalhada. — Como é fofo,
eu queria ter mais tempo ao seu lado.
— Você sabe que pode vir aqui a hora que quiser, basta
aparecer.
— Eu sei, mas com o início da faculdade estou focada nas
matérias para poder tirar nota máxima quando chegar o momento
das provas.
— Entendo como é isso, também fiquei empenhada quando
comecei, mas aos poucos você pega o jeito e consegue um ritmo de
estudo que te deixa mais livre para seu lado pessoal.
— Assim espero, Gio, porque ando muito acelerada com
medo de não me sair bem.
— Pare com isso, você vai arrasar. — Ela beija o rosto do
filho. — Essa insegurança é normal no início, eu também fiquei
como você, mas depois me adaptei e hoje consigo dar atenção à
minha família e a faculdade.
— Às vezes nem acredito que estou no ensino superior,
sempre achei que seria um sonho impossível, mas tudo aquilo
aconteceu e quando o papai morreu e, Dom assumiu a família a
esperança voltou para a minha vida.
— Eventos ruins também podem representar algo bom — Gio
fala pensativa. — Se eu não enfrento aquele embate com seu pai,
ele estaria vivo e você talvez já estivesse comprometida com
alguém que poderia ser um mau marido.
— Eu não gosto de pensar nisso. — Sinto um arrepio
percorrer a minha pele. — Confio que Dom irá me ouvir quando
chegar o momento de me casar.
— Claro que vai. — Gio senta-se ao meu lado. — Seu irmão
não é um bárbaro como alguns homens da máfia, sem contar que
eu não permitiria que ele te entregasse a qualquer um, tive meu
momento difícil com Fiorella, não quero mais ter que ver alguém
próximo de mim, vivendo um casamento violento.
— Sua irmã é uma mulher forte, não sei se suportaria tudo o
que passou.
— Realmente ela é, felizmente agora ela tem um marido que
a ama e ambos são felizes.
— É meio difícil acreditar que uma mulher da máfia entrou
para a realeza, o Conselho é definitivamente compulsivo por poder,
deixaram até a tradição de lado.
— Para você ver o que dinheiro e status não fazem.
A nossa atenção é desviada quando a porta do apartamento
abre e Dom entra ao lado do Amaro. Fico estática, não esperava
encontrar Amaro esta noite.
— Que bela surpresa — Dom diz sorrindo ao me fitar e abrir
os botões do terno.
— Decidi passar a tarde com Gio e meu sobrinho — digo
tentando ignorar a presença do homem que me desestabiliza.
— Muito bom. — Ele beija a esposa, em seguida dá um beijo
no meu rosto e pega o filho. — E aí, rapaz? Você deu muito trabalho
hoje ou se comportou bem?
Massimo segura com força a blusa do pai e solta um grito
agudo de felicidade. Tão lindo vê-los juntos, ao contrário do nosso
pai, Domênico trata seu filho com muito carinho.
— Ele é levado de natureza, deve ter puxado a você, porque
eu sempre fui calma — Gio comenta e faz meu irmão olhá-la com
uma sobrancelha erguida, claramente duvidando dela. — Amaro
estou feliz que finalmente apareceu.
— Boa noite. — Ele nos cumprimenta. — Vim pegar um
documento importante com seu marido, estou feliz em te ver, sei
que estou devendo uma visita.
— Você, na verdade, me deve a presença em um jantar,
então já saiba que não vai sair daqui tão cedo. — Ela o encara. — E
você também vai ficar, Ambra, hoje quero a mesa cheia.
— Giovanna, eu realmente vim só pegar um documento,
podemos marcar outro... — Amaro é interrompido quando meu
irmão coloca a mão em seu ombro.
— Não desobedeça a minha esposa, você ficará para o
jantar. — Seu tom de voz é grave. — Agora vamos ao escritório. —
Ele me entrega Massimo. — Quando o jantar for servido nos avise,
Giovanna.
— Pode deixar — ela responde animada. — Já vou pedir que
coloquem mais pratos na mesa, volto em um minuto.
A minha ansiedade dispara, participar de um jantar com
Amaro na casa do meu irmão é demais para mim, acho que não vou
conseguir comer nada.
Sempre estou cruzando com ele na casa da sua família e a
cada encontro eu me sinto mais atraída por sua figura. Amaro
mantém sua costumeira distância, ele é educado comigo, mas em
algumas situações sinto seus olhos em mim.
Em raros momentos acredito que ele me nota, como
aconteceu no último encontro que tivemos e o flagrei me encarando.
Naquele dia eu estava irritada por saber que esteve com sua
aparente namorada. Pensar nele com alguém é incômodo, sei que
nunca teremos nada, mas eu não consigo conter meu ciúme.
Levo Massimo até o solário e sou acompanhada por Mercury,
ele é um cachorro extremamente dócil, adora nos fazer companhia.
Giovanna retorna e diz que vai ligar para a minha mãe avisando que
jantarei aqui.
Um tempo depois Gio se junta a mim, passamos um tempo
conversando, até que Maria vem nos avisar que podemos jantar e
pega Massimo.
Tento controlar minha agitação quando caminho para a mesa.
Meus olhos são atraídos para Amaro entrando na sala, agora ele
está com as mangas da camisa dobradas e sem o terno.
Seus braços musculosos parecem querer rasgar o tecido da
camisa e as tatuagens coloridas atraem completamente a minha
atenção. Deus como é lindo! Ele tem uma sensualidade natural e
seu sorriso amistoso é uma das coisas que mais gosto nele.
Nos encaramos e eu me perco no tom verde-dourado dos
seus olhos. Amaro tem um rosto anguloso muito masculino e
cabelos castanho-claros, em um corte estilo militar. Ele é a imagem
perfeita da masculinidade, beijá-lo deve ser uma experiência
inesquecível.
Agito meus pensamentos e volto à realidade, para disfarçar
sorrio timidamente, não quero que ele saiba todos os pensamentos
impróprios que estavam passando na minha cabeça agora.
Ele retribui o sorriso, fazendo meu coração errar uma batida.
Estou parecendo uma adolescente apaixonada, não uma mulher de
vinte anos.
Para o meu desespero Gio nos coloca sentados juntos, agora
mesmo que não vou conseguir comer nada. Travo o corpo quando
ele se acomoda ao meu lado e seu perfume cítrico me alcança. Isso
me faz lembrar que em certos momentos cheira a baunilha, o
perfume da tal Alicia.
Observo o prato a minha frente, sem saber como reagir por
tê-lo tão perto. Giovanna fala algo sorrindo, mas estou tão nervosa
que não entendo nada, começo a me servir, sem me importar direito
no que coloco no prato. Para tentar disfarçar me forço a comer, no
entanto, não sinto gosto de absolutamente nada.
A conversa se desenrola ao redor da mesa, participo dela
apenas quando meu nome é citado. O cheiro do Amaro começa a
me deixar quente, minha real vontade era sentir esse aroma direto
da sua pele, ainda que eu sinta raiva ao imaginá-lo com outra
mulher.
Apesar de ter me interessado por Rafaello, quando estive na
Sicília durante o verão, jamais senti por ele o frisson que Amaro me
desperta. Com ele eu me sinto em um estado de excitação
descontrolado, o pior é saber que nunca terei sua atenção.
— Amaro, se Fiorella realmente vir passar uns dias aqui, farei
uma pequena recepção para ela, quero você e suas irmãs
presentes, se seus pais também quiserem vir, serão bem-vindos.
— Obrigado pelo convite, as minhas irmãs irão adorar caso
isso aconteça.
— Fiquei sabendo que agora elas são as melhores amigas da
Ambra, a nossa mãe só tem elogios para as meninas — Dom
comenta ao terminar seu pedaço de sobremesa. — Gosto de vocês
juntas, a família do Amaro tem todo o meu apreço.
— As meninas são maravilhosas, estou feliz por ter a
companhia delas, depois que acabei o ensino médio, boa parte das
minhas amigas se afastaram, algumas estão empenhadas em se
casar e outras ficaram com inveja por eu poder frequentar a
faculdade.
— Então não eram suas amigas — Amaro diz ao limpar a
boca com o guardanapo. — Se elas gostassem mesmo de você,
estariam do seu lado.
— A minha mãe disse isso. — Olho para a minha taça de
água reflexiva. — Acho que nunca tive uma amiga de verdade sem
ser Cristine, a minha prima.
— Amizades dentro da máfia não é algo fácil, Ambra — Gio
comenta. — Principalmente entre as mulheres.
— Você tem toda razão. — Inspiro fundo. — Vou ligar para
minha segurança vir me buscar, amanhã acordo cedo para a
faculdade.
— Eu te levo, é caminho para a minha casa. — Olho para
Amaro aflita, se eu já estou nervosa por estar ao seu lado com
pessoas ao nosso redor, não quero pensar como será só nós dois
no carro.
— Perfeito. — Dom se levanta. — Vá com Amaro e me
mande mensagem quando chegar, confio nele, mas a cidade não
está propriamente calma, então quero saber se chegou bem.
— Quanto drama — Amaro diz descontraído ao empurrar a
cadeira para trás. — Sempre cuidei bem da sua esposa, não será
diferente com Ambra.
— Por saber disso vou deixar você sozinho com ela.
— Vocês são patéticos. — Gio revira os olhos. — Venha mais
vezes passar a tarde comigo, cunhada, pode estudar aqui e ainda
brincar com Massimo.
— Eu virei sim. — Nos abraçamos.
— Dê um beijo na mamãe, vou marcar um almoço familiar em
um final de semana.
— Ela vai amar. — Dom me abraça e beija o topo da minha
cabeça.
Amaro se despede do casal e sai do apartamento ao meu
lado. Fico com o corpo tenso, nunca ficamos sozinhos juntos, não
sei como agir com ele.
— O seu nome lá em casa virou rotina, as meninas realmente
gostam de você — ele diz quando entramos no elevador.
— Eu adoro suas irmãs, elas são especiais demais — falo
com sinceridade.
— Elas também gostam muito de você. — Ergo os olhos e o
encaro, fico perdida no seu sorriso. — Assim como meus pais.
Queria puxá-lo para mim e me perder na sua boca, poder
estar entre seus braços deve ser uma sensação incrível.
Os olhos dele ganham um tom escuro, Amaro me fita
atentamente, parecendo ler meus pensamentos. Sou salva quando
o elevador chega ao seu destino, saio na sua frente, constrangida
por não ter controlado meu desejo.
Ele é um homem experiente, certamente notou que eu estou
interessada nele. Que vergonha! Uma pessoa como Amaro jamais
me notaria, deve ficar com mulheres lindas e sensuais.
Paraliso na calçada quando percebo que não sei onde seu
carro está estacionado.
— Por aqui, Ambra. — Pulo quando ouço sua voz baixa em
meu ouvido, no mesmo instante sua mão se espalma na base da
minha coluna.
Fito rapidamente seu rosto e observo que sua expressão é
séria, ele parece estar com raiva de algo. Forço minhas pernas a
andarem quando sua mão faz um leve impulso onde está apoiada.
Um pouco à frente do edifício do meu irmão está o carro dele,
com todo cavalheirismo abre a porta para mim. Desabo no banco
ainda sob o efeito da tensão que passei com ele me tocando.
Para o meu desespero volto a enrijecer quando se acomoda
ao meu lado, transformando o carro em um ambiente
completamente claustrofóbico.
— Coloque o cinto, preciso te deixar em casa sem um fio de
cabelo desarrumado — pede ao ligar o veículo. — Amo a minha
vida e tenho família para cuidar, não vou arriscar que seu irmão me
mate.
— Pare de exagero — digo ao colocar o cinto.
— Você sabe que se eu não cuidar de você, estarei morto.
— Eu sei me cuidar também, Amaro, não sou uma incapaz.
— E quem disse que é incapaz? — pergunta ao me lançar
um olhar rápido antes de fazer uma curva. — Você está longe disso,
de onde veio sei que aprendeu a se cuidar desde cedo.
— Agora você está coberto de razão, não tive uma vida
tranquila.
— É passado, serviu para te transformar em uma mulher
forte. — Sinto algo se remexer dentro de mim, ouvi-lo me elogiando
é prazeroso. — Não é por menos que minhas irmãs te admiram
tanto, Elena então, está fascinada por ter sido inserida no grupo de
amizade entre você e Stefania.
— Elena é extremamente alegre, eu adoro como provoca a
irmã, ela traz um humor peculiar para nossas reuniões.
— O atrevimento dela me causa certa preocupação, tenho
medo de que se meta em encrenca, tento sempre estar atento a ela.
— As suas irmãs são meninas responsáveis, elas sabem que
devem evitar o perigo.
— Mas se esse perigo for uma paixão juvenil, não sei se
Elena será prudente, às vezes a gente até tenta conter o que sente,
mas nossos olhos dizem tudo.
O meu coração dispara com sua fala, fico apreensiva por de
alguma maneira ter revelado o que sinto por ele.
— Está gostando da faculdade? — Fico grata com sua
mudança de assunto.
— Estou realizando um sonho, impossível não gostar. —
Agora entramos em um assunto que me deixa confortável. — Nunca
vou conseguir agradecer ao Dom por permitir que eu estude.
— Seu irmão te ama incondicionalmente, ele é capaz de tudo
para te ver feliz.
— Nós dois sabemos que Dom está longe de ser bom, mas
com relação a mim ele sempre tenta ser a melhor pessoa possível.
— Vejo um canto dos seus lábios erguer-se.
— Na verdade, Domênico sabe separar seu serviço na máfia
com as necessidades da família — diz com tranquilidade. — Eu
admiro pessoas assim, meu pai é como ele, sempre deixou a
maldade do trabalho na porta de entrada da nossa casa.
Ouvi-lo falar do pai com tanto carinho me deixa feliz, desde
que passei a frequentar sua casa percebi o quanto são unidos.
— Você tem razão, meu irmão sabe deixar a família em uma
bolha separada.
— Assim como Paolo — afirma. — Ele é um dos líderes da
máfia mais temido, mas dentro do lar, sabe ser moderado e protetor.
— É raro homens assim na máfia.
— Eles existem, mas tentam camuflar essa face humana.
Observo o seu perfil, Amaro é o tipo de homem que será
protetor da família, não só por ter o exemplo em casa do senhor
Pasquale, como por ele em si ser uma pessoa racional.
— Meu sonho é um dia a máfia não ter essas regras
absurdas.
— São essas regras que nos mantém uma instituição sólida,
mesmo que elas não sejam justas.
— Aí que você se engana. — Ele desacelera o carro ao se
aproximar da minha casa. — As tradições que seguimos privilegiam
vocês homens, por isso elas são inalteradas.
Amaro gira o rosto ao parar o carro e esperar o portão se
abrir. Ele tem a expressão indecifrável, mas seus olhos possuem
uma fúria que me deixa temerosa.
— Não posso discordar de você. — O carro acelera, nos
levando para a segurança da minha casa. — Sigo o que me foi
ensinado, mas entre as pessoas que amo, eu sou capaz de dar a
vida por cada uma.
— Você fez isso por Gio. — Não me movo quando ele
estaciona.
— Ela e o seu irmão são especiais, eu faço o que for
necessário pelos dois e agora por Massimo. — O meu coração
parece crescer com a emoção que me domina.
— Por isso Dom confia a vida a você, ele sabe o quanto é
fiel.
— Seu irmão fez por merecer a minha fidelidade, eu o
considero como família.
— Bom saber disso.
— E você também pode confiar em mim, não hesite em me
chamar caso precise, estarei presente em qualquer lugar que
precisar.
Travamos um olhar profundo, minha vontade agora é me
inclinar e beijá-lo, mas eu não sou atrevida a esse ponto.
Certamente Amaro me rechaçaria e eu me sentiria a pior pessoa do
mundo. Por isso opto por abrir a porta do carro e sair, melhor
colocar uma distância entre nós.
— Obrigada pela carona.
— Foi um prazer — diz com um sorriso velado. — Neste final
de semana será aniversário da minha mãe, não sei se Stefania
comentou, vou fazer uma comemoração surpresa, gostaria que
fosse, a mamãe ficaria feliz com sua presença, ela te adora.
— Claro que eu vou, também gosto dela.
— Perfeito, nos vemos em breve. — Eu me afasto do carro,
sentindo meu coração disparar pela conversa inusitada que tivemos.
Quando alcanço a porta da minha casa Amaro buzina e
acelera. Ele é um homem especial e eu daria tudo para tê-lo na
minha vida.
Ergo um canto da boca quando Fabio abre a porta da sala
para que eu possa sair. Fizemos amizade na segunda semana de
aula, ele é bem expansivo e com um humor peculiar.
Nunca tive amigos homens, então para mim é um pouco
difícil lidar com ele, principalmente porque sempre lança cantadas
baratas e eu não sei como reagir.
Fabio tem os olhos castanhos, cabelo preto e um corpo forte.
Ele possui um charme único, que chamou atenção das outras
calouras, sempre que o encontro fora da sala, está rodeado por
alguma delas.
— Obrigada — digo tentando camuflar a timidez. — Você é
um legítimo cavalheiro.
— Tento ser, nem sempre dá certo — diz ao caminhar ao
meu lado. — Mas quando eu quero, me esforço para ser o melhor.
— Sorrio, é engraçado essa sua espontaneidade.
— Você está muito convencido. — Fabio me lança uma
piscada sacana.
Como eu queria ser uma garota comum, acho-o atraente,
mas não posso permitir que se aproxime.
— O que vai fazer agora? Existe uma chance de almoçarmos
juntos?
— Infelizmente não, tenho compromisso.
— Vai sair com a sua amiga?
— Não, com a minha cunhada. — Neste momento avisto Gio
caminhando até onde estou. — Ela está ali. — Faço um sinal na
direção dela.
— Uau! Sua cunhada é linda, seu irmão é um homem de
sorte.
— Os dois são sortudos, eles foram feitos um para o outro.
— Temos uma romântica aqui? — pergunta ao erguer uma
das sobrancelhas.
— Só estou sendo sincera, eles se amam muito, é um casal
perfeito.
— Olá! — Giovanna encara Fabio.
— Gio, esse é o Fabio, fazemos algumas aulas juntos.
— Como vai?
— Muito bem. — Eles trocam um aperto de mão.
— Não vou atrapalhar vocês, nos vemos por aí, Ambra.
— Até mais. — Com um sorriso caloroso ele se afasta.
— É um pretendente? — minha cunhada pergunta enquanto
o observa ir embora.
— Ele gosta de ser galante, nada mais que isso.
— Tem certeza?
— Absoluta.
— Ao menos é da máfia?
— Não faço ideia, conversamos mais quando entramos ou
saímos da aula.
— Tenha cuidado, aqui tem muitos rapazes bonitos como ele
dispostos a um flerte, você não é uma garota qualquer.
— Sei disso, Giovanna, realmente não existe nada entre nós.
— Certo. — Ela rodeia o braço no meu. — Vamos às
compras?
— Só estou esperando por você.
Caminhamos animadas até que avistamos Santino nos
esperando. Rapidamente ele abre a porta do carro e nos espera
entrar.
O trajeto até o shopping é curto, em pouco tempo já estamos
passeando pelos corredores acompanhadas de perto por nossa
equipe de segurança.
Giovanna quer comprar um presente especial para a mãe do
Amaro, mesmo não tendo muito contato constante com eles, possui
carinho por cada um.
Ficamos em dúvida do que escolher, é um pouco difícil
acertar o presente quando não sabemos o gosto da pessoa. Acabo
me lembrando que Stefania falou sobre a mãe gostar de bolsas.
Não demora muito conseguimos o presente dela, Gio
aproveita e compra alguns chocolates para as meninas. Assim como
ela, as minhas amigas são fissuradas pela guloseima.
— As meninas vão amar esse mimo.
— Assim espero, gosto muito da família do Amaro.
— Eles são especiais mesmo.
— Eu fico feliz pela amizade que desenvolveu com as
garotas, elas são pessoas de confiança.
— Estava precisando desse tipo de amizade, eu me sinto
muito sozinha desde que terminei o ensino médio.
— Sabe que pode me chamar quando quiser, não é?
— Você tem a faculdade, criança pequena para cuidar, sua
vida é agitada.
— Sempre terei tempo para a minha família. — Ela segura a
minha mão. — Nunca pense muito quando precisar da minha
companhia, a minha casa é sua também.
A declaração dela me deixa emotiva, abraço Giovanna, meu
irmão é muito afortunado por ter se casado com ela, ao menos uma
coisa boa meu pai fez quando era vivo.
— Obrigada, você não sabe como é bom saber que tenho
você comigo.

Tentei não me arrumar demais, toda vez que encontro Amaro


quero estar impecável, ainda que eu saiba que ele de fato não irá
reparar em mim.
Elena abre a porta da sua casa já sorrindo, ela ficou muito
feliz quando soube que eu iria comparecer à festa surpresa da mãe.
— Até que enfim chegou — diz ao segurar minha mão e me
fazer entrar. — Os meus pais estão na rua, conseguimos tirar a
mamãe de casa para aprontarmos tudo.
— Eu falei que podia chegar mais cedo para ajudar.
— Relaxa, a tia Rosana veio na frente com minha prima e
ajeitamos tudo, você só precisa aproveitar.
Sou apresentada a sua família, de imediato gosto das duas,
elas são simpáticas e animadas. Procuro por Amaro, mas não o
avisto em nenhum lugar da casa. Sinto vontade de perguntar onde
está, mas não posso deixar transparecer meu interesse.
Ajudo as meninas a encher alguns balões, elas falam
animadas sobre como ficavam felizes quando tinham festa surpresa
na infância.
A minha atenção é desperta quando ouço a risada do Amaro,
meus olhos vão para a entrada da sala no exato momento que ele
aparece ao lado de um rapaz jovem e extremamente bonito.
O meu coração dá um salto, é sempre assim quando o
encontro, tento me conter, mas meu equilíbrio simplesmente
desaparece.
Amaro está sem a gravata, com alguns botões da blusa
mostrando a tatuagem que tem no peito e o terno apoiado no braço.
Ele me fita assim que nota a minha presença, mas sua atenção é
desviada quando a tia vai cumprimentá-lo.
Volto o meu foco para o balão que preciso amarrar, melhor
me concentrar no que estou fazendo do que ficar cobiçando o que
nunca terei.
Ouço-o falar com toda a família, ele tem a voz alegre, dá para
notar o quanto está feliz. Nunca me canso de admirar seu jeito
carinhoso com as pessoas que ama, é emocionante ele não
esconder como se importa com cada um deles.
— Ambra, boa noite. — Levanto os olhos com sua saudação.
— Oi. — Lambo os lábios contendo minha agitação. — Boa
noite. — Ele aperta os olhos, parecendo me analisar.
— Bom te ver aqui, a mamãe ficará feliz.
— Eu não iria faltar, gosto muito dela. — Olho por sobre o
ombro dele, onde o belo homem acompanha a nossa interação.
Percebendo que minha atenção mudou Amaro gira o rosto e
olha para trás.
— Ambra, esse é o Augusto, um amigo de infância.
— Muito prazer — digo com um tímido sorriso.
— O prazer é todo meu. — Ele passa por Amaro e se
aproxima de mim. — Bom te conhecer, já ouvi as meninas contarem
algumas histórias sobre você — diz ao segurar a minha mão e levar
até os lábios.
— Eu espero que as histórias tenham sido boas.
— Foram divertidas, elas gostam verdadeiramente da sua
companhia. — Sorrio com sua informação.
— Eu também as adoro, estamos construindo uma boa
amizade.
— Isso é ótimo. — O olhar dele corre por todo meu rosto.
— Augusto vá pegar uma bebida, vou trocar de roupa e já
volto.
— Quer beber algo, Ambra? — Augusto me pergunta.
— Não sou de beber muito, mas um vinho seria bom.
— Perfeito. — Ele pisca e se afasta.
Não consigo evitar e o acompanho se movimentando pela
sala até chegar ao bar. Augusto tem os cabelos e olhos pretos,
ombros largos e um ar de mistério, é literalmente um homem
interessante.
— Cuidado com a falsa simpatia dele, Augusto não é o que
tenta parecer. — O alerta do Amaro me faz encará-lo.
— Não entendi o que quis dizer.
— Você não é mais a menina que conheci, agora é uma
mulher e sabe bem o significado do que falei.
Sem mais palavras ele sai da sala e me deixa pensativa.
Amaro disse que agora sou uma mulher, então ele me
enxerga como uma?
— Ambra, vem aqui. — Meus pensamentos se espalham
quando a voz da Stefania me chama.
Vou pensar sobre o que aconteceu depois, quando eu estiver
sozinha.

— Eles estão chegando — Elena diz empolgada.


É tão bom ver a descontração de todos, nunca tive isso na
minha casa, meus familiares sempre foram sisudos, a alegria ficava
apenas concentrada nas interações com minha mãe ou quando
Dom me levava a algum passeio.
— Parabéns! — As meninas gritam quando a mãe entra na
casa.
O rosto da Tereza demonstra toda a surpresa que está
sentindo, ela coloca a mão na boca incrédula ao ver todos os
preparativos que fizemos.
Imediatamente seus olhos ficam marejados e lágrimas caem
quando as filhas a rodeiam, juntamente da irmã e sobrinha.
Que cena mais linda, é admirável ver o amor que eles
sentem.
— Vocês realmente me pegaram de surpresa — diz secando
as lágrimas. — Por isso seu pai não queria voltar para casa, logo ele
que quando não está trabalhando se recusa a ficar na rua.
O senhor Pasquale sorri ao passar o braço pelos ombros da
esposa e beijar seu cabelo.
— Só fiz o meu papel nessa história, você merecia uma
surpresa de aniversário.
— Na verdade, a senhora merece o mundo. — Amaro abraça
a sua cintura tirando-a do chão.
Ele beija seu rosto, fazendo a mãe sorrir, a cena é bem
emocionante, principalmente porque estamos dentro de uma família
do clã.
— Como está se sentindo ao ganhar sua primeira festa
surpresa? — Augusto pergunta ao parar ao lado dela.
— Emotiva, feliz, encantada, entre outros sentimentos.
— Parabéns, tia, a senhora merece uma festa muito maior
que essa. — Ele a abraça e depois beija seu rosto.
Lembro do alerta do Amaro e fico um pouco reticente, para a
senhora Tereza gostar tanto dele, Augusto não é uma pessoa
realmente má.
Vou me aproximando da confraternização, chegou o
momento de felicitar a aniversariante.
— Ah, minha querida, você também veio — Tereza diz feliz.
— Não poderia faltar. — Dou um abraço nela. — Meus
parabéns, que a senhora tenha muitos anos de vida e felicidade.
— Obrigada. — Ela segura o meu rosto e beija cada lado da
minha face. — Você é muito especial, eu estou feliz em ter você
perto das meninas, lembre-se sempre que encontrou em nós uma
segunda família.
Sou pega de surpresa com sua declaração, faço um esforço
imenso para não chorar.
— Preciso entregar algo — digo tentando camuflar minhas
emoções. — Gio enviou um presente, ela espera que goste do que
escolheu.
— Não precisava. — Com ansiedade pega a sacola que lhe
entrego e quando a abre, um sorriso de satisfação se espalha em
seus olhos. — Que bolsa mais linda.
— Caramba! A Giovanna acertou em cheio. — Elena olha a
bolsa admirada.
— Eu lembrei que comentaram que a mãe de vocês gostava
de bolsa. — Agora entrego o meu presente. — Esse é o meu.
— Minha querida, você estando aqui é um presente.
— Vivo na sua casa, então não sou novidade. — Sorrimos.
Ela retira da sacola um charmoso cachecol, o inverno não vai
demorar a chegar e esse é um item que todos usamos muito. Tereza
me agradece efusivamente, principalmente quando descobre a
marca do presente.
Aproveito o momento e entrego às meninas os chocolates
que a Gio enviou, elas ficam extremamente felizes e me pedem que
agradeça a minha cunhada pela gentileza.
Conhecer a família delas foi uma das melhores coisas que já
me aconteceu, eles têm algo diferente, não sei explicar exatamente
o que é, apenas me sinto em casa e querida quando estou com
eles.
— Quer mais uma taça de vinho? — Augusto pergunta
quando todos se encaminham para o centro da sala conversando
com animação.
— Você quer me embriagar? — pergunto ao cerrar os olhos.
— De maneira nenhuma, só quero que se divirta.
— Sei. — Ele abre um genuíno sorriso.
— Estou falando sério. — Sou pega de surpresa quando ele
apoia a mão nas minhas costas. — Vamos nos sentar no bar, a tia
vai ter muito o que falar com a irmã e suas amigas precisam fazer a
festinha acontecer, nós somos apenas convidados, vamos
aproveitar esse privilégio.
— Não acha que é um pouco de falta de educação não
participarmos da festa?
— Estamos no meio dela — diz ao pegar a garrafa de vinho e
me servir. — Só vamos beber um pouco, enquanto a confusão
diminui.
Gosto dele, Augusto é carismático e algo me diz que também
é de confiança, caso contrário não estaria na festa da mãe do
Amaro.
— Quer dizer que você e Amaro são amigos de infância?
— Desde os quatro anos, para ser mais exato.
— O que significa que se conhecem a vida toda.
— É por aí. — Ele experimenta o seu uísque. — Eu me
lembro de você ainda adolescente, eu trabalhava com um dos
amigos do seu pai, um velho porco e nojento, ainda bem que
morreu, o filho era menos asqueroso. Por sorte Amaro matou seu
pai, virou tenente e eu fui para a equipe do meu amigo — diz essas
palavras sem rodeios. — Apesar de sempre ser uma menina bonita,
você ficou esplendorosa como mulher, seu irmão já deve estar
recebendo muitas propostas de casamento.
Ergo as sobrancelhas pega de surpresa por ele iniciar um
assunto tão íntimo.
— Dom não tem pressa em me casar.
— Será difícil para ele impedir seu casamento, você é
extremamente bonita, se eu fosse do alto clã, estaria indo pedir
autorização a ele para poder te visitar.
Encaro-o com atenção, não sou muito boa com flertes, mas
pelo pouco que sei ele acabou de dizer que está interessado em
mim.
— Ambra, a Stefania está te chamando. — Levo um susto
quando a voz do Amaro me alcança.
— Tudo bem. — Levanto-me do banco. — Depois
conversamos mais Augusto.
— Será um prazer.
Deixo os dois conversando e me aproximo da minha amiga,
ela está colocando alguns aperitivos na mesa de centro.
— O que foi? Amaro disse que queria falar comigo.
— Disse? — pergunta ao enrugar as sobrancelhas.
— Por acaso não queria? — questiono quando vejo a sua
expressão confusa.
Os olhos dela vão para onde seu irmão conversa com
Augusto, eles parecem falar algo sério, ambos estão com os rostos
tensos.
— Queria sim, vou pegar uma taça de vinho e vamos beber
em um cantinho enquanto botamos a fofoca em dia, hoje não
tivemos tempo de conversar na faculdade.
— Adoro essa ideia. — Sorrio feliz para ela, antes que vá até
o bar pegar seu vinho.

A festa foi um verdadeiro sucesso, a dona Tereza ficou


radiante com todas as surpresas que encontrou e não cansou de
nos agradecer por termos comparecido ao seu aniversário.
— A sua mãe parecia uma criança de tão feliz, vocês
precisam fazer mais surpresas para ela.
— Concordo com você, ano que vem vou pensar em algo
diferente — Stefania diz satisfeita. — Obrigada por vir, ela ficou
muito contente com sua presença.
— Foi um prazer imenso, adoro a energia da sua família, eles
são tudo o que nunca tive.
— Lamento por você, minha amiga. — Ela segura a minha
mão.
— Já passou, graças ao seu irmão hoje eu e minha mãe
temos paz. — Serei eternamente grata por Amaro nos livrar de uma
verdadeira fera. — Agora preciso ir, vou pedir que minha equipe
venha me buscar.
— Não precisa se incomodar, Amaro te leva, você mora bem
perto de nós, não será nenhum sacrifício para ele.
— Stefania, não é necessário... — Ela não me deixa terminar
de falar, apenas se afasta e vai conversar com o irmão.
Fico parada no meio da sala, assistindo Amaro me encarar
enquanto a irmã conversa com ele. Todo o meu corpo é sacudido
por um tremor intenso quando Amaro começa a se aproximar de
mim, mais uma vez terei que ficar a sós com ele, dentro de um
carro.
— Ambra, se quiser ir embora agora eu te levo.
— Posso chamar a minha equipe, ia fazer isso antes da
Stefania te chamar.
— Não é necessário, eu estou aqui e posso te proteger, se já
estiver pronta, podemos ir.
Meu Deus! Como é difícil conseguir uma desculpa boa para
que ele não me leve em casa, eu não quero ficar sozinha ao seu
lado, tenho medo de perder o controle e revelar tudo o que sinto.
— Eu estou pronta — digo sem alternativas.
— Ótimo, vamos embora. — Ele passa por mim e vai na
direção da porta.
Como já me despedi de todos, apenas aceno com a mão e
saio no rastro do Amaro para onde o carro está estacionado. Ele
abre a porta e me espera entrar.
Lá vou eu, enfrentar mais uma vez a tentação de estar perto
do homem pelo qual sou apaixonada, sem poder tocá-lo.
Que inferno de vida!
Quando chamei Augusto para a festa acabei esquecendo
completamente da presença da Ambra. Ela vive tanto com as
minhas irmãs, que apesar de sofrer a cada vez que nos
encontramos, eu me acostumei a tê-la pela minha casa.
Conhecendo meu amigo desde criança, deveria saber que
ele não ficaria passivo com a presença dela. Qualquer homem
hétero não consegue ficar alheio a sua beleza, ela tem um
magnetismo que nos captura logo que a conhecemos.
— Ambra, a Stefania está te chamando — digo ao parar ao
seu lado enquanto ela conversa com Augusto bebendo um vinho.
— Tudo bem. — Ela se levanta — Depois conversamos mais,
Augusto.
— Será um prazer. — O desgraçado lança um dos seus
sorrisos lascivos.
Espero-a se afastar e me acomodo em um dos bancos, cruzo
as mãos sobre o balcão e o encaro.
— Vou só refrescar sua memória — falo com a voz baixa. —
Ela é irmã do Domênico, isso significa que suas gracinhas não são
bem-vindas.
— Estávamos conversando despretensiosamente. — Ergo
um canto dos lábios, sabendo bem que ele está sendo cínico.
— Jogue essa conversa para outro, eu te conheço e sei bem
que você nunca conversaria com alguém do tipo da Ambra com
inocência. — Sou direto. — Veja-a como uma das minhas irmãs e
evite ter seu pescoço cortado.
Augusto sorri e coloca um copo de uísque na minha frente,
ele joga mais um pouco da bebida no seu próprio copo, em seguida
bebe enquanto me encara com um olhar divertido.
— E você a vê como uma das meninas? — Não respondo
sua pergunta de imediato, antes experimento minha bebida.
— Eu a vejo com o devido respeito, apesar de não ser cego e
saber que ela virou uma mulher belíssima.
— É foda tê-la na sua casa sem perder a cabeça, não é
mesmo?
— Sou um soldado bem treinado, por coincidência pelas
mãos do irmão dela, eu sei enfrentar qualquer desafio.
— Bom para você, eu só me seguro porque é uma mulher
fora do meu alcance.
— Continue assim, evite problemas para nós dois. — Deixo o
alerta explícito, ele é meu melhor amigo e por isso sei exatamente
do que é capaz.

— Amaro, pode levar Ambra embora? — Stefania me


pergunta quando estou conversando com meu pai e Augusto.
A festa foi um sucesso, a minha mãe ficou muito feliz, foi a
primeira vez que fizemos algo assim para ela. Estou extremamente
satisfeito por contribuir com a sua alegria, sou capaz de tudo para
sempre ver um sorriso nos seus lábios.
— Claro que posso.
— Perfeito, assim ela não precisa chamar os seguranças.
— Se quiser posso levá-la, eu já estou saindo. — Augusto se
prontifica a ser seu guardião.
Ele é muito dissimulado, nunca que eu seria capaz de deixá-
la sozinha em suas mãos. Confio nesse cretino, mas quando se
trata de mulheres, é melhor deixar o pé atrás.
— Não estou fazendo nada de interessante, eu a levo, até
porque Dom sabe que pode confiar a mim irrestritamente a sua
segurança.
— Você está certo filho, vá levar a menina. — Meu pai bate
no meu ombro.
Deixo os dois conversando e sigo para a saída da sala, onde
ela está parada.
— Ambra, se quiser ir embora agora eu te levo.
— Posso chamar a minha equipe, ia fazer isso antes da
Stefania te chamar — ela diz um pouco reticente.
— Não é necessário, eu estou aqui e posso te proteger, se já
estiver pronta, podemos ir. — Ficar perto dela é sempre um
momento tenso, mas eu não posso fugir de um desafio.
— Eu estou pronta.
— Ótimo, vamos embora. — Sigo na direção da porta.
Respiro fundo e vou até o meu carro, abro a porta e a espero
entrar. Mais uma vez terei que dividir um espaço tão pequeno com
ela, é difícil ter que ficar na sua presença sem poder me
movimentar.
Assim que ela entra e eu rodeio o veículo e me acomodo ao
seu lado, em seguida ligo o carro. Ambra não fala nada, o que me
deixa mais confortável.
Espero o portão abrir e acelero, sigo por um certo tempo
mantendo o silêncio, até que decido puxar assunto.
— A minha mãe ficou muito feliz por ter ido à festa, obrigado
por aceitar o convite.
— Eu não poderia faltar, gosto muito dela.
— Assim como todos nós da minha família gostamos de
você. — Estou sendo completamente sincero.
— Você e as meninas são sortudos, possuem uma família
amorosa, é tão difícil isso no nosso meio.
— Existem famílias funcionais, acredite em mim, nem todo o
mundo da máfia é repleto de maldade.
— Estou aprendendo isso, mas passei a vida toda só vendo
atrocidades, a minha casa era sempre um lugar de aflição.
— Eu lamento, Ambra. — Toco a sua mão por puro impulso.
Nossos olhos se cruzam e eu vejo puro desejo em seu olhar,
enquanto tenho minha mão apoiada na sua.
Volto a focar na direção, não posso me distrair e colocá-la em
risco, mas não consigo deixar de pensar no que acabei de ver.
Será que estou imaginando coisas?
Chego na sua casa e passo pelos portões ansiando por ficar
sozinho. Estar na sua presença sempre me deixa aflito, tenho medo
de perder o controle e deixar meus sentimentos virem à tona.
— Obrigada por me trazer em casa — Ambra diz ao segurar
a sua bolsa para poder sair do carro.
— Eu já disse que pode contar comigo para tudo, trazer você
em segurança é um prazer. — Nos encaramos e mais uma vez vejo
um brilho de desejo se espalhar por seus olhos.
Eu não estou louco, ela realmente está demonstrando
interesse por mim. Aí fica difícil, eu posso controlar minhas
vontades, mas quando sei que sou correspondido, as coisas não
ficam tão simples.
— Preciso ir, até breve. — Sem mais palavras sai do carro.
Fico quieto apenas a acompanhando caminhar para casa
com um lindo requebrado.
Jogo a cabeça contra o encosto do banco do carro e deixo
um suspiro profundo escapar. Preciso evitá-la, porque não sei o
quanto manterei a força para evitar a vontade de pegá-la de jeito e
me acabar naquela boca que me assombra sempre que penso nela.
Sem olhar mais na sua direção acelero e vou embora, quanto
mais distância entre nós, mais estaremos seguros.
***
Entro no restaurante de um dos comerciantes que protejo ao
lado de Augusto, ele me ligou mais cedo com a reclamação que
teve um problema com alguns búlgaros que estiveram no seu bar na
noite passada.
Da última vez que eles causaram problemas foi vendendo
armas a alguns traidores do clã, naquela ocasião Paolo entrou no
jogo e puniu severamente todos os envolvidos.
Caminho entre as mesas e observo o estrago que foi feito.
Essa situação não me cheira bem, espero não estar lidando com
outro traidor.
Eu me aproximo do gerente, assim que nota a minha
presença ele me olha com preocupação.
— Onde está o Sandro? — pergunto sem rodeios.
— Por aqui. — O homem faz um gesto para que eu o siga até
o final do estabelecimento.
Ele nos leva para os fundos e me aponta uma porta,
agradeço e sigo até onde me indicou. Bato e recebo a autorização
para entrar. Encontro Sandro ao lado do seu inseparável guarda-
costas.
— Como vai, Sandro? — O cumprimento.
— Não muito bem — responde fazendo uma careta. —
Preciso que paralise esses malditos búlgaros, eles me causaram um
prejuízo imenso no restaurante.
Cruzo os braços, enquanto o avalio, Sandro está realmente
puto e não me parece ser um traidor.
— Vou te fazer uma pergunta e espero que seja sincero. —
Ele não diz nada, apenas me encara atento.
— Está comprando armas deles? Por isso quebraram seu
restaurante? — Os olhos deles se expandem.
— Claro que não, jamais trairia seu clã, sei das
consequências.
— Então, não vejo motivos para eles causarem esse estrago
todo.
— Eram eles que queriam me vender armas, mas não aceitei,
tentaram várias vezes me convencer, como viram que eu não iria
ceder, causaram essa confusão — analiso Sandro friamente,
tentando descobrir apenas com sua expressão corporal se está
mentindo.
— Quando entraram em contato com você pela primeira vez?
— Há três semanas. — Isso foi um pouco depois que eliminei
Salazar e, Paolo se acertou com os traidores.
— Por que não me comunicou? Eu sou responsável por
proteger seu negócio, não quero vendedores de armas rondando a
minha área.
— Pensei que poderia afastá-los sozinho, uma vez que eles
sabem que a Cosa Nostra controla tudo, mas os búlgaros estavam
bem afoitos, as coisas acabaram fugindo do meu controle.
— Que sirva de lição para você, se houver outro problema
como esse, quero que me chame imediatamente.
— Farei isso.
— Vou conversar com Paolo, iremos caçar os búlgaros,
preciso da gravação do restaurante, quero saber quem foram os
responsáveis pelo vandalismo.
— Eu sabia que iria me pedir, está aqui. — Ele me entrega
um pen drive.
— Vamos resolver isso, manterei homens meus de olho no
seu estabelecimento, entrarei em contato assim que eu me acertar
com os infelizes.
— Tudo bem, Amaro, agradeço por me ajudar.
— É meu serviço — digo antes de sair do escritório.
— Essa situação se não for contida logo vai virar uma bola de
neve — Augusto comenta o óbvio.
Não digo nada, ligo imediatamente para Dom, no terceiro
toque ele atende.
— Estou ouvindo.
— Aconteceu outro problema com os búlgaros, só que dessa
vez o nosso associado não aceitou comprar as armas deles, aí os
malditos fizeram um estrago no restaurante do Sandro.
— Inferno! — Dom esbraveja. — Eles estão saindo do esgoto
e achando que podem nos enfrentar.
— Vamos ter que os parar antes que as coisas saiam do
controle.
— Tomaremos uma decisão, me encontre no final da tarde no
La Fontaine, eu vou conversar com Paolo para saber que caminho
iremos seguir.
— Certo, até breve. — Desligo e entro no carro.
— Vamos terminar nosso trabalho, mais tarde preciso
encontrar os chefes.
— Eu espero que algum búlgaro cruze nosso caminho ainda
hoje, quero um pouco de diversão.
Augusto bate no teto do meu carro sorrindo e segue para seu
próprio veículo.

— Olhei atentamente as imagens, um dos búlgaros é nosso


velho conhecido — digo quando me sento na frente de Dom e
Paolo.
— Petrovich sei que não é, ele pode estar sempre querendo
me foder, mas aparecer na minha área para vender armas não é
seu estilo — Paolo diz ao acender um cigarro.
— Realmente não é ele, mas alguém ligado diretamente ao
seu bando.
— E quem seria? — Dom cruza as mãos sobre a mesa.
— Desislav.
— O primo do Petrovich? — Paolo inclina a cabeça incrédulo.
— Mas ele toma conta dos negócios na capital Sófia, nunca o vi
rondando Roma, a não ser quando acompanha o primo a algum
compromisso aqui.
— Algo aconteceu, pois é ele nas imagens.
Pego o tablet e coloco o momento certo da gravação em que
aparece. Eles analisam com calma a cena, fica bem evidente nas
imagens que se trata de Desislav.
— É ele mesmo, não há dúvidas. — Dom coça a barba. —
Essa história está estranha, além deles resolverem vender armas
em local proibido, ainda estão tentando encurralar nossos
protegidos.
— Pegue todos eles, Amaro, forme uma equipe e vá caçá-
los, eu quero saber o real motivo para eles estarem tentando fazer
negócios na minha área.
— Não se preocupe, eu os encontrarei.
— Eles se associaram aos russos, é a única coisa que
consigo pensar, devem estar tendo cobertura deles. — O
pensamento do Domênico é interessante.
— Os malditos russos nunca gostaram deles, duvido que
estejam trabalhando juntos.
— Tudo muda, Paolo, depois que desmantelamos a alta
cúpula russa em Roma eles ficaram enfraquecidos e você passou a
dominar o comércio de armas em toda área ocidental da Europa,
causando prejuízo aos búlgaros, que sempre tinham bons contatos,
em especial na Espanha e Portugal.
A teoria do Dom tem sentido, Paolo expandiu muito a venda
de armas, tirando assim muitos clientes de Petrovich.
— Se for isso mesmo, eles vão se foder em dose dupla,
porque eu vou atrás de todos os malditos, Roma tem dono, porra! —
Paolo dá um murro na mesa com raiva.
Dom não muda a expressão com a explosão do cunhado, ele
se mantém pensativo. O seu celular toca, fazendo-o pegar o
aparelho e verificar quem liga.
— O que foi, meu anjo? — Sua voz está suave, bem diferente
da tensão de poucos segundos.
Certamente é a sua esposa, quando fica sereno, é porque
Giovanna está conversando com ele.
— Eu tenho que ver isso com calma, porque preciso
conversar com a Gio para saber quem ficará com Massimo, não
podemos sair à noite repentinamente e, além disso, suas amigas
também precisam da autorização do pai ou do irmão, até porque
uma delas é menor de idade.
Agora a conversa dele chama a minha atenção, está falando
com Ambra e minhas irmãs fazem parte do assunto.
— Sim, podemos deixar Elena entrar, esse não é o problema,
mas para isso ela precisa de autorização dos responsáveis. — Dom
ouve o que a irmã fala, em seguida me olha. — Só um minuto,
Ambra. — Pede ao colocar o celular em cima da coxa. — Nossas
irmãs querem vir aqui ao La Fontaine amanhã, só que eu não
posso do nada trazê-las porque tenho filho pequeno e ainda tem o
problema da sua irmã que é menor de idade.
— De onde elas tiraram essa loucura? — bufo.
— São jovens, querem se divertir. — Paolo agora parece
mais relaxado. — Mande-as virem, Dom, aqui é seguro e elas
estarão com a equipe de segurança da Ambra, posso mandar um
dos meus homens também ficar de olho nas meninas.
— Ainda assim não gosto da ideia, é melhor deixarem para a
próxima semana. Eu me organizo com Gio, aí fico pessoalmente de
olho nelas.
— Eu posso cuidar de tudo, prometi há algum tempo que
traria Stefania aqui, é melhor pagar logo essa dívida. — Dom parece
analisar minha proposta antes de voltar a falar no celular.
— Amaro virá com vocês, avise suas amigas que está tudo
certo. — Ele sorri do que ela fala, sequer lembra o homem temido
por todo o clã. — Faça isso e tome cuidado, se Amaro me reportar
alguma reclamação com relação a você teremos problemas. —
Duvido muito que ela saia dos trilhos, mas o alerta dele é bom. —
Tudo bem, meu anjo, nos falamos depois.
— Já estou imaginando o momento que Caterina pedir para
vir ao La Fontaine. — Paolo afunda o rosto contra as mãos. — Se
ela for igual a mãe eu terei sérios problemas, porque meu inferno
vermelho não aliviava a minha vida quando solteira.
— Ela será pior. — Dom afirma sorrindo. — Sabe por quê? —
Paolo apenas ergue as sobrancelhas esperando-o falar. — Porque
ela é sua filha também, duas genéticas terríveis juntas, será uma
ragazza explosiva.
— Explosiva é o caralho! Está me rogando praga por acaso?
Eles começam a discutir, mas eu não me prendo ao que
falam, só agora percebo a besteira que fiz. Amanhã eu estarei com
a Ambra, em uma casa noturna badalada, tendo que vê-la linda e
ainda por cima espantar todos os homens que certamente irão se
aproximar dela.
A pior parte será me controlar, porque certamente eu serei
um dos seus pretendentes, ainda que eu saiba que não posso
encostar um dedo nela.
Que merda você fez, Amaro?
Assim que passo pela porta de casa, Elena corre na minha
direção e me abraça. Rodeio meus braços por seu corpo, tentando
entender o que deu nessa menina.
— Obrigada, Amaro, você é o melhor irmão do mundo. — Ela
me faz sorrir quando se pendura no meu pescoço e começa a beijar
meu rosto.
Estou um pouco surpreso, geralmente Elena é mais distante,
esse lado mais afetuoso fica a cargo da Stefania.
— O que está acontecendo aqui? Por que tanta animação?
— Porque Ambra ligou e nos avisou que iremos ao La
Fontaine.
— Ahh, sim. — Com o problema dos búlgaros até esqueci da
enrascada que me meti. — Vou levar vocês, mas quero que se
comportem ou nunca mais irão voltar lá.
— Juro que vou fazer o que pedir, quero sair mais vezes. —
Os olhos dela estão brilhando de satisfação.
— Prometo que vou tentar levar vocês a lugares diferentes.
— Eu vou amar.
Falo com a minha mãe rapidamente antes de subir para meu
quarto. Começo a tirar a roupa quando ouço meu celular tocar,
enrugo as sobrancelhas ao ver o nome da Alicia.
— Aconteceu alguma coisa? — Não nos falamos desde o
nosso último encontro.
— Está tudo bem. — Sua voz sai melosa, ela quer algo. —
Hoje é o aniversário de uma amiga em um barzinho badalado,
queria que fosse comigo.
Descarto os sapatos de lado e sento-me na cama enquanto
penso na sua proposta. Não seria uma má ideia sair um pouco para
beber e terminar a noite com um bom sexo, mas por algum motivo
eu não me sinto disposto a aceitar o convite.
— Tenho visitas para o jantar, não posso sair agora, mas se
eles não forem embora muito tarde, passo por lá e te encontro —
minto.
— A gente nunca mais saiu junto, só nos encontramos no
meu apartamento ou em algum hotel, estou cansada disso. — Olho
para o alto, na última vez que ficamos juntos já tivemos uma
conversa incômoda, pelo jeito as coisas entre nós estão
desandando.
— Não se canse por mim, querida, aproveite a festa da sua
amiga e veja as possibilidades ao seu redor, eu não sou um
empecilho na sua vida, espero que se divirta.
— Você é um merda insensível, quero que se exploda,
acabou tudo entre nós, Amaro. — Ela desliga.
Jogo o celular na cama sorrindo, já perdi as contas de
quantas vezes fui xingado por mulheres que acharam que iriam me
fisgar. Por mais que eu seja sincero e avise que quero apenas sexo,
essa minha declaração parece despertar nelas uma espécie de
desafio. Todas acreditam que podem me conquistar, só esquecem
que eu não estou à procura de romance.
Foi bom enquanto durou, Alicia, agora é vida que segue.

Pego um novo piercing para trocar o que tenho na


sobrancelha, vou colocar uma lança mais fina da que estou usando.
Assim que termino de ajustá-la passo uma pomada fixante no
cabelo e pego minha jaqueta.
Grito pelas meninas avisando que já estou pronto, Stefania
responde que já estão indo. Desço as escadas e encontro meus
pais na sala bebendo vinho enquanto jogam xadrez, é uma rotina
que eles mantêm ativa desde que eu era criança.
— Preparado para perder novamente para a mamãe? —
pergunto implicando com meu velho.
— Sua mãe anda tendo sorte, mas hoje eu ganharei.
— Veremos. — Ela o desafia.
Eles estão juntos há quase trinta anos, mas ainda parecem
recém-casados, a maneira como se olham revela a paixão que
sentem.
— Chegamos. — Olho para trás e vejo as meninas
terminando de descer as escadas.
Elena está com uma calça preta apertada, salto alto e uma
blusa rosa de mangas compridas que expõe sua barriga. Seu cabelo
está solto, formando ondas pesadas que se espalham por seus
ombros.
Já Stefania veste uma saia cinza brilhante, sua blusa é preta
com mangas bufantes, deixando em evidência seus ombros e
barriga. Ao contrário da nossa irmã caçula, ela está com o cabelo
preso em um rabo de cavalo.
Ambas estão lindas e deixando um claro lembrete que não
vai demorar muito a ter pretendentes atrás delas.
— Quero que fiquem o tempo todo perto do seu irmão e nada
de desobedecê-los, escutou, Elena? — meu pai a alerta.
— Por que todo mundo cisma comigo? — Ela cruza os
braços chateada.
— Porque conhecemos sua personalidade intempestiva — a
mamãe comenta. — Vão com Deus e que San Genaro os guarde.
— Fiquem tranquilos porque nada vai acontecer. — Beijo o
cabelo da mamãe.
— Não tire os olhos delas, meu filho, suas irmãs não estão
acostumadas com o mundo que as outras garotas frequentam.
— Sei disso, pai, eu vou cuidar de tudo. — Bato no seu
ombro antes de ir embora. — Espero que não me deem dor de
cabeça, porque se fizerem isso, será a primeira e última vez que
levo vocês em uma noitada.
— Juro que seremos comportadas — Elena diz ao andar toda
alegre do meu lado.
— Acho bom. — Dou um rápido olhar enviesado para ela,
essa é a que mais me preocupa nesta noite — avisem a Ambra que
estamos a caminho.
— Ela vai com sua própria segurança, já mandamos
mensagem dizendo que estamos indo, Ambra irá nos encontrar na
área VIP. — Enrugo as sobrancelhas surpreso com a informação
que Stefania me passa.
— Mas eu avisei que a pegaria em casa.
— Até onde sei a mãe quer que a segurança dela fique de
olho em tudo, então automaticamente se eles vão estar lá, podem
levá-la também.
Não digo nada, se a mãe dela deu essa ordem quem sou eu
para reclamar de algo?
Espero as meninas se acomodarem para colocar o carro em
movimento e seguir direto ao La Fontaine.

Acompanho calado a empolgação das garotas ao observar


cada detalhe da casa noturna, elas estão tão felizes que me
arrependo de não ter dado essa experiência para as duas há mais
tempo.
Sei que preciso me dedicar ao meu trabalho, mas também
não posso negligenciar minhas irmãs, elas vivem trancadas em
casa, precisam de um pouco de aventura.
— Venham comigo, vamos ficar ali — aponto para uma mesa
bem perto da grade do mezanino.
— Amaro, aqui é lindo — Elena diz perto do meu ouvido. —
Eu quero vir mais vezes.
— Vai depender do seu comportamento, sei que Stefania não
irá me trazer problemas.
— Por que ninguém leva fé em mim?
— Porque a gente te conhece desde que nasceu, ou
esqueceu que foi suspensa quando arrancou sangue do nariz de
uma menina na sua escola?
— Ela disse que meus peitos pareciam azeitonas, eu só tinha
quatorze anos, ainda estava me desenvolvendo.
A justificativa dela sempre me dá vontade de rir, mas eu não
posso demonstrar o quanto me deixou orgulhoso, Elena é o tipo de
pessoa que você precisa ter em rédea curta.
— Mas por saber que é arredia e bem travessa, eu preciso
ter atenção extra.
— Você é chato. — Ela joga o cabelo para o lado. — Vou
poder beber? Falta pouco para eu fazer dezoito anos.
— Vou pensar no seu caso.
— Ah, não, Amaro, hoje você podia ao menos relaxar.
— Eu não relaxo nunca. — Olho para Stefania. — Onde está
Ambra?
— Deve chegar a qualquer momento.
Esta noite será bem foda, é melhor eu beber algo para tentar
dissipar a tentação que em breve vou ter que passar.
Peço ao barman um drinque leve para minhas irmãs, já para
mim, opto por uma cerveja.
Levo as nossas bebidas até a mesa e aviso que elas devem
ir com calma, não quero nenhuma das duas embriagadas, meu pai
falaria horrores no meu ouvido se as vissem bêbadas.
Enquanto elas se divertem olhando a pista de dança na parte
inferior, eu fico atento a entrada da escada esperando por Ambra. A
sua demora em chegar já está me deixando agitado, se ela não
aparecer nos próximos dez minutos, ligarei para sua mãe.
Andrei, irmão da Masha, se aproxima ao lado de um amigo,
ele puxa assunto e começamos a conversar. Gosto muito dele, é um
cara discreto e confiável. Ele não assumiu nenhum serviço na máfia,
desde que descobriu que é neto do Franco, o subchefe do Paolo,
manteve seu trabalho como mecânico, porém transita no nosso
meio sem maiores problemas.
Em meio a nossa conversa Augusto chega, quando soube
que eu traria as meninas aqui, se prontificou a me fazer companhia.
A sua presença é mais que bem-vinda, eu ficaria entediado se
tivesse que passar a noite sozinho tomando conta delas.
Sorrio da história que o amigo do Andrei conta, no entanto, o
meu sorriso morre quando meus olhos alcançam a entrada da área
VIP, onde Ambra surge parecendo reluzir com sua beleza
arrebatadora.
Meu queixo despenca ao notar seu novo visual, ela cortou o
cabelo e fez mechas nas pontas. Agora o comprimento vai até o
meio das suas costas e na frente tem um repicado que começa a
partir do queixo. O contraste do castanho com as mechas loiras
deixa-a com uma aparência extremamente sexy.
Não existe nenhuma mulher neste lugar que chegue aos pés
dela, Ambra simplesmente está ofuscando qualquer outra com tanta
beleza.
— Porra! Aí fica difícil se comportar, é uma covardia do
caralho ela conseguir ficar mais bonita do que da última vez que a
vi. — Augusto expõe o meu pensamento.
— Basta lembrar de quem ela é irmã que você rapidinho se
comporta. — Praticamente rosno essas palavras, instante antes
dela parar na minha frente.
Olhe para o rosto dela, Amaro, nada de encarar suas pernas
e as curvas sinuosas do seu corpo, nessa merda de vestido curto de
prata brilhante. Não esqueça que você é um soldado treinado e
pronto para encarar qualquer desafio.
Faço esse alerta mentalmente, buscando no fundo do meu
ser forças para não a admirar abertamente.
— Até que enfim chegou, Ambra, já estava preocupado.
— A minha mãe acabou me atrasando com todos os alertas
que me deu. — Sua postura está um pouco tensa.
— Espero que a ouça.
— Como você demorou. — Stefania se aproxima. — Vem
comigo.
Ela puxa Ambra para o gradil do mezanino, mal deixando a
amiga acenar para os meninos que estão comigo.
— Essa é a irmã do Dom? — Andrei pergunta.
— Sim. — Forço-me a não olhar para onde ela está.
— Caramba, como está diferente, quase não a reconheci.
— Ela mudou o cabelo — Augusto diz ao observá-la. — E
esse vestido definitivamente a deixa uma mulher fatal.
— Concordo com a última parte do que falou, não vamos
negar o óbvio. — Termino a minha cerveja. — Movimente-se na
direção dela e tenha seu pescoço arrancado por Dom. — Apoio a
mão no ombro do meu amigo. — Se tem amor a vida, fique longe.
— Você sabe que todos nós vamos morrer um dia, não é
mesmo? — questiona ao erguer uma sobrancelha. — Para mim,
morrer por uma mulher como ela é digno.
— Esse é um homem de coragem. — Andrei sorri. — Eu amo
a vida, prefiro ver a irmã do Dom como se fosse Masha, quero
morrer bem velho.
— Sabedoria é tudo — falo antes de me afastar e ir buscar
mais uma cerveja.
Me debruço sobre o balcão e abaixo a cabeça, eu deveria ter
deixado Dom com essa missão, foi idiotice me oferecer para vir com
as meninas até aqui.
Olho disfarçadamente para trás e observo Ambra sorrindo ao
lado das minhas irmãs. Meus olhos vão subindo lentamente desde a
sua panturrilha bem desenhada por conta do salto alto, passando
por suas coxas, seguindo pelo contorno do bumbum arrebitado, até
a sedosa massa encorpada dos seus cabelos.
A sua pele parece reluzir sob o jogo de luzes da casa
noturna. Ela está perfeita em cada detalhe, o meu pau neste
momento já está se animando com as cenas nada puras que estão
surgindo na minha mente ao imaginar o tamanho da sua calcinha.
Caralho eu estou muito fodido.
— Entendo seu fascínio, ela se destaca de todas as mulheres
que estão aqui. — Giro o rosto quando ouço a voz do barman. — Se
eu não estivesse trabalhando, já estaria me aproximando.
— Se gosta da sua vida a esqueça, ela está acima das suas
possibilidades, agora vá fazer seu trabalho e me traga a porra de
uma cerveja.
O homem me olha assustado, mas sabendo que sou do clã,
ele rapidamente se afasta.
A noite vai ser longa e eu vou ter que me segurar para não
explodir com cada filho da puta que cobiçar a mulher que eu quero e
não posso ter.
A ideia de vir ao La Fontaine foi das meninas, elas nunca
estiveram em uma casa noturna, por isso estavam ansiosas por esta
aventura. Para vê-las feliz pedi ao meu irmão que nos trouxesse, o
que eu não imaginava era que Amaro ficaria responsável por nós.
Remexo meu cabelo tentando conter minha agitação, hoje fui
com mamãe ao cabeleireiro e no impulso decidi mudar o visual.
Estou vivendo um novo momento e a minha aparência, ainda dos
tempos do ensino médio, já não combinava comigo.
Por algum tempo a minha mãe relutou um pouco a concordar
com a minha escolha, mas quando expliquei que precisava mudar,
ela deu o sinal verde e acabou ficando feliz com o resultado final.
Eu esperava ficar diferente, esse era meu real objetivo, mas
quando me olhei no espelho, vi uma nova Ambra. A adolescente se
foi, assumiu o seu lugar uma mulher, que tem seus sonhos, desejos
e a incapacidade de realizá-los pelo simples fato de viver sob rígidas
tradições.
Disfarço e busco por Amaro, preciso assumir que parte da
minha vontade em mudar era para me sentir mais atraente para ele.
Secretamente nutro uma esperança tola de que nossos caminhos
possam de alguma maneira serem unidos como eu desejo.
Não sou o melhor exemplo de pessoa sonhadora, mas
mantenho certos sonhos vivos no meu coração, como foi o caso da
universidade, aconteceu o que tanto queria e eu estou muito feliz.
Aproveito que todos estão distraídos e avalio Amaro
atentamente, ele está com uma jaqueta de couro e calça preta, as
botas no estilo coturno completam o visual, favorecendo sua figura
extremamente masculina.
Tudo o que eu queria era poder me aproximar e abraçá-lo,
todas as noites durmo imaginando como deve ser prazeroso ter
seus braços me envolvendo.
Ele movimenta o rosto e acaba olhando para onde estou, finjo
prestar atenção para além dele, foco em um ponto onde um casal se
beija. Observar a interação dos apaixonados me faz ficar quente, eu
me coloco no lugar dos dois, só que tendo Amaro comigo.
Lambo os lábios ao imaginar como deve ser beijá-lo,
certamente ele tem muito mais experiência do que o rapaz que
fiquei, quando estive na Sicília.
O meu rosto esquenta quando Amaro segue meu olhar e fita
exatamente o casal. Quando voltamos a nos encarar, o rosto dele
parece feito de pedra.
— Ambra, o que acha de irmos dançar um pouco lá embaixo?
— Fico grata por Elena falar comigo.
— Por mim tudo bem.
— Vou conversar com Amaro. — Ela segue até o irmão.
— Elena está empolgada demais, tenho medo de ela fazer
algo e acabar com a nossa noite.
— E o que ela poderia fazer? Não se preocupe tanto — digo
com descontração.
— Você ainda está a conhecendo, eu convivo com essa
pestinha desde cedo, ela pode fazer qualquer loucura em segundos.
— Fique tranquila, dê algum crédito à sua irmã, ela não é
uma criança.
Percebo que ela está discutindo com o irmão, Elena cruza os
braços em uma postura defensiva.
— Venha comigo. — Seguro a mão da Stefania. — O que
está acontecendo? — pergunto ao me aproximar deles.
— Amaro não quer nos deixar descer.
— Por quê? — Concentro-me nele, ainda que isso me faça
ter que arrancar toda a calma que existe em mim. — Meus
seguranças estarão por perto, aqui nada pode acontecer.
— Prefiro tê-las ao meu redor, prometi a Dom que cuidaria de
você.
— A minha equipe de segurança está orientada por minha
mãe, você é apenas um ponto de apoio caso algo anormal
aconteça. Já que eu estou segura, elas também estarão. — Não
recuo, apesar de ficar nervosa perto dele, eu também sei lutar pelas
causas que eu quero.
Amaro aperta os olhos, descontente com meus argumentos
sólidos. Ele coloca as mãos nos bolsos da jaqueta, em uma postura
defensiva.
— Estarei de olho em vocês.
— O que pode nos acontecer? — Jogo meu cabelo para o
lado. — No máximo faremos sucesso na pista de dança. — Não sei
de onde saiu esse meu lado provocativo, talvez seja do drinque que
tomei.
— Disso não duvido, principalmente você com esse visual
maravilhoso — Elena afirma sorridente.
— Só vamos nos divertir, Amaro, nos deixe ser simples
jovens apenas por uma noite. — Seguro as mãos das meninas e
vou até onde um dos meus seguranças está parado.
Aviso que estou indo dançar um pouco, ele apenas concorda
e nos acompanha de perto.
Faz tempo que não danço, a última vez que vim aqui Gio nem
estava grávida do Massimo, estou sentindo falta de remexer um
pouco o corpo.
Faço uma roda com as minhas amigas e começamos a
dançar o ritmo eletrônico. As duas estão radiantes, mas Elena
claramente é a mais animada. Ela joga a cabeça de um lado para o
outro, enquanto suas mãos se sacodem no alto.
A diferença entre as irmãs causa um equilíbrio instigante na
nossa amizade, enquanto Stefania é bem racional e ponderada,
Elena é um fenômeno da natureza, sempre alerta e pronta para
qualquer situação.
— Vamos ao banheiro e depois podemos pegar umas
bebidas — falo após passarmos algum tempo dançando.
— Acho ótimo — Stefania concorda e a irmã também.
De mãos dadas seguimos para o banheiro e encontramos o
local um pouco cheio. Aguardamos para usar os reservados
conversando animadamente, quando conseguimos concluir nossa
missão, voltamos para a movimentação da casa noturna, sorrindo.
— Que tal a gente beber um Martini?
— Não acho sensato misturarmos bebida, Amaro nos deu
algo bem leve.
— Você é tão chata. — Elena rola os olhos para o alto. — Eu
aceito, Ambra, não sei quando vou ter mais uma noite como esta.
— É só um Martini, minha amiga, nada vai acontecer. —
Aperto sua mão.
Quando viro para ir ao bar esbarro em alguém, ergo a mão
me apoiando contra a pessoa para me equilibrar, no mesmo instante
sinto suas mãos segurarem meus braços.
— Opa! Está tudo bem? — Levanto rapidamente a cabeça
quando reconheço a voz. — Ambra — Fabio diz meu nome ao dar
um sorriso feliz. — Que grata surpresa.
— Penso o mesmo. — Apesar de saber que o La Fontaine é
um dos points mais badalados de Roma, eu não esperava vê-lo
aqui. — Como está?
— Melhor agora. — Ele olha para trás de mim. — Stefania,
como vai?
— Bem. — A voz dela é um pouco apreensiva.
— Essa é a Elena, irmã da Ste — aponto para onde ela está.
— Olá! Sou o Fabio, estudo na mesma universidade que
elas.
— Ah, sim, muito prazer. — Ela o avalia com curiosidade.
— Estávamos indo pegar umas bebidas, nos encontramos
por aí. — Tento passar por ele, mas Fabio não permite.
— Vou com vocês, precisamos comemorar esse encontro
inusitado.
Sinto a mão da Stefania apertar a minha, ela não está feliz
com a presença dele, certamente está pensando no irmão.
— Tudo bem, mas não iremos demorar no bar, vamos dançar
só um pouco antes de voltarmos para a área VIP.
— Por que não me surpreendo em vê-las no melhor lugar
daqui? — comenta apertando os olhos.
Eu o ignoro e sigo para o bar, peço nossos drinques e o
Fabio me acompanha. Rapidamente faço uma avaliação dele,
notando que está tão bonito quanto nos dias que o vejo na sala de
aula.
— Estou surpreso demais por encontrá-la aqui. — Ele aperta
os olhos. — Você está diferente. — Espero para ver se percebe o
que mudei. — Cortou e pintou o cabelo?
— Parabéns! É um bom observador.
— Noto sempre o que me interessa. — Seus olhos deslizam
pelo meu corpo. — Nossa... você está ainda mais linda.
— Obrigada. — Movo a cabeça e vejo as meninas
cochichando enquanto esperam suas bebidas. — Cadê seus
amigos?
— Estão por aí, mas não me importo, tenho coisas mais
interessantes a fazer.
— É mesmo? — Eu sei exatamente suas intenções e
confesso que, por estar frustrada por não poder ter Amaro, não acho
má ideia me arriscar com Fabio por uma noite, acredito que consiga
ludibriar minha segurança e encontrar um local discreto para beijá-
lo.
— Eu convivo com eles quase todos os dias, não preciso ficar
grudado naqueles merdas. — Não digo nada, eu sequer sei flertar,
mas por já ter bebido, me sinto afoita, diferente da minha rotina.
Chamo as meninas para se unir ao papo e conversamos
amenidades enquanto bebemos. Ao longe meus seguranças nos
observam, mas nenhum faz movimento de aproximação.
Quando termino nossas bebidas voltamos para a pista de
dança. Fabio segue na minha cola, ele parece bem-disposto a
demonstrar o quanto está interessado em mim.
— Você tem que aproveitar, ele é lindo e está completamente
na sua — Elena diz ao meu ouvido. — Podemos te dar cobertura,
ficamos dançando e você finge ir ao banheiro e vai beijá-lo em
algum canto.
Sorrio ao entender perfeitamente o temor da Stefania, pois
sua irmã não é fácil, vai dar dor de cabeça para a família em breve.
— Se tiver que acontecer dou um jeito. — Pisco para ela e
começo a dançar.
Nós quatro nos movemos pela pista, seguindo o ritmo
cadenciado da música. Em certo momento Fabio se inclina e
cochicha no meu ouvido que sou a mulher mais bonita da noite.
Apenas sorrio, sei que ele está querendo me conquistar,
apesar de não ter noção que a possibilidade de despertar meu real
interesse é nula.
Posso beijá-lo esta noite, mas será apenas para matar a
frustração que sinto. Talvez não seja certo usá-lo dessa maneira,
mas desde cedo ouvi que homens não necessitam da consideração
das mulheres, eles não se importam com nossos sentimentos
quando estão interessados em alguém.
— Por que não encontramos um lugar mais tranquilo? — Sua
voz soprando essas palavras no meu ouvido me causa arrepios.
Eu queria sentir por ele o mesmo tipo de adrenalina que
Amaro me desperta, mas apenas me sinto impelida a parar de ser
uma garota idiota e beijar alguém que realmente me deseja.
Olho ao redor procurando meus seguranças, eles estão em
pontos estratégicos, nem todos estão focados realmente em mim.
Penso por alguns segundos no que fazer, quero me aventurar, mas
lá no fundo não sinto o desejo verdadeiro em estar com o Fabio.
Para de bobagem, Ambra, você precisa de uma nova
aventura.
Uma voz oculta sussurra no meu ouvido.
— Fiquem dançando aqui, eu vou ao banheiro — digo às
meninas.
Elena é a primeira a notar minha manobra e sorri com
malícia, ela cochicha no ouvido da irmã e Stefania me olha aflita.
Seguro a sua mão, tentando acalmá-la, beijar Fabio não irá mudar a
minha vida, apenas me mostrará a realidade que vivo, onde Amaro
está fora do meu radar e em breve eu me casarei com quem meu
irmão indicar.
Olho rapidamente para Fabio e me afasto, sigo na direção do
banheiro, para não deixar meus seguranças tão alertas. Eles irão
me vigiar, sabem que neste lugar eu não corro um real perigo.
Entro no corredor escuro, rapidamente sinto a mão do Fabio
segurar a minha. Olho para ele e meu coração não dispara, eu
estou realmente perdida por Amaro.
— Você não tem noção do quanto está bonita. — Sua mão
vai para o meu quadril. — Desde o primeiro dia em que te vi na
universidade, não consigo parar de pensar em nós dois juntos. —
Ele coloca uma mecha do meu cabelo atrás da minha orelha. — Em
beijar essa boca linda. — Busco qualquer tipo de emoção surgir com
suas palavras, mas apenas um sentimento frio me consome.
Preciso achar alguma reação mais quente nessa nossa
interação, ao menos agora eu quero estar aqui, quando eu tiver meu
destino traçado, a situação será diferente.
— Então, por que não me beija? — Coloco em jogo a parte
atrevida que existe bem no meu interior, se ele continuar a falar, eu
vou perder a coragem e ir embora.
— Não precisa pedir outra vez. — Fico rígida quando começa
a aproximar o rosto do meu.
Fecho os olhos, é melhor eu mergulhar na escuridão e não
pensar no que vai acontecer.
— Senhorita Ambra, precisa vir comigo. — Em um estalo
volto à realidade e vejo meu segurança.
— Qual é cara? Sai daqui — Fabio reclama. — Não deu para
perceber que está nos atrapalhando?
— Por favor, preciso que me acompanhe. — O segurança
ignora completamente meu acompanhante.
— Desculpa, preciso ir.
— Como é? — Fabio me olha com raiva. — Vai obedecer a
esse merda?
— É complicado, depois nos falamos. — Tento me afastar,
mas ele segura meu braço.
— Se for embora agora, nossas chances acabaram.
— Tudo bem. — Puxo meu braço, por mais lindo que ele
seja, não desperta meu real interesse.
O segurança me acompanha bem de perto, sigo no caminho
onde minhas amigas estão, mas sou surpreendida quando ele me
direciona para a área VIP.
Subo as escadas sem dizer nada, espero que esta situação
não seja relatada ao Dom, não quero que meu irmão fique
aborrecido e pare de confiar em mim.
O pior é burlar as regras com alguém que eu sequer tinha
vontade de estar perto.
Como eu sou estúpida!
Mal piso no espaço VIP e Amaro se aproxima com o rosto
sério.
— Obrigado pela eficiência — diz ao segurança. — Fique de
olho nas minhas irmãs, em breve peço para trazê-las até aqui.
O homem não diz nada, apenas se afasta e volta para o
andar inferior.
— O que está acontecendo? — questiono sem esconder a
irritação.
Ele não responde, apenas me pega de surpresa ao segurar
meu braço e me levar para um canto onde abre uma porta, que até
o momento não tinha notado.
Entramos em um corredor com uma iluminação parca, Amaro
anda apressado, me fazendo ter dificuldade de acompanhá-lo por
causa dos saltos.
Antes de chegarmos ao final do corredor ele abre outra porta
e me puxa para dentro da sala. Sinto meu corpo estremecer quando
se posiciona à minha frente, me encarando com raiva.
— O que pensa que estava fazendo? — pergunta com a voz
baixa.
Seus olhos que naturalmente são verdes, agora viraram duas
bolas negras. Analiso seu semblante identificando o quanto está
com raiva, eu deveria me assustar, porém apenas me sinto excitada
por tê-lo pela primeira vez tão perto de mim.
De onde estou sinto seu cheiro cítrico, é másculo e sensual,
combina perfeitamente com ele.
— Não fiz nada demais. — Inclino a cabeça e percebo que
ele mudou o piercing que usa na sobrancelha, assim como está com
uma argola diferente na orelha. Essa possui pedras brilhantes, a
outra era apenas em ouro branco.
Noto tudo em Amaro, toda vez que o encontro dou um jeito
de analisar sua figura sexy. Gosto de cada parte dele, não mudaria
nada, ele tem um corpo perfeito, o rosto é bruto e suas tatuagens
me deixam louca.
É um legítimo mafioso. Perigoso. Gostoso. Proibido.
— Só não fez porque eu impedi, caso contrário estaria se
agarrando com aquele moleque.
— E você estragou tudo — digo fingindo não estar com o
coração acelerado.
— Por acaso tem noção do que ia fazer? — Ele segura meus
braços. — Não pode ficar por aí beijando garotos.
— Estou cansada de dizerem o que posso fazer, quero viver
antes de ser obrigada a me casar, era só um beijo. — O enfrento,
sentindo meu controle ruir.
— Quer ser beijada? — sua pergunta me faz ficar em alerta.
— Vamos! Quero minha resposta.
Sim. Quero beijar você.
Esta resposta grita na minha cabeça, mas eu não consigo
colocá-la em palavras.
— Só me deixe em paz. — Empurro seu peito querendo
afastá-lo, mas Amaro volta a segurar meus braços com mais força,
empurrando-me contra a porta.
— Eu te fiz uma pergunta, apenas responda. — Sua voz
rouca me causa uma série de tremores. — Quer ser beijada? —
novamente pergunta.
Meus olhos prendem os seus, sinto um clima tenso cair sobre
nós, ele está diferente, a maneira que me olha não é como estou
acostumada, Amaro parece querer me devorar.
— Quero. — Assumo. — Mas não era ele que eu queria
beijar. — Já que ele quer sinceridade, eu vou dar o que deseja.
— Posso saber quem era seu alvo? — Seu aperto se
suaviza.
Não respondo, apenas ergo uma sobrancelha sem deixar de
mirar seus olhos turbulentos.
— Realmente você quer foder a minha vida. — Inspiro fundo
quando sua mão prende a minha cintura. — Vou te dar a chance de
pedir para que eu me afaste.
Assimilo suas palavras, sem querer acreditar no que está
subentendido nelas. Mantenho meu silêncio, não vou arriscar
colocar tudo entre nós a perder, se ele está com a intenção de me
beijar, eu estou mais que preparada.
O mundo parece parar quando sua mão segura a minha
cabeça e nossas bocas colidem com uma urgência que me faz
perder o fôlego. Amaro imprensa o corpo contra o meu, me fazendo
sentir o quanto ele é rígido.
Ergo os braços e rodeio seu pescoço, dando a permissão
para ele invadir a minha boca com a língua. Ele posiciona a minha
cabeça em um ângulo que possa aprofundar o beijo e literalmente
me devora, fazendo minha mente entrar em colapso.
Se eu estou embriagada e sonhando acordada, não quero
nunca mais ficar sóbria, porque nada na minha vida real se compara
a emoção que estou sentindo agora.
Não quero nunca mais me afastar dele, só desejo beijá-lo
para sempre.
Sim, eu enlouqueci completamente. Todos os anos que tive
de treinamento com Dom, para aprender a conter meus sentimentos
foram por água abaixo ironicamente por conta da irmã do meu tutor.
Eu sabia que teria problemas esta noite, mas na melhor das
hipóteses achei que Elena aprontaria e me distrairia do tesão
incontrolável que estou sentindo por Ambra.
Só que minha irmã caçula está tendo um comportamento
exemplar, ao contrário da amiga, que tentou se esconder para beijar
um idiota qualquer.
Ela achou mesmo que iria me ludibriar? Logo a mim que fui
um exemplar observador ao longo dos meus anos como segurança?
Aprendi a perceber o mais discreto movimento das pessoas,
nada escapa dos meus olhos, o que inclui uma mulher
extremamente gostosa, que eu desejo mais que tudo, quando ela
foge para o escuro achando que ficaria com alguém bem embaixo
do meu nariz.
Ah, Ambra, você precisa me conhecer melhor, só assim não
vai achar que pode me enganar.
Envolvo meu braço ao redor da sua cintura, colando ainda
mais meu corpo ao seu. Sugo sua língua, recebendo em troca um
gemido que faz meu pau pulsar.
Eu sabia que beijá-la seria um momento ímpar, mas não
posso deixar de afirmar que tudo está sendo ainda mais grandioso
do que imaginei. Ambra tem gosto de alguma bebida alcoólica doce,
talvez Martini, não posso afirmar ao certo, mas é um sabor bom, tão
delicado quanto ela.
Infiltro a mão entre os fios do seu cabelo, mantenho sua
cabeça em um aperto firme, na posição perfeita para poder beijá-la
na intensidade que necessito.
Seus braços apertam o meu pescoço, Ambra corresponde ao
beijo na mesma intensidade. Juro que imaginei que fugiria de mim
quando a encurralei nesta sala, mas a atrevida não demonstrou
nenhum receio quando me enfrentou, apenas vi tesão brilhar nos
seus olhos.
Se ela não me desejasse seria mais fácil resistir, eu
conseguiria fácil me segurar, o problema é que eu passei a reparar
no seu interesse em mim, nos olhares furtivos, na maneira nervosa
que reagia quando eu me aproximava.
Foi aí que ela fodeu a minha cabeça, eu passei a ter os
pensamentos mais pecaminosos a cada vez que nos
encontrávamos. Hoje, quando a vi com essa nova aparência, foi o
momento que eu sabia que precisava evitar contato, porque se eu
me mantivesse perto, sucumbiria ao que estava sentindo.
Parecendo saber que havia me desestabilizado, ela decidiu
dar a cartada final tentando ficar com o tal garoto. Não pude me
segurar, precisava intervir no que estava acontecendo, por isso
enviei um dos seus seguranças para interromper o que ela pretendia
fazer.
Se eu fosse atrás dela chamaria atenção demais, fora que eu
causaria uma cena que me arrependeria depois. Mesmo me
sentindo como um carro desgovernado, consegui raciocinar e enviar
o maldito segurança.
Quebro o beijo precisando colocar um pouco de ar em meus
pulmões. Ambra mantém os olhos fechados, ela também tem a
respiração irregular, sua boca está inchada após o nosso tórrido
beijo.
Admiro sua beleza, seu nariz é delicado com a ponta
arrebitada, as maçãs do rosto são proeminentes e do lado esquerdo
do seu queixo tem uma pinta linda.
Por impulso dou um beijo na pinta e subo a mão por suas
costas, em um carinho lento.
Tão linda, ela não tem noção do poder de sedução que
possui.
— Abra os olhos — peço ao roçar o nariz na lateral do seu
pescoço.
— Não — responde ao correr a língua pelos lábios. — Sei
que estou sonhando, eu não quero acordar agora. — Ela faz um
carinho no meu cabelo com as pontas dos dedos. — Pode me beijar
mais uma vez? Assim prolongo o sonho.
Sorrio ao encostar minha boca na dela, entendo o seu
posicionamento, nada parece real, eu também estou tendo
dificuldade em aceitar que estamos aqui, mas a verdade é que está
acontecendo e eu não posso negar o quanto estou gostando.
— Você não está sonhando, estamos aqui juntos e dentro de
um grande problema. — Escorrego os nós dos dedos por sua
bochecha.
Aos poucos ela abre os olhos e me encara parecendo não
acreditar que estou bem a sua frente.
Que inferno! Eu quero beijá-la novamente, me sinto
completamente sedento por essa mulher.
Ambra pisca sucessivamente os olhos, suas mãos vão para
meus braços e, descaradamente, ela apalpa meus músculos. Aperto
os olhos quando vai subindo até meus ombros, ela também os
massageia, deixando um sorriso malicioso brilhar em seus lábios.
— Realmente parece tudo verdadeiro, ainda assim não estou
confiante, posso estar bêbada.
— Não está. — Ergo seu queixo querendo ver mais de perto
seus olhos. — Pode continuar me apalpando para acabar com
qualquer dúvida. — O rosto dela ganha um rubor cativante.
— E quem disse que estou te apalpando? — questiona ao
empinar o nariz arrebitado, em uma pose de afronta.
Se ela soubesse que ao me confrontar fico ainda mais
estimulado em provocá-la não faria isso.
— Suas mãos estão dizendo isso. — Rodeio meus braços
nela e a afasto da porta. — Eu não ligo, na verdade, mas é um
pouco perigoso o que estava fazendo.
— Como assim perigoso? — Ambra me fita de maneira
curiosa.
— Vamos esquecer essa parte. — É melhor não colocar em
palavras que o seu mais inocente toque causa um estrago no meu
autocontrole.
— Não sei se quero esquecer.
— Mas eu posso fazê-la esquecer tudo. — Novamente
domino seus lábios, beijá-la é um vício que eu posso muito bem me
entregar com o maior prazer.
Nossas bocas possuem um encaixe perfeito, o que faz minha
mente suja ir adiante e imaginar se na cama seríamos tão
compatíveis.
Foco, Amaro! Beijá-la é uma das maiores imprudências que
já cometeu, tê-la na sua cama seria uma sentença de morte.
Não resisto e desço minha mão até abarcar uma banda da
sua bunda, pressiono a carne macia com brusquidão, recebendo em
troca um longo gemido.
O meu corpo pega fogo, meu pau começa a despertar,
ansioso para entrar em ação, mesmo sabendo que jamais poderá
sentir o prazer de estar dentro dela.
Massageio sua bunda, enquanto mordisco seus lábios, até
que nossas línguas se encontram, em um movimento sincronizado
que me deixa surpreso.
Ambra beija bem demais, ela é fogosa, se entrega a cada
movimento que faço com extrema espontaneidade.
Colo nossas testas quando mais uma vez interrompo o beijo,
ela me desestabiliza com seu comportamento afoito. O pior é que
faz isso naturalmente, nada em Ambra é premeditado como as
mulheres que estou acostumado a sair.
— A gente está fazendo tudo errado — digo ao acariciar sua
nuca.
— Não acho — afirma ao abraçar minha cintura. — Eu queria
isso o tempo todo, mas eu sabia que não podia me aproximar.
— Isso significa que está me cobiçando há muito tempo?
— Talvez alguns dias. — Desconversa.
Espertinha, ela acha que pode me enganar, mas está bem
enganada.
— Pare de mentir. — Suspendo seu corpo e a levo até a
mesa que tem na sala. — Eu não sou cego, Ambra, percebi seus
olhares há algum tempo.
— É proibido olhar?
— Não. — Ajeito seu cabelo atrás do ombro. — Gostei dessa
sua nova aparência, você ficou mais sensual. — Um canto do seu
lábio superior ergue-se.
— Queria mudar.
— Fez bem. — Beijo seu pescoço, inalando seu perfume
suave.
Lentamente vou espalhando beijos pelo local, até que ergo o
rosto e novamente me perco nos seus lábios. Preciso aproveitar o
restinho de segundos que ainda nos resta, me perdi na louca
aventura que me meti, quando a realidade bater à porta, tudo o que
terei é a memória de que pude sentir seu gosto e ter seu corpo
macio entre meus braços.
Devoro Ambra com uma fome que até me assusta, parece
que quanto mais a beijo, mais meu desejo por ela aumenta.
Ela firma os calcanhares atrás das minhas coxas quando me
instalo entre suas pernas. Tento conter minha empolgação, ainda
assim meu pau incha, louco para ter acesso ao seu ponto mais
delicado.
Subo a mão pela lateral do seu corpo, até que a ponta do
meu polegar roça a parte baixa do seu seio.
Segure-se Amaro, não vá adiante, você já está na merda,
não se mele totalmente com ela.
Penso ao conter a vontade de revelar seu seio. Ela é uma
garota inocente, não posso simplesmente jogar meu lado devasso
para a superfície e exigir que acompanhe cada um dos meus
desejos.
— Precisamos parar e sair daqui — falo quando consigo me
controlar. — Não quero que ninguém perceba que estivemos juntos
e minhas irmãs estão sozinhas há muito tempo.
— Não! — Ela me prende com suas pernas e braços. — Eu
não quero ir embora.
— Só que precisamos ir, não podemos passar a noite toda
aqui.
— Amaro... — Sua expressão de tristeza quase me deixa
sem ação.
— Realmente não podemos ficar, já estamos ausentes por
muito tempo.
— Isso significa que nunca mais iremos nos beijar?
A resposta certa para a sua pergunta é explicar que foi um
equívoco o que aconteceu, mas secretamente eu não sou tão bom a
esse ponto, fechar essa porta com ela com todas as palavras é algo
que não consigo.
— Acho que por hoje sim, não posso afirmar nada. — Ambra
apoia a mão sobre meu coração.
— Só quero mais um beijo — pede ao subir a outra mão por
meu braço. — Um beijo que tire toda a minha respiração.
Ela é persuasiva e muito sedutora, se eu não a conhecesse
bem, poderia dizer que tem uma larga experiência em conquistar
homens.
Acato seu pedido e a beijo com uma fome avassaladora, este
deveria ser nosso primeiro e último contato, depois que passarmos
por aquela porta, o certo é me afastar, mas no momento não posso
pensar em algo assim.
Quando sinto minha respiração falhar me afasto, ela está
bagunçando a minha cabeça, preciso de um pouco de distância
para voltar a ser o Amaro centrado que todos conhecem.
— Precisamos ir.
— Não quero. — Ambra salpica vários beijos na minha boca.
— Esperei tempo demais por este momento, não pode durar tão
rápido.
— Esperou? — Inclino a cabeça sorrindo satisfeito com a
informação.
— Esqueça o que falei, apenas me beije.
— Não esqueço. — Aperto sua cintura. — Queria me beijar
há quanto tempo? — Meu ego está gritando como um idiota.
— Você é tão exibido. — Empurra meu peito. — Só me deixe
descer.
— Eu não vou deixar. — Seguro-a com força. — Apenas me
responda.
— Não tenho obrigação de te responder nada. — Agora ela
me empurra com mais força, o que me faz tombar para trás
sorrindo. — Vamos embora.
Não me movo quando ela se afasta e vai na direção da porta.
Eu gosto de mulher determinada, fico instigado quando elas não
sucumbem as minhas ordens com facilidade.
Sigo no seu encalço por todo o corredor que leva até o
espaço da área VIP, mas antes de chegarmos à saída que irá nos
unir às pessoas da casa noturna, eu a puxo e enrosco meu corpo ao
seu.
Mais uma vez domino seus lábios, memorizando seu sabor e
os sons de excitação que ela faz. Eu queria poder sair e mantê-la
comigo, mas já errei em perder o controle e avançar na sua direção.
Eu espero que meu movimento não cause nenhum estrago
que respingue na minha família. Não me importo com qualquer
coisa que aconteça comigo, só não posso colocar em risco as
pessoas que amo e que não possuem nenhuma responsabilidade
pelos meus maus atos.
Aperto a almofada contra o peito deixando meu pensamento
vagar pela noite anterior, quando todo o meu mundo foi revirado e
eu realizei mais um dos meus sonhos.
Ainda me sinto reticente com todas as lembranças que não
saem da minha cabeça, não consigo acreditar que tudo foi verdade,
sinto que a qualquer momento vou acordar e descobrir que estive
tão bêbada que sonhei em beijar Amaro.
Suspiro fundo relembrando os beijos que trocamos, foram
intensos e diferentes dos que experimentei com Rafaello. Com
Amaro tudo foi mais quente, excitante.
Eu beijei Amaro!
Jogo a cabeça para trás e solto uma risada alta, ainda presa
a toda loucura que passamos. Quando eu fui ao La Fontaine com
minhas amigas, jamais imaginei o que iria acontecer.
Levo um susto quando ouço meu celular, pego o aparelho e
aceito a ligação da minha amiga.
— Como você está? Eu ainda me sinto flutuando sem
acreditar que tivemos uma noite tão animada.
Como eu queria dizer para ela que tive a melhor noite da
minha vida ao lado do seu irmão. Acho que Stefania iria gostar de
saber dessa novidade, mas não posso me arriscar, o que aconteceu
ficará apenas na minha memória.
— Feliz em poder participar da primeira ida das minhas
amigas a uma casa noturna, vamos repetir mais vezes.
— Se não fosse você nós não iríamos, obrigada por pedir ao
seu irmão, tenho certeza de que Amaro não aceitaria nos levar se
eu pedisse.
Amaro. O nome do homem que não sai da minha cabeça
nem por um segundo.
— Talvez levasse, ele ama vocês.
— Não leve tanta fé nele, meu irmão sabe ser intransigente.
...e muito gostoso.
Completo mentalmente, porque é isso que Amaro é, um
gostoso que me deixou em chamas com seus beijos perfeitos.
— Então é igual ao meu, mas se soubermos levá-los,
conseguimos tudo.
— Nisso você tem razão. — Sorrimos ao mesmo tempo. —
Estou te ligando porque eu e Elena queríamos que passasse a noite
aqui com a gente, queremos falar tudo, sobre nossa aventura, por
telefone não é a mesma coisa.
— Preciso ver com a mamãe, se ela deixar eu vou com
prazer. — A animação me domina, pensar em rever Amaro me deixa
elétrica.
— Eu espero que deixe, estou ansiosa para nos
encontrarmos, mas se precisar a minha mãe liga para a sua.
— Vou conversar com ela, te ligo assim que tiver uma
resposta.
— Combinado.
Encerro a ligação e vou atrás da minha mãe, quero sua
posição logo, caso me deixe ir, preciso me arrumar e ficar irresistível
para encontrar Amaro.
Ando pela casa e encontro a mamãe na biblioteca,
remexendo em uma caixa.
— Tudo bem? — pergunto ao entrar.
— Sim. — Ela fecha a caixa. — Estava procurando um
documento de um dos nossos imóveis para seu irmão Davide, não
sei onde seu pai colocou, não está no lugar onde costumamos
armazenar todas as informações das nossas propriedades.
— Quer que eu te ajude?
— Não é necessário, vou procurar devagar, sei que está aqui,
seu pai era organizado.
Odeio falar do papai, tudo que se refere a ele me traz más
memórias.
— Queria pedir algo a senhora.
— E o que seria? — Ela me observa com atenção.
— Stefania me convidou para dormir na casa dela, queremos
conversar sobre a noite passada, a senhora sabe que foi a primeira
vez que minhas amigas estiveram no La Fontaine.
— Nunca te vi tão próxima a alguém, nem mesmo com sua
prima Cristine você é tão apegada.
— É a primeira vez que sinto ter realmente amigas. — Estou
sendo sincera, a ligação que desenvolvi com as meninas é especial.
— Não sei explicar bem, mas nossa amizade foi algo natural e forte,
eu gosto delas, das nossas conversas, do astral que elas possuem.
— Penso um pouco antes de voltar a falar. — E gosto mais ainda do
amor que aquela família divide, nunca tinha visto nada parecido na
máfia, os pais dela se amam, eles tratam os filhos com um carinho
que emociona.
Minha mãe olha para a caixa que está à sua frente, ela fica
pensativa por um longo tempo, o que acaba me fazendo ficar
arrependida em falar o quanto admiro o amor da família das
meninas.
— É possível existir amor na máfia, filha, não só de maldade
que o nosso meio é feito.
— Aprendi isso. — Cruzo os braços. — A família da Stefania
se ama, assim como Dom ama Gio e o Massimo.
— Seu irmão conseguiu superar o mal que o Francesco lhe
fez, sou feliz por isso.
— A senhora também superou, sempre cuidou de nós com
muito amor.
— E vou cuidar até o último dia da minha vida — afirma ao
levantar e a se aproximar de mim para me abraçar. — Vá ficar com
suas amigas, divirta-se por lá, hoje tenho um jantar com a mãe do
Paolo e outras mulheres, você ficaria aqui sozinha de qualquer
maneira.
— Muito obrigada. — Aperto meus braços ao redor do seu
corpo. — Já vou começar a arrumar o que preciso levar.
— Faça isso e avise a sua segurança que irá sair.
— Eles precisarão ficar por lá?
— Não será necessário, o pai do Amaro é tão bom soldado
quanto o filho, eu confio neles.
Quanto a isso não posso discordar, ambos são bons no que
fazem e Amaro tem o bônus de beijar maravilhosamente bem. Estou
louca para revê-lo e, quem sabe, conseguir mais uma vez ficar
sozinha com ele.

Pego minha mochila e saio do carro, agradeço ao meu


segurança e sigo ansiosa para encontrar minhas amigas. Mal me
aproximo da porta e Stefania a abre toda feliz.
— Que demora. — Ela me puxa para o hall de entrada
sorrindo. — Fiz um delicioso bolo com nozes para o nosso lanche
da tarde.
— Humm que prendada. — Implico com ela.
— Tenho meus talentos. — Ela joga o cabelo de lado.
Encontro Elena sentada no chão da sala, pintando as unhas.
Ela tem os fones no ouvido e parece alheia a minha presença. Faço
um sinal para Stefania não avisar que cheguei, rodeio por onde ela
está e tiro inesperadamente seus fones.
— E aí distraída?
— Merda! Que susto. — Elena me olha feio. — Você não
devia testar meu coração assim.
— Quem manda ouvir música no último volume e não prestar
atenção em quem chega?
— Para de ser implicante como a minha irmã. — Ela me olha
feio. — Estou contente que tenha vindo ficar com a gente.
— Eu também estou. — Jogo a minha mochila no chão e
desabo contra o sofá. — E aí, já estão recuperadas da noite
passada?
— Se eu pudesse iria ao La Fontaine esta noite, foi demais
estar lá, precisamos voltar o quanto antes. — Elena não esconde a
sua empolgação.
— Não vá com tanta sede ao pote, Amaro já abriu uma
exceção na noite passada, então é melhor ir com calma. — Stefania
tenta controlar a irmã mais nova.
— Odeio essa parte que não podemos sair sozinhas. — Ela
bufa. — Amaro sai a hora que quer, tem várias namoradas e a gente
aqui presa, não é justo.
— E quem disse que a vida é justa? — questiono.
Se fosse, neste momento eu estaria aos beijos com o irmão
delas, sem ter que ficar apenas relembrando cada sensação
inesquecível de que vivemos na noite passada.
— Ambra, você já chegou. — Dona Tereza aparece. — Já
preparei seu quarto, é um prazer te receber aqui.
— Não precisa se incomodar comigo, posso dormir com as
meninas.
— Jamais te deixaria dormir no chão quando temos um
quarto de hóspedes.
— Eu te dou a minha cama se quiser dormir a noite toda com
a gente, não ligo. — Stefania se oferece.
Apesar de ter um quarto extra, as meninas dormem juntas,
elas são superunidas, mesmo que em alguns momentos
protagonizarem brigas engraçadas, mas no fundo se amam muito.
— Claro que não vou te tirar da sua cama. — Rapidamente
nego sua oferta. — Não queria incomodar, mas já que a dona
Tereza arrumou um quarto para mim só posso agradecer.
— A partir de agora é seu quarto, eu espero que venha mais
vezes ficar com as meninas.
— Eu venho se elas também puderem passar algumas noites
na minha casa.
— Claro que podem ir, é só marcarem e sua mãe autorizar.
— Ela gosta muito das suas filhas, vai adorar recebê-las.
— É bom saber disso. — Ela nos deixa a sós.
— Vai contar o que aconteceu com o Fabio? Estou tão
curiosa, ontem você se negou a fazer qualquer comentário.
Quando eu e Amaro voltamos do nosso momento tórrido, ele
me orientou a dizer que meu segurança interveio na situação e eu
subi chateada para o espaço VIP.
Segui o que pediu e apenas disse às meninas que estava
irritada e que depois conversaríamos. Não gosto de ocultar
informações delas, no entanto, também não vou criar um conflito
com Amaro.
— Como podemos ter uma aventura com um lugar lotado de
seguranças? — digo ao fazer uma careta. — Fui interrompida e
intimada a ficar na parte de cima até ir embora.
— Merda! — Elena blasfema. — O que custa eles te
deixarem dar só uns beijos?
— Pois é. — Não encaro nenhuma das duas, estou me
sentindo tão mal. — Mas o importante é que vocês se divertiram.
— Lamento, Ambra, o Fabio é lindo, vocês combinam tanto.
— Pode ser que haja outra oportunidade, Ste.
Se ele levar a sério o que me disse, não iremos ter nenhum
momento íntimo.
— Vamos trabalhar para isso. — Stefania pisca.
Não quero nada com o Fabio, meu interesse é apenas no seu
irmão, ele é meu sonho de consumo.
— Assim que eu terminar de pintar minhas unhas vamos
comer o bolo da Ste, ela sempre arrasa na comida.
— Gosto de cozinhar, ao contrário de você.
— Cada um com seu talento, irmãzinha, esse não é o meu.
— E que talento possui? — pergunto.
— Fazer vocês rirem, é algo bem grande.
Ela consegue seu objetivo, sorrio da sua fala, realmente
Elena tem um humor peculiar e sempre protagoniza momentos
divertidos quando estamos juntas.

Depois de uma tarde animada e um bolo incrível que Stefania


preparou, estamos prontas para o jantar. Infelizmente Amaro esteve
o dia todo fora, de acordo com as meninas foi a um jogo de futebol
com os amigos e não tem hora para chegar.
Evito pensar que neste momento esteja com alguma mulher,
imaginar essa possibilidade me deixa possessa de ciúmes, ainda
que eu não tenha direito de ter esse tipo de sentimento.
Chegamos na sala de jantar e encontramos uma mesa farta,
com um cheiro divino. Assim como Stefania, sua mãe cozinha com
perfeição, todas as vezes que comi aqui eu perdi a noção e me
empanturrei.
— Vou parar de vir nesta casa, vocês cozinham bem demais
— digo ao ver as delícias à minha frente.
— Não faça isso. — A senhora Tereza me recrimina com um
sorriso caloroso. — Eu espero que goste do que preparei, fiz com
muito amor.
Não podia ser diferente, tudo entre eles existe amor, a
maldade da máfia não faz parte desta família, ao menos quando
eles estão juntos.
— Amaro não virá jantar? — Elena pergunta ao ocupar o seu
lugar.
— Está sentindo a minha falta? — Levanto os olhos quando
ouço sua voz.
A minha garganta seca quando o vejo com uma blusa branca
que modela seu corpo musculoso, o cabelo está molhado e um
jeans claro pende sensualmente por sua cintura.
Puta merda! Ele parece ainda mais bonito do que na noite
passada, acabo de perder todo o meu apetite.
— Boa noite, Ambra! — A minha pele se arrepia com a
entonação profunda com que fala o meu nome.
Para todos aqui é uma saudação simples, mas eu percebo a
maneira íntima com que se dirige a mim.
— Boa noite — respondo com a voz um pouco instável.
O brilho que passa por seus olhos, deixa claro que ele
percebeu que sua presença me desestabilizou.
Levo o jantar no automático, acompanho as conversas
sempre que ouço meu nome e não consigo sentir o real sabor da
comida. Em alguns momentos sinto os olhos do Amaro em mim,
sempre que ganho coragem e decido observá-lo, vejo que está
atento ao que faço.
Por mais que eu tente não consigo agir naturalmente e
Stefania percebe, pois pergunta se estou me sentindo bem.
Obviamente minto e digo que está enganada, pois não existe nada
de errado comigo.
Quando acabamos de comer eu vou para a sala com as
meninas, conversar amenidades, enquanto ele se reúne com seu
pai no escritório.
Um tempo depois subo para o quarto das garotas e
conversamos por um longo tempo, até que me sinto cansada e
aviso que vou dormir.
Depois da noite passada eu não tive sono para descansar o
necessário, acordei cedo e fiquei pensando no que havia acontecido
no La Fontaine. Vir ficar com elas me deixou ainda mais exausta,
preciso dormir um pouco para realmente me sentir inteira.
Deito-me na cama e minha mente volta a trabalhar sem
controle, revivendo todos os beijos que troquei com Amaro, das
suas mãos fortes deslizando ao longo do meu corpo e as sensações
inéditas que senti quando estávamos juntos.
Aperto as coxas quando sinto a excitação me inundar, eu
nunca senti nada igual, nos poucos minutos que eu estive perto
dele, seria capaz de cometer as mais diversas loucuras. Amaro é o
homem que sempre desejei, poder estar em seus braços foi algo
extremamente emocionante.
Rolo na cama sem conseguir me concentrar para dormir,
saber que ele está tão perto de mim me deixa extremamente
agitada.
Acabo levando um susto quando meu celular apita avisando
que tenho uma mensagem. Rolo para o lado e pego o aparelho, a
essa hora da noite só pode ser minha mãe querendo novamente
confirmar se estou bem.
O meu coração paralisa quando vejo o nome do Amaro,
tenho o seu número porque Dom o fez adicionar na minha agenda,
mas nunca tive a necessidade de entrar em contato, então é um
pouco estranho vê-lo me chamar.
Está acordada?
A mensagem é curta e bem objetiva, o meu coração dispara,
sinto minhas mãos suarem.
Apoio o aparelho contra meu coração, sem saber ao certo o
que responder.
Estou.
Sou direta na resposta, vou aguardar o que vai falar.
Posso ir até aí?
Droga! Por essa eu não esperava.
Se quiser, pode.
Jamais vou impedi-lo de se aproximar.
Certo. Já estou chegando.
Ergo-me rapidamente e ajeito meu cabelo, só depois que
noto que estou vestindo um ridículo pijama de short e blusa de
malha. A peça não é nada sexy, não posso recebê-lo usando isso.
Coloco o pé no chão pronta para trocá-la, mas paraliso
quando vejo a porta abrir lentamente. Merda! É ele, o desgraçado já
devia estar pronto para vir.
Não tenho para onde correr, terei que recebê-lo com essa
roupa ridícula.
Volto a me ajeitar na cama e sento-me em posição de
meditação. Amaro entra revelando sua figura grande e sensual.
Ele manteve a blusa branca, mudou apenas a calça, agora
usa uma cinza, de moletom. Não consigo decidir qual visual ficou
melhor, acho que gosto dos dois, tudo nesse homem me agrada.
Sem dizer nada coloca as mãos atrás do corpo e se recosta
contra a porta me observando com olhos semicerrados. Seguro a
vontade de me cobrir com o lençol, estou me sentindo feia com esse
baby-doll, eu queria estar com algo mais sensual.
— Aconteceu algo? — pergunto quando não consigo mais
tolerar seu olhar avaliativo.
— Talvez. — Ele fixa os olhos nos meus seios.
A excitação se espalha como um rastro de pólvora através do
meu corpo, os bicos dos meus seios ficam rígidos e, pelo sorriso
sacana dele, notou a reação que provocou no meu corpo.
— Precisamos conversar, Ambra — diz ao se aproximar da
cama.
— Só conversar? — A minha boca se precipita ao meu
cérebro e não mede o que fala.
— E o que você quer além de uma boa conversa? — seu
questionamento é feito quando ele para bem na minha frente.
Lambo os lábios, tentando manter meus olhos no seu rosto,
não quero que ele me flagre encarando outras partes do seu corpo.
— Você não veio até meu quarto para conversar, não tente
menosprezar minha inteligência.
— Jamais faria isso. — Seguro a respiração quando ele
envolve toda a minha nuca com sua mão. — Realmente precisamos
conversar, mas temos tempo para outras coisas.
— E essas coisas seriam? — Preciso que ele tome a
iniciativa, no momento não me sinto apta para algo assim.
Com um movimento firme ele me puxa, colocando-me de pé,
fazendo meu corpo encostar no seu. Seguro seus braços, sentindo
o calor da sua pele me consumir.
— O que eu e você tanto queremos — diz antes da sua boca
cair contra a minha, em um beijo que me faz sair de órbita.
Subo as mãos por seus braços, até que envolvo seu
pescoço, sendo arrebatada pela forma profunda com que me beija.
Gemo entre seus lábios, enrolando a minha língua na sua, sentindo
seu cheiro me deixar com os sentidos embriagados e as pernas
trêmulas.
Está acontecendo novamente e, eu sequer consigo acreditar
que estou outra vez dentro dos seus braços.
Mais uma vez estou seguindo por um caminho perigoso, eu
não deveria estar aqui, só que não contive meus instintos e ignorei a
voz da razão.
Também, como eu poderia ter qualquer sensatez quando eu
tenho uma mulher como ela por perto? Ambra é uma verdadeira
tentação, ela é naturalmente sensual e consegue me instigar
apenas com o seu jeito fofo de agir.
Hoje fui ao futebol com uns amigos, saímos para beber,
encontramos um grupo atraente de mulheres, todas lindas e
disponíveis, mas nenhuma delas atraiu a minha atenção.
Eu ainda estava vivendo a noite anterior, quando eu
mergulhei nos braços do perigo e me esqueci de todos os meus
códigos de honra ao beijar uma mulher proibida.
Até poderia dizer que é justamente por ela não poder ser
minha que estou me sentindo tão instigado, porém a verdade é que
ela me enlouqueceu, a maneira com que se entregou a mim fez a
minha cabeça girar.
Libero sua nuca do meu aperto e subo a mão até embrenhar
os dedos por seu cabelo sedoso. O meu braço que envolve seu
corpo o aperta com força, extinguindo qualquer tipo de espaço entre
nós.
Reprimo um gemido ao sentir os bicos enrijecidos dos seus
seios contra o fino tecido da blusa. Queria poder livrá-la dessa
maldita roupa e me perder no seu corpo completamente nu.
Ela estava certa quando afirmou que eu não vim aqui apenas
conversar. O que eu podia falar para ela caberia tranquilamente em
uma mensagem.
Queria apenas alertá-la que necessita agir mais naturalmente
quando nos encontrarmos, só que a verdade é que eu desejava
exatamente o que estou fazendo agora, beijá-la mais uma vez e
confirmar que nada se compara ao seu beijo.
Desde que fui obrigado a me afastar dela na noite anterior,
não paro de pensar no quanto foi prazeroso cada segundo que
estivemos juntos, confesso que não imaginei que me sentiria tão
ansioso para voltar a experimentar seus beijos.
Mordo seu lábio inferior e o puxo quando nosso beijo é
interrompido, fito seus olhos, admirando o quanto eles estão
possuídos pelo tesão.
Por que ela não é uma mulher comum, que não tem que
seguir malditas regras que só servem para foder a vida das
pessoas?
Se Ambra fosse uma das garotas que costumo sair, neste
momento eu estaria sobre esta cama, pronto para fodê-la até gritar
meu nome.
— Podemos conversar desse jeito sempre que quiser — ela
diz ao sorrir com os lábios lindamente inchados.
— Desde quando você é tão atrevida? — Acaricio seu rosto
com o polegar.
— Onde está escrito que não posso ser? — Ela apoia a mão
na minha cintura.
— Eu poderia dizer que está nas merdas de regras que
seguimos, mas eu não posso negar que gosto disso. — Salpico um
beijo na sua boca.
— E sobre a conversa que queria ter comigo? Estou curiosa
para saber o que é. — Afago seu cabelo, sem nenhuma vontade de
falar nada, só queria manter minha boca na dela e deslizar minhas
mãos por todo seu corpo.
— Queria fazer um alerta.
— Sobre? — questiona ao erguer uma sobrancelha.
— Você precisa ficar mais natural quando estivermos juntos
com a minha família, a maneira tensa como reagiu a minha
presença pode causar desconfianças.
Ambra não diz nada, ela parece apenas avaliar minhas
palavras. Enrosco os braços na sua cintura, completamente incapaz
de manter qualquer distância.
— Não fiz por mal, só tive dificuldade por ser surpreendida
inesperadamente com a sua presença no jantar. Passei parte do dia
esperando te encontrar, mas como saiu com os amigos achei que
não nos veríamos. — Um tom rosado se espalha por suas
bochechas.
— Então veio ficar com minhas irmãs só para me ver? — Ela
retorce o nariz fazendo uma careta linda.
— Não fique convencido, vim fazer os comentários sobre a
primeira noite delas em uma casa noturna.
Sei que não é totalmente verdade, assim como eu, ela
também queria um novo encontro, o que aconteceu no La Fontaine
não foi suficiente para nós dois.
— Agora que deixamos claro que você precisa ser mais
natural, que tal aproveitarmos que estamos aqui para nos distrair?
— Ela me abraça pela cintura.
— Estou pronta para muita distração.
— Ambra...Ambra, você precisa ter mais cuidado com o que
fala.
Não espero que diga mais nada, volto a dominar sua boca,
degustando seus lábios com calma, estimulando-a sem pressa,
querendo apenas apreciar cada um dos seus gemidos.
Tento me esforçar a não ser atrevido demais, porém fracasso
miseravelmente e aperto sua bunda. Ela tem um traseiro delicioso,
há muito tempo notei esta bunda gostosa e sonhava um dia poder
sentir na palma da minha mão o quanto deveria ser macia.
Ambra arranha as pontas das unhas no meu couro cabeludo,
agora é a minha vez de gemer com seu carinho. Ela inclina a
cabeça e aprofunda o beijo, ditando um ritmo intenso que acerta
direto na minha virilha.
Onde essa mulher aprendeu a beijar tão bem? Será que é
puro instinto?
— Como apendeu a beijar assim? — não seguro a
curiosidade e pergunto quando puxo seu cabelo forçando-a me
encarar.
— Não sei. — Ela lambe os lábios.
— Já beijou alguém? — Meu lado possessivo entra em cena.
— Pode ser — sua resposta é evasiva demais.
Aperto os olhos e fico atento a sua expressão de fingida
inocência. Ela não está falando a verdade e, eu vou querer saber
agora mesmo o que está me escondendo.
— Sem brincadeiras. — Intensifico meu aperto.
— O que foi? Vai querer investigar a minha vida? — Ela tem
uma personalidade forte, se parece com o irmão. — Só estou com
vontade de beijar você. — Suas mãos pequenas sobem por minhas
costas. — Tira a blusa.
Sua ordem me pega de surpresa, a encaro atônico, sem
acreditar que ela teve coragem de fazer esse pedido.
— Como é? — Preciso confirmar se ouvi certo.
— Amaro, até onde sei não é surdo — diz irritada. — Só
preciso que tire a blusa.
— Por quê? — Não resisto e a provoco.
— Porque quero matar a minha curiosidade.
— Nem sempre pessoas curiosas acabam bem.
— Sinceramente. — Ela empurra meu peito e se afasta. —
Não vejo como isso pode acabar mal.
Sentando-se na cama mede cada centímetro do meu corpo
com uma volúpia que desperta todas as células do meu corpo. Já
não consigo segurar a minha ereção, meu pau pulsa com força
dentro do meu moletom.
O certo seria ir embora agora, mas a prudência me
abandonou no segundo em que a beijei pela primeira vez. Faço o
que pediu e puxo a camisa por minha cabeça deixando meu tronco
nu.
Ambra me observa atentamente, seus olhos gulosos
mapeando cada parte exposta que encontra. Em certo momento ela
concentra-se na minha tatuagem que vai do meu peito, subindo pelo
ombro e descendo até o braço.
— Estou aprovado? — brinco com ela.
— Acho que preciso tocar. — Ela ergue-se e se aproxima de
mim espalmando a mão contra meu peito. — Você é lindo.
— É mesmo? — Firmo as mãos no seu quadril. — De onde
estou acho você bem mais bonita do que eu, inclusive essa sua
roupa de dormir é uma tentação do caralho.
— Está falando sério? — pergunta ao me encarar incrédula.
— E por que iria mentir? — Beijo a pinta no seu queixo.
— Não acho essa roupa sexy. — Ela beija a tatuagem do
meu ombro. — Já sentiu vontade de lamber algo? — Muda o
assunto.
— Sim. — Sinto a minha pele esquentar com os beijos que
espalha por ela. — Inclusive no momento queria lamber algo
específico em você. — Rapidamente ergue o rosto para me encarar.
— E o que seria?
— Uma coisa que eu não posso.
Interrompo nossa conversa quando a seguro e nos
encaminho para a cama. Estou fazendo outra merda, mas foda-se o
bom senso, só preciso tê-la grudada em mim.
Fico sobre Ambra e volto a beijá-la, suas mãos se espalmam
contra minhas costas, fazendo meus músculos ficarem contraídos.
Ergo sua perna e a posiciono contra meu quadril, ganho o ponto
onde desejo, sentindo o calor da sua intimidade através do pequeno
short do baby-doll.
Estou passando de todos os limites, mas quando ela está
comigo eu só consigo seguir em frente, é como se eu não tivesse
forças para controlar meus próprios instintos.
Roço lentamente as pontas dos dedos pela lateral dos seus
seios, eles são de tamanho médio, combinam perfeitamente com
seu corpo pequeno.
Suas mãos deslizam por minhas costas e param quando
alcança o elástico da minha calça.
Preciso interromper o que estamos fazendo, eu sou a pessoa
experiente nessa história e, sei exatamente o que pode acontecer
se continuarmos com esse tipo de carícias.
Com extrema dificuldade eu me ergo e deito-me ao seu lado.
Respiro aceleradamente e a minha ereção indica que eu fiz certo
em me afastar.
— Amaro. — Ela apoia a mão no meu peito ao se aproximar.
— O que foi? — Fecho os olhos, esse seu cheiro me deixa
completamente alucinado.
— A gente precisa desacelerar. — Mesmo sabendo que não
é um bom movimento eu passo o braço por seus ombros e a faço
deitar contra meu peito. — Desde ontem tudo está acontecendo
muito rápido, isso não é bom.
— Mas não fizemos nada demais. — Ela ergue o rosto para
poder me encarar.
— E não iremos fazer. — Aproveito que sua blusa subiu um
pouco escorrego a mão por sua pele. — Te beijar já foi a porra de
um erro, eu não sou louco de foder com tudo avançando o sinal.
Ambra apoia uma mão contra meu peito e fica quieta, o seu
silêncio me deixa incomodado.
— Ei, algum problema? — Tento fitar seu rosto.
— Eu me sinto tão podada na minha forma de viver. — Ela se
afasta e se senta na cama. — Nunca pensei muito sobre a minha
realidade, sempre vivi buscando ser invisível para que meu pai não
se voltasse contra mim. Aprendi a me esconder, dizer sim para tudo,
camuflar minhas emoções, só que eu estou cansada disso, não
quero ser perfeita, muito menos apagar meus desejos.
O seu desabafo me pega de surpresa, sei pouco sobre a vida
dela, meu contato era apenas com seu irmão, mas entendo que
deve ter sido duro viver sobre o mesmo teto que Francesco, o
homem era odiado em vários nichos da máfia.
— Posso imaginar o quanto deve ter sido pavoroso ter um pai
como Francesco. — Recosto-me contra a cabeceira da cama e a
puxo para se sentar entre minhas pernas. — Mas passou, ele não
está mais aqui, agora pode ser apenas você.
— Por sua causa nos livramos da presença maldosa do meu
pai, eu o odiava, todos os dias tinha esperança de que ele fosse
trabalhar e nunca mais voltasse. — Aperto-a com força, não quero
pensar em tudo o que aquele maldito asqueroso fazia com a filha e
esposa.
— Ele teve uma morte justa, me sinto feliz em ter sido o
responsável por livrar o mundo daquele filho da puta.
— Você libertou a minha família, obrigada mais uma vez,
nunca vou cansar de te agradecer por isso.
— Esqueça os agradecimentos, sou um homem treinado para
proteger até mesmo com minha vida as pessoas que estão na
minha responsabilidade. — Ela ergue o rosto e me lança um sorriso
doce.
— E se eu quiser agradecer com um beijo?
— Está querendo arrumar uma desculpa para me beijar?
— Amaro — diz meu nome ao se mover ficando de lado e
jogando as pernas por cima da minha coxa. — Eu quero te beijar
sempre. — Ela acaricia meu rosto. — Não sei quando poderemos
nos beijar novamente, então vamos aproveitar este momento.
Como posso resistir quando ela demonstra o quanto gosta de
estar comigo? Eu também gosto dos seus beijos, meu maior
problema é querer avançar, mesmo sabendo que não posso fazer
isso.
Acato seu pedido e a beijo, mas internamente me obrigo a
frear o tesão que sinto. Ambra é proibida e o que estou fazendo
agora, caso seja descoberto, pode me trazer graves consequências.
Estou há duas semanas sem ter contato com o Amaro, ele
está em algum tipo de missão na máfia, chegou a viajar até a
Espanha a mando do Paolo.
Sempre que vou visitar sua família fico na esperança de ele
aparecer, infelizmente volto para casa decepcionada e irritada por
não nos encontrarmos.
Eu não consigo parar de pensar em tudo o que aconteceu
entre nós, o nosso último encontro foi especial, tivemos uma
intimidade que me deixou um pouco assustada, porém,
extremamente excitada, nunca imaginei que eu me sentiria tão
atrevida ao estar perto de um homem.
O interessante é que me sinto íntima dele, parece ser certo
eu me abrir e revelar meus desejos. Amaro é de uma beleza que faz
meu ar ficar em suspenso, quando meus olhos caem sobre ele, só
sinto vontade de tocá-lo e toda a prudência me abandona.
Por muito tempo sonhei um dia me aproximar, só não
imaginei o quanto seria incrível estar dentro dos seus braços.
Apoio o ombro no tronco de uma árvore, enquanto espero por
Stefania. Hoje vamos almoçar juntas, a minha mãe estará fora o dia
todo resolvendo assuntos do grupo de mulheres da máfia, que
organizam uma fundação filantrópica de ajuda às famílias
refugiadas.
Não existe só maldade no nosso mundo, algumas ações
boas ajudam pessoas que estão em situação de vulnerabilidade.
— O que está fazendo aqui sozinha? — Giro o rosto para o
lado e vejo Fabio.
Ele ficou alguns dias me evitando desde o ocorrido no La
Fontaine, depois voltou a se aproximar parecendo ignorar o clima
estranho que ficou entre nós.
Gosto dele, seu astral é sempre bom e formamos uma bela
dupla nas aulas que frequentamos, porém não quero ter com ele
nada além de uma boa amizade.
— Oi. — O cumprimento com um discreto sorriso. — Estou
esperando a Ste.
— Que novidade. — Ele para ao meu lado e ajeita a alça da
mochila no ombro. — Hoje é aniversário de um amigo, ele vai
comemorar em um bar, quer ir comigo?
Por essa eu não esperava, ele foi tão enfático em dizer que
não teríamos mais chances se eu fosse embora com o meu
segurança, que imaginei que não seria mais capaz de demonstrar
interesse por mim.
— Obrigada pelo convite, mas não posso ir.
— Não pode ou não quer?
Os dois.
Não ouso dizer em voz alta, mas penso imediatamente assim
que ouço sua pergunta.
— Realmente não posso, eu... — Para minha sorte Stefania
aparece interrompendo a minha fala.
— Atrapalho? — ela pergunta ao se aproximar.
— Claro que não. — Me posiciono ao seu lado. — Fabio
passou para dar oi. — Ele ergue uma sobrancelha.
— Foi? — questiona com uma expressão divertida. —
Confesso que minha intenção era outra. — Um sorriso lento se
espalha por seus lábios.
— Precisamos ir, estamos atrasadas. — Stefania une nossos
braços. — Nos falamos depois, Fabio.
— Eu vou acompanhar vocês, também estou indo embora —
diz ao começar a andar do nosso lado. — Estou de carro, se
quiserem posso dar uma carona.
— Nós já temos transporte, obrigada pela oferta. — Sinto a
mão da minha amiga apertar meu braço.
Ela é um pouco resistente a aproximação dos garotos, ao
contrário da irmã que é bem afoita, minha amiga é toda retraída.
— Tudo bem, mas saibam que posso dar carona a vocês
quando precisarem.
— Eu não vou esquecer disso. — Claro que jamais aceitarei
uma carona dele, mas no momento é melhor fingir que essa
possibilidade pode acontecer.
— Olha o Amaro ali. — A simples menção do nome do seu
irmão faz meu corpo fervilhar. — O que ele está fazendo aqui? Será
que aconteceu algo? — Ste me olha apreensiva.
— Claro que não, fique calma. — Tento tranquilizá-la, mesmo
achando a sua presença estranha.
Vejo Amaro encostado no carro de óculos escuros, os braços
estão cruzados, em uma posição intimidadora. Ele veste uma
camisa branca com mangas compridas, que se ajustam
perfeitamente aos músculos dos seus braços, calça social cinza e
gravata preta.
Lindo como sempre.
Será que algum dia vou conseguir olhar para ele sem ter o
coração parecendo querer fugir pela boca?
Agora que eu sei como é beijá-lo, sentir a rigidez do seu
corpo sob a palma da minha mão, sinto ainda mais desejo por ele.
Tudo o que eu queria era poder agarrá-lo sem pudor.
— Quem é o brutamontes? — Fabio olha para o Amaro com
curiosidade.
— Ele não é um brutamontes, é meu irmão — minha amiga
diz irritada.
— Desculpa, não quis ofender, mas seu irmão é bem
intimidador, não parece ser um cara simpático.
Se ele soubesse quem Amaro é de verdade, ficaria longe do
seu caminho.
— O que está fazendo aqui? — Stefania indaga claramente
preocupada.
— Não posso vir te buscar? — retruca o questionamento da
irmã com a voz um pouco brusca.
— Pode, mas como apareceu inesperadamente eu fiquei
preocupada. — Sua postura dá uma relaxada com a explicação
dela.
— Estava por perto e decidi vir pessoalmente te pegar. — A
atenção dele vai para o Fabio que está parado ao meu lado.
— Amaro esse é o Fabio, um amigo da faculdade. — Fico
quieta enquanto ela faz as apresentações. — Ele é o meu irmão
mais velho — explica ao Fabio que o encara curiosamente.
— Muito prazer. — O coitado estende a mão, mas Amaro não
faz menção de descruzar os braços.
— Tome muito cuidado quando estiver ao lado das meninas,
seja prudente, evite problemas.
Fabio abaixa a mão e o fita intrigado, agora até eu estou,
essa postura agressiva dele não é da sua personalidade.
— Vamos embora — ordena ao se desencostar do carro.
— Eu e Ambra vamos almoçar juntas, já tínhamos
combinado.
— Levo vocês — diz ao abrir a porta do veículo. — Agora
entrem.
Ele não nos espera, apenas se acomoda no banco do
motorista e nos aguarda.
— Que humor azedo — comento quando ele já não pode nos
escutar.
— Não sei o que deu nele.
— Talvez seu irmão não tenha gostado de me ver com vocês,
ele é do tipo que tem ciúme da irmã? — Fabio indaga curioso.
— Amaro é um pouco protetor, nada demais — explico
tentando não me estender muito. — Nos falamos depois.
Seguro a mão da minha amiga e a puxo para entrar no carro.
Sei que por estar ao lado dela não vou poder admirar Amaro como
gosto, mas o que importa é estar um pouco perto dele, sentir esse
seu perfume cítrico que não sai da minha cabeça.
— Coloquem o cinto — ordena assim que nos acomodamos
nos bancos de couro.
— Por que está tão chateado? — Stefania pergunta ao
colocar o cinto de segurança.
Ele não responde, apenas sai do estacionamento em silêncio,
mantendo a postura rígida.
— Se for por causa do Fabio, ele é só um amigo da Ambra,
eu quase não tenho contato com ele, nos vemos pouco.
— Acha mesmo que um merda como aquele quer qualquer
tipo de amizade com vocês duas? — fala com desdém. — Sei que
não é inocente, Stefania, assim como a sua amiga também não é.
— Existe amizade entre homens e mulheres — comento
tranquilamente. — Um dos melhores exemplos é Dom e Masha.
— Não faça esse tipo de comparação, a situação não é a
mesma. — Fito-o através do retrovisor, mas por conta da merda dos
óculos escuros não consigo ver seus olhos.
— Somos prudentes, Amaro, por mais que o Fabio tenha
interesse na minha amiga, nós sabemos até onde podemos ir.
— Será? — pergunta ao desacelerar e parar o carro em um
sinal de trânsito.
Neste momento sinto que seus olhos me observam, isso me
faz ficar atenta ao retrovisor, quero deixar claro que sinto seu olhar
em mim.
— Ele pode ser da máfia, o conheço pouco, vou tentar
descobrir sua origem, acho Fabio interessante — comento apenas
querendo irritá-lo.
A minha provocação causa o efeito esperado, Amaro trava o
maxilar claramente chateado com o que acabei de falar. Mordo uma
parte do lábio inferior evitando sorrir, é melhor não cutucar a fera
demais.
— Será que ele é do clã? — Ste se vira no banco para me
olhar.
— Pode ser, precisamos descobrir — falo tranquilamente. —
Não me lembro agora do sobrenome dele, mas vou ver qual é e,
pedirei a Dom para verificar.
— Fiquem longe desse cara, conheço o tipo dele. — A voz do
Amaro quebra nossa conversa.
— Conhece mesmo? — Jogo a mão para trás da cabeça e
divido meu cabelo ao meio, deixando os fios caírem por sobre meus
ombros. — Você está preocupado demais, relaxa.
— Ambra tem razão, Fabio é mais um dos universitários que
convivemos. — Stefania está alheia ao verdadeiro motivo da
irritação do seu irmão.
Já eu entendi tudo e estou flutuando de felicidade por ver
Amaro incomodado por mais uma vez Fabio estar perto de mim.
Devo um presente ao meu colega de classe, graças a ele eu tive o
prazer de me perder nos braços do homem que sou apaixonada
desde sempre.
— Onde vocês vão almoçar? — Ele muda de assunto.
— Estávamos pensando ir em um pequeno bistrô perto do
centro histórico, que serve uma comida caseira deliciosa — a irmã o
responde, enquanto eu não paro de olhar seu perfil viril.
Lindo em qualquer ocasião, eu sou muito perdida por ele.
— Preciso resolver um assunto com um dos associados, ele
tem um restaurante bem-conceituado, vou levar vocês comigo,
enquanto converso com ele vocês almoçam.
— Tudo bem para você, Ambra? — Stefania pergunta.
— Por mim... — Dou de ombros, mas por dentro estou
amando saber que o terei por perto.
Apesar do Amaro ainda manter a postura tensa, eu e Ste
começamos a conversar com animação. Quando chegamos ao
restaurante, que ele falou, descemos do carro e entramos no
estabelecimento que tem muitas mesas lotadas.
Nunca vim ao lugar, mas já ouvi boas recomendações.
Rapidamente uma mesa é providenciada para nós duas, Amaro
pede que façamos os pedidos enquanto ele trabalha.
Tento controlar meus olhos quando ele se afasta da nossa
mesa e caminha com imponência para os fundos do
estabelecimento. Meus olhos vão para sua bunda rígida e os
ombros largos.
Ainda não acredito que eu não só beijei esse homem, como
também toquei sua pele, senti seus músculos entre meus dedos,
tive suas mãos deslizando por todo meu corpo.
A excitação me domina ao pensar na última vez que ficamos
sozinhos, naquela noite eu seria capaz de fazer o que ele quisesse,
estava entregue a Amaro, sem ligar para as consequências da vida
real.
— Meu irmão está estranho, ele não é de agir como fez ao
nos buscar.
— Ele só ficou incomodado com a presença do Fabio, deve
achar que você está paquerando-o, é normal os homens da máfia
serem protetores em excesso.
— Eu sei disso, mas a cena, como um todo, foi esquisita.
— Esqueça isso. — É melhor não nos aprofundarmos neste
assunto.
Pego o cardápio e começo a olhar as opções, como ela nota
que não vou mais falar sobre o assunto também decide escolher
seu prato.
Sei que não estou fazendo certo ao esconder dela o que está
acontecendo comigo e seu irmão, mas não me sinto confiante, neste
momento, em me abrir com Stefania, talvez eu faça isso em breve,
por ora prefiro guardar este segredo apenas para mim.

— Eu queria esperar a sobremesa chegar, mas preciso fazer


xixi urgente — falo sem conseguir me segurar mais.
— Vá logo no banheiro, ainda que chegue antes de você
voltar, eu te espero para comermos juntas.
— Você é uma amiga de ouro. — Pisco para ela e pergunto
ao garçom onde fica o banheiro.
Ele me aponta um corredor, sigo para onde indicou e
encontro o lugar vazio. Corro para o reservado e respiro aliviada
quando esvazio a bexiga.
Lavo as mãos e ajeito meu cabelo, deixando meu
pensamento fluir até Amaro. Ele sumiu desde que chegamos aqui,
estava esperançosa de que aparecesse e comesse conosco,
infelizmente meu desejo não foi realizado.
Abro a porta do banheiro já ansiando pela sobremesa repleta
de chocolate que escolhi. Espero que esteja tão gostosa quanto
tudo o que comi até agora.
Pulo assustada quando um braço forte enlaça a minha cintura
e uma mão cai pesada contra a minha boca. Esperneio
automaticamente quando meu corpo é retirado do chão.
Entramos em um pequeno espaço, com pouca iluminação e
repleto de prateleiras. Assim que sou colocada no chão viro-me para
saber quem é meu captor, dou de cara com Amaro me encarando
raivoso.
Ele fecha a porta e dá um passo na minha direção, fazendo
seu perfume flutuar até minhas narinas. O medo é substituído por
tesão, quero beijá-lo agora mesmo.
— Nunca mais me provoque na frente da minha irmã — fala
com a voz baixa, causando um estremecimento por meu corpo. —
Posso parecer bonzinho, mas não se engane comigo.
— Está com ciúmes? — Toco o meio do seu peito, sentindo-o
imediatamente estremecer. — Eu não ligo para o Fabio, ele é
invisível para mim.
— Um merda como aquele jamais me causaria ciúmes —
responde com um sorriso cínico.
— Tem certeza? — Cruzo os braços por seu pescoço. — A
sua irritação desproporcional foi suspeita.
Ele não me responde nada, apenas mantém os olhos nos
meus por alguns segundos, até que encara a minha boca.
Sim, Amaro, eu também quero muito te beijar, estava
contando os segundos para este momento.
Penso secretamente.
Fico nas pontas dos pés e lambo seu lábio superior, depois
mordo o inferior, até que começo a mover lentamente a minha boca
contra sua. A sua falta de reação acaba me deixando insegura,
talvez eu esteja me expondo demais demonstrando o quanto o
desejo, essa é a primeira vez que interajo tão intimamente com um
homem e não sei ao certo como agir.
A insegurança me domina, o que me faz retrair e começar a
me afastar, mas é justamente neste instante que Amaro me abraça,
gira nossos corpos e me prensa contra a porta.
Ele prende a minha cabeça na sua mão e me beija com fúria,
invadindo a minha boca avidamente, sugando a minha língua
causando um tremor por todo meu corpo.
Gemo contra seus lábios, feliz por sentir o desespero do seu
beijo, ele também estava ansioso por este momento, saber disso me
deixa confiante.
Sou surpreendida quando sua mão entra por baixo do meu
vestido e aperta a minha bunda. Ele pressiona os dedos unindo-nos
ainda mais, seu toque bruto me aquece, fazendo a umidade se
alastrar por minha calcinha.
É uma loucura o que acontece quando estamos juntos, eu me
perco completamente, só consigo desfrutar de todas as sensações
prazerosas que me faz sentir.
Choramingo quando ele interrompe o beijo e me encara ainda
com raiva, seus olhos são apenas uma fenda, repleta de perigo.
— Você foi feita para foder minha cabeça, sabia disso? —
pergunta com a voz arrastada. — O pior é que faz isso
naturalmente. — Sua mão aperta com mais força a minha bunda. —
Tenho certeza de que você ainda será a minha ruína.
Quero rebater suas palavras, mas ele volta a me beijar,
invalidando todos os meus pensamentos lógicos.
Para que palavras, questionamentos, argumentos, quando
tenho a boca dele contra a minha? Nada mais importa quando
Amaro está comigo, eu só preciso aproveitar e sentir o poder dos
seus braços me segurando como se nunca mais fosse me soltar.
Encontro minha mãe na sala, ela tem uma xícara de café nas
mãos enquanto está pensativa. Agora que vivemos sozinhas tudo é
mais tranquilo, eu não preciso mais ficar presa no meu quarto,
transito pela casa sem medo de encontrar meu pai e ser alvo da sua
fúria.
— Por acaso tem um pouco de café para mim? — pergunto
ao me aproximar.
— Claro que sim, vou pedir uma xícara para você.
— Não precisa, eu mesma vou buscar.
Vou até a cozinha rapidamente e retorno à sala com minha
xícara em mãos. Coloco um pouco de café e adoço apenas com
uma colherinha de açúcar.
— Sente-se aqui. — Minha mãe bate ao seu lado. — Você
anda com a vida tão movimentada que não estamos com tempo
para ficarmos juntas.
— Não seja exagerada — digo ao me acomodar junto dela.
— Até onde sei é a senhora que anda com muitos compromissos
entre as mulheres do clã.
— Gosto de ser prestativa, sem contar que agora eu sou livre
para ocupar meu tempo com o que eu realmente desejo. — Suas
palavras atingem um ponto específico no meu coração.
— Nossa vida mudou para melhor, agora temos liberdade.
— Isso é verdade. — Ela acaricia meu rosto. — Ando
percebendo você com um brilho diferente, está muito mudada. —
Sua observação me pega de surpresa. — Essa diferença é só por
causa da faculdade ou tem mais coisa envolvida nesta sua
mudança?
Fico sem palavras, não esperava que ela tivesse esse tipo de
percepção sobre mim.
— Estou feliz com a minha nova vida, mãe — digo com
sinceridade. — Não ando mais com medo e estou realizando um
dos meus sonhos que era cursar a faculdade.
Com carinho ela me abraça e beija a minha testa quando
encosto minha cabeça contra seu ombro.
— Eu me sinto muito mal em estar feliz com a morte do seu
pai, sempre acho que estou pecando por tal sentimento, mas eu não
posso fechar os olhos e ignorar o tanto de sofrimento que ele nos
causava.
Reflito sobre a sua fala, ela e Dom foram os grandes alvos de
toda a maldade que meu pai possuía, ambos foram os mais
afetados, nada do que eu e meus irmãos sofremos pode se
comparar ao que os dois passaram.
— Eu não me importo em agradecer todos os dias por ele
não estar mais aqui. — Assumo com sinceridade. — Só consigo ser
agradecida a Amaro por nos livrar daquela fera.
— Nunca iremos pagar o que aquele rapaz fez por nós, ainda
me envergonho por Francesco ter tido a coragem de tentar abusar
da esposa do próprio filho.
— Ele era mau, mãe.
— Sim. — Ela acaricia meu cabelo. — Para a minha sorte
nenhum de vocês tem a mesma índole dele. Guido pode ser um
pouco duro, mas nem mesmo ele teria coragem de fazer metade do
que seu pai fez em vida.
Concordo com ela, por mais que meu irmão seja distante e,
às vezes grosseiro, não chega aos pés do nosso pai.
— Quando chegar o momento de escolher seu marido, farei
questão de que seja alguém que saberá cuidar de você, jamais
quero que experimente os horrores que já vivi.
Eu me aconchego ainda mais nela, nunca soube todas as
barbaridades que já passou, apenas Domênico tem noção delas,
mas eu vi muita coisa dentro desta casa e não sei se eu conseguiria
suportar metade do que minha mãe foi obrigada a passar.
— Queria poder escolher meu marido. — Meu pensamento
vai direto para Amaro.
— Se em algum momento tiver interesse em alguém, avise-
me, eu converso com Dom e juntos veremos a possibilidade para
um casamento. Ele sabe o quanto é difícil se unir a alguém sem
vontade, mesmo que tenha tido sorte em gostar da Giovanna, eu sei
que ele não ficou feliz quando foi informado sobre a obrigação de
casar-se com ela.
Certa esperança me domina, se Amaro se apaixonar
verdadeiramente por mim, podemos ter uma chance.
— E se eu gostar de alguém sem ser do alto clã? — Por
alguns segundos ela fica pensativa.
— Aí teremos problemas, porque seu irmão não irá gostar
disso.
— E a senhora? — Com ternura ela me fita.
— Se ele te amar e cuidar de você eu posso ver como as
coisas ficam, só quero que seja feliz. — Os meus olhos marejam
quando vejo o tanto de amor que ela sente por mim. — Do que
adianta dinheiro, posição social, se minha menina estiver triste?
— Eu te amo, mãe. — A abraço com força. — Obrigada por
sempre pensar nos meus sentimentos.
— Você é minha eterna bambina[3], faço tudo por você e seus
irmãos, é o que realmente tenho de valor nesta vida. A minha família
sempre estará acima de tudo.
— O que está acontecendo aqui? — A voz do Guido nos
interrompe. — Por que estão tão emotivas? — Olho para a entrada
da sala e o vejo de braços cruzados.
Guido é o que mais puxou ao pai, ele tem o cabelo escuro e o
rosto mais bruto.
— Só estava dizendo a sua irmã que amo nossa família. —
Ele esboça um discreto sorriso.
— A senhora não muda — comenta ao se aproximar de nós.
— O que está fazendo por aqui, aconteceu algum problema?
— nossa mãe pergunta quando ele a beija.
— Tive uns assuntos para resolver por perto, decidi visitar
vocês. — Guido também me dá um beijo.
— Já que está aqui ficará para o jantar, faz tempo que não
aparece, filho.
— Como posso recusar uma intimação dessas? — Ele se
acomoda em uma poltrona e abre o terno. — E você, Ambra? Como
anda a faculdade?
Não esperava esse tipo de pergunta vinda dele, Guido é
sempre distante dos assuntos da minha vida, mas já que ele quer
saber, eu não me importo em falar sobre um assunto que me deixa
radiante.
Com empolgação eu começo a contar as aventuras que já
tive desde que comecei a estudar, ele me surpreende por ouvir tudo
parecendo verdadeiramente interessado no que digo e, esse seu
comportamento inusitado, me faz gostar em estar perto dele.

Enrolo a toalha no corpo antes de pegar meu celular. Abro


um sorriso quando vejo o nome da Giovanna.
— Oie! — Jogo o corpo sobre a cama esperando para saber
o motivo da ligação.
— Queria ter te encontrado hoje no campus, mas eu saí bem
antes do seu horário e não podia me atrasar para um almoço que
marquei com Chiara.
— Nossos horários infelizmente quase não batem.
— Pois é, uma pena isso, gostaria de poder passar mais
tempo com você, ainda bem que tem Stefania para te fazer
companhia.
— Foi uma sorte ela entrar na faculdade junto comigo, tem
sido incrível poder dividir tudo com ela.
— Sei como é, Masha que me aturava quando comecei —
ela diz sorrindo. — Eu te liguei por que quero fazer um convite.
— E o que seria?
— Vai acontecer uma festa bem badalada e eu quero que vá
comigo, será divertido.
— Claro que eu vou, nem precisa perguntar. — Nós duas
sorrimos. — Só me diga o dia e que estilo de roupa que devo usar.
— É neste sábado e vá com um vestido de festa, é o
lançamento da marca de uma nova grife, a estilista é esposa de um
dos associados da máfia, a elite de Roma em peso estará lá.
— Uau! Acho que preciso ir às compras.
— Faça isso, esteja linda, lá terá belos rapazes, se você se
interessar por algum, apenas me fale que eu dou um jeito no seu
irmão.
— Gio, eu não quero pensar em casamento agora. — Na
minha cabeça só tem Amaro, é apenas ele que eu quero.
— Só fique aberta as possibilidades, eu me sentiria mais
tranquila se você demonstrasse interesse por alguém do que
escolherem por você. — Ela não cansa de se preocupar com a
família. — Confio cegamente no meu marido, mas eu não aceito que
se case sem amor, eu quero ver você tão feliz quanto eu sou com
Dom.
Eu também quero ser feliz, mas não vejo como, se eu não
puder ter Amaro.
— Tudo bem, estarei atenta a tudo.
— Ótimo. — Ela parece aliviada com a minha promessa. — A
partir de agora seu irmão quer você mais presente nas festas da
máfia, a intenção dele é que interaja com as pessoas e seja vista,
ele está querendo dar a oportunidade que se conecte a alguém, por
isso estou te fazendo este pedido.
Certa aflição me domina, sei que este momento estava perto,
mas pensei que Dom esperaria um pouco mais, ao menos até eu
estar na metade da faculdade.
— Obrigada por pensar em mim, você é muito especial.
— Só quero o melhor para você, se precisar de ajuda nas
compras me chama.
— Qualquer coisa eu te ligo.
— Combinado.
Conversamos mais um pouco, pergunto sobre Massimo,
estou há uma semana sem vê-lo e já sinto falta do pequeno.
Quando encerramos a ligação recebo uma mensagem da minha
prima Cristine, ela também irá à festa e me convida para
comprarmos a roupa juntas.
Assim como eu, minha prima está na fase de se comprometer
a alguém, só que ao contrário de mim que quis fazer faculdade,
Cristine preferiu parar os estudos no ensino médio. Ela odeia
estudar, o seu sonho era ser modelo, mas tendo nascido no berço
da máfia, sabe que seu futuro já está traçado.
Infelizmente nós não temos muito o que fazer, apenas
podemos nos conformar com nosso destino nebuloso, incerto e
provavelmente infeliz.
— A senhora poderia ir comigo, precisa se distrair um pouco
— digo a minha mãe.
— Meu anjo, eu não tenho mais paciência para esse tipo de
evento, prefiro ficar em casa. — Ela segura as minhas mãos. —
Você virou uma bela mulher, será difícil para Domênico conter todos
os rapazes que começarão a procurá-lo. — Inspiro fundo, sentindo a
angústia me consumir. — Aproveite esta festa para observar os
jovens que certamente se aproximarão, se sentir seu coração
disparar por alguém fale comigo, eu converso com seu irmão e
podemos iniciar uma aproximação.
— Pensei que eu poderia terminar a faculdade antes de
pensar em casamento. — Não consigo segurar a minha
insatisfação.
— Você pode manter os estudos casada, ou apenas ficar
noiva e marcar o casamento assim que encerrar a faculdade,
pensamos nisso depois.
— Tudo bem. — Ouço a porta abrir e Dom entra carregando
Massimo no braço, ao lado da esposa.
— Até que enfim chegaram — a minha mãe diz feliz.
Esta noite ela ficará cuidando do neto, sempre que meu
irmão sai à noite o meu sobrinho fica com uma das avós.
— Nos atrasamos um pouco porque esse rapaz resolveu
sujar a fralda antes de sairmos. — Ele beija o rosto do filho, mas
Massimo já está se remexendo no colo dele querendo ficar com a
mamãe.
— Venha, meu amor, vamos passar uma noite bem animada
juntos.
— Ligue se precisar de algo. — Gio coloca a bolsa com os
pertences do filho no sofá.
— Apenas aproveitem. — Massimo sorri quando minha mãe
beija seu pescoço.
— Estou com inveja da senhora que ficará sozinha com ele
— comento ao acariciar seu cabelo.
— Quando quiser passar o dia com esse arteiro só avisar que
o deixo aqui — Gio beija a mão do filho. — Comporte-se rapaz,
nada de dar trabalho a vovó. — Ele a ignora e começa a brincar
com o cordão da minha mãe.
— Vamos? — pergunto ao pegar minha clutch.
— Claro. — Dom olha para o relógio. — Mãe se importa em
passar a noite toda com Massimo? Eu queria tirar um momento a
sós com a minha esposa.
Giovanna fica constrangida com o pedido do marido,
enquanto minha mãe parece radiante por ter mais tempo com o
neto.
— Será um imenso prazer, podem aproveitar bem a noite,
merecem namorar um pouco sem preocupação com filho.
Agora o constrangimento da minha cunhada é tanto, que
prendo a vontade de sorrir. Sentindo a delicadeza do momento Dom
passa o braço por seus ombros e beija sua têmpora também
evitando sorrir.
— Obrigado, pela manhã passamos aqui e o pegamos.
— Perfeito. — Ela se encaminha com Massimo para o sofá.
— Divirtam-se — digo aos dois que me ignoram e começam
a brincar. — Ela ama ficar com o neto.
— Às vezes fico receosa de estar incomodando, mas quando
a vejo tão feliz, percebo que deveria deixá-lo mais tempo aqui.
— Se fizer isso a mamãe ficará bem feliz, Gio. — Ela sorri ao
entrar no carro.
Faço o mesmo e espero pelo meu irmão, não demora muito
ele está atrás do volante, dirigindo com tranquilidade. Nunca
esbocei verbalmente minha vontade de aprender a dirigir, assim
como Giovanna, mas se eu tiver uma oportunidade, irei entrar na
autoescola muito feliz.
Converso com Gio enquanto seguimos para a festa, ela me
fala o quanto está atarefada com alguns trabalhos e os cuidados
com o filho. Apesar de poder ter pessoas para auxiliá-la, faz sempre
questão de tomar conta sozinha do Massimo, o maior tempo
possível.
Quando chegamos à festa encontramos a entrada do local
movimentada, vários veículos da mídia estão presentes, tentando
conversar com os convidados mais badalados.
Os seguranças que nos acompanham fazem nossa escolta
até o interior do salão, onde será realizado o evento. Dom é avesso
a exposição na imprensa, apesar de ser um empresário conhecido,
ele sabe que seu lado oculto deve ser preservado ao máximo, por
isso nunca se expõe demais.
Fico eufórica ao notar a grandiosidade da festa, a decoração
é riquíssima, toda em branco e dourado. Uma passarela gigante se
destaca no meio do ambiente, será nela que a nova coleção da grife
será apresentada.
Giovanna coloca uma taça de champanhe na minha mão,
dizendo que devo relaxar para aproveitar a noite.
Domênico começa a conversar com os convidados e sou
apresentada a várias pessoas, incluindo homens jovens da máfia,
que me olham com interesse.
Agradeço internamente a minha cunhada por me dar o
champanhe, sem ele eu estaria completamente aflita e travada.
Um tempo depois encontro minha prima, com ela aqui não
vou precisar ficar grudada na Giovanna, sei que precisa estar ao
lado do marido em algumas conversas e eu não quero atrapalhar.
— Esse vestido ficou um arraso em você — ela comenta ao
me observar. — Com todas essas luzes, ele brilha lindamente, sem
contar que esse seu corpo cheio de curvas ajuda muito. — Cristine
me lança uma piscada. — Hoje você sai daqui com uns dez
pretendentes.
— Não quero pensar nisso. — Beberico meu champanhe.
— Mas precisa, eu já tenho três alvos e mal cheguei na festa.
Ao contrário de mim ela é conformada com seu futuro, há
muito tempo minha prima parou de ter ilusões amorosas. Acho seu
comportamento corajoso, queria ser como ela, mas não posso negar
tudo o que meu coração sente.
— Mio amore, que bom te ver. — Olho para o lado e vejo
Leonardo vindo na minha direção com os braços estendidos.
Logo atrás dele estão Masha e Paolo, ele como sempre tem
o rosto emburrado, raramente o vejo rindo, só mesmo quando está
com a família que relaxa um pouco.
— Não sabia que viria.
— Eu chantageei minha amiga, ela não poderia me deixar de
fora desta festa maravilhosa — sussurra no meu ouvido. — É muito
homem bonito, eu mereço uma novidade quando aturo todos os dias
a pequena mafiosinha atarantada e o marido dela — fala ao me dar
dois beijos.
Não consigo conter a vontade de sorrir, Leo além de
engraçado é corajoso, ele não teme Paolo, implica com nosso Capo
sem a menor cerimônia.
— Um dia Paolo para de achar graça nas suas provocações
e estará encrencado — o alerto.
— Não diga a ninguém, mas o mafioso surtado me ama, ele
sabe que cuido das suas bambinas, por isso permaneço vivo e
mantendo a língua afiada. — Neste ponto tenho que concordar,
Leonardo é fiel à Famiglia por conta da amiga. — Ai...ai, ver Dom de
gravata borboleta é um golpe baixo. — Ele se abana. — Giovanna,
você deveria manter esse seu marido lindo trancado em casa, eu
não consigo me conter quando ele está tão gostoso.
— Sem gracinhas, Leonardo. — Dom o alerta.
— Eu não tenho culpa se você é meu esterno crush. — Paolo
desfere um tapa forte nas costas dele, que faz Leo dar um passo à
frente.
— Vá beber, arrumar uma nova paixão e deixe Dom em paz,
você está aqui contra a minha vontade, então não me faça te
colocar para fora e arrumar problemas com meu inferno vermelho.
A delicadeza do Paolo ao falar com as pessoas é tocante,
sempre que estou perto dele tento ficar invisível, tenho verdadeiro
pavor em arrumar qualquer problema com esse homem.
Ignorando o alerta que levou, a atenção dele acaba caindo
sobre a minha prima, faço as apresentações e os dois rapidamente
começam a conversar. Enquanto isso interajo com Masha e
Giovanna.
Elas não têm uma idade tão diferente da minha, sou apenas
quatro anos mais nova que Masha, ainda assim ela e Gio parecem
ser bem mais velhas, ambas possuem uma maturidade profunda.
Também pudera, com seus respectivos maridos, não poderia ser
diferente.
— Pelo jeito minha noite será difícil — Leo exclama me
deixando curiosa. — Não bastasse ter Dom deslumbrante ao meu
lado, agora chegou meu segundo crush favorito.
Sigo seu olhar e sinto meu coração perder o compasso,
Amaro caminha entre as pessoas com passos firmes, exibindo toda
a sua beleza. Assim como todos os outros homens da festa está de
gravata borboleta e o cabelo lindamente aprisionado com uma
pomada fixante.
O pior é saber exatamente tudo o que está escondido por sua
roupa elegante. A vontade de tocá-lo é quase insuportável, eu só
queria me aproximar dele e me jogar entre seus braços.
— Como resistir a tanta beleza e masculinidade? — pergunta
ao apoiar a mão contra o coração. — Vocês podem me iludir e dizer
que ele é muito gay e quer meu corpo?
— Leonardo, basta! — Masha o recrimina, mas Leo a ignora.
— Mio amore, que alegria te ver por aqui. — Sua empolgação
ao falar com Amaro é extremamente engraçada.
— Boa noite a todos. — A voz grave dele me causa um leve
tremor.
— Quando sou ignorada fico ainda mais afoita. — Sem medo
ele provoca Amaro.
— Não te ignorei, Leonardo, pelo contrário, o cumprimentei
como fiz com todos.
— Sabe que ignorou, mas eu não ligo, estou mais
preocupado com sua beleza — Amaro suspira fundo, ele aprendeu
a lidar com Leo.
— Pensei que não viria — meu irmão comenta.
— Decidi de última hora, não tinha muito o que fazer. —
Rapidamente ele me lança um olhar, que acaba sendo o suficiente
para deixar meu corpo em ebulição.
— Vamos nos distrair enquanto os homens conversam. —
Masha faz um sinal para que a acompanhemos. — E quanto a você
Leonardo, fique quieto, pare de provocar os meninos.
— Como fazer isso se todos são lindos? — questiona à
amiga. — Com exceção do seu marido, que é insuportável.
— Não fala assim dele, Paolo é um pouco rude, mas ele
também é bonito e um ótimo homem.
— O amor é cego mesmo. — Ele não esconde o sarcasmo.
— Já que não tenho sorte com mafiosos gostosos, vou pegar um
boy comum mesmo, o que importa é ter companhia no final da noite.
— Ele acena para nós e se perde entre as pessoas.
— Ele não tem jeito — Gio comenta sorrindo. — Agora que
somos só meninas, vamos nos distrair ao nosso modo. — Ela
entrelaça o braço ao meu. — Já você, permita-se conhecer
pessoas, eu estarei do seu lado caso algo inovador aconteça.
Não resisto e olho na direção do Amaro. Se eu falar com ela
sobre meu interesse nele terei seu apoio? Sei que ele não pertence
às famílias mais tradicionais, mas agora que é um dos tenentes, ele
está trilhando um novo caminho dentro do clã.
O grande problema é saber dos sentimentos dele, porque dos
meus eu tenho plena consciência do que realmente quero.
Um homem quando se entrega nos braços da morte perde
completamente qualquer tipo de temor. Sei que não deveria estar
aqui, mas não consegui ficar em casa sabendo que Ambra estaria
na festa, uma vez que seu irmão já está se movimentando para
encontrar seu futuro marido.
Claro que não serei capaz de impedir nada, porém meu lado
possessivo não foi capaz de ser racional. Estando por perto posso
de alguma maneira minar os planos do Domênico e adiar um pouco
o momento dela se comprometer com algum idiota.
É patético meu comportamento, mas eu não consigo ficar
passivo sabendo que outro homem terá o prazer de tê-la. Nunca fui
uma pessoa de desejar o que não posso ter, mas com ela é
diferente, desejo Ambra com certo desespero.
Observo-a discretamente enquanto Paolo e Dom conversam
com um importante empresário inglês. Estou alheio ao assunto, meu
interesse está todo na mulher do outro lado do salão onde a festa se
desenrola.
Parecendo notar que a observo ela me dirige um olhar
discreto. Ambra está linda em um vestido na cor azul, com um
decote no formato de coração.
Nenhuma mulher neste lugar chega aos seus pés, a sua
beleza ofusca tudo ao redor.
Corro a mão pelo colarinho da camisa social me sentindo
sufocado por não poder me aproximar dela.
— Você está quieto demais hoje, aconteceu algo? —
Interrompo meus pensamentos ao ouvir a pergunta do Dom.
— Só estou observando a festa, ainda me sinto um pouco
deslocado em eventos assim.
— Aceite que sua vida mudou, precisa assumir sua nova
posição dentro do clã.
— Não é tão simples. — Sou sincero. — Tenho a sua
confiança e de Paolo, mas eu ainda sou visto como um soldado
pelos outros membros. — Esta é a grande verdade, eu não sou do
alto clã, nunca serei. — Futuramente meus herdeiros podem
alcançar respeito entre a Famiglia, mas isso não será possível com
relação a mim.
Domênico enruga as sobrancelhas, ele parece avaliar as
minhas palavras.
— Todos sabem o que fez, coragem e lealdade são
qualidades respeitadas dentro do clã, você é um homem que
mereceu tudo o que recebeu até aqui, não se sinta inferior a
ninguém, porque muitos dos homens que nasceram dentro das mais
poderosas famílias, não possuem metade da sua honra.
Sem querer ele acaba de me dar um soco no estômago,
porque eu me sinto o mais desleal dos homens neste momento. Se
ele soubesse o que já aconteceu comigo e sua irmã, não me diria
que tenho honra.
— Uma pena que nem todos pensam da mesma maneira. —
Assim que termino de falar anunciam que o desfile da nova grife irá
começar.
Fico aliviado pela interrupção da nossa conversa, saber que
estou de alguma maneira traindo a confiança do meu mentor dentro
da Famiglia, me deixa com uma sensação de sufocamento gigante.
Começamos a nos encaminhar para as cadeiras que foram
dispostas em ambos os lados da passarela. Decido ficar na parte
dos fundos, mas Dom acena pedindo silenciosamente que eu o
acompanhe.
As meninas nos encontram no meio do caminho, não resisto
e analiso minuciosamente cada curva da Ambra. As minhas mãos
coçam com a vontade de poder me aproximar e tocar seu corpo.
— Sente-se ao lado da Ambra, não quero estranhos perto
dela — Dom pede inesperadamente.
Ele se acomoda juntamente com a esposa, Ambra fica na
cadeira colada a cunhada, enquanto Leo está conversando alguns
assentos adiante com Cristine, ao lado de Paolo e Masha.
Sem ter opção me sento colado a Ambra, ela enrijece o
corpo, mas não me dirige nenhum olhar. Fico aliviado por conter
qualquer demonstração de emoção, quanto mais discrição melhor.
As luzes são suavizadas quando a apresentadora do desfile
entra em cena.
O delicado perfume de Ambra me alcança, causando um
desejo intenso de me aproximar para sentir o seu aroma direto na
sua pele.
Respiro fundo e começo a acompanhar o desfile, nunca
estive nesse tipo de evento, isso era algo bem distante da minha
antiga realidade. Não posso dizer que estou empolgado com o que
vejo, o que realmente me interessa não posso ter por ora.
Olho discretamente para o lado e vejo Giovanna com a
cabeça encostada no ombro do marido, já Paolo observa entediado
a passarela, enquanto Masha, Leo e Cristine falam sem parar.
Chuto a prudência para o lado e estico a mão pegando na da
Ambra, ela se sobressalta e me lança um olhar tenso, abaixo
nossas mãos e dou um leve aperto tentando tranquilizá-la.
Para a minha sorte ela entende meu pedido e relaxa contra a
cadeira. Começo a acariciar com o polegar as pontas dos seus
dedos, poder tocá-la, ainda que de uma maneira inocente, me deixa
satisfeito.
O desfile começa a ficar interessante apenas por poder
estarmos em contato, aprecio as roupas que passam a minha frente,
inclusive gosto de alguns modelos destinados ao público masculino.
Eu nunca senti tanta vontade em estar ao lado de uma
mulher, o que estou sentindo por ela me assusta, principalmente por
saber que temos um tempo limitado para poder estarmos juntos.
Em certo momento Giovanna cochicha no ouvido dela, isso
me faz abandonar sua mão, não posso permitir que ninguém
perceba nosso toque furtivo. Quando as coisas se acalmam volto ao
nosso contato, até que a estilista sobe na passarela fazendo os
agradecimentos, rodeada dos modelos e a dona da grife.
Aplausos soam por todo o ambiente antes de nos
levantarmos, Ambra me lança um rápido olhar, tento manter a
postura e a escolto para longe da passarela. Todo o nosso grupo
segue para um canto do salão onde os garçons começam a servir
as bebidas.
— Quantas roupas lindas, queria ter dinheiro para comprar
todas — Leo comenta ao beber champanhe. — Preciso parar de
andar com gente rica, eu não posso bancar todo esse luxo.
— No seu aniversário vou te presentear com algum modelo
que vimos. — Masha promete ao amigo.
— Vou cobrar em roupas todas as vezes que fico com a
pequena mafiosa.
— Não começa. — Ela faz uma careta.
Algumas pessoas da Famiglia se aproximam de nós, entre
elas homens que eu sei estarem interessados em Ambra. Mantenho
o controle quando alguns rapazes falam com ela, Dom observa tudo
com atenção, ele sabe que tem um dever a cumprir, mas pela sua
postura rígida está incomodado com o assédio que sua irmã recebe.
Quero matar cada maldito que beija sua mão, se dependesse
de mim estaria ao seu lado mostrando que ela não está disponível.
A pista de dança é aberta, Leonardo puxa Cristine para
dançar, Paolo e Masha vão circular pela festa, enquanto Dom
conversa com um dos nossos associados.
Giovanna cochicha algo para a cunhada, elas sorriem com
tranquilidade. Fico um pouco distante, apenas observando os
convidados, tentando não ficar focado em Ambra.
Olho ao redor buscando uma mulher interessante, preciso
encontrar alguém que me faça ao menos momentaneamente
esquecê-la. Só que nenhuma das mulheres presentes captura a
minha atenção.
Eu estou muito fodido mesmo, a minha fissura por Ambra vai
me arruinar.
Trinco os dentes quando mais um rapaz se aproxima dela,
quero cortar seu pescoço por ousar olhá-la com interesse.
— Amaro, posso te pedir um favor? — Giovanna pede ao se
aproximar de mim.
— Claro que pode. — Jamais negaria nada a ela.
— Tire Ambra para dançar, ela está incomodada com o tanto
de rapazes interessados em conhecê-la. — Travo o maxilar. — Não
quero que ela se sinta constrangida.
— Isso não será um problema. — Esboço um sorriso, ainda
que por dentro esteja fervendo de ciúmes. — Entendo que para ela
deva ser um momento difícil.
— Mais do que você imagina. — Gio não parece feliz. —
Distraia-a um pouco, ela confia em você, ficará mais relaxada se
ficar perto dela, acho que por hoje conheceu rapazes demais.
— Até onde sei Dom a trouxe aqui justamente para isso.
— Foi sim, mas eu não vou permitir que ela fique
constrangida com tantos assédios dos rapazes, agora vá levá-la
para dançar.
— Certo. — Giovanna não precisa pedir outra vez, tudo o que
eu mais queria era justamente poder ficar perto dela e afugentar
todos os filhos da puta que ousarem se aproximar. — Ambra. —
Chamo seu nome deixando-a apreensiva. — Vamos dançar?
Ela olha para o irmão, pedindo silenciosamente a autorização
dele, neste momento Gio cochicha algo no seu ouvido, Dom lança
um olhar para esposa, em seguida faz um discreto gesto com a
cabeça autorizando Ambra a dançar comigo.
Seguro sua mão e caminhamos para a pista, uma batida
eletrônica dá o ritmo que devemos nos movimentar, preferia que
fosse algo lento, assim eu poderia colocar minhas mãos nela.
Ela parece encabulada, evita descaradamente o meu olhar.
Apoio a mão no seu braço e inclino o rosto contra seu ouvido.
— Apenas relaxe, foi sua cunhada que me pediu para ficar
com você, ela não quer mais pretendentes te cercando.
— Eu também não quero. — Vejo a angústia se refletir nos
seus olhos. — Se eu soubesse que seria tão ruim ficar exposta,
como se fosse uma mercadoria, não teria vindo.
— Não fica assim. — Seguro sua mão. — Você não está
acostumada com esse tipo de interação social, não diga que é uma
mercadoria, esse pensamento não reflete a realidade.
— Como não? — Ambra me olha com raiva. — A minha
situação é idêntica ao desfile que assistimos, só que ao invés de
roupas, sou eu que estou desfilando para os solteiros do clã.
Ela tem razão, realmente está aqui para se expor aos
homens da Famiglia para um futuro casamento, queria poder negar
sua lógica, mas não posso fazer isso.
— Pare de pensar nisso, agora eu estou com você e não vou
permitir que ninguém mais se aproxime.
— Só que você não estará o tempo todo comigo, uma hora
Dom tomará sua decisão e eu só poderei aceitar o que ele resolver
sobre o meu futuro.
Ambra me dá as costas e dispara entre as pessoas na
direção da parte dos fundos da festa. Levo alguns segundos para
colocar a minha mente em ação, até seguir no seu encalço.
Ela caminha por um corredor onde percebo o trânsito
apressado dos funcionários da festa, certamente esta área não é
destinada aos convidados.
Seguro seu braço quando consigo alcançá-la, Ambra olha
para trás raivosa, mas eu não a solto, puxo-a para os fundos até
que acho a porta que leva para a parte externa do prédio.
O ar frio da noite nos envolve sacudindo o cabelo dela,
Ambra estremece, o que me faz trazê-la para dentro dos meus
braços. Beijo sua testa, depois vou espalhando lentos beijos por sua
bochecha, até que alcanço sua boca e a tomo com furor.
Seguro seu rosto me perdendo no nosso beijo, desejei isso a
noite toda, a vontade de poder sentir seu gosto é uma necessidade
quase incontrolável.
Ela me abraça, correspondendo ao beijo com a mesma
intensidade. Queria poder tirá-la daqui e fazê-la esquecer tudo o que
envolve o nosso mundo macabro, infelizmente não tenho esse
poder, a única coisa que está ao meu alcance é sempre tentar
protegê-la de qualquer perigo.
— Estou com tanto medo, Amaro — revela quando quebro
nosso beijo. — Eu pensei que seria forte quando esse momento
chegasse, mas acabo de descobrir que não sou. — Os olhos dela
estão marejados. — Dói tanto saber que vou passar a vida com
alguém que não escolhi, tenho medo de quando me casar viver em
um casamento como os dos meus pais, não quero apanhar como a
minha mãe, ela sofreu tanto nas mãos dele.
Fico sem saber o que falar, eu conheci bem seu genitor, as
maldades que praticava era motivo de conversas entre os membros
do clã. Francesco levava o mal por onde passava, ele era uma das
piores pessoas que já convivi.
— Domênico jamais te entregaria a qualquer um, ele irá se
certificar que fique bem.
— Como ele irá garantir isso? — questiona aflita. — Meu
futuro marido pode fingir ser um bom homem, mas depois que nos
casarmos eu serei dele, Dom não poderá impedir o que ele quiser
fazer comigo, nem mesmo Paolo pôde proteger Fiorella.
Mais uma vez ela me deixa sem argumentos, Dom pode
tentar achar alguém de confiança, mas nada é cem por cento
garantido.
— Por favor, me abraça, Amaro — pede ao soltar um suspiro
trêmulo, claramente tentando conter o choro.
Acato o seu pedido e a envolvo entre meus braços, sentindo
um estranho sentimento dominar meu coração. Eu não posso
permitir que ela sofra, Ambra é doce demais para ser quebrada por
algum idiota que não entenda o quanto é valiosa.
A minha vida toda eu apenas segui as ordens que me eram
dadas sem questionar nada. Ou eu fazia isso, ou recebia as
consequências. Acabei me acostumando a dizer sim a tudo,
questionar alguma coisa só me traria desgastes desnecessários, o
problema é que agora eu não estou conseguindo ficar quieta.
Talvez a presença do Amaro tenha potencializado o meu
sentimento de revolta, vê-lo tão belo e inacessível me deu uma raiva
assustadora. O homem por quem sou apaixonada estava a metros
de mim, enquanto eu era obrigada a conhecer homens que não me
despertam nenhum tipo de interesse.
É injusto ninguém me perguntar se eu quero conhecer
alguém, se estou preparada para um casamento. Tudo o que eu
queria era ser ouvida, ter a oportunidade de controlar o mínimo das
minhas vontades.
— Vamos combinar uma coisa? — A voz dele sussurrada no
meu ouvido faz minha pele arrepiar.
— O quê?
— Caso Dom queira te levar para mais uma festa, peça um
tempo a ele, sei que vai te ouvir.
— Não vou poder impedir por muito tempo o que está para
acontecer, sabe disso.
— Só faça o que te pedi. — Ele acaricia meu rosto.
— Tudo bem. — Aperto meus braços contra sua cintura,
nunca mais queria largá-lo.
— Você está linda, esse vestido é sexy demais — Ergo o
rosto para encará-lo, contente com seu elogio e por ele reparar na
minha roupa.
— Obrigada, eu amei esse vestido assim que o vi.
— Ficou perfeito no seu corpo. — Amaro roça os lábios nos
meus. — Na verdade, tudo em você é divino.
— Assim você me deixa sem graça. — Volto a apoiar a
cabeça contra seu peito.
— Queria ficar sozinho com você até a festa acabar, mas
precisamos voltar ou nosso sumiço levantará suspeitas.
— Vai começar tudo de novo — digo me sentindo cansada.
— Não vai — afirma ao segurar minha mão. — Eu vou ficar
do seu lado e caso alguém se aproxime eu mesmo lido com o
bastardo.
— Já esqueceu que Dom está aqui e, é ele quem manda em
mim?
— Apenas deixe em minhas mãos qualquer situação, sei lidar
com seu irmão.
Fico quieta, não irei discutir com ele, estou me sentindo
emocionalmente exausta, depois dessa sessão de apresentações
que passei.
— Preciso ir ao banheiro.
— Eu vou ficar te esperando. — Aceno e o deixo me
aguardando.
Olho o meu reflexo no espelho e percebo que preciso retocar
a maquiagem, algumas lágrimas escaparam enquanto conversava
com Amaro, não quero que ninguém perceba que eu chorei.
Quando me sinto novamente apresentável eu saio do
banheiro e, encontro Amaro encostado contra a parede de braços
cruzados.
— Pronta?
— Mais ou menos. — Queria voltar a ficar apenas com a sua
companhia e fingir que esta festa não existe.
— Não fica assim, vou tentar te tirar daqui o quanto antes.
— Como?
— Só confie em mim. — Ele volta a segurar a minha mão e
nos leva novamente para a pista de dança.
Amaro nos posiciona em um canto menos movimentado, me
embalando ao ritmo da música. Erguendo meu braço ele me faz
girar, em seguida apoia as mãos na minha cintura, sorrindo.
— Aproveite um pouco a festa como a jovem que é, esqueça
os compromissos da máfia.
— Tudo o que eu queria era ser uma garota normal.
— Você nunca será uma pessoa comum, sabe por quê? —
Balanço a cabeça em negativa. — Porque você é especial pra
caralho.
O meu coração parece que vai explodir com a sua
declaração, eu não esperava ouvir isso dele.
— Vou dizer daqui a pouco a Dom que você quer ir para
casa, que não está se sentindo confortável na festa, ele vai ter uma
noite com a esposa, não me impedirá de te levar embora.
— Tudo bem. — Voltamos a unir nossas mãos quando
seguimos na direção que meu irmão está conversando.
— Vocês dançando juntinhos é tão fofo, parecem até
namorados — Leo comenta quando paramos na roda de conversa.
— Dom por acaso pensou em juntar os dois? Já que Amaro não me
quer, ao menos fica com minha amiga, eles formam um belo casal.
— Leonardo será que pode parar de inventar história ao
menos uma vez na vida? — Dom o olha irritado.
— O que eu fiz? — pergunta ao colocar a mão no meio do
peito em uma cena dramática. — Você mesmo disse que está
procurando o futuro marido dela, nada melhor do que um homem
que você confia plenamente.
— Por que não vai tomar conta da sua vida?
— Você está deixando Ambra constrangida, Leonardo —
Amaro diz com sua voz grossa. — Eu só estava fazendo companhia
a ela porque Giovanna pediu.
— A companhia pode evoluir, você sabe como funciona. —
Leonardo pisca maliciosamente. — Já dei um de cupido aqui, agora
vou dar outra voltinha na festa, quem sabe dessa vez eu dê mais
sorte, porque até agora só vi homem emburrado igual o poderoso
chefão. — Ele se afasta sem se importar com o olhar fulminante do
Paolo.
— Ele tem uma sorte em ter Masha como sua protetora —
Domênico comenta ao sacudir a cabeça com desgosto. — Ambra,
quero te apresentar a alguém. — O meu corpo fica tenso na hora.
— Dom, eu... — Amaro toca as minhas costas.
— Fique com Giovanna e Masha, eu preciso falar com seu
irmão rapidamente.
A intromissão dele me deixa um pouco apreensiva, olho para
meu irmão que nos observa com expressão inelegível. Prometi que
confiaria em Amaro, então vou deixar em suas mãos seja lá o que
pretende fazer.
Deixo-os a sós e me junto às meninas, elas estão tão
empolgadas falando sobre o desfile, que sequer notaram a conversa
que se desenrolou entro os homens.
Com descrição acompanho Amaro conversar com Dom, ele
está tranquilo enquanto fala, já meu irmão tem a postura rígida. Em
certo momento Domênico corre a mão pelo cabelo, depois respira
fundo e olha para o chão.
Em seguida bate no ombro do Amaro, parecendo agradecer
por algo. Os dois trocam um rápido aperto de mão, até que Dom
caminha para onde estou. Fico receosa com a sua aproximação, eu
espero não estar encrencada.
— Ambra, por que não me disse que estava chateada com
todas as apresentações que fiz? — Encaro minhas próprias mãos,
ele está aborrecido. — Olhe para mim — pede ao erguer meu
queixo com o indicador. — Você precisa me dizer tudo o que está
sentindo, só assim eu vou poder entender do que precisa.
— Sei das minhas obrigações, eu só não imaginava o quanto
seria difícil passar por esse momento, eu me sinto como um produto
sendo avaliado por um comprador.
— Ambra! — Ele apoia a mão na minha cabeça ao exclamar
meu nome de maneira repreensiva. — Acho que você ainda não
está preparada para conhecer ninguém, eu vou com calma,
prometo.
— Obrigada. — O alívio me domina com suas palavras.
— Amaro vai te levar embora, basta avisá-lo quando quiser
partir.
— Quero ir agora, estou cansada de ficar aqui.
— Tudo bem. — Ele se afasta e vai falar com Amaro.
— O que aconteceu? — Gio pergunta preocupada.
— Nada demais, só quero ir embora e Amaro irá me levar.
— Você está chateada com os pretendentes que surgiram,
não é?
— É tanta coisa, Gio. — Queria poder me abrir com ela,
revelar que estou apaixonada por Amaro e só aceito um casamento
se for com ele. — Depois conversamos com calma, agora preciso ir.
— Fique calma, eu te prometo que não permitirei que
escolham qualquer marido para você.
— Sei que estará sempre do meu lado. — A abraço com
carinho, Gio é a irmã que nunca tive. — Nos falamos depois.
— Cuide bem dela, Amaro — pede quando ele se aproxima.
— Não se preocupe — diz sorrindo. — Vamos?
— Claro. — Aceno para Masha e começo a me afastar.
Quando chegamos na rua, respiro aliviada, finalmente estou
livre, ao menos por algum tempo.
— Venha comigo, meu carro não está muito longe daqui.
Noto que dois homens nos seguem de perto, Amaro revela
que são soldados do Paolo e estão nos escoltando para termos
mais segurança. Assim que chegamos ao carro ele dispensa os
homens e me ajuda a entrar no veículo.
Sinto conforto quando se senta ao meu lado, há algumas
semanas estar tão perto dele me deixava aflita, agora a sensação é
diferente, parece natural estarmos aqui juntos.
Ele começa a dirigir pela cidade em silêncio, fico agradecida
por isso, não estou no clima de falar muito.
— Obrigada por me tirar de lá, eu estava me sentindo
sufocada. — Apoio a mão na sua coxa.
— Eu percebi isso. — Ele cobre a minha mão com a sua. —
Agora está livre, só relaxe — pede ao levar minha mão até os
lábios.
Fecho os olhos envolvida por seu carinho, se eu pudesse o
escolheria como meu futuro marido, tenho certeza de que teria uma
vida repleta de amor ao seu lado. Amaro é diferente, ele tem um
coração bondoso, sei que jamais me machucaria.
Faço o que pediu e apenas aproveito a sua companhia,
enquanto admiro a noite de Roma. Em certo momento ele
desacelera e estaciona próximo a uma praça, que é rodeada de
barzinhos.
Por ser sábado o lugar está movimentado, vários turistas
tiram fotos, enquanto os moradores locais apenas apreciam a noite.
— Por que paramos? — pergunto ao encarar seu perfil.
— Porque quando chegarmos à sua casa não poderei te
beijar. — Amaro inclina o corpo se aproximando de mim. — E só
Deus sabe o quanto preciso urgentemente de um beijo.
Ofego contra sua boca quando ele toma meus lábios com
urgência. Apoio a mão no seu peito, deixando o calor do seu corpo
me envolver. Retribuo seu beijo com o mesmo vigor, quero que ele
entenda tudo o que me faz sentir.
Passei anos nutrindo uma paixão juvenil por ele, mas agora
que sei o quanto é especial estar ao seu lado, quero de alguma
maneira também despertar nele um sentimento profundo por mim.
Ele faz uma manobra complexa e me senta em seu colo.
Espalmando as mãos na minha bunda e me posicionando bem em
cima do seu membro, que já começa a ficar rígido.
Não penso em nada, apenas me entrego ao instante que
estamos vivendo. As mãos dele avançam pelo meu corpo, fazendo
meu sangue ferver sem controle.
Sinto-o ficar ainda mais duro sob mim, saber que eu o excito
me causa um sentimento de poder. Ele me quer, assim como eu o
quero com desespero.
— Posso te tocar, Ambra? — Olho para ele confusa, até onde
sei já está me tocando.
Amaro sorri, em seguida beija meu pescoço, sua língua
desliza pela minha pele com lentidão, até que ele ergue os olhos
para me fitar com extremo desejo.
— Quero te tocar em um ponto específico. — Sinto meu rosto
ruborizar ao entender suas palavras.
— Toque-me da maneira que quiser, eu só não quero que se
afaste. — Ele afunda os dedos que aprisionam a minha cintura.
Novamente nossas bocas se encontram, um rosnado escapa
da sua garganta, alastrando fogo por cada centímetro do meu corpo.
Amaro embola meu vestido na minha cintura, expondo a minha
calcinha a sua visão.
Tento não ficar tímida, mas quando seus dedos deslizam pela
fenda do meu sexo, esqueço qualquer pudor e me entrego à inédita
sensação de ser tocada por um homem.
Já estou molhada, impossível não perder todo o controle e
me jogar na espiral de excitação que apenas ele me desperta.
Quando Amaro afasta a minha calcinha para o lado,
alcançando minha intimidade, gemo alto. O seu polegar toca com
precisão o meu centro de prazer, sinto um tremor me sacudir, é
indescritível tudo o que estou sentindo agora.
— Porra! Você está encharcada, eu sei que não posso me
perder, mas sentir o quanto me quer, é uma prova pesada demais
para o meu controle.
— Eu te desejo muito, você não sabe o quanto. — Perco a
vergonha e assumo meus sentimentos. — Por favor, me faça gozar,
eu quero saber como é sentir prazer.
— Você saberá, eu prometo.
Uno nossas bocas, enquanto ele começa a me estimular com
um toque firme, que faz minha cabeça girar. Por puro instinto eu me
esfrego na sua mão, buscando por algo que não tenho noção do
que seja, só preciso que ele acelere o toque.
Mesmo que eu não coloque em palavras meus desejos,
Amaro parece saber cada um deles, pois começa a pressionar meu
clitóris com mais força, até que eu sinto um choque se espalhar por
cada canto do meu corpo.
— Amaro. — Seu nome sai em um sussurro quando gozo.
— Estou aqui, querida. — Ele suga o lóbulo da minha orelha.
— Você fica ainda mais linda gozando, queria ter dado seu primeiro
orgasmo com a boca, mas eu prometo que farei isso em breve.
— Nós teremos outro momento como este? — pergunto
ainda tentando me recuperar de tudo o que acabei de sentir.
— Precisamos ter, porque eu não posso viver sem saber o
gosto da sua boceta. — Afundo o rosto contra seu pescoço,
sentindo-me envergonhada com sua fala.
— Não fique com vergonha, precisa se acostumar com a vida
de adulto. — Ele me abraça sorrindo. — Um casal fala muita putaria
quando estão juntos, ao menos deveriam não só falar como fazer.
Ele disse casal? Para, Ambra, não se iluda com palavras
ditas em um momento de luxúria.
— Você sabe como foi minha criação, eu não estou
preparada para ouvir certas coisas. — Tento voltar ao mundo real.
— Sei disso, tanto que vou te levar agora para casa, caso
contrário, estaríamos indo para um lugar só nosso, onde eu poderia
ter você até que nenhum de nós dois conseguíssemos nos mover.
Ele ajeita o meu vestido e me coloca com cuidado no banco
do passageiro. Após suspirar fundo, liga o carro e o manobra
colocando-nos em movimento.
Só agora ganho noção do que acabamos de fazer. Eu tive
meu primeiro orgasmo dentro de um carro, próxima a uma praça,
com dezenas de pessoas por perto.
Que tipo de loucura acabei de cometer?
— Peça a sua mãe para dormir na minha casa amanhã, eu
não quero mais esperar para ficarmos sozinhos, desta vez minha
boca estará onde eu tanto sonho e você vai poder descobrir como é
ter um sexo oral.
Aperto as coxas quando suas palavras provocativas me
acertam, eu deveria fugir dele, tentar manter um pouco da minha
inocência para meu futuro marido, só que eu não sou tão boa assim,
já que não posso escolher com quem me casarei, ao menos posso
me entregar a quem realmente desejo.
A noite anterior não sai da minha cabeça, ainda sinto meu
corpo formigar com a profundidade do prazer que vivenciei pelas
mãos experientes do Amaro.
Todo o estresse que passei ao conhecer tantos rapazes
acabou virando uma cena secundária, mediante a loucura que vivi
quando tive meu primeiro orgasmo.
Se apenas com os dedos ele me fez delirar de prazer, pensar
no que pode fazer com a boca, deixa meu corpo dolorido de
ansiedade.
— Mãe, já estou indo — aviso quando entro na cozinha.
Assim que acordei liguei para Stefania perguntando se
poderia ficar na casa dela, pois queria comentar sobre a festa que
fui. Ela amou a ideia e disse que eu podia ir a hora que quisesse.
— Filha, eu estou um pouco incomodada com sua ida para a
casa da Stefania. — Sinto meu sangue gelar.
— O que aconteceu?
— Nada demais, eu só fico receosa dos pais dela não
gostarem de você passar tanto tempo lá, talvez fosse melhor
chamar sua amiga para ficar aqui, eu gosto de movimento na casa.
Ai, Senhor! Era só o que me faltava ela me impedir de sair.
— Mãe, os pais da Ste gostam quando estou com eles, tenho
até um quarto todo meu.
— Um quarto? — pergunta surpresa.
— Sim — confirmo sorrindo. — As meninas gostam de dormir
juntas, aí tem um quarto de hóspedes que a dona Tereza disse que
agora é meu. — Espero que isso a convença a me deixar ir. —
Nunca pude passar nenhum tempo na casa de amigas, então essa
nova sensação é emocionante para mim.
— Ah, meu amor, você foi impedida de tanta coisa, não é
mesmo? — Ela segura meu rosto e o beija em cada lado. — Então
vá se divertir, eu irei tomar um chá com a mãe do Paolo e jantarei
por lá.
— Vocês estão muito amigas.
— Temos assuntos em comum, ambas somos viúvas e
finalmente temos paz na vida.
— Realmente possuem muitos assuntos em comum.
— Mais do que gostaríamos. — Minha mãe afaga meu rosto.
— Divirta-se, meu amor.
— Obrigada.
Saio da cozinha cheia de empolgação, em poucas horas eu
poderei estar com Amaro e novamente viver um momento inédito,
que desejo mais do que tudo dividir unicamente com ele.
A cada dia que passa, Amaro ganha mais espaço dentro do
meu coração, eu não consigo mais parar de pensar nele.

— Não sei bem o que dizer, é estranho saber que você está
em um lugar para que outros homens possam te ver — digo ao
saborear um dos biscoitos que a mãe dela fez. — Foi mais
incômodo do que imaginei, me senti uma mercadoria.
— Porra, Ambra! — Elena xinga.
— Olha essa boca, se o papai te vê falando palavrão já sabe.
— A irmã a recrimina.
— Ele não está aqui — responde fazendo uma careta. — Eu
não vou tolerar isso quando minha vez chegar, o papai vai ter que
encontrar outra forma de me arrumar um marido.
— Nós não somos a elite da máfia como Ambra, talvez nos
deixe frequentar festas em que possamos interagir mais
naturalmente, afinal ele e a mamãe se conheceram porque
moravam no mesmo prédio, as famílias acabaram ficando amigas e
organizaram o casamento de ambos.
— Eles sempre se amaram, são tão sortudos. — Elena solta
um suspiro. — Será que a gente vai ter essa sorte?
— Tudo é possível — digo antes de ouvir a porta da frente
bater.
A atenção de todas nós fica concentrada em quem está
chegando e, meu coração que já está agitado, dispara quando
Amaro aparece com uma blusa azul grudada ao seu peitoral por
causa do suor e uma calça preta de tecido sintético.
Ele é muito gostoso, eu adoro cada parte do seu corpo, mas
confesso que meu ponto fraco são as suas tatuagens e os piercings.
Esses adereços o deixam mais sensual e revelam sutilmente o
quanto é um homem perigoso.
Lembro do que fizemos na noite anterior, isso me faz ficar
excitada, pois sei que em poucas horas iremos dar um passo
adiante.
— Você não consegue descansar nem no domingo? Qual a
necessidade de correr hoje? Seus músculos estão em dia, não
precisa ficar neurótico com a aparência. — Elena como sempre não
mede as palavras.
— Exercícios não são necessariamente para manter a forma,
é uma espécie de prazer. — A última parte da sua fala é dita quando
nossos olhos se encontram. — Pensei que estaria cansada depois
da festa de ontem. — Se dirige a mim com naturalidade.
— Só me cansei emocionalmente.
— Entendo. — Com clara intenção de me provocar ele retira
a blusa revelando o tórax sarado e repleto de tatuagens. — Vou
tomar uma ducha.
Ele joga a blusa sobre o ombro e sobe as escadas de dois
em dois degraus.
— Amaro não para um minuto, eu não tenho esse pique. —
Elena revira os olhos.
— Você sabe como ele é. — Stefania vira-se para mim. —
Não conseguiu realmente gostar de nenhum rapaz?
— Infelizmente não.
— Minha amiga, eu lamento muito, juro que estava
esperançosa que se interessasse por alguém.
— Não sei se conseguirei me conectar a uma pessoa por
obrigação.
— Tudo pode acontecer, tenha fé que conseguirá encontrar
uma pessoa que realmente goste.
Não digo nada, pois já encontrei quem eu gosto, no entanto,
ainda não sei exatamente o que fazer para tê-lo em definitivo na
minha vida.
Só consigo ter uma certeza de que se houver a mínima
possibilidade de ficarmos juntos, eu vou lutar por isso, nem que eu
precise enfrentar Dom e toda a minha família.

Hoje eu trouxe uma camisola decente, não é extremamente


sexy, mas eu me sinto mais confortável com ela do que com a última
roupa que Amaro me flagrou usando, ainda que ele tenha dito que
gostou do que viu.
Durante o jantar tentei agir o mais naturalmente possível, até
consegui conversar com Amaro com aparente tranquilidade, apesar
de estar consumida pela ansiedade de estarmos sozinhos.
Quero experimentar outro nível de prazer ao seu lado,
necessito repetir tudo o que aconteceu ontem.
A porta abre lentamente, revelando o corpo forte do alvo de
todo meu desejo, ele está sem blusa e com um short vermelho que
alcança o meio das suas coxas grossas.
Meus olhos caem para a parte baixa da sua perna, onde a
tatuagem de dragão ganha destaque, com cores vivas, que
combinam perfeitamente com sua pele clara.
Gosto de descobrir mais um pouco dele, a cada novidade que
dividimos sinto que ficamos mais próximos.
— Você demorou — digo sem conseguir esconder a
ansiedade.
— Tive que discutir algo com meu pai. — Ele se aproxima da
minha cama. — E também precisei que todos dormissem para não
correr o risco de alguém me flagrar entrando aqui.
— Parecemos dois criminosos. — Amaro sorri ao se sentar
na cama e me segurar até que eu esteja montada sobre seu colo.
— Eu realmente sou um criminoso, esqueceu disso? — Corro
as mãos pelos fios do seu cabelo enquanto ele beija entre meus
seios. — Adoro seu cheiro.
— Posso dizer o mesmo com relação a você. — Beijo
lentamente seus lábios.
— Gosto dessa sua camisola — diz ao acariciar a minha coxa
e subir a mão até espalmá-la na minha bunda. — Ela facilita a
minha vida.
— Você está muito atrevido. — Seguro um gemido quando
suga a pele do meu pescoço.
— Só estou com tesão — fala ao segurar a minha cabeça. —
Não paro de pensar no que vou fazer com você hoje.
— Me beija, Amaro — peço sem conseguir mais segurar o
quanto preciso dele.
Acatando meu pedido nossas bocas colidem com extremo
desejo. Todo o meu mundo parece fazer sentido quando estamos
juntos, dentro dos braços do meu tenente sinto a esperança brotar
no meu coração.
Eu me agarro contra ele devolvendo seu beijo com paixão,
quero viver tudo o que Amaro puder me oferecer, vou guardar em
um lugar especial cada um dos nossos momentos.
Não ofereço resistência quando ele tomba meu corpo contra
o colchão e aprofunda o beijo. Desço as mãos por suas costas me
deliciando na força dos seus músculos.
Acaricio seu cabelo quando começa beijar meu pescoço,
seguindo lentamente até alcançar o vale entre os seios. Ele arranha
os dentes na minha pele, enquanto sua mão entra por baixo da
camisola e encontra a minha calcinha.
O seu toque suave me faz estremecer, quero sentir
novamente a sensação incrível que ele causou em mim na noite
passada.
— A maneira como seu corpo reage a mim me deixa
completamente insano — diz ao buscar meus olhos. — Posso tirar
essa camisola?
Não respondo, apenas ergo os braços indicando que ele está
livre para fazer o que quiser.
Amaro suspende um canto da boca, deixando claro que
gostou da minha atitude. Sem deixar de me fitar, vai subindo a
camisola até que a joga por sobre seus ombros.
Inicialmente seu olhar recai nos meus seios, ele os admira
com fome, em seguida sua mão toca a minha barriga, fazendo um
lento carinho que me causa uma infinidade de arrepios. Quando
seus olhos caem para a minha calcinha, ele endurece o rosto e solta
um longo suspiro.
— Porra! Você é uma tentação, eu estou tendo uma sorte do
caralho em poder tocá-la assim.
— A sorte é nossa. — Escorrego a mão pela tatuagem que
tem no braço. — Você é tão lindo, ainda é um pouco difícil acreditar
que estamos aqui juntos.
— Não deveríamos estar fazendo isso, mas eu não me
arrependo de nada do que vivemos até aqui, eu não desejo estar
em outro lugar que não seja neste quarto, com você.
A minha respiração fica presa ao ouvir sua declaração, a
maneira como me olha é completamente diferente de todas as
vezes que estivemos juntos, existe um clima novo entre nós, no
entanto, eu vou deixar para pensar nisso depois, quando eu estiver
sozinha.
Aperto os olhos com força quando sua boca envolve meu
seio, o toque da sua língua rodeando o bico me faz gemer. Apoio a
mão na sua nuca, deixando meu corpo ser envolvido por mais uma
sensação surpreendente.
Estou me descobrindo mulher ao lado dele, não existe
ninguém neste mundo que poderia estar no seu lugar. Não sinto
medo quando estamos juntos, só quero que ele me leve para onde
bem desejar.
Amaro parece se deliciar ao fazer um revezamento entre
meus seios, em alguns momentos suga com força, em seguida
apenas rodeia a língua pelo mamilo parecendo não ter nenhuma
pressa.
No minuto que ele começa a espalhar beijos por minha
barriga, eu percebo que o momento que tanto anseio chegou.
Ontem tive uma experiência incrível quando ele me tocou
intimamente, só que hoje eu sei que tudo será diferente e mais
intenso.
— Posso? — O seu pedido me faz sair dos meus
pensamentos, percebo suas mãos segurando as laterais da minha
calcinha, ele está pedindo para retirá-la.
— Claro que sim. — Ele sorri e vai escorregando a lingerie
pelas minhas pernas.
Esqueço a timidez quando fico completamente nua, eu quero
isso mais do que tudo, então, preciso apenas me concentrar no que
Amaro pode me fazer sentir.
Mordo o lábio inferior quando ele encara com cobiça o meu
sexo, parecendo fascinado. Uma infinidade de sentimentos explode
nos seus olhos, ele parece estar se segurando.
— Sei que tudo é novo para você, então seja explícita se algo
te incomodar.
— Tudo bem.
Eu confio plenamente nele, quero viver tudo o que puder ao
seu lado, por isso eu tenho certeza de que nada do que fará irá me
causar qualquer desconforto.
Evito me retrair quando ele afasta as minhas pernas, cheguei
até este ponto pelos meus próprios pés, então não vou recuar
agora.
— Você não sabe o que está me fazendo sentir.
— Oh! — exclamo quando sua língua corre lentamente pela
minha entrada.
— Tão gostosa como imaginei que seria — declara antes de
sugar meu clitóris. Seguro seu cabelo e gemo alto, ter sua boca me
possuindo é muito melhor que sua mão. — Precisa ser silenciosa,
não estamos sozinhos nesta casa — avisa quando novamente solto
um gemido alto.
— Eu vou tentar me controlar.
— Errado — diz ao espalhar minha lubrificação por todo meu
sexo. — Você vai ficar bem quietinha enquanto eu me farto nessa
boceta que é só minha.
A última parte da sua declaração me deixa com o coração
acelerado, porém eu perco a noção da realidade quando ele
começa a me sugar com uma urgência arrebatadora.
Requebro contra sua boca, pedindo silenciosamente que me
dê o que tanto desejo. Só que Amaro parece não ter pressa, ele me
degusta com lentidão, enquanto uma de suas mãos massageia o
meu seio.
Sou engolida por diversas sensações, todas elas prazerosas
e que me deixam um pouco embriagada.
Um tremor se espalha por meu corpo, sinto minha pele se
arrepiar quando sua língua rodeia meu clitóris, para logo em seguida
chupá-lo intensamente.
— Amaro — sussurro seu nome quando explodo em um
orgasmo poderoso.
Mordo a mão para evitar gritar, mas no fundo eu queria expor
todo o prazer que estou sentindo. A minha respiração fica presa
enquanto, todo meu corpo treme sem controle, isso é muito melhor
do que experimentei ontem à noite.
Ele parece não se sentir satisfeito, continua me
enlouquecendo com sua boca, sugando cada grama do meu gozo.
Quando eu me acalmo, Amaro me surpreende ao depositar
um beijo cálido no meu clitóris, em seguida ergue-se contra mim,
exibindo um sorriso satisfeito.
— Eu quero muito mais, Ambra, estou me sentindo sedento
por você. — Sua mão afasta os fios de cabelo que grudaram no
meu rosto.
— Estou aqui pronta para dividir tudo com você, quero ser
sua. — Não me seguro e abro meu coração.
Os seus olhos ficam escuros, ele trinca os dentes parecendo
se conter.
— Não deseje o que jamais poderá ter, meu anjo, muito
menos queira o que não sou capaz de te dar. — Agora certa tristeza
nubla sua face.
Envolvo meus braços ao seu redor e escondo o rosto contra
seu pescoço.
Entendo seu ponto, mas por anos eu desejei estar
exatamente onde me encontro agora. Se eu consegui realizar este
sonho, eu também posso manter a esperança de conseguir um
caminho para realmente ser apenas dele e de nenhum outro
homem.
Eu sei o que quero, preciso apenas descobrir se ele deseja o
mesmo, só assim eu poderei buscar forças para lutar para tê-lo
comigo.
Seguro o seu corpo com força, sei que ela está magoada
pela forma dura com que a respondi, mas eu preciso ser realista
sobre o que existe entre nós.
Ambra nunca será minha, por mais que seu irmão tenha
simpatia por mim, ele vai querer uni-la a alguém do alto clã. Nesses
momentos a tradição fala mais alto, sei muito bem como funciona os
casamentos de conveniência do alto escalão da máfia.
Se ela fosse filha de um dos soldados, eu pediria autorização
para vê-la, se nos déssemos bem um relacionamento entre nós
seria algo simples, foi assim com meus pais e várias outras pessoas
que conheço.
No entanto, quando você pertence às famílias tradicionais,
existe todo um processo para seguir, nada é estruturado em
sentimentos, o que conta é o sobrenome ao qual você pertence.
Beijo seu cabelo, jogando para o lado todos os conflitos que
nos separam, o que importa agora é que ela está comigo e eu fui o
responsável por iniciá-la no sexo. Irei carregar essa honra como um
troféu quando ela for de outro homem.
Os meus músculos ficam rijos quando penso em algum
bastardo a tocando, um sentimento inusitado de posse me
consome, ainda que eu saiba que não tenho o direito de sentir algo
assim.
— Amaro. — Ela espalma a mão contra a minha barriga. — E
quanto a você? — Nossos olhos se colidem e eu tento entender o
que exatamente está querendo dizer. — Quero retribuir o que
acabou de fazer por mim.
Agora eu entendo tudo e um discreto sorriso se espalha pela
minha boca.
— Eu estou bem, meus planos era descobrir quão especial
seria seu gosto quando gozasse na minha boca, já consegui
alcançar o meu objetivo.
— Mas isso não é justo, você também merece um pouco de
prazer.
— Pode apostar que eu tive muito prazer, você não sabe o
quanto foi incrível o que experimentamos aqui.
— Só que eu quero também ver você gozar por eu estar te
tocando. — Ela senta-se sobre as minhas coxas. — Quero ver cada
parte do seu corpo, assim como viu o meu.
Meus olhos são atraídos para os seus seios nus, eles são
redondos e com aréolas rosadas, a minha boca enche de água,
quero novamente sugá-los.
— Podemos pensar nisso outro dia. — Não quero empurrá-la
demais, hoje já foi muita novidade para ela, sei que Ambra é uma
garota que foi criada para se casar virgem, ter esse tipo de contato
íntimo com um homem é algo que não deveria acontecer antes do
casamento.
— Não! — ela exclama convicta. — Eu quero viver tudo com
você. — Sua mão pequena se espalma na minha ereção. — Quero
te ver nu, te proporcionar prazer como fez comigo.
— Ambra... — minha voz sai esganiçada, tê-la me tocando é
um teste para o meu autocontrole.
— Só me mostre como posso te dar prazer. — Ela acaricia
meu pau com uma sutiliza que não é a ideal, mas que me causa um
tesão incrível, pois sei que nunca tocou outro homem.
Estou completamente surpreso por me sentir tão possessivo
em relação a ela, eu nunca me importei com quantos homens
minhas parceiras tiveram, tudo o que eu queria era trepar e
conseguir meu orgasmo, mas com ela tudo é diferente.
— Tem certeza? — Não sou tão bom para resistir a sua
oferta.
— É tudo o que quero. — Segurando o elástico da minha
bermuda ela começa a puxá-la.
Foda-se tudo, eu já estou dentro de uma confusão mesmo,
então nada pode piorar, se ela disse que quer seguir adiante, eu vou
acatar seu pedido.
Tentando não demonstrar toda a minha ansiedade eu a ajudo
com a missão de tirar o resto de roupa que estou vestido.
Espero por sua reação quando Ambra senta-se sobre os
joelhos e observa um tanto quanto chocada a minha ereção.
— Você queria me ver nu — digo ao acariciar meu pau. —
Seu desejo foi realizado.
Tá bom! Eu estou indo longe demais, deveria ser mais suave,
menos exibicionista, só que a mulher à minha frente já demonstrou
por diversas vezes que se não intimida quando estamos juntos, sei
que existe um lado devasso dentro dela, esse é um dos aspectos da
sua personalidade que tanto me atrai.
— Sim, eu queria — afirma ao acompanhar o movimento da
minha mão.
— Que tal me tocar? — Dou a sugestão com certa
displicência, mas no fundo estou louco para sentir sua mão em mim.
— O que preciso fazer para que tenha prazer? — a sua
pergunta me faz ficar ainda mais duro.
— Não imprima força demais, apenas vá deslizando sua mão
e se quiser use a boca. — Ela lambe os lábios, claramente excitada
pelas minhas orientações.
Porra! ela não sabe o que faz comigo demonstrando toda a
sua inocência.
Ambra volta a subir sobre minhas coxas, com certo receio
estica a mão e substitui a minha. No primeiro momento ela toca-me
com apreensão, envolvendo o meu pau com extrema delicadeza.
Quero um toque firme, mas não digo nada, vou deixar que
me descubra, sinta-se à vontade com essa intimidade nova que está
se desenvolvendo entre nós.
— Posso falar algo? — pergunta ao rodear a ponta do
polegar na minha glande.
— O que quiser. — Reprimo um gemido.
— Por mais que você esteja duro, existe uma maciez
inusitada contra meus dedos. — Sua fala me faz sorrir.
— Esse é o mistério de um pau duro. — Não consigo evitar a
piada, apesar de no momento eu só pensar nela levando-o na sua
boca rosada. — Por que não o experimenta?
— Estou com medo de fazer algo errado.
— Comece lambendo devagar, como se fosse um sorvete. —
A instruo. — Depois pode ser mais atrevida, eu vou te guiar.
Ela me olha com certo receio, parecendo temerosa de que vá
fazer algo errado. Toco seu rosto, fazendo um lento carinho na sua
bochecha querendo enviar a mensagem que deve apenas seguir
adiante.
Ambra acaba seguindo a minha orientação e rodeia a ponta
da língua pela cabeça do meu pau. Um espasmo involuntário o faz
mexer, fazendo-a se sobressaltar. Afago seu cabelo, a
tranquilizando e a incentivando ir adiante.
Mesmo parecendo receosa, ela continua a explorar a minha
ereção, vou orientando-a, dizendo que pode levá-lo na sua boca e
lamber o quanto quiser.
Não me surpreendo quando ela segue à risca o que digo e
começa a me dar um boquete lento e muito sensual. É um prazer
imenso você ter uma mulher ao seu lado que sabe fazer um sexo
oral exemplar, mas nada se compara ao ver uma pessoa que você
possui um apego extremo e que está completamente entregue
demonstrando um prazer imenso.
Seguro a sua cabeça e faço um leve carinho desalinhando
seus fios, Ambra ergue os olhos até os meus enquanto suga a ponta
do meu pau.
Puta que pariu! Ela acaba de fazer um gesto sexy pra
caralho, sem nenhum tipo de intenção maliciosa, está apenas sendo
naturalmente sensual e destruindo todas as minhas barreiras.
— Vá usando a mão também, pode fazer uma pressão maior.
— Dou a instrução e, para mostrar o modo como quero que faça, eu
fecho minha mão sobre a sua, imprimindo o ritmo que desejo.
Rapidamente ela pega o jeito e começa a me masturbar com
uma excelência que deixa os meus pelos arrepiados. Jogo a cabeça
para trás e reprimo um gemido, trinco os dentes me esforçando para
não estocar na sua boca.
Como ela é voraz no boquete, sei que em breve eu vou poder
foder a sua boca do jeito que gosto.
Um sorriso amargo brinca nos meus lábios, eu deveria estar
pensando em me afastar dela, mas na realidade distorcida que me
joguei desde que nos beijamos, quero não só repetir o que estamos
fazendo, como possuo uma vontade insana de comer sua boceta.
Esse meu desejo é completamente louco, mas eu quero ser o
primeiro em tudo na sua vida, é intolerável imaginar que outro
homem tenha a exata visão do que ela está fazendo agora.
— Afaste-se ou eu vou gozar na sua boca. — Rapidamente
ela abandona meu pau e me olha com certa insegurança.
— Você não quer gozar nela? Eu fiz isso com você.
Assim ela me faz perder ainda mais a cabeça.
— Gozarei da próxima vez se assim quiser — digo ao me
masturbar. — Una os seios, quero gozar neles.
Sinto um arrepio me percorrer, meu orgasmo está quase
incontrolável.
Ambra me obedece e exibe seus seios perfeitos, o primeiro
jato de porra atinge o bico rígido, em seguida todo o vale entre os
seios está com respingos do meu gozo.
Ela sorri quando relaxo contra a cama, parece feliz por
também ter me dado prazer.
— Você é malditamente linda — sussurro quando beijo sua
boca. — Linda, gostosa e safada. — Mordo seu lábio. — Vou pegar
uma toalha para te limpar.
Pulo da cama e entro no banheiro, molho a toalha e retorno
para o quarto, Ambra está recostada contra os travesseiros, ela tem
as bochechas coradas e alguns fios de cabelo estão colados em seu
pescoço.
Escorrego a toalha por sua pele, livrando-a do meu esperma,
mesmo gostando muito de ver em seu corpo a marca que deixei.
— Sempre pensei que quando eu estivesse na cama com um
homem ficaria constrangida. — Sua confissão chama a minha
atenção.
— E não está? — indago ao terminar de limpá-la.
— Não. — Ela se move e se senta no meu colo. — Por
incrível que pareça achei tudo natural entre nós, como se eu
estivesse destinada a dividir tudo isso apenas com você.
Abraço-a sem saber ao certo o que responder, pois tenho
essa mesma sensação, Ambra é como se fosse meu rumo, jamais
me liguei a uma mulher assim, eu me sinto completo quando ela
está comigo.
— Não podemos negar que nossos destinos têm um caminho
em comum. — Beijo seu queixo. — Nós não chegamos até aqui por
acaso.
— Realmente não. — Ela passa a mão pelo meu cabelo. —
Eu quero continuar dividindo novas experiências com você.
— Vá com calma. — Subo a mão por sua coxa. — Está muito
afoita.
— Eu só gosto de estar com você. — Ambra desliza a boca
contra a minha. — E gosto mais ainda quando me toca e deixa meu
corpo quente.
— É mesmo. — Jogo-a sob o colchão e fico por cima. —
Quer ficar um pouco quente agora?
— Eu já estou. — Ela apoia uma mão na minha nuca,
enquanto a outra recai contra a minha bunda. Que mulher safada!
— Agora me beija, não quero perder nenhum segundo, não sei
quando poderei te encontrar novamente.
— Não se preocupe com isso, eu providenciarei os encontros
que quiser, até porque depois de hoje, ficar muito tempo sem você
será impossível.
Eu estou cada vez mais me afundando na merda que eu
mesmo me meti, mas a minha vida é puro risco, não sei quanto
tempo tenho nesse maldito mundo, então já que eu posso ter algo
de bom para aproveitar, não vou pensar muito, apenas vou sentir.
Duas semanas, esse é o tempo que estou sem poder
encontrar o Amaro, desde a noite mais mágica da minha vida, não
tivemos mais oportunidade de ficarmos juntos.
Eu tive alguns compromissos familiares para ir com a minha
mãe nesse período, enquanto ele esteve envolvido com o trabalho.
De acordo com as irmãs, anda chegando sempre tarde em casa e
saindo muito cedo.
Conheço bem o mundo da máfia, quando os homens
começam a trabalhar por longos períodos é por que eles estão com
problemas.
Trocamos muitas mensagens durante esse tempo longe, mas
em nenhuma delas ele disse o motivo de estar tão atarefado no
trabalho, só me prometeu que iria arrumar um jeito de nos
encontrarmos.
— Ei, você me ouviu? — Stefania cutuca meu braço.
— Desculpa, eu estava um pouco perdida — respondo sem
graça.
— Você só vive perdida nos últimos tempos, está estranha
demais.
Suspiro fundo, preciso parar de sonhar em reencontrar o
irmão dela quando estamos juntas, mas é difícil, já que estou
completamente apaixonada por ele.
— Não estou estranha, só dispersa.
— E quem está deixando sua mente longe?
Ando me sentindo péssima por esconder dela o que está
acontecendo comigo, mas eu não posso contar, até porque não
conversei com Amaro sobre isso.
— Que bobagem, Ste, ninguém está mexendo com minha
cabeça. — Ela aperta os olhos deixando evidente que não acredita
em mim.
— Por acaso está interessada no Fabio? Vocês passaram a
última semana bem juntos fazendo aquele tal trabalho.
— Não gosto do Fabio, ele é apenas um amigo.
— Mas sabe que ele quer algo com você.
— E nós duas também sabemos que ainda que eu quisesse
ficar com ele não poderia.
— É... tem razão, porém acho que essa sua dispersão é por
causa de alguém. Conheceu um rapaz especial na festa de família
que foi com a sua mãe?
Odeio pensar na comemoração que fomos, a esposa do meu
tio não parava de apresentar possíveis pretendentes, um pior que o
outro, tudo o que eu queria era sair daquela festa e correr para os
braços do Amaro.
— Já te disse que foi uma chatice.
— Você falou, mas de repente esteja escondendo algo de
mim.
A culpa me assola, realmente não estou sendo sincera com
ela.
— Eu não estou... — Paro de falar quando ouço chamarem
meu nome.
Parecendo saber que falávamos há pouco dele, Fabio se
aproxima rapidamente de nós.
— Ei, meninas, tudo bem?
— Tudo! — respondemos ao mesmo tempo.
— Hoje não foi nosso dia de estarmos juntos — comenta ao
me encarar.
— Pois é, você não teve a oportunidade de ter a minha
presença luminosa. — Ele sorri da minha provocação.
— Isso é uma lástima — afirma ao fazer uma careta. —
Queria te ver para fazer um convite.
— Sério?
— Sim. — Fabio ergue um canto da boca. — Um amigo vai
fazer aniversário neste sábado e iremos sair para comemorar,
queria que me acompanhasse.
Se eu pudesse até iria, seria bom vivenciar uma festa de
jovens comuns, mas infelizmente minha mãe jamais permitiria que
eu fosse.
— Fabio, adoraria ir, mas não posso.
— Por quê? É só uma festa, vamos só nos divertir. — Sei o
tipo de diversão que ele deseja, quero o mesmo que ele, só que
com outra pessoa.
— Ela já tem compromisso, não é seu dia de sorte. —
Stefania me pega de surpresa.
— Tenho? — questiono curiosa.
— Estava falando do evento que fomos convidadas a ir, mas
você não prestou atenção ao que eu disse.
Agora ela me deixou nervosa, se vamos a uma festa, isso
significa que Amaro estará lá.
Fico animada e ansiosa para saber os detalhes de onde
iremos, já estou contando os segundos para poder rever o homem
que não sai da minha cabeça.
— Acho que Ambra pode escolher em qual festa ir — a fala
do Fabio me faz lembrar que ele está perto.
— Obrigada pelo convite, mas realmente não posso ir.
— Você vive com sua amiga, pode muito bem faltar a esse
compromisso e sair comigo. — Sua arrogância me irrita.
— Fabio, não diga o que devo fazer. — Gosto dele, no
entanto, não vou admitir que se intrometa na minha vida. — Muito
obrigada pelo convite, mas eu não poderia ir de qualquer maneira.
— Por quê?
— Não quero falar sobre isso. — Uno o meu braço ao da Ste.
— Nos falamos depois, precisamos ir.
Puxo minha amiga me afastando dele rápido, não quero que
comece com questionamentos, ele sabe ser intrometido quando
deseja.
— Esse garoto realmente está interessado em você, não vai
parar de te perseguir até ter o que deseja.
— O problema é dele. — Não vou perder meu tempo com o
Fabio, tenho coisas mais interessantes a fazer. — Aonde iremos? —
faço a pergunta que tanto me interessa.
— Um dos soldados que trabalha com Amaro irá se casar,
toda a nossa família foi convidada para a festa e meu irmão pediu
para te chamar.
— Eu não vou atrapalhar? Os noivos nem sabem quem eu
sou. — Minha amiga sorri.
— E quem no nosso clã não te conhece? — pergunta com
diversão. — Fique tranquila, se meu irmão mandou te chamar, é
porque sua presença é muito bem-vinda.
— Tenho que pedir a minha mãe.
— Não será necessário, ele me disse hoje pela manhã que já
possui autorização do seu irmão, você passará o final de semana
com a gente, não é o máximo?
Eu vou matar o Amaro por me esconder isso, nos falamos por
mensagem esta manhã e ele não me contou nada.
— Pelo jeito seu irmão resolveu tudo.
— Ele é bem prático quando quer, sem contar que sabe o
quanto eu e Elena gostamos de ficar com você.
Pobre Stefania, não tem noção que esse convite está
relacionado apenas ao próprio irmão. Mais uma vez me sinto mal
em ocultar a verdade dela, preciso conversar com Amaro, eu não
sei por quanto tempo vou conseguir esconder a verdade da minha
amiga.

Dou mordidinhas de leve na barriga fofa do Massimo,


arrancando dele uma sonora gargalhada. Os momentos que
podemos ficar juntos são sempre especiais, eu amo mais do que
tudo o meu sobrinho.
— O tempo passa rápido Giovanna, você precisa acelerar os
preparativos da festinha dele — minha mãe alerta a nora.
— Não vou fazer festa grande, serão apenas nossos
parentes próximos e alguns poucos amigos, tanto eu quanto Dom
preferimos uma comemoração pequena.
— Ainda assim precisamos acertar os detalhes.
— Eu vou contratar o mesmo buffet que Masha usou, eles
são perfeitos.
— É você que sabe, mas se precisar de algo só me chamar.
— Obrigada. — Gio me olha. — E você não vai se arrumar
para o casamento?
— Eu me arrumo rápido, tenho tempo.
— Se não sabe o tempo passa rápido, vá se arrumar já, eu te
ajudarei com o cabelo e maquiagem, sua mãe cuida do Massimo
enquanto isso.
Ela não deixa margem a discussão, pega o filho do meu colo
e entrega a minha mãe. Sem poder fazer nada eu sigo para o quarto
de hóspedes, onde deixei as minhas coisas.
Tomo um longo banho e lavo o cabelo, depois seco-o
rapidamente e separo meu vestido. Gio chega e me ajuda com os
cachos que decidi fazer, enquanto isso conversamos trivialidades.
Em seguida ela começa a me maquiar, ao contrário de mim,
ela sabe bem o que faz. Quando acaba eu estou verdadeiramente
bonita.
— Uau! Você está parecendo uma modelo, acho que vai
ganhar alguns corações na festa — diz ao apoiar as mãos nos meus
ombros e observar o belo trabalho que fez.
— Só quero me divertir. — Penso no Amaro. — E você sabe
bem que esta festa não é o local certo para qualquer tipo de flerte.
— Gio me olha com atenção.
— Ambra, depois que minha irmã se casou com Thomas, eu
acho tudo possível.
— Acredita mesmo que minha mãe e Dom permitiriam que
um simples soldado tenha a audácia de se interessar por mim? —
essa pergunta tem outra intenção, mas dependendo da sua
resposta eu posso recalcular o que realmente desejo falar.
— Claro que eles não iriam gostar, mas sua vontade precisa
ser considerada.
— Só que ela não vai ser. — Eu me levanto, certa exaustão
me domina.
— Ambra. — Gio segura a minha mão. — Você tem muita
sorte, sabe por quê? — Balanço a cabeça em negativo. — Agora
quem tem total controle do clã é Paolo e, do seu destino, Domênico.
— E o que isso pode mudar a minha vida? — Não entendo
aonde ela quer chegar.
— Você tem o meu apoio e da Masha incondicionalmente,
podemos lutar por sua escolha com nossos maridos.
— Terão coragem de brigar com eles se eu me apaixonar por
alguém que não está na lista dos meus possíveis pretendentes?
— Se ele valer a pena, eu estarei do seu lado sem medo.
Um sinal de alerta acende dentro de mim. Se Gio aceitar
Amaro, o que eu acho muito provável, talvez tenhamos uma chance
de ficarmos juntos.
Será que ele vai ter coragem de assumir o que temos? Eu sei
o que desejo, mas não posso ter nenhuma certeza dos seus
sentimentos.
Preciso pensar com calma no que vou fazer, ter uma
conversa honesta com Amaro pode ser o caminho mais curto para
pensar em um futuro com ele.

Bebo um pouco de água enquanto espero pela minha carona.


Stefania me mandou mensagem avisando que ela e os irmãos
passariam na casa do Dom para me buscar.
Estou completamente ansiosa para rever Amaro, não vejo a
hora de poder ficar sozinha com ele. Necessito experimentar mais
uma vez todas as sensações que me fez sentir no nosso último
encontro.
— Filha, tome cuidado, por mais que eu saiba que Amaro é
um homem muito bem treinado e de extrema confiança, você estará
em um meio que não é o seu usual, fique atenta.
— Nada vai acontecer, fique tranquila. — A abraço.
— Quando o assunto são meus filhos eu sempre me
preocupo. — Ela acaricia meu rosto. — Você se tornou uma mulher
tão linda e íntegra. — Seus olhos ficam um pouco perdidos. — Eu
lutei muito para te proteger da maldade que vivíamos em casa e vou
fazer o mesmo para te ver feliz, com uma família tão linda quanto a
do seu irmão.
Solto um longo suspiro, calculando metodicamente as minhas
próximas palavras.
— A senhora seria capaz de ficar ao meu lado se eu tivesse
minha própria escolha para um casamento? — Seu semblante fica
tenso, isso não é um bom sinal.
— Se sua escolha for plausível, eu dou minha bênção.
O meu coração acelera, tenho Gio, Masha e agora minha
mãe, abertas a me ouvirem. Amaro é um homem querido em todas
as esferas da máfia, isso significa que ele poderia ser bem recebido
na minha família.
Sei que preciso ir com calma, mas sabendo que existe uma
chance para nós, se ele demonstrar que deseja algo mais sério
comigo, eu vou até as últimas consequências para que minha
família o aceite.
Quero-o mais que tudo, não existe outro homem neste
mundo que eu deseje estar ao lado.
— Ambra, onde está? — A voz do meu irmão me faz
sobressaltar.
— Aqui. — Saio da cozinha ao lado da minha mãe.
— Amaro veio te buscar. — O meu corpo esquenta quando
vejo sua figura forte parada na sala, vestindo um terno azul-escuro
sob medida.
— Boa noite — digo tentando controlar a excitação na voz.
— Boa noite, Ambra. — Sua voz profunda acaba sendo uma
carícia na minha pele.
— Amaro, fique atento a tudo e me ligue se houver qualquer
problema, estarei em casa à noite toda.
— Fique tranquilo, nada irá acontecer — ele diz com
segurança. — Podemos ir? — Me olha de maneira contida.
— Claro que podemos. — Dou um beijo na minha mãe. —
Nos vemos na segunda.
— Aproveite seu final de semana, filha.
Ela não sabe o quanto vou aproveitar, estou contando os
segundos para poder ficar com Amaro.
— Dê tchau a titia, Massimo. — Giovanna ergue a mão do
filho, que sorri quando acena para mim.
— Você é um fofo. — Beijo seu rosto.
Assim que me despeço de todos sigo ao lado do Amaro para
o elevador. Ele mantém uma distância segura entre nós, o seu
afastamento é por conta da câmera que existe no local, não é sábio
qualquer aproximação entre nós aqui.
Saímos do prédio do meu irmão caminhando lado a lado até
seu carro. Com toda educação ele abre a porta para mim e me
espera entrar.
Estranho quando noto a ausência das meninas, quando Ste
falou comigo, disse que todos viriam juntos me buscar.
— Cadê as suas irmãs? — pergunto quando ele se senta ao
meu lado.
— Augusto as levou — responde de maneira curta ao
manobrar o carro.
— Mas a Stefania disse que viria com você.
— Precisei resolver algo no trabalho, não podia levá-las
comigo. — Por algum motivo sua resposta não me convence, porém
decido não fazer mais perguntas.
Ele faz uma curva e entra em uma rua menos movimentada,
segundos depois estaciona na frente de um prédio. Enrugo a testa
estranhando, até onde sei a festa será realizada em um bairro
próximo do centro.
— Ambra. — Olho para o meu lado quando ouço meu nome
em seu tom de voz profundo. — Eu não tive porra nenhuma de
trabalho para fazer, só queria ficar sozinho com você antes da festa
porque preciso te beijar.
Não tenho tempo sequer de pensar, Amaro segura a minha
cabeça e me dá um beijo urgente, com uma paixão que faz todo
meu corpo incendiar.
Esqueço tudo ao redor e me jogo entre seus braços
recebendo o seu beijo com extremo desejo. Rodeio meus braços
por seu pescoço gemendo quando nossas línguas se entrelaçam.
Senti tanta falta dele, essas duas semanas que ficamos
separados foram difíceis, mas experimentar o momento tórrido que
estamos vivenciando agora, valeu cada segundo da nossa
separação.
— Porra! — ele blasfema. — Eu já estava quase
enlouquecendo por não poder te beijar.
— Entendo você. — Salpico mais um beijo na sua boca. —
Também estava no limite sem poder te ver. — Seu polegar acaricia
meu rosto.
— Teremos um final de semana só para nós.
— Na verdade, só teremos às noites. — Ele beija meu
pescoço.
— Prometo tentar arrumar um momento nosso durante o dia.
— Não acho que seja possível. — A tristeza me domina, eu
estou me sentindo exausta por não poder ficar perto dele como
desejo. — Tudo entre nós é complexo.
— Sei disso, mas vamos tentar resolver esse problema.
Quero expor meus pensamentos, mas este não é o momento,
preciso ter calma e me certificar sobre seus sentimentos, só assim
eu poderei me movimentar e, tentar encontrar um caminho seguro
para que possamos realmente ficarmos juntos.
Seguro a mão da Ambra e a apoio em meu braço, ela me fita
curiosa, certamente apreensiva das amigas vê-la de maneira mais
íntima comigo.
Se não fosse as diferenças existentes entre nós, eu já teria
mostrado a todos que ela é minha, infelizmente não posso ser tão
atrevido.
— Fique tranquila, sei o que estou fazendo — digo rente ao
seu ouvido quando entramos na igreja.
Procuro por minhas irmãs na esperança de conseguir um
lugar perto delas, mas assim que as identifico, vejo que a fileira
onde estão sentadas não possui mais lugar vago.
Elena nos avista primeiramente, ela acena toda sorridente,
em seguida seus olhos vão para a mão da Ambra no meu braço.
Minha irmã me lança um olhar aguçado, como sempre a mente dela
trabalha rápido, já sei que vou ouvir gracinhas.
— Vamos nos sentar aqui — chamo Ambra quando ela
termina de devolver o aceno de Elena.
— Uma pena não conseguirmos ficar perto das meninas —
ela comenta ao se acomodar no banco de madeira.
— Acho ótimo. — Sento-me grudado nela. — É bom que
teremos um momento só nosso, sem Elena falando o tempo todo.
— Nossa, Amaro, ela é sua irmã, não fala assim.
— Por ser minha irmã sei o quanto é intrometida. — Olho
para ela e aproveito a luminosidade da igreja para poder observá-la
com atenção. — Você está divinamente linda, fique longe da noiva
para não ofuscar a pobrezinha com toda a sua beleza.
— Pode parar — pede exibindo um sorriso tímido.
— Não posso fugir da verdade — sussurro contra seu ouvido
e fico feliz quando ela estremece.
A nossa interação é interrompida quando a cerimônia
começa. Não gosto de casamentos, acho enfadonho todo o ritual,
tento sempre fugir da parte religiosa, mas dessa vez não teve como.
Giacomo é um ótimo soldado, nos conhecemos desde
pequenos e agora ele trabalha comigo, seria de mau tom não
prestigiar os noivos na igreja.
Em certo momento ouço Ambra fungar, pego o lenço no bolso
do terno e estico na sua direção. Ela agradece meu gesto e seca
com cuidado o canto dos olhos.
Enquanto a cerimônia se desenrola minha mente voa e penso
no que estou vivendo com a mulher ao meu lado. Ela entrou na
minha vida revirando tudo, inclusive o meu coração. Não posso mais
negar o que sinto, pois seria muita hipocrisia fingir que não estou
apaixonado por ela.
Penso em Ambra o tempo todo, se dependesse de mim eu a
veria todos os dias. Queria encontrar algum caminho viável para que
sua família me aceite como um provável pretendente, mas não sinto
nenhum tipo de convicção com relação a isso.
Domênico gosta e confia em mim, mas não ao ponto de me
entregar sua irmã para um compromisso oficial. Sua família é uma
das fundadoras da Cosa Nostra romana, eles pertencem a suprema
elite do clã, jamais permitiriam que os Pizzorni se misturassem com
a família de um simples soldado, mesmo que hoje eu já esteja em
outro cargo.
Nunca tive vergonha das minhas origens, só que desta vez
eu queria ter um nome para exibir e não me sentir tão inferior.
— Foi tão lindo esse casamento. — A voz emocionada da
Ambra me faz acordar para a realidade. — É nítido o quanto se
amam, casamentos assim dentro da máfia são raros.
— Realmente são. — Nos levantamos quando os noivos
começam a passar pelo corredor em direção à saída da igreja. —
Eles são privilegiados em poder viver esse amor.
— Espero que saibam disso. — Sua voz tem uma tristeza tão
grande, que me causa uma sensação estranha.
— Claro que sabem. — Levo sua mão até meus lábios, em
seguida a apoio em meu braço.
Começo a seguir o cortejo dos convidados atrás dos noivos,
finalmente vamos para a festa, essa é a parte que gosto de
casamentos.
Aguardo Augusto e minhas irmãs aparecerem, agora que
estou aqui vou assumir o cuidado delas. Não demora muito e os três
saem da igreja. Assim como Ambra, Stefania tem os olhos
vermelhos, já Elena sorri toda faceira, por mais uma vez ver a amiga
de braços dados comigo.
— Que casamento lindo — Ste diz quando para a nossa
frente. — A emoção dos noivos me fez chorar.
— Realmente foi emocionante, amiga — Ambra concorda
com ela.
— Stefania você chora vendo filmes. — Elena revira os olhos.
— Vocês demoraram a chegar. — Eu sabia que ela não iria resistir a
me cutucar.
— Eu disse que tinha um problema a resolver — respondo
secamente. — Vamos embora, vocês seguirão para a festa comigo.
— A gente se divertiu vindo com o Augusto, podemos
continuar com ele. — Gosto da sugestão da Elena, será bom passar
mais alguns minutos a sós com Ambra.
— Na verdade, você quis dizer que não parou de falar no
meu ouvido nenhum segundo, não é isso? — Ele a encara.
— Se você fosse mais comunicativo, teria interagido comigo.
— Elena, será que não consegue se comportar? — Stefania
tenta contê-la.
— Leve-as, Augusto, você merece Elena metralhando seu
ouvido, nos encontramos na festa.
Não espero ele me contestar, apenas reprimo o sorriso pela
careta que faz. Como bom amigo deve dividir comigo momentos
difíceis, tipo aguentar minha irmã mais nova falando sem parar.
— Cuidado com a Elena, certamente irá fazer perguntas
sobre nós — alerto Ambra.
— O que está querendo dizer?
— Ela ficou curiosa por nos ver de braços dados, tanto na
entrada quanto na saída da igreja, conheço sua cabeça cheia de
astúcia.
— Estamos em um problema? — pergunta quando
alcançamos o meu carro.
Sorrio da sua pergunta, porque desde que começamos a nos
envolver, só conseguimos mergulhar profundamente em diversos
problemas.
— Já vivemos dentro de um e, sinceramente, só consigo
pensar que tudo vai piorar. — Beijo seu rosto e a espero entrar no
carro.
Se eu conseguisse me afastar dela as coisas seriam mais
fáceis, só que nesta situação eu não sou tão forte, Ambra é meu
ponto fraco, para o meu desespero.

— Resolveu sua emergência de última hora? — Augusto


pergunta enquanto remexe sua taça de vinho.
— Tudo sob controle — digo de maneira evasiva.
Quando pedi que ele levasse minhas irmãs para a igreja, não
dei muitos detalhes do que precisava fazer.
— Só isso? — O erguer da sua sobrancelha indica que ele
não gostou da minha resposta.
— Qual o seu problema? Quer saber agora os detalhes do
que faço?
— Calma aí, amigo. — Pede ao erguer as duas mãos. — Eu
só fiz uma pergunta simples, não precisa de tanta agressividade, a
não ser que esteja querendo ocultar algo de mim.
Seus olhos vão para onde Ambra dança com um dos irmãos
do noivo.
Infelizmente ela virou uma atração na festa, todos estão
encantados pela presença ilustre da irmã do Consigliere. Até
mesmo os noivos perderam um longo tempo a bajulando e tirando
fotos.
Para a minha ira eu preciso vê-la rodopiar por todo o salão
sempre na companhia de um homem diferente, sem poder tomar
nenhuma atitude para afastar todos.
— Augusto, vá procurar o que fazer. — Meu humor não está
passando por seu melhor momento. — Por que não escolhe alguma
menina para dançar? Você inclusive deveria tentar se conectar a
alguém.
— Assim como você. — Ele apoia os cotovelos sobre a mesa
e cruza os dedos. — Ou talvez você já esteja conectado a uma
pessoa especial. — Travamos um longo olhar.
Meu amigo me conhece bem, convivemos desde criança,
conseguimos perceber quando um de nós não está sendo sincero.
— Não estou conectado a ninguém — minto.
— Pelo ângulo que estou vendo as coisas não penso assim.
— Seus olhos brilham com malícia. — Você anda evitando sair
comigo, não trepa com ninguém há semanas e ignora todas as
ligações da Alicia.
— Já te disse que ela quer mais do que eu posso dar.
— Ou é você que não está mais interessado nela por que
surgiu algo novo, proibido e fodidamente gostoso? — Enrijeço a
postura, incomodado por saber que ele se refere a Ambra e, por
chamá-la de gostosa bem na minha cara.
— E o que você tem a ver com isso?
— Nada e tudo. — Augusto pega uma nova taça de vinho
quando o garçom oferece. — Eu me preocupo com meu melhor
amigo, não quero que ele morra porque está cobiçando uma mulher
que não pode ser sua.
— Não estou cobiçando nada, pare de imaginar besteiras.
— Você não teve porra de problema nenhum para resolver —
afirma irritado. — Inventou isso para ficar sozinho com Ambra, eu
não sou idiota, amigo, entendi o que está acontecendo, por causa
dela você está se comportando diferente. Não para de bufar a cada
vez que ela recebe um convite para dançar.
— Esquece esse assunto, não tem nada acontecendo.
— Porra, Amaro, vai querer que eu acredite nisso? A garota
te olha com paixão e você também não fica atrás, é nítido o quanto
a devora com o olhar.
Passo a mão pelo cabelo, há algum tempo eu a alertei que
deveria ser discreta, mas depois do último encontro que tivemos,
tanto eu quanto ela ultrapassamos muitos limites e sei que ambos
estamos perdidos no que sentimos.
Assim como ele percebeu o que está acontecendo, outras
pessoas podem fazer o mesmo, o que inclui seu irmão.
— Eu não sou cego, caralho! Ela é linda, difícil não admirar
algo que me atrai. — A raiva me domina quando me dirijo a ele.
— Admirar é uma coisa, mas existe algo acontecendo, não
negue. — Passo a mão pelo rosto, me sentindo encurralado. — Eu
entendo seu fascínio por ela, mas Ambra é uma mulher acima das
suas possibilidades sabe disso melhor do que eu, você convive com
a família dela há anos, entende bem que existe uma hierarquia a ser
respeitada.
— Acha que sou idiota?
— Não acho, mas quando se está apaixonado, você não tem
um raciocínio coerente. — Quero negar sua fala, afirmar que não
existe nenhum sentimento romântico entre nós, só que não posso,
porque ele está completamente certo. — Você sempre foi um
homem equilibrado, não vá perder o controle agora, quando a
situação em que está só irá te meter em confusão.
— Como se tudo fosse simples — rosno amargamente.
— Nada é simples, mas podemos evitar certas situações.
Ele está certo, eu não posso tê-la como desejo, mas
enquanto eu puder estar por perto, vou aproveitar cada segundo,
ainda que por dentro eu morra por saber que em algum momento
ela não estará mais ao meu alcance e será de outro homem.

— Este casamento foi incrível, eu poderia passar a noite toda


naquela festa — Elena fala ao retirar os sapatos. — Ainda que meus
pés estejam me matando, eu dançaria muito mais.
— Já eu, estou exausta, nunca tive tantos convites para
dançar em toda a minha vida. — Ambra cruza os braços ao se
encostar no sofá. — Mal consegui ficar sentada.
— Quem mandou ser a atração da festa? Por pouco não
ofusca a noiva — Stefania comenta sorrindo.
— Nem brinca com algo assim, em um casamento o foco
total tem que ser a noiva.
— Mas você fez sucesso na festa, todo mundo queria falar
com a irmã do poderoso Consigliere.
— Nós temos muito que fofocar, vamos para o nosso quarto
conversar. — Elena pula do sofá ainda elétrica.
— Pode parar por aí. — Entro na conversa. — Todo mundo
vai dormir, a noite foi intensa demais, vocês conversam depois.
Nem fodendo que vou perder a oportunidade de ficar com
Ambra porque minha irmã caçula quer formar um clube da
Luluzinha.
— Mas a gente quer conversar, temos muito assunto a tratar,
inclusive falar sobre vocês chegando juntinhos na igreja, achei tão
fofo os dois grudadinhos, sabiam que formam um belo casal?
Eu tinha certeza de que ela iria falar algo, Elena nunca deixa
nada escapar.
— Elena, vá para seu quarto e pare de falar besteira. — É
melhor cortar esse assunto ou as coisas podem sair do controle. —
Faça o mesmo Ambra, vocês terão o final de semana inteiro para
falar sobre essa maldita festa, agora vamos todos descansar. —
Elena abre a boca para me contestar, mas é interrompida pela
amiga.
— Seu irmão tem razão, todos estamos cansados, amanhã
podemos conversar. — Ela faz uma careta. — Meus pés precisam
de descanso, vou tomar um banho e dormir, eu dancei demais.
— Concordo, eu também estou cansada. — Stefania como
sempre é sensata. — Desligue essa bateria sem fim, Elena, vamos
para nosso quarto. — Ela puxa a mão da nossa irmã.
— Meu Deus! Vocês parecem idosos, não fizemos nada
demais para todos estarem tão cansados — resmunga enquanto
sobe as escadas.
— Você talvez não tenha feito, mas eu trabalhei o dia todo —
comento ao desfazer o laço da gravata.
— Então por que não vai dormir e nos deixa em paz?
— Para o quarto! — digo perdendo a paciência.
— Chega, Elena! — Ste aperta o braço dela. — Até amanhã,
Ambra, assim que eu acordar te chamo para o café.
— Tudo bem — ela responde sorrindo. — Boa noite para
vocês.
Ambra é a primeira a se refugiar no quarto, aguardo minhas
irmãs fazerem o mesmo, ainda que Elena me olhe com raiva. Essa
pestinha só causa dor de cabeça, nunca vi uma pessoa tão atrevida.
Quando todas se isolam nos seus aposentos eu sigo para o
meu. Tiro a roupa e caminho para o banheiro, talvez um banho
consiga diminuir meu tesão, não estou aguentando mais ficar perto
da Ambra sem poder tocá-la.
Para o meu azar o banho não surte efeito, preciso dela para
conseguir recuperar meu controle. Coloco um short e começo a
andar agitado pelo quarto, ansioso para poder ir ao seu encontro.
Quando julgo que tudo está tranquilo e que minhas irmãs se
aquietaram, abro a porta e sou recepcionado pelo mais puro
silêncio. Pego o meu celular e envio uma mensagem perguntando
se ela está acordada.
Sua resposta leva apenas alguns segundos, o que me faz
sorrir, pois ela também está ansiosa para ficar comigo.
Fecho a minha porta o mais silenciosamente possível e vou
para seu quarto. Quando entro a encontro parada em frente à
janela, olhando o céu escuro. Caminho até onde está e envolvo
meus braços por sua cintura, em seguida beijo seu pescoço.
— Pensativa? — pergunto ao cheirar seu cabelo.
— Um pouco. — Ela apoia a mão em cima da minha. — A
Elena está desconfiada de nós, ela soltou piadas ao longo da festa.
— Já entendi que vou precisar contê-la. — Ambra não diz
nada, apenas solta um lento suspiro. — Ei, o que foi? — pergunto
ao girá-la para poder observar seu rosto.
— Essa situação toda é difícil. — Ela evita me encarar. — Eu
me sinto muito mal em mentir para suas irmãs, estou traindo não só
elas como seus pais, que sempre me recebem aqui com tanto
carinho.
— Está querendo dizer que não quer mais manter nossos
encontros?
— O certo era pararmos por aqui. — O meu coração
despenca com sua declaração. — Mas eu não consigo ficar sem
você. — Sua mão desliza ao longo do meu peito, até que ela toca
meu rosto. — Eu conto os segundos para te ver, Amaro.
Ela fica nas pontas dos pés e me beija, a delicadeza dos
seus lábios tocando os meus faz um rebuliço intenso sacudir meu
interior. Firmo uma mão na sua cabeça e aprofundo o beijo, ela
ainda não sabe, mas eu também não suporto o tempo que ficamos
separados.
A cada encontro eu a quero mais e me sinto impelido a
cometer uma loucura, ainda que isso possa me causar um problema
de grandes proporções com o seu irmão.
Mordo o lábio inferior com força, sei que não posso expressar
tudo o que sinto, ainda que meu desejo seja gritar para o mundo o
quanto é especial cada encontro que temos.
Ele gira o centro na língua contra meu clítoris, causando um
tremor intenso nos músculos das minhas coxas. Embrenho os
dedos em seu cabelo, ao empurrar minha pélvis contra sua boca.
É incrível tudo o que ele me faz sentir, queria poder tê-lo
todos os dias, sem me preocupar que alguém nos flagre.
— Amaro... — ronrono seu nome quando não controlo mais
meu corpo.
Estremeço intensamente, sucumbindo a um orgasmo
profundo. Nunca imaginei que sexo pudesse ser tão bom, eu queria
apenas poder ir mais a fundo e ser completamente dele.
Suas mãos grandes seguram minhas pernas com força,
mantendo-as abertas enquanto ele sorve cada gota do meu prazer,
o meu coração martela com descontrole, enquanto ainda sinto os
últimos espasmos do orgasmo.
O meu corpo amolece, mas quando Amaro começa a
espalhar beijos por minha pele, eu sinto meu desejo renovar.
Escorrego minhas mãos por suas costas, sentindo a firmeza dos
seus músculos.
Ele dá um beijo delicado no bico do meu seio, me fazendo
estremecer. Seus olhos encontram os meus, vejo puro fogo neles, o
que faz uma corrente elétrica me consumir por inteira.
— Sabe qual é o meu maior desejo? — sua pergunta me
pega de surpresa.
— Diga-me. — Roço os dedos no seu cabelo.
— Poder te fazer gozar sem necessitar que se contenha, tudo
o que eu mais queria era te ouvir gritar meu nome, vê-la livre para
expressar o que quiser.
Inspiro fundo porque eu também queria isso, não precisar me
esconder, mostrar para todos que estamos juntos.
— Desejamos muitas coisas que não podemos ter, não é
mesmo? — Esfrego meu nariz contra seu rosto. — Eu quero provar
você também, não paro de pensar em como foi bom da última vez
que estivemos juntos. — Ouço seu gemido.
— Porra, não pega pesado comigo. — Seus olhos capturam
os meus.
— Eu pego você como eu quiser. — Empurro seu peito
sorrindo e monto sobre ele.
Enrolo meu cabelo e faço um coque, em seguida o beijo,
enroscando a minha língua na sua, gemendo quando sua mão
aperta sem delicadeza a minha bunda.
Adoro o seu toque, o jeito firme com que ele me domina,
apenas o seu cheiro másculo é capaz de me deixar em chamas.
Tudo em Amaro me enlouquece, não existe nenhum homem neste
mundo que consiga me deixar tão excitada.
Interrompo o nosso beijo e começo a explorar o seu corpo,
deslizo meus lábios por seu peitoral, mordiscando algumas partes,
só para provocá-lo.
Acaricio sua ereção sobre o short, jamais imaginei que um
dia eu me sentiria tão desinibida com um homem, mas de alguma
maneira bem estranha eu me sinto extremamente íntima dele.
Com a clara intenção de provocá-lo eu o estimulo por sobre o
tecido, sentindo-o ficar ainda mais rígido. Ergo o rosto para ver sua
reação, seus olhos estão focados em mim, observando cada um dos
meus movimentos.
Sorrio ao começar baixar seu short juntamente com a boxer,
revelando à minha visão a sua ereção potente. Corro o polegar pela
ponta espalhando líquido que brota por ela, em seguida lambo
desde a base até que sugo a sua glande, sentindo seu gosto se
espalhar pela minha língua.
Abocanho com vontade parte da sua extensão, tento levá-lo
ao máximo que posso. Ouço seu gemido, sua mão aprisiona a
minha cabeça, enquanto eu o degusto com vontade.
Quero mais que isso, se ele decidir me possuir por completo
não vou impedi-lo, tudo o que mais desejo é ser só dele, talvez se
avançarmos mais um pouco, seja o movimento certo para fazer
minha família aceitar o nosso relacionamento.
Não sei de verdade como agradar um homem, esta é a
segunda vez que eu lhe dou prazer, por isso tento me guiar pelos
seus sons, a cada gemido e incentivo que ele faz, me pedindo para
ir mais rápido, eu entendo que estou fazendo tudo certo.
Sinto o seu membro inchar ainda mais dentro da minha boca,
ele está perto de gozar e desta vez eu quero sentir o seu sabor.
— Eu vou gozar, se afaste — pede com a voz pesada e
rouca.
Cruzo nosso olhar, no mesmo momento em que o sugo com
intensidade. Amaro endurece o rosto, mas não me afasta, segundos
depois sinto o primeiro jato do seu prazer, ele rosna e começa a
gozar com força.
Fico sem saber o que fazer, por fim decido engolir cada gota
do que deposita na minha boca, lambo cada centímetro do seu
membro, me deliciando por saber que fui eu a fazê-lo alcançar o
êxtase.
Quando eu encaro seu rosto, Amaro me observa com olhos
semicerrados, exibindo uma expressão indecifrável. Fico insegura,
não sei se fiz a coisa certa, posso tê-lo desagradado de alguma
maneira, isso me faz ficar nervosa.
— Fiz algo errado? — pergunto querendo saber de uma vez
o que vai falar.
Ele ergue um canto da boca, deixando um sorriso sacana se
espalhar pelo seu rosto bonito. Segurando meus braços, me ergue
contra seu corpo com facilidade.
— Errado? — pergunta ao me abraçar. — Não, meu amor,
você não fez nada errado, pelo contrário, acaba de me surpreender
e deixar o meu tesão por você ainda mais elevado. — Ele apoia a
mão contra meu rosto. — Ambra, você é perfeita em cada ação que
faz, eu só consigo te querer ainda mais, estou tão fodido.
Nossas bocas se unem, no mesmo momento em que sinto
meu coração disparar sem controle. Ele me chamou de amor e
ainda elogiou o prazer que lhe dei.
Não sei se devo me sentir esperançosa, mas sinto que esta
noite nós avançamos outro nível nessa relação estranha que
desenvolvemos. Eu só espero que ele sinta por mim o mesmo
sentimento que nutro por ele, se estivermos na mesma página,
poderemos lutar juntos pelo nosso futuro.

— Eu não sou romântica como minha irmã, mas não posso


negar que o casamento foi lindo, o amor entre o casal de noivos era
algo explícito, isso me comoveu.
— Vindo de você que tem o coração de pedra, eu me sinto
mais tranquila por todas as lágrimas que derramei. — Stefania diz
com descontração à Elena.
As meninas ficaram empolgadas com o casamento,
realmente foi bonito e emocionante, mas meu estado de espírito
atual não me deixa ter esse tipo de reflexão, só consigo pensar na
noite intensa que tive com Amaro.
Ele foi embora nas primeiras horas da manhã, dizendo que
não podia mais ficar, pois seu pai acordava cedo. Sua partida deixou
um buraco no meu coração, eu queria poder tê-lo o tempo todo
comigo.
— Vocês mais do que ninguém sabem que é possível amor
dentro do nosso mundo, tiveram a sorte de viverem com pais que se
amam. — Ambas me olham com pesar, sabendo o que passei
dentro da minha casa. — O melhor é que podem ter exatamente o
mesmo tipo de casamento que viram ontem, sintam-se afortunadas.
— Mesmo não querendo demonstrar todo o meu amargor, eu não
consigo me controlar.
— Todas nós podemos sonhar com o casamento que
presenciamos ontem — Ste fala tentando me animar.
— Nem todas, amiga, este é o nosso mundo.
Nossa conversa é interrompida quando a mãe dela entra na
varanda externa da casa carregando uma bandeja com três copos.
— Meninas, preparei um suco refrescante, espero que
gostem.
— A senhora não precisava se incomodar, nós podemos
providenciar nossas próprias bebidas — digo sinalizando que ela
deve parar de se preocupar tanto.
— Não é nenhum incômodo, eu não tenho muito o que fazer
nesta casa, Amaro apenas me permite cozinhar, o resto as meninas
que ele contratou fazem tudo.
— Graças a Deus não preciso mais limpar a casa, eu não fui
feita para serviços domésticos. — Elena pega seu suco.
— Mas quando tiver sua casa terá que cuidar de tudo. — A
mãe dela a alerta.
— Não me diga isso, eu tenho esperança de me casar com
um homem que possa contratar uma boa funcionária.
— Nem sempre sonhar demais é algo bom, volte para a
realidade minha filha, é um conselho de mãe. — Dona Tereza se
afasta.
— Você precisa controlar essa boca, anda falando demais,
vai entrar em confusão — Stefania sinaliza à irmã, assim que
ficamos sozinhas.
— Meu Deus! O que eu fiz demais? Você é tão exagerada,
reclama de tudo, parece uma velha. — Elena revira os olhos. — E
quanto a você e meu irmão, Ambra? Tá rolando um climinha entre
vocês, já tinha percebido isso, mas quando os vi chegando na igreja
de braços dados, tive certeza de que estão gostando um do outro.
O suco entala na minha garganta e eu me engasgo, Stefania
vem ao meu socorro e bate nas minhas costas. Respiro fundo ao
piscar sucessivamente os olhos, espantando as lágrimas que se
formaram neles.
— Obrigada, Ste. — Agradeço minha amiga. — De onde tira
essas ideias absurdas, Elena? — pergunto ao me recuperar.
— Não é absurda nada, até mesmo Stefania concorda
comigo. — Olho para ela, que dá de ombros não desmentindo a
irmã.
— Eu só estava com a mão apoiada no braço dele, que mal
faz isso?
— Nenhum, desde que vocês não ficassem se olhando
cheios de malícia. — Encaro Elena sem saber o que dizer.
— Ambra não liga para a minha irmã, ela é sempre
inconveniente — Stefania diz ao se sentar do meu lado. — Só quero
que saiba que eu seria muito feliz se vocês ficassem juntos, já
imaginou virarmos uma grande família? Seria o máximo.
Fico sem reação, perdida no que dizer, odeio mentir para
elas, porém não posso revelar tudo o que está acontecendo sem
conversar com o Amaro.
— Ainda que eu gostasse dele, vocês sabem como funciona
nossas leis, minha família dita o meu futuro. — Elas me fitam com
pesar.
— O senhor Domênico é um homem justo, se você conversar
com ele, expor seus sentimentos, duvido que não te ouça. — Elena
também se acomoda ao meu lado, no apoio de braço da poltrona. —
A gente só sabe se algo não vai dar certo se tentar, pense nisso.
Mantenho o silêncio, absorvendo sua fala, sem conseguir
negar com veemência que não gosto do Amaro, acho que cheguei a
um ponto que já não consigo esconder meus sentimentos.

Como minhas amigas já deixaram claro que sabem do que


sinto pelo seu irmão, eu preciso ao menos me segurar na frente dos
pais dele. Sorrio para Tereza quando ela conta uma história de
quando as meninas eram pequenas.
Estamos todos reunidos na mesa de jantar, Amaro saiu
durante a tarde e chegou perto da hora da refeição. Fugi dele o
quanto pude, mas agora não tenho para onde ir, a vontade de fitá-lo
é imensa, mas eu me seguro.
— Depois do jantar se arrumem porque vamos sair — Amaro
anuncia, levando a atenção de todas nós para ele.
— Como é? — A irmã mais nova questiona.
— Você ouviu bem. — Ele coloca um pedaço do canelone na
boca. — Prometi que levaria vocês para sair um pouco mais, então
vou aproveitar que Ambra está aqui para também participar do
evento.
— Que maravilha, já estou ansiosa. — Stefania olha para
mim empolgada, sorrio discretamente, ao contrário dela eu só queria
que todos fossem dormir, para enfim poder estar com Amaro.
Eu não esperava sair duas noites seguidas, por isso não
trouxe uma roupa adequada. Levantei a hipótese de ir em casa
buscar alguma peça, mas Stefania se prontificou a me emprestar
um modelito.
Ela é um pouco mais baixa do que eu, por isso seu vestido
está com um cumprimento que me deixa a sensação de estar
exposta demais. Não sei se fiz certo em usar uma roupa tão
reveladora, se minha mãe me visse vestindo algo tão curto me
mataria, sem sombra de dúvidas.
— Você está gostosa, relaxa — Elena sussurra no meu
ouvido. — Meu irmão já olhou uma centena de vezes para sua
bunda, ele tá gostando do que vê.
— Pode parar. — A recrimino, ela tem mania de falar demais,
se eu não a controlar sai por aí dizendo que estou namorando
Amaro.
— Estou só te alertando.
— Vamos nos sentar aqui. — Amaro indica uma mesa em um
canto do bar.
Ele nos trouxe em um dos estabelecimentos da máfia, o dono
é filho de um membro do Conselho.
Nos acomodamos ao redor da mesa, Amaro pede uma
rodada de bebidas. Elena se anima por ele permitir que beba álcool,
ela cobre o irmão de elogios, afirmando que ele é o melhor.
Sorrio da sua animação, ela é bem resmungona na maior
parte do tempo, mas quando consegue o que quer fica
extremamente doce.
Augusto se junta a nossa turma, ele é um rapaz legal, sempre
educado e tranquilo, não é de conversar muito, mas às vezes diz
algumas coisas engraçadas.
Por um tempo a mesa se divide e fico conversando só com
minhas amigas, enquanto os garotos cochicham entre si.
— E aí, Ambra, vamos dançar um pouco? — Augusto me
pega de surpresa com o seu convite.
— Claro que sim. — Rapidamente olho para Amaro, ele tem
o rosto endurecido, não gostou do convite do amigo.
Seguro a sua mão quando ele me estende e sigo ao seu lado
para o espaço onde vários frequentadores se divertem.
Fico perplexa quando descubro que Augusto dança bem, ele
se move com facilidade ao som da música latina que toca. Sorrindo,
me faz girar e encosta o tórax contra minhas costas.
— Só siga o ritmo da música, deixe-a te envolver — fala rente
ao meu ouvido. — E não se preocupe com Amaro, ele vai rosnar e
espumar um pouco, mas não fará um escândalo porque sabe que
por mais que te queira, você é um destino proibido. — Olho para
ele, impactada por suas palavras.
— Do que está falando? — Tento disfarçar e não demonstrar
que ele me deixou abalada.
— Você sabe bem. — Augusto sorri. — Ele gosta de você e
eu ficaria feliz em vê-los juntos, mas somos aprisionados a um
mundo fodido, uma pena. — Segurando meus ombros ele me gira e
eu fico na sua frente. — Enquanto não ditam seu destino, aproveite
a noite.
Relaxo completamente com o seu conselho, pois vejo nos
seus olhos que ele não concorda com nada do que somos
obrigados a viver. Danço com Augusto deixando de lado todas as
minhas angústias, eu não vou sofrer por antecedência, preciso viver
um dia após o outro.
Quando retornamos para a mesa eu me sinto mais leve,
presa apenas ao presente, ignorando as minhas responsabilidades
do futuro.
— É tão bom te ver sorrindo — Stefania diz quando me sento
ao seu lado. — Ultimamente anda tão introspectiva.
— Você sabe que tenho motivos para estar preocupada.
— Sei disso. — Ela cobre a minha mão com a sua. — Mas
tente ser positiva, nem sempre o futuro é tão obscuro quanto
imaginamos.
Eu queria que suas palavras se aplicassem a minha vida,
mas eu não quero me agarrar a uma esperança frágil, prefiro manter
meus pés no chão, assim não sofro demais com a queda que está
perto de chegar.
Pego o meu celular quando o sinto vibrar, solto um longo
suspiro ao ver o nome da Alicia piscar. Foi ela a interromper nossos
encontros, deixou bem claro que tudo acabou, respeitei seu pedido,
só que nas duas últimas semanas ela parece ter mudado de ideia.
Não aceito a ligação e guardo o aparelho, enquanto eu puder
ter meus encontros com Ambra, eu não estou interessado em
nenhuma outra mulher.
Parecendo sentir que a observo ela me encara, meus olhos
caem para sua boca, o que me faz lembrar da noite anterior, quando
ela me enlouqueceu e recebeu meu gozo em sua boca sem maiores
dificuldades.
Naquele momento eu quase perdi a cabeça e a fiz minha,
mas com muita dificuldade consegui me controlar e frear meus
instintos.
A minha irmã chama sua atenção, elas cochicham algo e em
seguida levantam avisando que vão ao banheiro.
Aproveito que Elena está falando sem parar no ouvido do
Augusto e admiro a bunda da Ambra no vestido curto, que revela
suas pernas esguias.
Linda pra caralho!
O melhor é saber que em poucas horas eu estarei sozinho
com ela, mais uma vez dando-lhe um belo orgasmo.
Mais uma vez meu celular toca e eu rejeito a chamada, se
Alicia me ligar de novo, terá seu telefone bloqueado, odeio que
insistam em algo que eu não quero mais.
Parecendo querer fugir da minha irmã, Augusto puxa assunto
comigo, eu me distraio conversando com os dois, até que olho para
frente e vejo dois homens interceptando as meninas, um deles diz
algo que faz minha irmã se retrair e segurar o braço da amiga.
Já Ambra parece não se intimidar e fala algo para o merda,
que apenas sorri e toca uma mecha do seu cabelo, a fazendo recuar
tentando fugir do seu avanço.
Que merda! Acabou o sossego da noite.
— Augusto, vamos resolver um problema. — Levanto-me.
— O que foi?
— Temos que conversar com dois idiotas que não sabem
como tratar uma mulher.
Ele olha para trás, captando o exato momento em que um
dos homens segura o braço da minha irmã.
— Que maravilha, vamos quebrar alguns dentes hoje — diz
feliz ao se levantar. — Fique quietinha aqui, senhorita faladeira,
tente não aprontar nada.
Elena resmunga, mas não presto atenção, estou focado nos
dois malditos que ousaram tocar no que não deviam.
— Solte-as — ordeno ao me aproximar.
— Quem é você? — um deles pergunta.
— O homem que vai quebrar seu nariz. — O seguro pela
camisa empurrando-o para trás, que tropeça chamando atenção das
pessoas que estão perto do bar e do palco, o que inclui a cantora
que para até de cantar. — Está tudo bem — falo à artista enquanto
seguro o desgraçado. — Continue cantando. — Meus olhos vão
para minha presa. — Agora eu e você teremos uma bela conversa.
— Começo a arrastá-lo para o corredor que leva à parte de acesso
aos funcionários do bar.
— Vocês voltem para a mesa e nos esperem, não
demoraremos. — Escuto Augusto falando a minhas costas.
Alguns funcionários nos olham temerosos, eles sabem
exatamente quem somos, assim como sabem que não devem se
intrometer em qualquer coisa que iremos fazer.
— Ei, cara, vamos com calma, não fizemos nada fora do
normal com as garotas, só queríamos pagar uma bebida — o infeliz
fala quando alcançamos a porta que nos leva à rua. — Prometo que
eu e meu amigo não iremos nos aproximar delas, não sabíamos que
estavam acompanhadas.
— Você tocou no que não devia e ainda insistiu quando não
foi bem recebido.
— Não fiz nada demais.
— Isso porque eu cheguei há tempo. — Assim que termino
de falar dou um soco no seu nariz, ele tomba para trás gritando e
colocando a mão no lugar onde o acertei. — Neste estabelecimento
preste bem atenção de quem se aproxima, aqui existem mulheres
inacessíveis e as duas que você tocou fazem parte desse grupo. —
Seguro sua camisa e o faço me encarar. — Cai fora daqui junto do
seu amigo, ou irei além do que apenas te dar um soco. — Encosto o
cano da minha arma no seu queixo e o sinto estremecer.
— Vão embora. — Ouço a ordem do Augusto.
Olho para o lado e vejo o outro homem de joelhos, com
dificuldades para respirar.
— Vocês são loucos. — Ele ergue-se e dá um passo atrás
apoiando a mão contra o estômago.
— Some daqui. — Liberto o desgraçado a minha frente e vejo
os dois correrem para longe apavorados.
— Que babacas, não teve graça os intimidar.
— Não era para ser divertido, Augusto, só um alerta. —
Guardo minha arma dentro da jaqueta de couro. — Vamos voltar,
não quero que as garotas fiquem sozinhas por muito tempo.
Retornamos ao bar e encontramos o movimento normal, as
pessoas parecem não terem se importado com o pequeno show que
demos, já as meninas nos olham apreensivas.
— Eles ainda estão vivos? — Elena pergunta baixo.
— Claro que sim — respondo ao me sentar. — Só tivemos
uma conversinha.
— Coisa rápida. — Augusto sorri. — Gostaria que fosse uma
conversa longa.
— Eles só foram um pouco invasivos, mas eu poderia dar
conta dos dois — Ambra diz ao erguer o nariz toda confiante.
— Não duvido disso. — Troco um olhar rápido com ela. —
Mas estamos aqui justamente para resolver qualquer problema. —
Viro o resto da minha dose de uísque. — Só mais uma bebida e
estamos indo embora — aviso.
Está na hora de encerrar a noite, eu quero o meu momento a
sós com Ambra, não aguento mais tê-la por perto sem poder ter
minhas mãos sobre o seu corpo delicioso.

Entro no quarto dela depois de esperar, um longo tempo,


minhas irmãs sossegarem e dormirem. A encontro sentada na
cama, com os olhos focados em mim.
Chegou meu momento, finalmente terei minha parte da
diversão nesta noite. Não digo nada, apenas me sento na borda da
cama e a puxo para meu colo. Nossas bocas unem-se ávidas, assim
como eu, ela está ansiosa pelo nosso encontro.
A suspendo pela cintura e faço-a montar sobre mim, Ambra
geme quando meu pau já duro se acomoda entre suas pernas.
Aperto sua bunda, enquanto intensifico o nosso beijo, desesperado
para sentir seu sabor único.
Ela move a mão pelo meu braço, acariciando meus
músculos, ao mesmo tempo que requebra contra minha ereção. Tão
sacana minha linda garota, ela sabe o que deseja e com isso me
deixa ensandecido para mais uma vez comer sua boceta gostosa.
Tombo seu corpo contra a cama e livro-a da camisola, fecho
minha mão contra um seio, acariciando com o polegar o mamilo
rígido. Espalho beijos contra seu pescoço, permitindo que minha
outra mão vagueie até alcançar o ponto onde a tenho quente.
Afasto o elástico da calcinha para encontrar Ambra
extremamente molhada e inchada. Rosno contra sua boca quando
sinto o seu clitóris duro, implorando para receber meu toque.
Hoje estou com o tesão descontrolado, isso me fez ter uma
ideia mais ousada, que eu espero que ela tope.
— Quero propor algo novo — sussurro contra seu ouvido, no
exato momento em que belisco seu clitóris, fazendo-a ofegar.
— O que seria? — Sorrio da sua curiosidade, Ambra nunca
se intimida quando estamos sozinhos.
— Uma nova posição, onde nós iremos poder nos dar prazer
ao mesmo tempo. — Ela ajeita a cabeça de modo que possa me
olhar, suas sobrancelhas estão unidas, mostrando o quanto está
confusa com minha proposta.
— Como assim? — Sua inocência é estimulante, fico
excitado imaginando tudo o que posso ensiná-la.
— Você ficará por cima de mim — digo ao rolar para o lado e
retirar o short e boxer. — Eu vou comer gostoso a sua boceta,
enquanto você fica com acesso livre ao meu pau. — Ela me encara
ainda confusa.
— Ainda não entendi a dinâmica.
— Tira essa calcinha, monte em cima de mim com a bunda
na direção do meu rosto.
— Amaro... — Ela fica com as bochechas vermelhas.
— Somos um casal, não precisamos ter vergonha um do
outro.
— Casal? Tem certeza disso?
— Absoluta. — Acaricio seu seio. — Até segunda ordem,
você é minha. — Ambra solta uma pesada respiração, seus olhos
ganham um brilho que identifico de imediato o significado.
Nós estamos perdidamente apaixonados um pelo outro e, eu
não sei o que faço para interromper esse sentimento que só faz
crescer a cada encontro que dividimos.
Ela parece pensar no meu pedido por alguns segundos, até
que retira a calcinha e se posiciona da maneira que eu pedi. Seguro
seu quadril e exponho sua boceta, o brilho da sua lubrificação
endurece ainda mais meu pau, o maior sonho da minha vida era
poder entrar nela e sentir o quanto deve ser glorioso senti-la me
receber.
Porra! Eu preciso ser seu único homem, deve existir alguma
maneira de convencer Dom a me aceitar como seu único
pretendente.
— Faça o que quiser comigo, porque eu sei exatamente o
que vou fazer com essa boceta molhada.
Lambo toda a sua fenda, fazendo Ambra gemer mais alto que
o apropriado. Abro seus pequenos lábios vaginais e me concentro
no botão rosa que implora pela minha língua.
Quando eu começo a chupá-la seu quadril requebra contra o
meu rosto, enquanto sinto sua mão me ordenhar. Espero ansioso
sentir sua boca, não demora muito Ambra corre a ponta da língua
pela cabeça do meu pau, sugando o líquido pré-ejaculatório.
Estar com ela sem gozar igual a um adolescente tarado é
uma missão quase impossível. Se apenas com a boca ela me tira do
eixo, eu não gosto de pensar o que seria de mim se eu pudesse me
enfiar na sua boceta.
Pegamos o ritmo e começamos a nos foder com intensidade,
por vários momentos tive que alertá-la que deveria se conter nos
gemidos, ela resmungou um pouco, mas acabou se segurando.
É foda não podermos expressar o que sentimos, mas dentro
da nossa realidade necessitamos ser precavidos.
Ela sucumbe ao orgasmo antes de mim, rebolando contra
meu rosto, deixando seu gozo escorrer por minha boca. Sugo cada
parte da sua boceta, sedento por sentir o seu sabor inigualável.
Antes de permitir que se afaste, eu enfio a língua na apertada
entrada do seu canal, extraindo da sua abertura os últimos líquidos
do seu orgasmo.
Quando permito que se afaste, ela me encara com um olhar
devasso, seus lábios estão ainda mais rosados e a vontade de
gozar na sua boca é incontrolável.
— Ajoelhe-se, Ambra — dito a ordem com a voz pesada, ao
manipular minha ereção já sentindo meu iminente orgasmo. — Abra
a boca e coloque a língua para fora.
Sem me contestar ela faz o que pedi e a visão dela repleta de
tesão me faz perder o resto de controle que ainda conseguia
manter. Com um rosnado baixo eu me derramo na sua boca,
completamente fascinado quando ela mais uma vez sorve todo o
meu gozo.
O meu coração bate descompassado, perdido com todos os
sentimentos que ela me desperta. A cada vez que eu a tenho, fico
com a certeza de que preciso buscar uma solução segura de mantê-
la comigo para sempre.
— Como estão as coisas por aí? Fiquei sabendo que você
levou as meninas para sair e houve uma intercorrência com dois
homens. — Não me admiro que Dom saiba sobre a noite passada,
ele tem contatos em todos os lugares de Roma.
— Não foi nada demais, só uns palhaços que se
aproximaram da Stefania e Ambra, eu lhes dei um bom recado.
— Muito bom, confio plenamente em você para cuidar da
minha irmã em qualquer ocasião. — Fecho os olhos, me sentindo
um merda por trair sua confiança.
— Eu a protegerei até mesmo com a minha vida, sem querer
desrespeitá-lo, mas Ambra virou parte da família, todos aqui a
amam. — Essa é a mais pura verdade e esse amor também vem de
mim, nunca senti nada igual por uma mulher como eu sinto por ela.
— É muito bom saber disso, Amaro. — Sua voz profunda sai
serena, mas se ele soubesse o que ando fazendo com a irmã,
certamente não estaria tão tranquilo. — Preciso desligar, Massimo
acordou e está chorando, a Gio está no banho e se ouvi-lo chorar eu
estarei encrencado.
— Tenha cuidado — digo sorrindo.
— Prepare-se quando tiver esposa, em casa a nossa vida é
outra, já não somos os líderes.
— Não me amedronte. — Dom solta uma risada e se
despede.
Guardo o celular e encaro o jardim, nunca esperei entrar
nesse tipo de confusão, eu não deveria ter tocado em Ambra, agora
me sinto um viciado sem forças para me afastar dela.
— Ai droga! — Giro o rosto quando ouço o barulho logo atrás
de mim.
— Você se machucou? — pergunto preocupado ao ver
Ambra pulando ao levantar o pé.
— Só dei uma topada com o dedinho no móvel, tá doendo
demais, que merda.
Aproveito o momento para tocá-la e acomodo seu corpo entre
meus braços levando-a para o sofá. Quero verificar se não houve
nenhum dano maior, uma simples topada pode causar uma fissura
no osso.
— Deixe-me ver se não foi mais grave.
— Caramba, Amaro, vai mais devagar — ralha comigo
quando seguro seu dedo. — Isso está doendo muito. — Ergo os
olhos até seu rosto e a veja mordendo a parte interna da boca.
— É só a dor do momento, está tudo bem, vou pegar um
gelo.
— O que está acontecendo? — Meu pai pergunta ao me ver
ajoelhado à sua frente, com o seu pé em cima da minha coxa.
— Ambra tropeçou em um móvel, vou pegar um pouco de
gelo para não inchar.
— Eu faço isso, fique com ela.
Aproveito a oportunidade e massageio seu pé, ela me lança
um olhar cheio de malícia, infelizmente estamos no meio da manhã,
teremos que esperar o dia todo para poder ficarmos sozinhos.
Algo me diz que este domingo será longo.
— Seu irmão ligou, ele já soube do que aconteceu ontem. —
Seus olhos se expandem.
— O que ele falou?
— Nada demais, apenas me agradeceu por cuidar de você.
— Faço uma careta ao dizer essas palavras, é foda estar passando
por esta situação.
— Amaro sei que... — ela para de falar quando meu pai
retorna para a sala ao lado da minha mãe trazendo um saco de
gelo.
— Meu anjo, coloque logo esse gelo, vai aliviar rapidinho a
dor, depois vou passar um gel anestésico, nunca deixo faltar aqui
em casa, porque Pasquale vez ou outra apronta algo. — Minha mãe
como sempre é superprecavida.
— Obrigada, mas foi só uma leve batida, vai ficar tudo bem.
— Não vamos arriscar — papai diz ao me entregar o saco de
gelo.
Seguro o gelo contra seu dedo e Ambra resmunga, enquanto
minha mãe já vai providenciar o tal do gel. Meu pai se afasta e some
na direção dos fundos, me deixando sozinho com ela.
— Se você achar que pode ter sido algo mais grave quero
que me avise, te levo na emergência para tirar um raio X.
— Não será necessário.
— De qualquer maneira quero que fique atenta se vai doer,
você está sob a minha responsabilidade.
Ela não comenta nada, foca um pouco acima do meu ombro.
Analiso com calma a mudança na sua postura, ela está tensa e não
é por causa do pé.
— Eu queria que toda dor que sinto fosse como esta do pé,
ao menos eu sei que em algumas horas será apenas um incômodo,
não uma espécie de cratera que só cresce dentro do meu coração.
— Ambra, não fala assim.
— E como devo falar? — Seus olhos me encaram queimando
de frustração.
— O gel está aqui, assim que acabar com o gelo coloque
isso, meu filho, vai melhorar rapidinho.
Praguejo por dentro por sermos interrompidos por minha
mãe, eu queria ter um tempo a sós com ela, sem o temor de que a
qualquer momento alguém vá nos interromper. Estou cansado de
pisar em ovos quando estamos juntos, se eu não me segurar vou
acabar explodindo e fodendo tudo.

Encerro o jogo e estico os braços acima da cabeça, olho as


horas antes de me erguer e sair da sala. Espero que tudo esteja
tranquilo no andar de cima, à tarde pedi à Ambra para dizer às
minhas irmãs que iria dormir mais cedo. Só assim elas a deixam em
paz e sobra mais tempo para ficarmos juntos.
Depois de hoje não sei quando poderemos nos ver, vou ter
que bolar algo para fazê-la dormir aqui o mais rápido possível.
Sorrio satisfeito quando vejo tudo silencioso, depois de um
dia segurando a vontade de beijar Ambra, eu vou poder tê-la só
para mim.
Passo pelo meu quarto e troco a roupa, coloco apenas uma
calça de moletom e deixo de fora a cueca. Para que vou dificultar as
coisas se tudo o que eu quero é ficar nu o quanto antes?
Verifico novamente se tudo está tranquilo e vou direto para o
quarto dela, abro a porta lentamente, encontro o local iluminado pela
luz suave do abajur.
Identifico Ambra deitada na cama atenta ao celular, ela tem a
manta até o meio do corpo e seu cabelo está espalhado por todo
travesseiro. Fecho a porta com cuidado e me aproximo da sua cama
sem fazer barulho.
Ela está tão absorta ao que vê na tela do celular que não
nota a minha presença, apenas quando eu toco a sua barriga, ao
me inclinar sobre seu corpo, que se sobressalta e move o rosto para
me encarar.
— Que susto! — diz ao perder o equilíbrio do celular que está
na sua mão.
— Está distraída demais. — Pego o aparelho e vejo que ela
assiste algo sobre o antigo Egito.
— Sou fascinada pelas histórias dos antigos faraós. —
Revela ao tomar o celular da minha mão e desligá-lo.
— Que interessante. — Ergo sua manta e entro debaixo dela.
— Como está seu pé?
— Só um pouco dolorido.
— Tem certeza? Não quero que volte para casa com algum
problema. — Seguro-a bem perto do meu corpo e beijo seu
pescoço.
— Eu estou realmente bem, Amaro. — Ela apoia a mão no
meu braço.
— Isso é bom — Beijo seu queixo. — É a nossa última noite
juntos, eu quero aproveitar bem.
— Nossa... a maneira que você falou parece até que nós não
nos veremos mais. — Subo a mão por baixo da sua camisola,
parando quando alcanço sua bunda.
— Não seja exagerada. — Mordo seu lábio inferior. — Eu só
estou puto por saber que não tenho data para te reencontrar. —
Lambo seus lábios, em seguida eu os beijo suavemente. — É
exagerado afirmar que quero te ver todos os dias?
Ambra anda extraindo de mim um lado que até então não
conhecia, a necessidade de estar com ela é insuportável.
— Eu quero o mesmo que você — afirma ao apoiar a mão no
meu rosto. — Me beija? — pede ao enroscar as pernas entre as
minhas.
Se ela soubesse que meu desejo era beijá-la todos os dias, a
cada segundo que eu sentisse vontade.
Acato seu pedido e uno nossos lábios, ela os abre para a
entrada da minha língua. Subo sobre seu corpo e deixo a minha
mão vagar ao longo dele.
Cada uma das minhas terminações nervosas ganham vida, o
meu pau começa a ficar duro ansiando por seu toque.
Com o intuito de me enlouquecer ela abre as pernas e as
cruza na minha cintura, me dando total acesso a sua intimidade.
Ergue o quadril buscando pela minha ereção, se esfregando
despudoradamente em mim.
Juro que eu tento ser racional, não me perder e fazer uma
merda, mas ela não me ajuda em nada, Ambra parece saber como
me desestruturar.
Abaixo a alça da sua camisola, revelando seu seio com o
bico eriçado. Tomo-o com volúpia, fazendo com que ela solte um
gemido trêmulo, no segundo que prendo o bico entre os dentes
puxando-o lentamente.
Ela apoia a mão contra a minha cabeça, remexendo embaixo
de mim, buscando contato com a minha ereção. Seguro suas
pernas e as afasto, em seguida jogo a sua calcinha para o lado
procurando seu nervo pulsante.
Toco-o com um leve resvalar do dedo, friccionando com
pouca intensidade. Ambra geme e quebra nosso beijo, ofegando
quando eu coloco mais pressão. Desço mais um pouco os dedos
molhando-os com sua lubrificação, em seguida volto para seu
clitóris e o rodeio sem pressa.
— Você não tem ideia de tudo o que eu queria fazer agora —
digo contra seu ouvido. — É um esforço surreal me conter quando
estamos juntos.
— Eu sou sua, Amaro, não me importo com o que deseja
fazer agora. — Olho-a com as sobrancelhas contritas, ela não tem
ideia do que acaba de falar.
Não digo nada, apenas deixo-a nua e me perco no seu corpo,
beijo cada parte de pele exposta e, quando chego no seu sexo, eu
abro suas pernas e tomo sua boceta com fome.
Cada vez que ficamos juntos eu me sinto menos satisfeito,
não consigo mais me saciar apenas provando-a, preciso possuir
Ambra, sentir seu calor me envolver, tomá-la por inteiro, mostrar que
ela é só minha.
Esse meu sentimento de posse é assustador, nunca quis
nada parecido com outra mulher, mas com ela eu sinto uma
necessidade imperativa de saber que ninguém irá tocá-la.
Volto a beijá-la e sinto suas mãos fincarem no elástico da
minha calça e puxar a peça com pressa, até que a ajudo e jogo-a
para longe. Ela rodeia a mão pequena na minha ereção, circulando
vagarosamente a cabeça do meu pau, fazendo-o pulsar com desejo.
Sorrio quando vejo seus olhos brilhando de tesão, ela é
naturalmente sexy, esse seu lado sacana me atrai profundamente.
— Abra mais as pernas — peço contendo minha ansiedade.
Controlo a voz que grita que meu próximo movimento é um
erro e me apego apenas ao tesão que me consome. Seguro o meu
pau o centralizo entre as dobras da sua boceta, a umidade dela me
causa um arrepio, basta um leve empurrão para começar a penetrá-
la sem muita dificuldade.
Aperto os olhos, buscando meu mais profundo controle.
Deslizo meu pau por toda a sua extensão, deixando-o
completamente molhado. Ambra apoia as mãos na minha bunda e
requebra a cada vez que roço meu pau nela.
É a primeira vez que faço isso, tudo ao lado de Ambra se
torna único, ela consegue me causar as melhores sensações da
minha vida.
— Use suas mãos para envolver toda sua boceta no meu
pau, vamos tentar mais uma vez algo novo.
Nossos olhos se cruzam, vejo o quanto meu pedido a excitou,
Ambra nunca recua quando estamos experimentando nossas
aventuras sexuais.
Fazendo exatamente o que pedi ela aperta a carne lubrificada
da boceta ao redor da minha ereção. Começo a me esfregar nela,
dedicando um tempo prazeroso no seu clitóris, rodeando a cabeça
do meu pau nele.
Ambra morde o lábio e geme, movendo o quadril na mesma
sincronia do meu corpo. Suor começa a brotar pela minha testa, eu
estou no limite, buscando os últimos resquícios da minha sanidade.
— Amaro, eu quero mais — pede com certo desespero. —
Eu preciso sentir você, me faça sua.
Nossos olhos se cruzam e o desejo me cega por alguns
segundos, deixo meu pau escorregar um pouco e sinto a delicada
abertura da sua boceta pulsando contra mim. A sua umidade é um
convite para que eu a penetre, basta um leve empurrão para
escorregar para seu interior e marcá-la para sempre, deixando
aberto um caminho para que sua família permita nosso
relacionamento.
Só que eu não posso fazer isso com ela, muito menos com
Dom, a minha própria família e Paolo, este último que me levou a ter
uma nova vida. Se eu a tomar agora, trairei as pessoas que
confiaram e mudaram a minha vida.
Não quero que Ambra seja de mais ninguém, porém não
posso reivindicá-la da maneira errada. Preciso lutar por ela de forma
justa ou abrir mão por saber que nunca vou estar a sua altura.
É difícil tomar uma decisão sensata quando seu pau está
babando de tesão, mas eu fui treinado pelo melhor e, enfrentar um
desafio está na minha essência.
Jogo o corpo para trás abruptamente, sentando-me na cama
e afundando as mãos contra o rosto. É loucura tudo que anda
acontecendo, não podemos mais seguir adiante, uma hora eu não
vou raciocinar e foderei tudo na vida dela.
— Amaro, o que houve? — Sua mão toca meu ombro. — Eu
fiz algo errado?
Suspiro fundo, procurando acalmar todas as emoções que
me dominam, boa parte delas não são louváveis.
— Você não fez nada, mas eu quase fiz. — Encaro seu rosto.
— Estamos perdendo o controle, Ambra, isso não está certo,
precisamos parar. — Imediatamente a mágoa se espalha por seu
rosto.
— O que está querendo dizer?
— Estamos passando dos limites, uma hora eu não vou
conseguir me conter e eu não posso trair Dom, ele confia em mim e
você tem seu destino traçado, eu não estou nele. — Essas palavras
saem arranhando a minha garganta. — Tudo o que experimentamos
até hoje não será algo que te prejudicará, mas se eu for adiante, sua
honra será destruída.
Ela se afasta, com uma expressão de mágoa, parece que
recebeu uma bofetada.
— Está me dispensando? — pergunta com a voz trêmula.
— Só estou sendo racional e te protegendo. — Seu
semblante fica duro.
— Não preciso da sua proteção — diz rapidamente. — Só
preciso que você me diga o que sente por mim, só assim eu vou
poder traçar os próximos passos para buscar uma alternativa de
mudar meu futuro.
Nossos olhos se encontram e vejo uma determinação inédita
brilhar nos dela. Ambra parece certa do que fará, mas eu bem sei
que ela não pode ir muito além, muito menos eu, estamos em polos
opostos, ela é como uma princesa e eu o plebeu fodido.
— No nosso mundo não existe sentimento e sim regras —
digo ao me levantar e pegar minha calça. — Nessas regras quem
não tem um nome de valor não pode interagir com a alta cúpula. —
Um amargor se espalha pela minha boca. — Você está no topo da
pirâmide.
— Eu estou aqui com você, é o único lugar que quero estar.
— Seus olhos ficam marejados e eu me quebro por dentro.
— É o lugar que sua família não permitirá que fique, ainda
que esse não seja o nosso desejo. — Apoio a mão contra seu rosto.
— Somos prisioneiros, Ambra e, infelizmente, não temos muito o
que fazer. — Roço meus lábios nos seus. — Vá dormir, anjo, hoje foi
uma noite difícil para nós dois, precisamos de um tempo, esfriar a
cabeça faz bem. — Beijo sua testa.
— Não vá, Amaro — pede com a voz chorosa.
— Eu preciso ir, meu amor, é melhor para nós.
Sem mais palavras saio do quarto e metade do meu coração
fica com ela, pois sei que depois desta noite não existe possibilidade
de um novo encontro, eu não sou capaz de resistir ao que sinto e
não é justo eu estragar a sua vida e, no meio disso, trair a confiança
do seu irmão.
Duas semanas depois

— Eu conheci alguém. — Leo anuncia ao entrar na sala com


uma garrafa de vinho na mão.
Hoje amanheci desanimada, depois do meu último encontro
com Amaro, onde achei que ele me tomaria para si, ele se afastou
de mim dizendo que não poderia ir adiante. Desde aquela noite tudo
mudou, um abismo se abriu entre nós e, por mais que eu tente, não
consigo mais me aproximar dele.
Liguei para ele várias vezes, acho que me atendeu apenas
duas, foi educado como sempre, mas não existia aquele calor na
sua voz que eu estava tão acostumada. O mesmo aconteceu com
nossas mensagens, elas foram diminuindo com o passar dos dias
até cessar completamente.
Cheguei a insistir para nos vermos, mas ele sempre
inventava desculpas que envolvia seu trabalho. O seu
distanciamento me mostrou que nada do que vivemos teve qualquer
significado para ele, por isso parei de ligar e recusei o convite da
Stefania para passar o final de semana na sua casa.
Não quero ter que ficar perto dele sem poder tocá-lo, seria
demais para mim. Estou me sentindo magoada, raivosa e perdida.
Sei que estamos dentro de uma situação difícil, porém se ele
estivesse disposto poderíamos enfrentar todos os desafios juntos.
— Você foi assaltar a adega do meu marido? — Gio
questiona com as sobrancelhas unidas.
— Claro, mio amore, o bonitão nunca irá beber todos aqueles
vinhos, precisa dividir com os pobres. — Ele vai ao bar da sala e
pega três taças. — E pare de controlar minhas bebidas, está pior
que Paolo.
— Qualquer dia desses meu marido coloca tranca na adega
— Masha comenta ao entregar um copinho com água para a filha.
Caterina brinca no tapete da sala, empolgada com os
pequenos blocos coloridos. Ela é muito fofa, tem a mistura perfeita
entre os pais, o seu cabelo ruivinho é o que mais gosto, chama
atenção por onde passa.
— Aquele mafioso não seria capaz disso. — Leo me serve o
vinho, em seguida leva o da Masha. — Sei que ele joga baixo, mas
não acredito que desceria até o subterrâneo por conta de uma
simples garrafa de vinho.
— Pelos vinhos raros dele que você rouba sem pudor, pode
apostar que Paolo vai bem longe. — Leonardo faz uma expressão
de perplexidade.
— Parem de discutir, quero saber quem Leo conheceu. — Ele
me olha sorrindo.
— Eu conheci o amor da minha vida.
— Esse é o décimo amor do ano? — Giovanna pergunta ao
dar tapinhas no bumbum do filho que brinca com o cordão da mãe
enquanto é amamentado.
— Você não era debochada assim, o que aconteceu?
— Foco, Leo, conta logo. — Chamo sua atenção.
— Então... — Ele se senta na poltrona e cruza as pernas. —
Ele é o responsável pelo setor publicitário do time de futebol da
Roma, o bofe é lindo demais, já quero casar e ter muitos filhos.
— Poxa, Leo, que legal, eu espero que vocês se acertem. —
Sou sincera nas minhas palavras, não é porque minha vida está
completamente desalinhada, que eu vou invejar a felicidade alheia.
— O melhor vocês não sabem. — Todas o encaramos
curiosas. — Ele é filho de um legítimo mafioso.
— O quê? Ele faz parte do clã? — Masha arregala os olhos.
— Não faz parte do clã porque é um bastardo, mas se ele é
filho de um mafioso, eu também o considero como um.
— E quem é o pai dele? — dessa vez é Gio quem pergunta.
— Aquele Mattia do Conselho que o Paolo odeia. — Arregalo
os olhos em choque, esse homem é intragável.
— Esqueça esse novo amor, Leonardo, se é filho do Mattia
não presta. — Masha retorce o nariz.
— Ele não se dá bem com o pai, sabe como é, homens da
máfia não gostam de gays e, o Otavio é avesso a violência.
— Não podemos generalizar, Paolo é filho de um monstro e
ele não é como o pai — digo à Masha. — Assim como Dom.
— Nisso a minha cunhada tem razão. — Gio coloca Massimo
contra seu ombro.
— Exatamente. — Leo bebe um pouco do vinho. — Pare de
destruir meu sonho de ter um mafioso para chamar de meu. Não é
só vocês que podem ter esse privilégio.
— Leonardo, ele não é mafioso, você acabou de dizer que
sequer se dá bem com o pai — Masha diz o óbvio.
— É como se fosse para mim e isso é o que importa. — Eu
nunca vi uma pessoa querer tanto ter um namorado dentro da máfia.
— Só me deixa ser feliz rainha do clã, eu já perdi Dom, perdi Amaro
e não vou perder Otavio, mesmo ele sendo filho do desafeto do seu
marido.
— Perdeu o Amaro para quem mesmo? — Giovanna
pergunta sorrindo. — Não sabia que ele havia se comprometido,
Dom não me disse nada.
— Bem... — Leo me lança um sorriso travesso deixando meu
corpo tenso. — Pela maneira que ele olhava para Ambra naquele
desfile que fomos, eu entendi que minhas chances acabaram de
vez, o gostoso está caidinho pela solteira mais cobiçada do clã.
— O Amaro está interessado em você? — Gio me olha de
boca aberta.
— Eles formam um casal perfeito. — Leo não me deixa
respondê-la. — Mesmo que eu sinta ciúmes, tenha inveja, queria
devorar cada parte daquele corpo tatuado e sarado, não posso
negar que os dois juntos seria tudo de bom. O seu marido,
Giovanna, também gostoso, preciso deixar isso claro. — O sem-
vergonha a provoca. — Deveria pensar na possibilidade de unir os
dois. Ela vai ter que se casar mesmo, então que seja com um
homem que você necessite louvar todos os dias por ser o seu
marido. — Ele coloca um dedo contra os lábios pensativo. — Acho
melhor rezar todos os dias, de joelhos, na frente do maridão. — Sua
boca se retorce em um sorriso malicioso.
— Leonardo respeita a Ambra, ela ainda é inocente, não
precisa saber de toda a sua devassidão. — Masha parece que vai
pular no pescoço dele.
O meu rosto esquenta, não pelo que Leo falou, mas por eu
estar longe de ser inocente, se não fosse o recuo do Amaro, nem
mesmo virgem eu seria.
— Por San Genaro! Ela tem celular, pode ver filme de putaria
igual você via antes de dar essa boceta ruiva para o Capo, estamos
no século XXI, não na idade média, ainda que essa merda de máfia
tenha tradições arcaicas.
Prendo à vontade de sorrir, apesar de ele me colocar em uma
situação difícil, não consigo deixar de me divertir com a briga deles.
— Controle a sua boca porque Caterina está aqui.
— A mafiosinha está distraída.
— Ambra, por acaso Amaro já se insinuou para você? —
Giovanna me pergunta e eu fico sem saber o que falar, não posso
revelar o que aconteceu entre nós, ela pode contar a Dom e eu
temo pela reação dele.
— É... — Gaguejo, tentando encontrar as palavras certas.
— Eu não vou me intrometer nisso, quero que aqueles
merdas se fodam. — Respiro aliviada quando Paolo e Dom entram
na sala. — Tenho mais o que fazer, porra! — diz ao seu Consigliere
abrindo os braços demonstrando toda sua irritação.
— Quanta paciência, você devia ter aulas de meditação
poderoso chefão. — Leo coloca mais um pouco de vinho na sua
taça.
— Eu deveria era me livrar da sua presença. — Paolo rosna,
antes de sorrir quando a filha se lança em seus braços.
— Papa chegou! — ela diz ao rodear os bracinhos por seu
pescoço ao ser içada em seu colo.
— Como está minha pequena bambina? Você se comportou?
— Ele dá um beijo na sua bochecha.
Uma pessoa comum veria a interação deles como um carinho
normal entre pai e filha, mas quando se nasce dentro da máfia,
presenciar esse tipo de cena, vinda em especial do Capo, é algo
para se assustar.
Meu pai nunca teve um momento de afeto comigo, ele me
ignorava boa parte do tempo, o que para mim era bom, mas quando
decidia me notar, eu entrava direto no inferno.
— Perdi mais um vinho para você, Leonardo? — Dom beija a
esposa, em seguida toma Massimo nos braços.
Ao passar por Masha afaga seu cabelo, quando se aproxima
de mim beija a minha testa.
— Não resisto a sua adega, você tem muito bom gosto para
vinho, melhor que seu chefe. — Leo ergue a taça na direção do meu
irmão. — Por que também não recebo um beijo?
Domênico não o responde, apenas dá as costas e vai brincar
rapidamente com Caterina que sorri toda animada com a atenção
que recebe do tio.
Mantenho a tensão, com medo da Gio voltar ao assunto do
Amaro. Respiro aliviada quando Masha fala sobre o novo amor do
Leo. Os meninos se interessam pelo assunto e, no final, Paolo
afirma que Mattia tem vários filhos bastardos e que a maioria não
suporta o pai.
Tento me manter à margem da conversa, não quero ser
notada para não correr o risco de chamar a atenção e Amaro voltar
a ser o assunto.
No momento que minha cunhada anuncia o jantar, Dom se
aproxima de mim e apoia a mão na minha cabeça, me encarando
com certa apreensão.
— Sei que prometi te dar um tempo, mas recebi um convite
de Cosimo Di Angeli para um jantar na casa dele, acho que você
sabe que ele é um membro ilustre do clã, não pude recusar, o seu
filho Renzo está atrás de uma noiva, o pai quer te apresentar ao
rapaz.
Começo a tremer, conheço a família, eles são poderosos e
possuem muito prestígio. Renzo parece ser uma pessoa tranquila,
nunca ouvi boatos dele sendo um sádico como meu pai, ainda
assim eu me sinto apavorada com a possibilidade de ele fechar um
acordo para um possível futuro casamento.
— Tudo bem. — Não tenho o que fazer além de aceitar esse
jantar.
— Fique tranquila, é apenas um jantar, desarme-se, você
pode gostar do Renzo.
Apenas aceno concordando com sua fala, se eu iniciar uma
discussão, acabarei chorando e revelando mais do que posso.
Preciso seguir o fluxo, já entendi que Amaro não quer uma briga por
mim. Dói chegar a esta conclusão, mas eu estou acostumada a ser
ferida pela vida, vou enfrentar o que está por vir, como sempre
enfrentei desde que compreendi o mundo cruel em que nasci.
***
— Vai me dizer o que está acontecendo? Você anda tão
melancólica, sempre calada e distante da realidade.
Suspiro fundo, por mais que eu ande tentando me segurar,
está difícil controlar todos os meus sentimentos, quando o dia do
jantar se aproxima.
Amaro sumiu de vez, o que sei dele são pequenas notícias
que Stefania solta. Há dois dias ela e a irmã passaram a tarde
comigo na minha casa, quando saímos da faculdade.
Elena soltou que Amaro anda saindo com os amigos,
chegando sempre tarde e saindo cedo. Foi difícil me segurar ao
saber que seguiu adiante sem maiores problemas, enquanto eu
estou aqui, sofrendo por não poder estar com ele e revivendo
repetidamente cada segundo que estivemos juntos.
— A minha cabeça não está boa. — Não é mentira, mas está
longe de chegar perto da verdade. — Sábado tem o tal jantar com
os Di Angeli, eu estou tensa, não sei como as coisas irão acabar.
— Eu queria tanto te ajudar. — Ela enrosca o braço no meu.
— A sua amizade tem sido a melhor ajuda que posso ter,
obrigada por sempre estar comigo. — Stefania encosta o rosto no
meu ombro sorrindo.
No meio do caminho até onde nossa segurança nos espera
topamos com o Fabio, que está com o braço nos ombros de uma
garota. Cumprimentamos os dois, ele faz as apresentações e
descobrimos que ela está no terceiro período e é americana. A
garota é simpática, conversa animadamente conosco e, antes de se
afastar, nos convida para um encontro que irá acontecer com alguns
estudantes na sexta à noite.
Agradecemos a gentileza, mas nenhuma de nós duas
comparecerá, mesmo querendo muito participar do evento. Nem
mesmo podemos ser universitárias comuns, até isso a máfia nos
tirou.
— Será que agora ele esquece você?
— Ainda que não esqueça eu não me importo. — Interrompo
meus passos quando noto a presença do Amaro encostado no
carro, com os braços cruzados.
Será que chegará o dia em que o verei sem sentir meu
coração acelerar?
— Você por aqui a esta hora é uma grande surpresa. —
Stefania diz sem perceber a tensão flutuar pelo ar. — Anda sempre
ocupado.
— Hoje o dia está mais calmo. — Mesmo ele estando com os
óculos escuros, eu sei que seus olhos estão mim. — Tudo bem,
Ambra?
Infelizmente não consigo deixar de sentir minha pele se
arrepiar com o meu nome deslizando por seus lábios. Parece que
faz tanto tempo que nos vimos, eu sinto uma falta imensa de poder
estar dentro dos seus braços.
— Tudo ótimo. — Não vou demonstrar o quanto meu coração
está quebrado por ele impor essa distância entre nós.
— Entrem no carro — ordena ao descruzar os braços e
ajeitar a postura.
— Infelizmente não vou poder ir com vocês, tenho
compromisso.
— Com quem? — ele pergunta como se tivesse direito de
saber sobre a minha vida.
Ao longe vejo o carro da minha mãe parar e um dos
seguranças sair.
— Minha mãe chegou. — Ergo o queixo na direção do seu
veículo. — Preciso ir, vou comprar a roupa ideal para o jantar com
os Di Angeli — digo sentindo um amargor se espalhar pela minha
boca. — Nos vemos amanhã, amiga.
— Você é forte, fique calma — Stefania diz ao me abraçar.
Não olho mais para o Amaro, sigo até o carro da mamãe com
passos pesados, sem nenhuma vontade de comprar roupa para um
jantar que não quero ir.
— Por que não chamou a sua amiga para ir conosco? —
minha mãe pergunta quando me acomodo ao seu lado.
— O irmão veio buscá-la. — Descarto a minha bolsa junto do
material da faculdade entre nós duas.
— Filha. — Ela toca a minha mão. — Eu fico aflita te vendo
tão triste.
— Só vamos fazer o que é preciso.
Olho através do vidro segurando à vontade de chorar, só que
nenhuma das minhas lágrimas irá mudar meu destino, por isso me
controlo e limpo a minha mente de todos os meus problemas.
Passo a mão pela nuca na inútil tentativa de me acalmar,
estou parecendo uma bomba-relógio, pronto para explodir e destruir
tudo ao meu redor.
Mergulhei de cabeça no inferno desde a noite que deixei
Ambra, decidido a me afastar dela. Naquele momento eu acreditei
fortemente que era o certo a fazer. Foram duas semanas me
mantendo longe dela, evitando suas ligações e mensagens. Não por
eu ser um covarde, mas porque eu sabia que não deveria incentivar
qualquer ilusão sobre nós.
Um corte abrupto de comunicação na minha mente seria algo
bom para os dois. Ela entenderia que eu não vou dar
prosseguimento aos nossos encontros e, eu não cairia em tentação
de tocá-la novamente.
Tudo estava seguindo o programado, ainda que todos os dias
eu tivesse que lutar terrivelmente para não pegar a merda do celular
e ligar para ela, porém a minha queda foi quando ouvi Dom
comentar que Cosimo Di Angeli queria aproximar o filho de Ambra.
Saber daquela notícia me desestruturou completamente,
porque conheço a família e sei que o filho mais velho do Cosimo
pode ser o escolhido dela. Renzo é uma pessoa de reputação
dentro da máfia, bom lutador, tem uma aptidão incrível para os
negócios e não tem fama de ser agressor de mulheres.
Ele é um homem tranquilo, sempre solícito e de poucas
palavras. Seria seguro deixar Ambra nas mãos dele, não existe
nada nos Di Angeli que impeça a união dos dois.
Foi ali que eu perdi a cabeça e quase me intrometi na
conversa. Com muito esforço consegui me controlar, no entanto,
minha decisão de manter distância da Ambra foi por água abaixo.
No dia seguinte eu estava largando meu trabalho para buscar
a minha irmã, só para ficar perto da Ambra. Foi estúpida a minha
atitude, sei disso, mas quando se trata dela, simplesmente não
consigo raciocinar.
Olho para Martino já sem nenhuma paciência para suas
mentiras. Ele é filho de um antigo associado, seu pai era italiano e
advogou para vários conselheiros quando vivo, a mãe é uma
espanhola, que abandonou a família para viver com um jogador de
futebol na década de noventa.
Com o abandono da mãe, Martino virou um rebelde e foi
difícil o pai controlá-lo, após o falecimento do velho ele voltou a dar
trabalho e, é justamente por isso que eu estou aqui, no bar dele, que
serve de fachada para o puteiro que gerencia.
Não me importo para seu tipo de negócio, nem por ele ser
uma merda de homem. Pagando o que precisa para meu clã, ele
pode seguir sendo podre que eu não me importo, mas no momento
que ele quebra as regras e expõe a Famiglia, aí é outra situação.
— Eu estou falando sério, aquela vadia pediu um emprego
aqui, eu a coloquei como faxineira, mandei ficar quieta com relação
a tudo o que visse e não fazer perguntas. Ela nunca esteve
trepando com meus clientes aqui dentro.
— Martino. — Inclino o corpo à frente e deixo meus olhos na
altura dos seus. — Ela foi até a polícia te denunciar e eu estou aqui
porque pagamos os tiras para não expor a Famiglia.
— Ela fugiu, aquela piranha ingrata está mentindo.
— Realmente está? — Agora eu o prendo pela nuca. — Fiz
uma rápida pesquisa e descobri coisas interessantes.
Mandei alguns homens virem no seu puteiro nas últimas três
noites e, em cada uma delas, viram meninas jovens demais fazendo
programa. Todas que foram abordadas mentiram a idade, mas
quando pegamos o barman e o levamos para um interrogatório, ele
abriu o jogo e disse que Martino está trabalhando com menores de
idade, vindas do leste europeu.
Esta revelação só comprovou o que a polícia nos falou, a
jovem que conseguiu fugir daqui, ao se esconder em uma caçamba
de lixo denunciou Martino, dizendo que foi traficada até seu
estabelecimento e obrigada a ser uma garota de programa.
— Eu... — ele gagueja. — Não estou mentindo.
Trinco os dentes, puto por ele achar que sou idiota, vou foder
a vida dele, tenho carta branca dos chefes para fazer o que for
necessário e mostrar a todos os outros associados que não
permitiremos insubordinação.
— Amaro, todos já estão reunidos no bar. — Augusto me
comunica ao entrar no pequeno escritório.
— Ótimo, vamos nos divertir. — Olho para Atila, um dos
soldados que me acompanha. — Amarre-o e fique de olho nesse
merda.
Solto-o e saio do escritório com Augusto no meu rastro,
chegamos no bar e todos os funcionários estão reunidos.
Em uma rápida análise identifico cinco meninas com a
aparência muito jovem, com certeza elas fazem parte do grupo das
menores de idade.
— Vamos descobrir logo o que acontece aqui — falo antes de
me aproximar do grupo.
Augusto me acompanha, ele está puto por Martino
descumprir nosso acordo e nos expor às autoridades.
— Quem aqui é menor de idade? — pergunto ao cruzar os
braços.
O silêncio reina, todos parecem incapazes de respirar,
apenas o medo paira no ar. Eles sabem quem somos e se estamos
aqui com um grupo grande de soldados, algo errado está
acontecendo.
— Não vou perguntar novamente.
— Toda a equipe é adulta, senhor, não trabalhamos com
adolescentes. — O gerente tem a capacidade de mentir para mim.
— Jura? — Eu me aproximo dele. — E como uma das suas
putas foi para a polícia afirmando que era explorada sexualmente
aqui desde os quinze anos? — Paro à sua frente. — Ela agora só
tem dezessete. — O homem engole em seco.
— É mentira, todas as meninas daqui podem afirmar que são
maiores de idade. — Ele escorrega o olhar por todas elas, existe
uma recriminação velada nos seus olhos, silenciosamente está
pedindo que confirmem sua afirmação. — Alguém aqui mentiu a
idade para mim ou o chefe?
— Não! — as meninas respondem ao mesmo tempo.
— Viu? Aquela puta é uma mentirosa, está tentando vingança
contra nós, só porque não aceitamos algumas das suas exigências
sobre o trabalho de faxineira.
— Sabe qual é o seu grande erro? — pergunto, recebendo
dele um aceno negativo. — Achar que eu sou um idiota. — Seguro
seu pescoço e o empurro até que tenha as costas contra o balcão
do bar. Saco a arma do coldre e coloco dentro da sua boca, ele
arregala os olhos e começa a tremer. — Quero todas as menores de
idade uma ao lado da outra agora mesmo — grito na direção delas.
— Ou mato ele e, todos vão ter o mesmo destino só pelo fato de
acharem que podem mentir para mim.
Não tiro meus olhos do homem, que agora começa a suar
como o covarde que é. A ausência de movimento me faz destravar a
arma, matá-lo será uma boa distração para diminuir um pouco toda
agitação que está me consumindo.
— Amaro. — O chamado do Augusto me faz olhar para trás,
sem mover um centímetro a arma da boca do bastardo.
Cinco meninas estão enfileiradas, todas me olham com pavor
e eu preciso me controlar para não apertar a porra do gatilho agora.
Respiro fundo, afastando da minha mente a imagem das minhas
irmãs, pensar que elas poderiam estar no lugar dessas garotas, fode
a minha cabeça.
— Quantos anos vocês têm? — Elas me olham nervosas.
— Todas estamos entre dezesseis e dezessete, fomos
sequestradas dos nossos países para trabalhar aqui. — A loira, que
parece ser a mais velha do grupo responde.
— E vocês trabalhavam com Sveta?
— Sim, senhor, ela chegou aqui com quinze anos, assim
como eu.
O ódio cresce dentro de mim, eu não ligo se uma mulher quer
virar puta e ganhar seu dinheiro, mas pegar uma menina, tirar todos
seus sonhos e obrigá-la a se prostituir é nojento, eu tenho duas
irmãs e se fizessem isso com elas, eu teria o coração do filho da
puta sangrando na mesa do meu café da manhã.
Não digo nada, apenas guardo a minha arma e pego o
gerente pelos cabelos o arrastando até uma mesa próxima. Firmo a
mão na cabeça dele e bato sua cabeça contra a mesa sucessivas
vezes, até seu nariz quebrar e ele cair no chão gemendo de dor.
— Hoje o puteiro não abre — digo ao ajeitar meu terno. —
Todas as menores de idade peguem suas coisas que iremos tirá-las
daqui, se mais alguém também quiser ir embora é só seguir as
meninas, eu vou conversar rapidamente com Martino.
Volto para o escritório do desgraçado, dessa vez ele está
amarrado e com o rosto coberto de pavor. Todos sabem as leis que
Paolo impôs a quem trabalha com prostituição. Desde que ele
assumiu a liderança é expressamente proibido recrutar
adolescentes para os prostíbulos. Tudo o que nós não queremos é
chamar a atenção da polícia e pior, da mídia, que pode nos expor
perante os órgãos de imprensa internacional.
— Leve-o para a Van, Paolo o quer no galpão, ele vai ter uma
conversa especial com Martino, quer repassar com ele todas as
obrigações de um associado.
— Não! Por favor não me leve, juro que eu devolvo todas as
meninas diretamente para suas famílias, só não deixe Paolo chegar
perto de mim. — O medo nos seus olhos me faz sorrir.
— Acha que pareço alguém que possui piedade? — pergunto
quando Atila o traz até mim. — Você vai sofrer por acreditar que
pode ludibriar a Famiglia, agora seja homem e receba seu castigo.
Abro a porta do escritório e aguardo meu soldado passar com
ele. Espero que Paolo esteja em um dia bem ruim e coma o rabo
desse filho da puta sem nenhuma piedade.

Agradeço a nova cerveja que o garçom me serve, o barulho


da música no bar me incomoda, mas se eu for para casa tudo será
pior. Vou lembrar dela e de que falta apenas quarenta e oito horas
para o fatídico jantar.
— Você precisa foder um pouco, só assim vai relaxar, anda
estressado demais. — Augusto apoia os cotovelos sobre a mesa. —
Desistiu da Alicia mesmo?
— Esqueça-a, avisei que não quero que me procure mais. —
Já estou com problemas demais, não vou me meter em mais um.
Ela decidiu acabar tudo e foi no momento certo, não tenho cabeça
para lidar com uma mulher apaixonada.
— O que está acontecendo com você? Não consigo mais te
reconhecer, está fechado, sempre emburrado, não é o Amaro
acessível que eu lido desde criança.
— Não quero conversar. — Bebo um pouco da cerveja e
observo as pessoas do bar.
Várias mulheres estão por todo lado, mas nenhuma capta a
minha atenção. A minha mente está completamente poluída por
Ambra, o seu cheiro, seus gemidos, o jeito apaixonado com que me
olha e sua voz doce.
Caralho! Não consigo parar de pensar nela, achei que me
afastando minhas emoções ficariam sob controle, no entanto, o
resultado foi o contrário. Ela dominou de vez a minha cabeça e eu
não consigo pensar em mais nada além do medo dela ser prometida
a alguém.
— Escuta o que vou te falar. — Augusto chama a minha
atenção. — Se gosta dela, aposte alto. Não precisa me dizer com
todas as palavras o que está sentindo, pois eu já saquei tudo.
Desde que Ambra se aproximou das suas irmãs você mudou, no dia
que saímos juntos eu vi como a olhava, é nítido o quanto vocês se
gostam.
— Preciso mesmo te explicar que é impossível acontecer
algo concreto entre nós?
— Como sabe disso? Conversou com Domênico? — Sorrio,
ele só pode estar de brincadeira.
— Augusto, ela está com um jantar marcado com a família Di
Angeli, acha mesmo que o irmão dela vai deixar de comprometê-la
com eles para me dar uma chance? Quem são os Lo Moro dentro
do clã?
— Os Lo Moro são a família do homem que não pensou duas
vezes antes de impedir o estupro da esposa do Consigliere, que por
coincidência também é irmã do Capo. Quer mais prestígio que isso?
Todos te admiram Amaro e sabem o quanto é fiel.
— Tão fiel que por pouco não fodi a irmã do Dom. — Solto
um sorriso cheio de deboche.
— Ao menos você não deixou seu pau dominar a sua mente,
isso mostra o quanto é equilibrado. — Ele dá de ombros. — Você
sabe que não sou de dar conselhos, mas o tenho como irmão. —
Augusto estica o braço sobre a mesa e aperta meu ombro. — Fale
com Dom, o máximo que vai acontecer é levar um soco dele, mas
por ela vale a pena. Se gosta da garota e, é correspondido arrisque-
se, só vivemos uma vez e, a nossa vida, em particular, é fodida
demais para não tentarmos, ao menos dentro da nossa casa, ter um
pouco de paz ao lado de alguém que realmente desejamos estar
juntos.
Não respondo nada, porque de todas as pessoas que
conheço, jamais imaginei ouvir algo assim dele. Augusto é sempre
frio, de pouco contato sentimental, ver esse seu outro lado, é
assustador e ao mesmo tempo reconfortante.
Admiro sua positividade, mas eu não compactuo do seu
pensamento. Sei como funciona as famílias de elite, eles não
aceitam que seus filhos se misturem com qualquer um. Por mais
que a mãe da Ambra tenha tido um casamento caótico, ela segue as
tradições e vai exigir um casamento bem programado para a filha.
Já Dom, pensará, não só no lado da tradição, como na segurança
da irmã.
Eu posso até ser de confiança deles, ter o carinho e respeito
de todos, mas quando se trata de fazer parte da família, aí o
sobrenome fala mais alto, vivo desde cedo no meio do alto clã, sei
como pensam e para eles eu não sou digno de alguém na posição
da Ambra, ainda que hoje eu seja um tenente.
Esta noite eu me sinto como um robô, completamente sem
sentimentos e expressão, apenas seguindo as ordens dos outros.
Passo a mão pela frente do meu vestido quando saio do carro, já
dentro do território dos Di Angeli.
A minha mãe para ao meu lado e afaga as minhas costas, ela
passou o dia tentando me animar, mas eu me joguei em um mundo
só meu, onde o vazio me fez companhia.
Confesso que esperei o dia todo Amaro me ligar ou mandar
mensagem dizendo que iria impedir esse jantar. O meu lado
romântico insistia em acreditar que ele perceberia que somos
perfeitos juntos, que o nosso futuro está entrelaçado. Só que ele
manteve seu silêncio, mostrando que fui apenas mais uma aventura
na sua vida.
Eu deveria odiá-lo, porém fica impossível quando ao seu lado
eu experimentei uma infinidade de sentimentos únicos. Com ele eu
fui apenas a jovem Ambra, a garota que só queria ter uma
oportunidade de possuir o controle do seu destino, ao menos para
escolher com quem deseja passar o resto da sua vida.
— Vamos? — Dom passa a nossa frente segurando a mão
da esposa.
Não digo nada, apenas sigo atrás deles ao lado da mamãe.
Somos recepcionados pessoalmente pelo casal Di Angeli. Tanto o
senhor Cosimo como sua esposa Lucia são extremamente
simpáticos.
Eles nos levam para a sala de estar, onde encontramos seus
cinco filhos, dois são homens e três meninas. Renzo é o mais velho
e possui uma beleza singela.
Seus olhos são pretos, o cabelo castanho com um corte
tradicional e os fios estão aprisionados por uma pomada fixante. Ele
veste um terno escuro, com gravata azul. Seu corpo é esguio, a
barba é rala e o seu semblante está tenso.
Seus olhos fixam-se em mim, mas não é nada sexual, ele
parece apenas me avaliar minunciosamente. Já nos vimos em
festas, mas apenas nos cumprimentamos rapidamente.
As apresentações são feitas seguindo a formalidade, todos
são extremamente receptivos, quando chega o momento de falar
com Renzo, ele se aproxima com os olhos fixos em meu rosto.
— É um prazer imenso recebê-la na nossa casa.
— Obrigada, o prazer é todo meu — minto, essa é a minha
função, eu preciso ser doce e submissa.
Ele me lança um discreto sorriso, antes que nos
acomodemos nos assentos que nos são oferecidos.
Meu irmão e o senhor Di Angeli coordenam as conversas,
eles falam sobre futilidades, assuntos do clã que não me interessam
em nada. Acompanho tudo silenciosa, apenas respondo o que me é
perguntado.
Tento ao máximo ser agradável, não quero aborrecer a minha
família, muito menos parecer desrespeitosa com os anfitriões.
Uma das irmãs do Renzo puxa assunto. Patrizia é
comunicativa e começa a me perguntar como é estar na
universidade. Ela vai completar dezoito anos e pelo que me conta
tem a esperança do pai permitir que também possa cursar o ensino
superior.
Gosto dela, é uma menina cheia de energia e carismática. O
nosso papo flui com tranquilidade, ainda que por dentro eu só
deseje sair daqui o quanto antes.
Um tempo depois Renzo vem até mim e pede para conversar
comigo, peço autorização ao meu irmão, que me encara longamente
antes de permitir nossa conversa. Seguimos para um espaço
aconchegante distante das conversas que acontecem na sala.
— Espero não estar sendo invasivo — diz quando nos
sentamos com uma proximidade confortável.
— Está tudo bem. — Tento não demonstrar o quanto estou
rígida.
— Não acho que esteja — comenta com serenidade. — Você
parece querer sair daqui o mais rápido possível.
Olho para as minhas mãos unidas sobre meu colo, receosa
dele se chatear e fazer algum comentário ao meu irmão.
— Estou apenas nervosa. — Lanço mais uma mentira nesta
noite.
— Tem certeza de que é só isso? — Sua voz suave me faz
encará-lo.
Ele parece ser um homem calmo, em momento nenhum me
olhou com desrespeito, eu deveria me abrir, tentar conhecê-lo
melhor. Se Dom me trouxe até aqui, é por que ele confia que eu
não correrei perigo caso feche o acordo para o nosso casamento.
— Só estou tentando me acostumar com esta nova fase da
minha vida. — É uma meia verdade, serve para a ocasião.
— Entendo como deve ser difícil este momento de buscarem
um casamento para você. Não pense que é melhor para mim, eu
também preciso cumprir minhas obrigações.
Acho gentil da sua parte tentar compreender minha situação,
só não concordo absolutamente com ele. Enquanto eu terei que
ficar em casa sendo obediente, ele estará por aí vivendo sua vida
paralela, com quem quer que deseje.
— Possuímos obrigações diferentes. — Sou econômica no
meu comentário.
— Isso é verdade. — Ele parece desconfortável. — Queria
apenas te dizer que acho improvável qualquer tipo de acordo
acontecer esta noite — não digo nada, estou um pouco surpresa
com sua fala. — Não por conta do meu pai, mas porque seu irmão
não irá te entregar tão fácil. — Eu deveria me sentir aliviada em
saber disso, mas a parte que ele diz me “entregar” faz com que eu
me sinta um simples objeto. — Por isso gostaria que nos
encontrássemos mais vezes. Teremos um bom período de festas e
eu também posso ir até sua casa. — A maneira mecânica com que
fala dá um nó no meu estômago. — Penso que será bom para nós
construímos certa intimidade.
— Se Domênico e a mamãe permitirem eu não vejo problema
— não posso dizer nada diferente.
— Perfeito. — Ele sorri, parecendo aliviado por eu aceitar seu
pedido. — Acho que iremos nos dar bem.
— Assim eu espero. — Quando ele se levanta faço o mesmo
e seguimos juntos novamente para a sala.
Meu irmão desvia o olhar de Cosimo e me fita, parece tentar
encontrar qualquer tipo de instabilidade em mim. Seguro minhas
emoções, mantendo o rosto inexpressivo.
Não tarda e o jantar é servido, nos acomodamos ao redor da
mesa. Como toda boa família italiana, a sala de jantar é espaçosa.
Apesar de estar sem apetite não posso deixar de assumir que
tudo está gostoso, o tempero é bem tradicional e saboroso. Em
alguns momentos converso com Patrizia, mas na maior parte do
tempo fico calada.
Quando a refeição termina Dom se tranca com Cosimo no
escritório com a desculpa de tomarem a última bebida. Sei bem o
que foram fazer e me sinto apreensiva com a conversa que terão.
Está unicamente nas mãos do meu irmão o meu futuro, se ele der a
sua palavra que me casarei com Renzo, ninguém poderá impedir
nossa união.
— Só tente se acalmar — Gio fala baixinho. — Dom me
prometeu que seria um jantar de apresentação, ele não irá fechar
nenhum acordo.
— Não consigo pensar assim. — Ela afaga a minha mão.
— Apenas pense que a família Di Angeli não é como a sua,
Cosimo é sensato, diferente do seu pai. — Quanto a isso não posso
discordar. — Lembra como foi caótico o meu noivado?
— Nem me fale daquele dia. — Sinto um tremor percorrer
meu corpo.
Naquela noite Guido precisou dormir na nossa casa para
evitar que o meu pai descontasse sua fúria em nós, ainda assim
mamãe recebeu um tapa no rosto que a fez desabar no chão,
quando tentou acalmá-lo da briga que teve com Paolo.
Lembro de me refugiar no meu quarto e ficar sentada em um
canto torcendo para ele não vir atrás de mim. Apenas nas primeiras
horas da manhã foi quando consegui relaxar e adormecer.
— Aqui você já percebeu que não terá o caos que seu pai
trazia, Dom não seria louco de vir se ele tivesse qualquer
desconfiança de Cosimo e seu filho.
— Eu sei disso.
— Entendo sua aflição, mas a vida pode te surpreender como
aconteceu comigo.
Queria ter a esperança dela, mas eu não posso quando meu
coração já é de outro homem.
A minha ansiedade dispara quando Dom volta para a sala,
não consigo captar nada na sua expressão. Ele é um mestre em
esconder qualquer tipo de sentimento das pessoas.
Respiro aliviada quando começamos a nos despedir. Acabou
minha tortura, vou poder voltar para a minha casa e, ao menos por
um tempo, fingir que tudo está bem.
O ar gelado da noite bate no meu rosto me fazendo
estremecer, agora eu me sinto livre, até respirar se tornou menos
opressor. Alcançamos o carro e entramos nele, Dom se ajeita ao
banco do motorista e liga o veículo.
Todos mantemos o silêncio e isso me deixa aflita, sinto que
receberei a notícia que tanto temo, o que me faz apertar as mãos,
angustiada.
— Apenas se acalme. — A voz do meu irmão soa profunda
quando saímos pelos portões da casa dos Di Angeli. — Eu dei a
promessa que Renzo irá te conhecer melhor, dependendo da
interação de vocês, volto a conversar com Cosimo.
Uma tonelada de peso parece sair dos meus ombros, eu me
sinto completamente aliviada por saber que não vou ser obrigada a
aceitar um acordo nesta noite.
— Obrigada por pensar em mim, Dom. — Preciso demonstrar
toda a minha gratidão, se eu estivesse nas mãos do meu pai já
estaria casada sem a opção de escolha.
— Você é minha prioridade em tudo, minha missão é te ver
feliz e segura com seu marido. — Nossos olhos se encontram pelo
retrovisor e vejo no olhar do meu irmão um calor que é raro de se
observar.
Ele me ama e saber disso me dá a força necessária para
enfrentar o meu futuro.
— Mais uma vez você fez um bom trabalho. — Paolo bate
nas minhas costas, satisfeito.
— Só fiz minha obrigação.
Ele acena e pega um cigarro, o acende com calma e traga
profundamente. Desde que ele me elevou de cargo, tenho sido a
pessoa que sempre recorre para resolver assuntos que ele não quer
que seja de conhecimento de todos. Fico lisonjeado com sua
confiança e me esforço sempre para não o decepcionar.
— E quanto as garotas? — ele me questiona.
— Já providenciei tudo para que sejam devolvidas às suas
famílias o mais discretamente possível. Elas estão seguras em um
dos nossos imóveis.
— Perfeito. — Paolo leva mais uma vez o cigarro à boca. —
Quando todas estiverem com suas famílias me avise, quero saber
se tudo deu certo.
— E quanto ao policial que nos avisou do que estava
acontecendo? Ele merece uma boa recompensa.
— Dom já lhe deu o que merece, é um bom contato e o
queremos do nosso lado.
— Ele nos livrou de uma grande dor de cabeça.
— Nem me fale nisso. — Ele coça a barba. — Teríamos a
porra de um problema porque um merda como Martino decidiu me
desobedecer. Aquele filho da puta teve sorte que controlamos tudo,
se não fosse isso não sairia das minhas mãos apenas sem uma
orelha, eu o mandaria para o inferno em grande estilo.
Trocamos um sorriso cúmplice antes da nossa atenção ser
desviada para Domênico chegando ao lado de Giane, o cunhado do
Paolo.
Ver Dom me faz lembrar de Ambra e do maldito jantar que ela
participou no final de semana. Foi foda ficar de braços cruzados
sem poder fazer nada, a minha real vontade era ir até a casa dos Di
Angeli e dizer que ela é só minha.
Tentei sondar a minha irmã sobre o resultado do jantar, mas
ela não disse nada e eu não podia perguntar abertamente se Dom
entrou em acordo com Cosimo. Vou ter que arrumar essa
informação de outro jeito, talvez uma visita a Gio possa me fornecer
o que tanto quero.
— Você no La Fontaine a essa hora é uma novidade — Paolo
diz ao cunhado.
— Só vim pegar uns documentos, já estou indo para casa. —
Giane estende a mão para mim. — Meus parabéns, você salvou
meninas indefesas de um porco, como sempre, é um herói.
— Não fode, Giane, eu estou longe de ser um mocinho.
— E também não é o vilão — afirma ao bater no meu braço.
— Vou pegar o que preciso logo, prometi a Chiara que chegaria
mais cedo em casa.
— Dê um beijo nas suas meninas.
— Farei isso com prazer. — Ele se afasta de nós apressado.
Dom se dirige ao bar e pede uma dose de uísque, ele abre os
botões que aprisionam seus pulsos e começa a enrolar a manga da
camisa. Fico angustiado com a vontade de questioná-lo sobre
Ambra, mas seria minha morte se eu fizesse isso.
— Encontrei Cosimo hoje, ele estava bem satisfeito com o
jantar que tiveram. — Inesperadamente Paolo entra no assunto que
tanto desejo. — Vocês conseguiram se acertar?
— Não sabia que tinha virado um casamenteiro. — Dom leva
o copo aos lábios reprimindo um sorriso.
— Vá se foder, Domênico. — Paolo também pede uma
bebida. — Somos família, eu me preocupo com sua irmã.
— Certo — Dom concorda e me fita. — Não quer beber nada,
Amaro?
Depois da fala do Paolo, não me sinto mais animado para
nada, o que eu tanto temia ao que tudo indica aconteceu.
— Hoje não. — Olho para o relógio. — Vou para casa, têm
sido dias difíceis.
— Posso imaginar. — Ele remexe o copo com a expressão
pensativa. — Não me acertei propriamente com os Di Angeli, só
deixei a promessa de que permitirei Renzo se aproximar de Ambra
nas festas que os dois frequentarem e, se ela quiser, também
poderá visitá-la sob o supervisionamento da minha mãe.
O alívio cai sobre mim como um bálsamo, preciso me
esforçar para não rir alto e entregar toda a minha alegria.
Ela ainda é livre.
— Eu espero que eles se acertem, a família tem uma história
de honra e até onde sei, Cosimo soube criar bem o filho.
— Sei disso, caso contrário não perderia meu tempo com
eles.
— Gostaria de ficar conversando com vocês, mas preciso ir,
ando um pouco exausto. — Agora que eu tenho a informação que
tanto queria, eu preciso colocar a minha cabeça em ordem para não
fazer mais uma besteira.
— Vá descansar, você merece. — Paolo senta-se ao lado do
cunhado. — Tem sido muito competente nas suas missões, estou
verdadeiramente satisfeito com seu desempenho.
— É muito bom ouvir isso.
— Não estou surpreso com as ações do Amaro, ele não
cuidaria da minha mulher se eu não tivesse plena confiança na sua
competência e índole.
Aí Dom me fodeu com gosto. Ouvir isso dele é como levar
uma enxurrada de água congelante.
— Vou embora, vocês estão me elogiando tanto que me deu
medo de fazer merda.
Paolo me olha com descontração, enquanto Dom apenas
mantém seus olhos frios em mim.
— Ainda que você faça uma merda, nunca chegará aos pés
das que o Paolo faz constantemente.
— Que porra é essa?
Imediatamente nosso Capo protesta, se existe algo que ele
não gosta é receber críticas. Dom sabe disso, por isso faz questão
de implicar com o cunhado.
Deixo-os trocando farpas e decido ir para casa, quero pensar
um pouco e acalmar a minha euforia sobre a informação que recebi.
Se eu deixar meus instintos ganharem força, vou acabar metendo
os pés pelas mãos.

Entro em casa e me deparo com meu pai descendo as


escadas carregando duas caixas.
— O que está aprontando?
— Coisa da sua mãe, ela resolveu jogar algumas coisas fora
e sobra para mim.
— Ela não muda — digo ao descartar meu celular e chaves
na mesa de centro.
Tiro meu terno e gravata, abro os primeiros botões da blusa e
me livro dos sapatos. Descanso a cabeça no encosto do sofá e
penso em Ambra.
A conversa que tive com Augusto volta a me assombrar, não
paro de pensar na mínima possibilidade de podermos estar juntos.
Eu queria realmente acreditar nisso, assim eu traçaria um plano
para poder tentar convencer Dom a me dar uma chance.
Talvez Paolo seria a pessoa certa a me apoiar, ele vem
demonstrando muito apreço por todas as missões que cumpro sem
maiores dificuldades. Se ele ficar do meu lado, será uma grande
pressão em cima do Domênico, o que pode me favorecer.
Será que posso sonhar com alguma chance de tê-la?
— Podemos ver isso depois.
Levanto a cabeça com rapidez quando ouço a voz da mulher
que não sai da minha cabeça. Devo estar tendo uma alucinação,
Ambra está evitando vir na minha casa, desde a fatídica noite em
que recuei e fui embora.
Ela estanca quando me vê, pelo jeito achou que eu chegaria
tarde, como tem acontecido nas últimas semanas. Só que hoje
milagrosamente quis vir embora mais cedo, talvez a minha intuição
esteja em um bom dia.
— Há quanto tempo não te vejo por aqui, Ambra — digo
tentando não correr os olhos por todo seu corpo.
Com minhas duas irmãs por perto, eu preciso ser o mais
discreto possível.
— Como vai? — Sua voz é tão fria que consegue deixar
meus pelos arrepiados.
— Bem. — Não consigo falar mais do que isso.
— Você anda sempre chegando tão tarde que é
surpreendente te ver a essa hora em casa. — Elena como sempre é
provocativa. — Adivinhou que Ambra estaria aqui?
Ela sabe me tirar do sério, mas eu não vou cair na sua
provocação.
— Desde quando trabalho com adivinhação? — Minha irmã
enruga o nariz fazendo uma careta.
— Preciso ir embora, meninas, está ficando tarde.
— Por que não passa a noite aqui? Peça que tragam alguma
roupa para ir a faculdade amanhã.
— Obrigada pelo convite, mas realmente preciso ir, vou
buscar a minha bolsa lá em cima e pedir que minha segurança
venha me buscar.
— Eu te levo, Ambra, não precisa chamar ninguém. —
Levanto-me ansioso para ficar sozinho com ela.
Estou fazendo tudo errado, eu sei disso, mas foda-se!
— Obrigada, mas não será necessário, já deixei os
seguranças em alerta, eles estão me esperando entrar em contato.
— Eles não precisam vir até aqui quando eu estou disponível.
— Eles são pagos para me buscarem onde eu estiver — diz
em desafio. — Se você pode se deslocar da sua casa para me levar,
eles também podem fazer o mesmo.
— Concordo. — Cruzo os braços em defensiva. — Mas eu
quero levar, não me custa nada.
— Olha, Amaro, eu...
— Ambra. — Stefania toca seu braço. — Deixe meu irmão te
levar, assim a mamãe ganha tempo para terminar o jantar sem ele
ficar reclamando.
Sem deixar a amiga falar nada, Stefania a arrasta escada
acima, deixando-me agradecido pela sua intromissão.
— Você é patético. — Olho para Elena confuso. — Está
perdendo a oportunidade da sua vida não lutando por ela. Por acaso
sabe que o Di Angeli está com permissão para vê-la? Vai realmente
perder uma garota incrível como a Ambra? — Fico sem palavras. —
A menina está apaixonada e você não fica atrás, mas ao invés de
você tomar uma atitude, fica parado esperando outro conquistá-la.
— Ela balança a cabeça com desgosto. — Que decepção está me
dando, eu esperava mais de você.
— Percebeu que foi longe demais? — Elena caminha até
onde estou.
— Eu vou até mais longe se isso significar ver vocês juntos,
porque meu sonho é chamar Ambra de cunhada, seria incrível ela
fazer parte da nossa família, vocês formam um casal perfeito.
— Elena, sabe o que está falando?
— Pode apostar que sei, não sou tonta como Stefania, eu
vejo tudo ao meu redor e de onde estou enxergo bem o quanto
estão apaixonados, mas ela depende de você, porque nessa droga
de máfia nós mulheres não podemos fazer nada.
— Ainda que nos gostássemos, ela é uma Pizzorni, o nome
dela é poderoso, está longe do meu alcance.
— Não está — afirma ao segurar meus ombros. — Desde
que Paolo assumiu o clã não estamos mais com regras tão rígidas e
você tem um bônus especial ao ter sido o salvador da Giovanna,
acredite em mim quando digo que tem todas as credenciais para ser
o futuro marido dela, basta parar de ser idiota. — Ela me encara
com raiva.
— Cuidado com essa boca, menina.
— Só quero o seu bem. — Ficando nas pontas dos pés beija
meu rosto.
Aperto os lábios para não sorrir e acompanho em silêncio ela
se afastar indo na direção da escada.
Minutos depois Ambra aparece ao lado da Stefania, elas
conversam baixinho, em seguida se abraçam.
— Estou pronta — diz ao me dedicar um olhar.
— Vamos embora. — Pego minhas chaves, celular e calço os
sapatos.
Caminho na frente sentindo seus passos atrás de mim.
Abro a porta do carro e a espero entrar, ela não me olha,
apenas se acomoda no banco com o corpo rígido. Sem pressa vou
para o meu lado e quando entro, seu perfume suave me causa um
gatilho de excitação.
Não digo nada e apenas começo a dirigir, mas quando o
silêncio começa a pesar, eu me arrependo de ter oferecido a carona.
Não posso mais negar que houve um ponto de ruptura entre nós,
desde a última noite que estivemos juntos. E agora eu já não sei se
posso restaurar a sintonia que tínhamos.
Procuro por uma vaga e estaciono o carro, preciso conversar
com ela antes de chegarmos à sua casa.
— O que está fazendo? — Ambra pergunta ao me olhar.
— Precisamos conversar. — Ela respira fundo parecendo se
conter.
— Não acho que temos nada a conversar. — Seus olhos vão
para frente, observando o movimento da rua. — Eu tentei por
diversas vezes falar com você, mas fui ignorada ou tratada com
frieza quando me deu a honra de ser atendida. Entendi
perfeitamente que não significo nada para você.
— Ambra, não fala assim, você não tem ideia do que sinto. —
Respiro fundo, angustiado por me sentir impotente com toda essa
situação. — Eu só não queria perder o controle e foder com sua
vida.
— Não pode foder o que já está fodido. — Seus olhos
furiosos encontram os meus. — Minha vida está uma bagunça, eu
não posso opinar em nada, preciso apenas dizer sim a tudo o que
me ordenam, quando eu estava com você conseguia viver um
momento só meu, agora nem isso eu tenho.
— As coisas são complicadas. — Estico a mão para tocar
seu rosto, mas ela recua.
— Mas se nos uníssemos poderíamos lutar contra todos.
— Como? Seu irmão não me aceitaria.
— Você está dentro da cabeça dele para saber disso? —
questiona me deixando sem palavras. — Podíamos recorrer a Gio e
Masha, elas nos ajudariam, Dom ouve a esposa, minha cunhada
seria a melhor advogada que poderíamos ter.
— Sua família não está no mesmo nível da minha e você
sabe como é importante o nome dentro da máfia.
— Você não é qualquer homem, todos te respeitam.
— Ter respeito não significa que posso possuir a ousadia de
querer a irmã do Consigliere.
— Deveria se valorizar mais, acho que se surpreenderia ao
descobrir o quanto é valioso. — Ela quebra o nosso olhar. — Eu não
ficaria apaixonada por um homem que não fosse especial, você é
diferente, Amaro. — Paraliso ao ouvi-la assumir o que sente por
mim, estamos no mesmo clima e saber disso fode ainda mais a
minha cabeça.
Fico estático observando seu perfil rígido, com uma infinidade
de pensamentos passando pela minha cabeça agora que ela expôs
seus sentimentos.
Passei uma vida aceitando a posição inferior que nasci dentro
do clã, nunca almejei nada do que fosse além das minhas
possibilidades, até ela roubar meu coração.
É difícil nutrir alguma esperança, quando eu conheço de
perto a estrutura que vivemos.
A raiva me domina, minha vontade é ir agora mesmo na casa
do Dom dizer que amo Ambra e que não abrirei mão dela. O
problema é que tenho uma família e não é justo eles sofrerem as
consequências dos meus atos, logo agora que consegui dar
estabilidade para eles.
Preciso pensar com calma para não agir no impulso e
prejudicar as pessoas que amo. Sei que meu tempo é curto, mas eu
não posso me precipitar em um assunto tão sério.
Que merda de vida, tudo poderia ser mais simples.
Olho para o professor falando e não consigo entender nada,
minha mente está longe, precisamente na conversa que tive com
Amaro. A sua ideia de que não podemos ficar juntos, por conta da
sua origem, é ridícula, isso não é motivo para não tentarmos lutar
por nosso futuro.
Meu irmão já demonstrou por várias vezes que irá me ouvir,
pois seu desejo é me ver feliz. Se a minha felicidade está nos
braços do Amaro, eu tenho plena certeza que Dom vai aceitar e
todo o resto da minha família irá seguir sua decisão.
— O que está acontecendo com você? — a pergunta do
Fabio quebra meu transe. — A aula acabou e nem se mexeu.
Pisco os olhos rapidamente tentando colocar a minha mente
em ordem. Estou uma bagunça internamente, me concentrar nas
aulas tem sido uma tarefa complexa.
— Não é nada — respondo ao começar a guardar meu
material.
— Sei que não temos intimidade, mas pode confiar em mim
se precisar conversar. — Ele toca meu braço com gentileza. — O
problema é seu coração, não é isso? — seu questionamento é
quase dito como uma certeza.
— É complicado. — Não posso me abrir com ele, meu mundo
é obscuro e proibido.
— Sempre é — diz ao esconder um sorriso. — Mas
precisamos encontrar uma solução, ou então seguir em frente. —
Nos levantamos e começamos a sair da sala. — Sou o exemplo
disso.
— Do que está falando? — Ele me lança um sorriso.
— Eu fiquei louco quando te conheci, fiz de tudo para me
aproximar e você não permitiu. — Abro a boca completamente
surpreendida com sua revelação. — Entendi que você não estava
aberta e segui adiante, foi quando conheci a Katherine. Foi uma boa
decisão, estou gostando verdadeiramente dela, talvez deva fazer o
mesmo. Não sei quem é a pessoa que está quebrando seu coração,
mas se ele não está disposto a estar contigo, esqueça-o, você é
uma garota muito especial, não merece um merda que te faça
sofrer, ele não te merece.
Não consigo dizer nada, porque suas palavras me acertam
mais do que eu queria.
— Obrigada pelo conselho.
— Esqueça os agradecimentos, eu gosto de você e te ver tão
perdida não é agradável. Se precisar se distrair, espairecer um
pouco só me chamar, eu posso te levar nos melhores lugares para
se distrair.
— Vou me lembrar disso. — Sorrindo, ele beija meu rosto e
se afasta, me deixando com a mente fervilhando de pensamentos.
Será que o certo é virar as costas a tudo o que sinto pelo
Amaro e me permitir conhecer Renzo?
A minha cunhada não amava o marido quando se casou, eles
foram construindo o amor aos poucos, convivendo diariamente e
superando os desafios que todo casal enfrenta. Talvez esse seja o
meu caminho, ainda que meu coração esteja discordando
veementemente da minha razão.
— Ambra, acorda! — Quase pulo com Giovanna sacudindo
meu ombro. — O que você tem? Te chamei três vezes e você
estava em outro mundo.
— Desculpa. — Não sei o que dizer, a minha mente está
embaralhada. — Só estava pensando em algo e me perdi. — Gio
enruga as sobrancelhas.
— Está acontecendo alguma coisa? Você anda estranha.
Tudo o que eu queria era me abrir com ela, mas tenho
dúvidas se é uma boa ideia. Ela pode contar tudo o que
experimentei com Amaro para o marido e eu tenho medo do
julgamento que posso receber.
— Não se preocupe, estou bem. — Tento sorrir para
tranquilizá-la. — Vamos embora? Estou ansiosa para passar a tarde
com meu sobrinho.
— Ele está tão levado, mexe em tudo que alcança, quando
começar a andar estarei perdida.
— Já se prepara para essa época.
Giovanna revira os olhos, mas sem deixar de sorrir. Eu a
admiro muito, apesar de ser jovem, ela consegue cuidar do filho,
estudar e dar atenção ao marido.
Seguimos para nosso carro conversando sobre os
preparativos para o aniversário do Massimo. Estou superempolgada
com a festinha, será um momento especial para a nossa família.
Quando chegamos ao apartamento dela, um cheiro
maravilhoso nos recepciona. Maria como sempre faz milagre na
cozinha, ela tem um tempero único.
— Que cheiro fabuloso — falo já sentindo meu estômago
roncar.
— Não vai demorar e descobriremos o que Maria aprontou.
Ela descarta a bolsa no sofá e entra no solário onde Cosima,
a mulher que cuida do Massimo, está brincando com ele em um
tapete colorido.
O pequeno sacode as mãos animado ao ver a mãe se
aproximar. Pegando-o no colo, Gio beija seu rosto e o abraça. Sinto
meu coração amolecer, é lindo todo o amor que ela possui pelo filho.
Um pensamento inusitado cruza a minha mente e me imagino
em um futuro utópico, com meu filho nos braços e tendo Amaro
como marido.
Sou extremamente boba, eu sei, mas é difícil segurar meu
coração apaixonado, eu fico completamente cega e esqueço da
razão.
— Olha quem veio passar a tarde com meu bebê levado. —
Gio coloca o filho à frente do seu corpo para que ele possa me ver.
— Sua titia vai brincar muito com você.
Ele me encara com seus olhos azuis enquanto sacode as
pernas empolgado. Tão fofinho, dá vontade de mordê-lo todinho.
— Só vou sair daqui quando sua mãe me expulsar. — Seguro
sua mão rechonchuda e beijo.
— Então você vai ficar na nossa casa eternamente.
Sorrio, Gio é sempre tão carinhosa comigo, meu sonho era
ter uma irmã e se eu pudesse escolher, gostaria que ela fosse
exatamente como a minha cunhada.

Depois de um almoço fabuloso e muitas brincadeiras com


Massimo, eu estou aproveitando o fim de tarde no solário, com um
turbilhão de pensamentos me consumindo.
Meu último encontro com Amaro foi decepcionante, tudo o
que eu mais queria era que ele se unisse a mim para enfrentarmos
juntos a minha família.
Sei que ter um sobrenome forte é fundamental na hora dos
acordos de casamento, mas ele é diferente, meu irmão sabe da sua
integridade e, se bem conheço Dom, ele avaliaria qualquer pedido
do Amaro. Certamente viria falar comigo, quando descobrisse que
eu estou apaixonada, não seria contra nosso casamento.
Por diversas vezes já deixou claro que deseja a minha
felicidade e se ela estiver ao lado do seu antigo segurança, nos dará
sua bênção.
Só que eu não posso dar um passo para conversar com Dom
quando Amaro não está comigo nessa missão.
— Fiz um suco para nós, pega. — Ergo o rosto e vejo Gio me
estendendo o copo.
Agradeço e bebo um pouco, parece ser um mix de frutas
cítricas, está delicioso. Olho para o céu e o vejo começar a ficar
alaranjado, indicando que o sol vai sumir em breve.
— Sabe que estou aqui para o que precisar, não é? —
pergunta ao sentar-se ao meu lado. — Já disse várias vezes que
somos amigas e que pode confiar em mim, se sua segurança não
estiver comprometida, nada do que me falar será relatado ao seu
irmão.
Inspiro fundo, me sentindo perdida com todos os sentimentos
que estão me consumindo. Sei que posso confiar em Gio, mas não
posso deixar de temer que ela possa contar a Dom quando souber
da minha história. Não quero prejudicar Amaro, ele está
conseguindo dar uma nova vida a família e odiaria se eu acabasse
com a felicidade deles.
— Está dispersa por causa do Renzo? Se for isso apenas se
acalme, Dom tem tudo sob controle, se vocês não se conectarem
ele não irá fazer qualquer acordo com Cosimo.
— Isso também é algo que anda me tirando o sono.
— Mas não é o principal motivo de toda a sua aflição,
acertei? — Nos encaramos e uma diversidade de sentimentos me
consomem.
Desde cedo eu aprendi a guardar tudo para mim, nunca pude
ter amigas, apenas tive contato com algumas primas, o resto do
tempo era eu e minha mãe, tentando sobreviver aos horrores que
meu pai nos impunha.
Por isso é difícil me abrir com alguém, principalmente sendo
um assunto tão complexo. Só que eu não aguento mais guardar
tudo para mim, preciso expor os conflitos que estou passando.
— O que ouvir aqui não pode ser relatado a ninguém. —
Giovanna arregala os olhos. — E pode ficar tranquila, não é nada
com a minha segurança, o problema é apenas meu coração.
Ao mesmo tempo que ela relaxa, seu rosto fica sério,
claramente está preocupada com o que vou falar.
— Estou te ouvindo e confie em mim, Dom jamais saberá do
conteúdo desta conversa. — Aceno, pois sei que ela não irá quebrar
sua promessa.
— Há alguns anos eu comecei a reparar em um rapaz, acho
que toda adolescente tem seus amores platônicos. — Gio sorri.
— Temos muitos, na verdade.
— Achei que iria passar essa paixão com o tempo, mas não
foi assim. — Olho para as minhas mãos, organizando as ideias para
chegar ao ponto principal da nossa conversa. — Por saber que
jamais poderíamos nos aproximar, eu nunca nutri nenhum tipo de
esperança, até começar a faculdade.
— Ele estuda no mesmo campus que a gente? — Lambo os
lábios nervosa.
— Não, mas a irmã dele sim. — Giovanna ergue uma
sobrancelha, exibindo uma expressão pensativa. — Estou falando
do Amaro.
Ela abre a boca sem esconder o quanto está perplexa com a
minha revelação.
— Então o Leo tinha razão? Rola um clima entre vocês? —
Agora é a parte mais difícil da história.
— Na verdade, é mais que um clima.
— Como assim? — Sua voz sai tensa.
— Já ficamos juntos, algumas vezes. — Gio põe a mão
contra a boca chocada.
— E quando foi isso?
— A primeira vez no La Fontaine, depois na casa dele, no
desfile que fomos juntos...
— Meu Deus! — Ela se levanta e começa a andar em
círculos. — O que mais aconteceu, Ambra?
— Muita coisa. — Não vou esconder dela tudo o que fizemos.
— Que coisas? Amaro por acaso...
— Não! — Corto-a. — Ele não tirou minha virgindade, mesmo
eu querendo que fizesse isso. — Lembrar do dia que ele me deixou
é sempre um momento que me deixa com raiva. — Mas nós nos
tocamos, foi algo natural, nada foi programado.
— Eu não sei o que falar.
— Estou apaixonada por ele, mas Amaro acredita que por
não ser de uma família de renome, Dom não o aceitaria como meu
futuro marido.
— Foi ele que te disse isso? — Balanço a cabeça em sinal de
positivo. — E qual o sentimento dele em relação a você?
— De fato não sei, acho que só carinho e atração sexual, se
ele gostasse de mim verdadeiramente lutaria por nós — dizer isso
causa um gosto amargo na minha boca. — Eu estou disposta a
tudo, mas dependo de ele estar ao meu lado. — Ela toma as minhas
mãos nas suas.
— Fique calma, eu vou ver o que posso fazer.
— Não precisa fazer nada, eu só necessitava desabafar,
estou guardando tudo isso apenas para mim, nem mesmo Stefania
sabe o que anda acontecendo. — Uma lágrima escorre por meu
rosto. — Amaro tem medo de prejudicar a família dele, todos estão
tendo grandes oportunidades com sua promoção na máfia, se Dom
souber do que aconteceu, pode puni-lo.
— Meu marido jamais faria isso — diz com convicção. — Até
porque Amaro te respeitou e, caso não tivesse feito, ele teria que se
casar, pois neste caso Dom não seria flexivo, mas como não foi o
caso, Amaro não tem com o que se preocupar.
— Eu não tenho a sua confiança. — Com um sorriso terno
ela corre a mão pelo meu cabelo.
— Conheço bem seu irmão, ele só quer te ver feliz e que
consiga ter um casamento como o nosso. Se Amaro for o homem
certo, Dom não será um empecilho.
— E minha mãe? Por mais que ela também queira meu bem,
tem suas tradições e me casar com alguém fora da alta cúpula não
está nos planos dela.
— Aí o problema não é seu, ela que lide com as próprias
frustrações, o que importa é sua felicidade. — Giovanna é firme ao
expor sua opinião. — Gosto da ideia de vocês juntos, eu vou
começar a me movimentar e sondar seu irmão, enquanto isso siga
com normalidade sobre Renzo.
— E se nesse tempo Dom mudar de ideia e me comprometer
com ele?
— Isso não irá acontecer, eu te garanto, só deixe tudo
comigo. — Ela aperta a minha mão com força.
— Atrapalho? Vocês parecem estar conversando algo
importante.
O meu coração despenca quando vejo Dom parado na porta
que divide o solário da sala. Ele está com as mãos dentro dos
bolsos da calça, o ombro apoiado no batente da porta e os
calcanhares cruzados.
Há quanto tempo estava nos observando? Será que ouviu
algo da nossa conversa? Começo a me desesperar, porque se ele
ouviu algo, eu estou muito encrencada.
— Oi amor, chegou cedo. — Gio vai ao seu encontro. — É
uma surpresa boa saber que teremos mais tempo juntos.
— Acho que vou ficar gripado, eu não estou em um dia bom,
preferi vir mais cedo para casa. — Ela envolve a cintura do marido.
— Vou te preparar um chá — diz ao acariciar sua barba. — É
o que tomo quando estou com gripe.
— Por mim tudo bem. — Dom a abraça e me olha. — Bom te
ver aqui, vai jantar com a gente?
— Não, eu vim passar a tarde com Massimo, já estou indo
embora.
— Claro que não vai. — Gio rapidamente se manifesta. —
Você fica e vou ligar para a minha sogra vir também, teremos um
jantar em família.
Como discutir com ela? Giovanna quando quer algo não tem
quem a impeça de conseguir.
— Você é terrível. — Sorrio, mesmo que eu ainda esteja
aflita.
— Vou tomar um banho, talvez eu me sinta menos exausto.
— Vá, enquanto isso vou preparar o seu chá. — Dando um
beijo rápido nela entra na sala e volta a nos deixar sozinhas.
Eu me aproximo da Gio preocupada.
— Será que ele ouviu nossa conversa?
— Claro que não, acha que ele ficaria tão tranquilo? Mas
quando conversarmos teremos que ser mais discretas, é melhor não
arriscarmos.
— Tem razão.
— Agora vamos até a cozinha, vou preparar o chá do seu
irmão e tente relaxar, eu vou resolver esta situação e, algo me diz,
que teremos um belo casamento cheio de amor em breve. — Não
quero ficar animada, mas o brilho nos olhos dela acaba me
deixando com um fio de esperança.
— Não vou criar expectativas. — Sou sincera.
— Você pode não criar, mas as minhas estão nas alturas, eu
quero esse casamento, Amaro é o homem ideal para te fazer feliz.
Gio segura a minha mão e me arrasta para dentro da casa
toda animada, falando sem parar. Já eu, me seguro, porque não
adianta nada ela estar do meu lado se Amaro não quiser ficar
comigo.
Entro na sala e encontro meus pais conversando enquanto
bebem um vinho. Assim que notam a minha presença mamãe sorri,
vindo imediatamente na minha direção.
— Meu filho, você está tão lindo. — Ela se aproxima e passa
a mão pela minha camisa.
— Pare de exagero. — Beijo seu rosto. — Estou simples, a
festa da mãe do Paolo é para poucas pessoas.
— Você fica bonito de qualquer jeito. — Não vou discutir com
ela, mãe sempre vê os filhos com outros olhos.
— Tem certeza de que não querem ir? O chefe disse que
fazia questão da presença de todos. — Olho diretamente para meu
pai.
— Nós não nos sentiríamos bem estando no meio deles. —
Ele se pronuncia. — Preferimos ficar aqui tomando um vinho e
assistindo algum filme antigo. — Meu pai como sempre é teimoso.
— De qualquer maneira agradeça a Paolo o convite.
— Cadê as meninas? — Mudo o assunto, não vou discutir
com ele.
— Já devem ter se arrumado, elas estão eufóricas com essa
festa.
A minha mãe vai até a escada e grita pelas filhas, enquanto
isso vejo minhas mensagens e, mesmo sabendo que não vou
encontrar nada da Ambra, não posso deixar de sentir esperança de
algum contato.
Ando vivendo um misto de emoções, em um momento tenho
plena certeza de que fiz a coisa certa ao me afastar, em seguida eu
me arrependo amargamente, porque a cada dia está mais difícil ficar
longe dela.
As meninas não demoram a aparecer sorrindo empolgadas,
elas nunca foram em uma festa da alta cúpula. Já eu, estou
acostumado, sempre estive presente fazendo a segurança do
Domênico, ainda que eu não pudesse estar misturado aos
convidados, sei como funciona toda a dinâmica.
É justamente por saber dos privilégios que minhas irmãs
estão tendo, que não posso colocar meus desejos acima da razão.
— Vamos embora, meninas. — Pego a chave do carro. — E
vocês não bebam demais, juízo.
Meu pai apenas sorri, enquanto toma mais um gole do vinho,
já minha mãe nos abençoa, como sempre faz quando cada um de
nós sai de casa. Eu amo essa mulher, por ela sou capaz de tudo, a
minha família é o centro do meu mundo, são eles que não permitem
que toda a maldade que vivo diariamente, não me contamine por
completo.
As minhas irmãs não param de falar por todo o caminho até a
casa do Paolo, eu poderia me irritar se não soubesse o quanto
estão felizes.
Fico aliviado quando chegamos ao nosso destino, por
algumas horas estarei livre delas falando no meu ouvido.
— Não preciso pedir que se comportem, não é mesmo?
— Claro que não — Elena é a primeira a responder. —
Seremos elegantes como o momento pede.
— Cuidado com essa sua língua ágil, a senhora Martina é
bem petulante, não a aborreça falando bobagens.
— Ficaremos com Ambra, não se preocupe com nada. —
Stefania termina de implodir com o resto de bom humor que ainda
existia em mim.
Evito falar algo, apenas lidero o caminho na direção da casa,
me preparando para enfrentar o inferno por ficar no mesmo espaço
que ela sem poder tocá-la.
O som de uma música suave nos alcança, algumas pessoas
estão na sala, mas eu sei que a festa vai acontecer no espaço
externo, nos fundos da casa.
A primeira pessoa que encontro é Franco e sua esposa, eles
param e nos cumprimentam. Antonia elogia a beleza das minhas
irmãs, assim como os vestidos que usam. As meninas ficam alegres
por receberem um elogio da avó da Masha.
Despeço-me deles e aceno para algumas pessoas que
conheço, sigo para a parte externa, mas no meio do caminho topo
com Masha e sua filha.
— Ahhh, que bom ver que chegaram — ela ajeita a menina
em um lado do quadril. — Preciso resolver um probleminha na fralda
dessa mocinha, mas fiquem à vontade, lá fora têm mesas para
vocês se acomodarem. Ambra já chegou, meninas, podem ir se
divertir.
— Muito obrigada por nos receber na sua casa — Stefania
diz com o devido respeito que a esposa do Capo merece.
— O prazer é meu, seu irmão é muito querido por todos nós,
estou muito feliz em tê-los aqui, aproveitem bem a noite.
Ela se afasta, já nós três atravessamos as belas portas
francesas que levam à varanda. Encontramos o lugar bem iluminado
e vários grupos de pessoas estão acomodadas.
Dentre todos os presentes meus olhos são atraídos para a
mulher mais luminosa da festa.
Ambra tem o cabelo preso em um coque, com fios delicados
caindo por seu rosto. O vestido é um verde-escuro, que abraça
suavemente seu corpo e acaba um pouco acima dos joelhos. Um
salto alto preto completa o visual elegante e sexy.
O meu corpo paralisa com a visão impactante à minha frente,
ela está divina. Parecendo perceber que está sendo observada
desvia a atenção da garota com quem conversa e encontra o meu
olhar.
Toda a festa perde sentido quando nossos olhos estão presos
um no outro, entramos em uma bolha exclusiva, onde apenas eu e
ela somos autorizados a permanecer.
Aproveito para observar cada parte do seu rosto, sentindo a
minha respiração falhar com a exuberância da sua beleza. No
entanto, todo o clima muda quando Renzo Di Angeli se aproxima
dela, entregando-lhe uma taça de champanhe.
Trinco os dentes tentando conter meu impulso assassino
quando ele encosta em seu braço. Até onde sei, está autorizado a
conversar com Ambra, não a tocar.
— Eu avisei que ele podia ficar por perto, você não me ouviu,
então pare de fazer essa cara de que vai matar alguém a qualquer
momento. Lembre-se que estamos na toca do lobo, eu não quero
perder meu único irmão. — Elena me lança o alerta.
— Cale essa maldita boca, ou as duas vão embora. — Não
estou com humor para receber recriminação de fedelha.
— Não estrague a nossa noite porque você não quer fazer a
coisa certa. — Tento segurá-la, mas ela puxa Stefania com
agilidade, se afastando na direção da Ambra.
Começo a ir atrás delas, não vou admitir que Elena me
enfrente sem que sofra represálias, mas não vou muito longe, pois a
voz da Giovanna me chamando interrompe meus passos. Respiro
fundo, tentando me acalmar e não demonstrar o quanto quero matar
a minha irmã.
— Venha aqui. — Ela faz um gesto com a mão.
Tentando parecer sereno, sorrio quando paro na rodinha
composta por ela, Dom, sua irmã Chiara e o cunhado Giane.
— Boa noite. — Todos me respondem ao mesmo tempo.
— Você demorou tanto que pensamos que não viria mais. —
Gio me dá um olhar avaliativo, o que acaba me deixando
incomodado.
— Tive que esperar duas mulheres se arrumarem.
— Entendemos perfeitamente, meu caro. — Giane recebe
uma cotovelada na barriga da esposa.
— Beba algo para esquecer esse momento traumatizante. —
Dom chama o garçom.
— Vocês estão engraçadinhos demais hoje. — Giovanna não
esconde seu descontentamento com nossa implicância masculina.
— Estamos apenas descontraídos. — Domênico beija seu
cabelo quando a abraça. — Cadê suas irmãs?
— Já foram ficar com a melhor amiga. — Olho na direção
onde elas estão reunidas e trinco os dentes ao ver Renzo junto.
Filho da puta! A minha vontade é ir até lá e chutar seu
traseiro.
— O Di Angeli está aproveitando bem a festa para conquistar
Ambra, o rapaz é determinado. — Giane abre a porra da boca,
fazendo toda a raiva que eu sinto borbulhar profundamente.
Respira Amaro, apenas respira e evite causar uma cena.
Digo mentalmente, em uma tentativa inútil de ser racional,
mas não sinto nenhum efeito, continuo querendo arrancar a cabeça
de Renzo fora.
— Ele não tem muitas oportunidades, necessita aproveitar o
que lhe é oferecido — Dom diz com calma. — Gosto dele, estou
esperando apenas Ambra me dar o sinal verde para me acertar com
Cosimo.
— É uma boa família, meus pais são amigos deles, nunca
soubemos nada que pudesse desabonar a honra deles. — Por que
Giane não cala essa merda de boca?
— Exatamente por isso Renzo está falando com minha irmã.
— Ambra precisa se casar com quem o coração dela mandar.
— Gio lança um olhar de advertência ao marido. — Não quero que
ela seja infeliz, não existirá pressa em escolher seu futuro marido,
existem muitas possibilidades que podemos explorar. — Ela me olha
e sorri com doçura.
Estou imaginando coisas ou Gio de alguma maneira
estendeu essas possibilidades a mim?
Não! Eu estou louco. Deve ser a vontade de ser o único
pretendente da Ambra.
— Nem eu quero, estou aberto a ouvir o que me pedir, por
isso estou indo devagar com Renzo, mas torço que eles se
entendam. — A fala do Dom me deixa ainda mais irritado.
— Com licença, mas vou cumprimentar Andrei. — Nem
fodendo que vou ficar ouvindo os planos do Domênico em unir sua
irmã com aquele filho da puta.
Puxo assunto com Andrei, melhor ficar perto dele do que
acabar perdendo a cabeça e entrando em uma confusão. Assim
como eu, ele está entediado com a festa, sem contar que não é fã
da mãe do Paolo, na verdade a maior parte das pessoas que estão
aqui não são, mas todos fingem simpatia por respeito ao Capo.
E falando nela ainda não a vi, preciso encontrá-la para dar os
parabéns.
Em certa altura da nossa conversa Leonardo se aproxima.
Como sempre não nos poupa elogios, parece que tem o prazer de
ser irritante com suas cantadas baratas. A sorte dele é ter Masha
como escudo e conseguir ser engraçado, por mais que me aborreça
em alguns momentos, eu gosto desse palhaço.
Ele nos surpreende ao revelar que está namorando o filho
bastardo de um dos conselheiros. Leonardo não esconde o quanto
está feliz em dê alguma maneira ter o seu mafioso, ainda que o
rapaz sequer fale com o pai.
— E quem é o tal conselheiro? — pergunto sem esconder a
curiosidade.
— É meu avô? — Andrei faz uma careta. — Se for é melhor
nem falar nada, porque eu ficaria péssimo em esconder isso da
minha avó, ela o ama tanto para descobrir sobre um bastardo.
— Claro que não é o seu avô. — Leo rapidamente nega.
— Que bom.
— Vamos lá Leonardo, diga quem é o pai do seu pseudo
mafioso. — Ele sorri, todo feliz.
— É o crápula do Mattia.
— Corre desse infeliz, você se meteu em uma furada, nada
que venha da semente do Mattia pode prestar. — O aconselho.
— Pode parar, que não vou largar meu boy.
— Estou te dando um conselho de amigo.
— Aceito se for o conselho de um futuro amante. — Andrei
tosse se engasgando com sua bebida ao ouvir mais uma das
cantadas do Leonardo. — Quer ajuda, amore mio?
— Eu estou bem, Leo. — Ele ergue a mão.
Masha aparece já sem a filha e se integra a nossa conversa,
Paolo como não fica muito tempo longe da esposa se aproxima de
nós. Enquanto eles conversam aproveito para observar Ambra, que
agora conversa de maneira mais reservada com Renzo.
A postura dela é tensa, deixando claro que não está à
vontade com a aproximação insistente dele. Fecho as mãos em
punho, firmando os pés no chão para não ir até onde estão e
empurrar o merda para longe.
Em certo momento ela fala algo a Renzo e se afasta,
entrando na casa. Espero alguns segundos antes de pedir licença e
ir atrás dela.
A casa está relativamente vazia, poucas pessoas conversam
na sala, a maior parte dos convidados está no lado de fora. Como
sei que existe um lavabo aqui embaixo, fico nas proximidades, tenho
certeza de que ela foi se refugiar nele.
Não demora muito e ela sai do lavabo, distraída demais para
notar minha presença. Aproveito que não tem ninguém no corredor
e me aproximo por trás.
Enrosco um braço na sua cintura colocando meu peito contra
suas costas, Ambra se sobressalta com minha aproximação, mas eu
peço que se acalme. Ela reconhece a minha voz e não oferece
resistência quando entramos em uma pequena sala, que
transformaram no espaço de brincadeiras da pequena Caterina.
Bato a porta e a encosto contra ela, seus olhos viajam até os
meus, vejo neles raiva, mas também desejo.
Foda-se a minha prudência, eu não aguento mais ficar longe
dessa mulher, preciso urgentemente experimentar seu gosto único.
Uno nossas bocas, tomando dela um beijo profundo, ainda
assim não é o suficiente para suprir o desejo que me consome.
Seguro sua cabeça com força, enquanto a mão livre desce até sua
bunda.
Ambra geme contra meus lábios, ela agarra a minha camisa
e corresponde o beijo. Um pensamento de felicidade passa pela
minha cabeça quando penso em Renzo a esperando enquanto ela
está aqui comigo.
Ele não tem ideia do quanto é especial beijá-la, muito menos
dos sons excitantes que faz quando está tomada pelo tesão. Esse
privilégio só eu tive e, a cada vez que eu entendo o quanto sou
sortudo, mais sem controle fico.
Resmungo quando ela me empurra exibindo um olhar
raivoso.
— O que pensa que está fazendo? — Levo alguns segundos
antes de respondê-la.
— Só te beijando. — Quando tento tocar sua cintura Ambra
bate na minha mão.
— Pare de brincar comigo. — Sua voz está contida, mas eu
sinto o quanto está furiosa. — Sei que viu Renzo comigo, devo
respeito ao homem que tem permissão para se aproximar de mim.
Agora ela tocou em um assunto que me deixa sem condições
de manter a minha cabeça fria.
— Você não gosta dele, por que não diz logo ao seu irmão
que não podem ficar juntos?
— Porque eu tenho que me casar e todos confiam em Renzo.
— Ela rosna essas palavras. — Se eu vou ter que viver com uma
pessoa que não amo, ao menos que ele não seja capaz de me
machucar.
— Você não precisa aceitá-lo, Dom já te disse isso. — Ambra
empina o nariz com o olhar de desafio.
— Eu vou aceitá-lo, estou cansada de toda essa pressão,
preciso acabar com essa angústia que parece que vai me engolir.
— Você é minha, não vai se casar com ele. — Seguro seu
braço com raiva. — Fique longe dele, vamos evitar causar uma
confusão na festa, porque eu estou no limite com aquele filho da
puta toda hora tentando te tocar.
— Renzo é um bom rapaz, ele não me toca com desrespeito.
— Não me provoque, Ambra, eu sei me segurar bem, mas
não me empurre demais. — Fecho a mão no seu rosto. —
Mantenha-o longe e esqueça essa história de aceitar ser a noiva
daquele bosta.
— Sigo ordens e Dom o quer perto de mim, não posso
afastá-lo.
— Pode sim, diga que está incomodada com a proximidade
dele.
— Para, Amaro, você... — Ela se cala e inspira fundo. —
Sabemos como isso acaba, não vamos protelar mais. — Sua voz sai
cansada. — Eu te amo e saber que não posso viver esse amor está
me matando. — Sua declaração me pega de surpresa e causa um
tumulto de sentimentos dentro de mim.
— O que disse? — pergunto querendo me certificar que não
estou tendo algum tipo de alucinação.
— Você ouviu bem. — Ela se desvencilha da minha mão que
segura seu rosto. — Preciso ir antes que deem falta de mim.
Não impeço que parta, estou perdido demais nas suas
palavras, a sua declaração está martelando na minha cabeça, sinto
como se eu estivesse sendo consumido, por dentro, por um fogo
intenso.
Ela me ama!
Ambra me ama e saber disso é muito foda, eu não posso
permitir que outro fique com ela. Eu a amo também e mereço viver a
porra desse amor em toda a sua essência.
Espalmo as duas mãos contra a porta, em uma última
tentativa de conter meus instintos, mas eu já perdi a guerra, preciso
apenas ir para o último ato e pegar a única mulher que eu quero
estar junto.
Espero que a minha família me perdoe pelo que vou fazer,
mas eu não posso perder a oportunidade de seguir meu coração.
Saio da sala de brinquedos disposto a enfrentar todos os
meus medos, que se foda o bom senso, só não posso perder
Ambra.
O destino parece estar brincando comigo, porque dou de cara
com Dom e Paolo entrando na casa. É agora ou nunca. Se eu
deixar minha razão me controlar, a perderei pelo resto da vida.
— Dom, podemos conversar? — A minha voz sai mais
afobada do que eu gostaria.
— Algum problema? — Ele me avalia com seus olhos frios.
— O problema ainda vai começar — digo com um sorriso
sarcástico.
Ele enruga a testa, não compartilhando da minha piada
secreta.
— Paolo, podemos usar seu escritório? — pede ao olhar o
cunhado.
— Pode. — Paolo nos observa de maneira estranha. — Está
acontecendo algo?
— Vou descobrir agora. — Dom estica o braço me mandando
ir na frente.
Caminho determinado, em cada passo sinto meu coração dar
um baque mais forte que o outro, mas agora não há mais espaço
para arrependimentos, eu só preciso acabar com toda essa merda e
lutar por Ambra como ela merece.
— Estou ouvindo — diz ao encostar a porta do escritório nos
dando privacidade. — Você parece nervoso. — Ele cruza os braços,
em uma pose intimidante.
— Precisamos conversar sobre Ambra. — Sou direto.
— É mesmo? — Dom inclina a cabeça, eu conheço esse seu
jeito calmo, ele vai me engolir quando eu terminar de falar. — Sobre
o que exatamente?
É agora ou nunca.
— Ela não pode se casar com Renzo.
— Não? — O desgraçado está jogando comigo. Maldito! —
Posso saber por quê? — Inspiro fundo antes de respondê-lo.
— Porque eu quero me casar com ela. — Jogo a bomba de
uma só vez. — Nós nos apaixonamos e eu não posso mais fingir
que nada aconteceu e permitir que Renzo fique com sua irmã.
— Você tocou na Ambra? — Sua voz baixa e fria me arrepia,
mas no momento sentir medo não está dentro dos meus planos.
— Eu... — Passo a mão pelo cabelo. — Não tive como evitar.
— Você vai morrer, Amaro.
Não consigo me movimentar há tempo, ele me segura pelo
pescoço e bate minhas costas com violência na parede. O seu rosto
está retorcido pela raiva e vejo nos seus olhos gélidos que se eu
sair vivo desse escritório, terei esgotado toda a sorte da minha vida.
Se o meu destino for morrer por querer ter Ambra comigo,
que assim seja. Eu vivo em perigo todos os dias para defender um
sistema que fui obrigado a ser leal, morrer por ela será um grande
presente depois de tantos anos em uma vida fodida.
Eu poderia me defender, seria um belo momento enfrentar
meu mestre, mas não posso fazer isso quando eu estou errado.
Neste momento preciso apenas enfrentar a fúria do Dom e, de
alguma maneira, tentar fazê-lo me ouvir.
Estou em uma missão impossível, sei disso, mas que se
foda, preciso enfrentar qualquer desafio para ter Ambra.
— Enquanto eu deixava a minha irmã aos seus cuidados
você traia a minha confiança? — O seu aperto na minha garganta
se intensifica.
— Não foi intencional — sussurro. — As coisas fugiram do
controle.
— Você é treinado para ter controle em tudo, não me venha
com essa desculpa.
— Qual o controle possui quando o assunto é sua esposa? —
O rosto dele fica ainda mais rígido.
— Não confunda as coisas, ela é minha mulher.
— Também quero que Ambra seja, tanto que estou aqui sem
medo que me mate para tê-la como minha legítima esposa — Dom
não diz nada, apenas me encara com seus olhos azuis metálicos,
parecendo me acertar com dezenas de lâminas afiadas. — Só peço
que não puna minha família por tudo o que fiz, eles não merecem
pagar pelas minhas transgressões.
— Mas que porra é essa? — A voz irritada do Paolo faz
Domênico aliviar o aperto na minha garganta. — O que pensam que
estão fazendo?
— É assunto meu, Paolo.
— Assunto seu é o caralho, está enforcando meu tenente,
largue-o agora mesmo.
— Não posso fazer isso. — Por alguns segundos ele tira toda
a minha entrada de ar, deixando a minha visão turva.
— Domênico, é uma ordem, solte Amaro.
— Isso é um assunto pessoal, você não possui autoridade
sobre minha vida fora da máfia. — Para a minha sorte Dom alivia o
aperto, permitindo que eu volte a respirar.
— Você está na minha casa, porra! Eu mando nesse caralho.
— Não quando seu tenente tocou na minha irmã, o serviço
dele era apenas protegê-la.
— Puta que pariu! — Paolo blasfema. — Você fez isso,
Amaro? Traiu Domênico?
— Ambra nunca esteve em risco — digo essas palavras com
os olhos presos a Dom. — Só me apaixonei por ela e fui
correspondido.
O silêncio impera no escritório, apenas as respirações
irregulares entre mim e Domênico destoam. Ninguém se move,
todos sabem que estamos enfrentando um momento de extremo
perigo.
— Acho que podemos conversar, vamos nos sentar e
resolver isso logo.
— Você quer realmente conversar, Paolo? — Dom tira a
atenção de mim para poder olhar seu cunhado. — Já está bêbado?
— Não seja irônico comigo, só estou tentando salvar a porra
da festa da minha mãe sem mortes. — Ele não esconde o quanto
está com raiva. — Fora que não quero meu inferno vermelho
comendo meu fígado porque você matou Amaro na nossa casa.
— Sua esposa vai superar esta morte. — O sorriso que Dom
me lança tem um prazer mórbido. — Você desonrou a minha irmã?
— Ele volta a me bater contra a parede.
— Nunca chegaria tão longe. — Sou sincero. — Eu a respeito
mais que tudo.
— Meu Deus! Parem com isso. — A voz alterada da Masha
soa por todo o escritório. — Vocês enlouqueceram? Não acreditei
que estavam se matando quando Nicolo me alertou, que absurdo.
— Domênico solte Amaro agora mesmo — Giovanna pede ao
marido. — Vocês não são bárbaros para não possuírem a
capacidade de conversar se houver um problema.
— Eu vou resolver isso, podem nos deixar a sós? — Paolo
pede com uma calma que não é característica dele.
— Não! — as meninas falam ao mesmo tempo.
— Dom, não faça nada a Amaro, eu o amo. — A declaração
da Ambra coloca a atenção de todos nela.
Mais uma vez caímos no silêncio, no entanto, eu consigo
ouvir todo o caos que se desenrola nos olhos marejados da minha
garota quando ela para atrás do irmão.
Enxergo seu medo de que Dom me mate, sua paixão,
incerteza, fragilidade, descrença e esperança. Tudo está estampado
no seu olhar e me mata saber que não posso consolá-la.
Ela não sabe o que esperar da situação em que estamos
passando, eu queria poder dizer que estou disposto a tudo, mas no
momento só posso tentar me manter vivo para explicar ao seu irmão
que posso fazê-la muito feliz.
— Só me ouça, Dom, eu sabia de tudo e estava me
preparando para tomar as devidas providências. — A revelação da
Giovanna me pega de surpresa. — Eles se amam e nós vamos
ouvi-los e apoiar os dois como já havíamos combinado, caso Ambra
se apaixonasse por alguém, portanto solte Amaro e podemos
conversar de maneira civilizada.
— Eu sei o que faço, Giovanna, não me diga como devo
proceder quando tenho a minha frente uma pessoa que não foi
capaz de ser fiel a mim.
— Paolo, tire Domênico de cima do Amaro agora mesmo,
você é o Capo — Masha pede irritada.
— Tirar eu até tiro, mas eu vou ter que bater no seu
amiguinho e não quero reclamações da sua parte depois.
— Amaro... — Dom fala meu nome com sua voz profunda. —
Uma das coisas que mais me orgulho nesta vida é ser um bom
observador e traçar meus planos de maneira meticulosa. — Enrugo
a testa, sem entender bem o que está querendo dizer. — Raramente
algo me pega desprevenido, pois eu premedito meus passos. —
Sou surpreendido quando ele se afasta um pouco e sorri. — E tudo
o que nos levou até aqui, foi premeditado com muita perícia por
mim. — Ele me solta, o que me permite respirar, ainda que uma
tosse compulsiva me domine por conta do período que o maldito
quase esmagou minha garganta.
Não digo nada, pois eu estou completamente perdido, sem
realmente saber o que ele está querendo me dizer.
— Como assim? — por fim pergunto quando consigo parar
de tossir e estabilizar a minha respiração.
— Eu programei cada um dos encontros de vocês — afirma
ao dar dois tapinhas no meu rosto. — Não existe dentro do clã
nenhum homem que esteja à altura da minha irmã como você. —
Fico estático, sem conseguir acreditar no que ouço. — Percebi o
interesse de ambos há algum tempo e gostei do que vi.
— Mas... — Não termino a minha frase, eu não sei o que
dizer.
— Isso é sério? — Paolo questiona sem esconder a
indignação. — Você estava fingindo que ia matar Amaro este tempo
todo?
— Só queria ter uma resposta que poderia mudar tudo. —
Dom apoia a mão no meu ombro. — Saber que respeitou a minha
irmã acima dos seus desejos mostra o quanto é honrado, eu não
apostei em você em vão, em todos os testes que fiz até hoje,
passou por cada um.
Ainda me sinto confuso, não acredito que estava o tempo
todo sendo manipulado por ele.
— Você me usou? — pergunto sentindo-me uma marionete.
— Eu só busquei descobrir se estava à altura da Ambra e
você não me decepcionou — diz ao girar o rosto para poder fitar a
irmã. — Realmente o ama?
— Mais do que tudo. — Ela não demonstra nenhum tipo de
insegurança ao responder.
— Hoje não é o momento ideal para conversarmos sobre o
futuro de vocês, vamos seguir normalmente com a festa, amanhã
podemos nos encontrar — Domênico avisa.
— Isso tudo é um absurdo — Gio exclama indignada. — Eu
me desesperei por nada, quase tive um infarto pensando que ia
matar Amaro.
— Eu precisei fazer isso, queria testá-lo até o último segundo.
— Dom de alguma maneira tenta se desculpar com a esposa. —
Lembra quando não me contou sobre Fiorella e o príncipe de Vichi?
— Sua esposa parece a ponto de explodir.
— Não vamos discutir nada agora, faremos isso quando
chegarmos em casa. — Ela se vira e sai do escritório aborrecida.
— Que confusão você causou, Domênico. — Masha vai atrás
da cunhada.
— Deu para entender que têm duas mulheres muito putas por
que você quis ser o espertinho, não é mesmo? — Paolo acende um
cigarro. — Eu espero que esteja bem fodido com elas, porque entre
nós dois conversaremos sobre tudo isso em breve. — Agora ele me
lança um olhar. — E você resolva logo a situação com Ambra, não
quero baderna no clã com a irmã do meu Consigliere, evite uma
punição severa da qual irá se arrepender.
Sem mais palavras ele sai do escritório, acompanhado de
Nicolo, o fofoqueiro, que alertou as meninas do que estava
acontecendo. Ficamos apenas Ambra, eu e Domênico, em um clima
que ainda não é dos melhores.
— Darei alguns minutos para conversarem, depois quero os
dois na festa, como se nada tivesse acontecido. — Dom é inflexivo
na sua ordem. — Já me basta toda a merda que Giovanna me fará
enfrentar em casa.
— Lamento por isso. — Ambra olha para o chão.
— Você não tem culpa de nada. — Ele apoia um dedo no seu
queixo e ergue sua cabeça. — Não fale nada a nossa mãe,
converso com ela depois.
— Tudo bem. — O irmão beija a testa dela e começa a se
afastar.
— Dom. — Chamo por ele, que me encara com uma das
sobrancelhas erguida, indicando que devo falar logo. — E quanto a
Renzo? Não o quero perto da Ambra. — Um sorriso torto se
desenha em seus lábios.
— Nesta noite você terá que suportá-lo, não posso fazer
nada além do que já prometi. — Fecho as mãos em punho, sentindo
a raiva me dominar. — E já pense no anel de noivado da minha
irmã, na próxima semana providenciarei tudo para anunciar o
compromisso de vocês, não quero burburinhos se espalhando pela
Famiglia.
Ele nos deixa a sós e fecha a porta nos isolando em um
mundo apenas nosso, dentro de uma realidade que nenhum dos
dois jamais poderia imaginar.
Fico um tempo inerte, até que me aproximo dela e rodeio os
braços por seu corpo. Ambra me encara exibindo um olhar inseguro
e marejado. Abaixo a cabeça e selo nossos lábios, em um beijo
casto, mas que evolui para algo possessivo.
Ela é minha e, pela primeira vez desde que decidimos dar
vazão ao que sentimos, sabemos que teremos um futuro nos
esperando. Apoio a mão na sua cabeça e esqueço a delicadeza,
invado sua boca com urgência, enroscando a minha língua a sua
com desespero.
Agora posso afirmar que nada irá nos separar, a partir desta
noite eu terei Ambra apenas para mim, ninguém mais irá tocá-la,
seremos nós dois para sempre juntos.
— Amaro. — Meu nome sai da sua boca em um sopro suave.
— Tudo isso é real?
— Claro que é. — Acaricio sua bochecha. — Ninguém irá nos
separar. — Ela sorri e aperta a minha cintura com força. — Se não
quiser ser a minha noiva, avise seu irmão imediatamente, porque na
segunda-feira eu providenciarei seu anel. — Ela fica nas pontas dos
pés e beija rapidamente meus lábios.
— Tudo o que mais quero é ser sua mulher. — O meu
coração esmurra meu peito sem controle.
— Você sempre foi minha, Ambra, eu não iria te perder para
aquele idiota. — Volto a selar nossos lábios, desesperado para
sentir seu gosto.
— Eu estou realmente emocionada. — A voz da minha irmã
Elena quebra nosso beijo. — Finalmente assumiram o que sentem.
— Será que pode ser discreta? — Stefania a recrimina. —
Não queríamos incomodar, mas Giovanna nos disse que seria bom
falarmos com você.
— Vocês não incomodam — digo ao abraçar a cintura da
Ambra. — A amiga de vocês será a minha futura esposa. — As
minhas irmãs não escondem o sorriso.
— Os dois sempre foram péssimos em esconder o que
sentiam, sabíamos o tempo todo o que acontecia. — Elena é a
primeira a abraçar a amiga.
Fico observando as três confraternizarem felizes, elas estão
completamente eufóricas. Saber que tenho o apoio delas me deixa
radiante, será algo essencial quando eu tiver que conversar com
meus pais.
— Já posso dizer que somos cunhadas? — Stefania
pergunta.
— Vamos com calma, ainda temos alguns pontos a resolver
com Domênico. — Volto a tocar Ambra. — Mas até segunda ordem
só preciso legitimar nosso compromisso. — Ela sorri, exibindo um
brilho intenso nos seus olhos.
— Ainda que não possamos assumir nada, nós somos
cunhadas, amigas e tudo o que quisermos. — Ambra mal acaba de
falar e é engolida por um novo abraço.
Fico a parte da comemoração, apenas admirando o quanto
minhas irmãs estão felizes, por saberem que sua amiga a partir
desta noite fará parte das nossas vidas.
O meu corpo ainda está trêmulo, eu me sinto em um mundo
paralelo, incrédula sobre tudo o que acabou de acontecer.
— Não quero Renzo com as mãos em você, fique longe dele
e assim que puder peça a sua mãe para ir embora, ou então diga
que quer ficar na minha casa, esta última opção é mais interessante.
— Amaro circula o braço pela minha cintura quando finalmente
ficamos sozinhos no escritório. — Eu estou com saudades dos
nossos encontros secretos. — Ele beija meu pescoço, me fazendo
gemer.
— Acha mesmo que Dom vai deixar eu ir para a sua casa
agora que já sabe sobre nós?
— Se ele permitiu por todo esse tempo nos fazendo de
marionetes, não têm motivos para impedir agora.
É difícil acreditar que foi Dom a programar meus encontros
com Amaro. Ele nos enganou direitinho, jamais imaginei que seria
capaz de algo assim.
— Só que agora é tudo diferente, você sabe disso.
— Não custa arriscar. — Ele segura o meu queixo, seus
olhos parecem poças de lava fumegante. — Na verdade, o que
importa é que você agora é minha. — Estremeço quando sua boca
roça sensualmente contra os meus lábios.
— Você arriscou tudo por mim — digo ao segurar seus
braços.
— Como não faria isso se te amo? — Eu me derreto contra
seu corpo quando seus braços me apertam com força. — Por mais
que eu tenha tentado ser racional não consegui sobreviver ao ver o
merda do Di Angeli te rondando, pensar em outro homem te tocando
me faz ficar cego de raiva.
— Estou um pouco surpresa com toda essa sua
possessividade. — Passo a mão pela sua barba.
— Só não quero nenhum macho perto da minha mulher.
Não consigo respondê-lo, pois sua boca aprisiona a minha,
me levando ao céu quando nossas línguas se enroscam. Ele vai ser
meu marido, o meu grande sonho se realizou de uma maneira tão
inesperada que ainda me sinto reticente quanto a veracidade de
tudo o que estou vivendo.
Quando se afasta eu permaneço de olhos fechados, ainda
tentando crer que não estou sonhando.
— Ambra... — Meu nome sai em um delicado sussurro. —
Você está bem?
— Só estou tentando assimilar tudo. — Toco o meio do seu
peito. — Estou com medo de acordar e nada ser real — digo ao
abrir os olhos e encará-lo.
— Pare de pensar, porque é tudo verdade, agora precisamos
ir ou o seu irmão pode se aborrecer.
Saio do escritório na sua frente e encontro as minhas amigas
me esperando na sala. Elas estão tão felizes que não param de
sorrir, parece até que são elas a estarem realizando um sonho.
— Quase fui te buscar, vocês não podem ficar se agarrando
no meio da festa. — Elena me lança um olhar arteiro.
— Para de bobagens, vamos lá para fora logo, não quero a
minha mãe desconfiando de nada.
— E quanto ao Renzo, o que vai fazer? — Stefania segue ao
meu lado, quando entramos na varanda dos fundos.
— Isso é problema do meu irmão, eu só vou aproveitar a
felicidade que estou vivendo, não quero saber de mais nada.
— Eu também estou tão feliz. — Ela enrosca o braço no meu,
sorrindo. — Não acredito que nós seremos cunhadas,
pertenceremos a mesma família.
— Essa noite está sendo uma loucura, acho que só mais
tarde vou entender todos os fatos que ocorreram.
Volto a me misturar entre os convidados e, após algum tempo
Renzo se aproxima. Agora eu me sinto mais relaxada com sua
aproximação, pois sei que nunca ficaremos juntos. No entanto, certa
tensão me domina quando vejo do outro lado Amaro nos encarando,
ele não está conseguindo esconder o quanto deseja quebrar o
pescoço do meu acompanhante.
Parecendo perceber que Amaro está perto de matar o Di
Angeli, minha cunhada me chama para ficar com ela. Respiro
aliviada, não preciso neste momento de uma confusão que possa
causar um atrito entre famílias.
— Você não vai brigar com o seu marido por conta da minha
história com o Amaro, né? — pergunto quando consigo uma brecha
entre as conversas da nossa rodinha.
— Dom armou tudo isso e não me disse nada, tenho o direito
de ficar chateada com ele. — Giovanna olha para onde o marido
conversa com Paolo.
Eles não parecem bem, nosso Capo está com o semblante
ainda mais fechado e faz gestos com as mãos enquanto fala algo ao
meu irmão.
— Não quero que briguem, Dom não fez nada por mal, no
final tudo acabou bem.
— Sei que acabou, mas eu estou magoada, queria poder
fazer parte desse plano. — Agora ela parece uma menina mimada
que não teve seus desejos realizados.
— O importante é que fará parte dos planos do casamento,
esses são os melhores. — Seu semblante se ilumina.
— Quanto a essa parte, não abro mão de participar, quero
que seu casamento seja dos sonhos, eu estou tão contente por
vocês dois, não existe melhor homem nesse clã para ser seu marido
do que Amaro.
— Penso igual — concordo quando nos abraçamos. — Dizer
que ele é especial não chega perto do que Amaro significa para
mim. — Gio sorri com ternura.
— É bom ver o quanto se amam, desejo toda sorte do mundo
a vocês.
— Acha que a mamãe pode ser um empecilho? — Olho para
ela que conversa com algumas amigas a poucos metros de nós.
— Eu espero que não, mas se ela causar qualquer problema,
seu irmão saberá como contê-la. É ele que tem seu futuro em mãos
e, se o próprio quis unir vocês dois, minha sogra não tem chances
contra ele.
Espero que Gio tenha razão, agora que recebi a promessa do
Dom de que iremos nos casar, não quero imaginar que uma
desavença com a minha mãe possa atrapalhar nosso destino. Eu a
amo, mas se ela não aceitar meu casamento, um abismo gigantesco
se abrirá entre nós. Que isso não aconteça, quero ela feliz ao meu
lado, quando chegar o momento que direi sim ao homem que tem
todo o meu coração.
***

Estou nervosa, hoje, Dom marcou uma reunião com todos os


membros da nossa família. A minha mãe está certa de que ele
falará sobre Renzo.
Segurar esse segredo dela não é agradável, mas eu não
posso descumprir uma ordem direta do meu irmão, se ele mesmo
quer contar tudo, não serei eu a impedi-lo.
Vai dar tudo certo, ligue-me quando tudo acabar.
Releio a mensagem do Amaro, ele está preocupado com a
reação dos meus irmãos, de acordo com sua lógica, Guido em
especial, pode ser o nosso maior problema.
Davide é o primeiro a chegar, ele estava fora do país por
duas semanas, pelo pouco que fiquei sabendo estava em
negociação para comprar parte de uma empresa na Espanha.
Não nos vemos muito, mesmo após a morte do meu pai ele
preferiu se manter distante de todos nós.
— Como está, Ambra? — pergunta ao beijar meu rosto.
— Bem. — Encaro-o. — Está corado, sua viagem ao menos
teve um bom momento para o lazer.
— Consegui aproveitar. — Como sempre é econômico nas
palavras. — A reunião é sobre o casamento da Ambra com Renzo?
— pergunta diretamente à nossa mamãe, falando de mim como se
eu não estivesse presente.
Reviro os olhos, contendo a vontade de alertá-los que eu sou
capaz de responder qualquer tipo de pergunta.
— Ele não disse o assunto, mas como Renzo está cortejando
sua irmã, acredito que falaremos sobre o noivado deles.
— Os Di Angeli são de confiança, será uma boa união.
— Também acho.
Sorrio por dentro, feliz por ter uma informação privilegiada,
quero ver a reação de todos quando souberem quem é meu futuro
marido.
Guido é o próximo a chegar, ele fala rapidamente comigo e
vai para um canto com Davide, certamente vai querer saber cada
detalhe da viagem de negócios do nosso irmão. É um assunto mais
apropriado do que meu casamento, para eles tanto faz com quem
me case, uma irmã comprometida é sinal de não terem dor de
cabeça.
Fico aliviada quando Dom chega, ao lado da esposa e do
filho. O pequeno vira imediatamente atração entre nós, todos
queremos nosso tempo com ele.
— Está muito nervosa? — Gio me pergunta quando
conseguimos ficar sozinhas.
— Nenhum pouco. — Essa é a mais pura verdade. — Não
me importo com o que achem sobre meu casamento, meu medo é
Dom recuar.
— Acho que nem se eu pedisse ele recuaria, meu marido tem
plena confiança que Amaro deve se casar com você.
— Quanto a isso não discordo dele. — Olho para o meu
irmão que está ouvindo Davide. — Vocês estão bem? Fiquei
preocupada com os dois.
— Eu até tentei encurralá-lo, mas sabe como é seu irmão,
conseguiu reverter a situação e eu acabei sem argumentos.
— O que ele fez? — questiono curiosa.
— Quando minha irmã Fiorella começou a se envolver com o
príncipe eu soube e não contei, ele usou isso contra mim de uma
maneira tão baixa. — Ela cruza os braços irritada. — Não pude
confrontá-lo, porque Dom só soube de tudo quando ela já estava
grávida.
— A vida é uma merda, sempre encontra um jeito de revidar
o que fazemos.
— E, não é? — concorda comigo. — Agora estamos
empatados, acho que só teremos esse tipo de problema quando
começar a fase de casamento das crianças.
— Eu espero que até lá algumas coisas tenham mudado.
— Nos esforçaremos para isso.
A minha mãe nos chama para o jantar, isso me faz ficar
acelerada, está chegando a hora de todos saberem o real motivo
deste encontro.
Apesar de não ter muito apetite tento comer algo para não
receber reclamação da mamãe. Espero Domênico começar a puxar
o assunto principal do nosso encontro, mas ele fica quieto,
conversando com naturalidade.
Giovanna percebe minha agitação e me pede calma, tento
seguir seu conselho, mas não é fácil. Quando penso que vou
explodir, Dom nos chama para a sala avisando que precisa ter uma
conversa importante.
Fico aliviada, mas a ansiedade continua a me corroer com
fervor. Sento-me junto da Gio, que demonstra uma calma admirável.
Eu a invejo muito, ela não teve a minha sorte quando se casou, foi
obrigada a aceitar meu irmão assim que completou dezoito anos e,
naquela época, ainda precisou lidar com meu pai. Se eu estivesse
no lugar dela, não teria toda a sua força.
— Acredito que já saibam o motivo que pedi este jantar com
todos juntos. — Dom cruza a perna ao observar meus irmãos e
nossa mãe.
— Caso não nos pegue de surpresa, estamos aqui por conta
do casamento da Ambra. — Guido é o primeiro a se pronunciar.
— Exatamente — meu irmão responde calmamente. — Já
escolhi seu futuro marido e ainda essa semana ela terá um anel de
noivado no dedo, formalizaremos a união do casal em um jantar na
minha casa, apenas para nossas famílias.
— Eu estou feliz que não tivemos problema quanto esse
assunto, é do meu agrado que Renzo seja o escolhido, é um bom
rapaz e a família dele possui a necessária tradição para receber
uma Pizzorni. — A minha mãe sorri na minha direção, sem imaginar
que os planos do meu irmão são bem diferentes do que está
imaginando. — Parabéns, filha, eu tenho certeza de que terá um
casamento tranquilo.
— Só temos um pequeno detalhe a esclarecer. — Dom me
olha e vejo o quanto está se divertindo com toda a situação. — Não
será Renzo o escolhido.
— Como é? — Tanto Guido quanto minha mãe fazem a
pergunta no mesmo instante.
— Domênico, como não será ele? É o único rapaz que foi
autorizado a se aproximar da sua irmã — nossa mãe o questiona.
— Eu deixei outra pessoa ao redor dela, era justamente o
único homem no clã que tem todas as credenciais para ser o marido
da minha irmã, sem que eu precise me preocupar com
absolutamente nada.
— E quem foi o escolhido? — Davide pergunta.
— Amaro Lo Moro, o homem que nos libertou da fera que
sempre nos atormentou.
O silêncio se estende pela sala, todos encaram Domênico
incrédulos. Não os julgo, tudo estava se desenhando para que eu
ficasse com Renzo, essa reviravolta pegou até mesmo a mim de
surpresa.
— Como assim? — Nossa mãe é a primeira a se manifestar.
— E quanto a Renzo?
— Ele foi um meio para alcançar meus objetivos, Amaro
sempre foi minha primeira opção.
— Sei que devemos muito a esse rapaz, em especial pelo
que fez por sua esposa, mas não acho que esteja à altura da nossa
irmã, a família dele não possui tradições. — Fico rígida com a fala
do Guido, eu sabia que ele não iria aceitar essa notícia de mãos
atadas.
— E o que representa as tradições quando você vive dentro
de uma casa sem amor? — Gio encara Guido. — Sei que para
vocês homens casamento é um arranjo, não precisa de
sentimentos, mas não é o mesmo para nós mulheres e, se sua irmã
pode se casar com alguém que ela ama e é correspondida, cabe a
todos da família abraçar esse casamento para vê-la feliz, não
importa o sobrenome que venha com esse homem, até porque
Amaro dispensa qualquer tipo de apresentação.
— Minha esposa tem razão. — Dom segura a mão dela. —
Eu escolhi Amaro, eles se amam e todos o aceitarão sem restrição
na nossa família, teremos mais um membro de honra entre nós,
quero o máximo de respeito com ele.
— Isso é loucura. — Guido passa a mão pelo cabelo. —
Somos do alto clã, não podemos entregar Ambra a um soldado.
— Tenente — Domênico o responde com calma. — Agora
Amaro tem novo cargo e em breve eu o farei subir de patente, quero
ele dentro do alto clã, será responsabilidade dele construir um
sobrenome forte dentro da Famiglia. — Fico orgulhosa da
segurança com que meu irmão coloca Guido no seu devido lugar. —
Eu sou o responsável por ela, sei o que faço.
— Você realmente gosta desse rapaz, filha? — A minha mãe
me fita com certa apreensão.
— Não gosto. — Todos me olham surpresos. — Eu o amo
mais do que tudo, quero me casar o quanto antes. — Giovanna
sorri, enquanto Dom apenas retorce os lábios.
Por alguns segundos minha mãe fica em silêncio, ela tem a
expressão tensa, claramente não gostou da notícia.
— Bem... — ela suspira fundo. — Se é o que deseja, eu não
vou me opor, confio, não só no julgamento do Domênico, como no
próprio Amaro, ele já nos mostrou que é um homem honrado e
corajoso. — O alívio me domina, estou exultante em ter sua bênção,
seria triste se ela não aceitasse meu casamento.
— Sábado será o noivado, providencie tudo o que precisar
para estar belíssima e receber o seu anel. — Dom se levanta e vem
até a poltrona que estou acomodada. — Estou satisfeito em ter
tomado a atitude certa ao perceber que vocês seriam felizes juntos.
— Obrigada por me dar essa oportunidade, eu não iria querer
ninguém além do Amaro.
— Sei disso, meu anjo. — Fecho os olhos quando beija a
minha testa. — Acho que a ocasião merece um brinde.
— Vou providenciar o champanhe agora mesmo — minha
mãe diz antes de se aproximar de mim e segurar a minha mão me
fazendo levantar. — Só em ver seus olhos brilhando já entendi tudo
o que sente, tem a minha bênção filha, quero apenas que seja feliz
e nunca sofra como eu. — Ela me abraça com força.
— Obrigada, mãe, eu sei bem o que passou, lamento por
tudo.
— Acabou, isso que importa. — Sorrindo ela acaricia meu
rosto antes de se afastar.
Os meus irmãos também me cumprimentam, Guido, no
entanto, não esconde seu descontentamento com a notícia, dentre
todos nós é o que mais preza por tradições. Já Davide parece pouco
se importar com meu futuro marido, ele, na verdade, não liga muito
para ninguém, vive no seu mundo, tentando ao máximo não se
envolver profundamente com a máfia.
Não demora muito o champanhe chega e com ele vem
Massimo, que estava aos cuidados de uma das nossas funcionárias.
Aproveito para segurá-lo, tê-lo entre meus braços é sempre um
momento especial.
— À felicidade da Ambra e ao seu futuro noivado. — Dom
inicia o brinde.
— E que vocês tenham um casamento sereno, cheio de amor
e com uma linda família. — Gio me olha com carinho.
— Só quero mais netos para correr pela minha casa e isso se
estende a vocês dois, tratem de procurar uma esposa.
Sorrio do seu pedido, enquanto meus irmãos fazem uma
careta. No que depender de mim ela terá muitos netos e não vou
demorar a dar o primeiro, porque quero logo meu próprio bebê, sei
que darei conta da faculdade, assim como minha cunhada.
Se existe algo que não irá faltar entre Amaro e eu será
disposição para fazer muitos herdeiros.
Bebo meu champanhe escondendo o sorriso ao pensar que
não vou demorar para saber como será a sensação de ser toda
dele, não vejo a hora de poder ter um momento a sós com meu
futuro noivo, preciso da sua mão por todo meu corpo, voltar a
reviver a sensação única dele me incendiando com o mais simples
toque.
Meu pai ajeita a gravata, ele está claramente incomodado
com toda a situação. Desde que revelei o que ocorreu na festa da
mãe do Paolo, meus pais permanecem reticentes com relação ao
meu envolvimento com Ambra.
Independentemente de termos a bênção do Dom, ele ainda
está remoendo a parte em que meus encontros com Ambra foram
feitos em sua maioria debaixo do teto dele.
Meu pai é um homem extremamente fiel às regras e saber
que eu não fui respeitoso é algo inaceitável.
Tentei explicar que nada foi intencional, ele acompanhou meu
raciocínio em silêncio até o momento em que disse que fui ao quarto
dela sem a intenção de tocá-la, desse momento em diante ele
explodiu e sem maiores dificuldades derrubou a minha desculpa
esfarrapada.
Realmente eu queria Ambra quando pela primeira vez
apareci no seu quarto, eu só estava fingindo a mim mesmo que fui
até lá alertá-la para ser discreta sobre nós.
Foda-se também as minhas intenções, o que importa agora é
que em poucas horas ela será a minha noiva e, em alguns meses, a
minha esposa.
— O senhor pode sossegar? — peço quando já estamos
próximos do apartamento do Domênico. — Nem eu que sou o futuro
noivo estou tão nervoso.
— Essa situação toda é um absurdo — diz ao passar a mão
pelo cabelo. — Você com a irmã do Consigliere é inadequado. —
Trinco os dentes, odeio a maneira como fala, parece que eu não sou
ninguém, que é um crime me unir a Ambra.
— Por que inadequado, pai? — Elena se inclina ficando no
espaço entre o banco do carona e o meu. — Amaro por acaso não
tem a honra necessária para se casar com minha amiga?
— Você sabe do que estou falando.
— Esqueça essa droga de sobrenome, o que importa é que
eles se amam.
— Olha essa boca, você anda muito atrevida, não estou
gostando disso. — Nosso pai a repreende. — Não estou colocando
em dúvida o amor deles, mas eu sei muito mais sobre o quanto uma
boa linhagem importa na Famiglia.
— Honra também importa. — Minha mãe toca o ombro dele.
— Isso nosso filho tem de sobra e nosso Consigliere sabe disso,
caso contrário não colocaria sua única irmã nas mãos do Amaro.
Entendo seu ponto, meu velho, mas as coisas mudam e evoluem,
vamos apenas ficar felizes por saber que eles irão se casar por
amor.
Meu pai se cala e apenas dá dois tapinhas na mão dela,
indicando que está vencido nessa discussão.
— São muitos anos seguindo uma mesma linha de
pensamento, é difícil mudar — por fim ele comenta.
— Tudo muda hoje em dia, pai — afirmo quando estaciono o
carro. — O sobrenome da sua família está entrando para o alto clã e
eu espero que se orgulhe disso. — Nos encaramos e vejo um brilho
de lágrimas se espalhar em seu olhar.
— Sempre me orgulhei de todos vocês, eu os criei com os
melhores princípios.
— E nós te amamos pai, sabe disso. — Ele apoia a mão na
minha coxa e aperta com força, sem dizer nada, mas a emoção está
nítida no seu rosto.
— Vamos a nossa missão — diz ao abrir a porta do carro e
sair.
Faço o mesmo e espero por todas as mulheres da minha
vida, juntos entramos no prédio do Domênico. Apesar de sempre
receber convite da Giovanna para trazer minha família até sua casa,
meu pai nunca aceitou, então esta será a primeira vez de todos eles
aqui.
Subimos em silêncio e, quando o elevador chega ao nosso
destino saio na frente. Sinto meu coração disparar, não vejo Ambra
desde a festa na casa do Paolo. Nos falamos todos os dias, porém
não é a mesma coisa, eu estou sentindo falta de tocá-la, sentir seu
gosto, não vejo a hora do casamento acontecer e poder tê-la todos
os dias.
Assim que entro no apartamento sou atraído pela presença
da minha futura noiva. Ela está com um vestido lilás onde a parte
superior é ajustada ao tronco, um decote em formato de coração
exibe o contorno dos seus seios, logo abaixo uma saia enviesada
chega até o meio das suas coxas.
Gostosa demais! E pensar que essa mulher será toda minha
em pouco tempo.
Ajeito minha gravata me sentindo sufocado, vou ter que me
segurar a noite toda, infelizmente nada de pervertido que está
passando pela minha cabeça poderá acontecer.
— Sejam bem-vindos. — Domênico vem nos cumprimentar.
— Depois de muito tempo tenho a honra de tê-los na minha casa.
— Ele aperta a mão do meu pai.
— A honra é toda nossa, senhor. — Como sempre papai não
consegue agir naturalmente.
— Corrigindo. — Dom cobre a mão dele com as suas. — A
honra é mútua. — Sua voz sai firme, como um alerta ao meu pai. —
Já podemos nos considerar família, senhor Pasquale. — Meu pai
apenas sorri, ele ainda precisa de tempo para poder se acostumar à
nova realidade da nossa família.
Giovanna se aproxima para nos cumprimentar, ela está
radiante com o noivado. Durante a semana estive aqui na sua casa
e conversamos longamente. É extremamente emocionante
presenciar a preocupação dela com as pessoas que ama. A sua
força e determinação é algo inspirador, não conheço dentro do clã
nenhuma mulher que seja tão perfeita para estar casada com Dom.
Fico tenso quando chega o momento de cumprimentar a mãe
da noiva, ela é uma mulher sempre distante e, apesar de saber que
não se opôs ao casamento da filha comigo, sei que eu estou longe
de ser o sonho dela como genro.
— Boa noite, senhora. — Faço um gesto de cabeça em
respeito. — É um prazer revê-la.
— Digo o mesmo. — Ela me fita de maneira séria. — Não
vou me estender com você, pois confio no meu filho. — Fico rígido.
— Só te peço para sempre cuidar da minha menina, não quero que
ela passe por nada do que eu tive que viver com meu falecido
marido. — Solto uma respiração profunda.
— Ambra será amada e respeitada como merece — digo com
firmeza. — Não matei o seu marido por capricho, ele merecia deixar
essa vida. — Concetta me olha com certo orgulho, um discreto
sorriso desenha-se em seus lábios, antes dela fazer um gesto de
concordância com a cabeça e se afastar.
Na sequência falo com Davide, que como sempre não parece
se importar com o que acontece com a família. Quando chega a vez
de falar com Guido tudo muda, esse sempre foi o mais parecido
com o pai, por isso não simpatizo com ele.
— Espero que saiba o privilégio que está tendo ao entrar na
nossa família — diz ao apertar a minha mão.
Entendo bem o que quer dizer, mas eu não vou cair na sua
provocação. Conheço tipos como Guido, ele se acha superior pelo
nome que possui, mas eu não vejo a vida pela sua ótica.
— Claro que eu sei. — Devolvo seu aperto de mão. — Eu
vou me casar com a mulher dos meus sonhos, não existe privilégio
maior que isso, só posso agradecer. — Ele fica claramente
desconcertado.
Evito sorrir quando se afasta emburrado, foda-se esse merda,
não me importo com sua opinião, o que vale realmente é o que eu e
Ambra sentimos.
Converso rapidamente com Paolo e Masha, ele parece
calmo, enquanto sua esposa não esconde sua empolgação com o
noivado. Ter o apoio deles é essencial, porque caso algum conflito
inesperado surja, terei os dois prontos a me defender.
O meu coração se expande quando chega o momento de me
aproximar da mulher que domina todo o meu coração. Ela me olha
com receio, o que me faz ficar agitado.
Não sei que tipo de pressão está tendo da sua família, ela
não se abriu comigo, apenas disse que Dom anunciou nosso
noivado, mas pela forma que Guido falou comigo, estou achando
que a conversa entre eles não foi tão tranquila.
— Você está fodidamente linda — digo a beijar seu rosto. —
Não sei como vou conseguir me segurar até nos casarmos.
— Esse casamento tem que acontecer o quanto antes. —
Ambra me olha com certa aflição.
— Calma, meu amor, eu vou tentar ser rápido. — Aperto sua
cintura, antes de ser obrigado a me afastar. — Conversarei com
Domênico quando oficializarmos nosso noivado, mas preciso te
avisar que no primeiro momento acho mais viável ficarmos morando
com a minha família, depois vou providenciar um local só nosso.
— Eu quero muito ficar com vocês, não penso em uma casa
só para nós dois por enquanto.
— Quero nosso espaço, mas antes preciso providenciar algo
à sua altura. — Ambra segura meus braços.
— Amaro eu só quero estar com você, não ligo para luxo,
nunca fui realmente feliz com todos os privilégios que tive. — Ergo a
mão e toco sua bochecha. — Se onde morarmos tivermos amor, é o
que importa.
— Com relação a amor não se preocupe. — Beijo sua testa.
— Isso nunca vai faltar na nossa casa. — Ambra sorri e me abraça,
chamando a atenção das pessoas que nos rodeiam.
Para não causar burburinhos eu me afasto e começo a
interagir com os poucos convidados. Um tempo depois Augusto
chega, ele foi a única pessoa fora da família que fiz questão de
convidar.
Sua presença me deixa mais tranquilo, é uma pessoa que eu
sei que posso confiar em qualquer tipo de situação.
— Você conseguiu o que tanto queria — meu amigo diz ao
bebericar sua taça de vinho.
— Eu morreria tentando.
— Sei disso. — Ele bate nas minhas costas. — Você a
merece demais, é um dos melhores homens que conheço.
— Para de bobagens — falo sem graça.
— Só estou sendo sincero. — Augusto me empurra sorrindo,
ao tocar o ombro no meu.
A confraternização se desenrola com tranquilidade, assim
como o jantar, mesmo percebendo meus pais tensos, tudo acaba
seguindo bem.
— Amaro. — Dom me chama quando saímos da mesa do
jantar e seguimos para a sala. — Tenha alguns minutos no solário
com a minha irmã, depois vamos formalizar o noivado.
— Tudo bem. — Estou verdadeiramente agradecido por ele
nos fazer essa gentileza. — Preciso te dizer que por um momento
eu fiquei aborrecido por achar que me usou. — Sou sincero. — Mas
não posso negar que estou grato não só por nos unir, como por ser
a favor ao nosso casamento.
— Eu quero minha irmã feliz e segura, você saberá dar tudo
o que ela merece. — Sua confiança em mim me deixa envaidecido.
— Farei o impossível para sempre realizar qualquer um dos
sonhos dela.
— Não espero nada menos que isso. — Ele aperta meu
ombro. — Agora tenha seu tempo com sua noiva, sei que precisam
disso. — Sorrindo se afasta e no caminho fala com Ambra, que me
olha e vem na minha direção.
— Vamos conversar. — Seguro sua mão e a levo para o
solário, nos isolando dos convidados. — Conseguimos!
— Eu estou explodindo de alegria. — Eu a abraço.
— A partir de agora eu só quero te ver sorrindo assim. —
Acaricio seu rosto. — Sempre vou me esforçar para te fazer feliz. —
Ambra sorri.
— Eu já sou feliz só em saber que passaremos o resto da
vida juntos.
Não digo nada, apenas selo nossos lábios, aproveitando o
momento que podemos estar sozinhos, sem que ninguém nos
interrompa. Sei que a partir de agora tudo será mais difícil até que o
nosso casamento aconteça, eu vou ter que me contentar em rápidos
encontros, mas vou me ancorar na realidade de que em pouco
tempo estaremos juntos para sempre.
Ela é minha e apenas a morte irá nos separar, mas até lá
seremos um casal feliz e construiremos um lar cheio de amor.

O meu coração parece não se conter, bate com tanta força


que tenho medo do Amaro ouvir. Envolvo meus braços ao redor do
seu pescoço e me deixo levar pelo seu beijo.
Ainda sinto que estou dentro de um sonho, é difícil acreditar
que em pouco tempo nos casaremos.
Escorrego os dedos por seu cabelo, me moldando ao seu
corpo quando ele me abraça. Em pouco tempo estaremos juntos
para sempre, vivendo o nosso amor na plenitude.
— Eu espero que goste do anel que escolhi — ele comenta
ao interromper o beijo.
— Não me importo com anel, só quero formalizar o nosso
noivado. — Amaro ergue um canto da boca satisfeito com minha
resposta.
— Também não vejo a hora de mostrar a todos que você é
minha. — Ele prensa os lábios contra os meus.
Novamente nos jogamos em um mundo só nosso, até que ele
se afasta me olhando com extremo desejo.
Eu preciso dele, não aguento mais ficar longe, necessito
encontrar um jeito de dormir na sua casa, só assim teremos um
encontro mais íntimo antes do casamento.
— Vamos voltar à confraternização, é melhor não abusar da
confiança do seu irmão.
— Não queria me afastar de você — digo ao abraçá-lo com
força.
— Calma, meu amor, não vai demorar muito e estaremos
casados. — Amaro pressiona os lábios contra os meus. — Juro que
vou adiantar o nosso casamento.
Mais uma vez ele me beija e eu esqueço todas as
diversidades que nos separam. Quando retornamos para a sala,
Giovanna reúne nossas famílias para formalizarmos o noivado.
O meu coração acelera, chegou o momento que tanto
esperávamos.
As minhas amigas se aproximam de mim, elas estão ainda
mais ansiosas do que eu. Elena então está cheia de planos para o
meu casamento.
Olho para Amaro que não parece estar nervoso, ele me
estende a mão para mim e eu a seguro sem pensar duas vezes.
— Eu formei infinitos discursos para este momento, mas
nenhum deles esteve perto do que gostaria de falar. — Seus olhos
prendem os meus. — Então vou ser direto. — Ele limpa a garganta.
— Domênico, quero pedir a sua autorização para que Ambra seja a
minha noiva.
As lágrimas inundam meus olhos, pois este é o momento que
tanto esperei, tudo o que mais quero é oficializar o nosso
casamento.
— Você tem não só a minha bênção como a da minha mãe.
— Dom se pronuncia. — Nossa família está feliz em recebê-lo como
o futuro marido da minha irmã. — Eles trocam um aperto de mão.
— Preciso esclarecer que como o líder da Famiglia eu
também fico feliz com o casamento, Amaro é um dos membros mais
confiáveis do clã e está apto a se casar com a irmã do meu
Consigliere. — Paolo aperta a mão do Amaro. — Espero que este
enlace não demore muito a acontecer.
— Se tudo correr como o programado nos casaremos nos
próximos meses.
— Perfeito. — Nosso Capo fica satisfeito com a resposta. —
E já quero avisar que como presente de casamento disponibilizarei
uma suíte no meu novo hotel em Roma para lua de mel do casal,
vocês precisam de um local especial para as núpcias. — Paolo olha
para meu irmão exibindo um discreto sorriso. Ele está provocando o
cunhado e pela expressão fechada do Dom conseguiu acertá-lo em
cheio.
— Amaro, pode colocar a aliança no dedo da minha irmã. —
A voz do Dom sai mais grossa que o normal, ele realmente está
aborrecido com a provocação do Paolo ao falar das núpcias.
Olho para o meu futuro marido e vejo em seus olhos o quanto
ele está emocionado. Amaro coloca a mão dentro do terno e retira a
pequena caixa com o anel.
Estendo a mão ansiosa, louca para ter esse anel no dedo e
oficializar de vez o noivado. Sem tirar os olhos dos meus, Amaro
desliza o solitário pelo meu dedo. Meus olhos marejam, agora é
tudo real, eu vou me casar com o homem da minha vida.
— Eu te amo — ele diz ao beijar a pedra. — Sempre vou te
amar e te respeitar. — Parecendo esquecer que temos uma plateia
ele me beija e eu apenas me deixo levar por seus lábios ávidos.
— Também te amo e não me imagino com outra pessoa a
não ser você — declaro quando interrompemos o beijo.
Amaro acaricia minha bochecha com os nós dos dedos, seus
olhos refletem claramente todo o amor que sente por mim. Eu vou
passar o resto da minha vida vivendo esse amor, construindo ao
lado dele uma família feliz, longe da violência e maldade da máfia.
Eu consegui!
Sobrevivi a tudo o que meu pai me fez passar e agora estou
nos braços do homem que possui todo meu coração, iniciando um
futuro com muitos sonhos.
Quatro meses depois

Eu estive agitada durante toda a cerimônia do meu


casamento, mas nada chegou perto do que estou sentindo agora.
Finalmente terei Amaro só para mim, sem precisar temer que
alguém nos flagre.
— Graças a Deus conseguimos escapar da festa, eu não
aguentava mais o Leonardo falando bobagem. — Amaro abre o
colarinho da camisa.
Meu marido está gostoso nesse terno de três peças, quando
o vi no altar, ainda mais bonito do que de costume, eu senti meu
corpo ser tomado por uma onda potente de desejo.
— Ele está feliz com o novo amor, acho engraçada essa
mania do Leo querer um mafioso.
— O namorado dele está longe de ser da máfia, mas eu não
vou contestar os delírios daquele maluco. — Amaro passa o braço
por meus ombros. — Tenho coisas mais interessantes a fazer. —
Sinto um arrepio me percorrer quando ele beija um pouco abaixo da
minha orelha.
— Ah, é? — Olho para o meu marido. — E que coisas são
essas? — Um lento sorriso desenha-se nos seus lábios.
— Vou te falar quando chegarmos na merda do hotel. — Ele
me beija e dessa vez seu beijo é feroz, bem longe dos selinhos que
trocamos durante a nossa festa de casamento.
Eu me perco no tempo e apenas quando sinto o carro parar
que noto que chegamos ao nosso destino.
Passaremos a nossa lua de mel na Riviera Francesa, porém
a nossa noite de núpcias acontecerá em um hotel que pertence a
Paolo. Esse foi um dos presentes de casamento que ele e sua
esposa nos deram.
— Vamos embora. — Amaro sequer espera o segurança
abrir a porta e já sai do veículo.
Ele estende a mão, ajudando-me a sair do carro. Entramos
no hotel de mãos dadas e rapidamente pegamos o cartão chave
para acessar a suíte presidencial.
Sou envolvida pelos braços fortes do meu marido, enquanto o
elevador nos leva até o topo do edifício. Amaro sorri com malícia,
esse safado está ainda mais ansioso do que eu para o que nos
espera ao longo da noite.
— Nunca vi um elevador tão lento em toda a minha vida. —
Ele reclama quando me puxa para o corredor.
— O elevador estava normal, Amaro — digo contendo o
sorriso.
— Certamente o champanhe que bebeu não te fez perceber
o quanto essa lata velha está lerda.
— Se Paolo te ouve falando isso sobre as instalações do
hotel dele...
— O nosso Capo não está aqui. — Ele abre a porta e me
encara. — Somos apenas nós dois.
Reprimo um grito quando me ergue em seus braços nos
encaminhando para o meio da elegante sala de estar. Com cuidado
me coloca no chão e segura meu rosto. Seus olhos revelam o
quanto está desejando a nossa primeira noite juntos.
Sei que também devo estar com o mesmo olhar, por todos
esses meses sonhei com este instante, quero ser completamente
dele, descobrir o quanto deve ser incrível tê-lo me tomando por
inteira.
— Chegou o nosso momento. — Reprimo um gemido quando
morde meu lábio inferior. — Agora podemos tudo, ninguém pode
nos impedir de nos amarmos.
— O que mais quero é ser só sua.
— Você já é, meu amor, pra sempre. — Sua boca sonda a
minha com lentidão.
Envolvo meus braços por seu pescoço, me perdendo contra
seus lábios macios. Amaro escorrega as mãos por minhas costas,
até que alcança o zíper do meu vestido.
Enquanto ele espalha beijos por meu pescoço vai me livrando
da roupa. Durante a festa troquei por um modelo mais simples, para
facilitar a minha movimentação. Isso ajudou bastante, não tenho os
infinitos botões que retardariam o que tanto desejamos.
A peça cai ao longo do meu corpo e vira uma poça de seda
aos meus pés. Amaro escorrega lentamente os olhos por meu corpo
avaliando sem pressa a minha lingerie.
Ganhei do Leonardo esse mimo, de acordo com ele
presenteou a Giovanna com um espartilho e deu sorte no
casamento dela, então ele decidiu que faria o mesmo comigo. Não
posso negar o quanto o safado tem bom gosto, o sutiã e calcinha de
renda branca é sexy e ao mesmo tempo romântico, quando se junta
às cintas-ligas fica irresistível.
— Caralho! Você está gostosa demais. — Ele envolve a
minha bunda com suas mãos e me puxa contra seu peito. — Sei
que preciso ter calma hoje, mas tá foda te ver tão linda e não poder
fazer tudo o que tenho em mente.
— Eu estou aqui pronta para me aventurar no que quiser. —
Faço um carinho na sua orelha. — E lembre-se que teremos duas
semanas sozinhos, iremos aproveitar cada segundo.
— Pode apostar que vamos. — Ele me abraça pela cintura e
me tira do chão, nos encaminhando para a nossa suíte.
Estou tão envolvida com a nossa interação que não reparo na
decoração do quarto, preciso apenas ter as mãos do meu marido
me tocando em cada parte de mim.
Ele entra no banheiro e me coloca no chão e se afasta
observando meu corpo, seus olhos são puro fogo, o que me faz
incendiar por dentro, desejando insanamente o momento de
consumarmos nosso casamento.
— Não! — digo assim que ele começa a abrir os botões da
camisa. — Eu quero fazer isso. — Estico a mão e vou revelando seu
tórax musculoso.
Quando retiro sua camisa eu passo a mão pela tatuagem que
recobre todo o seu peito. Inclino-me e beijo bem na altura do seu
coração, depois escorrego as pontas dos dedos até que eu alcanço
a parte da frente da calça, abrindo o botão e descendo o zíper
lentamente.
Amaro não tira os olhos dos meus movimentos, quando o
livro da calça sorrio ao ver o quanto está excitado. Corro a mão por
toda sua extensão, sentindo o desejo se espalhar sem controle e se
instalar entre as minhas pernas.
— Você é tão bonito — digo ao lamber com a ponta da língua
o bico rígido do seu mamilo. — Eu te amo e te desejo na mesma
proporção. — Amaro segura minha cabeça, erguendo meu rosto em
sua direção.
— Sempre vou te amar, Ambra, é uma promessa. — Ele leva
a minha mão até o centro do seu peito.
— Eu acredito nisso. — Minha declaração o faz sorrir, mas
em segundos tudo muda e seu rosto fica sério, antes de me segurar
pelo quadril e retirar toda minha lingerie, na sequência ele me
coloca dentro da banheira cheia de espuma e com pétalas
vermelhas.
Ele se acomoda nas minhas costas e nos serve o
champanhe. Fazemos um brinde com mais declarações de amor,
até que Amaro começa a me estimular e me fazer gemer sem
controle.
Quando acho que não vou mais aguentar suas provocações
ele se ergue e pega uma toalha, me sinto amolecer no segundo em
que começa a enxugar meu corpo.
Envolvo meus braços ao redor do seu pescoço quando me
segura e volta ao quarto, colocando-me delicadamente sobre a
cama. Nos beijamos enquanto sua mão corre por minha coxa, até
que ele a infiltra entre as minhas pernas e toca o meu centro úmido.
Remexo-me sob ele, ansiando por sentir seu toque no meu
ponto latejante. Não demora muito e seu polegar pressiona onde
tanto desejo. Gemo alto, agora eu não preciso mais me conter.
Choramingo quando ele suga meu seio com uma ânsia que
até então não conhecia. Desço a mão por suas costas, sentindo
meu corpo ser bombardeado por uma infinidade de sensações.
Faz bastante tempo que não estamos juntos, isso me fez ficar
ainda mais excitada, por isso não demoro muito e explodo em sua
mão ao gozar ruidosamente. Estremeço entre seus braços,
chamando por seu nome sem nenhum controle do meu próprio
corpo.
— Isso amor, grite o quanto quiser, agora somos livres, a
partir desta noite eu quero sempre ouvir cada um dos sons que
desejar expressar, quando eu estiver te fazendo gozar.
Não respondo nada, ainda me sinto fora da realidade, a
minha cabeça está flutuando com o poderoso orgasmo que senti.
Amaro se afasta e me observa com um sorriso safado,
aproveito para admirar sem pressa cada parte do corpo viril do meu
marido, os músculos fortes e as tatuagens másculas formam um
visual sensual e perigoso.
Lambo os lábios ao fitar sua ereção, em poucos minutos eu
saberei a sensação de senti-lo dentro de mim, anseio
fervorosamente por este momento, quando ele me tomar não
existirá mais nada em mim que não seja completamente dele.
— Prometo que vou ser carinhoso com você, mas se eu me
perder em algum momento é só me parar, quero que sinta prazer,
ainda que eu saiba que nessa primeira vez não será simples.
— Duvido muito que não me faça sentir prazer. — Levo meu
pé até seu peito e sorrio quando ele morde a ponta do dedão.
— Seu prazer sempre será a minha obrigação diária.
— Como assim diária? — Ergo uma sobrancelha.
— Meu amor. — Ele abre as minhas pernas e se instala entre
elas. — Acha que estando casado com uma mulher tão gostosa
quanto você, eu não vou querer trepar todos os dias? — Ele roça a
cabeça do seu membro contra minha umidade, me fazendo gemer
longamente. — Vou te querer o tempo todo, necessito colocar em
dia todo esse tempo que fomos obrigados a ficar separados.
Gemo quando ele força a entrada e me agarro ao seu corpo
tentando não ficar nervosa demais. Amaro me encara atento,
enquanto vai pressionando no meu canal ganhando espaço.
Nossos olhos se conectam profundamente e ver o quanto ele
me ama me faz relaxar completamente, esqueço a ardência que se
espalha no interior das minhas coxas e beijo-o deixando apenas
meu tesão tomar o controle de tudo.
Lentamente Amaro começa a se mover em uma cadência
suave, que rouba de mim algumas respirações. Suor se espalha por
sua testa, todos os seus músculos estão tensos, ele está se
segurando, sei que está com medo de me machucar de alguma
maneira.
— Eu estou bem — digo ao beijar o canto da sua boca. —
Não precisa ficar apreensivo.
— Sei que precisa de tempo.
— Preciso de você exatamente onde está. — Afundo os
dedos na sua bunda. — Agora eu sou a sua mulher no sentido pleno
da palavra e saber disso me deixa excitada. — As minhas palavras
surtem o efeito que eu queria e Amaro começa a se mover com
mais agilidade.
Como ele nunca deixa de pensar em mim, leva a mão entre
nós e toca meu clitóris. Imediatamente um arrepio percorre meu
corpo e eu gemo alto. Ele vai deslizando o dedo em um movimento
rápido e firme.
— Amaro... — o seu nome escorre dos meus lábios em uma
espécie de lamúria.
Mais uma vez o prazer me alcança nesta noite e eu
estremeço sob ele sorrindo, esse será o enredo da minha vida a
partir de agora, terei todas as noites meu amor me cobrindo de
prazer.
— Porra! — Ele rosna contra meu ouvido. — Isso foi foda. —
Fecho os olhos quando beija minha garganta. — Você é incrível,
tudo em você é especial, eu te amo pra caralho, Ambra. — Nos
encaramos sorrindo, somos dois bobos apaixonados.
Sei exatamente o que ele está sentindo, eu também me sinto
em um mundo apenas nosso, onde o amor é palavra de ordem e, o
desejo que dividimos completa esse universo único.
— Obrigada por entrar na minha vida, por tirar a dor dela ao
livrar o mundo do meu pai e lutar por mim quando eu achei que teria
um futuro infeliz. — Beijo vagarosamente sua boca. — Você não é
só o homem que amo. — Interrompo minha declaração para admirar
seus belos olhos esverdeados. — Você é meu herói, Amaro, trouxe
paz e esperança para meu coração, mesmo que um dia eu não me
encontre mais aqui, saiba que estarei te amando onde quer que
minha alma esteja, porque nem a morte vai conseguir impedir tudo o
que sinto por você. — Uma lágrima escorre pelo canto do meu olho.
— Não chore, meu anjo. — Ele segura a minha mão e beija a
aliança que representa a nossa união. — Quero sempre te fazer
sorrir, essa será a minha principal missão.
— Você já a está cumprindo, acredite em mim.
Eu me perco nos seus lábios, ainda o sentindo me
preenchendo e, sabendo que ao seu lado é o único lugar que eu
realmente desejo estar.
Cinco meses após o casamento

Coloco um braço atrás da cabeça enquanto acompanho


atento o jogo de futebol. Eu espero de verdade que dessa vez o
Roma não perca para o Milan, já estamos em uma sequência de
três derrotas consecutivas para nosso rival, isso é inadmissível.
— Amaro, me ajuda com esse colar, não consigo colocá-lo
por causa das minhas unhas.
Ahh, essas unhas, eu bem sei o quanto podem ser perigosas.
— Claro que te ajudo, amor. — Tiro os olhos da televisão
para colocar seu colar, mas paraliso ao vê-la apenas de lingerie na
cor roxa.
As taças do sutiã elevam seus seios e a calcinha de tule
revela o triângulo pecaminoso entre suas pernas.
Caralho! Aí é golpe baixo, fica difícil resistir a minha esposa,
quando ela me aparece mais gostosa do que nunca.
— Pare de me olhar assim, não temos tempo para isso — diz
ao se virar enquanto segura a joia para que eu o coloque.
Olho para sua bunda e vejo o fio dental sumir entre as
bandas redondas do seu traseiro. O meu corpo esquenta
insuportavelmente e meu pau ganha vida.
São cinco meses de casados e a cada dia que passa eu a
quero mais que tudo. Vivo completamente para essa mulher, eu faço
o que posso para mantê-la sempre sorrindo e sou muito grato por
saber que ela é minha e de mais ninguém.
— Eu não falei nada, você está implicando comigo. — Seguro
o colar e sem demora o coloco. — Até que se prove o contrário sou
inocente.
— Conheço esse seu olhar. — Ela tenta se afastar, mas eu
espalmo a mão sobre a sua barriga, a mantendo rente a mim. —
Temos uma festa para ir, sossega.
— Como quer que eu sossegue quando me aparece gostosa
assim? — Beijo seu ombro e desço um pouco a mão para poder
correr os dedos em sua pele logo acima do elástico da calcinha.
Ambra não me decepciona e estremece com meu toque,
aproveito que ela está ficando excitada e espalho beijos por seu
pescoço. Mordo sua orelha, em seguida infiltro a mão dentro da
calcinha, roçando o indicador na sua abertura.
A minha mulher geme e relaxa o corpo contra o meu, sorrio,
pois sei que ela já se rendeu, assim como eu, basta um leve toque
para que o desejo a domine.
Provoco-a lentamente, apreciando cada um dos seus
gemidos, quando abro seus grandes lábios em busca do seu calor, a
encontro molhada.
Resvalo lentamente o dedo em seu clitóris, é o suficiente
para ela abrir mais as pernas e esticar o braço para apoiar a mão
contra meu pescoço.
É isso aí minha garota, não resista ao seu homem.
Com lentidão a toco querendo excitá-la ao extremo, quando
seus gemidos ficam mais altos eu a seguro e nos encaminho para a
cama.
— Vamos nos atrasar — diz quando a deito e me ergo sobre
ela.
— Foda-se, eu preciso de você.
Nossas bocas colidem ansiosas, eu não me importo com a
porra da festa que precisamos comparecer. Estamos na Sicília
porque uma das primas dela vai se casar e teremos um evento
familiar para comparecer antes do casamento.
No momento tudo o que preciso é ter a minha mulher, me
perder em seu corpo como faço desde que nos casamos e dividimos
uma vida feliz juntos.
Retiro seu sutiã e coloco um seio na boca, sugo-o com força,
provocando um resmungo dela. Mordo o bico, em seguida rodeio a
língua por todo mamilo. A próxima peça a ser descartada é a sua
calcinha, ela fica completamente nua, o que faz meus olhos
correrem lentamente por seu corpo.
— Linda e minha — sussurro quando escorrego as mãos pelo
interior das suas coxas as abrindo para revelar o ponto onde quero
me perder.
— Sempre sua — ela sopra quando estou beijando a parte
baixa do seu ventre.
Reprimo um sorriso, feliz por pertencermos um ao outro,
seremos sempre nós dois, lado a lado, até o último dia das nossas
vidas.
Exponho sua boceta e lambo toda a sua extensão, sou
viciado no seu sabor, quanto mais eu tenho da minha esposa, mais
eu a desejo, Ambra é o mais saboroso vício.
Concentro-me em seu botão rosado, sugando-o com força,
porque não temos tempo para que eu possa degustá-la como eu
gosto.
— Amaro... — ela ronrona o meu nome quando estou
completamente focado em seu clitóris.
Sei exatamente o que significa o meu nome dito nesse tom
meloso, ela está perto de gozar, mas não fará isso com a minha
boca, precisamos economizar tempo, então eu foderei como gosto e
será meu pau a ter a honra de fazê-la gozar.
Eu me afasto dela e sento-me na cama para retirar a minha
calça e a boxer, como já estávamos perto de sair, eu decidi ficar
quase arrumado, deixando apenas a camisa e sapatos para colocar
depois.
Fico completamente nu e volto a me juntar a minha mulher,
ela sorri quando engancho as mãos em suas coxas, abrindo-as na
posição perfeita para que eu possa penetrá-la.
Roço minha ereção na sua entrada, untando meu pau com
sua lubrificação, sem tirar os olhos dos seus, mergulho no seu calor,
permitindo que um gemido profundo escape dos meus lábios.
É impressionante a sensação que sinto quando estou a
possuindo, sempre parece ser algo novo, cada vez que estamos
unidos, experimento uma sensação diferente.
Seguro suas pernas com força e me impulsiono no seu
interior profundamente, Ambra morde o lábio, pois sabe que não
estamos sozinhos neste andar.
O seu irmão reservou uma casa exuberante para que nossas
famílias se acomodassem com conforto nesses dias que estamos
na cidade. É uma lástima não podermos estar à vontade, mas saber
que qualquer um pode nos ouvir é muito excitante.
Ambra finca as unhas na minha bunda sem nenhuma
delicadeza, a minha esposa é um pouco bruta na cama, ela me
castiga sem piedade, mas eu gosto, não posso negar.
Busco por sua boca e entrelaço a minha língua na sua, me
movendo cada vez mais rápido, encontrando o ritmo certo que nos
satisfaz.
Somos bons juntos em vários aspectos da nossa vida, mas
na cama, a nossa sincronia é mais que perfeita, nenhuma outra
mulher conseguiu me satisfazer plenamente como a minha esposa.
— Quero te montar. — O pedido dela é feito quando
interrompo o beijo.
Nossos olhos se cruzam e um sorriso torto nasce nos meus
lábios. Adoro quando fica por cima, ter a visão dela selvagem me
cavalgando é incrível.
Mudo imediatamente nossas posições e a posiciono sobre
mim, Ambra joga o cabelo para o lado e sorri maliciosamente.
Espalmando as mãos contra meu peito começa a se mover.
Não me contenho e fecho a mão em um dos seus seios, com
o polegar rodeio o mamilo rígido, fazendo-a gemer profundamente.
Ambra requebra sensualmente sobre meu pau, o levando
completamente até o fundo da sua boceta.
Diabo de mulher gostosa, ela sabe como me enlouquecer.
Desde a primeira vez que ficamos juntos eu entendi o quanto era
fogosa, mas nada me preparou para o que ela me mostrou após o
nosso casamento.
A nossa lua de mel foi inesquecível, Ambra se mostrou uma
aprendiz dedicada no sexo e, quando retornamos para casa, ela já
estava completamente confortável com nossa rotina sexual.
Passamos dois meses na casa dos meus pais, isso acabou
nos podando na cama, não podíamos nos soltar como fazíamos no
hotel onde passamos a lua de mel, porém tudo mudou quando nos
mudamos para o apartamento que Dom mandou reformar para
morarmos.
Os meus planos era providenciar futuramente um imóvel para
nós, mas durante o nosso noivado Domênico nos avisou que Ambra
possuía alguns imóveis em seu nome e, que um deles era um
apartamento na mesma rua da propriedade dele.
Eu tinha intenção de comprar algo com meu dinheiro, meu
lado macho alfa queria tomar o controle da situação, mas eu
consegui ser racional e aceitei me mudar. Era uma herança dela e,
para completar o pacote de benefícios, ela ficaria perto da Gio.
Ter o nosso espaço foi essencial para construirmos uma
ligação intensa, não só emocionalmente como na cama. Ambra não
é muito silenciosa, então ter privacidade quando nos entregamos
entre quatro paredes foi primordial para que ela se soltasse no sexo.
— Linda — digo quando apalpo seus seios com as mãos.
Ela coloca as próprias mãos sobre as minhas e morde o lábio
inferior ao me fitar. Essa sua carinha de safada me enlouquece, eu
sou doido nessa mulher, a cada dia que passa fico ainda mais
apaixonado.
— E você um gostoso. — Ela se inclina e roça os lábios nos
meus.
Aproveito para apalpar sua bunda e sem nenhuma
delicadeza desço as mãos sobre a carne redonda. Ambra resmunga
e me olha cheia de tesão, adoro ver o quanto me deseja, eu fico
ainda mais perdido por ela.
Ambra apoia a mão nos meus ombros e desce sobre mim
começando a imprimir um ritmo pesado, que acelera a minha
respiração. Gotículas de suor se espalham por minha testa, eu
estou quente demais e muito perto de gozar.
Ela joga a cabeça para trás e abre a boca ao soltar um
gemido longo, sinto as paredes da sua boceta me apertarem com
força, ela está gozando, agora eu estou livre para liberar a tensão
que me consome.
Seguro sua bunda e começo a investir nela com velocidade,
prolongando seu prazer. Ambra contrai os músculos e isso faz com
que sua boceta prenda prazerosamente meu pau em seu interior. O
movimento é rápido, mas suficiente para que o orgasmo me atinja
com força.
É inacreditável o quanto nosso sexo é perfeito, cada um dos
nossos momentos me surpreende, tudo ao lado dela fica especial.
— Porra! Isso foi muito bom. — Beijo seu pescoço quando
ela desaba sobre mim.
— É sempre bom e único tudo o que vivemos juntos. —
Ambra ergue o rosto e me observa. — Eu te amo tanto, às vezes
nem acredito que somos casados, ainda sinto medo de acordar e
perceber que estive sonhando.
— Fique tranquila que é tudo real, meu amor. — Fecho meus
braços contra seu corpo. — De alguma maneira transformamos
nosso sonho em realidade.
— E fizemos isso vivendo dentro da máfia. — Ouço seu
sorriso contra meu pescoço. — Inacreditável, não é mesmo? —
Escorrego uma das mãos pela lateral das suas costas.
Infelizmente não consigo responder, pois uma batida na porta
nos interrompe.
— Ambra, já está pronta? Todos estão apenas esperando
vocês na sala — Gio fala fazendo minha esposa pular da cama
imediatamente.
Ela me encara com olhos arregalados, parecendo que foi
pega no flagra fazendo algo muito errado.
— Ai meu Deus! Tá vendo o que fez? — diz baixinho.
Apenas sorrio e pego a bermuda que eu vestia antes de
colocar a calça na poltrona perto da cama e visto, não vou sujar de
porra a roupa que eu vou a festinha. Passo a mão pela testa
secando o suor e vou até a porta conversar com Gio.
— Ambra está terminando de se arrumar — aviso quando
abro a porta.
Giovanna não diz nada, apenas me observa atentamente,
seus olhos viram uma fenda, ela entendeu exatamente o que nós
estávamos fazendo.
— Ainda bem que não foi Dom a vir chamar vocês — diz ao
balançar a cabeça. — Apresse sua esposa e tente secar esse suor,
vamos evitar comentários irônicos, sabe que Paolo não perde a
oportunidade de alfinetar meu marido.
— Estarei apresentável em minutos.
Ela suspira fundo e segue pelo corredor na direção da
escada. Fecho a porta sorrindo, Gio entende bem como funciona um
casal recém-casado, lembro bem todo o fogo dela e de Dom, se
hoje ele tem um ciúme surreal pela sua mulher, quando se casou
era bem pior, eu quase fui alvo da sua fúria, escapei de morrer
porque ele sabia que podia confiar em mim em relação a esposa.
— Não demore a se arrumar, amor. — A alerto quando entro
no banheiro.
— Se você não me atrasasse estaríamos prontos. — Ambra
me lança um olhar furioso.
Adoro quando fica nervosinha, se não fosse nosso
compromisso, iniciaríamos uma nova rodada de sexo.
— Está arrependida? — pergunto ao beijar seu ombro e vê-la
passando uma toalha molhada pelo pescoço.
— Você é tão ridículo. — Um sorriso brincalhão nasce em
sua boca gostosa. — Vai se arrumar e me deixa em paz.
Eu me afasto sorrindo e também uso o recurso de uma toalha
molhada para limpar o suor.
Quinze minutos depois estamos seguindo para a sala, onde
encontramos uma confusão com as crianças brincando no chão,
enquanto os adultos conversam.
— Até quem enfim apareceram — minha sogra comenta
quando nota nossa presença.
— Ambra demorou um pouco a se arrumar — assim que
termino de falar recebo um olhar recriminador da minha mulher.
— Sei... — Paolo diz ao encerrar seu copo de uísque. — Já
entendemos o motivo da demora, não posso julgar o atraso. — Ele
passa ao lado do cunhado e bate nas suas costas. — Não é
mesmo, Dom?
O rosto do Domênico fica duro, ele não gostou nada da
provocação do Paolo, mas como é um homem centrado consegue
se segurar.
— Acho melhor tomar conta da própria vida. — Ele aponta
para Caterina que acaba de tirar o laço do cabelo ruivo. — Vá ajeitar
o penteado da sua filha, faça algo de útil.
— Mas que porra é essa menina? — Paolo diz rispidamente.
— Por que fez isso?
— Para de xingar perto dela — Masha o alerta.
— Então mande sua filha se comportar, olha o cabelo dela.
— Basta prendê-lo, você é pai, pode fazer isso. — Ela apoia
a mão na barriga e se levanta. Masha está grávida de quatro meses
e dessa vez o casal terá um menino, Paolo está exultante em saber
que seu sucessor está para chegar. — Agora vamos embora que já
nos atrasamos demais.
Paolo prende os lábios, claramente aborrecido com a esposa,
mas, assim como todos os maridos, sabe que não deve entrar em
um embate.
— Que saudades do meu tempo de recém-casada — Chiara
diz ao caminhar ao nosso lado. — Aproveitem bem, porque quando
tiverem filho, tudo muda.
— Vamos esperar um pouco para termos filhos — digo ao
passar o braço pela cintura da minha esposa.
— Não vamos demorar tanto, quero engravidar em breve. —
Ambra me olha, ela cismou que quer ter seu próprio bebê.
— Você devia se dedicar aos estudos, somos jovens,
podemos esperar. — Não quero que ela se sobrecarregue.
— Pode apostar que dou conta de tudo, não quero prolongar
muito tempo para ser mãe.
O que eu posso falar quando ela me fita com esses olhos
cheios de súplica?
— Bem... — Beijo seu cabelo. — Não vai ser por falta de
treino que seu sonho não irá se realizar — falo rente ao seu ouvido.
— Amaro... — diz meu nome quando alcançamos o carro.
— Eu amo te provocar. — Sorrio antes de abrir a porta para
ela entrar.
— Você é o bobo mais lindo que existe neste mundo. —
Ambra apoia uma mão na minha cintura e se empertiga para me
beijar.
Realmente sou um bobo quando se trata dela e, isso
incrivelmente me faz feliz. Estar ao seu lado era tudo o que eu
queria e, saber que nada pode nos separar, me deixa com o
coração sereno.
Seremos sempre nós dois, unidos em nos amarmos até o fim.
Ela me pertence, enquanto eu só desejo ser de uma única pessoa,
até meu último suspiro.
Queria apenas fazer um agradecimento especial a todas as
minhas leitoras que fizeram desta série um verdadeiro fenômeno de
vendas na minha carreira. As indicações de vocês foram preciosas,
sem o apoio de todas, esses Homens Dominantes não chegariam
tão longe.
Deixo um agradecimento especial a Mary Dias, que desde o
livro do Dom pediu uma história para o Amaro, o incentivo dela foi
essencial para esta história nascer.
Agradeço também a minha beta Wilka Andrade que viaja nas
minhas loucuras e é meu ponto de apoio em todos os meus
trabalhos, as profissionais envolvidas na edição do livro e todas as
minhas parceiras que divulgam com tanto profissionalismo o meu
trabalho.
Obrigada por sempre estarem comigo, vocês são as
melhores.
Com amor,
Lily Freitas
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[1]
Filho da puta
[2]
Maldito.
[3]
Criança.

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