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RESERVADOS.
Revisão e diagramação: Falcão Editorial e KG Designer
Criação de Capa: Vic Design Ilustração: @carlosmiguelartes
Assessoria: Fox Assessoria Obra de ficção, criada pela imaginação
da autora. Qualquer semelhança deverá ser considerada mera
coincidência.
O RECOMEÇO DO CEO
Olhares.
Os julgadores.
Única.
Meu Alex.
O homem que nos últimos anos foi meu alicerce, minha rocha.
O homem que não me deixou desistir, que lutou por mim de todas
as formas inimagináveis e que como retribuição a tanto amor, irei
quebrá-lo. Não porque quero, mas por ser quem sou. Consegui
destruir todos à minha volta e ele não merece carregar o fardo de ter
em sua vida uma pessoa tão tóxica quanto eu. Alex merece uma
pessoa que seja digna desse amor, e essa pessoa não sou eu. Sei
que ela existe em algum lugar, e que um dia ele irá encontrá-la. E
quando isso acontecer, talvez ele possa abrir seu coração
novamente para o amor. Irá demorar, eu sei, porém, Alexander é um
sobrevivente, e espero que um dia ele possa me perdoar e que ele
seja finalmente feliz como merece.
Alex está tenso, posso sentir. Tão lindo e altivo em seu terno
azul cobalto, combinando lindamente com os seus olhos. Sinto sua
ansiedade, olhando-me como se pressentisse que algo está errado.
— Rick, juro por Deus que se você continuar com esses olhos
do coração, irei jogar minha bebida em você, e odiaria desperdiçar
minha deliciosa marguerita. Pelo amor de Deus, homem, isso é
maldade com a minha pessoa, não se tortura alguém, que não
transa há cinco meses, com suspiros e olhares nostálgicos, quando
sair daqui, vá para casa transar e sinta-se privilegiado, porque a
Stella só falava disso, hoje, no escritório, tive que dispensá-la mais
cedo, ou iria enlouquecer.
Sei que ele tem sentimentos por mim, mas nunca dei
esperanças, já que somos tão iguais em diferentes níveis, que o
vejo como um irmão que a vida me deu, ou seja, zero química aqui.
— Ué, não foi você que acabou de dizer que eu preciso viver?
Não sou eu que estou mantendo um tesouro escondido na cozinha.
— Faço beicinho.
— Beicinho é jogo sujo, Eliza — reclamou, indo até a porta da
cozinha e pegando a porção de bolinhos das mãos do garçom. — E
esses bolinhos pedem uma típica cerveja bem gelada — fala,
abrindo uma cerveja na minha frente.
— Hum. Ok, é... irei sentar com o Rick, e por favor, volte com
mais bolinhos! — pedi, juntando as duas mãos em sinal de prece,
seguindo em direção as mesas. Alexander sorriu e confirmou com a
cabeça, virando-se em direção à cozinha.
Voltei para a mesa e Rick me entregou outra marguerita, que
acabou de preparar. Ficamos pondo o papo em dia até que
Alexander retornou com outra porção de bolinhos e duas cervejas
para ele e Rick.
— Alexander...
— Alex. É como meus amigos me chamam, e já que te chamei
de Eliza, você ganhou o direito de me chamar assim.
— Sim, pra dizer que NÃO! Eu não vou subir nisso! É perigoso,
podemos ter um acidente, e sou muito nova e gostosa para morrer,
além do mais, estou de vestido, Alex!
— Você nunca andou de moto?! — Alex perguntou,
desacreditado.
— Não. Já lhe disse que não é seguro.
— O quê!?
— Segura em... quer saber? Deixa pra lá!
— Pronta?
— Pronta!
— O quê?
— Que VOCÊ está gostando. Está em seus olhos, Alex, basta
admitir. Vamos lá... — falei, dando um murrinho em seu ombro.
— E você?
— Tô acostumado.
— Alex... obrigada.
— Por quê?
— Por me proporcionar esta noite incrível e compartilhar o seu
lugar especial comigo. Foi importante pra mim. Obrigada. — Alex
acenou com a cabeça, passando as mãos pelos cabelos, como se
estivesse envergonhado e sem saber o que dizer. Então tomei a
decisão por nós dois. Encurtei a distância entre nós, o beijando.
Comecei com um beijo suave, um breve roçar de lábios, porém,
Alex suspirou em meus lábios, segurando meu rosto entre suas
mãos, e aprofundou o beijo, tomando-me em um beijo lânguido,
como se estivéssemos fazendo amor com nossas línguas. Contudo,
tão rápido quanto começou, ele rompeu o nosso contato, como se
tivesse levado um choque, se despedindo, me deixando parada ali,
sozinha, com as pernas trêmulas e sem entender absolutamente
nada.
— Então, Alex, eu não tenho o dia todo, você vai apertar minha
mão ou isso também é complicado pra você?!
Ainda reticente, apertou minha mão, contudo, me surpreendeu
ao me puxar para perto de si, me dando um beijo demorado na
bochecha.
— Obrigado, Liz..., e que bom que voltei a ser o Alex, gosto do
som do meu nome em sua boca — sussurrou, olhando-me
intensamente.
Liz.
Ele passou a me chamar de Liz, não de Eliza. Liz. O que isso
significa?
Cansada de tentar me concentrar no episódio, porém sem
sucesso, decidi dormir, afinal, amanhã começaria a semana, e com
certeza seria intensa.
CAPÍTULO 4
A segunda-feira amanheceu nublada. Ótimo. Combinando
perfeitamente com meu estado de espírito.
Levantei, tomei um banho rápido, colocando uma roupa
confortável, afinal, o Bob retornou ontem de viajem e sei que
passaremos horas discutindo a implantação do sistema nas fábricas
dos japoneses, como também ideias para novos projetos. Essas
reuniões sempre são informais, somente com nossa equipe de
criação, sem acionistas... Graças a Deus.
Optei por um jeans confortável, uma regata preta de seda e um
blazer azul bebê, finalizando com um sapatênis prata com salto
10cm, afinal, um salto eleva a autoestima de qualquer mulher e
hoje, Deus sabe que estou precisando. Amarrei meus cabelos em
um rabo de cavalo alto e finalizei o look com meu fiel escudeiro,
meus óculos. Olhei-me no espelho satisfeita com o meu reflexo.
Agora só falta o último ingrediente para finalmente me preparar para
a semana intensa que está por vir... CAFÉ!
Alex: 1. Eliza: 0.
Oi? Como assim, gente? Ele mudou de assunto tão rápido que
levei um tempo para fechar a boca e me recompor.
— Liz...
— Não, Alex, está tudo bem. Eu realmente preciso caminhar,
ainda é cedo, e gosto de pensar, planejar meu dia.
— Liz!
— Sei que seu final de semana foi uma merda, mas não se dar
bem não é o fim do mundo, amiga, próximo final de semana vem aí,
se anime, criatura!
— Ai, não grita, peste, não vê que estou com uma ressaca
desgraçada, infeliz?! Continuando... eu trombei com o James na
saída do bar, e teríamos caído, se ele não tivesse ótimos reflexos e
braços incríveis. Então, ele fez questão de me dar uma carona,
devido ao meu estado de nervos. No caminho, resolvemos parar em
um lugar para comermos alguma coisa, o que levou a outra, e
acabamos a noite no apartamento dele, de onde saí hoje pela
manhã, só a tempo de passar em casa e vestir meu capuz de
proletariado outra vez. O Coleman tem um jeito um tanto... peculiar
de conseguir TUDO o que quer.
— Hum...Desculpe?!
— UGHT!!! Ele transou!! — bradei, levantando a cabeça
bruscamente. — É o fim de carreira para mim! Adeus, mundo cruel!
— Tornei a baixar a cabeça sobre os braços, choramingando,
seguindo com meu show dramático.
É você, Elizabeth.
CAPÍTULO 5
Silêncio.
Arregalei os olhos...
— Bob...
— Não sei do que está falando. O que faz você pensar que
estou esperando alguém? — tentei disfarçar, mas a verdade é que
não via a hora daquela loira afrontosa chegar, será que ela não vem
hoje? Será que eu fodi com tudo? — questionei-me, passando as
mãos pelos cabelos pela enésima vez, os bagunçando totalmente.
— Não sei... talvez o fato de que já é a quarta vez que você
vem aqui para fora fungar no meu cangote e que já deixou queimar
duas fornadas de bolinhos, porque saiu procurando-a pelo bar com
a desculpa esfarrapada de que precisava ir ao banheiro? Por isso?
Ou o fato de que está quase arrancando os cabelos? Motivos não
faltam, só escolher — sugeriu, recostando-se no balcão com os
braços cruzados e um sorrisinho impertinente, que eu adoraria
retirar com um murro no meio da cara. — Idiota.
— HEY! Calma aí, OK?! Eu não fiz nada! Quer dizer, foi só um
beijo, mas aí o imbecil aqui não soube como lidar com isso e fugiu,
deixando-a sozinha em frente ao prédio em que ela mora, depois
disso, tudo ficou confuso entre a gente.
— Não sei, Alex, mas a questão aqui não é essa, e sim, saber
o que realmente você está sentindo pela Eliza.
— Eu não sei, só sei que ela não sai da minha cabeça desde
que pus os olhos nela, nossa noite foi incrível, me diverti como há
muito tempo não fazia, Eliza é leve, livre, descomplicada e me faz
rir... ela me fez sentir outra vez, e isso me assusta pra caralho,
porque só Deus sabe o que passei pra me reerguer, e prometi a
mim mesmo, nunca mais me envolver com ninguém, mas então ela
chegou chutando o pé na porta, entrando com tudo sem pedir
licença, e realmente não sei o que fazer com isso que estou
sentindo, você me entende, Richard?
— Eu, realmente, não sei o que fazer, Rick. Foram quatro anos,
quatros anos onde NADA de bom aconteceu! — bradei exasperado,
sentindo os olhos marejarem.
— Ueeé? Você conhece? Ah, não, Alex, vai me dizer que você
já pegou a Helena! Ou pior... AS DUAS?!
— Caraaaa, essa doeu até em mim. Que merda você fez para
Lizy te tratar assim? — gargalhou um James vermelho por causa da
bebida.
— Xiiiiiiiiiiiiiiiii, Jimmy, é melhor você perguntar o que ele NÃO
fez! — Helena debochou, divertida.
Revirei os olhos e fiz sinal para o garçom. Pedi uma água com
gás para ajudar a descer o bolo que estava em minha garganta, e
lidar com o desprezo da Eliza. Passei alguns minutos observando-a
dançar. Helena juntou-se a ela e as duas dançando era um
espetáculo à parte.
Eliza parecia uma deusa na pista, seu ondular de quadris me
hipnotizando. Estava com um tênis prateado, daqueles modelos
com solados altos e confortáveis que a Alexia também adora e
chama de sapatênis, o que eu não entendo, porque no meu simples
entendimento de homem ou é sapato ou é tênis, mas as mulheres
inventam nome pra tudo, vai entender. Fui subindo o olhar por
aquelas pernas maravilhosas, porra que coxas são aquelas?
Deveria ser proibido Eliza sair com aquelas pernas de fora. Estava
usando um shortinho minúsculo de couro com estampa floral, que já
desafiava a minha sanidade, mas quando subi o olhar para aquele
pedaço de pano que era a blusinha branca de alça fina e costa nua,
que ela estava usando..., meu mundo parou.
— Hei, hei, hei... você está em minha casa, ok? Te trouxe pra
cá, porque você apagou e eu não sabia o que fazer. — Corri, me
sentando à sua frente na cama, pegando em suas mãos. Eliza
continuou olhando ao redor, confusa e linda. Aproximei-me mais
ainda dela, tocando em sua bochecha. Eliza fechou os olhos,
inclinando o rosto ao meu toque.
Minha cama.
— Tudo bem então, já que não tem jeito. Mas, irei te levar em
casa, isso não é negociável.
— Tcs, tcs, Alex, você não acredita que sou o advogado que
sou, se não soubesse ler nas entrelinhas, não é? — Abriu a porta
gargalhando, me deixando paralisado por um momento até sair e
segui-lo em direção à saída dos passageiros, Alexia já deve ter
desembarcado. Estávamos distraídos, olhando o entre e sai das
pessoas pelas portas automáticas, quando fomos surpreendidos.
Alexia pendurou-se em minhas costas, como um macaquinho, da
mesma forma que fazia quando era criança.
— Alexia! Você não tem mais oito anos e eu não tenho mais
idade nem coluna para aguentar seu peso, sua louca!
— É claro que estou bem, Alex, só livrei você de ser preso por
assassinato! Coitadinho do meu irmão... tão passional — zombou
revirando os olhos.
— Falando em assassinato... CADÊ O JIMMY?!
— OK.
— OK?
Balançou a cabeça assentindo.
— Alex... você nunca vai saber, se não se abrir com ela. Não se
feche para isso, ela merece saber em que está embarcando, antes
de subir no navio. Seja honesto com ela, e se a Eliza gostar de
você, o que acredito que sim, seu passado e tudo que ele implica
não fará a menor diferença. Deixe que a Eliza decida se isso irá
afetá-la ou não.
— Eu só queria...
— Alex?
— Hum?
— Alexia!
— Oi — falou me testando.
— Quer subir?
— Qual o plano?
— Como é que é?!! De onde você tirou isso? Você ficou louco?!
— gritou indignada. — Não acredito no que estou ouvindo... Está me
acusando de estar me vendendo?! É isso, Alexander?! Meu dia foi
maravilhoso, recebi uma promoção que nem eu mesma acreditei
que poderia, o jantar foi para comemorar e você... VOCÊ
ESTRAGOU TUDO! — Sua voz soou tão magoada que estaquei.
Virei-me para a parede, quase arrancando meus cabelos.
Comecei a puxar a respiração até que consegui recuperar a razão.
Só então voltei a encarar Eliza, e encontrar seu olhar magoado,
mexeu comigo de uma forma que não sabia explicar. Sem pensar,
fui até ela e a abracei apertado.
— Liz...
Algo voou em minha direção e me esquivei a tempo de me
livrar de um pequeno peso de papel, que ela atirou em mim. O
objeto bateu na parede e se estilhaçou completamente. Foi por
pouco. Elizabeth virou de costas e sua respiração estava errática,
como se estivesse à beira de um ataque. Tentei me aproximar.
— Liz, me...
Decidi fazer o que ela pediu. Não havia chance de termos uma
conversa amigável, neste momento, e pelo bem da minha
integridade física, optei por sair. Assim que passei pelo batente, ela
bateu a porta em minha cara e ouvi seu choro estrangulado.
Encostei-me a porta, ouvindo seus soluços sofridos lá de dentro.
Após alguns minutos, o silêncio reinou. Será que pegou no sono?
— OK, já chega, mãe. Nem pensar que vou sair por aí caçando
homem, obrigada, mas passo.
— Bem, vamos lá. Tem o Patrick Larson, mas pelo que vi, tem
um rolo mal resolvido com uma tal de Casey, que nem ata, nem
desata, tá solteiro, mas enrolado, entendeu? Então deixei em stand
by, para analisarmos se deve investir, lidar com ex é um porreee —
falou, enfiando o dedo na garganta, imitando como se fosse vomitar,
e rimos juntas. — O segundo é o David Cooper, dono de uma rede
de hotéis, viúvo, uma filha de quase 2 anos, não é muito sociável,
mas é um gato... que tal se habilitar a ser uma boa madrasta, hein?
— Balançou as sobrancelhas.
— Mãe, por um acaso você tem alguém que preste nessa lista,
porque só pela misericórdia, viu?! Desse jeito eu prefiro meu
vibrador, está sempre disponível, é leal e não tenho concorrência —
enfatizei o óbvio.
— E...?
— Por que sempre tem que ser assim? Tô tão cansada de ter
que provar o meu valor o tempo todo... me sinto tão pequena, sabe?
Será que vale a pena tanto sacrifício? Achei que aqui seria tudo
diferente, mas na primeira oportunidade, sou julgada sem nem ao
menos saber por que... isso é tão injusto!
— Elizabeth, você é uma das pessoas mais inteligentes e
generosas que eu conheço e se meia dúzia de machos sente suas
bolas ameaçadas em sua presença, isso é problema deles, não seu.
Tenho tanto orgulho de você, minha filha, nem acredito que eu, uma
simples garçonete de Vegas, criei um gênio...
— Calma aí, grandão, que você não vai matar ninguém, muito
menos o Alex, que é o seu irmão. Eliza, conta essa história direito, o
que exatamente ele fez? — questionou-me Stella, puxando seu
grandão pelo braço, forçando-o a sentar-se novamente. Richard
sentou-se a contragosto, Stella segurou seu rosto, dando-lhe um
selinho e murmurando um “acalme-se”, depois fez um gesto para
que eu continuasse.
—Ei, fica calmo, está bem? — Alisei o braço do Rick para
tranquilizá-lo. — Não aconteceu nada demais, só um conflito de
opiniões, nada que eu não possa lidar sozinha — dei ênfase ao
sozinha, deixando claro que não queria intromissão neste assunto.
— O quê?
— O homem da sua vida. Se vocês se permitissem.
— Mas...
— Já chega! — apertei a ponte do nariz, buscando paciência e
me preparando para apagar o incêndio, quando mais uma vez a
porta foi aberta bruscamente.
— EU TE AVISEI, ALEX!
— Pois, arranje outro para ser seu guia, não estarei disponível
— alfinetou William, voltando ao embate anterior.
— Ele tem razão, Alex, não sei como, nem quando, mas você
precisa fazer algo. Bom, vou indo, ainda tenho alguns contratos para
analisar, antes de serem enviados para a contabilidade — despediu-
se, indo até a porta. — Ah, Alex?
IDIOTA.
CAPÍTULO 15
Duas semanas. Passaram-se duas semanas, desde aquela
noite infeliz. E não tem um só dia em que o Alex não tenha tentado
entrar em contato comigo. Enviou flores. Foi até a empresa e não o
recebi, obviamente. Proibi a Helena de passar meu contato para o
Jimmy ou a qualquer um que tenha a mínima possibilidade de ser
próximo ao Alex. Sei que os Wood’s não dariam sem minha
autorização, e por falar neles, recusei o convite da Stella para o
almoço de domingo, por medo que fosse alguma emboscada, que
sinto que todos querem que eu dê uma chance ao infeliz.
— Bom dia, chefa! Trouxe nossos cafés. Hoje o dia será longo,
teremos duas reuniões só agora pela manhã e ainda a reunião com
os acionistas às 15:00, então vamos nos abastecer com o melhor
combustível que existe.
— Hummmm, que delícia! — gemeu, provando do líquido
quente, disfarçando, enquanto me encarava com aquelas gemas
azuis, crispadas em mim, analisando-me. — Sabe, Liz, eu estava
pensando...
— Mas temos que falar sobre isso, Eliza! Tem duas semanas
que você está reclusa! É sempre a primeira a chegar, a última a sair
e trancou-se naquele apartamento. Recusa nossos convites para
sair, não nos recebe em seu apartamento, e pior, proibiu a todos de
falarmos sobre o assunto que está te atormentando!
Definitivamente, você não está bem! — exclamou exasperada com
as mãos na cintura, como uma mãe dando bronca em uma criança
de dez anos. Foi o estopim para minha explosão.
— PORQUE VOCÊS NÃO ME DEIXAM EM PAZ! VOCÊS NÃO
RESPEITAM A MINHA DECISÃO, DROGA! CHEGA! E VOCÊ,
HELENA, É PAGA PARA TRABALHAR, NÃO PARA SE METER EM
ASSUNTOS QUE NÃO TE DIZEM RESPEITO! — gritei, batendo na
mesa, levantando-me em um rompante, fazendo com que a Helena
pulasse de susto. Assim que as palavras saíram da minha boca,
percebi a merda que tinha feito, mas já era tarde. Respirei fundo,
abrindo os olhos e encontrando um olhar magoado à minha frente.
Eu a humilhei. PORRA. — Helena... — falei, indo ao seu encontro.
Helena recuou dois passos, levantando a mão em um gesto para
que não me aproximasse.
— Você tem razão, Elizabeth, esse não é o meu papel aqui na
empresa e tenha certeza de que não voltarei a esquecer, com
licença. — Deu-me as costas e saiu batendo a porta.
— O quê?! Mas...
— Quieta, Eliza, mas será possível que você não pode fazer
uma coisa uma única vez na vida sem questionar? AFF! Essa é a
minha condição... é pegar ou largar. — A cínica chantagista falou
com a cara mais deslavada, olhando para o vestido, fingindo tirar
um cisco inexistente.
QUE DESGRAÇA.
Quanto ao Richard, preferi manter distância até que estivesse,
como ele mesmo disse, “consertado” a merda que eu tinha feito.
Mas qual foi minha surpresa, quando ele me ligou pela manhã,
“sugerindo” que viesse ao bar, antes do funcionamento e tivemos
uma conversa esclarecedora.
— O que aconteceu? — perguntou nos servindo com seu
melhor Bourbon.
— Nada! Só fiquei com ciúmes ao vê-la com o Vogel, e meti os
pés pelas mãos — simplifiquei, pois não queria remoer um assunto
que só dizia respeito a mim e a Elizabeth, isso, se ela decidir falar
comigo ainda nesta vida. Rick bebeu todo o líquido do seu copo de
uma única vez, me observando por longos minutos.
— É, meu amigo, vai ser difícil, mas vou tentar. O que me resta,
é esperar que algum dia ela me dê a chance de me explicar.
Linda.
— Hum?
— Alex! Espere!
— Aiiiiii — sibilou.
— Deus... Alex!
Ficamos assim algum tempo, Eliza sobre meu peito, até que ela
se desvencilhou de mim. Meu corpo imediatamente sentiu a falta do
seu calor. Ainda meio lânguido, terminei de tirar os sapatos e as
calças que ainda estavam emboladas nos meus tornozelos, e me
sentei no chão com as costas encostadas no sofá, retirei o
preservativo, dando um nó e o deixando no chão ao meu lado. De
repente, Eliza, que ainda estava curtindo seu momento pós foda,
começou a gargalhar.
— Um idiota, um cretino.
— Hummmm. Não.
— O quê? Vai dar uma de difícil, agora? Pensa que não sei que
é a vadiazinha do Vogel? Então, sua puta, o negócio é o seguinte,
se quiser que o seu chipizinho de merda seja aprovado, acho bom
me agradar, como agrada ao Robert. Que tal começar com esse
rabo gostoso, hein? Vou adorar me enterrar nele e você vai gemer
gostoso, como a boa vadia que é, entendeu?
Com o passar dos dias, virei uma sombra de mim mesma, não
me alimentava e estagnei todos os meus processos criativos.
Quando em uma segunda-feira não apareci para trabalhar, Robert
foi ao meu apartamento e após inúmeras tentativas de chamar-me
sem retorno, arrombou a porta com a ajuda do porteiro,
encontrando-me desacordada. Havia tomado um coquetel de
remédios para dormir e por pouco não morri.
— Não.
— Willian, por favor abra o carro, você não estava com pressa
para o seu compromisso? Então vamos! — A nervosinha parou ao
lado do veículo, com as mãos na cintura, batendo os pés, e eu só
conseguia olhar para aquelas pernas maravilhosas. Foco Alexander.
Ah, não.
Corri em sua direção, alcançando-a rapidamente. Puxei-a pelo
braço, fazendo com que se chocasse com meu peito.
— Para com isso, não é nada disso. Você não entende, nunca
entenderia, por que não sabe de nada do que passei! — Aproximei-
me, falando asperamente com nossos rostos quase colados.
— Não foi nada, Susy, ela só se assustou com a sua cara feia
— alfinetou Anikka.
— Não acredito que você acabou de citar G.A pra mim! Como
assim, gente?
— O que posso fazer? Tinha uma queda pela Yang. — Levantei
os ombros em desdém. — Mas a verdade, é que quando você mora
sozinho e possui uma vida noturna inexistente, filmes e séries são
ótimas companhias. E sim. A Meredith que me perdoe, mais a
Cristina era foda. — Dei uma piscadinha para ela, trazendo-a de
volta aos meus braços.
— Hum?
— Sobre aquele outro assunto... — Ela pôs o dedo indicador
em meus lábios, e sentou-se na cama.
— Alex, não precisa, sei que é difícil para você, então um
passo de cada vez, ok? Foram muitas emoções para um só dia.
Você sabe que se tá na internet, eu descubro, não sabe? Mas quero
ouvir a sua história, Alex, isso, quando você estiver pronto para
compartilhá-la comigo. — Colocou a mão em meu peito, na altura do
coração. — Só me deixe entrar Alex. — Inclinou-se para beijar-me.
— Só me deixe entrar.
CAPÍTULO 23
Rick
Rick
Estou muito feliz com a minha jaguatirica, Alex, fala pra ele
como cheguei no escritório, mas antes, tenho um anúncio a fazer...
Rick
Lá vem...
ATENÇÃO...
TCHAU, JAMES
IDIOTA 🙄
— Liz?
— Hum?
— Tchau, meu loiro. Agora temos que ir, ainda falta muito para
ficar plena pra você. Nem me depilei ainda, tem alguma
preferência? — Engasguei com a saliva, começando a tossir
descontroladamente, as loucas só faziam rir do outro lado da linha.
— Aposto que ficou corado. Ficou corado?
— E.LI.ZA.BE.TH
— Não ouvi.
— Hum?
— Você acha que sua mãe vai gostar de mim? — Ela levantou
a cabeça do meu peito.
— Mãe, fique à vontade, Alex, por que você não a leva para a
área da piscina, levo as bebidas para vocês. Daqui a pouco o
pessoal irá chegar e já ficamos por lá. Cerveja? — perguntou,
sinalizando que estava tudo bem. Assenti com a cabeça,
direcionando Mag até uma das mesas próximas à piscina, estava
um dia lindo e resolvemos almoçar ao ar livre, já que a cobertura
possuía uma área externa com deck e piscina aquecida.
— Alex?
— Preciso de você.
— O que aconteceu?
— A Elizabeth desapareceu.
— Hum?
— Obrigado.
CAPÍTULO 26
Nós nos encontramos algum tempo depois, em frente à Vogel
Tech, subindo diretamente à sala de monitoramento.
— Boa noite, Alex, quando o Richard me contou que o carro da
Eliza não pegou, e você havia dito que a revisão foi feita há pouco
tempo, decidimos começar a averiguação pelas câmeras da
garagem. Já acionei o restante da equipe, inclusive, a Helena está
checando o GPS do carro, nos reuniremos na sala de reuniões para
cruzar as informações. Vamos encontrá-la, Alex — falou Stella, me
abraçando.
Observamos Eliza chegar pela manhã, linda, com os cabelos
soltos, a blusinha fina que me fez lembrar de um detalhe importante.
— Como assim, sabe onde ela está? Minha mulher foi levada,
seu desgraçado! E você fala com essa calma que sabe onde ela
está? O que você tem a ver com isso seu filho da puta?! — Avancei
contra o Robert, precisou o Richard e o James me conterem.
Quando meu carro não pegou, sabia que havia chegado a hora.
Liguei para a única pessoa que saberia lidar com a situação. Bob.
Entrei no carro da Helena, com a adrenalina a mil. Pelo menos
serviria para ativar o chip... precisava pegar aquele desgraçado.
Depois, me resolveria com Alex. Nada que um chá não resolvesse.
Quando o carro foi interceptado, e vi aqueles homens armados me
tirarem do carro, confesso que fiquei com medo, contudo, sabia que
ele não iria deixar a “diversão” para os outros, então, eles me
entregariam intacta. Covarde. Andamos por poucos quilômetros, até
entrarmos numa grande propriedade em um bairro nobre, próximo
ao centro da cidade. Esperto. Ninguém iria imaginar que ele estaria
tão pertinho, na cara de todo mundo. O homem alto com cara de
fuinha, vestido de zelador, saiu do carro, me puxando bruscamente.
— Ei! Calma aí, grandão. Não te ensinaram como tratar uma
mulher, não?
— Já. E você não vai querer que eu lhe mostre — sorriu
sarcástico. — Vamos logo, que o patrão pagou caro pela dama. —
Fez um floreio, para que eu passasse na frente. Ridículo. Está se
achando ô humorista. Vou até contratar o show de stand up dele.
Pensei, revirando os olhos.
Babaca.
— Teve que tomar um remédio para dormir, mas vai ficar bem.
Todos nós iremos. — Abraçou-me pelos ombros e seguimos para
dentro, já encontrando o Rick se aquecendo.
— E aí, quem vai ser o primeiro?
— Oi.
— Oi.
Rimos juntos.
— Ok.
— Ok. Só isso? — Arqueou a sobrancelha. Quando viu o
sorriso sapeca crescendo em meu rosto. Deixei o lençol cair e corri
completamente nua em direção ao mar. — Sua maluca! O que você
está fazendo?! — Alex, começou a correr atrás de mim, só de
boxer... preta. Ahhhh como é gostoso esse "déjà-vu".
— Vivendo, Alex, permita-se! — parafraseei o que disse em
nossa primeira vez ali. — Ah! Vou logo avisando que em caso de
separação, eu fico com o cachorro! — avisei, entrando no mar,
antes que ele me alcançasse.
— Fale baixo, mulher, quer que eles nos ouçam? Apontou para
os homens, que estavam próximos à churrasqueira. — Querida,
quando eu e meu tigrão nos pegamos, é um verdadeiro balaio de
gatos. — Brincou, arreganhando os dentes e fazendo gestos de
garra para mim, imitando um felino.
— Há controvérsias.
— Hii... minha filha, se for depender dessa aí, não serei avó
nunquinha, três anos e ainda não saiu um coelho desse mato —
queixou-se mamãe.
Sorri. Era sempre assim, não sei explicar, mas sempre sentia o
seu olhar sobre mim. Era como sentir o sol beijar minha pele, olhava
para ela e todo o meu mundo se iluminava. Minha. Minha Sunshine.
O amor da minha vida.
— Porque tudo isso, Sarah? Você estava vivendo sua vida bem
longe daqui, com suas fotos sendo disputadas pelos maiores
veículos de comunicação, fez fortuna, conheceu o mundo, e nunca
pensou em voltar, então por que agora? Desde que você viu a foto
deles naquele jornal, tudo ficou em suspenso, mudou seus planos,
resolveu aparecer publicamente, justamente em uma exposição
organizada aqui, e quer me fazer acreditar que nada tem a ver com
o seu ex-noivo ter finalmente seguido adiante. O que você planeja
com tudo isso?
— E pelo visto, nem você. Sarah, aonde você quer chegar com
tudo isso? — Meu Deus, eu só queria um pouco de paz, será que
era pedir muito? Bufei entediada.
— Sim, não convivi com eles, mas quem aqui na cidade não
conhece os Gauthier, não é mesmo? Uma família linda, pena que
marcada por uma tragédia. Quer dizer que Alexander Gauthier é seu
marido? Parabéns, vocês fazem um casal lindo — afirmei, focando o
olhar em sua aliança negra, o que a deixou desconfortável. — Sim,
adoraria ir e talvez rever algumas pessoas, acredito que pensarão
estar diante de um fantasma — sorri diabolicamente. — Combinado,
então. Sinto deixá-las, mas a minha curadora já está me sinalizando
enlouquecida, preciso me revelar aos demais presentes, divirtam-se,
foi um prazer conhecê-las. — Abracei-as, deixando Elizabeth por
último. — Amanhã enviarei as fotos e aguardo o convite, e...
Elizabeth, mal posso esperar para revê-la — falei em seu ouvido,
antes de soltá-la. Pisquei e segui em direção aos outros convidados.
O primeiro movimento foi feito. Que comecem os jogos.
CAPÍTULO 32
— Isso! Aí, ai, simmm... mais forte... assim, assim...ai que
delíc...
— Sunshine, pelo amor de Deus, se não estivéssemos na
cobertura, o que os vizinhos iriam pensar? — Alex parou o que
estava fazendo para me repreender.
— Que somos um casal sexualmente ativo, meu bem, e
estariam enlouquecidos de tesão. Os acompanhados estariam se
pegando, os solitários usariam o que tivessem à mão ou a própria
mão, se é que você me entende. — Balancei as sobrancelhas,
sacodindo minha mão em frente ao rosto. — E os chatos
continuariam a fazer o que sempre fazem: NADA. A não ser tomar
parte da vida alheia, o que os leva a serem sozinhos, tristes,
vivendo através da vida dos outros, e o pior: Nunca, jamais e em
hipótese alguma... transam. Enfim, estaríamos fazendo toda a
vizinhança feliz, cada um à sua maneira — concluí prendendo o
riso. — Aiiiiii, é disso que tô falando, não para, não para, Alex. Puta
merda, que delícia!
— Que porra viu? Por que sempre que eles brigam, sobra pra
gente?! Infernoooo! — vociferei, quando ambos os celulares
voltaram a tocar. Pesquei o meu em cima da mesa de cabeceira,
sinalizando para Alex continuar de onde parou. Deu-me um sorriso
safado, descendo a boca sobre meu ventre, lambendo meu umbigo
e acabando com o juízo que já nem tenho.
— O que o James aprontou dessa vez? — atendi perguntando,
pois vi que era a Helena quem me ligava.
— Nada. Como nada. Quer dizer, como ela volta, saindo das
profundezas do inferno, para nos atormentar, o que essa mulher
quer? — Indignação me resumia neste momento, porém não
poderia compartilhar minhas suspeitas com o fofoqueiro do Jimmy.
— Jim, você não está atrasado para o trabalho? Então pode ir
andando, já que seu chefe fugiu como um covarde.
— Sim. Vocês são lindos juntos e não será essa lambisgóia que
irá ficar entre vocês. — As duas se entreolharam preocupadas.
— Ok — concordei, desligando.
Putaquepariu!
— Licença?
— Sim, licença para matar uma vadia, se ela cruzar o meu
caminho novamente — falou séria. Suspirei saindo de dentro dela e
deite-me ao seu lado, puxando-a para deitar-se em meu peito.
— Sunshine... não se preocupe com isso, está bem? É sério.
Não me interessa se ela voltou e nem por que voltou. Para mim, não
faz a menor diferença. É só você que importa. A Sarah é passado e
irá continuar lá. Vamos viver nossa vida, ok? — Liz levantou-se em
um rompante, olhando-me indignada.
— Alex, essa mulher se dignou a organizar uma exposição só
para se apresentar a mim, me fazer de idiota, tentar marcar um
encontro com você. Então, se ela realmente não importa, é simples,
diga a ela, ponha um ponto final nessa história e vida que segue. Ou
você tem medo de encontrá-la? — Arqueou a sobrancelha.
— Não tenho medo de encontrá-la. Eu só não quero encontrá-
la. É diferente. — Sentei-me na cama com as costas encostadas na
cabeceira da cama e mexi os ombros em sinal de desdém.
— Ok!
— Ok? Simples assim? Não tem nenhuma pegadinha? —
Arqueei a sobrancelha em sinal de descrença.
— Sim. Se você está seguro quanto a isso, então eu também
estou. — Levantou-se. — Vou tomar um banho, você vem? —
perguntou, olhando-me sobre o ombro com um sorriso safado,
enquanto caminhava totalmente nua em direção ao banheiro.
E eu fui. Porque era impossível não atender ao chamado dessa
mulher. A minha mulher.
CAPÍTULO 35
Os dias passaram rapidamente, entre preparativos e a chegada
da Alexia, que finalmente voltou, definitivamente para nós. E a
grande noite enfim chegou. Optamos por comemorar os trinta anos
do Alex na mansão, e além de toda a nata de Dreamouth, vieram
empresários de vários países e diversos segmentos, seria um
grande evento, o que estava me deixando nervosa. Principalmente
pelo que estava por vir.
— Amiga, você tem certeza? Ainda está em tempo, é só avisar
a...
— Nunca estive tão certa na minha vida, não quero e não
posso conviver com um grande “e se” rondando a minha cabeça —
cortei Helena, antes que terminasse de me convencer que essa
ideia era uma loucura, e eu acabasse perdendo a coragem.
— Ah... eu falarei com ele sim, mas não agora. Neste momento
ele deve estar curtindo a mágoa em seu quarto adolescente. Para
quem disse que essa mulher não mexia com ele, isso tá cada vez
melhor. — Alex havia mandado decorar o quarto que era dos seus
pais, para ser o nosso, quando viéssemos à mansão, conservando o
seu quarto de adolescente igualzinho ao que sempre foi. Não
acredito que fui tão burra, estava em minha frente o tempo todo, ele
nunca a esqueceu. — Alexia, preciso que me faça um favor, mas
preciso que seja convincente, você consegue?
— Sim, Liz, se for para esconder o corpo, conte comigo. —
Abriu um sorriso sinistro, aliás, o primeiro sincero, desde que
chegou.
— Ah. Ela não fala? Que pena, pois ela teria uma excelente
história para contar agora. — Eu a empurrei na cama, sem que
esperasse, sentando-me em cima do seu quadril e desferindo vários
tapas em seu rosto. Ela tentou agarrar meus cabelos, porém, nas
aulas de defesa pessoal que obtive com a Stella, aprendi a
imobilizar o inimigo, sentando em seu quadril e imobilizando seus
braços com os joelhos, sabia que seria útil em algum momento.
— Me solta, sua louca, Alex! — Ela gritava, debatendo-se,
enquanto recebia os tabefes merecidos.
— Você falou o que quis lá embaixo, sua vadia, porque sabia
que não promoveríamos um escândalo, mas advinha só, as paredes
dos quartos são acústicas e você pode gritar o quanto quiser.
— Liz...
— Agora não, Alexander, temos uma festa acontecendo lá
embaixo. Feliz aniversário. — Passei por ele, o deixando sozinho no
quarto.
— Ok, vou contar, mas antes... o que foi isso? — Apontei para
a porta, por onde o homem tinha acabado de sair.
— ...
— Agora sou Alexander para você? Pois pra mim, você será
sempre minha Sunshine. Te amo Liz... não faz isso com a gente.
— Sim. Onde você está? Vou até você agora, Liz, nada é mais
importante — respondi rapidamente, com medo dela voltar atrás.
— Não. Prefiro ir até você. Está na empresa?
— Sim, mas por que aqui, estou indo para casa, nos vemos lá.
— Já estava pegando o terno e as chaves, quando ouvi sua
resposta.
— Não! Quer dizer... prefiro que seja aí, Alex. Te vejo em meia
hora, pode ser? — Demorei a responder, até perceber o porquê da
escolha. Ela queria um ambiente neutro. Não seria uma
reconciliação. Seria uma despedida. Mas, nem fodendo.
— Não, Jimmy, você não entendeu. Elizabeth está vindo pra cá,
conversar comigo — repeti, o encarando, até que o brilho de
entendimento perpassou em seus olhos.
— Oi — cumprimentou-me timidamente.
— Vogel, seu desgraçado! Foi você, não foi? Deu essa ideia
ridícula dela se afastar de mim! Sempre por perto, como uma ave
agourenta nos rondando, tentando roubá-la de mim, não perde a
oportunidade, não é? Pois fique sabendo que ela é minha,
entendeu? Minha! — Tentou passar pelo Bob, segurando em meu
braço.
— Lizy... e Helena? Como ela está? Não consigo falar com ela,
estou enlouquecendo, Liz. Eu juro... — Pus um dedo em seus
lábios, o calando.
— O quê...
— Longa história, depois lhe conto tudo, por agora, o que você
precisa saber, é que vou com você — disse Helena, suplicando com
o olhar que eu não fizesse perguntas.
Olhei dela para o Bob, entendendo o que ele quis dizer com ter
algumas coisas a resolver. Finalmente levantamos voo, e só após
conversar com Helena e entender a situação, me rendi ao cansaço,
adormecendo, não antes de ter o rosto atormentado do Alex como
lembrança.
CAPÍTULO 39
— Filho da puta! Roubou nossas mulheres embaixo dos nossos
narizes! — Jimmy bradou indignado, após saber que Helena estava
na aeronave o tempo inteiro.
— Jimmy, se acalme, ok? Sem querer ela nos deu uma pista do
que realmente aconteceu, e até hoje você estava completamente no
escuro, portanto, esfrie a cabeça, e volte pro jogo, agora você tem
uma linha de investigação a seguir, e isso é bom, iremos descobrir
que porra aconteceu aquela noite, Jimmy, e você terá sua morena
de volta. — Ele respirou fundo, contido.
— Você corre devagar, tia Helena, assim tia Liz iria embora
sem se despedir da gente! — Pôs as mãos na cintura, com a cara
enfezada.
— Meu Deus, essa criança só tem cinco anos mesmo? —
Helena questionou, fazendo cosquinhas na barriguinha de Sophie.
— Joia? Meu pai sempre fala que sou a joia dele, então se ele
é uma joia, é o meu joia, né papai? — Soph perguntou, fazendo-nos
rir.
— Irei sentir sua falta, amiga. Mas ainda não é hora de voltar,
até resolver essa situação, melhor ficar longe de Dreamouth. —
Abraçou-me emocionada.
— Ah, Liz, que saudade desse seu humor, minha vida estava
uma bosta sem você, sabia? Suas pérolas são as melhores, não sei
como sobrevivi tanto tempo sem isso, eu deveria ter ido a Seattle,
ter te colocado nas costas e trazido para casa. — Apertou minha
coxa, me fazendo estremecer ao seu toque.
— Virou uma bosta porque você fez merda, meu querido. Dá
próxima vez, pense bem, antes de fazer uma cagada — soltei,
fazendo com que nós dois passássemos um tempo gargalhando,
sem conseguirmos parar.
— Ahhhhh, vai sim! Você me deve, Alex, onde que eu vou estar
num cenário desses, e não protagonizar a cena da minha vida?!
Anda, bora pra proaaaa! — Puxei-o saltitante, com a felicidade de
uma criança em um parque de diversões. Encostei-me na
balaustrada com Alex atrás de mim, enquanto víamos o sol se pôr
no horizonte.
— Pronta!
— Sim.
— Eu não vou encenar 365 Dias, Alex, minha boceta vai ficar
assada!
—Ahhhh, que coisinha mais linda da vovó Susy, vem aqui com
a vovó. — Susy pegou Aurora dos meus braços, embaixo dos
protestos da Annika.
— Ahhh, para com isso Susy, você vai assustar a menina com
essa cara feia, não é minha lindinha? A vovó Annika é muito mais
bonita, você vai ver quando ela crescer e aprender a falar —
alfinetou Susy, enquanto beijava a mão da Aurora.
Eu sabia que aquela putaria toda no iate iria dar merda, e só fui
descobrir isso quando, em meio a uma reunião importante, comecei
a passar mal por causa do perfume enjoativo que uma das senhoras
presentes estava usando. Não deu tempo nem de chegar ao
banheiro, acabei vomitando em cima do cabelo da criatura, assim
que tentei levantar do lado dela, até aí tudo bem, acreditei que a
culpada era ela, que gostava de perfumes ruins. Porém, a coisa se
agravou, quando ao passar no escritório do Alex, pra testar o quão
forte era sua mesa, dei de cara com Jim, não suportando o seu
cheiro, detalhe, era o perfume que ele usava há anos, e acabei por
ficar apavorada, quando Stella disse que foi exatamente assim que
ela descobriu a gravidez do RJ. Corri para a farmácia e comprei
todos os testes disponíveis. Doze. E os doze malditos testes
esfregaram na minha cara que eu estava grávida. Eu iria matar o
Alex. 365 Dias? 365 socos que iria dar na cara dele por ter me
engravidado. Meu Deus, eu não sei nem fritar um ovo, como irei
cuidar de uma criança? Ok, o surto passou cinco minutos depois,
quando lembrei que o pai era um chef. Respira Elizabeth.
Um dia depois, tínhamos um Alex com um sorriso de psicopata,
com mais dentes do que caberiam na boca, me acompanhando na
primeira consulta obstétrica.
— Que linda, Bob, obrigada pelo carinho, e por ter vindo. Foi
muito importante pra mim. Almoça com a gente? — convidei sob os
olhos de gavião do Alex.
— Onde o Bob foi? Ele disse que iria nos esperar aqui fora. —
Estranhei sua ausência.
— Ei, ei... Liz, fica comigo. A Sarah? Você está me dizendo que
a Sarah fez isso? — Assenti, antes da escuridão me abraçar.
— Maldita! Será que nunca iremos ter paz? Quero sair daqui,
onde estão minhas roupas? — perguntei, levantando-me.
— Não, Alex, você não tem culpa por ser um bom homem. Fez
o que achou certo, e tenho muito orgulho disso. Você é um ótimo
pai, e se tem alguma culpada nisso tudo, é aquela psicovaca, mas
ela vai ver que não se mexe com os Galthier, ok? Vamos encontrar
nossa menina, eu sinto isso. — Beijei seus lábios, e ficamos por um
longo tempo abraçados, nos apoiando. Havia anoitecido e nada
aconteceu nas últimas horas.
— São rastreadores e, sim, tem uma pasta para cada uma das
crianças, estou ativando a localização da Aurora — Dylan
confirmou, e os próximos minutos foram de expectativa. Os homens
foram se preparar para o resgate, preferiram não envolver a polícia,
que estava investigando por meios legais e limitados.
No momento em que Dylan informou a localização, ficamos
abismados com a informação, essa cobra estava em nossas vidas
há mais tempo do que imaginávamos, mas isso iria acabar. Hoje.
— Ah, você não soube? Pelo visto seu amiguinho Bob lhe
esconde vários segredos. Acho que ele esqueceu de te contar que
Arnold morreu dois meses após ser transferido para a penitenciária.
Briga de facas, sabe como é. — Sacudiu os ombros em
divertimento. — Você não acha que eu iria deixar uma ponta solta,
não é? — riu diabolicamente, sacudindo a faca em minha direção.
— Estava envolvida com um cara perigoso, se é que me entende, e
para ele, mandar executar esse servicinho era mais fácil que tirar
doce de criança. O problema é que me canso fácil, sabe? Odeio
homem grude. E esse cara colocou na cabeça que eu o pertenço...
tsc, tsc. Então, tentei me esconder neste fim de mundo, contudo, há
três dias recebi uma ligação. Ele encontrou a Abby... e a matou. Em
quanto tempo você acha que ele me encontraria, hum? Abandonei o
local em que estava hospedada e me abriguei aqui. — Deu um
passo em minha direção. — E sua princesinha era o passaporte
para minha liberdade. Claro que o todo poderoso Alexander
Gauthier iria pagar o que eu quisesse para ter o seu bem mais
precioso de volta. Mas você, ô coisinha irritante, tinha que
atravessar o meu caminho novamente. — Revirou os olhos, com a
mão na cintura, sacudindo a faca diante de mim.
— Mas o quê?
— Shiuuuuu — Fiz sinal para que se calassem. — Estão
ouvindo? — Andei rapidamente até o outro quarto, onde podíamos
ouvir um choro contido. Eu reconheceria aquele choro em qualquer
lugar do mundo. Entrei silenciosamente no quarto, aproximando-me
de um grande armário.
— Minha filha, perdoe a sua mãe, por mentir que seu pai
morreu meses depois de você ter nascido. A verdade é que ele
apareceu todo galante, e nos apaixonamos à primeira vista. Nosso
amor foi uma daquelas paixões tórridas. Passamos meses em
nossa bolha. Até que ele precisou viajar, disse que tinha um assunto
urgente, que era imprescindível sua presença, mas que eu o
esperasse, e que assim que resolvesse, tudo. iria me buscar para
vivermos juntos. Isso nunca aconteceu. A essa altura, descobri que
estava grávida, tentei encontrá-lo, mas naquela época não tínhamos
a facilidade que temos hoje, e o que uma pobre atendente de
lanchonete podia fazer? Quando você foi crescendo e começou a
perguntar sobre seu pai, a saída mais fácil foi inventar a história da
sua morte. Mas acredite, Elizabeth, que seja lá o que aconteceu,
aquele homem me amou. O que tivemos foi verdadeiro. —
Estávamos mais uma vez emocionadas.
— Bebê?
Ou será...
Um recomeço?
BÔNUS
— Desgraçado! Nunca pensei que após três anos com aquele
infeliz, ele fosse fazer uma cafajestada dessas! Ahhh, mas se ele
pensa que irei perdoá-lo depois disso, ele está muito enganado!
Eu senti que Jimmy estava diferente por esses dias. Desde que
tivemos aquela maldita conversa. Contudo, ao invés de conversar
como um homem de verdade. Ele simplesmente jogou nosso amor
no lixo. Nada. Nada me preparou para o que presenciei naquele
apartamento. — Bufei revoltada.
Quis fazer uma surpresa, e quem foi surpreendida fui eu, ainda
teve a pachorra de me convidar pra “festinha”, o que ele pensou?
Que eu aceitaria? Nunca me senti tão humilhada e resumida a pó,
do que quando saí daquele apartamento, ainda ouvindo os sons que
ecoavam pelo corredor.
Tomei um banho gelado, preparando-me para mais um dia de
trabalho. Graças a Deus o dia passou rápido, e entre reuniões e
relatórios, não tive tempo de pensar no bastardo. Entretanto, agora
que cheguei em casa, todas as lembranças voltaram com força e as
centenas de ligações e mensagens do maldito não ajudavam em
nada. Tomei um longo banho de banheira, bem relaxante e abri um
vinho para saborear, assistindo mais um episódio da minha série...
americana. Porque as novelas turcas estão banidas da minha vida.
Nada do Can Yaman com seus cabelos sedosos por aqui.
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