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Copyright © 2023 Ellie Barbosa TODOS OS DIREITOS

RESERVADOS.
Revisão e diagramação: Falcão Editorial e KG Designer
Criação de Capa: Vic Design Ilustração: @carlosmiguelartes
Assessoria: Fox Assessoria Obra de ficção, criada pela imaginação
da autora. Qualquer semelhança deverá ser considerada mera
coincidência.

O RECOMEÇO DO CEO

SÉRIE SOMBRAS DO PASSADO – LIVRO 1


Ellie Barbosa
1ª edição – 2023

É vedada todo e qualquer tipo de reprodução total ou parcial desta


obra, de acordo com as leis dos direitos autorais. Configurando
crime de plágio com pena prevista pelo artigo 184 do CPBRA.

De acordo com as novas regras ortográfica brasileira.


Obra vedada a menores de 18 anos.
A todas as mulheres que em algum momento duvidaram de si
mesmas. Quando você descobre que QUER algo verdadeiramente,
você PODE. E quando menos se espera, a magia acontece.
E então... você CONSEGUE.
Sumário
Sinopse
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40
Capítulo 41
Capítulo 42
Capítulo 43
Capítulo 44
Epílogo
Bônus
Agradecimentos
Sobre a Autora
Mais informações
“Onde há amor, a escuridão nunca reina.”
Senhor dos Anéis: Os Anéis do Poder
SINOPSE
Alexander Gauthier não imaginava que sua vida mudaria tanto
em poucos anos, uma grande desilusão amorosa foi apenas o
primeiro de uma série de acontecimentos, que o moldaram no
homem que é atualmente. Amargo, frio, solitário e totalmente focado
em liderar o império da sua família. Mas em uma noite, que deveria
ser como todos as outras, tudo mudou.
Elizabeth Sanders é definitivamente uma força da natureza,
sua personalidade ímpar cativa a todos ao seu redor, para ela, a
vida é uma dádiva e não tem medo de viver plenamente.
Dois opostos que se colidem… Dor e amor, mágoa e ternura,
desilusão e esperança. Será o acaso ou o destino?
LIZ conseguirá fazê-lo acreditar novamente no amor?

O coração de ALEX está fechado e sombrio há tempo demais,


mas ela, bom, ela é um RAIO DE SOL.
PRÓLOGO
Dreamouth (USA) — 4 anos atrás...

Passos pesados me levam pela nave, onde pessoas ansiosas


observam-me com diversos olhares e sentimentos diferentes.

Alguns, encantados com a visão que veem, afinal, estou


deslumbrante no vestido criado exclusivamente para mim, especial
em cada detalhe. Outros, com inveja dissimulada por estarem se
perguntando como uma jovem com apenas vinte anos e
inexperiente conseguiu "fisgar" um dos herdeiros mais cobiçados do
país, ainda mais com o meu histórico nada bom, diga-se de
passagem. E ainda há os que me olham com pena, por terem
presenciado tudo que vivi, e que de certo modo... ainda vivo.

Olhares.

Orgulhosos, deslumbrados, compassivos, amorosos e claro, os


que não poderiam faltar:

Os julgadores.

Esses são os que mais me afetam, admito. Continuo seguindo


altiva em direção ao altar, sozinha, já que exigi que o meu pai não
entrasse comigo... por motivos óbvios.

Thinking Out Lound, do Ed Sheeran, a música que escolhemos


por ter tudo a ver com a nossa história, nosso amor e tudo que
sonhamos para nós, toca ao fundo, lembrando-me do quão ingênua
eu fui em acreditar que merecia viver tudo isso.

Um lembrete do que nunca poderei ter.

A igreja imponente, ornamentada com uma diversidade


surpreendente de flores, traz um frescor e aromas deliciosos ao
ambiente, a decoração toda em branco e tons de dourado passa
exatamente a delicadeza e a sofisticação ao qual imaginamos, cada
detalhe escolhido com muito cuidado e dedicação por nossas mães,
afinal, para minha mãe, é o casamento tão sonhado de sua única
filha.

Única.

Engulo em seco, sentindo o gosto amargo da velha lembrança


que não me faz esquecer um só minuto DELA.

Uma leve tontura me atinge, fazendo com que eu tropece em


meus pés. Fecho os olhos por um momento, buscando me
concentrar, tentando, por pelo menos neste dia tão importante em
minha vida, empurrar essas lembranças tão dolorosas para o lugar
mais recôndito em minha mente, fingindo ter uma vida normal e ser
apenas uma jovem realizando o sonho de se casar com o homem
da sua vida e ser feliz para sempre ao lado dele, mas... não consigo.
Definitivamente minha vida não é um conto de fadas com final feliz,
eu não me permitirei ter isso.
Abro os olhos, respirando fundo, tentando me acalmar. Levanto
o olhar em direção ao altar logo à frente, e então o vejo. Alexander
Gauthier.

Meu Alex.
O homem que nos últimos anos foi meu alicerce, minha rocha.
O homem que não me deixou desistir, que lutou por mim de todas
as formas inimagináveis e que como retribuição a tanto amor, irei
quebrá-lo. Não porque quero, mas por ser quem sou. Consegui
destruir todos à minha volta e ele não merece carregar o fardo de ter
em sua vida uma pessoa tão tóxica quanto eu. Alex merece uma
pessoa que seja digna desse amor, e essa pessoa não sou eu. Sei
que ela existe em algum lugar, e que um dia ele irá encontrá-la. E
quando isso acontecer, talvez ele possa abrir seu coração
novamente para o amor. Irá demorar, eu sei, porém, Alexander é um
sobrevivente, e espero que um dia ele possa me perdoar e que ele
seja finalmente feliz como merece.
Alex está tenso, posso sentir. Tão lindo e altivo em seu terno
azul cobalto, combinando lindamente com os seus olhos. Sinto sua
ansiedade, olhando-me como se pressentisse que algo está errado.

Paro em meio à nave, com nossos olhares se encontrando, e


vejo exatamente o momento em que ele entende o que está prestes
a acontecer. Reconheço o desespero em seus olhos, me pedindo
para que não faça isso, que nos dê uma chance.

Porém, não posso. Juro que tentei.

Tentei de todas as formas seguir com minha vida e esquecer


que ELA não fará mais parte dela, mas não consigo. Não posso
simplesmente ser feliz. Sei que ela iria querer isso, que todos
querem isso para mim, porém, não posso seguir, fingindo que tudo
está bem, quando obviamente nunca esteve. Não, quando não
permiti que ela fosse feliz, que realizasse tantos planos e sonhos.
Eu não mereço ter uma vida, não mereço ser feliz. Minha penitência
será viver, e todas as vezes em que me olhar no espelho, lembrar
que a minha irmã não está aqui por culpa exclusivamente minha.

Olho para ele pela última vez, mexo meus lábios


silenciosamente, pedindo que me perdoe, e viro-me rapidamente,
antes que perca a coragem. Corro em direção à saída, sem atrever-
me a olhar para trás e encarar aqueles olhos desesperados e
suplicantes, que irão me atormentar por toda a vida.

Desço as escadas o mais rápido que consigo, passando pelos


seguranças e alguns funcionários, que parecem surpresos e, claro,
curiosos. Paro um táxi e peço a um motorista chocado, que me tire o
mais rápido possível daqui.
E olhando pela última vez para a igreja, eu o vejo sair,
passando as mãos pelos cabelos, em um gesto tão dele, quando o
nervosismo o domina.

Contudo, já não há como voltar atrás.


A Sarah que ele quer e espera... eu não posso ser. Então,
enquanto o carro se distancia, dou adeus a esta Sarah e a uma vida
para a qual não irei voltar.
CAPÍTULO 1
Dreamouth (USA) – Dias atuais...

— Rick, esse lugar é INCRÍVEL! Quando a Stella me disse que


você abriria um gastropub, eu não imaginei que ficaria tão
fantástico, estou muito orgulhosa de você.

— Obrigado. E fingirei que não estou magoado por você levar


quase três meses para visitar meu humilde estabelecimento.

Richard Wood. O homem mais gentil e leal que já conheci, um


ursinho de pelúcia escondido no corpo de um tronco de árvore
enorme, sim, porque o cara é praticamente um armário de seis
portas, sem exagero. Acredito que os braços do Rick são mais
grossos que minhas coxas, que sem exagero, são maravilhosas.
Sim. Eu sei. Sem falsa modéstia aqui, sei que sou gostosa. Uma
delícia distribuída em 1,65 de pura audácia, essa SOU EU.

— WOWWWWWW, o Big Bear ficou chateadinho, tadinho do


meu bebê! — zombei, fazendo minha melhor carinha de anjo com
direito a beicinho, cílios piscando e tudo, quem não me conhece que
me compre. — Agora é sério, Rick, você sabe o quanto era
importante a entrega desse projeto dentro do prazo, Bob estava
fritando meus neurônios, há cinco meses que não sei o que é
dormir, comer e nem ter um orgasmo decente!
— Vai por mim, Eliza, eu sei bem o que é isso. Além da tensão
em abrir um negócio totalmente novo e fora da minha área de
atuação, ainda fui obrigado a cuidar praticamente sozinho das
crianças, e ter que agendar para fazer sexo com a minha esposa,
então acredite quando digo que sei do que você está falando. Juro
que na próxima encarnação irei solicitar um teste de QI, antes de
me envolver com alguém, me casei com um gênio, me ferrei —
resmungou, rindo da sua própria desgraça.
— Nãoooooooo, não iria durar nem um segundo encontro.
Homens como você precisam e merecem mulheres fortes e com
mentes brilhantes, além de um condicionamento físico fenomenal
pra aguentar TUDO. ISSO. — Sinalizei para todo o conjunto da obra
que é o homem.

Rick gargalhou, gargalhou de verdade.

— Realmente, Eliza, você tem toda a razão, não troco minha


Stellinha por nada, nem ninguém, neste mundo. No momento que
pus os olhos nela, sabia que seria minha — divagou com olhos
sonhadores e sorriso bobo.

— Rick, juro por Deus que se você continuar com esses olhos
do coração, irei jogar minha bebida em você, e odiaria desperdiçar
minha deliciosa marguerita. Pelo amor de Deus, homem, isso é
maldade com a minha pessoa, não se tortura alguém, que não
transa há cinco meses, com suspiros e olhares nostálgicos, quando
sair daqui, vá para casa transar e sinta-se privilegiado, porque a
Stella só falava disso, hoje, no escritório, tive que dispensá-la mais
cedo, ou iria enlouquecer.

— Porraaaaa, Eliza, quem está torturando quem agora?! —


rosnou, vermelho e com olhos esbugalhados.

— O quê? Só falo verdades — gargalhei. Adoro provocá-lo.


Richard e Stella são um tipo de casal que a gente quer colocar
em um potinho e guardar como referência, para não aceitar nada
menos que isso.
Conheceram-se há oito anos em uma missão no exército, e
após alguns desencontros, finalmente se acertaram e nunca mais se
desgrudaram. Richard obteve dispensa do exército há seis anos, se
instalando em Dreamouth, e devido a sua experiência, passou a
trabalhar como chefe de segurança para uma das famílias mais
abastadas da cidade. Stella foi dispensada um ano e meio depois,
indo morar com ele. Dessa união, nasceram o Richard Junior, um
pequeno furacão de três anos de idade, conhecido como RJ e a
pequena Tâmara, com onze meses de idade. Eles são a minha
família de coração.

Falando em família, meu pai morreu quando eu tinha apenas


poucos meses de nascida, e a única família que possuo é a Mag,
sinônimo de força, e responsável por hoje eu ser tão independente.
Tenho muito orgulho da mulher forte e determinada chamada
Margareth Sanders, minha mãe. A Mag me criou com a ajuda da
vovó Ava, com quem eu ficava a maior parte do tempo, pois mamãe
trabalhava em dois turnos em um restaurante e um hotel para nos
sustentar. Nós nos divertíamos muito, eu recebia conselhos valiosos
que me livraram de muitas coisas em uma cidade complicada como
Las Vegas. Com elas, aprendi a nunca desistir dos meus sonhos, e
batalhar para consegui-los, não depender de nada, nem ninguém, e
principalmente, não me deixar abater e muito menos ser humilhada.
Tenho orgulho de onde vim e do que conquistei, e sim, devo tudo
isso a ela, que mesmo depois que a minha vozinha nos deixou,
quando eu tinha apenas nove anos, não deixou a peteca cair, e
nunca nos deixou faltar nada. Sempre estudei em boas escolas,
com ótimas notas e, consequentemente, foram surgindo
oportunidades únicas, as quais me agarrei como uma náufraga que
encontra sua tábua de salvação.

Aos dezesseis anos, devido ao meu desempenho, fui


recomendada por vários professores, ganhando a tão sonhada
bolsa no MIT. Mudei-me para Cambridge, em Massachusetts e
mergulhei nos estudos, formando-me em Ciências da Computação
com apenas dezenove anos, e hoje, com vinte e quatro anos, me
tornei a Diretora do Departamento de Ciências Aplicadas da Vogel
Tech, motivo de orgulho para minha amada loira master que sempre
torceu por mim e me apoiou em todas as minhas conquistas.

Conheci o Robert Vogel em um evento onde ex-alunos do MIT


foram convidados a falarem das suas experiências e projetos
futuros, ele estava iniciando a Vogel Technologies e viu em mim um
potencial que, na época, nem eu enxergava, me convidando a me
juntar ao seu time. Robert sempre foi um desbravador e, sendo
assim, me incentivou a usar todas as minhas habilidades, me
desafiando a dar o meu melhor. Então fui ficando cada vez mais
segura, deixando-o louco com minhas ideias. Bob costuma dizer
que criou um monstro e criou mesmo. Fazer o quê?! As mulheres
Sanders são assim. “Dê-nos um limão e faremos dele uma
limonada”, como dizia minha querida e saudosa vovó Ava.

Sei que ele tem sentimentos por mim, mas nunca dei
esperanças, já que somos tão iguais em diferentes níveis, que o
vejo como um irmão que a vida me deu, ou seja, zero química aqui.

Bob sempre confiou em mim, formamos um bom time,


trabalhando na sede da empresa na Califórnia e, quando decidiu
expandir, criando a filial em Dreamouth, me surpreendeu ao me
convidar a estar à frente do projeto, bem como me dar carta branca
para escolher a minha equipe. Mudei-me há oito meses para
Dreamouth e convidei Stella para trabalhar comigo, já havíamos
trabalhado juntas em alguns projetos para a Vogel Tech, conhecia a
sua experiência, ela foi responsável pela criação de vários
armamentos e sistemas de segurança para o exército e agências
governamentais, seu nome era disputadíssimo e eu que não sou
boba, queria estar cercada com os melhores, incluindo a Stella.

A segunda aquisição da equipe foi o Nicholas Tennant,


responsável pelo departamento de inovações e design. Uma
figuraça com um crânio a ser estudado, deem uma ideia ao Nick e
ele faz acontecer e, por último, porém não menos importante, Dylan
MacAllister, o nosso “MacGyver” particular, um gênio da engenharia
mecânica tão louco quanto eu, que mergulha de cabeça nos
projetos e ficamos horas discutindo e analisando cada possibilidade.

Os Wood’s me ajudaram a escolher um loft no mesmo


condomínio em que eles moram, o que foi uma ótima aquisição, já
que fica a apenas cinco quarteirões da VT, e possui uma vista linda
para a baía de Dreamouth, onde da minha varanda posso ver um
maravilhoso parque, perfeito para corridas matinais, o que espero
fazer em um futuro não tão distante. Pelo menos é o que eu
prometo. TODO. SANTO. DIA.
Devidamente instalados e com a adrenalina a mil, começamos
a trabalhar intensamente. Trouxe a Mamis Sanders para morar
comigo, porém, pouco tempo depois, com a desculpa que eu era
muito velha para morar com a mamãe e que ela não queria ser
nenhuma empata foda (palavras dela, não minhas), acabou por
conseguir um apartamento próximo ao meu condomínio, em uma
rua sossegada e aconchegante. Ela não me engana, deve estar de
olho em alguém, é jovem, bonita e com um fogo difícil de apagar, e
vá por mim, é a minha mãe. Eu sei. Já vi e ouvi coisas que nem em
um milhão de sessões de terapia conseguirei me recuperar.

Enfim, cercada com os melhores profissionais que poderia ter,


só me faltava uma assistente que pusesse ordem a toda essa
loucura que é a minha vida, e eis que surge a Helena Davies em
toda sua glória, beleza e competência. Dona de um temperamento
forte e humor apimentado, nos demos bem desde o primeiro dia e
com o passar do tempo fomos construindo uma amizade singular. É
sério, com um olhar ela já sabe o que eu estou pensando ou
querendo, e faz acontecer antes que eu tenha a chance de piscar.
Helena é maravilhosa. Inclusive, foi a Helena que praticamente me
expulsou do meu escritório, com o argumento de que, já que
finalmente entregamos o projeto dentro do prazo, merecíamos uma
noite de folga. Optamos então por vir conhecer o motivo de orgulho
do Richard.

O Wood’s Pub é um gastropub, uma espécie de bar


underground, porém, com uma pegada mais gastronômica onde
unimos a vontade de comer deliciosas criações gourmets com a
combinação perfeita de uma cerveja artesanal, um bom vinho ou
diferentes e criativos tipos de drinks. Definitivamente, o melhor lugar
para despressurizar, e se divertir. Música retrô tocando o tempo
inteiro e em alguns dias, pequenas apresentações ao vivo, tudo isso
combinado a uma decoração impecável que nos remete aos anos
80 e voilá... temos o Wood’s bar.

Richard conseguiu idealizar vários ambientes distintos em um


espaço superaconchegante. Ao fundo, uma mesa de sinuca e na
lateral esquerda, sua Harley Davidson incrível. Mais ao fundo, à
direita, um jukebox, um mini palco e uma discreta pista de dança.
Na entrada, vemos uma foto em preto e branco, de parede inteira,
com a família Wood, montados em sua famosa possante, e logo à
direita temos o famoso balcão decorado com garrafas antigas, barris
e na parede ao fundo, quadros com referências a vários tipos de
cervejas, e claro, não poderiam faltar as famosas banquetas em
madeira, dando um ar supercharmoso ao lugar, que é exatamente
onde me encontro agora, conversando com meu best friend gigante.
Só percebo que me perdi em pensamentos, quando ouço a voz do
Rick:

— Parece que a sua amiga está se divertindo. — Apontou o


queixo para a mesa de sinuca, onde Helena fingia tentar aprender e
o moreno colado ao corpo dela, fingia tentar ensiná-la a jogar,
estavam tão colados, que se um mosquito tentasse passar entre
eles, morreria asfixiado. Essa é a Helena, espere chegar com ela,
nunca sair. Vive me dizendo que preciso viver mais, e blá, blá, blá,
mas a verdade é que essa não sou EU. Foquei tanto em minha
carreira que minha vida amorosa virou uma grande piada, claro que
não sou nenhuma puritana e sei apreciar um belo espécime, quando
vejo um, o problema é quando abrem a boca. ARGH!
Tenho vontade de explodir meus tímpanos, só para não ouvir
tantas baboseiras, então acabo sendo seletiva demais, e me resta
tão pouco tempo para me divertir, que a última vez que fiz sexo virou
uma doce lembrança.
— É, pelo visto, ela já ganhou a noite — bufei desanimada.
— Hey! Que desanimo é esse, garota? Você não veio aqui, no
melhor dia da semana, para ficar aí, sentindo pena de si mesma,
NÃO NO MEU TURNO! Cadê a mulher esfuziante, que ofusca todos
ao redor com seu brilho?
— Isso mesmo, Rick, você tem toda razão, chega de
lamentação, finalmente acabamos o projeto. Apresentamos hoje e
foi um sucesso, os japoneses surtaram e o Bob marcou uma reunião
na próxima semana somente para acertar os últimos detalhes, então
teremos uma calmaria até entrarmos em um novo looping de
loucura e começarmos tudoooo de novo! Então agora, só preciso de
mais algumas margueritas, uma conversa interessante com meu big
bro, boa música e quem sabe... seja hoje que conheça um boy
magia pra chamar de meu? Sim, porque a Helena já foi abduzida
pelo moreno de olhos azuis, aliás, puta merda, vai ter sorte assim na
casa do chapéu, é cada homem que essa criatura arruma, que meu
DEUS!

— Ela está vivendo, Eliza e você deveria se permitir. — Rick


chama a minha atenção, balançando a cabeça em sinal de negação
e tocando no meu nariz com o dedo indicador, o que me fez franzi-
lo.
— Quem disse que eu não vivo, Rick? Só não sou como a
Helena, é pecado, por um acaso?
— OK, qual foi a última vez que você saiu pra dançar, ir ao
cinema ou conheceu alguém interessante?
— Eu... eu... ARGH! Isso não vem ao caso, Richard, só estava
com muito trabalho, não tive tempo para essas coisas, você sabe!
— SEI. E é por isso que hoje VOCÊ vai relaxar e se divertir,
lembra quando te disse que hoje era o melhor dia da semana?
Então, irei te dar a honra de provar o melhor bolinho de calabresa
que você já comeu na vida, tenho um amigo que nos agracia com
seus dotes culinários toda sexta-feira e para sua felicidade, hoje é
sexta — brincou, dando uma piscadinha.
— Amigo, é? Hummm, é bonito? Interessante? — sondei com a
cara mais deslavada possível.

— E eu lá sou homem de achar outro bonito, Eliza? —


resmungou indignado, estreitando os olhos para mim. — Isso você
mesma confere, quando ele aparecer, já deve estar saindo uma
porção no capricho, que pedi especialmente para você.
— Estou me sentindo lisonjeada agora, e ansiosa por provar os
famosos bolinhos, além de conhecer o famoso chef, é claro — frisei
o chef, mexendo as sobrancelhas.
— Você não tem jeito mesmo. — Sacodiu a cabeça em
negação.

— Ué, não foi você que acabou de dizer que eu preciso viver?
Não sou eu que estou mantendo um tesouro escondido na cozinha.
— Faço beicinho.
— Beicinho é jogo sujo, Eliza — reclamou, indo até a porta da
cozinha e pegando a porção de bolinhos das mãos do garçom. — E
esses bolinhos pedem uma típica cerveja bem gelada — fala,
abrindo uma cerveja na minha frente.

— Hummmm!! A cara está maravilhosa e o cheiro... senhorrrr,


passa já esses bolinhos pra cá, porque já estou salivando. — Mordi
um e fui catapultada aos céus. — AI! MEU! DEUS! Que delíciaaaaa
Rick, hummmmm derrete na boca, se o chef for gostoso como
eles... EU QUERO, E PRA VIAJEM! O que ele usa nesses bolinhos?
— Se eu te contar, terei que te matar. — Ouvi uma voz atrás de
mim... uma maldita voz rouca logo atrás de mim, isso não pode ser
real. Virei-me bem devagar e me deparei com um belo espécime,
com mais de 1,80 de altura, músculos nos lugares certos e um
sorriso de fazer qualquer dentista orgulhoso. Fui subindo o olhar, é
isso aí, sequei mesmo, me julguem, até me deparar com duas
esferas azuis brilhantes me encarando com um olhar divertido.
— Oi. — A única palavra que consegui articular.
— Oi. Sou o Gauthier. Alexander Gauthier.
CAPÍTULO 2
— Sou a Sanders, Elizabeth Sanders — respondi.

E então caí numa gargalhada descompensada. Alexander e


Rick me olharam como se eu fosse uma louca e realmente era o
que parecia, já que não conseguia me controlar e ria como uma
hiena asmática.
— Desculpe! Me desculpe! — respirei fundo, tentando
recuperar minha sanidade. — Mas, você veio pra cima de mim todo
a La James Bond, então não resisti — expliquei, tentando me
recompor. — Sou o Gauthier. Alexander Gauthier. Pelo amor de
Deus, homem, é assim que você costuma chegar nas mulheres?
Porque devo lhe informar que é muito brega! — desatei a rir
novamente. — E essa ênfase no sobrenome, deveria me impactar?
Porque sinceramente, não lembro de ter ouvido falar dele antes —
debocho com a mão no queixo, batendo com o indicador nos lábios
e franzindo o cenho como se estivesse tentando me lembrar. —
Você é alguém famoso? Um ator? Ou cantor? Desculpa, mas, seu
sobrenome não me remete a nada... esclareça-me — concluo com a
minha melhor cara de pôquer.

O silêncio que se seguiu foi constrangedor, Alexander ficou


mais vermelho que um pimentão, e o Rick abriu boca, com cara de
quem não estava acreditando no que estava vendo.

— EI! Eu não cheguei em ninguém, ok? Só estava tentando ser


educado, não tenho culpa se VOCÊ não me conhece. — Alexander
bufou indignado.

Então, não podendo mais me segurar, explodi em gargalhadas,


com ele me encarando sem entender nada. Respirei fundo para me
acalmar, limpando as lágrimas que meu excesso de riso causou.
— Ai, Deus, eu precisava disso. OK, vamos começar de novo.
Estou brincando com você, Alexander, é claro que lhe conheço, não
seria a profissional gabaritada que sou, se não estudasse a
concorrência, mas confesso que foi divertido, você precisava ver a
sua cara, deveria ter tirado uma foto, ou se o Rick não ficasse
parado, com essa cara de paisagem, poderia ter feito um vídeo
incrível para postar no TikTok, mas ficou tão chocado, coitado, que
deu curto. E... SIM. Eu sei que você é o Alexander Gauthier, CEO
da Gauthier Corporation, e sei disso porque sou a Elizabeth
Sanders, Diretora do Departamento de Ciências Aplicadas da Vogel
Tech, então vamos fingir que os últimos cinco minutos de surto não
aconteceram, já que alguém inútil fez o favor de não gravar, e
vamos nos apresentar devidamente — esclareço, revirando os olhos
para o Richard. — Oi! Sou a Elizabeth! — Estiquei a mão para o
Alexander, que a olhou como se fosse uma cobra que iria picá-lo a
qualquer momento. — Anda, Alexander, aperta minha mão, não irei
mordê-lo e muito menos sou louca.

— Tenho minhas dúvidas. — Rick murmurou, me fazendo


fuzilá-lo com o olhar.

Após hesitar por um momento, Alexander finalmente apertou


minha mão.

— Oi, eu sou o Alexander... Mas, isso você já sabe.

— Sim, eu conheço o CEO Alexander, contudo, o que


realmente quero conhecer, é o homem que em plena sexta-feira
poderia estar em qualquer lugar relaxando, rodeado de mulheres
bonitas, e não faça essa cara, porque VOCÊ sabe que é gostoso. —
Empurrei o indicador no peito dele. — Porém, está enfiado na
cozinha de um amigo, testando receitas incríveis. É esse homem
que quero conhecer esta noite, sinto que há uma história
interessante, por trás de tudo... isso. — Cocei o queixo, analisando-
o.

Senti-o ficar tenso, e trocar olhares com o Rick, que tentou


disfarçar, pegando uma bebida.
— Não tem história alguma, simplesmente gosto de cozinhar
nas horas vagas, minha vida é tão entediante que a faria dormir nos
primeiros dez minutos e... FIM.

Olhei de um para o outro, não comprando nada dessa história,


mas por agora, optei por deixar passar.
— OK, que tal aproveitarmos que a noite está calma e nos
sentarmos um pouco? Acredito que mereço uns minutinhos de
descanso, pois também sou filho de Deus. — Rick interveio em
socorro dele.

Preparou outra marguerita para mim, e cervejas para eles, nos


direcionando a uma mesa mais ao canto, onde temos uma visão
periférica de todo o bar. Nem bem nos sentamos, começamos a
ouvir uma confusão ao fundo e nos viramos para ver o que
acontecia.

— E lá vamos nós outra vez. — Rick suspirou, apertando a


ponte do nariz.

De repente, uma Helena furiosa passou por nós, saltando fogo


pelas ventas, com o gato de olhos azuis correndo esbaforido atrás
dela.
— Espera! Volta, vamos conversar... calma aí, gata!

Helena estacou no lugar.

— Xiiiii... é agora. O caldo vai entornar em 3, 2...1 — cochicho.

Helena vira tão rápido que o homem dá um pulo para trás


assustado.

— GATA?! GATA?! MEU NOME É HELENA, SEU INFELIZ!!

E só aí ela se dá conta da nossa presença, se dirigindo à nossa


mesa e antes que eu possa piscar, toma a marguerita da minha mão
e despeja todo o conteúdo da minha bebida na cabeça do indivíduo.

— PORRAAAA, HELENA, MINHA MARGUERITA! — exaltei-


me com a infame.
— Ahhh, Eliza, não é como se você não pudesse pegar outra!
Rick, ponha quantas margueritas ela quiser na minha conta, eu tô
indo, pra mim, a noite já deu!

Levantei de um salto e a puxei pelo braço.

— Helena, se acalme, ok? Respira, espera só um minuto que


vou com você, não sei o que aconteceu, mas não vou te deixar ir
sozinha neste estado.

— Não, Eliza, fique aqui e aproveite a sua noite, de noite


estragada basta a minha, alguém merece se dar bem hoje, e essa
pessoa é você. — Piscou, olhando por sobre meu ombro, em
direção ao Alexander. — Não se preocupe comigo, irei pedir um
carro por aplicativo. Divirta-se — Despediu-se, me dando um beijo
no rosto.
Virou-se para sair, mas o sem noção apareceu em sua frente.

— Calma, Helena, não é o que você está pensando... — Uma


voz de taquara rachada faz-se ouvir em alto e bom som.
— Pat, amorzinho, você está demorando, chuchu, vem aqui
que a sua baby tá com saudade!

OI?! Olhei na direção em que partiu a voz e me deparei com


uma ruiva com dois metros de pernas, peitos siliconados, toda
vestida em couro, sentada calmamente na mesa de sinuca, com
uma cerveja em mãos, como se o barraco acontecendo logo ali não
tivesse nada a ver com ela.

Helena deu-lhe as costas e saiu feito um raio, se olhar


matasse, ele estaria mortinho e esturricado.

— PORRA, ESSA MULHER SÓ ME FODE! O QUE EU FIZ


PRA MERECER ESSE ENCOSTO NA MINHA VIDA?! — queixou-
se o “Pat” mal-humorado, indo em direção à ruiva. — Casey, eu já
não falei pra você não me procurar mais?! ACABOU! Para de
perseguição, QUE DROGA!
— Ahhhh, amorzinho, não fala assim... no fundinho você me
ama, que eu sei. — Fez biquinho e tacou-lhe um beijo desentupidor
de pia, que me deixou boquiaberta e em um minuto já tinham
desaparecido bar adentro.

— Alguém pode me dizer o que foi isso?! — inquiro, ainda sem


acreditar na cena grotesca que acabei de presenciar.

— Esses dois aí se merecem, Eliza, a Casey é louca pelo


Patrick e ele vive dando corda, como você acabou de ver, então,
toda vez que ele tenta se dar bem, ela aparece do nada e PUFF,
estraga os planos dele... mas no final, eles se entendem. Sinto
muito que a bola da vez tenha sido a Helena.

— É uma pena, ele tem uma bundinha linda, vocês viram?

— Eliza!! — Alexander e Rick gritaram ao mesmo tempo.

— Ohhhhh, faça-me o favor, Alexander, se você não tem nada


de interessante a me dar... deixa eu me divertir em paz. — Revirei
os olhos para ele.
— Como assim, nada de interessante? O que você quer?

— Uma história picante, cheia de detalhes sórdidos por trás


desse seu fetiche de CEO barra Chef... vamos lá, me deem
diversão, rapazes!

— E-li-za. Já lhe disse que não tem história alguma, só um


hobby de um homem entediado, é isso, ok? Mas já que não há
história, eu posso lhe dar uma dança, satisfeita?! — perguntou,
torcendo para que eu esquecesse o assunto.

— Hum. — Olhei entre Alexander e Rick, que trocaram olhares


desconfiados. — Satisfeita eu não estou, porém, por hoje basta.

Alexander se apressou em se levantar, me estendendo a mão


em um pedido mudo de que o seguisse. Caminhamos até a
minipista de dança, onde começou a tocar “Take My Breath Away” e
foda-se, irei dançar com o meu Tom Cruise particular. Entrelacei
minhas mãos no pescoço do Alexander, enquanto ele enlaçou
minha cintura, apertando de leve.

— Então você perdeu sua companhia para casa — iniciou,


quebrando o silêncio. — Se você quiser e não tiver problema em
esperar o bar fechar, eu te levo.

— Hummm, um “CEO barra Chef”. — Fiz sinal de aspas. —


Que bate o ponto? Que sexy — sorri zombeteira, descendo a mão
pelo seu peito —, tão cavalheiro, que fica impossível negar o
convite, isso, se não for te incomodar. Posso pedir um táxi, sem
problemas.

— Não, incômodo algum, sinto muito por sua amiga.


— Sinta muito por mim, que terei que aguentar o mau humor da
Helena na segunda-feira. Quando o final de semana da Helena não
é interessante, ela vira um Gremlin, e não é a versão fofa do
bichinho. UGHT! — Estremeço.

Alexander gargalha tão gostoso, que eu o acompanho, logo


estamos os dois gargalhando em meio à pista, até que o riso morre
e me vejo mergulhada naqueles olhos azul-tempestade, tão
intensos, que me hipnotizam, a música acaba e nem percebemos,
mergulhados um no outro.
O primeiro a cortar o contato visual foi ele.
— Hum, hum — pigarreou. — Desculpe, mas preciso checar a
cozinha, volto em um instante.

— Hum. Ok, é... irei sentar com o Rick, e por favor, volte com
mais bolinhos! — pedi, juntando as duas mãos em sinal de prece,
seguindo em direção as mesas. Alexander sorriu e confirmou com a
cabeça, virando-se em direção à cozinha.
Voltei para a mesa e Rick me entregou outra marguerita, que
acabou de preparar. Ficamos pondo o papo em dia até que
Alexander retornou com outra porção de bolinhos e duas cervejas
para ele e Rick.

— Alex, Jimmy acabou de enviar mensagem, avisando que não


poderá vir, já estava a caminho, porém surgiu um “imprevisto”. —
Rick informa, fazendo o sinal de aspas ao enfatizar a palavra
imprevisto.
— Certo, sei bem o “imprevisto” dele... vindo do Jimmy, só pode
ser mulher. Não acredito que ele deu bolo na gente. De novo.

— UAUUU!! Eu iria conhecer Alexander Gauthier e James


Coleman em uma só tacada? Fiquei até emocionada agora, já
pensou?! Um loiro e um moreno ao meu dispor... sonho de consumo
de qualquer mulher — provoquei Alexander, batendo os cílios e
fazendo biquinho.
— Engraçadinha.

— Obrigada. Mas já que não fui agraciada em realizar meu


fetiche, vou ter que me contentar com seus bolinhos. — Pisquei.
Assim que coloquei o bolinho na boca, alcancei o nirvana.

— Alexander, isto é maravilhoso, mas espera, este tá diferente


do primeiro.
— Sim, esse possui um ingrediente de origem brasileira. A
mandioca... uma delícia, não é?

— Simmm e a textura... macio ao toque... derrete na boca...


hummm.
— Realmente, receita de calabresa com mandioca, igual a
minha, você não vai provar em lugar algum... é de dar água na
boca. — Alexander falou pausadamente, prendendo meu olhar ao
seu.

Céus, acabei de perder a calcinha.


— Han, han... — Rick pigarreia. — Pessoal... Ainda estamos
falando do bolinho, não é? — perguntou com um sorrisinho de lado,
nos tirando do transe.
Não sei quem estava mais vermelho, o bolinho, ou Alexander,
que abaixou a cabeça de repente, interessado no que estava escrito
no rótulo da cerveja em suas mãos. Estreitei o olhar para o Richard,
que encolheu os ombros e sorveu um gole da cerveja, com a cara
mais cínica do mundo.

— Sério, Alexander, parabéns, para um CEO, você é um ótimo


chef! Como aprendeu a cozinhar?
— Tenho duas cozinheiras em casa. Annika, que é russa, e
Susy, que é brasileira, meus pais viajavam muito e ficávamos muito
tempo sozinhos em casa, como sempre estava com fome, a cozinha
era meu playground, eu as deixava loucas, então, a forma de me
fazerem ficar quieto era me pondo para ajudá-las e com o tempo fui
aprendendo. Sempre tive curiosidade em conhecer a culinária de
outros países e poder testar receitas novas, acho que funciona
como uma terapia para mim. Essa receita, por exemplo, quem me
ensinou foi a Susy, a mandioca é uma raiz proveniente do nordeste
do Brasil e muito utilizada na culinária típica de lá. Dá para fazer
receitas incríveis com ela. Tem também uma sobremesa chamada
brigadeiro, mas esse aí, vou deixar para outra ocasião, não dá para
descrevê-lo, você tem que prová-lo, bem devagar, degustando a
cada mordida.

— Vou adorar provar o seu brigadeiro, será uma honra... Chef.


— Será um prazer, Sanders. — Levou a cerveja aos lábios,
com um sorriso de menino que acabou de devastar minha calcinha.
Ele possui covinhas.
Por que inferno ele tinha que ter covinhas?
Continuamos nos olhando intensamente, até que cedi e abaixei
o olhar, optando por puxar um assunto mais neutro, digamos assim.
— Hum, mas espera, você disse que seus pais viajavam
sempre, não viajam mais?
— Não. Infelizmente faleceram em um acidente de carro há três
anos, só ficamos eu e Alexia, minha irmã mais nova.

— Alexander...
— Alex. É como meus amigos me chamam, e já que te chamei
de Eliza, você ganhou o direito de me chamar assim.

— Ok. Alex... me perdoe por ter tocado neste assunto.


— Sem problemas. Já faz um tempo, e ainda tenho minhas
duas mães emprestadas, a Annika e a Susy, elas nos mimam mais
que tudo... faz doer um pouco menos. Mas pelo visto, para quem
disse me conhecer, você não fez o seu dever de casa direito,
senhorita Sanders — alfinetou, com um sorriso debochado, acho até
que só estava esperando a oportunidade para a revanche.
— Touché! Eu mereci isso, você ganhou essa partida, Alex.
De repente, deu-se um silêncio constrangedor. Nestas horas
não acontece como nos filmes, um telefone toca ou alguém derruba
uma bandeja, sei lá, qualquer coisa, só para nos tirar do momento
vácuo.

Richard, como sempre um salvador da pátria, ergueu sua


cerveja e propôs um brinde às novas amizades, e eu propus um
brinde aos bolinhos do Alex, o que trouxe uma áurea de leveza à
mesa. Engatamos um papo sobre cervejas artesanais e suas
histórias, e quando vimos, já estava na hora de fechar.
— Ah, que pena, a noite está uma delícia, não queria ir para
casa, e antes que você me olhe, achando que estou insinuando
algo, eu realmente queria conhecer algum lugar diferente hoje, só
tenho oito meses na cidade, sendo que em cinco passei em
cativeiro.

Alex cuspiu a cerveja.


— Cativeiro?!
— Longa história... O que você precisa saber é que estou louco
para fechar o bar e ir para casa transar com a minha mulher, então
vocês podem fazer a gentileza de se retirarem do meu
estabelecimento? Todos já foram embora, graças a Deus! – bufou
Richard.
— Sutil como uma mula. Tá, tá, tá, já estamos indo, Richard,
não precisa ficar nervosinho, a Stella está mais ansiosa que você —
debochei, movendo as sobrancelhas pra baixo e para cima.

— Alguma piada interna? — Alex perguntou.


— Sim, mas como ele disse, a história é longa. Prometo lhe
contar, se você me surpreender, levando-me a algum lugar incrível,
que não envolva ambiente fechado e nem aglomerações, minha
cota de bar e bebida já foi batida por hoje.

Nós nos despedimos do Rick, nos dirigindo à lateral do bar.


Esperava um carro esportivo, e qual minha surpresa ao encontrar
uma Harley Davidson lindíssima? Qual o problema desses homens
com motos?!
— É... uma moto. Você vai me levar pra casa... de moto. —
Não era uma pergunta. Engoli em seco.
— Sim, vamos na minha belezinha, por quê? Não gosta?

— Sim! Quer dizer... Não!


— Sim ou não, ELIZA?!

— Sim, pra dizer que NÃO! Eu não vou subir nisso! É perigoso,
podemos ter um acidente, e sou muito nova e gostosa para morrer,
além do mais, estou de vestido, Alex!
— Você nunca andou de moto?! — Alex perguntou,
desacreditado.
— Não. Já lhe disse que não é seguro.

— Eliza, você confia em mim?


— Claro que confio é só que...

— Então sobe na moto.


Olhei para ele e para sua mão estendida com o capacete e o
peguei.

— Tive uma ideia. Vamos, sobe. Já sei exatamente aonde te


levar.
Olhei-o desconfiada, porém, coloquei o capacete.
— Você não vai pôr um? — Perguntei sinalizando o capacete.

— Não. Só trouxe um, afinal, não estava em meus planos


salvar uma donzela em perigo hoje à noite. Mas não se preocupe, a
viagem é curta e prometo tomar cuidado. — Deu uma piscadinha e
a essa altura, minha calcinha já desintegrou.
Socorro, Deus.

Num impulso, Alex colocou-me sobre a moto, ligando o motor


em seguida.
— Segura em mim e não solta!

— O quê!?
— Segura em... quer saber? Deixa pra lá!

Pegou em meus braços e os entrelaçou em sua cintura,


apressei-me em agarrar a sua jaqueta, apertando o meu corpo ao
dele e inspirando o seu perfume.
QUE HOMEM CHEIROSO, SENHOR!

— Pronta?
— Pronta!

— Ok, então vamos! — Deu a partida, levando-me rumo ao


desconhecido.
CAPÍTULO 3
Confesso que estou adorando a adrenalina, o vento no cabelo,
a sensação de liberdade, tudo isso atrelado a estar abraçada ao
Alex, sentindo seus músculos por baixo da jaqueta e seu perfume
embrenhado em meus sentidos, é maravilhoso.

Andamos por uns quinze minutos, até ele parar em uma


enseada bem escondida e rodeada com pedras, trazendo uma
atmosfera de privacidade e uma sensação de paz indescritível.
— Alex! Isso é lindo! Você vem sempre aqui?

— Na verdade, não. Já faz um tempinho que não venho a este


lugar, antigamente vinha muito aqui para... pensar. Esse é um dos
meus lugares preferidos no mundo, sempre vinha aqui quando
precisava me acalmar, colocar a cabeça no lugar.

— Vinha? Não vem mais?

— Não. Muitas lembranças.


— Você já deve ter se divertido muito aqui, trouxe muitas
namoradas?

Alex me olhou por tanto tempo e com tanta intensidade, que


quando imaginei que ele não responderia, surpreendeu-me com sua
resposta.

— Eu nunca trouxe alguém aqui, Eliza, nem a minha irmã. Este


lugar sempre foi um refúgio para mim, sempre o usei para refletir,
nunca o compartilhei com ninguém.

— OH! — Não esperava por essa resposta. — Então, por que


eu? Por que me trouxe aqui, Alex?

— Porque você me pediu para surpreendê-la e levá-la em um


lugar incrível. Então queria que esse lugar fosse especial pra você...
como é pra mim.

De repente, a atmosfera toda mudou, e me vi presa novamente


em seu olhar. Profundo. Misterioso.

Alex me observava intensamente, como se quisesse desbravar


minha alma, e talvez por isso, fui a primeira a quebrar o contato.
Virei-me de costas para ele, vislumbrando toda a magnitude da
praia em que estávamos, um lugar verdadeiramente lindo. Não tão
distante, pude observar um pequeno deck e algumas embarcações
ao longe, porém, por ser rodeada por pedras, a pequena enseada
nos dava uma certa privacidade, fazendo com que me desse uma
vontade louca de fazer uma travessura. Corri em direção ao mar,
puxando o vestido pela cabeça e pulando na água só de lingerie.

— O QUE VOCÊ TÁ FAZENDO, SUA LOUCA?! — Alex gritou


ensandecido, acenando da margem.

— VIVENDO, ALEX!! DEIXE DE SER CHATO E PERMITA-SE,


A ÁGUA ESTÁ UMA DELÍCIA! — gritei, voltando a mergulhar.

— AHHHH, PORRA DE MULHER MALUCA!! — berrou Alex,


porém, arrancou a roupa, ficando só de boxer e pulou na água,
vindo ao meu encontro.
Ai, minha Nossa Senhora das Mulheres Desesperadas... me
acuda. O que é esse homem só de boxer?!

Deu algumas braçadas, mergulhando e emergindo em minha


frente.

— Tá vendo? Nem doeu, emburradinho! A água está até


quentinha, te desafio a dizer que não gostou.

— Quentinha, VOCÊ vai ficar, quando estiver com febre, com a


gripe que você vai pegar, sua doida! — bradou um Alex todo
molhadinho.

CREDO! QUE DELÍCIA!


— Jesus, deixa de ser rabugento... confesse.

— O quê?
— Que VOCÊ está gostando. Está em seus olhos, Alex, basta
admitir. Vamos lá... — falei, dando um murrinho em seu ombro.

— OK! Realmente a água está uma delícia, satisfeita?! —


Balançou a cabeça em sinal de incredulidade, abrindo um sorrisinho
de lado, quase imperceptível.

— Ahan! Foi um sorriso que eu vi aí? Você deveria sorrir mais,


Alex, é de graça. — Dei uma piscadinha para ele.

— É, mas vamos sair, antes que realmente peguemos um


resfriado, mocinha.
— OK. — Apoiei-me em seus ombros, unindo nossos corpos, e
beijando sua bochecha. — Obrigada.

Alex corou. Ele COROU.

— Woon... Tão lindo, corando — zombei, mergulhando e


nadando em direção à margem.

Vestimos nossas roupas e andamos até a moto.

— Toma. Veste a jaqueta, se não quiser pegar uma pneumonia.

— E você?

— Tô acostumado.

— A nadar de madrugada, quase pelado? — perguntei,


arqueando a sobrancelha.

— Ah, claro, faço isso toda sexta-feira ou sempre que me sinto


entediado — brincou com seu sorriso de covinhas. — Vai... põe a
jaqueta — sussurrou, estendendo-a para mim.
Virei-me de costas para que ele me ajudasse a vestir a jaqueta.
Senti a respiração quentinha próxima ao meu pescoço, e não tive
como evitar o arrepio.

— Vamos, você está com frio — falou, esfregando meus


braços. — Vai congelar se continuarmos aqui.

Fizemos a viagem de volta em silêncio. Não um silêncio


desconfortável, apenas estávamos curtindo o momento. Assim que
chegamos e desmontamos da moto, ficamos de frente um para o
outro. Retirei a jaqueta e a devolvi.

— Pronto, está entregue, nos vemos por aí.

— Alex... obrigada.

— Por quê?
— Por me proporcionar esta noite incrível e compartilhar o seu
lugar especial comigo. Foi importante pra mim. Obrigada. — Alex
acenou com a cabeça, passando as mãos pelos cabelos, como se
estivesse envergonhado e sem saber o que dizer. Então tomei a
decisão por nós dois. Encurtei a distância entre nós, o beijando.
Comecei com um beijo suave, um breve roçar de lábios, porém,
Alex suspirou em meus lábios, segurando meu rosto entre suas
mãos, e aprofundou o beijo, tomando-me em um beijo lânguido,
como se estivéssemos fazendo amor com nossas línguas. Contudo,
tão rápido quanto começou, ele rompeu o nosso contato, como se
tivesse levado um choque, se despedindo, me deixando parada ali,
sozinha, com as pernas trêmulas e sem entender absolutamente
nada.

Entrei no loft com os lábios ainda formigando e uma enorme


interrogação na cabeça. O que foi que aconteceu para o homem
correr daquele jeito, como o diabo foge da cruz? Meu beijo não foi...
porque modéstia à parte, beijo bem pra caramba, então, que diabos
aconteceu? Eu hein?! Que cara mais doido!
Decidi não pensar mais nisso e só ficar com as ótimas
lembranças da noite, como por exemplo, Alex Delícia Gauthier todo
molhadinho de boxer preta... um ESPETÁCULO, realmente.

Fui para o banheiro fazendo minha dancinha da vitória, preparei


a banheira e a deixei enchendo, enquanto retirava minhas lentes,
nada como um bom banho de banheira relaxante, acompanhado de
um ótimo vinho. Saí do banho após uma hora, finalmente pronta
para dormir, não sem antes pedir aos céus um sonho erótico com o
dono dos meus pensamentos, o que não aconteceu, claro, afinal,
sou uma reles mortal.

Acordei decidida a não pensar mais no Alex Indeciso Gauthier,


tirando o dia para cuidar de mim, decidi ir ao salão, dando-me um
tratamento completo: unhas, cabelo e depilação. Aproveitei para ir
às compras, adquirindo mais dois pares de sapatos para minha
coleção, porque a mamãe aqui não é de ferro, chegando em casa
somente no início da noite. Optei por pedir uma pizza, que comi com
minha companhia predileta, o meu Cabernet Sauvignon, assistindo
minha série preferida, dou sinal de vida para a Mamis Sanders,
respondo alguns e-mails pendentes e assim acabo meu sábado,
sem muitas novidades.

O domingo se apresentou como um lindo dia ensolarado, e


achei uma heresia ficar em casa. Então, resolvi me arriscar a correr,
pela primeira vez, no parque próximo ao loft. Vesti um conjunto de
legging e top pretos e um tênis de corrida, que já estava criando teia
de aranha por falta de uso, tomei coragem e saí.
Após a primeira volta no lago eu já estava com as pernas
dormentes, como se minha alma fosse sair do corpo. Parei e me
sentei em um banquinho de madeira ali perto, abri a garrafinha de
água e comecei a beber como um camelo no deserto. Senti uma
sombra ofuscar o sol à minha frente e quando levantei a cabeça, me
deparei com Richard me olhando e prendendo o riso.

— Que vergonha, Eliza, UMA VOLTA e já pediu arrego? Que


decepção... tcs... tcs.
— Rick?! O que faz aqui?

— Eu corro aqui todos os dias, Eliza, alguns dias com a Stella,


uns sozinhos, e outros com o Alex, como hoje, mas confesso que
me distraí assistindo a sua performance... foi ESPETACULAR!

— Ahh, vai se ferrar, Rick, é muito fácil correr com estas


pernas, cada passada sua, são cem passos meus, isso não é justo!
Espera, você disse Alex?

— Hum, Hum. — Alguém pigarreia atrás de mim. Viro-me para


ver um Alex lindo, em seu moletom de capuz verde, mas nada
lembra o homem que conheci na sexta à noite. Ele parece
incomodado com minha presença, de cabeça baixa e olhando para
todos os lugares, menos para mim. — Oi, Eliza.
— Oi, Alexander, não sabia que corria por aqui, está tudo bem?

— Por que não estaria? Estou ótimo! — grunhiu — E


respondendo sua pergunta, moro próximo, em um condomínio a
duas quadras, sempre corro com o Richard por aqui, mas confesso
que hoje a vista foi... diferente.
— Ah! Que ótimo! Mais um para tirar uma com a minha cara.
Quer saber? Vão se ferrar os dois, tenham um ótimo dia com suas
pernas longas e saradas e seus bíceps proeminentes e...
— Já entendemos, Eliza. — Rick gemeu, tocando meu ombro.

— Que bom que entenderam, então, tchau para vocês! —


vociferei, levantando-me e seguindo em direção ao meu
apartamento, que ficava próximo.
— Eliza! — Alex gritou, correndo ao meu encontro. — Estamos
bem?

— Não sei, Alexander, estamos? Diga você — bati a bola pra


ele.
— Como assim?
— Alexander, nos beijamos e você correu como se eu tivesse
uma doença contagiosa, então, hoje você me encontra, não tem a
coragem de me olhar nos olhos e ainda fica todo arredio perto de
mim, sendo assim, eu que te pergunto: Alexander, estamos bem?!
— argumentei o encarando desentendido.

— É... Eliza, desculpa, não é você. É... complicado.


— Complicado? O que é complicado, homem?! Somos adultos
aqui, ok? — Fechei meus olhos, respirando fundo e pedindo a Deus
para me dar paciência em lidar com um ser em plena crise
existencial. Abri os olhos e o segurei nos ombros. — Alex... EU TE
BEIJEI. Não tirei sua virgindade, nem muito menos lhe pedi em
casamento, então, de onde vejo, não existe NADA complicado. Mas,
quer saber? Também não me importo com isso, foi só um beijo,
muito bom, mas foi só um beijo, então podemos fingir que ele não
aconteceu e vida que segue, está bem?
Soltei seus ombros, estendendo a mão para ele, que me olhou
como se tivesse nascido um terceiro olho em minha testa.

— Então, Alex, eu não tenho o dia todo, você vai apertar minha
mão ou isso também é complicado pra você?!
Ainda reticente, apertou minha mão, contudo, me surpreendeu
ao me puxar para perto de si, me dando um beijo demorado na
bochecha.
— Obrigado, Liz..., e que bom que voltei a ser o Alex, gosto do
som do meu nome em sua boca — sussurrou, olhando-me
intensamente.

— Não faça eu me arrepender. E se não quer que o beije


novamente, pare de me olhar assim — falei, coçando a testa com a
mão que ele não tinha se apropriado. — Agora, hum... você pode
devolver a minha mão e continuar sua corrida, o Richard não me
parece muito feliz em aguardar. — Apontei com o queixo em direção
ao Rick, que estava no mesmo lugar que o deixamos, se aquecendo
com a cara amarrada.
— Ok, melhor ir, então. — Soltou minha mão, começando a
andar para trás, sem deixar de me olhar. — Tchau, Liz!
— Tchau, Alex! — Virei-me, continuando meu caminho para
casa.

Meu Deus, que homem contraditório, Senhor!


O domingo passou como um flash, hibernei o dia todo, porque,
gente..., correr não é de Deus não. Fiquei acabada, dolorida até em
lugares que nem sabia que existiam, misericórdia. Acordei no fim da
tarde, pedi comida japonesa para saborear com o amor da minha
vida, meu vinho, é obvio, tentei maratonar uma série, todavia, não
parei de pensar naquele maldito beijo e no responsável por tirar a
minha paz em pleno domingo.

Liz.
Ele passou a me chamar de Liz, não de Eliza. Liz. O que isso
significa?
Cansada de tentar me concentrar no episódio, porém sem
sucesso, decidi dormir, afinal, amanhã começaria a semana, e com
certeza seria intensa.
CAPÍTULO 4
A segunda-feira amanheceu nublada. Ótimo. Combinando
perfeitamente com meu estado de espírito.
Levantei, tomei um banho rápido, colocando uma roupa
confortável, afinal, o Bob retornou ontem de viajem e sei que
passaremos horas discutindo a implantação do sistema nas fábricas
dos japoneses, como também ideias para novos projetos. Essas
reuniões sempre são informais, somente com nossa equipe de
criação, sem acionistas... Graças a Deus.
Optei por um jeans confortável, uma regata preta de seda e um
blazer azul bebê, finalizando com um sapatênis prata com salto
10cm, afinal, um salto eleva a autoestima de qualquer mulher e
hoje, Deus sabe que estou precisando. Amarrei meus cabelos em
um rabo de cavalo alto e finalizei o look com meu fiel escudeiro,
meus óculos. Olhei-me no espelho satisfeita com o meu reflexo.
Agora só falta o último ingrediente para finalmente me preparar para
a semana intensa que está por vir... CAFÉ!

Ao contrário dos outros dias, decidi em não ir de carro, a Vogel


Tech não fica muito distante, e a minha cafeteria preferida de todo o
mundo fica justamente no caminho. Ao entrar na cafeteria, vi uma
pequena fila no caixa e qual minha surpresa ao avistar o Alex nela?
Será possível que esse homem agora virou onipresente? Para onde
me viro... LÁ ESTÁ ELE... assim fica difícil, me ajuda aí... Oh! Pai!

Andei até a fila, parando às suas costas, e me esticando na


pontinha dos pés, soprei em seu ouvido:

— O meu é um Frappuccino Mocha... por favor. — Senti-o


retesar-se e... espera... foi um arrepio que vi ali? Alex virou-se
devagar e o blindei com meu melhor sorriso inocente. — Oi!
— Oi. Está me perseguindo, Sanders? Devo me preocupar? —
Ergueu aquela sobrancelha infame e questionadora sobre mim.
— Por quê? Seria tão ruim eu lhe perseguir? — Arqueei a
minha sobrancelha para ele também.

Dois podem jogar esse jogo Gauthier. Alex não me respondeu,


só me olhou fixamente por um momento, depois, virou-se para o
caixa.

UAU! Que vácuo, Gauthier.

Alex: 1. Eliza: 0.

Aguarde-me, Sr. Gauthier.


Solicitou nossos pedidos para viagem e aguardamos em
silêncio. A atendente voltou com nossos cafés e dois saquinhos de
papel, Alex me entregou o mocha e me estendeu um dos saquinhos.
— O quê? Eu só pedi o mocha. Aliás, quanto te devo?

— Liz...você já comeu alguma coisa hoje? — perguntou, me


fazendo arregalar os olhos. — Foi o que pensei — sentenciou com
um sorrisinho arrogante de quem sempre sabe tudo. — E não é
necessário me pagar, entenda como minha boa ação diária. Aí tem
um bagel, eu sempre compro para mim, quando estou atrasado e
não tenho tempo de tomar café em casa, deduzi que é o seu caso
também, acertei?

— Ok, acertou. — E isso é irritantemente fofo, além de me fazer


ter mais curiosidade pelo homem tão enigmático à minha frente. —
Sinceramente, Alex, não consigo entendê-lo, você consegue ser
arredio, gentil, grosseiro, atencioso, desconfiado, introspectivo e não
vamos esquecer, sexy, em um único encontro, como consegue?

— Parabéns, Liz, você acabou de me decifrar, quer fazer meu


mapa astral também? — sorriu com ironia.

— Do que tem medo, Alex? Você, por um acaso, é do tipo...,


decifra-me ou te devoro? — Assim que acabei de proferir as
palavras, me dei conta da ambiguidade e me calei, engolindo em
seco.
— Não. Mas isso não faz diferença, já que você acabou de me
decifrar e escapou de ser devorada por mim. Onde está seu carro?

Oi? Como assim, gente? Ele mudou de assunto tão rápido que
levei um tempo para fechar a boca e me recompor.

— Hã... eu vim a pé, quero arejar a cabeça e nada melhor do


que uma boa caminhada para isso. A empresa fica próxima, então
vou seguir meu caminho. Obrigada pelo café e o... bagel.

— Posso lhe dar uma carona, a empresa fica no trajeto da GC.

— Humm... NÃO. Obrigada, mas, é melhor não. A última


carona que você me deu não terminou muito bem — respondi,
olhando-o nos olhos. O brilho de reconhecimento em seu olhar me
diz que ele também se lembrou do beijo.

— Liz...
— Não, Alex, está tudo bem. Eu realmente preciso caminhar,
ainda é cedo, e gosto de pensar, planejar meu dia.

— Ok, então nos vemos por aí.

— Certo, nos vemos por aí. — Sem pensar no que estou


fazendo, inclino-me, beijando sua bochecha, pegando-o de
surpresa, o que o fez sorrir timidamente. — Se cuida, Gauthier —
despedi-me, o deixando ainda parado na calçada.

— Liz!

Virei-me rapidamente, na expectativa do que ele tinha a dizer.

— Gostei dos óculos, você fica bem com eles — elogiou,


coçando a nuca sem jeito.

— É... obrigada. Eu acho. Então... acho que vou indo. —


Apontei com o polegar para o sentido que deveria ir.

— Oh, sim, claro, não quero atrasá-la. — Solta o ar em um só


fôlego.
Dando-lhe um último sorriso, virei-me de costas e segui meu
caminho. É... nada mal para um começo de semana, pensei, sem
conseguir conter meu sorriso.

Cheguei cedo à empresa, ainda iria levar em torno de quarenta


minutos até a equipe começar a chegar, então aproveitei para
estudar a pauta da reunião, que a Helena deixou sobre a minha
mesa, já fazendo algumas anotações. Estava distraída,
respondendo alguns e-mails, quando uma Helena devastada entrou
porta adentro se arrastando e sentando-se em frente à minha mesa,
roubando meu café.

— Qual o seu problema com minhas bebidas, Helena?!


— Ai, Eliza, não grita, minha cabeça tá explodindo, depois pego
outro pra gente, aprenda a compartilhar, pelo amor de Deus —
gemeu com as mãos na cabeça.

— Sei que seu final de semana foi uma merda, mas não se dar
bem não é o fim do mundo, amiga, próximo final de semana vem aí,
se anime, criatura!

— E quem disse que estou desanimada? Tô é acabada, meu


final de semana foi... INTERESSANTE — suspirou, olhando por
cima do copo. — Ai, que dor de cabeça dos infernos... James me
paga!
— Oi? James?! Espera, não era Patrick?! Helena, estou
confusa aqui, me esclareça por favor, porque da última vez que lhe
vi, foi desperdiçando minha marguerita com aquele deus grego
chamado Patrick, sim, cachorro, mas com uma bundinha linda. Eu
chequei, acredite. E agora você chega destruída, falando de um tal
de James... desculpa, mas não tô conseguindo acompanhar.

— Patrick?! Xiiiii, amiga, esquece esse imbecil, a fila andou e


foi mais rápido que um flash!

— Uauuu! Desembuche, mulher! — Inclinei-me para saber os


detalhes sórdidos da fofoca.
— QUERIDAS... CHEGUEI! — Fomos interrompidas por
Nicholas, que acabou de chegar com dois copos de café em mãos.
— E como sou um ótimo amigo, trouxe café para você, chefa!

— Nickkkkk! Se você gostasse da fruta, ganharia um beijo na


boca agora, meu salvador da pátria. — Peguei um dos copos,
protegendo-o das garras da Helena.

— ECA! Deus me livre! — Ele fez careta, fazendo o sinal da


cruz, virando-se para olhar Helena pelo rabo de olho.

— E você, meu amorzinho, está horrível, parece até o


brinquedo destroçado de um gato!

— Aparentemente ela virou o brinquedo de um gato chamado


James, o que ela vai nos contar em 3... 2... 1.

— Ok, irei contar, mas vamos logo passar para sala de


reuniões, pois já vou organizando, enquanto falamos... afinal, meu
fim de semana de cinderela acabou e infelizmente voltei a ser a gata
borralheira, vulgo secretária hiper, mega competente que vos fala —
debochou.
Nos dirigimos à sala de conferência, nos sentando em nossos
lugares costumeiros, o meu, na ponta e ambos em cada lado da
minha cadeira.

Helena começou a narrar sua aventura.

— Então, após ter desperdiçado sua marguerita na cabeça do


Patrick e saído intempestivamente...

— O QUÊ?! VOCE DERRUBOU BEBIDA NA CABEÇA DE


ALGUÉM?! — Nicholas a interrompeu, pulando na cadeira, fazendo
com que Helena o fuzilasse com o olhar.

— Ai, não grita, peste, não vê que estou com uma ressaca
desgraçada, infeliz?! Continuando... eu trombei com o James na
saída do bar, e teríamos caído, se ele não tivesse ótimos reflexos e
braços incríveis. Então, ele fez questão de me dar uma carona,
devido ao meu estado de nervos. No caminho, resolvemos parar em
um lugar para comermos alguma coisa, o que levou a outra, e
acabamos a noite no apartamento dele, de onde saí hoje pela
manhã, só a tempo de passar em casa e vestir meu capuz de
proletariado outra vez. O Coleman tem um jeito um tanto... peculiar
de conseguir TUDO o que quer.

— O QUÊ!? James Coleman?! Aquele James Coleman, vulgo


advogato, que trabalha com o Alexander Gauthier?! Esse James
Coleman?! — perguntei, com meu queixo rolando pela sala.

— Tem outro? — respondeu com um sorrisinho de lado.

Viramos para o Nicholas, estranhando o silêncio, encontrando-o


parado com os olhos esbugalhados e a boca aberta.
— Nick... você tá bem? — Sacudo ele.

O grito que se seguiu foi assustador.


— CHOCADA ESTOU!!! PAREM O MUNDO QUE QUERO
DESCER!! HELENA, VIADAAAA, VOCÊ TÁ ME DIZENDO QUE
PASSOU O FIM DE SEMANA DE SAFADEZA COM O JAMES
COLEMAN, DEPOIS DE PROTAGONIZAR UMA CENA DE FILME
BAFÔNICOOOO NO BAR DO RICHARD? É ISSO MESMO,
PRODUÇÃO?! — berrou o louco.
— É....

— BANDIDA! E eu pensando que meu fim de semana havia


sido maravilhoso, assistindo filme e dormindo de conchinha com o
Paul... AI, QUE INVEJA!!
— Nick!! — gritamos ao mesmo tempo.

— Bom dia, meus amores, como foi o final de semana de


vocês?! E antes que perguntem, o meu foi incrível. — Stella entrou
na sala com um sorriso de orelha a orelha.
— Não precisa passar na cara que transou — disparei. — E as
crianças atrapalharam?

— Que crianças? Despachei os dois para casa dos avós Wood


e abusei daquele espetáculo de homem, por todo o fim de semana.
Todo médico deveria receitar um final de semana com orgasmos
múltiplos, cura qualquer mal que a pessoa sofra, falo por
experiência própria, olha aqui, até minha cútis está resplandecente.
— Até você, Stella?! Pelo amor de Deus, vocês querem me
enlouquecer?! — queixei-me, passando as mãos pelo rosto.

— Você bem que merece, por nos fazer de escravos durante


cinco meses, tivemos que tirar todo o atraso, porque Deus sabe o
que vem por aí com a cabeça mirabolante do Robert e nem vou citar
o Dylan...
Abri a boca para rebatê-la, mas como se só estivesse
aguardando ser citado para fazer sua entrada triunfal, Dylan chegou
todo saltitante assobiando... ASSOBIANDO!!

— Ahhhhhh, não vai me dizer que você TAMBÉM transou neste


fim de semana!!! É muita crueldade com minha pessoa!!! — gemi,
cruzando os braços sobre a mesa e abaixando a cabeça resignada.
Dylan parou no meio do assovio, olhando para a gente sem
entender nada, até que focou em mim.

— Hum...Desculpe?!
— UGHT!!! Ele transou!! — bradei, levantando a cabeça
bruscamente. — É o fim de carreira para mim! Adeus, mundo cruel!
— Tornei a baixar a cabeça sobre os braços, choramingando,
seguindo com meu show dramático.

Lógico que o magnânimo Robert Vogel escolheu este momento


para entrar.
— Oi, pessoas!!! Como estão?! Preparados para mais uma
jornada? Aliás, desculpem o atraso, o trânsito estava caótico. Não,
brincadeira, eu vim de helicóptero, o que me faz lembrar... — Ele
olha para o relógio, seu último lançamento detentor de milhares de
dólares que escolhe este exato momento para tocar seu alarme
irritante. — Que estou exatamente no horário que deveria chegar,
pontualíssimo como sempre. — Falou com seu sorriso de um milhão
de dólares.
— Robert, você não é engraçado — resmunguei, levantando a
cabeça.

— Exatamente! E é por isso que tenho você para fazer graça


por nós dois. — Caminhou até mim, dando-me um beijo carinhoso
na cabeça. — Como você está, minha querida? — Puxou-me para
um abraço.
— Com saudades, e aproveitando para descansar. E você,
como foi a viagem?

— Fantástica. Inclusive, é sobre isso que vim falar com vocês


hoje. — Sentou-se em seu lugar, na outra ponta da mesa. — Porém,
antes respondam o que vocês estavam discutindo quando cheguei,
que a Eliza estava com cara de que chutaram o cachorrinho dela?
— A vida sexual da Eliza, ou melhor, a falta dela. — Helena
disparou.
Cuspi meu café sujando toda a mesa, engasgando-me em um
ataque de tosse. Nicholas correu a bater nas minhas costas e quase
acabou de me matar com suas mãos enormes.

Olhei chocada para Helena.


— O quê? Só falei a verdade, ué! — disse a cínica. — Sabe o
que é, chefinho, ela está assim porque todos nós tivemos um final
de semana proativo, ao contrário dela. O que não entendi, você não
voltou para casa com o Alexander Gauthier?
Agora foi a vez do Robert ter um ataque de tosse, ficando
vermelho, coitado.
— Mas, genteeee, tá tendo um surto de gripe que não tô
sabendo? Se for, me avisem por favor, nem trouxe meu álcool em
gel — debochou Dylan.
— E isso tá cada vez melhor. — Stella sussurrou em seu
ouvido.

— Você disse... Alexander Gauthier?! — Robert perguntou com


a voz esganiçada.
— Sim, Bob, você ouviu corretamente. Fomos ao Wood's na
sexta à noite, e como sempre, a doida da Helena me deixou
sozinha. O Alex estava lá e como um bom cavalheiro que é, se
ofereceu para me deixar em casa... e FIM — expliquei calmamente,
tentando soar convincente.

— Só isso?! Ahhh que chato. — O intrometido do Nicholas


bufou, frustrado.
— Sim... só — confirmei, abaixando o olhar.
— Só isso e o Alexander, de repente, virou Alex. Hum...
Interessante. — Helena estreitou os olhos para mim, fazendo-me
encolher na cadeira.
— Ok, já que esclarecemos o fim de semana de todos, vamos
ao que interessa. — Robert encerrou o assunto com maestria. —
Primeiramente, quero agradecer a todos vocês, pelo empenho. Os
sócios da Sasaki Mori Corporation ficaram maravilhados com a
tecnologia revolucionária do sistema e extremamente lisonjeados
em serem escolhidos a se tornarem os pioneiros a utilizá-lo,
resultado disso... irão implantá-lo em TODAS as filiais da SMC.

Dylan soltou um longo assovio, batendo na mesa, dando início


a uma comemoração geral, gritos pulinhos e abraços, até eu fiz a
minha dancinha da vitória. Passada a euforia, nos sentamos
novamente e Robert passou para a próxima ata.
— Por ser um grande projeto, terei que acompanhar de perto
todos os detalhes do processo de implantação, minha presença no
Japão será fundamental, pois estarei à frente, supervisionando
todos os testes até que o sistema esteja implantado e funcionando
perfeitamente, o que pelas minhas contas, deve levar entre um e um
ano e meio. Dito isso, precisarei de uma pessoa de extrema
confiança e competência para assumir meu lugar na Vogel Tech
durante minha ausência, e essa pessoa...

É você, Elizabeth.
CAPÍTULO 5
Silêncio.

Robert esperando e... NADA.


— Xiiiiii, chefe, a loira bugou!!! — gritou Nicholas.

Eu paralisei, nem ousava respirar, pálpebras paralisadas


focadas no Bob.

— Eliza? — chamou ele, me tirando do transe.


Pisquei duas vezes e baixei a cabeça, pensando no que fazer
por um momento, entretanto, não consegui articular uma palavra,
minha mente virou uma página em branco.

— Alguém aperta o reset da loira, porque acho que deu pane.


— Dylan sussurrou, me sacudindo, ainda assim, não conseguia me
mover.

— Hum, hum. — Bob pigarreou. — Pessoal, vocês podem nos


dar um minuto? — Todos se retiraram silenciosamente, nos
deixando a sós, nem parecia que há poucos minutos estávamos
todos eufóricos. Assim que a porta se fechou, Bob levantou-se,
vindo até mim, virando a minha cadeira e abaixando-se na minha
frente.

— Ei... Eliza, olha pra mim. — Meneei a cabeça em sinal de


negação, então ele segurou meu queixo, obrigando-me a olhar para
ele. — Qual é o problema?

— Bob... eu não posso — argumentei com os olhos marejados.

— Eliza, Você é a pessoa mais forte, competente, leal e


comprometida que conheço e não discuta comigo. Vi isso acontecer,
lembra? — Balancei a cabeça em sinal de positivo, mas não
conseguia falar nada. — Quando te vi subir timidamente naquele
palco no MIT, para falar sobre energia sustentável e como a energia
era um recurso tão essencial, que deveria ser distribuída
gratuitamente para toda a população, fiquei sem palavras, porque
assim que começou a falar, você se se agigantou de uma maneira,
com tanta segurança, convicção e propriedade do que estava
falando, que naquele momento eu quis você pra mim.

Arregalei os olhos...

— Bob...

— Não, Eliza, você não está entendendo. Eu te amo. E antes


que me entenda mal, eu sei que não existe a menor possibilidade de
haver algo entre nós, mas isso não muda o fato de te amar. Eu amo
cada pedaço de você, pequena. Você faz parte de mim, faz parte de
quem eu sou, entende? Fui agraciado por ter você em minha vida, e
não abrirei mão disso, porque não tem nada, nem ninguém no
universo, que me faça ficar longe de você. Eliza, você se
transformou na pessoa mais importante da minha vida, é a irmã que
a vida me deu e que eu aprendi a amar incondicionalmente. E
jamais poderia estar no Japão, sabendo que a empresa em que
gastei cada minuto da minha vida para construir, não estivesse nas
melhores mãos, e só você vai me dar essa segurança.

— Ai, Bob, não faz isso.... — A essa altura, já estava


mergulhada em lágrimas.

— Naquele jantar, quando lhe fiz a proposta, eu olhava para


uma menina assustada, no entanto, cheia de sonhos... lembra o que
lhe disse? — perguntou, enquanto segurava meu rosto, limpando as
minhas lágrimas.
— Elizabeth Sanders, prepare-se para mudar o mundo! — imitei
sua a voz, com um riso estrangulado.

— Hoje estou aqui, Eliza, não, diante daquela menina, mas de


uma mulher, a profissional mais dedicada e competente que
conheço, para dizer: Elizabeth Sanders... você conseguiu, o mundo é
SEU. — Não conseguia falar mais nada, à essa altura, já soluçava
sem parar. — Xiiiiii, tá tudo bem, vai dar tudo certo, pequena. — Bob
me abraçou por longos minutos até que eu estivesse mais calma.
Quando consegui me recompor, nos afastamos e ele sentou-se ao
meu lado. — Vamos lá, Eliza... você consegue. Já é meu braço
direito, na verdade, só estarei oficializando. E vou estar com você a
cada passo do caminho, não largarei sua mão, ou alguma vez já fiz
isso?

— Não. Nunca — sussurrei.

— Então está decidido, os diretores de cada setor se reportarão


somente a você, e você a mim, e caso se sinta insegura em alguma
decisão, discutiremos juntos, ok? Não vou soltar você, pequena,
confia em mim?

— Com a minha vida. Ahhh, Bob, eu também te amo, meu


amigo, você também é o irmão que a vida me deu, sabia?

— É verdade, nos parecemos tanto que às vezes cogito se meu


pai não andou pelas bandas de Vegas, piscou para mim.

— Bob! — E já estava rindo novamente. Robert tem esse dom,


de deixar tudo a sua volta mais leve, mais fácil. — Obrigada.
— Elizabeth, jamais lhe escolheria se não tivesse certeza de
que conseguiria. Você pode e nasceu para isso. Além do mais, você
reuniu um time de gênios aqui, a melhor equipe de todas.

— Pelo amor de Deus, não fale isso em hipótese alguma na


frente deles, ou ficarão insuportáveis. — Fizemos careta e rimos
juntos.

— Bom, já que estamos acertados, passo em sua casa no


sábado às 20:00 para te buscar, iremos jantar para comemorar em
grande estilo sua nova fase, afinal, não é todo dia que tenho o
prazer de acompanhar em um jantar, uma das mulheres mais
poderosas do país, a VP da Vogel Tech — disse beijando as minhas
mãos.
— Bob...

— Nada de Bob, estava com saudades dos nossos jantares,


além do mais, você mesma disse que sua vida está um tédio, que
irmão mais velho eu seria se deixasse minha irmãzinha sozinha em
um sábado à noite, após uma promoção bombástica dessa? —
Levantamos e nos abraçamos novamente. — Posso chamar o
pessoal ou você precisa de um tempo? — perguntou, sondando
meu semblante.

Respirei fundo e dei sinal afirmativo para ele, voltando a me


sentar em minha cadeira. Todos entraram em fila indiana, com cara
de culpados. Estavam ouvindo atrás da porta, aquelas adoráveis
pragas pensam que me enganam.

— Ok, pessoal, tenho o prazer de apresentar a vocês a nova


Vice-Presidente da Vogel Tech, a Elizabeth Sanders! — Agora sim,
houve a reação esperada. Gritos, palmas, abraços e felicitações. —
Marcarei uma reunião no sábado pela manhã para apresentá-la
oficialmente aos demais colaboradores e à coletiva de imprensa, sei
que tudo está sendo novo e muito rápido, mas como retorno ao
Japão na próxima semana, teremos que correr com os trâmites. Eu
e a Elizabeth contamos com todos vocês na linha de frente, e sei
que não irão nos decepcionar. Por ora, estão dispensados.
Agradeço a atenção de todos. — Antes de sair, me abraçaram mais
uma vez, deixando-me bastante emocionada. Aprendi a amar cada
um deles, eram a família que eu não tinha.

Ficamos só os dois na sala novamente.

— Então, você está diferente, um brilho no olhar, conheceu


alguém? — Bob começou, como quem não quer nada.
— Não, Robert, não se preocupe, que se eu conhecer, você
será o primeiro a saber. Vai querer dar a benção também? — falei
ironicamente.

— Não, Eliza, é só que... você vive sozinha e eu só quero que


seja feliz, o trabalho é bom. Mas, não é tudo.
— Fala o homem mais solitário que conheço.

— Você não conhece meu lema?! Solteiro, sim, sozinho,


NUNCA! — repetimos e rimos juntos. — Estou sozinho, mas não me
fechei às possibilidades, já você...

— Eu... conheci alguém. Mas não é nada ainda, ok? É só que...


Quando estamos juntos, parece que o mundo para, e só existe nós
dois, a eletricidade entre nós é gritante. Então teve aquele beijo,
porém depois, ele fugiu, e no dia seguinte me pediu desculpas de
um jeito fofo e até me pagou um café, para daí se fechar de novo. O
homem é muito confuso, e eu não sei o que fazer, mas ainda assim,
ele mexe muito comigo.

— WOWW! Calma aí, pequeno gafanhoto, eu me perdi no


beijo, confesso. Respira e começa de novo, de quem exatamente
estamos falando? Deixe-me adivinhar, Alexander? — Abri a boca,
para fechar em seguida, soltando um suspiro resignado.

— Ficou tão na cara assim? Deveria saber que não consigo


esconder nada de você. — Ele sorriu indulgente. — Sim... o Alex.
Saímos na sexta-feira e nos beijamos, contudo, logo depois ele
fugiu e me deixou plantada em frente ao meu prédio, sem entender
nada, depois disso, parece que ele está em todos os lugares, Bob,
nos encontramos no parque, quando fui caminhar ontem pela
manhã, ele me pediu desculpas, disse que o problema não era
comigo, que era... complicado. Decidimos esquecer o beijo e vida
que segue. Só que hoje pela manhã, nos encontramos na cafeteria
e ele flertou comigo, depois se fechou novamente... Alex é uma
bagunça e está me deixando louca.

À essa altura Bob já estava rindo da minha cara.


— O que é tão engraçado?

— Você. Você não consegue, não é? Coitado do Gauthier, não


saberá nem o que o atingiu. Eliza, pelo que você está me contando,
o próprio Alexander está em conflito. Uma parte dele não resiste a
você, e acredite, eu sei exatamente como é isso.
Fiquei vermelha e estreitei os olhos para ele, que levantou as
mãos em rendição.

— Hum...hum — pigarreou. — Continuando, me parece que


algo o impede de avançar. Ele é comprometido? — perguntou,
coçando o queixo com pose de Sherlock Holmes.

— Não! — bradei indignada. — Quer dizer, acredito que não, se


fosse, o Rick me diria. Nãaaaao, ele é solteiro, tenho certeza.

— Então, se você acredita que ele é um homem que vale a


pena investir, cabe a você descobrir o que tanto o atormenta.

— Claro que vale a pena investir! Você já olhou o Alex? Tipo


olhou, olhouuu? E ele cozinha Bob, cozinha! É o sonho de toda
mulher... um Deus grego que cozinha..., será que ele sabe fazer
massagem?! — perguntei, franzindo o cenho.

— Ok, chega que essa conversa tá ficando estranha e NÃO.


Nunca olhei para o Gauthier, ele não faz o meu tipo, prefiro as loiras
baixinhas e audaciosas — falou, piscando para mim. Saímos da
sala de reuniões ainda rindo, nos despedimos, ele dirigindo-se ao
elevador, e eu para minha sala, ainda havia muito a ser feito.
O dia passou voando e no final do expediente me peguei
pensando no que o Robert falou. É, Alexander Gauthier, você é um
grande enigma. E os enigmas existem para serem desvendados.
CAPÍTULO 6
— Ela não está aqui, Alex. — Richard resmungou sem nem ao
menos virar-se para mim.
— Quem?
— É sério, Alex? Pra cima de mim? Realmente?

— Não sei do que está falando. O que faz você pensar que
estou esperando alguém? — tentei disfarçar, mas a verdade é que
não via a hora daquela loira afrontosa chegar, será que ela não vem
hoje? Será que eu fodi com tudo? — questionei-me, passando as
mãos pelos cabelos pela enésima vez, os bagunçando totalmente.
— Não sei... talvez o fato de que já é a quarta vez que você
vem aqui para fora fungar no meu cangote e que já deixou queimar
duas fornadas de bolinhos, porque saiu procurando-a pelo bar com
a desculpa esfarrapada de que precisava ir ao banheiro? Por isso?
Ou o fato de que está quase arrancando os cabelos? Motivos não
faltam, só escolher — sugeriu, recostando-se no balcão com os
braços cruzados e um sorrisinho impertinente, que eu adoraria
retirar com um murro no meio da cara. — Idiota.

— Porra! Ok, Rick, estou assim por causa dela, satisfeito?!

— Não, até que você me conte realmente o que está


acontecendo entre vocês — exigiu, com um irritante sorriso cheio de
dentes.

— Eu não sei, OK? Só sei que ela me deixa maluco, é louca,


temperamental e sexy como um inferno! Aquele pedaço de gente
desaforada e teimosa, que não recuou nem mesmo quando agi
como um completo idiota com ela! — despejei minha frustração,
passando as mãos pelo rosto e coçando a nuca.
— O QUÊ?! O que você fez com ela, Alexander?! — Richard
bradou indignado, fechando os punhos, sabia que tinha um enorme
carinho pela Eliza.

— HEY! Calma aí, OK?! Eu não fiz nada! Quer dizer, foi só um
beijo, mas aí o imbecil aqui não soube como lidar com isso e fugiu,
deixando-a sozinha em frente ao prédio em que ela mora, depois
disso, tudo ficou confuso entre a gente.

— Ahhhh, agora está explicado aquele climão lá no parque.

— Sim, tentei me desculpar, mas ela me disse umas verdades


que estão martelando até agora em minha cabeça. Para acabar de
foder com meu psicológico, encontrei a diaba na cafeteria na
segunda pela manhã, tentamos manter um diálogo civilizado, mas a
verdade é que existe uma atração muito forte entre nós, em um
momento estamos nos alfinetando, no próximo estamos flertando,
para logo em seguida estarmos constrangidos sem saber o que
fazer com tudo isso, somos uma bagunça, Rick. Na verdade, a
confusão vem da minha parte, porque a Elizabeth parece muito bem
resolvida, só que como recuei em todas as vezes em que surgiu um
clima entre nós, agora é ela que está me evitando. O idiota aqui, foi
todos os dias, esta semana, na cafeteria, na esperança que nos
esbarrássemos novamente, mas não obtive sucesso. Minha
esperança era que ela viesse hoje, mas pelo visto, ela não vem —
admiti cabisbaixo.

— Não sei, Alex, mas a questão aqui não é essa, e sim, saber
o que realmente você está sentindo pela Eliza.

— Eu não sei, só sei que ela não sai da minha cabeça desde
que pus os olhos nela, nossa noite foi incrível, me diverti como há
muito tempo não fazia, Eliza é leve, livre, descomplicada e me faz
rir... ela me fez sentir outra vez, e isso me assusta pra caralho,
porque só Deus sabe o que passei pra me reerguer, e prometi a
mim mesmo, nunca mais me envolver com ninguém, mas então ela
chegou chutando o pé na porta, entrando com tudo sem pedir
licença, e realmente não sei o que fazer com isso que estou
sentindo, você me entende, Richard?

— É a Eliza, Alex, ela é assim. Toca a vida de todos à sua volta


sem fazer esforço. Eliza é uma força da natureza, a pessoa mais
forte e leal que conheço, mas, Alex... nossa menina já passou por
tanta coisa que, ou você descobre o que realmente quer com ela, ou
acho melhor você se afastar.

— O quê?! Por quê?! — Ele ficou em silêncio, me dando as


costas. Pegou duas cervejas e fez sinal para que eu o seguisse até
uma das mesas, nos sentamos em silêncio e após alguns minutos,
ele voltou a falar.

— Elizabeth Sanders é uma das mulheres mais inteligentes e


duronas do planeta. Nós conhecemos a Eliza há bastante tempo e
não é a minha história para eu contar, mas o que você precisa
saber, é que a Elizabeth é uma lutadora... Uma sobrevivente,
Alexander. Toda vez que a vida tenta esmagá-la, ela dá um jeito de
vencer e já a vi fazer isso tantas vezes e por tantas pessoas, que
hoje nós a amamos como uma irmã caçula. A Stella tem um carinho
imensurável por nossa menina, por quem ela é, e por quem se
tornou, nós a admiramos muito. Ela é uma máquina no trabalho,
mas deixou de dar atenção aos outros aspectos da sua vida, virou
uma pessoa sozinha, que usa o bom humor para se proteger, mas
não se iluda, Alex, ela ainda é uma menina no quesito sentimentos.
Eu acompanhei toda a sua jornada até aqui e respeito isso, acredito
que você esteja uma bagunça de sentimentos, mas sugiro que antes
que dê algum passo que venha a se arrepender depois, reflita sobre
o que está sentindo e onde realmente você quer chegar com isso,
antes que a machuque, ou que vocês se machuquem.

— Eu, realmente, não sei o que fazer, Rick. Foram quatro anos,
quatros anos onde NADA de bom aconteceu! — bradei exasperado,
sentindo os olhos marejarem.

— Exatamente, meu amigo. Quatro anos. Você não acha que já


está na hora de seguir em frente? Ela te deixou, Alex, e nada do que
você fizer ou sentir vai mudar o fato de que ela é adulta e
ESCOLHEU te deixar. — Apertou a mão em meu ombro,
encarando-me com seriedade.

— Às vezes me pergunto: se eu tivesse lido os sinais de que


algo estava errado, talvez eu pudesse ajudá-la em algum momento,
se isso não mudaria o que aconteceu.

— Você nunca saberá, Alexander. E sinceramente, você não foi


o culpado em nenhuma das duas situações. A primeira foi uma
fatalidade e a segunda, uma escolha que não pertencia a você. Não
se cobre tanto, Alex, você tem uma vida para viver. Quem sabe a
Elizabeth não é o universo acenando uma segunda chance para
você? Mas só saberá se você se permitir sentir.

— É, talvez você tenha razão — sussurrei coçando a nunca.


— Eu SEMPRE tenho razão, Alex. É um dom — rimos juntos,
batendo nossas cervejas em sinal de concordância. — Vá pra casa,
e só volte quando sua cabeça estiver no lugar, se continuar como
hoje, você vai literalmente QUEIMAR a fama da boa gastronomia do
meu bar. — Levantou as mãos para o céu em sinal de piedade.
Revirei os olhos para ele, mas aceitei sua “sugestão”. Realmente
não estava em meus melhores dias e não queria dar mais prejuízo
ao meu amigo. Peguei minha jaqueta e chaves da moto no armário
dos funcionários, me despedi do Richard, e parti em direção à minha
possante atrás do bar.

A viagem para casa foi mais rápida que o normal, estava


exausto física e emocionalmente. Precisava realmente repensar
minha vida.
Tomei uma ducha rápida, coloquei somente uma calça de
moletom e fui até cozinha, preparei um sanduiche de peito de peru
com um copo de suco de laranja e levei para a sala, me sentando
no sofá. Liguei no canal de esportes, onde estava passando uma
reprise do último jogo do campeonato de basquete, mas não
demorou cinco minutos e já estava entediado. Desliguei a tv,
terminei meu lanche, coloquei os pratos na lava louça e subi para o
quarto, minha cobertura era bem espaçosa e os quartos ficavam no
segundo andar, com um corredor circulando toda a área, me dando
uma visão panorâmica do andar inferior. Deixei a decoração a
critério da Alexia, que na época ficou animadíssima em decorá-la,
confesso que fiquei com medo do que iria sair daquela cabecinha,
mas acabei surpreendido com o ambiente masculino, minimalista e
sofisticado. Ela conseguiu captar minha essência, a simplicidade e o
requinte com o qual aprecio e estou acostumado, confesso que
gostei e muito do resultado, deixando-a exultante e orgulhosa do
seu trabalho.

Alexia é determinada e quando se propõe a fazer algo, não


aceita menos do que a excelência. Tudo no apartamento me faz
lembrar dela, sinto muita saudade da minha baixinha. Ainda bem
que falta pouco para as férias da faculdade, esse tempo longe está
me matando, mas tenho que aceitar que a minha menina cresceu e
está se transformando, não, se transformou, em uma linda mulher.
Agora que só temos um ao outro, meu senso protetor se tornou
gritante, e me policio todo o tempo para não a sufocar, esse tempo
longe está me ensinando isso, compreender que ela precisa alçar
voos... sozinha.

Deitado na cama, deixei meus pensamentos vagarem até uma


certa loira. Rick estava certo, tenho que entender o que realmente
estou sentindo antes de avançar em relação a Eliza. Contudo, nem
sei se ela tem interesse em avançar em nosso relacionamento.
Puff... relacionamento, já estou até nomeando o que nem sei se
ocorrerá.

—Alex, Alex... onde você foi se meter cara? — bufei.

Lembrei do momento em que a vi. Primeiro ouvi uma risada.


NÃO. Uma gargalhada. Vindo de ninguém menos que o Richard, o
Sr. Sisudo. Franzi minhas sobrancelhas, me perguntando que
diabos estava acontecendo com ele, quando a ouvi. O som mais
lindo e cristalino que já ouvi na vida, sua risada reverberou por todo
o meu corpo, que respondeu na hora aquele som celestial.
Precisava ver quem era a dona daquela voz maravilhosa e que
conseguiu tirar uma gargalhada tão frouxa do meu amigo. Isso era
raridade. Tive um vislumbre de uma cabeleira loira, quando o
garçom abriu a porta da cozinha e se dirigiu ao balcão para entregar
uma porção de bolinhos ao Rick, continuei com os preparativos para
assar uma nova fornada, quando ouvi um som que paralisou todo o
meu corpo, uma descarga que subiu pela base da minha coluna e
refletiu direto no meu pau.

PUTA QUE PARIU, ISSO FOI UM GEMIDO?!

Esgueirei-me até a porta, e de lá pude ver a loira sentada de


costas, conversando com o Rick, provando os bolinhos com os
gemidos mais indecentes que já ouvi na minha vida. JESUS! Se
comendo ela já faz esses barulhos, imagine... Não Alexander, você
não vai imaginar nada, controle-se homem, ela é só uma cliente e
amiga do Rick, pelo visto, ou seja, encrenca. E encrenca é o que
menos quero para minha vida no momento. Já havia virado as
costas para retornar à cozinha, quando a ouvi dizer algo que me fez
tomar coragem e ir até lá. É, acho que enlouqueci de vez.

— AI! MEU! DEUS! Que delíciaaaaa Rick, hummmmm derrete


na boca, se o chef for gostoso como eles... EU QUERO! E PRA
VIAJEM! O que ele usa nestes bolinhos?
— Se eu te contar, terei que te matar — respondi baixinho,
falando atrás dela.

Ela assustou-se, retesando o corpo, virando-se para mim com


aquelas duas bolas de gudes de um azul esverdeado. Mergulhei
naqueles olhos, me perdendo por um instante. Desviou o olhar e
avaliou todo o meu corpo lentamente até chocar seu olhar
novamente com o meu, olhando-a divertido, tentando conter o
sorriso e falhando miseravelmente. Então, após a avaliação
descarada, ela enfim se pronunciou.
— Oi. — Cumprimentou com aqueles lábios carnudos e
demorei alguns segundos para fazer com que meu cérebro desse o
comando e conseguisse abrir a minha boca estúpida.
— Oi. Sou o Gauthier. Alexander Gauthier. — Apresentei-me
confiante, aguardando que fizesse o mesmo. Ela apresentou-se, e
de repente começou a gargalhar histericamente, Rick e eu nos
entreolhamos sem entender o que estava acontecendo, até que
compreendi que ela estava rindo de mim. RINDO. DE. MIM.

Curtiu uma com a minha cara, desfez do meu estilo, de como


me apresentava, esnobou meu sobrenome, não que eu utilizasse
desse artificio para me promover, contudo, sempre foi natural que as
pessoas me reconhecessem, e ela simplesmente me tratou como
um ninguém, um desconhecido sem a menor importância. FIQUEI
PUTO.
Até que ela assumiu estar brincando comigo, que claro que me
conhecia e inclusive trabalhava para meu concorrente. Resumindo.
Ela me deu todos os motivos para que eu ficasse bem longe dela,
porém, não consegui. Passei de possesso e constrangido a
encantado por ela em minutos. Elizabeth é espontânea, debochada
e tão autêntica que a conversa fluiu livremente e me vi convidando-a
para dançar e, pior, ofereci uma carona na minha possante, eu só
poderia estar maluco, mas não conseguia dar fim àquela noite.
Apresentei o meu lugar especial para ela, nunca tinha falado dele
com ninguém, nem mesmo a Alexia, porém, quando dei por mim, já
estava lá com ela e pareceu tão... certo. Eu me diverti como há
muito tempo não acontecia, se alguém me dissesse há uma semana
atrás que estaria mergulhando na baía de Dreamouth em plena
madrugada, eu diria que essa pessoa estaria pirando, mas lá estava
eu, à mercê daquela coisinha pequena e audaciosa.
A volta ao apartamento dela foi uma delícia, ela me apertando
com seus bracinhos minúsculos e suas coxas grossas por medo e
frio, e quando a deixei em frente ao seu prédio, já estava na borda,
louco para segurá-la em meus braços e provar daqueles lábios
rosados e convidativos. Qual foi minha surpresa quando ela tomou a
iniciativa em me beijar, um beijo suave que me fez perder a cabeça
de vez. Segurei o seu rosto em minhas mãos para que não se
afastasse e aprofundei nosso beijo, foi intenso e precisei de toda
força para não a tomar ali mesmo em plena rua. Meu Deus, o que
está acontecendo comigo? Assustei-me ao sentir o quanto meu
corpo respondeu ao dela, e covardemente a deixei sozinha na
calçada sem nem me despedir adequadamente. Passei a noite
praticamente em claro, pensando em como era possível que uma
pessoa que eu tinha acabado de conhecer me desestabilizasse
desta maneira. Todas as regras que me impus, em não me
aproximar de alguém, foram quebradas em apenas uma noite e o
que me assusta é que não me arrependi de nada, a noite foi
maravilhosa e me permiti sentir coisas que há muito tempo estavam
adormecidas.
Todavia, não quero me envolver com ninguém. NÃO POSSO.

Eliza é linda e sexy sem fazer esforço algum. Se fosse uma


mulher desconhecida, não teria problema algum em ter uma noite
de sexo casual, como sempre faço, quando a necessidade fala mais
alto, porém, nunca me envolvi com ninguém, depois daquele maldito
dia. Então, Eliza caiu de paraquedas, e não estou sabendo lidar com
todas as sensações que ela me fez sentir. Além do mais, ela é
amiga dos Wood’s ou seja... ENCRENCA.
No domingo fui correr no parque com o Rick e tive o prazer de
contemplar o espetáculo de ver a Eliza se esgoelando após se
arrastar por poucos quilômetros, ela não conseguiu nem completar a
primeira volta e já estava colocando os bofes para fora. Coitada.
Não sabia se ria ou suava frio, ao perceber a roupa que ela estava
usando, um top minúsculo com uma legging justíssima modelando
aquelas coxas deliciosas, e a bunda... ahhhh, aquela bunda é digna
de ser adorada. Eliza também não facilita. Meu Deus!

Senti meu pau inchando dentro do short e não poderia de


maneira alguma passar essa vergonha. Deixei que Richard se
aproximasse do banco onde ela estava sentada, bebendo em sua
garrafinha de água, a diaba conseguia ser sexy até bebendo uma
simples água. Jesus! A que ponto eu cheguei. Quando ela falou
comigo, estava tão constrangido e preocupado em controlar minha
ereção, que acabei sendo ríspido com ela, me arrependendo logo
depois. Entrei na onda do Rick, brincando sobre seu
condicionamento, e a barra que já estava suja para mim, acabou por
piorar, a coisinha pequena nos mandou ir se ferrar e saiu soltando
xingamentos e maldiçoes, pisando duro, não resisti e a chamei,
correndo atrás dela. Ela parou, me aguardando com a impaciência e
irritação estampada na cara e com razão. O idiota aqui ainda caiu
na besteira de perguntar se estávamos bem, é claro que não
estávamos bem. Ela me confrontou e me fez questionamentos que
não soube responder, e para acabar de bater o último prego no
caixão, como o babaca que sou, abri a boca para dizer a desculpa
idiota que todo homem usa
— “Não é você, sou eu, é complicado...” — Como falei,
BABACA. E IDIOTA.

E mais uma vez ela me surpreendeu com a leveza, maturidade


e a forma descomplicada com que lidou com a situação, e é isso
que me encanta nela, me senti tão aliviado que a chamei de Liz, e
pelo visto, ela gostou da forma como passei a chamá-la. Pontuou
que éramos adultos, foi só um beijo, e vida que segue. Lógico que
fez isso para me dar uma saída e manter a sua dignidade perante a
minha atitude covarde. O problema é que não esqueci. Aquele beijo
não saiu da minha cabeça por um segundo sequer e para completar,
a diaba ainda apareceu no mesmo café que costumo frequentar.
Quando ela fez seu pedido sussurrando em meu ouvido, senti meu
corpo vibrar por inteiro. Ô MERDA!

Fiz questão de pagar o café dela com direito a um bagel como


o meu, pois minha intuição dizia que ela não tinha comido nada,
ainda, e foi uma desculpa para desfrutar da sua presença. Em um
mesmo momento estávamos flertando e logo após, discutindo.
Elizabeth tem o dom de desnudar minha alma, me sinto nu sobre
seu olhar perscrutador e isso me assusta pra caralho. Ofereci uma
carona, contudo, levei um fora merecido ao recusar meu convite,
relembrando como acabou nossa última carona, nos despedimos,
porém, eu não estava pronto para deixá-la ir. A chamei com a
primeira desculpa que me veio à mente. Que havia gostado dos
óculos, ela ficava bem com eles. Ela sorriu, agradeceu timidamente
e se foi... deixando um vazio que eu não soube explicar.
Voltei ao café durante toda a semana no mesmo horário com a
esperança de encontrá-la novamente, mas sem sucesso. E hoje,
que eu acreditava que apareceria no Wood´s, nada da Eliza. Melhor
assim. O que iria dizer a ela?

Resolvi ir dormir. Tentar esquecer a diaba. Que Deus me ajude.


E assim apaguei, tendo como a última lembrança o sorriso da minha
loira.
Mal sabia eu que minha noite ainda estava longe de terminar.
CAPÍTULO 7
Acordei com um zumbido irritante, que logo descobri ser o meu
celular. Tinha o deixado em modo vibrar, quando estava no Wood´s
e acabei esquecendo de ativar o som, quando saí de lá. O maldito
zumbido parou e já estava voltando para os braços de Morfeu,
quando aquela porcaria voltou a incomodar.

— INFERNO! NEM DOMIR EM PAZ EU POSSO MAIS!


Peguei o aparelho para ver quem era o inconveniente e não me
surpreendi nem um pouco ao ver a cara do sem noção do Coleman,
piscando na tela.

— Jimmy, eu espero realmente que para você estar me


importunando a quase duas da madrugada, seja para contar que
acabou de brochar ou está em um hospital nas últimas, caso não
seja nenhum dos dois... EU VOU TE MATAR! ME DEIXA DORMIR
CARALHO!
— Credo, Alex, que mau humor! Eu aqui todo preocupado com
você e é assim que me recebe? Aliás, o que aconteceu para você
ter saído tão cedo do Wood´s? Como você não me atendia, eu liguei
para o Rick e...

— Fala logo o que quer ou juro que vou desligar, Coleman —


cortei-o antes que ele começasse a novela.

— Caraaaa você tá precisando transar, isso já está subindo pra


cabeça e não é a de baixo que estou falando! Mas como não quero
ver meu amigo pinel...

— TCHAU, Jimmy. — Deliguei na cara do infeliz, para um


segundo depois o aparelho voltar a vibrar. Suspirei e olhei para
cima, pedindo aos céus paciência. — OK, Jimmy, você tem dois
minutos.
— Juro, Alex, que se eu não te amasse, já teria desistido de
voc...

— Só restam um minuto e quarenta e nove segundos agora,


Coleman.

— Droga, Alexander! Tira essa cabeça da bunda e me escuta,


cacete! Tô tentando ser um bom amigo aqui, mas tá difícil, hein?!
Ok, não importa. O que importa é... lembra que eu disse que
conheci uma morena espetacular na sexta passada?!

— Como se você me deixasse esquecer. Passou a semana


inteira enchendo o meu saco, falando dessa mulher, precisei te
lembrar que lhe pago para trabalhar e não para suspirar pelos
corredores. Parecia até um adolescente — respondi impaciente.

— Pois é, irmão, eu a trouxe para a inauguração da boate


Purcell, e não diga que não sabia, por que o próprio te convidou,
você que se transformou em uma múmia, e não sabe mais o que é o
bom da vida. Todavia, como o seu melhor amigo, tenho como
missão de vida te salvar de morrer afogado no tédio, então tive que
te ligar para compartilhar a visão incrível que estou tendo neste
momento. Ela trouxe uma amiga gostosa pra caralho, cara! Uma
delícia, se já não estivesse louco pela minha morena... eu pegava.
Mas, como SEMPRE, lembrei de você. Seguinte. Vou te enviar um
vídeo agora, da gostosa dando um show na pista, duvido que depois
disso você não chegue aqui em 15 minutos.

— Qual é, Jimmy, estou cansado cara, você me acordar pra


iss...
— Já sei Alex... “Não estou interessado e blá, blá, blá”. Só
assiste, Alexander. TCHAU. — E desligou.

Sentei-me na cama, coçando os olhos, quando recebi a


notificação do vídeo. Abri mais por desencargo do que interesse. A
princípio, só vi um mar de corpos suados, prensados e pulando feito
pipoca ao som de “La Vida Louca” do Rick Martin. FOI QUANDO
MEU CORAÇÃO PAROU UMA BATIDA.
Bem ali, diante dos meus olhos, estava a responsável por tirar
minha paz, se remexendo como se vivesse para isso, com os
braços para cima e mexendo os quadris de uma maneira que me
deixou petrificado.

— PUTA QUE PARIU! — Apertei a discagem rápida, depois do


segundo toque o idiota atendeu. — Jimmy, qual o nome da sua
morena?!

— Porra, Alex, eu te mostro uma loira e você tá de olho na


minha morena?! Tá perdendo a mão, irmão?

— Não é nada disso, IDIOTA! Por um acaso é Helena?! E essa


amiga, é a Eliza?

— Ueeé? Você conhece? Ah, não, Alex, vai me dizer que você
já pegou a Helena! Ou pior... AS DUAS?!

— Não seja ridículo, James, eu não peguei ninguém! Agora


pare e me ouça com atenção. VOCÊ NÃO SAI DAÍ NEM PARA IR
AO BANHEIRO, NÃO PISCA, NÃO SE MEXE E NÃO TIRA OS
OLHOS DA ELIZA, NEM POR UM SEGUNDO, ENTENDEU?! E,
PELO AMOR DE DEUS, NÃO DEIXE NENHUM IMBECIL CHEGAR
PERTO DELA, CHEGO AÍ EM DEZ MINUTOS! — bradei, me
levantando e vestindo a calça jeans que estava jogada em cima da
poltrona.
— Hummmm, se empolgou, foi?! Acho melhor você se
apressar, porque de onde eu estou, já estou vendo vários imbecis se
aproximando...

— NÃO ME TESTE, COLEMAN! JÁ ESTOU A CAMINHO! —


Desliguei o telefone, passando a camisa pelo pescoço, joguei uma
água no rosto e escovei os dentes, peguei as chaves da moto e a
carteira e já ia abrir a porta quando lembrei que estava descalço,
calcei os sapatos em tempo recorde e corri para a garagem, saindo
em disparada. Ultrapassei tantos sinais vermelhos, que a minha
sorte é que era madrugada e não tinha uma viva alma nas ruas, em
menos de 10 minutos estava estacionando em frente à boate e
entregando as chaves ao manobrista. A fila já havia diminuído
consideravelmente pelo avanço da hora, mas o sobrenome Gauthier
me permitia livre acesso.

Não demorei a avistar o Jimmy em uma mesa, aos beijos com a


Helena sentada em seu colo, ou seja, o retardado não fez o que eu
pedi. Vou matar esse infeliz! Dirigi-me à mesa, olhando para todos
os lados, procurando a Eliza, porém, ela não estava em lugar algum.
Bati no ombro do energúmeno sem nenhuma delicadeza, o puxando
para mim. O idiota pulou assustado, quase derrubando a Helena no
processo. Dai-me paciência.

— Cadê a Eliza, Jimmy?! Eu só pedi para você ficar de olho


nela, enquanto eu estava a caminho... não levou dez minutos,
custava fazer o que eu pedi, Jimmy?! — esbravejei.

— Calma, Alex, onde estão seus modos?! Não vai


cumprimentar a Helena? — falou com a voz arrastada, de quem já
tinha entornado todas.

— Oi, Helena, como vai? Prazer, eu sou o Alexander Gauthier,


mas pode me chamar de Alex, me desculpe, é que esse grande
idiota me tira do sério — cumprimentei-a com um beijo no rosto.

— Olá, Alex, já nos vimos rapidamente na sexta passada, pena


que não foi em um bom momento — cumprimentou-me, fazendo um
gesto com as mãos como se quisesse esquecer o episódio com o
Patrick.
— Pois é. Éeee.... — Abri a boca para perguntar sobre a Eliza,
no entanto, me calei envergonhado.

— Eliza? — Helena perguntou, arqueando uma sobrancelha e


com um sorrisinho de canto. — Cocei a nuca prendendo o lábio
inferior entre os dentes.

— Sim. Onde ela está? — perguntei sem esconder minha


ansiedade.
— Sossega, Alex, ela só foi ao banheiro, já deve estar voltando.
— Helena explicou, se divertindo com meu desespero. — Jimmy
estreitou os olhos para mim. — O que você não está me contando,
Alex? O que eu perdi?

Antes que eu pudesse responder, uma Eliza bem “alegrinha”


chegou ligada no 220, puxando a Helena para pista, sem nem ao
menos me enxergar na mesa.

— Wowwww, espera, Eliza, bebe alguma coisa antes, já viu


quem chegou? O Alex! — Helena gesticulou, apontando para mim.

Finalmente ela focou o olhar sobre mim por meros segundos.

— Hã. Oi, Alex, surpresa em te ver aqui. — Virou-se para


Helena. — Amiga eu vou pra pista, se quiser me acompanhar... tô
indo. FUI! — E saiu sem ao menos dirigir um segundo olhar para
mim. Sei que mereci, mas essa doeu.

— Caraaaa, essa doeu até em mim. Que merda você fez para
Lizy te tratar assim? — gargalhou um James vermelho por causa da
bebida.
— Xiiiiiiiiiiiiiiiii, Jimmy, é melhor você perguntar o que ele NÃO
fez! — Helena debochou, divertida.

Jimmy cuspiu a bebida, quase me dando um banho de cerveja,


se eu não tivesse sido rápido em desviar.

— PORRA, ALEXXXX!! VOCÊ NEGOU FOGO?! E AQUELE


PAPO DE BROCHAR, DE HOJE MAIS CEDO? TAVA FALANDO DE
VOCÊ?! NÃO ACREDITO QUE VIVI PARA TESTEMUNHAR O
ALEXANDER GAUTHIER BROCHAR! — berrou para quem
quisesse ouvir.
Senti meu rosto pegar fogo e sei que se me olhasse no espelho
agora, o tomate estaria pálido, comparado a mim. Bufei exasperado,
passando as mãos pelo rosto, sentido ao cabelo e buscando
paciência para lidar com o idiota. Jimmy bêbado era chato pra porra,
Deus me dê forças.

— Não é nada disso, James, não aconteceu nada entre mim e


a Eliza e que história é essa de “Lizy”? Desde quando você tem
essa intimidade toda?

— Desde que ELA me deu intimidade pra chamá-la assim, e


me chama pelo apelido carinhoso de “Jim”. Aceita que dói menos,
Alexander. Mas não mude de assunto. Agora entendi o azedume da
loira... VOCÊ. NEGOU. FOGO. Assuma, Alex, tcs... tcs.

Revirei os olhos e fiz sinal para o garçom. Pedi uma água com
gás para ajudar a descer o bolo que estava em minha garganta, e
lidar com o desprezo da Eliza. Passei alguns minutos observando-a
dançar. Helena juntou-se a ela e as duas dançando era um
espetáculo à parte.
Eliza parecia uma deusa na pista, seu ondular de quadris me
hipnotizando. Estava com um tênis prateado, daqueles modelos
com solados altos e confortáveis que a Alexia também adora e
chama de sapatênis, o que eu não entendo, porque no meu simples
entendimento de homem ou é sapato ou é tênis, mas as mulheres
inventam nome pra tudo, vai entender. Fui subindo o olhar por
aquelas pernas maravilhosas, porra que coxas são aquelas?
Deveria ser proibido Eliza sair com aquelas pernas de fora. Estava
usando um shortinho minúsculo de couro com estampa floral, que já
desafiava a minha sanidade, mas quando subi o olhar para aquele
pedaço de pano que era a blusinha branca de alça fina e costa nua,
que ela estava usando..., meu mundo parou.

SEM SUTIÃ!! A INFELIZ ESTAVA SEM SUTIÃ! ELA


REALMENTE QUERIA FODER COM MEU JUIZO!
Trinquei tanto os dentes, que já estava sentindo meu maxilar
doer, de tão enrijecido, e com certeza não era a única parte do meu
corpo que estava assim. Outra parte minha já estava ficando
dolorida também, INFERNO!
— Então, Alex, vai tomar uma atitude ou terei que marcar um
cirurgião-dentista pra você com urgência? Porque do jeito que vai,
meu amigo...

— Vai se foder, Jimmy! Me deixa em paz! — vociferei, já irritado


com o filho da puta.
— Rapazes, não sei mais o que fazer, Eliza já bebeu mais do
que devia e não quer sair da pista de jeito nenhum, já tentei de tudo,
acho que ela está tentando te evitar, Alex. O problema é que a Eliza
não tem costume de sair na night, nem beber assim, daqui a pouco
a bateria acaba e ela desmaia no meio da pista. — Helena
desabafou ao voltar suada e ofegante para mesa.

Desmaiar? Não mesmo. Isso acaba e acaba AGORA. Virei para


o Coleman, estendendo a mão aberta.
— Jimmy, as chaves do carro — pedi sem paciência.

— O QUÊ?! Como assim as chaves do meu carro, Alex? Tá


louco? Como vou para casa com a minha morena?! Nãnnnnnnnn. —
Levantou, fazendo o sinal negativo com a cabeça e o dedo indicador
para mim.
— James, EU não estou pedindo, estou EXIGINDO as chaves
do carro. Você me deve. Além do mais, provavelmente estou
salvando a sua vida ou melhor, a vida de outras pessoas. Você está
bêbado, sem condições de dirigir, pegue um taxi e vá para casa,
Jimmy. Helena, cuida deste bebezão pra mim? — Pisquei para
Helena, que riu.

Mesmo contrariado, Jimmy entregou-me as chaves. Eu me


despedi dos dois e segui em direção à pista de dança. Eliza estava
de costas para mim. Abracei-a pela cintura, pressionando suas
costas em meu peito, e me inclinando, apoiei o queixo em seu
ombro, encostando os lábios em sua orelha, por conta da música
alta.
— Me acompanha agora, se não quiser que eu te jogue nos
ombros e te leve como um homem das cavernas. — Senti sua pele
se arrepiar inteira, mas como era a Eliza, claro que não iria facilitar.
Empertigou-se, fazendo com que aquela bunda maravilhosa roçasse
em meu pau, só piorando minha situação, que já estava com uma
ereção dolorosa, desde que a observei dançar, MAS QUE DIABOS!
A virei para mim, segurando seu rosto entre as mãos. Percebi o
olhar desfocado.

— Liz, olha pra mim.


— Ihhhhh, Alex me deixa, você é muito chato, sabia?!
Chatooooooooooooooo! Quero dançar, você não tá vendo? Vai
embora e me deixa, isso aqui tá bom demaisssss! — gargalhou,
rodopiando e quase caindo, se eu não a tivesse em meus braços.

— OK, já chega, foi você quem pediu. — Em um impulso, a


joguei em meus ombros e segui para a saída com uma Eliza
possessa gritando que a soltasse. Sinalizei em despedida para
Helena e Jimmy, que nos olhavam com a boca aberta sem acreditar
no que viam. Passei pelos seguranças, que por me conhecerem, só
fizeram balançar a cabeça, rindo, acreditando ser mais uma briga de
namorados. Entreguei as chaves ao manobrista e expliquei que
pegaria minha possante no dia seguinte, com a promessa de uma
boa gorjeta para que ele cuidasse bem da minha bebê.
— ME SOLTA, SEU CRETINO, QUEM VOCÊ PENSA QUE É
PARA ME CARREGAR DESSE JEITO FEITO UM SACO DE
BATATAS?! ME SOLTAAAAA! — A oncinha continuava
esbravejando e esmurrando as minhas costas.
Enquanto aguardava o manobrista com o carro, desci a Eliza,
porém, a mantive abraçada a mim. Ela continuou se debatendo em
meus braços.
— Calma, Liz é para o seu bem, ok? Me deixa te levar para
casa e cuidar de você? — A segurei pela nuca com o rosto bem
próximo ao meu, forçando-a a me olhar nos olhos, com nossas
respirações se misturando. Sentia seus pequenos montes
imprensados ao meu peito, subindo e descendo em respirações
descompassadas e o batimento cardíaco acelerado. A mantive
presa a mim, cravando o meu olhar no seu, até que se acalmasse.
Não funcionou. Fui obrigado a partir para o plano B.
— E QUEM TE DISSE QUE PRECISO QUE VOCE ME LEVE A
ALGUM LUG... — Não deixei que ela terminasse a sentença. Colei
meus lábios aos seus, na tentativa de fazê-la se calar e não vamos
enganar ninguém aqui, estava louco pra fazer isso desde que pus
meus olhos nela esta noite. A princípio, pega de surpresa pela
minha impetuosidade, manteve-se com os olhos esbugalhados,
porém, a senti derreter em meus braços, abrindo os lábios e dando
boas-vindas a minha língua, que aguardava ansiosa por sua boca
quente. Agarrou-se em meus cabelos, se esfregando em meu corpo
como se estivesse escalando uma arvore. A apertei em meus
braços como se ela pudesse mudar de ideia e fugir a qualquer
momento. Interrompemos o beijo quando nos faltou ar, e só então
reparamos no manobrista, que havia trazido o carro e estava parado
ao nosso lado, tentando disfarçar o constrangimento. Afrouxei o
abraço, sem, no entanto, solta-la totalmente.
— Vem comigo? — perguntei sem deixar de encará-la.

— Depende. Você vai fugir novamente? — questionou,


inclinando a cabeça para o lado e fazendo um biquinho lindo,
projetando o lábio inferior para frente.
— Não. Nunca mais — afirmei com um sorriso ansioso.

Eliza abriu um sorriso de orelha a orelha.


— Me leve pra casa Alex.
CAPÍTULO 8
Assenti com a cabeça, abrindo a porta do carona e sinalizando
que entrasse. Por fim, após um momento de hesitação, Eliza entrou
no carro. Entrei pelo lado do motorista, colocando meu cinto, olhei
para a Eliza, que levantou a sobrancelha, sinalizei para o cinto dela,
que o colocou, resmungando um “senhor mandão”, o que me
roubou um sorriso.

Arranquei com o carro em direção ao seu apartamento. Após


alguns minutos, Eliza adormeceu com a cabeça encostada na
janela. Chegamos em frente ao prédio em que ela morava, tentei
acordá-la e nada.
E agora? O que eu faço?

Nem sei em qual apartamento ela mora e como vou explicar


uma Elizabeth desacordada em meus braços?! AHHH, MAS QUE
PORRA!
Achei por bem levá-la para minha cobertura, pelo menos não
teria que explicar nada a porteiro algum. Estacionei na garagem no
subsolo, dei a volta no carro, e abri a porta do carona, a
desvencilhando do cinto. Peguei-a em meus braços com todo
cuidado para não a acordar e peguei o elevador exclusivo. A
vantagem de se morar em uma cobertura de luxo. Total privacidade.

Eliza aninhou-se em meu colo como uma gatinha, balbuciando


palavras ininteligíveis. Entrei no apartamento e subi direto para o
meu quarto, a colocando com cuidado na cama. Após tirar seu tênis,
a cobri com um edredom e liguei o ar-condicionado.

— O que vou fazer com você, minha diabinha? — questionei


baixinho a mim mesmo.

A deixei na cama e fui tomar um banho frio. Precisava.


Urgentemente. Terminei o banho, entrando em meu closet, escolhi
uma calça de moletom para vestir. Costumo dormir pelado ou só de
boxer, mas com Eliza aqui, não há a menor possibilidade de isso
acontecer. Saí do closet ainda de cabeça baixa, enxugando os
cabelos com uma toalha, quando quase pulei de susto. Eliza estava
sentada no meio da minha cama com os olhos arregalados.

— Alex?! O que estou fazendo aqui? Aliás... onde é aqui? —


perguntou, olhando ao redor, franzindo as sobrancelhas em clara
confusão.

— Hei, hei, hei... você está em minha casa, ok? Te trouxe pra
cá, porque você apagou e eu não sabia o que fazer. — Corri, me
sentando à sua frente na cama, pegando em suas mãos. Eliza
continuou olhando ao redor, confusa e linda. Aproximei-me mais
ainda dela, tocando em sua bochecha. Eliza fechou os olhos,
inclinando o rosto ao meu toque.

— Aqui você está bem, e segura. Vou só pegar um copo d’água


e aspirinas para você. Amanhã irá me agradecer, acredite —
sussurrei, sem querer cortar o momento.
Eliza abriu os olhos, me fitando por um longo momento até que
piscou várias vezes e afastou-se, assentindo com a cabeça.
Levantei-me, indo em direção a porta, porém, antes de sair, a olhei
mais uma vez, que já se aconchegava embaixo das cobertas. Saí do
quarto e parei por um momento, respirando fundo, dando um tempo
para mim, antes de descer as escadas em direção à cozinha.
Arrumei uma bandeja, com duas aspirinas, um copo e uma jarra
d'água, para caso ela sentisse sede durante a noite. Por segurança,
enviei uma mensagem para o Jimmy, avisando que estávamos em
meu apartamento, mesmo sabendo que ele só a veria pela manhã.

Subi as escadas, e ao abrir a porta do quarto, a encontrei


adormecida, totalmente enrolada no edredom. Balancei a cabeça
sorrindo igual a um idiota. Coloquei a bandeja na mesinha ao lado
da cama e fui até o banheiro. Peguei toalhas, lenços e um baldinho.
Voltando para o quarto, coloquei o balde na lateral da cama e os
outros itens em cima de uma poltrona próxima. Precisava estar
preparado, caso Eliza acordasse passando mal durante a noite.
Apaguei as luzes e deixei somente a da luminária acesa. Estava me
preparando para sair em direção ao quarto de hóspedes, quando
ouvi Eliza balbuciando baixinho. Voltei, me aproximando para ouvir o
que ela falava.

— Fic... fica... Ale... Alex. Fica comigo... não quero ficar


sozinha.

Congelei no lugar, não sabia ao certo o que fazer, tinha medo


da reação dela ao acordar e acreditar que me aproveitei do seu
estado. Passei a mão por seu rosto, em um toque suave. Eliza abriu
os olhos, focando-os em mim e repetiu:

— Fica — pediu, me puxando para a cama e se aconchegando


em meu peito, voltando a dormir quase que instantaneamente, me
deixando sem reação e sem nenhuma alternativa a não ser ficar
com ela.

Suspirei e sorri como um gato que acabou de comer um


canário. Quem diria que minha noite acabaria desse jeito? Que
loucura. Tirei os sapatos com os pés, me acomodei entre os
travesseiros, a aconcheguei em meu peito, a envolvendo-a em
meus braços. Fiquei um tempo a observando, absorvendo o seu
cheiro, beijando seus cabelos, até que senti minhas pálpebras
pesando e acabei sendo vencido pelo sono, adormecendo com uma
sensação de paz que há muito tempo não sentia.
CAPÍTULO 9
Despertei um pouco antes do amanhecer, saindo
cuidadosamente da cama para não acordar Eliza. Ainda não
acreditava como nossa noite havia acabado, tinha medo de ela
acordar comigo ao seu lado e se assustar, interpretando,
erroneamente, o fato de estarmos dormindo na mesma cama. Não
era assim que eu queria começar nossa história, baseada em
equívocos e desentendimentos.
Após fazer minha higiene matinal, desci para preparar um café
bem forte, percebi que ela tinha acordado em algum momento
durante a noite, pois havia tomado as aspirinas que deixei ao lado
da cama. Preparei o café e voltei ao quarto, sentando-me na
poltrona em frente à cama.
Fiquei um tempo aproveitando o silêncio do quarto, observando
o seu ressonar baixinho. Tão linda, espalhada sobre a cama.

Minha cama.

Céus, estava parecendo um stalker, mas não conseguia deixar


de observá-la. Então, o incrível aconteceu. Os primeiros raios de sol
começaram a atravessar a janela, projetando a imagem mais
perfeita do que a melhor tela já pintada pelo homem. Seus cabelos
espalhavam-se ao redor do seu rosto e por todos os lugares sobre
os lençóis negros de seda. Eram como raios de sol rasgando a
madrugada, invadindo a escuridão, iluminando e trazendo luz há
tudo que os tocavam. E de repente, tive uma epifania.

Era isso. Era ela. O meu recomeço.

Aquela que conseguiu transpassar minha alma. Minha


Elizabeth.

Minha Luz. Minha Sunshine.


Ergui meu celular, tirando uma foto para eternizar esse
momento em minha alma e coração, e para que pudesse revisitá-lo,
sempre que me sentisse propenso a fraquejar. A emoção me tomou
de tal forma que perdi a noção do tempo. As lágrimas rolavam sem
que pudesse controlá-las e até respirar estava se tornando difícil. A
luta em meu interior era grande, entre o medo e o sentimento que
rasgava minha alma e me impulsionava a querer tentar. Richard
estava certo, são quatro anos no limbo, sem notícias, sem
respostas. É hora de deixá-la ir. Nunca pensei em recomeçar, em ter
alguém.
Até Elizabeth.

Só a conheço há uma semana, mas a sensação é de que a


esperava pela vida toda. Não consigo explicar o que sinto ao vê-la,
ao ouvir sua voz e quando a tomei em meus braços... Deus.
Pareceu tão certo! Como se o seu lugar sempre fosse aqui dentro
do meu abraço. Seu beijo trouxe o ar que faltava para voltar a viver,
e Deus me ajude, porque não consigo mais ficar longe.

Após horas sentado, pensando no que fazer, enquanto a


observava, decidi tomar um banho, antes de descer para organizar
nosso café da manhã, iria preparar um café de rainha para ela.
Pensei, enquanto me dirigia ao box, tirando a roupa com um sorriso
bobo que não conseguia tirar do rosto.

Deixei que a água quente relaxasse meus músculos, enquanto


limpava meus pensamentos, me preparando para o que estava por
vir. Estava nervoso. Ansioso. Parecia um adolescente deslumbrado
com a sua primeira namorada, sem saber como agir. Ri de mim
mesmo, imaginando o que o Jimmy falaria se me visse agora.

Meus pensamentos foram interrompidos por um furacão loiro


invadindo o banheiro. Levei alguns segundos para entender o que
estava acontecendo, a visão de uma Elizabeth descabelada,
pulando descoordenadamente, e gesticulando como uma louca, me
tirou do eixo.
— Aiiiiiii, vira Alex! Anda logo, vira de costas, rápidooo!
— O quê? Mas, por quê? — perguntei, ainda aturdido.

— Tô apertada, criatura! Vira logo, preciso usar o banheiro!


Virei rapidamente, encarando a parede do box e ficando de
costas para ela, virando-me somente ao ouvir o farfalhar das roupas
sendo vestidas. Lavou as mãos, me ignorando completamente,
enquanto ia abrindo e fechando todas as gavetas do armário.

— Você não bate?! — perguntei indignado.

— Eu até bateria, se a noivinha aí não passasse mais de vinte


minutos no banheiro. Vinte minutos, Alexander! Que foi? Estava
difícil desembaraçar as madeixas?! Além do mais, não tem nada aí
que eu não tenha visto antes, quer dizer, não o seu, claro, mas até...
que é bonitinho — debochou, inclinando a cabeça para o lado, com
o lábio inferior projetado para a frente e me analisando
descaradamente com aquele biquinho insolente, que eu queria tanto
beijar.

— BONITINHO?! BONITINHO?! Não tem nada de INHO aqui,


Elizabeth, e o que é que tanto você procura nessas gavetas? Se
você se dignar a me perguntar, talvez eu possa te ajudar! —
perguntei com um sorriso pretencioso nos lábios.
— Um kit extra de higiene bucal, não me diga que você não
tem nenhum aqui, para suas “visitas” — falou fazendo o sinal de
aspas com os dedos.

— Segunda gaveta do lado direito. E, não. Eu não trago esse


tipo de “visita” aqui — defendi-me, observando-a pegar o kit e
começar sua higiene matinal. Assim que terminou, fechou os olhos,
respirando fundo, como que buscando se acalmar.

— OK. Desculpe o meu humor matinal. Não deveria ter bebido


demais ontem, perdi a hora e estou atrasadíssima para uma
reunião, então me desculpe pela invasão ao banheiro e por... tudo.
E obrigada por ontem, acredito que tenha apagado e você não teve
escolha, a não ser me trazer para seu apartamento — desculpou-se,
desviando o olhar.

— Liz. Olha pra mim.

— Éeee... Alex? Você ainda está NU. — Apontou o queixo para


mim, sinalizando em círculo com aquele dedinho atrevido. — Baixei
o olhar e... não só estava nu, mas com uma ereção vergonhosa.

— Ô, porra! — Enrolei-me rapidamente em uma toalha, sob o


olhar risonho da infeliz.

— Sabe, Alex, pensando bem, realmente, não tem nada de


“INHO”, aí. Parabéns! — A diaba piscou e saiu do banheiro.

Corri atrás dela, pegando-a pelo braço e virando-a para mim.


— Primeiro. Não foi incômodo algum trazê-la para cá, jamais te
deixaria sozinha. Fui eu que te tirei de lá e prometi que não fugiria,
lembra? — falei, conseguindo um sorriso lindo como resposta. —
Segundo. Reunião? Mas, hoje é sábado!

Elizabeth lançou-me um olhar de “É sério Alexander? Um CEO


me dizendo isso?”

— Ok, entendi. É que pensei que poderíamos passar o sábado


juntos. Pelo menos, me deixe fazer um café reforçado, e depois te
levar. Tudo bem?

— Wown, que fofo. Eu realmente amaria passar o dia com


você. De verdade, Alex, no entanto, estou atrasada, e ainda terei
que passar em casa, tomar um banho e me arrumar para a reunião.
Que tal amanhã? Podemos combinar algo, o que acha? —
perguntou, percebendo meu olhar ansioso.

— Tudo bem então, já que não tem jeito. Mas, irei te levar em
casa, isso não é negociável.

— Meu herói — brincou colando seu corpo ao meu, roçando


nossos lábios. Não aguentando, a puxei para um beijo longo,
carregado de promessas. Precisava disso. Encostamos nossas
testas, ambos ofegantes. — Se continuar me beijando assim, não
conseguiremos sair, Sr. Gauthier — sorriu provocante, olhando para
o relógio. — E você tem cinco minutos para se vestir ou vou pedir
um taxi — provocou, me soltando e seguindo para a sala.

Depois de deixá-la em casa, tomei minha vitamina matinal e


segui para o treino, estava desleixado esses dias e precisava, além
de gastar energia, ocupar a cabeça, que insistia em voltar os
pensamentos para uma certa loira atrevida. Esperar até amanhã
seria um suplício.

Liguei para o Jimmy, combinando de buscarmos a Alexia no


aeroporto e depois almoçarmos juntos. Estou morrendo de
saudades da minha baixinha. Desde que foi estudar do outro lado
do país, nos vemos e falamos muito pouco, nunca o suficiente.
Então, aproveitamos o máximo destes pequenos momentos entre
feriados ou recessos, para compensarmos a distância. Jimmy a ama
como um irmão mais velho, só que se denomina o irmão “divertido”,
enquanto eu sou o “chato”, que eles têm que suportar. — Reviro os
olhos para essa lembrança.

Passei para pegar o Jimmy em casa, já que “sequestrei” seu


carro ontem, na pequena odisseia com a minha Sunshine. Lembrar
da noite passada me fez sorrir como um idiota.

— Quem é você e o que fez com o meu amigo carrancudo?!


Devolva ele, sei que é insuportável, mas é o MEU insuportável.
Anda. Sai daí, seu Alex fake, e devolva meu amigo! — Acenou
Jimmy da janela do carona, me dando um baita susto.

— Tá louco, imbecil? Palhaçada uma hora dessas?


— O MEU Alex não fica esbanjando esse sorriso ridículo no
rosto. Isso é um privilégio meu — salientou colocando a mão sobre
o peito em um gesto solene.

— Entra logo, Jimmy, não tenho tempo para suas palhaçadas,


as vezes me pergunto como você conseguiu ser um advogado
renomado com esse QI de criança de cinco anos.

— Simples. Comprei o diploma com meu charme. Confesse,


Alexzinho, nem você resiste a mim — respondeu, batendo os cílios.
Até tentei me manter sério, mas em segundos estávamos os dois
gargalhando dentro do carro. — Então, vai me contar o motivo
desse sorrisinho safado ou terei que usar o armamento pesado para
arrancar de você? Aproveite enquanto ainda tem tempo. — O infeliz
solta a chantagem com a cara mais lavada do mundo, fingindo
limpar alguma sujeirinha no painel do carro.

— James Coleman, você não ouse! Deixe a Alexia fora disso,


entendeu?! — Apontei o dedo em seu rosto como um aviso.

— Fora? Fora de quê? Eu nem sei o que está acontecendo,


você não me conta nada, pensei que fosse seu melhor amigo, seu
irmão... — começou a se lamentar, como se eu não conhecesse
todas as suas artimanhas.
— Jimmy, nem comece a jogar sua chantagem emocional para
cima de mim, que não vai colar. Deixe de ser uma velha fofoqueira,
não existe NADA que precise saber e você não vai tocar neste
assunto com a Alexia, entendeu, Jimmy? Quero que você me
prometa. AGORA.

— Tá eu prometo — falou em um sussurro engasgado.


— Jimmyyy... — ameacei.
— Tá, tá, táaaa, eu prometo! — vociferou emburrado. — Velha
fofoqueira? Essa doeu, Alex! Não me culpe por me preocupar com
você — resmungou magoado.
Estacionei o carro e antes que ele abrisse a porta para sair, o
toquei no ombro.
— Jimmy... desculpa. Não é questão de confiança. Confiaria a
minha vida a você, mas realmente ainda não tem nada acontecendo
e até descobrir se irá acontecer, eu prefiro manter isso entre nós,
ok? Se a Alexia souber do que aconteceu, vai me infernizar com
essa história e não quero ela atormentando a Eliza.

— Souber o que aconteceu? Eliza? Hum. E fica cada vez


melhor... interessante. Obrigado. Você já me entregou tudo que eu
precisava saber. Por enquanto — afirmou com um sorriso sacana no
rosto.
— Mas o quê...

— Tcs, tcs, Alex, você não acredita que sou o advogado que
sou, se não soubesse ler nas entrelinhas, não é? — Abriu a porta
gargalhando, me deixando paralisado por um momento até sair e
segui-lo em direção à saída dos passageiros, Alexia já deve ter
desembarcado. Estávamos distraídos, olhando o entre e sai das
pessoas pelas portas automáticas, quando fomos surpreendidos.
Alexia pendurou-se em minhas costas, como um macaquinho, da
mesma forma que fazia quando era criança.
— Alexia! Você não tem mais oito anos e eu não tenho mais
idade nem coluna para aguentar seu peso, sua louca!

— Eu também te amo, irmãozinho! — gritou salpicando beijos


em todo o meu rosto me fazendo rir.
— Isso é que dá, escolher o irmão velho e “chato” — disse
Jimmy, fingindo mágoa, ele não perderia essa.

— Wown, tá com ciúmes, Jim, Jim? — Alexia desceu das


minhas costas, o abraçando apertado. — Também senti saudades,
irmãozão. — Virou-se para mim, e finalmente a acolhi naquele
abraço-casa, que tanto precisávamos. Ficamos um tempo assim,
abraçados, absorvendo o sentimento de pertencimento que nos
dominava toda vez que nos reencontrávamos. Até que se afastou,
me observando com aqueles olhos de lince.
— Estranho. Você tá diferente — começou a me analisar,
segurando o queixo e cerrando os olhos, me senti em um laboratório
com um microscópio gigante sobre mim.
— Engano seu, baixinha, sou o mesmo Alex que você deixou
aqui há seis meses, nada novo no horizonte.
— Não sei explicar, mas...

— Alexconheceualguém. — Jimmy tossiu engasgado. Os olhos


da Alexia transformaram-se em dois pires gigantes.
— JIMMY!
— O QUÊ?! — Eu e Alexia gritamos ao mesmo tempo e não
precisa ser gênio para saber quem gritou “o quê”.
— Exatamente. Semana passada ele conheceu a amiga da
Stella lá no Wood`s. Saíram de lá juntinhos de moto, tomaram
banho de mar pelados, beijaram-se, depois o idiota fugiu dela, e
ficou com a cara de bunda durante toda a semana, comportando-se
feito um stalker, tentando reencontrá-la, porque o imbecil esqueceu
de pegar o contato da garota. E se não fosse o irmão aqui, ele não
saberia onde ela estaria ontem, não teria invadido a boate do
Purcell, nem colocado a Eliza sobre os ombros, como um autêntico
homem das cavernas reivindicando a sua amada e muito menos
estaria hoje com um sorrisinho ridículo, me deixando indignado por
não compartilhar comigo como foi sua noite tórrida de sexo quente
com a gostosona. Pronto, falei. Tô me sentindo até mais leve. — O
filho da puta soltou tudo de uma vez.
Um silêncio absurdo se fez presente até que...

— EU VOU TE MATAR! — Estava prestes a agarrar o pescoço


daquela praga humana, quando ouvi o berro que me fez estacar no
lugar.
— AI. MEU. DEUS! MEU IRMÃO TÁ APAIXONADO! ALGUÉM
ME DÊ UMA ÁGUA, ACHO QUE VOU DESMAIAR! — Alexia
começou a desfalecer, se jogando em meus braços. Prontamente a
peguei no colo e a coloquei no banco próximo de onde estávamos.
— Você está bem? — perguntei assustado, abanando-a com as
mãos.
Alexia olhou-me com aquelas adoráveis esferas azuis e de
repente, começou a gargalhar. A ordinária estava fingindo!

— É claro que estou bem, Alex, só livrei você de ser preso por
assassinato! Coitadinho do meu irmão... tão passional — zombou
revirando os olhos.
— Falando em assassinato... CADÊ O JIMMY?!

— Aproveitou o meu “desmaio” para se mandar, esperto como


é. Mas, vamos ao que interessa. Quando eu vou conhecer a minha
cunhadinha? — perguntou com o olhar e o sorriso daquela menina
do desenho Masha e o Urso... aterrorizante. É eu sei. A Alexia me
forçava a assistir esse bendito desenho com ela. Eram horas
intermináveis de tortura, estremeço só de lembrar. Passei as mãos
pelo rosto e cabelos em uma tentativa falha de me acalmar, e a
encarei, respirando fundo. Melhor enfrentar a fera de uma vez. —
Baixinha, iremos conversar sobre tudo, mas não aqui e não agora.
Vamos para casa, irei preparar um almoço especial pra gente, e
prometo responder quase todas as perguntas que fizer, ok? —
Alexia me encarou por alguns segundos, tentando desvendar o que
se passava em meu íntimo, como sempre fazia. Às vezes me
pergunto quem é o mais velho dos dois.

— OK.
— OK?
Balançou a cabeça assentindo.

— Mas não pense que vai fugir de mim, mocinho.


— Sim, senhora! — falei abraçando-a. Que saudades dessa
baixinha.

Como se estivesse só esperando a deixa, recebo uma


notificação no celular. Era o Jimmy avisando que iria buscar minha
possante e nos encontraria em casa. Muito conveniente! Preparei
uma salada caprese com um salmão grelhado, algo rápido e leve
para comermos, regado a um bom vinho. Não poderia estar com o
estomago pesado para enfrentar o furacão Alexia Gauthier e seu
comparsa fofoqueiro, James Coleman.

— Então, Coleman, você poderia me contar como ficou


sabendo mais detalhes da minha vida do que eu mesmo?
— Simples, Helena. Eliza contou para ela, que contou para
mim, que contei para Alexia, o que você deveria ter feito. Coisa feia
esconder os detalhes picantes da sua própria família, Alex. Passou
a noite com a loirinha e nem contou pra gente. E aí, fodeu?!

Engasguei-me com o vinho, cuspindo o que havia na boca e


tossindo descontroladamente. Alexia levantou meus braços,
enquanto Jimmy aproveitou-se da minha desgraça para bater
fortemente em minhas costas, o sacana estava gostando do
espetáculo. Passada a crise, lancei meu olhar mortal ao responsável
por toda a confusão.
— Que raio de pergunta é essa, Jimmy? E mais respeito com a
Eliza, não vou ficar falando da nossa intimidade com vocês!

— Xiiiiiii, já vi que não fodeu. Que decepção, Alex, já tinha até


colocado meu champanhe para gelar. Meu amigo de volta ao jogo...
é a glória!
— Jimmy, de uma vez por todas. Não aconteceu nada. Nós não
estamos namorando ou tendo qualquer coisa do tipo, ok? Eu
apenas a tirei de lá porque a Elizabeth não tem o costume de beber
e a Helena não é a melhor pessoa para cuidar de alguém,
acompanhada de você então, é quase um atendado à humanidade.
Por isso, só dei uma carona a ela, mas no caminho ela apagou, e
tive que trazê-la para dormir aqui. Ela acordou agora pela manhã,
agradeceu e a deixei em casa porque tinha um compromisso
profissional. Isso é tudo, está bem?

— E o beijo? — Alexia perguntou.


— Só foram dois beijos...

Alexia se esticou para a frente do sofá, interessada.


— Tá, foram cinco... e SÓ.

— Cinco beijos?! — Jimmy soltou um grito esganiçado. —


Definitivamente a Helena precisa se atualizar.
O encarei perplexo.

— O quê? Tá rolando até bolão de quem vai dar o “primeiro


passo”, primeiro. O Rick apostou 100 pilas... na Eliza. Disse que
você tá muito enferrujado — falou revirando os olhos.
— Ahhhh, que maravilha! Também quero! Irei apostar 200... na
Eliza, é claro, já gostei dessa garota! Quando vai me apresentar
minha cunhada, Alex?
— Não acredito que vocês estão apostando minha vida
amorosa! Vocês são inacreditáveis! Até o Richard! — bradei
indignado.

— O Rick e a Stella, que inclusive organizou as apostas do


pessoal do trabalho delas, e até a Annika e a Susy apostaram —
despejou com a cara mais cínica.
Meus olhos saltaram das órbitas.

— O quê?! Eu sou uma piada pra vocês?!


— Relaxa, Alex, são só as pessoas que te amam, vibrando por
vê-lo sentir outra vez. — Alexia cutucou meu ombro.

E de repente ficamos em silêncio.


— É, cara. Faz muito tempo. Hora de seguir em frente —
completou Jimmy. Eu sabia do que estavam falando. Mas o bolo em
minha garganta não me deixou falar. Apenas assenti com a cabeça.
Alexia me abraçou e Jimmy nos envolveu em um abraço
desengonçado.
— Nós te amamos, Alex e só queremos vê-lo feliz. E se a Eliza
é o motivo do seu coração voltar a bater, eu já a amo também. —
Alexia sussurrou emocionada.
— Eu sei. E amo vocês por isso. Obrigado por não desistirem
de mim. Sei o quanto posso ser difícil às vezes — engoli em seco.
Olhei para o Jimmy e ele tratou de disfarçar os olhos
marejados.
— Agora que o momento novela mexicana passou, xô deprê, e
um brinde, porque tô sentindo que em breve o Alex vai foder! —
gritou levantando a taça, e agora não teve jeito, a gargalhada foi
geral.

Olhando para eles rindo, descontraídos, meu coração ficou


mais leve. Minha família inteira estava nesta sala. E eu soube que
qualquer que fosse a minha decisão, eles sempre estariam aqui.
CAPÍTULO 10
— Entãooooo. Elizabeth? — indagou Alexia, ao me entregar
uma taça de vinho e sentar-se ao meu lado no sofá, com uma taça
em mãos.

— Insano, não é? Ela nem me conhece e não faz ideia da


importância que já tem em minha vida.
— Diga a ela.

— Não. Nem pensar. Não vou despejar nela a bagunça que é


minha vida e vê-la fugir para as colinas. Não mesmo.

— Alex... você nunca vai saber, se não se abrir com ela. Não se
feche para isso, ela merece saber em que está embarcando, antes
de subir no navio. Seja honesto com ela, e se a Eliza gostar de
você, o que acredito que sim, seu passado e tudo que ele implica
não fará a menor diferença. Deixe que a Eliza decida se isso irá
afetá-la ou não.
— Eu só queria...

— Eu sei. — Alexia me cortou, sobrepondo sua mão a minha


em um gesto de entendimento. — Sinto falta deles — falou de
repente, mudando de assunto ao pegar um porta-retratos com a foto
dos nossos pais. — Queria ter tido mais tempo com eles, por que
tinha que ser assim, Alex? Isso não é justo! — Senti a sua voz falhar
e a puxei para meus braços.

— Não, não é. — Ficamos ali por um tempo, em silêncio, nos


confortando. Mesmo após tanto tempo, ainda era muito difícil,
principalmente nestes momentos em que estávamos juntos.
Desconfio que isso influenciou e muito na escolha da Alexia em
estudar tão longe de casa. Ela queria fugir de tudo que a lembrasse
da nossa antiga vida. Das lembranças. De mim. E eu deixei. Porque
eu a entendia. Quantas vezes tive vontade de deixar tudo para trás
e reconstruir minha vida em algum lugar em que não precisasse
carregar o peso do sobrenome Gauthier? Inúmeras. Mas,
infelizmente o mundo não é justo. E as engrenagens da vida não
param em respeito à nossa dor.

— Alex?

— Hum?

— Eu te amo. E não via esse sorriso em seu rosto há muito,


muito tempo. Dito isso... o que você está fazendo aqui?

— Baixinha, eu também te amo, porém, não estou entendendo.


Onde mais eu estaria? — indaguei confuso.

— Com a mulher que você se diz apaixonado, oras!


— Nãoooo. Está tarde, Alexia, e além do mais, combinamos de
nos encontrar amanhã e... — parei no meio da explicação quando
me dei conta de um detalhe extremamente importante. — ÔOO,
MERDA! — Levantei-me em um ímpeto, andando pela sala,
esticando os cabelos, até que encarei Alexia com as mãos na
cintura e olhar desesperado. — Eu não peguei o número dela!

— Como é que é?! Quantos anos você tem, Alexander? Isso é


lição básica da conquista, pegar o número do seu possível alvo! —
Esbugalhei meus olhos.

— Alexia, onde você aprende essas coisas?! Deus! —


perguntei ultrajado.

— Com quem mais? Nosso mestre da conquista, é claro,


James Coleman! E convenhamos que eu estou certa, Alex, nem o
contato da garota você pegou? Lembre-me de apostar 300 na Eliza
amanhã, porque você realmente... puff! — bufou indignada.

— Sério, Alexia, combinamos de sair amanhã, mas na pressa,


esquecemos de trocar os telefones. E agora? — bufei desesperado.
— Agora você vai pegar essa sua bunda linda e levá-la até a
casa da Elizabeth. Você ao menos sabe onde ela mora, não sabe?
— perguntou ansiosa.

— Óbvio que sei, a levei em casa, esqueceu? Três vezes.

— Então, tá esperando o que, Alexander? Vai logo lá na casa


dela. Fala a verdade, que esqueceu de pegar o número dela para
combinarem o passeio de amanhã, e como não aguentava de
saudades, resolveu ir até lá — cantarolou cinicamente.

— Alexia!

— Calmaaaa. Só estou lhe dando ideias. Nada que não seja


verdade, não é? Agora, corra logo e vá conquistar minha
cunhadinha! Quem sabe ela não o convida para subir, hein? —
sugeriu mexendo as sobrancelhas sugestivamente. Estava louco
para vê-la, e a falta do número de telefone era a desculpa perfeita
para aparecer em sua casa sem avisar. Não pensei duas vezes, dei-
lhe um beijo na bochecha, peguei as chaves da possante e saí,
antes que me faltasse coragem.
CAPÍTULO 11
O porteiro me informou que ela não estava. Que droga! Como
fui esquecer de pegar seu número?! Sou uma anta, mesmo. Agora o
que me resta é ficar aqui neste frio, aguardando-a chegar. Ela não
dormiria fora, dormiria?

Antes que meu cérebro traçasse centenas de suposições


mirabolantes, vi um Tesla Model S Plaid preto parar do outro lado da
rua. Congelei ao ver o Vogel sair do veículo, dar a volta, abrir a porta
do carona, e dar a mão a Eliza, ajudando-a a sair do carro. Como
em um filme em câmera lenta, o vi abraçando-a e falando algo em
seu ouvido que a fez sorrir. Aquele sorriso era meu, que diabos ela
estava fazendo com o Vogel?
Ele tornou a falar algo em seu ouvido, fazendo com que ela
levantasse seu olhar em minha direção. Sua fisionomia não dizia
nada e comecei a hiperventilar. Atravessaram a rua em minha
direção, e percebi a mão do Vogel nas costas da Eliza, daria tudo
para retirar de sua face aquele sorrisinho de um milhão de dólares.

— Alexander. — Eliza cumprimentou-me secamente. Estranhei


o tratamento formal. Voltei a ser “Alexander” para ela.

— Gauthier, há quanto tempo. Coincidência encontrá-lo aqui! —


Vogel me cumprimentou com a mão estendida.

Encarei sua mão como se fosse uma cobra prestes a me dar o


bote, porém, me forcei a apertá-la, na verdade, quase esmagá-la.
Vogel franziu o cenho, confuso com meu aperto, mas logo se
recompôs.

— Bom, Eliza, está entregue sã e salva, agora tenho que ir, o


voo sai em duas horas. — Virou-se, despedindo-se de Eliza. Ela o
abraçou apertado, dando um beijo em sua bochecha, depois se
afastou um pouco, mas ele ainda a manteve em seus braços.
— Obrigada, Bob, a noite foi incrível. Faça uma ótima viagem e
pelo amor de Deus, não deixe de avisar que chegou bem, sim?
Você sabe o quanto fico preocupada.

— Sim, senhora. — Bateu continência como um militar,


arrancando um riso da parte dela.

— Woww, Bob, vou sentir saudades... — Eliza o abraçou por


longos segundos e quando se afastaram, havia lágrimas em seus
olhos.

Como é que é?! Eu devo estar em algum universo paralelo. É a


única explicação para eu estar aqui presenciando uma desgraça
dessas. Bufei impaciente. Vogel a soltou, finalmente se lembrando
que eu ainda os observava.

— Foi um prazer revê-lo, Alexander, ficarei um tempo fora, mas


deixarei a Eliza a par das nossas negociações, estou ansioso para
trabalhar com a GC, sinto que faremos uma parceria de sucesso.

— Ansioso por isso — respondi secamente olhando-o nos


olhos.
Deu mais um beijo na Eliza, em despedida, partindo em
seguida. Assim que o carro se distanciou, Eliza virou-se para mim,
desconfiada.

— Oi — falou me testando.

— Boa noite — respondi rispidamente. Aquela cena estava


engasgada em minha garganta e não conseguiria disfarçar, nem que
eu quisesse.

— Quer subir?

— Se não houver problema para você. — Dei de ombros, como


se não me importasse.

— Problema algum. — Passou por mim, abrindo o portão e


sinalizando para que eu entrasse.
Seguimos em silêncio até o seu apartamento. Assim que
entrou, colocou sua bolsa e chaves no aparador, virando-se para
mim.

— Qual o problema, Alexander? — questionou-me de supetão,


me encarando.

— Qual o plano?

— O quê? — Franziu o cenho, confusa.

— Qual o plano, Elizabeth? Era seduzir o otário aqui, para


conseguir informações? Confesso que você é boa, quase me
enganou. E como é que funcionaria comigo e com o Vogel? Deve ter
sido uma surpresa me encontrar aqui hein?! Estraguei os planos de
vocês? Se... sim, me desculpe! — bradei com uma mão na cintura,
enquanto gesticulava a outra em direção a ela, exigindo
explicações. Não acredito que fui tão idiota.

— Como é que é?!! De onde você tirou isso? Você ficou louco?!
— gritou indignada. — Não acredito no que estou ouvindo... Está me
acusando de estar me vendendo?! É isso, Alexander?! Meu dia foi
maravilhoso, recebi uma promoção que nem eu mesma acreditei
que poderia, o jantar foi para comemorar e você... VOCÊ
ESTRAGOU TUDO! — Sua voz soou tão magoada que estaquei.
Virei-me para a parede, quase arrancando meus cabelos.
Comecei a puxar a respiração até que consegui recuperar a razão.
Só então voltei a encarar Eliza, e encontrar seu olhar magoado,
mexeu comigo de uma forma que não sabia explicar. Sem pensar,
fui até ela e a abracei apertado.

— Desculpa, desculpa, desculpa, Liz — falei salpicando beijos


em seu rosto. — Me perdoa, por favor, me perdoa. Eu te vi lá
embaixo com ele e pirei! — implorei, buscando seus lábios e
secando suas lágrimas com as mãos. — Sabia que você não estaria
com o babaca do Vogel — falei, continuando a beijá-la.
Senti seu corpo retesar e começar a me empurrar, afastando-se
lentamente.

— Nunca mais fale do Bob na minha frente. Ele é a pessoa


mais íntegra e gentil que já conheci na vida e não irei admitir que o
desrespeite. Não, na minha casa. Não, em minha frente.

— Bob? Isso é sério?! Ahhh, então eu estou certo! Você tem


algo com ele. Quanto? Quanto ele te pagou para essa palhaçada?!

O grito que se seguiu me paralisou completamente. Foi como o


som de uma fera ferida. O olhar que Eliza me lançou foi tão
despedaçado, que me quebrou por inteiro. E ali, eu soube que
estraguei com qualquer chance, de que pudesse haver algo entre
nós.

— SAIA DA MINHA CASA!

— Liz...
Algo voou em minha direção e me esquivei a tempo de me
livrar de um pequeno peso de papel, que ela atirou em mim. O
objeto bateu na parede e se estilhaçou completamente. Foi por
pouco. Elizabeth virou de costas e sua respiração estava errática,
como se estivesse à beira de um ataque. Tentei me aproximar.

— Liz, me...

— SAI DAQUI! SAIA DA MINHA CASA, ALEXANDER, OU NÃO


RESPONDO POR MIM!

— Vamos conversar, eu me exalt...— Outro objeto lançado,


dessa vez foi um vazo e não acertou minha cabeça por um triz.

Eliza virou-se em um rompante, vindo para cima de mim,


distribuindo socos em meu peito, e me empurrando em direção a
porta com uma força que não achei que fosse possível.

— Uma semana. Você me conhece há UMA SEMANA, e já me


julgou e condenou nessa sua cabeça misógina e arrogante! Eu sei o
meu valor, Alexander Gauthier, e não irei permitir que um cretino
como você me reduza a uma rameira qualquer! SAIIIIIII! AGORA,
ALEXANDER! — exigiu, continuando a me empurrar.

Decidi fazer o que ela pediu. Não havia chance de termos uma
conversa amigável, neste momento, e pelo bem da minha
integridade física, optei por sair. Assim que passei pelo batente, ela
bateu a porta em minha cara e ouvi seu choro estrangulado.
Encostei-me a porta, ouvindo seus soluços sofridos lá de dentro.
Após alguns minutos, o silêncio reinou. Será que pegou no sono?

— Eliza? — chamei baixinho. — Liz, sei que não vai querer


falar comigo agora, mas... sinto muito. Sinto muito mesmo, espero
que quando essa raiva passar, você possa me perdoar e... — A
porta ao lado abriu, mostrando uma vizinha com cara de que me
agrediria a qualquer momento, com certeza deve ter ouvido alguma
coisa. Não fomos muito discretos em nossa discussão.

— Posso ajudá-lo em alguma coisa? — perguntou, medindo-


me dos pés à cabeça, com cara de poucos amigos.

— Não, senhora, já estou de saída. — Dirigi-me ao elevador,


totalmente constrangido. Eu a magoei demais, onde inferno eu
estava com a cabeça?! Entrei no elevador de cabeça baixa,
tentando entender o que havia acontecido. Passei as mãos pelo
rosto e cabelos.

O que foi que eu fiz?!


CAPÍTULO 12
—Infelizmente, ainda não foi dessa vez, senhorita Elizabeth,
seu projeto é ótimo, mas ainda há alguns quesitos que precisam ser
revistos, aprimore-os e nos apresente na próxima reunião de
orçamento.

—Poderemos marcar algumas reuniões para você me explicar


como funciona esse chip, talvez você consiga me convencer, como
conseguiu convencer ao Vogel.
Acordei encharcada de suor e com o coração acelerado. Droga.
Os pesadelos voltaram.

Levei alguns segundos para me situar onde estava e percebi


que dormi no sofá. Minhas costas estavam doendo, devido à noite
mal dormida, e uma leve dor de cabeça já começava a despontar.
Por isso, levantei espreguiçando-me, indo direto para o banheiro.
Precisei de uma ducha para exorcizar a noite de ontem, nem
acredito que um dia que começou maravilhosamente bem, terminou
daquela maneira.

Saí do banheiro enrolada em um roupão e fui direto para a


cozinha, fazer um café bem forte, para aguentar o dia, minha
vontade era voltar para cama e hibernar, fingindo que o dia de
ontem foi um pesadelo, mas o som da campainha me fez sair da
doce ilusão e enfrentar a realidade. Abri a porta e fui imediatamente
atingida por um tornado loiro chamado Margareth Sanders.

— Bebê, que saudade! — berrou, enquanto me envolvia em um


abraço de mamãe ursa.

— Mãe, nos vimos tem uma semana — tentei argumentar sem


sucesso.

— Exatamente! Uma eternidade sem ver essa coisinha linda


que Deus me deu! — respondeu, distribuindo beijos em meu rosto e
apertando minhas bochechas. Rio, porque essa é a Mamis Sanders,
simples assim.

— Trouxe pãezinhos, torradas e aquele creme de queijo que


você adora, você precisa se alimentar melhor, minha filha! Está tão
magrinha! Ah! E transar! Isso faz maravilhas com a pele, olha o
exemplo da mamãe, veja minha cútis como está macia — falou
levantando os braços em minha frente, para que eu visse a danada
da pele. Revirei os olhos e segui para a cozinha, pegando duas
xícaras e preenchendo com o néctar dos deuses, enquanto minha
mãe arrumava, em cima do balcão, o estoque de pãezinhos que
dariam para alimentar duas famílias. Levei a xícara aos lábios,
sentindo o líquido descer pela garganta e ir me aquecendo por
dentro. Fechei os olhos, apreciando o momento, com um gemido de
admiração.

— Elizabeth! — Abri os olhos, assustada com o grito.


— O quê? — perguntei, franzindo minhas sobrancelhas em
confusão.
— Minha filha, acabei de presenciar você quase tendo um
orgasmo com um café, isso já passou dos limites e estou aqui hoje
para resolver isso!

— O quê?! Por acaso trouxe um gogo boy no saco dos


pãezinhos e eu não vi? — perguntei zombando, enquanto
continuava bebericando meu delicioso café.
— Engraçadinha... estou falando sério, Elizabeth. Trouxe aqui a
lista dos SRG da cidade, enquanto você estava enfurnada naquele
laboratório, estava fazendo minha pesquisa! — Pulou pela cozinha,
batendo palminhas e fazendo uma dancinha ridícula.

— SRG? Que diabo é isso? Uma nova doença venérea? —


perguntei, torcendo o nariz, já prevendo uma das ideias
mirabolantes à La Sanders.
— Não, bobinha, SRG... Solteiros, Ricos e Gostosos. Não é
genial?!

Cuspi o café que estava bebendo, em uma gargalhada, só a


minha mãe para pensar em um troço desses.

— Mãe! Não são nem oito horas da manhã ainda e você me


larga uma dessas?! — perguntei, após me recuperar do ataque de
risos, confesso que estava precisando dessa carga de energia para
melhorar meu humor.

— Elizabeth, dá para me levar a sério? Estou tentando te fazer


feliz aqui, se você não engrenar um relacionamento, pelo menos vai
se livrar dessa teia de aranha no meio das pernas — rebateu, rindo.

— OK, já chega, mãe. Nem pensar que vou sair por aí caçando
homem, obrigada, mas passo.

— Bobagem. Isso não seria necessário, se você desse uma


chance ao Robert. Nós duas sabemos que ele é louco por você,
minha filha. Esse homem move céus e terras para te ver feliz, é o
genro que pedi a Deus, mas você prefere ficar sozinha, a ter um
homenzarrão daqueles em sua cama. Sinceramente, eu não sei
onde foi que errei...
— Mãe... — avisei que parasse, com o dedo em riste.
— Ok, então sente aqui e pelo menos veja as observações que
coloquei. Separei o TOP 5. — Sentou-se no sofá, batendo no lugar
ao lado, para que eu me sentasse.

— Bem, vamos lá. Tem o Patrick Larson, mas pelo que vi, tem
um rolo mal resolvido com uma tal de Casey, que nem ata, nem
desata, tá solteiro, mas enrolado, entendeu? Então deixei em stand
by, para analisarmos se deve investir, lidar com ex é um porreee —
falou, enfiando o dedo na garganta, imitando como se fosse vomitar,
e rimos juntas. — O segundo é o David Cooper, dono de uma rede
de hotéis, viúvo, uma filha de quase 2 anos, não é muito sociável,
mas é um gato... que tal se habilitar a ser uma boa madrasta, hein?
— Balançou as sobrancelhas.

— Mãe, você é impossível! Não. Próximo.

— James Coleman. Advogado, bem-sucedido, solteiríssimo e...


galinha. Usa saia e tem pernas? Ele pega. Garoto problema esse,
porém, lindo de morrer e todas que provaram, lutam para repetir. Tá
a fim de domar o galinho, Elizabeth? — indagou gargalhando.

— Mãe, por um acaso você tem alguém que preste nessa lista,
porque só pela misericórdia, viu?! Desse jeito eu prefiro meu
vibrador, está sempre disponível, é leal e não tenho concorrência —
enfatizei o óbvio.

— Há! Deixei os melhores para o final! Tem o Steven Purcell,


um prodígio como você. Com 29 anos já possui uma rede de casas
noturnas e começou do zero, sem herança por aqui. Um dos
homens mais badalados do país, mas ninguém ainda conseguiu
fisgar o gatão. Isso, porque ele ainda não lhe conheceu. Ninguém
resiste às mulheres Sanders, não é à toa que temos o nome de
rainhas. — Deu uma piscadela. — E por último, Alexander Gauthier.
Vinte e sete anos, herdeiro de uma das maiores fortunas do país e
CEO da Gauthier Corporation, a empresa da família, tentei saber
mais sobre a vida pessoal, porém, quase não sai nada sobre ele, só
descobri que os pais morreram há três anos em um acidente de
carro, tem uma irmã que estuda fora, não consegui saber se está
com alguém, o homem é um mistério, parece que vive para o
trabalho. Não frequenta a night, então teremos que bolar um plano
para você encontrá-lo, sabe... “coincidentemente”.

— Bem... tirando o Cooper que não tive o prazer de conhecer,


todos os outros já tive contato. O Patrick realmente é enrolado,
presenciei isso em primeira mão. James é um galinha adorável, mas
pelo visto, a candidata à “domadora” é a Helena, e o Purcell,
cheguei a flertar com ele na inauguração da boate e até pensei em
dar uns amassos, mas um cretino arruinou meus planos — citei,
contando nos dedos e me levantando com a desculpa que iria
buscar mais café, louca que ela não fizesse a pergunta que tinha
certeza que viria a seguir.

— E...?

— E o quê? — Me fiz de desentendida escondendo meu rosto


atrás da xícara enorme. Não convenceu.

— Não se faça de besta, Elizabeth, você disse que teve contato


com TODOS... e o Alexander? — perguntou, estreitando os olhos
para mim.

— Pois É... o cretino.

—O quê?! Para. Primeiro, me fala como você conseguiu a


proeza de conhecer quatro, dos cinco homens mais disputados do
país, e não comeu nenhum?! Minha filha, será que você não
aprendeu nada com a sua mãe? Não é possível! Mas espera...
cretino? Como assim cretino? Me explica essa história direito,
Elizabeth!
— Não tem o que explicar, a não ser que essa sua lista é
furada. E nenhum deles passou no meu teste de qualidade. Pronto,
vida que segue. — Desviei o olhar e segui para o meu quarto,
precisava trocar de roupa, iríamos almoçar com os Wood’s e ainda
estava de roupão. Mamãe me seguiu até o quarto, me observando
escolher a roupa que vestiria até que se pronunciou.
— Então... o cretino. O que ele fez, minha filha? E não diga que
não foi nada, porque te conheço, da lista, foi o único que mexeu
com você ou não estaria tentando me enrolar. — Estava de costas
para ela, revirando o meu closet e assim fiquei por alguns minutos,
até ouvi-la bufar com impaciência. Respirei fundo e virando-me para
encará-la, entretanto, quando vi aqueles olhos azuis perscrutadores,
não consegui impedir os meus de marejarem. — Ô, minha filha, o
que esse cretino fez?

Ela atravessou o quarto em dois passos, segurando meu rosto


em suas mãos e me analisando a alma, como só a Mag sabia fazer.
Bastou isso para que as comportas fossem abertas. Desabei em um
choro sofrido, que só colo de mãe para curar. Puxou-me para a
cama, colocando minha cabeça em seu colo. Ficamos assim, até
que me senti confortável para me abrir com ela. Contei tudo. Desde
o dia em que nos conhecemos no bar do Richard, até a noite
passada que eu queria com todas as minhas forças esquecer.
Nunca me decepcionei tanto com alguém.

— Por que sempre tem que ser assim? Tô tão cansada de ter
que provar o meu valor o tempo todo... me sinto tão pequena, sabe?
Será que vale a pena tanto sacrifício? Achei que aqui seria tudo
diferente, mas na primeira oportunidade, sou julgada sem nem ao
menos saber por que... isso é tão injusto!
— Elizabeth, você é uma das pessoas mais inteligentes e
generosas que eu conheço e se meia dúzia de machos sente suas
bolas ameaçadas em sua presença, isso é problema deles, não seu.
Tenho tanto orgulho de você, minha filha, nem acredito que eu, uma
simples garçonete de Vegas, criei um gênio...

— Epaaa! Pode ir parando aí, Mag Sanders! Você é uma


mulher incrível, e se hoje eu sou essa pessoa aqui em sua frente, a
responsável é você, que se sacrificou de todas as formas para que
eu conseguisse a oportunidade que não teve, e tenho tanto, mas
tanto orgulho de você, mãe... — Levantei-me a abraçando, ambas
chorando à essa altura. Ficamos assim por um tempo, agarradinhas,
apoiando uma à outra. — Mãe... eu só o conheço a uma semana,
ele não significa nada para mim e por que dói tanto? — questionei
fungando.
— Os sentimentos são assim, minha filha, não tem prazo.
Quando chegam, nos arrebatam sem pedir licença, foi assim com o
seu pai. Quando o olhei pela primeira vez, meu mundo parou. Sabia
que era ele. Os poucos meses que ficamos juntos foram os mais
intensos da minha vida e eu não me arrependo nem um segundo,
porque ele me deu você. — Continuou alisando meus cabelos. —
Eu não sei o que está acontecendo entre vocês, mas o fato é que
está mexendo com ambos. A atitude dele nada mais foi que puro
ciúme, com razão por sinal, o Robert é um senhor pedaço de
homem — pontuou suspirando. — E você não ficaria tão mexida, se
a opinião dele não lhe afetasse. Você se importa com o que ele
pensa de você, Elizabeth. E isso deveria lhe dizer algo. Ele foi um
babaca, sim. Mas não acredito que isso seja realmente o que ele
pensa. Acho que vocês deveriam conversar. Não se feche ao amor
por causa de um mal-entendido, você mesma disse que os dois
estavam exaltados.

— NÃO. Mãe, ele me resumiu a uma puta vendida! Você mais


do que ninguém sabe por tudo que passei, tudo que tive que
enfrentar para chegar onde cheguei, mudei de estado, estou
recomeçando e não vou deixar que uma pessoa tóxica estrague
tudo de novo. NÃO. Já vi esse filme e não gostei do final. Eu quero
o Alexander Gauthier bem distante de mim.

— Ok. Se você pensa assim... assunto encerrado. Se bem, que


tenho certeza de que isso ainda não acabou.
— Para mim, acabou — sentenciei, me levantando. — E chega
desse papo, porque já estamos atrasadas. — Entrei no closet para
me vestir, fechando a porta e dando por encerrada a conversa.
CAPÍTULO 13
O almoço com os Wood’s foi uma delícia, matei a saudade dos
meus afilhados e colocamos a fofoca em dia. Eles são loucos pela
Mag. Mas quem não é? Após o almoço, nos sentamos na área
externa, e Rick nos serviu algumas cervejas, a pequena Tâmara
estava dormindo e o RJ não desgrudava do pai, nunca vi uma
criança tão apegada assim.

— Vai aprendendo, Eliza. A gente se doa por nove meses,


mudamos nosso corpo, viramos uma “pata”, e quando nascem, só
enxergam o pai — queixou-se Stella, revirando os olhos.
— Ihhhhh, minha filha, se depender dessa aí, meu sonho de
ser avó desceu pelo ralo, ela conseguiu ficar perto dos quatro
homens mais gostosos dessa cidade, estou falando dos solteiros,
Richard, você é um escândalo de homem. — Gesticulou para o
Rick, soltando um beijinho. — E não aproveitou nada! Claro que o
cretino do Alexander Gauthier não conta, depois do que ele fez com
ela, é claro — soltou displicentemente, sem se dar conta do silêncio
sepulcral que se fez presente.

— Alex, o quê?! O que aquele imbecil fez, Eliza? — bradou


Richard, levantando-se da cadeira em um rompante. — Se ele
ousou fazer algo com você, eu mato esse idiota. Tanto que eu
avisei, não acredito nisso! — Bateu com a cerveja na mesa.

— Calma aí, grandão, que você não vai matar ninguém, muito
menos o Alex, que é o seu irmão. Eliza, conta essa história direito, o
que exatamente ele fez? — questionou-me Stella, puxando seu
grandão pelo braço, forçando-o a sentar-se novamente. Richard
sentou-se a contragosto, Stella segurou seu rosto, dando-lhe um
selinho e murmurando um “acalme-se”, depois fez um gesto para
que eu continuasse.
—Ei, fica calmo, está bem? — Alisei o braço do Rick para
tranquilizá-lo. — Não aconteceu nada demais, só um conflito de
opiniões, nada que eu não possa lidar sozinha — dei ênfase ao
sozinha, deixando claro que não queria intromissão neste assunto.

— Desculpa, minha filha, mas ir até o seu apartamento e


acusá-la de ser paga pelo Robert, para tentar seduzi-lo e assim,
obter informações privilegiadas da concorrência, não é um mero
“conflito de opiniões”.

— ELE FEZ O QUÊ?! — Richard virou o pescoço tão rápido,


que deve ter deixado a menina de O Exorcista orgulhosa. Caaaaara,
isso deve doer.

— Mãe! Confidenciei algo a você, não era para sair falando, e


Rick, eu estou bem, ok? Não precisa se preocupar. É sério, se
vocês se intrometerem nessa história, ficarei extremamente
chateada. Já sou bastante grandinha para lutar as minhas batalhas,
e se o Alexander é um babaca, isso é um problema dele, não, meu.
Seguirei com a minha vida e fim. Afinal, só o conheço há uma
semana, não é como se o homem da minha vida houvesse me
magoado.

— Mas, poderia ser — resmungou mamãe.

— O quê?
— O homem da sua vida. Se vocês se permitissem.

— Chega, mãe. Já conversamos sobre isso. E não escolheria o


Alexander, nem que fosse o último homem na terra, e disso
dependesse o futuro da humanidade, sinto informar, mas estaríamos
extintos — vociferei, bebendo o restante da cerveja em um só gole.
— Eliza... tem algo muito errado nessa equação. Conheço o
Alex há anos, e ele é um dos homens mais gentis e honrados que
conheço, esse homem que a Mag acabou de descrever não se
parece em nada com ele, em que situação isso aconteceu? —
questionou Stella.
— Pois é, para você ver que as piores atitudes vêm de quem a
gente menos espera. E pessoal, na boa, não quero mais falar sobre
isso, ok? Nosso domingo está tão bom, por que o estragar, não é
mesmo?

— Okkk! — concordaram em uníssono, entreolhando-se.

O restante da tarde passou bem tranquilamente. Após nos


despedirmos, deixei minha mãe em casa, voltando para o
apartamento. A noite passou rápido, entre pedir comida chinesa e
maratonar minha série favorita, até que o sono chegou.

Sinto suaves beijos por todo o meu abdômen, lábios macios


deslizando por minha pele, descendo até meus quadris. Volto a
senti-los na parte interna das coxas, próximo a minha intimidade.
Gemo em expectativa ao sentir a respiração próxima à minha
calcinha. Sinto-a deslizar por minhas pernas e agora encontro-me
completamente nua. Mãos fortes apertam as minhas coxas, abrindo
as minhas pernas. Sinto um arfar e em seguida, sua língua quente
deslizando por toda a minha extensão, seus dedos abrem minha
boceta, dando acesso ao meu clitóris. Sinto pequenas lambidas de
língua plana me fazendo estremecer de prazer ao chupá-lo, dando
mordidinhas de leve. Enfia dois dedos em minha entrada,
intensificando as estocadas, enquanto continua beijando meu
clitóris, agora de boca aberta, lambendo e sugando cada gota que
sai de mim. Começa a me penetrar com a língua, criando um ritmo
alucinante, junto aos dedos, arrancando-me pequenos gemidos,
tento fechar as pernas, porém, ele prende meus quadris com os
braços, me abrindo ainda mais para sua degustação. Sinto o
orgasmo cada vez mais próximo e explodo em sua boca,
convulsionando de prazer. Ele continua me chupando até que os
últimos tremores do meu corpo cessem. Abro os olhos e me deparo
com duas esferas azuis que me lembram um mar tempestuoso.

— Parabéns, Elizabeth, continue assim e será muito bem


remunerada pelos seus serviços. Foi um prazer negociar com você.
— Pisca com um sorriso sacana, levantando-se da cama e dando-
me as costas.
Acordei suada, trêmula, coração descompassado e pior,
totalmente excitada, uma combinação extremamente errada.
Maldito, até nos meus sonhos entrou para me infernizar. Joguei-me
na cama com o braço em frente aos olhos, respirando
pausadamente até me acalmar, fui até a cozinha bebi água e voltei
para a cama. Lembranças do dia anterior começaram a me assolar,
impedindo-me de dormir novamente.
Acordei de madrugada ainda, confusa até olhar para o lado, e
ver Alex dormindo tão lindo ao meu lado. Flashs do que aconteceu
começaram a chegar, me lembrando do porquê fui parar ali, olhei
para o lado e vi as aspirinas, a água e o baldinho, e meu coração se
aqueceu em saber o cuidado que teve comigo. Tomei as aspirinas,
fui ao banheiro e depois voltei para cama, ficando um tempo
admirando-o, ao vê-lo dormir tão placidamente. Passei a mão
suavemente pelo seu rosto, para não o acordar e dei-lhe um beijinho
em sua testa.

— Obrigada, meu loiro — sussurrei em seu ouvido, voltando a


dormir.

Acordei apertadíssima. Vi que Alex estava no banho, esperei


por quase vinte minutos, até que fui incapaz de esperar mais. Invadi
o banheiro, encontrando um Alex chocado. Não pude deixar de
apreciar aquele monumento de homem, que pau é aquele? Perfeito,
sem defeitos. Deu até vontade de tirar uma foto, colocar em uma
moldura e pendurar em meu quarto, em frente à minha cama, só
para acordar olhando para aquele espetáculo todas as manhãs. E a
bunda?! Quando ele virou de costas para que eu pudesse me trocar,
demorei uns segundos apreciando a vista, que falta que fez um
celular nessa hora...aff. O coitado ficou tão desconcertado que não
pude evitar em brincar com a sua masculinidade, quando disse que
o seu pau era bonitinho, sabia que o “inho” mexeria com ele. Dito e
certo. Alex quase não me deixou sair do apartamento e que beijo,
meu Deus. De quem foi a ideia de marcar uma reunião em um
sábado às oito da manhã? Ah, claro, só poderia ser do Bob. Minha
vontade era agarrar no pescoço do Alex e me enroscar nele por
todo o fim de semana, mas querer não é poder e o dever me
chamava. Achei tão fofo ele querer fazer o café da manhã para mim,
mas tive que me contentar com a carona. Na despedida, nos
entretemos tanto nos beijando que esquecemos de trocar telefone,
teria que ligar para a Helena e pedir o contato dele ao Jimmy, afinal,
combinamos de nos encontrar no dia seguinte. Quando o vi em
frente ao meu prédio, ao chegar com o Bob, minha reação foi um
misto de surpresa e ansiedade, em estar a sós com ele, pelo visto
não era só eu que estava ansiosa pelo encontro. Percebi uma certa
tensão entre eles e estranhei sua rispidez ao me responder, quando
perguntei se queria subir, mas nada me preparou para o modo como
falou comigo, as acusações, o olhar de desprezo, me resumindo a
uma qualquer que se vende para ter alguma colocação na empresa,
nunca me senti tão humilhada, nem quando... enfim, não quero nem
lembrar.

Não deveria significar nada para mim. Ele é um nada. Mas, a


quem estou querendo enganar? Alex conseguiu estragar com todo o
sentimento de realização que eu estava sentindo. Eu agora era a
vice-presidente, poxa! Estava tão feliz e queria muito compartilhar
essa vitória com ele. Por que ele tinha que estragar tudo? Como
pude me enganar tanto com uma pessoa? Não percebi que estava
chorando, até sentir a umidade no travesseiro, com o qual estava
abraçada, encharcado com minhas lágrimas. Então deixei vir. Chorei
até adormecer de cansaço.
CAPÍTULO 14
— Os contratos não irão se assinar sozinhos, Alex. Posso
esperar mais um pouco, afinal temos o dia todo e tempo não é
dinheiro, não é mesmo? — zombou Jimmy, com seu jeito sarcástico
de ser. Soltei a caneta de forma brusca sobre a mesa, recostei-me
na cadeira, jogando a cabeça para trás, bufando impaciente. — Dê
um tempo a ela. Você já está parecendo um stalker, montando
guarda em frente ao apartamento, indo até a empresa, ameaçando
seus amigos, não é assim que irá resolver a cagada que você fez.
Ela está ferida, Alex, e nada que você fizer ou falar agora, ela irá
aceitar. Dê espaço a Lizy.

— Para quê? Pra ela esquecer de mim, de vez?! Ela precisa


entender que eu estava fora de mim! — gritei sem paciência. —
Estou cansado de todos pedirem para eu me acalmar. EU NÃO
QUERO ME ACALMAR! NÃO QUERO ESPERAR, CARALHO!
— Precisa?! Realmente? Não, Alex, a Eliza não precisa e nem
tem que entender NADA. Lute VOCÊ com suas merdas! E falando
em merda, a SUA respingou em mim, sabia? Estou em um caso de
bolas roxas por sua causa, Alexander! Estava no paraíso entre as
coxas da minha morena, você sabe o que é estar saboreando o
manjar dos deuses? Exatamente. Lá estava eu de boca naquela
delícia de bocet... — O interrompi com o dedo em riste. Era só o que
me faltava, ter que ouvir a vida sexual do Jimmy, em um momento
desses. — Enfim, o telefone da Helena não parava de berrar, nos
desconcentrando totalmente, a empata foda da chefe dela queria
“desabafar” sobre um estrupício que agiu feito um mentecapto com
ela, e olha só qual foi a minha surpresa... o estrupício era VOCÊ! —
Abriu os braços, apontando-os para mim. — Resumo da ópera. A
Helena me expulsou do apartamento, quando eu ousei te defender,
saí de lá puto e sem foder! — queixou-se, andando pela sala,
passando as mãos pelos cabelos, como se fosse arrancá-los e isso
é uma novidade, porque o topete Coleman, só andava impecável.
Controlei a minha vontade de rir, quando em um rompante, ele
caminhou em minha direção, começando a me empurrar com o
dedo indicador no meu peito.

— Alex, eu sei que você curte esse lance de celibato e tal...


mas EU, NÃO. Não sei o que você vai fazer, mas dê um jeito na sua
vida sexual fodida, porque você já está fodendo com a minha. DOIS
DIAS, ALEX, estou há dois dias sem transar por sua causa, e a
Helena ainda ameaçou cortar as minhas bolas se eu passasse o
contato da Lizy para você, e você sabe o quanto eu amo as minhas
bolas, então foda-se meu conselho anterior, vista um cropped e
reaja, homem! EU. PRECISO. FODER — parou de falar, me
encarando com os olhos cuspindo fogo.

Fomos interrompidos pelo som de vozes alteradas vindo do


corredor. Pareciam da Alexia e do Baker. Olhei assustado para o
Jimmy.
— Devo me preocupar? — perguntei com a mão fechada e o
polegar apontando para as minhas costas, em direção à porta.
— Alex, Alex... você está tão bitolado com o seu não
relacionamento, que está perdendo a melhor novela turca de todas,
acontecendo bem diante do seu nariz. — Revirou os olhos,
seguindo para sua poltrona e sinalizando que voltasse para a minha.
— Apenas relaxe e curta o show — disse, exibindo um dos seus
sorrisos sacanas.

— Seu arrogante de merda! Isso não vai ficar assim, eu vou


falar com o Alex! — Alexia entrou em minha sala aos gritos com o
Willian a seguindo, visivelmente irritado.
— Ótimo! Porque eu também tenho algumas coisas a pontuar
com ele, e que bom que o James também está aqui, me poupa o
trabalho de repetir! — Apontou para um Jimmy relaxado em sua
cadeira, surpreendentemente calmo. Observei a cena se
desenrolando à minha frente, já prevendo uma enorme dor de
cabeça.
— Alex, eu não posso acompanhar a sua irmã em um tour pela
empresa, se a cada corredor que atravessarmos, ela gastar meia
hora em sorrisos e suspiros com os funcionários, até café ela fez
para o Jhonatas, e eu tive que gastar meu precioso tempo,
esperando a boa vontade da “princesa”, para continuarmos, nesse
ritmo, só terminaremos o tour quando estivermos na terceira idade!

— Seu idiota! Eu só estava sendo gentil com ele! O Jhonatas é


o nosso relações públicas, e só estava elucidando algumas das
minhas dúvidas sobre o nosso plano de marketing, já que estou me
preparando para assumir a direção da empresa daqui a um tempo,
nada mais justo que queira me inteirar sobre os assuntos dela! E
isso não deveria ser da sua conta, já que obviamente eu serei a
chefe do SEU chefe, portanto não tenho satisfação a lhe dar das
minhas ações! — rebateu Alexia, gritando face a face com ele, e eu
só conseguia olhar de um para o outro, sentindo-me em uma partida
de pingue-pongue.

— Ahhhhh! Quem está sendo arrogante agora?! — questionou


William, cruzando os braços, com a sobrancelha suspensa, a
mesma expressão que usava, quando encurralava alguém em uma
audiência. Definitivamente, esse rapaz anda muito com o Coleman.
Alexia abriu a boca para argumentar, mas fechou rapidamente. —
Sem palavras, senhorita “donadaporratoda”? Foi o que eu pensei.
Mas quer saber, pode vir com o papo de que será a chefe de tudo
isso aqui, que sou seu subordinado e blá, blá, blá... EU. NÃO. LIGO
— disse com o rosto praticamente colado ao da Alexia, ambos com
a respiração errática, como se pudessem matar um ao outro. — Eu
me demito! — rosnou, William, seguindo até minha mesa,
alternando o olhar entre mim e Jimmy. — Não passei quatro anos
da minha vida em Havard, para virar babá de princesa mimada —
sentenciou, dando o assunto por encerrado. Entretanto, EU não dei.
O que me fez lembrar de sair da inércia.

— Não se demite, não.

— Mas...
— Já chega! — apertei a ponte do nariz, buscando paciência e
me preparando para apagar o incêndio, quando mais uma vez a
porta foi aberta bruscamente.

Richard invadiu a sala intempestivamente, correndo os olhos


por todo o lugar até pousá-los em mim.

— Rick? Você aqui uma hora dessas? Aconteceu alguma coisa


com a Stella ou as crianças? Com a Eliz... — Em um momento eu
estava indo ao encontro dele e no outro fui arremessado até o canto
da sala, por um gancho de direita no meio da minha cara.

— EU TE AVISEI, ALEX!

— Wowwww! Calma aí, grandão! — gritou Jimmy, se


interpondo à frente do Richard.

Nossa pequena estrategista correu pegando impulso, pulando


no pescoço do Rick, prendendo as pernas em sua cintura.
— Rickkkk, que saudades de você, grandão! — gritou, puxando
o rosto do Richard para si, que levou um tempo até se situar do que
estava acontecendo.

— Alexia?! — perguntou Rick, ainda com a respiração


descompassada, prestes a partir para cima de mim. Mas, felizmente
foi se acalmando aos poucos, com o “abraço canguru” da Alexia. —
Baixinha? Quando você chegou? Por que ninguém me avisou? —
Ele a apertou em um abraço repleto de saudade.

— Pois é, cheguei no sábado, mas foram tantos


acontecimentos, que nem pude te ligar. Como estão meus
sobrinhos? E a Stella? Ahhhhhh, estou morrendo de saudades, vou
apertá-los para nunca mais soltar! — disse tudo de uma vez,
beijando o rosto do Rick e olhando-me de esguelha.

— Estão todos bem e vão adorar serem apertados por você,


massss... — Calmamente, Richard desceu Alexia do seu colo. —
Antes, tenho que ter uma conversinha com seu irmão. — Lançando-
me um olhar de “eu tentei”, Alexia se afastou, abrindo espaço para o
Richard vir até mim, momento em que eu já havia me levantado. —
Conserte essa merda. Eu te avisei que não a magoasse, e na
primeira oportunidade, o que você faz, seu imbecil?! Não apareça lá
no bar antes de consertar a bagunça que você fez, ou juro por Deus,
Alex, que frito a sua cabeça junto com os bolinhos! — vociferou,
virando-se em direção à saída, mas antes de sair, parou em frente a
Alexia. — Te espero lá no bar, baixinha, estou testando alguns
novos drinks e tem um igualzinho a você, doce, levinho, mas que
nos derruba de repente. Vou te dar a honra de escolher o nome —
gargalhou, nem parecendo o touro de minutos atrás.

— Vou adorar, prová-lo. — Alexia sorriu, o abraçando de lado,


enquanto o acompanhava até a porta, mas antes de sair, Richard
voltou a me encarar, apontando dedo indicador para mim.

— Conserte essa merda! — E tão rápido quanto chegou, partiu.

— Essa raiva passa, Alex, em algum momento vai passar. Você


conhece o Richard. — Alexia me abraçou pelas costas, buscando
me consolar com suas palavras de incentivo, mas a verdade é que
eu estava perdido, sem saber qual o próximo passo daria para
consertar as coisas, se nem ao menos me ouvir, a Eliza queria. —
Bom, preciso ir, marquei de ir ao cinema com algumas amigas,
amanhã voltarei para mais um tour, nos vemos em casa —
despediu-se, se dirigindo à porta.

— Pois, arranje outro para ser seu guia, não estarei disponível
— alfinetou William, voltando ao embate anterior.

— Crianças, crianças, chega por hoje, está bem? Amanhã


decidiremos quem irá com quem. Por hoje... já tivemos emoções
demais por aqui. — Jimmy interferiu, antes que a terceira guerra
mundial explodisse em minha sala. Alexia saiu da sala altiva, no alto
dos seus inseparáveis saltos de 15cm, com o Willian resmungando
em seu encalço.
— O que aconteceu com essa empresa hoje? Se eu soubesse,
teria trazido a pipoca, tá melhor que a Netflix — debochou Jimmy,
rindo feito uma hiena, me fazendo lançar o meu olhar mortal sobre
ele. — TÁ. PAREI — disse, levantando as mãos em sinal de
rendição.

Sentei-me em minha cadeira, apoiando o rosto entre as mãos.


Sentia-me exausto e nem havia chegado à metade do dia.

— Ele tem razão, Alex, não sei como, nem quando, mas você
precisa fazer algo. Bom, vou indo, ainda tenho alguns contratos para
analisar, antes de serem enviados para a contabilidade — despediu-
se, indo até a porta. — Ah, Alex?

— Sim? — Levantei a cabeça. Já tinha voltado a me concentrar


no trabalho.
— Sabe o que tinha lhe falado antes sobre os dois dias sem
transar? Esqueça. Acabei de ter um orgasmo só em ver o Rick te
socar. Acho até que irei precisar trocar a calça. — Piscou, antes de
sair e fechar a porta.

IDIOTA.
CAPÍTULO 15
Duas semanas. Passaram-se duas semanas, desde aquela
noite infeliz. E não tem um só dia em que o Alex não tenha tentado
entrar em contato comigo. Enviou flores. Foi até a empresa e não o
recebi, obviamente. Proibi a Helena de passar meu contato para o
Jimmy ou a qualquer um que tenha a mínima possibilidade de ser
próximo ao Alex. Sei que os Wood’s não dariam sem minha
autorização, e por falar neles, recusei o convite da Stella para o
almoço de domingo, por medo que fosse alguma emboscada, que
sinto que todos querem que eu dê uma chance ao infeliz.

— Bom dia, chefa! Trouxe nossos cafés. Hoje o dia será longo,
teremos duas reuniões só agora pela manhã e ainda a reunião com
os acionistas às 15:00, então vamos nos abastecer com o melhor
combustível que existe.
— Hummmm, que delícia! — gemeu, provando do líquido
quente, disfarçando, enquanto me encarava com aquelas gemas
azuis, crispadas em mim, analisando-me. — Sabe, Liz, eu estava
pensando...

— Se for sobre o que eu imagino, nem comece — alertei. —


Qual a parte você não entendeu que eu não quero falar sobre isso?
— bufei, retirando os óculos, fechando os olhos e apertando a ponte
do nariz. O dia nem havia começado e uma dor de cabeça já estava
a caminho.

— Mas temos que falar sobre isso, Eliza! Tem duas semanas
que você está reclusa! É sempre a primeira a chegar, a última a sair
e trancou-se naquele apartamento. Recusa nossos convites para
sair, não nos recebe em seu apartamento, e pior, proibiu a todos de
falarmos sobre o assunto que está te atormentando!
Definitivamente, você não está bem! — exclamou exasperada com
as mãos na cintura, como uma mãe dando bronca em uma criança
de dez anos. Foi o estopim para minha explosão.
— PORQUE VOCÊS NÃO ME DEIXAM EM PAZ! VOCÊS NÃO
RESPEITAM A MINHA DECISÃO, DROGA! CHEGA! E VOCÊ,
HELENA, É PAGA PARA TRABALHAR, NÃO PARA SE METER EM
ASSUNTOS QUE NÃO TE DIZEM RESPEITO! — gritei, batendo na
mesa, levantando-me em um rompante, fazendo com que a Helena
pulasse de susto. Assim que as palavras saíram da minha boca,
percebi a merda que tinha feito, mas já era tarde. Respirei fundo,
abrindo os olhos e encontrando um olhar magoado à minha frente.
Eu a humilhei. PORRA. — Helena... — falei, indo ao seu encontro.
Helena recuou dois passos, levantando a mão em um gesto para
que não me aproximasse.
— Você tem razão, Elizabeth, esse não é o meu papel aqui na
empresa e tenha certeza de que não voltarei a esquecer, com
licença. — Deu-me as costas e saiu batendo a porta.

Merda. Eu não sou assim. Nunca fui soberba, nunca humilhei


as pessoas.

De repente minha cabeça começou a latejar e senti um amargo


na boca.

Céus, em que estou me transformando?


O dia passou rapidamente entre reuniões e análises de
contratos. Helena esteve ao meu lado durante todo o dia, como a
profissional impecável que é, porém, mais fria que a rainha do gelo.
Todos na equipe sentiram a tensão no ar, pois nenhuma de nós
estávamos em nosso estado habitual, contudo, com todos os
compromissos, não tive um só momento que pudesse chamá-la
para conversarmos. Precisava resolver essa situação o quanto
antes. Passei dos limites e sabia que a havia magoado, nunca a
tratei assim. Aliás, nunca tratei ninguém assim. Abominava esse tipo
de atitude prepotente e arrogante e foi inadmissível a forma como
agi, afinal, ela só falou verdades, não é mesmo? Não posso
descontar meu inferno astral na pessoa que sempre esteve ao meu
lado, mesmo que isso signifique ouvir o que preciso, de vez em
quando. É esse o papel da consciência, não é mesmo? E a Helena
funcionava perfeitamente como a minha. DROGA. Tinha que falar
com ela. É isso. Pensei em chamá-la à minha sala, já que havia
finalizado as últimas cláusulas de um contrato e terminado de enviá-
lo para a análise jurídica. Estava com a mão no telefone, quando de
repente a porta foi aberta e uma Helena determinada passou por
ela, parando à minha frente com os dois braços apoiados a mesa e
olhando diretamente para mim.

— Eu juro que tentei ser paciente, Eliza, mas depois do seu


ataque de pelancas hoje pela manhã, tive que tomar uma atitude
drástica!

— O quê?! Mas...

— SHIU! — sinalizou, girando a mão aberta e fechando-a em


punho com um sinal claro de que eu me calasse. — Você falou tudo
que quis e como quis, aliás, não pense que ainda não iremos falar
sobre isso, mas eu relevei porque você não está em seu estado
normal nestes últimos dias. Se eu bem te conheço, e EU te
conheço, você deve estar aí se coçando, pensando em um jeito de
me pedir perdão, e como eu sou magnânima, eu te darei, é claro.
MASSSS... somente com uma condição. Como você não ouve a
mim e nem a ninguém, essa pessoa você irá ouvir, estamos
entendidas?!

Abri a boca para argumentar, mas a bicha traiçoeira se esticou


sobre a mesa, me encurralando com aqueles olhos ameaçadores.

— Estamos entendidas, ELIZABETH?! — tornou a perguntar,


tendo ainda a audácia de levantar aquela sobrancelha afrontosa.
— Táaaa, ok! — suspirei em rendição. — Posso ao menos
saber quem é essa pessoa, criatura? Porque se for quem eu estou
pensando, eu juro q...

— Quieta, Eliza, mas será possível que você não pode fazer
uma coisa uma única vez na vida sem questionar? AFF! Essa é a
minha condição... é pegar ou largar. — A cínica chantagista falou
com a cara mais deslavada, olhando para o vestido, fingindo tirar
um cisco inexistente.

— Se for para você me deixar em paz... — comecei a falar, mas


parei quando Helena tornou a me encarar, cruzando os braços. —
Tá bom, pode marcar com a pessoa, que irei recebê-la.

— Não precisa, ela já está aqui. — Piscou para mim, dando


palminhas.

— O quê? Como assim? — perguntei, dando-me conta que caí


em uma armadilha.

— Não iria correr o risco de você dar para trás, conheço a


fujona que existe em você, Elizabeth. Espere aqui, ok? — Saiu toda
saltitante. Não percebi que estava nervosa, até ela sair. Os nós dos
meus dedos estavam brancos de tanto apertar as laterais da
cadeira.

Será que é o Alex? Não. A Helena não faria isso comigo. Ou


faria?
Observei boquiaberta a pessoa entrar calmamente em minha
sala, fechar a porta e sentar-se à minha frente.

— Desculpe por isso. Não culpe a Helena, foi muito difícil


dobrá-la. Há dias venho tentando, contudo, você recusou todas as
minhas tentativas de aproximação e a Helena é um ótimo cão de
guarda, acredite. Só que de uma hora para outra, ela me ligou. Não
sei o que aconteceu para fazê-la mudar de ideia, mas não iria
perder a oportunidade e só sairei daqui, depois que você me ouvir.

Não queria estar ali, tendo que ouvir explicações ou desculpas


que não me interessavam, mas como prometi a Helena, relaxei na
cadeira, cruzando as pernas e olhando para o relógio em meu pulso.

— Ok. Você tem cinco minutos.


CAPÍTULO 16
Duas semanas. Faz exatamente duas malditas semanas que
aquela noite infeliz aconteceu. Desde então, Eliza cortou qualquer
meio de comunicação ou forma em que pudesse chegar até ela. E
Helena tomou para si, a função de cão de guarda, rosnando para
qualquer um que pronunciasse o sobrenome Gauthier. Sobrou até
para o pobre do Jimmy.

QUE DESGRAÇA.
Quanto ao Richard, preferi manter distância até que estivesse,
como ele mesmo disse, “consertado” a merda que eu tinha feito.
Mas qual foi minha surpresa, quando ele me ligou pela manhã,
“sugerindo” que viesse ao bar, antes do funcionamento e tivemos
uma conversa esclarecedora.
— O que aconteceu? — perguntou nos servindo com seu
melhor Bourbon.
— Nada! Só fiquei com ciúmes ao vê-la com o Vogel, e meti os
pés pelas mãos — simplifiquei, pois não queria remoer um assunto
que só dizia respeito a mim e a Elizabeth, isso, se ela decidir falar
comigo ainda nesta vida. Rick bebeu todo o líquido do seu copo de
uma única vez, me observando por longos minutos.

— Aquele Alexander... o Alexander que a Eliza me descreveu,


não é o Alex que EU conheço... não é VOCÊ. Então vou perguntar
novamente. O que realmente aconteceu, Alex?

Bufei, suspirando ruidosamente, enquanto esfregava as mãos


pelo rosto e cabelo, um tic, quando ficava nervoso.

— Longa história. O Robert e eu nos conhecemos desde


crianças. Éramos melhores amigos, até o Jimmy ir morar lá em
casa, você sabe, após a morte dos pais. Rapidamente o Jimmy
passou de meu amigo a meu irmão, fazíamos tudo juntos, e o
Robert não lidou muito bem em ser preterido. Até tentei fazê-los
serem amigos, porém o Vogel sempre foi retraído, ao contrário do
Jimmy, que sempre monopolizou as atenções com seu jeito
despretensioso de ser. Então, quando estávamos na High School,
Robert namorava uma amiga em comum, ela estreitou a amizade
com o Jimmy, e consequentemente, se apaixonaram. Ela terminou o
namoro com o Robert, assumindo sua relação com o Jimmy. Um
dia, quando estávamos saindo da escola, Robert partiu para cima do
Jimmy, e infelizmente tive que escolher um lado. O Robert nunca me
perdoou. Deste dia em diante ele se distanciou cada vez mais de
toda a turma, tentei me aproximar algumas vezes, mas não obtive
sucesso. Até que a formatura chegou e seguimos caminhos
diferentes, Robert foi para o MIT e eu e Tommy para Havard. Em
todos esses anos, nos vimos somente uma vez, há sete anos
atrás...

— Peraí, você está me dizendo que a garota pela qual o Robert


e o Jimmy brigaram era...

— Sim, era. E após tantos anos, reencontrá-lo com a Elizabeth


me fez reviver todos aqueles sentimentos, eu perdi a cabeça, disse
coisas terríveis a ela, insinuações que nem por um segundo
passaram por minha cabeça. Agora, Eliza não quer me ver nem
pintado de ouro — lamentei, sentindo-me derrotado.

— Agora você está fazendo sentido. Porém, isso não te redime


do que fez. Você foi um tremendo cuzão. Dê um tempo a ela, Alex,
sem querer, você mexeu em uma ferida que ainda não cicatrizou.
Aconteceram fatos na vida da Elizabeth e se não fosse o apoio
incondicional do Vogel, Eliza teria desmoronado. A história não é
minha para contar, mas basta você saber que a Eliza sempre lutou
para ser reconhecida e respeitada pelo seu excelente trabalho, mas
infelizmente os homens tem medo de mulheres com o QI acima do
deles, ela foi muito perseguida e boicotada em seus projetos lá na
matriz, a Vogel Tech é uma empresa familiar, mesmo o Vogel sendo
o CEO, muitos acionistas ainda são da época da gestão do pai dele,
alguns com a mente bem retrógada, se acham seres superiores às
mulheres, então, toda ideia proposta pela Eliza, era rechaçada.
Claro que não abertamente, porém de uma forma velada, sempre
conseguiam que os projetos dela fossem adiados e parassem
dentro de alguma gaveta, até que algo... aconteceu, e Vogel decidiu
abrir uma filial totalmente independente da Matriz, escolhendo
Dreamouth como destino, só gostaria de saber o porquê dessa
escolha, já que Dreamouth lhe traz lembranças não muito
agradáveis. Eliza e Robert não têm nada um com o outro, mas o
amor que aquele homem tem por ela é imensurável. Imagine os
fantasmas que ele teve que enfrentar, ao escolher voltar para sua
cidade natal, só para criar uma unidade da Vogel Tech, dando carta
branca para a Eliza montar sua equipe, bem longe das amarras dos
acionistas? A Elizabeth só se reporta a ele, e ele lida com qualquer
merda que venha a cair sobre eles. Agora imagine o grau de
confiança que ele tem nela e principalmente a admiração e carinho
que a Eliza tem por este homem? Então, meu amigo, se você
realmente quer essa mulher... não vá por aí. Não é batendo de
frente, ou manchando a imagem do Robert, que você irá conquistá-
la.

— Puta merda! — bufei, incrédulo com o que tinha acabado de


ouvir.

— É... puta merda. E acho que talvez essa seja também a


oportunidade de você e o Robert se entenderem e deixarem o
passado no lugar ao qual pertence. O passado. Ela o ama, Alex... —
Revirou os olhos, com o meu rosnado irritado. — Como irmão, são
almas gêmeas. Vê-los trabalhando juntos é um show e tanto. Eles
se completam e não tenho dúvidas que farão invenções
memoráveis. Então aceite o Robert na vida dela... ou isso será um
problema. Para você, é claro, que ficará sozinho, sem o amor de
uma certa loira — zombou, levando o copo aos lábios.

— É, meu amigo, vai ser difícil, mas vou tentar. O que me resta,
é esperar que algum dia ela me dê a chance de me explicar.

Agora, com o bar iniciando o movimento, estava sentado no


balcão, observando-o organizar a equipe, para mais um dia de
trabalho. É. Ainda estou de castigo, nada de cozinha para mim.
— Então, Alex, te chamei aqui porque confio em você e sei que
não é o imbecil que se mostrou a Eliza. E por isso... SÓ por isso,
resolvi te dar uma mãozinha, masssssss... vê se não fode com tudo
dessa vez — alertou Richard, apontando disfarçadamente com o
queixo para algo atrás de mim, enquanto me entregava uma
cerveja. Virei-me para ver o que ele apontava, e foi então que a vi.

Linda.

O mundo ficou em câmera lenta, enquanto a observava se


inclinar sobre a mesa de sinuca. Meus olhos serpentearam por suas
pernas torneadas, a saia preta minúscula, que mal cobria aquelas
coxas grossas, imaginando como seria tê-las sob meu toque. Minha
boca de repente ficou seca, o que me fez beber toda a cerveja em
um só gole, sinalizando para que Rick me trouxesse outra.
Acompanhei cada movimento seu. A forma como ela estudava a
tacada, inclinando levemente a cabeça para o lado, enquanto
analisava a posição das bolas, alisando o taco e abaixando-se sobre
a mesa, empinando aquela bunda deliciosa, fazendo-me ter
pensamentos muito, muito pecaminosos. Continuei deslizando o
olhar por seu corpo. Eliza vestia um conjunto de saia e cropped todo
em couro preto, com uma sandália de salto que deixava ainda mais
em evidência aquelas panturrilhas bem delineadas. A observei dar a
tacada, imaginando como seria deitá-la sobre a mesa e fodê-la sem
sentido.

— Alex, ouviu o que eu disse?! — Rick perguntou, me


entregando outra cerveja, que bebi rapidamente.

— Hum?

— Eu disse para você não foder dessa vez. — Cuspi minha


cerveja em um ataque de tosse. Puta que pariu! Não foder?! É só
nisso que estou pensando, porra!
Deixei a garrafa vazia sobre o balcão e caminhei até onde ela
se encontrava absorta em sua jogada, me aproximei por trás,
lentamente, a surpreendendo, quando segurei em sua cintura,
colando o seu corpo ao meu, até que meus lábios tocassem em sua
orelha.

— Podemos conversar? — perguntei baixinho, segurando-a


firmemente. Sorri ao sentir sua pele arrepiar. Ela não era indiferente
ao meu toque.

— Hoje, eu não estou a fim de conversar, Alexander. Então, a


menos que essa sua língua sirva para algo que valha a pena, eu
não estou interessada — provocou, olhando diretamente para meus
lábios, antes de dar-me as costas e continuar alisando aquele
maldito taco.

Será que eu entendi certo? Ou esse tesão tá me deixando


maluco?

Resolvi arriscar. Não iria perder a primeira oportunidade de


estar com a Eliza, em semanas.

— Vale. Ela vale pra muita coisa, é só você me deixar mostrar...


vem comigo? — perguntei, estendendo a mão para ela, esperando
ansiosamente que aceitasse meu convite.
Deixando o taco sobre a mesa, Eliza virou-se de frente para
mim, passando a língua entre os lábios, enquanto fitava a minha
boca, provavelmente ponderando se aceitava ou não o meu convite.
Subiu o olhar e ficamos nos encarando por alguns segundos, até
que finalmente rendida, segurou a minha mão.

— Espero não me arrepender disso — murmurou para si


mesma, antes de me seguir pelo salão.

Continuamos pelo corredor na lateral do balcão, onde dava


acesso ao escritório do Richard, digitei o código para abrir a porta,
dando passagem para que entrasse, não antes de inspirar seu
perfume inebriante. Assim que entramos, Eliza empurro-me contra a
porta, atacando meus lábios e pegando-me totalmente de surpresa,
o que só durou um segundo, pois logo estávamos nos devorando,
incendiados de desejo. Interrompemos o beijo em busca de ar, nos
encarando com as respirações aceleradas, os olhos de Eliza, de um
azul esverdeado que me lembravam o mar do Caribe, agora
estavam quase negros, mostrando o quanto ela me desejava. Foi o
bastante para me fazer perder totalmente o juízo. Troquei de lugar
com ela, a imprensando na porta, deslizei meus lábios por seu
pescoço, em beijos urgentes. Ainda não era o suficiente. Eu queria
mais. Queria tudo dela. Ter seu gosto em minha boca por dias, ter
seu cheiro impregnado em minha pele.
Desci beijando seu colo e barriga, até ficar de joelhos, retirei
sua sandália com cuidado, apoiando seu pé sobre meu ombro,
iniciei uma trilha de beijos por sua panturrilha, até chegar no ápice
das suas coxas, subindo sua saia rapidamente. Tinha urgência.
Levantei o olhar em busca de aprovação e fui recebido com um
puxão nos cabelos, mostrando que ela também estava impaciente.
Puxei as laterais da calcinha, tirando-a rapidamente junto com o
outro pé da sandália, e, apoiando sua coxa em meu ombro, a deixei
todinha aberta, com sua bocetinha toda melada, bem em frente aos
meus olhos. Que visão deliciosa.
— Lisinha e toda molhadinha pra mim? Assim você acaba
comigo, diaba — grunhi, aproximando-me da sua boceta, que já
pingava de excitação. Passei a língua por toda a extensão, até
chegar em seu montinho de nervos e chupar com vontade.

— Ahhhhhhhh...isso! Ai que delícia, que língua gostosa meu


Deus, issooo, continua — Eliza gemeu enlouquecida de prazer,
quase arrancando meus cabelos, rebolando em minha cara. Tentava
fechar as pernas, mas as mantive presas no lugar, enquanto
explorava sua boceta como um sedento em frente a um oásis. Voltei
a mamar seu clitóris, introduzindo dois dedos em seu canal
apertado, em movimentos de vai e vem, até que os virei em posição
de gancho, atingindo seu ponto de prazer, o que a fez se
desmanchar em minha boca. Eliza gozando era uma visão
magnifica. Bebi até a última gota, enquanto seu corpo, aos poucos,
se acalmava em pequenos espasmos. Levantei-me em um
rompante, a carregando até a mesa do Rick, limpando a mesa,
derrubando tudo que estava sobre ela. Eliza gargalhou e... Deus...
foi o som mais bonito do mundo. Foda-se. Richard iria me matar,
mas morreria feliz. Porém, ela levantou-se em um pulo, me
empurrando de encontro a mesa.

— Agora é minha vez — insinuou com um sorriso sapeca,


puxando minha camisa para fora do cós da calça, começando a
desabotoá-la. Segurei sua mão.
— Eliza, você não precisa...

— Shiiii, quietinho, Alex. Realmente. Não preciso..., mas eu


quero. — Avançou em minha boca, não deixando espaço para
discursão. Desceu beijos por meu pescoço e abdome, ajoelhando-
se, desabotoando meu cinto e abaixando minha calça junto com a
boxer. Meu pau saltou livre bem em frente ao seu rosto.
— Nossa! Eu já tinha visto, mas assim de pertinho, é ainda
mais lindo. Credo, que DELÍCIA — disse antes de me tomar por
inteiro. Começou devagar, sugando a glande e foi descendo a boca,
abocanhando quase toda minha extensão. Depois, segurou-o em
sua mão, massageando-o em um vai e vem gostoso, enquanto
lambia a cabeça como se estivesse chupando um sorvete em um
dia de verão.
— AH! PORRA, CARALHO, PORRA! Foda, Eliza, que delícia
de boca gostosa do caralho, puta merda, eu tô quas... — e de
repente ela parou. Diante do meu semblante totalmente confuso,
levantou-se, passou os dedos nos cantos da boca, como se
estivesse limpando minha porra, e encostando a boca em minha
orelha, sussurrou:
— Parabéns, Alexander, você me mostrou que sabe usar sua
língua, magistralmente. Agora, acabei de lhe mostrar o que você
perdeu ao usá-la da pior forma. — Tirou um cartão do bolso de trás
da saia, o colocou no bolso da minha camisa. — Me ligue, e quem
sabe eu aceite seu convite para sair. Tente não estragar tudo
novamente. Boa noite, Alex. — Selou nossos lábios em um beijo
rápido, abaixou-se rapidamente para pegar as sandálias, e saiu
batendo a porta, deixando-me sem reação, com o pau rijo e as
calças arriadas.
CAPÍTULO 17
Levei alguns minutos para reagir e quando aconteceu, a fúria
tomou conta de mim.
— Quem ela pensa que é pra fazer isso comigo? Ahhh, mas
isso não vai ficar assim mesmo, aquela diaba vai ver o que acontece
quando se brinca com Alexander Gauthier, ela que me aguarde —
bufei irritado, arrumando minhas roupas. Porém, ainda tive que dar
um tempo para esfriar a cabeça... de baixo.
Aproveitei para dar uma geral no escritório, que mais parecia
que havia passado um tornado sobre ele. Algo chamou minha
atenção. A maldita calcinha. Abaixei-me para pegar o pedaço de
renda preta que havia caído embaixo da poltrona, aspirei o cheiro da
sua dona, mas parei, quando meu pau começou a dar sinal de vida
novamente. Enfiei a calcinha no bolso da calça e saí
apressadamente. Ao passar pelo bar, vi que a turma já estava toda
ali, para presenciar a minha desgraça, mas não dei esse gostinho,
passei feito um raio, dando boa noite e me despedindo ao mesmo
tempo.

— Alex! Espere!

— O que houve com o seu cabelo? E suas roupas? Parece que


foi atropelado.

— O que aconteceu? Eliza passou por nós apressada, mas


com cara de que tinha aprontado alguma, e agora você passa como
se mil demônios o perseguissem... que diabos aconteceu?!

— Agora não, Alexia. Vai se foder Jimmy! A Eliza aconteceu, foi


isso o que aconteceu! — respondi a Alexia, Jimmy e Rick
respectivamente, virando as costas e indo buscar minha moto, se
aquela pequena sorrateira pensa que isso vai ficar assim, está muito
enganada.
Levei a metade do tempo que demoraria para chegar ao prédio
da Eliza, o porteiro me anunciou e quando foi liberada minha
entrada, subi os oito andares correndo pela escada. Estava sem
paciência para elevador, e essa queima de energia, talvez servisse
para aplacar a chama que incendiava o meu corpo. Quando estava
prestes a tocar a campainha, Eliza abriu a porta, vestindo nada mais
que um robe preto, um lado escorregando sobre o ombro, onde
podia se ver uma camisola preta, de alças finas e detalhe em renda
dourada.

Ela quer me matar. SÓ PODE.

— Em que posso ajudá-lo, Mister Gauthier? — perguntou com


um sorriso sedutor.

— Você me deve algo... e vim buscar. — Ataquei sua boca com


sofreguidão, adentrando o apartamento e fechando a porta atrás de
mim. Cravei minhas mãos em sua bunda, a impulsionando para que
Eliza enroscasse as pernas em minha cintura, a camisola subiu,
mostrando-a completamente nua sob ela, me fazendo soltar um
rugido e apertá-la ainda mais contra mim, sua boceta melada
roçando em minha calça quase me fez gozar como um adolescente.
A soltei, tirando seu robe e colocando-a no chão. A virei de costas
para mim, imprensando-a contra a parede. — A senhorita foi muito
má, e ainda iremos conversar sobre isso, mas agora, você precisa
receber seu castigo. — Levantei sua camisola, expondo sua bunda
maravilhosa e não resisti. Dei-lhe um tapa de mão cheia, deixando a
minha marca em sua pele branquinha.

— Aiiiiii — sibilou.

— Shiiii... quietinha. Agora é minha vez de lhe dar um corretivo


— sussurrei em seu ouvido, apertando-a contra a parede e roçando
meu pau em sua bunda deliciosa. A safada gemeu, empinando
ainda mais a bunda contra minha ereção. Dei mais um tapa em sua
outra nádega, fazendo-a chiar e se arquear todinha para mim,
buscando seu prazer. — Quer dizer que a safada gosta de levar
uns tapas nessa bunda gostosa, hein? Olha só como você me
deixou, minha loira...— falei, roçando em sua bunda, mais uma vez,
meu pau que já estava latejando, clamando por alívio.

— Porra, Alex, me fode logo! — não precisou pedir novamente.


Com uma das mãos tirei o preservativo do bolso, desafivelei o cinto
e baixei as calças junto com a cueca, enquanto com a outra mão,
acariciava seu clitóris inchado, passando os dedos pela boceta
gulosa, que já estava babando, só me esperando. Tive que me
afastar por um segundo, enquanto revestia meu pênis, ouvindo Eliza
gemer em reclamação pelo rompimento do contato, porém, logo em
seguida, me enterrei bem fundo em uma só estocada, preenchendo-
a totalmente, fazendo com que Eliza arfasse, pega de surpresa.
Parei por um momento, segurando seus quadris contra mim,
apreciando-a me receber em sua boceta quente. Quando Eliza
começou a dar sinais de inquietação, empinando seu rabo gostoso
de encontro a mim, comecei a fazer movimentos circulares com o
quadril, fazendo-a arquear o corpo, gemendo meu nome e me
enlouquecendo de vez.

— Deus... Alex!

Comecei a me movimentar com estocadas rápidas e firmes, só


se ouvia os sons dos nossos corpos se chocando e nossos gemidos
preenchendo o apartamento, e porraaa... sinfonia perfeita. Já
sentindo o formigamento que antevia meu gozo, tive que apressar
as coisas.

— Issoooo... mais rápido, Alex! Eu tô quase gozando, ahhhh!


— Eliza gritou quando circulei sua cintura com um braço, trazendo-a
de encontro ao meu peito e apertando um de seus seios, inclinei os
joelhos, estocando em um ângulo que a tocou mais profundamente,
enquanto com a outra mão, massageava seu clitóris. — Isso,
gostosa, goza comigo, goza no meu pau, chamando meu nome vai,
Liz, eu tô no limite, goza pra mim baby.

— Ahhhhhhhhhh... Alex! — Eu a senti estremecer em meus


braços, ao mesmo tempo que eu gozava forte, sentindo suas
paredes apertarem meu pau. Meus joelhos cederam e caímos para
trás, ainda unidos, enfraquecidos pela intensidade do nosso êxtase.

Ficamos assim algum tempo, Eliza sobre meu peito, até que ela
se desvencilhou de mim. Meu corpo imediatamente sentiu a falta do
seu calor. Ainda meio lânguido, terminei de tirar os sapatos e as
calças que ainda estavam emboladas nos meus tornozelos, e me
sentei no chão com as costas encostadas no sofá, retirei o
preservativo, dando um nó e o deixando no chão ao meu lado. De
repente, Eliza, que ainda estava curtindo seu momento pós foda,
começou a gargalhar.

— Meu Deus, Alex, nem esperamos chegar ao quarto! —


reclamou gargalhando, me levando a rir junto com ela. Eliza era
assim. Leve. Linda.

— Em minha defesa, eu estava com pressa, ok? Você me


deixou com um grave caso de bolas azuis, a culpa foi totalmente
sua — ressaltei com o dedo em sua direção.

— Foi. Sou totalmente culpada. Mas valeu a pena, —


argumentou, já engatinhando e sentando-se em meu colo com uma
perna de cada lado.

— E faria tudo de novo. Você foi um babaca.


— Fui — confirmei, beijando seu pescoço.

— Um idiota, um cretino.

— Eu sei — confirmei, salpicando beijo por todo o seu colo,


indo em direção aos seios, que clamavam por atenção. Porém, parei
por um momento, levantando o rosto e a olhando nos olhos. — Me
perdoe, Eliza, eu nunca pensei aquilo sobre você, e faço qualquer
coisa para você me perdoar. — Ela me olhou com o sorriso do gato
de Cheshire e ali, vi que estava perdido.

— Hummmm, você ainda terá muito que ralar pelo meu


perdão... — respondeu, enquanto “ralava” sua boceta no meu pau,
bem devagarinho, me incendiando por inteiro. — Mas podemos
começar com um banho de banheira bem relaxante, o que acha? —
perguntou, mordiscando meus lábios, enquanto intensificava os
movimentos.

— Acho perfeito — concordei com um sorriso gigante, já me


levantando com ela em meus braços, em direção ao banheiro.

É. Finalmente eu estava em paz. E a noite só estava


começando.
CAPÍTULO 18
Acordei espreguiçando-me como uma gata, quando senti uma
perna torneada enroscada entre as minhas, e um braço em volta da
minha cintura. Sorri, lembrando da loucura que foi a noite passada.
Depois da bagunça que fizemos na sala, transamos sem pressa no
banheiro, explorando o corpo um do outro, e acabamos dormindo
agarradinhos, vendo um filme que, para falar a verdade, nem
prestamos atenção, pois o nosso amasso estava muito mais
interessante. Levantei o braço do Alex, tentando me desvencilhar do
seu abraço. Porém, Alex abraçou-me mais forte, prendendo-me em
seus braços.

— Onde pensa que vai? — perguntou, beijando minha nuca,


fazendo-me arrepiar por inteira. Virei-me de frente para ele, vendo
aquele sorriso preguiçoso de cara amassada.
Meu Deus. Nem se esforçando esse homem consegue ficar
feio, isso é tão injusto... AFF.

Comecei a rir do meu pensamento.

— Vai compartilhar o motivo da graça? — questionou, abrindo


um sorriso que deveria ser proibido, fazendo com que me distraísse
por alguns segundos, só admirando a paisagem.

— Hummmm. Não.

— Não? Nem se eu... — virou-me de repente, me subjugando


com seu corpo sobre a cama e prendendo meus braços acima da
minha cabeça. — Te beijar assim... — Beijou meu pescoço,
descendo uma trilha de beijos até os meus seios nus. — E assim...
— Seguiu beijando meus seios, circulando a aréola com a língua,
levando o bico aos lábios. — Ainda não? E se eu... — Soprou o bico
sensível, antes de abocanhá-lo com fome.
— Puta que pariu, Alex, que golpe baixo... aaaaaaaaahhhhh —
gritei, quando ele mordeu meu seio direito, para logo em seguida
atacar o esquerdo com a mesma ânsia. Sua outra mão escorregou
sorrateiramente entre nossos corpos, encontrando-me
completamente pronta pra ele. Apertando minha boceta com a
palma da mão, introduziu dois dedos em meu canal, enquanto
massageava meu clitóris com o polegar, em movimentos circulares.
— Alex...

— O que você quer, minha Sunshine? Hum? — Fala pra mim,


fala... quer gozar no meu pau, gostosa? — perguntou, continuando
a tortura nos meus seios, me fazendo tremer embaixo dele,
cavalgando em sua mão, gozando intensamente.

Droga. Nem precisou se esforçar, esse homem tem dedos


mágicos, só isso para explicar como gozei tão rápido.

— Eu quero você, Alex. Preciso ter você dentro de mim...


AGORA! — gritei em desespero, contorcendo-me embaixo do seu
corpo, buscando mais contato para aplacar o fogo que me
incendiava por inteiro. Alexander não perdeu tempo, soltando meus
braços, buscou o preservativo ao lado da cama, e em segundos,
preencheu-me completamente. Enrosquei as pernas em seus
quadris, puxando-o pela bunda, de encontro a mim, fazendo com
que seu pau enterrasse mais fundo.

— Porra, Sunshine, se eu morresse agora, morreria feliz. Não


quero sair daqui nunca mais.... caralho... que delícia — sussurrou
em meu ouvido, enquanto me fodia com estocadas cada vez mais
rápidas, me levando rapidamente ao segundo orgasmo do dia.

— Alex! — gemi, quando não aguentei, desmanchando-me em


seus braços, enquanto ele gozava forte. Alexander ainda continuou
estocando com movimentos desleixados, até que nossos tremores
foram aplacados. Quando seu peso passou a ser desconfortável,
Alex rolou para o lado, puxando-me para um abraço aconchegante,
onde apoiei a cabeça em seu peito. — Uau! Se eu soubesse que te
esconder segredos faria você ter essa performance, teria inventado
mais alguns, para você descobrir — falei rindo. — Mas agora,
preciso de um banho. Sozinha — deixei claro, quando o vi animar-
se. — Ou não sairemos desse quarto hoje, Alex! — gritei, pulando
da cama, enrolada no lençol e seguindo para o banheiro.

— OK. Vou fazer um café, enquanto você está no banho —


resmungou, enquanto descartava o preservativo e vestia a cueca,
saindo do quarto. Entrei no box e deixei que a água morna
relaxasse meus músculos. Aproveitei para lavar os cabelos, saindo
do banho renovada. Enrolei-me em um roupão e fui em direção à
cozinha verificar o que o meu loiro estava aprontando por lá.

— Liz, como você sobrevive? Aqui não tem nada! — Alex


reclamou com uma das mãos na cintura e a outra, apontando minha
geladeira, olhando-me indignado. — Teremos que ir ao mercado,
não dá pra viver assim!

— Tenho o principal, café. Não cozinho, e sempre que preciso


de algo, tenho à mão, em um click. Simples, prático e eficiente. —
Pisquei para ele. — Alex balançou a cabeça em negação.

— Inacreditável. Pois a senhora vai comigo às compras hoje, e


vou lhe apresentar o que é comida de verdade. Sunshine, você é
um raio de sol, mas não pode viver só de luz, tem que se alimentar
direito!

— Sunshine? Já é a terceira vez que você me chama de


Sunshine, é lindo, mas posso saber o porquê?
— Na hora certa você saberá, também tenho meus segredos,
Sunshine — frisou bem o nome, com um sorrisinho debochado,
fazendo-me estreitar os olhos. Terminou de servir nossas xícaras de
café, sentando-se na bancada de frente para mim.

— Liz, não que eu esteja reclamando, mas fiquei curioso. Você


passou as duas últimas semanas me evitando, como se eu tivesse
uma doença contagiosa, e de repente aparece no Wood´s,
justamente no dia em que sabia que estaria lá. O que mudou?
— Temos um convencido e curioso aqui? O que te faz pensar
que fui até lá por sua causa? — Obtive em resposta um arquear de
sobrancelha. Sorri zombeteira. — Me alimente, Mister Gauthier, e
quem sabe você tenha sua resposta, pisquei, inclinando-me para
dar-lhe um selinho.

— Passe o fim de semana comigo — propôs, segurando-me


pela nuca, antes de aprofundar o beijo. Perante meu olhar surpreso,
passou a falar rapidamente, em um só folego, como se tivesse
medo de que eu negasse. O pensamento me fez sorrir. — Escute.
Separe algumas roupas, sairemos para tomar um café “decente”. —
Abri a boca para reclamar, porém, calei-me ao sentir seu olhar
desafiador sobre mim. — Depois passaremos no mercado e iremos
para meu apartamento, quero cozinhar para você hoje. Te
apresentar comida de verdade — sorriu zombeteiro.

— Não faz assim, que posso até me apaixonar, quer me


conquistar pelo estômago, Alexander? — Arqueei a sobrancelha,
levando a xícara aos lábios. Alex gargalhou, e conseguiu ficar ainda
mais lindo. Pousei a mão em seu rosto, o acariciando. — Você
deveria rir mais, fica lindo sorrindo, além do que, é sexy pra
caramba, Alex.

— Você me acha sexy? — Com um sorriso safado, circulou o


balcão, posicionando-se entre minhas pernas e abraçando minha
cintura.

— Sim. Meu loiro sexy. Extremamente sexy. — Entrelacei os


braços em seu pescoço, salpicando beijos em seu rosto, até que
Alex rosnou em minha boca, segurando em minha bunda puxando-
me para ele. Entrelacei as pernas em sua cintura, enquanto ele me
carregava para o sofá, na sala. Sentando-se comigo em seu colo,
agarrou-me pelos cabelos, firmando minha cabeça, enquanto
traçava beijos em meu pescoço. — Alex... o café — tentei
argumentar, porém, as mãos do Alex já estavam por todo o meu
corpo.
— O café pode esperar, Sunshine. O que não pode esperar, é
essa fome que eu sinto de você, que não passa. — Abrindo o meu
roupão, segurou os meus seios em suas mãos, massageando os
bicos entumecidos. Levou um deles a boca, mordiscando e puxando
entre os dentes, enquanto torcia o outro entre os dedos, me levando
a loucura.

— Alex, por favor...

— Quietinha, Sunshine, sabe... você pode me esconder muitas


coisas, mas o que você nunca conseguirá esconder de mim, é o
quanto seu corpo responde ao meu. O quanto sua pele se arrepia
ao meu toque. E o quanto sua boceta fica molhada, clamando por
mim — sussurrou em meu ouvido, enquanto provava seu ponto, ao
alisar minha boceta e retirar os dedos encharcados, levando-os à
boca, chupando-os, enquanto lançava-me um olhar tão intenso, que
me incendiou inteira. — Seu sabor é inigualável Sunshine, melhor
que qualquer café da manhã — grunhiu, deitando-me no sofá,
acomodando-se sobre mim.

Resultado: saímos atrasados. Fomos até nossa cafeteria


preferida, tomamos um café reforçado, já que exaurimos nossas
energias. Passamos no mercado, onde Alex separou alguns itens
para o nosso almoço, e seguimos para sua cobertura.

Alex preparou um prato da culinária brasileira chamado arroz


carreteiro, basicamente uma mistura de ingredientes que ele
escolheu a dedo no mercado e que, segundo ele, era rápido e
prático, acompanhado de salada verde. Observei-o cozinhar com
uma segurança e rapidez impressionante. A cozinha era moderna,
totalmente equipada, digna de um programa de TV, Masterchef.
Percebi o quanto ele estava relaxado em seu habitat. Alex estava
vestindo uma calça de moletom com uma camiseta básica branca,
que salientava todos os seus músculos e um avental escrito “The
most important ingredient is love” (O ingrediente mais importante é o
amor), deslizando pela cozinha, fazendo sua mágica, e eu ali, com
os cotovelos apoiados no balcão, mãos no queixo e literalmente
babando. Ele era uma visão. Quando acabou, o ajudei a montar a
mesa e escolhi o vinho em sua adega climatizada.

— Hummmmm, Alex, isso está divino! Como você consegue


fazer um prato desses, tão rápido e com essa perfeição? Sério,
acho que você está na profissão errada. Só provei dois pratos feitos
por você até agora, e, simplesmente, nunca provei nada mais
gostoso que isso. Já pensou em abrir um restaurante? As pessoas
iriam se estapear para provar um prato seu.

— Esse prato é extremamente simples, acredite. E sim. Já


pensei em ter meu restaurante. Porém, isso ficou para trás —
divagou, servindo mais vinho.

— E por que desistiu? Você claramente nasceu para isso. —


Cutuquei-o, precisava que se abrisse comigo. Alex ficou um tempo
calado, degustando o vinho com um olhar vazio, perdido em
lembranças. Quando pensei que não me responderia e o silêncio já
se tornava desconcertante, ele finalmente resolveu falar.
— Eu cresci visitando a cozinha da minha casa, como meus
pais viajavam muito, eu adorava atormentar a Susy e a Anikka, as
cozinheiras, e elas amavam minha curiosidade, as ajudava em tudo,
era difícil me tirar da cozinha, sempre estava por lá aprendendo
algum prato novo. Elas contavam-me histórias dos seus países, a
Susy é brasileira e a Anikka russa, então eu sempre pedia que
preparassem algum prato típico de suas terras, para matar a
saudade, sabe? E assim fui aprendendo diversos pratos. Contudo,
eu queria mais, e estipulamos o dia da cozinha internacional. — Deu
uma risadinha, decerto, revisitando as memórias de infância. —
Toda semana escolhíamos um país, e passávamos o dia inteiro
cozinhando seus pratos típicos. Assim fui me aprofundando na
culinária do mundo inteiro.
— Uauu! Que delícia, Alex, e vejo que você tem um carinho
muito grande por elas. — Abri um sorriso, incentivando-o a
continuar.
— Sim, quando meus pais... — deu uma parada, para bebericar
o vinho, tentando conter a emoção que se abateu sobre ele, acredito
que ainda era muito difícil falar dos pais. Busquei a sua mão sobre a
mesa, entrelaçando nossos dedos em apoio.

— Não precisa falar, Alex, tá tudo bem. — Vi-o olhar em direção


às nossas mãos, respirar fundo e voltar seu olhar para mim.
— Quando meus pais morreram, foi muito difícil. Eu, um jovem
inexperiente, tive que assumir, de uma hora para a outra, a cadeira
da presidência que pertencia ao meu pai, apesar de estar
preparado, eu nunca quis assumir a empresa e meus pais sabiam
disso, eles já tinham a pessoa perfeita para herdar o legado, quando
ela estivesse pronta.

— Alexia — respondi, aquiescendo.


— Sim. Alexia sempre amou tudo isso, mesmo muito jovem, ela
nunca enxergou assumir a empresa como um fardo, pelo contrário,
foi o que ela sempre almejou. Por isso nossos pais a apoiaram
quando ela decidiu cursar administração. Desde muito cedo Alexia
visitava a empresa, com sua curiosidade nata, interessando-se por
toda a engrenagem do negócio, enquanto eu...
— Divertia-se entre as panelas — completei sorrindo.
— Exatamente. O meu sonho sempre foi ter o meu restaurante,
mais não, um restaurante qualquer. Um restaurante com sabor de
casa. — Seus olhos brilhavam ao falar, como se estivesse
vislumbrando o restaurante naquele momento. — Nosso país possui
imigrantes de todo o mundo, muitos moram aqui há anos, e
certamente morrem de saudade de casa. E se eles pudessem matar
um pouquinho dessa saudade, ao provar seu prato ou sobremesa
preferida? Ou apresentar aos seus filhos e netos os pratos que
costumavam comer em suas terras? Sentir na comida o sabor de
casa? — A empolgação com que ele falava era contagiante.

— Que ideia incrível, Alex, com certeza essa é uma receita de


sucesso, já pensou em um nome?
— Não. Afinal, não tenho mais essa ambição. Tenho a empresa
para tocar. Nunca daria certo. — Bebeu seu vinho, tentando
esconder a frustração.
— Hei! Que pessimismo é esse? — perguntei, apertando sua
mão. — Você mesmo disse que a Alexia está se preparando para
assumir seu lugar, não está? — Ele concordou com um movimento
de cabeça. — Então, enquanto isso, você pode ir se planejando,
Alex, sua ideia é fabulosa e merece sair do papel. Já imaginou, que
você não só estaria servindo comida, mas alegria, felicidade e
fazendo centenas de pessoas, reviverem memórias há muito tempo
esquecidas, trazendo uma forma de amenizar a saudade de seus
familiares? Pois, muitos tiveram que deixar suas pátrias ainda muito
jovens, em busca de uma vida melhor. Poder proporcionar um
momento desses para eles, não tem preço. Então, não importa o
quanto demore, faça acontecer. A começar pelo nome. Vamos
escolher? — perguntei a um Alex embasbacado, me olhando. —
Alex. O nome. — Sacudi sua mão, tirando-o do transe.

— Não sei, ainda não pensei sobre isso. — Sacudiu os ombros


em resposta, fingindo descaso para que eu não percebesse o
quanto isso o afetava.
— Pois eu já sei o nome perfeito — pausei para provar meu
vinho e fazer um suspense. — Flavor of Home (Sabor de Casa) —
falei pausadamente, buscando sua aprovação.

— Flavor of Home. Flavor. Of. Home — testou o nome,


pausadamente, esticando o braço para o alto e movendo-o
horizontalmente em sua frente, imaginando o letreiro. — Tá aí.
Gostei. Tudo a ver com a proposta do restaurante. Obrigado, Liz,
você é maravilhosa. — Levantou-se em um rompante, puxando-me
para um abraço. Senti toda a sua gratidão naquele abraço.
— Por nada. Fico feliz em ajudar, mas não pense que é sem
interesse, porque eu estou pensando em quantos pratos você fará
para eu provar — brinquei ao nos separarmos do abraço, fazendo-o
estreitar os olhos pra mim. Voltamos a nos sentar. — Os dois pratos
que provei são brasileiros, já deu para perceber que gosta da
culinária de lá. Já foi ao Brasil?
— Não. Tudo que aprendi sobre o Brasil foi através da Susy ou
pesquisas. Porém, tenho muita vontade de conhecer, quem sabe um
dia? Adoraria ir com você. — Piscou pra mim.

— Isso é um convite? Porque se for... adoraria ir com você —


sorri, ao usar as mesmas palavras que ele havia utilizado. — Mas,
se tem vontade, por que nunca foi? Por motivos financeiros é que
não foi, obviamente. — Levantei uma sobrancelha em desafio. Ele
não sorriu de volta, e senti-o ficar tenso de repente.
— Já pensei em ir uma vez. Mas não deu certo — respondeu,
levantando-se da mesa sem me olhar nos olhos. — Acabou o vinho,
vou buscar outra garrafa e a sobremesa. — Dirigiu-se à cozinha.
Claramente fugindo. Quando voltou, não tocou mais no assunto,
fingindo que o meu questionamento nunca existiu. Decidi não o
pressionar. Por ora!

Após a sobremesa, fomos para o sofá, assistir um filme, Alex


nos serviu mais vinho e nos sentamos aconchegadamente.
— Alexia enviou uma mensagem, perguntando se irei almoçar
na mansão amanhã. Gostaria que fosse comigo, assim, te
apresento as mulheres da minha vida. — Fiz uma careta e ele riu. —
Ciúmes? De duas senhoras e uma pirralha que por coincidência é
minha irmã? — questionou-me com a sobrancelha erguida, e um
sorriso ladino.
— Ciúmes? Eu? Não! Só me atentei que um homem como
você, realmente deve ter várias mulheres em sua vida — justifiquei,
sentindo-me desconfortável.
— Liz, eu nunca tive “mulheres” em minha vida. Não vou
mentir, nunca fui “santo”, mas também não sou como o James, por
exemplo. Há muito tempo não tenho um relacionamento sério e não
saio por aí transando como se não houvesse amanhã. Claro, tenho
minhas necessidades, contudo, sei me controlar perfeitamente.
— Sei. — Olhei-o de rabo de olho.
— OK. Mudando de assunto, não justifica o babaca que eu fui,
mas senti em sua reação, em seu apartamento e em suas atitudes,
depois, que tinha algo a mais. Quer conversar sobre isso?
Após refletir por um momento, minha decisão foi tomada, Alex
compartilhou seu sonho comigo, e se eu quisesse que ele se
abrisse comigo, teria que me doar um pouco também.

— Não. Mas preciso. Se você me prometer não dar um piti


cada vez que ouvir o nome do Robert sair da minha boca. Alex, ele
faz parte da minha vida e é muito importante pra mim. — Percebi-o
respirar fundo, antes de concordar com um aceno. — Eu não
conheci meu pai. Ele faleceu de um mal súbito, quando eu tinha
poucos meses de vida. Minha mãe me criou sozinha, junto com a
ajuda da minha avó, imagine a vida de uma garçonete trabalhando
em dois empregos para que não nos pudesse faltar nada. Quando
eu tinha nove anos, vó Ava faleceu, ficando assim, nós duas contra
o mundo, como é até hoje. Minha mãe se desdobrou para que não
me faltasse nada e eu estudasse em boas escolas. Em
contrapartida, sempre me esforcei, tirando as melhores notas e
buscando as melhores oportunidades. Foi assim que obtive a carta
de recomendação assinada por todos os professores, para que
pudesse concorrer a uma bolsa no MIT. Lembro que minha mãe
vibrou junto comigo, e abriu a “garrafa sagrada”, como ela
denominou. Uma garrafa de vinho que ela ganhou de um cliente do
hotel em que trabalhava, dizia que era um líquido muito precioso
para ser desperdiçado aleatoriamente, que só o abriria em uma
ocasião especial e quando recebi a carta que havia sido aprovada e
ganhado a bolsa de 100%, devido ao meu histórico impecável,
desempenho nos testes e ter passado com louvor pela entrevista,
sabia que este momento havia chegado. Naquela noite, tive o meu
primeiro porre, acredita? Primeiro porre da vida, ao lado da minha
mãe, e eu nem tinha idade para beber, aliás, eu não tinha idade
para muitas coisas, porém, fui a prodígio a entrar para o MIT com
apenas dezesseis anos. — Ergui a taça em um brinde, rindo
orgulhosa de mim mesma.
— Nossa. Agora eu entendi sua indignação com as merdas que
falei. Sinto muito. Sua mãe deve ter muito orgulho de você.

— Hum — resmunguei, discordando. — Eu que tenho muito


orgulho dela. Se não fosse os anos que ela batalhou com unhas e
dentes, eu não chegaria onde cheguei. A Mag é minha inspiração,
uma leoa que me ensinou a nunca desistir e a lutar minhas batalhas
em cima de um salto 15 — ri, me aconchegando mais a ele.
Ficamos um tempo em silêncio, até que me senti confortável
em continuar.

— No ano da minha formatura, participamos de um evento que


contava com a presença de ex-alunos, com palestras, onde
contavam suas experiências no MIT e o que eles haviam construído
desde então. Foi como conheci o Bob, o vi falar em como
transformou a empresa tradicional do pai em uma referência em
tecnologia, inclusive, firmando a sede Vogel Tech no Vale do Silício.
Eu me apaixonei naquele momento. — Ouvi um rugido, e Alex
ameaçou levantar-se, mas o abracei antes que o fizesse. — Não,
nesse sentido, seu bobo, e você prometeu me ouvir. — Repreendi-o,
alisando seu peito e me esticando para dar-lhe um selinho. — Me
apaixonei pelo seu ardor em falar como transformou a empresa da
família em uma potência, me apaixonei por suas ideias e
principalmente por sua ousadia. Apesar de ser um prodígio, faltava-
me a segurança que via nele. Após sua palestra, não o vi, até o dia
seguinte, quando foi minha vez de me apresentar, optei pelo tema
energia sustentável e que todos deveriam ter acesso a ela
gratuitamente. A princípio, fiquei insegura, afinal, não tinha como
hábito, falar para grandes plateias, contudo, fiz muitas pesquisas, e
falei sobre o assunto com propriedade. Ao final da apresentação,
ganhei uma multidão me aplaudindo de pé, e um convite do Robert
para jantar aquela noite. Você pode imaginar como fiquei nervosa
em ter que me encontrar com ele, me sentia como uma fã, indo se
encontrar com o Bono. — Vocalista do U2 — Da tecnologia. Tremia
como uma vara verde e minhas mãos suavam, porém, ele foi
incrível, deixando-me completamente à vontade. Nunca me
esquecerei das suas palavras, quando ao final da noite, ele pegou
as minhas mãos entre as suas e disse “Elizabeth Sanders, prepare-
se para mudar o mundo!”. E a partir daquele dia, tornei-me parte da
Vogel Technologies, os anos que trabalhei na sede da Vogel Tech
foram os melhores e os piores da minha vida — respirei
profundamente, estava chegando à parte mais difícil do meu relato,
então optei por uma pausa. Alex percebeu minha relutância em
continuar, e me abraçou mais apertado em seus braços.
— Liz, não precisa continuar, se não quiser. — Beijou minha
cabeça, enquanto deslizava as mãos por meus braços em uma
carícia relaxante.

— Não. Já que comecei, irei até o final. Só preciso de uma


pausa, vamos tomar um banho e finalizarmos essa conversa na
cama? — Ao ver seu sorriso malicioso, esbugalhei meus olhos, ao
perceber o quanto minha proposta saiu indecente. — Na cama para
conversarmos com mais conforto, Alex, todo esse vinho que
bebemos começou a fazer efeito e caso eu desmaie em cima de
você, que seja na cama. Tire esses pensamentos sujos da sua
mente. — Estreitando meus olhos para ele, levantei-me, tirei a taça
de suas mãos, deixei-as na lavadora e subimos para seu quarto,
lembranças de quando estive nele me açoitaram, me fazendo sorrir.
— Vem, vamos tomar um banho e depois você pode desmaiar
em cima de mim, juro que não irei reclamar. — Alex me puxou para
o banheiro, rindo, enquanto me abraçava por trás, beijando meu
pescoço. Tomamos um banho rápido, vesti uma camiseta do Alex,
que em mim, pareceu um vestido macio e quentinho, enquanto ele
vestiu apenas uma boxer branca. Senhor, dai-me forças para
continuar nossa conversa, sem desviar por caminhos desvirtuosos.
CAPÍTULO 19
Nós nos deitamos na cama, aconcheguei-me em seu peito e
ficamos um tempo curtindo o silêncio. Ele sabia que eu estava me
preparando para contar algo difícil para mim e respeitou o meu
tempo, acariciando meus cabelos, me abraçando em um silêncio
acolhedor.

— Como falei anteriormente, os anos que trabalhei na sede da


VT foram os melhores e piores da minha vida. Os melhores, porque
pude trabalhar ao lado do meu mentor, tudo que sei, devo ao Bob,
ele sempre me instigou e me forçou a dar o meu melhor, apoiou as
minhas ideias, me orientando a cada passo do caminho. Trabalhar
com o Bob é incrível, somos muito bons juntos.
Senti o corpo do Alex tencionar, todavia, permaneceu em
silêncio, mesmo não gostando da proximidade entre mim e o Bob,
sabia que não era o momento para surtos infantis, mesmo assim,
optei por esclarecer esse ponto. Levantei meu tronco e sentei-me na
cama com as pernas cruzadas em estilo borboleta.

— Alex, nunca houve, nem nunca haverá nada entre mim e o


Robert. Somos gêmeos nascidos de pais diferentes — falei rindo. —
Somos tão parecidos que jamais daria certo algo entre nós. É como
se nos completássemos, quando um tem uma ideia, o outro já
aprimora, sem ao menos abrirmos a boca. Amo trabalhar com o
Bob, ele é o irmão que a vida me deu, e Alex, se minha relação com
o Robert for um problema pra você, me avise, que acabamos por
aqui, seja lá o que for isso que está havendo entre nós. O Bob faz
parte da minha vida, de quem eu sou — fui bem taxativa nessa
parte, não admitiria ataque de ciúmes cada vez que precisasse estar
com o Bob, Alex teria que conviver bem com isso. De repente, ele
começou a rir.

— Bem que me alertaram sobre isso. Richard — respondeu ao


meu olhar questionador. — Conversamos sobre o que aconteceu e
ele falou exatamente isso, não, com essas palavras, porém deixou
bem claro que se eu quisesse ter alguma chance com você, teria
que “engolir” o Vogel. — Fez uma careta engraçada. — Tudo bem,
Liz, não vou mentir, dizendo que me sinto confortável com isso, mas
prometo me comportar. Sei o quanto ele é importante e confio em
você. — Puxou-me novamente para seus braços, me deixando
aliviada. — Agora me conte por que também foram os piores anos
da sua vida, já que claramente você ama o que faz e com quem
trabalha.

— A VT é uma empresa familiar, apesar de ser capital aberto, a


maioria dos acionistas são pré-históricos e acreditam que as
mulheres não possuem intelecto suficiente para estarem à frente de
cargos de liderança, somos feitas para obedecer e executar, então,
aparentemente, eu feri os egos enormes que possuíam entre as
pernas — brinquei, tentando amenizar o clima pesado. A verdade é
que isso ainda me afetava profundamente. — Sempre que
apresentava algum projeto, ele era rechaçado, não abertamente,
obviamente, contudo, o preconceito velado sempre existiu. Até que
tive a infeliz ideia de fazer com que um colega apresentasse um dos
meus projetos como se ele o tivesse criado. Assim que ele foi
aprovado, fizemos questão de mostrar quem era a mente por trás da
criação, os desmascarando em frente ao Robert, que ficou
possesso, é claro. Depois disso, as perseguições se tornaram
intensas. Insinuações de que eu teria um caso com o Bob
começaram a surgir, para explicar o sucesso das minhas criações.
Robert viajava muito, por estar à frente dos negócios, e eles
aproveitavam essas ocasiões para me atacar com insinuações
maldosas, assédios e convites descarados. Aguentava a tudo isso
calada, tendo que provar o meu valor a todo instante, porém, só me
enxergavam como uma descerebrada, que usava o que tinha entre
as pernas para conseguir o que queria, sendo a “puta do Robert” —
repetir as palavras que ouvi por tantas vezes, me trouxe um gosto
amargo a boca. Voltei a falar, antes que o nó na garganta me
impedisse de continuar. — Havia um homem, o Sr. Miller.
Desconfiava que ele estava por trás dos insultos e perseguições
direcionados a mim, pois quando estávamos sozinhos, ele sempre
buscava uma maneira de me diminuir e humilhar, porém, quando o
Robert estava presente, se tornava um verdadeiro cavalheiro,
tratando-me com todo o respeito e cordialidade. Um dia, quando o
Robert estava em viagem, o Sr. Miller chamou-me à sua sala, com a
desculpa de que queria discutir alguns detalhes sobre o chip que
estava projetando.

Comecei a tremer em seus braços, não pude conter as


lágrimas que começaram a cair, até soluçar baixinho. Alex nada
falou, apenas abraçou-me mais forte, mostrando seu apoio. Quando
me senti pronta, continuei meu relato, mergulhando em lembranças.

— Entrei em sua sala, claramente desconfortável em estar


sozinha com ele em um mesmo ambiente, assim que me sentei em
frente à sua mesa, ele levantou-se, circulando a mesa e pondo-se
atrás da minha cadeira, segurou no encosto, abaixando-se para
falar próximo ao meu ouvido:

— Infelizmente, ainda não foi dessa vez, senhorita Elizabeth,


seu projeto é ótimo, mas ainda há alguns quesitos que precisam ser
revistos, aprimore-o e nos apresente na próxima reunião de
orçamento, podemos aproveitar que o Robert está viajando para
marcar um jantar, então você poderá me explicar como funciona
esse chip, talvez você consiga me convencer, como conseguiu
convencer ao Vogel.

Ele sussurrou em meu ouvido, enquanto pegava uma mecha do


meu cabelo e cheirava. Pulei da cadeira em um rompante, passando
por ele em direção à porta, contudo, fui interceptada antes que
conseguisse chegar até ela. Ele me agarrou, me puxando
grosseiramente até a mesa, forçando-me sobre ela até ter meu rosto
colado a madeira. Forçou meus braços para trás, enquanto
debruçava-se sobre mim. Meus óculos voaram por cima da mesa,
tentei me debater, porém meu corpo não obedecia, o pânico me
deixou ainda mais vulnerável.

— O quê? Vai dar uma de difícil, agora? Pensa que não sei que
é a vadiazinha do Vogel? Então, sua puta, o negócio é o seguinte,
se quiser que o seu chipizinho de merda seja aprovado, acho bom
me agradar, como agrada ao Robert. Que tal começar com esse
rabo gostoso, hein? Vou adorar me enterrar nele e você vai gemer
gostoso, como a boa vadia que é, entendeu?

Passou a língua em meu ouvido, descendo por meu pescoço.


Quando o senti levantar minha saia, sai do meu estado de letargia,
começando a debater-me, ao virar a cabeça de um lado a outro,
acabei derrubando o porta-canetas, fazendo um estrondo, o
assustando. Aproveitei o momento que soltou minhas mãos, para
buscar impulso, o empurrando e saindo do seu julgo, porém, antes
que corresse, a porta abriu abruptamente e Robert entrou,
perguntando o que estava acontecendo.

Agarrei-me a ele tremendo, não consegui falar nada, enquanto


vi o Sr. Miller insinuar que o Robert foi inoportuno, atrapalhando um
momento íntimo. O que ele não contava, era a confiança em que o
Robert tinha em mim, e o terror que ele viu em meus olhos disse
tudo o que ele precisava ouvir. Robert soltou-me e desferiu um soco
no Sr. Miller, depois pediu que a secretária chamasse a segurança.

Após deixá-lo sobre vigilância em sua sala, me levou para o


seu escritório, onde ouviu todo o meu relato. Depois pediu que o
aguardasse em sua sala, enquanto ele lidaria com o ocorrido. A
polícia foi chamada, mas até os policiais olhavam-me com
escrutínio, no fundo, acreditando na versão de que eu o seduzi, e
que quando o meu chefe nos pegou, inventei aquela história para
que não perdesse o emprego que dei tanto duro para conseguir.
Lógico, que esse “dar duro” vinha com uma dose substancial de
ironia.

Como só estávamos os dois na sala, e não havia testemunhas


do que ocorreu, eu sabia o que iria acontecer. O caso não iria
adiante e meu abusador seguiria impune. Todavia, mesmo não
sendo preso, não sei como o Robert conseguiu, mas ele comprou as
ações do Sr. Miller, o destituiu do cargo na empresa e se certificou
de que ele não conseguisse nenhuma posição em outro lugar,
Robert tinha muitos contatos, e um pedido aqui outro lá, todas as
portas foram fechadas para o Sr. Miller, a carreira dele estava
acabada.

Só isso poderia me deixar aliviada, porém, o sentimento de


impunidade persistia. E se ele fizesse outra vítima? Sentia-me
impotente. Após o ocorrido, mesmo sem notícias do Sr. Miller, ele
fez seguidores. Muitos acionistas olhavam-me com desprezo, e
cada vez mais tornou-se insustentável trabalhar sob seus olhares
julgadores, me senti suja e diminuída. Evitava falar sobre isso com o
Robert, afinal, ele fez tudo que podia em meu favor, tomar alguma
atitude contra membros do conselho só iria fortalecer a ideia de que
tínhamos um caso.

Com o passar dos dias, virei uma sombra de mim mesma, não
me alimentava e estagnei todos os meus processos criativos.
Quando em uma segunda-feira não apareci para trabalhar, Robert
foi ao meu apartamento e após inúmeras tentativas de chamar-me
sem retorno, arrombou a porta com a ajuda do porteiro,
encontrando-me desacordada. Havia tomado um coquetel de
remédios para dormir e por pouco não morri.

Robert não saiu de perto de mim durante todo o tempo em que


passei no hospital, fizeram uma lavagem estomacal, fui medicada,
ficando em observação, até que meu organismo estivesse “limpo”.
Após passar pelo psicólogo do hospital, deram-me alta, com a
recomendação de que eu fosse acompanhada por um profissional.
Eu não queria morrer. Eu só queria dormir. Esquecer o pesadelo
que estava vivendo. Estava tão cansada.
Após a alta, Robert ligou para minha mãe, que mais uma vez
se sacrificou por mim. Largou sua vida em Vegas para cuidar do seu
“bebê” e quando eu a questionei sobre isso, sua resposta foi “Não
larguei minha vida, porque a minha vida é você, Elizabeth, não há
uma vida sem você.” Passei meses na terapia e qual foi a minha
surpresa, quando finalmente me senti pronta para voltar a trabalhar,
o Robert trouxe a notícia de que estava abrindo uma filial totalmente
independente da sede, e que eu comandaria a equipe escolhida a
dedo por mim. Foi a melhor notícia que recebi em anos. Ele me
contou que o prédio onde iria ser localizada a VT era o mesmo que
seu pai fundou a empresa, e que desde que ele assumiu, a levando
a outro patamar e mudando-se para o Vale do Silício, o manteve
fechado. Agora, o estava reformando, para que eu pudesse assumir
junto com a minha equipe. Enquanto a reforma acontecia, tratei de
recrutar os melhores, e há oito meses atrás, desembarquei aqui com
a esperança de um recomeço, onde não houvesse abutres
misóginos, rondando a minha carne.
— Bom o resto você já conhece, já que meu braço direito é a
Stella. Na noite em que... na noite em que brigamos, o Robert me
levou para um jantar de comemoração pela minha promoção à VP
da Vogel Tech e também de despedida, já que ele irá se ausentar
por pelo menos dezoito meses, e serei a responsável por tudo aqui.
Estava tão feliz, querendo compartilhar esse momento com você, e
voc...
— Estraguei tudo. Sinto muito, Liz. Nem sei o que dizer. Acabei
acordando os fantasmas que você queria tanto esquecer. Será que
um dia você será capaz de me perdoar? Porque neste momento,
nem eu me perdoo — falou envergonhado. — Nunca irei me perdoar
por estragar um momento tão importante para você, por fazê-la
revisitar lembranças tão dolorosas.

Ao virar-me para encará-lo, percebi que estava chorando,


assim como eu. Segurei em seu rosto com as duas mãos.
Mergulhando em suas esferas azuis acinzentadas.
— Alex, você não sabia, não tinha como saber. Foi um babaca?
Foi. Mas uma pessoa me fez entender que estava projetando
minhas dores em você, e você já carregava um fardo muito grande,
não seria justo que carregasse o meu. Além do mais, quem vive de
passado é museu, então vamos olhar para frente, que atrás vem
gente, como diria a minha vovó Ava.
Alex puxou-me para um abraço reconfortante. Ficamos um
tempo assim, abraçados, palavras sendo desnecessárias. Até que
ele se afastou e, repetindo o gesto que fiz, segurou meu rosto em
suas mãos, fazendo que com que o encarasse.

— Elizabeth, nunca mais deixe que ninguém te diminua, que


duvide do seu potencial. Eu te conheço a menos de um mês, e digo
que você é uma das pessoas mais fortes e inteligentes que já
conheci. Concordo com o Robert, quando disse que você vai mudar
o mundo, e saiba que você não estará sozinha. Posso ter agido
como um imbecil, mas, se tem algo que o episódio com esse infeliz
lhe ensinou, foi se defender, estou orgulhoso de como me enfrentou
e tenho pena de quem ousar te desafiar, você nasceu para brilhar
minha Sunshine. — Beijou-me suavemente, enquanto enxugava
minhas lágrimas. — Vem, vamos descansar. Já vivemos muitas
emoções por hoje. Mas antes, só me responda uma coisa, o que te
fez mudar de ideia e me perdoar?

— Não, o que, mas quem. Alexia — respondi ao seu semblante


confuso. — Aquela garota é um perigo, Alex.
— Sim, ela é — concordou, puxando-me para seus braços,
onde me senti protegida, como não me sentia há muito tempo.
CAPÍTULO 20
Dois dias antes...

— Não.

— Não?! — Elizabeth perguntou indignada.

— Não. Por sete anos eu vi meu irmão afundar em um poço


sem fim, e finalmente eu o vi submergir. Não vou ficar quieta, vendo-
o afundar novamente, então, NÃO, Elizabeth. Você não vai me dar
só cinco minutos. Vai sentar e ouvir a porra da história toda, e aí,
sim, você poderá tirar suas próprias conclusões. Então, já que
resolvemos essa questão, por que não partimos para a parte em
que você me oferece algo para beber, hum? — Pisquei, inclinando-
me relaxadamente na poltrona.

Elizabeth arqueou a sobrancelha, inclinou-se para a frente,


apoiando os cotovelos na mesa, com o queixo apoiado nas mãos,
analisando-me por um tempo. Sustentei seu olhar, até que com um
suspiro, levantou-se indo em direção ao pequeno bar ao lado
esquerdo do escritório, onde havia um sofá de couro preto em
formato de “L”. Sinalizando para que eu me sentasse.

— O que quer beber? Um suco, uma água... vinho?

— Whisky, por favor, acho que preciso de uma dose de


“coragem” para tudo que tenho a dizer — pedi nervosa, já me
arrependendo de ter vindo.

Coragem, Alexia, Alex precisa de você. Não desperdice essa


chance.

— Vamos de whisky, então. Sinto que também irei precisar. —


Entregou-me um copo, enquanto sentava-se ao meu lado. Observei-
a por um tempo. Conseguia enxergar o porquê do fascínio do Alex
por essa mulher. Linda e dona de um temperamento forte, ela
exalava poder e sensualidade.

— Hum, hum — pigarreei, tentando encontrar a melhor forma


de fazê-la entender. — Tá. Você lembra do Venom, Elizabeth? Não
o do filme atual, mas o do Homem-Aranha 3?

— Lembrar eu lembro, só não entendo onde ele se enquadra


nesta conversa.

— Lembra da cena em que o Eddie Brock é totalmente


dominado pela matéria negra? Ela vai moldando todo o seu corpo, e
vimos flashs do rosto do Eddie tentando escapar das garras daquela
coisa, até que é totalmente absorvido, se transformando no Venom
e seu sorriso assustador? Lembra? — perguntei, gesticulando
loucamente com as mãos em forma de garras.

— Venom, Alexia? Claro que lembro, e a geek que habita em


mim adoroooooou, mas eu ainda não consegui entender onde você
quer chegar com tudo isso, me ilumine — pediu Elizabeth, com um
floreio nas mãos.

— Ótimo, então. Imagine o Alex, doce, feliz, cheio de sonhos e


planos e de repente sendo afogado em gosma negra sem saber
como escapar. Ou pior, sem fazer o menor esforço para escapar.
Este é o Alex nos últimos sete anos. Ao longo desses anos,
sofremos grandes perdas que afetaram a todos nós. A mim, ao
James, mas principalmente o Alexander. E cada um de nós lidamos
de formas diferentes a cada baque, quer dizer, eu e o James nos
demos o direito de decidir como e onde afogar as nossas dores,
mas não, o Alex. Ele foi obrigado a tomar decisões, assumir os
negócios da família e principalmente estar lá, por nós. Ser a nossa
rocha. Ele foi privado de sentir... Alex é um homem de emoções
interrompidas, Elizabeth, e isso o está matando aos poucos. Nada
disso pode estar fazendo sentido para você agora, e sei que está
magoada com ele, mas em longos sete anos, é a primeira vez que
vejo meu irmão descontrolado a ponto de agir como um neandertal,
e a grande responsável por esse descontrole é você. De alguma
forma, você mexeu com ele e o fez sentir novamente. Nestas duas
semanas em que você se recusou a ouvi-lo, o Alex está beirando o
desespero. No domingo, dia seguinte a discursão de vocês, quando
desci para tomar meu café, parecia que estava diante de um zumbi
do The Walking Dead, Alexander estava sentado no chão do
apartamento, com uma garrafa de whisky ao lado, todo
desgrenhado, olheiras horríveis e olhos avermelhados de quem
havia chorado e muito. Não entendi o que estava acontecendo, pois
o vi sair ao seu encontro na noite anterior, feliz e ansioso, e o
encontrei na manhã seguinte naquele estado. Com muito esforço e
bastante café, o fiz reagir e contar o que realmente tinha acontecido,
e aí foi ele que não entendeu ao me ver sorrindo abertamente. Sabe
há quanto tempo espero ter meu irmão de volta, Elizabeth? Longos
e intermináveis anos. Ele sempre fez tudo por nós, agora chegou a
minha vez de retribuir.

— Alexia, eu entendo que você queira defendê-lo, mas não


acho que o que ele fez seja por conta do que ele passou. Então me
desculpe, não tenho nada a ver com os problemas familiares de
vocês. Sinto muito. — Já ia se levantando, tendo a conversa por
encerrada, porém, segurei em suas mãos, a olhando
profundamente, era minha última tacada.

— Realmente, a atitude infeliz daquele idiota não foi pelo que


ele passou, foi ciúmes. — Elizabeth arregalou os olhos surpresa. —
Por favor, só me escute. — Assentiu, sinalizando que continuasse.

— Alex conhece o Robert desde criança, cresceram juntos.


Quando tinham dez anos, o James, foi morar conosco, após os pais
dele falecerem em um acidente de helicóptero. Ele era filho único, e
como meus pais eram padrinhos dele, praticamente o adotaram
como filho, e Alex ganhou um irmão da mesma idade, James
passou a estudar na mesma escola que eles, a amizade com o
Robert continuou a mesma, contudo, o Alex agora tinha o James, e
você já conheceu o Jimmy, sabe o carisma natural que ele tem,
logo, o Jimmy, mesmo não propositadamente, monopolizou a
atenção da turma com seu jeito divertido e galante desde a infância,
já o Robert, não aceitou de certa forma ser preterido pelo Jimmy, e
por ser introspectivo, foi cada vez mais se isolando, Alex tentava
aproxima-lo do Jimmy, porém, ele o via como um vilão, que chegou
para roubar seus amigos. A coisa piorou ao final da adolescência.
Eles tinham uma amiga em comum, que iniciou um namoro com o
Robert, contudo, mais uma vez o destino brincou com o ele. Como
todos faziam parte da mesma turma, muitas vezes reuniam-se para
estudar, e com o tempo ela foi se aproximando do Jimmy.
Apaixonaram-se, ela terminou o namoro com o Robert, que não
aceitou ser preterido mais uma vez, em prol da mesma pessoa. Um
dia, quando estavam saindo da escola, Robert avançou sobre o
James, o atingindo diversas vezes, e neste momento o Alexander foi
obrigado a escolher um lado. O Robert era seu amigo, mas o Jimmy
era...

— Seu irmão. — Elizabeth completou, assentindo.

— Devido a esse interlúdio, a amizade entre eles foi rompida de


vez, e após a formatura, seguiram rumos diferentes, Robert para o
MIT e Alex, James e a Abigail Carson, a namorada do Jimmy e pivô
de toda a briga, foram estudar em Havard. Não voltamos a ver o
Robert, até a tragédia que ocorreu há sete anos atrás, que foi o
início de uma série de infortúnios em nossas vidas. Pode me servir
outra dose? Ainda é difícil revisitar certas lembranças.

Elizabeth repôs nossas bebidas e voltou a se sentar.

— Na época, eu era muito nova, me chamavam de a “mascote”


da turma, mas isso não me impediu de presenciar todo o sofrimento
que esse incidente causou. Era época de férias da faculdade e
todos estavam aqui para rever suas famílias. Abigail tinha uma irmã
caçula, três anos mais nova que ela, em uma noite, a Abigail
recebeu uma ligação de uma amiga da Sarah, dizendo que ela tinha
bebido demais, que estava passando mal, que alguém a fosse
buscar. Naquela noite, estava chovendo muito, e a visibilidade nas
estradas era quase nula. Os pais dela receberam uma ligação no
dia seguinte. Segundo a polícia, Abigail perdeu o controle do carro,
derrapando e caindo em uma ribanceira, ela passou horas presa
nas ferragens e não resistiu. Quanto a Sarah, como a Abigail não
apareceu para buscá-la, no dia seguinte chegou em casa e sem
saber do ocorrido, queixou-se que a Abigail não foi buscá-la, o pai
dela deferiu-lhe um tapa no rosto, tendo que ser contido pelo Alex,
já que o Jimmy também não estava em condições de apaziguar a
dor de ninguém. Estávamos todos devastados. A Sarah... nunca
deixou de se culpar. Durante o velório, vimos o Robert ao longe, ele
não se aproximou, porém, seu semblante era de um homem
destruído. Alex tentou ir até ele, entretanto, ele se retirou em
silêncio. Alex nunca mais o viu, até aquela noite. Acredito que a ver
com o Robert desencadeou toda a dor escondida há muito tempo.

Neste momento, eu tinha toda sua atenção.

— Como falei antes, cada um de nós lidamos com as dores de


uma maneira. Para o James, o acidente com a Abigail acordou os
demônios que o fizeram recordar toda a dor da perda dos pais, com
isso, ele optou por se afastar, trancou a faculdade e foi viajar pelo
mundo, foi a forma que ele encontrou para tentar superar mais uma
perda. Eu, no alto dos meus quinze anos, mergulhei nos estudos, já
que a “turma” já não existia mais e o Alex passou a ser babá da
Sarah, visto que ela entrou em vários estágios depressivos pela
culpa da morte da irmã. Ele foi a ancora que ela precisava, e isso os
aproximou cada vez mais. Com o tempo, começaram um
relacionamento, que a meu ver não era saudável. O Alexander
girava em torno da Sarah, que se tornou altamente dependente
dele. Três anos depois, acreditando que ela havia superado,
resolveram se casar, o Jimmy deu uma desculpa esfarrapada para
não comparecer à cerimônia, disse que estava em Boston, resolveu
voltar à faculdade e recuperar o tempo perdido. Desejou felicidades
aos noivos, mas a verdade é que ele não queria lembrar-se daquilo
que lhe foi roubado. Entendemos. Alex o entendeu. Todavia, mais
uma vez o destino brincou com todos nós. No dia da cerimônia, a
noiva fugiu. Simplesmente, entrou em um taxi e partiu. Alex se
dedicou a procurá-la, contratou os melhores detetives, porém, não
obteve sucesso. A Sarah simplesmente desapareceu. Meu irmão
nunca mais foi o mesmo, ele se doou para uma pessoa por três
anos. Foi o mundo dela, fez tudo por ela, quando todos viraram as
costas, e ela o abandonou como um cachorro sarnento na porta da
igreja. Você imagina como ficou a cabeça dele? Aquilo destruiu com
o Alex. Ele se enfiou de cabeça nos negócios da família,
acompanhando nossos pais em cada processo. Até que um ano
depois...

— Seus pais faleceram. Nossa! — A essa altura, nós duas


estávamos emocionadas, lágrimas silenciosas escorriam pelo rosto
da Elizabeth, porém, me forcei a continuar.

— Sim. E o Alex se culpa por isso. Era para ele ir naquela


viagem. Estavam fechando um contrato importante para a Galthier
Corporation, contudo, naquela semana iria ter um workshop com um
chef renomado e o Alexander pediu para que nosso pai fosse nessa
viagem em seu lugar, para que ele pudesse usufruir do tão esperado
momento. O sonho do Alexander sempre foi abrir um restaurante, e
esse chef era um dos que ele mais admirava. Nossos pais sempre o
incentivaram, pois sabiam que o meu sonho era assumir o legado e
já estavam começando a me preparar para isso. O Alexander só
estaria na empresa até que eu estivesse pronta. Minha mãe se
prontificou a ir com ele, iriam de avião, todavia, por ser em uma
cidade próxima a nossa, ela achou divertido irem de carro e
relembrar as viagens que faziam no início de namoro, só para
estenderem o tempo juntos. Então, o acidente aconteceu. Um
motorista bêbado atravessou a estrada e chocou-se de frente com
eles. Morreram no local. Finalmente o James retornou, além de já
ter passado por essa dor, a perda de nossos pais também foi
traumática para ele. Desta vez era o Alexander que precisava ter
seu irmão por perto. Apoiaram-se um no outro, porém, mais uma
vez o Alex suprimiu sua dor, pois agora tinha um império para gerir,
o James assumiu seu lugar como diretor jurídico da empresa, e o
resto você já sabe. Dessa vez, quem precisou “fugir”, fui eu. Tudo na
mansão me lembrava deles, e conviver com a sombra do homem
que um dia o Alex foi, também não ajudava. Por isso inscrevi-me na
Columbia, onde estudo até hoje. Estou de passagem, retorno na
segunda-feira, mas não poderia ir, sem antes tentar falar com você.
Elizabeth, o que quero dizer com isso, é que EU estava sendo
preparada para assumir a empresa, muitos não sabem, mas a
grande mente que comandava a GC era a nossa mãe, nosso pai era
o braço direito dela e nunca a ofuscou, porém, oficialmente ele era o
CEO e ela sua VP, infelizmente muitos empresários não
concordavam com mulheres no poder, por isso aos olhos do mundo,
meu pai comandava a empresa.

— Sua mãe não se incomodava com isso?


— Alexandra Gauthier era a mulher mais forte e doce que já
conhecemos, meu pai a adorava e admirava. Ela costuma dizer que
o mundo ainda não estava preparado para mulheres como nós, mas
que estava construindo um império e que a sua princesinha, no caso
eu, seria a primeira mulher a governar a GC, e iria me fazer ser
respeitada por todos. Em nossa família nunca existiu preconceito,
muito menos misoginia. Alexander foi criado, respeitando e
admirando as mulheres. Nossos pais sempre respeitaram nossas
escolhas, se divertiam ao ver o Alex em meio às panelas, ele
deixava nossas cozinheiras malucas, e sempre me levavam com
eles para a empresa, quando eu pedia. Por isso, digo e repito,
Elizabeth, essa versão esdruxula que você conheceu não é o
Alexander. Não é o nosso Alex. Você mexeu com ele, e ele não está
sabendo lidar com esse turbilhão de sentimentos. Acredito que te
ver com o Robert desencadeou o medo de ser abandonado pela
segunda vez. Você abriu a caixa de pandora, agora só você pode
fechá-la. Dê uma chance para ele se desculpar, ouça-o, pelo menos.
Ou vai se enganar, dizendo que não sente nada por ele? Se não
sentisse, não estaria tão abalada. Bem, acho que terminei por aqui.
— Levantei-me em despedida. — Obrigada por me ouvir, Elizabeth.
Espero que ouça o seu coração. Só peço que não conte a ele o teor
da nossa conversa, no momento certo ele irá se abrir com você. E
antes que eu me esqueça, Alex estará no Wood’s amanhã à noite,
caso você queira aparecer — falei, enquanto me dirigia à saída.
— Eliza. — Escutei-a dizer. — Meus amigos me chamam de
Eliza. E talvez esteja com vontade de tomar um drink amanhã. —
Piscou para mim, fazendo com que meu sorriso se acendesse como
uma árvore de Natal. — Só mais uma coisa. Alexandra, Alexander,
Alexia? — Arqueou a sobrancelha, prendendo o riso.
— Ahhhh, cala a boca! — revirei os olhos, gargalhando,
enquanto saia da sala, encontrando Helena, que me aguardava
eufórica.
— Me diga que deu certo, porque já não aguento mais!

— Sim. Peça ao Jimmy para nos encontrar em meia hora no


Wood’s, temos trabalho a fazer — ordenei, enquanto ligava para o
Richard. — Rick? Você não vai acreditar de onde estou saindo
agora. Estou indo aí, irei precisar dos seus serviços de Yoda, mas
uma vez.

— É isso, galera. Já deixei a bola no gol, agora é só o Alex


chutar — expliquei, enquanto bebia meu drink.

— Não acredito que você conseguiu, baixinha. Ela não quis


ouvir nenhum de nós. — Richard coçou a nuca.
— Agradeçam a mamãe aqui, que aproveitei de um deslize
dela para tirar leite de pedra. Vocês me devem uma. — Helena
ressaltou sua participação no plano.

— Minha jaguatirica salvou o dia! — Jimmy todo derretido,


beijava o pescoço da “jaguatirica” dele. Um nojo.
— Epa! Alto lá. Se não fosse a lábia da deusa aqui, nada feito,
e oremos para que ela apareça, ou como diria meu irmãozinho, o
caldo vai entornar! — falei rindo. — A verdade é que foi e ainda é
um trabalho em equipe, porque ainda não acabou. Richard, chame o
Alexander para uma conversa amanhã e tente pôr um pouco de
juízo naquela cabecinha linda, porque ele só terá essa chance.
Helena, certifique-se de que ela virá e Jimmy... — Olhei para meu
“irmão” de cima a baixo —, você não precisa fazer nada. Se não
atrapalhar, já estamos no lucro — zombei, fazendo com que todos
na mesa rissem de um Jimmy indignado. — Levantem a taça. Um
brinde ao amor, pessoal. Amanhã, a essa hora, nosso casal já terá
feito as pazes, ou não me chamo Alexia Wade Galthier.
CAPÍTULO 21
A mansão parecia coisa de cinema, fiquei embasbacada com a
arquitetura e o jardim belíssimo que circundava a propriedade.
— Nossa, Alex, que lugar incrível, fico imaginando o custo de
manter uma propriedade desse nível. Por que você não mora aqui?
Com a Alexia fora, quem mora aqui, finalmente? — Perguntei, sem
consegui conter minha curiosidade. Olhava tudo ainda deslumbrada
com o que via, e ainda estávamos dentro do carro.
— As mulheres da minha vida cuidam da casa e quase todo
domingo almoço com elas. Não só eu, mas fazemos desse almoço o
encontro dos “desgarrados”, James, Willian e eventualmente o
Richard, quando a mulher dele é mantida em cativeiro — sorriu
sarcasticamente.
— Você nunca irá esquecer isso, não é?

— Não. Ainda mais quando fui o felizardo em acabar com seu


recorde de cinco meses sem sexo. Só não sei se terei a mesma
paciência que o Rick. Já teria inventado mil maneiras de invadir
aquele laboratório. Sem chance de ficar longe de você. — Soltou
seu cinto de segurança e inclinou-se sobre mim. — Sem seu cheiro.
— Deslizou o nariz por meu pescoço. — Sem essa boceta. — Subiu
a saia do meu vestido até vislumbrar minha calcinha. — Impossível,
ficar tanto tempo sem te sentir. Abre as pernas pra mim, Sunshine,
quero sentir essa boceta melada agora, vai, abre. — Abri as pernas,
enquanto ele soltava meu cinto de segurança e arrastava minha
calcinha para o lado. — Porra, gostosa demais — rosnou, enquanto
deslizava dois dedos em minha lubrificação. — Não me canso de
comer essa bocetinha e hoje eu vou te comer no meu antigo quarto,
mas agora, você vai gozar nos meus dedos. — Introduziu os dedos
em meu canal, enquanto massageava meu clitóris com o polegar,
em movimentos sincronizados que me levaram à loucura.
— Alex... — Segurei em sua mão que estava dentro da minha
calcinha, tentando prendê-la entre as pernas, porém, Alex inclinou o
banco para trás, abrindo mais ainda minhas pernas com o cotovelo,
enquanto continuava trabalhando com seus dedos ágeis, descendo
as alças do meu vestido com uma rapidez impressionante.

— Porra Liz, eu amo como você tem problemas com sutiãs,


adoro ver esses peitinhos balançando pra mim. Abocanhou meu
mamilo com fome, enquanto intensificava as estocadas, revirei os
olhos em um orgasmo de torcer os dedos dos pés. Nem bem
recuperei o fôlego, Alex me tomou em um beijo arrebatador. Quando
buscamos por ar, ele me fitou com intensidade. — Tá mais calma
agora? — Abri a boca em um “O” perfeito.

— Quem lhe disse que estava nervosa?

— Você, quando não parou a boca, fazendo uma enxurrada de


perguntas aleatórias. Não precisa ficar nervosa, somos todos família
e a maioria dos que estarão aqui hoje, você já conhece. Ajudei? —
Deu um sorrisinho cretino, meio de lado. Subi em seu colo,
mordendo sua orelha, fazendo-o sibilar. — Se continuar fazendo
isso, vou te comer aqui mesmo, e não sairemos desse carro. —
Apertou minha bunda, enquanto eu atacava seu pescoço.

— Não. Alguém me prometeu sexo quente em um quarto


adolescente, então vamos logo que estou louca para conhecer seus
aposentos, majestade. — Dei-lhe um beijinho de esquimó, enquanto
saía do seu colo, checando as roupas e cabelo, antes de sairmos do
carro.

— Agora, como irei aparecer na frente das mulheres da minha


vida, de pau duro, Liz? A culpa é toda sua. — Apontou para mim,
soando divertido.
— Sim. A culpa é toda minha por deixar meu homem de pau
duro. Adoro. — Abracei-o, mordiscando seu lábio inferior. — Agora
vamos entrar, como o casal educado que somos, para você me
apresentar as mulheres da sua vida. — Fiz sinal de aspas, rindo.
Alex entrelaçou nossas mãos, puxando-me pelas escadas do hall de
entrada, digitou a senha de acesso e me vi catapultada para um
outro mundo. A mansão parecia aquelas de filmes hollywoodianos,
com direito a uma linda escada próxima à entrada, que só de olhar
para ela, minhas panturrilhas tremeram.

— Vamos à cozinha, tenho certeza de que as encontraremos lá.


— Alex entrelaçou nossas mãos, me puxando com ele. — Como
estão as mulheres mais lindas de Dreamouth? — perguntou,
adentrando à cozinha.
— Ah! Não acredito! Susy, nosso menino está aqui! — Uma
senhora de cabelos grisalhos, magrinha e mais alta do que eu, aliás,
todo mundo é mais alto do que eu, com exceção da Alexia, é claro,
estava de frente para a bancada da cozinha cortando uns legumes,
mas virou-se de repente, surpresa com a visita do Alex. Soltou a
faca em cima da bancada, vindo ao nosso encontro. Alex soltou
minha mão e a puxou para um abraço repleto de sentimentos.
Quando a soltou, ambos estavam com olhos marejados, até que o
momento foi quebrado com a surra de pano de prato que o Alex
passou a levar. Estávamos tão entretidos com a troca de carinho,
que não vimos a outra senhora chegar, batendo nos braços do Alex
com um pano de prato, aquilo era uma arma!

— Você demorou muito dessa vez! Só apareceu por causa da


menina, Alexia! Seu ingrato! Depois venha meloso, pedindo para eu
fazer sua sobremesa preferida, nem pensar, viu, menino ingrato! —
bradou com as mãos nos quadris, aquela com certeza era a
brasileira. Fingi um engasgo, tentando disfarçar o riso, ao ver aquele
homem enorme levando uma surra de pano de prato, principalmente
quando o Alex me fuzilou com o olhar.

Eu hein?! Tenho medo da morte.

O problema é que o meu fingido engasgo me fez ser o centro


das atenções das duas, que me rodearam. Analisando-me dos pés
à cabeça.
— Ahhhhhh, viu, Annika, que menina mais linda essa? Não
acredito que o nosso menino tá namorando, pedi tanto a Deus por
isso! Mas me conte, minha filha, qual o seu nome? Você gosta de
torta de limão? Ô, que pergunta idiota, é claro que gosta, quem no
mundo não gosta de torta de limão? — Saiu me puxando pela mão
até me por sentada, com uma enorme fatia de torta à minha frente.
Foi tudo tão rápido que fiquei até tonta. Alex sentou-se ao meu lado,
prendendo o riso. A vingança é uma vadia.

— Susy, Annika, essa é a Elizabeth, e sim, é a minha


namorada. — Esbugalhei os olhos indignada, porque não
conversamos sobre isso e não me lembrava de nenhum pedido,
porém, não iria estragar a felicidade das senhorinhas, elas eram
muito fofas. Iria matar o Alex.

— Coma, minha filha, coma! Você é linda, mas tá muito


magrinha!

— Lá vem você com essa mania de engordar todo mundo,


deixa a menina Susy, ela é perfeita. Mas, é verdade, coma meu
amor, e não ligue para o que essa velha fala.

— Velha é você, eu sou experiente. — Fez uma postura


elegante, com cara de sabe tudo, nos fazendo rir. Susy era um
pouco mais alta que a Annika, com cabelos castanhos na altura do
ombro, rosto redondo, e um sorriso que não saía da face.

— Família, CHEGUEI! — Jimmy entrou na cozinha seguido de


um rapaz lindíssimo, um pouco mais jovem que eles.
Meu Deus, que terra para ter homem bonito, por que eu
demorei tanto para vir pra cá?

— Ah, prontoooo! Protejam a geladeira, que o menino James


chegou! — Susy jogou as mãos para cima, fazendo uma ação
dramática, o que nos trouxe mais risadas.

— Assim você me magoa, Susynha. — Jimmy choramingou


com a mão no peito.
— Dramáaaatico, nem vou falar que fiz sua sobremesa
preferida. — Piscou para Annika.

— Espero que tenham se lembrado de mim também —


queixou-se Alex, com direito a biquinho e tudo. Eu quase podia ver
os dois meninos “lindos”, ainda crianças, atazanando as duas
mulheres. O amor ali era palpável.

— Ah... pelo amor de Deus, os dois bebezões já começaram a


disputa das sobremesas, é? Não sei por que vocês discutem, se
sabem que a preferida sou EU. — Alexia irrompe na cozinha,
debochando dos dois marmanjos. — Bom dia, família. Ah, e você.
— Cumprimentou-nos, virando-se para o rapaz, que chegou com o
Jimmy, olhando-o como um inseto. Arqueei minha sobrancelha,
questionando ao Alex sobre o climão.

— Bom dia, princesa, dormiu bem? — O rapaz a


cumprimentou, desafiando-a com o olhar.

— Maravilhosamente, e meu dia estava magnifico, até agora. E


pare de me chamar de princesa — falou entredentes.

— Sério que vocês irão começar logo cedo? Já não basta na


empresa, ainda tenho que aguentar isso aqui também? — Alex
chamo-os a atenção.
— Meninos, sentem e comam a torta, o café está esfriando. —
Annika interrompeu a torta de climão, oferendo a torta de limão.
Sim. O trocadilho foi proposital.

Todos se sentaram ao redor da mesa, servindo-se de torta,


sucos e café, Annika e Susy surgiram com mais uma infinidade de
biscoitos e pãezinhos.

— Liz, lembra quando citei os desgarrados? Então, esse é o


Willian, ele, sempre que pode, se reúne com a gente aos domingos,
além de trabalhar com o Jimmy no jurídico da empresa.
— Sim, Willian é um dos melhores advogados que conheço,
tem uma carreira promissora pela frente, aprendeu tudo com o papai
aqui — gabou-se Jimmy, piscando o olho.

— Um tremendo cuzão, isso sim. — Alexia resmungou


baixinho, para que só eu ouvisse, me fazendo engasgar com a torta.
A ordinária deu um risinho cínico, com a cara mais deslavada e
inocente possível.

— Prazer em conhecê-lo, Willian e as senhoras também —


falei, virando-me para as senhoras, antes que eu batesse na Alexia
com o guardanapo. É, minha gente, a Susy já tem uma fã. O Willian
não me respondeu, estava com os olhos vidrados na Alexia, parece
que o comentário dela não foi tão discreto assim. É, pelo visto vai
dar match. Adoro.

Ficamos mais um tempo na cozinha, onde enfrentei uma


bateria de perguntas sobre minha vida, até que o abençoado Jimmy
me salvou. Essas senhoras são perigosas.
Demos uma volta pela propriedade, onde Alex me apresentou a
academia, área da piscina, biblioteca, jardim, um pequeno bosque
ao fundo, e o meu mais novo lugar preferido do mundo. A adega,
onde tive a missão de escolher o vinho para acompanhar nosso
almoço. O tempo começou a fechar, anunciando a tempestade que
estava por vir. Almoçamos em clima descontraído, com as piadas
infames do Jimmy e histórias engraçadas contadas pelas senhoras,
sobre a infância deles.

As sobremesas deram um show, Anikka e Susy fizeram a


vontade das “crianças” e prepararam doces da cozinha
internacional. Tivemos Panna Cotta e Gâteau Opéra pedidos pela
Alexia, segundo ela, eram doces da Itália e França; Baklava um
doce árabe, pedido pelo Jimmy e um Ptichye Moloko, um suflê de
leite coberto com chocolate, segundo o Alex, eu já havia conhecido
alguns pratos brasileiros, então resolveu me apresentar a
sobremesa russa. Após o almoço, Anikka e Susy se despediram,
segundo elas, precisavam tirar o “sono da tarde”. Nós nos reunimos
na sala, apreciando o vinho, quando Willian trocou um olhar de
entendimento com Alex, então, nos avisou que precisava ir, pois
tinha um compromisso inadiável.

— Se tinha um compromisso inadiável, nem deveria ter vindo.


— Alexia alfinetou.
— Alexia, chega. O Willian é nosso convidado, sempre vem
aqui aos domingos, não é a primeira vez e nem será a última. Você
não sabe, porque não está aqui, mas não vou permitir que o
destrate em nossa casa, seja o que for que esteja acontecendo
entre vocês, resolvam.

— Não há nada acontecendo entre nós, mas você tem razão,


Alex. Desculpe-me William, fui rude com você, para onde você vai e
com quem irá se encontrar, definitivamente não me interessa —
respondeu polidamente, o encarando com um olhar desafiador.
— Ahhhhhh por favor, procurem um quarto e resolvam seus
problemas, isso aí é tensão sexual pura! Falo por experiência
própria, em um dia, queria arrancar a cabeça do Alex, e no outro,
ele estava com a cabeça entre as minh...
— Eliza! — Alex gritou, assustando-me.
— Ué? Só falo verdades — justifiquei, sacudindo os ombros.

Enquanto Alexia e Willian estavam vermelhos, o Jimmy soltou


uma gargalhada estrondosa.
— Ahhh, cunhadinha, você é demais! Alex, a Eliza é perfeita,
cara! — falou, ainda se desmanchando de tanto rir, enquanto o
“casal” ainda se entreolhava soltando faíscas.

— Me digam, vocês estão mesmo namorando? É oficial?


— Sim!

— Não! — Alex e eu respondemos juntos. Obviamente que a


negativa foi minha.
— Como não, Liz, estamos juntos desde sexta-feira!
— Você disse tudo, meu querido, estamos juntos desde sexta-
feira nos “curtindo”, mas não me lembro de nenhum pedido de
namoro, tá pensando que é assim, é? Comigo tem que ser tudo
certinho, meu bem, sou moça pra casar. — Pisquei para ele
brincando, porém, a reação do Alex não foi a que eu esperava. Seu
semblante ficou pálido, de repente. Parecia petrificado na cadeira.
— Está vendo, Jimmy? É por isso que não estamos juntos. O seu
“irmão” tem alergia a compromisso. Acho que a resposta já está
bem evidente. Bom, foi uma delícia estar com vocês hoje, Alexia,
por favor, agradeça a Susy e a Anikka por mim, o almoço estava
divino. Will, você pode me dar uma carona? Estou sem carro e
lembrei que também tenho um compromisso inadiável... com a
minha vergonha na cara. Vamos?

Levantei-me e passei à frente do Willian, não ficaria mais nem


um minuto nesta casa, brincando de casal feliz com um cara que
não consegue se abrir a um novo relacionamento. Minha sanidade
agradece. Atravessei o roll de entrada, em direção ao
estacionamento, um daqueles carros deveria ser o do Willian, e
confirmei quando o vi destravando o alarme. Caminhei ainda mais
rápido, visto que os primeiros pingos de chuva começaram a cair.
Quando estava me aproximando do carro, o ouvi.
— Elizabeth!
CAPÍTULO 22
— Vai ficar parado aí, idiota?! — Saí do transe com o Jimmy me
sacodindo aos brados. — Faça alguma coisa, ou você vai perder
aquela mulher! — Apontou para a porta e depois passou as mãos
pelos cabelos, como se fosse arrancá-los. — Você precisa se abrir
com ela Alex, pelo amor de Deus!

Pisco algumas vezes, até me dar conta de que Elizabeth está


mesmo indo embora. Olhei ao redor e vi Alexia com os olhos
arregalados. Em um rompante, ela levantou e fez sinais com as
mãos para que eu fosse.
— Vai logo, Alex, antes que ela caia na lábia do advogadozinho
de meia tigela!

Antes de sair em busca da Elizabeth, apontei com o dedo em


sinal de repreensão, sinalizando que ainda iríamos conversar sobre
sua implicância com o Willian.
Corri em direção ao estacionamento, a ponto de ver o Willian
destravar o carro e Elizabeth caminhar até ele com a fúria de mil
cavalos.

— Elizabeth! — Chamei, porém, Liz continuou andando, me


ignorando totalmente. — Willian, trave este carro! — ordenei e fui
atendido prontamente.

— Willian, por favor abra o carro, você não estava com pressa
para o seu compromisso? Então vamos! — A nervosinha parou ao
lado do veículo, com as mãos na cintura, batendo os pés, e eu só
conseguia olhar para aquelas pernas maravilhosas. Foco Alexander.

Sinalizei com o indicador para o Willian, com o recado claro, de


que se ele tivesse amor a vida, não abrisse o carro. Alcancei a
Elizabeth, a puxando pelo braço ao meu encontro. Essa foi a deixa
perfeita para que o Willian destravasse o carro e entrasse
rapidamente, travando as portas em seguida.

— Desculpe, Elizabeth, você até que é legal, mas ele é meu


chefe! — dito isso, Willian arrancou com o carro, deixando a Liz de
boca aberta, olhando para a saída da propriedade.

— Filho da puta! — Começou a caminhar em direção à saída,


praguejando, e amaldiçoando até a quinta geração do Willian. —
Não tem problema, deve ter um ponto de taxi, ou um carro de
aplicativo que me busque neste inferno de lugar remoto. Tinha que
ter uma mansão nos confins da terra, infeliz?! — Olhou para trás,
me dirigindo um olhar afiado, e continuou andando, com seus saltos
enormes.

— Liz são três quilômetros até o portão de entrada, o máximo


que você irá conseguir, tentando andar até lá com esses saltos, é
torcer o tornozelo, ou na pior das hipóteses, quebrá-lo, ainda por
cima, está começando a chover, deixe de ser teimosa mulher! —
gritei para que me ouvisse, pois já tinha ganhado uma certa
distância com seus passinhos curtos, porém rápidos. A chuva
começou a intensificar, anunciando a tempestade.

— Que seja, só não irei ficar aqui nem mais um minuto. —


Parou de repente, tirou os saltos, e olhou para mim, me desafiando
a impedi-la. E começou a correr. A maluca. Começou. A. Correr.

Ah, não.
Corri em sua direção, alcançando-a rapidamente. Puxei-a pelo
braço, fazendo com que se chocasse com meu peito.

— Se acalma, tá bem? Desculpe, pela atitude lá dentro, mas é


que alguns assuntos me deixam desconfortáveis, não foi pessoal,
ok?

— Alex, para que você me trouxe aqui, realmente? Para essa


palhaçada de domingo em família, conhecer as “mulheres da sua
vida”, adoráveis por sinal, se claramente você corre de compromisso
como o diabo foge da cruz? Se iríamos ser apenas uma foda de fim
de semana, me poupasse desse constrangimento. Faz um favor
para nós dois, vamos parar por aqui, não vamos dar corda a um
envolvimento, que claramente não tem futuro, obrigada pelo final de
semana delicioso. Mas agora eu te liberto para a sua vida
“descompromissada”. — Faz um sinal de aspas, salientando a
palavra descompromissada, e depois abre os braços teatralmente,
em sinal de deboche. A chuva começa a cair com força, nos
encharcando.

— Para com isso, não é nada disso. Você não entende, nunca
entenderia, por que não sabe de nada do que passei! — Aproximei-
me, falando asperamente com nossos rostos quase colados.

— Porque você não me conta! Não confia em mim, Alex? Eu


confiei em você! — bateu em meu peito, empurrando-me. — Me abri
pra você, contei tudo o que passei, meus medos, minhas
inseguranças, mas a recíproca não é verdadeira, não é, Mister
Gauthier? Você não consegue, não é verdade? Pensei que... —
treme em um soluço engasgado. — Pensei que estávamos
construindo algo, começando algo, mas me enganei, burra! — Bateu
com a mão na testa. — Segunda chance, segunda chance é o
cacete, eu vou embora e quero ver alguém me impedir! — grita
esmurrando meu peito.
A essa altura, nós dois estávamos encharcados pela chuva
torrencial. Não aguentei vê-la chorando. A puxei para meus braços,
batendo meus lábios nos seus com a mesma ferocidade em que
minhas emoções brigavam dentro de mim. Não foi um beijo suave,
Liz tentou se debater, até se render, abrindo a boca, dando
passagem para a minha língua. Enlaçou o meu pescoço,
arranhando-me com suas unhas compridas, enquanto eu segurava
em sua nuca, comandando o beijo. As coisas escalonaram muito
rápido. Em um minuto estávamos nos beijando, e no outro, a
impulsionei para que abraçasse minha cintura com as pernas.
Caminhei rapidamente com ela para a lateral do estacionamento,
sentando-a sob o capô de um dos carros. Abri o cinto rapidamente,
levantando seu vestido, rasgando sua calcinha, e em segundos,
estava enterrado nela, em um vai e vem frenético, uma confusão de
gemidos, nossos corpos se chocando, Liz agarrada a mim, as
pernas apertando-me em busca do seu próprio prazer. Cru. Intenso.
Abissal.

Gozamos juntos, e nos mantivemos abraçados, com as


respirações descompassadas, não queria soltá-la. Saí de dentro
dela, vestindo a calça rapidamente, ao dar-me conta que estávamos
totalmente encharcados, e que qualquer um poderia ter nos visto,
tendo em vista as câmeras e os seguranças espalhados pela
propriedade. Em silêncio, a ajudei a descer do carro, arrumando seu
vestido. Mas minha paciência se esgotou, quando a ouvi dizendo
que iria embora.

Porra nenhuma. Nem fodendo.

Joguei-a sobre o ombro e caminhei até a entrada da mansão,


ouvindo seus resmungos ao bater nas minhas costas.

— O que pensa que está fazendo, Alex, qual o seu problema?


Fetiche em ser o homem das cavernas? Me põe no chão agora!

— Calma, minha bravinha, você está ensopada, não vai querer


pegar uma pneumonia, não é? Ainda mais, que não tem nada
embaixo do vestido, vai ficar resfriada rapidinho — gargalhei, dando-
lhe um tapa na bunda.
— Meu Deus, minha calcinha Alex, volte lá para pegar, já
pensou se alguém acha? Ai, que vergonha, temos que voltar! —
desesperou-se, esquecendo-se até que estava brigando comigo, me
fazendo sorrir.

— Sossega, Sunshine, está no meu bolso — falei, abrindo a


porta, e quase derrubo a Liz, ao ver Annika e Susy com duas
toalhas enormes nos esperando. Será que elas viram o que fizemos
lá fora? Agora quem ficou com vergonha fui eu. Estaquei na
entrada, colocando a Liz no chão.
— Até que enfim me colocou no chão, que mania de me jogar
sobre os ombros, criatura! — Seguiu reclamando comigo, enquanto
ajeitava o vestido, porém, ao sentir meu silêncio, levantou a cabeça,
percebendo que algo estava errado, virando-se rapidamente de
costas pra mim, para ver o que tanto me deixou sem palavras.

— Ahhhhhhhhhhhhhhh! — Gritou tão alto, chocando-se com as


minhas costas e pondo as mãos no peito, que acabou assustando
minhas “meninas”.

— Meu Deus, Anikka, será que a menina tá passando mal?


Jesus, Maria e José, alguém acuda a menina, faça alguma coisa
menino, vai ficar aí parado com a cara de tacho? — Abri o maior
sorriso, Susy quando ficava nervosa, nem percebia que desandava
a falar em português, com expressões típicas do nordeste do Brasil,
sua terra natal. Sempre me divertia, ao me explicar o significado de
cada uma. Essa mesmo, era igual me dizer: “Vai ficar aí parado,
sem fazer nada?”, fora a mania de chamar todo mundo de “menino”
e “menina”. Para ela, éramos todos crianças.

— Não foi nada, Susy, ela só se assustou com a sua cara feia
— alfinetou Anikka.

— Parem, vocês duas. A Liz só se assustou, não


imaginávamos encontrá-las aqui na entrada nos esperando com
toalhas — expliquei, enquanto pegava uma das toalhas e começava
a secar os cabelos da Liz, que continuava muda.

— Ahhhhh, mas estávamos todos aqui, e que show vocês


deram, hein? — Jimmy surgiu, balançando as sobrancelhas.
Liz virou-se, enterrando o rosto em meu peito, isso, por falta de
um buraco para se enterrar. Sei disso porque senti o mesmo.

— Hum. Vocês viram tudo? — Engoli em seco, com medo da


resposta.

— Tuuuudo, tudo, não. Depois que vocês protagonizaram um


beijo desentupidor de pia, e a carregou para a lateral do
estacionamento, achei melhor levar as “menores de idade” para
providenciar toalhas para vocês. Elas já tiveram emoções demais
por hoje. — Jimmy debochou, prendendo o riso.

— Mas foi beijo de novela! Coisa mais linda! — Susy piscou os


olhinhos lacrimejantes.

— Ah, não, não me venha chorar agora, já não basta aguentar


seus choros com as novelas turcas, pelo amor de Deus Susy! —
Jimmy reclamou indignado.

— Elas ainda te forçam a assistir com elas? — perguntei ao


Jimmy, segurando o riso.

— Uma vez na semana, ou me jogam tantas pragas que é


capaz do meu pau nem subir. — Revirou os olhos, jogando as mãos
para cima.

— Menino! — ralharam com ele. — Ele reclama, mas adora


assistir com a gente, ainda mais que fazemos todas as guloseimas
que gosta. — Anikka resmunga.
Senti Liz tremer em meus braços, então vi que era hora de
encerrarmos a conversa e subirmos.
— Mulheres da minha vida, agradeço, mas irei subir agora com
a Liz, antes que ela sofra de hipotermia. — Pisquei para elas,
pegando a Liz no colo, que se agarrou em mim, fingindo-se de
morta. — E Jimmy... obrigado, irmão. — Ele assentiu, nos dando
boa noite.

— Isso, suba com ela e prepare um banho bem quentinho de


banheira. Daqui a pouco levamos um chá para aquecê-los. — Virei-
me para dizer que não precisava, mas a felicidade que vi estampada
nos rostos delas me desarmou. Só assenti com a cabeça, e subi
para o quarto.

Entrei em meu antigo quarto, sentindo-me estranho. Há anos


não entrava ali. Liz levantou a cabeça e começou a olhar em volta,
como estávamos molhados, optei por seguir direto para o banheiro.
Coloquei-a sentada na bancada.

— Hey, você está bem? — Acariciei seus cabelos molhados, os


levando para trás das orelhas. Levantei seu queixo para analisar
seu rosto, em busca de respostas, esse silêncio já estava me
incomodando. Ela balançou a cabeça em confirmação, porém, seus
olhos me diziam outra coisa. — Vou preparar a banheira, e te deixar
à vontade, ok? Irei tomar meu banho no banheiro de hospedes,
depois conversamos. — Falei, beijando-lhe a testa.
Após preparar a banheira, a deixei no banheiro e fui ao closet
buscar roupas secas para nós. Cada canto daquele quarto me trazia
lembranças que eu queria esquecer. Peguei o que precisava,
rapidamente, e deixei em cima da cama uma cueca boxer e um dos
meus moletons, para mantê-la aquecida. Quando me dirigi até a
porta do banheiro, para avisá-la onde havia deixado as roupas, parei
ao ouvir seus resmungos lá dentro.
— Droga, droga, droga. Estou toda suja, melecada, uma
bagunça, Alex me pag... — Silêncio. De repente, fez-se o mais
absoluto silêncio.

— Liz, está tudo bem? — resolvi perguntar, e recebi como


resposta a porta sendo escancarada violentamente e uma Liz com
olhar assassino vindo pra cima de mim.
— Seu desgraçado, você não usou camisinha! No que estava
pensando?! Ahhh claro, você não estava pensando, obviamente.
Agora me colocou em risco, porque eu não sei onde você andou
enfiando esse pau. Sabe quantas vezes eu já transei sem camisinha
na minha vida, Alex? Nenhuma! E então, vem você com esse pau
gostoso, essa pegada, esse... — Começou a andar pelo quarto,
esbravejando e gesticulando nervosamente. Fui até ela, e a abracei
apertado.
— Shiiiii, se acalma, está bem? Desculpe, Liz, realmente na
hora não pensei em nada, só em nós, em você insistindo em ir
embora, perdi a cabeça, me perdoe, isso não poderia acontecer.
Mas se te conforta, estou limpo, ok? Faço exames de seis em seis
meses e o mais recente foi há menos de um mês. E você, se
protege? Usa pílula ou algo do tipo? Se você quiser, podemos
comprar a pílula do dia seguinte... só... se acalme. Seja o que você
quiser fazer, estou aqui com você.
— Idiota — resmungou. — Por que você tem que ser tão fofo?
Nem raiva consigo ter de você. Droga — reclamou entre meus
braços, a afastei, olhando em seus olhos, aguardando a resposta,
sobre a pílula. — Eu uso implante contraceptivo, Alex, pílula nunca
funcionaria comigo, esqueço até de comer, que dirá tomar pílula.
Sou uma mulher prática, você sabe. — Minha cara de alívio deve ter
sido impagável, já que ela começou a rir.

— Bom, já que tudo foi esclarecido, irei deixá-la à vontade


agora. — Soltei-a e me virei para sair do quarto.
— Alex, fica. Toma banho comigo, pelo que observei, aquela
banheira cabe um time de futebol inteiro. — Revirou os olhos por
causa do exagero. — Vem. — Estendeu a mão, que prontamente
peguei, a puxando para o banheiro.

Tomamos banho com calma, apreciando o silêncio e trocando


carinhos, não houve sexo. Estávamos compartilhando algo maior,
cumplicidade. Depois de finalizarmos o banho, nos deitamos na
cama ainda em silêncio.
— Esse quarto me traz muitas lembranças de um tempo em
que fui feliz — comecei. — Os melhores anos da minha vida, vivi
aqui. Depois que... Depois que eles se foram, não consegui viver
aqui, essa mansão enorme ficou claustrofóbica para mim, então
comprei a cobertura, Alexia decorou e foi morar comigo. Passei
meses sem vir aqui. Susy e Anikka mantiveram a tradição dos
nossos almoços internacionais e todo domingo iam à cobertura, já
que me recusava a vir aqui. Até que em um domingo, não
apareceram. Anikka estava muito resfriada e se debilitou
rapidamente. Pedi ao médico da família que a tratasse, não foi
preciso ir ao hospital, só alguns cuidados e bastante repouso. Mas,
nem assim consegui vir, até que uma pessoa muito sábia me fez
enxergar o quanto estava sendo egoísta em fazer com que duas
senhoras de idade se deslocassem toda semana até a cobertura,
porque um marmanjo como eu não conseguia superar minhas
perdas. No mesmo dia vim visitá-las. Foi difícil, dei meia volta duas
vezes, na terceira, Susy me viu pela janela, obrigando-me a entrar e
enfrentar meus demônios. Foi uma tarde nostálgica, regada a
muitas lembranças, histórias e lágrimas, mas enfim estava pronto
para voltar a frequentar a casa. Optei por não morar aqui, visto que
a localização da cobertura é muito mais acessível à empresa,
porém, sempre que posso nos reunimos aqui. Você me perguntou
por que ainda mantemos a mansão, a verdade, é que ela faz parte
de nós, é como se nossos pais ainda estivessem com a gente.
Essas paredes são repletas de lembranças, guardam toda a nossa
história. — Alisei seus cabelos, enquanto repousava sua cabeça em
meu peito.

— Essa pessoa sábia, por um acaso foi o Rick? — perguntou,


fazendo movimentos circulares em meu peito.
— Sim. Richard sempre me mostra o caminho, quando ameaço
sair dos trilhos — solto um riso engasgado.

— Sei bem como é. Falando nisso, preciso pedir desculpas a


Helena. Nesta confusão toda, ela me disse coisas que eu precisava
ouvir, porém não queria admitir, e acabei por destratá-la. Sabe, a
Helena é minha consciência. O Bob é o meu irmão, mas a Helena
é...
— Sua pessoa — completei seu pensamento, fazendo com que
desse um pulo na cama, me olhando como se fosse um alienígena.

— Não acredito que você acabou de citar G.A pra mim! Como
assim, gente?
— O que posso fazer? Tinha uma queda pela Yang. — Levantei
os ombros em desdém. — Mas a verdade, é que quando você mora
sozinho e possui uma vida noturna inexistente, filmes e séries são
ótimas companhias. E sim. A Meredith que me perdoe, mais a
Cristina era foda. — Dei uma piscadinha para ela, trazendo-a de
volta aos meus braços.

— Tenho que concordar, a Yang era fodástica — falou entre


risos.
— Liz... — volto a falar sério. — Só quero que saiba, que caso
você não estivesse se precavendo e corrêssemos o risco de uma
possível gravidez... você não estaria sozinha, ok? E qual fosse a
sua decisão, eu a respeitaria, me perdoe, esse deslize não voltará a
acontecer. Prometo.

— Relaxe, Alex, você não errou sozinho. Eu também poderia


ter me lembrado. Nós dois erramos, e o importante é que estamos
aqui, juntos. — Levantou-se me dando um selinho, voltando a se
aconchegar a mim.
— Liz?

— Hum?
— Sobre aquele outro assunto... — Ela pôs o dedo indicador
em meus lábios, e sentou-se na cama.
— Alex, não precisa, sei que é difícil para você, então um
passo de cada vez, ok? Foram muitas emoções para um só dia.
Você sabe que se tá na internet, eu descubro, não sabe? Mas quero
ouvir a sua história, Alex, isso, quando você estiver pronto para
compartilhá-la comigo. — Colocou a mão em meu peito, na altura do
coração. — Só me deixe entrar Alex. — Inclinou-se para beijar-me.
— Só me deixe entrar.
CAPÍTULO 23

Acordei enroscada no Alex, ainda não me acostumei, como um


ser pode ser tão lindo, até com a cara amassada. Observei-o
atentamente. Meu loiro é um belo espécime. Cabelos loiro-escuro,
queixo quadrado, barba por fazer, peitoral definido e lisinho, um
espetáculo. Meu playground particular. Desci os olhos para a
penugem que levava ao caminho da perdição e misericórdia, o
Júnior já estava pronto para batalha.

Bendita seja a ereção matinal.

Tive uma ideia, amarrei os cabelos em um coque e me preparei


para o trabalho. Abaixei a boxer bem devagar para não o acordar,
libertando aquela obra de arte deliciosa. Que. Pau. Bonito. O bicho
saltou lindo na minha frente, com a cabeça rosada, babando... do
jeito que a diaba gosta, segurei levemente a base inchada, e a lambi
até chegar na cabeça, abocanhando-a, chupando-a bem devagar,
contornando a língua, sugando-a em pequenas sucções. Senti-o
inchar em minha mão e antes de abocanhá-lo por completo, ouvi um
gemido. Levantei o olhar, deparando-me com duas esferas azuis,
quase negras, neste momento. Voltei a tomá-lo todo em minha
boca, fazendo movimento de vai e vem em sincronia com a minha
língua. Alex pôs a mão em meu coque, forçando-me a recebê-lo
mais profundamente. Os movimentos tornaram-se intensos. Agarrei
em suas coxas, o tomando mais fundo, enquanto ele erguia os
quadris de encontro à minha boca.

— Liz, você precisa parar, você precisa parar agora, ou vou...


— Olhei, desafiando-o a parar, enquanto sugava só a cabeça bem
de leve, passando a língua, lambendo todo pré-gozo, antes de
abocanhá-lo mais uma vez. — Porra! Sua diaba... caralho! — Alex
gozou forte em minha boca, senti os jatos quentes em minha
garganta e continuei sugando-o até que parasse de tremer, e porra,
ver a cara do Alex em êxtase e saber que fui eu a deixá-lo neste
estado, não tem preço. Após lambê-lo até a última gota, Alex me
puxou para um beijo lânguido, que terminou com um repuxar em
meu lábio inferior. — Me acorde assim todos os dias, não irei
reclamar. — Abriu o sorriso de menino que tanto amo. Já falei que
ele tem covinhas? Pois É. Ele. Tem. Covinhas.

— Te falei que estava te devendo um boquete, na última vez te


deixei na mão. Literalmente — ri da careta que ele fez. — E você
ainda me deve um sexo quente no seu quarto de adolescente, mas
agora temos que ir, pois eu ainda preciso passar no loft, antes de ir
trabalhar. E você também, Alex, anda, a moleza acabou, vamos
para o banho. — Puxou-me em um rompante, me fazendo rolar por
cima dele. É sério, Alex, não temos tempo, mas você pode me
compensar à noite, ok? — Levantou-se reclamando, nos arrumamos
rapidamente, e quando já estávamos de saída, observei alguns
porta-retratos em uma estante de livros ao canto. Dirigi-me até lá,
um em especial me chamou atenção. Nele, vi Alex e Jimmy
adolescentes, ao lado de duas adolescentes, uma parecia ter a
mesma idade deles, a outra, um pouco mais nova, e uma Alexia fofa
na versão criança. — Quem são? — Alex olha para a foto
rapidamente, abaixando o olhar.

— Ninguém importante, vamos? — desconversou, estendendo


a mão para que o acompanhasse. Coloquei o porta-retratos no
lugar, fazendo uma anotação mental para voltar a esse assunto em
outro momento. Sabia quem eram, entretanto, queria que ele se
abrisse comigo. Só precisava descobrir como.

Paciência, Eliza. Paciência é uma virtude. Que infelizmente eu


não tenho.

Descemos para o café, encontrando um Jimmy carrancudo à


mesa. Isso é novidade.

— Pelo visto os pombinhos fizeram as pazes. Que bom que


alguém está feliz nesta casa. — Fez uma careta engraçada.
— Ainda não conseguiu falar com ela? E onde estão Susy e
Anikka? — Alex perguntou, enquanto nos sentávamos à mesa
repleta com o café da manhã.

— Estão no jardim. Deixaram a mesa pronta e foram cuidar das


plantas, você conhece o ritual daquelas duas, e sobre a Helena...
nada. E o pior é que não sei o que fiz de errado. Estava elogiando
ela, depois de uma foda daquelas e de repente, minha jaguatirica
começou a me bater, arranhar, e veja bem, não estou reclamando,
até que gosto de um sexo hardcore de vez em quando, mas não foi
esse o caso, Helena simplesmente enlouqueceu, começou a me
xingar, me pôs para fora do apartamento, quase pelado e jogou
minhas roupas pela janela. Eu não fiz nada, juro!

— Espera, me conta essa história direito, o que aconteceu


antes dela enlouquecer, como você disse? — perguntei, tentando
entender que merda ele tinha feito para deixar minha amiga furiosa.

— Já falei, estávamos fodendo e do nada, a louca começou a


me agredir!

— James, pelo amor de Deus! O que a Liz está querendo saber


é o que você falou pra Helena, antes dela agir assim. Tente lembrar,
porque alguma coisa você fez.

— Nada, juro! Eu até a elogiei, disse que foi o melhor sexo da


minha vida e agora eu teria que transar com umas cem mulheres,
até conseguir tirá-la do meu sistema, porque aquela mulher sabe me
enlouquecer — falou com olhar sonhador.
— VOCÊ O QUÊ?! — Eu e Alex perguntamos juntos. — Seu
idiota, como você foi capaz de falar uma idiotice dessas para ela,
Jimmy? — Cadê o pano de prato da Susy, quando a gente precisa
dele?

— Cara, sinceramente, se eu fosse ela, não olharia mais na


sua cara. — Alex apontou o dedo para ele.

— Me responde uma coisa, Jimmy, como você conquistou


tantas mulheres, porque como é que você fala para mulher, que está
na SUA cama, onde acabaram de transar, que irá pegar mais cem
mulheres? E pior, em que mundo você achou que ISSO seria um
elogio? Me explica, porque tá difícil acompanhar!

— Ai, Lizy, assim você me magoa. — Fez carinha de


cachorrinho para mim. — Primeiro, que nunca precisei conquistar
ninguém, elas é que sempre tentaram me conquistar, segundo, só
quis dizer que ela era deliciosa, fodia bem, e iria demorar muito para
esquecê-la.

— DEUS! — Alex esfregou as mãos no rosto e abaixou a


cabeça sobre a mesa.

— Bom, agora a merda já está feita. Se você queria mesmo


esquecê-la, não ligue mais. Se bem conheço a Helena, a essa altura
ela até já bloqueou seu número. Vida que segue, você supera. —
Dei uma tapinha de condolências em seu ombro.
— Mas aí é que tá, eu não quero esquecê-la. Foi no
automático, não pensei na hora, que a estava ofendendo, e desde a
hora que ela me pôs para fora, que não paro de pensar na minha
ferinha, me ajuda, Lizynha. — Juntou as mãos em concha, na frente
do rosto, implorando por ajuda.

Respirei fundo. O pior, é que pela reação da minha amiga, ela


está muito magoada, e isso quer dizer, que ela está envolvida.
Droga.
— Jimmy, sabe aquele manual de cantadas baratas que você
nunca precisou usar, e nas poucas vezes que tentou, foi um
desastre? Jogue fora. — Bati nas costas dele. — É a Helena,
Jimmy. Nada que você já imaginou falar ou fazer, irá funcionar com
ela. — Levantei-me, terminando o café. Alex também se levantou, já
estávamos atrasados. Seguimos para fora da cozinha, mas antes,
virei-me para o Jimmy. — Meu conselho para você: Tente, invente...
seja um Jimmy diferente.
CAPÍTULO 24
Fomos ao jardim e nos despedimos rapidamente das mulheres
da minha vida, com a promessa de voltarmos em breve, pois, pelo
visto, Liz conquistou duas fãs. A deixei em seu apartamento e fui
direto para a empresa. Assim que cheguei em minha sala, recebi
uma notificação no grupo dos caras:

Jimmy (meu karma🙄)


Bom dia, seus putos!
É sério que ninguém vai comentar sobre o fim de semana do
Alex? Nosso menino tirou o atrasoooo

Rick, se você tivesse visto o que eu vi...😏


Não se atreva, Jimmy!

Jimmy (meu karma🙄)

Oucht, só falando...e seu humor tá muito azedo pra quem tirou


a barriga da miséria no finds🤭🤣🤣

Rick

Eu vou querer saber? Melhor não. Aliás, precisei mandar


desinfetar meu escritório, depois envio a conta, Alex 😏

Até você, Rick?

Quantos anos vocês têm?!🤨

Jimmy (meu karma🙄)


Somos homens, jamais sairemos da quinta série, conforme-se,
Alex... isso me faz lembrar que minha loira preferida deixou você na
mão... literalmente. Quer uma 👋 Alex?
🤣🤣🤣🤣🤣🤣🤣

Porra Jimmy, nem me lembre,


mas aquela diaba me pagou com juros, hehe

Rick

Agora, quem tá na quinta série mesmo? 😏

Mas brincadeiras à parte, estou muito feliz por você, cara, já


passou da hora de você ser feliz, agora só falta o Jimmy😈
Jimmy (meu karma🙄)

Estou muito feliz com a minha jaguatirica, Alex, fala pra ele
como cheguei no escritório, mas antes, tenho um anúncio a fazer...

Rick

Lá vem...

Jimmy (meu karma🙄)

ATENÇÃO...

Alex fodeu! Alexander F.O.D.E.U!

Acho até que irei encomendar fogos pra soltar lá na cobertura...


Rick

TCHAU, JAMES

Eu mereço isso logo pela manhã.🙄


Vou trabalhar que ganho mais.

Valeu Rick e Jimmy... vê se morre e me esquece🤨

Jimmy (meu karma🙄)


Jamais, Alexzinho... daqui a pouco estarei aí em sua sala, pra
você não sofrer de saudades 😘

IDIOTA 🙄

A semana passou rapidamente, dormimos juntos em seu


apartamento na segunda-feira, porém, precisei viajar por quatro dias
a trabalho, só retornando ontem à noite, morrendo de saudade,
contudo, não conseguimos nos ver ontem, e hoje, sábado, estou às
voltas com as compras para o preparo da minha Paella, um prato
originário da Espanha, que leva arroz, frutos do mar e algumas
iguarias. Amanhã farei um almoço na cobertura para receber alguns
convidados e isso me deixa nervoso, porque será a primeira vez que
abro a minha casa para estranhos, e um desses convidados é a
mãe da Liz. Engulo em seco só de imaginar.

Meu celular vibrou no bolso da calça e o peguei sorrindo, só em


ver quem estava ligando.

— Como vai o dia de beleza? — atendi perguntando, pois sabia


que ela, Alexia e Helena iriam passar o dia em um Spa, segundo
ela, precisavam estar lindas para a minha primeira “social” na
cobertura. Balancei a cabeça em negação. Mulheres. Sempre
haverá uma desculpa para se embelezarem, e nós homens
adoramos vê-las felizes, fato.

— Uma delícia, Alex! Não conhecíamos este Spa, inclusive,


conhecemos o CEO do Dreamouth Resort & Spa, David Cooper,
que homem lindo, Senhor Jesus me abana, mas é claro que você é
muito mais bonito, meu loiro, não precisa ficar nervosinho não, viu?
Parei no meio do supermercado, sem acreditar no que ouvi.

— Tá de sacanagem comigo, Elizabeth?

— Xiiiiii! Chamou de Elizabeth, tu tá ferrada, amiga! — Ouvi a


risada da Helena ao fundo.
— Shiiiiiiiiiiii! Fica quieta, Helena. Em minha defesa, foi ideia da
Alexia. Sou uma pessoa pura e inocente, viu Alex? — Mais risadas.

— Liz?

— Hum?

— Quantas taças de champanhe vocês já beberam hoje? —


Sei que esses Spa’s servem champanhe e iguarias durante todo o
dia.

— Ihhhhhh, maninho, deixa de ser chato, quem está contando?


— Meu Deus, essas três juntas é um atentado à humanidade.

— Tchau, meu loiro. Agora temos que ir, ainda falta muito para
ficar plena pra você. Nem me depilei ainda, tem alguma
preferência? — Engasguei com a saliva, começando a tossir
descontroladamente, as loucas só faziam rir do outro lado da linha.
— Aposto que ficou corado. Ficou corado?
— E.LI.ZA.BE.TH

— Você não respondeu.

— Prefirolisa — respondi rápido, em um sussurro.

— Não ouvi.

— E... lisa — disfarcei, acenando com a cabeça para um casal


que passou por mim.

— Lisa? Não curte um moicano, um bigodinho de Hitler, um


topete do Neymar... nada?

— Elizabeth. Não irei ter essa conversa no meio do


supermercado.

— OK. Lisa, então. Até mais tarde, Alex, vai comprar


morangos?

— Sim, por quê?


— Não esquece o chantilly, beijo, tchau. — E desligou. Essa
mulher quer me enlouquecer, só pode.

Continuei minhas compras e passei o restante da tarde entre


responder e-mails e descansar, ainda não havia me recuperado da
viagem e queria estar bem-disposto, quando Liz chegasse. Estava
louco para matar a saudade. Até comprei o maldito chantilly. Acordei
com beijos suaves em minha face e um roçar de lábios.

— Acorda, dorminhoco. — Passou a língua nos meus lábios. A


agarrei de surpresa, fazendo com que soltasse um gritinho
assustado. Vire-a de costas no sofá, colocando meu joelho entre
suas pernas. Abaixei meu rosto, mordiscando seu queixo, pescoço
descendo por seu colo, até abocanhar seu seio por cima do vestido.

— Hummm, isso tudo é saudade? Trouxe o chantilly? — Parei


o que estava fazendo para encará-la.

— Sim, trouxe, e os morangos também — respondi com meu


sorriso mais safado. Ela me empurrou para que saísse de cima dela
e correu para a cozinha.

— Fica aí que eu já volto. Ah! Tira a roupa. — Já ia sumindo de


vista, quando voltou de repente. — Toda... a roupa. — Piscou,
voltando para cozinha.
Ansioso, tirei toda a roupa e totalmente nu, a aguardei sentado
no sofá. Só em imaginar o que a diaba iria fazer, meu pau já estava
duro pra cacete. Voltou instantes depois com o chantilly e uma tigela
de morangos. Ajoelhou-se em minha frente, deslizando as unhas
por minhas coxas, até minha virilha, me fazendo trincar os dentes,
ao tentar manter a sanidade.

— Sabe, Alex, passei o dia desejando comer morangos com


chantilly.

Ela empurrou meu peito para que ficasse mais relaxado no


sofá. Mergulhou um morango no chantilly, passou a língua pela
fruta, lambendo, chupando, um prenúncio do que viria a seguir. Não
consegui tirar os olhos, acompanhando-a em cada movimento, e
quando colocou todo o morango na boca, fazendo ruídos
indecentes, cerrei os dentes, agarrando-me ao sofá, para não a
agarrar e acabar com a brincadeira antes do tempo.

Liz pegou uma porção generosa de chantilly, e passou em


meus dois mamilos. A sensação gelada se intensificou, quando ela
sugou um depois o outro, me arrepiando inteiro, continuou sua
tortura, até lambuzar todo o meu pênis com o creme e chupá-lo
como um maldito sorvete. Abocanhou meu pau quase todo, voltando
até sugar a glande com força. Não aguentei. Foda-se!

Levantei a puxando para mim, levantei seu vestido, tirando-o


rapidamente, deixando-a só de calcinha, já que por ter seios
pequenos, Liz quase nunca usava sutiã.

— Minha vez. Segura as tigelas. — Apontei para os morangos


e o chantilly.
Assim que ela as pegou, a carreguei direto para a cozinha,
colocando-a em cima da bancada. Passei chantilly na aureola do
seu seio direito, chupando-o com vontade, depois repeti com o seio
esquerdo, Liz se esticou inteira jogando a cabeça para trás,
apoiando os braços na bancada atrás do corpo, subi, beijando seu
pescoço e voltando a dar atenção aos seios. Puxei sua calcinha,
deslizando por suas pernas até tirá-la por completo. Abri suas
pernas, levantando-as e firmando seus pés na bancada, deslizei
uma mão pelo seu pescoço, apertando-o suavemente, impedindo a
passagem de ar, enquanto deslizava o morango por seu ventre, até
chegar em sua entrada encharcada. Passei o morango pelos
grandes lábios, esfregando-o por todo o seu fluido, o apertei em seu
clitóris em movimentos circulares, até que a senti pingando.
Introduzi o morango em seu canal, fazendo movimentos de vai e
vem, o retirando em seguida e pondo-o inteiro na boca.
— Hum, melhor que chantilly. — Lambi os dedos, passando a
língua entre os lábios. Soltei seu pescoço, e Liz passou a
acompanhar cada movimento. Vermelha, descabelada, suada e toda
aberta pra mim. — Mas fui convidado para comer morangos com
chantilly, e é o que irei comer... agora.

Passei uma quantidade generosa de chantilly por toda a sua


boceta, coloquei um morango inteiro na boca, sentindo desmanchar-
se. Em seguida, suguei seu clitóris com vontade, a fazendo gritar e
puxar meus cabelos, mantive suas pernas abertas, enquanto me
lambuzava em sua boceta deliciosa. Liz esperneou, puxou meus
cabelos, gritou, contudo, só parei quando a vi estremecer em um
orgasmo poderoso, agarrando-se como podia em minha cabeça. A
peguei rapidamente no colo, levando-a até a sala, parando atrás do
sofá.
— Isso, inclina e empina essa bunda deliciosa pra mim — falei,
posicionando-a onde queria, debruçada no encosto do sofá. Liz
ainda estava languida, recuperando-se do orgasmo anterior, mas eu
queria mais, queria vê-la gozando outra vez, gritando meu nome. —
Droga! Que porra!
— Que foi, Alex? — perguntou assustada com meu rompante.

— Estou sem camisinha aqui, só no quarto. — Passei a mão


pelos cabelos e com a outra bombeei meu pau, para aliviar a
pressão, iria morrer se não a fodesse agora.
— Alexander, se você não entrar em mim agora, sou capaz de
te matar! Você disse que tá limpo, não está? Eu também, e uso
implante, então... pelo amor de Deus... só VEM! — Não precisou
repetir, entrei com tudo, me afundando até o talo.
— Porra, você ainda vai me matar, sua diaba. — A resposta foi
ela se contrair, sugando mais ainda meu pau, o esticando numa
dança deliciosa. — Isso, rebola esse rabo, toma meu pau gostosa.
— Dei um tapa de mão cheia em sua bunda, que a fez sibilar de
prazer. Aumentei as estocadas, segurando seus cabelos, enrolando
em um coque em meu punho, enquanto apertava sua cintura com
força, marcando-a com meus dedos. Gozei forte, enchendo-a com a
minha porra, enquanto a fazia gritar meu nome, sendo devastada
pelo segundo orgasmo da noite.
— Isso foi...
— Incrível — completei. Ainda estávamos conectados,
debruçados sobre o sofá. A puxei para ficarmos de pé, beijando sua
nuca, pescoço e ombro, enquanto descansava a cabeça em meu
peito. Retirei-me de dentro dela, a virando de frente para mim. —
Banho? — Sacudiu a cabeça de olhos fechados, na neblina pós-
foda. Sorri e a carreguei em meus braços até o banheiro, estávamos
cansados, então optamos por uma ducha rápida e fomos para
cama. — Liz?

— Hum?
— Você acha que sua mãe vai gostar de mim? — Ela levantou
a cabeça do meu peito.

— Você gosta de mim? — Levantou a sobrancelha.


— Mais do que você possa imaginar — respondi sincero. A
palavra “amo” veio na ponta da língua, contudo, tive medo de me
precipitar e assustá-la. Na verdade, gostar não chega nem perto do
que estou sentindo.
— Então ela vai amá-lo, assim como eu a... adoro — Tive a
impressão de que me diria outra coisa, mas assim como eu, não
teve coragem. Abaixou a cabeça, dando-me um beijo em meu peito.
Aconcheguei-a em meu peito, a embalando até que pegamos no
sono.

O dia começou agitado com todos os preparativos da Paella.


Um pouco antes da hora marcada, o porteiro interfonou, a mãe da
Liz havia chegado. Autorizei sua subida, deixando que Liz a
recebesse, enquanto tentava manter a calma. Sabia que Mag era a
pessoa mais importante da vida de Liz, e ter a aprovação dela era
crucial para mim. Vi uma versão madura da Liz, esmagá-la assim
que abriu a porta.

— Ahhhhh, bebê! Cheguei muito cedo? Quis vir antes para


ajudar, você sabe como gosto de ser útil. — Depois de quase matar
a filha asfixiada, seus olhos pousaram em mim.
— Ah, mãe, esse é o...

— Cretino — completou, se dirigindo a mim, sem desviar os


olhos.
— Mãe!

— Minha filha, se ele fez o meu bebê sofrer, então, sim. É um


cretino. — Parou em minha frente, analisando-me da cabeça aos
pés com aqueles olhos azuis esverdeados, iguaizinhos aos da filha.
Engoli em seco.
— Brincadeira, bobo, vem aqui dar um abraço na Mag. —
Puxou-me para um abraço, sussurrando em meu ouvido: — Se a
fizer sofrer novamente, nunca encontrarão seu corpo. — Foi tudo
tão rápido, que achei estar imaginando coisas, porém, seu olhar
intimidador me fez ter certeza que não. Afastou-se sorrindo,
pegando em meu rosto com as duas mãos. — Me chame de Mag,
se você está fazendo meu bebê feliz, então também estou. E espero
continuar feliz, senhor Gauthier — disse, dando tapinhas em meu
ombro, me senti em um filme da máfia. Juro.
— Pode me chamar de Alex, Mag. E acredite, apesar de termos
nos acertado, jamais irei me perdoar pela forma que tratei a Liz,
prometo que jamais acontecerá novamente.
— Espero que sim, mas aceite um conselho de quem já viveu
bastante... experiências. A vida é muito curta para não nos
perdoarmos. Quanto a mim, traga-me um bom Dry Martini e
estamos quites. — Piscou igualzinha a filha. Céus, como são
parecidas.

— Mãe, fique à vontade, Alex, por que você não a leva para a
área da piscina, levo as bebidas para vocês. Daqui a pouco o
pessoal irá chegar e já ficamos por lá. Cerveja? — perguntou,
sinalizando que estava tudo bem. Assenti com a cabeça,
direcionando Mag até uma das mesas próximas à piscina, estava
um dia lindo e resolvemos almoçar ao ar livre, já que a cobertura
possuía uma área externa com deck e piscina aquecida.

— Aquela menina lá dentro é a minha vida, Alex. E se o que vi


em seus olhos, quando olha para ela, for verdade, você tem todo o
meu carinho, faça minha bebê feliz — falou após um silêncio
confortável, sorrindo para mim, dando o assunto por encerrado,
quando Liz se aproximou, trazendo nossas bebidas.
O pessoal começou a chegar aos poucos, primeiro, Alexia com
nossas meninas, logo depois, Rick e Stella com as crianças, os
amigos da Liz, Dylan, Nicholas e seu esposo Paul, e por último
Jimmy e Helena. Estranhei o William não aparecer, porém, Jimmy
falou algo sobre ele ter um compromisso inadiável, não foi
impressão minha ter visto decepção no semblante da Alexia, que
soube disfarçar bem. Anikka e Susy logo caíram de amores pela
Helena.

— Ah, meus meninos, estamos tão felizes que vocês tomaram


jeito, agora podemos descansar em paz, pois vocês já estão
encaminhados. A Alexia não nos preocupamos, é a mais sensata
dos três, apesar de que achamos que ela também já descobriu o
seu caminho... só, ainda não sabe, não é, Anikka? — Susy bateu
palminhas, comemorando junto com Anikka.
— Verdade, Susy, a menina Alexia está caidinha pelo galinho
de olhos verdes. — Anikka disfarçou a risada. Eu e Jimmy
estávamos sentados à mesa, conversando com elas após o almoço,
enquanto Alexia e os Wood’s estavam na piscina com as crianças,
os amigos da Liz jogando sinuca com o Rick, Liz e Helena entraram
para se trocarem. Queriam entrar na piscina e não estavam com
roupa de banho.

— Aqueles dois estão subindo pelas paredes. Acho até que


William não ter vindo hoje foi desculpa para não ter que vê-la partir.
Em contrapartida, Alexia está possessa, nem conseguiu disfarçar,
depois da briga que tiveram na empresa, na sexta-feira, e ele não
ter vindo, ela deve estar pensando que o compromisso inadiável era
com alguma mulher. — Jimmy contou, me deixando surpreso. Não
sabia que tinham brigado na empresa.

— Nem acredito que vivemos para ver nossos meninos


amando de novo e nossa menina conhecendo o amor. — Susy
pegou em nossas mãos, emocionada. Jimmy e eu nos levantamos,
a abraçando.
Ouvimos risadas vindo da área interna e quando levantei o
olhar em direção ao barulho, quase tive uma sincope. Eliza saiu,
vestindo um biquíni preto, minúsculo, com uma saída de praia floral
esvoaçante e Helena não ficava atrás, usava um biquíni vermelho,
com um vestido de praia branco e transparente, olhei para o lado, e
Jimmy estava vermelho como um camarão. Antes que pudesse falar
algo, correu até elas com uma toalha em mãos, enrolando
rapidamente a Helena nela.

— Mas o que você está fazendo, ficou maluco?! — Helena


bradou indignada.
— Cobrindo o que é meu, não tá vendo? Tá cheio de gavião
por aí, eu que não vou dar mole para o azar, eu hein?! —
respondeu, apertando Helena nos braços, quase a esmagando.

— Para de ser doido, James, um sol desses, você quer que eu


use uma burca por um acaso? Nem que você tivesse a fortuna de
um Sheik, meu filho, se toca! E quem foi o desavisado que te disse
que sou sua? Não pertenço a NINGUÉM e tá pra nascer quem vai
me impedir de usar alguma coisa, mas era só o que me faltava!
Talvez uma das cem mulheres que você iria transar, aceitasse esse
comportamento, mas a Helena aqui, NÃO, meu querido! — Saiu
dos braços do Jimmy, se soltou da toalha e a jogou no rosto dele,
saindo em direção à piscina. Liz gargalhou, depois virou para mim,
que estava caladinho ao seu lado.
— E você, Alex, tem algo a dizer também? — perguntou, me
desafiando com o olhar. Só fiz sinal de que não, com a cabeça. —
Foi o que eu pensei. — Passou por mim rebolando, porém, parou
diante do Jimmy. — Palhaçada, hein Jimmy? Será que você não
aprendeu nada, homem? Pelo amor de Deus. — Jogou as mãos
para cima, como se pedisse paciência, e seguiu atrás da amiga.
— Ela nunca irá esquecer isso, não é? — Jimmy lamentou
frustrado, passando a mão no topete, bagunçando-o. — É irmão...
estamos fodidos.
Observei a Liz caminhar com aquele espetáculo de bunda,
depois, olhei em direção às mulheres da minha vida, e as duas
estavam nos encarando com sorrisos que não cabiam na face.
— É. Estamos fodidos.
Após esse episódio, a tarde passou rapidamente. Os primeiros
a irem embora foram os Wood’s, as crianças já estavam dormindo
em seus braços, aproveitaram para levar nossas meninas para
casa, ambas choraram ao se despedirem da Alexia, que iria dormir
na cobertura, visto que o voo sairia cedinho, preferiu vir com a mala,
para ir embora direto daqui, com a desculpa de aproveitar um pouco
mais a companhia dos irmãos. Logo depois foram os amigos de Liz,
turma animada, iremos convidá-los outras vezes. Mag ainda ficou
um pouco mais, nos divertindo com histórias da infância da minha
Sunshine, imaginei uma menininha loirinha e bastante sapeca.
Será que se tivéssemos uma filha, seria assim? O quê? De
onde veio esse pensamento Alex?
Após Mag ir embora, ainda ficamos os cinco jogando conversa
fora até tarde. Era um ritual nosso, aproveitar a companhia da Alexia
o máximo possível, no último dia antes dela viajar novamente.
Antes, ficávamos nós três, mas esta noite, Eliza e Helena nos
agraciaram com sua presença, e confesso que nunca me diverti
tanto. Fizeram-nos esquecer que novamente ficaríamos meses sem
ver Alexia. Acordamos cedo, James levou Helena e Eliza para casa,
pois iriam para a empresa, ficando de nos encontrarmos no
aeroporto.

Agora, Jimmy e eu estávamos aqui mais uma vez, nos


despedindo da nossa baixinha.
— Ai, que saudade vou sentir de vocês, se cuidem... os dois.
Jimmy, agora que a Helena te perdoou, não faça mais nenhuma
burrada, por favor. E Alex, você merece ser feliz, estarei longe, mas
em paz, porque há muito tempo não via meus irmãos felizes, até
você Jim, ficava aí levando a vida de putão, mas no fundo precisava
também de um amor, todo mundo precisa. Então, tentem não fazer
merda enquanto eu estiver fora, ok? Só isso que peço. — Alexia
pediu, encarando a nós dois com as mãos em concha em frente ao
rosto. — Aliás, até que enfim o cuzão que trabalha com você serviu
para alguma coisa. Diga a ele que ficou bem melhor assim, do que
como advogado, poderia até pensar em mudar de profissão —
sorriu zombeteira.
— Deus me livre de passar aquele vexame outra vez, se bem
que para ter a minha jaguatirica de volta, faria tudo novamente, eu e
o William até que nos saímos bem, não foi? — Abraçou Alexia — Se
cuida, baixinha, se precisar, estamos a uma ligação de distância, a
qualquer hora, não hesite em nos ligar, está bem? — Beijou sua
testa e a abraçou mais uma vez.

— Faço minhas as palavras do Jimmy, a qualquer hora ou


lugar, se sentir que precisa de nós, nos ligue, pegaremos o primeiro
voo, nada nem ninguém, nos impedirá de ir até você — prometi,
sendo a minha vez de tê-la em meus braços.
— Credo, parem de agouro, que nada irá me acontecer, só são
quatro meses, meninos, no feriado de Ação de Graças estarei aqui,
prometo. E sempre que precisarem de conselhos amorosos, é só
me ligar — desdenhou, a mestre Yoda fake.
Nós nos despedimos, ficando os dois ali parados em meio ao
saguão e enquanto víamos nossa baixinha se distanciar, levando
consigo uma parte de nossos corações, ficamos com a sensação de
que esses quatro meses demorariam a passar.
CAPÍTULO 25
E demoraram mesmo. O feriado de Ação de Graças passou
rapidamente, onde todos nós nos reunimos na mansão, porém,
sentimos a falta da Alexia, que em meio a prazos apertados para
entrega de trabalhos curriculares, não pôde nos visitar, com a
promessa de que passaria as festas de final de ano conosco. O que
frustrou o William, que esperava ansiosamente para revê-la, apesar
de jamais admitir. Foi um feriado agridoce, apesar de estarmos
todos reunidos, faltava a nossa tão amada baixinha. Enfim, o Natal
se aproximava e estávamos todos com muitas saudades, foram
cinco meses só por mensagens e ligações de vídeo, o que estava
sendo cada vez mais raro, devido aos seus compromissos. Agora,
faltando quatro dias para o Natal, estávamos todos em expectativa
para revê-la.
— Alexia já confirmou o voo? — Liz perguntou. Tínhamos
acabado de acordar e estávamos nos arrumando para o trabalho.
— Sim, chega em três dias, ao menos dessa vez conseg... —
parei de falar ao ver algo inusitado. — Usando sutiã? — indaguei
confuso, por ter seios pequenos e durinhos, que inclusive cabem
certinho em minhas mãos, Liz não era adepta de sutiãs, o que para
mim era um paraíso.

— Ah, isso? Bobagem, é que meus adesivos acabaram, e


esqueci de comprar. Como tenho uma reunião fora hoje, não quero
correr o risco de os bicos dos meus seios chamarem mais a atenção
do que o assunto em pauta. — Fez uma careta, enquanto terminava
de se vestir.

— É só isso mesmo? Tem certeza de que não está me


escondendo nada? Você sabe que pode confiar em mim, não é,
Sunshine? — Segurei seu rosto em minhas mãos, olhando em seus
olhos, procurando se havia algo errado. Mas, ela pegou em minhas
mãos as afastando, desviando o olhar logo em seguida.
Definitivamente, algo estava acontecendo, só me restava descobrir
o quê.

— Ora, Alex, o que mais poderia ser? Não se preocupe que


hoje mesmo compro os adesivos e amanhã os seus “meninos”,
voltarão a saltitar livres por aí. — Piscou, dando-me um selinho e
voltando a entrar no closet.

— Exatamente, adoro ver meus meninos livres, à espera do


meu toque. — Entrei no closet, a abraçando por trás, apalpando
seus seios, que havia nomeado de “meus meninos”.

Ela se encostou em meu peito, rindo, enquanto colocava os


brincos. Tomamos café em um silêncio cumplice e em meia hora
estávamos na garagem nos despedindo. Eliza dormia aqui
praticamente todos os dias, então já tinha a sua vaga cativa. A vi
saindo primeiro em seu carro e segui para a empresa, intrigado,
com a sensação de que algo estava errado, só não sabia dizer o
que era.

As horas passaram arrastadas, falei com Liz no almoço, porém,


me enfiei em reuniões o dia todo, e quando olhei para o relógio,
passavam das vinte horas. Estranhei Liz ainda não ter me ligado, e
quando liguei, a ligação foi direto para a caixa postal. Estranhei
imediatamente. Não que fosse impossível disso acontecer, contudo,
Liz era altamente refém da tecnologia, e a bateria desenvolvida pela
Vogel Technologies, campeã de vendas em todo o mundo, não a
deixava na mão. Nunca. Liguei para a empresa e como não obtive
êxito, resolvi ligar para a Helena. Algo estava muito errado.

— Oi Alex, se está procurando o Jimmy, ele está no banho,


acabamos de chegar, o celular dele deve ter ficado na pasta na sala
— respondeu, quando atendeu no terceiro toque, deduzindo que
estava atrás do Jimmy, já que pouquíssimas vezes havia ligado
diretamente para ela.
— Hum. — Tossi tentando manter a acalma. — Na verdade,
Helena, queria saber da Eliza. Tentei contatá-la, porém, o celular
está desligado e na empresa ninguém atende, sabe me dizer se ela
tinha alguma reunião agendada ou ficou na empresa até mais
tarde? — Essa era a minha esperança, pois não era incomum que
Liz ficasse trabalhando até mais tarde. Em alguns casos, até virava
a noite, principalmente quando estavam em meio a testes de algum
projeto. A linha ficou muda. — Helena?

— Alex, Liz saiu da empresa há quase duas horas. Ela estava


empolgada com os preparativos da ceia de Natal, falou algo sobre
presentes e estar atrasada para comprá-los, porém desistiu, quando
o seu carro não pegou de jeito algum. Ela iria te ligar, mas acabou
pegando o meu emprestado, quando confirmei que o Jimmy iria me
buscar. Estranho, Alex, será que ela resolveu ir às compras? — A
essa altura já não ouvia mais o que a Helena tinha a dizer.

Deveria ter seguido meus instintos, de que algo estava


extremamente errado. Agradeci a Helena rapidamente, com a
promessa de quem a Liz contatasse primeiro, avisaria o outro.
Suando frio, afrouxei a gravata, indo em direção ao bar, servindo-me
de uma dose de whisky puro. Sem gelo. Desceu rasgando, igual a
sensação que sentia em meu coração neste momento. Estava
sufocando. Sentei-me no sofá. Puxando o ar com força, tentando
organizar meus pensamentos. Pense, Alex, o que fazer?

Decidi ligar para a única pessoa que poderia me ajudar neste


momento. No segundo toque ouvi sua voz potente.

— Alex?

— Preciso de você.
— O que aconteceu?

— A Elizabeth desapareceu.

— Desapareceu? Com assim, desapareceu? Ninguém


desaparece assim sem mais nem menos, Alex. Já tentou o GPS do
celular? Do carro?
— Já aconteceu antes, você mais do que ninguém sabe disso.
E sim, já chequei. Celular desligado, o que nunca acontece. A
Helena contou que na saída da empresa o carro dela não pegou, o
que é estranho, pois fizemos revisão nos carros semana passada, já
que pretendemos viajar após as festas de fim de ano. Helena
emprestou o dela e isso foi há mais de duas horas — observei,
olhando o relógio. — Tem algo errado. Muito errado, Rick. Eu tô
sentindo.

— Onde você está?


— Na empresa. Acabei ficando preso até tarde em uma
reunião, foi quando me dei conta do horário e estranhei a falta de
contato da Liz — expliquei desesperado.

— Me encontre na VT, estou indo para lá com a Stella,


deixaremos as crianças na casa dos meus pais e te encontraremos
lá. Nós iremos encontrá-la, Alex.

— OK — concordei, já saindo da sala em direção ao elevador.


—Richard?

— Hum?
— Obrigado.
CAPÍTULO 26
Nós nos encontramos algum tempo depois, em frente à Vogel
Tech, subindo diretamente à sala de monitoramento.
— Boa noite, Alex, quando o Richard me contou que o carro da
Eliza não pegou, e você havia dito que a revisão foi feita há pouco
tempo, decidimos começar a averiguação pelas câmeras da
garagem. Já acionei o restante da equipe, inclusive, a Helena está
checando o GPS do carro, nos reuniremos na sala de reuniões para
cruzar as informações. Vamos encontrá-la, Alex — falou Stella, me
abraçando.
Observamos Eliza chegar pela manhã, linda, com os cabelos
soltos, a blusinha fina que me fez lembrar de um detalhe importante.

— Ela estava usando sutiã. E Eliza nunca usa sutiã.

— Informação demais, Alexander — Richard resmungou,


fazendo uma careta.
— Vocês não estão entendendo. Hoje, eu acordei com a
sensação de que algo estava fora do lugar. A começar pelo sutiã. A
questionei sobre isso, ela deu uma desculpa, porém a sensação de
que havia algo errado permaneceu por todo o dia.

— E você deduziu isso com base em um maldito sutiã? —


Richard indagou, descrente.

— Aqui! — Nós nos assustamos com o grito da Stella. — Estão


vendo? Esse homem. Ele passa entre os carros com o carrinho de
limpeza, veem?

Stella volta a gravação e vemos o mesmo homem circular pela


garagem umas duas horas antes. Ela volta a gravação até próximo
o horário em que a Liz chegou à empresa, e lá está ele novamente.
Macacão cinza e boné de aba larga, escondendo o rosto.
— Ele foi à garagem três vezes, e vejam o horário, ainda está
na metade do dia. Esse cara não é da equipe de limpeza. Ele
passou o dia estudando o perímetro e decidindo a melhor hora para
agir. — Avançou as imagens até o início da noite, quando ele
aparece mais uma vez, para ao lado do carro da Liz, finge pegar
algo no chão, porém, demora tempo suficiente para pôr algo
embaixo do carro. — Vejam. — Aponta para o homem agachado.
Muda de câmera para pegar outro ângulo, e o vemos abaixar
rapidamente, demorar uns trinta segundos e sair debaixo do carro,
pegar o carrinho de limpeza e sair tranquilamente da garagem.
Menos de duas horas depois, vimos Liz chegando à garagem,
tentando ligar o carro, como não obteve êxito, voltou ao elevador,
descendo um tempo depois e saindo no carro da Helena. Stella
muda novamente de câmera, vemos Liz sair com o carro e logo
depois, um carro preto que estava estacionado um pouco mais
adiante na rua, sai em seguida.

— BINGO! — Stella bate na mesa. — Pegamos ele.

Sentei-me desnorteado na cadeira. Não podia acreditar no que


estava acontecendo. Stella enviou as gravações para o Nicholas,
que já havia chegado, e estava rastreando o carro da Helena,
verificando a placa do carro que a seguiu e tentando descobrir a
identidade do falso agente de limpeza.

Subimos todos para a sala de reuniões, encontrando Nicholas


trabalhando a todo vapor, Dylan, Helena descabelada e o... Jimmy,
que assim que me viu, veio até mim, abraçando-me.

— Como você está? Vamos encontrá-la, irmão. Assim que a


Stella ligou para Helena, não podia deixá-los sozinhos. Posso ajudar
no que precisarem, Eliza é família, cara. — Assenti com a cabeça,
não conseguia falar com o bolo na garganta em que eu estava.
Tinha medo de que, se abrisse a boca, desmoronasse de vez, por
isso deixei que Richard e Stella comandassem a operação.
— Então, descobriram o que aconteceu? — Helena veio até
nós, perguntando.
— Sim. Sabotaram o carro dela e seguiram o seu. Estamos
buscando a localização. Falando nisso, alguma novidade, Nick? —
Stella assumiu o comando, já em postura militar.

— Meu Deus! Já chamaram a polícia? — Helena questionou


aflita.

— Não. Nada de polícia até descobrirmos com o quê, e quem,


estamos lidando — respondeu Richard. — Nicholas?

— Encontrei. O carro está parado há algum tempo em um


bairro mais afastado da cidade. Invadi as câmeras de trânsito e
encontrei isso.

Vi estarrecido, o carro da Helena ser interceptado pelo mesmo


carro que a seguiu, Liz ser retirada dele pelo homem que
reconhecemos ser o falso zelador e ser jogada no outro veículo, que
partiu em seguida, em disparada. Um segundo homem, vestido com
jeans e um casaco preto, dirigiu o carro da Helena, deixando-o em
um terreno baldio, em um bairro mais afastado da cidade. Com
certeza, com o intuito de nos despistar. Entrou em um carro prata,
fugindo do local. Em ambos os carros foram utilizadas placas frias.

— Terei que rastreá-los através das câmeras de trânsito,


porém, irá demorar um pouquinho. — Nick concluiu frustrado.
— Não precisa. Sei onde e com quem a Elizabeth está. —
Robert Vogel irrompeu pela porta, nos deixando paralisados com a
informação.

— Como assim, sabe onde ela está? Minha mulher foi levada,
seu desgraçado! E você fala com essa calma que sabe onde ela
está? O que você tem a ver com isso seu filho da puta?! — Avancei
contra o Robert, precisou o Richard e o James me conterem.

Robert me direcionou um olhar analítico, e por um momento


pude reconhecer mágoa e decepção percorrer por ele, porém, logo
se recompôs, desviando o olhar para todos na sala, até encarar a
Stella.
— Chegou a hora — disse, perpassando um olhar de
entendimento entre Stella e Dylan.

— Ok. Vou providenciar tudo. — Dylan saiu da sala e em


seguida Robert foi até a Stella, entregando-a um aparelho, um
pouco menor que um pen drive. Prontamente, ela acessou o
computador, deu alguns comandos, fazendo rodar uma espécie de
algoritmo. Surgiu um mapa na tela e um radar, Stella deu mais
alguns comandos e de repente, um sinal verde começou a piscar no
centro da tela. Stella ampliou a imagem. Até que pude entender do
que se tratava.

— Não é possível. É ela? Mas isso é daqui a oito quadras!


Como ele a escondeu tão perto, e quem diabos é esse homem? —
perguntei indignado.

— Alex, sente-se. — Richard pediu, olhando-me consternado.

— Vocês ficaram loucos? Minha mulher foi raptada, vocês


sabem onde ela está e me mandam sentar? Qual o próximo passo,
me oferecer um chá?! É a minha mulher, caralho! — Bati na mesa,
assustando a todos. Fodam-se!

— Alex, para você entender o que está acontecendo, tem que


nos ouvir desde o começo. E não preciso lembrar que esse assunto
não pode sair desta sala. Envolve o governo e, portanto, é
confidencial. — Robert se sentou calmamente na cadeira em frente
a mim. Sentei-me novamente, tentando manter a sanidade.
— Seu miserável. Se você envolveu a Liz em alg...

— Fui eu. — Parei em meio à frase, direcionando o olhar para a


Stella.

— Amor, você não precisa...

— Preciso, sim. — Stella pôs a mão no peito do Richard,


olhando-o com cumplicidade e ele assentiu. Stella virou-se de
costas para todos, ficando em silêncio por um momento. Depois,
virou-se, observou a todos na sala e começou a falar.

— Todos aqui na sala sabem como nos conhecemos. —


Apontou para Richard, que estava ao fundo da sala, em pé,
encostado em um armário, com braços e tornozelos cruzados, em
falsa postura relaxada. — Nosso início de relacionamento foi muito
conturbado e chegamos a nos separar... duas vezes. Em uma dessa
vezes, estávamos em bases militares diferentes, a equipe do
Richard foi designada para visitar algumas aldeias. Com a invasão
do Kuwait, as tropas iranianas atacavam, bombardeando cidades
inteiras e mesmo com a entrada do exército americano, as tropas
inimigas seguiam fazendo milhares de vítimas. A aldeia em que
estavam, foi atacada e sua equipe dizimada. — Olhamos todos para
o Richard com pesar. — O corpo do Capitão Wood não foi
encontrado. Pedi transferência para que pudesse investigar e liderar
as buscas, porém, após duas semanas, ordenaram-me que as
suspendesse, disseram que toda guerra tinha baixas, que o Richard
era um dano colateral e seria homenageado com honras pelo
serviço prestado ao exército americano, mas que infelizmente a
guerra continuava e como major, estava sendo requisitada para
outra missão. Lógico que para eles...
— Eu não era importante — completou Richard.

— Era importante pra mim! — Stella bateu no peito, com olhos


marejados. — Obvio que não desisti e secretamente montei uma
equipe especial para continuar a procurá-lo. Procuramos por meses
em cada cidade, nas aldeias, hospitais... nada. Richard
simplesmente havia sumido. Mas meu coração sentia que ele
estava vivo, entendem? — Stella passou a mão pelo rosto,
enxugando as lágrimas que teimavam em cair, respirou fundo para
se recompor e continuar. — Até que um dia, após uma operação de
resgate, estava caminhando entre os feridos e uma garotinha de
mais ou menos dez anos me chamou a atenção. Ela estava
chorando com uma bonequinha de pano toda suja nas mãos.
Agachei-me em frente a ela e perguntei em árabe:
— Qual o nome da sua boneca? Ela é muito bonita, sabia? — A
menina olhou de mim para a boneca desgrenhada e sorriu. Uma das
enfermeiras sinalizou para mim, que a mãe dela estava bem. Tinha
acabado de ser atendida, teve leves escoriações ao escapar do
bombardeio, contudo, estava bem. — Posso te contar um segredo?
Acabei de saber que a sua mamãe está bem e logo, logo, estará
aqui com você. Mas você ainda não me disse o nome da sua
boneca e nem o seu. — Ela parou de chorar e olhou para mim, com
os olhos negros como o céu do deserto à noite, e falou a coisa mais
improvável que eu poderia ouvir:

— Favo de mel? — Congelei no lugar.


— Como? Do que você me chamou? — indaguei, com meu
coração trovejando.

— Favo de mel. O moço bonito com nome engraçado me disse


que vocês iriam nos salvar, e quando eu visse uma moça
estrangeira com os olhos bem graúdos e cor de mel, para chamá-la
de favo de mel, que ela entenderia. Procurei, mas não vi ninguém
do olho bonito, até agora. É a senhora, não é? — Precisei sentar-me
no chão, pois minhas pernas começaram a tremer.
— Sim, meu amor, sou — rimos juntas.

— Como era esse homem e onde ele está?


— Ele era grande, bemmm grande e tinha um nome de
madeira, estranho né? Não chora, favo de mel, ele disse que estava
bem, e que não importa o quanto estivessem distantes, você
sempre o encontraria — riu, alisando meus cabelos. — Mas levaram
ele antes de vocês chegarem. Ele estava um pouquinho
machucado, mas tava bem. Vai logo salvar ele, moça, ele tá te
esperando.

— Vou. — Levantei-me em um pulo. — Vou buscá-lo e trazê-lo


aqui para ele ver que você foi uma boa menina e encontrou a Favo
de Mel. Obrigada, meu anjinho. — Beijei sua cabeça, e já ia saindo,
quando a ouvi.
— Tâmara. É o meu nome. Ah! E minha boneca não tem nome,
a encontrei hoje perdida nas pedras. Acho que vou chamar ela de
Mel. — Assenti para ela e corri como se a minha vida dependesse
disso. E de fato dependia.

Reagrupei a equipe e seguimos os rastreando até que


encontramos alguns soldados iranianos escondidos em uma
caverna. Após confronto, o resgatamos. Richard estava bastante
debilitado, com sinais de tortura, mas ainda era o meu Richard.
Richard a abraçou emocionado, todos nós estávamos.

— Foram meses. Meses, até conseguirmos encontrá-lo.


Quando Eliza e eu ficamos amigas, confidenciei nossa história a ela
e passamos a estudar uma forma ágil e eficaz de podermos localizar
e resgatar nossos soldados, evitando ao máximo que se tornassem
prisioneiros de guerra. — Stella passeou o olhar por todos na sala,
até pousá-lo em mim. — Conseguimos. Lembra quando ficamos em
“cativeiro” por cinco meses? Sim, realmente tínhamos o projeto dos
japoneses, porém já havíamos finalizado. Na verdade, estávamos
em fase de teste do chip. O nano chip localizador. Fizemos todos os
testes e foram um sucesso. Mas precisávamos testá-lo em campo,
antes de apresentá-lo ao governo americano. E finalmente surgiu a
oportunidade. — Fez sinal para que Robert continuasse.

— Arnold Miller. Esse nome te diz alguma coisa, Alexander? —


Robert indagou, sondando-me.
— Miller... Miller...NÃO! Aquele homem? É ele? Ele que está
com ela? Meu Deus. Precisamos ir agora! Não quero nem imaginar
o que aquele homem pode...
— Se acalme, Alex, ainda não terminamos. — Fez sinal de
comando. Juro que vou partir a cara desse idiota a qualquer
momento.

— Quando Eliza apresentou a proposta do chip, em nossa


matriz, muitos desdenharam. Inclusive o Miller. Após o episódio, que
pela sua reação, ela confidenciou a você, optei por trazê-la para
Dreamouth e preparar este local para trabalhar em segredo, o resto
você já sabe. — Apontou para a equipe. — Por falta de provas,
Miller não ficou muito tempo preso e mesmo destruindo sua carreira,
sabemos que homens como ele não desistem. Ele desapareceu,
tentamos encontrá-lo, sem êxito, no entanto. Contudo, sabíamos
que em algum momento ele apareceria para nos atormentar e com
isso, nos preparamos. Fingi uma viagem de um ano e meio para o
Japão, claro que realmente precisei estar lá, porém, não pelo prazo
divulgado na imprensa. Precisávamos que ele acreditasse que a Liz
estava desprotegida... para atacá-la.
— Pera aí. Deixa ver se eu entendi. Você está me dizendo que
colocou a vida da Liz em perigo de propósito. É isso mesmo? —
Antes que alguém pudesse me conter, já estava socando o Robert
com fúria. — Seu desgraçado! Se algo acontecer com ela, eu te
mato, filho da puta! — Richard segurou-me em uma chave de braço,
enquanto Robert tirou um lenço do terno, limpando o sangue dos
lábios partidos.

— Acalmem-se todos, está bem? Minha amiga está em uma


situação de risco, não é hora para se digladiarem! — Helena gritou
do fundo da sala. — E o que estão esperando para resgatá-la? —
Vociferou indignada, James a embalou em seus braços, enquanto
chorava.
— O que eu estava tentando dizer, antes de ser brutalmente
interrompido, é que a Eliza sabia que iria ser levada. Esse era o
plano, foi ideia da Eliza atraí-lo para uma armadilha.

— O quê?! E vocês concordaram com isso? — confrontei Stella


e Richard, que abaixaram o olhar.
— Cara, eu sabia que a Lizy era maluca, mas não pensei que
fosse tanto. — Virei-me para Jimmy, fuzilando-o com o olhar. —
Desculpe. — Se encolheu envergonhado.
— Alex. O nano chip não é um chip comum de localização. Ele
é implantado na base da nuca, onde recebe estímulos sensoriais.
Nosso corpo produz reações catalizadoras em situações extremas.
E é nestas situações que o chip é ativado. Pânico, grande estresse
e adrenalina em alta, são alguns desses agentes catalizadores, mas
a mais importante é a... dor. — Stella explicou.
— E isso fica cada vez melhor. Você está me dizendo que Eliza
se voluntariou para ser... torturada? Não. Ela não faria isso. —
Levantei-me, começando a andar pela sala, me sentia como um
animal enjaulado. Tirei a gravata e atirei longe. A porra estava me
sufocando.

— Alexander, Eliza estava sendo monitorada 24 horas por dia.


Contudo, o infeliz foi esperto ao sabotar o carro. Decerto, percebeu
nosso homem de confiança na saída do prédio e deu um jeito da
Eliza sair sem ser vista. Com o carro da Helena, não imaginaram
que fosse ela. — Robert pontuou.
Puxei profundamente a respiração, tentando me acalmar, ou
cometeria um homicídio.

— Já a localizamos, minha equipe está no local, porém estão


aguardando coordenadas. Eliza deixou claro que quer que ele seja
pego em fragrante.
— Fragrante?! Eu vou matá-lo! E o próximo será você, seu
miserável! — Avancei sobre o Robert novamente, estava
enxergando tudo vermelho, tinha sede de sangue.
— Alex! Alex! Olha pra mim, me escuta. — Richard segurou em
meu rosto, forçando-me a focar nele. — Eliza sabia que essa seria
sua reação, por isso nos proibiu de contar. Ela precisava desse
fechamento, cara, para poder seguir em frente. Depois você pode
matar a todos nós, mas agora... Vamos buscar sua mulher.
CAPÍTULO 27
Odiava ter que omitir as coisas do Alex, porém, ele jamais
concordaria com meu plano maluco. O próprio Robert foi contra, só
aceitou quando ameacei fazer com ou sem a ajuda dele. Que só
aceitou, quando prometi deixar o Richard a par do plano e
responsável pela equipe de segurança. Stella, o Dylan e eu
passamos semanas testando as inúmeras variáveis do que poderia
acontecer de errado, porém, não prevíamos que ele fosse se infiltrar
na VT e sabotar meu carro. Quando Robert me ligou, avisando que
Arnold Miller estava em Dreamouth, nos preparamos, pois sabíamos
que em algum momento ele tentaria chegar a mim. Quando Alex,
questionou sobre o sutiã, pensei em me abrir com ele, mas como
diria que estava usando um sutiã com mais utilidades que o cinto de
utilidades do Batman, porque supostamente seria sequestrada por
um lunático com síndrome do pau murcho? Impossível. Alex me
trancaria no quarto e engoliria a chave.

Quando meu carro não pegou, sabia que havia chegado a hora.
Liguei para a única pessoa que saberia lidar com a situação. Bob.
Entrei no carro da Helena, com a adrenalina a mil. Pelo menos
serviria para ativar o chip... precisava pegar aquele desgraçado.
Depois, me resolveria com Alex. Nada que um chá não resolvesse.
Quando o carro foi interceptado, e vi aqueles homens armados me
tirarem do carro, confesso que fiquei com medo, contudo, sabia que
ele não iria deixar a “diversão” para os outros, então, eles me
entregariam intacta. Covarde. Andamos por poucos quilômetros, até
entrarmos numa grande propriedade em um bairro nobre, próximo
ao centro da cidade. Esperto. Ninguém iria imaginar que ele estaria
tão pertinho, na cara de todo mundo. O homem alto com cara de
fuinha, vestido de zelador, saiu do carro, me puxando bruscamente.
— Ei! Calma aí, grandão. Não te ensinaram como tratar uma
mulher, não?
— Já. E você não vai querer que eu lhe mostre — sorriu
sarcástico. — Vamos logo, que o patrão pagou caro pela dama. —
Fez um floreio, para que eu passasse na frente. Ridículo. Está se
achando ô humorista. Vou até contratar o show de stand up dele.
Pensei, revirando os olhos.

Babaca.

Entramos em uma sala, onde o encontramos jantando


tranquilamente. Cortava o bife e o levava à boca, sem nem ao
menos se dignar a levantar a cabeça em nossa direção. Finalizou a
refeição, levantou-se e caminhou até mim. Senti o ardor, antes
mesmo das costas da mão dele atingir o meu rosto.

— Está dispensado, Bird, preciso resolver uns assuntos


pendentes com essa vadiazinha. — Apertou meu queixo com força.
Levando-me pelo braço até um sofá, onde me empurrou
bruscamente, depois foi até o bar, servindo-se de uma bebida. —
Não vai perguntar por que estou tão tranquilo? — Engoliu a bebida
em um só gole, vindo ao meu encontro.
— Não. Uma descerebrada como eu, jamais iria entender seu
plano maligno. Esclareça-me — sorri sarcasticamente. É,
definitivamente, não tenho medo da morte.

— Você se acha muito superior, não é, sua puta? — perguntou,


me segurando pelos dois braços, sacudindo-me. — Quero ver você
continuar sorrindo assim, quando eu estiver lhe fodendo, de todas
as maneiras possíveis, e depois, entregar a sua carcaça de puta
usada, na porta do seu novo macho. — Cheirou meu pescoço. —
Não bastava enganar o idiota do Vogel, agora está ludibriando o
Gauthier. Homens tão inteligentes, enganados por uma boceta. Tsc,
tsc... uma lástima.
— O que você pretende com tudo isso, Arnold? Me matar? —
confrontei-o. Homens como ele amavam se vangloriar dos seus
planos falhos, precisava fazê-lo falar.
— Não, minha querida. A morte é muito pouco para você.
Sabe, Elizabeth, confesso que pensei em dar fim à sua vida
medíocre, já que você destruiu a minha. Todavia, quando a vi
acompanhada de um dos homens mais ricos da América, percebi
que tirei a sorte grande. Aqueles dois imbecis irão pagar o que eu
quiser para tê-la de volta, e quando o fizerem, irão receber um trapo
velho, usado, que não servirá para nada, a não ser, ser jogada na
sarjeta. Esse é o pagamento que receberão, por me subestimarem.
E você, vagabundazinha, vai receber meu pau caladinha, vai gozar
pedindo por mais, porque é isso que vadias como você fazem. —
Uma ânsia de vomito me invadiu.

— E você vai escovar os dentes antes ou depois de me comer,


porque esse bafo, pelo amorrr... — Tapei o nariz e sacudi a mão em
meu rosto. E finalmente consegui tirá-lo do sério. Recebi mais dois
tapas, que me deixaram zonza. Senti o gosto do sangue em minha
boca.

— Você acha que estou brincando, vagabunda? — Pegou-me


pelos cabelos, levando-me até um quarto bem espaçoso, atirando-
me na cama. — Agora você vai aprender como tratar um homem de
verdade. — Começou a tirar o cinto, puxando a camisa para fora da
calça. Tá com medo agora, putinha? — perguntou, quando me viu
ajoelhar na cama.
— Não, senhor Miller, por favor, eles irão pagar o que o senhor
pedir, mas por favor, não faça isso comigo, eu imploro! — Encolhi-
me na cama, no melhor estilo donzela indefesa.

— Vou te comer de quatro, e você vai gritar igual a cachorra


que você é! Você acha mesmo que o Vogel e o Gauthier irão te
querer depois do que eu fizer com você? — riu insanamente,
puxando-me pelas pernas, me debati como pude, arranhando-o no
rosto, até que ele avançou sobre mim, rasgando minha blusa,
deixando-me somente de sutiã.

O olhar lascivo que ele me lançou, revirou todo o meu


estômago. Em seguida, segurou em meus seios com as duas mãos,
apertando-os dolorosamente, e aí... caiu duro. Durinho da Silva.
Acabou de levar um choque de 10000V, do meu sutiã super, mega,
power, com os comprimentos do nosso MacGyver exclusivo.

Agora que já consegui o que queria, confissão gravada e


devidamente registrada, sequestro, agressão e tentativa de estupro,
vamos brincar um pouquinho. Desliguei o taser do sutiã, e o tirei. Ai.
Que. Alívio. Fechei a blusa rapidamente, e puxei as alças do sutiã, o
que na verdade eram mini tiras elásticas e ultra resistentes. Amarrei
suas mãos e pés, e quando me dei por satisfeita, liguei a função
taser novamente e saí do quarto empunhando o sutiã.

Andei na pontinha do pé pela casa, que estava absolutamente


vazia. Ouvi uns ruídos estranhos e prontamente escondi-me entre
as cortinas da sala. A porta foi aberta com um estrondo, e dela
entraram Richard e Stella com armas em punho. Casal sexy pra
caralho. Seguidos do Robert e Alex... me olhando como se eu fosse
uma Alien, com um sutiã nas mãos.

— É... Oi? — sorri amarelo. Alex saiu empurrando a todos no


caminho, quase fazendo um striker no processo, me apertando em
seus braços, apalpando em todos os lugares em busca de
ferimentos.

— Você está bem? Aquele miserável tocou em você? — Seu


semblante mudou radicalmente quando viu meu rosto marcado. —
Cadê o desgraçado? Ele é meu!

— Aqui! —Robert gritou do quarto e Alex correu até lá, cheguei


há tempo de vê-lo matando o Sr. Miller na porrada, ou quase, já que
Richard o impediu.
Dylan chegou logo atrás, com um sorriso gigante.

— Quer dizer que o sutiã funcionou? — perguntou, mostrando


a mão para um high five.

— Simmm, e as tiras também. Receberam a transmissão?


— Alta e clara. Nick, inclusive já enviou para as autoridades e o
principal, soltou na rede. Elizabeth, nunca mais faça isso. Você não
tem noção do perigo que correu.

— Perigo? Eu sou o perigo, meu caro. E você sabe que eu


precisava disso.

— É. Eu sei. Mas agora, vamos entregar esse verme às


autoridades. — Robert desconversou, quando viu o olhar assassino
do Alex.

— Espera! Ainda falta testar uma função do sutiã! — Virei o


sutiã do avesso e pela lateral puxei os dois aros de sustentação do
bojo, os entrelacei-os, dobrando-os ao meio, formando um estilete
bem afiado. Após finalizar minha arte, me aproximei do nojento que
ousou tocar em mim, e desferi um tabefe no meio das fuças. Depois
outro, e em seguida, outro. A cabeça dele pendeu para o lado. Dei-
lhe outro tapa, só pra garantir. —Acorda, infeliz! — Abriu os olhos,
quando puxei o seu cabelo, fazendo-o me olhar nos olhos. É isso
mesmo, descontei tudo que passei, porque eu sou dessas. —
Acorda pra ver o que irei fazer com você.

— Pode me matar, eu não ligo. — Soltou um riso sarcástico.

— Nãoooooo. Como foi mesmo que você disse? Ah! Lembrei!


“A morte é muito pouco para você.” Você vai ser entregue às
autoridades. Sabe o que os presos fazem com estupradores na
prisão? Pois É. Eles vão te comer de todas as maneiras, você será
a vadiazinha deles, até virar um trapo velho que não servirá para
nada, a não ser, ser jogado na sarjeta. Esse é o pagamento que irá
receber por ter me subestimado. Ah! E antes que eu me esqueça.
Você não precisará mais disso. — Passei o estilete no pênis dele,
decepando-o em um único golpe, o vi desmaiar na sequência,
enquanto todos os homens no quarto fizeram careta e levaram as
mãos aos seus pênis, em sinal de proteção. Revirei os olhos.
Homens e seus egos enormes.
Precisei de toda a coragem para fazer o que fiz, porém,
imaginar que ele pudesse se safar da cadeia, e fazer com outras
mulheres o que quase fez comigo, foi combustível suficiente, para
que eu seguisse adiante, sem arrependimentos. Agora, sem a sua
“ferramenta”, ele não seria homem para amedrontar mais ninguém.
Richard ainda ficou para resolver os tramites legais. Quanto ao resto
de nós, passamos na V.T., onde encontrei Helena chorando
copiosamente.

— Sua louca, nunca mais apronte uma dessas! — soluçava,


sendo amparada pelo Jim.

— Estou bem, Helena. Tudo acabou bem e aquele traste nunca


mais fará mal a ninguém. Stella. Finalmente acabou. — Abracei-a.
— E ainda por cima, testamos o chip. Robert, ele será um sucesso!
— Abracei-o, dando pulinhos.

— É será — respondeu sério, apontando com o queixo, Alex


virado de frente para a janela, olhando a cidade lá fora. Meu
coração ficou pequenininho, sei que pisei na bola com ele. Cobrei
tanto que ele confiasse em mim, e quando foi a minha vez... Não
compartilhei algo importante, como me encontrar com um assassino
e quase ser morta. Droga.
— Alex? Você está bem? — Toquei em seu ombro, fazendo-o
virar-se para mim. Olhou-me por um longo tempo, passou os dedos
pelo meu rosto, em um carinho singelo.

— Não. Eu não estou bem, Elizabeth. Mas vou ficar. — Pegou


o terno em cima da cadeira.
— Alex...

— Agora não, Liz. Vá comemorar sua vitória com seus amigos.


Preciso ficar sozinho. — Segurando meu rosto entre as mãos, beijou
minha testa e saiu cabisbaixo, sem nem ao menos se despedir dos
demais.
— Deixa ele, amiga. Foram muitas emoções para um só dia.
Depois vocês conversam e vai ficar tudo bem. — Helena me
consolou, ao ver minhas lágrimas começarem a cair.
— É, cunhadinha. Longo dia, melhor todos irmos para casa.
Vem, te deixamos em casa, seu carro está detido como prova da
sabotagem. Só devem liberá-lo amanhã.

Após me deixarem em casa, tentei ligar para Alex, mas o


celular só caía na caixa. Apelei para o Richard e fiquei no aguardo
de notícias. Tomei um banho relaxante e um analgésico, pois minha
cabeça estava explodindo, e após horas tentando dormir sem
sucesso, finalmente recebi uma ligação do Rick.
— Eu o encontrei.
CAPÍTULO 28
Ver Elizabeth em seu habitat me fez perceber o quanto éramos
estranhos um para o outro. Nós nos fechamos em nossa bolha,
onde tudo era perfeito e colorido, e deixamos os problemas lá fora.
Porém, descobrir que ela não confiou em mim para compartilhar
seus planos, doeu demais.

Hoje foi um dos piores dias da minha vida. O medo de perder


mais alguém importante em minha vida me desestabilizou
totalmente, entretanto, saber que havia sido tudo premeditado, que
a Eliza planejou se colocar em risco, e pior, não teve confiança em
mim, acabou comigo. Não consegui ficar ali compartilhando da sua
vitória, quando tudo poderia ter dado errado, e ela estar agora
desaparecida, ferida, ou... morta. Confesso que me orgulhei em ver
como resolveu tudo sozinha, mas me senti um intruso em meio a
todos em que ela confiava. Não sei como será daqui para frente.
Não consigo assimilar o fato de ela ter me excluído de algo tão
importante em sua vida. Vi uma SUV preta parar ao longe e,
minutos depois, ouvi passos se aproximando. Nem precisei me virar,
para saber quem havia chegado.
— Como sabia desse lugar? — perguntei, ainda de costas.

— Ora, Alex. Fiz sua segurança nos últimos cinco anos, te


acompanhei em seus piores momentos, você realmente acredita
que eu não conhecia esse lugar? — Bufei, dando uma risada
descrente. É claro que sabia. Sentou-se ao meu lado e ficamos em
silêncio por um tempo, contemplando o mar à nossa frente.

— Eliza está preocupada. Seu celular está desligado.


— Hum. É claro que está — desdenhei.

— Alex, não vá por esse caminho. Eliza teve seus motivos.


— Que motivos? Ela me humilhou na frente dos seus amigos,
todos sabiam do plano, menos o imbecil que dorme com ela! —
exaltei-me.

— Todos que precisavam saber. Você já parou para pensar que


ela só poupou as pessoas mais importantes da vida dela? Me fala a
verdade, Alexander, você aceitaria que ela levasse o plano adiante,
caso ela contasse? E a Helena, deixaria ela se colocar em risco,
como fez esta noite?

— É claro que não! Foi uma estupidez, além do mais, ela


confiou em você e na Stella, até no Dylan!

— Sim, confiou. Porque Robert praticamente forçou as duas a


me contarem, porque a Stella também foi contra me contar, mas
como seria o chefe tático, foi necessário me pôr a par da situação,
mas acredite, fiz de tudo para que ela lhe contasse. Sabia que a
situação sairia do controle.

— Você tem noção do estado em que fiquei, quando descobri o


seu desaparecimento? Depois, saber que ela se colocou nas mãos
daquele maníaco, você viu o que ele fez com ela, Rick? Minha
vontade era matá-lo!
— Sim! Mas ele já começou a pagar seus pecados. O que foi
aquilo de cortar o pênis? É meu amigo... acho bom você se cuidar
— gargalhou, fazendo-me rir com ele. Ela cortou o pau dele. Que
loucura!
— Alexander. Eu vi Stella e Eliza trabalhando nesse chip há
anos. Houve várias tentativas de aprová-lo no conselho. Porém,
como você já deve saber, todas foram rechaçadas. Eliza foi
humilhada, quase violentada e morta por causa desse chip, é a vida
dela, Alex, ela precisava desse fechamento, o sentimento de
impunidade a estava matando. E tudo isso nasceu por causa da
nossa história. Para que outras Stellas não precisem chorar e sofrer
por seus amados, sem nem ao menos saberem se estão vivos ou
mortos. Ela não escondeu de você por falta de confiança. Escondeu
porque te ama, e sabia que você faria de tudo para detê-la. A Liz é
uma força da natureza, Alex, não tente prendê-la, e sim, entendê-la.
— Levantou-se. — Vem. Eu sei do que você precisa. — Estendeu a
mão, que eu prontamente a peguei, levantando-me e seguindo-o até
o carro. — Me encontre na academia em meia hora, e esteja
preparado. A noite será longa.

Encontrei com o James na entrada da academia.

— O Richard lhe convidou também?

— Não. Mas não perderia jamais, ver o Rick lhe enchendo de


porrada. Além do mais, estávamos preocupados com você. Como
você está?

— Estou bem, irmão. E a Helena?

— Teve que tomar um remédio para dormir, mas vai ficar bem.
Todos nós iremos. — Abraçou-me pelos ombros e seguimos para
dentro, já encontrando o Rick se aquecendo.
— E aí, quem vai ser o primeiro?

— Alex, é claro. Eu só vim me divertir com esse excesso de


testosterona. Por favor, Rick, me faça feliz. Não economize na força
dos golpes.

Entrei no ringue e começamos a lutar. Ficamos nessa por


horas, até nos deitarmos esgotados no tatame.

— Melhor? — indagou Richard.

— Sim. Vou ficar bem. Obrigado, Richard.

— Você fecha a academia pra mim? — perguntou, me


deixando confuso.

— Por que fecharia a academia para você, se sairemos juntos?


— A resposta foi ele apontar para o final do corredor, onde avistei
Eliza em pé, me observando em expectativa. — Ok, entendi. Você
avisou a ela que estaríamos aqui.
— Sim, vocês precisam conversar. Se abra com ela, Alex. Se
querem fazer isso dar certo, vocês precisam ser uma unidade. Boa
noite — despediu-se, levando Jimmy consigo.

— Oi.

— Oi.

Rimos juntos.

— Você primeiro. — Sinalizei para que começasse, enquanto


me enxugava com uma toalha.

—Alex... me perdoa. Eu não queria magoá-lo, juro. Mas


precisava pegá-lo e você jamais concordaria com isso. Estou muito
feliz pelas conquistas, mas nada disso tem valor sem você. —
Aproximei-me, enquanto falava. — Eu estava lá em casa, rolando na
cama sem dormir, foi então que percebi que não consigo dormir sem
meu travesseiro preferido. E ele não estava lá. Tive que vir buscá-lo.
— Fez um bico manhoso. Peguei-a desprevenida, puxando-a para
um beijo, estava sedento, morrendo de saudades dessa boca
gostosa. Interrompi o beijo, colando nossas testas.
— Promete que nunca mais me esconderá nada, Elizabeth? Eu
já entendi seus motivos, mas isso não ameniza a dor que senti aqui
dentro. — Peguei sua mão e a coloquei em meu peito. Não quero
mais perder ninguém importante na minha vida.

— Eu prometo. Desculpa, desculpa, desculpa. — Salpicou


vários beijos por minha face. Finalizando com um mordiscar de
lábios.

— Topa tomar um banho? O vestuário está vazio — convidei.

— Topo, mas antes... — Levantou o vestido preto que estava


usando, retirando-o pela cabeça e ficando apenas com uma
microcalcinha de renda preta. — Quero testar este tatame.

— Sem sutiã? — Arqueei a sobrancelha.


— Graças a Deus!
CAPÍTULO 29
No dia seguinte, ainda tivemos que resolver alguns trâmites,
queixa formal, exame de corpo e delito e o principal. Uma coletiva,
onde contei todo o meu lado da história, expondo aquele verme
mundialmente. Se dependesse de mim, ele apodreceria na cadeia.
E não foi nenhuma surpresa, quando após alguns dias, começaram
a aparecer diversas mulheres o denunciando. É incrível como basta
uma de nós denunciar, para dar uma injeção de coragem as demais.
É isso. Missão cumprida.
O Natal chegou e novamente ficamos sem a presença da
Alexia. Por causa de uma nevasca, os voos foram suspensos,
fizemos uma chamada de vídeo, onde ela participou da ceia online,
e não escondeu a decepção, ao perceber que o William não estava
entre nós. Foi uma noite deliciosa, finalmente o fantasma do que
havia acontecido deixou de pairar sobre nós. Todos ficamos bem,
até Alex e Robert se comportaram, pelo menos, não peguei nenhum
rosnando para o outro, durante a noite.
Resolvemos comemorar a virada do ano nos jardins da
mansão. O lugar era enorme e acomodaria todos os amigos. Às
voltas com os preparativos e com a chuva torrencial que que
resolveu cair sobre nossas cabeças, faltando dois dias para o Ano
Novo, os rapazes não conseguiram ir ao aeroporto buscar a Alexia,
e incumbiram o William dessa missão. Resultado. Chegaram duas
horas depois completamente encharcados. Alexia toda desgrenhada
e William todo bagunçado. Passaram por nós como um foguete em
direção aos quartos. Falei que iria dar match.

— Será que eles transaram? — Jimmy perguntou, enquanto


bebia sua cerveja. Estávamos todos na sala, enquanto o céu
desabava lá fora.

— Obviamente. Não viram o estado em que chegaram? Até


onde eu sei, não se chove dentro do carro, em algum momento,
saíram do carro e chafurdaram na lama. Credo. Que delícia.

— Eu não preciso da visão da minha irmã transando, Elizabeth.


— Alex fez uma careta, levando a cerveja à boca.

— Ah, faça-me um favor, Alexander. Não me venha bancar o


ogro, dando uma de irmão mais velho, você também já transou com
a irmã de alguém.

— Você não tem irmão mais velho — resmungou.

— Graças a Deus! Irmãos mais velhos são um saco. E não se


façam de desentendidos. Conformem-se, vocês já comeram as
irmãs de alguém, agora, alguém está comendo a irmã de vocês. É,
o karma é uma vadia. — Dei umas batidinhas no rosto do Alex,
prendendo o riso, enquanto me levantava.

— Puta que pariu! — Alex e Jimmy bradaram em uníssono,


cuspindo suas cervejas, enquanto os deixava na sala, totalmente
indignados.

Finalmente chegou a grande noite, a chuva havia dado uma


trégua, a noite estava linda, céu estrelado sem nuvens
ameaçadoras. Optamos por uma ceia no jardim com todos os
nossos amigos. Uma bagunça. Olhando aquela mesa com todos
reunidos, percebi que viramos uma grande família mosaico,
pedaços desgarrados, que se encaixavam perfeitamente, fazendo
parte de um todo. Mag, as “meninas”, Dylan com sua namorada
extremamente divertida. Engraçado, nunca o havia visto com
alguém, mas parece que ela estava fazendo bem a ele. Nick e Paul,
meu casal. Os Wood’s com meus afilhados fofos, JR correndo pelo
jardim, deixando Rick maluco, e a pequena Tâmara, nosso favinho
de mel, pois possuía os mesmos olhos da mamãe ursa, no colo da
Stella, explorando o mundo com suas mãozinhas curiosas. Helena e
James, quase sempre, sumiam dentro da mansão, se pegavam, e
voltavam com a cara mais deslavada do mundo, pareciam dois
adolescentes cheios de hormônios, porém, quando perguntávamos
se estavam juntos a resposta era sempre a mesma. Estamos
ficando. Quem realmente estava me preocupando era a Alexia, após
o episódio em que ela e Will chegaram encharcados, estavam se
tratando como dois estranhos. Até as farpas que costumavam soltar
um com o outro desapareceram. Alexia estava estranha. Os olhos
do William a seguiam a todo momento, e havia algo ali, talvez,
preocupação? Não sei. Tem algo acontecendo com a Alexia, ela
está claramente nos evitando e não se parece em nada com a
mulher que invadiu meu escritório. Fiz uma anotação mental para
conversarmos depois.

Após a queima de fogos, abraços e o desejo de um novo ano


fodástico, todos foram se dispersando. Alexia e William foram os
primeiros a se retirarem, cada um em sua bolha. Os casais foram
dar uma volta pela propriedade e as “meninas” se recolheram,
afinal, o dia foi cansativo para elas. Os Wood´s foram pôr as
crianças para dormir e Alex entrou na casa avisando que já voltava,
pois, queria me mostrar “algo”, então, só sobramos Mamis e eu à
mesa.

— Quem diria que você acabaria com o cretino, hein, minha


filha? — Deu um risinho safado. — Tá feliz? — perguntou,
segurando minha mão sobre a mesa.

— Muito. Ah, mãe, parece um sonho. — Enxuguei as lágrimas


que começaram a cair.

— Você o ama — constatou, me assustando. — Sabe, bebê, eu


só vi esse olhar apaixonado assim, uma vez. Em seu pai. Ele me
olhava como se eu fosse seu mundo inteiro, e foi muito difícil vê-lo
partir. Passei anos sem ver esse brilho no olhar novamente, e agora,
estou vendo em você. Diga a ele. — Apertou minhas mãos,
enquanto ambas chorávamos.
— Eu não sei, mãe. Tenho medo de me abrir e me decepcionar,
não sei se o Alexander sente o mesmo por mim.

— Minha filha, aquele homem te ama. Mais do que ele possa


imaginar. Você não viu como ele ficou, só com a possibilidade de te
perder? Isso é amor. Na forma mais pura e simples. Conte a ele. A
vida é curta, Elizabeth, não se arrependa pelo que não teve
coragem de fazer. — Levantamos quando vimos a moto do Alex se
aproximar. — Te amo, bebê, aproveite a noite. — Piscou,
abraçando-me. Após me soltar, beijou meu rosto e entrou na
mansão.

— Você está bem? — Alex perguntou, vendo-me enxugar o


rosto.

— Sim. Só emocionada. Essa época do ano mexe comigo.


Para que essa moto, iremos a algum lugar? — indaguei, enquanto
me aproximava, segurando sua mão esticada em minha direção.

— Você confia em mim? — Estendeu o capacete, sorrindo feito


um menino. — Então sobe! — Já falei que tenho uma queda por
essas covinhas?

— Hum. Acho que já ouvi isso antes. Engraçado, lembro-me


que da outra vez, eu também estava de vestido. E sim. Confio em
você, apesar de eu ainda continuar gostosa demais para morrer —
gargalhou com minha resposta, decerto, lembrando-se do que falei
quando me convidou para subir em sua moto pela primeira vez.
Subi na moto com alguma dificuldade, pois esse vestido era um
pouco mais justo que o outro, e partimos, estava ansiosa para saber
o que a noite nos reservava.

Alex me trouxe para a mesma enseada que visitamos quando


nos conhecemos. Caminhamos por todo o quebra-mar, ouvindo as
ondas quebrarem nas pedras ao nosso redor. Estava vestida com
sua jaqueta, pois o frio era congelante. À medida que fomos nos
aproximando do final do píer, avistei uma tenda branca, velas e
pétalas por todo o lugar. Olhei abismada para ele.

— Entre — pediu, dando-me passagem para que entrasse


primeiro. Lá dentro, havia muitas almofadas, uma cama
improvisada, uma mesinha com queijos e frutas e um balde com
champanhe e gelo.

— Alex... — Sentei-me com os olhos marejados, enquanto ele


se acomodava ao meu lado, ajudando-me a retirar a jaqueta.

— Eu tive uma noiva. — Fiz menção de me levantar, porém, me


deteve em seus braços. — O nome dela era Sarah. Não é um
assunto muito confortável pra mim, você já deve ter percebido. —
Deu um riso estrangulado. — Mas, se quero dar o próximo passo
com você. Eu preciso falar. Eu e Sarah nos envolvemos muito
jovens e acho que a perspectiva que coloquei em nosso casamento
não era a mesma que a dela. Para encurtar a história, ela fugiu, me
abandonou em pleno altar sem uma explicação, um adeus... nada. A
procuramos por meses, anos, talvez. Eu só queria uma explicação.
Acredito que no fundo, eu já soubesse o que iria acontecer. Só não
quis acreditar. Ela não estava pronta e eu insisti em uma relação
fadada ao fracasso, acho que ela enxergou isso antes de mim.

— Você a amava? — perguntei com medo da resposta.

— Sim.... Sinceramente? Não sei — respondeu em um


sussurro. Levantei minha cabeça de seu peito, para olhar em seus
olhos.
— Ainda a ama?

— Não estaria aqui com você se ainda a amasse. Sabe, Liz, eu


vivi quatro anos em um limbo, fazendo mil suposições para não
aceitar o fato de que ela simplesmente me deixou. Achei que a
amava. Então você apareceu — sorrimos um para o outro em meio
às lágrimas. — Você me perguntou por que lhe chamava de
Sunshine e disse que um dia lhe contaria. Pois bem, esse dia
chegou. — Segurou em minhas mãos. — Você é a luz que ilumina o
meu caminho, Liz. Meu coração estava sombrio, tinha decidido que
jamais iria amar novamente, pois quando não nos permitimos amar,
consequentemente não nos magoamos. E foi isso em que acreditei
por longos quatro anos, fechei meu coração para qualquer tipo de
sentimento. Mas você, Elizabeth. — Apontou o dedo pra mim. —
Chutou a porta e entrou sem pedir licença, iluminando tudo ao seu
redor, espantando a escuridão com a sua luz. Meu raio de sol mais
bonito, minha Sunshine. — Endireitou sua postura, ficando sobre os
joelhos e tirando uma caixinha do bolso. — Pensei em escolher um
anel de diamantes, contudo, era clichê demais para nossa história,
então encontrei isso. É ouro negro. Esse sou eu. E vê esses
pequenos diamantes? São pontos brilhantes em meio à escuridão.
Eles que representam você em minha vida, Sunshine. — Segurou a
aliança em sua mão. — Eu te amo. Como jamais amei alguém. Não
posso te prometer um casamento tradicional, acho que fiquei meio
traumatizado, anos de terapia talvez conserte isso — rimos juntos.
— Mas te prometo meu coração. — Se tornou sério. — Escolhi este
lugar tão importante para mim, para que ele se torne importante pra
nós. Que ele seja símbolo do nosso amor. Aqui, neste lugar como
testemunha, prometo te fazer feliz todos os dias, comemorar contigo
todas as suas vitórias e apoiá-la nos momentos mais difíceis.
Receba essa aliança como um símbolo de compromisso. Quero
tudo com você, Sunshine, filhos, cachorro, uma família. Venha viver
comigo, Sunshine. Seja minha, porque eu já sou seu.
Ambos estávamos chorando, Alex me olhando em expectativa.
Peguei a aliança dele na caixinha e pedi que estendesse sua mão
esquerda, a colocando em seu dedo.

— Receba essa aliança, como um símbolo de compromisso.


Quero tudo com você, Alex, filhos, cachorro, uma família. Eu te amo.
Mais do que um ser humano é capaz de amar. Seja meu, porque eu
já sou sua. — Estendi minha mão, para que colocasse o anel, ele a
pegou em suas mãos trêmulas, colocando a aliança em meu dedo.
Linda. Perfeita como nós dois juntos. — Faça amor comigo, Alex. —
Virei-me para que abrisse o zíper do meu vestido. Foi especial,
como nunca havia sido antes. Nossas bocas adorando o corpo um
do outro, nos movimentando em uma dança milenar, conectados,
corpo e alma falando em uma só língua. A linguagem do amor.

Acordamos ao nascer do sol, com os primeiros raios solares


batendo em nosso rosto.
— Vem, Alex, corri para fora da tenda, enrolada no lençol. Os
primeiros raios de sol banhando o mar era uma paisagem incrível de
se ver. Alex me abraçou por trás.

— É lindo, não é? É assim que eu me sinto quando olho pra


você — declarou, apoiando a cabeça em meu ombro. — Venha
morar comigo na cobertura. — Virei-me para ele, confusa. — Qual a
surpresa, Sunshine? Nós praticamente já moramos juntos,
dormimos juntos quase todas as noites, seja no seu apartamento ou
no meu. E se bem me lembro, ontem à noite você aceitou ser
minha. Então vamos acabar com essa celeuma de ficar pulando de
apartamento em apartamento e juntarmos de vez nossas escovas
de dente, hum? — Balançou as sobrancelhas.

— Ok.
— Ok. Só isso? — Arqueou a sobrancelha. Quando viu o
sorriso sapeca crescendo em meu rosto. Deixei o lençol cair e corri
completamente nua em direção ao mar. — Sua maluca! O que você
está fazendo?! — Alex, começou a correr atrás de mim, só de
boxer... preta. Ahhhh como é gostoso esse "déjà-vu".
— Vivendo, Alex, permita-se! — parafraseei o que disse em
nossa primeira vez ali. — Ah! Vou logo avisando que em caso de
separação, eu fico com o cachorro! — avisei, entrando no mar,
antes que ele me alcançasse.

— Nós não temos cachorro!


— Justamente! — gritei, antes que Alex me puxasse para seus
braços.
E naqueles braços, tive a certeza de que encontrei o amor da
minha vida.
"— Energético te dá gás. Café te deixa desperto. Mas só o amor te
dá a força necessária para mudar a si mesmo e mudar o mundo."
Ethan Evans
(Livro "Ninguém Segura essa Babá", do autor Yule Travalon)
CAPÍTULO 30
Três anos depois...

— Liz, passa protetor nas minhas costas? — pediu Helena,


virando-se de costas para mim.
— Claro, ahhhhhh! Helena, o que é isso? Que marca é essa no
seu quadril?! — gritei, apontando a enorme marca roxa acima do
cóccix. — E esses arranhões?! Pensei que a jaguatirica era você —
questionei chocada.

— Fale baixo, mulher, quer que eles nos ouçam? Apontou para
os homens, que estavam próximos à churrasqueira. — Querida,
quando eu e meu tigrão nos pegamos, é um verdadeiro balaio de
gatos. — Brincou, arreganhando os dentes e fazendo gestos de
garra para mim, imitando um felino.

— Estão certíssimos, eu até hoje ainda sei dar umas mordidas


quando quero. — Mamãe bateu sua taça com a da Helena em um
brinde.

— É isso aí, Mamis poderosa, a vida é curta para não


deixarmos nossa marca, se é que me entende. — Helena e minha
mãe são impossíveis juntas.

Stella voltou à mesa, trazendo uma tábua de frios e mais uma


rodada de drinks, ela havia entrado para preparar os petiscos e dar
uma olhada nas crianças, que após passarem horas na piscina,
estavam brincando lá dentro. Tâmara com suas bonecas e RJ com
seu precioso Lego.
— E aí, pensei em irmos à exposição da fotógrafa Sarah
Gilbert, adoro as fotos dela, sempre viajando pelo mundo,
capturando imagens surpreendentes, ela consegue ver beleza nos
lugares mais inóspitos. E pasmem. Será a primeira vez que
aparecerá em público, ela nunca se revelou e escolheu justamente
Dreamouth para sua primeira aparição, por ser o lugar onde nasceu.
Estou ansiosa para conhecê-la, será na próxima sexta, vamos?

— Tô dentro, e como é sexta, poderíamos esticar na boate


Purcell, há séculos não fazemos um programa assim, o que acham?
Os rapazes podem nos encontrar lá, já que duvido muito que eles
queiram nos acompanhar em uma exposição fotográfica — ri,
imaginando a cara de tédio deles, nos acompanhando pela galeria.

— Combinado, irei informar nossos nomes, a exposição é


fechada ao público, será somente para uma lista seleta, porém, ser
amiga do dono da galeria tem seus privilégios — Stella gabou-se,
dando uma piscadela.

— Dindaaaaa, o Tonquinho me empurrou! — Minha afilhada


jogou-se em meus braços, com aquele biquinho lindo e os olhinhos
lacrimejantes, se não agisse rápido, a represa iria abrir a qualquer
momento. Peguei-a em meu colo, a apertando em meus braços.

— Shiiiiiii, vem aqui meu favinho de mel lindo da dinda, não


precisa chorar, o que aconteceu? — perguntei afagando seus
cachinhos.
— Ahhh, para de ser mimada Tam, Tam! Madrinha, ela destruiu
meu avião de Lego, logo quando já estava terminando, poxa! Sabe
o trabalho que dá montar um avião? — RJ queixou-se indignado
com a irmã.
— Mas, mas...eu só queria levar a Jade pra passear de avião
— explicou Tâmara, no auge da inocência dos seus quatro anos.

— Sentando sua boneca gigante no meu avião? — Com as


mãos na cintura, sem camisa e usando calça de moletom, RJ era a
miniatura do Rick, ou seja, enorme para os seus oito anos, tanto que
o chamávamos de Tronquinho desde pequenininho, o que evoluiu
para Tonquinho, na voz gostosa da nossa favinho.
RJ amava construir coisas, passava horas em seu quarto
planejando e construindo suas peças de Lego, então... obviamente
não estava nem um pouco feliz com a irmã aprontando. Tâmara era
a mistura dos dois, a cor da pele do pai e os olhos expressivos cor
de mel, iguaizinhos aos da Stella, olhos que neste momento
estavam marejados, a ponto de transbordarem. Olhei de esguelha
para Stella, que seguia plena, bebericando seu drink, Helena
prendendo o riso, e minha mãe olhando-me em expectativa,
apreciando o show.

Minhanossasenhoradasmadrinhas dá uma força aí, vai.

— Tronquinho, meu amor, vem aqui com a dinda. — Estendi


minha mão para ele, que mesmo fazendo uma careta, por causa do
apelido, aproximou-se emburrado. Tâmara se encolheu, agarrando
meu pescoço, e escondendo o rostinho. Ela sabia que tinha
aprontado. Eu o abracei de lado, já que a irmã estava em meu colo.
— O que foi que a dinda te ensinou?

— Mas madrinha... — Arqueei a sobrancelha. — Tá


bommmmm... Nunca, jamais e em hipótese alguma, bata em uma
mulher, nem com uma flor — recitou o mantra contra a vontade.

— Há controvérsias.

— Helena! — Virei-me para ela mortificada.


— Táaaa. É isso mesmo, RJ, ouça sua madrinha, ela sempre
tem razão. — Fez uma mesura com a mão para que
continuássemos.

— Eu sei, madrinha. Desculpa, Tam Tam. — Alisou o rostinho


da irmã, enxugando as lágrimas que escorriam por ele. Eu a afastei
um pouco, para olhar em seus olhos.

— E agora, favinho de mel mais gostoso da dinda, o que você


fala para o melhor irmão do mundo? — Pisquei para ela, alisando
seus cabelos. Ela me olhou por um segundo, antes de se virar para
o RJ.
— Desculpa, Tonquinho, só queria brincar também — fungou,
esticando os bracinhos para ele, que a carregou, beijando seu
rostinho, e saiu acenando para gente e entrando com ela na casa.
Estávamos na área externa, os homens em volta da churrasqueira
com suas cervejas, e as mulheres protegidas do sol e bem longe
para protegerem os cabelos do cheiro da fumaça. Soltei o ar que
nem sabia que estava prendendo.
— Meu Deus! Só tenho vinte e sete anos e já estou resolvendo
conflitos entre as crianças, minhas rugas estão gritando agora —
reclamei indignada.

— Tenha os seus. Aí sim, você terá rugas. Ou você acha que


sempre estou convidando vocês por quê? Férias, meu amor, esses
dois quando veem os padrinhos, esquecem que os pais existem. Viu
como a Tâmara nem me enxergou aqui? Vocês bem que poderiam
ser meus vizinhos — Stella gargalhou, levantando seu drink em um
brinde.

— Hii... minha filha, se for depender dessa aí, não serei avó
nunquinha, três anos e ainda não saiu um coelho desse mato —
queixou-se mamãe.

— Mas você não tem vontade, Liz? Já conversaram sobre


isso? Sei lá, mesmo com a correria das nossas vidas, esse é o fluxo
normal de um relacionamento, aumentar a família, gerar um fruto
desse amor. Vocês serão excelentes pais, as crianças os amam, e
você sabe lidar muito bem com elas, viu como conseguiu resolver
rapidinho a situação? Se fosse comigo, a Tâmara estaria chorando
até agora e o RJ emburrado no quarto — Stella, sempre perspicaz,
falou me analisando.

— Isso, pense como um pokémon evoluindo — Helena soltou


uma das suas pérolas, fazendo minha mãe quase se engasgar de
rir. Isso que dá conviver com o Jimmy.
— Que pokémon o quê, Helena? Deus me free! E o que foi
aquilo de “há controvérsias?” — Aproveitei para tirar de mim o foco
da conversa.
— Meu amor, umas palmadas bem dadas têm o seu lugar, e às
vezes um chicote também. — Piscou com cara de safada.

— Tenho que concordar, já viram o tamanho daquelas mãos?


— Stella apontou para o Rick, que estava na churrasqueira e mexeu
as sobrancelhas em um gesto sugestivo.

— Meu Deus, vocês são umas pervertidas. Não que eu não


goste de uma pegada forte, do tipo “me joga na parede e me chama
de lagartixa” — caímos todas na risada.

Essas reuniões eram deliciosas, éramos todos uma grande


família divertidíssima. Nem sempre podíamos estar todos juntos,
então... sempre que podíamos, nos reuníamos. Alexia decidiu fazer
uma especialização, estendendo sua estadia em Nova Iorque. Eram
cada vez mais raras as vezes que nos víamos, e as desculpas para
não nos visitar estavam cada vez mais constantes. Eu sentia que
havia algo de errado com ela, mas ainda não havia conseguido
descobrir. Devido aos seus compromissos, Willian nem sempre
podia estar em nossas reuniões, contudo, sabíamos que a sua
situação era complicada. Às vezes sinto que ele é o motivo principal
da Alexia se manter distante.

— Me diga, Liz, voltando para o assunto que você tentou mudar


com maestria, vocês nunca conversaram sobre isso, ele não quer
filhos? Sei lá, tem a história dele não querer se casar
tradicionalmente em uma igreja, o que eu acho uma bobagem. Alex
nunca procurou ajuda? Desculpa, Eliza, eu posso estar bancando a
intrometida aqui, mas alguém tem que falar sobre isso. Vocês têm
que falar sobre isso — insistiu Stella.

— É. Eu sei — suspirei resignada. — Conversamos uma vez.


Sabe... quando ele me deu... — Levantei a mão, mostrando a
aliança de ouro negro, salpicada de diamantes, como uma
constelação. Ainda me emocionava quando lembrava desse dia. —
Fizemos planos, filhos, casinha com cerquinha branca e até um
cachorro — bufei frustrada. — Mas aí...
— A vida aconteceu. — Helena deu-me um olhar
condescendente.

— É. A vida aconteceu. — Levei o copo aos lábios, observando


Alex conversando com Jimmy e Rick, sentados em uma mesa
próxima à churrasqueira, rindo descontraído.

Como se sentisse o meu olhar sobre ele, virou o rosto em


minha direção, e sorriu. Foi como se tudo ao nosso redor se
iluminasse. Era sempre assim, mesmo em meio a dezenas de
pessoas, nossos olhares se atraiam, sempre encontrávamos um ao
outro. Perto de completar trinta anos, os quais seriam comemorados
em quinze dias, com uma grande festa na mansão, Alex continuava
lindo como o dia em que o conheci. Mentira. Ele estava ainda mais
bonito, os treinos com o Richard na academia o deixaram ainda
mais gostoso. Ombros largos, bíceps protuberantes e um tanquinho
de matar. Alex era o conjunto completo, cabelos de um loiro
queimado, batido na nuca e um pouco mais alto na frente, com
alguns fios caídos sobre a testa, rosto anguloso, maxilar quadrado,
nariz reto com uma leve protuberância de quem o tinha quebrado na
infância, lábios que me levavam ao paraíso, e olhos tempestuosos
de um azul acinzentado, não cansava de admirá-lo. Nunca. Mas
Stella tinha razão, precisávamos conversar.

Sorri. Era sempre assim, não sei explicar, mas sempre sentia o
seu olhar sobre mim. Era como sentir o sol beijar minha pele, olhava
para ela e todo o meu mundo se iluminava. Minha. Minha Sunshine.
O amor da minha vida.

— Terra chamando Alex. — Acordei do meu devaneio com


Jimmy estalando os dedos em frente ao meu rosto. — Sonhando
acordado, cara? — Olhei em volta e me deparei com ele e Rick
rindo da minha cara.
— É, quem te viu quem te vê, Alex, sonhando acordado com a
amada. Aliás, uma pergunta, quando terei meus afilhados? Porque
já que você roubou, duas vezes, minha chance de ser padrinho dos
filhos do Rick, você tem obrigação de fazer os seus para que eu
possa apadrinhar. Sim, no plural, porque preciso empatar o placar.
— Apontou o dedo indicador em minha direção.

— Sinto muito, James, mas precisávamos de um adulto para


ser padrinho dos nossos filhos, o que não é o seu caso —
gargalhamos da cara de indignação do Jimmy.
— Ei! Essa doeu, sou um homem sensível. — Pois a mão no
peito, fingindo-se magoado.

— Mas já que estamos falando sobre isso, vocês têm planos?


Já conversaram sobre isso? Vejo como você lida com as crianças,
sem contar o fato de que elas te adoram, você será um excelente
pai, Alex. Além do mais, já passou da hora de você superar esse
lance de igreja e resolver sua situação com a Liz, já pensaram em
dar esse passo na relação? Se o problema é só a igreja, é fácil de
resolver, podem se casar no jardim da mansão, como fizemos no
batismo das crianças. Agora se o problema for o casamento, aí...
meu amigo, você está ferrado, eu lhe aconselho uma terapia.

— Liz não sente falta de nada dessas futilidades, nosso amor


basta e tá ótimo assim.
— Até quando?
— Até quando o quê?

— Até quando ela vai se contentar só com isso? Em algum


momento ela irá te cobrar, Alex. Irá sentir falta de tudo que não teve.
Ela merece mais. Vocês merecem mais. Uma família.
— Rick tem razão, Alex, vocês têm tudo para ser uma família
de comercial de margarina e me dar sobrinhos, barra, afilhados. O
que os impede? Vocês são jovens, saudáveis, quer dizer, são
saudáveis, não é?
— Sim, Jimmy, somos perfeitamente saudáveis. Chegamos a
fazer planos uma vez — sorri, girando a aliança em meu dedo. —
Há três anos quando firmamos compromisso, traçamos planos de
mudarmos para uma casa, ter filhos e até um cachorro — soltei uma
risada abafada. — Mas tudo isso ficou lá atrás. Nos afundamos em
trabalho, estamos à frente das duas das maiores empresas de
tecnologia do mundo, não há espaço para crianças, não temos
tempo para isso, estamos bem assim.
— Você está se ouvindo? Está tentando nos convencer ou a si
mesmo? Pois eu acho que você está com medo. Já passou da hora
de você enterrar o passado de vez e se dedicar a formar uma
família, a sua família. Está na hora de dar um salto de fé, Alex.
Converse com a Liz, veja o que ela pensa sobre isso, vocês estão
juntos há três anos, daqui a quinze dias você irá trintar, e a Liz
também não é mais nenhuma menina. Um dia ela vai acordar e
descobrir que queria ter tido filhos. Os ponteiros do relógio da vida
não param de girar, Alex, pense nisso. — Levantou a garrafa de
cerveja, sinalizando que acabou e que iria buscar mais, e Jimmy
aproveitou para ir à churrasqueira virar a carne, deixando-me
sozinho com meus pensamentos.

Olhei em direção a Liz. Linda. Em um biquíni preto e branco


minúsculo, ela me fazia salivar, só em olhar os quadris largos, a
barriguinha chapada, e os seios que cabiam certinhos em minhas
mãos, até senti meus dedos formigarem, podia sentir a sensação
deles beliscando seus mamilos. Mesmo após três anos, ela
continuava brilhando como o primeiro dia em que a vi. Será que ela
pensava em filhos? Nunca mais paramos para falar sobre isso, a
vida simplesmente aconteceu e nos deixamos levar.

É... o Rick tem razão. Precisávamos conversar.


CAPÍTULO 31
Sete anos. Sete anos e nada mudou. Não entendia como a
cidade, que carregava as duas das maiores empresas de tecnologia
do mundo, era tão retrógrada. Acostumada a viajar, conhecendo
diversas culturas e lugares exuberantes, voltar aqui me fazia sentir
tudo, menos nostalgia. Talvez com o tempo eu pudesse convencê-lo
a mudar a sede para um lugar menos claustrofóbico. Não seria
difícil, ele sempre fez tudo que pedia, não seria diferente agora.
Sorri, imaginando.
— O que essa cabecinha maquiavélica está pensando?
Quando você sorri dessa maneira, coisa boa não é. — Gargalhei ao
ouvir a Abby, convivíamos há tanto tempo juntas, que acreditava me
conhecer como ninguém, e por ora, preferia que acreditasse que
sim.
— Nada demais, só recordando de acontecimentos passados.
— Imaginando a cara de todos, quando descobrirem quem sou, e
principalmente a surpresa da vadia, quando descobrir que é uma
cópia desqualificada da obra prima original, do verdadeiro e único
amor da vida do seu queridinho amado.

— Porque tudo isso, Sarah? Você estava vivendo sua vida bem
longe daqui, com suas fotos sendo disputadas pelos maiores
veículos de comunicação, fez fortuna, conheceu o mundo, e nunca
pensou em voltar, então por que agora? Desde que você viu a foto
deles naquele jornal, tudo ficou em suspenso, mudou seus planos,
resolveu aparecer publicamente, justamente em uma exposição
organizada aqui, e quer me fazer acreditar que nada tem a ver com
o seu ex-noivo ter finalmente seguido adiante. O que você planeja
com tudo isso?

— Seguindo adiante? Você viu a foto dela? É claramente uma


cópia malfeita de mim, e não vamos esquecer o fato de ele estar
com a coitada há três anos, sem dar um passo adiante na relação. A
quem ele quer enganar? Claramente ele não me esqueceu, e
claramente ele não seguiu adiante! — Dei um tapa no painel do
carro, exaltando-me. Essa conversa já estava enchendo meu saco.

— E pelo visto, nem você. Sarah, aonde você quer chegar com
tudo isso? — Meu Deus, eu só queria um pouco de paz, será que
era pedir muito? Bufei entediada.

— Você faz muitas perguntas. Pensei que lhe pagava para


fazer minha curadoria, não para ser minha psicóloga. Falando nisso,
como estão os preparativos para a exposição? Os convites já foram
enviados? Tudo tem que sair como o planejado. — Tamborilei os
dedos na porta do carro, tinha abaixado o vidro, apoiando o
antebraço na janela, estava de óculos escuros e os cabelos soltos,
apreciando o sol banhar a minha pele, o dia estava ensolarado,
entretanto, até o cheiro dessa cidade me irritava.

— Sim, tudo seguindo na mais perfeita ordem, inclusive nossas


convidadas vips já confirmaram presença — confirmou, enquanto
dobrava a esquina, fazendo-me avistar o Dreamouth Memorial
Hospital, onde meu pai sempre trabalhou como cirurgião. A fachada
continuava a mesma, trazendo-me lembranças das quais gostaria
de esquecer. — Pare o carro. — Abby estacionou em frente ao
opulento edifício, e após longos minutos mergulhada em nostalgia,
pedi que seguisse para o primeiro lugar ao qual gostaria de visitar.

— Oi, mamãe, quanto tempo. É, eu sei. Desculpe ter demorado


tanto, sabe como é, muitos compromissos, viagens, homens... não
sobrou muito espaço para visitar uma cidade decadente, e uma
mãe...morta. Desculpe, nada pessoal. Mas pelo visto, você não
recebe visitas há muito tempo. O que foi? O grande amor acabou?
— Estalei a língua, apoiando um dos pés na lápide envelhecida, não
havia flores, o mato estava alto, quase cobrindo o epitáfio “Olivia
Carson, amada esposa e mãe.” Bufei em desdém, amada mãe, que
piada. — Você nunca foi uma mãe, não para mim. E quando
finalmente pensei que pudesse ter o seu amor, você morreu junto a
ela! Era tudo sobre ela. Sempre foi tudo sobre ela! — gritei a plenos
pulmões, caindo de joelhos sobre a lápide. — Sabe, mamãe, passei
muito tempo culpando-me pelo que aconteceu. Não mais. Estou de
volta para recuperar tudo que é meu. Bom falar com você, foi
reconfortante. — Levantei-me batendo as mãos na calça para limpar
a poeira. Dirigi um último olhar para a lápide da minha progenitora,
antes de seguir em frente. Adeus mamãe.

— Para onde? — Não respondi a Abby, digitei o endereço no


GPS e deixei que ela me guiasse ao meu próximo destino. Ela sabia
que quando me trancava em meu mundo, o melhor era me deixar
em paz. Por isso era uma boa parceira de viajem. Estacionamos em
frente à casa, em um bairro afastado da cidade, ele sempre fugiu da
agitação do centro. Não era a casa onde nasci, pois com a morte da
mamãe e minha ausência, ele a vendeu, comprando essa menor,
porém, não menos imponente. Uma residência digna do chefe de
cirurgia geral do maior hospital da cidade.

— Quer que eu vá com você? — Neguei, tocando em sua mão,


impedindo-a de sair. Esse era o primeiro de muitos reencontros que
teria que enfrentar sozinha. Respirei fundo, saindo do carro, tinha
que acabar logo com isso. Subi as escadas e toquei a campainha,
aguardando até que um senhor de óculos abriu a porta. Apesar dos
cabelos e da barba que antes eram loiros, agora estarem brancos,
Donald Carson continuava bonito. Seu porte altivo ostentava uma
segurança que nem os momentos mais sombrios conseguiram
abalar. Até agora. Com os olhos esbugalhados, ele me encarava
petrificado. Tirei os meus óculos, colocando-os no alto da cabeça,
dando-lhe meu melhor sorriso.

— Oi, papai, sentiu saudades?

A exposição já havia começado há pelo menos uma hora,


contudo, só faria a minha entrada quando houvesse a confirmação
de que haviam chegado. O escritório localizava-se no segundo
andar, com visão ampla de todo o andar térreo, onde era realizada a
exposição. A melhor parte? Podíamos observar todo o salão através
da parede de vidro, sem que percebessem que estavam sendo
observados. As pessoas se aglomeravam em volta das telas, cheias
de teorias sobre a história por trás de cada foto. Um detalhe
importante, todas as minhas fotos possuíam uma história a ser
contada. Quem saberia? Aqueles que as adquirissem. Os demais,
ficariam com tolas suposições. Quase sempre erravam. Estúpidos.
— Chegaram — Abby anunciou, entrando no escritório.

Analisei-a, girando entre os dedos o copo com o Bourbon que


estava quase no fim. Abby Lotte era uma mulher muito bonita. Alta e
com um corpo esguio, chamava a atenção com sua pele leitosa,
contrastando com os cabelos negros, em corte Chanel. Hoje, ela os
usava penteados para trás, fixados com gel, ressaltando ainda mais
seus grandes olhos verdes. Sempre senti atração por homens,
porém com Abby... era diferente. Ela sabia como me satisfazer, não
me cobrava, nem exigia atenção, tínhamos outros parceiros e
enquanto fosse interessante, a manteria junto a mim. Usando um
vestido verde estonteante, caminhou com elegância até mim,
tomando o copo de minhas mãos e bebendo o líquido restante em
um só gole.

— Pronta? — A segurei pela nuca, trazendo-a até mim em um


beijo violento, fazendo-a desmanchar-se em meus braços. Abby era
um pouco mais alta, porém, nada que o meu Louboutin meia pata
não resolvesse. Era sempre assim. Usava a paixão que Abby nutria
por mim, manipulando-a ao meu bel prazer. Nunca pedia, eu
tomava, exigia, e não seria diferente agora. Mordi seu lábio inferior,
fazendo-a suspirar em minha boca e abrir os olhos, encontrando
meu sorriso provocante.

— Agora estou. — Pisquei, deslizando os dedos por seu rosto,


saindo em seguida. Estava na hora do show.

Circulei calmamente pelo salão, absorvendo as reações do


público a cada arte. Optei por usar meu cabelo de um loiro quase
platinado, solto, todo para trás, fixado com gel. Ele batia até o meio
das omoplatas. Usava um vestido mid preto de seda, com decote
quadrado e alças finas, nada muito chamativo, não fosse as costas
nuas. Elegante e sexy na medida certa. Ainda circulando pelo salão,
avistei meu alvo de costas, apreciando uma das minhas imagens
preferidas. Usava um vestido azul de cintura marcada e esvoaçante
até a altura dos joelhos, seus saltos completavam o visual, tínhamos
a mesma altura, porém os cabelos dela eram de um loiro mais
escuro e estavam presos em uma trança lateral. Os olhos azuis
como os meus, analisavam a obra à sua frente, emocionada com a
mensagem que a imagem transmitia.

— Linda, não é? — Assustou-se com a minha abordagem,


recompondo-se rapidamente, secando as lágrimas que ameaçavam
transbordar, abrindo um sorriso em concordância.

— Desculpe, não a vi. Sim. Linda e triste. Dá para sentirmos a


dor no olhar da criança. Mesmo com o sorriso sincero, o olhar
carrega uma dor inenarrável, gostaria de parabenizar a fotógrafa
pela sensibilidade ao captar esse momento — sorriu suavemente,
enquanto aceitava a taça de champanhe oferecida pelo garçom.

— Alguma teoria sobre a história por trás da foto...? — dei a


deixa para que se apresentasse.

— Elizabeth Sanders. E não. Não tenho a menor ideia,


entretanto, estou a um passo de adquiri-la, só para descobrir. É uma
foto intrigante. — A foto em questão mostrava uma menina sentada
em uma cadeira, enquanto um soldado ajoelhado em sua frente
entregava-lhe uma boneca, acariciando seus cabelos em um gesto
contido de carinho. O fato de estar em preto e branco, acentuava
todas as emoções que a cena proporcionava. Esse era o meu
segredo.
— Turquia. No terremoto ocorrido no início deste ano, essa
menina perdeu toda a família. Seus pais e dois irmãos foram
retirados sem vida dos escombros. Por ser início da manhã, a
maioria das famílias nem tiveram chance de sair de suas casas,
quando o tremor começou. Houve muitas vítimas fatais naquele dia.
Não ela. Tabor foi o soldado que a resgatou quase sem vida dos
escombros. Vê como o corpo dele esconde propositalmente o dela?
— Sinalizei o local, deslizando os dedos suavemente sem tocar na
imagem. — Sila perdeu uma das pernas, mas não busquei registrar
o que ela perdeu, e sim, o que estava ganhando. Esse foi o primeiro
encontro entre os dois, após o resgate. Hoje, mesmo com toda a
burocracia, Tabor luta para adotar Sila, houve um elo entre eles
desde o primeiro instante, quando Sila abriu os olhos avelã e o rosto
do Tabor foi o primeiro a chegar em seu campo de visão. Ele tocou
seu rostinho assustado e disse que tudo ficaria bem. Depois disso, a
levaram para o hospital, Tabor acompanhou a todo o tempo sua
recuperação, e paralelamente, começou a se informar sobre o
processo de adoção. No dia em que esta foto foi registrada, Sila
finalmente estava totalmente recuperada. A tristeza em seu olhar
era por ter ciência de que perdeu a todos que amava. Tabor
perguntou se ela lembrava dele, e com sua afirmação, perguntou se
poderia ser seu amigo e até tinha trazido uma boneca para ela.
Sabe qual foi sua resposta? Um abraço bem apertado e um
“obrigada”. Nunca esquecerei o quanto Tabor ficou emocionado.
Desde então, ele entrou com o pedido da guarda provisória, os pais
de Tabor caíram de amores por Sila, e hoje, é só uma questão de
tempo para que ela finalmente volte a sorrir. Este é o meu trabalho,
Elizabeth, capitar a beleza, mesmo nas situações mais sombrias. —
Levantei a taça em direção a ela, em um brinde silencioso.
— Oh! Então você é... — Abriu a boca em um O perfeito.

— Sarah Gilbert, fico feliz que tenha gostado de uma das


minhas fotos preferidas. Poder trazer histórias magnificas em meio
ao caos é o que me inspira. — Estendi a mão, ao que ela pegou
imediatamente.
— Não acredito que é mesmo você, a Stella vai pirar. Por favor,
Sarah, dê-me alguns minutos, minhas amigas foram ao toalete, mas
já estão retornando. Salve-me de uma morte dolorosa, caso a Stella
volte e eu tenha que contar que você esteve aqui e eu a deixei ir. —
Arregalou os olhos e rimos juntas.
— Sem problemas, minha noite é de vocês. Adoro ver as
reações do público às minhas obras. Ah, acredito que sejam elas
vindo ali. — Apontei com o queixo para duas mulheres que vinham
em nossa direção com semblantes intrigados.

— Nossa, Liz, encontrou uma prima? Vocês são bem


parecidas. — A morena de longos cabelos negros e olhos azuis
indagou, olhando de mim para Elizabeth. A outra morena de cabelos
Chanel e olhos cor de mel fitou-me com um vinco entre as
sobrancelhas.
— Quem me dera! Sabem quem é ela? — perguntou dando
pulinhos e batendo palminhas de empolgação. Quase revirei os
olhos. Quase. — A Sarah Gilbert em pessoa, não é incrível? Sarah,
essas são Helena e Stella, as amigas que te falei — apresentou-me
as duas. — Meninas ela me deu um baita susto, estava eu aqui
quase me debulhando em lágrimas, quando ela chegou de
mansinho e contou a história por trás desta foto, que aliás, já vou
logo avisando que é minha. — Todas rimos de sua empolgação.
— Stella Wood, sou uma grande fã sua e não poderia perder a
oportunidade de conhecê-la pessoalmente, afinal, todos morrem de
curiosidade para saber quem realmente é a Sarah Gilbert, e
finalmente estamos tendo esse privilégio. — Estendeu-me a mão,
que a peguei prontamente.

— Ah... meninas, encantada com vocês, obrigada por


prestigiarem meu trabalho, posso tirar uma foto de vocês? Quero
registrar este momento — pedi, solicitando a Abby que trouxesse
minha máquina.
— Sim, claro, mas você não vai tirar a foto com a gente? —
perguntou a tal da Helena. Que mulher chata.
— Infelizmente, não. Primeiro, vocês não gostariam de uma
foto registrada e autografada por mim? Isso não seria possível, se
eu estivesse nela. Segundo, eu nunca saiu em fotos. Contraditório,
não é? — rimos antes de eu continuar. — Esse é um dos motivos
para esta exposição ser fechada ao público. As estrelas são elas,
não eu. — Apontei para a fotos expostas. Aguardei que se
posicionassem, fiz vários cliques com poses divertidas e pedi o e-
mail da Elizabeth para enviar as fotos.
— Ahhh, obrigada, é muita gentileza sua, Sarah. Agora me
conte, ouvimos dizer que nasceu aqui, e por isso a escolha de se
revelar justamente nesta cidade. É verdade?

— Sim, é. Há muito tempo não vinha aqui, contudo, não


poderia haver ocasião melhor para retornar, senão com uma
exposição, não é mesmo? Ainda não reencontrei todos que queria,
mas sinto que em breve isso acontecerá. — Beberiquei a
champanhe sorrindo.
— Então gostaria de te fazer um convite, meu... marido —
vacilou ao falar — faz aniversário de 30 anos daqui a uma semana,
e iremos comemorar em grande estilo na mansão Gauthier, como
você nasceu aqui, com certeza conhece os Gauthier, será um
momento de reencontrá-los, quem sabe. — Percebi a Helena
beliscando a amiga disfarçadamente e quase ri.

— Sim, não convivi com eles, mas quem aqui na cidade não
conhece os Gauthier, não é mesmo? Uma família linda, pena que
marcada por uma tragédia. Quer dizer que Alexander Gauthier é seu
marido? Parabéns, vocês fazem um casal lindo — afirmei, focando o
olhar em sua aliança negra, o que a deixou desconfortável. — Sim,
adoraria ir e talvez rever algumas pessoas, acredito que pensarão
estar diante de um fantasma — sorri diabolicamente. — Combinado,
então. Sinto deixá-las, mas a minha curadora já está me sinalizando
enlouquecida, preciso me revelar aos demais presentes, divirtam-se,
foi um prazer conhecê-las. — Abracei-as, deixando Elizabeth por
último. — Amanhã enviarei as fotos e aguardo o convite, e...
Elizabeth, mal posso esperar para revê-la — falei em seu ouvido,
antes de soltá-la. Pisquei e segui em direção aos outros convidados.
O primeiro movimento foi feito. Que comecem os jogos.
CAPÍTULO 32
— Isso! Aí, ai, simmm... mais forte... assim, assim...ai que
delíc...
— Sunshine, pelo amor de Deus, se não estivéssemos na
cobertura, o que os vizinhos iriam pensar? — Alex parou o que
estava fazendo para me repreender.
— Que somos um casal sexualmente ativo, meu bem, e
estariam enlouquecidos de tesão. Os acompanhados estariam se
pegando, os solitários usariam o que tivessem à mão ou a própria
mão, se é que você me entende. — Balancei as sobrancelhas,
sacodindo minha mão em frente ao rosto. — E os chatos
continuariam a fazer o que sempre fazem: NADA. A não ser tomar
parte da vida alheia, o que os leva a serem sozinhos, tristes,
vivendo através da vida dos outros, e o pior: Nunca, jamais e em
hipótese alguma... transam. Enfim, estaríamos fazendo toda a
vizinhança feliz, cada um à sua maneira — concluí prendendo o
riso. — Aiiiiii, é disso que tô falando, não para, não para, Alex. Puta
merda, que delícia!

Alex sorriu ao continuar a massagem, fazendo-me delirar de


prazer.

— Quando você me disse que fez curso de massoterapia, não


acreditei que teria um massoterapeuta exclusivo só para mim.
Credo, que delícia de homem lindo, inteligente, um gostoso que fode
com força, cozinha e ainda faz massagem? Morri e estou no céu. —
Eu me esparramei na cama, fingindo um desmaio. Alex gargalhou.

— Isso por um acaso é um anúncio? Vai colocar num outdoor?


— Arqueou a sobrancelha, parando com os movimentos.

— Jamais! Nunca ouviu falar que os tesouros mais valiosos são


mantidos escondidos a sete chaves? Então, você é o meu tesouro,
e não sou doida de compartilhá-lo, vai que brota uma maluca do
quinto dos infernos para atazanar nossa vida, fazendo com que eu
gaste meu réu primário. Nãaaao, sem chance. — Levantei as
pernas em um ímpeto, pegando-o desprevenido em uma chave de
coxa, derrubando-o sobre mim.

— Wooou! Pelo visto as aulas com o Rick estão surtindo efeito


— sorriu descarado, com os lábios roçando os meus.

— Sim. Agora quero ver algum vagabundo ou safada ousar a


me desafiar. Estou quase uma ninja — sorri marota.

Após o episódio há três anos, Helena e eu recebemos aulas de


defesa pessoal com a Stella, porém, eu me apaixonei mesmo pelo
boxe, e meu professor espetacular é o Richard, claro. Me dei bem.

— Nem me lembre, Liz, quase morri naquele dia. Só de pensar


que aquele infeliz pudesse fazer algo a você, enlouqueci. Nunca
mais apronte uma daquela, tudo poderia ter dado errado de uma
maneira estratosférica — queixou-se, começando a distribuir beijos
em meu pescoço.

— Mas não deu. E agora estamos fodonas. Somos quase as


Três Espiãs Demais; uma loira, uma morena, só falta convencer a
Stella a ficar ruiva — falei convencida, contando nos dedos.
— Você é maluca, Liz, a minha maluca — concordou,
salpicando beijos pelo meu colo e ombros. — Eu te amo, Sunshine,
você é a luz que ilumina o meu caminho, e nada, nem ninguém,
ficará entre nós. Nunca.

— Acho bom, meu loiro gostoso, porque você também é só


meu, e ai de quem se atrever a chegar perto. Estou preparada. —
Dei um golpe de boxe no ar. — Hum.
— Olha que mulher brava que eu tenho — riu, me beijando com
fome.
Avançou sobre mim, puxando minha camisola, tirando-a
rapidamente. Sempre fomos assim, fogo e gasolina. Mesmo após
três anos juntos, o desejo entre nós só aumentou. É só triscarmos
um no outro, que em poucos minutos já estamos sem roupas,
suados e ofegantes. Adoro. O celular dele começou a tocar
insistentemente.

— Abstrai Alex, continua, pelo amor de Deus — falei,


agarrando seus cabelos, enquanto Alex deslizava os lábios entre
meus seios, até pegar uma aureola, chupando-a com força. O
celular começou a tocar novamente.

— Mas que caralho! — Pegou o celular para ver quem era, e


chocando um número zero de pessoas, vimos que era o empata
foda do James. No mínimo, tinha feito alguma merda e queria vir
aqui se esconder da Helena.

É. Três anos se passaram e aqueles dois ainda estão no nem


ata nem desata, como diz a Mamis. Não conseguem ficar longe um
do outro, vivem brigando, na maioria das vezes por culpa do Jimmy,
obviamente. Porém, não mudam de fase, não atualizam status, ou
seja, continuam eternos namorados, pelo menos não são mais
ficantes, o que era ridículo, depois de um ano juntos. Revirando os
olhos para essa situação.

Agora ambos os celulares começaram a tocar.

— Que porra viu? Por que sempre que eles brigam, sobra pra
gente?! Infernoooo! — vociferei, quando ambos os celulares
voltaram a tocar. Pesquei o meu em cima da mesa de cabeceira,
sinalizando para Alex continuar de onde parou. Deu-me um sorriso
safado, descendo a boca sobre meu ventre, lambendo meu umbigo
e acabando com o juízo que já nem tenho.
— O que o James aprontou dessa vez? — atendi perguntando,
pois vi que era a Helena quem me ligava.

— Onde está o Alex?! Esqueça, não quero saber. Seja lá o que


estejam fazendo, parem agora, e mande o Alex atender a porra do
celular... AGORA. É urgente, Lizy! Aliás, não precisa, estou a
caminho, chegando em quinze minutos. — Bateu o telefone, me
deixando assustada. Não era a Helena, era o James. Fiquei parada,
olhando o telefone.

— O que a Helena falou para te deixar assim? Onde é o


incêndio dessa vez? — Alex levantou-se quando percebeu que o
assunto era sério, e eu, já estava chorando por dentro por ser
privada do meu sexo matinal. Droga.

— Não foi a Helena. Era o James avisando que chega em


quinze minutos, e pelo desespero em sua voz, tenho até medo do
problema da vez. Não sei se nos arrumamos para esperá-lo ou
fugimos enquanto há tempo — bufei, indo em direção ao banheiro.

Fizemos nossa higiene matinal, e nos vestimos rapidamente,


indo para a cozinha preparar o café. Quinze minutos depois, Alex
abriu a porta para um James altamente nervoso, com um semblante
tenso, que em nada lembrava nosso amigo. Olhou rapidamente para
o Alex, passando direto e sentando-se no sofá com os cotovelos
apoiados no joelho e com a cabeça baixa entre as mãos.

— Jimmy, você está nos assustando, onde está a Helena?! —


Perguntei com a voz esganiçada. Alex prontamente me abraçou por
trás, apoiando-me. O que quer que tivesse acontecido, tinha a
impressão de que mexeria com todos nós. — Fala, Jimmy! –
esbravejei quando o silêncio se tornou desesperador.

— Helena está bem. Deixei-a em casa — respondeu num


sussurro, levantando a cabeça em seguida, olhando diretamente
para Alex. — Caraaaa, não sei nem como começar. Desculpa,
irmão, passei a noite em claro, pensando em mil maneiras de como
lhe contar isso, mas não vejo outra saída a não ser a mais direta
possível. Cedo ou tarde você iria saber. — falou desolado.
— James, do que você está falando? — Alex o olhou
assustado. — A Alexia...? — foi interrompido pelo Jimmy, que
levantou sinalizando que não. Andou pela sala passando as mãos
pelos cabelos, quase arrancando o topete, até parar, olhando de
mim para Alex.
— A Lôra voltou — Jimmy falou sério, encarando Alex.

— Como? O que você disse? — Vi Alex empalidecer como se


estivesse diante de um fantasma.

— O que você ouviu, Alex. Ela me ligou ontem à noite. Voltou, e


dessa vez, para ficar. Segundo ela, pretende “consertar” os erros do
passado. Perguntou por você — Jimmy murmurou, olhando
rapidamente para mim, contudo desviou o olhar na mesma
proporção.

— O quê? Você só pode estar de brincadeira, James, e de


muito mal gosto por sinal! — Alex esbravejou transtornado.

— Pior que não, irmão. Ninguém mais do que eu gostaria que


fosse brincadeira, uma pegadinha, sei lá. Mais a verdade é que
parece que ela se tornou uma fotógrafa renomada, e voltou para
fazer uma exposição aqui em Dreamouth.

— Mas como é possível? Procuramos tanto, ela simplesmente


desapareceu da face da terra, para aparecer assim, depois de
tantos anos? Por que voltar, e por que agora? Não, não, não... —
Alex parecia um leão enjaulado, andando de um lado para o outro,
passando as mãos pelos cabelos, do seu jeito peculiar de quando
estava nervoso.
— Vocês podem me esclarecer quem é essa lôra? É a loira do
banheiro por um acaso? Só isso para explicar a reação do Alex. —
Os dois viraram confusos, olhando como se não acreditassem no
que acabei de falar. — Desculpem, vocês sabem que tendo a
divagar quando fico nervosa. Mas, e aí? Quem vai me responder?
—indaguei com as mãos na cintura.

— Ela é... — Jimmy começou a falar, porém foi cortado


abruptamente por Alex.

— Ninguém. — Olhou para mim, e pude enxergar em seus


olhos uma dor que eu nunca tinha visto antes. Virou as costas em
silêncio e em seguida saiu batendo a porta, me deixando petrificada
no lugar, pois percebi naquele momento quem ela era, e que nada
mais seria como antes.
CAPÍTULO 33
— James Coleman, pare já aí onde está! — gritei quando
consegui sair do transe que a constatação me deixou. — Sente-se
aí e me conte tudo sobre essa lôra que fez meu loiro fugir para as
colinas. Com ele eu me entendo depois, agora você não me escapa!
— Bati a porta, antes que ele fugisse de mim e saí o arrastando até
o sofá. — Anda, desembucha.

— Lizy... — Jimmy estava literalmente constrangido ao ser o


mensageiro, mas não o deixaria escapar. Após suspirar resignado,
começou a falar o que achei ser um pesadelo. — A lôra é a Sarah,
ex-noiva do Alex. Ela me procurou ontem à noite com um papo de
que finalmente estava bem e que voltou para reparar os erros do
passado, perguntou pelo Alex e me pediu para que conseguisse um
encontro entre eles, que precisava vê-lo e explicar o porquê
precisou ir embora. Ao que parece, ela tornou-se uma fotografa
famosa e organizou uma exposição aqui... espera. A exposição que
vocês foram na sexta-feira, era a dela?! — Jimmy perguntou
horrorizado.
— Ao que tudo indica, sim. Então a Sarah Gilbert é a ex do
Alex? Meu Deus. Mas como...

— Gilbert? Mas o sobrenome dela é Carson. E esse como?


Como o quê? — Jimmy empertigou-se, esperando que eu
concluísse meu pensamento.

— Nada. Como nada. Quer dizer, como ela volta, saindo das
profundezas do inferno, para nos atormentar, o que essa mulher
quer? — Indignação me resumia neste momento, porém não
poderia compartilhar minhas suspeitas com o fofoqueiro do Jimmy.
— Jim, você não está atrasado para o trabalho? Então pode ir
andando, já que seu chefe fugiu como um covarde.

— Lizy, sinto muito. — Jimmy murmurou consternado.


— Eu também. Mas agora estou atrasada e você também,
tchau James. — Eu o coloquei para fora e bati a porta em sua cara.
— Calma, Elizabeth, respira — briguei comigo mesma, começando
a hiperventilar. Fui até a cozinha beber um copo d’agua, enquanto
organizava meus pensamentos. Se bem conhecia o Alex, ele iria me
evitar até termos essa conversa. Isso me daria tempo para analisar
a situação de todos os ângulos e organizar meu plano de ataque,
porque aquela piranha iria me pagar. Após enviar mensagens para
Stella e Helena, tomei um banho, me arrumando rapidamente, e
cheguei à empresa em tempo recorde.
— Que bom que já estão aqui — falei sem nem as
cumprimentar, indo direto para minha mesa. — Chamei vocês aqui
porque estou puta. Não. Puta é apelido, perto do que estou
sentindo. — Bati na mesa, fazendo com que ambas se assustassem
com o meu rompante.

— Isso tem a ver com o Jimmy estar enlouquecido hoje de


manhã? Ele chegou em minha casa como um tornado me pegand...

— Foco, Helena! — Stella vociferou.

— Desculpe — engoliu em seco. — Como eu ia dizendo, ele


me pegou de jeito, dizendo que precisava disso para se acalmar e
se preparar para a guerra que estava prestes a acontecer. Falava
coisa com coisa e quando perguntei, só dizia que depois me
explicava tudo, que iriamos ficar bem, que todos ficaríamos bem,
depois desandou a ligar para o Alex, como este não atendia, pediu
que tentasse o seu celular. Daí você atendeu, e o resto você já
sabe. Ele saiu feito um foguete para encontrar vocês, até me ofereci
para ir com ele, porém ele disse que preferia resolver isso sozinho.
Confesso que fiquei puta, mas realmente, nunca tinha visto o Jimmy
tão transtornado, seja o que for, mexeu muito com ele, então
desembucha, Liz, porque nem tenho mais unhas, de tanta
curiosidade. — Estendeu as impecáveis garras para mim.
Mentirosa.
— Sarah Vadia Gilbert. Aquela vaca é a ex-noiva do Alex —
soltei logo tudo de uma vez.

— O quê?! — Stella levantou-se da poltrona em um salto. —


Você quer me dizer que a fotografa é a Sarah do Alex?

— Sarah do Alex é o seu cu! Sarah do Satanás, que é para


onde irei enviá-la, quando eu terminar com ela, direto para o colo do
capeta! — Levantei-me em direção ao bar, enchendo uma dose de
whisky e virando de uma só vez.

— Não são nem oito horas da manhã, Elizabeth, pelo amor de


Deus! — Levantei a sobrancelha para Helena. — Tá. Situações
desesperadoras, pedem medidas desesperadas, enche um pra mim
também, antes que eu cometa um assassinato. — Levantou-se, indo
sentar-se no sofá próximo ao bar.

— Põe pra mim também, porque pela sua cara, prevejo


grandes tempestades. — Stella juntou-se a Helena no sofá.

— Ela sabia. — Sentei-me no sofá após servi-las. — Fez tudo


de caso premeditado, a exposição, os convites, ela veio diretamente
até mim, se aproximou sorrateiramente, fingindo não saber quem eu
era, e pior, fingindo não conhecer o Alex. E caí como uma pata,
fiquei até emocionada com a tal história da foto, meu Deus, será que
até isso ela mentiu? Não, ela não seria assim tão baixa. Ou seria?
Ahhhh, mas isso não vai ficar assim, a pessoa só me faz de idiota
uma vez. O que está fazendo? — questionei Stella ao se afastar
com o celular no ouvido, sinalizando que aguardasse. Esperei até
que finalizasse a ligação.
— Estava falando com o Max. Ele me confidenciou que quando
a curadora da exposição o procurou, a principal condição para que a
exposição acontecesse em sua galeria era que os Gauthier fossem
convidados, e como meu amigo, ele não viu problema algum em me
convidar, estendendo o convite a você, já que você é mulher do
Alex, consequentemente você é considerada uma Gauthier, então
para ele foi simples atender a esse pedido.
— Ok. Eu vou fingir que o seu amigo não te manipulou em
proveito dele, e irei me ater aos fatos importantes. Ela sabia quem
eu era e fez questão de conhecer o inimigo, ou melhor, a inimiga.
Ela não veio para brincar. Está usando outro nome, Jimmy disse que
o sobrenome dela era Carson. Talvez seja por isso que nunca a
tenham encontrado. Procurou o Jimmy, propondo que ele arranjasse
um encontro entre ela e o Alex, que precisava explicar por que
sumiu, consertar os erros do passado e blá, blá, blá... ela tá
pensando o quê, que é só chegar depois de sete anos e continuar
de onde parou?

— Jimmy que não se atreva! Eu corto o pau dele em rodelas e


sirvo como iguaria no bar do Richard! — Mesmo com toda a tensão
do momento, não resistimos ao surto da Helena e desatamos a rir.
— Sim, mas não iremos falar sobre o elefante na sala? — Helena
perguntou, após se recuperar da crise de risos.

— Que elefante, criatura?

— O fato da ex do Alex e você serem muito parecidas,


obviamente. Foi a primeira coisa que notei, e olha que não fui com a
cara dela, ao contrário de vocês que pareciam duas tietes
deslumbradas.

— Aiiii, que ódio, nem me lembre. Eu realmente era fã do


trabalho dela, mas agora... — Stella queixou-se inconformada.

— Agora você a odeia. Todas nós a odiamos. É isso. Todo


mundo odeia a Sarah. Gostei. Dá até para fazermos camisetas. —
Helena soltou mais uma de suas pérolas, nos fazendo rir
novamente.
— Agora é sério, amiga, não queria ser o diabinho em sua
orelha, mas isso não pode ser coincidência. Alex passou quatro
anos sem se envolver com ninguém, e quando isso acontece, a
garota é a cara da ex? Não acredito que ele te colocou como
substituta, é muita filhadaputagem — Helena bradou indignada.
— Calma, meninas. Não acredito que o Alex faria isso. Como
foi a reação dele ao saber que ela voltou? — Stella... sempre a mais
centrada, foi cirúrgica no X da questão.

— Eu não sei. Ele simplesmente surtou e saiu batendo a porta,


nos deixando lá, o pouco que descobri, foi apertando o Jim. A
propósito, eles não sabem sobre termos tido contato com ela na
galeria, e prefiro que continuem assim, obvio que o Jimmy ligou os
fatos, a exposição que fomos na sexta, entretanto, não contei a ele
sobre ela não ter se revelado apropriadamente para a gente. A partir
de agora, tudo que descobrirmos ficará entre nós, até sabermos em
que terreno estamos pisando. O Jimmy sempre será fiel ao Alex, e
sinceramente, estou muito confusa neste momento. Não sei até que
ponto isso mexeu com o Alex e até conversarmos, estou
completamente no escuro.

— Como você está se sentindo, amiga? — Stella perguntou me


abraçando.

— Estranha. Traída. Enganada. Insegura. Furiosa. Enfim.


Porém não acredito que tudo que vivemos foi uma mentira. O fato
de sermos parecidas deve ter alguma explicação. Alex irá me
explicar e irei entender. Ele só saiu para espairecer, ele sempre faz
isso quando fica nervoso. Iremos ficar bem. Eu acho. — Stella me
soltou, enxugando minhas lágrimas que teimavam em cair.

— Sim. Vocês são lindos juntos e não será essa lambisgóia que
irá ficar entre vocês. — As duas se entreolharam preocupadas.

— Não precisam fingir que não estão preocupadas, estou bem.


De verdade. Só precisava desabafar, ou iria explodir. Agora vamos
trabalhar, preciso ocupar a cabeça e me preparar para a conversa
que teremos mais tarde. — Levantei em direção a minha mesa,
enquanto as duas se dirigiam à saída.
— Estarei em minha sala, qualquer coisa, a qualquer momento,
é só me ligar que estarei aqui em um minuto, e... amiga, se estiver
sendo muito para você, tire o dia de folga, vá espairecer, se quiser,
te fazemos companhia, a empresa estará aqui no mesmo lugar
quando você voltar.

— Faço minhas as palavras da Stella, tire um tempo para si,


Liz, é muita coisa para absorver. — Helena me dirigiu um olhar
condescendente.

— Não. O que eu preciso é ocupar a mente, ou irei pirar. E


nada melhor do que me enfiar no trabalho para isso. Até o Alex se
dignar a aparecer, não posso ficar parada, mas obrigada, vocês são
as melhores amigas que eu poderia ter — falei com a voz
embargada. Droga, não irei chorar. Chega.

As duas acenaram, saindo da sala, deixando-me sozinha. As


horas demoraram a passar, analisei inúmeros contratos, participei
de duas reuniões com clientes em potencial, ainda deu tempo de
passar no laboratório e pontuar alguns ajustes necessários, em
alguns dos projetos que estavam em andamento. Fiz de tudo para
que os rapazes não percebessem, contudo, Dylan e Nick erram
muito perspicazes, e logo sentiram que havia algo errado.
— Está tudo bem, Eliza? — Nick perguntou, enquanto Dylan só
me observava calado, sentado onde estava.

— Sim, está. Só estou com uma enxaqueca infernal, mas logo,


logo, irá passar. Preciso ir, amanhã continuamos. Boa noite,
meninos — desconversei, me despedindo e saindo sob os olhares
intrigados dos rapazes. Saí da empresa tarde, com a esperança de
encontrar Alex em casa, contudo, a cobertura estava às escuras, do
mesmo jeito que a deixei pela manhã. Segui até o quarto e nem
sinal de que Alex estivesse passado em casa durante o dia. Nem
uma ligação, mensagem... nada. Ele estava fugindo de mim.
Fiquei um bom tempo na banheira em um banho relaxante, e
após tomar um comprimido para a dor de cabeça, que começava a
incomodar, deitei-me na cama. Sozinha.

Agora só me restava esperar. Onde você está Alex?


CAPÍTULO 34
Sarah voltou. Após sete anos, ela voltou. Por que só agora?
Não fazia sentido.
Perdido. Sem chão. Completamente desnorteado.
Era assim que eu me sentia, desde o momento que James me
trouxe aquela notícia. Sentindo-me sufocado, subi na moto e parti
sem rumo, rodando por horas, tentando em vão arejar a cabeça.
Porém, algo comprimia meu peito, uma sensação de que a paz, que
eu tanto lutei para adquirir, estava prestes a acabar.

Meu Deus, Liz. O que ela estaria pensando neste momento?


Fugi como um covarde, para não ter que encarar seu olhar
cheio de indagações. O que responderia? Juro que não sei.
Precisava respirar. Ordenar meus pensamentos, antes de termos
aquela conversa. Sem que me desse conta, parei no lugar que
sempre me trazia paz. Desci da moto, tirei os sapatos, enrolando a
calça acima dos tornozelos, e caminhei na areia até o final do píer.
Sentei-me na beirada, tendo somente o mar à minha frente.

O que significava a volta da Sarah e por onde ela andou todos


esses anos? Eu queria saber? Como seria revê-la após tantos
anos? O que ela queria, voltando após tanto tempo?

Minha cabeça estava explodindo. O clima estava ameno,


possibilitando ficar ali, contemplando o mar, perdido em
pensamentos. Perdi a noção do tempo até meu celular tocar e
perceber que o sol já se punha no horizonte, um espetáculo da
natureza, que estaria feliz em contemplar, se não estivesse com o
coração tão pesado.

— Já soube? — perguntei ao Richard, ao atendê-lo.


— Sim, e não te liguei antes, porque sabia que precisaria de
um tempo. Estou indo para o treino, já liguei para o Jimmy, nos
encontramos lá em vinte minutos.

— Ok — concordei, desligando.

Quinze minutos depois, passava pelas portas da academia,


encontrando os dois já se aquecendo.

— Como você está se sentindo? — Richard perguntou,


enquanto me ajudava a calçar as luvas. Subimos no ringue e
começamos o aquecimento.

— Sinceramente? Não sei. Medo de que essa volta possa


afetar minha vida. Medo de como Liz irá lidar com meu passado
batendo literalmente em nossa porta. Medo de reencontrá-la. Enfim,
uma bagunça.

— Ela sabia. — Encarei Jimmy sem entender aonde queria


chegar. — A Sarah, ela sabia quem era a Liz e tramou a exposição
para encontrá-la sem você. A questão é: Por quê?
— Como?

— A exposição, Alex. A fotógrafa Sarah Gilbert é a Sarah. A


nossa Sarah. Essa é outra questão, a mudança no sobrenome.
Acredito que ela mudou, assim que foi embora, justamente para que
não a encontrássemos. Então por que se revelar agora? E as
meninas receberam convites vips para uma exposição fechada ao
público. Não é difícil juntar dois mais dois para descobrir que todo
esse circo foi premeditado. Ela queria que o primeiro encontro com
a Elizabeth fosse em um ambiente neutro, onde não estaríamos
para reconhecê-la. Ela não revelou quem realmente era, ou a Liz já
teria tirado seu couro no final de semana, então... a questão é: O
que ela planeja com tudo isso?

— Como a Eliza reagiu a tudo isso?


— Eu não sei. Saí antes que ela entendesse a situação, não
suportei o olhar cheio de dúvidas dela. O que eu iria responder, se
nem eu mesmo sei o que está acontecendo? — bufei, esfregando
as mãos em frente o rosto.

— Alexander, caralho! Você está me dizendo que deixou a sua


mulher sozinha, depois que ela descobriu que sua ex-noiva voltou,
sabe-se lá Deus, com que interesse? Sério, Alexander? Você já
imaginou a loucura que está passando pela cabecinha fértil da Eliza,
sabendo que o homem dela surtou com a volta da ex?

— E tem mais. Depois que você fugiu como um covarde,


sobrou pra mim. Tive que explicar quem era a Sarah e o que ela
queria ao me procurar... que marcasse um encontro entre vocês. Liz
surtou e praticamente me pôs para fora do apartamento, cara, você
tá muito ferrado — Jimmy soltou a bomba.

Putaquepariu!

—E eu nem cheguei na pior parte. — Bagunçou o topete


nervoso.

— Fala, porra, e deixa de fazer terrorismo! — perdi a paciência.


— Nem quero estar na sua pele, quando a Lizy perceber o
quanto são parecidas. Já pensou como irá explicar? Porque ela não
irá engolir que é mera coincidência. Helena já havia comentado
sobre a semelhança entre elas, e olha que ela nem sonhava quem
era a Sarah. Sei que quando você a conheceu, lhe perguntamos
isso, e você negou qualquer possibilidade dessa semelhança ter
sido o motivo de você se sentir atraído pela Lizy, e... irmão, eu
acredito em você, de verdade. Mas acho quase impossível a Lizy
não se magoar com isso. — Quanto mais Jimmy falava, mais pálido
eu ficava. Como explicar isso a Liz? Ela nunca acreditaria em mim.

— Alex. Vá para casa. Seja homem e enfrente a situação de


frente, você não poderá fugir da Liz para sempre, então arranque o
band-aid. O diálogo sempre foi a melhor opção. Ela te ligou ou
enviou mensagem durante o dia? Porque você, eu sei que não. —
Balancei a cabeça em negação. Richard, como sempre assertivo. —
Ela está esperando uma postura sua. Tentando entender tudo isso e
principalmente lhe dando espaço. Você tem uma joia preciosa em
casa, Alex, não a perca por causa da sua insegurança.

— E eu não sei?! Meu maior medo é perdê-la. — Passei as


mãos pelos cabelos, quase os arrancando de nervoso.

— Ela te ama, Alex. Ela só precisa estar segura quanto ao seu


amor. Se você a fizer se sentir segura, quanto aos seus
sentimentos, todo o resto vocês enfrentarão juntos. Comece
consertando a burrada de ter fugido sem dar notícias a ela durante
todo o dia, e te digo que não será fácil amansar a fera. Vá pra casa
Alex. — Concordei com a cabeça, batendo as luvas nas dele e
saindo do ringue.

— E vocês? — Apontei para o Jimmy, tomando meu lugar no


ringue.

— Ainda nem comecei com o James. Ainda hoje ele não me


escapa. — Richard piscou para mim, fazendo com que o Jimmy
fizesse uma careta.

Eu me despedi deles e fui direto pegar a moto. Já tinha


protelado demais a conversa com a minha loira.
Só esperava que ela me ouvisse.

O apartamento estava às escuras quando cheguei. Já passava


das vinte e duas horas, porém, duvidava que Liz estivesse
dormindo. Fui direto tomar um banho no quarto de hospedes, antes
de enfrentar a conversa difícil que estava por vir. Nosso quarto
estava na penumbra, com somente uma luminária acesa, Liz estava
deitada, virada de costas para a porta, mas eu sabia que ela estava
acordada. Deitei-me na cama com as costas apoiada na cabeceira.
— Acha mesmo que não sei que está acordada? Durmo com
você há bastante tempo, Liz, conheço cada respiração sua, então
sei que está acordada. Podemos conversar? — Após um longo
suspiro, virou-se lentamente de frente a mim.

— Agora quer conversar? Depois de fugir como um covarde e


me evitar o dia todo? Foi encontrá-la? Eu juro que estou tentando
ser compreensiva, Alex, mas tá difícil, quer conversar sobre o quê?
Podemos começar com você me explicando como a sua ex é quase
minha irmã gêmea? Eu me recuso a acreditar que você se
aproximou de mim pela semelhança, então fala, Alexander, eu tô
ouvindo! — gritou transtornada, levantando-se da cama.

— Liz por favor, só... me escuta, me desculpa por hoje,


confesso que a notícia me pegou de surpresa e eu pirei, ok? Mas eu
juro que não fui encontrá-la, jamais faria isso com você. Só
precisava esfriar a cabeça e pôr meus pensamentos no lugar. Pilotei
por horas, depois fui ao píer e por fim, encontrei com os caras, mas
chegou uma hora que eu só quis voltar para casa. Pra você. Porque
você é meu lar, me perdoe se te fiz duvidar disso, eu te amo,
Sunshine, e sempre irei te amar. — Ajoelhei na cama, estendendo a
mão para ela, que me olhou ressabiada. — Vem aqui, vamos
conversar, por favor, Liz, vem.

— Estou ótima aqui, preciso ter distância de você neste


momento. Pode falar. — Encostou-se na porta do quarto, com os
braços cruzados, mantendo a distância, como se quisesse se
proteger de mim. Isso doeu, porque sabia o quanto a havia
magoado. Suspirando profundamente, sentei-me na beirada da
cama.

— Fugi pela manhã por medo de te perder. Por não aguentar


seu olhar cheio de dúvidas e não saber responder o que estava
sentindo, o que significava a volta dela, se nem eu mesmo sabia o
que estava acontecendo. Mas uma certeza eu tenho, a de amar
você. Sim, à primeira vista vocês são extremamente parecidas,
porém a semelhança acaba aí, porque vocês são tão diferentes
quanto a água e o vinho, e em todos esses anos, não houve um só
momento em que fiz comparações entre vocês, pelo contrário,
talvez a semelhança fosse motivo para que eu me afastasse, mas
Liz... você me ganhou nos primeiros cinco minutos com a trolagem
do James Bond.

Ela bufou, dando um riso estrangulado.

— A Sarah nunca teria esse senso de humor, a leveza, e essa


luz que só você emana. — Levantei-me da cama em um pulo, indo
até ela, ao ver seus olhos lacrimejarem. — Liz, olha pra mim. —
Segurei em seu rosto com as duas mãos, imprensando-a contra a
porta. — Meu lugar especial, quis compartilhar com você, jamais
pense, nunca, entendeu bem? Nunca, pense que te coloquei como
substituta, porque não há a menor possibilidade. Você é única.
Única pra mim, entendeu? — Deslizei os lábios por seu rosto,
secando as lágrimas que caiam em abundância agora, queria que
sentisse o meu amor. Pus sua mão sobre meu peito. — Sente isso?
É o meu coração que só bate assim por você, Sunshine, nunca
haverá outra, nem que apareçam mil Sarah’s, sempre será você. —
Segurei sua mão, a colocando sobre o meu membro, que pulsava
duro como pedra. — Só você me deixa assim, tá sentindo? —
Friccionei sua mão sobre meu pênis, enquanto beijava seu pescoço.
— Você é o meu lar, minha luz, minha mulher, a mulher da minha
vida. O que preciso fazer pra que você acredite em mim? —
perguntei, olhando dentro dos seus olhos. Olhos que aprendi a
amar, e me matava ver a mágoa em sua íris.
— Faça amor comigo, Alex, me lembre como é me sentir
amada por você — pediu com a voz embargada.
Não precisou pedir duas vezes, ataquei sua boca em um beijo
necessitado, carregado de sentimentos e a impulsionei em meus
braços para que circundasse minha cintura com suas pernas.
Depositei-a ao lado da cama, retirando sua camisola, a deixando só
de calcinha. Empurrei-a suavemente sobre a cama e a cobri com
meu corpo, salpicando beijos por seu pescoço. Deslizei os lábios
por seu colo, arranhando-a com a barba, a deixando totalmente
arrepiada. Abocanhei seus mamilos, que já estavam durinhos,
carentes de atenção, mamando-os até deixá-los vermelhos de tanto
chupá-los. Continuei descendo beijos por todo o seu corpo,
adorando-a como a rainha que era. A minha rainha.

— Amo sua pele. Como se arrepia inteira ao meu toque. —


Segurei sua perna em meu ombro, subindo beijos por sua
panturrilha até chegar em sua virilha, nunca tocando em sua
intimidade. O que a deixou possessa. Bom.
— Alex, para de pirraçar, pelo amor de Deusss, eu pedi pra
mostrar que me ama, não que me odei...ahhhhhhhhhhh — gritou
quando mordi seu clitóris por cima da calcinha, puxando a renda
entre os dentes.

Tirei sua calcinha, e com as pernas dela sobre meus ombros,


cai de boca no meu lugar preferido no mundo. Eu me lambuzei
naquela boceta gostosa até vê-la gritando meu nome, encharcando
meu rosto com o seu gozo. Ainda com as pernas dela sobre meus
ombros, aproveitei sua languidez pós orgasmo para penetrá-la em
uma única estocada, preenchendo-a profundamente. Ajoelhei na
cama, abri suas pernas, dobrando-as até a altura dos seios, me
dando a melhor visão de todas. Liz toda aberta pra mim, apoiada
nos cotovelos, com as costas arqueadas, a cabeça jogada pra trás,
mordendo os lábios com o rosto contorcido de prazer. Comecei
estocando devagar, me enterrando até o talo em sua boceta quente,
tirei meu pau totalmente de dentro dela, esfregando a cabeça
robusta em seu clitóris, em movimento de vai vem, fazendo ela
arquear ainda mais as costas buscando-me em busca de alívio.

— Por favor, Alex... por favor... — Prendi suas pernas,


enquanto entrava e saia em movimentos cadenciados.
— Por favor o que, minha gostosa, fala, fala o que você quer
pro seu homem, fala. — Estoquei mais uma vez até o fundo,
segurando-a, enquanto girava o quadril, rebolando, fazendo meu
pau alcançar seu ponto de prazer.
— Ahhhhhh, porra, isso, issooo, não para Alex, me fode, isso,
assimmm. Eu preciso, eu preciso... ahhhh!
— Precisa o que, gostosa? Gozar no pau do seu homem? —
Abaixei, prendendo suas pernas fechadas, imprensando-as com
meu tórax, beijando-a sofregamente. — Agora você vai gozar no
pau do seu homem, porque sou seu, Sunshine. — Uma estocada.
— Somente seu. — Outra estocada. — Para sempre seu. —
Continuei com estocadas firmes e rápidas, apertando suas pernas,
na certeza de que deixaria marcas, mas foda-se, essa boceta
apertada era minha perdição.
— Alex, eu vou, eu vou... — Liz começou a tremer em um sinal
claro que estava gozando, então me deixei ir junto, gozando forte.

— Isso, minha gostosa, vou encher essa bocetinha com a


minha porra pra que você nunca esqueça a quem pertence. Você é
minha, Sunshine, só minha. Completamente minha. — Ainda dentro
dela, soltei suas pernas e debrucei-me sobre ela, apoiando meu
peso sobre os cotovelos. — E eu sou seu, nunca duvide disso. —
Mordi sua orelha, arrastando os lábios até sua boca, dando-lhe um
selinho. — Te amo, Sunshine, te amo tanto que chega a doer.
Acredita em mim agora? — perguntei em expectativa, fazendo com
que abrisse o sorriso que tanto amo, iluminando todo o seu rosto.
— Sim, meu loiro, mas me prometa que não irá esconder nada
de mim, seja o que for, enfrentaremos juntos. — Rodeou meu
pescoço com os braços. — Ahhh... e quero pedir uma licença. —
Balançou a cabeça em sinal afirmativo.

— Licença?
— Sim, licença para matar uma vadia, se ela cruzar o meu
caminho novamente — falou séria. Suspirei saindo de dentro dela e
deite-me ao seu lado, puxando-a para deitar-se em meu peito.
— Sunshine... não se preocupe com isso, está bem? É sério.
Não me interessa se ela voltou e nem por que voltou. Para mim, não
faz a menor diferença. É só você que importa. A Sarah é passado e
irá continuar lá. Vamos viver nossa vida, ok? — Liz levantou-se em
um rompante, olhando-me indignada.
— Alex, essa mulher se dignou a organizar uma exposição só
para se apresentar a mim, me fazer de idiota, tentar marcar um
encontro com você. Então, se ela realmente não importa, é simples,
diga a ela, ponha um ponto final nessa história e vida que segue. Ou
você tem medo de encontrá-la? — Arqueou a sobrancelha.
— Não tenho medo de encontrá-la. Eu só não quero encontrá-
la. É diferente. — Sentei-me na cama com as costas encostadas na
cabeceira da cama e mexi os ombros em sinal de desdém.

— Claro. Então, se por um acaso cruzarmos com ela em algum


lugar, não será desconfortável para você? — indagou, analisando-
me.
— Claro que não, Elizabeth, você que está trazendo-a para
essa conversa, chega, ok? Não quero vê-la e muito menos falar com
ela, e se por um acaso encontrarmos com ela, será como qualquer
conhecido que encontramos aleatoriamente.

— Ok!
— Ok? Simples assim? Não tem nenhuma pegadinha? —
Arqueei a sobrancelha em sinal de descrença.
— Sim. Se você está seguro quanto a isso, então eu também
estou. — Levantou-se. — Vou tomar um banho, você vem? —
perguntou, olhando-me sobre o ombro com um sorriso safado,
enquanto caminhava totalmente nua em direção ao banheiro.
E eu fui. Porque era impossível não atender ao chamado dessa
mulher. A minha mulher.
CAPÍTULO 35
Os dias passaram rapidamente, entre preparativos e a chegada
da Alexia, que finalmente voltou, definitivamente para nós. E a
grande noite enfim chegou. Optamos por comemorar os trinta anos
do Alex na mansão, e além de toda a nata de Dreamouth, vieram
empresários de vários países e diversos segmentos, seria um
grande evento, o que estava me deixando nervosa. Principalmente
pelo que estava por vir.
— Amiga, você tem certeza? Ainda está em tempo, é só avisar
a...
— Nunca estive tão certa na minha vida, não quero e não
posso conviver com um grande “e se” rondando a minha cabeça —
cortei Helena, antes que terminasse de me convencer que essa
ideia era uma loucura, e eu acabasse perdendo a coragem.

— OK. Deus nos proteja então. — Jogou as mãos para cima.


— Eu só não quero que você se magoei, Liz, e se... — Cortei
novamente, levantando um dedo para que ela parasse.

— Está vendo? Olha aí o maldito “e se”. Eu posso aguentar


qualquer coisa, Helena, menos viver uma mentira. Se realmente for
como ele insiste em afirmar, não tem por que temermos, não é
mesmo? — sorri determinada. — A propósito, você está lindíssima,
é hoje que o nosso Jim infarta! — Helena estava com um vestido
frente única, com um decote pronunciado, cintura marcada, e uma
saia esvoaçante, com duas fendas até o alto das coxas, dando
destaque às suas pernas incríveis. Detalhe, a estampa era de onça,
definitivamente ela iria matar o Jim do coração.
— Se não o matar, pelo menos servirá para acordá-lo, toda
essa tensão do Alex e a noiva cadáver só serviu para que eu
acordasse, afinal, não é só você que está com vinte e sete anos,
Eliza, e o meu caso ainda é pior. Pelo menos o Alex sabe o que
quer. — Piscou para mim, aliviando a tensão. — Jimmy segue
sendo meu eterno namorado, no início estava perfeito pra mim, mas
agora...

— Você quer mais. E não há nada demais em querer mais.


Pelo visto aquela nossa conversa mexeu não só comigo, amiga,
você já conversou com ele?

— Tentei. Porém, todas as vezes ele se esquivou da


“conversa”. E depois, com tudo que está acontecendo, resolvi
esperar. Uma DR por vez em nosso grupo basta, não precisamos de
outra no momento — rimos juntas. Uma batida na porta chamou
nossa atenção. Viramos para ver quem era e meu mundo parou.
Encostado na porta estava ele. Lindo. Vestido com um smoking
cinza chumbo sob medida, em seus ombros largos, Alex estava uma
visão.

— Posso entrar, ou as mulheres mais lindas da festa estão


ocupadas? Uau, Helena, Jimmy já lhe viu neste vestido? —
perguntou, adentrando o quarto e beijando Helena no rosto. — Você
está deslumbrante.

— Não, e você vai ficar caladinho, como o bom moço que é. Se


não fosse pra causar, meu bem, eu nem viria. Feliz aniversário, e
não se preocupe, Alex, você tá um “sugar daddy”, com tudo em
cima ainda. — Abraçou-o, prendendo o riso.

— Engraçadinha. Pois eu estou muito bem, obrigado. Pergunte


a sua amiga. E o cara mais sortudo também, porque tenho a mulher
mais bonita da festa em meus braços. — Fez uma mesura,
pegando em minha mão e fazendo-me girar em uma voltinha.
— Vocês me deixam enjoada, é quase uma explosão de glitter,
AFF. Vou descer e deixar os pombinhos se preparando pro show.
Enquanto isso, estarei dando um infarto em seu amigo. — Saiu,
mexendo as sobrancelhas de forma sugestiva.

— Você está um espetáculo neste smoking. — Encostei meu


corpo no seu. — Mas acho que falta um toque final. — Abri a gaveta
da cômoda, retirando a gravata borboleta do mesmo tecido e cor do
meu vestido. Abracei-o, ajustando a gravata em seu pescoço. —
Agora sim, perfeito. — Dei-lhe um selinho, afastando-me para
admirá-lo. — Brilhando como uma moeda nova.

— Citando Titanic pra mim? — sorriu zombeteiro.

— Sempre — ri, enquanto ele me abraçava, deslizando o nariz


por meu pescoço.

— Hummm. Cheirosa. Gostosa. Linda. Passarei cada minuto


desta noite imaginando mil maneiras de tirar este vestido. Você de
vermelho é um atentado à minha sanidade, Liz. — Virou-me de
costas, encostando-me em seu peito. Passou os lábios por meu
pescoço, me fazendo amolecer em seus braços. — Estávamos em
frente ao espelho da entrada do closet, observando nossos reflexos.
Alex usava um smoking cinza chumbo com a gravata borboleta no
mesmo tom do meu vestido. Meu vestido? Um longo vermelho
carmesim, tomara que caia, com bojo estruturado, cintura marcada,
e uma fenda que iniciava do alto da coxa, quase alcançando a
virilha. Simplesmente fodástico. — Porém, ainda falta algo. —
Deslizou seus dedos por meu colo, parando na base do pescoço. E
com a outra mão trouxe uma caixa preta de veludo à altura dos
meus olhos. — Abra.

Peguei a caixa com as mãos trêmulas e a abri.

— Meu Deus, Alex, é lindo! — exclamei abismada.


Alex retirou o colar da caixinha, posicionando-o em meu
pescoço. Um delicado cordão em ouro, adornado com um pingente
cravejado em diamantes, representando o sol. — Agora sim, está
perfeita. — Terminou de fechá-lo, dando-me um beijo atrás da
orelha. — Pra você nunca se esquecer que é a luz que ilumina o
meu caminho e que eu te amo demais, Sunshine. — Virou-me de
frente para ele. — Eu te amo tanto, Liz, que minha vontade era
cancelar a festa e não sair deste quarto com você, pois sei que terei
trabalho hoje à noite, afugentando os gaviões do mundo inteiro,
apreciando sua beleza, mas seria um crime esconder esta
preciosidade, todos precisam saber que a mais bela mulher da festa
é a minha.

— Hummm, que galante, assim vou pensar que está tentando


me conquistar novamente, Mister Gauthier — sorri, alisando seu
peito.

— Sempre. O tempo todo. Eu nasci para te conquistar todos os


dias. — Nós nos entregamos a um longo beijo repleto de amor. —
Vamos? A maioria dos convidados já chegaram, mas não poderia
descer sem a minha rainha. — Deu-me a mão e o acompanhei,
como disse Helena, é hora do show.

A Mansão estava lindíssima, a ornamentação e a baixa


iluminação, davam um toque intimista, apesar da grandiosidade da
festa. Descemos as escadas calmamente e todos viraram para
observar nossa entrada, vindo nos cumprimentar. Circulamos entre
os convidados, Alex sempre orgulhoso, levando-me pelo salão com
as mãos na base da minha coluna. Passado pouco menos de uma
hora, finalmente pudemos nos sentar em nossa mesa com nossos
amigos.

— Sério, eu havia me esquecido o quanto é cansativo


recepcionar as pessoas, não para de chegar gente, meu Deus —
reclamei, pescando uma taça do champanhe que o garçom serviu
em nossa mesa.

— E pelo visto, chegando mais. — Stella, que estava belíssima


em vestido longo de um ombro só, preto, e o cabelo Chanel preso
todo para um lado, apontou para a entrada.

Duas mulheres acabavam de entrar. Uma morena, de cabelo


curto e olhos verdes, trajando um vestido longo, amarelo ouro, e
uma loira platinada que conhecíamos bem, vestida em um longo
sereia prata, com um decote bem ousado até a altura do umbigo.
Seus olhos circularam por todo o ambiente, até pousarem em nossa
mesa. Com um enorme sorriso, elas começaram a se dirigir até
onde estávamos. Só percebi que quase estava quebrando minha
taça, de tanto apertá-la, quando Helena tocou minha coxa por baixo
da mesa.

— Alex, quanto tempo! Como você está? Aliás, como vocês


estão, Alexia, você se tornou uma mulher lindíssima, e Jimmy,
apesar de termos nos visto há alguns dias, é sempre um prazer
revê-lo. E vocês, meninas, que prazer revê-las, receberam as fotos?
A propósito, obrigada pelo convite, Elizabeth, não perderia o
aniversário do Alexander por nada. — Pegou uma taça das mãos de
um garçom, levantando-a em um brinde. — Parabéns, Alex.

Todos na mesa estávamos paralisados, entretanto, a única


reação que me interessava era a do Alex, que se encontrava
petrificado.
— Ah, que lapso o meu, esqueci de apresentar minha
acompanhante, essa é Abby Lotte, minha amiga, curadora e
responsável por organizar a exposição que foi um sucesso, todas as
obras vendidas — continuou falando, como se fosse bem-vinda à
nossa mesa, enquanto a morena que estava com ela parecia
constrangida.

— O que você pretende, hein, sua Barbie da Shopee? Nos fez


de palhaças em sua exposição lixo, fingindo não nos conhecer, e
agora, chega armando esse circo, aonde você quer chegar, sua
embuste? — Helena com seu sangue quente foi a primeira a reagir,
tirando uma gargalhada da convidada.

— Calma, Helena, não vamos estragar a festa. A Sarah e sua


amiga foram convidadas e serão bem tratadas como todos aqui, não
é, Alex? — Virei-me para o Alex, buscando uma mínima reação. Só
então ele pareceu despertar, piscando algumas vezes até voltar sua
atenção a mim.

— Sim, claro! Obrigada, Sarah, por sua presença, espero que


aproveite a festa — conseguiu falar, quase em um murmúrio.
— Ah... Alex, vai me negar um abraço, depois de tanto tempo?
Não é possível que não tenha sentido saudades. — Parou em frente
ao Alex na mesa.

— Já chega. Não sei o que você pretende, Sarah, mas já deu


para notar que você não é bem-vinda aqui. E caso não queira ser
retirada da festa, aconselho procurar outro lugar para se sentar, de
preferência bem longe de nós — Jimmy se pronunciou, numa
seriedade que poucas vezes o vi na vida.
— Ok, ok, fiquem tranquilos, Alex é muito importante para mim,
para que eu estrague a festa dele, que por sinal, está belíssima, foi
você que organizou, Elizabeth? — Ela me encarou, desafiando-me.

— Sarah, vamos? Tem algumas mesas no jardim, lá o clima


está mais agradável. — A tal da Abby puxou o seu braço dela para
que a seguisse. Sarah levantou a taça novamente em um brinde,
deixando-a sobre nossa mesa, antes de se retirar.
— O que ela disse é verdade? Você a convidou? — Alex
perguntou-me entredentes, com a mandíbula travada.
— Ahhh... agora reaprendeu a falar? Interessante. Sim, Alex.
Eu convidei a fotografa Sarah Gilbert para o seu aniversário.
Tivemos contato na exposição, onde ela cinicamente afirmou não o
conhecer.

— E você não lembrou de desconvidar? Achou interessante tê-


la aqui conosco? — discutíamos baixo, para não chamar a atenção
na festa, e a música ambiente ajudou a abafar os ruídos.
— Obvio que me lembrei, mas não quis. Achei que não
houvesse problema, já que se me lembro bem, você afirmou que
caso cruzasse com ela em algum lugar, agiria como se fosse
qualquer pessoa — sorri, enquanto retirava o guardanapo do meu
colo e o pousava suavemente sobre a mesa. Todos na mesa
estavam calados, ouvindo nosso embate.

— Ahh, então isso foi um teste, Elizabeth? É sério? — Virou a


cadeira em minha direção, jogando o guardanapo com força sobre a
mesa, pelo visto, alguém estava tendo dificuldade em manter a
calma.

— Sim, e obviamente você não passou — falei, levantando-me


da mesa. — Meninas, vocês me acompanham até a pista de dança,
está meio claustrofóbico aqui.
Saí acompanhada das meninas, se eu ficasse mais um minuto
naquela mesa, seria capaz de cometer um assassinato. Atravessei o
salão, mas não fomos à pista de dança. Paramos em um lado mais
afastado do salão, mas que nos dava uma visão da nossa mesa,
sem que fôssemos descobertas.
— Eu vou matar aquela desgraçada! Vocês têm noção de
quantas gerações do Buda eu tive que acessar para não voar no
pescoço daquela cadela? — extravasei minha raiva, agora que
podia desabafar.

— Calma, amiga... e agora? O Alex está possesso, mas não


tiro sua razão, você precisava saber. Vocês viram o cinismo, apertei
tanto a perna do Jimmy para me controlar, que aquela cara de pitbull
enraivado que ele fez, foi por medo de ficar perneta, caso ela
demorasse mais um pouco em nossa mesa. Vocês viram? Meu
tigrão fica tão sexy com aquela cara de mau. — Helena se abanou,
olhando para a mesa onde os homens estavam. De repente, Alex
levantou-se da mesa e seguiu em direção às escadas. Seu
semblante estava transtornado.
— Para onde será que ele foi? Meu Deus, que confusão, Liz. A
festa está tão bonita, e vocês fazem um casal tão lindo, vai lá falar
com ele — Stella aconselhou, contudo, tive uma ideia melhor.

— Ah... eu falarei com ele sim, mas não agora. Neste momento
ele deve estar curtindo a mágoa em seu quarto adolescente. Para
quem disse que essa mulher não mexia com ele, isso tá cada vez
melhor. — Alex havia mandado decorar o quarto que era dos seus
pais, para ser o nosso, quando viéssemos à mansão, conservando o
seu quarto de adolescente igualzinho ao que sempre foi. Não
acredito que fui tão burra, estava em minha frente o tempo todo, ele
nunca a esqueceu. — Alexia, preciso que me faça um favor, mas
preciso que seja convincente, você consegue?
— Sim, Liz, se for para esconder o corpo, conte comigo. —
Abriu um sorriso sinistro, aliás, o primeiro sincero, desde que
chegou.

— Ainda não, mas preciso que leve um recado a uma pessoa.

Dez minutos depois, caminhava suavemente pelo corredor


acarpetado que levava aos quartos, comecei a ouvir vozes, a
medida em que me aproximava.

— Como você subiu aqui? Você é louca ou o quê?


— Relaxa, Alex, tá com medinho da noiva? Ou esposa? Não
entendi direito essa parte. — Deu uma risada cínica. — Recebi seu
recado, sabia que não aguentaria de saudades, tanto que marcou
aqui em nosso quarto, lembra quantas loucuras fizemos aqui?
— Me solta, Sarah, eu não sei do que você está falando, mas
subi para ficar sozinho. Saia daqui, por favor. Você some por sete
anos e agora aparece aqui pra quê? Destruir a minha vida, é isso?

— Vim porque descobri que ainda te amo, e você também, que


eu sei, não negue isso, Alex, eu seu que eu errei em te abandonar,
mas estou aqui novamente, podemos recomeçar. Sinto tanta falta
dos seus beijos...
— Me solta, caralho, eu amo a Elizabeth, entendeu? Fique
longe da gente. E se você não vai sair, saio eu. — Alex abriu a porta
em um rompante, dando de cara comigo. Parecia que todo o sangue
tinha evaporado do seu corpo.

— Atrapalho? — Passei por ele, entrando no quarto.


— Liz, não é nada do q...
— ...eu estou pensando? Era isso que iria me dizer, Alex? Pois,
poupe o seu fôlego.
— É claro que você atrapalhou, estávamos relembrando os
velhos tempos, não foi, Alex? Ahhh se essa cama falasse... —
Sarah sentou-se na cama, passando as mãos, alisando os lençóis.

— Ah. Ela não fala? Que pena, pois ela teria uma excelente
história para contar agora. — Eu a empurrei na cama, sem que
esperasse, sentando-me em cima do seu quadril e desferindo vários
tapas em seu rosto. Ela tentou agarrar meus cabelos, porém, nas
aulas de defesa pessoal que obtive com a Stella, aprendi a
imobilizar o inimigo, sentando em seu quadril e imobilizando seus
braços com os joelhos, sabia que seria útil em algum momento.
— Me solta, sua louca, Alex! — Ela gritava, debatendo-se,
enquanto recebia os tabefes merecidos.
— Você falou o que quis lá embaixo, sua vadia, porque sabia
que não promoveríamos um escândalo, mas advinha só, as paredes
dos quartos são acústicas e você pode gritar o quanto quiser.

— Liz! Pelo amor de Deus!


— Não ouse, Alexander, ou o próximo será você! — Apontei o
dedo para ele.

— Mas o que é q... ahhhhhh! Minha nossa senhora! Você


pegou a megera, isso amiga, dá na cara da vadia, uhuh! — Helena
entrou no quarto, seguida do Jimmy e dos demais. Richard me tirou
de cima dela com muito sacrifício. Assim que ela levantou da cama
com o vestido rasgado e os lábios partidos, a peguei pelos cabelos,
torcendo seu braço.
— Você brincou com a mulher errada, sua vadia. Entrou na
minha casa, me desrespeitou, e achou que sairia impune? Pensou
errado. Só não arrasto você pelos cabelos, pelo meio do salão,
porque não me produzi inteira pra sair em manchete brigando por
homem, minha dignidade agradece. Richard, você poderia fazer o
favor de pôr o lixo para fora? É isso mesmo que você ouviu, use a
saída dos fundos, usada para descarregar o lixo, é por onde ela
merece sair. — Richard assentiu, levando-a do quarto.

— Você me paga, sua maldita! Isso não vai ficar assim! —


esbravejou ensandecida, enquanto era escoltada pelo Rick. Stella o
acompanhou por precaução.
— Caraaaa, o que foi isso que aconteceu aqui? É sério, tenho
medo de vocês. — Jimmy ainda estava chocado com o que
presenciou.
— E é bom que fique mesmo, porque se fosse eu, seria muito
pior! Vamos, Jimmy, acho que é melhor deixá-los sozinhos.
— Você acha mesmo? É seguro? — Jimmy perguntou, olhando
de mim, que estava sentada sobre a cama, e Alex vermelho como
um tomate, com a mandíbula travada e os punhos fechados. Ele
estava com raiva. Só não sabia de quem.

— Sim, Jimmy, podem ir. Daqui a pouco encontramos vocês. —


Saíram em silêncio, fechando a porta.
Após ir ao banheiro me certificar de que tudo estava bem com o
meu visual, voltei ao quarto, encontrando Alex no mesmo lugar.

— Liz...
— Agora não, Alexander, temos uma festa acontecendo lá
embaixo. Feliz aniversário. — Passei por ele, o deixando sozinho no
quarto.

O resto da noite foi um apagão, passamos a festa inteira com


sorrisos falsos, e nem a queima de fogos, que tinha contratado
como surpresa, para a hora dos parabéns, me trouxe alegria. Alex
tentou conversar, mas não era o momento. Ao fim da festa, nossos
amigos vieram nos cumprimentar.
— A festa estava linda, parabéns, Alex. — Richard o abraçou,
falando algo em seu ouvido, fazendo-o sorrir amarelo.

— Se cuida, amiga, e não tome nenhuma atitude impensada.


Vocês se amam, não esqueça disso — Stella sussurro em meu
ouvido, antes de sair.
— Bom, já estamos indo, qualquer coisa é só nos ligar. Diga a
Alexia que ligo para ela amanhã, a procurei para nos despedir e não
a encontrei em canto algum — Helena, lembrou. Realmente, desde
o momento que pedi a Alexia que levasse o recado, que não a tinha
visto mais.

— Subimos as escadas em silêncio.


— Liz, podemos conversar agora? O que você acha que viu lá
no quarto...

— Eu sei, Alex. Fui eu que mandei o recado para ela.


— O quê? Aonde você queria chegar com isso? Testar se eu
iria te trair? Eu não te traí, Elizabeth! — Abriu os braços em minha
direção.
— Há muitas maneiras de se trair, Alex. Você me traiu quando
não foi capaz de ser sincero comigo. Ela sempre esteve entre nós,
você nunca a deixou ir. Olha aquele quarto. As fotos. O medo de
reencontrá-la, você nunca seguiu em frente. Irei tomar um banho e
vou dormir no apartamento da minha mãe, não tenho condição
alguma de continuar aqui e não quero ir para a cobertura.

— O quê?! Você vai me abandonar? — Passou as mãos pelos


cabelos, em desespero.
— Você me abandonou, Alex! Abandonou quando
simplesmente fiquei invisível para você, no momento que aquela
mulher chegou à festa! Abandonou quando correu para aquele
quarto, porque foi incapaz de estar no mesmo ambiente que ela,
sem que ela lhe deixasse totalmente transtornado! Essa mulher
ainda mexe com você, Alex, e não ofenda minha inteligência
negando isso! — gritei, colocando para fora tudo que estava
entalado aqui dentro. — Você nunca quis conversar sobre ela, sobre
seu passado. Sarah ainda é uma ferida e está sangrando, Alex.

— Eu fui pego de surpresa, fiquei sem reação, mas também


que ideia absurda foi essa de convidá-la, eu lhe falei que não queria
encontrá-la! — Estávamos gritando, um de frente para o outro, no
mesmo quarto que horas atrás ele tinha me presenteado com o
colar.
— Você está sem reação há quase quinze dias, Alex, desde
que essa mulher apareceu, você anda aéreo, Alexia voltou uma
sombra da mulher exuberante que era, e você nem sequer notou,
sua irmã está com algum problema sério, que não consegue dividir
com a gente, ela sumiu da festa e você sequer percebeu, porque
estava muito preocupado com o que aconteceu com a Sarah!
— Eu estava preocupado com você! Depois do ataque que
você deu naquele quarto! Você poderia ter se machucado, tudo isso
para quê? Testar minha lealdade? Satisfeita?! — Andava de um lado
para o outro do quarto agitado.
— Você não entende, não é? Você estava claramente fugindo
desse confronto, com a ínfima esperança de que ela simplesmente
sumisse em um passe de mágica, mas eu não poderia viver com
essa dúvida, isso iria nos destruir, Alex. Você nunca a deixou ir, você
precisa confrontar seu passado, Alex, se irá deixá-lo ir ou não, só
cabe a você decidir.
— Liz, não faz isso com a gente... — A essa altura estávamos
os dois chorando compulsivamente.

— Alex... — Segurei em seu rosto, encostando nossas testas.


— Precisamos desse tempo, ou iremos nos machucar, mais do que
já estamos. Você precisa de um tempo para entender tudo que está
se passando aqui dentro. — Toquei em seu peito. — E eu preciso
me afastar para que isso aconteça. — Dei-lhe um selinho, me
afastando em direção ao banheiro. Tomei um banho rápido,
precisava sair, antes que fraquejasse. Encontrei-o sentado na cama,
derrotado. Aproximei-me tocando em seu rosto.
— Tenho que ir, você vai ficar bem? — Enxuguei sua face,
enquanto minhas próprias lágrimas caiam em abundância.
— Sem você? Impossível — bufou num choro estrangulado.
Beijei suas pálpebras em despedida. — Tente dormir, amanhã nos
falamos. — Ele concordou com a cabeça. Segui em direção à porta.
— Eu te amo, Sunshine.

— Eu sei. Eu também. Mas, às vezes... amar não é o bastante.


CAPÍTULO 36
— Mãe. — Joguei-me em seus braços, assim que ela abriu a
porta com os braços abertos em um silêncio acolhedor. Manteve-me
em seu abraço e me guiou até o sofá, onde nos acomodamos.

— Nem vou perguntar o que aconteceu, pois se você não está


quicando em seu marido às quatro da manhã, após a festa linda que
você preparou pra ele, é sinal de que terei que cumprir a promessa
que fiz há três anos — falou, enquanto alisava meus cabelos. —
Chora, meu bebê, põe pra fora tudo que lhe aflige, acabei de tomar
um chá, essa virose tá me matando, mas algo me diz que foi bom
eu não ter ido a essa festa. — Após um tempo em que fiquei
chorando copiosamente em seus braços, ouvimos um pigarro, que
me fez sobressaltar e sair dos braços da minha mãe, para avistar
um homem alto, de cabelos e barba branca e olhos azuis cristalinos,
no meio da sala, sorrindo para nós.
— Desculpe, não quis incomodá-las. Mag, estou indo, você vai
ficar bem? — perguntou constrangido, olhando de mim para ela, que
sorria para ele feito boba. O que eu perdi?

— Oh, querido, sim, irei ficar, desculpe, minha filha chegou


precisando de colo e acabei esquecendo de avisá-lo. — Levantou-
se rapidamente, o levando até a porta. — Obrigada por cuidar de
mim, te ligo depois, pode ser? — Ele segurou em seu rosto, dando-
lhe um selinho, antes de sair. Mamãe foi até a cozinha, voltando
com duas xícaras de chá. — Pronto, beba este chá delicioso, e me
conte o que aconteceu.

— Ok, vou contar, mas antes... o que foi isso? — Apontei para
a porta, por onde o homem tinha acabado de sair.

— Ah, isso? Isso foi um clichê saindo pela minha porta. —


Balançou as sobrancelhas. — Lembra que no dia seguinte que
passei mal, fui à emergência do hospital? — Assenti com a cabeça.
— Pois bem, após ser diagnosticada com virose e ser medicada, saí
do consultório morrendo de fome, já que não me alimentei bem no
dia anterior. Resolvi passar em um café charmoso que tem dentro
do hospital, pedi uma fatia de torta e um capuccino e quando virei-
me para ir até a mesa, trombei com ele. Minha filha, você precisava
ver o estrago que fiz no jaleco do homem, não sabia onde enfiar
minha cara de tanta vergonha, e ele foi um verdadeiro gentleman.
Me acalmou, retirou o jaleco ensopado e me convidou para tomar
um café com ele, o que aceitei, obviamente. Resumindo, ele é
cirurgião, viúvo e um gato. Trocamos telefone, e qual minha
surpresa quando ele me ligou perguntando se estava melhor e se
poderia vir me ver, que não me preocupasse que seria apenas uma
“visita de médico”. Filha, ele ficou comigo aqui, desde ontem à noite,
não me deixou levantar da cama, fez sopa e esse chá delicioso que
você está tomando, mediu minha temperatura, me medicou. É. Ele
não estava brincando quando disse que seria uma visita de médico
— rimos juntas. — Nosso encontro pareceu coisa de filme, minha
filha, acho que estou apaixonada, chegou o meu momento! — Deu
um murrinho no ar.

— Que bom, mãe, ele pareceu ser simpático, além de um coroa


lindo, você merece ser feliz. — Afaguei seus cabelos, a fazendo
sorrir.

— Tá, mas vamos focar no que interessa. Vai, me conta tudo, e


me diz quem eu terei que matar.

— Mãe! Só você pra me fazer rir num momento desses —


comecei a rir, porém, logo estava soluçando em seus braços. Contei
tudo, e ela não me interrompeu em nenhum momento, até a hora
que deu um grito em comemoração aos tabefes que dei na Sarah.
— Não acredito que não estava lá para ver isso, aliás, ver, não,
lhe ajudar, porque se eu estivesse lá, aquela vaca sairia careca da
festa. E não ficaria só nela não, porque a essa altura, o “cretino”
estaria fazendo uma plástica naquele nariz lindo dele, mas ele não
perde por esperar, ai dele quando eu por minhas mãos naquele
rostinho lindo — vociferou indignada. — Como ele pôde fazer isso
com você, minha filha? São três anos! E no momento que aquela
vadia aparece, ele fica “confuso”?! Ahh... mas isso não vai ficar
assim, ele vai ver que eu sempre cumpro minhas promessas!

— Ah, mamãe, ainda com essa história de ameaça? Deixa isso


para lá. É sério, mãe, não quero que fale nem faça nada com o Alex.
No fundo, eu sei que ele me ama e não fez nada para me magoar
de propósito. É só que é complicado ver a mulher que se escondeu
dele por tantos anos, ressurgir assim, do nada. Foi por isso que
decidi deixá-lo à vontade para refletir sobre os últimos
acontecimentos, não irei pressioná-lo, mãe. — Lágrimas deslizavam
por meu rosto, sem que eu pudesse contê-las. — Ai, mãe, e se... ele
a escolher? Eu o amo tanto, mas não aceito menos do que ele
inteiro pra mim.

— Bobagem, ele é cretino, mas não é idiota. Sabe o tesouro


que tem em mãos e não vai trocá-la por um embuste, mas é bom
receber esse sacode pra ficar esperto. Ele precisa sentir o medo de
te perder, filha. — Levantou-se, me puxando pelos braços. — Vem,
agora você precisa descansar para pôr essa cabecinha no lugar e
decidir o que irá fazer. Eu estarei aqui para te apoiar sempre, meu
bebê. Vamos dormir, amanhã será um novo dia, hum? — sorriu,
abraçando-me de lado, dando um beijo estalado em minha fronte.

Passei o domingo sendo mimada por Mamis Sanders e Helena,


pedi que ela passasse na cobertura para pegar algumas roupas,
pois ainda não estava preparada para rever o Alex. Jim a
acompanhou, alegando que Alex não estava presente, pois
continuou na mansão. Segundo ele, Alex não queria voltar para a
cobertura, sem que eu estivesse lá. Ok. Pelo menos não era a única
sofrendo.

Lembrei da mensagem que recebi no início da manhã.


— Posso te ver? Precisamos conversar, Sunshine.

— Ainda não estou pronta para essa conversa... preciso de um


tempo, Alexander.

— Ok. Quando estiver pronta, estarei aqui. A qualquer hora, em


qualquer lugar.

— ...

— Agora sou Alexander para você? Pois pra mim, você será
sempre minha Sunshine. Te amo Liz... não faz isso com a gente.

Não respondi. O bolo em minha garganta estava me matando,


me sufocando de uma maneira que não sabia explicar. Joguei o
celular na cama, me tranquei no banheiro, me arrastando até sentar-
me no chão e poder chorar, sem preocupar ainda mais a minha
mãe. Depois de um tempo, resolvi tomar um longo banho, até estar
um pouco mais apresentável, pois devido à noite perdida, estava
com olheiras terríveis. Helena passou o dia comigo, enquanto tenho
certeza de que o Jim ficou ao lado do irmão, é claro. Na segunda-
feira amanheci mais disposta, e assim que cheguei à empresa,
recebi um buquê de lírios brancos salpicados com algumas rosas
vermelhas. Sorri. Os lírios significavam um pedido de perdão e as
rosas, a afirmação de que me amava. Junto a elas, um cartão.
— Nunca quis te magoar. Com amor, Alex. Seu Alex.

Olhei para cima, forçando os olhos a segurarem as lágrimas,


não podia fraquejar agora. Pedi que Helena as colocasse num vaso
com água e passei o dia olhando para aquelas flores e remoendo
em minha mente o que dizia o cartão.

— Eliza? — Nick chamou minha atenção, ao ficar dispersa em


meio à reunião de equipe. — Ok, tentei ficar na minha, mas a
fofoqueira que habita em mim não consegue. — Fechou o note e o
caderno onde estava fazendo suas anotações. — Vimos o que
aconteceu na festa, quer dizer, até onde pudemos acompanhar.
Aquelas mulheres chegando à mesa de vocês, depois a loira sendo
quase arrastada pela outra até o jardim, depois, vocês mulheres
saíram da mesa, deixando o Alex quase quebrando a mandíbula,
com aquele jeito sexy dele de cerrar os dentes. Logo depois, o boy
saiu da mesa e subiu as escadas como se os cães do inferno o
perseguissem, procurei vocês pelo salão e não encontrei, porém,
estranhamente, vi a Alexia conversando com a tal da loira, que logo
em seguida adentrou a mansão. Passados alguns minutos, os
homens subiram as escadas e depois que todos voltaram para a
festa, a tensão entre vocês dava para cortar com uma faca, além do
que, a loira desapareceu. Então... Elizabeth, tem algo a falar sobre
isso? Até pensei em ir até vocês durante a festa pra saber do
babado, mas o estraga prazeres do meu marido não deixou.

— Claro. Você parecia mais uma velha mexeriqueira, por isso o


Paul e eu não o deixamos ir. — Dylan revirou os olhos, batendo com
a caneta na mesa, contudo, logo pousou seus olhos perspicazes em
mim. — Mas o Nick está certo, Eliza, aconteceu algo muito sério e
ficamos preocupados, há algo que possamos fazer para ajudar? —
Troquei olhares com Helena, que sobrepôs sua mão a minha,
incentivando-me a continuar.

— Sim, vocês estão certos. Aquela loira é a ex do Alex, que


saiu das profundezas do inferno para atazanar nossas vidas —
desabafei, diante dos olhares surpresos deles. — E tem mais, ela
teve a audácia de me desrespeitar em nossa casa, e como não
pude revidar em plena festa, dei um jeito de ficarmos a sós com ela
em um dos quartos, e o motivo de vocês não a verem mais na festa,
é que enchi a cara da vadia de tapas, e o Rick a escoltou pela saída
dos fundos, que é por onde o lixo é colocado para fora.

— Vocês precisavam ver o estado que a Barbie da Shopee


ficou, cabelos desgrenhados, lábios partidos e o vestido rasgado.
Droga, esqueci de bater uma foto, vocês iriam amar — continuou
rindo, e o Dylan juntou-se a ela, segurando a barriga de tanto rir.

— Bandidaaaaa, que bafo! Chocada estou, e o Alex, fez o


quê?! — Seria engraçado se não fosse trágico, a cara de espanto
do Nick.
— Nada. Aquele banana não fez nada! E é por isso que a Liz
saiu de casa, para ver se aquele lerdo acorda! Pronto, falei, tô leve.
— Helena bateu com as mãos na mesa.

— Helena! Não é assim, está bem? Ele só ficou nervoso,


confuso, sei lá... — tentei amenizar a situação.

— Nervoso? Confuso? — indagou Nick, fazendo uma careta


engraçada. — Nervosa e confusa estou eu, amiga. Como assim? O
que ele te disse? Ele não teve a pachorra de ficar dividido né? —
Arrastou a cadeira, levantando-se com as mãos na cintura. Meu
silêncio disse tudo. — Ai, amiga, e o que você vai fazer?

— Acho que já sei. Mas irei precisar de ajuda, posso contar


com vocês?
Após passar o dia entre reuniões de alinhamento, e ficar algum
tempo com aquele cartão queimando em minhas mãos, acabei por
tomar minha decisão e fazer a ligação, que foi atendida no segundo
toque.

— Oi, precisamos conversar.

Era sexta-feira. Passei a semana no apartamento da minha


mãe. Alex chegou a ir até lá, porém, não quis recebê-lo, e embaixo
das ameaças nada sutis da minha mãe ao “cretino”, ele resolveu ir
embora.

— Você tem certeza, minha filha? — perguntou quando


estávamos tomando um café, após chegar do trabalho.
— Tenho, mãe. Não posso morar eternamente aqui, então
preciso resolver essa situação o quanto antes. Ele me enviou flores
a semana inteira, acredita? Mensagens e flores, e então, finalmente,
resolveu respeitar meu espaço e parou de ir à empresa tentar se
encontrar comigo. Mas já chega, mãe, preciso pôr um fim nesta
situação. — A campainha tocou e meu corpo tencionou. Para não
ser anunciado, era alguém autorizado pela portaria, não era o caso
do Alex, porém, ele poderia ter dado um jeito de subir, visto que seu
sobrenome “abre portas”, literalmente.

— Quem será há uma hora dessas? Será que é o ... — Já ia


se levantando da bancada, quando a interrompi.
— Termine seu café, seja quem for, já está na hora de enfrentar
de frente meus problemas — falei seguindo até a porta. Entretanto,
fiquei sem ação ao ver, não o Alex, mas uma Helena devastada
passar por mim e se jogar com tudo no sofá. Fechei a porta e fui até
ela. — Helena, o que houve? Jim está bem?

— Ele está ótimo, aquele desgraçado! — Nunca vi Helena


assim, olhos vermelhos, maquiagem borrada e tremendo de raiva.
— Maldito, escroto do caralho, eu não quero vê-lo nunca mais na
minha frente! Ele... ele... — Os soluços não a deixavam continuar.
— Meu Deus o que está acontecendo com esses homens?
Todos resolveram fazer merda de uma vez?! Toma aqui essa água
com açúcar, minha filha, se acalme para poder contar para a gente o
que aquele outro cretino fez. — Sentou-se no sofá abraçando
Helena como uma mãe leoa. Mamãe é assim com quem ama, e
Helena é como uma filha para ela. Tô até com pena do Jimmy.
Mentira.
Após muitas lágrimas e xingamentos, Helena finalmente contou
o que havia acontecido. O que desencadeou outra leva de
xingamentos, dessa vez, nossos.
— Como ele pôde?! Eu ainda não acredito que o Jimmy fez
isso, não é possível, deve ter alguma explicação, tem que ter uma
explicação! — vociferei, andando de um lado ao outro, gesticulando
com a mão na cintura.

— Eu vi, Elizabeth! E o infeliz ainda me convidou para participar


da “festinha”. Nunca me senti tão humilhada, tão usada. Ele estava
estranho esses dias, desde que toquei no assunto sobre família,
filhos, enfim, o que ele achava de tudo isso, se pretendia ter filhos
algum dia. Eu te falei, lembra? — Confirmei com a cabeça. — Ele
desconversou e depois disso, mudou comigo, Liz, eu tava sentindo,
mas fazer o que ele fez? Jogar nosso amor no lixo, da maneira mais
baixa? Se ele não queria levar à frente nosso relacionamento, era
só ser homem e me dizer! Logo eu, Eliza, você sabe o quanto
sempre me resguardei para não me envolver com ninguém, e
quando abro a guarda, ele... ele... ahhh, Liz! Por quê? Por que ele
fez isso comigo? — Abracei-a sem dizer nada. Nunca a vi tão
destruída. Aos poucos, a senti amolecendo em meus braços.
— Mas o quê? — indaguei, ao ver Mag ajeitar Helena
adormecida no sofá.

— Coloquei um calmante no suco que dei a ela agora há


pouco, percebi que no estado dela, a água com açúcar não
resolveu. Coitadinha. Meu Deus, que cachorrada do James, nunca
imaginei. Eles faziam um casal tão lindo... aliás, vocês todos. Nunca
pensei que depois de tanto tempo, as coisas iriam desandar assim,
o que está acontecendo com esses homens? O Richard que não se
atreva, porque, aí sim, eles irão ver o diabo em pessoa bater na
porta deles — bradou indignada, enquanto colocava um lençol
cobrindo minha amiga. Eu só sabia chorar baixinho.
Estávamos todos tão felizes, como as coisas mudaram assim
de uma hora para outra? Não conseguia aceitar. Minha situação
com o Alex tinha explicação, mas o Jimmy? Ele era louco pela
Helena, não faz sentido o que aconteceu.

— O que vai fazer? — perguntei ao ver mamãe levantar-se


exausta e ir em direção à cozinha. — Eu? Preparar mais água com
açúcar, acho que todas nós estamos precisando. Vá descansar,
minha filha, Helena não acordará mais hoje, e amanhã, com certeza
ela precisará da amiga. Quanto a mim, irei ligar para a portaria e
pedir para barrar outro cretino. Essa casa está virando um
verdadeiro forte para donzelas desiludidas. Vou te contar, viu?!
O sábado amanheceu com o tempo fechado, assim como
nossos ânimos. Helena amanheceu melhor, bradando que não era
mulher de ficar chorando pelos cantos e que eu deveria fazer o
mesmo. Passamos a manhã de bobeira, pedimos comida japonesa
para o almoço e à tarde, quando Mag saiu, pois tinha hora marcada
no salão, resolvemos maratonar uma das nossas séries preferidas,
acompanhadas de uma garrafa de vinho, que viraram duas. E em
algum momento, tínhamos esquecido a série e estávamos rindo e
chorando, rogando pragas em nossos homens.
— Aqueles filhos da puta!
— Shiiiiiu! — Coloquei o dedo indicador entre os lábios, para
que Helena se calasse. — Tá doida, amiga? Esqueceu que nossas
sogras estão mortas? Vai que se ofendem e vêm puxar nossos
pés?! — Fiz o sinal da cruz.

— Deus me free! Sogrinha linda... quer dizer... ex-sogrinha


linda, porque seu filho é um filho da... mãe mais bonita desse
mundo, mas é um escroto, cafajeste, desgraçado, não me odeie
quando eu fizer picadinho dele. — Levantou a taça para cima em
um brinde. — Veja pelo lado bom, a senhora vai poder matar a
saudade, quando ele subir... pera aí, aquele fodido não vai subir
coisa nenhuma, ele vai descer direto para o quinto dos infernos, que
é o lugar dele! Desculpa aí, sogrinha, ex-sogrinha, foi mal! —
gargalhamos até a barriga doer.
— Estamos fodidas com esses machos escrotos, viu? O outro
perdeu a noiva e colocou uma cópia no lugar. Ahhhhh, mas a Elena.
— Personagem da série “O Diário de Um Vampiro”. — Que me
perdoe, porque não nasci para ser duplicata de ninguém, eu hein?!
— Batemos as taças em um brinde. — Nem que ele fosse gostoso
igual ao Damon Salvatore. Mentira, ele é gostoso, amigaaaaa. —
Bati a mão na testa.
— Pior que nem dá para cortar os pulsos e ir parar no Memorial
Grey Sloan. — Hospital da série “Greys Anatomy”. — Porque nem o
McDreamy, e nem o McSteamy estão mais lá, e a Meredith tem
tantos conflitos que é capaz de me abrir em uma mesa de cirurgia
para, só depois, descobrir que era só suturar os pulsos! — Agora
estávamos as duas caídas no chão da sala, rindo igual duas hienas
asmáticas.

— Poderíamos fazer como a Cersei. — Personagem da série


“Game Of Thrones”. — E queimar a todos. Já pensou? Depois
comeríamos os paus do Alexander e do James no espetinho —
Helena falou enrugando o nariz.
— Socorro, amiga, paraaaa! Não aguento mais! — Já
estávamos no meio da terceira garrafa, quando Mag chegou
deslumbrante, vindo do salão.

— Mamis poderosaaa, você tá gostosa, hein? Eu comeria fácil.


— Helena levantou a taça, derrubando vinho sobre a mesa de
centro. — Ops! Foi mal. — Pois a mão na boca, soluçando.
— Xiiiii, saio por umas horinhas, e vocês enfiam o pé na jaca?
Não é possível, já vi que terei que pedir reforços. — Sacou o celular
da bolsa. — Stella? Você pode vir aqui em casa? Estou com duas
bebês bêbadas e não vou dar conta. — Demorou um pouco,
ouvindo Stella falar do outro lado da linha. — Não, melhor não. Do
jeito que Alexia anda murcha, serão três bebês chorando em meu
tapete, sem condições. — Mais um momento em silêncio. — Ele
está desesperado? Agora? Deixe que o seu marido lide com ele, ou
melhor, com eles, e venha me ajudar, sinceramente, esses homens
só servem para dar trabalho, se a pegada forte e o puxão no cabelo
não fizessem falta, seguiríamos plenas com nossos consolos, viu?
— queixou-se com a mão na cintura, enquanto a outra segurava o
celular próximo ao ouvido. — Ok. Nos vemos daqui a pouco,
beijinhos. — Desligou, jogando o telefone no sofá e pondo as mãos
na cabeça, ao ver a bagunça que havíamos feito. Recolheu as
garrafas e taças de nossas mãos e saiu em direção a cozinha,
praguejando que só dávamos trabalho e que iria fazer um café tão
forte, que nossas almas iriam sair do nosso corpo junto com o
álcool, o que nos rendeu mais uma crise de risos, que nos levou em
seguida, a chorar copiosamente.

E foi assim que a Stella nos encontrou. Em meio a choro, café


e banho gelado, finalmente nossas babás conseguiram nos fazer
adormecer.
O domingo nos encontrou com uma ressaca desgraçada.
Passamos o dia nos arrastando, e entre uma conversa ou outra,
mamãe deixou escapar que o Jim estava devastado, e não
entendeu o sumiço da Helena, até ver as câmeras do seu prédio e
entender o porquê dela não o querer vê-lo nem pintado de ouro. O
infeliz alegou não lembrar de nada, que a amava, e que jamais faria
aquilo com a Helena, porém, o estrago estava feito, e pelo que
conhecia da minha amiga, ela jamais o perdoaria. E sinceramente,
não julgo, porque devido as circunstâncias em que ela o encontrou,
nem eu o perdoaria. E sinto tanto por eles, amo-os tanto, que dói ver
meus amigos sofrendo, mas a quem estou querendo enganar?
Apesar das situações serem distintas, Alex e eu não estamos tão
diferentes, essa distância e incerteza do que irá acontecer está
acabando comigo. Após Helena ir embora, afirmando que estava
bem, tomei uma decisão, tinha adiado demais essa conversa. Fiz a
primeira ligação para obter a confirmação dos meus planos e em
seguida liguei para ele, que atendeu ao primeiro toque.
— Liz? — A emoção me tomou, ao ouvir aquela voz rouca que
tanto amava.

— Oi, Alex. Precisamos conversar.


CAPÍTULO 37
Ver Liz saindo por aquela porta foi uma das piores coisas que
senti na vida. Já passei por muitas dores, a morte da Abigail, o
abandono da Sarah, a perda dos meus pais, contudo, ver a Liz indo
embora foi como se estivesse arrancado meu coração e levado com
ela. Fiquei ali, estático por horas, até que Alexia surgiu no quarto me
abraçando, tirando-me do torpor. Fez-me tomar banho e um chá, e
deitou-se ao meu lado na cama, até dormir agarrada a mim, como
fazíamos após a morte dos nossos pais. Alexia. Sempre a Alexia.
Minha irmã sempre estava ao meu lado, quando mais precisava, e
por que não enxerguei antes? A Liz tava certa, minha baixinha
estava sofrendo sozinha e eu não percebi. Que espécie de irmão eu
sou? Que espécie de homem eu sou? Eu não sei. Mas irei
descobrir.
Mais de uma semana sem falar com ela, sem vê-la, sem tocá-
la. Até quando eu aguentaria?
— Nada, ainda? — perguntei ao Jimmy, ao vê-lo entrar em
minha sala. Cabisbaixo, roupa amassada, cabelos desalinhados, um
arremedo do homem que sempre foi sinônimo da elegância. — Ela
não aceitou vê-lo?

— Que nada! Se enfiou no apartamento da Mag, junto com a


sua mulher, e assim como você, minha entrada foi proibida.
Nenhuma delas me atende, já estou enlouquecendo, cara. — Jimmy
andava de um lado a outro do escritório, quase arrancando os
cabelos e eu só conseguia pensar no que ele tinha acabado de falar.
Minha mulher. Sim. Elizabeth era minha mulher e doía pra caralho
não poder tê-la em meus braços.

— Eu preciso entender o que aconteceu, Alexander, minha vida


não pode acabar desse jeito, eu não fiz nada! Quer dizer, como
advogado, eu deveria saber que contra fatos não há argumentos, já
que as imagens não deixam margem para dúvidas, entretanto, nada
disso faz sentido, eu não faria isso com ela. Você mais do que
ninguém sabe dos meus planos, então, pelo amor de Deus, que
merda aconteceu comigo?

— Porra, cara, sinceramente não sei. Seu “antigo eu” faria


muito mais que isso, entretanto, e acredito que você não teria
coragem de fazer isso com a Helena, mas porra...aquelas imagens.
Caraaa, se eu tô fodido com a Liz por muito menos, imagina você
com a Helena. Nem sei o que dizer. — Toquei em seus ombros,
virando-o de frente a mim. — Mas vamos manter nossas cabeças
nos lugares, ok? Não vou dizer que está sendo fácil esse tempo que
Liz me pediu, porém estou tentando respeitar o seu espaço, e acho
que você deveria também. Helena está magoada, ferida, se
sentindo humilhada. Se para nós, que vimos as imagens, foi difícil,
imagina para ela que te encontrou naquela situação? Nem consigo
mensurar o que ela está sentindo neste momento, James. Dê tempo
a ela, até que esteja disposta a lhe ouvir, e enquanto isso, tente
descobrir o que aconteceu.

— Meu Deus... minha morena deve estar devastada. Eu


preferia ter minha jaguatirica me rasgando com aquelas unhas
afiadas, do que ter o seu silêncio. Não poder falar com ela está me
destruindo, Alexander. E não saber exatamente o que aconteceu,
também. — Os olhos marejados do Jimmy refletiam todo o
desespero que havia em sua alma, e eu não podia fazer nada para
ajudá-lo. Foda.

Meu celular começou a tocar em cima da mesa, e corri para


pegá-lo ao ver o nome que piscava na tela. Era ela. Finalmente.

— Liz? — Atendi com o coração acelerado, parecia que iria


rasgar o meu peito de tanta ansiedade. Fechei os olhos, respirando
fundo, a fim de conter minha ansiedade. Ouvir aquela voz, após
tantos dias, me inundou de saudade. Nove dias. Nove dias sem
minha Sunshine.
— Oi, Alex. Precisamos conversar. — Senti a voz dela trêmula.
Será que estava sentindo minha falta, assim como eu estava
sentindo a dela? —

— Sim. Onde você está? Vou até você agora, Liz, nada é mais
importante — respondi rapidamente, com medo dela voltar atrás.
— Não. Prefiro ir até você. Está na empresa?

— Sim, mas por que aqui, estou indo para casa, nos vemos lá.
— Já estava pegando o terno e as chaves, quando ouvi sua
resposta.

— Não! Quer dizer... prefiro que seja aí, Alex. Te vejo em meia
hora, pode ser? — Demorei a responder, até perceber o porquê da
escolha. Ela queria um ambiente neutro. Não seria uma
reconciliação. Seria uma despedida. Mas, nem fodendo.

— Ok, Liz. Como quiser, estarei te esperando. — Desliguei o


telefone com o desespero me dominando. Ela iria me deixar? Não.
Ela não faria isso. Ou faria?
— Irmão você está pálido, o que aconteceu? — Jimmy, falava
comigo, porém, não consegui assimilar nada, a não ser o fato de Liz
estar vindo ao meu encontro para finalizar a nossa história.

— Liz está vindo para cá conversar comigo.

— Então isso é bom, não é? Vocês podem conversar e se


acertar de uma vez.

— Não, Jimmy, você não entendeu. Elizabeth está vindo pra cá,
conversar comigo — repeti, o encarando, até que o brilho de
entendimento perpassou em seus olhos.

— Puta que pariu, Alexander, se ela buscou um local neutro, é


porque... — Apontei o dedo indicador, insinuando que ele nem
ousasse concluir a frase. — Certo, não vou pôr em voz alta o que no
fundo você já sabe. — Agora foi a vez dele pôr as mãos em meus
ombros. — Sei que é difícil, contudo, tente manter a calma. — E
com um último aperto em meus ombros, se dirigiu até a porta,
porém virou-se antes de sair. — Boa sorte, irmão, irá precisar.
Meia hora depois, Elizabeth Sanders entrou em meu escritório,
trazendo o sopro de vida que me faltava. Linda. Em um vestido
preto, justo ao corpo e que ia até acima dos joelhos, desfilou
aquelas pernas torneadas até mim, parando em frente à minha
mesa.

— Oi — cumprimentou-me timidamente.

— Oi — respondi. Meu Deus. O que estava acontecendo com a


gente? Parecíamos dois estranhos tentando nos comunicar.
Levante-me, indo até a porta e a tranquei. Segui até ela, a virando
em minha direção e, sem me conter, a tomei em meus braços. A
saudade estava me matando. — Liz, Liz, Liz, não faz mais isso, ok?
Você sabe o quanto me enlouqueceu, esses dias longe de você? —
Segurei seu rosto entre as mãos, beijando todo o seu rosto, até
tomar sua boca com sofreguidão. Ela correspondeu. Isso era bom.
Não era?

— Alex... — Liz finalizou o beijo, afastando-me com delicadeza,


saiu dos meus braços e caminhou até o sofá na lateral da sala.

— Vem aqui, Alex, precisamos mesmo conversar. — Bateu a


mão no assento, pedindo que eu me sentasse ao seu lado. Quando
o fiz, fechou os olhos e respirou fundo, tomando o seu tempo, e
quando os abriu, vi que nada que sairia da sua boca, seria bom para
nós.

— Me ouça, está bem? Me escute até o final, sem interrupções.


Você consegue? — Confirmei com um aceno de cabeça.
— Eu te amo, Alexander. Mas do que achei ser possível. E sei
que você também. Porém, como te disse naquela noite, às vezes
amar não é o bastante. Você me feriu, me magoou ao não tomar
nenhuma atitude em relação a aproximação daquela mulher. Olhar
para ela e ver tantas semelhanças me fez duvidar se realmente era
a mim que você enxergava, quando estava comigo. E se
voltássemos agora, em pouco tempo nossa relação iria definhar e
morrer, sabe por quê? Porque faltou confiança e cumplicidade,
Alexander. — Levantou a mão, para que eu me calasse, quando
ameacei abrir a boca para argumentar. — Eu te dei tudo de mim.
Entretanto, não recebi de você a mesma entrega. Foram três anos,
Alexander, e em nenhum momento você compartilhou seu passado,
dores, ou temores comigo. Nada. Lembra da conversa em que
tivemos em seu quarto adolescente, há três anos? Eu te disse que
não te cobraria nada, que você poderia me contar quando estivesse
pronto. Que me deixasse entrar. Lembra? — Liz entrelaçou nossas
mãos, as lágrimas teimosas insistiam em cair, e eu já não fazia
questão de enxugá-las, estava doendo pra caralho, ouvir o quanto a
magoei com meu silêncio. — Mas a verdade, Alex, é que você
nunca deixou. Nunca esteve pronto para me deixar entrar. E eu
esperei. Ah... como esperei, acreditando que finalmente um dia você
seria completamente meu. — Olhou para cima, em um esforço inútil
em conter as lágrimas que caiam em abundância.

— Eu sou seu, Sunshine, completamente seu! — Tentei puxá-la


para os meus braços. O que fez com que se levantasse e ficasse de
costas para mim, tentando se recompor. Após alguns segundos, que
pareciam horas, virou-se para mim, e a dor que vi refletida em seus
olhos me dizimou por completo.

— Não, Alexander! Não é! Você sabe a dor que eu senti, ao ver


você rolar na cama durante quase quinze dias, sem conseguir
dormir direito? Em ter que fingir estar dormindo, quando você
levantava de madrugada e ficava horas na varanda olhando para o
vazio, pensando nela? E não ofenda a minha inteligência, afirmando
o contrário, Alexander! Toda mulher sente, quando seu homem não
está bem. Eu sentia. Todo maldito dia, eu sentia! — Bateu forte no
peito, na altura do coração. — E mesmo assim, eu fiquei. Por amor
a você, eu fiquei. E em nenhum momento lhe confrontei, quando
você preferiu fugir do que estava lhe atormentando, ao invés de
enfrentar os seus medos e ir encontrá-la. — Aproximou-se de mim,
apontando o dedo em meu peito. — Sabe por que não cancelei o
convite dela à festa? — Seu olhar cravou em mim, feito adagas
afiadas. — Porque não aguentava mais, se fosse para me ferir, que
fosse logo com uma facada bem no meu peito, do que ser
apunhalada pelas costas todos dias. Eu não sei o que esperava.
Talvez que você jogasse tudo para o alto e a expulsasse da
mansão, não sei. Ou pelo menos me defendesse das palavras que
aquela víbora falou sobre mim... sobre nós. Mas não, tive que
assistir outro homem ir em minha defesa, porque o meu... nem sei
mais como chamá-lo — soltou um riso triste. — Ficou simplesmente
petrificado. Você tem noção do quanto me senti diminuída naquela
mesa? Na sua vida? Em seu coração? Minha vontade foi ir embora
naquele instante. Mas, a profissional Elizabeth Sanders teve que
atuar ao lado do seu... homem? Dê o nome que quiser, porque seja
lá o que erámos, acaba aqui. Hoje estou terminando o que não
devia nem ter começado, Alexander. Eu jamais deveria ter me
envolvido com um homem que tinha outra mulher em seu coração.
— Cruzou os braços, abraçando seu próprio corpo, podia senti-la
tremendo.

— Elizabeth, você enlouqueceu? Vai jogar três anos de nossas


vidas no lixo?! Eu te amo, porra! — Segurei em seus braços,
forçando-a a me encarar. — Sim, confesso que fiquei abalado com a
volta repentina da Sarah, mas não por amá-la, e sim, por não saber
por que ela voltou, depois de tanto tempo, depois de se esconder
por anos de mim! Eu tinha o direito de saber, você não entende?! —
Puxou os braços, soltando-se do meu aperto.
— Você que não entende, Alexander! Ela não voltou, porque
ela nunca foi! Essa mulher sempre esteve presente entre nós, você
nunca a deixou ir de verdade!

— Você tá maluca? De onde você tirou isso?! — Aproximei-me


dela, como um animal enjaulado, um aperto no peito me sufocando.
— Vejamos! Qual a última vez em que entrou em uma igreja,
Alex? E seu quarto adolescente continua lá, cheio de fotos dela!
Meu Deus, como fui burra, três anos e nada aconteceu, não fizemos
planos, ficamos em uma bolha fingindo ser uma família perfeita —
bufou frustrada. — Puff, que família? Mimamos os filhos dos outros,
porque não tivemos coragem de falar sobre os nossos. E o
restaurante, Alex? Seu maior sonho continua em uma gaveta. —
Abriu os braços ao redor da sala. — Este não é o seu mundo, Alex,
abra os olhos, antes que seja tarde demais. Era sua irmã quem
deveria estar nesta cadeira. Entretanto, onde está Alexia? A Alexia
que sonhava em administrar o império da família? Onde está?
Porque com certeza ela não é essa casca que voltou da faculdade.
Alguma coisa apagou o fogo que ardia em sua irmã, apagou a luz
que emanava daquela menina, e você, fechado em seu mundinho,
nem se deu conta. Ela está sofrendo, Alex, e você precisa descobrir
o porquê. — Aproximou-se de mim, segurando o meu rosto entre as
mãos. — Cadê aquele Alex que compartilhou comigo suas histórias
de infância, seu desejo de abrir um restaurante, só para ver a
felicidade das pessoas, ao provarem o sabor de casa? Hein? Aquele
Alex sensível, que cuidava e protegia a irmã como um gavião? É
esse Alex que eu amo, é esse Alex que quero de volta. Eu quero
tudo com você, Alex. Uma família. A minha família. — Abraçou
minha nuca com as mãos trazendo meu rosto até o seu, encostando
nossas testas. — Mas irei te deixar, para decidir isso sozinho. Não
sou mulher de metades, Alex. Ou você vem por inteiro, ou me deixe
ir.
A essa altura, ambos chorávamos copiosamente. Liz me deu
um selinho, afastando-se de mim.

— Estou indo hoje à noite pra Seattle. — Levantei o rosto em


um rompante e fui até ela.
— Não — supliquei, abraçando-a desesperado. — Você não
pode me deixar, Sunshine, não pode. — O choro veio com tudo, e
não consegui mais conter os soluços.

— Eu não estou te deixando, Alex, pelo contrário, estou te


deixando livre para refletir, e escolher o que quer da vida, sem
intervenções. Estamos implantando o novo sistema de segurança
na rede de hotéis do David Cooper, normalmente o Bob gosta de
acompanhar as implantações de perto e supervisionar os testes,
porém, dessa vez eu pedi para ir em seu lugar. Só quero que seja
feliz, Alex, com ou sem mim. E se for sem mim, irei entender. Você
precisa se encontrar, antes de qualquer coisa, Alexander, eu não
posso ser a luz do seu caminho, se você não sabe a que caminho
seguir. — Alisou meu rosto. — Fique bem, ok? Use esse tempo para
descobrir o que, e quem é realmente importante para sua vida, e por
favor, a Alexia não está bem, tente ajudá-la, sim? — Encostou os
nossos lábios em um beijo de despedida, afastando-se em seguida.
— Porém, a prendi novamente em meus braços.
— Quanto tempo? — Funguei, cheirando seus cabelos,
cravando seu cheiro em minhas lembranças, morrendo de medo de
que esse fosse nosso último abraço.

— Três meses. Talvez quatro. Conversamos quando eu voltar,


ok? Mas lembre-se, Alex, você está livre para decidir, não irei julgá-
lo. — Saiu do meu abraço, dirigindo-se à porta. — Só quero que
seja feliz, Alex. Seja feliz. — E com isso, saiu pela porta, levando
meu coração com ela.
CAPÍTULO 38
— Você está bem? — Bob perguntou, abraçando-me em frente
ao meu prédio.
— Não. Mas vou ficar — respondi, dando-lhe um sorriso
amarelo. — Obrigada, Bob, esse período longe irá me fazer bem.
— Por nada. Era o mínimo que poderia fazer. Sinto muito,
Pequena, por não estar aqui por você. — Abraçou-me mais forte,
beijando o alto da minha cabeça.
— Vai ficar tudo bem, Bob, só preciso me afastar por um tempo.
Vamos? — perguntei, soltando-me do seu abraço e indo até o carro.
Bob preferiu me buscar para irmos ao aeroporto em seu carro. O
jatinho já estava nos aguardando para partir. — Tem certeza de que
precisa ir junto? — perguntei, me acomodando no acento e
colocando o cinto, enquanto ele dava partida no carro.

— Sim. Irei me sentir mais tranquilo, ajudando a se acomodar,


além disso, tenho algumas coisas a resolver por lá. — Deu uma
piscadinha para mim, deixando-me mais tranquila. Não me sentiria
bem em atrapalhar os planos do Bob, por causa dos meus
problemas pessoais, já basta tudo que ele já fez por mim.

Passamos o percurso em silêncio, ouvindo uma música


clássica tocando baixinho. Bob ama músicas clássicas e aprendi a
gostar com ele, pois não perdia uma oportunidade em levar-me a
concertos, deixando Alexander possesso, contudo, isso era uma
coisa nossa, e nunca deixei de ir. Graças a Deus, pois se tivesse me
afastado do Bob, estaria sem o homem e sem o amigo agora.
Chegamos à pista de embarque em menos de vinte minutos e,
enquanto o motorista do Bob embarcava nossas malas, ouvimos
gritos e uma buzina ensurdecedora, fazendo com que virássemos
assustados. Era Alex. Assim que o carro parou de qualquer jeito,
saiu correndo até mim.
— Elizabeth! Você não pode me deixar, não pode, não faz isso
com a gente, Liz! — Pelo cheiro do álcool, ele estava bebendo,
graças a Deus quem dirigia era o Jimmy, que saiu do carro
correndo, tentando contê-lo.

— Pequena, entre. Eu resolvo isso. — Bob começou a me


puxar em direção às escadas, pondo-se em frente a mim.

— Vogel, seu desgraçado! Foi você, não foi? Deu essa ideia
ridícula dela se afastar de mim! Sempre por perto, como uma ave
agourenta nos rondando, tentando roubá-la de mim, não perde a
oportunidade, não é? Pois fique sabendo que ela é minha,
entendeu? Minha! — Tentou passar pelo Bob, segurando em meu
braço.

— Gauthier, em respeito a Eliza, não darei a resposta que


merece, você está bêbado, volte para casa, antes que faça algo de
que se arrependa — Bob respondeu, olhando-o friamente. — Suba,
Eliza, eu resolvo isso. — Sinalizou que eu subisse, mas meus pés
não me obedeciam. Não conseguia desviar o olhar do homem à
minha frente. Nunca o vi tão destroçado.

— Alex, por favor... — tentei chamá-lo à realidade, porém, em


um descuido do Jimmy, ele soltou-se, acertando um murro no rosto
do Bob. — O grito que dei em seguida fez com que todos ficassem
em silêncio. Corri para o Bob, que afirmou estar bem, então pedi
que ele subisse. A presença dele só estava piorando as coisas, e
precisava acalmar o Alex, antes de partir. Jimmy já o estava
segurando novamente, enquanto ele se debatia, tentando soltar-se.

Alex estava completamente transtornado, o rosto


congestionado, e seu peito subia e descia descompassadamente.
Aproximei-me calmamente. Entrando em seu campo de visão.
— Alex. Olha pra mim. — Toquei em seu rosto, segurando em
minhas mãos, para que focasse em meu olhar, ele estava quase
tendo um ataque de pânico, precisava trazê-lo de volta. — Olha pra
mim, Alex, sou eu, a Liz. Sua Liz. Estou aqui com você. Respira
comigo, Alex. — Comecei a inspirar e expirar calmamente, para que
ele espelhasse a minha respiração. Sinalizei para que Jimmy o
soltasse. Ele caiu de joelhos, me levando junto com ele.

— Xiiiiii, estou aqui, Alex. — Sentei-me com ele em meus


braços, até que só restasse um choro sofrido. Também chorava
baixinho, e ao levantar o rosto, encontrei o do Jimmy banhado em
lágrimas. — Cuida dele? — perguntei, e ele assentiu em silêncio. —
Levantei a cabeça do Alex, que estava apoiada entre meu pescoço.
— Alex, meu amor, olha pra mim. — Com sacrifício ele focou seu
olhar no meu. — Não estou te deixando. Isso não é definitivo. Estou
indo a trabalho, nem o Robert, e nem ninguém vai me roubar de
você, eu sou sua, Alex, mas por favor, seja meu. — Beijei-o entre os
lábios, ajudando Jimmy a levantá-lo e pô-lo no carro.

— Eu te amo, Sunshine — balbuciou, entre os espasmos do


choro.

— Eu também, Alex. Sempre. — Beijei-o mais uma vez, o


deixando quase adormecido no carro. Abracei Jimmy apertado,
despedindo-me antes que perdesse a coragem.

— Lizy... e Helena? Como ela está? Não consigo falar com ela,
estou enlouquecendo, Liz. Eu juro... — Pus um dedo em seus
lábios, o calando.

— Ela não está bem, Jim, nenhum de nós está. Dê espaço a


ela, está bem? Não sei o que aconteceu, e me recuso a acreditar
que você possa ter descido tão baixo. Esse não é o Jimmy que
conheço... e amo. Tente consertar essa bagunça, ok? Cuida dele
pra mim? — Apontei para o carro.
— Com a minha vida. — Abraçou-me novamente. — Lizy...
quando falar com Helena, diga que...diga que...

— Eu sei... — Abracei-o novamente, o beijando no rosto,


enquanto desmanchava-se em lágrimas. Estávamos todos
destruídos.
Entrei na aeronave, enxugando minhas lágrimas, e quando
levantei o rosto, estaquei no lugar.

— O quê...

— Longa história, depois lhe conto tudo, por agora, o que você
precisa saber, é que vou com você — disse Helena, suplicando com
o olhar que eu não fizesse perguntas.

Olhei dela para o Bob, entendendo o que ele quis dizer com ter
algumas coisas a resolver. Finalmente levantamos voo, e só após
conversar com Helena e entender a situação, me rendi ao cansaço,
adormecendo, não antes de ter o rosto atormentado do Alex como
lembrança.
CAPÍTULO 39
— Filho da puta! Roubou nossas mulheres embaixo dos nossos
narizes! — Jimmy bradou indignado, após saber que Helena estava
na aeronave o tempo inteiro.

— Ele não levou ninguém, James, elas foram por livre e


espontânea vontade, mas se você não tivesse me segurado, talvez
eu o tivesse impedido — grunhi exasperado.
— As donzelas ainda irão lamentar por quanto tempo? Nada
disso teria acontecido, se vocês já tivessem se posicionado em
relação às mulheres de vocês. Já ouviram o ditado: “Se não quer,
desocupa a moita“? O Vogel não fez nada demais, só foi para as
mulheres de vocês o que vocês deveriam ter sido. Amigos,
companheiros e principalmente leais. — Rick, olhou para Jimmy,
frisando a última parte.

— Eu já falei que não traí a Helena! Sei que não tem


explicação, mas deve ter alguma, porque aqui dentro. — Apontou
para o peito. — Eu sinto que não fiz nada — afirmou desolado.

— Calma, James, partindo daquela sua suspeita, comecei uma


investigação acirrada, e logo, logo, nós saberemos o que realmente
aconteceu. Tenha fé, homem! — Bateu em seu ombro. — E quanto
a você... — Virou-se para mim. — Já pensou em como resolver sua
situação? Eu perdi a mulher da minha vida por duas vezes e fui
inteligente o bastante para não perder a terceira. Vocês já
queimaram seus dois cartuchos, me usem como exemplo, e caso
um dia elas os perdoem, não caiam na besteira de errarem
novamente. — Levantou-se apontando para a gente. — Alex,
falando em arrumar a bagunça, Sarah andou rondando meu bar,
procurando por você, acho que você poderia começar por aí. Você
nunca conseguirá construir um futuro, enquanto não se desligar do
passado. Pense nisso. Bom, rapazes, tenho que ir. Com a ausência
das duas, sobrou para Stella supervisionar a equipe, então, hoje é o
meu dia de babá, tô indo buscar minhas crias na casa dos meus
pais, até logo. — Saiu, nos deixando a sós, pensando por onde
começar a consertar o inferno em que virou nossas vidas.

— Jimmy, já sei por onde começar, preciso que você descubra


algumas coisas para mim, e se eu estiver certo, me livro desse
problema de uma vez por todas. Ah... e quero que vá jantar com a
gente hoje à noite, estou com saudades de jantar com você e
Alexia, desde que ela voltou, ainda não fizemos isso, irei cozinhar
para vocês, isso me relaxa.

— Ok. Combinado. Vamos começar.

Cinco dias depois, uma loira platinada usando um vestido


vermelho, que parece ter sido vestido a vácuo, de tão colado, e com
saltos enormes, entrou em minha sala, após ser anunciada pela
secretária. Será que ela sempre foi vulgar assim, ou só agora
percebi isso?

Ao invés de sentar-se à minha frente, rodeou a mesa, vindo


diretamente a mim, e quando estendeu a mão para me tocar,
segurei em seu pulso.

— Não ouse. Sente-se, pois precisamos ter uma conversa


definitiva. — Apontei a cadeira. E só ao virar-se para ir até ela,
percebeu o Jimmy sentado no sofá, com as pernas cruzadas,
bebendo uma dose de whisky.

— Hummm, reuniãozinha, é? Aceito uma dose, Jimmy. —


Piscou descaradamente para ele.

— Sarah, não te chamei aqui para confraternizarmos e, sim, lhe


dar um aviso. Eu não sei o porquê você voltou, e sinceramente não
me interessa, só fique longe de mim e da minha família. Aqui não
tem mais nada para você, volte para sua vidinha, suas viagens, e
fique bem longe de nós, está entendido? — Cheguei o tronco para
frente, com os cotovelos em cima da mesa e as mãos cruzadas em
forma de concha. — Isso não é um pedido.

— Ah, é? E por que você acha que eu deveria atendê-lo? Este


é um país livre, Alex, tenho meu direito de ir e vir. — Cruzou as
pernas, fazendo com que o vestido subisse um pouco por suas
coxas. Ela realmente está pensando que cairei em seu joguinho?

— Imaginei que fosse dizer isso. — Dei-lhe um sorrisinho


irônico. — Por isso resolvi lhe dar um incentivo. — Peguei a pasta
que Jimmy havia me entregado mais cedo, e a deslizei sobre a
mesa.

— O que é isso? Querendo me subornar, amor? Você sabe que


dinheiro algum do mundo me fará desistir de você. Fomos feitos um
para o outro, Alexander. Ok, peço desculpas por ter demorado tanto
a perceber, mas agora estou aqui, amor, podemos esquecer tudo e
recomeçar, hum? O que você acha? — Tentou pegar em minha
mão. Porém a recolhi a tempo.

— Abra a pasta, Sarah Carson, ou será Sarah Gilbert? São


tantos nomes, estou confuso — debochei. — E só para
esclarecermos as coisas, James Coleman está aqui como meu
advogado, e sugiro que você preste muita atenção às palavras dele.
— Após um segundo olhando-me desconfiada, abriu a pasta. E foi
com grande satisfação, que a vimos empalidecer gradativamente,
até a cor fugir do seu rosto.

— Mas como... — Arfou com a mão no peito, ao ver as fotos e


os documentos que continham na pasta.
— Sabe, Sarah, estávamos intrigados do porquê você ter
mudado seu sobrenome. Inclusive, foi uma manobra
inteligentíssima. Procuramos por anos Sarah Carson, porém, as
Sarah’s Pierce, Dawson e Olson estavam por aí, aplicando golpes
em empresários ricos e coincidentemente casados. Presas fáceis,
que após serem seduzidos, eram chantageados, e depois de
destruí-los, você passava para a próxima vítima. — James
circundava ao redor da mesa, explanando as ações da falsária. — O
que nos intrigava, era como você conseguiu as identidades falsas e
acesso a esses empresários. E não foi difícil descobrir. A Sarah
Gilbert é real, foi a sua primeira identidade falsa, conseguida através
do filho de um grande amigo do seu pai. Você deve estar se
perguntando como descobrimos, não é verdade? — James fez uma
pausa teatral, piscando maldosamente, para ela. — Simples, fomos
bater um papinho com o velho Donald. Pensando bem, apesar dele
lhe culpar pelo acidente da Abigail, não era normal o ódio que
víamos o Donald nutrir por sua própria filha. Confesso que na
época, estávamos todos devastados para perceber que havia algo
mais. E há alguns dias, ao conversarmos com seu pai, ele nos
revelou a verdade sobre sua primeira vítima, seu velho amigo. Você
e o filho dele deixaram o velho na miséria e fugiram juntos. —
James virou a cadeira onde ela estava, de frente para ele, apoiando-
se nos braços da cadeira a encurralada. — Ele conseguiu as
identidades falsas e esperou você armar aquele circo, abandonando
meu amigo aqui em pleno altar. — Apontou para mim, e tive vontade
de rir, ao ver a cara estarrecida da Sarah.

Sentia-me em um tribunal. Realmente meu amigo é o melhor


no que faz.

— É obvio que você precisava de um motivo para a fuga, e


quando achamos sua carta, culpando-se pelo fim trágico da sua
irmã, e que por isso não merecia ser feliz e blá, blá, acreditamos
que realmente você não estava bem.

— Eu não entendo, Sarah, você tinha a mim, eu lhe amava.


Todos lhe amavam. Também não foi por dinheiro, pois você tinha
tudo, e casando-se comigo, estaria bilionária, então, qual o motivo?
Me explica, porque gostaria de entender. — Passei as mãos pelos
cabelos.

— Motivo? Liberdade, Alex, ser outra pessoa, ir para lugares


sem carregar o peso de alguém que matou a própria irmã! Todos me
apontavam o dedo, que se não fosse meu comportamento
delinquente, minha irmã perfeitinha ainda estaria aqui. Ninguém
jamais esqueceria, e você, James? Pensa que não via a dor em
seus olhos, você olhava pra mim? Preferiu viajar pelo mundo, a ter
que conviver comigo, faltou ao casamento do melhor amigo, por não
ter coragem de presenciar nossa felicidade, sem sentir o ódio por eu
ser a responsável por destruir seu sonho de família feliz, não é? Eu
estava cansada. Conheci o Roger em um jantar que meu pai
ofereceu a seu amigo de longa data, que estava retornando à
cidade com a família, meu pai pediu que apresentasse a cidade ao
Roger, e por sermos da mesma idade, acreditaram que eu o
ajudaria a se “enturmar”. No dia do acidente, estávamos juntos. Foi
ele que fez a ligação e confesso que a princípio, realmente fiquei
mal, até que parei de existir para minha querida mãezinha, que vivia
chorando pelos cantos pela filha morta. Posso? — Apontou para o
bar e com o meu consentimento, serviu-se de uma dose do mesmo
whisky que Jimmy havia se servido anteriormente. Após sorver do
líquido âmbar em suas mãos, recomeçou o relato:

— Eu nunca deixei de encontrá-lo, Alex. Mesmo em todo o


tempo em que estivemos juntos. — Olhou para mim com diversão.
— Nos divertíamos vendo você se desdobrar em fazer minhas
vontades, cuidando da sua menina frágil. Você era patético
Alexander — começou a rir. — Desculpe, mas você precisava ver
sua cara de pânico ao me ver parar em meio à igreja e andar para
trás. Realmente não queria fazê-lo sofrer, contudo, precisava
convencê-los, para que acreditassem em uma razão plausível para
a minha fuga. Quanto ao meu pai e o motivo dele me odiar, é que no
dia do velório da Abigail, enquanto todos choravam, lamentando sua
morte, eu estava fodendo seu amigo em meu quarto. Meu pai nos
pegou juntos e por medo de um escândalo, manteve segredo,
alegando não querer comprometer a saúde frágil da minha mãe, que
já estava abalada pela perda da filha. Eu precisava bancar a
fragilizada, a menina devastada pela perda da irmã, e então você se
aproximou. Rico, gostoso, e com a melhor qualidade de todas,
altamente manipulável. O plano original era casar com você, mas o
idiota do Roger teve uma crise de ciúmes e ameaçou lhe contar
sobre o nosso envolvimento. Então, propôs que roubássemos o
velho e fôssemos recomeçar em outro lugar, ele possuía um amigo
que mexia com falsificação de documentos, e assim nasceu a Sarah
Gilbert. — Depositou o copo na mesa, ao fim da narrativa.

— Sim, vocês viajaram para muitos lugares, o que a fez


descobrir seu talento para a fotografia, só que após um tempo, o
dinheiro do velho acabou, e o amor livre já não era tão bom, hum? E
coincidentemente, Roger Willis faleceu logo depois em um acidente
de carro. — James estalou a língua, batendo os dedos no assento
da cadeira onde Sarah havia sentado.

— Foi um acidente! — Virou-se para James bruscamente.

— Sorte sua que eu não tenho interesse em provar o contrário.


Ainda — sorrio em escarnio.
— Então entramos na parte mais doce... Abby. Você não
poderia ser mais óbvia. Abby de Abigail? Sério, Sarah, a sua fixação
por sua irmã era tão grande, que precisou aproximar-se da Abby,
para envolvê-la em seus planos sujos?! — Pela primeira vez, desde
que Sarah entrou naquela sala, vi o Jimmy, perder a compostura.

— Não foi premeditado. Conheci a Abby em uma exposição, e


a conexão foi instantânea! — defendeu-se irritada.
— Claro, que foi — James bufou irônico. — E a rede de
contatos dela foi só um bônus, logo o nome Sarah Gilbert começou
a se destacar no meio artístico, não foi? A famosa Sarah Gilbert,
detentora de fotos incríveis, disputadíssimas entre os maiores meios
de comunicação. Pobre Abby, ela não imagina que a sua “amiga”
íntima usa suas exposições para escolher suas vítimas. Aproxima-
se, forçando um contato acidental, e quando veem, já estão
enredados em sua teia de sedução. Óbvio que ter todo o mistério
por parte da sua identidade faz parte do show, garantindo que os
homens, aos quais você extorque, não poderão ligá-la à brilhante
Sarah Gilbert, não é mesmo? Você encontrou uma mina de ouro, fez
riqueza as custas de homens que pousam de pais de família,
honrados, entretanto, usam de depravação em suas vidas duplas.
Prato cheio para uma vadia como você. — Fez um floreio,
apontando-a. Sarah levantou-se, encarando-nos, nervosa.
— O que vocês pretendem? Aonde querem chegar com essa
palhaçada?! — Deu-nos um olhar desafiador, porém, no fundo
estava apavorada.

— Pergunta interessante. — James caminhou pela sala, de


cabeça baixa, com os braços nas costas, como se procurasse algo,
até parar em frente a ela e erguer o olhar. — Diga-me você. O que
pretende, voltando a esta cidade, com a falsa intenção de querer
reconquistar meu amigo? Corta a merda e desembucha. — Dirigiu
um olhar tão afiado a Sarah, que a senti estremecer.
— Estou fugindo, ok? Um desses... homens, ao quais me
envolvi, é muito poderoso... e perigoso. E caso ele descubra onde
estou... bom, não deve ser difícil deduzirem o que acontecerá. —
Confessou nervosa, torcendo as mãos.

— Interessante... obrigado por sua honestidade. E em sinal de


benevolência, não iremos entregá-la as autoridades, ou pior, a uma
certa pessoa. E não duvide da minha habilidade em descobrir,
porque eu já descobri. — Levantou a sobrancelha, sorrindo de lado.
— Eis aqui o que você vai fazer. Sumir das nossas vidas. E se por
um acaso, eu desconfiar que você está a menos de 500 metros do
Alexander, da família dele, ou de algum de nós, incluindo o seu
pai..., veja bem... eu vou me certificar pessoalmente que o seu mais
novo amigo lhe achará. Está entendido?

— Não posso sair daqui, ele vai me encontrar! Alexander, por


favor... — Correu até mim, implorando.
— Isso não é problema meu. E caso pense em descumprir as
regras, temos uma cópia desse mesmo dossiê, prontinha para ser
encaminhada para a polícia. — Encarei-a friamente. — Agora vá
embora, Sarah, e não olhe para trás. — Ela levantou-se
rapidamente, vindo até mim.
— Alexander, eu gastei tudo que tinha, fugindo para essa
cidade dos infernos, você tem que me ajudar! — Tentou me agarrar,
contudo, a afastei novamente.
— Ahan! Eis o verdadeiro motivo dessa volta repentina, onde
você subitamente descobriu que sua grande paixão sempre foi
Alexander Gauthier. Confesso que estou emocionado, me empresta
um lencinho, Alex? — James passou a mão pelo rosto, fingindo
enxugar as lágrimas.
— Nos poupe do seu teatro, Sarah, você fez sua cama, agora
deite. Nunca, eu disse nunca, ouviu bem, você verá um tostão meu.
E confesso que tenho que lhe agradecer, se você não tivesse me
abandonado, não teria a oportunidade de conhecer uma mulher de
verdade. A minha mulher, a única que merece todo o meu amor.
Obrigado, Sarah, agora pode ir. — Fiz um gesto com as mãos,
dispensando-a.

— Você ainda irá se arrepender por isso, Alexander. —


Dirigindo-me um olhar repleto de ódio, seguiu em direção à porta,
porém, não antes de destilar o seu veneno.
— Como vai a Helena, James? — sorriu maquiavelicamente.

— Foi você, não foi, desgraçada, me diga o que você fez?


— Eu?! Nem sei do que está falando. — E saiu batendo a
porta.
— Foi ela, você viu, Alexander, com certeza ela armou pra mim!
— bradou James, pegando o copo que estava sobre a mesa e
atirando-o na parede. Rodeei a mesa, tocando em seu ombro.

— Jimmy, se acalme, ok? Sem querer ela nos deu uma pista do
que realmente aconteceu, e até hoje você estava completamente no
escuro, portanto, esfrie a cabeça, e volte pro jogo, agora você tem
uma linha de investigação a seguir, e isso é bom, iremos descobrir
que porra aconteceu aquela noite, Jimmy, e você terá sua morena
de volta. — Ele respirou fundo, contido.

— É, você tem razão — sorriu empolgado, esfregando as mãos


uma na outra. — Bom, Já que nos livramos dessa bomba. —
Apontou para a porta, por onde Sarah havia acabado de sair. — Vou
te deixar a sós para comemorar. Tenho muito a fazer, com a
informação que ela deixou passar. — Assenti o abraçando, contudo,
antes que ele deixasse a sala, o chamei.
— Jimmy, muito obrigado, cara. Eu não teria conseguido sem
você, irmão. Você foi foda, agora vá! E conte comigo, vamos ter
nossas mulheres de volta.

— Por nadam Alex, foi um prazer fazer aquela ratazana voltar


para o lugar dela, que é o esgoto. Entretanto, meu trabalho ainda
não acabou, portanto, quando eu descobrir exatamente o que
aconteceu naquela noite, terei o prazer de destruí-la. — Piscou,
saindo da sala.
Sentei-me sorrindo. Finalmente as coisas iriam voltar ao seu
devido lugar.

Com o primeiro problema resolvido, agora, tinha menos que


sessenta dias para preparar tudo e reconquistar a minha mulher.
Peguei meu telefone, fazendo a ligação, que foi atendida no terceiro
toque.
— Richard? Precisamos conversar.
CAPÍTULO 40
— Vou sentir saudades daqui. — Abracei David em despedida.
Irei sentir saudade, fiz um grande amigo aqui. — Cuida dela pra
mim? — Apontei para onde Helena vinha ao longe, trazendo Sophie.

— Claro, não precisa nem pedir, o problema é... quem vai


cuidar de mim? Essa mulher é um perigo! — rimos os dois, mas a
verdade é que o David não estava aberto a relacionamentos. Desde
que sua esposa faleceu há cinco anos, ele só tem espaço para uma
única mulher em sua vida. A pequena Sophie.
— Você irá sobreviver, garanto. E David, estou voltando pra
casa, em busca da minha felicidade, e você deveria buscar a sua
também, meu amigo, são cinco anos, você acha que ela não iria
querer que você recomeçasse? Abra seu coração para as
possibilidades, hum? Você merece ser feliz, quero voltar aqui para
um casamento lindíssimo, de fechar o hotel, já imaginou, Sophie de
daminha? — Balancei as sobrancelhas, fazendo com que o David
fizesse uma careta, descartando a possibilidade.

— Você tem a imaginação muito fértil, Elizabeth, e é por isso


que a minha filha te adora. Eu estou ótimo assim. — Deu-me uma
piscadinha. David é lindo, no alto de seus trinta e cinco anos, possui
os cabelos castanhos volumosos, que dão sempre a impressão de
estarem um pouco bagunçados, o nariz afilado faz um conjunto
perfeito com o queixo quadrado e a barba cerrada, um espécime de
beleza estonteante, que chama a atenção por onde passa, com
seus mais de 1,80 de altura, devo chutar uns 1,85 por aí, já que ele
e o Alex parecem ter a mesma altura, pena que não sorri tanto,
ficaria muito mais bonito. As únicas vezes que o vi sorrir
verdadeiramente foram na companhia de sua filha, e por falar nela...

— Tia Liz, tia Liz, você já vai?! — Chegou correndo feito um


foguete, e me abaixei para abraçá-la.
— Cuidado, filha, assim você machuca a Eliza. — Alisou os
cachinhos castanhos da Sophie.

— Deixa ela, David, não é como se eu fosse de papel. —


Revirei os olhos, levantando-me com Sophie em meus braços. —
Sim, princesinha linda, mas algo me diz que nos veremos em breve,
sabia? E onde eu moro, também tem uma princesa que se chama
Favinho de Mel, você vai gostar de ser amiga dela.

— Favinho de Mel? Então ela é doce? — perguntou enrugando


o nariz.

— Sim, ela é uma menina levada e muito doce, que a dinda


está morrendo de saudade. — Abracei-a apertado, dando-lhe beijos
estalados. Em seguida, David a pegou dos meus braços.

— Nossa, ela correu, não consegui alcançá-la. — Helena riu,


juntando-se a nós.

— Você corre devagar, tia Helena, assim tia Liz iria embora
sem se despedir da gente! — Pôs as mãos na cintura, com a cara
enfezada.
— Meu Deus, essa criança só tem cinco anos mesmo? —
Helena questionou, fazendo cosquinhas na barriguinha de Sophie.

— Aiii, para, tia, paraaaaa! — gritou Soph, debulhando-se em


gargalhadas.

— Está vendo, Eliza? Eu que irei precisar de ajuda com essas


duas juntas. — Olhou seu relógio. —Já está na hora, Eliza, vá ser
feliz, seu lugar não é aqui. — Apontou para mim e depois virou-se
para Helena. — Nem o seu.

— Já quer se ver livre de mim, Cooper? Achei que me amasse.


— Fez um gesto dramático. — Está vendo Soph, só você me ama.
— Apertou o narizinho da menina, que se desmanchou em risadas.

— Não. Pela minha vontade, vocês ficariam aqui para sempre,


mas nós sabemos que não são suas vontades, e nem tente negar,
Helena. — Ergueu a sobrancelha, desafiando-a a negar.

— Ok, ok. Eu sei disso, só não estou pronta ainda, e além do


mais, tem... — calou-se emocionada.
— Eu sei. E você é bem-vinda aqui por todo o tempo que
precisar. Pode ir tranquila, Eliza, sua amiga está em boas mãos —
sorriu para mim.

— Não é com ela que estou preocupada — sorri debochada. —


Você é uma joia rara, David, não se feche para o mundo.

— Joia? Meu pai sempre fala que sou a joia dele, então se ele
é uma joia, é o meu joia, né papai? — Soph perguntou, fazendo-nos
rir.

— Sim, princesa, seu pai é um diamante bruto e muito, muito


raro, e feliz daquela que conseguir lapidá-lo. — Toquei seu narizinho
com a ponta do indicador.
— Isso! Aí ele vai ficar brilhante e brilhante, igual aos
diamantinhos da minha pulseira, né papai? — Balançou a cabeça
empolgada.

— São diamantezinhos, mocinha, e ninguém aqui vai brilhar,


além de você, minha joia mais brilhante. — Deu-lhe um beijo
estalado na bochecha. — Agora, dê tchau para sua tia Eliza, ela
precisa ir, ou perderá o voo. Tchau, Eliza, as portas da minha casa
sempre estarão abertas para você. Helena, te espero no carro. —
Beijou minha testa e levou uma Sophie agitada, soltando beijinhos
de despedida.

— Irei sentir sua falta, amiga. Mas ainda não é hora de voltar,
até resolver essa situação, melhor ficar longe de Dreamouth. —
Abraçou-me emocionada.

— Sentirei saudades, se cuida, tá? Amiga, sei que não quer


que eu fale sobre isso, mas quer mandar algum recado para o Jim?
Tenho falado com ele, e não está nada bem — tentei amolecer mais
uma vez o coração de gelo da Helena.

— Sim, quero... diga a ele que morra e me deixe em paz.


Pronto, recado melhor não há. — Deu-me um sorriso sinistro. —
Eliza, eu estou ótima e pretendo continuar assim. Desejo do fundo
do meu coração que você e Alex se acertem, mas por favor, não
quero falar sobre o James, está bem? — pediu-me com a voz
embargada, tentando conter a emoção.

Abracei-a mais uma vez, me despedindo e seguindo para o


portão de embarque. Eram poucas horas de viagem, e não
aguentava de ansiedade. Houve problemas com os testes, na
implantação do sistema, e os dois meses iniciais tornaram-se cinco,
e eu não via a hora de rever a todos. Ah, a quem eu queria enganar,
estava louca para revê-lo. Durante esse tempo longe, eu e Alex
trocamos algumas mensagens e ligações, entretanto, mantivemos
as conversas em um âmbito neutro. Afinal, eu o havia libertado de
qualquer compromisso, contudo, no fundo, me corroía por dentro,
para saber o que ele estava fazendo durante esses cinco meses.

Desembarquei sem maiores problemas, e quando estava me


dirigindo a fila de táxis, eu o vi do outro lado da rua, encostado no
carro com os braços e os tornozelos dobrados, vestindo uma polo
azul, calça jeans preta, justa ao corpo, usando seus inseparáveis
óculos escuros, e o cabelo arrepiado, provavelmente bagunçado de
tanto passar as mãos quando estava nervoso. Pera aí? Ele estava
nervoso? Corri ao seu encontro, estacando em sua frente.

— Oi — cumprimentei-o rapidamente. Ele ficou um tempo me


analisando intensamente.

— Oi. — Em um momento ele estava me cumprimentando, e no


outro já estávamos com a boca colada uma na outra em um beijo
ardente, até que nos afastamos em busca de ar, encostando nossas
testas uma na outra.
— Alex, não deveríamos... — Fui calada com outro beijo.
— Cinco meses, Elizabeth, então não venha me dizer que não
deveríamos, respeitei seu espaço, mas agora você está aqui, e não
irei ficar nem mais um segundo longe de você, entendeu? — Ele me
abraçou forte, quase me engolindo em seus braços. Depois me
soltou para dar um assobio. Não entendi nada, até ver Jimmy se
aproximando.

— Jim, que saudade! — gritei, jogando-me em seus braços. —


Como estão todos? A Stella, Rick, as crianças? Ah! E Alexia? —
perguntei, olhando de um para o outro.

— Calma, furacão, estão todos bem, depois o Alex te atualiza,


agora preciso ir. — Começou a pegar minha bagagem e pôs no
porta-malas. — Alex, te vejo depois, irmão — despediu-se,
apertando o ombro do amigo. — Lizy, é bom ter você de volta. —
Abraçou-me mais uma vez. — Lizy... notícias da... Helena? — Ele ia
falar “minha morena”, tenho certeza.

— Ela está bem, Jim, porém, infelizmente continua resistente a


esse assunto, sinto muito. — Ele assentiu cabisbaixo, entrou no
carro acenando e partiu.

— Mas como... — Alex me interrompeu, apontando a Harley


Davidson estacionada mais à frente. Meu peito encheu-se de
nostalgia. — Uauu, trouxe até a carruagem, meu príncipe de duas
rodas?

— Sim, cavalo branco está fora de moda, além do que, me


daria uma dor dos infernos nas costas — rimos juntos. — Ainda
confia em mim? — questionou, remetendo a primeira vez que andei
de moto com ele, não respondi, o fitando intensamente. — Não se
preocupe, quando você chegar, suas malas já estarão entregues.
Agora, preciso te levar a um lugar...vamos? — Esticou a mão para
mim, que a peguei prontamente, entrelaçando nossas mãos e
nossos corações. Subimos na moto e saímos rumo ao
desconhecido.
— Aqui?! O que foi, não me diga que tem uma festinha de
boas-vindas me aguardando no Wood’s Bar — indaguei ao
descermos da moto, em frente ao bar do Rick.
— Nop — Alex brincou, com um sorriso arteiro no rosto. Ahhh
que saudade desse sorriso de covinhas! — Na verdade, quero que
olhe para ali. — Postou-se atrás de mim, segurando em meu rosto
para direcionar meu olhar para o casarão ao lado do bar. Não era
um imóvel comercial e, sim, um casarão de dois andares, com um
varandão circundando todo o andar de cima. Na frente, um muro
não muito alto, onde podia-se ver um jardim e algumas palmeiras
nas laterais. Engraçado, vínhamos sempre aqui, mas nunca havia
reparado o quanto era lindo o casarão. Aconchegante, com cara
de... lar.
— Não! Você não fez isso! — Virei-me de frente para ele com
as duas mãos na boca, sem acreditar no que meus olhos viam.

— Fiz! Você está olhando para a sede do Flavor of Home. —


Estendeu as chaves para mim, e as peguei tremendo. — Faça as
honras, afinal, você é a responsável por esse nome e por não me
deixar desistir do meu sonho. — Encarou-me com os olhos
lacrimejantes. — Vamos?
Entramos e passamos um bom tempo explorando o casarão e
discutindo várias possibilidades, o projeto iria ficar lindo.

— E tem mais, chamei o Richard para ser meu sócio, afinal


enquanto estivermos em processo de transição, na direção da
empresa, não poderei estar cem por cento focado na reforma do
restaurante, e ninguém melhor do que o Richard para administrar
toda a parte operacional. — Seus olhos brilhavam, enquanto ia
contando-me seus planos. — Teremos dois espaços interligados,
abriremos uma passagem e os clientes poderão esticar a noite após
o jantar, em um ambiente aconchegante como o bar. Faremos
algumas mudanças estruturais lá também, teremos ambientes
perfeitos para desfrutarem de uma nova experiência gastronômica,
um verdadeiro sabor de lar. E quero seu dedo aqui, em cada detalhe
na decoração, você me ajuda? — perguntou esperançoso.

— Espera, finalmente a Alexia irá assumir a empresa? Para,


Alex, meu coração não aguenta tantas surpresas! — Bati no peito
dele, deixando as lágrimas transbordarem.
— Sim, alguém me fez enxergar que já passou da hora de
assumir as rédeas da minha vida e que a Alexia está pronta para
assumir o legado da família, óbvio que nesse primeiro momen... —
Não o deixei terminar. Corri, pulando em seu colo, entrelaçando as
pernas em sua cintura, o beijando com todo o amor que há em mim.
— Uau, isso foi um “sim”? — sorriu radiante, após finalizarmos o
beijo e eu descer do seu colo.
— Hum...deixe-me ver... — Toquei o queixo com o polegar e o
indicador, em uma atitude pensativa. — Se eu bem me lembro,
alguém me ofereceu comida de graça para toda a eternidade, então
se for essa a condição... pode contar comigo. — Abri meu melhor
sorriso pidão, o que o fez gargalhar, antes de me abraçar pela
cintura e me levantar, nos rodopiando pelo grande salão, fazendo-
me gargalhar de felicidade. Agora, sim, sentia-me em casa, e o
sentimento de pertencimento voltou ao meu peito.

— Ahhhhhh que saudade de te ter em meus braços, Sunshine,


esses cinco meses foram os piores da minha vida, nunca mais fique
longe de mim, eu não suportaria — desabafou, assim que me
colocou no chão, alisando meu rosto, tentando secar minhas
lágrimas. — Sei que precisamos conversar, mas não aqui, preciso te
levar a outro lugar, te fiz uma pergunta mais cedo e você não
respondeu... então irei perguntar novamente. Sunshine... ainda
confia em mim?
Olhei em seus olhos e enxerguei todo o amor que sempre vi
neles e não tive dúvidas quando respondi:
— Com a minha vida.
CAPÍTULO 41
— Quando falei que confiava em você, não imaginava que iria
vendar meus olhos e me enfiar em um carro, Alex. Isso por um
acaso é um sequestro? Se for, devo lhe informar que estou fodida,
ainda dá tempo de você me deixar e se auto sequestrar seria melhor
negócio, vai por mim — reclamei indignada, recebendo seu riso
como resposta.

— Ah, Liz, que saudade desse seu humor, minha vida estava
uma bosta sem você, sabia? Suas pérolas são as melhores, não sei
como sobrevivi tanto tempo sem isso, eu deveria ter ido a Seattle,
ter te colocado nas costas e trazido para casa. — Apertou minha
coxa, me fazendo estremecer ao seu toque.
— Virou uma bosta porque você fez merda, meu querido. Dá
próxima vez, pense bem, antes de fazer uma cagada — soltei,
fazendo com que nós dois passássemos um tempo gargalhando,
sem conseguirmos parar.

— Eu sei, Liz, e me perdoe por não ter visto o quanto estava te


magoando com meu silêncio, durante todo o tempo em que
estivemos juntos, eu deveria ter compartilhado tudo com você. Mas,
se você me der outra chance, a partir de hoje, compartilharemos
tudo, não esconderei absolutamente nada de você. Isso é uma
promessa. — Continuou alisando minha coxa.

— Fala o cara que me colocou uma venda, e está me levando


sabe-se lá Deus pra onde — bufei em resposta.

— Liz... é uma surpresa, sim?

— Tá. Parei. — Levantei as mãos em rendição. — Falta muito?

— Não. Na verdade... — Senti o carro parar, e ele desligar o


motor. — Chegamos!
Assim que saímos do carro, senti o cheiro de maresia e abri um
largo sorriso. Ele me trouxe para nosso lugar especial. Depois de
tantos anos, sempre o visitávamos quando queríamos apreciar o pôr
do sol, e sei que muitas vezes ele veio aqui sozinho, principalmente
... aquele dia.

— Falta pouco para tirar a venda, aguente firme, está bem? —


Apoiei uma das mãos em seu ombro, enquanto tirava os meus tênis
e dobrava a minha calça, esperei, ouvindo ele fazer o mesmo com a
dele. Depois, pegou minha mão, guiando-me pela areia, até que
senti a madeira do deck sob meus pés. Seguimos mais alguns
passos, até que ele parou, se colocando atrás de mim. —
Prontinho... preparada? — respirei fundo em resposta. Então, foi-me
tirada a venda e não acreditei no que vi à minha frente. Um iate
enorme, todo branquinho, flutuava sobre a baía de Dreamouth, e na
lateral da proa estava escrito o nome que aprendi a amar:
“Sunshine”.

— Gostou? — perguntou, me abraçando por trás e alisando


meus braços, preocupado por eu estar estática por tanto tempo.

— Vo... você comprou um barco? E... e colocou meu nome? —


gaguejei com a voz embargada.

— Não. Você ganhou um barco com o seu nome. O iate é seu,


Sunshine. — Beijou-me na têmpora.

— O QUÊ?! — Virei-me tão rapidamente, que quase o derrubei.


Como assim? Meu? Meu? Você não fez isso! — Alex me segurou
entre os braços, rindo da minha cara assustada.
— Fiz, e agora iremos assistir ao pôr do sol, de cima do seu
iate, vamos! — Ele nos desvencilhou, puxando-me para subirmos a
bordo. Alex colocou até quepe, quando se dirigiu à cabine, ligando o
motor, fazendo o iate deslizar pelas águas. Não entramos em alto
mar, porém longe o bastante para preservar nossa intimidade. Ele
explicou que aprendeu a navegar com o pai, e que sempre faziam
passeios juntos, entretanto, desde a sua morte, nunca mais tinha
entrado em uma embarcação. Até que teve a ideia de comprar o iate
e voltar a navegar comigo. Deixei Alex pilotando, enquanto
explorava a embarcação, e fiquei encantada com o quanto que era
linda e sofisticada. Com dois andares, cinco luxuosas cabines e um
deck principal surpreendente, onde me admirei com uma piscina
maravilhosa. Percebi o motor parar, estávamos em meio ao mar, e
logo senti o Alex se aproximar. — Vem, o sol tá quase se pondo.

— Ahhhhhhhh, não acredito! Eu tenho um barco! Chupa essa


manga, Rose! Você sabe o que isso significa, não é Alex? — inquiri,
mexendo as sobrancelhas.

— Não. Você não vai me fazer passar por isso. — Apontou o


dedo indicador para mim, quando se deu conta do que eu pediria.

— Ahhhhh, vai sim! Você me deve, Alex, onde que eu vou estar
num cenário desses, e não protagonizar a cena da minha vida?!
Anda, bora pra proaaaa! — Puxei-o saltitante, com a felicidade de
uma criança em um parque de diversões. Encostei-me na
balaustrada com Alex atrás de mim, enquanto víamos o sol se pôr
no horizonte.

— Você não vai me pedir para cantar Josephine, não é? Eu me


recuso. — Negou com a cabeça, porém pude sentir seu sorriso, ao
apoiar o queixo em meu ombro.

— Ahhhhhh, cala a boca! — falei rindo, ansiosa pelo momento.


O sol começou a descer no horizonte, tingindo o céu com tons
alaranjados.
— Ok. Só um minuto. — Olhei-o de esguelha, sem entender o
que ele estava fazendo, ao vê-lo mexer no celular. — Pronta? —
respirei fundo, fechando os olhos.

— Pronta!

E de repente, My Heart Will Go On, da Celine Dion, começou a


tocar baixinho, me fazendo romper em lágrimas. Alex segurou em
minhas mãos, abrindo os meus braços devagar, e cantando com a
sua voz rouca em meu ouvido, tentando reproduzir a cena de amor
mais incrível de todos os tempos. E quando meus braços estavam
erguidos na horizontal, como asas, Alex segurou em minha cintura e
sussurrou em meu ouvido. — Abra os olhos, Sunshine.

E ali eu me apaixonei, pela segunda vez, pelo homem que


moveu céus e terra para me proporcionar este momento. O sol
banhando o mar, deslizando no horizonte, abençoando nosso amor.

— Alex. Estou voando! Realmente estou voando, meu amor.


Obrigada, por este momento, jamais esquecerei — sussurrei sem
tirar os olhos do mar.

— Eu te amo, Sunshine, minha Sunshine. Minha mulher,


primeiro e único amor da minha vida. — Senti algo gelado em meu
pescoço e vi o colar que ele havia me dado, o que deixei em sua
mesa quando parti. — Este é o lugar dele, Liz, de onde nunca
deveria ter saído. — Beijou meu pescoço, após fechar o colar. Virei
o rosto para ele. — Sempre foi você, Sunshine, e precisei lhe perder
para descobrir que não posso viver sem você. — Virou-me
lentamente, até me ter completamente em sua frente. — Eu irei
passar o resto dos meus dias implorando seu perdão e farei de tudo
para ser novamente digno do seu amor. — Sua voz embargou,
fazendo com que puxasse algumas respirações para se recompor.
— Você me disse que não é mulher de metade, e só entendi isso
quando você se afastou de mim, porque sem você eu sou
incompleto, Liz. Você é a minha metade. A minha melhor metade.
Você faz parte de mim e é a minha melhor parte. Eu sou seu,
Elizabeth, e nunca mais te darei motivos para que duvide disso. Sou
completamente seu. Inteiramente seu.

Olhando diretamente em meus olhos, começou a afastar-se de


mim, dando passos para trás. Arfei de repente, ao vê-lo abaixar-se,
ficando de joelhos diante de mim, sem desgrudar os olhos dos
meus.

— E diante deste mar, como testemunha do meu amor, peço


que seja minha, Sunshine. Completamente minha. — Tirou uma
caixinha preta do bolso, abrindo-a, revelando um anel com uma
pedra azul cristalina. — Casa comigo, Liz?

Minhas pernas tremiam mais que gelatina, tive que me segurar


para não cair de joelhos em sua frente. Aquele homem lindo,
ajoelhado aos meus pés, pedindo pra eu ser dele? É, não, sim ou
com certeza? Sem pensar, atirei-me em seus braços, salpicando
beijos por todo o seu rosto, gritando “sim” a cada beijo, fazendo com
que caíssemos no chão do deck.

— Isso foi um sim? — perguntou rindo e chorando ao mesmo


tempo.

— Sim! — gritei a plenos pulmões. — Mil vezes, sim! — Fui


calada com um beijo, exigente, repleto de saudade.

Em minutos, estávamos nus, nos amando embaixo de uma lua


linda, pois já havia anoitecido. Após o sexo tórrido no deck,
descemos para tomar uma ducha, onde nos amamos mais uma vez,
dessa vez com calma, reafirmando nosso amor.

— Preparei pra gente, sei que deve estar faminta, não


comemos nada desde que chegou. — Verdade, me surpreendi ao
ver minhas malas na cabine, quando descemos.
Alex me disse que havia combinado tudo com o Jim, que
deixou as malas no iate e depois levou o carro até nós, no casarão.
Sentei-me à mesa, provando da sopa de frutos do mar que Alex
havia preparado anteriormente, deixando tudo organizado para
esquentar, quando estivéssemos com fome.

— Liz, agora que você aceitou ser minha novamente... —


Entrelaçou nossas mãos e beijou o solitário com uma safira gigante,
ele disse que era da cor dos meus olhos... e realmente era. —
Preciso te contar que Sarah Não é mais um problema, e se ela for
esperta, não voltaremos a pôr os olhos sobre ela, não, nesta vida —
sorriu, ao ver meu semblante intrigado.
Começou a nos servir, e após encher nossas taças de vinho,
começou a narrar todos os fatos que ocorreram em minha ausência.
E minhas sobrancelhas quase pularam da face para dar uma
voltinha, quando ele me contou que aquele senhor distinto, que vi na
casa da minha mãe, era o pai da Sarah e que ele foi fundamental
para desmascará-la. Já amo meu padrasto!

— Mas que vagabunda! Eu bati foi pouco! Pois ela que


realmente cumpra com o combinado, porque se houver uma
segunda vez, ela não vai sair andando do local, só avisando. —
Levantei minha taça em resposta ao seu arquear de sobrancelha.

— Bom, agora que tudo foi esclarecido, vamos esquecer que


ela existe e seguir nossas vidas. A começar por Alexia, ela ainda
não está pronta para se abrir, contudo, aceitou conversar com uma
profissional, amiga nossa, e concordou em assumir a empresa
gradativamente, eu e o Jimmy combinamos em ser uma rede de
apoio, porém, seu braço direito será o Willian. E pasme, ela
concordou, sem querer a cabeça dele em uma bandeja.

— Parem o mundo que eu quero descer. Alexia e Willian


trabalhando juntos? Isso quero assistir de camarote. Quem sabe
essa fúria, não seja o que sua irmã está precisando, acredito que o
Will seja o melhor remédio pra ela. E Jim, como está se saindo sem
a jaguatirica dele? Tentei conversar com Helena, mas ela está
irredutível.
— E por que ela não voltou com você? Eu sei que Jimmy ainda
não conseguiu provar sua inocência, porém, todos nós já sabemos
que foi armação Sarah! James já está a ponto de fazer uma loucura
e ir atrás dela, lá em Seattle, se ainda não foi, agradeça a mim, que
o segurei aqui. — Jogou o guardanapo na mesa, exasperado.
— Pois que vá, quem sabe não seja isso que eles estão
precisando? Uma conversa cara a cara? Se o Jim for esperar ela
aceitar ouvi-lo, vai esperar sentado, coitado. Melhor atacar —
incentivei, tomando mais um gole do vinho. — Humm, isso aqui está
uma delícia, mas já tivemos muitas emoções por hoje, e quero
inaugurar minha cabine, vamos pra cama? — Não precisei falar
duas vezes, após tirarmos a mesa e colocarmos tudo na máquina
de lavar pratos, fomos para o quarto. Para nos dar privacidade, Alex
optou em não trazer tripulação, então, só éramos nós dois a bordo.

Entramos no quarto, nos despindo um ao outro com a urgência


que cinco meses de separação exigiam, mesmo nos amando no
deck e no chuveiro, a ânsia de nos tocarmos o tempo inteiro era
sentida. Alex sentou-se na beira da cama, comigo em seu colo, e
minhas pernas entrelaçadas em sua cintura.
— Porra, que saudade dessa bocetinha. — Deslizou os dedos
por minhas dobras, me encontrando encharcada. — Caralho,
preciso me enterrar em você agora, Liz, e não vou ser gentil. —
Mordeu meu mamilo me fazendo arfar de prazer, enquanto me
levantava, segurando seu membro para um encaixe perfeito.
Assim que senti sua glande deslizando por meu canal, Alex
enroscou sua mão em meus cabelos, puxando-os para trás, tendo
total acesso ao meu pescoço, e entre mordidas e lambidas,
começou as estocadas em um ritmo lento, apertando a minha
cintura com o outro braço.

— Isso, gostosa, reconhece o pau do seu dono, vai! Rebola no


pau do seu homem, que saudade da minha cachorra, porra, que
saudade de bater nessa bunda. — Estalou um tapa em minha
bunda, soltou meus cabelos e, enquanto segurava a minha cintura,
aprofundando as estocadas, com a outra mão, passou os dedos por
toda a minha extensão, espalhando os fluidos, até minha outra
entrada. Introduziu um dedo em meu buraquinho enrugado, e
começou a sincronizar as investidas com as estocadas, me fazendo
sentir completamente preenchida. — Que saudade de foder essa
bunda, porque demorou tanto, minha putinha? Agora vou ter que te
castigar. — Deu-me outro tapa, fazendo-me tremer e gemer de
prazer, agarrando-me mais ainda a ele, colando nossos corpos. —
Isso minha cachorra, tá sentindo meu pau te empalando, e meus
dedos te fodendo? — Mordeu minha orelha, enquanto introduzia
outro dedo em meus anus. — Vou foder seu cuzinho a noite toda,
sua safada, encher ele todinho com a minha porra, e você vai pedir
mais.
— Caralho, Alex, me come logo, que pirraça desgraçada! —
Agarrei seus cabelos, o puxando em um beijo desesperado.

— O que você quer, gostosa? Pede vai, quer que eu empale


esse cuzinho gostoso, quer? — Meteu um terceiro dedo, e vi
estrelas, quicando igual uma desesperada.
— Isso, me fode amor, me come, tô doida pra sentir você
inteiro, você sabe que fico louca quando você me come assim, enfia
logo esse pau gostoso no meu cu, Alex, ahhhhh! — gritei, quando
sem aviso, ele trocou os dedos por seu pau e senti a cabeça robusta
forçando a entrada lentamente, pedindo passagem, me alargando,
até me ter empalada por inteira, com seu pau completamente
enterrado em minha bunda.

Com meus seios na altura do seu rosto, começou a se


movimentar dentro de mim, enquanto os chupava, alternando entre
um e o ouro, mordendo, chupando lambendo, enquanto intensificava
cada vez mais as estocadas. O som das nossas pélvis chocando-se,
o cheiro de sexo inundando a cabine, as obscenidades que Alex
sussurrava em meu ouvido, enquanto me fodia com força,
culminaram em um orgasmo avassalador, assim que seus dedos
beliscaram meu clitóris, levando-o a atingir o ápice junto comigo,
urrando de prazer, enquanto aumentava as estocadas, gozando e
preenchendo-me com a sua porra, me deixando mole em seus
braços.
Assim que nossos corpos se acalmaram, Alex me pegou nos
braços e me levou até o banheiro, onde tomamos banho com calma,
lavando e venerando o corpo um do outro. Estávamos exaustos, e
assim que nos deitamos, adormecemos, acordando com os
primeiros raios de sol entrando pela escotilha.
— Bom dia, dorminhoca. — Alex me acordou com um beijo
lânguido, vamos tomar café e aproveitar o dia, você foi sequestrada,
lembra? E esse sequestrador aqui tem algumas exigências a
negociar. — Arqueei a sobrancelha em expectativa. — Bom. Já que
estamos em um barco, e você me fez encenar o Titanic, nada mais
justo que encenemos outra cena icônica com barco — sugeriu,
mexendo as sobrancelhas.
— Não.

— Sim.
— Eu não vou encenar 365 Dias, Alex, minha boceta vai ficar
assada!

— E o meu pau esfolado, estamos quites!


— Eu não acredito que começamos nossa experiência náutica
tão romântica, para acabarmos em um looping de putaria.
Francamente, Alexander! — Fiz a melhor cara de indignação
possível. Pulando em seu colo em seguida. — Podemos começar
agora?
CAPÍTULO 42
Alguns meses depois...

—Ahhhh, que coisinha mais linda da vovó Susy, vem aqui com
a vovó. — Susy pegou Aurora dos meus braços, embaixo dos
protestos da Annika.
— Ahhh, para com isso Susy, você vai assustar a menina com
essa cara feia, não é minha lindinha? A vovó Annika é muito mais
bonita, você vai ver quando ela crescer e aprender a falar —
alfinetou Susy, enquanto beijava a mão da Aurora.

Ahhhhh, esqueci de contar a vocês, não foi? Devem estar


perdidinhos... Entãoooo... vamos de atualização:

Eu sabia que aquela putaria toda no iate iria dar merda, e só fui
descobrir isso quando, em meio a uma reunião importante, comecei
a passar mal por causa do perfume enjoativo que uma das senhoras
presentes estava usando. Não deu tempo nem de chegar ao
banheiro, acabei vomitando em cima do cabelo da criatura, assim
que tentei levantar do lado dela, até aí tudo bem, acreditei que a
culpada era ela, que gostava de perfumes ruins. Porém, a coisa se
agravou, quando ao passar no escritório do Alex, pra testar o quão
forte era sua mesa, dei de cara com Jim, não suportando o seu
cheiro, detalhe, era o perfume que ele usava há anos, e acabei por
ficar apavorada, quando Stella disse que foi exatamente assim que
ela descobriu a gravidez do RJ. Corri para a farmácia e comprei
todos os testes disponíveis. Doze. E os doze malditos testes
esfregaram na minha cara que eu estava grávida. Eu iria matar o
Alex. 365 Dias? 365 socos que iria dar na cara dele por ter me
engravidado. Meu Deus, eu não sei nem fritar um ovo, como irei
cuidar de uma criança? Ok, o surto passou cinco minutos depois,
quando lembrei que o pai era um chef. Respira Elizabeth.
Um dia depois, tínhamos um Alex com um sorriso de psicopata,
com mais dentes do que caberiam na boca, me acompanhando na
primeira consulta obstétrica.

— Alex seu sorriso está me assustando. E essas mulheres,


deveriam se envergonhar, estão grávidas! E não param de olhar
para você — reclamei irritada.

— Desculpe, baby, não consigo controlar, é mais forte do que


eu. Um filho, Sunshine, vamos ter um filho! Já sabe que o padrinho
será o Jimmy, não é? Ele jamais nos perdoará se escolhermos
outro. — Direcionei um olhar assassino para ele.

— Então trate de ajudá-lo a resolver a situação dele, porque se


a Helena não for a dinda do meu filho, quem vai morrer sou eu. E
não quero ver os padrinhos do nosso filho se digladiando no
batizado. Falando em Helena, finalmente ela decidiu voltar para
Dreamouth, quando soube da minha gravidez.

Após a primeira consulta, que confirmou uma gravidez de cinco


semanas, tudo virou um pandemônio. Alex me cercou de cuidados,
e entre as obras do restaurante e a empresa, para não correr o risco
de acontecer algo, e eu estar sozinha na cobertura, optamos por
nos mudar para a mansão, para a alegria das “meninas”. Graças a
Deus, meu chef particular era rigoroso com a minha alimentação,
porque se dependesse daquelas duas, iria virar uma bola de
boliche. Também nos casamos no civil, com uma pequena
comemoração nos jardins da mansão, decidindo por nos casarmos
na igreja, após o nascimento da Aurora. Sim. É uma menina. Aos
cinco meses de gravidez, descobrimos que esperava uma menina, e
segundo Alex, a filha da Sunshine tinha que ser Aurora, que
significa “amanhecer”. Lindo.

A inauguração do Flavor of Home, ocorreu meses depois, com


um sucesso estrondoso, e a ideia de unir os dois espaços deu tão
certo, que as reservas para eventos não paravam de chegar. E foi
em uma manhã ensolarada que nossa pequena Aurora chegou.
Estava sentada no jardim, tomando meu sol matinal, quando senti a
primeira pontada. As meninas ficaram mais nervosas do que eu, e
por incrível que pareça, tive que acalmá-las, o que não foi possível
com o pai, que surtou assim que liguei, querendo ir me buscar de
helicóptero na mansão, um exagero, que barrei na hora, eu hein?!
Tomei um banho com calma, aguardando meu digníssimo chegar
todo esbaforido, suado, totalmente descompensado.

— Alex, ou você se acalma, ou vou pedir que o médico lhe


aplique um sedativo, você não está me ajudando. — Apertei seu
braço, quando outra contração me rasgou inteira. — Eu que deveria
estar nervosa, você já viu o tamanho da cabeça de um bebê?!
Quando eu parir, será “aqui jaz uma vagina”. E não me olhe assim,
que a culpa é sua, seu maldito! Ahhhhhh! — gritei com Alex, que me
olhava assustado, enquanto outra contração me assolava.

E foi assim que após sete horas de sofrimento e xingamentos


para com o progenitor da minha filha, que meu pequeno raio de sol
nasceu. E quando vi meu homem, segurando aquele pacotinho rosa
em seus braços enormes, meu mundo parou. Alex aproximou-se,
colocando-a em meus braços. Aurora abriu os olhinhos azuis como
os meus, e ali eu soube, que acontecesse o que acontecesse, eu a
protegeria com a minha vida. Soltando pequenos resmungos e
fazendo um pequeno vinco entre as sobrancelhas, percebi que de
mim só teria os cabelos loirinhos e os olhos azuis esverdeados,
porque a personalidade birrenta era do pai.

— Olha, Alex, impaciente igual ao pai, calma meu amor — pedi,


tirando o seio, que a pequena gulosa abocanhou sem demora.

— Realmente, nisso ela puxou ao pai — deu-me um sorriso


devasso.

— Alex, pelo amor de Deus! — Rimos juntos, contemplando


nosso milagre. — Fizemos um bebê. — Nós nos olhamos refletindo
todo o amor que sentíamos naquele momento.
— É. Fizemos um bebê.
O dia do batizado chegou, e como era esperado, se olhares
matassem, o padrinho já estaria mortinho da Silva, porque Helena
continuava firme e forte na força do ódio. A cerimônia foi linda.
Escolhemos uma pequena igreja à beira-mar, próxima à enseada
que tanto amamos. Após a cerimônia, iríamos todos almoçar na
mansão. Richard já havia se retirado, levando Stella, as crianças e
nossas “meninas” com ele. Assim que finalizamos a cerimônia, os
padrinhos sumiram. Espero que estejam se acertando, porque
ninguém aguenta mais aqueles dois.
Alexia estava num canto da igreja conversando com Willian, ou
discutindo, de onde estávamos não dava para distinguir.

— Ela parece com você, Pequena. Linda como a mãe. — Bob


aproximou-se, beijando-me no rosto e fazendo Alex grunhir com o
elogio. Retirou uma caixinha do bolso, abrindo-a, revelando uma
pulseirinha com pequenos diamantes. — Posso? — Assenti
emocionada, vendo-o colocar a pulseira em Aurora. — Isso é para
vocês saberem que, estejam onde estiverem, eu sempre estarei
com vocês — sorriu, afagando a bochecha de Aurora, que dormia,
ressonando baixinho.

— Que linda, Bob, obrigada pelo carinho, e por ter vindo. Foi
muito importante pra mim. Almoça com a gente? — convidei sob os
olhos de gavião do Alex.

— E perder o batizado da minha sobrinha? Jamais. Aceito o


convite, posso? — Esticou os braços para pegar Aurora, e entreguei
prontamente, fingindo não ver o Alex quase tendo uma sincope ao
meu lado. O padre sinalizou que queria trocar umas palavras
conosco sobre o casamento que estava próximo. Aurora já havia
completado dois meses de idade, então resolvemos marcar a data
após o batizado.
— Pode ir, Pequena, levarei nossa princesa para aproveitar o
solzinho da manhã, estarei lá fora esperando vocês, e não adianta
grunhir, Gauthier, estarei sempre perto da minha sobrinha... e da
Pequena. Conforme-se. — Saiu assobiando, como se não tivesse
cutucado a onça com vara curta.

Demoramos um pouco mais de dez minutos para sairmos, não


encontrando nem sinal do Bob em frente à igreja.

— Onde o Bob foi? Ele disse que iria nos esperar aqui fora. —
Estranhei sua ausência.

—Para onde aquele imbecil levou a minha filha? — Alex


exasperou-se.

— Calma, gente, estamos à beira-mar, decerto, Aurora deve ter


acordado, e Bob deve ter ido caminhar um pouco com ela, para
acalmá-la. Eu vou dar uma volta e vocês procuram por aqui, ok? —
Alexia sempre sensata, dominou a situação.

Quando estávamos nos preparando para sair, ouvimos um grito


horripilante, vindo da lateral da igreja. Corremos para lá e o que
vimos, fez com que todo o meu sangue congelasse em minhas
veias. A zeladora da igreja estava petrificada, e ao seu lado, Bob
estava caído ao chão, com uma mancha enorme de sangue
espalhando-se rapidamente por seu abdômen.
— Bob! — Corremos até ele e ajoelhamos ao seu redor,
enquanto Willian ligava para a ambulância. — Meu Deus, minha
filha! — Alex tentava conter o sangramento. — Aguenta, Bob, você
vai ficar bem. — Segurei sua cabeça, alisando seus cabelos. — Meu
Deus, o que está acontecendo? Cadê a minha filha? Levaram a
minha filha! — gritei desesperada, quando Bob apertou a minha
mão, com os olhos vítreos, tentando mexer os lábios. Aproximei o
ouvido pra tentar escutá-lo, pois respirava com dificuldade, seja qual
foi seu ferimento, parecia ter atingido o pulmão, e tive certeza disso,
quando começou a expelir sangue pela boca, me sujando inteira —
Cadê essa ambulância que não chega? — gritei desesperada,
vendo o terno, que Alex usou para conter o sangramento, ensopado
de sangue.

Ouvimos a sirene da ambulância aproximando-se, porém, Bob


tornou a apertar minha mão, chamando novamente minha atenção.
Aproximei o ouvido o mais perto que pude, e com muito esforço,
antes da escuridão o tomar por completo, Bob conseguiu sussurrar
um nome, que fez com que o chão abrisse sob os meus pés.

Minha Aurora. Sarah a levou.


CAPÍTULO 43
— Ahhhhhhhhhhhhhhhhhhh! Bob, fica comigo, Bob, não faz
isso, fica comigoo! — Debatia-me nos braços do Alex, enquanto os
paramédicos faziam os primeiros socorros. Helena e Jimmy
apareceram esbaforidos e assustados com o que aconteceu, e
Alexia chorava nos braços de Willian.

— Meu Deus, o que aconteceu? Estávamos aqui fora com o


Robert, e em um minuto que precisei resolver um problema,
aconteceu isso, cadê a Aurora, quem fez isso com o Bob? —
Helena perguntou, olhando desconfiada para Jimmy, parecendo
constrangida.
— Você! — Virei-me transtornada para Alex. — Você trouxe
essa maldita pra nossas vidas, agora ela está com nossa filha, Alex!
Ela está com nossa menina, meu Deus... o Bob. — Comecei a
esmurrar seu peito, quando a vertigem me atingiu.

— Ei, ei... Liz, fica comigo. A Sarah? Você está me dizendo que
a Sarah fez isso? — Assenti, antes da escuridão me abraçar.

Acordei numa cama de hospital, com Alexia e Helena à minha


volta.

— Graças a Deus! — Helena veio ao meu encontro, quando


tentei levantar-me repentinamente, porém, voltando a deitar, quando
a tontura me atingiu. — Calma, Liz, não tente se levantar assim,
você ainda está sob efeito do sedativo — explicou, me ajudando a
sentar-me na cama.

— O que aconteceu? Onde está o Alex? Encontraram minha


filha? — Tentei sair da cama e as duas me seguraram. — Me
soltem, eu quero a minha filha! — comecei a chorar novamente.

— Liz, olha pra mim. — Alexia segurou meu rosto entre as


mãos. — Sei que é difícil, mas acalme-se, está bem? Os homens
estão cuidando disso, você não vai querer que te sedem
novamente, não é? — Assenti, tentando me controlar. — Isso...
respira. Iremos encontrá-la, Eliza. Estamos todos empenhados
nisso.

— E o Bob? — As duas entreolharam-se, antes de Alexia


responder.

— Está em cirurgia. Os ferimentos foram profundos, e ao que


parece, atingiram o pulmão, levando-o a um pneumotórax. O estado
dele é grave, Eliza, mas vamos ter fé, ok? — Segurou em minhas
mãos, olhando-me nos olhos, enquanto rompia em choro
novamente.

— Maldita! Será que nunca iremos ter paz? Quero sair daqui,
onde estão minhas roupas? — perguntei, levantando-me.

— Aqui. Pedi que trouxessem outra, pois a que você estava


usando ficou imprestável devido ao... — Direcionou-me um olhar
consternado. O sangue do Bob.

— Onde estão os homens? Preciso ajudar em alguma coisa, ou


irei enlouquecer. Já estou bem, quem não vai ficar é aquela
bandida, quando eu colocar as mãos nela. — O ódio que sentia,
servia de adrenalina, e não iria parar até encontrar a minha filha.
— Estão todos na mansão, montaram o QG lá, Dylan e Nick já
foram mobilizados para lá — Helena respondeu, enquanto ajudava-
me a vestir-me.

— Ótimo, é para lá que nós vamos então.

Chegamos em tempo recorde à mansão. Nickolas estava


tentando buscar imagens nas câmeras da redondeza. Enquanto
Dylan buscava por qualquer sinal de Sarah e suas duzentas
identidades, ele havia emitido um alerta para as autoridades, e caso
ela tentasse sair da cidade, por meios normais, seria reconhecida
rapidamente através do reconhecimento facial.
Alex encontrava-se acompanhando tudo junto a Richard, e
assim que me viu, veio ao meu encontro, aconchegando-me em
seus braços.

— Como você está, meu amor? — Levantou meu queixo, para


olhá-lo fixamente, me encontrando devastada. — Iremos encontrá-
la, Liz, nem que tenhamos que revirar esta cidade do avesso.
Iremos encontrá-la. Sinto muito pelo Bob, ficaram de avisar assim
que ele saísse da cirurgia. — Eu o ouvia, porém, meu estado
letárgico não permitia que assimilasse tudo que dizia. Ele me
apertou ainda mais em seus braços, ao ver meu estado. — Tudo vai
ficar bem, Liz. Eu prometo. — Isso fez-me sair do torpor, saindo
bruscamente do seu abraço.

— Não! Você não tem como saber, Alexander. Uma psicopata


desgraçada está com nossa filha! Robert está morrendo no hospital,
então nada vai ficar bem! — Ele puxou-me novamente para seus
braços.

— Sim! Mas olha pra mim, Elizabeth, eu não irei descansar,


enquanto não trouxer Aurora novamente para seus braços. Você
está me entendendo?! Isso é uma promessa. — Segurou meu rosto
entre as mãos, enquanto os soluços me dominavam, eu tentei,
porém, não pude conter o pranto, e agora ouvia o eco do meu choro
nos vários semblantes na sala. Alex beijou minha testa. — Agora
suba e fique com as meninas, prometo que qualquer notícia você
será a primeira a saber, ok? — Deu-me um último abraço e dirigiu-
se ao escritório onde os rapazes estavam trabalhando.

— Vamos encontrá-la, amiga. Tente descansar um pouco.


Estarei junto a eles e qualquer novidade trarei para vocês. — Stella
abraçou-me, deixando-me com os demais na sala.

— Se você não tivesse me distraído, eu não teria saído de


perto do Robert, e nada disso teria acontecido! — vociferou Helena,
com os olhos vermelhos, apontando para Jimmy, que estava
encostado num móvel, no fundo da sala. — Você e essa sua mania
irresponsável de não se importar com ninguém, e ... — Foi
interrompida quando Jimmy atravessou a sala, com sua fúria
incontida, a encurralando na parede.

— Se eu bem me lembro, você não estava reclamando da


distração que eu lhe dei. Contudo, saiba de uma coisa, Helena
Davies, você pode me acusar de muitas coisas que fiz e
principalmente das que eu não fiz, mas nunca, nunca, entendeu?
Me acuse de ser negligente com minha sobrinha! — jogou as
palavras com seu rosto à centímetros do dela, pareciam dois
animais enjaulados, prontos para se engalfinharem.
— CHEGA! Minha sobrinha foi levada e nosso amigo está entre
a vida e a morte em um hospital, seja lá o que estiver havendo entre
vocês, resolvam depois! — Alexia acabou com a discursão, fazendo
com que os dois se afastassem, me olhando envergonhados. —
Vem, Liz, vou pedir para prepararem um chá para a gente. Estamos
todos precisando acalmar os nervos. — Abraçou-me pela cintura,
amparando-me para subirmos as escadas. — Willian... obrigada...
por tudo — Alexia dirigiu-se ao Willian, trocando um olhar de
entendimento, antes de continuarmos a subir em direção ao meu
quarto.

Passaram-se horas sem nenhuma notícia sobre o paradeiro de


Aurora. Meus seios doloridos me faziam lembrar que minha filha
estava em algum lugar, assustada, com fome, nas mãos de uma
louca homicida. Eu nunca iria me perdoar se acontecesse algo com
Aurora. Precisei tirar leite com a bombinha, para conseguir aliviar
um pouco a dor nos seios. Depois, decidi ir ao encontro do Alex. Sei
o quanto ama nossa filha, e fui injusta ao acusá-lo daquela maneira.
Ele não tem culpa. Ninguém tem, a não ser aquela louca. Encontrei-
o na biblioteca, olhando pela janela, com um copo de whisky em
mãos.

— Alex? — Levantou a cabeça em minha direção e pude ver


seus olhos vermelhos. Havia chorado. Assim como eu, sofria por
estar impotente, tendo que esperar os profissionais trabalharem em
busca de notícias. Corri para ele, sendo recebida, por seu abraço
reconfortante. — Me perdoa? Não queria ter dito aquilo, sei que não
é sua culpa, Alex, é só...é só...

— Eu sei. É só o desespero de uma mãe, sem saber onde está


e o que estão fazendo com sua filha. Eu sei. Não precisa me culpar,
porque já estou me culpando o suficiente. Fui benevolente com
aquela víbora, e nossa filha está pagando o preço por isso —
sussurrou com as lágrimas escorrendo por seu rosto.

— Não, Alex, você não tem culpa por ser um bom homem. Fez
o que achou certo, e tenho muito orgulho disso. Você é um ótimo
pai, e se tem alguma culpada nisso tudo, é aquela psicovaca, mas
ela vai ver que não se mexe com os Galthier, ok? Vamos encontrar
nossa menina, eu sinto isso. — Beijei seus lábios, e ficamos por um
longo tempo abraçados, nos apoiando. Havia anoitecido e nada
aconteceu nas últimas horas.

— Estão doloridos? — perguntou ao ver meu leite vazar na


blusa.

— Sim. Tirei com a bombinha há pouco tempo, mas pelo visto,


nossa pequena está com fome, porque eles não param de vazar. —
Abracei meu próprio corpo, em uma tentativa de me acalentar.

— Suba, tome um banho quente e tente descansar. Ficarei


aqui, e assim que tivermos notícias, te avisarei antes de buscarmos
nossa filha. Porque iremos encontrá-la, Sunshine, nossa menina vai
voltar para nós.
Após tomar um banho relaxante e aceitar o chá que Susy
preparou, adormeci, vestindo um moletom confortável, caso
precisasse sair em busca da minha filha. O sono foi agitado.

Sonhei com Sophie e seus diamantinhos, depois, Bob


colocando uma pulseira semelhante em Aurora, e logo, lá estava
ele, ensanguentado, no chão, tentando me dizer algo. Aproximei-me
e pude ouvi-lo sussurrando. Salve a Aurora. Eu sempre estarei com
vocês.
Acordei assustada pulando da cama, e descendo as escadas
em disparada.

— Alex! Eu sei onde encontrá-la! — Entrei em um rompante no


escritório, assustando a todos.

— Calma, baby, você está bem? — Alex segurou em meus


braços, tentando conter minha euforia. — Se acalma e explica isso
direito.

— Não, mas vou ficar, assim que colocar as mãos naquela


psicovaca. Dylan! Acesse os arquivos confidenciais do Bob. Agora!
Sei que você tem autorização em caso de emergência e essa é uma
emergência! — Corri até o Dylan, observando-o abrir pastas e mais
pastas, até que dois nomes chamaram minha atenção. Bingo!
Sentei, respirando fundo, tentando me acalmar. Respira, não
pira, Elizabeth.

— Estão vendo estas pastas? Sophie é a filhinha do David


Cooper, ela tem uma pulseirinha linda, cheia de “diamantinhos
brilhantes”, como ela gosta de falar. Até aí tudo bem, só que hoje,
Bob deu uma pulseira semelhante a Aurora, achei estranho, e fiquei
de perguntar a ele o motivo, ou se era mera coincidência, mas
tratando-se do Robert...
— Nunca há coincidências — completou Dylan, com o rosto
iluminando-se em entendimento, virando-se para o computador,
voltando a digitar freneticamente.

— Tá. Acho linda essa historinha de pulseirinhas brilhantes,


mas os nerds poderiam elucidar a parte da história em que vocês
acreditam que nós entendemos? Ou só eu estou boiando aqui? —
Jimmy indagou, e confesso que senti falta do seu humor nas horas
mais impróprias.
— As pulseiras, Jimmy! Lembra daquela loucura que nos
rendeu bilhões, há três anos atrás? Toda aquela confusão com o
chip, valeu a pena afinal, porém, claro que com tantas crianças
surgindo a sua volta, Bob acharia uma forma de protegê-las, sem
que fosse invasivo. Aposto que se você pesquisar, achará pastas
com os nomes da Tamara e do RJ.

— Agora que você falou, RJ tem um cordão de prata, com uma


pedra ônix, da cor dos seus olhos, e Tamara, uma pulseirinha com
pedrinhas de citrino, ele a presenteou em seu batizado, disse que as
gemas lembravam a cor dos olhos de minha Favinho de mel, e que
nunca deveríamos tirá-la, pois era a lembrança de que o “tio Bob”
sempre estaria com ela e com o RJ. Meu Deus, como não pensei
nisso antes? Robert é um gênio! — Richard passou as mãos pela
careca, em claro frenesi pela descoberta. — Nosso amigo estava o
tempo todo zelando pelos nossos filhos, em silêncio. Sim, esse é o
Robert.

— São rastreadores e, sim, tem uma pasta para cada uma das
crianças, estou ativando a localização da Aurora — Dylan
confirmou, e os próximos minutos foram de expectativa. Os homens
foram se preparar para o resgate, preferiram não envolver a polícia,
que estava investigando por meios legais e limitados.
No momento em que Dylan informou a localização, ficamos
abismados com a informação, essa cobra estava em nossas vidas
há mais tempo do que imaginávamos, mas isso iria acabar. Hoje.

Assim que prepararam os carros, os segui até a garagem.


— Não. Você não vai. — Alex apontou o dedo para mim, saindo
do carro, deixando a porta aberta.
— Ouse me impedir, Alexander Gauthier, a Stella está indo, eu
sou mãe, e irei atrás da minha filha, nem que eu tenha que te
nocautear para isso. Não esqueça que meu professor é o Rick. —
Desafiei-o a me impedir.

— Pelo menos ponha o colete — suspirou resignado, abrindo a


porta traseira e retirando um colete à prova de balas. Colocou-o em
mim, beijando a minha testa. — Só prometa que não irá se pôr em
risco, ok? Fique no carro, Liz, isso não é negociável.
— O beijei e corri, dando a volta no carro, sentando-me do
outro lado, enquanto ele entrava pelo lado do motorista, dando
partida no carro.
Éramos três carros, no primeiro, Richard e Stella, no segundo,
Alex e eu, e no terceiro, Jimmy e mais três seguranças cobrindo
nossa retaguarda.

Chegamos rapidamente ao velho conhecido lugar. Repassaram


o plano de invasão, me excluindo totalmente, como se não estivesse
ali. Após iniciarem o plano, Alex ficou para trás.
— No carro, Sunshine, fique no carro. Já volto com nossa filha,
ok? — Beijou-me, procurando uma confirmação, que não iria
encontrar, porém, sem mais tempo, deu a volta, seguindo o restante
da equipe.

Com a ajuda do Nickolas, foi fácil abrir o portão eletrônico e


entrarem sorrateiramente. A escuridão da noite facilitou o rápido
acesso. Esperei alguns minutos e os segui, entrando
silenciosamente. Dei a volta no jardim, toda a casa era cercada por
uma cerca de madeira com treliças, onde plantas enraizavam-se.
Seria linda, se não me trouxesse lembranças das quais gostaria de
esquecer. Aproveitei uma falha na cerca, para ter acesso a uma
porta lateral, e subi as escadas rapidamente, aproveitando o escuro,
enquanto estavam checando os cômodos no andar de baixo. Olhei
os primeiro três quartos, encontrando-os vazios, até chegar aos dois
últimos no final do corredor, que estavam com as portas fechadas.
Entrei silenciosamente, encontrando a vadia. Dormindo. Como se
não tivesse uma bebê na casa precisando de cuidados. Meu Deus,
onde está minha filha. Deus me ajude que ela esteja bem.
Sem pensar duas vezes, pulei na cama sobre o seu corpo,
apertando-lhe o pescoço. O que fez com que acordasse assustada,
com os olhos esbugalhados.
— Onde está minha filha, sua vadia? Me arrependi de não ter
acabado com você em minha casa, mas nunca é tarde, não é
mesmo? — Apertei um pouco mais, e, quando afrouxei o aperto,
para que me falasse, ela conseguiu puxar uma faca debaixo do
travesseiro, quase me apunhalando, se não pulasse em tempo hábil
da cama.
— Vem cadela, experimentar do mesmo remédio que dei ao
Robert, com ele está? Já foi encontrar o amorzinho da vida dele no
inferno? — Deu uma risada ensandecida, seus olhos vítreos
entregavam seu estado, Sarah havia enlouquecido. — Eu deveria
ter acabado com você há três anos, mas fui confiar no incompetente
do Arnold. O que foi? Surpresa? Arnold era um dos meus vários
cachorrinhos, homens casados, nojentos, que faziam tudo por uma
boceta. Ele me serviu muito, até Robert destruir com a vida dele por
causa de uma vadia. E qual minha surpresa, descobrir que a vadia
estava aqui, na minha cidade, com o meu homem. Não foi difícil
convencer o Arnold em sua doce vingança. Comprei esta casa com
criptomoedas, dinheiro limpo e irrastreável. O imbecil só precisava
sequestrá-la e dois dos homens mais ricos da América iriam pagar
qualquer coisa para tê-la de volta. Depois, era só me livrar do idiota
e ficar com todo o dinheiro. — Estávamos girando uma ao redor da
outra, seguindo nossos movimentos. — Só que mais uma vez,
Arnold escolheu dar vazão aos seus desejos medíocres, pondo tudo
a perder, por causa de uma boceta, aquele homem era doente. —
Engoli em seco.
— Era? — perguntei, já sabendo a resposta.

— Ah, você não soube? Pelo visto seu amiguinho Bob lhe
esconde vários segredos. Acho que ele esqueceu de te contar que
Arnold morreu dois meses após ser transferido para a penitenciária.
Briga de facas, sabe como é. — Sacudiu os ombros em
divertimento. — Você não acha que eu iria deixar uma ponta solta,
não é? — riu diabolicamente, sacudindo a faca em minha direção.
— Estava envolvida com um cara perigoso, se é que me entende, e
para ele, mandar executar esse servicinho era mais fácil que tirar
doce de criança. O problema é que me canso fácil, sabe? Odeio
homem grude. E esse cara colocou na cabeça que eu o pertenço...
tsc, tsc. Então, tentei me esconder neste fim de mundo, contudo, há
três dias recebi uma ligação. Ele encontrou a Abby... e a matou. Em
quanto tempo você acha que ele me encontraria, hum? Abandonei o
local em que estava hospedada e me abriguei aqui. — Deu um
passo em minha direção. — E sua princesinha era o passaporte
para minha liberdade. Claro que o todo poderoso Alexander
Gauthier iria pagar o que eu quisesse para ter o seu bem mais
precioso de volta. Mas você, ô coisinha irritante, tinha que
atravessar o meu caminho novamente. — Revirou os olhos, com a
mão na cintura, sacudindo a faca diante de mim.

— Sarah... por tudo que é mais sagrado... eu imploro...cadê


minha filha? É dinheiro que você quer? Podemos resolver isso, lhe
daremos quanto você quiser, é só falar, mas por favor, me diz onde
está a Aurora.
— Você acha que sou idiota, sua vagabunda? No momento em
que eu te disser, estou morta! — deu mais uma risada insana,
levantando a faca em posição de ataque. — Mas se eu vou morrer,
vou te levar junto comigo! Ahhhhhhhhhhhhhhhhhh — Correu em
minha direção, bradando a faca. Então ouvi quatro disparos
consecutivos, atingindo-a em cheio, empurrando-a para trás,
fazendo com que soltasse a faca, e com o último impacto, ela
desequilibrou-se, caindo pela janela, gritando para o vazio.

— Ahhh, meu Deus! — Corri para a janela, tendo a visão mais


aterrorizante de toda a minha vida. Sarah teve seu corpo empalado
por uma das vigas de madeira. Seus olhos assustadores me
encaravam ainda abertos. Virei-me atemorizada, há tempo de ver
Stella guardando a arma no coldre e vindo até mim.
— Bem que sempre ouvi falar: “Não conheçam seus ídolos,
pois quase sempre irão decepcioná-los.” É, Sarah Gilbert, o mundo
acabou de perder uma excelente fotógrafa. — Torceu o nariz em
desdém, após olhar pela janela.

Alex adentrou no quarto, seguido dos outros, me puxando para


seus braços.
— Por que você nunca me escuta, Elizabeth?! — Apertou-me
como se eu fosse desintegrar a qualquer momento.
— Escuto. Inclusive, estou escutando. — Desvencilhei-me dele,
seguindo para a porta.

— Mas o quê?
— Shiuuuuu — Fiz sinal para que se calassem. — Estão
ouvindo? — Andei rapidamente até o outro quarto, onde podíamos
ouvir um choro contido. Eu reconheceria aquele choro em qualquer
lugar do mundo. Entrei silenciosamente no quarto, aproximando-me
de um grande armário.

— Shhh, quietinha, Sweet, senão irão nos achar. Eu te protejo,


pequena, ninguém fará mal a você.
Abri a porta rapidamente, para encontrar RJ sentado no fundo
do armário, entre as roupas, carregando Aurora no colo, que o
olhava maravilhada, enquanto balbuciava, segurando seu polegar
com as duas mãozinhas.

— Eu consegui, madrinha, eu a protegi — disse-me com os


olhos marejados. Caí de joelhos, chorando e rindo ao mesmo
tempo. Agradecendo a Deus por ter salvado minha Aurora.
— Sim, você a protegeu, meu amor.
CAPÍTULO 44
Quem me vê aqui, sentada na cadeira de amamentação, com
meu pequeno raio de sol no colo, mamando feito uma esfomeada,
não imagina as horas de tensão que vivemos. Stella não sabia se
ria, chorava ou colocava o RJ de castigo por um ano, e todo esse
dilema, ela viveu enquanto o apertava em seus braços. RJ ouviu
toda a movimentação que antecedeu o resgate e aproveitando-se
da pequena discussão que eu e Alex tivemos na garagem, para
entrar em nosso carro e esconder-se embaixo do banco de trás. E
como estávamos todos pilhados, nem percebemos. Então, quando
eu saí do carro, ele me seguiu, e enquanto eu estava no embate
com a psicovaca, nosso pequeno herói escondeu-se com nossa
menina. Eu o beijei tanto, e quase o afoguei em lágrimas. Richard
parecia um galo inflado de orgulho, mas filho de peixe, peixinho é,
não é assim que diz o ditado? E nosso pequeno grande homem
salvou o dia.

Alex e eu passamos a viagem de volta entre amamentar, babar


nossa cria e discutir sobre essa minha pré-disposição em me pôr em
perigo, mas quando finalmente chegamos em casa, e vimos a
emoção no rosto de todos que amávamos, esquecemos de
quaisquer brigas que tivemos anteriormente. O dia foi de fortes
emoções, e todos se acomodaram na mansão, afinal, já era
madrugada, e agora estou aqui, amamentado, sem conseguir tirar
os olhos do meu tesouro. A sensação é de que se eu tirar os olhos
dela por um instante, ela sumirá para sempre. Horrível, uma
sensação que não desejo pra ninguém.
— Vem, Liz, descansar, Aurora já dormiu, e precisamos dormir
também. — Alex apareceu na porta do quarto, descalço, usando
somente uma calça moletom preta. O fitei com olhos pidões. —
Traga, acho que nem eu conseguiria dormir longe dela hoje. —
Ajudou-me a levantar e fomos para nosso quarto. Acomodei Aurora
entre nós, vê-la assim, dormindo placidamente, enche meu coração
de amor. — Liguei para Mag, que já estava desesperada sem
notícias, ela disse que tudo só acontece quando ela não está
presente para defender seu bebê. Estava indo para o aeroporto,
amanhã cedinho deve estar por aqui. — Bufei divertida, Mag, eu
sempre serei seu bebê, ela estava em Vegas com o Donald,
precisava se desfazer definitivamente do apartamento que tínhamos
lá, e Donald foi para ajudá-la com os tramites e aproveitar para
namorar. Minha mãe apaixonada, quem diria. Donald ficou arrasado
quando soube, contudo, disse que a Sarah escolheu o seu destino.

— Finalmente esse pesadelo acabou. Para ficar perfeito, só


Robert se recuperando plenamente. — Aconcheguei minha cabeça
no peito de Alex.

— Eu ainda não acredito que uma pessoa que conviveu


conosco desde a infância, fosse capaz de tantas atrocidades.
Donald me revelou que o motivo da morte da Olivia foi uma forte
depressão, após saber tudo que a Sarah foi capaz de fazer, e
coitada, ela nem imaginava que aquilo fosse só o começo — Alex
desabafou, fazendo carinho em meus cabelos.

— É tão triste criarmos filhos com tanto amor e vê-los fazer


escolhas erradas. Quando olho para Aurora, tão frágil e indefesa,
tenho tanto medo, Alex. Será que seremos bons pais? Olha só, ela
só tem dois meses e já passou por tanta coisa. — As lágrimas
começaram a cair silenciosas.

— Daremos o nosso melhor, Sunshine, um lar, ao qual ela


possa sempre voltar, a cada vez que alçar voo. Porque o mais
importante nós temos, amor. — Levantei meu rosto, o encarando.

— Eu te amo, Alex, amo você e a família que construímos.


Obrigada por me fazer feliz. — Estiquei-me, beijando-o
delicadamente nos lábios.
— Eu também te amo, meu amor, com todo o meu coração,
que não vai durar muito se você continuar o testando como hoje. —
Beijou o topo da minha cabeça.

— Desculpa. E só q... — Pôs um dedo em meus lábios.


— Eu sei. — E assim adormecemos nos braços um do outro.
Com o nosso bem mais precioso ressonando entre nós.

— Ahhhh bebê, que aflição vocês passaram, e eu longe, quase


tive um troço, não foi, amor? — Amor? Já estamos assim? É, eu vivi
para ver minha mãe apaixonada.

— Tudo bem mãe, já passou, agora é rezarmos pela


recuperação do Robert. A cirurgia foi um sucesso, entretanto, os
médicos optaram por deixá-lo em coma induzido para que o corpo
dele se recupere rapidamente. — Meu coração se aflige só em
pensar no Robert, quase o perdemos. — Inclusive, tenho que
passar na casa dele, o hospital está exigindo alguns documentos,
estou indo buscá-los, me acompanha? Deixarei Aurora aqui com as
meninas, ela é muito novinha para expô-la em um hospital.

Engraçado como há tanto tempo morando em Dreamouth,


nunca estive na casa do Robert, uma penthouse no condomínio
mais luxuoso da cidade. E curiosamente, meu nome estava na lista
das pessoas autorizadas a entrar. Robert, sempre pensando à
frente. E meu coração deu mais uma pontada.
Ao entrarmos, tive que olhar para cima, forçando-me a engolir o
choro, ao entrar em um ambiente tão... ele.

— Vamos, minha filha, onde estão esses documentos? Vamos


nos dividir, assim encontramos mais rápido. — Mamãe tomou as
rédeas da situação, ao ver-me emocionada. Passei a relação para
ela e a deixei procurando pela sala, enquanto me aventurava no
escritório. Após cerca de dez minutos, encontrei o que estava
procurando, e já iria ao seu encontro, quando a ouvir gritar da sala.

— Mãe o que foi? — Corri a tempo de apoiá-la, sentando-a em


uma poltrona antes que desfalecesse.
— É o... é o... seu pai. — Apontou para as fotos em cima de um
aparador. Corri até lá para ver fotos do Robert em vários momentos
de infância, ao lado de um senhor muito bonito. Olhando assim, os
dois juntos, tinham muitas semelhanças. Contudo, ele saiu a mistura
bonita dos dois, pois vendo a foto dele com os pais, percebi que ele
tem muitos traços da mãe dele também. Peguei uma das fotos e
voltei para o lado dela, que chorava copiosamente.
— Mãe, você está me dizendo que esse homem ... é meu pai?
— Ela confirmou em meio às lágrimas. — Mas como... — Meu
Deus, Robert é meu irmão.

Após nos recuperarmos do baque da revelação, fomos ao


hospital. Robert ainda não podia receber visitas, então só pudemos
vê-lo através do vidro. Um irmão. Meu irmão. Nossa. Mas por que
ele nunca me contou? São tantas perguntas. Agora muita coisa faz
sentido. A forma como ele sempre esteve presente, me protegendo.
Ah, Robert, acorda logo, por favor, tenho tantas perguntas.

— Você nunca desconfiou? — indaguei a minha mãe, enquanto


tomávamos um café.

— Minha filha, perdoe a sua mãe, por mentir que seu pai
morreu meses depois de você ter nascido. A verdade é que ele
apareceu todo galante, e nos apaixonamos à primeira vista. Nosso
amor foi uma daquelas paixões tórridas. Passamos meses em
nossa bolha. Até que ele precisou viajar, disse que tinha um assunto
urgente, que era imprescindível sua presença, mas que eu o
esperasse, e que assim que resolvesse, tudo. iria me buscar para
vivermos juntos. Isso nunca aconteceu. A essa altura, descobri que
estava grávida, tentei encontrá-lo, mas naquela época não tínhamos
a facilidade que temos hoje, e o que uma pobre atendente de
lanchonete podia fazer? Quando você foi crescendo e começou a
perguntar sobre seu pai, a saída mais fácil foi inventar a história da
sua morte. Mas acredite, Elizabeth, que seja lá o que aconteceu,
aquele homem me amou. O que tivemos foi verdadeiro. —
Estávamos mais uma vez emocionadas.

— Bom, verdadeiro ou não, seu príncipe encantado era casado,


e lhe escondeu muitas coisas. Robert uma vez me contou que a
mãe dele morreu quando ele ainda era adolescente, ela vinha
sofrendo há muitos anos com o câncer. Provavelmente esse tenha
sido o motivo dele não voltar a te procurar. E o pai dele morreu
pouco tempo depois. Então, o que nos resta, é rezar para que
Robert acorde e nos traga respostas. Enquanto isso, é melhor
mantermos segredo quanto a isso, ok, mãe? A única pessoa que
saberá além de nós, é o Alex, depois de tudo que passamos,
prometemos não esconder mais nada um do outro.

— Você não tem raiva do Robert, por esconder esse segredo


de você?

— Mamãe, o Robert é tão importante em minha vida, que já


éramos irmãos, mesmo sem eu saber. Ele me trouxe para vida dele
por um motivo, resta saber qual. — De repente, comecei a
gargalhar. — Ai, mãe, tô imaginando a cara do Alex, quando souber
que Bob o fez de palhaço, divertindo-se todo esse tempo com as
crises de ciúmes dele. — Enxuguei as lágrimas, que agora eram de
felicidade. É. Eu tenho um irmão.
EPÍLOGO
Dois anos depois...

Passaram-se cinco meses, até que Bob finalmente acordasse,


optamos por esperar sua total recuperação e que tivesse alta, para
termos a tão esperada conversa. Contudo, ela nunca aconteceu,
pois após sua alta, no dia seguinte, Robert Vogel fugiu.
Simplesmente foi embora, deixando-me uma carta, explicando o
porquê da sua partida repentina. Algo, como “estou indo buscar
minha felicidade”. Disse que nos amava muito, e que não
esquecesse que ele sempre estaria com a gente. Passou-me o
controle da Vogel Tech, até que ele voltasse e pudéssemos
conversar. Quando? Sinceramente não sei. Já se passou um ano e
meio e nada dele voltar, essa espera está me matando. Se ele não
retornar em alguns meses, terei que ir eu mesma atrás de
respostas. Lembro que adiei nosso casamento para esperá-lo
acordar, e na primeira oportunidade, ele foi embora sem olhar para
trás. Estou magoada e espero sinceramente que ele tenha um
motivo plausível para ter me abandonado dessa maneira. Então,
após um ano de tantos acontecimentos com nossos amigos,
decidimos não esperar mais. A vida é curta, um sopro, e precisa ser
vivida. Lembro-me como se fosse hoje, o dia do nosso casamento.
A mesma igreja onde fizemos o batizado, apesar do ocorrido,
gostávamos de lá, e queríamos fazer novas lembranças, deixar
todas as sombras do passado para trás e recomeçar.

E por falar em novas lembranças, uma certa vez, estávamos


dançando no Wood’s, quando Thinking Out Lound, do Ed Sheeran,
começou a tocar, e Alex travou em meio a pista. Depois respirou
fundo, me pegou em seus braços, e dançamos coladinhos até
terminar. Foi então que ele me contou que havia escolhido essa
música, porque naquela época, achava que a Sarah era a mulher da
vida dele, e que graças a Deus que não foi, porque a única mulher
que ele gostaria de estar aos 70, 80, 100 anos, estava bem ali na
frente dele. E foi então, que exorcizando mais um de seus traumas,
o peguei de surpresa, quando entrei na igreja, caminhando sozinha
até ele, ao som de Thinking Out Lound, fazendo com que ele e
todos os nossos amigos, que conheciam a história, se
emocionassem. Trocamos nossos votos, mais uma vez como
confirmação do nosso amor, a recepção foi no Flavor of Home,
obviamente, e quando chegou a hora do buquê, o bendito caiu no
colo do David, que correu para passar para Helena, o que gerou
uma confusão, porque desde que Helena compareceu ao
casamento, acompanhada do David, Jimmy estava prestes a
cometer um assassinato, e ao ver essa troca de buquê, como diria
meu digníssimo marido, “o caldo entornou de vez”. Entre confusões
e declarações, nosso casamento ficou marcado para história.

E aqui, um ano depois, dentro da cabine, no iate em que Aurora


foi concebida, estou pronta para mais um capítulo da nossa história.

— Baby? Tá pronta? — Alex chamou-me da porta da cabine.


Lindo. Descalço, despojado em um jeans e camisa de botão branca.
Carregava nosso pequeno raio de sol em seus braços, usando
somente meias e um vestidinho lilás, Aurora era linda com seus
cachinhos dourados, o que dava muito trabalho ao RJ, que se
intitulou o defensor da Sweet, contra os meninos assanhados,
fazendo a alegria de Alex, que se sentia confortável em ter um fiel
guardião do seu tesouro. Sabe de nada, inocente.

— Sim, já estou indo. — Levantei-me da cama, estava usando


um vestido longo branco, de alcinhas, combinando com o clima
agradável.

— Vem, mamãeeee! Vê sol bilhar, bilhar e bummmm! — Aurora


com sua linguagem própria de seus dois anos, definia o pôr do sol
como se o sol brilhasse, brilhasse e bummmm, caísse no mar,
dando lugar a esplendorosa lua. — Tanic! Tanic! Tanic! — gargalhei,
olhando o sorriso arteiro do Alex.
— Aprendendo palavra nova, meu amor? Sim, Titanic. A
história de duas pessoas que salvaram uma a outra, de todas as
formas que uma pessoa poderia ser salva — respondi olhando Alex
nos olhos, pois sabia que estava falando de nós. Alex puxou-me
pela cintura para que presenciássemos mais um ritual mágico, cheio
de significados só nosso. — Acho que você terá que renovar seu
estoque de palavras novas. — Peguei sua mão, colocando-a sobre
meu ventre, que fitou-me com os olhos marejados.

— Tem certeza? — Balancei a cabeça em confirmação. —


Haaaaaaaaaa, Leonardo DiCaprio é o caralho! EU SOU O REI DO
MUNDO! Eu vou ser pai, porraa! — gritou extravasando a alegria a
plenos pulmões. Aurora ria sem entender o motivo, só em ver o pai
gritando. E ele que lidasse com a leva das novas palavras que ela
acabou de aprender.

— Do mundooo! — gritou batendo palminhas.

— Isso, princesa! Seu papai é o homem mais feliz do mundo,


porque tenho sua mãe, você e agora um irmãozinho.

— Bebê?

— Sim, meu amor, bebê, outro bebê. — Essa agora é a palavra


favorita dela.
— Te amo tanto, Sunshine. Você foi meu recomeço, é, e
sempre será a mulher da minha vida.
E ali, com o pôr do sol como testemunha, beijou-me com
paixão, mostrando que: “Onde há amor, a escuridão nunca reina.”
Fim!

Ou será...

Um recomeço?
BÔNUS
— Desgraçado! Nunca pensei que após três anos com aquele
infeliz, ele fosse fazer uma cafajestada dessas! Ahhh, mas se ele
pensa que irei perdoá-lo depois disso, ele está muito enganado!

Após o fim de semana com a Eliza, regado a vinho e muita dor


de cabeça, tive que voltar à realidade da solidão do meu
apartamento. Tudo aqui me lembra ele. O sofá, onde passávamos
horas assistindo nossas séries favoritas e as séries turcas, que ele
tanta ama, e não confessa nem sob tortura. O balcão da cozinha,
onde ele me comia com força, a varanda, com a parede de vidro,
onde fodemos em pé na primeira vez em que o trouxe aqui. A
banheira, que foi testemunha de muitas noites de paixão. E minha
cama, a terceira, por sinal, porque quebramos as duas anteriores.
Ah, Jimmy, por que você fez isso com a gente? Tudo aqui me
lembra você.

— Ahh, mas eu vou exorcizar você da minha vida, nem que eu


tenha que fazer uma sessão de descarrego, ou não me chamo
Helena Davies. Filho da puta desgraçado! — bradei, jogando na
parede o copo que estava bebendo água.

Eu senti que Jimmy estava diferente por esses dias. Desde que
tivemos aquela maldita conversa. Contudo, ao invés de conversar
como um homem de verdade. Ele simplesmente jogou nosso amor
no lixo. Nada. Nada me preparou para o que presenciei naquele
apartamento. — Bufei revoltada.

Quis fazer uma surpresa, e quem foi surpreendida fui eu, ainda
teve a pachorra de me convidar pra “festinha”, o que ele pensou?
Que eu aceitaria? Nunca me senti tão humilhada e resumida a pó,
do que quando saí daquele apartamento, ainda ouvindo os sons que
ecoavam pelo corredor.
Tomei um banho gelado, preparando-me para mais um dia de
trabalho. Graças a Deus o dia passou rápido, e entre reuniões e
relatórios, não tive tempo de pensar no bastardo. Entretanto, agora
que cheguei em casa, todas as lembranças voltaram com força e as
centenas de ligações e mensagens do maldito não ajudavam em
nada. Tomei um longo banho de banheira, bem relaxante e abri um
vinho para saborear, assistindo mais um episódio da minha série...
americana. Porque as novelas turcas estão banidas da minha vida.
Nada do Can Yaman com seus cabelos sedosos por aqui.

Nem bem comecei a assistir, a campainha tocou. Levantei-me


para encher de tapas, a cara daquele escroto do caralho, contudo,
quando abri a porta, percebi que o Jimmy era o pior dos meus
problemas.

Em breve, todas as emoções do nosso advogato fodástico e


sua jaguatirica.
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a Deus, por estar aqui,
compartilhando este momento com vocês. Sem ELE, nada seria
possível.

O RECOMEÇO DO CEO nasceu de um sonho adormecido.


Cresci lendo compulsivamente, porém, ao decorrer dos anos, fui
esquecendo a magia de uma boa leitura. Quando aconteceu a
pandemia, tivemos que nos reinventar. Em uma época difícil, onde
precisamos nos isolar do mundo lá fora, descobri no mundo das
fanfics o prazer de voltar a ler e conheci pessoas do Brasil inteiro.
Amava ler as fanfics e fazia questão de comentar a cada capítulo,
prestigiando a cada autor. Em um desse comentários, meu filho
perguntou-me por que eu não escrevia, já que meus comentários
eram inspiradores. Então me fiz a seguinte pergunta: Por que não?
Portanto, a primeira pessoa a ter minha eterna gratidão por estar
realizando hoje este sonho, é você, meu filho. Te amo Gabriel,
obrigada por existir.
Agradeço a Giovanni, meu esposo e maior incentivador, que
está comigo em todas as horas, e me apoiou incondicionalmente,
quando resolvi embarcar nessa jornada. Te amo, meu amor. Minha
família, que vibra junto comigo a cada vitória. Dona Ana, minha
“Mamis”, que sempre me apoiou em tudo, mesmo sem saber o que
estou aprontando (risos). Obrigada, “painho”, por sempre dividir
seus livrinhos de faroeste comigo, você é o grande responsável por
eu ser uma leitora compulsiva. Agradeço também à minha irmã Deja
e ao meu sobrinho Caliel, que embarcam nas minhas loucuras. É só
dizer “BORA”, que eles “BORAM”. E minha sobrinha Julia, que
sempre me pergunta: “Tiaaaaaaaaaa, você tá escrevendo?” Amo
vocês. Cada um de vocês.
Agradeço a todas as pessoas que de algum modo contribuíram
para que este livro estivesse aqui hoje. Minha amiga Carol,
paraense, e a “caçula” do grupo Cats Fofoqueiras, que me
apresentou meu primeiro ebook (acreditem, só vim conhecer a
Amazon em 2020). Susy, a quem homenageei carinhosamente com
o nome de uma das “meninas”, Catia e Bibi, que moram em meu
coração. Às meninas dos grupos Divã das Maravilhosas (Lu, Bia,
Mari, Nicole e Alyne) , Panini No No, Fofoqueiras Literárias, As
melhores Fanfics; vocês fazem parte disso tudo. À família Sonhos
Literários, que seguraram as pontas, além de serem as melhores
betas do mundo inteiro, me ajudando em tantos detalhes, para que
eu pudesse terminar o livro dentro do prazo. Gabi, Ester, Jana, Luh
e Pâmela. Amo vocês. Tem o dedinho de cada uma aqui nesta obra.
Jamais esquecerei. Alyne, pensou que iria esquecer de você?
(risos) Obrigada por me ouvir e me ajudar a ter um norte na história.
OBRIGADA.
Minha revisora Luciana Falcão, que segurou a minha mão até o
último minuto do segundo tempo (tadinha da Lu, gente), minha
assessora Penelope, que me chacoalha todos os dias, lembrando-
me que “foguete não tem ré”, e a toda a equipe da Fox Assessoria.
Vocês são FODAS!

Agradeço a todo o carinho dos autores que me incentivaram


neste início tão importante, em especial, a Valéria Veiga, uma
pessoa incrível que Deus colocou em minha vida, amiga, obrigada
por todo o direcionamento e surtos na madrugada da vida. Receba
todo o meu carinho e gratidão.

E por último, porém não menos importante, VOCÊ, que leu


cada página do meu livro. Espero que Alex e Eliza tenham lhe
conquistado, pois O RECOMEÇO DO CEO foi escrito com muito
carinho... pra VOCÊ.
SOBRE A AUTORA

Ellie Barbosa é uma baiana arretada, sem papas na língua, que


se desdobra em mil… Filha, mãe, esposa, amiga, parceira,
conselheira, leitora e agora escritora.

Fã assumida de Titanic (você não leu errado, since 19…, mas


podemos deixar isso pra lá) e amante da literatura.
Ler, sempre foi um enorme prazer e os mais variados gêneros
literários são companhias certeiras no dia a dia da autora.
Há alguns anos, um desejo queima em seu coração e enfim, se
sentiu pronta para dar voz a este sonho, através de O RECOMEÇO
DO CEO, que é mais do que um livro, tornando-se uma realização
pessoal, pois escrever é compartilhar uma parte de si mesma, que
estará em todos os lugares.
Gosta de livros bem escritos, sendo assim, preza por isso em
seus livros.
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