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Laurih

Dias
2019

1ª Edição

Laurih Dias

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Revisão: Taty M.
Danni Barreto

Capa: Ellen Scofield
E-mail: ellenbea23@gmail.com







É proibida a reprodução, total ou parcial, do conteúdo sem prévia autorização do autor da obra.

Copyright© 2019 Laurih Dias

Essa é uma obra de ficção. Seu intuito é entreter as pessoas. Nomes, personagens, lugares e
acontecimentos descritos são produtos da imaginação da autora. Qualquer semelhança com nomes, datas e
acontecimentos reais é mera coincidência. Essa obra segue as regras da Nova Ortografia da língua
Portuguesa. Todos os direitos reservados. É proibido o armazenamento e/ou a reprodução de qualquer parte
dessa obra, através de quaisquer meios — tangível ou intangível — sem o consentimento escrito da autora.
Criado no Brasil. A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na lei nº. 9.610/98 e punido pelo
artigo 184 do Código Penal.
SUMÁRIO
Prólogo
Capítulo Um
Capítulo Dois
Capítulo Três
Capítulo Quatro
Capítulo Cinco
Capítulo Seis
Capítulo Sete
Capítulo Oito
Capítulo Nove
Capítulo Dez
Capítulo Onze
Capítulo Doze
Capítulo Treze
Capítulo Quatorze
Capítulo Quinze
Capítulo Dezesseis
Capítulo Dezessete
Capítulo Dezoito
Capítulo Dezenove
Capítulo Vinte
Capítulo Vinte e um
Capítulo Vinte e dois
Capítulo Vinte e três
Capítulo Vinte e Quatro
Capítulo Vinte e Cinco
Capítulo Vinte e Seis
Capítulo Vinte e Sete
Capítulo Vinte e Oito
Capítulo Vinte e Nove
Capítulo Trinta
Capítulo Trinta e Um
Capítulo Trinta e Dois
Capítulo Trinta e Três
Capítulo Trinta e Quatro
Capítulo Trinta e Cinco
Capítulo Trinta e Seis
Capítulo Trinta e Sete
Capítulo Trinta e Oito
Capítulo Trinta e Nove
Capítulo Quarenta
Epílogo
Um Capítulo Qualquer
Nota da Autora
Prólogo

E ncosto minha orelha na porta do quarto de meus pais, entendo estar agindo
errado, mas como tenho certeza, falam de mim, talvez não esteja cometendo um
grande pecado.
— Gabriela não é inteligente — confirma papai. — Às vezes presumo
que tem um problema ainda mais sério, fora o fato de ser rebelde. — Ouço
quando suspira impaciente. — Nossa filha deve ter algum problema mental, não
tenho outra resposta para a sua dificuldade.
Desencosto a orelha da porta, olho para a maçaneta invocada e volto a
ouvir a conversa.
— Não diga uma coisa dessas, a Gabriela apenas é uma dessas pessoas
tolas, sem disposição para aprender, simplesmente não irá muito longe como
tantas outras.
Toda essa conversa me causa grande mágoa, meu pai pensa em mim
como se eu fosse uma retardada e minha mãe supõe que eu seja uma preguiçosa
incapaz.
— Gabriela repetiu de ano novamente, não tem interesse em aprender
nada na escola, nem em casa e a cada dia parece ainda mais desobediente.
As lágrimas escorrem por meu rosto, sei o quanto sou burra e certamente
causo muito desgosto para minha família. Detesto ir à escola e não ser capaz de
aprender nada.
— Gabriela, o que está fazendo aí? — Viro-me e vejo Diego, meu irmão,
vindo em minha direção. — Ouvindo a conversa de novo — cochicha e então
pega minha mão me levando em direção à sala. — Quantas vezes chamei sua
atenção sobre essa mania de ouvir atrás da porta? — Senta-me no sofá e se
ajoelha a minha frente. — Você está chorando. Por quê?
Eu fungo e olho para os meus joelhos.
— Papai e mamãe pensam que sou retardada, preguiçosa e isso é uma
merda — reclamo deixando o choro vir.
— Gabi, você deve controlar essa sua boca. Para de falar palavrão. —
Ralha sacudindo a cabeça, então sorri me olhando com carinho. — Eles te amam
Gabi e certamente entendeu errado a conversa dos dois. Por isso não gosto
quando fica se esgueirando por aí ouvindo as conversas.
Olho para Diego e passo a mão por meu rosto no intuito de fazer aquelas
malditas lágrimas sumirem. Diego respira forte e se senta no chão, ainda me
observando.
— Eles estão certos Di, não consigo ler direito, tenho 17 anos, quase não
pude chegar ao ensino médio e na escola sempre fui uma piada. Sou burra e
tenho raiva de todo mundo da escola — desabafo e as lágrimas voltam a cair.
— Não diga isso. Estou pesquisando sobre o que pode estar errado, vou
te ajudar e vamos achar uma solução. Você é muito inteligente Gabi. É boa em
muitas coisas, sua memória fotográfica é invejável, e seus desenhos são
primorosos.
— Desenhar e lembrar das coisas não adiantam para nada? Nunca vou
poder ser como minhas amigas. A Vicky e a Mel passaram para a faculdade
sabia? Sou um fracasso.
— Não, de forma alguma é um fracasso. Apenas precisamos achar e
entender o que se passa dentro de sua cabeça e vamos encontrar uma explicação
para isso Gabi. Conversei com nossos pais, porém sabe como eles são — diz
dando uma risada e tento rir com ele. — Confie em seu irmão mais velho.
Diego tem 05 anos a mais que eu, ele sempre tentava me ajudar nos
estudos e algumas vezes fazia meus trabalhos. Tudo escondido de nossos pais.
Ele também me defendia muito quando alguém comentava sobre o meu
problema. Não sei como seria minha vida dentro de casa se não fosse meu irmão.
Na rua, apesar de minhas dificuldades, era sempre amparada por minhas
amigas. Mel, Vicky e Karen, elas viviam próximas a minha casa e chegamos a
estudar juntas, entretanto seguiram em frente, enquanto eu fui ficando para trás.
Cheguei a pensar em um afastamento por parte delas, mas não, nós nos unimos
ainda mais e enquanto estavam por perto não permitiam outras crianças tirando
sarro da minha cara.
Sempre vivi me metendo em confusão. Odiava quando falavam de mim,
muitas vezes chegava em casa suja e rasgada por conta de ter saído na mão com
alguém. Jamais permitir ser escorraçada, então vivia enfrentando tudo e a todos.
Diego me chama, pois novamente meus pensamentos se desviam de
nossa conversa. Meu irmão está acostumado com a minha maneira de agir.
Assim beija a minha testa e se afasta. Deixando-me ali na sala, sozinha.
A maior parte do tempo me sinto assim, solitária, como se não fizesse
parte de nada e como se fosse uma espécie de alienígena. Para mim é difícil lidar
com as pessoas, pois todos me julgam por ser ignorante. Não sei meu lugar no
mundo e nem mesmo se tem um lugar para mim.
Penso no futuro, tento enxergar aonde chegarei e nada me vem à cabeça.
Apenas estou cansada de ser uma decepção para todos, de tentar encontrar um
caminho e fracassar em minha busca. Diego diz existir infinitos caminhos a
seguir, porém, para mim é tão difícil acreditar. Todas as minhas atitudes são
erradas e sinto-me perdida a maior parte do tempo.
Levanto-me e caminho até a janela, na rua as crianças se divertem,
pessoas conversam e riem, gostaria de ser como a maioria, mas não sou. Só
resta-me conformar-me e acreditar em Diego. Ele é o único a ter fé em mim e
tentarei a todo custo não decepcioná-lo.
Uma pequena esperança me motiva e de alguma forma, espero haver algo
de muito bom reservado para mim no futuro.
Apenas basta-me acreditar.
Capítulo Um

Dias atuais...

Gabriela
D espedidas são muito ruins, mesmo quando sabe que a pessoa está indo ao
encontro da realização de um sonho. Não precisava ser do outro lado do mundo,
porém devo ficar feliz por Diego. Não posso depender dele a vida toda.
Exatamente por isso tomei a decisão de também sair de casa, não para tão longo
como meu irmão, estou morando com meu amigo, porém pretendo ter meu canto
um dia.
Comecei a trabalhar há pouco tempo. E sou grata por uma vida ao meu
amigo Eric. Ele é gerente de uma boate e conseguiu um emprego para mim.
Algo onde não preciso ficar apática, pois não suporto ficar parada. Necessito
sempre estar em movimento.
Saio do aeroporto e olho para o céu claro, porém noto uma pequena
nuvem em sua transformação, ela vai de encontro ao sol.
— Gabriela, presta atenção! Parou na frente das pessoas. — Papai
chama atenção e volto à realidade.
Sim, continuo me distraindo por qualquer motivo. Ao menos
compreendo melhor sobre o que me afeta na realidade e estou dedicando-me a
controlar minha desatenção. Procuro criar atalhos para fugir de situações muito
constrangedoras.
Olho para meus pais e sorrio. Papai tem um olhar duro, enquanto minha
mãe ainda chora por seu filho ter ido para longe. Quando saí de casa, há algumas
semanas, ela também chorou, pois para meus pais sou incapaz de viver sozinha.
É como se eu fosse uma moça estúpida e incompetente. Em seus pensamentos
me darei mal na vida.
Comovo-me com a fé dos meus pais em mim.
Entro no carro com eles. Papai está muito chateado comigo por ter saído
de casa, de sua proteção constante, porém já sou maior de idade e sei exatamente
o que quero, ou melhor, ainda não sei de nada, mas ninguém precisa saber disso.
Peço para me deixar perto do metrô, preciso me encontrar com Eric para
conversarmos. Meu amigo anda nervoso e contou precisar muito de mim em
uma situação, nem me passa pela cabeça qual seja o seu problema, certamente
tem a ver com Charles, seu namorado.
Despeço-me dos meus pais e prometo a minha mãe almoçar em casa no
domingo. Meu pai apesar de estar chateado, pergunta se preciso de alguma coisa.
Sorrio e beijo seu rosto, afirmo estar muito bem.
Em quinze minutos, chego ao apartamento do Eric, meu amigo está na
sala mexendo no computador, assim que me vê, sorri. Mesmo o vendo todos os
dias com roupas excêntricas tenho vontade de gargalhar, pois usa um penhoar
roxo brilhoso, chega doer a vista em contraste com o sol entrando pela janela.
— Meu Deus, Eric! Que roupa é essa? — comento, entro na sala e tranco
a porta. Ele olha para si mesmo.
— Ganhei de um colega. Trouxe para mim dos Estados Unidos, não é
lindo? — pergunta com um largo sorriso.
Aproximo-me sento em uma cadeira, ficando de frente para ele.
— É meio cafona, mas ao menos só usa essas coisas dentro de casa,
porque meu amigo, se você fosse para a rua desse jeito, poderia ser preso por
desviar a atenção alheia.
Ele solta uma gargalhada.
— Como sempre, exagerando minha amiga — diz e volta a olhar o
computador.
— Não me enrola. Conta logo sobre esse assunto misterioso. Estou
curiosa.
Eric respira fundo e me encara. Seu olhar parece desses cachorros
carentes. Isso não deve ser bom.
— Vou direto ao assunto. Como já disse o Charles vem de uma família
tradicional e muito pomposa.
— Sim, sei de tudo isso.
— Então, meu namorado precisa de um álibi para me ver e ao mesmo
tempo precisa de alguém para representar ser a namorada dele.
Cruzo os braços e posso perceber sua agitação.
— Desembucha logo!
— Tudo bem! Eu e Charles conversamos e com toda a certeza você é
perfeita para nos ajudar.
— Ajudar como?
— Fingir ser sua namorada. Ele vai te apresentar a algumas pessoas,
como você trabalha e mora comigo, ninguém vai desconfiar caso o veja por
perto.
Levanto-me e fico pensando no que ele está me pedindo. Não gosto de
mentir, embora faça algumas vezes; mas elas nunca envolveram outras.
Vou até a janela e olho o tráfego. Alguns carros buzinam antes mesmo do
sinal abrir, eles mal esperam o sinal ficar verde, as pessoas são tão apressadas
para chegar a algum lugar e muitas das vezes essa pressa não vale de nada.
Sinto Eric chegar perto de mim e me encarar com olhar questionador.
Caramba! Desliguei-me novamente. — Preciso controlar isso! — Então sorrio
para disfarçar. Finjo não ter me desviado do assunto.
— Vocês acham que isso pode ajudar vocês?
— Sim, nós estamos muito apaixonados. Charles não pode se assumir
para a família, pelo menos não agora. Ele precisa primeiro ter acesso a algum
tipo de herança, mas ainda não pode pôr as mãos nisso, pois precisa ter
completado 30 anos ou se casar antes dos 30.
— Quantos anos ele tem? — questiono espantada com toda essa história.
Até parece coisa de novela.
— 28 anos.
Abro a boca e fecho novamente.
— Vou fingir por 02 anos?
— Não, só por algum tempo, nada em longo prazo, apenas por um
período para abrandar a situação.
— Não pode simplesmente dizer ter alguém? Inventar não estar seguro
para apresentá-la?
Eric volta a se sentar e ri.
— Querida, Meu namorado já deu essa desculpa. Há anos vem
inventando histórias, mas agora, até no trabalho, onde um de seus chefes é amigo
da família, falou para levar a namorada nas confraternizações ou algo assim.
— Chefe intrometido — resmungo —, por que se mete na vida do
Charles dessa maneira? — Essa história está muito estranha.
— Eu questionei isso e Charles contou que a sua família e a de seu chefe
são muito chegadas, também são preconceituosas. Então você só pode imaginar
seu sofrimento, a mãe do Charles tem um problema de saúde ele não quer
prejudicá-la confessando para a família ser gay.
Vou até a cozinha e pego uma água antes de voltar para a sala. O Eric é
um grande amigo. Foi a pessoa a me confiar um emprego e me ajudou a sair de
casa antes do tempo. Não posso lhe negar nada. Então minha decisão está
tomada. Retorno para a sala e olho para ele.
— Ok. Pode contar comigo, só preciso saber como tudo vai funcionar.
Eric salta da cadeira e dá pulinhos de alegria. Vem até mim e me abraça.
— Obrigado, linda! Fico muito feliz em poder contar com sua ajuda.

Eric chama Charles até sua casa e estamos os três combinando tudo.
Algumas questões me deixam nervosa, todavia concordei com essa maluquice e
deverei ir até o fim.
— Preciso te avisar, algumas pessoas são presunçosas no meio em que
vivo, mas estarei ao seu lado sempre — anuncia Charles, segurando minha mão.
Sorrio e o encaro. Ele é um rapaz muito bonito, um moreno atlético, com
feições finas. Não chega a ter aquela cara de homem viril, parece ter menos de
28 anos. Não seria nenhum sacrifício fingir ser sua namorada, no entanto não me
sentiria atraída por ele, caso fosse hétero.
— Tudo dará certo — digo, quando por dentro tenho lá minhas dúvidas.
— Então vamos combinar como faremos — Eric pede mais animado.
— Sim, por exemplo, quanto tempo estamos juntos? — pergunto.
— Vamos dizer que nos conhecemos há quase um ano e estamos
namorando tem uns seis meses — declara Charles. — pois há um mês comentei
com meu chefe sobre estar namorando uma moça.
— Certo. Posso manter minha idade, nome, essas coisas?
— Sim, quanto menos mentira melhor.
— Só tem uma coisa baby — Eric diz e me olha. — Não comente sobre
não ter ensino superior, porque valorizam muito um diploma.
Minha boca fica seca. Jesus! Mal terminei o ensino médio e se eles
perguntarem coisas especificas?
Charles vê meu nervoso e sorri.
— Não precisa ficar com medo, talvez eles nem perguntem nada disso,
caso pergunte diga ser formada em sociologia, algo assim, pois ninguém vai
querer detalhes. Só não podemos inventar algo como medicina ou direito, pois
sempre tem alguma pergunta relacionada a essas disciplinas.
Enquanto ele fala eu balanço a cabeça cheia de energia.
— Tudo bem! Vou pensar em algo.
— Melhor decidir logo, para não ter informação cruzada — sugere meu
amigo e olha para o teto. — Você pode dizer ser formada em Letras — arrisca e
me olha.
Arregalo os olhos, é mais fácil inventar ser médica. Letras? Ele deve
estar louco, então lembro, ele não sabe sobre o meu transtorno, ainda não contei.
— Melhor não, talvez alguma coisa difícil e simples ao mesmo tempo —
digo e minha cabeça começa a formar caminhos, imagens, soluções e então
tenho a grande ideia. Dou um largo sorriso. — Processamento de dados, pois
quase ninguém pergunta sobre.
Os dois concordam e acenam.
— Exato. Isso é perfeito! — Exclama Charles.
Satisfeita eu sorrio.
— Cacete! Eu sou demais! — Exclamo convencida.
Noto os dois se olhando e os observo.
— Minha linda, outra coisa importante — Eric começa — você deve
segurar os palavrões. Não vai pegar bem, afinal eles são muito pomposos.
Sorrio para o meu amigo. Ele pensa que irei xingar e falar asneiras do
nada?
— Podem ficar calmos quanto a isso. Só me solto quando estou perto das
pessoas que tenho mais intimidade e mesmo assim nem sempre — afirmo.
Meu amigo dá um sorriso e volta a falar alguma coisa com seu
namorado, mas não presto atenção.
Sinto-me mais confiante, mas precisamos ver como será minha primeira
aparição.
Deixo os dois sozinhos e vou ao mercado. Preciso espairecer e começar a
conceber dentro da minha mente minha nova versão de Gabriela. Uma moça
universitária, comprometida com um bom rapaz, sabe o que quer da vida. É
necessário imaginar toda a cena, minhas falas, qual assunto puxar e o que
responder às perguntas, pois certamente farão.
Chego ao mercado. Ando pelos corredores, indo um por um, até chegar
onde os chocolates estão. Poderia ir direto ao local certo, mas preciso demorar.
Primeiro porque o casal lá em casa precisa de um tempo juntos e a sós e o outro
motivo é a minha necessidade de andar para a minha mente funcionar.
Parece loucura, mas descobri há um tempo que quando estou em
movimento sou capaz de organizar meus pensamentos, minhas ideias
sobressaem e posso também obter algumas respostas.
Paro em frente à prateleira de chocolate e pego logo três barras, então
sorrio, pois comer chocolate também me ajuda.
— Olá — cumprimenta uma voz masculina; o homem está parado ao
meu lado com uma cestinha na mão e me olha dos pés a cabeça. Ele sorri. —
Você é uma dessas mulheres apaixonadas por chocolate — afirma, o encaro e
tenho certeza nunca tê-lo visto antes. Analiso seu rosto e ele é bem bonitinho,
mas não vou com sua cara. Não respondo nada e olho para os lados, para ver se
tinha mais alguém o acompanhando. — Você é bem calada e devo dizer, muito
linda.
— É? — Emito não querendo conversa.
Eric me falou, sobre o supermercado ser um ótimo lugar para conhecer
homens solteiros, porém não estou procurando ninguém, nunca estive e não irei
começar por esse loiro.
— Diga-me o seu nome? Mora por aqui perto?
Viro-me para sair dali.
— Não para os dois.
O homem não se manca e me segue.
— Você é bem irritadinha. Gosto das mulheres irritadas, porque
costumam ser as mais dóceis — acrescenta e chego ao caixa.
Viro-me para encará-lo
— Se continuar me assediando chuto suas bolas — esbravejo com a voz
arrastada.
Ele dá um passo para trás e sorri.
— Calma Pocahontas, não quis te ofender. Muito pelo contrário, só te
achei muito bonita, mas além de bonita é bem grosseira.
Recuso-me a responder esse individuo. No mínimo deve estar
acostumado com as mulheres lhe dando atenção. Pouco me importa, preciso
retornar aos meus pensamentos.
Saio do mercado olhando para trás, o homem sumiu e deve ter ido atrás
de alguma outra vítima, afinal não dei trela para ele. Caminho pela calçada
alheia as pessoas passando por mim. Desde os meus 15 anos, sou abordada por
rapazes e isso sempre me incomodou. Não que desgostasse dos rapazes, mas na
escola alguns se aproximaram na certeza de eu ser a garota idiota e fácil.
Ainda me lembro do primeiro garoto que gostei, e o quanto fiquei feliz
quando se mostrou interessado, porém antes do beijo, ele enfiou a mão nas
minhas calças. Fiquei apavorada e sem saber como agir. O resultado foi tropeçar
nos seus pés e cairmos um em cima do outro. Seus colegas viram e riram dele,
depois levantou-se e gritou na frente de todos. Disse que eu era uma tola burra e
só tentou me beijar porque tinha uma tarefa a ser paga para entrar no time de
futebol.
Os garotos queriam distância de mim, após esse episódio.
Dei um soco na cara do rapaz, não preciso dizer que fiquei arrasada e corri dali
logo depois. Não chorei na frente de ninguém, na minha corrida bati em Eric.
Que me abraçou e me levou para o refeitório, eu nem o conhecia na época,
lembro-me somente dele conversando com Mel uma vez e tinha ouvido as
pessoas comentarem sobre ele. Eric era popular por ali, já havia terminado seus
estudos, mas um parente seu trabalhava ali, então sempre estava pelas
redondezas.
Naquele dia nasceu nossa amizade. Contou-me muita coisa sobre sua
vida e pude esquecer o que havia acontecido, logo Vicky e Mel também nos
encontraram. Ficamos os quatro envolvidos em uma conversa. Quando estava
com eles me sentia uma pessoa normal, pois sempre me trataram com respeito.
Volto ao presente e paro olhando ao meu redor. Encontro-me em uma rua
há duas quadras do apartamento. Na minha distração passei direto, então como
isso é normal na minha vida dou de ombros e retorno. Um carro passa e buzina,
porém não dou atenção. Vez ou outra alguém esbarra em mim, caminho pela rua
e passo por uma casa de portão amarelo. Nessa rua mora uma senhora que
passeia sempre com seus dois cachorros. Ela sempre para e conversa com o
moço da banca de jornal, sei disso porque passo por esse caminho quase todos os
dias. Tenho formado na minha cabeça muitos detalhes, cores de prédios, portões
e pessoas.
Observo todos mantendo uma rotina. Assim como o morador do prédio
azul. Sempre sai atrasado, Seu atraso faz parte de sua vida. Como sei disso? Ele
sai apressado todos os dias pela manhã. Eu sou boa, muito boa em encaixar
situações. Pode ser loucura da minha parte, mas prestar atenção no cotidiano tem
me ajudado e muito.
Entro no prédio e Arnaldinho, nosso porteiro, me saúda com seu sorriso,
sempre alegre, o homem vive de bom humor.
— Olá dona Gabriela!Tudo bem com a senhora?
Paro perto do balcão e tiro de dentro da bolsa um dos chocolates que
comprei para mim.
— Aqui — digo lhe entregando o chocolate. — Dê para sua filha.
— Obrigado! Minha menina adora quando a senhora manda chocolate.
Ele pega com expressão de felicidade.
— Poderia parar de me chamar de senhora.
— Nem pensar, uma dama como a senhora deve ser tratada com todo o
respeito — diz e faz um gesto de negação com a cabeça.
— Arnaldinho, o respeito vai muito além de se chamar uma dama de
senhora.
— Para mim, a senhora parece uma princesa.
Solto uma risada. Desde que mudei para o apartamento do Eric e conheci
Arnaldinho ele me trata como seu fosse da realeza, só falta se curvar, se soubesse
o quão longe sou de ser uma princesa. Estou mais para serviçal.
Viro-me para o elevador ainda rindo, não tem como discutir.
— Mande um beijo para sua filha.
— Sim, senhora.
Chego ao apartamento ainda rindo do nosso porteiro. Eric e Charles estão
à mesa lanchando. Aproximo-me, sento-me em uma das cadeiras, pego um
pedaço de pão doce e ponho na boca. Sou louca por doces.
— Você demorou. Pensei que tivesse ido a outro lugar. Tentei te ligar,
mas para variar você deixou o telefone em casa — comenta Eric.
Olho para ele.
— Nem reparei — admito comendo outro pedaço de pão. — Queria
alguma coisa da rua?
— Na verdade não, mas o Charles recebeu uma ligação do seu chefe —
diz como se fosse fazer sentido para mim.
— E daí? — questiono olhando para os dois.
— Teremos nossa primeira aparição no próximo final de semana —
informa, então sorri. — Um cliente da empresa, também velho conhecido nosso
está no Rio de Janeiro e oferecemos um jantar para ele no L’Etoile.
Se não tivesse sentada desabaria, não faço ideia de que lugar é esse, ou
onde fica.
— Não precisa se preocupar Gabi, o Charles estará todo o tempo ao seu
lado.
Olho para o meu amigo.
— Sexta é dia de trabalho e um dos mais movimentados.
— Querida, a boate começa a encher a partir da meia-noite. Esses
jantares não costumam ser tarde. O jantar será às 20h e não durará mais que três
horas.
— Gabriela, tudo é muito repentino. Eu também pensei que ganharia
mais algumas semanas, mas o James voltará para a Espanha no domingo —
argumenta Charles.
Bom, não posso fugir para sempre. Melhor esse encontro acontecer de
uma vez, mais cedo ou mais tarde ocorrerá de qualquer maneira.
Olho para os dois e esboço um sorriso.
— Preciso de roupas — comento apenas e ambos riem.
— Pode deixar comigo. Você vai linda nesse jantar, afinal é praticamente
minha representante. Meu eu feminino. — Eric caçoa e começo a rir.
Eric só pode estar fazendo isso para ter alguém próximo de olho em seu
namorado. Meu amigo se encontra muito apaixonado e ainda não consigo
perceber a mesma paixão em Charles.
Enfim, quem sou para julgar esse tipo de situação?
Não tenho habilidade em relacionamentos. Meu último contato com um
homem foi naquele bar no dia da despedida de solteira da Vicky. O dia em que
beijei um estranho. Um estranho muito gostoso por sinal.
Faz alguns meses e ainda sonho com aquele homem. Vivo tudo
nitidamente. Para mim ele é inesquecível, sua lembrança sempre me invade e faz
desejar reencontrá-lo. Nem que seja uma única vez, só para experimentar a
sensação de sentir o calor de seu corpo e o sabor de seus lábios.
Capítulo Dois

Gabriela
— Gabriela, me diz a verdade. Você acredita que essa loucura pode dar
certo? — Mel pergunta, enquanto estamos na sala do antigo apartamento da
Vicky, ao qual Karen vive agora.
— Isso pode não acabar bem, eu sei, apenas estarei fazendo pelo Eric.
Nunca o vi envolvido dessa maneira e tão apaixonado, estou preocupada.
Karen chega com uma bandeja cheia de guloseimas e se senta no chão.
— Você já conhece o seu namorado de mentira? — indaga passando
pasta em sua torrada.
Faço o mesmo.
— Conheci. É bem simpático, bonito e bastante rico, assim parece —
digo fazendo uma careta.
— Você o acha apaixonado pelo Eric também?
Suspiro! Ainda não tenho resposta para essa pergunta. Não quero falar
nada sem provas, mas Charles ainda não me convenceu.
— Não estou gostando nada dessa sua expressão. Desembucha, vai? —
Mel pede e morde um pedaço de biscoito.
Olho para minhas duas amigas.
— Não acredito que ele seja tão apaixonado assim. Tenho medo do Eric
se machucar, pois está muito empolgado com essa relação.
Karen entorta a boca e fica pensativa.
— Por que não tenta conversar com o Eric? Aconselha a ir mais devagar
— sugere Mel.
Eu a encaro.
— Tentei conversar com ele. Disse para tentar descobrir mais sobre a
vida do Charles e também se conhecerem melhor. Vocês conhecem o Eric. É tão
intempestivo e pensa saber das coisas.
— Olha, de repente podemos tirar algo de bom nisso. Você vai estar no
ambiente do Charles, assim pode conhecê-lo melhor — Karen aponta pensativa.
— Esse é um dos motivos pelo qual vou fazer isso. Andei pensando em
algumas coisas.
— O que? — As duas falam juntas e nós rimos.
— Mesmo sua família sendo tão preconceituosa e o seu chefe também,
não há motivo para se esconder. Caramba! Hoje temos casamentos gays. Tudo
bem, alguns torcem o nariz, mas nada justifica viver uma mentira dessas.
Mel toca meu joelho.
— Gabi, você até pode ter razão, entretanto ainda há muito preconceito lá
fora. Quase todos os dias temos notícias de algum gay sendo agredido, apenas
pelo fato de sua orientação sexual ser diferente do que eles dizem ser o padrão.
— Também não sei direito a história do Charles, vamos lhe dar um
crédito, porém amiga, se você vê-lo enganando o nosso amigo, ou notar alguma
coisa estranha você avisa a ele. Doa a quem doer, a verdade é sempre o melhor
— Karen declara.
— Eu sei.
— Que tal visitarmos a Vicky? — Mel diz mudando de assunto.
— Sim, vamos! Estou com saudades dela e quero ver como ela tem se
sentido. Depois de seu acidente só a vi duas vezes — falo.
Passamos uma tarde gostosa, conversando amenidades e combinamos de
fazer uma visita à Vicky no dia seguinte.
No meio de nossa conversa recebo uma mensagem de voz de meu irmão.
Diego resume sobre o quão diferente é o Japão e que poderíamos aprender muito
com eles. Percebo o meu irmão satisfeito e empolgado, isso me deixa muito
feliz, porém sinto muito a sua falta.
Em seguida envio uma mensagem para ele, volto para minhas amigas e
digo que preciso ir, afinal devo trabalhar e não quero me atrasar.
Encontro-me pronta, pois a ideia era me encontrar com as meninas e
depois ir direto para a boate. Gostaria de ter mais um tempinho com elas, mas
fica cada vez mais difícil. Meu horário e muito complicado.
Na boate, encontro Eric no caixa conversando com uma funcionária,
como o assunto parece ser sério nem paro. Sigo para a pequena sala de
funcionários que usamos para relaxar e fazer nosso lanche. Preparo um café
forte, ainda não me acostumei em trabalhar a noite e não sei como o Eric
consegue parecer tão bem.
— Olá Gabriela! — cumprimenta Boris, um dos nossos seguranças.
— Olá, tudo bem? — respondo sorrindo. — Aceita um café?
Ele também sorri. Boris é um cara muito bonito. Faz muito sucesso com
as mulheres, seu porte atlético e sua expressão de homem mau ajuda muito
nisso. Ele é um negro com mais de 1,80 de altura e age com gentileza em torno
das mulheres.
Ele é muito mulherengo e segundo meu amigo, o viu de olho em mim.
Falei para Eric não se preocupar com isso, pois não sairia com ninguém do
trabalho. E se fosse o caso, não sairia com ele. Mesmo sendo um cara legal e
sedutor.
— Aceito sim — diz e me olha dos pés a cabeça. — Você está linda
como sempre — elogia.
Balanço a cabeça e sorrio.
— Obrigada.
— Você tem namorado Gabriela? — pergunta enquanto entrego seu café.
Sento-me a mesa tomando um gole de café.
— Não quero namorar ninguém e estou me concentrando em outras
coisas.
Boris parece pensar em minhas palavras e fica me analisando.
— É uma pena, mas se mudar de ideia, me candidato.
Solto uma risada e o observo.
— Sem chances Boris, por vários motivos.
— Posso saber os motivos?
— Para começar. Nós trabalhamos juntos — digo e ele levanta as
sobrancelhas. — Você é muito mulherengo e te vejo como um amigo.
— Não sou mulherengo — argumenta, mas tem cara de riso. Sim, é e
sabe muito bem disso.
Eric entra na sala e beija minha cabeça falando rapidamente comigo.
Saúda Boris e vai até a geladeira. Noto que está ao celular, cochichando e
provavelmente falando com Charles. Sua expressão é de entusiasmo. Assisto
seus gestos e expressões, seu sorriso chega até seus olhos é nítida a sua
felicidade. Ele pega uma garrafa de água e suas mãos parecem tremulas. Agora
apenas escuta e morde os lábios inferiores.
Com certeza está conversando com Charles e apostaria minha vida nisso.
Toda sua postura sugere que ele gosta de quem está do outro lado da linha. Na
verdade ama essa pessoa.
Vejo uma mão estalando os dedos para chamar minha atenção e olho para
frente.
— Oi?
Boris me olha hesitante.
— Você parecia estar em outro lugar. Te chamei umas três vezes e nem
me ouviu.
Fico sem graça. Para disfarçar tomo um gole de café e dou de ombros.
— Deve ser o sono, ainda não me acostumei com os meus horários.
Acena a cabeça e leva um sorriso no rosto.
— Tem gente trabalhando a vida toda na noite e nem assim se acostuma
— comenta.
Eu provavelmente sou uma dessas pessoas.
Eric finalmente acaba com sua conversa ao telefone e também se senta
conosco bebendo sua água.
Ainda temos alguns minutos até a boate abrir. Ele conta sobre os
convidados Vip da noite, nisso chega os outros seguranças e o pessoal do bar.
Quando vejo a sala está cheia de funcionários, Eric passa algumas instruções e
enfim chega a hora de todos irem aos seus postos. Verifico se tudo está limpo e
arrumado. O DJ da noite está em seu lugar e posso ouvir a música.
O salão vip é onde eu trabalho e som não chega tão alto quanto no resto
da boate. Dá para se ter uma conversa sem precisar gritar e caso algum
convidado queira dançar, tem passagem livre para percorrer toda a boate.
À noite como sempre é cansativa e fora alguns convidados na minha área
se achando da realeza, tudo corre muito bem e trabalho para ser a melhor
Hostess possível. Na maioria das vezes todos parecem satisfeitos.
Após todos partirem, decido tirar um cochilo, enquanto Eric fecha o
caixa. Poderia está em casa, mas como moramos juntos, espero.
O cochilo se transforma em um sono profundo e chego a sonhar.
Estou de volta ao restaurante, onde foi a despedida de solteiro da Vicky.
Eric me desafia a beijar um desconhecido. Estou um pouco zonza da bebida e
tento não dar ideia ao Eric, porém sabe como me desafiar.
Aceito sua provocação e ele escolhe um homem sozinho em sua mesa
concentrado em seu telefone. O homem se encontra muito distraído e de longe
sou capaz notar sua beleza. Mesmo sentado, logo se percebe sua altura
avantajada. Dou um último gole em meu drink, combino de encontrar meus
amigos do lado de fora e como se estivesse hipnotizada caminho até aquele
estranho.
Paro perto dele e só então nota minha presença. Seus olhos são muito
escuros, com a pouca luz e juntando a minha embriaguez não posso determinar
a cor exata.
Ele apenas me olha sem me dizer nada.
Eu curvo meu corpo, seguro seu rosto e sem pensar duas vezes dou um
beijo em seus lábios. A ideia inicial era dar apenas um beijo, um selinho e
retirar-me, mas ao sentir sua boca na minha, perdi o controle. Ele dominou o
beijo e sua língua difundiu-se com a minha.
Senti meus cabelos pender-se para frente, formando um véu e deixando
nosso rosto encoberto de olhares curiosos.
Sinto meu corpo sacudir, o que está acontecendo? Meu corpo balança
novamente. Não quero ir embora. Quero ficar aqui beijando para sempre.
— Gabriela, acorda! — Ouço a voz de Eric invadir meu sonho.
Abro os olhos e me sento de repente olhando a minha volta.
Eric está de pé, com os braços cruzados e batendo o pé no chão.
— Qual seu problema? — pergunto e então bocejo.
— Porra! Estou te chamando tem uma hora, para sua sorte sou seu
amigo, ou iria embora e te deixaria aqui.
Levanto-me e pego minha bolsa. Ele deve ter me chamado uma ou duas
vezes. Conheço seus exageros.
— Para de drama e vamos. Estou muito cansada — declaro enquanto
caminho até a porta.
— Você não vai me contar?
Paro e olho para ele por cima de meus ombros.
— Contar o que?
— Sonhou novamente a mesma coisa. Só quero saber com o quê ou com
quem sonha — comenta vindo em minha direção.
Continua a andar, abro a porta e passamos juntos por ela.
— Você está louco meu amigo, imaginando coisas. Não estava sonhando
e ando muito cansada, nem tenho tempo ou disposição para sonhar com nada.
Eric está do meu lado e percebo seu olhar em mim. Finjo não notar.
— Vou deixar passar por hoje. Uma hora ou outra vai me contar. Vamos
logo, pois o Charles irá ao apartamento pela manhã.
Eu apenas sorrio e aceno.
Não poderia contar para o Eric e nem para ninguém sobre meus sonhos.
Era a mesma cena quase sempre. Aquele desconhecido mexeu comigo e não
consigo tirar da memória o dia em que o beijei naquele bar.

Chega o dia onde serei apresentada como a namorada de Charles,


passamos algumas falas e ele promete ficar ao meu lado. O bom de tudo isso foi
ganhar um vestido novo e lindíssimo para comparecer ao tal jantar.
Eric me ajuda na maquiagem e ao me olhar no espelho, me sinto outra
pessoa. O que não poderia ser diferente, afinal não serei eu mesma por algumas
horas.
— Você está um luxo — Eric revela me olhando. — Esse seu cabelo está
mais lindo ainda. Difícil acreditar que não usa tinta, ainda não me convenci.
Olho para ele do espelho e sorrio. Pois vive mexendo comigo dizendo
que pinto o cabelo de preto.
— Eric, você me conhece desde sempre e quando viu meu cabelo de
outra cor?
— Às vezes pode pintá-los desde criança e as escondidas — diz
pensativo — seja como for, faz bem feito, pois estamos morando juntos tem
pouco mais de um mês e ainda não encontrei vestígios de tinta.
— Porque não existe tinta. Simples assim.
Eric fica sério e me vira de frente para ele.
— Não sei como te agradecer. Jamais poderei pagar o seu apoio, às vezes
sinto-me envergonhado por estar te pedindo para fazer isso, serei sempre grato a
você.
Ponho minha mão em seu ombro e dou um aperto.
— Se existe alguém grato, esse alguém sou eu. Isso é o mínimo que
poderia fazer.
Ele respira forte, fecha, abre os olhos e me encara com muita intensidade.
— Devo confessar, na realidade estou sendo muito egoísta.
Cruzo os braços.
— Egoísta? Como?
— Não pedi a você para fazer esse lance de fingir ser namorada do
Charles somente para ajudá-lo, com seus familiares e colegas de trabalho.
Eu solto uma risada.
— Sei disso, Eric.
— Sabe? O que você sabe?
— No fundo quer saber sobre esse mundo do Charles e ter certeza se diz
a verdade sobre esse assunto de preconceito.
— Esqueço o quanto é muito perspicaz — comenta sorrindo e
balançando a cabeça.
— Sim, eu sou. Mesmo assim vou fazer isso, pois também quero saber
sobre essa pessoa que roubou o coração do meu amigo — confesso e me volto
para o espelho.
— Quem se apaixonar por você vai cortar um dobrado, baby — fala
reflexivo.
— Por que fala isso?
— Você tem uma percepção sobre os sentimentos das pessoas, então
quando tiver certeza dos sentimentos de quem te amar. Poderá fazer dele gato e
sapato.
Começo a rir. Eric tem cada ideia.
— Eu não faria isso. Você me conhece bem, não sou uma pessoa má.
— Minha linda você não é má. Não quis dizer isso, mas por que não
aproveitar de um homem apaixonado? Eu iria me esbaldar. Ele me faria gozar,
pelo menos quatro vezes ao dia.
Viro-me e bato em seu braço.
— Eric, que coisa feia de dizer.
— Desde quando gozar é feio! Muito pelo contrário, gozar é muito lindo
e além de gostoso.
Desisto do Eric, só com ele, um assunto sério sobre sentimentos se
transforma em algo sexual.
Ouvimos a capainha tocar e nos olhamos.
Agora a Gabriela, a namorada de Charles, a mulher segura e formada em
processamento de dados entra em ação.
Só espero sair inteira desse jantar.
Capítulo Três
Gabriela
— Gabriela, você está muito linda! — Charles diz quando chegamos ao
estacionamento.
— Muito obrigada, Charles! — respondo o encarando. — Eu devo te chamar de
querido ou algo assim?
Ele ri.
— Não será necessário. Vamos agir o mais naturalmente possível, apenas
vez ou outra te farei um carinho, mas nada constrangedor. Eu prometo.
— Graças a Deus! — exclamo aliviada e Charles me observa com cara
de riso. — Isso pode ter saído errado — tento me explicar. — Não quis dizer que
sinto alguma repulsa. Nada disso.
— Eu entendi Gabriela, só estou zoando contigo.
Então eu relaxo e sorrio.
— Está convivendo muito com o Eric.
Ele não diz nada, apenas acena com a cabeça.
Charles me oferece o braço e caminhamos juntos.
— Lá vamos nós! — exclama animado. Parece bem relaxado.
Entramos num restaurante luxuoso, somos recebidos por uma moça
muito elegante. Reparo tudo em volta, enquanto fala com a moça. Olho
encantada para tudo ao redor e até mesmo a luminosidade do lugar é acolhedora.
Meu braço é levemente puxado, então quando vejo Charles está sorrindo
e sinalizando para acompanhá-lo.
A mulher anda com toda a sua elegância a nossa frente.
— Então? Alguém já chegou? — questiono com voz baixa.
— Sim, mas estamos dentro do horário. Fique tranquila.
Detesto chegar por último em qualquer lugar, pois as pessoas tendem a
prestar mais atenção em você.
Atravessamos o restaurante e passamos por algumas mesas ocupadas.
Percebo algumas pessoas me observando. Não posso afirmar se desconfiam que
sou uma farsa ou se me observam por algum outro motivo.
Nós paramos e a moça com um sorriso desenhado em seu lindo rosto se
afasta.
É tudo muito repentino, pois enquanto andava, olhava para todos os
lados, no intuito de gravar cada detalhe. As janelas, as saídas de emergência e a
direção do toalete.
— Querida, deixe-me apresentá-la — informa Charles chamando minha
atenção para si. Viro-me e sorrio como se não estivesse distraída. Ele pisca para
mim e aperta minha mão em seu braço, então olha para frente. — Esta é minha
namorada, a Gabriela — diz e vejo um senhor sentado de frente para nós. Ele se
levanta de sua cadeira e oferece sua mão e nos cumprimentamos. — Este é o
James e ao seu lado sua esposa Paola. — Charles explica.
— Agora entendo porque demorou tanto tempo para apresentar sua
namorada — fala James todo galanteador e beijando minha mão. — A senhorita
é muito bonita — elogia e volta a sentar-se.
— Obrigada. — Fito sua esposa. Uma mulher bonita, mas seu olhar não é
nada hospitaleiro, sua expressão é fria, mesmo assim eu sorrio e a saúdo. —
Senhora.
Ela dá um falso sorriso e acena.
Viro-me para a pessoa sentada a cabeceira da mesa, sinto meu mundo
parar, minha boca resseca e tenho vontade de fugir. Seus olhos escuros
examinam meu rosto. Certamente me reconhece como também o reconheço. Seu
olhar, sua expressão e tudo nele denota isso. Posso afirmar com exatidão: Ele
não gosta de mim.
— Gabriela, este é o meu chefe, Nicolas Karnezis. — continua sem se
dar conta da nossa troca de olhares. — Nicolas esta é a Gabriela, a mulher da
qual te falei.
O homem dos meus sonhos é o chefe do Charles, o preconceituoso?
Merda. Tinha que ser ele? Estou perdida.
Assim como o outro homem, também se levanta e seus olhos viajam por
meu corpo. Sinto-me nua diante de sua avaliação.
Ele dá um sorriso forçado e estende a mão. Faço o mesmo e sua mão fria
engole a minha. Os pelos dos meus braços se arrepiam com seu toque e tenho
certeza que ele percebe.
— Então, você é a Gabriela? A famosa namorada do nosso Charles. —
Sua voz sai enrouquecida. Engraçado eu beijei esse homem e nem ao menos
sabia como era sua voz.
Tento um sorriso, mas meus lábios mal se mexem, respiro fundo e volto
ao meu papel.
— Não imaginava ser famosa — respondo e retiro minha mão da sua. —
De qualquer forma, prazer conhecê-lo. Charles sempre fala de seu trabalho e do
quanto tem uma grande amizade com o senhor.
Ele volta a se sentar, ainda me encarando.
— Imagino que sim — acrescenta. Vejo uma mão feminina segurar o seu
braço e vejo uma morena muito linda sentada por perto. Ele a olha, sorri e volta
a me fitar. — Por favor, podem se sentar.
Charles com seu cavalheirismo me ajuda a sentar e em seguida faz o
mesmo. Será que não vai apresentar a mulher?
Como ninguém disse nada. Eu a olho e a cumprimento.
— Olá, boa noite!
Ela como a outra mulher apenas acena com olhar soberbo, somente
Charles e James são simpáticos a minha presença nesta mesa.
— Perdoe-me, não os apresentei. — Nicolas anuncia olhando de mim
para Charles. — Esta é Luiza, uma amiga.
Não me escapa sua demora em dizer que Luiza é sua amiga. Pelo olhar
dela, noto não ter gostado nada de ter sido apresentada como uma amiga apenas.
O modo como agem, dá a entender que ali rola muito mais, não é somente uma
amizade inocente, não entendo o motivos, mas sinto-me incomodada com eles
juntos.
James começa a falar e o garçom chega com o cardápio. Embora não
pareça, estou muito nervosa, mas como meu irmão diz, eu sou ótima em
esconder meus sentimentos. Charles me olha e sorri. Eu sorrio de volta e olho o
cardápio. As letras praticamente sambam, elas são muito pequenas e não consigo
me concentrar. Enquanto olho o cardápio se inicia uma conversa referente à crise
na Grécia.
Levanto meus olhos e vejo todos engajados na conversa, melhor dizendo,
quase todos, pois um par de olhos está fixo em mim. Ele bebe muito devagar
uma bebida âmbar, tudo sem deixar de me fitar. Volto a olhar o cardápio e as
letras continuam sem sentido.
— Gabriela, não é muito de falar? — Ouço Nicolas perguntar e levanto
os olhos. Todos estão me olhando e aperto o cardápio entre os dedos.
— Na verdade eu falo até bastante — admito sorrindo.
Charles passa os braços por cima de meu ombro e aperta.
— Nem me fale, a Gabriela é um pouco tímida no início — comenta —,
mas depois ela vai se soltando aos poucos.
Nicolas me observa e sinto como se estivesse sendo desvendada.
— Não vai pedir sua bebida? — pergunta me encarando.
Se esse homem pensa me intimidar, verá o quanto está enganado.
Eu sorrio e encosto a cabeça nos braços de Charles como se estivesse
fazendo manha.
— Confio em meu namorado, vou deixá-lo escolher por mim.
Charles entra no jogo e beija minha cabeça. O olhar de seu chefe parece
soltar faíscas.
— Uma mulher capaz de deixar um homem escolher por ela? Algo difícil
de ver nos dias de hoje. — Sua acompanhante comenta e sinto querer de alguma
forma me alfinetar.
— A Gabriela é assim, uma mulher como nenhuma outra — elogia
Charles e tiro meus olhos do Nicolas e de sua acompanhante. — Vou sugerir esse
vinho. O que acha? — pergunta apontado para o cardápio.
Eu olho para onde seu dedo aponta e dou um sorriso.
— Está perfeito — digo e nem sei o que vou beber na verdade.
— Como você conheceu a linda Gabriela? — James pergunta de forma
simpática. Pelas informações de Charles, ele mora na Espanha e é um cliente e
amigo da família.
— Nos conhecemos na festa de um amigo da faculdade — fala conforme
havíamos combinado.
— Um amigo em comum? — Nicolas questiona e nos olha com atenção.
Ele ainda não esboçou um sorriso sincero.
— Minha amiga é prima de um amigo do Charles. Ele deu uma festa em
sua casa e essa minha amiga chamou-me para acompanhá-la — respondo e vejo
Charles bebendo um gole de vinho e dando autorização para me servir.
Não lembro-me de ninguém pedindo a bebida. Preciso ficar mais ligada e
não me distrair tanto.
— O que você faz? — Ouço Nicolas perguntar e volto a olhar para ele. O
homem não gosta de mim, isso é certo, mas quando o beijei naquele bar não
demonstrou antipatia nenhuma. Eu o encaro e seus olhos castanhos muito
escuros, me avaliam.
Respiro fundo e bebo meu vinho. As pessoas não percebem a forma
como ele me encara? Não é possível ninguém ter notado.
— No momento, trabalho em uma boate com meu primo — digo uma
meia verdade, pois Eric é apenas um amigo.
Combinamos de falar o máximo de verdades possível. No início fui
contra contar aonde trabalho, porém o local é muito frequentado por empresários
e gente da sociedade, então decidimos não esconder isso, porque poderia ser
descoberto.
Ouço a risada da acompanhante do Nicolas. Ela tem uma expressão de
deboche e cada vez menos gosto dessa mulher. Não sei como Nicolas pode se
relacionar com alguém tão esnobe.
Ela me encara com chacota.
— Boate? Que tipo de Boate.
Se não fosse pelo Eric. Eu lhe daria uma resposta atravessada, afinal
quem é ela para me julgar?
— A boate é muito conceituada. É a Sun and Moon — conta Charles
parecendo alheio às insinuações dessa jararaca.
Ela entorta boca. Chega a nossa mesa um homem vestido elegantemente
e ao seu lado o garçom. Ele pergunta se já decidimos sobre o jantar e os pedidos
são feitos. Volto a espiar o cardápio e me concentro para tentar não me
envergonhar.
Todos fizeram seus pedidos, menos eu, noto todos me encarando. Então
com toda calma fecho o cardápio e olho para o homem aguardando meu pedido.
Dou um sorriso doce para ele e mordo os lábios.
— Surpreenda-me — peço cheia de charme.
O homem me observa e sorrir.
— A senhorita não se arrependerá — informa, depois acena de forma
respeitosa e se afasta com o garçom em seu encalço.
Viro-me satisfeita e meu olhar se encontra com o de Nicolas, ele parece
querer me matar. Droga! Esse homem vai me dar trabalho. Começo a pensar nele
como um idiota.
Charles está em uma conversa acalorada com James, cuja esposa sustenta
uma cara de tédio. Observo a outra mulher tentando atrair a atenção do Nicolas,
ela fracassa terrivelmente, pois o homem está disposto a me atacar a qualquer
momento.
Charles, por debaixo da mesa, toca em minha perna por cima do vestido
e dá um leve aperto. Não faz com maldade, no entanto fico incomodada com seu
toque e me remexo na cadeira.
Observo Nicolas de rabo de olho e seu olhar continua me queimando.
Merda! Age sem se importar com as pessoas em nossa volta. Esse homem tem
uma morena linda ao seu lado e nem sequer lhe dispensa um pouco de atenção.
Ela é uma nojenta, tudo bem, porém começo ter pena dela.
Toco o ombro de Charles e digo que vou ao toalete. Preciso sair daqui
por um momento e readaptar minha estratégia.
Peço licença e saio da mesa transparecendo tranquilidade e segurança.
Respiro fundo e fecho os olhos, após fechar a porta. O chefe do Charles
tinha que ser o mesmo homem daquele dia? Meu Deus! Muita coincidência!
Devo me preparar, se por algum motivo ele abordar o assunto do beijo.
Estava escuro no bar, posso muito bem dizer que está enganado. Pronto
resolvido. Ele está acompanhado e não é adequado comentar sobre esse assunto.
Abro os olhos e sustento um sorriso. Passo um batom e abro a porta.
Verifico se está tudo certo e me ajeito para sair.
Levo um grande susto, pois no corredor está ele, e com toda a certeza não
está ali por acaso. Finjo não perceber sua presença e tento passar ao seu lado.
Nicolas segura meu braço e olho para cima. Porra! Esse homem é muito alto.
Cacete!
Sua expressão transborda raiva e frustração.
— Solte-me! Está louco! Por que está fazendo isso? — Esbravejo,
tentando me desvencilhar dele.
— Você é uma mulher vulgar. Como pode enganar o Charles desse jeito?
— Eu não sei do que você está falando.
— Sabe sim, não me faça de trouxa. Acredita não tê-la reconhecido?
Você é uma dessas mulheres que usam a beleza para seduzir e deixar os homens
caídos aos seus pés. Eu conheço muitas assim.
Consigo me soltar dele e me afasto o olhando irada.
— Você não me conhece para falar essas barbaridades sobre mim. Não
sei aonde pretende chegar com essas acusações descabidas?
O homem aproxima-se de mim, dou um passo para trás e encosto-me na
parede.
Seus olhos parecem um par de lâminas afiadas, querendo me cortar.
— Sou o homem daquele bar. Você me atacou e beijou há dois meses.
Olho para o lado e cruzo os braços.
— Está me confundindo com outra pessoa — minto.
Ele segura meu queixo, fazendo com que meu olhar volte ao seu rosto.
Puta merda! Ele pode ser um idiota, mas é lindo!
— Eu jamais esqueço um rosto, ainda mais um como o seu, lembro-me
perfeitamente daquele dia, encontrava-me distraído fazendo um trabalho, você se
aproximou e quando vi estava me atacando e roubava-me um beijo.
Sorrio de lado.
— Você é um homem grande. Não se deixaria ser agarrado por uma
mulher da minha estatura, apenas se quisesse, é claro.
Noto uma veia pulsar em sua mandíbula.
— Você é uma diaba! — acusa num rosnado.
— Você um idiota, provavelmente bebeu muito em algum momento e
ficou com a mente conturbada, agora me confunde com alguma mulher fatal que
o seduziu e beijou.
— Apenas bebi um drink naquele dia. Estava em sã consciência.
— Não pode ter certeza. O lugar estava escuro, era fim de noite e
claramente estava muito exausto.
Quando acabo de falar, percebo minha gafe. Nicolas sorri maldosamente.
— Nunca disse sobre o local estar escuro ou de ter sido tarde da noite.
Porra! Que merda!
Preciso sair daqui, o empurro na tentativa de me afastar.
— Voltarei para a mesa, porque podem notar nossa demora.
Ele continua me olhando.
— Isso ainda não acabou. Estarei em seu encalço. Um tropeço, e eu
acabo com você! — murmura com a voz grossa e sinto minha pele arrepiar com
sua ameaça. Não digo nada, me desvio para voltar ao meu lugar e ele me chama.
Eu paro, mas continuo olhando para frente. — Nada de ficar dando em cima dos
homens. Respeite o Charles ao menos em sua presença.
Tenho o ímpeto de me virar e socar a sua cara, mas lembro-me do Eric,
estou aqui passando por isso para ajudá-lo e não será esse imbecil a me impedir.
Simplesmente respiro fundo e me afasto sem nada dizer.
Capítulo Quatro

Nicolas
D e todas as mulheres do planeta, Charles tinha logo que namorar essa? A
mulher mexeu comigo desde aquele dia, até então era apenas uma desconhecida,
uma mulher misteriosa e ousada num bar. Uma mulher cujo beijo não sai da
minha cabeça. Nunca imaginei reencontrá-la, porém aqui estou, louco para sentir
a força de seus lábios nos meus outra vez.
Depois de refrescar a cabeça, volto para a mesa e sou imediatamente
atraído por ela novamente. Está numa conversa animada com Charles e o James.
Não há como negar, Gabriela é a personificação da sensualidade. Seus longos
cabelos negros têm um brilho incomum e meus dedos coçam para tocar. Seus
olhos são de um castanho incrível. Aquela boca? É uma perversão. É perfeita, de
todas as formas, entretanto é perigosa.
Tem um ar de mulher carente precisando de proteção. Em alguns
momentos parece um pouco perdida, provavelmente é uma técnica para enganar
os homens, todavia a mim não engana. Ela esconde alguma coisa e vou
descobrir, não sossegarei enquanto não for capaz de desvendá-la.
Olho para Charles e ele demonstra estar encantado por ela, embora eu
desconfie de alguma coisa errada naquele namoro. Charles sempre foi uma
incógnita. Agindo todo o tempo como se não fosse ele mesmo, sempre querendo
impressionar. E agora conseguiu despertar a minha curiosidade.
— Aconteceu alguma coisa? Você demorou. — Luiza comenta alisando
meu braço. Tento me afastar de seu toque, bebericando meu drink.
Preciso me controlar e parar de olhar na direção daquela diaba. Forço-me
a encarar a linda morena ao meu lado. Não posso dizer a verdade e sair contando
sobre estar esperando meu pau baixar. Eu sou mesmo um pervertido. Estou cheio
de tesão pela namorada do meu funcionário e amigo, enquanto tenho uma
morena que com certeza me saciaria, porém eu não a quero, minha ânsia está na
linda mulher de cabelos negros sentada do outro lado da mesa.
Luiza é boa no sexo, mas não poderá me satisfazer.
Suspiro e tento sorrir, embora não consiga.
— Recebi a ligação de um cliente — minto e então puxo conversa com
James, enquanto saboreamos nosso jantar.
Conversamos sobre negócios e das três mulheres a única a prestar
atenção a tudo é Gabriela. É como se estivesse absorvendo todas as informações,
por outro lado, em alguns momentos a vejo desligada, como se estivesse em
outro lugar. É como se somente seu corpo estivesse ali. Essa mulher me
confunde. Não consigo entendê-la e todo esse mistério está me deixando muito
interessado.
O jantar termina e não consegui mais nada sobre a Gabriela. Só deixou
escapar que é formada em processamento de dados e trabalha com o primo, pois
ele mesmo pediu por precisar de alguém de confiança. E confiança é algo que
ela não inspira, afinal é uma traidora. Porque há dois meses, em uma farra com
os amigos, me agarrou e beijou. E o Charles confirmou estarem juntos por seis
meses.
Como pode ser confiável? Se trai o namorado com um desconhecido.
Caminhamos todos juntos para a saída. Gabriela está na minha frente
com Charles e aproveito para observá-la. Não é magra como Luiza. Seu corpo
tem curvas nos lugares certos e sua bunda é empinada. Um corpo de mulher.
Antes de pedir por nossos carros, James e Charles se aproximam.
— Devo confessar, essa sua namorada é muito simpática, além de linda,
meu caro — James comenta com um sorriso enquanto cumprimenta Charles.
Ele abre um sorriso.
— Eu tenho gosto para as minhas mulheres.
— Só não entendo o porquê de você ter demorado tanto tempo para
apresentá-la — digo, observando sua expressão.
Ele vira a cabeça, olhando para algum ponto a sua esquerda e dá de
ombros.
— Gabriela gostaria de me conhecer melhor antes de conhecer minha
família e amigos. Ver se eu a estava levando a sério — responde evasivo.
James com seu bom humor solta uma risada e aperta seu ombro.
— Mulheres!
Os dois riem e aproveito a distração para olhar em direção a Gabriela.
Ela está longe das outras duas e mexe em seu telefone, então percebe estar sendo
observada e me olha.
Encaramos-nos, numa luta para ver quem desvia primeiro e ela é
infernal, pois corajosamente me enfrenta. Isso a torna uma mulher peculiar, não
recordo de alguma outra pessoa me enfrentando com tanta determinação.
— Vamos embora, meu querido? — Fico tão distraído em minha guerra de
olhares, com aquela diaba e nem noto quando Luiza se aproxima.
Muito contrariado, sou obrigado a desviar o olhar e noto um sorriso de
vitória nos lábios de Gabriela. Ela ainda me paga.
— Sim, terminamos aqui — digo, passando a mão pelo meu cabelo para
tentar controlar minha irritação. Volto a olhar James. — Meu caro, então estamos
acertados?
James é um homem bem-sucedido. Soube aplicar seu dinheiro ainda
jovem. Hoje é um milionário, vive trocando de esposa como troca de roupa. Ele
é um homem integro, contudo tem um fraco por mulheres.
— Tudo dentro do previsto. Para semana envio a papelada já assinada.
Você sabe, não precisaria de tudo isso, afinal já fizemos muitos trabalhos juntos
e nunca tivemos problemas.
O rapaz se aproxima e pedimos nossos carros. James chama sua esposa,
ela mantém certa distância e fica remexendo em sua bolsa a fim de se manter
afastada. O carro dele é o primeiro a ser entregue, então se despede e sai em
seguida.
Assim ficamos eu, Charles e nossas acompanhantes.
— Esta semana vou fazer uma viagem, mas retorno a tempo de ir ao
aniversário de seu pai — digo, enquanto noto Gabriela próxima e segurando seu
braço.
Minha vontade é desmascará-la ali mesmo.
— Meu pai anda muito empolgado, afinal está no auge dos 60 anos —
comenta.
Olho para Gabriela.
— Você vai à festa? — questiono.
Ela arregala os olhos surpreendida. Não sei se por minha pergunta ou
com o fato de não saber nada sobre a festa da família de Charles.
— Claro, será uma ótima oportunidade de apresentá-la a minha família.
Meu pai certamente ficará enciumado, pois você a conheceu primeiro.
Ela olha para Charles abismada, no entanto não diz nada. Ela não gostou
de saber disso tão repentinamente.
— Seu carro, senhor — diz o manobrista ao meu lado.
Pego minha chave, então olho para Charles e Gabriela e aceno.
— Boa noite! — saúdo os dois, porém meus olhos se fixam na mulher
intrigante.
Como um imã seu olhar é atraído ao meu. Ela é impetuosa, pois empina o
queixo e me encara em desafio. Não sabe com quem está mexendo e parecendo
adivinhar meus pensamentos, sorri de forma provocadora.
É tudo muito rápido e as pessoas a nossa volta parecem não perceber
nossa guerra particular. Melhor assim, não quero levantar nenhum tipo de
suspeita.
Charles me responde sorrindo e finalmente, após Luiza entrar e sentar-se
no banco de passageiro, vou para o meu lugar atrás do volante.
Saio em silêncio, mas meus pensamentos borbulham. Merda! Essa
Gabriela está perturbando meu juízo.
Sinto um toque em minha perna.
— Você está tão sisudo e... distante — fala dando um leve aperto em
minha coxa.
Faço um gesto negando com a cabeça.
— Nada com que se preocupar, apenas estou concentrado em dirigir.
— Não é somente isso. É aquela mulher, não é?
Olho rapidamente em sua direção, Luiza me encara com olhar indagador.
Volto minha atenção para o tráfego.
— Mulher? Não te entendo. — pergunto embora saiba de quem esteja
falando.
Ouço sua risada seca.
— Não se faça de inocente para mim, Nick — comenta usando o apelido
que odeio. — Você sabe, estou falando sobre aquela namorada do Charles. Pensa
que não vi você a olhando praticamente o jantar inteiro? — questiona. E eu
pensando ter passado despercebido. — Ela também não tirava os olhos de você.
Mulherzinha vulgar! — exclama e apesar de ter minhas desconfianças quanto a
Gabriela, não gosto de Luiza falando dela desta maneira.
Aperto o volante, para me controlar. Apesar de querer dar uma resposta
adequada, não posso dar mais pretextos.
— Impressão sua. Falei e dei atenção a todos no jantar. — respondo de
forma evasiva.
Luiza não é minha dona, uma vez ou outra ficamos juntos. Sem nenhum
tipo de compromisso. Sexo com ela é bom, pois sabe como agradar um homem.
É uma mulher bonita e gostosa, mas está atrás de um homem rico para lhe dar
uma boa vida. Não sou contra, porém deixei claro não ser esse homem. Embora
pareça sustentar alguma esperança quanto a isso.
Ela move a mão em minha perna e sobe até chegar ao meu membro, na
mesma hora reage ao seu toque.
— Vamos esquecer aquela garota insossa e desagradável. Quero passar a
noite em meu apartamento, com você.
No momento em que diz essas palavras maldosas sobre a Gabriela perco
o tesão e sinto dentro de mim uma grande raiva. Paro em frente ao seu prédio,
desligo o carro e a encaro.
Luiza tem um sorriso obsceno, esse sorriso um dia me deixou muito
excitado, mas sua frieza aos poucos foi me desmotivando, agora não me sinto
tão atraído.
— Preciso voltar para casa, porque tenho alguns trabalhos pendentes. —
Há algumas coisas para resolver, entretanto não há tanta urgência.
Ela morde os lábios e encena uma cara de triste.
— Fiz planos para passar a noite com você. Fica, por favor.
Respiro fundo fechando os olhos. Odeio todo esse drama dela.
— Luiza — começo e abro os olhos me voltando para ela. — Eu não
disse nada sobre passarmos a noite juntos, apenas te convidei para ir ao jantar
comigo.
Ela massageia meu pênis e muda de tática.
— Não precisa ficar a noite toda. Vamos subir, então nos divertir um
pouco e depois você pode ir embora.
Claro, meu pau cresce em minhas calças, afinal sou um homem saudável,
gosto de sexo. Muito sexo. Posso muito bem aproveitar seu convite, me aliviar e
voltar para meu apartamento.
— Vamos lá então! — falo por fim.
Saímos do carro e rapidamente chegamos ao seu apartamento. Quando a
porta se fecha, Luiza se ajoelha e abre o fecho de minha calça. Pega meu pau
levando-o em sua boca. A mulher até pode ser insensível, mas chupa como uma
atriz pornô.
Jogo minha cabeça para trás, encostando-me à parede, fecho os olhos e a
imagem que me vem à mente é de uma mulher de cabelos negros, brilhantes
olhos castanhos e uns lábios carnudos. Com esses pensamentos meu pênis se
agita e Luiza geme. Tento me focar na mulher me dando um boquete, mas minha
mente traidora gravou a imagem daquela diaba e meu pau parece gostar.
Abro os olhos e tento assistir Luiza, porém mesmo assim a mulher que
penso está longe de ser essa aqui de joelhos. Desisto de tentar e deixo minha
imaginação fluir. Volto a fechar os olhos. Imagino minha diaba de joelhos e me
chupando, apenas esse devaneio é o suficiente, para eu gozar forte. Ela toma
tudo de mim e mal sabe sobre minha imaginação, apenas pude gozar com tanta
energia por estar imaginando Gabriela em seu lugar.
Ela se afasta ainda de joelhos. Quando abro meus olhos e a fito, assisto
quando lambe os lábios com um sorriso vitorioso.
— Não me lembro de você ter gozado tão rápido, nas outras vezes.
Ah! Se soubesse o que me motivou! Provavelmente me cortaria o pau.
Sinto-me mal por ela. Mesmo sendo uma pessoa fria, não merece esse
desrespeito.
Luiza se levanta e ao mesmo tempo tira seu vestido. A mulher é mesmo
ousada, pois está nua por baixo.
— Você é preparada para tudo — comento, passando os olhos por seu
corpo magro e bem cuidado, além de totalmente depilado entre as pernas.
Será que Gabriela é assim? Magrela não é. Isso eu garanto, pois seu
corpo tem curvas. Pude notar hoje no restaurante o quanto ela é gostosa e com
todos seus quilos bem distribuídos.
— Você parece estar em outro lugar — diz Luiza chamando minha
atenção.
Preciso controlar a minha mente. Não posso pensar sempre naquela
diaba.
Tento um sorriso e começo a tirar minha camisa.
— Vamos parar de papo e ir ao que realmente interessa.
Luiza parece gostar das minhas palavras e faz cara de safada.
Termino de tirar minhas calças, junto com minha cueca Box. Antes de
jogá-la de lado, pego o preservativo no bolso e com rapidez embalo meu pau, já
duro em minha mão. Não vou me enganar. Ele não cria vida pela linda mulher
em minha frente. Continuo sendo invadido pelas imagens da Gabriela. Então
melhor acabar logo com isso e assim ir embora.
Empurro Luiza no sofá e abro seus joelhos. Olho entre suas pernas e ela
está totalmente preparada. Sem dizer uma palavra e em um único impulso, me
enterro nela. Então começo a fodê-la. Fecho meus olhos e deixo minha mente ir
onde bem entender.
Não lutarei contra meus pensamentos, por hora deixarei aquela diaba de
pele clara e cabelos escuros levar a melhor, mas somente por esse momento.
Capítulo Cinco

Gabriela
A pós o jantar, Charles me leva para a boate. Minha cabeça está muito confusa.
Reencontrar Nicolas, me deixou um pouco desestabilizada e me senti sendo
engolida por ele. Claro, não demonstrei isso. Prefiro morrer a mostrar algum tipo
de fraqueza. O fato é que aquele homem mexe comigo, não estou sabendo lidar
com as emoções despertadas em mim.
Preciso buscar soluções, afinal irei encontrá-lo outra vez.
Puta merda! Logo ele é o chefe do namorado do Eric? Meu amigo
poderia amar outro homem também, por que as coisas devem ser assim? Tão
complicadas.
Nem percebo o carro parar no estacionamento da boate.
— Você veio o tempo todo calada e parece preocupada com algo. É
relacionado ao jantar? — Charles indaga, me estudando.
Eu firmo meus olhos nos seus. Também o analiso tentando encontrar
alguma coisa nele, eu até posso estar errada, mas ele não me convence. É como
se Charles guardasse algum tipo de segredo, não o segredo de ser homossexual
ao qual esconde de sua família e amigos. E alguma outra coisa. Só espero estar
enganada e torço para ele não causar nenhum sofrimento ao meu amigo Eric.
Ele continua a me observar esperando eu falar alguma coisa.
Balanço a cabeça e dou um sorriso fraco.
— Não, apenas estou um pouco cansada. Trabalhar a noite é exaustivo.
Charles sorri abertamente.
— Imagino como seja, no entanto Eric não se abala com esse trabalho —
comenta.
Nisso concordo, para o meu amigo trabalhar a noite parece não ter
nenhum efeito, muito pelo contrário, vive ligado no 220.
— Por falar nele, melhor eu entrar logo ou terá um troço.
— Sim, vai lá. Como deve estar trabalhando não quero atrapalhar, então
amanhã passo no apartamento a fim de vê-lo. — Ele aproxima-se e dá um beijo
em minha bochecha. Deixando-me desconfortável, mas logo se afasta. —
Obrigado Gabriela, você fez o papel da namorada perfeita.
Se soubesse a trapalhada na qual me meti e o quanto não sou nada
perfeita perante o olhar de seu chefe, não falaria isso.
— Fiz isso pelo Eric. Ele é um grande amigo. Sou capaz de qualquer
coisa para vê-lo feliz — confesso sem tirar meus olhos dos dele.
Tento deixar explícito nas entrelinhas o quanto defenderei Eric e se
depender de mim não permitirei que de forma alguma magoe o meu amigo.
Vejo algo brilhar em seus olhos, mas é muito rápido, talvez tenha me
enganado e estou procurando problemas onde não tem.
— Bom saber que o meu Eric tem alguém como você ao seu lado. — Ele
desvia os olhos e verifica o estacionamento. — Melhor você ir. Amanhã
combinaremos sobre a festa de meu pai.
Tinha esquecido esse assunto. Foi uma surpresa quando Nicolas fez
aquela pergunta. Não sabia de nada e não gostei de saber, em tão pouco tempo,
que haveria uma festa para ir com Charles.
— Por falar nisso, poderia ter me dito antes, sobre a festa de seu pai. —
advirto cruzando meus braços.
— Não lembrava-me dessa festa, até o Nicolas falar.
— Mesmo assim, poderia ter contado a verdade e dito que ainda não
havia falado comigo. Não gosto de ser pega de surpresa, então não faça mais
isso.
— Não precisa ficar tão afetada Gabriela. Nem pensei direito na hora.
Eu suspiro sacudindo a cabeça.
— Apenas combine comigo qualquer coisa antes de falar em meu nome.
— Acrescento abrindo a porta do carro para sair. — Boa noite Charles, preciso
trabalhar.
Caminho até a entrada dos funcionários. Ainda não me recuperei do meu
encontro com Nicolas, talvez esteja irritada além do normal e acabei
descontando em Charles. Por outro lado, não me arrependo de ter deixado as
coisas claras. É bom saber como gosto das coisas.
Passo pelo salão e vejo alguns dos funcionários em movimento. Olho o
relógio. Tenho menos de uma hora para me trocar e procurar o Eric, antes da
boate abrir.
— Uau! Você está linda! — Reconheço a voz de Boris e me viro
sorrindo. Ele me verifica dos pés a cabeça e passa a língua pelos lábios de forma
muito sedutora. — Com qual sortudo saiu hoje? — pergunta e se aproxima ainda
mais.
Dou um passo para trás, ponho a mão em seu peito e mesmo sob a
camisa consigo sentir seus músculos.
— Você está muito perto — alerto, ele segura meu pulso fazendo
movimentos circules com a ponta de seu dedo.
— Não perto o suficiente. Vamos sair qualquer hora dessas? Não sei mais
como convencê-la?
Boris não perde uma oportunidade. Gargalho e como algumas pessoas
param o que estão fazendo e olham em nossa direção, levo a outra mão até
minha boca na tentativa de parar de rir.
Respiro fundo, tomando um fôlego.
— Você acabou de perguntar qual sortudo estava comigo e mesmo assim
continua me chamando para sair. Se eu estiver namorando?
— Ele não precisa saber. Ninguém precisa saber — responde com
tranquilidade.
Não quero namorar ninguém e nem sair. Se tivesse que sair, não seria
com Boris. Sua resposta por si só já diz não se importar em ferir os sentimentos
dos outros. Não estou o julgando, longe de mim, cada um sabe de si, mas não
quero para minha vida um homem capaz de sair com uma mulher comprometida.
— Você não me conhece mesmo. Jamais sairia com outro se estivesse
comprometida.
— Então não está com ninguém?
— Não no momento, nem quero. Tenho outros projetos.
Nem sei quais projetos, porém quero dar um jeito de realizar um sonho
meu. Pela minha situação é um sonho quase impossível, então preciso me focar
nisso.
— Isso não impede...
— Preciso ir me trocar. — Corto-o. Sei de toda sua ladainha e não estou
no clima para ouvi-las.
Viro-me e sigo para o segundo andar, onde fica a sala dos funcionários.
Vou ao armário e pego o meu uniforme, Eric o trouxe para mim. Então me troco,
faço um coque no cabelo e vou procurá-lo. Encontro-o na mesa de café com o
celular na mão.
— Oi amigo, tudo bem? — o cumprimento me sentando de frente para
ele.
Eric solta o telefone na mesa e me encara.
— Puta que pariu Gabizinha! Você quer que eu enfarte para herdar meus
penhoares? — Abro a boca para falar e não permite. — Estou querendo saber
como foi o jantar e ninguém me diz nada. Por que o Charles ou você não me
ligaram quando saíram? Estava quase pegando o carro e indo até o restaurante
para bisbilhotar.
— Calma Eric ou vai enfartar de verdade — digo rindo do seu chilique.
Nunca vi homem tão exagerado. — Pensei que Charles te ligaria depois de me
deixar aqui.
Ele se levanta revirando os olhos.
— Aquele lá me paga, maldito. Ele sabe o quanto ando nervoso com tudo
isso.
Levanto-me, vou até Eric e tento acalmá-lo. Acaricio seu braço.
— Eric, por que está assim? Você estava tão seguro com tudo —
comento, pois sua postura está estranha.
Ele me abraça.
— Gabizinha, não sei como agir. Depois de vocês saírem do apartamento
fiquei pensando se valia a pena todo esse fuzuê. Então a Mel me ligou.
Afasto-me e olho para ele.
— A Mel? E daí ela ter ligado?
Ele se vira , vai até a cafeteira e prepara um café para nós dois. Quando
fica pronto me entrega uma xícara e pede para segui-lo até o escritório da
gerencia. Senta-se em sua cadeira e fico de pé o observando.
— A Mel me questionou sobre o Charles. Foi muito direta e me
perguntou por que o meu namorado precisa tanto do dinheiro da família? E
também por que precisa tanto apresentar alguém como namorada? Expliquei
para ela e achou os argumentos muito fracos. Você sabe como a Mel é direta. —
Ele toma um gole de café e parece pensativo.
Penso da mesma forma e ainda não entendi quais as intenções de
Charles.
— Talvez ela esteja certa — comento.
Eric me olha e sinto seu olhar triste. Eric nunca foi desanimado. É
sempre tão feliz e coloca todos para cima. Sinto-me mal por ele.
— Quando nós começamos me contou sobre o preconceito da sua família
e doença da sua mãe, então não poderia assumir nosso relacionamento. Senti-me
uma merda! — exclama contrariado e solta um longo suspiro. — Pergunto-me
por que o mundo é assim? O meu pai até hoje não aceita a minha orientação.
Fica difícil entender o porquê de estarmos a todo o momento buscando a
aprovação das pessoas. Quando na verdade nós queremos é ser feliz. Meu
namorado precisa aceitar a si mesmo. Somente assim, poderá seguir em frente —
diz.
Dou um passo para frente e pego sua mão por cima da mesa.
— Eric, me diz a verdade. Por que você sugeriu fingirmos ser
namorados?
Ele baixa o olhar.
— Só quero saber a verdade. Porque ele sempre foi muito esquivo e eu
preciso saber se não estou entrando numa fria. Às vezes tenho a impressão de
estar me escondendo alguma coisa — confessa e volta a me encarar.
Não sou a única a ter desconfianças. O próprio Eric notou algo de
estranho.
— Você gosta dele? — pergunto direta.
— Sim, eu o amo. Se não o amasse jamais me colocaria nessa posição e
me sinto um cretino por colocá-la nessa minha furada. — Eric suspira e aperta
minha mão. — Por isso preciso de você. Careço saber quem é o Charles. Caso
descubra alguma mentira dele, prefiro saber de uma vez para não sofrer em
longo prazo. Entende o que quero dizer? — questiona com expressão séria
demais.
Olho para os lados e sorrio sem vontade. Devo entrar de cabeça nessa
confusão. Não posso deixar meu amigo no escuro. Mesmo com o Nicolas nessa
equação, pois vê-lo pode ser uma complicação.
Volto a fitar Eric.
— Querido, pode contar comigo e se Charles diz a verdade, melhor para
você. Agora se estiver te enganando, juro que acabo com ele, isso não ficará
barato. Eu garanto!
Eric solta uma gargalhada.
— Ah minha linda! Você é uma amiga maravilhosa — fala —, agora me
conta tudo. Como foi o tal jantar? O chefe dele é realmente muito ranzinza como
ele disse?
Nicolas! O homem cujo rosto não sai da minha cabeça.
Não contarei por enquanto sobre o chefe do seu namorado. Meu amigo
não precisa dessa preocupação em sua cabeça. O Charles exagerou ao chamá-lo
assim, pois seu chefe pode ser um idiota, mas foi somente comigo, afinal para
ele não passo de uma mulher farrista, também quem não pensaria?
Nicolas é um homem intrigante, é sério, mas ranzinza? Isso não.
Resumo sobre o jantar. Excluo o encontro no banheiro e conto as minhas
impressões das pessoas, principalmente das mulheres. Lembro-me da
acompanhante de Nicolas. Será que eles estão juntos a essa hora? Passarão a
noite juntos? É sua namorada? Faço-me mil perguntas e me sinto enjoada ao
imaginá-lo com aquela mulher. Ela não o merece, logo se vê o tipo de mulher
calculista, Nicolas me passa ser um homem honesto e vejo através de seu olhar
sua rigidez, mas ao mesmo tempo noto nele uma mansidão. No fundo ele é um
bom homem.
Converso mais alguns minutos com Eric antes de ir para o meu lugar. A
noite promete. Uma atriz reservou toda a área vip para comemorar seu
aniversário. Espero que ela não seja uma dessas metidas apenas por ser famosa.
Tudo transcorre bem. O único pormenor foi um famosinho beber além do
limite e tentar se aproveitar de uma das garçonetes. Porém Boris foi chamado e
tudo foi resolvido. Nosso segurança é muito bom com esse tipo de situação.
A noite só não foi perfeita porque Nicolas não saia de meus pensamentos.
Procuro negar, mas me sinto muito atraída por ele. O certo é acabar de vez com
essa atração. Preciso me concentrar e não posso me deixar levar. Ele acredita que
sou a namorada de Charles, seu funcionário e amigo.
É importante Nicolas pensar nisso como uma verdade, ou tudo pode se
perder. Se Charles não estiver mentindo, não quero prejudicá-lo de forma
alguma e preciso descobrir qual é a dele. Para isso devo permanecer ao seu lado.
Será difícil, disso eu tenho certeza. Afinal Nicolas é um homem intenso e
sexy. Sem contar o seu cheiro delicioso, só de imaginar todo o meu corpo entra
em combustão.
Jesus! Como vou resistir a esse homem? Só espero ter forças para
controlar meu anseio.
Capítulo Seis

Nicolas
N a semana seguinte, após o jantar, Charles vem a minha sala com o último
relatório gerencial. Não entendo a causa para ele imprimir tanto papel, se já foi
avisado diversas vezes sobre a minha preferência em receber tudo por e-mail.
Quando questiono isso, ele sorri sem jeito e senta-se na minha frente.
— Sei disso, mas não consigo conferir nada através da tela do PC,
preciso rabiscar e marcar.
Balanço a cabeça negando, pego aquele monte de papel e deixo de lado.
Odeio ficar com muita coisa em cima da mesa.
— Então na próxima vez, confira do seu jeito e depois envia para o meu
e-mail, além de ser econômico, estaremos contribuindo para o meio ambiente —
resmungo me virando para meu computador. — Alguma alteração desde o
último relatório?
— Sim, com a entrada de dois novos clientes, sendo eles de grande porte,
os ativos aumentaram consideravelmente — esclarece indiferente.
— Esperava por isso.
— Meu pai falou alguma coisa sobre a fusão? — questiona e olho para
ele.
Sinto Charles incomodado, pois seu pai é amigo do meu pai de longa
data e me propôs uma aliança. Ele quer que sejamos sócios e para isso sugeriu
uma união de nossas empresas. Estou pensando, pois não sou um homem de
tomar atitudes precipitadas.
— Falou, mas foi tudo informalmente como você mesmo sabe.
— Você tem uma ideia, se vai ou não aceitar?
Dou de ombros.
— Ainda não pensei muito nesse assunto, embora seja viável.
Minha empresa é uma agência do ramo da publicidade e somos uma das
melhores. Temos filial em várias capitais do Brasil e no exterior. Não tenho do
que reclamar. Ótimos profissionais trabalham para mim, desde o atendimento,
passando pelo planejamento e criação até a produção. O Cassiano, pai de
Charles, tem uma agência de modelos. Não é um negócio tão rentável quanto o
meu, porém pode vir a acrescentar.
Ele se levanta.
— Só vim te entregar esse relatório. Preciso voltar para o setor, pois há
muito a ser feito ainda antes do final de ano.
— Sim, final de ano é pesado em todos os setores.
— Te vejo no almoço de aniversário de meu pai?
— Sim, estarei lá. — digo — Vai levar sua namorada? — pergunto e
observo sua reação.
Ele põe as mãos no bolso e balança o corpo.
— Sim, meu pai está muito animado para conhecê-la.
Pego um papel em branco sobre a mesa e amasso. Minha raiva daquela
diaba é a única coisa capaz de tirar meu controle.
— Imagino que sim, afinal sempre cobrou isso de você. Pois nunca nos
apresentou nenhuma garota.
Charles solta um riso.
— Estava esperando por alguém especial — diz e se vira para a porta. —
Nos vemos domingo.
Depois de sua saída me levanto e vou até a janela observar o mar. Não
resisto e penso em suas palavras ditas sem demonstrar emoção. Alguém especial.
Só pode estar brincando. Aquela mulher é uma aproveitadora, não presta. Tudo
bem, o Charles não é um homem de passar muita confiança. Apenas trabalha
como meu gerente na contabilidade por um pedido de Cassiano. Gosto muito do
seu pai, por outro lado, ele também efetivamente confia em mim. Algumas
vezes chegou a comentar sobre o quanto gostaria que seu filho fosse um homem
como eu.
Sempre me senti desconfortável com esses comentários, pois Charles se
sente incomodado com nossa amizade. Ele nunca elucidou sobre esse assunto,
no entanto algumas vezes percebi em seu semblante o seu aborrecimento, porém
ele se fechava e não demonstrava nada.
Lembro-me de Gabriela, fico pensando o tipo de relacionamento deles.
De uma coisa tenho certeza. Posso não confiar em Charles, mas pelo menos,
tenho alguém de olho todo o tempo nele. Quanto àquela diaba, ela não me
convence. Pode ser linda, porém sua beleza não vai me cegar. Ela esconde
alguma coisa. Vou descobrir. O Charles pode até sofrer com uma decepção, mas
não posso permitir que seja enganado por uma vigarista, mesmo ele sendo
ambíguo, ainda o considero, pois nos conhecemos desde criança.
Volto a me sentar e me concentrar no trabalho. Todavia a ansiedade só
em saber que irei reencontrá-la, me faz ficar com mais raiva dela.

O domingo está com o tempo muito bonito, há poucas pessoas no jardim


e Cassiano parece animado. Estamos eu, ele e meu pai proseando, ele toca no
assunto sobre a namorada de Charles, não os vejo em parte alguma e certamente
não chegaram ainda.
— Meu filho parece estar muito animado com esse namoro. Tomara que
seja uma boa moça — comenta pensativo.
Tenho vontade de falar que de boa ela não tem nada, porém não é
momento para se comentar alguma coisa.
— Sempre vi o Charles tão reservado quanto a isso. Cheguei a pensar
que poderia estar apaixonado por uma mulher casada. — meu pai cochicha e
solta uma risada.
Eu sacudo a cabeça. Meu pai é um homem espirituoso, adora fazer piada
e zombar de Cassiano, os dois amigos vivem brincando um com o outro.
Ele então rir.
— Você não pode falar uma coisa dessas. Afinal também tem um filho.
Estava demorando me colocarem no assunto.
— Nicolas nos apresentou algumas meninas, fora as que vejo por aí em
sua companhia. — Papai se aproxima ainda mais de mim e joga os braços por
meu ombro. — Assim como seu filho, um dia Nicolas nos surpreenderá com
uma mulher a qualquer momento.
Cassiano me olha e sorri.
— Nicolas é muito sensato sabe agir com precisão e sabedoria — diz
pensativo e volta a olhar para meu pai. — Meu amigo, você tem muita sorte com
seu filho.
— Não sei se vocês perceberam, mas estão falando de mim e estou
ouvindo tudo. — Ironizo tentando fazê-los mudar de assunto, pois quando o
papo gira em torno de Charles e eu, sinto Cassiano ficar bastante apreensivo.
Ele nunca me contou nada, porém acredito que já tenha desabafado com
papai. Possivelmente Cassiano sabe algum segredo de Charles, vez ou outra
tenho essa sensação.
Meu pai olha para o portão e sorri.
— Charles chegou. Amigo a moça com ele parece muito bonita. Estou
velho, mas enxergo bem.
Olho imediatamente para onde Charles está. Ele fala com sua mãe a
apresentando Gabriela, a mulher é sexy, mesmo usando um simples vestido claro
de alcinha. Ainda estando de forma despojada é notável. Simone, a mãe de
Charles, analisa a namorada do filho, enquanto cumprimenta outra senhora ao
seu lado. Não me passa despercebido a troca de olhar entre mãe e filho.
Não me agrada a maneira como agem. Aquela diaba pode não prestar,
entretanto, mesmo não gostando nem um pouco dela, sinto-me incomodado.
— Você está certo. Ela é bem bonita — Cassiano fala pensativo.
Eles terminam de falar com Simone e ela aponta em nossa direção e os
dois vêm até onde nos encontramos.
Engraçado. Charles não a toca e eles andam lado a lado, como se fossem
amigos somente.
Encaro Gabriela e nossos olhares se encontram, sua força de espírito me
deixa atordoado, em nenhum momento ela baixa a cabeça para mim. Essa diaba
é muito atrevida. Deus me ajude! Pois tenho um grande desejo de acabar com
esse seu atrevimento.
— Aí estão vocês! —Charles exclama animado ao chegar perto de nós.
Então abraça seu pai. — Parabéns pai! Desculpe o atraso, mas Gabriela teve um
pequeno imprevisto.
A moça o olha espantada, entretanto não diz nada.
— Ao menos desta vez, tem uma bela desculpa. — Cassiano comenta.
Ele olha para a namorada de Charles e sorri. — Você é uma moça muito linda,
nesse quesito meu filho tem muito bom gosto.
Gabriela sorri para ele, um sorriso bonito, mas tenho a impressão de estar
bastante nervosa e não querer demonstrar.
— Obrigada e parabéns pelo seu dia! — cumprimenta apertando sua
mão.
— Este é o senhor é Théophilos, grande amigo da minha família. —
apresenta Charles a Gabriela. — Ele é o pai do Nicolas.
Ela dá um sorriso afável e estende mão o cumprimentando. Meu pai, por
sua vez a olha e seu sorriso é aberto.
— Prazer, eu sou a Gabriela.
— Gabriela, você não tem apenas um nome bonito, também é linda. —
elogia e tenho vontade de revirar os olhos. Mania desses homens ficarem
explanando sobre sua beleza.
— Agradeço o elogio.
— Você conheceu o Nicolas no restaurante. Lembra-se dele, não é
mesmo? — Charles pergunta, enquanto finalmente se vira para mim.
Ergo somente uma sobrancelha, aguardando o que poderá dizer.
— Olá Nicolas, tudo bem? — A mulher é audaciosa. Saúda-me com um
sorriso debochado e seu olhar é desafiador.
Estendo minha mão para pegar a sua, e sim, ao nos tocar sinto uma
pequena queimação passar por meu corpo, em contrapartida, percebo em sua
pele pequenos arrepios.
— Tudo bem, e você?
— Estou ótima.
Baixo meu olhar e percebo que usa uma gargantilha. Fico perplexo ao
notar seu pingente, não quero admitir, mas sinto-me abalado com aquele
símbolo.
Cassiano diz alguma coisa e levanto meu olhar para saber do que se trata.
Fiquei tão distraído e não me dei conta da conversa a minha volta.
— Eu concordo com você amigo. Basta saber a opinião do seu
namorado e se aprova — comenta meu pai olhando para Charles.
Do que eles estão falando afinal de contas?
— Eu não me oponho.
Olho para Gabriela e ela parece desconfortável, olhando de um para
outro.
— Esse negócio de posar com certeza não é para mim.
Posar? Que merda é essa?
— Posso saber o motivo? — Cassiano pergunta.
Ela passa a língua nos lábios e coça o nariz. Havia notado Gabriela fazer
isso outras vezes.
— Para começar, as modelos são muito magras e altas. Como vocês
podem ver não sou nenhuma das duas coisas.
Meu pai me olha sorrindo.
— Nicolas, como publicitário, concorda ou discorda? — pergunta
olhando-me risonho. — A namorada do Charles não seria uma ótima modelo?
Na minha cabeça vem um monte de imagens: Gabriela de calcinha, de
camisola e fazendo poses sensuais. Sinto um calor repentino e não gosto do
rumo dos meus pensamentos.
— Discordo. Não seria uma boa ideia — respondo seco.
Aproveito o garçom passando e pego um copo d’água. O clima ficou
muito quente de repente.
— Não? — Cassiano parece espantado com minha resposta. — Ela é tão
bela. Meu caro, você sabe o quanto tenho bons olhos para isso e se meu filho
permitir farei uns testes com sua namorada.
— Com certeza permito — confirma Charles risonho e com cara de
bobo.
Neste momento olho para Gabriela e nitidamente não gosta da forma
como falam. Ela engole a seco e sorri.
— Vocês me desculpem, mas a maior interessada sou eu, afinal é o meu
corpo. Além de não querer ser modelo não permito que falem por mim. — Fala a
última frase olhando para Charles de maneira séria.
Essa biscateira é decidida. Apesar de não gostar dela, sinto orgulho de
sua atitude.
Todos se sentem um pouco sem graça, porém Charles começa outro
assunto, como se nada tivesse acontecido. Gabriela pega um refrigerante e bebe.
Eu acompanho todo o seu movimento e ela se sentindo observada, sobe o olhar.
Esboço um sorriso para ela, tentando deixar claro que a apoio e agiu
muito corretamente. Ela parece ler meus olhos e vejo a sombra de um sorriso. É
um momento único e desvio o olhar, pois apesar de sua resposta ela não me
engana. Ainda tenho minhas desconfianças e essa diaba pode vir a me dar muita
dor de cabeça.
Minha mãe e Simone se aproximam. Não suporto ficar ali com aquela
mulher tão próxima a mim, então dou uma desculpa e me afasto. Envolvo-me
em uma conversa com Bartolomeu, um dos irmãos de Cassiano, e mesmo à
distância observo Gabriela. Ela conversa e sorri muito à vontade, porém em
alguns momentos percebo certo desconforto de sua parte. É muito estranho essa
sua dualidade.
Outra coisa me incomoda bastante, a maneira pela qual Simone a analisa,
não parece correta.
Noto quando Gabriela falar alguma coisa com Charles. A atitude dele é
um tanto fria, eles quase não se tocam e parecem manter certa distância. Ele
aponta na direção do toalete e a vejo se afastar.
Termino de beber minha água, peço licença a Bartolomeu e como se um
imã me atraísse, sigo em sua direção.
Paro do lado de fora do toalete e aguardo. Então ouço sua voz por detrás
da porta.
— Estou morrendo de sono — diz e então dá um longo suspiro. — Eric
esse pessoal é muito besta. Não vejo a hora de sair daqui.
Olho para a porta fechada em espanto.
— Com quem essa diaba está falando? — sussurro para mim mesmo.
— Não, não vi nada demais. O pai dele parece ser legal. Não posso dizer
o mesmo da mãe e a mulher nem parece estar doente. — Ouço o barulho de água
e deduzo que esteja lavando as mãos. — Fica tranquilo. Ninguém está
desconfiando de nada. Deixe-me ir ou podem estranhar a minha demora. Beijos!
Mais tarde a gente se vê.
Balanço a cabeça indignado. Essa pilantra está escondendo alguma coisa.
Eu sabia, Gabriela nunca me enganou.
A porta se abre e estou ali com braços cruzados. Olho bem para a seu
rosto. Gabriela se assusta comigo e arregala os olhos.
— Quem é Eric? — questiono, olhando bem dentro de seus olhos.
Gabriela coça a ponta do nariz.
— Eric? Que Eric? — Sinto seu nervosismo e adoro vê-la assim,
encurralada.
— Você não me engana. Agora, me diga quem é Eric — exijo.
— É o meu primo?
— Está me perguntando?
Ela sacode a cabeça para o lado.
— Não, quer dizer, tenho um primo chamado Eric.
Aproximo-me do seu corpo e seu aroma me invade. Ela dá um passo para
trás e estamos quase dentro do banheiro.
Pego seu pingente com a ponta dos dedos.
— Existe algum motivo para estar usando isso? — pergunto de repente.
Gabriela olha para baixo, onde estou tocando. Meus dedos encostam-se
no seu pescoço e percebo o arrepiar de sua pele.
— Foi um presente do meu irmão — responde quase num sussurro.
Sem perceber, estamos nos encarando. Uma força maior faz meu corpo
se colar ao seu. Tudo acontece repentinamente, sou incapaz de me parar. Não
tem como descrever, mas quando dou por mim, estou dentro do banheiro
fechando a porta e beijando-a. Gabriela suspira e nossa respiração se mistura.
Devoro a sua boca e sentir seu gosto faz meu sangue correr com toda a
velocidade em minhas veias.
Alguém bate na porta e pulamos. Olhamos para a mesma direção.
— Gabriela? Você está bem? — A voz de Charles soa por detrás da porta.
Ela tampa a boca e sua mão está trêmula. Então engole a seco.
— Sim, estou saindo. Minha mãe ligou e precisei atendê-la — grita de
volta.
A encaro com cara amarrada e ela me olha zangada.
— Tudo bem! Estou te esperando lá fora. O Almoço será servido — diz e
ouço seus passos.
Gabriela me dá um tapa no braço.
— O que pensa estar fazendo, seu louco? — grita sussurrando.
— Eu que te pergunto isso — rosno bem perto de seu rosto. — Você é
uma mentirosa e vou te desmascarar.
— Não sei sobre o que está falando.
— Sim, sabe. — Dou um passo para trás e saio de seu caminho. —
Agora vá para o seu namorado.
Ela parece querer dizer alguma coisa, mas desiste. Passa por mim e
percebo quando para perto da porta ainda fechada.
— Você nunca mais encosta em mim ou juro gritar e dizer para todos que
anda me perseguindo por aí.
Ela não me conhece. Dou uma risada e me viro. Gabriela está de costas
para mim.
— Melhor você não travar uma briga comigo ou pode se arrepender. —
Aproximo-me dela e baixo minha boca até sua orelha. — Tente fazer alguma
coisa e vai ver do que sou capaz — rosno e me afasto, pois estar perto demais
me deixa perturbado.
Ela não diz nada, abre a porta, sai e a bate com força.
Volto a trancar a porta. Preciso de um tempo antes de voltar, afinal não
posso sair agora, afinal qualquer um pode notar minha excitação e isso, no
mínimo seria constrangedor.
Aproximo-me da pia e me olho no espelho.
— Essa diaba me paga! — exclamo para o meu reflexo.
No momento, a minha raiva é por mim mesmo, pois a detesto com todas
as forças, essa ordinária não vale nada. Entretanto, meu corpo parece pensar o
contrário e querer possuir cada pedaço dela.
Está cada vez mais difícil, resistir a essa diaba.
Capítulo Sete

Gabriela
N ão vejo a hora de ir embora, além de ter um monte de gente esnobe, tenho
que lidar com esse cretino do Nicolas. Como pode agir dessa forma? Sair me
beijando daquele jeito. Caramba o Charles é amigo dele, foram criados juntos e
são próximos, palavras do namorado do Eric, agora já não sei de mais nada.
— Fiquei preocupado com sua demora. — Não havia percebido a
presença de Charles ao meu lado.
Tudo isso é culpa do Nicolas.
— O Eric me ligou para saber se estava tudo bem.
— Gabriela, cuidado ao atender o telefone alguém pode te ouvir e
colocar tudo a perder.
O Charles está começando a me irritar com esse jeito dele.
— Eu sempre tomo cuidado — comento, embora Nicolas tenha ouvido
parte da minha conversa.
Prefiro não dizer nada sobre o seu amigo, não quero criar confusão, de
confusa basta eu com toda essa história de fingir ser namorada de Charles. Às
vezes alguma coisa dentro de mim diz para sair dessa furada, então penso em
Eric e no quanto ele conta comigo, e preciso também saber a verdade sobre
Charles, saber se ele é um bom homem para o meu amigo.
Ele sorri e aperta meu ombro.
— Então vamos almoçar. — Ele olha em volta como se estivesse
procurando alguém. — Não vejo o Nicolas, você o viu em algum lugar? —
pergunta.
— Não — minto novamente. Minha vida agora é viver mentindo.
A tarde avança e a mãe do Charles se mostra uma verdadeira peste de tão
presunçosa, ela trata o Charles como criança, já seu pai parece ser uma ótima
pessoa e o noto observando todos os passos de seu filho.
Quanto aos pais de Nicolas são pessoas maravilhosas, seu pai é filho de
gregos, e eles procuram seguir algumas tradições gregas, gostaria de saber mais
sobre eles, porém quando Nicolas se aproxima não pergunto nada ou ele pensaria
que eu queria saber mais da vida dele e isso não é verdade, pois eu sempre me
interessei por qualquer assunto relacionado à Grécia.
Justamente por isso meu irmão me presenteou com um cordão e pingente
com essa letra. Pois o pingente, segundo ele, diz muito sobre mim.
Na hora do bolo o pai de Charles faz um discurso agradecendo a todos os
presentes, porém, ele fala com todo carinho de Nicolas, dizendo que seu afilhado
é um grande homem e se foi capaz de fazer essa reunião agradeceria não
somente aos seus amigos, mas principalmente ao Nicolas.
Não entendi o significado de suas palavras, mas é perceptível o quanto
ele gosta do Nicolas.
Charles está ao meu lado e me viro, noto seu olhar cravado em Nicolas, e
posso afirmar com certeza, não é um olhar de admiração. Alguma coisa acontece
ali e ele parece não apoiar a amizade dos dois.
— Seu pai parece emocionado — digo para puxar assunto.
— Sim, ele sempre fica assim quando fala do queridinho dele —
comenta e dá um grande gole em sua bebida.
— O queridinho dele? — pergunto e solto uma risada. — Charles você
fala como se estivesse com ciúmes.
Ele me olha e vejo um brilho maldoso em seus olhos.
— Não é ciúme, mas o Nicolas teve muita sorte na vida e todos o tratam
como se ele fosse um rei, um homem perfeito.
Eu não gosto do Nicolas, mas não aprovo o modo como Charles o
despreza, sinto uma necessidade de defendê-lo.
— Charles, o pouco que sei, o Nicolas trabalhou duro para chegar aonde
chegou, não é mesmo?
Charles ri em deboche.
— Gabriela, você não sabe de nada, está conhecendo o Nicolas agora e
ele não é isso tudo que dizem, eu o conheço desde criança e agora sou obrigado
a trabalhar com ele.
— Se não gosta de trabalhar com ele por que não procura outro emprego,
ou trabalha com seu pai? — questiono sem tirar meus olhos dele.
— Isso não é assunto seu. — Sua resposta é grosseira.
— Você está certo, não é assunto meu, então neste caso pare de se
lamentar comigo — assevero com raiva.
O Charles está muito equivocado, ele não pode falar comigo com
grosseria, não dou essas liberdades. Não estou aqui para ser capacho de
ninguém.
Ele percebe minha postura, demonstro não ter gostado nada de sua forma
de falar comigo, então me olha e dá um sorriso falso.
— Desculpe, acho que estou de mau humor e acabei descontando em
você.
— Charles, meu querido, você pode vir aqui um minuto? — Sua mãe o
chama. Ele pede licença e se afasta para ir até ela.
— Babaca! — murmuro comigo mesma.
Ouço meu telefone tocar e torço para não ser o Eric, não quero ser pega
novamente, olho no visor e vejo a foto da Mel e atendo logo de imediato.
— Onde você está? — pergunta logo após que a cumprimento.
Olho para os lados e caminho até um banco e me sento.
— Estou no aniversário do pai de Charles — conto desanimada.
— Por que tenho a impressão de não estar satisfeita?
— Simples. Porque eu não estou nada satisfeita aqui. Tudo é um saco,
tirando meia dúzia de gato pingado, o povo aqui é esnobe e parecem pisar em
ovos.
— Ainda não entendo por que você entrou nessa furada — comenta e
ouço que respira forte. — Você está sozinha nesse momento?
— Sim, estou afastada das pessoas.
— Gabi, seja franca. O que você acha do Charles?
Penso em sua pergunta por alguns segundos.
— No início ele parecia ser legal.
— O que você quer dizer com isso?
— Mel, de repente eu esteja enganada. Ele parece esconder alguma coisa,
mas pretendo descobrir.
— Você acha que ele pode vir a saber da verdadeira condição financeira
do Eric?
O que Mel diz me levanta essa questão, quase ninguém sabe, mas Eric é
herdeiro de uma fortuna, ele não gosta de falar sobre o assunto e vive como se
isso não existisse em sua vida. Por isso eu acredito que ele não tenha comentado
com Charles. Meu amigo até pode estar apaixonado, mas ele não revelaria isso,
Eric é esperto.
— Não acredito nisso, ou Eric teria comentado alguma coisa comigo.
— De qualquer forma cuidado, sabe como as pessoas ficam quando se
trata de dinheiro, elas mudam.
Eu rio e olho para o quintal a minha frente, as pessoas aqui parecem dar
muito valor ao dinheiro, sei bem do que Mel está falando.
— Pode ficar tranquila — falo —, por que você ligou?
— Vamos visitar a Vicky essa semana? Preciso estar com vocês —
confessa e sinto sua voz entristecida, Mel perdeu sua mãe há pouco tempo e me
dói saber sobre o quanto sofre.
Não suporto ver as pessoas ao meu redor sofrer tanto.
— Claro, vamos sim. Temos muito para fofocar e quero saber dessa
história de que você vai embora.
Escuto sua risada.
— Vou contar tudo, prometo.
Combinamos de nos encontrar e desligamos, torço tanto para minha
amiga encontrar a felicidade, a menina vive passando por provações, me
pergunto se ela se afastar vai ser realmente o melhor.
— Você é uma pessoa muito popular. — A voz do Nicolas chega até mim
me surpreendendo.
Caramba de onde esse homem sai que aparece do nada?
— Você continua me perseguindo, é inacreditável — resmungo sem olhar
para ele.
Noto sua proximidade e ele para bem na minha frente. Como estou
sentada, meus olhos ficam na direção de sua virilha. Meus Deuses! O homem
parece ter uma bela ferramenta.
Sua risada seca invade o ambiente.
— É isso mesmo? Você está encarando minhas partes?
Puta merda! Fui pega.
Olho para cima e ele me encara, ele tem um aspecto tão masculino, seus
olhos escuros me espreitam, Nicolas tem esse ar de homem severo e sua barba o
faz parecer ainda mais austero, porém toda essa pose faz dele um homem
incomum, além de lindo é muito charmoso. E sempre que pouso meu olhar nele,
meu coração pula de excitação.
Ele mexe muito comigo e sinto-me incapaz de raciocinar com clareza
diante a sua presença.
— O que você quer agora? — pergunto tentando disfarçar meu
nervosismo.
— Estava falando com o Eric? Ou era algum outro homem?
Meu olhar deve estar transmitindo minha raiva.
— Não é da sua conta.
— Tenho pena do Charles por estar se relacionando com uma biscate
como você.
Eu me levanto, e tento me impor, mesmo ele sendo tão alto. O encaro e
ponho as mãos na cintura.
— É melhor você retirar o que disse — rosno.
Ele baixa a cabeça e ficamos cara a cara.
— Não vou retirar, pois eu disse a verdade.
— Você é um escroto de merda — esbravejo.
— Não sou eu que fica aos beijos com outro enquanto tem um namorado
esperando, ou ainda fica marcando encontro com homens aleatórios.
— Você não sabe nada sobre a minha vida para falar desta maneira.
— Vi o suficiente para compreender o tipo de mulher que é — repreende
com voz grossa.
Eu o encaro, minha vontade é de socar a cara desse prepotente.
— Não sou eu que fica atrás da namorada do amigo e a agarrando. —
Jogo de volta, pois aos seus olhos posso até estar errada, mas ele sempre está
vindo atrás de mim.
— O que? Vai dizer agora que eu estou te atormentando e te beijando a
força? — Ele traz uma de suas mãos até meu rosto e o acaricia com a ponta dos
dedos, perco o rumo da minha respiração, Nicolas me olha com gana. — Por que
você me beijou naquele bar? E não adianta mentir, eu sei que foi você.
Cruzo os braços tentando me afastar dele, mas é impossível com o banco
me impedindo.
— Naquele dia eu estava brigada com o Charles — invento e olho
através de seus ombros. Vejo Charles vindo em nossa direção, mas ele fala ao
telefone. — Melhor você se afastar, o Charles está vindo.
Ele dá um passo para trás e continua me encarando.
— Você está mentindo. E vou descobrir tudo sobre você, eu juro —
murmura com raiva em sua voz.
— Oi Nicolas, bom te ver por aqui, minha mãe me chamou e precisei
deixar a Gabriela sozinha — Charles comenta ao chegar perto.
— Sim, percebi o quanto estava solitária — fala e noto seu deboche. —
Então decidi vir conversar um pouco — Nicolas completa muito sério. O homem
não dá um sorriso.
— Pensei que você fosse trazer a Luiza — Charles fala já parado ao meu
lado.
Nicolas olha para ele.
— E por que pensou isso?
— Ao vê-los juntos no jantar deduzi estarem num relacionamento.
— Pensou errado. Ela é apenas uma amiga.
Não me seguro e deixo escapar um riso de escárnio. Tanto Nicolas
quanto Charles me analisam e eu disfarço.
— O que foi? — pergunto afetada.
— Nada — responde Charles desconfiado.
Nicolas me observa e eleva uma sobrancelha me desafiando a dizer
alguma coisa. Viro-me para Charles e forço um sorriso.
— Preciso ir embora, começo a sentir uma dor de cabeça.
— Eu te levo, deixa só eu fazer uma coisa para mamãe, me espera e já
volto.
Ele se afasta me deixando novamente sozinha com aquele cretino.
— Por que você riu?
Eu bufo, estou cansada desse homem me enchendo o saco.
— Você pergunta demais — reclamo.
— E você foge das maiorias das perguntas. Agora me responda: Por que
você riu?
Eu o encaro.
— Porque você é um hipócrita da porra. Fala de mim, mas também vai
atrás de outra enquanto está acompanhado, e pior, não assume e fica inventando
historinha de que é apenas uma amiga. — Estou explodindo de raiva. — E quer
saber, estou cheia de você e de seus ataques de merda.
— Você tem uma boca muito suja.
Levanto o queixo e ponho as mãos na cintura o provocando.
— Problema é meu, agora vai querer me ensinar a ter educação?
Nicolas tem a sombra de um sorriso no rosto e o vejo morder seu lábio
inferior, o homem é sexy, e perigoso para minha sanidade mental.
Então ele dá um passo à frente e fica bem perto de mim.
— Na verdade eu poderia muito bem te ensinar uma ou outra coisa, e se
você fosse... minha — diz e seus olhos viajam por meu corpo e volta a me fitar
como se tivesse brasa em seu olhar. — Eu teria um grande prazer de ocupar essa
sua boca atrevida cada vez que falasse um palavrão.
Ele me deixa sem reação e sem esperar por alguma resposta se vira e
caminha para longe de mim.
Meu coração bate com força e sinto meu corpo queimar diante de suas
palavras. Sento-me no banco e o observo, até o jeito dele andar transmite certa
autoridade.
— Meus Deuses! Preciso manter distância desse homem.
Alguns minutos depois Charles volta e nos despedimos de todos, não
vejo o Nicolas em nenhum lugar e me pergunto onde poderia estar.
Charles me deixa na porta de casa e como Eric não está, diz que vai
passar na boate para falar com ele, estou muito cansada e aproveito minha folga
para tomar um longo banho e dormir.
Depois de comer alguma coisa me deito e fico pensando no dia de hoje.
Nicolas me vem à cabeça, e nossa última conversa me deixou muito inquieta,
suas palavras me atingiram e a forma como falou, com aquela voz rouca e tão
perto do meu rosto fez todo o meu corpo se incendiar.
— Que raiva desse cretino! — resmungo para o quarto silencioso.
Lembro-me do nosso beijo e abraço o travesseiro. — E por que tem que beijar
tão gostoso? — Sento jogando o travesseiro para o lado e abraço meus joelhos.
— Gabriela você está ferrada, esse homem nitidamente te odeia e quer brincar
com você. — Respiro fundo fechando os olhos. — Preciso ter cuidado, pois
corro um grande risco de me apaixonar por esse cretino dos infernos.
Deito-me novamente e fecho os olhos. Preciso dormir, amanhã será um
novo dia, e com um pouco de sorte não verei mais o Nicolas, afinal não há razão
para nos encontrarmos novamente.
Assim é melhor, ao menos tento acreditar nisso.
Capítulo Oito

Gabriela
É uma linda tarde de primavera e estamos conversando animadamente no
jardim da casa da Vicky. Minha amiga parece muito feliz, o casamento fez muito
bem a ela. No inicio quando soube que se casaria, cheguei a me preocupar, pois
Vicky ainda é muito nova, mas ao vê-la com Alano, agora seu marido, não tive
mais nenhuma duvida, eles nasceram uma para o outro. E até mesmo eu, que não
acredito em conto de fadas, me rendi a esses dois.
Assim que Dora, a governanta, se afasta após nos servir um suco Vicky
volta a puxar assunto.
— E como é a família de Charles? — pergunta curiosa.
Estou sentada observando as flores do jardim e me volto para olhá-la.
— Só os vi uma única vez. O pai dele é bastante agradável, já a mãe...
não posso dizer o mesmo — confesso fingindo um estremecimento.
— Ela não está doente? — Mel questiona desconfiada.
Penso no assunto, e uma das razões para que Charles não se assuma para
a família é devido a doença da mãe, e ela não parece nada doente, ou ele
inventou isso, ou ela esconde muito bem seu problema.
Dou de ombros e bebo um gole de suco.
Olho para minhas amigas e elas me fitam com atenção.
— Não sei o que pensar de toda essa história.
— Eu não senti firmeza nesse Charles — confessa Mel de forma incerta.
— Eu ainda não o conheci, então não posso dizer nada, também sou
péssima em julgamentos — Vicky declara dando uma risada.
Nós três rimos juntas, pois a Vicky sempre foi a mais ingênua, e com o
seu grande coração as pessoas tendiam a se aproveitar dela, esse foi um dos
motivos pelo qual fiquei receosa de seu casamento, mas no final tudo se
encaixou perfeitamente e Alano além de tratar minha amiga como uma rainha,
ainda a protege.
— Eu quero saber outra coisa — digo para mudar de assunto e encaro
Mel que me olha e sorri. — Você tem certeza que quer nos deixar?
Ela pega uma mecha de cabelo, o enrolando entre os dedos.
— Eu não vou abandonar vocês, mas eu preciso ir embora, e a cada dia
fico mais animada com essa perspectiva.
Vicky está sentada ao seu lado, põe a mão em seu ombro e dá um leve
aperto.
— Eu te entendo Mel, e o ar da fazenda vai te fazer bem, afinal você
desde criança é um pouco selvagem.
Ela solta uma risada triste, provavelmente lembrando de suas aventuras
com Igor, seu irmão gêmeo, que morreu ainda na adolescência.
Então ela olha para Vicky e finge uma cara zangada.
— Como você, minha amiga diz isso? Chama-me de selvagem?
— Imagina! Mel selvagem? Só porque ela subia em árvores e pulava o
muro de casa só para brincar ou ir até a escola de músicas ficar espiando? —
argumento dando risada.
Ela me olha assombrada.
— Olha quem fala, a garota que vivia se metendo em brigas e socando os
garotos — rebate lembrando dos meus tempos de indisciplinada.
— Eu não sei qual de vocês duas era a pior — admite Vicky pensativa.
Eu e Mel nos encaramos e começamos a rir, era verdade, das quatro
amigas eu e Mel éramos as mais indomáveis, confesso que ainda hoje sou um
pouco arredia, mas nada como no meu tempo de criança e adolescência, agora eu
posso controlar mais meu temperamento.
— Não acredito, vocês começaram a diversão antes de eu chegar!
Olhamos as três na mesma direção, Karen está com as mãos na cintura e
nos encara dissimulando uma expressão de indignação.
Ela não engana ninguém, a Karen é meiga desde a pontinha do pé até o
fio de cabelo, é o tipo de pessoa que queremos estar por perto, pois passa uma
energia tão boa e sempre tem uma palavra para levantar nosso astral.
Vicky se levanta e vai até ela.
— Já me perguntava por onde você andava — fala enquanto a abraça.
Todas vamos cumprimentá-la, agora nosso quarteto está completo e
podemos ter nossa tarde de diversão.
Não percebemos a hora passar e a tarde vira noite. E quando vamos
embora já passa das 22h.
Em casa encontro Eric tomando vinho, ele está elegantemente sentado
com as pernas cruzadas, e usa outro de seus penhores, um da cor dourado que
com a iluminação da sala chega doer nossa vista.
— Eric, você não sente dor de cabeça? — pergunto enquanto fecho a
porta.
— Por que a pergunta, minha linda?
— Esse penhoar, parece sair luzes dele.
Ele olha para sua vestimenta e sorri.
— Lindo, não é? Comprei um da cor prata também.
— Sério? — indago espantada, meu amigo tem uns gostos peculiares.
— Sim, você sabe que em se tratando de penhoar eu nunca brinco —
confessa e sorri afetado antes de tomar um gole de vinho, então me olha. —
Venha, sente-se comigo e tome um vinho.
— Prefiro beber água, espera que já volto, preciso tomar um banho.
Jogo um beijinho e vou pegar meu pijama. Tomo um longo banho e
depois de me vestir vou para a sala e sento-me ao seu lado.
— Diz, como está Vicky? Ainda sente muita dor de cabeça?
— Não, ela disse que está melhorando gradativamente — digo me
recostando e fechando os olhos. — Ela nos convidou para o natal.
— Eu não poderei ir. Preciso visitar a minha família e tenho questões
legais para resolver — fala desanimado.
— Eu ainda não decidi, pois não quero deixar minha mãe triste, será o
primeiro natal sem o Diego perto de nós.
— É mesmo, talvez seja melhor você passar com sua família e quem sabe
no dia seguinte você possa ir para a casa da Vicky?
Já havia pensado nessa alternativa.
— Charles não vem hoje? — pergunto.
— Parece que houve algum problema na empresa e o chato do chefe dele
exigiu a presença de todos os gerentes até resolver tudo — Eric diz enraivecido,
abro os olhos e o encaro, sua fisionomia é de quem não está nada satisfeito. —
Estou começando a ter raiva desse tal Nicolas, Charles me contou o quanto ele é
um idiota.
Levanto-me e vou até a janela, Charles não tem o direito de ficar falando
mal do Nicolas. Tudo bem, ele é um imbecil em alguns momentos, mas o cara
não é somente seu chefe, é seu amigo.
Além disso, o Nicolas parece ser um homem correto, com certeza não
pediria uma coisa dessas de propósito.
— Mas isso pode acontecer, o marido da Vicky, por exemplo, ele às
vezes chega tarde devido algum imprevisto — argumento tentando de alguma
maneira defender o Nicolas, embora ele não mereça nenhuma lealdade minha.
— Minha querida, o Charles disse que esse Nicolas é um soberbo, ele
gosta de estar sempre no comando e mostrando quem manda em tudo.
Olho para a rua e respiro tentando controlar minha raiva.
Sim, Nicolas até é arrogante, um líder nato, mas ele não é um homem
exibicionista, tenho certeza.
— Talvez Charles esteja exagerando.
— Você conheceu o cara, Charles me contou o quanto Nicolas foi muito
frio com você.
Frio? Comigo ele está longe de ser frio! Se ele soubesse.
Viro-me e noto Eric me observando, então sorrio.
— Charles está enganado, seu chefe me tratou normal, além disso não
temos nenhuma intimidade para me tratar de outra forma — afirmo e caminho
até Eric, me abaixo e beijo sua testa para então me afastar. — Agora vou dormir,
estou caindo de sono.
— Você não contou como foi hoje com as meninas. Quero saber se a
Vicky contou alguma coisa.
Viro-me para ele e o olho.
— Contou sobre o que?
Ele revira os olhos.
— Cacete, quero saber se ela contou como é fazer sexo com aquele
gostoso do marido dela — diz e põe a mão no coração e fecha os olhos. —
Aquele marido da Vicky é um pedaço e tem uma cara de quem fode gostoso.
Amarro a cara e volto até onde está Eric e dou um tapa em sua cabeça,
ele dá um grito e arregala os olhos.
— Toma vergonha, você está cobiçando o marido da nossa amiga?
— Claro que não garota, e eu já falei com a Vicky que o marido dela é
um gostoso. Nada me impede de imaginar.
— Até onde sei você é apaixonado por Charles — assevero, mas no
fundo quero rir.
— Eu sou apaixonado pelo Charles, mas não cego para os outros homens
— cochicha como se tivesse outra pessoa na sala.
— Eric, você é doente — digo e volto a caminhar para o quarto.
— Não querida, sou realista. — Escuto ele falar.
Meu amigo resmunga alguma coisa, mas não ouço. No fundo sei que Eric
faz esses comentários para nos chocar. Deito-me ainda rindo dele, lembro-me de
seu comentário sobre o Nicolas e fico incomodada.
Eu não tenho nada a ver com isso, nada relacionado à Nicolas me diz
respeito, porém fico indignada em saber que Charles o deprecia desta maneira.

Os dias passam rápido e Charles comunica que não será preciso eu


comparecer na festa de final de ano da empresa, pois esta será celebrada em São
Paulo, me sinto aliviada e ao mesmo tempo desgostosa. Por mais que tente
negar, gostaria de ver Nicolas, nem que fosse uma última vez.

A véspera de natal passei com meus pais, porém como eles irão viajar no
dia seguinte e sairão bem cedo, apenas ceamos antes do horário, minha mãe não
parava de chorar por causa do Diego, também sentia falta do meu irmão, ele é
um grande homem e torço muito por ele.
Depois de me despedi dos meus pais sigo para a casa da Vicky e nosso
natal é muito animado, pena Eric não poder estar conosco, faltou ele. Tudo ficou
praticamente perfeito, mas para Mel foi muito difícil, este é o primeiro natal sem
sua mãe. Fazemos de tudo para animá-la e Karen com sua capacidade de fazer
qualquer pessoa se sentir bem, consegue fazer com que nossa amiga se solte
mais e curta a noite.
Vicky também está nas nuvens, e não era para menos, é explícito o
quanto Alano faz de tudo para agradar minha amiga, e o quão apaixonado ele é
por ela.
Estou os assistindo, quando Mel chega perto de mim e os observa junto
comigo.
— Quem diria, Vicky a mais tímida de nós se casou primeiro, a danada
nos passou a perna? — comenta e me olha.
Eu me viro para ela e sorrio.
— Também pensei nisso — confesso. Mel fica reflexiva de repente então
toco seu braço chamando sua atenção e ela me olha. — E você está animada com
a mudança de vida?
Ela sorri.
— Estou muito ansiosa na verdade, vai ser tudo muito novo para mim e
dá aquele frio na barriga, não vou mentir.
— A Vicky contou que se preocupa muito com você por causa do tal
Felipe, irmão do Alano — confidencio prestando atenção a nossa volta para
ninguém nos ouvir.
Mel solta uma risada.
— Não estou preocupada com esse cara, no mínimo é um desses homens
insolentes que se acham.
— Pelo que ela disse, ele é o tipo do cara muito grosseiro, foram
exatamente essas suas palavras — alerto, afinal Vicky aparentava estar muito
apreensiva.
Mel balança a cabeça e me olha com seriedade.
— Vocês se preocupam a toa, e você me conhece Gabi, eu não vou
permitir um bruto pervertido me tratar de forma rude ou desrespeito — admite e
baixa o tom de voz. — Nesse aspecto somos bem parecidas, se ele vier com duas
pedras na mão, eu revido com quatro.
Começo a rir imaginando o que pode acontecer. Apenas espero que a
Vicky esteja exagerando quanto à personalidade do irmão malvado do Alano.
— Torço pela preocupação da Vicky ser em vão — digo esperançosa.
— Deve ser, e eu não vou tratar sobre nada com ele, tudo está sendo
cuidado pela Abigail, sua irmã.
Mel transmite muita tranquilidade, e não noto nenhuma preocupação de
sua parte.
— Você está certa, não adianta ficar se preocupando — comento e olho
em volta. — Não vejo a Karen, ela sumiu.
— Ela está no escritório do Alano, foi ligar para seus amigos de equipe
— revela.
Vejo Vicky se aproximando com um sorriso brilhante.
— Estou tão feliz de tê-las aqui em casa — admite animada.
— Eu agradeço pelo convite, acho que é o primeiro natal que passo longe
dos meus pais — falo também sorrindo.
— Eu me sinto muito grata, não sei o que faria se não viesse para cá —
Mel desabafa.
Olho para ela e sorrio.
— Nós jamais a deixaríamos Mel, e mesmo que não houvesse a
comemoração aqui na Vicky daríamos um jeito de estarmos juntas.
Ela me olha e nos abraça ao mesmo tempo.
— Eu amo vocês! — exclama emocionada.
Alguém tromba na gente nos enlaçando também, percebo ser a Karen.
— Faltou eu nesse abraço — diz de forma vibrante e nos abraçamos as
quatro.
Sinto uma grande emoção ao estar aqui com minhas amigas, somos mais
que irmãs, somos uma equipe. Nossa amizade nos dar força para encarar todos
os obstáculos, e aconteça o que acontecer estaremos ali para segurar uma a mão
da outra. Para nos apoiar e torcer para tudo dar certo. Pois unidas seremos
capazes vencer.
Capítulo Nove

Nicolas
R ecebo uma ligação de Cassiano pedindo uma reunião comigo, porém deve
ser uma conversa particular e decidimos nos encontrar fora da empresa, já que
Charles pode aparecer e estranhar a presença de seu pai.
No horário de almoço vou ao seu encontro num restaurante longe da
agência.
Cassiano já me aguarda e quando o garçom nos deixa a sós, não perde
tempo, isso é algo admirável em meu padrinho, ele costuma ser direto e gosto
muito disso.
— Nicolas eu estou falido, meu afilhado — admite com expressão
desolada.
— Você está falando da agência de modelos?
Ele nega com cabeça.
— Não só a agência, mas estou a ponto de perder tudo e não sei mais
quais medidas tomar.
Remexo-me na cadeira, não sabia sobre a situação do meu padrinho, e
sua angustia é perceptível, e para estar aqui se abrindo, é porque a situação deve
ter chegado a um estágio deplorável.
— Quanto tempo você está ciente disso?
Ele parece envergonhado, e noto o quanto está abatido.
— Há muito tempo — confessa.
— E por que você só está me contando agora? Você sabe que eu te
ajudaria.
Cassiano suspira e passa uma das mãos pelo cabelo e então me encara.
— Sinto-me envergonhado essa é a verdade.
— Cassiano, eu te considero como um pai, você é meu padrinho e meu
amigo, não poderia jamais se sentir envergonhado comigo — pondero tentando
fazer com que ele entenda. — Eu não poderia imaginar você passando por esse
problema, você nunca demonstrou nada.
— Eu tentei dar meu jeito, cortando gastos e até pedi para Simone
segurar as pontas, mas você a conhece — esclarece cabisbaixo.
— O Charles está sabendo? — pergunto embora possivelmente ele não
tenha dito nada a Charles, pois eles têm um relacionamento difícil.
Ele ri seco e sem vontade.
— Você sabe que não posso contar com Charles, se não fosse por você,
meu filho provavelmente não estaria nem trabalhando, até acho injusto contigo e
com as pessoas que trabalham com ele.
O garçom se aproxima e deixa nossas bebidas. Penso no quanto Charles é
um ingrato, e eu só o mantenho na empresa por causa do Cassiano.
— Charles pode ser complicado, às vezes — comento não querendo
piorar o relacionamento deles.
— Complicado? Acho que está sendo muito condescendente em suas
palavras, você sabe a verdade Nicolas, meu filho é egocêntrico e comodista.
— Mas vamos dar crédito a ele, afinal está trabalhando e até o momento
não me causou nenhum problema na empresa, ao menos está fazendo o seu
melhor.
— Sim, talvez passar um tempo com você pode ter sido bom — diz
pensativo e sorri — eu tenho esperança de que ele seja um homem digno como
você.
Tomo um gole do suco e volto a fitá-lo.
— Vamos ao que interessa, conte-me tudo e vamos dar um jeito, eu
jamais deixarei meu padrinho desamparado.
Ele dá um sorriso.
— Não estou te contando isso me tirar do meu desespero, só quero uma
orientação, um rumo. Eu confio na sua inteligência, não é a toa que sua agência é
a número um no ramo da publicidade.
— Isso se deve a uma equipe sólida e capacitada, jamais conseguiria
chegar aonde cheguei sozinho.
— Verdade, mas sua competência para gerir é inquestionável.
Balanço a cabeça.
— Agora vamos ao ponto. Conte-me como chegou à conclusão de sua
falência.
Cassiano então abre sua pasta, pega alguns papéis e me entrega, logo
percebo se tratar de um relatório. O folheio enquanto ele começa a contar sobre
seus problemas, e constato que diante as circunstâncias sua situação é muito
difícil, certamente precisarei consultar alguém mais experiente, e já até tenho
uma pessoa em mente para nos ajudar.
Explico para ele o que pretendo fazer e Cassiano me dá carta branca, pois
sou a única pessoa de sua confiança. Com toda certeza farei de tudo para ajudá-
lo, não o decepcionarei, sua confiança não será em vão.
Por fim, durante o almoço, consigo tranquilizá-lo e na hora de ir embora
noto um Cassiano mais confiante.
Antes de voltar para o escritório dou uma passada no balcão que
alugamos para o preparo de um comercial de motos. Procuro sempre participar
de todos os processos, mas estar no comando de uma empresa toma muito o
tempo e na maioria das vezes devo lidar com questões mais burocráticas.
Quando chego ao local percebo toda a equipe bem engajada, é tanta
gente trabalhando em um comercial que quem vê de longe pensa estar
acontecendo algum evento, não podem imaginar o quanto de gente precisa para
realizar esse trabalho.
Tento não chamar atenção, e os funcionários já estão acostumados com
minha presença, pois vez ou outra apareço na finalização do trabalho.
— Nicolas, que bom ver você por aqui. — Soa uma voz feminina atrás
de mim.
Viro-me e vejo Daniela, a modelo do comercial e também minha ex-
namorada. Eu me aproximo e beijo seu rosto. Ela é uma mulher lindíssima e uma
pessoa admirável. Hoje a considero uma boa amiga.
— Você não deveria se surpreender, sabe que gosto de dar uma olhada
nas coisas — confirmo dando uma olhada a minha volta. — E você? Pensei que
estivesse na Europa, até me admirei quando fui informado de quem seria estrela
deste comercial — digo voltando a olhá-la.
Ela ri.
— Passei uma temporada na Europa, mas já estou de volta, e quando
meu agente falou sobre o convite para este trabalho não pude rejeitar.
— Fiquei muito feliz em saber que aceitou, estava disposto a fazer o
convite pessoalmente, caso viesse a negar.
— Quanta honra, o próprio Nicolas Karnezis me convidando para um
trabalho — diz pondo uma das mãos no peito e fazendo cara de espanto. — Se
soubesse não teria aceitado de imediato — caçoa e começa a rir.
— Você continua a mesma, sempre debochando de mim.
Ela para de rir e me olha.
— E você como está? Já perdeu esse coração para alguém?
Eu bufo.
— Eu? Perder o coração? Você deve estar louca.
— E qual o problema? Faz parte da vida e faz bem ter alguém para nos
acalentar.
Olho para ela e ergo uma das sobrancelhas.
— Começo a achar que você sim está com o coração tomado — retruco e
ela me dá um sorriso.
— E você acertou, estou apaixonada por um escocês.
— Você foi longe, um escocês?
— Pra você ver. O conheci na minha última temporada na Europa, no
próximo mês ele vem para o Brasil e estamos com planos de casar.
Daniela exala felicidade e vê-la assim me deixa muito contente, ela
merece ser feliz.
— Espero ser convidado para o casório.
— Pode deixar — ela olha na direção do camarim provisório. — Preciso
ir, vamos gravar outra rodada e a maquiadora me chama.
— Vamos jantar um dia desses e você me conta sobre esse escocês.
Ela se aproxima e beija meu rosto.
— Vamos sim, adoro falar sobre ele, e aproveitamos para pôr os assuntos
em dia.
Assim ela se afasta e eu a observo, mesmo apressada tem certa elegância.
Lembro-me do tempo do nosso namoro. O melhor que fiz foi terminar o
relacionamento, apesar de ser uma loira maravilhosa não fui capaz de me sentir
totalmente atraído, no entanto gostava de conversar com ela. Daniela é muito
inteligente e me sinto muito a vontade em sua presença, o fato de ser uma pessoa
despretensiosa mesmo sendo uma modelo de sucesso é surpreendente e difícil de
encontrar na minha linha de trabalho.
Fico ali um tempo observando a movimentação, minha diretora de arte se
aproxima perguntado se estou satisfeito, e respondo que somente após o
comercial finalizado poderei dar meu aval, mas deixo claro confiar em seu
trabalho.
Antes de partir falo com o pessoal e parabenizo-os pelo esforço de cada
um.
O trânsito está uma porcaria então pego outro atalho para chegar à
empresa. O sinal fecha e quando olho para o lado vejo a boate Sun and Moon, e
não tem como não se lembrar daquela diaba. Pois no jantar ao ser perguntada
onde trabalhava, informou que trabalhava ali com seu primo.
A Sun and Moon é uma das boates mais bem frequentadas do Estado,
tenho conhecimento de que alguns artistas já fizeram comemorações ali. Fico
imaginando o quanto a diabinha deve chamar atenção com aquele nariz
arrebitado e lábios grossos, isso sem contar seu cabelo negro que contrasta com
sua pele clara.
Ouço uma buzina e só então percebo o sinal aberto. Dou uma última
olhada para a boate e meto o pé no acelerador. Incrível como essa mulher
consegue tirar minha concentração, não vejo a hora de me ver livre dela, preciso
dar um jeito para Charles terminar esse namoro.

Trabalho até tarde da noite e vou para meu apartamento, preciso de um


banho e de alguma bebida para relaxar. No quarto tiro a camisa e vou para o
banheiro, lá me olho no espelho e baixando os olhos vejo o reflexo da tatuagem
em meu peito, a letra Pi , o mesmo símbolo do pingente que Gabriela usava.
[1]

Quando decidi fazer uma tatuagem queria de alguma forma homenagear


meus avós por parte de pai, eles são gregos, então optei por algo simples, mas
com representatividade, e a letra Pi sempre me chamou atenção por algum
motivo, agora mais do que nunca estou intrigado, terá essa letra algum
significado especial para ela também? E se sim, qual será o significado?
Talvez eu esteja cismado por nada, mas quando perguntei vi em seus
olhos um brilho diferente, um mistério. E não sei por que, mas sinto a
necessidade de desvendá-la.
Fecho os olhos e sacudo a cabeça para tentar tirar de meus pensamentos a
imagem dela, tenho muitas razões para não ficar obcecado por essa mulher, além
de achar que ela é uma enganadora, ela namora o Charles, devo aceitar esse fato.
Apesar de não termos nada em comum ele é como se fosse um irmão e eu não
sou o tipo de homem que fica de olho em mulher de outro.
Termino de tirar minha roupa e vou para o chuveiro, ligo a água que cai
fria em meu corpo.
Com olhos fechados encosto ambas as mãos no azulejo enquanto a água
passeia por meu corpo.
— Eu tenho que parar de pensar em você! — sussurro e nesse momento
sinto meu coração batendo forte se corroendo de agonia, chega a ser
desesperador e não estou sabendo lidar com esse sentimento tão forte. — Eu
preciso te esquecer diaba, eu tenho que te esquecer.
Quanto mais tento me convencer, mais ela invade minha mente, até
mesmo seu aroma é inesquecível, sua voz, sua boca. Eu quero possuir cada
pedacinho dela, é errado de todas as formas, mas minha ânsia toma conta de todo
o meu ser.
Como pode uma mulher daquele ter essa força sobre mim, a ponto de eu
querer socar o Charles só de pensar que ele a toca, a beija. Dou um soco na
parede, minha fúria só em imaginar tal coisa me deixa insano. E o pior de tudo,
ela não gosta do Charles, ou não me beijaria daquela maneira tão entregue.
Termino meu banho completamente apreensivo, era para eu estar
relaxado, mas apenas pensar em Gabriela me deixa em um estado elevado de
incertezas. Ela está fazendo com que eu me torne um homem vil.
Preciso beber alguma coisa forte, enrolado na toalha vou até o bar na
minha sala de estar e me sirvo de uma dose de uísque e o solvo tudo de uma vez.
O líquido queima minha garganta e eu estremeço. Não gosto de beber desta
maneira, mas por culpa daquela diaba vou acabar me tornando um alcoólatra.
Respiro fundo e deixo o copo ali mesmo, caminho até o sofá e me jogo
de qualquer maneira e fecho os olhos.
— Você não vai me dominar, antes que isso aconteça eu acabo com você,
sua diaba! — esbravejo antes de cair no sono.
Capítulo Dez

Nicolas
C armela entra na minha sala sustentando um sorriso maroto, já conheço essa
expressão, minha avó deve estar perturbando o juízo dela, pois ligou cedo e não
pude atender.
— O que foi agora? — indago de mal humor.
— Você já sabe, então não faça essa cara de desentendido.
Eu bufo e largo a caneta em cima da mesa.
Eu amo meus avós, mas para eles, principalmente para a minha avó, é
difícil entender quando estou ocupado. Ela simplesmente acha que devo deixar
tudo de lado para atendê-los. Ainda se fosse uma urgência eu entenderia, mas
nunca é.
— Ela está ao telefone? — pergunto olhando para minha secretária que
tem cara de riso.
— Não, mas vai ligar em um minuto e disse caso você não possa atender
e ela morrer para que não se sinta culpado.
Sacudo a cabeça, minha avó e seus dramas. É mais fácil eu morrer antes
dela.
O telefone começa a tocar e Carmela sorri.
— Deve ser ela, afinal deve ter dado o intervalo de um minuto —
resmungo.
Deixo que Carmela atenda e ela continua me encarando com expressão
de zombaria.
— Sim senhora Konstantina, ele vai atendê-la agora — ela fala e tampa a
boca para não rir, provavelmente minha avó disse algo engraçado. — Imagina,
eu entendo. Estou passando a ligação para ele agora.
Estendo a mão para pegar o fone e faço sinal para que ela saia. Carmela
pisca para mim e sai em seguida fechando a porta.
Suspiro e ponho o fone ao ouvido.
— Giagiá — ressoo com voz rouca. — Estou com saudades.
[2]

— Saudades? Pois não parece, afinal não procura mais por nós — chia
com seu sotaque acentuado.
Mesmo vivendo no Brasil há mais de quarenta anos, meus avós ainda
carregam na voz uma pronuncia peculiar que denunciam serem estrangeiros.
— Fui visitá-los tem menos de um mês, Giagiá.
— Que vergonha, você poderia vir toda a semana — reclama.
— Mas não tem como, a senhora sabe, estou trabalhando aqui no Rio
direto, mas prometo aparecer na próxima semana. Vou a São Paulo e a visitarei
— prometo para ver se ela se acalma um pouco. — E Pappoú , como está?
[3]

— Anda com aquelas dores nas costas e continua teimoso.


Viro a cadeira para ver a paisagem, já vi que a conversa será longa,
porém não posso fazer nada. Apesar de todo o drama eu adoro meus avós e
mesmo parecendo o contrário, gosto de conversar com eles.
No final da tarde o diretor financeiro pede uma reunião a sós comigo e
diz ser imprescindível que não comente com ninguém, nem mesmo para minha
secretária, fico intrigado com seu pedido, e pelo tom de sua voz o assunto é
muito sério. Então para não sermos incomodados peço à Carmela para ir até a
agência de Cassiano tratar sobre novos figurantes para a realização de um novo
projeto.
Quando me vejo sozinho envio uma mensagem para Ernesto pedindo
para vir até minha sala.
Sabendo que o aguardo ele nem mesmo bate a porta e antes de sentar-se
ele tranca. Com um maço de papéis nas mãos ele finalmente se acomoda na
cadeira a minha frente e me passa os papéis.
— Não tenho uma boa notícia para dar — admite e noto seu nervoso.
Pego os papéis sem entender o significado de suas palavras.
— Do que você está falando?
— Tem alguém nos roubando — solta e no mesmo momento me levanto
da cadeira o encarando.
— O que? — inquiro entre dentes.
— Calma, ficar irritado desta maneira não vai adiantar em nada.
— Então você me diz ter alguém nos roubando e quer que eu permaneça
calmo? — Me jogo na cadeira e analiso os papéis em minhas mãos. — Você tem
certeza disso? Como chegou a tal conclusão? E quem está roubando? — Faço
várias perguntas ao mesmo tempo.
— Vou tentar ser o mais claro possível e responder a todas as perguntas
— declara e solta um suspiro audível. — Bem, eu tenho certeza, antes era
somente uma desconfiança, mas agora, após analisar minuciosamente nosso
relatório não tenho mais dúvidas, e quanto a quem está fazendo isso não sei
ainda, nem desconfio — revela e nos olhamos. — A pessoa vem fazendo isso há
um tempo, mas ela não desvia muito, ela faz isso aos poucos e em diversas áreas.
— Não entendo, como assim?
— O nosso ladrão vem alterando os valores de alguns serviços, em
alguns o valor é tão insignificante que não levanta nenhuma suspeita. Ele vem
tirando dinheiro através de fornecedores, clientes e até mesmo de prestadores.
Não posso acreditar nisso, e o pior é a sensação de estar sendo traído da
pior maneira possível. Pois tenho absoluta certeza de que pago bem o meu
pessoal, acima do mercado até, minha empresa ainda oferece muitos benefícios
além de oportunidade de crescimento.
— Você desconfia de alguém?
Ele nega com a cabeça.
— A única coisa é que quem faz isso tem acesso a nossas contas e toda a
movimentação financeira, não é necessariamente uma pessoa com cargo de
confiança, ela pode muito bem de alguma forma ter burlado o sistema.
Estou com vontade de socar alguma coisa. Posso perdoar muita coisa,
mas quem está fazendo isso vai pagar.
— Temos que fazer com que esse infeliz pare.
— Sim, concordo, mas não podemos chamar atenção, essa pessoa não
pode perceber nada, ou pode dar um jeito de sumir com as provas.
Concentro-me no problema que tenho em minhas mãos e Ernesto fica em
silêncio aguardando por uma resposta minha.
Tudo isso é uma porcaria, e fico me perguntando quem pode ser esse
ordinário, não consigo pensar em ninguém, pois todos parecem de tanta
confiança. Mas pelo jeito me enganei, tenho em minha equipe um ladrão, e eu
preciso pegá-lo. Preciso não, eu vou pegá-lo e acabar com a vida dele, seja quem
for.
— Façamos o seguinte: não vamos falar nada sobre esse assunto, com
ninguém, mesmo com a pessoa que mais confiamos, e enquanto isso verei uma
maneira de investigar, vamos pegar esse miserável com a mão na botija —
anuncio conciso.
— Também penso assim, temos que agir por detrás dos panos, dar
confiança ao inimigo, ele certamente está se sentindo seguro e excesso de
confiança pode levá-lo a cometer um erro.
Dou um sorriso maldoso.
— Vamos dar corda para que se enforque.
Ernesto também ri e com certeza posso contar com ele, ele é meu diretor
financeiro por pura competência também por ter um caráter inquestionável. É
um bonachão e muita gente pensa que é alheio às coisas, porém as pessoas não
sabem tratar-se de uma jogada dele. No fundo nada passa despercebido aos seus
olhos. A prova está aqui na minha frente, afinal foi capaz de perceber o desvio
de dinheiro.
Ele ainda me apontou como chegou à conclusão do roubo e me passou
um relatório detalhado, segundo ele fez em seu notebook domestico para não
levantar suspeitas. Guardo os relatórios comigo a fim de leva-los para casa.
Combinamos de falar a partir de agora sobre assunto somente fora da empresa.
Mais tarde em casa analiso todas as suas anotações e não posso perder
muito tempo com coisas as quais não entendo, devo contatar algum profissional
que analise meu banco de dados e busque respostas, mas preciso agir com
cuidado.
Vou dormir tarde da noite morto de cansaço, mas sou um homem de
atitude, planejo todos os meus passos e já sei o que fazer para pegar esse
ordinário.

Os dias vão passando, e sempre que dá eu e Ernesto nos encontramos


fora do escritório, segundo ele ainda está havendo adulteração na movimentação
financeira, mas a pessoa continua roubando pouco. Uma pessoa de fora já
trabalha na investigação e acredito que logo teremos a resolução deste caso.
Termino uma ligação com minha mãe e Charles entra na minha sala.
— E aí cara, tudo bem? Tenho achado você um pouco tenso — diz
enquanto se senta.
Olho para ele.
— Muito trabalho, esses clientes do nada resolvem alterar a similaridade
do projeto, e cismam de falar comigo, mesmo eu afirmando ter um departamento
especifico para tratar sobre esses assuntos.
Charles solta uma gargalhada.
— Não queria estar no seu lugar, lidar com clientes pode se tornar um
saco.
— E é mesmo — digo e o olho, ele está mais animado que os outros dias.
— Você está com uma boa fisionomia.
— Deve ser o amor, esse sentimento faz isso, você deveria experimentar
— completa sorrindo e eu amarro a cara, não quero saber da vida amorosa dele,
ainda mais sabendo de quem ele fala.
— Estou fora — manifesto aborrecido.
— Você é meio arisco quando se trata de relacionamento, isso é porque
ainda não conheceu uma mulher que mexesse contigo.
Se ele soubesse que quem mexe comigo é a sua mulher. Com o rumo dos
meus pensamentos me viro para o computador e abro um e-mail qualquer.
— Mas o que te traz aqui? — Questiono.
— Meu pai te ligou?
— Não. Deveria?
— Tenho achado ele muito estranho, pensei que talvez você soubesse de
alguma coisa?
Ainda tinha o problema do Cassiano para resolver e com toda essa
história do desvio de dinheiro terminou eu não ligando para quem ficou de me
ajudar.
— Não. Ele não me disse nada, talvez seja cansaço ele reclamou de estar
trabalhando muito — conto uma meia verdade.
— Já falei, ele precisa é se aposentar.
— Ele não é o tipo de homem de ficar sem fazer nada.
— Engraçado como você o conhece muito melhor do que eu — Charles
comenta contrariado.
Eu finjo não perceber o descontentamento de sua voz.
— Não Charles, eu até tenho muito em comum com o Cassiano, além de
padrinho é meu amigo, mas se sei disso é porque ele vive comentando não
querer se aposentar.
Charles dá uma risada seca e se levanta.
— Bem estou indo embora, vou pegar Gabriela agora para passar a noite
fora, combinamos de ir para a serra — revela enquanto mexe em seu telefone. —
Vou indo cara, a gente se fala amanhã.
Não respondo nada. E bastou ele falar o nome dela para me irritar.
Espero ele sair e fechar a porta para dar um soco na mesa.
Levanto-me e não suporto ficar aqui trancado, preciso ir embora. Desligo
o meu computador, pego minha pasta e saio a passos largos.
— Estou indo, qualquer coisa me liga — aviso a Carmela e nem espero
por sua resposta.
No carro me desvio do meu caminho e quando vejo estou parado em
frente à boate, como ela vai viajar com Charles não virá trabalhar, e não sei por
que diabos vim parar aqui.
Decido estacionar e vou para um bar que fica em frente.
Algumas horas se passam e de repente olho para a entrada da boate e
algumas pessoas entram, provavelmente os funcionários, já que ainda é cedo e só
abrirá em um pouco mais de uma hora.
— Preciso ir embora — resmungo. Não consigo entender minha decisão
de ter ficado por aqui.
Chamo o garçom para fechar a conta, ele se afasta e quando olho em
direção à entrada da boate vejo aquela diaba do outro lado da rua, ela tem os
cabelos soltos e usa um jeans apertado que deixa sua bunda ainda mais
empinada. Ela entra sem perceber estar sendo vigiada.
Mas como? O Charles disse que havia combinado de pegá-la. Fico
intrigado. O garçom retorna com a conta e digo que decidi ficar mais um pouco,
então peço outra água, embora precisasse mesmo era beber uma coisa mais forte.
Permaneço ali, esperando a hora passar e nada de ver Charles e nem
Gabriela. Alguma coisa está errada nessa história, eu sabia.
Mais uma vez peço a conta e vou embora, e antes de partir olho para a
movimentação, e as pessoas começam a chegar para a noite. Respiro fundo e dou
partida no carro com a cabeça cheia. Por que o Charles mentiu? Não encontrava
resposta para esta pergunta.
Em casa tomo um banho e possivelmente não serei capaz de dormir, só
me resta buscar respostas e vou fazer isso já. Não quero dirigir então chamo por
um táxi e sigo para a boate, no caminho ligo para meu amigo, descobri há pouco
tempo que ele é dono da boate e isso pode vir a calhar. Consigo falar com ele,
então me informa para dar meu nome na entrada da boate, pois estará disponível
para mim uma pulseira da área vip.
Quando chego à boate, assim como ele disse está tudo organizado. Na
recepção tem uma moça sorridente e vou até ela.
— Boa noite — a cumprimento tentando ser educado. — Por acaso tem
aqui uma moça chamada Gabriela?
Ela sorri para mim.
— Sim, ela trabalha na área vip — diz e olha para meu pulso que tem a
pulseira de entrada. — Basta subir a escada à sua direita, provavelmente ela
deixou seu lugar reservado.
Eu a agradeço. Então a diaba trabalhava na vip? Não poderia ser melhor.
Olho a hora e são quase 2h da manhã. No entanto noto a animação do lugar.
Subo as escadas, um segurança me saúda e abre a porta para eu entrar. O
som aqui é bem mais baixo, enquanto na parte de baixo você fica quase surdo
com a altura da música.
Aqui o ambiente é bem mais intimista, e a maioria das mesas estão
tomadas. Chego a até a reconhece uma celebridade.
— O senhor deseja algo? — pergunta uma moça vestida de preto.
— Procuro por Gabriela.
Ela olha para frente como se estivesse tentando vê-la.
— A última vez que a vi ela estava indo na direção do toalete.
— E onde fica?
Ela aponta a sua frente.
— Está vendo aquela moça com roupa igual a minha? — questiona e
olho para onde ela mostra. — De frente a ela tem um corredor, no final tem uma
porta. Ali é o toalete.
Aceno e vou até lá, no tal corredor vejo a porta fechada e me aproximo.
Posso ouvir a voz da diaba e encosto o ouvido na porta para ouvir melhor.
— Caramba! E porque você está me ligando a essa hora? Como ficou
sabendo? — ela pergunta para alguém e percebo estar falando ao telefone. —
Ok, então devem estar dormindo.
Afasto-me e tenho vontade de revirar os olhos, não sou capaz de ouvir
mais nada e acredito que tenha terminado de falar. Aproveito e bato na porta
com força.
— Desculp... — ela para de falar quando abre totalmente a porta e me vê
a sua frente. — O que você está fazendo aqui? — pergunta de maneira rude.

— Eu quero saber a verdade sobre você Gabriela e é melhor me contar
desta vez, ou você se arrependerá — aviso com meu corpo quase colado ao dela
e a encarando.
— Não sei do que você está falando. E caso não saiba, estou no meu
trabalho, nem todos nascem em berço de ouro — repreende audaciosa.
Cristo! Ela é maravilhosa!
— E o seu namorado? Onde está? — interrogo querendo parar de
imaginá-la em meus braços.
— Está por aí — declara e sei estar mentindo.
— Seu namorado sabe que você anda beijando estranhos em bares?
Ela me encara e seus olhos marrons têm um brilho incomum.
— Já te expliquei, mesmo que não seja da sua conta. Naquela época,
estava brigada com ele.
— Então, da outra vez que você me beijou, também estava? — Dou um
passo para frente, fecho a porta e automaticamente ela anda para trás até que
para. — E agora? Você está brigada com ele?
Gabriela parece sem ar e olha para os meus lábios, ela sente a mesma
atração por mim, eu vejo isso em seus gestos, em seu olhar e na forma como sua
pele se arrepia com minha proximidade.
— A-Acho melhor você ir embora — sussurra sem deixar de olhar minha
boca. — Por favor, me deixe em paz — pede e fecha os olhos.
Nosso corpo está colado um no outro e o seu calor e seu cheiro chegam
até mim. O que essa mulher está fazendo comigo? Porque não consigo ficar
longe?
Levo minha mão até seu queixo e com carinho ergo sua cabeça, ela abre
os olhos e o seu desejo está refletido, certamente posso transmitir a ânsia que
sinto por ela. Esquadrinho seu rosto delicado e fico hipnotizado.
Baixo meu olhar até sua linda boca.
— Como posso te deixar em paz, Gabriela? Se você é a culpada por essa
agonia que tenho passado por todos esses dias — confesso com voz grossa e
rouca.
E sem falar mais nada tomo sua boca e devoro seus lábios, ela arfa em
minha boca e a agarro pela cintura, minha excitação pulsa e levo a outra mão até
a sua nuca e a seguro com delicadeza, querendo que essa diaba não saia nunca
dos meus braços, eu a quero para mim, e sou um homem condenado. Pois estou
cobiçando a mulher de outro homem.
Estou perdido, eu não tenha mais salvação.
Capítulo Onze

Gabriela
E m um momento estava animada falando com a Karen sobre a gravidez da
Vicky e no momento seguinte estou nos braços do Nicolas aos beijos, no toalete.
Posso sentir o calor de seu corpo emanando e atingindo minha pele. É uma força
muito maior que a razão. Eu tento, mas não sou capaz de me afastar dele.
Sua boca sorve a minha, e sua barba roça minha pele causando um
frenesi de sensações por todo o meu corpo. Meu coração bate descompassado
em meu peito, perco totalmente a percepção de tempo e espaço. É como se eu
estivesse em um universo paralelo, onde eu e Nicolas pudéssemos viver uma
história só nossa, uma história onde não há mentiras entre nós. Onde é possível
usufruir essa paixão que sentimos.
Porém, eu não posso me deixar arrastar por esse caminho.
Com muito custo o empurro e assim como eu sua respiração está agitada.
— Você enlouqueceu? — questiono e minha voz sai um tanto falha.
Ele me encara e está impactado.
Nicolas passa a mão por seu vasto cabelo castanho e posso ver o quanto
está abalado ao perceber o tremor em sua mão.
— Você é uma diaba — rosna fechando os olhos.
Ele respira fundo algumas vezes e volta a me encarar. Ponho uma das
mãos na cintura e com a outra mão aponto o dedo para ele.
— Você invade meu espaço, me agarra e a diaba sou eu?
Ele olha para o meu dedo e o segura no ar.
— Não me venha dar uma de ofendida, pois você correspondeu ao beijo.
— Sua voz sai tão afiada quanto uma lâmina.
Esse cara é mesmo um idiota, não sei como posso me sentir tão atraída.
Tento puxar minha mão, mas ele segura com muita força e não consigo
me ver livre.
— Me larga, seu imbecil! — exclamo procurando sair de seu agarre. O
homem não solta meu dedo e parece estar gostando da minha luta. — Merda, me
solta ou vou gritar. — esbravejo cheia de raiva.
— Grita, não estou nem aí.
Sua resposta me deixa ainda mais irada, então com toda energia puxo
minha mão, porém exagerei na força, pois ao escapar bato com tudo no mármore
da pia, sinto uma dor abominável.
— Puta que pariu! — Chio com os olhos em lágrimas e seguro minha
mão.
— Droga. — Ouço sua voz ao mesmo tempo em que pega minha mão
nas suas, seu toque é tão delicado, me sinto comovida. Nicolas examina minha
mão e então olho para seu rosto que carrega uma expressão preocupada. — Está
ficando com um hematoma — comenta, abre a bica e põe minha mão n’água. —
Está doendo muito? — pergunta me olhando.
Eu nego com a cabeça, me sinto fascinada por ele, ele me fita e vejo que
pela primeira vez não carrega antipatia.
— Não, está doendo só um pouco — respondo com voz baixa.
Ainda estamos nos olhando e então ele fecha a bica e leva minha mão
molhada até o meio de seu peito.
— Desculpa-me, eu não quis te machucar. — Ele é um idiota, eu sei, mas
também sei que diz a verdade, ele não é o tipo de homem que poderia agredir
uma mulher.
— Eu sei.
— Não sei o que me acontece quando estou contigo — confessa e olha
para onde nossa mão se encontra.
É visível o quanto parece arrependido.
— Olha, está tudo bem, só doeu na hora, mas tá passando — minto para
tentar deixá-lo mais sossegado.
Na verdade minha mão começa a latejar, porém de alguma forma o modo
como ele a segura faz parecer que a dor se encontra moderada.
Nicolas sacode a cabeça, se afasta e mais uma vez verifica minha mão.
Ele suspira forte.
— Está ficando roxo onde bateu, vou te levar ao médico.
— Não precisa, qualquer coisa eu fico roxa.
— Claro que precisa, e se quebrou alguma coisa?
Se não fosse sua aflição, provavelmente riria.
— Se eu tivesse quebrado com certeza estaria me contorcendo de dor.
Ele me olha com intensidade e chego a ficar sem ar.
— E xingando.
— O que? — indago sem entender o que ele diz.
Ele me contempla cabreiro e solta um suspiro.
— Você me confunde — declara pensativo.
Faço cara de deboche.
— E eu? O que digo de você? Não conheço pessoa mais complexa.
Alguém bate na porta me assustando.
— Gabi? Você está ai dentro? — Reconheço a voz da Mariana uma das
garçonetes que trabalha comigo.
— Sim, estou terminando uma ligação, algum problema?
— Não. Havia um homem a tua procura, mas não o vejo mais.
Eu e Nicolas nos olhamos e ele ergue apenas uma sobrancelha. Ele é um
charme, pena ser um imbecil.
— Tudo bem, de qualquer forma já estou indo — respondo sem tirar
meus olhos do dele.
— Okay.
— Acho melhor você parar de me perseguir nos banheiros.
— Eu não te persigo — retruca amarrando a cara.
— Engraçado, mas é o que parece.
— Não tenho culpa se só consigo te encontrar em um banheiro.
Eu reviro os olhos com sua resposta.
— De qualquer forma tenho que voltar ao trabalho e você dá um tempo
aqui antes de sair — digo puxando minha mão que ele insistia em segurar, porém
desta vez ele me deixa ir.
Ao perder seu contato sinto uma sensação de carência emocional, mas
afasto logo este sentimento.
— Eu ainda não acabei com você.
— Você está se tornando repetitivo — reclamo e dou um passo para o
lado na intenção de sair daqui.
Ele segura meu braço, seu aperto não é forte, mas é suficiente para eu
parar quando passo ao seu lado, então olho para cima, nossos olhos se encontram
e novamente aquele sentimento de arrebatamento me domina.
— Só me responde uma coisa — pede num sussurro. — Você é
apaixonada por Charles?
Sua pergunta me pega de surpresa e já não posso encará-lo.
— Isso não lhe diz respeito — sussurro olhando para baixo.
Não quero mentir para ele, não me importo de estar mentindo para os
outros, mas não sei por que me sinto péssimo por enganá-lo.
— Você foge da pergunta. Por que será? Basta ser franca comigo —
argumenta e percebo que sua voz está ainda mais rouca. — Para mim você está
escondendo alguma coisa e eu posso te afirma uma coisa — ele se aproxima e
sinto seu hálito em meu rosto, eu fecho os olhos para não cair em tentação. —
Eu vou descobrir o que você esconde e quando eu descobrir, você vai ver do que
sou capaz. — completa e finalmente solta meu braço.
Não olho para ele, nem respondo nada, saio desse banheiro o mais rápido
possível.
Ele está certo eu fujo, fujo pelo simples fato de não querer mentir para
ele. Tenho sentimentos contraditórios por Nicolas, então não sei quem ele é
realmente. Lembro-me de Eric contando sobre o chefe de Charles ser um
preconceituoso arrogante, até concordo com o arrogante, mas não consigo
enxergar o preconceituoso.
Não sei mais como agir, e minha vontade é acabar com essa farsa de
namoro. Mas preciso ajudar meu amigo e ele conta comigo. E com tudo isso
preciso ter certeza sobre quem é Charles de verdade, às vezes ele passa a ideia de
não corresponder ao amor do Eric e ainda estar escondendo alguma coisa, mas
em outros momentos ele parece sim, nutrir um amor pelo meu amigo.
Meus Deuses! Eu só quero poder acabar logo com essa confusão, e ficar
livre de tudo isso.
Encontro Mariana no salão e ela sorri para mim, vou até ela e pergunto
como estão as coisas e ela garante estar tudo sob controle e diz que Eric quer
falar comigo. Sorte hoje ele está dando uma ajuda no bar, pois faltou um dos
garçons, então não corri o risco de ser pega com Nicolas. Não saberia como me
comportar se ele nos visse juntos. Eric nunca viu Nicolas, mas conheço meu
amigo e iria me perturbar querendo saber quem era o homem em minha
companhia.
As horas passam e não vejo o Nicolas, deve ter ido embora sem ser visto
por ninguém. Quando o último cliente vip vai embora posso soltar o cabelo e
massagear meu pescoço, estou tão tensa que sinto todos os meus músculos
contraídos. Quando finalmente encontro com Eric ele parece cansado e se joga
em um dos sofás da nossa sala de descanso.
— Hoje foi punk — comenta.
— Na vip foi tranquilo, mas acredito que para você tenha sido terrível
mesmo — respondo me sentando numa cadeira.
— Mariana contou ter um homem a sua procura na vip.
Mariana linguaruda!
— Era só um cliente querendo saber da reserva. Você sabe da última
novidade? Vicky está grávida. — Mudo de assunto não querendo contar mais
mentiras por hoje.
Eric dá um pulo e me olha abismado.
— Caralho! Como você me diz isso assim? — questiona pondo a mão no
coração de forma dramática.
Ao menos ele esquece sobre o assunto anterior.
— E como você queria que te contasse?
— Como você soube disso? Está mesmo confirmado? Meu Deus! Não
posso crer. Minha bebê está grávida — despeja e se joga novamente no sofá.
Eu começo a rir.
— Eric? Você até parece a mãe da Vicky.
— Eu me sinto um pouco mãe dela, meu lado materno grita — afirma e
então me olha com um sorriso. — Meu lado materno é aflorado com vocês
quatro.
— Você é mais velho que nós apenas cinco anos, não exagera.
— E daí? Idade é o que menos importa. — Faz um gesto com a mão e
volta a fechar os olhos e sustenta um sorriso no rosto. — Gente, esse homem é
mesmo potente, já plantou a sementinha dele no cofrinho da Vickete.
Quando as meninas falam que o Eric não existe devo concordar com elas.
Fico olhando para ele perplexa. Ele vem com cada ideia sem cabimento, nem
posso imaginar de onde sai tanta criatividade. Só me resta rir. Em se tratando de
Eric tudo é possível.

No dia seguinte a tarde nos encontramos na casa da Vicky, Alano nos


recebe com um largo sorriso, é notável o quanto está feliz. O mesmo pode ser
visto na fisionomia de Vicky, seu contentamento é contagiante. Eric chega um
pouco mais tarde, e claro faz uma de suas piadas deixando Vicky envergonhada
e Alano todo orgulhoso.
Estamos nos divertindo e o telefone de Alano toca.
— Fala Felipe, meu irmão favorito — atende animado.
Vejo Eric cutucando Mel que está sentada ao meu lado.
— Olha, é o seu futuro chefe — cochicha.
Mel olha para ele zangada.
— Ele não vai ser meu chefe, quantas vezes preciso dizer isso? —
repreende falando muito baixo.
— Ele é o dono da fazenda, cacete! — Eric insiste.
— A escola é comandada por sua irmã, criatura do divino paraíso! —
sussurra.
— Parem vocês dois, ou Alano vai achar que estão falando dele — eu
soo também com voz baixa.
— O que acontece com vocês? — Karen pergunta num sopro.
Mel olha para ela, que está a nossa frente.
— O Eric e suas ideias.
— Não é ideia, o gostosão vai ser o chefe dela e ela não aceita —
murmura para Karen que faz uma cara de quem finalmente entendeu sobre qual
era o assunto.
— Ele não vai ser meu chefe, Eric. Eu nem mesmo terei contato com
esse grosseirão pervertido.
— Vai pensando, e para sua informação já estou ciente de tudo. Você vai
morar praticamente sob o mesmo teto dele.
— Eu desisto de tentar fazer você entender, bicha burra! — expressa já
sem paciência.
— Isso, me maltrata mesmo. Vou morrer de rir quando o grosseirão
pervertido começar a querer te mostrar a grossura dele — resmunga num
murmuro.
Alano já não está mais ao telefone e tanto ele quanto Vicky observam a
conversa de Eric e Mel. Eu, como estou entre os dois chamo a atenção deles.
Mel é a primeira a perceber e dá um sorriso amarelo. Eu e Karen temos vontade
gargalhar, mas nos seguramos.
— Algum problema com vocês? — Vicky que está sentada na perna do
Alano pergunta.
— Não, estava apenas discutindo um assunto sem importância com o
Eric — assegura Mel.
Eric olha para ela com cara de tédio e se volta para o casal.
— Imagina, nada de importante. Apenas rebatendo a teimosia da nossa
querida Mel.
— Eu que sou teimosa — resmunga a Mel.
Todos nós estamos com cara de riso, mas diante da cara de mau humor da
Mel ninguém se habilita a rir. Nem mesmo Eric o causador de tudo. Então, a
salvadora Karen pergunta sobre Daniel que está viajando com os pais de Alano e
o assunto da Mel e seu futuro “não” chefe é esquecido.

Dias depois Eric me informa que a empresa de Charles fará uma


confraternização, algo para comemorar um projeto finalizado, onde
comparecerão os diretores de uma empresa automobilística e todos os gerentes e
equipe que trabalharam diretamente ou não no processo de criação de um
comercial.
Para meu desespero, Charles, como amigo do Nicolas, deverá
comparecer e o convite se estende a sua pseudonamorada. Tento me esquivar,
mas Eric diz ser importante para Charles que eu vá. Então não me resta
alternativa. Atendendo ao pedido de Eric confirmo minha presença.
A ansiedade toma conta de mim, e não sou capaz de me concentrar,
quando penso não precisar mais ver o Nicolas vem a droga de uma
confraternização. Mal durmo pensando no meu encontro com ele. O que será que
vai acontecer? Ele tocará no assunto do nosso beijo? Aquele beijo inesquecível.
Como queria ser capaz de esquecê-lo, de não pensar mais nada referente ao
beijo. E para piorar minha situação, meu corpo se enche de excitação apenas em
lembrar-me desse homem maldito.
Meu coração parece parar de bater toda vez que penso nele, e isso está
cada vez mais ficando frequente. Me pego pensando em Nicolas nas horas mais
impróprias, qualquer coisa, por mais sem nexo, me remete a sua imagem.
Todos os dias quando me deito para dormir revivo cada encontro nosso, e
no meu íntimo meu desejo é que esses momentos nunca acabassem, pois no
fundo do meu coração anseio por ele, por seu toque e por seus beijos. Não ser
capaz de tê-lo me entristece a alma.
Sonhar eu posso. Reviver nossos poucos momentos, mesmo sendo eles
tão tensos, faz meu coração vivenciar um pouco de alegria. Porém em alguns
instantes me sinto uma fracassada, pois não suporto mais viver de sonhos não
realizados.
Eu almejo viver uma realidade feliz. Pois os sonhos estão me
entristecendo por não me satisfazerem mais.
Capítulo Doze

Nicolas
C ombino de passar no apart de Daniela para podermos ir juntos a
confraternização. Todos que trabalharam neste projeto foram convidados, a
princípio ela iria com seu namorado escocês, mas aconteceu alguma coisa em
seu trabalho e ele chegará somente no dia seguinte.
— Você está muito linda — digo quando ela chega perto de mim.
Ela dá um sorriso charmoso e me beija a face.
— Obrigada, você também não está nada mal.
Como pretendo ingerir bebida alcoólica, optei em utilizar o motorista,
costumo não usá-lo muitas vezes, pois gosto muito de conduzir meu próprio
carro, mas em casos como esses é melhor não arriscar.
Acomodamos-nos e o motorista conduz o carro até o hotel onde será a
celebração.
— Pensei que iria acompanhado — comenta me olhando.
Eu olho para ela.
— Eu estou acompanhado de você.
— Você sabe o que quero dizer, não se faça de inocente.
Apenas balanço a cabeça e não respondo nada.
Não muito tempo depois estamos passando pela entrada do salão e
muitas pessoas se encontram presentes. O CEO da empresa automobilística, ao
qual fizemos a propaganda, quando nos ver vem nos cumprimentar, ele está
acompanhado de uma linda mulher, uma diferente da que vi na última vez.
— Agora entendo o porquê de seu atraso — brinca olhando para Daniela.
— Não estou atrasado, você sim está adiantado — argumento apertando
sua mão. — Já conhece a Daniela? A modelo do nosso comercial.
Ele a olha dos pés a cabeça e sorri.
— Claro. Lembro-me dela, uma beleza dessas é difícil de esquecer.
Daniela apenas sorri educadamente e o cumprimenta, mas logo olha para
a mulher ao seu lado e estende a mão.
— Olá, boa noite? — saúda com simpatia.
A mulher vendo o quanto Daniela é simpática, esboça um sorriso.
— Boa noite — responde com voz baixa.
Só então Arthur parece lembrar-se de sua acompanhante.
— Me perdoem os maus modos, esta é Patrícia.
Cumprimentamos-nos e conversamos por alguns momentos, o garçom
serve champanhe e ao levar o copo à boca olho para entrada e vejo que Charles
chega acompanhado de Gabriela. Ela está maravilhosa, num vestido azul que
deixa as curvas de seu corpo destacadas. Seu cabelo negro está solto e a assisto
sorrindo para as pessoas.
Fico tão distraído com sua presença e nem me dei conta de que Arthur
me pergunta alguma coisa.
Volto a olhá-lo.
— O que mesmo você disse?
Ele fica surpreso com minha desatenção, mas não comenta.
— O que você acha de jogarmos a propaganda em horário nobre no
carnaval?
Penso um pouco.
— Não acho uma boa ideia, pois parte da população nem veem TV nessa
época, muitos viajam, e outros gostam de curtir o carnaval, meu conselho é para
a propaganda ser vinculada após o feriado, porém antes da páscoa — oriento,
afinal este também é meu papel como seu agente — Sabe como funciona esse
país, somente após o carnaval as coisas começam a acontecer.
Ele parece analisar o que acabo de propor.
— Você está certo, podemos programar uma data para duas semanas após
o carnaval.
— Exatamente, meu pessoal vai trabalhar nisso, pode ficar tranquilo.
Olho novamente para onde estava Charles e sua namorada e não os vejo
mais, passo os olhos pelo salão e nada deles.
— Chegamos, finalmente — ouço sua voz vinda por trás de mim e me
viro.
Meus olhos logo se encontram com os de Gabriela, e de perto ela está
ainda mais radiante, nenhuma mulher, aos meus olhos, é mais bela que ela. Sinto
meu coração apertar e meu ímpeto é tirá-la daqui, dos braços de Charles.
— Oi, Charles, quanto tempo não o vejo — Daniela é a primeira a falar
cortando essa minha ligação com a mulher a minha frente.
Charles, como sempre parecendo não notar o clima entre eu e sua
namorada sorri para Daniela.
— Nem acreditei quando soube que estava aqui no Brasil.
— Estou a trabalho — diz enquanto Charles e Gabriela entram em nosso
circulo. — E quem é essa mulher tão linda?
— Esta é Gabriela, minha namorada — fala e Gabriela, por mais
imperceptível que seja muda a expressão. — Gabriela, essa é Daniela.
Gabriela olha para Daniela e sorri fracamente, noto sua expressão de
descontentamento ao falar com a outra mulher segurando o meu braço.
— Olá, boa noite — reverencia com certa frieza. Então ela volta a me
encarar. — Boa noite.
— Tudo bem Gabriela?
— Sim.
— Deixe-me apresentá-los — digo e apresento Arthur e sua
acompanhante.
Gabriela parece muito nervosa e me pergunto o porquê, ela não está em
seu normal e olha para todos os lados, menos para minha direção.
Charles quando se dá conta de quem é o Arthur, fica todo empolgado e
envolve-se numa coversa sobre carros, algo que Arthur ama falar. Ao meu lado
Daniela muito perspicaz passa a observar tudo.
O clima entre eu e Gabriela é tenso, minha vontade é obrigá-la a me
olhar, mas ela parece determinada a me evitar.
— E você Gabriela? Namora há quanto tempo? — Daniela pergunta para
puxar assunto.
Gabriela olha para ela parecendo acordar de um sonho.
— Eu não namoro — ela responde e eu a encaro espantando com que
acabou de afirmar. Charles nem mesmo ouviu de tão encantado com Arthur.
— O quê? — indago olhando para ela.
Só então ela parece perceber ter dito algo de errado e sorri nervosa.
— Desculpa, estava pensando em outra coisa — argumenta e se volta
para Daniela. — O que você perguntou mesmo?
Sinto Daniela apertando meu braço, no entanto não digo nada.
— Perguntei há quanto tempo você namora? — Repete a pergunta. —
Com o Charles, no caso. — completa com um sorriso em sua voz.
— Sim, claro, com o Charles — balbucia e ela coça a ponta do nariz. —
Uns sete meses.
Alguma coisa está estranha, Gabriela não parece bem, quando ia
perguntar, Daniela se solta de mim e chega perto dela.
— Você está Bem? — questiona preocupada.
— Eu... — ela lambe os lábios e suspira.
— Charles — chamo e também me aproximo de Gabriela, que merda de
namorado é esse? Ele não presta atenção a sua namorada? — Gabriela está
passando mal.
Todos do nosso pequeno circulo olham para ela, e quando olho para
Charles ele parece contrariado por estar sendo interrompido.
— Eu só preciso tomar um ar — Ela diz e sua testa está suando, e então
me olha. — Por favor — pede num fio de voz.
Não tenho como negar um pedido seu e olho rapidamente para Daniela,
ela sorri.
— Pode ficar tranquilo, a leve daqui — sussurra e se volta para Charles.
— Querido, deixa Nicolas levá-la, ele conhece esse hotel como ninguém, vamos
esperá-los aqui.
Não espero resposta de ninguém, mais tarde dou um jeito de agradecer
Daniela e não querendo chamar atenção ponho a mão na cintura de Gabriela e a
conduzo até o terraço mais afastado. Ela me acompanha sem reclamar.
No caminho, entrego minha taça quase vazia a um garçom, aproveito e
pego um copo de água. Chegando ao terraço a sento em um banco e me abaixo a
sua frente. Ela fecha os olhos e coloco a mão em sua testa, ela está gelada e
respira forte.
— Gabriela, talvez seja melhor levá-la ao médico.
Ela balança a cabeça negando.
— Não precisa. Eu tenho problema de pressão baixa. Logo estarei bem
— declara, mas não me convenço.
— Você está muito pálida.
— Eu sei, mas vai passar.
— Tome um gole de água — peço passando o copo para ela. Sua mão
está trêmula e a ajudo a beber a água. Ela volta abrir os olhos e a intensidade em
seu olhar me faz perder a respiração. — Você está melhorando? — Minha voz
sai um tanto enrouquecida.
Ela tem a aparência de cansaço, minha vontade é pegá-la em meu colo,
levá-la para longe dali e cuidar dela. Juro, quero odiar essa diaba, ela pode vir a
ser uma trapaceira, porém nesse momento ela não está mentindo.
Gabriela me encara e nossa mão se toca onde seguramos o copo. Assim
que bebe um bom gole levo o copo ao chão e ver seus lábios úmidos e tão
tentadores me faz quase perder a cabeça.
— Obrigada — agradece sem deixar de me fitar. — Se quiser pode
voltar, daqui a pouco eu irei.
— Não vou deixá-la aqui neste estado, a ponto de desmaiar a qualquer
momento.
— Não vou desmaiar, como te falei, minha pressão é baixa e às vezes
isso acontece.
— Mesmo assim, posso me portar como um idiota em alguns momentos,
mas não sou um leviano — revelo de maneira energética. — E se quer saber não
acho que isso seja normal, você deve procurar um médico. O mais rápido
possível.
Ela olha para o lado e parece muito chateada, é como se Gabriela
estivesse mais melancólica, alguma coisa a perturba. Observo todos os seus
movimentos, e suas mãos apertam a borda do banco onde está sentada.
Permaneço agachado a sua frente e não sei como agir.
Eu sempre a ataco de alguma forma, mas agora não é momento, pois ela
está mal. Vejo quando respira fundo e volta a me olhar.
— Essa festa vai demorar muito tempo? — pergunta de repente.
— Ainda teremos um jantar, mas se você estiver passando mal, não há
necessidade de ficar, o Charles pode te levar.
Ela acena e dá um sorriso triste.
— Talvez seja melhor que você volte, ou sua namorada pode não gostar.
Não quero causar nenhum problema — declara com os olhos baixos.
— Daniela não é minha namorada, ela é a modelo que conheço há muito
tempo e fez parte da campanha publicitária. — Não que isso a interessasse, mas
por algum motivo quero deixar claro sobre minha relação com a Daniela. —
Inclusive ela é quase noiva, vai casar com um escorces e está apaixonada —
completo sem tirar meus olhos dela.
Gabriela relaxa os ombros e me contempla, o castanho de seus olhos têm
um brilho especial, um mistério, um sentimento que não sou capaz de decifrar.
— Estou melhor, eu acho — sussurra.
— Gabriela, que tipo de relacionamento você tem com Charles? —
indago tão de repente que vejo o quanto a deixo surpreendida.
— Eu... nós estamos juntos.
Eu nego com a cabeça.
— Eu não entendo vocês dois ou o tipo de relacionamento de vocês, mas
uma coisa é certa, não parecem estar juntos.
— Acho melhor nós irmos.
— Então vai ser assim? — demando um pouco decepcionado com ela. —
Eu juro que tento a todo custo entender, quero encontrar uma razão para estar
errado sobre você, mas pelo visto isso é impossível. — Eu me levanto sem
deixar de encará-la. — Você pode ficar tranquila. Não vou mais questioná-la
sobre nada. E juro que vou procurar evitá-la ao máximo.
Gabriela só me encara e sinto querer dizer alguma coisa, mas não diz
nada. Ponho as mãos no bolso, me viro e a deixo.
Afastar-me dela é o melhor a fazer, no entanto a coisa mais árdua. Essa
diaba me faz sentir coisas que nunca senti antes. Ela é uma jogadora, a mulher
me deixa com raiva de mim mesmo por me sentir tão atraído. Torço para esse
lance entre e Charles terminar de uma vez. Pois na verdade eu odeio ver os dois
juntos.
Antes de ir para onde não deveria ter saído, paro e peço a uma garçonete
que vá até Gabriela, e veja se ela precisa de alguma coisa, não é o fato de não
querê-la por perto que vai me impedir de ajudá-la quando precisa. Preocupo-me
mesmo não querendo, afinal seu mal estar não foi fingimento.
Quando Daniela me vê olha espantada.
— Cadê a moça? Ela piorou? — questiona muito preocupada.
Charles me olha e sorri como se nada tivesse acontecido com sua
namorada, ele nem mesmo pergunta por ela.
Olho para Daniela.
— Ela melhorou, Teve uma queda de pressão e só está pegando um ar
fresco — conto e volto a olhar Charles.
Agora que ele parece se dar conta do quão mal está agindo e dá um
sorriso sem graça.
— Quando estávamos vindo para cá ela disse estar se sentindo mal,
quando perguntei se era alguma coisa séria afirmou não ser nada demais, pois
tem pressão baixa.
Como pode ele falar isso com a maior naturalidade? Se a mulher fosse
minha eu retornaria na hora, mas não ele.
Arthur também pergunta por Gabriela e digo que está bem e logo
retornará.
— Veja, ela já está vindo — Arthur comenta.
Não quero estar aqui tão perto e preciso falar com outras pessoas, coisa
que não fiz desde que cheguei, só as cumprimentado de longe.
Peço licença e me afasto com Daniela me acompanhando. Paro para
conversar com minha diretora de artes. Não presto muito atenção a nada.
Prometi me afastar daquela diaba, mas a infeliz não sai da minha cabeça, e me
sinto preocupado com sua saúde.
Para piorar ela estar com Charles me deixa furioso, ainda mais agora com
a suspeita de que ele pode estar envolvido com o roubo na empresa. Ficar quieto
está acabando comigo, pois sou homem de querer resolver logo as coisas. No
entanto o investigador pediu para ter paciência, pois não temos provas concretas.
Por outro lado existe Cassiano. Meu padrinho é um homem honesto,
tenho certeza. Ele já está cheio de problemas financeiros e eu o tenho auxiliado
como necessário, tentando amenizar seu problema o máximo que posso. Não sei
como ele vai se sentir ao descobrir o que seu filho pode estar vindo a executar.
Não sou capaz de conceber o que Charles possivelmente vem fazendo. E
na hora de agir como se deve não sei se serei capaz de conforme se deve, afinal
Cassiano não merece ter a decepção de ter seu único filho na cadeia, apesar de
Charles merecer, caso seja provada a sua culpa.
Tenho torcido para tudo ser um engano, prefiro qualquer outra pessoa por
detrás desse roubo, tudo para não deixar meu padrinho e amigo ainda mais
desapontado com o seu filho.
Finalmente chega a hora do jantar e não vejo a hora desta noite acabar,
preciso sair daqui. Ficar mostrando para todos que tudo está bem não faz muito o
meu perfil e ficar no mesmo espaço que a Gabriela está me deixando com um
humor de merda. E por diversas vezes me pego olhando em sua direção e
acontece de nossos olhares se encontrarem.
— Você sabe que pode se abrir comigo, não é mesmo? — Daniela diz
quando nos encontramos sozinhos no carro.
— Se abrir sobre o que? Não entendo.
Ela sorri.
— Nicolas está na cara que você e aquela moça têm alguma coisa.
— Continuo sem entender — minto.
— E você quer saber o que eu acho?
— Se eu disser não, você vai falar de qualquer jeito — resmungo
olhando para fora da janela.
— Acertou — confirma rindo, então pega minha mão e eu olho para ela.
— Aquela moça não é namorada do Charles, isso está na cara. E você sabe da
minha suspeita, sobre ele jogar no outro time.
Penso por alguns momentos e lembro-me, Daniela sempre falou que
Charles escondia alguma coisa sobre sua sexualidade, nunca acreditei muito
nisso, pois na empresa tenho muitos funcionários gays, e todos são muito
diferentes de Charles.
— Isso não pode ser. Ele é tão certinho e não o vejo nem conversando
com os gays da empresa, ao contrário, parece os evitar. Até desconfio que o
Charles seja preconceituoso.
Ela dá uma gargalhada e eu a encaro com cara amarrada.
Daniela tampa a boca e respira algumas vezes para voltar ao normal.
— Desculpa, mas não entendo como um homem tão inteligente como
você não enxerga. Eu sou experiente nisso Nicolas — diz orgulhosa. — O
Charles, no fundo não se aceita, ele não vai sair do armário.
Vem a minha memória a resposta de Gabriela quando questionada sobre
seu namoro com Charles, ela foi pega de surpresa pela pergunta de Daniela, ela
não estava passando bem, o que a deixou de guarda baixa.
Olho para Daniela e ela me observa com um sorriso vitorioso.
— Você acha que o Charles pode a estar enganando? — pergunto mesmo
sabendo que devido a sua resposta isso não pode ser verdade.
— Para mim não, mas a Gabriela me pareceu uma boa moça, cabe a você
descobrir a verdade, e não a deixe escapar, Nicolas. De tudo que te falei tenho
certeza de uma coisa: Ela sente alguma coisa por você e se sentiu enciumada
quando me viu ao seu lado. Sou mulher e sei.
Gabriela uma boa moça? Até parece.
— Você não sabe de nada Daniela, aquela dali é uma diaba. Ela consegue
enganar a todos, até mesmo a você que se diz tão esperta, porém a mim ela não
engana e agora minha desconfiança só aumentou.
— Quando perceber seu engano só me liga, ok? — incentiva cruzando os
braços. — Faço questão de dizer a frase insuportável: Eu te avisei.
Chegamos até seu apart e nos despedimos.
O motorista me leva de volta para casa e penso em tudo que acho saber
de Gabriela, quando me vem a mente algo importante e revelador.
O Charles está sendo ajudado a desviar dinheiro por alguém, certamente
é uma pessoa conhecedora de informática, e essa pessoa está desempenhando o
papel de hacker. Segundo as investigações Charles não pode estar agindo
sozinho.
Jogo a cabeça para trás e fecho os olhos, sinto-me agoniado.
— A Gabriela é formada em processamento de dados, droga! — exclamo
com muita raiva.
— O senhor disse alguma coisa — o motorista pergunta me olhando
desconfiado.
— Não, estou falando sozinho, só me deixe em casa o mais rápido
possível.
Só pode ser isso, essa vigarista está ajudando Charles a me roubar. Ela
pode ser a mulher mais sexy, mas não vou a perdoar.
Ela saberá a força da minha ira e vai se arrepender de um dia ter cruzado
meu caminho. Com Charles, devido ao seu pai, posso até pensar em aliviar sua
situação, entretanto com ela será diferente.
Eu não vou facilitar sua vida. Em nada.
Capítulo Treze

Gabriela
D evido a ter saído com Charles, para fingir mais uma vez ser sua namorada,
Eric me deu folga de trabalhar na boate, o que agradeci, pois me sinto mal.
Trabalhar a noite tem cobrado seu preço. Isso não é para mim, porém não posso
fazer nada quanto a isso, ao menos por enquanto.
Depois de Charles me deixar, vou direto para o banho, me sinto tão fraca
e mal me enxugo apenas jogo-me na cama usando uma roupa velha. Aproveito
que estou sozinha e como tantas outras vezes, deixo que as lágrimas
transbordem. Não por estar passando mal. Lembro-me do olhar do Nicolas de
decepção quando me deixou sozinha naquele terraço.
Eu dei um furo esta noite, desde a tarde não me sentia muito bem e
quando cheguei à confraternização e vi Nicolas acompanhado de uma linda
mulher loira meu mal estar só fez aumentar. Meu desejo era fugir dali e nunca
mais pôr os olhos em ninguém daquele lugar. Para piorar a situação a tal mulher,
era um amor, mesmo sendo uma famosa modela em nenhum momento tratou-me
mal, no entanto isso fez odiá-la ainda mais.
Esta noite foi torturante em vários aspectos. Por alguns instantes quase
contei toda a verdade para Nicolas, mas não pude fazer isso. E se Charles for
realmente um cara legal? E se ele apenas estiver com medo de enfrentar sua
família e amigos? Porém não consigo entender certas situações. Hoje vi de longe
Nicolas interagindo com algumas pessoas, mesmo mantendo a expressão séria,
ele fez questão de falar com todos ali presente. A maioria funcionários de sua
empresa, o próprio Charles contou-me.
Reparei alguns gays ali, e ele se aproximou de todos e parecia à vontade,
não passou ser um homem preconceituoso como Charles vive dizendo.
Questionei Charles sobre isso, então ele disse que Nicolas é um falso e só
permite homossexuais na empresa por uma questão de normas trabalhistas.
Não consigo pegar no sono apesar do cansaço tomar meu corpo, assim
me levanto, acendo a luz e vou até o armário pegar minha pasta de desenhos,
olho meus traços, e segundo meu irmão são perfeitos, eu dou um sorriso triste a
cada folha passando diante aos meus olhos. Eu amo desenhar principalmente
traços arquitetônicos. Esboçar interiores é meu forte. No entanto acredito que
esse meu dom não me serve muito.
Analiso a ilustração da casa dos meus sonhos, lembro ter mostrado para
Diego e ele ter dito que eu poderia muito bem trabalhar com isso, talvez fazer
engenharia, mas na verdade eu queria estudar arquitetura, eu seria uma pessoa
realizada se pudesse projetar uma casa, ou até mesmo um local de trabalho. Mas
para realizar esse meu sonho, eu preciso antes de qualquer coisa passar em uma
faculdade, e para mim isso é impossível.
Guardo os meus desenhos e volto para cama, na maioria das vezes vejo
quase tudo sendo impossível para mim. Todos os meus desejos são coisas as
quais não posso realizar ou ter. Em alguns momentos, principalmente quando
estou só, me sinto uma verdadeira inútil.
Eu sou uma farsa completa, tirando minhas amigas e meu irmão, pois
sabem muito bem sobre minhas dificuldades, todos pensam em mim como uma
mulher forte que sabe aonde quer chegar. Entretanto na verdade eu não sou nada
disso.
Sou apenas mais uma sonhadora, mas ao contrário da maioria, a
realização pode não vir para mim tão facilmente, talvez nunca possa vir. Eu sei
disso. Tenho meus demônios internos, somente eu os conheço e não permito que
ninguém mais veja.
Decido preparar um chá, minha cabeça está a dar muitas voltas,
pensamentos confusos e misturados aumentam minha ansiedade, e entre tantas
ideias mal resolvidas percebo que é chegada a hora de procurar um tratamento.
Meu irmão já havia me convencido, porém antes dele me ajudar a encontrar um
profissional, foi embora e me fez prometer que procuraria um psicólogo
especifico para o meu tipo de problema.
Então a tomo uma decisão. No início da semana irei procurar por um
psicólogo, começarei a cuidar de mim, não posso ficar a vida toda me
lamentado, devo ir a lutar e pelo menos tentar.
Depois de tomar chá vou para a cama e o sono com muito custo vem, e
com ele meus sonhos com o moreno emproado que insiste em invadir minha
imaginação.

Acordo com meu telefone tocando e o atendo sem ao menos ver quem é.
— Alô.
— Te acordei Gabi? Pensei que não tivesse trabalhado ontem. —
Reconheço a voz da Mel.
Levanto-me sentado, me encosto à cabeceira e continuo com olhos
fechados.
— Não trabalhei, mas custei um pouco a dormir — respondo enquanto
bocejo. — Aconteceu alguma coisa?
— Nada sério, mas preciso falar com você urgente. É algo do seu
interesse.
— Você conseguiu despertar minha curiosidade.
Ouço sua risada.
— Então vamos nos encontrar, venha para casa da Karen e vou preparar
um almoço, mas não demora. Te espero. Beijos! — despeja e desliga sem ao
menos esperar por minha resposta.
— Bom dia pra você também — resmungo para o telefone mudo.
Volto a deitar mais um pouco e fico enrolando na cama, chuto a preguiça
para longe e levanto para começar meu dia.
Eric dorme em seu quarto, pela manhã quando chegou teve a audácia de
me acordar para perguntar como foi a festa. Eu quase o matei, mas ele como não
tinha amor à vida insistiu em saber, até que resumi ocultando bastante coisa.
Contei sobre não me sentir bem e ele pareceu preocupado e disse para chamá-lo
caso viesse a sentir alguma coisa novamente.
Eu andava muito ansiosa com certos acontecimentos, e juntando tudo à
má alimentação é lógico, o corpo cobrou seu preço. Tranquilizei o Eric dizendo
ter sido somente um mal estar, uma queda de pressão e afirmei estar me sentindo
melhor. Assim ele beijou minha testa e foi dormir.
Deixo um bilhete para Eric e saio para encontrar com Mel, ela por
enquanto está no apartamento da Karen. Na próxima semana vai embora para o
Sul, e só em pensar de não tê-la por perto meu coração aperta. Tenho certeza que
tanto Vicky quanto a Karen sentem o mesmo. Torço para minha amiga não ter
nenhum problema com o tal Felipe, ou serei capaz de pegar um avião e acabar
com a vida dele.
Chego ao apartamento e Mel me atende sorridente e me abraça.
— Já ia te ligar — comenta segurando uma colher de pau na mão me
dando passagem para entrar. — Aposto como voltou a dormir depois da minha
ligação.
Entro jogando minha bolsa no sofá e me volto para ela pondo a mão na
cintura.
— Fiquei deitada um pouco mais, porém não dormi sua faladeira.
— Dá no mesmo — diz indo para a cozinha, o cheiro que vem de lá é
maravilhoso e vou atrás dela.
— Onde está Karen? — pergunto enquanto pego uma colher e tento
roubar um pouco de molho.
Ela bate na minha mão.
— Fique longe da minha comida, ainda não está pronta — ralha e volta a
mexer o molho. — E respondendo a sua pergunta, Karen está em São Paulo
numa apresentação.
— Por que essas apresentações só acontecem em São Paulo? — indago
chateada.
Tudo transcorre em São Paulo e com isso nunca tive a oportunidade de
ver Karen patinar.
— Segundo ela, a liga ou sei lá o quê, está localizada em São Paulo.
Ela tampa a panela acabando com minha oportunidade de roubar um
pouco do seu molho.
— Venha comigo, tenho algo para você — diz e eu a acompanho até a
mesa que tem na sala.
Mel pega um papel impresso e me mostra.
— O que é isso? — pergunto, seja lá o que for não me diz nada, ela sabe
da minha dificuldade e não entendo aonde quer chegar me entregando um papel
para ler.
— Você sabia que pode requerer uma prova especial para fazer o
vestibular?
Olho para minhas mãos sobre a mesa.
— Mel, você sabe sobre a minha ansiedade e o quanto ela me atrapalha,
já tentei fazer um vestibular e saí de lá decepcionada comigo mesma. Não quero
passar novamente por isso novamente — desabafo com sinceridade.
Mel segura minha mão e levanto meu olhar, noto seus olhos num tom
castanho quase verde a me observar. Ela sorri.
— Você fica nervosa na hora da prova porque as letras não fazem
sentido, então você não consegue se concentrar. Você deve apenas trabalhar essa
ansiedade e usar várias armas ao seu favor.
— Armas? Não estou conseguindo te acompanhar Mel.
— Eu sou muito afoita mesmo. Vamos, vou te explicar algumas coisas
que descobri — fala e pega um envelope pardo. — Existe uma associação capaz
de te orientar em tudo, e posso garantir, existem outras pessoas com o mesmo
tipo de transtorno que o seu. Geralmente eles descobrem isso ainda na infância,
infelizmente esse não foi seu caso.
— Sim, meus pais e nem ninguém da minha família tinha ideia, graças ao
Diego ao menos pude ter uma resposta.
— Gabriela, eu tenho certeza que você é muito capaz. É inteligente. Só
precisa acreditar em você — apresenta de forma acalorada. Ela sacode a cabeça.
— Não vamos fugir ao assunto, como disse existe uma associação que vai te
orientar, porém posso garantir, por exemplo, para as provas do ENEM você tem
alguns direitos, e já pesquisei amiga, algumas faculdades particulares seguem o
mesmo critério.
Eu sorrio esperançosa.
— Quais são esses direitos? Conta-me. — peço querendo saber de tudo.
— Maior tempo para fazer a prova, se não me engano são 60 minutos a
mais. Sua prova deve ter letras maiores e ainda pode contar com auxilio de uma
pessoa para ajudá-la enquanto estiver fazendo sua prova.
— Mel, eu não sabia disso, por que essas coisas não são divulgadas?
— Também não entendo, mas o importante é que agora sabemos, isso
nos dá esperança.
Não me contenho de tanta alegria, até lembrar-me do que pode acontecer
depois.
— Mas e depois, se eu passar? Como será? Não sei se sou capaz de
acompanhar.
— Não existe “se”. Você irá passar. E o MEC assegura o seu direito a
aprender, ainda não me informei direito se isso se estende ao 3° grau, mas
acredito que sim. E por outro lado agora você estará mais segura de si, você vai
aprender com facilidade. Como te falei basta controlar seu nervosismo.
Eu me levanto e abraço Mel, ela quase cai da cadeira devido ao impacto.
— Obrigada amiga, eu andava tão sem esperança e agora você a renovou
— digo emocionada.
Ela passa a mão em meu braço.
— Gabriela, você merece realizar seu sonho. Todos nós merecemos.
Afasto-me dela e nos encaramos.
— Estou tão feliz que nem sei o que falar.
— Não fale nada, agora aja. Procure ajuda profissional para te auxiliar e
não deixe de pedir orientação na associação a qual te falei.
— Eu vou fazer isso. Com certeza.
Ela dá um sorriso lindo.
— E o que pretende fazer?
— Sobre o que?
— Vai fazer faculdade de que?
Eu sorrio e lembro-me de meus desenhos.
— Arquitetura — digo insegura. — Você acha que é muita pretensão
minha?
Mel se levanta coloca os papéis que estão em sua mão na mesa e põe as
mãos na cintura.
— Gabriela você desenha divinamente garota, seus traços são perfeitos,
isso vai te ajudar muito.
— Mas arquitetura não se resume somente aos desenhos.
— Claro amiga, eu sei disso, existem cálculos que só Deus na causa —
diz rindo. — Mas você é capaz de se sair muito bem.
— Será?
— Tenho certeza disso minha amiga. — Ela olha para a cozinha e se
volta para mim. — Agora preciso terminar de preparar nosso almoço e podemos
falar mais enquanto comemos.
Ela vai para a cozinha e pego os papéis que ela segurava, as letras são
garrafais e consigo ler algumas coisas. Mal posso acreditar, tenho chances de vir
a realizar o meu grande sonho de fazer uma faculdade. Esse é o maior sonho da
minha vida.
Nós almoçamos e Mel me explica tudo e conto para ela que na segunda
mesmo estarei procurando um psicólogo, ela me aconselha a tentar um vestibular
no meio do ano usando meus direitos, apenas para um treinamento e para ver
como me saio. Mel já tem tudo planejado e me passa o nome de uma
universidade particular, essa possibilita a prova diferenciada para mim.
Decido fazer para ver o resultado. Até pretendo estudar um pouco para
não zerar nada. Lógico eu não poderei pagar uma faculdade particular, se ainda
conseguisse bolsa, poderia ser, porém não tenho conhecimento e isso está fora de
cogitação.
Depois do almoço a ajudo a arrumar a cozinha e seguimos para sala,
aproveito o momento e conto para ela sobre Nicolas e o tormento que venho
passando. Mel ouve tudo com paciência e quando findo revelando fatos da noite
anterior ela morde o lábio inferior e fica pensativa por alguns instantes.
— Você está me contando isso querendo saber a minha opinião? —
questiona e me observa com seriedade.
— Sim, eu já não estou conseguindo lidar com isso — confesso por fim.
— Amiga, chega para o Eric e diga que não dá mais, você já ajudou
bastante. Se for para o Charles provar ser hetero, isso ele já fez. Mas você não
pode se prejudicar por ninguém. — Eu ia falar, porém fez sinal para continuar
calada. — Nem me venha dizer que você deve muito ao Eric, tenho certeza
absoluta, o nosso amigo não vai ficar chateado com você, e o Eric não te ajudou
esperando nada de volta. Portanto, não me venha com esses argumentos.
— Você está certa, não posso continuar vivendo essa mentira com
Charles, gostaria de descobrir mais sobre ele, no entanto cada vez é mais
insuportável quando me encontro com Nicolas.
Mel dá um sorriso maroto e dá um tapa em meu braço.
— Agora me diz sobre esse Nicolas, sinto que tem alguma coisa
acontecendo — indaga curiosa.
Eu rio do seu jeito de falar. Não contei sobre nossos encontros no
banheiro, pois esses momentos são para serem guardados.
Mel continua me olhando em expectativa. Eu dou de ombros.
— Não há nada acontecendo, como te disse ele vem a ser o cara que
beijei no bar no dia da despedida da Vicky, ele me reconheceu e me acha uma
traidora. Só isso.
— Não acredito em você, seus olhinhos têm um brilho diferente quando
fala dele. Quem sabe isso tudo não tenha sido bom para vocês se reencontrarem?
Pensa nisso.
Balanço a cabeça negando, Nicolas não é o tipo de homem de aceitar
uma mentira, e eu sou uma mentirosa, não só em fingir um namoro com Charles,
mas nos momentos onde estivemos juntos várias mentiras foram ditas. E uma
mentira leva a outra se tornando uma bola de neve.
— Melhor eu esquecer o Nicolas e suas grosserias, hoje conversarei com
Eric e essa novela termina por aqui. Mesmo porque preciso me concentrar em
resolver minha vida. Quero me dedicar a entrar para uma faculdade.
— Concordo em parte, mas você estudar não te impede de ter um
relacionamento — fala animada.
Olho para ela e faço cara de chacota.
— Mel! Quem é você para falar alguma coisa? Nunca em minha vida vi
você sequer flertando, até a Karen que é apaixonada desde menina pelo mesmo
cara andou dando uns beijos por aí.
Ela me olha se fingindo de zangada.
— Mas eu não tive muitas oportunidades de sair com os caras, minha
vida sempre foi complicada. Desde a morte do Igor precisei praticamente cuidar
da minha família sozinha. — Ela respira fundo, fecha e abre os olhos. —
Infelizmente apenas agora, após minha mãe ter partido estou livre, no entanto
fiquei tão acostumada a estar cuidando de algo ou a me preocupar que me sinto
um pouco perdida.
Imagino como minha amiga deva estar se sentindo. Deve ser barra passar
por tudo isso e tão sozinha. Mesmo assim ela foi guerreira o suficiente para
terminar seus estudos, fazer estágio e ainda cuidar da mãe doente.
Mel tem esse lado de zelar por quem ama, sempre fica preocupada com o
bem estar das pessoas. Porém jamais podemos esquecer o quanto ela é astuta e
atrevida. Pode-se dizer que é a inteligente da turma, sempre vendo tudo por
todos os ângulos e encontrando uma solução para a pior das situações.
Como sua vida foi muito difícil, acredito que ela agora queira viver essa
liberdade, mas ainda se encontra desorientada, isso é comum. Recomeçar é
sempre muito complicado. Mas ela é forte e vai conseguir.
— Mel se existe uma pessoa que é capaz de passar por qualquer situação
é você — declaro a olhando com carinho.
Ela sorri.
— Espero que você esteja certa.
Olho a hora e devo ir embora, pois preciso trabalhar. Combinamos de nos
encontrar no início da semana para fazermos um happy hour, afinal ela vai nos
deixar e ficará mais difícil de nos ver.
Vou para casa mais animada com as novas possibilidades em minha vida.
Entro na sala e Eric está de cueca samba canção do Piu-Piu e tem no rosto uma
gosma verde nojenta e levo um susto.
Tranco a porta e ponho a mão no coração fazendo um drama.
— Eric, que porra é essa na sua cara?
Ele abana ambas as mãos no rosto.
— É para hidratar a pele, mas arde pra caralho. — Sua voz sai estranha,
pois certamente não pode fazer nenhuma expressão.
— Então tira essa nojeira, você ainda vai ter um grande problema na pele
fazendo essas asneiras — digo e vou para meu quarto.
Vejo-o correndo para o banheiro como uma gazela e não me contenho em
rir.
Alguns minutos depois ele aparece no quarto e noto seu rosto
avermelhado, ele sorri para mim.
— Minha pele está lisinha, parece seda.
— Uma seda vermelha e brilhante — respondo.
Ele faz uma careta.
— Sua estraga prazeres — fala se jogando em minha cama e deitando de
lado. — Você queria falar comigo?
É chegada a hora, no caminho passei uma mensagem para ele dizendo
que precisava conversar. Em fim é melhor acabar logo com isso.
— Eric, eu não quero mais participar desse teatro de se fingir namorada
do Charles, não consigo mais mentir e estou com medo de a qualquer momento
cometer uma gafe — declaro logo de vez.
Ele me olha e dá um sorriso compreensivo.
— Minha linda, para falar a verdade andei pensando nisso e não acho
justo fazer isso com você.
Aproximo-me dele e me sento no chão, próxima à cama.
— Você me perdoa por isso, juro que queria te ajudar nisso, mas...
— Hey, vamos parar por aqui. Não há nada para perdoar, isso já foi longe
demais. Não é certo mentir para as pessoas, não sei onde estava com a cabeça
quando pensei em tal coisa. Eu sim devo me desculpar — explica com um
sorriso triste.
— E será que o Charles não vai ficar chateado?
Ele pisca e sorri de lado.
— Deixa o Charles comigo, gata. A partir de agora considere-se liberada
desse namoro.
Fico de joelhos e beijo seu rosto.
— Você é maravilhoso.
— Eu sei disso, ninguém resisti a mim — brinca mexendo as
sobrancelhas todo convencido.
— Nada convencido também — digo revirando os olhos.
Nós rimos e aproveito para contar sobre meu encontro com a Mel, não
detalho muito, pois Eric não sabe do meu transtorno com a leitura, não sei por
que, mas fico muito constrangida em expor, um dia quem sabe eu me sinta mais
a vontade em falar.
À noite vamos juntos para o trabalho e ele diz que já conversou com
Charles por telefone, no início ele ficou contrariado mas logo depois de uma boa
chamada, se recompôs e aceitou minha decisão.
Sinto-me aliviada, porém um pouco deprimida, total contraste de
sentimentos. Afinal não verei mais o Nicolas.
Meu coração se comprime em meu peito, me sinto desolada só em saber
que não terei mais a oportunidade de estar em sua presença tão marcante.
Capítulo Quatorze

Nicolas
P asso a manhã de segunda-feira fora da empresa junto com Ernesto, não
querendo tratar dos problemas referente ao roubo em meu escritório para não
correr o risco de sermos ouvidos. Infelizmente tudo aponta para Charles que com
ajuda do hacker criou algumas contas em nosso sistema e faz uso de
funcionários fantasmas.
Nossa agência publicitária é considerada uma empresa de grande porte,
pois contando matriz e todas as filiais chega-se ao quantitativo de mais de 2.000
funcionários, visto que nosso trabalho abrange todo tipo de vinculo publicitário,
desde criação de outdoor, comerciais de TV e rádio, até o desenvolvimento de
propaganda digital, afinal a cada ano aumenta a evolução da internet.
Todo funcionário é essencial, não importando seu departamento. Devido
a um furo no sistema, ao qual fiquei indignado em saber, o Charles foi capaz de
passar pela segurança do nosso servidor. Contudo ele não esperava o Ernesto não
confiar totalmente em relatórios automatizados, assim ele tem por precaução
analisar manualmente todas as informações que chegam até ele.
Eu sou o único a saber disso e agora vejo que sua obstinação tem
fundamento.
Depois de nos reunirmos junto com uma empresa de segurança da
informação, a qual trabalha exclusivamente com consultoria e auditoria de dados
para descobrirem violações significativas, deixo Ernesto tratar com eles todos os
aspectos necessários.
Não posso ficar ausente por muito tempo da agência, é fundamental neste
momento não levantar nenhuma suspeita e devo agir como se tudo estivesse
normal, mesmo tendo vontade de resolver logo esse inconveniente.
Ao chegar vou direto para o departamento de criação verificar o
andamento de nosso projeto mais recente. Vejo boas ideias, descarto algumas
sem sentido e aproveito outras, como já é esperado. Quando chego ao meu
escritório já me sinto cansado.
Carmela entra em minha sala para verificarmos a minha agenda e para
meu alívio não tenho nenhuma reunião importante, assim provavelmente poderei
ir embora um pouco mais cedo.
Antes de sair avisa que meu pai ligou e pediu para retornar e quando me
vejo sozinho faço a ligação em seguida.
Meu pai atende ao segundo toque e depois de nossa saudação inicial
pergunto se aconteceu algo, pois dificilmente me liga.
— Pois é filho, ando muito preocupado com Cassiano, ele me contou
sobre os negócios e que você o está ajudando. Posso ajudar em alguma coisa? Eu
tenho um dinheiro investido e pensei em usá-lo. O que você me diz? — Meu pai
tem na voz certa apreensão.
— Pai, passei para uma empresa muito bem conceituado no ramo
financeiro, já trabalho com eles há algum tempo, então depois que os relatórios
estiverem em minhas mãos posso falar com clareza quais medidas devemos
tomar — afirmo com voz áspera.
— Fico mais tranquilo, filho, em saber que está auxiliando meu grande
amigo, você sabe como Cassiano é um irmão para mim, né?
Solto uma risada, ele fala como se eu não soubesse, logo eu, cansado de
ouvir suas histórias sobre essa amizade tão longa.
— Acredito que este seja o motivo de Cassiano ser meu padrinho —
digo.
Ouço a risada do meu pai.
— E de Charles ser o meu afilhado — confirma com voz de riso. —
Porém o motivo não é apenas esse, você sabe, Cassiano é um homem íntegro e
faz parte da família — completa com mais seriedade na voz.
— Já sei de tudo isso pai, agora me diz como está mamãe?
Meu pai e eu engajamos em uma conversa mais tranquila, e só desliga
após eu prometer jantar com ele e minha mãe durante a semana. É justo, estou
devendo uma visita aos meus pais, isso faz lembrar-me dos meus avós, eles
vivem me cobrando para eu aparecer. Os dias são tão corridos e mal tenho tempo
para mim mesmo. Todavia devo dar um jeito, minha avó sempre deixou claro
que a família sempre deve ser prioridade em nossas vidas. E no fundo concordo
com ela.
Consigo sair do escritório antes das 19h e no elevador encontro com
Charles.
— Conseguiu ler aquele relatório? — indago sobre um documento que
enviei para ele.
Naturalmente não se trata de nada arriscado, como devo manter a
aparência de não saber de nada continuo mandando planilhas para ele.
— Li alguma coisa, ainda não terminei por conta de alguns cálculos que
precisei fazer a pedido do Ernesto — comenta e ouço seu telefone tocar,
disfarçadamente vejo no visor o nome Marcelo, ele atende. — Já estou saindo,
daqui a pouco chego aí — responde e desliga sem deixar a pessoa falar de volta.
— Vai se encontrar com a Gabriela? — pergunto mesmo sabendo não ser
ela ao telefone.
O observo e sua expressão é carrancuda.
— Eu e Gabriela não estamos mais juntos. Terminei com ela. — Sua
confissão me pega de surpresa.
— E quando foi isso? Você disse que ela era uma mulher especial dias
desses.
Ele dá de ombros e chegamos ao térreo, caminhamos até o
estacionamento.
— A Gabriela estava me cobrando um monte de coisa, e ela não é uma
mulher para estar no nosso meio. Vivia me contrariando diversas vezes na frente
das pessoas. Enfim, já não me agradava como no início.
Quero socar sua cara por falar desta maneira, como ele pode falar isso?
Seu telefone toca novamente e ele dá adeus indo para seu carro ao atender a
ligação.
Entro no carro e dirijo até em casa com a cabeça a mil. Teriam eles
brigado por motivos de dinheiro? Só pode, afinal nada me tira da cabeça que
aquela diaba está junto dele no desvio de dinheiro da empresa.
Se ela pensa que se livrará, está muito enganada, em breve pretendo
confrontá-la e quem sabe eu até possa vir a aliviar seu castigo se ela me contar
como fez para burlar meu programa de informatização?
Outra ideia me vem à mente, e se eu usasse isso para tê-la? Pode ser um
caminho para tirá-la do meu sistema, talvez eu possuindo o corpo daquela diaba
decerto irei parar de pensar nela com tanto desejo.
Com essa ideia em mente durmo planejando como vou fazer para
afrontá-la.

Meu telefone toca no meio da madrugada me despertando de um sono


profundo, vejo o nome do meu pai no visor e imediatamente atendo, só pode ter
acontecido alguma coisa muito grave para meu pai ligar a esta hora.
— Pai? O que houve? — Minha voz sai grossa devido o sono.
— Filho, o Cassiano teve um infarto e está sendo atendido...
— O que? — Pergunto dando um pulo da cama e indo ao closet para
vestir qualquer coisa.
— A Simone acabou de me ligar desesperada, ela está no hospital e não
me contou detalhes. — A voz do meu pai está agitada e pelos sons ele deve estar
dentro de um carro.
— Passe o endereço por mensagem, estou saindo agora de casa —
anuncio e desligo não querendo perder tempo.
Eu sabia. Cassiano não andava bem, mesmo eu garantindo que o ajudaria
ele andava muito nervoso com tudo e tenho a impressão de me esconder alguma
coisa, pois andava muito ausente.
Em tempo recorde chego ao meu carro e vejo o hospital onde ele está
através da mensagem enviada por meu pai.
Por sorte é madrugada e o trânsito fica totalmente liberado permitindo
minha chegada sem demora. Encontro meu pai na recepção junto com Simone,
ela está chorosa.
— Alguma notícia? — Fui logo perguntando.
— O médico acabou de nos informar, que desta vez ele escapou. Por
sorte chegou a tempo, mas ele está sendo avaliado e daqui a pouco volta com
mais informação. — Meu pai diz.
Olho para Simone.
— Aconteceu alguma coisa, ele se aborreceu ou algo do tipo? —
questiono e ela fecha os olhos apertados antes de abri-lo e me encarar.
— Não, foi de repente — fala e parece esconder alguma coisa.
Olho em volta e não vejo mais ninguém conhecido.
— E Charles cadê?
— Eu não consegui falar com ele — sussurra.
Pego meu aparelho, procuro por seu número e disco, chama algumas
vezes, cai na caixa postal e deixo um recado pedindo para me retornar assim que
ouvir minha mensagem.
Em seguida pergunto se eles querem alguma coisa, pois eu preciso de um
café muito forte. Meu pai aceita e Simone apenas nega com a cabeça.
As horas passam e finalmente o médico vem falar conosco e permite que
somente Simone entre para vê-lo. Quando meu pai se vê sozinho comigo me
olha e sinto ter algo para me dizer.
— Acho que Simone está escondendo alguma coisa, filho.
Fito meu pai e ele pensa o mesmo que eu.
— Eu tenho certeza disso e posso estar enganado, mas só pode ter
alguma coisa a ver com Charles.
Meu pai coça a cabeça, olha para a porta por onde Simone entrou e se
volta para mim.
— Eu não te disse nada, e Cassiano estava vendo se conseguia resolver
as coisas, mas ele descobriu Charles envolvido em algum tipo de negócio sujo
— confessa.
Eu respiro fundo, me sinto enganado, eu gosto e considero meu padrinho,
ele é um homem honesto e tenho certeza disso, porém deveria ter me contado
sobre Charles. Cassiano não pode o tempo todo querer o proteger seu filho.
Afinal o infeliz trabalha na minha empresa. Ele não pensou por um momento
sequer, pois isso pode de alguma forma me afetar.
— Ele poderia ter me dito pai. Eu confiei em Cassiano quando dei um
emprego para Charles a fim de ajudá-lo. O senhor sabe o quanto sou sistemático.
Eu não poderia jamais permitir um funcionário metido em falcatruas, mesmo
sendo filho do Cassiano.
— Você está certo Nicolas, e Cassiano queria apenas que Charles ficasse
mais tempo perto de você para ver se ele poderia ver em você um exemplo. No
início parece ter dado certo, mas depois, como vê, voltou a ter contato com essa
gente.
Quem olhar para mim certamente vê um homem calmo. Na verdade
estou explodindo por dentro, minha vontade é dar uma surra em Charles.
— Como ele sabe disso pai?
— Não sei ao certo, ele viu um cara exigindo algum dinheiro do filho, de
acordo com suas palavras o Charles o devia. O tal cara estava em sua casa.
Charles pensou estar sozinho, pois todos haviam saído, então Cassiano se
aproveitando disso ouviu parte da conversa.
Levanto-me sem conseguir ficar parado.
Ando de um lado a outro e paro na frente do meu pai.
— Que droga pai. O Charles não vai crescer nunca? — esbravejo e
lembro-me do que ele está fazendo comigo.
A culpa não é do Cassiano, ele nem deve ter ideia das ações do seu filho,
nem imagina sobre o roubo, sem dúvida isso seria demais para ele.
Meu pai ia falar alguma coisa quando Simone chega. Ele se levanta e
vamos ao seu encontro.
— E então, como ele está?
Ela dá um sorriso fraco.
— Está bem. Abatido, mas bem. Encontra-se acordado e o médico
insistiu para ficar em observação por alguns dias.
— Graças a Deus! — louva meu pai.
Eu não digo nada, apenas olho para Simone, de alguma forma é culpada
disso tudo, pois ela sempre estragou o Charles, o mimando e escondendo a
verdadeira face de seu filho.
Ela me olha e me nota a encaro.
— O médico falou que ele não pode se aborrecer, nem ter fortes emoções
— informa voltando a olhar meu pai.
— Preciso de uma água — digo e vou até a uma pequena lanchonete
existente no local, com meus pensamentos borbulhantes.
No momento não suporto ficar perto da Simone, ela é minha madrinha,
mas a verdade é que nunca tive nenhum apreço por ela, nem ela por mim.
Apenas meu padrinho parece ter algum caráter naquela família.
Sento-me em uma das mesas e o espaço se encontra com poucas pessoas,
pois ainda nem amanheceu. Penso em tudo o que está acontecendo, e me sinto de
mãos e pés atados, como posso fazer Charles pagar por sua desonestidade sem
afetar Cassiano? Ainda mais agora, com esse problema de coração?
Preciso dar algum jeito, mas de uma coisa tenho certeza: os dias de
Charles na empresa estão contados, não posso permitir sua permanência na
agência, nunca confiei muito nele, agora então com seu golpe e sabendo sobre
seu envolvimento com pessoas perigosas, a situação dele só piorou.
De alguma forma ele vai me pagar por isso. Penso em Gabriela, ela
também não me escapará. Aí está uma coisa da qual não abrirei mão.
Capítulo Quinze

Gabriela
A cabamos de nos despedir da Mel, não suporto mais estar neste aeroporto.
Primeiro meu irmão se foi, e agora Mel. Karen tem a cabeça encostada em meu
ombro e funga, Vicky, está ainda mais emocional agora que está grávida e
também não para de chorar. Eric enxuga as lágrimas com seu lencinho degrade
com as cores do arco-íris. Até para chorar ele tem estilo.
— Será que ela ficará bem? — Karen resmunga chorosa.
— Sim, a Mel é forte e o ar da fazenda vai fazer bem a ela — comenta
Vicky de braços cruzados olhando para o portão de embarque, sua sai voz fraca.
Na verdade estamos os quatro ali parados observando aquele portão,
esperando eu não sei o quê.
— Será que o irmão do Alano não vai implicar com ela? — pergunto e
olho para Vicky, ela olha para mim de volta.
— Não acredito nisso, o Alano andou falando com ele, no início Felipe
estranhou o fato de terem escondido dele quem iria para a fazenda, surpreendeu-
se por ser uma amiga minha e não uma senhora viúva, como ele pensava e
gostaria.
Eric então vem para frente da Vicky e põe as mãos na cintura fazendo
cara de ofendido.
— E posso saber por que você ocultou essa informação de mim?
Vicky olha para ele sem entender sua reação.
— E o que isso tem de importante Eric?
— Também não entendo a importância de você precisar saber disso —
comenta Karen tirando a cabeça de meu obro e olhando para Eric.
— Vocês — diz apontando o dedo para nós três —, sabem muito bem, eu
estou stalkeando todos os movimentos desses dois.
— E por que isso? — Agora é minha vez de perguntar.
Ele revira os olhos mostrando impaciência.
— E vocês acham, que o irmão delícia do Alano, um pegador nato vai
deixar nossa Mel, tão lindinha, em paz? Esses dois vão se embrenhar por aquela
fazenda — assegura.
— Para seu governo Eric, Felipe falou para Alano que espera nem ver a
Mel, pois para ele a minha amiga não aguentará viver nem um mês na fazenda.
Olho zangada para Vicky.
— Quem esse cara pensa ser? Ele nem conhece a Mel e já fala asneiras
— manifesto indignada.
— O Filipe tem algum problema em confiar nas mulheres — Vicky
revela nos olhando. — Mas ele, no fundo é um bom cara, um pouco rude, mas é
legal, e muito provavelmente não chegará perto da Mel.
Ouvimos a risada debochada de Eric.
— Vão acreditando, não duvido nada daqui alguns dias Mel estar ligando
contando as suas loucuras vividas nos braços daquele gostoso — fala guardando
o lencinho. — Não só nos braços, porém só imagino o quanto ela vai cavalgar
com esse cowboy rude, estou morrida de inveja dessa vadia — completa.
Nós três observamos Eric de boca aberta.
— Eric! Você se ouve? — Karen é a primeira a esboçar uma reação.
Ele a olha e sorri.
— Claro meu bem? Por acaso pensa que sou surdo?
— Surdo não, mas um louco ninfomaníaco você é — Vicky diz e olha o
relógio. — Melhor irmos, ou o Eric nos mata de vergonha com suas
observações. Mel a esta hora deve estar decolando, não temos mais nada a fazer.
Dou uma última olhada no portão e suspiro, ela está certa. Não temos
mais nada para fazer.
Raul, o motorista de Vicky a aguarda, ela não demonstra, mas está
apreensiva, assim quando nos chama para ir para sua casa tanto eu quanto Karen
aceitamos, pois nos sentimos da mesma forma. Eric diz que precisa ir para uma
reunião com o sócio da boate. Garante juntar-se a nós em uma próxima vez.
Na casa da Vicky ficamos no mesmo lugar de sempre, na área de lazer
com vista para um pequeno jardim. Dora nos serve um lanche e quando sai, noto
que Vicky parece querer chorar.
Aperto sua mão por cima da mesa e ela me olha.
— O que foi amiga? A Mel foi para longe, no entanto ela prometeu nos
visitar em todas as férias e até mesmo em alguns feriados — esclareço tentando
acalmá-la.
— É que estou com medo, se alguma coisa der errado a culpa será minha
— desabafa.
Karen também segura sua mão e dá um sorriso.
— Não vai dar nada errado, e se alguma coisa não for conforme o
previsto você não terá culpa. Por que pensa uma besteira dessas?
— Vicky, tudo vai dar certo para Mel, você não deve se preocupar —
afirmo.
— Mas ela conseguiu esse trabalho somente por minha causa.
— A Mel estava disposta a ir embora, se não fosse por você, poderia ir
para um lugar estranho, onde não teríamos conhecimento algum das pessoas que
a cercariam — declara Karen precisa. — O Felipe, apesar de ser grosseiro não
machucará a Mel, sei disso.
Karen, como sempre coerente no que diz.
Vicky enxuga uma lágrima que escorre por seu rosto e dá um sorriso
triste.
— Por esse lado você está certa, e já avisei ao Alano, se o Felipe fizer
alguma coisa com a Mel, vou até lá tirar satisfações.
— Eu vou junto e chuto as bolas dele — declamo orgulhosa.
Karen nos olha e balança a cabeça.
— Não vai acontecer nada, e caso venha a acontecer, é conversando que
a gente se entende. Nada de violência.
Eu sei o quanto Karen odeia qualquer tipo de violência, ela teve um pai
violento e agora foge de qualquer tipo de confusão. Nem de filmes violentos ela
gosta.
Vicky olha para ela.
— O Alano me falou que ele conversou com Felipe e pediu ao irmão
para ser gentil com Mel ou ele próprio iria até a fazenda.
— Olha, vamos nos focar em outra coisa, Mel sabe se cuidar e se souber
que estamos tendo essa conversa vai surtar — digo.
— Você está certa, não soframos por antecedência — Vicky fala mais
animada e me olha. — Agora conta, o Charles ficou chateado por você ter
terminado o falso namoro?
Recosto-me na cadeira.
— Eu o vi duas vezes depois do tal termino, e ele mal fala comigo.
— E o que o Eric diz? — Questiona Karen.
— Acho que o Eric não percebeu e tem outra coisa — começo e olho de
uma para outra. — Ele não gosta de mim.
— Por que você diz isso Gabi? — Vicky pergunta preocupada.
Não quero alertar minhas amigas com bobagens, pois talvez seja coisa da
minha cabeça, e devido a tudo que aconteceu nos últimos dias posso estar
confundindo as coisas, eu nunca fui de sentir medo, porém o modo como
Charles me olhou nas duas últimas vezes, me causou um arrepio de medo. Por
hora guardarei essa informação para mim mesma.
— Não é nada demais, ele está um pouco chateado comigo, só isso. —
Amenizo. Afinal Vicky está grávida e ficar apreensiva pode não lhe fazer bem.
Karen me olha com atenção.
— Você tem certeza disso, Gabi? — indaga seriamente. — Se você se
sentir incomodada sabe que pode vir morar comigo, a Vicky deixou o
apartamento a nossa disposição.
Dou um sorriso e olho para ambas.
— Tenho certeza, está tudo bem.
— Tenho a impressão de que iria contar mais coisas e mudou de ideia —
Vicky diz — você sabe, pode contar com a gente, somos uma família.
— Eu sei disso, e fico feliz em saber — olho para Karen. — Obrigada
pelo convite, quem sabe eu aceite, assim o Eric pode ficar mais a vontade em seu
apartamento.
— Ainda mais o Eric, que é sexualmente ativo, deve ser constrangedor
— Karen comenta e começa a rir.
Constrangedor é pouco, vez ou outra ouço seus gemidos e depois para
encará-lo fica bastante difícil.
Vicky põe a mão na boca e começa rir. Depois me encara.
— Você já ouviu alguma coisa amiga? Conta pra gente, vai.
— Isso conta. Ele vive perturbando a Vicky para contar suas intimidades
— Karen alega.
— Como se precisasse de mim para falar disso. Se vocês ligarem agora
mesmo, Eric conta de bom grado. Esqueceram como ele é exibido? Ele agora só
não tira farinha com a Vicky porque sabe que ela tem praticado bastante —
comento rindo.
— Pior que é mesmo, nesse quesito o Eric nos ganha de lavada — fala
Karen desanimada.
— E se ganha, nem queiram saber — confidencio sussurrando.
Elas me olham e caímos na gargalhada.
Passamos outra tarde descontraída e aproveito para falar sobre meu novo
plano de tentar a faculdade de Arquitetura, conto sobre a descoberta da Mel e
que já procurei me informar sobre como tudo funciona.
As duas se oferecem para me ajudar no que for preciso, até mesmo para
estudar, elas pedem para eu levar o material de estudo, assim elas leem para
mim, pois será mais fácil para eu assimilar. Com certeza aceitarei a ajuda delas,
não sou mais tão orgulhosa como era no passado quando me achava
autossuficiente, aprendi que tenho algumas limitações, elas podem ser vencidas
com o tempo, mas com auxilio tudo fica mais fácil.
Estamos juntas quando Mel liga dizendo que chegou a Porto Alegre,
Vicky põe no viva voz e fazemos uma festa ao ouvir nossa amiga. Ela conta estar
aguardando suas malas para então procurar pelo funcionário da fazenda que irá
buscá-la, ainda terá pela frente duas horas de viagem. Mel desliga prometendo
ligar para todas nós assim que chegar a fazenda, mesmo se for de madrugada.
À noite vou para casa e ao chegar noto que Eric ainda não chegou,
aproveito para mandar uma mensagem para meu irmão, onde ele mora é dia e
provavelmente está se aprontando para o trabalho. Não demora nem cinco
minutos e ele me retorna. Conto para ele sobre minha decisão e noto a emoção
em sua voz, então ele diz para tentar qualquer faculdade e depois dizer a ele,
pois independente de qualquer coisa irá me ajudar financeiramente para que eu
realize meu sonho.
Digo que não haverá necessidade, mas ele insiste então ficamos de
discutir sobre isso em outra hora, afinal nem fiz nenhuma inscrição ainda.
Quando desligo fico olhando o nada, apesar de tantas dificuldades tenho
só a agradecer, pois antes de ir embora da casa da Vicky ela me chamou e disse
para que eu fizesse a prova e assim que passasse, ela acredita nisso, para fazer a
matrícula e tudo mais, ela propõe pagar minha faculdade, de forma alguma
aceitaria, mas Vicky foi taxativa ao dizer que ficaria magoada comigo caso eu
não fizesse isso, pois ela tem como me ajudar e não fará falta.
Apenas acenei, minha amiga quase me fez chorar. Porém me segurei. Dei
um abraço apertado nela e saí o mais rápido que pude, para não desabar em sua
frente. No entanto agora meu irmão diz praticamente a mesma coisa. Não posso
aceitar nada do Diego, ele está mandando dinheiro para os nossos pais, então não
é justo ele ter mais essa despesa comigo.
Depois de tomar um banho, como alguma coisa e vou me deitar, pelo
jeito Eric chegará tarde da reunião, vou aproveitar a folga para dormir cedo,
tentar recuperar o sono. Deito-me e seguro meu pingente pendurado em meu
pescoço e penso em Nicolas, já desisti de lutar contra, pois parece piorar quando
me nego a pensar nele.
Não sei se é o fato dele ser neto de gregos que faz com que eu me sinta
de alguma maneira ligada a ele, sempre fui fissurada no alfabeto grego,
justamente por isso o presente de Diego. Depois de saber sua origem fiquei
obsessiva por ele. Ainda ontem quando vi Charles cheguei a cogitar em
perguntar se ele havia contado para seu chefe do nosso rompimento, mas quando
vi a maneira como me olhou desisti.
Com tanta coisa para me preocupar fico pensando nele e me pergunto se
ao menos se lembra de mim. Eu sorrio comigo mesma. Deve pensar com raiva,
o homem só me atacava quando me via. Isso quando não me beijava. — penso.
Lembrar-me de seus beijos me deixa cheia de ansiedade. Quando vem
em minha memória às vezes que Nicolas possuiu minha boca, meu corpo aquece
e sinto um calor passar por minha pele e acender um desejo louco de estar em
seus braços. Queria tanto experimentar tudo com ele. Pena ele ser um idiota de
primeira. Pelo jeito meu corpo não se importa com a arrogância de Nicolas, no
fim das contas ele é o único capaz de me deixar excitada e com vontade de fazer
coisas imorais.
— Ainda bem que não o verei mais — sussurro para o quarto silencioso.

Alguns dias depois Eric me informa que a Karen vai à boate para levar
uma equipe de patinação do Chile para conhecer a noite carioca, pede para eu
deixar reservada a mesa para sete pessoas e devo entregar a Karen nosso cartão
magnético para ela não pagar pelo seu consumo.
Por sorte minha amiga não é de beber, pois já vi muitas celebridades
perderem a linha ao usar esse cartão.
Hoje não é um dos dias mais movimentados, apesar de ser um sábado,
me dei conta de que os ricos, os mais farristas e baderneiros, não aparecem
muito nos finais de semana, o dia em que eles mais aparecem são as quartas-
feiras, também a maioria deles não precisam acordar cedo ou trabalhar.
— Gabriela querida — chama Eric agitado.
Estou ajudando Verinha, uma das garçonetes, a verificar se todas as
mesas estão limpas. Diante a agitação do Eric eu caminho ao seu encontro no
meio do salão.
— O que aconteceu?
— O chefe acabou de ligar, está vindo com dois amigos — diz enquanto
olha em um bloquinho de anotações.
Eu ainda não conheço o dono da boate, mas segundo Eric, ele é uma
pessoa tranquila e muito simples.
— E o que tem isso? Não entendo esse seu nervoso. Você me contou que
ele é muito legal.
Ele me olha como se eu tivesse falado alguma asneira.
— Ele pode ser a melhor pessoa do mundo, mas é patrão, e isso é o
suficiente para nos preocuparmos, e se acontecer alguma coisa de errado?
Eu sorrio e aliso seu braço.
— Não vai acontecer nada, faremos o possível para ele ser muito bem
atendido — informo com segurança. — Qual mesa separo para ele e seus
convidados?
Eric já nega com a cabeça antes mesmo de eu terminar de falar.
— Ele não pediu nenhuma, ainda não se decidiu se vai ficar lá embaixo
ou virá para a vip.
— Então quando ele chegar é só você providenciar, você é o gerente
deste lugar, e já ouvi por aí muita gente falando bem daqui. Disseram que a
pessoa que administra agora é muito mais capaz que a anterior, eu já te contei
isso — declaro e cruzo os braços. — Esse cara não vai querer perder um
profissional como você, acredite.
Eric me analisa, dá um sorriso e dá tapinhas carinhosos em meu rosto.
— Você está certa, lindinha.
Ele então parece mais calmo e declara não saber a hora que o chefe
chegará, qualquer novidade tentará me avisar, mas não garante, pois precisará
ficar fazendo treinamento com o novo bartender.
Volto aos meus afazeres e algumas horas depois da abertura concluo que
a boate está bastante movimentada. Olho em direção à porta e vejo Karen com
um grupo na entrada e vou recepcioná-los e levá-los até a mesa. Karen me
abraça e me apresenta as pessoas e por incrível que pareça, apesar de serem
estrangeiros, consigo entender a maior parte das frases.
Chamo Karen e entrego o cartão, ela diz não precisar, pois o Eric já fez
muito em conseguir alocá-la e aos seus amigos na vip. Não a deixo argumentar e
a obrigo a aceitar o cartão. No fim ela aceita e então a deixo para cuidar de
outros exclusivos.
Fico de olho em tudo e nunca deixando faltar nada em nenhuma mesa,
hoje está tudo praticamente perfeito, e poderia permanecer assim, até que pela
porta vejo meu maior tormento, ele está acompanhado com dois outros homens.
Meu corpo gela e por alguns instantes fico sem me mover.
Encontro-me no meio do salão, então ele levanta os olhos e me fita. Se
ele acha que eu vou fugir, está enganado, vou agir como se ele não me abalasse,
fazer como faço com todos os clientes daqui.
Empino o nariz e marcho até ele, forço um sorriso. Ele continua me
analisando e tem nos olhos um magnetismo único, o homem me deixa
praticamente rendida.
Paro e olho para seus amigos, ainda sorrindo.
— Boa noite! Sejam todos bem vindos — exclamo, pois devem ser
importantes se estão aqui é por possuírem a pulseira ou o cartão de
exclusividade.
Um dos homens me cumprimenta educadamente.
— Boa noite senhorita, ainda tem mesa disponível? Sei que deveria ter
reservado antes, mas decidi vir para cá em última hora.
O homem além de muito bonito é um cavalheiro, diferente de um de seus
amigos aqui presente.
— Claro, temos sim. Sigam-me, por favor. — Não me contenho, olho
para Nicolas, ele tem faíscas saindo pelos olhos, eu dou um sorriso debochado e
me viro andando de forma pretensiosa.
Tenho vontade rir e sinto seu olhar cravado em minhas costas.
Chego até uma mesa no meio do salão.
Os três param, o simpaticão e o outro cara, que até o momento
permanecia na dele pareciam satisfeitos, não posso dizer o mesmo de Nicolas,
com sua cara amarrada.
— Aqui está perfeito — ele então olha para onde sustento um broche
com meu nome e sorri. Que homem gato! — Gabriela — diz meu nome então.
— Fiquem a vontade, qualquer coisa é só me chamar — informo já
fazendo sinal para Fernando, o garçom que os atenderiam. — Este é o Fernando
ele ficará responsável por esta mesa. Espero que a noite seja agradável —
termino sorrindo com toda simpatia.
Dou mais uma olhada em Nicolas, o imbecil continua me examinando.
Ah que ele vá para o inferno!
Volto ao trabalho e estou conversando com um casal que elogia o
atendimento quando Mariana chega ao meu lado.
— Gabi — chama cochichando no meu ouvido. Sinto alguma coisa
errada pelo tom de sua voz.
Peço licença ao casal e dou atenção a ela.
— O que está acontecendo? — pergunto preocupada.
— Aquela loirinha da mesa quinze é sua amiga, não é mesmo? —
questiona ainda falando baixinho e me sinto alarmada.
— Sim, é — respondo e olho para mesa onde coloquei Karen e seus
amigos e não a vejo, porém sinto um movimento estranho na mesa. — Onde está
ela?
— Então, ela do nada se jogou embaixo da mesa, e pediu que te
chamasse. Discretamente — completa.
Merda! O que está havendo com a Karen. Dou mais uma olhada para a
mesa do Nicolas e ele está conversando com os dois homens e levanta o olhar
me observando, mas continua ouvindo o que seu amigo, o bonitão, diz. Viro-me
e vou até a mesa da Karen.
Seus amigos me olham sem entender nada, e uma das meninas que está à
mesa parece querer rir, mas se segura.
Eu suspiro e me agacho, olhando para debaixo da mesa. Karen tem os
lábios trêmulos, assim que me vê, ela segura minhas mãos nas suas, sinto o
quanto está gelada e fico realmente preocupada.
— Karen, por que você está assim, minha amiga? Escondida debaixo da
mesa. Você ficou maluca?
— Por favor, me tira daqui sem ele ver — sussurra com voz trêmula.
— Ele quem? Do que você está falando?
— Aquele homem, ele chegou acompanhado de outros dois homens,
você os deixou naquela mesa redonda, perto da saída de emergência.
Jesus, ela está falando do Nicolas? O que esse infeliz fez para a minha
amiga? Agora fiquei intrigada.
— Você está falando do Nicolas? — pergunto com medo de sua resposta.
Ela me olha incerta e nega com a cabeça.
— Não sei quem é Nicolas, só dá um jeito para que eu saia daqui sem
que me vejam partir.
Peço que ela espere, e um dos seus amigos abaixa a cabeça e fala alguma
coisa para ela, aproveito e me levanto e noto Nicolas observando meus
movimentos, não é ele o cara que ela quer fugir, provavelmente é o bonitão ou
outro que tem boca e não fala, para nossa sorte eles estão de costas. Então chamo
Mariana e Fernando e peço a ambos para irem até a mesa deles e que os distraia
enquanto levo Karen para a sala de funcionários.
Eles não perguntam e fazem como peço, quando os vejo distraídos
chamo Karen, ela sai da mesa correndo e a levo para a sala de funcionários, ela
se desculpa rapidamente dos amigos e eu seguro sua mão e a puxo para que me
siga.
Na sala fecho a porta e Karen tem lágrimas nos olhos.
— Você vai me contar o que está acontecendo?
Minha amiga senta em uma cadeira com as mãos no rosto e chora, vê-la
assim me deixa despedaçada. Não sei o que está acontecendo, mas seja o que for
não vou deixar isso barato.
Ela finalmente me olha e me abaixo ficando em sua frente.
— Lembra-se daquela vez, quando eu estava na casa da Vicky toda
machucada? — pergunta, e é claro que me lembro, Karen não contou nada sobre
seus machucados, mas era visível que havia levado uma surra de alguém, foram
momentos difíceis, pois ela ficou muito tempo mal, acredito que nem tanto pela
dor física, mas emocional. Quando eu aceno sem dizer nada. Ela continua. —
Foi por causa dele.
Levanto-me colocando a mão na cintura, juro que se um daqueles
homens fez aquilo com a Karen, hoje ele pagará.
— Qual deles fez isso? — Se ela disser que foi o moreno de barba não
sei o que vou fazer, embora ela tenha dito não conhecer nenhum Nicolas.
— O cara de olhos verdes, ele está de camisa azul — fala num murmuro
e baixa os olhos.
Meus Deuses, ela está falando do simpático bonitão. Mas ele me paga —
logo penso.
— Ele te bateu? — demando indignada.
Ela nega rapidamente com a cabeça e me olha novamente.
— Não, por mais que ele tenha sido cruel comigo, ele nunca levantaria a
mão para mim, mas por causa dele levei aquela surra. — Ela começa a chorar,
talvez as memórias estejam a deixando muito sensível. — Só dê um jeito de me
tirar daqui sem o Lucas me ver, não quero me sentir envergonhada novamente.
Lucas. Lembro-me desse nome, esse cara foi o grande amor da vida da
Karen, ela de uma hora para outra parou de falar dele e mesmo não sabendo
direito o que houve, sei que ele quebrou o coração da minha amiga, logo a
Karen, a pessoa mais amorosa e dedicada. Estou com vontade de socar a cara
desse imbecil, sinto um ódio tomar conta de mim. Isso não ficará assim, porém
antes vou cuidar da minha amiga.
Puxo Karen, dou um forte abraço nela e me afasto.
— Vou te tirar daqui, mas você vai ficar bem? Se quiser dou um jeito de
ir contigo. — Se precisar largo tudo a fim de acompanhá-la, vou acudir minha
amiga, afinal é bem provável eu perder o meu emprego de qualquer forma.
— Ficarei bem se sair daqui logo, e preciso ficar sozinha, amanhã nós
conversaremos.
Dou um sorriso triste.
— Ok, espere aqui — peço e beijo seu rosto.
Providencio tudo para minha amiga sair sem ser vista, chamo um dos
seguranças e conto que Karen não está bem e peço para sair com ela pela
cozinha, pois temos uma saída extra por ali a qual nunca usamos. Karen se
despede de mim e fico de vê-la no dia seguinte. Assim que minha amiga se vai,
eu respiro fundo.
— Agora minha conversa é com você, Lucas. Ninguém mexe com a
minha amiga — resmungo para mim mesma e saio da sala.
Olho tudo em volta e vou para a cozinha.
Encontro com Fernando no caminho levando algumas bebidas e petisco.
— Tudo certo? — ele pergunta sorrindo.
Olho para a bandeja em suas mãos.
— Sim, ela foi embora — digo e aponto para a bandeja. — Para quem é
esse pedido?
— Para a mesa 9B — responde e eu dou um sorriso malicioso.
Pego a bandeja de suas mãos e ele não entende nada.
— Atenda aquele casal da onze, deixa essa comigo, eu faço questão de
servir.
Ele dá de ombros e se afasta.
Com toda a coragem caminho, e Nicolas logo vê quando me aproximo.
Paro ao lado dele e de frente para o tal Lucas, o canalha fez minha amiga sofrer.
Sem saber de nada ele sorri com essa falsa simpatia que agora me enoja. Bato
com toda força a bandeja na mesa e tem algum molho que respinga, mas não
quero nem saber.
— Você tem uma força e tanto — comenta sorrindo.
Sinto o toque do Nicolas em meu braço e eu o olho, ele me encara
intrigado.
— Está acontecendo alguma coisa? — pergunta de forma sucinta.
— Ainda não, mas vai acontecer — esbravejo entre dentes.
Então pego o prato que tem algum tipo de carne com molho e jogo na
cabeça do tal Lucas o deixando sem ação, largo o prato de lado e não satisfeita
jogo todo o líquido âmbar em cima dele.
Ele se levanta e o rapaz ao seu lado também se levanta e se afasta. Belo
amigo ele tem. Bando de homens idiotas.
— Você está louca garota? — Ele então segura meu braço e seus olhos
saem faíscas de raiva.
Nicolas de alguma maneira o afasta de mim, porém estou com o capeta e
vou para frente de Lucas e dou um empurrão nele.
— Você é um safado ordinário, seu babaca! E isso é pouco diante do que
fez com a minha amiga — berro batendo nele.
Noto todos pararem e prestarem atenção na pequena confusão. Pouco me
importa, não estou nem aí para o que pensam.
— Alguém segura essa louca — ele pedi com raiva e Nicolas me segura
pela cintura me impedindo de dar mais tapas nele.
— Sou louca sim — grito e tento sair do aperto de Nicolas.
— Calma Gabriela, você vai acabar se prejudicando — Nicolas diz em
meu ouvido, mas nada me acalma, eu só quero arrebentar com esse Lucas.
— Ele tem que pagar pelo que fez a Karen — grito olhando com raiva
para o homem todo sujo a minha frente. — Você é um verme.
Lucas muda totalmente a expressão.
— Karen? Você é amiga da Karen? E onde ela está? — questiona com
voz baixa.
— Meu Deus, o que está acontecendo aqui? Gabi você pode me explicar
por que está atacando o nosso chefe? — ouço a voz do Eric e todos olham para
ele.
Puta merda! Esse é o dono da boate? Estou ainda mais encrencada.
Capítulo Dezesseis

Nicolas
Q uando Lucas me chamou para bebermos alguma coisa a principio eu recusei,
disse não estar animado para sair, pois estava com muitas coisas na cabeça e
tendo várias pendências a resolver, então ele soltou que estava indo à sua boate a
qual era proprietário junto com seu primo, apenas para averiguar como as coisas
estavam se encaminhando.
Animei-me na mesma hora, afinal a tal boate é a mesma onde Gabriela, a
minha diaba, trabalha. Saber disso me deu uma nova energia para sair de casa,
estava mesmo querendo dar um jeito de vê-la, e a oportunidade me pareceu
perfeita.
Só não contava que a noite terminaria por Gabriela atacar meu amigo
daquela forma, eu notei alguma coisa estranha acontecendo no momento em que
a vi abaixada falando com alguém debaixo da mesa. Quando dois garçons
vieram a nossa mesa nos oferecendo a especialidade do chef, disfarcei e olhei em
sua direção quando levava uma moça loira às escondidas para algum lugar.
A garçonete ao reparar que Gabriela já não estava mais no salão deu um
sorriso e pediu licença se afastando, fiquei muito intrigado com aquilo. Lucas e
seu primo, Alexander, estavam numa conversa séria sobre investirem numa
boate em São Paulo, tentava a todo custo me engajar na conversa, mas Gabriela
e o que poderia estar aprontando não saia da minha mente.
Tudo virou uma grande confusão de uma hora para outra, Gabriela sem
explicação surtou e atacou Lucas pegando todos de surpresa, ela simplesmente
jogou o aperitivo que Alexander havia pedido na cabeça do Lucas e não
satisfeita pegou meu uísque e também jogou nele.
Lucas se levantou e tentou segurá-la, eu com medo dele machucá-la me
enfiei na frente, enquanto Alexander observava tudo de longe com cara de riso e
assim como eu, sem entender nada.
Gabriela consegue passar por mim e vai novamente para cima de Lucas o
estapeando e ele apenas tenta se defender. Observo em volta e vejo todos
olharem em nossa direção. Essa diaba está agindo como uma louca desvairada.
— Você é um safado ordinário, babaca! E isso é pouco diante do que fez
com a minha amiga — esbraveja e continua batendo nele.
— Alguém segura essa louca. — Noto Lucas perdendo a paciência.
Eu a seguro pela cintura, e ela tenta de toda maneira sair do meu aperto.
— Sou louca sim — declara com voz alta e sua bunda se esfrega em
mim, se ela não estivesse tão irada eu aproveitaria a sensação.
— Calma Gabriela, você vai acabar se prejudicando — sussurro em sua
orelha.
E como diz minha mãe, nunca peça uma mulher para se acalmar quando
ela estiver brava, pois é o mesmo que invocar o monstro que existe nela.
Gabriela faz de tudo para se soltar, mas me mantenho firme a segurando.
— Ele tem que pagar pelo que fez a Karen, você é um verme.
Quando ela diz isso vejo Lucas olhando para ela surpreendido, ele está
todo sujo com um caldo viscoso escorrendo por seu rosto, meu amigo se
encontra imundo. Alexander observa Lucas querendo entender toda essa loucura.
— Karen? Você é amiga da Karen? E onde ela está? — Lucas exige e dá
a entender querer se aproximar de Gabriela, então a seguro com mais força.
Ele até pode ser meu amigo, ela pode não prestar, mas não vou permitir
ele encostando um sequer dedo nela.
— Meu Deus, o que está acontecendo aqui? Gabi você pode me explicar
por que está atacando o nosso chefe? — alguém fala e Gabriela paralisa em
meus braços.
Ela permanece alguns segundos em silencia, não tinha ciência sobre
Lucas ser o dono da boate.
— Esse desgraçado é o nosso chefe? — indaga entre dentes.
O rapaz que acabou de chegar parece muito nervoso.
— Lucas, me desculpe, mas você falou alguma coisa para ofender a
minha funcionária?
Lucas olha para Gabriela, muito sério, e a diaba parece não ter noção do
perigo e o encara empinando o nariz.
— Por que você fez isso? Exijo uma resposta.
— Vai se catar, você e essa boate. Recuso-me a trabalhar aqui sabendo
que você é o cara que estraçalhou o coração da minha amiga.
— Gabriela, agora chega de show! Vamos todos para minha sala, as
pessoas não estão aqui para assistir a essa discussão ridícula. — O cara fala
muito sério, olhando para Gabriela. — Lucas, se quiser, você pode se lavar
primeiro no banheiro privativo — completa olhando na direção de Lucas.
— Imbecil! Isso foi pouco — Gabriela ainda resmunga.
Vamos todos para a mesma direção de onde Gabriela levou a moça loira,
que agora acredito ser sua amiga.
Na sala estamos eu, Gabriela, Alexander e o cara que trabalha na boate.
— Vou tentar acalmar as coisas lá fora, por favor, não me faça mais
besteiras — ele pede a ela e sai em seguida.
Finalmente Gabriela se afasta de mim e cruza os braços invocada.
— Não sei por que devo ficar aqui, vou ser demitida mesmo.
Seu cabelo está se soltando, e fica uma bagunça. E posso estar sendo um
pervertido, mas essa diaba é sexy!
— Você sabe que pode responder por isso, não é? — Alexander fala para
ela.
E se ele achou que colocaria algum medo em Gabriela, se enganou, pois
ela se vira para ele, coloca a mão na cintura e dá um passo em sua direção,
Alexander dá um passo para trás.
— Quem merece polícia é seu amiguinho, ele sim merece estar preso.
Alexander dá um sorriso debochado.
— E desde quando partir um coração dá cadeia?
Porra, Alexander tá brincando com fogo.
— Desde que a pessoa em questão apareça toda machucada, cheia de
hematomas.
Alexander fica sério, eu me aproximo.
— Não acredito em você, o Lucas jamais levantaria a mão para uma
mulher, você com certeza está enganada.
— Esse ordinário pode até não ter feito a ação, mas garanto, ele é
culpado. Karen não mentiria — esbraveja.
— Gabriela — a chamo e ela me olha, ela parece se dar conta de que
estou aqui, seus olhos têm um brilho diferente ao me fitar. — Você não quer
beber alguma coisa? Você está muito nervosa.
Ela nega com a cabeça e volta a cruzar os braços ainda me olhando.
— Não, eu estou bem.
Lucas e o rapaz da boate entram na sala.
— Gabriela você está mais calma? — pergunta.
Ela olha para ele e parece pensar, então olha para Lucas.
— O Eric, não tem culpa de nada, ele é um ótimo funcionário. Se quiser
me levar à polícia, me mandar presa, faça como quiser. Mas não o envolva nisso.
Lucas carrega uma toalha no ombro e veste uma camisa branca.
— Eu tenho ciência de que o Eric é meu melhor funcionário, por isso o
escolhi como meu gerente. Não precisa falar nada — Lucas olha para o rapaz,
que agora sei se tratar do Eric, ele parece apreensivo. — Eric, vamos fingir que
isso não aconteceu, agora eu preciso conversar com a funcionária, você pode nos
dar licença, por favor.
— Você vai denunciá-la?
Lucas sorri sem vontade.
— Ela até merece, mas não vou fazer isso, só preciso conversar, fique
tranquilo, farei nada contra a nossa funcionária.
— E não vai mesmo, eu sei muito bem me defender e não pense que te
acho bonzinho só porque não vai dar uma queixa contra mim — argumenta
Gabriela enfurecida.
Eric se aproxima dela e a segura pelos ombros.
— Por favor, eu te peço, não complica ainda mais as coisas, ou você
pode vir a me prejudicar — a última frase ele diz baixinho, mas posso ouvir
perfeitamente.
Ela apenas acena com a cabeça e então ele sai.
— Alexander, você pode me aguardar lá fora? — Lucas pede e
Alexander tenta argumentar, basta um olhar decisivo de Lucas e seu primo sai
sem questionar.
Então Lucas me olha.
— Não vou ficar aqui sozinha com você — Gabriela diz batendo o pé. —
E saiba, só estou aqui te aturando porque o Eric pediu.
Eu não sei se ela tem algum problema na cabeça. É a única explicação
para estar agindo assim com o Lucas, mas ela está certa, não vou deixá-la
sozinha com ele.
— Tudo bem, o Nicolas fica — diz e solta um suspiro, Lucas caminha
até o meio da sala e se vira de repente olhando para Gabriela. — Eu preciso que
você me fale da sua amiga, eu quero muito falar com ela.
— E você acha que vou falar da minha amiga para você? Prefiro ir presa,
e comer jiló todos os dias, me abster de chocolate para o resto da vida a falar
qualquer coisa sobre ela. Você já a fez sofrer o suficiente.
Ele joga a cabeça para trás e parece pensar, até voltar a olhar para
Gabriela.
— Eu jamais faria algum mal à Karen, prefiro machucar a mim mesmo
do que até mesmo imaginar feri-la.
Lucas fala de um jeito emocionado, seja quem for essa Karen tem
alguma importância em sua vida.
Gabriela olha para o lado, e desta vez parece cansada, ela volta a encarar
Lucas.
— Me desculpe, mas eu vi como minha amiga ficou, eu vi seu
sofrimento. E sabe, a Karen é uma das únicas pessoas do mundo que não
merecia sofrer daquela maneira, ela passou por muita coisa na infância, e mesmo
assim, tendo todos os motivos do mundo para ser uma pessoa revoltada, é a
pessoa mais bondosa que eu conheço.
Lucas dá um sorriso seco.
— Eu sei disso, ela merece o melhor.
— Eu não pude proteger minha amiga no passado, mas agora, se
depender de mim, ela não vai mais sofrer.
— É bom saber que ela tem uma amiga como você — Lucas dá um passo
à frente e fica cara a cara com Gabriela, ela não vacila e eu ponho a mão em seu
ombro, noto sua tensão. — Mas agora, eu sei que ela está por perto, eu vou
encontrá-la, custe o que custar.
Ela dá ombros.
— Boa sorte com isso — debocha.
— Incrível como você é diferente dela — comenta balançando a cabeça.
Lucas se afasta. — Eu não vou demiti-la, mas isso agradeça a sua amiga. Pois
embora você duvide eu quero o melhor para ela, e não quero que ela se sinta
culpada por sua demissão.
Ele sai da sala deixando eu Gabriela a sós.
— Não vai me demitir, quem ele pensa que é? Eu é que não quero
trabalhar mais aqui — resmunga.
Ela olha para mim e fica me encarando.
— O que foi? — pergunto.
— Belo amigo o seu, depois fala de mim.
— O Lucas é um homem muito íntegro.
— Sim, um homem que iludiu uma menina. E quando viu que não a
queria por perto deu um jeito de se ver livre dela.
— Não sei qual a história, mas talvez sua amiga tenha se enganado em
alguma coisa.
— A Karen não é mentirosa — repreende me olhando com raiva.
Meu Deus, a mulher deve estar na TPM, só pode.
— Eu não disse isso.
— Mas insinuou.
Eu respiro fundo, talvez hoje não seja um bom dia para enfrentá-la.
Ela coça o nariz e sei que está nervosa. Então me aproximo dela ficando
bem a sua frente. Ela me fita intrigada e sua expressão zangada me deixa
excitado.
— O que é agora? — questiono olhando seus lábios carnudos.
— Eu que pergunto, por que me olha?
— Por causa disso. — A puxo pela cintura colando nosso corpo.
Sem esperar abaixo minha cabeça e tomo seus lábios, não era o que
pretendia fazer, no entanto em se tratando de Gabriela, eu não ajo como o
planejado. Ela solta um gemido e me esfrego nela para sentir meu desejo, ela
também sente o mesmo por mim, disso tenho certeza. Minhas mãos descem e a
seguro pela bunda. Meu membro pulsante clama por ela, todo meu corpo tem
fome dessa diaba.
Anseio por tocar todo seu corpo. Quero Gabriela nua, a minha mercê,
preciso matar essa fome, a necessidade que sinto está me tornando um homem
desorientado. Enquanto eu não tê-la não poderei voltar ao normal. Preciso dar
um jeito nisso. E logo.
Afasto meus lábios dos seus e nos olhamos envolvidos em uma névoa de
desejo, respiramos com dificuldade.
— Encontra-me amanhã? — peço e distribuo beijos por seu rosto, ela se
derrete em meus braços.
— Eu não sei se devemos — sopra insegura.
— Pede para não trabalhar manhã, e vamos nos encontrar.
— Não sei se quero vir trabalhar para esse infeliz — diz e mesmo tão
envolvida consegue ser tempestuosa.
Eu solto uma risada.
— Então, enquanto não se resolve, vamos nos ver amanhã à noite —
digo e paro de beijar seu rosto e nos fitamos. — Por favor, vamos nos ver
amanhã — arrisco um pedido mais humilde.
— Ok — sussurra, e eu sorrio. Ela olha encantada para meu rosto.
Antes de desistir pego seu telefone no bolso de seu blazer, ela me olha
espantada.
— Não me olhe assim, eu sei que você fica o tempo todo com seu celular
no bolso — confesso, digito meu número e ligo para mim, meu telefone vibra,
então desligo e o devolvo. — Aqui, pensa num jeito de colocar senha, ou
qualquer pessoa pode pegar seu aparelho.
Ela pega o telefone e me olha com irritação.
— A única pessoa que já fez isso foi você — revela e guarda o telefone.
Eu a puxo novamente e a beijo cheio de paixão, depois a solto e caminho
de costas para a saída. Ela me observa sem ação.
— Amanhã eu te ligo, nem pense em fugir.
— Não sou mulher de fugir — responde impetuosa.
— Por que será que não acredito? — questiono.
Ela apenas balança a cabeça e tenta não sorrir.
— Sai logo, o seu amigo imbecil deve estar esperando por você.
— Até amanhã — digo e me viro para abrir a porta, porém antes de sair
paro e a encaro, ela permanece no mesmo lugar. Então mostro o cordão dela que
consegui pegar em nosso último beijo, ela abre a boca surpreendida. — Te
devolvo amanhã.
Ela põe a mão no pescoço e nota ser mesmo o seu cordão e pingente em
minhas mãos.
— Devolva-me isso — esbraveja e vem andando até mim.
— Amanhã eu prometo te devolver, tchau! — exclamo e fecho a porta
antes que ela me alcance.
Agora o jogo começou, essa diaba vai aprender a não brincar comigo. Ao
mesmo tempo em que ensinarei uma lição a ela, vou me satisfazer em seu lindo
corpo. Ela será minha, e pensar nisso me dá uma energia fora do comum.
Do lado de fora parece tudo normal, desço as escadas e vejo Lucas e
Alexander conversando calorosamente, o clima não está bom, isso é perceptível,
aproximo-me deles e os encaro.
— Aconteceu mais alguma coisa? — questiono e olho para Lucas.
Ele passa a mão pelo cabelo denotando seu nervosismo.
— Está tudo bem, apenas o Alexander não quer entender algumas coisas.
— Não entendo como você falou para seu gerente que foi indelicado com
aquela maluca — diz revoltado e aperto meus punhos querendo socar a cara
dele, ele não tem o direito de chamar Gabriela de maluca, ele não a conhece.
Antes que eu diga alguma coisa Lucas olha para ele.
— O que você não entende, eu não posso perder essa funcionária de
vista, pois ela em algum momento me levará a Karen.
— E quem é essa Karen? Outra maluca? Por que só pode, para ser amiga
dessa daí — comenta apontando com polegar em direção das escadas.
Lucas chega perto dele me surpreendendo com sua atitude.
Ele não toca no primo, mas rosna como um animal enraivecido.
— Nunca, mas nunca em sua vida repita nada que vá denegrir a Karen,
ou eu juro, acabo com sua raça.
Alexander dá um passo para trás e eleva as mãos em rendição.
— Você sabe o que faz, não vou dizer mais nada.
— Melhor — ele me olha passando a mão novamente pelo cabelo, o cara
se continuar assim vai ficar careca antes que amanheça o dia. — Nicolas,
desculpa, a noite não terminou do jeito que gostaria, mas ao menos temos o lado
bom de tudo isso — diz e sorri olhando para as escadas.
— Que lado bom, meu amigo? Pois devo lhe dizer, você se encontra um
trapo e cheira a tempero e álcool — confesso tentando não rir.
Ele me olha, e apesar de tudo Lucas parece satisfeito.
— Finalmente eu tenho uma pista da minha little bee — diz e suspira
sorrindo — posso senti-la mais próxima a mim, isso me deixa muito satisfeito.
Eu coço a cabeça e fico na dúvida se conto ou não, pois algo me diz que
a loira amiga da Gabriela, a fujona, é a mesma pessoa de quem ele fala.
— Lucas — chamo e ele me olha sorrindo. — Eu acho que essa moça, a
qual você está falando, estava aqui na boate mais cedo.
Ele fica sério de repente.
— O que? Como você sabe? Você a conhece? Diz-me logo.
— Hei, calma aí, eu não a conheço, mas eu vi quando a Gabriela a tirou
do salão vip, ela nitidamente estava querendo fugir de você, e alguns instantes
após ela ter ido embora foi que aconteceu isso. — digo apontando para seu
estado.
— Merda, como eu não a vi?
— Vocês dois estavam de costas, não tinha como ver.
— Olha não sei vocês, mas para mim a noite já deu, e o pior é que não
consegui nem o telefone de uma gata — reclama Alexander.
Caminhamos para a saída e o motorista do Lucas o aguarda, ele me
oferece uma carona, Alexander vai para o outro lado da cidade, então já que
Lucas também vai para o Leblon aceito sua carona.
No caminho conversamos um pouco, ele está muito pensativo e não fala
nada sobre a tal Karen, porém é visível o quanto ela mexe com ele, tomara que
ela não seja uma pervertida como a amiga. Acredito que Lucas seja um homem
esperto e não vá se deixar levar por uma oportunista, ele é um homem esperto.

Em casa depois do meu banho me deito e pego o cordão da Gabriela em


minhas mãos e passo o dedo pelo pingente. Lembro-me de sua expressão ao
perceber seu cordão em minha mão. Ela disse certa vez que foi um presente de
seu irmão, me pergunto se foi mesmo. Qual será o significado desta letra grega
para ela? Significa alguma coisa, disso tenho convicção.
Gabriela é um mistério a ser desvendado.
Charles não fala mais dela e anda muito nervoso pela empresa, já temos
provas suficientes contra ele, só não fiz nada porque Cassiano ainda está se
recuperando, também não descobriram quem foi o hacker que o ajudou, embora
eu desconfie de Gabriela, a sorte dela é eu sentir um tesão insano, e isso pode vir
a ser bom para essa diaba, embora dentro de mim cravo uma guerra. Uma parte
minha quer acabar com ela, fazê-la pagar, e outra, a parte mais forte a deseja,
independente de qualquer coisa.
Ainda não sei se a confronto logo ou espero, não quero correr o risco de
contar a Charles que foi descoberto, preciso dele por perto.
Guardo seu cordão na gaveta da mesa de cabeceira. E volto a pensar nela
e no quanto é impulsiva, porém pode ter todos os defeitos, mas uma coisa é
certa: ela é uma amiga leal, e por mais que eu não queira admitir, devo ser
condescendente nesse aspecto, a valentia de Gabriela e sua paixão ao defender
sua amiga me deixaram impactado.
Ela me surpreendeu de forma positiva. E fico imaginando toda essa
selvageria no momento de excitação. Só de imaginar meu pênis cria vida. Porém
o ignoro, me recuso a me aliviar como um adolescente pervertido. Mesmo
porque logo terei Gabriela satisfazendo meus desejos.
Ela não me escapará. De forma alguma.
Capítulo Dezessete

Gabriela
D esde que saímos da boate, Eric não tocou no assunto, mas sinto seu olhar em
mim até chegarmos em casa. Assim que adentramos ele joga sua bolsa no sofá e
com as mãos na cintura me olha.
— Agora você vai me contar a verdade ou continuará se fazendo de
inocente? — indaga sério, algo difícil de ver.
Eu bufo.
— O seu chefinho não falou? — digo me jogando na poltrona.
— O Lucas não disse muita coisa, só que você teve razão para fazer o
que fez, pois comentou alguma coisa desrespeitosa na sua frente — Eric conta e
também se senta, ficando de frente para mim e me encarando. — Não sou idiota,
alguma coisa está nessa errada nessa história, não acredito nele. Por tanto estou
esperando por você para me contar a verdade, você é irritadinha, mas a ponto de
agredir uma pessoa daquela maneira? Deve ser algo muito sério.
Droga! Não quero falar sobre a Karen, por mais que ele seja um bom
amigo e confiável, mas essa história a pertence, e cabe somente a ela contar.
— Pois foi exatamente isso, eu não quero falar disso. — Encosto-me no
apoio do sofá e fecho os olhos.
— Eu não sou idiota, ouvi muito bem você dizendo que ele fez algo com
sua amiga, e por coincidência, Karen sumiu da boate assim do nada. Juntando os
pontos, lembro que o nome da grande paixão da Karen é Lucas — completa, eu
abro os olhos e o encaro, Eric me observa com olhos semisserrados. — Então?
Vai continuar achando que sou algum idiota?
Levanto-me e ponho a mão na cintura.
— Apenas vou dizer o seguinte, não me arrependo de nada, fiz pouco e
não vou ficar falando coisas das quais não sei, ou que sei só uma parte — falo e
nem eu entendo o que eu quis dizer direito.
Ele sacode a cabeça.
— Gabriela, não vou perguntar nada sobre Karen e Lucas, mas você não
pode sair atacando todo mundo que um dia magoou alguma amiga sua, porque
meu bem, homens enganando mulheres você encontrará aos montes nesse
mundo.
— Você está certo, não posso atacar todos, o que é uma pena. Mas se
precisar dar uma lição quando tiver a oportunidade, não vou deixar passar.
Eric se levanta.
— Estamos exaustos, a gente conversa amanhã — diz pegando sua bolsa,
então me olha sorrindo. — Não posso falar isso, mas agora é seu amigo e não
seu chefe falando — anuncia e se aproxima de mim tocando meu ombro. — Se
todas as amigas fossem como você, tão zelosa, não teríamos tantos cretinos por
aí, eu me sinto um privilegiado por tê-la como amiga.
Eu sorrio e o abraço.
— Obrigada, e eu só me arrependo de ter trazido problemas para você,
pois sei o quanto você ama gerenciar a boate — confesso.
Ele se afasta e me olha, com um largo sorriso desenhando seu rosto.
— Imagina! Não me trouxe problemas, e se o Lucas for mesmo um
cafajeste serei o primeiro a deixar de trabalhar para ele, mas por enquanto darei a
ele prerrogativa da duvida.
— Você está certo — digo e então penso em algo que me afligiu depois
que tudo passou. — Será que alguém filmou ou fotografou?
Ele caminha em direção ao quarto.
— Não, mesmo porque é proibido fotografias naquela área por questões
de privacidade. Somente eu, você e o chefe da segurança podem portar celulares,
então quanto a isso, não há problemas — revela e me sinto mais aliviada. — Boa
noite, ou bom dia, o que preferir.
— Eric — chamo e ele se vira —, irei ver a Karen após tirar um cochilo.
Ele sorri.
— Mande um beijo para ela, e saiba que estou do lado de vocês, não me
importa se o Lucas é meu chefe.
— Obrigada — digo, ele joga um beijo e finalmente entra em seu quarto.
Vou para o meu quarto e tiro minha roupa para tomar um banho, depois
de pôr meu pijama me deito e levo a mão até meu pescoço e lembro que estou
sem meu cordão.
Nicolas, aquele cretino roubou meu cordão.
Esse homem está me enlouquecendo, e agora mais essa. O que ele
quererá comigo? A ponto de pegar meu cordão para que eu vá ao seu encontro?
Eu garanti que não fugiria dele, disse a verdade quando afirmei não ser mulher
de fugir, mas com Nicolas talvez fosse melhor correr para as montanhas. Embora
deva confessar, sinto algo muito forte por ele.
Todas as vezes que estou perto dele me sinto diferente, uma força
incomum me domina e é como se uma emoção aflorasse em meu ser, meu corpo
adquire uma vivacidade desmedida. Quando me beija esqueço-me de tudo.
Nicolas tem esse poder sobre mim, de me deixar completamente perdida e
necessitada de seu toque.
Fecho meus olhos para dormir pensando em seu beijo, e na forma como
me segurou em seus braços, com seu calor chegando ao meu corpo, o quanto
fiquei excitada sentindo seu pênis duro roçando em minha barriga.
Logo eu, que jamais me deixei dominar por nenhum homem, não que
isso me importe tanto, tive poucos encontros, mas nenhum me despertou a ponto
de querer me entregar, não que eu não tenha sentido desejo, claro, já senti, porém
minha dificuldade sempre me impediu de me envolver por completo. Crescer
sendo chacota me fez bastante hesitante quanto a confiar nas pessoas.
Principalmente nos homens. Nunca deixei levarem vantagem sobre mim, essa foi
minha maneira de me defender.
No entanto agora, não estou sendo capaz de me resguardar. De alguma
forma, Nicolas está atravessando esse escudo que construí na tentativa de não
me magoar. E o pior de tudo: no fundo de minha alma eu começo a gostar e ao
mesmo tempo temer esse sentimento que toma conta de mim.

Durmo apenas por algumas horas e decido ir logo pela manhã ver a
Karen, deixo um bilhete para Eric dizendo para não se preocupar comigo e
informando que não vou à boate hoje a noite. Ao menos é domingo, não há
nenhuma reserva importante. Além do mais, preciso de um tempo longe de lá,
pois não sei se posso trabalhar para o Lucas.
Ligo para Karen e peço que me aguarde, não a deixo dar nenhuma
desculpa e desligo antes de dizer alguma coisa. Passo na padaria e compro
alguns chocolates, pois estou precisando.
Quando chego Karen me recebe com um sorriso que não chega aos seus
olhos, ela não me engana. Sentamos no sofá e apenas a olho, ela respira fundo e
me encara.
— Espero não ter prejudicado você com aquele meu rompante de ontem —
murmura com voz baixa e parecendo arrependida.
Seguro uma de suas mãos nas minhas.
— Karen, você é uma das minhas melhores amigas, mais que uma irmã,
e eu faria qualquer coisa por você. Minha preocupação é saber se você está bem
— declaro.
Ela sorri e baixa o olhar.
— Sim, nem sei direito o porquê de agir daquela forma, me desesperei,
não pensei com bom senso.
— Pouco importa como agiu. Você fez o que achou certo na hora.
Ela volta a me olhar.
— Ele não me viu, não é mesmo? — pergunta insegura.
— Não, ou teria ido falar com você.
Ela sacode a cabeça.
— Lucas nem mesmo deve se lembrar da minha existência.
Talvez seja hora de contar o que aconteceu depois de sua saída.
— Karen, eu acho que você está enganada — informo e então me
levanto, preciso beber uma água, antes de contar para minha amiga o que fiz.
Peço para me aguardar um instante e parece ansiosa querendo saber o
que tenho a dizer. Volto da cozinha, ela permanece sentada e me observa, então
conto sobre a confusão após sua saída. Karen conhece meu temperamento, talvez
tenha pensado que eu tinha passado desta fase de me meter em confusão.
Também pensava isso. Pelo jeito estava enganada, ainda sou capaz de me meter
em briga.
Karen ouve tudo com cara de espanto, abre e fecha a boca sem nada
dizer.
— Meu Deus, Gabi! Você enlouqueceu? Você poderia se prejudicar.
— Ah! Karen, não estou nem aí para isso. Aquele crápula mereceu.
Ela finalmente se levanta e põe a mão na testa.
— Amiga, eu devo ter passado alguma ideia errada, o Lucas não me
machucou fisicamente, ele nunca faria isso.
— Mas te machucou emocionalmente, e isso é ainda pior, não vá agora
defender aquele traste — repreendo e ela ri sem vontade.
— Gabi, eu sei que você só quis me defender, porém você não pode sair
brigando com as pessoas desta maneira. O Lucas me magoou sim, mas ele não é
obrigado a sentir por mim o mesmo que um dia senti por ele.
Olho para Karen e cruzo os braços.
— Sentiu ou sente? Porque conforme fala demonstra ainda estar ligada
de alguma forma a ele. Você gosta dele, posso ver em seus olhos.
Ela não me encara.
— Não gosto. Não vejo o Lucas tem quase três anos, aquele sentimento
de adolescente apaixonada acabou.
Eu bufo e solto uma risada.
— Vou fingir acreditar em você, embora nem você acredita no que diz —
asseguro e me aproximo dela e então ela me olha. — Mas fique preparada, esse
cara deixou claro que vai te encontrar.
Ela arregala os olhos.
— Você contou onde moro?
— Não. Você está maluca? — pergunto ofendida e ela fica sem graça. —
Eu não faria isso, ele tem que sofrer um pouquinho antes de te encontrar —
revelo com um sorriso travesso.
— Mas e o Eric? Ele não dirá nada?
— Acredito que não. Eric independente de qualquer coisa está do nosso
lado, e mesmo assim o Lucas não sabe da ligação do Eric com você.
— Tomara que você esteja certa — ela diz pensativa.
Eu dou um tapa em seu braço e rio.
— Mas amiga, você nunca contou que o Lucas é um gato. E aquele olho
lindo? Ele pode ser um cretino, mas é muito bonito.
Karen sorri sem graça e seus olhos brilham, ela não admite, porém nutri
algum sentimento por Lucas, isso é certo.
Depois de almoçarmos ela precisa sair e se encontrar com o pessoal da
equipe, pois deve se desculpar formalmente por ter fugido sem deixar nenhuma
explicação. Ela deixa uma chave do apartamento comigo e decido descansar um
pouco. Ainda não tive nenhuma notícia de Nicolas, será que ele vai me ligar?
Meu coração fica apertado e não sei se devo ou não vê-lo. Sei que não é uma boa
ideia estar com ele. Mas preciso recuperar meu cordão.
Ligo a TV e fico mudando o canal, nada me chama atenção, então ouço o
bip do meu telefone e vejo que é uma mensagem. Droga! Odeio essas
mensagens! Concentro-me e leio devagar.
“A que horas posso te encontrar? Passe-me seu endereço.”
Solto o ar preso em meus pulmões.
— O que ele pensa que é?
Penso em minha resposta e então pelo aplicativo do telefone mesmo falo
o que quero escrever, eu poderia digitar, mas como estou muito ansiosa,
provavelmente vou errar tudo, então desde que Diego me ensinou a usar esta
função, já não escrevo mais nada pelo celular ao querer mandar uma mensagem.
“Boa tarde para você também. E respondendo a sua pergunta estou
livre daqui algumas horas.”
Releio a mensagem e parece ok, então a envio. Não quero ele pensando
em mim como uma mulher à toa, a sua disposição. Quero deixar transparecer o
quanto sou ocupada.
Alguns segundos se passam e o telefone apita novamente.
“Me passe sua localização.”
Faço careta para o telefone, que homem mais seco, nem para perguntar se
estou bem, só vou encontrar com ele para recuperar meu cordão, então venho
embora.
Faço como ele pediu mandando a localização, em seguida ele passa outra
mensagem dizendo que chegará às 18h.
— Imbecil — resmungo e como ainda tenho tempo me deito para tirar
um cochilo.
Acordo em cima da hora. Jogo uma água no corpo e coloco um vestido
simples, quando me apronto já passa das 18h tranco tudo e desço. Quando saio
noto um carro preto estacionado no meio-fio, é um veículo grande tipo SUV,
como está anoitecendo e os vidros são pretos nem chego perto, então a porta do
motorista se abre e o vejo.
O homem parece perigoso olhando daquele jeito. Ele está todo de preto e
me encara com cara amarrada, para variar. Aproximo-me, cruzo os braços e fico
batendo o pé impaciente.
— Eu só vim para recuperar meu cordão — anuncio para ele saber logo
que não estou nem um pouco a fim de estar com ele.
Embora isso seja uma grande mentira.
— Você está atrasada — ele diz e me olha dos pés a cabeça. — Vamos
logo sair daqui — assevera e se vira abrindo a porta do passageiro.
Continuo parada no lugar.
— O que te faz pensar que vou entrar no seu carro?
Vejo que respira fundo, então se vira e me encara com seriedade.
— Não estou com paciência para seus joguinhos.
— Quem está com paciência zero sou eu, e não estou aqui para aturar
esse seu humor de merda — esbravejo o olhando zangada.
Ele se aproxima e posso sentir o calor do seu corpo.
— Gabriela! — fala meu nome com a voz rouca. — Estou te pedindo
encarecidamente para me acompanhar, você poderia me fazer esse favor sem
mexer com meu equilíbrio?
Esse homem deve estar de zoação com minha cara, só pode.
— E você poderia ser um pouco mais educado, mas já chega reclamando.
Nicolas joga a cabeça para trás e respira algumas vezes com olhos
fechado. Finalmente volta a me fitar, ele se encontra muito próximo e posso
sentir seu cheiro maravilhoso, e tenho vontade de enfiar o nariz em seu pescoço
e respirar seu aroma.
— Ok, você está certa, prometo me comportar melhor daqui para frente.
Não acredito muito nele, mas dou de ombros e descruzo os braços
colocando as mãos na cintura.
— Apenas vou contigo para recuperar meu cordão.
Ele sorri, e se ele soubesse o quanto seu sorriso o deixa ainda mais belo e
o quanto me afeta, certamente sorriria mais.
— Você já deixou isso bem claro — afirma ainda sorrindo. — Agora
podemos ir?
— Para onde vamos? — questiono.
— Você vai ver — diz e põe a mão em minha lombar me levando até o
seu automóvel.
Depois de me sentar ele fecha a porta e dá volta ficando de frente para o
volante, porém antes de ligar o carro me olha com um brilho travesso no olhar.
Não sei o que pensar de seu comportamento, o frio em minha barriga
aumenta e só imagino como terminará essa noite. Só espero não me arrepender
mais tarde.
Finalmente Nicolas liga o carro e fito suas mãos ao volante. Que mãos!
Ele é tão firme, tão carnal, meu desejo é sentir essas mãos por todo o meu corpo.
Com esse pensamento me estremeço e ele me olha, dou um sorriso sem graça.
Não falamos nada, não precisa.
Nós dois sabemos, estou aqui apenas para recuperar o meu cordão.
Ao menos é nisso que quero acreditar.

Capítulo Dezoito

Nicolas
E ssa diaba está me enlouquecendo, quando saí do meu apartamento estava
decidido a entregar esse maldito cordão e me afastar de vez, mas foi só pôr os
olhos nela para minha decisão ir para o espaço. Gabriela com esse jeito
impetuoso e tão abusada me deixa no limite, e o pior, ela sendo tão atrevida é
propícia a viver se metendo em confusão.
A prova disso foi à noite passada, quando resolveu partir para cima do
Lucas, só imagino o quanto essa mulher deve aprontar. Isso me deixa nervoso a
ponto de querer domá-la. Ainda tem o fato de poder ser uma ladra, ou golpista.
Já nem sei o que pensar. Depois de conhecer essa diaba a palavra confusão
ganhou um novo significado para mim, antes dela minha vida era muito mais
tranquila, entretanto bastou ela surgir para tudo virar um inferno.
O silêncio dentro do carro faz sua presença ainda mais marcante, mal
posso me segurar, a vontade de tocar seu corpo, sentir sua pele e seu cheiro, seu
gosto. Não sei qual feitiço ela me lançou, mas o fato é que sou incapaz de resistir
a essa atração louca e dominante.
O sinal fecha e aproveito para olhá-la, ela parece distraída e presta
atenção em algo acontecendo do lado de fora, Gabriela muitas das vezes se
mostra desligar do mundo, notei isso desde a vez em que Charles a levou
naquele jantar. Como pode uma mulher ser tão complexa? Em alguns momentos
parece ser segura de si, mas quando olho bem dentro de seus olhos é como se ela
tivesse perdida e desejando ser descoberta. Isso é muito louco, é só pode ser
coisa da minha cabeça.
Volto a dirigir, e por ser domingo as ruas da zona sul estão mais
tranquilas, finalmente chego ao meu destino, paro e logo um manobrista se
apresenta abrindo a minha porta, enquanto outro funcionário abre a porta do
carona. Gabriela olha para o prédio oponente com curiosidade, e assim que paro
ao seu lado ela me olha.
— Onde estamos exatamente?
— Nós vamos jantar num lugar privado — informo e pego sua mão
praticamente a arrastando dali.
Ela provavelmente ainda não percebeu, no entanto estamos num hotel
onde reservei uma suíte e um jantar para nós dois, não sei bem o que estava
pensando quando fiz isso, afinal havia decidido não levar adiante esse encontro.
Já não me reconheço mesmo, e ultimamente tenho feito coisas estranhas por
causa dessa diaba.
Na recepção dou meu nome e Gabriela observa o ambiente, quando pego
o cartão e a chamo ela não ouve e preciso chamá-la novamente, então ela se
assusta e vem até mim, seguro novamente sua mão e sigo para o elevador, este
nos leva direto para o andar onde fiz a reserva.
Ao chegarmos noto de imediato a mesa no terraço, ela está composta,
pronta para o pedido do jantar. Ela não diz nada e caminha até o parapeito, o
vento balança seu cabelo e Gabriela parece impressionada com a vista. Paro ao
seu lado e observo a linda visão do mar, a brisa fria sopra e fecho os olhos a fim
de tentar me acalmar e não tomá-la como um tarado.
— Isso aqui é lindo — diz com voz suave.
Eu a olho, e a imagem que vejo é tão perfeita. Seus cabelos escuros estão
soltos e elevados pelo vento, mostrando seu pescoço. Ela usa um vestido
simples, nada requintado para tentar me impressionar, sua pele está
completamente limpa, sem resquício de maquiagem, e mesmo assim, é muito
linda e sensual.
Ela finalmente me olha, percebe que eu a encaro e não diz nada, pela
primeira vez a deixei sem voz, talvez seja o modo como a olho, com cobiça,
querendo cada pedaço dela. Desejo tudo dessa mulher, não há como negar.
Viro-me e dou apenas um passo, ela se move e ficamos um de frente para
o outro, seu cabelo voa por seu rosto, então levanto uma de minhas mãos e pego
alguns fios sentindo sua maciez e textura.
Com a outra mão a seguro pela cintura, trazendo seu corpo junto ao meu.
Meus lábios quase tocam os seus. Sinto o ar saindo de sua boca fazendo com que
nossa respiração se misture.
— Gabriela, como eu desejo você, tentei lutar contra isso, mas me rendo.
Você é uma tentação a qual não posso mais lutar contra — sussurro em seus
lábios, ela arfa.
Envolvo meu braço em sua cintura e com a outra mão a seguro pela nuca,
aposso-me de sua boca em um beijo esmagador e libidinoso. Eu devoro seus
lábios sem piedade, ela me agarra pelos ombros deixando que nossas línguas
duelem. Arrasto Gabriela até uma parede de vidro e a viro de costas para mim.
Minhas mãos viajam por seu corpo chegando até seu seio onde aperto,
ela solta um gemido jogando a cabeça para trás, aproveito e jogo seu cabelo para
o lado, mordo seu ombro para então passar minha língua pela extensão de seu
pescoço. Gabriela pressiona sua bunda em mim e me esfrego nela causando um
frenesi por todo o meu corpo. Desço uma das minhas mãos até sua perna e
levanto a barra de seu vestido.
Com a ponta dos dedos passeio por sua coxa até o meio de suas pernas e
a toco levemente através de sua calcinha encharcada, ouço seus gemidos e esse
som me deixa louco de tanto desejo. Tudo nesta mulher me excita. Subo minha
boca até sua orelha e mordo sua ponta, posso perceber seu corpo tremendo.
Movo sua calcinha para o lado e meu dedo encosta em seu clitóris,
Gabriela solta um grito abafado, ela está totalmente entregue ao prazer ao qual
proporciono a ela. Eu a estimulo enquanto aperto seu seio com a outra mão. Ela
rebola e suas mãos estão contra a parede. Meu membro roça bem em sua bunda e
preciso me segurar para não gozar como um menino inexperiente. Continuo a
pressionando com o meu polegar e insiro um dedo em seu interior.
Sua respiração acelera e sei que está a ponto de chegar ao seu auge do
prazer.
— Goza minha diaba linda — sopro em sua orelha dando pequenas
mordidas. — Goza, deixa-me sentir que seu prazer me pertence.
Ela aperta minha mão entre suas pernas e sua boceta apertada parece
comprimir meu dedo.
— Por favor, Nicolas — choraminga com voz falhando.
Com mais pressão em meu polegar eu esfrego sua intimidade, ela vira a
cabeça, tem os olhos fechados e sua boca está entreaberta então aproveito para
beijá-la dizimando seus lábios. Ela goza nos meus dedos e nosso beijo parece
consumir tudo o que há em nós.
Suas pernas aliviam o aperto e Gabriela fica enfraquecida, então tirando
minha mão do meio de suas coxas a viro imediatamente e a pego em meu colo.
Ela envolve os braços em meu pescoço e sua pele está corada e seus olhos com
um brilho de excitação. Caminho com ela em meus braços atravessando a sala.
Entro na suíte e subo com ela na cama a deitando bem no meio e me lanço em
cima dela voltando a beijá-la cheio de fome.
Gabriela corresponde com fervor e se entrega ao beijo sem reservas.
Afasto-me por alguns momentos ficando de joelhos entre suas pernas e a puxo
para ficar sentada, retiro seu vestido a deixando somente de sutiã, meus olhos
viajam por seu corpo, ela é perfeita. Um sentimento de possessão toma conta de
mim. Levo minha mão até seu sutiã e o tiro do meu caminho.
Seus seios são magníficos e convidativos, com as costas das mãos
acaricio seus mamilos rosados e duros, Gabriela fecha e abre os olhos, suas
pupilas estão dilatadas e a química entre nossos corpos é algo fora do comum.
Gabriela se ajoelha e nos encaramos em silêncio.
Seu aroma cerca meus sentidos, dominando meu corpo e mente,
independente dela ser uma mulher vigarista minha libido materializa-se, pois
esse fato não oculta sua beleza e sensualidade.
Sem deixar de fitá-la retiro minha camisa a jogando para o lado e seus
olhos se fixam em meu peito, onde tenho a tatuagem, certamente ela reconhece o
símbolo, e traz sua mão e me toca com as pontas dos dedos seguindo o desenho,
ela parece hipnotizada e seu toque faz uma eletricidade correr por meu corpo
inteiro.
Não suporto mais esperar para invadir seu corpo, sem aviso desço da
cama e tiro minhas calças, sapatos e meias tudo de uma só vez, ficando
totalmente nu. Como um felino volto para a cama e Gabriela observa meus
movimentos ainda de joelhos. Com cuidado a deito na cama e tiro sua calcinha.
A visão que tenho deixa-me estarrecido, seus cabelos negros espalhados pelo
lençol branco dá um contraste lindo, é uma obra de arte digno de uma pintura.
Sua boca molhada dos meus beijos está entreaberta, meus olhos passeiam por
seu corpo, ela respira com dificuldade e sua pele clara é de dar água na boca.
Como pode uma mulher ser tão sexy?
Desço o olhar, memorizo cada detalhe de suas curvas, paro com meus
olhos entre suas pernas, e posso ver seus poucos pelos úmidos de seu gozo e
lambo os lábios com essa imagem. Então me volto para seu rosto.
— Você é maravilhosa — confesso e minha garganta seca faz com que
minha voz saia grossa.
Ela baixa o olhar e para em minha ereção que pulsa querendo invadir seu
corpo, noto sua apreensão, porém ela não diz nada. Procuro por minha calça que
está no chão e me viro para pegá-la, no bolso encontro o preservativo, o abro e
encapo meu pênis.
— Puta merda, você é bem grande — solta e não sou capaz de segurar a
risada.
— Tudo que um homem gosta de ouvir minha diaba — digo e cubro seu
corpo com o meu. — E estava demorando você falar algum palavrão —
murmuro e salpico seu rosto de beijos.
Inclino minha cabeça e nos encaramos com intensidade, a sensação de
nosso corpo colado um ao outro desperta uma excitação avassaladora, não
somente meu corpo sente, mas meu coração se aperta em meu peito, seus olhos
nos meus me deixa rendido. Num gesto rápido possuo sua boca, no entanto não é
um beijo carnal como tantos outros que trocamos, é um beijo doce e apaixonado.
Sinto as mãos macias de Gabriela passando por minhas costas enquanto
ela se remexe abaixo de mim, minha língua explora sua boca enquanto nossos
corpos tremem de tesão, meu coração bombeia em meu peito e movo-me no
ritmo em que nosso beijo vai ficando mais ardente.
Ela suspira e paro de beijar seus lábios e percorro minha boca por seu
pescoço até chegar ao seu seio e tomá-lo a fim saboreá-lo. Em um movimento
fico entre suas pernas e posso sentir o calor emanando de sua boceta.
Em um único golpe dou a primeira investida e solto um gemido de puro
prazer enquanto Gabriela, mais apertada do que eu esperava, dá um grito
abafado fincando as unhas em minhas costas.
Estou perdido em minha nuvem de desejo, não sou capaz de discernir o
certo do errado, porém tento raciocinar e sei que devo tê-la machucado, então
paraliso e percebo ela envolvendo suas pernas em minha cintura, também não se
meche e respira com certa dificuldade.
Espero um pouco e beijo sua pele até chegar a seu pescoço e orelha.
— Eu te machuquei? — consigo perguntar.
— Está tudo bem, continue... por favor — pede arfante.
Com meus braços apoiados na cama, finco meus cotovelos ao seu redor e
seguro seu rosto com cuidado e nos olhamos, vejo que seus olhos transbordam
de lágrimas, mas ela sorri, a acaricio com meus polegares e devagar abaixo a
cabeça e a beijo com carinho.
Levanto meu quadril com cautela não querendo feri-la, sinto seu gemido
de prazer e com um grunhido de satisfação invisto novamente em sua entrada,
agora sua receptividade é mais acalorada. Gabriela começa a mover o quadril
junto comigo satisfazendo nosso desejo. Possuí-la é ainda melhor do que havia
imaginado, o prazer que sinto é subjulgado.
Com nossas bocas ainda unidas ela geme meu nome e eu o dela, prossigo
com meus movimentos firmes e domino-a até que chegue ao clímax. Seu corpo
se contorce sob o meu e sinto seu agarre em minhas costas, a penetro ainda com
mais vigor e enfio meus dedos por seus cabelos. Não seguro meu grunhido de
exultação ao senti-la se derreter, junto com ela gozo na certeza de que este foi o
ato sexual mais ardente ao qual já vivi.
Não quero admitir, entretanto algo dentro de mim muda.
Respiro fundo e tento reordenar minhas ideias, saio de cima dela, pois
sou pesado e a trago em meus braços, sua respiração toca meu peito e noto que
aos poucos volta ao normal, nossos corpos relaxam e permanecemos envolvidos
em nosso clima de prazer.
Seu dedo contorna minha tatuagem.
— Foi por isso que você ficou tão intrigado com meu pingente? —
indaga de repente.
Olho para baixo e não posso vislumbrar seu rosto, apenas seu cabelo
bagunçado.
— Você fala da tatuagem? — Ela apenas acena, respiro fundo antes de
responder. — Sim, confesso que fiquei bastante curioso com isso.
— É uma coincidência e tanto mesmo — diz e noto o riso em sua voz.
Minha mente sempre foi alerta a tudo, porém agora sinto como se tivesse
deixado alguma coisa passar, costumo estar no controle de tudo e racionalizar
qualquer tipo de situação, porém com Gabriela eu perco o sentido das coisas, e
com ela aqui em meus braços depois do sexo parece tudo tão certo, se não fosse
minha desconfiança talvez até pudéssemos ter alguma coisa mais duradoura.
Sua respiração está mais suave e movo-me para olhá-la, ela tem os olhos
fechados e dorme serenamente. Observo seu rosto e contorno sua face levemente
com meus dedos. É tão linda e tem um rosto angelical, nem parece a mulher tão
arisca que mostra ser. Ela está deitada de lado e ressona dando a entender que
está cansada.
Olho para o terraço com a mesa arrumada e lembro-me de não ter pedido
o nosso jantar, fiquei tão cego de desejo que minha fome por ela foi mais forte
do que a de comida.
Saio do seu lado lentamente para não despertá-la, ela nem mesmo se
mexe, eu sorrio com sua confiança em mim. Sentado na beirada da cama
lembro-me de retirar a camisinha, o que vejo me deixa sem ação. Pois o
preservativo está sujo de sangue, não é muito, mas o suficiente para me deixar
abalado.
Levanto-me e olho em direção a Gabriela dormindo despreocupada, me
aproximo caminhando ao lado da cama e ponho meus olhos na junção de suas
pernas.
— Mas que merda é essa? — resmungo baixo.
Noto a mancha de sangue não só ali, o lençol branco tem um pequeno
respingo de sangue. Dou um passo para trás e levo a mão até meus cabelos. Não
posso acreditar no que está me acontecendo.
Ela se entregou a mim de uma forma tão plena, em nenhum momento
pareceu-me que era... merda, não queria nem pensar na palavra. Eu reparei seu
desconforto na primeira vez que me enterrei nela, sem dúvida eu a machuquei.
Ela sentiu dor, mas nunca poderia imaginar que Gabriela não tivesse experiência.
Vou para o banheiro, jogo o preservativo no lixo. Abro o chuveiro, deixo
a água lavar meu corpo e quem sabe assim minha mente volte a funcionar e eu
possa entender o que essa diaba quer de mim. Pensar nela e em sua entrega faz
com que meu corpo a queira novamente. Meu Deus! Esse desejo nunca vai
acabar? Imaginei que depois de tê-la em meus braços eu saciaria minha libido,
todavia vejo tratar-se de um grande engano. Pois agora me sinto ainda mais
sedento dela.
Termino meu banho com pensamentos borbulhantes e decido não contar
nada sobre minha desconfiança dela ser parceira de crime do Charles, ao menos
por enquanto. A mulher consegue me deixar confuso. Estou me sentindo um
pouco possessivo com ela e essa nova emoção que sinto me deixa
desconcertado. Também não quero analisar meus sentimentos agora.
Enrolo uma toalha em minha cintura e volto para o quarto, na cama ela
continua na mesma posição, e tenho vontade de me aconchegar ao seu corpo,
mas não farei isso, ou terminarei transando com ela novamente. Ela precisa
relaxar primeiro. Dou uma última olhada nela e vou para o terraço pegando o
telefone e fazendo o pedido do nosso jantar.
Depois disso me sento observando o mar. Não faço nenhum tipo de
plano, apenas espero que ela acorde, pois já vi que com Gabriela planejar não
vale de nada.
Por hora, deixarei como está, tentarei aproveitar ao máximo esses
momentos ao seu lado. Depois estudarei qual melhor atitude tomar.
Capítulo Dezenove

Gabriela
D esperto e me sinto um pouco confusa sem saber onde estou, apenas a luz de
um abajur ilumina o ambiente, me sento na cama assustada e olho em volta
quando finalmente minha memória surge. Estou nua e um lençol me cobre.
Deito-me novamente e cubro meu rosto com minhas mãos.
Não tive tempo de pensar no que aconteceu, porém tudo foi tão incrível.
Encontro-me um pouco dolorida, mas exultante. Levanto-me novamente e não
vejo Nicolas em nenhuma parte, ao olhar para o lado vejo sua roupa e a minha
numa cadeira. Ele não me largou aqui sozinha no final das contas. Arrasto-me
pela cama tirando o lençol do meu corpo e vejo uma porta entreaberta, parece ser
o banheiro.
Corro para lá, pois necessito de um banho urgente. Caramba o que ele
deve estar pensando de mim, sempre ouvi as mulheres reclamando que os
homens depois do sexo se viravam para o lado e dormiam. Vexame total.
Comigo aconteceu ao contrário, afinal eu caí no sono. Espero que esse tipo coisa
não seja falta de educação.
Prendo meu cabelo no alto da cabeça em um nó e abro o chuveiro, o
primeiro jato é gelado e eu xingo mentalmente, odeio água gelada, então vejo
outro registro e abro, logo a água começa a esquentar e dou um sorriso.
Enfio-me debaixo do chuveiro e fecho os olhos, deixando que a água me
relaxe. Penso em Nicolas e em tudo que fez comigo, no seu olhar intenso e no
quanto me encheu de prazer, seu toque me levou a ver estrelas, e o homem sabe
beijar. Ele soube despertar meu corpo com habilidade e aconteça o que acontecer
nunca irei esquecer esses momentos com ele.
— Então você finalmente acordou — Sua voz grossa me desperta do meu
devaneio me assustando.
Dou um pulo pondo a mão no coração que dispara.
— Puta merda, que susto! — praguejo o encarando.
Ele está de braços cruzados me olhando com intensidade, seu olhar faz
coisas em meu corpo e tento esconder o que sinto.
Ele entra no Box sem tirar seus olhos dos meus e só então noto sua
nudez, o fito e minha garganta parece ressecada.
— Acho que devo dar um jeito nessa sua boca suja — rosna se
aproximando e unindo-se a mim.
Dou um passo para trás encostando-me ao azulejo frio, ele coloca uma
mão de cada lado da minha cabeça me tornando sua prisioneira. Sua ereção toca
minha barriga. Minha respiração enfraquece e seu olhar é tão expressivo que
chega a ser palpável.
— O que você está fazendo? — pergunto lambendo meus lábios,
desejando mais de seus beijos e toque.
Ele ergue apenas uma sobrancelha, um gesto que lhe é característico.
Ele esfrega sua ereção em minha barriga e uma umidade se faz presente
entre minhas pernas.
— Juntando-me a você no banho e pensando no que fazer contigo.
Olho para sua boca ficando hipnotizada.
— Por hoje, você pode fazer qualquer coisa comigo — declaro num fio
de voz.
Não sei o que me acontece quando estou com esse homem, mas minha
tendência é sempre sucumbir a essa ânsia de me entregar a ele.
Ele baixa a cabeça devagar, nossas bocas muito próximas, seu olhar
eloquente me põe de pernas bambas.
— Sua resposta está quase certa. — Sua voz grossa e rouca chega até
mim. — Apenas hoje não será suficiente para acabar com essa gana que tenho
por você — completa e me beija com energia.
Sou incapaz de opor-me e permito ser dominada por seus beijos outra
vez. Nicolas desce suas mãos e segura minha cintura enquanto envolvo meus
braços em seu pescoço, nosso beijo é apaixonado, ele vai descendo sua boca e
sua barba roça meu pescoço fazendo com que toda minha pele se arrepie.
Fecho os olhos jogando a cabeça para trás e sua língua faz um caminho
até um de meus seios, aperto seu ombro conforme o prazer me invade, ele passa
para o outro seio pegando meu mamilo entre os dentes e puxando com
suavidade. Quase desmaio com a sensação maravilhosa que sinto. Nicolas então
desce com seus lábios e chegando ao meu umbigo me provoca.
Sinto que desce ainda mais, seu agarre em minha pele fica mais forte e
sua boca quase toca onde mais necessito. Não luto contra ele quando pega uma
de minhas pernas e passa por seus ombros me deixando totalmente exposta.
Consigo abrir os olhos com dificuldade e baixo meu olhar, ele sente meu
movimento e me encara de onde está de joelhos.
— Agora vou descobrir se você pode ser ainda mais gostosa — avisa e
prendo a respiração em expectativa.
Nicolas avança e passa sua língua quente por minhas dobras. Agarro-me
nos seus cabelos e jogo a cabeça para trás soltando um gemido e meus cabelos se
soltam caindo por meus ombros. Se não fosse ele me segurando certamente
cairia, pois meu joelho enfraquece.
Sua boca apodera-se de mim e parece roubar todo o controle que um dia
pensei ter, sua língua move-se com habilidade, e jamais imaginei existir um
prazer tão arrebatador capaz de fazer-me esquecer de tudo, até mesmo meu
nome. Seguro sua cabeça entre minhas pernas não querendo que isso acabe
nunca.
Nicolas parece um homem esfomeado, pois me devora não permitindo
que nada o escape. Sinto meu pé formigando e rebolo em seu rosto enquanto
uma satisfação apossa-se de todo o meu corpo. Puxo seus cabelos e chego ao
clímax gemendo seu nome.
Quase não me aguento em pé, porém ele me segura e me dando uma
última lambida se levanta tirando minha perna de seu ombro e toma minha boca,
assim sou capaz de sentir meu gosto em seus lábios, sua dura ereção encosta-se a
minha barriga e ele rosna como um animal selvagem. Nicolas sem largar meus
lábios pega uma das minhas mãos que estão em seus ombros e desliza até chegar
ao seu pênis grosso.
Eu o envolvo em minhas mãos sob seu comando e acaricio toda sua
extensão. Passo a ponta do dedo por toda sua extremidade até a ponta onde sinto
seu líquido vazar. Nicolas aperta mais minha mão em seu comprimento e solta
grunhido de prazer, ele morde o lóbulo de minha orelha largando minha mão e
indo até meu seio e o apertando, eu o masturbo e seu pênis pulsa dando a
impressão de ficar ainda mais grosso. Aumento a velocidade da minha mão e ele
se esfrega em mim.
Tenho a cabeça apoiada em seu tórax e aproveito para passar a língua por
seu peito e sinto o tremor de seu corpo. Nicolas diz coisas desconexas, ele está
fora de controle, em um movimento rápido puxa meu cabelo fazendo com que
minha cabeça se erga permitindo que sua boca chegue até a minha.
Em meio a gemidos ele goza em minha mão derramando seu gozo quente
em minha barriga.
Ambos respiramos com dificuldade e Nicolas me puxa em seus braços e
nos leva para debaixo do chuveiro, em seus braços me sinto protegida, ele
acarinha minhas costas e beija minha testa com carinho, nem parece o homem
que me trata com desprezo, ele é apaixonante e de alguma forma começo a
gostar dele, mesmo sabendo que isso pode ser perigoso para mim.

Estamos no terraço degustando nosso jantar e me dou conta do quanto


estou faminta. Nicolas me observa comer e carrega a sombra de um sorriso no
rosto, olho para ele irritada.
— Por que você tem essa cara? — pergunto.
Ele balança a cabeça e continua com aquele sorriso debochado enquanto
me olha.
— Você se irrita tão facilmente — comenta.
— Você que é irritável — respondo.
Ele fica um tempo me encarando e toma um gole de seu vinho sem tirar
seus olhos de mim. Não sei qual a dele. Ele põe a taça sobre a mesa e agora
parece muito sério, chegando para frente tenho total visão de sua face, seus olhos
perscrutam meu rosto.
— Eu fui o primeiro homem que você teve? — indaga de repente me
pegando de surpresa.
Merda! Não acredito que ele percebeu isso. O que vou falar? Pensa
Gabriela, pensa!
— Que pergunta é essa?
— Uma pergunta direta e clara, e como sempre você foge da pergunta
fazendo outra.
— Eu não faço isso, você está equivocado — digo e pego um copo de
água para beber sem encará-lo.
— Sim, você faz — argumenta —, você pode olhar para mim?
Bato com o copo na mesa e olho para ele.
— Não, não posso — respondo contradizendo meu gesto.
Ele suspira mostrando sua impaciência.
— Você é inacreditável.
— Você quem começou — replico.
— Comecei o que Gabriela? Eu só te fiz uma pergunta, mas como
sempre você dá um jeito de não me responder, só me pergunto por que você faz
isso.
Olho para a meu prato e coço o meu nariz, eu sei que ele está certo, eu
faço esse tipo de coisa sem perceber. Respiro fundo e olho para ele que me
assiste calado.
— Desculpa. Ok?
Ele dá uma risada.
— Até para se desculpar você é arisca, mas tudo bem.
Eu sorrio fazendo charme.
— É meu jeito doce de ser — digo batendo os cílios e ele ri.
Gostaria que ele risse assim mais vezes, pois seu sorriso me deixa
encantada.
— Volte a comer, você deve estar com fome e sei que tem problema de
pressão baixa, não quero vê-la desmaiando — adverte e volto a comer, se existe
algo sobre mim é que nada tira o meu apetite.
Eu mastigo e olho para ele com um sorriso e engulo a comida.
— Isso aqui está delicioso.
Nicolas baixa o olhar e crava os olhos na abertura do meu roupão.
— Sim, delicioso — declara com voz rouca.
Remexo-me na cadeira, ainda não me acostumei com esse lado dele tão
carnal.
— Você não vai comer? — pergunto e ele sobe seu olhar e ergue uma
sobrancelha.
Acho que fiz a pergunta errada.
— Eu comi enquanto você dormia, agora quero a sobremesa.
— Ah, é claro a sobremesa — digo dando um sorriso.

O dia já está amanhecendo quando Nicolas para o carro em frente ao


prédio da Karen, nós passamos uma noite maravilhosa e sei que nunca
esquecerei tudo que experimentei em seus braços.
Meu coração se comprime, pois chegou a hora de nos despedir. Ele não
falou nada sobre o como será a partir daqui, talvez ele só quisesse mesmo se
aliviar comigo, ou é do tipo de homem de uma noite só. Mas seja o que for não
me arrependerei. Ele não confia em mim, afinal em sua cabeça eu tinha um
namorado quando o beijei naquele bar, ainda me deixei ser beijada outras vezes
com meu namorado nas proximidades.
Agora não posso fazer nada quanto a isso, não tiro sua razão, afinal de
certa forma me comportei como uma leviana. Também não devo esquecer, para
Nicolas sou uma mulher talentosa e com um diploma de nível superior na mão.
São tantas mentiras, não sei se um dia serei capaz de revelar certas verdades. Ele
é um homem inteligente, vive em um meio completamente diferente do meu, seu
ramo de trabalho facilita para conviver e sair com belas mulheres. Mulheres que
combinam mais com seu perfil.
Por diversas razões não poderia nunca me envolver com ele. E para
piorar, ainda tem o Charles e essa história com o Eric.
Nicolas olha para frente segurando o volante mesmo estando
estacionado. Assim como eu parece pensativo, talvez pensando em uma maneira
de me dispensar. Busco dentro de mim aquela Gabriela que não sofre, e essa
tristeza enchendo o meu coração procurarei trancá-la em algum momento.
— Melhor eu ir, já está tarde — digo.
Ele então se vira para mim e me contempla.
— A verdade é que está cedo, o sol já está nascendo — brinca e sorrio
com ele. Ele traz sua mão até meu rosto e me toca com carinho. — Eu gostei
muito de passar esse tempo contigo.
Diante de suas palavras meu coração salta.
— Foi bom mesmo — sussurro.
— Eu vou te ligar Gabriela, temos alguns assuntos para discutir — revela
um tanto misterioso.
— Que assunto?
Ele ri sem vontade.
— Na hora certa você saberá, só preciso pôr algumas ideias em ordem, e
confesso que com você isso está se tornando impossível.
Rio de sua declaração.
— Não acredito ter esse poder — admito.
Ele simplesmente balança a cabeça em negação.
— Melhor você ir antes que eu te leve daqui novamente, e hoje tenho
muito trabalho na agência.
— Ok.
Viro-me pondo a mão na maçaneta do carro e ele segura meu braço e
então me volto para ele.
— Você não está esquecendo nada?
Olho em volta e vejo minha pequena bolsa em meu colo, tenho certeza
não estar esquecendo de nada.
— Não esqueci nada, você está equivocado.
Então Nicolas sobe sua mão até minha nuca me puxa, vem ao meu
encontro e me rouba um beijo que logo me deixa cativa.
Ele me solta com um sorriso lascivo.
— Pronto agora você pode ir.
Apenas aceno e saio do carro com as pernas bambas. O homem sabe
como me desestabilizar.
O apartamento está em silêncio e acredito que Karen esteja dormindo no
antigo quarto da Vicky, sem fazer barulho sigo para o outro quarto e me jogo na
cama me agarrando ao travesseiro.
— Meus deuses, onde fui me meter.
Levo minha mão até meu pescoço e só agora me dou conta de que
Nicolas não devolveu meu cordão. Eu dou um sorriso, não devo, no entanto me
animo, pois temos uma desculpa para nos ver novamente. Com esse pensamento
caio em um sono profundo.

Quando acordo já passa das dez. Levanto-me e vejo Karen na sala vendo
uns vídeos de patinação.
— Bom dia — cumprimento me sentando ao seu lado e ela me olha.
— Pensei que não fosse trabalhar ontem.
— Não trabalhei — admito colocando os pés para cima do sofá e
bocejando.
— Nem vi você chegar — comenta.
— Cheguei tarde, fui dar uma volta. — Odeio mentir para ela, mas não
estou preparada para dividir com ninguém sobre Nicolas.
Ela fica quieta e sinto seu olhar em mim, mas finjo não notar.
— Você parece diferente.
Olho para ela e dou um sorriso sem graça.
— Diferente como? — Será que tem como as pessoas perceberem
quando fazemos sexo?
Ela dá de ombros e volta a olhar a TV.
— Sei lá, talvez seja coisa da minha cabeça.
— Deve ser mesmo — afirmo.
Ficamos um tempo olhando a TV até que ela se vira para mim.
— Gabriela, por que você não passa um tempo aqui comigo?
— Você diz morar aqui?
— Sim, assim você pode evitar ver um Charles por um tempo, e nós duas
sabemos, o Eric está apaixonado e dificilmente vai se separar dele.
Infelizmente ela tem razão, Eric não cogita deixar o Charles, me
preocupo por meu amigo, porém ele é adulto e responsável. Também quando fui
morar com Eric combinei de ficar por pouco tempo. Sua vida é mais agitada que
a minha e ele adora fazer umas festinhas. É provável estar evitando de fazer
alguma farra no apartamento em respeito a mim, isso não é justo com ele.
— Vou aceitar sua proposta — anuncio sorrindo e ela vibra batendo
palmas.
Discutimos sobre minha ida para o apartamento e depois Karen se
prepara, pois tem alunos agendados para dar aula. Passo a tarde toda sozinha
lembrando e relembrando os momentos vividos com Nicolas, sua presença é
ainda está marcada em todo o meu ser, tudo dele se registrara em minha
memória.
Quando anoitece deixo um bilhete para Karen dizendo que vou conversar
com Eric prometendo mandar notícias durante a semana. Pego o metrô e quase
passo direto da estação de tão distraída.
Chego em casa e encontro Charles sentado no sofá mexendo no celular,
ao ouvir o barulho da porta ele olha diretamente para mim.
— Olá Gabriela, quanto tempo — fala com voz arrastada.
Fecho a porta e olho pela sala.
— Oi, tudo bem? Cadê o Eric?
— No banho — responde e me olha de uma maneira que me deixa
desconfortável.
Tenho certeza que há alguma coisa de errado com ele.
— Vou para o quarto, pois estou cansada.
— Espera um pouco — pede e paro o encarando. — Só queria dizer que
não estou chateado com o término do nosso namoro — debocha rindo.
Eu entro no jogo dele, pois não vou demonstrar minhas desconfianças.
— Eu sei, o Eric me contou, espero não ter criado nenhum problema.
Ele faz um gesto de negação.
— Não, e cá entre nós — diz e olha em direção à suíte do Eric cuja porta
se encontra fechada e volta a me encarar. — Você jamais se encaixaria, uma
mulher de 23 anos sem perspectiva, que mal terminou o segundo grau não
poderia nunca se adaptar com as pessoas intelectuais que fazem parte do meu
meio. — Ele solta uma risada maldosa. — É mais fácil eles aceitarem o Eric a
você, que mal sabe ler.
Toda a humilhação sofrida durante toda minha infância e adolescência
vem a tona, me sinto novamente aquela garota ignorante, o motivo de risada de
todo mundo. Mas claro, eu sou forte, e como sempre faço, guardo essa dor
dentro do meu peito. Não adianta, sempre haverá uma sombra em minha vida e
as pessoas farão questão de usar isso contra mim de alguma maneira. É
justamento por isso que me escondo. Para ninguém ver meu verdadeiro eu, para
ninguém saber o quão fracassada sou.
Charles me observa aguardando alguma reação minha, no fundo ele sabe
que não farei nada por causa do Eric, ele é muito esperto, até foi capaz de
perceber minha dificuldade e agora na primeira oportunidade esfrega em minha
cara. É por pura vingança por não ajudá-lo a continuar fazendo seu joguinho de
bom rapaz de família.
Eu repiro fundo e sorrio como se ele não tivesse pisado em minha alto
estima que já é uma merda sem seus comentários maldosos.
— Você está certo, por isso mesmo resolvi sair dessa a tempo, ou poderia
denegrir sua imagem perante seus amigos e familiares.
Ele sorri com falsidade.
— Que bom, ao menos em alguma coisa você é esperta.
— A gente tenta — digo sorrindo forçadamente. — Agora deixa eu ir,
diga ao Eric que vou dormir cedo, amanhã converso com ele. Beijos.
Vou para o quarto e fecho a porta encostando-me a ela, apenas uma
lágrima desce por minha face e as péssimas memórias me invadem.
— A Gabriela é burra, nunca chegará a lugar nenhum.
— Tenho pena da Gabriela, com certeza tem algum problema mental,
tadinha...
— Gabriela é uma rebelde, além de burrinha vive entrando em brigas na
escola.
— Eu desisto da Gabriela, ela é incapaz de aprender...
Deslizo pela porta sentando-me no chão e tampando os ouvidos na
tentativa de fazer essas vozes sumirem, mas elas persistem. Minha vontade é
gritar e bater em alguém. Preciso encontrar uma saída, não quero ouvir mais
isso, não suporto mais essas lembranças. Levo a mão ao pescoço a procura do
meu cordão e não o encontro. Então me lembro do Nicolas.
Abraço meus joelhos e fechando os olhos penso na noite passada e essa
lembrança de alguma forma alivia meu coração, me apego a ela. Recordo do
Nicolas me beijando e me tratando com carinho, me venerando.
Vou me permitir sonhar, transformar os momentos que passei com
Nicolas em minhas lembranças mais vividas, pois essas lembranças não
machucam e me fazem ter esperança.
Capítulo Vinte

Gabriela
D esperto com uma batida na porta e me levanto esfregando os olhos.
— Gabi, você está bem? — A voz de Eric chega até mim.
Levanto-me e abro a porta, fui dormir tão chateada que nem lembrei-me
de destrancar a porta. Eric me olha preocupado.
— Oi Eric — falo e minha voz sai rouca.
Volto para a cama e me sento, na verdade gostaria mesmo era de voltar a
dormir, não tenho disposição para conversar agora.
— Gabi, minha linda, que cara é essa? Você está passando mal? —
pergunta e caminha até mim, pondo a mão em minha testa.
— Não, acho que só um pouco cansada — revelo e olho para ele
tentando sorrir quando minha vontade é me enrolar e me isolar de todo mundo.
— Que bom, me assustei quando percebi o quanto dormia, e o Charles
falou que você reclamou de dor de cabeça, por isso nem te procurei ontem.
Ao falar o nome do Charles lembro-me da noite passada, suas palavras
me feriram, não deveria dar ouvidos a sua declaração, porém mesmo agindo com
maldade, ele disse a verdade. Sou uma mulher sem perspectiva, não fui capaz de
fazer nada da minha vida, todos que conheço têm uma profissão, ou um caminho
a seguir, quanto a mim, vivo de favor na casa de um amigo que também me deu
um emprego por amizade, pois se dependesse de mim não conseguiria nem
passar pela porta daquela boate.
— Isso foi ontem, agora estou melhor — digo e me levanto, então abro a
janela. Lá fora o sol brilha e pelo jeito será outro dia de calor. — O Charles
dormiu aqui? — pergunto indo para o armário pegar uma roupa.
— Não, mas foi embora bem tarde — diz e me viro para olhá-lo, Eric
senta-se em minha cama e tem um sorriso sonhador. — Tenho uma coisa para te
contar, senta aqui, estava louquinho para te ver acordada.
Aproximei-me e sentei-me ao seu lado.
— Sua cara está boa. O que aconteceu?
— Ontem eu e Charles conversamos muito, então contei para ele sobre
minha família.
Fico alerta, pois Eric não gosta de falar sobre sua família abastada.
— Você contou sobre o dinheiro que tem?
— Sim, afinal não preciso ter medo do Charles, ele não é nenhum
interesseiro, pois como você mesma viu, ele é rico — fala animado, mas não
consigo sentir a mesma animação. — E ele acha que eu devo deixar de ser
orgulhoso e requerer minha parte de uma vez.
— Mas Eric, você sempre disse que não faria questão de nada, afinal
depois de se declarar gay, sua família não levou isso muito bem, e depois disso
você se manteve afastado deles.
Ele dá um sorriso fraco.
— Eu sei disso, ainda fico em dúvida se é correto, afinal não fiz nada
para merecer esta fortuna, até minha irmã cabeça de vento fez mais que eu,
trabalhando nas lojas.
— Eric, você tem direito, é uma herança de família e seu avô deixou
parte das propriedades para você, mas talvez esse não seja um bom momento
para você requerer sua parte — digo não querendo que meu amigo faça nada
precipitado, ainda mais por causa de Charles.
— Por que você acha isso? — questiona me observando.
Não posso dizer não confiar em seu namorado, pois posso ser burra para
algumas coisas, porém Eric está muito apaixonado, isso é nítido. E Charles é
mais esperto do que pensei, ele consegue com seu papo de rapaz inocente
ludibriar o Eric.
Eu sorrio e pego sua mão.
— Em minha opinião você deve voltar a se relacionar mais com sua
família, não aparecendo somente em feriados específicos, mas se fazendo
presente e mostrando que o fato de você ser gay não o faz um irresponsável.
Com o tempo eles vão aceitar melhor, você mesmo disse que no natal sua mãe já
estava bem mais carinhosa com você.
Eric desta vez dá um sorriso mais amplo, e noto o brilho de satisfação em
seus olhos, ele não fala, mas sei que se ressente dessa distância da família.
— Sim, não só minha mãe, mas também minha irmã me receberam de
braços abertos.
— Então, você começou a conquistar seu espaço na família, e agora vai
aparecer e exigir sua parte assim do nada? Não acho uma boa ideia — declaro e
ele parece pensativo. — E meu amigo, você não precisa de dinheiro.
Ele baixa os olhos e morde os lábios, me preocupo com sua reação. Será
que Eric está passando alguma dificuldade e eu não sei?
— Não estou, mas eu e Charles estávamos conversando sobre abrir um
negócio juntos, ele tem experiência, pois lida o tempo todo com dinheiro.
— Não sabia disso, pensei que fosse apenas um contador da agência, um
gerente.
Eric me olha com espanto.
— Não, o Charles é o homem de confiança da empresa, o chefe dele,
apesar de ser preconceituoso e um chato, confia em Charles até mesmo para
investimentos, inclusive esse homem vem ficando mais rico graças aos
conselhos do Charles.
Abro e fecho a boca, porra, esse Charles é mesmo um mentiroso. Não
tive muito convívio com as pessoas ao seu redor enquanto fingíamos namorar,
mais em nenhum momento Nicolas demonstrou confiar em Charles e pelo que
entendi em algumas situações, o Charles era um simples funcionário da
contabilidade. Muito estranho isso.
— Não sabia disso — falo simplesmente.
— Talvez seja porque saiu com ele como sua namorada apenas três
vezes, e sempre em circunstâncias sociais.
— Talvez — concordo um pouco indecisa sobre o que fazer. Solto a mão
do Eric. — Mas você acha uma boa abrir um negócio com ele? Você o conhece
muito pouco tempo.
— Verdade, mas ele é o cara certo para mim, nunca fui tratado com tanto
amor. Charles é perfeito e a cada dia o amo mais e mais — declara com olhos
sonhadores.
Isso é mais sério do que pensei. Eric está cego pelo amor. Charles
espertamente soube dissimular, e agora será bem complicado tentar abrir os
olhos do Eric. Ao menos por enquanto não posso contar minhas desconfianças,
afinal não tenho nada para provar contra Charles, tudo é baseado na minha
intuição. E mesmo seu comentário para comigo, não prova nada, e por mais que
Eric sinta uma grande amizade por mim não vai tomar nenhuma decisão porque
acho que deva tomar.
Eu me levanto e caminho de volta para o armário e pego uma muda de
roupa.
— Você deve ir com calma — aconselho.
Sinto um movimento e me viro, Eric está de pé com as mãos na cintura e
me observa.
— Gabriela, por que você tem um pé atrás com Charles? — pergunta e
eu fico o encarando. — Você o viu fazendo alguma coisa e não me contou? Ele
tem outro e está me enganando?
Antes fosse. Assim eu teria algo de concreto para falar.
— Não, eu nunca vi nada sobre disso, mas...
— Mas o quê?
Vejo que está muito sério.
— Vou te falar a verdade, a meu ver você gosta muito mais dele do que
ele de você.
O Eric então sorri fazendo um gesto de negação com a cabeça.
— Claro que não Gabi, o Charles não demonstra seus sentimentos, só
isso. E você sabe, as pessoas que convivem com ele são frias, soberbas e
intolerantes.
— O pai dele não me pareceu assim — declaro. Preciso que Eric comece
a ver a verdade.
— O pai do Charles só estava te ludibriando, tentando te puxar para o
lado dele para saber mais sobre o filho. — Eric se aproxima de mim e passa a
mão por meu ombro. — Ai Gabi, o Charles sofre muito ficando com aquelas
pessoas, ele não quer magoar sua mãe, como você sabe está mal de saúde, ele
não pode chegar e revelar que ama um homem.
— Eu conheci a mãe do Charles e ela não me pareceu doente — digo e
quero falar que ela sim me pareceu muito hostil.
— Orgulho amiga, eles não gostam de demonstrar suas fraquezas, e
Charles está pensando em abrir mão desse dinheiro dele para assumir nosso
amor.
Impossível acreditar. Tem muita coisa esquisita nessa história, e para
mim Charles está jogando com Eric, ainda mais agora sabendo da riqueza do
meu amigo. Para mim esse papo de abrir mão de dinheiro é tudo conversa dele.
Será que o Eric não enxerga?
— Estou te falando como sua amiga, você sabe que eu faria qualquer
coisa por você, e eu quero muito o seu bem, por isso te aconselho a ir devagar.
Você mesmo diz acreditar muito em minha intuição, então me ouve e vá com
calma.
Ele sorri.
— Você deve está pensando isso porque pensa no Charles como um
homem igual a sua família, no entanto ele não é. Ele é uma pessoa boa, logo
você vai perceber.
É não adianta mesmo, meu amigo vai ter que descobrir por ele mesmo
quem é o Charles, e eu como uma boa amiga, estarei aqui para ajudá-lo no que
for necessário.
— Você está certo, agora me deixe tomar um banho e comer alguma
coisa — digo e sigo para o banheiro.
— Ainda temos que conversar sobre o que aconteceu sábado. — Ouço
quando ele fala.
Apenas respondo que depois do café conversamos. Também quero
conversar com ele sobre a proposta da Karen, talvez esse seja o bom momento
para eu morar com ela de uma vez.
Algumas horas depois Eric está em sua mesa com o laptop ligado e assim
que me sento ele me olha.
— Tem uma coisa que não me sai da cabeça — diz de repente.
— O que é?
— Aquele homem com Lucas no sábado, o que te segurava — comenta e
eu fico em alerta, será que sabe tratar-se do chefe de Charles?
— O que tem ele? — pergunto incerta.
— Eu o conheço de algum lugar, e você parecia conhecê-lo também, pois
não saia do seu lado.
Como pode uma pessoa ser tão observadora e esperta para os
acontecimentos ao redor, mas não enxergar o que ocorre com a própria vida
amorosa?
— Ele já foi à boate antes, deve ser isso— minto.
Não quero ninguém sabendo sobre Nicolas e eu e não sei se nos veremos
novamente, apesar dele ter algo ao qual me pertence. Não posso afirmar se o que
aconteceu voltará a se repetir, e pensar nisso me deixa deprimida.
Eric parece pensar.
— Pode ser isso então, afinal é tanta gente que vai naquela boate.
Eu sorrio.
— Sim, com certeza é isso.
— Agora preciso saber. O que vai decidir quanto ao seu trabalho? Você
não precisa sair. Você faz seu trabalho muito bem e digo isso como gerente, não
como amigo.
Eric com suas palavras me aquece o coração, para mim é muito
importante saber que estou fazendo bem o meu trabalho.
— Obrigada pelo elogio — digo e olho para ele. — Eu, depois de tudo
aquela cena, não sei se será uma boa ideia continuar por lá. E o Lucas é o dono
do lugar, ele não ficará a vontade comigo.
— Eu e ele conversamos, ele pediu para não mudar nada e que você deve
continuar a trabalhar.
Eu olho para a rua movimentada e Eric já até sabe como funciona minha
mente, me sinto tão perdida, não sei qual decisão tomar quanto ao trabalho, não
posso ser irresponsável e largar tudo para ar, embora essa seja minha vontade.
Porém como fazer isso? Conseguir um emprego não está fácil nem para quem
tem uma formação, imagina para uma pessoa como eu.
Até poucos dias atrás estava tão esperançosa com tudo, achando que
poderia finalmente ter o controle sobre minha vida e na esperança de conseguir
um dia trabalhar com o que eu gosto, no entanto bastou algumas palavras para
derrubar minha confiança. Talvez seja hora de acordar e aceitar meu destino,
esse meu sonho de tornar-me uma arquiteta não é para mim, tudo não passa de
uma grande e doce ilusão.
Volto a olhar Eric que aguarda com paciência por minha resposta.
— Eu continuo, por enquanto. Mas vou conversar com a Karen sobre
isso, se eu sentir que ficará magoada de alguma maneira eu estou fora. E vou ser
franca com você — continuo e ele só me olha. — Não quero trabalhar lá por
muito tempo, então vou procurar outra coisa para fazer, mas não vou te deixar na
mão.
Ele sorri e chega para frente passando a mão em meu rosto.
— Isso eu sempre soube minha querida, eu percebi que trabalhar a noite
não é para você. E você vai longe, não vai ser hostess para sempre, embora faça
esse trabalho divinamente.
Seguro seu pulso dando um leve aperto e sorrio, o Eric é tão diferente
daquele seu namorado.
— Obrigada pela confiança — digo e ele se afasta. Agora devo falar
sobre minha outra decisão. — Eric, tem outra coisa que quero falar.
Ele já estava olhando para seu laptop, então levanta o olhar.
— Sim minha linda, diga.
Eu solto o ar e conto sobre minha conversa com Karen e de ir morar com
ela, ele chega a ficar preocupado e pergunta se aconteceu algo para que eu queira
ir embora, o tranquilizo dizendo que há muito tempo já estava pensando nisso e
lembro a ele o nosso combinado, eu ficaria apenas por uma temporada em seu
apartamento a ideia sempre foi viver em outro lugar.
No final Eric aceita numa boa e diz que suas portas estarão sempre
abertas para mim. Eu o abraço e me sinto mais aliviada por essa decisão.

À tarde chego à casa de Karen e falo com ela, minha amiga dá pulos de
alegria dizendo que tomei a decisão acertada, aproveito e conto sobre o trabalho
na boate e Karen em nenhum momento demonstra ficar chateada por eu
trabalhar no lugar onde o Lucas é o dono e diz que jamais eu devo largar meu
emprego, pois ela não se perdoaria se eu fizesse isso, porém deixei claro,
pretendo sair de lá de qualquer jeito, não pelo fato de Lucas a ter ferido no
passado, mas por eu ser uma pessoa sem hábitos noturnos.
No fim tudo foi resolvido quanto ao meu trabalho e meu mais novo lar.
— Você já fez inscrição para a prova? — Karen pergunta quando estamos
lanchamos.
Eu engulo um pedaço do meu sanduíche e coço a ponta do meu nariz.
— Eu pensei melhor sobre isso, será perda de tempo e dinheiro.
Karen me olha espantada.
— Como você diz isso Gabi? Você enlouqueceu? Há alguns dias você
estava animada e assim do nada diz que desistiu? — fala contrariada.
— Karen, você é uma das poucas pessoas que sabe a verdade sobre mim,
do meu bloqueio e do quanto sou estúpida para os estudos — desabafo
melancólica. — Se eu tentar vai ser outra decepção para mim — completo
baixando o olhar.
Karen faz uma coisa que nunca imaginei, ela bate com ambas as mãos na
mesa, é tão forte que o prato chega a tilintar e me assusto a olhando estarrecida.
— Eu não acredito no que ouço, você Gabriela realmente acredita nisso?
— pergunta e quando vou abrir a boca para responder ela levanta a mão e vejo
minha amiga muito zangada. — Nem me responda, por que já imagino suas
palavras. Agora só vou dizer uma coisa, a Mel passou um tempo aqui antes de
viajar, ela ficou vários dias juntando informações e até conseguiu contato de um
professor dela para falar do seu caso, a felicidade dela em saber que você
poderia realizar o seu sonho foi contagiante, ela não tinha nenhuma obrigação,
no entanto fez tudo isso para você. E agora você diz que vai desistir?
Sinto-me mal com o que ela diz, a Mel realmente juntou tanta
informação e agora eu venho com essa.
— Eu sei disso, mas e se não der certo? — questiono a encarando. —
Pior do que decepcionar a mim mesma, é não corresponder ao que as pessoas
esperam de mim, sempre foi assim, até com meus pais e eles várias vezes se
frustraram comigo.
Karen suspira e sacode a cabeça.
— Gabi, você não é estúpida ou burra ou seja lá o que enfiaram em sua
cabeça, você tem um talento, e sabe disso. Seus desenhos são maravilhosos, um
dia se eu for rica, você vai projetar minha casa — diz a última frase com um
sorriso. — Não desista, tente. Se não der certo na primeira vez, você vai lá e
tenta novamente. Você vai conseguir fazer uma faculdade, eu tenho certeza
disso.
Baixo novamente os olhar e fito minhas próprias mãos.
— Eu... vou pensar.
— Gabriela, olhe para mim — Karen pede e levanto os olhos.
Ela tem um olhar expressivo, seus olhos azuis são cristalinos e me
passam muita força.
— Você vai seguir com o plano, vai se escrever numa faculdade, fazer
uma prova usando seu direito para pedir uma prova especial. Vai voltar ao
psicólogo para trabalhar essa sua ansiedade, pois parte da sua dificuldade é essa
sua angustia de querer fazer o certo.
Eu suspiro e sorrio sem jeito.
— Talvez você esteja certa.
— Talvez não, eu estou certa, e agora que você vai morar aqui irei ficar
no seu pé. Vamos procurar por alguma faculdade hoje mesmo e ver as datas de
prova de admissão.
— Podemos esperar até o meio do ano, afinal o primeiro semestre já está
para começar.
Ela já está negando.
— Nada disso, você pode até entrar no outro semestre, mas já vi por aí
que algumas faculdades abrem vestibular por agora.
Acho que não vou poder escapar dessa.
— Tudo bem. Você quando quer é uma chata — resmungo voltando a
pegar meu sanduiche.
Olho para Karen e ela tem um sorriso aberto.
— Sou chata, mas sou uma amiga quase perfeita — diz brincando e eu
rio.
— Você está pegando a doença do Eric — comento e ela ri.
— Nem tanto amiga — diz e volta a me olhar com seriedade. — Alguém
falou alguma coisa com você? Por que tenho certeza que sim, pois geralmente
quando você ficava assim para baixo era quando alguma pessoa fazia
comentários maldosos com você.
Até penso em contar sobre o que Charles disse, mas não queria falar dele.
— Não, só andei pensando um pouco — minto dando de ombros.
— Então não pense tanto.
Seguimos numa conversa mais leve e o telefone dela toca, quando ela vê
o número dá um grito, pois é a Mel. Estava mesmo preocupada, pois desde o dia
em que nos ligou avisando que chegou bem a fazenda não havia mandado mais
notícias.
Karen pôs no viva voz e depois de fazermos uma festa ela conta o quanto
o lugar é lindo.
— E você já conheceu o irmão do Alano? — pergunto curiosa com essa
situação.
Ouço Mel suspirando.
— Infelizmente sim.
— Infelizmente? Por quê? Ele disse algo desagradável? — Karen indaga
preocupada.
— Na verdade não, Mas ele...
— Ele o que? Conta logo mulher — interrompo interessada.
— Sei lá, o achei sínico e muito rude. Acredita que um dia fui à cozinha
pegar água e ele estava de cueca e a me ver continuou como se eu não estivesse
ali?
Eu não aguentei e caí na gargalhada, por essa não esperava, minha
preocupação era que o homem fosse ser grosseiro e maltratar a Mel, mas ficar de
roupa íntima em sua presença? Isso nunca me passou pela cabeça.
Karen me olha e vejo que quer rir também, mas ela é mais contida e se
segura.
— E o que você fez? — Karen pergunta, eu não consigo esboçar nada,
pois estou com a mão na boca para abafar o meu riso.
— Fiz igual a ele, fingi que não me abalei. Peguei a água dei boa noite e
voltei para meu canto. Ele é muito abusado! — exclama.
— Você não aproveitou para dar uma olhada nele, eu o vi no casamento
da Vicky e amiga ele é um homem e tanto, até o Eric comentou dias sobre aquela
beleza bronzeada dele — falo já um pouco recuperada do ataque de riso.
— Ele é bonito mesmo — Karen concorda.
— Não olhei e nem quero olhar e quer saber ele nem é tão bonito assim.
Agora tenho que ir, vamos combinar de fazer uma ligação em vídeo assim posso
vê-las. — Mel foge do assunto e pelo tom de sua voz tem mais coisa
acontecendo. Mas na hora certa ela conta.
Despedimos-nos e ficamos de nos falar ao menos uma vez por semana.
Assim que Karen põe o telefone sobre a mesa me olha.
— Será que o Eric está certo quanto a Mel e o Felipe?
— Não sei, mas ele mexeu com a Mel de alguma maneira.
— Também acho — diz pensativa.
Ficamos especulando, mas por fim desistimos. Eu mesma não posso falar
da Mel, afinal estou escondendo essa coisa que estou tendo com Nicolas, se é
que pode ser chamado de alguma coisa. Resolvo passar a noite no apartamento
da Karen e na hora de dormir fico pensando nele.

Passaram-se dois dias e ele não ligou, talvez nem ligue mais. Eu que não
vou procurar, só quero meu cordão de volta. E se nunca mais o visse seria
melhor, ao menos tivemos uma noite maravilhosa, uma noite que com certeza
irei lembrar para sempre, pois para mim foi especial e mágica.
Capítulo Vinte e um

Nicolas
C inco dias desde que estive com Gabriela, e não sou capaz de esquecê-la,
observo a praia através da janela do meu escritório, tenho diversos e-mails para
responder, alguns papéis para assinar, no entanto estou sentado, segurando seu
cordão, até agora não o devolvi.
Ouço a batida na porta e viro a cadeira, vejo Ernesto entrar e fechar a
porta, ele traz nas mãos um dossiê, antes de alguma coisa sei do que trata. São as
provas contra o Charles.
— Pronto, agora não há dúvidas, o Charles é com certeza o cara. Temos
provas factuais que não deixam dúvidas.
Pego o dossiê e olho superficialmente, então fito Ernesto.
— Pior de tudo isso Ernesto é saber que meu padrinho está se
recuperando de um ataque cardíaco, fico com medo dessa bomba estourar e ele
não resistir — confidencio me sentindo de pés e mãos atados.
Ernesto respira fundo.
— Não queria estar no seu lugar Nicolas, mas alguma coisa deve ser
feita, Charles não pode continuar a trabalhar conosco.
— Isso está decidido, ele não continuará, todavia ele deve pagar por seu
erro, eu deveria neste instante estar ligando para a polícia, mas não posso fazer
isso. Meu pai não me perdoaria, afinal é como se o Charles fosse da família, isso
torna ainda pior o que ele fez — me levanto pondo as mãos no bolso e
novamente olhando a paisagem lá fora. — Por mim, independente de qualquer
coisa ele deve pagar.
— Nicolas, no seu lugar o chamaria e esclareceria as coisas, tenta entrar
num acordo com ele.
Viro-me devo estar com uma expressão furiosa, pois odeio saber que fui
traído.
— Não há acordo, não vou permitir aquele traidor nem mais um dia nesta
agência.
— Concordo com você nisso, mesmo porque a confiança foi quebrada,
mas conversa com ele e diga para dar um jeito de devolver tudo que roubou.
Dou uma risada seca.
— O dinheiro é o de menos, se ele tivesse sido honesto e dito estar
precisando, poderia ter me falado, eu daria um jeito e o ajudaria, mas não, ele
resolveu trair minha confiança e me roubar. Roubar nossa empresa.
— Imagino como você deve estar se sentindo — fala e se levanta vindo
para o meu lado. — Mas o que você vai fazer agora?
Olho para o nada e fico pensativo, talvez seja melhor acabar logo com
isso.
Encaro Ernesto.
— Conseguiram descobrir alguma coisa sobre o hacker? — questiono
com medo de saber.
— Bom, isso é mais complicado, porém estão com uma pista, a pessoa
que o ajudou se localiza na região norte da cidade, algum bairro do subúrbio,
talvez. Mas, quem sabe apertando Charles ele revele quem o ajudou.
Lembro-me do endereço de Gabriela, e fico nervoso, pois fui buscá-la na
zona norte. Porra!
Volto para minha mesa.
— Vamos acabar logo com isso — resmungo e pego o telefone, Carmela
atende e peço para chamar Charles na minha sala.
— Melhor acabar com isso mesmo — Ernesto repete desanimado.
Observo Ernesto, ele deveria permanecer na sala, contudo não quero,
caso o Charles confirme o envolvimento da Gabriela, que Ernesto saiba, pois não
tenho certeza de como vou reagir.
— Ernesto, melhor eu falar com Charles a sós. — Ele parece surpreso. —
É por questão de respeito ao Cassiano, não preciso dele sabendo que todos
sabem sobre falta de caráter do seu filho. E tem o fato de Charles e eu termos
crescido praticamente juntos.
Ernesto apenas acena.
— Ok, mas se precisar de alguma coisa é só me chamar, depois que você
resolver com ele só me informe.
— Com certeza — digo sorrindo. — E obrigado Ernesto se não fosse
você jamais teria descoberto essa traição.
— Imagina, esse é o meu trabalho, agora me deixe ir antes de Charles
chegar.
Ele sai e olho o dossiê em minha mesa. Fixo o olhar na pasta imaginando
qual o motivo pode levar uma pessoa a cometer esse tipo de delito. Charles é um
homem que sempre teve tudo. Cassiano está atravessando um problema
financeiro grave, porém isso é de uns tempos para cá. Ele tenha um bom salário
aqui na agência e vive bem. Charles sempre está ostentando algum relógio de
marca, sempre troca de carro e suas roupas são de grife. Agora fico pensando se
tudo isso não está sendo à custa do golpe dado nesta empresa.
Percebo a porta sendo aberta e ele sustenta um sorriso, mal sabe ele o que
estar por vir.
— Você me chamou? — pergunta enquanto fecha a porta.
— Sim, sente-se, por favor — peço e ligo para Carmela informando para
não ser incomodado por ninguém, peço para não passar nenhuma ligação até
segunda ordem.
— Devo ficar preocupado? Você parece aborrecido.
Respiro fundo tentando encontrar dentro de mim paciência para lidar
com isso da melhor forma possível.
— Não, aborrecido é pouco, eu estou decepcionado e fulo da vida — falo
com uma calma que estou longe de sentir.
Ele fica sério e franze o cenho.
— Aconteceu alguma coisa?
— Talvez você possa me responder.
Ele me olha desconfiado.
— Meu pai te falou alguma coisa não foi? Eu não tive culpa se ele
passou mal, meu pai deve parar se meter na minha vida e cuidar da saúde dele —
despeja achando que meu assunto com ele é sobre o meu padrinho.
— Charles, o que tenho que falar não tem nada a ver com Cassiano, e
sim sobre ser traído.
Charles fica me olhando e parece não entender.
— Traído? Quem traiu você? Não entendo aonde você quer chegar.
Ele se sente tão seguro, nem imagina ter sido descoberto, não passa por
sua cabeça que ele foi pego. Deve ter a ingenuidade de pensar ter cometido o
crime perfeito.
Pego o dossiê sobre a minha mesa e abro numa página qualquer, onde
tem descrito um dos desvios feito por ele, vamos ver se finalmente acorda.
— Transferência de R$ 10.590,00 para a conta JNA manutenção — narro
em voz alta e levanto o olhar para Charles, ele arregala os olhos. — Essa
empresa Charles, não existe, assim como outras aqui relacionadas, isso sem citar
prestadores que nunca sequer passaram pela porta desta agência — esbravejo
jogando o dossiê na mesa com força. — Ah, e já ia esquecendo. Não poderia
deixar de citar os funcionários fantasmas que trabalham para mim.
Charles engole a seco e me encara, está nervoso afinal o peguei. Ele
lambe os lábios e meus olhos estão cravados nos seus, analisando todos os seus
movimentos.
— Eu... eu não sei o que você está dizendo.
Ele é mesmo ainda mais idiota se acha que vou cair nessa história de não
saber de nada, a culpa está estampada em sua cara.
— Há algum tempo mandei fazerem uma auditória, sem ninguém saber, é
claro. Um serviço sigiloso, contratei a melhor empresa, eles cavaram tudo. E
todo o dinheiro desviado chega até você.
— Impossível, eu não roubei nada, deve estar acontecendo algum
engano, alguém está armando para cima de mim.
— Impossível falo eu, está tudo aí — confirmo apontando o dossiê. —
Não há nada a contestar.
Ele se levanta e noto seu tremor, continuo no meu lugar aparentando uma
serenidade inexistente.
— Você não pode acreditar nisso — contesta apontando para minha
mesa. — Você e eu crescemos juntos, nossos pais são melhores amigos, somos
como irmãos, você deve acreditar em mim, não numa empresa que
provavelmente só quer ganhar um dinheiro fácil.
— Na hora de roubar minha empresa, você não pensou em mim como
irmão, agora me pede isso?
— Eu não roubei. Você está sendo ludibriado por essa empresa — insiste,
mas vejo que ele começa a ficar desesperado.
— Então se você não roubou, não vai se importar se formos aos bancos
aos quais você tem conta para tirarmos tudo a limpo — acrescento e ele fica
pálido.
— Como assim? Ir aos bancos?
— Podemos agora mesmo resolver isso, eu chamo o Ernesto e vamos os
três fazer um levantamento das suas contas, se você não fez nada, então não
haverá movimentação suspeita — falo isso, mas sei que ele está encrencado, pois
ao rastrear todo dinheiro desviado, vimos que alguns depósitos, a partir da conta
da agência foram feitos diretamente para ele.
O cara é mesmo um idiota, nem para roubar presta.
— Eu estou me sentindo ofendido com sua desconfiança, acho que não
há necessidade disso.
— Então vou dar continuidade às investigações. Você se entenderá com a
polícia — engano, pois por causa do Cassiano, infelizmente não o entregarei a
polícia, no entanto precisa de um susto.
— Você não faria isso, o que meu pai diria? Ele está doente. Já imaginou
se descobrir que você pretende pôr seu único filho na cadeia? — Charles arrisca,
pois sabe da minha ligação com meu padrinho.
Eu finjo pensar.
— Cassiano entenderia, afinal ele é um homem honesto, já o filho... não
posso dizer o mesmo — completo.
Charles se aproxima da mesa e me olha com raiva.
— Faça isso, e se meu pai morrer a culpa será sua.
Dou de ombros fingindo não me importar.
— Minha não, mas do filho ladrão.
Ele bate na mesa com as duas mãos e eu nem mesmo me mexo não me
abalando com seu ataque de fúria.
— Você se acha, não é mesmo? Só porque tem essa agência de merda e
ainda tem um monte de puxa sacos. Você acha que pode pisar em todos e vem
com essa marra pousando de homem de correto, quando você é na verdade um
arrogante que pensa ter o mundo aos seus pés — ele desabafa e percebo o quanto
se ressente pelo meu sucesso.
— Acabou? — pergunto e seus olhos brilham com uma raiva espantosa.
Levanto-me e o encaro. Se preciso for, usarei meu tamanho para colocá-lo em
seu lugar. — Vou chamar a segurança para te acompanhar, aqui você não pisa
mais. Você está fora da minha empresa, e o que é seu está guardado, você terá
prestará contas não comigo, mas com a justiça.
Sua respiração está acelerada, porém pouco me importa, só não dou uma
porrada nele porque pode usar isso contra mim, e também por causa de seu pai.
— Então vai ser assim? Você nem mesmo vai me dar uma chance?
— Chance de que? De roubar mais? Ou de esconder algum vestígio? —
indago cruzando os braços.
— Saiba que meu pai ficará muito decepcionado com você.
Sou obrigado a rir, embora sem vontade.
— Ele vai ficar decepcionado comigo? Você é ainda pior do que eu
imaginava, daqui a pouco dirá ter desviado dinheiro da empresa por minha culpa
também — debocho e pego telefone, quando Carmela atende peço para chamar o
responsável da segurança e também ao Ernesto. Quando desligo olho para
Charles. — Vou deixar você pegar suas coisas, sob vigilância, é claro. Nem tente
fazer nenhuma gracinha, ou você irá daqui direto para a delegacia.
— Você vai me pagar por isso.
— Acho que paguei o suficiente, aliás, você sim me deve muito dinheiro
— digo voltando a me sentar, Ernesto e Rubens, nosso segurança, entram. Olho
para Ernesto. — Você sabe o que fazer, o acompanhe até a sua mesa e deixe que
pegue somente seus pertences — informo e olho para Rubens. — Você fica de
olho nele até entrar no carro e sair, informe a segurança, deixe todos cientes da
proibição da entrada desse indivíduo no prédio. Caso aconteça de aparecer pode
chamar a polícia.
— Você está me tratando igual a um bandido, isso é humilhante —
esbraveja.
Eu olho para Rubens que chega perto dele e o pega pelo braço;
— Acompanhe-me senhor — fala com educação mas com voz dura.
Charles puxa o braço e olha para nós três na sala.
— Não precisa me segurar, não quero ficar aqui nessa espelunca de
merda.
— Tudo bem, vá do jeito que achar melhor, mas saia da minha frente —
repreendo já sem paciência.
— Babaca! — exclama e sai escoltado, então quando chega a porta eu o
chamo e ele me olha.
— Por um acaso foi a Gabriela que te ajudou a invadir meu sistema?
— Por que você diz isso?
Eu balanço a cabeça, melhor não falar nada ou ele pode alertá-la e decidi
não comentar sobre esse assunto em particular na frente de mais ninguém.
— Nada, agora suma daqui.
Os três saem e assim que a porta é fechada eu relaxo em minha cadeira.
Meus músculos estão todos tensos. Preciso agora tomar algumas providências.
Primeiro vou conversar com meu pai, depois ver com ele a possibilidade de
falarmos juntos com Cassiano, afinal ele tem que saber a verdade por mim.
Levanto-me da cadeira e me estico tentando relaxar. Marcho até a janela
e penso na minha diaba, não tenho como fugir mais, eu vou procurá-la. Mas
desta vez ela vai me contar tudo, sobre o porquê de Charles precisar de dinheiro
e se ela ganhou alguma coisa com isso. Não será justo entregá-la a polícia, já que
não vou fazer o mesmo com Charles. Antes havia até passado essa ideia por
minha cabeça, porém nada me impede de assustá-la. Ela precisa aprender a não
brincar comigo.
Pego seu cordão do meu bolso, não entendo por que vivo andando com
isso, tenho que devolver logo essa droga de cordão, o coloco novamente em meu
bolso e vou para minha mesa.
Ligo para meu pai e combino de encontrar com ele ainda hoje, ele
percebe a tensão em minha voz e tenta tirar algo de mim, porém esse tipo de
assunto não é para ser discutido por telefone.
Depois de um tempo Ernesto volta a minha sala e conversamos, ele me
tranquiliza dizendo que fiz o certo, porém alerta-me para tomar cuidado, pois
Charles poderia fazer alguma coisa para me prejudicar. Garanto que nada vai
acontecer. Charles está apenas com raiva porque foi pego.
Depois de sair do trabalho vou para casa tomar um banho antes de ir até a
casa dos meus pais. Quando chego minha mãe me recebe e me força a jantar,
apesar de estar sem apetite eu como, ou minha mãe teria um treco. Assim,
quando terminamos o jantar, meu pai e eu vamos para o escritório dele, e assim
que nos acomodamos eu conto tudo sobre a deslealdade de Charles.
Meu pai fica assombrado com o que digo.
— Meu Deus! Tenho pena do meu amigo, mais essa decepção com
Charles — comenta desanimado.
— Foi pensando no padrinho que não envolvi a polícia, entretanto acho
que ele precisa saber a verdade pai, e não sei qual história Charles vai contar
para ele. Não duvido nada inventar alguma mentira a meu respeito.
— Filho, Cassiano sabe quem é o Charles de verdade. Meu amigo não
vai acreditar em qualquer coisa que ele contar.
— De toda forma precisamos falar com ele, Cassiano está enfermo, mas
não é justo ele ficar no escuro quanto a isso.
— Concordo meu filho. Vamos contar, faço questão de estar com você —
informa meu pai sorrindo com tristeza. — Deixa somente ligar amanhã para
sondar, então vemos quando e como contar.
— Obrigado pai, eu sabia que poderia contar com o senhor.
— Sempre poderá contar comigo filho.
Meu pai ainda especula se mais alguém está envolvido nessa fraude junto
com Charles e guardo para mim sobre desconfiar de Gabriela, não quero falar
dela, uma parte de mim quer protegê-la, e por enquanto não decidi o que vou
fazer. Minha única certeza é de que quero vê-la. E novamente tê-la em meus
braços.

Não prego os olhos à noite toda. Penso em ligar para Gabriela e sempre
que pego o telefone desisto. Pergunto-me se ela havia voltado a trabalhar na
boate, e se está bem. Ela também não me procurou, nem mesmo para saber do
cordão, tinha alguma esperança de que me procurasse, mas pelo jeito, além de
irritadinha, minha diaba é também orgulhosa. Então terei que ser eu a procurá-la.
Passo o dia em casa e até trabalho em algum projeto tentando distrair
minha cabeça. Porém enquanto não falar com ela não sossegarei. Quando
anoitece penso em passar uma mensagem e logo desisto. Melhor ligar. Seu
telefone toca algumas vezes e cai na caixa postal. Mas que droga! Onde ela está
que não me atende? Tento novamente e quando penso em desistir ela finalmente
responde.
— Alô!
— Gabriela — digo e escuto uma porta batendo. — Você está ai?
— Oi, pode fala — afirma e sua voz me lembra da noite que passamos
juntos.
— Eu preciso falar contigo, urgente.
— E eu preciso do meu cordão — assevera.
— Você só pensa nesse cordão? — questiono zangado.
— Não te interessa, o cordão é meu!
Oh, mulherzinha abusada essa.
— Como sempre malcriada — resmungo —, quando podemos nos
encontrar?
— Estou trabalhando, não tenho sua vida.
— Ainda bem que não tem, pois no momento só me aborreço e você é
um dos meus aborrecimentos — desabafo irritado com seu ataque. Ela fica em
silêncio e sei que provavelmente coça o nariz. — Então resolveu voltar a
trabalhar na boate? — Mudo de assunto.
— Por enquanto, pretendo sair daqui o mais rápido possível, pois não
quero trabalhar para canalhas.
Apesar de tudo, ela consegue me fazer rir, ultimamente essa diaba é a
única capaz de me fazer rir de verdade.
— Tudo bem, então podemos nos ver amanhã?
Ela fica um tempo em silêncio, e quando penso que não responderia ela
finalmente fala.
— Ok, amanhã não trabalho.
— Posso te pegar no mesmo horário e no mesmo lugar?
— Sim,
— Então amanhã nos vemos.
— Não pense que estou indo por que quero, só vou para recuperar meu
cordão ao qual você roubou.
De novo esse papo! Começo a ter raiva deste cordão.
— Amanhã conversamos. Tchau Gabriela!
— Hum, tchau — diz e desliga.
Olho para o meu telefone e sorrio, essa diaba é uma figura.
A mulher é complexa e desafiante, ainda não esqueci o fato de ter sido
uma virgem até uma semana atrás. Ela fugiu do assunto quando a questionei,
isso é bem o estilo dela, não responder quando questionada. Deito-me no sofá e
fico refletindo sobre Gabriela, quando penso que ela pode ter alguma coisa a ver
com que o Charles fez me sinto sufocado.
No fundo quero acreditar em sua inocência, mas minha cabeça insiste em
cogitar a sua culpa. Preciso tomar uma decisão, não posso ficar assim a vida
toda. Melhor eu fazer alguma coisa, e rápido. Depois de tudo isso resolvido
poderei me ver livre dessa diaba de uma vez por todas.
Vou para cama com a decisão tomada, acontece que meu coração tem
outra decisão, e quando fecho meus olhos sua imagem se faz nítida e sou um
caso perdido, pois a lembrança de nosso tempo juntos me invade e meu corpo se
agita e anseia por mais de seus beijos e tenho desejo de tocar sua pele macia
novamente, sentir sua suavidade e ouvir seus gemidos.
Livrar-me dela será mais difícil do que pensei no final das contas.
Capítulo Vinte e dois

Gabriela
O último cliente finalmente vai embora e posso soltar o cabelo e tirar os
sapatos, estou moída de cansaço. O pessoal da limpeza começa o trabalho e sigo
para a sala de funcionários e me jogo na cadeira massageando meus pés.
— Se quiser posso massageá-los para você — Boris fala atrás de mim,
olho para cima e ele me olha com seu sorriso torto. — Você poderia aceitar meu
convite, posso massagear não somente seus pés.
Ele pisca para mim e eu tenho que rir.
— Muito obrigada Boris, mas estou bem — digo voltando a massagear
os pés.
Ele se senta na outra cadeira e suspira alto.
— A noite hoje pareceu mais agitada — comenta e olho para ele.
Boris está com a cabeça jogada para trás no encosto da cadeira e tem os
olhos fechados.
— Você me parece arrasado, aqui na vip foi tranquilo hoje.
— Bem que queria ficar aqui em cima hoje, mas nosso chefe achou
melhor me deixar lá embaixo, pois teve uma despedida de solteiro e os rapazes
estavam muito alterados.
Isso é um saco, ainda bem que na vip são os clientes selecionados,
embora às vezes alguns deem mais trabalho que uma turma de jovens.
— Faz parte do nosso trabalho, aturar alguns mimados — menciono
rindo.
Ele abre os olhos e me encara.
— Por falar nisso me conta essa história de ter agredido o poderoso chefe
pensando que ele era um cliente comum.
Estava demorando alguém comentar sobre isso.
— Não pensei nele como nada, o homem teve o que mereceu.
— Ele te deu uma cantada? Foi isso? Por que minha querida, receber
cantada no lugar em que trabalhamos é mais do que normal, é como se fizesse
parte dos afazeres — declara cruzando os braços. — Ainda mais você, sendo tão
bonita.
Ele sempre aproveita a oportunidade para dispensar um elogio.
Eu sorrio.
— Obrigada pela parte que me toca, mas ele não me cantou.
— Então ele passou a mão em você? — questiona curioso com a mão no
queixo.
— Ele não seria tão louco a esse ponto.
— Então o que houve?
— O Chefe não fez nada comigo, mas com uma pessoa que gosto. —
Boris presta atenção calado esperando que eu continue. — Não vou falar mais,
esse assunto não nos interessa.
— Por acaso foi com aquela loirinha linda que esteve aqui no mesmo dia
do ocorrido?
Levanto-me e vou até a geladeira pegar alguma coisa para beber.
— Não vou falar mais nada, nem adianta tentar — digo pegando uma
coca-cola. — Você viu o Eric?
— Quando estava subindo o vi no caixa fazendo a conferência.
Agora eu já não preciso esperar por ele, pois já me estabeleci no
apartamento da Karen, e tem um táxi que fica a disposição de alguns
funcionários para levá-los para casa, assim vou aproveitar e sair logo.
Sigo até o armário e pego minha bolsa a pondo em meu ombro, termino
de beber meu refrigerante e jogo a garrafinha na lata.
— Vou indo, até quarta-feira — despeço-me e vou para a porta.
— Não vem amanhã?
— Não, amanhã Mariana será a hostess e combinei com Eric de trabalhar
somente nas noites mais agitadas — informo e jogo um beijo para ele.
— Não vai esperar o Eric? Você sempre vai com ele.
Caramba, mas que cara mais fofoqueiro. Presta atenção a tudo.
— Não, hoje vou para outro lugar, tchau! — falo e saio em seguida para
evitar mais perguntas.
Não estou fazendo nada de errado, mas não gosto de ninguém se
metendo em minha vida ou especulando.
Encontro com Eric no caminho e sua cara não está nada boa.
— Já está indo? — pergunta quando me vê.
— Sim. Aconteceu alguma coisa?
Ele está com os envelopes do caixa na mão e noto seu nervosismo.
— Não, só alguns problemas particulares mesmo.
— Eric se precisar de alguma coisa sabe que pode contar comigo.
Ele dá um sorriso abatido.
— Sim, eu sei. Agora vá minha linda. Acredito que esteja cansada, Vou
apenas guardar isso no cofre e vou para casa também.
Aproximo-me e dou um beijo em seu rosto.
— Fique bem e qualquer coisa é só me ligar.
Ele acena e o vejo subir as escadas, o desânimo é notável em sua postura.
Se alguma coisa o estiver perturbando ele vai se abrir quando achar necessário.
Eu e uma das garçonetes pegamos o mesmo táxi e ele me deixa primeiro,
em casa tomo um longo banho e me jogo na cama quando o dia está raiando,
ponho o celular para despertar, não quero dormir o dia todo, preciso estar
preparada para Nicolas, que finalmente me ligou e me pediu um encontro. Pediu
não, por que aquele dali não é de pedir.
Mesmo com a agitação consigo pegar logo no sono, o que é bom, pois
talvez não parecerei tão cansada quanto encontrá-lo.
Acordo quase meio dia e quando chego à sala encontro Karen arrumada.
— Vai sair ou está chegando?
Ela sorri.
— Estou de saída, nós ganhamos convite para um show de patinação lá
no Recreio, então combinamos de almoçar e depois vamos ao show — conta
animada.
Eu me jogo no sofá me sentindo preguiçosa.
— Que bom, divirta-se.
— Você vai trabalhar hoje?
— Não, mas vou dar uma saída mais tarde — informo não revelando
mais nada.
Karen não faz mais perguntas então sopra um beijo e saí me deixando
sozinha.
Vou para a cozinha e preparo um macarrão para fazer, é a única coisa que
sou capaz de preparar, pois nunca aprendi a cozinhar. Primeiro porque minha
mãe achava que eu jamais poderia cozinhar por ser muito distraída e segundo
mesmo se quisesse não poderia ler uma receita com letras tão pequenas. Assim
me limitei ao macarrão e ao ovo cozido.
Depois de almoçar descansei mais um pouco e quando faltava uma hora
para me encontrar com Nicolas tomei um banho e optei por vestir um
macaquinho jeans e uma sandália de salto Anabela. Quando fico pronta ele me
liga avisando que me aguarda na calçada.
Encontro-me um pouco acovardada e tenho a sensação de que alguma
coisa ruim vai acontecer. Acreditando ser coisa da minha cabeça desço as
escadas para ir ao seu encontro.
Ao passar pela portaria sou capaz de vê-lo do outro lado da rua. Nicolas
está encostado no carro com braços cruzados, sua expressão sombria quase me
faz parar e desistir de ir até ele. Então ele vira o rosto e me avista.
Caminho devagar até ele e não digo nada, só o encaro.
— Gabriela — sussurra meu nome e percebo seu olhar me examinar, ele
parece diferente, mais austero do que o normal.
— Nicolas — digo seu nome e também o encaro.
Ele suspira alto e desencosta do carro abrindo a porta do passageiro para
que eu entre e eu fico parada.
— Acho melhor você entrar, pois preciso ter uma conversa muito séria
com você.
— Eu não tenho nada sério para conversar com você — respondo azeda,
odeio quando ele age assim, como se fosse o reio do mundo e todos lhe
devessem obediência.
— Gabriela só tente não me irritar mais do que já estou irritado, o que
preciso falar é muito sério e não estou para brincadeiras.
— Não sei qual seu problema Nicolas, se você acha que sou alguma
cachorrinha que basta você assobiar para eu ir correndo balançando o rabinho
você está muito enganado — desabafo falando entredentes.
Ele se segura para não falar nenhuma grosseria, pois sua mandíbula
aperta e seus olhos estão injetados de raiva.
— Melhor você vir comigo, o que preciso dizer tem tudo a ver com você
e... com o Charles — diz por fim.
Surpreendo-me.
— O que tem o Charles?
— Não vou dizer aqui.
Fico desconfiada, mas decido ir com ele, pois o Charles é o namorado do
meu amigo e talvez Nicolas vá me dizer alguma coisa que possa interessar ao
Eric.
— Tudo bem — cedo e entro em seu carro.
Nicolas entra no carro e bate a porta com força e pulo de susto. Esse
homem deveria ir para a Índia em algum retiro para ver se consegue ficar mais
sereno.
Ele conduz o carro e não diz uma palavra sequer, eu fico ansiosa, me
remexo no carro e tento prestar atenção na paisagem do lado fora, noto que
segue novamente para a zona sul, mas faz um caminho diferente.
— Não precisa se preocupar Gabriela, não vou sequestrar você — solta
de repente.
Viro-me para ele que olha para frente.
— Não estou preocupada com isso, só não me agrada nem um pouco
como você age.
— Se tem alguém aqui que não deve estar nada satisfeito, esse alguém
sou eu — pronuncia áspero.
— E você pode me dizer logo que merda está acontecendo? Pois não sou
obrigada a aturar suas grosserias.
— Logo você vai saber. Isso se já não sabe — rugi.
Minha vontade é chutar suas bolas, e o mandar ir para aquele lugar. Mas
quero saber se Charles aprontou alguma coisa.
Balanço a perna e volto a olhar para rua, se continuar a ver sua cara
azeda não respondo por mim.
Alguns minutos depois ele entra na garagem de um prédio e assim que
estaciona desce e vem para o meu lado abrir minha porta. Desço do carro e o
encaro deixando bem claro o quanto estou chateada.
Nicolas olha para minha boca e sua expressão fica ainda mais irada,
então ele se vira e manda que o siga, penso seriamente em xingá-lo, mas por fim
o acompanho até o elevador.
Ficamos lado a lado e num espaço tão pequeno o clima é ainda mais
tenso. Assim que o elevador para, abre as portas em um hall muito luxuoso onde
tem apenas uma porta, Nicolas, põe o dedo indicador em um tipo de botão e a
porta estala abrindo. Ele entra e acende a luz, uma sala imponente é totalmente
iluminada, o lugar parece ter sido tirado de umas dessas revistas de decoração.
— Que lugar é esse? — pergunto examinando a sala. É tudo tão lindo e
limpo que fico com medo de me mover e sujar alguma coisa.
— Eu moro aqui — responde e caminha até uma mesa redonda e para de
costas para mim. — Você pode vir aqui? — Sua voz sai estranha, como se ele
estivesse fazendo força para falar.
Caminho devagar e me detenho ao seu lado. Ele olha para baixo e sigo
seu olhar. Sua mão está em cima de uma pasta marrom e fico sem saber aonde
ele quer chegar.
— Nicolas, você pode dizer logo o que está acontecendo?
Então ele levanta os olhos e os fixa em mim me observando.
— Você esteve com Charles esses dias? — interpela.
— Tem um tempo que não o vejo.
— Tem certeza disso, Gabriela?
— Olha já estou realmente cansada desse enigma.
Ele pega a pasta e estende para mim, eu só olho e dou um passo para trás.
Não entendo o que ele quer que eu faça, então olho para ele.
— Pega — diz e como não faço nada ele simplesmente abre. — Gabriela,
pega essa pasta. — Levanto a mão quase sem perceber e pego. — Leia o que
está escrito.
Minhas mãos começam a tremer e baixo o olhar, não consigo entender
nada, as letras dançam e fico sufocada. Meu coração dispara e tenho vontade
gritar. Meus Deuses! O que ele quer?
Olho para cima e Nicolas me observa e parece com raiva de mim.
— O que é isso? Não compreendo o que você quer. — Minha voz sai
fraca.
— O que é agora Gabriela, você é alguma burra ou algo parecido?
Quando Nicolas fala isso dou um passo para trás, que crueldade é essa
agora? O que eu fiz para esse homem para me humilhar desta maneira?
A pasta cai de minhas mãos, avanço e sem me conter dou um tapa em seu
rosto. Ele não esperava minha reação e arregala os olhos.
— Você não tem o direito de falar assim comigo, seu idiota. Não sei o
que você ganha me ridicularizando desta maneira, mas não vou permitir que nem
você e nem ninguém fale assim comigo — desabafo e sinto todo o meu corpo
tremendo.
Nicolas esfrega a mão onde bati sem tirar os olhos de mim.
— Você não me engana Gabriela, pensa que só porque fui o primeiro
homem a dormir com você poderia me ludibriar? Você é uma mentirosa, nunca
sequer namorou o Charles, e sei que apenas se uniram para me dar um golpe. A
farsa acabou.
— Eu continuo sem saber do que você está falando — anuncio e não sei
o que pensar. Ele sabe que menti quanto o namoro, até aí ele está certo.
Nicolas parece ainda mais nervoso, ele olha para o teto fecha os olhos e
respira fundo várias vezes. Então volta a me fitar.
— Não sei como vocês podem se rebaixar tanto.
— Eu não fiz nada — insisto em falar.
— Eu descobri um rombo na conta da agência, e depois de algumas
investigações foi comprovado que o Charles é o ladrão. Acontece que sabemos
que ele teve ajuda de um hacker, e você Gabriela, está nesta categoria.
Espanto-me com sua afirmação. Esse homem é louco? E porque o
Charles fez isso? Ele ainda é mais trapaceiro do que imaginei.
— Eu? Você só pode estar brincando — digo rindo desse absurdo. — Eu
não nenhuma hacker. De onde você tirou essa ideia?
Ele sacode a cabeça e parece não acreditar em minhas palavras.
— Gabriela, você mesma disse que é formada em Processamento de
dados e Charles, como o idiota que é deixou escapar algumas vezes que você
entende muito de informática, você pode não ter agido sozinha, no entanto tem
seu dedo seu nessa história.
Ah, não! O que faço agora? Havia esquecido-me dessa mentira. Abro a
boca para contar que não sou formada, mas desisto na hora, estou confusa com
toda essa bagunça que o Charles me meteu, e se eu disser alguma coisa e ele
pensar que o Eric sim tem alguma coisa a ver com isso?
Fico ainda mais nervosa, pois não vejo saída e me sinto perdida.
— Eu... eu não fiz nada — sussurro para ele.
Ele se aproxima, sua altura se impondo, com as mãos nos quadris inclina
a cabeça nossos olhos rentes um ao outro.
— Então porque você parece estar escondendo alguma coisa?
— Eu não estou escondendo... nada — minha voz sai por um fio.
— Eu juro, eu quero acreditar em você, porém o que você diz não me
convence, está mentindo, se não estivesse me falaria porque fingiu ser namorada
do Charles. Por que ele levou você e apresentou como namorada a sua família?
E por que, seja lá qual era o acordo de vocês acabou de uma hora para outra?
— Eu... você tem que entender...
— Entender o que Gabriela? Você é uma mentirosa! Começo a pensar
que aquele dia no bar foi tudo armação, pois Charles sabia onde eu estaria
naquela noite. Nada me tira da cabeça que vocês dois armaram, mas alguma
coisa aconteceu no meio do caminho e vocês se desentenderam.
— Você está equivocado.
— Eu posso te pôr na cadeia, sabe disso?
— Ca... cadeia? Mas eu não fiz nada de errado, você não pode fazer isso
comigo, você não tem provas contra mim.
Preciso sair daqui, será que agora se eu contar a verdade tudo não vai
piorar? Eu menti e disse ter um diploma, eu não entendo nada de lei. Nicolas é
poderoso e pode destruir comigo. E o que eu vou fazer quanto ao Eric? Afinal
ele está apaixonado pelo Charles. E se Charles convencer o Eric a resgatar seu
dinheiro e tentar fugir?
— Isso mesmo, cadeia.
Eu saio de perto dele, preciso ir embora e nem sei onde estou.
— Eu quero ir embora — digo indo para a porta, mas não consigo abri-
la. Encosto a testa na madeira fria e fecho os olhos respirando com dificuldade.
— Só me deixa sair, por favor — imploro quase chorando.
Nicolas se aproxima, posso sentir o calor do seu corpo, ele toca meu
cabelo e sua respiração chega até minha pele.
— O fato de ter me sentido atraído por você não vai livrá-la de nada, se
pensa isso, está enganada. Não vai me comover por ter sido o primeiro homem a
ter sexo com você, todavia não negarei: Eu passei um bom tempo com você.
Sinto a porta se abrindo e passo por ela. Então me viro para ele.
— Me devolva o meu cordão — peço num fio de voz e mal posso
encará-lo.
Ele enfia a mão no bolso depois joga o cordão em mim, eu o pego no ar e
aperto em minha mão.
— Se um dia você decidir me contar a verdade, sabe como me encontrar
— fala e bate a porta na minha cara.
Entro no elevador e não sei qual botão apertar, meus olhos ardem, mas
me recuso a chorar. Antes que eu decida apertar algum botão o elevador fecha as
portas e se move, alguns segundos depois a porta se abre e tem um homem
uniformizado me aguardado, levo um susto então ele sorri para mim.
— O senhor Karnezis pediu que eu levasse a senhorita — declara com
simpatia.
Penso em recusar, porém estou na merda. Não tenho certeza de qual
bairro me encontro, só sei que é na Zona Sul, assim esboço um sorriso e
acompanho o homem, ele não tem culpa de ter um patrão idiota.
Não demora muito até o homem me deixar em frente ao meu prédio, mal
o agradeço e corro para o apartamento. Quando fecho a porta Karen vem do
quarto sorrindo, mas ao notar meu estado avança e me abraça.
— Karen, eu não sei o que fazer, estou tão perdida. Por favor, me ajuda!
— soluço em seus braços e deixo as lágrimas finalmente descerem.
Minha amiga me leva até o sofá e me consola, eu choro. Encontro-me
devastada, as palavras de Nicolas não saem da minha cabeça, e lembrar-me de
seu olhar me faz ter um sentimento de culpa, mesmo sabendo que não fiz nada
para prejudicar ninguém. Estou cansada de me esconder das pessoas e mostrar
algo que não sou.
Cansada de querer fazer tudo certo, mas da maneira errada. Preciso de
um rumo, acabar com essa guerra que travo comigo mesma, me libertar e
principalmente me aceitar conforme eu sou, pois nessa minha guerra, apenas eu
estou saindo ferida.
Capítulo Vinte e três

Gabriela
N o dia seguinte me encontro sentada no sofá da sala olhando para o nada e
abraçando meus joelhos, não fui capaz de dormir a noite toda, mantenho-me
letárgica, minha vontade é me enfiar num casulo e ali permanecer, até tudo
desaparecer da minha mente.
— Gabi, você decidiu se vai contar para o Eric? — Karen questiona
senta-se no chão e alisando minha mão.
Eu fungo e olho para ela. Karen tem um olhar preocupado, ela ficou
comigo acordada até de madrugada, depois que contei o que houve, das
acusações do Nicolas, ela apenas me abraçou e assegurou que tudo iria se
resolver, bastava eu me acalmar. Depois, quando estava mais calma, ela me
aconselhou a contar a verdade para o Nicolas e também para o Eric. Eu fiquei de
pensar.
— Eu preciso primeiro saber a verdade, o Nicolas apenas me acusou e
deu aquele documento para ler, mas como você deve saber... não pude ler —
alego e baixo a cabeça encostando a testa em meus joelhos. — Que raiva que
tenho, por causa disso não fui capaz de compreender nada — expresso me
sentindo uma imprestável.
— Calma Gabi, se revoltar não vai adiantar nada — aconselha e noto que
se levanta e se senta ao meu lado. — Você não deve ter vergonha Gabi, procura o
Nicolas e conta a verdade, tira esse peso das suas costas e aproveita vê se ele diz
o que o Charles fez, afinal precisamos alertar o Eric.
Levanto minha cabeça e volto a olhar para ela que está ao meu lado e
passa a mão por meu cabelo.
— Você está certa, mas eu tenho medo...
— Medo de que?
Baixo os olhos e deixo algumas lágrimas escaparem de meus olhos.
— Medo de contar e ele me ver como uma idiota, como a maioria das
pessoas fazem, ele me enxerga como uma mulher esperta, inteligente e...
— Nem complete Gabi, para com isso. Você é sim inteligente, qualquer
imbecil pode enxergar isso, você é forte e capaz de muita coisa e se esse Nicolas
não for capaz de vislumbrar a pessoa maravilhosa que é, então ele sim será um
estúpido.
Abraço a Karen e ela beija minha cabeça.
— Você é uma amiga maravilhosa — murmuro.
— Maravilhosa é você — diz e se afasta me olhando. — Então? Você vai
procurá-lo.
Ela está certa, não posso ficar parada aguardando o que acontecerá, devo
fazer alguma coisa, não tenho a pretensão de amolecer o coração do Nicolas,
entendo que ele nunca me quererá por perto, mas suas últimas palavras me
deram esperança, ao menos não me odiará tanto se disser toda a verdade.
E mesmo que eu não o vejo nunca mais, não o quero lembrando-se mim,
caso venha a lembrar, como uma pessoa mentirosa e de má índole, capaz de
qualquer coisa para de dar bem.
Eu só preciso juntar algumas coisas, não farei isso hoje, pois estou uma
bagunça física e emocionalmente.
Afasto-me de Karen e limpo meu rosto.
— Amanhã eu ligo para ele e vejo se consigo vê-lo — anuncio e Karen
parece aliviada com minha decisão. — Mas preciso que você faça um favor —
peço.
— Claro! O que você quer?
— Eu não faço porque minha voz está péssima, então preciso de você.
Ligue para o Eric e veja como ele está. Sonda se alguma coisa de diferente
aconteceu.
Karen acena com a cabeça.
— Lógico, vou ligar agora mesmo,
Eu me levanto.
— Vou tomar um banho enquanto isso.
— Vai lá — diz e eu marcho para o banheiro.
Permito que a água caia por meu corpo, eu fecho os olhos e penso na
noite passada, no quanto me senti magoada quando Nicolas me deu aquele
documento para ler e perguntou se eu era alguma burra. Será que ele pensará isso
de mim quando eu revelar a verdade?
Devo estar preparada caso ele seja uma dessas pessoas ignorantes e me
trate como uma inepta. Quando Charles praticamente me chamou de ignorante
me senti mal e pra baixo, mas acredito que um gesto desses partindo do Nicolas
vai acabar comigo, por isso mesmo não o procuro hoje, afinal emocionalmente
não poderei me defender, nem sei se conseguirei me preservar.
Saio do banho e coloco uma roupa leve, volto para a sala e Karen está na
janela distraída.
— Então? Conseguiu falar com ele?
Ela se vira.
— Sim, consegui, e o Charles está com ele.
Se o Charles está com ele, então não está trabalhando.
— Você notou algo de diferente?
— O Eric parecia animado, perguntou por você e eu disse que havia
saído para o mercado.
— Isso muito me preocupa, o Eric comentou comigo que estava
pensando em abrir um negócio com o Charles, inclusive estava pensando em
resgatar seu dinheiro.
Karen se espanta e senta-se numa poltrona.
— Será que o Charles vai roubar o Eric?
Eu coço o nariz tentando pensar numa forma de agir rápido.
— O Charles seja capaz de qualquer coisa, mas preciso ter certeza do que
ele fez e isso somente o Nicolas poderá me contar.
— Ao menos temos uma semana, porque o Eric esta semana estará
atolado com algumas entrevistas para contratar garçom.
— A boate está com falta de garçom mesmo, com isso sabemos que não
irá viajar por esses dias, pois para resolver esses negócios de família ele precisa
se ausentar e Eric é bem responsável, não largaria tudo de mão — completo mais
confortada.
— Você acha que o Eric vai sofrer muito? Ele não merece isso — Karen
indaga com voz triste.
Eu olho para ela e dou um sorriso triste.
— Nós estaremos ao lado dele, mas o Eric é forte e vai superar.
— Tomara — ela responde.
Passo o dia todo deprimida, mal me alimento e Karen tenta me animar. À
tarde fico deitada na cama olhando para a parede.
— Olá minha amiga. — Olho para aporta e vejo Vicky segurando uma
caixa e sorrindo para mim. Sento-me na cama e dou um sorriso.
Ela se aproxima de mim e me abraça.
— O que faz aqui? Não esperava vê-la hoje.
Ela senta-se ao meu lado e me entrega a caixa.
— Trouxe reforço, e onde mais eu estaria quando minha amiga está se
sentindo pra baixo? — fala carinhosamente.
Eu abro a caixa e vejo quatro trufas de chocolate, então sorrio.
— Obrigada, preciso muito de chocolates — confesso pegando uma trufa
e mordendo. — Isso é maravilhoso, mas não precisava se preocupar. Agora você
é uma mulher casada e está grávida.
— E o que tem uma coisa a ver com a outra? Não é porque casei que vou
deixar minhas amizades de lado — fala e coloca sua bolsa no chão e volta a me
olhar. — A Mel não pode ligar agora, mas vai falar com você mais tarde.
— Eu falei para Karen que não era preciso perturbar vocês — exponho.
Vicky tem suas coisas para fazer, e a Mel está em outro estado. Todos
têm seus próprios problemas, não é justo que larguem tudo só para me paparicar.
— Mas como você pode ver, não dei ouvidos — diz Karen entrando no
quarto e sentando-se na beira da cama.
— Ela fez muito bem, nós fizemos uma promessa de sempre estar
presente na vida uma da outra, lembra-se disso? — Vicky pergunta levantando as
sobrancelhas.
Não poderia esquecer-me disso nunca, estávamos as quatro na casa da
Mel, tinha se passado pouco tempo da morte do Igor, nosso amigo e irmão
gêmeo da Mel, encontrávamos muito infelizes, então naquele dia fizemos essa
promessa de que nossa amizade jamais morreria e sempre uma ajudaria a outra
independente de qualquer coisa. Nós levamos muito a sério nossa promessa.
Eu sorrio e mordo outro pedaço de trufa.
— Como poderia esquecer — sussurro.
— Até lembrei que você costuma melhorar comendo chocolate, só não
consegui encontrar o chocolate meio amargo suíço que você tanto ama, me
desculpe — Vicky pede dramática.
Eu rio.
— A Karen te contou o que aconteceu?
— Não, ela apenas falou que você precisava ser consolada, para mim
pouco importa o motivo que a levou a ficar assim, bastou uma ligação e corri
para cá, se você quiser contar ótimo, se não quiser, ótimo também — assegura
com calma.
Eu respiro fundo e baixo os olhos e encaro a trufa em minha mão.
— Ah, Vicky eu estou tão confusa — revelo e começo a chorar.
Ela chega mais perto de mim e me abraça.
— Amiga, não se sinta assim, tenho certeza que encontraremos uma
solução.
— Sim Gabi, tudo vai se encaixar, tenho certeza disso.
— Ouça a Karen, eu mesma quando pensei que perderia meu irmão e me
meti numa confusão onde envolvi o Alano ela foi a primeira a afirmar que nada
acontece por acaso — diz e se afasta olhando bem dentro de meus olhos.
— Mas o seu caso é bem diferente, o Alano nunca negou que quis você
desde o primeiro momento.
Ela sorri.
— Você está me dizendo que tem um homem envolvido nesse seu
problema? — pergunta de maneira travessa.
— Em parte sim — confesso —, porém é ainda mais complicado.
Conto para Vicky toda a história, vez ou outra ela me interrompe
querendo saber alguns detalhes, e tento não deixar escapar nenhum ponto,
deixando de lado as particularidades da noite em que passei com Nicolas.
Quando termino, assim como a Karen, ela ficou pensativa.
Depois de um tempo, já estou na minha segunda trufa quando ela se
levanta e põe as mãos na cintura.
— Gabi, precisa contar a verdade para o Nicolas, e não podemos nos
esquecer do Eric, ele não pode continuar o relacionamento com esse Charles.
— Exatamente o que acho Vicky, disse o mesmo para ela — revela
Karen.
— Desde o início quando vocês começaram com essa história alguma
coisa me incomodou, o mesmo aconteceu com a Mel.
— Sim, lembro que vocês comentaram, porém não poderia imaginar que
o estranho a quem beijei na sua despedida fosse o chefe e amigo da família do
Charles, e não poderia imaginar o Charles sendo um cretino de marca maior.
— Mas você sempre teve suas desconfianças com Charles — Vicky
lembra.
— Sim, mas apenas pensei que ele não correspondesse ao Eric da mesma
maneira, e depois de conviver mais com ele fiquei com uma suspeita de estar
escondendo alguma coisa, mas nunca poderia pensar nele como um ladrão.
Nós três ficamos em silêncio por um tempo.
— Você vai procurar o Nicolas? — questiona Vicky.
Aceno.
— Pretendo ligar amanhã e marcar de encontrá-lo.
Vicky volta a sentar-se.
— Você está gostando dele, não está?
— Eu... talvez sim — confidencio com tristeza. — Ele é arrogante e
austero, não tem nada a ver comigo. Mas quando estou perto dele eu me sinto
tão arrebatada. — Olho para minhas amigas que parecem sonhadoras e solto
uma risada. — E podem parar com essas caras, eu e Nicolas nunca poderíamos
ficar juntos.
— Por quê? — Karen pergunta perplexa.
— É. Por quê? — Vicky reforça.
Reviro os olhos para as duas.
— Vários motivos, mas o principal, o homem é um presunçoso e ainda
tem o fato dele não gostar de mim, nem um pouco.
Karen levanta as sobrancelhas e me encara cruzando os braços.
— Não gosta tanto que passou uma noite contigo e te roubou alguns
beijos.
— Modo estranho de não gostar — Vicky completa e ri.
Eu taco uma almofada na Vicky e ela pega no ar e continua rindo.
Mais tarde Vicky faz pedido de pizza e quando estamos comendo Mel faz
uma ligação de vídeo e podemos conversar um pouco, não tenho tempo de narrar
tudo para ela, mas faço um pequeno resumo. E assim como Karen e Vicky
falaram, ela aconselha que eu fale a verdade sobre tudo e para não esperar muito,
pois ela não confia em Charles. Em seguida ela pergunta sobre a faculdade,
então garanto que verei isso assim que resolver essa confusão.
Karen muito curiosa, pergunta sobre o Felipe e Mel bufa dizendo que o
cara é maluco, Vicky, claro, fica preocupada, mas ela garante estar tudo bem e
que o irmão do Alano é um asno pervertido e não a afeta. Após quase uma hora
ela desliga e me incentiva a resolver tudo.
Muito mais tarde Alano liga para Vicky dizendo que já chegou e a espera
na portaria, ela se despede e me aconselha a não me acovardar, aconselha-me a
não ter vergonha de nada e encarar os fatos, pois sou uma vencedora. E assim,
depois desta tarde me sinto um pouco melhor, a distração foi boa, pois enquanto
estava com elas esqueci que uma nuvem negra paira sobre a minha cabeça.
Durante a noite tenho um sono agitado, mas ao menos pude dormir um
pouco. Tive alguns sonhos estranhos, onde Nicolas ria de mim e mandava-me
ficar lendo em público, minha mente conturbada não para nem por um segundo,
nem mesmo durante meu sono.
Acordo cedo e vou ao mercado, preciso caminhar para que minha mente
funcionar de forma mais clara, ando dois quarteirões sem prestar muito atenção a
nada, no mercado faço a mesma rotina de quando preciso pensar, dou voltas nos
corredores até chegar onde realmente preciso.
Alguns minutos depois estou de volta ao apartamento, e mesmo minha
caminhada não serviu de muita coisa. Encontro Karen na cozinha preparando um
café, assim que me vê me analisa e sorri.
— Você está com uma carinha melhor — comenta.
— Que bom, mas não vou te enganar, por dento estou apavorada.
— É normal, mas você vai ver que tudo vai melhorar.
Deixo o pão em cima da mesa e digo a ela que vou tomar um banho e
depois do café ligarei para Nicolas, preciso acabar logo com isso. Vou para o
quarto e pego um envelope onde contem algumas informações, esses papéis
compravam minha real condição. Deixo o envelope junto à bolsa e vou para o
banho.
Depois do café Karen precisa sair e passará o dia fora, porém me faz
prometer ligar se eu precisar, eu a tranquilizo garantindo que estou bem, então
ela aperta meu ombro e vai embora. Vou até a sala e pego meu telefone e procuro
pelo número de Nicolas, consigo encontrar alguns instantes depois e antes de
ligar vou para a janela, minhas mãos estão suando, não sei como ele vai me
atender, isto é, se atender. Provavelmente a esta hora está na empresa, penso em
ligar mais tarde, mas melhor acabar logo com isso.
Disco seu número e fecho os olhos, rezando para ele não atender, mas
querendo no fundo que ela responda a essa ligação.
Depois de chamar algumas vezes penso em desistir e a voz dele invade
todo o meu corpo.
— Gabriela — diz meu nome. Sua voz me desestabiliza e aperto o
telefone em minhas mãos.
Então tomo coragem e finalmente reajo falando seu nome.
Capítulo Vinte e Quatro

Nicolas
P or dois dias seguidos chego cedo à agência, não tenho nada urgente para
fazer, mas desde o episódio com Gabriela onde ela saiu do meu apartamento
daquela maneira, venho me sentido sufocado, é como se eu tivesse cometido um
crime, e feito algo muito errado. Isso é no mínimo engraçado, afinal eu sim fui o
enganado.
O olhar magoado ao qual me dispensou vem me aterrorizando e o receio
de ter cometido uma grande injustiça me deixa louco. E logo eu, um homem que
sempre agiu com prudência e integridade me encontro cheio de dúvidas quanto
as minhas ações a respeito daquela diaba.
Me pego várias vezes olhando o meu celular e pensando em ligar para
saber como ela está, mas o que eu poderia ganhar com isso? Nada, no fim de
contas de uma forma ou de outra ela mentiu. Apenas gostaria de saber o que a
levou a se juntar com o crápula do Charles.
Só de pensar nele minha revolta cresce. O infeliz não teve nem a
decência de procurar Cassiano para contar alguma coisa, meu padrinho
simplesmente não sabe de nada, e quando fui a sua casa na noite anterior para
uma visita junto com meu pai e o vi tão abatido não encontrei coragem para
revelar a ação de seu filho.
E apenas com um olhar, meu pai compreendeu que era melhor ele ficar
no escuro, ao menos por enquanto. Porém quando perguntei por Charles,
Cassiano disse que ele parecia mais tranquilo, ele até mesmo almoçou com o pai
no último domingo. Certamente não disse nada sabendo que eu, ao ver como
meu padrinho está debilitado, não arriscaria a expor sua sujeira. Tanto eu quanto
meu pai sabemos, Charles no fundo não está nem aí para o Cassiano.
Carmela entra na minha sala sorridente e me entrega uma pasta com
informações sobre uma pesquisa de mercado que realizamos há alguns meses
para a elaboração de uma propaganda de sapatos.
— Você tem uma reunião daqui a cinco minutos — lembra e me sinto
irritado por ter esquecido completamente dessa reunião. — Estou te achando
desligado, há algo que eu possa fazer por você? — pergunta com expressão
amigável.
Carmela trabalha para mim desde que me tornei o proprietário da
agência, ela já trabalhava com os antigos donos e tem total conhecimento de
tudo por aqui, é eficiente e de muita confiança, além de perspicaz.
Passo a mão pelo cabelo e me levanto.
— Não há nada que você possa fazer — digo e caminho até a janela. —
E você ouviu alguma coisa pelos corredores a respeito do Charles?
Como minha assistente, achei que Carmela deveria saber a verdade, e ela
me surpreendeu ao afirmar que nunca confiou em Charles, nunca havia dito
nada, pois sabia da proximidade entre nossa família. Toda vez que penso nesta
palavra, família e Charles na mesma frase tenho vontade de esmurrá-lo.
— Algumas pessoas andaram perguntando o que aconteceu, mas pode
ficar tranquilo, ninguém sabe de nada.
— Obrigado, Carmela — digo de costas para ela.
— Não há de que — responde —, não se esqueça da reunião, Ernesto já
está na sala preparando os relatórios.
Ainda tem essa porcaria de reunião.
Quando ela sai, pego meu celular e vou ao encontro dos diretores e
gerentes, não estou com cabeça para essa reunião, mas devo estar presente, pois
informaremos sobre o que levou a demissão de Charles e também
apresentaremos um novo programa para a segurança de nosso sistema.
Faz dez minutos que Ernesto explica os novos procedimentos da empresa
quando sinto meu celular vibrar, penso em não atender, mas decido pegar para
ver quem é, e quando vejo o nome de Gabriela na tela me levanto tão rápido que
a cadeira cai e todos olham espantados para mim.
— Preciso atender esta ligação, é urgente — declaro saindo da sala. Nem
me preocupo em levantar a cadeira caída.
— Tudo bem. — Ouço Ernesto dizendo.
Do lado de fora da sala atendo.
— Gabriela — falo seu nome e minha garganta aperta em saber que ela
está do outro lado da linha.
Sinto sua respiração e aguardo até que ela diga alguma coisa.
— Nicolas! — Sua voz sai trêmula e me encosto à parede. Deus! Como
gostaria de estar ao lado dela agora. — Eu te atrapalho? Qualquer coisa eu ligo
outra hora — anuncia insegura.
— Não, você pode falar. — Tento agir o mais frio possível, mas confesso
ser difícil.
— Eu gostaria de falar com você, eu preciso... é... eu quero te contar
uma coisa — completa e posso perceber seu nervosismo.
— Podemos nos ver hoje.
— Tudo bem, se quiser eu vou ao seu encontro em algum lugar é só me
mandar o endereço — sugere.
Estou tão ansioso, fico pensando como vou fazer, então tenho uma ideia.
— Vou pedir ao motorista para buscá-la, é o mesmo que a levou para
casa.
— Não há necessidade, não quero atrapalhar em nada.
— Não atrapalha, quando eu sair da agência irei para casa e te aviso a
hora que ele chegará até você.
Ouço seu suspiro.
— Ok, então até mais tarde.
— Até mais tarde.
Quando desligo continuo no mesmo lugar, pensando, fico curioso e
ansioso. Seja o que for, estarei disposto a escutá-la até o fim.
O dia passa lentamente e finalmente o cliente que havia marcado de
conhecer a agência vai embora, não espero por mais nada e sigo para casa. Ligo
para Emanuel e dou as coordenadas para pegar Gabriela e trazê-la até mim em
meu apartamento, depois passo uma mensagem para ela avisando que o
motorista está a caminho e irá aguardá-la.
Vou direto para a minha suíte e por sorte a empregada já foi embora,
tomo um banho rápido e fico na sala aguardado Gabriela. Não demora muito
Emanuel liga dizendo que a deixou no elevador, então vou recebê-la.
Assim que aporta abre meus olhos varrem seu corpo, ela agarra um
envelope junto ao peito como se fosse sua tábua de salvação. Seus cabelos estão
presos num rabo de cavalo, e mais uma vez seu lindo rosto está limpo de
qualquer maquiagem.
— Olá — ela diz num fio de voz.
— Oi Gabriela.
Ela dá um passo para frente e deixo que passe por mim, sinto seu cheiro e
aperto minhas mãos fechadas forçando-me a não tocá-la.
Entramos em minha sala, ela parece perdida e eu ofereço uma bebida, ela
nega dizendo estar bem, embora sua fisionomia prove o contrário. Estamos de
frente um para o outro e peço que se sente e assim ela faz, também sento-me de
frente para ela. Gabriela coça o nariz e segura o envelope e me pergunto que
porra de envelope é esse.
Ela se levanta de repente e vem até mim e me estende o tal envelope e eu
pego olhando para ela em questionamento, ela volta a se sentar e me olha
finalmente.
— O que vou falar agora, poucas pessoas sabem, e presumindo o fato de
você não confiar em mim, aí em suas mãos tem a prova de que vou falar a
verdade.
Olho para o envelope, então volto a fitá-la.
— O que você quer me dizer afinal Gabriela?
Ela coça o nariz novamente e vejo suas mãos tremendo, Gabriela olha
para as próprias mãos, agora em seu colo, começo a ter medo do que ela possa
me dizer e me sinto nervoso.
— Eu... eu não fiz faculdade de processamento de dados, ou tecnologia
da informação, na verdade eu... eu não fiz faculdade nenhuma — assume.
Não esperava por uma revelação dessas, nem sei o que esperava, mas
isso jamais me passou pela cabeça.
— Então, por que você mentiu?
Ela solta o ar pela boca e volta a me olhar, seja o que for deve ser bem
difícil para ela falar.
— Segundo o Charles, eu não poderia me apresentar como uma mulher
sem formação, pois as pessoas de seu convívio são soberbas e preconceituosas,
porém não é somente isso que tenho para te dizer — admite —, eu preciso te
contar outra coisa também.
— Sinceramente estou ficando confuso — resmungo.
— Nicolas, eu jamais poderia invadir seu sistema, não só por não ter
feito nada relacionado à informática, mas eu tenho... — Gabriela para de falar e
aperta os olhos bem fechados.
— O que você tem? — demando num fio de voz.
— Eu tenho dislexia — sussurra e então finalmente abre os olhos e me
encara, meu coração aperta, parece parar ao notar seu olhar tão atormentado. —
Eu mal terminei o ensino médio, sou praticamente incapaz de ler — confidencia
e apenas uma lágrima escapa de seus olhos.
Incapaz de me parar me levanto e vou até ela largando o envelope no
chão e ajoelhando-me em sua frente, Gabriela me olha perdida. Eu enxugo sua
lágrima solitária com meu polegar.
— Não chore — peço querendo pegá-la em meu colo. — Se isso te
machuca tanto, então não precisa contar nada.
— Devo contar, você precisa acreditar que não sou uma golpista — fala e
pela primeira vez vejo o quanto ela é vulnerável.
— Eu acredito em você.
— Quero que você tenha certeza, por isso trouxe aquele envelope.
Eu sorrio sem vontade ainda acariciando seu rosto.
— O que tem aquele envelope afinal de contas?
— Todos os meus exames e testes, e o diagnostico de que sou disléxica.
— Não precisava trazer nada para mim Gabriela.
— Quando você me entregou aquela pasta e mandou que eu lesse, fiquei
muito nervosa, pois quando estou sob pressão tudo piora, as letras dançam, sabe?
Depois você me chamou de burra por não ler, aquilo me levou de volta ao tempo
onde todos riam de mim por não ser capaz de aprender, as pessoas jogavam na
minha cara o quanto eu era ignorante, idiota e muitas outras coisas. Por isso te
bati.
Ao revelar isso me sinto o homem mais estúpido do mundo, eu mereci
aquele tapa e agora posso entender muita coisa, não entendo muito bem o que é a
dislexia, mas sei que é alguma coisa relacionada à dificuldade com o
aprendizado, não tenho certeza, mas vou me embrenhar a descobrir tudo sobre.
— Infelizmente não posso voltar atrás com as palavras, no entanto se
pudesse voltaria no tempo agora e retiraria tudo àquilo que disse, para mim só
resta te pedir perdão — rogo e seguro suas mãos nas minhas em seu colo. — O
tapa que você me deu foi pouco diante do sofrimento que causei.
Ela sorri com suavidade.
— Você não poderia saber. Somente minhas amigas mais próximas e meu
irmão mais velho sabem desse meu distúrbio, meus pais também, mas eles não
compreendem muito.
— E por que você esconde isso?
— Eu descobri tardiamente minha dislexia, meu irmão procurou saber o
que poderia haver de errado comigo, um colega dele mencionou que eu deveria
fazer uma avaliação, geralmente essas avaliações são feitas ainda quando se é
criança, porém infelizmente meus pais acreditavam que eu era burrinha — ela
diz a última palavra rindo, como se achasse graça, mas sei o quanto isso a
magoa. — Na escola também não houve muito interesse, pois eu vivia me
metendo em confusão e brigando, para eles eu era rebelde e não gostava de
estudar.
— Então desde criança você é brigona? — pergunto querendo
descontrair.
— Eu não aceitava muito bem o fato das crianças me chamando de burra
— desabafa.
Agora posso entender, esse lado dela é uma defesa, um modo de esconder
sua dificuldade.
— Gabriela, você não é burra, não sei por que seus pais a trataram desta
forma, quanto às crianças, na escola elas costumam ser cruéis.
— Tento acreditar, mas confesso, às vezes é muito difícil para mim.
— Eu posso saber onde Charles entra nessa história?
Ela me observa antes de falar.
— Eu nunca quis mentir para você, ou para ninguém e quando o Charles
veio com essa história pedindo ajuda, eu nem o conhecia direito, mas fiz para
ajudar outro amigo — declara —, não quero que pense que o enganei
propositalmente.
— Eu sei disso — afirmo apertando sua mão.
Gabriela abre o jogo e narra tudo desde o início, e assim tenho a
confirmação de que Charles é homossexual, mas isso não justifica o fato de ter
roubado da empresa. Ela ainda conta que nunca acreditou totalmente em Charles
e não se sente segura com ele. Ao me revelar isso fico em alerta e guardo essa
informação.
Quando termina de falar ela solta o ar e seus ombros caem.
— Então é essa toda a verdade — certifica e sua voz sai baixa, ela parece
cansada.
Eu admiro seu rosto, eu estava tão cego pelo meu egocentrismo que não
pude enxergar a verdadeira Gabriela, diante a sua força e magnitude sinto-me
medíocre e totalmente arrependido pela forma que a tratei.
— Agora posso entender certas coisas.
— Eu preciso que você me explique o que o Charles fez, pois estou
preocupada com meu amigo — diz sem graça. — Você não é obrigado a me
contar nada, nem preciso dos detalhes, mas o Eric está pensando em investir
num negócio para ele e Charles trabalharem juntos.
Eu rio de raiva, o Charles é mesmo um pilantra desgraçado, certamente
está planejando dar um golpe no rapaz.
— Gabriela, eu vou te contar tudo e você deve abrir os olhos do seu
amigo quanto ao Charles, se precisar de mim para confirmar qualquer coisa,
conte comigo.
Ela dá um sorriso, e a vontade de beijar sua boca me domina.
— Obrigada por isso.
Eu olho para sua boca e volto a fitá-la, ela fica séria, talvez saiba por
onde foram meus pensamentos. Esqueço completamente o assunto em questão.
Dentro de mim a necessidade de senti-la se eleva e não sou capaz de nada
enquanto ao menos não beijá-la.
— Eu sei que não mereço isso, eu não sou merecedor nem mesmo de
respirar o mesmo ar que o seu — declaro chegando perto de seu rosto e levando
minha mão até sua nuca. — Eu não mereço uma fagulha sequer da sua afeição,
mas sou egoísta ao ponto de não me importar se é certo te desejar tanto, e eu te
desejo, mesmo quando estava com raiva te desejava, mesmo ferido eu te
desejava, e essa ânsia que sinto por você, Gabriela, só cresce, e creio que nunca
passará — sussurro já com meus lábios tocando os seus.
Ela arfa soltando o ar e aproveito para roubar um beijo. Meu corpo, meu
coração e minha alma se enchem de calor. Eu quis tomar sua boca desde que a vi
naquele elevador, tão perdida e vulnerável, e tenho certeza de que se Gabriela
tivesse me contado alguma atrocidade, ou que era alguma criminosa, certamente
eu daria um jeito para livrá-la de alguma encrenca.
Seguro sua cintura com a outra mão a trazendo até mim, ela se entrega e
quando dou por mim estou sentado no chão com ela em meu colo. Tudo parece
tão certo com ela em meus braços, aprofundo nosso beijo o tornando ainda mais
ardente. Meu pau cresce em minhas calças e meu controle vai para o espaço. Eu
empurro meu quadril para ela sentir o quanto estou duro por ela. Gabriela solta
um gemido, o que é muito sexy.
Seus braços fecham em volta do meu pescoço e ela se esfrega em minha
ereção, posso sentir o calor entre suas pernas. Seus quadris pressionam para
baixo e me sinto incrivelmente mais duro. Se ela continuar assim não durarei
nem dez segundos. Eu seguro sua cintura para que ela fique imóvel e deixo seus
lábios, e ao vislumbrar seu rosto corado e olhos encapuzados de desejo quase me
desfaço em minhas calças.
— Você me deixa louco — murmuro quase sem forças para expressar
qualquer palavra.
— E eu me sinto extasiada quando estou com você — sopra em minha
boca.
Com essas palavras ela praticamente acaba com minhas forças, e essa
necessidade incandescente cresce dentro de mim. Levanto-me do chão a
segurando em meu colo, ela tem as pernas envolvidas em minha cintura, a
posição perfeita para sentir seu calor.
Desloco-me da sala e marcho até minha suíte sem soltá-la e espremendo
minha boca na sua, ela usa uma calça jeans e não vejo a hora de tirar aquele pano
do meu caminho. No quarto a deito na enorme cama king size, desabotoo sua
calça e a tiro de meu caminho, ela usa uma calcinha azul de renda e por mais
sexy que seja também a quero fora. Assim me desfaço dela e Gabriela se senta
na cama e tira sua blusa e sutiã ficando nua para mim.
Nunca tirando meus olhos dela arranco minha roupa, ela chega para
frente e beija minha tatuagem. Meu membro duro empurra claramente querendo
se enterrar nela. Empurro Gabriela deitada e avanço pegando seus braços e
elevando acima de sua cabeça e o prendendo com uma das minhas mãos.
Volto a devorar sua boca, seus quadris se movem e esfregam contra o
meu. Por pouco não me perco. Afasto-me e olho para seu rosto e suas bochechas
estão rosadas devido ao seu desejo contundente. Estou arruinado! E minha
excitação está tornando impossível saborear esse momento. Não quero me
afastar, preciso de uma camisinha, ou sou capaz de mergulhar nela assim sem
nada entre nós, só não o faço em respeito a ela que provavelmente não toma
nenhum contraceptivo.
Deixo um beijo na ponta de seu nariz e me jogo para o lado indo até a
cabeceira da cama onde se encontra a minha carteira e pego a camisinha. Assim
que revisto meu pau volto para ela que me observa com intensidade.
Posiciono-me entre suas pernas, e ela dobra os joelhos, seguro sua bunda
e sem deixar de admirar seu lindo rosto embrenho-me em sua boceta, quente e
apertada. É como se estivesse no auge da minha realização. Gabriela tem os
lábios entreabertos e solta o ar pela boca deixando escapar um leve gemido de
prazer.
Meu batimento cardíaco aumenta à medida que me enterro nela, arrasto
meu pênis alguns centímetros e volto todo o caminho, então desço meu corpo
sobre o dela, pego seus pulsos e elevo seus braços novamente sobre sua cabeça,
seu seio roça meu tórax e é a sensação mais maravilhosa que já senti. Sinto seu
sexo me sugando e empurro mais forte fazendo Gabriela gemer meu nome.
Estabeleço um ritmo constante de entrar e sair, ela se move comigo. Beijo sua
boca mordendo seus lábios, ela arqueia as costas sussurrando meu nome em
meus lábios, minha coluna parece formigar e minhas bolas apertam.
Rebolo investindo com força, sua vagina me aperta e sinto seu gozo,
incapaz de me segurar por mais tempo com um impulso eu empurro mais rápido
e profundo, meu impulso é tão selvagem que a cama chega balançar, então eu
gozo muito forte e sinto meu esperma enchendo a camisinha, a impressão que
tenho é de que transborda.
Sem forças praticamente caio em cima da Gabriela, e para não a esmagar
direciono meu peso para que pouse ao lado do seu. Eu a trago em meus braços e
a beijo com carinho.
Nunca mais quero soltá-la. Essa diaba me arrebatou e não serei capaz de
deixá-la ir, só espero que ela queira ficar.
Capítulo Vinte e Cinco

Gabriela
É incrível o quanto meu dia tomou um rumo totalmente diferente do que eu
esperava, na minha cabeça, após contar toda a verdade para o Nicolas ele, na
melhor da hipóteses, seria indiferente e me deixaria sair. Porém seu
comportamento comigo não foi nem perto do esperado.
Desde que o vi me aguardando quando sai daquele elevador Nicolas agiu
com cortesia e demonstrou grande interesse em minhas palavras, quando
finalmente revelei sobre meu distúrbio pensei que ele fosse de alguma forma me
menosprezar, mas não, ele compadeceu-se de minha dor e me reconfortou.
Não presumi parar em sua cama. Certamente eu o queria, e quando ele se
aproximou e expôs o que sentia, não pude me segurar e bastou seu toque para me
derreter em seus braços.
Agora aqui estou. Em seus braços após sentir um imenso prazer ao qual
somente ele é capaz de me proporcionar.
Nicolas faz desenhos aleatórios com a ponta dos dedos em minhas costas
e me encontro totalmente relaxada, um peso parece ter saído das minhas costas,
sinto-me mais leve. Ele beija minha têmpora e me aconchego mais em seus
braços.
— Você está tão quietinha poderia pensar que está dormindo — diz e sua
voz sai rouca.
Eu solto uma risada.
— E o que o faz pensar que estou acordada?
— Em nossa primeira noite juntos você dormiu em meus braços, e a
maneira que respira quando dorme é bem diferente — revela e me sinto
envergonhada por ter dormido tão profundamente naquele dia.
— Nem me lembre disso — digo escondendo o rosto em seu peito. Ele
cheira tão bem.
Ouço sua risada.
— E por que diz isso?
— Até onde sei os homens dormem depois do sexo e as mulheres são
mais ativas, devo ter causado uma ótima impressão.
Ele me aperta em seu abraço.
— Você causou uma impressão marcante, isso eu garanto.
— Só espero que não por ter dormido.
— Não, pode ficar tranquila quanto a isso — fala com um sorriso na voz.
Viro-me ficando de bruços, seguro o queixo com as mãos e olho para ele
sorridente. Nicolas está muito sexy, seu vasto cabelo castanho está bagunçado e
sua expressão é mais serena. Ele ergue apenas uma sobrancelha para mim, se
soubesse o que faz comigo com esse simples gesto ele usaria isso para conseguir
o que quisesse de mim.
— Não me imaginei em sua cama — comento e mordo os lábios.
Ele traz sua mão até meu cabelo e acaricia, Nicolas me olha com
brandura e me encho de contentamento.
— E o que você imaginou? — pergunta colocando alguma mexa do meu
cabelo atrás de minha orelha.
— Em minha cabeça após te contar tudo eu iria embora e... nunca mais o
veria.
— Gabriela, eu deixei que você se fosse naquele dia, por puro orgulho e
idiotice, mas devo avisar. Não acontecerá uma segunda vez.
Eu sorrio, não contava que sua resposta fosse me deixar cheia de
satisfação. Eu me inclino e dou um selinho em seus lábios e volto a me afastar.
— Fico feliz com isso — admito.
Mesmo ele afirmando que não deixaria eu ir embora, não podemos nos
relacionar, deveremos manter isso as escondidas, pois não quero as pessoas
pensando mal dele, achando que roubou a namorada do Charles, além de outros
motivos.
Ele passa o dedo entre minhas sobrancelhas.
— Por que ficou séria tão de repente?
— Por vários motivos não podemos ser vistos juntos — murmuro
soltando o ar.
— E por quê?
— É obvio não é Nicolas?
Ele faz um gesto de negação com a cabeça.
— Para mim não, explique-se.
— Para começar, eu fui apresentada como a namorada do Charles, não
iria pegar bem para você aparecer comigo assim do nada.
Ele ri.
— Ah Gabriela você é inconcebível.
— Sou o que? — questiono sem entender enrugando o nariz.
— Estou dizendo que você é inacreditável — diz, para de rir e me encara.
— Você está realmente preocupada com que vão falar de mim? E não de você?
Dou de ombros.
— Você é um cara importante e respeitável, tende a ser um exemplo.
— E você? Por acaso não é importante?
— Não.
Nicolas bufa, me pega pela nuca e inclina a cabeça ficando cara a cara
comigo, eu engulo a seco, pois ele fica muito sério.
— Nunca, mas nem de brincadeira repita uma asneira dessas, você é
importante e muito respeitável, até mais do que eu — salienta com solidez.
Será que ele pensa realmente em aparecer em público comigo?
— Eu não quis dizer desta maneira, e não se trata somente do Charles —
sopro diante a sua face.
— Então o que é? — Porcaria, não é possível que o Nicolas seja cego. —
Diga o que você está pensando, não vou permitir que esconda mais nada de mim.
— Nicolas, eu não sou o tipo de garota para você apresentar para seus
amigos e família, você deve ter ao seu lado uma mulher sofisticada e inteligente.
Ele me larga e senta-se na cama recostando-se a cabeceira, também me
sento, e como me encontro nua dobro meus joelhos e abraço minhas pernas para
esconder parte da minha nudez. Nicolas me olha e parece com raiva, talvez
agora ele tenha entendido, meu coração doe com esse fato, mas é o que é.
— Você tem a capacidade de me deixar sem resposta — esbraveja e
vendo seu ataque tendo a ficar invocada, ele presta atenção em minha expressão
e sacode a cabeça. — Nem que me leve uma vida inteira, eu vou enfiar nessa sua
cabecinha dura o quanto você está errada.
Fico sem entender e sigo o assistindo.
— Como assim? Não entendi.
— Gabriela, o que faz você pensar que não é inteligente e sofisticada?
Sim, definitivamente Nicolas esqueceu-se de tudo que contei para ele.
— Eu já expliquei minha condição.
— E daí?
— Nicolas, vou dar um exemplo, o Charles não sabe sobre a minha
dislexia, mas o pouco que esteve comigo percebeu minha dificuldade em ler,
qualquer pessoa que prestar o mínimo de atenção a mim, perceberá.
— Ainda não consigo seguir sua linha de raciocínio.
— Você mesmo já foi testemunha do quanto sou impulsiva, se alguém
falar o mesmo que Charles falou não posso garantir ter a reação serena de
quando despejou seu veneno.
Nicolas se desencosta da cabeceira e agora sim parece com muita raiva.
— O que ele disse?
— Nada demais...
— O que ele disse Gabriela? — exige num rosnado.
— Que eu jamais seria aceita no seu meio, pois sou uma mulher sem
perspectiva, que mal sabe ler. — Ao repeti suas palavras um gosto amargo
invade minha boca.
Nicolas se arrasta e segura meu rosto entre suas mãos.
— Eu jamais deixarei qualquer pessoas dizer atrocidades contra você, e
agora me concedeu mais um motivo para querer acabar com Charles — rosna e
toma minha boca num beijo exigente, porém rápido. Ele continua a segurar meu
rosto. — Você é uma pessoa brilhante e me dará muito orgulho de tê-la ao meu
lado.
— Mas...
— Sem mas, Gabriela. Deixa de inventar desculpas para escapar de mim,
e eu já te disse e vou repetir para que fique claro: eu não deixarei você escapar
de mim.
Eu olho para sua boca.
— Ainda bem que quero não escapar — sussurro e ele sorri. Meus
Deuses! Que sorriso!
Nicolas volta a me beijar me deitando na cama e então para de repente.
— Acho que devo trocar a camisinha — diz rindo.
Passamos mais uma hora entregue em nossa nuvem de prazer. Em algum
momento a fome aperta e ele esquenta a comida que sua empregada deixou, eu
uso uma camisa sua de malha que cobre até metade de minha coxa e Nicolas
uma cueca samba canção de seda. Tenho uma visão completa do seu corpo, e
devo dizer, o homem é a espécime masculina muito boa de ver e no meu caso, de
se tocar e beijar.
Estou admirando seu corpo com a mente completamente tomada de
desejo.
— Gabriela? Por que está me olhando dessa maneira? — Sua voz ressoa
e desperto do meu devaneio.
Sacudo a cabeça.
— O que? Olhando você?
Claro, ele me observa com aquela sobrancelha arqueada. Ai que eu ainda
morro disso!
— Sim, você me olha, porém parece estar a quilômetros de distância.
Imagino como devo estar parecendo, dou um sorriso amarelo.
— Uma das minhas particularidades. Segundo o neuropsicólogo que me
avaliou essa minha tendência a me desligar faz parte do meu distúrbio, mas essa
parte eu já consigo controlar mais — declaro e pela primeira vez ao falar disso
não me sinto constrangida, achando que serei julgada.
Ele sorri.
— Querida, tenho certeza que isso não é um privilégio somente seu,
conheço varias pessoas desligadas — fala com leveza.
— Esse é o menor de todos os outros problemas.
Ele segura minha mão por cima da mesa.
— Eu quero aprender tudo sobre esse distúrbio e principalmente aprender
sobre você. — acrescenta deixando meu coração pular de alegria. — Então para
começar — diz voltando a encostar-se a cadeira. — Conte-me sobre o
significado deste seu pingente.
Automaticamente minha mão voa até meu pescoço.
— Foi meu irmão quem deu, quando ainda era uma adolescente e nem
sabia sobre o que acontecia comigo de verdade.
Lembro exatamente o dia em que Diego entrou no meu quarto.
Eu estava encolhida no canto tentando entender por que das minhas
amigas, eu fui a única a não passar de ano. Então meu irmão se abaixou na
minha frente e me entregou uma caixinha preta, ao abrir um cordão de prata e
um pingente com o símbolo que aprendi a amar.
— Sabe o que significa? — ele perguntou mostrando o símbolo
desenhado no pingente. Eu apenas olhava encantada, era tão lindo. — É a letra
grega Pi, na matemática ela representa o que não pode ser concretizado,
embora seu valor seja representado como sendo 3,14. Na verdade ele não é
exato, é infinito.
Eu olho para ele.
— E por que está dando pra mim?
Ele sorri e segura meu queixo.
— Mesmo sendo ele misterioso e irracional atrai os mais inteligentes e
tem grande importância, pois apresenta infinitas possibilidades com apenas um
círculo simples.
Desde aquele dia, dificilmente me separava do meu cordão e pingente e
toda vez que me sentia para baixo o segurava na mão com força e lembrava-me
de sua representatividade, de que eu poderia chegar a algum lugar e explorar
algum talento ainda desconhecido.
Só de lembrar-me do Diego me sinto emocionada. Narro para Nicolas a
história do meu pingente e quando termino ele tem um sorriso compreensivo
desenhando seu rosto.
— Seu irmão deve ser muito importante para você — conclui —, ele está
por perto?
— Não, ele está no Japão a trabalho, meu irmão é físico, e muito
inteligente, além de ser um ser humano incrível, a empresa viu um potencial nele
e mesmo sendo tão jovem propôs que ele trabalhasse em um projeto na matriz —
conto cheia de orgulho do Diego.
— Isso será muito bom para ele.
Olho para a tatuagem em seu peito e volto a fitá-lo nos olhos.
— Existe alguma história por trás da sua tatuagem?
Ele ri.
— Minha avó grega, ela é uma mulher incomum, um dia ela pediu que eu
fizesse uma tatuagem da bandeira da Grécia — ele diz rindo e noto o carinho
que sente pela senhora. — Claro que não fiz, e como sempre agi com muita
lógica queria algo que contrastasse comigo, então escolhi o a letra Pi por sua
irracionalidade na matemática.
— Interessante — digo pensativa.
Nicolas levanta-se e caminha até mim, ele põe as mãos no encosto da
cadeira e fico prisioneira dele.
— Sim, no final de tudo acho que combinamos. Sua complexidade com
minha coerência.
— Os opostos que se atraem? — Entro na brincadeira.
— Não sei se você é meu oposto, mas certamente me atrai.
Levanto os braços e envolvo seu pescoço, ele agarra minha cintura e me
puxa para seu colo, e mais uma vez me vejo enroscada em seu corpo. Nicolas me
carrega até a sala e senta-se no sofá comigo em seu colo, ele enche meu rosto de
beijos e eu solto algumas risadas.
— Você me beijando assim, vou acabar me viciando.
— Isso é bom, quero te viciar assim como eu estou viciado em você —
sopra me arrepiando dos pés a cabeça.
Eu agarro seu cabelo e jogo a cabeça para trás enquanto ele salpica beijos
por meu pescoço com sua barba raspando minha pele. Nicolas sobe as mãos até
meus seios e os segura massageando os mamilos.
— Porra, você me deixa louca — pronuncio com o desejo crescendo
dentro de mim.
— Ah, essa boca suja, me enche de tesão e vontade de te punir por falar
palavrões — rosna arrastando a boca por todo o meu pescoço e apertando meus
seios.
Eu solto uma risada e ele me morde transformado minha risada em
gemido.
— Punir? O que pensa em fazer comigo?
— Ocupar essa sua boca... — Ele sobe os lábios e paira em minha orelha.
— Pôr você para me chupar, assim essa sua boca permanecerá ocupada e
somente seus gemidos poderão sair dela.
Puta merda! Se esse for um castigo ai sim viro uma desbocada.
— Hum, acho que gosto da ideia.
— Sempre soube que você tinha esse lado travesso. E pensar que até
poucos dias você era intocada — murmura e me beija com paixão.
Devo concordar com o Eric, Esse negócio de fazer sexo é muito bom, e
viciante.
Capítulo Vinte e Seis

Nicolas
F omos dormir já passava de uma da madrugada depois de tomar um banho
juntos, onde um esfregou o outro. Notei que Gabriela estava caindo de sono e
para dizer a verdade também me sentia exausto, então caímos num sono
profundo.
Pela manhã acordo e Gabriela encontra-se totalmente coberta e somente
parte de seus cabelos pode ser visto, se não fosse por isso diria que não tem
ninguém na cama além de mim. Ela provavelmente sentiu muito frio, pois tenho
mania de ligar o ar condicionado na potencia máxima. Pego meu telefone na
cabeceira e passa da 8h da manhã, já deveria estar a caminho da agência, mas a
vontade de ficar em casa é forte.
Levanto-me e faço minha higiene matinal, volto para o quarto e Gabriela
nem se mexeu, a garota gosta mesmo de dormir, volto a pegar meu celular e
caminho para a cozinha enquanto ligo para Carmela, assim que atende aviso para
cancelar meus compromissos do dia, ela fica tão surpresa que fica em silêncio
por alguns instantes.
— Você está bem? — questiona.
Eu sorrio.
— Sim, estou bem.
— Aconteceu algo de grave com seus pais ou avós?
Certamente está estranhado eu não ir trabalhar, eu nunca deixo de ir à
agência, quando o faço é para um compromisso referente a algum cliente ou para
acompanhar a gravação de algum comercial.
— Não Carmela, está tudo bem com eles — digo tentando não rir — Se
acontecer alguma coisa fora do comum, ou importante você sabe como me
encontrar.
— Ok, tenha um bom dia — responde por fim.
Na cozinha Dona Graça me olha e parece ver um fantasma.
— Senhor Nicolas?
Paro na porta e cruzo os braços.
— Sim Graça, Algum problema?
— Não, mas não sabia que o senhor estava em casa, o senhor costuma
sair tão cedo.
Será que todos ficarão com essa cara de choque ao perceberem que não
fui para o trabalho?
— Mas hoje decidi ficar em casa. — Caminho até a geladeira e olho para
seu interior. — Por favor, prepare o café, pedirei para Emanuel comprar algumas
coisas. — Digo e volto a fechar a porta da geladeira e olho para ela. — Ponha
mesa para dois — informo e ela abre e fecha a boca. Hoje é dia de causar
espanto nas pessoas.
Ela apenas acena e me olha como se me visse pela primeira vez.
Saio da cozinha e volto para a suíte a tempo de ver Gabriela se mexendo
e despertando. Paro de frente a cama cruzando os braços e a observo. Ela geme e
se espreguiça como uma gata manhosa. Ela abre os olhos e eles se fixam
diretamente em mim e ela sorri.
— Bom dia! O que faz aí me olhando desta maneira? — indaga com a
voz enrouquecida do sono.
— Estava te admirando — confesso.
Ela se senta.
— Você poderia ter me acordado, afinal você deve ir para o trabalho.
— Estou de folga hoje.
Seus olhos brilham de empolgação.
— Que bom, mas se quiser posso ir, afinal deve ter outros compromissos.
Olho para o teto como se estivesse pensando, então subo na cama e fico
de frente para ela.
— Sim tenho um compromisso muito importante hoje.
— Ah! Tudo bem! — Sinto o desanimo em sua voz. — Melhor me
apressar então.
— Meu compromisso hoje é conhecer melhor a mulher incrível que
passou a noite comigo — revelo e ela abre ainda mais seus olhos, e posso
enxergar seu prazer com minhas palavras.
— Acho que fala de mim.
Passo os olhos por sobre a cama e me volto para ela.
— Não vejo nenhuma outra mulher aqui.
Ela me dá um tapa de brincadeira e ri.
— Bobo.
Seguro seu rosto e beijo superficialmente sua boca. Então nos abraçamos
e ela aconchega a cabeça em meu ombro e sua respiração toca em meu pescoço.
Uma satisfação toma conta do meu coração fazendo com que me sinta pleno.
Ouço o barulho de um telefone tocar e sei não se tratar do meu. Gabriela
se aparta e olha para a cadeira que tem sua bolsa.
— Deixa comigo — digo me afastando, pois sei tratar-se do seu telefone
tocando.
Pego sua pequena bolsa e entrego para ela que imediatamente apanha o
celular em seu interior, ela olha para tela e posso ver a imagem de uma loira.
Antes de atender ela solta um suspiro.
— Alô — responde quase com medo e presto atenção. — Desculpe, me
esqueci completamente de ligar — diz e me olha com cara culpada enquanto
ouve o que a pessoa fala. — Tudo correu bem, ficou muito tarde e dormi —
explica e enquanto escuta, um sorriso maroto se desenha em sua face. — Claro,
eu ainda não sei, mas pode ficar tranquila e desculpa se te preocupei. — Elas
ainda se falam e Gabriela desliga. — Minha amiga ficou preocupada comigo,
pois não mandei notícias.
— Está tudo bem? — pergunto.
— Sim, ela só ficou aflita quando não me viu hoje.
— Imagino que sim. — Deito-me ao seu lado a puxando comigo e beijo
sua testa. — O que você quer fazer hoje?
Ela fica pensativa antes de responder.
— Nada — responde e sou obrigado a rir.
— Você ficou pensando todo esse tempo para me dar essa resposta?
Ela também rir.
— Estou gostando tanto de estar com você assim, não consigo pensar em
nada melhor para fazer.
— Você está certa.
Depois de ficar na cama de bobeira decidimos que queremos realmente
permanecer no apartamento. Levantamos-nos e Graça preparou um café da
manhã digno de hotel, em seguida vamos para a sala que tenho onde costumo
assistir filmes e nos acomodamos no confortável sofá, enquanto Graça cuida da
casa e prepara nosso almoço.
Eu e Gabriela conversamos a maior parte do tempo, narro para ela o que
Charles aprontou na empresa e ela fica estarrecida com a ousadia dele, e
comenta que deve avisar ao seu amigo sobre o verdadeiro caráter de Charles,
deixo claro que caso for necessário ela pode contar comigo.
Depois o assunto gira em torno dela e Gabriela conta seu verdadeiro
sonho de entrar em uma faculdade e fazer arquitetura, ela fala com tanta paixão
que é notório o quanto é importante a realização deste seu sonho. Ela diz sobre
sua amiga ter visto para ela as oportunidades e possibilidades que podem
facilitar sua entrada na faculdade. Não comento nada, mas pretendo ajudar de
alguma forma, ainda não sei como, mas possuo uma empresa que foi para a lista
das dez melhores no ramo de propaganda, e isso deve valer alguma coisa para
ela obter sua bolsa, pois pagar estará fora de questão, afinal minha diaba é
orgulhosa e não aceitará.
Passamos um dia de descobertas, e Gabriela me fascina com seu jeito
moleque, e ao mesmo tempo tão sensual. Ela não fala muito sobre os problemas
passado em sua infância e adolescência, mas vez ou outra solta alguma coisa e
posso perceber que para ela foi muito difícil essa fase.
Ela revela ser muito unida com suas três amigas ao qual conhece desde a
infância.
— A Vicky é a única que está casada, e por sorte seu marido a trata muito
bem e é todo apaixonado — conta com a cabeça deitada em meu colo. Estou
sentado no sofá e acaricio seu cabelo. — Você já deve ter ouvido falar dele, já
que é um homem importante.
— É algum artista?
Ela ri.
— Não, se não me engano ele tem uma empresa de finanças, é o Alano
Drumont — diz e é claro que reconheço o nome.
— Eu o conheço, na verdade sou um cliente dele, antes de investir
sempre o consulto.
Ela se senta e me olha sorrindo.
— Esse mundo é muito pequeno mesmo — comenta e volta a se deitar.
— Ele é um grande homem, no início fiquei meio assim, afinal casou com minha
amiga em menos de três meses, eu acho.
Lembro-me da história que correu a época de seu casamento repentino,
mas Alano é um homem racional, se ele casou certamente sabia o que estava
fazendo.
Perto do anoitecer ela precisou ir embora, pois deveria trabalhar na boate,
ela confessa gostar do trabalho, porém a desgastava demais por ser durante a
noite, ela nunca conseguia descansar o suficiente durante dia.
Levo Gabriela para casa e nos despedimos com a promessa de nos
vermos novamente durante a semana.
Quando chego ao apartamento ainda posso sentir sua presença, na suíte
em cima da cama vejo a minha blusa que ela usou como camisola, a pego em
minhas mãos a levando até o nariz e inspiro seu cheiro. Olho para cama e sem
ela parece ainda maior. Assim como eu ela não queria que o dia acabasse, e se
não fosse ela ter que ir para a boate ela passaria a noite novamente.
Vou até o outro quarto que uso como escritório e ligo o computador,
quero pesquisar o máximo possível sobre a dislexia, e acima de tudo entender e
encontrar alguma forma de ajudá-la a conviver melhor com esse distúrbio.

A caminho do trabalho logo pela manhã, mando uma mensagem de voz


para Gabriela, pensei em ligar, mas provavelmente está dormindo a esta hora do
dia. Ao chegar vejo Carmela e a cumprimento passando por sua mesa e como faz
todos os dias me segue até minha sala.
— Acredito que tudo tenha corrido bem ontem, pois não me ligou.
Ela põe um maço de papéis em minha mesa enquanto fala.
— Tudo correu bem, e uma empresa do ramo alimentício quer uma
reunião com você, estão interessados em criar uma campanha para o dia das
crianças.
Faço o cálculo dos meses que faltam para outubro, dependendo do que
eles querem até dá tempo, mas em alguns casos, pode levar mais de um ano até
uma campanha publicitária atingir o seguimento esperado, são muitos processos
até chegar ao resultado final.
Peço para Carmela ver a disponibilidade da minha agenda para atender a
referida empresa e depois de me passar alguns recados do dia anterior e alguns
relatórios ela me deixa sozinho. Jogo-me no trabalho e não vejo a hora passar.
Perto do almoço Carmela vem a minha sala e diz que meu pai está tentando falar
comigo. Havia esquecido meu celular no silencioso.
— Oi pai, nem vi que ligou — digo retornando sua ligação assim que
Carmela deixa minha sala.
— Imaginei que estivesse envolvido em algum trabalho, então falei com
sua assistente que me ligasse quando estivesse disponível.
— Só adiantando umas coisas, então me fale, aconteceu alguma coisa?
— Estive na casa de Cassiano ontem à noite novamente e vi Charles —
revela chateado.
— E ele falou alguma coisa?
— Ele teve a cara de pau de dizer para Cassiano que estava de férias.
Eu solto um riso que mais parece um bufo.
— Ele é mesmo muito descarado — comento indignado. — E com o
senhor, ele falou alguma coisa?
— Filho, consegui ficar alguns minutos a sós com ele, e você não vai
acreditar no que disse.
— O que foi que ele disse pai?
— Que ele há muito tempo não se sentia satisfeito por estar fazendo um
trabalho que não condiz com sua formação, nunca foi valorizado por você e
então resolveu sair, pois encontrou algo melhor. Não me aguentei e falei saber
de toda a verdade.
— Esse idiota pensou que eu esconderia isso do senhor? Tudo bem
pensar que não falaria para o Cassiano, mas ele sabe o quanto confio no senhor,
pai. — Era incrível a capacidade de Charles achar que poderia se dar bem com
todos. — E ele? Depois do que o senhor falou? Aposto ter dado alguma desculpa
esfarrapada ou negado tudo.
Ouço meu pai respirar forte.
— Ele disse que você está inventando tudo, pois descobriu que ele estava
procurando um novo emprego e não aceitou bem isso, ou seja, negou ter
roubado da agência e ainda deixou claro o quanto você sempre implicou com
ele.
Cada vez fico com mais raiva do Charles, como pode uma pessoa se
perder desta maneira? Mentir tanto e nem se importa com nada ou ninguém?
— Pai, o Charles só pode ser doente.
— Um doente que gosta de muito dinheiro? Pois para mim ele é
desprovido de caráter Nicolas, e devemos ter muito cuidado. Cassiano anda
muito frágil e Charles está se aproximando dele a cada dia. O meu amigo disse
estar muito confiante, pois esse ataque cardíaco foi bom para Charles o
valorizar mais.
Levanto-me da cadeira indo até a janela, de alguma maneira a paisagem
lá fora me permite ficar mais calmo.
— Pai, vamos esperar até Cassiano ficar mais forte, ele ficará mais
animado quando souber que não precisará abrir falência, sua vida financeira tem
como ser consertada. Pelo menos uma boa notícia para ele.
— Isso me alivia tanto, filho.
— Eu imagino — comento sorrindo, pois sei o quanto meu pai também
estava preocupado com a situação do meu padrinho.
— Mantenha-me informado e já sabe, se precisar estou disposto a
ajudar — reafirma.
Combinamos de visitar Cassiano juntos no dia seguinte então nos
despedimos e volto ao meu trabalho.
Estou colocando o telefone sobre a mesa quando toca e vejo o nome de
Gabriela, dou um sorriso e atendo.
— Olá dorminhoca,
— Como você sabe que estava dormindo?
— Porque você trabalhou a noite toda, e contou o quanto se sente exausta
depois do trabalho.
— Você é muito perspicaz — fala e sinto um sorriso em sua voz. — Só
liguei para dizer que senti sua falta também. — A caminho do trabalho passei
uma mensagem dizendo que sentia sua falta, ela provavelmente ouviu ao
acordar.
— Fico feliz em saber que não estou sozinho nisso — declaro enquanto
giro a cadeira para ficar de frente a paisagem. — Então, conseguiu conversar
com seu amigo?
Escuto sua respiração.
— Não, ontem estive com ele na boate muito rápido e hoje está indo
para São Paulo, pois aquele chefe cafajeste dele está pensando em investir
numa boate e pediu que o Eric fosse até lá dar uma olhada. E o Eric retornará
somente na próxima semana.
Tento não rir do insulto que faz ao Lucas.
— É uma pena mesmo porque essas coisas devem ser contadas
pessoalmente.
— E você não sabe o pior ainda — anuncia contrariada. — Eric me
falou muito rápido que Charles está de férias e vai com ele para São Paulo, pois
não quer ficar longe.
Tenho certeza absoluta de que Charles está aprontando alguma, ele quer
dinheiro e viu nesse amigo da Gabriela a oportunidade de se dar bem, temos que
dar um jeito de cortar o mal pela raiz.
— Isso é ruim, ele está cada vez mais envolvendo seu amigo — comento
suspirando. — E ele comentou alguma coisa sobre o pai do Charles? —
questiono, pois falei com Gabriela o que houve com Cassiano, e ela se admirou,
pois tem certeza que Charles não contou nada para Eric.
— Não comentou nada, e ele estava muito feliz com essa viagem. Nicolas
eu estou muito preocupada com o Eric, apenas não contei nada porque acredito
que devo fazer isso pessoalmente — declara e sinto sua preocupação. — Pior,
estou me sentindo péssima por estar guardando isso, é como se estivesse o
enganando.
— Calma minha diabinha, você não está fazendo nada de errado, e assim
que ele voltar você vai fazer o que é certo — a tranquilizo.
— Eu sei, mas estou com vontade de esmurrar o focinho do Charles —
esbraveja irritada. — E você continua me chamando desse nome por quê?
Eu deixo escapar uma risada.
— É meu jeito carinhoso de te chamar — brinco e ouço seu bufo. — Não
fique chateada comigo. — peço.
— Não estou, acho que ainda sinto muito sono e quando estiver com
você vou mostrar a diabinha — adverte e me ajeito na cadeira, meu pênis
impulsiona com suas palavras.
— Olha minha diaba, o que você diz é um grande estímulo para querer
estar o mais rápido possível com você.
— Isso é bom, vou passar a falar mais coisas desse tipo para você. —
Sua voz agora fica sussurrante.
— Você diz isso porque estou no trabalho agora, mas não se esqueça de
que sou o chefe e posso dar o fora daqui — pressuponho.
— Hum, melhor você trabalhar, não quero depois que me culpe por estar
faltando — pondera —, agora devo desligar, estou com fome e quero dormir
mais um pouco, ainda tenho trabalho hoje.
Não quero deixá-la, e falar com ela torna meu dia muito melhor, mas
Gabriela deve descansar, então pergunto o horário que ela sai de casa e digo que
a buscarei e a levarei à boate, ao menos poderei vê-la por alguns momentos.
Depois de tudo combinado ela desliga e fico um tempo com o telefone
em minha mão e o olhando como um bobo apaixonado. Claro que é um exagero
dizer-se apaixonado, é apenas uma forma de me expressar.
No início quando a conheci lutei contra a atração, afinal projetei em
minha mente que Gabriela não prestava, imaginei uma mulher vulgar que queria
apenas brincar com os sentimentos do Charles.
Nunca morri de amores por Charles, e nem ele por mim, nós apenas, por
uma questão familiar nos respeitávamos, ao menos eu o respeitava, pois desde o
momento em que ele me roubou, da parte dele não houve respeito algum. Então
Gabriela entrou na equação, eu agora entendo, no fundo sempre soube que ela
não era igual ao Charles, ela nunca o usou e sim o contrário.
Porém de toda essa história o Charles fez uma coisa de bom. Ele trouxe
Gabriela para minha vida.
Capítulo Vinte e Sete

Gabriela
D aqui a pouco devo sair para trabalhar e ainda estou com sono. Assim tomo
um longo banho e decido colocar o uniforme de uma vez para poupar tempo,
então posso aproveitar uns minutos a mais com Nicolas.
Ao pensar nele automaticamente um sorriso sonhador se faz presente e
meu coração dá um salto de alegria. Nunca me senti assim por ninguém, com ele
consegui expor toda a minha imperfeição, ele me deixou a vontade e conduziu
tudo muito bem. E poder estar com ele sem me esconder foi a melhor coisa que
fiz. Não vou negar, sinto certo medo do futuro. Mesmo ele dizendo não se
importar em aparecer em publico ao meu lado eu fico insegura.
Tudo é muito novo, até mesmo esse sentimento dentro do meu peito é
novidade, é como se uma avalanche de emoções fosse jogada em mim, mal me
deixando respirar.
Além de tudo devo pensar em Eric, terei que contar toda a verdade sobre
Charles e tenho medo da reação do meu amigo, porém correrei o risco, não
posso o deixar viver numa ilusão só para depois sofrer ainda mais. O Eric é uma
pessoa sensata e ele jamais se deixará ser feito de palhaço. Então Charles que se
prepare, pois seus dias estão contados.
Termino de prender meu cabelo e ao me olhar no espelho fico satisfeita
com o resultado. Em cima da cama o telefone toca e corro para atender e
olhando na tela vejo a foto da minha mãe e atendo, estou com muita saudade dos
meus pais. Se eles tivessem procurado saber a mais tempo o que acontecia
comigo, hoje estaria muito melhor, não curada, pois não há cura para a dislexia,
mas certamente teria feito um tratamento para seguir em frente.
Minha mãe fala comigo e conta que sente minha falta e de Diego.
— Mãe, eu estou bem — garanto depois dela questionar pela décima vez
se tenho me alimentado. — Eu vou visitá-los este fim de semana.
— Vem sim filha, eu e seu pai andamos conversando e achamos que
talvez fosse melhor voltar para o interior — informa.
Nenhum dos dois gostava da cidade grande, minha mãe nunca se
habituou, mesmo vivendo aqui todo esse tempo, quanto ao meu pai, para ele a
cidade grande é muito moderna, ele não entende que os tempos mudaram.
— Será bom para vocês — encorajo com voz animada. — Vou fazer o
seguinte, vou almoçar com vocês no sábado, assim você me conta tudo.
— Então vou fazer aquele frango que você gosta.
Minha mãe sempre foi preocupada em fazer o que gostamos, ela e meu
pai são pessoas simples, não são de demonstrar muito carinho além de serem
introvertidos. Têm os pensamentos um pouco arcaicos, porém são pessoas boas,
mesmo não me dando o devido apoio quando precisei, eles não fizeram por mal,
apenas por acharem ser o certo.
— Ótimo, então sábado a gente se vê. Manda um beijo para o papai.
Despedimos-nos e quando estou pondo o telefone de volta na cama ele
volta tocar e atendo, não tem a imagem de ninguém assim acredito ser o Nicolas,
pois ainda não tirei sua foto para pôr na agenda. Atendo e ele diz estar me
aguardando no lugar de sempre.
Volto a me olhar no espelho e dou uma volta. Vendo que estou ok, pego
minha bolsa e desço, querendo estar o máximo de tempo com ele.
Quando saio da portaria vejo Nicolas e ele vem ao meu encontro, antes
que eu diga qualquer coisa ele me segura pela cintura e rouba um beijo meu,
bem aqui na calçada, sem se importar com quem nos veja. Até esqueço onde
estou e agarro seus braços e correspondo ao seu beijo.
Todo meu corpo incendeia com esse beijo, o modo como me aperta me
deixa louca. Sua língua se enrola na minha e sua dureza roça em minha barriga e
queria estar em outro lugar mais privado para tirar nossa roupa do caminho.
Nicolas aparta sua boca da minha, mas permanece segurando-me em seus
braços.
— Senti sua falta — sussurra em meus lábios.
— Também senti a sua — sopro.
Encaramos-nos e finalmente ele me deixa ir.
— Melhor sairmos logo daqui. Estou a ponto de beijá-la novamente —
diz e pega minha mão praticamente me arrastando até seu carro.
Ao dar partida no veículo põe uma mão em meu joelho e acaricia, é tão
difícil estar com ele tão próximo e precisar me controlar.
— Como foi seu dia? — pergunta prestando atenção ao volante.
— Nada demais, passei o dia em casa tentando dormir.
— Explique-me como são seus horários na boate — pede então digo a
ele que meu trabalho é regular, costumo ir somente três noites, geralmente nas
mais agitadas a fim de somar ajuda.
Ele me pergunta se este foi meu primeiro emprego e confirmo, pois
sempre foi difícil para eu arrumar um emprego, por mais simples que fosse.
Nicolas me surpreende falando que se eu quiser ele pode me ajudar a conseguir
um novo emprego, pois tem muitos contatos.
Nisso ele já está estacionado perto da boate e eu olho para ele perplexa
enquanto ele me observa despreocupado.
— Você está falando sério? — indago desconfiada.
Ele muito sério sacode a cabeça.
— E você pensa que estou de brincadeira? — devolve a pergunta me
contemplando.
Mexo os ombros sem acreditar que ele realmente me ofereceu ajuda.
— Você parece sério — comento apenas.
Ele me observa com atenção e traz sua mão até meu rosto e o acarinha
com a ponta dos dedos, minha vontade é fechar os olhos e sentir seu toque.
— Sim eu estou falando sério, é notável o quanto trabalhar a noite não é
para você e posso ajudar, além disso, você gostaria de fazer outra coisa.
— Você deve saber que é difícil encontrar um emprego para mim.
— Você tem pouca confiança na sua capacidade, eu andei pesquisando
sobre seu caso, e você sabia que existe disléxico em todas as áreas de atuação,
até professores?
Eu sorri para ele, pelo jeito ele falava sério ao dizer que gostaria de saber
mais sobre minha condição.
— Meu irmão chegou a falar comigo, no entanto medo de fracassar —
confidencio sem tirar meus olhos dos dele. É tão fácil falar de meus medos com
ele.
— Eu entendo você Gabriela, todavia você precisa sair da sua zona de
conforto, você é uma mulher incomum e muito inteligente. Você pode fazer
qualquer coisa. Tenho certeza disso.
Se esse homem continuar a me falar essas coisas sou capaz de me
apaixonar por ele, isso se já não estiver apaixonada.
— Você está certo, minhas amigas vivem dizendo isso, mas fico tão
apavorada de fazer algo errado, e se eu fizer alguma idiotice? Não quero te
prejudicar.
— Me prejudicar como? — pergunta com a sombra de um sorriso.
— Ora, digamos que você me consiga um emprego, então se eu fizer
algo de errado o seu nome estará associado a mim — esclareço. Não estou
fugindo de tentar algo novo, porém não quero prejudicar o Nicolas.
— Não fará nada de errado, e caso venha a cometer algum engano, isso
acontece Gabriela, todos nós erramos em algum momento, eu já cometi erros,
não somos diferentes nisso, e quer saber? — pergunta e agora sua outra mão
também toca meu rosto me segurando para encará-lo. — Caso faça alguma coisa
muito errada não me importo em estar ligado a você.
Eu sorrio esperançosa.
— Ok, eu aceito. Se você me conseguir alguma coisa eu vou tentar.
Ele também sorri e me beija com carinho para se afastar em seguida.
— E seu amigo mandou notícias?
— Não — respondo com tristeza. — A cada dia com aquele desgraçado
se envolve muito mais.
— E o Charles quando quer sabe como encantar — diz —, não vê até o
Cassiano que o conhece está acreditando em sua mudança.
Lembro-me do pai do Charles, um homem muito simpático e lembro de
perguntar por ele.
— Ele melhorou pelo menos?
— Ainda está muito abatido, mas vem melhorando a cada dia, só por isso
ainda não abri o jogo sobre o Charles.
— Será uma decepção — comento desanimada. — Talvez seja melhor
você nunca contar.
— Não posso fazer isso, e se Charles o enganar e fazer alguma besteira
como acabar com resto do dinheiro que lhe resta?
Pensando por esse lado Nicolas está certo. Afinal Charles é capaz de
qualquer coisa para se dar bem.
— E a mãe dele? — Não gostei daquela mulher, mas nunca comentei
com Nicolas, pois trata-se de sua madrinha.
— Simone mima o Charles demais, contar para ela é a mesma coisa que
nada, e é bem capaz de arrumar um modo de livrar o filho.
Não falo nada daquela mulher.
— Ela está doente ou teve alguma doença grave? — questiono ao
lembrar-me da história que Charles contou para o Eric.
Nicolas me olha espantado.
— Não que eu saiba, ela sempre apresentou uma saúde de ferro. Por que
a pergunta?
Narro para ele a história de Charles, ele provavelmente contou essa
mentira para convencer ao Eric o do porque não poderia jamais se revelar para a
família. Charles contou tanta mentira que nem ele mesmo já sabe o que é
verdadeiro ou falso.
— A cada dia o Charles me apavora.
Olho para o outro lado da rua e vejo o pessoal chegando e preciso me
adiantar, ainda mais que o Eric não está presente, e o outro rapaz no lugar dele é
um pouco chato e não nos deixa tão livres quanto o Eric.
Combino de ficar com Nicolas no dia seguinte, pois não estarei escalada
para trabalhar e ele fica de mandar Emanuel me pegar em casa no final da tarde
de amanhã. Despeço-me dele com um beijo cheio de paixão e sigo para mais
uma noite de trabalho.
Fábio, o subgerente fica no lugar do Eric toda vez que ele precisa se
ausentar. Ele já está distribuindo ordens quando chego à sala de funcionários, a
me ver olha-me dos pés a cabeça e faz aquela cara de insatisfação, ele não gosta
de mim pelo fato de ser a amiga do Eric, em sua imaginação devo ser algum tipo
de protegida, mal sabe ele, Eric me cobra muito mais por ser amiga.
Eric não é um metido e muito menos trata as pessoas como lixo por ser o
chefe, foram poucas às vezes em que Eric precisou se ausentar, o que é bom,
pois esse Fábio é intragável e ninguém gosta dele, só nunca contei nada porque
não quero causar nenhum tipo de desconforto, e se ninguém nunca chegou para o
Eric e falou, não serei eu a falar.
— Você está atrasada dona Gabriela — repreende com cara de desgosto.
Pego meu telefone e vejo a hora, ainda faltam mais de 1 hora para a
abertura das portas, ele deve estar louco, pois somente quem trabalha no bar e na
cozinha deve chegar com mais antecedência. Não querendo me aborrecer, não
respondo nada e deixo que continue seu discurso de chefe. A mesma ladainha de
sempre quando ele fica responsável.
Depois de dispensar os funcionários diz que estará no escritório e ficará
de olho a noite toda em todo mundo e não quer ver ninguém de vadiagem.
Quando sai faço uma careta para suas costas, Mariana vê e disfarça uma risada.
— Só espero que o Eric não demore muito — Verinha resmunga e olho
para ela e sorrio.
— Acho que ele só volta na segunda-feira.
— Caramba, vou ter que aturar esse nojento então, ao menos você estará
livre dele amanhã.
— Ainda bem — respondo rindo e vejo Boris entrar na sala com cara
amarrada. — Houve alguma coisa Boris? — questiono.
— Esse cara é muito desagradável, se não precisasse tanto desse emprego
esmurrava a cara dele.
Aproximo-me dele e aperto seu ombro para tranquilizá-lo.
— Fique calmo, pelo menos ele não está no comando, apenas quando o
Eric precisa se ausentar.
Ele me olha com cara fechada.
— Não quero nem saber. Vou falar com Eric como esse daí nos trata —
diz e olha para as pessoas que ainda estão aqui. — Vocês deveriam fazer o
mesmo, pois não pode ser somente eu a reclamar.
— Então vamos falar todos juntos — incentiva Verinha.
— Eu topo — Fernando que está no canto fala.
Mariana e outra garçonete, que trabalha no salão principal concordam.
— Podem contar comigo para ajudar — digo por fim. Eu vejo o quanto
Fábio é imbecil e talvez seja melhor Eric saber mesmo o que ele faz em sua
ausência.
Algumas horas depois tenho todas as mesas ocupadas e me desdobro
para ajudar a servir, Fábio vendo a agitação que estamos, ao contrário do Eric,
nem mesmo nos ajuda, apenas vai à mesa de uma atriz e começa a puxar o saco
dela, mas ela é tão metida que o olha como se estivesse com nojo, é bom para ele
ver como nos sentimos quando nos trata com desprezo.
O resto da madrugada passa muito rápido e quando o último cliente sai
estou exausta e ali mesmo no salão me sento numa das cadeiras estofadas e tiro
meu sapato para massagear meus pés, fico muito distraída e nem percebo nada a
minha volta.
— Gabriela — Levanto minha cabeça e vejo Fábio parecendo muito
preocupado me olhando, eu levanto minhas sobrancelhas e não digo nada. — O
Chefe quer falar com você?
— O Eric?
— Não, eu. — Olho e vejo Lucas atrás do Fábio.
Era só o que me faltava, não quero falar com esse homem. Mas mesmo
não sendo uma funcionária de verdade ainda trabalho para ele, e aqui é minha
única fonte de renda.
— O que o senhor deseja? — pergunto mal humorada.
— Preciso falar com você em particular — diz e se aproxima olhando
para Fábio com cara feia. — Você pode nos dar licença, e depois quero ter uma
conversa séria com você.
— Sim senhor — pronuncia todo humilde.
Assim que se afasta Lucas senta-se de frente para mim e me olha.
— Não pense que vou ficar toda mansa só porque é o dono disso aqui —
alerto e empino o nariz.
Ele ri e balança a cabeça.
— Ainda nutri uma raiva por mim.
— Não sei se é raiva — falo e me endireito na cadeira. — O que quer
comigo? Veio me despedir?
— Não vim despedir você, te mandar embora está fora de questão.
— Então do que se trata? — pergunto apesar de ter uma ideia do que ele
queira.
— É sobre a Karen, é claro, você sabe disso.
Ao menos ele é esperto.
— Não vou contar nada sobre a minha amiga, já falei. E ela não quer te
ver.
Sinto que fica angustiado.
— Mas eu preciso falar com ela, a Karen tem que saber a verdade, eu não
fiz nada para prejudicá-la, você deve acreditar em mim.
Fico o encarando por um tempo, Lucas parece realmente estar falando a
verdade.
— A Karen sofreu muito, você não tem ideia — revelo.
Lucas tem uma expressão de culpa e parece sofrer.
— Eu imagino que sim, mas eu nunca quis prejudicá-la, muito pelo
contrário, meu maior desejo sempre foi o de protegê-la.
— Será mesmo? Por que há três anos não foi isso que pareceu.
— Não tive intenção, o que aconteceu foi uma falta de comunicação,
uma confusão. E eu só descobri o que houve de verdade bem depois da Karen ter
desaparecido. Eu cheguei a procurá-la, porém não encontrei em lugar nenhum,
até com a mãe dela eu falei, mas a mulher nem sabia da filha.
Ao falar da mãe uma raiva cresce em meu peito, aquilo nem é digno de
ser chamada de mãe.
— A mãe da Karen é uma vadia de merda — desabafo.
Lucas balança a cabeça.
— Posso imaginar que sim, fico só imaginando o que Karen passou nas
mãos daquela mulher.
— Melhor nem imaginar — comento —, o que você quer de mim?
— Me diga como posso encontrar a Karen, eu tenho recursos para
encontrá-la ao menos sei que ela está por perto, mas se você me contar podemos
economizar tempo.
— Me desculpe não vou contar — revelo. Não trairei a confiança da
minha amiga de forma alguma.
Ele suspira e olha para o teto então volta a me encarar.
— Então converse com ela, diga que eu preciso muito conversar e me
desculpar pelo mal entendido que causei. Por favor — pede parecendo
desesperado.
Logo se vê que Lucas é um homem poderoso, ele possui uma rede de
hotéis de luxo, não só no Brasil, mas pelo mundo. E ele pedir por favor para uma
simples funcionária deve estar acabando com seu orgulho. Enxergo sua
sinceridade. Não teria necessidade de Lucas estar praticamente se humilhando.
Respiro fundo e desta vez eu aceno.
— Ok — digo e vejo seu sorriso. — Não garanto nada, vou conversar
com a Karen assim que ela voltar.
Ele desfaz o sorriso.
— Voltar da onde?
— Karen foi para Sul a trabalho, foi uma coisa de última hora. Mas
estará de volta na próxima semana, somente.
— Ela trabalha com o que?
Eu sorrio.
— Não vou falar isso, espere e deixe que ela mesma conte.
— Você é osso duro de roer — comenta rindo. — Você dará trabalho
para o Nicolas.
Eu fico séria.
— Por que diz isso?
— No dia em que me atacou pensa que não percebi como vocês ficaram
juntos, não sou bobo Gabriela,
Dou de ombros, não tenho nada a esconder.
— Bem de qualquer forma isso não é da sua conta.
Ele ri novamente.
— A Karen é a pessoa mais gentil e doce que já conheci na vida, como
vocês podem ser amigas?
— Nos conhecemos desde a infância.
— Então você é uma das três amigas que ela adorava falar — afirma
divertido.
— Com certeza sim.
Lucas se levanta e então me olha.
— Na próxima semana eu posso vir falar com você?
— Se eu disser não você virá de qualquer forma.
Ele ri novamente, e devo admitir ele é muito lindo, não é a toa que a
Karen se apaixonou. O homem é também muito carismático.
— Ainda bem que você sabe — confessa pondo as mãos no bolso. —
Agora preciso conversar com o Fábio. Obrigado por tudo.
— Não há de quê — respondo rindo com deboche.
Ele dá outra risada e se vira indo embora.
Lucas gosta da minha amiga. Convencê-la disso vai ser difícil. Bem de
qualquer maneira tenho até a próxima terça para falar com ela.
Levanto-me da cadeira indo até meu armário pegar minhas coisas, o
pessoal da limpeza trabalha para deixar tudo arrumado para o dia seguinte, e
então me lembro de que não estou escalada para trabalhar, e dou um sorriso
bobo. Afinal estarei nos braços do Nicolas mais uma vez.
Só de imaginar como será nossa noite me deixa ansiosa para a hora
passar rápido.
Capítulo Vinte e Oito

Nicolas
— Estou decepcionada com você, meu neto. —Encontro-me há quase meia
hora ao telefone com minha avó tentando explicar o porquê de não visitá-los nos
últimos meses.
— Eu vou arrumar um tempo para aparecer na casa de vocês — digo
mais uma vez.
— Promessas vazias, e tudo por causa de trabalho, trabalho e mais
trabalho — ralha zangada.
Tenho vontade de rir, mas não o farei ou poderá ser pior.
— Não é só por causa do trabalho, tenho outros motivos.
— Ti ? — interpela parecendo surpresa. — Que outro motivo então você
[4]

tem para não visitar seus avós?


Porque fui falar isso?
— Outra hora eu falo, i giagiá mou , agora preciso desligar, pois estou
[5]

com um cliente me aguardando.


— Não pense que escapará — vocifera e a conhecendo do jeito que a
conheço não sossegará enquanto não souber o que quis dizer.
Falo com ela mais um pouco e prometo não sumir antes de finalmente
desligar.
Eu amo meus avós, e estou devendo uma visita, mas desde que eles
vivem em outro estado fica muito difícil, no entanto nada justifica meu sumiço,
preciso me fazer mais presente e dar meu jeito de vê-los.
Solange, minha gerente do departamento de criação entra na sala e
comunica que um de nossos clientes mais antigos pediu uma reunião de última
hora para o final da tarde. E os planos de eu mesmo pegaria Gabriela vão para o
espaço.
— Ele deu alguma pista? — questiono aborrecido.
Ela se senta e também está contrariada.
— Não, mas tem a ver com o fato da venda deles terem caído, após
aquele escândalo de que um dos diretores da empresa foi acusado de estupro.
— Ele se mete em confusão e quer que concertemos? Não fazemos
milagres — argumento nada satisfeito.
— Foi exatamente o que pensei, mas como você sabe ele é um dos
nossos clientes mais antigo e fiel — adverte.
Não é primeira vez que acontece algo parecido com isso, em algumas
ocasiões preciso ficar até tarde, quando não por conta de um projeto é devido a
um cliente que do nada aparece com alguma ideia, e o pior é que a maioria das
vezes a ideia é ridícula.
Eu respiro fundo, não há o que fazer.
— Tudo bem, vamos atendê-lo. — Ela se levanta para sair. — Chama a
Carmela, por favor — peço e Solange acena.
Em seguida minha assistente entra na sala, digo a ela sobre a reunião e
peço para preparar a sala e providenciar para termos ao menos um café para
oferecer. Após fazer suas anotações sai para cumprir as tarefas passadas. Ligo
para Emanuel e peço que busque Gabriela e dê a ela o cartão de entrada do meu
apartamento e a auxilie até a porta.
Em seguida ligo para minha diaba, ela demora um pouco a atender, mas
quando fala tem a voz arrastada, eu sorrio, com certeza a acordei.
— Te acordei — comento.
— Estava tirando um cochilo aqui no sofá — diz e a ouço bocejando. —
Já está na hora de ir para sua casa? — pergunta perdida.
— Não, estava pensando em te surpreender e eu mesmo ir buscá-la, mas
surgiu uma reunião de última hora então será o Emanuel mesmo a pegá-la.
— Poxa é uma pena não poder você mesmo vir.
— É uma pena mesmo, eu vou chegar um pouco mais tarde, então ele vai
providenciar para entrar no apartamento sem precisar da minha digital.
— Se achar melhor eu espero por você até mais tarde.
— Nada disso, não quero perder tempo, e será gratificante chegar e ver
você — confesso.
— Tudo bem, espero por você em seu apartamento — concorda com um
riso na voz.
— Fique a vontade até eu chegar, pedi a Graça para preparar o jantar, se
sentir fome não há necessidade de me aguardar.
— Eu espero por você — informa e dá outro bocejo.
— Ok, mais tarde nos vemos, Emanuel avisará quando estiver aí.
Despedimos-nos e desligo o telefone. Agora é só torcer para que a hora
passe rápido e Pietro não tome muito do meu tempo.

A reunião termina um pouco mais das 19h, e não vejo a hora de chegar
em casa, mais cedo Emanuel ligou informando que havia deixado Gabriela no
apartamento, e só em pensar em vê-la me sinto animado.
Chego em casa em tempo recorde e ao abrir a porta da sala parece não
haver ninguém, tudo está silencioso. Tranco a porta e tirando a gravata caminho
devagar e ao passar pela sala noto Gabriela dormindo e agarrando uma
almofada. Ela usa um vestido amarelo que subiu por suas coxas e sua calcinha
fica a mostra.
Abaixo perto dela e acaricio seu cabelo espalhado pelo braço do sofá.
Sentindo minha presença ela abre os olhos e sorri, e este sorriso toca bem dentro
do meu coração.
— Você chegou ou estou sonhando? — murmura e traz sua mão até meu
rosto e toca minha barba, ela tem um olhar sonhador.
Eu seguro seu pulso, viro meu rosto e beijo sua palma.
— Eu sim, pareço estar sonhando. Ao chegar e encontrar uma mulher tão
linda dormindo em meu sofá.
— Você é um galanteador.
— Apenas para você — minha voz sai baixa e me aproximo de seu rosto,
Gabriela me olha com ternura. — Estava louco para chegar em casa, só pensava
nessa sua boca, e em beijá-la até perdermos nossos sentidos — desabafo já com
meus lábios tocando os dela.
Minha diaba arfa e aproveito para minha língua apossar-se de sua boca.
Gabriela envolve meu pescoço e a seguro em meus braços a trazendo até mim,
seu corpo é quente e sua pele macia. Sento-me no chão, ela passa sua perna por
minha cintura e aprofundo o beijo enquanto minhas mãos passeiam por suas
costas. Seu gosto é intoxicante. Eu levanto a cabeça e ela está corada posso ver
que está excitada.
Subo minhas mãos até seu rosto e esfrego seu rosto com meus polegares.
— Eu estou louco para vê-la nua e deleitar em seu corpo — digo com
dificuldade, aparentemente estou sem ar.
Ela rebola em meu colo, eu fecho os olhos jogando a cabeça para trás,
essa diaba ainda me mata.
— E o que está esperando? — questiona com voz arrastada.
Volto a fitá-la.
— Preciso de um banho, mas vejo que necessito mesmo é de você.
Gabriela se afasta e abre os botões de minha camisa em seguida a puxa
tirando de dentro da minha calça, então suas mãos deslizam por minha barriga
até meus ombros e retira a minha camisa.
— Eu também preciso de você — sussurra se aproximando de meu rosto,
sinto sua respiração contra meus lábios. — Senti saudades de estar com você.
Assim ela me beija de forma sensual, e eu a deito no tapete da sala, me
afastando apenas para tirar seu vestido. Ela não usa sutiã e desço minha cabeça e
tomo seu seio na minha boca, sinto as mãos de Gabriela tocarem meus ombros e
ouço seu gemido de surpresa quando mordo o bico e puxo.
Ela é deliciosa e quero mais, preciso sentir tudo dela. Assim viajo minha
língua por sua pele que se arrepia por onde passo, seus dedos agarram os fios do
meu cabelo enquanto desço fazendo um caminho molhado e quente até chegar à
borda de sua calcinha. De onde estou levanto os olhos e a observo jogar a cabeça
para trás e morde o lábio inferior num gesto sensual.
Retiro sua calcinha, pego sua perna esquerda e beijo desde o seu pé até
sua coxa, passo a língua na dobra de seu joelho e ela dá um salto e aperta meu
cabelo. Chego com a boca no meio de suas pernas, inspiro sua excitação e
deslizo minha língua por suas dobras sentindo seu gosto. Gabriela murmura meu
nome e rebola em meu rosto. Enfio um de meus dedos em sua boceta e sugo seu
clitóris.
Eu mexo a língua, lambendo de cima para baixo e de baixo para cima em
movimentos rápidos, acrescento mais um dedo em sua entrada e a chupo com
mais pressão, meus dedos se movem para dentro e para fora e posso sentir seu
aperto. Gabriela arqueia as costas e goza melando meus dedos em um gemido
alto clamando meu nome.
Sua respiração está acelerada, dou um beijo de cada lado de sua coxa e
levanto a cabeça a fim de olhá-la.
— Você é a coisa mais gostosa que já provei — revelo me levantando e
ficando de joelhos, ela me observa com olhos semisserrados e eu levo meus
dedos até minha boca e chupo para sentir um pouco mais de seu sabor. —
Maravilhosa! — exclamo com voz rouca.
Levo minhas mãos até meu cinto e abro minhas calças, antes de retirá-la
por completo pego a camisinha em minha carteira e ponho de lado, feito isso tiro
o restante de minha roupa e meus sapatos ficando nu. Envolvo meu pau com
minha mão e o masturbo olhando bem para minha diaba que tem os olhos
pregados em meus movimentos. Meu pau fica tão duro que é capaz de quebrar
uma parede. Cato o preservativo e depois de encapá-lo, pego uma almofada e
coloco em baixo de sua bunda.
Permaneço em meus joelhos, elevo uma das pernas de Gabriela para ficar
em meu ombro, ela fica completamente aberta para mim, direciono meu pau o
acomodando em sua entrada. Deslizo para frente, olhando em seus olhos e
conforme a invado ela arregala os olhos e solta o ar pela boca. Sua boceta é
apertada e quente e minha necessidade cresce à medida que penetro em seu
corpo.
Seguro Gabriela pelo quadril e num golpe certeiro me enterro nela e
arfamos juntos com a sensação maravilhosa. Estamos totalmente conectados e
tento me controlar ao máximo para não gozar tão rápido, pois quero prolongar
seu prazer. Suas pálpebras são pesadas e meu pênis a possui por completo.
Tomo uma respiração profunda, saio de seu corpo apenas para bater de
volta com mais vigor, Gabriela empurra sua pélvis contra mim, assim de forma
constante bombeio deslizando dentro e fora de sua doce boceta. Tiro sua perna
de meu ombro conduzindo até minha cintura, então sou capaz de descer meu
corpo e devorar sua boca silenciando seus gemidos com minha língua.
Gabriela tem suas mãos em minhas costas e me arranha enquanto se
remexe em conjunto com minhas investidas. Meus golpes tornam-se mais
severos e deixo de beijá-la para encostar minha testa na sua, ela tem os olhos
fechados. Trago uma de minhas mãos e agarro seu cabelo.
— Abra seus olhos — peço em um só fôlego. Imediatamente ela os abre
e seus olhos são hipnotizantes e incendiários. — Você é maravilhosa.
Seu corpo aperta o meu conforme os golpes tornam-se mais intensos, ela
aperta meus ombros em garra e solta um grito abafado enquanto sua boceta suga
meu pau, seus olhos se fecham em êxtase e num último golpe me deixo levar
pelo meu próprio êxtase.
Ainda me mantenho dentro dela enquanto aos poucos começamos a nos
acalmar, nosso corpo relaxa após um orgasmo muito intenso, minha cabeça cai
em seu ombro e lentamente nossa respiração vai voltando ao normal.
Gabriela acaricia minhas costas e beija meu ombro, e vendo sua
dificuldade em se mover saio de cima dela a trazendo em meus braços como
faço todas às vezes e beijo sua testa.
— Eu adoro estar assim com você — confessa e sua voz parece mais um
sopro. — Nunca pensei que estar com você fosse tão... extraordinário.
Essa é uma das coisas que mais admiro em Gabriela, ela não esconde o
que sente.
Eu sorrio e a seguro mais forte em meu peito.
— Sim, nós somos bons juntos e você me surpreende de tantas maneiras
— comento.
— Eu? — pergunta com riso na voz. — Posso saber o que te surpreende
tanto.
— Para começar você é quente, e não entendo como uma garota da sua
idade com seu fogo, permaneceu tanto tempo sem se entregar a nenhum homem
— declaro ainda sem entender isso. — Não que esteja reclamando, para falar a
verdade foi uma grata surpresa.
Não posso negar, saber que sou o único me deixa orgulhoso e possessivo,
e por outro lado não posso nem mesmo imaginar Gabriela com outro, meu
sangue ferve só de imaginar. Nunca me senti desta maneira por outra mulher,
mas essa diaba desperta em mim um sentimento de posse.
— Eu não sou tão velha assim — responde afetada. — Tenho apenas 23
anos.
— Não te chamei de velha, minha diaba irritadinha, mas a maioria das
mulheres já chegam nesta idade com alguma experiência sexual.
— Existem muitas nestas condições, se quer saber. Pode até ser que a
maioria das mulheres começam cedo, até mesmo na adolescência, mas para mim
as pessoas supervalorizam o sexo.
— Você acha que as pessoas se preocupam muito com essa questão? —
questiono interessado em saber seu ponto de vista.
— Sim, ninguém deve ser avaliado por seu comportamento sexual,
principalmente nós mulheres — sugere —, não será o fato de fazer sexo ou não
que determina o caráter de qualquer pessoa.
— Concordo com você, mas isso não satisfaz minha curiosidade. Você é
extremamente sensual, nunca me passaria pela cabeça que fosse uma virgem,
tudo bem que você vive me surpreendendo, mas por essa eu nãop esperava —
completo.
Gabriela dá uma risada.
— Você me acha assim, tão sensual? — pergunta passando a ponta do
dedo por minha tatuagem.
— Sim, e você sabe disso, agora não fuja do assunto.
— Uma vez e eu e minhas amigas conversávamos sobre isso, e chegamos
à conclusão de que coincidentemente, nós quatro, apesar de sermos tão
diferentes em alguns aspectos, fazíamos parte de um grupo denominado
demissexual[6]. Isso são palavras da Mel, ela é a mais inteligente e estudada de
nós, entretanto não posso garantir se é ou não verdade.
Considero-me um homem experiente, mas com Gabriela estou
aprendendo coisas que nem imaginei que existisse.
Aparto-me dela ficando em meu cotovelo e a encaro, ela me observa e
tem um sorriso.
— E o que é isso? — pergunto confuso.
Ela dá uma gargalhada e tampa a boca diante da minha cara séria
tentando parar o riso.
Depois de tomar fôlego volta a ficar séria, porém vejo que tem vontade
de rir.
— Para ter uma atração sexual deve antes ter algum vinculo ou
sentimento envolvido — explica com voz suave.
A fito e então entendo o que diz, não posso deixar de sorrir, não sei se o
que acabou de falar é baseado em alguma pesquisa cientifica ou não, mas gosto
de saber que ela faz parte deste grupo.
— Então você quer dizer que sente alguma coisa por mim? — demando
aproximando meu rosto e ela revira os olhos.
— De tanta coisa para prestar atenção você só se ligou neste fato — diz e
sei que no fundo quer rir.
Salpico seu rosto com beijos.
— Sim, é muito bom saber disso, pode servir para o futuro.
Não permito que responda, pois beijo sua boca.
Algumas horas mais tarde depois de tomarmos banho e jantar, estamos
deitados na cama nos aconchegando quando Gabriela para de me beijar e me
olha com entusiasmo.
— Você sabe falar grego?
Eu ergo minhas sobrancelhas.
— Algumas palavras somente, meus avós me ensinaram algumas coisas
— explico —, por que a pergunta?
— Eu sempre fui um pouco atraída pelas letras gregas, e tinha
curiosidade sobre sua pronuncia.
Arrasto-me até estar por cima de seu corpo e abaixo a cabeça lambendo
seu pescoço e encosto os lábios em sua orelha.
— Eísai dikí mou — sopro e Gabriela se torce toda. — Eísai ómorfi .
[7] [8]

— pronuncio e ela geme.


— O que você disse? — pede se retorcendo.
— Outro dia te conto — sussurro em seu ouvido e patino minha boca por
seu pescoço até chegar ao seu rosto.
— Puta merda, você me paga por isso — reclama.
— Melhor eu calar essa sua boca suja — anuncio encostando meus lábios
nos seus.
— Adoro quando você quer me calar, tenho vontade de falar ainda mais
besteiras — confessa toda manhosa.
— E eu — começo a falar e desço uma de minhas mãos a tocando entre
as pernas. — Adoro essa boca atrevida — admito e estimulo seu sexo.
Ela rebola em minha mão.
— Meus Deuses! Você ainda acaba comigo...
Devoro sua boca engolindo seus gemidos e nos perdemos em nosso
prazer. Ela disse que eu ainda acabo com ela, todavia ela sim vai acabar comigo,
pois essa mulher nem mesmo imagina seu poder sobre mim.
Capítulo Vinte e Nove

Gabriela
P ela primeira vez acordo antes de Nicolas, acho que dormi o suficiente no dia
anterior, olho para ele e suas pernas estão esparramadas e sua coxa pesada pousa
em minha perna, eu aproveito para admirá-lo. Passo a ponta do dedo por seu
nariz suavemente, pois não quero despertá-lo. Como pode somente a presença de
uma pessoa causar tanto impacto?
Ele foi o primeiro homem a despertar meu desejo, na primeira vez que o
beijei, por conta daquele desafio quase não o fiz, pois jamais senti a vontade de
beijar alguém por beijar, mas numa tentativa de desafiar a mim mesma a saber
como me sentiria ao beijar um estranho aceitei o desafio.
Por alguns dias me senti um pouco vazia, porém sempre me lembrava
daqueles poucos momentos, foi muito rápido, eu sei, mas para mim foi marcante,
e depois reencontrá-lo da forma que o reencontrei não foi uma grande coisa,
afinal ele demonstrou me detestar, mesmo ele me tratando tão friamente e
expressando seus pensamentos ao meu respeito não fui capaz de controlar essa
emoção que me invadia toda vez que estava em sua presença.
Não sei o que acontecerá no futuro, se permaneceremos juntos e confesso
sentir receio quando penso nisso, pois não poderei esquecê-lo com tanta
facilidade. Nicolas não somente me fez desvendar a minha sexualidade, ele me
fez descobrir um sentimento que erradia de dentro de mim. E ele me faz ter
esperança.
Ele resmunga alguma coisa em seu sono e se vira de costas para mim e
me controlo para não rir. Consigo sair da cama sem acordá-lo e vou para o
banheiro. Depois de fazer minha higiene matinal coloco um roupão e vou para a
cozinha. Eu sou péssima em cozinhar, mas sou capaz de preparar um café, o
básico apenas.
Antes de começar na cozinha vou à procura do meu celular e o encontro
na sala, vejo que ainda é cedo e tenho tempo antes de ir embora para visitar
meus pais. Gostaria de ficar aqui, mas prometi a minha mãe que iria, e como ela
comentou sobre voltar para o interior não posso deixar de ir.
Retorno para a cozinha ligando o celular para tocar uma música qualquer
e o deixo em cima da mesa, depois de fazer uma busca acho tudo o que preciso e
ao som de um rock faço o café.
— Então é aqui que você se escondeu? — Sua voz grossa invade o
ambiente e me viro para olhá-lo. Nicolas usa uma Box branca somente, seus
músculos estão todos à mostra. Desço meus olhos por seu corpo só para subir
novamente. Que sorte eu tenho! — Minha diaba, melhor você parar de me olhar
desta maneira tão sensual, ou farei de você o meu café da manhã — declara se
aproximando de mim.
Eu dou um sorriso matreiro.
— Até que não é má ideia — reconheço e quando está a minha frente
passo dedo de sua garganta até seu umbigo. — Estou pensando seriamente em
fazer de você o meu alimento — digo e passo a língua por meus lábios.
Ele solta uma respiração forte, e olha por sobre o meu ombro em direção
ao fogão.
— Sorte que não tem nada no fogo — resmunga e puxa minha cintura.
Eu o empurro e ele me olha sem entender, passo o dedo em sua barba.
— Nada disso, eu falei que eu vou fazer de você meu alimento —
esclareço e noto-o soltando o ar pela boca. — Só fica quietinho, tá?
Não espero por sua resposta e me ajoelho em sua frente e desço sua
cueca.
— G... Gabriela — gagueja e eu sorrio.
Seu pênis se alonga a minha frente e está duro.
— Só fique quieto e desfrute — incentivo e o pego em minha mão e o
masturbo, da mesma maneira que já o vi fazendo.
Ouço seu gemido e chegando para frente passo a língua em sua ponta e
sinto o gosto salgado de pré-sêmen. Passo a língua em toda sua extensão e enfio
o máximo que posso em minha boca o sugando por completo. Ouço Nicolas
grunhido e me empenho mais em degustá-lo.
Sua mão passeia por meu cabelo e seu quadril se move para frente
fazendo com que seu pênis quase toque minha garganta. Levo minhas mãos até
sua coxa e o agarro para me equilibrar, eu o chupo com intensidade enquanto seu
membro incha em minha boca.
Ele respira com dificuldade e o sinto puxar meu cabelo.
— Se você não parar vou gozar em sua boca, minha diaba! — exclama
num fio de voz e sei que está se segurando. Chupo ainda com mais força e
seguro sua perna deixando claro que quero tudo dele. Nicolas solta um gemido
alto. — Porra! Que boca gostosa! — ruge e seu líquido quente e grosso se
derrama em minha boca.
Eu tomo tudo sem deixar nada escapar, não vou mentir e dizer ser a coisa
mais gostosa que já provei, o gosto não é lá muito agradável, mas só em vê-lo se
perder assim, vale a pena, e com certeza posso fazer isso mais vezes.
Ele me ajuda a levantar-me e me abraça beijando minha cabeça.
— Então, o que me diz? Gostou? — indago o abraçando pela cintura e
com a bochecha encostada em seu peito.
Seu coração bate descontrolado, Nicolas me aperta.
— Se gostei? — Ele solta uma risada. — Você só pode estar brincando,
eu adorei — revela se afastando e olhando em meus olhos. — Não canso de
dizer o quão maravilhosa você é — segreda com a voz carregada.
Eu sorrio.
— E você, a melhor coisa que me aconteceu nos últimos tempos —
expresso alisando sua barba.
Nicolas me fita embevecido seu sorriso para mim é autêntico fazendo-me
sentir desconcertada.
Ele volta ame abraçar apertado e respira fundo.
— Acho melhor eu me recompor e vestir minha cueca que você tirou.
Eu rio.
— O que posso fazer se você me pareceu tão apetitoso?
— E você me deixa desorientado.
Após se recompor ele me ajuda a preparar a mesa para o café.
— Pena que tenho esse compromisso com meus pais — comento
desanimada bebericando meu café.
Ele me olha.
— Eu vou te levar até lá e posso te buscar.
— Não precisa Nicolas, provavelmente você tem coisas a fazer — digo,
mas no fundo querendo aceitar sua ofertar, assim posso ficar mais tempo com
ele.
— Não será incômodo, eu te levo e vou aproveitar para visitar Cassiano
pretendo almoçar com ele, e então mais tarde te pego.
— Se você diz que não atrapalha, tudo bem — aceito por fim — Hoje a
noite devo trabalhar — lembro.
— Estou vendo algo para você, logo poderá trabalhar durante o dia —
informa pegando minha mão por cima da mesa.
— Então você falava sério?
— Claro que sim, é notável o quanto fica cansada ao trabalhar a noite.
— Não sei como o Eric consegue, para ele não faz diferença — comento.
— Conheço muitas pessoas que gostam de trabalhar a noite, dizem ser
melhor para se concentrar.
Eu rio.
— Não o meu tipo de trabalho, não esqueça que trabalho numa boate.
Infelizmente a hora passa rápido e quando vejo já está na hora de ir para
casa dos meus pais.
Nicolas me deixa me fazendo prometer ligar para ele quando terminar a
visita aos meus pais, pois quer vir buscar-me, depois de me beijar parte e fico
olhando até o carro desaparece na esquina, incrível como já sinto sua falta.
Quando abro o portão minha mãe já está varanda e vem ao meu encontro
para me abraçar.
— Filha, que saudade de você. — Ela me segura pelo ombro e olha para
mim com lágrimas nos olhos. — Você tem comido direito?
Eu sorrio para ela.
— Sim mãe, eu estou bem — afirmo enquanto vamos entrando em casa.
Meu pai está sentado em uma poltrona e quando me vê se levanta e
também me abraça. Ele tem lá seu jeito diferente de pensar, mas no fundo é um
bom pai.
Ele pergunta tudo sobre mim, e garanto que estou bem, apenas não conto
sobre meu trabalho na boate, pois até explicar qual o tipo de trabalho me levaria
horas, então minto dizendo que meu local de trabalho é um restaurante.
Minha mãe prepara o almoço e eu a ajudo na cozinha, ela diz que Diego
ligou pela manhã e tentou falar comigo mais cedo, porém não conseguiu, eu
disfarço, dizendo que provavelmente estava dormindo. Sinto-me mal por não ter
conseguido falar com meu irmão, ele deve ter tentado me ligar na hora em que
estava com Nicolas e desliguei o telefone.
O almoço com meus pais transcorre bem até meu pai vir com uma ideia
que em nada me agrada.
— Você poderia vir conosco Gabriela — começa assim que retorno da
cozinha com minha mãe após lavar a louça do almoço.
Sento-me de frente para ele e minha mãe ao seu lado.
— Para onde? — pergunto sem entender sobre o que fala.
— Para o interior, aqui não é lugar para você, minha filha.
— Pai, eu estou trabalhando — argumento, ele não precisa saber que é
apenas um trabalho temporário.
— Gabriela, você vai ficar a vida toda nisso? Num trabalho onde deve
levar os clientes aos seus lugares? Por que nós sabemos filha que você não pode
ir mais longe que isso — meu pai fala e não vejo maldade em suas falas, mas
mesmo assim elas ferem.
Para ele eu continuo sendo a mesma incapacitada de sempre.
— Alberto, não precisa falar desta maneira — minha chama sua atenção.
Ela me olha com um sorriso sem graça. — Minha filha, seu pai está querendo
dizer que emprego está muito difícil, imagina para você? Que nunca gostou de
estudar?
Tenho vontade rir e chorar ao mesmo tempo.
— Eu pretendo entrar para uma faculdade — informo não querendo
discutir com eles.
— Você pode tentar em nossa cidade, e pelo menos se não conseguir
você estará bem acolhida, nós nunca vamos deixar que passe por dificuldades —
completa meu pai tentando me convencer.
Eu me levanto e cruzo os braços.
— Eu não quero morar no interior, minha vida é aqui.
— Que vida Gabriela? Nós sabemos que mora de favor com sua colega,
trabalha a noite correndo riscos, e ganhando pouco.
— Vocês não sabem quanto eu ganho — retruco, e mesmo sabendo que
não ganho uma fortuna, tenho certeza que paga melhor que muitos lugares por
aí.
Minha mãe se levanta e vem até mim e segura minha mão, ela me olha
com carinho.
— Gabriela, você tem que vir conosco, minha filha. Sejamos realista,
você não é como seu irmão, e nós entendemos isso, não estamos te criticando,
você deve compreender é que a vida para uma moça sozinha não é um mar de
rosas, agora imagina para uma moça sem instrução?
— Mãe, o Diego conversou com vocês, só que vocês não entendem e
nem ao menos tentaram entender — falo olhando dela para meu pai, que tem a
cara amarrada. — Eu não sou nenhuma idiota, apenas tenho um distúrbio que
dificulta meu aprendizado, caso vocês tivessem procurado ajuda desde cedo eu
hoje poderia estar terminando minha faculdade, ou até mesmo estar formada —
desabafo. Não vou permitir que eles me rebaixem.
Meu pai se levanta e põe as mãos no quadril.
— Agora você vai nos culpar por nunca ter gostado de estudar e só
arrumado encrenca na escola? — esbraveja com raiva. E por incrível que pareça
já não me abalo mais e permaneço calma. — Faça-me o favor Gabriela, arrume
outra desculpa.
Eu sorrio sem vontade e sacudo a cabeça e me afasto da minha mãe.
— Vocês me ajudaram muito mesmo, me batendo ou pondo-me de
castigo quando não era capaz de ler, a culpa é minha.
— Você sempre foi preguiçosa para os estudos, se hoje não chegou a
lugar nenhum culpe a si mesmo. Veja o exemplo do seu irmão, a mesma
educação que a sua, no entanto tem uma profissão e é inteligente — continua
meu pai.
Ele não perde a oportunidade de jogar a inteligência do Diego em minha
cara, muitas vezes discuti em casa, mas cansei de tentar esclarecer as coisas.
Vejo que as pessoas de fora acreditam mais em mim do que meus próprios pais.
— Aonde você vai minha filha? — questiona minha mãe quando me vê
pegar minha bolsa.
— Preciso ir, devo me arrumar para o trabalho — falo não querendo
estender o assunto.
— Filha pense no que falamos — minha mãe tenta me convencer.
Aproximo-me dela e beijo seu rosto e vou até meu pai e faço o mesmo,
ando de costas até a porta olhando para ambos.
— Já está decidido, eu não vou embora com vocês, e eu, nem que seja a
última coisa que faça na vida vou entrar para uma faculdade, me formar e me
tornar a melhor profissional possível. Quem sabe assim, vocês poderão enxergar
que todo esse tempo estavam errados sobre mim — desabafo sorrindo com
tristeza. — A gente se fala e antes de vocês irem ainda volto para outro almoço
— anuncio antes de sair.
Apesar de tudo, são meus pais, e não quero ter que me afastar deles, ao
modo deles, eles me amam, eu sei disso, e acham que agiram certo, só enfiaram
na cabeça que sou assim de propósito, espero um dia eles percebam a injustiça
que cometeram.
Ainda no portão lembro-me do que combinei com Nicolas, e minhas
coisas de trabalho estão em sua casa, então de qualquer forma tenho que falar
com ele. Vou caminhando para o ponto de ônibus e ligo informando que estou
saindo da casa de meus pais, ele pergunta se aconteceu algo e nego, porém ele
diz para aguardá-lo que chegará em quinze minutos para buscar-me.
Combino de esperá-lo no ponto. Sento-me e penso no que meu pai disse,
não entendo porque ele e minha mãe não aceitam que tenho um distúrbio, e pior
foi quando eu e meu irmão fomos contar para eles, os dois duvidaram e disseram
que isso era desculpa para esses terapeutas ganharem dinheiro. Lembro-me de
Diego argumentando e apresentando meu laudo para eles, e mesmo assim se
mantiveram firmes e mandaram tanto eu quanto o Diego aceitarmos que eu tinha
sim dois problemas, preguiça e má vontade.
Meu irmão conversou muito comigo, pediu para eu compreender nossos
pais, eles eram desinformados e não faziam por mal. Sempre tento pôr isso em
minha cabeça, porém ainda me mágoa a forma como eles me tratam.
Fico absorta em meus pensamentos e levo um susto quando alguém toca
meu braço, me levanto e vejo que é Nicolas, ele me analisa e se encontra muito
sério.
— Eu passei e buzinei e você nem se deu conta — diz passando as costas
dos dedos por meu rosto.
Eu tento sorri.
— Estava totalmente desligada.
Ele desce a mão passando por meu braço e pega minha mão.
— Vamos, o carro está logo ali — informa e assim o sigo.
Noto logo seu carro na calçada, eu deveria estar totalmente fora de órbita
para não vê-lo.
Ele abre a porta do passageiro e me ajuda a me acomodar, ainda me olha
por alguns instantes e só então vai para o volante. Fizemos a viagem em silêncio,
mas sinto seu olhar passar por mim.
Não demora muito, chegamos ao seu prédio, no elevador Nicolas me
abraça e minha cabeça repousa em seu tórax. Talvez ele tenha percebido que
preciso deste abraço, e ficar assim faz com que meu coração se aqueça.
Seguimos abraçados até chegarmos dentro do apartamento, então
sentando-se no sofá ele me puxa para me sentar em seu colo e eu me aconchego.
— Você vai falar o que aconteceu? — pergunta com voz baixa.
Eu fecho os olhos e inspiro seu cheiro me agarrando em sua camisa.
— Como você sabe que aconteceu alguma coisa?
Ele solta um grunhido.
— Então voltamos a isso? Onde eu pergunto e você me responde com
outra pergunta? — ele fala, mas não parece chateado, pois sua voz é suave,
apesar de grossa.
Eu quero esquecer tudo. Mas é impossível, meus pais não mudarão o
pensamento, devo me conformar e seguir em frente, porém me entristece é saber
que eles nem mesmo procuram por informação e não tentam me entender.
— Estou me sentindo muito chateada — comento com a voz abafada.
Noto seu aperto e percebo seus lábios em minha testa.
— Você brigou com seus pais?
— Não cheguei a brigar, cansei de discutir com eles, então agora eles
fazem os comentários e eu não digo mais nada, pois não adianta mesmo — digo
desanimada.
— Você estava tão bem hoje pela manhã, o que eles disseram que a
deixou assim tão pra baixo?
Libero o ar de meus pulmões e descrevo para Nicolas sobre os
pensamentos do meu pai, não somente ele, pois minha mãe ao ficar calada
mostra concordar com ele. Relato a opinião deles quando Diego os mostrou o
resultado dos meus testes, e do quanto estava esperançosa de que finalmente eles
iriam perceber o erro que cometeram durante minha infância e adolescência.
— Hoje eu finalmente descobri que para os meus pais, eu sempre vou ser
uma perdedora, e o pior, eles acreditam que eu ser assim é só culpa minha —
sentencio me sentindo esgotada.
Nicolas me segura pelo braço e me distancia de seu peito para que me
encarar, ele tem muita força em seu olhar e me deixa totalmente envolvida.
— Gabriela, não sei por que seus pais pensam dessa maneira, mas você é
valorosa e tem uma coragem fora do comum, outra pessoa no seu lugar não
enfrentaria o mundo da maneira em que você enfrenta, você não deixa ninguém
se desfazer de você e encara as pessoas sem medo — diz com tanta
determinação e verdade que até me sinto emocionada.
— Nicolas, não sou nada disso. Eu posso não demonstrar para as
pessoas, mas por dentro me sinto a pessoa mais frustrada do mundo — desabafo
falando a verdade sobre mim.
Ele segura meu rosto e seu olhar tem muita intensidade.
— Você está enganada Gabriela, você tem uma força fora do comum, e
acredite, você pode ser o que quiser. Tudo o que almeja você realizará —
pronuncia acariciando meu rosto com a ponta do dedo. — Eu tenho muito
orgulho de você e me sinto lisonjeado por tê-la junta a mim.
Eu sorrio para ele e devagar seu rosto chega junto ao meu. Seu beijo
suave me conforta. Meu coração transborda de um sentimento tão forte e
prazeroso que experimento uma sensação única de estar protegida e sendo
apreciada.
Capítulo Trinta

Nicolas
A cabei de deixar Gabriela em seu trabalho, ela parecia mais animada, pois fiz
de tudo para seu astral melhorar. Quando contou o que seus pais pensavam sobre
ela, me deu muita raiva, procurei não demonstrar, afinal são os pais dela. Por
mais que eles sejam pessoas pouco instruídas teriam deveriam ter mais fé em sua
filha e poderiam fazer de tudo para compreendê-la. Para mim é inconcebível o
comportamento deles.
Quando ponho o pé no apartamento meu celular toca e vejo tratar-se do
meu pai, fico logo em alerta, pois ele não costuma me ligar a essa hora, ainda
mais em um sábado.
— Pai, aconteceu alguma coisa? — interpelo após nosso cumprimento
inicial.
— Eu e sua mãe chegamos agora de uma visita ao Cassiano — diz e sua
voz parece cansada.
— E ele como está?
— Se recuperando, mas estou ligando porque sua mãe ficou um tempo
conversando com Simone.
— E o que tem isso? Afinal sempre que estão juntas conversam —
completo, pois minha mãe sempre se deu bem com Simone, embora sejam
pessoas totalmente diferentes.
— A Simone disse à Clarisse que está um pouco decepcionada com você,
pois você trata Charles sem nenhuma consideração — revela —, e como não
escondo nada de sua mãe já havia contado o que Charles fez.
Eu me sento no sofá com o celular no viva voz o ponho sobre a mesinha.
— Foi o filho dela que não teve nenhuma consideração ao roubar a
agência — assevero enquanto tiro meu tênis. — Temos provas suficientes contra
ele, o senhor sabe disso.
— Eu sei filho, e sua mãe a aconselhou a procurar saber a história
verdadeira, mas sabe o que ela falou?
Jogo a cabeça para trás me recostando no sofá.
— Posso imaginar mil coisas, partindo da Simone.
— Ela disse que mesmo sendo verdade, caso seu filho tenha cometido um
erro, cabia a você apoiá-lo e dar uma chance, pois o Charles e você são como
irmãos.
Não resito e solto um gargalhada e volto a sentar normalmente.
— Ela deve estar de brincadeira, só pode. Não posso permitir um ladrão
permanecendo em um cargo de confiança, pai. E o Charles poderia ser até meu
irmão de verdade, ou um amigo, seja lá o que for, não o deixaria continuar
trabalhando para mim, e nós sabemos que muitas empresas faliram e deixaram
muitos desempregados por conta de má gestão e desvio de dinheiro — declaro
com ênfase.
— Sabemos disso Nicolas, você não poderia jamais permitir a
permanência de Charles na agência, e eu sei que você já fez muito e apenas o
deu uma oportunidade por causa de Cassiano que te pediu, mas tenho certeza
absoluta, o próprio Cassiano o apoiará quando souber a verdade.
— Meu padrinho é um homem correto — comento.
— Sim, ele é — meu pai diz e sua voz parece triste. — Sua mãe achou
melhor lhe contar para ficar preparado caso a Simone o confronte.
— Obrigado, mas não tenho medo da Simone, minha única preocupação
no momento é preservar a saúde do Cassiano.
— Sim, vamos aguardar até estar mais fortalecido para falarmos a
verdade. Ele merece saber.
Meu pai depois passa o telefone para a minha mãe e conversamos um
pouco, ela afirma que está ao meu lado e que eu fiz o certo, mesmo gostado da
Simone não permitirá que ela seja injusta. Sinto-me feliz com as palavras da
minha mãe, sempre posso contar com ela e meu pai.
Antes de desligar ela vem com outro assunto, o que não me surpreende.
— Nicolas, quem perguntou por você foi a Suzana, filha daquela minha
amiga da hidro, você lembra?
Estava demorando, minha mãe sempre vem com um papo desses para
cima de mim, quando não fica me sondando para saber se estou em um
relacionamento mais sério.
— Sim mãe, lembro-me da Suzana afirmo, só não digo que eu e Suzana
já ficamos juntos, mas não deu certo, não que ela fosse uma pessoa ruim, mas
não tivemos química. — E como ela está? — pergunto apenas por educação.
— Linda como sempre, é uma moça maravilhosa, tão meiga, não sei
como nenhum homem a conquistou ainda, mas acho que ela nutre algum
sentimento por você.
Esforço-me para não rir.
— Deve ser impressão mãe, e mesmo que fosse o caso não sinto atração
pela Suzana.
Ouço o suspiro de minha mãe.
— Pelo jeito você é difícil isso sim, quando penso que vai se estabelecer
e arrumar alguém, você vem diz que não deu certo ou que não teve esse negócio
de química — lamenta.
Penso na minha diaba e no quanto sinto meu corpo reagir somente em
pensar nela, já senti atração por outras mulheres, mas nada se iguala ao que sinto
por Gabriela, estar com ela me deixa uma sensação de plenitude.
— Logo a senhora pode ter uma surpresa — declaro misterioso.
— O que você quer dizer? Vai me dizer que finalmente encontrou
alguém? Meu filho não mate sua mãe de ansiedade.
Eu rio.
— Calma mãe, tudo na hora certa, a senhora mesmo sempre me ensinou
isso, não lembra?
— Oh se lembro, mas não precisa demorar tanto Nicolas, estou ficando
velha.
— Que exagere mãe, a senhora tem somente 50 anos, está na flor da
idade — digo brincando e ela solta um bufo. — Mas falando sério, logo teremos
que conversar sobre isso.
Ela fica em silêncio por alguns instantes, mas quando fala consegue me
deixar além de surpreso.
— Filho, seja qualquer coisa, eu e seu pai estaremos do seu lado, nós
queremos é sua felicidade, e se para isso você tiver que se relacionar com outro
tipo de pessoa iremos compreender e aceitar.
Mas que porra!
— Mãe, do que a senhora está falando? — indago preocupado em saber
aonde ela quer chegar.
— Você sabe, né filho? Nós sabemos como isso funciona, o filho da
Delize uma amiga, casou no mês passado com outro rapaz, ele está...
Decido cortá-la antes de terminar seja lá o que for.
— Mãe, eu não sou gay, pelo amor de Deus! Não sou contra quem seja,
longe de mim, cada um deve ser feliz do jeito que quiser, mas esse não é meu
caso, eu gosto de mulher. — anuncio enfático.
— Tudo bem filho, o que quero é que você seja feliz. Não importa.
— Obrigado mãe, muito bom saber disso — digo pensando em Gabriela,
pois ainda não sei como eles vão receber essa notícia, de que eu estou com
Gabriela. Afinal não contei para meu pai essa parte da história. Pois é um
assunto delicado onde envolve a sexualidade de Charles, e por mais que ele
tenha sido um cretino comigo, não me dá o direito de sair contando o que sei.
Isso cabe a ele. — E acredite em mim, logo eu chegarei com novidades.
Ela não parece satisfeita, mas acata. Depois nos despedimos e vou para o
meu quarto. Ponho o celular para despertar, pois combinei de buscar Gabriela,
ela tentou me convencer ao contrário, mas como nosso tempo juntos é muito
curto, quero aproveitar o máximo que posso de seus horários livres.

O dia está praticamente amanhecendo quando chego em frente à Sun and


Moon, a movimentação de carro é pequena e acredito que quase todos tenham
partido. Antes de sair de casa enviei um recado para Gabriela avisando que
estava a caminho e ela me respondeu enviando um monte de coraçãozinho, eu ri
sozinho.
Saio do carro e encosto nele com braços cruzados, me encontro na
calçada do outro lado da rua, posso ver bem o movimento de saída, alguns
minutos se passam e Gabriela sai enquanto conversa com um homem alto e
forte, ele é um dos seguranças e o vi nas duas vezes em que estive aqui.
Presto atenção e ele toca o cabelo de Gabriela o colocando atrás da
orelha, ela está sorrindo e faz um gesto com as mãos dando um tapa em seu
braço. Nitidamente ele está dando em cima dela, e como não poderia? Ela é uma
linda mulher e qualquer homem com sangue nas veias pode se sentir atraído.
Quanto a mim, fico observando e com uma vontade de ir até eles a fim de
mostrar que ela tem dono, pois olhar os dois coversando começa a me deixar
com raiva.
Gabriela observa em volta e seus olhos caem em mim, seu sorriso se abre
ainda mais e ela nem presta atenção ao que aquele imbecil fala, eu não me movo
e nem ela, porém nos encaramos até o cara chamar a sua atenção e ela olhar para
ele e dizer alguma coisa se afastando vindo em minha direção.
Desvio o olhar dela para ele, e noto o babaca olhando para sua bunda, eu
inalo o ar com mais força para controlar a raiva e a vontade de esmurrar a cara
dele. Gabriela atravessa a rua e para na minha frente, o cara observa e então sem
dizer uma palavra a pego pela cintura e inclino minha cabeça para beijá-la, faço
isso porque além de estar louco para beijá-la quero deixar claro para qualquer
um ver e ter certeza: essa diaba me pertence.
Gabriela suspira em minha boca e aceita meu beijo de bom grado e me
segura pelo pescoço, quando finalmente me afasto olho para o outro lado da rua
e o camarada já não está mais por lá.
— Se soubesse que receberia um beijo desses não teria lutado tanto para
não vir me buscar — confessa sorrindo.
Seus lábios estão molhados e convidativos, mesmo com uma expressão
de cansada, ainda é uma tentação, e fico só imaginando o quanto os homens a
olham e a desejam. Não suporto esse pensamento e avanço a beijando
novamente, um beijo eletrizante deixando nossos corpos consumidos pelo
desejo.
— Preciso te tirar daqui imediatamente ou sou capaz de uma loucura —
sussurro mordendo seus lábios e Gabriela geme se esfregando em mim.
Abro a porta do carro e a faço entrar, porém antes de fechar a porta
devoro seus lábios uma última vez antes de partimos para casa.
No apartamento mal fecho a porta, encosto Gabriela na parede e puxo
sua perna até minha cintura e esfrego minha ereção entre suas pernas. Sua saia
sobe e aproveito para apertar sua coxa.
— Você me deixa louco, sabia? — rosno em sua orelha.
— O que está acontecendo com... você? — pergunta com voz baixa. —
Seja o que for, estou adorando — completa num fio de voz.
Então trago sua outra perna para que fique também em minha cintura e
caminho com ela desta maneira até a suíte, lá a jogo na cama. E não quero perder
tempo, preciso estar dentro dela.
Tiro minha camisa. Gabriela me observa com olhos famintos.
— Tira a sua roupa — exijo desesperado. — Preciso de você.
Gabriela não discute, pois sei que também está no limite. Tiramos nossa
roupa em tempo recorde, coloco a camisinha e vou para cima dela, nossa
respiração está acelerada e seus olhos brilhantes contemplam meu rosto, ela
lambe os lábios e já não suporto mais esperar.
Inclino-me beijando sua boca e numa única investida afundo-me em seu
sexo. Ela grita arranhando minhas costas enquanto sinto seu quadril se movendo
ao meu encontro. Afasto meus lábios dos dela apenas para admirar seu lindo
rosto.
Ela me olha parecendo fascinada.
— Nicolas — soluça meu nome numa voz suave, meu coração entrar em
combustão.
— Você é minha — anuncio entrando e saindo de sua boceta.
Gabriela respira pela boca e vejo a sombra de um sorriso.
— Eu sou sua! — confirma me deixando totalmente maravilhado.
Volto a beijá-la e acelerando meus movimentos a penetro com energia,
ela se desfaz em meus braços e assim gozamos juntos sem deixar de nos beijar e
dando ao nosso corpo todo o prazer que tanto ansiávamos.
Depois de tomarmos um banho Gabriela dorme com a cabeça em meu
peito, e cada dia fico mais viciado em tê-la aqui junto a mim.

A semana começa com uma pequena correria na agência, pois devemos


iniciar um comercial do lançamento de um novo aparelho celular até o final da
semana, e uma das modelos que faria o filme, devido a problemas de saúde não
poderá mais trabalhar conosco, passamos a manhã tentando escolher alguma
mulher que atenda ao perfil da propaganda. A única que encontramos está no
momento fazendo uma turnê pela Europa.
— Muito difícil isso, estou quase eu mesma me candidatando — diz
Natália uma das minhas agentes.
Olho para ela e até que faz o perfil, se não fosse o detalhe do cabelo
alisado, pois queremos uma modelo natural, com o cabelo crespo.
— Se deixasse seu cabelo natural seria uma opção — comento voltando a
olhar para o book em minhas mãos.
— Bem que minha namorada disse para eu não alisar o cabelo — diz
soltando um bufo e depois ri. — Hoje poderia me transformar numa modelo
famosa.
— Conheço muita gente que começou assim, por acaso — diz Solange
analisando outro book.
O telefone em minha mesa toca e atravesso a sala para atender.
— Sim, Carmela.
— O senhor Henry ao telefone — avisa e me animo.
Henry além de um dos meus clientes mais antigos é também um amigo
estimado, ele é dono de uma construtora e também se dedica ao ramo
imobiliário.
— Pode passar Carmela, obrigado. — Ouço o pequeno bip e sei que já
posso falar. — Henry, meu amigo, espero que tenha boas notícias.
Ouço sua risada.
— Eu garanti que atenderia o seu pedido, e ligaria assim que tivesse
tudo ok — revela animado.
— Então, o que você tem para me dizer?
— Pode mandar sua amiga me ver amanhã — pede com voz de riso, já
até sei que vai fazer algum comentário. — Isto é, se ela for somente sua amiga.
Balanço a cabeça sorrindo, olho para a mesa que tenho em minha sala,
vejo Solange e Natália envolvida no trabalho e nem prestam atenção a minha
coversa.
— Não vou cair na sua, mas fico muito feliz que tenha atendido a um
pedido meu, mas você não vai explorá-la, logo ela poderá iniciar a faculdade
então seus horários não poderão ser puxados.
— Você já me falou de tudo isso Nicolas, e sempre atenderei a um pedido
seu, e pode deixar que cuidaremos bem da sua garota.
— É bom mesmo — aviso —, e Henry, muito obrigado.
— Não precisa agradecer, amanhã na parte da tarde espero pela moça
— informa.
Falamos por mais alguns momentos e depois desligo, olho a hora e
Gabriela provavelmente está dormindo um pouco mais antes de visitar sua
amiga, vou esperar mais alguns minutos e ligo para contar a novidade. Espero
que ela fique tão feliz como estou.
Caminho até minha outra mesa.
— Então, encontraram alguma coisa?
Solange me olha com um sorriso.
— Sim, pedi para Natália ligar para a agência e ver se essa moça está
disponível — diz apontando o book.
Eu olho e sei que é uma modelo iniciante, com certeza não é famosa,
analiso sua ficha e ela atende todos os quesitos. É uma negra linda e para falar a
verdade é até mais charmosa do que Alice, a modelo que não poderá fazer o
trabalho.
— Sim, gosto dela — esclareço.
Natália que estava próxima à janela vem até nós com uma expressão
positiva.
— Estamos com sorte, ela poderá fazer o comercial, mas claro, devemos
seguir nosso padrão. Ela virá até nós ainda na parte da manhã, para conversamos
e assim providenciaremos toda parte legal, de qualquer forma até que tudo esteja
pronto só poderemos filmar com ela a partir de quarta.
— Procurem seguir o cronograma e antes já procurem por outra, eu
sempre disse isso a vocês, não contem somente com um único profissional,
temos que estar prevenidos — repreendo, pois se ficamos nessa correria de
última hora foi devido a não terem me ouvido.
As pessoas acham que sou exigente e sempre penso o pior, e hoje tiveram
a prova de que não sou nenhum pessimista, apenas prevenido.
As duas ficam sem graças.
— Você está certo — comenta Solange.
— Como sempre — respondo e voltando para minha mesa. — Agora
vocês já sabem o que fazer, por favor, não repitam mais esse erro, ou realmente
ficarei muito chateado — aconselho.
As duas resmungam uma desculpa e pegam todo o material que
estávamos consultando e saem me deixando sozinho. Não resisto esperar por
mais tempo e decido ligar para minha diabinha, ela me surpreende atendendo ao
primeiro toque, chego a perguntar se ela estava com o telefone na mão, devido a
rapidez, pois sempre demora a tender e ela ri.
— Não, e quando demoro geralmente é porque estou dormindo, mas
agora você me pegou acordada.
— Não conseguiu dormir?
— Não, fiquei sabendo que o Eric chega quarta-feira pela manhã e já
me encontro ansiosa com nossa conversa — confessa.
— Tudo vai dar certo, e já sabe que pode contar comigo.
— Eu sei disso — assegura e posso imaginar seu sorriso. — E por que
me liga? Está com saudades? — pergunta matreira.
Eu rio.
— Até que estou com saudades mesmo, mas te ligo por outro motivo —
esclareço —, você lembra que prometi conseguir um emprego para você?
— Lembro. Você conseguiu alguma coisa? Ai meus Deuses estou
tremendo, fala logo — atropela nervosa.
Não quero deixá-la ainda mais ansiosa, assim conto para ela sobre meu
amigo Henry, e que ele não informou sobre qual será o trabalho, mas deixou
escapar que tem a ver com visitação nos imóveis.
Ouço Gabriela fungando.
— O que foi minha diaba, você não está feliz? — questiono preocupado
e querendo sair correndo daqui para encontrá-la.
Ela funga novamente.
— Não, estou feliz, muito feliz. E eu juro que se eu conseguir o emprego não vou
decepcioná-lo, aconteça o que acontecer — declara com voz chorosa.
Não sei o que quer dizer com isso, mas presumo ser algo referente ao
nosso relacionamento.
— Gabriela, não pense bobagens, você é esforçada, fico até enciumado
em saber que Henry terá uma funcionária maravilhosa, eu confio em você.
— Obrigada por confiar em mim, você é o melhor.
Meu coração se aperta diante a sua declaração e apenas gostaria de estar
perto dela, para poder envolvê-la em meus braços.
Combino com Gabriela de levá-la até sua entrevista, até pensei que ela
fosse entrar numa luta comigo, mas para minha surpresa ela aceitou de primeira,
talvez ainda estivesse insegura. Pois de certa forma será um novo começo para
ela.
Quando desligo me volto para a janela e fico pensando nela. Posso
perceber sua insegurança quanto ao nosso relacionamento, afinal nunca
conversei com ela sobre isso, e devo lembrar que a festa de aniversário de
casamento de meus pais está chegando, então devo revelar a eles sobre Gabriela,
pois não quero causar desconforto a minha diaba. Não posso esquecer-me de
Cassiano, como contar a ele sobre eu e Gabriela sem entregar o Charles?
Passo o dia todo pensando sobre isso, mas uma coisa é certa, assumirei
Gabriela, e não permitirei ninguém se desfazendo dela. Custe o que custar sua
presença será uma constante ao meu lado.
Capítulo Trinta e Um

Gabriela
F ico horas pensando no que vestir para minha entrevista de emprego, me
encontro deveras emocionada e tenho medo de cometer alguma gafe. Nicolas me
aguarda e agora não tem mais como trocar de roupas, e não seria nada legal me
atrasar. Dou uma última olhada no espelho e acredito que o tailleur risca de giz
não seja ruim.
Tranco o apartamento e desço rápido, por pouco não me estabaco na
escada, ao chegar perto de Nicolas estou praticamente sem fôlego, paro em sua
frente e respiro com rapidez, ele põe a mão em meu ombro.
— Você está bem? — questiona apreensivo.
— Sim, apenas corri rápido demais — digo com a mão no coração
tentando acalmar suas batidas.
— Ainda temos bastante tempo, não precisava correr dessa maneira,
imagina se caísse — adverte.
Sorrio o encarando.
— Quase caí mesmo, mas me livrei a tempo. — Ele faz uma cara feia. —
O importante é que estou aqui, então vamos?
Ele segura meu rosto e inclinando a cabeça roça seus lábios nos meus,
um gesto suave e quase imperceptível.
— Agora vamos — diz se afastando.
Nicolas dirige até a empresa e no caminho me conta tudo o que sabe do
seguimento de trabalho do seu amigo, me sinto animada com a perspectiva, para
falar a verdade nem mesmo dormi direito de tanta empolgação, sinto certo pavor
e um frio na barriga, mas Nicolas garante que Henry é um cara muito gentil e
certamente me deixará a vontade.
Na hora marcada me encontro na recepção aguardando ser chamada. O
lugar é sóbrio e limpo, o chão de mármore cinza dá a sensação de que podemos
cair a qualquer momento, vejo várias revistas espalhadas numa grande mesa de
centro. Pego uma para dar uma olhada e as imagens de decoração e jardinagem
são lindas.
— Gabriela, O Henry vai atendê-la — a secretária muito simpática diz e
me levanto para acompanhá-la até uma porta no final do corredor.
Ela abre a porta e se afasta para que eu passe por ela, no meio da sala de
pé e com um largo sorriso estampado um homem negro com olhos claros e
muito forte.
— Seja bem vinda Gabriela — diz se aproximando e apertando minha
mão.
Após agradecer sua secretária ele me conduz até sua mesa, assim que me sento
vai até sua cadeira e pergunta se aceito um café ou uma água, ao dizer que estou
bem, inicia uma conversa contando tudo sobre sua empresa, algumas coisas
Nicolas já havia contado, ele também me faz algumas perguntas e me deixa
muito a vontade para falar.
— Nicolas contou que você quer fazer arquitetura, é isso mesmo? — indaga
no meio de nosso bate papo.
— Sim, está nos meus planos — confirmo tentando passar segurança.
— Isso é muito bom Gabriela, você será um grande acréscimo para a
empresa — comenta se voltando para o notebook e digitando alguma coisa.
— Farei de tudo para não decepcioná-lo — e ao Nicolas também,
completo em pensamento.
Henry volta a me olhar.
— Você me parece muito esforçada, e foi indicada por um amigo muito
centrado, conheço o Nicolas muito bem, e ele não me enviaria alguém que não
fosse de sua inteira confiança.
Sua declaração enche meu coração de alegria, e só quero estar com
Nicolas para lhe dizer o quanto ele me faz feliz por sua fé em mim, e exatamente
por isso decido ser sincera com Henry e contar da minha dificuldade, pois não
seria justo ele me dar um emprego sem saber a verdade.
Assim respiro fundo para buscar coragem e revelo sobre a minha
dislexia, ele houve muito atentamente com expressão neutra.
— Se isso for um empecilho para me contratar vou entender —
menciono após contar a verdade.
Henry está relaxado em sua cadeira e parece me analisar, até que o vejo
sorrir.
— Gabriela, apenas o fato de você estar me contando a verdade já soma
vários pontos a seu favor, por incrível que parece eu sei sobre esse distúrbio,
tenho um primo, que hoje é Doutor em geologia, ele foi diagnosticado com
dislexia, mas diferente de você, foi descoberto ainda na infância.
Fico admirada com sua revelação.
— Então você está disposto a me contratar? — indago inquieta.
Ele dá um sorriso.
— Claro Gabriela, você só não fará parte da minha equipe caso cometa
algum erro muito grave ou algum tipo de crime, do resto iremos nos encaixar
conforme a demanda de serviço.
Sorrio aliviada, como se um peso saísse de minhas costas.
— Obrigada, senhor... — paro de falar quando faz uma cara zangada,
pois logo no início de nossa conversa pediu que jamais o chamasse de senhor. —
Henry — corrijo-me antes de completar a frase. — Farei de tudo para nunca se
arrepender de ter me dado essa chance.
— Tenho absoluta certeza de que não me decepcionarei, e da próxima
vez quero ver sua pasta de desenhos, não pense que esqueci.
Ele é tão bom em conversa que até falei dos meus desenhos, e agora
cismou com isso.
— Digo de antemão, não é nada espetacular, são só uns rabiscos —
declaro.
— Que seja, mas quero ver de qualquer maneira — afirma e paga seu
telefone. — Vou chamar minha secretária e ela vai te informar sobre tudo para
sua contratação, espero vê-la o mais breve possível — instrui e então chama sua
secretária.
Quando ela entra em sua sala ele nos apresenta formalmente e explica
qual será meu trabalho inicial. Depois de despedir-me de Henry, acompanho
Wanda, ela me dá as boas vindas e se prontifica a me ajudar no que for
necessário.
Passo o restante da tarde na empresa e quando finalmente saio do RH e
entro no elevador ligo para Nicolas conforme havia prometido.
Acho que ele estava aguardando por minha ligação, pois atendeu ao
primeiro toque.
— Você demorou, e então como foi?
Sentia-me em êxtase de tanta felicidade.
— Foi tudo muito bem, eu começo a trabalhar no inicio do mês —
anuncio entusiasmada.
— Que bom, eu sabia que você se sairia bem na entrevista — assume e
posso perceber seu sorriso em sua voz.
Saio do elevador continuando a falar com ele. Digo que estou indo para
casa de metrô e combinamos de nos encontrar mais tarde, pois ele quer me
parabenizar pessoalmente, estaria mentindo se dissesse que não gosto da ideia,
eu adoro na verdade.
Chego em casa e Karen ainda não voltou de sua viagem, lembro que
preciso conversar com ela sobre Lucas. Gostaria também de contar a novidade
sobre meu novo emprego, estou muito feliz e quero anunciar para todos a
novidade, assim resolvo ligar para Vicky. Jogo-me no sofá aguardando até que
ela atenda.
Vicky tem voz de sono e só espero não tê-la acordado, e quando pergunto
ela diz que está apenas deitada, depois dela afirmar que passa bem conto a
novidade e ela solta um grito de alegria.
— Mas que notícia maravilhosa Gabi — grita e por pouco não deixo o
telefone cair. — Conta-me como isso aconteceu.
— Estou tão feliz, você nem queira saber — confesso —, vou tentar
resumir tudo.
Fico com Vicky ao telefone quase uma hora, ela não sossegou enquanto
eu não confessei que eu e Nicolas estávamos nos vendo, ela sempre desconfiou
de que ele sentia alguma por mim e eu por ele. Não contei detalhes, mas disse
estar gostando dele e me sentindo muito bem ao seu lado.
Depois de desligar ainda fico deitada no sofá e pensando nesse meu
relacionamento com Nicolas, uma vez ele disse que se sentiria orgulhoso de estar
ao meu lado, porém ele é um homem que vive em um mundo de glamour, ainda
mais no seu ramo de trabalho. E não é somente isso, algumas pessoas do seu
convívio me conheceram como a namorada do Charles, e não sei como
receberiam a notícia de que eu e Nicolas estamos juntos.
A cada dia me sinto mais apegada ao Nicolas e tenho medo de estar
criando muita expectativa e depois me decepcionar, mas por enquanto vou
aproveitar nosso momento e viver esse sentimento capaz de me deixar
completamente radiante.

Nicolas me surpreende, e quando penso que vamos para o seu


apartamento ele me leva em um restaurante para jantar, por sorte não estou mal
vestida, o local é elegante e agradável e depois do garçom nos deixa após servir
nosso vinho, Nicolas me olha levantando sua taça.
— Vamos brindar ao seu mais novo emprego.
Levanto minha taça e toco na sua, nossos olhares se cruzam e é muito
quente, parece que meu corpo está sendo acariciado por ele.
— Um brinde a nós — sussurro quase sem voz. — E isso só está sendo
possível por sua causa.
Bebemos nosso vinho sem deixar de nos encarar,
Colocamos nossa taça sobre a mesa.
— Eu posso ter dado o caminho, mas foi você quem conquistou essa
vitória, por mais que Henry seja meu amigo, ele é um profissional antes de mais
nada, se ele não gostasse da conversa com você, certamente não a contrataria —
revela parecendo sincero.
É bom saber essa informação, assim me sinto mais relaxada.
— De qualquer forma, se não fosse por você eu não teria chegado a ele
— admito.
— De qualquer forma o importante é que você conseguiu — declara me
contemplando. — Pretende ficar na boate ainda? — pergunta algo que ainda não
pensei.
— Não sei, devo falar com Eric primeiro, avisar sobre minha decisão, eu
não quero deixá-lo na mão.
— Entendo, você está certa, mas ele não porá dificuldade, e você nem
trabalha todas as noites.
— De qualquer forma amanhã conversarei com ele, não somente sobre
esse assunto, mas também sobre Charles. — Apenas em lembrar-me do que
preciso fazer me sinto horrível.
Nicolas parece notar meu desespero e traz sua mão por cima da mesa em
um convite, eu ponho minha mão na sua e ele a segura com força.
— Deve ser muito difícil para você ter que ser a portadora de más
notícias, mas se ponha no lugar do seu amigo, você iria querer saber a verdade,
não é mesmo? — argumenta acariciando minha mão. — E continuo a afirmar, se
precisar de mim é só me chamar, não me importo de conversar com seu amigo.
Como pude acreditar por um só momento nas palavras de Charles? Onde
afirmava que Nicolas era um homem presunçoso e preconceituoso. Fico
envergonhada ao lembrar de como julguei o Nicolas e das vezes em que
concordei o achando um homem esnobe.
Baixo o olhar para nossas mãos.
— Eu nunca te pedi desculpas — falo baixinho.
— Desculpas? De que?
Tento ri mais o que sai é um grunhido.
— Por acreditar no Charles, também por ter falado mal de você —
confidencio sem levantar meu olhar.
— Gabriela — ele chama —, olhe para mim, por favor. — Levanto meus
olhos e Nicolas me fita com voracidade. — Você não tem que me pedir
desculpas, desde o início eu a tratei indignamente, você pensar mal de mim foi
pouco, eu mereci cada xingamento seu — esclarece bem humorado.
— Porém me sinto mal, por ter acreditado nesse idiota filh... bem você
sabe o que penso dele.
Ele ri.
— Também penso o mesmo, minha diaba, mas o importante é que agora
sabemos a verdade sobre ele e principalmente a verdade sobre nós dois.
— Você está certo — murmuro.
Nosso pedido chega e degustamos uma comida maravilhosa. Após o
jantar Nicolas me leva para o seu apartamento e me convence a dormir com ele.
Ele foi muito sagaz ao me convencer com sua boca e mãos. Continuamos nossa
comemoração em sua cama, e posso afirmar que o homem sabe ser criativo.
Na manhã seguinte ele me deixa em casa bem cedo antes de ir para a
agência, por ele eu continuaria em seu apartamento, mas preciso me trocar antes
de me encontrar com Eric. Finalmente, meu amigo após receber minha
mensagem me liga e diz que já está em casa sozinho e me espera, pergunto
disfarçadamente se Charles está com ele, e fico sabendo que não, para o meu
alívio.
Chego ao apartamento de Eric no finalzinho da manhã e ele me recebe
todo feliz, o coitado mal sabe que logo essa felicidade se esvairá, o deixo contar
tudo sobre São Paulo e ainda revela a proposta feita por Lucas. Segundo ele,
Lucas ofereceu uma sociedade a Eric na Boate paulista, é uma oferta
maravilhosa, e me sinto orgulhosa do meu amigo.
— Então me diz gata, o que tanto você tem para falar comigo? Estou
quase tendo uma sincope de curiosidade — pede de jeito afetado.
Não tenho mais para onde correr, então melhor me livrar logo disso, pois
não suporto mais ver o Eric sendo enganado, ele não merece.
Expiro o ar dos meus pulmões e vendo que minhas mãos tremem eu as
fecho em meu colo, assim olho para Eric que está sério ao perceber tratar-se de
um assunto difícil para mim.
— Eric, é sobre o Charles — começo e ele faz uma expressão estranha,
como se não entendesse. — Descobri algo muito sério sobre o Charles, e eu
tenho certeza de que ele pode estar te enganando.
Ele se levanta pondo as mãos na cintura.
— Ele tem outro? É isso? Por que juro Gabriela, eu acabo com a raça
dele — esbraveja nervoso.
— Calma, volte a sentar-se, por favor — Eric solta o ar e senta de má
vontade. — Eric, pode ser ainda pior que isso.
— Para de me enrolar mulher, fala logo, você bem sabe que odeio
enrolação! — exclama.
Ele percebe que estou embromando.
— Ok, mas me ouça, espera eu terminar, pois é uma história longa —
digo e ele acena com a cabeça.
Descrevo a história desde o início, quando comecei a fingir o namoro
com Charles e sobre as minhas desconfianças, revelei sobre Nicolas o que senti
ao conhecer sua família, a invenção de que Simone está doente. Contei tudo, até
sobre a acusação de Nicolas sobre eu estar envolvida no golpe que ele deu na
empresa.
Eric ouve tudo em silêncio, é como se estivesse hipnotizado, noto sua
expressão antes alegre, agora com tristeza, só tenho medo dele não acreditar em
mim, pois aí sim ficarei ainda mais preocupada.
— Então o Charles, no fundo não largou o emprego por minha causa? —
inquire friamente.
— Meu amigo, se ele te falou isso é mentira, o Charles nunca teve a
pretensão de assumir o relacionamento de vocês.
Eric se levanta e caminha até a janela, fica perdido olhando a paisagem,
mas está apenas tentando ingerir o que acabei de revelar.
— O pior de tudo Gabriela, eu desconfiava de que alguma coisa estava
errada, então pensei ser imaginação da minha cabeça.
Levanto-me e vou até ele, aperto seu ombro.
— O Charles encanta Eric. É um rapaz bonito, apresentável e sua história
tinha lógica.
Ele dá uma risada seca.
— Não tente adoçar o que está azedo, eu fui um imbecil por acreditar
naquele desgraçado — fala e finalmente me olha. — Eu estava pensando em
requerer meu dinheiro para entregar a esse filho da puta, você tem noção disso?
— Eu tenho, mas pense pelo lado positivo. Você descobriu sobre ele
antes de fazer alguma besteira.
— Como se isso aliviasse meu ódio — anuncia e caminha até a cozinha
— Preciso beber alguma coisa.
— Não vai se embebedar por causa desse crápula.
— Ele é um ladrão Gabriela, eu coloquei um ladrão em minha casa e
ainda expus você ao convívio com esse crápula — grita irado.
Vou até ele que bebe um vinho no gargalo.
— Não tinha como saber Eric, todos os dias várias pessoas são
enganadas por crápulas como o Charles — digo e tento tirar a garrafa da mão
dele, mas ele é mais rápido e vai para a sala.
— Querida, ele enganou a pessoa errada, porque se ele acha que vou
deixar isso barato ele está muito enganado, ele me paga! — exclama e toma
outro gole do gargalo, depois põe a garrafa sobre a mesa. — Pronto agora me
sinto mais relaxado — resmunga.
Eric se sacode todo e me olha. Eu semicerro os olhos.
— Você está bem?
— Claro que não, descobrir que o homem por quem estava apaixonado é
na verdade um ladrão safado pode nos deixar bem aonde? — responde se
jogando no sofá. — Ainda bem que ele não trepa tão bem assim, ou seria uma
perda terrível.
— Eric, você está louco, eu te falo um assunto sério e você está
analisando o desempenho sexual do cara?
Ele solta um bufo.
— Querida, eu preciso de uma distração para não sair feito um louco pela
cidade a fim de procurar aquele infeliz e dar umas porradas em sua cara.
Sento-me ao seu lado e pego sua mão.
— Eu sei que esse é seu modo de extravasar, no fundo você está
devastado.
Eric aperta minha mão dando um sorriso triste.
— Sim, estou muito chateado e magoado, mas estou com mais raiva,
porque no fundo do meu coração, alguma coisa me dizia que o Charles não era
para mim e me escondia algo, porém decidi acreditar na mentira, isso está me
deixando louco, pois tudo isso poderia ter sido evitado.
— Posso imaginar, mas você é forte, logo o Charles será esquecido, ele
não merece nem mesmo sua raiva.
— Fico só pensando do que ele poderia ser capaz de fazer comigo, afinal
teve a audácia de roubar o próprio amigo, um amigo que era praticamente irmão
— comenta pensativo.
— Sim, o Nicolas ficou bastante decepcionado com ele, isso eu garanto.
Eric do nada bate em meu braço e eu chio.
— E você sua vadia, me escondendo todo o tempo esse boy, nem me
contou tratar-se do cara do bar, cheguei a falar que o conhecia, mas você — diz
me dando outro tapa. — Enganando-me, sua cachorra.
Afasto-me dele querendo rir.
— Eu não podia contar ainda, estava muito confusa.
— Ai, isso parece até novela — declara me olhando. — agora não fuja,
senta aqui perto do tio Eric e me conte tudo, inclusive sobre o pau dele.
Eu reviro os olhos.
— Eric, nem pensar.
Ele faz cara de triste.
— Eu estou mal, acabei de descobrir que meu namorado é um ser
pavoroso, preciso ouvir alguma coisa que me anime — choraminga enquanto
funga.
— Você está fazendo chantagem? — questiono admirada com sua
jogada.
— Não, seja mais legal comigo e me distraia.
Olho para o teto. Eu não acredito! Volto a me aproximar e me sento ao
seu lado novamente.
— Vou contar — ele dá um sorriso vitorioso. — Sem detalhes sobre o
pau dele — completo e ele volta a fazer cara de triste.
Assim atendendo ao pedido do meu amigo falo um pouco sobre Nicolas e
quão bem me faz, aproveito e conto sobre a entrevista de emprego e da minha
animação, Eric me dá maior força, sei que no fundo ele está triste, só não quer
demonstrar e entendo sua atitude.
Passo toda a tarde com ele e a noite antes de Charles chegar vou embora,
ficamos de nos encontrar mais tarde na boate, pois mesmo tendo direito a uma
folga ele diz que prefere trabalhar a ficar em casa.
Na rua olho para o céu ainda claro, agora meu coração sente-se um pouco
mais leve, afinal não será mais necessário esconder mais nada do meu amigo.
Meu celular toca e quando o pego em minha bolsa vejo a foto de Nicolas,
certamente está preocupado querendo notícias.
Não posso esconder meu sorriso ao saber que é ele, e esse sentimento de
felicidade é cada vez mais constante. Sim, o Nicolas está a cada dia tomando
mais espaço em meu coração, e acho difícil que saia de dentro dele com
facilidade.
Porém não quero que ele saia, pois nunca me senti tão bem e tão
apreciada.
Capítulo Trinta e Dois

Nicolas
D epois de me despedir de Gabriela me sinto mais tranquilo, ela contou que
Eric está com muita raiva e magoado, no entanto é uma pessoa forte e tem
certeza de que sairá dessa. Esta noite não nos veremos, pois ela vai trabalhar e
depois vai com Eric para casa, pois não quer deixá-lo sozinho. Por mais que a
quisesse perto de mim, a apoio, pois seu amigo está precisando dela.
Assim envio uma mensagem ao meu pai. Como não verei Gabriela
aproveitarei para conversar com ele e minha mãe juntos. Está mais do que na
hora deles saberem sobre eu e minha diaba, não tem por que esconder mais
nosso relacionamento.
Antes passo em casa para tirar o terno e tomar um banho e quando me
preparo para sair meu celular vibra em minha mão, ao ver o nome de Luiza no
visor fico irritado. O que ela pode querer comigo? Penso em não atendê-la, mas
pode ser pior, certamente enquanto não conseguir falar não sossegará.
— Pronto — atendo seco.
— Nicolas, meu querido, quanto tempo não o vejo. — Sua voz melosa
me deixa impaciente.
— Tenho andado ocupado.
— Mais um motivo para tirar uma horinha para nós, você sabe que
tenho a capacidade de deixá-lo relaxado — ronrona com malícia.
Talvez a culpa seja minha ao não deixar claro que eu e ela não temos
nada, até tivemos bons momentos, mas não passou disso. E agora existe a
Gabriela na minha vida.
— Agradeço a oferta, porém não podemos voltar a nos ver — digo de
forma direta.
Ela fica em silêncio por alguns instantes.
— Mas por que isso agora? Nós somos bons juntos e eu nunca te cobrei
nada.
Preciso respirar fundo para não ser grosseiro.
— Nós tivemos bons momentos, você é uma mulher muito linda, mas
não quero ser injusto com você e nem mentir. Então acho melhor não nos
vermos mais.
— Nós podemos ao menos ir ao evento dos melhores do ano juntos? —
pergunta e agora entendo sua jogada. Quer apenas me usar para poder se exibir.
O evento ocorrerá em um pouco mais de um mês, e ela apenas quer
garantir seu lugar ao meu lado.
— Não podemos Luiza, mesmo porque já tenho companhia.
— Então é por isso que está me dispensando? Arrumou uma piranha
para pôr no meu lugar — exaspera-se.
— Mais respeito Luiza. Não lhe dou essa confiança para falar comigo
dessa maneira, ou caluniar a mulher que está comigo, e vamos combinar, nunca
existiu um lugar para você ocupar — repreendo com voz alterada.
Ouço seu bufo.
— Mas na hora de me comer, bem que meu deu bastante confiança —
esbraveja.
— Agora você falou a palavra certa, foi exatamente isso que aconteceu.
Sexo, e nada mais.
— Como você ousa me tratar desta maneira?
— Você quem começou a baixar o nível, eu apenas estou respondendo a
altura — esclareço sem paciência. — Agora, se me der licença, tenho um
compromisso.
Não espero por resposta e desligo. Que mulher mais abusada!
Antes de sair do apartamento bloqueio o número dela para que não me
ligue mais, só então saio para encontrar meus pais.

— Confesso estar muito curiosa com sua visita repentina — comenta


minha mãe após o jantar.
Olho para ela erguendo as sobrancelha.
— A senhora vive reclamando que não venho aqui.
— Por isso mesmo Nicolas, e você não é de avisar em última hora, e eu
te conheço, meu filho, você está escondendo alguma coisa — declara e então
olha para meu pai que vem da cozinha trazendo o vinho. — Theo, o que você
acha que Nicolas esconde?
Meu pai quer rir, eu sei. Ele se senta ao lado de minha mãe e a serve,
depois enche a própria taça.
— Não acho nada Clarice, mas também estou curioso.
— Vocês fazem um belo par — brinco sacudindo a cabeça.
— Então vamos acabar logo com isso, o que você quer nos falar?
Alguma coisa relacionada ao Charles? — mamãe questiona.
Os dois me olham em expectativa.
— Indiretamente, sim tem a ver com Charles.
— Ele aprontou mais uma? Não entendo. Desembucha logo Nicolas —
exige meu pai com pouca paciência.
— Vocês lembram-se da Gabriela?
Ambos parecem pensar.
— Que Gabriela? — papai interpela.
— Aquela moça que o Charles nos apresentou? — Minha mãe sempre foi
mais astuta.
— Essa mesma.
— O que tem ela? Não vai me dizer que ela também está junto com
Charles nessa falcatrua — meu pai quer saber. — Ela me pareceu ser tão boa
gente.
— Também a achei tão decente.
— Calma aí vocês dois — peço antes que criem uma história
mirabolante.
Os dois me olham.
— Então conta logo — minha mãe insiste.
— A verdade é que eu e Gabriela estamos juntos — revelo de uma vez e
observo a reação dos dois.
Minha mãe põe a mão no coração, abre e fecha a boca, meu pai tem uma
expressão nada agradável.
— Nicolas, eu te criei melhor que isso — ele é o primeiro a falar já que
minha mãe parece ter perdido a voz. — Não venha agora usar essa pobre moça
para se vingar de Charles.
Agora quem fica espantado sou eu, meu pai realmente acha que eu seria
capaz de uma sandice dessas?
— Meu filho, não cometa um absurdo desses, nós sabemos que o Charles
agiu de má fé com você, mas isso não lhe dá o direito de retaliação, ficarei
decepcionada se seguir com isso adiante — completa minha mãe abalada.
Eu me levanto e olho para ambos admirado.
— Vocês acham que eu seria capaz de uma baixeza dessas? — Os dois
me encaram. — Eu não estou me vingando de Charles, nós estamos juntos por
que queremos — declaro nervoso.
— Você roubou a namorada do Charles? — minha mãe questiona.
Meu pai olha para ela.
— Isso eu sei que não, porque eles haviam terminado o namoro —
informa apertando suavemente seu joelho e então volta a me olhar. — Mas
mesmo assim filho, eles eram namorados até pouco tempo atrás.
Respiro fundo e volto a me sentar.
— Eles nunca foram namorados de verdade.
— Não? — Os dois falam ao mesmo tempo.
— Não, era tudo uma farsa. Gabriela estava apenas fazendo um favor a
Charles.
— Por que ele faria isso? Não entendo. — Meu pai diz cabreiro.
— E como você entra nessa história? — pergunta minha mãe.
Não quero revelar sobre o envolvimento de Charles com Eric, então
apenas resumo contando que Gabriela atendeu ao pedido de um amigo, e não
posso expor o motivo, ao menos por enquanto. O Charles não merece meu
respeito, nem que eu guarde seu segredo, mas não quero intrometer-me nessa
história.
— Eu sempre achei estranho aqueles dois juntos, e eu notei Gabriela te
olhando no dia da festa do Cassiano — minha mãe comenta dando uma
risadinha. — Na hora não dei ideia, mas agora posso entender o que acontecia de
fato.
— E você não me contou isso? — indaga meu pai zangado.
— Ah, Théo, nem me passou pela cabeça falar alguma coisa.
Eu sorrio e olho para minha mãe.
— Então ela estava me olhando?
Ela também sorri.
— Sim — diz e pega sua taça para bebericar seu vinho, e se volta para
mim. — Eu gosto dela, tomara que vocês não tenham problemas quando as
pessoas descobrirem.
— Mãe, minha preocupação era que vocês soubessem, e me preocupo
com Gabriela. Espero que Simone a trate bem e conto com a senhora para isso.
— Deixa comigo, filho. Estou borbulhando de tanta felicidade.
Finalmente você está com alguém.
— Mas ele já teve outras namoradas Clarice.
Ela solta um grunhido.
— Aquelas não eram namoradas, meu filho tem que ter alguém de valor
ao seu lado, está na hora dele se estabelecer, a idade está chegando — apresenta.
— Mãe! Eu tenho apenas 29 anos. A senhora fala como se eu fosse um
idoso — reclamo.
— Exagero está no genes de sua mãe, Nicolas — meu pai murmura me
fazendo rir.
Minha mãe pede detalhes de como começou o relacionamento e tento
explicar sem os detalhes. Digo que não me esconderei e estaremos juntos na
comemoração de aniversário de casamento deles. Meus pais concordam, não
devemos mesmo manter nada em segredo.
Saio da casa deles passa da meia-noite, só em dizer a verdade para eles
me sinto mais leve, porém não posso me esquecer de Cassiano. Também não
quero pegá-lo desprevenido quando eu aparecer com minha diaba, então decido
ter uma conversa com ele ainda durante a semana. Meu padrinho merece toda a
minha consideração.
Chego em casa cansado e ao colocar o telefone na mesa de cabeceira
percebo que tem uma mensagem, e quando abro o aplicativo a mensagem é de
Gabriela, a danada tirou uma self fazendo biquino para mim, mandando um
beijo, abaixo da foto escrito: “Estou com saudades...”
Tem mais de uma hora que ela enviou a mensagem, e como está no
trabalho envio uma mensagem de voz, dizendo que o lado dela na cama está frio,
e sinto sua falta.
Tomo um banho rápido em seguida e me deito, mas custo a dormir
pensando em minha diaba, não vejo a hora dela sair logo desse trabalho, assim
poderemos ter mais tempo juntos e ela não ficará tão cansada durante o dia.
Preocupo-me com ela, não se alimenta bem, e ainda não esqueci o dia em que
passou mal. Tenho certeza que isso também se deve ao fato de ter um trabalho
puxado durante a noite.

Lembro que devo visitar um cliente em São Paulo, por sorte Carmela me
manda uma mensagem logo cedo informando que está tudo certo para o voo,
possivelmente retornarei somente no dia seguinte e assim decido fazer uma
visita aos meus avós, os verei na comemoração de casamento de meus pais, mas
aproveitarei a oportunidade, pois ainda faltam algumas semanas para a festa.
Como Gabriela deve estar dormindo mando um recado informando que
não poderei vê-la e quando tiver uma brecha a ligarei.
Nunca me importei em viajar, e já cheguei a ficar semanas fora visitando
clientes e os escritórios que tenho fora do Rio, porém desta vez estou indo sem
muita vontade, até mesmo a possibilidade de ver meus avós não me anima. Peço
a Carmela para providenciar meu retorno para o dia seguinte o mais cedo
possível, pois tenho muita coisa para resolver, o que ela não sabe: eu quero
retornar o mais rápido possível por causa da minha diaba.
Até isso ela está mudando em minha vida, jamais imaginei priorizar uma
mulher ao trabalho, incrível o que ela faz comigo.

Retorno logo pela manhã e meu corpo parece ter levado uma surra,
minha cabeça dói e sinto meu nariz entupido. Vou direto para a agência, mas não
consigo me concentrar. Peço a Carmela para cancelar qualquer compromisso,
pois preciso ir para casa. Nem dirigir eu consigo, então chamo Emanuel para me
levar.
No caminho ligo para Gabriela e ela percebe minha rouquidão e admito
não estar passando bem, ela diz que vai para o meu apartamento. Tento
convencê-la ao contrário, entretanto como era de se esperar ela é teimosa e não a
convenço.
Quando Emanuel estaciona explico que Gabriela está vindo, peço para
aguardá-la e permitir sua entrada, isso me faz lembrar que devo fazer um registro
para ela ter passagem livre ao condomínio. Pego logo o elevador e dentro de
casa marcho até a suíte e me jogo na cama de roupa e tudo. Meu corpo dói e
começo a tossir. Quando finalmente me acalmo fecho os olhos.
Sinto algo frio em minha testa e resmungo.
— Então você está acordando — sussurra Gabriela com voz doce, eu
abro os olhos e ela está me olhando com ternura. — Você pegou uma gripe forte.
— Você está aqui — digo e começo a tossir.
Ela tem algo em minha testa.
— Sim, vim cuidar de você — diz e agora passa a mão por meu cabelo.
— Encontrei a Graça, e ela está preparando uma sopa.
Havia esquecido completamente da Graça.
— Não estou com fome, quero apenas dormir — resmungo.
Ela sorri.
— Isso não é negociável, porém antes de comer vou te ajudar a tomar um
banho.
Eu tento esboçar um sorriso, mas faço uma careta.
— Tenho certeza que banho com você poderá melhorar.
— Nem doente você sossega. — Ela se levanta e me puxa pela mão. —
Anda levanta, vamos tirar essa roupa.
Consigo me sentar na cama e um pano molhado cai em meu colo, deve
ser isso que estava na minha testa.
— Tira você minha roupa. Estou muito fraco — peço a olhando. Não
estou tão impossibilitado assim, mas não perderei a oportunidade de ser cuidado
por minha diaba.
Ela cruza os braços e me analisa com cara de riso.
— Você está muito abusado, mas vou levar em consideração que está
com febre.
Gabriela retira minha gravata, e consegue me deixar despido na parte de
cima. Então pede para levantar e tira minha calça. Já me encontro sem sapatos e
meias.
— Foi você que tirou meu sapato?
— Sim, fiz isso assim que cheguei aqui — confirma e quando estou
somente de cueca ela segura minha mão. — Vem comigo, agora você vai para o
chuveiro.
Eu a sigo, com essa mulher vou a qualquer lugar.
— Você está muito mandona, não vê que estou quase morrendo? —
argumento e ouço sua risada.
— Por que será que os homens são tão frescos e exagerados quando estão
com uma gripe?
Eu paro de repente e ela me olha alarmada.
— Você já cuidou de algum outro homem por acaso? Como pode saber
disso?
Gabriela me encara e então cai na gargalhada me deixando com raiva.
— É isso mesmo? Você está com ciúmes?
— Você não me respondeu? — insisto.
Ela chega perto de mim e passa a ponta do dedo por meu tórax.
— Eu tenho um pai e um irmão, ambos eram horríveis quando ficavam
doentes — informa sem tirar seus olhos dos meus. — Agora deixa de me enrolar,
vamos para o banho.
Ela volta a pegar minha mão e vou atrás dela.
No banheiro entro no Box e deixo a água morna passar pelo meu corpo, e
sinto arrepios de frio, eu estou sofrendo, não é frescura e muito menos estou
exagerando, sinto como se fosse morrer a qualquer momento.
Gabriela não sai de perto de mim, assim que termino, pega a toalha, me
enxuga e me ajuda a vestir uma roupa confortável e me leva de volta para cama,
que a gora tem o lençol trocado.
Depois de me deixar deitado, beija minha testa e pede para aguardá-la,
pois vai trazer a sopa. Sigo seus passos com meus olhos e apesar de estar me
sentindo um lixo, a maneira em que ela me trata me deixa totalmente extasiado.
Fecho os olhos por alguns momentos e imagino como seria tê-la comigo
assim todos os dias. É muito cedo para pensar nessas coisas, ela ainda tem seus
sonhos para realizar, e eu estarei ao seu lado em cada passo dessa realização, e a
esperarei até que esteja preparada para finalmente ser permanente em minha
vida.
Se preciso for, esperarei por ela para sempre.
Capítulo Trinta e Três

Gabriela
Q uando chego à cozinha Graça me olha e sorri.
— E como está nosso doente?
— Dando trabalho, parece que estar no leito de morte — brinco enquanto me
aproximo. — A sopa está pronta?
— Sim, me deixa colocar no prato.
Aguardo enquanto ela prepara uma bandeja, só espero que Nicolas não
faça pirraça, pois está me saindo um paciente muito mimado. Até acho
engraçado, ele um homem todo másculo e mandão parecendo uma criança
desafortunada de tanto sofrimento. Quem poderia imaginar esse lado dramático
dele, tudo por conta de uma gripe.
Graça me entrega a bandeja e volto para a suíte. Ele se encontra da
mesma maneira que o deixei, recostado nos travesseiros, mas tem os olhos
fechados.
— Prontinho, hora de comer alguma coisa bonitão — digo me sentando
perto dele e vendo seus olhos abrirem, devagar. — Essa sopa parece estar
deliciosa.
Ele baixa o olhar e faz cara de asco.
— Eu não gosto de sopa — reclama.
— Não interessa, você vai comer mesmo assim, nem que tenha que
enfiar por sua goela abaixo.
Olha-me com cara feia e o encaro bem séria.
— Você não vê que estou muito doente? Como tem coragem de me tratar
desta maneira? Deveria era estar cuidando de mim.
— Nicolas! Poupe-me, pare de fazer drama — respondo me acomodando
para ajudá-lo a tomar a sopa. — E para seu governo estou cuidando de você.
— Obrigando-me a comer uma coisa que não gosto — queixa-se e
espirra.
Minha vontade de rir só aumenta, mas não quero chateá-lo.
— Isso é para você ficar melhor. — Pego a colher e direciono até sua
boca. — Aqui, toma. Ainda estou sendo bastante tolerante ao te dar comida na
boca.
Ele me olha, quando vê que não desistirei solta um bufo e abre a boca
aceitando a colherada de sopa.
— Até que não está ruim — diz já aceitando outra.
— Claro, eu mesma vou tomar um pouco desta sopa.
Nicolas ingere toda a sopa e para não dar o braço a torcer diz que só fez
isso por minha causa. Nem respondo nada. Em seguida dou um remédio de gripe
para ele e faço que beba um copo de suco. Ele chega a suar e o ajudo a se
acomodar para tirar um cochilo, ele como um bom doente resmunga e reclama,
mas logo dorme.
Aproveito para comer também, e não sei o porquê de tanta objeção, pois
a sopa está maravilhosa, por sorte Graça fez uma boa quantidade até deu para
repetir. Quando volto para Nicolas ele está em um sono profundo, ponho a mão
em sua testa e sua temperatura está normal, já não queima minha mão.
Deito-me ao seu lado e também aproveito para dormir.
Desperto com meu celular tocando, e antes de acordar o Nicolas me
levanto e vou até minha bolsa.
— Alô — respondo baixo indo para o banheiro.
— Gabriela? Por que está sussurrando? — pergunta Vicky.
Explico a ela que estou no apartamento de Nicolas e ele está muito
gripado, ela solta uma piadinha, dessa de estar brincando de médico, minha
amiga ficou mais soltinha depois do casamento.
— E como está o bebê? — questiono.
— Ainda me fazendo sentir enjoo, não vejo a hora de essa fase passar —
comenta mas posso perceber que está feliz.
— Acredito que logo passe. — Sento-me na beirada da banheira. —
Agora me diga, por que liga?
— Não tive como falar com você ontem, e também não quis ligar para o
Eric, mas quero saber se conseguiu conversar com ele.
— Sim consegui, ele está bastante abalado, mas já terminou tudo com
Charles, ontem passei o dia com ele.
— Você acha que devo ligar?
— Sim, ele vai gostar. Eric se encontra ainda na fase de aceitação, horas
age com raiva, outras com melancolia, mas nós o conhecemos bem e sabemos o
quanto deve estar sofrendo — declaro.
— Nosso amigo não merece estar passando por isso — lamenta com voz
triste. — Vou tentar animá-lo de alguma forma, vou convidá-lo para almoçar
comigo amanhã e pedir a Dora que prepare seu prato favorito.
Eu rio, pois dificilmente Eric irá dispensar uma lasanha.
— Ótima ideia, nada como alimentá-lo para que se anime.
Escuto um barulho e olho para cima, Nicolas entra no banheiro e quando
me vê para me olhando surpreso, ele parece melhor, porém um pouco abatido
ainda. Ele ergue apenas uma sobrancelha e sua cara amarrotada está hilária.
— Gabi, você ainda está ai? — questiona Vicky chamando minha
atenção.
— Sim, estou. É que o Nicolas chegou aqui e me distraí — digo o
encarando.
— Entendo, sei como é isso — cochicha e solta uma risada. — Vou
desligar, depois nos falamos, vou tentar falar com Eric antes de ele ir para a
boate.
— Tudo bem — falo absorto ainda observando Nicolas que também não
tira os olhos de mim. — Um beijo minha querida e cuide bem desse bebê.
— Pode deixar que cuido, tchau! — Se despede.
Ergo-me e me aproximo de Nicolas, ele me abraça pela cintura e beija
minha testa.
— Pensei que tivesse me abandonado — declara e sua voz sai mais
grossa do que o habitual. Deve ser devido a gripe.
— Claro que não o abandonei, afinal está muito doente.
Ele suspira enfiando a cabeça em meu pescoço.
— Sim, eu estou muito doente, não sei se sobreviverei.
Impossível não rir dele.
— Nicolas, quem imaginaria: um homem tão altivo como você sendo tão
mole? — digo o abraçando e beijando seu peito através da camisa.
— Você diz isso porque não é você a sofrer esse tormento.
Eu reviro os olhos diante seu exagero.
— É apenas uma gripe, você morreria se sentisse cólicas menstruais —
argumento.
— Tem coisas que somente vocês mulheres são capazes de aguentar —
admite.
Afasto-me e nos olhamos, passo a mão por seu rosto acariciando sua
barba.
— Sente-se melhor?
Ele sorri com suavidade.
— Sim, fui bem cuidado pela minha linda diaba, ela agora se tornou um
anjo — pronuncia.
— Quer dizer que subi no cargo? — gracejo.
Nicolas vislumbra meu rosto, seu olhar é tentador e se não estivesse
doente provavelmente o atacaria.
— Queria tanto te beijar — sussurra passando a ponta dos dedos pelo
meu rosto.
— E por que não beija?
— Estou muito gripado, não quero que pegue minha gripe. — Eu faço
um beicinho e ele ri. — Nem adianta fazer essa carinha, prometo te encher de
beijos logo esteja recuperado.
— Nem pense que me esquecerei, irei cobrar essa promessa.
Ele me envolve em seus braços.
— Pode cobrar, eu sempre farei de tudo para cumprir todas as minhas
promessas.
Permanecemos abraçados deixando uma sensação maravilhosa de
aconchego dominar nosso corpo. Envolvidos em nossa bolha voltamos para a
cama, não é preciso palavras, apenas em estarmos assim, abraçados, é o
suficiente para acalentar nossa alma.

Passo a noite na casa do Nicolas, mas preciso ir embora, pois chegou


meu último dia de trabalho. Eric pediu para treinar uma nova funcionária para o
meu lugar, e pelo que notei a moça é bastante esforçada e pega tudo muito
rápido. Apesar de gostar de trabalhar ali, me sinto muito feliz por estar saindo,
pois trabalhar nesse horário, como sempre disse não é para mim.
Eric, embora pareça animado e com o mesmo humor de sempre se
encontra numa luta tentando esquecer o que aquele crápula fez, e com tudo o que
aconteceu ele decidiu aceitar a proposta do Lucas e ir para São Paulo, segundo
ele será bom mudar de ambiente, e ao me contar isso tenho vontade de chorar,
pois outro amigo estará se afastando.
Ele percebe como fico e me abraça, dizendo que São Paulo não é assim
tão longe e poderemos nos ver sempre, garante não nos abandonar, pois eu e as
meninas somos mais que uma família para ele.
Passa das três da madrugada e toda a boate está lotada, Eric como sempre
fica no salão principal, por ser o lugar que mais tem problema. Na área vip todos
estão tranquilos, não tivemos nenhum cliente dando trabalho, tudo o que queria
para o meu último dia de trabalho.
Vou para a sala dos funcionários para tomar um café, pois só assim sou
capaz de permanecer acordada. Sento-me na cadeira com minha xícara
formigante e a porta se abre dando passagem para Boris, ele também vem para
um café, depois de se servir senta-se a minha frente.
— Então você vai sair mesmo?
— Sim, arrumei um emprego no horário diurno — conto feliz.
— Você fará falta — comenta tomando um gole de café.
— Bia, a menina que estou treinando para o meu lugar parece ser muito
boa.
Ele balança as sobrancelhas.
— Ela disse alguma coisa para você?
— Sobre?
— Se é casada ou tem namorado, porque de você já desisti, vi no outro
dia um camarada te agarrando lá fora.
Olho para ele espantada.
— Anda me vigiando?
— Não, eu já estava lá fora, não lembra?
Ao dizer me recordo o dia em que Nicolas veio me buscar, antes de vê-lo
conversava com Boris.
— Sim, agora lembro — digo dando de ombros. — Mas você não perde
tempo, já está de olho na nova funcionária? Depois diz que não é mulherengo.
— Estou sozinho, quando encontrar a garota certa eu sossego, enquanto
isso vou tentando.
Mariana entra na sala informando que preciso descer para providenciar
na adega o vinho branco que um dos clientes está consumindo, pois acabou.
Termino o café e logo desço. Vejo Eric no bar, ele conversa com alguns
clientes e ri de alguma coisa, fico feliz ao vê-lo sorrir daquela maneira. Olho
para o meio da pista e vejo o quanto está lotado, pelo jeito essas pessoas sairão
daqui com o sol brilhante.
Passo pelo canto e contorno o bar para seguir até a adega, destranco a
porta e entro, assim pego a garrafa de vinho, saio e tento seguir o mesmo
caminho, mas quando passo perto do corredor que dá para um dos toaletes, sou
puxada pelo braço, por pouco não deixo a garrafa cair.
— Eu sabia, em algum momento eu iria te ver. — Reconheço a voz de
Charles, com a escuridão é quase impossível enxergá-lo.
Tento me soltar dele, mas ele me segura com força.
— Larga o meu braço, ou juro gritar seu desgraçado.
Ele dá uma risada sinistra, chega a me arrepiar.
— Eu não tenho mais nada a perder. Grita e você verá o que vai te
acontecer.
— Essas suas ameaças não me assustam, me larga — esbravejo tentando
me soltar.
— Pode deixar, hoje não pretendo fazer nada com você, só vim te dar um
aviso — rosna e chega o rosto perto do meu, posso sentir o odor de álcool. —
Você vai me pagar, por sua causa o Eric terminou tudo comigo.
Consigo finalmente sair de seu agarre e me afasto. Seguro com firmeza a
garrafa que está em minha mão.
— Não me ameace Charles, não tenho medo de você.
— Pois deveria ter, por sua causa, sua vadia burra entrei em problemas e
nada me impede de acabar com você.
Esse cara está passando de todos os limites.
— Você está bêbado, melhor ir embora ou juro que chamo a polícia —
ameaço.
Charles dá um passo a frente e seu corpo quase toca o meu, me sinto
acuada, mas não demonstro medo e o encaro apertando a garrafa em minha mão,
em último caso taco a garrafa em sua cabeça.
— Isso não vai ficar assim Gabriela, você e aquele infeliz do Nicolas me
pagam — ruge com a respiração forte. — Só não entendo como você fez para
chegar até ele, mas também não me interessa. Só fique sabendo, sua hora está
chegando, assim como a dele — sentencia.
Noto alguém se aproximando e então Charles sai pelo corredor
cambaleando.
Ele não está bem, o meu medo é que fique maluco e faça alguma coisa
contra o Nicolas afinal eles são próximos devido à família. Oro para que sua
ameaça seja vazia, apenas um disparate de um bêbado revoltado.
Ao voltar e subir as escadas olho tudo e nem mesmo vejo sinal do
Charles, Eric com certeza não deve tê-lo visto, pois continua no mesmo lugar
interagindo com a clientela.
Fico na dúvida se devo ou não contar a Nicolas o meu encontro com
Charles, mas talvez não seja uma boa ideia, Nicolas anda muito estressado com
os problemas que Charles causou, isso sem contar a ligação entre suas famílias.
Não vou perturbá-lo com algo sem sentido, afinal Charles não tem como nos
prejudicar. Ele apenas está com raiva por não ter consigo arrancar dinheiro de
Eric.
Como havia previsto os últimos clientes saem da boate praticamente
expulsos já com o dia claro. Sinto-me muito cansada, e até Eric que costuma
ficar bem desperto, boceja toda hora. Por ser meu último dia o espero, mesmo
porque quero me despedir de todos e agradecer pelo carinho ao qual me
receberam.
Mesmo com o cansaço depois de fechar a boate todos nos encontramos
na sala de funcionários e me emociono com o modo como me tratam, não sabia
que as pessoas gostavam tanto assim de mim, trabalhei na boate apenas por
alguns meses, mas foi o suficiente para nos sentirmos unidos.

Encontro Karen na sala de casa tomando café quando chego. Suas malas
ainda estão na perto da porta ela também deve ter acabado de chegar.
— Até que enfim, pensei que também iria embora — digo me
aproximando e me jogando no sofá.
— Chegando tão cedo em casa — comenta rindo. — E então? Como foi
seu último dia?
— Foi bom, porém cansativo. Como foi meu último dia fiquei até todos
saírem para me despedir e agradecer.
— Fez bem — fala e se vira de lado para me olhar, ela fica séria. — E o
nosso Eric? Como está?
No início da semana conversei com Karen pelo telefone, contando sobre
minha conversa com Eric, assim como a Vicky ela se sentiu mal por ele, afinal
Eric é como um grande irmão, sempre esteve ao nosso lado, nos apoiando em
tudo. E nós sabemos que ele tem esse jeito louco, mas no fundo é um cara muito
sensato e sensível.
Falo com ela o mesmo que falei a Vicky, e Karen concorda, Eric deve se
distrair nesse momento e garante que vai ao seu apartamento para conversar e o
apoiar. Um gesto normal vindo de sua parte, não poderia esperar nada diferente
vindo da Karen, além disso, ela tem talento para melhorar o astral de qualquer
pessoa.
Levanto-me e digo que vou tentar dormir, apesar de achar difícil. Tomei
café além do normal e sinto meu corpo muito desperto, mesmo estando exausta.
Indo para o quarto lembro-me de ligar para Nicolas e saber se ele está
bem, quando saí de sua casa no dia anterior ele estava bem melhor, até sua voz
havia voltado ao normal, e como sei que deve ter dormido a noite toda, já deve
estar acordado, isso se já não saiu de casa.
— Minha diaba acordada a esta hora? — É a primeira coisa que diz ao
atender. Explico que acabei de chegar. — E se eu te buscar agora? Prometo
deixar você dormir.
Olho pela janela e o sol brilha com intensidade.
— E você está melhor? — pergunto.
— Sim, estou ótimo. Então posso buscá-la agora?
Penso um pouco e no fundo quero estar com ele, e muito. E sua cama é
muito convidativa para se dormir.
— Ok, mas só se não for te dar muito trabalho.
— Você nunca me dá trabalho, Gabriela — declara —, estou no
elevador, chego aí em vinte minutos — anuncia e então desliga.
Mais acordada do que estava vou até o armário e pego algumas mudas de
roupa para levar, como ele chegará dentro de vinte minutos tomo um banho
rápido, depois volto para a sala e Karen está no mesmo lugar vendo uma revista.
Ao sentir minha presença levanta os olhos e faz cara de surpresa.
— Vai sair? Pensei que iria dormir.
— Nicolas está vindo me buscar para me levar para casa dele.
Ela sorri com ternura.
— Que bom, estou tão feliz por você! — exclama com sinceridade.
Lembro-me do que Lucas me pediu, e mesmo tendo pouco tempo me
sento ao seu lado e pego sua mão.
— Amiga, o Lucas me procurou na semana passada.
Seus olhos brilham, posso notar.
— O que ele queria? — murmura.
— Ele quer conversar com você, ele me pediu para falar contigo —
revelo apertando sua mão na minha. — Karen, eu não sei de toda a história, mas
Lucas pareceu sincero ao dizer que não faria mal a você.
Ela baixa o olhar.
— Eu sei, ele não me faria mal. Não intencionalmente.
— Então porque você não dá uma chance para ele tentar se esclarecer?
Ainda não entendo porque ela foge dele se tem certeza de que não a
machucaria.
Karen suspira e volta a me olhar com intensidade.
— Tenho medo de o meu sentimento voltar entre outras coisas. E eu sei
que o Lucas só vê em mim uma garotinha desengonçada — confessa.
Agora posso entendê-la melhor.
— Não seria melhor você conversar e tirar isso do seu caminho? Resolver logo
essa questão?
Karen olha para o lado por alguns instantes.
— Talvez você esteja certa — concorda e volta a me olhar. — Vou pensar
melhor sobre isso.
Eu sorrio.
— Pense, mas melhor pensar logo, pois ele está a sua procura e tenho
certeza que irá te encontrar. Mais cedo ou mais tarde.
— Não sei o que tanto ele quer falar comigo — resmunga.
— Amiga, você pode estar enganada quanto a ele te ver como uma
menininha desengonçada — digo e me levanto para pegar minha bolsa no
quarto, pois Nicolas já deve estar chegando.
Retorno do quarto e Karen agora olha pela janela, seguramente pensa
sobre nossa conversa.
Informo que estou saindo, e caso precise de alguma coisa não deixe de
me ligar de forma alguma, a faço prometer isso e só depois de sua promessa
saio.
Tenho fé de que logo resolverá seu assunto com Lucas.
Na calçada Nicolas me aguarda com seu lindo sorriso, preciso me segurar
para não correr até ele, meu coração afoito retumba em meu peito, e meu corpo e
alma se iluminam só em saber que estarei ao seu lado.
Com Nicolas meus dias são mais cheios de vida.
Capítulo Trinta e Quatro

Nicolas
D eixo Gabriela dormir durante toda a manhã, aproveito para adiantar algum
trabalho, devido à gripe fiquei impossibilitado de fazer qualquer coisa, por isso
algumas questões estagnaram. Após responder alguns e-mails e ler alguns
contratos decido pedir o almoço, logo minha diaba acordará e possivelmente
estará faminta.
Preparo a mesa para o nosso almoço para deixar adiantado e sigo para a
suíte. Gabriela continua na mesma posição, não mexeu um centímetro sequer.
Aproximo-me da cama e sento-me ao seu lado, com suavidade acaricio seus
cabelos e ela se mexe. Inclino meu corpo para beijar seu rosto e ela geme.
— Dorminhoca nosso almoço chegará a qualquer momento — comunico
e ela se aconchega em mim.
— Eu dormi tanto assim? — indaga e encosta seu nariz em meu peito
através da camisa e inspira. — Você cheira bem.
Envolvo sua cintura, a atraio para seu corpo colar ao meu.
— Você também cheira muito bem — sussurro em sua orelha.
— Tem muito tempo que você pediu esse almoço? — pergunta e se
esfrega em mim. Meu membro endurecido pulsa em minhas calças.
— Temos alguns minutos antes de chegar — digo enquanto a viro de
costas para cama, fico sobre seu corpo e seguro suas mãos acima da cabeça. —
Estou com saudades de sentir você.
Desço minha cabeça e beijo sua boca apaixonadamente. Gabriela se
entrega ao beijo, nossa língua se enrola uma na outra e nosso beijo fica cada vez
mais ardente e carnal. Despimos-nos de nossas vestes com agilidade, nossa ânsia
não permite esperar mais tempo. Necessitamos um do outro com urgência.
Distancio-me somente a tempo de pôr a camisinha e volto para seus braços.
Suas pernas circundam minha cintura, meu desejo por ela é tanto que
chego a suar de desespero. Nossos olhares se encontram, uma poderosa conexão
nos envolve e um sentimento de devoção invade todo meu ser. Devagar desço
minha cabeça e sinto nossa respiração se fundir.
— Meu Deus! Como eu amo estar com você — segredo, minha boca
encostada a sua.
Seu hálito doce invade minhas narinas.
— Sentir você me faz completamente realizada — confidencia.
Apodero-me de sua boca, movo o quadril e suavemente invado seu
corpo. Gabriela me recebe cheia de paixão. Tenho vontade de adentrar em seu
corpo com energia, porém preciso fazer isso lentamente, quero preenche-la com
mais delicadeza e mostrar não somente o desejo carnal. Venerar seu corpo e
exteriorizar o que ela representa em mim. Sua importância.
Faço amor com ternura, nosso corpo desperta e anseia por liberação.
Gabriela diz meu nome repetidas vezes, e ser o causador de seu apetite sexual
faz-me sentir o homem mais poderoso deste mundo. É exatamente esse o meu
desejo. Ser o único capaz de aguçar sua libido.
Aprofundo-me em sua boceta apertada, levo minha mão até seu clitóris e
o estimulo com meu dedo, minha diaba fica ensandecida e remexe o quadril
alvoroçada. Intensifico meus movimentos enquanto aproveito para devorar sua
boca. Ela geme e noto meu pau sendo apertado em seu sexo, seu orgasmo
desenvolve-se, meu pênis lateja e por fim embarco nesta viagem de prazer.
Libero-me ofegando e uivando seu nome.
Estamos desfeitos após nosso clímax, meu corpo pede por repouso.
Encontramo-nos praticamente se ar, contudo satisfeitos. Seguimos abraçados
permitindo que nossa respiração volte ao normal. E nesses momentos me dou
conta do quanto Gabriela é importante para mim, pois jamais me permiti ficar
assim com outra mulher após uma seção de sexo.
Alguns minutos se passam e escuto o interfone tocando. O almoço
chegou em boa hora. Levanto-me e beijo sua testa. Coloco minha roupa com
rapidez.
— Vou buscar nossa comida lá embaixo, já volto — informo e ela está
jogada na cama enquanto me olha.
— Sinto-me faminta mesmo — confessa sorrindo.
Jogo um beijo e saio de imediato. Não posso ficar e a admirar por muito
tempo, ou não terei forças para sair deste quarto.
Assim que terminamos o almoço, Gabriela ajuda-me a colocar a louça
para lavar, pergunto se ela gostaria de sair para algum lugar mais tarde, depois de
muito pensar optamos por ficar no apartamento namorando e vendo filme. O
domingo não poderia ser mais perfeito. Pois tudo o que mais quero está ao
alcance de minhas mãos e sou grato por ser um homem tão sortudo.
A semana inicia com muito trabalho e mesmo assim encontro tempo para
ajudar Gabriela a fazer sua inscrição para o vestibular. Percebo sua insegurança e
procuro incentivá-la. Conto sobre a época da minha decisão de fazer publicidade
e do quanto também me senti incerto sobre minha escolha. Por fim conseguimos
inscrevê-la e como sua amiga havia dito, Gabriela poderá fazer uma prova
especial .
[9]

Com a aproximação da festa dos meus pais e sabendo da melhoria do


estado de saúde do Cassiano decido fazer uma visita a ele. Preciso lhe dar boas
notícias sobre a agência de modelos e da possibilidade de finalmente fazermos
uma fusão. Após o relatório enviado pela Drumont Finance, contendo
minuciosamente quais os reais riscos, concluí que para mim o negócio não me
trará prejuízos assim não trará lucros mirabolantes.
Com a queda financeira de Cassiano tudo ficou muito complicado para
ele, tenho ciência de suas dificuldades e se sou eu a pessoa capaz de lhe ajudar,
não negarei auxilio, apenas devo deixar algumas questões esclarecidas, tais
como Charles, pois legalmente ele tem direitos e preciso arranjar uma forma de
deixá-lo de fora da sociedade. No entanto isso os advogados podem definir.
É noite de quinta-feira quando vou visitá-lo, para minha sorte soube
através do meu pai da ausência de Charles e sua mãe, ambos foram em um jantar
beneficente. E isso facilita para a outra conversa em que preciso ter com meu
padrinho.
Em sua casa Cassiano me aguarda e noto sua pele mais corada e para
meu alívio se encontra muito melhor.
— Gosto de vê-lo assim, tão animado. Vejo que melhora a cada dia —
comento enquanto dou um forte abraço nele.
Nós nos afastamos e aproveito para observá-lo melhor, ele perdeu um
pouco de peso e mesmo assim aparenta estar saudável.
— Sim, estou me sentindo muito bem, também venho seguindo todas as
recomendações médicas — afirma animado. — Vamos nos sentar, estou curioso
para saber quais novidades são essas que você para me contar.
O sigo até seu escritório na casa e lá nos acomodamos, antes me oferece
algo para beber ou comer, porém recuso.
— Tenho boas notícias sobre a sua agência — começo e ele se apruma.
— Pois me conte logo — pede.
Mostro para ele toda a documentação que me foi passada e explico tudo
minuciosamente, em alguns momentos de dúvidas faz algumas perguntas e tento
respondê-las com clareza. Cassiano é um homem experiente, e com isso absorve
com facilidade todas as informações pertinentes ao seu problema financeiro e
aceita bem as soluções e medidas a serem tomadas.
Em seguida especifico como se dará a fusão e se é do interesse dele dar
continuidade a esta proposta, ao confirmar sua vontade faço um pequeno
resumo, aponto os principais aspectos e por fim definimos um prazo para
organização da papelada exigida para nossa sociedade.
— Sinto-me mais leve — confessa aliviado.
— Imagino que sim, e tenho certeza do sucesso dessa nossa sociedade,
estou satisfeito com os termos.
— Poderíamos brindar com um vinho, porém estou proibido de beber.
Eu rio.
— Não posso beber também, afinal tenho que voltar dirigindo para casa.
— Não entendo por que não faz uso do Emanuel — comenta sacudindo a
cabeça.
— Você sabe o quanto amo dirigir, faço uso do Emanuel para outros
serviços da empresa — argumento, então solto um suspiro. — Tenho outro
assunto a falar.
Meu padrinho olha-me mais intrigado.
— Você está sério, algum problema? Trata-se do Charles? — interroga
preocupado.
— Tem a ver com o Charles, indiretamente.
— Não entendo, seja mais especifico, por favor — pede.
— É sobre a Gabriela — começo e Cassiano faz uma expressão como se
estivesse querendo lembrar-se de quem falo. — A moça que Charles apresentou
para nós — completo.
— Ah claro, lembro-me. Uma moça bonita e decidida — diz com um
sorriso entristecido. — Segundo meu filho não estão mais juntos.
Não posso revelar muita coisa ao Cassiano para não deixá-lo alarmado, é
muito cedo para ele saber das mentiras de Charles.
— A Gabriela e o Charles não estavam bem há muito tempo, eu a
encontrei algumas vezes — revelo e Cassiano presta atenção em tudo. — Na
verdade, eu preciso te contar algo.
— Nicolas, fale logo. Sabe da minha confiança em você. Pode me contar
qualquer coisa.
— Eu e Gabriela estamos juntos. É isso — conto de uma vez.
Cassiano fica me olhando e sorri balançando a cabeça.
— Nicolas, vou te confessar uma coisa. Isso não me surpreende. Notei a
troca de olhares entre vocês. E cá entre nós, meu filho e aquela moça não eram
namorados.
A confissão de Cassiano me deixa abismado.
— Como você sabe disso? — questiono curioso.
Cassiano novamente ri sem vontade.
— Charles nunca me enganou Nicolas, ele tenta se esconder, me enganar,
mas eu conheço meu filho.
Fico pensando se ele pode vir a saber da orientação sexual de Charles.
— Cassiano, me perdoe se estou sendo intrometido, mas você pode ser
mais claro? — peço apenas para descobrir até onde sabe do segredo de seu filho.
Cassiano me analisa e faz um gesto com a mão.
— Tenho certeza que você sabe Nicolas, meu filho nunca poderia
namorar aquela moça, pois tenho absoluta certeza de sua homossexualidade.
Engulo a seco e permaneço calado por alguns instantes.
— E eu aqui cheio de medo de deixar alguma coisa escapar — desabafo
soltando uma risada aliviada. — Não queria que pensasse ter roubado a
namorada do seu filho.
— Não pensaria isso de você, desde criança o conheço, como ao meu
filho, assim como sei a diferença de caráter entre os dois.
Cogito contar sobre o golpe de Charles na agência, entretanto decido
aguardar por outra ocasião, mesmo Cassiano aparentando estar bem, tudo pode
ser superficial. Melhor não correr o risco de vê-lo tendo uma recaída.
— Espero nunca decepcioná-lo, te considero tanto quanto ao meu pai —
asseguro.
Cassiano e eu ficamos papeando e não querendo encontrar com Charles
vou embora. Ao entrar no meu carro respiro fundo e jogo a cabeça para trás
encostando-me no banco. Definitivamente posso assumir Gabriela sem
preocupação, as pessoas mais importantes sabem a verdade, não há necessidade
de preocupar-me com seus julgamentos.
Os dias passam, eu e Gabriela cada dia ficamos mais unidos. Ela se
preocupa com a festa de meus pais, pois não sabe como será recebida. Falo com
ela sobre minha conversa, tanto com meus pais quanto com Cassiano. Afirmo
que em ambos os lados não houve nenhum questionamento e relato a certeza do
meu padrinho em relação à homossexualidade de Charles. Ela se sente
surpreendida com essa informação.
No dia da festa busco Gabriela em sua casa na parte da manhã, ela não
pôde dormir comigo, pois visitou sua amiga grávida que decidiu contar sobre o
sexo do bebê com todos juntos. Até me ofereci para pegá-la, mas ela não tinha
certeza se dormiria lá ou não, também precisei buscar meus avós no aeroporto
para levá-los até a casa dos meus pais e por fim saí tarde de lá.
Pego o telefone para ligar e ela aparece na portaria segurando uma bolsa
grande e alguma roupa no cabide, vou ao seu encontro e pego a bolsa pesada de
sua mão e beijo seu nariz.
— O que tem aqui? Chumbo? — pergunto brincando.
Ela faz uma careta.
— São possíveis sapatos para usar, maquiagem, coisas de mulher.
Caminhamos até o carro e guardo sua bolsa, me viro ficando frente a
frente com seu rosto.
— Minha diaba é linda de qualquer maneira — retruco e levo minha
boca até a sua e beijo. — Você cheira bem — digo e me afasto a conduzindo até
a porta de passageiro.
Faço uma pequena parada para buscar o presente da minha mãe na
joalheria, para meu pai comprei um final de semana em Bariloche, na realidade
minha mãe acabará ganhando dois presentes, devido à demora na joalheria
aproveitamos e almoçamos de uma vez, assim poderemos descansar um pouco
na parte da tarde.
No apartamento, Gabriela guarda o cabide com seu vestido no closet,
cruzo os braços e encosto-me ao batente da porta.
— Descobriu o sexo do bebê de sua amiga?
Ela me olha com um sorriso brilhante.
— Será uma menina, precisava ver a cara do Alano ao descobrir — fala
divertida.
— Ele queria um menino?
— Nada disso, ficou imaginando como será daqui alguns anos quando
for uma mocinha. — Gabriela se aproxima e me abraça. — Alano é todo
ciumento com a Vicky, imagino com a filha como não vai ser.
Conheço o Alano tem algum tempo, ele quem me ajudou na resolução do
problema com a agência do Cassiano, não consigo imaginá-lo como um homem
ciumento, ele é tão firme e confiante em suas argumentações.
Reflito sobre isso e chego a conclusão de estar traçando o mesmo
caminho para mim, também nunca me vi um cara ciumento, no entanto quando
penso em Gabriela o sentimento de apego me domina e não consigo imaginá-la
com outro o homem a tocando, ou até mesmo pensando nela. Com esses
pensamentos rondando minha mente aperto meus braços a sua volta.
Gabriela também me abraça forte.
— Vamos descansar um pouco? Pois a noite será longa.
Beijo sua cabeça.
— Sim, é melhor mesmo.
Deitamo-nos e Gabriela fica de costas para mim e eu a puxo até seu
corpo estar colado ao meu. Ela une nossas mãos e se aconchega.
— Nunca imaginei você sendo um homem que dorme de conchinha —
comenta e posso imaginá-la sorrindo.
— Não sou mesmo, isso acontece apenas com você — revelo de forma
espontânea.
Gabriela aperta minha mão e leva até sua boca e a beija com suavidade.
— Você me faz verdadeiramente feliz, sinto-me especial quando diz
essas coisas — admite.
Enfio meu nariz entre seus cabelos e inspiro.
— Acredite, você é muito especial Gabriela, sempre foi, apenas demorei
a entender sua importância em minha vida — confesso com voz baixa.
— Eu nunca te esqueci desde aquele beijo no bar — conta.
— Vez ou outra também me lembrava da mulher ousada do bar e do
quanto seu beijo mexeu comigo.
Gabriela se vira de frente para mim e me olha, passo a mão por seus
cabelos e coloco uma mecha atrás de sua orelha, nos fitamos.
— Sou privilegiada por ter um homem assim ao meu lado.
Eu sorrio e ela olha para a minha boca.
— O privilégio é meu, minha diaba, estar com você me faz um homem
muito melhor.
Gabriela se aproxima de meu rosto e acaricia minha barba.
— Nicolas, você é um homem excepcional, não precisa de mim para se
tornar melhor — sussurra e noto o brilho em seu olhar.
Aproveito e seguro seu rosto.
— Não concordo, porém fico grato por pensar assim sobre mim —
comento e encosto meus lábios ao dela. — Minha diaba, minha Gabriela! —
sopro em sua boca antes de beijá-la.
Todos os dias, a cada momento esse meu sentimento cresce em meu
peito, ainda não parei para pensar sobre, mas tenho certeza que essa diaba
roubou meu coração, e pela primeira vez entendo sobre o amor.
Capítulo Trinta e Cinco

Gabriela
T ento não demonstrar, mas estou muito nervosa, Nicolas me contou sobre a
conversa com seus pais e o pai de Charles, ele não viu necessidade em falar com
mais ninguém sobre o nosso relacionamento, pois, segundo ele, esses três têm
grande importância em sua vida. Cheguei a questionar sobre a Simone, mãe de
Charles, Nicolas disse que Cassiano falaria com ela.
No interior do veículo fico com o pensamento a mil por hora, a paisagem
passa e não presto atenção a nada, Nicolas segura minha mão e olho para ele.
— Gabriela, não se preocupe, estarei todo o tempo ao seu lado — garante
mais uma vez.
Coço o meu nariz e tento esboçar um sorriso.
— Sei disso, apenas me sinto insegura, não por mim.
Ele ergue uma sobrancelha.
— Por quem então? — indaga apertando minha mão.
— Por você, afinal é a sua família não quero eles pensando mal de você
por ter roubado a namorada do amigo — declaro.
Nicolas ri sacudindo a cabeça.
— Pode ficar tranquila minha diaba, não me preocupo com o pensamento
das pessoas, ninguém paga minhas contas e não têm nada a ver com a nossa
vida.
O carro para de frente para uma mansão no Alto da Boa Vista.
— Chegamos?
Ele olha para o lado de fora.
— Sim — fala e volta a me olhar. Aproxima-se de meu rosto e com
suavidade beija a ponta do meu nariz. — Não sairei do seu lado — promete.
Não digo nada, mas em algum momento terá que me deixar sozinha para
as tais fotografias de família. Prefiro ficar calada para ele não se sentir aflito.
Chegamos à festa tem uns cinco minutos, Nicolas me apresenta algumas
pessoas, a maioria amigos da família, para meu alivio pessoas nunca vistas antes
por mim. Finalmente ele chega até seus pais e dá um aperto em minha mão.
Sua mãe vira-se e ao nos ver nos brinda com um imenso sorriso, ela
primeiro abraça Nicolas e logo após se volta para mim.
— Gabriela é uma honra recebê-la em nossa festa de aniversário — diz e
beija meu rosto.
Sorrio de volta e me afasto um pouco.
— A honra é minha senhora, parabéns pelos 30 anos de casamento —
saúdo.
— Pode parar com esse senhora, chama-me apenas de Clarice.
Ela trata-me com respeito e suas atitudes demonstram não ficar
incomodada em me ver junto ao seu filho. Acontece o mesmo com o seu marido,
ele chega me elogiar e confessa estar feliz por Nicolas, pois vê nos olhos do filho
um brilho diferente.
Logo Nicolas me leva a conhecer seus avós, eles conversam
animadamente com uma senhora quando Nicolas abraça sua avó pelas costas e
beija seu cabelo grisalho. Na mesma hora ela se vira e seu sorriso é de pura
satisfação ao ver o neto.
— Até que enfim, já ia perguntar para seus pais por onde você andava —
fala dando tapas em seu braço e finalmente me olha. É uma mulher muito bonita
e sua pele morena é muito bem cuidada. — Essa linda moça nos seus braços é a
Gabriela? — pergunta e nem espera resposta e me puxa em um abraço me
pegando de surpresa. — Muito prazer, minha querida.
Devolvo o abraço e nos cumprimentamos.
— Um grande prazer conhecê-la — revelo com sinceridade.
— Gabriela, esta é minha avó Kostantina — apresenta Nicolas e em
seguida mostra o senhor alto e moreno ao lado dela. — E este é meu avô
Dimitrios.
Sorrio enquanto o gentil senhor pega minha mão e beija.
— Satisfação conhecê-lo — digo.
— Senhorita, a satisfação é toda minha.
— Você tinha razão meu neto, ela é muito linda — Dona Kostantina
comenta e passa a mão por meus cabelos presos somente de um lado. — Seu
cabelo é lindo.
As pessoas quase sempre elogiavam meus cabelos, e boa parte chegavam
a pensar que meus cabelos pretos eram tingidos.
— Obrigada senhora.
Nicolas passa o braço por meus ombros e me acaricia.
— Eu não minto Giagiá — declara sorrindo.
O casal nos convida a sentar com eles e iniciamos uma conversa
calorosa, eles são muito simpáticos, não sei de onde vem tanta seriedade por
parte de Nicolas, pois tanto seus pais quanto avós são bastante acolhedores.
Em nosso bate-papo o avô de Nicolas conta que veio para o Brasil em
1958 de navio, quando havia acabado de se casar, contou sobre as dificuldades
daquela época, pois estavam em um país estrangeiro sem saber falar uma palavra
sequer.
Os pais de Nicolas vieram a nossa mesa para tirar fotos e quando tentei
me afastar nenhum dos cinco permitiram. Nicolas ainda teve a audácia de me
ameaçar caso rejeitasse sair na foto.
Sentia-me acolhida por aquela família e me encontrava verdadeiramente
feliz, até olhar para a entrada e ver Charles acompanhado de seus pais. Eu estava
com muita raiva dele por ter enganado o meu amigo e roubado a agência de
Nicolas. Achava-o um verme.
Nicolas percebe minha mudança e segue meu olhar, se aproxima do meu
rosto e pega minha mão.
— Eles não poderão falar nada de nós. Simone é muito pomposa para
tecer algum comentário, quanto ao Charles ele não tem nenhuma dignidade.
Olho para Nicolas e sorrio.
— Sei disso, não tenho medo do Charles nem da mãe dele, estou é com
muita raiva dele por causa do meu amigo, também por você — completo.
Ele balança a cabeça e toma seu drinque.
— Não quero pensar sobre esse assunto hoje, infelizmente devo aturá-lo,
e só faço isso pelo Cassiano.
Aperto sua perna por debaixo da mesa.
— Imagino o quanto é difícil para você.
Sua avó retorna do toalete e senta-se.
— Cassiano chegou. Fiquei tão feliz em saber de sua recuperação. Ele é
muito jovem para ter esses problemas — comenta.
Volto-me para Nicolas e o aconselho a ir até Cassiano cumprimentá-lo,
assim evitaremos um constrangimento. De início não gosta muito da ideia,
porém logo concluí ser o melhor. Não poderemos evitar nos esbarrar mais cedo
ou mais tarde, mas prefiro adiar o máximo possível.
Permaneço na mesa e sua avó retoma o papo contando sua história e fico
cada vez mais envolvida, ela revela até mesmo sobre sua religião católica
ortodoxa, e me admiro, pois eles, diferentes dos católicos que comemoram com
mais vigor o natal, dão mais valor a Páscoa, cuja comemoração costuma ser em
uma data diferenciada da nossa.
Fico encantada pelos dois e percebo o motivo de tanto carinho do Nicolas
pelos avós, eles são maravilhosos.
Nicolas retorna e pede desculpas pela demora, eu garanto não ter
percebido de tão boa a conversa.
— Espero uma visita sua Gabriela — diz Dona Kostantina e se vira para
Nicolas. — Só apareça lá em casa com Gabriela.
Ele ri.
— A senhora não perde tempo, Giagiá — anuncia.
A festa transcorre bem, Nicolas quase não sai do meu lado, somente
quando necessário, fico todo o tempo com seus avós e me divirto até Charles e
sua mãe aparecerem em nossa mesa justamente na ausência de Nicolas.
A mulher intragável me olha com cara de nojo, não me abalo e a encaro
esperando dizer algo desagradável, mas Nicolas estava certo ela não se
rebaixaria a esse ponto. Ela cumprimenta o casal de senhores e com muita frieza
apenas acena com a cabeça para mim. Sinto os olhos de Charles em mim. Não
me oponho a encará-lo com atitude.
— Olá Gabriela — saúda com antipatia. — Vejo que está bem.
— Estou ótima — respondo atrevida, olho para frente e pego minha taça
para beber meu vinho.
Simone e os avós de Nicolas conversam e não prestam atenção em nós.
Charles se abaixa pondo uma mão na mesa e a outra no encosto da minha
cadeira.
— Não deixarei barato sua traição! — exclama entredentes.
Viro-me e encaro seu rosto.
— Só vejo um traidor desgraçado neste local — esbravejo.
Observa-me por mais alguns segundo e suspira.
— Você vai me pagar, sua vadia.
Seu olhar é de muito ódio e sinto aquele arrepio de medo. Será ele capaz
de me fazer alguma coisa? Vejo-o se afastando a passos largos, em seguida
Simone pede licença e vai atrás do filho, eles somem por entre as pessoas.
— Aconteceu alguma coisa, minha filha? — O avô do Nicolas pergunta
tocando meu braço.
Olho para ele e sorrio para não deixá-lo preocupado.
— Não, nada.
Logo vejo não acreditar em mim, porém não diz nada e Nicolas chega e
volta ao seu lugar.
— Meus pais chamam vocês dois — fala com os avós. Eles reclamam,
pois não querem tirar mais nenhuma foto, me seguro para não rir. — Eu vi o
Charles falando com você, estava vindo quando fui parado no caminho.
Olho Nicolas, e vejo sua preocupação. Passo a mão por seu rosto.
— Não disse nada demais.
— Gabriela, por favor, se por acaso ele te ofendeu não me esconda.
Eu sorrio.
— Ele não me ofendeu, apenas...
— Apenas?
Respiro fundo.
— Chamou-me de traidora, então respondi a altura.
Nicolas me contempla com atenção e ri.
— Minha diaba só mesmo você.
Cruzo os braços irritada.
— Você está rindo de mim?
Ele se aproxima do meu rosto e sinto sua respiração.
— Amo vê-la assim, tão inconstante e irritada. — Beija meu rosto e leva
a boca até minha orelha. — Estou louco para chegar em casa e arrancar esse
vestido do seu corpo.
Pronto. Basta o Nicolas falar essas palavras sussurradas para deixar-me
excitada e derretida.
O restante da noite segue sem surpresas, conheço alguns parentes de
Nicolas e alguns demonstram curiosidade quanto a mim. Ele me apresenta
também sua avó por parte de mãe, e ao contrário da vó Kostantina, ela transmite
certa amargura. Pelo que entendo de algumas conversas ela não foi a favor do
casamento dos pais de Nicolas. Pois ele vinha de família pobre.
Pego o Charles algumas vezes nos encarando e decido ignorá-lo,
provavelmente está com raiva por Nicolas estar me apresentando como sua
namorada a todos. Fora esse inconveniente, amei tudo e ao ver o amor dos pais
de Nicolas, pela primeira vez pensei se um dia eu poderia ter a mesma coisa.
Nunca havia pensado em tal possibilidade, mas vendo aqueles dois desejei o
mesmo para mim, e acredito estar indo por esse caminho. Meu sentimento por
Nicolas é forte e posso perfeitamente vislumbrar um futuro com ele.
Apenas espero o mesmo sentimento partindo dele.

Assim que entramos em casa Nicolas encosta-me à parede e me dá um


beijo ardente fazendo meu corpo se aquecer e minha calcinha ficar molhada.
— Porra Nicolas! — exclamo em sua boca.
Ele deixa minha boca e passa os lábios por meu rosto até a orelha e
morde.
— Estou louco para arrancar esse vestido do seu corpo, minha diaba.
— Não vejo a hora de você fazer isso — sopro sem ar jogando a cabeça
para trás.
Nicolas esfrega sua ereção em mim e gemo. Desço minhas mãos, abro
sua calça e pego seu pênis pulsante. Ele solta um gemido rouco e agarra meus
cabelos enquanto toma minha boca novamente. Toda minha pele se arrepia e o
seguro com energia.
Caminhamos juntos e atrapalhados sem nos desgrudar um do outro e
quase derrubamos um abajur. Nicolas vira-me de costas para ele e me empurra
no encosto do sofá. Fico com a bunda voltada para cima, ele levanta meu
vestido, aperta minha bunda para em seguida arrancar minha calcinha.
Seu dedo toca entre minhas pernas e vou a loucura.
— Toda molhada para mim, tão gostosa! — Sua voz rouca de desejo me
faz perder a respiração e querê-lo mais.
Seus dedos me enlouquecem e rebolo em sua mão.
— Nicolas... — gemo. Não posso enxergá-lo por estar dobrada no
encosto, porém percebo seus movimentos, ele tira o dedo e quando tento sair do
lugar ele dá um tapa em minha bunda.
— Fique quietinha, vou cuidar de você — diz, escuto algo se rasgando e
sinto seus movimentos. — Pronto, agora sim estou preparado — murmura
enquanto invade meu corpo com seu pau grosso. — Que delícia de boceta...
Nicolas aprofunda seus movimentos, segura-me pelo quadril e nesta
posição sou capaz de senti-lo profundamente. Toda a minha pele formiga e tenho
a necessidade gozar.
— Por favor, mais forte — imploro com voz arfante.
Nicolas ouve meu pedido e acelera os movimentos e trás uma de suas
mãos por debaixo de mim, toca meu clitóris fazendo movimentos circulares e
intensifica suas investidas. Percebo o sofá se movendo devido a força de seus
movimentos.
Ele morde meu ombro e sua respiração é vibrante.
Fecho os olhos apertados e deixo-me levar por esse prazer indescritível,
nosso corpo é só sensações meus pés adormecem e chego ao clímax gritando seu
nome. Fico praticamente desfalecida, mas ele não me dá descanso, retira seu
membro e me puxa virando-me de frente para ele. Então pega uma de minhas
pernas e põe em sua cintura e seus olhos famintos me contemplam desejosos.
Nicolas me segura pela nuca e aproxima seus lábios sem deixar de me
encarar.
— Quero gozar olhando em seus olhos — declara enquanto seu pau
apodera-se novamente de mim. Abro a boca e solto o ar. — Maravilhosa, você é
perfeita! — exclama com tanto sentimento que sou capaz de sentir suas palavras
em minha alma.
Ele domina meu corpo acentuando seus movimentos e me penetra cada
vez mais fundo. Entrego-me totalmente ao seu domínio sem tirar meus olhos
dele. Nicolas respira fundo e alto e sei que irá gozar, seguro seus cabelos e
rebolo em seu pau. Assim, jogando a cabeça para trás goza e reverencia meu
nome enquanto seu pênis pulsa se liberando dentro de mim.

Mais tarde após um longo banho estamos deitados, repouso a cabeça em


seu peito e acarinho seu tórax com a ponta dos dedos.
— Nunca imaginei que um dia estaria assim com você — confesso —, na
verdade nunca esperei ter essa intimidade com outro homem.
— Você esperava se manter virgem para sempre? — pergunta com uma
risada.
Rio junto com ele.
— Não, sexo é uma coisa. Intimidade é outra — continuo tentando me
fazer entender. — Sinto uma sintonia entre nós.
— Uma parceria — completa apertando meus ombros. — Entendo
perfeitamente sua colocação. Esse é exatamente o meu sentimento.
Penso em nosso namoro, nunca houve nenhum tipo de promessa por
nossa parte, porém tenho medo de estar me apegando demais, e esperando
demais. Só para mais tarde ter sido apenas uma aventura.
— Quero te perguntar uma coisa — decido acabar com minha agonia,
preciso saber a verdade.
— Pode me perguntar qualquer coisa.
— Não estou te cobrando, não é nada disso — esclareço antes dele
pensar diferente. — Preciso saber se isso entre nós pode ser duradouro? Sei que
não podemos prever o futuro, tudo pode acontecer, tenho o pé no chão. Não sei
sobre seus sentimentos por mim.
Nicolas permanece alguns instantes em silêncio, meu coração bate forte.
Fui longe demais com minha questão?
— Gabriela, cansei de falar o quanto é importante. Você é a primeira
mulher a vir ao meu apartamento, até quando pensava mal de você a trouxe aqui.
Solto uma risada seca.
— Nem me lembre daquele dia horrível — comento.
Mais uma vez me aperta em seus braços.
— Sim, eu fui horrível e me arrependo de tudo — admite com a voz
sufocada e beijo seu peito. — Eu, no fundo, sempre fui muito atraído por você,
ficava louco só de pensar. Depois fui te conhecendo e vendo o quanto é incrível.
Essa atração aos poucos se transformou em algo mais forte. E posso garantir,
sem sombra de dúvida: Eu sou apaixonado por você, Gabriela.
Sua confissão me deixa praticamente sem ar e preciso de um tempo para
levar ar aos meus pulmões. Viro-me e ergo meu corpo até ficar cara a cara com
ele. A luz do abajur é fraca, mas sou capaz de vislumbrar seu rosto encoberto
pela sombra.
— É apaixonado por mim? — Preciso ouvir olhando em seus olhos.
Noto um sorriso leve em sua face, Nicolas coloca uma mexa de meu
cabelo para trás da minha orelha.
— Eu sou apaixonado por você, minha diaba.
Eu sorrio emocionada e mordo os lábios. Admiro seu rosto, devagar
baixo a cabeça e beijo seus lábios com suavidade.
— Eu amo você! — declaro com voz baixa.
Nicolas fica sério, segura minha nuca e nossos narizes se tocam. Em seus
olhos escuros vejo refletida uma emoção genuína de puro prazer, meu coração
bate forte em meu peito, não tem como negar nossa afeição.
— Confesso ficar radiante em saber sobre seus sentimentos — sussurra
—, eu vejo você em meu futuro, em minha vida e para deixar claro, lutarei para
nada nos atrapalhar e sempre conversaremos para resolver qualquer problema.
Suspiro e tenho vontade de chorar de alegria por suas palavras.
Nossas bocas se encontram, nos beijamos com brandura e nos
entregamos ao sentimento que toma nosso coração, para nunca mais sair. E se
ele lutará para permanecermos juntos eu estarei ao seu lado. Lutando junto com
ele. Disso eu tenho certeza.
Capítulo Trinta e Seis

Nicolas
P assam-se algumas semanas e entramos numa rotina, Gabriela encontra-se
animada com seu novo trabalho e quando precisei ter uma reunião com Henry
para discutirmos sobre a publicidade de seu novo empreendimento, fez muitos
elogios deixando-me orgulhoso da minha diaba. Mesmo com as coisas dando
certo, sentia Gabriela nervosa e um dia quando estávamos no apartamento a
encostei na parede, literalmente, e finalmente ela expos estar com medo de fazer
a prova para a universidade.
Tenho ciência da importância dessa prova, mesmo ela dizendo ser um
teste. Tento ajudá-la como posso e estudo junto com ela, sei do auxilio de suas
amigas também. Gabriela só não confia muito nela mesma, mas é muito
inteligente, quando se concentra tem grande capacidade de aprendizado, ainda
mais agora com a assistência de uma psicóloga.
Preocupo-me com seu estado nesse momento, pois seus pais vão voltar
para a cidade deles e ela foi visitá-los e por duas vezes quando esteve com eles,
chegou em casa desanimada. Hoje pode ser diferente, irei buscá-la e Gabriela
decidiu nos apresentar, espero não ouvir nenhum comentário maldoso por parte
deles.
Ligo para Gabriela ao estacionar na rua onde seus pais moram, ela vem
ao meu encontro com um sorriso, pelo menos não parece chateada.
Seguro seu rosto e selo nos lábios.
— Tudo bem? — pergunto analisando seu rosto.
— Sim, eles estão animados com a mudança, falei de você e ficaram
curiosos — revela sorrindo.
— Vamos lá, matar logo essa curiosidade — digo rindo e caminhamos de
braços dados.
Ela aproveita e aponta para uma escola na esquina, diz que estudou lá e
confessa não guardar boas lembranças. Uma vez enquanto conversávamos ela
contou com mais detalhes sobre sua infância e adolescência e tudo me leva a crer
ter havido um descaso tanto dos pais quanto da escola. Foi muito difícil para ela
crescer pensando ser uma garota ignorante.
Entramos na sala cheia de caixas espalhadas e com móveis desmontados.
— Pai, mãe. Estamos aqui — avisa com voz alta e me olha. — Preparado
para conhecer os sogros? — sussurra.
— Para você sempre estarei preparado — informo piscando um olho e
ela ri.
Noto o casal vindo de um corredor. Eles são mais velhos do que eu
esperava, devem ter tido filhos tarde.
— Nicolas, esses são meus pais Alberto e Jurema — diz e olha para eles.
— Pai e mãe este aqui é o Nicolas, meu namorado.
Sua mãe parece um pouco tímida, bem diferente da filha. Ela sorri sem
jeito e se aproxima junto com o marido e aperta minha mão, é um aperto fraco e
rápido.
— Boa tarde — cumprimenta.
O pai de Gabriela também aperta minha mão, não chega ser um aperto
firme e assim como a esposa fica desconfortável.
— Não repare a bagunça, nós estamos de mudança — comenta.
Eu sorrio tentando deixá-los à vontade.
— Não se preocupem, Gabriela avisou.
— O senhor aceita um café? — pergunta a mãe dela retraída.
— Não muito obrigado — falo e olho em volta. — Vocês querem ajuda
com alguma coisa?
— Não, está tudo praticamente embalado, o caminhão da mudança chega
amanhã para buscar tudo.
— Eu aproveitei e os ajudei um pouco também — Gabriela admite.
Seu pai a olha e é impossível saber seus pensamentos, pois não há
expressão alguma em seu rosto. É a primeira vez que os vejo e posso chegar à
conclusão de certa frieza, e ainda passam a ideia de serem retraídos demais,
como se tivessem vergonha de falar. Fico pensando de onde Gabriela puxou toda
essa ousadia. Porque deles não foi.
Gabriela diz estar pronta para ir, pois por ali está tudo pronto, é nítido o
alívio daqueles dois quando nos despedimos. Assisto com atenção a interação
dos três, e não percebo tanto carinho por parte de seus pais. Certa vez Gabriela
me contou sobre como foi seu convívio em família e revelou sobre a reserva de
seus pais, não somente com ela, também com Diego, seu irmão.
Ao entrarmos no carro dou logo partida e ela se desculpa.
— Por qual motivo está me pedindo desculpa? — questiono sem tirar os
olhos da direção.
— Pelos meus pais, eles não são muito receptivos — admite com voz
baixa.
Pego sua mão, beijo e a coloco em minha perna.
— Você não tem nada que se desculpar, você havia dito o quanto eles são
reservados.
— Sim, eles são. Para você ter uma ideia nunca recebemos visitas em
casa, nós mal conhecíamos os vizinhos.
Penso sobre a dificuldade dos irmãos na infância, porém mesmo tendo
uns pais estranhos conseguiram conceber seus próprios caminhos, claro, a
Gabriela está apenas no início dessa caminhada, mas tenho certeza de que minha
diaba vai longe e terá muito orgulho de si mesma.

Na semana seguinte deixo Gabriela na faculdade para fazer sua prova do


vestibular, a incentivei muito e disse para ficar tranquila na hora da prova e caso
sua ansiedade aumentasse para parar e respirar algumas vezes. Deixei claro não
importar o resultado de nada, ela já me dava muito orgulho.
Passo a manhã toda eufórico e torcendo para tudo dar certo, ela merece
realizar esse sonho de fazer uma faculdade, por várias vezes ela comentou sobre
isso e sua frustração, na cabeça dela esse vestibular é apenas um treinamento, e
mesmo assim é um grande desafio.
Estou distraído trabalhando no meu PC de casa e Cassiano me liga
perguntando se posso conversar com ele, como Gabriela vai usar todo o tempo
disponível para sua prova, tenho algumas horas livres antes de buscá-la. Assim,
a pedido de Cassiano vou encontrá-lo em um café próximo a sua casa.
Alguns minutos depois chego e ele me aguarda, pela sua aparência está
bem e me pergunto se aconteceu algo de grave.
Chego e o saúdo. Antes de falarmos pedimos um café e quando o garçom
se afasta ele me encara por alguns instantes antes de falar, até soltar a bomba.
— Eu sei sobre Charles — diz.
Ergo uma sobrancelha.
— Sabe? Sobre o quê, exatamente?
Ele solta uma risada seca,
— Nicolas, o Charles é meu filho, o conheço perfeitamente bem, assim
como o conheço também. Sei a diferença de caráter entre os dois — admite, olha
para o lado de fora da janela e se volta para mim. — Você poderia ter me
contado sobre a fraude.
Droga, como ele soube?
— Você estava doente Cassiano, segundo o médico, qualquer tipo de
aborrecimento poderia te prejudicar. Não quisemos correr tal risco.
— Desde a adolescência de Charles venho me aborrecendo — confessa.
O garçom se aproxima e deixa nosso café, ao se afastar olho para
Cassiano.
— Como você descobriu?
— Eu desconfiei de algo errado desde o início, então ouvi uma conversa
dele com a Simone. Não os confrontei e liguei para Théo, depois de muita
insistência me contou a verdade.
Passo a mão por meu cabelo, meu pai nem para me avisar.
— Eu quis contar antes, apenas por uma questão de consideração. O
Charles agiu errado sim, mas ele é adulto Cassiano, sabe muito sobre suas
próprias ações. Eu confiava nele no trabalho, apesar de não ser o melhor dos
funcionários, mas procurava sempre incluí-lo nas reuniões importantes, até nos
jantares com os clientes, tudo devido a nossa aproximação familiar. — Cassiano
observa-me falar com tranquilidade. — Ele não traiu somente a mim, ele traiu as
pessoas da agência, traiu nossa amizade e em parte traiu você, afinal foi você
quem me pediu para arrumar uma colocação para ele.
— Eu sei, e sinto-me mal por isso — acrescenta —, peço desculpas
justamento por isso, afinal eu pedi para você arrumar um trabalho em sua
agência.
— Você não me deve desculpas, Cassiano — digo enfaticamente. — Foi
como eu falei anteriormente, ele é responsável por suas ações, não você.
— E agora? Você pretende denunciá-lo?
— Seria o certo a fazer, porém não o farei em consideração a você, mas
não quero você dizendo nada a ele sobre minha decisão.
Cassiano dá um sorriso triste.
— Eu deveria incentivá-lo a fazer o certo e denunciá-lo, porém nenhum
pai quer ver o filho na cadeia.
— Cassiano, nós sabemos que dificilmente Charles ficaria preso. Eu
pensei bem, e talvez ele se conserte com esse susto, se eu fizer uma queixa ou
abrir algum processo ele ficará com o nome sujo para sempre e não poderá
arrumar outro trabalho como contador.
— Não tenho tanta fé assim em meu filho — confessa e finalmente toma
um gole de seu café.
Também não acredito na transformação do Charles, mas não porei mais
lenha na fogueira, já basta de decepção para Cassiano.
— Vamos aguardar e ver — comento na tentativa de animá-lo.
Ele apenas balança a cabeça em desanimo.
Olho a hora e vejo faltar pouco tempo para o término da prova de
Gabriela, troco algumas ideias com Cassiano e ele insiste em se desculpar e
afirma encontrar uma forma de fazer Charles ao menos devolver o dinheiro
desviado.
Peço para não se preocupar, será muito improvável Charles devolver-me
o dinheiro. Não tenho essa esperança. Ao menos descobrimos tudo a tempo e ele
não pôde levar a agência a falência. Isso sim é importante.
Vou para a faculdade onde Gabriela faz a prova e aguardo por ela, o local
encontra-se vazio, com poucos carros estacionados, certamente a maioria
terminou a prova. Saio do carro, atravesso a rua e fico de frente ao portão
principal. Passam-se alguns minutos e a vejo caminhando até mim. Analiso sua
expressão e ela demonstra serenidade, fico na dúvida se não está apenas
escondendo alguma coisa.
Ao parar perto de mim sorri com suavidade, me abraça pela cintura e
encosta o rosto no meu peito, também a abraço e beijo seus cabelos.
— Então, como foi?
Gabriela afasta-se e seus olhos estão brilhantes.
— Acredito ter me saído bem, no início fiquei muito nervosa, mas fiz
como você falou, respirei e me concentrei.
— Você passou, minha diaba linda — afirmo passando os dedos por seu
rosto.
Ela suspira.
— Foi um grande treinamento — comenta olhando para o interior da
universidade.
— Não, não foi. Você passou e estudará aqui.
Ela se volta para mim e enruga o nariz.
— Passar eu posso, mas não poderei estudar aqui, essa universidade está
além das minhas finanças — fala, não com infelicidade e sim conformada.
— Eu não falei nada, mas talvez esse seja um bom momento para lhe
contar — digo e ela me olha desconfiada.
— Não vou deixar você pagar minha faculdade, não aceitei nem dinheiro
do meu irmão ou da minha amiga Vicky — esclarece e cruza os braços olhando-
me irritada.
Belisco seu nariz e rio.
— E quem disse sobre pagar alguma coisa?
— Eu imaginei isso ao falar sobre eu estudar aqui quando o combinado
foi eu fazer a prova apenas como um teste para depois fazer o Enem.
— Deixa de imaginar e me escuta — digo ainda sorrindo. —
Dependendo da sua nota você conseguirá uma bolsa de até 100%.
Ela abre e fecha a boca.
— É sério isso? Como você sabe? — pergunta com voz baixa.
— Não esconderei nada, mas depois de sua inscrição para o vestibular
pedi a minha assistente para providenciar um convênio, nós já fizemos alguns
trabalhos publicitários com eles, então não foi tão complicado, claro teve
algumas burocracias, mas no fim conseguimos.
— Você fez isso por mim?
— Inicialmente sim, porém em uma reunião com nosso RH decidimos
ser uma boa proposta também para nossos funcionários.
— Estou sem entender ainda — comenta surpresa.
Olho em volta e não vejo ninguém.
— Vamos para casa e te explico tudo no caminho, ou não sairemos daqui
— argumento pegando sua mão e a conduzindo até o carro.
Dirijo para casa e esclareço para Gabriela alguns pontos sobre o
convênio, deixo claro algumas das obrigações dos bolsistas para permanecerem
beneficiados, tais como: não ter mais de três faltas sem justificativa e notas
baixas ou estarão automaticamente fora. Conto a verdade sobre obter uma bolsa
em nome dela como um pedido especial, afinal ela não trabalha na agência.
Minha diaba tenta se opor e somente após garantir não estar tirando
nenhum dinheiro do meu bolso ela finalmente aceita, quem leva vantagem na
realidade é a universidade, pois com o convênio poderão ter um grande
abatimento na criação de suas propagandas.
Mal entramos no apartamento Gabriela pula em meu colo e me enche de
beijos, não tenho tempo de pôr as chaves do carro no lugar, elas caem no chão e
pouco me importo. Suas pernas envolvem minha cintura, a seguro pela bunda e
caminho até o sofá me sentando e ela por cima de mim.
— Obrigada, estou muito feliz — confessa segurando meu rosto
enquanto acaricia minha barba. — Você é muito importante para mim.
Sorrio e seguro seus pulsos.
— Gabriela, amo vê-la com esse sorriso e farei tudo ao meu alcance para
que sorria assim sempre.
— Nicolas, sou uma sortuda por ter você — sussurra e traz seus lábios
até encostar nos meus. — Eu amo você! — completa antes de me beijar.
Não sou capaz de dizer mais nada, somente delicio-me com este beijo.
Não há necessidade de falar ou confessar nada, quero apenas aproveitar de sua
boca e provar com meus gestos o quanto sou apaixonado por ela.

Dias depois minha diaba liga-me e vem com a incrível notícia de sua
aprovação, sua felicidade é contagiante, ela não se aguenta de tanta empolgação.
Mesmo pelo telefone posso percebe o tamanho de sua alegria.
Vou buscá-la em seu trabalho levando um buquê de flores a fim de
parabenizá-la e quando me vê seu sorriso radiante me deixa paralisado. Não me
importo com as pessoas ao redor, apenas ela existe. Marcho até ela e nos
encontramos no caminho, seguro-a em meus braços, a levanto e giro com seu
corpo.
— Parabéns meu amor, estou tão feliz por você — sussurro em seu
ouvido enquanto a mantenho em meus braços.
— Obrigada — diz com voz embargada.
Coloco Gabriela no chão, entrego as flores e ela segura levando até o
nariz e suspira com os olhos fechados e um grande um sorriso.
Ao abrir os olhos noto as lágrimas não derramadas e acaricio sua face.
— Você conseguiu minha linda diaba, sempre soube de sua capacidade
— declaro enquanto ela me fita com intensidade. Uma lágrima solitária cai e a
capto com meu polegar. — Não chora, assim você destrói meu coração.
Ela funga e dá um sorriso. Então olha para as flores em suas mãos.
— Adorei as flores, nunca havia ganhado um buquê antes — confessa.
— Você merece muito mais que flores — afirmo e toco seus lábios com
os meus.
Em seguida a levo para o meu apartamento, no caminho revela que suas
amigas querem comemorar, e marcaram de se encontrar no dia seguinte na casa
de uma delas, somente uma não estará presente, pois mora no sul.
Gabriela não para de falar um minuto, me pede desculpas e confessa ter
ligado primeiro para a amiga do Sul, a Mel, pois foi ela quem a incentivou desde
o início e ainda conseguiu todas as informações pertinentes para ter o direito de
fazer uma prova especial. Isso demonstra sua lealdade e gratidão.
Garanto não haver problema algum, pois agiu certo. Gabriela aperta
minha coxa e diz que fui o segundo a saber, mas se pudesse teria dito aos dois ao
mesmo tempo. Começo a rir do modo como tenta a todo o custo esclarecer
minha importância. Questiono se seu amigo Eric também vai à casa de sua
amiga no dia seguinte e ela diz que sim, ele aproveitará para se despedir, pois na
semana seguinte começará a dirigir a boate de São Paulo.
— A Vicky falou para levar você — informa um tempo depois.
Termino de estacionar o carro e a encaro.
— A Vicky me convidou? E você quer que eu vá? — pergunto sorrindo.
— Claro, adoraria a sua presença, além de ser uma ótima oportunidade
para conhecer meus amigos.
Finjo pensar e olho para frente.
— Talvez eu vá.
— Talvez? — questiona intrigada. — Mas você terá algum compromisso
amanhã à noite?
Volto a olhar para Gabriela.
— Na verdade tenho — digo sério e sua cara é de total decepção.
— Tudo bem, deixa para uma próxima vez — fala cabisbaixa.
— Não quer saber sobre o meu compromisso?
Ela volta a me olhar e balança os ombros. Posso perceber certa irritação.
Adoro quando Gabriela se mostra zangada, ela fica muito sexy.
— Se quiser dizer.
Ergo a sobrancelha, tenho vontade de gargalhar. Ela continua me
encarando emburrada.
— Gabriela, meu único compromisso é com você e caso tivesse alguma
coisa na minha agenda eu iria dar meu jeito de estar ao seu lado.
Aproximo-me envolvendo minhas mãos em seu rosto.
— Então você irá?
— Sim, minha futura arquiteta.
Gabriela abre um grande sorriso.
— Você quase me enganou.
— Eu gosto de vê-la irritadinha.
— Não me lembro de você gostando de mim assim que nos conhecemos
— brinca com as mãos em meus ombros.
— Na verdade sempre fui louco por você — confesso e beijo seu rosto.
— Perguntava-me todo o tempo se seria tão atrevida na minha cama.
— E você só pensa nisso, é? — indaga inclinando a cabeça e beijo seu
pescoço.
— Com você assim, não penso com coerência, por isso é bom sairmos
logo desse carro ou não poderei controlar meu desejo de beijar seu corpo por
inteiro.
— Melhor mesmo, ou eu sim não responderei por mim — sopra e meu
pau já excitado fica mai duro com sua declaração.
Essa diaba vive me tentando. E eu adoro ser tentado por ela.
Capítulo Trinta e Sete

Gabriela
E stou recolhendo alguns desenhos no trabalho quando Henry se aproxima de
mim.
— Então você passou para a faculdade e não me disse nada?
Olho para ele e sorrio.
— Eu não o vi ontem para contá-lo a novidade — esclareço.
Ele dá a volta à mesa ficando ao meu lado.
— Deixa eu te dar um abraço para parabenizá-la — diz e eu me levanto.
— Se o Nicolas vê isso, sou um homem morto — acrescenta rindo e me abraça.
— Minha querida, parabéns, sempre soube da sua capacidade.
— Obrigada — respondo me separando dele.
— A partir de segunda você irá com a Lorraine visitar as construções
para começar a se adaptar — informa enquanto se afasta. — Mande um abraço
para o Nicolas.
— Mando sim.
Encontro-me em um momento muito feliz em minha vida. Sonhei tanto
estar trabalhando e conseguindo finalmente continuar com os estudos. E para
melhorar tenho Nicolas em minha vida. Nunca pensei em me apaixonar, no
entanto foi tão fácil me envolver com Nicolas. Ele aos poucos entrou em meu
coração, fixou um lugar. Não poderia escolher melhor homem para estar comigo.
Nicolas me respeita, além de me incentivar a correr atrás dos meus
sonhos. Ele não é nem de perto um homem machista. Sinto-me feliz por nos ter
dado uma chance, e não ter ouvido as ladainhas do Charles.
Deixo tudo pronto, me despeço dos meus colegas de trabalho, entro no
elevador e não posso conter o sorriso, gosto demais do meu trabalho, e descobri
um grande talento na construção de maquetes, não somente surpreendi Henry e
Lorraine, uma de nossas arquitetas, mas foi uma grande surpresa para mim
mesma.
Aos poucos começo a adquirir maior confiança em mim mesmo. Segui o
conselho do Diego e retornei a terapia, lembro-me de ter iniciado um tratamento
assim que foi descoberta a minha dislexia, porém não dei continuidade devido ao
comentário do meu pai. Para ele essas pessoas querem é ganhar dinheiro à custa
da ignorância das pessoas.
Por muito tempo vivi de acordo com os pensamentos dos meus pais,
cheguei a concordar com eles. Julgava-me preguiçosa e burra, mas por sorte meu
irmão apoiou e fez de tudo para mudar minha cabeça. Minhas amigas também
sempre estiveram ao meu lado, acreditando em mim, e agora existe o Nicolas e
sua fé em minha capacidade e inteligência.
Vou para casa trocar de roupas e aguardar meu namorado. Ele está em
uma reunião e chegou a sugerir esperá-lo em seu apartamento, mas como havia
marcado de ir junto com a Karen ele ofereceu de irmos juntos.
Duas horas depois chegamos à casa da Vicky, na sala Alano vem nos
receber e ao ver Nicolas se surpreende e abre um sorriso.
— Karnezis, você na minha casa? — demanda e aperta sua mão, então
me olha. — Vicky me falou do seu namoro com um Nicolas, nunca iria imaginar
vocês dois juntos.
Nicolas solta uma risada.
— E por que não, Alano?
Alano nos olha e balança a cabeça.
— Melhor deixar para lá — brinca dando tapinhas em seu braço. Em
seguida saúda Karen e a mim e informa que Vicky e Eric estão na área gourmet.
Seguimos Alano, Nicolas é apresentado formalmente ao Eric. Este não
perde o rebolado, olha para Nicolas dos pés a cabeça e dá um sorriso torto.
— Você tem irmãos? Ou primos?
Nicolas fica intrigado e todos têm vontade de rir.
— Sou filho único, tenho alguns primos. Por quê?
Eric olha para seu rosto e põe as mãos na cintura.
— Nada, é só para saber mesmo — comenta e finalmente aperta sua mão
o cumprimentando.
Passamos uma noite muito agradável, Eric demonstra estar recuperado da
decepção com Charles e brinca todo o tempo. Conta sobre a boate de São Paulo
e do quanto está empolgado com a noite paulistana. Nicolas e Alano se dão bem
e engajam numa conversa que dura horas, e assim aproveitamos para fofocar um
pouco. Vicky faz uma ligação para Mel e todos nós ficamos surpresos, pois
quem atende seu telefone é Felipe e ao perguntar por nossa amiga ele informa ter
encontrado o aparelho sobre a mesa de jantar.
Claro, Eric aproveita para falar sobre sua teoria do possível romance
entre os dois, e Vicky parece se convencer.
Antes de ir embora, Eric me dá a chave do seu apartamento, pois chegará
uma encomenda para ele e pediu para pegar com o porteiro, pois ele retornará
apenas dali a vinte dias.
Combino tudo com ele e ofereço ajuda caso precise de mais alguma
coisa.
— Não há necessidade minha linda, ainda não me decidi se irei ou não de
vez para São Paulo — declara.
— E como ficará a boate aqui no Rio? — pergunto.
— Lucas e eu encontramos um novo gerente, é um homem experiente no
ramo.
— Que bom.
Ele olha para onde Nicolas e Alano permanecem num bate-papo e chega
para frente.
— E vocês? O Charles aprontou alguma coisa?
— Não, encontramos com ele apenas uma vez, na festa dos pais do
Nicolas, mas até onde sei, Charles anda meio sumido — comento dando de
ombros. — Melhor assim, pois não gosto nem um pouco dele, não o perdoo por
sua canalhice.
Ele revira os olhos.
— Vou confessar uma coisa — diz baixo e sorri. — Descobri não ter
tanto amor assim por Charles, eu estava muito carente e me deixei levar.
Karen e Vicky se aproximam e sentam-se próximas.
— Qual o papo? — Vicky questiona e alisa sua barriga saliente.
— Eric se deu conta não ter estado tão apaixonado assim por Charles.
— Fico feliz por você, meu amigo — comenta Vicky com um sorriso.
— Fiquei tão preocupado com você, até tive medo de ter uma recaída e
aceitar aquele verme de volta — Karen confessa fingindo estremecimento.
— Cruzes minha loirinha, sempre disse a vocês que sempre amei a mim
primeiro, eu sofri no início, não vou negar, mas ao menos descobri o caráter
daquele infeliz antes de me roubar.
— Você deve agradecer mesmo — Vicky comenta e boceja.
— Minha Vickete está sonolenta, ainda mais agora carregando uma
menininha no ventre — Eric comenta. — Essa é nossa deixa meninas.
— Não precisam ir agora, eu vivo com sono.
— Eric está certo Vicky, já está tarde e até eu estou com sono — anuncio
e me levanto.
— Quanto a mim, devo acordar cedo amanhã — Karen argumenta e
como eu, levanta-se.
Chamo Nicolas para nos despedir e ouço quando ele e Alano combinam
de se encontrar no tal evento de premiação dos melhores do ano, olho para Vicky
e noto seu desanimo, minha amiga tem andado muito preguiçosa com a gravidez.
Nicolas deixa Karen em casa e vamos para o seu apartamento.
— Essa Karen é a moça do Lucas, não é? — questiona enquanto dirige.
— Sim, ela mesma.
— Uma vez ele perguntou se eu a conhecia — revela e me olha
rapidamente antes de voltar à atenção para o volante.
Olho para ele e Nicolas sustenta um meio sorriso.
— Você não vai contar a ele onde ela mora.
Nicolas faz um gesto negando com a cabeça.
— Você não conhece o Lucas, ele não precisa de mim para encontrar a
sua amiga. Isto se ele já não sabe onde localizá-la.
Fico pensando e lembro-me de uma de nossas conversas. Lucas foi claro
ao afirmar que encontraria a Karen, com ou sem minha ajuda. Deveria me
preocupar, porém minha amiga quer ser encontrada por Lucas, ela apenas não
admitiu, ainda.
— Se tiver de ser, será — menciono e Nicolas concorda comigo.

Na semana seguinte Eric me liga e pede para pegar a caixa dele na


portaria e guardar em seu armário. Quando estou saindo do trabalho ligo para
Nicolas e combino de encontrá-lo mais tarde em seu apartamento, ele pede para
avisar caso fique muito tarde, pois irá me buscar, tento argumentar, mas sinto
certa ansiedade em sua voz, tenho certeza de que me esconde alguma coisa.
Vendo sua preocupação concordo em ligar antes de sair do apartamento do Eric.
Na portaria Valter, um dos porteiros, assim que me vê dá um sorriso.
— Dona Gabriela, tudo bem com a senhora?
Eu sorrio.
— Estou bem, ficarei melhor se parar de me chamar de senhora —
comento como em tantas outras vezes.
Ele fica sem jeito e se abaixa.
— Aqui, o senhor Eric pediu para entregar à senhora — diz me dando
uma caixa.
Sorrio balançado a cabeça, não tem jeito, eles nunca deixarão de me
chamar de senhora.
Pego a caixa, agradeço e caminho para o elevador.
Observo a caixa em minhas mãos e suspiro, meu amigo não cansa de
comprar roupas por internet, é praticamente um vício dele.
Abro o apartamento e noto a luz acesa, olho em volto e só o silêncio
predomina.
— Eric deve ter esquecido a luz acesa — resmungo enquanto tranco a
porta.
Deixo a caixa sobre o sofá e abro a janela para entrar um ar, vou para a
cozinha e a pia está uma bagunça, muito estranho, pois Eric odeia bagunças, ele
deve ter saído muito atrasado para deixar tudo desta maneira.
Arrumo algumas coisas e resolvo guardar sua encomenda para depois
lavar a louça para ele, na sala uma sensação de arrepio passa por meu corpo e
meu coração bate com força, os pelos da minha nuca se arrepiam, eu paro e
deixo meus olhos passarem pelo ambiente. Não sei se é coisa da minha cabeça,
mas alguma algo não está certo.
— Bela surpresa a minha. — A voz vem por detrás de mim e me viro
assustada. Charles me encara e seus olhos estão avermelhados.
— O que você está fazendo aqui? Como conseguiu entrar?
Ele continua a me encarar e seus olhos passeiam por meu corpo, ele faz
cara de nojo.
— O Eric pensa que pode me tratar igual a um cachorro, na verdade
todos vocês pensam — esbraveja e dá um passo para frente.
— Melhor você sair daqui agora — sugiro com segurança.
Ele gargalha.
— Ou o quê? Vai ligar para aquele mauricinho do Nicolas? — Charles
avança e pega meu braço. — Toda a minha desgraça começou por sua causa —
ruge e aperta meu braço com força.
Ele não está em seu normal, não adianta discutir com ele, preciso tomar
cuidado.
— Charles, calma — peço tentando me afastar, mas seu aperto é muito
forte e meu braço doe demais. — Você precisa se controlar.
Ele me sacode, desta vez me segurando com as duas mãos.
— Eu vou acabar com tua raça sua vadia. Por sua causa estou ameaçado
de morte. Tudo porque você decidiu se intrometer em minha vida, eu até posso ir
para o buraco, mas você vai junto comigo.
Inspiro forte, levando ar para os meus pulmões e sinto um grande pavor
de Charles.
— Charles, você está me machucando, vamos conversar.
— Conversar? Você conversou comigo quando decidiu me detonar com o
Eric e não satisfeita com o Nicolas? O que foi? Ficou putinha quando eu
descobri sua ignorância? — Ele gargalha e me puxa me jogando com força no
sofá. — Você acha que o Nicolas, pomposo daquele jeito, vai querer ter ao seu
lado uma idiota analfabeta? Você é mesmo muito imbecil se acha isso.
Sento ereta no sofá e o encaro, Charles está fora de si.
— Charles, os vizinhos vão achar estranho e chamarão a polícia, vai
embora enquanto há tempo.
Ele anda de um lado para o outro puxando os próprios cabelos.
— Eu não vou ser preso entenda isso, vou usá-la para conseguir o que
quero. — O observo com atenção. Charles encontra-se com a roupa amarrotada,
tenho a impressão de estar drogado. É a primeira vez que o vejo assim. Olho em
direção à porta, pensando num modo de fugir, ele para de andar de repente. —
Você não vai sair daqui Gabriela.
— Charles, pensa bem, você não pode me manter aqui para sempre,
aproveita e vá embora enquanto pode.
Ele leva as mãos para suas costas e como câmera lenta noto quando ele
volta as mãos para frente e segura uma arma, apontando-a direto para minha
cabeça.
— Você merece morrer, e terei imenso prazer em tirar sua vida, afinal foi
você quem acabou com a minha.
Minhas mãos tremem e meu corpo gela.
— C- Charles, por favor não faça nenhuma besteira — sussurro quase
sem voz;
Ele tem no rosto um sorriso cruel, não vejo nenhum vestígio de bondade.
Charles está tomado pelo ódio e pela ganância. Ele quer vingança, e eu não sei
qual atitude tomar, o medo não permite que eu raciocine com clareza, nada me
vem à cabeça.
— Você sempre foi tão abusada, se achando esperta. Agora diz pra mim,
quem é o esperto? — pergunta balançando a arma.
— Por favor, pense ao menos na sua família.
— Tirando minha mãe, todos me viraram as costas, até meu pai fica
dando razão aquele desgraçado do Nicolas. Antes o velho tivesse morrido, me
pouparia tanto aborrecimento.
Meus Deuses! Se o homem deseja a morte do próprio pai, imagina a
minha. A campainha toca de repente nos assustando, Charles encosta a arma em
minha têmpora. Eu engulo a seco.
— Dona Gabriela? Está tudo bem aí? — Valdir pergunta batendo na
porta.
— Veja bem o que vai falar, ou aperto o gatilho sem pena — Charles
sussurra.
Uma lágrima escorrega pelo meu rosto.
— Oi Valdir, s-sim está tudo bem.
— A senhora tem certeza? Ligaram para a portaria, disseram ter ouvido
algo estranho.
Eu e Charles nos encaramos, ele não oscila com a arma.
— Eu sem querer liguei a TV, o volume estava alto — minto.
Valter fica um tempo calado.
— Se a senhora precisar é só ligar para a portaria.
— Obrigada. — Não consigo dizer mais nada.
Ouvimos seus passos se afastando e Charles sorri vitorioso.
— Muito bem, e da próxima vez vê se não gagueja ou arrebento seus
dentes — ameaça com a voz arrastada. — Mas nada me impede de te dar uma
pequena lição — diz e então num movimento rápido dá um soco em meu rosto.
Sinto uma dor descomunal se irradiando por todo o meu corpo. Minha
face lateja e sinto o sangue sair por meu nariz. Levanto minha mão e seguro meu
nariz.
Em minha bolsa meu telefone toca, vejo tudo embaçado por causa do
soco. Charles enfia a mão em minha bolsa ao meu lado e pega o celular, tudo
com a arma apontada em minha direção, ao olhar o visor ele sorri. Só pode ser o
Nicolas.
— Se eu não atender ele vai desconfiar — digo, minha voz sai arrastada
por causa da dor.
Charles me fita.
— Você vai atender, sua vadia e se contar que estou aqui ou perceber
alguma gracinha da sua parte já sabe o que acontece.
Eu aceno rápido com a cabeça. Preciso pensar uma forma de avisar ao
Nicolas. Ele me passa o telefone e manda-me atender logo.
Eu respiro fundo.
— Alô — respondo sem tirar os olhos de Charles.
— Você não me ligou, fiquei preocupado. Já pegou a encomenda do seu
amigo? — pergunta.
— Eu me distraí aqui, o apartamento está um pouco bagunçado — minto.
— Então vou buscá-la — informa e tenho pouco tempo para pensar.
— Claro meu amor, podemos sim. Mas nada de filme de violência ou
terror, você sabe sobre o meu pavor.
Nicolas fica calado.
— Você não está sozinha. O Charles está ai?
Eu solto um riso.
— Sim, está perfeito — exprimo um pouco aliviada, Charles balança a
arma e manda-me desligar imediatamente. — Eu preciso ir tirar a roupa da
máquina.
— Apenas fique calma, vou te tirar daí. — Sua voz sai rouca e tranquila,
mas percebo sua tensão.
Desligo o celular, e não seguro as lágrimas que transbordam por meu
rosto.
— Muito bem — fala e toma o celular da minha mão e o joga no chão.
— E não adianta vir com essas lágrimas, elas não me comovem.
Olho para uma mesinha ao lado do sofá e vejo a tesoura de Eric, para
Charles não desconfiar volto a olhá-lo. Em sua expressão noto grande raiva, ele
será capaz de tudo, não tem nada a perder.
Agora só me resta ter esperança. Nicolas prometeu me tirar desse
inferno. E eu acredito nele.
Capítulo Trinta e Oito

Nicolas
D everia ter tomado mais cuidado, meu pai avisou sobre Charles, o próprio
Cassiano o expulsou de casa e nos contou sobre a ameaça. Charles saiu de casa
gritando e ameaçando vingança, principalmente à Gabriela. O homem está
surtado, e ficamos sabendo estar usando drogas.
Sinto-me de pés e mãos atados, quando Gabriela começou a falar sobre
terror e violência eu sabia se tratar de algum código, afinal não falávamos de
filme, sua afirmação de estar com Charles me deixou apavorado. Uma pessoa
drogada perde a noção das coisas, e no caso do Charles ele já não tem
discernimento, caso esteja sob efeito das drogas pode ser ainda pior.
Preciso agir com calma, embora por dentro esteja despedaçado
imaginando minha diaba nas mãos daquele delinquente. Minha primeira medida
e informar a polícia. Em seguida ligo para meu pai e conto tudo, pego as chaves
do meu carro e mesmo nervoso consigo dirigir sem causar nenhum acidente.
Quase uma hora depois estamos em frente ao prédio onde Gabriela se
encontra refém de Charles. A polícia diz para manter-me longe, não suporto ficar
esperando por tanto tempo, chego a conversar com o porteiro e ele disse não ter
percebido a entrada de Charles no turno dele.
Os policiais estudam uma forma de invadir o apartamento, nós não
sabemos em quais condições Charles se encontra. Eu acredito que esteja armado,
ou a Gabriela teria conseguido escapar, eu a conheço bem. Seu espírito de luta
não a permitiria ficar a sua mercê caso estivesse desarmado.
Minha preocupação agora é somente ela, e um grande arrependimento
toma conta de mim, pois poderia ter denunciado o Charles por roubo e desvio de
dinheiro. Talvez neste momento ele estivesse preso, embora o advogado tenha
dito ser improvável.
Meu pai finalmente chega.
— Alguma notícia?
— Nenhuma. Entraram dois policiais para tentar negociar — informo
sem tirar meus olhos do prédio.
— Tudo vai dar certo Nicolas — diz tentando me animar. — Eu demorei
a vir, pois passei pela casa do Cassiano.
Olho para meu pai.
— Contou para ele a situação?
— Sim, não sabemos se essa noticia irá se espelhar, nos dias de hoje não
somos capazes de esconder nada.
Volto a olhar para dentro do prédio, meu pai está certo, também não é
certo ocultar as pilantragens do Charles.
— Como podemos nos enganar tanto com uma pessoa? — indago mais
para mim mesmo.
— Não entendo filho. O Charles tinha tudo para ser um homem honesto,
ele praticamente foi criado como você. Não sei o que pode levar um ser humano
a agir dessa maneira.
— Sempre tive ciência de sua malandragem, mas nunca pensei nele
fazendo essas atrocidades.
— Nem eu, Nicolas. Cassiano está ainda mais decepcionado, ele mal
acredita na capacidade de Charles estar agindo como um bandido.
— Ele é um bandido pai, ele merece ir para a cadeia — digo revoltado e
volto a olhar meu pai, ele me encara consternado. — Pai, a Gabriela está
correndo perigo, eu sinto isso em meu coração — admito levando a mão ao meu
peito. — Ele é um covarde e por isso estou apavorado.
— Nicolas, você não pode desmoronar nesse momento, não sabemos
com certeza como Gabriela está, e quando sair precisará de você forte para
apoiá-la.
Mas uma vez meu pai diz o certo. Porém essa espera me mata a cada
segundo. Os pensamentos voam por minha mente, não consigo controlá-los,
imagino várias cenas com ela ferida e até morta. Meu coração se aperta, minha
vontade é dar um grito.
Um dos policiais sai e vem em minha direção.
— Aconteceu alguma coisa, onde está Gabriela?
— Meu colega está nesse momento em vigilância do lado de fora do
apartamento, nós finalmente fomos capazes de fazer contato com o elemento.
— E a Moça? Conseguiram falar com ela? — questiona meu pai.
— Sim, sua voz está calma, mas sabemos estar abalada.
— Meu Deus! — exclamo e passo a mão por meus cabelos. — E agora,
ele pediu alguma coisa?
— Ele quer a mãe dele — diz o policial.
— Por quê?
— Segundo ele, somente a mãe poderá protegê-lo, ela o entende.
— Então melhor chamá-la aqui, quem sabe ela o convença a fazer o
correto — resmunga meu pai.
— Ela deve chegar a qualquer momento, já fizemos contato.
Não acredito nisso, Charles perdeu toda a capacidade de raciocínio se
acha que poderá escapar desta com a ajuda da Simone.
Eu e meu pai nos olhamos e certamente pensa o mesmo.
Simone chega aborrecida e me olha com raiva.
— Está vendo como está meu Charles? Tudo isso é culpa de vocês —
esbraveja.
Encaro Simone sentindo um imenso ódio em meu peito.
— Nós o obrigamos a fazer uma inocente de refém? Poupe-me Simone,
se há algum culpado nesta história, além do seu queridinho filho mimado, é você
— falo olhando bem em seus olhos.
— Ele está apenas desesperado. Essa mulherzinha vulgar destruiu meu
filho, ela bem merece esse castigo.
Simone fala da Gabriela e antes de eu respondê-la meu pai se mete.
— Melhor você procurar o policial Simone, não invente desculpas para
justificar os erros de Charles, nós sabemos a verdade.
Ela olha para meu pai.
— A única verdade aqui são vocês cometendo uma injustiça. Estão
tratando meu filho como a um bandido.
Não suporto mais ouvi-la e fico de frente para ela.
— Ele é um bandido — falo tão alto que tenho certeza ter chegado aos
ouvidos das outras pessoas ali presentes. — Charles desviou dinheiro, mentiu, é
um drogado e agora mantém uma refém.
Simone empina o nariz e vejo seus olhos brilharem de raiva.
— Todos vocês vão pagar.
— Simone, em consideração ao seu marido não vou dar queixa de sua
ameaça, mas se continuar juro esquecer essa consideração — diz meu pai.
— Algum problema aqui? — pergunta um policial.
— Esta é a mãe do sequestrador — falo sem tirar meus olhos dela.
— Certo — responde —, senhora, por gentileza queira me acompanhar.
Eles se afastam.
— Sinceramente, não entendo essa mulher, mas agora tenho certeza de
onde vem a o mau-caratismo do Charles. Tenho é pena do meu amigo. —
comenta meu pai.
Mais uma vez ficamos aguardando, meu pai liga para minha mãe dando
notícias, já passam da meia-noite. Meu pai fica em silêncio ao meu lado, chegam
mais dois carros da policia e isolam a área dos curiosos. Em seguida posso ver
Simone acompanhada por uma policial mulher, ela chora copiosamente. Cadê o
Charles? E a Gabriela? Ninguém diz nada, estou a ponto de invadir o prédio.
Noto uma correria e outros policiais entrando.
Meu pai segura meu braço e pede calma, ouço a sirene, olho para a rua e
duas ambulâncias se aproximam. Penso na minha Gabriela e um medo muito
forte me deixa paralisado.
Finalmente vejo Charles algemado e se debatendo, o levam para a
ambulância. Sua blusa está suja de sangue. Outros dois paramédicos entram com
uma maca e só posso crer que foram chamados para atender minha diaba. Um
policial se aproxima e não consigo estipular nenhuma pergunta.
Meu pai vendo meu desespero.
— Onde está a Gabriela?
— Ela sofreu um pequeno ferimento, está sendo atendida.
— Pequeno? Que tipo de ferimento, por favor, me diga a verdade.
Ele sacode a cabeça.
— Essa garota só pode ser louca — comenta e solta uma risada. — Até
onde sei ela arrumou uma tesoura e enfiou no cara, que estava apontando uma
arma para ela, quando ele se dobrou, acredito de dor, ela correu para a porta e
abriu.
Ele teve tempo de tacar um jarro e feriu-a.
— Eu preciso muito vê-la — peço em desespero.
— Vamos lá.
Sigo seus passos e paramos em frente ao elevador, quando a porta se abre
vejo Gabriela deitada na maca e reclamando. Ela está horrível, no rosto um
marca roxa, seus lábios estão inchados e tem sangue seco. Espero não ver
Charles na minha frente ou não serei capaz de me controlar.
Minha diaba me vê e tenta sorrir, mas sente dor, pois faz uma careta.
Aproximo-me e beijo sua testa.
— Gabriela, estava louco querendo vê-la — sussurro passando a mão por
seus cabelos.
— Estou horrível, mas feliz por ter escapado.
— Precisamos levá-la para a ambulância senhor — informa um rapaz
querendo empurrar a maca.
Ela olha para ele.
— Eu não vou para porra de hospital nenhum — anuncia com cara
amarrada. — Eu detesto hospitais.
O rapaz olha para ela e se volta para mim, eu sorrio.
— Minha diaba, ele precisa apenas fazer o serviço dele.
— Eu estou bem, aquele idiota até tentou me machucar, mas teve o que
mereceu — diz e vira a cabeça de um lado para o outro. — Por falar nisso onde
ele está? Só espero tê-lo feito sangrar bastante.
— Melhor você não falar essas coisas na frente dos policiais.
Ela olha para a mulher ao lado da maca.
— Estou morrendo de ódio daquele filho da puta...
— Gabriela? — interrompo, pois está nervosa e isso pode complicá-la.
Ela me olha e seus olhos estão com lágrimas. Passo a mão com suavidade por
sua testa. — Vamos deixar que te examinem, prometo ficar ao seu lado.
Ela acena e o rapaz respira aliviado.
Do lado de fora meu pai vem ao nosso encontro e fala com Gabriela e a
parabeniza por sua coragem. Ela é examinada superficialmente, na ambulância e
eles acham melhor levá-la para exames mais específicos, pois seu rosto está
muito inchado. Devido a sua agitação o médico decide colocá-la no soro e junto
prescreve um analgésico. Aos poucos fica tranquila, digo ao médico sobre sua
tendência a ter pressão baixa e ele diz que o remédio é apenas para aliviar dor,
não há riscos.
Seguimos para o hospital e Gabriela é examinada, para nosso alívio seus
ferimentos foram superficiais, assim logo é liberada, na saída a polícia precisa de
um depoimento dela, e ela conta como aconteceu, depois de anotar tudo somos
informados que em breve deveremos ir à delegacia e dar nosso depoimento
formal.
Noto o cansaço em Gabriela e peço meu pai para nos levar para o meu
apartamento, pois deixei o carro em frente ao apartamento do Eric. Em casa
ajudo Gabriela no banho e coloco uma de minhas camisas em seu corpo,
pergunto se está com fome e ela nega.
Alguns minutos e ela está dormindo, provavelmente é efeito dos
remédios. Sento-me ao seu lado e acaricio seus cabelos. O efeito de todo o
acontecido me domina, nunca havia sentido um medo tão grande, Charles foi
longe demais e não há desculpas para suas ações, ele deve pagar pelo que fez.
Ouvi quando Gabriela disse ao policial sobre o soco, e nem posso imaginar sua
dor.
Só irei sossegar quando ele for condenado. Simone deixou claro que fará
de tudo para ajudar o filho. Quanto a mim, farei de tudo para vê-lo pagando.
Enquanto ele tinha apenas me roubado havia decidido deixar para lá, não iria
denunciá-lo, afinal era só dinheiro, mas agora ele mexeu com Gabriela, e ela
tinha mais valor do que qualquer dinheiro perdido.
Gabriela é meu maior bem, a mulher da minha vida. Enquanto eu for
vivo cuidarei dela e a amarei com toda a força do meu coração.


Capítulo Trinta e Nove

Gabriela
U ma semana se passa desde a loucura de Charles, precisei ir a delegacia depor,
não deixei nada de fora, contei até mesmo sobre a tesourada. Nicolas está
possesso da vida, pois soube através de seu advogado que Simone quer me
processar por ter ferido o seu filho.
A mulher deve ser doente, então Charles me ameaça apontando uma
arma para a minha cabeça, me dá um soco, eu me defendo e agora por ele está
ferido a culpa é minha. Converso com Nicolas para se acalmar, e nunca imaginei
vê-lo desse jeito. Logo ele um homem tão controlado.
Nesse meio tempo minhas amigas e até o Eric veio me ver. Meu amigo
estava inconsolável, sentindo-se culpado, pois ele me apresentou o Charles. Não
sabia como convencê-lo do contrário, até Nicolas argumentar.
— Eric. Conheço Charles desde criança, ele enganou a mim, ao próprio
pai. Nós até sabíamos de sua predisposição para a boa vida, mas não chegamos a
pensar que fosse um homem ruim ao ponto de ameaçar alguém de morte —
esclarece Nicolas sentado ao meu lado e encarando Eric.
— Mas se não fosse por mim a Gabriela não correria perigo — diz com
voz embargada, tenho vontade de abraçá-lo. — Meu Deus, eu jamais me
perdoaria se algo de ruim acontecesse com a minha amiga — desabafa.
Nicolas o fita com seriedade.
— Meu caro, se não fosse por isso eu não teria Gabriela em minha vida,
é como minha vó diz, nada acontece por acaso, se hoje eu e Gabriela estamos
juntos, indiretamente agradecemos a você.
— Ele está certo Eric, a oportunidade de encontrar o Nicolas surgiu por
sua causa — confirmo com um sorriso.
Nicolas segura minha mão e nos olhamos.
— Encontrar não, reencontrar — corrige e então volta a olhar para Eric
que nos observa. — Reencontrá-la foi minha maior alegria.
Eu solto uma risada e os dois me olham.
— Não no início, pois você só pensava em mim como uma vadia — digo
rindo.
Ele também ri.
— Não uma vadia, você era abusada Gabriela, ou melhor, continua sendo
abusada.
— Mas a culpa era sua. Vivia me seguindo apenas para perturbar meu
juízo.
Ouvimos um suspiro e olhamos para Eric, ele carrega um sorriso
sonhador.
— Vocês são lindos juntos — fala e põe a mão no coração. — E pensar
que sou o causador da união de vocês, sempre me considerei um anjo, agora
tenho certeza ser um anjo cupido — manifesta afetado e nós rimos.
Pergunto ao Eric se ele tinha dado alguma chave do apartamento para
Charles e ele diz não lembrar-se disso, mas acredita que ele tenha pegado
escondido, só pode ser isso, pois no apartamento não há sinal de arrombamento.
Porém ficamos sem saber qual era o plano de Charles e desconfiamos dele
querer mesmo era conseguir algum dinheiro.
Nicolas soube de seu envolvimento com um grupo muito barra pesada, e
Charles devia dinheiro a eles, por isso começou a roubar na empresa e tentou
enganar ao Eric. Fico indignada com a ganância das pessoas.
Com o tempo as coisas vão voltando ao normal, meu rosto não fica com
nenhuma marca, e internamente penso no Charles, ele sim terá uma marca da
tesourada, e meu lado malvado sente-se bem com isso.

O dia do início das minhas aulas se aproximam e fico muito ansiosa,


tenho tanto medo de falhar, afinal muitas pessoas confiam em mim. Separo
minha pasta de desenho e tenho a lista do material enviado pela faculdade para
comprar. Nicolas deu-me de presente a mesa prancheta e instalou em seu
[10]

apartamento um espaço especialmente para mim.


Meu celular toca e me assusto com o toque devido a minha distração.
Olho o visor e a foto da Mel aparece, dou um sorriso e atendo.
— Finalmente você ligou — digo animada.
— Fiquei sem tempo, estava ajudando Abigail na escola — explica —,
Você está bem? Pensei em visitá-la, mas Karen garantiu que você estava bem,
foi somente um susto.
— Sim, nem me fale do susto — desabafo.
Resumo tudo para Mel, ela fica possessa e comenta que a tesourada foi
pouco. Confessa torcer para Charles apodrecer na cadeia.
— Menos mal ele estar preso até o julgamento — comenta.
— E você? Conta-me. O tal Felipe tem perturbado muito? — pergunto,
pois desde que ele atendeu ao telefone dela fiquei curiosa.
Mel solta um grunhido de irritação.
— Aquele lá é uma peste, mas ele não perde por esperar. Só quero ver a
cara dele quando descobrir o que andei espalhando sobre ele — anuncia com
riso na voz.
Isso não vai dar certo.
— Mel, o que você fez? — questiono preocupada.
— Nada demais, apenas pagando com a mesma moeda.
— Mel, olha lá. Ele é seu chefe.
— Não é não, e Abigail me deu carta branca, ela mesma concorda que
ele merece uma lição — conta animada.
— Espero que esteja certa.
Mel não me conta nada, apenas xinga Felipe, vejo uma história se
repetindo, também vivia atacando o Nicolas, e veja onde estou hoje. Amando
aquele que um dia pensei odiar.

Nicolas fica de frente para mim e segura meu rosto. Estamos na entrada
da faculdade, será meu primeiro dia e me encontro nervosa por vários motivos.
Várias emoções me envolvem. Medo, felicidade, ansiedade tudo de uma só vez.
— Hoje é só o primeiro dia da realização do seu sonho, tenho certeza
absoluta da sua competência — declara com seus olhos cravados nos meus.
— Apenas tenho medo de cometer alguma gafe — confidencio.
— Meu amor, errar faz parte, não se iluda pensando que acertará sempre,
e te garanto, você não é a única a estar nervosa. Também fiquei ansioso no meu
primeiro dia na faculdade — diz e inclina a cabeça para beijar a ponta do meu
nariz. — Agora, minha futura arquiteta é com você. Estarei aqui quando a aula
terminar.
Eu o abraço apertado.
— Eu a cada dia te amo mais — confesso num sussurro.
— Não mais do que eu a você — responde e antes de se afastar sela meus
lábios em um beijo doce.
Caminho devagar pelos corredores, alguns grupos conversam e riem.
Subo as escadas até o segundo andar onde terei minha primeira aula. Vejo
algumas pessoas conversando, o clima da faculdade é bem diferente de tudo que
já conheci.
Uma grande alegria me invade enquanto marcho para a sala de aula, sim,
sou uma louca e quando percebo estou sorrindo e saudando as pessoas. O medo
de antes desaparece dando lugar a esperança e posso me sentir uma vitoriosa,
pois contrariando a todos que um dia não acreditaram em mim, hoje estou
provando minha capacidade e como o Nicolas falou: É somente o primeiro dia
da realização do meu sonho.

O tempo passa e chega o dia da festa de premiação dos melhores do ano,


a agência de Nicolas receberá alguns prêmios e ele não parece muito empolgado,
quando pergunto o motivo, apenas diz ser tudo muito supervalorizado. Muitas
pessoas vão para aparecer e ele não se agrada disso.
A festa, conforme ele disse tem muitas pessoas famosas, a premiação
acontece todos os anos e premia os melhores profissionais da área de marketing.
Ainda bem que estou bem vestida, Nicolas mesmo confessa não ver a hora de ir
embora e tirar meu vestido.
— Você falou que estou linda neste vestido e quer tirá-lo? Não te entendo
— comento rindo.
Ele se aproxima do meu ouvido.
— Esse vestido está me deixando louco de tesão, só consigo pensar em
você nua — sopra e seu hálito quente toca minha pele me deixando arrepiada.
— Olá Nicolas, quanto tempo — fala uma voz melosa e nos afastamos
para olhar quem fala.
Demora um pouco, mas a reconheço é a mulher que o acompanhava
naquele jantar.
Nicolas abraça minha cintura.
— Boa noite Luiza — responde seco.
Ela me olha com desprezo dos pés a cabeça.
— Anda pegando as sobras do Charles, Nicolas? — diz venenosa e com
sorriso maldoso. — Esperava mais de você.
— Veja bem como fala Luiza, não lhe dou essas confianças — rosna ao
meu lado.
Ela solta uma risada, e fica difícil segurar meu temperamento.
— Garota, você é esperta, trocou de investimento.
Não me importo onde estou. Largo a mão do Nicolas e fico cara a cara
com essa vadia, ela é mais alta, porém não é duas.
— Melhor você calar essa sua boca ou juro que todos aqui terão muito
que fofocar e amanhã suas fotos estarão espalhadas em todas as redes — digo
com um sorriso malicioso.
Ela não se abala.
— Você não teria coragem, meu bem.
— Sim ela teria — Nicolas vem para o meu lado. — Se eu fosse você
não duvidaria.
Ela olha para o Nicolas com olhos crispando de raiva.
— É com esse tipo de mulher que anda agora?
— Não se dirija a ele, sua conversa é comigo — repreendo.
Ela me olha assustada.
— Quem você pensa que é?
— A noiva dele, diferente de você que só serviu para ser usada — admito
empinando nariz. — Agora se afasta, ou juro esfregar seu nariz nesse chão, não
pense que não terei coragem, pois eu tenho.
— Luiza, algum problema — Um homem com idade de ser meu avô se
aproxima e pergunta. Ele olha para Nicolas. — Boa noite Nicolas —
cumprimenta e envolve a cintura da sebosa.
— Boa noite, Valadares — Nicolas responde, me abraça por trás e beija
minha cabeça. — Se me der licença eu e minha noiva vamos cumprimentar
outras pessoas.
Quando Nicolas confirma minha mentira, me chamando de sua noiva
olho para a nojenta com um sorriso vitorioso, ela não diz nada, pois seu
acompanhante fica por perto.
Não passa despercebido a olhada que ele me dá, e ouvindo Nicolas
rosnar acredito ter percebido também, agora sim, minha noite está melhor.
Vejo Alano chegar com Vicky, eles param e falam com uma senhora.
— O Alano também vai receber algum prêmio? — indago sem entender,
afinal a empresa do Alano não tem nada a ver com marketing.
— Não, porém os empresários mais importantes de diversos ramos
sempre são convidados.
Eles se aproximam e trocamos algumas ideias, porém como as mesas são
marcadas na hora do jantar cada casal vai para um lado. Após o jantar ser
servido inicia-se a cerimônia para então ser entregue os prêmios. A agência de
Nicolas recebe algumas homenagens, na última premiação, a de melhor
comercial de televisão ele é chamado para receber um troféu e fazer um
discurso. Nicolas é rápido com suas palavras e deixa claro que seu sucesso é
devido aos bons profissionais da agência, por isso ele agradeça a cada um desde
a pessoa da limpeza até os diretores. Pois todos têm seus valores.
Todos o aplaudem de pé, ele desce do palco e vem até mim com um
sorriso. Ele me abraça e beija minha boca.
— Parabéns! — exclamo orgulhosa.
— O melhor prêmio ainda irei receber quando chegar em casa.
Eu sorrio para ele e aperto sua cintura.
— Pode contar com isso.
Não demoramos muito, nos despedimos de algumas pessoas, tiramos
algumas fotos e partimos.
Em seu apartamento faríamos a verdadeira comemoração.
Capítulo Quarenta

Nicolas.
M inha diaba está maravilhosa nesse vestido lilás, passo toda a noite querendo
devorá-la, no evento vários homens a cobiçam e apesar de não demonstrar fico
louco de ciúmes. Por onde ela passa as pessoas a olham e se pudesse a cobriria
com uma burca. A cada sorriso seu dirigido a mim meu coração contrai.
Cheguei a ficar preocupado quando Luiza veio querendo ofendê-la,
estava disposta a jogar tudo para o alto para defendê-la, porém não foi preciso,
Gabriela a colocou em seu lugar a deixando irada. E ao afirmar ser minha noiva,
meu coração pulou de alegria, pois um dia quero ser muito mais que isso.
Adentramos no apartamento e ela alonga o pescoço, eu a encaro cheio de
desejo, meu membro empurra e eu só penso em saboreá-la. Gabriela percebe que
eu a encaro e sorri.
— Por que está me olhando assim? — pergunta com a cabeça de lado.
Ponho o troféu em minhas mãos no aparador e dou um passo à frente.
Sem aviso a pego em meu colo e ela envolve seus braços em meu pescoço.
Provoco seus lábios mordendo com delicadeza e ela geme.
— Estou cheio de tesão — resmungo caminhando até nossa suíte. —
Quero tê-la somente usando esse salto. Passei toda a noite pensando nisso.
Coloco Gabriela em seus pés e me afasto. Começo a tirar meu paletó e
ela acompanha meus movimentos com olhos encapuzados.
— Nicolas — sopra meu nome.
— Tire esse vestido minha diaba, pois se eu o fizer está arriscado eu
rasgá-lo — confesso.
Gabriela faz como eu falo, enquanto nos despimos nos comemos com os
olhos. Separo a camisinha e jogo na cama, ela fica totalmente nua, somente em
suas sandálias de salto alto.
Volto a colar meu corpo ao seu, o calor de sua pele me causa um frenesi.
Desço uma de minhas mãos e toco entre suas pernas, ela bambeia e a seguro para
não cair. Gabriela agarra meus braços. Ela solta um suspiro alto.
— Você quer me enlouquecer?
— Sim, quero deixá-la louca de tanto desejo — declaro e passo meus
dedos por suas dobras molhadas. Empurro Gabriela para sentar-se na beirada da
cama. Ajoelho-me no chão entre suas pernas. Suas mãos seguram meus ombros.
— Primeiro você vai gozar em minha língua, depois vou possuir seu corpo até
estarmos totalmente saciados.
Gabriela lambe os lábios. Pego seus joelhos e os passo por meus ombros,
suas mãos sobem até meus cabelos, abaixo minha cabeça e sem tirar meus olhos
de seu rosto passo minha língua por sua cavidade, sinto seu aroma e sabor.
Minha diaba joga a cabeça para trás.
— Nicolas, por favor — implora com voz sufocante.
Beijo seu sexo com boca aberta e circulo a língua em seu clitóris,
Gabriela aperta minha cabeça com suas pernas, enquanto a degusto enfio um
dedo em sua boceta, aumento a pressão de minha boca sugando com força, seu
gemido alto invade o ambiente deixando-me mais entusiasmado.
Meu dedo entra e sai ficando encharcado com seu creme, minha língua a
estimula e ela agarra e puxa meus cabelos. Com a outra mão agarro sua cintura a
trazendo para mais perto. Ouço sua respiração acelerar, seus pés esfregam em
minhas costas. Gabriela se libera em minha boca nada me escapa, delicio-me
com seu sabor. Meu pênis pulsa, necessito entrar em seu corpo.
Gabriela relaxa, aproveito para me levantar, a levo para o meio da cama,
pego a camisinha e encapo meu membro. Meu corpo eleva-se sobre o seu,
nossos olhares se encontram e ela sorri.
— Nunca pensei que pudesse amar alguém como amo você — confesso
inclinando a cabeça, beijo seus lábios superficialmente. — Você, Gabriela é
melhor parte de mim, não vejo mais minha vida sem você ao meu lado —
murmuro salpicando beijos por seus rosto e pescoço.
— Nicolas — chama meu nome e trás as mãos até minha face para nos
fitarmos. — Eu também te amo e com você me tornei uma mulher mais forte.
Gabriela me beija, sou incapaz de organizar meus pensamentos, minha
mão direita passeia por seu corpo até chegar a sua cintura e segurar. Estou entre
suas pernas, a ponta do meu pênis encosta em sua intimidade. Penetro-a
vagarosamente e quando estou totalmente enterrado nela começo a movimentar
meu quadril.
Nossas bocas se devoram, gememos juntos, nos movemos juntos, invisto
em sua cavidade cada vez com mais energia e vontade, mesmo com ar ligado
posso sentir o suor em minha testa. Gabriela passa suas unhas por minhas costas.
Seus seios esfregam-se em meu peito, o sangue corre por toda a velocidade em
minha veia, o que temos é muito intenso. Todo o meu corpo cria vida, e sinto
como se minha alma pudesse sair do meu corpo.
Gabriela me aperta em seus braços e pernas e rebola, ela vai gozar e
sabendo disso aprofundo-me com mais vigor e velocidade, não tenho como
esperar, e a sentindo gozar não me seguro mais e jorro apertando sua cintura
deixando todo o prazer tomar conta de mim.
Sem forças me deixo cair por cima de seu corpo, tento recuperar o fôlego
aos poucos, mas fica difícil, ouço um gemido da Gabriela e saio de cima dela.
Ficamos calados, não há necessidade de palavras. Nós sabemos sobre nossos
sentimentos e o que tem em nossos corações.
Retiro a camisinha, e deverei ter uma conversa sobre isso com ela, não
quero nada entre nós, nunca antes pensei em transar sem camisinha, porém com
minha diaba isso não me sai da cabeça. Olho para seu rosto e ela tem os olhos
fechados, passo os dedos por sua testa e ela nem mesmo se move. Sorrio, é bem
a cara dela, cair no sono.
Não me importo com nada agora, vou tirar um cochilo e depois a chamo
para tomarmos um banho. O cochilo vira sono pesado e quando acordo o dia
amanheceu.

— Gabriela preciso ter uma conversa com você — digo após tomarmos
nosso café da manhã.
Ela me olha desconfiada.
— Aconteceu alguma coisa?
— Sim — respondo e Gabriela coça o nariz — A verdade é que preciso
falar sobre dois assuntos importantes.
Ela se ajeita na cadeira e põe uma mexa de cabelo atrás da orelha.
— Você começa a me deixar assustada — comenta.
— Vem aqui — peço esticando o braço e a puxando para se levantar, ela
ergue-se e a trago para o meu colo. — Não há motivo para se assustar, apenas
quero propor algo a você.
— O que é?
— Primeiro, gostaria muito de fazer amor com você sem camisinha, se
você topar é claro. Eu não tenho nenhuma doença contagiosa, nunca transei com
nenhuma mulher sem me precaver.
Ela me observa séria.
— Também não tenho doença, mas preciso ir ao médico, não tomo
nenhum tipo de remédio para evitar gravidez — informa e sorri. — Eu apenas
não quero ser mãe agora, não que eu esteja falando em filho para o futuro, pois
não sei on... — Ponho um dedo em seus lábios e ela se cala.
— Eu sei exatamente o que você quer dizer, e concordo. Ainda é muito
cedo para pensarmos nisso, porém no futuro eu vejo você como a mãe dos meus
filhos.
Ela arregala os olhos e tira meu dedo de sua boca.
— Você está falando sério?
Eu sorrio.
— Sim, minha diaba e isso me leva a outra proposta.
— Q-qual?
— Eu sei de suas prioridades, e eu vou esperar por você, mas até lá
gostaria que viesse morar comigo, afinal já pensam que você mora aqui mesmo
— acrescento e ela ri.
— Você realmente quer que eu venha morar com você?
— É a coisa que mais quero, além de ter sem camisinha.
Ela morde os lábios e olha ao redor antes de se voltar para mim.
— Sim para os dois, mas você sabe que não sou uma pessoa fácil.
— E como sei minha diaba, mas eu te desejo mesmo assim, eu amo você
exatamente desta maneira. Você me conquistou com sua impetuosidade e esse
nariz arrebitado.
Ela sorri e me abraça.
— Também amo você exatamente assim. Arrogante e sério — diz e se
afasta para me olhar. — Meus Deuses essa será a terceira mudança em menos de
um ano — comenta pondo a mão na testa.
Eu rio com seu jeito dramático.
— A terceira e última, pode acreditar.

Um desafio, tudo começou com um desafio.


Eu estava num bar após um trabalho cansativo e uma mulher aparece
senta-se em meu colo e me beija, deixando-me sem ação. Então alguns meses
depois a reencontro, ela achou que poderia ter esquecido aquela noite, mas
aquele único beijo nunca saiu da minha memória.
Ela entrou em minha vida da maneira errada, pela pessoa mais errada
ainda, me enfrentou e nunca baixou a cabeça para as minhas grosserias, fiquei
fissurado e acreditava estar lidando como uma mulher sem caráter, a chamava de
diaba e sua impetuosidade me chamava atenção. Eu sonhava com ela, lutava
contra o sentimento que dia a dia tomava conta do meu coração.
Tentei afastá-la, mas já era tarde demais. Estava totalmente envolvido e
quando descobri seu verdadeiro valor não podia deixá-la ir. Gabriela já era
minha e eu era dela era um caminho sem volta. E estou feliz por tê-la em minha
vida. Sim, ela continua sendo minha diaba, sempre será.
Ela sempre me tentou, e cair nessa tentação foi a coisa mais fácil de
acontecer.
Epílogo

5 anos depois...

Gabriela.
M inhas mãos estão geladas.
— Está muito nervosa? — pergunta Diego passando a mão em meu rosto.
— Nem acredito que esse dia chegou — confesso com as mãos trêmulas.
— Eu acredito, se há uma pessoa que mereça toda essa felicidade, essa
pessoa é você minha irmã.
Procuro em volta e a alegria parece reinar, seguro o pingente em meu
cordão, todo esse tempo não me separo dele, este pequeno símbolo me dá forças.
— Onde está o Nicolas? Ele conseguiu chegar? — questiono, pois o
quero comigo.
— Calma irmãzinha, o Nicolas não perderia isso por nada, ele está junto
com suas amigas.
Olho para Diego e sorrio para ele.
— Obrigada por ter vindo. Veio de tão longe só para isso.
— Só para isso? Você está louca? Não faltaria o dia mais importante da
sua vida, até nossos pais vieram — diz rindo. — Isso é um milagre, embora eles
pareçam sair correndo a qualquer momento.
Dou um tapa em seu braço e rio.
Todos são chamados para formar uma fila, chegou o momento. Diego se
despede e combina de falar comigo mais tarde. Anne a amiga que fiz na
faculdade me abraça e caminhamos para nos juntar aos outros.
Um a um é chamado, e minha vez vai chegando.
— Com vocês a formanda Gabriela de Jesus Fonseca.
Ouço os aplausos e assobios, minhas mãos suam e me sinto emocionada
e realizada.
Marcho pelo corredor observo alguns rostos, todos os meus amigos e
conhecidos estão aqui, mas o que se destaca é ele, o meu Nicolas. Ele aturou
minhas crises, me ajudou e teve muita paciência, nunca deixou de acreditar em.
Nicolas é um dos responsáveis pela realização do meu sonho.
Olho para ele que sorri orgulhoso, posso ler seus lábios quando diz: Eu te
amo! Sorrio para ele e também sussurro.
— Não mais que eu a você.
Chego ao palco e a cerimônia de colação de grau começa, é um pouco
demorado, porém curto cada momento na hora da entrega do meu diploma não
seguro as lágrimas de alegria, pois além do diploma sou premiada como a
melhor aluna da turma.
Eu consegui, sou uma arquiteta e minha dislexia não me impediu de
chegar aqui. Foi difícil, um caminho árduo, mas no final valeu a pena.

Nicolas
D epois de uma comemoração com nossos amigos mais íntimos, chegamos ao
apartamento. Gabriela está muito feliz e vê-la assim, mesmo depois desses anos
juntos ainda me deixa extasiado.
Ela se joga no sofá, eu cruzo os braços e a observo.
— Por que está aí me olhando desta maneira? — indaga.
— Há cinco anos fiz uma promessa, eu cumpri. Agora é hora de você me
fazer ainda mais feliz — falo pegando um pedaço de papel no bolso. Ando até
ela e entrego o papel. Gabriela pega e desdobra. — Então o que me diz.
Ela me olha sem entender.
— Está em grego? Ainda não consegui aprender tudo com seus avós.
Sento-me ao seu lado, olho o papel.
— Me pantrefteíte ? — pergunto a olhando com intensidade. — Estou te
[11]

pedindo em casamento — completo.


Seus olhos se enchem de lágrimas.
— Nai i agápi mou — responde emocionada e me enche de beijos.
[12]

Ela ainda não sabe, mas nos casaremos em breve. Esperei muito tempo e
mesmo a tendo todos os dias não é a mesma coisa. Seguro seu rosto em minhas
mãos.
— Logo você será a senhora Karnezis, a minha mulher.
Seus olhos brilham para mim.
— Eu já sou sua mulher, sempre serei.
— Eu te amo, minha diaba! — confesso com voz suave.
— Eu te amo mais — responde.
Beijamos-nos para selar nosso amor, essa mulher é a luz da minha vida, a
única capaz de fazer-me completo, e mesmo após cinco anos, esse meu amor só
se fortaleceu e mostrou que estar ao lado de quem amamos nos faz mais forte.

Fim.
Um Capítulo Qualquer
Mel

C hego em casa e me jogo na cama, estou exausta.
Durmo por duas horas e resolvo tomar um longo banho. Mesmo sendo sexta-
feira, não irei ao Rosita´s Bar. Não quero encontrar com Felipe, estou nervosa,
pois provavelmente descobriu o que fiz. É bom ele provar do próprio veneno,
afinal inventou uma mentira sobre mim, apenas decidi me vingar.
Será que ele vai entender o que fiz? Pois mexer com a masculinidade de
um homem pode ser perigoso.
Melhor esquecer o assunto e tomar logo meu banho.
Abro o chuveiro e deixo a água deslizar por todo o meu corpo, mesmo
sendo tarde lavo meus cabelos. Caramba preciso cortá-los logo, estão quase
chegando à minha cintura. Perco a hora de quanto tempo fico no banho, saio do
Box e enrolo uma toalha na cabeça, ouço um barulho estranho no quarto e paro
tentando escutar alguma coisa, só silêncio. Envolvo outra toalha no meu corpo e
abro a porta. Solto um grito assustado. Parado bem na minha frente está o Felipe
com os braços cruzados e olhando para mim, a princípio sua expressão é irritada.
Passo a língua nos lábios, pois sinto minha boca ressecar.
— O-oque você faz aqui? C-como você entrou? – gaguejo e seguro a
toalha com força. Mesmo com raiva o homem consegue mexer com minha
libido.
Ele me olha dos pés a cabeça e isso me deixa ainda mais ligada. Merda,
merda, merda. Eu não posso o deixar notar essa minha atração por ele. Fica cada
vez mais difícil de esconder. Finalmente aceitei sair com Roberto, quem sabe
saindo com ele eu esqueceria o Felipe, o Roberto parecia ser um bom homem,
ele não acreditou na mentira do Felipe, de que eu tinha uma doença contagiosa.
E quem sabe ele poderia ser meu namorado, eu só não conseguia me imaginar
beijando o Roberto, muito menos fazendo mais nada com ele, na minha cabeça
só imagino o Felipe, o homem que por algum motivo não gosta de mim.
Por que as coisas têm que ser tão difíceis pra mim?
Felipe só me observa e não fala nada, estou realmente preocupada agora.
Chego para o lado e encosto-me à parede, ele me acompanha com os olhos,
depois dá dois passos e fica bem na minha frente, posso sentir seu aroma me
inebriando. O homem cheira a pecado. Sacudo a cabeça para tentar limpar minha
mente.
Olho para ele corajosamente.
— O que você quer?
Ele sorri de lado.
— O que eu quero?
— Não sei se você sabe, mas você invadiu minha casa, e se você tiver
alguma chave com você eu a quero, pois você pode ser preso por isso —
repreendo com firmeza, mas por dentro estou tremendo.
— Você mora em um sobrado, que na verdade é em cima da minha casa,
tudo aqui me pertence, por tanto acho difícil ser preso. — Sua voz sai rouca, e
sento seu hálito em meu rosto.
— Você pode me dizer o que pretende invadindo o meu espaço?
Felipe coloca cada uma de suas mãos na parede onde eu estou me
apoiando, fazendo com que eu fique presa.
— Mel, você passou dos limites. — Sua calma não me engana, o tom de
sua voz denota sua insatisfação.
— Não sei do que você está falando. — Me faço de desentendida.
Alguém deve ter contado sobre eu ter dito que ele é gay. Droga, talvez tenha
exagerado.
— Você sabe sim. Posso ler isso em seu rosto.
— Você está enganado, não sei do que você fala.
— Você andou dizendo que eu sou gay.
Meu coração dispara e minha respiração fica alterada.
— Ah, isso — digo como se não fosse nada demais. — Foi só uma
brincadeira, você mesmo não andou espalhando por aí que eu tinha uma doença
contagiosa? — Lembro a ele.
— Você acha que espalhar que eu gosto de homem não é nada demais?
— pergunta com voz baixa e rouca. — E tudo isso é uma vingança, eu deveria
ter imaginado.
— Eu não espalhei, fiz um pequeno comentário, não tenho culpa se as
pessoas aqui gostam de fofocas.
— Isso não vai ficar assim, Mel. — Toda vez que diz meu nome tenho
vontade de pular em cima dele.
— Se isso te preocupa tanto, amanhã eu desminto — comento e cruzo os
braços, ele tem que sair daqui. — Agora, por favor, você deve sair — peço e
começo a bater a ponta do pé no chão. Ele precisa sair logo, pois necessito de
outro banho.
— Mel, isso não vai consertar o que você disse, e eu vou te mostrar quem
é gay.
— Me, me mostrar? Como assim?
Felipe traz uma das mãos até meu rosto e o acaricia. Merda, esse homem
está me enlouquecendo. Jesus! O que ele vai fazer? Fico paralisada.
— Por favor, não me machuque — sussurro amedrontada, na verdade
estou ficando confusa.
O olhar dele muda e continua me acariciando, sinto alguma coisa mudar.
— Eu nunca machucaria você, e juro que mataria se soubesse que
alguém o fez — declara e sua voz sai grossa. Posso ver a verdade em suas
palavras.
— E-eu... — Fico enfeitiçada com seu olhar e não consigo formar
nenhuma palavra.
Felipe olha para os meus lábios e antes que eu perceba ele cola sua boca
na minha em um beijo cheio de fome. Por alguns segundos fico estarrecida, mas
não resisto e correspondo ao beijo, desejei esse beijo desde o momento em que
pus os olhos nele, mesmo eu tendo negado e decretado um ódio mortal por
Felipe, na realidade eu o desejo como nunca desejei nada na minha vida.
Felipe traz a outra mão até meu rosto me segura, seu corpo quente,
másculo e duro cola ao meu, fico entre a parede fria e ele, somente uma toalha
me protege a nudez, sinto sua ereção na minha barriga e me esfrego nele, não
sou capaz de me controlar. Ele geme em minha boca, subo meus braços e passo
por cima dos seus ombros o envolvendo pelo pescoço. Felipe desce umas das
mãos e me agarra com força pela cintura, me fazendo ficar ainda mais colada
nele.
Sua boca desce e beija meu pescoço...

Continua...
Nota da Autora
E screver sobre a Gabriela foi um grande desafio para mim, essa personagem já
existia em minha cabeça há muito tempo, mas por ser muito complexa, acredito
que foi a personagem mais difícil, pois gostaria de mostrar um pouco sobre o seu
distúrbio.
Não me aprofundei no assunto, pois nunca foi minha intenção ensinar
sobre dislexia, esse transtorno vai muito além das dificuldades em que minha
personagem passa, há graus de dislexia, e quanto antes descoberto melhor.
Só espero com esse romance, de alguma forma ter tocado o coração de
vocês e despertado a curiosidade para saber mais e assim quem sabe ajudar
alguém que por vezes nem sabe que tem um transtorno.
“Dislexia é um transtorno específico de aprendizagem de origem
neurobiológica, caracterizada por dificuldade no reconhecimento preciso e/ou
fluente da palavra, na habilidade de decodificação e em soletração. Essas
dificuldades normalmente resultam de um déficit no componente fonológico da
linguagem e são inesperadas em relação à idade e outras habilidades cognitivas.”
(Definição adotada pela IDA – International Dyslexia Association, em 2002.)
[1]
Pi (π): é a 16.ª letra do alfabeto grego que é utilizada na Matemática. Ele representa tudo aquilo que não
pode ser concretizado. Isso porque, embora seu valor seja frequentemente estudado como sendo 3,14, na
verdade, ele não é exato, pois é infinito.
[2]
(Γιαγιά) Vovó em grego.
[3]
(Παππού) Vovô em grego.
[4]
(Τι) O que, em grego.
[5]
(η γιαγιά μου) minha vó, em grego.
[6] Sente atração sexual quando há uma conexão emocional e/ou intelectual e/ou psicológica com a outra
pessoa.
[7]
(Είσαι δική μου) Você é minha.
[8]
(Είσαι όμορφη) Você é linda.
[9]
Algumas universidade na hora da inscrição dá opção no formulário para quem tem necessidades
especiais, no caso da nossa personagem ela precisa de auxilio para leitura, prova com letras maiores e
tempo maior para fazer sua prova. (Pode haver variação de universidade para universidade)
[10]
Mesa usada por Arquitetos para desenhar seus projetos.
[11]
(Με παντρευτείτε;) Casa comigo?
[12]
(ναι η αγάπη μου) Sim meu amor.
Table of Contents
Prólogo
Capítulo Um
Capítulo Dois
Capítulo Três
Capítulo Quatro
Capítulo Cinco
Capítulo Seis
Capítulo Sete
Capítulo Oito
Capítulo Nove
Capítulo Dez
Capítulo Onze
Capítulo Doze
Capítulo Treze
Capítulo Quatorze
Capítulo Quinze
Capítulo Dezesseis
Capítulo Dezessete
Capítulo Dezoito
Capítulo Dezenove
Capítulo Vinte
Capítulo Vinte e um
Capítulo Vinte e dois
Capítulo Vinte e três
Capítulo Vinte e Quatro
Capítulo Vinte e Cinco
Capítulo Vinte e Seis
Capítulo Vinte e Sete
Capítulo Vinte e Oito
Capítulo Vinte e Nove
Capítulo Trinta
Capítulo Trinta e Um
Capítulo Trinta e Dois
Capítulo Trinta e Três
Capítulo Trinta e Quatro
Capítulo Trinta e Cinco
Capítulo Trinta e Seis
Capítulo Trinta e Sete
Capítulo Trinta e Oito
Capítulo Trinta e Nove
Capítulo Quarenta
Epílogo
Um Capítulo Qualquer
Nota da Autora

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