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Para Victor Hugo, desde a morte de sua esposa, o mundo é um lugar sombrio.

E
junto com aquele caixão, tudo o que ele era e amava foi enterrado, fazendo o
que restou de sua vida se tornar apenas uma extensão do seu trabalho.
Helena também sabia o que era perder tudo, mas não se entregava às sombras;
a jovem mãe de Leo tinha no filho a motivação para seguir em frente. Afundada
em dívidas após a morte do marido, ela trabalha incansavelmente para manter
o filho, e, quando necessário, chega a levar o pequeno escondido para as casas
que limpa.
De todos os patrões que teve, o mais exigente e arrogante é quem paga melhor.
Mas, de todas as regras que deve seguir na casa, a mais importante é que não
pode levar ninguém consigo.
Após ter mentido para conseguir o emprego, Helena não esperava ter de levar
o filho para o trabalho justamente no dia em que o patrão voltasse para casa
mais cedo, fazendo a vida dela virar de cabeça para baixo.

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Capítulo 01
HELENA

— E esse aqui? — questiono Carina sobre um dos empregos na lista.

— Eles não aceitam mulheres com ilhos, querida. — A atenciosa


mulher da agência de empregos com quem iz amizade avisa, arrumando os
óculos no rosto.

— O quê? Por quê? Que absurdo! Eu ser mãe não me faz uma
pro issional pior, pelo contrário...

— Eu sei, querida, mas é isso que nos foi solicitado. Uma mulher
entre vinte e trinta anos, sem ilhos, totalmente discreta e, claro, mais
algumas coisas que serão informadas apenas lá.

— Mas o valor é bem alto, não é mesmo? — Eu sei que ela sabe o
valor, porém não costuma dizer. — Vamos lá, Carina, você pode me ajudar?
Por favor, só me encaminhe para a entrevista. Juro que não irei pedir mais
nada do tipo se essa não der certo.

— Helena, querida, eles querem uma pessoa para icar em período


integral.

— Eu posso negociar com eles, você sabe que eu sou bem convincente.
— Pisco para ela e recebo um sorriso de volta.

— Eu não te encaminhei. Não sei como você icou sabendo da vaga,


certo?

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— Quem é Carina?

— É ela, mamãe! — Leo levanta o rosto do livro de colorir e aponta para


a mulher do outro lado da mesa, curioso. — Ela é a Carina!

— Sim, sou eu, Leo — responde sorrindo e dá a ele mais um pirulito


com minha autorização.

— Obrigado, Carina. — Volta ao livro de colorir, enquanto ela


rapidamente dirige sua atenção ao computador.

— Tem mais um problema, Helena. — Por que ainda me surpreendo?


Sempre existe alguma coisa a mais. — Você precisa estar lá em, no máximo,
uma hora.

— Não tenho com quem deixar o Leo — resmungo desanimada e ela


acena positivamente, sabendo da minha realidade.

— Desculpa, querida, se eu pudesse, com certeza icaria com ele, mas


você sabe que não posso.

— Eu sei. Nem precisa se desculpar. Darei um jeito. Me dê as


informações que estarei lá no horário combinado. — Ela acena
positivamente.

— Boa sorte! — Entrega-me as informações


A mulher encarregada da minha entrevista se apresentou como Vic
Mendes e supus ser a dona da casa. Alta, de cabelos escuros, magérrima e
com uma educação sem precedentes, me apresentou todo o andar de baixo
da casa antes de fazer-me as últimas perguntas.

— Você tem ilhos?

— Por quê?

— O trabalho é muito bem remunerado, além de todos os bene ícios,


portanto não contratamos pessoas que possam ter... contratempos. — Ela
está sentada em uma poltrona de frente para mim, usando um vestido justo

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e discreto que vai até os seus joelhos, contornando suas poucas curvas; seu
cabelo negro, em leves ondulações, desce até abaixo dos seus ombros. Com
certeza, apenas o relógio pequeno e dourado que ostenta em seu pulso vale
mais do que tudo o que tem dentro do meu humilde quarto-sala-cozinha.

Desde que Mauro morreu, minha vida mudou drasticamente e tudo o


que me restou foram dívidas gigantescas e, claro, Leo, o nosso único ilho.

A família do meu marido nunca fez questão de ajudar-me ou sequer


saber se meu ilho estava bem desde que tudo aconteceu, mas preferi
simplesmente seguir em frente. Quando a vida coloca um empecilho no seu
caminho, você pode voltar ou pode lutar para passar por tudo, e é o que
tenho feito.

Antes eu não trabalhava fora. Cuidava do meu ilho em casa e isso era o
su iciente. Pelo menos era o que eu pensava até que o banco bateu a minha
porta apenas uma semana após a morte de Mauro informando que, caso eu
não pagasse todas as dívidas deixadas por ele, minha casa seria tomada e
não poderíamos fazer nada.

No início tentei contato com a família dele, mas eles deixaram claro que
aquele era um problema meu e que não queriam que eu os procurasse
novamente.

Então, levantei a cabeça e ofereci a um casal de amigos do meu falecido


marido meu trabalho como faxineira. De início eles até pensaram se tratar
de uma brincadeira, e até mesmo riram, mas quando perceberam que era
verdade, se dispuseram a saldar as dívidas, sem período para a devolução
do valor.

Orgulho nunca foi um dos meus defeitos, e eu até aceitei a proposta, mas
a vida parece ter um péssimo senso de humor e quando pensei que tudo
voltaria a se encaminhar, Samara avisou que as portas de sua casa estavam
fechadas para mim e sequer me deu a chance de saber o motivo. Em pouco
tempo perdi minha casa e mudei-me de volta para meu antigo bairro, o que
vivi antes de me casar com Mauro, mas minha dignidade estava intacta. Isso
e meu ilho, ninguém pode tirar de mim.

— Não quero que me interprete mal, Helena. — Vic avisa. — O trabalho


é pouco quando se leva em consideração tudo o que lhe está sendo
oferecido. Acredito que se você está aqui é porque precisa ou estaríamos

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apenas desperdiçando nosso tempo. Eu gostei de você e gostaria que


começasse o quanto antes, mas você ainda não respondeu minha pergunta
— fala calmamente e de forma gentil.

— Eu... eu... — gaguejo.

— Sei que pode parecer assustador tamanha responsabilidade,


principalmente quando você precisa se mudar para cá, mas...

— Eu... Eu tenho de me mudar?

Conseguir mentir sobre ter o Leo não é o problema. Com o salário, sou
capaz de pagar a Babi, ilha da vizinha, para cuidar dele durante o dia, assim
como iz hoje tão logo saí do escritório da Carina. Mas icar sem o meu ilho
durante toda a semana, não há a mínima chance.

— Sim, para este trabalho você precisará dormir na casa durante a


semana. Não explicaram na agência? — questiona pacientemente. Essa
mulher só pode fumar camomila para ser tão calma e serena.

— É claro, a agência — falo nervosa.

Por que Carina não me disse isso?

— Como já expliquei, você cuidará apenas da limpeza diária do andar


inferior que, como pode notar, é bem extenso.

— Mas... Bem, eu... Eu sou apenas uma diarista — explico.

— Você compreende que o salário ixo é muito bom, certo? Desculpe


falar, mas não encontrará valor melhor. Além de que há muitos bene ícios,
como o plano de saúde, férias, tudo de acordo com a lei e um pouco mais.

— Eu gosto de tudo o que está sendo oferecido, mas, sendo sincera com
a senhora, eu sou mãe — admito. — Além disso, sou viúva.

— Mas... Como isso aconteceu? — Parece falar consigo mesma enquanto


olha ixamente para a tela de um tablet de última geração. — Tenho certeza
de que avisei a agência, que... — Ela continua calma, mas claramente
frustrada. — Sinto muito termos perdido tempo, Helena. Gostei muito de
você, mas Hugo não... Bom, não posso contratá-la.

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— Por favor, leve em consideração o fato de que estou sendo sincera.

— Se dependesse apenas de mim, hoje mesmo você estaria de


mudança para cá. Você é inteligente, engraçada e não parece ter medo de
trabalho, mas não depende só de mim. Hugo é um homem di ícil...

— Ele não precisa saber sobre o Léo. Espera, retiro o que eu disse. — Me
retrato rapidamente. — Quer saber? Não retiro não. Ele não precisa saber.
Eu realmente preciso desse emprego.

— Você precisaria se mudar para cá, Helena. Como esconderia seu ilho?
Você mesma me disse ser viúva. Sinto muito, mas não é possível.

— Podemos colocar um macacão nele e ingir que ele é o novo


jardineiro. Seria falta de educação o patrão questionar por que o
funcionário é tão pequeno — falo rapidamente e ela solta uma risada. —
Seria... Discriminação com anões. Ai meu Deus. O que eu estou dizendo? Me
desculpe. Por tudo. Eu realmente preciso desse emprego, mas eu entendo...
Muito obrigada. — Levanto-me derrotada.

— Espera... Helena. Seu ilho estuda?

— Durante a tarde.

— E se ele estudasse em período integral?

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Capítulo 02
Vic foi muito irme em suas orientações e disse que entraria em contato
comigo ainda durante a semana. Avisei de antemão todos os meus
empregadores sobre começar em um trabalho ixo. Também deixei uma
lista com nomes e telefones de colegas em quem con iava para realizar o
serviço que eu não mais poderia fazer. Não podia simplesmente dizer adeus
e deixar aqueles que tanto me ajudaram nas mãos.

Ela também me disse que eu poderia permanecer na casa nos ins de


semana, assim não tendo que ir e voltar com o Leo domingo à noite para
trabalhar.

Logo após sair da entrevista, iz questão de passar na agência para


agradecer a Carina por toda a sua ajuda. E, como eu esperava, ela icou
muito feliz por mim, apesar de um pouco receosa pela mentira que eu
estava prestes a contar. Mas se a dona da casa me queria lá assim mesmo,
eu não via um problema real.

E, caso fosse descoberto, Vic, com certeza, saberia domar o seu marido,
ou não teria me contratado.

Objetos passaram a ser luxo, desde que Mauro nos deixou, mas isso
não importava. Eu só precisava deixar Leo confortável. E isso era mais que
su iciente para mim.

O contrato assinado para que eu pudesse trabalhar na casa era bem


detalhado e com cláusulas que parecia que eu estava trabalhando para uma
celebridade, principalmente quando li a de con idencialidade, que dizia que
eu não podia falar sobre qualquer acontecimento que ocorresse dentro da

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mansão e, sobretudo, com o senhor Victor Hugo. Caso abrisse a boca, além
de perder o emprego, também teria que pagar uma multa exorbitante, que
nem mesmo se dinheiro caísse do céu eu teria como pagar. Não que eu
estivesse planejando falar sobre qualquer coisa, claro.

Outras cláusulas que compunham o contrato também chamaram


minha atenção, como, por exemplo, o fato de que eu poderia me locomover
por toda a extensão do térreo, jardim e demais locais, exceto o andar
superior. Vic explicou que, uma vez na semana, uma senhora fazia a limpeza
do andar, mas que eu não deveria fazer perguntas a respeito. E eu apenas
acatei.

Me foi explicado também, pela minha nova patroa, que eu passaria


pelo período de três meses de experiência e, caso fosse bem, continuaria o
trabalho normalmente.


Leo e eu morávamos humildemente, mas nunca tive vergonha.
Apesar de simples e pequena, nossa quitinete bastava para nós dois. Mas eu
não esperava receber visitas, muito menos da minha nova patroa em um
carro que custava mais que qualquer casa do bairro.

— Bom dia, Helena. Por que você ainda não está pronta? — Vic
questiona logo que abro a porta e tira seus óculos escuros.

— Eu... Bom, Leo e eu iríamos no im da tarde — respondo ainda


paralisada na porta. Sua roupa e suas joias estão impecáveis, como da
última vez que a vi.

— Precisamos fazer a matrícula do Leo antes da mudança. Eu não te


avisei que passaria aqui? Eu jurava que tinha mandado uma mensagem ou
pedido para alguém fazer isso...

— Bom, o meu celular parou de funcionar ontem...

— Mamãe, posso tomar tetê? — Leo pede manhoso pela leite com
chocolate e sorri para Vic quando a vê. — Bom dia, moça bonita. —
Galanteador que meu ilho é, estende a mão para cumprimentar minha nova
patroa, que se abaixa icando no mesmo nível dele.

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— Bom dia! Você deve ser o Leo. Meu nome é Vic.

— Você é muito bonita — diz arrancando uma risada dela.

— Obrigada. Você é um gentleman.

— Mamãe, ela me falou palavra feia... — Leo vira rapidamente para


mim, assustado, arrancando risada de nós duas dessa vez.

— Não é isso, meu amor.

— Eu só quis dizer que você é um “cavalheiro”. — Ela se justi ica


arrancando um sorriso do meu ilho.

— Ah... Mamãe, e o tetê? — Rapidamente se volta para o seu alvo


principal: a comida.

— Senta um pouquinho pra mamãe conversar com a dona Victoria


que eu já levo, tá? — Ele balança a cabeça e volta para o quarto. — A
senhora aceita uma água? — Dou-lhe espaço para entrar.


A primeira semana de trabalho passou rapidamente e segui tudo o
que me foi indicado por Vic, que insistiu que eu a chamasse assim. Ela teve
que viajar logo após eu me instalar na casinha que havia nos fundos da
propriedade.

Leo detestou o fato de ter de icar durante todo o dia na escola, e


admito que eu também não gostei muito, mas, ao início da segunda semana
meu ilho já estava animado e ansioso para voltar para a escola e ver seus
novos amiguinhos.

A gigantesca e imponente propriedade, apesar de linda, era


simplesmente vazia e precisava urgentemente de lores e música para
alegrar o local. Mas, seguindo as instruções de Vic, mantive meu velho
radinho a pilha no volume mínimo na cozinha.

— Helena! — Escuto a voz de minha patroa na entrada e


prontamente vou ao seu encontro.

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— Bem-vinda de volta! — cumprimento-a animada.

— Obrigada! — Seu sorriso é sincero. — Eu preciso sair e comprar


algumas coisas. Vim direto do aeroporto porque preciso conversar com
você rapidamente.

— Aconteceu alguma coisa, dona Vi... — Ela me olha com uma cara
feia e reti ico. — Vic. Só Vic. Sem dona.

— Bom, vai acontecer. Hugo está voltando hoje e ele pode ser um
pouquinho di ícil. Nessa última semana eu deveria ter icado para te
instruir melhor a respeito dele, mas, bem, obviamente eu não pude. — Ela
fala rapidamente como se nem precisasse respirar. — Você sabe as regras e
eu con io em você. Hugo está chegando e eu preciso que você as siga à risca.
Onde está o Leo?

— Claro, Vic. Ele está na escola.

— Isso é ótimo. Depois quero saber como está sendo a adaptação de


vocês, mas eu realmente preciso ir agora. — Sopra um beijo no ar e sai
rapidamente enquanto um time de pessoas começa a adentrar. — Os
funcionários sabem como funciona, ica tranquila.


Enquanto a cozinha é revirada por dois cozinheiros que preparam uma
refeição digna de reis, a piscina é limpa, assim como o jardim, e algumas
moças lustram as escadas. Um jardineiro tira a maioria das plantas que
estão mortas e adiciona algumas poucas.

Todos parecem saber bem o que fazer e, com a casa com mais
funcionários, pela primeira vez desde que eu me mudei sinto-me
completamente desnorteada.

Quando a campainha toca, imediatamente as poucas vozes que se


ouviam silenciam-se rapidamente e todos os olhos se voltam para mim,
deixando claro que abrir a porta para receber o patrão é a minha
responsabilidade.

Todos os funcionários se direcionam rapidamente para a cozinha,


deixando o silêncio ecoar.

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Tão logo abro a porta vejo um homem alto, usando um terno escuro e
com uma barba escura cheia. Seus olhos igualmente escuros pareciam
tristes e sua boca também, quando olhou diretamente nos meus olhos:

— Quem é você? — Sua voz era autoritária e arrogante, tirando-me o


fôlego momentaneamente.

— Eu... e-eu... Meu nome é Helena. Cuido da limpeza.

— Victoria! — brada entrando na casa sem me dar muita atenção. —


Victoria! Onde ela está? — Volta-se para mim.

— Ela saiu, dis...

— Isso eu notei! — resmunga irritado.

— Ela disse que iria comprar algumas coisas e que...

— Quando ela voltar... — Me interrompe mais uma vez. O que tem de


bonito, tem de mal educado! — Diga que a estou esperando lá em cima —
resmunga sem olhar em minha direção e subindo as escadas em seguida.

O estrondo de uma porta batendo me tira do torpor e percebo então a


porta de entrada ainda aberta e uma mala ao lado. Fecho a porta e coloco a
mala próxima à escada antes de voltar à cozinha. Todos pareciam estar mais
atentos ao que estava acontecendo comigo e com o patrão do que com o
próprio serviço.

— Pobrezinha, mal chegou e já está sofrendo com o mau humor do


senhor Victor Hugo. — Escuto uma voz antes de inalmente entrar no
cômodo e todos voltarem a me ignorar enquanto fazem seu trabalho.

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Capítulo 03
Vic chegou bem depois do meu novo patrão, o lindo e mal humorado
Victor Hugo e, antes de qualquer coisa, dispensou todos os funcionários,
eles já tinham terminado o serviço.

— Agora é a prova de fogo, Helena. — Vic diz entregando-me o copo em


que estava bebendo água.

— Não entendi...

— Bom, o Hugo é uma pessoa um pouco di ícil. — Para por um


momento e parece lembrar de algo. — Aqui! — Entrega-me uma sacola de
mercado com alguns pacotes de biscoitos recheados. Todos da mesma
marca e sabor. — Você pode abrir e colocá-los dentro daquele vidro?

— Claro! Mais alguma coisa?

— Pode me dar um pouco de paciência para lidar com o Hugo?

— Isso eu não posso fazer. — Sorrio junto com ela.

— Como ele entrou? Ainda não entreguei as novas chaves a ele.

— Eu abri a porta.

— Desculpa, Helena!

— Por quê?

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— Eu o conheço bem. Imagino que não foi a pessoa mais agradável que
você conheceu nos últimos tempos.

— Victoria!!! — Um grito ecoa por toda a casa. Céus, qual a necessidade?

— Vou resolver isso. Preciso de um desses. — Leva consigo um dos


pacotes de biscoitos, deixando a cozinha.

Como pedido, abro todos os pacotes e começo a colocá-los um sobre o


outro, organizando dentro do pote. Minha mãe me ensinou ainda quando eu
era criança que organização nunca é uma perda de tempo, é
aproveitamento.

Por bastante tempo não escuto um barulho sequer e decido ligar a


televisão no volume mais baixo, conforme a orientação da minha nova
patroa, bem na hora do início da minha novela.

Um dos poucos prazeres que me dou ao luxo é assistir novela. Quando


Mauro era vivo, gostávamos de ir ao cinema uma vez na semana, mas, na
minha situação atual, nem mesmo uma vez ao mês eu consigo. A dívida com
o banco ainda é grande e enquanto eu tiver forças para trabalhar,
continuarei pagando para que o meu ilho não cresça e saiba que deixei que
o nome do pai dele fosse manchado.

— Não, Gertrudes, não diz sim pra ele! Ele está dormindo com a sua
irmã! — reclamo para a mocinha da novela que está prestes a dizer “sim”
para o vilão no altar, mas não antes do im do capítulo.

— ... Então foi para isso que você insistiu em uma nova empregada,
Victoria? — Uma voz atrás de mim causa-me arrepio, me assustando e
fazendo o controle do aparelho cair da minha mão. — Pagar para ela icar
assistindo TV no horário de serviço?

Rapidamente desço da banqueta para pegar o controle e, perdendo o


equilíbrio, praticamente caio aos pés do meu patrão, segurando-me
literalmente em suas pernas e icando cara a cara com o meio da sua calça.

— O que você está fazendo? — grita horrorizado.

— Ai, meu De-de-us... Me des-desculpa. Eu não, eu não... Me desculpa, eu


não tive a intenção, senhor. Meu nome é Helena, eu sou a nova empregada.

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— Tá, você pode largar a minha... Minha perna e se apresentar para


mim, não para as minhas calças? — questiona irritado e percebo que não só
não o soltei, como estou com a mão no volume da sua calça e simplesmente
não consigo obedecer a ordem imediata da minha mente que diz para eu
soltá-lo. Enquanto minha patroa ri como se não fosse nada demais e me
ajuda a levantar.

— Me desculpa, senhor Victor Hugo. Me desculpa, Vic... — Abaixo a


cabeça envergonhada. — Eu sinto muito mesmo.

— Vic? Para você é doutora Victoria, no mínimo! — esbraveja. — Aqui


nesta casa você não é amiga, não é convidada. Aqui, você não passa de uma
empregada. E trata de desligar essa porcaria. — Aponta para a televisão e
sai imediatamente da cozinha.

Respiro fundo, envergonhada por toda a situação. Eu já estava


acostumada a trabalhar para algumas pessoas arrogantes e mal educadas,
mesmo que fossem a minoria. Eu sabia que lidar com ele seria di ícil, já
havia sido avisada, mas eu consigo me superar. É impressionante como eu
consegui nem o conhecer e já tirá-lo do sério.

— Hugo! — Minha patroa grita. — Helena, me desculpa. Ele não pode


descontar todos os problemas dele em você, nem em ninguém. Eu sinto
muito.

— Tá tudo bem, doutora Victoria.

— Você pode continuar me chamando de Vic.

— Eu sei o meu lugar, ele só estava me relembrando — informo com


um nó na garganta.

— Isso é ridículo. Não importa se você trabalha na limpeza ou se é CEO


de uma grande empresa, ele tem que te tratar com respeito. — Ela está mais
irritada que ele. — E isso não vai icar assim. Ele vai ter de te pedir
desculpas. Logo eu deixarei esta casa e ele tem de aprender a lidar com as
pessoas.

— A senhora vai embora? — questiono me arrependendo em seguida.

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Você não acabou de ser repreendida, Helena?

— Eu não moro aqui, Helena. Pensei que soubesse. Se Hugo e eu


morássemos novamente debaixo do mesmo teto, com certeza já teríamos
nos matado — brinca. — Além do mais, acabo de descobrir que estou
grávida e não posso icar lidando com as birras dele.

Até penso em perguntar por qual motivo icaria longe do marido,


principalmente estando grávida, mas o meu bom senso inalmente me
impede.

— En im, vou subir para falar com aquele cabeça dura e ele vai descer
pra te pedir desculpas, pode icar tranquila.

— Não, doutora Victoria, não faz isso. A senhora mesmo disse que vai se
mudar. Não acho que seja uma boa ideia fazê-lo se desculpar comigo —
confesso. — Ficaremos apenas os dois aqui e não quero piorar a situação.

— Mas ele precisa entender...

— Desculpa, mas eu pre iro assim, por favor — peço.

— Tem certeza, Helena? — con irmo com um aceno de cabeça. — Se


precisar de qualquer coisa, pode me ligar. O Hugo é uma pessoa di ícil de se
lidar, eu sei disso. Mas no fundo, não é uma pessoa ruim. Tenho certeza de
que ele vai perceber por conta própria o que fez e se desculpar.

— Não espero isso, doutora.

— Se você ousar me chamar de doutora mais uma vez, vou icar muito
chateada, Helena. E eu não posso icar chateada — avisa alisando a barriga
inexistente.

— Tudo bem, Vic — respondo-a com um sorriso.

— Mas me conta, como você e o Léo estão se adaptando aqui?

— Ele está apaixonado pela nova escola, nunca serei capaz de te


agradecer o su iciente.

— Eu só conversei com uma colega. Ela é diretora no colégio e


arrumou essa bolsa de estudos. Se o Léo mantiver boas notas e uma boa

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presença, até o inal do ensino médio ele tem uma vaga garantida. — Sorri
para mim e me sinto emocionada com o carinho de Victoria comigo e meu
ilho, pessoas que mal conhece.

— Eu preciso veri icar a despensa, — respondo com a voz um pouco


embargada, — mas já guardei todos os biscoitos como a senh... você pediu.
— Me corrijo quando ela me lança um olhar irritado.

— Vai lá. No im de semana quero você e o Leo prontos. Vou levar


vocês em um lugar. E não aceito um “não”, porque não é um convite, é uma
ordem. — O celular dela começa a tocar. — Vou falar com o Hugo e depois
preciso sair. Vejo você depois, Helena. — Me dá um beijo no rosto e sai.

Céus, como uma mulher tão boa e gentil foi capaz de casar-se com
um mal educado e grosseiro como ele?

Ignoro mais uma vez meus pensamentos e vou continuar meu


trabalho.

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Capítulo 04
No mesmo dia em que fui contratada a cozinheira se demitiu, pois não
aguentava mais o patrão e não tiro a razão dela. Enquanto o senhor Victor
Hugo estava viajando, eu só tinha de me preocupar em fazer comida para
mim e para Léo em nosso novo cantinho, mas agora que ele estava de volta,
combinei com Vic que eu faria as refeições enquanto não fosse contratada
uma nova pessoa.

As palavras trocadas entre nós eram poucas. Principalmente vindas da


parte dele. Vic avisou que eu poderia continuar assistindo minha novela
sem problema algum, até porque ele não estaria em casa no horário.

Na sexta-feira, após eu servir seu café da manhã, senhor Victor Hugo,


vestido de forma mais casual que de costume, usando apenas um short e
uma regata, agradeceu e saiu para a piscina pela primeira vez desde que
havia chegado de viagem.

Eu não sabia no que ele trabalhava e me ocupei para que não


procurasse saber. Só o que eu precisava era manter meu emprego. O salário
era muito bom e os bene ícios vantajosos. Não saber se o meu patrão era
um chefão do crime ou dono de um bar na esquina não fazia diferença.

Quando chegou o horário da minha novela, após o almoço, optei por


não a assistir. A última coisa que eu queria era confusão, mesmo que
soubesse que neste capítulo o mocinho procuraria a mocinha para declarar
o seu amor, depois que a cerimônia de casamento dela com o vilão tinha
sido apenas adiada.

Enquanto anotava o que faltava na geladeira, escuto uma voz:

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— Coloca os meus biscoitos na lista. — Um tanquinho com boca,


digo, meu patrão sem camisa e só com uma sunga branca está parado ao
meu lado com a água escorrendo em câmera lenta pelo seu peitoral,
seguindo o caminho pelo seu tanquinho que tem um, dois, três, quatro...
Perdi as contas, muitos gominhos, até... — De morango, por favor.

— Claro, senhor. — Tento disfarçar a baba que escorreu no canto da


minha boca ingindo que não estava descaradamente olhando para o corpo
do meu patrão. — Ma-mais alguma coisa? — Me forço a olhar para o seu
rosto e encontro lindos e tristes olhos que ao mesmo tempo parecem estar
se divertindo.

Por que ele está tão próximo de mim?

— Nada de novela hoje? — Um sorriso leve se faz presente em seus


lábios.

— Não. Tenho muito trabalho a fazer, senhor.

De repente seu rosto se fecha como se o tivesse insultado.

— Vê se anota o sabor certo — fala irritado e volta para a área da


piscina.

Além de tudo é maluco. Não me surpreende que ele e Vic morem em


casas separadas.


O sábado chegou e com ele Vic também. Com um shortinho jeans e
uma regata, ela entrou na minha casa sorrindo.

— Vocês ainda não estão prontos? — questiona a mim e ao Léo, que


estamos assistindo “Procurando Nemo” na TV.

— Vic! Mamãe, pausa! — rapidamente Léo me ignora e vai até sua


crush abraçando-a. — Senti sua falta.

— Eu também senti sua falta, carinha. E trouxe um presente. —


Levanto-me indo até eles e vejo Vic entregar um embrulho pequeno para

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ele.

— O que é? — pergunta animado.

— Você vai ter de abrir para saber. — Dá de ombros e ele me olha


imediatamente, pedindo permissão. Aceno positivamente com a cabeça e
ele começa a rasgar o pacote.

— Tenho um presente para você também, Helena. — Entrega-me um


embrulho menor.

— O quê? Não, não precisa, Vic. — Tento devolver.

— Claro que precisa. Eu gosto muito de vocês dois.

— Nós também gostamos de você, mas não é pelo seu dinheiro...

— Uau, uma pista com carrinhos! — Léo grita animado. — Obrigado,


Vic!

— De nada, carinha. Por que não leva para o quarto para montar? —
Ele rapidamente acena com a cabeça e vai para o seu quarto, mais uma das
coisas que me deixa feliz é o fato de meu ilho ter um quarto para ele. —
Muito me ofende você dizer o que disse, Helena.

— Mas é a verdade, Vic. Não gostamos de você pelo seu dinheiro.

— Isso é óbvio. Eu sei muito bem disso. Não precisa dizer.

— Eu sinto muito, mas não posso aceitar seu presente. O do Léo,


dessa vez aceitarei, mas, por favor, caso tenha vontade de presenteá-lo
novamente, fale comigo antes. — Ela parece confusa. — O que você pode
dar a ele, eu não posso. E a questão não é inveja por outra pessoa poder dar,
é que eu não quero que o Léo se acostume a algo que eu não posso
proporcionar.

— Me desculpa, Helena. A minha intenção não era te ofender ou


passar por cima de você...

— Eu sei. É que... en im. Obrigada, Vic, de verdade.

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— Isso signi ica que não vão sair comigo hoje? — Põe o pequeno
embrulho de volta na bolsa. — Vamos lá, vai ser legal. Vou levar vocês em
um parque.

— Que tal depois do pagamento?

— O que é isso, Helena? Vamos lá, eu pago.

— Não me sinto confortável, Vic, desculpa.

— Eu entendo. Eu acho. Eu que te peço desculpas. — Coloca os


óculos escuros no rosto. — Manda um beijo pro carinha.

— Mando sim.

— Você sabe se o Hugo está em casa?

— Ontem quando voltei do mercado ele disse que eu só deveria


voltar na segunda-feira.

— Deve estar acompanhado — resmunga irritada. — Segunda-feira


eu passo aqui então. Beijo.

O quê? É só isso que ela vai dizer?

— Beijo. — Fecho a porta atônita.

Como assim o marido está com outra e ela só deixa para lá? Será que
é por isso que eles moram em casas separadas? Será que eles só estão
juntos por conta da gravidez?

— Para com isso, Helena. Você não tem nada a ver com a vida dos
patrões — resmungo comigo mesma.


O im de semana passou rápido e, após eu colocar o Léo na van para
a escola, fui direto fazer o café da manhã para o patrão. Rapidamente eu
terminei e logo que estava terminando de servir à mesa, ele desceu as
escadas com o cabelo bagunçado, cara de sono, com o celular na mão e
usando apenas uma calça de pijama, tirando minha concentração e me

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fazendo derrubar água quente na minha perna quando tentava pôr sobre a
mesa.

— Ai, merda!

— Helena? Ah, droga.

Repentinamente sou alçada e levada rapidamente para a cozinha,


sendo colocada em seguida sobre a bancada fria. A dor da queimadura não
é a única que lateja. Todos os lugares onde ele tocou em mim estão tão
quentes quanto e, de repente, minha calça é cortada e um pano molhado é
colocado sobre a minha pena.

— Ai! — Por que estou deixando um homem como ele tirar minha
atenção? — Por que eu tenho que ser assim?

— Calma. Eu só preciso por uma camisa e já vamos para o hospital.


— Ele nem me dá tempo para responder e sai correndo de volta para a sala.

Rapidamente Victor Hugo retorna para a cozinha vestindo uma


camisa do lado avesso.

— Como está?

— A camisa do senhor está do lado avesso — aviso.

— O quê?

— A camisa. — Ele olha e ignora.

— Como você está, Helena?

— Eu tô bem, não precisa se preocupar. — Tento descer sozinha da


bancada, mas minha perna arde ao ponto de quase me fazer chorar.

— Vou te levar para o hospital. — Me pega no colo mais uma vez.

— Não precisa, senhor Victor Hugo.

— Isso é um aviso, Helena — inaliza levando-me até seu carro.

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Capítulo 05
Quando percebi que Victor Hugo estava me levando para um hospital
particular, cogitei abrir a porta do carro e me jogar, mas logo que minha
mão alcançou a maçaneta, voltei a mim e tentei argumentar:

— Senhor, pode me levar ao hospital público, eu não tenho como pagar


um hospital como esse.

— Você não tem que se preocupar com isso. Como está a perna? — Ele
avança um sinal vermelho.

— Puta merda. O senhor pode não fazer isso? — Suas mãos apertam tão
fortemente o volante que os nós dos seus dedos estão brancos. — Me leva
pro SUS, por favor.

— Deixa que eu me preocupo com isso, Helena. — Para bruscamente no


estacionamento de um hospital e desce abrindo a porta para mim em
seguida. — Passa os braços pelo meu pescoço e segura. Tenta me pegar no
colo, mas me recuso, mesmo sentindo dor.

A última coisa que preciso é de uma dívida com um hospital.

— Helena, não seja teimosa, por favor — resmunga irritado.

— Eu não vou nesse hospital, senhor! — Cruzo meus braços e seguro


o cinto de segurança.

— Caralho, mulher, vou ter que chamar o seu marido?

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— Boa sorte para tentar tirá-lo do caixão — resmungo com


amargura.

— Eu não sabia, me desculpa — responde, se dando por vencido. —


Eu sinto muito mesmo, vou te levar no hospital público.

— Eu agradeço imensamente. — E antes que eu consiga fechar o


cinto, ele consegue me puxar para fora do carro no seu colo. — Para com
isso. — Dou alguns tapas nele, mas Victor Hugo não parece se abalar. — Eu
vou te acusar de sequestro! — grito.

— A doutora Victoria Mendes, rápido. Diga que é Victor Hugo e é


uma emergência — fala para um enfermeiro que sai rapidamente à procura
da médica.

— O senhor pode me colocar no chão.

— Não enquanto eu não puder garantir que não irá fugir.

— Quem tem motivos para descon iar das intenções de alguém aqui
não é o senhor! — Me contorço em seu colo, mas nem assim ele me coloca
no chão.

— Pode colocá-la nesta maca, senhor. — Uma enfermeira de pele


clara com o rosto pintado com sardas informa gentilmente.

— Somente após Victoria vir até nós — avisa e nem mesmo dá a


chance de a enfermeira argumentar. — Pode chamá-la, por favor? — Por um
momento ele sorri e, um pouco constrangida, ela também sai à procura de
Vic.

— Isso é ridículo, senhor Victor Hugo. Tenho idade su iciente para


não agir como uma criança e tentar fugir de um hospital. — Tento forçá-lo
mais uma vez a me tirar do seu colo.

O que Vic vai achar quando me vir assim no colo do marido dela?
Pior, o que ela acharia se soubesse os pensamentos que tenho tido com ele?

— Pode se contorcer o quanto quiser, isso só vai fazer com que seu
corpo ique mais próximo e apertado pelo meu, Helena. — Sua voz irritada
e um pouco rouca faz com que eu ique quieta imediatamente.

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Prioridades, Helena! Você não é nenhuma adolescente


inconsequente. Você tem contas para pagar e um ilho para criar. Não pode
se entregar à luxúria.

— Isso mesmo. Fica quietinha. — Ele fala próximo do meu ouvido e é


inevitável meus pelos não eriçarem e meus pensamentos voltarem
totalmente a ele novamente. Olho para o seu rosto tão próximo ao meu.

Meu Deus, por que colocar uma tentação dessa tão próxima a mim?

— O que aconteceu, Hugo? Helena? — A voz de Vic me traz de volta à


realidade. — Hugo, coloca ela na maca. Você e você, me ajudem aqui, por
favor — fala com os dois enfermeiros que meu patrão pediu para procurá-
la. — O que aconteceu, gente?

— Eu derrubei água fervente — admito. — Estava servindo o café.

— Vamos cuidar de você agora mesmo! — Vic avisa preocupada


quando vê minha perna. — Hugo, dá para colocá-la na maca? Desgrudem!
— E assim ele faz.

— Vic, eu pre iro ser atendida em um hospital público — peço e


ouço meu patão praticamente rosnar irritado.

Não entendo para que tanta insistência. Eu não o processarei por um


erro meu.

— Olha, Helena, se a gente demorar, sua perna pode icar com uma
mancha enorme, até mesmo cicatrizes se eu não examinar logo para ver o
que pode ser feito. Vamos cuidar de você, tá bom?

— Mas...

— Eu já avisei a ela que arcarei com os custos do hospital. — Ele


resmunga.

— Por que faria isso? Helena, quando você assinou o seu contrato,
automaticamente você passou a ter plano de saúde. Eu te expliquei isso.

— Mas... E o período de carência?

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— Fica tranquila, você não tem que gastar com nada. — Eu e meu
patrão nos olhamos rapidamente, ambos sem saber o que dizer e optamos
pelo silêncio. — Eu nunca contrataria um plano com período de carência
para qualquer pessoa que trabalhasse para o Hugo — avisa com um sorriso
e novamente ele parece rosnar.


— Como você conseguiu fazer isso, Helena? — A queimadura é
estendida desde o início da minha coxa direita até próximo ao meu joelho.

— Acho que coloquei a água muito próxima da borda da mesa — falo


baixinho. Victor Hugo não para de nos observar. — Foi falta de atenção.

— Que bom que o Hugo agiu depressa cortando a sua calça e colocando
o pano úmido. — Ela sorri para ele. Os dois combinam e, apesar de como ele
se mostra ser, parece que se dão muito bem. — Você só vai precisar
descansar alguns dias e passar uma pomada para não icar manchada, de
resto, acho que você está muito bem. Foi apenas uma queimadura
super icial.

— Sério? Obrigada, Victoria.

— Eu não brincaria com pernas tão lindas, Helena — sorri. — Não é


mesmo, Hugo? Hugo, ela não vai trabalhar essa semana, você está sendo
avisado pessoalmente pela médica.

— Você vai comigo ou de táxi, Helena? — ignora completamente a


esposa, que apenas revira os olhos.

— Posso falar com você um minutinho, Hugo? — Ele acena com a cabeça
e os dois saem da sala, deixando-me sozinha com o enfermeiro.


Optei por voltar para casa com o senhor Victor Hugo. Ele se mostrou
disposto e, dessa vez, não me carregou no colo; o enfermeiro que auxiliou
Vic, Roberto, levou-me em uma cadeira de rodas e me ajudou a entrar no
carro.

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Diferente de quando estávamos vindo para o hospital, dessa vez meu


patrão dirigiu mais devagar e prudentemente. Chegando, ele me ajudou a
descer e até mesmo me deu apoio até a frente da minha casa.

— Eu peço desculpas mais uma vez, senhor Victor Hugo. E agradeço por
ter se disponibilizado a me ajudar. — Paro na porta. Não posso deixá-lo ver
os brinquedos que Leo deixou na sala.

— De nada, Helena. Mais tarde eu vou pedir comida, quer jantar


comigo?

— Não! — respondo rápido demais e, imediatamente, seu rosto se fecha


em uma carranca. — Quer dizer, não, obrigada. Eu tenho comida aqui. Mas
obrigada mesmo assim, senhor.

— Certo. Eu só queria ter certeza de que você não seria estúpida o


su iciente para se machucar ainda mais. — Vira as costas e volta para a
mansão, deixando-me sem palavras mais uma vez.

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Capítulo 06
Victoria visitou-me no dia seguinte dizendo que somente queria
examinar minha perna. Ainda estava incomodada com a dor, mas nada que
me impedisse de continuar com o serviço para o qual fui contratada. E
mesmo contra sua indicação, na manhã seguinte já estava de volta nas
minhas funções.

Sempre fui determinada e não seria uma queimadura boba que me


impediria de trabalhar, correndo o risco de perder meu emprego.

Entrando na cozinha, após levar Léo até a van para a escola, era
notório que alguém havia tentado não só cozinhar, como também limpá-la
de modo muito falho. Toda a louça que fora lavada parecia nem ter visto
água. E pensar na possibilidade do arrogante Victor Hugo com uma bucha
em mãos me fez rir sozinha. Coloco tudo de volta na cuba da pia e começo a
lavar antes de começar a preparar o café da manhã.


— O que faz aqui? — A voz do meu patrão ecoa irritada pela cozinha e,
assustada, derrubo um copo, quebrando-o no chão. — Porra, você não sabe
não tentar se machucar, mulher?

— Se o senhor não tivesse me assustado, eu não teria quebrado o copo


— reclamo e um rápido vislumbre de sorriso passa pelos seus lábios. — Me
desculpa, mas o senhor me assustou.

— Não se mexa — ordena. — Vou te ajudar...

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— Eu sei lidar com cacos de vidro, senhor Victor Hugo — resmungo me


movimentando devagar para sair da bagunça que se instaurou na cozinha.

— Tenho a plena certeza de que você gosta de me irritar e que está


querendo uma indenização por acidente de trabalho.

— É o quê? — grito indignada ao mesmo tempo que a água no chão me


faz escorregar, quase me fazendo cair com as mãos nos cacos de vidro,
sendo impedida apenas por meu patrão, que me ajuda imediatamente. — O
senhor... — Enquanto segura meus braços, noto que estamos próximos
demais para um patrão e uma empregada. — Eu não... — Seu rosto se
aproxima mais do meu como se fosse me beijar e faço com que me solte.

Ofegante, apoio-me no balcão enquanto ele passa a mão pelo rosto


irritado.

— Isso é um absurdo. Eu não estou procurando uma... — respiro fundo.


— Uma indenização ridícula. Nunca tive medo de trabalho e não permito
que me ofenda dessa forma.

— Eu...

— Não me importa o que o senhor acha. — Minha voz começa a subir


gradativamente. — Eu nunca o ofendi e sempre o tratei com respeito.

— Exceto quando me conheceu e segurou o meu pau, certo? — Ele é


irônico e está claramente tentando me tirar do sério. E, para piorar, está
conseguindo.

— Eu não... Eu... Eu já pedi desculpas, não foi a minha intenção sequer


tocar no senhor. Por um segundo que fosse. — aponto-lhe um dedo no
rosto. — Além do mais, se eu quisesse viver encostada, eu já estaria
realizando os trâmites necessários. O senhor pode me lembrar o quanto
quiser de que eu sou apenas uma empregada... — Ele me observa
atentamente. — Porque não tenho a mínima vergonha, trabalho
honestamente. Mas não permito que me trate como uma folgada que só está
procurando um motivo para parar de trabalhar.

— Helena...

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— E quer saber? Eu não vou limpar essa bagunça... — Tiro o pano de


prato do meu ombro. — Que o senhor mesmo fez.

— Eu?

— Sim, o senhor. Se quiser me demitir, vai em frente, mas não vou icar
aqui escutando o senhor falar merda sobre o meu caráter e menos ainda
limparei isso. O icialmente estou de atestado. — Tiro o avental e coloco em
cima da bancada. — O senhor que limpe a própria bagunça. Até segunda-
feira. — Passo por ele tremendo de raiva.

Logo que chego na minha casa, cogito voltar imediatamente para pedir
desculpas e implorar que ele não me mande para o olho da rua, mas antes
mesmo que eu vença o meu orgulho e chegue à porta, escuto algumas
batidas. Con iro rapidamente se não há nada que entregue a mim e Leo e,
após guardar rapidamente seu dinossauro de pelúcia, abro a porta
encontrando um Victor Hugo desconfortável.

— Oi, Helena — começa logo que me vê. — Eu sou um pouco idiota às


vezes.

— Um pouco? — Para, Helena, não tripudia.

— Você pode me ajudar? Estou tentando me desculpar.

— Ainda não ouvi o pedido de desculpas, senhor. — Cruzo meus braços,


me divertindo um pouco com a situação, admito.

— Não é algo que tenho o hábito de fazer — admite. — Mas eu sei que
estou errado. Você não quebrou o copo de propósito.

— Ainda não ouvi o senhor me pedindo desculpas, só está falando o


óbvio — falo e ele sorri.

— Você é atrevida! — Seu sorriso aumenta.

— O senhor não ia me pedir desculpas?

— Certo. — Ele parece não conseguir parar de sorrir. — Me desculpe


por ter me exaltado, Helena. Mas você...

— Não tem “mas” em um pedido de desculpas, senhor Victor Hugo.

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— Existem regras para pedido de desculpas?

— Se não existem, deveriam existir. — Dou de ombros. — De qualquer


forma, vou ignorar o “mas” e deixar para lá. Em se tratando do senhor, isso
já é uma grande vitória.

— Você pode voltar, por favor?

— Não vou catar os cacos de vidro. Se é por isso que o senhor está aqui,
pode ir tirando o seu cavalinho da chuva.

Meu Deus, cala a minha boca e me faz parar de desa iar o meu patrão. Eu
preciso deste emprego.

— Eu mesmo farei isso. Mas como pôde notar, sou um desastre na


cozinha. Até tentei me virar sem você, mas não deu muito certo. — Coça a
cabeça um pouco sem jeito. — Poderia fazer aquele café, por favor?

— Com uma condição.

— Você é paga para isso, Helena — resmunga rindo.

— É, mas eu estou de atestado — retruco.

— Tá, qual a condição?

— Que eu possa assistir minha novela à tarde. O mocinho acaba de ser


preso porque acham que ele sequestrou a mocinha, mas, na verdade...

— Tá, Helena, não precisa me contar a história toda. Você pode assistir o
raio da novela.

— Obrigada, senhor Victor Hugo! — Quase dou um pulo de alegria. —


Eu prometo que o volume vai icar baixinho.

— Ah, mas disso eu tenho certeza. — Ele até tenta disfarçar o sorriso
com uma carranca, mas parece uma criança quando termina: — Você
também me faz um bolo, Helena?


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Logo após o café da manhã, Victor Hugo avisou que só voltaria à noite e,
estranhamente, agradeceu cada coisa que iz por ele, além de pedir-me
desculpas mais uma vez pelo copo.

No im do dia, quando Leo chegou em casa, já estava tudo pronto e só o


que me restava era mimar meu bebê com o pedaço de bolo que eu havia
guardado para ele depois que meu patrão simplesmente quase devorou um
bolo de chocolate inteiro praticamente sozinho e tentou me obrigar a comer
um pedaço.

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Capítulo 07
Senhor Victor Hugo viajou alguns dias após a cena que protagonizamos
na cozinha e até mesmo nossa relação teve certa mudança. Ora ele me
tratava bem, ora nem olhava em minha direção. E eu simplesmente o
cumprimentava com o meu humor natural, irritando-o na maioria das
vezes.

Após deixar tudo limpo, decidi ir até Carina levando-lhe uma torta de
limão, aproveitando que Léo ainda estava em aula. Eu já havia agradecido a
ela, mas nunca custava agradecer mais uma vez, principalmente estando
acompanhada de uma boa sobremesa.

— Oi, Helena. — Vic desce do carro logo que me vê. — Você está de
saída?

— Hum... Sim. Eu vou levar essa torta para uma amiga — informo. —
Precisa de alguma coisa?

— Não, eu vim só conferir algumas coisas que Hugo me pediu. Que


tal jantar lá em casa hoje à noite?

— Obrigada pelo convite, mas, sinceramente, estou indo para o


centro de São Paulo, depois vou buscar o Leo na escola e...

— Só ouço desculpas, dona Helena. — Vic revira os olhos. — Estou


começando a achar que você não quer ser minha amiga...

— Onde já se viu empregada amiga de patrão, Vic? — falo e me


arrependo imediatamente, principalmente quando ela me lança um olhar

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magoado.

— Bom, se você acha isso, tudo bem. A sinhá aqui vai fazer o que o
Hugo pediu.

— Vic... Eu...

— Esperava palavras como essas vindas do Victor Hugo, não de você,


Helena. — Sobe as escadas em direção à porta enorme de madeira. — Mas
está tudo bem. Você está decidindo se “por” o lugar em que acha que deve
icar.

— Me desculpa, Vic, eu não quis dizer isso. De verdade. — Sou sincera,


mas ela simplesmente entra e fecha a porta. E não tiro a sua razão.

Decido deixar de lado meus planos de visitar Carina, já que nem mesmo
havia marcado, para me desculpar de verdade com Vic, que tanto me ajudou
desde o primeiro momento.

A casa é enorme, pelo menos o andar inferior, que é o único que eu


conheço, conforme as ordens. Logo que passo pela porta vejo o hall, com
um chão em mármore que se estende por toda a casa. A decoração é bem
simplista, apesar de icar bem claro que foi investido um grande valor nos
adornos.

Na sala tem um grande lustre dourado com cristais pendentes e os


grandes sofás brancos são os protagonistas do cômodo. Também há uma TV
enorme que nunca vi ligada, além de uma estante cheia de uma variedade
gigantesca de livros e alguns aparadores, onde deixo a torta.

Sentada em um dos sofás está Vic, claramente chateada enquanto mexe


no celular.

— Vic... — Sento-me ao seu lado. — Me desculpa, de verdade; eu


realmente gosto muito de você, é só que...

— Eu estou muito sensível, devem ser os hormônios...

— Mesmo assim eu não deveria ter dito o que disse.

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— Você realmente se sente assim em relação a mim? — Deixa o celular


de lado e se vira para mim. — Eu te tratei como inferior em algum
momento?

— O quê? Não, em nenhum momento.

— Eu estou sendo invasiva, é isso? Pode me dizer o que eu estou


fazendo de errado...

— Vic, você não fez nada de errado — suspiro. — Eu estou com a cabeça
cheia. Mas isso não é desculpa para eu te tratar como tratei.

— Por que não me falou, Helena? Eu realmente gosto muito de você e do


Léo. Quero ajudá-los da melhor forma possível...

— Não vou mentir, Vic. Desde que o Mauro se foi, não tive tanta ajuda
quanto precisei. E, de certa forma, tornei-me um pouco cética. Não é que eu
não acredite em você ou nas suas intenções, eu só... Bom, eu...

— Eu entendo, Helena, e sinto muito pelo que vocês passaram. Mas


nunca mais ouse falar comigo daquela forma! — reclama já com um sorriso
no rosto.

— Prometo! — Levanto meu dedo mindinho e ela faz o mesmo,


cruzando com o meu. — Faz o que o patrão pediu e me encontra lá em casa,
vamos comer a torta que eu iz.

— Tá bom. Vou em um minuto — garante.

Passando pela porta dos fundos, contorno a piscina retangular e sigo


pelo caminho de pedras até minha casa. Ela não é nova, tem uma grande
janela na lateral, que ica no quarto, e uma pequena varanda na entrada;
acho meu cantinho um charme.

Quando me mudei estava praticamente mobiliada por completo, exceto


pelos dois quartos completamente empoeirados. Até mesmo um sofá-cama
tinha na sala. Os móveis, assim como a casa, eram velhinhos, mas tudo
perfeito para mim e para o Leo.

A cozinha separada da sala com um balcão, que usamos como mesa,


estava limpa e organizada, precisando somente que eu separasse os

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utensílios para comermos nossa torta.


Vic e eu tivemos uma tarde extremamente divertida regada a comida e
ilmes ruins, como Sharknado que, até então, eu não conhecia, mas ela
a irmou ser o ilme preferido dela e de Victor Hugo.

Fiquei surpresa após saber inclusive que existem várias sequências do


ilme, as quais recusei-me prontamente a assistir, sendo convencida ao ser
chantageada por ela utilizando a gravidez.

— Não faz sentido nenhum! Isso não existe.

— Mas não é para fazer sentido, Helena. — Dá de ombros. — O Homem


de Ferro também não existe, mas nem por isso deixo de assistir Os
Vingadores. Inclusive, quanto homem gostoso reunido em um universo só,
hein?

— Vic, você é uma mulher casada! — brinco ingindo que estou a


repreendendo.

— E daí? Ele também adora assistir, sempre baba na Viúva Negra.

Já era praticamente noite quando terminamos o terceiro ilme e,


enquanto eu levava a louça que usamos para a cozinha, o celular da Vic
tocou e aproveitei para dar-lhe um pouco de privacidade.

— O quê? Não, estamos a caminho, ica tranquila. — A voz dela ica alta
de repente. — Como assim Conselho Tutelar? Eu estou a caminho.

— O que houve, Vic? — Volto rapidamente para a sala.

— Você disse que iria buscar o Léo na escola?

— Merda! Eu ia depois que passasse na minha amiga — reclamo


desesperada. — Esqueci completamente. Preciso buscar meu ilho. — Calço
meus chinelos.

— Vamos, eu te dou uma carona.

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— Que tipo de mãe esquece o ilho na escola?

— Calma, Helena, vamos lá... — Abre a porta e passo rapidamente. —


Tem mais uma coisa...

— O que mais eu esqueci? — Paro repentinamente e ela colide com seu


corpo contra o meu.

— Você não, mas... Melhor eu falar de uma vez. Bom, o Conselho Tutelar
está na escola com o Léo.

— Ah, merda!

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Capítulo 08
Já passava de oito horas da noite quando inalmente chegamos à
escola, depois do fatídico trânsito de São Paulo, e encontramos uma furiosa
diretora com meu ilho junto. De imediato Leo tentou vir até mim, mas foi
impedido por ela.

— Cadê o Conselho Tutelar? — É a primeira coisa que Vic diz.

— Boa noite, professora Gardênia — falo tentando não me


amedrontar com a magérrima, de cabelos cacheados e alta diretora da
escola. — Eu sinto muito pelo mal entendido.

— Mal entendido? A senhora deixou um menor na escola três horas


além do horário dele e ainda não atendeu o telefone. — Solta a mão de Léo
que vem até mim, pulando no meu colo.

— Ah, Gardênia, eu tenho certeza que a Helena não é a primeira nem


a última a se atrasar para buscar o ilho. — Vic tenta intervir.

— Não, não é. Mas, respondendo à sua pergunta, Victoria, o Conselho


Tutelar não está aqui, desta vez... Caso haja reincidência, podem ter certeza
que não hesitaremos em chamá-los. — Ela parece mais irritada que quando
chegamos. — E a senhora, dona Helena... — Faz questão de apontar para
mim enquanto seguro irmemente meu ilho no colo, pedindo-lhe desculpas
baixinho. — Precisa claramente rever suas prioridades, além de que precisa
atualizar o seu número de telefone. Estamos tentando há bastante tempo
falar com a senhora.

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— Eu peço desculpas, professora Gardênia. Estou sem telefone faz


um tempinho. Providenciarei um ainda esta semana mesmo e virei
pessoalmente à escola atualizar qualquer alteração — garanto.

— Enquanto isso, pode entrar em contato diretamente comigo. —


Vic avisa. — Eu e Helena nos vemos quase todos os dias, você sabe, ela
trabalha com o Hugo e...

— Claro, sem problemas, Victoria. — Um estranho sorriso se abre


levando-me a acreditar que não foi à toa que minha amiga citou o marido.
— Como ele está, falando nisso? Faz tempo que não o vejo...


A maior demora foi Vic falando sobre Victor Hugo para a diretora.
Descobri coisas sobre ele que eu nem mesmo imaginava, como por
exemplo, que ele trabalha com moda; para ser mais exato, tem diversas
fábricas e lojas espalhadas pelo Brasil. Mas, por mais que eu tenha icado
interessada, ninguém estava mais interessado que a própria professora
Gardênia. Uma pena que não foi o su iciente para ela esquecer o episódio e
fez-me assinar uma espécie de advertência antes de inalmente nos liberar.

Léo acabou cochilando na volta para casa, depois de muito conversar


com Vic. Tudo o que eu não podia era gastar no momento, mas havia
prometido à professora Gardênia que iria resolver minha questão telefônica
o quanto antes. E minha palavra era uma das poucas coisas que me restara.
Eu não falharia.

Tão logo coloquei Léo na cama e voltei para a sala, Vic abriu sua bolsa e
me entregou a caixa que havia tentado me entregar junto com o presente
que havia trazido ao meu ilho dias antes.

— Olha, eu sei que você é orgulhosa, cabeça dura, mas isso não é só por
você, isso é pelo Léo. — A caixa é pequena e está embrulhada com um papel
de presente dourado.

— Vic, eu já disse que não precisa...

— Você pode me deixar ajudar, por favor? — reclama. — Como seria se


eu estivesse sem bateria?

fevereiro•2022
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— Eu não esqueceria meu i...

— Mas você esqueceu, Helena. Você é um ser humano. — Foco meu


olhar na pequena caixa nas minhas mãos. — Você tem vinte e seis anos e
muita responsabilidade nas costas. Qual o problema de ter um pouco de
ajuda?

— Não quero que você pense que eu estou me aproveitando de você, do


seu dinheiro, Vic. Você já fez tanto por nós...

— Helena, eu já te disse. Te considero uma amiga. Uma ótima amiga. —


Me dá um abraço rápido.

— Eu sei, mas... Bem, eu já passei por algo semelhante, Vic. E não quero
que aconteça novamente.

— Sei que você passou por coisas demais. Coisas que você nunca
deveria ter passado. Ser humano nenhum, na verdade... Eu também sei,
Helena, do seu caráter. O pouco que nos conhecemos já me mostrou isso.

— Signi ica muito para mim suas palavras, Vic. E eu realmente te


considero uma boa amiga.

— Se um dia, por acaso, deixarmos a amizade no passado, continuarei


orgulhosa de ter sido sua amiga. — Abraça-me novamente. — Está tarde e
eu preciso ir para casa. Qualquer coisa, você tem meu número e agora
também um celular. Pode sempre me ligar, ok?

— Obrigada, Vic.


Praticamente não dormi durante a noite. Mauro icaria decepcionado ao
extremo comigo se soubesse o que aconteceu e durante boa parte da noite
pedi-lhe milhões de desculpas, mesmo que não tenha certeza de que ele me
ouvia.

Levantei-me ainda mais cedo que de costume e resolvi eu mesma levar


Léo para a escola e informar o meu novo número de telefone na secretaria
da escola. Também pedi desculpas ao meu ilho por tudo o que havia

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acontecido no dia anterior prometendo-lhe que, ainda esta semana, o


levaria para ver Carina.

Peguei o primeiro metrô que pude tentando voltar rapidamente antes


do senhor Victor Hugo voltar de viagem. Não queria que ele achasse que,
quando não estava em casa, eu estivesse fugindo do meu trabalho.

— Bom dia, Helena. — Escuto sua voz logo que estou contornando a
casa para entrar pela porta dos fundos.

— Bom dia, senhor Victor Hugo. — Viro-me devagar. — Eu estava...

— Voltando da farra essa hora? — Sua voz parece irritada como sempre
e bate a porta do carro. — Não ligo para o que faz quando está fora do
horário de trabalho, mas das sete e meia às quatro da tarde, você tem as
suas obrigações aqui nesta casa.

— Eu fui comprar seus biscoitos... — minto.

— E onde estão? — Cruza os braços vindo em minha direção. — Não


estou vendo sacola em suas mãos. — Ele se aproxima mais.

— Não encontrei o sabor que o senhor gosta. — Afasto-me um pouco.

— Desde quando você se arruma tanto para ir ao mercado?

— Ora, eu... Eu não te devo satisfações sobre isso.

— Até mesmo passou perfume, Helena... — Ele continua a se


aproximar à medida que eu me afasto. É quase uma perseguição.

— Eu preciso entrar... — reclamo quando sou encurralada em uma


parede. Cada uma de suas mãos são espalmadas ao lado do meu rosto. — O
senhor deseja café?

— Café não. — Sua língua molha seus lábios.

— Eu iz pães de queijo. O senhor gosta?

— De muitas coisas que você faz, Helena... — Sua voz está baixa e
seu rosto muito próximo do meu.

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— Vou indo. — Sequer me movo.

— Tudo bem. — Ele sorri e tira os braços libertando-me e


praticamente corro dele. — Helena...

— Sim, senhor? — Paro sem querer correr o risco de tropeçar em


mim mesma e cair nas roseiras que rodeiam a propriedade.

— Vou aceitar o café também.

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Capítulo 09
Estranho é pouco para de inir a cena protagonizada por mim e pelo meu
patrão. O mais rápido que pude, coloquei a mesa e tentei evitar qualquer
tipo de contato com ele.

Na noite anterior eu estava falando com Vic sobre nossa amizade e como
quero mantê-la. E agora estava prestes, quer dizer, pelo menos iquei
completamente tentada a beijar Victor Hugo, seu marido.

Respirando fundo pela milésima vez, me vejo inalizando a louça do café.


Aproveito o celular que Vic me deu e coloco música no fone de ouvido.

Aos poucos vou relaxando, deixando a música tomar conta de mim e,


por im, já estou dançando a velha coreogra ia de “Mulher Brasileira” do
Psirico.

Há tempos não me permito esse tipo de diversão. Mauro e eu nos


conhecemos em um bloquinho de rua durante o carnaval e, desde então,
não nos desgrudamos. Nosso próximo carnaval foi na casa de praia de sua
família quando eu já estava grávida do Léo e nossos carnavais seguintes
foram sempre ou em casa, ou com sua família.

Já faz muito tempo que não participo da festa. Mauro havia


prometido, depois de um desentendimento que tive com sua família no
nosso último feriado, que o próximo seria no bloquinho. Isso nunca
aconteceu, pois Mauro já havia me deixado há alguns meses quando o
carnaval chegou.

fevereiro•2022
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— “... ai, ai, ela é toda boa...” — Me vejo cantar e em seguida, ao im da


música, começo a rir sozinha.


Victor Hugo chamou-me até o escritório, onde o encontrei usando
óculos de grau que o deixavam com um ar um pouco mais inocente.
Aparentemente envergonhado, ele tirou o acessório e o colocou de lado
logo que percebeu minha presença.

— Sente-se, por favor. — Ele aponta a cadeira a sua frente. — Helena,


hoje eu tenho um compromisso, onde, geralmente, Vic me acompanharia —
avisa. — Entretanto, com a gravidez, ela está um pouco indisposta e
recomendou que eu convidasse você.

— Eu?

— Sim, a não ser que tenha algo mais importante para fazer. Ou não
queira. — Seus olhos estão ixos em mim e minha respiração começa a icar
mais pesada. — É um compromisso de negócios e...

— O senhor não pode ir só?

— Tudo bem, Helena, obrigado. — Volta a pôr os óculos e dirige seu


olhar para alguns documentos na imponente mesa de carvalho. — A Vic
informou que você precisa de dinheiro e eu pagaria bem pela sua
companhia hoje.

— Eu não estou à venda! — reclamo.

— Seria mais como um aluguel do seu tempo — respira fundo e volta a


olhar para mim. — Não acho que você entenda o quão di ícil é para mim,
mas eu não costumo pagar por companhia... Em eventos.

— Com todo respeito, isso é nojento.

Victor Hugo tira os óculos novamente, deixando-os sobre a mesa, e


vem até mim apoiando-se no móvel. Um sorriso cínico estampa seu rosto.

— Minhas companhias, pagas ou não, não costumam dizer isso.

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— O almoço está pronto, senhor. — Levanto-me ignorando seu


comentário.

— Não respondeu minha pergunta, Helena.

— Não icou claro? Não vou acompanhar o senhor por nenhum


dinheiro. Algo mais?

— Helena, não creio que você entendeu o quão importante é este


evento. Preciso realmente da sua ajuda.

— Isso nunca fez, nem fará parte das minhas funções, senhor Victor
Hugo. — Vou em direção à porta.

— Você não é a única que pode me acompanhar. O dinheiro abre


muitas portas.

— Nesse caso, o senhor sempre pode pagar uma prostituta. — Saio


do escritório batendo a porta.

Idiota!


Por um tempo iquei na porta analisando minhas palavras para o meu
patrão. Ele mesmo deu a entender que paga por companhias sexuais
sabendo que sou amiga de Vic, sua mulher grávida!

Irritada, liguei para minha amiga, correndo risco de perder o meu


emprego, pronta para contar-lhe o que seu marido acabou de dizer.

— ... eu estava, literalmente, procurando o seu contato para te ligar —


diz logo que atende.

— Eu preciso te contar uma coisa.

— Eu já sei, Hugo me contou e eu sinto muito — respira fundo. — Eu


mesma ia te perguntar, mas ele se antecipou e meteu os pés pelas mãos,
como sempre.

— Mas ele...

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— Eu o conheço melhor que qualquer outra pessoa no mundo. Mas eu te


garanto, Helena, ele não quis te ofender. Te peço desculpas, porque eu
deveria ter te ligado e pedido esse favor. Provavelmente está indo agora
mesmo te pedir desculpas. — Escuto um pigarro e encontro Victor Hugo na
porta.

— Preciso desligar, Vic.

— Me faz esse favor, Helena! — pede. — Não negue o pedido de uma


mulher grávida.

— Você não vai icar grávida para sempre. Te ligo depois. — Desligo.

— Minha irmã sempre diz que não sei me expressar direito e...
Além do mais, Vic me pediu para ser sincero e dizer que eu sinto muito,
Helena.

— Saiba que isso não é mais que um favor para uma boa amiga. O
que eu preciso vestir, senhor?


Victor Hugo ignorou completamente o almoço que eu preparei e
avisou que me levaria às compras, parecendo estranhamente animado.

Digitei uma mensagem para Vic avisando-lhe que precisava pegar


Léo na escola e o buscaria após o tal evento. Jamais deixaria meu ilho
sozinho enquanto saía de casa.

Meu patrão dirigiu em silêncio até uma grande loja de fachada


dourada na Avenida Paulista com as suas iniciais em uma logo so isticada.

Descendo ao subsolo, Victor Hugo estacionou o seu carro e me


conduziu ao elevador, apertando o botão do último andar após digitar em
outras teclas. Em nenhum momento o elevador parou entre os quatro
andares que separava o subsolo do último andar.

O elevador parou diretamente em uma grande sala com diversas


araras cheias de roupas e algumas pessoas mexendo nelas. Com uma mesa
no mesmo estilo da que tem em seu escritório em casa, também cheia de

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roupas, e com pelo menos cinquenta por cento da sala cercada por janelas,
o escritório de Victor Hugo é simplesmente uma zona.

— Como você consegue trabalhar aqui? — Praticamente sussurro


para ele, arrancando-lhe um sorriso.

— Por isso passo tanto tempo trabalhando em casa. Meu escritório é


tomado diariamente por estes terroristas — fala a última parte mais alto,
chamando a atenção de todos. — Pessoal, essa é a Helena.

As duas garotas e o rapaz vêm se apresentar. Primeiramente Stella, uma


moça de cerca de dezoito anos com tranças no cabelo e pele tão escura que
reluz. Em seguida, Cláudia, uma mulher que, com certeza, já passou dos
quarenta anos, baixinha, de pele morena e cabelos vermelhos. Túlio é o
último a se apresentar. Alto e com algumas tatuagens espalhadas em sua
pele extremamente clara.

— A Helena vai me acompanhar hoje à noite no evento. Preciso que a


ajudem a escolher uma roupa. — Ele informa antes de virar as costas
voltando para o elevador.

— Espera, o senhor não vai icar?

— Gosto de ser surpreendido — avisa sem desviar os olhos do celular.


— Além do mais, você também precisa de um cabelereiro.

— Meu cabelo está ótimo!

— Não para este evento — responde já dentro do elevador, pouco antes


das portas se fecharem.

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Capítulo 10
— Então você trabalha na casa do Hugo? — Túlio questiona enquanto
me rodeia literalmente.

— Sim, eu cuido da limpeza. E das refeições, ao menos por enquanto.

— E como ele ica no dia a dia? Pouca ou muita roupa? — Stella que
pergunta.

— Quê? Não sei! — respondo rápido, lembrando do seu tronco desnudo


pouco antes de eu me queimar.

— Tem cara de quem já viu mais do que está dizendo. — Túlio me acusa.

— Gente, deixa a moça. — Cláudia intervém. — Se o Hugo voltar e ouvir,


vocês sabem que ele vai passar a semana inteira com cara de bunda e
aquele humor do cão.

— Tá bom, mamãe! — Stella zomba. — Deveríamos colocá-la de branco,


o Hugo gostaria. — A garota estende em minha frente um vestido de tecido
leve e esvoaçante.

— Ela vai acompanhá-lo, não casar com ele. — Túlio diz antes de pôr
também em minha frente um vestido preto com um enorme decote na
frente e nas costas, além de uma fenda na perna.

— Vocês dois só podem estar de brincadeira com a minha cara. —


Cláudia segura minha mão. — Terminem a arrumação, eu mesma irei vestir
a Helena.

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Depois de me fazer experimentar dezenas de vestidos, nós duas
chegamos a um consenso escolhendo um de tecido luído e leve na cor
vermelho-escuro que Cláudia disse se tratar da cor Borgonha.

Alças inas que sustentam o vestido que bem poderia ser um tomara-
que-caia de tão justo que é, com um zíper atrás. Com uma espécie de short
curto por baixo, a saia transparente desce até o meu tornozelo, deixando
meus pés em destaque, mostrando o sapato de mesma cor que inalizou o
look perfeitamente.

— Pode tirar uma foto para eu mandar para a minha amiga? — peço e
com um sorriso, Cláudia o faz antes de inalmente me ajudar a trocar de
roupa.

— Vocês já tiveram uma hora e meia. Conseguiram se decidir? — Victor


Hugo volta ao escritório.

— Cláudia e eu escolhemos um vestido, um sapato e uma bolsa — aviso


terminando de calçar meu tênis.

— E não vai me mostrar?

— Ué, não era o senhor que queria surpresa? — dou de ombros e


agradeço aos três, principalmente a Cláudia. — Podemos ir?

— Como o cabeleireiro vai saber o que fazer no seu cabelo?

— O senhor é o cabeleireiro? — questiono e ele claramente está


surpreso. Eu também. Mas hoje ele precisa de mim e não estou disposta a
ceder a todos os seus caprichos.

— Certo — rapidamente voltamos ao subsolo e, pegando a embalagem


da minha mão, Victor Hugo a coloca presa na alça de segurança do banco de
trás. — Podemos ir almoçar, certo? Estou morrendo de fome.

— Claro. Deixei o almoço pronto — aviso.

— Nem pensar. Não dá tempo de chegar em casa. Vem comigo. —


Segurando minha mão, leva-me para fora do estacionamento.

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Já fazia anos que eu não vinha à Avenida Paulista, menos ainda a
passeio. E tão logo saímos do estacionamento, Victor Hugo, começou a me
levar para a direita, tendo feito o trajeto diversas vezes, claramente.
Rapidamente chegamos a uma barraquinha de cachorro-quente na esquina
do quarteirão.

— Boa tarde, Chicão! — Victor Hugo inalmente solta a minha mão. —


Solta um prensado especial pra mim, sem mostarda.

— É pra já! Não vai me apresentar a namorada, patrão? — O velho


senhor, por volta dos sessenta anos, bem barrigudo e com um uniforme de
cozinha impecável, pergunta.

— Não somos namorados! — esclareço rapidamente.

— Essa aqui é a Helena. Ela... trabalha comigo. — Me ignora pegando o


celular.

— Boa tarde, Chicão.

— A madame vai me dar a honra de comer na minha barraca? — Chicão


brinca já fazendo o pedido de Victor Hugo.

— Você vai me dar a honra de provar da sua comida? O que me


recomenda?

— Só se for agora! Como é sua primeira vez aqui, con ia em mim que
vou fazer algo especial. Tem algo que a senhora não gosta? — Nego com a
cabeça. — Então senta aí que já levo para vocês.

Não demora muito para nossos lanches icarem prontos e, quando a


comida chega, Victor Hugo decide parar de usar o celular para se
concentrar no lanche, ainda me ignorando, deixando-me um pouco irritada.

— Esse lanche do Chicão é realmente muito bom. — Tento puxar


assunto, a inal de contas, o acompanharei por boa parte da noite e pelo
menos na volta para casa. — O senhor não tem cara de que come em
barraquinhas, com todo o respeito.

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— Você não parece saber comer em público. — Ele ri quando olha para
mim e me estende um guardanapo. — Helena, você está toda suja de molho.

— Desculpa por isso — respondo sem graça. — Sempre que como


lanches me sujo igual criança, não deveria ter aceitado a comida.

— Por Deus, mulher, ninguém liga!

— Aparentemente o senhor sim... — Respirando fundo ele passa uma


mão na minha bochecha e, em seguida esfrega em sua camisa branca,
sujando-a de molho de tomate.

— Não desperdiçaria meu cachorro-quente do Chicão. Mas agora você


vê que ninguém liga para como você come, Helena. — Dá de ombros e pega
outro guardanapo, limpando meu queixo desta vez.

— Obrigada.

Victor Hugo nos levou para casa após o lanche delicioso, informando
que o cabeleireiro viria fazer o meu cabelo e que eu deveria explicar a ele a
roupa escolhida para que fosse feito um penteado que combinasse.
Rapidamente enviei a foto do vestido para Vic, que não me respondeu tão
rapidamente quanto eu gostaria.

— Ele deve estar chegando em cerca de uma hora — avisa-me logo que
saímos do carro. — Iago é um dos melhores cabeleireiros de São Paulo e
vem pronto para te deixar como uma princesa, sim?

— Obrigada, senhor. Irei cuidar da cozinha e...

— Helena, não ouse pensar em trabalhar nesta casa hoje. Preciso que
você esteja descansada. A noite será longa. Pedirei que ele a encontre em
sua casa. — Sem dizer mais nada, volta-se ao celular ignorando-me mais
uma vez.


Tentando seguir as ordens de Victor Hugo, decidi fazer uma rápida
faxina na minha casa, recolhendo todos os brinquedos de Léo e os
colocando no baú do seu quarto, além de organizar todos os utensílios da

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cozinha e molhar as lores da janela do meu quarto, onde tem um pequeno


canteiro acoplado.

Saindo do banho, escuto algumas batidas insistentes na porta da frente


e, mesmo pedindo para esperar, ela é aberta no mesmo momento em que
fecho a toalha em meu corpo.

— O senhor é surdo? — grito irritada quando vejo meu patrão na minha


sala.

— Você disse que eu podia entrar. — Seus olhos estão ixos em mim.

— Meu Deus, dá para parar... Ou virar de costas, sei lá. — reclamo e,


após encarar-me por mais um tempo, Victor Hugo vira de costas. — Do que
o senhor precisa?

— Posso virar de volta?

— Lógico que não.

— Helena, você não tem nada que eu nunca tenha visto. — Vira mesmo
sem a minha permissão.

— Isso é ridículo. Sabe que posso acusá-lo de assédio sexual, não é


mesmo? — Ele ri.

— Iago já chegou. Eu só queria saber se você estava pronta antes de


mandá-lo entrar — avisa. — Vou pedir para ele esperar alguns minutos
para que você... se recomponha — insiste em olhar meu corpo mais uma vez
e sai na mesma velocidade que entrou.

— Que homem mais idiota! — resmungo comigo mesma.

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Capítulo 11
Assim como muita coisa que havia acontecido comigo recentemente, há
muito tempo não me via verdadeiramente bonita, ou mesmo arrumada,
após Iago, o cabelereiro, Samuel, o maquiador e Tamires, a manicure,
terminarem seu trabalho.

Nunca me considerei feia, mas nos últimos anos minha prioridade


passou a ser meu ilho e cada vez menos eu mesma. Isso não é um problema
para mim, mas, às vezes, sinto falta de me arrumar e sentir-me novamente
uma mulher. Não apenas pela aparência. Eu deixei de viver para mim.

Por um momento um nó se forma na minha garganta e, por pouco, as


lágrimas não borram a bela e discreta maquiagem, feita com tanto esmero e
cuidado, ao me olhar no pequeno espelho que coloquei na sala, onde tem
uma luz melhor.

— Meu Deus! — suspiro após colocar o vestido assim que os


pro issionais maravilhosos que me atenderam deixaram minha casa com
um carinhoso: “boa festa!”

— Helena... — Escuto a voz do meu patrão, mas não consigo nem me


irritar com ele entrando sem pedir permissão. — Você está... — Ele
pigarreia. — Precisa de ajuda com o zíper?

— Por favor. — Afasto o cabelo que deslizou para minhas costas e,


como se demorasse dias, Victor Hugo sobe o zíper e, em seguida, sinto algo
gelado no meu pescoço, me assustando.

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— Vic passou aqui e disse que você não podia ir comigo sem esse
colar. — Fecha e viro-me para ele.

Usando um smoking provavelmente sob medida, Victor Hugo está


simplesmente lindo. Seus cabelos grandes e escuros estão penteados para
trás e sua barba devidamente alinhada.

— Como sempre, ela estava certa.

— Obrigada. — Passo a mão pela joia de pedras claras que tem uma
pequena descida, estilo cascata, até próximo do discreto corte do vestido.

— Você está pronta? — Dou uma última olhada nas ondas que Iago fez
em meu cabelo e pego a pequena bolsa que Cláudia havia colocado junto
com o vestido e o sapato.

— Estou sim, senhor.


Meu patrão com certeza gosta de dirigir e praticamente atravessou São
Paulo até chegar a uma grande e imponente mansão com luzes chamativas,
quase fora da cidade.

— Tem algo especí ico que o senhor quer ou precisa que eu faça? —
pergunto quando ele desce rapidamente, fazendo questão de abrir a porta
para mim, estendendo-me sua mão.

— Sim. Se puder não me chamar de “senhor”.

— Sem problemas, sen... Victor Hugo. — Corrijo-me e ele acena


positivamente com a cabeça ao mesmo tempo que posiciona seu braço para
que eu passe o meu.

Com a maioria das pessoas nos encarando, Victor Hugo os


cumprimentou com acenos de cabeça contínuos. Em nenhum momento
permitiu qualquer mínima tentativa de afastar-me. Nunca gostei de ser o
centro das atenções, mas, especialmente agora, gostaria de estar em casa
enrolada em uma coberta com Léo.

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— Eles têm mais medo de você do que você deles, Helena. — Ele
sussurra antes de soltar-me para cumprimentar um velho senhor
barrigudo.

— Antônio! Quanto tempo... — fala com o senhor que, com certeza,


parece mais animado que Victor Hugo em vê-lo.

— Vejo que cresceu pelos no rosto, garoto. Mas já nasceu pelo no saco?

— Antônio, vamos respeitar as damas! — diz político. — Essa é Helena,


uma... amiga. — Apresenta-me e o velho faz questão de me abraçar e dar
beijos nos dois lados do meu rosto, quase na minha boca. — Helena, esse é
Antônio Velasco, ex-sócio do meu pai.

— Rosa, vem aqui! — chama uma mulher que mais parece uma modelo
de passarela de tão alta, magra e bonita que é, com um cabelo cacheado
com penteado black lindíssimo. — Essa aqui é minha namorada, Rosa! Esse
é Victor Hugo Mendes e a amiga — fala ironicamente quando se refere a
mim — Helena.

— É um prazer, Helena. — Rosa me cumprimenta após cumprimentar


Victor Hugo. Mesmo que ela seja alta, meu patrão, com certeza é mais.

— Como sempre, Victor Hugo, uma ótima escolha de acompanhante.

— Nos vemos depois. — Victor Hugo se despede educadamente e me


conduz colocando sua mão delicadamente em minhas costas. — Sinto
muito, Helena. Antônio costuma ser um babaca, não sei o que eu esperava.

— Sem problemas, senhor. Quer dizer, Victor Hugo. Me desculpa, eu não


sei se consigo me acostumar hoje com isso. — admito sorrindo. — Mas
prometo tentar.

— É o su iciente. — Ele não sorri, mas sei que está satisfeito.

Durante o restante da noite, Victor Hugo me apresenta a diversas


pessoas enquanto conversa sobre vendas, investimentos e compras.
Enquanto algumas pessoas me ignoram descaradamente, outras são tão
gentis quanto Vic foi comigo desde o início.

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Depois de não comer durante horas e tomando duas taças de espumante


totalmente entediada com as conversas profundas sobre o mercado
inanceiro e têxtil, acabo icando um pouco tonta e indo até o banheiro para
respirar um pouco.

Após jogar um pouco de água no rosto, retocar a maquiagem conforme


indicado por Samuel, e já me sentindo melhor, esbarro com Rosa na saída.

— Eu estava te procurando, Helena — avisa ainda do lado de fora.

— A mim?

— Sim. — Entrega-me um cartão. — Antônio quer uma noite com você,


independentemente do valor.

— O quê?

— Eu, sinceramente, não recomendo. Mas se fechar os olhos, ele termina


mais rápido do que você imagina. — Dá de ombros. — Nada que vá te
traumatizar e ainda vai ganhar um bom dinheiro.

— Eu não sou pros... Não sou esse tipo de mulher. — Tento devolver o
cartão, mas ela não aceita.

— Pode até não ser. Mas vai ser muito burra se nem ao menos pensar
nessa possibilidade. — Entra no banheiro deixando-me sozinha.

— Eu estava te procurando. — Escuto a voz de Victor Hugo e,


imediatamente, escondo o cartão na minha bolsa, envergonhada e enojada
com a proposta que acabo de receber.

— Me desculpa, senhor, precisei ir ao banheiro retocar... — Não posso


falar ao meu chefe que simplesmente estou um pouco tonta por causa de
duas taças de champanhe. — Minha maquiagem.

— Vi você conversando com a acompanhante do Antônio...

— Ela queria saber onde comprei o vestido — minto descaradamente e


meu estômago revira um pouco.

— Entendi. — Ele não aparenta acreditar, mas não parece importante o


su iciente para dar maior atenção. — Preciso conversar com mais algumas

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pessoas e poderemos ir. — Oferece-me o braço e aceito. — Quer beber


alguma coisa?

— Uma água.

Conduzindo-me até o bar disposto, Victor Hugo pede dois uísques, além
da minha água, e os bebe rapidamente antes de pedir o terceiro.

— Está tudo bem, senhor... Victor Hugo?

— Por que não estaria? — Ele está genuinamente irritado.

Opto por não responder. E isso parece deixá-lo ainda mais irritado. Logo
que termina a terceira dose da bebida, com uma quarta na mão, vamos até
um grupo de senhores e apenas uma mulher.

— Como estamos? — Victor Hugo diz animadamente, mas o pouco que


o conheço não deixa que eu seja enganada por esse seu humor atípico.

Ao im da noite, Victor Hugo mal consegue icar em pé, completamente


bêbado e evitando a todo custo Antônio, o que agradeço silenciosamente.
Pelo menos até a hora de irmos embora, quando o velho nos encurrala na
saída.

— Ia sair sem me deixar dar um abraço na sua amiga? — questiona


ironicamente.

— Era a intenção. — Victor Hugo bêbado é bem sincero.

— De qualquer forma, espero que a traga mais vezes — informa


cumprimentando meu patrão com um aperto de mão e, em seguida, puxa-
me para um abraço contra minha vontade. — Aguardo a sua ligação —
sussurra para mim.

— Tira a merda das suas mãos dela — resmunga e me puxa para fora da
mansão, irritado. — Às vezes cometer um homicídio não é uma decisão tão
ruim. — Entrega ao valet o voucher.

— Victor Hugo!

— Você é muito linda! — Se aproxima de mim, prendendo-me em seus


braços. — Sabia disso, não é mesmo?

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— Você está bêbado.

— E você louca para me beijar — diz antes de grudar seus lábios nos
meus.

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Capítulo 12
VICTOR HUGO

Impossível dizer que Jaqueline não é a mulher perfeita para mim. Além
de linda, tem um coração bondoso, um sorriso contagiante, uma alma pura
e me ama como eu jamais fui amado ou amei alguém.

Mesmo que o nosso casamento tenha se tratado de um negócio, nem por


um segundo, depois que a conheci, me arrependi de ter seguido a ordem do
meu pai de me casar com a herdeira da família Santiago.

Nosso namoro durou apenas dois meses, que foi tempo su iciente para
planejar o nosso casamento. E hoje estamos completando nosso sexto mês
de casados. Tive que, literalmente, atravessar o continente para estar com
ela hoje, já que Jaque icou doente e não conseguiu viajar para a Austrália
como combinamos para comemorarmos.

— Como eu odeio essa mudança de fuso horário — resmungo entrando


em casa. — Amor, onde você está? — Deixo minha mala próxima à escada e
vou em direção ao delicioso cheiro de comida que exala pela casa.

— No jardim — avisa docemente. — Cozinhei para nós!

— Amor... — cumprimento-a com um beijo leve quando inalmente a


encontro.

— Tá, Romeu cozinhou para nós — admite. — Mas eu escolhi tudo. Vem,
senta aqui. — Há uma pequena mesa redonda disposta e bem arrumada.

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Como sempre, Jaque exala um perfume doce e está impecável usando


um vestido formal demais para a noite quente na sua cor favorita, verde.

— Não consigo mais esconder isso... Estou grávida, vamos ser pais!
— fala animada e imediatamente a abraço, beijando-a.

— É sério? — questiono animado.

— Eu te odeio, Victor Hugo! — Ela me empurra de repente, gritando e


derrubando tudo sobre a mesa. — Eu odeio você e essa vida de merda.

Jaque começa a arranhar o próprio rosto e, quanto mais tento me


aproximar, mais parece que estou me afastando. Quero gritar para que ela
pare, mas é como se minha voz não existisse.

— É o único jeito de fazer isso parar! — Não estamos mais no jardim


da nossa casa, estamos na varanda de um apartamento, o lugar que ela
insistiu que deveríamos visitar e comprar. — Eu preciso fazer isso, Hugo.
Sinto muito. — Então ela pula sem que eu consiga impedi-la.

Acordo em um sobressalto, gritando para que ela não faça o que fez.
Sem conseguir controlar minha respiração, o ar me falta por certo tempo e
desejo que falte para sempre.

O telefone toca, trazendo-me de volta para a realidade.

— Que horas você chega, Hugo? — É Vic, minha irmãzinha.

— Devo chegar lá para uma da tarde.

— Está tudo bem?

— Ótimo! — Limito-me a dizer isso. Não preciso encher a cabeça da


minha irmã com mais problemas. Ela já parou boa parte da própria vida por
muito tempo por minha causa. Eu deveria cuidar dela, não o contrário.

— A nova empregada é ótima. Você vai adorar ela e...

— Não ligo para quem ela é. Só precisa fazer o trabalho dela e icar
fora do meu caminho.

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— De qualquer forma, Hugo, ela adorou o casebre e provavelmente é


a única pessoa do mundo, além de mim, que vai aturar o seu mau humor.

— Preciso de você lá para...

— Eu sei, Hugo, eu sei — suspira irritada, sou um dos poucos que


consegue tirar a doutora Victoria Mendes do sério. — Até a tarde,
irmãozinho. — Desliga.

Ignoro meus pensamentos que, inevitavelmente, me levam até o dia


em que minha esposa simplesmente se atirou para a morte diante dos meus
olhos e recolho todas as minhas coisas.


Felizmente o voo é rápido e o trânsito de São Paulo não está tão ruim
como de costume, fazendo-me chegar em casa rapidamente. O táxi
estaciona próximo da grande fonte redonda da entrada e então me lembro
que Vic me avisou que tentaram entrar na casa e ela trocou todas a
fechaduras; portanto, minhas chaves não abrirão a porta. O carro da minha
irmã também não está em casa, o que signi ica que preciso que alguém abra
a porta para mim fazendo com que o meu plano de não interagir com
ninguém vá por água abaixo.

— Merda — praguejo já na porta, apertando insistentemente a


campainha após um longo suspiro.

Uma mulher de cabelos escuros, de altura mediana e olhos indescritíveis


abre a porta com um sorriso que, por um momento, consegue me desarmar,
mas logo me recupero.

— Quem é você? — Ela se assusta com minha arrogância, mas não


consigo evitar todas as palavras que passam a sair da minha boca, por mais
que ela pareça que vai correr a qualquer momento de mim.

— Eu... e-eu...Meu nome é Helena. Cuido da limpeza — gagueja.

— Victoria! — chamo, mesmo sabendo que minha irmã não está em


casa. Seus olhos curiosos e assustados me observam como se estivessem
tentando me decifrar. — Victoria! Onde ela está?

fevereiro•2022
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Helena, com toda a educação que não estou tendo com ela explica-
me e, antes que possa concluir, a interrompo mandando que peça para
minha irmã subir quando chegar.

Subo as escadas irritado por tantos motivos que nem sei identi icar
qual deles é real. Entro no meu quarto batendo a porta, cada vez mais
irritado, tiro minha roupa jogando em qualquer lugar e decido tomar um
banho tentando, por um momento, ser menos o eu em que me transformei.

Sabendo que provavelmente minha irmã não vai demorar, tomo o


banho rapidamente e volto para o quarto em busca de uma roupa. Olhando
pela janela, consigo ver inalmente o carro de Victoria parado.

— Victoria!!! — Abro a porta e grito, quero resolver esse problema o


quanto antes.

— Por que você tem de ser assim? — reclama logo que me vê.

— Aqui não. Vamos para o escritório.

— Então por que raios me chamou aqui em cima, seu idiota? —


Minha irmã me dá um tapa na parte de trás da cabeça.

— Victoria!

— Toma! — Passa por mim e joga um pacote dos doces que


Jaqueline adorava comer durante a gravidez e que acabou me viciando. —
Não tô com paciência hoje, Hugo! — resmunga descendo as escadas.

A casa não é a mesma. Quando a comprei, a intenção era ter uma


vida feliz com Jaque, um lugar onde nossos ilhos pudessem crescer e onde
viveríamos até o im dos nossos dias.

Jaqueline odiou o lugar. Eu iz errado ao não pedir sua opinião antes


de fechar negócio e, somente quando voltamos da nossa lua de mel,
apresentei o local a ela. Era nítida sua decepção quando chegamos.

Ela até tentou disfarçar, mas, antes de completarmos um mês


vivendo no local, Jaque avisou que estava procurando um lugar novo para
nós. Disse-me que não queria uma casa, ou ilhos. Não sabia nem se queria
icar no país.

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— Você me ouviu, Hugo? — Victoria chama minha atenção.

— Não, desculpa, eu estava...

— Lembrando dela?

— Conseguiu o comprador? — questiono.

Após a morte da minha esposa, os donos do apartamento


começaram a me processar dizendo que “a situação é inconveniente e afasta
potenciais compradores do imóvel devido às circunstâncias”.

Tentando evitar mais problemas, decidi comprar o local contra a


vontade da minha irmã, mãe e advogado. E assim iz. Porém agora estou
completamente decidido a vendê-lo. O problema é conseguir um bom
corretor, aliás, até um corretor mequetrefe, já que a família Santiago é dona
de uma grande corretora de imóveis no país e ameaça qualquer um que
tente me auxiliar neste problema.

— Você sabe que não é fácil, Hugo. Ainda mais agora... Eu estou
tentando te contar já há um tempinho, porque eu quero que você seja o
primeiro a saber.

— Vic, não me importa nada. Só me livrar daquele apartamento


maldito. O anuncie por um real em jornalecos, que seja. Só quero me...

— Eu estou grávida — avisa me deixando sem palavras. — Eu... Eu te


amo, Hugo, mas não posso mais adiar meus planos e minha vida por conta
do que aconteceu com a Jaqueline. Também já tirei minhas coisas daqui.
Estou voltando para casa.

fevereiro•2022
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Capítulo 13
Imediatamente lembro de como foi realmente que minha esposa me
contou que estava grávida. Mesmo que não estivesse feliz com a casa que eu
havia comprado para nós, Jaqueline ainda não havia encontrado um lugar
que realmente gostasse para que nos mudássemos.

Para o nosso sexto mês de casamento havíamos combinado de


passar um inal de semana em uma ilha australiana. Eu havia viajado
primeiro, pois tinha um compromisso de negócios em Dubai, onde ela
deveria encontrar comigo em uma quinta-feira à tarde.

Mas, na quarta-feira pela manhã, Jaque me avisou que não teria


condições de viajar, que estava doente, provavelmente uma intoxicação
alimentar e, após minha última reunião, peguei o primeiro voo de volta para
São Paulo.

Quando cheguei em casa, era noite e fui direto para o jardim, onde
ela avisou que estava, como no meu sonho. Com a mesa arrumada, puxei a
cadeira para ela, que se sentou e, sem conseguir se conter, contou que
estava grávida, mas, diferente do meu sonho, terminamos a noite fazendo
amor.


— Diz alguma coisa, Hugo. — Minha irmã, mais uma vez, me traz de
volta à realidade.

— Parabéns, Vic. — A abraço. Não estou irritado, estou feliz por ela,
assim como ela icou por mim quando contei que seria pai. Mas, diferente

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da minha irmã, não consigo demonstrar.

— Só isso? — Ela está magoada, a conheço.

— Eu...

— Deixa pra lá, Hugo. Vamos ao que te interessa. — Joga alguns


documentos sobre minha mesa. — Essa é a proposta dos Santiago.

— Dos Santiago? — Os pais da minha mulher cortaram qualquer


relação comigo e com minha família após o ocorrido. Tentaram a todo custo
que eu fosse indiciado por matar Jaqueline.

— Recomendo que leia com muita calma. E não recomendo que


assine. Só quero que ique ciente — avisa. — Agora preciso te apresentar
devidamente à Helena. Não vou vir aqui como antes. Preciso cuidar de mim
e do bebê.

— A gente já falou sobre isso, Vic. É só ela não me perturbar.

— Isso não é um pedido, Victor Hugo. Venha comigo — diz já


abrindo a porta do escritório e a sigo. — Helena é uma pessoa muito
especial, então, por favor, não seja um cuzão.

— Não, Gertrudes, não diz sim pra ele! Ele está dormindo com a sua
irmã! — A voz que me recepcionou em casa resmunga e outras vozes se
fazem presentes na minha cozinha.

Eu nem a conheço e ela já está convidando pessoas para minha casa?

Ao entrar na cozinha percebo a TV ligada, tirando-me do sério


imediatamente.

— ... então foi para isso que você insistiu em uma nova empregada,
Victoria? — reclamo. — Pagar para ela icar assistindo TV no horário de
serviço?

Imediatamente noto que Helena se assusta e por um segundo quase


sinto pena dela, mas ela cai em minha direção, se apoiando diretamente
entre minhas pernas. Tento vergonhosamente me controlar. Helena é uma
mulher bonita, não sou hipócrita.

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Ela começa a pedir desculpas tão rápido quanto eu começo a brigar com
ela e minha irmã rir da situação enquanto a ajuda a se levantar.

Sem saber lidar com o ridículo volume que aumenta em minha calça,
aponto para a TV mandando-a desligar, tentando distraí-las da minha
vergonhosa situação e saio rapidamente do cômodo, voltando para meu
quarto.

— Hugo! — Escuto minha irmã gritar.

— Não seja ridículo, Victor Hugo! — reclamo comigo mesmo e


respiro fundo tentando me controlar. — Vão icar apenas os dois nessa casa
enorme, não seja escroto!

Não demora muito e minha irmã entra no meu quarto, irritada, com
toda a razão. Eu me tornei uma pessoa di ícil de lidar. E após ela me fazer
prometer que seria mais educado com Helena, se despediu dizendo que
estava indo para a própria casa.

Apesar de não gostar de Luciano, marido da Victoria, sabia que o certo


seria ela voltar para a casa deles. Não era justo eu manter minha irmã na
minha casa e fazê-la deixar a própria e o marido.

Todos os dias, quando eu descia, o café já estava pronto e sempre


haviam alguns biscoitos. Exatamente tudo o que eu gostava e tudo aquilo
que eu não tocava, no dia seguinte não era colocado.

Helena parecia ter medo de mim e eu não a culparia depois do dia em


que nos conhecemos. Optei por trocar apenas palavras necessárias com ela.

Com o meu escritório da loja sede cada vez mais tomado por meu time
de terroristas, Cláudia, Stella e Túlio, decidi tomar a sexta-feira de folga.
Helena claramente não icou muito confortável. Diariamente ela assistia o
raio da novela e até mesmo conseguiu me deixar interessado. A velha
câmera da cozinha me ajudou a descobrir qual o canal e, todos os dias, no
serviço, eu também assistia.

Na sexta-feira eu estava estranhamente ansioso pelo capítulo e pensei


que deixaria minha irmã orgulhosa ao tratar Helena como igual, não que eu
realmente me achasse superior a ela, mas, mais uma vez, acabei metendo os

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pés pelas mãos e era tarde demais, percebi que a havia insultado. Após ela
voltar do mercado, apenas ordenei que não voltasse até segunda-feira. Eu
precisava desestressar imediatamente.

Antes de me relacionar com Jaqueline, eu tinha um comportamento


desregrado, era um verdadeiro bon vivant. Mesmo que trabalhasse na
empresa do meu pai, era um grande desgosto para ele, que cortou todos os
meus luxos e me fez aprender a lutar pelo que eu realmente queria. E
quando achou que eu estava pronto, informou que eu teria total controle
das empresas, desde que aceitasse casar com a herdeira dos Santiago.

Com a morte de Jaqueline, voltei com meu comportamento de antes, o


que, provavelmente, fez com meu pai se revirasse no túmulo até hoje. A
cada noite tive uma mulher diferente em meus braços durante o primeiro
ano. No início do segundo ano após minha perda, minha irmã me colocou
contra a parede, me obrigando a voltar a ser o homem que fui criado para
ser. Porém, a amargura tomou conta de mim e, por mais que eu queira, não
consigo me livrar dela.

De vez em quando, ainda contrato uma acompanhante de luxo para


satisfazer minhas necessidades, mas diferente de todas as outras vezes em
que eu frequentemente imaginava que estava com minha esposa, dessa vez
a única mulher que me vinha à mente era minha nova empregada, fazendo
com que eu dispensasse a acompanhante antes mesmo que conseguisse
tocá-la.

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Capítulo 14
O im de semana foi pior do que geralmente era. Dessa vez não havia
trabalho que me izesse concentrar. Algumas vezes me vi olhando para o
casebre no fundo do jardim, que Jaqueline sempre detestou, e algumas
vezes vi Helena rindo ou cozinhando algo.

Irritado, me vi pegando o computador e procurando os episódios da


novela que ela tanto assistia e na qual eu estava praticamente viciado. Era
uma novela recente, tinha apenas trinta capítulos lançados e tratei de
assisti-los para ocupar o resto do meu im de semana.

Em algum momento entre o domingo e a segunda-feira, caí no sono e


somente acordei depois das oito horas da manhã, nada disposto a ir para o
escritório. Estava ensolarado e acabei decidindo relaxar durante o dia. A
maratona da novela e todas as porcarias que comi no im de semana não me
ajudou e eu estava completamente destruído isicamente.

Desci as escadas sendo atraído pelo cheiro do bolo de milho que


Helena provavelmente estava tirando do forno, e avisando Cláudia por
mensagem que não iria trabalhar; escutei um grito seu, praguejando, o que
nunca havia ouvido.

Sem pensar duas vezes, a peguei no colo e a levei para a cozinha


colocando seu corpo sobre o balcão e, após cortar sua calça com uma faca,
ponho um pano de prato molhado. Rapidamente aviso que vou buscar uma
camisa e volto em seguida.

Passando por uma discussão idiota, consigo levar Helena, contra sua
vontade para o hospital onde Vic trabalha, já que a moça está mais

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preocupada com os gastos, mesmo quando a irmo que vou arcar com todas
as despesas... E por mais teimosa que ela seja, duvido que conseguiria andar
mais rápido que eu, no seu estado atual, para fugir do hospital. Mas, mesmo
assim, continuo com ela em meu colo. Seu corpo perfeitamente encaixado
no meu.

— Pode se contorcer o quanto quiser, isso só vai fazer com que seu
corpo ique mais próximo e apertado pelo meu, Helena — falo baixo
tentando controlar as sensações que seu cheiro está causando em mim. —
Isso mesmo. Fica quietinha. — Helena me encara com um olhar surpreso.

No im, após minha irmã informar que ela tem plano de saúde pago por
mim, inalmente Helena aceita o exame e tratamento. Me surpreendo vendo
o carinho e amizade que uma desenvolveu pela outra.

Victoria atentamente examina a perna de Helena que, por ser clara,


icou extremamente vermelha. Por um momento, me deixo voltar mais uma
vez no tempo e imagino se eu não poderia ter feito o mesmo pela minha
esposa antes de tudo acontecer.

Minha irmã diz alguma coisa tentando chamar minha atenção.


Rapidamente meu olhar paira sobre Helena, que parece tímida como jamais
vi.

— Você vai comigo ou de táxi, Helena? — Seu rosto ica vermelho.

— Posso falar com você um minutinho, Hugo? — Minha irmã pergunta,


con irmo com a cabeça e saio da sala acompanhado por ela.

— Você sabe que trazer a Helena para o hospital por conta de uma
queimadura não é a mesma coisa que você poderia ter feito pela Jaqueline,
certo?

— Quem está falando da Jaqueline, Victoria? Você começa a delirar e


acha que está certa. Sempre.

— Eu te conheço, Victor Hugo. Não me trate como se eu fosse louca.

— Então você pode tratar a minha esposa como louca, mas quando é o
contrário é ofensivo? — Não espero sua resposta e volto ao quarto de
Helena, encerrando o assunto. — Helena?

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— Vou com o senhor, se não atrapalhar. — Apenas aceno com a cabeça.

Minha mente focou em Helena inevitavelmente durante a volta para


casa. O perfume que ela usava era loral e, mesmo que fosse bem discreto,
tomou conta do meu carro. Tentei até mesmo deixar as janelas abertas, mas
quando a deixei no casebre, seu cheiro estava completamente impregnado
em mim.

— Mais tarde eu vou pedir comida, quer jantar comigo? — questiono


antes que consiga me controlar.

— Não! Quer dizer, não, obrigada. Eu tenho comida aqui. Mas obrigada
mesmo assim, senhor. — Victor Hugo, seu idiota, isso que dá ser estúpido o
tempo todo com alguém que não tem culpa dos seus problemas.

Helena, com certeza não apenas tem medo de mim, como também me
despreza.

— Certo. Eu só queria ter certeza de que você não seria estúpida o


su iciente para se machucar ainda mais. — Recolho meu ego e ignoro
qualquer resposta que ela possa pensar em me dar por eu ser seu patrão.


Cláudia chegou cedo em casa com todos os documentos que eu
precisava assinar para aprovar a confecção das novas peças. Informou das
novas contratações e que o meu escritório estava completamente tomado
por ela e sua equipe e que eu poderia avisar se quisesse que fosse liberado.
Assegurei que trabalharia bem em casa e então ela voltou para a loja.

— Hugo, você está aí? — Escuto a voz da minha irmã, a última pessoa
que eu queria ver.

— No escritório. — Coloco os óculos no rosto. Di icilmente ela me


incomoda quando estou de óculos, pois sempre acha que estou mais
concentrado e ocupado e, geralmente estou.

— Eu passei para ver como a Helena está.

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— Perdeu o seu tempo, não sou tão desumano a ponto de obrigá-la a


trabalhar.

— Eu sei que não. Nem burro, porque um processo cairia facilmente


no seu colo assim...

— Então você simplesmente errou de casa, irmãzinha. — Não olho


para ela. Sei que não estou certo, mas não quero dar o braço a torcer.

— Eu já passei na casa da Helena. Hugo, não é justo você me tratar


assim. Temos apenas um ao outro — argumenta e suspiro fundo. Ela está
certa.

Nossa mãe foi embora com o jardineiro após o primeiro ano da


Victoria. Nosso pai morreu logo após meu casamento. E nem temos muito
contato com nossa madrasta depois da morte do nosso pai.

— Me desculpa ter dado a entender que você é louca — falo tirando


os óculos do rosto.

— Desculpa ter falado sobre a Jaqueline. — Vem até mim e levanto-


me para abraçá-la.

— Tá tudo bem.


Depois que minha irmã vai embora, decido que é hora de tentar encarar
a cozinha novamente, ou ao menos comer alguns biscoitos. Acabo
encontrando Helena na cozinha. Teimosa.

E para piorar, ela quebra um copo chegando ao ponto de quase se


machucar. E ainda briga comigo dizendo que eu tenho de limpar a bagunça
que ela fez. Após todo um show protagonizado por ela, sai da cozinha
mancando em direção à sua casa.

Recolho todos os cacos de vidro sem entender exatamente o que


aconteceu e dou uma risada, com o estômago roncando, antes de ir atrás
dela, pronto para implorar que me ajude com a comida.

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Relutante, ela aceita o meu pedido, com a condição de que eu a deixe


assistir à novela e, por pouco, ela não me conta um spoiler do capítulo que
perdi.

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Capítulo 15
De última hora precisei viajar para resolver um problema com a casa da
minha madrasta. Meu pai não lhe deixou muito sob testamento, mas
Victoria e eu sabíamos que ela havia sido uma boa esposa e que cuidou do
velho Vitório até seu último dia de vida. E não foi apenas pelo pedido dele
em testamento para que cuidássemos dela, icamos feliz em o fazer.

Todas as propriedades de meu pai icaram divididas entre mim e


Victoria, mas entramos em comum acordo que Roberta, nossa madrasta,
poderia escolher a casa que quisesse para morar e ela escolheu aquela onde
viveu com meu pai em Londres, e que acabou icando para mim. Antes que
eu conseguisse fazer qualquer trâmite para dar a casa a ela, aconteceu a
coisa da Jaqueline e acabou icando para depois. Mas agora não dá mais
para adiar.

— Huguinho! — diz logo que me vê e me abraça. — Você é um homão


agora!

— Você também está ótima, Roberta! — Ela entrou nas nossas vidas
quando Vic e eu ainda éramos adolescentes.

Meu pai sempre teve um fraco por mulheres mais jovens, mas desde o
início vimos que ela realmente gostava dele, apesar da diferença de vinte
anos que os separava.

Roberta continuava bonita como quando se casou. Alta, de olhos


claros, cabelos loiros e uma educação impecável. Sua família era de classe
média e foi totalmente contra seu relacionamento desde o início, até

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retirando qualquer dinheiro a que ela tivesse direito quando se casou com
Vitório Mendes.

— Então, eles disseram que precisavam conversar com o dono da


propriedade — diz após nos servirem um chá. — Eu disse que era a dona,
mas eles falaram que ainda está sob o seu nome, Huguinho, então você
precisa falar com eles.

— Mas não disseram o que é, Roberta? — Ela nunca precisou


resolver problema algum. Quando saiu debaixo das asas dos pais, foi
diretamente para debaixo das asas do meu pai.

— Eles não quiseram explicar. A Vic disse que está grávida. — Muda
de assunto. — Me mandou uma foto, está tão linda.

— Sim, ela está. Bom, com quem eu tenho de conversar?

— Eles deixaram um número de telefone — diz procurando em um


móvel até achar um pequeno caderno. — Gosto de anotar aqui, então se eu
ico sem bateria ou qualquer coisa do tipo, sempre posso ter acesso aos
números que preciso — justi ica me entregando aberto na página com o
número.

— Sem problemas.


A resolução do grande problema que Roberta ligou para dizer que
existia, nada mais era do que taxas em atraso que eles poderiam muito bem
ter relatado a ela. Além de, claramente, estarem interessados na
propriedade, buscando problemas inexistentes para tentar obrigar-nos a
vender.

A maior demora foi apenas os trâmites legais para passar o imóvel


inalmente para o nome de Roberta, que icou muito feliz por ser
legalmente seu.

Alguns dias foram su icientes para resolver tudo o que ela me pediu e
também para algumas reuniões que minha secretária agendou, a meu
pedido, quando informei que vinha para Londres.

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Pela primeira vez em muito tempo, me vi ansioso para voltar para casa.
Eu acabei não tendo tempo para assistir à novela na qual Helena me viciou,
mesmo que não soubesse, e também estava sentindo falta da sua comida.

Já havia passado pela minha cabeça que Helena não era solteira. Uma
mulher claramente muito bonita, inteligente e ouso dizer que até mesmo
engraçada como ela, não icaria sem alguém. Mas não tinha visto aliança em
seu dedo e ela me disse ser viúva. Não havia qualquer real sinal de
compromisso, até que cheguei em casa e a vi se esgueirando tentando
entrar.

Depois de encurralá-la, tudo em que eu pensava era em beijar seus


lábios, que pareciam implorar pelos meus. Seu perfume, mais uma vez,
conseguiu me inebriar.

— O senhor deseja café? — Usando um vestido loral solto em cor


escura, eu desejava muitas coisas, mas, principalmente vê-la sem ele.

Quando inalmente a libertei, com promessas de pães de queijo e


café, Helena praticamente fugiu de mim. E ela não estava de todo errada. O
problema é que ela não sabia que, quanto mais fugisse de mim, mais eu iria
querê-la e iria sim atrás.


Minha secretária havia me mandado um cronograma do que eu
precisava fazer durante a semana. Apesar de que os dias que iquei em
Londres foram bené icos para a VHM, minha empresa, no Brasil o tempo
não parou e eu tinha dezenas de problemas acumulados e um evento que
havia con irmado presença para hoje.

Liguei rapidamente para minha irmã. Geralmente ela que me


acompanhava, pois conseguia me ajudar a não mandar todos para o inferno
quando faziam perguntas estúpidas.

— Hugo, não vai dar. Estou muito indisposta, de verdade.

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— Isso é desculpa de grávida para não fazer o que tem que fazer, Vic. —
Tento argumentar.

— Vou ingir que você não falou isso. — Sua voz é irritada. Os
hormônios transformaram minha doce e amada irmã em um monstrinho.

— Vic, você sabe que eu preciso de uma acompanhante...

— Que tal a Helena? Ela está precisando de dinheiro e você pode


ajudar... — Ela solta um arroto.

—Meu Deus, Victoria, cadê os seus modos, garota?

— Um: você não pode questionar minha educação. Dois: desculpa, foi
sem querer. O bebê queria refrigerante de uva e eu tive de dar. Três: vou
ligar para a Helena agora mesmo! — diz desligando na minha cara.

— Idiota! — xingo a mim mesmo antes de chamá-la.

Estranhamente, consegui insultar Helena mais uma vez. Por mais que eu
tente não o fazer, às vezes parece impossível. Tudo o que sai da minha boca,
quando estou perto dela, é besteira. Mas, felizmente, após uma ligação da
minha irmã, ela inalmente aceita.

Sem muito tempo, a levo rapidamente à loja sede e deixo sob os


cuidados de Cláudia. Em seguida, desço pronto para almoçar, mas, se eu não
almocei, tenho certeza que ela também não. Sigo para o lado oposto à
barraquinha do Chicão e ligo para Iago, o melhor cabeleireiro que eu
conheço. Minha irmã sempre faz o cabelo com ele.

— A que honra devo este milagre? Por acaso inalmente decidiu me


deixar tosá-lo, Victor Hugo? — diz logo que atende.

— Qual o problema do meu cabelo e da barba?

— Nenhum. Se você quiser icar parecendo um homem das cavernas.

— Hoje a sua missão é outra...

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Capítulo 16
HELENA

Minha boca se abre aceitando a língua de Victor Hugo. Com gosto da


bebida, seu beijo é suave e quase inocente, ao menos até o momento em que
ele aproxima nossos corpos, aprofundando o gesto. Sua máscara foi
derrubada.

De forma indecente e carnal, sua língua se enrosca com a minha,


roubando meu fôlego e deixando minhas pernas bambas, enquanto suas
mãos se mantêm irmes em minhas costas, como se eu fosse fugir a
qualquer momento.

Involuntariamente, minhas mãos vão aos seus cabelos, como


secretamente desejei desde que o vi pela primeira vez. Em minha mente
uma longínqua voz grita para que eu pare, me afaste, mas tudo o que eu
quero é me aprofundar cada vez mais nesse beijo, principalmente quando
Victor Hugo mordisca meus lábios.

Porém, um segundo de razão inalmente toma conta de mim e o


afasto imediatamente, seguido do que eu não imaginei que aconteceria, um
alto e forte tapa em seu rosto.

— Você icou louco? Eu sou amiga da Vic! — Praticamente grito.

— E o que me importa você ser ou não amiga da minha irmã? —


responde como se não estivesse entendendo.

— O quê? Irmã?

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— Seu carro, senhor. — O valet entrega a chave a ele.

— Helena, entra no carro. — Abre a porta do passageiro para mim.

— Me dá as chaves.

— Entra no carro, por favor. — Ele voltou ao normal de Victor Hugo


que conheci.

— Não vou me matar ou deixar que você se mate. — Aproximo-me e


falo baixo, tirando as chaves de sua mão. Duvido que ele icará satisfeito
com o vexame amanhã. — Agora, entre no carro.

Ele o faz em silêncio e tudo o que eu consigo pensar é:

Como assim ele e Vic são irmãos? E como fui burra o su iciente para
não perceber o que estava na minha cara o tempo todo?

Era óbvio! Eles não moram na mesma casa, Vic não se importou com
o fato de ele estar acompanhado por outra quando fora em casa certa vez,
ela mesma comentou que Victor Hugo deveria estar acompanhado... E
quando o conheci e acabei o apalpando sem querer, qualquer outra mulher
não gostaria da cena, mas ela apenas riu!

— Helena, entra ali à esquerda. — Aponta faltando pouco para


chegarmos em casa.

— Estamos a poucos quilômetros de casa, senhor.

— Eu sei disso. Entra à esquerda, por favor. — Assim como eu, ele
passou boa parte do caminho em silêncio, provavelmente arrependido de
ter me beijado. A inal, eu trabalho para ele. — Agora à direita.

— Para onde estamos indo?

— Preciso de mais que um tapa para icar totalmente sóbrio. — diz e o


luminoso de uma lanchonete chama minha atenção. — Ao drive-thru.

Em poucos minutos, enquanto respondo positivamente a mensagem de


Vic de que é melhor que eu busque Léo apenas no dia seguinte, meu chefe
faz um grande pedido de lanches, batatas e milk-shake. E, mesmo que eu

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diga que não quero nada, ele acaba pedindo um milk-shake de chocolate e
batatas para mim. Quando inalmente estamos chegando em casa, volto a
falar:

— Eu sinto muito, não queria ter batido no senhor. — Tento enquanto


ele, de maneira repugnante, mergulha uma batata no seu milk-shake antes
de levar à boca. — Meu Deus, retiro o que disse. Isso é completamente
nojento e o senhor merece realmente levar uns tapas. — De repente ele
começa a gargalhar.

— Garanto que é uma delícia. — Estaciono o carro próximo da fonte. —


Quase tão bom quanto o meu beijo, Helena.

— O seu beijo não é bom! — grito, rapidamente saindo do carro e ele me


acompanha, rindo.

A chuva anuncia sua chegada com vento forte e algumas gotas caindo
sobre nós.

— Tem razão. É ótimo! — Mais uma vez Victor Hugo me prende em seus
braços. — Me dê uma boa razão para eu não te beijar de novo agora,
Helena...

— Uma boa razão... — Tento lembrar quando ele afunda o seu nariz no
meu pescoço, fazendo minha pele arrepiar.

— Gosto do seu perfume.

— Uma razão... — Ele não é casado com a Vic, eles são irmãos.

— Você tem três segundos.

— Você não... —suspiro enquanto ele começa a contagem —, beija bem.

— Sabemos que isso é uma mentira. Três. — Seus braços nos


aproximam ainda mais.

— Está tarde, preciso ir dormir...

— Dois, Helena. — Seus lábios roçam os meus levemente.

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— Amanhã eu trabalho bem cedo... Eu sou sua empregada! — Por mais


que meu subconsciente me mande afastar, meus braços rodeiam seu
pescoço.

— Um...

Pela segunda vez esta noite, Victor Hugo me beija. Como da primeira
vez, ele começa devagar, como se estivesse tentando obter minha
permissão, para só então aprofundar nosso beijo.

Sem conseguir me conter, também aproximo nossos corpos e,


puxando seu cabelo, afasto levemente seu rosto e mordisco seus lábios,
arrancando-lhe um gemido.

Desviando sua boca da minha, Victor Hugo sequer me dá uma chance de


pensar antes de deslizar seu nariz pela minha pele mais uma vez. E suas
mãos me apertam fazendo-me gemer em conjunto com ele.

— Você precisa parar... — Um breve momento de sanidade toma conta


de mim, mas me abandona no momento que a boca de Victor Hugo chega a
minha orelha.

Como ele poderia saber que esse é meu ponto fraco?

— Helena... — Meu nome sai como o mais selvagem gemido que já ouvi.
— Eu adoraria tirar toda a sua roupa...

E, mais uma vez, antes que eu possa responder, seus lábios voltam aos
meus. Praticamente me devorando, Victor Hugo me conduz sem que eu me
importe para onde.

Ele não parece se importar quando algo cai no chão se estilhaçando,


apenas me ergue fazendo com que eu cruze minhas pernas em sua cintura.
Sinto-me como uma adolescente com o primeiro namoradinho.

Victor Hugo senta no que percebo ser o sofá da sala e, deixando meus
sapatos caírem no chão, ajudo-o a tirar o smoking e a gravata, além de abrir
alguns dos milhares de botões de sua camisa branca.

Esfregando-me em seu colo sinto o volume sob sua calça aumentar e


nossas respirações descompassadas, sincronizarem.

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— Como eu queria ter feito isso antes — murmura descendo o zíper do


meu vestido, voltando seus lábios ao meu pescoço e depois descendo ao
meu colo. — O seu cheiro... Esse perfume, Helena.

Limito-me a deixar meus gemidos e suspiros saírem dos meus lábios.


Mesmo que quisesse, eu não seria capaz de impedi-los. Os dedos de Victor
Hugo deslizam por meu corpo e não quero nem consigo dizer-lhe não.

— Apaga a luz. — peço entre um suspiro e outro.

— Por que eu faria isso? — Victor Hugo parece estar prestes a me


devorar com seus olhos.

— Eu não... — Desde a morte de Mauro, não posso dizer que realmente


voltei a ser mulher.

— Você é linda... Perfeita, Helena! — Sua boca volta novamente à


minha.

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Capítulo 17
Victor Hugo parecia uma pessoa diferente. Ele percebeu quão nervosa
eu estava e simplesmente passamos a madrugada inteira conversando.
Mesmo depois de tirar toda a minha roupa e eu prestes a ver o volume que
aquela cueca escondia e eu não tão secretamente ansiava.

Fomos os dois para a cozinha; eu descalça, com o zíper do vestido


aberto, ao menos até ele insistir para que eu o trocasse pela sua camisa de
botões, e Victor Hugo usando a calça que vestiu novamente quando
percebeu que eu não estava totalmente confortável com ele apenas de
cueca.

Fiz brigadeiro de panela e ele pegou uma manta e também conseguiu


colocar o capítulo que eu havia perdido à tarde da novela na TV quando
retornamos à sala. Estranhamente ele parecia tão interessado quanto eu.
Tenho quase certeza que ele já odiava Simão, o vilão, tanto quanto eu.

Conversamos durante horas. Victor Hugo contou-me sobre sua infância


e como ele e Vic não se davam bem e eu admiti que desde o início achava
que eles eram casados, arrancando-lhe sons infantis que simulavam nojo e
risadas que eu nunca tinha ouvido vindo dele.

Em algum momento pegamos no sono no sofá e, acordando abraçada


por meu patrão, lutei silenciosamente tentando sair dali antes que ele
acordasse. Finalmente a minha icha caiu e eu percebi que quase havia
transado com ele. O que seria do meu emprego depois disso?

Mal eram seis e meia da manhã e eu já estava na porta de Vic, esperando


para levar Léo para a escola. Minha amiga se assustou quando me viu.

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— Mamãe! — Meu bebê veio correndo até mim, pulando no meu colo.

— Por que tem uma colher no seu cabelo, Helena? — minha amiga
questiona tentando segurar a risada e coloco Léo no chão percebendo que
peguei metrô e ônibus com uma colher suja de brigadeiro grudada no meu
cabelo.

— Eu comi brigadeiro quando cheguei em casa.

— Sem mim? — Leo cruza os braços irritado. — Não é justo, mamãe!

— Prometo que faço pra você quando voltar da escola, meu amor —
asseguro-lhe e recebo um sorriso.

— Vem, vamos entrar. — Vic diz quando vê que estou claramente


perdendo a batalha contra a colher. — E você pode me contar como foi tudo
ontem à noite.

— Preciso levar o Léo para a escola...

— Vai ser rápido, vem!


Realmente foi rápido. Principalmente porque consegui me esquivar da
maior parte das perguntas da minha amiga. Pelo menos das que envolviam
o seu irmão.

— Antônio é simplesmente repulsivo — diz, inalmente tirando a colher


do meu cabelo e levando pelo menos metade dos meus lindos ios com ela.
— O que você usou para fazer esse brigadeiro? Cola?

— Eu sei.

— O que Hugo disse quando você contou?

— Eu não contei, Vic.

— O quê?

— Na melhor das hipóteses, ele ignoraria.

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— Não é algo do feitio do meu irmão.

— Na pior das hipóteses, eu estragaria a noite. Ele foi muito bem. Ao


menos conseguiu, pelo pouco que entendi, alguns acordos verbais e marcar
algumas reuniões. — Dou de ombros guardando a colher na bolsa. — De
qualquer forma, eu vou jogar aquele cartão no lixo logo que chegar em casa.
Não deu tempo, Victor... quer dizer, senhor Victor Hugo chegou na hora e
iquei envergonhada.

— Parece que você me substituiu muito bem, apesar de tudo. — Minha


amiga conclui animada. — Você bem que poderia fazer isso mais vezes por
Hugo.

— Ah, não.

— Se não for por ele, por mim. Léo e eu nos divertimos muito, ico muito
sozinha quando o meu marido está viajando e não tenho disposição para
eventos — enumera.

— Foi algo de uma vez só, Vic. Léo, vamos. — chamo meu ilho, que está
na frente da TV. — Deixei o seu colar em casa. Pareceu valioso e não quis
arriscar no transporte público.

— Tudo bem. Tenho de conversar com Hugo algumas coisas. Te aviso


quando eu for passar. — Nos acompanha até a porta. — Cuida bem desse
meu crush.

— Tchau, Vic. — Ambos a cumprimentamos.


Consegui levar Léo a tempo para a escola e quando cheguei em casa,
meu patrão não apareceu. Ao menos até que eu coloquei o uniforme e
comecei meus afazeres.

Enquanto eu escutava música no fone de ouvido e lavava a cozinha, senti


mãos me agarrando pela cintura e involuntariamente levei a vassoura
diretamente no rosto de quem estava atrás de mim, no caso o meu patrão,
que rapidamente se desequilibrou e caiu no chão.

fevereiro•2022
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— Meu Deus, me desculpa, senhor Victor Hugo. — Ajoelho-me ao seu


lado e logo sou puxada para cima dele. — Eu me assustei e...

— Bom dia, Helena. — Com um sorriso ele afasta o meu cabelo do rosto
e inverte nossas posições, fazendo com que eu me suje com a água e sabão
que estão no chão da cozinha. — Onde foi tão cedo?

Por que as palavras dele tem de parecer tão sexys?

— Eu... Precisava resolver umas coisas, senhor. — Uma carranca se


forma rapidamente em seu rosto, mas em seguida ele aproxima o seu rosto
do meu, deslizando a sua língua em minha boca. — Eu, hum... Uau. — Me
vejo dizer antes que possa controlar minhas palavras e arranco-lhe uma
risada.

— Vem, deixa eu te ajudar. — Ele se levanta e me ajuda em seguida. —


Precisamos de um banho...

— Me desculpa, senhor, não queria ter te acertado, é só que o senhor me


assustou e...

— Helena!

— Sim, senhor?

— Eu te vi nua, por que deveria continuar a me chamar de senhor? —


Não é algo comum, mas tenho certeza de que iquei mais vermelha do que
um tomate maduro.

— Eu... deveríamos...

— Tomar um banho de piscina — diz deslizando devagar e tentando me


levar junto para a porta que leva ao jardim.

— Não acho que seja uma boa ideia.

— Um banho de piscina é sempre uma boa ideia, Helena. — Ele me


levanta no colo com tamanha facilidade, sequer se desequilibrando no chão
escorregadio.

— Senhor...

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— Se me chamar de “senhor” mais uma vez, — diz caminhando pelos


paralelepípedos em direção à piscina —, não só irei pular na piscina como
vou te levar junto. — Ele está parado na borda. — Sou um homem de
palavra!

— Não ousaria! — Tento sair dos seus braços, mas cada vez que me
mexo, ele apenas me aperta mais, causando as mais variadas sensações em
minha mente e corpo.

— Experimenta!

— Isso é ridículo, senhor Vict... — De repente ele pula na piscina comigo


no seu colo.

fevereiro•2022
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Capítulo 18
— Você é uma pessoa horrível! — grito jogando-lhe água com as mãos.
— Eu poderia não saber nadar. Me afogar!

— E eu faria respiração boca a boca, Helena — diz se aproximando


rapidamente e segurando-me pela cintura.

— Eu acho que...

— Deveríamos nos beijar? Sem dúvidas. — Mais uma vez Victor Hugo
não me dá a chance de raciocinar antes de me beijar, roubando meu fôlego e
qualquer bom-senso que eu possa ter.

Pressionando-me contra a borda, na parte rasa da piscina, ele não beija


apenas meus lábios, beija todo o meu rosto, pescoço e, abrindo minha blusa
devagar, Victor Hugo encontra meus seios cobertos com meu pior sutiã! Um
velho e desgastado, porém confortável, sutiã amarelo que já teve dias
melhores.

Impedindo-me de cobrir, sabendo que não é por conta dele, Victor Hugo
abre o fecho frontal e solta uma espécie de gemido quando meus seios são
libertos. Primeiro suas mãos os tocam como a muito eles não eram tocados.
Imediatamente me contorço, desejando mais. A água só me cobre da cintura
para baixo e, após depositar um breve beijo em meus lábios, a boca dele
desce até meus seios.

Deslizando sua língua por meus mamilos, Victor Hugo os suga na


pressão perfeita, fazendo meu pudor ir para o inferno e eu gemer sem a
mínima decência enquanto o puxo pelos cabelos em minha direção. Dando

fevereiro•2022
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atenção a cada um dos meus seios, ele me tira completamente do ar.


Poderia jurar que ele me faria gozar assim, mas pareceu pouco para ele, que
desceu uma mão dentro da minha calça.

— Ah... — suspiro completamente excitada.

— Isso é música para os meus ouvidos, Helena. Me deixe ouvir o seu


prazer — pede. — Não se controla, geme para mim.


Com um sorriso no rosto que eu não pude evitar e, pelo visto, Victor
Hugo também não, ele me ajudou a sair da água. Seria muito mais fácil se
ele fosse apenas o ignorante que conheci quando comecei a trabalhar aqui,
mas, nesse momento, ele está me acompanhando até em casa, depois de me
fazer gozar dentro da sua piscina e não aceitar quando tentei retribuir, além
de colocar uma toalha em meus ombros, cobrindo meu corpo.

— Descansa, Helena — diz me beijando na testa. — Eu e você ainda não


terminamos isso...

— Senhor... — Dessa vez volta a beijar minha boca, me mantendo aérea.

— Todas as vezes que me chamar de “senhor”, vou te beijar. Não importa


onde estiver ou com quem, ok? — Apenas aceno com a cabeça, arrancando-
lhe um sorriso. — Te vejo mais tarde? — con irmo com a cabeça novamente
e, sorrindo, ele vira as costas.

— Espera, sen... Victor Hugo, preciso terminar de lavar a cozinha. — Ele


continua de costas e respira fundo.

— Com uma condição. — Vira para mim.

— Condição para fazer o meu trabalho? — Con irma com a cabeça e dou
de ombros.

— Que você não me acerte com a vassoura de novo. — É impossível não


rir com esse homem que Victor Hugo está mostrando ser.


fevereiro•2022
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Victor Hugo insistiu em me ajudar, apesar da sua clara falta de


habilidade em afazeres domésticos. Mesmo assim, achei sua atitude fofa e
completamente divertida.

Não somos capazes de alterar o passado. Ele aconteceu e aprendemos


com ele. Me peguei diversas vezes olhando para Victor Hugo e lembrando
que, de fato, ele é meu patrão e que, por melhor que tenha sido nossa
conversa na madrugada e nosso episódio na piscina, ele continuaria sendo
o meu patrão e eu sua empregada mentirosa que esconde um ilho.

Ao im do dia, eu tinha conseguido evitar a maioria das investidas dele e


silenciosamente agradeci quando uma emergência surgiu e ele avisou que
não sabia que horas voltaria, mas que deveríamos conversar quando ele
voltasse.

Leo não havia esquecido da minha promessa. Logo que desceu da van
escolar perguntou do brigadeiro que eu havia prometido pela manhã e
rapidamente voltamos para casa para fazer o doce.

Leo é como uma cópia do pai. Com quase sete anos, lembro de quando
ele nasceu. Com seus grandes olhos cor de mel, pele mais escura que a
minha e uma pequena pinta perto do queixo que Mauro também tinha.
Desde o primeiro dia meu marido se apaixonou por ele. E eu também.

Minha família não icou feliz em saber que eu havia engravidado e


casado, ao invés de continuar a faculdade. E simplesmente cortaram
contato comigo. A família de Mauro também não icou feliz por uma garota
de dezenove anos engravidar do herdeiro principal. Acusaram-me até
mesmo de golpe do baú. Mas nosso amor era tão forte que, quando Léo
nasceu, ignoramos todo o resto.

Porém, não foi muito o tempo que meu marido teve com nosso ilho.
Pouco depois do aniversário de três anos de Léo ele sofreu o acidente e,
infelizmente, nos deixou.

Esse tempo, contra o que eu havia planejado, não foi su iciente para que
Léo e eu tivéssemos nossa vida de volta. E nem falo da casa grande ou de eu
voltar a ser dona de casa. Me orgulho do meu trabalho e de correr atrás por
mim e pelo meu ilho. Eu falo de poder dar a ele o brinquedo que ele gosta
ou de poder levá-lo em um parque no im de semana. Pode não ser muito,
mas, com certeza, eu me sentiria mais realizada.

fevereiro•2022
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Felizmente nunca chegamos a passar fome, apesar de nossa situação


não ter sido fácil, porém, Leo e eu estamos bem agora. Estamos em um
lugar bom. Tenho um bom salário, Vic é uma boa amiga e tenho Victor
Hugo...

— Que merda você está pensando, Helena? — questiono a mim mesma


após colocar Léo para dormir, organizar minha cozinha e inalmente ir para
o meu quarto, pronta para dormir.

— Também gostaria de saber... — Victor Hugo aparece na janela. —


Posso entrar?

— Não! — grito. — Quer dizer, eu estou cansada, a casa está bagunçada


e...

— Não ligo para isso, Helena.

— Eu sei, mas é que... Eu realmente estou cansada e preciso dormir. O


meu patrão...

— Que sou eu... — Ele parece estar se divertindo com o meu


nervosismo.

— É um carrasco!

— Ei!

— Boa noite, senhor! — Tento fechar a janela, mas ele me puxa pelos
braços me impedindo e me beijando.

— Eu disse que te beijaria todas as vezes que me chamar de “senhor”. —


Vira as costas. — A propósito, adorei a camisola. Boa noite, Helena. — Se
refere a minha velha blusa de lanela xadrez vermelha e fecho a janela
imediatamente.

— Boa noite, Victor Hugo — falo mais comigo mesma.

fevereiro•2022
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Capítulo 19
Dei o meu máximo para fugir de Victor Hugo durante toda a semana.
Mas era impossível. Toda vez que ele descia as escadas para tomar o seu
café me puxava para si, roubando um beijo e insistindo para que eu tomasse
café com ele. E, mesmo que tentasse me distrair com seus beijos, eu sabia
que não deveria me envolver com ele e com essa situação. A cada investida
sua que eu recusava, ele soltava uma risada que aprendi a reconhecer como
a mais sincera de sua parte.

— Helena!

— Sim, senhor? — Entro em seu escritório e logo sou recepcionada com


um beijo.

— Se quer um beijo, basta pedir. — Suas mãos permanecem uma na


minha cintura e outra no meu rosto. — Não precisa me chamar de “senhor”.

— Desculpa, é força do hábito. — Ele parece se irritar quando me afasto.

— Contratei um jardineiro — avisa contornando sua mesa e sentando-


se atrás dela.

— Mesmo? Essa casa vai icar ainda mais bonita com o jardim bem
cuidado — comemoro.

Eu mesma já havia tentado cuidar do jardim, mas minhas habilidades


com a terra são pouquíssimas, para não dizer nulas. O lugar realmente
precisava de certa atenção e me deixa extremamente feliz que Victor Hugo
tenha decidido contratar alguém que possa fazer isso.

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— Também contratei uma nova pessoa para cuidar da limpeza do andar


inferior — fala olhando feio para a tela do celular.

— Isso signi ica que... — Meu coração dispara.

Ele não pode simplesmente me demitir assim, pode?

— Que você foi...

— Não pode me demitir porque não transei com você! — Meu


argumento sai como um grito e imediatamente Victor Hugo volta seu olhar
para mim. — Isso não é justo!

— Helena...

— Exatamente! Não é justo. E se isso é uma forma de tentar fazer eu


me...

— Isso é ofensivo! — Se aproxima de mim, irritado.

— Sim, ofensivo, Victor Hugo! Se quiser me demitir...

— Quem está falando de te demitir, mulher? — Sua voz aumenta


gradativamente. — Helena, você está fazendo duas funções desde que
chegou. Eu só estou te promovendo à cozinheira da casa.

— Então eu não estou sendo demitida? — Ele realmente está irritado,


mas tentando se controlar.

Por que eu tenho de ser tapada assim? Ele só está tentando fazer algo
legal.

— Não, Helena, você não está sendo demitida. — Seu rosto está
vermelho. — Muito menos por não transar comigo.

— Eu, me desculpa, nem sei o que dizer... É que eu pensei...

— Pensou o quê, Helena? — Ele está magoado, e com razão. — Que sou
um escroto que faria você usar seu corpo como moeda de troca para manter
o emprego?

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— Não eu...

— Não precisa cozinhar nada para mim hoje. — Pega o celular em cima
da mesa. — Pode tirar o resto do dia de folga. — Encara-me por alguns
segundos e sai do escritório balançando a cabeça negativamente.

— Espera... — O sigo até a porta da frente. — Eu sinto muito... — Ele


sequer vira para olhar para mim. — Victor Hugo? — faço uma última
tentativa.

— Não devo voltar hoje — avisa abrindo a porta e fechando em seguida.

— Que merda, Helena! — grito comigo mesma. — Você é mesmo uma


idiota!


Nos últimos dias estávamos assistindo a novela juntos, mas hoje, depois
de ter sido tão estúpida a ponto de falar as merdas que falei para Victor
Hugo, resolvi me punir não assistindo ao episódio em que inalmente a
mocinha ia contar que o bebê que perdeu era ilho do mocinho.

Re iz toda a faxina que havia feito no dia anterior e quando deu quatro
horas da tarde ele ainda não havia voltado. Vic chegou pouco depois que
terminei de secar o chão e, com a barriga já começando a aparecer, colocou
os pés apoiados no pufe da sala e sentou na poltrona.

— Hugo está um porre hoje! — diz após desligar a ligação que recebeu
dele.

— Onde ele está? — questiono rapidamente. — Quer dizer... eu... bem,


ele... O que ele disse?

— Pediu para eu vir entrevistar os novos funcionários, mas, por algum


motivo, o idiota marcou para cinco horas da tarde — resmunga. — Sabe, eu
pensei que ele estava mais tranquilo, nos últimos dias Hugo está mais o
meu irmão e menos o homem amargurado que havia se tornado.

— Mesmo? — Sento ao seu lado, interessada.

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— Sim, ele até mesmo me levou um presente para o bebê. E hoje me


ligou superirritado, praticamente exigindo que eu viesse para ver a
contratação desses funcionários.

— Talvez tenha sido algo no trabalho...

— Ele te tratou mal, Helena? Se ele te tratar mal, avisa que eu acabo com
ele.

— O quê? Não, Vic. O seu irmão não me tratou mal.

— Você viu alguma coisa hoje? Talvez alguém que estava com ele...

— Eu o vi quando saiu. Ele disse que eu não precisava cozinhar


porque não sabia que horas voltaria.

— Eu mesma terei de encurralá-lo — reclama ao mesmo tempo que


a campainha soa. — Mas vamos lá, mocinha. Precisamos entrevistar
algumas pessoas para a limpeza e um jardineiro. Quem sabe não
encontramos um gostosão para te fazer companhia? — diz piscando o olho
e minha mente me leva diretamente ao seu irmão sem camisa me beijando
no sofá.

— Vou abrir a porta — aviso ao despertar com o segundo toque da


campainha.


Se eu não soubesse que Victor Hugo estava irritado por minha causa e
pela situação que causei mais cedo, diria que ele pediu para sua irmã fazer
as entrevistas simplesmente porque ela é totalmente competente.

Vic não perdeu tempo. Foi educada, como sempre. Sensível e objetiva.
Como se izesse isso todos os dias, fez as perguntas certas e pediu para que
eu acompanhasse, pois, segundo ela, nas próximas eu quem deveria fazer as
entrevistas.

Pouco antes do horário de chegada de Léo, já havíamos entrevistado


todos e selecionado os favoritos de Vic.

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— Acho que deveríamos contratar a Paloma e o Luís — informa com um


sorriso.

— Eu até concordo sobre a Paloma. — Sua entrevista foi bem melhor


que qualquer entrevista que eu tive na vida. — Ela não parece ter medo do
trabalho e acho que o tempo de serviço não vai atrapalhá-la na faculdade.
— Ela comentou que o emprego era para ajudá-la com os custos do seu
curso.

— E o gostosão do Luís? — pergunta após concordar comigo sobre


Paloma.

— Você não pode contratar alguém só porque ele é gostoso, Vic —


respondo rindo.

— Ué, mas e se for um garoto de programa?

— Victoria!

— Eu só estou brincando, Helena. — Dá de ombros enquanto bebe a


terceira latinha de refrigerante de uva. — Esse bebê vai acabar me fazendo
desenvolver uma bela de uma gastrite. De qualquer forma, ele realmente é
bom. Você não viu o que ele fez naquele pequeno canteiro em trinta
minutos?

— Se você quer contratar ele porque é bom, eu não posso dizer que está
errada.

— É pelos dois motivos. — Dá de ombros recolhendo suas coisas. — Ele


é gostoso e bom no que faz.

— Victoria!!!

— Eu estou falando do serviço dele, Helena. Que mente suja! — Minha


amiga gargalha. — Você pode avisá-los? Vou pedir para alguém entregar os
contratos aqui ainda essa semana. Ok?

Concordo com a cabeça e a acompanho até o carro.

— Manda um beijo pro Léo. E não dê atenção para qualquer merda que
o meu irmão falar. Quando eu o ver, vou resolver seja lá o que ele tem.

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— Espero que ele ique bem.

— É, eu também. — Me sopra um beijo antes de ir.

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Capítulo 20
Durante todo o resto da semana, Victor Hugo e eu não conversamos.
Sempre que eu tentava falar com ele, algo acontecia. A Vic aparecia o
xingando aleatoriamente, Paloma precisava de alguma coisa ou seu celular
tocava.

Na sexta-feira ele autorizou a folga que Paloma pediu para resolver algo
da faculdade e Léo iria da escola para casa do Pedrinho, ilho da vizinha de
Victor Hugo, que estuda na mesma turma que ele e que está fazendo uma
festa do pijama para comemorar seu aniversário. Simplesmente o momento
perfeito para conversar com ele.

— Posso entrar? — pergunto batendo na porta e uma resposta curta


a irma que sim.

Mais uma vez ele está sentado atrás da mesa usando óculos e
completamente focado nos papéis na sua frente.

— Como posso te ajudar, Helena? — Ele sequer olha na minha direção.

— Então vai ser assim agora? — Com meus braços cruzados abraçando
eu mesma, me sinto como quando contei da minha gravidez e meus pais
simplesmente me viraram as costas.

— O que quer que eu diga? — suspira tirando os óculos e colocando


sobre a mesa.

— Não sei. Que me desculpa? Eu sou impulsiva e muitas vezes falo


bobagens.

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— É disso que precisa? Tá bom, você está desculpada, Helena. — Ele


passa por mim e abre a porta para que eu saia.

— Victor Hugo... — Ele continua sem olhar para mim e segurando a


porta aberta.

Caminho em direção à saída. E eu vou fazer o quê? Claro que eu errei em


acusá-lo, mas eu pedi desculpas. Tentei conversar, mas ele simplesmente
quer continuar irritado.

Respiro fundo me recompondo e saio do escritório. Em seguida ele fecha


a porta sem me dar chance de falar qualquer outra coisa.

Pelo menos isso não foi longe demais. Não me envolvi a ponto de sofrer.
Ainda bem que mantive em mente que ele era meu patrão e que eu nunca
passaria de sua empregada.

Passando pelo jardim, vejo Luís todo sujo de terra usando uma calça
jeans velha e uma regata que um dia foi branca. O sol ainda está forte e
parece que ele está longe de terminar.

— Um suco, Luís?

— Precisa não, dona Helena. Daqui a pouco eu tomo algo. — Sua pele
bronzeada reluz com o suor. Vic não está errada, ele realmente é gostoso.

Alto, forte e com um sorriso bonito, com certeza Luís tem a mulher que
quiser aos seus pés. Além de tudo, é supereducado e, nas poucas vezes que
conversamos, me fez perceber que também é engraçado, inteligente e uma
boa pessoa.

— Vem, eu não consigo te carregar se você desmaiar com esse calor.


Olha o seu tamanho e o meu. — Sorrimos juntos, mas ele passa tempo
demais olhando para mim, me deixando um pouco desconfortável. — Eu...
eu acabei de fazer um suco de goiaba. Tá geladinho.

— Já que a senhora insiste. — Bate as mãos uma na outra tirando o


excesso de sujeira.

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— Senhora está no céu. Pode me chamar só de Helena. — Garanto com


um sorriso.

Rapidamente Luís limpou o necessário e me acompanhou para pegar o


suco. O calor simplesmente estava de matar e a aparência de Luís também
era quente.

— Muito bom o suco, Helena. — Agradece com um sorriso, me


entregando o copo. — Mas agora preciso voltar. Aquele jardim vai icar
lindo quando eu terminar.

— Imagino que sim. Até tentei mexer um pouco, mas acho que as
plantas não gostam muito de mim.

— Como não? Plantas são como mulheres. Precisa tratar com respeito,
amor e carinho. Elas icam ainda mais lindas e fortes.

— Eu até tentei, mas...

— Vou mostrar para você, vem. — Segura minha mão, me levando de


volta para o jardim.

— Tem medo de colocar a mão na massa? — Me desa ia e nego com a


cabeça. — Vamos plantar algo. Escolhe.

— Qualquer uma? — Ele acena positivamente. — Certo... Hum... O


girassol.

— Tá. Vou pegar ele. — E assim faz. — Agora você vai abrir um buraco
para colocarmos ele. — Me entrega uma pequena pá.

— Em qualquer lugar? — Ele nega dessa vez.

— Não ou vai estragar meu projeto — avisa rindo e me aponta o lugar


certo.

Rapidamente faço o plantio como ele me indicou e, em seguida, molho a


lor.

— Viu como é fácil? — Ele pisca para mim e aproxima sua mão do meu
rosto, afastando meu cabelo.

fevereiro•2022
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— Luís! — Escuto a voz de Victor Hugo, irritado. — Você pode ir.

— Ainda não terminei o que tenho para fazer, senhor — avisa.

— Por hoje terminou — resmunga. — Helena, pode vir aqui?

— Acho que estamos encrencados. — Luís ri. — Posso te convidar para


jantar? Vou sair mais cedo do trabalho. — Rimos juntos.

— Agora! — Victor Hugo grita.

— Não vai escapar de mim — garante e nos afastamos.

Victor Hugo continua me encarando das portas francesas que levam


para dentro da casa e, desejando um bom im de semana ao rapaz, encontro
meu patrão mais irritado do que jamais o vi.

— Você não é paga para plantar nada — resmunga fechando as portas


logo que entro.

— O senhor está com fome? — De repente Victor Hugo me beija. Um


beijo completamente diferente de todos os que ele já me deu. É um beijo
raivoso e sem carinho.

— Sou a porra de um homem de palavra — diz se afastando. — Disse


que sempre que me chamar de “senhor” vou te beijar e isso continua
valendo, Helena.

Ainda estou um pouco zonza. A roupa de Victor Hugo agora também


está suja de terra. Ele não me deu tempo nem mesmo para que eu lavasse
minhas mãos.

— Você está com fome? Quer que eu prepare algo? — Vou até a pia da
lavanderia, lavando minhas mãos.

— Por que estava dando tantas risadinhas com ele?

— Porque ele é divertido. — Dou de ombros passando por ele. — Vai


querer ou não comer algo? Meu horário está no im.

— Eu não contratei você para cuidar do jardim ou para distrair o


jardineiro do trabalho dele.

fevereiro•2022
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— Nem para fazer comida, entretanto, cá estamos nós e eu sou sua nova
cozinheira. — Apoio as mãos na minha cintura. — Quer que eu faça o quê?
Fique implorando suas desculpas? Fiz isso a semana inteira e você bateu a
porta na minha cara.

— O problema não é você, Helena. — Ele tenta se aproximar e recuo. —


Tem coisas acontecendo e...

— E decidiu descontar na empregada?

— Me deixe compensar. Vamos sair para jantar hoje?

— Na verdade, eu já tenho compromisso.

— O quê? Com quem?

— Não que seja da sua conta o que faço fora do meu horário de serviço,
mas irei jantar com o Luís. — Dou de ombros e olho meu relógio de pulso.
— O meu horário de trabalho acabou, inclusive.

— Helena...

— Qualquer coisa, tem comida pronta e congelada no congelador.


Demais necessidades, estarei de volta na segunda-feira — aviso saindo da
casa.

— Você não pode sair com ele. — Segura meu braço.

— Se tem algo que eu posso e vou fazer é ter um encontro com Luís. —
Faço com que me solte.

— Helena...

— Luís, espera. — Rapidamente vou até ele, que está terminando de


recolher suas coisas. — O jantar ainda está de pé?

fevereiro•2022
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Capítulo 21
Das coisas que parei de consumir desde a morte de Mauro pizza foi uma
delas e, mesmo sem saber, Luís acertou em cheio, me levando em um
rodízio de pizza.

Apesar de ter aceitado o convite de Luís mais para irritar Victor Hugo,
tive uma ótima noite. Luís é mais inteligente e divertido do que eu tinha
pensado.

Eu até me arrependi de tê-lo usado. Nunca gostei de joguinhos, nem de


usar as outras pessoas. Então voltei para casa recusando a companhia de
Luís, agradecendo a comida e a bebida, disposta a conversar como adulta
com Victor Hugo.

— Cala a boca e me escuta — peço logo que ele abre a porta da frente,
que quase destruí apertando a campainha ao mesmo tempo em que batia
freneticamente na porta.

Estou completamente encharcada. A chuva começou logo que Luís e eu


nos despedimos.

— Você está bêbada? — Tenta me puxar, mas me recuso. Colocando o


dedo indicador em seus lábios e faço barulho de “shhh” — Só bebi um
pouco. De qualquer forma...

— Entra, Helena! O mundo está caindo aí fora e você toda molhada.

— Eu preciso falar! — Ele parece impaciente e passa a mão no rosto.


Sempre faz isso quando está irritado.

fevereiro•2022
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— Então fala.

— Eu não gosto de beber. Fazia quando era solteira e ia para a micareta


— aviso. — Desde a morte do Mauro, essa é a segunda vez.

— Podemos entrar, por favor? Você vai icar doente...

— Por que nunca me deixa falar? — Finalmente entro, irritada. — Eu só


vim dizer que sou idiota por ter achado que você estava me demitindo por
não termos transado ainda.

— Ainda? — Ele questiona com um sorriso debochado enquanto me


conduz para algum lugar que, no momento, não sei identi icar.

— Foca no que importa. Vamos tomar banho de chuva? — chamo já


correndo porta a fora enquanto ele me chama de volta. — Vem, Victor Hugo.

— Volta para dentro, Helena. Você vai cair ou icar doente.

— Só depois que o senhor vier me buscar! — grito e ele corre em minha


direção. — Eu tenho uma palavra mágica. — Sorrio enquanto ele tenta me
tirar da chuva, também rindo.

— Tem sim. Agora vamos entrar.

— O senhor não era um homem de palavra? — desa io.


O sol entra pela janela que esqueci de fechar ontem e o des ile de Sete
de Setembro na minha cabeça não ajuda em nada. Com um gemido, deslizo
mais ainda para debaixo das cobertas, agora cobrindo também meu rosto e
sinto algo que há muito não sentia. Um corpo masculino nu na cama
comigo.

— Que não seja ele. Que seja ele — sussurro para mim mesma sem
saber ao certo se quero que seja ou não Victor Hugo na minha cama e,
devagar, abro meus olhos encarando um abdômen feliz ou infelizmente já
conhecido por mim com uma linha de pelos que leva até... — Por que essas
coisas tem de acontecer comigo?

fevereiro•2022
Clube SPA

— Bom dia, Helena — diz e imediatamente subo o meu rosto em direção


ao seu, que também está debaixo da coberta tentando controlar sua risada.

— O que aconteceu?

— Não lembra?

— A gente não...? — Ele parece irritado e começa a rir em seguida.

— Apesar de você ter tentado muito me seduzir com sua... Como é


mesmo?

— Por favor, não diga “dança do acasalamento” — sussurro, mas o


maldito ouve.

— Exatamente! — gargalha. — Sua dança do acasalamento, Helena.

— Me mata, meu Deus!

— Por quê? Foi fofo. E engraçado. — Ele me puxa para fora das cobertas.
— De qualquer forma, você não conseguiu me seduzir.

— Por que me sinto ofendida com isso?

— Não precisa. — Ele me beija duas vezes seguidas icando por cima de
mim e o sinto duro. — Isso é porque ontem você me chamou de “senhor”.

— Palavra mágica? — questiono com minha memória voltando aos


poucos, apesar da dor de cabeça, enquanto ele deita ao meu lado
novamente.

— Exato. — Ele ri e parece que é o único som que não me incomoda no


momento.

— Eu...

— Você continua pura e casta, Helena — avisa. — Só estamos sem


roupas porque você me fez encharcar a minha na chuva.

— Estamos na minha casa — comento mais comigo do que com ele.

fevereiro•2022
Clube SPA

— Tentei te convencer a icar no sofá comigo, mas você disse que


precisava me mostrar algo.

— E o que eu mostrei? — Ele parece estar se segurando muito para não


rir.

— A dança.

— Meu Deus. Me desculpa, isso é algo que minha irmã e eu fazíamos


quando meu irmão levava alguém em casa, só para irritá-lo.

— É bem... despretensiosa.

— É ridícula. — Mergulho minha cabeça embaixo do travesseiro.

— Você teria conseguido me seduzir com ela se estivesse sóbria. — Me


vira de volta e ica por cima mais uma vez. —
Na verdade, nem precisa fazê-la para me seduzir, Helena.

— Que horas são?

— Quem se importa? É sábado. — Seu rosto desce em direção ao meu e


viro, tentando encontrar as horas, fazendo sua boca encontrar meu pescoço
e minha pele se arrepiar quase que imediatamente. Golpe baixo!

— Eu me importo.

— Certo. Não se mexa — avisa e ico quietinha enquanto ele procura seu
celular. — Seis horas da manhã.

— Por que estamos acordados às seis da manhã? — reclamo.

— Porque você estava conversando com meu pau debaixo das cobertas
e acordei — argumenta voltando a icar por cima de mim. — Agora,
podemos continuar?

— Eu... não sei.

— Trabalho apenas com “sim” ou “não”, Helena. — Sua boca desce pelo
meu pescoço, passa por entre meus seios, deslizando a língua pela minha
barriga, roubando-me um suspiro e parando.

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— Victor Hugo! — Ele sorri.

— Diga sim. — Faz o caminho reverso, agora com pequenos beijos em


meu corpo. — Ou não. — Seus lábios vão até minha orelha. — Por favor, não
diz que não, Helena.

— Eu quero, mas...

— Mas...

— Faz um tempo desde a última vez — admito e deitando ao meu lado,


Victor Hugo me puxa para o seu peito. — Desde o Mauro eu não...

— Quanto tempo faz que ele se foi, Helena?

— Quase quatro anos...

— E você não... Nesse tempo...

— As prioridades são outras. Precisei focar em trabalhar. Tínhamos uma


boa vida, mas eu não terminei a faculdade por que... En im, isso não vem ao
caso. Eu larguei a faculdade quando casamos e, quando Mauro se foi... Bom,
me restaram as dívidas que nem sabia que tínhamos.

— E a sua família? A família dele?

— Minha família não quis saber de mim quando larguei a faculdade para
casar aos dezenove anos. A família dele não quis saber de uma golpista que
se casou por interesse. — Dou de ombros.

— Sinto muito, Helena. Posso ajudar de alguma forma?

— Obrigada. Estou me virando bem. Quando essa dívida inalmente for


quitada poderei voltar a ter uma vida, eu acho.

— Por quanto tempo vocês icaram juntos?

— Quase o tempo que ele se foi.

— Por que casaram tão jovens? — ignoro sua pergunta. Eu sempre


soube que o motivo de initivo para o pedido de Mauro foi a minha gravidez

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não planejada. Nos amamos muito, mas nos conhecíamos apenas há três
meses.

— Você também teve alguém?

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Capítulo 22
VICTOR HUGO

— Você também teve alguém? — As palavras de Helena ecoam em


minha mente enquanto decido se conto ou não sobre Jaqueline, o grande
amor da minha vida. — Se não quiser falar sobre, não precisa.

Mas como falar sobre ela enquanto Helena se aconchega tão


confortavelmente em meu peito? No momento, seu cheiro é uma mistura
loral com ressaca, é tão estranho como essa mistura me deixa tão
confortável e vulnerável.

— O nome dela era Jaqueline — digo após o silêncio preencher o


pequeno e aconchegante quarto do casebre em que ela está morando. — Ela
estava doente, mas eu dei mais atenção aos negócios que a ela. Um dia ela...
Nós estávamos visitando um apartamento, ela começou a falar sobre não
estar certo... Que não me amava e que odiava nossa vida. E pulou da janela
do vigésimo terceiro andar.

— Meu Deus. — Helena levanta cobrindo seu corpo com a coberta e


eu me sento à beira da cama.

— Íamos ter um ilho. Ela estava grávida de um menino — digo e


sinto Helena me abraçar.

Falar sobre a Jaque com qualquer pessoa para mim é muito di ícil.

— Quando nos conhecemos, ela era uma pessoa. Talvez tenhamos


feito isso rápido demais, mas estávamos apaixonados. Eu estava, pelo

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menos. — Helena não fala nada, seu rosto está apoiado nas minhas costas e
seus braços em volta do meu peito. — Ignorei alguns sinais de que ela não
estava bem. Priorizei o trabalho. Pedi para a mãe a acompanhar em
momentos que eu deveria.

— Tenho certeza de que fez o que podia para isso não acontecer.

— Eu deveria... Eu poderia ter feito mais. Somente depois que tudo


aconteceu que eu descobri a verdade, Helena. Ela estava doente e eu
viajando a trabalho.

— Victor Hugo... — Ela me solta e desce da cama, se ajoelhando na


minha frente enquanto segura minhas mãos. — Eu sei que é doloroso. O do
Mauro foi um acidente provocado por outra pessoa e eu nunca consegui me
perdoar. Não sei o que você sente, só posso imaginar. Mas você não pode se
deixar ser de inido por isso. Você é um bom homem. Di ícil, turrão, mas um
bom homem — diz me arrancando uma risada. Helena tem o dom de me
fazer rir.

— Você é incrível. Não sei o que iz para que alguém como você
aparecesse na minha vida.

— Colocou um anúncio para vaga de limpeza de palácio. — Sorri. Até


a sua risada é atraente.

O que você está fazendo comigo, Helena?

Mesmo quando me irrito com ela, como quando pensou que eu ia


demiti-la por não termos transado ou quando estava no jardim entregando
sua doce risada ao novo jardineiro ou mesmo quando, só para me irritar,
decidiu sair com ele... Mesmo assim, não consigo deixar de pensar nela.

— Você é linda!

— Você já me disse isso antes. — Seu sorriso, dos percalços que a


vida tem colocado para ela, é contagiante.

— Vou dizer o quanto você deixar... — Beijo a ponta do seu nariz.

— Isso é novidade!

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— Sai comigo hoje?

— Eu... Não posso. — Parece nervosa.

— Então janta em casa comigo.

— Eu quero, mas não posso.

— Helena, estamos pelados aqui no seu quarto. Não é porque


estaremos na minha casa que vou te desvirtuar. Já iz isso. — Ela ri e é
impossível eu não a acompanhar.

— Outro dia. Prometo. E jantar não.

— Por que não?

— Porque... — Levanta evitando contato visual comigo. — Porque...


estou começando uma dieta. — Puxo o lençol que ela mantém enrolado em
seu corpo e rapidamente o vejo. Não existe um defeito ali. — Victor Hugo!
— protesta se enrolando novamente na coberta.

— Você está perfeita, por que está fazendo dieta?

— Para continuar perfeita, ué — responde mostrando a língua e


puxo o lençol novamente, dessa vez com o objetivo de trazê-la para perto e
ela vem.

— Sai comigo, vai.

— Saio. — Sorri encostando seus lábios nos meus. — Mas não hoje.

— Helena! — A derrubo na cama e cubro seu corpo com o meu. —


Vamos lá, eu sei ser bem persuasivo.

— Não duvido das suas habilidades de persuasão. Eu realmente não


posso esse im de semana.

— Tem planos? — mordisco sua orelha. Já percebi ser o seu ponto


fraco.

— Mais ou menos. Tenho de ir no meu antigo bairro.

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— Posso te levar...

— Nem pensar. Imagina só eu chegando lá com meu patrão no


volante? Não, não. Fora que ica do outro lado de São Paulo, você
provavelmente não conseguiria chegar lá...

— Não me desa ie.

— Não estou. — Passa os braços por trás do meu pescoço. — Mas


pre iro ir sozinha.

— Quando então, Helena? — Beijo o seu pescoço. — Quando poderei


te levar para um encontro?

— Eu te aviso... — diz puxando meu cabelo fazendo meu rosto ir na


direção do seu. — Senhor!

Sorrindo, deixo meus lábios encontrarem os seus. Os lábios de


Helena são macios e o gosto da sua boca é único. Ela inteira não é como
ninguém que já conheci. Sua língua desliza em minha boca, se enroscando
com a minha, e não tenho outra escolha que não retribuir tudo o que ela
está me fazendo sentir naquele momento.


Antes das nove horas da manhã Helena me expulsou da sua casa,
prometendo que logo me passaria a data de quando inalmente sairíamos.
Eu estava me sentindo simplesmente um adolescente imaturo e ansioso.

Durante todo o im de semana não nos vimos; mesmo que tenhamos


trocado algumas mensagens, não foi a mesma coisa. Até mesmo minha irmã
a visitou, mas Helena recusou qualquer uma das minhas sugestões de vê-la.
Queria dormir com ela, como izemos de sexta-feira para sábado.
Estranhamente senti sua falta de uma forma que nunca senti a falta de
ninguém. Nem mesmo da Jaque.

E não era porque queria transar com Helena. Eu queria. EU QUERO. Mas
dormir com ela foi bom e tranquilo. Foi reconfortante e só acordei quando a
ouvi falando sozinha embaixo da coberta.

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Helena é simplesmente perfeita. Tudo o que eu não sabia que eu estava


procurando.

— Oi, Hugo! — Cláudia atende rapidamente, apesar de passar das dez


horas da noite de domingo.

— Desculpa pelo horário, Clau.

— Como posso te ajudar?

Como poderia esquecer de alguém tão querida?

— Eu queria dar um presente, um vestido. Preciso de você para isso. Sei


que provaram dezenas da última vez antes de chegarem a algo que ela
gostou. Poderia me ajudar com isso? — Sei que a essa altura Cláudia já está
tirando as próprias conclusões, mas é discreta demais para falar qualquer
coisa.

— Para quando?

— Consegue para amanhã?

— Com certeza!

— Obrigado, Cláudia. Fico te devendo uma! Boa noite! — Desligo


animado com o que estou planejando.

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Capítulo 23
HELENA

Durante o im de semana Léo não estava muito bem e, após pedir ajuda
de Vic, minha amiga constatou que meu pequeno estava apenas com uma
infecção de estômago por conta da festinha da sexta-feira.

Mimei ele durante os dois dias que me foi permitido e desistindo de


pedir folga a Victor Hugo quando ele informou que passaria o dia fora,
ainda no dia anterior, por mensagem, resolvi levar Léo comigo para a
mansão para cuidar nos meus afazeres e cuidar dele ao mesmo tempo. Luís
só trabalharia depois do almoço e Paloma estava de folga por conta de algo
da faculdade. Seríamos apenas nós dois.

Seria! Pois antes mesmo das dez horas da manhã escuto Victor Hugo
entrando em casa, ruidosamente e irritado, junto com alguém. Uma gritaria
se faz presente, nunca o vi assim antes e quando inalmente é cessada,
escondo Léo rapidamente na dispensa.

— Bom dia — falo logo que ele entra na cozinha.

— Helena, pode pegar o pacote que eu deixei no carro, por favor? —


pede me entregando a caixa.

— Hum... Agora?

— De preferência.

— Mas...

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— Você pode, por favor, fazer algo que eu peço, Helena? — Apesar de
estar irritado, vejo que ele está tentando se controlar. — Se minha visita
indesejada ainda estiver lá fora, não quero cruzar com ela. Então, por favor,
vai até o carro buscar o pacote.

— Está bem, mas você tem de icar quietinho no mesmo lugar até eu
voltar, tá? — Meu ilho acena pela fresta da porta e Victor Hugo parece não
entender.

— É algum fetiche seu me irritar, Helena?

— Eu já vou! — resmungo e saio correndo até o veículo.

— Ei, você aí!!! — Escuto Victor Hugo gritar e deixo a caixa cair no chão
antes de correr de volta para a cozinha. — Merda!!!

— O que houve?

— Tinha uma criança aqui — grita. — E ela comeu meus biscoitos!

— O quê? — Me faço de desentendida.

— Uma criança, Helena. Um garoto. O encontrei na dispensa comendo


meus biscoitos, mas ele saiu correndo.

— Você tem certeza?

— Era meu último pacote, Helena, então, sim, eu tenho certeza. E vou
encontrar esse pestinha! — Tenta sair para o jardim, mas o impeço.

— Foi só um pacote de biscoitos, Victor Hugo!

— Mas ele estava dentro da minha casa e roubou meus biscoitos.

— Você tem certeza que viu alguém por aqui? Estou trabalhando aqui há
meses e nunca nenhuma criança invadiu a casa...

— Tenho certeza, Helena. Ele devia ter uns oito ou sete anos.

— Pode ter sido o ajudante do Luís...

— Ele tem menos da metade da minha altura, Helena!

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— Isso é constrangedor, mas acho que você está sendo grosseiro. O


ajudante é anão, Victor Hugo.

— O quê? Helena, eu sei o que é uma criança... E mesmo que não


tenha sido, roubou meus biscoitos. Era o último pacote.

— Eu passo no mercado. Se não foi o ajudante do Luís, com certeza deve


ter sido o... o... — Meu Deus, o que eu estou fazendo?

— O...?

— Você sabe!

— Não, não sei, me conta...

— Ora, Victor Hugo, deve ter sido o ilho da vizinha. Sabe como são
crianças...

— Mas o ilho da vizinha é diferente...

— Você só tem um vizinho?

— Não, mas...

— Victor Hugo, é uma criança.

— Vou ao mercado e depois passar na casa da vizinha... — resmunga.

— Vai mesmo arrumar confusão por causa disso?

— Acho que não. — Ele parece mais curioso que irritado. — Quer ir
comigo, Helena?

— Pre iro icar cuidando das coisas que tenho para fazer.

— E a caixa?

— Você me assustou com o grito, deixei na sala — explico, o


acompanhando até o cômodo.

— É um presente para você usar no nosso encontro.

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— Mas ainda nem decidimos uma data...

— Não importa. Só o que me importa é que você vista para que eu possa
tirar — diz me dando um rápido selinho e saindo em seguida.

Deixo a caixa em cima do balcão da cozinha sem sequer abrir e


rapidamente saio à procura do meu ilho. Por pouco Victor Hugo não só
descobriu que ele é meu ilho como também que eu tenho mentido, na
verdade, omitido.

Não demoro a encontrar Léo atrás da nossa casinha, comendo o pacote


roubado de biscoitos, assustado. Logo que me vê, corre para o meu colo
com o rostinho sujo e pedindo desculpas.

Mando mensagem para Vic contando o que aconteceu, omitindo a parte


do presente do irmão dela. Não quero contar ainda para ela o que está
acontecendo entre nós dois até ter certeza do que realmente é isso.

Após deixar Léo assistindo um desenho na televisão, volto na mansão


apenas para buscar a caixa, para não correr o risco de que Victor Hugo o
decida levar para mim.

Léo dorme rapidamente. Ainda está cansadinho por conta do estresse e


da infecção que teve no im de semana. Amanhã, terça-feira, ele volta às
aulas, mas agora ele precisa de carinho de mãe e é o que vou dar.

Fecho as janelas e tranco as portas antes de mandar uma mensagem


para Victor Hugo dizendo que precisei sair e que não sei que horas voltarei
e que, se necessário, pode descontar o dia do meu salário. Após avisar Vic
para que não ique preocupada, desligo o aparelho.


Depois da van buscar Léo pela manhã, decido inalmente ligar o
aparelho e a chuva de mensagens recebidas, fora as ligações da parte de
Victor Hugo, conseguem travar o celular.

Tão logo entro na mansão, Victor Hugo vem até mim preocupado.

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— Está tudo bem, Helena? Você sumiu e eu não sabia onde te encontrar
— reclama. — Por que minha irmã sabia onde você estava e eu não?

— Eu... Precisei resolver umas coisas e voltei tarde.

— Está tudo bem?

— Agora sim, mas... — Um nó na minha garganta me impede de


continuar falando.

— O que houve, Helena? — Ele me abraça enquanto inevitavelmente


minhas lágrimas descem.

— Me desculpe.

— Não tem que se desculpar, Helena. Só me diz o que está acontecendo...

— Eu... — Por um segundo decido inalmente contar a ele a verdade


sobre Léo. Estou cansada de esconder o meu ilho, mas eu preciso do
emprego. Tenho certeza de que Victor Hugo não vai me perdoar por minha
mentira. — Eu...

— Você não sabe o que aconteceu no im de semana, Helena. — Paloma


entra na cozinha e imediatamente Victor Hugo e eu nos afastamos. — Me
desculpa, não sabia que o senhor estava aqui.

— Tudo bem, Paloma, ele já está de saída. — Limpo meu rosto.

— Helena...

— Não é mesmo? — insisto e ele sai, parecendo preocupado e me


deixando apenas com Paloma.

— Está tudo bem, Helena? Ele fez ou disse algo para você?

— Não, ele não fez nem disse nada. Sou só eu de TPM, Paloma —
digo tentando colocar um sorriso no rosto enquanto ela me olha
atenciosamente.

Paloma é uma garota legal. Com vinte anos e sendo a pessoa mais
animada que já conheci, depois da Vic, claro, é uma ótima companhia.

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— Se precisar conversar, eu estou aqui.

— Eu sei, obrigada. — Dou um abraço nela. — Agora me conta, o que


aconteceu no im de semana?

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Capítulo 24
Tentei evitar Victor Hugo a todo custo durante a semana, mas na
quinta-feira, quando estava entrando, ele me encurralou, me beijando como
se não o izesse há séculos.

— O que foi isso? — Ofegante, é a primeira coisa que consigo dizer.

— Parece que está fugindo de mim... E para mim é di ícil admitir,


mas senti saudades. — Me rouba um selinho e desce uma mão pelo meu
corpo até chegar na barra da minha calcinha adentrando-a. — Eu preciso
fazer uma viagem e queria muito que você fosse comigo.

— O quê?

— Exatamente isso que você ouviu, Helena — diz com um sorriso


malicioso enquanto movimenta seus dedos em mim. — Queria muito que
você fosse comigo. Mas eu te vejo na volta, não vou demorar.

— Tá bom — resfolego.

— E quando eu chegar, você vai inalmente sair comigo? — con irmo


com a cabeça que sim e seus dedos continuam se movimentando dentro da
minha calcinha. — Está gostando? — Deposita beijos molhados em meu
pescoço e colo.

— Ah... sim, estou. — Sua boca toma a minha para si em um beijo


devasso. Sua língua nunca pareceu tão erótica quanto agora. Só o
pensamento me deixa mais e mais perto do ápice, até que... — Victor Hugo,
isso... Ah! — Me derreto em sua mão.

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— Quando eu voltar, vamos bem além disso, Helena. — Sua mão


abandona minha calcinha e Victor Hugo a leva até sua boca, lambendo seus
dedos. — Ainda não acabamos. Volto em alguns dias.

— Tá bom.

— Vai sentir minha falta?

— Mais do que você pensa — aviso tomando a iniciativa do beijo


desta vez.


Victor Hugo não especi icou quantos dias icaria fora, mas desde o
momento em que deixou a casa, começou a me mandar mensagens no
celular. Obriguei-me a não o responder durante o horário de serviço. Não
queria que ele achasse que só porque não está em casa eu não estaria
trabalhando. Também não perguntei quando ele voltaria, por mais que eu
quisesse.

Do momento em que eu acordava ao momento em que ia dormir, havia


mensagens dele. Menos de vinte e quatro horas longe de Victor Hugo foi o
su iciente para que eu percebesse que não só sentia sua falta, como também
me deixou completamente ansiosa para sua volta, quando teríamos o nosso
primeiro encontro.

No im do terceiro dia, Victor Hugo me avisou que chegaria no dia


seguinte, sexta-feira, e que me buscaria às sete horas para o nosso encontro.
Sem querer me afobar, mandei uma mensagem para Vic perguntando da
possibilidade de icar com Léo. Eu detestava pedir algo a qualquer pessoa,
mas deixar o meu bebê sozinho estava fora de cogitação e eu já tinha
mandado a Helena sensata que jamais sairia com seu patrão para bem
longe.

— Espero que se divirta. — Minha amiga diz animada quando deixo Léo
em sua casa.

— Léo, obedece a tia Vic, sim? — Ele acena com a cabeça, me dá um


beijo e sai correndo para dentro da casa.

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— Não vai mesmo me dizer com quem vai sair?

— Por enquanto não. — Não quero contar algo que nem aconteceu,
a inal, Victor Hugo é irmão dela.

— Por favor!!!

— Deixa eu ver onde isso vai dar...

— É o Luís? É inalmente o segundo encontro de vocês?

— Tchau, Vic.

— Não ouse vir buscá-lo antes de domingo. — Minha amiga adverte.

— O quê? Nem pensar...

— Helena, não discuta comigo! Você vai aproveitar esse im de semana...

— Não vou icar o im de semana longe do meu ilho!

— Não, você vai passar o im de semana ou se divertindo muito ou


tirando um tempo só para si. De qualquer forma, você precisa de uma
folguinha. — Vic me abraça com carinho. — Faz assim, você vê ele na
segunda-feira depois da aula.

— Não, Vic...

— Não discute, Helena. Eu sei que você ama o Léo mais do que a si
mesma, mas precisa cuidar de si também. Já te disse isso e vou repetir: você
é linda, jovem e não precisa morrer porque isso aconteceu com o seu
marido. — Suas palavras são fortes, mas em nenhum momento Vic é
desrespeitosa. — Não siga o exemplo do meu irmão de se fechar para a
felicidade.

— Obrigada, amiga. — A abraço, emocionada.


Victor Hugo havia me feito abrir a caixa ainda na primeira noite que
passamos a nos falar por mensagens. Eu tinha até esquecido, mas ele me fez
lembrar, mesmo sem intenção, quando perguntou o que eu havia achado.

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A caixa preta com logo da loja dele em dourado “VHM” se tratava de um


retângulo com tampa removível. Dentro, enrolado em papel vermelho,
encontrei um vestido preto com lindas rosas vermelhas em aquarela
estampadas no tecido luido. Também encontrei um par de sapatos scarpin
pretos, uma bolsa com alça dourada em corrente e um cartão escrito à mão
onde dizia:

“Obrigado, Helena, por ser exatamente você.”

Não estava assinado e, obviamente, não precisava. Mas, mesmo que


Victor Hugo não tivesse me falado para pegar a caixa, eu saberia de alguma
forma que aquilo viria dele.

Após ter deixado Léo com Victoria, voltei para casa ansiosa para me
aprontar, utilizando um pouco do que o maquiador que me produziu para o
evento em que fui com Victor Hugo me ensinou.

Cumprimentei Luís rapidamente, o jardim estava lindo, mas minha


ansiedade para icar pronta e ver meu patrão era maior. Demorei um pouco
no banho, optando pela velha lâmina batendo no box. Talvez essa fosse a
noite em que eu inalmente me entregaria a ele. Eu esperava que fosse. Até
mesmo coloquei a calcinha nova que havia comprado após ele viajar.

Às sete horas da noite eu já estava totalmente pronta. Com o vestido


estilo ciganinha deixando meus ombros livres, mesmo com as pequenas
manguinhas nos braços. Seu comprimento descendo até meus tornozelos, o
salto preto e a bolsa. Complementei com uma correntinha dourada que
havia comprado em um camelô há algumas semanas. Deixei meus cabelos
ondulados soltos e passei também um batom vermelho, como gostava de
fazer desde a adolescência e não fazia há muito tempo.

As batidas na porta izeram meu coração disparar. Parece que voltei a


ter quinze anos novamente. Minhas mãos estão suando e logo que o vejo do
lado de fora com uma pequena lor nas mãos, meu coração para por um
segundo antes de voltar a bater rapidamente. Usando uma camisa preta de
botões e calça de mesma cor. Ele tem essa preferência de cores.

— Eu... Uau!

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— Oi! — respondo verdadeiramente envergonhada. O olhar de Victor


Hugo parece desejar cada centímetro do meu corpo.

— Você está mais linda do que imaginei quando escolhi esse vestido.

— Você escolheu?

— Com uma ajudinha da Cláudia — admite me entregando a lor. — Está


perfeita, Helena.

— Obrigada. — O que eu realmente quero é um abraço, um beijo, que


ele tire minha roupa e...

— Nesse momento eu queria te ter aqui, só para mim. — Ele parece ler
meus pensamentos. — Mas seria egoísta demais não te mostrar para o
mundo ao menos um pouco. — Me oferece o braço.

— Senhor? — Decido apelar e com um sorriso encara minha boca.

— Eu sou um homem de palavra, Helena. — Aproxima devagar


colocando meu cabelo para trás. — Não quero que se sinta ofendida, mas
não irei realmente te beijar agora. Não tente estragar o meu plano de ser
um verdadeiro cavalheiro, linda. — Finalmente aceito seu braço, mesmo
frustrada com a falta do seu beijo.

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Capítulo 25
Uma vez Luís me disse que gostava de trabalhar durante a noite, mas
ainda assim me surpreendi quando o vi mexendo no jardim aquele horário.
Ele, por sua vez, se surpreendeu de me ver de braços dados com Victor
Hugo e apenas nos cumprimentou com um aceno de cabeça.

Após Victor Hugo abrir a porta do carro para mim e esperar que eu me
acomodasse, rapidamente ele entrou no lado do motorista.

— Acho que seu pretendente acaba de desistir de você, Helena — diz


com um sorriso irônico.

— Luís é um novo amigo. Está com ciúmes?

— Não vamos estragar a noite. Tenho planos para nós.

— Aonde iremos?

— Você verá. — Me dá um beijo na bochecha que aquece todo o meu


corpo. — Eu amo o seu perfume. — Para um segundo inspirando o ar
próximo do meu pescoço e em seguida dá partida no carro.


Fiquei surpresa quando Victor Hugo parou o carro em uma charmosa
rua no centro de São Paulo com duas fontes majestosas e lindas luzes
coloridas por toda sua extensão.

— Conhece? — Nego com a cabeça. — Essa é a rua Avanhandava. Um


amigo é chefe de cozinha em um dos restaurantes. Espero que goste de

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comida italiana.

— Lasanha conta? — pergunto e ele ri, descendo do carro e


rapidamente vindo abrir a porta para mim. Gosto do som da risada dele.

— Sim, nós podemos pedir lasanha. — Beija minha mão enquanto


entramos no estabelecimento.

O jantar foi delicioso. O amigo de Victor Hugo, Manuel, nos convenceu a


deixá-lo nos surpreender e ele conseguiu. Primeiro veio uma enorme
variedade de queijos, antepastos e pãezinhos maravilhosos. Em seguida,
uma salada que seria impossível de descrever.

Como prato principal, nos deliciamos com tagliarini com ossobuco e


molho ao sugo. O vinho foi também recomendado por Manuel, assim como
a sobremesa: uma fatia de torta três mousses simplesmente divina. Quando
o café chegou, eu mal me aguentava de tão cheia.

— Eu tinha planejado outras coisas para esta noite. — Victor Hugo


estaciona o carro.

— Não deveria ter me enchido de comida então — brinco, o caminho


para casa foi devagar o su iciente para que eu já estivesse bem quando
chegamos.

— Você gostou, Helena? — con irmo acenando com a cabeça, como uma
criança, e mais uma vez ele desce do carro rapidamente, o contornando,
para abrir a porta para mim.

— Aquela rua tem uma magia. Tudo ali parece projetado para ser
perfeito e nos dar a sensação de que tudo sempre vai ser perfeito — suspiro
e ele segura minha mão, me conduzindo, contornando a casa e me levando
até a minha. — Eu preciso te contar uma coisa importante que...

— Seja lá o que for, Helena, não se preocupe com isso hoje.

— Mas é importante...

— E você pode me contar depois — diz segurando minhas duas mãos


enquanto olha em meus olhos em frente à minha casa. — Não há nada que

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você possa me dizer que vai mudar o que eu estou sentindo por você,
Helena.

— E o que você está sentindo? — Meu coração acelera em antecipação e


piora quando ele abre um sorriso.

Coração se controla, nada de ataques cardíacos antes de escutar o que


Victor Hugo tem a nos dizer.

— Não sou bom com palavras...

— Eu gosto de você, Victor Hugo — admito e mesmo nervoso, seu


sorriso aumenta.

— Eu mais que gosto de você. Eu... — Me puxa pela cintura e me beija. O


beijo que ansiei a noite toda, não, desde o momento em que ele saiu pela
porta da casa dele após me fazer desmanchar sob seu toque. — ... Amo seus
beijos.

Quando nos afastamos, percebo por que até então não havíamos nos
beijado. Victor Hugo está parecendo um palhaço com borrões vermelhos
em seu rosto. E é impossível segurar minha risada.

— Você ica ótimo de batom vermelho — aviso lhe dando mais um leve
beijo. — Quer entrar?

— Quero sim. — Tira um lenço do bolso limpando não o seu, mas o meu
rosto. — E você me julgando por não ter te beijado antes. — Entra sorrindo
comigo em casa.

— Eu não teria usado esse batom se...

— Você pode usar esse batom sempre, Helena. Vem cá. — Me puxa para
os seus braços novamente. — Estou amando borrar seu batom. Pode usar
apenas ele para mim, se quiser.

— Victor Hugo! — O repreendo, envergonhada.

— Gosto como meu nome soa em sua boca. — Devagar ele passa o lenço
em meu rosto com os olhos ixos em meus lábios. — Quero ouvir você
gemendo-o novamente. — Então seu olhar volta aos meus. Seus olhos, antes

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tão di íceis de serem decifrados, nesse momento parece que nunca


esconderam nada. — Pronto.

— Minha vez. — Pego o lenço de suas mãos e limpo o seu rosto sem
conseguir tirar meus olhos dos seus. — Eu... eu... senti sua falta. — Essa é a
última coisa que qualquer um de nós dois diz antes de voltarmos a nos
beijar.

Sem tempo para pensar ou respirar, Victor Hugo levanta meu vestido,
tirando-o de mim antes de me pegar no colo e me levar para o quarto sem
fazer cerimônia alguma. Devagar, ele me põe na cama e o escuto tirar a
própria roupa. A única luz no quarto vem da sala e um pouco da janela
aberta. Não tem mais volta, minha decisão é essa, me entregar a ele.

Sinto suas mãos voltarem ao meu corpo quando ele segura meus
tornozelos, tirando meus sapatos e deixando-os cair no chão. Não apenas
minha respiração está alta, a dele também. Victor Hugo traça uma trilha de
beijos pela parte interna das minhas pernas até encontrar minha calcinha.

Suas mãos tateiam a lateral da única peça que ainda cobre o meu
corpo e volta a fazer o caminho de beijos pela minha barriga, parando um
momento em meus seios, sugando lentamente cada um deles antes de
voltar o caminho até atingir os meus lábios. Meu corpo está a sua mercê.

Uma de suas mãos desliza para dentro da minha calcinha enquanto


Victor Hugo continua com o melhor beijo que já havia me dado. Seus dedos
circulam meu clitóris utilizando a pressão certa e fazendo nossos lábios se
separarem quando um gemido me escapa. E não sou a única a ter essa
reação. O gemido de Victor Hugo é simplesmente a coisa mais erótica que já
ouvi.

Sem conseguir me controlar, rebolo em seus dedos e, com seu


sorriso em meu pescoço, percebo o quanto ele está gostando.

— Eu vou amar o seu corpo a noite inteira, Helena — diz próximo ao


meu ouvido e voltando a descer seu rosto até minha calcinha.

Devagar, Victor Hugo desce a peça até tirá-la de mim e sinto seu
nariz próximo da minha pele antes da sua língua me provar. Primeiro,
apenas um leve toque, mas, após uma espécie de rosnado, ele começa a não
apenas me lamber, mas me chupar, devorar com sua boca habilidosa.

fevereiro•2022
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Minhas mãos arrastam pela cama quando Victor Hugo, ajoelhado em


minha frente, me faz apoiar minhas pernas em seus ombros, segurando em
meu quadril enquanto peço por mais. Estamos em sintonia.

fevereiro•2022
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Capítulo 26
Deslizando dentro de mim, Victor Hugo sussurra meu nome apoiado
sobre um braço e me abraçando com o outro. Apertando meu corpo, me
beijando e misturando o seu suor com o meu. O icial e completamente cada
pedacinho de mim pertence a ele quando gozamos juntos. Deitando ao meu
lado, me puxa para cima de si e me dá um rápido beijo no topo da minha
cabeça.

Eu não quero que ele saia de dentro de mim e, tenho quase certeza que
ele também não quer, mas fazemos isso. O ventilador e a janela aberta
tentam em vão nos refrescar. Maldito verão.

Com minha cabeça apoiada no seu peito e seus braços em minha volta,
sinto Victor Hugo adormecer; após ver no relógio que já passa de duas
horas da manhã e que consigo respirar normalmente, tento acordá-lo.

— Ei, precisamos de um banho. — Ele resmunga. — Ao menos eu


preciso.

— Vamos tomar esse banho... — Victor Hugo me solta do abraço


apertado deixando-me levantar.


Acordar nos braços de Victor Hugo mais uma vez é simplesmente bom
demais para ser verdade. De tudo o que aconteceu comigo nos últimos anos,
essa é uma das mais surpreendentes e benvindas.

fevereiro•2022
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Tentando esticar meu corpo, percebo Victor Hugo me observando e


tento puxar o lençol para cobrir meu corpo nu, sendo impedida por ele.

— Você não ronca, nem fala enquanto dorme. — Sua voz rouca mostra
que ele acordou há pouco. — Também não se mexe muito. Qual o seu
defeito?

— Sou uma mentirosa... — digo e ele cai na risada ignorando meu súbito
momento de consciência. — Está com fome? Deseja alguma coisa?

— Um pouco. — A risada o deixa e um sorriso malicioso toma conta


dele. — Posso comer você?

— Ai, meu Deus, não acredito que você disse isso.

— Quis dizer isso quando encontrei você se esgueirando para entrar em


casa aquele dia — admite. — Eu amo o seu cheiro, Helena. E agora estou
com ele em mim. Acho que nunca vou esquecê-lo.

— Um dia te passo o nome do perfume para você espirrar no seu


travesseiro. — Dou um selinho rápido e consigo roubar o lençol para me
enrolar quando levanto.

— Eu não estava brincando, Helena... — Victor Hugo levanta sem


vergonha alguma da sua nudez, mas como ter vergonha de algo tão
perfeito? — Eu quero... — Tento correr, mas rapidamente ele me alcança. —
Você...

— Você não cansa? — questiono rindo em seus braços quando sou


derrubada na cama e ele se joga em cima de mim.

— De você? Duvido que um dia cansarei — diz segurando meus braços


acima da minha cabeça. — Não faço ideia de como você apareceu assim na
minha vida e roubou o meu sossego...

— O seu sossego? — Ele acena com a cabeça positivamente.

— Em pouco tempo, Helena, você virou a minha vida de cabeça para


baixo. E... O que eu quero dizer, é que, bem, isso é di ícil...

— Hugo...

fevereiro•2022
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— Vai me chamar assim agora? — Seus olhos parecem brilhar por


um instante e con irmo.

— Eu sinto o mesmo, Hugo.

— Sente?

— Não sei o que exatamente está acontecendo entre nós, mas eu gosto,
me faz bem e acho que faz bem para você também. — Ele assente com a
cabeça. — Mesmo que seja extremamente assustador...

— Podemos tentar então?

— Sim. — Não sou capaz de esconder meu sorriso. — Nós podemos


tentar. — Mais uma vez, nossos lábios se encontram.


Passamos o im de semana inteiro juntos. Apesar da curiosidade de
Victor Hugo sobre o quarto de Léo, que deixei trancado o tempo todo, não
consegui contar a ele sobre ser mãe e estar mentindo para ele. Ele também
não quis voltar para casa e percebi que tinha mais a ver com o fato de
ninguém poder ir ao andar superior do que com nós dois.

No início da noite de domingo recebi uma mensagem de Vic informando


que estava vindo para casa com Léo e por alguns minutos, enquanto Victor
Hugo estava no banho e eu fazia a lasanha que jantaríamos, me permiti
surtar enquanto pensava em uma solução.

Tirei Victor Hugo do banho prometendo fazer o que ele quisesse no dia
seguinte e o coloquei porta a fora, mesmo com ele insistindo que
deveríamos falar com sua irmã sobre nós.

— Nós não vamos contar a Vic enquanto não soubermos o que é isso,
Hugo! — resmungo colocando seus sapatos, calça e camisa no seu colo.

— Você vai me expulsar só de cueca?

— Você mora a dois minutos daqui, Hugo!!! — Estou nervosa com a


possibilidade de ele ver Leo.

fevereiro•2022
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— Isso mostra muito sobre quem você é, Helena. Você está expulsando
um homem seminu da sua casa à noite depois de um tórrido e quente im
de semana de sexo. — Tenta me beijar, mas o impeço.

— Vai, Hugo!!!

— Está bem, mas você está me devendo. Lasanha e outras coisas!

— Vai! — Mando uma última vez, rindo, e ele vai.

Não demora muito, cerca de vinte minutos após eu conseguir expulsá-lo,


Vic chega com Léo, que me abraça forte quando me vê. Eu também senti
falta dele, a todo momento estava mandando mensagem para minha amiga
pedindo foto, vídeo e notícias dele.

— Mamãe, a Vic precisa de comida da mamãe — a irma levando a


mochila para o quarto que já destranquei após a saída de Hugo.

— Banho, Léo — aviso.

— O que houve? — pergunto a minha amiga, que me abraça tão forte


quanto meu ilho.

— O Lu e eu tivemos uma discussão. Eu estou cansada de dividir meu


marido com o trabalho — reclama sentando no banquinho. — Você nem
conhece ele e nos conhecemos há quanto tempo? Três, quatro meses? Você
frequenta a minha casa...

— Eu entendo, mas qual foi a gota d’água?

— Combinamos que ele icaria o im de semana em casa, já que tinha


viagem marcada na terça-feira. Hoje recebeu uma ligação e disse que
precisava ir para o Rio de Janeiro a trabalho. E que não deve voltar antes de
sexta-feira. — Vejo minha amiga se segurando para não chorar. — Estou
cansada de o trabalho ser a esposa e eu ser a amante.

Em dado momento, Vic não aguentou e começou a chorar. Conseguia


entender o que ela dizia. Lembro que, quando Samara e eu ainda éramos
amigas, ela reclamava da mesma coisa sobre o marido que vivia para

fevereiro•2022
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trabalhar. Apesar de ser um bom pai, sempre deixava a desejar quando se


tratava de dar atenção a ela.

Quando Léo saiu do banho, a lasanha estava pronta e Vic mais calma,
apesar de tudo. Deixando o jantar de lado, por um momento volto a minha
atenção ao celular que noti ica incessantemente mensagens que descubro
ser de Victor Hugo.

“Janela do seu quarto!”

Sabendo que ele não desistiria facilmente, rapidamente vou para o


quarto, trancando a porta ao entrar.

— O que faz aqui?

fevereiro•2022
Clube SPA

Capítulo 27
— O que faz aqui?

— A minha carteira deve ter caído no chão, não sei — informa pela
janela.

— Você não podia esperar até amanhã? Sua irmã está aqui e...

— E o quê? Eu sou bem grandinho, a Vic não escolhe com quem saio ou
deixo de sair.

— Não complique as coisas, por favor — peço me apoiando no batente


da janela. — A Vic é minha amiga, você é meu patrão. Eu sou só uma
empregada, uma funcionária.

— Talvez você não seja só uma funcionária — diz fazendo um sorriso


aparecer e sumir do meu rosto rapidamente.

— E eu seria o quê? Não, vá embora, Victor Hugo.

Segurando minhas mãos, de frente para mim e olhando em meus olhos,


ele pergunta sério:

— O que eu ganho indo embora, já que você não é só minha funcionária?

— Não começa, eu tenho visita. A Vic vai te ouvir. — Estou


completamente apavorada com o que ele possa dizer e só quero expulsá-lo.

Por que o raio da janela tem que ser tão grande e baixa? Com certeza ele
consegue entrar se quiser. Mas eu quero isso? Sim!

fevereiro•2022
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— Então diga o que sente!

— O que eu sinto?

— Vamos, surda eu sei que você não é. Diga assim: “Victor Hugo, eu te
amo...” — Ouvir aquelas palavras saírem da boca dele fazem meu coração se
aquecer e um sorriso inevitavelmente toma conta de mim. — “... Estou
louquinha para pular no seu colo e...” — Coloco a mão em sua boca o
impedindo de continuar e ele levanta suas sobrancelhas ironicamente, me
desa iando enquanto suas mãos cruzam por trás da minha cintura.

— Helena, a lasanha está esfriando, vem logo! — Escuto Vic me chamar


e começo a me desesperar para tentar inventar uma desculpa.

— Vic, entrou uma barata pela janela. — Victor Hugo ri ainda me


segurando, mesmo que eu tente me soltar. — Me solta, eu vou te bater! —
sussurro para ele. — Mas eu vou matar ela com uma chinelada — grito para
minha amiga.

Puxando meu rosto em sua direção, Victor Hugo beija minha bochecha
me deixando sem reação.

— Se você me bater, eu vou gostar ainda mais.

— Vai, anda, a comida está me esperando. — Começo a empurrá-lo


para que me deixe fechar a janela.

Não faz sentido as palavras que saíram dele. Eu disse a ele como me
sentia. Como ele quer que eu diga que o amo? Eu nem sei se o amo. Será que
ele me ama?

— Eu também estou. — Fecho a janela de vidro mesmo que eu


queira me jogar em seus braços dizendo aquelas exatas três palavras.

Para com isso, Helena. Você nem sabe se isso é amor! — Minha
consciência tenta me trazer de volta para a realidade.

Obrigo-me a trancar a janela e, com um sorriso, fecho a cortina. Não


consigo pensar com clareza.

fevereiro•2022
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Havíamos compartilhado nossos sentimentos um com o outro.


Admitimos que gostamos um do outro e que queremos ver onde isso vai
dar. Mas, por que agora ele decidiu que quer me ouvir dizendo que o ama?

— Helena? — Escuto a voz de Vic e saio do quarto.

— O que eu perdi? — Sento-me com minha amiga e meu ilho, que


conversam animados.

— O Léo estava me contando que o aniversário dele está chegando.

— Eu vou fazer assim, não é, mamãe? — Levanta sete dedinhos.


Como o tempo passa rápido!

— Isso mesmo, meu amor. Você vai fazer sete aninhos. — Sirvo-nos
da lasanha e meu celular acende informando uma mensagem:

“Nem lasanha, nem minha carteira? Estou começando a achar que


você não gosta tanto assim de mim, Helena!”

Droga! Esqueci o raio da carteira!


Acabei convidando Vic para dormir em casa. Sabia que ela não estava
bem e que o que ela precisava não era de um lugar requintado, como a
própria casa, mas de atenção e carinho.

Léo insistiu em dormir com ela, como estava fazendo na casa da minha
amiga e, apesar de sentir uma pontinha de ciúmes, não me opus quando ela
prontamente concordou.

Depois que os dois dormiram, preparei um prato e encontrei a carteira


de Victor Hugo debaixo da cama. Mandei uma mensagem avisando que
estava indo até a mansão e, quando cheguei à cozinha, ele já estava me
esperando.

— Você não pode fazer algo como o que fez — reclamo, mas ele ignora
tirando o prato e a carteira da minha mão, me beijando em seguida.

— Só admite o que sente por mim, Helena — sussurra no meu ouvido.

fevereiro•2022
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— Eu já admiti. Eu gosto de você, Hugo. — Ajeito o seu cabelo colocando


para trás. — Mas é cedo demais para qualquer pessoa saber sobre nós,
inclusive a sua irmã.

— Tudo bem, eu entendo. Eu fui um idiota preconceituoso quando


iquei dizendo que você é uma empregada...

— Não é isso. Não há erro em falar a verdade, eu sou sua empregada.

— Eu não ligo para isso, Helena. Não ligo para nada disso, mas eu
realmente me arrependo das coisas que te disse. Fui tão grosseiro e sem a
menor necessidade. — Dessa vez ele que ajeita o meu cabelo. — Quando eu
disse antes que nada que você possa dizer vai diminuir meus sentimentos
por você...

— Você nem me conhece direito...

— Conheço o su iciente.

— Eu... Eu minto, sabe? — Ele sorri.

— Todos mentimos.

— Não, você não está entendendo, eu menti. Eu minto para você. — Faço
com que ele me solte. — Para mim não é fácil admitir isso e eu sei que
posso perder o melhor emprego que tive nos últimos anos e...

— E...?

— E você!

— Helena, vamos lá, conversa comigo. — Tenta se aproximar, mas o


impeço. — Vamos fazer assim, eu te conto algo e você me conta o que está
tentando me contar, tá bom?

— Você vai me odiar.

— Impossível, meu amor. — Victor Hugo beija minha testa e segura


minha mão, me levando para o escritório.

fevereiro•2022
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Me fazendo sentar na confortável cadeira atrás da mesa, Victor Hugo


digita rapidamente no computador e logo aparece uma imagem da cozinha.

— Não estou entendendo.

— Instalei câmeras em alguns pontos da casa há alguns anos...

— Você estava me gravando? — grito.

— Não, não existem gravações, porque eu desativei essa função. Na


verdade, as câmeras estavam desligadas até te conhecer e não, não as liguei
por descon iar de você — a irma antecipando o que eu ia falar. — Eu iquei
curioso sobre você, não sei explicar.

— E decidiu me espionar.

— Você me viciou em “Amor à Segunda Vista” — comenta sobre a novela


que assisto toda as tardes e que passamos a ver muitas vezes juntos.
— Me desculpa pelas câmeras — fala aparentemente sincero. — Estou te
mostrando isso porque quero que saiba que não há nada que possa dizer
que faça meus sentimentos por você mud...

— Eu sou mãe, Hugo! — digo sem dar chance de ele terminar a frase.

fevereiro•2022
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Capítulo 28
VICTOR HUGO

Eu tinha regras. E minhas regras deveriam ser seguidas,


principalmente dentro da minha casa. E não apenas pelos meus
empregados. Qualquer pessoa que fosse digna de entrar na minha
residência, deveria saber e seguir tudo o que fora estabelecido.

Em hipótese alguma, nenhuma pessoa deveria ir até o andar superior.


Nunca. Apenas a minha irmã podia fazer isso e ainda contra minha vontade.
As pessoas precisam de limites e quando se trata de fazer minha vontade,
eles são rígidos.

Não contrato mães para cuidar da minha casa. Crianças precisam de


cuidado, icam doentes. Mães tem outras responsabilidades e o trabalho
nunca será sua prioridade e eu preciso que, para cuidar da minha casa,
tenha total concentração no trabalho. E que nunca eu tenha de ter contato
com crianças.

Sempre existe a possibilidade de crescer. Faz faculdade? Ajudo nos


custos e também facilito sempre que for preciso fazer algo do curso.
Terminou e precisa de uma oportunidade na área? Faço o possível ao meu
alcance para ajudar, até mesmo utilizo os meus contatos sem pensar duas
vezes.

Dessa forma, diversos funcionários meus acabaram me deixando por


algo melhor na área de sua formação. A educação e crescimento são coisas
que sempre incentivei. O conhecimento é algo que não podem tirar de você.

fevereiro•2022
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Durante semanas, observei Helena e me vi encantado por ela, mesmo


que não me desse abertura. No evento em que a levei de acompanhante,
meu ciúme falou mais alto e foi impossível não a beijar. Eu sequer estava
realmente bêbado como ela pensou que estava, mas era melhor que
acreditasse nisso do que me rejeitasse sóbrio. Ela não me rejeitou. Quer
dizer, ela me deu um tapa e, por um certo tempo na volta para casa, me
ignorou enquanto eu decidia o que dizer ou fazer, porém, o im da noite, foi
de initivo: ela gosta de mim.

Regras sempre foram importantes para mim, mas, com Helena, quebrá-
las se tornou algo bem melhor.

Ligar as câmeras do andar inferior sem que ela soubesse, me fez gostar
da novela que ela assiste e na qual me viciei. Também presenciei bons
momentos, como ela dançando na minha cozinha.

Helena me fez voltar a rir, mesmo que parecesse fazer questão de me


irritar algumas vezes. Também me fez voltar a sentir de verdade e me vi
simples e inegavelmente apaixonado. Apaixonado pelo seu jeito, pelo seu
sorriso, pela sua simplicidade, por ela inteira.

Mentiras sempre foi algo que odiei, mas eu sequer consegui me irritar
quando descobri a verdade sobre ela e entendi exatamente o quão hipócrita
eu era. Aceitava pessoas que, a qualquer momento, poderiam largar o
trabalho por um estágio ou pelo curso em si, que tinham outras prioridades,
mas não contratava mães pelo simples fato de ser mãe.

Léo, seu ilho, me ajudou. Pedi a ele que não contasse à mãe que eu já
sabia quem ele era. Foi por acaso que eu o encontrei. Enquanto insisti que
Helena buscasse seu presente no meu carro, aproveitei para procurar meus
biscoitos na dispensa.

Eu estava comendo menos, me sentia menos nervoso e ansioso,


mesmo que ela me izesse sentir esse frio estranho na barriga. Sentado no
canto escuro, Léo mastigava devagar o último biscoito do pacote e de boca
cheia, quase chorando, pediu para eu não contar para a sua mãe.

Concordei e disse para ele voltar para casa que logo sua mãe iria atrás.
Dei um grito para fazê-la voltar mais depressa e imaginando que logo ela
me contaria a verdade, mas não foi o que aconteceu.

fevereiro•2022
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No dia seguinte vi Helena se esgueirando para levar Léo a algum lugar e


me vi obrigado a fazer algo que não fazia há muito tempo, parar de ignorar
a Gardênia e pedir um favor.

Gardênia e Vic estudaram juntas, mas seguiram áreas diferentes. Antes


de conhecer a Jaque, até mesmo tivemos alguns rolos que nunca passaram
disso.

Não foi di ícil conseguir a permissão dela para ver o Léo. Uma ligação
rápida perguntando se eu podia ir e ela aceitou. De certa forma, iquei
preocupado. Como ela permitia que uma pessoa tirasse um aluno da sala de
aula sem que seu pai ou mãe autorizasse? Disse a mim mesmo que não
passava de um caso isolado e que quando conversasse com Helena iria
expor isso, colocando todas as cartas na mesa.

Léo se assustou um pouco ao me ver, mas logo se soltou e começou a me


contar que, quando a mãe precisava trabalhar em outros lugares e ele não
tinha como icar com a vizinha, ela o levava junto, muitas vezes escondido.
Algumas vezes, seus patrões eram legais e permitiam que Léo brincasse
com os ilhos, mas grande parte não permitia que Helena o levasse, então
ele tinha de icar quieto no canto que ela pedisse.

Me sentindo mal pelos momentos que os dois passaram e que


certamente não eram nem metade, pois Léo não passa de uma criança e as
crianças nunca sabem de tudo o que acontece, garanti a ele que não
contaria à mãe e que depois que ela me contasse, ele não teria de se
esconder em nenhum outro momento que não fosse uma brincadeira.

Por mais irritado que eu tenha icado por Helena ter escondido Léo, eu
consegui entendê-la. A vida dela claramente não era fácil e ela não icava
feliz em esconder o ilho. Tinha a certeza de que era assustador não apenas
para ele, mas para ela também, viver dessa forma, com medo de que tudo
possa ser descoberto e dar errado a qualquer momento.

Apesar de tudo isso, ouvi-la inalmente me dizer que tinha um ilho foi
um grande alívio como jamais pensei que sentiria até conhecê-los.

fevereiro•2022
Clube SPA

Capítulo 29
— Se você decidir me demitir, eu vou entender, mas eu não aguentava
mais esconder isso de você. Não aguentava mais fazer isso com nós dois e
principalmente com ele.

— Helena...

— Ele tem quase sete anos e, se você não é capaz de aceitá-lo, também
não sou boa o su iciente para fazer parte da sua vida. — Nem consigo parar
para respirar. Meu coração se aperta só de imaginar deixar Victor Hugo
para trás, mas, ao mesmo tempo, me sinto tão leve de contar-lhe a verdade!
— O nome dele é...

— Leonardo. — Hugo gira a cadeira me fazendo icar de frente para ele,


sem palavras. — Léo.

— I-i-isso — gaguejo. — Co-como você sabe?

— O dia em que ele roubou meus biscoitos na despensa — informa e


minha mente me leva diretamente ao dia em que tentei convencê-lo de que
meu ilho, na verdade, era um homem adulto de baixa estatura que
trabalhava com Luís, o jardineiro.

— Mas... Como? Espera, você não está irritado? Eu estou demitida?

— Helena, respira. — Se ajoelha na minha frente e segura minhas mãos,


que nunca estiveram mais pálidas. — Eu não estou feliz por ter me
escondido algo tão importante. Mas não estou irritado. Tive algum tempo
para absorver essa informação. — Beija os dorsos das minhas mãos.

fevereiro•2022
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— Como?

— Léo e eu conversamos. Ele é um rapazinho muito esperto — diz e não


consigo segurar meu sorriso.

— Ele é.

— Helena, eu não apenas gosto de você. Estou completamente


apaixonado por você e, como te disse diversas vezes, não há nada que você
possa fazer que faça esse sentimento desaparecer — avisa com um sorriso.
— Me apaixonar por você foi simplesmente inevitável.

Sem saber o que dizer, simplesmente puxo o seu rosto de encontro


ao meu, beijando-o. Seus lábios macios se fundem aos meus enquanto
nossas línguas se enroscam. Nunca senti o que sinto quando estamos pertos
e cada vez que nos tocamos parece melhor que a última. Nossos momentos
são únicos.

— Espera. Vai ser só isso? — questiono quando ele me tira da


cadeira e me põe sentada na mesa. — Sem discussão? — Seus lábios em
meu pescoço tentam me desconcentrar, estou apenas com a camisa que uso
de pijama. — E sem... Ah... Precisamos conversar, Hugo!

— Certo. — Ele se afasta esfregando o rosto com uma das mãos. —


Eu iquei sem reação quando Léo pediu para não falar para a mãe que ele
fez barulho e eu o encontrei.

— Ele pediu?

— Sim. Me chamou de tio e pediu para eu não contar para você, mas
não tivemos tanto tempo de conversar como eu queria, daí eu fui até a
escola dele...

— Espera, você foi à escola do meu ilho? Como descobriu onde ele
estuda?

— Não foi di ícil, Helena. Era óbvio que minha irmã estava envolvida.
E se a Vic estava envolvida, ele só podia estar estudando na escola da
Gardênia. — Dá de ombros e nem consigo falar ou me mexer. — Nós
conversamos bastante. Eu ia falar com você, mas o Léo me pediu para não te

fevereiro•2022
Clube SPA

contar e eu não quis contrariá-lo. Não se pode trair a con iança de uma
criança.

— Você foi até a escola e tirou meu ilho da aula com autorização de
quem, Victor Hugo? — grito e ele se assusta.

— Da Gardênia. Nós nos... conhecemos.

— Eu não acredito nisso. Transava com ela? — Me arrependo


imediatamente quando as palavras saem da minha boca. Eu deveria estar
irritada por causa de ele ter procurado meu ilho sem minha autorização,
não por causa de um possível caso com a diretora da escola. — Quer saber?
Não tem que me responder, Victor Hugo. Eu só quero que você não procure
mais o meu ilho sem a minha autorização.

— Não deveria ser eu a icar irritado?

— Não vou pedir desculpas por priorizar o meu ilho.

— Que tal por mentir para mim esse tempo todo? — Ele grita.

— Eu tentei te contar, mas você não deixou. Além do mais, eu não


menti. Eu omiti. É completamente diferente.

— Helena, eu não quero discutir por algo que já está resolvido. Você
tem um ilho e não me contou. E eu nem falo apenas como seu patrão, o que
era de suma importância. Mas como seu namorado, eu...

— Namorado? — Congelo por alguns segundos, estamos de cabeça


quente, eu mais que ele, obviamente.

— Não sou seu namorado? — Um sorriso aparece.

— Você é?

— Vamos resolver isso — diz voltando a icar entre minhas pernas e


me segura pela cintura. — Helena, aceita namorar comigo?

— Qual nossa idade? Catorze anos? — Tento distrai-lo, constrangida.

— Se eu tiver de agir como um adolescente para você aceitar, tudo


bem. — Dá de ombros. — Posso começar a falar gírias “morô”?

fevereiro•2022
Clube SPA

— Ai meu Deus. — Não consigo segurar a risada. — Não faz isso.

— Qualé, novinha? Vai dar pra trás?

— Meu Deus, Hugo, eu aceito! — reclamo ainda rindo da sua


palhaçada.


Acabamos voltando para a cozinha onde Hugo devorou a lasanha que
levei para ele e falamos sobre tudo o que ele e Léo conversaram. Decidi que
conversaria com o meu ilho no dia seguinte e, mesmo com a insistência de
Hugo, decidi não contar nada a Vic.

Entretanto, não foi preciso; minha amiga entrou na cozinha do irmão


enquanto nos despedíamos com um selinho e literalmente gritou:

— Hugo, larga ela! — Sinto minha amiga me puxando. — Meu Deus,


Helena, eu testemunho a seu favor se quiser denunciar ele.

— Me denunciar por quê, Victoria?

— Ele se aproveitou de você, Helena? — Nego ainda assustada.

— Helena, acho que agora você não tem mais escolha. — Victor Hugo
constata e, vencida, começo a falar.

— Seu irmão e eu estamos saindo.

— Namorando. — Ele pigarreia e me corrijo.

— Estamos namorando.

— O quê? Como isso aconteceu? Victor Hugo! — Minha amiga tenta ir


para cima do irmão, mas me coloco no meio.

— Ela me seduziu! — Ele tenta se defender apontando para mim.

— Você seduziu meu irmão? — questiona confusa. — Meu Deus, Helena,


você está namorando meu irmão! — Começa a pular animada.

fevereiro•2022
Clube SPA

— Você sabe que são quase três horas da manhã, não sabe? — Victor
Hugo pergunta e recebe um dedo do meio como resposta.

— Por que não me contou? Espera, o meu irmão é o cara com quem você
estava transando?

— Espero que sim. — Ele diz e o fuzilo com o olhar enquanto ele ri
incontrolavelmente.

— Eu jurava que era o Luís...

— Quer saber? Eu vou dormir — informo, mas Hugo me puxa me dando


mais um beijo.

— Agora pode ir. — Me dá um último beijo na testa enquanto Vic fala


sem parar.


Explicar tudo para Vic foi mais fácil do que pensei. Ela, assim como eu,
icou surpresa com o fato de Victor Hugo não só já saber do Léo, como
também por ele não ter feito disso uma grande tempestade e feito amizade
com meu pequeno.

Ela também disse que foi na casa de Victor Hugo porque não me
encontrou e, vendo as luzes da mansão acesas, pensou que o irmão estava
sendo um carrasco, me fazendo trabalhar na madrugada.

— Quer dizer que agora somos cunhadas? — Seu sorriso é genuíno.

— Eu acho que sim.

— Então o que você está fazendo aqui? Nem acredito que vou dizer isso,
mas... Por que você não está lá, dando pro meu irmão?

— Victoria!

— Eu sei que estraguei o seu im de semana, mas agora que sei que é
com o meu irmão, ico feliz. Acho que vocês fazem muito bem um ao outro.
— Me abraça. — Vai lá, eu e o Léo icaremos bem.

fevereiro•2022
Clube SPA

— Certeza?

— Vai logo! — Dou um beijo em seu rosto e, calçando minhas pantufas,


corro de volta para a mansão como uma adolescente.

— Não conseguiu resistir ao meu charme? — pergunta quando o


encontro usando óculos e assistindo a novela no notebook. — Perdi os
capítulos dessa semana — admite.

— Quer perder mais um? — Dou um sorriso e rapidamente sou puxada


por cima do encosto do sofá para o seu colo.

fevereiro•2022
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Capítulo 30
Vic foi embora cedo no dia seguinte. Havia decidido pegar, de última
hora, o turno de um colega, me garantindo que, apesar de não estar cem por
cento, já estava bem melhor e logo conseguiria se acertar com o marido.

Quando chamei Léo para conversar comigo e com Victor Hugo, meu
ilho se assustou e começou a me pedir desculpas. Naquele momento me
senti uma péssima mãe. Eu coloquei tanto na cabecinha dele que Hugo não
podia saber dele que o fato disso acontecer o intimidou.

O assegurei que estava tudo bem, que eu não estava brava e que eu
nunca poderia me zangar com ele. Animado após toda a conversa, Léo me
deixou de lado para conversar com o “tio” já que, segundo ele, não
conversavam fazia tempo e me expulsaram pedindo café da manhã. Se já
não fosse o meu trabalho, e meu ilho não estivesse tão feliz, eu até icaria
irritada.

— Vamos lá, mocinho. A van está chegando. — Tento apressar Léo,


que foi convidado por Hugo a tomar café na mesa com ele.

— Não quero ir hoje, mamãe...

— Uma pena que você não tem querer, não é mesmo? — Dou um
beijo no topo da sua cabeça e pego sua mochila. — Vem, Léo.

— Eu posso levar ele. — Victor Hugo avisa terminando de tomar


uma xícara de café.

fevereiro•2022
Clube SPA

— O quê? Não. Sem chance! — Tudo bem que ontem eu até aceitei
namorar com Hugo, mas não dá para acelerar as coisas assim e eu sinto que
está tudo indo rápido demais.

— Deeeeeixa, mamãe!!! — Léo se ajoelha aos meus pés com as


mãozinhas juntas implorando. — Por favooooor! — Victor Hugo se junta a
ele fazendo exatamente a mesma coisa.

— Hugo, você não tem cadeirinha. Além do mais, a mamãe paga a


van para te levar, meu amor. — Victor Hugo parece entender, ao contrário
de Léo.

— Mas, mamãe... — Léo tenta argumentar.

— Quem sabe outro dia, campeão. — Hugo avisa bagunçando o


cabelo do meu ilho.

— Vamos lá, vou te levar para pegar a van — aviso e, mesmo contra
sua vontade, Léo me acompanha após se despedir de Victor Hugo.


Mesmo que eu não tivesse a certeza de que Léo deveria conviver tanto
com Victor Hugo, acabou por ser inevitável. Até mesmo uma cadeirinha
para o carro Victor Hugo comprou, prometendo que algumas vezes levaria
Léo para a escola.

Não me senti muito confortável, admito, mas era nítida a felicidade do


meu ilho e devo admitir que a de Victor Hugo também. Os dois juntos eram
sinônimo de alegria e não seria eu a impedir.

Conversei com Hugo sobre como faríamos a respeito do meu emprego e


se eu não deveria procurar outro, mas, prontamente ele recusou.

Vic ainda não havia se resolvido com o marido quando me fez um


pedido que, em qualquer outro momento, eu teria recusado. Minha amiga
pediu para fazer uma festa de aniversário para Léo. Vendo o quão triste ela
estava e me dizendo que aquilo a ajudaria a espairecer, acabei permitindo,
mas garantindo que eu ia pagá-la por cada centavo investido na festa,
portanto, deveria ser algo pequeno.

fevereiro•2022
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Léo icou apaixonado com a ideia e me agradeceu de forma tão


exagerada que me fez pensar nas coisas das quais ele foi privado nos
últimos anos, por minha causa e de Mauro.

Lembro que, quando Mauro morreu, tentei recorrer a minha família,


mas meu pai fez questão de deixar claro que eles haviam me esquecido, que
era como se eu nunca tivesse existido e simplesmente não voltei a procurá-
los.

A vida da minha família não era ruim, mas nunca foram ricos. Apenas
vivíamos bem. Diferente da família de Mauro, que tinha dinheiro su iciente
para que os ilhos, netos e talvez os bisnetos nunca precisassem trabalhar, o
que não era o caso. De qualquer forma, as duas famílias nos viraram as
costas.

Quando conheci Mauro, no carnaval do Rio de Janeiro, não tinha a


intenção de casar, nem mesmo ser mãe tão cedo. Estava morando em São
Paulo há pouco tempo. Tinha deixado a casa dos meus pais no interior para
estudar e, no im, minha vida virou de cabeça para baixo.


— Ei, você precisa ir. — Tento acordar Hugo e ele resmunga. — Vai,
Hugo, o Léo já vai acordar. — Mesmo dormindo juntos todos os dias,
combinamos que não seria bom para meu ilho vê-lo dormindo comigo.

Todos os dias, após Léo dormir, eu aviso Hugo e ele vem. Todos os dias,
antes de Léo acordar, faço Hugo ir embora. É apenas a minha decisão para
não bagunçar a cabeça do meu bebê.

— Não está na hora de contarmos para ele? — questiona, se esticando


na cama e deixando o lençol deslizar do seu corpo, mostrando-o
completamente nu.

— Ele só tem seis anos, Hugo — argumento jogando suas roupas em


cima dele.

— Léo é um garoto esperto, Helena. — Hugo me puxa e caio em cima


dele. Meu velho pijama foi substituído pela sua camisa favorita, que acabei
roubando para mim. — Além do mais, um dia eu vou pedir para vocês
morarem comigo e...

fevereiro•2022
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— Está louco? — Sorrio nervosa.

— É uma ideia tão ruim? — Ele parece magoado e, antes que eu tenha
chance de me justi icar, Victor Hugo se levanta e começa a se vestir. — Eu
preciso ir antes que perca meu voo.

— Volta para o aniversário dele?

— Vou tentar. — Me dá um rápido selinho. — Prometo.

— Hugo...

— Te amo — diz antes de sair.

Droga!

fevereiro•2022
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Capítulo 31
Léo estava incontrolável na noite anterior ao seu aniversário e só
dormiu após a meia-noite, quando era o icialmente o dia do seu aniversário.

Me senti um pouco mal por não dar a ele o videogame que tanto queria,
mas dei um lançamento anterior e ainda assim ele icou extremamente feliz.

Em conjunto com Vic, Léo decidiu o tema da sua festinha: o circo. Meu
ilho se apaixonou pelo tema quando o pai o levou ao circo pouco antes de
partir. Nunca tive a oportunidade de levá-lo novamente. Também não tinha
conseguido lhe proporcionar algo além de um bolinho e alguns balões nos
seus aniversários. Seu aniversário de três anos nunca chegou a acontecer,
pois, no im de semana que seria a comemoração, Mauro se foi.

Animado, Léo acordou cedo. Não tive de me preocupar com a


possibilidade de ele encontrar Victor Hugo na minha cama. Desde que ele
viajou, mal havíamos nos falado. Eu estava com saudades, mas hoje era o
dia do meu ilho.

Vic mandou um carro para nos buscar antes de meio-dia e quando


chegamos, não consegui não icar sem palavras.

O jardim dos fundos da casa de Vic estava inteiramente decorado com a


temática. Até mesmo uma tenda e arquibancada. As cores branca e
vermelha predominavam e minha amiga avisou que o mágico e o palhaço já
estavam a caminho.

A piscina estava fechada, como havíamos combinado. Eram crianças,


a inal. Não queria correr o risco de acontecer algo com qualquer uma delas .

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Apesar de linda, a festa estava bem além do que meu bolso conseguiria
bancar. O bolo gigantesco, obviamente, tinha custado uma fortuna. Era
simplesmente uma tenda de circo aberta com todas as atrações e uma
miniatura de Léo no centro. Além de centenas de docinhos perfeitamente
decorados.

— Vic! — Puxo ela de canto enquanto Léo se veste. — Você icou


maluca?

— Como assim? Não gostou?

— Tá brincando? Eu amei, mas...

— “Mas” nada, Helena. Esse é meu presente para o Léo.

— Nós combinamos que seria algo mais simples!

— Helena, sabe que eu amo o Léo. Amo vocês dois. É como se sempre
tivessem feito parte da minha vida... — Me abraça. — Além do mais, você é
namorada do meu irmão.

— Eu vou aceitar porque já está tudo pronto e eu amei, mas não tente
me passar a perna, doutora Victoria! — resmungo com um sorriso.

— Tô pronto! — Léo volta com calças largas de palhaço com listras


verticais brancas e vermelhas e suspensórios, camisa branca e uma gravata
borboleta colorida, além de, é claro um sapato grande.


Léo até queria esperar por Victor Hugo para cantar os parabéns, mas
não consegui falar com ele e não tinha certeza de que chegaria para a festa
e, mesmo um pouco decepcionado, meu bebê se divertiu, principalmente
após a chegada de Carina.

Há tempos não a via e foi muito bom colocar os assuntos em dia. Com a
adaptação ao serviço, esconder Léo de Victor Hugo e depois o meu
relacionamento com ele, não tivemos tempo de nos falarmos além de pelo
telefone.

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— Queria me despedir do Léo. — Carina diz checando o celular. — Mas


está tudo bem, vejo vocês no próximo im de semana. — Minha amiga se
despede, é a última a deixar a festa.

— Victoria, preciso de ajuda! — Escuto uma voz conhecida e vou na


direção. — Victoria!

— Luciano? — O encontro nervoso e ao me ver, parece piorar.

— Helena? — O marido de Samara parece tão surpreso quanto eu ao me


ver. — O que faz aqui?

— O que houve, amor? — Escuto minha amiga se aproximando e


sussurro para ele:

— “Amor”?

— O garoto, Victoria. Escutei ele gritando e o encontrei caído na


escada! — Puxa minha amiga e meu coração se aperta quando os sigo e
encontro meu ilho desacordado.

Por favor, não!

Como se tudo passasse em câmera lenta, começo a reviver o momento


em que tudo aconteceu com Mauro e me obrigo a reagir. Tento me
aproximar de Léo, mas sou impedida por alguém. Vic o examina enquanto
Luciano usa o telefone para chamar a emergência.

Depois do que parece ser uma eternidade, paramédicos invadem a casa


e colocam o corpo delicado do meu bebê sobre uma maca enquanto Vic diz
coisas desconexas e os segue.

— Vamos, Helena. — Só então percebo que quem me segurava, na


verdade, era Victor Hugo. — Precisamos ir para o hospital.

Quando saímos da casa, a ambulância já saíra de lá. Rapidamente Victor


Hugo dirige ao hospital, os demais veículos e paisagem pelo caminho não
passam de borrões e logo que chegamos, me vejo literalmente correndo
para a recepção informando o nome do meu ilho.

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Parece demorar uma vida até que inalmente consigo notícias, através
de Victor Hugo, que não faço ideia de como conseguiu. Por alguns
momentos ele volta a sumir e vejo Luciano parando ao meu lado.

— Você não pode falar sobre a Samara para a Victoria — diz.

— O meu ilho está machucado — falo calmamente.

— Eu sei disso, mas, Helena, Vic não sabe sobre meu... Meu primeiro
casamento e...

— Luciano, eu tô me fodendo para você e para sua vida. — Me levanto e


o puxo pelo colarinho. — A única vida que me importa, nesse momento, é a
do meu ilho. Então se não tem notícias sobre ele, some da minha frente. —
O empurro e, sem reação, ele se vai.

Me obrigo a respirar fundo e tento me lembrar que o que aconteceu com


Mauro não é o mesmo que aconteceu agora com Léo.

— Helena... — É Victor Hugo me oferecendo a mão. — Vem, ele precisa


de você.


Léo não soube explicar o que aconteceu de fato, estava muito assustado
quando inalmente acordou, cercado de pro issionais, e só sabia chorar pela
mãe. A única pessoa que não saiu de perto até que eu chegasse foi Vic, que
acariciava seus cabelos e lhe garantia que eu já estava a caminho.

— Mamãe! — O choro aumenta quando me vê. — Tá doendo, mamãe. —


Mostra o bracinho direito enfaixado.

— A mamãe tá aqui, meu amor. — O abraço devagar, com medo de o


machucar mais.

— Helena, achamos que vai precisar de gesso. — Minha amiga avisa


baixinho enquanto Léo se agarra mais em mim. — Também precisamos
fazer uma tomogra ia, mas ele não quis fazer sem você.

— Léo, olha para a mamãe. — Ele afunda mais o seu rosto em minha
blusa. Um pequeno corte em sua testa já coagulou e assustado é pouco para

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de inir o estado do meu bebê. — Precisa deixar a Vic te examinar para sarar
o dodói — aviso e ele grita que não, se segurando em mim e chorando.

— Léo... — Vic tenta, mas reunindo forças, com um nó na garganta e


com meus olhos queimando, volto a falar.

— Meu amor, por favor, faz isso pela mamãe. Eu prometo que não vou
deixar nada de ruim acontecer.

— Eu não quero, mamãe! Tá dodói! — Seu choro parte meu coração.

— Campeão... — Victor Hugo o chama e imediatamente Léo olha para


ele. — Vamos lá, você precisa deixar a tia Vic examinar você. Se você não
estiver bem, como vamos passear no próximo im de semana? Ou como que
eu vou te levar para a escola na segunda-feira?

— Mas tá doendo... — resmunga choroso e mostra devagar o braço para


Victor Hugo enquanto ele se aproxima.

— Eu já usei o gesso igual a tia Vic vai colocar em você — a irma e Vic
con irma com a cabeça quando o olhar de Léo a ita rapidamente. — Sabe o
que é mais legal? — Léo nega com a cabeça. — Todos os seus amigos vão
poder assinar com canetinha no seu braço. — Meu ilho me olha e
rapidamente con irmo com a cabeça.

— Até você? — pergunta parecendo ceder.

— Tá brincando? Eu vou ser o primeiro! — Victor Hugo garante,


inalmente convencendo Léo.

fevereiro•2022
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Capítulo 32
Sequer era a área de Vic, mas ela acompanhou Léo em todos os
momentos, tão preocupada quanto eu. E também assinou o seu gesso, como
ele fez questão, e ela também.

Léo literalmente chorou para ir à escola na segunda-feira. Estava


louco para ter o gesso assinado pelos coleguinhas, assim como Victor Hugo
falou que ele poderia fazer e mostrou em uma foto da própria infância.

Apenas na quarta-feira deixei que Léo voltasse para a escola porque


ele e Victor Hugo azucrinaram minha cabeça em um nível que se eu não
izesse isso, os dois me enlouqueceriam.

Paloma e Luís izeram amizade desde que começaram a trabalhar na


casa; antes, nós até tomávamos um lanche à tarde juntos, mas Luís estava
me evitando e, mesmo que eu não tenha saído espalhando aos quatro
cantos que Hugo e eu estamos namorando, Paloma até mesmo me
encurralou certo dia para perguntar e, aparentemente icou decepcionada.

— Meu Deus, como esse lugar está lindo! — Victor Hugo não me
deixou trabalhar nos três dias que Léo icou em casa, foi uma das formas de
eles me convencerem, então eu mal tinha colocado meus pés para fora de
casa desde que voltara no domingo à noite.

O jardim está completamente transformado. Com lores para todos


os lados, plantas trepadeiras contornando boa parte da casa e também
grama por toda a parte, perfeitamente aparada, assim como os arbustos.

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— Que bom que gostou! — Luís sai de trás de uma roseira, sem
camisa.

— Demais! — a irmo, não me referindo apenas ao jardim.

— Vem ver isso, Helena. — Ele me chama e o acompanho até chegar aos
fundos da minha casa, onde tem um pequeno jardim suspenso na minha
janela, que foi simplesmente reformado enquanto eu estava cuidando da
cozinha de Victor Hugo.

— Você plantou cravos! — a irmo indo até as plantas que preenchem o


pequeno canteiro da janela e sinto o inegável e delicado cheiro das lores
vermelhas que Luís plantou. — Como sabia que eu gostava?

— Apenas imaginei — responde com um sorriso. — Posso fazer uma


pergunta?

— Claro que pode. — Não consigo tirar minha atenção das lores.

— O que está acontecendo entre você e o patrão?

— Eu... hum... A gente...

— Foi por causa dele que não voltamos a sair? Quer dizer, você se
divertiu, não se divertiu?

— Claro que sim, Luís. — Finalmente tomo coragem para encará-lo. —


Acontece que o Hugo...

— Tarde demais! — Ele decreta.

— Como assim?

— Você já o chama por “Hugo”, Helena. Nem mesmo se eu tivesse tido


chance, não teria mais...

— Luís, eu gosto de você...

— Como amigo.

— Sim.

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— Acontece que eu não quero ser só seu amigo. Te dei espaço, quando
descobri que você tinha um ilho, iquei calado...

— Como? O quê?

— Eu estava trazendo umas lores para você, escutei ele te chamando.


— Chuta uma pedra qualquer para o lado com a cabeça abaixada e as mãos
no bolso. — Não esperava que o patrão fosse aceitar.

— Eu também não, para ser sincera — admito. — Eu ainda não consegui


processar que ele aceitou tão bem.

— Então, vocês estão mesmo juntos? — Aceno positivamente. — E eu


não tenho chances? — Começa a se aproximar e eu me afasto
instintivamente.

— Sinto muito por ter feito você achar que sim, Luís, mas entre nós, só
irá existir a amizade — aviso e ele parece aceitar.

— Tudo bem, eu só espero que ele não magoe você, ou o enterrarei vivo
— avisa e juntos voltamos ao jardim. — É sério! — reforça quando eu
sorrio.

— Tudo bem, eu acredito.

— Eita, você sujou a blusa, Helena. — Aponta perto da minha cintura


para a mancha de tinta e paro na frente dele enquanto Luís pega sua camisa
no chão e coloca no ombro.

— Devo ter me aproximado demais do jardim da minha janela. — Dou


de ombros e escuto um pigarro alto que nos chama a atenção; é Victor Hugo
parado próximo da piscina. — Não tem problema, eu adorei.

— Helena, pode vir aqui? — Me chama claramente irritado.

— Acho que meu trabalho por hoje foi o su iciente.

— Quer alguma coisa? Eu iz um bolo de...

— Helena... — A voz de Victor Hugo soa mais alta e irritada.

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— Até amanhã — diz dando um beijo no meu rosto e recolhendo suas


coisas. — Até amanhã, patrão.

Victor Hugo não responde além de um breve aceno e vira as costas,


entrando em casa.

— Você tem meu número, Helena — reitera antes de sair.


Respiro fundo por alguns minutos antes de entrar na mansão. Nossas
últimas discussões foram de cabeça quente e sempre acabamos falando ou
fazendo alguma besteira. E a última coisa que eu quero é repetir, por
exemplo, a última discussão que tivemos por causa de Luís.

Me sentindo mais calma, vou ao encontro de Victor Hugo. Com um copo


de bebida na mão, ele está apoiado na bancada da ilha da cozinha, de costas
para mim.

— Do que precisa? — Abraço-o por trás e deposito um beijo no meio das


suas costas. — Precisa ver as lores que o Luís plant...

— O que faziam atrás da sua casa? — Seu corpo ica tenso.

— Como eu dizia, você precisa ver as lores que Luís plantou no jardim
suspenso da minha janela — concluo.

— Ele estava sem camisa.

— Hugo... — Ele volta o copo aos lábios, terminando de sorver o líquido


escuro.

— Os olhos dele estavam no seu corpo. Nos seus peitos, Helena —


conclui deixando o copo na bancada e virando para mim com meus braços
ainda o envolvendo. — Se você desse abertura...

— Você está com ciúmes à toa, Hugo — aviso deitando minha cabeça em
seu peito e ele me abraça. — Tenho Luís como um bom amigo. Você
percebeu como ele mudou completamente a imagem da casa? Trouxe uma
alegria que esse lugar não tinha quando eu cheguei.

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— Não é ele o responsável por isso. É você. — Beija o topo da minha


cabeça. — Virou minha vida de cabeça para baixo. Você e o Léo. Antes
mesmo de saber que ele fazia parte da minha vida, ele já tinha feito a
diferença aqui.

— Por que você é tão fofo depois de ser tão carrasco? — brinco
levantando meu rosto em direção ao seu com um sorriso.

— Porque eu amo você, Helena. E eu quero você agora e sempre. Mesmo


que você ache que é precipitado, que estamos indo rápido demais, eu acho
que estamos indo até devagar demais. Mas eu te amo, não importa quanto
tempo leve, eu vou te conquistar...

— Você é bem pretensioso. — Tento brincar para diminuir a seriedade


de suas palavras.

— Vou esperar ansiosamente as três palavras saindo da sua boca. —


Rapidamente os seus lábios encostam aos meus. — Enquanto elas não vêm,
faço questão de te dizer que eu te amo, Helena. Amo como nunca amei
ninguém.

— Eu...

— Você tem o tempo que precisar para retribuir as palavras. Já me


mostra isso com suas atitudes há tempos. — Novamente seus lábios voltam
aos meus.

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Capítulo 33
Victor Hugo fez questão de buscar Léo na escola e ainda pediu para que
eu o acompanhasse. Enquanto esperávamos o horário de saída, Gardênia, a
diretora, se aproximou do carro aumentando o decote descaradamente.

— Victor Hugo, a que devo a honra... Ah, oi Helena! — A mão de Hugo,


que antes estava acariciando meu joelho, não se abala e continua o carinho.

— Olá, Gardênia. — Victor Hugo a cumprimenta e faço o mesmo. —


Estamos esperando o Léo.

— Como assim? Ele saiu mais cedo, conforme o seu bilhete, Helena —
a irma.

— Meu o quê? Quem levou ele? — Minha voz se eleva e Gardênia parece,
pela primeira vez desde que a conheci, insegura e se afasta da porta do
carro, ao mesmo tempo em que desço, icando de frente para ela. — Para
quem você entregou meu ilho? — Seguro seus braços, assustada.

— Helena... — Victor Hugo me faz soltá-la. — Gardênia, cadê o garoto?

— A avó, senhora Joelma Peres... — diz nervosa. — Ela trouxe um


bilhete assinado por você e...

— Você icou maluca? Entregou meu ilho para quem trouxe um bilhete?

— Ele correu para os braços dela quando a viu... — Tenta argumentar.

— Eu não acredito que você fez isso, meu Deus! — grito e, pegando meu
celular com as mãos, tremendo, digito o antigo número de telefone que eu

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me recordava da casa da família de Mauro. — A senhora Joelma Peres, por


favor — peço logo que uma voz atende.

— Quem gostaria?

— Helena Peres. — Sem perceber solto o ar que estou segurando.

— Ah, sim, a senhora Peres pediu para passar o endereço onde a


senhora irá encontrá-la. — A voz calma me comunica.

— Eu não... — Gardênia mais uma vez tenta se justi icar. — O Léo é um


caso especial, eu nunca faço isso, mas como foi aberta a exceção para Victor
Hugo, eu pensei que...

— Para o seu bem, eu espero que o meu ilho esteja tão bem quanto
quando saiu de casa! — aviso apontando o dedo no seu rosto e entro no
carro, dessa vez do lado do motorista. Hugo não questiona, apenas entra no
banco do passageiro enquanto dou partida no veículo.


Alguns minutos que parecem horas são su iciente para chegar até o
clube que Joelma sempre frequentou, mesmo antes de conhecê-la. Até
mesmo fui algumas vezes com Mauro, mas não demorei a perceber que
aquele não era um ambiente onde eu era realmente bem-vinda.

O segurança até tenta nos barrar na entrada, mas antes que Hugo
tente dar carteirada, eu mesma o faço dizendo que sou nora de Joelma
Peres, fazendo-o se desculpar e imediatamente nos conduzir até ela.
Encontro-a tomando café enquanto Léo devora uma taça de sorvete em sua
frente.

— Sua mãe chegou, rapazinho — avisa tirando os óculos escuros do


rosto e Léo vem correndo na minha direção.

— Mamãe! — Pula em meu colo me abraçando. — A vovó me trouxe


para tomar sorvete. Tio, quer sorvete? — pergunta saindo do meu colo para
o de Victor Hugo, que con irma rapidamente e é puxado por Léo para a
mesa, assim como eu. — Vovó, esse é o tio Victor Hugo.

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— Boa tarde, senhora Peres. — A cumprimenta e nem por um


minuto a arrogância de sempre a abandona.

— Helena, querida, há quanto tempo! — Se levanta com um sorriso,


tirando os óculos, beijando o ar ao lado das minhas bochechas. — Estou
tentando encontrá-los há um bom tempo. Você soube se esconder bem.

— Acho que já podemos ir. — Hugo tenta me ajudar.

— Posso terminar o meu sorvete? — Léo pede para mim, mas Joelma
interfere.

— Lógico que pode! Suponho que seja o senhor Mendes, poderia


fazer companhia ao Leonardo enquanto minha querida nora e eu
conversamos em particular? — Sua educação é tamanha que qualquer
outra pessoa que não a conhecesse, não imaginaria a cobra que ela
realmente é.

Após eu con irmar com a cabeça, Victor Hugo volta-se a Léo


enquanto Joelma começa a andar, esperando que eu a acompanhe e eu o
faço.

— Quem te deu o direito de tirar meu ilho da aula?

— Você se escondeu bem, Helena — diz cumprimentando a todos com


um sorriso. — Deveria saber que, se eu quero algo, eu consigo. Te encontrar
foi fácil.

— Eu não estava me escondendo.

— Pareceu. Não vejo o garoto há anos. — Continuamos a andar. Joelma


com sua habitual altivez, usando roupas caras, salto alto e cabelos escuros
perfeitamente escovados, assim como a maquiagem discreta que passaria
facilmente despercebida de certa distância. Nem mesmo seus olhos claros a
entregavam, mas eu sei quem ela é.

— Se queria vê-lo, deveria ter me procurado, não falsi icado minha


assinatura e tirá-lo da escola sem eu saber. — Paro em sua frente, irritada, e
sua expressão continua a mesma, exceto pelo pequeno sorriso que brota no
seu olhar.

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— Assim você me ofende. Não falsi iquei nada. É um bilhete antigo que
encontrei e decidi que estava na hora de ver o meu neto.

— Não me interessa, Joelma. Mas nunca, ouça bem, nunca mais ouse
entrar em contato com o meu ilho sem a minha permissão!

— Você não pode me proibir de vê-lo. — A conheço bem demais para


cair nos seus joguinhos.

— Não me desa ie. Você não sabe do que eu sou capaz depois de tudo o
que eu passei.

— Helena, entenda. Mauro era meu único ilho. — Por um momento a


vejo demonstrar um sentimento verdadeiro. — Eu o amava e não soube
lidar da maneira certa com a morte dele.

— Você fez com que todos acreditassem que Léo não era ilho dele para
que não tivéssemos direito a nada.

— Por favor, entenda. — Seus olhos icam marejados. — Eu o amava.


Sei que não foi certo o que eu iz...

— O Léo nunca passou fome porque eu não deixei. Quando eu pedi


ajuda, você me virou as costas e disse para eu me virar sozinha. O que você
realmente quer agora, Joelma?

— Helena, eu sei que não sou a melhor pessoa do mundo. Deus sabe
disso. — Aos poucos sua máscara cai e ela demonstra seus verdadeiros
sentimentos. — Eu sonhei com o Mauro há alguns dias e ele perguntava
sobre o Leonardo e eu não sabia responder.

— Eu...

— Por favor, me deixe continuar — pede e aceno positivamente. — Logo


que acordei, comecei a tentar encontrar vocês. Me arrependo de tudo,
Helena. Mauro jamais me perdoaria sabendo de tudo o que iz, mas eu sei
que você pode encontrar uma forma de me perdoar e me deixar fazer parte
da vida de vocês.

— Joelma...

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— Esse era o Mauro quando tinha a idade do Leonardo. — Me entrega


uma foto antiga de uma criança parecida com Léo. — Mesmo que eu já não
soubesse que ele é ilho do meu menino, Helena, teria a prova quando o vi.
Ele se lembrou de mim quando me viu na escola. Por favor, não tire isso de
mim.

— Eu preciso pensar.

— Por quanto tempo?

— Você teve quatro anos, Joelma. Não tem direito de me fazer essa
pergunta.

— Pode, ao menos, anotar o número do seu celular para mim? E, talvez,


o endereço de vocês... — Me entrega o próprio aparelho e faço o que pediu.
— Obrigada, Helena. Vou esperar ansiosamente pela sua resposta.

— Tchau, Joelma. Lembranças à família — digo antes de virar as costas.

fevereiro•2022
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Capítulo 34
De alguma forma, Joelma realmente mexeu com a minha cabeça e,
mesmo contra a vontade de Léo, o obriguei a deixar a sobremesa de lado e
irmos para casa.

Não tenho hábito de brigar com meu ilho, nunca precisei, mas depois
de fazê-lo se apressar ao se despedir da minha ex-sogra, ao chegar em casa
até mesmo me ignorando ele estava.

Sem me dar muita atenção, Léo abriu o cinto e desceu do carro logo que
Victor Hugo estacionou, correndo para casa.

— Como você está? — Hugo acaricia minha nuca após desligar o carro.

— Cansada. Assustada — admito cobrindo meu rosto com as mãos por


um momento.

— Você não tem obrigação com ela, Helena. — Segura minhas duas
mãos entre as suas e me forço a olhar para ele, que tem seu olhar
preocupado em mim.

— Eu sei, mas... Bom, ela quer ter convivência com o Léo.

— E você?

— Ela e toda a família virou as costas quando eu mais precisava, Hugo


— suspiro sem saber o que fazer. — Perdemos nossa casa, sabe? Leo e eu
literalmente icamos sem um teto sobre a nossa cabeça... O que eu estou
fazendo? Desculpa te encher com essas coisas que não tem nada a ver com

fevereiro•2022
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você. — Envergonhada, saio de dentro do carro rapidamente e Hugo faz o


mesmo.

— Ei! — Me abraça. — Lembra o que me disse quando me contou sobre


o Léo? — Nego com a cabeça. — Você disse que se eu não o aceitasse, se não
tivesse espaço na minha vida para ele, também não teria para você.

— Isso não signi ica que eu quero que você resolva os meus problemas.

— Desde o momento em que eu te beijei, Helena, seus problemas se


transformaram em nossos. — Beija minha testa.

— Não sei o que dizer. Ou o que fazer, Hugo — admito. — Era mais fácil
quando ela simplesmente nos ignorava. Eu não sei se deveria, mas a odeio e
tenho tanta mágoa... Odeio sentir isso.

— Está tudo bem. — Seu abraço ica mais apertado enquanto ele
sussurra para mim: — Está tudo bem.

Léo não demorou a me perdoar. Bastou que eu lhe izesse um pouco de


cócegas e Hugo nos convidasse para sair no im de semana que ele voltou a
rir e conversar sem parar conosco.

Hugo contou apenas a Léo para onde iríamos e, mesmo que eu tenha
tentado comprar a informação com meu ilho através de doces, não
consegui corrompê-lo.


Durante toda a semana pensei constantemente no pedido de Joelma. Ela
sempre foi uma mulher solitária, apesar de estar constantemente cercada
pela família. Uma dondoca que criou o ilho para casar com alguém como
ela e ganhou de presente uma nora micareteira que engravidou no mesmo
dia que conheceu o ilho dela.

Quando Mauro me apresentou à família, Joelma quase infartou.


Literalmente. Com o tempo, pensei que poderíamos nos dar bem. Minha
família tinha me renegado e eu simplesmente queria ter essa nova família
ao meu favor. Mas claramente isso não funcionou. Pelo menos, eu tinha
Mauro ao meu lado. Até não ter mais.

fevereiro•2022
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Apesar de tudo, a semana passou rapidamente. Paloma seguia sem


conversar direito comigo, como vinha sendo desde que descobriu que eu
namorava Victor Hugo. Luís, como sempre, me tratando muito bem e,
mesmo que não gostasse da nossa amizade, Hugo decidiu con iar em mim
ao invés de se irritar por bobagem.

Vic e eu não nos víamos já há alguns dias e resolvi visitá-la, pois, desde o
ocorrido com o Léo, não tivemos chance de conversar. Eu precisava contar a
ela sobre Luciano, o seu marido, e não era algo que eu poderia contar
através de uma mensagem. E aproveitei que ela havia me informado que
estava de folga em casa durante os próximos dias.

Demorou até que a porta foi atendida pelo dito cujo, que parecia ter
visto um fantasma ao me notar.

— Helena? O que faz aqui?

— Vim... hum... Visitar minha amiga — informo e ele sequer se move


para me dar passagem.

— Podemos conversar antes? — pede e por mais que eu


simplesmente queira ir até minha amiga, não recuso. — Por favor.

— Ok, mas seja rápido. — Ele sai porta a fora e me conduz até a área
da piscina, coberta por uma pérgola de madeira escura e placas de vidro.

— Helena, eu vou direto ao assunto. Você não pode contar à Victoria


sobre a Samara.

— Não vou mentir para minha amiga, Luciano.

— Não estou te pedindo para mentir. Estou pedindo para me deixar


contar para minha esposa que já fui casado.

— Ela ao menos sabe que você tem um ilho? — Ele nega com a
cabeça. — Que merda é essa, Luciano?

— Você é a última pessoa que pode me julgar, Helena. Você também


não contou ao meu cunhado sobre o Léo. Sim, a Victoria me contou sobre
isso — a irma ao ver minha surpresa.

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— Não é a mesma coisa.

— Lógico que é!

— Eu estava tentando manter o meu emprego.

— E eu o meu casamento! — Praticamente grita. — Você não pode


falar nada sobre a Samara. Victoria passou mal essa semana, faz dois dias,
para ser mais exato. O obstetra a mandou repousar ou pode perder o bebê.
É isso que você quer, Helena? Fazê-la perder o nosso bebê?

— O quê? Lógico que não. Mas alguém precisa contar a verdade a


ela.

— E esse alguém não é você. Eu sou o marido. Eu decido quando e o


que contar a minha esposa sobre a minha vida.

— Não é assim que a banda toca não.

— Não se meta, Helena. — Luciano me puxa segurando meus braços


com força. — Eu acabo com você e com esse romancezinho ridículo com
Victor Hugo se você se meter no meu casamento.

— Me solta!

— Não se meta comigo. Não sabe do que sou capaz, Helena.

— Você está me machucando. — Tento me soltar, mas suas mãos me


apertam ainda mais.

— Você entendeu, Helena? Não ouse se meter na minha vida. —


Finalmente me solta bruscamente. — Acabo com você e esse seu novo
interesse repentino em outro homem rico.

— Você não tem o direito de me chamar de interesseira! — falo


afagando meus próprios braços. — Nem pode me ameaçar.

— Se o meu ilho morrer por sua culpa, o menor dos seus problemas
será o fato de eu ter te ameaçado, porque, além da Victoria te odiar, eu vou
transformar a sua vida em um inferno. Não imagina o que posso fazer —
a irma com seu celular tocando. — Ela está no quarto. Pode subir, mas
pensa bem no que você vai dizer, Helena. — Se afasta atendendo a ligação.

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Capítulo 35
Luciano conseguiu me assustar, mas não conseguiu me fazer ter medo
dele. A única coisa que me impediu de seguir com meu plano de contar a
verdade a Vic foi vê-la na cama, abatida, mesmo que tenha tentado se
animar ao me ver.

Com algumas olheiras e com o cabelo desgrenhado, a encontrei com a


TV ligada em Crepúsculo, o ilme adolescente de vampiros que eu sabia que
minha amiga amava.

Conversamos por um bom tempo e ela me contou que precisaria icar


em repouso pelo resto da sua gravidez, pois teve um descolamento de
placenta, correndo o risco de perder o seu bebê.

— Ele até cancelou a viagem dessa semana — a irma comendo um bolo


de chocolate direto da forma. — Disse que minha saúde e a do bebê é mais
importante que o trabalho.

— E realmente é!

— Eu sei, mas é bom ouvi-lo dizer. — Dá de ombros parando de comer.


— Sabe, Helena, eu estava pensando seriamente em pedir o divórcio, não
me sentia mais feliz ao lado do Lu, mas o bebê mudou tudo.

— Não foi planejado? — Ela nega.

— Claro que eu queria ser mãe. — Volta a comer a sobremesa. — É só


que... Que bom que engravidei, Helena. Ou talvez teria perdido esse homem
maravilhoso que me faz tão feliz. Tudo bem que é um saco icar na cama,

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estou acostumada a fazer tudo o tempo todo, mas... O meu bebê é a minha
prioridade nesse momento.

— Vic, eu preciso te contar uma coisa... — começo a falar, mas sou


interrompida por Luciano que entra no quarto.

— Amor, não quero ser grosseiro, mas você precisa descansar. Helena,
você pode ir, por favor?

— Eu...

— Desculpa. — Minha amiga sussurra. — Mas eu realmente estou


cansada. É importante o que você precisa me contar?

— Não, tudo bem, conversamos em outro momento. Você e o bebê


precisam descansar. — Aperto a sua mão carinhosamente. — Fica bem e me
liga se precisar de algo, tá? — Ela con irma com a cabeça.

— Dá um beijo no Léo por mim. Estou morrendo de saudades. E não


conta para o Hugo que eu estou de cama — aponta um dedo para mim. —
Ninguém pode icar doente que ele ica meio obcecado e não sai de perto
até que a pessoa ique bem.

— Tudo bem. Melhoras, amiga. — Dou um abraço nela.

— Acompanha ela até a porta, amor? — Vic pede e Luciano faz.

— Tão logo a Vic melhorar você vai contar para ela a verdade, porque, se
não o izer, eu farei — a irmo logo que chegamos à porta da frente.

— Não precisa me dar um ultimato, Helena — resmunga. — Eu já ia


fazer isso, mas ela teve esse problema e...

— Não me interessa se você ia ou não, Luciano. Logo que a Vic estiver


bem, você vai contar tudo para ela ou eu mesma contarei. — Viro as costas
indo embora.


Liguei para Carina logo que saí da casa da Vic. Precisava conversar com
alguém e, infelizmente, não podia ser com Hugo. Ele provavelmente ia fazer

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algo que pudesse prejudicar o bebê.

Passando antes na escola para buscar Léo, acabei sendo chamada por
Gardênia, a diretora.

— Imagino que você saiba por que pedi para você vir até a minha sala,
Helena. Eu ia mandar um recado pela agenda, mas já que está aqui,
podemos conversar, certo? — aponta-me uma cadeira na frente, próxima à
mesa.

— Provavelmente sobre sua irresponsabilidade de entregar meu ilho


nas mãos de um estranho qualquer que venha buscá-lo dizendo ser
mandado por mim. — Sento-me e ela me encara irritada.

— Eu sinto muito pelo que aconteceu, Helena. Gostaria que nos


desculpasse. — Seu rosto mostra que suas palavras saem a contragosto. —
A escola está tomando medidas para que isso não volte a acontecer.

— Como simplesmente não entregar uma criança nas mãos de qualquer


pessoa que diga que a conhece? — Ela começa a icar vermelha, mas tenta
manter a postura. — Dessa vez foi a minha ex-sogra, mas e se um homem
qualquer aparecesse dizendo ser o pai? A senhora simplesmente entregaria
meu ilho e ignoraria o fato de meu marido estar morto?

— Ora, Helena, eu já me desculpei. — Levanta-se e começa a alinhar sem


necessidade os quadros com seus diplomas. — Podemos continuar a falar
sobre isso ou podemos falar sobre o que o Leonardo...?

— Léo fez algo de errado?

— Na verdade, Helena. — Volta a se sentar com um sorriso presunçoso e


começa a digitar freneticamente, olhando para a tela do computador antes
de inalmente virá-la para que eu também possa ver. — As notas do
Leonardo estão péssimas. E, se continuar assim, ele perderá a bolsa.

— O quê? Como assim? Sempre fazemos juntos os deveres e ele não


aparenta ter di iculdade.

— Somos uma escola de alto nível. Nossos alunos são premiados e não
podemos ter alguém do... nível do Leonardo, caso ele não melhore. Suas

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provas estão, para não dizer algo pior, vergonhosas. Suas notas são um
vexame.

— Mas...

— A recomendação é que você contrate um bom tutor para ele. — Me


entrega uma folha com alguns nomes e telefones impressos. — Esses são
professores particulares que prestam serviço aos nossos alunos há anos.
Seria excelente que o aluno Leonardo tivesse aulas com qualquer um desses
pro issionais — avisa.

— Eu garanto, professora, que o Léo vai melhorar as notas


imediatamente. E eu peço desculpas por essa situação. — Guardo a folha
com todo o cuidado na bolsa. — Não estou justi icando, óbvio, mas a
senhora sabe como as crianças são fáceis de se distraírem com coisas mais
divertidas que o dever de matemática.

— Aqui não. Qualquer outro aluno na situação do Leonardo já teria sido


convidado a deixar a escola, mas ele é um... Caso especial — avisa com uma
caneta entre os dedos, conseguindo me irritar. — Hugo é um homem
muito... Ele tem o Leonardo em grande estima, mas isso não signi ica que
ele terá tratamento especial sempre.

— Entendi. Muito obrigada, professora Gardênia. — Tento sair


rapidamente da sala. — Prometo que resolverei isso.

— Hugo também é um ótimo professor — diz de maneira maliciosa e


totalmente antipro issional. — Mas tenho certeza que, a essa altura, você já
sabe.

— Eu não entendi a sua suposição, professora, mas irei ignorar por


respeito ao meu ilho e ao local onde ele estuda. — Viro as costas.

— Pergunte a ele...

— A quem? — Me volto a ela.

— Ao meu Hugo, claro. Me ensinou muita coisa. Talvez ele ainda possa
me ensinar mais algumas coisas...

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— Bom descanso, professora Gardênia. — Saio inalmente da sala,


irritada, principalmente porque sei que esse era o objetivo dela.

Mesmo querendo voltar e xingá-la, prestes a explodir, apenas encontro


Léo e o levo comigo para a casa da Carina.

Rapidamente Léo ica entretido com a namorada da minha amiga, que


se compromete a ensiná-lo a fazer bolhas de sabão enquanto ajudo Carina a
fazer o jantar, contando a ela tudo o que aconteceu em relação a Luciano e
Vic.

— Eu sei que eu deveria contar a ela, mas... Se acontecer qualquer coisa


com o bebê, eu nunca vou me perdoar, Carina — digo me encostando na pia.
— A Vic está claramente frágil neste momento. Eu nunca a vi faltar no
trabalho nesses poucos meses que nos conhecemos..., agora está de cama
correndo o risco de perder o ilho.

— Só posso imaginar como você está se sentindo. — Carina coloca o


frango no forno. — Mas você não pode deixar que ela seja enganada. A inal,
por que ele se separou da ex?

— Sabe que eu não sei, Ca...

— Talvez você possa descobrir antes de conversar com a Victoria. Pode


ser que isso ajude você a se decidir — diz carinhosamente. — Sabe que eu
estou com você.

— Eu sei. Queria contar ao Hugo, pelo menos, mas eu tenho certeza de


que ele vai direto na irmã e, se eu jamais me perdoaria se acontecesse algo
com a Vic ou com o bebê, ele menos ainda...

— Acho que o que resta a fazer é descobrir o que aconteceu com a tal
Samara e o tal Luciano. Descobrindo, você vai saber o que fazer.

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Capítulo 36
O sábado começou complicado. Depois de ter esquecido de colocar o
alarme para obrigar Hugo a sair da minha casa antes do horário de Léo
acordar, meu ilho nos encontrou dormindo abraçados na cama.

— Mamãe? — Léo me acorda falando baixinho. — Por que o tio Hugo tá


dormindo aqui?

— Droga! — Me assusto percebendo Hugo ao meu lado e bato nele, que


desperta imediatamente.

— Eu pre iro ser acordado de um jeito mais sensual, Helena — diz e o


acerto novamente. — Você quer tran...

— Hugo, o Léo está aqui. — Praticamente grito, o interrompendo.

— Bom dia, tio Hugo. — Abraçando seu dinossauro de pelúcia, Léo fala
baixinho com um pequeno sorriso, apesar de claramente confuso.

— Você pode ir, por favor? — peço e graças a Deus eu ainda estou
menstruada, fazendo com que estejamos vestidos, já que não izemos nada
durante a noite. Não por falta de vontade de Hugo.

— Mamãe, o tio Hugo é o seu namorado igual a Bru é da Carina? —


pergunta esfregando os olhos e bocejando. — Foi por isso que ele dormiu
aqui?

— Tem certeza que quer que eu vá? — Hugo sussurra e eu sequer


consigo falar, desconcertada.

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No im, acabei assumindo para Léo que, sim, eu o “tio” Hugo estamos
namorando. E a única pergunta que ele fez após explicarmos, foi:

— Eu posso comer o bolo da Bru depois do banho? — Após eu


con irmar, ele saiu do quarto animado.

— Foi mais fácil do que pensamos. — Hugo diz me abraçando. — Léo é


um garoto esperto.

— Falando nisso, eu conversei com a Gardênia ontem — aviso e o sinto


icar um pouco tenso. — O Léo precisa de um professor particular.

— Posso providenciar isso — avisa beijando o topo da minha cabeça.

— Acho que sim, a inal, segundo a própria, você é um excelente


professor — resmungo me levantando.

— Ela disse isso?

— Disse — começo a organizar o quarto que nem bagunçado está. —


Inclusive me mandou te perguntar e disse que você talvez possa ensiná-la
um pouco mais.

— Não acredito que ela disse isso, é ridículo. Eu não... Nós não... Foi só
algumas vezes e... Ela não deveria estar te falando esse tipo de coisa. Já faz
muito tempo. Eu sequer tinha me casado...

— Deixa pra lá — resmungo. — Parecia que ela queria me irritar.

— E conseguiu? — Volta a me abraçar.

— Menos do que pretendia.

— Mas?

— Mais do que eu esperava — admito e, sorrindo, ele me beija. — Como


um homem tão bonito pode ter um hálito tão ruim? — questiono quando
nos afastamos e rimos juntos.

— Meu hálito poderia estar a pura menta se você permitisse que eu


trouxesse uma escova de dentes.

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— Você mora há dois minutos daqui. Literalmente.

— Você pode levar a sua para minha casa — diz me fazendo soltar a
blusa que já dobrei e desdobrei pelo menos três vezes.

— E por que eu faria isso? Você está quase se mudando para cá —


brinco o abraçando de volta e olhando em seus olhos.

— Talvez vocês possam se mudar para lá. — Uma de suas mãos acaricia
meu rosto enquanto o encaro sem ter certeza de que ele realmente falou o
que acho ter ouvido. — Sim, você ouviu direito.

— Mas... Mas... Ninguém pode subir as escadas e eu... Tem o Léo e...

— Helena, não sei se você me ouviu direito, então, vou perguntar de


outra forma...

— Não, não pergunta, Hugo — peço. — Por favor, não pergunta. Eu ouvi
o que você disse, mas a prioridade não sou eu ou você, é o Léo. A vida dele
tem sido inconstante por tanto tempo que eu não quero fazê-lo passar por
uma mudança tão grande agora.

— Eu entendo — diz, apesar de estar claramente magoado. — Peço


desculpas se eu me precipitei. Mas, Helena, eu quero que você saiba que a
minha vida, o meu coração, não se abriu apenas para você. O Léo me
conquistou. — Com um sorriso, ele continua. — Vocês dois me
conquistaram e não me imagino mais... Não me lembro mais como era antes
de tê-los comigo. — Beija minhas mãos.

— Hugo, eu...

— Não precisa fazer ou dizer nada que não esteja pronto, ok? —
con irmo com a cabeça. — Você é uma mulher incrível e faço questão de te
conquistar um pouco mais a cada dia. Agora vou em casa escovar os dentes
para poder te beijar da forma que você merece.

— Vem comigo. — O seguro pela mão e o levo até o banheiro,


vasculhando no pequeno armário a escova que havia comprado no dia
anterior para trocar a minha. Mas isso podia esperar. — Sei que isso não é
me mudar para a sua casa, nem dizer o que você quer ouvir, mas é a minha
forma de mostrar que eu quero isso. Que eu quero nós dois. E que você

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precisa escovar os dentes. — Entrego a escova a ele, que ostenta um grande


sorriso.

— Mamãe, corta o bolo pra mim? — Escuto Léo me chamar da


cozinha.

— Já vou, meu amor.

— A próxima vez que estivermos tão pertos, vou te seduzir com


meus beijos de menta. — Hugo diz fechando a porta comigo do lado de fora.


Mal tomamos café da manhã, Hugo e Léo me izeram trocar a camisa
que uso de pijama por uma roupa para sair. Eles planejaram um dia inteiro
para nós e disseram que a única coisa que eu tinha de fazer era ir sem
muitas perguntas.

Mandei uma mensagem para Vic procurando saber como ela estava
antes de, inalmente, entrar no banho para podermos sair.

Léo insistiu que eu usasse uma gravata de Hugo como venda logo que
entramos no carro e, sem querer estragar o entusiasmo dos dois, iz o que
foi pedido, mesmo que não tenha conseguido não icar perguntando a cada
segundo para onde estávamos indo ou se já estávamos chegando.

Fizemos algumas paradas que eles garantiram serem programadas e


após sentir o cheiro de batatas fritas, meu estômago roncou mesmo cheio.

— Mamãe, o tio Hugo e eu vamos surpreender você. Vai ver. — Leo


insistiu animado.

— Tenho certeza que sim. Vocês dois são muito bons em guardar
segredos de mim — brinco relembrando como eles me esconderam que
Hugo já sabia da existência de Léo.

Depois do que pareceu uma eternidade, inalmente parecemos chegar e


os dois me ajudam a sair do carro.

— Vou pegar a cesta, tio. — Léo avisa e logo os lábios de Hugo se


encostam aos meus suavemente.

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— Espero que goste. — Hugo diz antes de tirar a gravata dos meus
olhos.

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Capítulo 37
Com a grama bem verde bem aparada e cercados por pessoas alheias,
cuidando da própria vida, inalmente descobri nosso destino: o parque
Ibirapuera.

Mesmo após estar morando em São Paulo há tantos anos, nunca tinha
vindo aqui. Mauro nunca foi fã de natureza, sempre disse que era um leão
da grande selva de concreto que é a cidade e sempre brinquei que ele era a
cópia tupiniquim de Alex, o leão do ilme Madagascar.

Léo parecia muito feliz e animado e mesmo virando as costas todas as


vezes que eu e Victor Hugo nos beijávamos, tive a certeza de que estava
fazendo a coisa certa como mãe. O brilho nos seus olhos era inegável. Eu
nunca o tinha visto melhor.

Os dois brincaram de bicicleta, de esconde-esconde, pega-pega e quando


inalmente cansaram, izemos um piquenique com as comidas que os dois
compraram.

— Vocês não trouxeram nada saudável? Um vegetal? — questiono


tirando tudo da cesta e colocando sobre o lençol de super-herói que veio da
minha casa, sem dúvidas.

— A professora falou que batata é tu-tur-tubre... Eu sei falar — gagueja


um pouco antes de conseguir pronunciar: — tubérculo, mamãe.

— E tubérculos são vegetais. — Hugo complementa roubando a batata


frita que paramos para comprar enquanto eu ainda estava vendada.

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— Aposto que estão armando um complô contra mim, mas dessa vez eu
cederei sem brigar. — Os dois comemoram empolgados. — Podem ter
vencido esta batalha, mas não a guerra — ameaço antes de autorizar Léo a
comer.


— Você é uma mãe incrível, sabia? — Hugo diz enquanto acaricia meu
cabelo. Léo está brincando com algumas crianças próximas de nós
enquanto estou com a cabeça apoiada nas pernas do meu namorado.

— Às vezes eu sinto que podia ter feito mais se o meu orgulho bobo que
eu tanto digo não ter, não me atrapalhasse tanto — admito ainda vigiando o
Léo.

— Ninguém é perfeito.

— Eu sei, mas eu engravidei muito nova e por puro descuido. Não me


arrependo de ter tido o Léo, mas eu sei que não seria tão di ícil se eu tivesse
esperado o...

— Não existe “momento certo”, Helena — garante beijando minha testa


e inalmente desvio minha atenção para ele. — O que importa é que Léo
está aqui com você. Conosco. — Seu sorriso é acolhedor e volto a me sentar
ao seu lado; seguro sua mão, voltando mais uma vez o olhar ao meu ilho.

— Eu sei que não digo isso com frequência, mas sou muito grata por te
ter na nossa vida, Hugo. — Sinto seu braço me acolhendo e mais uma vez
ele me beija, dessa vez no topo da cabeça. — O Léo gosta muito de você e
eu... Bem, acho que nem sou capaz de dizer o quanto.

Sei que Hugo anseia por ouvir essas palavras, assim como eu anseio por
dizê-las, mas algo ainda me impede. Me assusta. Não ele, mas esses
sentimentos. Não tenho certeza de que já me senti assim algum dia.

— Eu sei, meu amor. Eu sei — diz após desviar meu olhar para o seu
e me beija em seguida.

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Hugo insistiu para que icássemos o dia inteiro no parque e mesmo que
eu tenha tentado fazer-nos voltar para casa imaginando o quão cansado Léo
já estava, meu próprio ilho me convenceu a permanecer.

Mesmo que eu nunca tivesse vindo ao parque, eu sabia da tão


apaixonante dança das águas. Diversas vezes vi na televisão o show das
enormes cortinas de água e luzes, mas não estava preparada para ver de
perto.

A televisão não tinha sido iel a tal beleza. Com o vento atípico, a água
que subiu por diversos metros salpicou praticamente todas as pessoas que
estavam ali. Com centenas de pessoas assistindo e ilmando o show, me
agarrei um pouco mais a Victor Hugo.

Léo avidamente devorava um saquinho de doces sentado aos nossos


pés. Completamente feliz, como jamais o vi, mas também desinteressado de
um dos shows mais lindos que tive o prazer de presenciar.

— Mamãe, eu quero água. — Léo pede quase ao im do show. — Acabou.


— Balança a garra inha vazia.

— Espera um pouquinho? — peço, mas enjoadinho, ele diz que não. —


Léo, por favor...

— Eu vou lá comprar. — Hugo avisa me dando um beijo rápido e começa


a passar pela pequena multidão.

— Vou junto! — Léo avisa e corre antes que eu possa segurá-lo.

— Leonardo!

— Eu achei ele, mamãe — aponta e some no meio da multidão.

Respiro fundo tentando não me preocupar, a inal ele disse que


encontrou Hugo e em seguida foi na direção que apontou. Minha atenção
passa ao celular que vibra algumas vezes, sinalizando mensagens da Vic:

Vic diz: Onde está o meu irmão?

Vic diz: Preciso falar com ele, Helena.

Vic diz: Por que ele não me atende?

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Vic diz: Eu vou matar o Hugo.

Rapidamente ligo para minha amiga, preocupada. Fiquei acordada boa


parte da madrugada disposta a contar a Hugo a verdade. Não tinha coragem
de falar diretamente a ela, mas como seu irmão, certamente ele saberia o
que fazer.

— Você está com o meu irmão? — questiona logo que atendo a ligação.

— Sim, estamos no Ibirapuera.

— Fala para ele ligar para o advogado agora mesmo. Aconteceu uma
coisa e... Bom, ele precisa ligar para o advogado, Helena.

— Tudo bem, eu aviso. Você está bem?

— Pede para ele me ligar também — desliga.

Sem saber o que dizer pela forma como Vic simplesmente desligou o
telefone, espero Léo e Hugo retornarem. O show já acabou e as pessoas
começam a dispersar e ir em direção às saídas.

— Está aqui a água. — Escuto a voz de Hugo nas minhas costas.

— A Vic ligou — aviso quando ele me entrega a água.

— Onde o Léo está?

— Ele foi com você. — O encaro assustada.

— O quê? Ele não foi comigo, Helena.

— Ele correu e disse que viu você e... Ai, meu Deus, cadê o meu ilho?
— começo a procurá-lo e mostrar sua foto para todos que consigo,
perguntando se o viram. Victor Hugo também faz o mesmo, mas sem
sucesso.

— Os seguranças também o estão procurando. — Hugo avisa quando


voltamos a nos encontrar. O nó na minha garganta mal me deixa respirar,
mas não paro. — Eles estão cogitando procurá-lo no lago.

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— Ele não caiu na água! — a irmo mais para mim mesma do que
para ele. — O Léo foi atrás de você. Não consegui segurá-lo, ele disse que
tinha te visto! — grito desesperada.

— Encontramos. — Alguém grita e rapidamente corro na direção


dele, encontrando meu ilho cochilando no colo da minha ex-sogra.

Sem pensar duas vezes tiro meu ilho dos braços de Joelma. Com o
mesmo olhar que ela me deu quando descobriu que eu estava grávida, ela
me encara agora.

— Te espero na minha casa amanhã bem cedo para conversarmos sobre


o Leonardo, Helena — avisa, virando-me as costas.

Tremendo sem conseguir me controlar, penso em correr até ela, puxar


aquele sempre alinhado cabelo e esfregar o seu rosto na pista, mas me
contento apenas em abraçar o Léo e inalar o cheirinho do seu cabelo,
enquanto derramo algumas lágrimas e sou abraçada por Victor Hugo.

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Capítulo 38
Voltamos para casa no mais absoluto silêncio e Léo só acordou, ainda
que brevemente, quando o coloquei na minha cama, apenas trocando sua
roupa por um pijama e lhe entregando seu iel companheiro, seu
dinossauro. Nem mesmo ousei tentar acordá-lo para dar-lhe banho.

Hugo não falou praticamente nada e mesmo que eu não quisesse


colocá-lo nessa posição, após tomar banho na minha casa, ele deitou ao lado
de Léo e disse-me para tomar meu próprio banho.

Quando retornei ao quarto, os dois dormiam profundamente. Hugo até


mesmo abraçava Léo com carinho. O nó na minha garganta ainda não havia
sido desfeito e as palavras de Joelma ainda ecoavam em minha mente.

Mas, a inal, o que ela fazia lá? Confraternizar com pessoas “inferiores”,
como a própria sempre disse, não fazia o seu estilo. “Qualquer coisa que não
seja minimamente exclusiva, não merece um terço da minha atenção”, certa
vez ela usou exatamente essas palavras quando Mauro disse estar
planejando nos levar para a Disney em comemoração ao aniversário do Leo.

O dia demorou a amanhecer e eu não consegui dormir um segundo


sequer. Nem mesmo eram sete horas da manhã quando recebi uma ligação
da casa dela.

— Bom dia, senhora Helena. — uma voz feminina tímida diz quando
atendo a ligação após deixar o quarto na ponta dos pés.

— Bom dia.

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— A senhora Peres pediu que a senhora esteja aqui às oito horas para o
café. O motorista está aguardando vocês fora do condomínio. Por favor,
autorize a entrada — avisa.

— Estarei aí, mas dispenso o motorista. — Apenas desligo.

Quanto mais cedo encará-la, mais cedo a arrancarei da minha vida. Pelo
menos é o que eu espero.

Hugo levantou logo após a ligação e me conduziu até a sala onde me fez
sentar e começou a se desculpar pela noite anterior:

— Eu sinto muito, Helena. Realmente não o vi ou ouvi vindo até mim, eu


nunca colocaria o Leo em perigo, você sabe. — Seu tom é baixo e triste. —
Se você quiser afastá-lo de mim, se você quiser se afastar de mim...

— Não ouse terminar essa frase. — Seguro suas mãos e ixo meu olhar
no seu. — A última coisa que eu quero é icar longe de você. Eu te amo,
Victor Hugo — admito.

Seus lábios encontram os meus logo que tal frase sai de mim. É notável o
seu sorriso enquanto ele me beija. Um beijo doce e carinhoso. Sei o quanto
ele queria ouvir eu dizer que o amo. Sei o quanto eu queria dizer. E agora...
Estamos aqui.

Suas mãos tentam me despir, mas a pouca sanidade que resta comigo
em seus braços me impede de deixar. O que é ótimo quando escuto a porta
do quarto ser aberta. Nos afastamos ofegantes e, ao mesmo tempo,
voltamos nosso olhar ao Léo.

— Mamãe, desculpa — diz agarrando o dinossauro como se estivesse


prestes a nunca mais vê-lo.

— Vem aqui — peço e devagar ele vem e senta entre mim e Victor Hugo.

— Eu me perdi do tio Hugo — diz baixinho, olhando para seus pés. — E


não consegui voltar. Então eu sentei perto da árvore.

— Meu amor...

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— Eu tava com medo, desculpa. — Abraça ainda mais forte o brinquedo.


— A vovó me encontrou e disse pra eu fechar os olhinhos que ia me levar
pra mamãe. E eu fechei.

— Sinto muito que você tenha passado por isso, meu amor. — O puxo
para meus braços e ele começa a choramingar em meu colo. — Não precisa
ter medo, agora você está com a mamãe.

— A senhora não tá brava? Nem o senhor? — Nós dois negamos com a


cabeça.

— Mas eu preciso que você não faça mais isso, campeão. — Hugo pede
gentilmente. — Ficamos muito preocupados.

— Eu vi num ilme que quando a gente se perde, tem que abraçar uma
árvore, mas não deu. — Mostra o gesso, todo dengoso.

— Você fez bem de sentar lá na árvore, mas se um dia acontecer de


novo, fala com o segurança ou com o policial, tá bom? — Hugo fala e Léo
con irma com a cabeça.

— Eu prometo, tio Hugo.


Minha primeira opção era pedir a Carina para icar com o Léo para que
eu fosse falar com Joelma, apenas nós duas, mas não quis incomodá-la em
um domingo, muito menos tão cedo.

A segunda opção era pedir para Hugo icar com ele, mas não me senti
confortável para isso.

A terceira opção eu não precisei fazer muito. Logo que Léo foi escolher
as roupas para colocar após o banho, Hugo se ofereceu para ir conosco até a
casa da minha sogra e não demorei a aceitar. Fazia anos que eu não colocava
meus pés naquela casa e sabia que não seria fácil, mas com Hugo seria
menos di ícil, com certeza.

— Ei, agora que já escovei os dentes, posso te responder: eu também te


amo, Helena Peres. — Me abraça pelas costas e olha para mim no espelho
alguns segundos antes de me virar para si. — Acho que nunca vou me

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cansar de te dizer isso. — Beija o topo da minha testa. — Só preciso ir em


casa pegar o carregador do meu celular e podemos ir, tudo bem? —
con irmo com a cabeça antes de me lembrar da noite anterior.

— Hugo, a Vic ligou ontem e, com toda a confusão, acabei esquecendo.


Ela disse que você precisa ligar para o advogado e depois para ela.

— Depois que voltarmos, eu ligo para ela — avisa.

— Tem certeza? Ela parecia bem nervosa e no estado atual dela...

— Ela só está grávida, Helena. — Dá de ombros. — Amo minha irmã,


mas ela adora um drama e... Você está me escondendo alguma coisa? —
questiona.

— Eu? Por quê?

— Está roendo a unha — aponta e abaixo a mão imediatamente. — Fala


a verdade, meu amor. O que está acontecendo?

— Promete que não vai icar com raiva de mim e nem dela?

— Não vou. — Ele senta ao meu lado no sofá e sem conseguir encará-lo,
foco nas minhas mãos.

— Ela me fez prometer que não contaria, mas... bem... — Meu telefone
começa a tocar insistentemente.

— Ignora — pede.

— Pode ser a Vic. — E vendo que realmente é ela, atendo


imediatamente. — Vic?

— Não, o papai Noel — resmunga. — Deu o recado ao meu irmão? É


importante!

— Vou passar o telefone para ele. — Ela não se dá ao trabalho de


responder.

Tudo isso ou é mais sério do que eu pensava ou aconteceu algo entre


mim e ela. Vic nunca me tratou dessa forma. Espero que seja passageiro.

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— Se importa se eu levar comigo? — Hugo questiona e nego com a


cabeça antes que ela saia falando com a irmã.

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Capítulo 39
VICTOR HUGO

Não é possível comparar o medo que senti quando Jaque se foi e o medo
que senti quando pensei ter perdido o Léo. Em pouco tempo ele roubou um
grande espaço no meu coração, assim como roubou meu último pacote de
biscoitos que culminou em nos conhecermos.

Claro que por ele ser importante para Helena, conseguiu entrar na
minha vida mais facilmente, mas hoje é di ícil me imaginar sem os dois. Léo
é o ilho que sempre quis ter e que não me foi permitido. Isso não signi ica
que eu queira tomar do verdadeiro pai o seu lugar.

Aqueles minutos que não o encontrávamos pareciam horas e quando me


informaram que talvez precisassem procurá-lo no lago, meu coração parou
e tudo o que eu conseguia ouvir era ao longe sua voz me chamando, mesmo
que isso não estivesse acontecendo realmente.

Ao encontrá-lo, minha vontade era de abraçar ele e Helena e nunca mais


deixá-los um minuto sequer longe de mim. Naquele momento eu tive a
maior certeza da minha vida: faria de tudo para protegê-los e cuidar deles.

Enquanto Helena tomava banho, me permiti abraçar Léo da forma que


nunca iz antes. Obviamente que já tinha o abraçado antes, mas não desta
forma. O medo e o amor que eu sentia eram gigantes e tê-lo ali ao meu lado
me confortou a ponto de me fazer dormir rapidamente.

Acordei com a voz da Helena alterada, tendo a certeza de que se tratava


da ex-sogra com quem ela não tinha um bom relacionamento e que

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reapareceu do nada na sua vida.

Já havia visto a senhora Joelma Peres e o seu marido em algum coquetel


ou evento, mas não tivemos qualquer contato. Esses lugares eram
exclusivos para resolver o que eu precisava e nada mais.

Na sala do pequeno casebre que eu tanto desprezava até poucos meses


atrás, ouvi as palavras que tanto ansiava que Helena me dissesse: “eu te
amo”.


Logo que ouvi a voz da minha irmã ao telefone, já sabia do que se
tratava: a família da Jaque. Levando comigo o celular de Helena antes que
ela tivesse a chance de dizer que eu não podia fazê-lo, fui para casa para
buscar o carregador e acompanhá-la e também para ouvir o que Vic tinha a
me dizer.

— Você falou com o advogado?

— Ainda não. Ontem tivemos um problema com o Léo, ele se perdeu no


parque à noite e...

— Você e a Helena não podem ter sido irresponsáveis a esse ponto,


Victor Hugo! — Praticamente grita. — Vocês dois se merecem! Como o Léo
está?

— Foi apenas um susto, Vic. O Léo está bem. Agora me conta o que o
advogado vai cuspir em mim em forma de jargões.

— Certo — começa com um suspiro. — Eles conseguiram que o


inquérito seja reaberto.

— Os Santiago?

— Quem mais está tão interessado em foder a sua vida mais do que já
izeram, Hugo?

— Como você está, irmãzinha? — Tento mudar de assunto, a gravidez da


Vic, para mim, é algo de suma importância. A sua felicidade também. A
última coisa que quero é continuar a estressando e atrapalhando a sua vida.

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— Eu estou ótima. Acredito que posso dizer o mesmo sobre vocês,


apesar do susto com o Léo. Coitadinho...

— Está sim. Mas e meu sobrinho ou sobrinha?

— Bem também. Hugo, liga para o advogado. Eu preciso ir. Te amo. —


Desliga antes que eu possa falar qualquer coisa.

Preciso ir até sua casa o quanto antes. Com certeza está acontecendo
alguma coisa.

Alguns minutos são su icientes para carregar meu celular ao ponto de


conseguir ligá-lo e encontrar uma avalanche de chamadas e mensagens
perdidas. Ignoro as mensagens da Gardênia e da minha madrasta e vou
direto para as mensagens do advogado, que pede que eu ligue com
urgência.

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Capítulo 40
HELENA

Logo que Hugo saiu, Léo voltou do quarto com uma camisa branca de
super-heróis, uma cueca e um short jeans em mãos. E tentou argumentar
que poderia tomar banho sozinho.

— Quando você tirar o gesso, pode tomar quantos banhos quiser


sozinho, mas enquanto estiver com ele, a mamãe vai cuidar de deixar você
bem limpinho, tá bom?

— Mas mamãe...

— Vamos lá, Léo. A mamãe tem compromisso. — O apresso.


Procurei Hugo com o auxílio de Léo, mas não o encontramos. Por alguns
minutos o chamei, pensando que poderia estar no andar de cima. Ainda não
tinha tido coragem de perguntar-lhe por qual motivo ninguém tinha
permissão para subir.

Preocupada, decidi utilizar o telefone da casa para ligar para o meu


celular e tentar encontrá-lo e, quando atendeu, começou a pedir-me
desculpas:

— Amor, eu sinto muito, esqueci de te avisar e também de deixar o seu


celular...

— Você está bem?

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— Podemos conversar outra hora? Estou dirigindo, tenho de resolver


uma coisa.

— Tudo bem. Cuidado.

— Te amo. — Desliga sem esperar qualquer resposta.

Como esperado, encontrei o motorista e o carro logo na entrada do


condomínio. Conheço minha ex-sogra o su iciente para que, se o funcionário
retornasse sem mim, seria motivo não só para briga, mas para demissão.
Não foi à toa que eu soube lidar com Hugo desde o início, ele estava agindo
como a minha sogra, mas, diferente dela, sabia que era apenas uma
autodefesa, não quem ele realmente era.

Provavelmente o motorista estava esperando para nos seguir até a casa


dela e mostrar que não voltou sem mim. E eu não podia julgá-lo.

— Bom dia, senhora, me chamo Amador. A senhora Peres os aguarda —


informou abrindo a porta para mim rapidamente, logo que nos viu.

— Bom dia — cumprimentei-o de volta.

— Eu tenho um coleguinha com o seu nome! — Léo comenta animado.

Durante todo o caminho, Léo tenta chamar a atenção do motorista, que


parece receoso em interagir com ele, deixando meu ilho um pouco
chateado, mas, quando estamos quase chegando, isso passa dando lugar ao
encantamento dele com os cachorros que vê correndo e brincando com
uma garotinha que não deve ter mais que a sua idade.

Chegamos à casa quase nove horas da manhã. O motorista certamente


tinha instruções para trazer-nos antes das oito, porém, por muitos anos,
Joelma controlou parte da minha vida e se eu podia ao menos escolher o
horário que eu teria que vê-la, eu o faria.

Sempre extremamente pontual, Joelma engoliu a irritação e paciência


logo que o carro parou e Léo desceu correndo em sua direção.

— Eu sei que o seu trabalho é dirigir, não interagir, mas ele é apenas
uma criança e, mesmo tendo Peres como sobrenome, não somos iguais aos

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que moram aqui. Muito obrigada por ter nos trazido. — Me direciono ao
motorista antes de ir ao encontro da fera.

— Bom dia, Helena. Como sempre... Negligente. — Escolhe suas palavras


com cuidado.

— E ansiosa para tomar café — aviso sabendo que isso só a irritará.

— Sinto muito frustrá-la, entretanto, como não estava presente no


horário, a mesa já foi retirada.

— Tenho certeza que fome você não está passando. — Subo os degraus
até icar no mesmo que ela, que segura a mão de Léo irmemente.

— Certamente não. Empregada! — chama alguém em tom altivo.


Sempre odiei o fato de ela não se referir aos seus funcionários pelo nome e
sim por funções, de forma arcaica. — Leve o menino e sirva-lhe o café da
manhã.

— O seu nome é “empregada”? — Léo questiona a moça tímida que vem


até ele e lhe estende a mão. — Que diferente... O meu é Leo.

— Não, Leo, esse não é o nome dela e não a chame assim, ok? — peço e
ele con irma com a cabeça antes de acompanhá-la para dentro da casa.

— Se importando com frivolidades, me desa iando... Você não mudou,


Helena. Apenas mirou em outro alvo, já que o meu ilho se foi. — Joelma
a irma adentrando a casa e a sigo.

— Se está se referindo a...

— Ao seu patrão com quem você... Por acaso está dormindo!

— Não vou discutir isso com você, Joelma. Primeiramente, eu quero


saber o que fazia no parque ontem. Estava nos seguindo? — Ela me encara
com um sorriso, sentando-se de frente para mim em uma cadeira na sala de
visitas e indicando outra para que eu me sente.

— Me orgulho de não apenas ser uma mulher inteligente, mas também


bem instruída. — O vestido ironicamente com estampa de pele de cobra
contorna o seu corpo sem um único vinco. Seu cabelo perfeitamente

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arrumado em um coque, tem duas mechas soltas emoldurando seu rosto


magro. — Di icilmente estou errada e creio que o parque é um local público.

— Não vem bancar a superior comigo. Eu não sou mais a adolescente


que você conheceu, já passei por muita coisa, coisas essas que você poderia
ter evitado. De qualquer forma, isso não vem mais ao caso. Hoje, não apenas
eu, mas também o meu ilho, — levanto-me inquieta —, o seu neto, estamos
muito bem. Melhores do que jamais estivemos.

— O Mauro icaria muito decepcionado, Helena. Você não está cuidando


direito do meu neto — diz calmamente enquanto tenta me irritar e está
conseguindo.

— O que você quer, Joelma?

— Que você me ceda a guarda do Leonardo. Quero criá-lo como criei o


meu ilho. — Incrédula, paro abruptamente, a encarando. — Você não pode
negar que o Mauro era um homem maravilhoso. Posso dar ao Leonardo
coisas que você jamais poderia.

— Você mal via o Mauro até a maior idade. — Volto a me sentar e tento
me acalmar. — Por anos, ele estudou em colégio interno.

— Isso não signi ica que não o criei, pelo contrário. Dei a ele tudo o que
precisava e todas as chances para tornar-se o homem maravilhoso que ele
foi. Só quero ter a chance de fazer o mesmo pelo meu neto.

— Então, o que você quer é que eu abra mão do meu ilho para que você
o mande para um colégio interno apenas para apaziguar sua culpa?

— Culpa?

— Você e eu sabemos que, apesar de você me culpar, Joelma, não fui eu a


responsável pelo que aconteceu com o Mauro — comento e ela parece
começar a perder a compostura.

— Foi um acidente de carro.

— Carro esse que eu deveria estar dirigindo.

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— Vai embora! — Levanta irritada e gritando. — Eu não sei o que você


está tentando fazer, Helena, mas o que está insinuando é ridículo!

— Vou buscar o meu ilho.

— Vai embora! — Joelma me puxa pelo braço me apertando e, como


re lexo, minha mão vai de encontro com o seu rosto.

— Não era a minha intenção. Eu sinto muito. — Ela volta a me puxar e


agora segura os meus dois braços, apertando ainda mais. — Me solta. Você
está me machucando!

— Sua golpista pobretona, quem você pensa que é?

— Não quero um escândalo, apenas pegar o meu ilho e ir embora


desse lugar.

— Antes, eu tinha uma ótima proposta inanceira para você, agora,


eu faço questão de tirar essa criança de você da forma mais dolorosa. —
Solta meus braços, me empurrando e fazendo com que eu caia após
tropeçar na mesa de vidro, que se estilhaça. — Não sangre no meu chão —
avisa saindo do cômodo como se nada tivesse acontecido.

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Capítulo 41
Parece que se passaram horas até que inalmente me levanto e um
segurança me espera na porta.

— A senhora Peres pediu que eu a acompanhe até a saída — informa


formalmente. — O carro espera para levá-la ao hospital.

— O meu ilho...

— O menino icará até que a senhora tenha condições de levá-lo. — Se


aproxima e eu recuo.

— Eu não sairei sem o meu ilho. Léo! — grito e contorno um móvel


tentando passar pelo segurança, mas ele não permite. — Léo!

— A senhora está machucada, precisa tratar esses ferimentos — aponta


e então vejo o sangue escorrendo pelos meus braços e pernas. Eu sequer
estou sentindo dor.

— Traz o meu ilho! — grito mais uma vez.

— Vai assustá-lo, senhora.

— Leonardo! — De repente minha visão escurece logo que o meu bebê


aparece.


Foi estranho acordar em uma cama de hospital com Victor Hugo parado
ao meu lado, extremamente preocupado. Já havíamos passado por algo

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semelhante, quando derrubei a água na minha perna, mas eu estava


acordada a todo momento. Agora, eu me sentia completamente
desnorteada, porém, ainda assim, eu só tinha uma preocupação.

— Cadê meu ilho? — questiono fazendo a atenção de Victor Hugo, que


conversava com um médico, voltar-se a mim.

— Como você está se sentindo, Helena? — O médico pergunta e se


aproxima tentando me examinar, mas não permito.

— O meu ilho, Victor Hugo. Cadê o Léo? Me diz que você tirou ele
daquele lugar!

— Sim, ele está bem. Está com a Vic. — Me tranquiliza acariciando meu
cabelo e consigo respirar direito.

Depois de ser examinada pelo médico, ele nos deixa a sós e Hugo me
explica que o problema que precisava resolver acabou sendo adiado e ele
decidindo me encontrar na casa da minha ex-sogra.

— Eu estava na porta da frente e escutei você gritando. — Sua mão


afaga a minha, devagar. — Você estava toda ensanguentada. Tentei ser frio,
sabia que você não perdoaria se eu o deixasse lá, então, depois de colocar
você na ambulância, levei o Léo para a casa da Vic e vim para cá em seguida
— a irma e vejo algumas manchas de sangue na camisa dele. — O médico
disse que a sua pressão abaixou por causa da perda de sangue e que você
não tinha se alimentado.

— Nós discutimos. Ela me empurrou e eu tropecei. Um móvel de vidro


se estilhaçou...

— Entrou um pedaço bem grande na sua mão — avisa depositando um


breve beijo nela. — Você nunca mais vai enfrentá-la sem que eu esteja ao
seu lado. Se eu estivesse com você, como deveria...

— Hugo, agora está tudo bem. — Tento tranquilizá-lo.

— Não sei o que faria se eu te perdesse.

— Eu sei. Muito obrigada por ter cuidado de tudo.

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— Sempre, meu amor!


Minha alta só foi autorizada no dia seguinte. Tudo o que eu mais queria
era ver o Léo, tranquilizá-lo e icar agarradinha com ele e Victor Hugo. Após
deixar o hospital cheia de curativos, dor e com uma enorme lista de
medicamentos e buscar o meu ilho na casa da Vic, Hugo prometeu uma
ótima tarde regada a ilmes infantis e sorvete para o Léo.

Foi uma tarde incrível, mas os remédios, em algum momento entre


quando a Lilo, de Lilo & Stitch, batia em uma garotinha e o Stitch aparecia
como seu novo “cãozinho”, conseguiram me derrubar e quando acordei, já
não sabia onde Hugo e Léo estavam.

Com o efeito dos remédios passando, voltei a sentir dor, mas antes que
eu alcançasse os comprimidos, escutei risadas de Hugo e Léo. Devagar
levantei e fui até a pequena janela onde os avistei brincando de bola perto
da piscina. Hugo tinha o poder não apenas de me fazer feliz, mas fazer o
meu ilho feliz e isso para mim era a parte mais importante. Sem dúvidas.

Em algum momento, os dois me avistaram e resolveram voltar para


dentro, me enchendo de beijos logo que chegaram perto o su iciente.
Independentemente do que tinha acontecido, nunca tinha me visto mais
feliz.

Na segunda-feira Hugo levantou mais cedo que de costume e quando


acordei no susto por meu despertador não ter me acordado, ele me
tranquilizou informando que Léo já estava pronto e ele mesmo o levaria até
a van.

— Você dorme. Eu volto já e deito novamente com você, está bem? —


perguntou e eu apenas aceitei. Não negaria passar o dia na cama com Victor
Hugo.

Passamos o dia curtindo preguiça. Hugo parecia meio nervoso e ansioso,


mas disse ser apenas por conta de ter descoberto que a gravidez da Vic não
estava indo tão bem quanto ela havia informado e que sabia que eu não
tinha contado a ele de propósito.

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— A sua sorte é que você está doente e eu te amo, ou teríamos uma bela
discussão — diz com um semblante preocupado enquanto tenta ingir não
estar.

— Ela ainda parece abatida?

— Menos do que você está imaginando. — Dá um beijo no topo da


minha cabeça e solta um suspiro profundo. — Mas isso não me deixa
menos preocupado. A minha irmã é uma mulher cheia de vida, agora...

— Logo que eu melhorar, a visitarei novamente. Estou preocupada com


ela e com o bebê. O Luciano estava lá?

— Como nunca o vi antes. Está parecendo um cão de guarda ao redor


dela. Certamente viu que a estava perdendo.

— Deve ser...

— Sabe de algo que eu não sei, Helena? Eu te amo, mas, por favor, pare
de mentir para mim.

— Me desculpa. — Sou sincera. — Eu também te amo, Hugo. — Eu


quero contar a ele sobre o Luciano, mas o telefone tocando insistentemente
me impede.

— Eu preciso atender — avisa antes de sair com o celular em mãos.

Aproveito e pego o meu celular para falar com a Vic.

— Eu estava prestes a te ligar...

— Jura? Estava ligando porque Hugo me disse que descobriu que você
está de cama e...

— Não tem problema. E você, como está?

— Acamada, mas acho que amanhã já volto ao trabalho.

— Helena, eu sei a verdade. O Luciano me contou tudo.

— Ele contou?

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— Contou e eu não quero falar muito sobre isso. E nem quero que você
conte nada ao Hugo. Não é assunto seu!

— E como você está se sentindo agora que descobriu?

— Nós seguiremos em frente.

— Tem certeza? — Será que ele contou toda a verdade para a Vic.

Ainda não tive a chance de investigar se ele e Samara realmente estavam


separados. Mas se ele contou a Vic, provavelmente ele não está mentindo,
certo?

— Sim, Helena, eu tenho certeza de que não vou acabar com o meu
casamento por algo tão idiota quanto... Isso. Nunca vou te perdoar se você
disser uma palavra sobre isso ao meu irmão. É a minha vida.

— Vic...

— Eu liguei para informar vocês que iremos passar alguns meses fora. O
Lu tirou uma licença do serviço e iremos viajar. Como nunca consigo falar
com o meu digníssimo irmão...

— Mas... E a sua gravidez? Para onde vocês vão?

— Tchau, Helena.

— Espera, Vic... Vic? — Ela desligou.

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Capítulo 42
Por alguns minutos não tenho reação, mas me obrigo a levantar da
cama e procurar Hugo. Ele precisa saber o que está acontecendo.

Luís se surpreende ao me ver cheia de curativos, mas o tranquilizo


dizendo ter sido apenas um contratempo e pergunto se ele viu Hugo. Meu
amigo apenas comenta que o viu entrar na casa, nervoso.

Será que a inal a Vic falou com ele e disse que estava indo viajar?

— Eu preciso que você resolva isso. Minha vida não pode ser destruída
dessa maneira de novo, está me entendendo? — Sua voz é baixa, mas
autoritária.

— Hugo, precisamos conversar.

— Preciso ir. Resolve isso — avisa desligando o celular e se volta


rapidamente a mim. — O que faz aqui? Deveria estar na cama sendo
mimada. — Se aproxima afagando meus braços e me abraçando em seguida.

— A Vic me ligou...

— Está tudo bem com ela e com o bebê? — Se afasta brevemente

— Me ligou para avisar que vai viajar com o Luciano. Não faço ideia
do que está acontecendo, ela está tão estranha.

— Tem certeza disso?

— Sim, eu tenho. Eu preciso te contar uma coisa.

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— Vem comigo. — Me conduz até o sofá da sala. — O que foi dessa


vez, Helena?

— A Vic me disse para não te contar, mas eu acho que ela não sabe a
verdade. Acho que ele está mentindo e manipulando ela.

— O Luciano? — con irmo com um acenar de cabeça. — O que


aquele ilho da puta fez dessa vez?

— Eu já o conhecia. O Luciano e a esposa eram amigos do Mauro.


Viajávamos juntos, íamos para o cinema. Nossos ilhos eram amigos.

— Esposa? O Luciano não tem ilhos, nem nunca foi casado, Helena.

— Samara era a esposa dele. Não sei o que houve entre os dois, com
tudo o que está acontecendo não consegui investigar isso ainda. — Ignoro a
dor que estou sentindo. — Mas eu já o conhecia. Ele me ameaçou e a Vic
estava bem mal, acamada, quando tentei contar-lhe a verdade.

— Quando foi isso, Helena? — Levanta irritado. — Você sabe que ele
está enganando a minha irmã há quanto tempo?

— Logo depois do aniversário do Léo. Eu o vi pela primeira vez


aquele dia. Foi ele quem encontrou meu ilho, eu ainda não sabia que ele era
o marido da Vic.

— E por que não nos contou imediatamente?

— Tá de brincadeira? O meu ilho estava hospitalizado...

— E a minha irmã não saiu do lado dele um minuto! — grita e pega


as chaves do carro. — Eu estou indo até lá.

— Eu vou com você! — Ele faz um sinal com a mão me impedindo.

— Você já fez demais! — Antes que eu possa retrucar, ele sai de casa.

Tento ligar algumas vezes para Vic, mas apenas cai direto na caixa
postal. Hugo idem. A falta de notícias me deixa ainda mais nervosa.

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— Está tudo bem, Helena? — Escuto a voz de Paloma se


aproximando. — Helena?

— Oi, sim... Eu... Está sim. Precisa de ajuda? — Desde que Hugo e eu
começamos a nos relacionar abertamente, Paloma vem me ignorando, essa
é a primeira vez que ela fala diretamente comigo.

— Você quer uma água? Está pálida? Comeu alguma coisa? — Nego
com a cabeça. — Vem, vou procurar algo para você comer. Não é nada como
as suas comidas, mas deve dar para o gasto. — A acompanho até a cozinha.

Mesmo que eu tenha um enorme carinho por Paloma, a distância


que ela impôs a nós duas me fez manter a minha barreira e nunca contei a
ela sobre mim ou sobre tudo o que me aconteceu. A nossa amizade foi
interrompida no início e nunca retomamos.

— Está se sentindo melhor? — questiona após icarmos um bom


tempo em silêncio e eu apenas gesticulo que sim. — O que houve? —
aponta para meus curativos.

— Um acidente bobo.

— Não parece bobo, Helena.

— Ah, Paloma, você sabe que eu sou um pouco desastrada. Eu... Caí
em alguns estilhaços de vidro.

— Entendo. Sabe que pode me contar qualquer coisa, não sabe? Se


ele estiver fazendo algo com você...

— Ele?

— Você sabe... — Ela sussurra.

— Hugo? — começo a rir. — Ele não faria mal a uma mosca, Paloma.

— Não coloco minha mão no fogo por ninguém. Além do mais, eu


pesquisei sobre ele. Queria saber onde estava me metendo. — Senta de
frente para mim e segura minhas mãos entre as suas. — Você sabia que os
pais da falecida esposa dele o acusam da morte dela?

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— Eu sei, mas ele não fez isso, Paloma. Fica tranquila. Quando você o
conhece melhor, percebe que o Hugo é um homem doce, gentil e carinhoso
— asseguro. — Ele me trata muito bem.

— Espero que sim. Luís e eu estamos de olho — garante. — Mas,


Helena, se eu posso dar um conselho... — aceno positivamente. — Não o
deixe gritar com você. Você estar errada não dá a ele esse direito.

— Eu sei, é que...

— Indiferente do motivo. Eu sei que você está apaixonada, casais


discutem, mas nada no mundo lhe daria o direito para gritar com você. Me
promete que se ele izer isso o colocará no lugar dele?

— Paloma...

— Promete.

— Ok, eu prometo.


Léo já dormia há algum tempo, era tarde da noite quando escutei o
carro de Hugo chegar. Ao contrário do que eu esperava, ele não veio
diretamente para casa. Pela janela, acompanhei o acender de luzes até o
andar superior onde ele demorou algum tempo antes de voltar, apagando as
luzes.

Por alguns minutos ele permaneceu andando de um lado para o outro


próximo à piscina até que veio em direção a minha casa. Não o esperei
chegar perto e abri rapidamente a porta.

— Falei com a minha irmã — diz inalmente próximo a mim.

— E...?

— Ela sabe a verdade. Ele contou. Disse que vai viajar porque a notícia
abalou o casamento e... Com a gravidez, ela quer fazer o relacionamento dar
certo.

— Você tem certeza de que ele contou a verdade?

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— Tenho — a irma se afastando e começando a fazer o caminho de volta


para a própria casa.

— Não vai icar?

— A Vic pediu para você parar de ligar para ela. Minha irmã está muito
magoada por você ter escondido essas informações dela.

— Hugo...

— Quer saber? — Volta a virar para mim. — Eu também estou, Helena.


Não sei mais o que fazer para você con iar em mim. Eu estou do seu lado...

— Eu sei, mas tenta me entender...

— Entender que você mentiu mais uma vez?

— Hugo, por favor... Eu te amo, me desculpa.

— Eu também te amo, isso não é um término. Mas você tem de entender


que mentiras tem consequências. Dessa vez aquele merda contou a
verdade, mas e se acontecesse outra coisa?

— Hugo...

— Você sequer quis prestar queixa contra aquela jararaca, Helena! Está
acobertando-a, contando mentiras sobre o que aconteceu. Por quê? — Sua
voz se eleva.

— Fala baixo.

— Tudo bem, me desculpe. Você mente, me esconde as coisas, Helena...


Onde acha que iremos dessa forma?

— Você quer mesmo falar de segredos? — O desa io deixando as


lágrimas escorrerem pelo meu rosto. — Você tem recebido ligações
estranhas e não me conta o que está acontecendo. Tem um andar inteiro da
sua casa onde somente três pessoas podem frequentar. — Tento me
controlar para não acordar o Léo. — E uma é a senhora da limpeza. Está me
cobrando tudo, mas está me dando metade, Hugo. Não é justo.

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— Não é a mesma coisa...

— Me explica como não é a mesma coisa?

— Eu... É di ícil.

— Mais fácil julgar os outros, certo? — Atiro minhas palavras contra ele.
— Você pode falar o que quiser, mas não inja que é melhor do que eu. Boa
noite, Victor Hugo. — Fecho a porta devagar esperando que ele peça para
que eu espere, para que me conte a verdade, mas ele apenas me encara.

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Capítulo 43
Léo perguntou por Hugo logo que acordou. Estava acostumado a
encontrá-lo quando acordava. Já fazia parte da sua rotina disputar o
banheiro com ele. Mas, desde a noite anterior, eu não o via. Nem mesmo
durante o dia ou quando Léo voltou da aula.

Pensei em mandar mensagem, ou passar na casa dele, mas ambos


estávamos magoados e eu não tinha certeza se era a melhor decisão. Sabia
que Hugo podia ser cabeça-dura, mas eu não icava atrás e não queria
agravar nossa discussão.

No dia seguinte, após levar Léo até a van, encontrei a porta aberta e um
carro desconhecido parado na frente. Rapidamente entrei na casa e
encontrei Hugo descendo a escada, seguido de duas mulheres altas, esguias,
de pele escura e sorrisos contagiantes.

— Você chegou. Vem aqui. — Ele me chama com a mão. — Essa é a


Helena, é a minha namorada e o que ela disser é lei. — E me cumprimenta
com um beijo na têmpora. — Essas são velhas conhecidas, Maria e Marta. —
Nos apresenta rapidamente e logo as duas se despedem, informando terem
muito trabalho para fazer.

— Vem. — Ele começa a subir as escadas devagar, me puxando junto.

— Hugo. — Paro no meio do caminho. — O que é tudo isso?

— Eu não sou o tipo de homem que costuma admitir que está errado —
desce os degraus de volta até mim —, mas você está certa. Não posso te
cobrar algo que não estou te dando.

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— Certo...

— Já estou planejando uma reforma há algumas semanas, mas antes


preciso que você veja como está. — Ele parece desconfortável, mas
disposto. — Depois, nós podemos sair juntos enquanto tudo é organizado
para a reforma começar...

— Tem certeza?

— Vem comigo. — Me oferece a mão e aceito, o acompanhando.

Diferente da decoração do andar inferior, a do andar superior é toda


trabalhada um estilo clean so isticado. Com móveis de ar moderno, apesar
de não serem novos, e uma grande quantidade de luzes e espelhos, parece
uma casa completamente diferente da que conheço.

— A Jaque decorou quando casamos. Ela adorava espelhos. Essa parte


da casa não é um segredo, eu apenas não me sinto confortável aqui como
um dia me senti — avisa. — São quatro quartos. Aquele era o nosso quarto.
Não consigo icar muito tempo lá dentro. Na verdade, nem lembro a última
vez em que estive ali.

— Por isso dorme no sofá ou no quarto de hospedes lá de baixo? — Ele


con irma com a cabeça.

— Tem muitas lembranças ísicas. Podemos entrar se você quiser.

— Não precisa. — Ele suspira aliviado.

— A segunda porta é do ateliê dela.

— Ah... Não sabia que ela era uma artista.

— A Jaque gostava de fazer de tudo um pouco. Dizia que a acalmava. —


Sua voz apesar de triste, não é amargurada. — Quer entrar? — Nego com a
cabeça.

— Na última porta é apenas um quartinho de bagunça. Já a terceira


porta, bem... — Ele a abre para mim e encontro um cômodo grande, cheio
de bichos de pelúcia, com berço, livros de contos e roupas de bebê.

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— O quarto do bebê...

— Ninguém sobe aqui, porque eu sabia que me julgariam... Faz anos,


mas mantenho tudo como estava desde aquele dia.

— Amor...

— Ela não era uma pessoa ruim. Estava doente e não cuidei dela. Eu
podia ter feito, mas não iz. Mantive tudo isso, talvez, como forma de me
punir. Ver todos os dias o que eu perdi.

— Você mesmo disse que ela estava doente, meu amor.

— Para mim, a forma como você me ama é... Esquisita.

— Como assim?

— Eu sei que não é a melhor palavra que eu poderia usar, mas é a que
mais se encaixa. — Um sorriso leve se abre no seu rosto. — Você tinha tudo
para me odiar. Mas me ama de uma forma que nunca ninguém me amou,
Helena. — Ele segura o meu rosto entre suas mãos. — E tenho certeza que
nunca amei ou amarei alguém como amo você. Quero que você saiba de
tudo.

— E a reforma?

— Uma vez, você comentou que não conhecia esse lugar, por isso não
poderia vir com Léo. — Minhas mãos começam a tremer. — Eu amo aquele
garoto. Amo você. Tudo o que eu mais quero é fazê-los felizes. Então, eu
tenho uma proposta.

— Você tem certeza que está pronto?

— Tenho. Eu quero que você me aceite de initivamente na sua casa —


diz e solto uma risada nervosa. — Isso é um não?

— Não. — Não consigo controlar minha risada. — Desculpa, é que...


Você tem essa casa inteira para você e quer ir para um casebre no fundo da
propriedade...

— Só enquanto acontece a reforma. Quero que você me ajude com cada


cômodo. — Minha risada cessa imediatamente. — Calma, eu não estou

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pedindo para você mudar para cá... Ainda.

— Hugo, é isso o que você quer? Fazer essa reforma, morar com a
gente...? — Ele acena positivamente. — Tem certeza?

— Helena, só diz que eu posso me mudar e ainda hoje irei atazanar


vocês dois todas as horas do dia que eu puder.

Jamais poderia dizer não a ele. Hugo tinha um jeito que me fazia
derreter e aceitar até suas propostas mais indecentes. Meu coração pulou e
acelerou meu corpo inteiro. Descemos as escadas rapidamente, estava claro
que apesar de ter me apresentado o lugar, Hugo não se sentia confortável,
talvez a reforma realmente fosse a solução.

— Pedi à Paloma que colocasse tudo em caixas — diz


momentaneamente triste. — Todos serão doados. Mais tarde alguém virá
ajudá-la com as últimas coisas.

— Acho uma atitude bonita.

— Paloma! — Ele chama e rapidamente ela vem até nós. — Poderia


fazer o que pedi conforme o orientado? Preciso levar Helena em um lugar.

— Claro, senhor!

— Obrigada — agradeço ao mesmo tempo que ele. — Podemos


conversar um minutinho?

— Com certeza. — Paloma segue em direção à cozinha e dou um rápido


beijo em Hugo, que segue para o escritório.

— Eu quero te agradecer.

— Você já fez isso, Helena.

— Não, não por empacotar tudo, mas por ter se preocupado comigo. Sei
que não somos as melhores amigas desde que você descobriu que estou
saindo com o Hugo...

— Não é isso. O problema nunca foi você namorar ele — a irma com um
sorriso. — O problema eram as grosserias. Ele conversou comigo ontem e,
Helena, esse homem te ama. Jamais eu poderia icar chateada com isso.

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— Você jura?

— Juro. Eu sei que não nos conhecemos há tanto tempo e que eu sou a
mais nova entre nós duas, mas me sinto sua irmã mais velha — admite me
abraçando. — Só quero o seu bem, de verdade. Agora vai lá e aproveita
aquele homem que está mudando muita coisa na vida dele por sua causa.

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Capítulo 44
Hugo acabou me arrastando para fora da casa enquanto meu estômago
vergonhosamente roncava de fome. Ele não quis informar para onde
iríamos, mas pelo menos dessa vez não me vendou. Durante o caminho, ele
me explicou o motivo das ligações que vinha recebendo.

— Todas essas ligações são com o meu advogado — começa enquanto


dirige. — Eu já te contei que a família da Jaque tentou me culpar pela morte
dela, certo?

— Sim.

— As investigações foram reabertas. Ainda estou tentando entender o


porquê de isso estar acontecendo, mas, basicamente, eles querem que eu
seja preso e pague pela morte dela. Eu estou vendo o que posso fazer para
evitar isso. Agora que eu encontrei vocês... A última coisa que eu quero é
icar longe.

— Por que não me contou isso antes?

— Fiquei com vergonha — admite. — Não fazia ideia do que você ia


pensar. Aliás, não faço ideia do que você está pensando.

— Quer saber o que estou pensando?

— Por favor. — Seus olhos não deixam a estrada um segundo.

— Estou pensando em como o meu namorado é um homem incrível


que não deveria estar passando por isso. Que o que aconteceu é uma
fatalidade e que vamos passar por isso. Juntos. — Ele afaga meu joelho por

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um breve momento. — Eu te amo, Victor Hugo, e não há nada nem ninguém


que possa mudar isso. Eu estarei ao seu lado.

— Obrigado, meu amor. As suas palavras me tranquilizam de uma


forma que só consigo me chamar de burro por não ter te contado antes.
Com certeza estaria me sentindo tão bem esse tempo todo quanto estou me
sentindo agora.

— Sempre pode contar comigo para ser sua animadora pessoal —


brinco tentando evitar o assunto que eu sei que ele quer saber. Não é que eu
não queira contar, é que é doloroso demais.

— Agora você pode, por favor, me explicar por que não quis
denunciar aquela jararaca?

— Então... — Respiro fundo antes de começar. — É horrível para


mim admitir isso, mas eu tenho muito medo dela. Medo do que ela poderia
fazer comigo e, principalmente, com o Léo.

— Como assim?

— Na noite da morte do Mauro eu deveria estar no carro, era o meu


carro. Toda terça-feira eu ia ao mercado à noite, mas o Léo estava doente,
então resolvi icar em casa. Estava chovendo bem forte, aquela típica
tempestade de verão de São Paulo e o carro do Mauro não estava pegando.
Léo estava com febre e a farmácia não quis fazer entrega de medicação, daí
ele foi buscar no meu carro. — O nó na minha garganta não é o su iciente
para me impedir. — Tinha uma ladeira para voltar para casa. Hugo, eu
tenho certeza que escutei dois policiais conversando sobre os freios terem
sido cortados. O relatório diz que foi a chuva que deixou a rua escorregadia,
mas eu sei o que eu ouvi. Sabotagem. Essa palavra é simplesmente o meu
pesadelo desde aquele dia.

— Eu sinto muito, meu amor.

— Eu não sou burra. Sei que eu e o meu ilho tínhamos nossos


direitos, mas não quis entrar numa briga e correr o risco de perdê-lo. O Léo
é o meu bem mais precioso. — Por algum motivo, não consigo encará-lo. —
A Joelma é uma pessoa claramente perigosa, recebi uma ligação dela
perguntando sobre as promoções do mercado. Ela nunca tinha pisado em
um mercado na vida, Hugo. Expliquei a ela que Mauro tinha ido à farmácia

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com o meu carro e que eu não tinha ido até o mercado. Ela icou muito
nervosa e desligou, dizendo que precisava falar com o ilho — relembro as
cenas em minha mente como se estivesse acontecendo neste momento. —
Joelma também é uma manipuladora covarde que sequer chorou no enterro
do ilho. No meu pior momento, quando Mauro se foi tão de repente, me
disse que eu precisava assinar alguns documentos a respeito do velório,
enterro, do seguro, que por ele ser casado, deveria ser assinado por mim...
Depois descobri que ela me fez assinar documentos onde eu abria mão de
tudo o que era meu, tudo que o meu marido certamente queria que icasse
conosco. — Algumas lágrimas teimam em descer pelo meu rosto.

— Puta merda! Ela é pior do que eu pensava. Quem pensaria tão


friamente durante o velório do próprio ilho?

— Nossas contas foram zeradas antes mesmo que eu pensasse em


qualquer coisa. Mauro tinha dívidas, mas eram coisas pequenas se
comparado ao que tínhamos. As únicas coisas que icaram comigo foram
joias, roupas... Itens pessoais que usei para nos manter o máximo que
consegui. Não era muito, mas foi o su iciente enquanto eu procurava
emprego.

— Eu sinto muito. — Hugo segura uma das minhas mãos.

— Mesmo sabendo o que ela havia feito, tentei conseguir a sua ajuda.
Pensei que, por um momento, ela poderia pensar ao menos no meu ilho,
mas eu estava enganada. Se eu procurasse um advogado, não seria di ícil
reaver o que era nosso.

— Ela te encurralou em um momento di ícil e traumático.

— Sim, mas o que eu conseguiria, em comparação ao que ela tem, é


quase nada. Mauro e eu vivíamos bem, mas nada pomposo como ela. Era
confortável e o su iciente para nós — comento. — Com o dinheiro e a
in luência dela, meu ilho podia ser tirado de mim. Eu sei que todos dizem
que juiz algum tira o ilho de uma mãe, mas essas pessoas não sabem do
que ela é capaz para conseguir o que quer. Eu sei. A minha melhor arma
contra essa mulher é ignorá-la. Se eu for atrás de denunciá-la, tenho certeza
de que isso só agravará minha situação.

— Me desculpa ter insistido nisso. Agora eu te entendo.

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— Não tem problemas.

— Mas, meu amor, quero que saiba que você e o Léo, para mim, são o
pacote completo. — Seu sorriso é grande e verdadeiro. — Quero os dois e
tenho como meta cuidar de vocês da melhor forma possível. Farei tudo ao
meu alcance para mantê-la longe de vocês.

— Obrigada. — Aperto sua mão. — Eu quero que nós dois possamos


ser sinceros um com o outro. Prometo não esconder nada importante de
você de novo.

— Tudo bem. Eu também prometo. — Beija o dorso da minha mão.


— Chegamos.

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Capítulo 45
Hugo dessa vez não me levou em um lugar que eu ainda não conhecia.
Me levou para o prédio da VHM, sua empresa, na Avenida Paulista. Depois
de mais algum tempo dentro do carro regado a carinhos inocentes,
descemos e fomos para o escritório.

— Amor, eu esqueci de falar, preciso que você me acompanhe em um


evento amanhã... — diz segurando minha mão e afagando com o polegar.

— Mas... E o Léo? Não tenho com quem deixá-lo.

— Podemos pedir uma babá.

— Deixar meu ilho com uma desconhecida? Fora de cogitação! —


inalizo.

— E a sua amiga?

— Carina? — Ele con irma com a cabeça. — Posso ver se ela pode.

— É só o que eu peço. — Beija minha testa quando o elevador para no


andar inal, o do escritório.

Como da última vez, encontramos Cláudia, Stella e Túlio tomando conta


do local com muito mais bagunça. Eles demoraram para notar nossa
presença e até começaram uma discussão que não teve tempo de se
transformar em uma briga, pois Hugo pigarreou e chamou a atenção deles.

— Vocês chegaram! — Cláudia nos cumprimenta com educação, mas


menos animada que da última vez que nos vimos.

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— Bom dia, Helena e Che inho! — Stella e Túlio nos cumprimentam


também. — Precisamos descer, mas você sabe que está em boas, aliás, —
Stella ixa seu olhar em Hugo por um momento —, em ótimas mãos.

— Eu que o diga! — Túlio complementa e por um minuto vejo Victor


Hugo corando.

— Vou buscar café da manhã, amor! — Hugo hesita, mas acompanha os


dois funcionários.

— Helena, já tem uma ideia do que deseja usar? — Cláudia pergunta de


longe, mexendo em alguns tecidos coloridos.

— Na verdade, eu não sabia desse evento até o momento que entrei no


elevador — admito. — Como você está?

— Vou ser sincera com você. Tenho muito carinho pelo Victor Hugo, ele
é um homem incrível e seja lá o que você estava pensando quando aceitou
isso... — Rapidamente pega a bolsa que usei para ir ao evento onde Hugo e
eu demos o nosso primeiro beijo e a abre, tirando um cartão de visita antes
de me entregar. — Espero que tenha repensado.

— Não é o que você está pensando. — Hugo já me falou algumas vezes


do quanto gosta de Cláudia e que a tem como uma boa amiga. — Eu fui
abordada pela acompanhante dele quando saía do banheiro e ela me
entregou isso.

— E por que não jogou fora? Sei que mal nos conhecemos, mas a
impressão que tive de você... A forma como Victor Hugo fala de você,
Helena.

— Eu ia jogar fora, mas Hugo chegou na hora. Ele estava bêbado e tinha
certeza de que faria uma cena se soubesse. — Ela anda por diversas áreas
do cômodo mexendo em uma coisa e outra e vou atrás dela me explicando.
— Ele fez uma cena por menos... Eu nunca aceitaria ter qualquer tipo de
envolvimento com um homem nojento como ele.

— Por que você não jogou fora?

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— Sinceramente? Não lembrei disso até agora — admito e ela para de


frente para mim, me analisando.

— E você gosta do Victor Hugo de verdade?

— Cláudia, eu o amo. Ele é um ser humano incrível e eu estou


completamente apaixonada por ele. — Nunca fui tão sincera.

— Deixa eu me livrar dessa porcaria então...

— Me dê aqui — peço e ela me encara descon iada, mas entrega o


cartão.

Entrando no banheiro e deixando a porta aberta, dou descarga no


maldito pedaço de papel que piquei em pedacinhos na sua presença.

— Essa história que nem começou, acabou — inalizo.


— Você tem certeza disso, Cláudia? Meus peitos estão quase pulando
para fora e...

— Quem é a especialista aqui, Helena? — questiona ajustando a saia do


vestido.

— Você...

— Então simplesmente me diga... — Levanta e me vira para a frente do


espelho, abaixando os meus braços que estavam cruzados na frente dos
meus seios. — Você gostou?

De cor champanhe e com uma saia longa e luída, o vestido era


simplesmente lindo. Até mesmo a parte que me deixou inicialmente
desconfortável. Com alças inas sustentando o pouco tecido que cobre meus
seios, um recorte vazado na vertical logo após e nem ao menos um tule
para cobrar a minha pele, apenas as inas tiras que ligam o top à saia,
inclusive nas costas.

— Você é a melhor, Cláudia, sem “mas” — agradeço. — Me olhar em um


espelho, me sentir bem com o que vejo é completamente...

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— Revigorante?

Meus olhos não conseguem manter as lágrimas. Tudo o que tem


acontecido na minha vida nos últimos meses é apenas incrível e nem em
milhões de anos eu seria capaz de acreditar que aconteceria um por cento
do que aconteceu até agora.

— Obrigada. — A abraço.

— De nada. Eu só quero que o Victor Hugo seja feliz. Se for com você,
melhor ainda. — Retribui o abraço, sorrindo.


Enquanto eu colocava de volta meu velho e aconchegante jeans, minha
blusa listrada e o tênis que deveria ter, no mínimo metade da idade do Léo,
Cláudia rapidamente embalou o vestido em uma caixa com o logo da loja,
além de acrescentar o sapato e a bolsa que disse serem perfeitos para usar
com o vestido.

Não demorou muito e Hugo apareceu com um delicioso cachorro-


quente em mãos.

— Fora! — Cláudia gritou para ele logo que sentiu o cheiro. — Não
quero comida aqui com minhas roupas. Helena, querida, como sempre, foi
um prazer te ver, mas se não quiser icar sem namorado, sugiro que o
arraste imediatamente de volta para o elevador.

— Não ganho nem um abraço antes de ir embora, Cláudia? — Hugo


questiona zombeteiro e recebe um olhar assustador como resposta.

— Obrigada por tudo, Cláudia — agradeço com as caixas em mãos, já


empurrando Hugo para dentro do elevador.

Antes mesmo que as portas se fechem consigo roubar o lanche dele,


trocando pelas caixas. A primeira mordida con irma minhas suspeitas, era o
lanche do Chicão.

— E aí, o que você escolheu? — Tenta xeretar a caixa, mas o impeço. —


Você ganha o que quer e eu não?

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— Tenho certeza que você ganhou bastante o que queria hoje —


resmungo apontando para a sua camisa suja de molho. — Olha, Victor
Hugo, eu te amo, mas se você me largar com roupas e for comer na barraca
do Chicão sem mim de novo, pode se considerar um homem morto! — aviso
de boca cheia e ele começa a rir.

— Vem, comilona. — Me conduz para fora do elevador. — Vamos lá


guardar essas coisas e prometo te pagar quantos lanches do Chicão você
quiser.

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Capítulo 46
Ficamos fora de casa durante todo o dia. Após escorregar em uma poça
enquanto voltávamos da barraca do Chicão para o carro, Hugo decidiu que
era hora de renovar o meu guarda-roupas e, por mais que eu tenha tentado
negar, quando estávamos prestes a entrar no estacionamento, Cláudia nos
encurralou e me arrastou direto para o primeiro andar da loja, onde
começou a me fazer experimentar um monte de roupas.

No im do dia, eu tinha mais calças do que podia usar e nem vou falar
sobre as blusas, vestidos e demais peças, além, claro, de muitos, mas muitos
sapatos mesmo. E algumas lingeries.

— Eu vi uma renda entre as sacolas ou é impressão minha? — Hugo


questiona com um sorriso malicioso enquanto se aproxima para me beijar.

— Você anda muito curioso. — Sorrio. — Acho que vou manter esse
segredinho até... Digamos, à noite? — Dou-lhe um selinho e me afasto com
as batidas repentinas na janela do carro.

Estamos estacionados esperando Léo sair da escola. Hugo fez questão


de vir buscá-lo e contar logo a novidade. E assim que me viro para ver quem
está na janela, é a diretora segurando meu ilho pela mão.

— Helena. — Me cumprimenta, seca. — Fiz questão de trazer o


Leonardo até o carro, precisava mesmo falar com o Hugo. — Desço do
veículo para colocar meu ilho na cadeirinha no banco de trás e apenas a
cumprimento com educação.

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— Mamãe, e essas sacolas? — Léo questiona. Foram tantas sacolas, no


total, que não couberam no porta-malas e tivemos que colocar no banco de
trás, já que recusei prontamente que um carro fosse até em casa apenas
para levar tudo.

— São algumas... Coisas que o tio Hugo e a mamãe compraram —


asseguro colocando seu cabelo de lado após fechar o cinto da cadeirinha.

— Tem presente para mim? — Nego me sentindo culpada por não ter
trazido nada para ele, mas Léo não parece se importar muito e dá de
ombros.

— Você recebeu a minha mensagem? — Gardênia está na janela de


Hugo tentando de todas as formas tocá-lo e fazendo questão de aumentar o
seu decote descaradamente.

— Não... — Ele parece desconfortável e liga o carro.

— Que estranho. Você mudou de número?

— Podemos ir, amor — aviso voltando ao meu lugar e colocando o


cinto.

— Não, eu acho que não, Gardênia.

— Bom, nesse caso, procure pela minha mensagem, com certeza vai
te interessar. — O encara por um tempo como um animal prestes a atacar
sua presa e em seguida me olha com o mais puro desprezo. — Um ótimo dia
— diz antes de virar as costas.

— Eu quero saber? — questiono e ele nega com a cabeça. — Filho, o


tio Hugo tem uma coisa para te contar.

Leo icou, para dizer o mínimo, extasiado com a notícia de que Victor
Hugo iria o icialmente morar em nossa casa por um período e logo após
começarmos o caminho para casa, meu ilho já havia decidido que Hugo e
ele dormiriam numa beliche e seriam melhores amigos e colegas de quarto.

— Você dorme no beliche de baixo, tio. — Léo avisa.

— A gente não tem beliche, ilho.

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— E onde o tio Hugo vai dormir? — Vejo seus olhos se enchendo de


lágrimas.

— Bom, a gente pode ver a história do beliche depois. Por enquanto, eu


posso continuar dormindo no quarto da Helena. O que acha? — Hugo
pergunta com um sorriso malicioso direcionado a mim.

— Boa ideia, tio Hugo. Mamãe, você dorme na minha cama e eu durmo
na sua com o tio — conclui. — Você é um gênio, tio!


Hugo demorou para convencer Léo que os adultos deveriam dormir na
mesma cama e ainda disse que eu icaria triste se voltasse a dormir sozinha.
Léo até cogitou a ideia de dormir comigo e despachar Hugo para o seu
quarto, mas, no im, quando meu namorado disse que eu roncava, meu ilho
concordou e ainda disse que era alto demais.

Achei completamente ofensivo!

Enquanto os dois discutiam horários sobre o banheiro, aproveitei


para ligar para a Carina e atualizá-la dos acontecimentos, além de pedir-lhe
que icasse com o Léo no dia seguinte.

— Por que rico tem mania de fazer evento no meio da semana? —


Carina questiona risonha.

— Se descobrir a resposta, me conta — peço rindo. — Mas eu


prometo que não volto tarde e passo aí para buscar o Léo.

— Sabe que não precisa se preocupar com isso. Eu e a Bru adoramos


o Léo. — Escuto ao fundo o grito da namorada da minha amiga
con irmando. — E tenho quase certeza de que se ele não conseguir roubar
ela de mim, vai tentar me roubar dela.

— Obrigada, Carina. Você é incrível!

— Eu sei! Agora eu preciso ir. Boa noite, até amanhã.

— Boa noite, Carina. Manda um beijo pra Bru... — Desligo.

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Aproveito para tirar o jantar da geladeira e começo a aquecê-lo


enquanto escuto a discussão entre Hugo e Léo ser inalizada.

— Tá bom, você venceu essa batalha... — É Hugo. — Mas não vencerá


a guerra.

— Vai pagar pra ver, tio? — desa ia. — Mamãe, tô pronto pro banho
— avisa.

— Fica de olho nas panelas, por favor? — peço a Hugo e vou para o
banheiro ajudar Léo.

Felizmente falta pouco para ele tirar o gesso. Não que eu não goste
de ajudá-lo, mas porque sei que ele gosta da sua independência de sempre e
sinto falta do meu menino traquina cem por cento ele mesmo.

O jantar foi rápido e a noite longa. Léo estava carregado nos


duzentos e vinte volts. Quando Hugo o levou para o quarto, já era tarde. Ele
se recusava a dormir, animado com a companhia do tio e só apagou quando
o sono foi mais forte.

Hugo me ajudou com a louça apesar da sua clara falta de habilidade,


mas o esforço era nítido. E enquanto foi escovar os dentes, seu celular
começou a vibrar insistentemente.

— Amor, vê se é a Vic. Ela icou de me mandar mensagem, mas até


agora nada — pede do banheiro.

Impossível acreditar no que vejo logo que pego o celular. Sem


bloqueio, logo que clico no número que sequer está agendado, vejo uma
grande quantidade de fotos nuas e seminuas de nada mais, nada menos, que
da diretora do colégio do Léo. Em diversas posições, comprometedoras
inclusive.

— É ela? — Volta ao quarto enxugando o rosto com uma toalha. —


Amor?

— É a sua amiga! — Jogo o celular nele e por pouco ele pega o aparelho
antes que aconteça algo pior. — Ela está esperando a sua resposta. Quer
privacidade?

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— Eu posso explicar, Helena — diz logo que percebe do que estou


falando.

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Capítulo 47
Vendo aquelas fotos, para não dizer outra coisa, ridículas, consegui
sentir uma raiva extrema. Mesmo que o meu lado lógico dissesse que eu
deveria manter a calma levando em consideração o fato de que o Hugo não
baixou nenhuma das fotos, sequer tem o número dela agendado e não a
respondeu vez alguma, meu lado inseguro falou mais alto e, quando dei por
mim, estava o expulsando de dentro da minha casa com as roupas dele que
Paloma trouxe de mudança.

— Helena, por favor, deixa eu explicar...

— Você teve a chance de explicar quando recebeu essa merda pela


primeira vez. — Com suas roupas em mãos, começo a atirar peça por peça
nele. — Você teve a chance de explicar quando conversamos e prometemos
não esconder mais nada um do outro. — Apesar de querer gritar, mantenho
minha voz num tom baixo para não acordar o Léo. — Você teve chance de
explicar, Victor Hugo. Teve a chance de cortar essa palhaçada, de bloquear o
número dessa... Dessa... Pelo amor de Deus, ela é diretora do colégio do Léo!
Você deveria ter, no mínimo, bloqueado o número dessa oferecida... Mas não
fez.

— Helena, por favor...

— “Por favor” o caralho! Não vem tentar me fazer de idiota, Victor Hugo
— aviso e devagar ele tenta se aproximar de mim.

— Amor... — Mesmo receoso, ele consegue chegar até mim. — Se eu


tivesse fazendo algo de errado, eu ia dizer para você pegar o meu celular e
ver as mensagens?

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— Não sei, você pode estar fazendo o truque da galinha morta... — Paro
de repente.

— “Truque da galinha morta”?

— Olha aí você continuando com o truque! — Tento afastá-lo, mas ele


não permite, me segurando levemente pelos braços.

— Amor, eu amo quando você me ensina algo novo, e você me ensina


muitas coisas, por isso eu realmente preciso que você me explique o que
seria esse truque, porque eu nunca ouvi falar sobre isso — avisa tirando
meu cabelo do rosto.

Por que ele tem de ser fofo quando eu estou puta?

— Pergunta para o seu celular.

— Amor...

— É sério! — reviro os olhos pego o meu no bolso do roupão que estou


usando e falo: — Ok, Google, pesquisar “truque da galinha morta”.

Logo a assistente começa a falar.

— “De acordo com o site Dicionário Informal: truque da galinha


morta. Ato ou efeito de enganar. Dar um truque, disfarçar, ter jogo de
cintura...”

— Tá bom, entendi. — Rindo, ele tira o celular da minha mão e


bloqueia a tela, antes de voltá-lo ao meu bolso. — Mas, amor, eu não estou
tentando usar o “truque da galinha morta”.

— Se estivesse, você diria exatamente isso!

— Helena! — Ele para de rir. — Eu entendo que não deveria ter


escondido isso, mas eu também entendo que o Léo ama a escola, tem
amigos lá e você não permitiria que ele continuasse estudando ali se
soubesse disso. — Conforme ele fala, seu semblante relaxa e eu me sinto
ainda mais boba por toda a cena. — A Gardênia é inconveniente e eu ia
trocar o número de telefone, mas surgiu uma coisa atrás da outra e não deu
tempo.

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— Hugo...

— Se você olhar no celular, quando ela mandou a primeira vez, eu


pedi que ela não izesse isso nunca mais. Eu te amo, Helena, e ela sabe disso.
Eu disse isso a ela e repetirei, além de trocar meu número e bloquear o dela.

— Você já deveria ter feito isso — resmungo.

— Eu sei, me desculpa, estou errado. Quis poupar estresse e acabei


piorando as coisas.

— Você prometeu e me fez prometer que não teríamos mais


segredos!

— Me desculpa.

— Hoje você dorme no sofá e amanhã eu decido o que faço com ela.
E com você! — aviso apontando o dedo na cara dele. Mesmo com a minha
ameaça ele sorri e me beija.

— Está bem. Você me perdoa?

— Amanhã conversamos. — Viro as costas para ele, que recolhe as


roupas antes de entrar.


Eu fui fraca. Se tratando do Hugo, principalmente quando sem camisa,
eu sou fraca. Talvez inconscientemente eu tenha esquecido de pegar água
antes de ir para o quarto, resultando em levantar no meio da noite para
buscar e encontrá-lo passando calor na sala, só de cueca.

Não importava qualquer discussão boba, o que importava era o calor


que aumentou quando o vi com os óculos de leitura e o cabelo bagunçado
lendo a revista de fofocas sobre novelas.

— Amor, você leu isso? — Tira os óculos rapidamente. — A Gertrudes


está grávida e planejando fugir com o Lucas!

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A princípio pensei em tirar sarro de como eu o tinha viciado em novela,


principalmente na novela que fora o motivo do nosso primeiro con lito, mas
quando ele sorriu para mim, não consegui resistir. Antes que eu pudesse
pensar mais de uma vez, me atirei nos braços dele.

Por um segundo conseguimos pensar em algo além de nós dois ali e


Hugo me levou de volta para o quarto, com minhas pernas enroscadas em
sua cintura, e trancou a porta.

Claramente nossas preliminares tinham sido apenas através dos nossos


olhares e, sem mais delongas, Hugo tirou seu pau para fora e rapidamente
deslizou para dentro do meu corpo, ainda apoiado na porta.

— Isso não signi ica que eu já te perdoei — aviso separando nossas


bocas momentaneamente.

— Cala a boca e aproveita!

Suas estocadas rápidas, fortes e sedentas faziam parecer que não nos
víamos ou nos tocávamos há muito tempo. Abrindo os botões da minha
camisa com certa habilidade, ele nem precisou pausar a penetração e em
seguida passou a chupar meus seios, pescoço e sussurrar para mim:

— A sua boceta acaba comigo!

— Isso está... Tão bom! — suspiro devagar aproveitando a sensação que


faz todo o meu corpo tremer.

— Aperta o meu pau, vai, Helena! — geme enquanto eu atinjo o meu


primeiro orgasmo da noite.

Em algum momento ele decide me levar para a cama e mesmo que ele se
en ie dentro de mim de forma mais grosseira e violenta, exatamente como
sabe que eu gosto, ao me colocar no colchão ele é gentil.

Colocando minhas pernas apoiadas em seu ombro, Hugo se en ia cada


vez mais fundo, arrancando de mim gemidos escandalosos que por um
minuto me preocupa.

— Ele não vai acordar, pode gemer à vontade! — garante e assim o faço.
— Isso, Helena, geme pro seu homem, geme!

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Capítulo 48
Acordei mais cedo que de costume e, em silêncio arrumei Léo para a
escola. Hugo dormia profundamente quando deixei um bilhete no lugar do
seu celular e da chave do carro, avisando que estava levando Léo para a
escola para que pudesse assinar a autorização para Carina buscá-lo, mas
omiti a parte em que decidi colocar a diretora no lugar dela.

Léo desceu do carro animado e correu para dentro da escola na


companhia dos coleguinhas que encontrou na entrada. Não demorou muito
e, pelo espelho, vi Gardênia se aproximando enquanto aumentava o decote
ousado demais para o lugar.

— Bom dia, Hugo... Ah, Helena... — Se corrige e fecha a cara ao perceber


que a única pessoa no carro sou eu. — Eu vim cumprimentar o Hugo.

— Bom dia, professora Gardênia — cumprimento-a com um sorriso. —


Meu namorado icou dormindo, digamos que a noite dele foi um pouco...
Cansativa.

— Se me dá licença, preciso voltar ao trabalho — avisa, seu rosto não


disfarça sua frustração e irritação.

— Na verdade, preciso conversar com você. — Desço do carro usando


uma das novas roupas que Hugo me deu.

A calça jeans de lavagem clara contorna meu corpo, acentuando minhas


curvas, e a discreta regata preta combina perfeitamente com o All Star em
meus pés, coloquei pequenos brincos dourados em forma de gota e uma

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pulseira de mesma cor. Meu cabelo prendi em um simples rabo de cavalo. E


levo comigo uma bolsa combinando.

— Pode ser rápido? — questiona irritada conferindo o seu relógio. —


Tenho uma reunião com o Conselho...

— Isso vai depender de você. — Não a espero para ir em direção a sua


sala, mas ela me acompanha rapidamente, mesmo em cima do salto, e logo
que entramos, começo: — Primeiramente, preciso autorizar que uma amiga
busque o Léo hoje. Meu namorado e eu temos um evento importante.

— Isso pode ser resolvido com a minha secretária. — Senta-se atrás de


sua mesa. — Com certeza você vai se vestir melhor que agora. Hugo odiaria
passar vergonha por conta dos seus trajes — avisa altiva.

— Não precisa se preocupar com minhas vestes, professora, mas, com


certeza, deveria se preocupar com as suas. — Coloco o celular em cima da
sua mesa e sua cor e postura mudam quando vê do que se trata.

— Co-como você conseguiu isso? É particular, posso te denunciar! —


grita descontrolada.

— Não tenho interesse de compartilhar isso com qualquer pessoa,


professora. Mas a senhora deveria compartilhar apenas com quem tem
interesse e meu namorado não faz parte do time de interessados.

— Isso é ridículo!

— Ridículo é mandar nudes para alguém que não solicitou ou tem


interesse. — Tiro o celular de suas mãos e ela levanta ainda mais irritada.
— Eu espero que essa tenha sido a última vez...

— Ou o quê? — questiona debochando.

— Ou também participarei da próxima reunião e comunicarei


pessoalmente ao Conselho a respeito das atitudes nada ortodoxas ou
educativas da maior representante da escola.

— Isso é chantagem!

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— Não vejo assim. É uma escolha. Se você estivesse enviando essas fotos
em comum acordo com o meu namorado, eu não me manifestaria, mas da
forma que está sendo feita, é assédio — aviso calmamente. — Como
professora, você claramente sabe a de inição da palavra assédio. E assédio é
crime. Portanto, não hesitarei em denunciá-la.

— O Hugo pediu e gostou...

— “Gardênia, o que tivemos icou no passado. Estou com alguém que


amo; por favor, não volte a me procurar ou mandar esse tipo de mensagens
novamente.” — Leio a mensagem que Hugo usou para responder a primeira
foto que recebeu. — Não sei o que parece para você, mas para mim, e tenho
certeza que para o Conselho também, isso é uma prova de assédio.

— Sai da minha sala! — grita. — Agora!

— Passar bem, professora. Vou deixar a autorização com a sua


secretária. Uma ótima reunião. — Logo que saio começo a ouvir folhas
sendo rasgadas e objetos sendo derrubados. — Aqui está a autorização para
minha amiga buscar o Leonardo Peres hoje — aviso entregando à
secretária, que parece assustada. — Bom dia.


Não iquei exatamente orgulhosa de mim ameaçando o emprego da
Gardênia dessa forma, mas pelo menos agora ela vai pensar duas vezes
antes de dar em cima de um homem comprometido.

Hugo não é santo nessa história. Ele poderia muito bem ter
bloqueado o número dela, trocado de número, mas simplesmente a deixou
continuar, mesmo que nas mensagens apenas a primeira foto tenha sido
“baixada” e que ele tenha pedido que ela não continuasse e tenha passado a
ignorá-la.

Tão logo chego, vejo Hugo sentado nos degraus de entrada da


mansão com cara de poucos amigos. Eu sabia que ele não icaria feliz com a
minha decisão, mas eu também não estava com as que ele tomou em
relação a isso.

— Onde você estava? — pergunta me olhando de baixo a cima, um


pouco mais tranquilo que antes.

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— Fui resolver a autorização que a Carina precisava para buscar o


Léo hoje.

— E...?

— E colocar a sua amiguinha no devido lugar dela. — Entrego o


celular e a chave do carro em sua mão. — E eu não vou me desculpar por
isso — a irmo entrando na casa e ele vem atrás de mim.

— Amor, o que você fez? — questiona segurando meu braço pouco


antes de eu chegar a cozinha.

— Eu...

— O que eu faço com você? — Sua voz é baixa e calma, antes de eu


falar qualquer coisa, ele me abraça e beija o topo da minha cabeça.

A reforma já está a todo vapor, os móveis todos cobertos e os


trabalhadores nos encarando sem graça e eu ainda mais.

— Vamos conversar em casa — peço e, com uma risada, ele


concorda.

Deitada no seu colo no meu sofá, explico a Hugo exatamente o que


aconteceu sem deixar nenhum detalhe de fora e, por mais que ele tente
segurar a risada, a certa altura da história começa a rir
descontroladamente.

— Não tem graça. — Levanto.

— Eu sei que não, mas é que você está contando tão séria e...

— Mas eu sou uma mulher séria! — argumento e ele me puxa pela


mão de volta para o sofá.

— Preciso te lembrar de quando tentou me convencer que o Léo era


o ajudante anão do jardineiro? — diz rindo.

— Você diz isso porque não sabe a ideia original. — Dou de ombros
rindo com ele.

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— Piora? — a irmo com a cabeça. — Certo, estou preparado, me


conta.

— Quando vim fazer a entrevista, tentei convencer a Vic de que ele


poderia se passar pelo próprio jardineiro e que seria falta de educação você
perguntar por que ele era tão pequeno. — Escondo meu rosto entre as
mãos enquanto Hugo gargalha.

— Meu Deus, você é a melhor! — Tira minhas mãos do meu rosto e


me beija entre risos. — Agora vem, precisamos comer algo, mais tarde o
Iago e a equipe dele vem ajudar você a se arrumar.

— Eu sei colocar um vestido e arrumar o cabelo, Hugo.

— Não signi ica que não possa ter uma ajudinha. — Beija a ponta do
meu nariz carinhosamente enquanto nossos estômagos roncam em
sincronia, nos fazendo rir novamente.

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Capítulo 49
Depois de mais um tempo conversando, decidi que não valia a pena icar
remoendo o que aconteceu a respeito das mensagens. Já demorou tanto
tempo para eu me ver feliz que não é uma pequena pedra no meu caminho
que vai me fazer ir por outro lado.

Tivemos um bom café da manhã assistindo ao último capítulo de “Amor


à Segunda Vista” que havíamos perdido. Gertrudes havia casado, para
minha tristeza, com o vilão e Saulo, o mocinho, deixou a cidade depois dessa
decepção. Agora alguns anos haviam se passado e ele inalmente estava
voltando para a cidade. O capítulo acabou no exato momento em que ele
passou pela placa de entrada do lugar.

— Ele não sabia que ela estava grávida — argumento para Hugo, que
não perdoa Saulo de forma alguma.

— Ele a abandonou sem se despedir.

— Ele precisou ir, mas quando voltou ela já estava casada com aquele...
coisa ruim! — Mostro o óbvio.

— Amor, eu te amo e não desistiria de você por nada, nem mesmo se


você estivesse casada com outro — avisa me beijando e logo escutamos
batidas na porta antes de ela ser aberta por Paloma.

— Oi, desculpa atrapalhar, mas, Helena, o cabeleireiro e a equipe


chegaram — diz tímida. Apesar de até mesmo tê-lo intimidado, ela se sente
constrangida na sua frente.

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— Oi, amiga. Pode pedir para eles virem. E, se você quiser me fazer
companhia, vou adorar — agradeço e, com um sorriso, ela se vai.


Assim como da última vez, Iago deixou o meu cabelo solto, com ondas
bem destacadas. A maquiagem simples e discreta pareceu complementar o
look mais natural. Minhas unhas foram pintadas com um nude que deixou
tudo a minha cara.

No im, eles também cuidaram de Paloma, que saiu dando risada


quando foi deixá-los na porta. Não demorou Hugo já estava batendo na
porta do meu quarto, querendo ver o resultado.

— Ainda não estou vestida — argumentei e, antes mesmo de pensar em


abrir a porta, ele foi entrando com um sorriso malicioso. — Você é um
tarado, sabia?

— Só vim te ajudar a se vestir — diz me puxando pelo roupão e o


abrindo enquanto beija meu pescoço com carinho.

— Você está tentando me despir, isso sim! — Ajeito o colarinho da sua


camisa e passo meus braços por trás do seu pescoço enquanto os seus
contornam minha cintura.

— Você nunca reclamou disso antes. — Seus beijos deslizam pela minha
pele, eriçando meus pelos e arrancando-me um pequeno gemido. — Não
geme assim que eu não aguento, Helena. — Afunda o seu nariz em minha
pele, aspirando o meu cheio.

— Me ajuda a pôr o vestido? — peço com um sorriso malicioso e ele


con irma tentando se controlar.

Apenas um fecho prende a parte de cima que cobre meus seios,


destacando-os. O zíper da saia é a última parte que Hugo fecha e tenho
certeza que contra a sua vontade. Devagar caminho até a caixa em cima da
cama onde está a sandália que vou usar e a pego, voltando ao Hugo e
entregando-a.

— A sandália também? — pergunta e con irmo com a cabeça,


levantando a barra da saia do vestido mais do que preciso para ele me

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ajudar.

Seus olhos percorrem minhas pernas, desde os meus pés até minha
calcinha e, com um olhar sedento, ele me calça devagar. Quando fecha o
último fecho da sandália com pedras brilhantes delicadas, levanta-se
deixando suas mãos deslizarem pelas minhas pernas e de repente sou
erguida e Hugo me senta na borda do móvel.

Não precisamos de uma palavra. Rapidamente puxo mais a saia


enquanto minha calcinha é tirada de mim com agilidade e Hugo leva sua
boca diretamente a minha boceta.

Com destreza, sua língua toca primeiramente minha pele fazendo todo o
meu corpo vibrar em antecipação. Lentamente Hugo deposita beijos
molhados em minhas coxas em direção ao centro das minhas pernas e
desliza sua língua junto.

Por um tempo sou torturada por ele, que nunca atinge o ponto que mais
almejo. Até que inalmente seus lábios se fecham em meu clitóris sugando-o
com habilidade. É impossível segurar meus gemidos.


Tinha esquecido completamente que tínhamos compromisso e
somente após escutar o alarme insistente do celular percebemos que
deveríamos estar prontos e não, no meu caso, abrindo a calça dele, prestes a
transar. Rapidamente Hugo ergue sua calça xingando o celular e me ajuda a
descer da cômoda.

Minhas pernas ainda estão bambas dos orgasmos que meu namorado
me proporcionou com sua língua e me apoio nos móveis, já que o salto não
colabora.

— Precisamos ir. Temos hora. — Hugo avisa me beijando rapidamente e


aproxima sua testa da minha, fechando os olhos e falando: — Deus sabe o
quanto eu queria comer você.

— Você não deveria usar o nome Dele numa frase como essa. — Sorrio
enquanto vibro com tanta vontade quanto ele.

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— Você chama sempre quando estou entre suas pernas. — Abre os


olhos sorrindo e nos afasto para pegar as coisas e veri icar se preciso ajeitar
algo.

Meu cabelo está mais rebelde e a minha pele tem uma iluminação que
eu poderia atribuir a suor, mesmo que não tenha suado tanto quanto
queria, mas sei que foi o bom e velho sexo que me deu esse brilho.

— É tão longe assim? — questiono veri icando a hora. — Gente rica não
trabalha? Não são nem três e meia da tarde!

— Trabalhamos. — Sorri. — Deveríamos ir para dormir, na verdade. —


Antes que eu fale qualquer coisa, ele continua. — Mas como o Léo não pode
ir conosco por conta da escola, voltamos no im da noite.

— Você se preocupou com o fato de o Léo estar na escola?

— Lógico que sim — a irma me conduzindo para a porta. — Amor, o Léo


é minha responsabilidade e eu o amo. Amo tanto quanto amo você.

— Jura? — Paro na porta emocionada.

— Juro. Não preciso mentir sobre o quanto amo aquele moleque. Ele é
incrível. — Beija o topo da minha cabeça. — Vamos que o piloto está nos
esperando.

— Você não quis dizer motorista? — Ele ri.


Ele não falou errado. Realmente estávamos indo encontrar com um
piloto. Diferente da primeira vez que fomos em um evento dentro de São
Paulo, dessa vez fomos para Ilhabela, um munícipio-arquipélago no litoral
norte do estado.

Menos de uma hora após entrarmos no helicóptero chegamos no


arquipélago e, para o meu desprazer, o lindo lugar foi corrompido ao dar de
cara com Antônio, o velho que havia feito sua acompanhante fazer-me a
ofensiva proposta de me prostituir para ele.

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— Garoto! — diz com animação, se aproximando logo que descemos da


aeronave. — Bem-vindo! Vejo que trouxe a... belíssima Helena! Que bom que
você é diferente de mim e decidiu repetir a sua companhia.

— Antônio! — Hugo o cumprimenta com educação sem tirar sua mão da


minha cintura. — Helena não é apenas uma companhia. Ela é minha
namorada.

— Bom, Deus disse que devemos dividir o pão com o irmão. — O velho
diz dando de ombros e puxando-me, contra a minha vontade, em sua
direção. — Helena, impecável! — Puxa o ar aspirando meu perfume e
enojada, me afasto rapidamente.

— Obrigada. — Volto quase desesperada para o lado de Hugo.

— Além de linda é extremamente cheirosa! Você sabe escolher,


garoto! — avisa piscando um olho e vira as costas, pedindo que o
acompanhemos.

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Capítulo 50
— Hugo, ele é nojento — sussurro enquanto o seguimos.

— Eu sei, me desculpa. Não sabe o quanto estou me segurando para não


arrancar aquela dentadura no soco! — diz e não consigo segurar a
gargalhada, nem ele. — Preciso dele para um contrato importante. Só hoje,
podemos ignorá-lo?

— Com certeza — aviso com um beijo no seu rosto e noto o velho nos
observando.

— Helena, com certeza, icará sentada no meio — diz entrando no carro.

— Você senta no meio! — falo baixinho e Hugo con irma com um beijo
rápido nos meus lábios.

— Na verdade, Antônio, pensei que poderíamos ir conversando sobre o


contrato. — Entra no carro sem dar uma chance ao velho e entro em
seguida, sentando-me do seu lado e tendo minha mão segurada com
carinho pela sua.

Mandei algumas mensagens para Vic durante o curto trajeto até o lugar
onde aconteceria o tal evento, que acabei descobrindo ser o aniversário de
Antônio, e que tentou chamar minha atenção ignorando Hugo
grosseiramente.

Deitei minha cabeça no ombro do meu namorado e apenas


aproveitei a vista, respondendo esporadicamente os comentários do velho.

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Não demorou muito e chegamos a uma casa grandiosa e lindíssima à


beira-mar. Felizmente, por ser o an itrião, Antônio precisou sair de perto de
nós e dar atenção aos demais convidados.

— Meu Deus, quanta merda uma pessoa pode falar em tão pouco
tempo?

— Sex on the beach?

— Hugo! — Ele ri enquanto me entrega um coquetel.

— É apenas o coquetel, mas depois podemos providenciar o literal


— avisa enquanto tomo um gole da bebida.

— Você não tem que conseguir um contrato?

— Felizmente, no momento, só consigo pensar em terminar o que


começamos em casa. Tem algo nessa praia linda que está me fazendo
pensar nisso — avisa me abraçando pelas costas e beijando meu pescoço
com carinho. — Ou talvez seja simplesmente você sendo você.


Por um tempo, Hugo me fez circular com ele em meio a todos. Diferente
da primeira vez que estivemos em um ambiente como este, ele não parecia
estar forçando sua diversão, Hugo realmente parece feliz e orgulhoso,
principalmente ao me apresentar como sua namorada.

No geral, todos me trataram muito bem, com exceção de poucas pessoas


a quem Hugo tratou com a mesma educação. Troquei algumas mensagens
com Carina sobre o Léo e só parei quando perdi o sinal. Avisei Hugo e saí
tentando sinal novamente, ao menos para mandar uma mensagem para que
Léo ouvisse, mas acabei dando de cara com Samara, a ex de Luciano.

Com seu cabelo tingindo de ruivo, magérrima, de quadril largo e vestido


verde, ela se aproximou de mim, surpresa.

— Helena? — Me cumprimentou estranhamente feliz e me abraçou. —


Meu Deus, você sumiu! Como você está?

— Oi, Samara. Eu estou bem e você?

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— Também! Precisamos colocar o papo em dia.

— O que faz aqui? — pergunto.

— O mesmo que você aparentemente, bobinha. Fomos convidados,


Antônio é um amigo querido.

— Espera, espera... Você e quem?

— O Luciano, ué. Ele deve estar por aqui... — Vira tentando encontrá-lo.
— Ah, deve ter ido ao banheiro. Mas ele vai icar muito feliz ao ver você.

— Samara, você e o Luciano ainda estão juntos?

— Lógico que sim. Sabe, superamos muita coisa nesses últimos anos,
mas estamos mais fortes do que nunca — a irma e seu telefone começa a
tocar. — Desculpa, preciso atender. Quando eu encontrar meu marido,
procuro por você. Precisa me contar por onde andou... Alô?

Rapidamente procuro Hugo. Isso tudo é bem pior do que pensei.


Luciano não deve ter contado um terço da verdade para Vic e ela precisa
saber de tudo.

Andando pelo deck escuto o meu celular começa a tocar e percebo que
estou tremendo, mesmo que seja apenas uma chamada con idencial. Por
um momento penso apenas em ignorar, mas algo me faz atender.

— Helena? Helena, eu não tenho muito tempo.

— Vic, onde você está?

— Estou no retiro. Avisa o Hugo — pede desesperada — Não, me dá


isso, não! — A ligação é interrompida e sinto meu corpo batendo em outro.

— Me desculpa! — peço tentando me livrar dos braços que insistem em


me segurar.

— Não precisa pedir desculpas para vir ao lugar em que deveria estar
faz tempos. Se não fosse tão teimosa... — Antônio diz.

— Me solta.

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— Quando irá me ligar, Helena?

— Não vou, me solta, por favor. — O deck está vazio, apenas com nós
dois lá.

— Então a Rosa realmente deu o meu cartão a você? — con irmo e ele
inalmente me solta. — Interessante. Seja lá quanto Victor Hugo está te
pagando, eu triplico.

Antes que eu tenha chance de estapeá-lo, ele é derrubado por Hugo com
socos.

— Nunca, nunca mais se dirija a minha mulher! — Hugo grita chutando-


o. — Seu merda. Se você olhar na direção dela novamente, eu acabo com
você. — Mais uma vez ele chuta o velho, fazendo-o cuspir sangue.

— Cai fora da minha casa! — resmunga ofegante e, agarrando a mão


ensanguentada do meu namorado, o tiro dali antes que as coisas piorem.

— Retiro — digo logo que chegamos na porta da casa. — A Vic me ligou.


Está acontecendo algo. — Não paro para respirar. — Ela disse que está no
retiro.

— O quê?

— Ela me ligou e disse que você sabe onde é. Alguém tirou o telefone
dela.

— Eu vou matar o Luciano! — grita me puxando rapidamente para fora


do condomínio.

— Eu vi a esposa dele. Ela disse que ele está aqui.

— Que porra, Helena! Por que não me contou antes?

— Estava tentando fazer isso! Eu estava a caminho, procurando você e


encontrei com o Antônio...

— Foda-se essa merda. Eu preciso tirar a minha irmã daquele lugar! —


grita me soltando e pedindo por um táxi para um funcionário do
condomínio.

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O helicóptero já nos esperava, pronto para decolar, quando chegamos.
Hugo tentou me deixar em casa antes de ir atrás da Vic, mas, por mais que
não estivéssemos conversando, me recusei a não ir junto.

Ao invés de irmos para São Paulo, como esperado, o helicóptero


aterrissou diretamente em uma espécie de hotel-fazenda em alguma cidade
próxima da capital graças à insistência de Hugo.

— Fica aqui! — Hugo praticamente ordenou e eu simplesmente ignorei,


seguindo-o. — Dá para você me respeitar ao menos uma vez?

— Vai se foder, Victor Hugo! Você não é a porra do meu pai! — Mostro-
lhe o dedo do meio, passando diretamente para a entrada do local.

— Victoria Mendes, por favor! — peço ao rapaz de branco cuidando da


recepção, que se assusta comigo.

— Eu... O horário de visitas acabou, senhora.

— Você vai me levar até a minha irmã agora! — Hugo puxa o rapaz pelo
colarinho e, enquanto aparecem outras pessoas, me esgueiro em sentido
aos quartos e percebo que, diferente do que aparenta, o local não é um
hotel-fazenda, mas uma clínica psiquiátrica.

— Vic! — começo a gritar. — Vic!!! Victoria!

— Helena? — Escuto-a atrás de uma porta.

— Vic? Você está bem?

— Trancaram a porta. Chamaram ele! — Sua voz é abafada e parece


embargada. — Não deixa ele chegar perto de mim, Helena. Não deixa.

— Hugo! Hugo, eu achei a Vic! — grito por ele. — Ela está presa!!! Vic,
ica calma, vamos te tirar daí.

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Capítulo 51
Do momento em que Hugo obrigou os funcionários a abrirem a porta,
ameaçando-os com a polícia, ao momento em que inalmente conseguimos
tirar Vic de lá, foi extremamente estressante para todos nós, mas
principalmente para ela.

Hugo e eu não nos falamos por alguns dias. Vic substituiu seu lugar na
cama e ele comprou a beliche que Léo tanto queria, tornando-se o mais
novo colega de quarto do meu ilho.

Algumas vezes, à noite, Vic acordava assustada e, nessas noites, eu não


dormia. Apenas me sentava e apoiava sua cabeça em minhas pernas,
afagando seus cabelos até que ela voltasse a dormir.

Minha amiga explicou-nos o que aconteceu depois que inalmente


conseguimos voltar para casa e Luciano teve a audácia de vir atrás dela.

Por mais que eu quisesse chamar a polícia e denunciá-lo, e Hugo


quisesse acabar com ele com as próprias mãos, optamos por seguir o
pedido de Vic e dizer que eles se comunicariam apenas através dos seus
advogados.

Vic contou que Luciano a ameaçou dizendo que iria entregar provas que
ajudariam a cobra da minha sogra a tomar a guarda do Léo de mim e ainda
disse que estava realmente divorciado. Minha amiga também contou sobre
os falsos choros e de como ele prometeu que estava tentando mudar, não
mais mentir e que a levaria para conhecer os ilhos que ele tinha com a
suposta ex-esposa, a Samara, mas que, ao invés disso, a levou para a clínica

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na qual ela havia indicado que Hugo internasse a sua falecida esposa por
um período.

Ela também pediu desculpas a Hugo dizendo que não tinha ideia do que
os funcionários poderiam fazer naquele lugar e que, quando tinha visitado,
após perceber que Jaqueline realmente estava doente, pareceu-lhe um bom
lugar onde ela poderia até mesmo continuar a praticar pintura, como
gostava.

Após a denúncia de Vic sobre o lugar, ele fora fechado imediatamente.


Foi um escândalo quando tudo o que acontecia lá dentro foi revelado,
mesmo que Vic tenha se negado a aparecer ou se envolver , mostrando ao
mundo que esteve lá.

Apenas alguns dias após ela nos revelar as ameaças do crápula do


Luciano, recebi uma carta informando que minha ex-sogra estava
solicitando a guarda compartilhada do Léo. E quando a questionei, ela se fez
de rogada e disse-me que eu não permitia que ela tivesse acesso a ele.

SEMANAS DEPOIS

Na primeira audiência o juiz foi muito claro: Léo icaria comigo podendo
ver a avó uma vez ao mês, com a minha supervisão ou alguém designado
por mim. Na segunda audiência, ela conseguiu que o juiz modi icasse de
uma vez ao mês para duas vezes.

Para ocupar a cabeça, Vic decidiu me ajudar na reforma da casa. Apesar


de Hugo e eu não estarmos cem por cento um com o outro, todas as vezes
que alguém perguntava a ele sobre isso, ele dizia prontamente que
deveriam perguntar “à minha namorada”.

A barriga da minha amiga cresceu bastante no pouco tempo que não nos
vimos, mas desde que ela voltou, parecia prestes a explodir, mesmo que não
estivesse na hora do bebê nascer.

Gradualmente Hugo e eu fomos nos entendendo, mas sempre que eu


tentava conversar sobre o que tinha acontecido em Ilhabela, ele mudava de
assunto. Dizia estar ocupado, precisava sair ou até mesmo ingia uma dor
de barriga.

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Cansada, decidi confrontá-lo enquanto Vic e Léo aproveitavam o dia de


sol na piscina. Meu pequeno já havia tirado o gesso há um tempo e
inalmente tinha sua companhia preferida ao seu lado para curtir esse
momento.

— Você não vai mesmo conversar comigo sobre Ilhabela?

— Não tem o que falar, Helena.

— Como não, Hugo? Você mal conversa comigo... Você quer terminar?
Quer que eu deixe a sua casa? O que você quer de mim? — questiono com
um nó na garganta e rapidamente ele vem até mim, segurando o meu rosto
entre as suas mãos.

— Nunca mais fala uma besteira dessa. Se não conversamos sobre


Ilhabela é porque eu só consigo me sentir um merda que permitiu que o
escroto do Antônio falasse com você como falou — a irma olhando nos
meus olhos. — Ele te tocou e não sei o que poderia ter acontecido se eu não
tivesse chegado até você.

— Hugo...

— Eu sei que ele ofereceu a você dinheiro para que transasse com ele.
— Devagar ele me leva até o sofá. — Eu o ouvi falar do cartão e você
con irmar que tinha recebido da acompanhante dele. E eu iquei tão puto
que não sabia o que fazer. Na minha cabeça, no meu coração, eu sabia que
você nunca ligaria para ele, que nunca se venderia. Mas senti tanto ódio que
cheguei a cogitar se você não tinha feito isso ainda.

— Meu Deus, que tipo de pessoa você acha que eu sou? — Tento puxar
minhas mãos das suas, mas ele não permite.

— No momento em que tive esse pensamento, Helena, eu já sabia


que isso não era possível. Eu conheço o seu amor, o seu caráter e a sua
índole. Você é a mulher mais incrível, batalhadora e correta que já conheci.

— E ainda assim, pensou que eu me deitaria com ele? Estando com


você? Pior, por dinheiro! — As lágrimas descem sem que eu possa controlá-
las.

fevereiro•2022
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— Helena, entenda, por favor. Somente por um segundo eu pensei isso.


Um segundo!

— Não quero saber. Você duvidou que... Você pensou que eu faria isso,
Hugo. Logo eu!

— Helena...

— Já basta! Eu quero que saiba que você me magoou de uma forma que
não pensei que fosse possível. Em um momento em que eu precisava de
você, você apenas me julgou — a irmo em voz baixa. — Posso não ter
dinheiro, mas eu tenho a minha dignidade, Hugo.

— Eu sei disso, meu amor, nunca duvidei disso.

— Duvidou, Hugo. Você mesmo disse isso. Mesmo que tenha sido por
um único segundo.

— Por favor...

— Sei que eu menti para você sobre coisas importantes e que eu deveria
ter te contado do cartão imediatamente, mas eu nunca nem cogitei ligar
para ele.

— Amor, me escuta, por favor.

— Não, me escuta você! Eu quero que você saiba que estou magoada e
que não era assim que eu queria que as coisas acontecessem. Também
quero que saiba que sou grata por estar me ajudando com os advogados por
conta da guarda do Léo, mas...

— Eu amo o Léo, Helena. Você sabe disso — con irmo com a cabeça. —
Eu não estou te ajudando. Estou nos ajudando. Ele é o nosso menino.

— Eu sei. Também sei que você me ama. Assim como você sabe que eu
te amo, mas o que você ainda não sabe e quero que saiba agora que o único
motivo pelo qual continuarei aqui... — Paro um instante para respirar. — É
porque descobri pela manhã que estou grávida. — Tiro o teste de farmácia
do bolso do meu short e coloco em cima do sofá, na sua frente. — Parabéns,
você vai ser papai.

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Levanto-me, o deixando completamente sem reação, e


imediatamente me tranco no quarto.

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Capítulo 52
GRÁVIDA. Quando li as caixas dos cinco testes que iz pela décima sexta
vez para ter certeza, não mudou o diagnóstico. Estava claro, pelo número de
semanas que indicava, que quando descobri as mensagens da Gardênia no
celular, Hugo não havia usado camisinha. Na verdade, nem eu tinha
lembrado disso.

Há anos eu não usava anticoncepcional. Desde que Mauro tinha falecido,


eu não me envolvi com ninguém e quando Hugo apareceu, camisinha
pareceu uma ótima opção. Eu estava feliz sem tomar aquelas pequenas
cápsulas que mexem com toda a nossa vida.

Demorou alguns minutos após eu dar a notícia ao Hugo para que ele
viesse atrás de mim. Com batidas leves ele tenta fazer com que eu abra a
porta pedindo “por favor”. Devagar, levantei da cama abraçada com a camisa
dele que sempre uso para dormir e abri a porta, voltando à cama.

— Amor, me desculpa. — Se ajoelha aos meus pés enquanto não consigo


olhar para ele. — Eu realmente sinto muito.

— Preciso descansar — informo deitada na cama, virada para o lado


oposto a ele.

— Eu posso deitar com você? — pede e, antes que eu consiga pensar,


afasto o meu corpo em direção ao meio da cama, abrindo espaço para ele
deitar comigo.

Colocando um braço por baixo do meu pescoço e com o outro me


abraçando, deixando sua mão repousar na minha barriga, o escuto fungar.

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Nunca vi Hugo chorar e me coloco de barriga para cima, virando o meu


rosto para ele que tenta em vão segurar as lágrimas.

— Eu vou ser pai! — diz com um sorriso e eu con irmo. — Essa é a


melhor notícia que eu poderia receber.


ALGUNS DIAS DEPOIS

Precisei de algum tempo para que eu inalmente conseguisse perdoar


Hugo. Provavelmente, se não estivesse grávida, teria dito a mim mesma que
o certo era deixar a sua vida para sempre, mas além da gravidez, tinha algo
grande: o meu amor por ele.

Decidimos não contar a ninguém sobre a gravidez, até mesmo de Vic


decidimos manter segredo. Mesmo que o Luciano fosse um ser humano
horrível, o bebê e Vic não tinham culpa e mereciam icar o melhor e mais
confortável possível. Sabia que ela não icaria mal por conta da minha
gravidez, pelo contrário, mas me tornar o foco em um momento em que ela
não estava cem por cento, estava fora de cogitação.

Gardênia decidiu que seria uma boa ideia irritar uma grávida, mesmo
que não soubesse que eu estava nesse estado e, por meio de sua secretária,
descobri que não só as notas do Léo eram excelentes e ele tinha a
admiração de seus professores, como também que ela pessoalmente estava
alterando as notas do meu ilho.

Não eram duas horas da tarde ainda e aproveitei a reunião do Conselho


que estava ocorrendo e expus a cobra que eles tinham como representante
da instituição. Imediatamente a demissão veio.

Quando Hugo descobriu, faltou ele próprio parir dizendo que eu não
poderia me estressar, que não faria bem para o bebê. Ele não estava errado,
mas os benditos hormônios só me izeram focar em uma coisa: como seus
lábios eram sensuais enquanto me davam uma bronca. O resultado? O
nosso verdadeiro sexo de reconciliação.

fevereiro•2022
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O estopim da raiva de Vic para com o crápula do Luciano foi quando


descobriu que o maldito simplesmente zerou a conta conjunta que a fez
abrir quando se casaram. Simplesmente toda a herança de Vic e o fruto do
seu trabalho haviam sido roubados por aquele que um dia chamou de
marido.

— Eu vou matar ele! — Minha amiga grita. — Quem ele acha que é?

— Vic, ica calma. — Tento, mas o olhar da minha amiga me faz calar a
boca imediatamente.

— Ele mentiu, me internou na merda de um manicômio e agora tira


todo o meu dinheiro? — Sua voz aumenta gradativamente. — Se eu o vir
novamente, sou capaz de esganá-lo! Não conta para o Hugo, Helena — pede.
— Quer saber? Conta! Eu não ligo!

— Vic...

— E nem é pelo dinheiro, sabe? Mas, porra, cadê o respeito pela futura
mãe do ilho dele? E eu sei, Helena... — Vira para mim enquanto percorre a
cozinha da mansão de um lado para o outro. Estávamos veri icando a
reforma do cômodo quando Vic recebeu a noti icação no celular. — Eu sei
que ele não respeitou a esposa verdadeira. Por que me respeitaria?

— Amiga...

— Quando eu dizia que parecia ser a amante, eu não pensava que era
realmente nesse sentido. Eu tinha certeza de que ele tinha outra, mas não
achava que eu era a outra!

— Essa é a posição na qual ele te colocou, Vic. Você não é a amante.

— Eu fui enquanto mantive ele na minha casa, na minha vida, com o


meu dinheiro. Homem é uma praga, sabe, Helena? Eu deveria era largar a
heterossexualidade e pegar mulher.

— Vai por mim, isso é uma merda. Elas pisam no seu coração sem
perder a pose. — Paloma avisa entregando a Vic uma xícara de chá. —
Desculpa me meter, mas essa é a verdade. O que você precisa, com todo
respeito, é de si mesma.

fevereiro•2022
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Desde que Vic tinha o icialmente expulsado Hugo da minha cama, ao


menos por enquanto, Paloma e ela passaram a conviver mais,
desenvolvendo uma amizade.

— Mas diz para mim, Paloma, você acha justo?

— Justo não é. Mas pensa: se você é um dos seres mais incríveis que já
existiu, por que você vai ser “alcançável”? Pelo menos era o que a minha ex
me dizia. — Sorri amarga. — No geral, Vic, pode ter certeza de que você está
bem melhor agora. Só o que precisa é parar de ter pena desse macho e
colocar ele atrás das grades.

— Você concorda, Helena? — Vic pergunta e aceno positivamente. —


Mas...

— Não, Vic, sem “mas”. Ele não teve um pingo de pena de você em
momento nenhum. Mentiu, enganou, como você mesma citou, te prendeu
em um manicômio. Nada impediria ele de fazer tudo isso novamente.

— Isso é verdade — con irmo, apesar da cara de desanimada da Vic.

— Ele não merece sua pena. Não merece nem o seu desprezo. A única
coisa que ele merece é ir para a cadeia. — Paloma dá de ombros. — Sabe,
até onde me lembro, bigamia no Brasil é crime.

fevereiro•2022
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Capítulo 53
Hugo não icou feliz quando soube da nova confusão de Luciano. Ele
queria ir atrás dele, mas ao saber da decisão de Vic de inalmente denunciá-
lo, se contentou em que a sua destruição fosse através da justiça.

O advogado não se demorou e Vic pediu que se reunisse com ele


sozinha, apenas acatamos o seu pedido respeitando o seu tempo, diferente
do que o meu namorado queria.

Com desculpa de ir buscar o Léo na escola, Hugo deixou a irmã


descansando e me arrastou diretamente para o hospital, surpreendendo até
mesmo a mim.

— Marquei uma consulta — diz estacionando no mesmo hospital em


que estive da vez em que derramei água quente em mim enquanto babava
por Victor Hugo sem camisa.

— Está tudo bem? Está sentindo alguma coisa?

— Estou, mas não foi isso que...

— O que houve, Hugo? O que está sentindo? — Preocupada, questiono


colocando a mão em sua testa para veri icar se ele está com febre.

— Amor, ica calma. Está tudo ótimo. Eu apenas marquei o médico para
que possamos saber como o bebê está! — avisa segurando minhas mãos
entre as suas. — A única coisa que estou sentindo, além de uma alegria
imensurável por ter vocês na minha vida, é que estou totalmente
apaixonado por você.

fevereiro•2022
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— Isso foi fofo, mas você não pode me assustar assim, Hugo.

— Me desculpa — pede sorrindo. — Podemos ir?

— Amor, ele tem apenas algumas semanas...

— Mesmo assim não custa nada saber se ele está bem, certo? —
concordo com a cabeça.

— Vamos lá então.

Não demoramos a ser atendidos, a doutora Aline foi extremamente


compreensiva e prestativa conosco.

— Então você não fez nenhum exame ainda? — pergunta.

— Faz pouco tempo que descobrimos — aviso. — Ainda não tive tempo,
aconteceram tantas coisas e...

— Está tudo bem, Helena. Vou pedir alguns exames e passar algumas
recomendações. Como você já é mãe, deve saber de algumas, mas não custa
relembrar!

— Podemos ver ele, doutora? — Hugo pergunta receoso.

— Bom, como a Helena está com menos de três meses, não dá para ver
muito, mas, vamos tentar e ver o que acontece, só preciso de um minuto,
sim? — pede e acenamos enquanto ela começa a mexer em algumas coisas
atrás de uma cortina no consultório.

— Como será que o Léo vai reagir? — pergunto e Hugo abre um sorriso.

— Tenho certeza que ele vai amar ter um irmãozinho ou uma irmãzinha.
O meu garoto é incrível e nunca reclamaria de algo assim — avisa
orgulhoso.

— Eu amo a relação de vocês dois.

— Eu o amo, Helena. Como nunca pensei que poderia acontecer. O Léo é


um ótimo garoto e muito inteligente. Tenho muito orgulho de ser...

fevereiro•2022
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— Mamãe, papai... Vocês estão prontos para ver esse bebezinho? — A


doutora Aline questiona interrompendo nossa conversa.

— Estamos sim. — Seguro a mão de Hugo.


Foi simplesmente emocionante ouvir as fortes batidas do coraçãozinho
do nosso bebê. Hugo, principalmente, não conseguiu se conter e começou a
chorar, logo em seguida iz o mesmo.

A imagem do ultrassom preencheu o meu coração e para mim foi


impossível não pedir uma cópia para guardar.

Com todas as orientações da doutora Aline, deixamos o hospital para


buscar Léo, que nos aguardava ansioso na saída, e entrou no carro logo que
nos viu.

— Mamãe, tio Hugo... eu tava falando pro Cesar, o meu coleguinha, que
vocês são namorados e que um dia vão casar e me dar irmãozinhos e...

— E...? — Hugo pergunta tão animado quanto Léo.

— E... Quem sabe... O tio Hugo pode ser meu novo papai — diz receoso
sem olhar diretamente para o Hugo.

— Léo, eu... — começo. — Você tem um papai.

— Eu sei, mamãe, mas é que... Eu amo o tio Hugo como um papai.

— E eu amo você como um ilho, Léo. — Hugo avisa. — A sua mãe está
certa, você tem um papai que gostaria muito de estar aqui. Mas isso não
impede que eu seja o seu padrasto. E, se você quiser... — Meu namorado me
olha questionando e, emocionada, con irmo. — Pode me chamar de papai.
Só não pode esquecer do papai Mauro.

— Posso mesmo, tio? — Meu neném pergunta tímido.

— Claro que pode, meu amor — a irmo com um sorriso.


fevereiro•2022
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ALGUMAS SEMANAS DEPOIS

De repente a juíza do caso mudou de opinião de alguma forma. Se no


início ela era favorável ao fato de Léo permanecer comigo, a mãe, agora ela
estava contra mim, ignorando os ataques da minha sogra a mim nas
audiências e pendendo totalmente para o lado dela.

Algumas provas ridículas foram apresentadas contra mim e a juíza


simplesmente resolveu levar em consideração.

— Meritíssima, a senhora Helena Peres engravidou propositalmente do


senhor Mauro Peres para que pudesse ter acesso à fortuna da família —
começou o advogado de Joelma, que me encarava com um olhar superior.

— Isso são suposições, meritíssima. — Meu advogado argumenta e a


juíza simplesmente o ignora.

— A senhora Helena Peres é conhecida como uma mulher aproveitadora


— continua o advogado dela.

— É uma mentira deslavada! — reclamo e a juíza imediatamente manda


que meu advogado me contenha.

— Meritíssima...

— Sugiro que o senhor controle a sua cliente e permita que o seu colega
termine o seu argumento, doutor Bittencourt — informa ao meu advogado.

— Obrigado, meritíssima. — O rival fala. — Como eu dizia, aqui temos


provas — oferece uma pasta à juíza e ao meu advogado —, de que a senhora
Helena é nada mais que uma interesseira que só se envolve com homens de
posses e ótima situação inanceira.

— Faz alguma coisa, doutor Bittencourt — peço indignada, mas antes


que ele abra a boca, a juíza já lhe diz para não fazer e ainda me ameaça.

— Se a senhora não mantiver o respeito e decoro, além de prendê-la por


desacato, irei ceder a guarda do menor Leonardo Peres à avó — diz e
sequer consigo acreditar no que estou ouvindo, enquanto minha vontade é

fevereiro•2022
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quebrar não apenas a cara dela, como também da cobra da minha ex-sogra,
que sorri vitoriosa.

— Aqui, excelentíssima, temos um dossiê dos relacionamentos da


senhora Helena que são claramente pertinentes ao caso da guarda do
menor — a irma e meu estômago embrulha. — Antes do falecido senhor
Mauro Peres, ela era noiva do senhor Fernando Lins, grande herdeiro de
fazendas no interior com quem terminou semanas antes de conhecer seu
falecido marido, o senhor Mauro. Em seguida engravidou do senhor Mauro
logo que se conheceram. Quando casada com o senhor Mauro, minha cliente
reuniu provas de que Helena estava tendo um caso com um amigo do casal,
Luciano Xavier, também um homem de posses e...

— Isso é um absurdo! — grito irritada.

— Senhora, mantenha o decoro. Ordem! Advogado, controle a sua


cliente. — A juíza grita batendo o martelo de madeira. — Esse é o meu
último aviso.

— Mas...

— Mais uma palavra, senhora, e sairá daqui algemada — avisa e volto a


me calar.

— O marido até cogitou a separação...

Mentira.

— Mas o fato de terem um ilho falou mais alto. Infelizmente o senhor


Peres veio a óbito e isso fez com que a senhora Helena procurasse o seu
próximo namorado, o grande empresário Victor Hugo Mendes, ou devo
dizer, sua próxima vítima?

fevereiro•2022
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Capítulo 54
A juíza ordenou um recesso para o almoço, com certeza ela estava
cogitando entregar o meu ilho para aquela megera e eu continuava
dependendo exclusivamente do detetive que Hugo havia contratado para
desmascará-la. Tirar tudo o que é meu por direito é uma coisa. Tentar tirar
o meu ilho de mim é outra completamente diferente e totalmente
inaceitável!

— Amor, como foi? — Hugo pergunta preocupado logo que me vê


saindo da sala de audiência praticamente amparada pelo meu advogado. —
Samuel, o que aconteceu?

— Eles estão tentando difamar a imagem da Helena — a irma e Hugo


nos olha surpreso.

— Mas como assim?

— Eles desmembraram cada relacionamento que eu tive e viraram


contra mim. Até mesmo inventaram que eu tive um caso com o crápula do
Luciano. — Abraço Hugo desesperada. — Eles querem tirar o meu ilho de
mim a qualquer custo, Hugo. Disseram que eu dei o golpe do baú no Mauro
e que estou tentando fazer o mesmo com você.

— Me coloca para testemunhar, Samuel — pede ao advogado. — Eu


conto toda a verdade e...

— Não é viável, Victor Hugo — avisa. — Temos três horas de recesso


para nos prepararmos para a volta.

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— Você sabe muito bem que tudo isso é mentira! — Saio dos braços de
Hugo logo que vejo a minha ex sogra e paro perto do seu rosto. — Eu nunca
planejei engravidar do Mauro, assim como nunca tive um caso com o
Luciano e eu nunca, jamais, faria o que vocês disseram que eu faria com o
Hugo. — Sinto as mãos do meu namorado tentando me afastar dela.

— Sabe o que é engraçado, Helena? A vida toda você só se relacionou


com homens poderosos. Homens com dinheiro, posses e burros.

— É realmente engraçado como eu só tive homens com dinheiro e


mesmo assim, por anos, iquei à míngua com o meu ilho e você não fez
nenhuma questão de nos ajudar — reclamo com uma voz baixa, mas
ameaçadora. — Eu sei qual o seu problema, Joelma, você não aguenta me
ver feliz.

— Por que eu iria tolerar isso depois que você acabou com a vida do
meu ilho? — A casca dela começa a quebrar. Seu advogado tenta afastá-la,
mas ela não permite. — Você é a responsável por eu perder o meu menino.
Por que eu permitiria que você mantivesse o seu sendo feliz? O maior
objetivo da minha vida, Helena, é e sempre será destruir a sua.

— Não importa quantas pessoas você pague, quantas vezes você negue
a verdade, Joelma, nós sabemos que a única culpada por tudo isso é você. —
Sua mão vem diretamente ao meu rosto, sendo impedida de me acertar, por
pouco, quando Hugo segura o seu pulso.

— Nunca mais ouse levantar a mão para ela, ou não respondo por mim.

— Vocês ouviram? Isso foi uma ameaça! — Ela grita com um sorriso
vitorioso. — Sou apenas uma avó que quer cuidar do neto e estou sendo
ameaçada.

— Você... — Hugo começa, mas seu celular toca em seguida e ao olhar


para a tela, segura minha mão e a avisa: — Isso ainda não acabou. Vem,
amor. — Saímos de perto.


A ligação que Hugo recebeu era de ninguém menos do que o detetive
que havia contratado. E após uma ligação demorada, Hugo me avisou que

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logo estaria de volta com algo que poderia nos ajudar a respeito do caso do
Léo.

Quando o recesso acabou, Hugo ainda não havia voltado. A sessão nem
havia começado direito e a juíza já avisou que eu deveria me manter
controlada. E, mesmo extremamente nervosa, me calei diante das acusações
da parte da minha sogra.

— Meritíssima, a senhora Helena a irma ser uma boa mãe, mas já


esqueceu o menor na escola, não por minutos, mas por horas. Ameaçou a
diretora e a fez ser demitida. — Meu advogado me olha surpreso e escrevo
em um papel, rapidamente explicando a situação. — Ela também perdeu o
menor no parque Ibirapuera em uma noite movimentada enquanto icava
de, perdoe a palavra, “namorico”, meritíssima.

— Isso é verdade, senhora Helena? — A juíza se dirige diretamente a


mim.

— Essas coisas aconteceram, mas não da forma como estão a irmando,


meritíssima. Eu amo o meu ilho mais do que tudo no mundo, não sou
onisciente, onipresente ou onipotente. Sempre cuidei dele, mas sou um ser
humano com falhas. — Um nó se forma na minha garganta. — O Leonardo é
a pessoa mais importante da minha vida. Quando mais precisamos, minha
ex-sogra não se interessou por ele. Não passamos fome porque trabalhei
muito para que isso não acontecesse.

— Isso é ridículo, Helena! — A velha a irma.

— Meritíssima, aqui tenho os extratos bancários que comprovam que


minha cliente fez depósitos mensais para uma conta da senhora Helena
para cuidar do menor. — O advogado dela entrega algumas folhas para
todos.

São extratos bancários que mostram valores que foram depositados em


uma conta que seria minha, mas não reconheço a conta.

— Eu nunca soube disso — a irmo. — Você está armando isso, não é


possível! — aponto para minha ex-sogra. — Você é pior do que jamais
imaginei, Joelma. O Mauro teria vergonha de ser seu ilho.

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— Não fala o nome do meu ilho, sua vagabunda aproveitadora! —


Joelma joga em mim uma garrafa de água, mas consigo desviar.

— Ordem! Ordem! — A juíza grita batendo o martelo. — Ordem ou


prenderei todos por desacato!

— Meritíssima... — O advogado de Joelma começa, mas a juíza lhe dá um


olhar ameaçador e imediatamente ele se cala.

— O meu tribunal não é um circo! — diz. — Vocês têm quinze minutos


para se recomporem! Sugiro que os senhores advogados controlem suas
clientes.


Antes de voltarmos para a sala, Hugo retorna como se tivesse corrido
uma maratona. Ofegante, ele demora a falar, mas logo que escuto o que ele
tem a dizer, não vejo outra alternativa senão beijá-lo.

— Quer me matar sem fôlego, mulher? — questiona ainda mais


ofegante.

— Dá aqui. — Tiro os papéis de sua mão. — O que você acha que eu


devo fazer? Mostrar para Joelma que eu tenho provas ou realmente
denunciá-la?

— Por mais que eu queira, não posso te dizer o que fazer, Helena. E tem
mais...

— Como assim?

— Tem uma gravação que mostra quando o seu carro foi sabotado.

— E mostra o rosto da pessoa? — Hugo con irma com a cabeça e me


mostra o vídeo na tela do celular.

fevereiro•2022
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Capítulo 55
Fiquei bem menos surpresa do que esperava ao ver Luciano na
ilmagem, que mostrava claramente ele mexendo no meu carro na mesma
data do acidente que tirou a vida do meu marido.

— Isso signi ica que ela não está envolvida? — pergunto a Hugo sem
conseguir processar tudo direito.

— Não, amor, ela está! — a irma abrindo a pasta que tirei dele. —
Joelma e Luciano se encontraram algumas vezes na semana anterior e
também no dia do acidente. Antes de tudo, ela depositou uma grande
quantia para ele e nem se deu ao trabalho de esconder que estava fazendo
isso.

— Mas...

— O que você quer fazer?

— Eu quero denunciá-la imediatamente. Ela é a responsável pelo que


aconteceu com Mauro; meu ilho está crescendo sem o pai por perto por
culpa dela — choramingo sem conseguir me controlar. — Que tipo de
monstro é capaz de fazer algo assim? — Hugo me abraça.

— Desculpa, mas precisamos voltar, Helena. — escuto o meu advogado.


— Aconteceu algo?

— Tenho novidades, Samuel — aviso. — Consiga uma reunião particular


com a juíza, por favor.

— Acho que isso não é possível, Helena.

fevereiro•2022
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— Por favor — peço e ele assente com a cabeça antes de sair.

As chances eram baixas, mas Samuel conseguiu. Tão logo entrei na


sala, comecei a falar sem dar a chance da juíza me interromper.

— Isso não está certo. A senhora sabe disso. Não sei se é mãe, mas
deve saber que um ilho deve sempre icar com a mãe, desde que seja o
melhor para ele. E eu sou o melhor para o meu ilho. A senhora precisa
saber bem onde está se metendo ou, além de estar prestes a destruir a
minha vida e a do meu ilho, também vai destruir a sua — aviso. — E isso
não é uma ameaça, que ique claro. Mas eu sei que a senhora aceitou
dinheiro da minha ex-sogra. Não sei os seus motivos e não me interessam,
mas esse é o menor dos seus problemas. Acabei de conseguir provas que
comprovam a participação da minha ex-sogra na morte do meu marido. Se a
senhora não quer afundar ainda mais, sugiro que abandone o caso
imediatamente ou faça o que acha melhor.

— Não vou ser ameaçada por uma empregada! — grita soberba.

— Então aproveite seu cargo enquanto pode. Estou saindo daqui


agora mesmo para denunciar todos vocês — aviso sem dar chance para que
ela retruque. — Vamos para a delegacia. — Hugo assente.


MESES DEPOIS

Que a justiça no Brasil não é exatamente justa eu já sabia, mas, ainda


assim, consegui me surpreender com a soltura da minha sogra apenas
alguns dias após a sua prisão. Sua fuga para fora do país, no entanto, foi
completamente previsível.

Felizmente, Luciano não teve a mesma sorte. Ele até tentou fugir, mas
tão logo minha ex-sogra foi solta, Luciano foi capturado. Sua pose de
machão murchou no momento em que começou o interrogatório e ele
contou até mesmo coisas que não tínhamos imaginado, como o fato de que
minha ex-sogra estava praticamente falida e precisava da guarda do Léo
para conseguir ter acesso a uma conta no nome do meu ilho, que Mauro
havia deixado para garantir o futuro do meu bebê.

fevereiro•2022
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Tornou-se público que Joelma Peres havia encomendado a morte da


nora e acabara matando o próprio ilho. Contra a vontade de Vic, também
descobriram que Luciano a havia trancado em uma clínica psiquiátrica e
tudo o mais que aconteceu. Minha amiga não icou feliz, mas vê-lo atrás das
grades foi, com certeza, reconfortante. Tão logo foi possível, ela conseguiu a
anulação do seu casamento e também uma ordem de restrição que garantia
que ele não podia chegar perto de nenhum de nós.

— Eu espero que o Hugo volte logo. — Vic diz inquieta. Sua barriga está
enorme para uma mulher magra como ela, está prestes a ter neném e ainda
nem consegui contar a ela sobre a minha gravidez, estou apenas no início
do quarto mês. Minha barriga até já começou a aparecer, mas com tudo que
aconteceu, ela sequer notou.

— O que você acha que eles querem a inal?

— Espero que tenham simplesmente desistido de vez daquela ideia


idiota de processá-lo novamente. — Se senta ao meu lado. — Eu estou tão
nervosa, Helena. Me distrai.

— Você... Tem certeza que não quer saber o sexo do bebê?

— Não. Quero que seja uma surpresa. Mas tenho quase certeza que é
uma menina — diz com um sorriso alisando a barriga. — Quando você e o
Hugo me providenciarão outro sobrinho, a inal?

— Outro?

— É, ué. O Léo é o primeiro. Já quero outro também! — Dá de ombros.


— Sabe, nós duas mandamos muito bem na reforma dessa casa. Longe de
mim falar dos mortos, mas eu odiava o que a Jaqueline tinha feito com essa
casa.

Apesar da casa ter icado moderna, com aparelhos de última geração e


alguns toques na decoração, optamos por tentar remeter à decoração
clássica e original que tinha quando Hugo a comprou. Meu namorado icou
muito feliz quando viu o resultado, inclusive comentando que havia
escolhido a casa justamente pela personalidade que ela possuía.

Escutamos um bater de porta e rapidamente corremos até lá para saber


o que o pai da falecida esposa de Hugo queria falar com ele.

fevereiro•2022
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— E aí? — Vic questiona logo que Hugo abre a porta. — Conta, garoto!

— Ele queria se desculpar.

— O quê? — Nós duas perguntamos juntas.

— Depois da história da Helena, ele resolveu procurar para ver se tinha


deixado algo que pudesse me incriminar passar. — Hugo ainda está parado
segurando a maçaneta da porta. — A mãe dela escondeu o diagnóstico de
esquizofrenia de todos nós. A única forma de ter evitado o que aconteceu
era com os devidos cuidados médicos, que nunca puderam acontecer
porque, para a mãe dela, era uma vergonha ter uma ilha doente.

— Aquela vaca! — Vic solta. — Sempre a odiei!

— Todos nós. — Hugo dá de ombros. — Eu sei que não podia ter evitado
a doença, mas podia ter percebido ou cuidado dela, talvez se tivesse
aceitado sua sugestão de levá-la a uma clínica...

— Hugo, aquele lugar era horrível. Com certeza acabaria com a Jaque. —
Minha amiga avisa indo abraçar o irmão.

— Eu sei, mas...

— Amor, tenho certeza de que fez tudo o que foi possível naquele
momento. — Eu entro no abraço. — Agora vem, precisamos almoçar. Fiz
frango assado com batatas.

— Nossa, Hugo, o cheiro está maravilhoso.

— Você até já roubou um pouco, Vic; deixa de ser sonsa — reclamo,


sorrindo, enquanto os dois me acompanham até a cozinha.

Por mais que Hugo quisesse que eu icasse apenas em repouso com
medo de que qualquer coisa pudesse prejudicar minha gravidez, ele não
resistia ao sentir o aroma exalando da cozinha.

— Helena, eu sou tão feliz por ter te contratado. — Minha amiga fala
com a boca cheia. — Melhor comida do mundo.

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— Eu sou muito feliz de você tê-la contratado, irmãzinha. — Hugo avisa


beijando meu rosto rapidamente. — Pensei em pegarmos o Léo e ir assistir
a um ilme. O que acham?

— Acho maravilhoso. Tem um ilme mesmo que eu estou querendo


assistir e...

— Vic, entendo que icou empolgada, mas não consegue mais segurar
sua bexiga? — Hugo questiona enquanto veri ico o que ele falou.

— Ai, meu Deus, isso não é xixi, Hugo! — grito. — Vic, a sua bolsa
estourou!

— Merda, bebê, você não podia esperar até amanhã para ser sagitariano
igual a mamãe? — questiona pegando mais coxas de frango. — Se vamos
para o hospital, preciso de um lanchinho. — Nos avisa enquanto a
encaramos, totalmente calma com a comida.

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Capítulo 56
A pessoa mais tranquila no carro, com certeza, era a Vic. Mesmo com
contrações, ela apenas comunicava enquanto devorava mais um pedaço de
frango. Hugo dirigia rapidamente para o hospital enquanto eu ligava para
avisar que estávamos a caminho.

Logo que chegamos, esperavam Vic com uma cadeira de rodas que ela
recusou prontamente, seguindo para dentro do hospital e só então noto que
ela está de salto.

— Victoria! Tira esse salto agora mesmo! — brigo e, assustada, ela olha
para mim. — Vamos!

— Mas, Helena, eu quero ter o meu bebê com estilo...

— Ela está certa, doutora Mendes. — A enfermeira a irma e se abaixa


para ajudar minha amiga com os sapatos.

— Você só pode estar louca! — Hugo berra sem saber o que fazer.

— Está bem, gente. — Põe a mão na barriga. — Helena, mais uma —


avisa sobre a contração.

— Quanto tempo? — A enfermeira pergunta obrigando minha amiga a


sentar na cadeira de rodas.

— Dois minutos — informo.

— Seu bebê está quase aqui, doutora Mendes. Precisamos nos apressar.
— Um vislumbre de pânico passa pelo rosto da minha amiga.

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— Helena, você entra comigo, não é? — Vic segura minha mão e


con irmo.

No quarto, não consigo não icar surpresa pela pouca ou quase nenhuma
dor que Vic expressa sentir enquanto faz força para seu bebê nascer. Não
leva muito tempo para que eu veja os cabelinhos ralos, olhos grandes e
mãos gorduchinhas da menina perfeita que, após ser limpa, é entregue à
mãe emocionada.


Após tudo ser limpo, a entrada de Hugo é autorizada e, babando na
bebê, ele sequer dá muita atenção à irmã que, apesar de dizer que não
estava cansada, logo pega no sono.

— Ela é perfeita. — Hugo sussurra enquanto a balança em seus braços,


vindo até mim. — O nosso também vai ser.

— Vai sim — con irmo sentindo o cheirinho da cabeça da bebê.

— A Vic já escolheu um nome?

— Giovanna. — Escuto uma voz conhecida atrás de mim e me


surpreendo ao ver Luís na porta do quarto, sem graça. — Ela escolheu
Giovanna.

— Ela não tinha nos contado — comento curiosa.

— Paloma me avisou que tinha chegado a hora. Eu não consegui falar


com a Vic, então vim até aqui. — Ele está completamente constrangido,
principalmente porque Hugo não para de encará-lo.

— Eu... Eu posso segurar a bebê? — pede e, mesmo contra a vontade,


Hugo entrega o pacotinho rechonchudo enquanto vejo Luís se emocionar
imediatamente.

— Ei, você veio. — A voz de Vic nos chama a atenção.

— Claro que vim. — Nos ignorando, Luís vai até a cama e dá um selinho
em Vic, nos deixando boquiabertos. — Não perderia a chance de icar com

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minhas meninas por nada nesse mundo.

— Vamos na lanchonete. Querem alguma coisa? — pergunto já


empurrando Hugo porta a fora. — Não? Ótimo. — Os dois sequer nos notam
no quarto.

— Quando isso aconteceu? — Hugo pergunta enquanto nos conduzo à


lanchonete.

— Estou tão surpresa quanto você! Mas o Luís é um cara legal e...

— Eles estão dormindo juntos?

— Hugo!!! — Dou um tapa em seu braço.

— Tá, eu sei, não é da minha conta.

— Não, não é.


SEMANAS DEPOIS

Vic até tentou ingir que estava magoada quando contei a ela sobre a
gravidez, mas a sua felicidade com o nascimento da Gigi e o seu namoro
com Luís, que ela explicou como começou, era muito maior.

Desde que a havíamos resgatado da clínica, Vic estava em nossa casa e


começou uma boa amizade com Luís. Não demorou muito para que se
apaixonassem. Ele até mesmo a pediu em namoro, mas Vic quis esperar até
o nascimento do bebê.

Juntos eles escolheram possíveis nomes para o bebê e, alguns dias antes
do nascimento, Vic havia sonhado que tinha uma menina de nome
Giovanna, o primeiro que Luís havia sugerido. Incapaz de manter-se
afastada, aceitou o pedido de namoro dele.

Vic estava pronta para nos contar sobre isso quando sua bolsa estourou
e depois nós vimos com nossos próprios olhos o que aconteceu.

fevereiro•2022
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Já Léo simplesmente começou a pular animado quando soube que em


poucos meses teria um bebê em casa. Ele ainda não tinha superado o fato
de a Vic ter se mudado sem nem dar a chance de dormir uma noite em casa
com a bebê.

E, diferente da minha amiga, optamos por saber o sexo do bebê.


Primeiramente porque Léo não nos deixava em paz perguntando se teria
um irmãozinho ou uma irmãzinha. Segundo porque, apesar de não querer
saber o sexo da Gigi até o nascimento, Vic conseguiu quase nos enlouquecer
junto com Léo para saber o sexo.

O consultório estava cheio quando fomos descobrir. Não apenas Léo, Vic
e Gigi, como também Paloma, Carina e Bru nos acompanharam ansiosos
para saber.

— Papai e mamãe, vocês vão ter uma saudável menininha. — A doutora


a irma enquanto os meus acompanhantes loucos comemoram.

— Ninguém vai chegar perto da minha irmãzinha, ou eu dou um golpe


de caratê. — Léo avisa.

— Eu ajudo. — Hugo con irma pegando o meu menino no colo.

— Agora todos, exceto o papai, para fora. Precisamos terminar a


consulta. — A médica avisa e, mesmo contra a vontade, aceitam.


O dia foi cansativo. Todos jantaram em nossa casa, então precisei
cozinhar mais que o habitual. Léo, extremamente agitado e animado,
demorou a dormir após todos irem embora e, quando inalmente coloquei
meu corpo na cama, meus olhos se fecharam.

Hugo, massageando meus pés, também não ajudou a me manter


acordada e, antes que eu pudesse pensar em qualquer outra coisa, acabei
dormindo.

Acordo completamente renovada esperando que Hugo não tenha


deixado Léo dormir além da conta e faltar à aula como havia feito na
semana passada.

fevereiro•2022
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Encontro apenas Paloma na casa e, após convencê-la a tomar café


comigo, decido assistir TV por algum tempo. Desde o im de “Amor à
Segunda Vista”, Hugo e eu não conseguimos encontrar outra novela que nos
prendesse e decidi reassistir a novela.

Em algum momento entre um capítulo e outro caí no sono novamente. A


bebê estava me transformando em um urso. A cada vez que eu parava,
praticamente hibernava. Acordo de supetão passando do horário de Léo
voltar da escola e não o encontro.

Pegando meu celular, encontro uma mensagem de Vic avisando que


Hugo pediu que ela o pegasse na escola e também uma mensagem do meu
namorado pedindo para que eu me arrumasse, pois haveria um evento no
qual precisava que eu o acompanhasse e que chegaria logo para me buscar.

fevereiro•2022
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Capítulo 57
Saí do quarto logo que recebi uma mensagem de Hugo avisando ter
chegado e algumas batidas na porta.

Vestindo um smoking pequeno, Léo me esperava formalmente na porta,


com o cabelo penteado para trás como Hugo gosta de usar. Um caminho de
velas leva até a escada e com um sorriso o meu ilho diz:

— Você está linda, mamãe! — Ele sussurra me arrancando uma risada


em meio a minha emoção.

— Obrigada, meu amor. Aonde vamos?

— Tem que me acompanhar.

— Sim, meu amor. — Seguro sua mãozinha levantando a barra do


vestido longo, o único que serviu em mim, apesar de justo.

Preto, com pequenas lores de mesma cor que formam as alças e o top
do vestido, a peça está contornando cada parte do meu corpo. Quando o
coloquei e consegui fechá-lo, agradeci em voz alta que a minha barriga,
mesmo pequena, não me impediu de usá-lo. Além de lindo, meus seios que,
diferente da minha barriga, cresceram bastante, se destacam no decote que
nem era tão generoso assim. Uma fenda discreta arremata a peça. Uma
sandália de salto, uma clutch preta e brincos também pretos inalizam o
look em conjunto com o meu cabelo preso.

Descendo as escadas acompanhada de Léo, noto as velas nos degraus


dentro de pequenos recipientes de vidro. E ao im dos degraus, o caminho

fevereiro•2022
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continua até o jardim.

— Estava esperando vocês. — Hugo está com uma roupa idêntica à de


Léo e com um sorriso tão bonito quanto.

— O que está acontecendo aqui? — Estou completamente trêmula.

Há velas dentro da piscina, assim como nas bordas. Uma música suave
toca ao fundo e sem conseguir me controlar, o beijo rapidamente.

— Eu queria ser um homem paciente, que soubesse esperar conforme


planejei essa noite, mas não sou. — Estende a mão se ajoelhando, mas Léo
nega com a cabeça.

— Não era para ser agora! — Meu ilho resmunga por um momento.

— Vamos tomar um sorvete com a tia, Léo. — Escuto a voz de Vic no


fundo, mas não viro para con irmar.

— Tá bom! — Léo inalmente entrega a Hugo uma caixinha de veludo


preto e sai correndo até Vic.

— Até amanhã, pombinhos. — Minha amiga se despede.

— Como eu dizia, não sei ser paciente. Planejei essa noite com muito
cuidado, mas que se foda tudo, Helena. Tudo o que eu quero, é estar com
você. Em todos os jeitos, em todos os momentos. Eu sou completamente seu
e quero que você seja completamente minha.

— Eu sou...

— Não legalmente. — Ele abre a caixinha. — Casa comigo, meu amor?

— Sim! — respondo, chorando e acenando a cabeça diversas vezes,


tirando dele um sorriso, apesar de suas lágrimas escorrerem como as
minhas.


SEMANAS DEPOIS

fevereiro•2022
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Não pensei que conseguiria organizar um casamento em menos de um


mês, mas consegui, com a ajuda de Vic, Carina e Paloma, além de outros
amigos.

Convencida por eles, aceitei fazer o casamento em um lugar que nunca


imaginei: um barco. A vantagem seria que teria o mínimo de pessoas na
cerimônia e claro, ninguém entraria de penetra. Não que o nosso casamento
fosse um grande evento, mas Hugo insistiu nessa possibilidade.

A cerimônia foi linda de uma forma que jamais imaginei que seria.
Aproveitamos a luz do dia e demos o nosso primeiro beijo como marido e
mulher ao pôr do sol. De convidados, apenas aqueles que eram próximos de
nós. De comida optamos por chamar o bom e velho Chicão. Parecia o mais
acertado, em consideração aos nossos gostos.

Léo estava lindo como nosso pajem e muito animado, dançando todas as
músicas de axé que escolhi para a playlist da festa. Vic entrando com a Gigi
no colo, acompanhada de Luís, foi simplesmente emocionante.

Hugo insistiu para que izéssemos uma rápida viagem de lua de mel
antes que a bebê nascesse e não pudéssemos fazer isso logo. Vic, mesmo
com a Gigi, fez questão de que Léo icasse com ela e até mesmo se fez de
ofendida quando comentei que o deixaria com Carina.

Durante a nossa dança, não consegui tirar os olhos de Hugo por um


segundo que fosse, assim como ele comigo. Apenas não podia me afastar do
meu marido.

Após jogar o meu buquê, que caiu literalmente no colo de Luís, o


namorado da minha amiga, o barco retornou ao cais, já durante a noite. A
marina Igararecê, no litoral norte de São Paulo, localizada na cidade de São
Sebastião, é simplesmente linda, mesmo à noite.

Vic, Gigi, Léo e Luís nos acompanham até o aeroporto. Luís se


recusou a soltar o buquê, dizendo que só o faria depois que Vic izesse o
pedido, arrancando risada até mesmo de Hugo, que começou a respeitá-lo
mais e até mesmo o ter como um amigo.

— Nossa! — Luís reclama levantando Gigi e sentindo o fedor de sua


fralda. — Preciso trocar a Gigi — avisa indo para o banheiro com a neném
no colo após dar um beijo em Vic.

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— Ele não é um amor? — Vic se derrete. — Não sei não, mas acho
que vou ter de casar com esse homem!

— Pelo menos esperem até voltarmos — peço ainda agarradinha a


Léo.

— Com toda a certeza. Não deixaria vocês perderem meu primeiro, e


espero que único, casamento real por nada! — a irma estendendo a mão
para o Léo, enquanto somos chamados para o nosso voo.

— Vocês vão me trazer presente, papai? — Léo pergunta e pela


milionésima vez vejo meu marido se emocionar ao ouvir nosso ilho chamá-
lo de pai.

— Claro, campeão! Sem dúvidas! — Hugo o abraça.

— Tia Vic, preciso ir ao banheiro — avisa e corre para o trocador


onde Luís foi com a Gigi.

Estamos próximos e quando eles saírem os veremos, sem dúvida.

— Queria cheirar a cabeça da Gigi mais uma vez antes de irmos —


aviso Vic.

— Logo você vai ter sua própria menininha para cheirar a cabeça
dela! Inclusive, voltem dessa viagem com o nome da minha sobrinha!

— Pode deixar. — Hugo a irma me abraçando pelas costas,


colocando suas mãos sobre minha barriga no momento exato em que a
bebê me chuta.

— Ai, meu Deus, você sentiu isso? — questiono emocionada mais


uma vez.

— Senti. Vou buscar o Léo, ele vai adorar... — Hugo sai correndo em
direção ao banheiro, esbarrando em uma mulher que segura o meu
pequeno pela mão.

fevereiro•2022
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Capítulo 58
Usando óculos escuros, boné e uma roupa que jamais a veria usando,
uma calça jeans, tênis e blusa de moletom, Joelma parece surpresa por ser
notada por nós.

— Papai, a vovó disse que eu posso icar na casa dela enquanto vocês
viajam com a minha irmãzinha. — Léo diz animado, ainda segurando a mão
dela, que não parece saber o que fazer.

— Vou chamar a segurança, Helena. — Vic sussurra para mim.

— Léo, vem aqui com a mamãe, agora — peço tentando manter a


calma. Ele até tenta, mas Joelma não larga a mão dele. — Léo...

— A vovó tá segurando, mamãe. Solta, vovó! — Léo insiste, mas ela


não solta.

— Helena, eu preciso dele. — Joelma fala devagar. — Eles


bloquearam minhas contas e... Eu preciso do garoto. — Ela tenta se afastar,
mas Hugo se põe na frente.

— É dinheiro que você quer, eu dou. — Calmamente Hugo tenta se


aproximar, enquanto ela recua. — Mas primeiro você precisa soltar o meu
ilho.

Joelma gargalha de maneira esquisita.

— Como você consegue enganá-los dessa forma, Helena? Você é bem


mais esperta do que sempre julguei.

fevereiro•2022
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— Solta o Leonardo. — Mando, tentando manter minha voz calma.


Se essa louca nos encontrou em um aeroporto tão grande, com certeza tem
um plano.

— Por favor, vovó, tá machucando. — Meu ilho choraminga.

Pessoas começam a nos cercar, curiosas e assustadas com a situação.

— Olha só o que vocês estão fazendo! — Ela grita, assustando Léo. —


Querido, não é minha culpa, a vovó só quer icar perto de você...

— Eu não quero! — Léo consegue puxar a mão inalmente e corre para o


colo de Hugo.

Enquanto, en im, consigo ter meu ilho em meus braços, Luís se


aproximava devagar por trás de Joelma e a imobiliza. Vic rapidamente corre
em direção a eles, pegando a Gigi que uma moça segurava no colo, ao fundo.

Não demora até que os seguranças do aeroporto tomem conta da


situação enquanto, aos berros, Joelma volta a me ameaçar.

Sem condições para viajar, Hugo e eu decidimos simplesmente voltar


para casa com nosso ilho e descansar. O dia tinha sido longo e mesmo que
tenha começado como um dos melhores dias de nossas vidas, terminou de
forma assustadora, principalmente para Léo.

Tão logo acordamos no dia seguinte, estava em todos os noticiários o


que havia acontecido. Hugo e eu precisávamos ir à delegacia prestar
depoimento, assim com Luís e Vic, que foram essenciais.

Tudo o que eu queria era curtir o resto da minha gravidez com calma e
podendo descansar o tanto que Luísa, minha bebê, estava exigindo de mim,
mas, mesmo com as provas contra Joelma, nossos testemunhos de que ela
tentou sequestrar o meu ilho e me agrediu ísica e verbalmente, a lei
demorou a fazer efeito e, por pouco a cobra não conseguiu fugir novamente.

Quando inalmente a sentença saiu quase não pude acreditar. Joelma foi
condenada a cinquenta e três anos e onze meses de prisão. No tribunal ela
fez um escândalo como esperado e até mesmo praguejou contra a minha
família e o meu casamento, mas, ainda assim, consegui sentir meu coração

fevereiro•2022
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mais leve por inalmente ter feito algo a respeito do que havia acontecido
com Mauro.

Meu primeiro marido, acima de tudo, nos amava muito e não merecia o
que aconteceu com ele; poder ver a responsável por tirar a sua vida atrás
das grades foi libertador.

Foi determinado, também pelo tribunal, que tudo o que era de Mauro
em vida Léo teria direito, assim como eu. Incluindo a casa em que vivíamos
antes de tudo acontecer.


Desde o meu casamento com Hugo, não conseguia dormir mais que
algumas poucas horas seguidas. Todas as noites me levantava para ver se
Léo ainda estava em sua cama, assustada com pesadelos em que Joelma o
tirava de mim.

Mas tinha certeza que agora que a sentença dela havia sido decretada,
poderia voltar a dormir tranquilamente, sabendo que ao acordar agarraria
Léo e o beijaria muito.

— Qual o plano agora, Helena? — Samuel, meu advogado, pergunta tão


animado quanto eu.

— Dormir, com certeza. É tudo o que eu mais quero! — admito


abraçando Hugo.

— Que pena, querida cunhada, acho que a Lulu tem outros planos para
vocês! — Vic aponta no mesmo momento em que sinto um líquido escorrer
pelas minhas pernas.

— Sério, Lulu? — pergunto à minha barriga, começando a sentir dor.

— Acho que as mulheres dessa família gostam de vir ao mundo no


momento mais inesperado. — Vic dá de ombros. — Eu dirijo, acho que o
Hugo não sabe nem o nome dele nesse momento...

— Eu... As bolsas... O plano... O chá... Não estamos prontos. — Meu


marido gagueja me ajudando a ir para o elevador enquanto nosso advogado
ri, assim como Vic.

fevereiro•2022
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— Puta que pariu! — grito em alto e bom som quando sinto uma
contração, atraindo a atenção de todos.

— Acho que alguém vai ser uma mãe que vai icar para a história do
hospital! — Vic a irma rindo da minha dor, já no elevador.

O nascimento de Luísa teve de tudo um pouco. Teve dor, teve momentos


que comecei a rir histérica porque não atingia logo a dilatação, teve
momentos em que Hugo apenas gaguejava, teve o momento em que ele
desmaiou por alguns segundos, mas também acordou a tempo de ver nossa
menininha chegar ao mundo e foi entregue em meus braços.

E tudo compensou nesse exato momento: quando Lulu abriu seus


olhinhos e começou a chorar, só parando quando meu dedo alcançou sua
boquinha e ela passou a sugá-lo.


MESES DEPOIS

Tive medo de que, com a chegada de Luísa, Leonardo se sentisse


excluído, mas o fã número um da minha menininha é ele. Desde ninar ela a
trocar sua fralda, sob nossa supervisão, Léo está incluso. Sem contar que ele
e Hugo criaram um momento só para os dois, no qual saíam cedo e
voltavam bem tarde, ou se enfurnavam no quarto de Léo jogando
videogame e comendo bobagens. Além de que Léo simplesmente começou a
copiar o corte de cabelo de Hugo e vive dizendo que irá usar barba da
mesma forma.

Ver como Hugo cuida dele é incrível. Ele é um pai babão e bobão para os
dois e sempre que precisa dar bronca em Léo, pede que eu o faça e depois
ainda ica do lado dele, agradecendo pelas costas por eu ser a carrasca.

— Amor, você viu o Léo? — Hugo pergunta ingindo não o estar vendo
embaixo das cobertas. — Estamos brincando de esconde-esconde.

— Não faço ideia. Talvez ele tenha se escondido debaixo da cama. —


Entro na brincadeira terminando de fazer Luísa arrotar.

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— Acho que vou dormir um pouco, estou cansado de procurar por ele.
— Finge estar bocejando e deita em cima de Léo, que tenta não reclamar. —
Vocês duas também, venham deitar comigo. — Com cuidado deito com ele e
Hugo coloca mais peso sobre Léo que, imediatamente começa a reclamar e
sai da cama. — Ah, então você estava aí?

— Você quase me matou, papai! — reclama fazendo drama e logo Hugo


o puxa para a cama, fazendo cócegas. — Eu vou fazer xixi, papai!

— Não, nada disso! Da última vez que alguém dessa família fez xixi nas
calças, a Lulu nasceu. — Hugo brinca e até Luísa, sem entender, começa a
rir, achando graça dos dois.

Respiro fundo entre uma risada e outra e só consigo pensar em como os


amo, os três, e não me arrependo nem por um segundo de ter mentido para
conseguir o emprego que mudou a minha vida.

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Epílogo
LEONARDO

Se você perguntar para a minha mãe como foram meus primeiros sete
anos de vida, imediatamente ela vai dizer que foram maravilhosos, mas,
para mim, maravilhoso mesmo foi após ela conhecer o meu pai Victor Hugo.
E nem me re iro a isso pela vida que ele nos proporciona desde então, mas
pela pessoa incrível que tenho o prazer de chamar de meu pai.

Desde o momento em que nos conhecemos o icialmente até hoje, ele


nunca foi menos que o melhor pai que eu poderia desejar e sem permitir
que eu esqueça do meu pai Mauro.

A minha vida é ótima, não tenho do que reclamar, mas não posso dizer
que sou totalmente sincero. Talvez seja de família. Em alguns dos nossos
almoços de domingo, quando começam a conversar sobre o passado, a tia
Vic e o meu pai gostam de importunar minha mãe falando sobre como ela
me escondeu por medo de perder o seu emprego.

E eu entendo. Meu pai sempre foi uma pessoa maravilhosa comigo, mas
sei bem que, no início, ele e minha mãe não se davam exatamente bem. Ele
era grosso e amargo e encontrou justamente o seu oposto na dona Helena.
Provavelmente essa seja a maior história de amor que eu conheça, desculpa,
Romeu e Julieta. E o melhor é que pude presenciar de camarote boa parte
dos acontecimentos.

— O papai e a mamãe te amam! — Lulu, minha irmãzinha avisa fazendo


cafuné na minha cabeça. — Gabi e você se gostarem, não muda isso.

Apesar de ter apenas dez anos de idade, Lulu é uma das pessoas mais
sensatas da nossa família. Também a mais paciente e esperta. Sempre sabe
a coisa certa a se dizer.

— Você só tem dez anos, Lulu. Como poderia saber? — retruco e ela me
dá um cascudo na cabeça antes de voltar a fazer o cafuné.

— A tia Vic disse que tenho uma alma sábia — diz orgulhosa. — E eu
sempre estou certa!

— A tia Vic sabe que você forçou um anel pequeno demais no seu dedo e
tive que te levar ao hospital para tirar antes que o seu dedo caísse?

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— Eu tinha nove anos! — resmunga. — Agora estou mais velha e mais


sábia. De qualquer forma, você deveria contar pro papai e pra mamãe, vocês
formam um casal lindo.

— Não somos um casal, Lulu.

— Faz o pedido de namoro então, ué...

— Não é tão simples assim... — começo no exato momento em que


minha mãe entra no quarto.

— O Iago pode brincar com vocês? — segurando na perna da minha


mãe igual eu fazia em meus momentos de timidez, meu irmãozinho de
quatro aninhos tenta se esconder ao mesmo tempo em que tenta ver o que
estamos fazendo.

— Pode, mamãe, mas o Leo precisa conversar com você e com o papai.
— minha irmã avisa serelepe indo até Iago. — Vamos pra piscina? — nosso
irmãozinho pega a sua mão e rapidamente se vai me deixando sob os olhos
curiosos de dona Helena.

— O que houve, querido? Está indo mal em alguma matéria? — se


aproxima sentando comigo na cama. — O seu pai e eu não vamos brigar.

— Não, mamãe, só mais uma prova e estou o icialmente formado no


ensino médio. — Mal consigo encará-la. Sei que minha mãe quer apenas o
meu bem, mas amigos que passaram pela mesma situação acabaram não
tendo um resultado satisfatório nessa conversa com os pais. — Gabi pode
jantar aqui hoje? Me sentiria mais confortável com...

— Claro que pode. Liga e chama, tá? — afaga meu rosto e beija
rapidamente minha testa. — Mais tarde conversamos sobre isso então.

— Mamãe...

— Oi, meu amor...

— Eu...

— Nós te amamos, Léo. — com um sorriso ela se vai.

fevereiro•2022
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Mesmo inseguro, Gabi aceitou meu convite. Já tínhamos conversado
diversas vezes sobre esse momento. Ele decidiu esperar até os dezoito, mas
eu não conseguia mais esconder isso daqueles que eu amava.

Na hora de sempre papai chegou em casa e, após ser agarrado pelos


meus irmãos, veio me cumprimentar com um sorriso e um beijo na testa
como sempre.

— Vamos ter companhia pro jantar? — pergunta agarrando minha mãe


que monta a mesa mais elegante que o habitual.

— O Gabi vem. — avisa depois de ganhar um beijo do meu pai. — O Léo


quer conversar e quer a presença dele. — Meu pai me encara sem falar
nada e sinto minhas pernas tremerem. Estaria eu os decepcionando?

Gabi não demorou a chegar, ele morava apenas há algumas casas de


distância da nossa. O conheci quando tinha a idade da Lulu na van escola e
logo viramos amigos. E um dia essa amizade simplesmente virou algo mais.

Com a pele escura e lindos olhos verdes, Gabi entrou em casa com seu
sorriso habitual depois de me cumprimentar com um abraço que, para
qualquer outra pessoa, teria demorado demais, mas não para nós dois.

— Tia Helena. — entregou uma única lor a minha mãe que aumentou
ainda mais o sorriso. — Como estão? — voltou-se aos meus irmãos que o
abraçaram falando sobre o dia deles.

— O Hugo foi tomar um banho, mas já vai descer. — minha mãe avisa
indo até a cozinha buscar a comida.

Não demorou muito até que meu pai se juntasse a nós e rapidamente
fomos para a mesa. Eu estava agitado e impaciente, meu medo estava
presente, mas não aguentava mais não assumir para os meus pais a verdade
e antes mesmo que a primeira garfada alcançasse a boca, soltei:

— Eu sou gay!

Por um minuto que pareceu uma eternidade, não consegui distinguir o


que meu pai e minha mãe estavam pensando enquanto subitamente meu

fevereiro•2022
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irmão começou a tagarelar como nunca havia feito perguntando o que


signi icava “eu sou gay!”.

— Você e o Gabi estão juntos? — meu pai quebra o silêncio entre ele e
minha mãe.

— Ainda não, mas... — seguro a mão do Gabi a vista de todos.

— Você está pedindo permissão para icarem juntos? — é a vez da


minha mãe.

— Também não, mamãe. Eu estou contando isso porque os amo e


respeito. A única coisa que quero, que espero, é o mesmo da parte de vocês.

— Então vocês vão namorar? — é a vez do meu pai voltar a falar.

— Se o Gabi aceitar namorar comigo. — volto-me a ele que, mesmo em


silêncio, consigo entender que, para ele, aquilo é um sim. — Isso muda algo,
mamãe? Papai?

— Por que mudaria, ilho? — meu pai questiona. — Você é exatamente


quem é. Exatamente quem eu criei. O seu caráter e índole permanecendo o
mesmo... Você está feliz?

— Demais, papai! O Gabi me faz muito feliz! — respondo emocionado.


— Mamãe?

— Se você magoar meu menino, te afogo na piscina, Gabi. — sem


controlar as lágrimas, minha mãe se levanta e nos faz levantar das cadeiras
para nos abraçar.

Logo meu pai faz a mesma coisa, assim como meus irmãos.

— Eu te disse, cabeçudo. — Lulu sussurra para mim me arrancando


uma risada. — Viu como eu sempre estou certa?

— Te amo, Lulu.

FIM.

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Sobre a Autora

KAMILA CAVALCANTE é uma nordestina, viciada em séries, músicas,


purpurina e chocolate Bis, que encontrou na escrita um motivo a mais para
continuar de pé.

Desde 2014, publica suas histórias na plataforma Wattpad, onde


conquistou grande parte de suas leitoras, as carinhosamente chamadas de
“Guetes”. Atualmente, escritora best-seller da Amazon, Kamila coleciona um
portfólio com mais de dez obras, entre contos e livros.

fevereiro•2022

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