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© Náthali Lima, 2020, 1ª Edição.

ARTE DA CAPA • Náthali Lima


FONTE DE CORPO • Garamond.
IMAGEM DA CAPA • IStockphoto

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Lima, Náthali, 2020-
Escolhida Por Ele – Livro 1 / Náthali Lima / RJ ; Arte da capa
por Náthali Lima. – 1.ed. – Rio de janeiro.
1. História de Romance. 2. Literatura New Adult. 3. Erótico. I.
Lima, Náthali. II. Título

Contém conteúdo adulto.

****

Todos os direitos reservados pela autora Náthali Lima • 2013


Dedicado às minhas Nyahzetes e Wattnáticas, com todo o meu
amor e agradecimento.
Atenção, a narrativa desta história é variada e contada de acordo
com a necessidade dos acontecimentos, tendo primeira pessoa e
terceira pessoa acontecendo em diferentes momentos e, algumas
vezes, tendo uma acontecendo por um período mais longo ou mais
curto na história.

Esta é uma obra ficcional, qualquer semelhança com a realidade é


mera coincidência.
Este livro não tem a intenção de ofender ninguém e o conteúdo
contido aqui é artístico e fictício.
Os nomes de estabelecimentos mencionados não são reais.
Este livro foi uma fanfic em 2013.
Se gostar, não deixe de avaliar, isso é muito importante para mim!
Mas se não gostar, deixe uma crítica construtiva. Não ofenda
gratuitamente o autor e nem a obra dele.
Sumário
1- Moldada.
2- Noite livre?
3- Grande dia.
4- Vida nova.
5- Dias de mármore.
6- Noites de marfim.
7- Inocência perdida.
8- Entrega.
9- Os jogos começam.
10- Presentes.
11- Você (não) me faz brilhar.
12- Um dia não tão bom.
13- Olhe para a garota de sorriso quebrado.
14- Nem sempre são arco-íris e borboletas.
15- Isso é onde seu coração assume.
Extra 1- Uma conversa de amigas.
16- Medo do desconhecido.
17- Espelhos da alma.
18- Família Cage.
19- O que acha?
20- Eu não posso perder você.
21- Lágrimas em punho.
22- Seu amor é o rei.
23- Encontrei uma razão para mudar quem eu costumava ser.
24- O pesadelo começa.
25- Posso ver sua auréola.
26- Tempos tristes e felizes.
27- Eu sinto que não sou forte o suficiente.
28- Tudo está bem?
29- Porque você foi feito pra mim.
Extra 2- Anjos e anjinhos.
30- Nem tudo é perfeito.
31- Nunca me deixe ir.
32- Sua dor.
32- Apenas quero continuar chamando seu nome.
33- O gosto do seu sorriso.
34- Você é tudo o que eu preciso.
35- Os melhores presentes.
36- Um aniversário em família.
37- As verdades escondidas.
Epílogo.
Extra 3- Toque-me como só você faz.
Extra 4- Redenção e Fortaleza.
Agradecimentos
Sobre a Autora
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América Lawson, uma jovem nascida em uma família onde todas as
mulheres são treinadas para serem as submissas perfeitas, desde o
modo de andar até a forma de agir quando junto de seu Dominador.
E numa teia onde o dinheiro e o prazer comandam, seria ela,
pensando tão diferente dos demais de sua família, capaz de
satisfazer o homem que for possuí-la?
1- Moldada.
A luz do sol invadiu meu quarto e encheu meus olhos, fazendo-
me acordar por completo para mais um dia, um dia em que eu seria
moldada – mais uma vez – para ser o que eu não queria ser: uma
submissa, um objeto para um homem sem coração.
Levantei-me de minha cama com os mesmos pensamentos de
sempre martelando em minha mente: agir como um robô e absorver
o máximo de informações possíveis.
Tomei um banho morno, para forçar meu corpo a acordar e
entrar no ritmo de meu cérebro.
Sou a décima geração de mulheres Bazanov a ser criada nos
Estados Unidos apenas para esse propósito: o se ser uma submissa
perfeita. Mas, aparentemente, eu era a primeira a não aceitar essa
realidade e desejar, com todas as minhas forças, que meu futuro
não seja como o de tantas mulheres e jovens que eu já conheci e vi
por aqui nos últimos anos.
Cada uma de nós, nascida entre os Bazanov-Ivanenko – a
geração russa original, que se instalou nos EUA quando ainda vivia
do tráfico de mulheres, antes de descobrir um meio mais seguro e
lucrativo – quando atinge a maior idade – a idade em que somos
colocadas na “lista de compras” para sermos escolhidas e
adquiridas por dominadores – ou seja, dezoito anos – passa a ser
moldada aos gostos e desgostos do dominador que irá nos possuir.
A maioria deles prefere que não sejamos mais virgens, mas –
felizmente ou infelizmente – comigo foi diferente.
Quando fui selecionada, há dois anos, e passei a ser “lapidada”,
não fui mandada para o mesmo lugar que as outras mulheres da
família foram; aparentemente o homem que me escolhera não se
importa com o fato de eu ser realmente virgem e, aparentemente,
queria manter isso até me ter.
Eu não sabia se gostava ou detestava essa parte.
Mas, saber que eu não precisaria ter um qualquer entre minhas
pernas para, então, eu ser vendida para outro… já era alguma
coisa.
Termino meu banho e, depois que me seco, coloco uma calça
jeans e uma blusa mais solta, acompanhando com um par de tênis
pretos de cano médio.
Desço as escadas e me direciono para a cozinha para tomar
meu café da manhã.
— Bom dia, mãe – cumprimento, tão animada quanto posso.
— Bom dia – corresponde — Por que está com estas roupas,
América? – pergunta assim que se vira para mim e vê como estou
vestida.
— Ainda está cedo para começar, então… eu pensei que eu
poderia passear um pouco – digo despretensiosa e distraída,
fazendo linhas sem nexo no mármore preto da bancada da cozinha.
— Nada de passeios. Faltam poucos dias para o fim de tudo
isso. Espere mais um pouco, meu bem, por favor – ela pede da
forma mais doce que consegue, o que nem sempre é muito.
Dianna Bazanova era a nova líder do lado Bazanov da família, o
que implicava que ela deveria ser dura, fria, responsável por outras
garotas – além de mim – e nada maternal. Em noventa e nove por
cento do tempo, ela conseguia ser assim.
— Foi assim com a senhora também? Digo… a forma que foi
escolhida?
— Não. Seu pai não me escolheu, se é isso que quer saber, seu
pai foi meu primeiro homem e eu o amei, mas não podíamos ficar
juntos e nos separamos antes de… bem… Você já sabe da história
– vislumbrei o brilho diferente em seus olhos, mas logo ela se virou
de volta para o que estava fazendo me impedindo de ver seu rosto.
— Por que não posso conhecê-lo? – questiono.
— Porque não é permitido. Sabe muito bem disso. Não
devemos ter relações com os pais e você apenas está aqui, comigo,
por ser parte de uma exigência de que você não deve ser treinada
por mais ninguém, para que não aconteçam imprevistos com os
outros dominadores.
Anuo de maneira positiva, mesmo que por dentro eu esteja
deteste isso.
Ela me entrega meu café da manhã, com o qual eu me delicio
com vontade.
E, depois de ter feito isso, eu retorno ao meu quarto e me visto
da maneira que me é instruída: com um vestido que ressalte as
curvas que me foram dadas – e para as quais não dou valor algum.
E, mais uma vez, tudo começava de novo.
Andar de um lado para o outro da sala, da maneira certa, a
forma como sentar, cruzar e descruzar as pernas do jeito que chame
apenas a atenção dele, passar e repassar frases nas línguas que
me foram ensinadas para eu sempre manter a língua quente em
meu cérebro e para não o fazer passar vergonha – no caso de ser
levada para algo importante – treinar a maneira de falar sem
demonstrar sentimentos que não sejam a minha submissão e uma
doçura suave e sensual que o faça me querer, e, então, voltar a
andar e a fazer as mesmas coisas quantas vezes o dia permitisse.
Os saltos já machucam meus pés e parece que vão atravessar
minha pele de tanto tempo que estou de pé neles. Em minhas
pernas parece haver brasas quentes circulando por debaixo de
minha pele.
Já não aguento mais!
Ainda assim não descanso. Tenho que ser perfeita. Quanto
menos erros eu tiver, menos castigos eu receberei.
— Tudo bem, América… já chega disso. – diz minha mãe — Vá
almoçar. Mais tarde continuamos.
E é assim que Dianna Bazanova, minha mãe, me dá algum
descanso – finalmente – depois de horas, muitas horas, treinando e
exercitando.
Manter a forma era uma coisa que minha mãe exigia
constantemente de mim. Tanto mental quanto física e eu odeio isso.
Odeio o fato de ter que obedecer a essas regras estúpidas para
poder continuar tendo algum direito.
Transgressões não são coisas muito bem vistas e nem muito
bem aceitas nessa família. E eu também odeio isso.
[…]
É fim de tarde.
Eu desço mais uma vez a escadaria que leva para a sala de
estar e, ao chegar lá, me deparo com um homem de olhar
tempestuoso e corpo esguio, de um porte que eu reconheceria a
quilômetros de distância.
Desvio meus olhos dos dele e passo feito uma bala por ele e
pelo novo dominador da minha mãe.
Chego à biblioteca e me escondo ali sem pensar duas vezes. É
o meu refúgio.
Meu coração está na boca e meu corpo está todo arrepiado, a
atmosfera que se instalou na sala – pelos poucos instantes em que
fiquei lá – me assustou, mas, o que me assustou mais, foi o fato de
eu reconhecer nele o que eu não quero para mim e de uma forma
estranha passar a desejar.
2- Noite livre?
Estabilizando as reações de meu corpo, causadas pela forma
fácil que reconheci naquele homem de olhar tempestuoso o que me
aguarda no fim de meu treinamento, imagino o que ele está fazendo
aqui e com Joe, o – para todos os efeitos – “marido” de minha mãe.
Se eu soubesse que estávamos com visitas em casa, não teria
descido.
Não, nunca!
É a regra, e nós, meras “aprendizes”, somos obrigadas a segui-
las se quisermos nos manter e não ir para um lugar pior. Os grandes
poderosos aqui sempre usam as que vão para esse lugar – que eu
chamo de Purgatório – como exemplo para cada uma de nós, para
que não cometamos os mesmos erros.
Com um suspiro, eu me sento em um pequeno sofá que fica
encostado na parede de uma janela que termina no teto rodeado por
duas estantes repletas de livros variados.
Tomo mão de um deles cujo título me chama a atenção.
Perco-me nas vastas páginas repletas de romantismo e
suspense do livro, que me transportam para uma nova época, para
a vida que eu gostaria de viver. Uma coisa normal: sair, comer a
hora que bem me der vontade e o quanto eu quiser, olhar nos olhos
das pessoas, gritar, esbravejar, bater em algum cara quando for
ofendida… mas, em vez de poder fazer isso, tenho que agir como
uma cadela adestrada e fingir que as ofensas não me afetam.
— América? – a voz de Joe me tira do meu mundo dos sonhos.
— Estou aqui – respondo, aparecendo entre as estantes de
livros — Fiz algo errado?
— Não. – diz com um sorriso calmo — Só queria conversar com
você.
Sento-me novamente no sofá e Joe senta-se ao meu lado.
— Estou ouvindo.
— Sei que não tenho autoridade sobre você, mas gostaria de te
pedir para, pelo menos, tentar.
— Isso é o que eu mais faço, Joe. Tentar.
— Então, tente mais um pouco. Faltam poucos dias para o fim
disso tudo e para a sua mudança para a casa e o estilo de vida dele.
— Um homem que eu nem conheço e não faço a mínima ideia
de como é! – desdenho controlando a minha vontade de revirar
meus olhos.
— Releve, América.
— Você quer dizer abaixar a cabeça e agir como uma cadela
dócil e adestrada?
— Não. – responde — Olhe para mim, América.
Pela primeira vez ele me permite olhar em seus olhos.
— Quero dizer que você deve ser o que ele quiser que você
seja. Entenda, Amy, o mundo em que vivemos pode ser bom, se
você quiser que seja.
— Eu só queria uma vida normal… – solto em um muxoxo.
— Eu posso te dar três dias. Dois dias sem lições e uma noite
livre para fazer o que quiser dentro dos limites.
— Vou poder sair?! – o sorriso que se abre em minha face pode
ser taxado como gigante!
— Com aqueles seus amigos? Vai.
Isso me deixa exultante e eu seria realmente capaz de abraçá-lo
por isso.
Mas não o faço, limitando-me apenas sorrir e agradecer com
todo o meu coração.
Joe era uma boa pessoa, e ele era bom comigo.
Bom como apenas o primeiro dominador da minha mãe tinha
sido.
****
Acordei às nove da manhã e fiz toda a minha higiene matinal,
como é de meu costume, e depois segui para a cozinha tomar o
café da manhã.
Minha mãe não estava na cozinha hoje. Provavelmente nem em
casa ela estava.
Quem está aqui hoje é Suzanne, nossa empregada e minha
babá, que cuida de nós como se fossemos suas crias – nas
palavras dela.
— Bom dia, menina – ela disse.
— Suzanne, eu já tenho quase vinte e dois anos, não sou mais
uma menina.
— Vi você nascer… carreguei-te nos braços quando dona
Dianna não podia, então… para mim será sempre uma menina. A
minha menina.
Sorri a ela e me sentei à mesa e desfrutei do belo café da
manhã que ela havia preparado.
— Suzanne? – chamo.
— Sim, menina?
Minha noite foi recheada de sonhos estranhos, mas um em
especial me deixou acordada e ofegante quando não passava das
três da madrugada. Tinha sido um sonho tão perturbador que eu me
vi obrigada a ficar sentada em minha cama abraçada ao meu lençol
até ter minha respiração estável novamente. O silêncio presente em
todo o quarto, na madrugada, foi o que me deixou mais receosa.
E, por um momento, eu me vi querendo contar sobre isso para a
minha babá, mas eu apenas me limitei a querer sanar a minha
curiosidade sobre o protagonista de um destes sonhos que
estiveram perturbando a minha noite:
— Por algum acaso, sabe quem era o homem que estava com o
Joe ontem à noite?
Ela me encarou com o cenho franzido e negou com a cabeça,
mudando de assunto logo em seguida:
— Está animada para hoje à noite?
— Claro que sim! Finalmente vou poder me ver livre destas
batalhas diárias de aprendizado!
Pelo menos por uma noite – constato tristemente.
[…]
Sentada no pequeno sofá que se atém na biblioteca, me pego
viajando nas páginas de mais um dos livros existentes ali.
Aproveitando o tempo que tenho livre antes do início de mais um dia
de tortura.
Mas, infelizmente, meu tempo de livre não dura muito, pois
minha mãe retorna de onde quer que ela tenha estado e me arrasta
de volta para a realidade na qual sou obrigada a viver, me obrigando
a trocar minhas confortáveis roupas por terríveis vestidos
maravilhosos – o terrível fica por minha conta.
O tecido do vestido amarelo que minha mãe me mandou usar
pinica minha pele e me deixa desconfortável. Felizmente hoje é o
meu “último” dia efetivo como “Aprendiz de Submissa”. E eu me
sinto realmente bem por isso. Vou poder ter uma noite de gente
normal!
Sobre minha cama há uma caixa de sapatos, a qual eu abro e
nela encontro sapatos pretos – sapatos que eu sei serem muito
caros – e junto deles há um pequeno cartão com um recado escrito
à mão:
“Aproveite bem a sua noite”.
Sorri sozinha e sem entender muita coisa.
Desci com os sapatos nas mãos para a sala onde minha mãe
me aguardava e, antes de me aproximar dela, os calcei e com
dificuldade andei até ela. O salto me deixou quatorze centímetros
mais alta que o normal.
Sento-me no sofá de frente para minha mãe e cruzo as pernas.
— Teoria. Está preparada? – ela pergunta com uma expressão
séria.
— Sim, senhora – respondo da maneira mais doce e submissa
que consigo.
— Ótimo.
Ela sorri.
— Os limites rígidos e brandos?
— Serão discutidos com o Dominador quando estiver em posse
ou presença dele. Mas eu já os mantenho selecionados e divididos
em quais aceitar, negar e os que são aceitáveis a negociação.
— Regras de toque.
— Não devo tocá-lo, nunca, por nenhum motivo. Por mais que
ele esteja próximo e por mais que eu queira. E fazer isso apenas
nos locais que me forem instruídos e permitidos, como rosto, mãos
e boca – listo os pontos que tinham sido passados sobre ele na hora
da sua aquisição.
Eu sinto isso tão estranho e podre.
— Por quê?
— Porque ele não gosta e não admite certos tipos de toque, por
razões pessoais.
— Olhá-lo?
— Apenas sob o pedido ou ordem dele.
Essa é uma das piores partes para mim.
Eu gosto de olhar nos olhos das pessoas. Os olhos falam mais
sobre elas e seus sentimentos do que suas próprias palavras.
— Falar?
— Apenas quando me for dada a palavra ou em ocasiões de
dúvida, dor ou apelo extremo.
Argh! Eu simplesmente não gosto disso…
— Quando atuando em uma cena?
— Agir da forma que me for instruída, não hesitar em nenhuma
ocasião, controlar meu corpo e sempre agradá-lo.
— Palavras de segurança.
— Devem ser usadas quando em circunstâncias em que eu não
esteja pronta o suficiente, ou, quando não estiver mais suportando
uma situação.
— No dia a dia, sua maneira de agir?
— Respeitá-lo, obedecê-lo, agradá-lo das melhores formas
possíveis e impossíveis a mim, não ser petulante, não respondê-lo,
mesmo que algo não esteja me agradando – Ou seja, não ser eu
mesma — e não revirar os olhos para ele ou na presença dele.
— Sua primeira noite não será nada fácil e, provavelmente, não
tão boa. Não espere flores e corações da parte dele, nem todos são
capazes disso.
— Sou uma submissa, mamãe, não uma garotinha que sonha
com o amor. Não posso me dar a este luxo.
— Não seja fria, América. Você não é assim, e eu sei que sonha
sim com o amor, à sua maneira, mas sonha. Somos mulheres,
querida, nascemos assim.
Ela sorri a mim com incrível doçura e carinho.
São raras as vezes que ela faz isso e quando ela faz é bom
aproveitar.
Retribuo ao sorriso da mesma forma.
— Amanhã será um grande dia.
— Eu sei disso, mãe.
Lanço um sorriso triste, mas logo me animo:
— Hoje é minha última noite livre.
— Joe me falou. Realmente espero que se divirta – ela sorri.
Olho para meus pés e então me lembro:
— Quase me esqueci de agradecê-la pelos sapatos.
— Que sapatos? – ela questiona com o cenho franzido,
expressando sua total confusão.
— Estes aqui – indico enquanto levanto meu pé para mostrá-la.
— Não fui eu. E antes que pergunte, também não foi o Joe.
— Então… quem foi? – a confusão permeia minha pergunta.
Ela me lança um olhar sugestivo e um sorriso brincalhão.
— Não acha que foi ele, acha?
— Não estou aqui para achar, e sim para te ensinar.
Contenho minha vontade de revirar os olhos, limitando-me à
apenas balançar a cabeça em uma negativa.
— Outra coisa – ela chama minha atenção.
Eu fito-a com olhar receptivo.
— Não faça isso na frente dele. É para o seu bem.
E com isso eu anuo de maneira positiva.
[…]
A calça jeans passou com facilidade por minhas pernas.
A blusa azul de mangas compridas sem muitos enfeites, apenas
um “decote” em “V” se ajusta bem ao meu corpo, uma jaqueta de
couro preta meio peito e botas de cano curto com salto alto modelo
agulha são as peças que eu escolho para completar.
Deixo meus cabelos soltos e passo uma maquiagem leve.
Desço as escadas e vou até a sala de jantar, minha mãe e seu
“marido” estão sentados à mesa lado a lado desfrutando de seu
jantar.
— Já vai, América? – Joe pergunta.
— Sim, senhor.
— Comeu algo? – mamãe pergunta.
— Sim, senhora.
— Divirta-se, América. Conhece as regras, então… – ele deixa a
frase no ar, indicando o que eu devi fazer silenciosamente.
Sorrio para eles, assentindo de maneira positiva para Joe e me
retiro da sala de jantar.
[…]
É uma noite agradável em um pub dançante.
Na frente da entrada do pub estão Paige e Mike, meus dois
melhores amigos para os quais eu conto quase tudo.
— Amy! – diz Paige ao me abraçar.
Sua animação contagia a minha e eu me sinto ainda melhor.
— Que saudade! – digo apertando-a em meus braços.
— Também senti saudades, sabia?
— Ah, Mike! – abraço-o também — Vocês estão lindos!
— E você também não está de se jogar fora, Amy! – Mike
exclama com um olhar avaliativo e um sorriso malicioso.
— Idiota – resmungo com uma total liberdade em revirar meus
olhos, empurrando Mike levemente com meu ombro.
É a minha melhor sensação.
— Sem Seção Romance Erótico aqui, por favor! – Paige pede
rolando os olhos e tomando nossos braços, entrelaçando-os aos
dela — Vamos. Quero me acabar de beber e dançar! E você,
América – ela me encara incisiva — Vai me acompanhar.
Eu apenas sorrio e reviro os olhos em resposta.
Aqui, fora dos muros da minha casa e longe dos olhos da minha
mãe e do Joe, eu posso ser eu mesma e posso agir como eu
realmente quero e gosto. Sem me preocupar em estar sempre
acertando. Sem me preocupar em ter que ser perfeita o tempo
inteiro.
Entramos no pub e, com certa dificuldade, Paige nos carrega
diretamente para o bar e nos senta nos bancos de madeira altos.
— Boa noite. – diz o barman que dá uma bela avaliada em mim
e em Paige — Em que posso ajudar?
— Três tequilas com limão e sal, por favor! – Paige pede ao
rapaz.
— Paige, sabe muito bem que eu não posso beber.
— Ah, Amy! Ninguém vai saber! – ela insinua matreira; ela
parece já ter uma quantidade razoável de álcool no organismo e
circulando muito feliz pelo seu sangue — Você tem vinte e um anos,
mulher, aproveita!
Mordo meu lábio inferior enquanto penso.
— Amy, não tem ninguém te vigiando, ou será que tem? – Mike
questiona sinuoso; uma sobrancelha escura e meio fina fortemente
erguida.
— Acho que não.
Rimos.
Ah, que se dane! – penso no momento que vejo o barman
aparecer com nossas bebidas do jeito que pedimos.
Assim que elas são postas no balcão sou a primeira a pegar a
primeira dose de tequila.
Coloco o limão na boca e o chupo, logo depois o sal na mão o
mandando para minha boca logo depois, sendo acompanhado da
dose de tequila, a qual eu viro por completo de uma só vez sob os
aplausos de meus amigos. O líquido desceu queimando por minha
garganta, provocando em mim uma careta engraçada e risos em
Paige e em Mike.
— Mais uma! – pede Mike logo depois de virar sua dose,
erguendo a mão em sinal de pressa.
Paige me pega pela mão e me arrasta para a pista de dança.
Ela começa a se mover ao ritmo da música eletrônica que toca,
seu cabelo caramelo dançando ao redor do seu rosto com os
movimentos de sua cabeça.
O lugar está agitado e muito barulhento para o meu gosto.
Fico apenas me mexendo de um lado para o outro sem me
motivar muito em dançar, sei que se eu fizer isso vou chamar
atenção e isso é o que eu menos quero no momento,
diferentemente de Paige, que se move como se o mundo
dependesse o balanço de seu corpo para continuar girando.
Sinto um par de braços envolverem meu corpo por trás e travo
no mesmo instante. Viro-me para ver quem é e me surpreendo ao
ver Mike me fitando de uma forma diferente, seus olhos parecem
meio embriagados. Quantas doses ele tomou?
Ele me puxa para junto de seu corpo e faz eu me mover no
ritmo dele.
É estranho.
Suas mãos estão estacionadas em meus quadris e ele me faz
balançar junto dele, colando seu corpo ainda mais ao meu enquanto
tento me afastar. Ele me gira em seus braços e ao me mandar para
frente escapo dele e corro de volta para o bar, não conseguindo me
sentir mal por ter feito isso com Mike.
— Uma cerveja – peço sem fôlego.
Sinto o pouco suor escorrer por minha testa e o seco com a
manga da blusa da forma menos desajeitada que encontro.
De longe, fico observando Paige dançar e alguns passos
distante dela Mike também dança agarrado a outra garota, sinto-me
melhor por não ser eu ali “rendida” aos seus encantos.
Não que meu amigo não seja um rapaz bonito e atraente – ele
tinha essa coisa grega em sua aparência – mas, para mim, ele é
quase um irmão e com um irmão não se faz o que ele deseja fazer
comigo.
Minha cerveja finalmente chega e, assim que coloco a boca
para tomá-la, alguém resolve me interromper:
— Aproveitando bem a noite? – uma voz grave e aveludada
enche meus ouvidos e me faz arrepiar da cabeça aos pés.
Eu me viro no mesmo instante.
Ao meu lado um homem esguio e realmente muito bonito,
segura uma mesma garrafa de cerveja, sua fisionomia é escondida
pela baixa claridade do lugar e as luzes soltas e coloridas também
não facilitam em nada nas minhas tentativas de reconhecê-lo e, por
isso, eu me volto para a minha antiga posição.
— Na medida do possível. – digo seca e sem olhá-lo
efetivamente.
— Uma pena, América.
Olho-o espantada.
— Como sabe meu nome?!
Essa tinha sido uma mancada.
— Jura que não está me reconhecendo? – ele parece ofendido;
balanço a cabeça em uma negativa — Liam Bennett, primo da
Paige.
Franzo o cenho por segundos.
Logo depois, quando o reconhecimento me atinge, eu me atiro
sobre ele:
— Deus! Liam, quanto tempo!
Ele me abraça de volta e ri de minha falta de discrição em
momentos como estes.
— Muito tempo mesmo! O que faz por aqui? Desde a formatura
que eu não te vejo! — diz ao me afastar à distância de um braço
para me analisar melhor; faço o mesmo com ele.
— Estive… ocupada. – rio de minha própria explicação.
— Mas isso não explica o fato de estar aqui a essa hora da
noite.
— Vim com Mike e sua prima. Temos que aproveitar nossas
noites de liberdade de alguma maneira, não é? – pergunto erguendo
uma sobrancelha e balançando a minha garrafa de cerveja de um
lado para o outro na frente dele.
— Então, a Paige vem e nem me convida? – ele diz em tom
ofendido, mas ainda sim brincalhão.
— Você está aqui sozinho?
— Agora não estou mais! – ele ri, fazendo-me rir também.
Tomo mais um gole da cerveja gelada e miro os olhos
esverdeados de meu amigo por breves instantes, pensando no que
perguntar a ele.
— Tem viajado muito? – finalmente pergunto.
— Cheguei hoje da Europa.
— Estava fazendo especialização lá, né?
— Isso aí! Está informada das coisas para quem vivia
desaparecendo com frequência, não é?
Reviro os olhos para ele e sorrio logo em seguida.
— Por que não está dançando?
— Não quero dar chances a mãos bobas na minha bunda.
A risada dele soa mais alta que a música escandalosa.
Realmente senti falta dele e de todos os meus amigos.
Ao olhar mais uma vez para a pista de dança vejo que Paige já
havia se arranjado com alguém e que Mike também. Tenho vontade
de fazer isso também, mas meu infortúnio me impede.
Eles não vão saber.
A voz da minha não-consciência me faz uma visita
surpreendente, injetando uma nova onda de coragem em mim.
— Quer dançar, Liam? – pergunto enquanto ainda tenho
coragem circulando em mim.
Ele me olha surpreso, mas se levanta sorrindo e toma minha
mão me puxando para a pista de dança em uma resposta muda,
como se dissesse: “Só se for agora!”.
Nos metemos no meio da multidão que se agita e balança o
corpo no ritmo pulsante das músicas eletrônicas e remixadas que
tocam. As mãos de Liam se alojam em minha cintura e começamos
a dançar em um mesmo compasso.
Ao som da música eletrônica que toca, Liam me envolve ainda
mais em seus braços e começa a se aproximar demais colando
nossos corpos de uma forma diferente.
De repente, sinto meu celular vibrar em meu bolso, o que me
obriga a me afastar dele e eu saio do pub para atender com mais
facilidade.
— Alô?
— América, o que falei sobre as regras?!
— Joe?! – pergunto espantada.
— Amy… realmente pensei que podia confiar em você – ele soa
decepcionado ao me dizer isso.
Eu me sinto mal e com raiva.
— A noite é minha! Eu pensei que podia fazer alguma coisa! Só
bebi uma tequila e uma cerveja!
— Não falo da bebida, América! E se ele te visse agarrada e
quase aos beijos com outro homem?
— Ele não ia poder fazer nada! Ainda não pertenço a ele!
— É nessa parte que você se engana, América. – ele soa
bastante sabedor.
E ele realmente deve ser, já que é ele quem está cuidando
dessa parte.
— Como assim?! – chio.
— Em casa conversamos. Despeça-se e venha logo! – ordena.
E desliga logo depois.
Fico encarando a tela de meu telefone por um longo tempo,
tenho vontade de urrar de raiva e tacar o telefone longe, mas limito-
me a bufar alto e a voltar para o pub.
E me limito também a não destruir minha comunicação com o
mundo normal.
Mal ponho meus pés dentro do local e sou abordada por uma
Paige desesperada, suada e bêbada.
— Onde se meteu, Lawson? – ela questiona de olhos grandes.
— Fui atender ao telefone. Tenho que ir.
— O que? Por quê? – pergunta em um muxoxo.
— Joe.
— Ah.
Seu cenho franzido revela o tamanho de sua confusão.
— Dê um abraço no Mike por mim – digo abraçando-a e
deixando um beijo estalado em sua bochecha.
— Tudo bem.
— Ah, e no Liam também. Ele estava aí dentro.
Ela me lança um olhar tristonho e pidão antes de me abraçar
mais uma vez.
— Até mais, Lawson.
— Até, Paige.
Mesmo que eu não tenha ideia de quando esse “até” irá ser, ou
se irá acontecer.
3- Grande dia.
Eu entro em casa sentindo-me apreensiva.
Assim que me viro, após fechar a porta atrás de mim, dou de
cara com Joe sentado no sofá, o calcanhar sobre o joelho, a
expressão está tranquila, mas seus olhos estão frios e a decepção
desponta deles.
Sento-me de frente para ele, os ombros caídos e as mãos
torcidas sobre meu colo. Sinto-me mal e como uma criança
malcriada, o que não era uma coisa que eu deveria sentir.
— América… Só me diga uma coisa: E se tivesse sido ele a te
ver?
— Não sei o que poderia acontecer… – lamurio.
— Você acha que não pertence a ele, mas é totalmente o
contrário. Desde que foi escolhida já é dele, mesmo que você não
queira.
— Mas eu realmente não quero isso, Joe. Quero ser normal!
— E você vai ser… com ele.
— Como? – imploro desesperada por uma iluminação sobre
essa possibilidade.
— Com o tempo você vai descobrindo as maneiras certas, mas
enquanto isso não acontece: Obedeça.
Respiro fundo, mordendo meu lábio inferior e tentando conter as
minhas lágrimas.
— Qual meu castigo? – pergunto em um fio de voz.
— Nenhum.
Olho-o abismada com sua resposta.
— Não vou comentar nada com sua mãe nem com ele. Agora
vá dormir, amanhã terá um dia cheio com sua mãe para a chegada
dele.
— Vou conhecê-lo amanhã? – pergunto tensa torcendo os
dedos sobre meu colo.
— É o que foi combinado.

Deito-me em minha cama, mas não fecho meus olhos de


imediato.
Fico apenas encarando o nada na escuridão.
Isso no momento me parece mais saudável do que dormir. Essa
parte do dia realmente tem sido algo problemático desde que eu o
vi. Seus olhos tempestuosos ficaram gravados em minha memória e
sempre que eu fecho meus olhos, ele aparece para mim.
Tenho vontade de ficar acordada até o dia raiar, ficar tão
tenebrosa quanto possível e fazê-lo sair correndo de repulsa, mas o
cansaço, o álcool e o próprio sono me impedem de fazer isso,
jogando-me em um sono razoável e até relaxante, mas ainda assim
com os olhos cinza de tempestade.
[…]
Acordei incrivelmente bem, para o sono não tão tranquilo que
tive após o aparecimento dos olhos de tempestade em meus
sonhos.
Meus olhos estão focados nos raios de sol que atravessam as
persianas que cobrem minha janela.
O rádio relógio cantava as notícias sobre o trânsito e outras
coisas, mas eu não presto a devida atenção, estou mais preocupada
com o que será de mim assim que eu sair dessa casa para não
voltar mais.
Três batidas leves na porta chamam minha atenção e quando
olho para a origem do som, vejo minha mãe com metade do corpo
para dentro do meu quarto. Ela me lança um sorriso tímido e pisca
seus olhos.
— Preparada? – pergunta em tom ameno.
— Nunca estou, mas… o que eu posso fazer?
Sorrio a ela e me sento com as pernas dobradas.
— Acha que ele vai implicar com meus moletons? Realmente
gosto deles. – me lamento.
— Isso é algo que deve perguntar a ele. – ela ergue as
sobrancelhas, quase sarcástica — Vista-se. Temos um dia cheio e
temos que dar início à parte mais chata dele.
O dia inteiro será chato! – É exatamente o que eu gostaria de
ter dito, mas sabiamente não verbalizo minhas palavras.
— Vinte minutos para um banho? – peço.
— Faça isso depois, Amy. Não vamos ter tempo e vai acabar
perdendo a hora.
Com uma forte tragada de ar, levanto-me da cama e vou até o
banheiro; entro debaixo do chuveiro com pressa – minha mãe não
vai saber – lavo o rosto e bochecho um pouco de água para tirar o
gosto ruim que está em minha boca, assim que me seco volto para
o quarto e pego minhas peças de roupa favoritas e peças íntimas
mais respeitáveis colocando-as logo em seguida.
Assim que me dei como pronta, desci as escadas e fui para a
cozinha.
O café da manhã já está sendo servido por Suzanne no
momento que eu chego ao local. Lanço um sorriso a ela
cumprimentando-a.
Na cabeceira da mesa está Joe e ao seu lado está minha mãe,
que, assim como ele, está desfrutando de um delicioso café da
manhã preparado por Suzanne.
— Bom dia. – desejo a todos.
Suzanne sorri para mim e eu retribuo, sentando-me à mesa e
começando a tomar meu café da manhã.
Uma imensa mesa de puro mogno envernizada com doze
lugares bem ajustados para todas elas se acomodarem
perfeitamente confortáveis e aproveitarem maravilhosas refeições.
Até hoje me pergunto o porquê de ter tantos lugares numa casa
onde apenas três pessoas sentam-se para as refeições; não damos
festas nem jantares chiques de nenhum tipo.
É quase ridículo.
[…]
Mamãe e eu entramos em um salão de beleza.
Não passa das oito e meia da manhã, e, assim que colocamos
os pés para dentro do estabelecimento, somos logo abordadas por
uma mulher loira e elegante, que deixa dois beijos estalados nas
bochechas de minha mãe e ambas sorriem.
— Como vai, Dianna? – a mulher pergunta.
— Muito bem Giulia, obrigada. E você?
— Melhor impossível! – diz com um sorriso orgulhoso e
satisfeito; ela se vira para mim e sorri simpática — Ah! Deve ser a
América. Ela é realmente tão bonita quanto você me falava, Dianna!
Mamãe sorri.
— Obrigada. – sinto minhas bochechas queimarem.
— Bom… vamos ao trabalho. Serviço completo?
— Isso mesmo. – responde mamãe.
— Maravilha! – ela praticamente bate palminhas de felicidade e
sorri mais uma vez — Tess!
— Sim, senhora? – uma jovem de pele morena e olhos
incrivelmente verdes responde de prontidão.
— Avise ao Francis e ao Abel que as marcadas das oito e
quarenta, já chegaram.
— Já estou indo! Com licença. – ela pede e logo sai.

O primeiro lugar para o qual fui levada foi para a depilação.


Foi algo realmente desconfortável de se fazer, mas depois de
um tempo a pele adormeceu e a dor se tornou algo mais suportável
após algum tempo; nada que eu não pudesse aguentar.
Quando somos escolhidas, nos ensinam as maneiras corretas
de agir, mas algo que não nos ensinam é como lidar com a dor que
nos será imposta, isso é algo que devemos aprender por nós
mesmas. Eu tinha aprendido sobre essas dores sem nem mesmo
querer.
Assim que toda a depilação terminou, fui transportada de volta
para frente do salão, onde, numa área mais distante, algumas
mulheres fazem as unhas e cortam o cabelo.
— Não muito curto, por favor. – peço.
— Amy, querida, seu cabelo é belíssimo! Seria uma gafe se o
colocássemos muito curto, e, além disso, recebi ordens precisas
para apenas aparar as pontas. – Abel disse.
Minha sorte é que ele é um alguém muito simpático e
completamente amável.
[…]
— Você está linda… – minha mãe me avalia com um belo e raro
sorriso materno.
— Obrigada.
Sorrio tímida e me viro para o espelho, observando-me pela
primeira vez naquele dia.
Ainda com minhas roupas simples, realmente me sinto bonita e
atraente – como disse o próprio Abel – a maquiagem leve e bem
suave marca bem meus olhos e realça bem o azul presente em
minha íris, minha boca está marcada por um batom vermelho claro,
quase puxado para o rosa-cereja, é bem brilhoso e chama à
atenção, meu cabelo cai em uma cascata de ondas sedosas
castanho escuras sobre meus ombros, minha pele parece mais
radiante, mais corada.
— Abel… ótimo trabalho!
A mulher ruiva, Giulia, aparentemente a dona do
estabelecimento, aprecia o trabalho dele.
Do lado de fora o sol brilha forte e, provavelmente, bem quente.
Olho para o relógio que há na parede oposta aos espelhos;
passa um pouco mais das quatro horas e isso me faz lembrar que
ainda não comi nada. Seria maldade acabar com um trabalho tão
bem feito quanto este?
— Temos que ir, querida – diz minha mãe — Ainda faltam
algumas coisas.
— Tudo bem.
— Obrigada, Giulia! Abel, mais um belo trabalho.
Despedimo-nos deles e seguimos para o carro que nos espera
rente à calçada – carro este que eu não vi chegar.
[…]
Optei por um vestido preto de alças largas e soltinho, bem
confortável – Em comparação ao meu desconforto – um cinto
dourado e fino, que coloquei cinco dedos abaixo do volume formado
por meus seios, coloquei os sapatos pretos lisos que ganhei – algo
me dizia que isso iria agradá-lo, pelo menos em algo.
Já passa das seis e meia, e tudo o que posso fazer é esperar.
Sento-me na beirada de minha cama, de uma forma mais ereta que
o normal e repasso todas as regras e passos que devo seguir
sempre.
Ligo uma música suave e bem baixinha para ajudar o tempo a
passar mais rápido, sinto uma ansiedade enorme me consumindo
cada vez mais e, aos poucos, o medo também se faz presente.
Sinto meu coração trepidar acelerado sob meu peito, minha
garganta está seca e me incomoda.
— Menina? – a voz de Suzanne me desperta de meu
desespero; foco meu olhar nela — Sua mãe mandou-me aqui para
avisá-la.
— Sobre o que, Suzanne?
— Ele chegou. Estão na sala.
O ar me escapa dos pulmões por completo e tenho dificuldade
em trazê-lo de volta.
Levanto-me da cama e aliso o tecido na tentativa de
desamassá-lo, olho-me no espelho e avalio meu aparente estado de
desespero e ansiedade, buscando alguma calma.
Amuo com calma para Suzanne, que deixa a porta aberta ao
sair e some nas escadas; virando à esquerda e descendo
diretamente para a cozinha.
Respirei fundo mais algumas vezes mais antes de descer as
escadas em direção à sala.
Segurei o corrimão e desci, degrau por degrau, com um cuidado
exorbitante.
Mantenho meu olhar em meus pés em cada passo que dou, e
na medida em que vou me aproximando dos últimos degraus da
escadaria, percebo a presença de um homem, que me aguarda com
aparente calma.
Paro a menos de um passo dele.
Torço meus dedos na frente de meu corpo enquanto olho para
meus pés “aprisionados” nos sapatos de salto.
— América.
A voz dele é grave e doce ao mesmo tempo, é sedutora e me
aquece, mexendo comigo; ele praticamente desenha meu nome
com sua língua e lábios ao pronunciá-lo.
— Senhor – sussurro, ainda olhando para meus pés.
— Olhe para mim. – ele ordena ainda em tom doce e afável.
Meu coração trepida e meu corpo inteiro treme.
Eu obedeço.
Ao levantar meu rosto e cruzar meu olhar com o dele, o ar
escapa de mim mais uma vez. Os olhos de tempestade!
Meus olhos se arregalam minimamente e ele percebe.
A sombra de um sorriso passa pelo rosto dele, causando em
mim uma sensação de… alguma coisa, e me faz abrir um sorriso
tímido e pequeno.
— É uma satisfação revê-la, América. – diz em tom doce e
extremamente sedutor, mexendo mais uma vez com algo dentro de
mim — E para você?
— É uma grande satisfação revê-lo e finalmente conhecê-lo,
senhor.
Ele sorri.
Um sorriso torto e satisfeito, e mais uma vez ele me tira o ar.
Céus, ele é lindo!
— Posso saber o seu nome? – arrisco minha primeira pergunta
da noite.
O sorriso dele se amplia ainda mais e seus olhos brilham como
se dissesse: “Pensei que nunca fosse perguntar”.
— Edward. Edward Cage.
Com o mesmo sorriso ele me estende a mão, a qual eu pego.
Quando faço isso, sinto uma forte corrente elétrica passear pelo
meu corpo arrepiando toda minha pele. Parecia que haviam
conectado fios em meu corpo e os tivessem ligado em uma tomada
de baixa voltagem.
Prendo a respiração.
Ele aperta minha mão e me conduz para me sentar ao lado dele
em um dos sofás da sala. Meu coração trepida ainda mais rápido,
pelo rabo de olho dou uma olhadela rápida em minha mãe e em Joe
que observam tudo com muita… muita o quê?
Ele se senta no sofá e me faz sentar ao seu lado.
Cruzo as pernas da maneira que me foi instruída, a maneira
para chamar a atenção dele, e funciona. Sinto o olhar dele cair
sobre minhas pernas acompanhando todo o movimento que faço.
Tento ao máximo controlar minha respiração.
Ele ainda segura minha mão, e o contato só me deixa ainda
mais nervosa. Por que isso não pode acabar logo de uma vez?
Mordo meu lábio inferior na tentativa insana de conter meu
nervosismo crescente.
— Senhor Cage? – Joe o chama.
— Sim, Joe?
— Acredito que esteja com fome, estou certo?
Sinto o olhar dele sobre mim mais uma vez.
— Com certeza – seu tom me faz tremer por dentro e eu tento,
da maneira mais discreta possível, engolir em seco.

Sentamo-nos à mesa de jantar.


Joe senta-se à cabeceira da mesa, como sempre fez e minha
mãe ao “lado” dele, sento-me de frente para minha mãe e Edward
ao meu lado.
Será que vou poder chamá-lo pelo nome ou vai ser sempre
senhor para o resto de nossa convivência?
Assim que estamos todos acomodados, Suzanne entra junto de
suas ajudantes servindo o jantar.
O aroma que exala de cada coisa é maravilhoso e me abre o
apetite, minha boca se enche d’água.
— Bom apetite, senhores. Com licença – diz Suzanne se
retirando com as suas ajudantes.
Sorrio para elas, agradecendo silenciosamente.
— Senhor Cage, está servido? – pergunto a ele assim que me
estico para pegar o arroz branquinho e com cenouras.
— Por favor – pede em tom baixo.
Sirvo-o e depois sirvo a mim mesma com praticamente as
mesmas coisas, evito as castanhas cozidas com rum. Será bom
evitar um acidente.
E o sabor está divino.
Eu resolvo finalmente me arriscar nas novas perguntas,
perguntas leves e que com toda a certeza poderão ser respondidas
por ele durante um jantar com a minha família.
— Posso fazer algumas perguntas, senhor Cage? – peço em
meu tom mais doce e afável.
— Por favor. Estranharia se não fizesse.
Dou um sorriso tímido para ele antes de começar.
— O senhor faz o que de sua vida?
— Sou um empresário, senhorita Lawson. Dono da minha
própria empresa.
— Softwares Cage, correto?
— Exato. – ele sorri orgulhoso.
— Família?
— Pais casados e dois irmãos.
Sorrio mais uma vez para ele, porque ele sorri de volta e eu,
estranhamente, estou gostando desse sorriso.
[…]
O jantar acabou.
Eu já me encontrava de dentes escovados e, no momento,
estamos apenas eu e minha mãe na sala, sentadas uma de frente
para a outra, apenas olhando a hora passar sem falarmos nada.
Joe e ele estão no escritório, discutindo e acertando as últimas
coisas da minha partida.
Só espero que Joe tenha explicado a ele como eu sou de
verdade. Eu não quero ter que mudar mais do que eu já era
obrigada a fazer todos os dias.
Cada novo minuto que passa, mais próxima do começo de uma
“nova vida” eu fico. Cada vez mais perguntas se formam em minha
cabeça e o medo aumenta, gradativamente, de mãos dadas com a
insegurança e com a ansiedade. Não quero que ele me machuque.
Não o conheço e ele provavelmente não deve nem saber do que eu
gosto e muito menos o que eu gosto de fazer. Vai ser algo realmente
difícil…
Pelo menos ele não é um velho gordo e cheio de rugas! –
Aquela voz chata da consciência fala em minha mente; desta vez
tenho que concordar com ela.
Edward Cage é realmente um homem muito bonito.
— Filha? – minha mãe me chama.
— Sim?
— Posso saber no que está pensando? – pede.
Eu me sinto insegura em revelar, mas que mal, realmente, iria
fazer?
Ela parecia estar realmente se importando comigo sobre isso.
— Em muitas coisas… principalmente nele.
— Nele?
— Sim, mãe. Nele. Edward Cage. Meu dono… – sussurro e me
engasgo com a última parte.
É algo realmente vergonhoso de se dizer e eu me sinto como
um objeto, um poodle de bolsa.
— E o que está pensando exatamente sobre ele?
— Ele não é um velho nojento e cheio de rugas como eu pensei
que fosse ser – contemplo.
Rimos.
E isso é realmente real.
— É… ele realmente não é.
— E também não parece ser um monstro de sete cabeças, mas
isso eu só vou poder ter certeza com o tempo.
Mordo meu lábio inferior e, sem pensar muito, rapidamente me
levanto e sento ao lado de minha mãe no sofá.
— Mãe… E se… e se eu me apaixonar por ele? – sussurro a
pergunta como se fosse a coisa mais terrível a ser dita, olhando
para todos os lados, ao mesmo tempo em que também miro os
olhos de minha mãe.
— Eu não sei… Você quer se apaixonar por ele?
— Tenho medo que isso aconteça.
— Então você não quer?
— Acho que não.
Ela afaga meu rosto e põe uma mecha de meu cabelo para trás,
um sorriso doce e totalmente materno aparece em seu rosto.
Minha mãe nunca havia sido tão carinhosa comigo assim antes
e, por um momento, eu fico triste de que isso esteja acontecendo
apenas agora.
— Não pense nisso agora, está bem? Deixe um dia acontecer
de cada vez, um por um. Viva cada um deles como se pudesse ser
o último e tente ser feliz estando com ele.
Abraço-a e um soluço escapa de mim.
— Não chore. Ou ele vai pensar algo que não será a verdade –
pede me afastando e passando os polegares debaixo de meus
olhos.
— Vou te ver de novo?
— Espero que sim, querida.
Abraço-a mais uma vez antes de voltar para o meu lugar de
antes.
Sento-me na mesma posição e volto a esperar, desta vez, com
um pequeno sorriso em meu rosto.
Os segundos e minutos parecem se arrastar e eu realmente
adoraria ter um bom romance inglês em minhas mãos no momento.
Cruzo e descruzo as pernas, bato o pé, inspiro e expiro de
maneira pesada umas três vezes, causando um riso em minha mãe.
— Parece bem ansiosa.
— Só estou cansada de ficar esperando. Acha que ele vai se
importar se eu for…
— For aonde, América? – ele me interrompe, de repente, no
meio de minha pergunta, pegando a frase no meio do caminho.
Olho para ele com ar inocente – sendo que eu realmente sou
inocente – e pisco os olhos duas vezes antes de respondê-lo
completando minha pergunta:
—… à biblioteca pegar um livro?
— Não há mais tempo para isso – responde Joe.
— Já vamos, senhor? – pergunto realmente surpresa.
Não posso dizer que estava ansiosa por essa parte.
— Sim, América.
Anuo de maneira positiva e me levanto, ficando bem na frente
dele.
Vou até minha mãe e a abraço; mais uma vez, um soluço
escapa de mim, desta vez baixinho, acredito que ele não tenha
ouvido.
— Boa sorte. – ela sussurra para mim.
Também abraço Joe, que se surpreende, e neste momento me
lembro de Nicolas, o homem que me criou que passou mais tempo
comigo e o único que eu verdadeiramente chamei de pai.
Ao me afastar deles fito meu dominador, que mantém o
semblante sério e contido.
Ele me estende a mão, a qual eu pego, o que causa aquela
onda elétrica que percorre o meu corpo.
— Tudo bem? – ele pergunta.
Aceno de maneira positiva com a cabeça.
Seguimos para as portas e, antes de sair de vez, dou mais uma
olhada para trás.
Vejo minha mãe sendo abraçada por Joe e, mais atrás, está
Suzanne. Ela acena para mim em prantos.
Eu sorrio e aceno de volta.
Na frente da casa há um carro, e dele salta um homem grande e
mais velho – talvez na casa dos quarenta – que abre a porta traseira
para Edward e eu.
Ele me cumprimenta com um aceno simples de cabeça o qual
eu retribuo com um sorriso.
Nós entramos no carro, e, depois que o homem fecha a porta,
vejo minha mãe, Suzanne e Joe na porta acenando para mim, e,
mesmo sem saber se eles podem me ver, eu aceno de volta.
— Adeus – sussurro da maneira mais baixa que consigo.
Ao meu lado, o senhor Cage conversa de forma rápida com o
homem ao volante.
— Para o Diamond, Ford. – ele anuncia e estas são as últimas
palavras que escuto dele durante todo o tempo que permanecemos
no carro.
[…]
Edward mora em uma belíssima e enorme cobertura no edifício
Diamond.
O lugar tem uma decoração austera em tons de azul claro,
branco e creme.
Alguns quadros abstratos pelas paredes revelam bem o que ele
é para mim: um homem abstrato e difuso que não conheço e que,
provavelmente, vou levar bastante tempo para realmente conhecer.
Sinto-me realmente deslocada neste lugar enorme e
aparentemente frio.
— Bem-vinda à sua nova residência, senhorita Lawson.
Sorrio a ele agradecendo.
Mais uma vez ele pega minha mão, mas, desta vez, ele não me
conduz a lugar nenhum. Em vez de fazer isso, ele me puxa para o
calor de seus braços, envolvendo-me neles.
Ele é tão forte!
Uma mão repousa possessiva em minha cintura mantendo-me
presa, enquanto a outra se aloja em minha nuca segurando meu
cabelo e puxando minha cabeça para trás, inclinando-a, de forma
que eu e minha boca ficamos a sua mercê.
Ele move a mão que se mantinha em minha cintura de forma
que agora ele mantém minhas mãos presas atrás de mim e seu
braço envolve meu corpo prendendo meus braços e impedindo-me,
desta maneira, de tocá-lo.
Seus olhos ardem nos meus, despindo-me e me devorando
apenas com os olhos; a cor cinza está mais escura e embaçada. Há
um pedido bem explicito neles.
Ele quer me beijar.
Mordo meu lábio inferior e penso em negar, mas não faço isso.
Não sei que tipo de reação um “não” vindo de mim pode causar nele
nesse momento.
Balanço a cabeça de forma positiva.
— Por favor. – peço em um único fio de voz.
Ele sorri um sorriso de canto e se aproxima.
Os lábios dele se sobrepõem aos meus e ele me toma com
vontade pedindo passagem com a língua, mas não a concedo; não
consigo me entregar cem por cento a ele ainda.
É cedo demais para isso, não é?
Tento me afastar, mas ele me mantém colada a ele e sua língua
invade minha boca.
E quando minha língua toca a dele uma descarga de desejo é
lançada no meu sangue e retribuo ao beijo dele com a mesma
intensidade.
Seus dentes se prendem ao meu lábio inferior, repetindo o gesto
que eu tinha feito antes de ele me beijar, com um pouco mais de
força e com verdadeiro gosto fazendo-me gemer.
Quando o ar se faz necessário ele se afasta, mas me mantém
em seus braços, presa a ele.
Um sorriso malicioso está presente na face bem desenhada e
de traços fortes dele.
— Estou louco para explorar cada canto do seu corpo.
Queria eu poder dizer o mesmo!
Sorrio sem vontade para ele, sentindo-me desconfortável com a
situação e, ao mudar o meu peso de um pé para o outro, percebo o
quão excitado ele ficou apenas por ter me beijado.
Olho para ele surpresa e assustada ao mesmo tempo.
Isso foi só com um beijo? – eu me pergunto.
O sorriso que ele me lança só me deixa ainda mais atordoada e,
estranhamente, deixa-me excitada.
Céus!
Não quero que ele me toque desta forma! Não! Não ainda.
— Por favor, me solte, senhor Cage. Por favor? – peço
agoniada.
Ele me olha de forma estranha, parece irritado.
Comigo?! Só por que disse um “não”?
— Não quer que eu te toque? Que eu te faça minha? – pergunta
soltando-me e se afastando um passo de mim.
— Por favor. Ainda não.
— Por quê? – questiona se afastando.
— Tenho medo! – minha voz se eleva e no mesmo instante me
arrependo — Desculpe.
— Tem medo? De mim?
— Não sei… sim… talvez. Por favor, entenda… Eu ainda não
confio no senhor. O senhor foi o primeiro homem que me beijou!
— Fico realmente satisfeito em saber disso. – ele me olha com
um olhar inflamado. Acho que fiz merda! — Ficaria realmente muito
bravo se algum outro homem tivesse tocado em você.
Olho para todos os lados menos para ele, porque se ele
soubesse da verdade ele nunca teria me escolhido e eu ainda não
sei dizer se essa seria a minha melhor opção.
Edward Cage pode ser a minha válvula de escape para fora
desta vida que eu tanto abomino. Eu posso dar algum voto para ele,
não posso?
— Pois bem – ele diz por fim, estendendo a mão novamente
para mim — Venha. Quero que conheça seu quarto.
Ele me conduz pelo apartamento entrando ainda mais no local e
fazendo-me perceber que é bem maior do que eu pensava.
Têm dois andares, uma cozinha ilha bem espaçosa, uma sala
com sofás grandes e um aparelho de som de última geração, um
piano de cauda escuro ao fundo dando mais emoção – se é que
posso dizer assim – ao ambiente, atrás da escada há mais portas e
um tipo corredor se forma. É um lugar realmente enorme!
Subimos as escadas e seguimos por um corredor “médio” até a
última porta, a qual ele abre e eu me deparo com um quarto bem
claro repleto de móveis brancos e austeros.
— Você pode decorar da forma que quiser. – ele diz em tom
aparentemente suave — Ao seu gosto.
— Gosto desse jeito. Mas, mesmo assim, obrigada, senhor
Cage.
Ele aperta minha mão.
Fito seus olhos e vejo a vontade e o desejo presentes neles, tão
fortes e convictos que até me assusto.
Beije-o! – minha mente grita para mim.
Nego com a cabeça.
Ele sorri de maneira leve – parece até cabisbaixo – e
abaixando-se beija meus dedos, antes de soltar minha mão e se
virar para sair.
— Senhor Cage? – chamo-o.
Ele me olha – aparentemente – esperançoso.
— Por que me escolheu?
Pronto!
Sua expressão se torna confusa. O cenho franzido, os olhos
cinza destilando curiosidade.
Ele passa a mão pelo cabelo escuro – quase negro – e suspira
de forma pesada.
E essa reação dele só me faz pensar que ele só me escolheu
porque me achou gostosa ou pior, porque recebeu uma agradável
quantia em dinheiro de toda a família ou, pior ainda, uma bela
proposta.
— Ainda não sei… quando eu souber, eu lhe conto.
É o que ele me oferece.
Anuo de maneira positiva, sentindo-me realmente um objeto,
realmente diminuída e insignificante.
— Eu gostaria de tomar um banho… Onde encontro as coisas?
Ele sorri de forma maliciosa, fazendo-me morder o lábio inferior
em resposta.
— No closet vai encontrar tudo o que você precisar.
— Obrigada, senhor – sorrio para ele em agradecimento.
— Tenha uma boa noite, América.
— O senhor também.
Ele sorri e deixa “meu” quarto.
Olho em volta e sinto-me mais uma vez deslocada nesse
mundo, nesse lugar e em muitas coisas mais. Quero ir para casa –
para minha casa de verdade, onde eu vivi por um tempo com o
“meu pai” – dormir em minha cama e não ser mais eu.
Com um suspiro, eu caminho até onde presumo ser o closet e
dou de cara com o banheiro. Merda!
Vou até a outra e finalmente acerto. Todos os cabides estão
repletos de roupas variadas e realmente muito caras. Oh, droga!
Procuro a mais simples. Roupas íntimas, todas elas rendadas,
pequenas e cheias de transparências. Não gosto disso! Isso não
sou eu!
Respiro fundo e me direciono para o banheiro.
Tomo um banho quente e relaxante, e, logo depois que termino
de me secar e me vestir – ficando surpresa por as roupas terem
servido de forma tão perfeita em mim – deito na cama e me tapo até
o pescoço, a fim de me esconder e poder dormir.
Fico encarando a vista que a enorme janela me dá de Seattle
durante a noite, as luzes piscando, arranha-céus iluminados e
brilhando na escuridão, mandando, junto com a lua alguma luz para
o cômodo que me encontro.
Minhas pálpebras vão pesando e, aos poucos, se fechando e
não consigo lutar contra elas.
4- Vida nova.
Eu acordei cedo naquela manhã.
No meu primeiro dia como uma verdadeira submissa.
Meu primeiro dia como o cãozinho adestrado de um dominador
estava começando e eu me sinto – dentre tantas outras coisas –
apavorada.
Não tenho ideia do que esperar de Edward Cage hoje.
Ele vai tentar me beijar novamente? Ou ele vai respeitar o meu
pedido – a minha estupida tentativa de ter algum tempo e, talvez,
mantê-lo afastado?
Eu quero manter ele afastado?
Não acredito que ele vá fazer isso, pelo menos, não por muito
tempo, e não tenho ideia do que fazer caso ele tente algo.
Batidas leves contra a porta me chamam a atenção e me tiram
do meu mundo de perguntas e preocupações constantes.
Eu me sento de maneira ansiosa na cama, apertando o lençol
firmemente contra o meu peito e engolindo a seco.
— P-Pois não? – eu indago da maneira mais firme que eu
consigo.
— Senhorita Lawson? – a pessoa do outro lado da porta chama
em tom ansioso.
A voz é feminina e eu relaxo quase instantaneamente diante
disso.
— Quem é? – pergunto ao mesmo tempo em que me levanto da
cama.
— Sou a senhora Garner – ela responde — O senhor Cage
pediu para eu vir checá-la. Posso entrar?
Passando a língua pelos meus lábios ressecados e as mãos
nervosamente pelo cabelo, eu caminho até a porta e a abro
minimamente.
Meus olhos caem diretamente na senhora de estatura mediana,
pele que parecia ter sido dourada pelo sol durante muito tempo em
sua vida, cabelos escuros impecavelmente arrumados e olhos de
mel que me fitavam muito gentis.
Tão gentis quanto o sorriso que ela carregava nos lábios
grossos.
Ela parecia uma mãe, ou uma avó, como aquelas que as
crianças falam ou que aparecem em filmes ou séries familiares.
Para mim, sorrir de volta para ela, foi inevitável.
— Olá senhorita – ela me saudou ainda sorrindo.
Eu apenas me limitei a continuar com o meu sorriso enquanto
abria espaço para ela entrar.
— Olá – cumprimentei de volta, em um tom mais baixo e
contido.
— Primeiramente, quero desejar-lhe as boas-vindas, senhorita
Lawson.
— Obrigada.
Eu sorrio.
— E pode me chamar de Amy ou América. Eu prefiro – sussurro
timidamente a última parte.
— Eu sou Aretha Garner e trabalho para o senhor Cage. Vim
aqui ajudá-la em seu primeiro dia. – ela explica — Ele me pediu
para vir aqui e verificar se a senhorita está bem instalada e se
gostaria de se juntar a ele para o café da manhã.
— Ah… – sopro apenas isso para fora.
Mordisco nervosamente o interior da minha bochecha.
Por um momento eu simplesmente fico ali olhando para ela,
pensando no que eu devo dizer e como eu devo considerar isso.
Enviar a senhora Garner significava que ele estava me dando
algum espaço? A oportunidade que eu tinha pedido?
Eu devo aceitar?
— E então, senhorita? – ela interrompe meus pensamentos,
olhando-me ansiosa.
Aparentemente, ela tinha ignorado muito bem o meu pedido de
me tratar pelo meu nome.
Isso soa tão estranho…
Engolindo a seco, eu olho ansiosa pelo quarto antes de voltar
meu olhar para a senhora na minha frente e então respondê-la:
— Claro. Eu vou sim.
Engulo a seco passando a língua pelos meus lábios mais uma
vez.
— Devo vestir algo especial? – questiono.
A senhora me sorri docemente para mim antes de me responder
em tom igualmente doce:
— O senhor Cage disse que a senhorita poderia se vestir como
quisesse.
Aceno positivamente em resposta, sentindo alívio e um breve
incômodo diante disso.
— Vai precisar de alguma ajuda? – ela pergunta.
Pode me ajudar a sumir? – questiono mentalmente.
— Não, muito obrigada… senhora Garner.
— O café será servido em meia hora na cozinha, senhorita
Lawson.
— Certo… eu estarei lá. – respondo meneando positivamente
com a cabeça.
Ela apenas sorri em resposta, deixando-me sozinha no quarto
branco novamente.
Eu tomo a porta fechada como a minha deixa para me mover.
Eu tinha aceitado ir tomar o desjejum com Edward Cage, e tenho
certeza que posso fazer isso.
Posso usar estes momentos para conhecê-lo e, assim, decidir
como realmente agir ao redor dele.
Eu poderia dar esta chance, não é?
[…]
Vinte minutos depois, eu desço as escadas cuidadosamente,
trajando a roupa mais simples e confortável que meus olhos
encontraram.
Um vestido de verão, de tecido suave e macio, que chega até
um pouco abaixo da metade das minhas coxas, e calçando um par
de sapatilhas.
Ele tinha dito que eu poderia vestir o que eu quisesse e eu
adoro me sentir confortável dentro de uma roupa. E esta tinha sido o
mais próximo do que eu realmente escolheria para mim em um dia
normal de uma vida normal.
O senhor Cage está sentado em uma poltrona que ladeia o
meio da sala de estar.
Ele está lendo o jornal e parece bastante concentrado em fazer
isso.
Bom… pelo menos, ele parecia estar. Minha noção sobre isso
se alterou completamente quando ele baixou o jornal para seu colo
e seus olhos tempestuosos se fixaram diretamente em mim.
Eu engoli em seco, paralisando em meu caminho
imediatamente.
Era quase um déjà vu do que tinha acontecido na minha antiga
casa. A diferença era que aqui eu não tinha para onde correr e me
esconder dele. E aquele quarto branco não era exatamente o lugar
que eu estava podendo chamar de “meu novo refúgio”.
Mas, surpreendendo todos os meus nervos e medos, ele sorriu.
Simplesmente sorriu para mim, saudando-me com esse gesto
brilhante e… bonito.
— Bom dia. – ele cumprimenta, ainda com o sorriso,
abandonando o jornal de lado e se levantando da poltrona.
Eu me mantenho como uma estátua, apenas observando.
— Está tudo bem? – ele pergunta e a voz dele soa perto
demais.
Meus olhos se desviam dele e me fixo em seus pés presos
dentro de um sapato social.
— Sim. Sim, senhor – respondo apressada, controlando com
todas as minhas forças o tremor que toma conta das minhas pernas
e braços. — Bom dia, senhor Cage.
Eu vejo a palma da mão dele entrando no meu campo de visão.
Meu olhar se desvia, no mesmo instante, dos seus pés para a
mão que está sendo ofertada, mas eu não me mexo.
— Você pode me olhar, América. Sem restrições – ele fala e sua
voz envia raios e raios de tremor e ansiedade pelo meu corpo. —
Nós estamos nos… conhecendo ainda, não é?
Aceno positivamente, ainda sem olhá-lo.
A resposta que recebo é um estalar de sua língua, e isso me faz
pensar se ele se sente frustrado.
Eu posso entender bem essa sensação.
— Venha comer comigo – ele chama, oferecendo-me sua mão
mais uma vez.
E eu a aceito, sentindo a mesma eletricidade percorrer meu
corpo, como na primeira vez.
Enquanto ele me guia para a cozinha, eu arrisco um olhar para
ele e para seus traços.
Edward Cage era realmente uma coisa boa de se olhar, isso eu
não podia negar, e ele não tinha tentado me beijar como eu pensei
que ele faria. E eu estava agradecendo por isso internamente.
Ele tinha aceitado o meu pedido.
— Senhora Garner – ele cumprimenta com um sorriso, e meus
olhos saem imediatamente dele para a senhora que esteve no meu
quarto hoje de manhã. — Acredito que a senhora e a senhorita
Lawson já se conheceram, certo?
— Sim, senhor Cage. Ela é uma moça adorável. – ela responde
sorrindo.
— Posso dizer o mesmo da senhora, senhora Garner.
— Ótimo! – Edward lança e eu noto um traço de sorriso em sua
voz, antes de ele se virar para mim: — América?
Eu olho timidamente para ele e sou banhada com o sorriso e
com o olhar que ele ostenta.
Meu nome em sua boca causa tremores dentro de mim.
— Por favor. – ele sopra, apontando para a banqueta com a
mão e com o olhar.
E eu me pego querendo que ele me olhe novamente.
Sento-me no lugar que me foi indicado por ele, assistindo-o
ocupar, em seguida, o lugar ao meu lado.
Há uma distância educada entre os nossos assentos e eu
agradeci internamente por isso.
Ter esse espaço entre nós nesse momento estava me fazendo
algum bem, porque a confusão e a ansiedade já eram grandes o
suficiente para eu ter que adicionar a elas essa coisa que dança sob
a minha pele quando nos tocamos ou quando ele me olha nos
olhos.
— Aretha é a melhor cozinheira que você irá conhecer, América
– ele lança de repente, enquanto a gentil senhora coloca tudo o que
foi preparado para o nosso café da manhã sobre o tampo de
mármore da bancada.
Eu posso até mesmo ver um rubor sobre a pele das bochechas
dela.
E devo admitir que é bom ver mais alguém que faça isso
também ao se envergonhar.
— Obrigada, senhor Cage – ela diz timidamente — Eu espero
que esteja do seu agrado, senhorita Lawson.
Eu sorrio para ela em resposta.
— Tenho certeza que irei adorar.
Ela acena positivamente antes de se afastar educadamente.
— Sinta-se à vontade para comer o que quiser, América. – ele
oferece.
E em resposta eu me limito a sorrir minimamente para ele, sem
mostrar meus dentes.

— O que você gostaria de falar? – ele pergunta, de repente,


depois do que tinha sido um longo tempo em silêncio em que nós
estivemos apenas comendo.
Eu olho ansiosa para ele, esperando.
E sentindo meu coração tripudiar em meu peito enquanto me
mantenho em silêncio.
A dúvida martelando em meu cérebro.
— Você pode falar, América – ele afirma — Como ontem, nada
de tão grande mudou para que você não possa falar. A menos que
você não queira.
Engulo a seco, nervosa.
— Eu realmente posso? – questiono em um sopro, ainda
olhando para ele. — Qualquer coisa?
A boca dele se contorce no que me parece sua tentativa de
conter um sorriso.
— Dependendo do que for a sua definição de qualquer coisa…
Ele encolhe sutilmente os ombros acenando com as mãos
displicentemente para os lados.
— Sim, você pode falar de qualquer coisa… comigo ou até
mesmo com a Aretha.
Eu anuo efusiva, dando para ele o meu primeiro sorriso
verdadeiro.
— Certo – balbucio animada, mexendo na salada de frutas que
eu escolhi comer — Posso perguntar… sobre o senhor?
— Eu serei o tema da nossa conversa? – ele pergunta e parece
quase divertido com isso.
Com isso ou com a forma como eu estou agindo.
Eu prefiro pensar que ele está animado sobre a conversa.
— Tudo bem – ele concorda — Ainda tenho algum tempo antes
de precisar sair para a empresa, então…
Eu sorrio animada, ajeitando-me no meu banco para começar.
Eu opto por começar pelo campo profissional.
— O senhor fez faculdade? – questiono, iniciando assim a
nossa conversa.
— Engenharia de Software – ele diz simplesmente.
— MIT*? – pergunto surpresa.
*MIT – sigla em inglês para IMT (Instituto de Tecnologia de
Massachusetts)
Esse homem é um gênio?!
— Não – ele responde com leve divertimento, balançando a
cabeça enfaticamente de um lado para o outro — Eu fiz na Cornell.
Ele me olha e sorri, aparentemente, esperando.
— Como chegou aqui? – aponto para o ambiente ao meu redor
ao fazer essa pergunta, mas a reformulo: — Digo… como se tornou
o dono da sua própria empresa e conseguiu tudo isso?
— Eu desenvolvi um software de segurança contra hackers
quando eu estava no meu segundo ano da faculdade e ele
funcionou tão bem que alguns empresários desesperados para
manter suas contas e clientes seguros pagaram uma boa quantia
para ter ele. No meu primeiro ano como veterano da faculdade eu já
podia comprar uma Ferrari e ainda viver confortavelmente –
responde com um leve descaso, é quase arrogante a falta de
importância que ele dá para isso.
— Tudo isso com um programa?! – pergunto surpresa,
indicando todo o espaço ao meu redor e a mim.
Principalmente a mim.
— Não. Eu fiz novos programas que superaram o primeiro e
assim por diante, até que eu me formei e decidi que eu podia fazer
mais que só alguns programas – ele explica melhor — E foi assim
que a Softwares Cage surgiu.
— Quantos anos tinha quando começou isso?
— Vinte e dois.
— E quantos anos tem agora?
— Vinte e oito.
Eu sinto como se meus olhos pudessem saltar para fora com
sua resposta.
Esse cara tem vinte oito anos e tem tudo isso?!
— Wow… – suspiro abobalhada — Isso é incrível… realmente
incrível.
— Eu só dei um pouco de sorte – ele desfaz — Muitos outros na
minha antiga turma eram tão bons ou melhores do que eu. Só dei
um pouco de sorte de atirar para o lado certo.
Ele encolhe os ombros e parece quase tímido.
E, de repente, o que eu tinha achado ser arrogância mal
disfarçada, eu percebo sendo uma timidez e, talvez, uma descrença
muito grande em seu próprio potencial. Isso me surpreende,
porque… como um homem como ele pode ser assim sobre si
mesmo quando conquistou tantas coisas como ele fez?
Eu não tinha a resposta para essa pergunta e nem para as
muitas outras que dançam pela minha cabeça.
— Foi enquanto ainda estava na faculdade que decidiu ser um
dominador? – pergunto em um tom mais baixo, escolhendo mudar o
rumo do assunto.
Ele tomba a cabeça para o lado, olhando-me enquanto analisa a
minha pergunta.
Mas antes que ele possa me dar sua resposta, um pigarro soa
atrás de nós, tirando-nos da nossa conversa e da estranha bolha
que tínhamos nos inserido.
Edward se vira e olha para quem nos interrompeu, enquanto eu
mantenho meus olhos virados para frente.
— Já está na hora? – ele pergunta.
A resposta positiva vem em um tom grave e baixo, em uma voz
definitivamente masculina.
— Já estou indo – anuncia de volta, antes de se virar
novamente para mim — Lamento, América, mas vamos ter que
continuar em outra hora – ele se desculpa, levantando-se
rapidamente do seu banco em seguida.
Ele leva sua louça para a pia, deixando-a ali, antes de voltar
para perto de mim e a descarga elétrica que percorre meu corpo,
com a sua proximidade, é quase imediata.
Eu podia sentir que a atmosfera tinha mudado.
— Eu posso ter um beijo de despedida? – pede.
E com isso todo os meus nervos estalam e falam.
Eu pondero por um momento, olhando brevemente para o local
onde antes – com certeza – estava a pessoa que tinha chamado a
atenção do senhor Cage, buscando saber se estávamos sozinhos.
Quando não vejo ninguém, volto meu olhar para o homem
parado à minha frente.
Ele está esperando pela minha resposta.
— Apenas um beijo? – sussurro.
— Apenas um beijo, senhorita Lawson – confirma — Eu posso?
O seu pedido afeta tudo em mim.
— Sim, senhor.
A sombra de um sorriso passa por seu rosto.
E eu vejo o brilho de satisfação que há em seus olhos com a
minha resposta.
Edward aproxima o rosto do meu, lentamente, segurando-me
pelas laterais da minha cabeça, e eu posso me sentir tremendo,
tanto que até meus ossos parecem estar formigando.
E quando sua boca se une à minha, essa sensação apenas se
intensifica.
O beijo não é aprofundado, como ele fez ontem quando
chegamos aqui. O contato é mantido apenas em uma dança gentil
de lábios, que aquece os tremores e formigamentos do meu corpo.
Isso soa quase como se ele não quisesse me assustar, e, por
muito pouco, eu não sorrio.
E, então, ele se afasta e está sorrindo.
Seus polegares tocam sutilmente o meu rosto em minhas
bochechas, antes de se afastar um passo a mais de mim.
Meus lábios estão formigando e eu me controlo para não os
lamber e nem os morder.
— Sinta-se livre para conhecer o apartamento, América – ele
oferece — E se precisar de alguma coisa, qualquer coisa, pode me
ligar.
— Eu não trouxe meu telefone – lamurio.
— Pode pedir à senhora Garner para fazer isso, então. Use o
telefone da casa enquanto não providenciamos um telefone novo
para você, está bem?
Aceno de forma positiva, ganhando um breve sorriso dele em
resposta.
— Tenha um bom dia, América – ele diz, tocando a lateral
esquerda do meu rosto com as costas de sua mão.
O carinho é suave e isso me assusta.
— Nos vemos no jantar.
E com isso ele deixa a cozinha ilha e a mim.
Desaparecendo do meu campo de visão por eu ter decidido não
o acompanhar com o olhar em seu caminho para fora.
Suspiro, voltando-me de frente para a bancada e para o que
ainda havia ali do café da manhã.
E quando meu estômago ronca alto, eu não penso duas vezes
antes de voltar a comer.

A senhora Garner retornou para a cozinha quando eu estava


terminando de colocar a louça, que estava sobre a bancada, dentro
da pia.
Eu tinha aberto a torneira para lavar o primeiro copo quando ela
avançou para mim.
— Menina, o que está fazendo?! – ela bradou, quase
marchando na minha direção.
— Colocando a louça na pia. Eu ia lavar – explico.
— Certo, certo… – ela dispensa — Agora, deixe comigo, sim?
O sorriso gentil está de volta ao seu rosto, mesmo que ela
esteja me movendo para fora e para longe da pia com a louça.
De repente, eu me sinto nervosa.
— Eu não deveria ter feito isso? – pergunto.
A última coisa que eu queria era arrumar problemas para ela.
— O que? Oh, não. Não – ela abana a cabeça e as mãos na
frente do rosto ao responder — Não há problema algum em trazer a
louça, senhorita Lawson. O senhor Cage faz isso o tempo todo, mas
eu prefiro que me deixe lavá-las, apenas isso – explica
amavelmente.
— Tudo bem – sopro minha concordância para fora, movendo-
me para me sentar de volta na banqueta que estava ocupando
antes — Se importa se eu ficar aqui? – peço ansiosa.
Não quero ter que ficar sozinha.
— Nem um pouco – responde docemente.
Eu agradeço internamente por isso.
— Algum pedido especial para o almoço, senhorita Lawson? –
ela pergunta, depois de um tempo em que apenas o som da água e
da louça sendo mexida era escutado.
— Nenhum.
Sorrio nervosa com minha resposta.
O que eu deveria dizer?
— Algo que não goste de comer? Ou algo que não possa
comer? – continua.
— Castanhas. Tenho alergia à castanhas – respondo — Fora
isso eu como literalmente qualquer coisa.
— Nada de castanhas, então.
Ela sorri doce para mim, olhando-me por cima do ombro.
— Eu posso pedi-la para me chamar pelo meu nome? –
pergunto — É tão estranho estar sendo chamada de “senhorita” o
tempo todo…
— Eu não me sentiria muito confortável em fazer isso, senhorita
Lawson. – ela explica, olhando-me brevemente por sobre o seu
ombro.
Com um suspiro baixo, eu me limito a apenas aceitar isso.
[…]
Eu não tive muito o que fazer durante as horas que vieram após
o tempo que passei com Aretha na cozinha.
Meu telefone celular tinha ficado na minha antiga residência.
Meus livros favoritos também tinham ficado lá.
Eu não tinha malas para desfazer, porque todas as minhas
roupas – as roupas que eu gostava de vestir e usar – não foram
trazidas.
Conhecer esse apartamento gigante parecia a coisa mais
interessante que eu tinha para fazer, mas esta era a última coisa
que eu queria.
Não queria conhecer este lugar, não queria gostar daqui, não
queria ficar aqui.
O que eu realmente queria era que minha mãe não tivesse ido
me buscar. Eu queria que ela tivesse voltado a fingir que eu não
existia assim como ela fazia na época da sua “grande ocupação”.
Eu estava bem onde eu estava e, agora, eu estou aqui.
Olhando ao meu redor na sala de estar, eu me encolho no sofá
que há ali, apertando meus joelhos contra meu peito tão perto
quanto é possível.
É algo estranho quando você se percebe solitário e isolado,
mais do que já foi durante toda a sua vida. Você começa a perceber
que certas coisas que podem te conectar a algo fazem falta.
Hoje, nesse exato momento, eu estou sentindo mais falta do
antigo lugar onde vivia do que eu já acreditei ser possível sentir.
Eu estava sentindo saudades da Paige…
Saudades da Suzanne.
Tinha até mesmo saudades de Joe e da minha mãe.
— Senhorita Lawson? – Aretha me chama, o que me faz sair da
minha pequena bolha de lamentação interna.
— Está tudo bem? – eu pergunto.
— O senhor Cage ligou – ela anuncia — Ele pediu para avisar
que não conseguirá chegar para o jantar esta noite.
Eu me limito a fitá-la por alguns segundos, absorvendo a
informação.
— Ah – eu projeto — Tudo bem.
Sorrio para ela, agradecendo por ela ter vindo me avisar.
Eu sequer tinha escutado o telefone tocar, mas talvez ele não
tivesse ligado para o telefone da casa. Eu não sabia nada sobre o
funcionamento desse lugar, ele podia ter uma linha direta para falar
com a senhora Garner, mas isso não é algo que seja exatamente da
minha conta.
— Gostaria de jantar agora? – ela pergunta, mais uma vez me
tirando dos meus pensamentos.
— Agora? – falo confusa, olhando ao meu redor com o cenho
franzido antes de voltar meu olhar para a senhora Garner: — São
que horas?
— Já passa das sete, senhorita – ela oferece.
Em resposta eu consigo apenas acenar positivamente com a
cabeça.
Eu não estava conseguindo acreditar que tinha ficado tanto
tempo assim, parada em um mesmo lugar como só um vaso de
plantas é capaz de fazer.
— Pensei até que a senhorita tinha dormido – ela continua em
suas palavras, sorrindo o seu sorriso doce que em tão pouco tempo
já era capaz de me acalmar.
Ela tinha essa coisa que eu não sabia explicar que apenas
inspirava a confiança, e eu estava gostando disso.
— Acho que posso ter dormido – respondo, forçando uma
risada sem graça ao final.
— Então, senhorita, gostaria de jantar agora? – ela retoma.
— Gostaria sim, senhora Garner. Obrigada.
Ela sorriu, assentindo com a cabeça antes de me deixar
novamente sozinha.
Sozinha.
Uma palavra que estava me parecendo ser aquela que definiria
muito bem os meus futuros dias aqui neste apartamento que era a
minha grande gaiola dourada.
Eu tinha tido hoje apenas uma amostra do que me parecia ser
uma futura grande repetição.
5- Dias de mármore.
A manhã do meu quarto dia da minha segunda semana na
cobertura de Edward se repetiu como foi o meu primeiro dia aqui,
com a única diferença de que quem apareceu em minha porta para
me buscar para o desjejum não foi a senhora Garner.
Edward Cage tinha sido a surpresa da minha manhã.
Eu sequer tinha imaginado que iria vê-lo nas primeiras horas
despertas do meu dia, mas ele estava aqui. Tinha aparecido na
porta do quarto designado para mim e me oferecido seu braço para
que eu o acompanhasse em direção à cozinha para o nosso café da
manhã.
Tinha sido a primeira vez que eu toquei conscientemente em
alguma parte de seu corpo que não fosse a sua mão ou a sua boca
– quando ele me beijava.
— Eu gostaria de poder fazer isso todas as manhãs – ele disse
enquanto caminhávamos pelas escadas na direção da sala — Isso
te incomodaria? – perguntou.
Eu não sabia como reagir com essa passividade.
Era estranho ele querer que eu dissesse e “aprovasse” cada
coisa que ele queria fazer comigo ou para mim.
Com os dominadores da minha mãe era diferente, eu sempre os
via colocando as vontades deles em primeiro, fazendo-a ser uma
coisinha adestrada e obediente. Mas Edward Cage estava me
pondo confusa sobre a forma como ele estava me tratando.
E eu não sei dizer se isso é realmente bom.
— Acho que não será ruim – respondo suavemente, mantendo
meus olhos em meus pés e nos movimentos que eles fazem de um
degrau para o outro. — Pode ser… interessante.
— Interessante? – ele repete como uma pergunta.
— Interessante – reafirmo, exibindo um sorriso pequeno.
Eu não podia afirmar outra coisa, senão isso.
O que mais eu diria? Não?
Infelizmente essa ainda não me parecia ser uma opção, não
quando estava apenas começando e ele estava concordando –
aparentemente – em me dar esse espaço e a possibilidade de
conhecê-lo antes de me empurrar para este buraco negro de
obediência cega.

O café da manhã seguiu como o dos dias anteriores.


Perguntas foram feitas por mim e respondidas por ele enquanto
tomávamos o nosso desjejum, mas minha pergunta sobre seu
caminho como um dominador não ganhou espaço nas perguntas,
assim como tinha sido nos dias anteriores.
Nem um aprofundamento sobre a sua família ou sobre a minha
surgiu, o que eu agradeci, pois o que eu teria para falar sobre eles?
O que eu teria para falar sobre a minha mãe quando eu estava aqui
por causa dela?
Quando ele saiu para sua empresa – mais tarde hoje do que o
seu comum nos últimos dias – eu me vi, mais uma vez, repetindo o
que eu fiz antes.
Sem um avanço ou coisa parecida.
O meu “precioso” marasmo.
[…]
À noite, próximo à hora do jantar, ele chegou.
Desta vez, Aretha não tinha aparecido na sala em que eu estive
encarando a televisão – sem realmente ver o que passava nela –
para me avisar que seu patrão não chegaria a tempo para o jantar,
como tinha sido nos dias anteriores.
Edward estava parecendo tenso, ou cansado, quando eu o
encontrei se desfazendo de sua gravata no hall de entrada.
Eu não estava sabendo dizer com alguma certeza, mas ele –
afirmativamente – não estava aparentando as feições de alguém
que estava satisfeito com o dia que teve. Isso eu podia afirmar,
afinal, eu devo demonstrar muito essa expressão durante grande
parte do meu dia.
E nos últimos meses – antes de vir para cá – essa foi a
expressão facial que mais me definiu em casa.
— Está tudo bem, senhor Cage? – perguntei, desejando com
todas as minhas forças que eu estivesse me mostrando mais
preocupada do que eu realmente estava me sentindo.
Ele me olhou e eu lutei para não desviar o olhar como fui
ensinada a fazer, falhando ao final.
Eu odiava como isso foi tão enraizado em mim que tinha se
tornado uma resposta quase automática e mesmo que eu gostasse
de olhar as pessoas nos olhos, Edward Cage foi alguém para quem
eu fui ensinada, durante muito tempo, à não encarar diretamente.
Ainda que ele tivesse me dito que eu podia olhá-lo, levar isso a sério
não era uma coisa que eu poderia fazer por um longo tempo.
— Você pode me olhar, América – ele repete o que me disse no
meu primeiro dia aqui; seu tom ao dizer a palavra “pode” não me
deixa dúvidas sobre sua insatisfação com o dia de hoje — Não vou
arrancar um pedaço seu por isso – ele garante, e eu sinto o peso
dos seus olhos sobre mim — Não sou um maldito cão raivoso.
— Eu sei, senhor Cage, é apenas algo com o qual não estou
acostumada – explico suavemente, olhando para ele por sob meus
cílios.
Seu suspiro foi audível.
— Eu compreendo – ele sopra, mas sua expressão é contrária à
sua afirmação. — E sobre a sua pergunta: eu estou bem, um pouco
melhor agora que estou em casa.
Eu me limito a apenas acenar positivamente com minha cabeça,
aceitando sua resposta.
— Você já jantou? – ele pergunta após o nosso silêncio mútuo,
enquanto ele recolhia suas coisas para seguir ao seu quarto.
— Ainda não.
— Se junta a mim? – ele pede ansioso e parece estar mesmo
querendo que eu faça isso.
— Sim, senhor.
— Ótimo – ele sorri — Eu vou tomar um banho e já desço para
comermos.

Aretha deixou a cozinha logo depois de colocar nosso jantar


sobre a bancada.
Após nos servirmos, começamos a comer em silêncio.
Desta vez, eu não estava me sentindo confortável para fazer
perguntas ou iniciar uma conversa, como tinha sido de hoje de
manhã e nas manhãs dos dias anteriores.
Hoje não estava parecendo ser o melhor dia para Edward, e eu
estava tentando respeitar isso, como ele vem fazendo quanto ao
meu espaço para aceitar o fato de que agora minha vida era
indefinidamente com ele.
Não posso dizer que estava sendo fácil, afinal, mesmo com tão
poucos dias aqui, eu já tinha me acostumado a conversar com ele
nos parvos espaços de tempo que passávamos juntos em nossas
manhãs antes de ele sair para o trabalho, então, todo esse silêncio
estava realmente começando a me incomodar.
E eu não sei o que fazer para mudar isso.
Engolindo a seco, eu ergo meu olhar para Edward, para onde
ele está sentado com a cabeça baixa e a atenção fixa em seu prato
e na comida ali e, reunindo alguma coragem, eu pergunto:
— Está realmente tudo bem, senhor Cage?
— Essa pergunta é você quem está fazendo, ou é só mais
alguma coisa com a qual está acostumada? – ele pergunta amargo,
em um tom que é cético em meus ouvidos.
Eu sinto meus ombros caírem quando o peso disso me atinge.
Por alguns momentos eu fico sem reação, sem conseguir
entender o que tinha acabado de acontecer aqui e sem entender o
motivo de ele ter me dito isso.
E o pior é que eu não posso dar a resposta que ele estava
merecendo, porque ele é simplesmente a pessoa que tinha me
tirado da vida incerta que eu tinha com a minha mãe. Mas fez isso
apenas para me colocar em outra vida incerta com ele.
Enquanto estava em meu momento de absorção, eu vi o exato
momento que ele percebeu o que tinha feito.
Sua cabeça estalou para cima e seus olhos de tempestade
estavam arregalados para mim com culpa e arrependimento.
— Por favor, América, me perdoe por isso – ele pede, passando
a mão pelo rosto e apertando a ponte do nariz em seguida — Eu
tive um dia de merda na empresa. Na verdade, tive uma semana de
merda e não devia ter descontado em você.
Eu deveria ter aceitado isso e desculpado ele como um animal
adestrado que foi ensinado a isso.
Realmente deveria.
Mas, infelizmente, minha língua foi maior que minha boca e eu
disse o que não deveria:
— Eu não tenho culpa se o seu dia é “de merda”. Eu também
tenho dias de merda e não é por isso que eu saio agredindo as
pessoas.
Ele apenas ergue uma sobrancelha para mim, seu olhar muito
fixo em mim.
De uma maneira desconfortável, eu devo acrescentar.
— Você realmente não deveria ter dito isso – eu finalizo,
vacilando levemente ao final.
Ele tinha atingido um ponto sensível da minha vida.
O que fez minha voz soar mais magoada do que eu imaginei
que poderia soar ao final das minhas palavras.
Eu odiei isso. Ter minha ferida atingida desse jeito.
Porque o que ele tinha dito, de certa forma era verdade. Muitas
das coisas que eu fazia aqui era porque eu tinha sido ensinada a
fazer da forma que eu fazia.
Ainda que eu desejasse.
Ainda que eu ansiasse por isso com todas as minhas forças, eu
não sei ser normal.
— Você tem razão, América… – ele diz, mas meus ouvidos
processam isso apenas roboticamente — Por favor? – ele pede e eu
olho diretamente para ele.
Pela primeira vez, olhando realmente dentro dos olhos dele.
Verdadeiros olhos de tempestade que parecem atormentados, e
isso, estranhamente, me abala.
— Tudo bem – eu sussurro, dando para ele o que ele queria,
mesmo eu não sabendo o que era — Eu posso me retirar agora? –
peço ainda em tom baixo.
— Pode – ele concede — Tenha uma boa noite, América, e
mais uma vez, por favor, me desculpe.
Eu concordo com a cabeça, agradecendo.
— Boa noite, senhor Cage – desejo ao me levantar da banqueta
que ocupo, para em seguida seguir para fora da cozinha e então
para as escadas.
Fui diretamente para o quarto que eu tinha começado a chamar
de “meu”.
Minha mente em uma batalha entre repetir as palavras de
Edward para mim, e as tentativas de impedir isso se tornar um filme
que nunca sai de cartaz e nunca para de passar na televisão.
Eu tomei um banho, ainda tentando não pensar no que tinha
acontecido na primeira vez que tínhamos jantado na presença um
do outro, mas falhando miseravelmente.
E quando eu me deitei na cama – depois de longos minutos
debaixo da água quente e de mais um tempo para me secar e me
vestir – eu fiquei ali por um longo, longo tempo, repassando mais
uma vez o jantar.
Todas as minhas tentativas de impedir que o jantar se tornasse
um filme sem fim falharam completamente, e agora eu estava aqui,
tendo isso se repetindo em minha cabeça e se misturando a todas
as vezes que eu fiquei acordada na minha antiga casa, me
perguntando o que seria de mim quando o dia de ser a submissa
perfeita chegasse. Me perguntando como seria a minha vida.
Até agora nada muito diferente tinha acontecido.
E pela primeira vez, depois de muito tempo, eu chorei até
dormir.
****
Acordo apavorada.
Gritos viscerais e aterrorizantes vêm de algum cômodo da casa,
e isso me põe nervosa.
Levanto-me apressada, enrolando-me em um dos roupões de
seda que encontro no closet – o primeiro tecido que vejo – e saio do
quarto à procura de quem está gritando desta forma apavorante.
Conforme corro pelo corredor da parte superior, vou me
aproximando cada vez mais de onde vêm os gritos.
Abro a porta com cuidado e um arrepio percorre toda a minha
espinha.
Edward está em sua cama, se contorcendo em meio aos
cobertores e ele grita apavorado, implorando para que alguém pare
de machucá-lo.
Corro até ele e fico sem reação. Sem saber o que fazer.
Não posso tocá-lo, então como eu faço para tirá-lo desse
pesadelo?
Ando de um lado para o outro, nervosa, com as lembranças das
minhas lágrimas e de suas palavras se conflitando na minha cabeça
cada vez mais, e é nessa hora que uma ideia surge em minha
mente.
Eu paro nos meus movimentos e o encaro em seu sofrimento,
lembrando-me das vezes em que fui eu em seu lugar.
E é assim que eu decido o que fazer.
Sento-me na beirada da cama inclinando-me sobre ele e, com
dificuldade, tento não tocar em nenhuma parte além do local que
será necessário e o beijo, segurando apenas seu rosto para mantê-
lo parado.
A primeira vez que eu tomo a iniciativa de beijar alguém e é
para tirar esse alguém de um pesadelo – eu reviro os olhos
mentalmente para isso.
Ele leva certo tempo para parar de se debater e para começar a
retribuir meu beijo, para logo depois me afastar e me olhar
espantado.
Me espanto quando sinto lágrimas quentes escorrerem pelo
meu rosto.
Estou com medo.
Medo dele e da reação dele.
Ele me olha assustado – provavelmente por causa do pesadelo
– com dúvida e com raiva.
Merda! Ele está com raiva de mim?!
Passo as costas da mão debaixo dos meus olhos secando
minhas lágrimas e me levanto da cama dele, ficando de pé ao lado
da mesma e evitando olhá-lo.
— Você me beijou?! – ele diz e parece perplexo.
— Desculpe-me, senhor Cage – peço com um fio de voz — Eu
não sabia o que fazer. O senhor estava gritando muito, parecia
sofrer. Não posso te tocar… essa foi a única maneira que encontrei.
Me desculpe – imploro de olhos baixos e torcendo meus dedos na
frente do meu corpo.
Ele me olha ainda mais surpreso.
Edward ainda está deitado na cama, apenas metade do corpo
erguido, apoiado pelos cotovelos.
Ele se levanta – e só aí eu percebo que ele está sem camisa – e
sai de debaixo dos cobertores ficando em pé e parando bem na
minha frente. Tão próximo que sinto o calor de seu corpo tocar o
meu.
Será que ele se lembra da discussão ou está tão perturbado
pelo pesadelo e pelo meu beijo que isso está oculto em sua mente?
Eu sei que agora tudo parece meio nublado em minha cabeça,
com exceção da presença dele tão perto de mim, o que parece estar
dominando tudo.
E piora um pouco quando ele prende meu queixo entre seu
polegar e indicador e o puxa, libertando meu lábio de meus dentes.
— Não morda o lábio – me repreende — Agora diga: Por que
me beijou? – pergunta erguendo meu rosto para me fazer olhá-lo.
— Foi a única maneira que encontrei de acordar o senhor.
— Disse que tinha medo de mim, América. Disse que não
confiava em mim.
— Eu sei. Perdoe-me. Não estou pronta para isso – falo,
apontando entre nós dois.
Apontando entre nossos corpos próximos demais.
De uma forma que eles não ficavam desde que ele tinha pedido
para me beijar antes de ir para o trabalho na manhã do meu
primeiro – e verdadeiro – dia aqui.
— Mas me beijou – ele rebate.
— Sim, beijei.
Ele se aproxima ainda mais.
Os lábios roçando levemente nos meus e então ele me puxa
colando seus lábios aos meus com vontade e real desejo.
— Minha… – ele murmura com a boca colada a minha — Só e
completamente minha.
Perco o fôlego.
Ele me faz desejá-lo, sentir vontade dele, mas ainda não quero
que ele me toque da maneira que ele quer me tocar. Não por
enquanto… eu ainda não sei o suficiente sobre ele para isso.
E se ele quiser apenas ver a minha dor?
Eu não gosto da dor.
— Quero confiar, ao menos um pouco, no senhor primeiro –
digo em um fio de voz, ainda me sentindo zonza com o que ele
havia acabado de me dizer e ainda sentindo minha pele formigar por
causa do beijo.
— Bem colocado. – diz com a expressão matreira e safada.
— Obrigada, senhor.
Com um sorriso ainda mais safado ele aperta minha bunda e
pressiona sua ereção em mim.
Arquejo.
— Isso América, é para você.
— Obrigada? – pergunto mais do que agradeço franzindo o
cenho, completamente confusa.
Ele ri.
RI!
Uma risada verdadeira que me deixa vermelha e com vontade
de rir também, mas me controlo.
— Que bom que eu o divirto.
Ele para gradativamente e me fita por longos instantes, para
logo depois olhar o relógio ao lado de sua cama.
— É melhor voltar para a sua cama, América. É bem tarde.
— Vai ficar bem, senhor Cage?
Vejo a sombra de um sorriso passar por seu rosto antes de ele
responder:
— Vou sim – ele toca meus lábios com os dele — Vá dormir.
Ele me liberta de seus braços e, assim, eu saio de seu quarto e
caminho – um tanto trôpega – em direção ao meu.
Entro no quarto que me foi dado e escorrego para debaixo das
cobertas, cobrindo-me até o pescoço e fico encarando a janela que
vai do teto ao chão até voltar a dormir.
Aparentemente, a discussão tinha sido posta de lado por ele.
E talvez, só talvez, eu pudesse fazer isso também.
6- Noites de marfim.
O sol atingiu meu rosto fazendo-me acordar.
Não são mais do que seis e meia da manhã, não tenho mais
vontade de dormir nem sono o suficiente para fazer isso.
Levanto-me da cama e me direciono para o banheiro.
Lavo meu rosto e escovo meus dentes sem utilizar da pasta e
bochecho bem minha boca para tirar o gosto ruim e o mau hálito
presentes nela. Não gosto de escovar os dentes antes de comer,
mas pelo menos isso vai me ajudar.
Caminho até o closet e procuro alguma roupa que não seja tão
chamativa e nem tão curta.
Depois de um bom tempo de procura, encontro algo que chega
mais perto do que me agrada: um vestido soltinho, azul claro, e
sapatilhas pretas. Encontro um elástico de cabelo próximo a
algumas joias em uma caixinha de vidro e prendo meu cabelo em
um rabo de cavalo alto.
Sento-me na cama e espero.
Depois de dez minutos esperando a porta do quarto se abre e
ele aparece, sorrindo para mim.
— Bom dia, América – cumprimenta-me, ainda com o sorriso em
seu rosto.
— Bom dia, senhor Cage.
— Venha. O café da manhã nos aguarda.
Levanto-me e caminho até ele, que me toma pala mão e me
puxa, tomando minha boca com a dele.
Ele me beija de forma lenta e cheia de desejo, fazendo um som
estranho ecoar de minha garganta.
Ganho uma apalpada forte em resposta a isso e, depois, ele se
separa de mim. Enquanto eu lutava para recuperar meu raciocínio e
meu fôlego, tentando entender o suficiente desse beijo que não
tinha sido desse jeito antes de eu beijá-lo por conta própria.
Segurando em minha mão ele me guia pelo corredor.
Descemos as escadas e paramos no meio da cozinha ilha.
Aretha Garner está se movimentando com eficiência pela
cozinha, mexendo em panelas e tigelas.
— Olá, Aretha – ele diz com um sorriso cordial.
— Ah! Senhor Cage. Bom dia! – ela cumprimenta e logo depois
desvia seu olhar para mim — Senhorita Lawson.
— Bom dia – respondo, dessa vez, abstendo-me de pedir para
ela parar de me chamar de senhorita.
Sorrio simpática a ela.
E Aretha sorri de volta.
— Bom dia – responde e logo depois volta sua atenção para o
homem que ainda mantém sua mão agarrada a minha — O que
deseja para o café da manhã, senhor?
— Panquecas, senhora Garner, por favor – responde em tom
brando — E você América, o que vai querer?
— O mesmo que o senhor, senhor Cage.
Ele sorri e acena de forma positiva com a cabeça para Aretha,
que se vira de volta para as tigelas e panelas, terminando o serviço.
[…]
As panquecas com calda da senhora Garner são divinas.
Eu já havia limpado meu prato e estava apenas esperando o
Senhor Simpático terminar de comer.
O suco de laranja está delicioso também, docinho e fresco.
— Satisfeita? – ele pergunta.
— Sim, senhor. Obrigada.
Ele sorri e se levanta carregando os pratos e os deixando na
pia.
— Posso fazer uma pergunta, senhor Cage? – peço.
Ele ri pelo nariz e me concede a palavra.
— Vou ter que ficar chamando-o de senhor ou senhor Cage o
tempo todo?
Ele me fita divertido e com o cenho franzido, sentando-se no
banco ao lado do que eu estou e ajeitando-se para ficar de frente
para mim.
— Por que está me perguntando isso?
— É estranho chamar um homem tão jovem como o senhor de
senhor o tempo inteiro… E eu gosto do seu nome – confesso
baixinho.
O nome dele tem um gosto bom em minha boca.
— Gosta?
— Sim, eu gosto – respondo, acenado positivamente com a
cabeça para dar ênfase.
— E do que mais você gosta em mim? – pergunta maroto.
Mordo o lábio inferior antes de respondê-lo:
— Ainda é cedo para dizer.
— Gosta quando eu te beijo? – pergunta se aproximando de
mim.
Ele está de pé na minha frente, os olhos brilhantes e sedutores,
assim como todo ele é.
Está tão próximo que posso sentir o calor que emana dele e o
perfume. Cheiro de homem.
— Eu não sei – respondo em um sussurro, mas sinceramente.
— Quer que eu te beije? – a malícia e o desejo são palpáveis
em seu tom doce e sedutor de voz.
— Quero – minha resposta não passa de um sussurro soprado,
que surpreende até a mim.
— Peça.
— Me beije, por favor, senhor Cage.
Um sorriso lento e satisfeito se desenha em seu rosto, e em um
movimento rápido demais para meus olhos e sentidos dormentes
ele toma minha boca invadindo-a com sua língua e explorando cada
pedaço.
Nesse momento ele tem sabor da calda de chocolate que
usamos para comer as panquecas.
Suas mãos seguram meu rosto, mantendo-me ali e quando
começo a corresponder com a mesma intensidade suas mãos
abandonam meu rosto e seguem pelo meu corpo até chegarem às
minhas coxas, as quais ele agarra e me ergue do banco, colocando-
me sobre a bancada da cozinha – onde nós tínhamos acabado de
tomar café! – me fazendo arfar de surpresa e, surpreendentemente,
desejo.
Meus dedos se agarram ao cabelo dele – não consigo conter
esse ato involuntário – e o puxo ainda mais para perto de mim.
As mãos dele sobem por minhas coxas, testando minha pele,
sentindo-a e deixando que eu sinta a dele em contato com a minha,
e logo seus dedos se encontram com o ápice de minhas coxas,
minha feminilidade que está coberta pelo tecido da calcinha.
Seus polegares se arrastam de cima para baixo lenta e
freneticamente nesta região, causando-me arrepios e sensações
estranhas dentro de mim, fazendo músculos em meu ventre –
músculos antes desconhecidos por mim – se contorcerem.
Os dentes dele se prenderam ao meu lábio inferior mordendo-o
com um pouco mais de força e fazendo mais uma vez sons
escaparem de minha garganta. Seus dedos ainda estão se
movendo de cima para baixo por sobre o tecido que cobre meu
sexo, que se encontra queimando.
Quando o ar foi mais necessário que o beijo, ele se afastou e
fitou meus olhos da maneira mais intensa que eu jamais tinha sido
olhada antes. Nunca ninguém tinha olhado tão dentro dos meus
olhos.
E eu não sou capaz de desviar.
— Você me quer, América. Eu sei disso.
— Não estou pronta para isso, não ainda.
Admitir que o quero como ele me quer seria o mesmo que
admitir que quero esta vida?
Eu não saberia dizer.
— Vou fazê-la precisar de mim da mesma forma que eu preciso
de você.
Talvez ele nem tivesse que se esforçar tanto.
Mais uma vez sua boca se cola a minha e seus dedos brincam
sobre o tecido fino de minha calcinha voltando a provocar as
mesmas sensações, até que ele para e, então, se afasta.
Os lábios inchados e vermelhos da mesma forma que eu sei
que os meus também estão.
[…]
Edward saiu para sua empresa uma hora após o café da manhã
e dos beijos trocados entre nós sobre a bancada da cozinha.
Já fazia um bom tempo que ele tinha saído, mas os efeitos do
seu toque ainda estavam agindo sobre mim, principalmente nas
partes que ele tinha me tocado.
Eu estava me sentindo estranha sobre isso.
Todas essas coisas, essas sensações… nada disso foi
explicado para mim e em todas as vezes que questionei, sempre me
foi dita a mesma coisa: que eu aprenderia com o meu dominador;
que estas coisas não são ensinadas por outros para as garotas que
são escolhidas virgens, como eu fui.
E agora eu estou aqui, nesse prédio, nesse apartamento
enorme, sentindo-me mais distante da normalidade e do mundo
como eu jamais tinha me sentido, com a sensação de confusão e
estranheza correndo pelo meu sistema, fazendo eu me sentir mais
perdida que uma pessoa no meio de um tiroteio.
Pela minha experiência, homens como ele – dominadores – não
fazem bem a nós; não fazem bem a pessoas como eu…
Balançando minha cabeça, eu me forço para fora desses
pensamentos e das lembranças que eles evocam em mim, porque
pensar nessas coisas é a última coisa da qual eu precisava.
Olho ao meu redor, buscando alguma familiaridade, algo que dê
a esse lugar um traço pessoal ou que me diga quem é Edward
Cage, mas não há nada. Nenhuma foto, nenhum objeto que diga
qualquer coisa sobre ele.
Há apenas essa organização luxuosa e quase mórbida em
todos os lugares que meus olhos conseguiam alcançar ali.
É uma coisa estranha.
Quão estranha pode ser uma pessoa que não possui fotos da
família, ou qualquer coisa que mostre algum traço da sua
personalidade, ou que é um lugar onde se vive alguém?
Até mesmo na casa da minha família há coisas como essas.
Mas se esse apartamento e essa organização absoluta é o que
ele decidiu mostrar de sua personalidade e de si, só me diz uma
coisa: Edward Cage pode ser mais controlador do que eu tinha
imaginado e esperado.
Isso pode ser um problema para mim.
[…]
À noite, depois que o jantar foi servido por Aretha na cozinha
para mim e para Edward, ele teve que se trancar em seu escritório
no apartamento – local que pela primeira vez eu prestei atenção
onde era.
E eu me vi sendo silenciosamente obrigada a me refugiar no
quarto que eu estava chamando de meu.
Assim que entrei, um embrulho colorido sobre a minha cama –
de lençóis tão claros – chamou minha atenção e mal eu fechei a
porta do quarto, já estava praticamente correndo para o pacote até
estar pairando sobre ele como uma criança paira sobre um doce
antes de atacá-lo.
Presentes não são coisas com as quais eu esteja acostumada,
não foi algo que eu tive por muito tempo para que isso acontecesse.
Presentes fora dos aniversários ou ocasiões que pediam um
“presente” são coisas que eu estou menos acostumada ainda.
Então qualquer pessoa que realmente me conhecesse poderia
estar imaginando como eu estou me sentindo diante desse
embrulho colorido – há até mesmo um laço colado sobre ele!
Parecia um presente de natal.
E eu me transformei na criança ansiosa que queria abri-lo.
Eu podia sentir minha boca meio seca e as pontas dos meus
dedos coçando para entrarem em contato com o papel que envolvia.
E, quando a minha curiosidade infantil me venceu, o único som que
se ouvia era do papel sendo rasgado pelos meus dedos ansiosos.
O que se revelou para mim surpreendeu até meu último fio de
cabelo.
Surpreendeu um sorriso para fora de mim e algumas batidas
perdidas em meu coração.
Um livro. Um que eu ainda não tinha lido.
E, nesse momento, esse é o melhor presente que eu já ganhei
na minha vida.
Eu pego o livro com as minhas duas mãos, a textura da capa
dura do livro, as letras marcadas profundamente ali. Abro o livro em
uma página qualquer e aproximo meu rosto com meus olhos
fechados, sentindo o cheiro das páginas, o cheiro da história desse
livro.
O cheiro da tinta, do papel… de tudo.
Cheiro de livro é um dos melhores cheiros para mim.
Abraçando o livro, eu me levanto da cama e sigo para fora do
quarto em direção ao primeiro piso e em seguida para o corredor
que eu tinha visto Edward seguir.
Eu precisava agradecer a ele por isso.
Olho para a porta de madeira maciça à minha frente, sentindo
meu braço apertar o livro contra meu peito, enquanto eu remexia
nervosamente minha mão pendida ao lado do meu corpo,
esfregando meus dedos contra o polegar e a palma de forma
ansiosa.
Respirando profundamente, eu ergo essa mesma mão,
fechando-a em punho e batendo levemente contra a porta.
Era a primeira vez que eu o buscava para falar qualquer coisa
com ele e isso estava causando uma coisa estranha em mim. Como
a ansiedade de uma criança em seu primeiro dia de aula.
Eu estava me sentindo um pouco pior que isso apenas.
— Entre – eu o escuto falar através da porta.
Eu respiro antes de girar a maçaneta e colocar minha cabeça
para dentro do escritório.
— Senhor Cage? – chamo suavemente, temendo estar fazendo
uma burrada, ainda que eu quisesse ser gentil com a gentileza dele.
— América? O que faz aqui? – ele pergunta confuso.
O cenho franzido enquanto ele me olha como se eu fosse uma
miragem.
Abro um pouco mais a porta e exponho o livro para ele com um
pequeno sorriso permeando meus lábios. A compreensão chega ao
rosto dele logo em seguida.
— Eu só queria agradecer por isso – falo, acenando com o livro.
Entro um pouco mais no escritório, deixando de me esconder
atrás da porta.
— Obrigada… é um dos meus autores favoritos e eu nunca li
esse.
Sorrio docemente para ele, lambendo nervosamente meus
lábios em seguida antes de voltar a sorrir.
— Fico feliz que tenha gostado, América – diz com uma emoção
que não reconheço — Eu senti que devia me redimir por ainda não
ter dado a devida atenção para você.
Isso me surpreende e me deixa sem minha fala por alguns
instantes.
Ele sorri para mim, fazendo minha pele se arrepiar de uma
maneira estranha.
Não sei dizer se gosto disso.
— E por falar em presente, o seu novo telefone chegou – ele
informa e eu sorrio um pouco mais. — Demorou um pouco mais do
que o esperado, já que seu outro aparelho era de um modelo mais
antigo e fazer a transferência dos contatos e todas as coisas gerais
e mais importantes rendeu um trabalho extra para os meus
funcionários – explica com certo divertimento na voz.
— Eu não sabia que trocar de celular dava tanto trabalho –
brinco de volta, sentindo-me um pouco mais à vontade.
Ele dá uma leve risada.
— Acontece quando praticamente se cria o aparelho do zero.
— Desculpe, o que?! – indago, sentindo que meu cérebro
perdeu alguma coisa.
— O seu celular – ele diz.
Movendo-se para fora da sua cadeira, ele pega uma caixa
pequena de papelão, em seguida, vindo até onde eu estou.
— É praticamente uma peça única – finaliza ao mesmo tempo
que me entrega a caixa.
Eu estava me sentindo ainda mais surpreendida.
Não sei se meu cérebro estava compreendendo corretamente o
verdadeiro significado das palavras “peça única” nessa sentença.
— Obrigada? – eu pergunto mais do que realmente agradeço,
ao mesmo tempo em que pego a caixa com o celular com a minha
mão livre. — Tem realmente… todos os contatos? – pergunto,
olhando incisivamente para a caixa.
— E alguns à mais. Eu tomei a liberdade de colocar o meu
número de celular, do Ford, meu segurança, o do apartamento e o
da Aretha. Só se você precisar.
Sorrio enquanto olho para a caixa.
Conexão com o mundo exterior!
— É o mesmo número do seu antigo aparelho, achei que fosse
gostar disso.
— Obrigada, de verdade.
Ergo meu rosto e meu olhar para ele, sorrindo.
— Pelo livro e… por essa peça única.
Sorrindo, ele pega meu queixo com as pontas dos dedos e
ergue meu rosto um pouco mais.
Seus olhos diretamente nos meus.
— Não por isso, América – responde, afagando levemente a
curva do meu queixo — Espero que faça bom uso deles e leia com
moderação – lança divertido, piscando maroto em seguida.
Meu coração perde uma batida.
O que é isso?
Pigarreando, eu abro um pequeno sorriso para ele, mesmo que
eu esteja me sentindo muito mais que nervosa por dentro com o que
tinha acabado de acontecer comigo.
— Mais uma vez: muito obrigada, senhor Cage – agradeço mais
uma vez, agora realmente agradecendo pelos dois presentes.
Sorrio sinceramente para ele.
Inclinando-se, ele beija minha testa como sua resposta ao meu
agradecimento e isso faz meu coração trepidar em meu peito e
meus dedos formigam com a súbita vontade que eu tenho de tocá-lo
e eu me sinto ainda mais estranha com isso.
Nesse momento eu não estava conseguindo saber se vir
agradecê-lo pelo presente tinha sido a minha melhor escolha.
Nervosamente, eu dou um passo instável para trás.
— Eu acho que… que vou voltar para o meu quarto agora… ler
o livro – desvio dele e de qualquer coisa que essa minha ideia
emotiva de vir agradecê-lo tinha causado.
Edward afaga minha bochecha com o polegar mais uma vez e,
então, se afasta.
— Tenha uma boa noite, América – deseja.
— Obrigada, o senhor também, senhor Cage.
— Edward. Você pode me chamar assim, América.
Eu sorrio agradecendo e acenando positivamente com a
cabeça.
Em seguida eu saio do escritório dele, deixando-o ali novamente
para em seguida voltar para o meu quarto, abraçando meu livro e a
“peça única” que eu iria chamar de “meu telefone”.
Eu ainda não conseguia acreditar que isso tinha acontecido.
Que Edward tinha criado um aparelho celular para mim e que ainda
parece ser o único existente.
Quão absurdo isso pode soar?

Já no meu quarto, com meu banho tomado e o livro – marcado


na página que eu parei repousando ao lado da minha cama – eu
encaro o teto branco e faço isso há tanto tempo que já nem sei mais
quanto é.
Infelizmente, não era a minha curiosidade com o que iria
acontecer aos personagens que estava me mantendo acordada até
tão tarde nessa madrugada. O que realmente estava me mantendo
assim era a minha inquietação com o homem com quem eu divido o
teto: Edward Cage.
O beijo que tínhamos trocado pela manhã após o café da
manhã e que até agora estava dando nós na minha cabeça; o livro
de um dos meus autores favoritos – e que eu nunca tinha lido – o
celular “peça única” – que eu coloquei ao lado do livro sobre o
criado-mudo – a forma como ele tem me tratado e a promessa de
que iria me fazer querê-lo como ele me queria.
O meu medo estava se tornando a possibilidade de ele não ter
que se esforçar muito para isso e o momento em que eu fui
agradecê-lo pelo presente tinha me provado que isso poderia
acontecer mais rápido do que eu temo.
Eu me sento na cama, cansada de encarar o teto por tanto
tempo.
Esfrego meu rosto entre minhas mãos, coçando meus olhos
antes de virar minha atenção para as enormes janelas de vidro e
para penumbra da noite, com luzes vindas apenas de alguns
prédios.
Uma noite fria e com traços de que iria chover a qualquer
momento.
Com um suspiro, eu saio da cama e, descalça, eu sigo para fora
do quarto, não querendo produzir barulho algum com meus passos
pelo apartamento.
Assim que eu estava do lado de fora, a porta do quarto de
Edward chamou a minha atenção e praticamente me atraiu para lá.
E quando eu tomei ciência de mim mesma, eu estava parada de
frente para a porta clara de maçaneta dourada.
Ela estava fechada, mas não trancada. Eu sabia disso pela
última vez que eu tinha estado aqui na noite anterior, quando ele me
acordou com seus gritos desesperados em um pesadelo.
Um pesadelo que parecia real demais para ser apenas uma
criação da mente dele.
E eu digo isso sabendo bem… por experiência própria.
Girando a maçaneta com cuidado, eu espero pelo click
ansiosamente, enquanto abro a porta e espero que o som não me
denuncie.
Quando isso não acontece, uma baixa respiração sai pelo meu
nariz – respiração essa que eu nem percebi estar prendendo – e eu
caminho, então, pé ante pé, cuidadosamente, até parar ao lado da
cama dele, no lado oposto ao que ele dorme.
Há um criado-mudo deste lado também e sobre ele há um
abajur, como no outro também há, e um notebook repousa ali.
Eu dou a volta, silenciosamente, e observo o criado-mudo – que
fica do lado da cama que Edward está ocupando – e observo o que
há sobre ele. Um telefone celular, um relógio de pulso, um
despertador digital e apenas isso.
Olho um pouco mais para o quarto em sua penumbra e
descubro uma cadeira colocada ao lado de uma porta que eu chuto
ser o closet ou o banheiro. Tem um par de sapatos colocados juntos
e paralelamente ao pé da cadeira que está contrário à porta.
Organização.
Isso me faz estremecer e não do jeito que os beijos de Edward
fazem.
Meus olhos então caem para ele e para forma totalmente
desorganizada que ele dorme em sua cama, isso trás um pouco de
calma para o meu temor, mas não o suficiente, já que tudo o que
parece cercá-lo é devidamente organizado e colocado em seu lugar.
Eu temia exatamente pelo dia que ele iria querer me colocar no
meu lugar.
É nesse momento que eu percebo o que estou fazendo e decido
sair do quarto de Edward e voltar para o meu. E faço isso tão rápida
e tão silenciosa quanto sou capaz de fazer.
****
A minha noite foi uma repetição do meu tormento para dormir.
Cada batida do meu coração parecia uma martelada em minha
cabeça e eu não tinha ideia do porque isso estava acontecendo
comigo e menos ainda porque eu estava curiosa em saber como era
assisti-lo dormir de verdade – e por mais tempo do que eu fiz na
noite passada.
Eu já tinha tentado ler, mas minha mente estava sempre se
desviando para a desordem de lençóis e pernas que eu tinha visto
que ele podia se transformar.
E talvez – só talvez – minha mente fosse para um caminho mais
perigoso, onde ele acordaria e me beijaria.
Já faz um bom tempo que estou em meu quarto com a luz
acesa e olhando para tudo, menos para a porta, e a ideia que
martela em minha cabeça está prestes a me deixar louca.
Literalmente.
E isso se confirma quando eu me levanto da cama saio do
quarto para ir ao quarto de Edward Cage e contemplá-lo em seu
sono. Eu caminho em silêncio pelo corredor. A única claridade que
existe ali é a que sai por baixo da fresta da porta do meu quarto;
uma claridade quase inexistente.
Edward está apenas a alguns passos de mim e atrás de uma
porta.
Giro a maçaneta com cuidado, para não fazer barulho, e assim
que abro a porta, eu o vejo. Ele está ali, bem na minha frente.
Ele parecia uma pessoa completamente diferente enquanto
dormia. Não havia o controle – que eu sentia praticamente sair pelos
poros dele – não havia seriedade e nem as tentativas de sedução.
Assim, dormindo, ele parecia uma pessoa normal. Uma pessoa
que eu – provavelmente – gostaria de ter na minha vida se nos
conhecêssemos de uma forma diferente e se eu não tivesse nascido
com o fardo que nasci.
Está dormindo tão tranquila e profundamente que minha
presença parece indiferente a ele.
Eu pego a cadeira que notei no quarto na noite passada e a
coloco de frente para o lado da cama que ele ocupa. O mesmo lado
da noite passada – como se ele estivesse dormindo com alguém ao
lado dele, ou como se ele ainda não tivesse se acostumado ao fato
de estar dormindo em uma cama grande.
Haveria um pesadelo esta noite como na primeira vez que eu
estive aqui?
Eu sinceramente esperava que não houvesse mais pesadelos.
Sentando-me na cadeira, eu me acomodo da melhor maneira
que consigo e passo a observá-lo.
Eu sempre acreditei que existem apenas quatro maneiras de
uma pessoa mostrar quem ela é de verdade, ou quem ela pode ser:
em situações de perigo, quando elas estão com raiva, bêbadas ou
dormindo.
Enquanto observava Edward, silenciosa e subconscientemente,
eu estava apostando que vê-lo dormir me diria qualquer coisa sobre
ele. E talvez – apenas talvez – houvesse essa pequena parte de
mim que está preocupada com ele, temendo que mais uma vez ele
caia em seus pesadelos e sofra aquela agonia que eu presenciei da
primeira vez.
Nesse momento, observando a maneira como ele abraça o
travesseiro e embola as pernas no lençol que o cobre, eu posso
dizer o que eu estou tendo dele: normalidade e serenidade.
Nesta noite não haveria pesadelos.
****
Eu passei todo o dia lendo o livro que Edward tinha me dado.
Era a minha melhor diversão.
O telefone celular estava sempre próximo de mim, mesmo que
eu soubesse que não receberia um telefonema tão cedo, a ideia de
ligar para Paige surgia em minha mente algumas vezes, mas eu a
descartava logo em seguida. Afinal, de que me adiantaria
estabelecer algum contato com ela se eu não sabia se iria conseguir
voltar a vê-la?
Essa possibilidade de contato e a incerteza apenas fazia eu me
sentir como a prisioneira que eu aparentemente fui criada para ser.
Cedida às vontades de seu dominador.
Balançando minha cabeça, eu volto a focar minha atenção em
minha leitura e nos últimos capítulos que antecedem o fechamento
dessa história que me transportou para uma nova época e uma
nova vida, em que eu pude escolher quem eu gostaria de ser a cada
página que eu lia.
Eu estava realmente agradecida à Edward por ter me dado esse
presente, mais do que eu estava agradecida pelo telefone.
Aretha tinha me apresentado à sala de televisão depois que
Edward tinha saído para trabalhar e eu estava exatamente nesse
cômodo, lendo concentradamente os muitos capítulos, tanto que eu
acreditava ser capaz de terminá-lo ainda hoje.
Batidas na porta dessa sala foram as responsáveis por me tirar
da minha concentração.
Era Edward.
Sua chegada me dizia duas coisas: ou já era tarde o suficiente
para ele já ter chegado, ou ele tinha deixado o seu trabalho mais
cedo que o seu costume.
— Oi… – cumprimento suavemente.
Um pequeno sorriso chegando aos meus lábios por vê-lo ali.
E eu não entendo isso.
— Oi, América – responde, sorrindo de volta. — Está gostando
do livro?
— É encantador! Acho que nunca vou ser capaz de agradecer o
suficiente por ele.
Ele ri levemente em resposta, entrando na sala.
— Acho que gosto de saber disso – murmura ainda rindo, em
seguida, vindo para sentar ao meu lado.
E assim eu noto um embrulho em sua mão.
— Outro presente? – pergunto ansiosa e não conseguindo
conter o pequeno sorriso que vem para o meu rosto.
— Um outro livro – ele confessa — Um mais contemporâneo, as
críticas que li sobre ele eram boas.
— Você lê críticas? – pergunto divertida.
Minhas sobrancelhas se erguendo em surpresa.
— Bom, eu gosto de saber a avaliação de um produto antes de
comprá-los e livros são uma coisa que eu não gosto de errar nem
um pouco.
— Eu não imaginei que fosse do tipo que lê livros como esse –
comento, acenando com o livro que eu estava lendo como exemplo.
— E não sou!
Ele ri levemente com isso.
— Gosto mais dos livros de suspense e mistério. Alguns de
ficção científica também me atraem.
Seria errado eu pensar em quão típico isso soa para mim?
— Nada de romances? – pergunto como quem não quer nada,
mas querendo tudo ao mesmo tempo.
Isso tinha sido mais do que eu já tinha conseguido dele em dias.
Isso era definitivamente pessoal.
— Não disse isso – responde, lançando-me uma piscadela. —
Toma, acho que pode gostar e depois me dizer o que achou –
sugere — E talvez me confirmar se as críticas estavam certas ou
não.
— Vou adorar – afirmo sinceramente.
Um sorriso em meu rosto enquanto eu pego o pacote das mãos
dele.
— Gostaria de almoçar comigo? – ele convida.
— Almoçar?
Eu realmente acreditei ser bem mais tarde.
A falta de janelas na sala de televisão dificulta a percepção das
horas.
— É – ele responde confuso — Há quanto tempo está aqui?
— Desde que saiu. Chegou bem cedo, então, s… Edward – eu
falo, usando pela segunda vez o nome dele em voz alta desde que
ele tinha supostamente me dito para usá-lo.
Estranhamente, um nome nunca pareceu tão bom em minha
boca como o dele.
— Foi apenas uma rápida reunião de emergência, este está
sendo um mês bastante corrido.
— Realmente está…
Olho para ele, tomando uma súbita decisão:
— Eu posso lhe pedir uma coisa? – pergunto baixinho, quase
acanhada.
— O que você quiser, América.
— Me chama de Amy, por favor? – peço, olhando diretamente
nos olhos dele.
E é fazendo isso que eu vejo: um brilho.
Um brilho em seus olhos de tempestade, que eu não imaginava
ser capaz de ver assim, apenas com o meu pedido, uma coisa que
era para me deixar mais confortável e que, secretamente,
significava que eu estava deixando ele entrar.
Significava que, mesmo eu não querendo, eu me importava com
ele e podia até gostar dele.
— Então, Amy? Almoçar? – ele pergunta; um sorriso brincando
em seus lábios por dizer meu apelido.
O brilho ainda em seus olhos de tempestade.
Meu estômago responde por mim e, corando, eu respondo:
— Sim.
****
É madrugada quando eu fecho a porta atrás de mim, logo
depois de ter passado por ela.
O piso range sob o meu pé, pela primeira vez em três noites,
quando ando ainda mais para o interior do quarto, fazendo com que
o homem sobre a cama se mexa brevemente.
Eu prendo a respiração diante disso e quando nada acontece,
eu continuo caminhando. A cadeira da noite anterior logo está nas
minhas mãos, enquanto eu me movo tão silenciosa quanto posso,
colocando-a no lugar da noite anterior para em seguida me sentar
ali.
Esse tinha sido um domingo interessante para nós dois.
Não tivemos mais uma grande conversa depois que ele me
tinha me contado sobre os livros que ele mais costumava ler.
Almoçamos como pessoas normais… como um encontro, e isso foi
estranhamente interessante.
Depois disso, ele se sentou na sala de estar comigo e ficamos
em silêncio, nós dois presos no que estávamos lendo: ele o jornal e
eu chegando ao final do primeiro livro que ele tinha me dado.
E assim nós fomos até o jantar.
Definitivamente, este tinha sido um dia maravilhosamente
estranho, do tipo que eu não imaginava que haveria entre ele e eu.
Tinha sido o primeiro domingo que eu passava com ele aqui e
isso estava causando uma sensação diferente e boa dentro de mim.
Eu só não sabia se eu poderia fazer ela durar.
Olho para Edward através da penumbra do quarto. Ele ressona
baixinho com braço esquerdo dobrado sobre o rosto, cobrindo os
olhos, os lençóis cobrem seu corpo somente até os quadris.
Ele está sem camisa.
Eu fico aqui, apenas olhando-o e ouvindo sua respiração
ritmada e calma, sentindo que a ouvir causa um efeito semelhante
em mim e eu permaneço na cadeira apenas observando ele por
mais um tempo e, talvez, esperando pelo momento em que eu
possa ter que acordá-lo novamente.
7- Inocência perdida.
— América o que faz aqui?!
A voz altiva chega aos meus ouvidos entorpecidos, o que me
assusta e me faz pular.
E com isso eu caio para fora da minha cama, batendo minhas
costas e minha bunda no chão. Isso me acorda, mas não me
desperta completamente e a única coisa que meu cérebro consegue
processar é que partes do meu corpo estavam doendo.
Um jeito maravilhoso de se acordar. Provavelmente o melhor de
todos que existem!
Um desastre não seria suficiente para nomear a forma como
acordei.
Esfregando meus olhos, eu levo um determinado tempo para
raciocinar direito e perceber onde estou. Quarto do meu dono.
Merda.
Estou estatelada no chão, encarando assustada o homem de
olhos cinza, em tom de tempestade – uma tempestade bem furiosa
–, mas o estranho não era exatamente o fato de eu estar caída no
chão e sim o fato de eu estar caída no chão do lado errado em que
eu estava, e principalmente: no quarto errado em que eu deveria ter
dormido.
Pelo o que eu me lembro, eu estava na cadeira de frente para
ele, e agora, acordo no chão do outro lado do quarto e a pergunta
de como eu cheguei ali é o que me perturba.
— O senhor não teve pesadelos – digo zonza enquanto me
levanto cambaleante.
— É. Não tive. Mas você ainda não respondeu a minha
pergunta.
— Acho que peguei no sono enquanto observava o senhor
dormir – confesso timidamente — Estava na cadeira…
— E como você amanheceu abraçada a mim, América?
Sinto meu rosto esquentar.
O que tinha acontecido com o Amy?!
— Oi?! – digo estupefata.
— Você estava ao meu lado na cama e abraçada a mim.
Não consigo fitá-lo.
— Desculpe. Isso não vai se repetir… nunca mais, senhor
Cage. Tenha um bom dia – finalizo ainda mais envergonhada.
Ele segura meu braço e me puxa para ele em seguida.
O ar escapa de meus pulmões, no momento que ele me toca.
O desejo desponta em mim, um desejo que não senti antes,
fraco, mas ainda assim um desejo. Desejo por ele, pela boca dele,
pelas mãos dele…
— Por favor…
Sem nem mesmo perceber eu já estou pedindo, suplicando por
um toque dele, um toque qualquer que seja.
Sinto que isso é rápido.
Ele usa as armas mais poderosas que têm em mãos, sua
beleza, seu sorriso… seus medos, seus toques… até mesmo uma
certa doçura. O jogo dele não é justo, eu sei que vou me machucar,
e muito, se me entregar e eu não quero isso.
Se por alguma sorte eu não fizer o que ele quer… talvez ele me
deixe ir embora e talvez eu consiga ter uma vida normal.
Mas… ter as mãos dele em mim faz com que todos esses
pensamentos desapareçam e os dele me beijando e fazendo o que
quer comigo me tomam.
Mordo meu lábio inferior nervosamente.
Eu também o quero, mas isso me faz querer a vida que ele leva.
Ou não faz?
— Eu não gosto que me toquem sem a minha permissão.
Aprenda isso.
— Sim, senhor.
— Ótimo.
Ele sorri malicioso e cola sua boca na minha.
Seus lábios se desenham aos meus com perfeição, sua língua
toma minha boca explorando-a. Seus dentes se arrastam pelo meu
lábio inferior, mordendo-o com vontade enquanto ele me aperta e
demonstra o quão desesperado por “alívio” se encontra.
Minhas costas batem contra uma superfície macia e é nesse
momento que finalmente me dou conta de que ele me deitou em sua
cama e está sobre mim.
Minhas mãos estão presas pelas suas acima de minha cabeça
enquanto ele me beija e insinua movimentos em minha direção.
Céus!
Meu coração trepida louco em meu peito e parece estar
querendo romper minha caixa torácica.
Todo o meu sangue parece ter engrossado em minhas veias,
sinto-me zonza e entorpecida pelo desejo.
Não têm nem tanto tempo que eu estou aqui e ele já causa isso
em mim. Não é justo!
— Minha — ele sussurra contra a pele de meu pescoço.
— Sim… – digo com o pouco ar que tenho em mim — Ah!
Sua boca passeia pelo meu corpo, venerando cada pedaço de
minha pele que está exposta e então ele desce em direção ao ponto
que mais me amedronta ser tocado por ele.
Subindo a barra da camisola ele me apalpa e acaricia deixando-
me louca e, para me surpreender ainda mais, ele enterra o rosto em
sexo coberto e aspira.
— É aqui que eu quero estar. – diz depositando um leve beijo
sobre o tecido.
Com um movimento rápido demais para minha mente inebriada,
ele retira minha calcinha e logo depois minha camisola, deixando-
me nua.
Sinto minhas bochechas esquentarem e a vergonha é enorme.
— Linda…
Tremo por antecipação.
— Não vamos fazer nada de mais… – sua boca passeia pela
minha pele.
Os lábios quentes e úmidos dançando sobre minha pele, que
mais parece uma pedra de gelo, derretendo sob o calor do sol, um
sol quente e, aparentemente, meu.
— Só um pouco de… prazer. Não vou te machucar…
— Tudo bem… – eu murmuro e parece que ele precisava
apenas disso para continuar.
Seus lábios atingem o ápice de minhas coxas.
Sinto a diferença de presença quando sua língua passa a entrar
em mim, rodando e abusando de meu sexo. Contorço-me sob seu
toque mais abusado, tento me mover, mas estou imobilizada.
Minhas mãos estão atadas à cabeceira da cama, incapacitando
a maior parte de meus movimentos.
Como e quando ele amarrou minhas mãos?
Ele continua com os movimentos da língua dentro de mim. Sinto
músculos se contorcendo em mim, músculos que eu nem sabia que
existiam.
Contorço-me sob o corpo dele, movendo-me mais para ele.
Sinto meu corpo fechar-se e logo depois uma explosão deliciosa
e libertadora acontece.
Ele fica ali por mais uns instantes e, logo depois, se ergue,
ficando sentado entre minhas pernas.
Meu corpo inteiro está dormente e ainda nu.
Minhas mãos ainda estão atadas ao dossel e eu quase não as
sinto. Parece haver milhões de formigas passeando por todo o meu
corpo fazendo de mim seu novo playground.
Edward está de pé na cama entre minhas pernas olhando de
maneira incisiva para mim, os braços cruzados na frente do peito.
Ele está sem camisa, deixando à mostra seu peitoral definido e
bronzeado.
Não o conheço tão bem como eu queria e estou nua na cama
dele, com minhas mãos amarradas por algum tipo de coisa – que
não tive coragem de espiar e descobrir – sendo avaliada por seus
olhos cinzentos e meticulosos.
Depois de muito me olhar, ele sorri e se senta sobre mim, uma
perna sua em cada lado de meu corpo, como se estivesse me
imobilizando ainda mais.
Ele se estica e desamarra minhas mãos e logo depois me beija
empurrando sua língua para dentro de minha boca e acariciando-
me, provocando-me de maneira lenta. E então ele se afasta; um
sorriso torto e satisfeito no rosto, em suas mãos: minha calcinha.
Apoio-me nos cotovelos e o observo sair do quarto como se
nada tivesse acontecido e me deixando sem minha peça intima
principal.
Ficar encarando a porta fechada não me adianta em nada.
Levanto-me da deliciosa cama de Edward e encontro minha
camisola jogada no chão aos pés da cama quase em baixo do divã.
Coloco a camisola e direciono-me para a porta, para logo depois
esgueirar-me para “meu” quarto tentando fingir que nada aconteceu
e que eu não fui deixada largada sobre a cama depois de um
orgasmo como se eu fosse um nada.
Seria sempre assim?
[…]
De banho tomado, usando um vestido simples e sapatilhas,
prendo meu cabelo em um rabo de cavalo e sigo para a sala, onde
provavelmente o dominador está.
Na cozinha a senhora Garner prepara o café da manhã e o
cheiro fantástico da comida está tomando conta de todo o local.
— Bom dia, senhorita Lawson.
— Bom dia, senhora Garner. E é Amy, por favor.
Ela sorri e então se volta para suas atividades.
Sento-me em um dos bancos e fico observando a mulher
morena trabalhar, mas a curiosidade é maior do que meu senso de
respeito pela privacidade alheia.
— Aretha? – chamo-a.
— Sim?
— O senhor Cage está em casa?
— Está no escritório. Algum problema?
— Não… é só uma dúvida, que eu espero que possa tirar de
mim.
Ela assente para que eu prossiga.
— Antes… antes de mim… quantas existiram? Aqui?
— Não entendi a pergunta, senhorita.
— Quantas mulheres ele já trouxe para cá antes de mim?
Mulheres como eu? – sussurro a última parte, odiando a curiosidade
que me morde.
— Ah.
Ela fica pensativa por algum tempo para, então, olhar para mim
com o cenho franzido.
— Ahn… Acho que… cinco ou sete.
— Cinco ou sete?! – repito, espantada.
— Acho que sim – ela pondera — Mas todas elas foram embora
depois de algum tempo.
— Quanto tempo?
— Três semanas. Nunca passou disso.
Eu anuí em silêncio, vendo-a voltar aos seus afazeres enquanto
minha cabeça começava a fervilhar com as perguntas que,
provavelmente, não teriam respostas imediatas.
O café da manhã se passou em silêncio e sem a companhia
dele, o que me deu um bom tempo para pensar, coisa que eu
agradeci imensamente.

Fechada em meu quarto, com o outro livro que Edward me deu


em mãos, eu fico mais uma vez imaginando-me em outra vida que
não seja essa.
Leio o trecho em voz alta para mim mesma, perdendo-me nas
palavras e nas emoções que o mesmo me passa. E, como em todas
as vezes, eu desejo ser qualquer um dos personagens dos livros.
— É um trecho bem interessante.
Praticamente pulo.
Era a segunda vez que isso estava acontecendo hoje.
Ao erguer meus olhos para o dono da voz, deparo-me com
Edward parado sob o batente da porta e com os braços cruzados na
frente do peito. O semblante parece tranquilo, mas os olhos
cinzentos escondem algo.
— Desculpe por hoje de manhã – ele pede — Quando voltei
para o quarto e não te encontrei, pensei que precisava de um tempo
só para você.
Eu aceno positivamente com a cabeça, aceitando o que ele
tinha acabado de me oferecer.
Eu não sabia de devia, ou se podia, reclamar por ele ter me
deixado, afinal, tinha sido o famoso problema de comunicação se
fazendo presente mais uma vez e, no fim das contas, eu realmente
precisei de um tempo só para mim e foi bom ter isso, mesmo depois
de achar que eu tinha sido largada nua e de qualquer jeito depois do
meu primeiro orgasmo.
— Desculpe pela outra parte dessa manhã também, acredito
que rompi o nosso acordo silencioso de “confiar primeiro”.
Fito-o com meu cenho franzido por alguns instantes, mas, dois
segundos depois, me dou conta do que ele parece se arrepender.
— Por quê? Se eu concordei e se eu gostei? – murmuro a
última parte.
— Gostou? – ele parece confuso.
Faço que sim, deixando o livro de lado.
Vejo-o caminhar, através da minha visão periférica, até parar ao
lado da minha cama – o lado que eu ocupo – sentando-se na minha
frente, em seguida.
Eu não olho para ele imediatamente, o que o faz prender
suavemente meu queixo entre o seu polegar e indicador e levantar
meu rosto para olhá-lo. Seus olhos estão em chamas e seu
semblante é decidido e ferino.
— Responda de verdade, por favor.
— Eu gostei.
E eu estava dizendo a verdade.
Eu realmente tinha gostado da forma como ele me tocou. Foi
diferente de tudo o que eu imaginei que seria. Foi bom e não fez eu
me sentir mal comigo mesma, nem mesmo quando ele me deixou lá
sozinha… naquele momento eu senti raiva e até um pouco de
decepção com ele.
— Quer fazer mais uma vez? – ele pergunta.
— Quero. E… e muito mais – confesso.
Ele estreita os olhos e tomba a cabeça de lado com um sorriso
torto nos lábios.
— Que tipo de mais?
— O que o senhor entender dele.
— Explique – ordena soltando meu queixo e ficando de frente
para mim ao se sentar na cama.
— Faça-me sua.
Edward estreita os olhos para mim de forma avaliativa como se
estivesse esperando eu começar a rir ou sair dali correndo.
— Repita, por favor – pede.
— Faça-me sua, senhor Cage – peço e sinto boa parte do
sangue subir para o meu rosto.
— É ótimo ouvir isso – ele afaga minha bochecha enquanto se
levanta da cama.
Ele estende a mão para mim, a qual eu não hesito em pegar.
Regra número 1 de uma submissa: Faça o que seu Dominador
mandar/pedir sem hesitar; isso o agrada.
Edward me puxa pela mão e cola nossos corpos.
Ele enlaça minha cintura, mantendo-me firme e presa a ele. Seu
perfume domina meus sentidos e me deixa dormente. Ele cheira a
sabonete – um sabonete muito bom por sinal – mas o melhor
perfume que ele possui é a Essência de Edward.
Fecho os olhos para apreciar melhor o perfume e mal percebo
quando ele me beija.
Levo um tempo consideravelmente muito longo para retribuir ao
beijo.
Os lábios dele dançam sobre os meus de forma lenta e
saborosa.
— Quero você na minha cama. Agora.
— Sim, senhor.
Ele segura minha mão e me carrega para seu quarto.

Edward me colocou de pé ao lado da cama dele.


Não sei o que fazer.
Tento seguir tudo o que me foi dito para se fazer nessas horas:
fico de cabeça baixa, não faço nada se ele não me mandar fazer e
mantenho minhas mãos na frente de meu corpo onde ele pode ver.
— Amy? Olhe para mim.
Obedeço.
Ele está parado na minha frente, a um braço de distância. Os
braços cruzados na frente do peito e ele está perfeitamente vestido.
— Vire-se de costas – ordena.
Obedeço.
Sinto seu corpo colar-se às minhas costas e ele solta meu
cabelo do rabo de cavalo e o deixa cair livre por minhas costas.
Sinto suas mãos passeando por todo o meu cabelo e, logo
depois, sinto sua mão se fechando ao redor de uma grande parte
das mechas do meu cabelo. Sua boca passeia pela pele exposta de
meu pescoço e com as pontas dos dedos ele desce uma das alças
de meu vestido.
Ele segue com a boca para o outro ombro e repete os
movimentos.
Ouço o zíper sendo aberto e logo depois o tecido leve escorrega
pelo meu corpo até se amontoar em meus pés.
Ele agarra em meu cabelo novamente e puxa minha cabeça
para trás tendo ainda mais acesso a pele de meu pescoço. Seus
lábios se arrastam até minha orelha e ele morde a parte mais
molinha, fazendo meu corpo inteiro tremer e arrepiar e, então, ele se
afasta, deixando-me com vontade de mais.
Tenho vontade de protestar, mas me contenho.
— Vire-se para mim.
Mais uma vez obedeço.
Estou de pé na frente dele, apenas de calcinha e sapatilhas.
— Tire os sapatos.
Faço o que ele manda e, quando termino, arrisco uma espiada
nele.
Edward está apenas com uma calça de malhar que parece ter
sido bastante usada e com o cadarço da cintura desamarrado.
Ele se aproxima parando a poucos centímetros de mim.
— Deite-se na cama.
Dou um passo para trás e subo na cama deitando-me nela.
Coloco os braços acima da cabeça e simplesmente o espero.
O medo corre em minhas veias.
Mais uma vez naquele dia meu coração trepida como louco sob
meus ossos. Flashes de hoje de manhã começam a surgir em
minha mente e eu sinto o desejo aumentar dentro de mim e um
sorriso brinca em meus lábios.
De mãos dadas com o desejo que sinto por ele, estão o medo e
a ansiedade e juntos eles correm pesados em minhas veias.
O colchão afunda enquanto Edward caminha de forma lenta e
sensual sobre a cama olhando-me de cima, como se eu fosse seu
novo projeto de ciências ou o seu mais novo software a ser
desenvolvido – só que com luxúria e chamas nos olhos cinzentos e
escuros.
— Vou amarrar você com isso – ele estende uma fita larga de
seda azul.
O tecido desliza até o vão entre meus seios e depois segue
para acima de minha cabeça, onde se encontram minhas mãos.
Sentando-se sobre mim, ele se estica e prende minhas mãos a
cabeceira da cama e, quando termina, fica de pé.
— Não tem ideia de como está bonita assim, América – sua voz
parece feita de seda em meus ouvidos, mas quando ele passa para
a segunda parte ela fica rouca e ainda mais carregada de desejo: —
Eu queria bater em você hoje. Agora.
Tento não engolir a seco com as palavras dele.
O medo ficou ainda maior.
Vou explodir! Dentro de minha cabeça alguma parte insana de
mim parece gritar “Deixa! Deixa, por favor!”.
—… por favor – e eu acabo murmurando a última parte dos
gritos dessa minha parte louca, fazendo soar como um pedido e
quando percebo a merda que eu fiz já é tarde demais.
Edward sorriu de forma lenta e terrivelmente sedutora, fazendo
meu corpo inteiro tremer por antecipação.
Ele abre minhas pernas com os pés e fica de pé entre elas.
Se ajoelhando ele pega minha perna esquerda, sua mão desliza
por ela inteira, apertando-me e instigando-me e, então, segurando
meu pé próximo de sua boca ele passa a língua pela sola de meu
pé – isso me enerva e faz com que eu me arrepie ainda mais –
arrasta os dentes pelos dedos e morde meu dedo mindinho, esse
ato se reflete dentro de meu íntimo.
Contorço-me sobre a cama sentindo minha pele arder em brasa.
Ele repete os atos em minha perna direita também e todas as
sensações refletem-se mais uma vez em meu íntimo. Seus lábios
passeiam pela pele exposta de minhas pernas provando do que ele
não provara hoje mais cedo.
Edward prende entre seus dedos o tecido das laterais de minha
calcinha, fazendo-a deslizar por minhas pernas como se fosse uma
carícia.
— Perfeita… – murmura.
Ele enfia a língua em mim fazendo meu corpo ficar ainda mais
aceso.
Seus lábios passeiam pela minha pele beijando-me e
arranhando minha barriga com os dentes e ao chegar aos meus
seios ele abocanha um e envolve o outro na mão. Isso me faz arfar
e me contorcer sob ele, mas então ele para e eu percebo que ele
pode estar judiando de mim.
— Está em dia, Amy? – ele desenha meu apelido ao pronunciá-
lo.
— Como? – pergunto franzindo o cenho, completamente
confusa e toda ofegante.
— As pílulas, América. – Que jeito ótimo de se estragar o clima,
Cage!
— Oh, sim! Sim, senhor – aceno com a cabeça para enfatizar a
resposta.
— Ótimo.
Ele me beija.
— Dobre os joelhos e abra bem as pernas.
Sinto-me tão exposta e tão… devassa com isso.
Mal percebi que ele havia tirado a calça jeans e a cueca.
Engulo a seco. Ele é tão… grande!
— Relaxe, baby… relaxe.
Edward se posiciona sobre mim, com as mãos uma de cada
lado de minha cabeça.
Ele entra em mim abrindo minha carne de maneira lenta e,
então, uma dor terrível se espalha por todo o meu corpo a partir do
porto de nossa conexão.
Travo meu maxilar para evitar um grito.
Meus olhos ardem e é horrível! Eu sinto as lágrimas escorrendo
quentes pelo meu rosto.
É desconfortável e estar amarrada não melhora minha situação.
Quero empurrá-lo para longe e sair correndo. Isso dói!
Não, não… por favor… pare! – tenho vontade de gritar, mas me
contenho.
— Acostume-se, Amy, isso vai melhorar. – diz colocando sua
boca de leve sobre a minha.
E, então, ele começa a se mexer, entra e sai de mim devagar
uma e duas vezes arrancando um gemido de mim, que eu não sei
se foi de prazer ou dor.
Está tudo confuso, eu quero e não quero isso. Quero que ele
pare e que ele continue ao mesmo tempo.
Estou confusa!
Meus músculos recém-descobertos começam a se contrair
fortes e lentos dentro de mim.
Seus movimentos vão ficando mais fortes e rápidos.
Dói e faz bem ao mesmo tempo e então, eu recebo o primeiro
golpe: um tapa tão forte em minha coxa direita que não consigo
evitar gritar. Meu grito sai arranhado e esganiçado ao mesmo
tempo, sinto raiva, ainda mais dor, surpresa e o que me surpreende
é a vontade de mais.
Meu corpo se move na direção dele instantes depois de seu
golpe e ele se move em um contraponto exato aos movimentos de
meu corpo. A fricção é boa e meu corpo se aquece com os
movimentos dele.
Edward afaga a área que golpeou e mais uma vez ele me acerta
no mesmo lugar. Grito mais uma vez, não consigo evitar isso.
Sinto meus músculos se retesarem enquanto ele se movimenta
dentro de mim. Ele continua se movendo, alisando minha pele
ardida e logo depois me golpeando, a intensidade dos golpes
parecendo menor agora, mas, ainda assim, fazendo minha pele
arder.
Ah… isso… é… ah… dói! Pare!
Continue! – grita minha libido.
E, de repente, uma explosão ocorre. Dor, raiva, prazer, medo e
coisas que não compreendo são liberadas nessa explosão.
Sinto minha pele arder e meu corpo ficar mole e pesado.
Instantes depois, eu sinto meu interior se expandir ainda mais e
logo depois sinto algo ser liberado dentro de mim e Edward cai
sobre meu corpo, enterrando seu rosto no vão de meu pescoço e
minha pele se arrepia ao sentir sua respiração quente batendo em
minha pele.
A mão de Edward ainda está sobre minha coxa direita e
lentamente ele a desliza e sobe, passando pela lateral da minha
barriga e de meu seio até parar em meu rosto. Ele ergue a cabeça,
fitando meus olhos e nos dele eu vejo satisfação.
Um sorriso brinca em meus lábios, mas consigo contê-lo.
A dor se alastra pelo meu corpo mais uma vez quando ele inicia
o movimento de saída e minha pele inteira se arrepia mais uma vez
enquanto meu íntimo parece estar com brasas quentes em todo ele.
Edward se estica sobre mim e desamarra minhas mãos.
Não tenho coragem de mexê-las estão tão pesadas e meus
braços parecem feitos de chumbo. Todo o meu corpo está sentindo
o que tinha acabado de acontecer e meu cérebro tinha acabado de
se tornar incapaz de entender tudo o que estava se passando agora
dentro de mim.
Minhas pálpebras vão se fechando e eu me deixo levar pelo
cansaço que parece me dominar de repente.
8- Entrega.
— Amy? – a voz rouca e maliciosa de Edward preenche meus
ouvidos quando ele me chama.
Sua respiração quente está batendo mais uma vez em minha
pele e deixando-me arrepiada.
Abro meus olhos e deparo-me com um par de cinzentas írises
fitando-me com expectativa.
— Uh? – balbucio enquanto me estico um pouco.
Olhando ao meu redor percebendo que ainda estou no quarto e
na cama dele.
E Edward está deitado ao meu lado.
Dou uma olhada em mim e noto que continuo sem roupas,
coberta apenas por um lençol.
— Como está? – pergunta.
Olho para ele e percebo um brilho diferente em seus olhos, não
consigo evitar sorrir para ele antes de respondê-lo:
— Vou ficar bem, senhor Cage – respondo rouca, ainda
completamente sonolenta.
Olho mais uma vez ao redor, e fito a enorme janela da varanda.
— Eu dormi muito?
— Cochilou por alguns minutos.
— Desculpe.
Edward está deitado de lado com a cabeça apoiada na mão.
Ele também está nu e nada o cobre. Isso é quente.
Aproveito que ele está assim para finalmente poder observá-lo.
Ele tem um físico marcante: abdômen definido, com uma fina
camada de pelos o cobrindo, formando uma trilha demarcada para o
local – que há alguns instantes esteve dentro de mim: seu pênis; é
aparentemente grande, mas felizmente não está ereto. Seria muito
mais constrangedor se aquilo estivesse apontando para mim!
Sinto minhas bochechas arderem e, finalmente, consigo
desgrudar meus olhos de lá e continuo a avaliá-lo. Ele tem pernas
fortes e torneadas e elas estranhamente me atraem.
— Está gostando do que vê? – a pergunta dele me sobressalta.
Eu volto a fitar seu rosto, novamente corada e, quase sem
querer, começo a prestar mais atenção em seus traços faciais.
Um queixo quadrado e marcado com imponência e aparente
arrogância.
— É uma bela visão, senhor Cage. E ao senhor? Agradou que
viu? – pergunto sem me preocupar muito com a minha vergonha.
— Muito. – ele sorri para mim — Você é linda.
— Obrigada, senhor Cage.
Ele sorri mais uma vez e depois toca meus lábios rapidamente
antes de se levantar.
Ele estende a mão para mim, a qual eu não hesito em pegar.
— Precisamos de um banho.

A água da banheira encontra-se na temperatura ideal.


Edward e eu estamos de frente um para o outro e ele possui em
suas mãos o meu pé direito onde ele faz uma massagem fantástica,
vez ou outra mordiscando meu mindinho e fazendo tudo dentro de
mim se contorcer.
Mas então, como se para estragar o momento de paz e
harmonia que estou tendo, eu me lembro de outras mulheres,
provavelmente também submissas – As Damas de Três Semanas –
que provavelmente já estiveram nessa mesma banheira com ele,
fazendo as mesmas coisas que nós dois estamos fazendo agora e
toda a boa sensação desaparece e sou obrigada a me apegar
apenas à boa massagem que ele me faz.
Tenho vontade de perguntá-lo quantas houve antes de mim,
mesmo já sabendo a provável resposta. Será que eu quero
realmente saber pela boca dele?
— O que foi América? – ele pergunta, tirando-me de meus
devaneios.
— Uh, nada. Só estou pensando, senhor Cage.
— Posso saber no que ou em quem está pensando? – sinto seu
toque mudar, ficar mais rígido; seu olhar e sua expressão
transformaram-se de agradável e satisfeita para um olhar frio e uma
carranca nada amigável.
— Em hoje mais cedo e no senhor, senhor Cage.
Ele assente e continua massageando meu pé. Ah… isso é bom!
— E chegou a alguma conclusão?
— Não, senhor.
Vejo a sombra de um sorriso passar por sua face, mas ele
consegue contê-lo, apenas por breves instantes, porque logo depois
um sorriso torto e completamente malicioso corta sua face e ele se
aproxima de mim, puxando-me para seu colo.
Edward agarra minha cintura de maneira firme e me puxa para
frente de forma que fico ajoelhada e sentada sobre suas pernas ao
mesmo tempo. Seus lábios se prendem aos meus e sua língua
invade minha boca explorando cada pedaço.
Minhas mãos estão soltas e aproveito para movê-las
timidamente até o cabelo dele, mas em um momento de descuido
acabo esbarrando em seu peito. Na mesma hora Edward enrijece e
para de me beijar afastando-me dele de forma bruta.
Ele me segura pelos ombros e me fita com medo e algo que não
consigo identificar em seus olhos, fazendo com que eu me encolha
sob seu olhar. Meu coração bate acelerado e sinto meus olhos
arderem.
Com dificuldade liberto-me de seu aperto em meus braços e
saio da banheira.
Pego uma toalha qualquer que encontro pendurada e, me
enrolando nela, saio o mais rápido que posso daquele banheiro,
deixando-o lá.
Cato minhas roupas que encontro dobradas sobre uma cadeira
e saio correndo para meu quarto, trancando-me nele logo em
seguida e sentindo minha respiração tão acelerada quando a de um
ratinho assustado.
Eu tinha quebrado a regra básica e estava apavorada com o
que isso poderia me custar.
****
De banho tomado e vestida com uma das mudas de roupas
mais simples que encontrei, coloco a cabeça para fora do quarto e
espio para ver se ele está por perto. Quando vejo que ele não está
por ali, saio do quarto às pressas e desço a escadaria com cuidado,
mas, ainda assim, correndo.
Encontro Aretha com algumas toalhas nas mãos e paro-a no
meio do caminho:
— Meu Deus! – ela se espanta com minha afobação —
Aconteceu algo grave, senhorita Lawson?
— O senhor Cage… Ele… ele está onde? – pergunto sem
fôlego pela pressa.
— Foi para a empresa. Precisa de alguma coisa? – ela
pergunta.
— Não, Aretha. Obrigada!
Sorrio em resposta e deixo um beijo na bochecha dela.
— Que horas ele volta?
— Ele geralmente prefere almoçar em casa, como a senhorita
sabe, mas hoje não me disse nada. Acho que só voltará depois das
sete. Por quê?
— Nada. Obrigada mais uma vez, Aretha! – e com isso eu saio
quase saltitante, seguindo pelo caminho que ia antes.
Eu estava quase me sentindo feliz pelo fato de não ter que
encarar as consequências do meu toque não intencional.
Edward Cage ainda era um enigma e suas regras especiais,
que se tornaram as regras básicas no meu treinamento, eram ainda
mais enigmáticas para mim e só criavam mais e mais perguntas em
minha cabeça.
Eu percebo, então, que continuar a pensar nisso não vai me
ajudar em muita coisa, apenas vai me fazer ficar criando mais e
mais perguntas que provavelmente nunca serão respondidas.
Com essa percepção, eu olho ao meu redor e, pela primeira
vez, eu sinto vontade de conhecer esse lugar que moro há tantos
dias e que sequer quis explorar ou pedir para ser apresentado.

Andar pela cobertura do famoso empresário e dono de sua


própria empresa, Edward Cage, sem ser notada por alguém é até
fácil.
É um lugar bem grande para um apartamento – ainda que para
um apartamento de luxo – e é cheio de portas e quartos, a maioria
deles se encontra destrancado e possui a mesma decoração do
meu.
Na sala, em uma área mais elevada e a alguns metros da
lareira, há um piano de cauda escuro, a claridade ali fica única e
solenemente sobre o piano e o banquinho de frente para as teclas.
É o lugar mais interessante deste apartamento até o presente
momento.
No segundo andar há o meu quarto e o quarto dele e, no final
do corredor, há uma porta mais escura que as outras.
Caminho até ela como se isso fosse a coisa mais proibida do
mundo, sempre olhando para trás para me certificar de que não
estou sendo observada por ninguém e, quando finalmente chego ao
meu objeto de destino…
— Trancada? – resmungo ao girar a maçaneta e a porta não se
abrir — Por quê?
Olho em volta em busca de alguma chave, ou, sei lá, um
interruptor, mas não encontro nada.
Desisto, momentaneamente, da porta e sigo para outra direção.
E de volta ao primeiro andar, continuo a explorar o apartamento.
Depois de muitas coisas sem importância para mim, deparo-me
com portas duplas, que estão destrancadas e, por trás delas, o meu
paraíso verdadeiro. Uma biblioteca com no mínimo mil livros e no
máximo… É quase impossível de estimar!
Fecho as portas atrás de mim e começo minha busca por algum
que chame minha atenção. De frente para as laterais das estantes
uma enorme janela despeja uma grande quantidade de luz para o
local e próximo dela pufes e um sofá de dois lugares – o maior que
eu já vi em uma biblioteca.
Será que tudo o que ele tem… é grande?
Passeio pelos corredores formados pelas estantes e um dos
títulos me chama a atenção.
Sento-me em um dos sofás com meus pés para cima dele e
começo a ler o livro.
Há dias eu me perguntava o que eu ia fazer quando meu
Dominador não estivesse em casa e durante os meus primeiros dias
aqui me perguntei a mesma coisa e hoje, neste exato momento, eu
obtive minha resposta.
Ficaria lendo o dia inteiro e se possível fugiria dele correndo
para cá, como eu fiz uma vez antes de saber que ele era ele.
Admito que a nossa experiência de algumas horas foi
relativamente boa. Ótima na verdade. Minha primeira vez não foi
uma das melhores conhecidas pelo universo – e nem como as que
são descritas nos livros – mas talvez as próximas sejam melhores,
ou, talvez nem haja próximas, provavelmente não depois do que eu
fiz sem querer.
Não era minha intenção tocá-lo. Não queria ter feito aquilo de
forma alguma.
Ele vai querer me punir e, provavelmente, vai ser ruim. Muito
ruim.
Eu não saberia dizer se estava preparada para apanhar de
verdade de alguém mais uma vez. Eu só sabia que eu não queria
ser machucada dessa forma novamente nunca mais.
Com um suspiro, eu balanço minha cabeça, afastando os
pensamentos e lembranças – que eu preferia não ter – focando-me
novamente no livro e na vida dos personagens que, comparada à
minha, sempre parece muito normal.
[…]
Acordo sobressaltada.
Eu sequer me percebi dormir.
Está escuro e as luzes dos prédios e ruas brilham em tons
diferentes junto com os faróis dos carros. No céu as estrelas estão
dispersas e quase não as vejo.
Levanto-me do sofá e caminho para fora da biblioteca. Vou
cambaleando sonolenta para a sala e lá parece ser o centro de um
pequeno tumulto.
— Aretha… está tudo bem? – pergunto ao me aproximar dela
que parece preocupada o suficiente para estar andando de um lado
para o outro enquanto rói as unhas.
— Menina! – ela exclama e parece aliviada — Onde estava?
Senhor Cage! – ela chama.
Eu sinto como se estivesse perdendo alguma coisa importante.
— O que houve? – pergunto sonolenta.
Edward aparece afobado na sala e ao se aproximar de mim,
agarra-me pelos ombros, fitando meus olhos de maneira injetada.
Ele está assustado e seus olhos parecem perdidos nos meus.
Fico assustada também.
— Onde esteve esse tempo todo?! – ele pergunta; a voz repleta
de algo que não identifico.
— Eu… na biblioteca – gaguejo — O que houve? – pergunto
preocupada.
— Pensei que tivesse ido embora… – a voz dele some no fim
da resposta.
É tentador, mas…
— Não. Eu… eu não tinha nada para fazer. Encontrei a
biblioteca. Acabei dormindo. Que horas são? – eu falo quase sem
respirar.
— Mais de nove e meia da noite, América – ele responde de
maneira enfática e parecendo nervoso demais — Vá para o seu
quarto, por favor. Conversaremos depois, está bem?
Ele me liberta e eu saio dali o mais rápido que posso, fugindo
para meu quarto e me sentindo como uma criança que fez besteira.
[…]
A maçaneta se mexe e, segundos depois, a porta se abre.
Edward entra no quarto sem falar nada e fecha a porta atrás de
si. Ele pega uma cadeira e a coloca ao lado da minha cama,
sentando-se nela logo depois. Os cotovelos apoiados nos joelhos,
as mãos entrelaçadas e a cabeça baixa.
A vontade de tocar em seus cabelos e sentir a textura que
possuem me corta por dentro, mas, então, eu me lembro que foi
porque eu quis mexer em seu cabelo que fugi dele mais cedo.
Coloco os pés para fora da cama, me sentando mais ereta e de
frente para ele.
Fico observando-o em silêncio, esperando que ele comece a me
ofender e me agredir, mas ele limita-se a erguer o rosto e me fitar.
Ele parece cansado e muito perturbado e isso me preocupa.
Quais seriam os motivos que fizeram ele ficar assim?
Em seus olhos há um tipo de pedido ou necessidade, ou até
mesmo os dois, que me clama e me instiga.
Afasto meus joelhos recolhendo a barra do vestido até três
dedos meus do topo de minhas coxas. Chego um pouco mais para o
centro da cama e deito-me, mas deixo meu peso apoiado nos
cotovelos para que eu possa olhá-lo.
Edward me fita confuso por alguns instantes, mas isso muda no
momento que o seu cinza se encontra com o meu azul.
Ele se levanta da cadeira, retirando o paletó e o restante de
suas roupas, para logo depois colocar seu peso sobre o meu,
beijando-me e começando a tirar minha roupa.
Ele me deixa apenas de calcinha e sutiã.
Ele está de joelhos entre minhas pernas e está nu. Suas mãos
deslizam sobre minha barriga até o fecho de meu sutiã abrindo-o e
retirando-o de mim para logo depois venerar meus seios.
Suas mãos os envolvem com perfeição e ele os aperta, belisca
meus mamilos… e quando toma o primeiro com a boca, meu
gemido é inevitável.
Soa alto e arrastado.
E em troca recebo uma forte sugada em meu mamilo fazendo-
me gemer mais forte e alto. Ele passa para o outro e repete os
mesmos gestos. Movo meu corpo em sua direção.
Preciso de mais…
Abandonado meus seios, Edward segura minhas mãos acima
de minha cabeça e começa a se mover em minha direção, sem
estar dentro de mim, apenas insinuando os movimentos que ele
quer fazer em mim e isso me aquece e me leva ao topo, cada vez
mais e mais. Ele toma minha boca com a dele e com a língua imita
os movimentos dos quadris.
Aperto as mãos dele nas minhas enquanto todo o meu eu está
se desfazendo alto e forte para ele, comigo sentindo todo o meu
corpo tremer e se contorcer sob o dele.
Edward solta minhas mãos e para de me beijar.
Ele desce até a junção de minhas coxas onde minha intimidade
está coberta pelo fino tecido da calcinha de rendas escuras e
prendendo-a entre seus dedos longos ele desce a peça por minhas
pernas e a isola em algum canto do quarto.
Ele pega minhas mãos e me levanta. Senta-se com as costas
apoiadas na cabeceira da cama e me puxa para seu colo, fazendo-
me sentar com uma perna de cada lado de seu corpo.
— Vou fazer com você agora o que eu queria ter feito mais cedo
na banheira. Mas se me tocar de novo vou punir você. – ele diz
calmo, mas a ameaça está presente em cada letra — Entendeu?
— Sim, senhor…
— Ótimo – ele sorri da forma mais maliciosa que existe.
Edward segura minha cintura e lentamente se enterra dentro de
mim.
Agarro a cabeceira da cama para poder me equilibrar e me
segurar.
— Não me toque. – ordena.
— Sim, senhor…
Com suas mãos em minha cintura ele me faz quicar nele,
ditando o meu ritmo.
O ritmo dele.
Ele entra e sai de mim enquanto eu subo e desço na velocidade
que é ditada por ele.
Minha cabeça tomba para trás e meus dedos se fecham com
ainda mais força na cabeceira da cama.
Começo a sair do ritmo imposto por ele e vou o mais rápido e o
mais forte que consigo. Quero contato, fricção, movimento de
verdade… Quero… Quero… quero que ele me bata. Sim! Eu quero
isso.
E isso é assustador.
Ele agarra meus seios e começa a apertá-los beliscando meus
mamilos, lambendo-os e mordendo-os com gosto e vontade.
Deixando marcas.
Movo-me com cada vez mais vontade sobre ele, rebolo nele,
tiro-o de mim e o coloco novamente.
— Isso… – ele balbucia movendo-se também.
Meu grito/gemido preenche o quarto quando me sinto explodir e
desmanchar em volta dele. Meu corpo inteiro treme e parece
convulsionar.
Edward investe mais algumas vezes em mim e logo depois sinto
sua explosão ser lançada para dentro de mim.
Ele me envolve em seus braços puxando-me para ele e
enterrando seu rosto no vão de meu pescoço enquanto eu me sinto
completamente mole e sem fôlego.

Nossos corpos suados encontram-se ainda próximos e unidos


na mesma posição.
Estou sentada sobre ele e com seus braços ao meu redor. Ele
ainda está dentro de mim e eu gosto da sensação que isso me
causa.
Estamos estabilizando nossas respirações e corpos.
Meu corpo inteiro ainda treme e minha pele está completamente
arrepiada. Sua respiração quente bate ritmada contra a pele já
arrepiada de meu pescoço.
Quero beijá-lo. Quero que ele me beije.
Mexo meus quadris minimamente para chamar a atenção dele e
funciona. Edward agarra minha cintura e levantando o rosto fita
meus olhos. Ele balança a cabeça e morde meu lábio inferior.
— Não. Assim de novo não.
Ele me olha malicioso e dentro de mim sinto-o ganhar vida
novamente.
Edward me tira de seu colo e com total elegância fica de pé
sobre a cama.
Ele estende a mão para mim e me faz ficar de pé também me
imprensando contra a parede – onde a cabeceira da cama está
encostada – e ele agarra minha perna esquerda erguendo-a até a
altura de seu quadril para logo depois entrar em mim devagar.
Ele segura minhas mãos acima de minha cabeça e me beija.
Seus movimentos dentro de mim começam e o balanço do
colchão sob nossos pés torna isso ainda mais… excitante. Uma
mão sua segura as minhas acima de minha cabeça enquanto a
outra desliza pela perna que envolve seu quadril, indo da coxa até
minha nádega.
Seus dedos alisam meu ânus três vezes e na quarta vez um
deles entra bem ali, fazendo-me gritar de surpresa durante o beijo
com a sensação dos movimentos nos dois lugares.
O dedo sai de mim depois de alguns segundos e os movimentos
de Edward aumentam gradativamente. É impossível resistir às
investidas dele.
— Edward! – grito o nome dele de maneira arrastada e
carregada de prazer.
Recebo um beliscão em meu mamilo e logo depois um beijo
feroz dele.
Ele se move com cada vez mais vontade.
Sinto meu corpo tremer e meus músculos se contorcerem
dentro de mim e logo depois estou me desfazendo mais uma vez ao
redor dele e ele logo em seguida explode dentro de mim.
[…]
Estamos deitados na cama, de frente um para o outro.
Estou abraçada ao meu travesseiro e coberta pelo fino lençol; o
mesmo lençol que ele também usa.
Edward está com a cabeça apoiada na mão e me fita com um
brilho nos olhos e um sorriso travesso nos lábios. Tenho certeza de
que olho para ele da mesma forma, mas tenho a impressão de que
meu sorriso não é travesso como o dele.
O relógio desperta, avisando que são onze e meia.
Saio às pressas da cama me vestindo com um robe que está
jogado sobre o divã aos pés da cama.
Abro a gaveta do criado mudo ao lado da cama – o lado em que
Edward encontra-se deitado – e pego minha cartela de remédios,
engolindo um comprimido sem água ou qualquer coisa que o ajude
a descer.
Só depois de algum tempo percebo que Edward me fita
surpreso e com as sobrancelhas meticulosamente arqueadas.
— A pílula – explico o que com certeza ele já deve ter
percebido.
Ele sorri e depois volta para sua posição anterior.
Deito-me na cama novamente, de frente para ele e com minha
cabeça apoiada na mão; do mesmo jeito que ele está deitado.
— É tão horrível quanto pensou que pudesse ser? – ele
pergunta dando fim ao silêncio agradável que estava.
— Até agora não, Ed… senhor Cage – interrompo-me no meio
da frase corrigindo-me em seguida.
Ele sorri e se aproximando de mim, puxa-me para colar meu
corpo ao dele, beijando-me logo em seguida.
****
Nove dias.
Nove dias se passaram desde que me entreguei a ele.
É início de tarde de uma quinta-feira nublada e não passa muito
de uma hora.
Edward está na empresa desde as oito.
Nós tomamos café da manhã juntos e agora eu estou na
biblioteca, mas não consigo ler nenhum livro.
Daqui três dias completarei um mês aqui na casa do famoso
senhor Edward Cage e, nesse período de tempo, não tive nenhuma
notícia de minha mãe, Joe ou Suzanne e isso me enerva.
Levanto-me do sofá da biblioteca e me direciono para fora da
mesma.
Sento-me em um dos bancos que ficam de frente para a enorme
bancada de mármore da cozinha e fico observando Aretha fazer
suas tarefas.
— Deseja algo, senhorita Lawson? – ela pergunta, fazendo-me
rir.
— Como sabia que eu estava aqui, Aretha? – pergunto.
— Vi a senhorita chegar – ela se vira para mim com um sorriso
— Então… deseja algo?
— Macarrão com queijo? – sugiro.
— É pra já!
— Para mim também, Aretha – a voz de Edward soa calma
atrás de mim; ele parece feliz.
Aretha assente de maneira positiva a ele, que se senta ao meu
lado e me fita com expectativa.
Mordo meu lábio inferior quando ele se aproxima de mim para
me beijar.
Quando os lábios dele se juntam aos meus a eletricidade
percorre meu corpo a partir daquele ponto arrepiando toda minha
pele.
— Hoje eu quero mostrar algo para você. – ele diz, despertando
minha curiosidade.
Sorrio para ele.
Vinte minutos depois, Aretha coloca sobre a bancada, já
arrumada, dois pratos de macarrão com queijo e duas taças de um
líquido rosado e espumante. Minha boca se enche d’água.
— Bom apetite. – ela deseja antes de se retirar.
— Obrigada.
Edward acena para ela e logo depois toma um gole do líquido
rosado.
— O que é isso? – pergunto apontando para a bebida.
— Bollinger.
— Champanhe e macarrão com queijo? Combinação
interessante.
Rio de meu próprio comentário idiota.
— É um belo som.
Olho para ele, confusa, parando de rir abruptamente.
— Sua risada, Amy.
Eu sorrio para isso.
Tinha sido o elogio mais bonito que ele me fez até agora.
— Gosto quando me chama assim. – sussurro para ele.
— Amy. Minha Amy. – diz em tom controlador e extremamente
possessivo; sou, em tese, obrigada a concordar.
[…]
Edward me toma pela mão assim que eu termino de escovar os
dentes.
Ele me guia para o segundo andar. Passa pela porta de seu
quarto e segue pelo corredor para a porta de madeira mais escura.
Lembro-me de tentar abrir essa porta exatos cinco dias atrás.
Paramos na frente da porta e, do bolso da calça, Edward tira
uma chave, destrancando a porta logo em seguida e abrindo-a para
mim; deixando-me boquiaberta.
— Bem-vinda a um novo nível, Amy. Bem-vinda ao nosso jogo
da luxúria.
9- Os jogos começam.
Amy atravessou a porta e pisou pela primeira vez no quarto
onde todas as nossas cenas aconteceriam. O Quarto do Jogo.
Seus olhos percorrem todos os centímetros quadrados do
cômodo, esquadrinhando todas as coisas com seus olhos azuis
meticulosos.
Entro no quarto logo depois dela e fecho a porta atrás de mim.
Vê-la ali dentro é ainda mais excitante do que já é vê-la
normalmente, ou rendendo-se a mim. Seu vestido preto entra em
contraste com as paredes de tons avermelhados e brancos. Seus
saltos – os que dei para ela – estalam no piso de madeira.
América parece ter se programado para me deixar ainda mais
louco. Ela parecia saber que eu ia trazê-la para cá e se arrumou de
uma maneira que a deixou ainda mais sexy que o normal.
Seus cabelos de um tom profundo de castanho estão soltos e
caem como cascatas por suas costas reluzindo sobre o tecido preto
do vestido.
Ela observa tudo em silêncio.
Seus dedos passeiam pelas superfícies de cada objeto, móvel e
tecido que há ali. Ela avalia as varas e os chicotes de montaria e de
camurça.
Minha imaginação voa e vejo-a atada ao grande “X” na parede,
completamente nua, comigo acertando-a algumas vezes com algum
chicote, colocando nela vendas, mordaças, plugs e grampos.
Imagino-a deitada sobre a mesa, com sua linda pele ficando rosada
sob meus golpes.
Olho mais uma vez para ela, que está mexendo nas algemas
presas a cama e tenho a impressão de ver a sombra de um
pequeno sorriso travesso passar pelo seu rosto.
Amy caminha com calma pelo quarto e se aproxima da enorme
cama de dosséis. Espalma suas mãos sobre o colchão e logo
depois se senta nele – com certeza sentindo seu corpo afundar
minimamente. Ela fecha os olhos e respira fundo deixando que o
aroma cítrico e de couro a tome por alguns instantes.
Então, de repente, seu semblante se entristece e isso me
preocupa.
— Um beijo por seus pensamentos – digo aproximando-me dela
e sentando-me ao seu lado na cama.
— Não é nada demais, Edward – ela arregala os olhos e olha
para mim assustada ao perceber que me chamou pelo meu nome
dentro desse quarto, onde eu deveria representar mais do que
apenas eu — Desculpe – pede abaixando a cabeça.
Seguro seu queixo entre meu polegar e indicador e levanto seu
rosto para que ela olhe para mim.
— O que foi, Amy? – pergunto, ignorando completamente seu
pedido de desculpas. Preciso tanto saber o que se passa por essa
sua cabecinha.
— Só estava pensando.
— Em que ou quem?
Meu sangue ferve nas veias só de imaginar que ela pode estar
pensando em outro homem que não seja eu.
Sinto raiva e algo que desconheço me toma, fazendo com que
eu enxergue apenas vermelho na minha frente.
— Nas anteriores a mim – ela murmura ficando vermelha e
virando o rosto.
Espera. O que?!
— Por que está pensando nisso, América? – deixo escapar um
pouco de minha raiva nessa pergunta.
Ela se vira para mim e fita meus olhos.
— Porque eu tenho certeza de que todas elas já estiveram aqui.
Nessa mesma cama, nesse mesmo quarto! Que você as tocou da
mesma forma que me toca e que as beijou do mesmo jeito. Que vai
fazer comigo as mesmas coisas que fez com elas.
Ela cruza os braços na frente do peito e para de me fitar mais
uma vez.
Seu comportamento me faz rir.
— Que bom que eu o divirto – ela soa zangada e magoada.
— Você está com ciúmes de mim, América?
Ela paralisa.
Bingo!
— Não tenho esse direito, nem posso ter isso – responde
controlada ainda sem me olhar.
— Tudo bem – eu respiro. — Agora, responda a minha pergunta
olhando para mim, da forma correta desta vez.
Ela se vira para mim e vejo que seus olhos estão vermelhos.
— Não posso me dar a esse luxo, senhor Cage. Ciúme é algo
para casais sentirem um pelo outro, o máximo que posso e devo
sentir pelo senhor… é desejo e nada mais além disso.
É Cage… ensinaram-na direitinho. Mas será que ensinaram a
você também?
Balanço a cabeça em negação e me levanto da cama,
passando as mãos de maneira frenética pela nuca.
Sinto os olhos dela sobre mim observando cada um de meus
gestos e ouço sua respiração mais pesada às minhas costas.
— Desculpe – ela pede — Eu só tenho medo de que me mande
ir assim como fez com elas.
Sua revelação faz com que eu volte a fitá-la.
— Eu não as mandei embora, América! – minha voz se eleva —
O prazo que foi estipulado é que acabou.
— E eu também tenho um prazo? – ela pergunta acanhada.
—Não. Você não.
Vejo um pequeno sorriso se formar em seus lábios, mas ela
logo o espanta.
Desviando seus olhos dos meus, ela observa mais uma vez o
quarto e fica encarando um único ponto fixo antes de voltar a
observar todo o local. Sua mão alisa o tecido de seda do lençol e
um sorriso se expande pelo seu rosto; finjo não notar.
— O que vai fazer comigo aqui? – ela pergunta.
Ainda me pergunto como ela descobriu sobre as outras, mas ela
consegue me distrair com a pergunta que faz.
Estendo a mão para ela a qual ela não hesita em pegar.
Sinto a costumeira eletricidade passear por todo o meu corpo a
partir do ponto que nos tocamos.
Ela se levanta e caminha comigo até a cômoda próxima a porta.
Viro-a de costas para mim e abro seu vestido, deslizando o
fecho com calma, vendo a pele dela se arrepiar sob meus toques.
O vestido escorrega por seu corpo até formar um amontoado
preto em seus pés.
Vou para frente dela e, segurando sua mão, ajudo-a a sair do
emaranhado de suas roupas. Tiro seu sutiã e deixo-o cair junto de
seu vestido.
Abaixo-me e tiro seus sapatos, quando me levanto ergo os
sapatos na altura de meus ombros, balançando-os para ela.
— Vejo que gostou do presente que te dei.
Ela sorri com todos os dentes.
— Quando eu trouxer você aqui, quero que esteja trajada deste
jeito e que me espere aqui.
Deixo-a de pé onde ela deve me esperar, próxima à porta e à
cômoda.
— Sente-se sobre os joelhos e afaste as pernas – ela obedece.
— Mais um pouco… mais. Ótimo! Deixe suas mãos sobre as coxas
e não se mexa. Volto daqui a pouco. Espero que tenha gostado de
todo o nosso sexo doce.


Edward saiu do estranho e interessante Quarto da Luxúria –
como eu tinha resolvido chamar.
O cômodo é parecido com o que minha mãe e Joe usam em
seus dias de relação dominador e submissa, a diferença é que esse
parece ter muito mais apetrechos dolorosos.
Enquanto espero Edward voltar observo mais uma vez o lugar.
As varas são os objetos que mais me chamaram a atenção.
Elas são compridas e vão afinando conforme se aproxima da ponta.
O sofá de couro marrom chocolate no meio do quarto é intrigante e
eu, até o presente momento, não vejo utilidade para ele.
Colocar meus pés aqui foi uma experiência intrigante e
completamente fora do que eu realmente faria se tivesse uma
escolha verdadeira e possível na minha vida.
Mas, de certa maneira, foi interessantemente aterrorizante.
Imaginar quase tudo o que pode ser feito comigo aqui… evocou
lembranças ruins, entretanto, o olhar que eu notei nele a cada
olhada furtiva que eu lançava, fez com que eu quisesse me deitar na
cama grande e de lençóis topázio.
Isso me assustou.
Mas a pior parte foi pensar que eu não era a primeira mulher
que entrava ali e que era olhada desse jeito por ele. Eu senti ciúmes
dele apenas por imaginá-lo tocando outras mulheres e odiei isso.
Odiei a sensação fria que isso trouxe para o meu coração.
Ele disse que eu não tinha um prazo. Isso significava que havia
alguma coisa de diferente em mim?
Ou eu tinha custado tão caro que não valeria a devolução?
A porta se abre, tirando-me das minhas paranoias e
preocupações e pela visão periférica vejo os pés descalços de
Edward.
Ele se aproxima de mim em silêncio e então um sonoro flap me
faz pular de susto.
Ele se agacha até ficar quase da altura que me encontro,
apoiando-se em um joelho ele se inclina para frente e prende meu
queixo entre seus dedos compridos e ágeis – muito ágeis – para
logo depois erguer meu rosto de maneira que passo a fitar seu rosto
ao invés do chão de madeira.
Em sua mão esquerda há um objeto comprido e fino de couro.
Ele percebe que estou observando o objeto e um sorriso ferino
surge em seus lábios.
— Quer saber o que é isso, América? – sua língua desenha
meu nome enquanto ele o pronuncia.
Aceno de maneira positiva com a cabeça.
A ponta do objeto comprido de couro acerta minha coxa direita
fazendo-me pular no mesmo lugar pelo susto e deixando o local
ardido e provavelmente com uma marca vermelha com o formato da
ponta do objeto.
— Responda. – ordena com um olhar reprovador e ainda mais
ferino.
— Sim.
Mais um golpe em minha coxa direita, ao lado do local anterior.
— Não me provoque, América. Agora, responda da maneira
certa.
— Eu quero saber o que é isso, senhor – respondo, tentando
controlar toda a minha raiva e frustração com o momento.
Preparo-me para mais um golpe, mas ele não chega, em vez
disso, ele me beija levemente nos lábios ainda segurando meu
queixo.
— Isso, América, é um chicote de montaria de couro leve. E é
única e exclusivamente seu, ou melhor dizendo, para eu usar única
e exclusivamente com você, assim como todas essas coisas que
estão aqui. E é claro, eu. Que vou me usar em você – ele sorri
malicioso e me estende a mão, a qual eu não hesito em pegar.
Ele se levanta e me ajuda a levantar também.
Virando-me de costas ele prende meu cabelo em um rabo de
cavalo baixo e me guia até uma das paredes do muito devasso
Quarto da Luxúria, onde existem dois pares de algemas: um para as
mãos e outro para os pés.
Edward prende minhas mãos acima de minha cabeça, mas
deixa meus pés soltos.
Minhas mãos estão bem presas e mal consigo mexê-las. Isso
me deixa nervosa.
Logo depois ele prende meus pés.
— Palavras de segurança – ele crava suas írises cinza em mim
— Laranja e preto. Guarde-as bem. Se algo não te agradar e achar
que é demais diga laranja. Se não suportar algo e não aguentar
mais diga preto.
E então ele dá um passo para trás, torcendo o chicote nas
mãos.
Ele estende o chicote na minha direção fazendo a ponta de
couro deslizar pelos meus ombros subindo por meu braço direito até
meu cotovelo para depois descer e repetir o ato em meu braço
esquerdo. Ele desce a ponta do chicote, fazendo-a contornar meus
seios e mamilos, desce por minha barriga, passando por meu
umbigo e indo em direção ao meu sexo. Ele esfrega o chicote ali
uma, duas, três vezes e logo depois desfere um golpe seco e fraco,
fazendo meu corpo inteiro tremer, aceder e contorcer-se.
Minha cabeça não é aparada por nada quando a jogo para trás
e meu corpo inteiro se arrepia.
A ponta do chicote desliza para minha coxa esquerda e para
bem em cima de minha nádega, para logo depois desferir um golpe
mais forte. A ponta do chicote desliza para meu sexo mais uma vez
e o golpeia.
Sinto tudo em meu interior acender de acordo com os golpes.
Um estalo e logo depois as sensações.
Edward se aproxima minimamente de mim e o golpe chega a
minha cintura.
Ele me acerta mais uma vez e acaricia a região com o chicote,
para logo depois bater mais uma vez. Ele repete esse ato por mais
duas vezes e depois passa para o outro lado.
Minha pele arde e tudo dentro de mim parece ser feito de
convulsões e choques, sensações estranhas e fortes e então tudo
some e apenas a dor ardida continua ali.
Meu maxilar trava e aperto os olhos por longos instantes.
Sinto movimentos lentos e fracos dentro de mim, um vai e vem
gostoso que faz minha pele formigar e meu íntimo se contorcer
pedindo por mais; meu gemido é inevitável.
A dor é quase inexistente e as sensações que agora estão se
tornando familiares começam a se alastrar por todo o meu corpo,
cada vez mais rápidas. E então, de repente, ele para com tudo.
Escuto o baque surdo de algo caindo ao chão e isso me faz
olhar para Edward diretamente nos olhos. Aquela imensidão cinza
repleta de desejo ferino incontrolável se agarra ao tom azul dos
meus olhos de uma maneira indescritível e é absurdamente
impossível de me desconectar.
Edward fica tão próximo de mim que sinto o calor de seu corpo.
Sua respiração, até então controlada, bate quente e ao mesmo
tempo fresca em meu rosto, os lábios erguidos em um sorriso
maroto parecem chamar pelos meus.
Ele se abaixa, na altura de meus joelhos, desfazendo o contato
de nossos olhos, para soltar meus pés e ao fazer isso as mãos dele
não abandonam minha pele em momento algum. Ele se levanta
acarinhando e apalpando-me e, quando seus dedos encontram o
tecido de minha calcinha, ele praticamente a destrói ao retirá-la de
mim, o que machuca um pouco a minha pele.
As mãos dele massageiam minha carne apalpando-me sem
piedade alguma.
Ele abocanha um de meus seios enquanto suas mãos
habilidosas – uma no outro seio e a outra em meu sexo – continuam
me estimulando sem cessar.
Meu corpo entra em combustão.
Um frenesi descontrolado que arranca de mim gemidos
arrastados e estrangulados. Estou prestes a explodir, mas ele não
me permite isso.
Em vez disso ele para e se afasta para então me soltar.
Edward deitou-me na enorme cama de lençóis vermelhos,
prendeu minhas mãos nas algemas centrais da cabeceira e depois
se ajeitou entre minhas pernas, abrindo o botão de sua calça e se
livrando dela. Ele entra lentamente em mim e apoia os cotovelos um
de cada lado de minha cabeça.
Contorço-me sob ele a fim de recebê-lo melhor.
Meu corpo inteiro anseia e necessita dos movimentos dele, mas
Edward parece não estar se incomodando muito com isso.
Um gemido ecoa do fundo de minha garganta.
— Peça. – ele manda com a voz rouca repleta de desejo.
— Por favor… Ah! Por favor, senhor Cage!
— Fale o meu nome. – manda.
— Edward! Edward, por favor!
Ele sorri e junta seus lábios aos meus brevemente para logo
depois começar a se mexer.
E ele faz isso com vontade, isso me destrói e me reconstrói, me
leva ao topo para depois me empurrar de lá e enquanto ele se move
dentro de mim as sensações vão se amontoando chegando cada
vez mais e mais perto da borda e então eu despenco.
10- Presentes.
Abro meus olhos para a pouca claridade do quarto e de primeira
não reconheço onde estou, mas sei que estou sozinha.
Esfrego os olhos e me sento na cama para poder tentar me
situar.
Estou em meu quarto e – confirmando – sozinha. O único tecido
que toca meu corpo é o dos lençóis. O vestido que eu usava antes
de tudo está dobrado sobre o divã aos pés da cama e meus saltos
também estão ali.
Enrolo-me no lençol que me cobre e caminho trôpega até o
banheiro.
Jogo um pouco de água em meu rosto lavando-o e tirando
alguns resquícios de sono que podem existir ainda. As marcas de
minha primeira cena no Quarto da Luxúria são rosadas e ardem;
meus lábios estão inchados e vermelhos.
Ao voltar para o quarto, acendo a luz – não estou com vontade
de tropeçar em meus próprios pés – vou para o closet onde as
roupas que foram compradas para mim, para agradá-lo, estão.
Sinto falta de meus jeans e minhas blusas largas. Sinto falta da
minha época de faculdade…
Sinto falta de mim.
Os momentos vividos por mim durante a cena no quarto e os
pensamentos e sensações que tive lá causaram isso em mim mais
forte do que jamais tinha sentido desde que vim morar aqui.
Tenho tanta vontade de colocar meus tênis, minha calça jeans,
uma blusa solta…
Não que eu queira provocá-lo ou qualquer coisa do tipo, apenas
quero me sentir eu mesma.
Ver todos aqueles vestidos de marca, sapatos de salto ali faz
com que eu me sinta perdida e desconexa de tudo e de todo o
mundo. Estou aqui há quase um mês e tudo o que eu tinha dito a
mim mesma que atrasaria ao máximo a fazer com ele, eu já fiz e
não sei direito ainda como estou me sentindo sobre isso.
Entro ainda mais no closet e em uma parte, quase escondida,
encontro algo que me faz sorrir de orelha a orelha. Seria mesmo
possível?
[…]
De banho tomado e trajada com um vestido branco, simples e
soltinho, eu desço descalça para a sala.
O ambiente está claro e silencioso e eu não faço ideia de que
horas são.
Vou até a cozinha e tomo um copo de água, isso me deixa mais
calma.
Todo esse silêncio me incomoda, o silêncio sempre me
incomodou… eu gostaria de ter meu antigo telefone aqui comigo
hoje, ouvir minhas músicas me faria bem agora – mesmo com a
peça única que Edward tinha me dado, eu ainda não tinha me
familiarizado o suficiente com o aparelho.
E, para falar a verdade, ouvir qualquer coisa me faria bem
agora.
Esse silêncio todo me faz pensar que estou sozinha e trancada
em um lugar que parece se fechar a minha volta e isso me assusta.
Balanço a cabeça para afastar meus pensamentos
claustrofóbicos e bebo mais um pouco de água.
Decido por andar pelo apartamento de Edward.
Pensar nele me faz lembrar o Quarto da Luxúria e que depois
de tudo aquilo eu acordei mais uma vez sozinha no meu quarto e
sem roupas.
Encontro um relógio digital em um tipo moderno de aparelho de
som, que eu realmente nunca vi. São quatro e meia da tarde e isso
me surpreende.
Continuo andando e, eventualmente, acabo me deparando mais
uma vez com o piano negro de cauda, dessa vez ele está com a
tampa aberta. Eu lembro que no dia que fiz minha exploração pelo
apartamento, esse tinha sido o lugar mais interessante que eu tinha
encontrado – isso até eu chegar à belíssima biblioteca de Edward.
Sinto extrema vontade de me sentar no banquinho que há de
frente para o majestoso instrumento e tocar algumas notas, afastar
o silêncio de mim e dar um pouco de alegria ao ambiente; é quase
uma necessidade.
Posso imaginar como é o som do piano se alastrando por todo o
apartamento, expulsando o silêncio, fazendo imponente a sua
presença e isso me faz sorrir ampla e estupidamente.
— Um beijo por seus pensamentos – a voz de Edward soa
suave atrás de mim, fazendo-me pular de susto e me virar para ele
com meus olhos arregalados. — Desculpe – ele diz com um sorriso;
a voz mais parece ser soprada para fora dele.
— Tudo bem.
Sorrio.
Ele se aproxima de mim e enlaça minha cintura. Tenho vontade
de afastá-lo, mas não faço.
— O que foi? – ele pergunta ao perceber meu desconforto.
— Nada… nada demais, senhor Cage – ele franze o cenho
realmente confuso e curioso.
— Pensei que tivéssemos combinado que podia me tratar pelo
meu nome, meu primeiro nome – ele sopra para mim.
Agora é minha vez de ficar confusa com seu jeito.
— Combinamos?
Minha confusão parece diverti-lo, porque ele ri abertamente
para mim sem malícias ou qualquer outra coisa do tipo, apenas um
riso sincero e – aparentemente – feliz; acho que essa é a primeira
vez que isso acontece e isso me deixa realmente contente.
— É… quase isso – reponde ainda rindo.
— Tem uma risada bonita… – murmuro.
Ele sorri e logo depois beija meus lábios brevemente.
Minha vontade de afastá-lo estava subitamente diminuindo.
— Você ainda não me disse o que aconteceu.
— Nada. Falo sério… só estava pensando.
Ele arqueia sugestivamente uma sobrancelha e me encara
ansioso como se dissesse: “Em quê?”.
— Estava pensando em música… música ao piano – respondo-
o enquanto viro-me para o piano na saleta.
— Por isso estava sorrindo?
— Sim. Ahn… quer dizer… Sim, senhor.
Ele bufa uma leve rizada.
Edward está relativamente sorridente hoje, não quero estragar o
humor dele, então nem questiono o motivo de ter acordado sozinha
hoje. Eu sempre acordei sozinha, mas nunca depois de…
— Quer comer algo?
— Estou bem.
— Você não almoçou.
— Estou bem, Edward – testo o nome dele em minha boca; é
bom de falar e sem querer me faz lembrar, mais uma vez, do que
aconteceu no Quarto da Luxúria.
Ele dá de ombros relutante, com um suspiro resignado e
censurador, e se afasta, mas não me deixa solta.
Entrelaçando seus dedos aos meus ele me puxa até o sofá e
depois de se sentar me coloca em seu colo, com uma perna minha
de cada lado de suas coxas. Ele acaricia minhas costas por cima do
tecido de meu vestido.
— Gosto dessa posição com você. Posso ver seus olhos – ele
sopra para mim; um sorriso involuntário parte minha face em dois,
isso parece agradá-lo.
Inclino-me e o beijo.
Quero tocar seus cabelos, testar a maciez de seus fios, mas
tenho medo de fazer isso e tocar nas áreas proibidas novamente.
Quando me afasto para respirar, mordo meu lábio inferior, que
tem o sabor de Edward no momento. Estamos tão perto um do outro
que é como se o ar que respiro fosse feito de seu perfume e o calor
de meu corpo viesse dele.
Com meus olhos fechados deposito pequenos beijos de sua
boca até sua mandíbula e o lóbulo de sua orelha. O cheiro dele é
tão bom que apenas sinto vontade de ficar ali o aspirando, enterrar
meu rosto no vão de seu pescoço e ficar ali, mas não faço isso. Na
verdade, paro com tudo o que eu estava fazendo e afasto-me para
fitá-lo arrependida.
— Desculpe.
Ele me fita confuso por alguns mínimos instantes e, logo depois,
afaga minha bochecha.
Seu olhar sustenta o meu e o cinza parece sorrir.
— Eu gostei – ele sussurra para mim — Continue – ordena de
maneira suave.
Decido agir de uma maneira um pouco mais atrevida.
Pego sua mão que afaga minha bochecha e a coloco sobre
minha coxa direita, fazendo com que ele a infiltre pela saia de meu
vestido. Sei que ele gosta deste toque, pude perceber em todas as
vezes que fizemos isso.
Ele gosta de sentir a minha pele, de testá-la.
Faço o mesmo com sua mão que está em minhas costas e em
nenhum instante ele tira os olhos de mim.
Fixo minhas mãos nas costas do sofá, chego para frente em seu
colo e recomeço a beijá-lo.
Suas mãos criam vida em minhas coxas apertando com gosto
cada pedaço possível da carne, subindo para o topo de minhas
coxas. Ele infiltra um de seus dedos por minha calcinha e me
penetra com o mesmo, iniciando movimentos lentos e ritmados, isso
me faz gemer de uma maneira arrastada.
Sinto sua boca tocar a pele do meu pescoço, arrastando seus
dentes e dando leves mordidas desde o lóbulo de minha orelha até
meu ombro, esses atos em conjunto com as investidas incessantes
de seus dedos dentro de mim me levam à uma loucura muito recém-
descoberta por mim.
É inebriante.
Sua mão abandona minha coxa e, por cima do vestido, começa
a massagear meu seio.
É quase impossível continuar com o que ele me pediu!
Meus quadris criam vida própria e se movem na direção de sua
mão em busca de mais movimento.
— Oh, Deus! – ofego desesperada.
— Goza… goza pra mim, Amy – ele sopra em meu ouvido.
Seus dedos se movem com ainda mais vontade e sua mão em
meu seio o apalpa com ainda mais vontade.
É fascinante a forma como ele consegue me deixar deste jeito:
Completamente fora de mim…
— Edward – gemo de maneira arrastada ao me libertar sobre
ele.
Ele cola seus lábios aos meus, beijando-me, mas as investidas
de seus dedos ainda mão cessaram.
— Gostosa para cacete – ele murmura em meu ouvido ao parar
de me beijar.
Os movimentos dentro de mim me acendem novamente, mas
quando meu primeiro gemido sai, ele para.
Isso me frustra de uma maneira terrivelmente insana.
Estou ofegante, suada e sentada sobre ele, que me fita
imutável.
Os olhos cinza de tempestade cravam-se nos meus no instante
que consigo fôlego o suficiente para fitá-lo.
Seus dedos saem de mim e estremeço por isso.
— Quero espalmar minhas mãos bem aqui e quero ter você de
novo – ele sopra para mim com os olhos ainda cravados nos meus e
apertando minha bunda com vontade.
Nadando no mar cinzento de suas írises vejo a vontade dele, a
necessidade disso e a voz de minha mãe – em uma de minhas
inúmeras aulas de preparo para ele – soa em minha mente: “Faça o
que ele quiser e mandar, sem hesitar”.
— Faça isso – peço em um fio de voz.
O brilho que vejo surgir em seus olhos faz algo dentro de mim
se agitar e por dentro eu tento ignorar a parte que ele certamente
me dará algumas palmadas.
[…]
Edward me deita de barriga para baixo sobre o colchão da sua
cama.
Estou nua, estirada sobre a cama com Edward pairando sobre
mim alisando minha nádega com uma mão e com a outra as minhas
costas.
Ele faz movimentos circulares e ritmados em minha nádega,
descendo para um pedaço de minha coxa e então o primeiro golpe
me acerta. Escondo meu rosto entre meus braços em busca de
esconder minhas reações dele, não quero que ele as veja.
O afago recomeça e logo depois mais um golpe. E ele segue
com isso, o mesmo ritmo, afago e palmada, afago e palmada,
apenas acertando em locais diferentes. Isso se prossegue até o
momento em que me torno indiferente à dor, apenas me mantenho
ali. O afago de Edward em minhas costas não diminuiu um instante
sequer e isso me acalma.
Sinto um beijo ser depositado entre minhas omoplatas, fazendo
minha pele se arrepiar.
Ergo meu rosto e passo a fitar as janelas. No fim das contas,
não tinha sido a pior coisa que já me aconteceu e pensar nisso me
faz estremecer levemente por dentro.
Edward me coloca deitada apenas sobre a cama e vem para
perto de mim. Estou deitada de lado – de frente para ele – com
minha cabeça apoiada em meu braço.
Ele afaga minha bochecha e passa os polegares pouco abaixo
dos meus olhos, afagando as maçãs do meu rosto.
— Como se sente? – ele pergunta, aparentando verdadeira
preocupação.
— Com a bunda dolorida – consigo dar uma risadinha para
acalmá-lo.
— Falo sério, América.
Aproximo-me mais dele e jogo minha perna esquerda por sobre
o seu quadril.
Com um pouco de audácia, afago seu rosto – da mesma
maneira que ele afagou o meu – e o beijo.
— Eu estou bem – sopro para ele logo depois de me afastar.
Sua mão afaga ritmicamente minha coxa que está em contato
direto com seu quadril e logo depois ele a tira dali.
Ficando de pé ele se livra de suas roupas e sapatos e volta a se
deitar comigo mais uma vez, só que agora se aconchegando entre
minhas pernas e entrando em mim ao mesmo tempo em que sua
boca cobre a minha.
[…]
Edward e eu estamos deitados um de frente para o outro,
ambos sem roupas e suados.
Ele sustenta meu olhar e estamos assim há um bom tempo.
O silêncio com ele – às vezes – não me incomoda, é apenas
desconfortável e por isso eu decido arriscar uma pergunta:
— Por que não gosta de ser tocado?
— Esse não é um assunto que eu queira discutir agora e nem
tão cedo. Só entenda que não gosto. – diz sério.
— Está bem.
Mordo meu lábio inferior enquanto penso.
E ao olhar para ele noto que ele olha fixamente para minha
boca.
— O que sente quando eu faço isso? – questiono mordendo
meu lábio inferior mais uma vez.
Ele franze a boca, pensativo.
— Não sei explicar, mas mexe comigo… intensamente – ele me
lança uma piscadela safada.
Sorrio para ele.
— Quais eram suas expectativas antes de saber que era eu?
— Quer saber como eu pensava que você era? – ele acena de
maneira positiva — Velho, barrigudo, careca, horrível, um cara
podre de rico que não tinha nada de interessante para fazer na vida
e tinha que “comprar” – faço aspas com os dedos — uma mulher
para satisfazê-lo na hora que ele quisesse.
Noto que Edward me encara pasmo com as sobrancelhas
arqueadas.
— Mas eu errei feio, bom… pelo menos na maior parte.
— Como assim na maior parte?!
Rio de sua reação, mas me contenho para explicar a ele:
— Bom… você é jovem, bonito, com toda a certeza nem pouco
careca – fito os fios revoltos por alguns instantes ao falar a com
certo humor na voz — Nem um pouco barrigudo, muito pelo
contrário… É. Eu cometi alguns erros ao imaginá-lo.
Ele fita o próprio físico e dá leves tapinhas em sua barriga.
— Acho que estou começando a atingir suas expectativas,
América. – diz com humor.
— Uh, isso é ruim.
— Por quê?
— Porque aí estaríamos invertendo nossos papéis – coloco
suavemente para ele.
Ele me fita pensativo por um longo tempo, apenas me
encarando.
— Eu tenho um presente para você. – diz mudando de assunto,
de repente e completamente.
— Presente? – fito-o curiosa e desconfiada ao mesmo tempo —
Por quê?
— Primeiro porque eu posso e segundo porque eu quero.
Fantástica explicação! Até uma criança de dois anos entenderia!
– zomba meu inconsciente.
Ele se levanta e veste sua cueca.
— O que é? – pergunto.
Edward me olha de pálpebras estreitas, mas com a sombra de
um sorriso permeando seu rosto.
— Coloque uma roupa e me acompanhe.
Fito-o com o cenho franzido, mas faço o que ele diz.

Edward me leva até meu quarto e, por um instante, penso que


fiz algo errado e que serei punida, mas logo descarto essa ideia. Por
que ele me presentearia para logo depois me punir? Não faria
sentido algum!
E esse homem faz sentido por algum acaso?! Ignoro meu
inconsciente.
Ele me leva até meu closet, no final dele – exatamente para a
parte quase escondida que eu fui hoje quando acordei. Ele afasta os
vestidos e na minha frente aparecem… As minhas roupas!
— Trouxe as minhas roupas?! – mal consigo conter minha
felicidade com isso.
— Gostou?
— Gostar é pouco! Muito obrigada!
Ele sorri malicioso e crava seus olhos de tempestade em mim.
— Vista algumas. Quero ver como fica nelas.
Mordo meu lábio inferior e me contenho para não dar pulinhos
de felicidade enquanto me viro para minhas roupas.
Edward sai do closet e me deixa à vontade.
Escolho um short jeans branco, uma blusa florida de alças e
saio descalça para que ele me veja.
Edward está sentado em minha cama de frente para a porta do
closet, assim que me vê ele apoia o queixo na mão e me encara
pensativo.
Ele gira o dedo no ar, pedindo para eu me virar.
— Gostei deste short em você. Tenho bastante de suas pernas
com ele… gosto disso. – diz em tom normal, mas com aquele ‘quê’
de malícia que só ele sabe dar — Mas a blusa não… ela apaga
você e, América, você não merece isso – suas palavras me
surpreendem por completo.
Sinto até mesmo minha respiração falhar.
Então ele se levanta e caminha até mim.
Suas mãos se prendem aos meus quadris, mantendo-me presa
ao lugar, ele desliza a mão fazendo-a subir e infiltrando-a pela blusa.
— Erga os braços.
Eu obedeço.
Ele continua subindo as mãos, passando-as por minha barriga e
meus seios – os quais ele aperta – e logo depois faz a peça passar
por minha cabeça, retirando-a de mim e largando-a no chão.
— Coloque outra roupa. – diz voltando a se sentar.
Volto ao closet e visto outra roupa, um corpete top perolado de
pássaros e uma saia de renda que fica acima de meu umbigo. Volto
para o quarto.
Edward me avalia de cima a baixo e gira o dedo no ar para que
eu me vire. Ele me impede de terminar a volta, agarrando meus
quadris e colando-se às minhas costas. Sua ereção roça em mim –
ele parece estar se divertindo com isso.
— Essa saia… ela é muito curta e muito transparente. Use-a
somente para mim, tudo bem? Não saia com ela – ele encaixa sua
mão em meu sexo — Isso é meu – ele apalpa minha bunda — E
isso também.
Ele me vira de frente para ele.
— Gostei dos pássaros – ele aperta meus seios; não consigo
tirar os olhos dele. — Vista outra.
Obedeço.
Quando saio do closet estou com uma blusa de ombro caído,
em tons de branco e cinza e um short jeans desfiado. Giro em meu
próprio eixo para que ele me avalie. Dessa troca de roupas ele não
fala nada, apenas sorri malicioso e me manda trocar mais uma vez.
Coloco uma calça jeans clara e uma blusa cinza de alcinha com
a palavra “Beyond” escrita na frente.
Quando saio, Edward se levanta sem falar nada, ele me rodeia
olhando-me de cima a baixo.
— Você fica ainda mais gostosa e bonita com essas roupas do
que com qualquer outra que eu já te vi usar.
Ele cola seu torso às minhas costas, sua ereção roça em mim.
Seu braço está rodeando minha cintura, mantendo-me presa a
ele. Tirando meu cabelo de meus ombros ele arrasta o nariz pela
curva de meu pescoço.
Mas ele não continua com as provocações.
— Você não tem ideia de como eu gostaria de tirar sua roupa
neste instante – ele murmura sedutor — Mas tenho outros planos
para nossa noite – ele sopra em meu ouvido — Coloque algo mais
elegante e mais apropriado para o frio da noite. Vou estar te
esperando na sala, às sete.
Ele beija meu ombro e então se afasta.
Eu me viro para ele e seguro em sua mão, não deixando-o sair.
— Isso… esse presente significa que eu posso usar essas
roupas aqui? – pergunto esperançosa, olhando realmente nos olhos
dele ao fazer isso.
— Isso significa que você pode se sentir em casa, Amy –
declara e eu sinto toda minha pele se arrepiar com isso.
Ele sorri e depois me beija rapidamente nos lábios.
— Às sete, não se esqueça.
E então ele sai, deixando-me ali ainda mais confusa que antes,
mas com um pouco de felicidade em meu coração por causa dos
presentes.
O que ele está aprontando?
11- Você (não) me faz brilhar.
Ainda tendo em minha mente a dúvida do que Edward pretende
– e com as sensações do que ele provocou em mim ainda acesas –
eu busco pelo meu telefone peça única e o ligo depois de tê-lo
mantido fora da minha atenção por quase dois dias.
Surpreendentemente, ele ainda está totalmente carregado.
Assim que tenho o aparelho em mãos, eu pego minhas coisas e
me direciono para o banheiro. Ligo a música de meu celular e
começo meu banho.
Enquanto a água acalenta meu corpo, relembro-me de tudo o
que aconteceu hoje.
A forma como conversamos, o jeito que ele me tratou, os
presentes, foi tudo completamente diferente do que eu imaginei e,
então, me pego com um sorriso bobo nos lábios.
No mesmo instante que percebo, eu tiro o sorriso de meu rosto.
Não posso sentir isso!
Fico repetindo essa frase até que ela esteja bem fixa em minha
mente, porque a última coisa que eu devo sentir é alguma
estabilidade e conexão emocional com Edward Cage.

Assim que termino o banho e de me secar, saio do banheiro


enrolada em minha toalha, mas antes que eu possa chegar ao
closet, duas batidas suaves na madeira da porta me fazem mudar
temporariamente meus planos.
Coloco um robe qualquer que encontro pendurado na cabeceira
de minha cama, para não deixar a mostra tanto assim o meu corpo.
— Senhorita? – a voz de Aretha soa abafada dou outro lado da
porta.
— Ah, entre, por favor.
Ela passa pela porta rapidamente fechando-a atrás de si logo
em seguida.
— O senhor Cage me mandou aqui para preparar suas vestes.
— Ah, obrigada – sorrio doce para ela.
Sigo com ela para o closet.
Ela me explica tudo o que Edward havia instruído a ela sobre a
roupa e os acessórios e, assim que está tudo decidido, ela deixa o
quarto para que eu possa terminar de me arrumar.
Começo pela lingerie, de peças simples e de poucas rendas –
para não marcar – visto-a com extremo cuidado.
Seco melhor meu cabelo e o prendo em um coque mal feito.
Coloco uma meia-calça do tom de minha pele para, em seguida,
colocar o vestido. Ele é preto e não possui mangas, mas aquece as
partes em que a pele está em contato com o tecido – que é leve e
sedoso; ele vai até dois dedos abaixo da metade de minhas coxas.
Logo depois calço os sapatos, também pretos.
Faço uma maquiagem básica para a noite.
Olho para as coisas colocadas sobre minha cama para, logo
depois, pegar o colar prateado com – o que eu imagino serem –
pérolas e pedras brilhantes e os pequenos brincos. Em seguida, eu
penteio o cabelo, deixando-o cair leve por sobre meus ombros em
uma cascata de ondas castanhas e algumas mechas envolvem
meus seios.
Para finalizar, pego um pequeno vidro de perfume colocado ao
lado das joias e, logo depois de passá-lo, delicio-me por alguns
instantes com seu aroma delicioso.
Em seguida, eu pego a bolsa-carteira que está sobre a cama e
coloco meu celular dentro. Estou pronta.
Saio do quarto e me direciono para onde Edward está me
esperando.
Como havia dito, Edward está na sala.
Ele está de costas para mim e fala ao telefone parecendo
agitado, porque ele fica andando de um lado para o outro sem parar
e em uma das voltas ele se vira e, ao fazer isso, ele me nota.
Edward me avalia dos pés à cabeça e o olhar que ele mantém
em mim faz meu sangue subir lentamente para meu rosto e corar
minhas bochechas.
— Depois no falamos – ele diz antes de finalizar o telefonema
caminhando na minha direção.
Enquanto ele faz isso percorro seu corpo com os olhos
memorizando cada detalhe de suas vestes.
Ele está usando um Smoking preto por cima de uma camisa de
linho branco, acompanhado de uma gravata-borboleta também
preta. Os cabelos levemente bagunçados dão o ar mais jovial ao
traje tão formal. Ele está estonteante.
— Senhorita Lawson – ele diz com voz sedosa.
— Senhor Cage.
— Pronta para irmos?
— Sim, senhor.
Ele me toma pela mão e nos direcionamos para o elevador.
Assim que as portas se fecham, logo depois de entrarmos, a
atmosfera se transforma ficando elétrica… completamente estática e
carregada de algo que não consigo identificar, mas parece nos
comprimir cada vez mais.
O aperto mais forte da mão de Edward na minha demonstra que
ele também pode estar sentindo.
É uma atmosfera totalmente diferente da primeira vez que entrei
neste elevador e o contato de nossas mãos unidas parece piorar –
ou melhorar – a atmosfera carregada pela eletricidade; eletricidade
essa que parece fluir em meu corpo também.
As portas do elevador se abrem e toda àquela atmosfera se
dissipa.
Atravessamos o saguão em direção às portas duplas, o carro
preto está pronto e à nossa espera.
Um homem alto de traços fortes e sérios – que chegam a
assustar – abre a porta traseira do carro.
Edward me faz entrar primeiro e, depois que ele entra no carro,
o homem fecha a porta e se direciona para o outro lado do carro,
sentando-se atrás do volante para logo depois dar a partida.
— Ao Garden, senhor? – pergunta o homem grande ao volante.
— Exatamente, Ford.
Finalmente um nome para o homem grande e carrancudo.
— Coloque o cinto de segurança, América. – Edward ordena e
eu não hesito.
O carro acelera minimamente pelas ruas de Seattle em direção
ao Garden.
Olho para Edward e ele parece absorto demais em seus
próprios pensamentos, o olhar vago, preso na paisagem do lado de
fora. Na baixa luz do carro mal posso vê-lo.
Esfrego minhas mãos uma na outra, tentando resistir à vontade
nervosa de estalar as juntas de meus dedos e, também, à vontade
de morder o lábio. Olho para todos os lados que consigo e minhas
mãos continuam contorcendo-se juntas e completamente nervosas.
O que está acontecendo comigo?
Sinto a presença daquela eletricidade do elevador dentro do
carro, mais uma vez entre Edward e eu, e isso me deixa ainda mais
nervosa, mas afinal de contas por que estou nervosa?
Então eu olho para o homem ao meu lado e neste instante eu
percebo que é por causa dele que estou assim. É a primeira vez que
ele me traz para fora daquela cobertura no Diamond desde que me
mudei e não saber o que vou encontrar no lugar para onde ele me
leva é ainda mais perturbador.
Pela primeira vez desde que entramos no carro ele olha para
mim e automaticamente eu desvio meus olhos para qualquer outro
lugar.
— O que há, América? – ele questiona em tom brando pegando
em minha mão; a estática no ar parece aumentar, mas
aparentemente só eu a estou notando dessa vez.
— Estou nervosa – fito-o apertando sua mão na minha em
busca de algum conforto, mesmo que ele não possa me dar isso.
— Por quê?
— Eu não sei – digo fazendo uma careta.
Ele bufa um riso e logo depois beija o dorso de minha mão, este
ato estranhamente me faz arrepiar e corar instantaneamente.
Minha sorte é que está escuro demais para que ele possa notar.
— Eu gostaria de saber exatamente para onde estamos indo –
peço, quebrando o silêncio que se instalou entre nós mais uma vez.
— Um jantar oferecido pela minha empresa, no Garden Hotel,
para arrecadar fundos para a caridade. É feito pelo menos duas
vezes ao ano, quando conseguimos fazer mais… fazemos.
— Por quê?
— Além do óbvio?
— É – balanço a cabeça positivamente para enfatizar.
Ele inspira profundamente, sou quase capaz de ver seus olhos
faiscarem.
— É uma longa história, Amy.
— Espero ter tempo para ouvi-la, um dia – sopro para ele em
resposta, fitando seus olhos cinza brilhantes.
São realmente olhos muito lindos!
Ele nega com a cabeça e volta a fitar a paisagem, mas não solta
a minha mão.
Gosto do contato de nossas peles.
E gostaria de sentir mais dessa pele em minhas mãos, mas a
reação que ele teve na banheira nos meus primeiros dias com ele
ainda me assombra.
Nunca na minha vida eu havia visto alguém com tanto medo, e
o pior foi que o medo era direcionado a mim. Como eu, uma
coisinha tão pequena, magra e fraca que não assusta nem mosca,
seria capaz de fazer mal a ele? Desse tamanho todo?!
Perco-me em pensamentos alheios com meu olhar ainda fixo
em Edward. Não me importo de estar olhando para ele
descaradamente, a forma como ele me olha é muito “pior”, é uma
forma devassa que me despe e me devora de um jeito ansioso e
faminto demais. É enlouquecedor!
De repente o carro para, tirando-me à força de meus devaneios.
Balanço minimamente a cabeça para tentar clarear a mente e
parece funcionar.
— Chegamos, senhor – avisa Ford.
— Obrigado. – Edward diz a Tyler pouco antes de alguém abrir
a sua porta; ele solta minha mão logo depois.
Edward salta para fora do carro com extrema elegância,
enquanto eu me liberto do cinto de segurança seguindo-o para fora
do carro logo em seguida.
Edward estende sua mão para mim e eu a aceito de bom grado.
A primeira coisa que vejo ao sair do carro é a luz do flash de
alguma câmera fotográfica, o que me deixa desnorteada por alguns
instantes. Minha sorte é que Edward está me segurando, caso
contrário creio que eu poderia muito bem ter caído.
Ele me mantém ao seu lado enquanto posa para uma foto. Eu
não olho para as câmeras que também têm as suas lentes
intrometidas em cima de mim; olho para qualquer lugar ou pessoa,
mas principalmente para Edward.
Quando finalmente conseguimos entrar no saguão do Garden,
os flashes e os jornalistas ficam para trás.
Sinto-me realmente aliviada por isso.
Estamos sobre um tapete vermelho que segue até a entrada do
salão.
Edward não solta minha mão e eu estou particularmente
agradecida por isso; apesar de estar enxergando, não consigo fazer
isso muito bem graças aos flashes.
— Desculpe por isso – diz Edward enquanto começamos a
caminhar para o salão do hotel — Você está bem?
— Só um pouco cega, mas, fora isso, eu estou bem.
— Ótimo.
Vejo a sombra de um de sorriso passar pelo seu rosto
momentaneamente.
Entramos no salão do Garden Hotel, um salão extremamente
espaçoso – para não dizer enorme – completamente bem decorado
e organizado. A luminosidade do local é estável e acolhedora – não
machuca os olhos – feita por lustres de – creio eu – cristal com
algumas formas que lembram prismas. Há um lustre maior e
principal elevado no centro, o que me faz perceber que o teto do
local é curvo, oval, como o de uma cúpula.
— Edward! – em meio à música suave que preenche o
ambiente ouço uma voz feminina chamando por Edward com exímia
empolgação — Edward, querido! – ela chega até nós.
É uma mulher incrivelmente esbelta – mais velha, entre os trinta
e muitos e os quarenta e poucos, mas, ainda assim… linda – tem
cabelos ruivos brilhosos – a maciez dele é perceptível mesmo à
distância – cortado perfeitamente bem três dedos meus abaixo de
seus ombros, curvas avantajadas marcadas pelo vestido escuro e
justo; um corpo invejável.
Edward solta minha mão para cumprimentá-la e, pela primeira
vez, sinto inveja verdadeira dela, pelo simples fato de ela poder
tocá-lo quando eu não posso nem sequer imaginar essa
possibilidade; sinto raiva e desvio meus olhos da cena no mesmo
instante.
— Como você está, Vivian? – ele pergunta.
Pelo canto do olho vejo Vivian segurá-lo pelos braços correndo
as mãos por eles livremente e olhando para Edward com desejo – o
mesmo tipo de olhar que ele tem sobre mim, na maior parte das
vezes.
Isso me deixa ainda mais nervosa.
Um garçom passa na minha frente carregando uma bandeja de
champanhe, no exato instante que me viro para não olhar mais para
eles. Paro-o e pego uma das taças, tomando um longo e saboroso
gole do líquido âmbar adocicado e espumante, sentindo-me melhor
no mesmo instante.
Quando estou prestes a tomar mais um gole a taça desaparece
de minha mão.
Olho para Edward e ele está com minha taça na mão, olhando-
me com censura nos olhos e sua boca desenha um belíssimo “não”
bem negativo em resposta a dúvida presente em meus olhos.
— Não quero que você beba – ele diz em tom calmamente
gélido.
Resisto à vontade de bufar e revirar os olhos para ele, limitando-
me a apenas respirar profunda e silenciosamente desviando meus
olhos dos dele.
A mulher ruiva, Vivian, ainda está ali. Algo nela não me agrada,
talvez a forma como olha para Edward, ou a forma que olha para
mim… Eu não sei, mas não gosto dela logo de cara.
Edward pega em minha mão mais uma vez e a aperta na sua
para chamar minha atenção, funciona porque logo depois estou
olhando para ele.
— América, esta é Vivian Levesque. Vivian, essa é América,
minha acompanhante.
A palavra “acompanhante” me enoja.
Ela sorri para mim, exibindo seus dentes brancos moldados por
lábios rubros e, em seguida, estendendo sua mão para um
cumprimento formal. Aceito-a, mesmo relutante, e abro meu melhor
sorriso para ela.
Assim que separamos nossas mãos ela se vira mais uma vez
para Edward, diz a ele algo que não escuto e logo depois, deixando
um rápido beijo em sua bochecha, ela se retira. Vê-la ir me acalma,
mas o fato de ela ter deixado uma marca na pele de Edward me
deixa praticamente possessa.
O que está acontecendo, Lawson?!
— Venha, vamos para nossa mesa. – Edward me chama,
conduzindo-me pela mão até onde se encontra “nossa” mesa.
Ele puxa uma cadeira para que eu me sente e depois de me
acomodar ele se senta ao meu lado.
— Quem era ela? – pergunto.
— É uma velha amiga da minha mãe – e é a única coisa que ele
me diz.
Reviro os olhos internamente.
Eu sou apenas a submissa acompanhante. É claro que eu
mereço essa resposta.
Se sentir em casa… caia mesmo nessa, América. Caia…
Alguns segundos depois, outro casal se junta a nós – uma
mulher alta e morena de longos cabelos negros e um homem
também alto, tão alto quanto Edward, de pele branca e cabelos
dourados – e Edward me apresenta a eles: Lígia Powell e seu noivo
Erick Hampshire.
— É um prazer conhecê-la, senhorita Lawson – o homem loiro,
Erick, diz.
— Por favor, me chamem de Amy – digo ao casal.
Lígia sorri para mim e se senta ao meu lado.
Logo engatamos em uma conversa agradável e tranquila,
enquanto Edward e o senhor Hampshire conversam animadamente
sobre algo alheio a mim.
— Há quanto tempo você e o Edward namoram? – ela
questiona, fazendo com que eu me engasgue com meu próprio ar;
Edward deve ter ouvido a pergunta indiscreta de Lígia, pois sua mão
se sobrepõe a minha coxa disfarçadamente, apertando-a e
deslizando os dedos por ela.
— Ah, nós não namoramos! – respondo apressada, assim que
me recupero do breve choque — Sou apenas uma amiga que está
de acompanhante.
Sorrio a ela com simpatia.
— Ah… – ela parece decepcionada e até envergonhada —
Desculpe. É que, desde que o conheci, nunca o havia visto com
uma mulher antes.
— Mesmo? – olho de relance para Edward — E há quanto
tempo se conhecem?
— Desde que comecei a namorar o Erick há três anos.
Mordo meu lábio inferior e ficamos em silêncio.
Estou desconfortável, mas tudo piora dentro de mim quando
Vivian reaparece e se senta conosco à mesa.
Meu corpo inteiro parece formigar quando ela se senta próxima
a Erick e, consequentemente, próxima a Edward. Eles engatam em
uma conversa, onde até Lígia se une, deixando-me quieta e isolada.
E eu não sei se prefiro deste jeito ou se desejo que mude.
Decido por me afastar ainda mais.
Peço licença e saio da mesa, deixando Edward surpreso com
minha atitude.
Sigo para qualquer lugar afastado da mesa em que ele e ela se
encontram. Não sei o que está acontecendo comigo, mas estou com
raiva, raiva demais.
Raiva por ele ter me trazido aqui, me apresentado como uma
reles acompanhante para sua amiga – ruiva toda gostosa que pode
tocá-lo – e por ele ficar conversando com ela, ignorando a minha
existência.
O mesmo garçom de momentos antes passa na minha frente.
Paro-o e pego uma taça – e dessa vez não há como Edward me
impedir – tomando um longo gole do champanhe gelado e me sinto
amolecer ao sentir as cócegas que ele faz ao descer.
— Desculpe, mas onde fica o toalete? – pergunto ao garçom.
— Por ali, senhora – ele me indica a direção apontando com o
dedo — No fim daquele corredor.
— Obrigada, e… é senhorita – corrijo-o educadamente com um
sorriso simpático forçado, para, logo depois, me virar para a direção
que ele me indicou e seguir por ela ainda bebendo o champanhe.
[…]
Eu apoio minhas mãos no mármore escuro da pia do banheiro
ficando de frente para o enorme espelho.
A taça de champanhe está posta ao lado da minha mão, o
líquido pela metade e nesse momento eu gostaria de algo realmente
mais forte que isso. Por mais que eu tenha sido literalmente criada
para ser uma submissa eu não consigo exercer meu papel com
perfeição, não consigo me manter em meu lugar de dever.
Eu realmente não sirvo para obedecer, apanhar… ser uma
cadelinha de estimação, um brinquedo próprio para o sexo.
Pegando a taça eu sorvo os últimos goles de champanhe que
existem dentro dela.
Minha vontade é de sair fugida daqui. Ir embora para longe e
voltar quando tudo já estiver terminado, exatamente como eu fiz há
alguns anos.
Fito meu reflexo no enorme espelho pendurado na parede sobre
as pias.
Por mais que eu me esforce, isso que vejo refletido ali, não sou
eu.
Não consigo e não tenho muita vontade de me transformar no
reflexo que vejo ali, refletindo riqueza, beleza e curvas perfeitas –
por mais que eu não tenha essas tais curvas perfeitas. Tornar-me
isso para agradar à um homem e meu verdadeiro eu ser
transformado em apenas um reflexo na minha memória é meu maior
pesadelo.
— O que pensa que está fazendo?! – a voz controlada e fria de
Edward me tira de meus pensamentos fazendo com que eu o
encare assustada, pela primeira vez me preocupando se não há
mais ninguém ali e por sorte não há.
Ele está no banheiro feminino, droga!
E ele está exalando raiva. Está furioso comigo por que o deixei
no salão?
Mudo minha posição, apoiando a base de minhas costas no
mármore da pia e, cruzando meus braços na frente do peito, eu o
fito apenas esperando pacientemente sua explosão.
— Não vai falar nada? – seu tom ainda é muito controlado.
— Precisava vir ao toalete – respondo seca fazendo com que
ele arregale os olhos.
— Fale direito comigo, América – a ameaça está presente em
cada sílaba.
— Eu precisava vir ao toalete, senhor – uso o melhor de mim
para não revirar os olhos ao respondê-lo.
— Para beber? – questiona cínico franzindo o cenho e
apontando para a taça ao meu lado.
Olho para a taça vazia do champanhe e depois para Edward
novamente.
— Eu estava com sede, vim bebendo.
— Havia água na mesa.
— Mas o problema é que eu não queria ficar lá! – minha voz se
eleva em dois tons além do normal.
Edward caminha lenta e sensualmente até mim parando bem na
minha frente e me prendendo entre a pia e seu corpo.
Mantenho meus braços cruzados contendo minha vontade de
empurrá-lo para longe.
Sinto-me como em meu primeiro dia em sua casa, quando eu
não queria seu toque ou sua presença, mas dessa vez é pior, eu
estou com raiva e alterada pelo álcool.
— Por que está agindo assim, América? – ele questiona, a voz
suave como seda — Estava tudo bem até…
E então como se uma lâmpada se acendesse em sua mente
Edward me encara travesso com um sorriso espertinho se
alastrando por sua face.
Ele me pressiona ainda mais contra a pia de uma maneira que
sou quase obrigada a subir nela para me manter distante.
— Você está com ciúmes? – ele pergunta estreitando os olhos
para mim.
— Eu sei qual é o meu lugar – respondo quase ácida fitando
bem seus olhos — E nele eu não tenho o direito de sentir ciúmes.
Ele contém um sorriso maior mordendo o lábio inferior quando
suas mãos me alcançam e me fazem colar nele ainda mais.
Automaticamente, sem que eu possa me controlar, meus braços
já estão em torno de seu pescoço e minhas mãos presas ao seu
cabelo.
Sentir a textura sedosa e fina dos seus fios me inebria por
instantes incontáveis e eu só percebo que ele me colocou sentada
sobre a pia, quando ele sobe a saia do meu vestido arrastando as
mãos por minhas coxas e, quando dois de seus dedos entram em
mim, eu sou tragada de volta com um grito de surpresa.
— Você está com ciúmes, Amy? – ele pergunta iniciando os
movimentos de seus dedos dentro de mim, lentos e torturantes.
Um gemido escapa de minha garganta e sou incapaz de
respondê-lo.
Meu apelido nunca me soou tão sensual como naquele
momento.
Ele me belisca, bem ali! Isso me faz gemer mais uma vez e meu
corpo inteiro treme. Os movimentos param, mas ele mantém os
dedos dentro de mim, esperando que eu me estabilize.
— Eu já disse que não – minha voz sai arrastada.
— Então, o que era? – ele pergunta reiniciando com os
movimentos de seus dedos dentro de mim.
Meus dedos se fecham nas mechas do cabelo dele quando os
movimentos ficam minimamente mais fortes e eu o beijo com gosto
enquanto meus quadris remexem-se sobre a palma de sua mão,
mas ele me afasta parando com o beijo e os movimentos.
— Não… – gemo em desalento.
— Responda, que talvez eu até te dê outra coisa – ele diz
tirando uma de minhas mãos de seu cabelo e colocando sobre sua
ereção pulsante presa dentro da calça.
Minha boca seca no mesmo instante.
— Eu estava sim com ciúmes! – explodo — E com raiva, muita
raiva!
Ele sorri e tira seus dedos de mim.
— Por quê?
— Porque você estava com uma amiga ruiva e super gostosa,
que estava te devorando com os olhos, e porque… porque ela pôde
tocar você… – minha voz sai embargada por alguma coisa na última
frase — Eu saí de lá porque eu não aguentava ver ela ali tão perto!
Eu precisava ficar longe.
Ele se afasta minimamente.
— América…
— Mas pode ficar tranquilo, porque como eu te falei antes… Eu
sei qual é o meu lugar. Só não entendo porque veio atrás de mim,
em vez de ficar com ela.
Ele balança a cabeça em negação e avança em mim.
Segurando minhas mãos atrás de meu corpo com uma de suas
mãos, ele praticamente arranca minha calcinha e logo depois está
dentro de mim, preenchendo-me abrindo minha carne em busca de
mais espaço para si próprio.
Tirando-me de cima da pia ele me imprensa contra a parede
fazendo com que minhas pernas se enrosquem em seu quadril. Ele
me segura e me mantém ali enquanto começa a se mexer de
verdade, metendo com cada vez mais força e vontade.
Seu rosto está enfiado em meu pescoço onde sua respiração
pesada e entrecortada bate vez ou outra contra a minha pele
quando ele não está com os lábios em mim. Os únicos sons
existentes ali são os de nossos corpos se chocando um contra o
outro e meus gemidos arrastados e pesados.
Ele começa a se mexer ainda mais rápido conforme meus
quadris se movem sozinhos em sua direção. Sua velocidade e
vontade com que estoca para dentro de mim são implacáveis e ele
vai cada vez mais fundo.
Meus músculos se retesam ao redor dele pouco antes de eu me
desfazer, sendo acompanhada por ele.
Sinto que a minha tensão causada pela atmosfera estranha do
elevador e do carro se dissipou completamente depois disso tudo, o
que faz eu me perguntar se eu estava assim porque simplesmente o
queria, o queria desta forma devastadora e raivosa.
Edward crava seus olhos nos meus, ali vejo sua fúria, prazer,
desejo, satisfação e até mesmo um pouco de adoração. Sua boca
cobre a minha, sua língua invadindo e explorando cada pedaço
possível de minha boca.
— Isso é para você entender, de uma vez por todas, que é você
quem eu quero, não importa quantas amigas gostosas apareçam.
Você é minha. E de mais ninguém.
12- Um dia não tão bom.
A dor em meu estômago é o que me desperta do sono que
custei a conseguir.
Estou faminta.
Ir a um jantar e não comer dá nisso! Minha consciência ralha
para mim.
Mas quem pensa em comer depois do que Edward Cage faz?
Eu com certeza não.
Estou sozinha em meu quarto, está praticamente tudo escuro,
exceto pela claridade que vem da janela da varanda.
Levanto-me da cama e, em silêncio, sigo pelo corredor em
direção às escadas e, assim que termino de descê-las, caminho
sorrateira para a cozinha acendendo a luz.
Meu estômago dói de fome.
Abro a geladeira encontro uma caixa de suco de laranja e uma
vasilha com macarrão com queijo, dentro do congelador, separado
em pequenas quantidades. Separo uma para mim e coloco no
micro-ondas para esquentar, voltando com o resto do macarrão para
a geladeira, exatamente onde eu peguei.
Preparo a bancada para colocar o prato e assim que o micro-
ondas apita pego um garfo na gaveta, colocando-o sobre a bancada
para, logo depois, pegar um pano e tirar o prato com a minha
comida quente de dentro do micro-ondas e colocá-lo sobre a
bancada também.
Sento-me e começo a comer devagar, deliciando-me com o
sabor – a senhora Garner realmente sabe cozinhar.
Eu até agora não acredito em mim mesma.
Como sou capaz de sentir ciúmes do senhor Cage e ainda por
cima admitir para ele?! No mínimo, agora, ele deve estar achando
que sou uma bobalhona apaixonada… Efeitos do champanhe,
América, apenas isso. Como eu tive vontade de arrancar aquele
sorrisinho arrogante e presunçoso do rosto dele no instante que ele
suspeitou dos meus ciúmes!
Por que eu não sou simplesmente capaz de mentir e dizer que
estava apenas com raiva?
Com uma revirada excessiva de meus olhos, deixo meus
pensamentos de lado e me dedico a comer que é o melhor a se
fazer. Tomo um gole do suco de laranja que realmente está uma
delícia – para algo industrial.
Não é muito mais que três da manhã, pelo o que mostra o
relógio que encontrei na cozinha – Como não o notei antes? – e eu
estou completamente desperta.
Eu termino de comer e lavo a louça que usei, secando-a e
guardando em seus devidos lugares.
Subo de volta para meu quarto entrando no banheiro logo em
seguida.
Escovo meus dentes e depois deslizo para debaixo de meus
lençóis outra vez, colocando uma música baixa e suave na tentativa
frustrante de trazer meu sono de volta.
[…]
Acordo com meu próprio grito.
Estou sentada em minha cama com o lençol elevado até meu
pescoço. Meu corpo inteiro treme e sinto as lágrimas escaldantes
escorrerem pelo meu rosto, os soluços dolorosos escapam altos por
minha boca.
Há anos que eu não tinha esse pesadelo…
De repente, a porta do quarto se abre em um rompante e eu me
assusto ainda mais.
A memória – que há muito eu havia deixado para trás – está
fresca em minha mente e o rosto que vejo na minha frente é
exatamente o dele. Eu realmente quero correr e mais uma vez eu
grito.
A silhueta que está parada debaixo da porta corre até mim logo
depois de acender a luz, mas sou covarde demais para olhá-lo e, de
olhos fechados, eu me encolho contra a cabeceira da cama.
— Amy? – Não é a voz dele.
Abro meus olhos e vejo Edward ao meu lado.
As mãos em meus ombros e o olhar assustado, tão assustado
quanto o meu.
Ele me fita ansioso.
— Amy, você está bem? – ele pergunta afastando meu cabelo
da frente dos meus olhos.
Sem pensar, jogo meus braços ao redor de seu pescoço e
enterro meu rosto ali, chorando ainda mais.
Todo o seu corpo enrijece, mas, depois de alguns instantes, ele
me abraça de volta sentando-se e me puxando para seu colo.
Instantaneamente me sinto mais calma e protegida, como eu
provavelmente nunca me senti antes.
— O que aconteceu? – ele pergunta, parece realmente
preocupado.
— Foi… foi um pesadelo – respondo ainda tremendo —
Desculpe acordá-lo, senhor Cage.
— Não me acordou – ele diz em tom tranquilizador — Quer me
contar sobre o que era?
Balanço a cabeça em uma resposta negativa.
Eu enterro meu rosto em seu pescoço, mais uma vez, quando
sinto as lágrimas se acumularem em meus olhos novamente – não
quero que ele me veja chorando mais do que já viu.
Ele afaga meus cabelos e murmura palavras de consolo. E é
nesse instante que me torno consciente do fato que ele sabe
exatamente o que eu estou sentindo nesse momento.
Lembro-me da noite em que ele teve seu próprio pesadelo – a
primeira noite que me levou a passar muitas noites o observando
dormir – seus gritos apavorantes e a forma que ele se debatia em
seu pesadelo, a forma como ele me encarou depois que eu o
acordei. Edward realmente conhece o que eu estou sentindo.
— O senhor teve um pesadelo? Por isso estava acordado? –
pergunto ainda com o rosto enterrado em seu pescoço, sentindo a
pele dele se arrepiar com o toque de minhas lufadas de ar.
— Pode se dizer que sim – ele responde e eu posso jurar ter
escutado os traços de um sorriso em sua voz — Ouvi você gritar
quando estava saindo do meu quarto.
— Desculpe se o assustei.
Seu corpo sacode por debaixo do meu quando ele deixa
escapar uma pequena risada, fazendo-me sorrir.
— Você está melhor? – ele pergunta.
— Estou. Obrigada – respondo, erguendo o rosto para fitá-lo.
— Deve voltar a dormir. Chegamos tarde ontem – ele diz
suavemente, tirando-me de seu colo e se levantando.
— Pode ficar aqui comigo? – peço segurando a sua mão; a
ansiedade e o medo ainda estão presentes em minha voz. — Por
favor?
Ele me fita por alguns instantes como se travasse uma batalha
consigo mesmo.
Liberando uma pesada lufada de ar ele respira devagar e sobe
na cama, deitando-se ao meu lado. Edward me puxa para ele,
colando minhas costas ao seu peito e abraçando minha cintura
mantendo-me ali.
Ele cheira meu cabelo e logo depois beija o topo da minha
cabeça.
— Obrigada, Edward.
— Não me agradeça, América. Agora durma.
Eu sorrio em resposta e tento fazer exatamente isso.
[…]
O que me desperta dessa vez não é a dor faminta de meu
estômago, nem um pesadelo, mas sim um calor inexplicável.
Tento me mexer, mas há algo me impedindo e eu percebo que é
Edward.
Ele realmente ficou!
Um lampejo das horas anteriores passa pela minha mente e eu
me lembro do que aconteceu, fazendo um calafrio subir por minha
espinha ao me lembrar da parte desagradável.
Percebo, depois de alguns segundos, que o calor que estou
sentindo vem dele, da forma como ele está enroscado em mim.
Suas pernas estão presas às minhas e seu braço rodeia
possessivamente a minha cintura. Parece que não mudamos as
posições durante o sono nenhuma vez.
Essa constatação me faz sorrir.
Edward se mexe ao meu lado, respirando profundamente em
meu pescoço, pouco antes de me libertar de seu abraço possessivo.
Viro-me para ele e o encaro realmente agradecida e encantada.
Como esse homem consegue ser tão belo?
Meus verdadeiros fascínios são seus olhos cinzentos e seu
cabelo levemente acastanhado.
— Bom dia – sussurro para ele.
— Bom dia, América – ele diz ainda um pouco sonolento e com
a voz extremamente rouca.
— Obrigada por ficar.
O semblante dele se transforma de recém acordado e
descontraído para confuso e preocupado.
— Nunca te vi tão apavorada como nessa noite. Não podia te
deixar sozinha, mesmo se eu quisesse – ele me fita paciente, mas
ainda assim curioso e ansioso por uma explicação — O que
aconteceu?
— Não quero falar sobre isso… não agora – meus olhos ardem
pelas lágrimas que ameaçam se formar.
— Está bem, baby.
Sorrio para ele agradecendo, mas, mesmo assim, sei que ele
não vai sossegar.
Ele é curioso.
— Baby? – questiono com humor.
— Não gostou?
— É diferente.
Ele sorri para mim e se inclina para me beijar.
Um beijo lento que massageia meus lábios de uma forma que
me acende desde meu mais profundo íntimo. É bom e eu me
surpreendo ao ficar triste por ele se afastar.
— Agora sim é um bom dia. – diz ele fazendo-me corar de uma
maneira absurda.
— O senhor está com fome? – pergunto olhando-o sobre os
cílios — Eu gostaria de preparar algo para o senhor comer.
— Por quê?
Ele realmente está confuso.
— Quero agradecer e, também, me desculpar por ontem.
Ele me encara por um longo tempo.
Parece tentar desvendar o que se passa pela minha mente, mas
nem mesmo eu sei o que está se passando por ela para falar a
verdade. Só sei que devo agradecê-lo de alguma forma e agradá-lo
de uma maneira diferente. Ele cuidou de mim, é o mínimo que
posso fazer.
— Não vou punir você, se é isso que quer saber. Se eu fosse
fazer isso, teria feito ontem quando chegamos – ele é veemente ao
dizer essas palavras, o que me deixa contente.
— Eu sei. Mas eu realmente quero fazer isso para você – soo
doce e determinada.
— Tome um banho comigo e, então, decidimos.
Edward se levanta e estende as mãos para mim, as quais eu
não hesito em pegar.
Ele me puxa para fora da cama e nossos corpos ficam tão
próximos que é quase insuportável não eliminar a distância que
ainda existe. O perfume dele é tão bom que eu poderia ficar o tempo
inteiro apenas respirando-o.
Olho de relance para seu peito e toda a vontade de tocá-lo –
que eu tanto controlo – vem com força e eu até mesmo sinto meus
dedos coçarem por isso, mas Edward me leva para fora de meu
quarto, o que me impede de fazer uma grande besteira.
Ele me leva para o quarto dele e entra comigo em seu banheiro.

A água da banheira é morna e relaxa os músculos.


Apesar de eu ainda estar rígida e com meu corpo todo dolorido
por não me mexer quase nada durante o sono, estou feliz.
Talvez, Edward realmente não seja assim tão ruim quanto eu
pensei.
Ao mesmo tempo em que jogo água sobre meus ombros
pressiono meus dedos sobre eles em busca de algum alívio.
— Está com dores? – ele pergunta.
— Estou bem.
Edward me toma pela mão e me faz sentar entre suas pernas,
de costas para ele.
Suas mãos cobrem meus ombros e seus dedos fazem círculos e
exercem a pressão perfeita e necessária, fazendo uma massagem
mágica.
— Está melhor agora?
— Muito – minha fala parece um gemido.
— Foi a primeira vez que me deitei com uma mulher sem fazer
sexo – ele comenta depois de alguns minutos em que os únicos
sons provinham de mim.
— Já foi para cama com muitas mulheres, senhor Cage? – tento
parecer despreocupada.
— Ciúmes de novo, América? – a diversão está presente em
sua voz.
Ele parece ter gostado de saber que sinto ciúmes dele.
— Curiosidade – dou de ombros — Essa foi a minha segunda
vez.
— Segunda vez? – ele para com a massagem.
— A primeira foi na sua cama.
Brinco com meus dedos embaixo d’água, envergonhada, e
sentindo meu rosto aquecer enquanto ele volta a massagear meus
ombros, relaxando-me visivelmente.
— Eu ficaria realmente muito bravo se já tivesse estado em uma
cama com um homem que não fosse eu, América.
— Ciúmes, senhor Cage? – pergunto divertidamente sapeca.
— Apenas cuido do que é meu, senhorita Lawson.
Ridiculamente, eu gosto de saber disso, como se ser dele fosse
me manter segura para sempre.
Ele move suas mãos por toda a parte superior do meu corpo,
massageando-me com calma e gosto, como se estivesse me
descobrindo pela primeira vez; e é um toque muito bom.
Um gemido se arrasta do fundo de minha garganta.
— Como conseguiu essa cicatriz? – ele pergunta parando com
a massagem.
— Que cicatriz?
— Essa próxima às suas costelas. Do lado direito.
Meu coração perde uma ou duas batidas quando ele fala da
cicatriz.
Não quero falar sobre ela. Não, não, não! Eu me vejo escondida
atrás de uma poltrona com a cabeça entre os joelhos
completamente em pânico e eu queria realmente estar podendo
fazer isso.
— Eu… eu não me lembro – minha mentira sai gaguejada e
terrivelmente esfarrapada.
— Tem algo a ver com o seu pesadelo?
— Por favor, não insista – eu praticamente imploro.
— Está bem – ele diz passando os braços ao meu redor — Uma
pele tão bonita não deveria estar marcada dessa maneira – ele
sussurra em meu ouvido para logo depois beijar meu ombro,
fazendo minha pele se arrepiar.
— O senhor está particularmente carinhoso esta manhã – digo
com um sorriso, agradecendo internamente o fato de ele ter deixado
de lado os delicados assuntos pesadelo e cicatriz.
— Tive uma boa madrugada de sono – ele mordisca meu ombro
logo depois, fazendo um gritinho esganiçado escapar de meus
lábios.
Edward tinha acabado de me fazer cócegas e eu acho que esse
estava sendo o melhor banho da minha vida.
[…]
A música que preenche o ambiente vem de meu celular.
Edward está em seu escritório enquanto, eu na cozinha, preparo
o nosso café da manhã.
Sinto-me animada por estar fazendo algo que gosto: cozinhar.
Desde que Suzanne me ensinou, eu tenho verdadeira paixão
por essa simples e deliciosa tarefa. Pensar nela me faz pensar em
minha mãe e na minha antiga casa, mas, infelizmente, nem todas as
lembranças são boas e por esse motivo eu me esforço para colocar
todas elas de lado.
Enquanto preparo a massa das panquecas, balanço no ritmo da
música que toca, cantarolando pequenos trechos dela.
Sinto-me tão bem fazendo isso.
É como relembrar a época do colégio quando Joe e minha mãe
me permitiam ir à casa de Paige e nós duas fazíamos a festa na
cozinha, preparando brigadeiro e bolo ao som de qualquer música
que tivesse, era tão divertido.
Lembro-me até hoje de como nos conhecemos – foi um belo
banho de tinta que levei – e de como conhecemos Mike no ano
seguinte.
São boas lembranças.
Pensar neles faz com que eu me lembre do primeiro aniversário
que passei longe de toda aquela loucura de preparo para ser a
submissa perfeita, eles me sequestraram de minha própria casa e
me levaram para longe de tudo aquilo – sem sequer imaginarem
que estavam fazendo isso – foi um dia maravilhoso, um dos
melhores da minha vida.
Eu sinto a falta deles…
Com um suspiro, eu volto à realidade e tiro a última porção de
massa do fogo e ainda dançando – se é que se pode chamar o que
eu estou fazendo de dança – eu coloco a porção de panquecas que
fiz sobre a bancada de café da manhã.
Um sobressalto me ocorre quando sinto braços envolverem
minha cintura e um corpo colar-se ao meu, mas, ao perceber o calor
que emana dele, simplesmente sei que é Edward.
Ele me conduz no ritmo da música que acabou de começar com
suas mãos em meus quadris, fazendo-me requebrar a cintura de
uma forma tão certa e leve que mal sinto. É difícil me concentrar no
que eu estou fazendo com ele agindo dessa forma.
Uma risada completamente eufórica e infantil escapa de mim
quando ele me faz girar e cair na armadilha de seus braços
prendendo os meus braços junto de meu corpo.
Ele roça seu nariz no meu e crava seus olhos tempestuosos no
mar de calmaria dos meus, é quase como se fossemos céu e mar
prontos para uma batalha louca e faminta por nossa própria
destruição.
— Eu fiz panquecas – digo fitando-o por sob os cílios.
Edward se inclina minimamente para trás e prende meu queixo
entre seu polegar e indicador tirando meu lábio inferior de meus
dentes.
Sorrio tímida para ele.
— Você não deve me olhar dessa maneira e morder o lábio –
ele diz calmamente com a voz rouca.
— Por que não?
— Porque me deixa louco.
— Louco?
— Louco.
Eu sorrio para isso.
É bom saber que eu causo tantos efeitos nele, quanto ele causa
em mim.
Edward bica meus lábios com os dele, antes de me soltar e me
permitir terminar o que eu havia começado.

Assim que termino de pôr tudo sobre a bancada da cozinha,


Edward e eu nos sentamos um de frente para o outro e iniciamos
nosso desjejum. A panqueca derrete em minha boca e eu fico feliz
por conseguir dar a ela o ponto que eu queria.
— Amy, isso está maravilhoso! – Edward diz assim que esvazia
a boca.
— Obrigada – agradeço e sinto meu rosto aquecer.
— Quem te ensinou a cozinhar?
— Suzanne. Minha… minha babá.
Ele sorri.
— Ela te ensinou bem. – diz, colocando mais um pedaço na
boca — Conte-me um pouco mais sobre você – ele pede tomando
uma golada do suco logo em seguida.
— O que deseja saber? – apesar de eu saber exatamente sobre
o que ele está curioso, eu quero que ele me diga.
— Tudo o que quiser me contar.
— Você sabe muitas coisas, afinal, você leu a minha ficha – eu
respondo quase divertida, em uma tentativa estapafúrdia de fazer
uma piada.
No fim das contas, eu era apenas isso: mais uma garota numa
lista.
Ele não ri, mas coloca a mão sobre o queixo e assume uma
expressão pensativa.
— Será que eu sei tanto assim? – ele questiona retoricamente
— Você se formou em Relações Internacionais. Tem vinte e um
anos. Seu padrasto vive em Manhattan e está lá há poucos meses.
Você adora livros. Sua cor predileta é o azul e não gosta de silêncio
e nem de ficar sozinha, você me observa quando acha que estou
distraído… – ele para, pensando em tudo sobre mim que ele já tinha
lido, tudo o que eu já disse para ele e em tudo o que ele já tinha
notado sobre mim.
E, nesse momento, seu olhar sobre mim é tão intenso que faz
toda minha pele se arrepiar.
— Viu? Você sabe muitas coisas – eu falo na tentativa de me
desviar de toda essa intensidade — Eu só não imaginava que
tivesse notado tantas outras.
Edward sorri para mim e tomba a cabeça para o lado.
O olhar intenso ainda está sobre mim e remexe todo o meu
interior.
— Então, me conte algo que eu ainda não sei – ele pede.
Eu respiro fundo para isso, pensando no que eu posso dizer.
Algo que não me colocará em maus lençóis, como chegar e
dizer: Hey, Edward, eu passei todas as noites, antes de termos sexo
pela primeira vez, te vendo dormir.
— Pode haver uma coisa…
Ele me fita ansioso, instigando-me a continuar.
— Seus olhos me atraem – instantaneamente sinto meu rosto
queimar.
Ele me fita com um sorriso enorme no rosto.
Parece feliz. Mas é difícil dizer.
Mordo meu lábio inferior e antes que ele possa dizer alguma
coisa disparo:
— Fale-me um pouco mais sobre você.
Ele crispa os lábios e franze a testa, assumindo um olhar
distante.
Quase posso ouvir as engrenagens funcionando em sua
cabeça.
— Não há muito que saber sobre mim, América, você sabe bem
disso – ele diz pesaroso — Fale-me um pouco mais de você.
— Nunca vou ter filhos! – solto sem nem ao menos pensar
antes.
Edward praticamente se engasga com o café que estava
bebendo ao escutar o que eu disse.
Ele me olha confuso e completamente atônito.
Eu estou confusa e completamente atônita.
— Não tem que – ele pigarreia — dar sequência à linhagem?
— Ter eu tenho, mas não quer dizer que eu queira.
— Por quê?
— Não quero que minha filha se torne uma submissa. Quero
que ela tenha uma vida normal. – A vida que eu não tenho.
— Não gosta da vida que está levando comigo? – ele pergunta
sério e parece… magoado.
— Até agora não tive motivos para querer correr do senhor –
sorrio para ele para amenizar a resposta e parece funcionar.
— E se, por algum acaso, ficasse grávida e tivesse um menino?
Estaria tudo bem?
— Por que está me perguntando essas coisas? – eu me esquivo
porque na minha família nunca dava para se ter certeza de que
alguma coisa poderia ficar bem.
E eu estou realmente ficando desconcertada e incomodada com
essas perguntas.
— Eu também não iria querer ver minha filha se tornando uma
submissa. Esse pensamento não me agrada nem um pouco!
— O senhor quer filhos?! – pergunto interessada e surpresa;
espantada seria o termo mais correto.
Mas Edward não me responde.
Ele apenas se levanta, deixa um breve beijo em minha testa e
sai. Seu olhar é incisivo sobre mim e cria inúmeras perguntas em
minha mente enquanto ele faz isso.
O que tinha significado tudo isso?
[…]
Edward saiu para trabalhar não tem muito mais de uma hora e
eu estou praticamente sozinha no apartamento.
Ainda estou sentada no mesmo lugar desde que ele saiu e eu
simplesmente não consigo sair de perto da bancada da cozinha.
Sinto que ela é a única coisa que me escora no momento.
Por que fui falar sobre filhos?!
Agora esse pensamento e as perguntas dele não saem da
minha cabeça, ficam martelando, martelando e martelando sem
parar, chega a dar dor de cabeça!
— Senhorita! – a voz animada de Aretha preenche o cômodo —
Bom dia.
— Olá. Bom dia, Aretha. Como está?
— Estou muito bem. E a senhorita?
— Pensante.
— Há algo te incomodando?
— Ahn… não – prefiro não revelar nada — Só… não tenho
nada para fazer, como sempre.
— Por que não lê algo? A senhorita parece gostar disso – ela
coloca com um sorriso simpático e acolhedor.
— Eu realmente gosto, mas… não quero fazer isso hoje – olho
para Aretha tendo uma ideia — Posso te ajudar em alguma coisa? –
pergunto esperançosa.
— Eu não me sentiria bem dizendo que pode – ela se desculpa
com o olhar.
— Tudo bem – respondo sentindo um breve desapontamento.
Eu já deveria ter imaginado que ela diria isso.
[…]
Passa pouco mais das duas da tarde.
Estou sentada no enorme sofá da sala de televisão que Aretha
me indicou depois que percebeu que eu não sairia da cozinha –
estranhamente aquele é um lugar acolhedor para mim.
Estou vendo um filme qualquer que está passando, mas não
presto a menor atenção. As perguntas “invasivas” de Edward ainda
estão martelando em minha cabeça.
Por que ele sempre só quer saber de mim e não quer nunca que
eu saiba mais nada sobre ele?
Isso me deixa incomodada.
Sobre a mesinha de centro o meu celular acende e começa a
tocar e a vibrar, fazendo-me pular rapidamente para atendê-lo.
— Alô?
— Lawson?! – Paige grita do outro lado da linha.
— Bennett! – eu exclamo com empolgação — Meu Deus! Como
você está?
— Muito bem! Já tem planos para a sua data especial na
semana que vem?
— Nenhum – eu lamento, sabendo bem sobre o que ela está
querendo saber. — Você sabe como as coisas são…
— Ah, Amy, qual é?! Você já vai fazer vinte e dois anos, toda
essa coisa já se tornou, no mínimo, absurda! – ela choraminga e
esbraveja — Fala com seus pais! É seu aniversário, poxa!
— Eu sei Paige, mas… é diferente agora.
— Como assim é “diferente”?
— Eu não sei como te explicar… só é diferente – desconverso.
Contar para Paige sobre a vida secreta da minha família não era
sequer uma opção.
— Mas… conte-me algo novo. Uma coisa boa! – peço, tentando
escapar do assunto proibições e aniversário.
Funciona.
— Eu estou saindo com um cara. – Paige diz com um suspiro.
— Mas isso não é novidade nenhuma, Paige. A cada semana
você está com um cara diferente – ironizo.
— Rá-rá, Lawson. Muito engraçada! – ela ironiza e eu quase
posso vê-la revirando os olhos para mim — Eu falo sério! Ele é
diferente… ele me faz bem e estamos saindo há quase dois meses.
— Você disse quase a mesma coisa do Curt…
— Ai, Amy! – ela me corta — Enfim… queria apresentar você a
ele.
Eu me remexo desconfortável no sofá, pensando nas opções
que eu tinha.
— Vou tentar – eu garanto, sentindo um comichão de adrenalina
em meu peito — Nem que eu tenha que fugir, eu vou!
— Ótimo! Ligo para você na sexta para confirmar!
— Ok.
— Até mais, Lawson – ela se despede.
— Até, Bennett.
[…]
Essa com toda a certeza está sendo uma sexta-feira tediosa ao
extremo.
Já passa das sete da noite, Edward ainda não chegou e tudo o
que eu fiz o dia inteiro foi ficar sentada ou deitada nesse bendito
sofá olhando para a televisão sem prestar a mísera atenção ao que
se está passando nela.
Estou entediada, irritada e ansiosa.
Não aguento mais ficar enfurnada aqui dentro deste
apartamento gigantesco, sem fazer nada. A biblioteca já não me
atrai tanto assim, já li quase todos os livros presentes nela e que me
interessavam – e até os que não me interessavam. Nunca fui de
televisão, mas é melhor do que o silêncio, pelo menos não me sinto
tão sozinha.
A ideia de uma “fuga” simples não passa despercebida pela
minha mente, mas sei que se eu fizer mesmo isso, Edward vai ficar
sabendo e será mil vezes pior para mim. Talvez, se eu pedisse com
jeitinho, ele me deixe sair com Paige ou pelo menos ir a algum lugar
quando ele estiver na empresa.
— Amy?
Olho para a porta da sala de televisão e encontro Edward de pé
ali, me observando.
Sento-me com dificuldade, um pouco tonta pelo tempo que
fiquei deitada apenas encarando a TV, e dirijo a ele um de meus
melhores sorrisos receptivos.
Ele parece cansado.
— Olá, Edward – o nome dele causa um gosto bom em minha
boca — Como foi o trabalho?
— Exaustivo – ele me responde enquanto caminha na minha
direção, afrouxando a gravada e tirando o paletó para, logo depois,
se sentar ao meu lado com certa distância entre nossos corpos,
coisa que eu não entendo. — E o seu?
— Chato. Entediante e terrivelmente monótono. Fiquei aqui o
dia todo!
— Parece irritada com isso.
— Um pouco. Eu queria muito ter algo para fazer além de ficar
trancafiada aqui! – eu exclamo, talvez, exagerando um pouco ao
dizer estar trancafiada, mas eu já estava realmente cansada disso.
— Bom… eu vou precisar de você sempre forte e saudável, em
todos os momentos, então… eu pensei que você poderia fazer
alguns exercícios durante a semana. Três vezes por semana para
ser mais exato. Com um personal trainer de minha confiança, o meu
na verdade. – Edward diz e parece não ter levado para o lado
pessoal o meu desabafo anterior.
— Parece melhor do que ficar aqui sem nada para fazer.
— Então, você aceita?
— Ele não vai pegar tão pesado vai?
— Nada que você não possa aguentar, baby. Tristan é um ótimo
professor.
— Está bem – sorrio para ele — Quando?
— Que tal começar na próxima terça-feira?
— Por mim tudo bem.
Ele sorri e se inclina para me beijar, prendendo suas mãos em
minha nuca e explorando minha boca com a língua de maneira
incrivelmente sensual.
— Edward? – digo quando nos afastamos para tomar ar.
— O que foi?
— Eu… eu gostaria de… de sair com meus amigos no próximo
domingo. O senhor me permite?
Ele arqueia a sobrancelha e me encara com um misto de
emoções que sou incapaz de desvendar.
— E quem são esses amigos? – ele pergunta, olhando-me
diretamente nos olhos.
Eu sinto uma ridícula ponta de esperança.
Talvez ele deixe!
— São apenas dois. A Paige e o Mike.
As feições de Edward ficam azedas e ele se afasta de mim
olhando-me cínico e furioso.
— E quem é Mike? – pergunta ríspido.
— Meu amigo desde o último ano de colegial. Meu melhor
amigo. Ele e Paige são os únicos que tenho! – a esperança
desaparece aos poucos.
— E por que eu devo permitir que saia de minhas vistas? – ele
soa cínico e cheio de si, atingindo os meus sentimentos, soando
como um ogro machista.
E ele nunca tinha soado como o vilão da minha vida, mas agora
isso tinha acontecido.
— Porque no domingo é meu aniversário – levanto-me do sofá
como uma bala e saio da sala de televisão pisando duro.
Estou com raiva, furiosa para ser mais exata.
Quero gritar com ele e estou pouco me lixando se ele me
espancar até eu sangrar. Quero ter um pouco de normalidade, ver
gente, respirar ar puro!
Mais uma vez a sensação de desencaixe universal me atinge.
Eu fui adotada! Só pode ter sido isso!
— América! – a voz imperativa de Edward gela meu sangue e
me faz estagnar no mesmo instante.
Ele soa como o dominador no controle.
Como o dominador que vai me castigar.
Tento controlar minha expressão cruzando os braços na frente
de meu peito, fechando os olhos e mordendo tão ferozmente meu
lábio inferior que chega a doer.
Respiro profundamente quando sinto ele se aproximar de mim.
Sei que se eu falar agora vou ferrar com tudo.
— América, olhe para mim – ele exige em tom controlado.
Nego com a cabeça.
— Olhe para mim, agora! – sua voz está carregada de ira
contida, posso sentir isso em cada palavra dita por ele.
— Não! Não vou olhar para o senhor! – minha voz sobe uma
oitava e não me arrependo de ter feito isso, pelo contrário, sinto-me
muito bem ao fazê-lo.
— América, eu não vou mandar de novo.
— Faça o que quiser, não quero olhar para você! Eu fico presa
dentro desta bosta de apartamento o dia inteiro e a única vez que o
senhor me levou para sair eu não pude fazer nada! Absolutamente
nada! Foi horrível! – eu exclamo alterada e feroz — E ainda tinha
aquela mulher que te devorava com os olhos. Você estava me
ignorando completamente! E de madrugada, você cuidou de mim,
fez com que eu me sentisse bem ao seu lado, com que eu me
sentisse protegida e então…
— Pois bem… eu fiz isso sim, mas porque me importo com
você! Quero seu bem-estar, América! Pelo amor de Deus! Você me
desobedeceu naquele jantar. Eu te disse para não beber e você
bebeu. Pensei que estivesse tudo bem e, então, de repente, você
desaparece! E eu não estava ignorando você.
Abro os olhos e fito-o chocada.
— Só estava fazendo com que eu me sentisse excluída, apenas
isso, não é? – fecho os olhos no mesmo instante para conter um
revirar de olhos.
— Eu não estava te excluindo de porra nenhuma! – ele grita
fazendo-me pular — Você desapareceu! Eu pensei que tivesse ido
embora ou… ou que algo pior tivesse acontecido a você!
— Eu só queria ficar longe!
— Longe de que?
— De você! – eu grito a resposta, sem me importar em ferir os
sentimentos dele com isso.
Edward tinha ferido os meus bem antes.
— Isso tudo me sufoca. Eu não suporto ficar sozinha, no
silêncio sem nada para fazer! E eu estava com raiva de você, com
raiva por ter me deixado acordar sozinha depois da cena no Quarto
de Jogos, estava com raiva por dar mais atenção aquela mulher e
sim eu estava com ciúmes! Assim como você teve ciúmes do Mike!
Você nem o conhece, nunca o viu! Desde que tenho dezoito anos fui
moldada para você e eu nem sabia o seu nome, ele foi um dos
meus poucos alicerces!
— Eu não tive ciúmes. Só não gosto que cobicem o que é meu!
– ele diz enfático, soando como uma criança possessiva — Eu sei
quem ele é, sei como ele é e sei que ele te quer para ele! Na sua
noite livre, eu estava de olho em você o tempo todo e vi quando ele
tentou te agarrar e o que me impediu de voar nele foi você ter
escapado e o fato de eu não poder me revelar ainda! – ele passa as
mãos nervosamente pelo cabelo — Eu pedi que não bebesse
porque eu vi como você fica alterada com uma dose leve de álcool.
Mais uma vez olho para ele chocada.
— Você estava lá o tempo todo?! Será que algum de vocês
sabe o que é um tempo livre?! – eu me altero novamente, sentindo a
raiva e a decepção fazendo meus poros queimarem.
— De tudo o que eu falei você só ouviu isso?! – ele parece
surpreso.
— Sim, senhor Edward Cage. De tudo o que o senhor falou eu
só ouvi isso. Aquela era a minha noite livre de você, do Joe, da
minha mãe e de tudo o que eu passei para poder satisfazer você! É
incrível o tamanho da confiança que todos têm em mim! – não
consigo segurar meu revirar de olhos e na mesma hora me
arrependo.
Edward agarra meu braço com força e me puxa para perto dele.
Seu olhar está feroz e isso me deixa assustada.
Suas írises estão tão claras que se tornam ainda mais belas –
apesar de assustadoras.
— Faça esse gesto para mim de novo que eu vou espancar
você até minhas mãos doerem e você implorar que eu pare.
Sinto meus olhos arderem com as lágrimas que se formam.
Desvencilho-me de seu aperto em meu braço com dificuldade e,
assim que faço isso, saio correndo em disparada para meu quarto
trancando-me nele e escorregando pela porta aos prantos.
Eu estava retirando o que eu disse antes: Edward Cage tinha
soado, somente agora, como o vilão da minha história.
Um vilão pior do que o anterior, porque deste eu não via como
conseguir fugir.
13- Olhe para a garota de sorriso
quebrado.
É manhã de quinta-feira e eu estou trancada em meu quarto.
Desde que corri de Edward que não tenho coragem nem
vontade de olhá-lo. Tenho sempre esperado ele sair para o trabalho
para descer para a cozinha e tomar meu café da manhã e sempre
quando está faltando pouco para ele chegar corro mais uma vez
para o meu quarto.
Todas as noites eu o ouço gritar em meio aos seus pesadelos e
tenho que resistir à vontade de ir socorrê-lo.
Noite passada também fui assombrada pelos meus pesadelos
e, ao me ouvir gritar, Edward quase derrubou a porta para me
acudir, mas eu estava preferindo chorar e me acalmar sozinha a ter
que olhar para ele depois do que aconteceu.
E eu estava agindo assim há mais de uma semana.
Duas batidas suaves na porta me chamam a atenção, fazendo-
me olhar fixamente apenas para aquele lugar do quarto.
— Senhorita Lawson, sou eu – a voz de Aretha sai abafada.
Levanto-me da cama e caminho, trôpega, até a porta,
destrancando-a e dando passagem para que ela entre.
Volto para a cama jogando-me nela em seguida; não me sinto
nada bem.
— Senhorita Amy… você tem que comer. Faz dias que não se
alimenta direito.
— Eu não estou com fome, Aretha.
— Por favor, não faça isso – ela pede colocando a mão em meu
obro — Meu Deus! Amy, você está ardendo em febre! – ela constata
assim que coloca as mãos em meu rosto e meu pescoço — Você
está sentindo algo mais? – ela pergunta preocupada.
— Eu estou bem, Aretha – minto.
— Não, a senhorita não está! Está queimando em febre!
— Deve ser apenas um mal-estar. Vou ficar bem.
— Vou levá-la a um hospital. E avisar ao senhor Cage que a
senhorita não está bem.
Eu estava me sentindo tão mal que nem o fato de Aretha estar
me chamando de ‘senhorita’ o tempo todo estava me incomodando.
— Não… Por favor, não faça isso – seguro suas mãos,
implorando a ela.
Aretha me olha confusa e preocupada.
Ela realmente não quer deixar o patrão sem as informações que
ele deve tê-la instruído a dar.
— Por favor… eu não quero vê-lo.
Ela suspira resignada e logo depois afaga minha bochecha.
— Então, descanse – ela pede com carinho — Se por acaso se
sentir pior, por favor, me avise está bem? Vou lhe trazer um
antitérmico.
— Pode deixar, Aretha. Obrigada – sorrio para ela, e logo
depois ela deixa meu quarto.


Entro em minha sala, mais uma vez, nesta fatídica manhã.
Só de pensar que ainda faltam dez horas de trabalho passando
de reunião em reunião, de compromisso em compromisso, meu
sangue ferve.
Eu só gostaria de ir para casa e tentar algum “contato” com
América. Estou muito além de preocupado com o comportamento
dela. Não a vejo desde a noite de sexta-feira em que eu banquei o
babaca do século, e isso está me deixando muito mais do que
furioso, além de preocupado.
Se eu tivesse a chance, implorar o perdão dela seria o mínimo
que eu faria em todos os dias do resto da minha vida.
Aretha tem me mantido informado sobre tudo o que ela tem
feito. Amy passa a maior parte do tempo trancada em seu quarto,
mal saindo para comer, beber água ou fazer qualquer outra coisa.
Se escondendo de mim.
Durante a madrugada, quando acordo por qualquer motivo,
ouço-a gritar, mas sempre que tento ir socorrê-la, a porta está
trancada. Tento de todas as maneiras convencer ela a abrir a porta,
mas tudo o que eu escuto em resposta são soluços assustados.
Eu realmente gostaria de saber o que tanto a assombra, ao
mesmo tempo em que peço aos céus para que não seja eu o
monstro de seus pesadelos.
Há tantas perguntas se formando em minha mente sobre isso
que chego a ficar desnorteado. E, também, há aquela cicatriz…
Dianna e Joe nunca me falaram sobre ela.
Talvez eles nem saibam que essa cicatriz existe.
[…]
Saio da minha sala no momento que Allegra me avisa que a
nova reunião está para começar.
Uma nova aquisição sendo feita, mil e um artifícios tem que ser
discutidos assim como os problemas e os contratos a serem feitos.
Estou sentado nesta cadeira há quase duas horas.
Estou exausto e faminto.
Até agora não tive nenhuma notícia de América e isso me
preocupa. Pergunto-me se ela já comeu. Se ela dormiu bem depois
de seu pesadelo. E se ela tomou tamanho medo e raiva de mim que
não consegue nem me olhar mais.
— E então, Edward, o que acha? – Gwen, meu braço direito na
empresa, pergunta profissionalmente ansiando por uma resposta
minha.
— Desculpe-me, mas… o que estava dizendo? – peço,
piscando atônito, praticamente perdido no assunto, o que não é de
meu feitio.
Gwen crispa os lábios e parece furiosa.
— Taiwan. Os gastos, custo-benefício, contratos, a tecnologia…
O que acha? Fechamos ou não? – ela faz um resumo rápido e
arqueia as sobrancelhas no final, esperando por uma resposta
minha.
Eu já havia discutido aquele tópico com ela milhões de vezes,
mas, pelo visto, os taiwaneses não querem ouvir a resposta dela e
sim de mim.
Não estou com o menor saco para tudo isso!
— Gwen… sabe minha resposta. Avaliamos isso milhares de
vezes e concordamos em fechar negócio sob a condição de bom
preço e juros baixos.
— Negócio fechado então – anuncia ela, olhando incisiva e
preocupada para mim e só desviando o olhar para anotar o que
precisava.
[…]
— O que há com você, Edward? – Gwen pergunta assim que
deixamos a sala de reuniões e entramos na minha — Está muito
distraído hoje!
— Eu estou bem, Gwen. Só alguns… problemas.
Ela arqueia uma sobrancelha e cruza os braços.
— Qual é o nome dela, Cage? – ela pergunta sentando-se de
frente para mim com os braços ainda cruzados na frente do peito.
— Dela quem, Gwen? – pergunto divertido.
— Da mulher que está te deixando assim, ora essa! Com a
cabeça nas nuvens – ela balança as mãos no ar para enfatizar.
— Não há mulher alguma. – Exceto uma petulante América
Lawson.
— Eu te conheço, Cage, então não minta para mim. Sabe que
eu posso ajudá-lo a conversar com mulheres, sou uma e tenho uma,
não se esqueça disso! – ela me fita impaciente — Ande, me diga o
nome dela!
— Não vou dizer.
— Se não quer falar o nome da mulher que está virando sua
cabeça, pelo menos me diga o que ela fez para conseguir isso! –
Gwen parece encantada e muito divertida com a parca possibilidade
de isso ter acontecido.
— Ela não está virando a minha cabeça. Não sou o tipo de
homem que se abala assim tão fácil por uma mulher.
— Sua boca pode dizer isso… – Gwen se levanta da cadeira —
Mas seus olhos… eles dizem outra coisa – e com isso ela deixa
minha sala.
[…]
Fico realmente feliz em sair de minha empresa para poder
almoçar.
Ford está me levando a um bistrô – a duas quadras da empresa
– onde pretendo encontrar com meu irmão Josh. O eufórico, infantil,
piadista Josh Cage, meu irmão mais velho.
Um grande crianção na verdade.
Ford para o carro na entrada do bistrô alguns minutos depois.
— Pretendo sair um pouco depois de meu horário normal, Ford.
Eu ligo para avisar.
— Sim, senhor – ele responde profissional e com um aceno
respeitoso de cabeça.
Ele dá a partida no carro logo depois de eu entrar no bistrô.
De longe vejo Josh sentado em uma das mesas do fundo, em
um lugar mais reservado.
Cumprimento os funcionários com um aceno rápido e vou ao
encontro de meu irmão.
— Fala aí, machão! – ele diz com humor, fazendo mais uma de
suas muitas piadas.
— Muito engraçado, Joss – digo sentando-me de frente para
ele.
Uma garçonete logo vem anotar nossos pedidos, trazendo-os
logo em seguida.
— A mamãe está ansiosa para conhecer a sua namorada. –
Josh põe com despretensão, fazendo-me engasgar com a minha
própria respiração.
— O que?! – indago atônito ao me recuperar do pequeno
engasgo.
— Não andou lendo os jornais, não, maninho?
— Que jornais, Josh?
— O Seattle Times, e todos aqueles outros que cobriram o
jantar da sua empresa no Garden. Suas fotos com a “mulher
misteriosa” são o assunto do momento, se você não sabe. Elas
estão até no Google! – ele diz com os olhos abertos e até um ar de
deboche.
Meus olhos quase saltam das órbitas.
Como eu não prestei à atenção nisso?! Como a minha
assessoria de imprensa não falou nada comigo?
— Está brincando. Só pode ser isso, né? – pergunto ainda
surpreso.
Será que estou tão aéreo assim?
— Edward, eu não brincaria com coisas tão sérias. A mamãe
está louca de curiosidade, só o que a segura são os plantões
cansativos no hospital.
— Eu não posso acreditar – murmuro ainda bastante
desacreditado — Mas, por falar na mamãe, como ela está? Ela está
bem? E o papai? A Laurie? – tento mudar o foco da conversa.
— A Laurie está furiosa com você, porque você nunca mais
apareceu desde o jantar pelo retorno dela há três meses. Ela está
chateada por você estar se mantendo sempre tão distante de nós, e
a mamãe? Nem se fala! Agora que ela descobriu sobre essa moça
não para de questionar quando vai apresentá-la a família. E o papai,
bom… ele está feliz pelo seu sucesso, mas, assim como todos nós,
está triste por você estar tão afastado por causa do trabalho. E ele
também quer conhecer a moça misteriosa – ele termina, fazendo um
tom engraçadinho no final.
— Não acho que ainda exista “moça misteriosa” na minha vida,
Josh.
— Por que diz isso?
— Pode-se dizer que eu e ela estamos brigados.
Josh ri fazendo-me fuzilá-lo com os olhos.
— Desculpe maninho, mas te ver lamentando por uma mulher é
bem engraçado! – diz ainda rindo.
— Eu não estou me lamentando por nenhuma mulher, Josh! E
mesmo que eu estivesse, o que não vai acontecer, não é
engraçado!
— Desculpe! – ele para de rir, ficando com apenas um
sorrisinho matreiro nos lábios — Mas e aí? Vou ter que arrancar o
nome dela de você à força? – ele apoia o queixo na mão e me fita
ansioso.
— América Lawson – eu concedo — Mas não saia espalhando
pelo mundo a fora, entendeu?
Ele sorri erguendo as mãos em sinal de rendição.
Franzindo o cenho ele se volta para seu almoço.
— O que foi? – pergunto.
— Eu não sei… mas acho que já ouvi esse nome antes. Ele não
me é estranho.
É minha vez de ficar confuso. Como ele pode ter conhecido a
Amy?
— Bom, deve ser só impressão minha – ele ri desconcertado —
Eu disse que tinha uma novidade, não foi?
Aceno de maneira positiva.
— Então… eu conheci uma garota.
— Novidade – digo sarcástico revirando os olhos; fazer isso me
faz lembrar América no mesmo instante e sinto-me
momentaneamente afetado pela falta dela.
E pelo o que eu fiz para ela…
Merda.
— Muito engraçado! – diz Josh; dou de ombros — Mas enfim, o
nome dela é Paige e eu queria que você a conhecesse nesse fim de
semana, no domingo para ser mais exato.
— Eu adoraria ir, Josh, acredite, mas é o aniversário da Amy no
domingo, então, eu não posso. Desculpe.
— Engraçado.
— O que é engraçado?
— A Paige. Ela tem uma amiga que faz aniversário neste
mesmo dia, ela iria me apresentar para ela e comemoraríamos o
aniversário dela. Seríamos eu, a Paige, a amiga dela e um tal de…
– ele faz uma pausa tentando se lembrar o nome da outra pessoa
franzindo a testa toda com o ato, parecendo forçar o pensamento.
— Mike! Eu, Paige, a amiga dela e o Mike. Ele também é amigo das
duas.
E eu não posso acreditar no tamanho das coincidências e no
quanto esse mundo é minúsculo.
[…]
Meu almoço com Josh foi bem mais produtivo do que eu pensei
que seria.
Depois que ele me falou sobre a nova namorada, contou-me
como se conheceram e tudo o que tinha direito – felizmente
poupando-me dos detalhes sórdidos – mas, na maioria do tempo, eu
não prestei muita atenção, pois a revelação que, sem querer, meu
irmão havia feito não saía da minha mente por mais que eu tentasse
me focar na conversa.
Faz quase três horas que estou de volta ao silêncio de meu
escritório.
Estou finalizando as últimas coisas urgentes e falta pouco mais
de duas horas para eu terminar com tudo e finalmente poder voltar
para minha casa.
Saber, também, que minha família deseja conhecer Amy me
deixa confuso e sem saber o que fazer. E eu odeio me sentir
impotente assim. Perder o controle das coisas à minha volta é tão
enervante quanto o fato de Amy não estar comendo e nem me
deixando vê-la.
Eu me sinto um culpado demais por esse comportamento dela,
não deveria ter gritado com ela daquela maneira. Não foi
exatamente certo fazer aquilo, ainda mais depois de vê-la com tanto
medo nos olhos… um medo que era direcionado a mim, assim como
toda a raiva que ela estava sentindo.
Mas, mesmo com toda a raiva que ela estava sentindo, ela não
tinha o direito de gritar comigo daquela maneira.
Ela não devia nem gritar comigo!
Não é?
Largo as coisas na mesa e passo as mãos freneticamente por
meu cabelo uma, duas, três e até quatro vezes seguidas, tentando
me acalmar e afastar todos os pensamentos relacionados à
América, à sexta-feira e o jeito como estamos para poder enfim me
concentrar em meu trabalho.
Eu precisava disso, mas falho miseravelmente.
Eu tinha escolhido América para ser a minha submissa, a minha
companheira. Mas eu realmente achei que saberia lidar com o fato
de ela ter sido criada para ser uma submissa.
O que tinha sido me passado, o que eu imaginava, o que eu
queria, quem América realmente é e o que está acontecendo de
verdade nesses últimos dias, nessas semanas… tudo isso está
entrando em um grande conflito dentro de mim, confundindo as
minhas convicções e todas as ideias que eu tinha formado sobre a
relação que eu iria estabelecer com ela.
O fim da solidão que parece preencher o meu peito.
“Por que você me escolheu?” – eu me lembro dela perguntar em
seu primeiro dia.
Os olhos azuis tristes das fotos tão diferentes se comparados
aos azuis vibrantes que eu tinha na minha memória.
Olhos que me passavam a sensação de certeza e sentimentos
profundos.
[…]
Sento-me no banco traseiro do Audi SUV.
Ford está ao volante, calado e sério como sempre, mas algo
parece o estar deixando preocupado. Prefiro não incomodá-lo.
Seja lá o que for se ele precisar ele irá me falar.
O carro arranca pelas ruas de Seattle em velocidade normal e
segura.
Aproveito o tempo a mais que tenho e perco-me em meus
próprios pensamentos que caminham diretamente para América. Eu
não soube dela durante todo o dia, e se ela estiver mal? Bom, se ela
estivesse Aretha teria me ligado. Tenho certeza disso.
Tudo em que consigo pensar é em como fazer Amy voltar a me
olhar, a falar comigo. Realmente não sei mais por quanto tempo sou
capaz de aturar isso… toda essa situação.
Ela é tão diferente do que eu imaginava… ela tem vontade de
ser ela mesma, parece ser algo com o que ela mais se importa,
assim como a vontade de uma vida… uma vida sem alguém como
eu…
Uma vida sem mim.
Isso me entristece de uma forma que não consigo explicar e dói.
Estou perdendo o controle do meu universo, e isso tudo
começou quando aqueles olhos azuis caíram sobre mim pela
primeira vez antes mesmo de ela saber o que eu significaria para
ela – e ela ainda perece não saber.
Talvez, nem eu mesmo saiba.
— Chegamos, senhor – anuncia Ford, tirando-me de meus
pensamentos.
Ele sai do carro e abre a porta para mim.
Aceno para ele agradecendo e, em silêncio, seguimos para o
elevador. Digito o código da minha cobertura e, enquanto o elevador
sobe, deixo-me perder em pensamentos mais uma vez.
Quando as portas se abrem no rol de entrada de minha
cobertura, saio do elevador com minhas coisas em minhas mãos e
sigo para a sala de estar. Deixo tudo sobre o sofá e, ao olhar sem
querer para o topo das escadas, meus olhos se cruzam com os de
América.
Como se um imã tivesse me puxado para ela.
Ela está na metade da escadaria e me fita assustada, mas o
contato de nossos olhos dura poucos segundos e a cena que
presencio quase faz meu coração parar.
14- Nem sempre são arco-íris e
borboletas.
Os olhos de Edward se arregalam na medida que, em câmera
lenta, ele observa América despencar em direção aos degraus da
escadaria e rolar por eles parando no fim delas.
A “sorte” dela é que não estava em um ponto mais alto da
escadaria.
O jovem de olhos cinza corre ao encontro de Amy, ajoelhando-
se ao lado dela e ao ver que ela está sem os sentidos, ele se
desespera.
— Aretha! – ele grita — Aretha! Tyler! Ajudem aqui!
Dos fundos do apartamento, Aretha surge com o olhar
preocupado e ao se deparar com a cena de Amy desmaiada e
Edward segurando-a nos braços, a governanta se desespera.
— Meu Deus, o que houve?! – ela questiona apavorada.
— Eu não sei. Mas chame o Tyler, preciso levá-la ao hospital
agora… ela caiu das escadas, Aretha.
— Oh, não! – ela lamenta e, logo depois, corre atrás do
segurança.
Ford pega a jovem nos braços, permitindo que Edward se
levante e a tome de volta para os seus próprios braços logo depois.
Com suas mãos no corpo de Amy, ele a sente muito mais
gelada e úmida pelo suor. Eles correm para o elevador e, assim que
saem no estacionamento subterrâneo, movem-se da maneira mais
rápida até o carro.
Edward se ajeita no banco traseiro com Amy ainda em seus
braços.
Ele faz uma pequena avaliação rápida de seu estado: ela está
fria, o suor escorre por sua testa, círculos escuros se formam ao
redor dos olhos dela, marcando a pele corada, agora extremamente
branca.
Edward nunca sentiu seu coração bater tão rápido como no
momento que ele a viu cair escada abaixo. Nem mesmo em suas
memórias mais dolorosas da infância, ele se lembrava de ter sentido
tal pavor. Ele mal percebeu que prendia a respiração e só notou isso
quando a viu sem sentidos em seus braços.
Os paramédicos colocaram Amy deitada em uma das macas
assim que Edward e Ford chegaram com a morena desmaiada na
ala de emergências do hospital, e seguem às pressas com ela para
a emergência. Edward é barrado na porta por um enfermeiro que,
depois de muito lutar, consegue convencê-lo a ir se sentar e esperar
enquanto os médicos fazem os exames.

~
Amy passou o dia inteiro se sentindo mal e a cada nova vez que
Aretha ia verificá-la ela parecia estar pior.
Sua febre não abaixava e sua cabeça parecia prestes a
explodir, seu corpo inteiro estava doendo, principalmente o lado
direito de seu corpo, na região das costelas.
Vez ou outra ela se levantava da cama e passeava lentamente
pelo quarto, mas cada passo mais parecia uma bomba explodindo e
comprimindo seu cérebro.
A dificuldade em respirar era o menor de seus problemas, ela se
sente gelada e cada vez mais fraca.
Seu estômago dói e parece se contorcer dentro dela.
Mas seu orgulho e raiva, aparentemente, são maiores do que
sua vontade de ficar bem, porque a cada vez que Aretha insistia em
avisar a Edward sobre o estado da jovem, ela fazia de tudo para se
mostrar melhor e capaz de se cuidar sem ele por perto.
Quando se cansou de bater os dentes debaixo das cobertas,
Amy se levantou da cama e seguiu para fora do quarto. Ela desceu
as escadas com o maior cuidado e assim que seus pés tocaram o
último degrau, ela se sentiu satisfeita por conseguir não cair delas.
Ela vai em direção à cozinha, onde encontra Aretha, mexendo
nas panelas, conseguindo surpreender a governanta por vê-la ali.
— Você está bem menina? – Aretha pergunta realmente
preocupada.
— Na medida do possível. – Amy responde com um pouco de
humor.
— A febre baixou?
— Acho que sim, Aretha.
Amy sorri doce para a governanta que se mostra realmente
preocupada com seu bem-estar.
— Quer comer alguma coisa? – Aretha pergunta, mostrando-se
prestativa e carinhosa, o que faz Amy se lembrar de sua antiga
babá.
— Eu gostaria sim, Aretha.
— E o que quer comer?
— Qualquer coisa leve. Um sanduíche estaria perfeito – ela
responde com um sorriso doce.
— É pra já! – a governanta diz com certa animação na voz;
parece satisfeita por Amy querer comer algo.
Minutos depois o sanduíche de peito de peru, tomates e pasta
de ervas finas e um belo copo de suco de laranja estão postos na
frente de Amy que se mostra maravilhada com a eficiência de
Aretha.
Ela degusta de seu lanche com vontade, mastigando e
engolindo devagar, não querendo atiçar a revolta de seus órgãos
internos mais uma vez.
Se sentindo satisfeita, Amy termina seu suco de laranja e, logo
depois, leva a louça para a pia, lavando-a também.
— A senhorita não precisava fazer isso – repreende Aretha.
— Está tudo bem, Aretha. É o mínimo que podia fazer.
Amy sorri para a governanta enquanto termina de lavar o prato.
Durante o passar do dia Amy se via melhorar e piorar de uma
hora para outra. Em um minuto ela estava bem, se sentindo capaz
até de sair dando pulos e piruetas pelo apartamento, mas no
instante seguinte ela se sentia tão cansada e tão pesada que mal
conseguia se mexer direito.
O que a adoece ela nem imagina o que possa ser, mas se sente
teoricamente feliz por não precisar estar se escondendo no seu
quarto no momento.
Ainda magoada e furiosa com Edward, Amy passa a maior parte
de seu tempo sem fazer nada, assim como em todos os outros dias
anteriores em que ele sai para trabalhar. É nessas horas que ela
sente falta de casa, apesar de todas as controvérsias existentes.
Quando o anoitecer se aproxima, Amy se levanta, zonza, do
sofá e segue em direção às escadas, pretendendo se esconder
antes que Edward chegue, a veja e tente conversar ou agarrá-la e
levá-la para o quarto.
Ela sente sua cabeça latejar a cada passo que dá, seu corpo
inteiro se tenciona e treme; aquele com certeza é um dos instantes
em que ela mal consegue se mover.
Amy se arrasta lentamente para fora da biblioteca – onde ela
estava deitada lendo o mesmo livro desde que terminara seu
lanche. Ela passa tão lentamente pelas portas que chega a pensar
que é capaz de Edward já ter chegado, ido até seu quarto, visto que
está vazio e já estar a procurando por toda a casa, imaginando uma
fuga.
Se ele pudesse imaginar como é tentador para ela fazer isso,
ele daria um jeito de manter todas as portas trancadas vinte e quatro
horas por dia. Mas nas condições em que se encontra Amy não se
vê muito capaz de ir a lugar algum ou tão longe assim.
O único lugar que ela almeja neste instante é sua cama.
Finalmente ela consegue chegar à sala de estar e, ainda lenta,
ela segue para as escadas.
Aretha não está em lugar nenhum e a disposição de Amy é
escassa até para chamar pela governanta.
Ela agarra com firmeza o corrimão da escadaria, subindo um
degrau por vez, sentindo sua cabeça pulsar com cada vez mais
intensidade a cada novo passo. Ela se sente tonta e para na metade
das escadas para respirar e tentar retomar parte dos seus sentidos.
Amy ouve passos na sala e seu coração dispara completamente
descompassado e imediatamente ela se vira para a direção do som,
dando de cara com um Edward fitando-a. Eles sustentam o olhar um
do outro por poucos instantes, porque logo depois toda a visão de
Amy se embaça.
Ela sente seu corpo ficar mole e pesar mais que o normal, tudo
gira na sua frente deixando-a ainda mais tonta. Ela sente seus
membros perderem toda a força e, de repente, tudo fica escuro.
Como se estivesse longe de toda a cena, ela é capaz de escutar
falas aflitas de pessoas ainda mais aflitas, e, dentre todas as vozes
que falam, a que se sobressai é a de Edward. Ele chama por ajuda,
fala coisas tão rápido que ela é incapaz de processar.
Ela sente uma movimentação diferente.
Tudo parece mais agitado, mas, ainda assim, silencioso demais.
Retornado a si por míseros segundos ela vê luzes fluorescentes
passarem rapidamente acima de sua cabeça, para logo depois
perder os sentidos novamente. O calor que há algum tempo ela não
estava sentindo agora a deixa presa em um sono agradável e fácil,
onde nada parece poder abalá-la.
Enquanto América está desacordada, os médicos trabalham
rapidamente para tentar descobrir as causas de seu estado. Medem
sua temperatura, aferem sua pressão arterial, checam seus sentidos
dormentes, e avaliam seu coração. Fazem uma bateria de exames
variados e dentre eles o Raio-X.
Eles se preocupam com a pressão da jovem que está
extremamente baixa, assim como os batimentos dela, o que dificulta
a oxigenação do cérebro. Eles fazem uma breve acareação dos
ferimentos dela, a maior parte são apenas hematomas, mas o que
realmente chama a atenção deles são as costelas de seu lado
direito.
Do lado de fora, sentado em uma das vastas cadeiras do
corredor, Edward espera ansioso e desesperado por notícias. Faz
quase uma hora que aqueles médicos haviam passado com
América por duas portas, completamente às pressas. Ele já havia
explicado ao médico o que havia acontecido com ela e, agora, tudo
o que ele podia fazer era esperar.
E ele estava odiando apenas esperar.
Edward passa as mãos nervosamente pelo cabelo e perde a
conta de quantas vezes faz isso na tentativa de se acalmar, ele
esfrega o rosto com as mãos e, mais uma vez, passa-as no cabelo.
Ele está cansado pelo dia fatigante de trabalho, mas o susto
que recebeu ao chegar à sua casa foi ainda maior que o cansaço,
sendo capaz de expulsá-lo para longe.
— Edward?! – a voz conhecida de uma mulher realmente
surpresa chama a atenção dele, e ao erguer o rosto para fitar a
pessoa que o tirara de seus pensamentos ele se surpreende ainda
mais.
— Mãe?! – ele se levanta desconcertado.
Sem perceber – ou assim ele acredita ser – Ford os levou para
o hospital em que a mãe de Edward trabalha.
— Edward, filho! O que está fazendo aqui? Aconteceu alguma
coisa com você? Com o Tyler ou a Aretha? – Marie o enche de
perguntas enquanto avança contra ele e toma seu filho em um
abraço surpresa.
— Eu… Eu estou bem, mãe. Pode ficar tranquila – ele força um
sorriso para ela assim que se afasta do abraço. — Tyler e Aretha
também estão.
— Eu te conheço muito bem, meu filho – ela se senta em uma
das cadeiras e puxa seu filho para que ele possa se sentar ao seu
lado — Conta para mim o que está acontecendo… diz para sua
mãe?
Marie tenta esconder a curiosidade e a vontade de questionar
mais, por ver o estado em que seu filho se encontra.
— É ela mãe.
— Ela? Ela quem? – ela pergunta realmente confusa.
Edward enterra o rosto nas mãos e respira fundo.
Ele não quer dar falsas esperanças para a mãe – e nem para si
mesmo ou para América – mas ele precisava dizer a verdade para a
mãe.
— O nome dela é América Lawson. É a moça que saiu naquelas
fotos comigo nos jornais.
— Oh, Edward! – a mãe se emociona, pegando as mãos de seu
menininho ferido e as apertando — O que houve?
— Eu não sei. Nós estávamos brigados desde sexta-feira e ela
estava lá em casa. E hoje quando eu cheguei, a vi… ela caiu das
escadas.
— Ah, Edward… – Marie lamenta, apertando as mãos de seu
filho ainda mais entre as dela — Há quanto tempo você está aqui?
— Eu não sei direito, acho que há quase uma hora e meia.
Talvez mais… talvez menos…
— Já falou com a família dela?
Ele nega e passa as mãos nervosamente pelo cabelo, mais uma
vez.
A frustração é evidente nele.
-*-
Amy está estável, mas ainda desacordada.
Sua pressão e a febre foram controladas.
Ela é transferida para um quarto, particular – devido às
exigências feitas por Edward ao registrarem o atendimento dela.
Os enfermeiros administraram uma medicação – receitada pelo
médico que a socorreu – para manter a febre e a pressão arterial de
América estáveis.
América nunca se sentiu tão serena e quente quanto neste
momento.
A dor de cabeça desapareceu, mas estranhamente suas
costelas incomodam e muito a ela.
-*-
Do lado de fora, Edward aguarda por notícias, mas agora ele
não está sozinho. Ao seu lado está sua mãe, que segura sua mão e
tenta mantê-lo calmo, afagando calmamente as costas do filho na
busca disso.
— Senhor Cage? – um homem alto, de jaleco branco, pele
morena de cabelos e olhos negros está de pé na frente de Edward
de sua mãe — Doutora Cage – ele cumprimenta, mesmo que
confuso, estranhando o fato de a médica estar sentada e
consolando o homem ao lado dela.
— Este é meu filho: Edward.
O médico faz um aceno profissional com a cabeça,
cumprimentando-o.
— Foi você que atendeu a Amy? – Edward pula as
formalidades, indo direto ao que lhe interessa.
— Exatamente. Sou o doutor Clarck. Podemos conversar?
— Ela está bem? – Marie se pronuncia.
— Sim, ela está bem. Mas há algumas coisas que preciso
conversar com o seu filho antes que ele possa vê-la.
— Entendo – balbucia Marie, compreendendo a seriedade na
voz de seu colega de trabalho.
— Venham comigo.
[…]
O doutor Clarck leva Marie e Edward pelo corredor do hospital.
Marie conhece bem aquela área, é a ala dos quartos privados.
Isso significa que não aconteceu nada muito grave com a jovem
– ela pensa.
— Então, senhor Cage, como eu ia dizendo, a senhorita Lawson
teve uma queda muito brusca da pressão arterial, e foi por isso que
ela desmaiou. O desmaio não foi causado pela queda, pode ficar
tranquilo quanto a isso – o médico assegura — Ela estava com uma
febre muito alta. Quando ela chegou aqui estava beirando os
quarenta graus. A febre e a maior parte dos outros sintomas da
senhorita Lawson, foram causados por uma infecção.
Edward mais uma vez passa a mão pelo cabelo.
— A queda dela ocasionou fissuras em três costelas do lado
direito, mas pelo o que eu pude ver nos Raios-X que fizemos nela,
estas costelas já haviam se quebrado antes, de uma forma três
vezes pior e as fissuras se abriram ao lado da calcificação – o
médico explica — O senhor já havia notado uma pequena cicatriz
neste mesmo lado?
Edward olha de sua mãe para o médico, como se ela fosse sua
única salvação naquele momento, antes de responder.
Seu cérebro está a ponto de dar um nó.
— Já – ele responde monossilábico, quase sussurrando.
— Bom… aquilo é o mínimo do que realmente era a cicatriz. –
Edward sente o sangue gelar ao ouvir e processar as palavras do
médico.
— Como assim? – ele pergunta confuso e tentando controlar a
raiva e o medo que brotam dentro dele.
— Pelo o que eu pude ver nos exames que fizemos, a senhorita
Lawson sofreu algumas avarias, umas mais graves que as outras,
durante o período da adolescência. A área da cicatriz era um pouco
maior, um ou dois centímetros maior do que é hoje.
— Pelo o que foi causada? – Edward pode sentir sua garganta
fechar antes mesmo de receber a resposta.
— Uma faca pequena – o médico responde cauteloso.
Edward sente o ar desaparecer de seus pulmões.
É necessário que ele pare e se escore na parede para não cair
ao chão. Sua mãe corre até ele e, ao ver o estado de Edward, o
médico decide parar de falar sobre os ferimentos de América.
Depois de se recuperar do abalo causado pela notícia, Edward
e sua mãe acompanham o doutor Clarck até o quarto onde Amy
repousa.
Edward entra acompanhado de sua mãe, sendo deixados à
vontade pelo médico logo depois.
— Filho, ela é ainda mais bonita pessoalmente. – Marie diz
comovida.
— Ela é, não é? – ele sorri.
Os efeitos da revelação sobre o ferimento de Amy ainda estão
circulando nele.
Os gritos dos pesadelos dela ecoando em sua mente
permeados por sussurros assustadores que fazem o coração dele
se comprimir e doer, culpado e amargurado.
Edward se senta na poltrona que há ao lado da cama em que
América se encontra deitada. Ele apoia os cotovelos no joelho e o
queixo nas mãos enquanto observa a respiração suave dela.
— Eu tenho que ir agora, filho. – Marie diz assim que olha em
seu relógio de pulso — Qualquer coisa me procure, sim? Eu preciso
conversar com você, querido.
— Tudo bem, mãe – ele balbucia para ela que deposita um beijo
suave no topo da cabeça do filho e deixa o quarto — Eu vou ficar
aqui, vai saber onde me encontrar.
A noite se arrasta e Edward está adormecido na mesma
poltrona de antes.
Amy ainda está desacordada, mas isso é apenas por causa dos
analgésicos que foram aplicados por causa das costelas feridas,
para que ela não sentisse tanta dor.
O sono de Edward é conturbado.
Como se não bastasse ele reviver todos os momentos ruins de
sua infância durante a noite, agora ele também estava revivendo o
momento em que Amy rolara pelas escadas.
Ele acorda sobressaltado olhando em volta, perdido, querendo
descobrir onde se encontra, e ao colocar seu olhar sobre a cama
onde América está deitada, ele imediatamente se lembra.
Ele esfrega os olhos e se levanta da poltrona, sentindo todas as
suas juntas doloridas e rígidas. Ele caminha para fora do quarto, à
procura de um pouco de água. Apesar de detestar as águas
servidas pelos hospitais é tudo o que ele tem.
Como ele havia entrado com a Amy no hospital – e por ter se
declarado como namorado dela e única família próxima – ele foi
autorizado pelo doutor Clarck a passar a noite com ela, para, caso
ela acordasse durante a madrugada, não ficasse tão assustada ou
desnorteada.
Mas, mal Edward se afastou do quarto, os gritos ecoaram.
Ele voltou todo o percurso até o quarto às pressas, irrompendo
pela porta instantes depois e se deparando com América se
debatendo entre os lençóis e correndo o risco de se machucar muito
mais.
Ele corre até ela e a chacoalha pelos ombros da melhor forma
que pode.
— Amy! Amy, acorde! – ele a chama assustado.
Ele sabe como é essa sensação de confinamento, de pavor e
escuridão, enquanto revive as piores coisas.
— Baby, por favor! – ele continua a sacudi-la e a chamar por
ela.
América abre os olhos apavorada, afastando as mãos que a
tocam.
Ela olha em volta assustada, as lágrimas quentes escorrem por
suas bochechas e ela sente frio e uma dor alucinante em suas
costelas que parecem queimar.
Seu olhar cai sobre Edward e ela se apavora ainda mais
temendo que ele esteja prestes a fazer algo com ela.
— Está tudo bem… foi só um pesadelo. – Edward se senta na
ponta da cama e olha para América com cautela.
— Onde eu estou? – ela pergunta com a voz chorosa.
— Você está no hospital – ele responde com calma — Como
está se sentindo?
Amy olha de um ponto ao outro piscando com rapidez.
Ela tenta assimilar tudo o que está acontecendo e a dor em
suas costelas não facilita muito a sua concentração.
— Está doendo – ela diz chorosa ao olhar para Edward
novamente.
— Onde está doendo? – Edward se aproxima um pouco mais
de América, colocando suas mãos na lateral direita do corpo dela —
É aqui? – ele luta contra o nó que se forma em sua garganta ao
colocar sua mão sobre as costelas de América.
— É – ela responde se contraindo e sentindo ainda mais dor —
O que aconteceu?
— Você caiu das escadas e machucou as costelas – ele tenta
manter o tom calmo e controlado.
A vontade que ele tem é de gritar com ela.
Dar-lhe uma bela bronca por ter omitido dele que estava doente.
Amy franze o cenho como se estivesse se forçando a lembrar
do que aconteceu.
Ela se lembra da febre, da cabeça prestes a explodir, das dores
em seu estômago e membros, lembra-se de ter visto Edward
quando estava na metade das escadarias e depois disso, apenas o
sono quente e sem dores.
— Você me viu caindo – ela diz em tom melancólico e de dor.
Edward anui para ela, encarando constantemente para a área
onde sua mão se encontra localizada.
Ele faz pequenos círculos com o polegar na área ferida, o cenho
franzido denuncia sua preocupação. Por mais que ele esteja furioso
com América por ela não ter contado a ele sobre seu mal-estar, ele
está ainda mais furioso consigo mesmo e mais ainda com o ser que
causou a ela tanto mal no passado.
Ele podia ver claramente o tanto que aquilo a assusta e deixa
abalada.
Ele sente um toque tímido em seu rosto e, ao erguer o olhar, ele
vê que Amy o encara ansiosa e – até mesmo – com um pouco de
carinho e agradecimento. Ela pisca para ele e sorri, afagando sua
face.
Segurando a mão dela, ele deposita um pequeno beijo na
palma.
— Eu vou ficar bem – ela garante.
— Eu sei que vai – ele sorri — Eu estou com raiva e tive tanto
medo quando te vi rolar por aquelas escadas… – ele confessa
pesaroso e sofrido.
Ela morde o lábio para conter um sorriso.
— Engraçado… e eu que estava com medo de que você me
visse.
— Por quê? – ele pergunta realmente confuso.
— Eu não queria apanhar até suas mãos doerem e nem ter que
implorar para você parar – ela diz acanhada sentindo seu rosto
aquecer.
— Eu não ia fazer aquilo com você, América. E, por Deus… eu
não machucaria você desse jeito nem se você fosse a pior pessoa
da face da terra. Eu me mataria se fizesse isso com você – ele fala
enérgico; o arrependimento escorrendo de cada palavra,
definitivamente, se odiando mais a cada instante por ter dito aquelas
palavras tão monstruosas porque ele não era assim…
Ela acena de maneira positiva.
Ela ainda sente raiva e mágoa pelo fato de ele não ter deixado
que ela saísse com sua amiga, que conhecesse o novo namorado
dela, que visse Mike. Por mais idiota que fosse o ciúme dele, ela
sabia exatamente por que ele estava assim.
Edward havia visto como Mike havia tentado beijá-la naquela
noite. O estado em que ele ficou ao falar disso denunciou a ela todo
o seu ciúme, fazendo-a pensar que ela é realmente importante para
ele, que existiu um motivo maior que o sexo para ele tê-la escolhido,
e pensar assim faz com que um sorriso estúpido se abra em seu
rosto.
— Qual é a graça? – Edward pergunta com um quê de humor
finalmente despontando de sua voz.
— Nada demais – ela dá de ombros tentando se esquivar do
assunto.
Edward estreita os olhos para América, mas decide deixar de
lado.
Pressioná-la agora não é a melhor das opções.
Em sua mente, o fato de que alguém foi capaz de feri-la de
maneira tão brutal quando ela era apenas – praticamente – uma
criança, o faz pensar que não era apenas sua mãe biológica que era
negligente e cruel.
Ele balança fracamente a cabeça na tentativa de afastar os
pensamentos ruins.
— Ah, você acordou! – uma voz feminina, suave e doce, ecoa
pelo quarto trazendo Amy e Edward de volta a realidade.
Uma jovem de cabelos negros incrivelmente lisos, pele morena
e olhos cor de uísque se aproxima de Amy e Edward.
E ela não parece ter mais de trinta.
— Eu sou Emma Evans, sua médica da noite. Como está se
sentindo? – ela pergunta fazendo breves e experientes avaliações
em Amy.
— Bem – ela responde contida.
— Como estão suas costelas? – Emma contorna a cama, indo
para o lado direito de Amy, fazendo uma inspeção minuciosa na
região danificada das costelas.
Ela pressiona levemente e Amy se contrai sentindo todo o seu
corpo tremer e a área pressionada queimar.
Ela não se lembrava que essa era uma dor tão forte.
— Dói. – Amy responde com um fio de voz.
Edward sente o nó se formar em sua garganta mais uma vez.
Vê-la daquele jeito não o estava fazendo bem, nem um pouco.
Ele nunca imaginou que pudesse se sentir daquela maneira ao
vê-la sentindo dor.
Aquilo não estava dando prazer algum, não o estava excitando.
Muito pelo contrário, aquela dor que ele estava presenciando Amy
sentir – a dor de verdade, que machuca e arde – o massacra por
dentro e o faz se sentir cada vez mais impotente, cada vez mais
sem controle de qualquer coisa.
Em um movimento súbito, ele se levanta e sai do quarto,
deixando uma América preocupada e uma médica confusa para
trás.
Edward passa as mãos nervosamente por seu cabelo e sente
como se tudo dentro de si estivesse em convulsão. A raiva pela
omissão de Amy, a raiva pelos ferimentos que ela carrega, raiva
pela dor que ela sente, raiva por se sentir mal vendo aquilo, raiva de
si próprio por ter gritado com ela.
Raiva de muitas coisas.
Ele caminha apressado pelo corredor, seguindo para qualquer
lugar onde ele possa se sentar e respirar sozinho.
Chegando próximo ao final do corredor, ele encontra algumas
cadeiras e, sentando-se em uma delas, ele enterra seu rosto nas
mãos.
Sua cabeça no mesmo instante se enche de pensamentos e
imagens que fazem seu estômago embrulhar e seu coração perder
o compasso, desesperado.
Ele se lembra de cada um de seus terríveis momentos na
infância, aquelas cenas ficaram tão enraizadas em sua memória que
mesmo que ele quisesse, mesmo que ele não parasse de tentar,
elas não desapareciam. E agora, mais mil e uma coisas se passam
pela sua mente, como o fato de América ter sido esfaqueada, ter
fraturado as costelas de uma maneira três vezes pior do que agora.
Que tipo de ser humano teria profanado o corpo de Amy
daquela forma?
Edward não sabia quem tinha feito aquilo, mas o ódio que ele
agora nutre por esta pessoa já é mortal.
América podia ter sido espancada, praticamente violentada e,
mesmo assim, ela permitia que ele a levasse para aquele quarto e
fizesse o que bem entendesse com ela.
Edward sente a culpa queimar seus ossos.
Ela foi treinada para isso, Cage – uma voz no fundo de sua
mente sussurra para ele, mas não torna as coisas melhores dentro
dele.
A maneira como ela havia fugido dele na noite de sexta-feira o
assombra agora.
O medo nos olhos dela embaçado pelas lágrimas que se
formavam no canto de seus olhos, a forma como ela tremia e ficara
pálida. Agora ele quase podia ter certeza de que as palavras frias e
enraivecidas usadas por ele naquela noite a fizeram lembrar-se de
seus pesadelos e medos.
Talvez, aumentando-os e transformando ele – Edward – no
monstro de seus pesadelos.
Edward esfrega o rosto com as mãos, respirando
profundamente em sua tentativa de se acalmar e se recompor para,
logo depois, se levantar e seguir de volta para o quarto de América.
Próximo a porta do quarto, Edward é capaz de ouvir risadas e
uma conversa animada entre duas pessoas, que, pela voz ele
reconhece serem sua mãe e América. Seu coração perde uma ou
duas batidas ao perceber que a maior parte do foco da conversa é
ele.
América ri contida – devido às costelas feridas – de coisas que
Marie fala.
Ele entra no quarto, surpreendendo as duas mulheres e fazendo
com que elas parassem de conversar no mesmo instante.
Amy olha confusa e curiosa para Edward, que intercala seu
olhar entre ela e a mãe.
Marie apenas sabe sorrir.
Edward fecha a porta atrás de si e caminha até América
parando ao lado dela e depositando um beijo suave e casto nos
lábios dela.
Amy o olha ainda mais confusa do que antes quando ele se
afasta.
— Vejo que já conheceu a minha garota, não é, mãe? – Edward
diz com certo humor, não parecendo ter acabado de sair de um
turbilhão de pensamentos há menos de poucos minutos que quase
configurou uma crise de pânico.
Ele teria que visitar seu psicólogo em breve.
América arqueia a sobrancelha que Marie não pode ver – por
ela ainda estar olhando para Edward – em repleta confusão.
— Juro que foi sem querer, querido. – Marie diz com um sorriso
travesso — Vim ver como você estava e me deparei com esta bela
jovem acordada.
Amy se vira para Marie e sorri ao mesmo tempo em que sente
seu rosto esquentar.
Por mais que Marie quisesse, naquele momento, questionar a
Edward sobre tudo o que ele havia escondido dela nos últimos
meses, principalmente na última semana, ela tinha que se conter.
Nos olhos dele ela é capaz de ver praticamente quase tudo em que
ele esteve pensando.
Edward podia conseguir enganar qualquer pessoa com um
sorriso cheio de dentes e uma risada mais animada, menos à sua
mãe.
Marie conhece, e muito bem, o seu menino.
— Está aqui há muito tempo? – Edward pergunta sentando-se
ao lado de Amy no pequeno espaço que há.
— Há uns quinze minutos. Marie entrou logo depois que a
doutora Evans saiu. – Amy responde.
A mãe de Edward sorri para ela ao ver que a jovem a tratara
pelo primeiro nome.
— Sobre o que vocês estavam falando?
— Coisas. – Marie responde, lançando uma piscadela
conspiratória para Amy que sorri.
Depois de mais alguns minutos, Marie saiu do quarto, deixando
Amy e Edward a sós.
Edward senta-se de frente para América e a olha com humor e
preocupação ao mesmo tempo.
— Sua mãe… ela é legal. – Amy diz com um sorriso, tentando
descontrair o clima que se instalou no quarto logo após a saída de
Marie — Ela me disse que eu deveria ser uma boa namorada para
você ter ficado tão preocupado comigo – ela morde o lábio inferior e
sente uma breve onda de tristeza sem nem mesmo saber qual o
motivo de tal sentimento — Eu não sabia que era sua namorada.
Edward bufa um riso.
— Para dizer a verdade… nem eu sabia. – Edward fixa seus
olhos nos de América — Ela gostou de você.
Amy sorri.
Edward coloca sua mão sobre a lateral direita de Amy sentindo-
a retesar sobre o seu toque e imediatamente ele retira a mão. Uma
tristeza estranha atravessando o peito dele.
Notando o olhar de Edward, Amy se apressa em resolver a
confusão.
— Eu não estou com medo de você. Com raiva sim, mas com
medo não… – ela sopra para ele que em resposta lhe lança um
sorriso fraco.
Edward sabe como América conseguiu aquela cicatriz, mas ele
não sabe quando ou quem a fez.
Ele quer saber não apenas sobre isso, mas também como ela
quebrou as costelas da primeira vez, só que pressioná-la com isso,
vai deixá-la apenas assustada e provavelmente irritada.
— Por que você me chamou de “sua garota” na frente da sua
mãe? – Amy pergunta corajosamente.
— Porque você é a minha garota – ele responde com um sorriso
torto.
— Não. Eu sou sua submissa. – Amy contrapõe em tom de
obviedade.
— Não deixa de ser minha, deixa?
Amy ri pelo nariz, mas logo se contém, pois, suas costelas
doem.
— Eu queria tanto saber quem fez isso com você. – Edward
murmura mais para ele do que para Amy.
— Eu caí das escadas. Eu fiz isso comigo.
Ela consegue tirar um sorriso de Edward.
— Isso não teria acontecido se tivesse me avisado.
— Não teria a mesma graça. Agir assim… de maneira tão fácil
para o senhor, senhor Cage.
Edward se inclina para frente fazendo com que seus lábios
cubram os de América em um beijo lento e sedutor, que o permite
que desfrutar do mesmo e matar a saudade que ele sentiu dos
lábios quentes e úmidos dela.
Com as mãos de Amy embrenhadas na revolta que é seu
cabelo, Edward a beija com ainda mais intensidade provando do
sabor que a boca dela tem.
Na porta do quarto estava Marie, que desistiu de entrar ao ver o
casal se beijando.
— É bom te sentir quente de novo, senhorita Lawson.
[…]
A tarde de sábado surgiu em um piscar de olhos.
Depois de quase dois dias inteiros no hospital, Amy está prestes
a receber alta, mas desde que ela siga todas as condições dadas a
ela pelo médico.
Edward garante ao doutor Clarck que manterá olhos de gavião
sobre a jovem não deixando ela sozinha por nada.
— Caso a febre volte tome este antitérmico e caso sinta alguma
dor maior do que possa suportar aqui tem alguns analgésicos que
podem ajudá-la com isso e nada de bebidas alcoólicas – o médico
enfatiza — A senhorita está tomando antibióticos e anti-
inflamatórios, a junção dessas duas coisas não lhe faria nada bem.
Obedecendo a todas essas coisas e tomando os remédios, ficará
nova em folha em menos de quatro semanas.
Amy sorri eufórica.
Assim que o médico a libera, Edward segura em sua mão e a
leva para fora do hospital.
Já dentro do carro, Edward dá as instruções a Tyler para que
ele siga diretamente para o Diamond.
Tudo o que Amy deseja no momento é tomar um bom banho –
tirar todo e qualquer resquício de hospital que possa ter nela – e
dormir, dormir até o dia seguinte e um pouco mais.
Ao seu lado, Edward está absorto em seus próprios
pensamentos, e notando isso, América se pergunta se, dentre todos
os pensamentos que ele possa ter, algum deles é direcionado a ela.
Apesar de ainda sentir raiva dele – agora a menor de todas as
raivas – ela está feliz por ele estar ao lado dela.
[…]
O carro para na entrada principal do Diamond.
Ford salta do carro, contornando-o, para logo depois abrir a
porta para Edward, que desce do carro e auxilia América a fazer o
mesmo. Eles seguem para dentro do edifício enquanto Tyler retorna
ao carro e o leva para o estacionamento subterrâneo.
Edward em nenhum momento soltou a mão de Amy – com
exceção dos momentos em que ele teve que soltá-la para entrar e
sair do carro – e esse contato agrada a ela.
Os únicos momentos em que Amy pode tocá-lo sem medo são
quando ele segura sua mão e quando eles se beijam, nestas duas
ações de contato físico ela se sente bem e chega a acreditar que ele
realmente a quer por perto.
Eles entram no elevador e assim que as portas se fecham a
atmosfera se transforma ficando mais pesada, mais elétrica,
completamente carregada de desejo… e o contato da mão de Amy
na de Edward parece se intensificar.
América pode sentir os olhos de Edward sobre ela, tentando
desvendá-la, provocá-la e despi-la por completo.
Ela o olha por sob os cílios e pisca para ele com ar de
inocência.
Os olhos de Edward escurecem e no mesmo instante ele a
empurra contra a parede fria e metálica do elevador com seu próprio
corpo – ainda assim, com cuidado para não pressionar as costelas
dela – empurrando sua pélvis na direção da de América que morde
o lábio inferior.
Seus olhos estão fixos um no do outro e ele a beija, colando sua
boca na dela com vontade e ansiedade, desejando poder fazê-la
sua ali mesmo naquele lugar.
Os dedos dela se prendem ao seu cabelo e a forma como as
pontas deles se arrastam pelo seu couro cabeludo quando ela o
puxa cada vez mais para si o deixam louco.
E, então, as portas do elevador se abrem fazendo com que a
atmosfera que ocasionou o beijo se dissipe lentamente, perdendo-
se pelo apartamento.
Eles se afastam ofegantes, e Edward, tomando a mão de Amy
mais uma vez, a puxa para fora do elevador conduzindo-a com
calma pelo rol de entrada e, então, para a sala de estar.
Edward sente um calafrio percorrer sua espinha assim que entra
na sala, como se todos os seus sentidos gritassem para ele olhar
para as escadas e correr antes que Amy caia novamente.
Ele respira fundo e olha para Amy, lançando para ela um olhar
caloroso e surpreendendo-a com o ato.
— Quer comer alguma coisa? – ele pergunta prestativo.
— Na verdade, eu quero tomar um banho – ela responde com
suavidade.
— Que seja banho, então.
Edward sorri malicioso.
Ele a conduz pela mão até a escadaria e, ao se aproximar do
primeiro degrau, Edward pega Amy no colo, tomando cuidado com
as costelas, fazendo-a soltar um gritinho surpreso e infantil e
envolver seu pescoço com os braços, agarrando-se como uma
trepadeira a ele.
— O que está fazendo? – ela pergunta com diversão e um
pouco de surpresa na voz.
— Evitando que você caia novamente – responde e ela quase é
capaz de ouvi-lo sorrir.
Edward a leva no colo até seu quarto, onde ele entra com ela
para, logo depois, colocá-la suavemente no chão e fechar a porta.
América mantém um olhar cauteloso sobre ele, como se ele
fosse capaz de atacá-la a qualquer instante.
— Por que estamos no seu quarto? – ela pergunta.
— Porque aqui eu posso ter um pouco mais de controle sobre
você e posso ficar mais tranquilo sabendo que, se algo acontecer,
eu estou mais perto – ele diz calmamente enquanto caminha na
direção dela — Venha. Vamos tirar essas roupas. Vou tomar banho
com você – ele diz completamente malicioso.
Edward a leva para o banheiro e coloca a banheira para encher.
Parando de frente para América, ele retira as roupas que lhe
cobrem o corpo, de forma lenta e sensual, não tirando seus olhos
dos dela nem por um único instante.
Quando ela está definitivamente sem nenhuma peça se roupas
à sua frente, seus olhos criam vida própria e passeiam por toda a
extensão do corpo de Amy tomando cada pedaço para si, desta vez,
atendo-se – e muito bem – aos mínimos detalhes.
Cada curva do corpo, cada volume, cada alteração… até que
seus olhos caem sobre a cicatriz próxima às costelas do lado direito.
Um sentimento de raiva o atinge enquanto ele percorre suavemente
a área com as pontas dos dedos.
Ele vê a pele de América se arrepiar e, parando, o toque ele
ergue os olhos para ela.
— Está doendo? – ele pergunta em um sopro de voz.
Ela nega com a cabeça e sorri para ele.
— Estou bem – ela assegura.
Edward fixa seu olhar no de Amy e, afastando as mãos do corpo
dela, ele começa a tirar as próprias roupas, uma peça de cada vez,
da forma mais lenta que consegue.
Amy sente seus sentidos se entorpecerem com a figura a sua
frente: os músculos fortes e definidos, a pele levemente bronzeada,
os ombros largos… um triângulo invertido perfeito.
Sua vontade de colocar suas mãos nele parece aumentar a
cada vez que ela o vê sem camisa ou se despindo.
Ela esfrega o polegar nas pontas dos outros dedos na tentativa
de conter sua vontade.
Edward estende sua mão para ela assim que termina de se
despir.
Amy não hesita, e pega a mão que lhe é ofertada, sentindo o
calor da pele dele mais uma vez.
Eles entram na banheira e Edward acomoda Amy entre suas
pernas – como sempre faz em todas as vezes que tomam banho
juntos ali – e cola as costas dela em seu peito.
Mesmo que ser tocado, de verdade por uma mulher, o assuste
mais do que qualquer outra coisa, Edward se sente bem ao ter sua
pele em contato com a de América, depois de tê-la em seus braços,
tão gelada e inerte, sentir a pele, agora quente, dela em contato
com a sua, o acalma.
Suas mãos passeiam calculadas pelo corpo de Amy, tocando-a
exatamente em seus seios por um tempo longo e prazeroso para os
dois. As mãos de Amy caem sobre as coxas de Edward e as
apertam conforme ele a massageia em seus seios.
Ela geme de forma arrastada e carregada de desejo,
pressionando ainda mais as coxas firmes e torneadas de Edward ao
fazer isso.
Ele arrasta o nariz pelo pescoço dela, aspirando o perfume que
ela carrega em si.
— Acha que devo fazer você gozar assim, Amy?
— Ah! Sim – ela geme.
Ele continua com os toques abusados e maliciosos nos seios
dela que, lentamente, começa a sentir os efeitos do orgasmo, sendo
levada pelas carícias sensuais dele e logo depois desfazendo-se
para ele.
Amy respira ofegante, com sutis fisgadas em suas costelas, mas
isso não a está incomodando nem um pouco e ela consegue força o
suficiente para sorrir com o pensamento que lhe ocorre.
— Devíamos brigar mais vezes. Não daquele jeito, mas com
certeza deveríamos brigar algumas vezes – ela diz com sutileza,
sentindo Edward tencionar atrás dela.
— Por que diz isso? – ele pergunta realmente curioso.
— Esse é um bom jeito de se fazer as pazes.
— Você ficar doente e ir parar em um hospital? – ele questiona
com sarcasmo.
Amy nega com a cabeça levemente, evitando se mover muito
por ainda estar em contato com o peitoral de Edward.
— As sensações ficam ainda melhores – ela diz com malícia;
malícia essa que ela nem imaginava ter — Dá para sentir saudade
quando se briga.
— Então, você sentiu saudade? – ele pergunta relaxando
visivelmente.
— Mesmo magoada e com raiva de você? Sim, eu senti. E
você?
— Mais do que pode pensar – ele sussurra para ela no mais
baixo tom de confissão, fazendo Amy sorrir — As coisas entre nós,
Amy, nem sempre serão arco-íris e borboletas. Tem que entender
isso. Nós temos. Mas eu prometo dar o meu máximo para que
sejam e para que você nunca mais olhe daquele jeito para mim.
América sorri, gostando da promessa feita por ele.
Se isso realmente se tornasse real, poderia haver alguma
esperança.
— O.k. – ela sussurra, entregando-se mais uma vez para as
carícias dele.
[…]
Assim que terminam o banho, Edward e Amy vão para o quarto
enrolados em suas toalhas, praticamente secos.
Amy segue cautelosa para a porta, medindo seus passos com
cautela para evitar um impacto maior em suas costelas, e, ao ver
para onde Amy se direciona, imediatamente Edward se pronuncia.
— Onde você pensa que vai? – ele pergunta autoritário e quase
apavorado.
— Para o meu quarto – ela responde como se não fosse
suficientemente óbvio.
— Eu já te disse que vai ficar aqui.
— Eu preciso de roupas. Estou sentindo frio.
— Não seja por isso.
Edward pega uma de suas cuecas box e uma calça de moletom
cinza, vestindo-as rapidamente e, então, ele sai do quarto deixando
Amy de pé ali, completamente confusa.
Ele vai até o quarto da jovem e entra no closet dela, pegando de
suas mudas de roupas antigas uma calça e um casaco de moletom
também cinza, uma camiseta e, ao se virar para as lingeries dela,
ele se perde nos pensamentos de qual ele gostaria de vê-la usando
primeiro.
Afastando os pensamentos maliciosos de sua mente por alguns
segundos, ele pega apenas uma calcinha para ela e depois volta
para onde Amy está.
Edward a encontra exatamente onde a deixou quando retorna
para seu quarto.
Ele entrega as roupas para ela assim que fecha a porta atrás de
si.
Amy possui um sorriso incógnito em seu rosto quando pega as
roupas das mãos de Edward.
Ela coloca as roupas sobre a cama e se prepara para vesti-las,
e assim que termina, sente-se mais do que preparada para se deitar
e dormir. Ela se senta na beirada da cama e passa a fitar Edward,
que caminha até ela com sua calça de moletom pendendo em seus
quadris de uma maneira que faz o coração dela trepidar.
Edward se senta ao seu lado e toma a sua mão com a dele.
— Eu tenho duas condições para você amanhã. – Edward
coloca completamente sério.
Este é um assunto que ele está querendo falar com América
desde que ele sabia que eles estavam relativamente bem.
América sente seu coração gelar e perder o compasso.
— Eu deixo você sair com sua amiga para comemorar seu
aniversário – Amy sorri amplamente no mesmo instante e olha para
Edward esperançosa — Se… Primeiro: eu puder ir junto; e segundo:
se for em um dos meus clubes ou em uma das boates em que eu
seja sócio, apenas por segurança.
15- Isso é onde seu coração
assume.
A felicidade que toma conta de mim é maior do que eu mesma.
Meu sorriso se amplia e tudo dentro de mim se agita.
Ele está mesmo me deixando sair!
Meu coração trepida acelerado dentro de meu peito e parece
cantar em meus ouvidos. A vontade que tenho é de lançar-me sobre
ele e agradecê-lo da maneira que ele gosta, mas resisto a isso por
vários motivos, um deles sendo as minhas costelas e outro o fato de
que eu não queria assustá-lo.
— Obrigada – digo a ele tentando controlar minhas emoções e
me contendo em mim mesma.
— Então, aceita minhas condições?
— Com toda a certeza! – eu sorrio ainda mais para ele — Fico
feliz que queira passar meu aniversário comigo, mesmo que seja só
para me vigiar.
Ele aperta minha mão na dele e faz pequenos círculos com o
polegar em minha pele.
Seus olhos cravam-se nos meus e ele sorri para mim, mas
parece triste.
— Não vou para vigiar você, Amy. Quero realmente estar com
você no dia do seu aniversário – ele afaga meu rosto logo depois de
colocar uma mecha rebelde de meu cabelo para trás de minha
orelha — É o primeiro que você vai passar comigo.
— Primeiro de muitos – sussurro para ele que sorri amplamente
e me beija.
— Eu tomaria você neste exato instante – ele ofega.
— Mas…? – sussurro a palavrinha que peso no ar.
— Mas você está machucada, tomando antibióticos e eu não
estou nem um pouco a fim de machucar você ainda mais e nem de
usar aquelas porcarias de camisinhas.
Ele arranca de mim um riso, mas ele dura pouco, pois o
incomodo em minhas costelas aumenta, passo o braço ao redor de
meu corpo, suavemente comprimindo a área dolorida.
Essa dor não se compara nem um milésimo com a da primeira
vez que minhas costelas se quebraram e me lembrar daquela época
faz meu corpo gelar e minha pele se arrepiar por completo.
Doía tanto…
Eu balanço minha cabeça para afastar os pensamentos
desagradáveis e parece funcionar.
Edward pressiona seus lábios nos meus mais uma vez, com
ambas as mãos em meu rosto.
Imediatamente me esqueço do que eu estava pensando.
Um sorriso travesso está estampado em seu rosto quanto nos
afastamos; ele está aprontando alguma, tenho certeza disso.
— O que os antibióticos têm a ver com o nosso sexo? –
pergunto realmente intrigada com este fato.
O sorriso no rosto de Edward aumenta e ele fixa seus olhos nos
meus mais uma vez.
O mar cinzento está carregado de malícia e humor.
— Eles cortam o efeito dos contraceptivos, Amy – ele explica
bem-humorado.
— Ahn… entendi – franzo o cenho mordendo meu lábio inferior.
Eu realmente não sabia disso.
— Sem sexo por quase três semanas? Tem certeza que
aguenta, senhor Cage? – pergunto com humor.
— Está muito assanhadinha para o meu gosto, senhorita
Lawson – ele adverte-me, mas seus olhos parecem rir.
Mordo meu lábio inferior para conter um sorriso.
Gosto deste lado bem-humorado, carinhoso e protetor, um lado
mil vezes melhor que o lado assustador e o lado dominador… e faz
com que eu me sinta bem por estar perto dele. Gosto dos toques
dele em minha pele, da forma como ele me beija, como me olha…
seja com carinho, desejo ou preocupação.
Gosto do calor que emana forte do corpo dele, do perfume
delicioso que fica impregnado em minha pele com facilidade quando
ele me abraça ou me toma em um beijo, gosto quando ele me
agarra com força e me domina com tamanha facilidade – mesmo
que sempre me deixe surpresa quando faz isso.
Não imaginava que em tão pouco tempo eu teria me apegado
tanto a ele e a cada um de seus detalhes expostos. Não imaginava
que, mesmo depois de tê-lo gritando comigo daquela forma, eu
ainda sentiria meu coração batendo por ele dessa forma estranha.
O que isso faz de mim?
— Por favor, pare de morder o lábio – ele pede prendendo meu
queixo entre seu indicador e polegar e soltando meu lábio de meus
dentes — Com você fazendo isso será impossível eu me controlar.
— Desculpe.
Ele beija-me rapidamente e arrasta o polegar pelo meu lábio
inferior.
— Está com fome, baby? – ele pergunta.
Aceno de maneira positiva para ele com um pequeno sorriso.
— Vou esquentar algo para comermos – ele diz se levantando.
— Posso ir junto?
Ele sorri e me toma pela mão dando-me o apoio necessário
para eu me levantar.
Sinto-me brevemente zonza e internamente agradeço por ele
estar me segurando.
Saímos do quarto e seguimos para as escadas.
Edward aperta minha mão na dele e posso ver claramente que
ele está tenso. Foi a mesma coisa quando chegamos.
Ele me olha e, cautelosamente, me toma nos braços e desce as
escadas, carregando-me, e, ao me colocar no chão, ele beija minha
têmpora e segura minha mão mais uma vez.
Na cozinha, Edward me coloca sentada em uma das cadeiras
de frente para a bancada de mármore. Depois de me ajeitar ali, ele
contorna a bancada e segue para a geladeira abrindo o frízer e
tirando dele uma vasilha de plástico.
Ele abre a tampa para ver o que há ali dentro e pela careta que
ele faz, pegou a vasilha errada.
— O que é? – pergunto curiosa.
— Um frango pré-cozido.
Dou uma pequena risada.
Ele abre o frízer de novo guardando a vasilha errada e pegando
outra, desta vez ele parece ter acertado.
— Macarrão com queijo, senhorita Lawson? – ele pergunta
olhando para mim.
— Por favor.
Ele separa duas porções e as coloca uma de cada vez no
micro-ondas para aquecer.
Ele prepara a bancada colocando apoios de prato e copos,
colocou a jarra de suco sobre a bancada, dois copos e os talheres e
assim que a comida estava devidamente quente ele nos serviu.
Edward sentou-se de frente para mim e assim fazemos a nossa
refeição.
— Está uma delícia! – digo realmente deliciada.
Quando surrupiei uma porção deste macarrão com queijo não
tive com que comentar o sabor, mas agora…
— Aretha cozinha divinamente bem!
— Muito bem! – ele me olha travesso e sorri — Você também
cozinha muito bem, Amy.
Sinto minhas bochechas arderem.
— Obrigada.
— Você fica ainda mais linda quando cora, sabia? – meu rosto
esquenta ainda mais e eu sorrio tímida para ele.
— E você não joga limpo.
Ele ri.
— Nunca disse que jogaria.
Eu sorrio para isso, voltando minha atenção para a comida em
seguida.
[…]
Terminei de escovar meus dentes pouco depois de Edward.
Foi estranho ter que – mais uma vez – escovar os dentes com a
mão esquerda.
Quando voltei para o quarto, topei com Edward colocando seu
pijama e estranhei isso.
— Você já não estava pronto para dormir? – pergunto.
— Não gosto daquela calça para dormir.
— E por que não? – sento-me na cama com um pouco de
desconforto, mas achando um pouco de graça na resposta dele.
— Geralmente a uso para malhar ou para correr e elas não são
muito confortáveis para dormir – ele explica.
Emito um som de compreensão.
Em seguida, ele sobe na cama e se deita.
Com um pouco de dificuldade deito-me ao lado dele, fitando-o, e
Edward me puxa com cuidado para seus braços, abraçando-me e
beijando meus cabelos.
Sua mão sobe e desce por minhas costas em um carinho
gostoso, uma de suas pernas está entrelaçada às minhas e ele
brinca com meus pés.
— Posso abraçar você? – pergunto em voz baixa.
Sinto-o tremer brevemente.
— Só não mova muito as mãos em minhas costas, por favor –
ele pede com a voz carregada de medo.
— Está com medo de mim? – pergunto erguendo meu rosto
para fitá-lo.
Ele possui uma expressão amargurada e assustada, seus olhos
estão um pouco arregalados e ele me fita surpreso, por causa de
minha pergunta.
— Não é de você, especificamente. Eu não gosto muito de ser
tocado de surpresa ou durante o sono – ele tira a mão de minhas
costas e a coloca em meu rosto afagando-o — E, sinceramente, eu
ainda não sei o que seu toque em mim pode significar… o que pode
me causar – ele diz e seus olhos ardem de sinceridade.
Sorrio para ele, tentando tranquilizá-lo.
— Eu sei exatamente o que o seu toque significa em mim e o
que ele me causa, Edward – sussurro em tom brando para ele.
Ele me aperta contra si, meu rosto está colado ao seu peito e
sou tomada pelo seu perfume, o som do seu coração preenchendo
meus ouvidos e me sinto cada vez mais calma.
— Você é tão cheiroso – murmuro, tentando me controlar para
não roçar meu nariz ali.
— Você também é muito cheirosa, senhorita Lawson. – mais
uma vez ele beija meus cabelos e a tensão dele parece ter
diminuído.
Com cuidado, ele se estica por cima de mim e pega o cobertor
cobrindo-nos com ele logo em seguida e me aninhando a ele.
— Por favor, me abrace – ele pede cauteloso — Mas não toque
muito em minhas costas.
— Tem certeza? – eu peço.
— Sim – ele diz convicto, mas sinto um pouco de hesitação em
sua voz — Eu preciso.
Passo meu braço ao redor de sua cintura, com o máximo de
cuidado para não o tocar em suas áreas ainda proibidas, e o puxo
para mim apertando-o da maneira mais desajeitada, mas da
maneira que consigo.
Edward afaga minhas costas de forma ritmada.
Acho que o fato de eu estar de casaco e ele de camisa facilitou
na decisão dele, porque teoricamente, eu não estava
definitivamente o tocando.
— Obrigada – balbucio sonolenta para ele, apertando-o um
pouco mais a mim, assim como ele também faz.
Pela primeira vez sinto-me realmente segura com ele desde que
brigamos e desde que ele me ajudou com meu pesadelo da primeira
vez.
O afago dele em minhas costas não para, e isso me traz calma
e serenidade, e aos poucos vou me entregando a inconsciência.
[…]
Acordo sobressaltada.
Olhando ao redor está escuro e eu sinto frio, frio demais, o que
eu acho estranho.
Minhas costelas ardem e, ao olhar mais uma vez a minha volta,
percebo que estou sozinha no quarto.
Com dificuldade e um pouco de dor e tonteira, levanto-me da
cama e sigo para fora do quarto.
Aproximando-me das escadas, ouço a melodia suave de uma
bela música ao piano.
Agarro o corrimão com firmeza e, com cautela, desço as
escadas.
Edward está sentado ao piano, emergido na música e em seus
próprios pensamentos. A melodia é suave e tranquila, mas um
pouco triste.
Aproximo-me dele com cuidado e em silêncio, não quero
interromper a música que ele toca, e que é tão bonita. É como se
ele estivesse em uma bolha, submerso em seu próprio mundo, na
sua própria dor, amargura e tristeza e isso comprime meu coração.
O que havia acontecido?
— Você deveria estar dormindo – ele diz assim que nota minha
presença.
— Perdi o sono.
Caminho até ele e sento-me ao seu lado no banquinho de frente
para o piano.
— Pesadelo?
— Não, não foi aquele pesadelo. Eu só me assustei com
alguma coisa… acho que sonhei e não me lembro. Talvez um
daqueles sonhos em que a gente sente que está caindo, mas nunca
se vê realmente fazendo isso – verbalizo – E eu também posso ter
sentido a sua falta, por não estar lá comigo.
Ele sorri, me olhando, enquanto toca mais algumas notas,
finalizando a música logo em seguida.
— É uma bela melodia – sussurro para ele — Você toca muito
bem.
— Obrigado – ele sorri para mim.
Edward passa o braço por sobre meus ombros e beija minha
têmpora, cheirando meu cabelo.
— Feliz aniversário, baby.
Olho para ele com um sorriso estampado em meu rosto.
Ele me beija, segurando meu rosto entre suas mãos, é um
toque lento e abusado.
Sua língua explora minha boca e o contato dela com a minha
envia inúmeros choques por meu corpo.
— Obrigada – digo ao nos afastarmos.
Ele toca meus lábios mais uma vez e sorri.
— Agora você é exatamente seis anos mais nova do que eu.
— Sabe… eu nunca daria para você a idade que diz ter.
— Por quê? Eu pareço ter mais? – ele se faz de ofendido.
— Menos, muito menos.
— Quantos anos você achava que eu tinha, então?
— A mesma idade que eu, dois anos a mais, mas não mais do
que isso.
Ele ri.
— Fico lisonjeado – diz e me beija mais uma vez.
— Vamos para cama? – peço.
— Dormir – ele decreta.
— Dormir – confirmo — Eu estou com frio.
— Você está um pouco febril. Vou te dar o seu remédio e
voltamos a dormir.
[…]
Edward está deitado ao meu lado na cama mais uma vez e eu
consigo sentir seu olhar atento sobre mim.
Ainda não consigo acreditar que ele deixou mesmo que eu
saísse com Paige amanhã, quer dizer, hoje, e que ele quer ir junto.
Por mais que eu não consiga acreditar que vamos sair para algo
relativamente “normal”, no que eu realmente não consigo acreditar é
no que ele me deixou fazer. Ele me permitiu um tipo de contato
diferente deixou que eu o abraçasse.
Foi quase como um presente.
Deito-me de frente para ele.
Minhas costelas ainda me incomodam um pouco, para falar a
verdade, elas parecem queimar. Acho que este meu estado febril
pode estar causando isso e eu ainda estou com frio, e tremer não
ajuda muito.
— Está com dor, baby? – ele pergunta pondo a mão em meu
quadril e cuidadosamente subindo-a até minhas costelas e fazendo
um pequeno afago.
— Vai passar – asseguro-o — Acho que me deitei sobre elas
quando você não estava aqui.
Edward se aproxima mais de mim, aninhando-me a ele.
O calor toma conta de meu corpo, aquecendo-me de fora para
dentro; ele é melhor que um cobertor.
O som de seus batimentos cardíacos parece ter sido feito para
mim – como uma canção de ninar.
É tão bom.
Eu enterro meu rosto no vão de seu pescoço, aspirando seu
perfume e aproveitando-me ainda mais de seu calor. Ele entrelaça
suas pernas as minhas e brinca novamente com meus pés que, em
comparação aos dele, parecem pedras de gelo.
Um riso abafado e contido escapa dele enquanto ele se estica
e, mais uma vez, apanha as cobertas, cobrindo-nos com elas.
Edward afaga meu cabelo e eu me aninho ainda mais a ele,
rendendo-me ao afago e a inconsciência mais uma vez.
[…]
O que me acorda não é um sonho desconhecido, nem um
pesadelo, muito menos o frio ou calor excessivo. O que realmente
me acorda é um cochichar baixinho, ao pé do meu ouvido, em uma
voz melodiosa.
Eu murmuro alguma coisa semelhante a “me deixe dormir mais
um pouco” ou “por que tão cedo?” um pouco antes de sentir um
beijo ser depositado em meus lábios.
— Acorde, América – a voz de Edward agora se mostra mais
clara aos meus sentidos sonolentos — Vamos, baby, acorde.
Ele me beija mais uma vez e agora sou capaz de responder.
Ouço sua risada e me obrigo a abrir os olhos.
A claridade está baixa, mas me incomoda e eu pisco algumas
vezes para me fazer enxergar de verdade.
Edward está sentado ao meu lado, com ambas as mãos
apoiadas uma de cada lado de meu tronco; seu rosto paira sobre o
meu.
Sorrio para ele.
Esta sim é uma ótima maneira de acordar!
— Feliz aniversário – ele diz e me beija mais uma vez — De
novo.
Sorrio para ele.
É como ganhar um presente.
— Obrigada – mordo meu lábio inferior — De novo.
Edward parece uma criança em dia de natal, com seus olhos
brilhantes e animados.
Ele sorri para mim de uma maneira travessa e a sensação de
que ele pode estar aprontando, ou me escondendo algo me
atravessa.
— Como se sente? – ele pergunta preocupado.
— Bem. Muito bem, na verdade.
— Alguma dor? – sua mão se aloja em minha lateral direita,
exatamente sobre minhas costelas.
— Nenhuma. Como já disse antes: eu estou bem. – Você é um
ótimo remédio, senhor Cage.
Edward me beija mais uma vez antes de se levantar, ficando
apenas sentado ao meu lado.
Com um pouco mais de dificuldade e muita deselegância, sento-
me também e apoio minhas costas na cabeceira de dosséis da
cama.
Tento criar coragem para sair dali.
Com cuidado, espreguiço-me, sentindo meus músculos se
aliviarem no mesmo instante.
Edward se levanta de vez da cama e somente quando ele faz
isso que eu percebo que ele já tomou banho e já está
completamente vestido.
Ele usa uma camisa de algodão preta com mangas compridas –
a camisa mais se assemelha a um casaco que nada esquenta – e
quatro botões que aumentam a gola, sendo que três deles estão
abertos, uma calça jeans preta com riscos grafite que pende em
seus quadris de uma forma que me faz querer ficar olhando
somente para ali, e tênis.
É então que noto em suas mãos uma jaqueta de couro também
preta. Um visual completamente informal e de alguém que tem a
idade dele. Ele tem um sorriso estampado no rosto e nem parece
que sou eu a aniversariante, mas, sinceramente? Não estou nem aí
para isso.
Jogo meus pés para fora da cama e me levanto dela, ficando de
pé na frente dele, meu moletom completamente desalinhado em
mim e eu me sinto completamente infantil e deselegante na
presença dele por estar assim, tanto que sinto meu rosto aquecer.
— Por que não toma um banho e me encontra lá embaixo? –
ele diz com um sorriso torto traçado nos lábios.
— Está bem.
Ele sorri e enlaçando minha cintura ele me beija mais uma vez.
Sua língua acaricia a minha e isso me enlouquece e quando
meus dedos se embrenham em seu cabelo e o beijo se intensifica
ainda mais ele se afasta.
Ambos estamos ofegantes.
Edward deixa alguns beijos estalados em meus lábios antes de
me soltar de vez.
— Para o banho – ele manda com um sorriso nos lábios, agora
vermelhos ao extremo — Sua roupa já está no meu banheiro – ele
informa antes que eu possa cogitar sair de seu quarto e ir para o
meu.
Sorrio para ele e vou para o banheiro enquanto ele sai do quarto
e fecha a porta atrás de si.
[…]
Eu não faço ideia de quem escolheu minhas roupas, mas tenho
certeza de que sabe exatamente o que eu gosto de vestir.
Tênis, calça jeans e blusa de mangas – aparentemente minha
blusa foi escolhida para se assemelhar com o modelo da de
Edward: blusa no estilo casaco. Poderia ficar com essa roupa o dia
inteiro e não reclamaria nem uma única vez.
Completamente de banho tomado, vestida, maquiada e
perfumada, saio do quarto de Edward e vou de encontro a ele na
sala de estar.
Desço as escadas com o máximo de cuidado – não quaro mais
nenhum acidente como aquele.
Edward está sentado no sofá menor, que fica de costas para a
escadaria. Ele lê um jornal e ao me aproximar melhor vejo uma foto.
Uma foto nossa… no jornal?!
A foto é do dia em que ele me levou para o jantar de sua
empresa no Garden. Lembro-me imediatamente da conversa que
tive com Marie, a mãe de Edward, ela havia comentado algo do tipo
sobre uma foto como essa e de ter descoberto a minha existência
na vida de Edward através dela.
Naquele momento eu não entendi o que ela queria dizer, mas
agora?
Está tão claro quanto água potável.
Eu só não entendia por que ela estava novamente no jornal. É
tão interessante assim o fato de eu estar ao lado dele em um
evento?
— Adorei nossa primeira foto – digo para chamar a atenção de
Edward.
Ele fecha o jornal e se vira para mim com um sorriso estampado
no rosto.
— Você está linda. Mais do que eu pensei que ficaria – ele diz
se levantando e caminhando em minha direção — Perfeita.
Sinto meu rosto esquentar.
— Obrigada – sussurro.
Ele sorri e, pegando sua jaqueta, que estava sobre as costas do
sofá, ele a veste e estende a mão para mim com um sorriso torto e
lindo estampado no rosto.
— Vamos? – ele pergunta.
Pego a mão que ele me estendeu e o acompanho para o
elevador, que já nos aguarda de portas abertas.
Seguimos em silêncio, apenas desfrutando da atmosfera
elétrica completamente carregada de desejo – já estou me
acostumando com ela, é boa e Edward enlouquece ainda mais
quando ela se instala entre nós – com nossas mãos entrelaçadas o
tempo inteiro.
As portas do elevador se abrem para a portaria do edifício e
Edward me leva para fora, onde seu carro está estacionado.
Ford está de pé ao lado do veículo e, assim que nos
aproximamos dele, ele entrega as chaves para Edward, que acena
com a cabeça cumprimentando-o e agradecendo.
Sorrio para ele em uma breve saudação e ele acena com a
cabeça para mim com um pequeno sorriso no rosto.
Edward abre a porta do carona para mim e depois de eu entrar
e fechar a porta ele contorna o carro e entra no mesmo dando a
partida nele logo em seguida.
— Para onde vai me levar? – pergunto realmente curiosa.
— Tem que aprender a ser paciente e a confiar mais em mim,
Amy – ele diz com um sorriso, logo depois produzindo um som com
a língua ao estalar ela contra o céu da boca.
— Eu confio em você – É esse sorriso maroto que me preocupa.
Ele sorri e arranca pelas ruas de Seattle.
Está um dia bem agradável, sem muitas nuvens no céu. O sol
atrás de nós se eleva aquecendo o dia e opto por olhar pela janela e
apreciar a paisagem que passa apressada por mim, os prédios,
edifícios empresariais enormes, pessoas andando de um lado para
o outro em um ritmo atarefado.
Sinto a mão de Edward se apoderar do meu joelho, fazendo
certa pressão e correndo-a por minha coxa de uma forma lenta e
provocante. Minha pele inteira se arrepia e eu fico imensamente feliz
por estar usando uma calça jeans e ele não ser capaz de sentir isso
sob seu toque.
Quando olho para ele noto um sorriso pequeno desenhado em
seus lábios, isso me deixa contente.
Edward retira sua mão de meu joelho por alguns instantes para
ligar a música que eu só notei sair de um iPod porque o vi acender
brevemente. Uma melodia suave preenche o ambiente e Edward
volta sua mão para minha perna, continuando com o carinho
possessivo e indecente.
A paisagem muito civilizada começou a desaparecer
começando a dar lugar a algumas casas coloridas e a menos
prédios e mais árvores. Havíamos pegado a autoestrada em
direção, ao que me parece, ser o Lake Union. Mal consigo conter
minha euforia ao pensar que pode ser realmente isso, mas… por
que ele está me levando para lá?
Atenho-me ainda mais a paisagem, observando as águas sendo
cortadas por alguns veleiros.
Parece um sonho com gosto de liberdade.
O carro segue em direção a orla e depois para o norte, ao longo
do viaduto.
Edward diminui um pouco a velocidade do carro e o faz virar
para a esquerda, seguindo pela orla e entrando logo depois em um
estacionamento, de frente para uma ampla marina.
— Espero que goste de barcos – ele diz ao desligar o motor do
carro e parece ansioso — Vou abrir a porta para você.
Saindo do carro, Edward o contorna e abre a porta, estendendo
sua mão para mim, a qual eu não rejeito.
Ele me ajuda a sair do carro e, logo depois de fechar a porta,
ele tranca o carro ativando o alarme.
No estuário de Puget, no Lake Union, alguns veleiros deslizam
pelas águas.
Eu sinto uma animação diferente se agitar dentro de mim com
cada passo que damos e com cada coisa que meus olhos banhados
pela luz do sol conseguem enxergar.
— O que estamos fazendo aqui? – pergunto mal contendo
minha animação e ansiedade.
— É parte do que planejei para o seu primeiro aniversário
comigo. Quero que seja memorável.
— Memorável?
— Com toda a certeza. Quero que se sinta feliz e quero saber
que eu fiz isso por você.
O ar me falta quando o sorriso corta meu rosto.
Edward entrelaça nossos dedos, e, de mãos dadas, nós
caminhamos pelo calçadão da marina.
O vento sopra mais forte e mais a frente os veleiros são
carregados por esse mesmo vento, cortando sempre as águas de
um lado para o outro.
Não me canso de admirar essa vista.
O sol está alto e aquece todo o meu corpo.
Edward tirou sua jaqueta e arregaçou as mangas da blusa, a
jaqueta está em sua mão.
À nossa frente, um belo e enorme veleiro, na verdade, um
belíssimo catamarã, ancorado no cais. Pelo olhar que Edward
intercala entre mim e o veleiro, dá para ter uma ideia de que este é
um barco muito especial para ele.
— Velejar. O que acha? – ele pergunta ansioso, acariciando o
dorso de minha mão com o polegar.
— Eu nunca entrei em um barco antes!
— Outra primeira vez, então – ele diz com um sorriso enorme e
satisfeito estampado no rosto. — Vamos.
— Tem certeza? – pergunto procurando mirar os olhos
cinzentos em busca de alguma hesitação.
— De que eu quero você no meu barco comigo? – ele arqueia a
sobrancelha — É lógico que eu tenho.
Sinto meu coração descompassar dentro de meu peito.
O ar fica ligeiramente rarefeito enquanto ele me conduz para
dentro do barco.
Na lateral dele há desenhado em preto o nome Angel – que
deve ter algum significado para ele, mas que eu não consigo
imaginar qual seja. Talvez não signifique nada e eu só esteja
querendo esmiuçar qualquer coisa que possa me dar um pouco
mais de quem ele é.
— Senhor Cage! – um homem alto e de cachos loiros
cumprimenta Edward no momento que subimos a bordo do Angel —
Bem-vindo de volta!
Ele é bronzeado e tem olhos castanhos, vestido como um
navegante esportista: camisa polo de mangas curtas, bermuda e
mocassins, e não parece ter muito mais que trinta anos.
— Dony. – Edward o cumprimenta com um aperto de mãos e
um sorriso — Amy, este é Gabe Donnelly. Gabe, esta é a Amy. –
Edward sorri amplamente.
— É um grande prazer finalmente conhecê-la, senhorita
Lawson.
— O prazer é meu – sorrio, apertando a mão que Dony me
estende.
Finalmente me conhecer? Hã? – me pergunto em confusão.
— Ela está pronta? – Edward pergunta a Dony.
— Pronta para navegar, senhor.
— Perfeito – exclama satisfeito — Hoje você pilota, Dony.
— Sim, senhor. – Dony faz uma breve mensura e segue para
outra direção, indo realizar suas tarefas antes de colocar o barco
para navegar.
Enquanto isso, Edward me conduz para dentro da cabine.
Bem em frente a nós um sofá de couro na cor do chocolate em
formato de “L”, acima dele uma enorme janela curvada que oferece
uma vista esplêndida para a marina, à esquerda fica a cozinha toda
em madeira clara e muito bem equipada.
O mesmo tipo de madeira que reveste a cozinha é o que forra o
chão. É tudo tão charmoso e leve, mas ao mesmo tempo
funcional…
— Banheiros, dos dois lados – ele aponta para as duas portas
antes de continuarmos o caminho pelo curto corredor.
Paramos diante de uma porta, que, a meu ver, possui um
formato estranho.
Ele a abre, logo em seguida, revelando um quarto de luxo
simplesmente enorme para algo que está dentro de um barco. Uma
cama king size forrada com lençóis de linho azul-claro, o chão da
mesma madeira clara.
É bem semelhante ao quarto dele no Diamond, na verdade.
— Esta é a cabine principal – ele diz assim que adentramos no
cômodo, soltando minha mão pela primeira vez desde que
chegamos.
Fito-o pela primeira vez desde que entramos na cabine.
Os olhos dele brilham e o cinza parece prata líquida quando os
reflexos da água entram pela janela do quarto – o mesmo tipo que
há na primeira área que ele me apresentou – e iluminam seu rosto.
— É magnífico – elogio o barco e as cabines como se eu
estivesse o elogiando.
Ele está mesmo fazendo isso?
Parece tudo demais, tudo um sonho muito bom. Tenho medo de
acordar e descobrir que ainda estou naquele hospital, que Edward
não está sendo essa pessoa comigo e que o castigo que me foi
“prometido” me aguarda.
— Quase não consigo acreditar… – murmuro para ele.
— Por que não? – ele questiona realmente confuso — Estamos
aqui, não estamos? – anuo positivamente — Então, por que não
acredita?
— Porque é bom demais para ser verdade – decido não mentir,
com toda a certeza será pior depois se ele descobrir que menti para
ele — Eu… eu sou apenas a sua submissa, e, sinceramente? Eu
nem sei o porquê de ter me escolhido!
Edward segura meu rosto entre suas mãos, fixando meus olhos
nos dele.
Ele põe uma mecha rebelde de meu cabelo para trás de minha
orelha com carinho e suavidade.
— Eu busco te responder isso desde a primeira vez que me
perguntou. Eu sei por que eu te escolhi, sempre soube, mas não sei
como dizer a você – os olhos dele brilham sinceros, completamente
verdadeiros e isso me faz tremer por dentro.
— Teremos tempo – consigo dizer com o pouco de ar que ainda
existe em meus pulmões.
Ele sorri assentindo.
— É o que eu espero – e então me beija, deixando que eu
passe meus braços ao redor de seu pescoço e embrenhe meus
dedos em seu cabelo.
Eu o puxo para mais perto e, no mesmo momento que faço isso,
Edward me ergue pelas coxas, fazendo com que eu o abrace com
minhas pernas.
Meu coração bate acelerado em expectativa, fazendo todas as
sensações prazerosas circularem pesadas pelo meu sangue.
— Se soubesse o quanto eu a desejo… – ele sussurra em meu
ouvido.
Meu corpo inteiro fica arrepiado e treme por antecipação, e ele
me beija novamente.
Sua língua acaricia a minha com gosto e eu sinto tudo dentro de
mim se contorcer e ferver. Isso não é justo! Como ele pode ter esse
feitiço poderoso sobre mim? Tem que ser essa a resposta para tudo
isso. Tem que ser…
Edward está pressionado contra meu íntimo coberto e ele
insinua investidas em mim enquanto estamos desse jeito. Ele me
põe com as costas no que parece ser a parede do barco, sem parar
com os beijos e começando com os toques abusados,
principalmente em meus seios.
Edward continua friccionando nossos sexos cobertos pelas
roupas.
Sinto que vou enlouquecer.
Ele continua massageando meus seios e roçando nossas
intimidades por cima de todas as minhas roupas, e tudo isso
misturado ao beijo carregado de desejo simplesmente só deixa as
coisas terrivelmente melhores.
— Você é irresistível! – ele exclama pouco depois de se afastar
de mim.
Estamos completamente ofegantes.
Pela primeira vez sinto minhas costelas incomodarem no dia.
— É uma pena não poder aproveitá-la agora, senhorita Lawson
– ele diz, mas ainda retém os braços a minha volta — Vamos, Dony
já deve estar pronto para zarpar e nós temos um café da manhã
para tomar.
[…]
Edward colocou um colete salva-vidas em mim, mas não muito
apertado, apenas o suficiente.
O Angel já está pronto para zarpar e Dony apenas aguarda as
ordens de Edward, que logo depois de se certificar que não tenho
como me machucar, vai ao encontro dele dando as ordens certas.
Fico ali apenas observando-o e me perco em pensamentos.
Edward é bem diferente do que eu pensei que fosse. Apenas
pelo fato de em tão pouco tempo – pouquíssimo tempo na verdade
– ele se preocupar tanto comigo, me mostra isso.
Penso até que fui tola demais em pensar em uma fuga, partir e
deixá-lo pelo resto de toda a minha vida… ele, até hoje, não me deu
motivos para isso. Lembro-me então, da noite em que o olhar
raivoso e mais perigoso que eu já o vi dar foi direcionado a mim
apenas por um revirar de olhos.
Fui tão tola e estava tão cega de raiva que me esqueci de uma
das regras principais. Mamãe vivia me repetindo elas, mas esse é
um hábito terrível que muitos possuem, e eu, em meus piores
momentos, uso dele. Definitivamente, eu não havia nascido para
viver assim cercada de regras rigorosas e não-me-toques.
Com mais uma olhada no barco, eu desvio dos meus
pensamentos e percebo o quão esplêndido esse veleiro é.
É realmente fantástico!
O vento sopra no meu rosto, bagunçando ainda mais meu
cabelo, o sol me aquece e esse calor me faz lembrar a primeira vez
que Edward dormiu abraçado a mim, acordamos exatamente na
mesma posição.
Lembro-me também da primeira vez que fizemos sexo… os
beijos que ele me dava, a forma abusada e experiente como me
tocava. Roço a ponta de meus dedos em meus lábios, lembrando-
me dos minutos que passamos na cabine principal e não consigo
evitar o sorriso que se forma no meu rosto.
— Um beijo por seus pensamentos. – Edward sussurra em meu
ouvido logo depois de colar-se às minhas costas e envolver minha
cintura em um abraço possessivo, o que me tira das minhas
contemplações.
— Têm coisas muito bonitas, senhor Cage – digo fugindo da
“moeda de troca” dele.
Ele tira o meu cabelo da frente de meu pescoço e, quando ele
deposita um beijo ali, posso sentir também o seu sorriso contra
minha pele.
— Sim, eu tenho – ele responde — E você é a mais bela delas.
Sinto meu rosto esquentar e meu coração perder algumas
batidas.
Ele me gira em seus braços colocando-me de frente para ele,
passo os braços ao redor de seu pescoço e Edward sorri maroto
para mim beijando-me antes de desfazer o abraço possessivo.
— Venha.
Pegando em minha mão Edward me conduz em direção à parte
de trás do barco – creio que se chame popa – e, descendo por uma
pequena escada de quatro ou cinco degraus, chegamos a uma
parte coberta que eu penso ser a parte de fora do deque inferior.
Há uma grade de proteção onde duas boias salva-vidas estão
presas, penduradas para o lado de fora.
O som do motor soa mais alto por breves instantes e o Angel
começa a navegar suavemente pelas águas do estuário saindo do
ancoradouro e entrando nas águas mais pesadas da marina.
No porto, algumas pessoas se reuniram para nos ver zarpar,
elas acenavam eufóricas, e eu, com um sorriso acenei timidamente
de volta para elas.
Edward se posicionou atrás de mim, suas mãos sobre as
minhas na barra mais alta da grade de segurança.
— O que está achando, baby? – ele pergunta ao pé de meu
ouvido, fazendo minha pele se arrepiar e mais uma vez eu sinto o
seu sorriso.
— É a melhor coisa que alguém já fez por mim em toda a minha
vida – digo ainda mais maravilhada com a vista que me é
proporcionada.
O que acabei de dizer a Edward é a minha mais pura e, uma
dolorosa, verdade.
— Se depender de mim, será sempre assim – ele diz e seu tom
me parece sincero; um beijo é depositado em meu ombro — Já
decidiu onde vai querer ir esta noite?
— Quero ir à boate em que você é sócio.
— Tem certeza?
— Absoluta – respondo com um sorriso mesmo que ele não
possa ver — Sabe… a maior parte da manhã eu passei com a
sensação de que está me escondendo algo que eu deveria saber.
— Por quê?
— Não sei… é só… uma sensação – dou de ombros.
Ele me abraça pela cintura colando meu corpo ainda mais ao
dele.
Cuidadosamente, coloco meus braços por sobre os dele.
Parece fazer muito mais tempo que estamos juntos – na falta de
palavra melhor.
Sinto-me tão bem quando estou assim, abraçada a ele que é
quase estranho até. Ele é tão quente… em muitos sentidos da
palavra.
— O que as pessoas devem pensar quando nos veem assim? –
pergunto.
— A mesma coisa que minha família pensou quando viu as
fotos do jantar no Garden nos jornais – ele me vira para que eu fique
de frente para ele — Que você é a minha garota.
— Sou sua, mas não sua garota e sim sua submissa – respondo
em tom baixo.
— Uma submissa com muita vontade – ele diz com os olhos
cravados nos meus, algo parece dançar no brilho cinza de suas
írises — Você é minha garota e minha submissa… Você é mais do
que tudo isso, Amy.
Envolvo seu pescoço em meus braços e me estico para ele que
me beija com gosto e vontade.
“Você é mais do que tudo isso, Amy”.

Edward estendeu uma toalha sobre a proa, na frente do timão –


que era controlado por Dony – e, sobre ela, ele colocou todo o
nosso café da manhã com bolo, pães, suco, iogurte, biscoitos,
torradas, leite, café e até geleia de morango.
Ele tinha montado um banquete completo no piso do deque
superior e, agora, nós estamos sentados ao redor desse adorável
banquete – que ele tinha montado para nós, para mim.
Eu nem sabia como ou quando ele tinha colocado tudo isso
aqui, mas eu não estava me importando nem um pouco. Era a coisa
mais doce que alguém – que não fosse o Nick – já fez para mim no
meu aniversário.
Tudo de mim estava nas nuvens com isso.
Edward me serviu com um copo de suco de melancia e se
serviu de um pouco de café, enquanto eu pegava algumas torradas
e passava geleia nelas.
Minha mente ainda estava tentando processar e aceitar que isso
tudo de fato é real, que eu estou comemorando meu aniversário
assim, que estou tomando café da manhã em um barco como
esse…
— O que está achando do primeiro aniversário que está
passando comigo? – Edward pergunta depois de um tempo que
passamos apenas comendo e aproveitando o sol agradável que nos
aquece.
Sorrio para ele, dedicando minha total atenção ao seu olhar
sobre mim.
— Eu estou adorando, Edward. Isso tudo é… obrigada… – eu
digo com emoção, sentindo meu coração bater forte dentro do meu
peito. — Eu nem tenho palavras para expressar o que estou
sentindo agora. Só posso agradecer.
Edward sorri para mim brilhante e grandiosamente, iluminando
seu rosto e a mim com a beleza do sorriso que toma conta de todo o
seu rosto e dos seus olhos.
Ele ergue uma mão e afaga meu rosto, desenhando pequenos
círculos com o polegar em minha bochecha. Um toque tão doce e
emocionando que me encanta e me assusta ao mesmo tempo.
— Não me agradeça ainda, Amy. Só estamos começando – ele
declara e isso faz o sorriso aumentar ainda mais no meu rosto.
Em um movimento um pouco ousado, eu seguro a mão dele,
que está em meu rosto, e beijo a palma.
— Agradeço sim, ninguém nunca se esforçou tanto para me
agradar no meu aniversário e só isso já vale o agradecimento.
Com o mesmo sorriso, Edward se aproxima de mim e beija
minha testa, a ponta do meu nariz e em seguida minha boca.
Apenas um roçar suave de lábios, mas que move meu coração
para uma escala de batimentos ainda mais acelerados.
Eu estava adorando cada parte disso.
[…]
O Angel atracou novamente no ancoradouro quando o sol
estava à pino no céu, e Edward só tirou meu colete quando o veleiro
já estava bem preso.
Descemos da embarcação e de mãos dadas seguimos o
caminho de volta para onde o carro está estacionado.
— Quer almoçar? – Edward pergunta assim que chegamos
onde o carro está.
— Quero sim, por favor.
— Então, por favor – ele conduz, abrindo a porta do carro para
mim.
Assim que me acomodo no banco do carona ele fecha a porta e
dá a volta no carro, para, logo depois, sentar-se atrás do volante e
dar a partida no carro.
Seguimos para fora da marina, retornando para o centro de
Seattle.
Edward está absorto em seus pensamentos e o som que
preenche o ambiente é o da música que sai do iPod dele. Sua mão
está apoderada de meu joelho, como quando estávamos indo para a
marina.
Olhando pela janela afundo-me em meus pensamentos
também.
Penso, principalmente, no quanto ele me cedeu: primeiro o
abraço, depois esse passeio magnífico em seu barco, a maneira
como me tratou… e pensar que até a hora de sairmos à noite pode
haver ainda mais dessas coisas.
“Você é muito mais do que isso, Amy”. Ele realmente havia me
dito aquilo, mas o que será que ele quis dizer?
A mão de Edward sai de meu joelho quando ele troca de
marcha e ultrapassa um veículo que estava a nossa frente, para
logo depois ele voltar com ela para meu joelho.
Eu fito seu rosto, ele está focado na estrada e – aparentemente
– em seus pensamentos também.
“Se depender de mim, será sempre assim”.
Volto a olhar pela janela e, mais uma vez, perco-me em meus
pensamentos.
Quando cheguei à casa de Edward não suportava a ideia de ter
que ser tocada por ele e ceder a cada uma de suas carícias – tudo
aquilo me causava nojo e pavor – e agora depois de provar de seus
toques, da diferença deles… vejo que se tornaram quase o meu
vício particular.
Penso na conversa que tive com Marie no dia em que nos
conhecemos no hospital. Principalmente nas coisas que ela me
falou:
“— Edward é um pouco complicado… ele sempre foi assim. Eu
nunca entendi o porquê de ele ter se distanciado tanto ultimamente”.
“— Talvez você o traga de volta para nós…”
“— Você deve ser uma namorada muito boa para ele. Nunca o
vi tão aflito como hoje…”
Como ele podia se distanciar de Marie? Eu não entendo.
Ela parece amá-lo tanto e, no pouco tempo em que
conversamos, tudo o que ela mais demonstrava era a saudade que
sente do filho. Tinha me falado dos irmãos dele, Laurie e Josh, e
que se dependesse de Edward eu nem saberia da existência deles.
“Não há muito que saber sobre mim, América” Por que ele dizia
isso? Eu gostaria de tê-lo ouvido falar sobre a mãe dele, sobre seus
irmãos, sobre seu pai George… Por que ele queria distância? E se
ele queria distância da família… será que iria querer distância de
mim também um dia?
Queremos uma vida normal, não é? – meu inconsciente grasna
para mim.
Vida normal… Eu quero tanto isso, mas será que eu quero que
ele me deixe para conseguir ter isso?
Olho para Edward e mordo o canto de minha boca.
Não, eu não quero que ele me deixe.
Joe me disse uma vez que eu aprenderia a ter uma vida normal
ao lado de Edward, que eu só precisava tentar…
Seria essa a chance para isso? Ou eu só estava imaginando e
vendo coisas onde elas não existem?
[…]
O carro para na entrada de um restaurante.
Edward salta do carro e dá a volta no mesmo para abrir a porta
para mim – ele parece gostar de fazer isso, pois sempre abre um
largo sorriso toda a vez que saio do carro.
Ele entrega a chave ao manobrista e, pegando em minha mão,
Edward me conduz para dentro do restaurante.
É um lugar aconchegante e charmoso ao mesmo tempo.
A recepcionista que verifica a reserva mal consegue se
concentrar no trabalho porque não sabe se olha para o computador
ou para Edward.
Agarro-me ainda mais ao braço dele e praticamente fulmino a
jovem recepcionista com o olhar. Ciúmes de novo, Amy?
— Tudo bem, baby? – Edward sussurra para mim abaixando-se
na altura de meu rosto.
— Tudo sim – respondo-o com um beijo rápido.
Ele sorri.
— Senhor Edward Cage. Bem aqui – ela diz ao encontrar a
reserva feita por Edward — Venham, a mesa já está pronta.
A recepcionista nos indica a mesa e nos entrega os cardápios.
— O garçom logo virá anotar seus pedidos – ela diz com um
olhar incisivo sobre Edward que nem parece notá-la ali.
— Muito obrigado – ele diz com um sorriso pequeno.
— Com licença – ela fica corada.
Decido parar de encarar a recepcionista e baixo meus olhos
para as opções do cardápio.
Vinhos? Eu não sei escolher isso e não posso beber também.
Quero comer, comida sim eu sei escolher.
— A comida daqui é boa? – pergunto ao erguer meu olhar para
Edward.
— É sim. Os melhores pratos daqui são as saladas, massas e
grelhados.
— Com licença – o garçom se anuncia — Já decidiram?
— Ahn… eu já – digo tímida — Um bife ao ponto com molho de
aspargos, batatas coradas, arroz branco e salada de alface com
tomates.
O homem anota tudo com rapidez.
— E o senhor? – ele se vira para Edward.
— O mesmo que ela.
— E para beber?
— Um vinho doce para mim e suco para ela, por favor. Laranja?
– ele pergunta, sugerindo um sabor.
Eu concordo com um acenar de cabeça.
— Sim, senhor. Com licença – e ele se retira.

Os pedidos chegam até nós algum tempo depois.


O perfume agradável da comida faz meu estômago roncar.
O garçom serve o vinho escolhido por Edward e o meu suco, e,
assim que o garçom se retira, Edward ergue a taça para mim.
— Ao seu aniversário – ele diz.
Toco a taça dele com a minha e, assim que fazemos o brinde,
começamos a comer.
A carne está deliciosamente macia, derrete na boca e a salada
muito bem temperada, o arroz branco está delicioso também e eu
não consigo parar de comer.
Tomo um gole do suco, vez ou outra para umedecer a boca e
ajudar a comida a descer. Está tudo delicioso demais para dar
atenção a qualquer outra coisa.
— É ótimo te ver comer. – Edward diz e parece feliz com isso.
Sorrio para ele.
— Você é formada em relações internacionais, pelo o que eu
sei… – ele comenta, puxando algum assunto.
— Sim, me formei cedo. Dois ou três meses antes de ir morar
com o senhor.
— Como você ia para a escola?
— Tínhamos um motorista. O nome dele era Nolan Barnes. Até
a sexta série era ele quem me levava e me buscava. Minha mãe,
ela… ela vivia ocupada e quem cuidava de mim eram ele e a
Suzanne.
— Seu pai e sua mãe não se importavam com você? – ele
pergunta.
— Meu pai biológico eu não o conheci, minha mãe disse que ele
morreu antes que eu nascesse. E o Nick, que é o homem que eu
chamo de pai, ele e minha mãe já tinham se separado.
— Então, a Suzanne e o Nolan cuidavam de você?
— Mais a Suzanne que Nolan. Eu não gostava muito de
homens perto de mim.
— Por quê? – ele pergunta e no mesmo instante percebo que
eu falei mais do que devia.
Mordo meu lábio inferior e olho para qualquer canto, coisa ou
pessoa que não seja Edward.
Ele não vai saber.
— Não vai me responder, América? – ele parece irritado, quase
desconfiado.
— Não me entenda mal, eu só tinha doze anos. Minha visão dos
homens não era a melhor do mundo. Eu achava que todos eram
iguais – eu explico, dando a minha desculpa não esfarrapada.
— E acha que eu sou igual ao exemplo que você tinha?
— Não! Nunca. Você é diferente, um diferente bom. Você cuida
de mim…
Vejo a sombra de um sorriso passar pelo rosto de Edward e isso
me tranquiliza.
A última coisa que eu queria era entrar nesse assunto, me
aprofundar nele e ter que explicar – ou mentir – sobre o que me
assombrava os pensamentos e que eu tanto me esforçava para
afastar.
Esse estava sendo um dia bom e feliz, eu só queria que ele
continuasse assim.
— Posso te fazer uma pergunta? – eu peço depois de alguns
minutos em silêncio apenas aproveitando a comida e a companhia
um do outro.
— Acabou de fazer – ele caçoa, bebericando um pouco de seu
vinho e me lançando um olhar travesso.
— Além dessa – eu ergo uma sobrancelha com obviedade.
— Hoje é o seu dia, Amy. Você manda.
Sorrio para isso, sem conseguir me conter.
— Olha que eu posso abusar disso, hein? Você sabe que não
me revela muita coisa sobre você – lanço divertida para ele, mas eu
definitivamente faria isso.
Edward bufa um riso, me olhando com um ar divertido e intenso
ao mesmo tempo.
— Prometo que vou mudar isso, tudo bem? – ele diz — Mas,
então, qual a sua pergunta?
Pigarreio e me ajeito em minha cadeira, pronta para fazer a
pergunta para ele:
— O nome do seu barco, Angel, possui algum significado, ou
ele já veio assim?
Edward toma mais um gole de seu vinho, comprimindo os lábios
e erguendo uma sobrancelha.
— Você não estava brincando, não é? – ele desvia, mas sorri,
ajeitando-se em sua cadeira, como eu tinha feito.
— Não, eu não estava.
Ele sorri para mim e rompe todas as regras de etiqueta ao
apoiar os antebraços por inteiro no tampo da mesa.
— Foi uma homenagem para a minha mãe, Marie, e para a
minha irmã mais nova, Laurie – ele finalmente diz e o tom de sua
voz e carinhoso e emocionado. — Elas foram verdadeiros anjos na
minha vida. Eu não sei se minha mãe te contou, e não me lembro se
comentei, mas Marie me adotou quando eu era pequeno, ela
literalmente salvou a minha vida, e quando Laurie chegou isso só
melhorou.
O sorriso que preenche meu rosto é emocionado como o tom da
voz dele que soa em meus ouvidos.
Essa era realmente uma parte dele, uma parte de verdade e
com sentimento e não apenas informações mecânicas que moldam
o que você mostra para alguém se interessar por você e não se
assustar com a intensidade que existe dentro de si.
— Isso é bonito – eu consigo dizer, sentindo-me inundada pelos
sentimentos que suas palavras evocaram em mim.
Edward ri baixinho.
— Eu tinha que compensar de alguma forma as dores de
cabeça e noites insones que eu causei a ela.
Isso me faz rir e eu gosto do que eu vejo nos olhos dele.
“Você é muito mais do que isso, Amy”.
E isso tinha que significar o que eu estava começando a achar
que significava.
[…]
As portas do elevador se abriram e revelaram o rol de entrada
da cobertura de Edward.
Havíamos acabado de almoçar em um restaurante próximo
daqui e, mais uma vez, estávamos em silêncio.
O elevador ou qualquer tipo de ambiente menor e fechado
parece causar um efeito em nós, como se nos transformasse em
imãs de polos opostos, que, quando próximos, têm a necessidade e
a obrigação de se unirem.
Com a mão na minha, Edward me levou ainda mais para dentro
de seu apartamento, conduzindo-me até a sala de estar e, quando
eu olhei para a cozinha, qual não foi minha surpresa ao ver um
pequeno bolo sobre a bancada.
Olho para Edward incrédula.
— Não dá para não se fazer isso em um aniversário, ainda mais
o seu – ele disse em tom de resposta.
Sinto o meu peito ser preenchido por um calor estranho.
Meu coração trepida loucamente e eu sinto-me como nesta
manhã, quando ele me apresentou ao Angel e preparou todo aquele
café da manhã, sinto-me algo importante, sinto que ele quer e
precisa me agradar para ficar bem, e o estranho era que este
deveria ser o meu dever, a minha missão para com ele.
Pelo menos era isso que mamãe falava. “Dê a ele o prazer de
estar com você” – ela dizia.
— Obrigada – viro-me para ele.
Minha vontade é de abraçá-lo como nunca abracei alguém em
minha vida, agradecê-lo com tudo o que tenho em mim, mas só de
pensar em sequer fazer algo mais “brusco” que aquilo que fizemos
na cabine principal do Angel minhas costelas incomodam.
— Obrigada por tudo!
Edward sorri e enlaça minha cintura colando nossos corpos.
Com as pontas dos dedos ele põe meu cabelo para trás de
minha orelha e me beija com vontade, e no beijo eu despejo toda a
minha gratidão pelo o que ele está fazendo por mim.
Embrenho meus dedos em seu cabelo revolto e sentir a textura
dele é enlouquecedor.
— Ah! – ele arfa — Como eu queria que não estivesse
machucada agora.
Respiro fundo em busca do meu ar e fito seus olhos cinza,
agora escurecidos pelo desejo, e o que eu procurava para ter de
base em meus pensamentos, acabei de perder.
— Mas – ele sorri torto — As sensações ficam bem melhores
com certa abstinência, pelo o que eu ouvi dizer.
Sorrio para ele e, ainda com meus dedos embrenhados em seu
cabelo, ergo minha boca para mais um beijo dele.
Nem em um milhão de anos eu diria que em tão pouco tempo
eu sentiria tamanho desejo por esse homem.
“Vou fazê-la precisar de mim, da mesma forma que eu preciso
de você”, e ele realmente estava fazendo isso comigo, por mais que
eu pudesse sentir raiva, medo ou até mesmo ódio deste homem, o
desejo por ele parecia sempre prevalecer em meu corpo, junto de
algo além que faz meu coração bater mais forte, mais rápido e mais
ansioso a cada novo toque dele em minha pele, coberta ou não.
A simples presença dele, já me causava esse tipo de coisa.
Edward atende ao meu pedido com toda a vontade presente
nele, com sua boca movendo-se sobre a minha com tanta perfeição
que chegava a me doer por dentro não poder ter ela em todo o meu
corpo.
Eu quero as provocações dele.
Com uma das mãos em minha nuca, agarrada ao meu cabelo e
a outra em minha bunda, ele me pressiona ainda mais contra seu
corpo, principalmente contra sua ereção pulsante.
Sinto cada músculo dentro de meu corpo se contorcer e clamar
por ele.
Edward me ergue pelas coxas e sem que eu perceba estamos
no sofá da sala, com ele sentado sob mim.
Sua mão se infiltra em meu jeans afastando-o ao máximo de
minha pele, seus dedos se infiltram em minha calcinha e sem
nenhum aviso seus dedos estão dentro de mim em um movimento
frenético de entra e sai, círculos e até mesmo beliscões em meu
clitóris e isso me faz gemer de maneira arrastada com minha boca
ainda colada a dele.
— Não é a mesma coisa – ele diz ofegante — Mas eu preciso
ver você gozar, baby. Vai baby, goza para mim.
Agarro com ainda mais vontade os fios do cabelo dele e
motivada por suas palavras movo meus quadris em sua mão,
esfregando meu sexo em sua palma e sentindo ainda mais os dedos
dele dentro de mim.
Eu o beijo para abafar meus gemidos insanos, enquanto seus
dedos trabalham em mim com ainda mais vontade e pressão.
— Oh, Edward! – eu gemo o nome dele alto demais quando a
boca dele cobre de mordidas e leves chupões a pele de meu
pescoço.
— Isso, baby… – ele murmura contra minha pele.
Olho para baixo e percebo que ele também se toca e em um
ímpeto de ousadia coloco minha mão bem ali, em sua parte
sensível, tomando o lugar da mão dele e imitando os movimentos
que ele fazia e agora, mais do que nunca na minha vida, eu quero
dar prazer a ele.
— Não… assim. – ele coloca sua mão sobre a minha e dita o
ritmo — Isso…
Edward move seus dedos em mim com cada vez mais vontade.
Sinto-o crescer em minha mão; meu corpo todo se aquece mais
e mais, e a cada nova investida de seus dedos é um pedaço do
pavio da bomba, que há dentro de mim, que é consumido.
E então eu explodo, meu corpo inteiro treme e se contrai –
minhas costelas me incomodam, mas não estou me importando
muito com elas.
Tudo o que me importa nesse momento é o que ele me faz
sentir e isso vai além de qualquer costela incomodando.
[…]
Estamos sentados à bancada da cozinha.
Havíamos acabado de tomar banho e agora, nos encontramos
comendo o delicioso bolo de chocolate, com calda quente – também
de chocolate.
Edward está de frente para mim e me observa comer meu
segundo pedaço de bolo, com seu prato já vazio.
Com os braços cruzados sobre o mármore da bancada, ele
parece extremamente interessado no que eu estou fazendo.
Incrivelmente já é mais que seis da tarde e é estranho perceber
que o dia realmente se passou rápido demais, mais até do que eu
gostaria de dizer.
Ao longe ouço o toque de um celular, o meu celular, e isso me
tira da bolha com Edward e o bolo de chocolate que eu tinha criado
ao nosso redor.
Corro para encontrá-lo e atendê-lo antes que ele pare de tocar.
— Lawson! – a voz de Paige soou animada e aparentemente
aliviada.
— Eu mesma – respondi em tom normal, mas, ainda assim,
animada.
— Vamos sair hoje, não é?
— Claro que sim! – olho de relance para Edward, que me
observa atentamente, e viro de costas — E… eu vou levar uma
pessoa – sinto meu rosto esquentar e coço minha nuca
envergonhada; ainda posso sentir o olhar de Edward sobre mim.
— Como assim, Lawson?! Você conheceu alguém? – ela
pergunta ainda mais animada e com esperança na voz — Qual o
nome dele? Ele está aí com você?
— Vou te dizer tudo quando nos encontrarmos na boate, Paige.
— O.k. Eu espero até estarmos lá. Farei esse enorme esforço –
ela diz, contrariada — Me passa o endereço e a hora que vamos
nos encontrar lá.
— Está bem – sorrio e, com um pequeno esforço, lembro o
nome do lugar onde nos encontraremos e passo para ela — Avise
ao Mike, está bem?
— Pode deixar comigo, docinho! – ela reclama com alguém que
provavelmente está ao lado dela — Até mais, Lawson.
— Até mais, Bennett.
Volto para a cozinha e sento-me mais uma vez de frente para
Edward.
Volto a comer meu bolo.
— Era a Paige – explico a ele, que continua me olhando atento
— Ela queria saber se… eu podia ir.
— Avisou que eu vou junto?
— Sim, senhor – sorrio para ele — Ela ficou insana.
— Por quê?
— Você sabe o porquê – corto mais uma fatia do bolo e depois
de colocá-la em meu prato me levanto.
— Sei?
— Ora, senhor Cage, se não sabe… é só se olhar no espelho –
sorrio com um ar de mistério, como se eu tivesse revelado para
minha amiga quem ele era e que esse era o motivo de ela ter
surtado.
E com isso sigo para as escadas, com completa e total intenção
de começar a me arrumar para mais tarde.
Apenas ouvi uma risada mais resignada provinda dele em
resposta.
[…]
Fito meu reflexo no espelho e o que eu vejo me agrada.
Meu cabelo está solto e cai praticamente natural por meus
ombros e costas, apenas com mais cachos, a maquiagem está leve
– do jeito que eu gosto.
Criando coragem, pego a pequena e rosada bolsa/carteira com
meu celular e meus documentos dentro e sigo para fora de meu
quarto.
Edward está falando animadamente ao telefone, ele tem um
sorriso nos lábios, um sorriso sacana de quem está aprontando.
Em uma das mãos ele tem uma caixinha retangular e preta.
Ele está vestido com uma jaqueta de couro marrom, calça jeans
escura, sapatênis completamente pretos e quando ele se vira para
mim, vejo que a camisa que ele usa é preta e de algodão.
Edward sorri para mim ao me notar.
— Nos vemos mais tarde, Josh – e, então, desliga.
Ele caminha até mim, olhando-me de cima a baixo.
— Linda – ele sopra com o sorriso ainda em seu rosto.
— Obrigada – sorrio para ele — Você também está lindo.
Ele sorri novamente e, se aproximando ainda mais, me estende
a caixinha preta.
— Eu comprei isso para você, espero que goste.
Sorrio pegando a caixinha da mão dele.
Abro-a e um delicado cordão de ouro com um pequeno pingente
enfeitando brilha à minha frente.
Olho para Edward que sorri e parece satisfeito consigo mesmo.
— É lindo! Eu adorei – declaro — Coloca em mim? – peço.
Ele sorri ainda mais e, pegando a caixinha das minhas mãos,
tira o colar dela para, logo depois, colocá-lo em meu pescoço –
enquanto eu segurava meu cabelo – e depois beijar meu ombro
fazendo minha pele se arrepiar.
— Vamos? – ele pede estendendo-me a mão, a qual eu não
hesito em pegar.
Seguimos para o elevador.
De mãos dadas, quando o elevador chega ao estacionamento,
Edward me conduz até seu carro, um modelo com cara e cor de bad
boy, com duas portas – seu modelo mais esportivo que vi – azul e
preto.
Quando ele abre a porta para mim, sento-me no bando do
carona estranhando a opção do modelo.
— Ford não vai conosco? – pergunto assim que ele entra no
carro sentando-se atrás do volante.
— Ele estará observando de longe – franzo o cenho para ele a
dúvida presente em meu ato — Tyler Ford é meu segurança, Amy. E
consequentemente, seu também.
— Ah.
Ele sorri e dá a partida no carro.
[…]
A Luxury’s Pepper Nightclub é a boate onde, aparentemente, os
ricos tops de Seattle vão quando querem se embebedar e dançar
até caírem, e Edward é um dos sócios majoritários do lugar.
Assim que Edward para o carro em frente à entrada da boate o
manobrista corre para abrir a porta para nós.
Edward entrega a chave ao rapaz que chega a sorrir de
entusiasmo – contido, mas ainda assim, entusiasmado – enquanto
entra no carro para levá-lo ao estacionamento.
— Aproveite a noite, senhor Cage – ele diz pouco antes de
entrar no carro.
— Será que sua amiga já-
— Amy! – o grito muito mais do que empolgado de Paige corta
Edward no meio de sua pergunta.
Viro-me na direção do som bem a tempo de não ser derrubada
pelo furacão de cabelos caramelo que é minha amiga.
Paige joga os braços ao redor de meu pescoço, dando-me mil e
um parabéns.
— Nem parece que nos vimos há pouco tempo, Paige –
sussurro em seu ouvido.
— Você desapareceu antes de aproveitar de verdade, então,
não vale, Lawson – ela me solta e me segura à distância de um
braço avaliando-me — Está linda, Amy!
— Você também não está nada mal, Bennett – digo olhando-a
também.
— Você corria na escola, é? – um rapaz alto e com uma
razoável quantidade de músculos para ao lado de Paige,
abraçando-a pela cintura.
Ele é loiro e tem olhos azuis, um tanto acastanhados.
Mike está logo atrás dele.
Aparentemente, ninguém notou Edward ainda.
— Josh, esta é Amy, a minha melhor amiga. – Paige faz as
honras.
Assim que Josh me vê seus olhos se arregalam em espanto e
surpresa.
Imediatamente sinto minhas bochechas esquentarem.
Edward me enlaça pela cintura e me puxa para ele, deixando
um beijo no topo de minha cabeça.
Paige e Mike finalmente o notam e a expressão de ambos não
podia ser mais surpresa, mas nenhuma surpresa ali parecia ser
maior do que a que Josh demonstra.
Paige me encara boquiaberta por alguns instantes e, quando
está prestes a falar algo, Josh a interrompe:
— Você é América Lawson?!
— Sou… – respondo intercalando meus olhares entre ele e
Edward, que parece estar se divertindo muito com tudo isso.
— É sempre bom te ver de novo, Joss. – Edward diz.
Joss? Que raio é Joss?
Josh revira os olhos para Edward e, logo depois, sorri malicioso
para mim.
— Josh Cage – ele diz ainda com o sorriso malicioso — Sou
irmão desse cara aí.
Foi minha vez de ter minha cara no chão.
Como assim o irmão de Edward é o namorado da minha melhor
amiga e ninguém me informa isso?!
Olho para Paige e percebo que ela está tão chocada quanto eu.
Mike, do outro lado, observa todos nós acanhado e
aparentemente bem desconfortável com tudo o que está
acontecendo. E não é só ele que está assim.
Eu estou completamente confusa! Edward sabia disso desde o
começo?!
Pisco algumas vezes de forma ritmada na tentativa falha de
clarear meus pensamentos, ou, pelo menos, fazê-los ficarem
quietos, mas não adiantou muita coisa.
Viro-me para Paige, que ainda olha para tudo descrente, e vou
ao socorro dela.
— Paige, este é Edward Cage, meu ahn… – olho para ele em
busca de uma resposta do que eu possa dizer.
— Sou o namorado dela – ele diz com um sorriso travesso nos
lábios, como se quisesse dizer que é muito mais do que isso
também.
Paige ergue as sobrancelhas para mim e cumprimenta Edward
com um aperto de mãos simples, sem muitas emoções, parecendo
ainda estar muito chocada com o fato do namorado dela ser irmão
do meu namorado.
Alguém, assim como eu, não estava muito atenta aos jornais
ultimamente.
Ela me olha e ali eu sei que ela quer ter todas as respostas e
todas as explicações possíveis quando estivéssemos à sós. Um
olhar que me dizia que eu não teria escapatória de suas perguntas
esmiúçam tudo.
[…]
Já dentro da Luxury’s, nós nos direcionamos imediatamente a
uma área mais reservada ao fundo.
É um lugar com um pouco mais de luminosidade e mais
afastado do som extremamente alto – que quase estoura os
tímpanos – na pista de dança.
Nos sentamos em uma mesa, onde os assentos são formados
por um sofá em formato de um semicírculo com seis lugares –
apesar de sermos apenas cinco – e enquanto Edward e Josh
conversam um pouco, eu tento assimilar tudo o que aconteceu.
— Nunca uma coincidência foi tão estranha. – diz Josh se
aproximando de Paige e passando o braço pelos ombros dela —
Não é, Amy?
— Tem razão.
— A doutora Marie não para de falar de você e está louca para
te ver de novo, sabia? É claro, em condições mais favoráveis que a
primeira – ele coloca com uma piscadela marota.
Sorrio para ele concordando e ignorando o olhar questionador
que Paige me lança.
Edward se aproxima mais um pouco de mim e me puxa para
ele, beijando meu cabelo logo em seguida.
— Podia ter me falado que sabia disso.
— Desculpe não ter contado – ele diz em meu ouvido.
— Como descobriu? – pergunto em um tom que creio que
apenas ele possa ouvir.
— Quando almocei com Josh no dia que você negligenciou em
um nível espetacular a sua saúde – ele responde com a boca ainda
colada ao meu ouvido — Não pensei nisso até hoje à tarde. Eu ia te
contar, eu juro! Mas você apareceu assim e bom… me distraiu
bastante do foco – ele diz malicioso.
— Me agrada muito saber que tenho efeitos sobre você – digo
com um sorrisinho.
— Muito mais do que imagina.
Mordo meu lábio para conter um riso.
— O que tanto cochicham aí, hein? – Paige pergunta, trazendo-
me de volta para a mesa e as pessoas ali presentes.
— Outra hora, Paige – digo a ela, na tentativa de fazer com que
ela esqueça por apenas alguns instantes esse assunto.
Ela estreita os olhos para mim, mas acaba cedendo.
— Vá se divertir. – Edward diz mais uma vez em meu ouvido —
Vou estar aqui de olho em você. Dance para mim – ele pede com a
voz mais sensual que eu já o ouvi usar, fazendo-me arrepiar.
Sorrio para ele e com um beijo rápido viro-me para Paige:
— Dançar. Vamos?
Ela sorri e se libertando de Josh segue comigo para a pista de
dança – lógico, assim que conseguimos sair da mesa.
A música toca alta e pulsante em um ritmo forte e rápido.
Não reconheço a música que está tocando, apenas sigo a
batida que pulsa em meus ouvidos com meu corpo, deixando-me
balançar e até mesmo rebolar em alguns momentos.
Paige parece não ter sanidade nestas horas, ela sabe apenas
se mexer e acompanhar a música com seu corpo, e ela faz isso
muito bem.
Sinto o olhar de Edward sobre mim, não estamos tão distantes e
eu olho para ele por entre as pessoas da pista. Ele acompanha cada
um de meus movimentos atentamente, e, apesar da pista estar
cheia, sei que ele pode me ver perfeitamente de onde está.
Quando olho novamente para Paige, vejo que Josh se juntou a
ela e eles já não dançam apenas, estão definitivamente atracados
um no outro. E se Josh está aqui, significa ou que Edward está
sozinho com Mike, ou que está sozinho sem Mike. Eu realmente
espero que seja a segunda opção.
Mãos envolvem minha cintura e eu automaticamente reteso.
Olho para a mesa e vejo que Edward não está lá, mas nem por
este motivo eu relaxo, aprendi a reconhecer o toque de Edward em
mim, até por cima de minhas roupas.
Paro de me mover.
Não reconheço o toque e isso me deixa nervosa porque eu não
encontro em mim a sabedoria do que fazer.
Tudo piora quando o corpo se cola às minhas costas e o hálito
quente da pessoa sopra em minha pele, logo depois de tirar meu
cabelo da frente.
— Eu não consegui te dar feliz aniversário ainda.
Só percebo que estava prendendo minha respiração quando um
suspiro pesado escapa de meus lábios assim que a voz de Mike soa
em meu ouvido. Viro-me para ele e lhe dou um belo tapa no ombro
para, logo depois, me afastar dele.
— Nunca mais faça isso! – falo mais alto que a música,
completamente enfurecida.
— Por quê? O seu namoradinho não vai gostar? – ele debocha
e isso me irrita profundamente.
— Também! Mas principalmente porque eu não gosto e não
quero que faça de novo! – digo com ainda mais raiva.
— Desculpe, agápi – pede e me puxa de volta para seus
braços, tentando me beijar.
Me desvencilho prontamente dele.
— Já disse muitas vezes que isso entre a gente nunca vai rolar.
Eu estou com o Edward e pretendo ficar por muito tempo com ele.
— Por quê? Por que ele é rico? É por isso, Amy? – ele pergunta
áspero — Eu não imaginava que você era dessas.
No segundo seguinte às palavras terem me atingido, acerto no
rosto de Mike o meu mais forte tapa, tão forte que fui capaz de
escutar o som estralado do golpe na pele morena de meu amigo –
talvez não tão amigo assim.
Saio da pista de dança às pressas e volto para a mesa,
deixando Mike lá.
Não consigo acreditar no que ele me disse! Ele me chamou de
vadia alpinista! Filho da puta cretino!
Xingo Mike de todas as formas que posso e consigo imaginar, e
então, de repente, pego-me pensando que só um tapa no rosto não
fora suficiente para ele.
— Baby, está tudo bem? – Edward pergunta, surgindo, de onde
quer que estivesse, e passando os braços ao meu redor e tirando-
me de meus pensamentos furiosos.
— Está sim. – forço a mentira para fora — Onde você estava? –
pergunto enquanto me aninho ainda mais a ele.
— Tive que atender um telefonema – ele explica — O que
aconteceu, Amy?
— Nada – respondo balançando a cabeça para enfatizar —
Dança comigo, por favor?
— Eu sei que aconteceu alguma coisa e vou insistir que me
conte. Por favor, Amy.
Eu suspiro de maneira pesada e me levanto ficando de frente
para ele.
— Dança comigo, por favor – eu imploro — O que aconteceu
não importa, eu resolvi e já deve ter ido embora. Se não foi, você vai
ver a marca bem detalhada da minha mão no rosto da pessoa.
— Quem? – pergunta, insistindo mais uma vez, se levantando e
me puxando para seus braços, ele me leva para a pista de dança.
Eu apenas balanço a cabeça em negação, não dando nenhuma
importância para Mike e suas palavras grosseiras e ofensivas.
Não havia necessidade de estragar minha noite por causa de
alguém que pensa tão mal de mim.
Assim que chegamos à pista de dança, Edward começa a
mover meu corpo junto do dele no ritmo pulsante da música.
Ele sabe dançar – e muito bem – e isso se torna tão fácil com
ele que me esqueço de Mike e da ofensa dele.
Edward me beija com volúpia e, ao se afastar, sob as luzes
instáveis da pista de dança, vejo seus olhos brilharem e seu sorriso
torto desenhado em seus lábios e eu não consigo evitar sorrir de
volta para ele.
Com toda a certeza, o meu melhor aniversário.
Extra 1- Uma conversa de
amigas.
Domingo, 11 de agosto de 2019.
— Quando você disse que as coisas agora eram diferentes, era
disso que você estava falando? – Paige me perguntou no momento
que nós ficamos sozinhas na nossa mesa.
Edward e Josh tinham nos deixado ali para irem atrás das
bebidas e da minha água.
Mike tinha desaparecido e eu estava particularmente mais feliz
por causa disso. E agora, era Paige quem estava pairando ao meu
redor com suas perguntas e desconfianças.
— Meio que sim – respondo com um encolher de ombros em
um tipo de pedido de desculpas silencioso.
— E quando isso começou? Digo, você e o Edward?
— Eu o conheci na casa dos meus pais em um jantar festivo
para alguma coisa que eles resolveram dar há alguns meses – eu
conto a história que eu tinha montado e planejado milhares de vezes
para um momento como esse, estendendo e escolhendo as
verdades certas que eu podia contar — E desse dia em diante não
nos afastamos mais e agora estamos oficialmente juntos.
Ninguém jamais poderia dizer que isso era mentira.
Ela não sabia no que minha família era envolvida e, menos
ainda, o que eles faziam com as mulheres que nasciam entre eles e
eram escolhidas para seguir esse caminho, mas eu sabia que ela
imaginava alguma coisa e que sempre tinha buscado uma
explicação para todas as regras que eu tinha que seguir e por eu ter
levado ela a minha antiga casa tão poucas vezes na época do
colégio – e antes de eu praticamente sumir.
— E por que você não me contou sobre ele na última vez que
nos encontramos?
— Nós brigamos na noite anterior por causa da minha mãe e do
Joe e o jeito que eu era obrigada a viver, e eu… eu achei que
tínhamos terminado – eu forço a mentira para fora e eu espero
fortemente que Paige acredite nela.
A verdade não era realmente uma história bonita.
Ser tratada como um pedaço de carne, medida, avaliada e
vendida e ter eternamente a dúvida de estar enlouquecendo por
estar desenvolvendo sentimentos pelo homem com quem vive.
— Mas, pelo visto, não aconteceu, né? – ela indaga, com seu
sorriso mais malicioso, colocando seu cabelo caramelado atrás da
orelha.
— É, não aconteceu – dou um breve sorriso — Mas, e você e o
Josh? Como foi isso?
Paige me olha, mas, ao invés de sorrir, ela está séria.
Além de séria, na verdade, ela está preocupada, com seu olhar
mais perscrutador.
— Antes de falarmos disso, eu preciso que você me diga e
garanta só uma coisa.
— O que? – eu peço, agora também preocupada.
— Que você não está trocando uma família controladora ao
extremo por um homem tão controlador quanto.
Isso me surpreende.
Era isso? Eu estava inevitavelmente fazendo isso ao estar
envolvida com Edward e desenvolvendo sentimentos inapropriados
por ele?
Paro por um momento antes de responder, analisando a
situação.
Eu nunca tinha tentado sugerir fazermos de outro jeito. Sermos
um casal normal e não o cara praticante da dominação que comprou
a submissa perfeita que é imperfeita.
— Ele é preocupado demais – eu começo — Com a minha
segurança, com a minha saúde e até com o fato de eu estar
aproveitando o dia ou não. Mas… acho que controlador é a última
coisa que ele é, especificamente falando – digo, mas a certeza não
é completa, Edward é um dominador e me comprou, afinal. — Em
comparação à Dianna e ao Joe, principalmente à Dianna… ele não
é nada controlador.
Sinto a mão de Paige segurar a minha em um gesto de conforto.
— Eu sempre vou estar aqui e se você souber o que está
fazendo e, principalmente, se ele não for ruim e você for feliz… eu
vou ficar feliz. Mas se ele for ruim, eu vou chutar o saco dele.
Isso me faz rir e sorrir.
— E sobre o Mike, ele também nunca pareceu ser um bom cara
para você mesmo – ela dá de ombros, trazendo um clima mais leve
que a discussão anterior.
— Nisso nós absolutamente concordamos.
Paige ri e solta minha mão com um tapinha nela.
— Não estão rindo da gente, estão? – Josh pergunta assim que
retorna com a bebida da minha amiga.
Edward está sentado ao meu lado no instante seguinte.
Ele sorri para mim e me entrega a minha água com um beijo no
meu rosto.
Sorrio para isso sem conseguir controlar.
“Se ele não for ruim e te fizer feliz”
— Claro que não falavam da gente – Edward diz com humor —
Falavam de você, estavam rindo, Joss.
Edward se inclina para trás no sofá com um olhar e um sorriso
implicante.
Josh manda para o irmão um dedo do meio, tomando sua
bebida em seguida com um sorriso malvado como o de Edward era.
E a noite continuou assim, em um clima divertido e leve, e aminha
conversa com Paige ficou em terceiro ou quarto plano.
Eu estava mesmo tendo um ótimo aniversário, sem dúvida, o
melhor de todos.
16- Medo do desconhecido.
Caio exausta e completamente suada no chão, provavelmente,
encharcando todo o tatame.
Edward não exagerou quando disse que Tristan McLean – seu
personal trainer, e agora meu também – não pegaria leve comigo.
Esta é a minha terceira sessão com McLean e ainda não me
acostumei com o ritmo.
Os treinos são pesados e minha opção por também aprender
kickboxing – além das aulas de condicionamento físico sugeridas
por Edward a Tristan para mim – só melhora a minha disposição.
Minhas quatro semanas de recuperação se passaram rápidas e
Edward cuidou de mim durante todo o tempo, e quando ele tinha
que trabalhar me monitorava através de Aretha e sempre que
chegava voltava a cuidar de mim.
Quando recebi minha liberação total para atividades físicas mais
“pesadas” – por assim dizer – pude ver a excitação de Edward
cintilando em seus olhos. O que eu imaginei foi que, quando
chegássemos ao Diamond, Edward logo me carregaria para seu
quarto, ou o meu ou até mesmo para o quarto, mas não.
Foi exatamente o contrário e até hoje ele não me tocou do jeito
que eu sei que ele quer e que eu também quero.
— Vamos, Amy! Ainda não terminamos aqui – diz Tristan
estendendo a mão para mim na intenção de me ajudar a levantar.
Agarro-a firmemente e ele me puxa para cima, fazendo-me ficar
de pé com apenas um pulo.
— Beba um pouco de água e descanse um pouco. Edward me
demitiria se eu te devolvesse desmaiada para ele.
Rio da pequena piada, mas realmente creio que Edward seja
mesmo capaz de fazer isso.
Em minha bolsa encontro minha garrafa de água e assim que a
coloco na boca mal percebo a água descer por minha garganta.
Eu realmente estava com sede.
Guardo a garrafa e volto para onde Tristan me espera.
Ele me entrega as luvas e me ajuda a colocá-las, e, assim que
estou devidamente pronta, Tristan se posiciona atrás do enorme
saco de pancadas – o pobre Tadeu, como apelidei – segurando-o.
Fico em posição e respiro fundo, apenas esperando a primeira
ordem.
— Comece – ele diz — Soco. Soco. Chute.
Conforme ele dizia o que eu tinha que fazer eu golpeava o
pesado objeto, projetado para receber golpes.
— Mais força, Amy! Mais vontade! – ele estimula — Sabe o que
tem de fazer.
Toda a vez que Tristan dizia aquilo eu sabia que tinha de
imaginar qualquer coisa que já tivesse me ferido, causado mal ou
me perturbado, enquanto eu não tinha como me defender, e em
toda vez eu sempre imaginava o mesmo rosto.
O rosto do porco que tanto me maltratara e me fizera sofrer
quando era mais nova, e a cada novo golpe furioso que eu dava,
mais renovada eu me sentia. Era como, mesmo que apenas
imaginando, eu o fizesse pagar por tudo o que me fizera.
— Força, Amy! – Tristan continua a me instigar.
Os socos e chutes ficam cada vez mais intensos e
definitivamente não me sinto cansada por estar fazendo isso.
É como se tudo o que eu mantenho preso dentro de mim
finalmente encontrasse uma forma – mesmo que violenta – de sair,
e eu gosto disto.
— Já chega – diz Tristan e eu paro ofegante e ainda mais
suada, mas incrivelmente renovada.
Sento-me no chão, respirando um pouco e tirando as luvas.
Passo as mãos em meu rosto, limpando o suor que escorre.
Balanço minimamente a cabeça na tentativa de me livrar das
imagens que surgem em minha mente antes que eu entre em algum
tipo de colapso nervoso.
— Você está bem? – ele pergunta.
— Ótima – respiro profundamente.
— O que ou quem você imagina na sua frente quando está
batendo daquela forma? – ele pergunta.
— Algo que me irrite. Como você disse para pensar.
Ele bufa um riso, entendendo que não vou falar, e me estende a
mão para me ajudar a levantar, ajuda esta que eu não recuso.
— Foi um bom treino hoje. Sei que vai ficar triste com a folga
estes dias. – ele brinca.
— Com certeza – dou risada.
E, então, me levanto e sigo para minha bolsa, guardando todas
as minhas coisas e estou pronta para partir.
— Até semana que vem, América.
— Até, Tristan.
[…]
A água morna relaxou meus músculos e tudo o que eu soube
fazer depois de tomar banho foi me enfiar em um short e uma
camiseta qualquer que encontrei no closet e me jogar na cama,
rendendo-me ao cansaço e entrando em um relaxante sono, ou pelo
menos eu pensei que fosse ser relaxante.
Imagens dele voltavam para me atormentar e tudo o que eu
podia fazer era tentar fugir, correr e gritar por ajuda, mas
infelizmente nada parecia adiantar.
Minha voz estava sempre presa em minha garganta, enquanto
eu começava a sentir o toque nojento dele em meus braços, sempre
começando por ali.
E, então, eu acordo, provavelmente com meu próprio grito ou
com a impressão do toque.
Estou suada e ofegante, parece que acabei de treinar com
Tristan novamente.
Olhando a minha volta percebo que estou sozinha e pela
primeira vez em minha vida sinto-me aliviada por isso.
Levanto-me da cama e sigo para o banheiro.
Lavo meu rosto e fito meu reflexo no espelho.
Estou descabelada e com os olhos assustados, minhas roupas
estão desalinhadas e completamente amarrotadas, devo ter me
debatido muito mais que o normal desta vez, o que não é bom.
Sinto meu estômago se revirar de fome, fazendo-me lembrar
que não como nada desde o café da manhã que tomei com Edward,
o que já faz um bom tempo.
Decido por descer até a cozinha e ver se Aretha se encontra por
lá e, como eu imaginei, lá está ela: mexendo em panelas e vasilhas
fazendo sua função parecer belíssima com todo o aroma e cores
que ela consegue colocar na comida que faz para nós.
— Olá, Aretha! – digo com animação, sentindo meu estômago
ainda mais inquieto.
— Senhorita América! – ela me cumprimenta sorridente,
observando-me sentar de frente para ela em uma das cadeiras da
bancada.
Tento não revirar os olhos para isso.
Senhorita América e, às vezes, senhorita Amy foi o máximo de
quebra de profissionalismo que consegui convencê-la a ter.
— Com fome? – ela pergunta.
— Sim – respondo um pouco tímida.
— O senhor Cage está vindo almoçar em casa. Acha que
consegue esperar?
— Consigo – mas meu estômago me contraria alto, fazendo
com que uma risada escape de nós.
Aretha vai até a geladeira, tirando dela uma tigela com frutas
picadas e colocando em um potinho ela me entrega.
— Tome. Isso vai ajudar até o senhor Cage chegar.
— Obrigada, Aretha. Já disse que você é um anjo? – digo já
começando a comer com um sorriso, enquanto ela volta a fazer
suas tarefas apenas rindo do que eu tinha dito.
[…]
Mesmo com tantas objeções, consegui convencer Aretha de me
deixar ajudá-la na cozinha.
Pelo menos, lavar as louças eu podia e me sinto bem por fazer
isso.
Todos esses dias que Edward me impedia até de descer a
escadaria sozinha – lado esse que eu até podia entender – eu me
senti mais como um objeto decorativo do que como uma pessoa
normal, e eu realmente detesto me sentir assim!
É até engraçado o fato de sentir o piso gelado sob meus pés.
Há, verdadeiramente, muito tempo que eu não fazia isso.
Lembro-me da época que Nick e mamãe estavam juntos… eu
era feliz com eles dois – Não que eu não fosse feliz com Joe e
mamãe, mas… era diferente – era uma época que eu tinha o normal
comigo, e talvez seja por ter provado desta parte normal do mundo
que eu a queira tanto.
Nicolas era – e ainda é – um bom pai para mim, mas por um
motivo que eu ainda não conseguia entender, minha mãe não
gostava da forma como ele me criava. Nas palavras dela: Nicolas
me deixava muito “solta”, e ela não gostava disso, e por esse motivo
eles brigavam muito e, pouco depois de eu completar dez anos, eles
se separaram.
Eu sabia que Nick amava minha mãe, muitas vezes ele me
disse isso quando eu fugi para a casa dele na época da “ocupação
de minha mãe”.
— Um beijo por seus pensamentos – a voz de Edward chegou
suave em meus ouvidos, mas o fato de eu não o ter ouvido chegar
fez com que eu pulasse de susto com meu coração disparado. —
Desculpe – ele pede um pouco acanhado.
— Tudo bem… – digo virando-me para ele, que está sentado de
frente para mim com o cotovelo apoiado na bancada e o queixo na
mão, ele fita-me com um sorriso muito bonito nos lábios.
Sorrio para ele também em resposta, sentindo-me muito bem
com a presença dele.
— Não morda o lábio – ele sopra para mim e eu só consigo
sorrir em resposta para ele, desculpando-me e sentindo meu rosto
aquecer — Como foi o treino com Tristan? – ele pergunta ajeitando-
se de forma diferente na cadeira alta feita de aço.
— Bastante cansativo – respondo-o com um suspiro — Mas
produtivo, como sempre.
Edward sorri e cruza os braços sobre o tampo do balcão.
— Já almoçou? – ele pergunta.
— Ahn… comi uma taça de salada de frutas há meia hora, eu
acho. Quer comer agora, senhor Cage? – pergunto solícita.
— O que aconteceu com o “Edward”? – ele pergunta com
diversão e sinto meu rosto esquentar minimamente.
— Quer comer agora, Edward? – refaço a pergunta enquanto
me movo para as panelas que estão com o nosso almoço.
— Por favor – ele diz se levantando e, surpreendendo-me um
pouco, arrumando a bancada com porta copos e apoios de pratos
ornamentados.
Sirvo-nos com as deliciosas comidas de Aretha, enquanto
Edward nos serve de suco.
Sento-me de frente para Edward, acomodando meu prato no
mármore coberto com apoios ornamentados.
A bancada de mármore é o que nos separa, e começo a comer.
Estou com fome e me delicio com o filé de frango frito com
arroz, aspargos e batatas coradas que é minha perdição no
momento. Nem me incomodo com o fato de Edward estar me
observando tanto enquanto como.
— É muito bom ver você comer – ele sopra para mim e sou
obrigada a fitá-lo pela primeira vez desde que me sentei para comer.
— Estou com fome. Muita na verdade – respondo-o assim que
engulo a comida que estava presente em minha boca.
Ele sorri e parece satisfeito com isso.
— Como foi o seu dia? – pergunto realmente interessada,
esticando meu braço para pegar o copo de suco de laranja — Você
parece cansado.
Ele arqueia uma sobrancelha ironicamente, e eu vejo mil e uma
coisas irreconhecíveis passando por seus olhos enquanto ele me
encara.
— Bom, meu dia ainda não acabou, mas o que tive hoje já é o
suficiente.
— Ainda volta para a empresa? – Por favor, diga que não! Não
quero ficar sozinha. Por favor, diga que não…
— Sim. Tenho algumas reuniões e papeladas atrasadas do mês
passado.
— Mês passado? De julho, certo?
— Amy, hoje é dia seis de setembro – ele diz com certa
emoção.
Emoção esta que não sei identificar.
— Seis de setembro?! – engasgo-me com meu próprio ar.
Céus, como pude me esquecer do aniversário de meu pai?!
E é então que caio em mim.
Há dois meses eu vim para cá.
Há dois meses eu conheci Edward e descobri que ele não é o
monstro que eu sempre pensei que fosse.
Espanto-me em perceber o quanto o tempo passou rápido, e o
que eu pensei que fosse ser a pior parte de minha vida está sendo
realmente a melhor.
Sinto um algo quente me inundar e meu coração perde uma ou
duas batidas pouco antes de começar a bater como um louco dentro
de meu peito. E o silêncio que está sobre Edward e eu naquela
cozinha me faz imaginar que ele é perfeitamente capaz de ouvir o
trepidar louco dentro de mim.
— Algum problema com este dia? – ele pergunta um tanto
cínico e parece magoado.
Por quê?
— Hoje… não – respondo sentindo meu rosto arder tanto
quanto queimaduras feitas por brasas quentes.
Bebo mais um gole de meu suco e tento controlar meus
batimentos; sinto que vou desmaiar.
Um nervosismo estranho me aflige e eu sinto o suor escorrer
por minha nuca.
O olhar avaliativo de Edward está sobre mim, e isso só piora
minha situação.
Decido terminar de comer, e com meu corpo completamente
trêmulo, praticamente engulo o resto da comida.
Devo considerar hoje como nosso aniversário também?
— América, você está bem? – ele pergunta, mas não parece
muito interessado na resposta.
— Não – decido ser sincera, lembrando-me da última vez que
decidi esconder algo dele.
Movo minhas mãos sobre minhas pernas nervosamente, parece
que sou uma criança prestes a tomar uma injeção extremamente
dolorosa.
Edward corre para o meu lado e coloca ambas as mãos em meu
rosto, focando seus olhos nos meus. Neles eu vejo medo e
preocupação, e junto deles um sentimento completamente
desconhecido por mim.
Meu corpo treme mais uma vez e minha pele se arrepia, e
Edward se surpreende.
— O que você tem? – ele pergunta preocupado demais.
— Eu não sei. Acho… acho que estou com medo.
— De que? – ele se afasta; as mãos caindo ao lado de seu
corpo.
Levanto-me da cadeira alta e fico de pé na frente dele, poucos
milímetros nos separam.
— Há dois meses eu vim pra cá. E eu não sei o que isso deve
significar, se deve ter alguma importância… Eu não sei o que
mudou, mas tanta coisa aconteceu em tão pouco tempo e eu acho
que tenho medo disso – minha respiração está tão acelerada quanto
o meu coração.
Vejo um sorriso diferente se abrir minimamente no rosto de
Edward, pouco antes de ele me puxar para seus braços.
Com uma mão em minha cintura e com a outra em minha nuca,
ele me beija.
Minhas mãos criam vida própria e se prendem firmes ao cabelo
dele.
Eu o puxo para ainda mais próximo de mim, o máximo que
consigo.
Seus dedos brincam com a pele de minha cintura e de minha
nuca, deixando-me ainda mais arrepiada que antes.
Agarrando minhas coxas, Edward me ergue do chão e faz com
que minhas pernas abracem sua cintura.
Envolvo ainda mais seu pescoço com meus braços, meus
dedos se embrenhando mais em seu cabelo revolto.
Suas mãos estão em minhas costas agora, tocando minha pele
por debaixo da blusa; ele geme arrastado quando percebe que
estou sem sutiã, e eu só consigo sorrir em meio ao beijo.
— As papeladas podem esperar – ele murmura.
Edward me coloca sentada na bancada, ainda me beijando.
Suas mãos se movem por cada centímetro de minha pele, por
debaixo de minha blusa, ele brinca com meus seios fazendo-me
gemer em seus lábios.
Com um movimento rápido dele, eu já estava sem meu short e
sem minha calcinha, vestida apenas com minha blusa. Minhas mãos
ainda estão atadas ao seu cabelo e eu não tenho a menor vontade
de tirá-las de lá.
— Ah, tão pronta – ele geme quando seus dedos chegam a
minha intimidade.
Com apenas uma mão ele liberta sua ereção e, no instante
seguinte, está me preenchendo.
Não sei explicar como é verdadeiramente a sensação depois de
tanto tempo sem este contato, mas posso facilmente classificá-la
como estupidamente fantástica.
Meu corpo inteiro treme com o contado.
Seu rosto está na curva de meu pescoço e sua respiração bate
quente e ritmada contra a minha pele, suas mãos apertam minhas
coxas com força e eu não consigo tirar minhas mãos de seus
cabelos.
Edward levanta o rosto e crava seus olhos nos meus para, logo
depois, começar a se movimentar, primeiro em um ritmo lento,
deixando que eu me acostume mais uma vez com sua presença,
movendo-se com cada vez mais força dentro de mim de acordo com
meus gemidos arrastados e puxões em seu cabelo.
Aperto-o ainda mais entre minhas pernas conforme seu ritmo
aumenta, ficando cada vez mais rápido e forte levando-me a
loucura.
Suas mãos, agora em meus seios, os massageiam em
contraponto com as estocadas frenéticas.
Um urro estrangulado escapa por entre meus dentes cerrados,
sinto-o crescer dentro de mim e seu ritmo aumenta mais e mais,
levando-me para o topo, para, logo depois, me fazer despencar e
me despedaçar como uma estatueta de cristal ao redor dele em um
orgasmo forte e enlouquecedor.
Edward termina após mais duas estocadas, mais uma vez
enterrando o rosto em meu pescoço murmurando coisas
desconexas, assim como eu.

O beijo que Edward me dá é o que me traz de volta para o


mundo.
Ele está sorrindo para mim quando abro meus olhos para fitá-lo;
sorrio de volta.
Erguendo-me mais uma vez pelas coxas, Edward sai de dentro
de mim e me tira de cima da bancada, minha camisa é o que cobre
minhas partes.
Ele me pega pela mão me conduz para o andar de cima, para o
quarto.
Meu peito sobe e desce freneticamente e meu coração parece
disposto a realmente arrebentar minha caixa torácica.
Ele abre a porta do quarto e me deixa entrar primeiro.
A atmosfera deste cômodo é algo realmente inebriante para
mim, faz com que eu sinta desejo – ainda mais desejo – e que
mesmo estando amarrada e completamente submissa, consigo
realmente me sentir desejada.
— Sabe o que fazer, não é, América? – seu tom de voz mudou,
está imponente e completamente imperativo; sinto-me tremer por
antecipação.
— Sim, senhor – respondo virando-me na direção da cômoda
próxima a porta.
De costas para onde ele está, retiro a camisa que me cobre e
fico completamente nua para ele.
Apoiando-me na cômoda, ajoelho-me no chão e afasto bem
meus joelhos, com minhas mãos sobre minhas coxas eu fito o chão
em silêncio.
— Aguarde-me assim, entendeu? – ele pergunta em tom afável,
mas ainda assim imperativo.
— Sim, senhor – minha voz é quase um ofego.
Pela visão periférica, vejo-o sair do quarto, ouvindo o som de
seus sapatos sociais no assoalho de madeira escura e brilhante,
para logo depois o som da porta se fechando.
Ergo meu rosto e faço uma análise de todo o quarto, tentando
me lembrar se algo mudou desde a primeira vez que estive aqui há
quase um mês. Não vejo nada diferente ou tão absurdo que chegue
a chamar demais a minha atenção.
Meus olhos recaem sobre a cama de dosséis no centro do
quarto, com lençóis de seda azul e lembro-me de quando senti a
textura sob a pele de minha palma pela primeira vez, mil e uma
fantasias se passaram em minha cabeça naquele dia, como Edward
em pé entre minhas pernas presas, com um açoite em suas mãos;
ou com ele atrás de mim e sua palma estalando em minha pele,
para depois me preencher brutamente com contínuas estocadas
fortes e palmadas que me deixariam vermelha…
O som da porta se abrindo é o que me tira de minhas fantasias,
e eu rapidamente volto a encarar o chão.
Pela visão periférica vejo os pés descalços de Edward,
parcialmente cobertos pela bainha desfiada da calça. Mais uma vez
sinto-me tremer. Ele se ajoelha ao meu lado e prendendo meu
queixo entre seu indicador e polegar ergue meu rosto para então me
beijar fervorosamente, e com muita força de vontade controlo
minhas mãos para não atá-las aos seus fios macios e finos.
Ao se afastar, ele toma minhas mãos entre as suas e me ajuda
a levantar.
Edward me encaminha para uma enorme mesa comprida,
quase duas vezes maior que meu torso. Em uma de suas
extremidades há algemas de couro marrom – combinando com o
tom da madeira – e na extremidade próxima a mim, nos pés da
mesa também existem algemas.
— Vou prender você nesta mesa – ele começa — Suas mãos
ficarão presas ali fazendo com que seus braços fiquem esticados e
seu rosto contra a madeira – sinto tudo dentro de mim se contorcer
— Seus pés também ficarão presos, na direção das duas algemas
no chão e desse modo suas pernas ficarão bem abertas para mim e
eu terei uma bela visão de seu corpo por trás. Tudo bem para você,
fazermos assim?
— Sim, senhor – respondo em um sopro.
— Ótimo. Sendo assim, debruce-se sobre a mesa, baby.
Eu o obedeço, sentindo meus seios serem pressionados contra
a madeira lisa e um tanto fria, viro meu rosto de lado e coloco os
braços para cima de minha cabeça, logo sentindo as mãos de
Edward trabalharem nas algemas colocando-as em meus pulsos e
logo depois ele mexe em meu cabelo, prendendo-o em uma trança.
— Afaste bem as pernas – ele ordena com sua voz vindo por
trás de mim.
Eu obedeço.
Ele prende meus tornozelos quando meus pés chegam onde
estão as algemas, logo depois deixando um beijo na parte de trás
de meus joelhos e em minha bunda, fazendo minha pele se arrepiar.
— Empine-se, baby – ordena e eu obedeço, colocando ao
máximo meu traseiro para cima — Perfeito.
Ele se posiciona atrás de mim e eu o sinto pressionado contra
mim, completamente excitado. Balanço minimamente meus quadris
contra ele e em resposta recebo uma palmada forte.
— Conte comigo, América. Vamos até o seis. Um – ele diz
quando me acerta com outro golpe.
— Um.
— Dois – e me acerta.
Conto continuamente absorvendo cada um dos golpes,
contando junto dele e sentindo minha pele arder repetidas vezes.
Quando o último golpe vem, eu já nem sei se ainda tenho um
coração pulsando dentro de mim ou sobre a mesa em que estou
deitada.
Sinto minha face dolorida e estou desconfortável nesta posição.
Lentamente, sinto Edward me preencher, e eu me empino
instantaneamente ainda mais para ele, ficando nas pontas dos meus
pés. Segurando-me firmemente ele começa a se movimentar.
Meu corpo se mexe sobre a mesa junto das estocadas dele,
sinto minha pele arder um pouco e sei que vou ficar marcada
demais depois disso.
Ele aumenta o ritmo gradualmente e eu gemo estranhamente
para ele em resposta ao seu ritmo implacável e fodidamente
delicioso.
Sinto-o crescer dentro de mim e timidamente eu rebolo nele que
me responde com estocadas ainda mais fortes, beliscando meu
clitóris e me fazendo gozar no mesmo instante, mas ele não para,
move-se contra mim com ainda mais vontade e eu enlouqueço.
Estou sendo levada ao topo para logo depois despencar e me
estilhaçar ao redor de Edward repetidas vezes e sentindo-o vir em
seguida, preenchendo-me com seu gozo.
[…]
A água morna da banheira acalma minha pele ardida.
Estou sentada entre as pernas de Edward e com cuidado
dobrado ele me lava e me massageia, deixando-me ainda mais
relaxada.
— Você está bem de verdade? – ele pergunta preocupado.
— Já disse que sim. O vermelho vai sair, baby, fique tranquilo –
uso de meu apelido com ele, tentando acalmá-lo.
Ele me abraça por trás colando minhas costas ao seu peito,
sinto-o enrijecer brevemente, mas logo depois voltar ao normal e
deixar um beijo em meu ombro.
— Me desculpe. Não queria deixar mais marcas em sua pele –
ele diz em meu ouvido.
Respiro profundamente, lembrando-me da cicatriz próxima de
minhas costelas e de quando e como as consegui. Arrepio-me por
completo e fechando meus olhos penso em outras coisas para evitar
que as imagens voltem a mim mais uma vez e eu comece a me
desesperar.
— Não vão ficar cicatrizes. Acalme-se, por favor! – imploro-o.
Ele me aperta ainda mais em seus braços e mais uma vez beija
meu ombro, arrastando o nariz até meu pescoço e deixando um
beijo atrás de minha orelha. Sorrio no mesmo momento que sinto os
beijos se estendendo por minha nuca e, chegando ao outro lado, ele
repete os mesmos carinhos.
— Isso é bom – murmuro entorpecida por ele.
— Você gosta, baby? – ele pergunta fazendo seu pé subir por
minha perna até a parte de trás de meu joelho.
— Mmm…
Ele ri contra meu pescoço.
— Vou considerar isso como um sim – ele diz e parece mais
relaxado.

Cuidadosamente Edward secou cada parte de meu corpo e


depois me vestiu com uma de suas camisas assim que terminamos
o nosso banho.
Foi a primeira vez que ele fez isso e eu não consegui evitar
sorrir. É como está tocando-o deliberadamente.
— Por que está sorrindo assim? – ele pergunta brincalhão com
um sorriso também desenhado nos lábios.
— É a primeira vez que faz isso.
— Isso o que, baby? – pergunta franzindo o cenho.
Aliso o tecido da camisa sentindo-o ainda mais contra minha
pele.
— Sua camisa – respondo-o — É como se eu estivesse tocando
você, e eu gosto disso – confesso baixinho para ele que me devolve
um olhar confuso e um tanto assustado, imediatamente me
arrependo de tê-lo respondido desta forma — Desculpe – murmuro
desviando meu olhar do dele, sentindo mais uma vez que ele tem
medo, um medo irracional, de mim.
Sinto suas mãos em meu rosto, mas tenho medo de olhá-lo e
encontrar a raiva presente no belo cinza de suas írises.
Edward faz um pequeno afago em minhas bochechas, logo
abaixo de meus olhos.
— Não chore, por favor – ele pede e eu nem percebi que estava
fazendo isso.
Fixo meu olhar no dele.
— Já lhe expliquei antes América: eu tenho muitos problemas
em relação ao toque de uma mulher e eu queria muito dizer a você
para me tocar da forma que eu sei que você quer, mas eu tenho
medo, da mesma forma que você tem medo do que mudou e do que
este dia significa para nós… – ele faz uma pausa curta respirando
fortemente — Eu tenho muito medo do que o seu toque pode
significar e do que ele pode me causar, Amy.
Mordo meu lábio inferior furiosamente enquanto me perco na
sinceridade e no turbilhão de sentimentos que passeiam pelo cinza
bonito de seus olhos, sabendo que boa parte do que está ali
também está procurando algum sentido dentro de mim, alguma
forma de fazer com que tudo se encaixe direito.
Com minhas mãos apoiadas em seus braços eu o beijo com o
máximo que tenho em mim, tentando dizer algo – que nem mesmo
eu sei o que é – para ele, que me corresponde da mesma forma.
— Prometo que um dia, não sei quando, eu vou permitir que me
toque – ele sopra para mim, com sua testa colada à minha.
Olhando dentro do mar cinzento apenas consigo sorrir para ele
em resposta.
Edward pega-me no colo, surpreendendo-me e me fazendo
soltar um gritinho divertido e rir de seu ato.
Ele me deita em sua cama e se põe atrás de mim, abraçando
possessivamente a minha cintura e beijando meus cabelos. Ele
coloca uma perna entre as minhas e seu pé brinca com os meus,
fazendo um sorriso se abrir em meu rosto.
— Vamos descansar um pouco, baby – ele sussurra em meu
ouvido, fazendo minha pele se arrepiar.
Fecho meus olhos e me entrego ao carinho feito por ele
deixando-me levar pelo cansaço de todo o dia.


Ver a forma pacífica com que Amy repousa em meus braços é
algo inestimável para mim.
Já tinha perdido a conta de quantas vezes ela se remexera no
sono até ficar de frente para mim. Ela carrega um semblante sereno
e um pequeno sorriso brota em seus lábios quando ela se aperta ao
travesseiro murmurando.
— Edward…
Ouvir meu nome sair de sua boca faz um sorriso involuntário se
abrir em meu rosto.
Ela está sonhando comigo e ter consciência disso me deixa
bem, me faz saber que mesmo tendo-a deixado um pouco vermelha
hoje ela não sente raiva de mim.
Gosto de observar e memorizar cada uma de suas reações
estando ela acordada, dormindo, ou se entregando a mim. Ela
morde o lábio fincando a testa e isto me preocupa, aproximando-se
de mim ela se encolhe e relaxa visivelmente, isto me perturba.
Será que ela ainda está sonhando comigo?
Prendo ainda mais minha atenção nela e acaricio suas
bochechas com cuidado para não acordá-la. Seus pés esbarram
nos meus e eles estão gelados.
Puxo-a para meus braços mais uma vez e, fazendo
malabarismo, coloco as cobertas sobre nós. Sinto suas mãos
pequenas e quentes envolverem timidamente meu quadril e no
mesmo instante congelo, sinto cada extremidade minha ficando tão
gelada quanto os pés dela.
É a segunda vez que ela me abraça só que agora ela está
inconsciente.
— Quente… – ela balbucia erraticamente atendo-se ainda mais
a mim.
Coloco minhas mãos em seus braços e calmamente as subo por
ele a sentindo retesar sob meu toque e gemer de forma assustada e
sofrida.
Imediatamente eu paro.
— Edward – ela me chama apertando-me em seu abraço
estranho — Não deixe ele me tocar… por favor! Só o Edward!
Ela pede sofrida e meu peito se comprime em angústia.
Ela está tendo um pesadelo!
Toco em seu ombro e a balanço minimamente, ela entrelaça
suas pernas nas minhas e se agarra ainda mais a mim, deixando-
me sem reação alguma.
Retornando a mim, abraço-a também, envolvendo-a ainda mais
em meus braços, e decidido a protegê-la seja do que for, deixo-me
levar pela inconsciência também.
17- Espelhos da alma.
Acordo sobressaltado.
Meu quarto está escuro, muito mais que o normal.
Não há aquela pequena luminosidade concedida pela lua como
em todas as noites.
De acordo com meu despertador, já passa das oito da noite e eu
me surpreendo com o quanto dormi.
Esfrego meus olhos afastando um pouco minha sonolência e
depois me estico para o abajur, ligando-o. A luz preenche todo o
quarto, fazendo-me piscar acelerado até me acostumar.
Olho em volta e quando meus olhos passam sobre o espaço ao
meu lado na cama, encontro-o vazio e no mesmo instante o resto do
sono desaparece.
Jogo meus pés para fora da cama, levantando-me dela e indo
em direção ao banheiro constatando que Amy não está ali.
Saio de meu quarto e praticamente corro até o quarto que dei
para ela, encontrando-o vazio também e o desespero toma meu
peito.
Desço as escadas apressado e, pouco antes de chegar à sala,
ouço a voz abafada dela, enchendo meu peito de alívio.
Amy está falando ao celular, mas com quem a esta hora da
noite?
Aproximo-me da sala em silêncio e, encostando-me na pilastra
da cozinha, eu a observo. Ela está sentada no sofá de costas para
mim, inclinada na direção da pequena mesa de centro.
— Não – ela dá uma risadinha — Eu estou bem. Pode ficar
tranquilo – ela diz em tom doce e no mesmo instante sinto meu
sangue ferver, fechando meu rosto em uma carranca azeda e
desfazendo o sorriso que eu nem sabia estar presente ali.
Ela está falando docemente com um homem?! Ela só pode falar
assim comigo, droga!
Atenho-me ainda mais a conversa que ela tem, tentando
entender tudo o que ela fala:
— Ah, ele é bom para mim – ela diz ainda mais doce e tenho
certeza de que está sorrindo. Quem é bom para ela?! — Eu tenho
certeza que ele é diferente daquele monstro que vivia com a mamãe
– ela faz mais uma pausa ouvindo atentamente; Estão falando de
mim! Mas que monstro? — Acho que sim, mas também acho que
não – mais uma pausa — Eu sei e é exatamente por isso que eu
não tenho a menor vontade de contar para ele – ela diz com
convicção, mas noto um pouco de tristeza em sua voz.
O que ela não quer me contar? Tem algo a ver com a cicatriz?
Sinto-me tenso no mesmo instante.
— Não quero que ele me mande embora nem que tenha nojo de
mim.
Franzo o cenho logo depois do que ela diz. Por que eu teria nojo
dela?
— Sempre tenho medo disso, carrego as marcas no meu corpo
e na minha memória. Sei exatamente do que aquele homem é
capaz – ela diz com a voz trêmula e imediatamente sei que ela vai
chorar.
Ouço-a respirar de uma forma pesada, como se ponderasse
contar ou não algo para a pessoa que conversa com ela.
— Eu não te contei muita coisa, mas saiba que eu estou bem e
que sinto sua falta – ela faz outra pausa ouvindo e tenho quase
certeza de que ela está sorrindo — Eu também te amo. E pai? – ela
chama. Pai?! — Feliz aniversário, sim?
O silêncio se instala na sala e eu a ouço suspirar, com uma
pequena risada e o som me fascina.
Ela se recosta nas costas do sofá, remexendo-se.
— Sabia que é muita falta de educação ficar ouvindo a conversa
dos outros, assim, escondido? – ela diz com diversão, virando-se
para mim logo depois com um sorriso enorme e muito bonito.
— Me notou há muito tempo?
— Desde que você chegou – ela responde com um sorriso
ainda mais bonito, este que diminui depois numa fração de segundo
e suas faces coram violentamente — Ouviu muita coisa, não é?
Aproximo-me dela e sento-me ao seu lado, vendo-a retesar no
mesmo instante.
Isto me faz lembrar de pouco tempo atrás quando acarinhei seu
braço enquanto ela dormia e o quanto ela ficou assustada, mesmo
no sono. Isso comprime meu peito dolorosamente.
— Importa muito o que eu ouvi ou deixei de ouvir? – pergunto
em tom brando, mas ainda assim sério.
— Um pouco – ela responde em tom baixo.
Respiro profundamente, fechando meus olhos por breves
instantes antes de fitá-la.
— Amy? – chamo sua atenção para que ela me olhe, e assim
que ela o faz começo: — Sim, eu ouvi o que você falou. Desde o
“não, eu estou bem” até o “feliz aniversário, sim?”. Fiquei, no
começo, com raiva por estar falando toda doce com outro homem –
um sorriso pequeno se abre em seu rosto, mas ela o contém. —
Ouvi você falar de mim, que sou diferente de alguém, que não quer
me contar algo porque tem medo de que eu te mande embora, que
eu te deixe por ter nojo de você, que carrega as marcas na sua
memória e no seu corpo, que sabe do que o homem desprezível
que te machucou é capaz. Disse amar seu pai e que não havia
contado muitas coisas a ele, e depois o feliz aniversário.
Amy sorri abertamente fixando seus olhos nos meus.
Neles eu vejo muitas coisas, principalmente medo de algo, mas
ainda assim vejo felicidade e eu me pergunto se sou eu o motivo
desta felicidade.
Afago sua bochecha levemente corada, sentindo-a tremer
minimamente sob meu toque.
Não sei o que ela está fazendo comigo, nem sei como ela está
conseguindo fazer. Talvez ela nem perceba que faz.
Eu apenas sei que a cada vez que ela sorri, pronuncia meu
nome, me olha – de qualquer maneira – quando fala qualquer coisa,
quando ri e até mesmo quando me abraça daquela forma estranha e
engraçada apenas para evitar me tocar, faz com que eu me sinta
bem, como nunca me senti.
É como se cada gesto dela, cada coisa pequena e simples – até
mesmo empinar seu nariz arrebitado, franzir os lábios e discutir
comigo quando furiosa e quando algo não a agrada – curasse aos
poucos cada pedacinho de mim, tirando a dor e colocando algo que
quase nunca ousei ter: Esperança.
O sorriso que se abre em meu rosto quase chega a ser doloroso
de tão grande que é. Mas por mais que eu me sentisse feliz com o
fato de ela me querer realmente por perto, eu ainda preciso saber o
que tanto a assusta.
— Conta para mim? – peço observando seus olhos azuis se
encherem de confusão — Conta para mim o que tanto te assusta
em seus sonhos, baby?
Seus olhos se arregalam gradativamente e posso jurar que ela
está ainda mais branca.
Na baixa luz da sala vejo lágrimas cintilarem nos cantos de seus
olhos e ela respirar entrecortada.
— Por favor… – ela implora, provavelmente se lembrando de
seu pesadelo, e tudo em mim diz ter a ver com sua cicatriz e suas
costelas fraturadas — Por favor, não queira saber… não insista –
ela respira com dificuldade e seu lábio treme; quando as primeiras
lágrimas escorrem de seus olhos, apreço-me em secá-las.
Vendo-a desta forma não consigo me controlar e a puxo para
meus braços, sentando-a em meu colo.
Afago seus cabelos e suas costas.
— Shhh… Por favor, não chore. Não vou insistir, mas, por favor,
pare de chorar – peço angustiado, sentindo seu corpo se agitar
contra o meu em meio aos soluços.
Ela se aperta a mim, envolvendo meu pescoço com seus braços
e escondendo o rosto no vão que se forma.
— Não quero que tenha nojo ou raiva de mim – a voz dela soa
abafada e embargada pelo choro. — Já basta o que eu sinto toda
vez que me lembro… – sua voz desaparece.
Aperto-a ainda mais em meus braços, ainda afagando suas
costas, e isso parece acalmá-la lentamente.
— Só quero saber como posso te ajudar, baby – sopro para ela.
— Você já ajuda, e muito! – ela responde ainda com o rosto
escondido, mas posso sentir o calor no timbre de sua voz. — Você é
tão quente – ela suspira.
Um sorriso involuntário se abre em meu rosto quando me
atenho ao seu comentário.
— Gosto do seu calor.
Ela se move minimamente em meu colo, ficando ainda mais
perto de mim, embrenhando seus dedos em meu cabelo.
Sinto seu nariz contra meu pescoço e a respiração quente bater
contra minha pele, e não consigo evitar que meu sorriso aumente.
— Gosto do seu calor também – sopro para ela, vendo-a erguer
o rosto e me fitar — Principalmente quando ele está em suas
bochechas – acaricio a face tingida de rubro dotada de forte calor —
Você fica ainda mais bela assim.
Ela sorri baixando os olhos, envergonhada.
Prendo seu queixo entre meus dedos e ergo seu rosto,
forçando-a a olhar para mim.
— Não tenha vergonha de si mesma – peço cravando meus
olhos no mar azul de seus olhos. — Você é preciosa demais para se
envergonhar de qualquer coisa.
Mais uma vez ela sorri e sua face aquece. Ela deita novamente
o rosto no vão formado por seus braços e meu pescoço, e mais uma
vez sinto a respiração quente bater contra minha pele.
Suas mãos se movem em meu cabelo levemente, e
suavemente sinto suas unhas se arrastarem em meu couro
cabeludo.
Ouço-a sorrir pouco antes de levantar o rosto novamente e me
fitar.
Seus olhos estão focados em meu rosto, como se cada detalhe
fosse muito mais que importante; o azul bonito parece dançar e ele
brilha, tornando-se ainda mais belo.
— Está me fazendo cafuné, senhorita Lawson? – soo mais
manhoso do que esperava.
— Estou sim, senhor Cage – ela dá uma risadinha — Gosta?
— Bastante.
****
Vejo o dia amanhecer cinza e chuvoso enquanto velo o sono de
Amy.
Ela está abraçada ao travesseiro em que antes repousava sua
cabeça. Sua respiração é tranquila e quase não se dá para ouvir,
apenas se prestar-se bastante atenção.
Mesmo tendo dormido pouco não consigo mais pregar os olhos.
Minha mente não para de trabalhar e a toda a hora
pensamentos enlouquecedores, sobre como o passado dela deve
ter sido antes de mim, vêm a minha mente e isso é perturbador
demais e quase sempre estes pensamentos se chocam com as
lembranças do dia anterior e da ligação da minha mãe.
Não dá para ter certeza de se o que estou prestes a fazer com
Amy e minha família é o certo, mas apesar de não ver nada que não
me permita apresentar América à toda a minha família, como eu
faria isso? Eu a apresentaria mais uma vez como uma
acompanhante, como fiz quando a levei ao jantar no Garden e a
apresentei à Vivian?
Não. Com toda a certeza não!
Amy não é e nunca foi uma mera acompanhante minha.
Não consigo deixar de pensar em tudo o que se passa e se
passou.
Saber que Amy pode ter sofrido tanto ou até mais que eu
quando tão jovem é o que mais me dói e preocupa. O que ela pode
estar escondendo de mim? Foi uma coisa tão grotesca que eu
realmente chegaria a ter nojo dela?
As perguntas sem respostas não abandonam minha mente por
mais que eu tente fazê-las se calar, sempre estão gritando em
minha cabeça. Estou cansado de reviver sempre o mesmo período
merda de meu passado que muitas vezes teima em querer se fazer
presente e se misturar no que eu tenho hoje.
É doloroso demais.
Amy se remexe ao meu lado e sua respiração fica mais pesada
para, logo depois, seus olhos se abrirem e ela me fitar com um
sorriso pequeno e cheio de sono. Ela se espreguiça, esticando os
braços para cima e revelando as mangas de minha camisa que nela
mais ficou parecendo uma camisola.
“É como se eu estivesse tocando você” – as palavras dela
voltam para minha mente.
Com um sorriso agora mais amplo ela se vira para mim,
abraçando novamente o travesseiro e arrumando a cabeça sobre
ele também, mordendo o lábio inferior.
— Você não dormiu de novo – ela murmura ainda sonolenta e
coçando os olhos.
A cena chega a ser engraçada e eu não consigo evitar um riso.
— Qual é a graça? – pergunta um pouco mal-humorada.
— Você – respondo contendo meu riso.
Ela faz uma careta e se revira na cama para ficar de barriga
para cima e fitar o teto.
Ela envolve a cintura com o braço esquerdo e deita a cabeça
sobre o direito.
— Está doendo? – pergunto preocupado, lembrando-me de
nossa cena no quarto ontem e temo ter machucado as costelas já
tão avariadas.
— O que? Não! – ela sorri torto virando-se para mim — É
costume já – ela ri nervosa e faz a parte de cima do corpo se mexer,
como se estivesse testando para ter certeza de que está tudo certo;
isso me deixa curioso.
“Eu tenho certeza que ele é diferente daquele monstro que vivia
com a mamãe.”
A conversa dela com o pai que eu ouvi, volta a minha memória
e eu a vejo apanhando indefesa com lágrimas escorrendo pelo
rosto, a pele caramelada, ficando roxa sob os golpes grotescos de
um homem que vivia sob o mesmo teto que ela e a mãe.
O pânico de repente toma conta de mim e eu não consigo me
manter ali.
Levanto-me no mesmo instante da cama afastando-me dela e
de América, fazendo com que ela me encare confusa e com o cenho
franzido.
Lembro-me no mesmo instante de quando ela rolou pelas
escadas e eu a vi, horas depois, sendo examinada pela médica e
sentindo tanta dor, lembro-me também de não ter aguentado ficar
presente vendo-a sentir tanta dor e de ter me afastado da mesma
forma que estou fazendo agora.
Esfrego o rosto e passo as mãos freneticamente por meu cabelo
balançando a cabeça na tentativa de fazer as imagens saírem da
minha frente. Sinto que vou desabar a qualquer instante por causa
disso, e, de repente, me sinto fraco, podre por dentro: Eu sou igual
àquele monstro…
— Edward! – o chamado desesperado de Amy me traz para a
realidade, mas as imagens não abandonam minha mente, apenas
vejo-a ali, parada na minha frente sem saber o que fazer com as
mãos agarradas com força à minha camisa que cobre seu corpo —
O que está acontecendo? – ela pergunta assustada.
Caio de joelhos no chão sentindo meu corpo tremer.
— Meu Deus, Edward! – ela se ajoelha na minha frente e sem
hesitação ou medo de qualquer reação minha segura meu rosto
entre suas mãos e foca seus olhos nos meus.
Sinto meu peito se comprimir e respirar é quase impossível.
— Por favor, o que está havendo com você?! – ela pede
assustada.
Quero tirar as mãos dela de mim e me afastar, mas eu não
consigo, não sou forte o suficiente para isso.
— Eu sou igual a ele – minha voz sai mais baixa que um
sussurro.
— Igual a quem, Edward? – Ela está confusa.
— A ele – a raiva que destila de minha voz a faz entender e o
horror toma conta de seu rosto.
Vejo-a empalidecer e seus olhos se arregalarem
gradativamente.
Sua boca se abre e um ofego assombrado sai por entre seus
lábios agora não tão rosados.
Seus olhos fitam os meus e neles eu não consigo decifrar nada
e ao contrário do que eu pensei que ela fosse fazer, Amy me
surpreende envolvendo meu pescoço em seus braços e enterrando
o rosto ali.
— Você não é – ela diz com a voz abafada e chorosa — Não
repita isso nunca! Nunca, ouviu bem?! – sua voz tem tom
imperativo.
Sem pensar muito eu a abraço de volta, apertando-a forte
contra mim e aspirando o cheiro bom que seus cabelos e sua pele
exalam.
— Você não sabe como ele era, então, por favor, nunca mais
repita uma besteira destas!
— Me dê uma razão para não acreditar que eu seja como ele,
América – peço sentindo minha voz falhar miseravelmente,
praticamente implorando.
Ela se afasta e fita meus olhos com determinação e um pouco
de dor.
— Eu sei como ele era e acredite em mim – ela diz com
veemência — Você não tem nada a ver com aquele monstro. Tudo o
que faz e já fez por mim é prova disso!
Ela afaga meu rosto e cola seus lábios nos meus iniciando um
beijo lento e carregado de mil e uma coisas que desconheço e
mesmo se conhecesse eu não saberia explicar, só sei que elas
fazem bem.
Amy sobe em meu colo, passando as pernas ao redor de meu
corpo e eu sinto-a sorrir durante o beijo ao me sentir pressionado
contra ela.
Minhas mãos trabalham rápidas em tirar a pouca roupa que lhe
cobre o corpo e eu a vejo sorrir ainda mais para mim.
Deito-a de costas no chão um pouco frio e fico sobre ela.
Seus olhos estão nos meus e neles eu vejo confiança
direcionada a mim e ver isso enche meu peito dolorido com um calor
bom.
Passeio meu nariz e minha boca por toda sua pele, sentindo
seu sabor, textura e perfume inebriantes.
Ela se contorce ansiosa sob meu peso controlado e é extasiante
vê-la assim por minha causa, para mim.
Em movimentos rápidos e precisos tiro minhas roupas e estou
dentro dela.
Provando mais uma vez de seu calor úmido e muito mais que
inebriante e envolvente, começo a me movimentar com vontade
dentro dela, vendo, ouvindo e sentindo-a corresponder às minhas
investidas, a cada uma delas.
— Edward – ela geme baixo e arrastado, agarrando meus
braços e arqueando o corpo na minha direção, absorvendo e
querendo o prazer que eu posso dar a ela quando e onde ela quiser.
Suas unhas fincam-se na pele de meus braços e sentir isso é
enlouquecedor, faz-me retesar e estremecer ao mesmo tempo e
quando ela as arrasta por toda a extensão deles desde onde os
agarrou até quase em meus pulsos, mil e uma coisas se passam
dentro de mim.
Acelero o ritmo sentindo-a cada vez mais próxima e quando
chegamos ao ápice, terminamos praticamente juntos.
[…]
Amy se serviu das panquecas frescas feita por Aretha, assim
como eu.
Ela está calada desde que descemos depois que meu estúpido
surto nos levou a outra coisa – devo dizer que muito mais agradável
que pensar ou conversar – e eu tenho certeza de que ela está
pensando no que aconteceu, mas me foi inevitável parar de pensar
naquilo.
Como eu posso não pensar que sou igual àquele monstro ao
qual ela se refere, quando eu também faço dela um saco de
pancadas particular para depois foder com ela como um louco? É
impossível não pensar que ela só esteja aqui, que faça o que faz
comigo, que me trate – relativamente – bem por obrigação, porque
foi instruída a fazer isso.
Porque ela não tem outra opção.
— Edward? – ela me chama em um sussurro.
— O que foi, baby? – pergunto virando-me para ela.
— Pare de pensar que é igual àquele ser, por favor! – ela
implora nervosa.
Como ela sabe…?
— Eu já disse que não é, então, por favor, pare de se maltratar
achando que é igual a ele! – a voz dela se eleva conforme ela fica
alterada.
— Tudo bem – murmuro — Eu vou parar.
Ela assente positivamente e abandona o garfo ao lado do prato
vazio.
— Coma mais – digo a ela.
— Estou satisfeita.
— Sei que quer mais, baby.
Ela bufa um riso e pega mais uma panqueca, comendo-a com
gosto.
— Minha mãe nos convidou para jantar – solto de uma única
vez para ela, sem saber exatamente como convidá-la, a melhor
forma é esta: soltando na lata, como diz Josh.
Amy me olha com um sorriso e seu rosto se ilumina.
Piscando algumas vezes ela se apruma no assento mexendo-se
nervosa.
— Jantar, tipo… eu, você e ela? – ela tem os olhos arregalados
e nervosamente morde o lábio inferior.
— Ahn… não. Vou apresentar você ao resto de minha família.
Seus olhos se arregalam ainda mais e seu rosto adquire a
tonalidade rubra e quente, e então um riso nervoso escapa dela e
vejo-a tremer minimamente.
Ela esfrega o rosto e joga os cabelos ainda bagunçados para
trás, apertando-os junto à cabeça.
— Quer ir? – pergunto com real curiosidade.
Mais uma vez ela morde o lábio inferior e agora, balança
nervosamente as pernas numa sequência inexistente.
— Acha que eles vão gostar de mim? – ela pergunta e em cada
uma de suas palavras sinto seu medo.
— Você já conheceu minha mãe e meu irmão. Pode ter a
certeza de que minha família inteira sabe sobre você.
Amy me lança um sorriso nervoso.
— Por que nunca fala deles? – ela pergunta com o cenho
franzido e torcendo os dedos no próprio colo.
— Não tenho o que falar – soo evasivo.
— Nada? Por quê?
— Eu não os vejo há muito tempo, Amy. É por isso.
— Se afastou deles? – aceno positivamente — Então é por
isso… – ela murmura fechando os olhos, como se sentisse raiva,
mas do que?!
— Amy? – chamo-a.
— Sabe como ela estava naquele dia? – ela enfatiza a
penúltima palavra e apenas por esta entonação posso imaginar a
que dia ela se refere.
— Amy…
— Ela estava morrendo de saudades de você! – ela me
interrompe e por mais que eu queira sentir raiva por ela ter feito
isso, eu não consigo — Se você tivesse visto como ela falava de
você, o quanto ela te ama… – ela foca seus olhos nos meus e eu
vejo que lágrimas se formam em seus cantos — Se soubesse o
quanto ela sente a sua falta! – ela fecha os olhos e por seu rosto
uma sombra de dor passa — Se a minha mãe sentisse um décimo
do que a sua sente por você eu seria feliz, agradecida ao extremo!
Mas nem isso ela sente por mim! – sinto a raiva presente em sua
voz.
— Minha mãe não me amava – não consigo evitar falar sobre a
mulher que me trouxe ao mundo.
— Por Deus, Edward! Não diga besteiras! – ela empalidece — É
lógico que a Marie te ama!
— Amy – repreendo-a em tom calmo — Marie é minha mãe
adotiva.
Vejo sua face ir do branco ao vermelho em questão de
segundos.
— Mesmo assim eu a amo incondicionalmente – continuo a falar
— E entendo que o que eu fiz foi muito errado, mas foi necessário.
— Necessário para quem? Para Marie? Para você? Para a sua
família? – a vergonha já a abandonou, e lá está ela com seu nariz
empinado e os lábios franzidos — Edward… se acha que sua mãe
biológica não te ama, eu entendo. Entendo mesmo do que está
falando, mas isso o que está fazendo com a Marie e toda a sua
família não é nem um pouco justo!
Ela se levanta e segue para fora da cozinha, ouço seus passos
pesados e furiosos ao subir as escadas em direção ao segundo
andar.
Minha vontade é de ir atrás dela e arrancá-la à força de seu
quarto para fazê-la me ouvir, mas eu não consigo me mover e,
sinceramente nem sei o que diria a ela.
As coisas que Amy me disse, a pequena revelação de grande
peso sobre ela, sua indignação pelo fato de eu ter me afastado de
minha família – que segundo ela, que nem os conhece, me ama –
fizeram com que algo diferente dentro de mim se agitasse de forma
estranha e agora… nada.
Eu não consigo pensar ou fazer nada!
“Se a minha mãe sentisse um décimo do que a sua sente por
você eu seria feliz, agradecida ao extremo!”
Passo as mãos com raiva por meu cabelo, tornando-o ainda
mais revolto.
Coloco os pratos vazios na pia e a passos largos vou para meu
quarto, escovo meus dentes e assim que termino fito meu reflexo no
espelho. Eu sou apenas isso: um reflexo do que eu realmente
deveria ser… um reflexo de um homem forte, de um CEO dono de
si, amado pela família que o escolheu. Mas por dentro não passo de
nada.
Troco meu pijama por uma roupa qualquer de frio. A chuva
parece ter aumentado e tenho plena certeza de que em meu quarto
e na sala deve estar quase um musical com os pingos que batem
contra o vidro da enorme janela.
Pensar nisso faz com que eu sinta falta de tocar meu piano.

Desço as escadas em passos leves e silenciosos, e, antes


mesmo de chegar à sala já posso ouvir a chuva caindo forte contra
as janelas e junto dela está misturada a melodia do piano.
Quem está tocando o meu piano?!
Sigo até onde se encontra o instrumento e, sentada no
banquinho, dançando os dedos por sobre as teclas está América.
Ela parece concentrada e focada demais no que faz que nem
me percebe próximo a ela – ou pelo menos eu penso que não
percebeu.
Fico ali, apenas observando-a e ouvindo o som que a união das
teclas que ela pressiona produzem. Fico preso à melodia suave e
agradável, que misturada ao som da chuva torna-se ainda mais
envolvente e fascinante.
A maneira como Amy toca é bela e eu não consigo evitar o
sorriso, e vê-la assim tão à vontade faz com que eu nem me importe
que seja o meu piano que ela esteja tocando. Tenho a leve
impressão de já ter ouvido a música antes, mas não me atenho a
este detalhe insignificante, no momento apreciá-la é mil vezes
melhor.
Quando o som das teclas cessa e apenas o som da chuva fica
presente no ambiente, ouço-a suspirar alto para logo depois se
mover para o lado no banco, e naquele gesto dela eu confirmo que
ela simplesmente sabia que eu estava ali a observando.
— Obrigada por me deixar terminar – ela sopra para mim sem
me olhar efetivamente assim que me sento ao seu lado.
— É uma bela música.
— Back to life de Giovanni Allevi – ela responde no automático.
Sorrio.
— Quem te ensinou a tocar? – pergunto com interesse.
— O Nicolas, meu pai – o sorriso doce preenche seu rosto e
vejo-a se iluminar facilmente.
— Sente falta dele?
Pela primeira vez desde que me sentei ao seu lado ela me olha
e sorri doce e chorosa ao mesmo tempo.
— Mais do que sinto da minha mãe – ela sopra com um pouco
de amargor no timbre.
— Por que fala assim da sua mãe? – pergunto aquilo está
martelando em minha cabeça desde que ela comentara durante
nossa pequena discussão durante o café da manhã.
— Ahn… veja bem – ela dá início ao próprio pensamento,
fazendo uma breve pausa e pressionando teclas perdidas no piano
antes de continuar — Quando Nicolas foi embora, por pedido dela,
algum tempo depois… eu fugi, por motivos que não vou dizer agora,
e fui morar com ele. – Ela fugiu?! Como não me informaram sobre
isso?! — Passei quase três anos lá e em nenhum momento ela
pareceu se interessar por mim ou pela minha falta e quando eu tive
que voltar, pouco antes de completar dezesseis, a única coisa que
ela me disse… – ela passa as costas da mão por debaixo dos olhos,
secando as lágrimas que eu não percebi estarem caindo e respira
fundo — Céus! Eu me lembro como se fosse hoje! – ela exclama
quase sem emoção — Foi exatamente isso: “Você já tem idade para
ser escolhida por um dono. Arrume-se, seu treino começa agora”.
Com nervosismo, ela pressiona ainda mais teclas soltas no
piano, sem nem mesmo perceber que está tocando alguns trechos
de Fur Elise.
— Sabe, foram poucas as vezes que ela demonstrou carinho ou
amor por mim – ela me olha com doçura, mas a dor ainda está
presente no azul bonito — Acho que o primeiro abraço que ela me
deu sentindo alguma coisa, ou pelo menos demonstrando sentir, foi
quando você foi me buscar.
A revelação de Amy reflete em mim de uma maneira maior do
que ela mesma pode imaginar.
Sem que eu consiga impedir, minhas rasas lembranças – as
únicas que realmente ficaram; as piores – de minha infância antes
de Marie e George – tomam minha mente. Lembro-me da dor de
cada golpe desferido contra mim, de cada cigarro para o qual servi
de cinzeiro e de como foi ruim ver a mulher que eu já chamei de
mãe há muito tempo me odiar tantas e tantas vezes quando
dominada pelo álcool.
Balanço minimamente a cabeça para afastar da minha mente as
imagens que se formam e me foco em Amy.
— Tudo bem que ela poderia ter um motivo para isso, mas… – a
voz dela some quando mais lágrimas escorrem por seu rosto.
Rapidamente eu me apresso em secá-las.
— Eu amo a minha mãe, mas não sei se ela me ama.
Acaricio sua bochecha umedecida pelas lágrimas e, como
sempre, quente.
Ponho as mechas soltas de seu cabelo para trás da orelha e
acarinho a pele molinha presente ali. Com a outra mão, seco mais
algumas lágrimas teimosas que escorrem por seu rosto.
Se ela soubesse como eu a entendo…
Consigo abrir um sorriso pequeno para ela, confortando-a. Ela
confiou em mim! É difícil de conter o sentimento bom que se alastra
por todo o meu peito quando me dou conta de que ela se abriu,
mesmo que um pouco, comigo.
— Toca para mim? – ela pede com um sorriso tímido diferente
que é direcionado apenas para mim.
— Você sabe tocar… não vai ter graça.
— Por favor? – insiste agora me olhando por sob os cílios e com
o mesmo sorriso tímido.
Ajeito-me no banco, ficando de frente para as teclas do piano e
começando a tocar a primeira música que me vem à cabeça.
18- Família Cage.
Há quase meia hora Amy depositou um simples beijo em meus
lábios e seguiu para fora da sala de estar, subiu com tranquilidade
as escadas segurando firmemente o corrimão, como se a cada
passo tivesse medo de cair de novo – e sinceramente eu também
tinha.
Toda vez que eu a vejo se aproximar da escadaria meus
músculos se contraem, meu coração bate desesperado e meu
cérebro mal me deixa preparado para me mover até ela caso isso
aconteça de novo.
Há quase meia hora eu estava tocando para ela algumas de
minhas músicas prediletas ao piano, que consequentemente tinha a
ver com ela, estritamente com ela. Ela estava – ou pelo menos
aparentava estar – se distraindo do que nos levou até aquele piano.
Tudo o que América havia me contado sobre sua mãe ainda
martela em minha cabeça e, mais uma vez, a ideia de que Amy
sofrera tanto ou mais do que eu e aquela sensação de que não só
minha mãe biológica era negligente, mas que a dela também era,
não me abandona.
Toda a vez que me lembro de sua cicatriz – uma marquinha hoje
pequena do lado direito de seu corpo próxima às suas costelas –
minha mente trabalha em mil e uma possibilidades para ela ter
conseguido aquela marca – que segundo o médico que a atendera
quando ela rolou pelas escadas era maior do que agora – e em
quantas consequências aquele ferimento havia trazido para sua
vida.
E pensar na cicatriz leva-me a pensar também em suas costelas
fraturadas, que hoje estão bem melhores, mas que como sua
cicatriz também já estiveram bem piores.
Quantos ferimentos a mais ela tem e eu não conheço? Como
ela se machucara tanto quando estava no único lugar que ela
poderia estar segura?
Bom, pelo menos eu pensava que sua casa era segura. Que
sua mãe a protegia e defendia de tudo, mesmo que fosse contra as
regras e contra seu dominador. É isso que uma mãe deve fazer,
certo? Proteger os filhos com todas as forças contra tudo e todos?
Mas eu era o exemplo de que nem todas as mães não eram
exatamente mães e pensam em seus filhos em primeiro lugar ou
que os amam incondicionalmente.
E agora Amy.
Sinto meu peito se comprimir em dor quando esses
pensamentos mais uma vez trazem à tona toda as lembranças da
minha primeira infância, da época em que eu era um mero saco de
pancadas de uma jovem mulher que era a vilã e a vítima de seu
alcoolismo.
Eu quase conseguia escutar o som tilintante das garrafas que
ela levava para casa e que a faziam se transformar de uma pessoa
dedicada em uma mulher violenta e amargurada.
Levanto-me atordoado e, ainda sentindo meu peito comprimido
pela dor, passo as mãos por meus cabelos com força exagerada até
mesmo para mim, sentindo que sou até mesmo capaz de arrancá-
los quando uma dor mínima se alastra pelo meu couro cabeludo.
Caminho até a cozinha e abro a geladeira atrás de algo com um
pouco de teor alcoólico para beber e encontro um de meus vinhos
prediletos. Gosto deles bem gelados e quanto mais antigos
melhores, mas pela primeira vez uma safra de vinho de dois mil e
nove me agrada.
O vinho branco Loire está da forma que eu gosto, e
definitivamente não me importo de quão cedo esteja, apenas
preciso disso.
Eu tinha aprendido com dificuldades a não me comparar com
minha mãe biológica apenas pelo fato de não tomar um gole de uma
bebida alcoólica e a entender que eu não seria um alcoólatra como
ela tinha sido.
Sento-me à bancada logo depois de pegar uma taça qualquer
dentro do armário.
Sirvo-me do vinho e começo a degustá-lo com prazer, sentindo
o breve ardor e a suavidade do mesmo enquanto desce por minha
garganta.
— Isso parece gostoso – a voz de Amy preenche meus ouvidos
e instantaneamente sinto que não preciso tanto assim dessa bebida.
Olho para a direção de onde sua voz vem e a encontro ao meu
lado, sorrindo tímida e lindamente para mim.
Seu cabelo está preso no alto da cabeça em um rabo de cavalo
meio frouxo e trançado, ela usa um short jeans desbotado em
algumas partes, com uma camisa branca com um decote simples
em “V”, e está de chinelos.
O azul bonito de seus olhos agora me parece mais feliz e
descontraído.
Amy se senta ao meu lado, colocando os braços por sobre o
mármore da bancada e entrelaçando os dedos pouco a frente.
Ela me fita com um pequeno sorriso como se esperasse algum
comentário, mas definitivamente se eu abrisse minha boca – com
toda a certeza que há em mim – eu falaria uma coisa fodidamente
estúpida para ela.
Ainda sorrindo ela morde o lábio inferior e pisca para mim de
forma quase inocente.
A taça que estava a caminho da minha boca para no mesmo
instante e minha reação é erguer interrogativamente minha
sobrancelha.
A risada que sai de seus lábios é como música para mim.
Observo cada uma de suas reações ao rir, absorvendo cada
uma delas, desde o franzir do nariz até o som maravilhoso que sai
por entre seus lábios entreabertos.
— É um belo som – sopro para ela assim que controla seu riso.
Vejo suas bochechas tingirem-se de vermelho enquanto ela se
remexe desconfortável na cadeira.
Mais uma vez ela me olha com os olhos ainda mais brilhantes.
“Ele é bom para mim…”
A lembrança da conversa de Amy com o pai mais uma vez vem
a mim quando a vejo me olhar daquela forma e eu realmente chego
a acreditar que ela tenha sido completamente sincera ao dizer isso,
ao dizer que eu sou bom para ela.
Não consigo evitar sorrir.
— Posso provar? – ela pede com os olhos agora focados na
taça de vinho que está em minha mão.
Controlo minha vontade de morder minha própria boca quando
mil e um pensamentos invadem minha mente, trazendo-me imagens
de uma cena onde a banho com este mesmo vinho.
Pisco algumas vezes para afastar as imagens.
Passo minha língua por sobre meus lábios mordendo-o
discretamente e tomo um gole do vinho demoradamente apenas
para provocá-la, observando que ela segue cada um de meus
movimentos atentamente.
Engulo apenas uma parte e, deixando um pequeno gole em
minha boca, aproximo-me dela e a beijo, despejando o conteúdo de
minha boca na dela que aceitou sem hesitar, sorvendo até a última
gota.
Ela suga minha língua com gosto e morde meu lábio inferior
arrastando os dentes por ele, assim como eu faço quando a beijo
logo depois de ela morder o lábio para mim.
Minha mão está em sua nuca e meus dedos brincam com os
fios soltos de seu rabo de cavalo. Esse contato abrasa meus
pensamentos ruins, deixando-me apenas nela, na minha América.
— Delicioso – ela diz assim que nos afastamos — Posso tomar
mais?
Não consigo evitar meu sorriso.
— Não quero que vá conhecer minha família estando bêbada –
brinco.
Essas ações são tão fáceis com ela, que às vezes até
parecemos um casal normal, vivendo coisas normais.
E eu gosto disso ao lado dela.
— Por falar nisso… – ela se ajeita no assento — Como eu devo
ir? Algum tipo de roupa especial?
Mordo meu lábio inferior pensativo.
— Você fica linda de qualquer jeito, mas… – faço uma pausa
breve — Acho que com um dos vestidos ficará melhor.
— Está bem – ela sorri — Alguma cor em especial?
— Azul. Gosto desta cor em você.
[…]
Já era quase noite quando Amy decidiu que já estava na hora
de começar a se arrumar.
Provavelmente mil e uma possibilidades estavam se passando
em sua mente, pelo menos comigo era isso que estava
acontecendo.
Pego-me pensando na primeira vez que tive um contato um
pouco mais “direto” com ela e um breve suspiro atravessa meus
lábios quando a memória de seus cabelos se movimentando
rapidamente enquanto ela praticamente corria vem à minha mente.
No dia que isso aconteceu eu tinha ido até a casa dela para
conversar com Joe sobre as últimas coisas referentes ao contrato e
acertar as últimas emendas que me permitiriam tê-la para mim. Eu
estava conversando com Joe quando ela desceu as escadas com
seus pés descalços estalaram pelo assoalho fazendo com que eu
me levantasse apenas para olhar para ela. Ela parecia estar tão
distraída que quando seus olhos se cruzaram com os meus, nos
poucos segundos em que ficamos conectados daquela forma, pude
ver o quanto ela ficou surpresa e, depois disso, ela passou
praticamente voando por mim e Joe. Aquela foi a primeira vez que a
vi tão de perto e que senti seu perfume.
Sentado no sofá, aprecio distraído um copo de meu uísque
predileto, pensando em tudo que estava acontecendo, não era a
primeira vez que eu me pegava fazendo isso e, sinceramente, eu
não vejo nada de errado nisso. É como se eu revivesse cada um
dos instantes que valeram a pena e os principais carregam um
brilho azul especial.
A esperança para mim tinha uma nova cor.
Lembro-me do dia seguinte ao nosso primeiro “contato” – por
assim dizer – Joe havia liberado ela para uma noite com os amigos
– e é claro que havia pedido minha permissão para dar isso a ela, e
eu não pude negar. Lembro-me de vê-la bebendo algumas cervejas
e uma dose de tequila com limão e sal, e de vê-la dançando tão
tímida… E é nesse momento que as imagens daquele moleque
colocando as mãos nela e dançando colado às costas dela me vêm
à mente e a raiva me domina inconscientemente – aquela foi a
primeira vez que senti ciúmes desta mulher.
Não consigo evitar meu sorriso quando me lembro de como ela
escapou dele.
— Senhor? – a voz de Tyler chega a meus ouvidos, tirando-me
de meus devaneios.
— Aconteceu algo? – pergunto com um pouco de interesse.
— A senhora Levesque está aqui. Devo deixá-la subir? – ele
pergunta com real dúvida.
Há muito tempo Vivian não dava notícias e estranhamente eu
não estava assim tão preocupado quanto um dia já estive.
Penso por alguns instantes.
— Hoje não, Tyler. Avise que estou ocupado com o trabalho ou
invente algo melhor como desculpa – respondo-o.
— Sim, senhor. Com licença – ele responde e, por um segundo,
penso ter visto um sorriso brincar no rosto de Tyler.
Olho distraidamente para o relógio e, assim que vejo as horas,
decido que já é tempo de eu começar a me aprontar também.
Subo para meu quarto a passos lentos.
Ouço uma música um pouco abafada que vem do quarto de
Amy.
Posso imaginá-la dançando pelo quarto com peças de roupas
nas mãos e até mesmo cantando junto do cantor ou cantora original
e o riso me escapa admirado e divertido.
Desde o seu acidente nas escadas ela tem dormido comigo e
posso afirmar que nunca dormi tão bem em toda a minha vida.
Sentir o calor de seu corpo junto do meu todas as noites é
indescritível e indispensável para mim e, enquanto sigo para o meu
quarto – que facilmente eu poderia dizer que já é nosso – minha
mente divaga até a primeira vez que acordei ao lado dela.
Estava amanhecendo e eu estranhei não ter perdido o sono
como de costume ou não ter tido um de meus pesadelos. Eu sentia
um calor aprazível me envolvendo e ele era estupidamente bom e
aconchegante, eu estava com sono e me deixei levar pelo calor
gostoso que me abraçava e foi naquele momento que eu acordei e
me vi atado ao corpo de Amy como se fosse uma trepadeira que
cresce em um muro. Sua cabeça estava em meu peito, suas pernas
entrelaçadas às minhas e seu braço contornava minha cintura. Eu
senti raiva, assombro, medo e muito apreço e prazer por ter ela ali
do meu lado.
Entro em meu quarto ainda com as imagens do que se
procedeu depois se passando em minha mente e sigo para meu
banheiro com o intuito de tomar um banho e me arrumar.

Desço as escadas estando definitivamente pronto.


A música ainda toca alta no quarto de Amy.
É fácil prever que ela só ficará pronta bem depois de mim. É
sempre assim.
Sento-me no sofá e fico esperando-a e mais uma vez pensando
em mil e uma coisas ao mesmo tempo.
— Pronto? – a voz um tanto hesitante de Amy chega aos meus
ouvidos, fazendo-me virar na sua direção e eu juro que se fosse
cardíaco precisaria de uma ambulância.
Não evito que meus olhos percorram todas as suas belas
curvas meticulosamente.
Sem perder nenhum detalhe da pele alva em contraste com o
azul do vestido e o azul escuro dos sapatos de salto. Fito seu rosto
com mil e duas coisas transbordando de meus olhos e
provavelmente um pouco de baba escorrendo de minha boca,
mas… e daí?!
Amy tem as faces coradas pela forma como eu praticamente a
devoro com os olhos e eu não consigo evitar o meu sorriso, vendo-a
sorrir em resposta para mim.
— Está linda, baby!
— Obrigada – ela sopra para mim.
— Vamos? – pergunto.
Ela apenas acena de maneira positiva para mim.


O carro avança pelas ruas de Seattle em uma direção cada vez
mais distante da civilização de prédios e arranha-céus.
Amy sente seu coração pular cada vez mais acelerado dentro
de seu peito e teme que suas mãos estejam tão suadas que
denunciem seu nervosismo a Edward.
Sentada ao lado dele no banco traseiro do carro, sua mão está
entrelaçada a dele, e como ela gosta disso! Fora os beijos dele e o
sexo – lógico – aquele era o toque predileto dela. Estar com as
mãos, a boca, com todo o corpo entrelaçado ao daquele homem era
o paraíso particular dela, mesmo que muitas vezes não queira
admitir isso.
Edward, por sua vez, mantém os olhos fixos em qualquer ponto
da paisagem um tanto difusa com a mente trabalhando a mil. Ele se
lembra perfeitamente do dia que Amy e sua mãe se conheceram.
Um arrepio gelado percorre a sua espinha quando ele se lembra
dos motivos de Amy ter ido parar naquele hospital.
Secretamente, Edward ainda se sente culpado pelo fato de ela
ter ficado doente, pela forma como ele havia agido com ela.
Céus! Como ele se sentiu mal ao vê-la sentir tanta dor enquanto
aquela médica examinava suas costelas. Ele se sentiu mal não
apenas por isso, mas também porque a pergunta de que se tivesse
sido ele a machucá-la daquela forma e ela não o quisesse mais por
perto ficava martelando em sua cabeça.
Edward se lembra perfeitamente de que quando estava com
Marie, esperando por notícias, ele não queria dar falsas esperanças
para ninguém, muito menos à si próprio, mas desde que Amy
surgira em sua vida, o que mais existia em Edward era exatamente
a esperança. E isso o faz temer que apenas ele nutra essa
esperança de um futuro bom, a esperança de um mais.
Não era a primeira vez que ele pensava assim.
Esse pensamento não abandonava sua mente desde que Marie
telefonara para ele pedindo – ou melhor, mandando – que ele
levasse América para jantar e conhecer o resto de sua família. Essa
pequena palavrinha ficava indo e vindo dentro de sua mente e isso o
assustava, e muito.
Como ele poderia dar mais a alguém se nem mesmo ele
conseguia dar isso a si mesmo?
Ela queria tocá-lo e Edward sabia disso.
Ele podia sentir isso também pela forma como Amy une seus
dedos aos dele quando ambos dão as mãos.
Ela se segura com força e, ainda assim com delicadeza a ele, e
de uma forma estranha Edward gosta, e muito, disso.
Ele não precisa olhar Amy para saber que ela está nervosa. Ele
sente isso praticamente fluir para ele em meio ao único contato do
corpo deles.
“É um passo para o mais.” Ele pensa sentindo-se um pouco
mais ansioso e esperançoso.
— Edward? – a voz sussurrada de Amy chega aos seus ouvidos
e isso aquece seu coração.
— O que foi, baby? – ele pergunta, virando-se para ela e fitando
os olhos bonitos.
— Acha que seu pai e sua irmã vão gostar de mim? – sua voz
sai trêmula e rouca.
— E por que não gostariam de você? – Edward questiona com
um sorriso, apertando um pouco mais a mão de Amy entre a sua,
tentando lhe transmitir confiança.
— Eu não sei… existem tantos motivos para os pais não
gostarem das pessoas que seus filhos apresentam – ela responde
num sopro depois de alguns segundos em silêncio.
— Vai dar tudo certo, baby. – Edward lhe assegura — Eles já
devem saber mais de você do que imagina.
Ele sorri para ela que acena de forma positiva e sorri fraco em
resposta.
— Fala um pouco deles, por favor? – Amy pede com a
curiosidade e nervosismo explícitos na voz.
— Papai e Laurie? – Edward franze o cenho enquanto pensa
sobre o que falar.
Amy não conseguiu evitar o sorriso que se abriu em sua face
quando ela ouviu Edward se referir a George daquela forma:
“papai”. Naquela pequena palavra ela pôde ver que mesmo
parecendo não querer admitir Edward ama sua família.
— Sim. Sobre eles.
— Bom… Papai é advogado e tem sua própria firma, é bem
calmo e… Eu realmente não sei como descrevê-lo a você, baby…
ele é o meu pai.
Amy morde o lábio inferior, pensando por alguns instantes e
mentalmente agradece pelo carro estar escuro o suficiente para
Edward não vê-la fazendo isso.
— De Laurie, então? – ela pede mais uma vez.
— Ah, a Laurie é uma raridade! – Edward sente seu peito se
encher de carinho — Ela é espontânea e louca por moda e culinária!
– uma risada escapa de seus lábios e Amy sorri ao vê-lo tão
contente ao falar da irmã — Ela chegou quando eu tinha quase oito
anos, era tão pequena e cor de rosa!
— Então… Laurie também é adotada? – Amy questiona.
— Não. Apenas Josh e eu somos adotados. Nossa mãe a teve
pouco tempo depois de me adotar. Foi o meu primeiro contato com
bebês. – Edward explica — Os pais de Josh haviam falecido em um
acidente de carro, e como eles não tinham parentes vivos e como
Marie e George eram os padrinhos dele, ele acabou sendo adotado
por eles. E, depois que eu cheguei, Laurie nasceu – Amy sente seu
coração se aquecer ainda mais, de uma forma estranha, saber das
histórias a fazia se sentir como se fosse da família de Edward, como
se mais do que nunca pertencesse a ele e a qualquer lugar que ele
pertença.
— Eu estou louca para conhecê-los e para rever Josh e Marie –
confessa baixinho e o sorriso cresce no rosto de Edward.
[…]
O carro para em frente aos portões da mansão dos Cage.
Mais uma vez Amy sente seu coração pular acelerado dentro de
seu peito quando ela vê os portões se abrindo e Tyler começando a
guiar o carro para dentro do fabuloso quintal da família de Edward.
Ela morde nervosamente seu lábio inferior e respira lentamente
tentando acalmar seus batimentos e parecer menos nervosa.
Edward aperta sua mão na dele e no mesmo instante ela sente, pelo
menos, parte da calma e da confiança que ele tenta lhe passar.
Mais uma vez o carro para, agora de frente para a pequena
escadaria que leva até a porta da casa.
Com as mãos trêmulas, ela se liberta do cinto de segurança e
Edward faz o mesmo. Foi a primeira vez que suas mãos se soltaram
desde que entraram no carro.
Tyler abre a porta de Edward e ele salta do carro para, logo
depois, estender a mão para Amy e a ajudar a descer.
Edward acena em agradecimento para o seu segurança, que
faz uma breve mensura com a cabeça e, logo depois de fechar a
porta do carro, ele se direciona para o outro lado e se senta atrás do
volante, dando a partida no carro e seguindo para fora dos portões.
— Ele voltará mais tarde para nos buscar. – Edward explica a
Amy que olha confusa para o carro se afastando.
— Ah – ela emite um som de anuência.
Eles se viram para a entrada da mansão Cage e sentindo suas
pernas bambas, Amy une sua mão a de Edward mais uma vez, mas
ele se desvia brevemente para abraçar a cintura dela e puxá-la para
perto.
Com calma, Edward a conduz até a porta da casa onde cresceu
e teve momentos bons ao lado de sua família.
Momentaneamente ele se pergunta quais foram os reais
motivos que o fizeram se afastar de sua família, e agora, ele não
conseguia pensar em nada que fosse bom – ou ruim – o bastante
para fazê-lo desejar se afastar.
Antes que ele pudesse tocar a campainha a porta se abre,
revelando ao casal uma jovem efusiva de cabelos castanhos e olhos
esverdeados. O sorriso e a surpresa presente no rosto dela, que
praticamente se escora na porta, podem ser classificados como
gigantes.
— Edward! – ela diz com animação e pula sobre o homem de
íris cinza que a abraça fortemente.
Amy vê o enorme sorriso estampado na face de Edward e não
consegue evitar sorrir para isso.
Quando a jovem se afasta, dá um belo tapa no braço de
Edward, deixando Amy com os olhos arregalados ao presenciar a
cena. Ela se vira para Edward com os olhos arregalados à espera
do pior, mas, ao olhar bem para o homem, percebe que ele está
sorrindo para a jovem.
— Nunca mais suma desse jeito, Edward Cage, ou eu juro que
mato você! – ela diz em tom de bronca.
Amy ainda olha surpresa para os dois, mas seus olhos não
estão mais tão arregalados como antes.
— Não vou mais sumir, Laurie, eu prometo.
Oh, é a irmã dele! – Amy pensa assim que a sua ficha cai.
Laurie vira-se para América pela primeira vez e, assim que seu
olhar se encontra com o dela, a jovem entra em combustão de
tamanha que é sua surpresa e felicidade – quase tão grande quanto
a que a dominava quando pulou em cima do irmão.
— Amy! – Laurie exclama eufórica e se joga nos braços de Amy,
da mesma forma que fez com Edward, mas como Amy não tem o
mesmo tamanho nem o mesmo equilíbrio de Edward, elas
cambaleiam um pouco para trás. — Fico tão feliz em finalmente
poder te conhecer! – Laurie diz ainda mais sorridente ao se soltar de
Amy e a encarar numa distância de um braço. — Você é linda!
Amy sente seu rosto esquentar ao mesmo tempo em que sorri
para Laurie.
— Obrigada. – Amy murmura — Também estou muito feliz em te
conhecer, Laurie. – Amy sorri ampla e simpaticamente para a irmã
de Edward — Você também é linda!
Laurie faz uma careta engraçada ao dar de ombros, mas logo
depois sorri amplamente para Amy, que lhe retribui da mesma
forma.
— Venham logo! Entrem! – Laurie diz os puxando pelas mãos
para dentro da casa com ainda mais animação — Mamãe e papai
estão loucos lá dentro! – ela direciona o comentário ao irmão —
Mamãe já estava querendo ir buscar vocês!
O comentário faz Amy rir de forma abafada.
Quando chegaram à sala de estar o coração de Amy quase
parou.
À sua frente estava o pai de Edward.
George acabava de passar por uma porta, vindo da cozinha,
seu olhar focou-se na agitação vinda da porta e quando ele
descobriu o porquê de tanta euforia na entrada da casa seu coração
aqueceu e seu peito encheu-se de calor.
Seu filho estava de volta.
Edward libertou sua mão da de Laurie e foi para o lado de Amy
que se mostrava sem saber o que fazer. Suas faces estão coradas e
ela tem os olhos fixos em um único lugar, ou melhor, em um único
alguém.
Edward segue o olhar de Amy e encontra seu pai o observando
com os olhos marejados, transbordando carinho em sua direção e
ele está estagnado assim como Amy. E sem saber direito o que
fazer, Edward envolve a cintura de Amy com seu braço e a puxa
para perto de si, fazendo com que ela tenha alguma reação.
Ele a conduz na direção de seu pai, que em instante algum
parou de olhá-lo.
Amy sente suas pernas trêmulas e suas mãos suadas. Se não
fosse por Edward estar com o braço em torno de sua cintura, ela já
teria ido ao chão de tamanho que é o seu nervosismo.
George nem parece tê-la notado ainda – assim como Laurie
quando chegaram – seu olhar repleto de carinho, amor, saudade e
real surpresa está completamente focado no homem ao seu lado.
Ver George olhar tão emocionado para Edward, faz com que
Amy sinta ainda mais saudades de seu pai. Faz tanto tempo que
eles não se veem…
— Filho – a voz de George sai baixa e carregada de emoções.
Ele não consegue realmente acreditar no que vê, há quatro
meses que os dois não se viam.
— Tive tantas saudades! – George fala enquanto finalmente
consegue se mexer e ir até o filho.
— Olá pai. – Edward diz com extremo carinho na voz —
Também senti saudades – com um sorriso culpado Edward se
aproxima um pouco do pai e beija as faces dele e o abraça
fortemente, deixando Amy ainda mais surpresa e intrigada com o
fato.
Ela jurava que o toque, que um abraço de verdade, era
impossível para ele, mas Laurie e George provaram que isso era
uma questão diferente.
— Quero te apresentar uma pessoa. – Edward diz, voltando
com seu olhar para Amy e, pela primeira vez na noite, George a
nota.
Amy possui as bochechas vermelhas – como um tomate maduro
– e seu nervosismo está ainda maior do que antes.
— Esta é América Lawson. Minha namorada. – Edward diz ao
pai que sorri amplamente para ela. — Amy, este é o meu pai:
George.
— É um grande prazer finalmente conhecê-la, América. –
George sorri ainda mais para Amy que lhe responde com um sorriso
tímido, mas, ainda assim, simpático enquanto sente suas bochechas
arderem ainda mais.
— Marie falou muito de você – os olhos azuis de George
brilham felizes e animados.
— O prazer é todo meu, senhor Cage. – Amy diz um pouco mais
alto que um sussurro.
— Oh, por favor, me chame de George – ele pede aproximando-
se da jovem e estendendo os braços para ela — Vamos, me dê um
abraço! – ele pede com efusão.
Amy morde o lábio nervosamente e com cautela vai até o pai de
Edward, que a abraça fortemente – da forma como um pai abraça
uma filha – e, ao sentir isso, Amy não hesita em corresponder o
abraço como se realmente ele fosse seu pai.
Era como se Nick estivesse ali a abraçando, e ela se emociona.
— Obrigado por trazer meu filho de volta. – George sussurra no
ouvido de Amy para que apenas ela possa ouvir — Muito obrigado
mesmo.
— Não me agradeça. – Amy pede em mesmo tom e com a voz
um pouco embargada pelo choro que tenta conter.
Eles se afastam e pela primeira vez George observa como Amy
é e seu sorriso aumenta.
— Você é realmente muito bonita. Meu filho tem bom gosto. –
George comenta com uma piscadela marota para o filho que, com
respeito, repreende o pai com o olhar.
Amy cora fortemente, muito mais do que quando Laurie a
elogiou.
— Com toda a certeza me darão lindos netos.
Amy sente o ar lhe faltar assim que assimila o que George lhes
disse e, mais uma vez, agradece por ter alguém a segurando –
mesmo que esse alguém seja culpado por sua quase e possível
queda.
— George, não assuste a garota! – Marie surge ao lado do
marido com um enorme sorriso no rosto.
Antes de amparar Amy, Edward beija as faces da mãe e ela faz
o mesmo com ele derramando todo seu amor e carinho no gesto.
Marie abraça Amy assim que se afasta do filho.
Em Marie, Amy sente o calor materno que quase nunca sentiu
nos abraços ou em qualquer gesto de sua própria mãe e isso a
deixa ainda mais emocionada. O nervosismo some dando lugar à
felicidade de estar perto da família do homem a quem – sem
perceber – está entregando o coração.
— Obrigada por vir, querida. – Marie diz com a voz carregada
de carinho e afeto — Obrigada por trazê-lo de volta para nós – ela
sussurra para Amy, assim como seu marido fez.
Com uma risadinha Marie a solta e a avalia com um belo sorriso
no rosto:
— Desculpe-me, mas tenho que concordar com meu marido. –
diz Marie ampliando seu sorriso na direção de Amy — Se um dia se
casarem e os tiverem… seus filhos serão lindos.
Amy mais uma vez sente o ar lhe faltar só que agora, além
disso, sente seu rosto queimar ainda mais pela vergonha.
Ela sabe que isso nunca vai acontecer…
Além do fato de ela ser submissa de Edward e de não querer
que um filho seu nasça no mundo que ela nasceu, ela sabe que
Edward não quer filhos. Não. Isso não aconteceria.
O Cage não se casaria com a Lawson.
— Mamãe, papai, por favor. – Edward pede, aproximando-se
mais de Amy e envolvendo a cintura da mesma com o braço e a
puxando para mais junto de si — Não a façam querer correr de mim.
Foi difícil demais trazê-la para perto. – Edward lança um olhar
caloroso para Amy, que lhe retribui com um sorriso tímido e
abobalhado.
— Fiquei sabendo que minha cunhadinha e meu irmão
desnaturado chegaram! – Josh entra na sala carregando um sorriso
enorme no rosto e a felicidade transbordando dos olhos verdes.
— Filho, não diga isso do seu irmão! – Marie o repreende.
— Desculpe, mãe – ele diz um pouco acuado, mas sem perder
o bom humor — Como vai, Amy?
— Muito bem, Josh! – Amy sorri para ele que a surpreende
depositando dois beijos em seu rosto ainda mais corado.
— Paige mandou um abraço – ele diz sorridente e com um ar
apaixonado.
— Como ela está?
— Está bem! Lutando para conseguir um emprego melhor em
algum jornal.
— Ah! Tenho certeza de que ela vai conseguir! – Amy sorri
lembrando-se de como a amiga pode ser determinada.
— Interagindo sem mim? – Laurie aparece saltitante ao lado de
Josh com um beicinho fofo, fazendo todos rirem.
Ela dá de ombros com um sorriso.
— O jantar está pronto. Vamos comer? – ela anuncia.
[…]
Todos se encontram sentados à mesa de jantar.
Edward está ao lado de Amy e sua mão direita está sobre a
coxa dela, em um gesto possessivo de carinho.
Ela não se importa.
Haviam acabado de comer o prato principal e Amy está
fascinada com tudo. Desde a decoração do lugar ao paladar
magnífico da comida. A torta de maçã preparada por Marie derrete
na boca de Amy antes mesmo que ela possa mastigá-la e ela
simplesmente delira com o sabor.
Edward já havia terminado o seu, mas Amy gostou tanto da
sobremesa que pediu para repetir o prato.
Estão todos conversando amenidades e rindo.
Edward se sente bem como nunca pensou que pudesse se
sentir na vida. Ver Amy e sua família interagindo tão bem e
facilmente o agrada e muito, deixando-o cada vez mais à vontade
com a situação.
— E sua mãe, Amy? – Laurie pergunta, trazendo a atenção de
Edward de volta para a realidade.
Ao seu lado, ele sente Amy se retesar.
— Ahn… – ela morde o lábio nervosamente — Ela está bem –
responde evasiva, mas somente Edward parece notar, pois Laurie
logo sorri em resposta.
— Tem irmãos? – mais uma vez ela questiona.
— Não – ela responde feliz por partir para um assunto mais
agradável — Sou filha única.
E assim o clima volta ao normal.
Amy está contente por ver que Edward está voltando a se
conectar com a família mais uma vez. Ela gosta do que vê e se
sente bem por ter dado um puxão de orelha no mesmo.
Talvez, em Marie, ela pudesse ser capaz de encontrar a mãe
que nunca encontrou em sua própria, em Josh e Laurie os irmãos
que nunca teve e em George encontrar um segundo pai, que poderá
ajudá-la e confortá-la quando Nick não puder.
— Eles gostaram de você. – Edward sussurra para ela ao pé de
seu ouvido fazendo a pele de Amy se arrepiar.
— E eu deles – ela responde com a voz carregada de carinho e
plenitude, seus olhos fixos nos de Edward.
Sem se importar se os outros estão ou não observando, Edward
lhe rouba um beijo, longo e delicioso com sabor de Amy e torta de
maçã.
— Deus, que coisa fofa! – Laurie exclama animada e
emocionada.
Ela está mais do que feliz por saber que seu irmão está de volta
e que, pela primeira vez, está amando.
Laurie podia ver o quanto esses dois nutrem sentimentos fortes
um pelo outro, mas nem devem ter percebido isso ainda, e céus
como ela acha isso romântico!
Edward e Amy se afastam.
Ambos estão ligeiramente corados pelo inusitado momento.
O jantar seguiu bem.
Eles conversaram mais do que imaginaram que pudessem
conversar. Mataram as saudades e se conheceram bem.
Amy não conseguia parar de sorrir ao ver o quanto Edward e
George estavam interagindo bem. E como ela gostava de vê-lo se
reaproximar novamente da família. Estavam tão entretidos nas
conversas, piadas de Josh e brincadeiras que mal viram o tempo
passar, e só perceberam que era a hora de voltar para o Diamond
quando Tyler apareceu.
Com emoção e um novo sentimento de carinho e afeição
crescendo dentro de si, Amy se despediu da família Cage,
juntamente de Edward, que de sua maneira demonstrou o quanto
estava feliz por poder voltar à família.
19- O que acha?
Uma semana se passou desde que apresentei América à minha
família definitivamente e nestes dias eu nunca estive tão feliz. Ver a
felicidade presente nos olhos de Amy é o que mais me deixa assim.
Ela ficou tão contente em me ver com minha família de novo
que é impossível para mim não me sentir feliz com a felicidade que
emana dela. Ela simplesmente parecia estar feliz por me ver assim.
É madrugada de sábado, e com certeza não deve passar muito
das quatro e alguma coisa da manhã. Amy está deitada de bruços
ao meu lado, coberta apenas da cintura para baixo, deixando suas
costas nuas expostas. Ela ressona baixinho e um pequeno sorriso
parece brincar em seus lábios.
Saber que ela não está tendo pesadelos é um calmante para
mim.
Fito seu tronco subir e descer lentamente conforme ela respira
em meio seu sono tranquilo.
Ela se remexe ficando meio de lado e meio de bruços, e eu me
controlo para não rir de como ela fica deitada. Sua perna está
encolhida até a altura de seu peito e seu braço direito cobre a parte
exposta de seu corpo enquanto o esquerdo está dobrado sob sua
cabeça, como se fosse o travesseiro. Inconscientemente ela morde
o lábio inferior por breves instantes antes de soltá-lo e sorrir.
Com o que ela está sonhando?
Aproximo-me um pouco mais dela e ao fazer isso é como se ela
soubesse que estou mais perto. Seu sorriso se amplia e remexendo-
se ela se aproxima de mim até estar completamente enroscada em
meu corpo, como se fosse uma trepadeira, e é incrível como eu me
sinto bem quando ela faz isso.
Suas pernas se enroscam nas minhas e seu braço se prende à
minha cintura enquanto seu tronco se cola ao meu.
Ela geme baixinho quando seu rosto se encontra com a
curvatura de meu pescoço.
Sua respiração bate quente contra minha pele, fazendo-me
arrepiar e – aparentemente – em um ato de reflexo passo meus
braços em torno de sua cintura e a puxo para ainda mais perto de
mim e sinto seu sorriso contra minha pele. Brevemente me pergunto
se ela não está acordada, mas a resposta está em sua respiração
ritmada e leve.
Beijo seus cabelos e assim rendo-me ao calor que emana dela
para mim e deixo-me levar pela inconsciência.
[…]
Acordo com a sensação de estar caindo.
Ao meu lado, Amy ressona tranquila e de costas para mim. Olho
no relógio digital que fica na cabeceira da cama e me surpreendo
com as horas.
Nunca dormi tanto…
Sento-me na cama, ainda sonolento, e esfrego meus olhos para
que os mesmos se abram de verdade e eu possa caminhar pelo
quarto sem bater nas paredes e nem tropeçar nas coisas.
Apoio meus cotovelos em minhas pernas um pouco encolhidas
na direção de meu troco e passo as mãos por meus cabelos.
São sete horas da manhã de um sábado e estou me sentindo
brevemente fatigado apenas pelo simples fato de que hoje terei que
passar o dia no trabalho, resolvendo pendências, avaliando projetos
e enfrentando mais reuniões para novas aquisições.
Mais uma vez olho para a pessoa ao meu lado na cama e, pela
forma serena que ela dorme, sinto pena de acordá-la. Ela está
encolhida e parece abraçar os próprios joelhos, sua respiração está
leve, idêntica à quando despertei na madrugada e fiquei
observando-a em seu sono.
Inclino-me sobre seu corpo e puxo o lençol para que ele cubra
seu corpo completamente nu. A nudez mais bela que já presenciei.
Ela se remexe na cama e se vira para mim, a respiração ficando
mais pesada e desperta.
Sorrio para a cena.
— Mmm… – ela balbucia algo incoerente antes de se
espreguiçar e forçar seus olhos a se abrirem minimamente.
Ela estica os membros e ao fazer isso o lençol escorrega para
baixo, expondo seus seios intumescidos e empinados para minha
visão maliciosa.
Sinto o sorriso se alastrar torto para o canto direito de meu rosto
ao presenciar os movimentos lentos e sonolentos que o corpo dela
faz.
Ainda com o sorriso em meus lábios, inclino-me sobre ela e a
beijo levemente, sentindo seu sorriso contra minha boca.
— Bom dia, senhorita Lawson – sussurro um pouco rouco e vejo
o sorriso se ampliar ainda mais em seu rosto.
— Bom dia, senhor Cage – ela balbucia com a voz também um
pouco rouca de sono, tornando-se ainda mais sexy.
Ainda sorrindo, ela arrasta os dentes levemente por seu lábio
inferior.
— Dormiu bem? – pergunto, tentando ignorar a dor pulsante no
meio de minhas pernas.
— Divinamente. E o senhor? – ela pergunta batendo os cílios
para mim pouco antes de acariciar meu rosto e embrenhar seus
dedos finos e perigosos por meu cabelo bagunçado e cheio de nós,
correndo as unhas por meu couro cabeludo.
— Sempre durmo bem ao seu lado, senhorita Lawson. – O que
não é nenhuma mentira.
Ela sorri para mim e continua a correr os dedos por meu cabelo.
Seus olhos analisando todo o meu rosto com fascínio e algo
mais que não consigo identificar. Ela morde fortemente o lábio
quando seu olhar recai em minha boca.
Um sorriso lento se abre em meu rosto quando suas intenções
são reveladas por seus pequenos gestos, mentalmente eu agradeço
por não ter que me aliviar no banho, como tenho feito nos últimos
dias por ter sempre que sair cedo demais para a empresa – tenho
faltado demais nestes últimos dias.
— Tome um banho comigo – peço com meus olhos focados
nela e em cada uma de suas reações.
— De banheira? – ela pergunta erguendo os olhos para mim, as
sobrancelhas franzidas.
— Uma chuveirada.
Ela morde o lábio inferior e acena de forma positiva.
[…]
— Laurie me ligou ontem. – Amy diz assim que termina de se
servir de panquecas e suco de laranja.
— E o que ela queria? – arqueio minha sobrancelha em sua
direção.
— Ela me convidou para passear com ela e Paige no shopping
– ela não me olha efetivamente, mantém sua atenção na comida
que parece estar bem mais interessante do que eu.
— E você quer ir?
— Quero – ela responde sem hesitar olhando em meus olhos;
sinceridade ardendo neles.
— Tudo bem – digo simplesmente.
— Mesmo? Sem discussões ou surtos?
Sou obrigado a rir.
— Desde que aquele idiota do seu amiguinho não esteja lá, por
mim… tudo bem.
O sorriso que Amy me dá pode ser taxado como gigante e belo.
— Obrigada! – ela diz com o sorriso extremamente ainda mais
amplo e bonito.
— Não agradeça. Sei que não gosta de ficar sozinha e hoje é
sábado também. Vai ser bom você sair.
Pude ver que para ela só faltou pular de tamanha que era sua
alegria e o quanto ela cintilava em torno de mim.
Ela parecia realmente muito contente com tudo isso e com a
minha “sutil” permissão.
Às vezes, Amy simplesmente parece uma adolescente de
quinze anos em todas as suas formas, desde o modo de falar até a
forma de andar.
Ela se vira para mim, girando o acento da cadeira, as mãos
entrelaçadas sobre as coxas em um gesto expressivo de
nervosismo, mas por quê? Seu pé descalço está dançando de forma
rápida e trêmula no aço que circula os pés da cadeira.
— O que foi, baby? – pergunto um tanto confuso. — Parece
nervosa.
— É a primeira vez que vou sair com alguém da sua família –
ela diz em tom baixo — Fora o meu aniversário, é claro – diz irônica
— E se eu cometer algum erro? E se Laurie não gostar da forma
como eu sou?
— Amy… – suspiro virando-me para ela — Laurie não teria nem
ligado se não tivesse gostado de você.
— Mesmo?
— Mesmo, mesmo.
Ela abre um pequeno sorriso agradecido e reconfortado,
mostrando que o que eu disse a ela havia a acalmado de alguma
forma.
[…]
Assim que Tyler se sentou atrás do volante e fechou a porta do
carro, dando a partida e afastando-se mais e mais do Diamond, algo
estranho dentro de meu peito se agitou e me fez gelar de uma forma
que nunca tinha sentido antes em toda a minha vida.
Senti-me tremer e pelo espelho retrovisor encontrei os olhos de
Tyler.
— Assim que me deixar na empresa tome conta da América.
Obtive como resposta um breve aceno de cabeça de sua parte,
mas, mesmo assim, os tremores e o gelo dentro de mim não
diminuíram quase nada.


Mal Edward passa pelas portas do elevador, meu celular toca e
na identificação está o nome de Laurie. Atendo rapidamente.
— Como vai a minha cunhada preferida? – a voz dela soa
animada e feliz como sempre parece ser.
Eu sou a cunhada favorita?!
— Estou muito bem. E você?
— Ótima! Você vai sair comigo e Paige hoje, não é?
— Vou sim, Laurie – sinto o sorriso se abrir em meu rosto —
Que horas devo te encontrar no shopping?
— Nem pensar! Eu vou aí te buscar. Está pensando que sou
louca o suficiente para Edward querer me matar por deixar a
namorada dele sair sozinha por aí para me encontrar em qualquer
lugar? As paranoias de segurança dele são muitas, mas fazem
algum sentido quando se é ele – ela diz com efusão na voz e tenho
quase certeza de que está sorrindo. — Esteja pronta em meia hora!
Até mais, doçura!
— Até, Laurie – digo com alegria.
Laurie consegue ser tão contagiante quanto Josh, e eu
simplesmente gosto demais disso!
Subo para meu quarto pulando os degraus de dois em dois,
sentindo cada vez mais sorrisos irromperem pela minha face. Assim
que passo pela porta e entro no quarto – branco e frio – uma
sensação de deslocamento me atinge por breves instantes, mas
logo a ignoro. Estou dormindo há muito tempo no quarto de
Edward… é por isso.
Entro no closet à procura de uma roupa apropriada para um
passeio ao shopping.
Mas… como se escolhe algo para ir a um lugar que nunca se foi
dessa maneira?
Olhando as inúmeras opções à minha frente, desde as simples
até as mais sofisticadas, mordo meu lábio nervosamente enquanto
passo as mãos por meus cabelos deixando-os bagunçados – uma
mania que acabei adquirindo de Edward sem querer – percorro
meus olhos por todas as roupas mais uma vez e acabo decidindo
pelo meu básico: calça jeans, uma blusa e um casaco simples
acompanhados de um tênis ou sapatilha com uma maquiagem bem
básica.
[…]
O abraço que Laurie me deu assim que me encontrou na
calçada pode ser classificado como quase esmagador, mas o
abraço que quase me matou foi de Paige. Quase senti minhas
costelas se partirem novamente!
— Paige… minhas costelas! – resmunguei quando as senti
arderem e a falta de ar em meus pulmões incomodar.
— Oh, perdão! – ela disse assim que me soltou rapidamente.
— Tudo bem – suspirei puxando o ar alegre por conseguir trazer
o ar para meus pulmões — Vamos? – pergunto com um sorriso
dando meus braços para ambas e ficando no meio delas.

O shopping pode ser classificado por mim como um lugar de


meu completo desespero!
Pessoas andando apressadas e cheias de bolsas, e algumas
dessas pessoas traziam consigo crianças. Algumas delas
comportadas e fofinhas e outras pirracentas e espalhafatosas
carregadas de uma terrível manha.
De braços dados com Laurie e Paige, nós caminhamos
sorridentes e falando amenidades e besteiras toscas enquanto nos
dirigimos a uma lanchonete. As bolsas em nossas mãos – inúmeras
nas de Paige e Laurie e apenas duas ou três na minha – foram
colocadas aos nossos pés assim que nos sentamos nas cadeiras
metálicas em volta da mesa circular.
— O que as senhoritas vão querer? – um atendente jovem e
aparentemente simpático estava com um bloquinho de papel
amarelo e uma caneta a postos, pronto para anotar nossos pedidos.
— Um suco de laranja para mim. – diz Laurie com um sorriso
simpático.
— Um suco de abacaxi e uma porção de batatas chips – diz
Paige.
— E a senhorita? – ele pergunta para mim; os olhos dele
parecem cintilar.
— Uma Coca-Cola pequena comum – sorrio pequeno.
Ele fez um aceno pequeno de cabeça e seguiu para a direção
de onde supostamente havia vindo.
Voltando pouco depois, ele tem nossos pedidos em uma
bandeja e os coloca em nossa mesa com agilidade, indo embora
depois de perguntar se queríamos algo mais e nós recusarmos.
— Então, Amy… como está a vida sendo a namorada do meu
irmão? – Laurie pergunta mexendo no canudo de seu suco de
laranja; ela esperara apenas o garçom se afastar.
Sinto meu peito se aquecer com a simples menção dele.
— Acho que bem, Laurie… Seu irmão é muito bom para mim –
digo com o calor em meu peito aumentando ainda mais.
— Eu só queria entender como seus pais deixaram você ir
morar com ele se não deixavam você nem pôr os pés para fora de
casa! – Paige comentou, fazendo meu coração perder uma batida e
quase me engasgar.
Eu não precisava que ela mencionasse isso e nem que batesse
nesta tecla.
— É sério isso, Amy? – Laurie pergunta e seu olhar mostra o
tamanho de sua descrença no comentário de Paige.
— E como é! – Paige exclama, inclinando o corpo para frente e
arregalando um pouco mais os olhos para, logo depois, tomar um
gole de seu suco.
Tive vontade de chutá-la e se ela fosse homem acertaria bem
no meio de suas pernas.
— Céus, isso devia ser horrível! – Laurie diz com um pouco de
horror na voz.
Encolho meus ombros desejando ardentemente que Paige cale
a boca e que Laurie não tenha pena de mim.
— Eu tinha meus dias de glória – murmuro.
Laurie sorri para mim e ali vejo que ela pelo menos ficou feliz
com isso.
— É primordial para eu saber se Edward está te tratando bem,
Amy – ela diz com seriedade, pegando minha mão sobre a mesa —
Arranco o couro dele se ele te fizer chorar.
Sorrio para ela achando graça de sua reação.
— Acho que quem deveria ser ameaçada com algo deste tipo
sou eu e não seu irmão, não acha? – pergunto divertida fazendo as
duas rirem.
— Tanto faz! – Laurie dá de ombros — Só não quero ver
ninguém da minha família sofrer.
Senti meus olhos arderem ao processar o que ela acabara de
falar.
Ela me considera da família!
Meu peito se encheu de alegria por me sentir parte de algo e me
aceitarem neste algo.
[…]
Laurie me deixou no Diamond no final da tarde.
Estou sobrecarregada de bolsas porque o que eram apenas três
sacolas, se tornaram vinte e nove bolsas de sete lojas diferentes.
— Senhorita Lawson? – uma voz masculina soa atrás de mim,
fazendo-me pular e me virar abruptamente quase caindo com o
peso das inúmeras bolsas em minhas mãos e braços.
— Tyler! – digo aliviada ao reconhecer o segurança e motorista
de Edward — Me assustou!
— Desculpe-me. – ele pede — Vi a senhorita chegar quando
vinha para cá.
— Ah! – sorrio para ele — O senhor Cage já chegou? –
pergunto.
— Não. O senhor Cage disse que talvez chegue um pouco tarde
hoje, e pediu que eu voltasse para o Diamond e esperasse a
senhorita chegar – ele disse e começou a me ajudar com as bolsas,
pegando a maior parte delas e assim seguimos para os elevadores.


O dia maçante no trabalho parece não estar nem perto de
terminar.
Os minutos passam em passos de tartaruga e as horas mais
lerdas ainda. Os papéis na minha frente parecem não querer
desaparecer e sim aumentar.
Olho mais uma vez para o relógio e os ponteiros estalam de um
lado para o outro, arrastando os segundos e forçando-os a se
tornarem minutos, e forçando os minutos a se tornarem horas – que
para mim era a parte que mais demora a se tornar real. Os ponteiros
pesados mostram passar das oito da noite.
Uma batida leve na porta chama minha atenção.
— Entre – ordeno a quem quer que seja.
— Senhor? – a voz de Allegra enche minha sala.
— O que foi? – pergunto um tanto impaciente e cansado.
— Esse envelope acabou de chegar, não tem nenhum
remetente, mas está destinado explicitamente ao senhor.
— Dê-me aqui – estendo a mão para o pacote que ela
apressadamente me entrega para, logo depois, deixar minha sala,
fechando a porta atrás de si.
Abro o envelope e de entro dele tiro uma folha de ofício um
pouco enrugada de cola e junto desta folha há uma fotografia que
me intriga.
Pego a foto entre meus dedos e a imagem que surge nela
perturba até o meu eu mais profundo. Sinto meus joelhos tremerem
e se eu não estivesse sentado teria ido ao chão com extrema
facilidade.
É a Amy…
Meu corpo treme mais uma vez e sinto o gelo que tinha se
amenizado aumentar gradativamente assim como a sensação
estranha de quando saí hoje mais cedo para trabalhar.
Ela pode estar mais jovem, mas os traços de seu corpo tão
conhecido por mim, mesmo tão jovial, não me enganam.
Ela está amarrada, amarrada com cordas apertadas demais – a
pele está visivelmente machucada – ela está vendada e vejo um
filete de sangue escorrer pelo canto de sua boca, as marcas roxas
estão espalhadas por todo o seu corpo e arranhões carregam traços
de sangue.
Largo a foto sobre a mesa, sentindo-me tremer mais do que é
possível e saudável para alguém.
Pego a folha para poder ver o conteúdo e as palavras feitas de
recortes de jornal aparecem para mim. A cola ainda parece estar
fresca e eu sinto o chão sumir de meus pés ao ler as palavras.
“Você a tirou de mim Cage, usando o seu dinheiro… O que
acha se eu a tirar de você usando algo mais saboroso e
perigoso? Aproveite-a bem, Cage, pode não durar.”
20- Eu não posso perder você.
Já passava da meia noite quando finalmente tive condições e
cabeça suficiente para poder voltar para casa.
Assim que atravessei as portas em direção a sala, o que eu vi
fez meu peito doer.
América está deitada no maior sofá abraçada a um travesseiro
qualquer, o celular preso entre seus dedos denuncia que ela dormiu
esperando por mim e por notícias também minhas.
A imagem de Amy tão jovem, marcada daquela forma brutal, e
as palavras utilizadas pelo ser repugnante que mandou essas
coisas para mim não saem de minha mente, fazendo eu me sentir
completamente enojado de mim mesmo e carregado de uma fúria
descomunal repleta de asco direcionada ao monstro que fez tais
atrocidades com ela.
Momentaneamente me pergunto como Amy é capaz de dizer
que eu não sou um monstro como o que causou a ela tanta dor e
sofrimento. Como ela consegue permitir que eu a toque e faça com
ela o que eu faço?
Aproximo-me com cautela e de forma silenciosa de Amy.
Sento-me no chão, próximo a ela, e a observo ressonar baixinho
com a respiração leve e ritmada.
Ela inspira mais profundamente pouco antes de seus olhos
tremularem e se abrirem.
Vejo um sorriso preguiçoso se abrir em seu rosto quando ela me
focaliza em seu campo de visão, seus olhos ainda sonolentos
buscam os meus e neles eu vejo um brilho de satisfação carregado
de vários sentimentos, e dentre todos eles eu – aparentemente –
reconheço o mesmo que eu sempre sinto pulsar e crescer dentro de
mim quando a vejo sorrir ou simplesmente quando penso nela ou a
tenho perto de mim.
— Oi – ela diz em um sussurro e ainda sorrindo para mim —
Chegou faz muito tempo?
— Pouco mais de cinco minutos, talvez – respondo,
aproximando-me um pouco mais dela, motivado pelo brilho que vejo
em seus olhos que momentaneamente me fazem esquecer o quanto
aquilo me deixou desesperadamente desnorteado e assustado —
Por que está deitada aí, em vez de estar na cama?
— Eu queria esperar você chegar, jantar com você… essas
coisas – ela dá um sorriso como se estivesse se desculpando.
— Você não jantou?
— Chegou uma hora que minha fome foi maior e mais forte do
que minha vontade de sua presença durante o jantar – ela
respondeu enquanto se sentava um tanto rígida e desconfortável —
Por que demorou tanto? Eu fiquei preocupada, pensei que tivesse
acontecido algo com você.
Levanto-me do chão e me sento ao seu lado no sofá.
Pegando sua mão entre a minha, eu entrelaço nossos dedos
porque eu preciso sentir o calor dela perto de mim de alguma forma.
Pude ouvi-la respirar profundamente assim que fiz isso.
— Não quis te deixar preocupada – nem explodir na sua frente
depois de vê-la tão machucada, não queria te magoar…
— Aconteceu alguma coisa, não é? – ela fixa seus olhos azuis
em mim.
Não consigo deixar de imaginar que ela pode enxergar além de
mim, que sabe o que está se passando por minha cabeça, e ter
essa sensação me faz pensar que talvez ela esteja descobrindo o
verdadeiro motivo de minha demora.
— Não, baby – respondo assim que fixo meu olhar em nossas
mãos unidas, não conseguindo evitar o sorriso que brinca em meus
lábios e logo depois se abre em meu rosto. — Como foi seu passeio
com Laurie e Paige, hm? – mudo o foco da conversa para algo mais
agradável.
Amy abre um sorriso e vejo, na pouca claridade presente na
sala, que ela está corada.
— Foi maravilhoso! – sua mão aperta minimamente a minha e
eu sinto ainda mais seu calor — Trouxe uma coisa para você.
— Mesmo? E o que é? – arqueio uma sobrancelha na direção
dela, sentindo o interesse e a curiosidade despontar em mim de
forma acelerada.
— Bom… na verdade, quem vai usar sou eu, mas quem vai
gostar de ver e de tirar de mim é você… – ela faz uma pausa
mordendo o lábio inferior nervosamente, atingindo todas as minhas
terminações nervosas mais intimas e até mesmo as mais ferozes
com esse gesto.
A vontade de tomá-la em meus braços neste mesmo instante é
quase dolorosa.
— O que você comprou, América?
Soltando minha mão, ela se levanta do sofá e fica de pé na
minha frente.
Ela agarra a barra da blusa que está usando e a puxa para
cima, tirando-a pela cabeça e revelando a peça rendada, quase
transparente, azul – como seus olhos – que envolve seus seios.
Sinto minha boca ficar seca e uma ligeira dor surge no meio de
minhas pernas enquanto acompanho seus movimentos um pouco
trêmulos.
Ela direciona suas mãos para o cós da calça de moletom que
está usando e a faz deslizar por suas pernas, revelando mais uma
peça rendada quase transparente. Ela chuta a peça de roupa
acumulada em seus pés para outro lado assim que se endireita e
deixa os braços caírem com certa graça ao lado do corpo.
— Céus! – ofego sentindo o sangue pulsar forte em meus
ouvidos e em todo o resto do meu corpo e minha boca secar ainda
mais.
— Gostou? – ela pergunta com a respiração acelerada.
Passo meus olhos por todo o seu corpo à mostra, vejo seu peito
subir e descer acelerado no ritmo de sua respiração, seus lábios
entreabertos com o ar sibilando ao passar entre seus dentes, seus
olhos azuis brilhantes focados em mim e em cada uma de minhas
reações.
Sem pensar muito, inclino-me um pouco para frente e coloco
minhas mãos em sua cintura, para logo depois puxá-la para o meu
colo.
Amy cai sentada sobre mim com uma perna de cada lado de
meu corpo e suas mãos vão diretamente para meus cabelos. Ela é a
única capaz de me fazer esquecer tudo e todos… A única capaz de
me fazer esquecer até mesmo o que me deixou tão perturbado.
Seu rosto está a milímetros do meu e seu hálito quente bate
contra meus lábios, seus olhos estão focados nos meus e há um
pedido bem explicito neles. Um pedido que não sou capaz de negar.
Junto minha boca a dela, beijando-a com vontade, sentindo seu
calor emanar para mim e seu perfume me inebriar gradativamente
conforme ela junta ainda mais seu corpo ao meu, desejando-me.
Seus dedos puxam meu cabelo com certa força quando ela
morde meu lábio inferior e arrasta os dentes por ele, fazendo meu
corpo inteiro tremer. Seus lábios úmidos descem por meu maxilar e
chegam ao meu pescoço onde ela deixa pequenas mordidas e suga
minha pele.
Movo minhas mãos por suas costas, sentindo sua pele sob a
minha palma. Um gemido escapa de seus lábios quando minhas
mãos alcançam seus seios e eu passo a massageá-los.
Passo minha boca por seu pescoço, maxilar e mordo a pele
molinha de sua orelha.
Sigo por sua bochecha até chegar aos seus lábios que eu tomo
para mim em um beijo ávido, sentindo-a retribuir da mesma forma.
Ela move os quadris sobre mim, provocando uma fricção entre
nossas intimidades cobertas e fazendo com que um sorriso se abra
entre nosso beijo sedento.
— Gosto disso – ela ofega quando nossos lábios se afastam e
nós buscamos por ar — Gosto muito – ela volta a me beijar,
agarrando com vontade meus cabelos.
Ela solta uma das mãos de meu cabelo e, logo depois, eu a
sinto apertar o ponto dolorido e pulsante no meio de minhas pernas,
massageando-me de forma lenta e quase em compasso certo com
os movimentos de minhas mãos em seus seios.
Sinto seus movimentos apressados enquanto ela tenta abrir a
braguilha de minha calça.
Agarro suas coxas e me levanto quase sem esforço algum,
fazendo com que Amy enlace minha cintura com suas pernas e
suas mãos agarrem firmemente meu cabelo e pescoço.
Sigo com ela em meus braços para meu quarto – talvez até
mesmo nosso quarto – praticamente abro e fecho a porta às cegas
com meu pé, para, logo depois, caminhar até minha cama, onde eu
deposito o corpo quente e desejoso da mulher em meus braços.
Estamos ofegantes quando nossos lábios famintos se afastam.
Fico de joelhos entre suas pernas e passo a tirar minhas
próprias roupas, para logo depois me dedicar especialmente ao que
ainda cobre o corpo dela.
As peças rendadas e azuis deixam o corpo de Amy pelas
minhas mãos e, assim que faço isso, a vejo agarrar a cabeceira da
cama.
Acomodo-me melhor entre suas pernas e passo a acariciar todo
o seu corpo.
Sinto a textura macia e o sabor de sua pele em meus lábios,
seu perfume inebria meus sentidos.
Ela gosta.
Amy geme alto quando minha boca chega ao seu sexo quente e
úmido, ela arqueia o corpo em minha direção quando começo a
estimular ela em seu ponto mais sensível, e em nenhum instante,
desde que a deitei em minha cama, ela se soltou da cabeceira.
— Quer mexer em meu cabelo, baby? – questiono-a em tom
baixo, deixando lufadas de ar baterem contra a pele úmida.
— Quero… – ela ofega em meio aos meus toques.
— Então por que não faz, baby? – enfio a língua nela, ouvindo-a
praticamente rugir, arqueando ainda mais o corpo.
— Não confio em mim mesma – ela responde ofegante assim
que suas costas batem contra o colchão — Não me peça para
magoar você, por favor – ergo a cabeça bem a tempo de vê-la
fechar os olhos e se agarrar ainda mais à cabeceira da cama
enquanto seu corpo se contorce mais uma vez.
Observando suas reações, volto para minha posição inicial e
encaixo nossos quadris, mantendo certa distância entre nossas
intimidades.
Fixo meus olhos em seu rosto contorcido de prazer e desejo.
— Olha pra mim, baby – uso de meu melhor tom imperativo com
ela, vendo-a abrir lentamente os olhos e cravar seu olhar no meu —
Pode soltar as mãos.
— Não… Eu não confio…
— Eu confio em você, Amy – interrompo-a fixando meu olhar
ainda mais no dela.
Eu preciso senti-la o mais perto de mim possível e impossível.
Toco seus lábios levemente com os meus, ainda olhando dento
de seus olhos, deixando bem claro em meu olhar o quanto confio
nela.
— Solte suas mãos, por favor, Amy, solte as mãos.
Beijo-a mais uma vez, sentindo-a retribuir a mim de forma lenta,
para, logo depois, sentir suas mãos se prendendo ao meu cabelo e
me puxando para ainda mais perto, enquanto seu corpo ondula para
o meu.
Penetro-a lentamente, abrindo sua carne e me acomodando
nela, vendo-a reagir sob meu corpo. Ela me beija passando os
dedos por todo o meu cabelo, arrastando as unhas pelo meu couro
cabeludo, indo com os movimentos até minha nuca e voltando.
Ela arfa em meus lábios quando faço meu primeiro movimento e
jogando a cabeça para trás ela agarra meus braços, sinto suas
unhas se arrastarem por minha pele a cada nova investida minha.
Um som rouco reverbera pelo meu peito e ecoa em minha
garganta cada vez mais alto conforme sinto suas unhas na pele de
meu braço.
Amy tira as mãos de mim e as coloca mais uma vez na
cabeceira da cama.
Intercalando meu peso em um braço de cada vez, agarro as
mãos de Amy e assim que ela solta a cabeceira, entrelaço seus
dedos aos meus e, assim que faço isso, os olhos dela se cravam
mais uma vez nos meus e ela morde o lábio inferior com força.
Ela me abraça com as pernas e desta forma eu vou fundo,
sentindo-a me abrigar dentro dela a cada nova estocada.
Coloco meu rosto no vão de seu pescoço, passo os lábios por
sua pele salgada pelo suor de nossos corpos.
Sinto-a me apertar e nossos corpos tremem ao mesmo tempo
em que chegamos ao ápice.
Ela sussurra meu nome de forma arrastada e um tanto
embolada, mas o simples fato de ela chamar por mim ao se libertar
é o que me acalenta.
— Ah, Amy…
[…]
Amy está deitada com o rosto apoiado, praticamente, em meu
peito.
Minha pele se arrepia, quase que imperceptivelmente, quando
sua respiração quente e lenta bate em mim.
Seu braço está rodeando minha cintura, e eu sei que ela se
esforça para não se mover mais do que seu corpo já se move
automaticamente enquanto ela respira.
Estou com meus olhos fechados, controlando minha respiração
e me esforçando para minha mente não me trair e eu não voltar a
pensar em toda a merda que quase me levou à loucura todos esses
anos e que, agora, se une às imagens de Amy naquela foto horrível
e às palavras do ser repugnante que as mandou para mim.
Mantenho-me quieto e em silêncio, apenas com meu braço em
torno da cintura de Amy, mantendo-a bem perto de mim.
Ela está em silêncio também e as imagens de poucos instantes
atrás vêm à minha mente, nossos corpos unidos e cada um dos
gestos feitos por nós.
— Edward? – a voz sussurrada, quase inaudível, de Amy ecoa
no quase silêncio total do quarto; sinto que ela quer falar algo, e
motivado por essa sensação, eu fico em silêncio, apenas esperando
que ela diga mais alguma coisa — Desculpe, mas… – a voz dela
parece embargada e sinto minha pulsação se acelerar quando a
ansiedade começa a tomar conta de mim; sinto sua respiração
quente bater contra meu peito de forma pesada e longa — Eu acho
que te amo…
Sinto algo quente e molhado em minha pele, escorrendo por
meu peito.
Ouço-a fungar levemente e tentar se afastar.
Um gemido frustrado escapa de mim quando eu a aperto em
meus braços e a puxo para ainda mais perto, sentindo seu cheiro e
seu calor ainda mais próximo de mim.
Ela entrelaça suas pernas nas minhas e me aperta nela,
deixando-se pender para a inconsciência.
“Eu acho que te amo…” – as palavras dela se repetem em
minha mente, causando uma sensação quente em meu peito e em
todo o meu corpo.
Eu também acho, baby… eu também acho.


Meu sono um tanto agitado foi interrompido por um grito visceral
e um corpo se debatendo ao meu lado.
Edward!
Chuto o lençol que me cobre para longe e acendo a luz do
abajur bem a tempo de ver Edward se debater mais uma vez, seu
corpo se contorcendo como se estivesse apanhando e sentindo
muita dor.
Ele abraça o próprio corpo e urra um quase palavrão enquanto
se encolhe em meio aos lençóis.
— Edward! Acorda, Edward! – uso de meu tom mais alto
enquanto tento não tocar nele onde não posso.
Pego em seus braços e o chacoalho, chamando pelo seu nome
na tentativa quase vã de acordá-lo.
— Edward, pelo amor de Deus… Acorda! – imploro, sentindo
meus olhos arderem.
Desde que eu passara a dormir com ele após o meu acidente
nas escadas que ele não tem pesadelos… Por que agora? O que
fez com que ele tivesse pesadelos de novo?
— Edward… baby, abre os olhos!
Sacudo-o ainda mais e, de repente, ele abre os olhos de forma
abrupta, puxando o ar para seus pulmões com toda a força possível,
os olhos arregalados carregados de pânico e com todos os
músculos do corpo tencionados.
— Amy…? – ele ofega assim que seu corpo relaxa e ele me
focaliza em seu campo de visão.
— Estou aqui – tento controlar minha voz que até segundos
antes estava muito mais do que alterada.
— Oh, Deus… – ele murmura quase inaudível, fechando os
olhos e com o corpo começando a tremer quando seus músculos,
antes tencionados, relaxam.
Ele respira de maneira entrecortada e trêmula com os olhos
ainda fechados.
Sento-me na cama de forma que posso observá-lo enquanto
normaliza sua respiração e seu corpo trêmulo.
Meu coração parece estar batendo na garganta e sinto um
pouco de dificuldade em respirar, minha cabeça lateja ligeiramente e
minha boca está seca.
Odeio tomar sustos.
— Edward? – chamo de forma baixa, obtendo como resposta
apenas o som de sua respiração, agora, baixa e lenta.
Ele tinha voltado a dormir.
Com um suspiro de quase alívio, jogo meus pés para fora da
cama e alcanço o robe de seda rosa pálido caído no chão, para logo
depois vesti-lo.
Com passos lentos e calculados, caminho para fora do quarto
de Edward, tentando fazer o máximo de silêncio que sou capaz e
até um pouco mais.
Desço as escadas em direção à cozinha, onde pego um copo
de água gelada e, logo depois, me sento em uma das cadeiras
metálicas e confortáveis de frente para o balcão de mármore.
Minha mente, ainda anuviada pelo sono, começa a divagar por
mil e uma coisas diferentes e sem nenhuma conexão, a coisa mais
inusitada que surge em minha mente é o quanto seria bom comer
jujubas agora.
A luz pálida que preenche o ambiente é o único tipo de
claridade presente em todo o apartamento. Poucas estrelas povoam
o céu desta madrugada fazendo companhia para a lua.
Olho para o relógio presente na cozinha e vejo que faltam
poucos minutos para as quatro da manhã. Mesmo com sono e
mesmo que eu tentasse, não conseguiria mais dormir, não depois
do susto que Edward me dera.
Assim que encho meu copo de água, mais uma vez, sigo um
pouco às cegas para a sala de estar, acendendo as luzes de todo o
lugar por onde eu passo, tendo o cuidado de não as deixar muito
claras.
Sobre a mesinha de centro, vejo meu telefone celular, a tela do
aparelho pisca freneticamente e o zumbido de sua vibração contra o
vidro soa baixinho.
Sentando-me no sofá – onde há poucas horas eu estava com
Edward – pego o aparelho com a mão livre e, depois de me
acomodar no sofá, olho para o que o está fazendo se agitar sobre a
mesa.
É uma mensagem de um número desconhecido por mim e não
registrado no aparelho.
Minha curiosidade um pouco sonolenta me faz abrir a
mensagem enquanto levava o copo com água aos lábios:
*ESPERO QUE TENHA SENTIDO SAUDADES. S.M.*
Nem a água presente em minha boca foi capaz de impedir que
ela ficasse seca no mesmo instante que minha mente assimilou a
sigla ao nome.
Não…
Não pode ser verdade!
Com dificuldade, engoli o líquido presente em minha boca.
Minha respiração descompassada parecia queimar ao entrar e
sair de meus pulmões.
A sensação de frio percorreu todo o meu corpo e senti-me ficar
tão gelada quanto a água presente no copo entre meus dedos.
Pude sentir meu corpo tremer e o pânico tomar conta de mim ao
mesmo tempo em que as lágrimas enchiam meus olhos.
Sinto meu estômago embrulhar junto da raiva que passa a
fervilhar em minhas veias de mãos dadas com o pânico.
Só tenho tempo de largar tudo de qualquer jeito em cima da
mesa de centro antes de correr para a cozinha e colocar todo o
conteúdo de meu estômago para fora, apoiando-me de maneira
trêmula no mármore da pia.
— Meu Deus, Amy! – a voz masculina, assustada e carregada
de preocupação, encheu meus ouvidos no esmo instante que outra
contração enjoada de meu estômago se fez presente, forçando
ainda mais o pouco do que tinha nele para fora.
Em menos de um segundo ele já estava do meu lado,
segurando-me pela cintura com um braço, enquanto sua mão livre
mantinha meus cabelos presos.
Quando já não restava mais nada dentro de mim, com minhas
mãos ainda sem muito controle, abro a torneira empurrando o
conteúdo asqueroso ralo abaixo.
Lavo minha boca umas três vezes antes de fechar a torneira e
me apoiar mais uma vez na bancada da pia.
— Está melhor, baby? O que aconteceu? – a voz preocupada e
masculina chega mais uma vez em meus ouvidos e, em um ato
impensado e completamente automático de defesa, começo a me
debater em seus braços até que ele me solta.
Minha cabeça lateja e tudo o que há na frente de meus olhos
são retratos do meu passado que eu fazia de tudo para que não
aparecessem.
— Não toque em mim… Não toque em mim! – minha voz se
eleva e vejo tudo borrado e misturado enquanto cambaleio para
trás, sentindo uma nova onda de enjoo e pânico tomar conta de
mim.
— Amy, baby… O que está acontecendo? – desta vez a voz
masculina que enche meus ouvidos é a de Edward e eu luto para
enxergá-lo no meio de tudo o que está acontecendo na frente de
meus olhos e do pânico, nojo e raiva que tomam conta de mim.
— Me ajuda – imploro em um murmúrio com a voz embargada
de choro e medo, no mesmo instante que sinto minhas pernas
fraquejarem e meus joelhos vão de encontro ao chão.
Sinto seus braços me envolverem e transmitirem seu calor e seu
perfume para mim, envolvendo-me nele de pouco em pouco.
Meu corpo inteiro treme e sacoleja com meu choro.
As lembranças não saem de minha mente e a dor delas é tão
palpável que chego a senti-las em minha própria carne.
Agarro-me ainda mais a Edward, na tentativa vã e tola de me
trazer de volta para o presente, me trazer de volta para o homem
que me abraça apertado. Sinto seus lábios pressionados em meu
cabelo e sua voz sussurrada chegando quente em meus ouvidos
mais uma vez.
— Já passou, está tudo bem… está tudo bem.
Balanço a cabeça em negação, discordando de suas palavras
de consolo.
— Não… não está – minha voz não passa de um sussurro —
Não está… nada está bem… nada.
— Do que você está falando? – ele pergunta confuso afastando-
me dele para poder olhar em meus olhos; o medo e a preocupação
estão mais do que presentes no cinza bonito de suas írises.
Diante dele sinto meu coração se comprimir e meu peito doer.
Ele precisa saber, Lawson – minha consciência, pela primeira
vez em toda a minha vida, me disse algo que tenho certeza de que
tenho que fazer.
— Steve Monroe.
— Quem é esse? – sob mim sinto o leve tremor do corpo de
Edward.
— O monstro que me destruiu quando eu tinha doze anos.
O tremor de Edward desta vez foi mais forte e me
desestabilizou.
Seus músculos ficaram rígidos e pude ouvir seus dentes
rangendo quando ele trincou o maxilar.
— O que você quer dizer com isso? – sua voz sai como um
rosnado baixo e feroz, seus olhos estão fechados e seus lábios
pressionados em uma linha fina e rígida.
Ele está com raiva…
— Que o protagonista de meus pesadelos, o ser repugnante
que fez a cicatriz em mim, que quebrou as minhas costelas, que
quase matou a mim e ao Nick…
Eu já não me sinto mais; estou dormente.
— Ele voltou…
Nem os braços de Edward em torno de mim e nem o calor que
ele emana foram capazes de espantar o frio que se apossa de meu
corpo e me faz tremer por dentro e por fora.
O medo mais uma vez corre em mim, gelando cada parte de
meu corpo e coração, fazendo com que eu me sinta distante de tudo
o que me é bom, fazendo-me sentir distante de Edward.
— Por que diz isso? – Edward, depois de muito tempo em
silêncio, se manifesta com a voz baixa e apesar de ele se esforçar
para controlá-la, eu sinto o medo presente nela e algo mais que não
consigo identificar.
— Porque ele… Ele mandou uma mensagem no meu telefone.
Com o frio instalado em mim e a certeza de que o que ele quer
sou eu longe e o melhor a fazer é ir embora, eu me afasto dos
braços de Edward que, no mesmo instante que sente meu
movimento de saída, me puxa de volta para ele, apertando-me com
força em seus braços.
Os olhos agora arregalados e assustados em minha direção.
— O que você está fazendo? – ele dispara de forma rápida a
pergunta para mim, deixando claro o quanto ficou assustado com
minha tentativa.
— Eu… você não vai mais me querer aqui. Não depois que eu
te contar… – sinto meus olhos arderem e minha garganta secar ao
dizer isso e ter a certeza de que ele vai me mandar embora cravada
em mim dita em voz alta.
— O que?! – a respiração dele se acelera e, de forma brusca,
ele me vira em seu colo para que eu fique de frente para ele e seus
olhos cravam-se nos meus — Por que eu não iria te querer aqui,
América?
— Porque você vai ter nojo de mim, vai ter raiva, vai me odiar…
Eu não vou aguentar isso… não vou aguentar ver você se afastar de
mim. Isso vai me matar.
— Eu não tenho nojo de você, não tenho raiva, não te odeio,
baby… sinto isso pelo monstro que fez essas coisas com você, sinto
isso por mim, por ter feito com você o mesmo que ele fez…
— Para! – minha voz esganiçada pelo choro soa alta e as
lágrimas caem de meus olhos — Você não é como ele, eu já te
disse isso. Você nunca vai ser como ele!
— Mas Amy, o que eu faço…
— Eu gosto do que você faz comigo, da forma como você me
toca, de como você me olha aqui, na cama ou em qualquer lugar…
eu gosto – engulo o nó que se forma em minha garganta — Eu
gosto porque você não me machuca, porque você me dá prazer,
cuida de mim… Você nunca vai ser igual à ele porque você não é
um assassino nem um louco que me espancava para tentar me
matar.
Ele puxa o ar com dificuldade e me aparta ainda mais em seus
braços enterrando o rosto no vão de meu pescoço.
Sinto sua respiração quente bater acelerada contra minha pele,
fazendo-me ficar arrepiada.
— Eu vi – ele balbucia com a dor cravada na voz rouca — Eu vi
o que ele fez com você, baby… Você estava tão machucada… tinha
sangue.
Ele me aperta ainda mais nele e sinto seu corpo todo tremer.
— O que você quer dizer com isso? – meu coração trepida
loucamente em meu peito provocando minha respiração acelerada e
entrecortada por causa de meu choro.
— Você a tirou de mim Cage, usando o seu dinheiro… O que
acha se eu a tirar de você usando algo mais saboroso e perigoso? –
Edward sussurra contra minha pele — Estas foram as palavras dele
para mim, junto de uma foto sua – ouço-o puxar o ar com certa
dificuldade — Foi por isso que eu cheguei tarde… Ele disse para eu
te aproveitar bem… Ele quer te tirar de mim, Amy. Eu fiquei
assustado e com raiva pelo o que ele te fez e quer fazer de novo…
– ele ergue o rosto e foca seus olhos nos meus — Eu não posso
perder você – erguendo a mão ele afaga meu rosto, passando o
polegar debaixo de meus olhos e secando minhas lágrimas com
seus olhos ainda os meus — Eu te amo e não posso te perder de
forma alguma… Não posso.
Eu te amo.
O ar some de meus pulmões no mesmo instante que eu
processo o que ele acabou de me dizer. Ele me ama… Ele disse
que…
— Me ama? – o pouco ar que consigo colocar em meus
pulmões se esvai quando a pergunta sai rouca e assustada de meus
lábios.
— Não ouviu que sim? – ele questiona e noto um pouco de
divertimento em sua voz, coisa quase rasa.
Não sou capaz de evitar o sorriso que se abre em meu rosto e
fica brincando em meus lábios toda a vez que as palavras dele se
repetem em minha mente.
Fecho meus olhos quando sinto seus lábios passeando por todo
o meu rosto, movimentando-se com calma e colocando o frio para
fora de mim.
Agarrando seu cabelo afasto meu rosto do dele e forço meu
olhar a se focar no dele.
— Amo você – sussurro.
— Eu sei – ele diz pouco antes de me abraçar apertado,
enterrando seu rosto em meu pescoço.
[…]
Edward está deitado de frente para mim na cama.
Seus olhos estão fechados e seu braço repousa possessivo em
minha cintura, como se a qualquer momento eu pudesse
desaparecer.
Ele sabia.
Ele sabia e mesmo assim… Céus! Ele viu uma foto… uma foto
de quando aquele monstro me espancava até cansar e, ainda
assim, disse que me ama…
Fecho meus olhos com força quando sinto minha cabeça latejar
e as imagens começam a surgir de novo em minha mente, tremo
involuntariamente quando vem à minha mente a lembrança do olhar
que Steve mantinha sobre mim toda vez que me carregava à força
para o lugar onde ele fazia coisas com a minha mãe.
Ele me odiava, me desprezava, tinha raiva de mim pelo simples
fato de eu conseguir tirar a atenção de minha mãe dele quando ele
a queria somente para ele.
Remexo-me na cama quando mais lembranças voltam e a
sensação de enjoo me toma mais uma vez.
Sinto falta de ar ao lembrar a noite em que ele entrou em meu
quarto… suas mãos grandes e ásperas apertavam meu pescoço e
impediam o ar de entrar em meus pulmões.
Se não fosse pelo Nolan…
Com um tipo estranho de murmúrio e gemido embolado,
Edward estreita o aperto de seu braço em torno de minha cintura
puxando-me de encontro a ele e aninhando-se em mim.
Ele dormiu assim que me trouxe de volta para o quarto e para
perto dele.
— Você devia estar dormindo – ele diz de forma rouca com a
boca colada na pele de meu pescoço.
— Não consigo dormir de novo depois que saio da cama.
Estico minha mão até seu cabelo que começo a acariciar
lentamente, arrastando de maneira leve minhas unhas por seu
couro cabeludo.
— Você está agitada demais. Percebeu que ficou o tempo
inteiro se remexendo? – ele pergunta tirando o rosto de meu
pescoço e passando a me fitar.
— Achei que estivesse dormindo.
Ele sorri torto e esfrega seu nariz no meu.
Aproveito do carinho, sentindo-me mais no mundo real e menos
no mundo das lembranças de meu passado.
— Estava apenas com os olhos fechados. Você estava se
afastando… O que ia fazer? – ele pergunta.
Seus dedos encontram o caminho para o meu rosto e ele
começa a afagar minhas bochechas e brincar com meu cabelo.
Passa o polegar por minhas sobrancelhas analisando meu rosto
com os olhos atentos.
Ele pressiona os lábios em minha testa e os mantém ali por um
longo tempo antes de voltar a olhar para mim.
— Eu não devia ter contado – ele murmura.
— Não devia ter contado que ele me usou para te deixar assim?
Edward… ele entrou em contato comigo. De qualquer maneira eu ia
acabar descobrindo que ele tinha voltado. Não esconda essas
coisas de mim – acaricio seu rosto com cuidado como se ele fosse
feito de fumaça. — Você ficou mal… teve pesadelos… parecia que
estavam espancando você – meus olhos ardem.
— Não me lembro de ter tido pesadelos – ele murmura e, logo
depois, roça seus lábios nos meus — Lembro de ter acordado, não
ver você na cama e de te encontrar debruçada sobre a pia da
cozinha passando muito mal.
— Eu entrei em pânico…
Ele me beija com carinho e eu sinto o imenso prazer de ter seus
lábios quentes e macios dançando sobre os meus, eles afastam
ainda mais o frio que havia dentro de mim.
Meus dedos se prendem mais uma vez ao cabelo dele e o
mantenho junto a mim.
— Eu não sei como você pode me corresponder – ele murmura
em minha boca pouco antes de afastar um pouco seus lábios dos
meus. — Eu sou uma pessoa fodida em cinquenta formas
diferentes, Amy…
Eu o beijo rapidamente nos lábios, sentindo o calor deles
próximos de mim mais uma vez antes de respondê-lo.
— Então somos dois.
21- Lágrimas em punho.
Eu não conseguia mais ficar na cama.
Meu corpo parece pesado demais para ficar inerte e a
dormência de meus membros me enerva.
Minha mente parece não querer ficar quieta e a cada nova
respiração é um pensamento diferente, repetido ou modificado que
surge nela.
Sinto-me como uma bomba prestes a explodir.
Sentada na cama, com os cotovelos apoiados em minhas
pernas e meu rosto enterrado nas mãos, tento me focar em
qualquer coisa que não sejam as lembranças ruins de meu passado
e nem de poucas horas antes.
Simplesmente não quero pensar em mais nada!
— Amy? – a voz de Edward enche meus ouvidos, rouca e baixa,
fazendo com que minha pele se arrepie e meu corpo trema de uma
forma boa e, até mesmo com que um sorriso se abra em meu rosto.
— Você está bem?
Tirando as mãos do rosto, viro-me na direção de onde sua voz
vem e me deparo com suas belas írises cinza-metálicas, brilhando
como estrelas no céu negro.
Tenho plena ciência de que o sorriso, provavelmente idiota,
ainda está estampado em meu rosto e particularmente não me
incomodo com isso.
O rosto de Edward está próximo do meu e eu não consigo
impedir meus olhos de percorrerem todas as suas formas, desde
seu queixo quadrado até os fios desgrenhados que caem quase em
seus olhos.
— Melhor agora – sussurro para ele, esticando minha mão e
afagando seu rosto, sentindo a aspereza de sua barba por fazer sob
minha palma e não conseguindo evitar um sorriso maior em meu
rosto.
Ele cobre minha mão com a sua e, movendo o rosto, beija a
minha palma.
O calor de seus lábios em minha pele se espalha por todo o
meu corpo.
Já não consigo mais pensar e internamente agradeço por isso.
Entrelaçando seus dedos aos meus, ele beija também o dorso
de minha mão, fazendo meu coração trepidar com força dentro de
meu peito.
— E quanto ao que aconteceu? – ele pergunta assim que seus
olhos se fixam nos meus.
O ar entra com dificuldade em meu corpo trêmulo e, agora por
causa dele, quente.
— Não quero pensar nisso agora… não quero pensar –
sussurro para ele e tenho quase certeza de que minha voz saiu
rouca.
Colo minha testa na dele, sentindo ainda mais o calor dele
próximo de mim.
Com minha mão livre, volto a acariciar seu rosto, lentamente
escorregando meus dedos para dentro de seu cabelo, para depois,
motivada pelo calor e necessidade que sinto crescer dentro de mim,
colar minha boca a dele.
A posição não é confortável, mas apenas pelo fato de conseguir
tê-lo próximo a mim me sinto satisfeita.
Sua boca dança na minha com suavidade e ele suga meus
lábios devagar, vez ou outra os mordiscando de leve, arrancando
gemidos profundos de mim.
Timidamente adentro com minha língua em sua boca e sou
surpreendida pela forma quente com a que ele a recebe, sugando-a
e brincando com a sua língua na minha.
Interrompendo o beijo, Edward me agarra pela cintura e me faz
girar até ficar de frente para ele e me puxa para seu colo, fazendo-
me ficar sentada sobre ele com minhas pernas uma de cada lado de
seu corpo.
Ele abre meu roupão e o tira de meu corpo, lançando-o longe.
— Vou te ajudar a não pensar, baby… – ele sussurra, soprando
as palavras contra minha pele.
Com seus braços em torno de minha cintura e as mãos
espalmadas, uma em minhas costas e a outra em meu traseiro, ele
desce com seus lábios por meu pescoço, clavícula e ombros até
chegar a meus seios.
Sua boca cobre meu mamilo direito dando uma forte sugada
nele, fazendo meu corpo inteiro tremer e aquecer ainda mais, em
minha mente existe apenas ele e cada coisa boa que ele causa em
mim.
Seus dentes se arrastam pela pele sensível de meu mamilo
antes de voltar a abocanhá-lo com gosto.
Minhas mãos agarram-se com ainda mais força ao cabelo dele
e eu sinto meu corpo inteiro tremer com os primeiros indícios de
meu futuro orgasmo.
Uma brisa gelada se faz presente em meu mamilo direito
quando Edward o abandona para dar atenção ao outro, sugando e
mordendo com vontade, fazendo-me gemer e aquecer ainda mais.
Sinto um de seus dedos entrar em minha intimidade e começar
a se mover lentamente.
Minhas costas se arqueiam quando o sinto introduzir mais um
dedo e quando seus movimentos aumentam a velocidade dentro de
mim.
Minha boca está escancarada em um completo “Ah”, carregado
de prazer proporcionado pelo homem que se encontra sob mim.
Movo meus quadris em busca de mais atrito e de mais contato
com sua palma, que ele passa a esfregar em mim. Seus dedos se
movem com mais rapidez e precisão dentro de mim, deixando-me
cada vez mais quente, úmida e, até mesmo descontrolada.
— Vem, baby… dê para mim – ele sussurra com a boca próxima
de meu mamilo, lançando lufadas de ar quente contra a pele
sensível e molhada, fazendo-me gemer alto.
Meus quadris se movem sozinhos em direção aos seus dedos e
sua mão em busca de cada vez mais contato, sentindo meu corpo
tremer e se contorcer em volta dos dedos dele.
Eu preciso de mais…
Ele move os dedos com ainda mais vontade dentro de mim,
esfregando sua palma em meu clitóris inchado e carente de mais
atenção.
Agarro seus fios com força quando sinto meu ventre se
contorcer e seus dedos se moverem ainda mais dentro de mim e as
sugadas em meu mamilo se intensificando também.
O gemido sai alto e arrastado de meus lábios quando o
orgasmo me atinge em cheio, levando-me ao céu e fazendo meu
corpo inteiro tremer e sacolejar de forma intensa e descontrolada.
— Edward… – o nome dele sai de minha boca de forma lenta e
arrastada, completamente sussurrada, apenas para ele.
Edward me segura firme contra seu corpo, sentindo meus
tremores e minha respiração entrecortada.
Ele me beija e desta forma sinto-me acender mais uma vez.
Tirando-me de cima dele por breves instantes ele se livra da
única peça de roupa que o contém, para logo depois colocar-me
sobre ele mais uma vez.
Com meus olhos presos aos dele, faço-o entrar em mim.
Suas mãos se prendem a minha cintura e eu busco um lugar
onde me segurar, encontrando a cabeceira da cama bem próxima.
Sinto os tremores de meu corpo aumentarem conforme ele
entra em mim.
Ataco seus lábios, beijando-o com uma volúpia que
desconhecia em mim, arrastando meus dentes por seu lábio inferior
e ouvindo o gemido arrastado sair rouco de sua garganta, fazendo-
me sorrir em meio ao ato.
Com suas mãos ainda em minha cintura ele me faz sentar nele
até ir bem fundo em mim, e eu o sinto crescer e alargar minha
carne.
Movo meus quadris minimamente em busca de um pouco de
movimento e vejo Edward sorrir maliciosamente para mim.
Mordo meu lábio inferior quando ele me faz subir para logo
depois descer com força e precisão em seu membro grosso e ereto
dentro de mim, arrancando de mim um grito de surpresa e prazer.
— Gostou? – ele pergunta entre dentes com a voz rouca,
enviando tremores por todo o meu corpo.
— Muito – respondo-o com o pouco de ar e coerência que
encontro em mim.
— Quer de novo? – ele pergunta já erguendo meu corpo.
— Quero! Ah! – grito quando ele me faz descer e desta vez se
empurra também para dentro de mim — Oh, céus! – gemo.
— Mova-se, baby – ele ordena com a voz rouca, afrouxando o
aperto em minha cintura e eu o obedeço elevando meu corpo como
ele estava fazendo e descendo para encontrar com a investida dele.
Subo e desço nele com vontade, sentindo, a cada vez que
desço, a investida de seus quadris, sentindo-o ir fundo em mim e
atingir um ponto especial dentro de meu corpo.
Aumento um pouco mais o ritmo de meus movimentos, o
sentindo crescer ainda mais dentro de mim.
Rodo os quadris e rebolo nele, sentindo-o atingir ainda mais
vezes o ponto especial dentro de mim, lançando tremores e mais
tremores para meu corpo.
Suas mãos deslizam até meus seios, os quais ele aperta com
vontade fazendo-me gemer alto e perder o compasso de meus
movimentos.
Edward me beija e tira suas mãos de meus seios, movendo-as
para minhas costas, me fazendo parar, para logo depois seus lábios
se afastarem dos meus e assim ele me faz encará-lo.
— Eu amo você – ele sussurra com os olhos cravados nos
meus; o cinza no azul.
Suas palavras são minha perdição.
Meus olhos ardem quando o orgasmo me atinge como um golpe
e eu desmorono em torno do homem que me ama e que eu também
amo, chamando pelo nome dele.
Sinto as lágrimas quentes escorrerem dos cantos de meus
olhos em filetes rasos e eu não consigo evitar o sorriso em minha
face, quando depois de mais uma investida ele se derrama em mim
e me aperta em seus braços, colando meu corpo ao seu.
[…]
— Eu estive pensando… – Edward diz em tom baixo com os
olhos focados nos movimentos de seus dedos em minhas costas
nuas.
— Em que? – pergunto curiosa, curtindo a sensação de suas
mãos em mim.
— Em muitas coisas… e todas elas envolvem você – ele sorri
minimamente — Mas, em particular, que quero te dar o que você
não teve por minha causa.
Franzo o cenho e me levanto num rompante, sentindo uma
breve tontura por causa da rapidez.
Seguro o lençol na frente de meu corpo e fito Edward como se
ele tivesse acabado de me xingar.
— O que quer dizer com “sua causa”? – questiono ainda com o
cenho franzido dizendo as últimas palavras como se elas fossem um
xingamento — Nada do que aconteceu comigo foi por culpa sua! Eu
nasci nesse mundo, Edward, você não podia fazer nada!
— Eu sei, Amy, mas eu me sinto culpado por ter te privado de
tantas coisas quando era nova e…
— Você me salvou! – exclamo com emoção transbordando de
minha voz — Não interessa quanto tempo eu fui treinada para você,
Edward, a partir do momento que você me tirou daquela casa você
me salvou e se tornou importante demais em minha vida, mesmo
que na maior parte do tempo eu não quisesse aceitar e muito menos
admitir isso nem para mim mesma. Eu consegui entender isso.
Entenda também, caramba!
Ele sorri abertamente para mim e, se levantando, me toma nos
braços mais uma vez e me beija com paixão.
— Vou entender.
Sorrio de volta para ele, assentindo de maneira enfática,
completamente sem fôlego.
****
Os olhos dele eram escuros, pertos como carvão. Carregavam
um brilho assustador, que me causava calafrios na espinha toda a
vez que eu ousava olhar para ele.
Brilhavam de ódio. Ódio por mim.
As cordas estavam machucando meus pulsos enquanto ele me
mantinha içada sobre o chão, eu podia sentir minha pele cortar e o
sangue a fazer arder.
Ele me golpeava nas costas com um chicote pontiagudo,
profanava minha pele e fazia meu sangue escorrer.
As mãos dele eram pesadas e quando atingiam meu rosto fazia
meu corpo inteiro arder em alarde e o gosto metálico enchia minha
boca. Eu não podia gritar, não podia reagir. Ele me mantinha
amarrada e a mordaça presa entre meus dentes dificultava minha
respiração quando o sangue invadia minha boca…

— Amy… América!
O ar entrou queimando em meus pulmões no momento que
meus olhos se abriram para a penumbra do quarto, que era
quebrada em um único ponto pela luz do abajur.
Já era a terceira noite seguida que esse pesadelo estava me
atormentando.
Minha garganta estava seca e parecia arranhar, eu ainda podia
sentir o gosto do sangue em minha boca.
Meu corpo inteiro estava tremendo e o suor gela minha pele
arrepiada.
Sinto o nó na boca de meu estômago e a adrenalina correndo
em minhas veias.
Pisco algumas vezes e focalizo, em meio aos borrões na frente
de meus olhos, o rosto tenso e fincado em preocupação de Edward.
Ele está sentado de frente para mim, a pele de seu peito nu parece
reluzir nas baixas luzes do quarto.
Com um pouco de esforço, sento-me também e esfrego as
mãos no rosto, para logo depois acender o abajur ao meu lado e
clarear todo o quarto. O escuro não me faria bem, não agora, não
enquanto as imagens ainda estivessem na frente de meus olhos.
— Era com ele que estava sonhando de novo, não era? – a voz
de Edward está baixa e rouca de sono, mas completamente ativa.
Olho para ele focando meus olhos nos dele.
O cinza tempestuoso está repleto de emoções e quase
nenhuma delas eu consigo identificar.
Tremo mais uma vez quando sinto um vento gelado tocar minha
pele e instintivamente rodeio os braços ao redor de mim mesma em
busca de algum tipo de calor.
— Era – eu quase não escuto minha voz quando finalmente o
respondo, minha garganta parece estar queimando e o nó ainda se
faz presente na boca de meu estômago.
— Você estava gritando – ele sopra para mim, passando as
mãos nervosamente pelos cabelos — Doía tanto assim? – ele
pergunta depois de tomar uma lufada de ar.
— Bastante… Foi a primeira vez que ele me bateu – de forma
inconsciente, levo minha mão à boca — Ainda sou capaz de sentir o
gosto do sangue.
Edward se aproxima de mim e me toma em seus braços,
apertando-me com força.
— Não vou deixar que ele se aproxime e nem que machuque
você de novo. Eu prometo – ele diz com veemência e beijando o
topo de minha cabeça.
— Toda a vez que eu treino com o Tristan e estou batendo
naquele saco como uma doida, eu imagino ele ali, e eu me sinto tão
bem quando eu termino. É como atingir a plenitude.
— Você quer fazer isso agora? – ele pergunta.
— O que? Treinar com o Tristan? – bufo um riso.
— Não. Bater no saco de pancadas como uma doida. Colocar
para fora.
— Quero.
[…]
Ele estava ali. Bem na minha frente e eu podia me defender.
Os golpes de meus punhos fechados no saco de areia envolto
por couro preto e macio são seguidos e fortes. Minhas mãos
protegidas apenas por tiras brancas – que Edward praticamente me
obrigou a usar – atingem o objeto com fúria cega.
Meus movimentos seguem exatamente as instruções que a voz
sussurrada de Tristan ordena no fundo de minha mente “Use a
raiva, Amy… assuma o controle”.
Soco. Soco. Cotovelada. Soco. Chute. Derrube-o. Coloque-o no
chão.
“Vamos, Amy! Força… use-o contra ele mesmo. Faça da
covardia dele a sua força”
Um último chute, rodado no ar.
O saco de areia escapa das mãos de Edward e fica balançando
em nossa frente, a corrente que o segura canta rangidos e tilintes
por causa do peso.
Edward está me olhando através do balanço do objeto que
serviu para que eu descontasse minhas frustrações. Seus olhos
parecem não ter foco devido ao brilho perdido que se encontra nele,
mas, apesar disso, eu sei que eles estão em mim, absorvendo cada
um de meus movimentos, captando cada uma de minhas reações.
Viro-me para ele, completamente ofegante, sentindo o suor
escorrer por todo o meu corpo, fazendo toda a minha pele ficar
melecada e escorregadia.
Edward caminha até mim, exatamente onde me encontro
parada apenas estabilizando minha respiração e sentindo a
dormência de meus membros se dissipar.
Ele para na minha frente, quase colando seu corpo ao meu, e
ergue uma mão, passando-a levemente pelo meu rosto e afastando
as mechas soltas de meu cabelo, que se prenderam a minha face
suada.
Seus olhos cinzentos – que se assemelham ao céu em um dia
de tempestade – estão focados nos meus e sinto que com apenas
esse olhar ele pode varrer a minha alma e meus sentimentos,
descobrindo tudo o que habita em mim.
— Como está se sentindo? – ele pergunta ainda com a mão em
meu rosto, afagando-o lentamente.
— Melhor do que antes. Muito melhor… obrigada – respondo,
pegando sua mão livre e apertando-a entre a minha.
— Não me agradeça, baby – ele pede em tom baixo — Eu só
quero te ver bem – ele abre um pequeno sorriso, fazendo com que
eu sorria também — E se espancar um saco de areia é o que te
deixa assim, não vejo porque te impedir de fazer isso. – diz com
humor na voz.
Sorrio abertamente para ele, achando graça em sua piada.
— Mas, às vezes, desabafar também ajuda – ele sopra para
mim ainda com o pequeno sorriso nos lábios. — Pode me usar para
fazer isso se quiser.
— Você desabafa? – questiono, ignorando brevemente o pedido
implícito em sua frase.
— Às vezes… Quando suportar fica difícil demais – ele diz, e
em sua voz noto um traço de dor.
Soltando sua mão, rodeio sua cintura com meus braços,
evitando ao máximo me encostar em seu peito e costas.
Fixo meu olhar ainda mais no dele quando sinto sua respiração
dar uma leve vacilada.
— Pode me usar sempre que quiser desabafar também.
— Não quero te encher com meus problemas – ele diz,
colocando agora as duas mãos em meu rosto.
— Se você quer se encher com os meus, eu também quero me
encher com os seus – ele cola sua testa na minha e esfrega nossos
narizes — Eu amo você e quero te ajudar, da mesma forma que
você me ajuda.
Ele não responde, em vez disso, sela seus lábios nos meus
beijando-me com avidez e necessidade.
Controlo-me para não correr minhas mãos por suas costas,
cravando minhas unhas em minha própria pele para evitar que elas
se soltem.
— Você já me ajuda, baby – ele sopra para mim ao se afastar,
colando mais uma vez nossas testas — Só por estar aqui você já
faz isso.
Meus olhos ardem no mesmo instante que processo o que ele
acabou de me falar e, soltando sua cintura, rodeio seu pescoço com
meus braços e o aperto em meu corpo ao selar nossas bocas mais
uma vez, sentindo minhas lágrimas molharem meu rosto no mesmo
instante que ele rodeia minha cintura com seus braços e me puxa
para inda mais perto de si.
[…]
— Bom dia, Aretha! – digo, sorrindo para ela assim que chego à
cozinha.
— Bom dia, senhorita! – ela sorri para mim enquanto coloca o
café da manhã sobre a bancada — Está animada hoje?
— Um pouco. É bom sentir isso, não é?
— É ótimo, querida.
Sorrio mais uma vez e começo a me servir do maravilhoso café
da manhã preparado por ela.
— Aretha, parece que você leu meus pensamentos.
Ela ri um pouco contida.
— Isso está uma delícia!
— É porque você está com fome, querida – ela diz com um
sorriso que chega a fazer seus olhos brilharem — Tudo com fome
fica mais gostoso.
— Isso também ajuda, mas o real motivo é que você é uma
cozinheira de mão cheia!
— Ah, isso é verdade – a voz de Edward soa pela cozinha —
Aretha cozinha muito bem.
Ele se senta ao meu lado logo depois de depositar um beijo em
minha testa.
Pelo canto dos olhos, vejo Aretha deixando a cozinha e tenho a
ligeira impressão de que suas bochechas estão coradas.
— Está melhor? – ele pergunta.
Aceno de maneira positiva para ele enquanto mastigo
avidamente os waffles com mel.
Sinto-me como uma criança por estar fazendo isso.
— Estou me sentindo muito melhor depois daquilo – respondo
assim que esvazio a boca — Mais relaxada.
— Socar coisas ajudou mesmo – ele sorri torto.
— Uhn-hun – balbucio com a boca cheia mais uma vez,
fazendo-o rir.
Ele se serve de waffles com mel, assim como eu, e junta com
algumas frutas.
Eu observo, com fascínio, pelo canto do olho, os movimentos
feitos por ele e a forma com que o terno escuro se adere e se
movimenta pelo seu corpo a cada gesto que ele faz.
Sirvo-me de mais um pouco de waffles e continuo a comer.
Comendo o que não tinha comido nos últimos três dias, desde que
ele resolveu voltar e atormentar não só a mim como também a
Edward.
Respiro fundo e balanço minimamente a cabeça para afastar os
pensamentos que não são bem-vindos, focando-me apenas em
comer e tentar matar o que no momento está me matando: minha
fome.
— Baby, talvez eu chegue um pouco mais tarde hoje – Edward
comenta — Você vai ficar bem?
— Vou sim. Pode ficar tranquilo.
Uma tosse discreta chama minha atenção, e ao me virar
deparo-me com Tyler logo atrás de nós.
— Bom dia, Tyler – digo com um sorriso para ele.
— Bom dia, senhorita Lawson – ele responde com um breve
aceno de cabeça para depois se voltar para Edward, que o observa
atento — Senhor, eles já estão o esperando no escritório.
— Muito obrigado, Tyler. Já estou indo.
— Sim, senhor. Com licença – ele meneia a cabeça levemente
para mim ao deixar o ambiente.
Viro-me de volta para o meu prato já vazio enquanto observo
Edward terminar com o que restava no dele.
Remexo-me desconfortável com a curiosidade do que ele irá
fazer.
Ele se levanta e eu o acompanho no movimento.
— Não suma, baby, antes de sair vou precisar falar com você,
está bem?
Aceno de maneira positiva para ele com um pequeno sorriso em
meus lábios.
— Vou estar na sala.
Ele sorri – um sorriso torto que mexe comigo – antes de beijar
levemente meus lábios e se virar para ir em direção ao seu
escritório.
[…]
Edward entra sério na sala, acompanhado por Tyler e mais dois
homens, com semblantes tão sérios quanto.
Seus lábios estão fechados em linhas finas e rígidas.
O primeiro tem cabelos loiros escuros e olhos cor de conhaque,
pele branca e aparenta não ter mais de trinta e dois anos. O outro é
um homem de pele morena olhos amendoados e cabeça raspada,
também não aparenta ter muito mais de trinta anos. Mas ambos são
sérios e carregam olhares perigosos para qualquer estranho que
ouse se aproximar do que ou quem quer que seja que eles estejam
protegendo.
— América, estes são seus novos seguranças: Kyle e Ward.
Eles vão te acompanhar sempre que quiser sair. – Edward diz ao
parar do meu lado, apontando para os dois respectivamente ao
dizer seus nomes.
— Oi – digo um tanto surpresa pela notícia.
Eles meneiam a cabeça levemente em um breve aceno e
cumprimento para mim.
— Seguranças… legal.
Edward faz um breve sinal com a cabeça para Tyler e os outros,
e, logo depois, eles deixam a sala.
— Eles… são mesmo os meus seguranças? – pergunto ao me
virar para o homem ao meu lado — Tipo… vão me seguir para
qualquer lugar que eu for fora daqui?
— Sim. Eles vão te proteger e a quem quer que esteja com você
na rua ou aqui.
— Assim como o Tyler faz com você?
— Exatamente.
Ele se aproxima de mim e rodeia minha cintura com seus
braços, colando sua testa na minha.
Nossas respirações se misturam.
— Promete pra mim que você vai obedecer e fazer o que for
melhor para a sua segurança? – ele pede com os olhos focados nos
meus.
— Prometo – e isso é verdade.
Ele me beija com paixão, fazendo-me ofegar e minhas pernas
ficarem bambas.
Minha sorte é que ele está me segurando, caso contrário tenho
certeza de que eu iria ao chão.
— Obrigado, baby – ele esfrega o nariz no meu e sorri — Eu
tenho que ir agora.
— Eu sei, mas não queria que tivesse.
— Não quer ficar sozinha?
Nego com certa relutância, balançando a cabeça para os lados.
— Por que não liga para minha irmã e aquela sua amiga?
— Paige está no trabalho e Laurie deve ter coisas melhores
para fazer do que me aturar.
Ele ri.
— Que eu saiba minha irmã fica o dia inteiro sem fazer nada,
apenas pesquisando coisas para a nova loja dela. Posso apostar
meus carros que ela não vai pensar duas vezes antes de aceitar um
convite seu.
Isso me faz sorrir um pouco.
— Deixa pra lá, se eu me sentir sozinha demais eu ligo para ela.
— Está bem, baby – ele me beija mais uma vez antes de me
soltar — Mas agora eu tenho que ir.
— Toma cuidado.
— Eu sempre tomo.
[…]
A televisão está ligada, mas não presto a menor atenção no que
se está passando nela.
O som em meus ouvidos parece mais um zumbido em meio ao
turbilhão de coisas que se passam pela minha cabeça.
Passo as mãos no rosto com a intenção de afastar o cansaço
de mim e principalmente da frente de meus olhos.
Eu já não sei mais o que fazer para passar o tempo.
Penso que talvez eu devesse mesmo ter ligado para Laurie,
pelo menos agora eu estaria fazendo alguma coisa, nem que fosse
bater pernas no shopping com dois seguranças carrancudos nas
minhas costas… Com certeza seria melhor do que ficar aqui sem
poder fazer nada.
— Amy? – a voz um tanto hesitante de Aretha chama minha
atenção, fazendo-me levantar quase que em um pulo.
— Aconteceu alguma coisa? – questiono com o cenho franzido.
Ela sorri e balança a cabeça em negação, adentrando ainda
mais na sala.
— Telefone para a senhorita – ela diz, estendendo-me o
aparelho.
— Ah, obrigada – sorrio para ela, que me deixa mais uma vez
sozinha logo depois — Alô?
— O que minha cunhada acha de me fazer companhia em uma
ida ao shopping e em um almoço com direito à muitas calorias? – a
voz de Laurie soa do outro lado da linha com sua animação de
sempre me fazendo sorrir.
— Ela adoraria – digo ainda com um sorriso.
— Isso é maravilhoso! Passo aí em meia hora. Esteja pronta!
— Está bem!
Ela desliga logo depois de minha resposta, deixando-me com
um sorriso animado nos lábios por causa de sua proposta e de sua
animação incontrolável.
Ainda encarando o telefone, lembro-me de que ela não
comentou nada sobre já ter contatado Edward e, em visão disso,
tomo a simples decisão de telefonar para ele e interromper seu dia.
Coisa que eu não havia feito até hoje.
— Cage – ele atente ríspido e eu praticamente quase me
arrependo de ter ligado.
— Ahn… oi. Sou eu – digo hesitante e com a voz contida.
— Oi, baby – seu tom se torna afável no instante seguinte e eu
tenho quase certeza de que ele sorriu — Aconteceu alguma coisa?
— Ahn… Laurie me ligou ainda a pouco e me chamou para sair
com ela.
— Me ligou para pedir permissão ou para me avisar que vai?
— Um pouco dos dois, eu acho.
Ouço sua risada suave e sinto um sorriso se abrir em meu rosto.
— Ela já havia falado comigo – ele revela — Vou mandar Tyler
avisar Ward e Kyle.
— Tudo bem. Ahn… ela está vindo me buscar aqui.
— O.k., baby. Divirta-se, sim?
— Está bem. Quer que eu compre algo para você?
— Não – quase posso ouvi-lo sorrir — Volte bem, apenas isso.
— Vou voltar.
[…]
Os braços de Laurie rodearam meu corpo em um quase
sufocante abraço no mesmo instante que ela me encontrou
esperando-a no rol de entrada do apartamento.
— Amy, você está linda! – ela exclama assim que se afasta, me
encarando a uma distância de um braço — Azul realmente é a sua
cor, e combina tanto com seus olhos.
— Ah, Laurie – reviro os olhos levemente — Você também está
maravilhosa! Tem certeza de que vamos almoçar e ir ao shopping
apenas?
— Existe coisa melhor do que arrasar em um shopping e em um
restaurante? – ela sorri empolgada segurando em minhas mãos
com animação — E então, vamos?
— Claro! – sorrio para ela.
Ela sorri e cruza seu braço no meu.
— Eu adoro companhia!
[…]
— E então… conte-me as novidades – ela pede assim que
coloca o cardápio de lado, olhando-me com verdadeiro interesse; o
brilho em seus olhos dava ainda mais beleza ao tom esverdeado de
suas írises.
— Ahn… Novidades? – mordo meu lábio inferior por alguns
instantes antes de responder — Ele disse que me ama, pela
primeira vez – sussurro, sentindo meu coração trepidar dentro de
meu peito e sendo incapaz de evitar o sorriso bobo em meu rosto.
— O que?! Não brinca! – ela sorri abertamente, saltitando
discretamente na cadeira — Olha… Nossa! Isso sim é novidade!
Sorrio envergonhada, sentindo meu rosto esquentar.
— Mas e você? Você o ama? – ela pergunta com o olhar ainda
brilhante, mas o semblante sério de alguém que realmente se
preocupa.
— Sim. Mais do que a mim mesma.
O ar me falta, quando as lembranças do dia que ele disse me
amar tomam minha mente e tenho que fazer um sério esforço para
não chorar na frente de Laurie.
Ele poderia ter dito não, poderia ter me afastado e me mandado
embora e para longe, mas não… ele simplesmente disse que me
ama.
Dentro de mim meu coração se agita e bate acelerado apenas
por pensar nele.
— Céus… agora eu entendo o porquê de ele ter escolhido você
– os olhos dela brilham ainda mais e ela abre um enorme e sincero
sorriso — Vocês são perfeitos um para o outro!
Sinto meu rosto esquentar.
— Eu vi isso nos olhos de vocês, naquele dia, lá em casa –
sinto meu rosto esquentar ainda mais — Ah, Amy! Está com
vergonha por causa disso? – ela dá risada.
— Não, mas é mais forte do que eu – rio sem graça.
Ela ri.
— Deus! – ela ri mais uma vez — Você é impagável.
Rio com ela de minha própria situação, embarcando em mais
uma conversa com outro tipo de assunto enquanto esperamos
nosso almoço ser servido.
[…]
— Paige está uma pilha nesses últimos dias! – Laurie revela.
— Nossa… só assim para eu ter notícias dela! – arqueio as
sobrancelhas, levando minha mão livre ao peito — Acho que ela se
esqueceu de mim!
Laurie ri, tombando minimamente a cabeça para trás.
— Ela se esqueceu de todo mundo, até mesmo do Josh.
— O que aconteceu? – pergunto com o cenho franzido.
— Ela está tão enfiada na nova matéria em que está
trabalhando que parece até ter se esquecido que tem uma vida fora
daquele lugar e Josh está morrendo de preocupação!
— Que matéria é essa? – a preocupação é evidente em minha
voz.
— Tráfico. A primeira matéria que ela conseguiu no novo
emprego – sinto-me estremecer com a informação — Mas ela não
disse que tipo, sabe? E Josh está quase colocando o mundo abaixo
por causa dessa fissura dela em investigar cada coisinha que surge
de nova pra ela nessa investigação.
— Paige sempre foi assim, cabeça dura e focada demais. Não
adianta tentar convencê-la de que é perigoso, porque é aí mesmo
que ela bate o pé.
Bufo resignada e completamente incrédula com Paige,
enquanto entro em mais uma loja com Laurie.
As bolsas quase já não cabiam mais em meus braços e a
maioria delas nem é minha.
— Laurie, o que você faz com todas estas roupas, hein? –
pergunto assim que saímos da loja com ainda mais bolsas; a maior
parte delas sendo de Laurie.
— Eu uso, ué! – ela sorri ajeitando as bolas nos braços.
Próximos de nós, em silêncio e observando a tudo e a todos,
estão Kyle e Ward com seus semblantes sérios e rígidos, os olhos,
mesmo por debaixo de óculos escuros exalam perigo, da mesma
forma que a postura impecável.
— O que acha de darmos uma paradinha? – ela pede —
Podemos tomar um suco ou uma água.
— Apoio a sua ideia.
Seguimos quase que às pressas para a praça de alimentação,
em frente à várias lanchonetes e restaurantes, self-services
diversificados coloridos e quase cheios.
Sentamo-nos em uma mesa, enquanto os seguranças sentam
em outra mesa, próxima a nossa sempre de olhos em tudo.
— América?
Uma voz masculina que não me parece estranha preenche
meus ouvidos, com seu tom surpreso e de praticamente completo
estranhamento.
22- Seu amor é o rei.
Olho intrigada para quem me chama, deparando-me com os
olhos esverdeados do primo da minha melhor amiga, e logo um
sorriso enorme se abre em meu rosto.
— Liam! – exclamo com alegria.
Levanto-me da cadeira e o abraço de maneira apertada,
lembrando-me da última vez que nos vimos e que eu não tive nem
chance de me despedir dele.
— Meu Deus! Quanto tempo, garota! Você está maravilhosa! –
ele exclama segurando-me a distância de um braço.
— Você também não está nada mal – sorrio para ele.
Por cima de seu ombro, vejo os seguranças ajeitando-se em
suas cadeiras, adotando uma postura ainda mais rígida e perigosa,
apesar de suas expressões não revelarem praticamente nada.
Ouço uma tosse discreta e rapidamente me viro para Laurie,
vendo-a com as sobrancelhas arqueadas, questionando-me em
silêncio.
— Ah, desculpe! – sorrio sem graça para ela — Laurie, este é
Liam irmão de Paige – o entendimento carregado de surpresa chega
ao seu rosto e seus lábios se abrem minimamente — Liam, esta é
Laurie, minha cunhada – sorrio para os dois, sentindo um enorme
prazer em pronunciar a palavra cunhada.
As bochechas de Laurie estão coradas em um adorável tom de
cor de rosa.
O sorriso em meu rosto aumenta ao vê-la envergonhada.
— Paige já deve ter falado de vocês um para o outro pelo
menos alguma vez. É impossível que ela não o tenha feito – me
pronuncio quando nenhum dos dois diz nada.
— Claro que já falou! – Liam diz sorrindo — Só não sabia que
ela seria tão bonita – diz em seu melhor tom de galã e o olhar do
meu amigo está diretamente focado em Laurie, que cora
absurdamente.
Sinto o clima de flerte tímido que se abre entre os dois e um
sorriso maroto se abre em meu rosto quando me sento novamente
na cadeira.
— Senta aqui com a gente, Liam – convido — Você não se
importa, né, Laurie?
Arqueio uma sobrancelha para ela, de forma maliciosa, vendo-a
corar ainda mais e me lançar um olhar ao mesmo tempo furioso e
engraçado como se dissesse “vou chutar sua bunda daqui à Nova
York”.
Tive que sorrir para minha mais nova e já tão querida amiga.
Liam se senta entre nós, alguns centímetros mais perto de
Laurie – que não parava de corar, sorrir e conversar conosco
completamente animada.
Meu telefone toca e eu, entre algumas risadas – que me forram
provocadas por Laurie e Liam – me levanto e me afasto um pouco
deles, atendendo a ligação logo em seguida.
Um sorriso se abre em meu rosto quando vejo quem está me
ligando.
— América, que porra de história é essa de que tem um homem
está sentado com você e a minha irmã?! – a voz de Edward sai
alterada e carregada de raiva pelo fone; ele fala tão alto que sou
obrigada a afastar o aparelho de meu ouvido.
Faço uma careta para o zumbido que ficou em meu ouvido.
— Me explique por que tem a porra de um cara sentado na
mesma mesa que a minha mulher e a minha irmã! – ele exige —
Fale alguma coisa, porra!
— Pare de gritar comigo! – rosno para ele, virando-me de
costas para a mesa, para que Laurie e Liam não percebam o que
está acontecendo — Ele é meu amigo, o primo da Paige – respondo
com a voz controlada e em tom normal — A namorada do seu
irmão, minha amiga! Você lembra?
— Amy? – a voz de Laurie soa atrás de mim.
Viro-me para ela fazendo um sinal com a mão e me volto para o
homem furioso do outro lado da linha:
— Laurie está me chamando, vou desligar. Acabe comigo
quando estivermos em casa. Aqui não – solto um suspiro pesado,
fechando os olhos por míseros segundos — Amo você.
Desligo sem esperar pela resposta dele e retorno para a mesa,
onde Laurie se encontra ainda mais animada na conversa com
Liam.
Eles já parecem até velhos amigos.
Laurie me olha de esguelha, perguntando silenciosamente o
que tinha acontecido. Eu apenas sorrio em resposta para ela; um
sorriso que não chega aos meus olhos.
Ele só havia gritado comigo uma vez, uma única vez e não foi
nada bom, para nenhum de nós.
[…]
Liam se despediu de nós no estacionamento com abraços
apertados e beijos em nossas bochechas, sempre – e
aparentemente – sem perceber, sob os olhares meticulosos e
espertos dos seguranças.
No carro, Laurie dirige calada em direção ao Diamond.
Eu acompanho o seu silêncio com minha mente distante,
pensando em como vou encontrar Edward depois do que aconteceu
durante a ligação que ele me fez. Tenho certeza de que foi um dos
dois seguranças que contou para ele, mas não posso culpá-los…
estão apenas pensando no que Edward havia dito para eles
fazerem: me proteger.
— O que meu irmão falou com você para te deixar assim? – ela
pergunta quebrando o silêncio e se virando para mim ao pararmos
em um sinal.
— Não foi nada de mais… ele só ficou preocupado quando
soube de Liam.
— E ele tem motivos para ficar preocupado em relação ao
Liam? – ela arqueia uma sobrancelha e volta sua atenção para a
pista assim que o sinal se abre.
— Claro que não, Laurie! – sinto-me irritada e chateada de
repente quando o sentido de “preocupação” que ela entendeu se
clareia em minha mente — Eu nunca trairia seu irmão.
— Eu não disse que você faria isso. Eu quero saber se você o
deixaria por causa de Liam.
— Nunca. Nunca mesmo, Laurie! Por ninguém! Eu não trocaria
Edward por ninguém! – respondo olhando diretamente para ela, que
presta a atenção na pista.
Ela sorri e olha para mim pelo canto do olho rapidamente, para
logo depois voltar sua atenção para a pista.
Não consigo evitar sorrir para ela.
— Acha que eu tenho chance com ele? – ela pergunta,
remexendo-se um tanto inquieta no acento do carro, com um sorriso
malicioso em seus lábios.
— Posso tentar descobrir – sorrio para ela.
— Faria isso por mim?! – ela pergunta, e não consigo deixar de
notar a surpresa e incredulidade em suas palavras.
— Claro que sim! – sorrio mais uma vez para ela — Você é
minha cunhada e, acima de tudo, é minha amiga.
Ela sorri abertamente e posso notar as emoções em seu rosto,
mesmo que eu não o veja por completo.
O carro para em frente à entrada do enorme edifício luxuoso.
Sinto meu coração querendo começar a afundar dentro de meu
peito antecedendo o que poderá acontecer.
Laurie se vira para mim e me abraça apertado, e, naquele gesto
dela, eu sinto seu apreço por mim, tão forte quanto o meu por ela.
— Obrigada – ela diz, e sei que não é apenas pelo dia que ela
agradece.
— Não precisa agradecer, sabe disso! Eu é que tenho… –
aperto-a um pouco mais em meus braços.
— De nada, então! – ela ri e se afasta — Você está entregue.
Sorrio para ela e me virando para o banco de trás pego as
sacolas – as únicas que realmente são minhas – beijo as bochechas
de Laurie para logo depois saltar do carro e me encontrar com Ward
e Kyle me esperando, aparentemente, pacientes nas portas do
Diamond.
— Senhorita? – o segurança de cabelos loiros me chama —
Precisa de ajuda com as bolsas?
— Ah, não… não precisa, Ward. Não tem nada pesado aqui –
sorrio para ele em agradecimento, vendo-o apenas menear a
cabeça de forma positiva.
[…]
As portas do elevador se abriram apenas no rol de entrada.
Kyle e Ward só saíram de minhas costas quando eu já me
encontrava na sala silenciosa e iluminada do enorme apartamento.
Odeio o silêncio, mas pelo menos não há escuridão.
Passo direto pelo cômodo, meus sapatos fazendo sons ao se
movimentarem pelo piso a cada passo dado por mim. Subo as
escadas e vou direto para meu quarto onde deixo minhas novas
coisas – compradas por insistência de Laurie.
Esse quarto… há um bom tempo que eu já não o uso, que não
durmo por aqui. Quase não sinto falta deste quarto branco e frio.
Dentro de meu closet abro a caixinha de joias que mantenho
guardada ali e, de dentro dela, retiro o colar que Edward me deu no
dia de meu aniversário. É impossível evitar o sorriso que se abre em
meu rosto quando começo a brincar com o pingente em meus
dedos.
Meu coração se agita ainda mais forte em meu peito ao me
lembrar de tudo o que aconteceu naquele dia.
Sinto minha pele se arrepiar e um frisson atravessa todo o meu
corpo.
Guardo novamente o colar na caixinha e a deixo no mesmo
lugar de sempre.
Pego roupas simples e frescas – um short jeans e uma blusa
regata – e saio do closet.
O silêncio é tanto em todo o apartamento que me sinto
sufocada.
Sento-me em minha cama e retiro os sapatos que já começam a
me incomodar ficando descalça. Sigo para o banheiro e tomo um
banho rápido e agradável, colocando a roupa que peguei assim que
termino e permaneço descalça.
Saio do quarto com meu celular em minhas mãos e desço as
escadas em direção à sala, que mais uma vez encontro em seu
completo e – não tão – perfeito silêncio. Pelo menos não está
escuro – repito para mim mesma.
Olho por todo o recinto e meus olhos recaem sobre o pequeno e
moderno aparelho de som.
Sinto um sorriso se abrir lentamente em meu rosto com a ideia
que toma conta de minha mente.
Sigo até o aparelho e quase sem dificuldade nenhuma o ligo,
ouvindo apenas um leve zumbido tomar conta da sala. Noto um
iPod conectado ao aparelho e não me contenho em ligá-lo – e para
minha total surpresa não tem senha.
Arrasto a ponta de meu indicador sobre a tela em busca das
músicas que eu sei que tem ali. Sinto-me travessa por estar fazendo
isso, mas, mesmo assim, continuo a passar o dedo pela suave e
delicada tela até que meus olhos encontram a lista de música.
Mordo meu lábio inferior e sorrio para as seleções musicais que
existem ali.
Um gosto bem eclético, eu noto.
Opto pelas mais animadas que encontro ali, formando uma
playlist longa com inúmeras músicas – o suficiente para afastar de
mim a ideia de solidão que todo o silêncio da casa impõe a mim.
Coloco as músicas para tocar e aumento o volume até ele ficar
bem próximo do máximo.
A primeira música que preenche o ambiente é Crazy In Love e
sentindo a batida e a letra tomar conta de todo o meu corpo, eu
fecho meus olhos por breves instantes deixando meu corpo se
mexer no ritmo delicioso que essa música tem.
Não consigo evitar meus risos quando boas lembranças de meu
tempo de adolescência, quando Paige e Mike me sequestravam no
meio da noite e me carregavam para festas sempre que
conseguiam.
Lembro-me da noite de meu aniversário, quando dancei com
Edward, da forma como seu corpo se mexia junto do meu, o jeito
que suas mãos e todo o seu corpo me tocava.
Mordo meu lábio inferior com certa força quando a sensação
dos lábios dele sobre os meus naquela noite toma conta de mim.
Mexo-me com ainda mais vontade e um sorriso toma conta de
meu rosto quando me lembro do que fizemos assim que chegamos.
“Os lábios dele cobriam os meus quando atravessamos a porta
de seu quarto.
Suas mãos me apertavam com vontade onde conseguissem, e
ele me despia apenas com seu beijo.
Ele me ergueu pelas coxas e fez com que eu o abraçasse com
minhas pernas, colocando nossas intimidades completamente
cobertas pelas roupas em contato.
— Eu estou louco para que você se recupere logo… estou doido
para estar dentro de você de novo, baby.
Eu gemi de forma arrastada, com minhas mãos agarradas ao
seu cabelo e voltando a beijá-lo. Não estava me importando em ter
que me segurar para não o enlouquecer, naquele momento, eu
queria que ele fizesse exatamente aquilo, que enlouquecesse e me
fizesse gritar.
Eu não estava me reconhecendo.
A parede ao lado da porta foi o que nos amparou e segurou.
Ele investia na minha direção, roçando sua ereção –
definitivamente gloriosa – presa pela cueca e pelo jeans em meu
sexo completamente molhado e ansioso por ele. Eu sentia todo o
meu corpo ferver e o sangue circular com dificuldade por minhas
veias de tamanho que era o meu desejo por sentir aquele homem
em mim… dentro de mim.”
Ainda dançando, mas agora de olhos abertos, passo as pontas
de meus dedos sobre meus lábios maltratados por meus dentes,
ainda com as sensações dos beijos dele não só em minha boca
como em todo o meu corpo.
A voz de Britney Spears enche meus ouvidos quando Toxic
começa a tocar.
Diminuindo um pouco meus próprios movimentos sigo ainda
dançante, para a cozinha e me farto com um gelado copo de água,
quando meus olhos reconhecem a garrafa do vinho favorito de
Edward.
Prendo a ponta de minha língua entre os dentes, quando minha
vontade de verter o líquido se torna quase insuportável.
Balanço a cabeça afastando os pensamentos de minha mente e
desvio os olhos da garrafa de vinho e começo a procurar por algo
que eu possa comer, com meus olhos gulosos percorrendo cada
prateleira da geladeira em busca de algo que até eu mesma possa
fazer.
Sinto vontade de doce e meus olhos chegam a aumentar de
tamanho quando encontro o pote de sorvete dentro do congelador.
Minha boca saliva quando vejo que o delicioso creme gelado é de
chocolate.
Coloco o pote sobre a bancada e busco com certa pressa uma
colher, e assim que encontro o objeto desejado praticamente corro
para me sentar de frente para o pote, começando a comê-lo e
soltando um gemido lento de apreciação quando o sorvete entra em
contato com minha língua.
Com o pote em minhas mãos, volto ainda mais dançante para a
sala, comendo mais e mais colheradas do sorvete delicioso que
parece dançar em minha língua.
Balanço meu corpo no ritmo da música que toca – uma que não
reconheço – e continuo a comer sorvete diretamente do pote,
sentindo-me uma adolescente por estar agindo assim.
Praticamente me jogo no sofá, sentando-me com as pernas
para cima, apreciando a música e o sorvete. Em cima da mesinha
de centro, vejo meu celular piscando e praticamente dançando
também durante as constantes vibrações.
Estico-me até ele e vejo o sinal de mensagem piscando como
louco.
É Edward.
A música que está saindo do iPod, faz meu coração palpitar,
apenas por ser a verdade que pulsa em mim: o amor dele é o rei.
*ESTÁ EM CASA?*
Sinto meu peito se comprimir ao me lembrar da forma como ele
estava ao ligar para mim mais cedo, quando eu estava com Laurie
no shopping e ele descobriu – por meio dos seguranças, com
certeza – que Liam estava conosco.
*SENTADA NO SOFÁ. COM UM POTE DE SORVETE.
SENTINDO SUA FALTA*
Envio a resposta assim que termino de digitá-la, mas não
espero resposta.
Deixo o aparelho sobre minha barriga e volto a comer o sorvete
que já começou a derreter.
[…]
O cheiro bom toma conta de meus sentidos e um calor bom
envolve todo o meu corpo.
Abro minimamente meus olhos que nem me lembrava de ter
fechado e encontro o rosto de Edward, fechado em seriedade e os
olhos focados provavelmente no caminho.
Aninho-me um pouco mais nele, sentindo seu cheiro delicioso e
movo minha mão até encontrar os cabelos macios.
Ele desce seu olhar para mim, e nadando no mar cinza de seus
olhos eu vejo tantas emoções que chego a me espantar com a
intensidade de sentimentos que vejo naquela imensidão cinza e
perfeita.
Sinto uma superfície macia sob mim e inconscientemente sei
que ele está me colocando na cama.
Alguns minutos depois, seu corpo se cola ao meu, seu peito
colado às minhas costas e seu braço possessivo e protetor ao redor
de minha cintura. Sinto sua respiração quente contra meu pescoço e
minha pele inteira se arrepia.
Viro-me para ele e o encontro de olhos fechados – ele havia
tomado banho e trocado de roupa, e está perigosamente sem
camisa.
Passo minha perna por sua cintura e ergo o rosto beijando
suavemente o maxilar quadrado e imponente.
Sua mão que estava comportada em minhas costas, desce até
meu traseiro, o apertando com vontade para, logo depois, deslizar
por minha coxa e se infiltrar em nosso meio e consequentemente no
meio de minhas pernas.
Ele alcança meu sexo e o acaricia por sobre o tecido de minhas
roupas, enviando ondas quentes por todo o meu corpo, fazendo-me
arfar.
Ergo melhor o meu olhar para ele e me deparo com suas
fantásticas írises cinza, em um escuro tom de tempestade tropical.
— Isso aqui é meu – ele diz, movendo a mão e a colocando
dentro de meu short e minha calcinha, enfiando diretamente dois
dedos em mim.
Mordo meu lábio inferior e mexo os quadris para sentir melhor
seu toque.
— Não me interessa se era seu amigo ou não. Você é minha,
América.
Movida pelo desejo que ele despertou em mim, coloco minha
mão em nosso meio também já a infiltrando nas vestimentas dele e
alcançando seu membro ereto e completamente duro, envolvo-o em
minha mão aplicando pouca força e deslizando-a lentamente por
todo o seu comprimento, e brincando vez ou outra com suas bolas.
— E isso é meu – digo com a voz rouca, ainda pelo sono e mais
ainda pelo desejo — Você é meu. Ou pensa que me esqueci
daquela sua amiga ruiva toda bonitona te tocando e se insinuando
feito uma vadia de luxo para você?
Ele aperta meu clitóris fazendo-me gritar, no mesmo instante
que coloco minha mão mais uma vez no membro inchado dele.
Edward me beija com volúpia e sofreguidão, enfiando sua língua
em minha boca e me fazendo arfar durante o beijo.
Ele aumenta os movimentos de seus dedos em meu sexo
causando espasmos em mim e me fazendo rebolar em sua palma
com certo desespero. Seus quadris se movem com ímpeto na minha
direção, fazendo seu membro deslizar rápido em minha mão.
Nossos gemidos se misturam durante o beijo, me
enlouquecendo e rápido como começou ele para com tudo, se
afastando ofegante.
Ele tira minha mão de dentro de suas calças e se afasta,
levantando da cama e me deixando completamente confusa e
tomada pelas sensações.
— Edward? – chamo quando o vejo passar as mãos
nervosamente pelo cabelo e começar a andar como um louco de um
lado para o outro — Edward?! – elevo minha voz a um tom mais alto
que o anterior.
Ele se vira para mim e parece desolado, o cenho franzido e o
rosto contorcido em dor.
Meu peito dói com o que eu vejo nos olhos dele.
Abro a boca para falar alguma coisa, mas ele me impede,
falando antes de mim.
— Eu estive com ela hoje… com a Vivian.
Sento-me na cama lentamente, meu semblante fechado e o
sangue pulsando em meus ouvidos tamanha é a raiva que sinto
crescer dentro de mim gradativamente.
Arqueio uma sobrancelha inquisitiva esperando que ele
continue.
— Foi logo depois de ligar para você – respiro fundo, fechando
os olhos; doeu tanto quanto uma bofetada — Nós íamos almoçar
juntos e… – ele hesita, fazendo com que eu abra os olhos e neste
instante eu o vejo engolir a seco — Ela me passou uma cantada e
tentou me beijar.
Mordo meu lábio inferior com fúria e força, tentando conter as
lágrimas que vêm aos meus olhos.
Sinto meu corpo inteiro tremer e convulsionar de raiva, ódio e
nojo.
Faço uma careta quando a imagem deles dois em um
restaurante, rindo e se divertindo, e dela jogando seu charme ruivo
para cima dele povoa minha mente.
Sinto-me revoltada.
Levanto-me da cama, meu corpo inteiro ainda tremendo e o
bolo se forma em minha garganta, ficando cada vez maior na
medida em que mantenho minhas lágrimas presas.
— E o que fez quanto a isso? – pergunto em tom baixo,
controlando a mim e às minhas emoções.
— Eu juro, Amy… não aconteceu nada! – ele tenta se aproximar
de mim, mas o impeço com um único gesto de minhas mãos,
erguendo-as na altura de meus ombros e virando o rosto para o lado
— Era um almoço de negócios e ela se aproveitou disso para…
— Cala a boca – murmuro quando volto a olhá-lo, balançando a
cabeça em negação — Cala a porcaria dessa sua boca!
Ele enrijece e empertiga o corpo.
— Olhe como fala comigo.
— Ou o que?! – explodo sentindo meus olhos arderem e minha
garganta doer com as lágrimas e o choro preso — Vai me bater?
Pode ter certeza de que não vai doer tanto quanto isso já dói.
— Amy, por favor…
Ele se aproxima de mim rápido demais e me segura pelos
braços.
— Eu juro, Amy, não aconteceu nada! – ele diz enfático — Eu…
Você sabe o que eu sinto por você!
— E você o que eu sinto — digo afastando as mãos dele de
mim e dando dois passos para trás — Você ficou com raiva e com
ciúmes porque meu amigo se juntou à mim e à sua irmã em um
lanche no shopping, mas diferente dessa sua amiga, Liam não deu
em cima de mim.
Passo as mãos debaixo dos olhos quando sinto que lágrimas
começam a escorrer, e com minha visão nublada tento passar por
Edward, mas ele segura meu braço me impedindo.
— Aonde você vai? – ele pergunta desesperado.
Viro-me com toda a minha fúria na direção dele e o acerto
quase que com abuso de minha força em sua face, fazendo com
que o rosto dele vire para o lado.
As lágrimas escorrem de meus olhos com liberdade e eu o vejo
virar lentamente o rosto para mim com a mão cobrindo o lugar
atingido.
Uma lágrima solitária cai de seu olho.
— Não deixe que…
Não consigo terminar de falar o que gostaria, pois no instante
em que tento meu estômago parece querer dançar e eu
praticamente sou obrigada a correr para o banheiro, mal tendo
tempo de me ajoelhar na frente do vaso antes de todo o conteúdo
de meu estômago me abandonar.
Sinto a presença de Edward mais do que o vejo ao meu lado.
Ele segura meu cabelo e afaga minhas costas enquanto eu
coloco quase todo o meu intestino para fora. Quando tudo
aparentemente acaba, as contrações de meu estômago me colocam
quase agarrada às laterais do vaso.
Mantenho meus olhos fechados, apenas ouvindo a descarga
sendo acionada, os movimentos de Edward e tudo o que ele faz.
Ele me tira do chão e me faz lavar a boca e escovar os dentes.
Ele lava meu rosto e molha minha nuca, e eu me sinto melhor
depois que ele faz isso, mas o fato de que ele praticamente me traiu
não me abandona e eu sinto as lágrimas brotarem em meus olhos
mais uma vez quando a dor atravessa meu peito.
Sinto vontade de socá-lo, de arrancar a pele daquela mulher
nojenta que ousou dar em cima dele.
Edward me coloca deitada em sua cama e, logo depois, ele se
acomoda ao meu lado enterrando o rosto em meu pescoço, sinto
sua pele gelada e úmida quando entra em contato com a minha.
Não tenho forças para afastá-lo…
O corpo dele dá pequenos solavancos e a respiração
entrecortada dele bate rápida e descontrolada contra a pele de meu
pescoço.
Ele está chorando…
— Por favor, acredite em mim… não aconteceu nada – ele
funga de maneira quase discreta e sua mão encontra a minha.
Reteso um pouco me sentindo tremer com a eletricidade que
percorre todo o meu corpo a partir do toque de nossas mãos.
Edward movimenta minha mão, erguendo-a até certo ponto,
para depois depositá-la sobre sua pele quente onde, logo abaixo de
minha palma, sinto um pulsar forte e acelerado, em um ritmo
próprio.
O ar foge de meus pulmões quando tomo consciência de onde
minha mão está.
Tento tirá-la, mas ele a prende ali com a dele sobre a minha.
A pele quente que protege o órgão pulsante e forte está sob
minha palma deixando-me completamente em pânico.
— Você consegue senti-lo? – ele pergunta em tom sofrido,
carregado de dor; mais uma vez tento tirar minha mão, mas, mais
uma vez, ele me impede — Ele só bate por você… Meu coração só
bate deste jeito por você, Amy.
Edward tira o rosto de meu pescoço e me encara.
O cinza no azul, ambos cheios de emoções e lágrimas.
— Acredite em mim, amor… Eu disse não a ela… eu disse não.
Os soluços escapam de meus lábios sem que eu seja capaz de
impedi-los.
Edward estava me permitindo tocá-lo, em uma área
completamente proibida para mim e em seus olhos há todo o
desespero e sinceridade de suas palavras.
Meu coração parece pronto para romper minha caixa torácica,
fazendo um reboliço com todos os meus sentimentos no momento e
eu acredito no que ele diz.
Sinto raiva por isso e por aquela vadia ter se aproveitado de
uma situação como aquela para tentar se dar bem com o meu
homem.
Aproximo meu rosto do dele e lentamente o beijo, ouvindo seu
gemido forte misturado com o meu quando nossas bocas se
encontram e ele me puxa com força para perto de seu corpo – com
minha mão ainda espalmada em seu peito.
— Eu te amo – ele diz com a voz embargada e a boca colada a
minha pele.
— E eu a você – sopro para ele, tendo o prazer de ver sua pele
se arrepiar, junto com a minha quando sua mão entra em contato
com a pele de minhas costas — E se aquela mulher sequer respirar
o mesmo ar que você de novo… eu acabo com ela.
— E eu quero assistir, mas, primeiro, deixe-me sentir você,
baby… Tira esse medo que está em mim… Me toque, amor.
Não contive o soluço ou gemido – eu não saberia dizer – que
saiu de meus lábios ao ouvi-lo me pedir para tocá-lo e ainda por
cima me chamando de amor.
Eu iria explodir…
— Deixe eu sentir suas mãos em mim, por favor…
Seu corpo sobrepõe o meu e eu o abraço com meus braços e
pernas, sentindo a pele quente e já úmida de suor sob minhas
mãos.
Tenho o prazer de vê-lo se arrepiar mais uma vez, sentindo
seus beijos em meu pescoço, maxilar, bochechas e finalmente
minha boca.
Suas mãos alcançam meus seios e sexo, infiltrando-se em
minha camisa, sentindo minha pele, como eu estava fazendo com
ele.
Sem muito controle sobre mim mesma, arrasto timidamente
minhas unhas na pele quente e macia de suas costas sentindo cada
um de seus músculos se contraindo e relaxando e ouvindo seu
gemido arrastado e alto, fazendo-me arquear o corpo na direção de
suas mãos e, consequentemente, na direção do corpo dele.
Com movimentos rápidos, que eu muito mal percebo, Edward
remove as minhas roupas e o restante das dele, e, logo depois, ele
está me preenchendo completamente como ele nunca havia feito
antes.
Minhas mãos não encontram lugar certo, percorrem todo o
tronco forte e musculoso na medida certa, dando-me o prazer de
sentir cada um deles se contraindo e relaxando conforme os
movimentos feitos por ele. Arrasto minhas unhas com vontade na
pele de seu abdome e em suas costas, ouvindo-o urrar de prazer e
dor e sentindo seus dentes cravando-se na pele de meu pescoço.
Seus movimentos dentro de mim são lentos e quase
agonizantes – se comparados ao nosso normal – mas em nenhum
momento deixa de ser bom… maravilhoso até.
A boca dele percorre todo o pedaço de pele que consegue,
dando atenção aos meus seios que chegam a doer clamando pela
boca ou mão dele.
Meu corpo aquece mais e mais a cada nova investida dele.
Seus movimentos enviando ondas de calor para todo o meu
corpo a partir do ponto de nossa conexão. Ele me beija, começando
a investir com um pouco mais de força e rapidez, fazendo-me
contorcer e ansiar por mais, fazendo com que eu comece a me
mexer em contraponto aos seus movimentos, minhas unhas se
cravando com cada vez mais força na pele dele, arrastando-se
desde os ombros até o traseiro durinho, marcando-o ali também.
— Deus… Amy! – ele geme alto movendo os quadris com
vontade, fazendo o som do choque de nossos sexos ser o único no
ambiente quando nossos gemidos ficam presos em nossas
gargantas.
Ele me beija mais uma vez, colocando sua língua dentro de
minha boca, sugando meus lábios e insinuando os mesmos
movimentos de seus quadris com a língua dentro de minha boca,
provocando espasmos e mais espasmos em mim.
Isso faz meu corpo inteiro aquecer e logo depois derreter,
fazendo-me desmanchar ao redor dele, gritando seu nome numa
versão embolada e carregada de paixão e prazer.
Sinto-o me preencher com seu líquido quente e a jatos fortes
poucos instantes depois de eu ter me desfeito para ele.
Edward geme meu nome sussurrando que me ama e pedindo
para que eu acredite nele.
****
— Eu quero levar você ao médico. – Edward diz assim que se
senta ao meu lado no sofá e me puxa para seus braços.
— Por quê? – questiono fazendo manha e me aconchegando
nos braços dele.
— Faz três dias que você está passando mal direto, Amy – ele
diz com preocupação e pesar na voz — Desde… desde quarta-feira.
Sinto meu corpo tremer levemente quando a lembrança de
Edward me falando sobre a tentativa de Vivian e a lembrança da
bofetada que dei no rosto dele tomam conta da minha mente.
— Desculpe por ter te batido.
— Eu mereci – ele me aperta em seus braços, beijando o topo
de minha cabeça.
— Ela merecia… você não.
Ele se remexe inquieto.
— O médico, Amy – retoma o assunto que nos levou de volta a
isso.
— Não. Se eu piorar aí sim, mas não vejo motivos para isso.
Pode ter sido alguma coisa que eu comi ou apenas aquele monte de
sorvete que ainda deve estar me fazendo mal.
— Amy… – ele me repreende de maneira sutil.
— Eu prometo que vou ao médico se eu me sentir mal de novo.
Ele suspira de maneira pesada e eu sei que ele aceitou minha
condição.
— Você já soube da nova de sua amiga? A Paige? – ele
pergunta, mudando drasticamente de assunto.
— Que ela está deixando todos doidos com essa ideia de
reportar o tráfico? Já.
— Não era isso, mas… também.
— Então, o que era? – pergunto curiosa.
— Ela está noiva de meu irmão.
Praticamente pulo do sofá quando processo o que Edward
acabou de me dizer.
— O que?! Que filha da mãe! – digo completamente
embasbacada — Ela não me disse nada!
Rosno baixinho me levantando do sofá, indo para a cozinha e
pegando um copo de água.
— Vou ligar para ela – anuncio quando volto para a sala e pego
meu celular sobre a mesinha de centro, discando o número dela no
mesmo instante.
Mal dou tempo de ela falar quando os bips de chamada
desaparecem e o burburinho do jornal enche a ligação:
— Que história é essa de estar noiva e não me contar,
Bennett?! – questiono furiosa e chateada com minha amiga. Como
ela foi capaz de me esconder uma coisa dessas?
— Como descobriu antes de eu te contar?! – ela questiona
surpresa com o fato — Ah, deixa pra lá! Foi o idiota do Cage, não
foi? Porra, eu pedi para não falarem, porque eu ia te dizer quando
nos encontrássemos para o almoço hoje, que eu ia te chamar…
mas, pelo visto, já era, né?
— Paige, não me interessa quem me contou… o que me
importa no momento é que você não me falou nada! E todos já
estavam sabendo, menos eu!
— Somente o babaca do seu namorado sabia, Lawson! – ela
esbraveja — Olha, será que tem como a gente se ver mais tarde?
Eu posso passar aí e a gente conversa com calma, sem a presença
do meu cunhadinho intrometido.
— Tudo bem… te espero aqui para o almoço.
— O.k., Amy. E, baby? – ela chama.
— O que?
— Vou precisar da sua ajuda para uma coisa.
— Sabe que pode contar comigo, Paige. Sempre…
— Está bem. Estarei aí para o almoço. Mantenha o seu
namorado longe de mim, ou eu castro ele!
— O.k. Até mais, Paige.
— Até.
Encerro a ligação e fico alguns instantes encarando o aparelho,
tentando entender por que Paige precisaria de minha ajuda, até que
Edward me tira de meus devaneios ao passar os braços ao meu
redor.
— Ela se convidou para o almoço e me ameaçou, estou certo?
– ele pergunta divertido.
— É melhor se esconder no escritório. Não vai querer enfrentar
a fúria Bennett quando ela está prometendo castração – falo
enquanto me viro em seus braços para olhá-lo.
— Uh! – ele ofega se afastando de mim e cobrindo a região no
meio de suas pernas — Peça desculpas a ela, mas eu quero ter
filhos um dia, o.k.?
Rio para ele, sentindo algo diferente se agitar dentro de mim ao
ouvi-lo mencionar que deseja filhos quando uma vez ele já me disse
– ou deixou implícito – que não queria.
— Quer mesmo? – a pergunta salta de minha boca antes que
eu seja sequer capaz de impedi-la.
Ele beija o espaço abaixo de minha orelha e morde a pele
molinha de leve.
— Por que não?
23- Pés fumegantes.
Muita coisa tinha acontecido em pouco tempo e a maioria
dessas coisas eu ainda não havia digerido.
Não poderia dizer que não estava feliz, nem que não estava
com medo porque, a verdade é que, eu estou sim feliz, mas com
medo. Medo de que tudo isso desmorone ou simplesmente deixe de
existir, medo de que ele retorne de verdade e faça as mesmas
coisas que fazia antes ou que faça pior.
Medo de que de uma hora para outra ela conseguisse o que
estava querendo e Edward me deixe.
Não queria pensar nas coisas depreciativas que tinham
acontecido e que provavelmente só iriam piorar, mas é quase
inevitável. Aqueles momentos que estão ali apenas para dar certo
são aqueles que mais fazem com que se pense negativo, por mais
que você se esforce para pensar positivo e acreditar que tudo vai
melhorar e ficar bem.
Eu estava me sentindo exatamente em um destes momentos.
Não queria ter parado para pensar, mas isso eu estava fazendo
desde que Edward me deixara no sofá e teve que ir para seu
escritório resolver algumas coisas que a empresa estava
necessitando.
Desde que ele tinha me falado que ela havia passado uma
cantada para ele – há três dias – que eu não conseguia dormir
direito, ou melhor, não conseguia dormir, porque tudo se mistura
com as lembranças dele, tornando meu sono difícil ainda mais
conturbado e quase impossível.
Às vezes, me pego pensando que as coisas – relativamente –
boas que me aconteceram, vieram depois de algo realmente
insuportável de tão dilacerante e doloroso, como a primeira vez que
Edward disse que me amava e na primeira vez que ele me deixou
tocá-lo.
Só de pensar que aquela mulher quer colocar as mãos nele eu
sinto meu sangue ferver e minhas mãos coçarem de vontade de
estragar aquele rostinho e arrancar no mínimo boa parte de sua pele
cheia de tratamento. Se ela aparece na minha frente… não sei o
que sou capaz de fazer!
Fecho os olhos com força, tentando encontrar algum som no
meio de todo esse silêncio irritante que tome conta de minha
atenção e tire meus pensamentos dessa linha pessimista e
assassina que eles estão seguindo.
É nesse momento de total concentração que me lembro que
Paige está vindo para cá almoçar comigo. Céus! Minha amiga está
noiva…
Realmente noiva!
O sorriso que surge em meu rosto é inevitável.
Sinto-me realmente feliz por ela e Josh. Apesar de não ter tido
muito contato com o irmão de Edward, o carinho que sinto por ele já
é grande o suficiente para preencher e abater esse fato.
Levanto-me do sofá um pouco desajeitada e tonta, mas assim
que me recupero, saio à procura de Aretha pelo apartamento. Onde
fica mesmo a área de serviço desse lugar? E os quartos dos
funcionários?
Deus… como eu moro em um lugar e não sei onde encontrar as
pessoas quando eu mais preciso delas?
Subo as escadas de dois em dois degraus, olhando para os
movimentos acelerados de meus pés, visando não tropeçar nos
próprios e não cair – mais uma vez.
— Menina, para que essa pressa? – a voz de Aretha soa logo
atrás de mim, assim que eu chego ao topo da escadaria e me viro
para o lado do quarto de Edward.
— Aretha! Eu estava mesmo atrás de você! – exclamo ao me
voltar para ela e caminhar até onde se encontra.
Ela está com uma pilha de toalhas brancas e negras, felpudas,
nos braços, e eu teimosamente a ajudo com as coisas, recebendo
olhares repreensivos dela por fazer isso.
Apenas sorrio em resposta.
— Para que lado? – questiono, me posicionando junto dela, que
revira os olhos com um sorriso nos lábios.
— Para o quarto da senhorita e do senhor Cage – ela responde
com um sorriso ainda maior no rosto e eu sinto meu rosto queimar
— Ora, menina, acha mesmo que eu não sei que estão vivendo
como um casal?
Meu rosto arde ainda mais e eu sorrio envergonhada com meus
olhos focados nas toalhas em minhas mãos.
Às vezes, me esquecia que não estamos apenas eu e Edward
neste apartamento gigante.
— Então… por que me procurava, senhorita? – ela pergunta,
mudando de assunto e eu agradeço internamente por ela ter feito
isso, tentando conter a careta pelo “senhorita”.
— Minha amiga, Paige, vai vir aqui almoçar comigo – começo —
E eu gostaria de sua ajuda para preparar algo.
— Alguma coisa em especial? – Aretha pergunta, abrindo a
porta do quarto, tirando as toalhas de minha mão e se direcionando
para o banheiro logo depois.
— Eu não sei… – mordisco a unha de meu polegar direito de
maneira nervosa enquanto penso — O que se prepara para alguém
que acabou de ficar noiva e se esqueceu de contar a novidade?
Ouço a risada de Aretha pouco antes de ela se projetar ao meu
lado novamente.
— Eu não sei, querida. Sua amiga ficou noiva e se esqueceu de
te contar? – ela pergunta com um sorriso divertido nos lábios.
— É. Quase isso… – respondo mordendo meu lábio inferior,
nervosa.
— Pra que tanto nervosismo, menina?
Sorrio para ela e coço a testa com a ponta dos dedos.
— Ela está furiosa porque era para ser segredo e ela iria me
contar, mas Edward estragou a ideia dela – não consigo evitar uma
risada.
— Mas não é só isso, é? – ela pergunta com uma sobrancelha
arqueada pegando minhas mãos entre as dela.
— Não – dou uma leve risada envergonhada e nervosa —
Ultimamente tudo o que eu como me enjoa.
Aretha franze os lábios, pensativa por um tempo, e, logo depois,
sorri para mim.
— O que acha de uma coisa mais leve, então? Uma salada de
legumes e verduras, arroz e filé de… peixe ou de frango?
— Peixe! – respondo com empolgação, já sentindo o sabor em
minha boca.
[…]
O cheiro maravilhoso da comida e a música preenchem todo o
ambiente da sala e cozinha.
Aretha – depois de muita insistência da parte dela – fez a maior
parte de toda a comida e eu apenas ajudei em algumas coisas, mas
a sobremesa fui eu quem fiz, e, no momento, estou colocando o
bolo/torta de chocolate com chantilly e morangos na geladeira.
— Prontinho! – digo com um sorriso orgulhoso em meu rosto —
Já estou com fome só de ter olhado tudo isso – comento com
Aretha.
Viro-me para ela e a vejo com um enorme sorriso no rosto, este
gesto feito por ela faz com que eu me lembre de Suzanne e meu
peito se comprime em saudade.
Na sala, meu celular começa a tocar, tirando-me de meu
mundinho particular das saudades, e eu praticamente corro para
atendê-lo, vendo o nome e a foto de Paige piscando na tela.
— Fala, Bennett! – exclamo ao atender, sentando-me no sofá.
— Estou chegando, Lawson. O idiota do seu namorado está aí
com você?
— Paige – a repreendo de forma sutil, achando até graça da
situação — Ele não é idiota, não o chame assim.
— Tudo bem – quase posso vê-la revirando os olhos — Já
avisou na portaria que eu estou chegando?
— Edward avisou.
Ouço-a bufar.
— Tudo bem… estou aí em quinze minutos.
— Estarei te esperando.
Desligo logo depois, depositando o celular sobre a mesinha de
centro mais uma vez.
Levanto-me do sofá e me direciono para a cozinha, encontrando
Edward ali, de frente para a pia. O corpo inclinado levemente para
trás, assim como a cabeça está levemente levantada, para facilitar
enquanto ele bebe a água.
Escoro-me com os quadris na bancada e cruzo os braços na
frente do peito, observando os movimentos dele, vendo seus
músculos das costas cobertos pelo tecido fino da camiseta branca.
Ele estava vestido para malhar – coisa que ele vinha fazendo muito
nos últimos dias – principalmente depois de quinta.
Muitas vezes eu o vi quase dilacerando o saco de areia, ou se
exercitando com impetuosidade nos equipamentos, malhando cada
parte de seu corpo e ficando encharcado de suor da cabeça aos
pés.
Eu simplesmente adoro vê-lo malhar.
— Gostando da vista, baby? – a voz dele enche meus ouvidos
no momento que ele se vira para mim com um sorriso torto,
carregado de malícia e amor.
— Muito. É uma vista realmente maravilhosa – sorrio para ele.
— Fico feliz de que goste – ele diz, sorrindo ainda mais
enquanto caminha até mim, envolvendo-me em seus braços.
Seu perfume e seu calor tomam conta de meus sentidos,
deixando-me inebriada e fazendo meu sorriso se abrir ainda mais.
Ele arrasta seu nariz no meu, os olhos fechados e o sorriso
ainda estampado no rosto. Seus lábios se encostam aos meus em
um beijo rápido e estalado, no mesmo instante em que envolvo seu
pescoço com meus braços.
— Você está brilhando, sabia? – ele sopra para mim com um
sorriso ainda maior, a felicidade presente em sua voz é contagiante.
— O que? – pergunto com meu cenho franzido, mas não
conseguindo deixar de sorrir.
— Eu não sei explicar – ele começa — Mas eu vejo brilho
saindo de você.
Toco seus lábios com os meus da mesma forma que ele fizera
comigo e sorrio ainda mais para ele.
— Vou levar isso como um elogio.
Ele ri e beija a ponta de meu nariz.
— Todos eles para você, amor.
Senti-me derreter por dentro e sorrir ainda mais ao ouvi-lo me
chamar de amor.
Para mim isso ainda é a mais pura e completa novidade, é
extasiante ouvi-lo dizer esta palavrinha desde a primeira vez que ele
a pronunciou para mim.
Sua boca se junta a minha, desta vez, em um beijo de verdade,
tirando o sorriso do meu rosto, mas não de dentro de mim.
Suas mãos se movem por minhas costas, me pressionando
cada vez mais contra si. Uma mão se prende em meus cabelos, me
mantendo ali fortemente junto dele, enquanto a outra me apalpa
com gosto em todas as partes que ele consegue alcançar.
Minhas mãos se embolam com força em seus cabelos quando
ele arrasta seus dentes levemente por meu lábio inferior, pouco
antes de chupá-lo e arrancar de mim um gemido arrastado.
— Amo você – ele sussurra em meus lábios, para logo depois
colar sua testa na minha.
— Amo você.
Um pigarro vindo da porta da cozinha estoura nossa bolha,
trazendo-me de volta para a realidade.
Olho para o lugar de onde o som veio e encontro Tyler de pé ali,
com as mãos atrás das costas; ele parece desconfortável por ter
que atrapalhar.
— O que houve, Tyler? – Edward pergunta, virando-me em seus
braços e me colocando com minhas costas em seu peito; sinto sua
ereção cutucar minha bunda e meu rosto se aquece de vergonha.
— A senhorita Bennett acaba de chegar – ele avisa em tom
profissional — Ela já está subindo.
— Obrigada, Tyler – digo com um sorriso tímido, apertando-me
um pouco mais nos braços de Edward.
Ele acena brevemente com a cabeça em um sinal positivo e se
retira.
Sinto meu corpo relaxar no mesmo instante.
O corpo de Edward chacoalha com o riso dele e eu por rir junto.
— Ande… vamos receber minha futura cunhada – ele diz ainda
rindo e entrelaça seus dedos nos meus.
Chegamos à sala no mesmo instante em que Tyler entra para
anunciar a chegada de Paige, que entra quase idêntica a um
furacão e se atira em meus braços, e por pouco eu não caio no chão
com o peso extra que é colocado sobre mim.
— Olá, doida! – digo entre risos, apertando-a em um abraço
assim que recupero meu equilíbrio, sentindo seus braços me
apertarem também — Senti saudades.
— Eu também! – ela diz e posso sentir o sorriso dela em sua
voz.
Ela me afasta e me encara a distância de um braço, avaliando-
me com um enorme sorriso em seu rosto.
— Você está radiante! – ela constata com seu sorriso ainda
maior no rosto, fazendo-me sorrir para ela também.
Era a segunda vez que eu estava ouvindo este elogio hoje.
— Você também está linda, Paige!
Ouço uma tosse completamente fingida ao meu lado e sorrio ao
me virar para Edward que carrega um sorriso travesso nos lábios.
— Olá, Paige – ele diz ainda sorrindo.
— Oi.
Sinto vontade de revirar os olhos diante de tamanha
infantilidade e implicância entre ele e minha melhor amiga, mas
limito-me a apenas sorrir para eles.
— Que tal irmos almoçar? – digo antes que o clima agradável
se transforme em algo insuportável.
Entrelaço meu braço ao de Paige e minha mão a de Edward, e
assim, seguimos em direção a sala de jantar.
A mesa já está toda posta com o almoço que Aretha e eu
preparamos.
Os pratos estão quentes e o perfume que sai deles é magnífico.
Sinto minha boca se encher d’água só de me imaginar comendo
cada uma das coisas preparadas.
O peixe parecia estar me chamando…
Edward se sentou na cabeceira da mesa e eu me sentei na
cadeira seguinte com Paige logo ao meu lado.
— Que tal começar a me atualizar das coisas, hein, Paige? –
digo assim que termino de me servir.
Pelo canto do olho vejo um sorriso torto nos lábios de Edward.
Ao meu lado Paige resmunga algo que eu não compreendo e
prefiro deixar assim – tenho certeza de que foi apenas mais um de
seus insultos para Edward.
— Que tal ficarmos a sós primeiro? – ela pede, olhando incisiva
para Edward que sorri ainda mais.
Sinto vontade de revirar os olhos para a situação; tamanha
infantilidade me deixa irritada.
— Tudo bem, Paige.
[…]
Paige se sentou, ou melhor, praticamente se jogou na cama.
Estamos no quarto que era meu no começo de meu convívio
com Edward.
Eu não dormia aqui desde o dia que caí das escadas, e é
estranho pensar que foi somente a partir daquele dia que realmente
me aproximei de Edward, mesmo com o sentimento que já estava
crescendo em mim.
— Ainda bem que não me levou para onde você e o Cage
dormem – Paige diz assim que se ajeita na cama, sentando-se com
as costas apoiadas na cabeceira da cama — Eu que não iria chegar
perto daquele ninho de esperma e óvulos de vocês.
Sou praticamente obrigada a rir do que ela fala.
Sento-me na cama também, de frente para ela, que entrelaça os
dedos sobre as pernas e se empertiga toda e me encara com os
olhos sérios.
— Antes de te contar sobre o pedido de Josh, eu preciso da sua
ajuda para uma coisa – ela diz com a voz nervosa e baixa, torcendo
os dedos sobre o colo.
— E o que é? – pergunto, sentindo meus níveis de curiosidade
aumentarem cada vez mais.
— Eu acho que estou grávida – ela lança de uma única vez, tão
rápido que eu quase não entendo.
— Grávida?! – digo com verdadeira surpresa.
— É. – ela responde acenando freneticamente com a cabeça —
Mas eu não tive coragem para fazer o teste, pelo menos não
sozinha.
— E quer que eu faça com você, é isso?
— É.
— E por que você acha que está grávida?
— Eu tenho ficado enjoada com praticamente tudo, minhas
roupas não estão mais servindo como antes e o principal.
— O que?
— Minha menstruação está atrasada há duas semanas… e isso
nunca aconteceu! – ela exclama — E, então, você vai fazer o teste
comigo? Acho que eu não consigo sozinha.
Eu estava surpresa.
Paige Bennett estava realmente me pedindo ajuda para fazer
algo e, aparentemente, estava com medo de qual poderia ser o
resultado.
— Claro que sim, Paige – sorrio para ela que suspira aliviada,
para logo depois se esticar até sua bolsa e tirar de dentro dela uma
sacola com o emblema de uma farmácia dois testes de gravidez.
— Você ou eu primeiro? – ela pergunta, e tenho quase certeza
de que estou vendo uma adolescente no lugar de Paige Bennett.
— Eu vou primeiro se isso te deixar mais tranquila. Estou
mesmo com vontade de fazer xixi – dou de ombros.
Ela acena de maneira frenética com a cabeça, sorrindo.
— Mas vamos ter que ver os resultados juntas – ela diz, me
entregando a caixinha do teste ao mesmo tempo.
— Tudo bem – respondo sorrindo, sentindo vontade de revirar
os olhos para toda esta situação, me levanto e sigo para o banheiro.
O que há de mais em fazer xixi em um palitinho?
[…]
Sentei-me na cama com o teste em minhas mãos e fiquei
esperando Paige terminar de fazer seu teste e sair do banheiro para
finalmente poder tirar as dúvidas dela quanto a sua possível
gravidez.
Não queria encarar o teste em minhas mãos, mas minha
curiosidade é tamanha que se torna quase impossível não levar
meus olhos para o objeto. A ansiedade de Paige tinha conseguido
me deixar ansiosa e nervosa também.
Eu não conseguia parar de balançar minhas pernas e nem de
ficar mexendo as mãos o tempo todo.
O teste estava com o lado do resultado virado para baixo, e eu
estava a ponto de virá-lo quando Paige saiu do banheiro com seu
teste em mãos, junto da caixinha, onde havia as instruções para
saber qual era o resultado.
Paige se senta ao meu lado e coloca o teste sobre a cama,
virado para baixo, escondendo o resultado.
Coloco o teste que fiz em cima da cama também.
Ela começa a ler as instruções de maneira nervosa e chega a
gaguejar algumas vezes.
— Então, positivo… duas barrinhas? – pergunto apenas para ter
minha confirmação.
— Isso aí – ela responde respirando fundo e engolindo em seco.
— Está pronta? – pergunto.
— Estou… E você?
— Eu não acho que estou grávida, mas… Vamos lá.
— No “já” então – ela diz — Um. Dois. Três… Já! – e então,
assim que ela diz a palavrinha mágica pegamos nossos testes e
viramos, para podermos ver o resultado.
Sinto meu corpo inteiro tremer e meus olhos arderem.
Minha respiração desaparece, minha boca fica seca e eu não
consigo me mexer.
Tenho certeza de que Paige diz alguma coisa e sinto seus
braços me envolverem.
Ela está chorando e sua voz está distante demais de mim para
que eu consiga entender o que ela fala e para que eu possa dizer
algo para ela.
Abraço-a de volta, apertando-a contra mim procurando conforto
ou algum tipo de luz que possa me ajudar com o que eu acabei de
descobrir sem que ela saiba.
— Eu estou grávida, Amy! – a voz de Paige enche meus
ouvidos e ela me aperta ainda mais forte.
Sinto felicidade por ela e pânico por mim.
— Parabéns, Paige – digo com verdadeira felicidade a ela,
sorrindo e sentindo as lágrimas escorrerem pelo meu rosto.
— Josh vai pirar! – ela diz ao se afastar de mim, rindo e
secando suas lágrimas — Então… eu acho que tenho que te contar
sobre um pedido de casamento, não é?
Sorrio para ela em resposta e eu juro que tento prestar a
atenção em tudo o que ela me conta, mas infelizmente, não escuto
nem a metade do que ela fala.
Meu corpo inteiro ainda está tremendo e meu coração parece
estar querendo saltar pela boca.
Eu iria precisar de ajuda, mas não poderia pedir isso a Paige,
pelo menos não agora.
Por hora, eu só conseguia pensar em uma única pessoa.
[…]
Edward se deitou ao meu lado na cama, passando seus braços
ao redor de meu corpo e colando seu peito às minhas costas.
Ele beija meus cabelos e entrelaça suas pernas nas minhas.
Não consegui me acalmar nem quando o senti assim tão
próximo a mim, muito pelo contrário, me senti ainda mais nervosa e
inquieta. Minhas mãos estão suadas e meu coração parece bater
ainda mais acelerado do que mais cedo.
Viro-me nos braços de Edward e ficando de frente para ele
coloco minhas mãos em seu peito, sentindo seu coração bater forte
e no ritmo certo.
Levanto os olhos para ele e o descubro me fitando
intensamente.
Não consigo encarar seus olhos, tenho medo de que ele
descubra através dos meus o que tanto está me deixando nervosa.
Aninho-me em seu peito, sentindo seu calor ainda mais próximo
do meu.
— Gosto de ter você assim perto de mim – ele sussurra com
seus cabelos — Gosto quando você me toca.
Sinto meu coração perder algumas batidas e depois acelerar
ainda mais.
Passo meus braços ao redor dele e me colo ainda mais a ele,
sentindo seu perfume dominar meus sentidos e tento me entregar à
inconsciência.
— Eu te amo – sussurro para ele, antes de enterrar meu rosto
em seu pescoço e fechar meus olhos.
— Amo você também – ele diz e beija meus cabelos.
****
Eu não havia dormido nada e já estava pronta para sair.
Eu já havia deixado minha bolsa arrumada para sair na noite
anterior, com o teste dentro dela, e estava quase a ponto de ligar
para Laurie e quase implorar para sair com ela, apenas para ter uma
desculpa para conseguir sair deste prédio sem levantar suspeitas do
que eu iria fazer.
Edward havia saído para trabalhar. Uma reunião de emergência
havia surgido e ele não poderia faltar, por se tratar de um negócio
extremamente importante. Era o que eu precisava para poder
resolver o que está me tirando dos eixos.
— A senhorita vai sair? – a voz tempestuosa e profissional de
Tyler Ford encheu a sala.
Senti meu sangue gelar na mesma hora.
Eu tinha me esquecido dele, e como eu iria sair sem Edward
saber se os seguranças estavam aqui?
Burra, burra, burra!
Viro-me para ele de forma lenta, já podia sentir meus olhos
ardendo pelas lágrimas de pavor que já começavam a se formar em
meus olhos.
Tyler está de pé no meio da sala com o rosto impassível, as
mãos atrás das costas e a boca tencionada em uma linha rígida e
reta.
Eu não sabia mentir e nem conseguiria mesmo se eu quisesse.
— Não conte para ele… por favor – imploro com minha voz
embargada e dolorida.
Eu não queria me sentir assim com o que eu havia descoberto,
mas esse sentimento de pavor se torna mais forte do que eu.
Eu gostaria de estar me sentindo mais feliz do que apavorada
com isso, mas está sendo mais forte do que eu, porque eu sei que a
partir do momento que minha mãe souber disso ela vai fazer de tudo
para que o legado de nossa família continue e que o dinheiro
sempre exista. E eu não quero isso.
— A senhorita está indo embora? – ele pergunta, e pela
primeira vez um traço de emoção surge em seu rosto.
— Não! – minha voz se eleva — Por Deus, não! – viro-me
completamente para ele e passo a fitar seus olhos em fendas
desconfiadas — Eu preciso ir ao médico, mas Edward não pode
saber. Ele pode achar que estou doente e vai surtar, por favor, não
conte a ele.
— Não posso deixar a senhorita sair daqui sozinha nem sem a
autorização do senhor Cage. São ordens dele.
— Por favor, Tyler! Eu preciso da ajuda da Marie… por favor! –
imploro, sentindo meu corpo inteiro tremer e mais uma das ondas de
enjoo me dominar.
Sinto-me zonza e tenho que me escorar no sofá para não cair.
Sinto braços ao redor de minha cintura e quando olho para cima
encontro o olhar de Tyler sobre mim. Ele me mantém segura até eu
conseguir me manter de pé sozinha, e quando ele se afasta, ouço
sua breve respiração um pouco mais elevada.
— Eu a levo até a doutora Cage, a senhorita não está em
condições de sair daqui sozinha, e muito menos escondida do
senhor Cage – o tom de repreensão está evidente em sua voz e eu
estranhamente sinto vontade de sorrir para isso; lembra-me tanto
meu pai.
— Obrigada, Tyler, obrigada mesmo.
[…]
Marie estava concentrada nos papeis sobre a mesa de seu
consultório quando eu praticamente irrompi pela porta.
Pela rasa cortina de lágrimas na frente de meus olhos pude vê-
la pular de susto com meu ato.
O teste está em minhas mãos trêmulas e eu mais uma vez me
vejo imóvel, só que desta vez, de frente para Marie.
— América?! – ela diz espantada, se levantando e praticamente
correndo até mim e me envolvendo em seus braços — O que
houve, querida? Você está pálida!
Ela me senta em uma das cadeiras da sala e, logo depois, se
senta na minha frente.
Sem conseguir falar, ergo a minha mão e mostro para ela o
teste de gravidez, sentindo os soluços ricochetearem em meu peito.
Os olhos dela recaem sobre o objeto em minha mão erguida e
sua boca se abre em surpresa, e posso jurar que vi os cantos de
seus lábios se repuxarem várias vezes em tentativas de sorrisos,
mas sua surpresa ainda era maior.
— Eu estou grávida, Marie – minha voz não passa de um sopro
assustado e carregado de pavor.
Foi uma questão de fração de segundos para eu sentir os
braços de Marie me rodearem e ela me apertar contra ela em um
abraço carregado de carinho, amor e agradecimento – mas, mesmo
com ela me apertando, eu pude sentir todo o cuidado que ela teve
ao fazer isso.
Aquele era um abraço carregado de carinho e amor de mãe.
Depois de me recuperar da surpresa que foi tê-la me abraçando
desta forma, eu finalmente consigo retribuir a ela o abraço.
— Eu vou mesmo ser avó? – ela pergunta ao se afastar a
distância de um braço, seus olhos estão marejados e lágrimas rasas
escorrem por seu rosto — Você está mesmo grávida, querida?
— Estou – eu consigo dar uma risada em meio as lágrimas —
Ou pelo menos é o que este teste está dizendo, não é?
Ela sorri para mim, também em meio a lágrimas.
E, me surpreendendo mais uma vez, ela beija minha testa e
afaga meus cabelos. Seu olhar é carinhoso e carregado de afeto e
faz com que eu me pergunte como ela havia se afeiçoado por mim
assim em tão pouco tempo.
— Quer tirar as dúvidas? – ela pergunta sorrindo, e no mesmo
instante sinto meu corpo retesar.
— Exame de sangue? – pergunto engolindo a seco.
— Não… isso demoraria muito. Uma ultra… o que acha?
Pela primeira vez coloco minha mão sobre meu ventre, ao
imaginar como deve ser esse pequenino que está crescendo dentro
de mim.
— Adoraria.
Marie sorri ainda mais e dando outro beijo em minha testa ela
se levanta.
— Espere aqui, eu já volto para te buscar.
[…]
Marie se sentou ao lado da cama em que eu me deitei.
Ela havia me apresentado à doutora Daisy Lo.
Seria ela quem faria a minha primeira ultrassonografia e eu faria
isso apenas para confirmar o que eu já tinha certeza.
Passei a noite inteira pensando e verificando se eu tive mesmo
todos os sintomas que Paige havia me relatado e acabei
percebendo que eu estava grávida a mais tempo do que eu
imaginava, só não havia ligado os pontos, foi necessário que minha
amiga precisasse de ajuda para fazer um teste para eu descobrir
que estou grávida.
Seria engraçado se eu não estivesse tão apavorada.
— Então, está pronta, Amy? – a voz da doutora Daisy enche
meus ouvidos tirando-me de meus devaneios.
Sorrio para ela acenando positivamente com a cabeça.
Ela sorri e liga os aparelhos e prepara a sonda.
Um processo extremamente desconfortável, mas para mim era
melhor do que ter agulhas sendo enfiadas em mi para tirar o meu
sangue.
Marie segura minha mão, sorrindo para mim, e eu prendo minha
respiração quando sinto a doutora inserir a sonda em mim. Levo
meu olhar para a tela, onde eu apenas enxergo algumas manchas
azuis e pretas.
Assim como eu, Marie encara a tela fixamente sem querer
desviar o olhar para nada.
— Olhem aqui! – a doutora Daisy exclama, apertando algumas
teclas em um teclado que eu não havia notado, e, logo depois,
apontando uma região da tela com a ponta do dedo — Conseguem
ver essas duas manchinhas aqui?
— Duas?! – Marie e eu exclamamos ao mesmo tempo; sinto o
pânico me dominar mais uma vez, mas a felicidade está aqui e ela
me preenche e transborda em meus olhos.
— Sim, duas manchinhas bem aqui, semelhantes a grãos de
feijão. Conseguem ver?
Estreito os olhos forçando minha vista embaçada pelas lágrimas
a enxergar o que a doutora mostra, e, com alguma dificuldade, eu
os vejo e um sorriso quase rasga o meu rosto, apesar do medo que
estou sentindo.
— Sim – eu sussurro para ela que sorri para mim e aperta mais
algumas teclas no teclado.
— Meus parabéns, Amy, você está grávida de gêmeos fortes e
saudáveis. Agora, o que eu lhe recomendo é que procure a sua
médica e que comece a fazer seu pré-natal o quanto antes, está
bem? – ela sorri e me entrega uma folha — Sua primeira foto dos
bebês.
— Obrigada! – agradeço a ela, pegando a imagem com um
sorriso enorme em meu rosto.
— Você tem alguma médica que sempre lhe acompanhou? –
Marie pergunta com preocupação, mas não deixando de sorrir.
— Tenho sim, e ela trabalha aqui também. Vai poder me
acompanhar se quiser – sorrio para Marie.

Quando estou devidamente arrumada, caminho com Marie de


volta para seu consultório.
Eu não conseguia tirar minhas mãos de cima de meu ventre, a
todo instante eu o estava acariciando, ou apenas mantendo minhas
mãos ali, como se assim eu conseguisse protegê-los de qualquer
coisa e de qualquer um.
— Quando vai contar ao meu filho? – Marie pergunta, sentando-
se mais uma vez ao meu lado e pegando minha mão.
— Talvez hoje, depois que ele me der uma bronca ou surtar.
— Por que ele faria isso querida? – ela pergunta com carinho,
franzindo levemente o cenho.
— Eu saí sem avisar e ele é tão cuidadoso comigo, tão
preocupado com a minha segurança… Acho que ele vai surtar,
achando que eu fugi ou que estou morrendo.
Marie ri, fazendo-me rir também, e exatamente neste momento
a porta do consultório de Marie se abre, revelando um Tyler um
tanto vermelho e com o cenho franzido.
— O senhor Cage acabou de me ligar, ele já está quase saindo
da empresa.
Anuo positivamente para ele e viro-me para Marie, que mantém
um sorriso enorme em seu rosto.
— Quando contar a ele – ela começa enquanto se levanta da
cadeira, sendo logo acompanhada por mim — Avise-o que um jantar
de comemoração estará esperando por vocês em minha casa.
George vai enlouquecer!
— Tenho certeza que sim – sorrio para ela e a abraço, sinto seu
perfume, e o gravo em minha memória — Espero conseguir ser uma
mãe tão boa quanto você, Marie – digo ao me afastar.
— Talvez seja até melhor, querida – ela sorri para mim e beija
minha testa — Até breve, Amy – ela toca meu ventre com as pontas
dos dedos e acaricia o local — Até breve, lindinhos.
— Até mais, Marie, obrigada! – beijo o rosto dela e assim que
nos afastamos, ela me acompanha até a entrada do hospital, onde
Tyler me espera; eu nem me lembrava de tê-lo visto sair do
consultório.
Mais uma vez, ela beija minha testa e me abraça, desejando-me
sorte com Edward e mais uma vez me felicitando pela minha
primeira gravidez.
Tyler abre a porta do carro para mim e eu entro, colocando o
cinto e acenando para Marie que continua sorrindo.
Assim que Tyler se senta atrás do volante, ele dá a partida e o
carro desliza para fora do estacionamento do Harborview Medical
Center.
[…]
A água quente do banho relaxou meus músculos e a mim
completamente.
Não posso dizer agora que não estou feliz nem com medo,
simplesmente porque essas duas emoções simplesmente
aumentaram quando eu vi meus dois grãozinhos de feijão.
Apesar de estar praticamente em pânico, eu já amo estes dois
seres miudinhos que fazem parte de mim.
Assim que terminei de tomar banho, coloquei uma roupa leve
que não ficaria apertando meus pequeninos e me deitei na cama.
Os travesseiros e lençóis têm o cheiro de Edward e eu não
consigo deixar de sorrir enquanto acaricio meu ventre, ao pensar
que agora eu tenho parte de Edward crescendo dentro de mim.
Dois pedacinhos nossos…
— Amorzinhos? – eu chamo meus pequeninos — Desculpem a
mamãe por ela estar com tanto medo, sim? – sussurro para eles
ainda acariciando meu ventre — É porque eu simplesmente não
suportaria perder vocês.
Levanto-me da cama e vou até minha bolsa que deixei sobre a
cadeira do outro lado do quarto, próxima ao closet.
De dentro dela, tiro meu celular e a minha primeira imagem de
meus pequeninos, não conseguindo evitar meu sorriso ao me
lembrar de como eu estava apavorada quando cheguei ao
consultório de Marie.
Ouço a porta do quarto se abrir com força e, então, antes que
eu possa me virar para ver quem fez isso, braços me envolvem e
me apertam contra um corpo quente e forte.
O cheiro de Edward domina meus sentidos logo em seguida.
— Baby, cuidado – digo com um pouco de dificuldade em
respirar.
Edward me liberta de seu aperto aos poucos, segurando-me a
distância de um braço ele começa a me estudar com seus olhos
cinzentos brilhando de preocupação.
Então, ele se afasta quase que com brutalidade e passando as
mãos nervosamente pelos cabelos ele começa a andar pelo quarto
de um lado para o outro.
— Você está doente, não é? – ele explode, se virando para mim
e seu rosto está brilhando por causa das lágrimas que caem de
seus olhos — Era por isso que você estava tão estranha ontem e
hoje de manhã? Por que você está doente e não queria me contar?!
Por isso você foi ao hospital hoje?!
O ar some de meus pulmões.
— Como você soube? – pergunto assim que encontro minha
voz.
— Os carros têm rastreadores, América! – ele explode — Mas
não é isso que me interessa no momento… O que eu quero saber é
porque você não me disse que está doente, porra! – ele grita,
voltando a andar de um lado para o outro no quarto, passando as
mãos com ainda mais fúria nos cabelos.
— Eu não estou doente, Edward! – explodo — Eu estou grávida!
E então ele para, estagna em seus próprios movimentos.
Um ofego escapa de seus lábios enquanto, lentamente, ele se
vira e caminha para mim.
Vejo as lágrimas caindo de seus olhos como se fosse água
caindo de uma cachoeira, conforme ele se aproxima de mim e então
ele cai de joelhos no chão, bem na minha frente, espalmando as
mãos em meu ventre.
Os olhos cravados em mim, brilhando como estrelas e cinzentos
como prata liquida.
— Você está grávida mesmo? – sua voz não passa de um
sussurro fraco e embargado por seu choro — Está esperando um
filho meu?
Meus olhos se enchem de lágrimas e um sorriso bobo, feliz e
apaixonado surge em meus lábios.
Largo as coisas que estão em minhas mãos, deixando-as
baterem no chão e embrenho meus dedos no cabelo revolto de
Edward, que sorri em meio às lágrimas.
— Filhos – eu o corrijo com um sorriso — São dois.
Meu riso sai fácil quando vejo seus olhos arregalados de
surpresa se direcionarem para minha barriga.
Suas mãos acariciam o local com cuidado e eu sinto seu
carinho em cada movimento feito, e então ele beija todo o meu
ventre, não deixando um pedaço sequer sem tocar com seus lábios,
fazendo-me rir abertamente.
Edward se levanta e, passando seus braços ao redor de meu
corpo, me beija, despejando neste ato todos os seus sentimentos.
Passo meus braços ao redor de seu pescoço, deixando meus
dedos brincarem com os fios de seu cabelo.
— Obrigado pelo melhor presente de minha vida – ele diz e eu
sinto suas lágrimas tocando a pele de meu rosto — Obrigado – e me
beija mais uma vez.
23- Encontrei uma razão para
mudar quem eu costumava ser.
Atravessei o hall de entrada como se eu fosse o próprio Catrina.
Não enxergava nada à minha frente que não fosse meu
caminho até América.
Largo minhas coisas de qualquer jeito na sala e subo as
escadas de dois em dois degraus, atravesso o pequeno corredor
que me leva para nosso quarto praticamente correndo.
Abro a porta com uma força desnecessária – quase a
arrombando – e assim que avisto Amy no canto do quarto de costas
para a porta, literalmente corro até ela, mal lhe dando tempo de
processar o que havia acontecido.
Viro-a para mim e a tomo em meus braços, apertando-a
fortemente contra meu peito.
Ela havia ido ao hospital.
E ela me disse que só faria isso se piorasse… ela está doente!
Meu desespero que já era grande se torna ainda maior e me
domina por completo.
— Baby, cuidado – a voz rouca de Amy chega aos meus
ouvidos e eu lentamente a solto.
Seguro-a pelos ombros à distância de um braço, procurando
todo e qualquer indício de que ela esteja aparentando estar pior,
mas a única coisa que consigo enxergar é seu brilho emanando por
todo o seu corpo e o quanto seus olhos se mostram felizes e
preocupados.
Então, eu me afasto dela quase que com brutalidade e,
passando as mãos nervosamente pelos cabelos, eu começo a andar
pelo quarto de um lado para o outro.
Meu coração bate acelerado e meu corpo inteiro treme, sinto o
pânico tomando conta de mim com cada vez mais rapidez.
Sinto-me incapacitado e perdido.
Apenas o pensamento de que posso perdê-la me enlouquece.
— Você está doente, não é? – explodo, virando-me para ela que
ainda está parada no mesmo lugar, da mesma forma.
Sinto as lágrimas escorrerem de meus olhos, banhando todo o
meu rosto.
— Era por isso que você estava tão estranha ontem e hoje de
manhã? Por que você está doente e não queria me contar?! Por
isso você foi ao hospital hoje?!
Ela me encara com seus olhos arregalados, assustada, como se
eu não devesse saber disso. É claro que eu não deveria!
— Como você soube? – ela pergunta depois do que me parece
uma eternidade em silêncio.
— Os carros têm rastreadores, América! – explodo mais uma
vez — Mas não é isso que me interessa no momento… O que eu
quero saber é porque você não me disse que está doente, porra! –
grito, voltando a andar de um lado para o outro no quarto, passando
as mãos com ainda mais fúria por meus cabelos.
Murmuro coisas incoerentes que nem mesmo eu entendo,
sentindo cada vez mais meu peito se apertar, se comprimir em dor.
Não posso perdê-la, não posso… não posso… não posso…
— Eu não estou doente, Edward! – ela explode; sua voz
ganhando minha atenção no momento que ela diz isso — Eu estou
grávida!
E então eu estagno em meu próprio lugar assim que meu
cérebro processa o que eu acabei de ouvir.
Grávida.
Ela está grávida!
Um ofego escapa de meus lábios e lentamente eu me viro e
caminho para ela.
As lágrimas caem com ainda mais vontade de meus olhos.
Eu vou ser pai!
E assim que estou próximo o suficiente dela, caio de joelhos no
chão bem na sua frente, espalmando minhas mãos em seu ventre
coberto pela roupa que ela usa, com meus olhos cravados nela.
— Você está grávida mesmo? – minha voz não passa de um
sussurro fraco e embargado por meu choro descontrolado e agora
não mais de medo — Está esperando um filho meu?
Vejo seus olhos se encherem de lágrimas e um sorriso bobo,
feliz e apaixonado surgir em seu rosto.
Ela larga as coisas que nem percebi estarem em suas mãos,
deixando-as baterem no chão e embrenha seus dedos em meu
cabelo e eu apenas sei sorrir para ela com minhas mãos acariciando
seu ventre.
— Filhos – ela diz com um sorriso — São dois.
De primeiro instante, não entendo o que ela fala, mas então,
assim que meu cérebro processou o que ela havia me dito, minha
surpresa e felicidade não poderiam ter sido maiores.
Ouço seu riso fácil e doce no instante em que meus olhos
arregalados de surpresa se direcionam para sua barriga.
Acaricio o local com cuidado e carinho em cada movimento
feito, e então, beijo todo o seu ventre, não deixando um pedaço
sequer sem tocar com meus lábios, fazendo-a rir abertamente.
Levanto-me do chão e passo meus braços ao redor de seu
corpo, beijando-a logo em seguida, despejando neste ato todos os
meus sentimentos por ela e todo o meu carinho e paixão recém
adquirida por esses dois pequenos seres.
Ela passa os braços ao redor de meu pescoço, deixando seus
dedos brincarem com os fios de meu cabelo.
— Obrigado pelo melhor presente de minha vida – digo com
cada vez mais lágrimas escorrendo por meu rosto, a felicidade que
me toma é enorme. Fodidamente enorme — Obrigado – e a beijo
mais uma vez.
[…]
Eu não me cansava de passar minha mão ritmicamente pela
barriga lisinha e ainda sem nenhuma elevação.
Amy está deitada ao meu lado, sua blusa erguida, deixando
exposta sua barriga branquinha. Eu não conseguia me cansar de
acariciar o local abaixo de seu umbigo assim como também não
conseguia parar de sorrir para a ideia de que vou mesmo ser pai.
Duplamente pai!
Havia agora bem mais que apenas um motivo para eu mudar o
que eu costumava ser.
Inclino-me para próximo do local que acarinho e roço meus
lábios ali. Eu ainda podia vê-la brilhar e agora existe uma explicação
para toda essa luz que emana da minha mulher.
Sinto os dedos de Amy em meio meu cabelo e ergo meu olhar
para ela, encontrando com seus brilhantes olhos e um enorme
sorriso em seus lábios.
Sorrio de volta para ela, amando cada vez mais o fato de que há
não um, mas dois pedacinhos pequenos de mim sendo gerados por
ela. Dois pedacinhos nossos.
— Eu morri de medo, sabia? – ela quebra o silêncio
sussurrando levemente e ainda acariciando meus cabelos — E
ainda estou.
— Por que, baby? – questiono, deitando-me melhor ao seu lado
e puxando-a para ainda mais perto de mim — Eu disse…
— Não fiquei com medo da sua reação – ela me corta antes que
eu possa sequer completar minha fala, como se ela estivesse lendo
minha mente — Eu entrei em pânico! – ela revela cravando seus
olhos nos meus — Ontem eu estava daquela forma porque tinha
acabado de descobrir que estava grávida e não sabia o que fazer –
um tanto hesitante ela põe uma das mãos sobre meu peito e a outra
cobre minha mão junto ao seu ventre — Quando fui ao hospital
hoje… fui atrás da sua mãe. Eu precisava de ajuda… de um colo de
mãe. Eu estou apavorada, Edward! Minha família não pode saber…
minha mãe principalmente.
— Eu não estou entendendo.
— Vão querer tirá-los de nós – sua voz embarga e eu vejo as
lágrimas escorrendo por seu rosto; o desespero toma conta de mim
— E vai ser tudo pior se tiver alguma menina… Vão querer levá-la
para longe da gente, porque eu não vou querer ensinar minha filha a
ser uma porcaria de submissa!
— Shhh… – envolvo-a em meus braços afagando suas costas e
seus cabelos — Não vou deixar que sequer cheguem perto de
vocês – beijo seus cabelos enquanto sinto seus braços me
rodearem de volta — Vocês são minha vida agora e eu amo vocês.
O coração que eu não imaginava ter, eu descobri que existia no
dia que América entrou na minha vida e hoje percebo que ele pode
ser maior do que eu sequer poderia imaginar.
— Amo você – ela sopra para mim com a voz ainda embargada
e sei que ela está chorando.
— Não chore. Confia em mim, amor.
— Eu confio.
Sua respiração quente bate contra meu peito e eu sinto seus
braços me rodearem e ela se apertar contra mim, colando seu rosto
em meu peito.
Meu coração se acelera e com cuidado a aperto ainda mais
contra meu corpo.
— Eu adoraria continuar aqui na cama com você – ela comenta
depois de um tempo afastando o rosto de meu peito e levantando os
olhos para mim.
— Mas…?
— Estou faminta – ela responde abrindo um sorriso que ilumina
ainda mais meu dia.
[…]
Simplesmente estava adorando vê-la comer com tanta vontade
e gosto.
Eu já havia terminado de comer e estava satisfeito apenas a
olhando se alimentar e, por decorrência, alimentar nossos filhos
também.
— Eu tenho que contar a Paige. – Amy diz de repente,
quebrando o silêncio que havia se instalado entre nós no momento
que ela começou a praticamente devorar a comida que havia
colocado para ela.
— Por que não contamos para todos ao mesmo tempo?
— Não dá! Tenho que contar para Paige antes – ela diz me
olhando com um sorriso culpado e encolhendo os ombros.
— O que você está me escondendo, América? – questiono
erguendo uma sobrancelha para ela e me debruçando sobre a
bancada.
Ela morde o lábio inferior de maneira nervosa e ela desvia os
olhos por breves instantes antes de responder.
Vejo suas bochechas ficando vermelhas gradativamente.
— Ela também está grávida.
Meu queixo vai ao chão e volta.
Além de pai eu também serei tio?!
— Foi assim que eu descobri que estava grávida, porque eu fiz
um teste com ela.
— Entendo… e não quer chateá-la por não ter contado no
mesmo dia que ela também descobriu estar grávida?
— Tipo isso – ela ri nervosa encolhendo mais uma vez os
ombros.
Fico observando-a por mais algum tempo.
Apesar de ter dito a ela para ficar tranquila quanto aos nossos
filhos, nem mesmo eu consegui fazer o que havia pedido a ela. Eu
mal havia descoberto que seria pai e já corria o risco de perder
meus filhos para as mãos de outra pessoa.
Eu não iria deixar que se aproximassem dela nem dos meus
bebês.
— O que foi? – a voz de Amy chega a mim me tirando de meus
pensamentos.
— Nada – sorrio para ela; não podia deixá-la perceber que eu
estava tão preocupado e assustado com o fato de que sua mãe
poderia nos tirar nossos filhos, principalmente se forem meninas —
Estou apenas olhando a minha mulher comer. Não posso fazer
isso?
Ela sorriu e seus olhos cintilaram em minha direção.
Ela parou de comer no instante seguinte.
— Do que me chamou?
E então eu sorri para ela da forma mais aberta que eu era
capaz.
— Do que você é. A minha mulher, baby.
Ela sorriu ainda mais e seus olhos transbordaram em alegria e
brilharam ainda mais em minha direção.
Mordendo os lábios ela abandonou o garfo ao lado de seu prato
praticamente vazio e se levantou enquanto eu a acompanhava –
com meus olhos e meu corpo – caminhar até parar a minha frente e,
então, ela envolveu meu pescoço com seus braços para logo depois
me beijar.
Minhas mãos foram diretamente para sua cintura e eu a puxei
para perto de meu corpo, da forma que eu mais gostava de senti-la
perto de mim.
— Eu te amo – ela soprou depois de nos separarmos em busca
de um pouco de ar, colando sua testa a minha.
— Amo você… vocês. – disse colocando minha mão sobre seu
ventre ainda reto, com meus olhos presos aos dela.
[…]
— Sim… eu preciso muito mesmo falar com você, Paige. – Amy
diz para sua amiga depois de muito conversar com ela e perguntar
como estavam as coisas entre ela e meu irmão e a gravidez dela.
Amy não parecia estar muito calma com a ponta de seu polegar
entre os dentes e eu jurava que ela poderia estar roendo a unha.
— Não é nada grave – ela ri — Acho que você pode até ficar
contente por mim – ela parou, mordendo mais uma vez a ponta de
seu polegar enquanto ouvia o que Paige devia estar dizendo.
Amy está sentada ao meu lado no sofá com seus pés para
cima, ela veste uma de minhas camisas e um short, seu cabelo está
preso em um coque no alto de sua cabeça todo bagunçado e
desfiado e sua pele, aos meus olhos, continuava brilhando, e eu não
conseguia não me sentir fascinado.
— Vir aqui com Josh hoje? – Amy questiona buscando meus
olhos com os dela; o pedido está explicito neles.
Aceno de maneira positiva para ela, vendo um sorriso crescer
em seu rosto.
— Tudo bem. Vamos esperar – ela sorri para, logo depois,
desligar e me encarar ainda sorrindo. — Eles vêm para o jantar.
— Temos que avisar a Aretha, então.
Ela morde o lábio inferior e acena de forma positiva.
Eu a puxo para meus braços, colocando-a em meu colo e
espalmando minhas mãos em seu ventre. Aquele havia se tornado
meu lugar predileto para tocá-la; ali eu estava em contato com ela e
com nossos pequenos.
— Eu queria entender esta sua amizade com a Paige.
Seu corpo balança sobre o meu em uma pequena risada e ela
se aconchega ainda mais em meus braços e ao meu corpo.
— Ela é a irmã que eu nunca tive. Era meu pedacinho de vida
normal… Ela e Mike na verdade… depois que minha mãe e Nick se
separaram eles foram os que mais me mantiveram firme para
aguentar as loucuras de minha mãe e todos aqueles treinos e regras
quando ela apareceu para me buscar na casa do Nick.
— Você gostava deste tal de Mike? – eu podia sentir meu corpo
inteiro já tenso.
Eu não gostava daquele rapaz, e sabia que ele queria a minha
Amy, tinha certeza de que ele já havia tentado algo.
Lembro-me que foi por causa desse babaca que eu e Amy
brigamos pela primeira vez. Por causa deste babaca e por eu ter
sido um estúpido ciumento e dominador.
— Ele era meu amigo.
— Não perguntei se era desta forma.
Ela suspira e remexe-se em meu colo, procurando uma posição
mais confortável para ela.
— Uma vez eu achei que gostava… foi logo quando eu e ele
nos conhecemos – meu corpo inteiro fica rígido quando ouço sua
resposta e eu me controlo e muito para não sentir tanta raiva de
tudo isso — Mas aí eu percebi que ele era apena um bom amigo…
Posso até dizer que eles eram para mim como Josh e Laurie são
para você. Eles eram meus irmãos.
Estreito meus braços ao redor dela e a puxo para ainda mais
perto de mim, enterrando meu rosto em seu pescoço e sentindo seu
cheiro de flores e morangos que eu tanto gosto. Beijo-a ali para,
logo depois, arrastar levemente meus dentes pelo mesmo local.
Ela geme de maneira arrastada remexendo-se mais uma vez
em meu colo e tombando a cabeça para o lado, dando-me ainda
mais acesso ao seu pescoço. Sorrio contra sua pele, sentindo
prazer em vê-la se arrepiar.
Movo minhas mãos por seu corpo em direções opostas,
ouvindo-a arfar e gemer quando envolvo seu seio esquerdo com
uma mão e alcanço sua feminilidade encharcada com a outra depois
de infiltrar-me em seu short e sua calcinha.
Ela rebola em minha mão, arqueando as costas e porra… Ela
está tão molhada!
— Baby… já tão pronta assim para mim? – sussurro em seu
ouvido, recebendo como resposta um gemido arrastado e mais uma
rebolada em minha mão.
Fechando minha mão em concha sobre seu sexo eu a puxo
para cima e a faço sentar em minha ereção, encaixando seu traseiro
redondinho ali. Ela ofega e rebola mais uma vez e agora sobre meu
ponto mais necessitado e eu gemo em seu ouvido.
Sinto suas mãos em meu cabelo e ela começa a se esfregar
com vontade em mim e a rebolar em minha mão, exercendo uma
pressão gostosa e uma fricção quase desesperada.
Massageio seu seio ao mesmo tempo em que a penetro com
um dedo.
Ela geme rouca, empurrando ainda mais seu centro quente para
minha mão e eu a massageio ali, sentindo-a me melar cada vez
mais com sua excitação se esfregando em mim com vontade e seus
dedos em meu cabelo os puxando com força a cada novo
movimento de meus dedos dentro dela.
— Edward…
— Isso, baby… geme o meu nome – rosno em seu ouvido,
ouvindo-a gemer mais uma vez e sentindo suas paredes apertarem
meus dedos.
Ouço seu gemido de frustração quando eu retiro meus dedos de
dentro dela. Ela está quase vindo e eu não quero que ela goze em
meus dedos. Viro-a de frente para mime encontro seus olhos
escuros de desejo e paixão.
— O que está esperando? – ela sussurra ofegante.
Seu corpo está tremendo e eu sei que ela está louca para se
desfazer.
Sorrio para ela que me retribui.
Livro-a de seu short e de sua calcinha, jogando-as em algum
canto do sofá, para logo depois sentir suas mãos em mim,
colocando minha ereção para fora, acariciando-me ali de forma lenta
e ritmada, arrancando um gemido de mim enquanto minhas mãos
voam para sua cintura.
— Tão duro assim pra mim, baby? – ela sussurra em meu
ouvido, mordendo a pele molinha de minha orelha.
Ela nunca havia falado isso para mim antes, nem me tocado
como ela estava me tocando agora. Ela estava quente e eu podia
sentir seu calor, o fogo que emanava dela e eu estava pronto para
me queimar nela.
Um gemido sai do fundo de meu ser e eu sinto seu sorriso
contra minha pele, para, logo depois, eu sentir seu centro quente e
molhado me envolver lentamente. Suas paredes me mastigam com
força e eu quase não consigo me segurar ao senti-la me envolvendo
completamente.
Amy geme em meu ouvido e o aperto de minhas mãos em sua
cintura deixará marcas. Ela se aperta contra meu corpo e começa a
se mexer devagar. Subindo e descendo em mim.
Sua respiração batendo quente contra a pele de meu pescoço.
Dentro de meu peito meu coração bate acelerado, bombeando
meu sangue com força por minhas veias. Enterro meu rosto no
pescoço dela sentindo seu perfume tomar conta de meus sentidos e
eu estou inebriado por ela.
Beijo-a ali, vendo sua pele se arrepiar e sentindo-a se mover
mais rápido sobre mim enquanto meus quadris investem contra os
dela.
— Eu te amo – ela sussurra, sugando a pele de meu pescoço e
beijando cada espaço possível.
Ela segura meus cabelos e os puxa, levando meu rosto para o
dela, cravando seu mar azul em mim no momento que chegamos
juntos ao orgasmo.
[…]
Da cozinha, eu podia ver Amy andar de um lado para o outro no
meio da sala com a ponta do polegar entre os dentes.
Tyler havia acabado de nos dar a notícia de que meu irmão e
Paige tinham chegado e que estavam subindo e, desde que Amy
ouviu isso, não parou de andar de um lado para o outro, e todo esse
andar pra lá e pra cá dela já estava começando a me dar nos
nervos, sem contar que isso poderia não fazer bem aos bebês.
Caminho até ela e a seguro pela cintura, colando seu corpo ao
meu.
— Pelo amor de Deus, Amy! Acalme-se! – digo a ela, olhando
diretamente em seu mar azul.
— E se ela não gostar de saber? Se ela ficar chateada comigo
por eu ter escondido isso dela e não ter contado quando ela confiou
em mim para ajudá-la? – seus olhos cintilam e eu vejo lágrimas
neles, isso me mata aos poucos; não gosto de vê-la chorar.
— Ela não vai ficar magoada, amor – afago suas bochechas e
seco as lágrimas que escorrem por elas — Tenho certeza de que ela
vai adorar saber que vai ser tia… Duplamente tia.
Sorrio para ela e logo depois beijo o topo de sua cabeça,
cheirando seus cabelos recém lavados, com aroma de flores e
morangos.
— Obrigada – ela diz, rodeando-me com seus braços e se
apertando a mim; eu a abraço de volta — Amamos você, demais.
— Amamos?! – questiono confuso erguendo uma sobrancelha
para ela.
— Eu e nossos bebês.
Sorrio ainda mais para ela.
A felicidade não cabia em mim e eu queria poder gritar para o
mundo como é boa essa sensação.
Um pigarro interrompe nosso momento e quando eu me viro,
deparo-me com Tyler a poucos passos de nós, com sua expressão
profissional de sempre.
— O senhor Cage e a senhorita Bennett – ele anuncia e, logo
depois, Josh e Paige atravessam as portas da sala de mãos dadas.
Josh com seu eterno sorriso de criança, que hoje me parecia
ainda mais brilhante e alegre, junto com seus olhos que mais
parecem duas bolas de gude na luz de tão brilhantes.
Amy saiu de meus braços e praticamente correu até a amiga
que a recebeu de braços abertos. Eu mal pude ver, mas eu queria
pelo menos ter dito para ela ter cuidado, não queria que ela caísse e
se machucasse e muito menos que machucasse nossos bebês.
Josh vem até mim e me cumprimenta, mas minha felicidade por
vê-lo feliz é tão grande que não me contenho e o abraço.
Ele retribui ao abraço de maneira entusiasmada.
— Parabéns, Joss – sussurro para ele para que sua noiva não
ouça e me ameace mais uma vez.
— Você já sabe?! – ele questiona surpreso e sussurrando
também.
— Amy me contou.
Ele ri nervoso e passa as mãos pelo cabelo.
— Precisamos conversar. Aproveitar que as garotas vão ter o
momento delas – ele declara e no mesmo instante eu o sinto tenso.
— Claro. Até porque eu também tenho algo para contar a você.
Ele franze o cenho, mas assente.
Olho por cima do ombro de meu irmão e vejo Amy conversando
baixinho com Paige, que tem um semblante preocupado, mas, ainda
assim, me parece muito alegre.
Amy olha por cima o próprio ombro e sorri para mim, para, logo
depois, vir com Paige até onde eu e Josh estamos. Meu irmão sorri
para ela e vai a sua direção para abraçá-la, mas antes que ele faça
isso eu seguro em seu braço e o advirto pelo olhar para ter cuidado.
Ele franze o cenho e depois volta ao que iria fazer, abraçando
Amy e a erguendo do chão, fazendo-a soltar um gritinho esganiçado
e eu sinto meu peito se apertar e a vontade de dar umas belas
porradas em meu irmão cresce dentro de mim.
— Josh, cuidado! – rosno para ele que a solta em seguida,
colocando-a no chão cuidadosamente.
— Assim está bom, mano? – ele pisca para mim e Amy ri.
— Está tudo bem, baby – Amy sussurra para mim e sorri — Vou
levar Paige lá para cima, preciso conversar com ela.
— Tudo bem. Boa noite, Paige.
— Boa noite, Edward – ela sorri para mim e, logo depois, segue
com Amy para o segundo andar.
— E então mano… O que tem para me contar?
24- O pesadelo começa.
Amy se sentou em sua cama e esperou que Paige fizesse o
mesmo.
Ela estava nervosa e com medo de contar a sua melhor amiga –
e quase irmã – que estava grávida, estava com medo da reação
dela, não queria que Paige ficasse chateada com ela. E nem que
ficasse nervosa, isso poderia afetar seu sobrinho e ela não queria
isso.
O pensamento fez com que Amy quase risse, afinal, as duas
haviam ficado grávidas na mesma época.
— Já disse que não me sento no ninho de esperma de vocês –
Paige diz com humor, pegando uma cadeira presente no quarto e se
sentando nela logo depois.
Amy simplesmente ri da amiga, mas nem mesmo essa
brincadeira foi capaz de deixá-la mais calma.
— Tá legal, Lawson… O que foi? – Paige exige cruzando os
braços sobre o peito e recostando-se na cadeira cruzando as pernas
quase em uma forma de exigência.
Amy coloca os pés para cima da cama e cruza as pernas em
“posição de índio”, enterrando o rosto nas mãos logo depois.
Isso deixa Paige preocupada e ela logo corre para o lado da
amiga e abraça seus ombros, ignorando completamente o que havia
dito sobre se sentar na cama que Amy divide com Edward.
— Lawson, o que aquele imbecil fez com você? – ela questiona,
agora com raiva.
— Edward não fez nada, Paige. – Amy diz tirando o rosto das
mãos e erguendo o olhar para sua amiga — Eu só não sei como te
contar isso. Não quero que pense que… Ai, merda! – ela enterra o
rosto nas mãos novamente sentindo vontade de gritar e se socar.
— Amy… você está me assustando.
América balança a cabeça sutilmente antes de levantar o olhar
para Paige novamente.
— O que acha de ser tia? – ela pergunta encarando os olhos
esverdeados da amiga.
Paige arregala os olhos no instante que seu cérebro processa o
que sua amiga acabou de dizer.
Sua boca escancarada, os olhos carregados de surpresa e o
seu silêncio fazem com que Amy pense em mil e uma coisas ao
mesmo tempo.
— Não vai dizer nada? – ela pergunta com a voz chorosa,
temendo a reação da amiga.
— Quando você descobriu isso? – é a única coisa que Paige
diz, e essa frase atropela o coração de Amy.
— No mesmo dia que você – os olhos de Paige se arregalam
ainda mais — Desculpe! Por favor, me desculpe! – Amy implora
antes que Paige abra a boca para dizer algo — Eu entrei em pânico,
não sabia o que fazer… Eu não conseguia nem…
Paige não deixa Amy terminar de falar e toma a amiga em um
abraço apertado, ao qual Amy retribui calorosamente, escondendo o
rosto nos cabelos e no pescoço da amiga, chorando abraçada a ela.
— Meu Deus! Mãe e tia ao mesmo tempo! – Paige diz
emocionada, soltando Amy e a encarando dentro dos olhos com um
sorriso enorme e lágrimas transbordando.
— Duplamente tia – Amy diz com um enorme sorriso no rosto e
ainda mais lágrimas escorrendo por seu rosto.
— Espera. – Paige pisca ritmicamente e um sorriso idiota surge
em seus lábios — Eu entendi bem? Você não está apenas grávida,
mas grávida de gêmeos?!
— É.
Paige cobre a boca com as mãos e começa a rir e chorar
histericamente.
— Malditos hormônios! – ela diz com um sorriso idiota,
abraçando Amy mais uma vez que por sua vez apenas sabe rir e
chorar, como Paige faz.
-*-
Josh se sentou em um dos sofás brancos da sala de Edward,
com seu irmão sentado à sua frente, ambos com um copo de uísque
em mãos.
Josh tem suas sobrancelhas franzidas ao encarar o sorriso bobo
e apaixonado no rosto de Edward, a curiosidade está corroendo o
loiro por dentro e por fora também.
— Então… vai me contar ou não, Edward? – Josh pede,
levando o copo aos lábios e tentando parecer despretensioso e nem
um pouco curioso, mas falhando miseravelmente — Está sorrindo
feito um idiota e não fala nada.
— Você também sorri como um idiota e nem por isso eu reclamo
– Edward diz em tom de alfinetada, fazendo Josh revirar os olhos
com exagero.
— Estamos apaixonados – Josh diz com um sorriso enorme e
bobo no rosto — Culpe as nossas mulheres.
Edward ri e balança a cabeça em negação.
— No meu caso eu também tenho uma parcela de culpa –
Edward comenta fazendo Josh o olhar intrigado e erguendo uma
sobrancelha, pedindo silenciosamente pela continuidade — Amy
está grávida. – Edward diz com um sorriso carinhoso, feliz e enorme
em seu rosto.
Os olhos cinza dele diretamente nos acastanhados do irmão,
completamente arregalados e surpresos.
— Você está brincando. – Josh diz incrédulo, colocando sua
bebida sobre a mesinha de centro e sorrindo como se fosse uma
criança na manhã de natal.
— Não estou, Joss. Eu vou ser pai. Duplamente pai!
Os olhos de Josh se arregalam ainda mais e sua boca se
escancara.
— O que você quer dizer com… duplamente?
— Gêmeos, Josh, é isso o que eu quero dizer.
— Puta que pariu! – Josh exclama com um sorriso enorme
passando as mãos pelos cabelos e Edward apenas consegue rir do
irmão — Cara… meus parabéns!
Josh continua passando as mãos nos cabelos como um louco,
sorrindo feito um idiota.
— Eu… Meu Deus! Duplamente pai? – ele pede, apenas para
confirmar o que havia ouvido.
— Duplamente.
— Deus! – Josh ri, jogando sua cabeça para trás e cobrindo o
rosto com as mãos — Haja fraudas!
Josh ri ainda mais, esticando a mão e puxando seu irmão do
meio para um abraço esfuziado e Edward acaba rindo também.
— Qual a graça rapazes? – a pergunta vem de Amy, quando ela
e Paige entram na sala, fazendo os olhos dos dois irmãos Cage se
voltarem para elas.
Edward sorri para Amy, mas ele não tem muito tempo de seu
olhar, porque segundos depois ela é envolvida pela massa de
músculos que é Josh, que a rodopia no ar apertando-a o menos
possível, mas ainda assim quase a engolindo em seus braços.
Amy apenas sabia rir e soltar pequenos gritinhos de felicidade,
abraçada ao cunhado.
— Parabéns, cunhadinha! – Josh diz dando um beijo estalado
na bochecha de América e a colocando de volta no chão — Vou ser
titio! Duplamente titio!
Amy sorri de maneira doce e enorme para Josh e, logo depois,
seus olhos encontram o mar cinzento de Edward.
O homem está sorrindo para ela e, em seus olhos, ela vê tudo o
que ela tem certeza que está nos dela também.
— Então… já sabem os nomes? – Josh pergunta depois de dar
mais um beijo na bochecha de Amy e ir para o lado de Paige em
seguida. — Por favor, não coloquem nomes feios nos meus
sobrinhos, não quero ser obrigado a tirar sarro deles.
Apenas é ouvido um estalo de pele atingindo pele com força, e
um resmungo de Josh em resposta.
— Não fale assim, seu idiota!
Edward se levanta do sofá e puxa Amy para seus braços,
beijando o pescoço de sua mulher, tendo o prazer de vê-la se
arrepiar por completo. Ele coloca uma das mãos carinhosamente
sobre o ventre de Amy e o acaricia com cuidado e carinho.
— Você não vai tirar sarro dos meus filhos, Joss.
— Não vai mesmo! – Paige apoia Edward — Não vai fazer meus
sobrinhos sofrerem, ou eu faço você sofrer!
Amy apenas consegue rir da situação.
Ela estava feliz e isso era bom demais em sua concepção.
Joe realmente estava certo, ela estava aprendendo a viver o
normal ao lado de Edward, e estava amando cada segundo que
estava tendo com ele. E poder dividir isso com uma família que a
queria bem – como a de Edward a quer – simplesmente a deixa em
êxtase.
****
Edward acorda assustado no meio da noite ao não sentir o
corpo de Amy junto ao seu e imediatamente ele se alarma, olhando
para todos os lados assustado e preocupado, e tudo em seu interior
piora quando ele escuta sons vindos do banheiro.
Ele praticamente corre até lá e abre a porta com certa violência
e se depara com Amy debruçada sobre o vaso sanitário, vomitando
tudo o que havia comido naquele dia.
Ele se ajoelha ao seu lado e segura os cabelos de Amy
afagando suas costas ao mesmo tempo.
Amy tosse um pouco, sentindo as contrações em seu estômago
diminuírem e ela consegue respirar um pouco, passando a mão pelo
rosto e limpando os cantos da boca com as costas da mão.
— Vem – Edward chama baixinho, ajudando América a se
levantar.
Ele a segura enquanto ela lava o rosto, molha a nuca e lava a
boca para depois escovar os dentes, se sentindo um pouco melhor
após fazer isso.
— Por que não me disse que estava passando mal? – Edward
pede ao pegar Amy em seus braços e a carregar no colo de volta
para o quarto, em seguida, e a deitando na cama para depois se
sentar ao lado dela, afagando seus cabelos úmidos pela água e pelo
suor.
— Não estava, até ainda pouco. – Amy sussurra,
aconchegando-se no carinho de Edward — Fui acordada pelos
enjoos – explica, abrindo um pequeno sorriso e levando a mão ao
ventre, acariciando-o leve e lentamente; logo a mão de Edward se
junta a dela — Acho que eles não gostam muito de aspargos – ela ri
com seu comentário, fazendo Edward rir também.
Ele beija o local logo abaixo do umbigo de Amy, e arrasta o nariz
pela pele da mulher, como se estivesse fazendo cócegas nos bebês.
— Tão pequenos e já cheios de gostos – ele sussurra contra a
pele abaixo do umbigo de Amy, ele a beija mais uma vez ali, antes
de se levantar e se deitar ao lado de Amy a abraçando por trás e
espalmando sua mão sobre o ventre da mulher.
— Acha que eles vão ser muito agitados? – Amy pergunta,
cobrindo a mão de Edward com a dela.
— Eu não sei – Edward ri baixinho.
— Temos que marcar uma consulta – Amy começa — E dar
início ao pré-natal.
— Quer marcar para esta semana? – Edward pergunta dando
um beijo atrás da orelha de Amy, que sorri ao sentir os lábios de
Edward em sua pele mais uma vez.
— Você vai poder?
— Para vocês eu sempre estarei livre.
Amy se remexe entre os braços de Edward até estar de frente
para ele e poder abraçá-lo e entrelaçar suas pernas às dele. Ela
beija o ombro do homem e, logo depois, sorri ao ver a pele dele se
arrepiar.
— Estou louco para ouvir o coraçãozinho deles e ver sua
barriga começar a crescer. – Edward diz fazendo Amy erguer o rosto
para encará-lo com um sorriso enorme e brilho nos olhos — Você
vai ficar linda – ele beija a ponta do nariz de Amy que sorri ainda
mais — Ainda mais linda.
— Quero senti-los mexer – Amy diz, colocando a mão sobre o
ventre — Deve ser bom.
— No que depender de mim… tudo vai ser bom, baby.
[…]
Edward não queria ter saído para trabalhar naquela segunda-
feira de manhã. Tudo o que ele queria era ter ficado em casa para
poder mimar ao máximo sua Amy, que ele havia deixado ainda
tomando seu café da manhã quando saiu.
Ele havia deixado Ward e Kyle com ela, já que ela havia dito
que Paige queria sair com ela para comprar roupinhas de bebê. Ele
queria muito ir com ela para fazer isso, ver as coisinhas minúsculas
que iriam aquecer seus bebês quando eles nascessem.
Edward estava tão feliz com a notícia de que seria pai, que ele
mal cabia em si.
Mas, infelizmente, naquele dia ele não poderia faltar, se ele
quisesse acompanhar Amy em todas as consultas dela, ele teria que
adiantar o máximo de trabalho possível e praticamente correr de
uma reunião para outra sem parar.
Ele chegou à sua empresa em pouco tempo de viagem.
Edward não sabia se havia sido sorte ou se algo havia
acontecido, mas, surpreendentemente, o trânsito estava leve e
fluindo rápido, algo incomum para uma segunda-feira de manhã, no
primeiro horário de rush da semana.
— Ward e Kyle estão com Amy, quaisquer alterações na
programação dela que passei a vocês, me avise – Edward fala para
Tyler assim que salta do carro.
— Sim, senhor. – o segurança responde com um aceno singelo
de sua cabeça, que é retribuído por Edward, que, logo depois,
segue para dentro de sua empresa indo direto para os elevadores e
cumprimentando a todos com leves acenos de sua cabeça durante
o percurso.
— Bom dia, senhor Cage. – Allegra diz assim que vê o patrão
passando pelo saguão do andar em direção a sala.
— Bom dia – Edward diz, parando em seu caminho até sua sala
— O que tenho para hoje?
— Duas reuniões, uma às nove e outra às onze – ela começa,
assim que pega a agenda de Edward — Um almoço com os
representantes da Findoor e depois a última reunião do dia com o
grupo da transportadora brasileira.
— Ótimo. Chegou algo para mim?
— O produto novo está em sua mesa para avaliação e… –
Allegra faz uma pausa olhando na agenda e em seu bloco de
anotações — Ah! E chegou um envelope ainda pouco. Está sobre
sua mesa, senhor Cage, junto com o produto.
— Ótimo. Obrigado, Allegra. Avise a Gwen que a quero comigo
durante as reuniões.
— Ela estará lá, senhor – Allegra sorri e volta para seu lugar
atrás do balcão, logo discando para o ramal de Gwen e fazendo o
que o patrão lhe mandara.
Edward entra em sua sala, fechando a porta atrás de si e logo
depois de colocar sua pasta sobre a mesa, ele se senta e pega o
pacote com o produto.
Era um novo modelo de telefones que sua empresa estava
começando a testar, um modelo mais seguro, resistente e ecológico,
o aparelho que está em suas mãos tem um formato estável para as
mãos e o modelo é leve e fino. Edward gosta e aprova o protótipo
da mais nova criação de sua empresa.
Logo depois de assinar o protocolo de avaliação do produto,
Edward pega o envelope que Allegra havia dito estar junto do
pacote, é um envelope consideravelmente pesado e assim que
Edward o tem em mãos, ele o abre o virando de boca para baixo.
De dentro do envelope, cai um CD que deixa Edward bastante
intrigado.
Ele balança o envelope e de dentro dele cai um bilhete que
acompanha o mesmo percurso feito pelo CD. Um pedaço de papel
dobrado e amassado.
Ver isso deixa Edward em estado de alarde.
Ele já havia recebido algo deste tipo uma vez, não tinha muito
tempo, e o que isso o causou não foi algo bom. Ele já podia sentir
seu corpo inteiro tremer e suas mãos suarem por antecipação ao
que ele tinha quase certeza do que estava por vir.
Ele respira fundo e, largando o envelope de qualquer jeito, pega
o bilhete e sua respiração praticamente some quando as palavras
formadas por recortes de jornal e a foto dele e de América no jantar
no Garden aparece diante de seus olhos.
“Espero que esteja aproveitando o máximo que pode com
ela, Cage, o tempo de vocês está acabando e eu estou louco
para começar a brincar com ela, vê-la sofrer. Tenho um
presente para você neste DVD e espero que não se importe se
eu ficar com seus filhos também.”
25- Posso ver sua auréola.
Paige enlaçou seu braço ao de Amy e as duas, acompanhadas
a uma distância segura por Ward e Kyle, entram no shopping e
seguem direto para as lojas especializadas em bebês.
Ambas estavam empolgadas com a gravidez, ansiosas para
começarem a sentir que realmente estão grávidas, para poderem
senti-los se me mexer.
Apesar do medo que estava sentindo e da preocupação que
vivia em seu peito, Amy não podia negar que ela estava
completamente feliz com o fato de que iria ser mãe.
Elas entram na primeira loja que chama a atenção delas e logo
elas são tomadas pelo cheiro de roupas novas e de bebês. Amy
sente seu peito inflar com emoções boas e diferentes ao imaginar
seus bebês usando qualquer uma das pequenas peças de roupas e
sapatinhos.
— Meu Deus! Quanta coisa fofa! – Paige exclama maravilhada,
com seus olhos brilhando em direção a cada peça miudinha que
aparece a sua frente — Consegue imaginar eles usando essas
coisinhas miúdas? – Paige pergunta, virando-se para Amy que
carrega um sorriso enorme e olhos brilhantes quase transbordando
de felicidade.
— É surreal! – Amy sussurra tocando com as pontas dos dedos
um macacãozinho rosa claro, tão claro que quase chegava a ser
branco — Como um bebê pode caber aqui? – o sorriso no rosto de
Amy era enorme e ela riu quando viu Paige revirar os olhos para ela.
— Da mesma forma que eles cabem dentro de nós. E da
mesma forma que dois bebezinhos lindos vão caber dentro de você.
Amy sorriu ainda mais e levou ambas as mãos ao seu ventre,
tocando-o com carinho.
— Posso ajudá-las em algo? – uma voz feminina e jovial
pergunta e, ao olhar para cima, América se depara com uma quase
menina, que não deveria passar dos dezenove anos, com traços
angelicais e enormes olhos escuros.
Ela tem um sorriso simpático e aos olhos de Amy ele não
parece estar sendo forçado pela garota.
— Acho que pode…
— Liz – a atendente responde com um sorriso olhando
diretamente para Amy ao fazer isso e Amy apenas retribui ao sorriso
— Qual de vocês é a mamãe da vez?
Paige sorriu para Liz e antes de responder, enlaçou seu braço
ao de Amy.
— Somos nós duas – a de cabelos caramelados respondeu e
viu os olhos da menina se arregalarem e um enorme sorriso
aparecer no rosto dela — Ela de gêmeos, e eu… de um provável
garotão! – Paige tinha um enorme sorriso no rosto ao falar de seu
filho e seus sobrinhos.
— Parabéns mamães! – Liz disse com um sorriso brilhante —
Desculpe a pergunta, mas de quantos meses estão?
— Acho que vamos completar dois ou um? – Amy pergunta
para Paige que sorri para a amiga.
— Eu estou completando seis semanas – Paige falou ainda com
o enorme sorriso no rosto.
— Eu ainda não tenho ideia – Amy riu — Mas acho que ainda
não tenho um mês completo. Acha cedo para já estarmos fazendo
isso?
Liz achou graça franzindo levemente o nariz ao fazer uma
pequena careta enquanto negava com uma abanada de mão
fazendo pouco caso.
— Que nada! – ela diz voltando a sorrir — Descobriram juntas?
– Liz pergunta sorrindo, sentindo-se muito contente por encontrar
duas mães em suas prováveis primeiras vezes grávidas.
— Mais ou menos assim – Amy ri após responder — Fizemos o
teste juntas… eu nem sequer imaginava que podia estar grávida.
— Pois é, né? – Paige diz arrancando um sorriso de Amy e de
Liz.
-*-
Edward sentia todo o seu corpo tremer e ele estava com frio,
apesar da temperatura agradável que estava em sua sala e do terno
de tecido quente que cobre seu corpo.
No entanto, o frio que ele estava sentindo estava vindo de
dentro, fazendo-o tremer de pavor.
Ele está perto! Ele sabe da gravidez…
Naquele instante, com o bilhete em suas mãos, a foto de sua
Amy sobre a mesa ao lado do que ele agora sabia se tratar de um
DVD ele sentia como se estivesse sendo engolido pela terra, o ar
estava ficando falho em seus pulmões e ele sentia o pânico
tomando conta de seu corpo cada vez mais, junto com a ira absurda
que quase o fazia explodir.
Edward teme o que pode haver no DVD, que parece pesar
sobre sua mesa, mas em seu íntimo, ele tem quase certeza do que
há ali e ele tem certeza de que não quer ver, mas ao mesmo tempo
em que ele deseja destruir aquele objeto, Edward também sente a
necessidade de saber o quer há ali, para ter certeza do que ele vai
enfrentar e de como ele vai fazer para proteger sua Amy e seus
filhos, que ainda nem nasceram e já correm perigo.
Com as mãos trêmulas, ele abre a bandeja para CDs de seu
computador e coloca o DVD nela, fechando-a logo depois. A
máquina reconhece o dispositivo rapidamente e logo uma janela se
abre e as cenas que estão ali fazem o estomago de Edward se
revirar e o coração dele doer e sangrar.
Edward fecha a janela do vídeo, sem terminar de vê-lo,
sentindo-se enjoado e não aguentando olhar para sua Amy tão
jovem sofrendo tais atrocidades. Ele esfrega o rosto com as mãos e
praticamente não as sente.
Ele está dormente e tudo o que ele quer fazer é voltar para casa
e se agarrar a Amy, para simplesmente ter certeza de que ela está
bem e que nada de ruim lhe aconteceu.
Para simplesmente senti-la perto dele.
-*-
Amy riu alto no momento que Paige imitou um bebê ao segurar
uma das peças de roupa sobre o queixo.
Ela estava simplesmente adorando aquele momento, e já havia
escolhido tantas peças pequenas e fofas, todas em um tom unissex,
afinal, ela não sabia quais seriam os sexos de seus bebês.
Paige – ao contrário de Amy – tinha certeza de que vinha um
menino, mas, ainda assim, ela se limitou a apenas tons para ambos
os sexos, mesmo que a contragosto.
— Sabe, Paige – América começa sutilmente enquanto arruma
devidamente dobradas as pequenas roupas sobre suas pernas,
antes de se levantar para irem pagá-las — Edward e eu estávamos
pensando em fazer um almoço ou um jantar para contarmos as
novidades, os dois casais juntos… O que acha?
— Contar para a família toda? – Paige sente sua boca ficar seca
de repente — Eu não quero contar sobre o bebê agora, Amy…
— Por que não? – Amy pergunta preocupada.
— Eu não sei… só… só acho que não estou pronta para fazer
isso ainda.
— Está com medo?
— Também.
— Tudo bem – Amy diz com um sorriso reconfortante — Conte
apenas se sentir confortável para isso.
Paige pega a mão de Amy e sorri para a amiga, sentindo-se
contente e aliviada por ter o apoio e compreensão dela.
— Liz? – Amy chamou e logo a atendente simpática apareceu,
sorrindo de maneira doce e gentil.
— Já terminaram? – Liz perguntou parecendo decepcionada por
Amy e Paige já estarem indo.
— Sim – América é quem responde — Acho que por hoje já deu
– ela ri acariciando a barriga lisa — Já batemos pernas o suficiente
hoje e sinto como se fosse desabar de tanto que as sinto pesadas.
— Por mim eu continuaria mais um pouco, mas meus pés estão
pedindo socorro – Paige ri.
Liz sorri para elas, adorando ver duas mulheres tão contentes
por estarem grávidas.
A jovem atendente queria tanto que sua irmã tivesse sentido
essa mesma felicidade e também queria muito senti-la, mas ela
sabia que em certo momento sua hora iria chegar.
— Tudo bem! Eu as ajudo com isso – Liz diz se virando para o
outro lado e pegando duas cestas decoradas com ursinhos e
colocando as pilhas de roupinhas de Amy e Paige em cestas
devidamente separadas — Vamos até o caixa, por favor – ela pede
com um sorriso, carregando ambas as cestas.
Assim que terminaram de pagar, Amy e Paige pegaram suas
bolsas e saíram da loja, sendo acompanhadas de perto por Kyle e
Ward que praticamente obrigaram Amy a deixá-los carregar as
sacolas com as roupas.
Elas andam juntas lado a lado sendo seguidas de perto pelos
seguranças, quando algo chama a atenção de Paige.
— Amy? – Paige chama, pegando no braço da amiga de
maneira leve — Aquele ali não é o seu ex-padrasto?
Amy sente seu corpo gelar e lentamente ela se vira para Paige,
tentando buscar nela ao menos um traço de brincadeira.
— O-onde? – Amy pergunta com a voz fraca e entrecortada.
Ela olha ligeiramente para os seguranças que, entendendo seu
olhar, logo ficam ainda mais alertas.
— Ali… – Paige responde apontando, mas logo franze o cenho
— Ele estava bem ali – ela diz apontando — Bom… eu posso ter me
enganado, não é?
— É… pode sim.
Amy estava realmente torcendo para Paige ter se enganado.
[…]
Amy se jogou em seu sofá colocando os pés para cima,
sentindo-os inchados e doloridos, mas com toda a certeza não
pareciam doer mais do que sua cabeça, que parecia estar prestes a
explodir.
Ela só queria esquecer que sua amiga poderia realmente ter
visto o único ex-padrasto dela que havia conhecido. Amy não queria
acreditar que Steve podia estar tão perto…
América ouve um pigarro sutil e abre os olhos, erguendo a
cabeça, para logo depois se deparar com os olhos de seu
segurança a fitando com receio, mas ainda assim profissionalismo e
seriedade.
— Sim, Ward?
— A senhorita está bem?
— Estou sim – ela sorri para o segurança — Estou apenas
cansada. Obrigada.
— Tem certeza?
— Tenho sim – ela sorri um pouco mais — Tudo o que eu
preciso agora é comer.
Dito isso ela se levanta e segue para a cozinha, encontrando
nela, Aretha que prepara o almoço com animação e prazer.
— Olá! – Amy diz com um enorme, sorriso vendo Aretha se virar
sorrindo amplamente também.
— Tudo bem, menina?
— Sim – Amy sorri — Eu estou com fome! Acho que comeria
por um batalhão hoje.
Aretha ri e se vira para Amy, secando as mãos em um pano.
— Você está grávida, querida, isso é normal.
Aretha havia adorado saber que teria crianças em pouco tempo
habitando aquele lugar.
Ela adorava crianças e queria ter tido uma para poder chamar
de apenas dela.
— Então… o que teremos para o almoço hoje?
— Legumes com molho branco, peito de frango gratinado, arroz
com brócolis, e para a sobremesa, bolo de frutas.
— Aretha… você é a maior. – Amy diz se sentando em uma das
banquetas de frente para a bancada de mármore.
Aretha apenas sorri e se volta para terminar de preparar o
almoço, para, logo depois, servir Amy, apesar dos muitos protestos
feitos por ela diante disso.
[…]
Amy estava na sala de televisão e já passava das dez quando
ela sentiu a presença dele ali com ela.
Edward está escorado no batente da porta, seus cabelos estão
mais bagunçados que o normal, e mesmo na baixa claridade
daquele cômodo, Amy conseguia ver o quanto ele está abatido e
cansado.
Ela sorri para ele, levantando-se do sofá onde estava deitada e
vai até Edward, envolvendo sua cintura com seus braços e beijando
todo o seu maxilar até chegar à boca dele, onde ela depositou um
beijo leve e casto, mas que foi suficiente para deixá-la acesa.
— Oi – ela disse com um sorriso, encarando os belos orbes
cinzentos que ela tanto amava.
Edward encarou Amy intensa e atentamente, e, levando suas
mãos até o rosto dela, ele a mantém ali antes de tomá-la em um
beijo desesperado, carregado de saudades, preocupação, amor e
desejo.
Edward havia passado o dia inteiro tentando não pensar nas
palavras que vira escritas com recortes de jornal, no tempo e
disposição que aquele monstro teve apenas para isso e tentando
ainda mais não pensar nas imagens que vira naquele DVD. Tudo o
que ele queria era chegar a sua casa, abraçar, beijar e amar sua
Amy, ela era seu anjo e tudo o que ele mais queria era proteger este
anjo que agora gerava mais dois pequenos anjinhos; os seus
pequenos anjinhos.
— Agora sim é um bom “oi” – ele diz com um sorriso torto nos
lábios, fazendo Amy rir, mas ela logo franze o cenho e o encara
diretamente nos olhos.
— Aconteceu alguma coisa? – ela pergunta preocupada,
sentindo seu coração apertar em antecipação.
— Eu não quero falar sobre isso agora – ele sussurra, enfiando
o rosto na curvatura do pescoço de Amy e arrastando levemente
sua barba por fazer na região, arrancando um pequeno gemido de
Amy — Primeiro eu quero amar a minha mulher – ele diz beijando a
pele exposta do pescoço dela, demorando-se em cada pedaço que
sua boca alcança.
— Eu amo quando você me chama assim – Amy sussurra,
embrenhando seus dedos no cabelo de Edward, fazendo-o sorrir
contra sua pele.
Ela sente os beijos dele subindo em direção ao seu ouvido e
toda a sua pele se arrepia quando ela sente a respiração quente
dele batendo ali.
— Então você vai gostar mais ainda quando eu te chamar de
minha senhora Cage.
26- Tempos tristes e felizes.
O ar saiu de seu corpo no momento que processou o que
Edward havia dito.
América o afasta lentamente para encará-lo e um enorme
sorriso está estampado em seu rosto e ela não podia acreditar.
— Senhora Cage? – as palavras saem dela completamente
estupefatas.
Edward sorri ainda mais e o coração de Amy perde algumas
batidas.
— Não é um pedido oficial ainda, mas… Você aceitaria?
— Casamento? – ela morde o lábio inferior, olhando diretamente
naquela imensidão cinzenta dos olhos do Cage — Isso envolveria
família… Eu não sei se… – o sorriso no rosto dele morre aos
poucos e nesta sua reação ela vê o quanto ele quer isso, o quanto
ele quer casar com ela e isso a quebra por dentro porque ela
detestava vê-lo daquela forma.
— Você não quer – ele diz cabisbaixo, tirando suas mãos do
corpo de Amy e se afastando dela, fazendo com que ela sinta frio
com o seu afastamento.
Ela tenta falar algo, mas Edward a impede erguendo as mãos e
Amy sente seus olhos arderem e uma estúpida vontade de chorar a
consome.
América detestava o medo que sentia de sua família descobrir
sobre tudo o que estava acontecendo, principalmente sobre a parte
feliz de sua vida: Edward não sendo o dominador e seus bebês que
estavam à caminho.
— Edward? – ela o chama, se odiando por ter feito uma coisa
tão estúpida como a que havia feito com o homem que a estava,
implicitamente, pedindo em casamento.
Em sua mente procurava uma maneira de como reverter a
situação.
— O que é, América? – ele pergunta virando-se para ela, em
seus olhos a única coisa que Amy consegue ver é sua
impassibilidade.
— Não é que eu não queira me casar com você, eu adoraria. É
só que – ela se interrompeu, sem saber como explicaria como
realmente se sentia sobre aquilo. — Você não me fez o pedido – ela
diz em tom baixo vendo os olhos cinzentos se tornarem ainda mais
impassíveis e duros em sua direção, quase a fazendo desistir de
falar — Não do jeito certo pelo menos – ela abre um pequeno
sorriso para ele quando vê os seus olhos cintilarem de uma maneira
diferente a de segundos antes.
A surpresa estava estampada no rosto de Edward e ele mal
poderia se conter, tamanha que era a felicidade que ele estava
sentindo naquele momento, tão diferente de segundos antes quando
ele estava realmente acreditando que estava sendo rejeitado por
Amy.
— Então… você aceitaria? – ele questiona olhando diretamente
nos olhos dela.
— Eu aceito.
O sorriso que surgiu no rosto de Edward foi um dos mais
bonitos e contentes que América já o vira dar.
Ele a abraçou apertado a erguendo do chão e rodando com ela
no mesmo lugar, ouvindo os risos abafados contra seu pescoço.
— Amor, eu estou ficando tonta! – ela diz ainda rindo, fazendo
Edward parar de rodá-la no mesmo instante em que ela falou isso.
Ele a colocou no chão e a olhou diretamente nos olhos azuis
mais brilhantes e mais bonitos que ele já havia visto. O brilho ao
redor dela era forte e essa luz tinha como motivo seus filhos, dois
pequenos seres que seriam profundamente amados.
Edward se ajoelhou na frente de Amy e espalmou as mãos em
seu ventre, acariciando a região logo abaixo do umbigo dela,
depositando ali também pequenos e delicados beijos, como se
apenas encostar ali pudesse machucá-los.
— Vocês ouviram? – ela sussurra — A mamãe aceitou se casar
com o papai.
Ele ouviu o soluço alto e quando olhou para cima, Amy o olhava
com seus olhos brilhantes, banhados de lágrimas, e com um sorriso
carregado de alegria e emoção cobrindo-lhe a face.
Ficando de pé novamente, Edward segurou o rosto de Amy
entre as mãos e olhando dentro dos olhos dela, ele se inclinou e
colou sua boca a dela. Iniciando um beijo lento e carregado de todos
os sentimentos que ambos nutrem um pelo outro.
— Agora – ele disse erguendo-a pelas coxas e fazendo com
que ela o abraçasse com os braços e as pernas — Eu vou amar a
minha futura esposa.
[…]
Amy teve seu corpo nu coberto pelo de Edward.
Ela podia senti-lo quente, duro e pulsante em sua entrada e
estava ansiando pelo momento que ele se enterraria nela e
consumaria ao ato. Ela estava ofegante e desejosa demais do corpo
de seu homem e esperava que ele, como sempre, fosse capaz de
saciá-la com perfeição.
— Edward, por favor… – ela suplicava, movendo seu corpo da
direção do dele.
— O que você quer, baby? – ele questiona; a voz rouca e
carregada de desejo e volúpia.
— Você, em mim – ela implora tombando a cabeça para trás ao
senti-lo se esfregar nela entrando minimamente para logo depois
sair — Tudo, Edward! – ela exige.
Ela sente mais do que o vê sorrir, antes de se sentir ser
penetrada e definitivamente unida ao corpo de seu homem.
— Você está tão sensível, baby…
Ela geme arqueando o corpo e forçando-se a absorver toda a
carga de prazer que a estava tomando.
— Edward…
O gemido saiu arrastado e rouco pelos lábios de Amy.
Ela se agarrou ao corpo de Edward com toda a sua vontade
enquanto ele estocava lentamente para dentro dela.
Edward tinha seus braços apoiados de cada lado da cabeça de
Amy e os cabelos dela se embolavam ali.
O cheiro do sexo, o som dos corpos se chocando, as
respirações ofegantes e os gemidos curtos e arrastados eram o que
povoavam aquele ambiente, deixando o ar ao redor do casal ainda
mais elétrico, mais excitante.
— Olhe nos meus olhos, Amy – ele exigiu.
Com esforço, Amy forçou seus olhos a se unirem aos de
Edward, de onde ela não conseguiu mais tirá-los.
Ela estava presa a imensidão cinzenta e brilhante dos olhos
dele, e como ela amava aqueles olhos, tão silenciosos e
expressivos ao mesmo tempo.
Ele a beijou, tomando os gemidos dela para si, sentindo mais
uma conexão entre eles.
O ápice do prazer chegou para ambos quase ao mesmo tempo,
os gemidos de libertação soaram altos por todo o quarto e, logo
depois, o corpo de Edward cedeu, junto ao de Amy e eles ficaram ali
abraçados e unidos por um longo tempo, apenas sentindo um ao
outro enquanto eram tomados pela calmaria.
****
O som de um celular tocando distante foi o que tirou Edward de
seu sono tranquilo ao lado de sua Amy.
Com cuidado para não a acordar, Edward se levantou e
acendeu um dos abajures contrários ao rosto dela, pegou sua cueca
que estava jogada no chão e a vestiu indo, logo depois, atrás do
aparelho que insistia em continuar tocando.
Seu celular estava brilhando e tocando insistentemente sobre
uma cadeira do quarto em um lugar bem próximo à porta, onde sua
única peça de roupa fora colocada com um mínimo de educação.
O apelido, que havia dado ao seu irmão mais velho, estava
piscando insistentemente na tela e Edward imediatamente espantou
o sono para longe ficando em alerta. Já passava das três da manhã
e seu irmão nunca ligaria para ele em uma hora dessas se não
fosse algo grave.
— Edward! – Josh não deu espaço para uma palavra sequer do
irmão, o desespero estava presente na voz do homem e Edward
podia ter certeza de que ele estava chorando — Me ajuda,
Edward…
— Josh, o que houve? – ele perguntou, sentindo a aflição
começar a tomá-lo.
Lentamente Edward voltou para a cama e se sentou na beirada,
esperando o que o irmão iria dizer.
— A Paige… o meu filho, Eddie… por favor, vem pra cá…
Como se estivesse sentindo ou ouvindo o que os irmãos Cage
conversavam ao telefone, Amy se remexeu inquieta na cama,
acordando logo depois e se virou para Edward, que mantinha sua
atenção completamente no telefone e estava sentado de costas
para ela.
Não entendendo o que estava acontecendo, Amy se levantou e,
ao observar melhor o homem ao seu lado, notou toda a tensão e a
rigidez nos ombros dele.
— Vou acordar a Amy e estamos indo para o hospital. – Edward
disse, e aquela palavra foi suficiente para tirar Amy de seu torpor e
confusão.
Havia acontecido alguma coisa, e uma ruim, ela tinha certeza
disso.
Ela viu Edward passar as mãos nervosamente pelos cabelos, e
aquele ato dele deixou-a apenas ainda mais alarmada.
— Edward? – ela chamou, sua voz ainda rouca e embargada
pelo sono de segundos antes.
Ele se virou rapidamente para trás e viu Amy ali, nua da cintura
para cima, mas os únicos pensamentos que povoavam sua cabeça
eram de que o que estava acontecendo à Paige, também pode
acontecer com Amy, e isso o estava deixando insano.
Não… os meus bebês não!
— Coloque uma roupa, precisamos ir pro hospital.
— O que aconteceu? – Amy pergunta já sentindo a ansiedade e
o desespero começarem a dominá-la.
— É a Paige.
[…]
Assim que chegaram ao hospital, Edward, que sabia melhor o
que estava acontecendo, foi pedir as informações sobre Paige, e
ele, em momento algum, soltou Amy, estava sempre abraçado à
cintura dela, como se desta forma a protegesse e protegesse
também aos bebês.
Minutos depois eles estavam entrando na sala de espera e ali
eles se depararam com um Josh completamente devastado, e este
momento foi o único em que Edward soltou América.
Ele se aproximou de Josh e segurou em um dos ombros dele,
chamando sua atenção, o que o fez se levantar instantaneamente e
abraçar o irmão de maneira apertada e desesperada, chorando de
maneira copiosa.
— Ela o perdeu… perdemos o nosso bebê…
Edward ouviu atrás dele o ofego surpreso e pesaroso de
América.
Abraçando seu irmão de volta, Edward deixou que Josh
chorasse ali, com o rosto escondido em seu pescoço, colocando
para fora, ao menos um pouco da dor que ele estava sentindo.
Edward não podia e nem queria imaginar – ou sentir – a dor que
Josh estava sentindo naquele momento, e também não queria que
Amy sentisse o que ele tinha certeza que Paige estava sentindo.
Ele estava com medo, tinha certeza de que não suportaria uma
dor como esta que Josh sente, a dor de um pai que perde um filho,
mesmo ele nem tendo chegado a nascer.
Edward tinha certeza de que uma perda como essa seria
demais para ele.
Josh se afastou passando as mãos no rosto e sob o nariz,
fungando de maneiras nada discretas. Ele se sentou novamente e
puxou o ar com força para os pulmões, controlando-se, implorando
para não voltar a chorar e conseguir falar algo, mas era quase
impossível ele conseguir isso.
— O que aconteceu? – Amy perguntou; as lágrimas já estavam
correndo soltas por seu rosto.
Ela ainda estava parada no mesmo lugar e se sentia quase
incapacitada de dar um único passo que fosse.
Precisando estar perto de Amy, Edward, em passadas longas,
se aproximou dela e a envolveu em seus braços, juntando-a a seu
corpo, e foi quando ele percebeu que ela tremia levemente.
— Está com frio? – ele sussurrou levemente para ela,
recebendo uma resposta negativa dela.
— Foi um aborto espontâneo – Josh respondeu, chorando
novamente — O médico disse que estava tudo bem e hoje…
— Eu posso vê-la? – Amy pediu, sentindo seu peito se
comprimir em dor.
Paige estava tão feliz…
— Ela está passando por alguns procedimentos, de praxe eu
acho – Josh fungou, escondendo o rosto nas mãos e chorando
novamente.
Edward apertou Amy contra si, levando uma das mãos com
cuidado ao ventre dela, tocando a região por cima das vestes,
perguntando silenciosamente se estava tudo bem ali dentro, com
seus dois pequenos anjinhos.
Ao sentir o toque, América levantou os olhos para Edward e se
deparou com duas e enormes orbes prateadas, carregadas de
preocupação e medo. Ela sentia o mesmo que ele, mas também
sabia que isso poderia acontecer, e o pavor que ela estava vendo
nos olhos de Edward a dilacera por dentro.
— Está tudo bem – ela disse sem emitir som algum.
— Tudo bem – ele disse assentindo — Vem, vamos nos sentar.
[…]
América ainda sentia todo seu corpo tremer quando entrou no
quarto e viu Paige encolhida sobre a cama.
Ela não parecia ter expressão alguma ou vontade de fazer
qualquer coisa.
Paige estava inerte naquele lugar, olhando apenas para a janela
ou para além dela, Amy não saberia dizer.
— Paige? – Amy chamou e viu sua amiga se remexer e
lentamente virar-se para ela.
Paige abriu um pequeno sorriso que não chegava nem um
pouco aos seus olhos e Amy viu as lágrimas correndo lenta e
dolorosamente pelo rosto da amiga, sentindo as lágrimas
começarem a escorrer por seu próprio rosto também.
— Eu o perdi – Paige lamuriou, sentindo seu peito doer e um
vazio horrível dentro de si.
— Oh, Paige… – Amy sussurrou, chorando e indo de encontro a
amiga, a abraçando da melhor maneira que conseguia, deixando
que Paige chorasse em seus braços — Eu sinto tanto por isso…
— Eu já o amava tanto – as palavras eram ditas com dor e
carregadas de sofrimento e perda.
— Eu sei… eu sei – Amy sussurra, afagando os cabelos de sua
amiga com carinho, consolando-a da melhor maneira que poderia —
Essas coisas acontecem, podem acontecer com qualquer mulher,
não só com você… poderia ter sido comigo.
— Não fale uma coisa dessas! – Paige implora alarmada,
apertando Amy em seus braços, ela não queria, nem um pouco, que
a amiga passasse pela dor e sofrimento que ela estava naquele
momento e ainda ficaria por alguns dias.
Ela tinha certeza de que Amy não suportaria uma coisa como
essa.
— Desculpe – Amy pediu e sentiu os braços de Paige se
afastarem dela.
Os olhos verdes estão abatidos e avermelhados, devido a
tantas lágrimas já despejadas.
Amy segurou o rosto de Paige entre suas mãos, limpando as
lágrimas que ainda escorriam e sorriu a ela de maneira doce e
reconfortante, tentando ao máximo passar para a amiga um pouco
que fosse de confiança.
— Como está o Josh? – Paige pergunta preocupada.
— Ele está como você, Paige… não foi fácil pra ele também.
— Será que ele me culpa? – ela questionou, voltando às
lágrimas mais uma vez.
— Claro que não! – Amy exclamou — Ele sabe que não foi sua
culpa, e você também não pode achar isso. O que aconteceu foi
uma fatalidade, ninguém teve culpa disso.
Paige assentiu, chorando e voltando a se abraçar a Amy.
Enquanto isso, na sala de espera, Edward apenas observa seu
irmão que está em silêncio, olhando para o nada de uma maneira
pensativa. Vez ou outra ele via Josh erguer a mão e afastar uma
lágrima que insistia em escorrer.
Edward não conseguia parar de pensar em como ele estaria se
fosse ele no lugar de seu irmão. Talvez ele já tivesse buscado mil e
uma formas de gritar com o mundo, com os médicos e talvez, até
mesmo com Amy. Ou, então, ele estaria em um estado igual ou pior
ao do irmão.
Às vezes, em sua mente, as palavras presentes nas cartas
enviadas por Steve Monroe para ele se repetiam de forma ainda
mais tenebrosa. Edward tinha certeza de que estaria bem pior caso
a perda de seus filhou ou de Amy estivessem ligadas àquele
homem.
Ele tinha certeza de que o caçaria até o fim do mundo e mais
além ainda, apenas para fazê-lo provar a dor da perda.
— Você acha que ela vai… desistir da gente? De uma família? –
Josh perguntou em tom baixo, tirando Edward de seus pensamentos
sombrios e torturantes.
— Eu não sei, mas acho que não…
— Você desistiria da Amy? – Josh pergunta olhando
diretamente para Edward e tentando prever qual seria a resposta
dele.
— Nunca. Você desistiria da Paige?
Josh respirou fundo, perdendo o foco de seus olhos por algum
tempo, perdendo-se em seus próprios pensamentos e lembranças
antes de responder ao irmão.
— Não. Eu não desistiria da minha mulher.
Edward sorriu minimamente para o irmão e quase no mesmo
instante em que o assunto se encerrou, Amy entrou na sala de
espera.
Ela tinha os olhos vermelhos e o azul profundo estava triste e
Josh sabia que aquela tristeza era pela melhor amiga.
— A Paige quer ver você – Amy anunciou, olhando diretamente
para o mais velho dos irmãos Cage.
— Tudo bem – ele disse com um breve suspiro, passando as
mãos sob os olhos e passando pela porta logo depois de lançar um
breve sorriso para Amy e Edward, quando se despediram dele.
****
Paige voltara para casa na manhã do dia seguinte e faz exatos
três dias que ela está em casa, voltando aos poucos a sua rotina
normal, lentamente tentando parecer bem quando por dentro ainda
estava quebrada.
Neste mesmo espaço de tempo, Amy havia marcado uma
consulta para seu primeiro dia de pré-natal. Ela estava ansiosa e
temerosa ao mesmo tempo, não queria descobrir que seus bebês
tinham algum problema ou que poderiam partir.
Não, com toda a certeza ela não queria isso.
— Está pronta? – Edward perguntou aparecendo no quarto e
encontrando uma Amy pensativa observando seu perfil no espelho e
acariciando o ventre minimamente elevado, ainda pequeno demais
para se dizer que há dois seres ali dentro, ou até mesmo para dizer
que ela está grávida.
Amy se virou para ele, lhe abrindo um sorriso enorme e cheio de
amor e alegria.
— Estou sim. E você está?
— Ansioso como nunca estive em toda a minha vida – ele diz
com um sorriso nervoso e amoroso direcionado a América.
Ela sorriu mais um pouco depois da resposta e ainda mais com
o sorriso de Edward.
Ela também estava nervosa e apesar de já ter feito uma
ultrassonografia antes, era a primeira vez que iria ouvir o
coraçãozinho de seus bebês e, se lembrar dessa primeira vez, faz
Amy se lembrar de outra coisa que ela não tinha muito bem certeza
se havia comentado com Edward.
— Sabe… eu me lembrei de uma coisa agora – ela comenta —
Marie.
— O que tem a minha mãe?
— Ela sabe dos bebês, esqueceu? – Amy dá uma risadinha. —
Ela disse que há um jantar nos esperando para contarmos a
novidade – diz acariciando seu ventre e o olhando com carinho pelo
espelho para o lugar.
— Bom… que bom que se esqueceu de me avisar isso.
— Por quê? – Amy pergunta confusa.
— Porque assim deu tempo de termos mais uma novidade – ele
disse caminhando até ela e a abraçando por traz, depositando um
beijo carinhoso na pele exposta de seu ombro, tendo o prazer de vê-
la se arrepiar por completo e tremer levemente em seus braços —
Eu tenho uma noiva agora.
Amy sorriu abertamente, cobrindo os braços de Edward com os
dela e se virando para conseguir beijar-lhe a bochecha com carinho.
— Por falar nisso… – Amy diz pensativa se virando nos braços
de Edward e abraçando o pescoço do homem — Meu pai precisa
saber também. Ele precisa te conhecer.
— O que? Trazê-lo aqui? E então contarmos para todos ao
mesmo tempo?
— Perfeito – Amy sorriu abertamente e encostou seus lábios
aos de Edward levemente antes de escapar de seus braços —
Temos uma consulta marcada.
[…]
Edward olhava para a tela do aparelho de ultrassonografia com
admiração e amor.
Agora realmente havia caído a fixa de que ele seria pai de dois
seres que precisariam dele por muito tempo, dele e de sua Amy. Ele
não conseguia explicar o tamanho de sua felicidade diante daquela
imagem.
Ele sentia as lágrimas escorrendo quentes por seu rosto. Era a
primeira de muitas vezes que ele estaria vendo seus bebês.
— Querem ouvir os corações? – a médica perguntou com um
sorriso doce na face.
— Por favor, Kelly – Amy pediu, sentindo seu rosto ser tomado
pelas lágrimas em antecipação.
E então, o som acelerado e sem um ritmo certo de dois
pequenos e velozes corações invadiu o ambiente, enchendo os
corações de América e Edward de todo o amor, carinho e devoção
que era possível e até mesmo impossível.
Edward não conseguia acreditar que aqueles batimentos fortes
e rápidos vinham daquelas duas manchinhas agitadas na tela do
aparelho.
— Obrigado – ele sussurrou a Amy, com os lábios colados em
seu ouvido e logo depois ele lhe beijou o topo da cabeça, sentindo o
perfume de flores e morangos que ele tanto gosta nela —
Obrigado…
[…]
— Bem, Amy, você está com aproximadamente cinco semanas
de gestação e está tudo bem com você e os bebês. Eles estão bem
fortes – a doutora começou a falar — Os batimentos estão normais,
e tudo me parece muito bem com vocês.
— Que ótimo – Amy disse aliviada sentindo seu coração pular.
— Vou receitar algumas vitaminas para você e você deve tomá-
las todos os dias, está certo? Sempre durante a manhã e após seu
café da manhã. Se alimente bem e em caso de enjoos muito fortes,
apenas em casos assim, você vai tomar este remédio aqui – disse
apontando o nome do remédio, que Amy definitivamente não
conseguiu entender — Coma coisas leves e frutas entre cada uma
das refeições, entendido?
— Sim, doutora – Edward se antecipou em responder — Ela vai
obedecer a tudo direitinho.
— Vou explicar algumas coisas sobre a gravidez de gêmeos – a
doutora Kelly retomou a palavra — Geralmente elas não completam
o nono mês de gestação, elas chegam ao nono mês, mas é muito
raro se completar o último mês de gestação. Elas são sempre
delicadas pelo simples fato de serem gêmeos, mas não quer dizer
que a Amy não vá poder fazer nada, ela só tem que tomar cuidado.
As gestações de gêmeos geralmente não chegam ao nono mês de
gestação por causa da mãe, ou seja, chega um momento da
gestação que o peso dos bebês é maior do que o que ela vai
conseguir suportar, e ela não conseguirá mais fazer tudo sozinha,
entendem?
— Claro – Amy sussurrou, tentando absorver as informações
que lhe foram passadas.
— E quanto ao sexo dos bebês? – Edward perguntou, ele sabia
do medo de Amy quanto à mãe querer sua menina.
— Bom, eu já ia chegar nesse assunto com vocês – ela sorriu
ao casal — A gravidez da América é de bi vitelinos, ou seja, eles
não fazem parte da mesma placenta. Dois óvulos e dois
espermatozoides diferentes, o que quer dizer que o sexo entre eles
pode ou não variar, tem cinquenta por cento de chance de ser um
casal assim como pode ser um par, meninos ou meninas, mas eles
não serão idênticos.
Amy apertou a mão de Edward na dela, sentindo seu corpo
tremer e a possível enxurrada de lágrimas vir.
Ela não queria que sua mãe soubesse, ela estava com medo e
ela tinha certeza de que a doutora conseguia ver isso nela.
— Minha… minha mãe ainda busca informações minhas aqui?
Com você, Kelly? – Amy pergunta gaguejando.
— Não. Já tem um tempo que ela não vem te monitorar por
aqui, América – ela responde abrindo um pequeno sorriso — Quer
que eu diga algo para ela?
— Não! – Amy exclama rapidamente, se alterando — Ela não
pode saber que… que estou grávida… por favor… não conte.
Edward rodeou o corpo de América com os braços e afagou os
cabelos dela.
Aquele assunto não era bom para ela, era sempre assim
quando ela pensava na mãe querendo tirar seus bebês.
— Tudo bem… Ela não vai saber, América. Pode ficar tranquila.
27- Eu sinto que não sou forte o
suficiente.
América não havia dormido direito e, por consequência, Edward
também não.
Ela ficara durante a maior parte da madrugada passando mal e,
toda vez que pensava que conseguiria dormir, pesadelos vinham
assombrar seu sono, mostrando-lhe imagens do passado e
projetando cenas que, para ela, agora, haviam se tornado o seu
maior medo.
Steve, a seu ver, seria o menor de seus problemas caso Dianna
realmente descobrisse sobre seus bebês. Não que perto daquele
homem ela também não corresse igual perigo, mas ela sabia que se
fosse necessário conseguiria ferir Steve, mas sua mãe, apesar de
tudo, Amy sabia que não seria tão capaz assim de feri-la.
— Está se sentindo melhor? – Edward perguntou, mexendo
delicadamente nos cabelos de Amy.
— Estou sim.
O sol já estava começando a invadir o quarto e a aquecê-lo
lentamente.
Edward passou seus braços ao redor do corpo de Amy e a
abraçou puxando-a para seu colo, escondendo seu rosto nos
cabelos dela e respirando o perfume que eles exalam.
Uma das mãos passou a afagar seus cabelos enquanto a outra
pousou delicadamente sobre o ventre minimamente elevado e
durinho, acariciando levemente o local enquanto que, com seus
lábios próximos ao ouvido de Amy, ele sussurrava uma música
calma e reconfortante.
— O que você está fazendo? – Amy questionou com a voz
sonolenta e baixa.
— Te ajudando a dormir – ele respondeu e, logo depois, voltou a
cantar apenas para ela, que cada vez mais ia ficando mole em seus
braços com uma respiração mais lenta e ritmada.
— Sentados? – ela questionou, sentindo seus olhos se
fecharem e a sonolência começar a dominá-la.
Ela ouviu a risada baixinha de Edward e logo a música retornou
leve e suave, fazendo-a cair lenta e gradativamente no sono, sono
este que Edward velou em silêncio sem conseguir dormir
novamente.
Há duas semanas ele estava guardando para si as palavras de
Steve Monroe.
Edward temia que se contasse a Amy sobre isso ela ficasse mal
e isso afetasse os bebês e acontecesse algo semelhante ao que
aconteceu a Paige.
Não.
Definitivamente Edward não comentaria isso com Amy.
Mas havia algo que não deixava seu cérebro parar de funcionar,
e esse algo era uma conversa que tivera com Ward e Kyle no dia
anterior – mesmo dia que ele havia ido com Amy para a primeira
consulta em que viu seus bebês.

— O que houve? – Edward perguntou, recostando-se em sua


cadeira, enquanto os seguranças à sua frente buscavam a melhor
maneira de contar aquilo ao patrão — Tem a ver com a América?
— Sim, senhor – Ward responde rápido e seco — No dia em
que ela e a senhorita Bennett foram ao shopping, quando
estávamos voltando, a senhorita Bennett achou ter visto alguém e
comentou com a senhorita Lawson, e a reação dela não foi das
melhores, mas ela não falou mais nada – ele diz da melhor maneira
que consegue — Depois que deixamos a senhorita Amy aqui, Kyle
saiu para fazer uma ronda pela quadra do prédio, no primeiro dia
não encontramos nada de estranho, mas hoje…
— Hoje eu confirmei algo que vinha suspeitando já há alguns
dias, senhor – diz Kyle — Um Dodge preto tem passado com muita
frequência por aqui, sempre em horários cravados de certos
períodos do dia. Confirmamos a placa do carro hoje. É a mesma do
dia que a senhorita Amy e a senhorita Bennett saíram.
Edward engoliu em seco o nó que se formava em sua garganta.
Suas suspeitas estavam sendo confirmadas.
Estavam vigiando sua vida e a de Amy, e, naquele momento,
Edward teve certeza de que era Steve Monroe quem estava fazendo
isso.
— Não tirem os olhos dela de forma alguma – ele ordenou —
Não a deixem sozinha em momento algum, e se nenhum de vocês
puder estar com ela, me avisem ou ao Tyler – Edward praticamente
rosnava as ordens aos seguranças — É imperativa a segurança
dela e dos meus filhos.

Depois daquela conversa e da confirmação de suas suspeitas,


Edward não tinha uma verdadeira noite de sono. Ele estava sempre
pensando o quão perto aquele homem já estivera de machucar sua
Amy e seus filhos.
Apenas o pensamento de algo ruim acontecendo a eles fazia o
sangue de Edward gelar e todo o seu corpo retesar, e todos os seus
esforços em encontrar Steve Monroe estavam sendo absurdamente
falhos.
O homem parecia um fantasma e nem mesmo seus contatos no
FBI tinham conseguido algum sucesso.
Amy se remexeu em seus braços, trazendo-o para fora dos
pensamentos conturbados e assustadores que começavam a
povoar sua mente, fazendo-o perceber a forma desconfortável em
que ela havia adormecido em seu colo.
Com um leve suspiro, deitou-a na cama e se aconchegou ao
corpo dela, aspirando seu perfume e tentando encontrar pelo menos
um pouco de descanso.
[…]
No momento que abriu seus olhos, Amy deparou-se com a cena
que para ela havia se tornado a mais bela de todas.
Edward tinha a cabeça recostada em sua barriga e ela sentia a
mão dele fazendo pequenas carícias em seu ventre, junto com a
respiração quente e tranquila dele que estava batendo ritmada ali.
Amy sentia que o sorriso que crescia em seus lábios poderia ser
capaz de rasgar seu rosto em dois, mas ela não estava se
importando muito com esse fato. Para ela o mais importante era o
carinho e amor que Edward estava mostrando para com seus filhos
naquele gesto, e aquilo enche o coração dela.
Ela tinha certeza de que ele estava dormindo, mas ainda assim,
as carícias calmas e quase imperceptíveis continuavam e pareciam
ser inconscientes.
Seus dedos estavam coçando para se embrenharem nos fios
escuros dos cabelos de Edward, mas, mesmo temendo que ele
pudesse acordar, ela levou sua mão até os fios macios que ela tanto
gostava e começou a acariciá-lo ali, fazendo um pequeno cafuné em
Edward.
— Isso é muito bom – Edward murmurou sem se mexer, sua voz
estava embargada de sono e Amy sentiu seu peito comprimir.
Nenhum dos dois havia dormido durante a noite e ela adoraria
dizer que foi por causa de uma maravilhosa noitada de sexo, mas
não havia sido por isso e ela tinha certeza de que, depois que
dormira braços dele, Edward havia custado a dormir, e se duvidasse
ele poderia ter acabado de dormir ou nem ter dormido.
— Eu pensei que estivesse dormindo – Amy diz em tom baixo e
carinhoso, ainda fazendo o cafuné em Edward.
Ela sentiu o sorriso dele em sua pele, pouco antes de ele beijar-
lhe a região abaixo do umbigo duas vezes em locais diferentes,
como se estivesse beijando a cabeça dos dois bebês uma de cada
vez.
Amy sentiu seus olhos molharem diante da cena ainda mais
bela que era a anterior.
— Eu estava, mas acordei tem pouco tempo – ele disse,
ajeitando-se na cama para ficar ao lado de Amy e, logo em seguida,
a beijar delicada e apaixonadamente — Boa tarde – ele diz com um
sorriso torto nos lábios ainda unidos aos de Amy.
— Boa tarde – ela sorri, beijando-o mais uma vez e
embrenhando seus dedos em meio aos fios macios, enquanto sentia
os braços de Edward rodearem seu corpo e a puxarem para ainda
mais perto dele, sem aprofundar o beijo, apenas querendo senti-lo
mais perto de si.
— Como você está? – ele pergunta assim que os lábios se
separam e ele se afasta minimamente para poder avaliar as feições
dela.
— Eu estou bem. Parece que eles gostaram da música que o
papai cantou pra mamãe deles – Amy sorri, acariciando os cabelos
de Edward com carinho e olhando nos olhos cinzentos, que brilham
para ela, com amor.
— Então quer dizer que dormiu bem?
— Bastante – ela afirma ainda com o sorriso — E você?
— O que tem eu?
— Você dormiu? – ela questiona olhando diretamente para os
olhos dele.
— Naquela mesma posição que você me encontrou quando
acordou – revela com um pequeno sorriso, e, aos olhos de Amy, ele
parecia constrangido ao revelar isso para ela — Foi só assim que eu
consegui dormir… sentindo eles perto de mim.
— Oh, Edward – Amy o abraçou apertado, sentindo seus olhos
arderem.
— Eu não quero perdê-los, Amy… – ele diz, abraçando-a de
volta e enterrando seu rosto no pescoço dela — Não quero ficar
sem eles, nem sem você.
Ela sente a emoção em cada uma das palavras de Edward e
isso comprime seu coração porque ela sabe bem do que ele fala e
tem certeza de que a perda do bebê de Paige o afetou bastante, ela
só não tem certeza da dimensão da forma que isso o afetou.
— Você não vai me perder. Nós não vamos perder nossos
bebês – ela afirmou, afastando-se para olhar diretamente nos olhos
de Edward, que estavam vermelhos e assustados.
— Vou fazer de tudo para que isso não aconteça – ele diz com
convicção, mesmo sentindo o centro de seu peito doer com o medo
que carrega de ser incapaz de cumprir a promessa e apenas por
pensar em perder qualquer um deles.
— Eu sei que vai.
[…]
Edward andava de um lado para o outro meio da sala com o
telefone ao ouvido.
O sorriso estampado em sua face denunciava o quão contente
ele estava por falar com sua mãe e marcar o tão esperado jantar
para contar as novidades para toda a família.
O único medo que Amy tinha era que não ficassem felizes com
as novidades, principalmente com sua gravidez.
Apesar de Marie ter ficado radiante com a notícia, ela temia que
George e Laurie não aceitassem isso. E tinha mais medo ainda de
que Josh sentisse raiva dela por estar anunciando sua gravidez
poucos dias depois de Paige ter perdido o bebê.
— Sim, mãe, hoje. O pai de Amy estará conosco e temos
novidades para contar. – Edward diz e olha sorridente para Amy,
que está sentada no sofá e o observa com um sorriso e olhos
brilhantes.
— Vão falar sobre aquilo? – Marie pergunta ao filho, ganhando
como resposta uma deliciosa risada dele como resposta.
— Sim, mãe. E sobre mais uma coisa.
— Oh, meu Deus! Vocês já sabem os sexos?!
— Mamãe, pare de tentar adivinhar! – Edward a repreende
sorrindo e balançando a cabeça em negação, como se Marie
pudesse vê-lo — Vai descobrir quando chegarmos para o jantar
mais tarde, e, por favor, nada de comidas pesadas. – ele pede
lançando uma piscadela para Amy, que ri balançando a cabeça.
— Tudo bem, querido – Marie se rende e Edward tem certeza
de que ela está sorrindo — Estou tão feliz por você, meu filho! – ela
diz e Edward sente a emoção e sinceridade nas palavras de sua
mãe; sua salvadora.
— Eu também, mãe. Eu vou ser pai, caramba! – ele exclama
emocionado, sentindo que o sorriso em seus lábios pode ser capaz
de lhe rasgar o rosto em dois.
— Oh, meu querido! E eu vou ser avó! – Marie exclama
emocionada — Tenho certeza de que todos aqui vão adorar a
notícia.
— É o que eu espero, mãe. – Edward diz com uma respiração
mais pesada, mas sem perder o sorriso do rosto — Agora tenho que
desligar mãe, vou dar um pouco de atenção para a mãe dos meus
filhos.
Marie ri do outro lado da linha e concorda com Edward,
despedindo-se logo depois.
Assim que desliga, Edward vai para o lado de Amy no sofá,
sentando-se com ela e a puxando para seus braços.
Suas mãos se espalmam diretamente em seu ventre descoberto
e levemente aparente. Se Edward não soubesse que Amy estava
para completar seus dois meses ele poderia dizer que ela já está
grávida há muito mais tempo.
— Você conseguiu falar com o seu pai ontem depois que
chegamos da consulta? – Edward pergunta com carinho, beijando o
pescoço de Amy e tendo o prazer de ver sua pele se arrepiar.
— Ahn-hã. – murmura balançando a cabeça com um sorriso
estampado no rosto lembrando-se da afobação de seu pai no
momento que ela o chamou para ir visitá-la e jantar na casa dos
Cage com ela e Edward — Ele disse que pegaria o primeiro voo de
hoje, para estar aqui até o fim da tarde.
Edward sorriu para ela, lembrando-se de que enquanto Amy
ligava para o pai dela, ele estava em seu escritório tendo a conversa
com seus seguranças que apenas confirmou suas suspeitas.
— Acha que ele vai gostar de mim? – Edward pergunta,
sentindo-se realmente preocupado com esse fato.
— Eu tenho certeza que ele vai – Amy responde com um sorriso
e virando-se para ele, mas antes que ela possa se esticar para
beijá-lo, seu celular toca chamando a atenção dos dois para o
aparelho.
Amy se estica para pegá-lo e ela sorri ao ver o nome que pisca
no visor.
— Oi pai! – ela diz sentindo seu coração se encher de carinho e
amor pelo homem que sempre a defendeu e protegeu.
— Amie, querida! – Nick exclama sorridente e alegre.
— Você já chegou? – ela pergunta ansiosa.
— Acabei de desembarcar e estou indo pegar minha mala. Você
está bem, Amie?
— Ansiosa para vê-lo papai.
— Vou pegar um taxi e já chego aí, querida.
— Está bem. Vou avisar na portaria. Eu te dei o endereço
certinho, não dei?
— Sim, querida. – Nick responde e Amy tem certeza de que ele
está sorrindo — Até daqui a pouco, filha.
— Até, papai.
Amy sorria abertamente quando depositou novamente o celular
sobre a mesinha de centro e se aconchegou de volta nos braços de
Edward.
— Ele chegou?
— Acabou de desembarcar, está pegando as coisas dele e já
vem pra cá.
Amy não conseguia ficar parada e por causa disso saiu dos
braços de Edward e se sentou de frente para ele, sorrindo animada
e praticamente pulando sentada, fazendo Edward rir dela e para ela
que estava parecendo uma menininha prestes a ganhar um
presente de natal.
— Eu estou com tantas saudades dele, amor! – ela fala com um
enorme sorriso, fazendo Edward olhá-la com adoração.
— Eu estou vendo. Mas se acalme – Edward pede preocupado
— Essa agitação toda pode fazer mal aos bebês.
— Tudo bem, tudo bem! – Amy diz ainda com um enorme
sorriso, voltando para os braços de Edward, sentando-se no colo do
mesmo com uma perna de cada lado do corpo dele.
— Acha que ele vai gostar de saber que eu engravidei a
garotinha dele, e de gêmeos? – Edward pergunta, colocando uma
mecha do cabelo de Amy atrás da orelha e afagando as bochechas
dela.
Amy ri e o beija delicadamente nos lábios.
— Ele vai ser avô, Edward… duplamente avô. E eu já preparei
um pouco o terreno para essa notícia.
— Bom saber que eu não serei agredido de imediato – ele diz,
arrancando risos de Amy, que o abraça apertado e enterra o rosto
no vão de seu pescoço ainda rindo.
— Eu tô com fome – Amy revela ainda rindo e tem o prazer de
ver o sorriso de Edward se ampliar.
— Então, vamos alimentar vocês!
[…]
Amy praticamente pulou nos braços de Nick assim que o viu
chegar.
Ela o abraçava apertado e era retribuída por ele, que lhe
distribuía beijos por suas bochechas, derramando nestes gestos
toda a saudade e amor que tem por sua filha.
Os soluços de Amy eram baixinhos, mas tanto Nicolas quanto
Edward conseguiam ouvir, e isso só fazia o coração de Edward se
apertar. Ele estava preocupado e não queria ver Amy chorar,
mesmo sabendo que era de felicidade por ver o pai e o ter por perto
depois de tanto tempo sem ter um contato deste tipo com ele, senão
o telefone.
— Que saudades, Amie… – Nicolas sussurra com o rosto
escondido no pescoço de Amy; ele tinha lágrimas escorrendo por
seu rosto assim como ela, e toda a saudade que ele tinha dela
parecia que iria estourar-lhe o peito a qualquer momento.
— Eu também tive, papai – Amy diz, rindo entre as lágrimas e
se afastando um pouco apenas para olhá-lo melhor.
Ele ainda parecia o mesmo de quatro anos atrás, apenas com
algumas rugas suaves marcando ao redor de seus olhos e a mesma
cicatriz do lado direito do rosto que pegava desde um pouco acima
da sobrancelha até a metade de sua bochecha, apenas um pouco
menos evidente.
Amy se lembrava muito bem do dia que Nicolas ganhara aquela
cicatriz, afinal naquele mesmo dia ela quase havia sido
assassinada, e apenas esse pensamento a fazia tremer.
Nicolas sorri para ela, confortando-a com apenas este gesto e,
logo depois, olha por cima do ombro de Amy, vendo um homem
observá-los em trajes informais e cabelos desgrenhados, com olhos
de falcão sobre sua Amie.
— É ele? – Nicolas questiona à Amy, apontando com os olhos
para o homem logo atrás deles.
Amy se vira para olhar para onde o pai aponta e se encontra
com o olhar de Edward, completamente protetor e amoroso sobre si.
Olhos de falcão que não deixam escapar um único movimento
dela.
— É ele – Amy responde com um enorme sorriso, olhando de
Edward para Nick de maneira intercalada, e, enlaçando seu braço
ao de seu pai, Amy caminha lado a lado com ele até onde Edward
se encontra e ele, percebendo as intenções de Amy, se apressa em
ir em direção aos dois e encontrá-los no meio do caminho.
— Senhor Lawson – ele cumprimenta, estendendo a mão para
Nick que sorri com todos os dentes e aceita a mão oferecida por
Edward, que por pouco não suspirou aliviado — É um grande prazer
conhecê-lo.
— O prazer é todo meu, Edward, trate-me por Nick, por favor –
ele pede — Então… quais são as novidades que você me falou,
querida? – Nick pergunta levando seu olhar de volta para Amy, que
neste momento se movia para ficar ao lado de Edward, que enlaça
sua cintura e beija-lhe o topo da cabeça com carinho.
— Que tal nos sentarmos primeiro, hm? – Amy questiona com
um sorriso, se virando rapidamente em direção a sala de estar e
caminhando para o sofá, quase correndo.
Edward a acompanhou e logo estava se sentando ao seu lado.
Nick se sentou de frente para eles, usando da poltrona de couro
escuro que enfeitava o lugar e quase ninguém se sentava.
— E então? – Nick insiste, olhando para Amy e Edward que
entrelaçam os dedos.
A cena faz um pequeno sorriso brotar no rosto do homem, que
tem sua curiosidade elevada e quase enlouquecida.
— Eu gostaria de pedir sua benção para me casar com a sua
filha – diz Edward, olhando diretamente para os olhos absurdamente
azuis de Nick.
Se Edward não soubesse que Amy não é filha biológica de Nick
ele diria que diante dele estava o progenitor dela.
— Você quer isso, querida? – Nicolas pergunta para Amy, que
abre um grande sorriso para seu pai, e Nicolas vê toda a felicidade
de sua menina naquele gesto.
— Eu quero – ela confirma.
— Então… por mim, tudo bem – Nicolas sorri, ganhando como
resposta um grande sorriso de Amy e Edward, que lhe acena
agradecendo. — E a outra novidade, querida, qual é?
— Bom… Essa só será revelada na casa dos Cage, depois do
jantar.
— Tudo bem.
Amy sorri para o pai e se levanta indo em direção a Nick e
esticando a mão para ele.
— Agora, por que o senhor não descansa um pouco? –
pergunta ao pai — Só temos que estar lá às oito. Ainda temos
algum tempo.
— Aceito sim.
Amy sorri abertamente.
— Venha. Vou levá-lo ao quarto que o senhor vai ficar.
[…]
O vestido que Amy usa é solto e vai até seus pés quase os
cobrindo por completo.
O tom azul combina com seus olhos brilhantes e emocionados.
Os sapatos em seus pés são sem saltos e abertos, e, apesar do
clima morno que faz em Seattle, Amy carrega consigo um
casaquinho de mesma cor do vestido e seus cabelos caem soltos
por suas costas e suas ondas envolvem e cobrem seus seios com
elegância não proposital.
Pelo espelho do quarto, Amy encontra os olhos de Edward
fitando-a com admiração e amor.
Ele caminha até ela e a abraça por trás, sentindo o perfume dos
cabelos dela e sorrindo em meio ao ato.
— Você está linda – ele diz, virando-a de frente para ele e
sorrindo ainda mais abertamente ao olhar para o ventre de Amy, que
mesmo com a roupa soltinha estava aparecendo, minimamente,
mas, ainda assim, aparecia e isso o deixa extremamente contente
— Ela está tão aparente! – ele exclama com um enorme sorriso
acariciando a barriga de Amy.
— Está, não é? – Amy sorri acompanhando o gesto de Edward
em sua barriga.
— Espere um instante – diz Edward com um sorriso maroto nos
lábios e seguindo na direção do closet, onde ele havia feito a
questão de colocar as coisas de Amy também, e agora
definitivamente aquele quarto era dos dois.
Alguns minutos depois, Edward saiu do closet com algo em
mãos que Amy não soube identificar, pelo menos não até ele parar
na frente dela com o objeto erguido e virado em sua direção.
Era uma câmera e Amy não conseguiu acreditar naquilo e muito
menos no que Edward queria fazer com aquele objeto.
Ele sorria enquanto provavelmente ajustava a câmera.
— Vamos, faça uma pose. – Edward pediu com um enorme
sorriso nos lábios.
Amy sorriu lindamente para ele e ficou de lado para a câmera,
alisando sua barriga para que o tecido do vestido se ajustasse a sua
pele e ao formato mais redondinho de sua barriga, demonstrando
naquele gesto o quão grande para seu tempo de gravidez ela já
estava.
Ela olhou para seu ventre com adoração e logo depois o flash
foi disparado anunciando a ela que Edward já havia tirado a foto.
Quando se virou para Edward, o viu olhando bobamente para a
tela da câmera digital em suas mãos.
Com um sorriso doce nos lábios, Amy se aproximou dele para
olhar também a foto e ver como ela havia ficado, e acabou
descobrindo que aquela não era a primeira foto que ele tirava dela,
pelo menos não a primeira em que ela não estava sabendo ser
fotografada.
— Seu trapaceiro – Amy disse rindo e tirando a câmera das
mãos de Edward para ver as fotos — Há quanto tempo você vem
fazendo isso?
— Desde que me contou sobre eles – Edward sorriu tímido,
encolhendo os ombros e pegando a câmera de volta — Mas depois
falamos sobre isso, já estamos em cima da hora – ele disse,
mudando de assunto enquanto colocava a câmera sobre a cômoda
ao lado da cama, e pegando o casaco dela, que ela havia deixado
sobre a cama para tirar a foto.
Amy sorriu e segurou no braço de Edward quando ele passava
por ela, fazendo-o virar-se para ela e fitá-la nos olhos.
O amor que estava em seu peito naquele instante parecia
queimá-la por dentro de tamanha que era a sua intensidade
misturada com a felicidade que estava sentindo.
— Eu te amo – ela disse e, logo depois, o beijou com carinho e
com todo o amor que estava em seu peito — E amei saber que está
tirando todas essas fotos nossas – ela sentia as lágrimas em seus
olhos e toda a emoção estava transbordando por eles.
— Era para ser uma surpresa – Edward confessou, acariciando
o rosto dela com as costas da mão — Mas você descobriu. Curiosa.
– ele disse bicando os lábios dela com os dele de forma carinhosa
— Eu também te amo. Amo vocês.
Amy sorriu e o beijou mais uma vez antes de ambos se
afastarem com sorrisos nos lábios e entrelaçarem os dedos, para,
logo depois, seguirem para fora do quarto e irem em direção a sala
de estar onde encontraram um Nick vestido em um bonito terno de
bom corte e cor clara. Ele não usava gravata, e Amy tinha certeza
de que aquilo estava se devendo ao enorme nervosismo que o pai
estava sentindo.
— Está linda, querida! – Nick elogiou e com um enorme sorriso
olhava para sua menina que a seu ver estava, literalmente, radiante.
— Obrigada, papai – ela disse, sentindo suas bochechas
arderem e alisando instintivamente sua barriga.
— Todos prontos? – Edward pergunta, sorrindo e apertando
suavemente a mão de Amy na sua, e recebendo uma resposta
positiva de Nick, Edward sorriu para o homem a sua frente — Ótimo!
Vamos, então.
[…]
Nicolas não soube o que dizer ou pensar quando viu sua Amy
ser abraçada com tanto carinho e amor pela mulher que ele
imaginou ser a mãe de Edward. Ele sentiu que aquela mulher
gostava realmente de sua menina e que Amy tinha pela mulher o
mesmo sentimento de afeto e carinho.
— Tive saudades, querida – ela disse, afagando com carinho os
cabelos de Amy e sorrindo docemente para sua menina.
— Eu também tive, Marie. – Amy sorriu ao responder e logo se
virou de lado, olhando para Marie e para seu pai com um sorriso —
Marie, este é meu pai, Nicolas Lawson. Pai, esta é Marie Cage, mãe
de Edward.
— É um grande prazer conhecê-lo, senhor Lawson. – Marie diz
com um sorriso apertando a mão de Nicolas.
— Para mim também, senhora Cage. – Nicolas diz sorrindo
contido — Por favor, é apenas Nick.
— Então, é Marie para você também. Afinal, agora somos uma
grande família – Marie disse com um grande sorriso — Agora,
vamos entrar, George e Josh estão loucos de fome.
Assim que entraram na casa se depararam com uma Laurie
agitada, andando de um lado para o outro com o telefone no ouvido
e ela parecia não estar sabendo o que fazer.
De uma porta, dois homens apareceram rindo, provavelmente
da cena que Laurie estava protagonizando, sabia-se lá por qual
motivo.
— Pelo amor de Deus, Laurie! – Marie exclamou, chamando a
atenção de todos para ela e os fazendo notar que quem eles
esperavam já tinham chegado.
Laurie sorriu abertamente para Amy e Edward, que estavam de
mãos dadas ao lado de um homem que ela logo chegou à
conclusão de que ele deveria ser o pai de América.
Despedindo-se da pessoa com quem falava, Laurie foi
praticamente correndo abraçar seu irmão e, logo depois, Amy que
teve que lutar muito para não começar a chorar com a emoção que
estava sentindo.
Droga de hormônios! – ela resmungou mentalmente, sorrindo
alegremente para Laurie que lhe retribuía o sorriso.
Depois que Laurie se afastou, foi a vez de George se aproximar
deles e os cumprimentar, e assim que ele e Nick foram
apresentados ambos já conversavam animadamente como se
fossem amigos de longa data.
Quando Josh foi falar com Amy, ela se sentiu mal por estar
prestes a contar para todos que estava grávida quando ele e Paige
haviam perdido o bebê deles há tão pouco tempo.
Ela queria conversar com ele antes, mas não sabia como
começar o assunto, estava com medo de fazer isso e magoar ainda
mais ele, que havia se tornado – sem querer – um bom amigo.
— Ei, relaxa – Josh sussurrou no ouvido dela com carinho —
Paige e eu estamos bem. Não fique com medo de contar a eles –
ele disse como se lesse os pensamentos de América, e ela se
sentiu aliviada por ele não estar chateado com esse fato — Paige
está lá em cima, ela tinha acabado de subir quando vocês
chegaram.
— Ela está mesmo bem com tudo isso? – Amy questionou
sussurrando, sentindo seus olhos arderem com sua crescente
vontade de chorar.
— Ela ainda chora às vezes, mas ela está feliz por você, assim
como você esteve por ela.
Edward observava a cena com seu coração dolorido, afinal ele
sabia sobre o que sua Amy e Josh conversavam enquanto estavam
abraçados, e ele não queria ter que sentir aquilo que seu irmão, com
toda a sua certeza, ainda estava sentindo. Um de seus maiores
medos, naquele momento, era este.
O de perder seus filhos.
[…]
Todos estavam reunidos na sala de estar.
Sentados nos sofás espaçosos dispostos ali, conversavam e
riam animadamente enquanto desfrutavam da deliciosa sobremesa,
que foi escolhida e preparada por Marie com carinho.
América estava em sua segunda taça, deliciando-se do sabor
daquele doce maravilhoso de morangos e chocolate, e ela apenas
queria mais e mais.
Sentados no sofá à frente, Paige e Josh se mostravam ainda
mais juntos, pareciam bem e se mostravam fortes, o que deixava
Amy feliz mesmo que o motivo que os levou a isso tenha sido tão
triste.
No momento em que Edward se levantou, chamando a atenção
de todos os presentes na sala para si, ninguém realmente
imaginava a sua verdadeira intenção.
Ainda engolindo parte de sua sobremesa, Amy acompanhou
cada movimento de Edward, que tinha um belo sorriso estampado
no rosto.
Ela chegou a deixar de lado a taça que tinha sua sobremesa
para, então, poder dar mais atenção ao seu noivo.
— Bom, antes de contarmos nossa maior novidade, eu gostaria
de oficializar aqui, diante de vocês, um pedido que eu já tinha feito à
esta mulher maravilhosa – Edward disse com seu melhor e mais
bonito sorriso, olhando diretamente para América, que não
acreditava que ele iria fazer aquilo e na frente de todos.
Ela o viu se ajoelhar a sua frente, ao mesmo tempo em que
tirava do bolso uma pequena caixinha e a estendia aberta para ela,
revelando o delicado anel de prata, ornamentado e incrustado de
pequenas pedrinhas brancas que rodeavam três pedras maiores no
centro.
Amy teve certeza de que aquelas pedras eram diamantes, o que
apenas a deixou ainda mais surpresa e assustada.
Os ofegos de Marie, Laurie e Paige foram ouvidos por todos na
sala, e Amy apenas conseguia encarar Edward abismada, enquanto
respirava com dificuldade, afinal, uma coisa é pedi-la em casamento
quando eles estavam sozinhos, outra é pedi-la em casamento na
frente de toda a família.
— Começamos de uma forma diferente da maior parte dos
casais. Antecipamos a maior parte dos passos que se dão após o
casamento… – Edward disse com um sorriso apaixonado e
carinhoso, olhando discretamente para a barriga de Amy, fazendo
com que a mulher sorrisse e com que as lágrimas começassem a
escorrer pelo rosto dela. — Mas eu te amo e não podia estar mais
feliz por isso, por todos os passos que demos adiantados e que
ainda vamos dar juntos. América Lawson, eu te amo e você me faria
o homem mais feliz do mundo se me desse a honra e o prazer de te
chamar de minha senhora Cage. Casa comigo, Amy?
— Sim. Eu caso – ela disse, sorrindo e chorando ao mesmo
tempo, abraçando Edward pelo pescoço e o enchendo de beijos.
Deus, ela ama esse homem com todas as suas forças e apenas
pensar em perdê-lo já a faz querer chorar e sofrer por antecedência.
Edward sorriu contente e emocionado e, ficando de pé, segurou
as mãos de Amy ajudando-a a fazer o mesmo.
Ele tirou o anel da caixinha e, pegando na mão esquerda de
América, o levou até seu dedo anelar, de onde ele sairia apenas no
dia que eles fossem se casar, ou somente – com essa exceção –
quando seus filhos fossem nascer, apenas nestas duas ocasiões,
porque, fora isso, Edward iria fazer de tudo para que aquele anel
jamais saísse da mão de sua Amy.
— Agora, para completar a novidade – disse Edward antes que
qualquer pessoa pudesse se mover para parabenizá-los e aquilo
virasse uma bagunça que os impediria de contar a melhor notícia
que ele já havia recebido na vida.
Ele olhou diretamente para Amy, que sorria envergonhada, mas,
ainda assim, ele conseguia ver que tinha alegria estampada nos
olhos de sua mulher e aquilo apenas o deixava ainda mais feliz.
— Que notícia é essa?! – Laurie pediu ansiosa, ela estava louca
para pular em cima daquele casal e apertá-los em seu abraço e
louca para começar a pensar em coisas para ajudar Amy e Edward
na organização do casamento — Falem logo!
Pelo canto do olho, Amy podia ver o sorriso de Marie e o
tamanho da felicidade que tomava conta daquela mulher
maravilhosa que América queria como exemplo na criação de seus
filhos. Ela tinha certeza de que Marie sabia muito bem qual era a
novidade da qual Edward falava.
— Estamos grávidos – Edward disse com um sorriso enorme,
colocando a mão sobre o ventre minimamente aparente de Amy,
que sorria grandemente, completamente emocionada —
Duplamente grávidos.
Marie foi a primeira a ir abraçar o casal e a parabenizá-los pela
maravilhosa notícia que, para ela, era mais do que apenas isso.
Para ela, era um maravilhoso presente de aniversário
adiantado.
O grito esganiçado e alegre de Laurie foi o que tirou todos os
outros de sua momentânea letargia. Ela não conseguia acreditar e,
assim que sua mãe se afastou se afastou, ela foi correndo pular
sobre eles, falando várias coisas ao mesmo tempo, não dando nem
um único tempo para que eles fossem capazes de respirar.
Assim que Laurie se afastou, George foi cumprimentá-los e
quando ele foi falar com Edward a emoção o tomou quando ele o
puxou para um abraço. Quando falou com Amy não pôde evitar que
sua emoção aumentasse ao acariciar suavemente o ventre da
mulher.
— Duplamente? – ele questionou confuso e admirado pelo
tamanho já aparente do ventre de Amy — O que isso quer dizer?
— Gêmeos, George – Amy respondeu sorrindo.
A alegria e emoção dominavam a todos naquele lugar e, no
momento em que Paige foi abraçar a amiga, Amy não conseguiu se
segurar e chorou com ela, apertando a amiga em um abraço
carinhoso e caloroso, carregado de emoções boas e dolorosas
também.
— Seja a madrinha deles? – Amy pediu, fazendo Paige se
afastar abruptamente e olhá-la surpresa e com os olhos
transbordando em lágrimas — Seja a madrinha dos meus filhos?
— Oh, Amy! Sim, sim… eu serei! – Paige respondeu abraçando
mais uma vez a amiga e sentindo-se completamente feliz com isso.
O resto da noite se passou em meio a risadas, conversas e
planos para o casamento e os bebês que estavam a caminho, e,
para Amy, aquilo não podia estar sendo melhor.
Nicolas não via como poderia se sentir mais feliz por sua filha, e
quando ele conseguiu falar com sua garotinha, ele mal conseguia
acreditar que dentro dela estavam crescendo dois pequenos seres
que, em breve, iriam chamá-lo de avô… Não… com toda a certeza
Nicolas jamais havia imaginado que isso um dia fosse acontecer.
****
Uma semana havia se passado desde o jantar na casa dos
Cage e Amy não podia estar mais feliz. Ela iria se casar e seria mãe
de dois pequenos seres que iriam depender dela para muitas
coisas, por muito tempo, e não conseguia estar mais feliz.
Edward também estava vivendo nesta mesma bolha de
felicidade, e a cada vez que ele recostava sua cabeça na barriga de
Amy e conversava com seus filhos, ou simplesmente quando a
tocava ali naquele lugar precioso – que havia se tornado o seu lugar
preferido desde que Amy lhe contara sobre a gravidez – a emoção
tomava conta dele e tudo o que ele conseguia fazer era sorrir.
Só havia duas coisas que conseguiam tirá-lo dessa bolha de
felicidade e enchê-lo de preocupações e medos: A mãe e o ex-
padrasto – psicopata louco – de América, que constantemente
enviava mensagens, fotos e vídeos da época que ele a surrava
apenas por ela existir, e isso sem ninguém saber.
Edward não havia tido tempo de ter uma conversa à sós com
Nicolas antes que ele fosse embora, mas ele sabia que poderia
contar com ele para ajudar a cuidar de Amy caso fosse necessário.
Naquele momento, ele estava apenas ansioso para poder voltar
para casa e cuidar de sua Amy, mimá-la e sentir seus bebês
próximos de si, mesmo que ele ainda não conseguisse senti-los de
mexerem, isso era o que Edward mais gostava de fazer,
principalmente depois que amava Amy da forma que ele mais
gostava.
Da forma que ambos mais gostavam de se amar.
Ele havia deixado Tyler com ela, e havia trazido consigo Ward e
Kyle, para que eles pudessem usar dos computadores da empresa
e da linha privada de busca para encontrar Steve Monroe – com a
ajuda dos técnicos de TI – e tentarem detê-lo antes que o mesmo
conseguisse alcançar seus objetivos.
E foi pensando em ligar para Tyler Ford que Edward pegou seu
telefone e, no mesmo instante que o tinha em mãos, o aparelho
tocou, e olhando no visor era o próprio Ford que ligava.
Preocupado, Edward atendeu antes que o segundo toque se
iniciasse.
— Senhor Cage, eu e a senhorita América já estamos no píer,
chegando ao Angel como o senhor havia pedido. – diz Ford assim
que percebe que Edward havia atendido ao telefone.
O segurança acompanhava de perto a mulher de cabelos
castanhos que seguia tranquilamente até onde o Angel se
encontrava ancorado, balançando suavemente sobre as ondas.
— Píer?! Angel?! – Edward questionou, perturbado e
completamente confuso, ele não se lembrava de ter pedido que
ninguém fosse ao seu barco, e muito menos de falar para Amy
encontrá-lo lá — Do que você está falando, Tyler?!
O segurança não teve muito tempo para responder porque, no
instante que sua boca se abria para falar, o som ensurdecedor
tomou conta de tudo e o clarão laranja e amarelo, junto com o
impacto, o impediram de fazer qualquer coisa.
E a última coisa que ele viu antes de sentir seu corpo ser
lançado para longe, junto com o de América, foi o fogo que tomava
conta de tudo, e a última coisa que ele teve certeza de ter ouvido
antes de ser lançado para longe foi o grito apavorado de seu patrão.
28- Tudo está bem?
Tyler estava se sentindo tonto, enjoado e cada parte de seu
corpo parecia em brasas.
E tudo piorava quando ele tentava se mexer.
A pior parte, até o momento, eram suas costas que pareciam
queimar tamanha era a dor que ele sentia nelas, mas, apesar de
tudo, de toda a dor que ele estava sentindo, ele sabia que, naquele
momento, a de América poderia ser pior.
Ele não se perdoaria se algo grave tivesse acontecido a ela e
aos bebês.
Tyler gemeu de dor enquanto se mexia lentamente até
conseguir ficar sentado, abraçando suas costelas e dando
respirações curtas.
Olhou ao redor tentando buscar um sinal de América, ou de
algum dos aparelhos celulares, até que ele a viu, a poucos metros
de distância dele.
A posição em que ela se encontrava não lhe pareceu das
melhores e ficou impossível conter todo o desespero que ele tentava
ferozmente impedir de o dominar, quando olhou melhor a maneira
como ela estava.
— América?! – ele chamou, assustado, se arrastando com
dificuldade até onde ela estava.
A mulher estava desacordada, mas Tyler ficou feliz por ver que
ela ainda respirava.
Fazendo um pouco mais de esforço procurou manchas de
sangue que denunciassem quaisquer tipos de danos, a ela ou aos
bebês, mas o que ele não queria ver era que ela realmente estava
ferida.
Havia sangue escorrendo pelo seu braço, suas pernas estavam
raladas e o cabelo impedia que ele visse seu rosto, porém, ele não
conseguia ver se havia sangue entre as pernas dela, e ele temeu
com todas as suas forças que ela tivesse perdido os bebês.
Por um pequeno momento, Tyler agradeceu por não terem
caído na água, ou com certeza tudo seria ainda pior.
Seus ouvidos ainda zuniam e sua cabeça parecia uma mina
terrestre.
Seus pensamentos estavam todos confusos.
Ele estava cansado e sentia sua cabeça pesar e doer ainda
mais, seu corpo começava a ficar mole e seus ouvidos zuniam como
se abelhas tivessem resolvido morar neles.
Respirar estava complicado e seus pulmões pareciam queimar,
ele não sabia o que havia acontecido com ele, mas havia um gosto
estranho em sua boca e, antes que caísse novamente, ele
conseguiu ver, em meio a sua visão completamente embaçada, que
pessoas se aproximavam, mas, para ele, aquilo estava acontecendo
devagar demais.
-*-
Edward olhava apavorado para o próprio telefone, não
acreditando que realmente havia ouvido uma explosão.
Ele não queria acreditar que Amy realmente estava naquele píer
e que ela e Tyler haviam sofrido qualquer ferimento, ou coisa pior.
Ele não conseguiria suportar, de forma alguma, se Amy ou seus
filhos, ou pior ainda, que ambos não estivessem bem.
Sem pensar em mais nada, apenas com aquilo em sua cabeça,
Edward largou tudo o que tinha que ser feito na empresa para trás,
não respondendo nenhuma pergunta, apenas chamando Ward para
acompanhá-lo.
Seu peito estava comprimido em angústia e o medo estava
deixando um gosto amargo em sua boca.
Edward se lembrava vagamente de já ter sentido isso em sua
vida, ele era novo demais, mas as marcas e traumas foram
profundos o suficiente para transformá-lo no que ele foi durante boa
parte de sua vida, antes de entender que nada do que tinha
acontecido era culpa dele: um homem escondido dentro de sua
própria casca de frieza e inseguranças.
Mas, agora, era tudo diferente, diferente demais e ele devia
grande parte disso a mulher que agora ele tinha a certeza de estar
correndo perigo de vida, junto com seus bebês e Tyler.
Edward implorava, durante todo o caminho, sem parar uma
única vez, para que eles estivessem bem, para que estivessem
vivos.
— Senhor Cage, o que está acontecendo? – Ward questionou
em tom baixo ao patrão, percebendo o quanto o homem ao seu lado
estava inquieto e nervoso.
Mas antes que Edward pudesse responder ao seu segurança,
seu celular começou a tocar, quase o fazendo pular de susto, afinal,
havia até mesmo se esquecido do aparelho preso em suas mãos.
O número desconhecido o deixou completamente alarmado e
ele sentiu raiva e angústia. Se fosse aquele homem…
— Cage – ele atendeu seco, tentando de todas as formas
possíveis não demonstrar o quão abalado estava.
— Senhor Cage, aqui é do centro de emergências do
Harborview Medical Center – uma mulher falou do outro lado da
linha tendo toda a atenção de Edward naquele momento — A
senhorita América Lawson e o senhor Tyler Ford deram entrada há
uma hora…
— Como eles estão?! – Edward pergunta afobado,
interrompendo a mulher em meio sua frase — Minha mulher… ela
está grávida, como…
— Senhor, a única informação que tenho no momento é que
eles estão sendo examinados, os médicos não estão nos dando
muitas informações…
— Eu já estou a caminho. – Edward disse, não dando espaço
para uma resposta da mulher — Ward, para o Harborview. Rápido.
O segurança não questionou.
Ele havia conseguido perceber, apenas naquela ligação que seu
patrão recebeu, que a situação não era nem de longe aquela que
agradaria alguém.
[…]
Edward entrou praticamente correndo no hospital.
Ele precisava saber o que estava acontecendo, precisava saber
como eles estavam e principalmente… precisava saber se ele ainda
seria chamado de pai por seus bebês algum dia.
— Sou Edward Cage e procuro por América Lawson e Tyler
Ford. – ele disse assim que parou em frente ao balcão da recepção.
O homem o olhou especulativo e parecia analisá-lo de um todo.
Isso deixou Edward irritado, afinal ele não precisava que
ficassem ali olhando para ele como se ele fosse um louco ou um
problema a ser solucionado, muito pelo contrário… ele precisava de
informações e que elas fossem dadas a ele o mais rápido possível.
— Dá para ser rápido?! – ele questionou, espalmando as mãos
impacientemente sobre o balcão e perdendo a paciência por
completo com o rapaz que continuava olhando-o de maneira
estranha.
— Filho?! – a voz doce e impossível de não reconhecer foi o
que chamou Edward para próximo da sanidade novamente, era
Marie, sua mãe, e parecia confusa e preocupada — O que está
fazendo aqui? Aconteceu alguma coisa? – e, olhando para os lados
enquanto se aproximava, Marie ficou ainda mais confusa — Onde
está a Amy?
Ela estava se preparando para ir embora quando o viu, havia
acabado de concluir seu plantão e estava cansada, mas ver seu
menino ali tão frágil, assustado e fora de controle, a deixou
completamente alerta e pronta para fazer o que fosse necessário
para vê-lo bem de novo.
— Na emergência junto com o Tyler. – Edward disse não mais
conseguindo conter suas emoções e deixando as lágrimas
começarem a cair — Mãe, eu estou com medo – ele soluçou
sentindo seu coração doer enquanto ia de encontro à sua mãe e a
abraçava com força, chorando agarrado a ela.
— O que aconteceu, querido?
— Explodiram o Angel, mãe… e eles estavam perto – ele diz em
tom baixo e abafado, entre as lágrimas que escorrem quentes e
dolorosas por seu rosto — Tentaram matar ela e os meus filhos mãe
– seu corpo inteiro treme de medo e dor — Tyler era um bônus…
um bônus.
— Acalme-se, querido – Marie pediu, sentindo seus olhos
arderem com as lágrimas que começavam a se formar e com a dor
angustiante que agora comprimia seu peito — Vou pedir para
alguém te levar para a sala de espera e vou trazer informações para
você querido, mas, por favor, tente se acalmar, sim?
— É impossível, mãe… – Edward diz nervoso passando as
mãos com fúria por baixo de seus olhos, na tentativa frustrada de
espantar as lágrimas enquanto se afasta de Marie — Eles estão lá
dentro há não sei quanto tempo e aquele inútil ali nem para me dar
a porra de uma informação!
— Emergência? – Marie perguntou ignorando os xingos do filho
e tentando assumir sua postura profissional novamente, e, ao
receber uma resposta positiva de seu filho, acenou para um
enfermeiro que passava, chamando-o para perto — Leve meu filho
e aquele homem para a sala de espera da Emergência e depois me
ajude a obter informações – ela apontou para Ward parado próximo
à entrada do hospital que apenas observava a tudo e a todos,
completamente em silêncio.
— Sim senhora, doutora Cage – o enfermeiro acenou
positivamente com a cabeça e com um pequeno sinal chamou
Edward e Ward pelos corredores em direção à sala de espera.
[…]
Duas horas tinham se passado e tudo o que Edward sabia até o
momento era que Tyler estava passando por uma delicada cirurgia
para conter uma hemorragia interna e que Amy estava ainda
desacordada, passando por uma longa e detalhada bateria de
exames para saber se estava tudo bem com ela e com os bebês,
principalmente com os bebês.
Marie não parava um minuto sequer e, na maioria do tempo que
parava. ou era para estar ao lado de Amy, que às vezes acordava e
chamava por Edward – ela parecia assustada e desesperada
enquanto chamava por ele – ou então para dar consolo ao seu
menino, que parecia tão perdido naquele momento quanto no dia
que ela o conheceu e se apaixonou por seus olhos cinzentos e sua
inocência tão abalada.
Neste momento, Marie estava voltando para perto de Edward.
Ela carregava consigo, agora, boas notícias sobre o estado de
América, mas de Tyler ela pouco havia conseguido saber.
— Como eles estão? – Edward pergunta, levantando-se
afobado assim que sua mãe entra na sala de espera.
Ele estava se sentindo tão impotente naquele momento que
toda a situação havia se tornado mais do que sufocante para ele.
— Tyler ainda está sendo operado, mas quanto a Amy… parece
que milagrosamente está tudo bem com ela e com os bebês.
— Ela… ela teve sangramentos? – ele perguntou aflito, sentindo
seu peito apertado em apreensão e medo.
— Uma coisa pequena enquanto estava sendo realizada a
primeira bateria de exames, mas não foi nada grave…
Surpreendentemente, devo dizer, querido. Eles são fortes.
Edward praticamente caiu de alívio e ele teria ido de joelhos
para o chão, se Ward não tivesse agido depressa o segurando e o
colocando sentado de volta na cadeira em que Edward estava
antes.
— Sim… eles são fortes – Edward murmurou respirando com
dificuldade — Muito fortes…
Marie se aproxima de Edward, sentando-se na cadeira ao seu
lado e o abraçando pelos ombros com carinho e todo o seu amor.
Ela sabia o quanto ele odiava o toque de mulheres que não
fossem ela ou Laurie – por causa do que havia acontecido na
infância dele – mas, depois da chegada de América, isso estava
mudando e Edward aceitava melhor o contato e, para Marie, aquilo
foi uma das melhores coisas que ela havia ganhado na vida.
— Eles estão bem, querido – Marie sussurra para ele, tentando
consolá-lo a todo custo — Amy vai ter que ficar aqui por uns dias em
observação, por causa dos bebês, mas vai ficar tudo bem de novo
querido, você vai ver…
— Como ela está?
— Está sedada no momento. Teve alguns cortes no braço, um
pulso luxado e as costelas… – Edward ficou extremamente alerta
naquele instante, olhando alarmado para sua mãe — Duas
fissuradas, mas ela teve sorte porque nada foi perfurado e não
houve nenhuma hemorragia interna… ela só levou alguns pontos e
arrumou alguns hematomas, querido.
— Eu posso vê-la? Eu preciso…
— Daqui a pouco você vai poder, está bem? Estão terminando
de acomodá-la no quarto.
Ele assente de maneira pesarosa, sentindo cada músculo de
seu corpo doendo com todos os espasmos e tremores que ele
tentava conter.
Ele esteve tão assustado… tão apavorado por todo esse tempo,
que ele ainda não conseguia acreditar no que estava acontecendo,
e toda a vez que a verdade e a real situação se mostravam diante
de seus olhos, ele sentia o medo dentro de si e odiava isso.
Estava se sentindo fracassado. Ele havia falhado em proteger
aqueles que lhe eram mais importantes. Ele deveria ter dado mais
atenção àquele homem deveria ter se esforçado mais em encontrá-
lo… tudo o que havia feito foi pouco diante do que poderia ter
acontecido se Amy e Tyler tivessem entrado no barco.
-*-
Amy estava se sentindo quente naquele escuro estranhamente
desagradável.
Ela não sentia mais dores em seu corpo, mas sua mente estava
em fulgores. Ela conseguia se lembrar de tudo…
As imagens se repetiam em sua mente, como um filme
programado para se repetir toda hora, em todo momento e sem
parar.
Ela queria gritar e chorar, mas não conseguia. Sentia-se presa
em um pesadelo que era real demais para se conseguir acordar, e a
frase que ela havia lido em seu telefone, pouco antes da explosão
acontecer, ficava se repetindo em sua cabeça.
Aproveitem os fogos.
Aproveitem os fogos.
Aproveitem os fogos.
Aproveitem os fogos.
Uma repetição insana e que lhe parecia eterna.
Ela só queria acordar, ter certeza de que estava viva e que seus
bebês ainda estavam com ela, que eles estavam bem. Mas, ao
mesmo tempo em que ela queria isso, também não queria,
simplesmente por estar com medo de acordar e descobrir que eles
não haviam sobrevivido… descobrir que estava sozinha, que
Edward estava dentro daquele barco esperando-a e que ele havia
morrido…
Não. Ela não queria acreditar nisso… não queria saber a
verdade.
Ela desejava, com todo o seu ser, com todo o seu coração, que
Steve Monroe não tivesse conseguido o que queria.
Amy sentiu seu corpo ser erguido e, logo depois, colocado de
volta em alguma superfície. Ela sabia que tinha que acordar, mas
seus olhos e todo o seu corpo pareciam contentes em estarem em
completo estado de inércia.
[…]
Mais uma hora se passou e Edward já não aguentava mais
esperar.
Ele queria ver Amy, mas não o deixavam fazer isso.
Sua mãe já não estava mais ao seu lado e ele sabia que ela
havia ido atrás de informações sobre Tyler. Seu segurança estava
mal e parecia que tudo o que não havia acontecido a Amy,
aconteceu a ele.
Edward só queria que ele ficasse bem. Queria que todos
ficassem bem.
Na sala de espera agora havia mais duas pessoas além dele, e
elas pareciam tão desesperadas e angustiadas quanto ele. Edward
não sabia o motivo daquelas pessoas estarem ali, mas ele entendia
aquele sentimento estranho e tão controlador.
— Parentes de América Lawson? – uma mulher chamou e
Edward imediatamente se virou para ela, deixando de olhar para as
outras pessoas e se levantando imediatamente para falar com a
mulher.
— Eu.
— Ótimo… o senhor é o que dela? – a mulher perguntou.
Ela usava um jaleco branco e era baixinha, tinha cabelos
escuros e olhos marcados pelo cansaço e toda a sua determinação.
Com certeza foi ela quem cuidou de sua Amy.
— Sou noivo dela.
— Pai dos bebês? – pergunta com uma sobrancelha erguida,
como se escondesse algo ou estivesse pisando em ovos.
— Exatamente – ele responde apreensivo, começando a se
perguntar se havia acontecido algo e Amy havia piorado e agora
seus bebês corriam riscos.
— Isabeau Morris, a médica responsável por sua noiva. Pode
me acompanhar, por favor? – a médica disse, girando nos
calcanhares e saindo da sala de espera, sendo acompanhada
rapidamente por Edward, que deixou Ward ali caso viessem falar
sobre Tyler.
— Está tudo bem com eles? – Edward perguntou assim que
começou a andar ao lado da doutora baixinha que parecia ter
foguetes nos pés.
— Senhor Edward Cage, certo? – ela questionou olhando
rapidamente para ele, que acenou positivamente com a cabeça —
Pois bem, a senhorita Lawson está relativamente bem, mas está em
constante observação, não apenas por causa dos bebês, mas
também por causa das escoriações e ferimentos que ela teve. A
doutora Cage já deve ter lhe dito isso, mas a questão é que… bom é
inexplicável – ela diz franzindo o cenho para a situação — Um
acidente como o que ela sofreu, no mínimo, teria a levado ao aborto
ou à consequências muito piores, mas… milagrosamente os bebês
estão bem, apesar de um pequeno sangramento ocorrido durante
alguns exames – ela continua calmamente, explicando tudo o que
foi feito para Edward que ouvia com bastante atenção e esperava
com todas as suas vontades que aquela mulher o estivesse levando
para sua Amy.
— Ela ainda está dormindo?
— Não… acordou tem alguns minutos e bom… precisamos
levá-la para fazer novos exames – ela explicou — Apesar de estar
tudo bem com os bebês, precisamos monitorá-los constantemente –
a doutora disse e de repente parou no meio do caminho, fazendo
Edward parar também, nervoso e ansioso, passando a mão pelo
cabelo e deixando-o ainda mais bagunçado. — As costelas
fissuradas dela são uma preocupação no momento, foram apenas
duas, mas fissuraram-se em mais de um lugar e isso é perigoso…
Se elas não calcificarem até os bebês completarem cinco meses, a
gravidez vai se tornar uma coisa muito desconfortável para ela,
principalmente quando eles começarem a se mexer, pode vir a
acontecer de eles a quebrarem se resolverem se enfiar debaixo
delas, o que parece ser uma coisa que os bebês adoram fazer. O
senhor entende, senhor Cage?
— Sim. Eu entendo perfeitamente. Não se pode fazer nada para
acelerar o processo?
— Já está sendo feito, senhor Cage. Ela acabou de tomar as
medicações receitadas e comprimidos de cálcio estão incluídos. É
imprescindível que ela não deixe de tomar todos os remédios, assim
como as vitaminas para a gravidez que foram receitadas a ela. Vão
ajudar bastante na recuperação e na gestação dela.
Edward assentiu, respirando fundo e tentando controlar suas
emoções.
Era a segunda vez que ele estava passando por uma situação
em que as costelas de Amy haviam sido afetadas.
Edward nunca quis tanto matar alguém como queria matar a
pessoa que havia causado isso a sua Amy e a Tyler.
— Eu posso vê-la? – ele pede com sua voz baixa e rouca pelas
lágrimas que ele luta para segurar e impedir que escorram outra
vez.
— Pode sim, só há mais uma coisa antes de eu poder levá-lo
até ela.
— O que? – ele conseguia sentir seu coração se apertar dentro
de seu peito e ele não conseguia acreditar no quão doloroso isso
podia ser.
— Ela está em um estado de inércia…
— Como assim inércia? – ele questiona apavorado franzindo o
cenho completamente confuso — Você… a senhora disse que ela…
— Ela está bem, senhor Cage – ela o interrompe, tentando a
todo custo controlar o homem à sua frente — Aparentemente… ela
acredita que você está morto.
O ar saiu completamente dos pulmões de Edward, e ele sentiu
que iria cair quando cambaleou para trás, buscando algum tipo de
apoio, porém a doutora baixinha, que havia cuidado de sua Amy e
de seus bebês, o impediu de desabar, segurando-o pelo braço e o
recostando na parede.
— Meu Deus, senhor Cage! – a mulher exclama alarmada
olhando para o homem completamente pálido.
— Por favor… me leve para ela.
-*-
América encarava a janela de vidro do quarto em que se
encontrava, sem realmente ver alguma coisa.
Ela finalmente havia encontrado uma posição em que suas
costelas não doíam tanto e estava assim desde que acordou.
Respirava devagar, tragando o ar em doses pequenas enquanto
acariciava ritmicamente seu ventre que já começava a despontar
abrigando seus pequenos bebês que estão vivos e bem.
Ela sentia as lágrimas escorrendo quentes e dolorosas, mas os
soluços e o desespero não existiam.
Amy estava se sentindo despedaçada por dentro, e apenas o
que a estava mantendo razoavelmente firme eram seus bebês, que
tanto iriam precisar dela. Não queria imaginar como Marie, George,
Josh e Laurie receberiam a notícia que nem mesmo ela queria
receber.
Ouviu a porta ser aberta e sabia que alguém havia entrado, mas
não deu muita importância para isso, continuando a olhar para o
nada além da janela do quarto branco e insípido.
O aroma – impossível de não reconhecer – dele dominou seus
sentidos e ela imaginou estar delirando, afinal ele estava dentro do
barco. Não estava?
Ela sentiu que tudo piorou quando o viu se sentar à sua frente,
em uma cadeira que estava ali, e, logo depois, segurando sua mão
– a que acariciava sua barriga – com força.
Amy o olhou, querendo acreditar que ele era real e que estava
mesmo ali, segurando sua mão.
Ele tocou seu rosto e depois seus cabelos enquanto ainda
segurava sua mão, e, desta vez, América realmente chorou.
Os soluços vieram com força e ela sentiu dor, não apenas em
suas costelas e em seus machucados, mas também em seu
coração. Seu choro foi alto e ela se agarrou às mãos de Edward
quando teve certeza de que aquilo não era uma alucinação, que ele
realmente estava ali e vivo… Completamente ileso.
— Você está aqui – ela diz entre soluços e ofegos, agarrando-se
cada vez mais a Edward que lentamente a abraça — Você está vivo!
— Shhh… – ele expulsa o ar por entre os dentes, como se com
isso a pedisse para ficar calma — Está tudo bem… Eu estou aqui.
A dor que Edward esteve sentindo por todo aquele dia de aflição
e desespero estava finalmente diminuindo, agora que ele tinha sua
vida em seus braços estava tudo começando a ficar bem.
América o agarrava com força, apertando-o contra si própria e
chorando alto, com o rosto enterrado em seu pescoço de uma forma
que Edward reconheceu como libertadora.
Ele enterrou o rosto no pescoço de Amy, sentindo seu cheiro e o
cheiro de seus cabelos, e apesar do cheiro estranho de fumaça e
remédios que havia nela, o aroma agradável de flores e morangos
ainda estava ali, forte e intenso, transmitindo a ele tudo o que ele
precisava.
Afastando-se um pouco, Edward faz com que Amy o olhe, para
que ele possa fazer o mesmo com ela. Ele analisa todo o seu rosto,
buscando todos os seus machucados enquanto ela apenas o olha,
analisando seu rosto e tendo a certeza de que está realmente tudo
bem com ele.
A bochecha direita de Amy contém arranhões e está vermelha e
inchada, em sua testa – do lado oposto aos arranhões na bochecha
– há um curativo indicando que ali ela tomou pontos e que o corte
foi grave. Descendo os olhos pelos braços dela, Edward vê áreas
que estão enfaixadas e outras roxas e arranhadas, uma de suas
mãos tinha uma tala limitando os movimentos, mas sua
preocupação maior – de todos os ferimentos dela – eram as
costelas.
— Dói muito? – ele pergunta acariciando a bochecha não
machucada de Amy sentindo medo de tocar em suas costelas.
Ela negou levemente com a cabeça olhando ainda
intensamente para ele.
— Os remédios… eles estão ajudando.
— Foi no mesmo lugar da última vez, não é?
— Foi – ela respondeu meneando a cabeça de forma positiva,
abrindo um pequeno sorriso para ele, sentindo as lágrimas brotando
em seus olhos, fazendo-os arderem — Eu achei que você… – as
lágrimas voltaram a escorrer pelo rosto de Amy torrencialmente —
Deus… Eu achei que você… que você estava lá…
— Eu estou aqui, Amy, e está tudo bem agora.
Ela balançava a cabeça em negação, agarrando-se cada vez
mais a Edward.
— O Tyler, Edward… ele…
— Ele vai ficar bem – afirmou, mesmo que não tivesse certeza
sobre suas palavras.
— Olha só quem acordou! – a voz de Marie encheu o quarto
hospitalar, tirando o casal de sua pequena bolha particular.
Ela tinha um sorriso, contente e aliviado, estampado no rosto
enquanto se aproximava da cama em que Amy se encontra deitada,
com Edward sentado ao seu lado.
— Como está, querida?
— Melhor agora – Amy responde abrindo um pequeno sorriso
aliviado em meio algumas lágrimas que insistem em cair, olhando
rapidamente para Edward antes de voltar seu olhar para Marie.
— Você nos deu um grande susto, sabia? – disse Marie com um
sorriso doce nos lábios — Sente alguma dor, querida?
— Não… só me sinto cansada – Amy diz com um pequeno
sorriso, recostando-se na cama novamente, buscando uma posição
confortável — E mais enjoada que o normal.
— Oh, querida… Você bateu a cabeça, é normal que se sinta
assim por algumas horas – diz Marie e, logo depois, um lindo sorriso
contente se espalha por seu rosto — E por falar em enjoos… Como
estão os meus netos?
Automaticamente América leva a mão de encontro ao ventre
minimamente elevado e já à mostra, acariciando-o e sorrindo
aliviada e contente, sentindo seu coração bater mais forte apenas
por saber que eles ainda estão ali com ela.
— Estão bem, graças a Deus! – lágrimas escorrem por seu
rosto novamente.
Lágrimas de alívio e gratidão.
Edward une sua mão à de América, acariciando o ventre
pequeno, mas ainda assim tão grande para o curto tempo de
gestação.
Aproximando-se um pouco mais, Marie passou a acariciar
levemente os cabelos de Amy, beijando o topo de sua cabeça logo
em seguida. Ao se afastar encontrou os belhos e grandes olhos
azuis a fitando com carinho e certa adoração.
Era inexplicável todo o carinho e amor que Marie nutre por Amy,
assim como é inexplicável o carinho que ela sente por Marie.
— Obrigada por tudo – disse Amy, sorrindo abertamente para
Marie, que apenas conseguiu sorrir ainda mais, dando mais um
beijo no topo da cabeça da mulher de cabelos escuros antes de se
virar para Edward e beijar-lhe também o topo da cabeça.
— Apenas o trabalho de uma mãe e futura vovó babona – Marie
disse, fazendo, pela primeira vez naquele dia, risos verdadeiros
serem dados por eles.
[…]
América estava dormindo e Edward aproveitou aquele momento
para sair do quarto em que ela estava e ir ver como Tyler estava.
Já era noite e todas as vezes que ele tentou ir onde Tyler
estava, algum médico entrava no quarto de Amy para vê-la, fazer
perguntas e levá-la para fazer exames, a maioria deles era feito
para monitorar os bebês, e desta forma – quando era com eles –
Edward simplesmente não conseguia ir fazer outra coisa que não
fosse estar ao lado de Amy, acompanhando cada um dos exames
feitos.
Mas agora havia uma pequena brecha e Edward iria finalmente
poder sanar sua vontade de ver como estava Tyler, seu segurança e
secretamente fiel amigo.
O médico que estava cuidando de Tyler, desde que ele chegara
ao hospital, estava lado a lado com Edward enquanto caminhavam
calmamente pelos corredores um tanto quanto mais tranquilos
durante aquele horário da noite.
— Em comparação a sua noiva, senhor Cage, o seu segurança
não teve tanta sorte – o médico dizia calmamente, explicando o
estado em que Tyler se encontrava — Parece que o que não atingiu
a senhorita Lawson, atingiu muito mais ao senhor Ford.
— O que quer dizer com isso?
— Ele teve hemorragia interna, costelas fraturadas, deslocou o
ombro e torceu o tornozelo esquerdo – o médico disse e Edward
ofegou assombrado — No momento, ele se encontra em coma
induzido, com medicações sendo aplicadas para tentarmos reduzir o
pequeno inchaço do cérebro. Ele não teve um traumatismo craniano
em si, mas ele bateu a cabeça com muita força, e, ao que tudo
indica, senhor Cage, seu segurança teve alguns minutos de
consciência e locomoção, e eu creio que tenha sido isso que
agravou tanto os ferimentos internos dele.
— Ele vai ficar bem? – Edward perguntou realmente
preocupado, sentindo os pelos de sua nuca se arrepiarem com o
gelo que percorreu sua espinha.
— Ele vai ficar bem sim, senhor Cage. Tyler é um homem forte e
saudável. Não me parece alguém que será abatido com tanta
facilidade.
— Eu realmente espero que isso seja verdade, doutor – ele
afirmou e realmente torcia por isso.
29- Porque você foi feito pra mim.
Ela encarou seu reflexo no enorme espelho do banheiro do
quarto em que estavam ficando naquela enorme casa.
Suas roupas estavam largadas de qualquer jeito no chão e ela
definitivamente não estava se importando muito com isso. Para falar
a verdade, ela não estava se importando nem um pouco com aquilo.
Encarou as formas que seu corpo estava tomando e sorriu para
isso, mas logo seu sorriso foi morrendo, aos poucos, quando,
lentamente, seus olhos começaram a passear pelas marcas roxas e
esverdeadas dos hematomas formados em sua pele.
Ele havia conseguido lhe ferir mais uma vez e isso quase tirou
muito mais do que ela poderia imaginar.
Um suspiro escapou por seus lábios e ela voltou seus olhos
para a barriga grandinha demais para quem estava fazendo nove
semanas de gestação. Aquilo indicava a ela – perfeitamente – que
seus dois pequenos estavam ali firmes, fortes e saudáveis, e isso a
fez sorrir abertamente para seu próprio reflexo, enquanto levava
suas mãos ao seu ventre, acariciando-o lentamente, ansiando pelo
dia em que eles começariam a se mexer e a incomodá-la durante a
noite, impedindo-a de dormir.
Apenas imaginar isso fazia seu sorriso aumentar e ela sentia
lágrimas de alegria brotarem aos seus olhos.
— Mimando nossos filhos e nem me chamou para isso? – a voz
de Edward soou atrás dela, fazendo com que ela erguesse seu olhar
e olhasse para ele pelo espelho.
Edward estava escorado no batente da porta, com os braços
cruzados à frente do peito e um sorriso torto nos lábios.
Mesmo de longe, América era capaz de ver o brilho em seus
olhos de tempestade, um brilho que ela estava a cada dia gostando
ainda mais de ver ali.
Ela riu, virando-se para ele em seguida, não se importando nem
um pouco com sua quase nudez completa, afinal ele era seu noivo.
Era até estranho para ela crer nesta realidade.
Se há quase quatro meses dissessem a ela que estaria amando
o homem que a havia comprado para ser sua submissa, e se
dissessem que ela estaria feliz com ele, grávida e prestes a se
casarem, América com toda a certeza chamaria essa pessoa de
louca e possivelmente a xingaria de mil e uma coisas, apenas por
ter dito tamanha barbaridade para ela.
Hoje se essa pessoa dissesse isso, Amy prontamente
concordaria com ela.
— Dê-me chocolate se quer tanto assim mimá-los.
Edward riu e a passos lentos e – sutilmente – sedutores,
caminhou até Amy que o abraçou pelo pescoço assim que ele
estava perto o suficiente dela.
Ele a envolveu pela cintura, tomando cuidado em não a apertar
demais. Apesar dos machucados já estarem melhores ainda doíam
algumas vezes e ele sabia que isso a incomodava demais,
principalmente as costelas.
— Como estamos hoje? – ele pergunta logo depois de beijar
calidamente a ponta do nariz de América, o que havia deixado um
sorriso fofo presente nos lábios dela — Muitos enjoos?
— Quase nenhum – ela sorriu ainda mais para Edward, olhando
diretamente dentro dos olhos dele e vendo naquele mar cinzento
todo o amor e preocupação que o mesmo tinha para com ela e seus
pequeninos — Por que não toma um banho de banheira comigo? –
ela pede — Eu estou mesmo precisando de uma daquelas suas
massagens, sabia? – ergueu as sobrancelhas sugestivamente para
ele, que riu em resposta e, logo depois, a beijou delicadamente.
— Uma daquelas massagens? – ele questionou malicioso,
correndo levemente as pontas dos dedos pelas costas de Amy,
tendo o prazer de sentir e ver a pele dela se arrepiar sob seu toque
— Com direito a tudo? Inclusive a te deixar louca e selvagem como
da última vez?
— É – Amy mordeu o lábio inferior, ainda sorrindo maliciosa
para Edward — Uma dessas.
— Eu ainda tenho as marcas dos seus arranhões, sabia? – ele
questionou, fazendo graça e olhando-a com a sobrancelha
arqueada de forma zombeteira, lembrando-se perfeitamente da vez,
três dias antes, em que ele havia resolvido fazer uma massagem
relaxante em sua mulher e isso o levou a outras coisas, inclusive a
uma América completamente fogosa e feroz na cama.
Ele havia amado aquilo e apenas se lembrar daquele dia o
deixava animado.
Amy deu de ombros, inclinando-se para ele e beijando o queixo
quadrado do homem, sentindo a barba rala, que começava a
crescer, fazer cócegas em seus lábios.
— Você vem ou não? – ela questionou, desvencilhando-se dos
braços de Edward, que apenas sorriu e começou a se despir e, logo
depois, entrando na banheira já cheia e sentando-se ao lado de sua
Amy.
Eles estavam em Breckenridge, na casa de veraneio de Edward
há três semanas e Amy se lembra perfeitamente dos motivos que
levaram seu noivo a fazer isso.

Há uma semana Amy tinha recebido alta do hospital, depois de


cinco dias em observação, e há dois dias Tyler havia também
recebido sua alta. E como os médicos mandaram, estavam –
obrigatoriamente – de repouso absoluto, sob as vigilâncias de
Aretha e Edward que, em nenhum momento, deixavam que eles
fizessem um mínimo de esforço.
Tyler porque sua operação ainda era muito recente e qualquer
tipo de esforço físico – fosse ele grande ou pequeno – poderia
acarretar sangramentos ou a ruptura dos pontos, ou escoriações
maiores graças aos ferimentos causados pela explosão do barco de
Edward.
E América pelo simples fato de que estava grávida e mesmo
estando boa e seus ferimentos tendo sido menores que os de Tyler,
ela ainda precisava ficar de repouso – se possível – vinte e quatro
horas por dia. Suas costelas doíam bastante a cada movimento que
fazia e, apesar do risco de perder suas pequenas preciosidades
fosse quase nulo, ainda havia aquele um por cento de chance isso
acontecer.
— Mas eu estou cansada de ficar aqui deitada, Edward! – ela
reclamou fazendo bico e cruzando levemente os braços sobre o
peito, olhando para Edward de forma pidona — Estou quase criando
raízes aqui, amor!
— Amy, é para o seu bem e o bem dos bebês – Edward disse
paciente, sentando-se ao lado de sua mulher e afagando
calmamente os cabelos dela com uma mão e com a outra
começando a afagar o ventre que já começava a despontar
minimamente.
Ela estava praticamente com quase dois meses completos e
Edward mal podia acreditar que as mudanças do corpo dela já
estavam tão aparentes. Ele apenas havia acompanhado apenas
uma gravidez em sua vida antes.
— Eu sei, mas eu não aguento mais ficar sem fazer nada – ela
reclamou mais uma vez, fazendo Edward sorrir — Nem na biblioteca
eu posso ir porque tenho que descer as escadas! – ela suspirou de
maneira pesada, escondendo a careta de dor ao fazer isso, assim
que sentiu a pontada em suas costelas.
— Quer que eu me deite aqui com você? – ele perguntou,
acariciando agora as bochechas de Amy com o mesmo carinho e
suavidade com que afagava seus cabelos antes.
— Uhum – ela respondeu sorridente, acenando a cabeça de
forma positiva — Quero sim.
— Tudo bem – ele sorriu para ela e se levantou começando a
soltar os primeiros botões de sua camisa social de linho branco —
Vou tomar um banho e já venho, está bem? Fique quietinha aí – ele
disse e logo depois se abaixou e beijou os lábios de Amy levemente,
antes de seguir para o banheiro, largando a camisa de qualquer jeito
sobre uma cadeira qualquer que havia no canto do quarto.
— Sim, senhor! – Amy respondeu com um sorriso nos lábios,
tendo o prazer de ouvir o gemido de Edward antes que ele entrasse
de vez no banheiro.
— Tem sorte de eu não poder te dar umas boas palmadas,
senhorita Lawson! – Edward disse divertido de dentro do banheiro
tendo como resposta apenas uma boa risada de sua América.
Ela se remexeu um pouco na cama – ainda sorrindo – buscando
uma nova posição para deixar outro lado de seu corpo adormecido,
já que suas nádegas já não aguentavam mais aquela mesma
posição na cama.
Ela buscava, de preferência, uma posição em que não tivesse
que se deitar sobre o lado de suas costelas machucadas, mas, ao
não encontrar, voltou a ficar sentada, sentindo seu traseiro reclamar
um pouco pelo retorno para a antiga posição.
Sobre o criado mudo, seu telefone apitou com a chegada de
uma nova mensagem e Amy sorriu ao imaginar que poderia ser
qualquer um de sua nova família, afinal, nos últimos dias todos eles
faziam questão de saber pelo menos cinco vezes ao dia como ela e
seus bebês estavam.
Ela simplesmente adorava aquilo.
Mas seu sorriso morreu no momento que viu que quem havia
lhe mandado a mensagem não era ninguém de sua família, e com
toda a certeza não era nenhum número conhecido por ela. Chegou
a pensar em deixar de lado, mas o telefone parecia disposto a fazê-
la ver do que se tratava a mensagem, pois seguidas vezes o mesmo
número enviou mais mensagens ainda.
Vencida por sua curiosidade, ela abriu a última mensagem que
havia recebido, se arrependendo no minuto seguinte.
**ESTOU ANSIOSO PELO NOSSO REENCONTRO,
DOCINHO**
América sentiu sua respiração praticamente parar assim que
seu cérebro registrou as palavras contidas naquela mensagem e ela
não precisou pensar muito para entender de quem havia vindo. Só
havia uma pessoa no mundo que a chamara assim em toda a sua
vida, e América odiava essa pessoa com todas as suas forças.
Ela sentiu seu coração perder algumas batidas enquanto, com
as mãos trêmulas, ela abria e lia as outras mensagens enviadas por
ele, apenas constatando que se tratavam de breves ameaças, mas
que conseguiam deixá-la desesperada apenas por ela saber que em
cada uma daquelas palavras havia algo nefasto e cruel por trás.
As lágrimas corriam soltas por seu rosto ao mesmo tempo em
que as lembranças do seu passado antes de Joe vinham a sua
mente, torturando-a e fazendo-a reviver cada um dos momentos de
tortura e sofrimento que passou nas mãos de Steve Monroe.
Seu coração batia desenfreado em seu peito e ela sentia o
medo e o desespero tomando conta de seu corpo e sentidos, porém
as reviravoltas em seu estômago e a forte pontada que sentiu em
seu ventre a fizeram despertar e, no mesmo momento, largou o
celular, levando as mãos ao ventre rapidamente e, ao afastar os
cobertores que aqueciam suas pernas, o pânico literalmente a
tomou por completo.
Havia sangue na cama, e esse sangue saia dela e, no mesmo
instante, Amy fechou as pernas, gritando desesperada por ajuda.
— Edward! Aretha! Ward! Alguém! – ela gritava e no mesmo
instante em que ouviu os gritos Edward saiu apavorado do banheiro
apenas com a toalha enrolada em sua cintura.
— Amy, o que houve?! – Edward perguntou apavorado,
praticamente correndo até América que chorava praticamente
encolhida, com as mãos protetoras sobre seu ventre.
— Eu tô sangrando…

Um beijo, molhado e quente, dado em seu ombro, foi o que a


tirou de suas lembranças, lembranças que ela odiava ter, pelo
simples fato de que – mais uma vez – seus pequeninos quase
haviam sido tirados dela.
— No que você tanto pensa, querida? – Edward perguntou
enquanto começava a passar suas mãos pelo corpo de América,
aplicando a pressão necessária para que ela relaxasse e sentisse
também prazer com aquilo — Parece tão distante…
Amy sentiu seu corpo começar a relaxar gradativamente,
conforme as mãos de Edward trabalhavam em seu corpo,
acariciando-a e massageando-a da forma que ele sabia que a
agradaria e que ela – silenciosamente – precisava que ele fizesse.
— É impressão sua – ela respondeu sorrindo verdadeiramente
relaxada para ele, enquanto recostava a cabeça no ombro do
homem.
Ela havia preferido omitir seus verdadeiros pensamentos, pois
ela sabia o quanto aquele dia o havia afetado, muito mais do que as
horas que ele havia ficado aguardando por notícias quando ela
sofreu o acidente há quase um mês. Amy nunca havia visto aquele
homem, tão forte e seguro de si mesmo, chorar tanto como naquele
dia em que ela quase perdera seus pequeninos.
— Será mesmo? – ele questionou, tirando-a mais uma vez de
seus pensamentos e do mar de relaxamento para o qual ele a
estava conduzindo.
— Com toda a certeza – ela disse, sorrindo e levantando o rosto
para que ele a olhasse e, assim, depois de um tempo se olhando,
ambos os lábios se tocaram em um beijo calmo e apaixonado —
Amo quando me beija assim – ela disse com um sorriso, mordendo
levemente o lábio inferior.
Edward sorriu para ela e a beijou mais uma vez nos lábios antes
de dar continuidade à massagem que ela tanto gostava que ele
fizesse, sentindo o cheiro dela se misturar ao dele e aos dos sais de
banho colocados na água morda da banheira.
[…]
Ela olhava pela parede de vidro que ladeava a casa do lado
oeste ao leste, principalmente na parte de trás.
Daquele lugar ela conseguia ver o vasto quintal gramado com
neve em algumas partes e o lago que cintilava sob a luz fraca e
morna do sol de fim de outono. Ali naquele lugar ela sentia paz e,
mesmo que ainda soubesse que nada estava tão sereno assim em
sua vida, América não conseguia deixar de ter esse sentimento
pacífico povoando seu peito.
Enquanto com uma mão ela segurava uma caneca fumegante
de chá, com a outra ela acariciava sua já tão protuberante barriga.
Ela estava entrando em seu terceiro mês de gestação e para ela,
sentir seus pequenos crescendo dentro dela a cada dia que passava
era o melhor para ela.
Eles ainda não se mexiam de uma forma que desse para outras
pessoas sentirem, ou de um jeito que fizesse com que Amy sentisse
de verdade seus movimentos dentro dela, mas ainda assim ela
conseguia senti-los movendo-se levemente dentro dela, quase como
se fossem ondulações.
Ela simplesmente adorava isso.
Logo, vozes vindas da entrada da casa chamaram sua atenção
e o sorriso que cresceu em seu rosto foi inevitável.
Sua família havia chegado e agora tudo para ela estava mais
que completo.
Era o dia do aniversário de Marie e como apenas faria a festa
no próximo fim de semana, ela havia resolvido que passaria o dia
com seu filho e nora em Breckenridge, em um maravilhoso almoço e
jantar, com direito a músicas e dança, como há muito tempo não era
feito com apenas a família ali.
O mês de novembro estava em seus últimos dias e Amy mal
conseguia acreditar que já havia se passado tanto tempo assim
desde que entrara para a vida de Edward e daquela família. Ela mal
conseguia acreditar que – em tão pouco tempo – sua vida havia
mudado tanto, mas ela se sentia inegavelmente feliz com isso.
Na entrada da casa, Edward recebeu toda sua família com um
enorme sorriso no rosto.
Ele estava adorando tudo aquilo e, principalmente, estava
adorando o fato de que estava interagindo mais fielmente com sua
família, ele estava – finalmente – se sentindo parte daquela família.
Com um enorme sorriso no rosto, ele se deixou ser abraçado
por sua mãe, e Marie não poderia ter ficado mais contente com
tamanho gesto do filho, afinal, por anos, da infância e adolescência
dele, ela havia esperado pelo dia que seu filho aceitaria o seu toque.
Marie não podia estar mais feliz por seu menino.
Ela sabia que Edward tentava esconder dela algo que estava
acontecendo desde muito antes do acidente com o barco – que ele
havia usado para homenagear a ela e a Laurie – mas não queria
pressioná-lo, pelo menos não naquele dia. Afinal, era um dia de
alegria e comemoração. Era seu aniversário e ela queria comemorar
seu dia especial com sua família e futuros netinhos, muito bem
encomendados – como ela gostava de pensar.
— Feliz aniversário, mãe! – Edward disse, retribuindo ao abraço
apertado dado por Marie, que apenas conseguia sorrir mais e mais
com aquilo.
— Obrigada, querido! – ela agradeceu, dando um beijo cálido e
repleto de carinho na bochecha do filho que apenas sorriu para ela
em resposta, beijando-lhe a bochecha também. — Onde está a mãe
dos meus netinhos?
— Ela está lá atrás – ele sorriu ao responder.
Falar de Amy sempre o deixava assim.
— A última vez que eu a vi estava na cozinha preparando um
chá.
— E você deixa a minha cunhada grávida ficar patetando pela
cozinha?! – Laurie questionou indignada — Onde está o
cavalheirismo desta família?! – ela arrastava uma mala, na qual ela
havia colocado tudo o que ela supunha que iria precisar durante o
fim de semana que passaria na casa de veraneio de seu irmão.
Edward riu revirando os olhos, e, logo depois, indo ao encontro
de sua irmã mais nova, beijando-lhe o topo da cabeça antes de se
esticar para pegar a mala de sua mão, percebendo que o
cavalheirismo ao qual ela se referia não era completamente sobre o
fato de América estar “patetando” grávida pela cozinha.
— O que você tem aqui? Um corpo?! – ele perguntou
implicante, recebendo uma careta de Laurie em resposta.
Mais uma vez Edward riu.
— Não precisaria de cavalheirismos se você não fosse tão
exagerada – Edward disse com um sorriso implicante na face,
fazendo sua irmã bufar e revirar os olhos.
— Não sou exagerada. Sou precavida. – disse de forma altiva,
dando de ombros para a situação, arrancando pequenas risadas de
Marie.
— Que bom que chegaram! – Amy disse contente assim que
entrou na sala quase dando pulos de alegria por ter todos reunidos
ali, porém se conteve ao ver o olhar de Edward sobre si.
Ela foi abraçada primeiramente por Marie, que, depois de soltá-
la, acariciou seu ventre pontudo sorrindo como a avó babona que
estava se tornando. Logo depois, Laurie foi abraçá-la e repetiu o
mesmo gesto de Marie, e Amy apenas sabia sorrir para aquilo.
— Onde estão George e Josh? – Amy perguntou, indo para
perto de Edward e dando-lhe um rápido beijo nos lábios.
— Alguém perguntou por mim? – George questionou sorridente,
entrando na casa com duas pequenas bolsas na mão e uma caixa
embrulhada em papel colorido debaixo do braço.
Amy sorriu para o sogro e em passos levemente apressados
tirou a caixa do braço do sogro e, logo depois, tendo a caixa tirada
de suas mãos por Edward, que a olhou de forma reprovadora por
alguns instantes, ganhando um beijo dele na ponta de seu nariz
como um acalento.
— Nada de esforços, lembra? – ele disse quando viu um
pequeno bico se formando nos lábios dela.
— Depois você me castiga – ela disse sorrindo para ele e, logo
depois, lhe deu as costas, indo para perto de sua sogra e cunhada
com um sorriso estampado no rosto para levá-las até a parte de trás
da casa, deixando para trás um Edward completamente
boquiaberto.
— É rapaz… ela te pegou de jeito, não foi? – seu pai perguntou
com um sorriso faceiro nos lábios, olhando discretamente de
Edward para América.
— O senhor não faz ideia do quanto.
George riu, sendo logo acompanhado pelo filho, que o ajudou a
levar as bolsas e a mala de Laurie para os respectivos quartos.
— Paige e Josh não vieram com o senhor? – Edward perguntou
ao pai assim que ambos começaram a subir as escadas em direção
aos quartos.
— Vieram, mas Josh decidiu parar no meio do caminho e
comprar algo para Marie. Você sabe como ele é, adora deixar pra
comprar presentes na última hora.
Eles riram e continuaram em direção aos quartos.
-*-
— E então… como está sendo? – Marie perguntou com um
enorme sorriso gravado nos lábios, olhando diretamente para
América assim que as duas se sentaram nas cadeiras de vime
acolchoadas que compunham a decoração da agradável e aquecida
área de lazer.
O sorriso que povoava – não apenas o rosto de Marie, mas
também o de toda a família Cage – era um sorriso bonito, cheio de
afeto e alegria.
Era um sorriso que fazia Amy se sentir cada vez mais bem-
vinda à família do homem que agora era seu noivo, e acima de tudo,
pai de seus filhos.
— Como está sendo o que? – Amy perguntou curiosa e confusa
ao mesmo tempo, colocando, com certa dificuldade implicada pela
pequena barriga, os pés para cima da cadeira, em uma posição que
ela havia descoberto que adorava ficar.
— A gravidez, querida – Marie respondeu ainda sorrindo
completamente admirada para o ventre já pontudo de sua nora.
— Maravilhosa – Amy respondeu, com um sorriso enorme e
radiante em seus lábios, sentindo toda a felicidade que falar de seus
pequenos lhe causava — Eu acho que não tenho muito do que
reclamar – ela deu uma risada fraca e suave, quase tímida — São
meus pequenos milagres. Mas… penso que seria melhor se eu não
tivesse que me preocupar tanto, sabe? É horrível dormir e acordar
com medo por não saber o que pode acontecer… É a única parte
que não me agrada.
Amy desviou seu olhar de Marie e o levou para o interior da
casa, olhando através das paredes de vidro.
Havia uma pequena movimentação no ambiente e Amy sabia
que mais gente havia chegado ou talvez fosse apenas Laurie sendo
ela mesma, trazendo certa animação para todos e espantando
qualquer tipo de aura triste.
Seu sorriso foi inevitável.
— Eu sei que isso está sendo difícil, Amy… eu vi com meus
próprios olhos – Marie disse compadecida, esticando-se e pegando
a mão de Amy, chamando a atenção dela para si — Eu vi o estado
em que Edward ficou e depois que ele me contou o que estava
acontecendo… – Marie suspirou, piscando os olhos rapidamente em
uma tentativa quase falha de afastar as lágrimas de seus olhos —
Você tem que ser forte, querida – Amy a olhava diretamente nos
olhos, e, naquela imensidão cálida e esverdeada, ela viu o quanto
Marie a amava e se preocupava com ela e com seus pequenos
milagres, tanto quanto se preocupava com Edward — Meu filho é
forte, mas ele não vai aguentar sozinho, você me entende?
— É claro que eu entendo, Marie! – Amy disse enérgica — Mas
ele tem medo de me contar as coisas, ele tem medo de isso me
fazer mal – ela disse e, com esforço, engoliu as lágrimas que
ameaçavam se formar no canto de seus olhos — E eu acho que ele
nunca esteve tão certo – ela disse com certo pesar despontando em
sua voz, o que deixou Marie apreensiva.
Havia algo ali que não tinha sido contado a ela…
— O que você quer dizer com isso, América? – Marie
questionou, franzindo o cenho confusa, ainda mais apreensiva,
quando viu Amy levar a mão livre instintivamente para seu ventre.
— Nós viemos pra cá para nos isolar de tudo o que estava
acontecendo, sair um pouco da agitação, sabe? – Amy forçou um
sorriso — Eu, às vezes, ainda tenho pesadelos com o dia daquele
acidente… – Amy confessou, sentindo o bolo dolorido começando a
se formar em sua garganta — Eu quase os perdi, Marie… quase os
perdi pra sempre – Amy explodiu em um choro sofrido e doloroso,
que lhe sacudia o peito.
Era um choro que ela estava segurando há dias, simplesmente
porque não queria fraquejar na frente de Edward, ela queria que ele
soubesse que ela estava ali para ele assim como ele sempre estava
para ela. Mas, naquele momento, ali diante de Marie, para ela foi
impossível de se firmar em algo e não desabar.
Em meio suas lágrimas, ela sentiu braços, acolhedores e
quentes, a envolverem e lhe apertarem, confortando-a e lhe
passando segurança e carinho. Era um abraço maternal, caloroso e
certo para qualquer hora e qualquer coisa.
E mais uma vez ela chorou.
Chorou de saudades.
Saudades de sua mãe, saudades de uma coisa que ela havia
provado poucas e raríssimas vezes da mulher que a havia colocado
no mundo, saudades da mulher que a jogou na escuridão ao
entregá-la de mãos beijadas para um homem que sequer sabia o
nome até o dia que foi levada para morar com ele.
Chorou por culpa.
Culpa que a corroía desde o momento que todas as ameaças e
“acidentes” que haviam começado a acontecer, chorou porque era
por causa dela que Steve Monroe havia voltado, culpa porque ela
havia – sem querer – envolvido toda uma família – cheia de pessoas
boas e que a amavam – em sua sujeira.
Secretamente ela se odiava por tudo isso.
— Eu qua-a-se o-os perdi-i – Amy soluçava sentindo seu peito
doer com os soluços que lhe roubavam a respiração — A cu-ulpa é
m-mi-minha!
— Shhh… Não chore querida… – Marie afagava os cabelos de
Amy, tentando acalmá-la e fazê-la parar de chorar.
Ela sabia que aquilo tudo estava sendo demais para ela e, ainda
estando grávida, as emoções ficavam ainda mais descontroladas.
— A culpa não é sua querida, nunca vai ser… Esse ser que está
tentando fazer isso com você é um monstro… Desequilibrado. A
culpa nunca vai ser sua…
Marie beijou os cabelos de Amy e lentamente começou a soltá-
la, para, então, abaixar-se e estar à altura de seu rosto e olhá-la
diretamente nos olhos, tentando passar para a mulher diante dela
qualquer força e apoio que pudesse.
Mesmo que isso não ajudasse muito, Marie sabia que era
importante e, antes que ela pudesse abrir a boca para dizer alguma
coisa, a voz de Edward soou, impedindo-a de dizer qualquer coisa.
— Amy? Meus Deus, mãe, o que houve com ela?! – ele
questionou aflito, ajoelhando-se ao lado de Marie e ficando de frente
para sua Amy, acariciando imediatamente com uma mão os cabelos
e rosto dela e, com a outra, o ventre minimamente pontudo, onde
seus filhos estavam sendo gerados e protegidos — Por que está
chorando, meu anjo?
Amy sorriu entre as lágrimas e, colocando os pés para o chão,
ficou em uma posição melhor para abraçar o homem que ela amava
e que tanto se preocupava com ela e com seus pequenos milagres.
América o abraçou com força, enterrando seu rosto na curvatura
do pescoço de Edward, respirando o perfume que exalava de todo o
corpo dele, principalmente daquela parte.
— Eu te amo! – ela declarou — E essas drogas de hormônios
descontrolados fazem isso comigo.
Apesar de não ter se convencido muito de que era por causa
dos hormônios descontrolados que Amy chorava, Edward sorriu
para ela, apenas por saber que – em parte – o que ela dizia era
verdade, e ele também a amava com todo o seu coração.
Amava a ela e aos seus filhos mais do que a si próprio.
— Eu também te amo – ele afagou os cabelos dela e se
esticando um pouco a abraçou de volta, protegendo-a em seus
braços como queria fazer pelo resto de sua vida — Mas depois
vamos conversar – ele sussurrou, sentindo o corpo de Amy ficar
levemente tenso e ele percebeu, naquele momento, que havia muito
mais que apenas hormônios em fúria por trás daquele choro.
— Tudo bem – ela sussurrou de volta, beijando calidamente a
pele exposta do pescoço de Edward — Não me esconda nada, tá
bem?
— Está – Edward se afastou minimamente e com um pequeno
sorriso nos lábios a beijou.
— Ah, que lindo! – a voz estrondosa de Josh chegou até eles,
fazendo-os se afastarem e rirem minimamente, enquanto Amy
secava as lágrimas teimosas que ainda escorriam por seu rosto.
Marie apenas sorriu de toda a situação, indo abraçar
rapidamente o filho mais velho e entrando de volta na casa antes
que ele voltasse a fazer suas piadinhas.
— Mas será que podemos parar de melação e comer? Tem um
cara aqui com muita fome!
Amy riu mais uma vez e passou rapidamente as pontas dos
dedos pelos olhos para se certificar de que as lágrimas tinham
realmente desaparecido de seus olhos.
— Claro que podemos, afinal, existe uma pessoa aqui que come
por quatro, e eu não estou falando do Joss – ela comentou
brincalhona, levantando-se e, logo em seguida, sendo
acompanhada por Edward, que passou o braço ao redor de sua
cintura, completamente protetor, abraçando-a e puxando-a para
mais perto de si.
[…]
América sentiu os braços de sua melhor amiga a envolverem,
silenciosamente, passando para ela toda a força e apoio que ela
precisava naquele momento, e, ainda mais silenciosamente do que
ela recebia aquele apoio, Amy agradecia a amiga pelo o que ela
estava fazendo.
— Como estão meus afilhados? – Paige perguntou com um
enorme sorriso no rosto, logo depois de se afastar de Amy,
acariciando levemente o ventre dela.
— Famintos! – ela exclamou com um sorriso igualmente grande
estampado no rosto, colocando uma das mãos junto à de Paige
sobre sua barriga — Acho que eu nunca senti tanta fome em toda a
minha vida! – ela comentou, fazendo não apenas Paige, mas todos
os presentes na sala de estar rirem do comentário.
— E desejos loucos, Amy? Já teve algum? – a voz de Laurie
soou no ambiente, alegre e risonha como sempre.
— Uns piores do que outros! – Edward respondeu, fazendo uma
careta ao se lembrar do último desejo que Amy havia tido naquela
semana.
— Ah, pare Edward! – George falou com um sorriso brincalhão
no rosto — Tenho certeza de que não foram tão ruins assim.
Amy riu da nova careta que viu se formando no rosto de
Edward.
— Com toda a certeza para ela não foi! – ele resmungou —
Cheddar e melancia?! – ele sentiu seu corpo estremecer de leve
apenas com a lembrança, sentindo seu estômago embrulhar — O
senhor não faz ideia do quanto é saboroso!
Todos ali presentes riram e, para América, foi impossível não rir
também.
Edward estava feliz e isso a deixava definitivamente feliz
também.
Quando ela o via sorrir, simplesmente se esquecia de todos os
problemas e coisas ruins que estavam acontecendo, e por mais que
eles estivessem isolados de tudo por três semanas, Amy sabia que
não podiam continuar fugindo e ignorando aquela pequena manada
de elefantes coloridos que havia se tornado suas vidas fora de
Breckenridge.
Até mesmo quando Edward olhava assustado para as coisas
estranhas que ela tinha vontade de comer ela se sentia feliz, apenas
por ser ele ali com ela. Apenas por ser o homem que ela amava, e,
sempre que via os olhos dele brilharem, ela tinha sempre a mais
completa certeza de que ele havia sido definitivamente feito para
ela.
Que outra explicação haveria para aquilo além daquela?
O amor que sentiam um pelo outro era apenas a consequência
para duas almas, dois corpos e dois corações que vieram ao mundo
para se encontrarem e ficarem juntos apesar de todas as diferenças
e problemas.
Eles se completavam e se amavam. Simples assim.
[…]
Mesmo sob protestos de todos, e uma sutil ameaça de Edward,
Amy havia decidido que faria aquilo.
Ela queria fazer algo para Marie, que já havia feito tanto por ela,
e aquilo era o mínimo que Amy poderia fazer, e agora havia um bolo
no centro da mesa circular na área de lazer.
Era um bolo simples, mas que havia sido feito e levemente
decorado com todo o carinho do mundo por América, Laurie, Josh e
Edward. Velas – colocadas por Paige – completavam a decoração
do bolo de aniversário feito para Marie.
Estavam todos em volta da mesa circular e Marie olhava para
seus filhos, seu marido e suas noras com todo o amor, carinho e
devoção que ela nutria por eles. Eram as pessoas mais importantes
de sua vida, e seus meninos – Josh e Edward – começavam a fazer
suas famílias e davam para Marie e George ainda mais pessoas
para serem amadas e queridas por sua família.
Ela iria ganhar dois netos!
Para Marie não havia presente melhor do que esse.
Apenas Deus e George sabiam o quanto ela gostaria de ter
gerado todos os seus filhos – como tinha gerado Laurie – mas,
mesmo que todos eles não tivessem sua carne e nem o seu sangue,
Marie amava seus três filhos e ela não podia estar mais feliz e mais
orgulhosa do que estava com eles e todas as suas conquistas.
As vozes animadas e as palmas descompassadas entoavam
aquele fim de tarde e início de noite enquanto todos cantavam
aquela música clichê, cantada em todos os aniversários para todos
os aniversariantes que gostavam de comemorar seus anos de vida.
Ali, naquele momento, eles não podiam estar mais felizes.
[…]
Com um sorriso enorme e contente marcado em seu rosto,
América praticamente se jogou na cama, sentindo seus pés
doloridos e inchados, assim como suas costas, mas não conseguia
estar menos feliz por causa disso.
— Não se jogue assim na cama, Amy! – Edward a repreendeu
enquanto fechava a porta do quarto, logo depois de passar por ela.
Já passava da meia noite quando eles tinham resolvido que já
havia passado da hora de descansar e dormir, e, mesmo cansados,
eles não conseguiam deixar de sentir que aquele havia sido um dos
melhores dias em família que eles tiveram.
Marie estava mais do que feliz e apenas saber disso era o que
deixava Edward ainda mais contente.
— Eles gostam de um pouco de agitação, amor – ela lançou
para ele um sorriso travesso, carregado de malícia e segundas
intenções — Principalmente do nosso tipo de agitação – ela alegou,
erguendo o tronco e se apoiando nos cotovelos para se manter na
posição.
Edward revirou os olhos, não conseguindo conter o sorriso que
surgiu em seu rosto.
— E o que te faz pensar que vai ter algum tipo de agitação para
a senhorita hoje? – ele pergunta, arqueando uma sobrancelha de
forma sarcástica para ela, enquanto caminhava lentamente até a
cama onde América estava — Se me lembro bem, você me
desobedeceu hoje… Nada mais justo do que ganhar um castigo,
não acha?
Amy sorriu, contendo-se para não começar a rir, enquanto se
sentava na cama e lentamente se movia para ficar de joelhos no
colchão.
Assim que Edward parou ao lado da cama, ela estava de frente
para ele, podendo o olhar à altura.
— Eu me segurei o dia todo para não te arrastar para este
quarto, montar em você e gemer como uma louca – ela disse em
tom baixo, quase rouco, olhando diretamente nos olhos de Edward,
que agora escureciam devido ao desejo que começava a querer
consumi-lo — O castigo não pode ficar para depois, não? – ela
questionou aproximando-se ainda mais de Edward e envolvendo o
pescoço dele com os braços — Afinal… é pecado negar algo para
uma grávida, amor – ela sussurrou com os lábios colados ao ouvido
de Edward, sorrindo por senti-lo estremecer e, logo depois, se
afastou e roçou levemente os lábios nos dele, enviando ondas de
excitação por ambos os corpos — Eu quero você…
Um rosnado escapou dos lábios de Edward, e no segundo
seguinte antes que Amy pudesse até mesmo piscar, ele já estava
sobre ela, beijando-a com vontade e sofreguidão, passando as
mãos com gosto pelo corpo da mulher.
Amy apenas conseguia sorrir durante o beijo e retribuir ao
mesmo com toda a vontade e volúpia com que conseguia. Ela
estava com saudades de ser tomada por ele desta forma e por mais
que já tivessem feito isso outras vezes depois que ela saíra do
hospital, aquela era a primeira vez que ele a estava pegando com
vontade e com direito a apertões e marcas.
Destas marcas ela gostava.
— Você me deixa insano, sabia? – ele disse em tom rouco e
quase estrangulado de tão baixo.
— Um dos meus deveres para com você, meu bem – Amy
respondeu com um sorriso enorme, cheio de satisfação, malícia e
desejo, escorregando as mãos pelas costas de Edward e as
infiltrando na camisa, louca por contato com a pele dele.
— Ah, com toda a certeza, minha Amy… um dos seus muitos
deveres.
Ele a beijou novamente, fazendo os corpos rolarem no colchão
e a colocando por cima dele, de modo que ela se sentisse mais
confortável – devido à já, minimamente, pontuda barriga.
— Tudo por você – ela sussurrou, olhando diretamente nos
olhos dele com as bocas ainda próximas uma da outra — Porque
você foi feito pra mim.
Edward sorriu, sentindo seu peito inflar de carinho, amor e
tantos outros sentimentos bons e loucos que ele nutre por sua Amy,
e, logo depois, a beijou novamente, percorrendo suas mãos pelo
corpo dela, da mesma forma que ela fazia com ele.
Logo as roupas não existiam mais nos corpos dos dois e o
silêncio do quarto era preenchido por gemidos e sussurros
apaixonados, com declarações de amor e com algumas palavras
safadas trocadas por eles também, enquanto, do jeito deles, com
toda a intensidade que lhes era permitida eles se entregavam mais
uma vez um ao outro.
****
Nenhum deles gostaria de ter saído de Breckenridge e de toda a
paz que aquele lugar trazia, mas Edward precisava voltar ao
trabalho e Amy precisava ir à sua consulta de pré-natal.
E os dois precisavam – e queriam – estar presentes na festa de
aniversário e baile de máscaras beneficente que seria promovido na
casa de Marie no fim de semana.
E por esse motivo eles voltaram para Seattle no dia seguinte a
festa, junto de Marie e toda a família.
América ansiava por descobrir o sexo dos bebês por todos os
motivos possíveis, mas principalmente porque ela queria desde
agora – caso sua mãe descobrisse sobre os bebês – ter um plano
para saber o que fazer e como lidar com o que ela iria lhe impor.
Era fim da tarde de domingo e Amy e Edward se encontravam
deitados na cama após um dia inteiro de preguiça, apenas
assistindo alguns filmes e séries, comendo e se curtindo.
A cabeça de Edward se encontrava deitada próxima a barriga
de Amy e sua mão repousada no ventre elevado dela, acariciando
com todo o carinho e amor o local que abrigava e protegia seus
bebês.
Os bebês deles.
— O que acha de Carly e Thomas? – Amy questionou unindo
sua mão a de Edward e acariciando seu ventre minimamente
inchado com tanta devoção e amor quanto ele acaricia.
— Carly foi o nome que eu dei para uma gatinha que eu
brincava quando era criança na época em que eu e meus irmãos
íamos passar as férias escolares na casa dos nossos avós. Mas
Thomas é legal.
— Eu não quero que um filho meu tenha o nome que você deu
pra um gato! – Amy disse rindo, arrancando risadas de Edward
também, que, em resposta, a beijou levemente na barriga.
— Estamos pensando apenas em nomes de casais, Amy – ele
disse com um sorriso pequeno nos lábios, erguendo-se e deitando-
se corretamente ao lado dela, ainda com a mão no ventre pontudo
— E se forem dois meninos ou duas meninas?
— Se isso acontecer eu deixo você escolher os dois nomes,
mas eu não acredito que sejam dois do mesmo sexo – ela disse
olhando diretamente nos olhos de Edward e sorrindo minimamente
ao se lembrar das imagens que invadiam sua mente sempre que
pensava em seus pequeninos milagres — Sempre que eu os
imagino, são como um casal… uma menininha e um menininho com
os seus traços e os meus olhos.
— Grandes e azuis, exatamente como os seus?
— Exatamente iguais – ela riu.
Ele suspirou, empurrando para fora o ar de seus pulmões, antes
de puxar uma nova lufada lentamente para dentro.
— Por que não fala os nomes que você mais gosta? – Edward
sugere, olhando diretamente para Amy, que sorri em resposta — Aí,
dependendo, a gente escolhe. O que acha?
— Está bem – ela diz com o sorriso ainda povoando seu rosto
enquanto ela leva seu olhar para o teto do quarto, fitando-o
pensativa enquanto analisa os nomes em sua cabeça — Primeiro os
de menino – ela diz pensativa mordiscando levemente o lábio
inferior — Arthur, Louis… Maxer… ahn… Henry… Peter… Evan…
Esses são os que eu mais gosto… O que achou?
— Conseguiu me deixar em dúvida entre três… Isso não se faz
– Edward murmura, fazendo Amy rir levemente — Arthur, Louis e
Maxer… Eu gostei bastante destes.
— Mesmo? – ela o olha apreensiva ao perguntar, vendo-o sorrir
e acenar de forma positiva em resposta — E você? Quais seus
favoritos? – ela questiona, vendo-o suspirar profundamente antes de
adquirir uma expressão pensativa e, ao ver dela, definitivamente
muito sexy.
— Gosto de Alexander e de Matthew… Sãos os que eu mais
gosto.
— O que acha de… Louis Alexander? Tipo, Louis como nome
principal e Alexander como segundo nome?
— Louis Alexander Cage – ele testa a forma como o nome soa
em seus lábios e depois de um tempo um sorriso povoa seu rosto e
ele se vira para Amy, olhando-a diretamente nos olhos — Acho
perfeito.
América não consegue prender o sorriso que cresce em seu
rosto e rapidamente bica seus lábios nos de Edward, antes de voltar
à sua posição anterior.
— E de menina? – ela pergunta, olhando para ele, que adquire
a expressão pensativa novamente.
— Eu gosto de Marie. – ele diz simplesmente sentindo o sorriso
brincar feliz nos cantos de sua boca, olhando para Amy, logo depois,
que sorri para ele, mas logo fica levemente séria — O que foi? Não
gostou?
— Eu tinha pensado em… em colocar o nome da sua mãe – ela
comenta, sentindo suas bochechas ficarem quentes imediatamente,
temendo que ele não gostasse da ideia que ela havia dado, porém,
logo o sorriso, doce e surpreso, que surgiu no rosto de Edward tirou
dela qualquer crença de que ele não havia gostado daquilo.
— O nome da minha mãe? Marie? – ele questiona abobalhado,
sentindo em seu peito os sentimentos por aquela mulher a sua
frente crescerem ainda mais e ficarem cada vez mais fortes.
— É – ela responde acanhada, ainda sentindo as bochechas
quentes, ela morde os lábios e sorri para ele — Fazer uma
homenagem a ela, uma coisa assim… o que acha?
— Eu acho… que… Deus… eu te amo, América! – dito isso ele
se aproxima ainda mais e segurando o rosto dela com ambas as
mãos ele a beija apaixonada e carinhosamente — Grace Marie.
Você gosta?
— Eu acho perfeito.
Ela sorri e com isso volta a beijá-lo.
América tinha certeza, na mais interna e sensível parte de seu
ser, que em breve ela estaria com sua Marie e seu Louis nos
braços, e ela não podia estar mais feliz com aquilo.
Extra 2- Anjos e anjinhos.
Quarta-feira, 06 de novembro de 2019.
Edward ajudou américa a se sentar no sofá da sala de televisão,
mesmo com todas as afirmações feitas por ela – dizendo estar mais
do que bem para se mexer sozinha.
No entanto, seu estimado noivo sequer havia dado ouvidos para
ela.
Para Edward, apenas importavam as palavras do médico, que
declaravam que esforços eram a última coisa que América deveria
fazer, mesmo que andar e se sentar sozinha não estivessem
incluídos na classe dos grandes esforços.
Mas Amy conseguia entender bem o que levava Edward a agir
dessa forma. Tinham sido horas assustadoras e torturantes para os
dois desde que ela anunciara que estava sangrando, depois de
receber as ameaçadoras mensagens de Monroe.
Tinha um pouco mais de uma semana que ela tinha deixado o
hospital, após a explosão do Angel – que, felizmente, não tinha
causado nenhuma morte – e, então, isso. Mais uma vez Steve
Monroe tinha tentado feri-la e quase conseguiu.
Edward se sentou ao lado dela, encostando a cabeça, tombada
para trás, nas costas do sofá e suspirando, parecendo finalmente
relaxar – ao menos o corpo, porque a mente dele parecia que nunca
mais ficaria relaxada.
Não enquanto a ameaça ainda estivesse os rondando.
— Você está bem? – dessa vez foi Amy quem usou as palavras,
as mesmas que Edward mais estava usando com ela nas últimas
horas.
— Não. Não estou bem. Estou me sentindo impotente e um
verdadeiro fracasso, América… eu prometi que protegeria você, no
entanto, essa foi a segunda vez que você acabou no hospital
porque, mais uma vez, eu falhei em encontrar aquele bastardo!
América se ajeitou no sofá, apoiando o braço dobrado nas
cosas do sofá e apoiando a cabeça na palma da mão do mesmo
braço.
Esticando a outra mão, ela afagou o lado do rosto dele que
estava virado para ela.
— Não é sua culpa, amor, não pode se culpar por isso. Nem
mesmo os poderosos da minha família, que sabiam quem ele era e
tinham informações dobre ele, foram capazes de encontrá-lo
quando descobriram o que ele tinha feito comigo e que eu tinha
fugido das muralhas e das garras deles.
Os olhos arregalados de Edward estavam nela no segundo
seguinte.
— Sua mãe sempre soube?! – ele exclamou, alarmado e sem
conseguir acreditar que o que ele havia entendido pudesse ser
verdade.
— Se ela sempre soube, eu não tenho certeza – ela deu um
sorriso amarelo ao responder, preferindo acreditar que sua mãe não
seria capaz de deixá-la sofrer nas mãos de Steve propositalmente.
— Mas eu sei que ela sempre soube onde eu estive quando fugi… e
Monroe também… – sussurrou, adquirindo um breve olhar perdido,
ao se lembrar da dos das costelas quebrando e da ardência da
facada.
— Eu sinto tanto por isso, baby… queria tanto ter te encontrado
antes e ter te protegido de todas essas coisas.
América sorriu, levando a mão ao rosto de Edward e o
acariciando, mas uma vez.
— Não se pode controlar a tudo e a todos, Edward. Algumas
coisas acontecem, querendo você, ou não.
— Eu sei disso – falou com obviedade, quase como se o fato
dito por ela o estressasse. — Mas não custa nada tentar.
Isso a fez rir, ao mesmo tempo em que balançava a cabeça em
negação.
Os olhos de Edward estavam avermelhados e Amy não saberia
dizer se era apenas pelo cansaço ou se era porque ele tinha
chorado. Ela nunca o tinha visto tão desesperado como ela o vira
quando a possibilidade de perderem os bebês se apresentou diante
deles.
— Vem aqui, vem? – ela o chamou, convidando-o para se deitar
com a cabeça no colo dela, afinal, ela sabia que ele precisava disso,
desta proximidade.
Os dois precisavam.
— Tem certeza? Não quero te machucar ou te deixar
desconfortável…
— Você não vai. Agora, venha.
E, desta vez, Edward não se fez de rogado e aceitou o conforto
e o carinho que sua Amy estava oferecendo.
Tirando os sapatos, ele se deitou com a cabeça apoiada na
coxa dela, como ela mesma o dissera para fazer e, assim que ele
estava acomodado, América passou a acariciá-lo nos cabelos,
massageando o couro cabeludo com um cafuné.
O suspiro, cansado e aliviado, de Edward veio assim que ele
tinha o rosto virado para o ventre de América.
Ela estava certa, afinal, e Edward realmente precisava dessa
proximidade com ela e, principalmente, com os bebês.
— Eu tive tanto medo, Amy – ele confessa e o coração dela se
aperta com o sentimento doloroso e frio.
Ela também teve medo… muito medo.
Mas Amy tentou se manter tão calma quanto era possível, após
o desespero inicial causado pela visão do sangramento, afinal,
quanto mais nervosa ela ficasse, mais riscos ela corria de os perder.
E a última coisa que ela queria era isso.
— Está tudo bem agora, Edward, está tudo bem. Nós estamos
bem – ela afirmou, ainda fazendo o carinho por entre os fios do
cabelo dele.
— Vocês são as coisas mais preciosas e importantes da minha
vida, Amy, e eu nunca mais poderei ser o mesmo se eu perder
vocês.
Por um momento, Amy fechou os olhos, respirando lentamente
para tentar conter as lágrimas.
Ela não seria capaz de fazer nenhuma declaração naquele
momento, pelo menos, não sem começar a chorar e acabar o
preocupando.
— Essa não é a primeira gravidez que eu acompanho, sabia? –
ele começa a falar, confundindo a morena por um breve momento
pela mudança repentina no rumo da conversa — Não lembro se já
te contei, mas Laurie não foi adotada como Joss e eu fomos.
— Comentou muito por alto, você não gostava muito de se abrir,
tanto assim, comigo.
— Me desculpe por isso, por ter sido um babaca – ele pediu,
olhando para os olhos claros e apaixonados dela. — Eu queria
conhecer tudo de você, mas rinha medo de que você não gostasse
das feridas e cicatrizes que existem em mim.
Oferecendo a ele um sorriso doce e compreensivo, ela
continuou com o cafuné, afagando o rosto dele com a outra mão,
em seguida.
— E agora? Ainda tem medo disso?
— Não mais.
O sorriso de Amy foi grandioso e iluminado desta vez,
carregado de amor e carinho.
— Fico muito feliz em saber disso – declarou, ainda sorrindo —
Agora… por que não me conta essa história direito, hm?
Edward sorriu para ela e, logo depois de beijar a barriga de
Amy, ele se ajeitou, passando a olhar para o teto, e deu início à
narrativa:
— Tinha alguns meses que eu já estava morando com os Cage
e eu não era a criança mais fácil de lidar, foi praticamente uma luta
diária para cuidarem de mim porque eu tinha pavor da proximidade
com a Marie e tudo precisava ser feito pelo George ou pelo Josh.
Ele só tinha dez anos na época e me adotou como se eu fosse um
bebê chorão que precisava de colo.
Isso fez Amy rir.
— Parece uma cena muito engraçada de ser vista.
Edward sorriu, concordando com um leve menear de cabeça.
— Minha mãe descobriu que estava grávida de Laurie quatro
meses depois de me adotarem, ela estava com três meses de
gestação quando a descoberta aconteceu, mas eles não me
contaram assim que souberam – Edward dá continuidade — Como
eu disse, eu era uma criança bem arisca com a Marie. Eles me
contaram apenas dois meses depois, quando a barriga dela
começou a aparecer e eu me lembro de fazer perguntas sobre o que
estava acontecendo com ela e por que ela não brincava mais de
cavalinho com o Joss, que, por mais incrível que possa parecer, era
um garotinho magrinho e baixinho – o comentário foi divertido e os
dois riram — Eu me lembro de ter sentido muito medo de eles me
mandarem embora e de não ter sabido muito bem como reagir à
notícia, porque eu era realmente feliz com eles. Tinha receio de
deixar a Marie se aproximar, mas eu a amava… amava todos eles,
mas não me via como alguém da família.
O olhar de Edward estava continuamente fixado no teto, como
se todas as suas lembranças estivessem ali.
— Eu não lembro muito bem como foi o desenvolvimento da
gravidez, mas me lembro bem da barriga dela realmente
aparecendo e de quando Laurie se mexeu pela primeira vez.
Ele sorriu docemente com a lembrança e Amy pôde ver que os
olhos dele brilhavam bastante com ela.
— Nós estávamos na sala, eu me lembro bem… Josh quase
dormindo no chão, perto do sofá e eu estava pintando algum desses
livros de desenhos sobre a mesinha de centro, enquanto Marie
estava sentada no sofá, lendo um livro, quando, de repente, ela
soltou um tipo de gemido, como se tivesse dado uma topada –
conta, tendo um pouco de diversão na voz, assim como uma
expressão saudosa. — Lembro de ter ficado assustado com a
expressão de dor que ela fez, enquanto Josh correu para ela no
instante seguinte ao gemido. O sorriso que ela deu ao chamá-lo
para ficar mais perto dela, para mim, foi estranho e me deixou muito
nervoso. Lembro de ter visto Josh pular e… depois ele riu.
Edward franziu o cenho por um momento, como se buscasse os
acontecimentos na memória.
— Marie me olhou e, então, me chamou para perto dela e
prometeu que não iria me tocar e eu fui porque estava curioso e
assustado e preocupado demais… ela me disse onde encostar e foi
a coisa mais estranha e emocionante que já tinha acontecido na
minha vida até ali! A partir daquele dia, eu não quis mais me afastar
e passei a conversar com a barriga da minha mãe, da mesma forma
que eu faço com você… e fiz da Laurie a minha melhor amiga,
mesmo que ela nem soubesse quem eu era! – Edward contou,
tendo um grande sorriso estampado no rosto.
Um sorriso que continha todo o amor e adoração dele pela a
irmã.
— O nome dela ia ser Grace – ele comentou — Mas eu li ou vi
em algum desenho ou história infantil, não me lembro, um pássaro
que se chamava Laura, mas, eu não conseguia falar o nome direito,
então, eu falava Laurie e eu passei a chamar o bebê da Marie assim
e isso ficou – ele riu ao contar — Foi graças a Laurie que eu me
aproximei da minha mãe, porque, através da gravidez dela, eu
consegui ver que ela não seria capaz de me machucar porque tudo
o que ela fazia demonstrava amor e como ela realmente gostava de
me ter por perto. E, no dia que Laurie nasceu, foi também o dia que
eu chamei Marie de mãe pela primeira vez… eu nunca a tinha visto
tão feliz…
Edward sorriu com doçura e emoção.
— Batizei o meu barco de Angel por causa deles, da Laurie, do
Joss e dos meus pais… porque elas foram os anjos que me
salvaram da vida que eu tinha.
— Você vai me contar sobre isso também?
Edward sorriu, mas não um sorriso feliz, era mais um sorriso
condescendente do que qualquer outra coisa.
— Hoje não. Essa não é uma história para ser contada para
você assim, sob ordens de repouso.
Isso fez Amy sorrir e revirar levemente os olhos.
O ato finalmente superado entre eles após toda a situação
inicial que a represália – descabida e inflamada – de Edward tinha
causado.
— Eu estou especialmente ansiosa pelo momento que vou
sentir eles se mexerem… e eu só queria poder ficar um tempo longe
disso tudo e curtir você e a gravidez com a paz que deveríamos ter
– América comentou, suspirando quase desolada ao final.
Edward, então, se levantou, passando a ficar sentado de frente
para ela.
O movimento rápido deixou Amy alarmada, mas ela logo se
acalmou assim que viu o sorriso estampado no rosto dele.
— Eu posso conseguir isso – ele afirmou, ainda sorrindo e
pegando as mãos dela nas dele — Não garanto que será por tanto
tempo, mas posso conseguir o suficiente para conseguirmos relaxar
e para você e o Tyler se recuperarem.
América sorriu, interessada.
— E como faria isso? – ela indagou.
— Eu tenho um lugar, no Colorado, onde eu me refugiava nas
épocas mais corridas das festividades anuais, e que é ótimo nessa
época do ano. Quer ir?
América sorriu ainda mais, acenando positivamente com a
cabeça em resposta.
— Com toda a certeza.
30- Nem tudo é perfeito.
— Eu não posso usar saltos, Laurie, ficou louca?! – América
praticamente gritou com sua cunhada quando a viu se aproximando
com pares e mais pares de sapatos com saltos enormes.
Elas estavam em uma das inúmeras lojas de sapatos do
shopping que Laurie sempre ia quando queria algo, principalmente
se fosse algo para uma festa.
E a festa da ocasião era o baile de máscaras que seria dado
para comemorar o aniversário de Marie e uma festa de arrecadação
beneficente de uma ONG criada pelos pais de Edward.
— É só um sapato Amy, não é um bicho de sete cabeças –
Laurie revirou os olhos, bufando levemente enquanto colocava as
caixas de sapatos que havia encomendado para ela, Paige e Amy
usarem na festa de aniversário de sua mãe — O que você não pode
é ir de rasteirinhas como se estivesse indo para um luau!
— Laurie… eu estou grávida! – Amy exclamou exasperada —
Se eu subir em um troço desses e me esborrachar no chão eu
machuco os meus bebês!
América estava apavorada com a ideia de ter que colocar saltos
como aqueles e acabar perdendo o equilíbrio, machucando assim
seus pequeninos.
Ela já não enxergaria os pés por causa do vestido, não queria
correr mais riscos do que já estava correndo apenas por isso.
Laurie revirou os olhos soltando um suspiro, completamente
resignada com América. Laurie entendia que sua cunhada estava
preocupada com seus bebês, ela também estava, mas isso não
queria dizer que isso deveria impedi-la de ficar completamente
deslumbrante em um vestido perfeito e um salto alto.
— Acha mesmo que meu irmão deixaria você cair, Amy? –
Laurie questionou com uma sobrancelha arqueada, completamente
inquiridora — Além do mais, estes saltos nem são tão altos assim…
eu pedi os mais confortáveis e seguros para uma mulher grávida. –
Laurie disse, abrindo um estonteante sorriso de segurança e orgulho
próprio — Edward me mata se algo acontece com você por minha
causa. Posso ser doida, mas ainda não fiquei burra.
Amy riu balançando a cabeça em negação.
Sua cunhada era praticamente um elemento único da natureza,
ir contra ela era quase como ir contra todas as forças existentes.
— Se eu não conseguir sair da cama no dia seguinte, pode se
sentir culpada por isso – Amy disse, fazendo Laurie rir e revirar os
olhos, mas ainda assim ela continuava animada.
— Quem pode se sentir culpada do que, gente? – a voz
feminina e divertida chegou aos ouvidos de ambas as mulheres ali,
e Amy só faltou pular de alegria quando reconheceu a voz que
falava.
— Paige! – Amy exclamou animada, virando-se para a amiga e
praticamente pulando nos braços dela.
— Meu Deus, Amy! Cuidado! – Paige exclamou, repreendendo
levemente a amiga, mas ainda assim estava feliz e contente pela
recepção tão entusiasmada dela.
— Eu… desculpe! – Amy riu, sentindo as bochechas ficarem
quentes e se afastando de Paige logo depois de depositar um beijo
na bochecha da amiga.
— Também tive saudades – Paige diz sorrindo e, logo depois,
se virando para Laurie — E aí, espoleta?
— Ah! Chegou quem estava faltando! – Laurie sorriu ainda mais
animada e logo foi abraçar sua outra cunhada, dando nela dois
rápidos beijos em suas bochechas — Agora, podemos começar a
nossa diversão! Temos que escolher tudo hoje – Laurie disse
animada como apenas ela conseguia ficar — Afinal, um dia de SPA
nos espera amanhã – Laurie sorriu sonhadora batendo palmas
animadas mais uma vez.
— Não se esqueça que eu tenho que sair daqui antes das
quatro, Laurie – Amy a relembra, apontando com um sorriso para
seu ventre levemente pontudo de três meses, um pouco ocultado
pelas roupas mais largas.
Para sair de casa, ela tinha adotado essa tática, apenas para o
caso de ter algum olho de sua família sobre ela.
— Por falar nisso, como estão os meus afilhados? – Paige
perguntou sorridente, levando sua mão ao ventre de Amy e
acariciando-o suavemente.
— Eu creio que eles estejam bem – Amy sorriu abertamente
com os olhos brilhantes — Isso eu vou confirmar hoje assim que
terminarmos aqui – ela disse ainda sorrindo — Com fome eles
estão, e com muita! – Amy revelou rindo, levando as duas amigas a
rirem também.
— Não está alimentando eles direito, Lawson?
— Claro que estou! De três em três horas e sendo
constantemente monitorada por meu adorado noivo e companhia –
Amy riu mais uma vez, sentindo seu peito inflar de carinho e amor
por seus filhos e pelo homem que os concedera a ela.
— E por falar em noivo… – Laurie se fez presente, chamando a
atenção para si e fazendo com que Amy e Paige olhassem curiosas
para ela — Pra quando vocês dois pretendem marcar o casamento,
hein, Amy querida?
— Eu realmente não sei, Laurie – Amy respondeu com
sinceridade — Eu queria esperar até os bebês nascerem, mas não
tenho certeza…
— Independente de quando for – Laurie começou — Eu quero
ser a madrinha, já que dos arranjos vocês não vão me deixar chegar
nem perto! – ela fez um biquinho, arrancando risos de Amy e Paige.
— Ah, Laurie! Tenho certeza que com uma boa conversa e um
pouco de controle de sua parte… quem sabe? – Amy lhe lançou
uma piscadela que fez Laurie soltar um gritinho animado e quase
pular sobre ela ao dar-lhe um abraço.
— Prometo não fazer nada espalhafatoso! – ela garantiu
levando os dois indicadores aos lábios e os beijando ao cruzá-los
em ‘x’. — Tenho tantas ideias! Mas… o aniversário primeiro – ela
disse balançando a cabeça levemente para dispersar os
pensamentos e se concentrar no que havia ido fazer ali naquela loja
com suas cunhadas — Vamos experimentar os sapatos?
Amy e Paige apenas sorriram ao concordar e se sentarem nas
poltronas dispostas na loja para começarem a provar os sapatos.
[…]
Edward largou os papeis que lia sobre a mesa e olhou para o
relógio em seu pulso.
Ele tinha mais trinta minutos para terminar de analisar aqueles
documentos antes de mandá-los a seu advogado, para que ele os
validasse antes de mandá-los para a empresa com a qual estava
fechando um novo negócio.
Para ele, investir em tecnologia e na modernização dos meios
de comunicação e pesquisa avançada, nunca foi tão lucrativo como
estava sendo agora. E nesses lucros havia a parte boa e a parte
ruim.
A parte boa era a que existia em todos os negócios feitos para
lucrar e que davam certo.
A parte ruim era que com isso vinha a mídia e os holofotes que
ele não queria em cima dele, principalmente por causa de Amy e
tudo o que os estava rondando nos últimos dias. Seu departamento
de segurança estava fazendo um ótimo trabalho em proteger a ele e
sua família – principalmente Amy – de toda essa atenção gerada por
esse contrato.
Para todo os EUA, Edward Cage ainda era um homem solteiro
que vivia isolado em sua cobertura no centro de Seattle e que
visitava sua família esporadicamente nos fins de semana. E ele
queria que todos continuassem pensando isso dele, pelo menos até
ter certeza de que todos estariam seguros e longe de ameaças e
perigos. Principalmente até ter a certeza de que conseguiria
neutralizar a ameaça que era Steve Monroe.
Mas ele sabia que todo esse segredo que fazia sobre sua vida
pessoal estava correndo o risco de ser revelado no momento que
aparecesse de braços dados com Amy no baile que seria dado no
fim de semana na casa de Marie.
Ele estava odiando o fato de ter que expor Amy desta forma à
mídia mais uma vez.
Na primeira vez que fez algo parecido, foi no começo do seu
relacionamento com ela e a repercussão que teve a foto tirada na
entrada do Garden Hotel não foi algo esperado por ele e foi difícil
para o seu pessoal desviar o foco dos flashes da mídia daquele
assunto, pois sempre que algo nos jornais era mencionado sobre
ele, e seus trabalhos e momentos de auge da empresa, havia uma
menção à “mulher misteriosa” e o que havia acontecido com ela.
Por um lado, ele até havia gostado daquela atenção toda que
haviam recebido, mas por outro ele completamente repugnava a
ideia de Amy ser vista nos jornais novamente, principalmente
porque corria o risco de a mãe dela ver e – se ela tivesse um bom
olho – descobrir que a filha estava grávida. E havia sido através
daquela matéria que o antigo dominador da mãe de Amy a havia
encontrado.
Passando as mãos pelo rosto, Edward olhou mais uma vez para
o relógio em seu pulso e acabou abrindo um sorriso. Faltava pouco
para ele ir ao encontro de sua Amy e, assim, eles irem ver seus
pequeninos.
Ela estava entrando em sua décima semana de gestação e em
sua concepção estava ficando cada vez mais linda e iluminada.
Naquele dia eles iriam a mais uma consulta mensal e tudo o que
ele queria era que seus bebês estivessem bem, assim como queria
que Amy estivesse completamente bem.
Batidas na porta de sua sala o trouxeram de volta para a
realidade e de volta para o trabalho que ele tinha que terminar antes
de ir para a consulta com sua Amy.
— Entre. – ele disse e, quase no mesmo instante, a cabeça de
Allegra apareceu para dentro de sua sala junto com metade de seu
corpo — O que houve, Allegra? – ele questionou, sentindo o
nervosismo começar a tomá-lo por antecipação.
Era sempre assim, afinal se ela aparecia era porque alguma
encomenda havia chegado e, nas últimas semanas, ele não estava
gostando nem um pouco de receber encomendas.
— Com licença, senhor Cage – Allegra disse antes de entrar de
vez na sala com alguns envelopes nas mãos, todos pequenos
demais para parecerem alguma mensagem ou ameaça de Monroe
— As respostas às doações feitas no início do mês chegaram e o
senhor… – ela fez uma pausa para olhar o remetente do bilhete em
sua mão — Courtney ligou, pedindo desculpas, mas ele vai ter que
cancelar a reunião de amanhã, pois a esposa dele acaba de dar à
luz ao filho deles e Gwen pediu que o senhor, assim que possível,
fosse vê-la. Algo sobre o material da nova filial em Nova York.
— É apenas isso? – ele questiona, sentindo o nervosismo cada
vez mais crescente dentro de seu peito.
— Sim, senhor.
— Tudo bem – ele respondeu, tentando a todo o custo não
mostrar o alívio que sentiu ao descobrir que não havia nenhum
envelope sem remetente ali — Pode deixar e avise a Gwen que
amanhã, no meu primeiro horário aqui, estarei passando na sala
dela – ele respondeu e discretamente olhou para seu relógio, vendo
que já estava quase em cima da hora para a consulta com América.
Como o tempo passou tão rápido?!
— Agora, eu preciso ir.
— Sim, senhor – Allegra disse e Edward jurou ter visto o
começo de um sorriso no rosto de sua secretária, o que ele preferiu
ignorar, apesar de estar com vontade de sorrir também, afinal, ele
tinha certeza de que sabia o motivo de ela estar querendo sorrir.
[…]
Os lábios de Edward cobriram os de sua noiva no momento que
se encontraram na sala de espera para a consulta.
Ele tentou fazer daquele ato apenas um singelo e casto
encostar de lábios, mas apenas ter um mísero contato entre eles
não era o suficiente e o beijo acabou se tornando mais demorado e
menos casto do que esperavam.
— Oi – Amy sorriu para ele com os lábios vermelhos e inchados
do beijo que haviam acabado de trocar.
Naquele momento ela realmente não queria estar em um local
público com seu noivo.
Ela queria e muito poder dar continuidade ao que o beijo
trocado havia prometido à sua libido.
— Oi – ele sorriu.
Aquele sorriso torto e malicioso que ela amava vê-lo dar.
— Tudo bem?
— Melhor agora – ela sorriu ainda mais, olhando dentro dos
olhos de tempestade dele.
Ela simplesmente o amava demais.
— Você almoçou?
— Almocei. Lanchei. Lanchei novamente e acabei de comer
uma maçã. Satisfeito? – questionou, arqueando uma sobrancelha
de forma implicante e com um sorriso torto estampado nos lábios,
piscando os olhos de maneira inocente.
Edward bufou um riso e se recostou melhor na cadeira
acolchoada, apoiando o tornozelo direito sobre o joelho esquerdo e,
logo depois, passando o braço por cima dos ombros de Amy,
abraçando-a de lado.
Inclinando-se para o lado, ele encostou os lábios na orelha dela
e sussurrou fazendo a pele dela se arrepiar por completo.
— Em casa nós conversamos sobre a minha satisfação – e,
então, se afastou e passou a encarar o movimento dos pacientes, a
sua maioria eram mulheres grávidas e algumas até com seus,
aparentemente, primeiros filhos juntos.
Ver essas coisas fez Edward se perguntar se ele e Amy iriam
entrar em um lugar destes mais alguma vez, sem ser para verem
seus primogênitos.
— Eu mal posso esperar – ela sussurrou para ele, virando-se
para frente também, mas sem definitivamente prestar a atenção em
alguma coisa.
Em sua mente se passavam muitas coisas, nada com coerência
suficiente para conseguir dispersar o calor que avia se alojado em
seu ventre no momento que Edward simplesmente apareceu para
ela.
Nem mesmo a festa que aconteceria dali a três dias estava
conseguindo dispersá-la das imagens que começavam a povoar sua
mente com cada vez mais frequência. Ela estava até com medo de
começar a gemer no meio da sala de espera e, assim, chamar a
atenção de todos para si e se denunciar demais.
Amy respirou fundo e descruzou as pernas para, logo depois,
cruzá-las novamente de forma diferente tentando assim amenizar o
desconforto que aquele calor latejante estava causando nela.
— Você está bem? – a voz de Edward chegou aos seus ouvidos
em um tom sussurrado, quase a fazendo pular na cadeira com o
sutil susto, o que fez Edward rir sutilmente — Corrigindo: Onde você
estava?
— Em casa, mais precisamente dentro de certo quarto com
você… – ela jogou a frase no ar e sorriu minimamente, sentindo as
bochechas esquentarem gradativamente.
— Não me tente muito, por favor, América – Edward
praticamente implora, remexendo-se desconfortável na cadeira —
Deus, onde está essa médica?! – ele sussurrou frustrado, sentindo-
se completamente desconfortável ali e ainda por cima com uma
excitação crescente no meio de suas pernas.
América riu baixinho e se encostou um pouco mais em Edward,
aspirando o perfume que tanto a agradava e acalmava, abraçando-o
de lado ao passar os braços ao redor da cintura dele.
— Teremos tempo para muita coisa quando voltarmos para
casa.
****
América encarou seu reflexo no espelho sem conseguir
acreditar que aquela mulher elegante, trajada em um belíssimo
vestido vermelho longo, que a encarava de volta e imitava seus
movimentos, era realmente ela ali.
O vestido não marcava nada de seu corpo além do busto e a
partir deste ponto descia em camadas leves de tecido que se
misturava e parecia fazê-la flutuar conforme se movia e isso fazia
com que sua razoável barriguinha de grávida quase não
aparecesse. A renda que cobria seus ombros, busto, costas e
cintura era delicada e os desenhos do tecido marcados pela renda e
pequenas contas cintilantes dava um ar delicado ao tom tão
marcante e sedutor de vermelho.
Os cabelos castanhos, caindo em delicadas ondas por suas
costas davam o ar delicado e angelical que o vestido lhe tirava, e
delicadas presilhas prateadas prendiam pequenas madeixas de
seus cabelos, demarcando exatamente onde a fita de sua máscara
seria presa sem aparecer e marcar seu penteado.
Ela nunca pensara que ficaria tão bonita naquela cor como
estava naquele momento.
A maquiagem de seus olhos era fraca e avermelhada, mas
chamava a atenção para seus olhos com delicadeza e sutileza.
Seus lábios, bem marcados e delineados por um tom suave de
vermelho, competiam pela atenção que seus olhos clamavam com a
ajuda da maquiagem.
Amy sorriu para sua imagem no espelho e resistiu à vontade de
morder os lábios, contentando-se apenas em passar a língua
levemente por sobre eles, sentindo a textura que estavam naquele
momento, antes de se virar para a cama – extremamente branca do
quarto em que estava – para pegar sua bolsa, também vermelha e
rendada como os detalhes da parte superior de seu vestido, e
colocar dentro dela seu celular, documentos e o batom para o caso
de precisar retocá-lo e, logo depois, pegando a máscara em mãos.
Ela estava pronta para descer e se encontrar com Edward, para
poderem ir à festa de Marie.
A única coisa que ela esperava era não cometer nenhuma gafe
e nem se estatelar no chão por não conseguir enxergar direito como
seus pés se mexiam sob o vestido.
Desde que subira para o antigo quarto – que era dela – para se
arrumar que não via Edward. Toda a sua arrumação seria uma
surpresa para ele e ela esperava que ele gostasse do que ela havia
feito e da forma que havia se arrumado.
Respirando fundo algumas vezes, ela se dirigiu até a porta e a
destrancou.
Girando a maçaneta, ela abriu a porta, dando de cara com um
Edward que se preparava para bater à sua porta com a mão erguida
e estagnada no ar.
Ela viu os olhos dele percorrem-na dos pés à cabeça. Os lábios
minimamente abertos puxavam e expulsavam o ar dele, fazendo-o
chiar com a forma pesada e descompassada com a qual ele fazia
isso.
— O que achou? – Amy perguntou, sentindo seu coração
palpitar em ansiedade e nervosismo. — Ficou bom?
Ela o viu engolir em seco e balançar a cabeça minimamente,
como se precisasse espantar alguns pensamentos impróprios para
aquele momento, antes dos olhos dele caírem nos seus e ali ela ver
todo o turbilhão de sentimentos brigarem entre si.
— Você está a verdadeira tentação, América – a voz dele saiu
baixa e rouca, carregada de desejo — Estou pensando seriamente
em não sair daqui com você.
Amy riu abertamente, sentindo o alívio tomar conta de seu corpo
gradativamente.
— Isso quer dizer que você gostou? – ela questiona se
aproximando dele que a enlaça pela cintura e leva o rosto para seu
pescoço, aspirando o perfume presente ali e depositando um beijo
demorado e quente no local, o que faz a pele dela se arrepiar por
completo.
— Você está linda baby. – ele disse assim que subiu o rosto e
cravou os olhos cinzentos naquele mar de azul perfeito que ele tanto
amava.
Tocou os lábios dela levemente em um delicado selinho, quase
um roçar de lábios, sentindo vontade de beijá-la de verdade, mas se
contendo, pois, por mais que ele quisesse erguê-la, jogá-la na cama
e tomá-la por horas e horas, ele não poderia fazer isso.
Tinha certeza de que ela ficaria muito zangada se tivesse tido
todo aquele trabalho e ele o destruísse antes mesmo de eles irem
para a festa de Marie.
— Que bom que gostou – sorriu timidamente para ele e conteve
a vontade de morder os lábios — Me ajuda a colocar a máscara? –
pediu, afastando-se minimamente dele e lhe estendendo a máscara
avermelhada e simples, marcada apenas por algumas rendas
vermelhas sobre o material macio e preto que formava a peça.
Edward pegou a máscara e, assim que a tinha nas mãos, foi
para trás de Amy, passando a máscara para frente do rosto dela e
esperando que ela a ajeitasse da melhor forma até que ficasse
confortável o suficiente.
Assim que ela parou de mexer na máscara, ele passou as
pontas dos dedos pelas fitas de cetim e, com movimentos
calculados, para não embolar nada com os fios do cabelo dela, ele
deu os nós necessários nos dois pedaços de fita e, quando
terminou, afastou o cabelo do ombro direito dela, beijando-a ali e
tendo o prazer de vê-la estremecer por completo com o toque.
Ela se virou para ele e sorriu enormemente ao ouvi-lo ofegar e
ao o ver morder o lábio inferior para tentar conter o gemido,
falhando miseravelmente em seu ato.
Tomando a mão de Amy na sua, Edward desceu com ela para a
sala onde encontrou sua própria máscara sobre a mesa de centro.
Ele a pegou, colocando-a logo em seguida, e passando as mãos
pelos cabelos para ajeitá-los conforme a máscara se firmava em seu
rosto.
Amy engoliu a seco e não resistiu à vontade de morder o lábio
inferior e, logo depois, passar a língua sobre ele.
Edward estava de matar. Definitivamente.
A máscara simples e negra marcava os olhos dele, deixando-o
com um ar sombrio e irresistível. Era um verdadeiro chamariz de
olhares desejosos e o terno estilo Black tie que ele usava apenas o
deixava ainda mais irresistível.
— Quando voltarmos, eu quero foder você, com você usando
essa máscara – ele sussurrou para ela que sorriu abertamente em
resposta.
— Desde que você fique com a sua… pode fazer o que quiser
comigo – ela disse em tom igualmente baixo e malicioso, sentindo o
coração acelerar dentro do peito e recebendo dele um igual sorriso
em resposta.
— Tudo bem, futura senhora Cage… depois não tente fugir –
ele sorriu malicioso bicando seus lábios nos dela rapidamente —
Agora, vamos? – ele questiona, estendendo a mão para ela, que a
aceita e, de mãos dadas, eles seguem em direção ao rol de entrada
onde Ward e Tyler os esperam para levá-los até a casa de Marie.
[…]
Os flashes atingiram o casal com força e rapidez descomunal no
momento que eles se colocaram fora do carro que os levou até o
local da festa.
Eram tantas fotos e perguntas, emboladas umas nas outras,
que parecia até mesmo uma premiação do Oscar e não apenas um
baile de aniversário – que também era uma arrecadação
beneficente.
América se sentiu tonta no momento que teve que parar no
meio do caminho, ao lado de Edward, para ambos posarem para
algumas fotos e ela agradeceu silenciosamente por estar de
máscara e praticamente irreconhecível para aqueles abutres.
No momento que conseguiram se livrar dos fotógrafos, ambos
soltaram um longo suspiro de alívio.
As perguntas com as quais os bombardearam foram muitas e
praticamente todas ao mesmo tempo, mas Edward preferiu fingir
que ninguém falava e não respondeu nenhuma pergunta.
Principalmente as que eram a respeito dos dois – que chegaram de
mãos dadas e permaneceram assim por todo o caminho.
A decoração estava perfeita e os olhos de Amy brilharam em
admiração com a delicadeza e beleza presentes naquele lugar, que
nem de longe lembrava o quintal de seus sogros.
Ela sorriu e, logo depois, voltou seus olhos para Edward, que
parecia varrer o local com o olhar em busca de alguém, enquanto
caminhavam lentamente em direção ao epicentro da festa.
— Está procurando sua mãe? – Amy perguntou, franzindo
sutilmente o cenho, escondido pela máscara.
— Ou meu pai – Edward respondeu, abrindo um pequeno
sorriso irônico — Se acharmos um, achamos o outro.
Amy riu e logo depois começou a procurar também.
Ela não sabia com que máscaras ou roupas os dois estavam,
então procurou por cores de cabelos semelhantes, mas a
iluminação da festa a estava atrapalhando.
Para ela, com máscaras, todas as pessoas eram iguais, o que
apenas dificultava a situação, até que ela avistou um corpinho
miúdo saltitante – com um vestido que ela reconheceu assim que
viu – vindo em sua direção e, naquele instante, ela soube ser sua
cunhada, e amiga, Laurie.
— Laurie achou a gente – ela anunciou a Edward que parecia
não ter notado que a irmã vinha em sua direção, o que penas o fez
rir e revirar os olhos teatralmente.
— Amy! Ed! – Laurie exclamou animada assim que chegou
próxima a eles — Vocês estão lindos!
— E eu posso dizer o mesmo de você, Laurie. Está linda! – Amy
disse admirada, fazendo Laurie sorrir lindamente.
Quando a viu trajada com aquele vestido no provador da loja,
ela não imaginou que pudesse ficar tão bonito como estava agora.
Aquele vestido era realmente algo para ser visto à noite.
As pedrinhas claras espalhadas pelo busto chamavam a
atenção ainda mais para o decote avantajado preso por uma fina
união de silicone que deixava o vão dos seios dela aparente e o tom
delicado de rosa perolado dava o ar de delicadeza que o decote
tirava.
Edward pigarreou, chamando a atenção para si antes mesmo
que Laurie pudesse abrir a boca para agradecer à sua cunhada pelo
elogio.
Assim que Amy olhou para Edward, sentiu os pelos de sua nuca
se arrepiarem de nervosismo. Os lábios dele estavam franzidos,
expressando com exatidão a desaprovação dele para aquele
vestido.
— Edward… – Amy tentou intervir antes que ele falasse alguma
coisa, mas o mesmo a interrompeu antes mesmo que ela
completasse a frase.
— Precisava deste decote assim, Laurie Cage?! – ele
praticamente rosnou para a irmã que o olhou debochada, cruzando
os braços e o sorriso que estava em seu rosto esmoreceu.
— A mamãe e o papai aprovaram! Você não tem nada que
discutir o tamanho do meu decote! – ela empinou o nariz e o
encarou altiva — Custa dizer que eu estou bonita, Edward?! O Liam
me achou bonita e me elogiou – Laurie disse e involuntariamente
um sorriso começou a brotar em seus lábios, o que fez Amy sorrir
também.
— Liam?! Quem é Liam, Laurie?! – Edward questionou,
sentindo a raiva e o ciúme começarem a subir por suas veias.
— Liam é o primo da… – Amy começou, mas foi impedida por
Laurie de continuar sua frase.
Parecia que todos ali queriam mantê-la calada e impedi-la de
tentar ajudar as coisas a não chegarem a níveis catastróficos.
— Meu namorado. – Laurie disse, o que fez Edward se
engasgar com o próprio ar e Amy arregalar os olhos, deixando-os
quase iguais a pratos.
— O que?! – Amy e Edward questionaram ao mesmo tempo,
mas, antes que Laurie respondesse, Marie apareceu ao lado de
George com um enorme sorriso estampado no rosto, deixando-a
ainda mais estonteante que o vestido que ela usava.
O verde definitivamente combinava com aquela mulher e Amy
teve certeza naquele momento de que Marie era a mulher mais linda
que ela já vira.
— Meus queridos! – ela exclamou feliz e animada — Estou tão
feliz que tenham vindo! – Marie disse, passando por Laurie para dar
um abraço em Amy e logo depois, dar também um abraço em
Edward ao qual ele retribuiu com carinho e adoração.
Assim que se afastou, foi a vez de George cumprimentá-los e,
enquanto fazia isso, Marie analisou a expressão que tomava os
traços delicados do rosto de sua filha mais nova.
— O que houve, querida? – Marie questionou em tom baixo,
mas não baixo o suficiente para Edward não ouvir e, assim que ele
percebeu que sua mãe falava com sua irmã e que ela se preparava
para responder, ele se intrometeu e com o maxilar travado em raiva
e ciúmes.
— Que história é essa de namorado?! – ele praticamente
rosnou, e Amy aproveitou que ele não olhava para ela e revirou os
olhos para ele e para todo aquele ciúme. — Laurie não é nova
demais para pensar nessas coisas?!
— Namo… Ah! O Liam? – Marie questionou, abrindo um mínimo
sorriso delicado e carinhoso para ambos os filhos, quase revirando
os olhos para a careta que viu seu filho do meio e seu marido
tentarem esconder por de trás das máscaras.
Naquele meio, ela era a única que não estava mascarada – até
o momento, pelo menos.
— Ela nos apresentou a ele hoje – Marie falou com um sorriso
nos lábios.
— Eu ainda estou decidindo se aprovo aquele moleque ou não.
– George resmungou e Edward assentiu, concordando e dando
apoio ao pai.
Amy – que estava preferindo se manter de fora da discussão –
suspirou cansada, sentindo seus pés começarem a reclamar e a se
apertarem dentro do sapato que parecia estar encolhendo em seus
pés.
— Edward – Amy o chamou ,levando a mão até o ombro do
noivo e o apertando em uma tentativa de chamar a atenção dele, o
que quase não funcionou, pois ele estava tão concentrado em fuzilar
os homens ao redor de sua irmã e em reclamar da ideia de ela
começar a namorar, que quase não a ouviu.
— Oi, amor? Está sentindo alguma coisa? – ele perguntou
alarmado na segunda vez que Amy o chamou.
— Se você não se lembra, querido, eu estou grávida e de
saltos… na grama. Preciso me sentar – ela falou em tom baixo,
apenas para ele escutá-la — Se quer continuar a discutir, podemos,
por favor, fazer isso estando sentados?
George, que ouviu a conversa de seu filho com Amy, acabou
rindo e chamando a atenção de Marie e Laurie, que discutiam um
jeito de tentar convencer Edward a parar com o ciúme sem
cabimento.
— Venham para nossa mesa – George disse — Tenho quase
certeza de que Paige e Josh já estão lá.
— Por favor – Amy praticamente choramingou ao começar a
seguir seus sogros e Laurie para a mesa deles com Edward ao seu
lado — Se você sente ciúmes assim da sua irmã eu não quero nem
ver o que vai ser da nossa filha – ela sussurrou para ele, sentindo a
nostalgia dominá-la.
Edward apenas riu, soltando sua mão da dela e a abraçando
pela cintura logo em seguida.
— Não vou ter ciúmes porque minha filha não vai namorar. – ele
a ergueu minimamente pela cintura para ajudá-la a subir o pequeno
degrau, assim que chegaram ao deque montado para colocarem as
mesas, a pista de dança e o pequeno palco para os aparelhos do DJ
contratado. — Pra fazer isso, ela vai ter que esperar eu morrer e
mais três dias apenas para confirmar que eu realmente morri. – ele
disse o que apenas fez Amy rir abertamente.
— E se eu for a favor do namoro dela enquanto você estiver
vivo? – Amy questionou enquanto se aproximavam da mesa
reservada para a família Cage e Edward puxava uma das cadeiras
para ela.
Ela já era considerada uma Cage, assim como Paige também
era.
— Você vai ter que ser muito convincente para me fazer aceitar
isso de bom grado, América.
Ela riu mais uma vez e esperou que ele se sentasse ao seu lado
para respondê-lo.
— Eu sei ser muito convincente, amor – ela disse, colocando a
mão sobre a perna dele e a subir sutilmente até chegar ao meio
delas, pressionando levemente, antes de se inclinar até ter seu rosto
próximo do de Edward e beijar os lábios do mesmo levemente — Ou
você não concorda?
— Safada. – ele disse apenas movendo os lábios para ela, sem
emitir nenhum tipo de som, recebendo como resposta um sorriso
radiante de sua noiva.
— Só pra você, querido.
[…]
Paige e Josh apareceram meia hora depois de Amy e Edward
terem chegado à mesa da família Cage e, depois que eles se
juntaram, as duas amigas não haviam parado de conversar.
Edward e Josh falavam de assuntos diversos, quando não
resolviam se intrometerem nos assuntos das noivas, ou quando não
discutiam formas de dar uma lição no suposto namorado de Laurie,
e esta, por sua vez, havia desaparecido pela festa junto com Liam
indo fazer sabe-se o que e onde.
— Paige? – Amy chamou, interrompendo a de cabelos
caramelos em mais uma de suas histórias sobre seus inesperados
furos jornalísticos, ganhando a atenção da amiga quase que
instantaneamente.
— O que me pede, Lawson? – ela questionou lançando um
sorriso caloroso para sua amiga.
Com o tempo Paige havia começado a superar a perda precoce
de seu primeiro filho e aos poucos os assuntos relacionados a isso
foram tornando-se mais suportáveis para ela e, há alguns dias, ela e
Josh tinham até mesmo discutido a possibilidade de após o
casamento tentarem um bebê.
— Pode me acompanhar até o banheiro? – ela pediu baixinho,
inclinando-se para frente para que a amiga pudesse escutá-la e,
assim que Paige respondeu de maneira positiva ao seu pedido,
ambas pediram licença aos homens presentes à mesa, que se
levantaram no mesmo momento que elas, e, então, elas seguiram
em direção à casa de Marie.
— Vamos usar os banheiros de dentro da casa. Marie disse que
podíamos… – Paige disse, sorrindo de maneira exibida o que fez
Amy rir — Então, vamos aproveitar.
— Você é impagável, Paige! – Amy disse em tom irônico,
arrancando leves risadas de sua amiga e a acompanhando.
Por mais que ela estivesse rindo naquele momento, havia algo
dentro dela que dizia que alguma coisa ruim iria acontecer.
Algum tipo de mau presságio, que fazia seu couro cabeludo
formigar em antecipação e isso a estava deixando nervosa, o que
ela tinha certeza de que não era bom para os bebês.
Amy não demorara muito no banheiro, mas, assim que saiu,
encontrou a amiga do lado de fora onde a havia deixado, no
entanto, a expressão no rosto de Paige não era a mesma de antes.
Os pelos de Amy se arrepiaram no mesmo instante e todo o seu
corpo entrou em posição de defesa. A sensação de algo ruim se
aproximando estava cada vez mais forte dentro de seu peito e
aquilo a estava deixando enjoada.
— Paige? – Amy a chamou, recebendo como resposta um
suspiro pesado e, aparentemente, enfurecido — Aconteceu alguma
coisa?
— Eu realmente não gosto daquela mulher – Paige respondeu
indicando com o queixo a pessoa de quem ela falava e, assim que
Amy olhou, reconheceu imediatamente a pessoa de quem sua
amiga falava.
Vivian poderia estar de máscara, mas o tom impecável e ímpar
de seu cabelo e os movimentos que pareciam serem calculados
para chamar e prender a atenção das pessoas, como se fosse um
imã, a tornava incapaz de não ser reconhecida.
— Eu também não gosto – Amy murmurou, observando a
mulher de cabelo ruivo discutir com um dos garçons da festa a
poucos metros de onde estavam — Vamos sair daqui antes que ela
nos veja.
Paige concordou e, assim, ambas seguiram para fora da casa,
passando apressadas por Vivian e fingindo não a enxergarem ao
passarem por ela.
Saíram pela porta dos fundos e logo seguiram de volta para a
mesa que estavam antes.
Durante todo o caminho, Amy sentia que alguém a observava e
sempre que olhava discretamente ao redor para tentar descobrir
quem fazia isso – e se realmente havia alguém o fazendo – não via
nada além de pessoas conversando, dançando e algumas que
bebiam e comiam.
Aquilo realmente não a estava agradando.
— Podemos pegar uma bebida pra mim antes de voltarmos
para a mesa? A minha já deve ter esquentado – pediu Paige,
abrindo um pequeno sorriso para a amiga.
— Claro. E eu aproveito e pego alguma coisa para eu comer,
sinto que daqui a pouco meu estômago vai colar de tamanha é a
fome que estou sentindo nesse momento.
Paige riu e juntas seguiram até a mesa de petiscos e ao bar.
Assim que chegaram, Paige foi obrigada a se afastar de Amy
que mal percebeu o distanciamento da amiga enquanto arrumava
um pequeno prato com algumas frutas e doces que lhe fizeram ficar
com água na boca, tamanha que foi sua vontade de comer cada um
deles.
— Estou surpresa – a voz feminina e carregada de escárnio
chegou aos ouvidos de Amy, fazendo-a sobressaltar e quase
derrubar toda a sua comida no chão.
Fazia meses que ela não ouvia aquela voz e ela sinceramente
preferiria passar o resto da vida sem ouvi-la novamente.
— Desculpe? – Amy se fez de desentendida, ela queria ignorar
a presença ao seu lado, mas infelizmente era impossível, perto dela
não havia ninguém com quem a mulher ao seu lado pudesse estar
falando.
— É impressionante ele ter ficado tanto tempo assim com você.
– ela continuou a falar, e a cada palavra que entrava nos ouvidos de
Amy, ela sentia ainda mais vontade de vomitar com a raiva e o
nervosismo que começavam a borbulhar dentro de si.
Amy espalmou as mãos sobre o espaço vazio na mesa,
chamando a atenção de Vivian para o gesto e, no momento que o
olhar da ruiva caiu sobre as mãos de América, seus olhos se
arregalaram ao ver o anel presente no dedo anelar dela e Vivian
sentiu raiva, ainda mais raiva do que estava sentindo e que sentiu
durante toda a festa desde que soubera que América estava ali.
Um sorriso gélido se abriu no rosto dela e lentamente ela subiu
seu olhar cruel pelos braços de Amy, parando no momento que seus
olhos bateram no rosto da morena a sua frente. A ideia que havia
em sua mente poderia estar errada, mas ela não perderia a
oportunidade de arriscar.
— Eu suponho que Edward tenha lhe contado e que não haja
problema para você o que aconteceu – Vivian disse com falsa
simpatia e Amy sentia isso em cada célula de seu ser.
— O que aconteceu? – Amy questionou, surpreendendo-se com
a firmeza com a qual sua voz saiu em comparação a como ela
estava se sentindo por dentro.
Ela ainda se lembrava muito bem do tapa que havia desferido
contra o rosto de Edward quando ele contara que estivera com
aquela mulher desprezível e que ela havia tentado seduzi-lo.
América tinha náuseas apenas por se lembrar daquele dia.
— Da época que ele e eu… – Vivian começou a destilar seu
veneno, mas antes que ela pudesse completar sua frase, a pessoa
que entrou em seu campo de visão a fez parar no mesmo instante.
-*-
Edward já estava preocupado com a demora de América em
retornar do banheiro e já estava prestes a sair à procura dela e de
Paige, quando viu sua cunhada próxima ao bar.
Ele seguiu até onde ela estava, mas antes que chegasse até
ela, ele encontrou Amy e a pessoa que viu próxima à sua noiva não
o agradou nem um pouco.
Edward conseguia sentir a tensão presente nela de longe.
Mudando sua trajetória, Edward seguiu até onde sua Amy
estava, parou logo atrás dela e, a envolvendo pela cintura, fuzilou
com os olhos a mulher ruiva à sua frente, que o fitava pálida e com
os olhos arregalados.
— Você está bem? – ele sussurrou com os lábios próximos ao
ouvido de Amy, que se empertigou em seus braços e com uma
gentileza que ela não queria demonstrar ter naquele momento
afastou o braço de seu noivo de sua cintura.
— Eu estou ótima – declarou com sarcasmo — Quem parece
não estar bem é a sua amiga, que aparenta estar em algum tipo de
delírio. Talvez tenha batido a cabeça ao cair do pedestal com a
rejeição – América fez questão de destilar seu próprio veneno —
Agora, com licença. – ela disse com a voz baixa e crua para, logo
depois, se afastar de Edward, deixando-o ali com a mulher que ela
sequer suportava ter de respirar o mesmo ar.
Por sua cabeça passavam as várias possibilidades para a
continuação da frase iniciada por Vivian, mas a única coisa que
parecia se encaixar ali era que aquela mulher e Edward já haviam
tido um caso.
E apenas aquilo a deixava desnorteada.
Ela duvidava disso desde a primeira vez que vira aquela mulher
e, agora, a certeza deste fato estava quase concreta.
Ela só queria que houvesse a possibilidade de essa quase
certeza não se confirmar, mas tudo em seu interior dizia que essa
possibilidade não existia.
— Amy! – Edward a chamou segundos depois de ela ter lhe
virado as costas e seguido em outra direção, mas, antes de correr
atrás de sua noiva, ele se virou para a mulher que um dia, ele
apenas ajudou a sair do buraco em que estava, a pedido de Marie, e
praticamente rosnou para ela: — Eu avisei a você que não se
aproximasse, se acontecer algo a ela ou com – ele parou a frase por
um breve momento, sentindo vontade de esganar a mulher a sua
frente e tentando se controlar — Eu acabo com você, sem me
importar com a amizade que tem com a minha mãe ou com
qualquer sentimento seu. – e dito isso ele praticamente correu atrás
de Amy e, ao alcançá-la, agarrou-a pelo braço e, sob os protestos
dela, levou-a para um local mais afastado da concentração da festa.
— Me deixe quieta, Edward! – Amy praticamente rosnou para
ele, sendo completamente ignorada — Edward!
— Me diz, por favor, que não vai me deixar – ele praticamente
implorou no momento que parou de arrastá-la e a virou para si,
segurando-a pelos ombros e olhando diretamente dentro dos olhos
azuis elétricos dela — Eu não sei o que ela disse…
— Ela não chegou a me dizer nada, você chegou antes que ela
falasse, mas ela deixou muitas coisas no ar sobre um
relacionamento em específico – Amy disse com amargor, tentando
ignorar todo o desespero e pavor que havia naquela imensidão
cinzenta que a encarava — Conversaremos sobre isso em casa,
não vou estragar a festa de sua mãe e toda a animação dela com
uma vadia como aquela mulher.
— Só… só acredite em mim, por favor? – ele pede e Amy sente,
em cada palavra dita por ele, o desespero e o pânico que o
dominam — Ela não importa, seja lá o que ela tenha dito… Vivian
não é importante!
— Quando chegarmos em casa, Edward. – Amy repete,
respirando lentamente na tentativa de se acalmar.
— Mas eu não quero deixar essa situação assim, droga! –
exclamou desesperado, se aproximando dela o máximo que
conseguia.
— Você realmente acredita que eu poderia ter qualquer
envolvimento físico que fosse com ela? Vivian tem a idade da minha
mãe, América! Seria nojento, além de um crime.
— Não quero ouvir você falar sobre como foi ter ela na sua vida
antes de mim. Eu não quero ouvir…
— Nunca houve um “ela na minha vida”. Eu apenas a ajudei
quando ela estava merda, porque a minha mãe pediu que eu
investisse no negócio dela e a ajudasse a se reerguer e Vivian acha
que eu fiz isso por sentir algo por ela. Eu nunca poderia ter tido um
envolvimento com ela – afirmou veementemente — Jamais seria
capaz de causar tamanho desgosto nela.
Amy engoliu a seco, piscando rapidamente para afastar as
lágrimas de seus olhos.
Ele sabia que estava exigindo demais dos limites que ela estava
querendo colocar naquele momento, mas tudo o que ele não queria
era que sua Amy acreditasse em outra pessoa sobre algo que ele
nunca tinha feito.
— Eu nunca tive nada com ela, só preciso que entenda e
acredite nisso, América. Não menti para você sobre isso e nem
sobre nada!
Expirando com força, Amy o encarou seriamente nos olhos.
— Em casa, Edward – repetiu, cansada, mas absorvendo as
palavras que ele tinha declarado com tanta sinceridade e
veemência.
Ele suspirou pesadamente e assentiu, rendendo-se ao que ela
queria naquele momento.
— Mas… você e os bebês? Vocês estão bem? – ele pediu; a
preocupação comprimindo seu peito lentamente.
Um pequeno sorriso surgiu no rosto de Amy e ela se aproximou
de seu noivo, assentindo e permitindo que ele a envolvesse em um
abraço.
— Estamos. Eu só preciso me sentar um pouco. Meus pés
doem.
— Claro. – Edward assentiu freneticamente e, no mesmo
instante, ele a soltou pegando-a pela mão e guiando-a em direção à
mesa que ocupavam.
Assim que chegaram, ele puxou uma cadeira para que Amy se
sentasse e, logo depois, se sentou ao lado dela.
Marie estava ali também e, assim que percebeu que eles
haviam voltado, se virou rapidamente para Amy ao se lembrar que
precisava entregar algo a ela.
— Amy, querida – ela chamou em seu comum tom doce, porém
sentindo preocupação ao ver a expressão cansada de sua nora, que
mesmo sorrindo não conseguia disfarçar — Está tudo bem? – ela
perguntou antes de ir direto ao assunto que precisava, deixando sua
preocupação e zelo falarem mais alto.
— Está sim, Marie. Só meus pés que estão doendo um pouco
por causa dos sapatos. – Amy explicou com um sorriso doce em
seus lábios e sentindo a mão de Edward se apossar da sua que
estava apoiada em sua coxa.
— Tem certeza, querida? – Marie quis confirmar.
— Tenho sim. Está tudo bem, daqui a pouco melhora.
— Tire os sapatos, baby – Edward sussurrou para ela, olhando-
a diretamente nos olhos assim que ela se virou completamente para
ele — Você está sentada e seu vestido é longo, ninguém vai
perceber. – ele sorriu para ela, olhando dentro dos olhos dela e
buscando algum sinal de que ela ainda estivesse zangada ou
chateada com ele.
— Vou tirar mesmo – ela respondeu com um sorriso, apertando
a mão dele que cobria a sua que ainda estava apoiada em sua
coxa, dando para ele, naquele gesto, um sinal de que estava tudo
bem.
— Ah, Amy! – Marie chamou a atenção dela segurando um
pequeno envelope em mãos — Deixaram isto aqui para você.
Amy franziu o cenho, confusa, mas ainda assim agradeceu a
sua sogra por lhe entregar o bilhete.
Com curiosidade e completamente confusa, ela abriu o pequeno
envelope e a letra que assaltou seus olhos fez seu coração pular
acelerado e apavorado dentro de seu peito.
Seus pressentimentos não eram à toa. Realmente havia alguém
a observando e, agora, ela sabia quem era e nunca em sua vida ela
quis tanto que fosse qualquer outra pessoa.
— Ele estava aqui – Amy disse apavorada, chamando
imediatamente a atenção de Edward para ela e em seguida para o
papel em suas mãos.
As palavras ali despertaram novamente o pânico dentro de
Edward e, naquele momento, ele teve certeza do quão próximo
Steve Monroe esteve de machucar sua Amy.
“Você está realmente belíssima esta noite. Sempre disse que o
vermelho ficava perfeito em você, mas nunca acreditou em mim,
não é? Aproveite o resto de sua noite como se fosse a última, afinal,
nunca se sabe quando realmente será.”
31- Nunca me deixe ir.
Amy ainda estava parada no mesmo lugar.
Todo o seu corpo tremia, seu coração parecia querer romper
sua caixa torácica e ela sentia que poderia se desfazer exatamente
ali mesmo onde estava. Steve poderia tê-la pegado a hora que
quisesse no meio de toda aquela festa e ninguém teria sequer
percebido.
Ao seu lado, Edward olhava para todos os rostos possíveis, mas
do que adiantaria olhar tanto se todos estavam mascarados e ele
sequer sabia como era o rosto que tanto atormentava sua Amy?
Como se não bastasse o fato de que Vivian havia aparecido e
tentado envenenar América, agora havia o fato de que Steve
Monroe estava na festa de aniversário de Marie, e que ele esteve
tão perto de conseguir o que queria, que isso deixava Edward
atormentado e completamente apavorado.
— O que houve? – a voz de George anunciou a chegada do
patriarca da família.
O de cabelos castanhos claros estava realmente confuso
naquele instante, o estado quase catatônico de Amy era alarmante.
— Amy está bem?
— Não. – foi Edward quem respondeu.
Ele olhou para o pai, pedindo silenciosamente para que não
fosse feito um alarde sobre o estado de Amy, e entendendo o
pedido do filho o homem assentiu de forma positiva.
— Vamos levá-la para o seu antigo quarto – Marie sugeriu
enquanto pegava na mão de sua nora e notava naquele gesto o
quanto ela estava gelada.
— Claro – Edward anuiu, virando-se para Amy e tomando as
mãos geladas dela nas suas — Amy? – ele chamou e, com suas
mãos nas dela, ele sentiu o tremor que atravessou o corpo dela.
Os olhos de América estavam prestes a transbordar e, temendo
que ela desmaiasse ali mesmo, Edward se levantou e a tomou nos
braços, começando a caminhar para fora da tenda em direção a
casa, sem se importar com os olhares curiosos que alguns
convidados lançavam a eles.
— Vai ficar tudo bem… Você vai ficar bem, amor – ele
sussurrava calidamente com os lábios próximos ao cabelo dela,
enquanto Amy se agarrava a ele com tudo o que tinha.
Ela se sentia fraca e apavorada.
O gosto amargo do medo ocupava sua boca, mas ela não
conseguia se acalmar, ou buscar a sanidade. Sua mente estava
presa no passado e em todas as vezes que Monroe havia dito o
quão bem ela ficava de vermelho.
Ela quase conseguia sentir o gosto de sangue em sua boca.
Esse sempre fora o tom predileto de vermelho dele, e sempre
que ele elogiava a cor nela, Amy estava içada pelas cordas presas
aos mosquetões do “quarto de submissão” de sua mãe, inúmeros
hematomas vermelhos cobriam seu corpo, e alguns deles eram tão
cruéis que chegavam a sangrar.
Monroe sempre se aproveitava dos dias que Dianna – a mãe de
Amy – tinha que sair para as consultas médicas e dias de SPA.
Dianna sempre ficava por horas fora de casa nesses dias, e Monroe
se aproveitava disso.
Edward estava colocando-a na cama quando ela se apertou a
ele novamente, soluços baixinhos escapavam pelos lábios trêmulos
dela. Todo o corpo de Amy tremia, ela parecia gelada ao toque e
seu estado estava começando a assustar o Cage.
Ele se deitou ao lado de Amy, abraçando-a com cuidado,
esfregando suas mãos levemente nas costas dela, enquanto
murmurava coisas suaves e tranquilas para ela, na tentativa de
acalmá-la.
Edward tinha planos de apresentar seu antigo quarto para Amy,
mas tê-la em seus braços em meio a uma crise de pânico não era
algo que ele imaginava que faria no dia que isso acontecesse.
George entrou no quarto poucos minutos depois de Edward ter
se deitado ao lado de Amy e, ver sua nora naquele estado, fez gelo
correr por suas veias. Ele não sabia o que a havia deixado assim,
mas, por um breve resumo que Marie havia lhe dado, sabia que
tinha algo a ver com algo escrito no bilhete que ela havia recebido,
mas ele sabia, sentia, que havia muito mais coisas por trás disso.
Ele se aproximou calmamente da cama que seu filho e nora
estavam ocupando e parou próximo aos pés de Edward. Um suspiro
longo saiu pelos lábios de George, o que fez com que seu filho o
olhasse.
— Como ela está? – perguntou, olhando diretamente para uma
América praticamente encolhida contra o corpo de Edward.
Mesmo de longe, George conseguia ver o quanto ela tremia.
— Nervosa. – Edward respondeu sucinto, ainda afagando as
costas de Amy lentamente, que ainda soluçava baixinho — Acho…
que é uma crise de pânico.
— Você sabe que vai ter que me explicar o que houve, não
sabe? – ele inquiriu; a expressão séria e preocupada.
— Eu sei – Edward suspirou, abraçando um pouco mais Amy,
que tremeu em seus braços — Vou explicar, mas… pode chamar a
mamãe para olhá-la primeiro?
— Claro. – George respondeu e, logo depois, deixou o quarto
indo em busca de sua esposa no primeiro andar.
Ele sabia que havia muito mais por trás daquilo que Marie havia
lhe contado, e sabia também que ela sabia muito mais do que havia
contado a ele.
Marie tinha uma estranha relação com América, uma relação
fraternal extremamente forte, quase de mãe e filha, e isso fazia com
que Marie soubesse de mais coisas e, se ela achasse que isso
deveria ser mantido em segredo, ela não falaria nunca. Mas a
sensação que George tinha era que, mesmo Marie sabendo mais,
ela não sabia de tudo e isso era o que mais o deixava preocupado.
Ele não sabia exatamente tudo sobre América, mas gostava
dela e era extremamente grato a ela por ter trazido seu filho de volta
para o seio da família e mais agradecido ainda por ela amá-lo tanto
– ou ainda mais – quanto demonstrava.
-*-
No quarto, Edward continuava a abraçar Amy, que parecia
completamente presa em algum mundo de horror e muita dor. Ela se
encolhia contra ele e se agarrava tão forte quanto podia, e Edward
tinha certeza de que ela fazia isso quase de forma inconsciente.
— Amy, baby, por favor, fica calma – ele implorava baixinho,
sentindo um enorme bolo formando-se lentamente em sua garganta.
Edward estava apavorado.
Ele tinha medo porque não sabia o que fazer. Tinha medo por
seus pequeninos. Tinha medo por Amy e por toda a sua família.
Tinha medo porque não sabia do que aquele homem era capaz para
alcançar seus objetivos.
Mas, além do medo, Edward tinha ódio.
Ódio por tudo o que fora feito a sua Amy. Ódio pelo o que ele
estava tentando fazer. Ódio da mãe de Amy, que havia permitido
que a filha ficasse perto de um monstro como Steve Monroe, e que
nunca nem sequer pareceu perceber o que a filha sofria dentro de
sua própria casa. Tinha ódio de si mesmo por ter falhado tantas
vezes em manter América longe do ex-dominador de Dianna.
Ele se sentia impotente e fraco diante das coisas que estavam
acontecendo.
Mas tudo o que ele não podia sentir era a fraqueza, a
impotência diante de algo.
Estava mais do que na hora de fazer alguma coisa, e ali,
enquanto amparava América e aguardava Marie para examiná-la,
Edward planejava como iria encontrar e pegar o monstro que havia
feito tantas atrocidades a sua Amy. E, assim, que ele pusesse suas
mãos nele, talvez não sobrasse muita coisa para se contar uma
história depois.
-*-
Assim que George encontrou Marie, ele instantaneamente disse
que Edward precisava de sua ajuda com Amy e, quando ouviu isso,
Marie se desculpou com as pessoas que a rodeavam e seguiu,
primeiro pra seu quarto onde pegou sua maleta e seu celular – para
se comunicar com a médica de América caso fosse necessário usar
de alguma medicação – e, então, seguiu para o quarto que
antigamente seu filho do meio ocupava.
— Como ela está? – perguntou ao seu marido, que a
acompanhava em direção ao quarto de Edward.
— Nervosa. Muito nervosa. – ele disse e Marie soltou um
suspiro pesado, as feições se contorcendo em preocupação.
— Com toda a certeza eu vou precisar da ajuda da doutora
Webb. – ela disse pensativa, mexendo o telefone decidindo se
ligava ou não neste instante para o hospital em busca da médica —
Dê atenção aos convidados, querido – ela pediu ao virar-se para
George com um sorriso doce — Acho que vou demorar um pouco
aqui.
— Devo avisar a Paige e a Laurie? – George perguntou,
recebendo como resposta um acenar negativo.
— Elas não precisam saber agora… Tudo o que Amy não
precisa, nesse momento, é um alarde e pessoas em cima dela.
— Tudo bem. – George assentiu, depositando um rápido beijo
nos lábios de Marie, ele sorriu para ela e, logo depois, seguiu em
direção às escadas.
Assim que entrou no quarto de seu filho, Marie se deparou com
a mesma cena que George se deparara ao entrar ali pela primeira
vez naquela noite: Edward deitado ao lado de uma Amy
completamente abalada e assustada, que parecia estar em estado
de choque.
Notando a movimentação no quarto, Edward se virou
minimamente e viu que sua mãe agora fechava a porta do quarto.
Assim que ela o viu, um pequeno sorriso se abriu no rosto dela e ele
sorriu pequeno em resposta.
A preocupação e o estado em que Amy se encontrava não
permitiam que ele sorrisse da maneira que sua mãe merecia.
— Como ela está agora? – Marie perguntou enquanto se
aproximava da cama, parando próxima ao lado em que Amy estava
— George me disse que ela estava muito nervosa.
— Ela parou de chorar, mas ainda está tremendo – Edward
respondeu, olhando diretamente para Amy, que ainda estava
completamente agarrada a ele — Estou preocupado com os bebês
– ele sussurrou engolindo a seco em seguida.
Apenas por pensar que eles poderiam ter sofrido alguma coisa,
Edward já sentia seu peito doer.
— Ela estava muito…
— O que ela teve exatamente? – Marie perguntou, assumindo
um tom profissional.
Apesar de não ser exatamente a sua área, ela conseguiria ao
menos examiná-la com mais exatidão e repassar o acontecido à
médica de sua nora.
— Foi uma crise de pânico ou um colapso nervoso… eu não sei
direito, mãe…
A mulher suspirou pesadamente meneando a cabeça, sentindo
um gosto amargo em sua boca ao se lembrar da explosão do Angel
há um mês, onde não apenas Tyler, mas também sua nora e seus
netos quase morreram.
— O que havia naquele bilhete, Edward? – Marie questionou
apoiando sua maleta no espaço vazio do colchão e tirando dela o
que iria precisar para uma rápida avaliação — Tem algo a ver com o
que aconteceu no píer? – ela não conseguia sequer pronunciar.
Sentia medo de que as sensações retornassem ainda piores do
que fora no momento em que as sentiu.
— Tem tudo a ver, mãe – Edward respondeu com dor na voz.
— O que vocês não me contaram? O que vocês não contaram à
polícia?! – Marie questionou alarmada, sentindo todo o medo
começar a brotar.
— Agora não, mãe… por favor…
— Está bem – ela assentiu depois de um instante em silêncio —
Mas depois nós vamos conversar, está certo?
— Sim.
Marie se aproximou ainda mais de Amy, enquanto Edward
tentava se soltar dela da maneira mais suave possível, mas, antes
que ele pudesse sequer tirar a mão de América de seu pescoço, ela
se apertou ainda mais a ele chorando copiosamente.
— Por favor! – ela implorava em meio às lágrimas, encolhendo-
se ainda mais contra o corpo de Edward — Isso dói… por favor…
Pare…
América estava presa em uma realidade em que, toda a dor
física e emocional, todo o medo que ela havia sentido enquanto
esteve nas mãos de Monroe e todo o pavor de que agora esse
homem estava voltando para atormentá-la e fazê-la mal, estavam
explodindo ao mesmo tempo e ela não conseguia saber o que era
real ou não naquele momento.
Steve já havia feito contato outras vezes antes, esses contatos
muitas vezes quase tiraram sua vida ou a vida de seus pequenos
milagres, mas daquela vez… receber aquele bilhete e saber que ele
esteve tão perto dela e de toda a sua família era mais do que
perturbador.
Havia sido algo que a mente de América não havia aguentado
e, agora, todas as barreiras – que ela havia criado para conter o
pavor que muitas vezes quase a dominara – iam ao chão como se
fossem meras peças de dominó.
Ela ouvia a voz de Edward ao longe e sua parte ainda sã
tentava se agarrar com todas as suas forças à voz dele, mesmo que
ela não entendesse o que ele estava dizendo.
Amy se sentia sem chão e completamente apavorada, e quando
ela sentiu mãos em seus braços, mãos que não eram as de Edward,
o pavor foi tão grande em seu peito que a paralisou, o ar ficou preso
em sua garganta em um grito silencioso.
Seu coração parecia que iria explodir e a escuridão começava a
engolfá-la, mas ela não se sentia confortável nem aquecida ali. Ela
apenas sentia ainda mais pavor.
— Amy? – Edward chamou assim que percebeu a respiração de
América falhar — Amy? Por favor, Amy…
Edward se soltou dela rapidamente, sacudindo-a pelos ombros
e chamando-a, enquanto Marie molhava um pano com bastante
álcool e, logo depois, levava até o rosto de América para que ela
aspirasse o cheiro forte.
Ela tossiu por alguns segundos e, quando abriu os olhos, não
reconheceu onde estava, mas reconheceu e muito bem as duas
pessoas que a cercavam. Uma a fitava curiosa e cheia de
preocupação nos olhos; a outra também a olhava com preocupação,
mas além desse sentimento, havia uma conflituosa torrente de
outros sentimentos ali.
— Você está bem? – foi a voz de Edward que quebrou o silêncio
presente no quarto.
Amy levou os olhos diretamente para ele e, depois de um
suspiro, ela balançou a cabeça em negação, comprimindo os lábios
e piscando rapidamente os olhos, na tentativa quase falha de
afastar a nova torrente de lágrimas.
— E os bebês? Acha que eles estão bem? – o tom de pânico e
preocupação era evidente na voz do homem ao seu lado.
Amy mordeu o lábio inferior, franzindo o cenho enquanto,
instintivamente, levava as mãos ao ventre ainda minimamente
inchado.
Ela tentava senti-los, mas ela tinha certeza de que naquele
momento eles estavam tão assustados quanto ela.
— Eu não sei… – sua voz não passou de um sopro quase
inaudível.
— Amy? – Marie chamou, tendo a atenção da morena em si
logo depois — Você sente alguma dor ou desconforto que indique
que eles não estejam bem?
— Não – respondeu balançando a cabeça em negação — Eu
me sinto dormente…
— Vou levar você ao hospital. Agora. – Edward pontuou,
enquanto se levantava da cama e dava a volta na mesma, passando
por sua mãe e parando ao lado de América, pegando-a em seus
braços no instante seguinte.
Nem Marie e nem América discutiram a decisão dele, e tudo o
que Amy fizera fora se deixar levar por Edward, enquanto Marie os
acompanhava de perto.
— Peça ao seu pai ou ao Josh para levá-los – Marie pediu a
Edward, ela sentia que no estado em que seu filho se encontrava
não seria bom que ele tomasse o controle de um carro.
— Vou pedir – ele respondeu, logo depois de terminar de descer
as escadas e ir em direção a sala de estar completamente vazia,
colocando Amy deitada no maior sofá — Fica com ela enquanto vou
buscar um dos dois?
— Claro…
Assim que ouviu a resposta da mãe, Edward tocou rapidamente
os lábios de Amy com os seus e saiu praticamente em disparada em
busca de seu irmão mais velho ou de seu pai.
-*-
Observando as coisas de longe, o homem carregava uma
expressão vitoriosa no rosto amargo marcado pelo tempo.
Os olhos escuros carregavam um cintilar cruel e sádico,
enquanto fitava atentamente a figura que se aproximava dele,
carregando outra pessoa completamente desmaiada nos braços.
Havia sido difícil trazê-la consigo, em vista que a pessoa não
estava sozinha, mas, agora, que ele a tinha para si, ele teria um
enorme prazer em fazê-la sofrer.
— Você fez um bom trabalho, garoto – o homem dos olhos
escuros comentou, assim que a sua pequena encomenda já estava
acomodada no banco traseiro de seu carro.
— O senhor pagou bem, senhor Monroe.
Ele sorriu aberta e sadicamente para o jovem segurança que o
encarava com um brilho ganancioso no olhar.
— Volte para a festa, garoto, e faça o seu teatro.
-*-
Edward acabou não tendo que procurar muito, pois George se
dispôs imediatamente a ajudar o filho, pedindo que ele fosse buscar
sua noiva e que a levasse para a garagem, onde ele estaria
esperando já com o carro ligado e pronto para saírem.
Assim que Edward chegou à sala de estar, ele estacou no
mesmo lugar.
Seu sangue gelando em suas veias e o coração pulsando como
louco dentro do peito.
O que ele mais temia havia acontecido.
Marie estava desmaiada no chão, próxima ao sofá e América
não estava onde deveria estar…
Ela não estava em lugar algum.
32- Sua dor.
Assim que Edward beijou seus lábios e saiu, Amy encarou
Marie – que a fitava completamente preocupada, mas em seus
olhos havia muito de medo e curiosidade.
Havia tanta curiosidade que ela mal podia disfarçar.
Amy sabia que devia explicações a todos, principalmente à
Marie, que a tratava como se Amy fosse realmente sua filha.
— Não me contou tudo, não é? – Marie questionou em tom
baixo e suave, enquanto se sentava na beirada de sua mesinha de
centro, ficando assim de frente para sua nora.
Em outro momento, a simples ideia de alguém colocar os pés ali
a faria surtar, mas, agora, ela se encontrava sentada ali, encarando
sua nora e esperando que ela fosse sincera e que, desta vez,
falasse toda a verdade.
— Não – a voz de Amy foi fraca e rouca ao responder, mas,
ainda assim, cheia de sinceridade e emoções turbulentas.
— E o que vocês não me contaram, querida?
Amy respirou fundo numa tentativa quase falha de represar
suas lágrimas nervosas e apavoradas.
Cheias de verdades não contadas.
Amy se lembrou de Marie e do estado em que ela ficara quando
haviam decidido contar parte da verdade, por trás de tudo, para ela
e George. Amy não havia conseguido contar e, desta forma, ficara a
cargo de Edward contar, ela apenas conseguira ficar como
observadora dos fatos.
Isso foi logo depois da explosão do Angel. Tanto Amy quanto
Edward sabiam que eles precisavam de uma verdade para poderem
se manter a salvo e seguros. Mas vendo o que acontecera hoje…
Era um alívio para Amy que apenas ela tenha sido afetada.
— Quando eu disse a você… lá em Breckenridge, que a culpa
era minha – Amy engoliu a seco, mordendo brevemente o lábio
inferior antes de continuar — Eu falava sério…
— Amy… não tem como a culpa ser sua! Os investigadores
disseram… Foi a ação de uma pessoa cruel e fanática, que estava
culpando o…
— Não. – Amy a interrompeu — Não houve investigadores. Não
houve polícia. Foi sim a ação de uma pessoa cruel e fanática,
completamente louca e perturbada, mas ninguém estava culpando o
Edward por nada. O que realmente aconteceu foi que…
Mas, infelizmente, Amy não conseguiu terminar de falar, um dos
seus seguranças apareceu por trás de Marie e ele parecia
preocupado e atento a todos os lados e movimentos que, para Amy,
pareciam inexistentes.
— Ei… tudo bem? – Amy questionou, olhando por sobre o
ombro de Marie para o segurança parado atrás dela, o que fez com
que sua sogra se virasse e também passasse a olhá-lo.
Amy tentava a todo o momento não se perguntar se Monroe não
estava por perto.
— Claro – ele respondeu em tom profissional — O senhor Cage
me mandou para cuidar das senhoras – ele explicou e se aproximou
alguns passos — Precisam de alguma coisa? Um pouco de água
talvez?
Marie negou e, logo depois, se virou para sua nora,
questionando-a com o olhar se ela queria algo.
— Um copo de água. Eu iria gostar.
— Certo – ele respondeu seriamente e, logo depois, se virou
para Marie — Onde fica a cozinha, senhora Cage?
— Pode deixar q…
— Não, por favor, eu mesmo posso fazer isso – ele a
interrompeu, e após um suspiro resignado, Marie o disse onde
ficava a cozinha e o segurança seguiu para lá.
Quando ele voltou com o copo, entregou-o diretamente a
América que o verteu completamente em goladas calmas e
pequenas.
Parecia que ela estava testando a água e ele se questionou
internamente se era possível notar alguma diferença.
Assim que Amy terminou, ele pegou o copo e o levou
rapidamente até a cozinha. Logo os remédios fariam efeito e ela
estaria dopada demais para saber o que estaria acontecendo com
ela ou com qualquer pessoa ao seu redor.
E, então, seria fácil distrair a outra.
Steve não queria que houvesse sangue desnecessário sendo
derramado. Então ele faria um bom trabalho.
Em sua mente, ele repassava o plano que havia montado no
decorrer dos meses desde que fora contratado para fazer parte da
equipe de segurança privada do magnata Edward Cage. Entrar na
casa, ganhar a confiança e se manter sempre à margem das coisas
e dos acontecimentos. Conseguir telefones e senhas,
principalmente.
Um trabalho nunca pareceu tão fácil para ele, mas, depois que
entrara, descobriu o quão difícil poderia ser tirar qualquer coisa dali.
E, agora, ele estava tendo a oportunidade perfeita para finalizar o
que havia sido contratado para fazer.
De seu bolso tirou uma pequena garrafa e um lenço, o qual ele
embebeu com o conteúdo da garrafa. O caminho de volta para a
sala foi feito com pressa, enquanto ele ainda molhava o pano com
ainda mais do líquido.
Marie estava de pé ao lado de uma América completamente
grogue e tonta, que a olhava como se ela estivesse se movendo em
câmera lenta. Algo estava errado, Marie sabia disso, mas, antes que
ela pudesse sequer pensar em se mover para chamar por Edward,
ou qualquer um que estivesse por perto, ela foi agarrada por trás e
sua boca e nariz foram cobertos por um pano que exalava um forte
cheiro.
Ela sabia o que era aquilo: clorofórmio.
Uma quantidade muito grande e bastante forte estava
pressionada contra seu rosto. Marie sabia que tinha que tentar se
soltar, mas quanto mais esforço para se soltar ela fazia, mais o
cheiro adentrava em suas narinas e a fazia ficar fraca e dormente,
completamente imóvel.
— Quietinha – a voz masculina sussurrou contra seu ouvido e
ela, em meio a toda aquela nuvem de torpor que a estava cegando
aos poucos, reconheceu a voz daquele que falava com ela e, antes
de perder completamente os sentidos, ela se agarrou ao nome do
segurança que seu filho havia contratado.
Ela não iria esquecer.
Não podia esquecer.
Ele colocou Marie no chão próxima ao sofá e, assim que o fez,
deixou-a lá e se virou para América, que tentava inutilmente se
levantar do sofá em que estava deitada e, então, se afastar para o
mais longe que pudesse.
Em sua mente, ela gritava por ajuda.
Chamava por Edward.
Chamava pelos seguranças, por qualquer um. Mas sua boca
não parecia querer cooperar com ela e nem parecia se mexer. Tudo
ao seu redor rodava rápido demais, mas seus movimentos pareciam
terrivelmente lentos em direção a sua turva e turbulenta rota de
fuga.
Em seu campo de visão, seu segurança apareceu, mas ela não
se sentiu aliviada. O pavor correu solto por suas veias e piorou no
momento que ele a pegou nos braços e começou a andar com ela
para longe.
— Era você… – a voz dela estava estranha, como se ela
estivesse bêbada, ela falava baixo e enrolado — O tempo… todo …
você…
América estava completamente fraca, e antes mesmo que ela
pudesse tentar reunir o restante de suas forças, ela se viu engolfada
pela escuridão e por um súbito cansaço.
Dormir parecia fácil e rápido para ela naquele instante, por mais
que ela não quisesse isso.
[…]
Edward estava despedaçado.
Toda a festividade em comemoração ao aniversário de sua mãe
havia acabado para ele e para toda a sua família.
De uma forma muito pior para ele do que para o restante das
pessoas.
Ele se sentia sufocado.
Seu peito doía e sua cabeça parecia prestes a explodir,
tamanha a dor que se espalhava por ela. Tudo o que se passava em
sua cabeça eram imagens de sua Amy sofrendo nas mãos de um
monstro.
As cenas e fotos das torturas que Steve havia infligido a
América, quando ela ainda era apenas uma garotinha, ficavam se
repetindo em sua cabeça e muitas vezes a garotinha era substituída
pela mulher que ela havia se tornado. Uma mulher grávida e que,
com toda a certeza que havia nele, não merecia isso.
A festa continuava a acontecer do lado de fora da casa, não por
sua vontade, é claro, mas ele sabia que precisava que todos os
convidados permanecessem ali para serem interrogados.
Seu pai havia comunicado a polícia assim que entendeu o que
estava acontecendo.
George encontrou com um Edward completamente
desesperado e furioso, andando de um lado para o outro com o
telefone pendurado no ouvido, praguejando para todos os lados.
Seu desespero foi maior no momento que ele viu sua esposa
deitada no sofá, completamente desacordada.
E, agora, tudo o que George conseguia ver em seu filho era a
desolação e o pânico.
A dor e desespero que emanavam de Edward eram
contagiantes e George não sabia o que poderia fazer para ajudar
seu filho. Tudo o que ele podia fazer, no momento, era rezar e
implorar para que Amy estivesse bem e que tudo terminasse bem.
Confiar no trabalho da polícia seria necessário.
-*-
Nolan Barnes, após trabalhar por um longo período de sua vida
como segurança e motorista particular de uma rica e rígida família
dos EUA, se tornou um renomado detetive da polícia de Seattle.
Um dos dez melhores de toda a Washington.
E, agora, na conhecida mansão dos Cage – quase dez anos
depois de ter se tornado policial – ele coloca à prova toda a sua
capacidade e experiência ao começar a trabalhar no caso do
sequestro da noiva de Edward Cohen Cage.
Ele havia feito questão de estar à frente das investigações e
buscas.
Para Barnes, este caso não era apenas especial, era um caso
pessoal, afinal, ele conhecia a vítima e, se ele estivesse certo sobre
seu principal suspeito, o melhor era agir o mais rápido possível ou
poderia ser tarde demais.
Ele entrou na sala da casa dos Cage e a primeira coisa que
notou fora o homem desolado, sentado em um dos sofás de dois
lugares ali presentes.
Imediatamente, Nolan tomou que aquele homem seria Edward
Cage e, sem muitas delongas, se aproximou do mesmo, notando –
enquanto adentrava ainda mais no local – que o homem não estava
sozinho. No maior sofá estavam aqueles que Barnes supôs serem
os pais de Edward: Marie Cage e George Cage.
A mulher se encontrava deitada no maior sofá, completamente
desacordada, mas pelo movimento ritmado do tronco dela, Nolan
sabia que: ou ela havia desmaiado ou havia sido dopada por quem
havia levado América.
— Senhor Cage? – chamou, olhando diretamente para Edward,
mas quem se moveu para olhá-lo foi George.
— Pois não? – George questionou, olhando diretamente para o
homem parado a poucos passos de si.
Apesar de estar olhando apenas para o homem parado a sua
frente, Nolan Barnes se mantinha atento a qualquer movimento que
parecesse diferente dos que estavam ocorrendo ali.
— Sou o detetive Nolan Barnes. – Nolan começou — Estou
encarregado de cuidar do caso de sua nora. Eu e meus parceiros e
demais policiais faremos de tudo para a encontrarmos o mais
depressa possível. – garantiu, e George sentiu a veracidade nas
palavras do detetive.
— Claro… e suponho que já tenha perguntas para nos fazer,
estou certo?
— Correto. – os olhos rápidos e astutos do detetive se voltaram
para Edward, que agora também o observava, de cenho franzido e
curiosidade mesclada a todo o sofrimento que Barnes tinha certeza
pelo qual o Cage estava passando — Eu gostaria de falar primeiro
com o seu filho. Teria algum lugar mais privado onde eu possa
começar a minha parte do trabalho, enquanto meus homens e a
perícia avaliam o resto do local?
— O meu escritório. – George respondeu solícito — Edward…
vá com o detetive Barnes, eu cuido das coisas aqui e respondo o
que me for possível.
Edward assentiu levemente antes de se levantar e seguir para o
escritório de seu pai com Nolan Barnes em seu encalço.
O detetive observava a tudo com atenção e tentava absorver
todos os detalhes do lugar e das pessoas que, sutilmente,
caminhavam do lado de fora, ainda participando da festa que
continuava acontecendo. Havia sido uma boa jogada dos Cage para
manter o máximo de pessoas ali, isso Nolan tinha que admitir.
Assim que eles entraram no escritório, Barnes se movimentou
brevemente pelo lugar, estudando-o, enquanto Edward fechava a
porta após passar por ela e, mentalmente, tentava se preparar para
o interrogatório que enfrentaria a seguir.
Em seu subconsciente, Edward tinha certeza de que já havia
ouvido aquele nome alguma outra vez em sua vida, mas, diante de
tudo o que estava acontecendo, ele não conseguia se concentrar
muito para se lembrar disso.
— Como conheceu a sua noiva, senhor Cage? – Barnes
questionou, olhando diretamente para o Cage, que ainda se
mantinha de costas para ele, encarando e se mantendo apoiado na
porta que os mantinha isolados dos demais.
Edward imediatamente ficou tenso, mas, por mais que estivesse
tentando disfarçar, ele sabia que o detetive havia notado sua
pequena reação de pavor.
— Ora, vamos, senhor Cage – o tom na voz de Barnes era
quase brincalhão, mas Edward sabia que o mesmo estava apenas
sendo irônico e tão profissional quanto possível diante de toda a
situação — Se eu estiver certo sobre o que o senhor é, não vai
precisar mentir para mim sobre como conheceu a senhorita América
Lawson.
Um alerta soou na mente de Edward e ele imediatamente se
virou para Barnes, que o encarava com olhos astutos e analíticos.
Nolan Barnes, a seu ver, era quase uma raposa e isso colocava
Edward nervoso.
— O que eu sou? – repetiu confuso — O que quer dizer com
isso, detetive?
— Dominador. É isso o que eu quero dizer, senhor Cage. –
Nolan lançou seco e direto.
Para ele não importava se a família Cage em geral não
soubesse disso, Barnes sabia que a única forma de aquele homem
à sua frente ter entrado em algum tipo de relacionamento com
América seria pelos meios tradicionais e específicos da família dela.
Não havia a possibilidade de ela ter fugido e conseguido se
livrar das “amarras” de sua família, ele sabia que não, porque
América já havia tentado e não havia conseguido viver
“normalmente” por muito tempo.
— E, se eu estou certo, como sei que estou, o senhor a
comprou e, agora, que ela fugiu, o senhor está fazendo esse alarde
todo.
Barnes sabia que brincar daquele jeito poderia ser perigoso,
ainda mais pela forma que ele encontrou o Cage assim que chegou,
e, principalmente, pela raiva injetada, que agora ele via pulsar nos
olhos cinza-tempestade do homem naquele instante.
— Eu não sou isso. Não sou mais – Edward disse com repulsa
na voz; a raiva emanando de seus poros — há muito tempo. E não
pretendo voltar a ser. Se você está, de alguma forma, insinuando
que eu tenho algo a ver com o sequestro da minha noiva, lamento te
desapontar, mas está completamente enganado.
— Senhor Cage, vou ser sincero com o senhor – Barnes diz
sério, caminhando lentamente até a cadeira de George e se
sentando nela antes de continuar — Eu conheço a América, e eu sei
que ela nunca ficaria numa vida como essa… de submissa… por
livre e espontânea vontade. Então, também seja sincero comigo,
senhor Cage, e me fale a verdade.
— De onde a conhece? – Edward questionou, ignorando
completamente a brecha que Barnes havia dado a ele para contar a
“verdade” que ele queria ouvir.
— A questão aqui não…
— De onde a conhece?! – rosnou, avançando na direção da
mesa de seu pai e espalmando as mãos com força contra o tampo
da mesa, emitindo um som oco e seco, mas extremamente alto.
Barnes respirou fundo e exalou o ar com força pelo nariz antes
de responder.
Ele não gostava de se lembrar daquela época.
— Eu trabalhei como motorista particular para os Lawson antes
de me tornar policial. – respondeu direto, olhando de forma
impaciente para os olhos tempestuosos e furiosos do homem a sua
frente — Agora, é a sua vez. A verdade, senhor Cage.
— Se realmente a conhece desde essa época, sabe qual é a
verdade. – Edward disse em tom baixo, mas ainda furioso.
Cada segundo ali era um segundo a menos que Amy tinha.
— Steve Monroe é a verdade, detetive.
Nolan se inclinou para frente, apoiando os braços na mesa e
entrelaçando os dedos.
O brilho nos olhos dele denunciava à Edward que ele finalmente
havia chegado ao ponto em que Barnes queria.
Aquilo deixou o Cage confuso por alguns breves segundos,
fazendo-o se questionar os motivos que levaram o detetive a acusá-
lo daquela forma. Mas foram apenas, realmente, alguns breves
segundos, pois logo ele havia entendido.
Havia sido necessário apenas ligar os pontos.
Nolan Barnes conhecia Amy e sabia como ela era, e,
principalmente, sabia que ela não confiaria seu medo e segredo
mais doloroso a alguém do qual ela iria querer fugir.
Nolan Barnes conhecia o desejo pela vida normal que América
tinha, e isso ele usou como uma arma.
Edward Cage agora era confiável e Nolan agora sabia que
aquele homem faria qualquer coisa para manter Amy a salvo e
segura. Ele conseguia ver a desolação, que estava habitando o
homem à sua frente, por ter falhado.
— Conte-me tudo o que sabe sobre Steve Monroe, senhor
Cage.
-*-
Tyler Ford estava confuso e frustrado.
Ele tinha certeza de que havia deixado Ward e Kyle tomando
conta da segurança das entradas da mansão junto de toda uma
equipe perfeitamente preparada para qualquer coisa, porque ele
mesmo ainda não podia fazer isso e apenas estava ocupando a
função de segurança chefe.
E, agora, América Lawson fora levada de dentro da casa, bem
debaixo do nariz de todos.
Ford apenas queria entender o que estava acontecendo.
Principalmente porque além de Amy, dois dos seus também
havia desaparecido.
— Eu não quero saber se as pessoas vão desconfiar ou não,
Richards! – Tyler rosnou furioso, sentindo o sangue começar a subir
para sua cabeça com extrema velocidade — Eu quero que o
encontrem! Um homem daquele tamanho não pode desaparecer
assim!
— Eu sei, senhor. – Richards respondeu pelo rádio, enquanto,
mais uma vez, fazia suas buscas pela casa e por todos os buracos
onde o segundo segurança no comando poderia ter se enfiado —
Mas eu n- Espere um instante. – Richards pediu no momento que
passou por uma das portas da parte mais interna da casa.
— O que houve, Richards? Onde você está? – Tyler questionou
quando o segurança fez silêncio por tempo demais.
— Eu acho que acabei de encontrar o Ward. – declarou e o som
de espanto presente na voz do homem, fez o sangue gelar nas
veias de Tyler.
Nada de bom poderia vir daquilo.
-*-
A cabeça dela pendeu para frente, o que a fez despertar
assustada e desnorteada.
Havia um gosto amargo em sua boca e todo o seu corpo
parecia mais pesado do que realmente é. Sua vista continuava
levemente embaçada e sua cabeça parecia presa à roda de um
carro em movimento, de tanto que rodava.
Amy sentia que iria desmaiar em breve, a qualquer momento
possivelmente, mas ela sabia que tinha que se manter acordada, ao
menos para tentar se situar do lugar onde provavelmente estava.
Conseguia escutar vozes ao longe, mas não conseguia
entender direito o que as pessoas falavam, apenas tinha certeza de
que uma das pessoas era uma mulher. Com seus olhos embaçados,
ela não conseguia enxergar muito bem na penumbra que cobria o
lugar onde estava.
Ela tentou se focar no que as pessoas falavam e atenuar seus
sentidos dopados para entender o que era dito. Mas quanto mais
esforço ela fazia, mais parecia que tudo estava voltando a
adormecer e, antes de voltar à inconsciência novamente, Amy
conseguiu captar três palavras que deram a ela o alívio
momentâneo que ela precisava.
Bebês.
Estão.
Bem.
Isso era tudo o que ela precisava saber naquele momento, no
meio de tantas coisas, isso era o mais importante para ela.
-*-
— O celular de América não estaria com ela, certo? – Barnes
questionou a Edward depois dos vários minutos que ele havia
passado contando como Monroe havia dado início ao seu ataque.
— Não. Estava na bolsa dela que ficou em cima da mesa, no
meio da festa. – Edward suspirou pesadamente, passando as mãos,
de forma nervosa e tensa, pelos cabelos já bastante castigados. —
Eu ainda não consigo entender… Toda essa motivação dele.
— Não somos psicólogos, nem coisa parecida para
entendermos a mente de um doente, senhor Cage, nem as
motivações de um – Barnes responde, ajeitando seu casaco no
corpo — Mas em Monroe… o ódio e a dor são grandes
combustíveis para ele.
Edward sentiu seus olhos arderem e as lágrimas começarem a
se formar novamente.
O aperto em seu peito perece se intensificar a cada vez que ele
respira.
— América está grávida… – Edward sussurra, sentindo o gosto
amargo do medo em sua boca; o pânico quase o consome e ele se
sente como há muito tempo não se sentia: perdido e sem saber o
que fazer; completamente refém do medo e da impotência — Tem
que ser encontrada rápido, se algo…
— Grávida?! – Barnes questiona, parecendo descrente e
alarmado, e recebe como resposta apenas um acenar positivo de
cabeça — Droga! – Nolan rosna e sai praticamente correndo do
escritório em que estava com Edward, mas, antes mesmo de chegar
ao corredor, ele dá de cara com um homem completamente trajado
em um terno preto e formal: um dos seguranças pessoais da família,
Barnes supôs no mesmo instante.
Edward aparece logo atrás de Barnes e olha com confusão para
seu segurança mais antigo, e amigo.
— Tyler? – questiona-o e Tyler desvia seu olhar de Barnes para
fitar seu patrão após o silêncio que prossegue o seu nome.
— Senhor Cage, nós temos um problema.
-*-
América estava quase acordada quando um forte tapa foi
acertado em seu rosto, fazendo-o virar para o lado com rapidez e
brutalidade.
Ela sentiu o gosto do sangue em sua boca, e um gemido de dor
ecoou por sua garganta.
Sua cabeça pendeu para frente e para trás, antes de ela
conseguir estabilizar um ponto fixo em seu equilíbrio. Ela sentia tudo
rodar à sua volta, sua boca estava seca e sua visão turva – porém,
ela podia ver que o lugar não estava mais tão escuro quanto antes –
e sua audição estava melhor do que da primeira vez que acordara.
Mais tapas foram acertados em seu rosto, eles vinham rápidos e
com força mínima, como se fossem usados para trazê-la de volta,
até que a mão que lhe batia agarrou seu cabelo e o puxou com
força.
Sua visão foi lerda em direção a imagem que se formava no
canto de seus olhos.
Mas, infelizmente, ela não precisava olhar para saber quem era
que lhe tocava e agredia. Ela conhecia a aspereza daquelas mãos
como ninguém e duvidava que até mesmo sua mãe conhecesse a
real capacidade de Steve Monroe de machucar alguém.
América sabia. Ela conhecia isso dele e, para sua dor, Nicolas
também havia provado da fúria e ódio inexplicáveis de Monroe.
Naquele momento, ela quase conseguia sentir o ardor e dor da
lâmina entrando em sua carne novamente e isso a fez estremecer.
Lembrar dos momentos ruins que passara nas mãos de Monroe
era horrível para ela e era ainda pior quando o astro principal de
seus piores pesadelos estava parado na sua frente.
— Hora de acordar, doçura. – a voz dele chega aos seus
ouvidos e ela é áspera e fria, enchendo o peito de América de medo
e asco — Sentiu saudades, doçura?
Em resposta, ela cospe na direção dele, acertando-o no rosto e
manchando a pele branca e cheia de traços da idade de vermelho
vivo.
O sangue que estava em sua boca agora colore o rosto cruel do
homem a sua frente, que abre um sorriso tão sádico e frio quanto
seu coração.
— Tsc. Você não deveria ter feito isso, doçura – ele diz baixo e
cortante, afastando-se lentamente dela, enquanto limpa a sujeira de
seu próprio rosto com a manga de sua camisa — Sua sorte é que
eu te quero viva – diz isso olhando dentro dos olhos de América e,
logo depois, para o ventre minimamente pontudo dela.
— Nos meus filhos você não toca – ela rosna para ele, odiando
o fato de estar amarrada e não poder se defender e defender seus
pequenos milagres.
— Será que não? – o olhar de Steve é maníaco e faz todos os
pelos do corpo de América se arrepiarem — Depois que eu matar o
seu amado Cage, quem vai procurar por você, hein? A família dele?
Sua mãe? Quem vai te procurar se vão estar todos culpando você
por isso?
Ela sente os olhos arderem pelas lágrimas que começam a se
formar em seus olhos, mas não se permite chorar, não na frente
dele.
A dor que sente em seu rosto e em seu coração é enorme.
O medo corre por suas veias de forma acelerada, e tudo o que
ela consegue pensar é que deve se manter bem pelos seus bebês e
por Edward.
Pensar nele apenas fazia sua dor aumentar. Imaginar o quanto
ele estaria sofrendo e se culpando por ter falhado em protegê-la.
Mas como ela ou Edward poderiam saber que havia um traidor entre
eles?
Aquele calhorda havia feito um bom trabalho em esconder quem
ele realmente era e seus reais propósitos ao se aproximar de
América e se passar por um bom e prestativo segurança. Ela o
odiava com todas as suas forças no momento, e o odiaria ainda
mais caso alguém dos Cage, de sua família, fosse ferido.
— Own… acho que magoei você – Steve diz, contorcendo o
rosto em uma expressão quase convincente de pesar, mas logo ela
é substituída por mais um de seus sorrisos sádicos e cruéis — Mas
isso não importa porque você tem consulta com o médico agora.
Doutora? – ele eleva a voz, fazendo Amy franzir o cenho em
confusão até que a figura conhecida surge em seu campo de visão.
Um ofego escapa pelos lábios de América, que não consegue
acreditar no que vê.
— Kelly? – ela pergunta descrente, sentindo seu cérebro ainda
confuso começar a dar voltas e mais voltas novamente.
Primeiro seu segurança e, agora, sua médica dava as caras ao
lado de Monroe?!
O que mais faltava?
A doutora Webb se aproximou a passos largos e cuidadosos de
América, que continuava a encará-la como se ela fosse um ser de
outro planeta. E, talvez, Amy estivesse certa.
— Cuide dela e bico fechado. Nada de gracinhas, entendeu? –
Monroe ameaça, olhando diretamente para a médica, que acena de
forma positiva com a cabeça — Você não quer ter que pagar caro
por um erro bobo, quer? – em resposta ele recebe um aceno
negativo e o sorriso sádico mais uma vez aprece no rosto dele —
Ótimo.
E, então, ele vira as costas e deixa as duas sozinhas.
— Me desculpe – ela desenha com os lábios em direção a
América, o que a deixa ainda mais confusa — Ele pegou meus filhos
– ela sussurra e essa revelação faz o peito de Amy se apertar em
ainda mais dor e pavor.
-*-
George havia acabado de desligar o telefone.
Ele havia conseguido, com a ajuda de Edward, o número do
telefone do pai de América, e, naquele momento, ele havia acabado
de contar a Nicolas Lawson que sua filha havia sido raptada e,
enquanto falava com o ele, George conseguia sentir em seu
coração a dor e o medo nas palavras de Nick, e isso apenas
confirmou suas suspeitas de que havia realmente muito mais por
trás de tudo o que estava acontecendo, e George queria respostas.
Ele olhou para sua esposa deitada no sofá ainda desacordada e
se martirizou por, em nenhum momento, ter pensado em acordá-la
ou buscado uma forma de fazer isso. No momento em que se virou
para ir em direção ao banheiro atrás de algo para fazer isso, o som
alto de uma golfada de ar o fez parar e, quando ele se virou, Marie
havia acabado de despertar e ele praticamente correu até ela.
Marie olhava para todos os lados e respirava como se houvesse
acabado de emergir do fundo do mar, depois de um longo tempo
sem respirar. Ela sentia que deveria se lembrar de alguma coisa,
isso estava gravado no fundo de sua memória e, então, seus olhos
focalizaram George e, logo atrás dele, ela viu homens vestidos em
roupas de policiais e em ternos escuros.
Foi então que tudo voltou, tão rápido como em uma batida de
carro, mas ela ainda sentia que faltava alguma coisa.
— O segurança – ela sibilou, olhando diretamente para George
que agora estava ajoelhado ao seu lado.
— Segurança? Que segurança, amor? – ele questionou
confuso, segurando na mão dela e acariciando seus cabelos
levemente, como se ela houvesse acabado de acordar de um
pesadelo.
— Um dos seguranças da Amy. Foi ele…
— Qual, querida?
— Onde ela está?! Onde? – a voz elevada e desesperada de
Paige irrompeu pelo ambiente, impedindo Marie de dar sua
resposta.
George ergueu a cabeça e encontrou sua outra nora entrando
pela sala.
A noiva de seu filho mais velho não parecia nada bem, quase a
ponto de desmaiar e atrás dela vinham Josh, Laurie e Liam – o
namorado de sua filha e primo de Paige.
Josh tentava conter a noiva, mas a mulher mal parecia notá-lo
perto dela.
Dois policiais apareceram e barraram – ou pelo menos tentaram
– a passagem de Paige e dos outros familiares.
Os olhos de George cruzaram com os de Paige e ele teve pena
dela, por causa de toda a dor que estava estampada ali.
— George… Cadê a Amy? – ela perguntou em lágrimas e
completamente desestabilizada.
Logo atrás dela, Laurie também não parecia estar em um dos
seus melhores momentos, mas tentava se controlar enquanto era
amparada pelo namorado.
George olhou para Marie, que chorava baixinho e timidamente
ao seu lado. Ela tremia e George tinha certeza de que ela estava tão
assustada que mal podia se controlar.
Ele se levantou e se aproximou de onde seus filhos e genros
estavam, afastando os policiais ao dizer que eles eram da família.
Ele se aproximou de Paige, enfiando as mãos nos bolsos e
soltando um longo suspiro. Estava se sentindo como se estivesse
falando novamente com o pai de América, mas por telefone tinha
sido bem mais fácil do que olhando nos olhos, do que parecia ser –
além dos Cage – as únicas pessoas que se importavam de verdade
com Amy.
— Como você soube? – ele questionou baixinho, sem saber
muito bem o que falar.
— Eu recebi uma mensagem – um gemido de dor escapou
pelos lábios dela enquanto ela levava a mão à boca, em uma
tentativa vã de conter o choro — Tinha… tinha duas fotos dela a-
amarrada – os soluços irrompiam e quase a faziam convulsionar,
Josh se aproximou ainda mais dela, tentando acalmá-la da melhor
forma que ele poderia.
Ele se sentia de volta à quando Paige havia perdido o bebê e
tudo o que ela conseguia fazer era chorar e se lamentar, enquanto
se culpava pelo o que tinha acontecido.
— Uma… de quando ela ainda era n-no-nova e tinha sangue
e… e-e-e-e a o-o-outra de agora… com o m-m-mesmo vesti-do de
hoje…
— Você recebeu uma mensagem?! – George questionou
descrente; um fio de esperança surgindo dentro de si.
— Uhum. – Paige acenou positivamente com a cabeça, ainda
lutando para conter as lágrimas e o pavor que corria por suas veias
— O que fizeram com ela?
— Eu não sei – George respondeu sincero; sua mente
trabalhando em tudo o que Paige e Marie haviam dito — Josh, fique
com ela e, Laurie, querida… – ele disse olhando para a filha que,
assim que o ouviu, correu para seus braços, o abraçando.
— O que aconteceu?
— A Amy foi sequestrada, querida…
— Aqui dentro?! Como… como isso aconteceu? E o Edward?
Deus!
— Eu ainda não sei como, mas eu preciso ir falar com o detetive
agora, está bem? – Laurie acena positivamente, com seu rosto
escondido no peito do pai — Cuidem delas, rapazes – ele diz
recebendo respostas positivas deles — Querida, sua mãe está ali no
sofá, por que você e Paige não ficam com ela, hm?
— Tá bem.
Laurie se afastou e, assim que ela o soltou, George foi atrás de
Nolan Barnes.
-*-
Edward não acreditou na imagem que estava diante de seus
olhos.
— Ele está vivo? – questionou em um fio de voz ao perito que
estava abaixado ao lado do corpo de Ward, corpo este que tinha
bastante sangue espalhado pelas roupas.
— Está, mas ele precisa ser levado para o hospital
urgentemente ou essa condição pode não durar por muito tempo.
No mesmo instante em que o perito terminava de falar, George
surgiu no corredor em que Edward, Tyler, Nolan e mais um dos
seguranças do staff de seu filho estavam. Ele se aproximou deles e,
assim que seus olhos recaíram sobre o corpo ensanguentado de um
homem, George se sentiu paralisar.
— O que houve com ele?! – ofegou, esquecendo por breves
instantes o que o levara a procurar seu filho e o detetive.
— Levou um tiro no peito e uma pancada bem forte na cabeça.
– Barnes explicou enquanto levava o telefone ao ouvido e chamava
uma ambulância.
— Quem…?
— A mesma pessoa que tirou a moça daqui, disso não há
dúvidas – respondeu o perito e um estalo se fez na cabeça de
George, que imediatamente se virou para Edward, que tinha a
expressão carregada de dor e emoções conflituosas.
— Edward? – ele chamou se aproximando do filho, que o
encarou com o rosto contorcido em preocupação e desespero, o
cenho franzido em sofrimento e em dúvidas — Sua mãe acordou.
— Acordou? – perguntou lívido, abrindo os olhos e encarando
diretamente o pai — E como ela está? O que ela disse?
— Que foi um segurança que levou a América – ele disse e
Edward imediatamente começou a se mover na direção que seu pai
havia vindo, mas o mesmo o impediu ao segurá-lo pelo braço —
Tem mais uma coisa.
— O que? – questionou impaciente.
A mente de Edward já começava a trabalhar em todos os rostos
e nomes de seguranças que ele conhecia e se lembrava, eliminando
apenas Ward e Tyler de todo o seu trabalho.
— Eu preciso s-
— Paige recebeu uma mensagem com fotos de Amy…
amarrada.
Edward engoliu a seco e seus olhos perderam o foco por um
momento, enquanto sua mente vagava em todas as imagens que
Monroe havia feito questão de gravar a ferro em sua mente ao
mandar as fotos e vídeos para ele, antes de agir de verdade.
Ele sentiu dor e ainda mais raiva enquanto sua mente ainda
trabalhava nos rostos e nomes dos seguranças.
— Tyler – ele chamou, ganhando a atenção não apenas de seu
segurança pessoal e mais confiável, mas também de Barnes, que o
olhou atento enquanto ainda se mantinha no telefone com o hospital
— Pegue o telefone da Paige e ligue pro Grayson. Peça para ele
tentar rastrear o número que mandou a última mensagem que ela
recebeu, e depois encontre todos os seguranças…
— Ei, silêncio! – o perito exigiu, interrompendo Edward em meio
suas ordens, e ele o teria mandado calar a boca se não visse o
motivo de ele pedir o silêncio — Ele está acordando.
O homem se aproximou de Ward e encostou seu ouvido
próximo à boca do segurança, ouvindo, com um pouco de
dificuldade, o que ele sussurrava com seus últimos resquícios de
força antes de voltar à inconsciência.
— O que ele disse? – Barnes questionou, olhando atenta e
curiosamente para os dois homens no chão.
O perito se afastou e olhou para todos ao seu redor.
— Algo sobre a América, o tiro que ele levou e alguém chamado
Kyle. Isso faz algum sentido?
Para os demais ali não fazia o menor sentido, mas para Edward
e Tyler aquele nome era, com toda a certeza que havia neles,
exatamente o que eles precisavam.
— Encontrem ele – Edward ordenou, olhando diretamente para
Tyler que acenou positivamente em resposta e, com apenas um
gesto, chamou Richards: o segurança que havia encontrado Ward
— E, Tyler? – o segurança o olhou — Desligue os rádios.
— Sim, senhor.
— Barnes, minha mãe acordou e ela sabe quem ajudou o
Monroe.
O detetive abriu um sorriso largo e satisfeito, sentindo o gosto
doce do avanço em sua boca.
— A ambulância está a caminho – ele avisou ao perito —
Andem, tenho alguém novo com quem falar.
33- Apenas quero continuar
chamando seu nome.
Ela sentiu o primeiro golpe chegar com força contra seu rosto
fazendo-a ficar tonta por breves segundos, antes de erguer a
cabeça e fitar novamente o seu agressor.
Monroe tinha um sorriso sádico no rosto e seus olhos escuros
cintilavam com o ódio e a raiva que o dominavam.
América já havia se acostumado com o olhar que ele mandava
para ela, mas nunca ficava indiferente a isso. Era doloroso, tanto
emocional quanto fisicamente. Às vezes, mais de uma forma física
do que emocional.
Ela sentia o gosto de sangue em sua boca e tudo o que ela
queria, naquele momento, era não estar presa e amarrada para
poder mostrar àquele monstro à sua frente o quanto podia ser bom
levar uma surra de alguém.
Ela agradecia pelos treinos que havia tido com Tristan durante
as semanas antes de ela descobrir que estava grávida. Havia a
ajudado a criar uma maior resistência física, principalmente nas
áreas em que Monroe mais a estava agredindo.
Amy apenas temia por seus filhos.
Não queria perdê-los e não queria que eles sofressem.
América não tinha ideia de há quanto tempo estava presa ali.
Não sabia nem onde era ali. O local é fechado e escuro, o único
meio de entrada e saída daquele lugar que ela havia conseguido
localizar era o que Monroe usava.
— Eu esperei muito tempo para poder fazer isso com você
novamente – ele sussurrou entre ofegos.
O esforço e a idade mais avançada dele contribuíam para deixá-
lo cansado mais rápido, mas, infelizmente, não diminuía a força
muscular que Monroe tinha; e Amy sentia esta força imutável na
pele.
— Você tem sorte de eu te querer viva, minha cara América.
É. Talvez, eu realmente tenha sorte.
-*-
Paige estava inconsolável e catatônica.
Seu corpo inteiro estava a tremer e ela sentia a boca seca,
apesar do copo de água com açúcar que Josh a forçava a beber, na
tentativa – falha – de acalmá-la.
As imagens de sua melhor amiga ferida quando criança e de
Amy adulta, com a roupa que estava usando para a festa de Marie,
estavam dançando furiosamente em sua memória. Ela podia ver as
marcas avermelhadas que começavam a se espalhar pelos braços e
pelo rosto de sua melhor amiga.
As lágrimas escorriam por seu rosto sem que ela sequer
percebesse.
Josh a mantinha entre seus braços na tentativa vã de aquecê-la.
Laurie, ao contrário de Paige, não conseguia ficar parada por
um instante sequer. A todo o instante estava andando de um lado
para o outro.
Ia até a porta que dava para os fundos da casa – onde ainda
acontecia a festa em comemoração ao aniversário de Marie –
olhava para todos os lados esperando que, de alguma forma, Amy
fosse aparecer por ali, em meio aos convidados, sorrindo e alegre,
com sua mão apoiada sobre o ventre minimamente elevado – que
não aparecia muito sob o vestido – com Edward ao seu lado,
acompanhando-a para onde quer que ela fosse.
Mas isso não acontecia e Laurie voltava a andar pela sala com
o polegar próximo a boca e a unha do mesmo entre os dentes,
sendo roída e tendo todo o esmalte arrancado, tamanho era seu
nervosismo.
A música – mais baixa que no início – ainda embalava a festa
que acontecia do lado de fora da casa dos Cage e os convidados
sequer pareciam estar cientes do clima tenso e pesado que estava
dominando o interior da casa. Não pareciam sequer ter notado a
ausência de Marie e toda a sua família, o que era até bom, pois
evitava o aparecimento da imprensa especuladora e evitava uma
exposição desnecessária.
Laurie estava prestes a voltar para próxima da porta, mais uma
vez, quando Nolan Barnes entrou na sala junto de Edward. Ambos
tinham expressões sérias e cansadas em seus rostos, mas, quando
Laurie olhou diretamente para seu irmão, ela viu nos olhos dele que
ele tinha esperanças e isso encheu o peito dela de toda a esperança
e crença possível e impossível.
— Senhorita Bennett e senhora Cage. – Nolan Barnes as
chamou; Marie, que estava sentada em uma ponta um pouco
isolada do sofá, com um olhar perdido em outro lugar, se assustou
ao ouvir seu nome sendo chamado, e Paige sequer se moveu.
Ela não parecia estar em lugar algum.
— Eu preciso que venha comigo por alguns instantes, senhora
Cage.
— Tudo bem – ela sussurrou; seus olhos estavam vermelhos e
inchados por todas as lágrimas que havia derramado e por algumas
que ainda derramava.
Marie se levantou e começou a seguir o detetive em direção ao
escritório de seu marido.
Ao passar por seu filho, Marie o olhou, questionando-o com os
olhos por qualquer coisa e recebendo dele apenas um aceno
positivo com um pequeno e quase imperceptível sorriso.
— Ah, e… senhor Cage? – Nolan falou, virando-se
momentaneamente para Edward, que desviou os olhos de sua mãe
para olhá-lo — Tente trazer sua cunhada de volta para o mundo.
Vamos precisar dela.
Edward acenou discretamente e seguiu para perto de onde seu
irmão, que amparava Paige, mas, antes de chegar até eles, seu
olhar cruzou com o de sua irmã e, para ele, foi impossível não
mudar a rota de seu caminho e ir até ela.
Laurie praticamente pulou em seus braços, enterrando o rosto
no vão do pescoço de seu irmão e ali ela chorou tudo o que estava
guardando desde que recebera a notícia de que Amy havia sido
raptada.
Edward, seu irmão, era seu melhor amigo desde sempre e ela
se sentia segura apenas por estar perto dele.
— Quem fez isso, Ed? – ela murmurou entre lágrimas e soluços
— Quem a tirou da gente?
— Eu ainda não tenho certeza, baixinha, mas quando eu
souber… ele não vai viver por muito tempo.
— Quer dizer que vai matá-lo? – ela questiona, afastando-se de
seu irmão para olhá-lo diretamente nos olhos.
— Adoraria. Mas, infelizmente, acho que não sou capaz de algo
assim, pelo menos não com Amy por perto.
— Tenho certeza que ela não vai querer que arrume
problemas… como matar alguém.
— Eu sei que não – ele abre um pequeno sorriso para Laurie,
depositando um beijo suave na testa dela logo depois e, então, se
afastando completamente dela — Não acredito que vou dizer isso –
ele resmunga — Mas… fique com Liam, eu vou precisar dar certa
atenção especial para Paige agora.
Laurie acena positivamente e vai atrás de seu namorado, logo
depois de dar um rápido e estalado beijo na bochecha de seu irmão.
Edward segue, então, para onde seu irmão e sua cunhada se
encontram.
A cena é perturbadora para ele.
Um dos pilares de sua Amy estava ali, praticamente inerte ao
mundo, completamente derrubada pelas imagens que o antigo
dominador de Dianna fizera questão de enviar a ela. Edward, não
apenas imaginava, como também sabia exatamente o que Paige
estava sentindo naquele momento.
Ele se aproximou de Josh e Paige de forma calma, seu irmão
tinha seu olhar dividido entre uma Paige catatônica e um Edward
que estava completamente abatido, mas que se mantinha forte – de
uma forma que o tornava quase intocável.
— Festa animada, não? – Josh questionou irônico, com um
humor que não havia nele naquele momento.
Edward apenas o olhou feio antes de se sentar na beirada da
mesinha de centro e fitar seriamente seu irmão mais velho.
— O que está acontecendo? – Josh perguntou sério como
Edward nunca o vira antes, preocupado não apenas com Amy, mas
com toda a sua família também.
— Não é algo que eu saberia explicar para todos agora, Josh,
mas… é grave e, desculpe por falar isso perto da Paige nesse
estado, mas é preciso. – Edward começa; um nó se formando em
sua garganta com as lágrimas que ele tenta conter — O tempo não
está do nosso lado. Cada segundo que perdemos sem
conseguirmos encontrá-la, são três segundos a menos em que ela
pode estar viva ou ainda com nossos filhos. Um segundo para cada
um deles…
Uma lágrima solitária escorreu pela face esquerda de Edward;
lágrima essa que o mesmo nem se preocupou em secar.
Era só o que ele queria fazer: Se encolher em um canto e
chorar como uma criança perdida e desolada, mas se ele fizesse
isso significaria que havia perdido as esperanças de encontrar
América, e isso não era algo que ele queria e nem permitiria que
acontecesse.
— E já sabem quem pode ter feito isso?
— O nome dele é Steve Monroe – Edward respondeu baixinho,
porém alto o suficiente para que Josh ouvisse; ele tinha asco
apenas por pronunciar o nome dele — Ele era… padrasto da Amy.
— Eu o conheci – a voz de Paige soa baixinha e rouca, quase
inaudível, chamando a atenção de Edward e de Josh ao mesmo
tempo.
— Paige! Ah, baby… você está bem?
— Vou ficar bem quando minha melhor amiga estiver do meu
lado de novo – ela responde, sem sequer olhar para Josh ao fazê-lo.
— Você realmente o conheceu?
— Conheci. Foi um pouco antes de a Amy ir morar com o pai. –
ela começou; seus olhos agora estavam em Edward.
Olhos vermelhos e inchados de tanto chorar.
— Foi uma experiência estranha em todos os sentidos
possíveis. A casa dela não parecia o lugar ideal para se criar uma
criança… e o padrasto dela? – Paige estremeceu involuntariamente
— Ele me causava arrepios. Foram poucas as vezes que eu o vi
antes de a Amy se mudar, mas aquele homem não é alguém fácil de
se esquecer.
— Você nunca percebeu nada de estranho nesse cara em
relação à Amy? – Josh pergunta olhando de Paige para Edward
intercaladamente.
— Tudo nele era estranho em relação à Amy. Principalmente
quando ela se aproximava da mãe… ele parecia matá-la com os
olhos. Era horrível. – Paige estremeceu novamente e, desta vez, se
aconchegou nos braços de Josh, como se buscasse nele a proteção
que precisava naquele momento. — Eu não sei o que acontecia
naquela casa quando eu não estava lá, mas eu fiquei muito feliz
quando Amy conseguiu sair de lá.
— Eu também. – Edward sussurrou sentindo o bolo em sua
garganta ficar ainda maior e ainda mais difícil de esquecer e conter.
-*-
— Ele apareceu quando estávamos na sala, conversando.
Edward tinha nos deixado sozinhas para buscar meu marido ou meu
outro filho, Josh, para um dos dois o ajudar a levar Amy para o
hospital… – Marie contava o que havia acontecido da melhor forma
que conseguia.
Ela ainda se sentia um pouco tonta por causa da grande
quantidade de clorofórmio que havia sido obrigada a inalar. Sua
cabeça, às vezes, parecia pesar quilos e mais quilos quando de
repente tudo ao seu redor começava a girar.
Ela estava odiando essa sensação.
— Ele viu que América estava passando mal e se ofereceu para
pegar um copo de água para nós duas. Amy tomou a água, ele
levou o copo de volta para a cozinha e, quando ele voltou, Amy
estava tonta, parecia dopada. Eu tentei ajudá-la, mas ele me
agarrou por trás e me apagou, tampando minha boca e meu nariz
com um pano ensopado de clorofórmio.
— A senhora saberia me dizer quem fez isso? – Barnes
questionou sério e olhando diretamente para Marie.
O homem já tinha certas marcas de idade, causadas pelo
trabalho desgastante e exaustivo, e, apesar de não ter mais que
quarenta e cinco anos, às vezes, Nolan Barnes sentia como se
tivesse cem anos, mas, mesmo com tudo, isso era algo que ele
realmente amava fazer.
— Eu não me lembro do nome dele, mas era um dos
seguranças da Amy. Ela o conhecia, sabia quem era. Ou imaginava
ser assim.
— Reconheceria se o visse?
— Com toda a certeza. O rosto e a voz dele ficaram gravados
na minha memória – Marie respondeu convicta, apontando com a
mão levemente trêmula para sua cabeça ao falar.
— Isso é bom. Muito bom.
-*-
Tyler olhou para a imagem do homem rendido à sua frente.
Kyle tinha um sorriso irônico estampado em seu rosto marcado
por alguns socos e pelo sangue que escorre do canto de sua boca.
O terno que ele usava estava completamente amarrotado, sujo e em
alguns pontos estava rasgado.
— Descobriram rápido – ele disse irônico, olhando diretamente
para Tyler e este teve que usar muito de seu autocontrole para não
acabar de vez com o que havia sobrado do rosto de Kyle — Quem
abriu o bico? A mamãe Cage ou o fracote do Ward?
Tyler sorriu para Kyle, achando um pouco de graça em toda a
pose de “mau rapaz” diante de toda aquela situação,
definitivamente, desesperadora.
— Sabe, Kyle… Você pode escolher. – Tyler começou,
enquanto se aproximava lentamente do homem, que, agora, parecia
levemente assustado — Você pode escolher falar da maneira fácil e
continuar assim do jeito que você está, ou da maneira difícil,
sentindo sua vida escorrer do seu corpo lentamente. – ele parou na
frente de Kyle e o segurou pela mandíbula apertando rudemente o
local — Sabe, Kyle, o patrão conhece boas formas de apelar par o
lado humano das pessoas, mas eu particularmente prefiro o meu
jeitinho de apelar para o lado humano de alguém.
Kyle engoliu a seco com dificuldade, olhando dentro dos olhos
do segurança de maior confiança e de mais longo tempo de trabalho
com Edward Cage. Kyle sabia da história de Tyler, a história que
precedia todo o trabalho do segurança para o Cage.
Tyler Ford havia sido um homem da guerra. Ele sabia muito bem
como fazer um homem falar das maneiras mais dolorosas que
pudessem ser imaginadas por alguém, mas, definitivamente, Kyle
estava com mais medo da apelação de Edward Cage do que da
apelação do ex-soldado.
— Então, Kyle, qual você escolhe?
-*-
América não estava se sentindo bem.
Seu estômago doía de fome e ela se sentia terrivelmente
enjoada. Suas costas estavam doendo devido à posição ingrata na
qual fora obrigada a ficar, graças à Monroe e todo o seu sadismo
cruel e ódio mal disfarçado.
As cordas machucam e ferem seus pulsos e seus pés.
Em sua garganta se formava um enorme bolo de lágrimas, que
ela lutava a todo custo para não derramar, mas, a cada novo
instante que passava, mais difícil ficava manter as lágrimas
afastadas de seus olhos. Tudo no que ela conseguia pensar era que
devia ser forte… ser forte por seus pequenos milagres e por
Edward, para poder voltar para ele com seus filhos ainda vivos e
crescendo em seu ventre.
Foi impossível, para ela, não pensar que tudo seria melhor e
mais fácil se ela não tivesse nascido na família que nasceu.
Ninguém estaria sofrendo por sua causa e muito menos ela estaria
nas mãos de um louco psicopata.
Mas, se ela não tivesse nascido no meio em que nasceu, ela
provavelmente não teria conhecido o homem que amava, nem a
família maravilhosa que ele tinha e que a havia acolhido tão bem e
de forma tão calorosa. Ela provavelmente não estaria grávida do
homem que hoje ama com todo o seu coração, e nem seria feliz ao
lado dele.
Ela ainda conseguia se lembrar perfeitamente como foi vê-lo
pela primeira vez. Os olhos de Edward pareciam perfurá-la, mesmo
que os olhares só tenham se cruzado por breves instantes antes de
ela sair fugida para a biblioteca. Lembrava-se da maneira doce e
protetora que ele cuidara dela sempre e todas as vezes, mesmo
quando ela não precisava.
Ela quase conseguia sentir o toque dele pelo seu corpo
enquanto a venerava e a amava da forma mais primitiva que o
homem conhecia, quase podia ouvir a voz dele sussurrando em seu
ouvido ou contra sua pele, podia quase vê-lo ali, ajoelhado ao seu
lado, dizendo que tudo ficaria bem e que iria cuidar dela e de suas
preciosidades.
América conseguia ouvi-lo dizer que a amava e que amava os
melhores presentes que ela podia dar a ele, ouvia-o dizer que nunca
deixaria nada de ruim acontecer com eles.
Mas havia acontecido, e, agora, Amy estava distante de uma
das pessoas que ela mais ama e preza em sua vida. Estava longe
de Edward e não tinha sequer ideia se ele seria capaz, ou não, de
encontrá-la.
-*-
Edward deixou Paige e Josh na sala, junto de Laurie e Liam,
para, então, seguir para o segundo andar da casa.
Ele se trancou no banheiro e ficou ali.
Apoiou suas mãos no mármore frio da pia e encarou seu reflexo
no espelho do banheiro.
Estava esgotado.
Fazer aquilo o fez se lembrar de quando era adolescente e fugia
para um lugar “comum” onde pudesse se esconder e debater com si
próprio. Fizera isso muitas vezes durante sua adolescência, e
muitas vezes depois, quando escolhera Amy para ser sua submissa
e passava pela fase em que negava sentir algo mais por ela,
quando nem sequer a conhecia pessoalmente direito.
Agora, isso se repetia e Edward se via acabado e
completamente desolado.
Ele levou a mão direita o peito, pousando sobre onde seu
coração pulsava forte e dolorido, imaginando se era assim que o
coração de Amy também estava batendo, ou se ele ainda estava
batendo, e isso fez com que um soluço alto escapasse por seus
lábios e, assim, as lágrimas finalmente caíram.
Edward não era uma pessoa que chorava com frequência. Se
fosse sincero com ele mesmo, diria que desde a adolescência só
havia chorado por dois motivos, o primeiro foi quando ele chegou a
pensar que Amy iria deixá-lo, que ela iria deixar de amá-lo por causa
de Vivian e, como medida desesperada ele permitiu a ela tocá-lo. E
o outro quando América anunciou que estava sangrando em um
princípio de aborto e todo o medo de perder seus filhos o atingiu
como uma bola de demolição.
E, agora, parecia que os dois motivos estavam agindo contra
ele ao mesmo tempo.
Edward ainda se lembrava da sensação de ter as mãos dela
passeando por seu tronco pela primeira vez – era como se ainda
tivesse as mãos dela sobre ele. Sua pele queimou e seu coração
bateu tão forte que ele achou que morreria ali mesmo. Havia tantos
sentimentos inundando-o naquele momento, que ele, até então, não
saberia enumerá-los corretamente, ele apenas sabia que, a cada
vez que ela o tocava, era uma explosão de calor, paixão e medo que
se misturava a tantas outras coisas em seu peito.
Queria tanto reviver momentos bons como este que chegava a
doer nele.
Ele se afastou da pia, andando para trás em passos trôpegos,
até parar com a colisão de suas costas contra a parede fria dos
azulejos. Dali, ele apenas escorregou até estar sentado no chão,
abraçando seus joelhos até uni-los ao peito e esconder seu rosto no
espaço escuro que havia criado e, então, ele chorou.
Chorou dolorosamente todos os medos e todas as dores e
inseguranças que o estavam dominando desde que todo o teatro de
Monroe havia começado.
Ele chorou como o menino que estava sentindo que era naquele
momento. Chorou como o Edward de quatro anos fazia, quando sua
mãe aparecia bêbada e ele tinha que se esconder para as coisas
ruins não chegarem até ele. Chorou como o Edward que era apenas
uma criança assustada e ferida chorou quando o afastaram da casa
e de Vivian, sua mãe, que tinha exagerado demais e o machucado
de um jeito que não teria mais volta para os dois.
Edward chorou como alguém que estava se sentindo sozinho e
vazio, com apenas o medo e a dor lhe fazendo companhia, e ele
teria ficado ali por muito tempo, se o vibrar insistente de seu celular
em seu bolso não o tirasse de todo o seu torpor e dor.
Ele respirou profundamente pela boca e se esforçou para secar
um pouco o rosto antes de atender:
— Cage. – sua voz saiu estranha e falhada devido ao choro
recente que ainda persistia
— Senhor Cage, sou eu, Grayson. Rastreamos o número que
enviou a mensagem.
Naquele momento, o coração de Edward pulsou mais forte.
No fim, havia uma esperança.
34- O gosto do seu sorriso.
América encarou a escuridão a sua frente, sem saber direito
para onde olhar e o que enxergar no meio de todo o breu que enche
sua visão.
Ela queria se soltar das amaras que prendiam suas mãos, mas
as cordas estavam tão apertadas em seus pulsos que ela não sabia
se conseguiria fazer isso.
Quando era mais nova, com seus sete ou oito anos, América
deslocou o dedo polegar e o dedo médio de sua mão direita, depois
de um tempo ela aprendera a deslocar por conta própria ambos os
dedos e ela fazia isso sempre que precisava. Isto foi de muita
utilidade a ela durante o curto período traumático que viveu debaixo
do mesmo teto que Monroe.
Ele tinha o péssimo e doloroso hábito de castigá-la deixando-a
presa às cordas em suspensão, com as mãos e os braços
amarados, ou, então, presa a algum lugar.
Sempre que recuperava a consciência, depois de uma surra de
Monroe, ela estava sempre presa e completamente sozinha no
quarto. Era apenas achar a posição certa e seu braço escorregava
para fora.
América estava quase convicta de que iria fazer isso, mas ela
não tinha certeza se adiantaria alguma coisa pela forma que as
cordas a apertavam.
Ela olhou para a única fresta de luz que havia naquele lugar e
fixou seu olhar ali.
Respirou profunda e longamente algumas vezes, enquanto, com
o polegar de sua mão esquerda, ela procurava o local certo e,
quando o encontrou, puxou uma longa tragada de ar e travou a
mandíbula para, então, fazer o movimento que tantas vezes no
passado havia feito.
A dor correu por seu corpo, fazendo-a trincar ainda mais os
dentes; um gemido esganiçado ecoou por sua garganta, o que a fez
cerrar ainda mais o maxilar.
A última vez que havia feito algo como isso, tinha sido para se
livrar de algemas, no mesmo dia em que ganhara a cicatriz e as três
costelas quebradas do lado direito de seu corpo, quando tinha
dezesseis anos.
Ela não se lembrava que isso doía tanto.
Respirou algumas vezes, antes de fazer qualquer movimento,
mas, antes que ela pudesse sequer pensar em se mover, uma porta
foi aberta e a claridade inundou o lugar, fazendo seus olhos doerem
e lacrimejarem. Foi obrigada a fechar os olhos e, desta forma, não
pôde ver quem entrava no lugar que estava sendo seu cativeiro,
mas ela tinha quase certeza que era Monroe quem entrava.
— Hora de comer. – Monroe disse em tom seco, mas, ainda
assim, com um sorriso irônico nos lábios.
O ódio sempre fora o combustível deste homem quando a
questão era América, mas ele queria os filhos dela, então, mantê-la
viva era essencial para que ele conseguisse isso.
— Vai me soltar para que eu possa comer, ou você vai me tratar
como um bebê e vai me alimentar?
O som que saiu pelos lábios de Monroe foi semelhante a uma
risada.
Um som que estava carregado de escárnio.
— Sempre com uma resposta na ponta da língua, não é? –
questionou de forma retórica — Eu podia te deixar sem comer por
causa disso, mas estou de bom humor hoje.
— Por quê? – Amy questionou confusa sentindo seu coração
palpitar de medo; Monroe nunca tinha bom humor perto dela.
— Não é da sua conta. Ainda não. – respondeu seco e, no final,
abriu um sorriso sombrio, aproximando-se ainda mais de América —
Vamos, porque eu tenho alguém muito especial para te alimentar.
Com um movimento ágil, Monroe passou a puxar a cadeira em
que Amy estava presa em direção a porta, saindo para um lugar
muito mais claro e com janelas quebradas por onde o ar frio da
madrugada de Seattle entrava.
Ainda estava escuro do lado de fora e as luzes acesas por todo
o lugar eram as únicas fontes de iluminação presentes no momento.
O som de metal atritando contra o concreto incomodava os
ouvidos de América e a fazia querer cobrir os ouvidos. Para sua
sorte, Steve parecia não ter notado o formato estranho que sua mão
havia adquirido.
Ele a virou e a colocou de frente para uma mesa improvisada
com um pequeno banquete a sua frente, mas Amy mal conseguiu
dar atenção para a comida a sua frente porque o homem que lhe
encarava, parado na extremidade oposta da mesa, roubou-lhe toda
a atenção e o ar do corpo.
— É incrível o que as pessoas fazem por dinheiro ou por
simples emoções, não acha? – Monroe tinha um sorriso sinistro nos
lábios, sorriso esse que Amy não pôde ver, porque estava estática
demais até para pensar.
Ela não conseguia acreditar.
-*-
Edward tinha uma esperança e havia se agarrado ela com
unhas e dentes, mas, mesmo cheio de esperanças, ele estava com
um pé atrás.
Monroe não era burro e Edward havia descoberto isso de uma
das piores maneiras.
Monroe era um homem que sabia trabalhar com as armas que
tinha, e pior: ele sabia muito bem conseguir armas novas. Um bom
exemplo disso era Kyle, que havia se revelado uma raposa em meio
às ovelhas.
Grayson havia passado para Edward a localização de onde a
mensagem havia sido enviada para o telefone de Paige e, assim
que havia se recuperado de sua pequena explosão de emoções, ele
foi buscar pelo detetive Nolan e por Tyler.
Primeiro, ele encontrou o detetive, o qual naquele momento saia
do escritório de George acompanhado de Paige. A mulher parecia
ter voltado para seu estado de torpor novamente, mas quando os
olhos dela caíram nos de Edward, o castanho-esverdeado exigiu
explicações ao cinza.
Edward se fechou para a indubitável busca por respostas que a
Bennett tentava fazer ao olhar em seus olhos, tornando-se
inalcançável. Ele se escondeu atrás de sua muralha que há muito
havia deixado de lado.
Ele deixou que a de cabelos caramelos passasse primeiro,
antes de se aproximar de Barnes, que continuou parado próximo a
porta do escritório.
O homem – que já não era mais tão jovem como outrora – tinha
um olhar cansado, completamente esgotado e o corpo grande
parecia implorar por uma boa noite de sono, na qual ele só
precisasse sair da cama depois da hora do almoço, mas, apesar de
todo o cansaço que estava sentindo, Barnes não queria parar, não
enquanto não tivesse encontrado América e colocado Steve Monroe
atrás das grades ou a mais de sete palmos abaixo do chão.
— Você está horrível – Barnes disse sarcástico, recebendo
como resposta um olhar atravessado carregado de raiva do Cage.
— Tente ter sua mulher grávida de gêmeos sequestrada por um
monstro maluco e continuar bem com isso. Se conseguir, me diga
como o fez.
— Justo. – respondeu com um suspiro cansado, passando as
mãos pelo rosto — Então? Você conseguiu algo pelos seus meios?
— Rastreamos o número que enviou a mensagem – Edward
disse, se aproximando ainda mais do detetive e estendendo para ele
seu telefone celular, mostrando para Barnes o endereço que
Grayson havia lhe enviado.
— Isso é muito bom, mas você sabe que pode ser uma
armadilha, não é? – Barnes questionou segundos depois, quando já
havia analisado o que o Cage havia mostrado a ele.
— Eu sei, mas há a esperança, não é?
— Sim, claro que há, mas se tivéssemos um jeito de confirmar
que is-
Naquele mesmo momento, o celular de Edward começou a
tocar baixinho na mão do detetive Barnes, interrompendo assim a
conversa dos dois.
Edward pegou imediatamente o aparelho, atendendo-o assim
que vira quem era que o telefonava:
— Diga, Tyler.
— Kyle está sob nossa custódia, senhor.
— Mesmo? – ele perguntou arqueando uma sobrancelha e
olhando para Nolan Barnes por sobre o ombro, sentindo um sorriso
brincar com os cantos de seus lábios; aquele não era um bom
sorriso. — E onde vocês estão com ele?
— Na casa de barcos, senhor. É o lugar mais distante da casa e
do restante das pessoas que ainda estão perambulando pelo
quintal.
— Certo. Estou indo aí junto do detetive Barnes.
— Sim, senhor.
Edward encerrou a chamada logo depois e, então, se virou para
o detetive, encarando-o de uma forma altiva e de certa forma
esperançosa.
— Você queria um jeito de confirmar? – questionou, segurando
o próprio telefone na altura dos olhos do detetive — Acabou de
conseguir isso.
-*-
América ainda não conseguia acreditar no que via à sua frente.
Estava ali, estática, encarando o homem que jurou conhecer
durante toda a sua vida, principalmente durante parte de sua
infância e sua adolescência.
— Mike? – sua voz saiu baixa e rouca, quase como um sopro,
ao questionar para ninguém em especial se aquele na sua frente
poderia mesmo ser o rapaz que ela acreditava que era seu amigo.
— Oi, agápi.
— O que…? Por quê…? – Amy sentiu sua garganta doer e seus
olhos arderem com as lágrimas e o choro que começavam a se
formar.
Mike tomou uma longa respiração, encolhendo os ombros e,
logo depois, contornou a mesa, sentando-se ao lado de América.
Tudo o que ele queria era tocá-la, beijá-la… fazer o que não
pôde no passado porque ela não o permitia e por causa de Edward
Cage, que em sua cabeça a havia roubado dele.
— Porque eu precisava, agápi. – ele respondeu simplesmente.
Havia nele o olhar de um louco, e Amy não saberia explicar o
que havia acontecido com aquele que ela um dia achou que havia
sido seu amigo.
Um dos seus melhores amigos.
— Veja… agora eu sei de tudo, sei que estava fazendo aquilo
porque era obrigada… para proteger a gente. Agora eu entendo.
Amy balançou a cabeça em negação, querendo como nunca se
afastar de Mike.
Ela agora conseguia se lembrar da última vez que havia visto
Mike.
Ele a havia chamado de interesseira no dia de seu próprio
aniversário porque havia descoberto – naquele mesmo dia – que ela
estava em um relacionamento com Edward. Como resposta à
ofensa dele, América havia acertado Mike com uma bofetada no
rosto.
Daquele dia em diante ela não teve mais notícias dele e evitava
perguntar sobre ele para Paige. Havia ficado magoada e ferida com
o que ele falara para ela, não sabia o que ele estava fazendo da
vida, mas nunca imaginou que ele poderia fazer algo como o que
ele estava fazendo agora.
América estava, naquele momento, se sentindo a mais ingênua
das pessoas.
— Às vezes, a loucura ajuda um pouco também – Monroe se
mostrou presente ao sussurrar estas no ouvido de América
palavras.
Ele sorria sádico e irônico para toda a situação.
Em seu íntimo, ele estava em reboliços tamanha era sua
satisfação com toda a situação.
— Você está aqui, agora, para dar comida a ela. Então, faça
isso antes que eu mude de ideia em relação a isso por hoje. – disse,
olhando diretamente para Mike que elevou seu olhar perturbado
para o homem todo perturbado — Discutam a relação depois.
— O.k.
-*-
Os olhos de Kyle ficaram em pratos quando viu Edward entrar
pela porta do segundo andar da casa de barcos.
Ele sentiu todo o seu corpo tremer em antecipação ao que o
homem de olhos cinzentos seria capaz de fazer com ele para obter
as respostas que queria. Naquele momento, ele estava vendo a
estupidez que havia feito ao se meter em assuntos que não eram
seus.
Edward estava com raiva. Com muita raiva e muito ódio.
Os olhos cinzentos brilhavam como prata líquida e Edward
sentia suas mãos coçarem como há muito tempo ele não sentia.
O homem de olhos cinzentos tinha gana de pôr suas mãos
sobre aquele que se fizera de bom samaritano e estivera sob o
mesmo teto que ele e Amy, apenas tramando, em conjunto com
Monroe, o melhor momento para colocarem os planos deles em
ação.
Edward não era um homem violento e, muito menos, o tipo de
homem que buscava a vingança, ou infligir a dor a alguém que não
estivesse em comum acordo com ele e apenas para o prazer de
ambos – como a relação de dominador e submissa – mas Kyle
havia escolhido brincar com a família do homem errado e, em
momentos como este, Edward se transformava exatamente no tipo
de homem que não gostava e nem queria ser.
Ninguém fazia mal a sua família e saía ileso depois disso.
— Olá, Kyle. O que acha de começar a nos dar algumas
respostas, hm? – Barnes falou, dando um passo à frente e ficando
frente a frente com o segurança traidor.
Havia sido combinado entre eles que Barnes teria um primeiro
momento com Kyle, antes de Edward.
Kyle olhou para todos os rostos ali presentes antes de voltar seu
olhar para o detetive e respondê-lo:
— É minha primeira escolha.
Barnes sorriu de forma seca e olhou para Edward por sobre o
ombro, fazendo um sinal para ele, com o qual pedia para que ele e
seus seguranças saíssem do lugar, para que ele pudesse fazer o
interrogatório sem nenhum impedimento.
Edward já sabia o que teria que fazer.
Eles haviam combinado tudo enquanto se encaminhavam para
a casa de barcos e, desta forma, tudo o que ele teve que fazer foi
sinalizar para Tyler e dar a ordem para que ele – e a equipe que
estava ali – o seguissem para o ancoradouro onde antes Edward
deixava o Angel quando ia visitar seus pais de barco, ou os buscar
para um passeio.
— Você tem o seu tempo… se não conseguir tudo, já sabe o
que fazer – Edward anunciou da porta, antes de abri-la e sair, sendo
seguido por seu staff que era liderado por Tyler.
Assim eles deixaram que Nolan Barnes desse início ao seu
interrogatório.
O detetive queria muito conseguir todas as respostas sem
precisar “apelar” para Edward Cage, mas ele sabia muito bem que
nem sempre as coisas correm da maneira que se deseja.
— O que você vai ter que fazer caso…?
— Você não precisa descobrir. É só me contar tudo.
-*-
América abriu a boca para mais uma colherada de comida,
mastigando calmamente e olhando atentamente para cada
movimento feito por Mike ao seu lado.
Monroe havia deixado o local e, por consequência, ambos
estavam sozinhos.
Havia passado pela cabeça da morena tentar convencer Mike a
ajudá-la a fugir, mas depois de passar mais alguns minutos com ele,
ouvindo tudo o que ele falava, ela havia chegado à conclusão de
que Mike Perry estava completamente doente.
Ela não saberia dizer como ele havia ficado assim, mas ele
estava mentalmente doente e, agora, Amy se sentia preocupada
com o que ele poderia fazer com ela.
— Você vai ver. Quando tudo acabar eu vou te levar para morar
comigo e vamos ser felizes. Teremos a nossa própria família. Você
vai ver… vai sim.
Ele ficava repetindo coisas deste tipo, ou, então, agindo como
se estivessem no meio de um jantar romântico de comemoração a
algum aniversário de casamento dos dois, demonstrando toda a
alegria que ele tinha por ela estar com ele.
Algumas vezes ele tocava em sua barriga e Amy se retesava
em pavor, mas Mike não parecia perceber quando ela fazia isso.
Era muita insanidade ao seu redor, o que tornava difícil para
América conseguir se manter sã e atenta, mas ela se esforçava para
continuar assim, por Edward e por seus bebês. Principalmente por
seus bebês.
— Espera – ela pediu a Mike, que se preparava para levar a sua
boca outra porção de comida.
Amy fechou os olhos e respirou profundamente sentindo seu
estômago dar reviravoltas e doer.
Sua boca havia ficado seca, apesar da grande quantidade de
saliva que se formava por causa do forte enjoo.
— O que houve, agápi?
— Estou enjoada. O que você espera de uma mulher grávida
em uma situação como essa, Mike?
— Oh, querida… me perdoe por isso. Eu não queria deixá-la
mal. – Mike disse, olhando para ela com seus olhos que não
pareciam ter foco algum.
Ele afagou o rosto inchado e cheio de hematomas de América,
fazendo a morena se encolher por causa das leves pontadas de dor
que a atingiram.
Aproximando-se lentamente, ele beijou o topo da cabeça de
América, o que fez o estomago da morena revirar ainda mais.
— Acho que já está bom de comida por agora, concorda?
América acenou de forma positiva, querendo ser levada de volta
para o espaço escuro onde estava sendo mantida desde que fora
raptada.
Se tivesse um tempo sozinha, ela tinha certeza de que poderia
conseguir se soltar das cordas e, assim, dar um jeito de sair de onde
ela estava.
Tudo o que ela mais queria era que alguém a encontrasse e a
tirasse dali.
-*-
— Pela última vez, Kyle: Eu quero saber para onde ele a levou?!
– Barnes exigiu, elevando a voz e se fazendo ser ouvido, não
apenas por Kyle, mas também por todos que estavam no
ancoradouro.
— Eu não sei. – Kyle afirmou mais uma vez.
Durante todo o interrogatório Kyle cooperou, mas, quando
Barnes chegou ao ponto mais importante e que mais interessava a
todos ali, o segurança traidor repetia sempre a mesma afirmação,
alegando não saber para onde América fora levada por Monroe.
Barnes estava prestes a falar novamente quando duas batidas
na porta o interromperam. Ele suspirou pesadamente antes de
seguir para a porta, abrindo-a logo em seguida e, ao fazer isso,
encontrou com Tyler e Edward.
Ambos tinham as feições duras e o olhar no rosto do Cage dizia
para Barnes exatamente o que Edward queria e iria fazer naquele
momento.
O detetive olhou por cima do ombro para Kyle, este, que olhava
curioso em sua direção, tentando entender o que se passava ali.
— Me dê um tempo com ele – Edward sussurrou, olhando
diretamente para Barnes. — Você me garantiu isso.
— Tudo bem. – Barnes assentiu com um suspiro e saiu do local,
descendo as escadas e se unindo aos outros seguranças que
estavam ali.
Edward se virou para Tyler – que o acompanhava quase
grudado em seus calcanhares – antes de passar pela porta do
segundo piso da casa de barcos onde Kyle estava.
— Separe uma equipe pequena dos melhores e mais
silenciosos e os mande para o endereço que Grayson me passou.
Eu não quero que se aproximem e nem que ajam, quero apenas
que observem e, se for suspeito ou bater com o que eu vou
conseguir… acione o Barnes.
— Sim, senhor.
— E, Tyler…?
— Senhor?
— Não deixe que se aproximem daqui enquanto eu não
terminar.
— Sim, senhor.
Dito isso, Edward se virou para a porta, olhando diretamente
para Kyle enquanto passava por ela e a fechava logo depois.
Para Kyle, toda a cena se passou como se estivesse em
câmera lenta.
Ele tentou se esticar na cadeira em que estava preso, buscando
por Ford com desespero.
— Tyler! – ele chamou, sentindo o medo começar a tomar conta
de cada parte de seu corpo — Tyler, não! Não! Você prometeu!
Prometeu! Tyler!
A porta já estava fechada e Edward encontrava-se parado de
frente para Kyle.
O olhar nele era cruel e raivoso; seria capaz de matá-lo naquele
mesmo instante, mas não estava ali para isso. Infelizmente,
precisava de Kyle vivo.
Edward queria respostas e iria consegui-las.
— Você prometeu cuidar dela, Kyle, e veja onde estamos agora.
– a voz de Edward soou baixa e cortante, ele não era o tipo de
homem que precisava gritar para soar ameaçador — Uma promessa
quebrada por outra. Acho que estamos quites, não é?
Kyle engoliu a seco sentindo seu coração tripudiar dentro de
seu peito.
— Eu vou perguntar só uma vez: onde ela está?
— Eu não sei. – respondeu em tom baixo e amedrontado,
querendo de qualquer forma fugir dele.
Ele não podia revelar mais do que havia revelado, ele tinha
certeza de que se Monroe sobrevivesse à ira de Edward Cage, ele
mesmo viria atrás dele.
Edward fechou os olhos e assentiu minimamente com a cabeça,
passando a língua pelos lábios secos e sérios.
— Você quem pediu por isso, Kyle, não se esqueça disso –
Edward disse, se aproximando lentamente de Kyle e colocando
suas mãos nele.
No primeiro piso da casa de barcos, todos que estavam ali
olharam, divididos entre assustados e realizados, para o pequeno
espaço de concreto sem janelas, quando os primeiros gritos vieram
de lá.
Eram gritos de dor e angústia de alguém que estava dominado
pelo medo.
Tyler, que ainda não havia saído de perto das escadas, apenas
cruzou os braços frente ao peito e olhou, por cima do ombro, para a
única entrada daquele pequeno espaço onde Kyle e seu patrão
estavam.
Apesar de tudo o que já havia visto, Tyler não gostava sequer
de imaginar o que estava acontecendo ali.
Os gritos que não pareciam cessar causavam arrepios em
Nolan Barnes, fazendo-o repensar se aquela havia sido realmente
uma boa ideia.
[…]
O silêncio era barulhento para América.
Ela já não sabia mais há quanto tempo estava ali, mas depois
que Mike havia lhe dado comida, Monroe voltara e a levara de volta
para seu canto escuro e silencioso.
Sua mão direita estava um pouco dormente e os dedos ainda
estavam fora do lugar. Ela tentava se soltar das cordas, mas como
ela havia desconfiado estavam apertadas demais para conseguir
fazê-las sair. Amy continuava tentando, mas algo em seu peito, uma
sensação estranha parecia dizer a ela que algo estava para dar
errado.
Em algum momento, ela não saberia dizer qual, ela sentiu o
primeiro laço sair de seu pulso, com isso, Amy sentiu o primeiro
sorriso em horas aparecer em seu rosto.
Seu coração palpitava e, repetindo os mesmos movimentos, ela
continuou empurrando para fora o resto da corda que ainda a
prendia e, quando a sentiu sair por completo de seu pulso, trouxe
seus braços para frente, sentindo-os formigarem e os ombros
doerem.
Ela quase conseguia sentir o gosto da liberdade.
Com o auxílio dos dentes, ela – com um pouco de dificuldade –
desfez os nós que prendiam sua outra mão, sentindo o alívio tomar
conta de sua pele quando se viu livre das amarras que prendiam
seus braços.
Amy manteve a corda presa entre os dentes, enquanto tomava
fôlego e com a mão esquerda ela buscava o encaixe certo para
colocar seus dedos de volta para o lugar.
Ela não queria correr o risco de acabar mordendo a língua ao
fazer isso.
Tinha sido assim em todas as vezes que ela havia feito isso.
Quando achou a posição certa, ela fez o movimento colocando
os dedos em seus devidos lugares, sentindo a dor percorrer por seu
corpo, fazendo todos os seus nervos arderem sob sua pele.
A pior parte de deslocar algo de seu corpo era ter que colocar
de volta.
Ela odiava isso.
Respirou profundamente, diversas vezes, antes de tirar a corda
de sua boca e lançá-la para um canto qualquer. Olhou para sua mão
e um enorme hematoma se formava nela, enquanto inchava de uma
forma grotesca.
Abriu e fechou a mão algumas vezes, ignorando as fisgadas de
dor que sofria a cada movimento, fazendo o sangue circular por
seus braços.
Era a hora de a adrenalina começar a agir.
— Bebês, a mamãe vai precisar apertar vocês um pouquinho –
ela sussurrou para sua própria barriga enquanto se inclinava e
esticava os braços em direção aos próprios pés.
Ela lutou contra os nós que prendiam seus pés à cadeira, da
forma mais rápida que conseguia e, quando conseguiu soltá-los, se
levantou da cadeira e praticamente correu – mesmo cambaleante –
em direção à única saída que ela havia descoberto ter ali, mas,
antes que ela pudesse sequer tentar abrir a porta, o barulho de
sirenes se fez presente do lado de fora, ficando mais alto a cada
novo segundo.
A porta foi chutada por Monroe, que tinha o rosto vermelho de
raiva, fazendo Amy cambalear para trás e, por pouco, ela não caiu
com tudo no chão.
Monroe a agarrou pelo braço quase no último instante.
— Estava tentando escapar, doçura? – ele rosnou de forma
furiosa, puxando América de encontro ao seu corpo e a agarrando
pelos cabelos com força para, então, começar a arrastá-la para fora
— Só facilitou o meu trabalho.
Amy gemeu de dor e tentou levar as mãos para onde a de Steve
se encontrava, na tentativa de fazê-lo soltá-la, mas ele percebeu o
que ela queria fazer e, tirando uma arma de sua cintura, ele a
mostrou para América que no mesmo instante congelou.
— Se tentar qualquer gracinha, eu atiro em você, ouviu? – ele
rosnou em seu ouvido e, quase que em um timing perfeito, Mike
apareceu, saído de algum lugar que Amy não conseguira ver.
— O que você está fazendo?! – o moreno praticamente gritou
para Monroe.
O som das sirenes cada vez mais próximo estava deixando
Monroe ainda mais irritado.
— Era para ele ter vindo sozinho. Sozinho. – ele balbuciava com
ninguém em especial, deixando Amy ainda mais assustada.
Ela olhava apavorada para Mike, implorando a ele por ajuda.
Qualquer tipo de ajuda, enquanto sentia as lágrimas escorrendo
de forma descontrolada por seu rosto.
América havia aprendido a se defender, mas lidar com uma
arma era algo do qual ela não estava segura se era capaz de fazer
sem causar nenhum dano a si mesma.
O som de pneus derrapando na terra se fez presente, junto das
luzes vermelhas e azuis que brilhavam do lado de fora e entravam
pelas poucas janelas do lugar.
— Aquele babaca do seu namoradinho… ele chamou a polícia!
— Ele é meu…
— Cale a boca! – Monroe rosnou, puxando ainda mais os
cabelos de Amy e apontando a arma para ela, fazendo a morena
urrar de dor.
~
Edward saiu ofegante do pequeno espaço no segundo andar,
com as roupas levemente amassadas, mas sem uma única gota de
sangue as manchando.
Ele fechou aporta e ficou parado ali por alguns segundos,
ignorando que havia pessoas ali… olhando diretamente para ele.
Depois de ter tomado o seu tempo para recuperar-se, ao menos
minimamente do que havia feito a Kyle, Edward pôs a mão no bolso
da calça e buscou por seu celular, ao mesmo tempo em que descia
as escadas em direção aos seguranças.
Tyler estava ali junto de todos. Ele havia seguido as ordens de
seu patrão e, agora, havia uma equipe estudando o local que
Grayson havia rastreado, apenas esperando a confirmação que viria
de Kyle.
— Tyler? – Edward chamou, fazendo um pequeno gesto com a
cabeça e, logo depois, era acompanhado pelo homem, no qual
confiaria sua vida de olhos vendados, para o lado de fora da casa
de barcos.
— Senhor?
— Contate a equipe que enviou àquele endereço. Eu gravei o
que Kyle disse… sobre o que ele sabia do lugar para onde Monroe
iria levar a Amy. Passe as informações para eles e se alguma coisa
bater… nós já sabemos o que fazer. – Edward disse, entregando
para Tyler o seu telefone.
— Sim, senhor.
Dito isso Tyler voltou para o interior do ancoradouro, seguindo
as ordens de seu patrão.
Edward permaneceu do lado de fora, olhando para lugar
nenhum enquanto pensava no quanto queria que tudo desse certo e
que, com tudo o que havia feito, ele conseguisse trazer de volta
para casa sua mulher ainda grávida de seus dois pequenos
anjinhos.
Ele olhou para as próprias mãos, como se nelas ainda pudesse
sentir tudo o que havia feito à Kyle. Nenhuma gota de sangue havia
sido derramada, mas, em compensação, Edward duvidava que Kyle
fosse o mesmo ou fizesse as mesmas coisas novamente.
Escutou passos atrás de si e, quando olhou por sobre o ombro,
deparou-se com Nolan Barnes vindo em passos calculados na sua
direção.
O vento da madrugada era frio e o único som ouvido por eles,
naquele momento, provinha dos insetos e da água do estuário que
batia suavemente contra o píer. Não havia mais música no local, a
festa beneficente em comemoração ao aniversário de Marie já havia
acabado e Edward não tinha ideia de quando isso havia acontecido.
Olhou de relance para o caminho, que seguiria quando voltasse
para o interior da casa, e imaginou o que estaria acontecendo lá.
Imaginou se alguém havia conseguido dormir ou se estavam todos
acordados ainda, apenas esperando notícias.
— Atrapalho, senhor Cage? – Barnes indagou assim que parou
ao lado de Edward, colocando as mãos nos bolsos e fugindo da
melhor maneira que podia do frio.
Em resposta, Edward apenas acenou negativamente com a
cabeça, voltando a olhar para frente, sem enxergar algo específico.
— O que o senhor fez lá? – Barnes foi direto ao ponto, como
sempre estava fazendo quando queria perguntar alguma coisa para
qualquer um dos Cage, o que fez Edward se questionar se esse era
o jeito especial do homem tratar as pessoas, com as quais
começava a passar mais de uma hora no mesmo ambiente.
— Apelei para o lado humano dele, detetive – respondeu,
levando seu olhar cansado e arrasado para Barnes, cravando o
cinza tempestuoso de seus olhos no castanho forte dos olhos do
outro.
— Espero não ter que voltar atrás em minha palavra…
— Não derramei nenhuma gota de sangue dele… como eu
prometi. – Edward suspirou e assistiu sua expiração condensar e se
transformar em uma pequena nuvem que se dissipou logo depois.
“Eu sou um homem muito pacífico, detetive, mas ninguém mexe
com as pessoas que eu amo e sai ileso depois disso…”
As palavras que Edward havia usado para convencê-lo a deixá-
lo ter um momento com Kyle, caso não fosse conseguido tudo dele,
voltaram à mente de Nolan, junto com os reflexos dos gritos
agoniados de Kyle, enquanto o Cage estava sozinho com ele,
fazendo-o acreditar que elas eram realmente reais.
— Então, não vou ter que arrumar problemas pra você, se é que
me compreende.
Edward acenou positivamente em resposta para Barnes e voltou
a encarar o nada, perdendo-se em pensamentos e lembranças,
todos eles voltados sempre para América.
Ele não saberia dizer quanto tempo havia passado ali e nem se
Barnes permanecera ali com ele, mas, em algum momento, foi
trazido de volta para a realidade por Tyler que voltara do interior do
ancoradouro e, agora, falava com ele e com o detetive.
Aparentemente – para Edward – o detetive havia ficado ali o
tempo todo.
— O endereço bateu, senhor Cage. – Tyler anunciou, olhando
diretamente para seu patrão.
A partir desta afirmação, todos começaram a agir.
Nolan Barnes fez o que Edward não podia naquele momento,
acionando viaturas e colocando as pessoas certas para se moverem
em direção ao endereço que Grayson havia passado e que Kyle
havia confirmado.
— Eu vou junto. – Edward anunciou, acompanhando Nolan
Barnes por dentro da casa principal, ignorando todos os protestos e
pedidos que sua família fazia, não querendo que ele fosse — Sem
discussões – ele falou sério — É a minha mulher… eu não vou
aguentar ficar aqui apenas esperando.
— Nenhum de nós vai meu filho, mas, às vezes, é preciso se
retirar da equação.
— Desta vez não, pai. Desta vez não.
— Mas, Edward…
O Cage negou com a cabeça para sua mãe.
Aproximando-se dela, ele lhe deu um abraço e beijou-lhe a testa
com carinho, prometendo a ela com esse gesto que voltaria.
-*-
Saíram todos dos carros, assim que pararam em frente ao
galpão abandonado, que mais parecia um mausoléu.
A equipe armada se posicionou nos locais seguros e que tinham
boa visão do galpão, do restante dos policiais e dos seguranças que
estavam na frente da entrada do lugar.
Estudavam a melhor maneira de conseguir entrar ou negociar a
libertação de América quando, ao longe, foi ouvido o estampido de
um tiro, vindo de dentro do galpão.
O silencio se fez por todos os lados, até Edward praticamente
passar correndo por quase todos – sendo barrado por Barnes – em
completo pânico e horror.
— Amy!
35- Você é tudo o que eu preciso.
Ele estava sentado à bancada de café da manhã, com uma
xícara fumegante, e já pela metade, de café na mão.
Seu olhar estava longe e sua mente mais longe ainda.
Com um suspiro, ele olhou para a xícara em sua mão e encarou
o líquido escuro que ela continha, não sentindo a menor vontade de
terminar de tomá-lo. Estava sem apetite e sem sono, e o sol nem
havia nascido direito ainda.
Odiava o desperdício de comida, qualquer que fosse ele, mas,
naquele momento, ele abriu uma exceção a si próprio quando se
levantou e deixou a xícara de café, com o conteúdo pela metade,
sobre a pia. Não teve coragem de entornar o líquido no ralo,
deixando a caneca cheia ali mesmo, antes de seguir em direção às
enormes janelas de seu apartamento, ficando parado ali.
Edward encarou a paisagem, por trás dos grossos pingos de
chuva, que caíam no vidro da enorme janela que dava visão para a
maior parte do topo da cidade de Seattle que, naquela manhã,
estava cinzenta e opaca.
Ele tinha os braços cruzados sobre o peito coberto por uma
camisa de ginástica, os pés estavam descalços no piso aquecido,
enquanto ele permanecia ali, parado, apenas fitando o mundo
através do vidro.
Geralmente, a Space Needle era seu foco matinal, mas naquela
manhã, com a neblina cobrindo praticamente tudo, ele apenas
encarava o nada.
Esta estava sendo a sua rotina matinal nos últimos quatro
meses: ele acordava, tomava uma xícara de café quente e forte –
em silêncio – encarando o nada e, então, quando terminava, ele
simplesmente se levantava e ficava de pé em frente à janela,
encarando de cima toda a cidade de Seattle.
Se bem que… para acordar era preciso ter dormido e isso era
uma coisa que Edward Cage não conseguia fazer direito há muito
tempo.
Estava sendo um começo de dia bastante chuvoso e cinzento, o
que de certa forma estava combinando com o humor de Edward
naquela manhã.
Ele não havia dormido bem durante a noite e estava sendo
desta forma há meses, e Edward havia se desacostumado a ter
pesadelos com suas lembranças, havia se desacostumado com isso
desde que Amy entrara em sua vida.
Edward estava cansado de relembrar, durante a noite, as
mesmas coisas que ele lutava para se esquecer durante o dia.

Saíram todos dos carros assim que pararam em frente ao


galpão abandonado, que mais parecia um mausoléu. A equipe
armada se posicionou nos locais seguros e que tinham boa visão do
galpão, do restante dos policiais e dos seguranças que estavam na
frente do local.
Estudavam a melhor maneira de conseguir entrar ou negociar a
libertação de América quando, ao longe, foi ouvido o estampido de
um tiro, vindo de dentro do galpão.
O silencio se fez por todos os lados, até Edward praticamente
passar correndo por quase todos – sendo barrado por Barnes – em
completo pânico e horror.
— Amy! – ele gritou, se debatendo contra o corpo de Nolan e
quase conseguindo se soltar, quando seus seguranças, que
estavam ali à mando de Tyler, o impediram, mantendo-o
imobilizado…

O som retumbante de um trovão foi o que o trouxe de volta para


o mundo real.
Ele olhou para as escadas que levavam para o segundo andar
do apartamento, esperando que algum som ou movimento viesse de
lá, mas nada aconteceu.
Com um suspiro, ele abaixou a cabeça e seguiu para a enorme
biblioteca e, abrindo as portas dela, ele percebeu o quanto as
estantes – antes lotadas – já estavam vazias.
Um pequeno sorriso brincou com o canto de seus lábios junto
com a nostalgia – um tanto melancólica – que o atingia.
Ainda havia coisas ali que seriam levadas depois.
Todo o apartamento estava assim: pronto para ser deixado,
enquanto a maior parte das coisas – consideradas mais importantes
– eram transportadas para outro lugar.
Ainda era estranho, para ele, entrar em alguns cômodos – que
estava acostumado a encontrar lotados ou com algum tipo de
normalidade imaculada – mas, aos poucos, ele estava se
acostumando com a ideia de se mudar de sua cobertura para outro
lugar mais próximo de sua família e, principalmente, mais próximo
de sua mãe.
Ele precisava e precisaria muito mais dela durante muito tempo
de sua vida.
Voltando para a sala, ele seguiu para seu escritório, sentando-
se em sua cadeira, atrás de sua mesa e, antes que ele pudesse se
concentrar em outra coisa, seus olhos vagaram para a fotografia
que ele mantinha sobre sua mesa.
Uma foto da mulher que ele amava e que amaria para o resto
de sua vida, fazendo seu peito se comprimir em dor quando as
lembranças, mais uma vez, voltaram a perturbá-lo.

Foram precisos três homens para segurarem a fúria e o pavor


que era Edward Cage naquele momento.
Ele não entendia o motivo de ninguém estar se movendo em
direção ao galpão.
Não entendia por que ninguém corria para ver se sua Amy
estava bem, e por que não corriam para socorrê-la e não o
deixavam fazer isso.
Estava matando-o assistir àquilo e estar sendo impedido de
fazer alguma coisa.
Por um instante, ele sentiu toda a sua vida sair de seu corpo,
todos os momentos passados ao lado de América e todas as vezes
que escutara os corações, acelerados e fortes, de seus filhos
voaram diante de seus olhos e ele se sentiu preso no mundo dos
pesadelos, onde nada dá certo e as pessoas sempre sofrem no fim
de tudo.
— Edward, me escuta – Barnes parou a sua frente, fazendo
com que Edward olhasse para ele — Não foi nela… não tem como
ser nela, o.k.? Não tem.
— Você não está entendendo…
— Não. Foi. Nela. O.k.? – Barnes disse pausadamente para
Edward que, naquele momento, era a verdadeira definição do
desespero.
Edward Cage estava prestes a desmoronar por completo, esta
era a grande verdade.

Com um balançar de sua cabeça, ele voltou ao tempo presente.


Eram lembranças demais. Sentimentos demais. E Edward já
não sabia mais como lidar com tudo o que lhe estava atormentando,
durante todos esses meses, desde que as ameaças de Monroe
tinham se iniciado até o dia que ele estava vivendo hoje.
Estava cansado de ter sempre as mesmas lembranças, dores e
sofrimentos desde sempre.
As coisas haviam melhorado com a chegada de América e
ficaram mais contentes para ele depois de saber que ela estava
grávida.
Saber que seria pai o havia feito chegar às nuvens.
Duplamente pai.
Ele estava tão feliz que não saberia explicar nem se tentasse,
mas, como muitas vezes em sua vida, nada ficava bom e perfeito
por muito tempo, por mais que Edward desejasse isso sempre,
Monroe apareceu para tirar isso dele e de América.
Com um suspiro cansado, ele deu uma última olhada na
imagem congelada de Amy na fotografia, dentro do porta-retratos
em cima de sua mesa – não conseguindo evitar o sorriso por vê-la
sorrindo na imagem – e, então, ele se levantou e seguiu para fora
de seu escritório, indo em direção à sala de ginástica, onde ele tinha
uma academia improvisada esperando por ele.
Edward não esperou muito tempo antes de começar a gastar
suas energias e pôr para fora todas as suas frustrações.
Ele fez um rápido alongamento e, então, seguiu até o espaço
reservado para luta, pegando a fita usada para proteger as mãos e
envolvendo as suas mãos com elas.
Ele se colocou de frente para o grande saco de areia que,
muitas vezes, ele e América usaram para treinar e descontar todos
os sentimentos que não sabiam como colocar para fora e nem como
falar – por muitas vezes, ele mais do que ela. E, então, ele
começou, deixando que, a cada golpe, uma lembrança viesse e,
assim, fluíssem sozinhas, fazendo-o golpear o objeto com cada vez
mais força e rapidez…

Todas as pessoas que ele amava incondicionalmente acabavam


sofrendo de alguma maneira, ou de outra.
Ele não conseguia entender por quê e nem como conseguia
trazer a dor de volta, quando esta já havia ido embora, mas isso
acontecia com ele.
Ele estava quase cedendo.
As forças pareciam ter se esvaído do corpo de Edward e a vida,
que antes ele sentia, e toda a esperança que ele tinha, se foram
quando aquele tiro foi dado. Era como se todo o seu mundo tivesse
despencado e como se tudo o que ele havia construído e
conquistado não valesse de nada.
Estava se sentindo vazio e preenchido demais por sentimentos
que ele não tinha desde que havia sido adotado por George e Marie.
A angústia o estava consumindo dolorosamente, furiosamente e
tudo o que Edward queria fazer, naquele momento, era encontrar
uma forma de entrar naquele galpão e tentar salvar o que restava –
se houvesse restado alguma coisa para ser resgatada…
Para ser salva…
Porque, cada vez mais, Edward sentia o pior, imaginava o pior,
acreditando que tinha perdido toda a sua vida naquele instante.
Ele não a tinha mais…
Foi então que mais três tiros foram ouvidos, sendo seguidos de
um grito agoniado e feminino que ecoou alto de dentro do galpão,
fazendo com que Edward reagisse no mesmo instante, se libertando
dos seguranças – que àquela altura haviam soltado ele, apenas se
mantendo por perto.
E ele correu em direção ao galpão, sendo seguido por Barnes,
Tyler e pelos outros seguranças e policiais, e, no momento que
conseguiu abrir as portas, enferrujadas e manchadas, do galpão, a
cena que ele menos queria ter visto surgiu diante de seus olhos…

— Ah… então você está aqui – a voz doce preencheu os


ouvidos de Edward, fazendo-o parar quase que de imediato e
tirando-o de seus devaneios e lembranças sufocantes.
Ofegante, ele ergueu os olhos e encarou a mulher parada na
porta de sua academia improvisada, vestida apenas com uma das
camisas que havia roubado dele.
Ela tinha os braços cruzados em frente ao peito, levemente
apoiados no grande ventre de sete meses e em seu rosto – ainda
com traços de sono – ela tinha um sorriso tímido estampado nos
lábios, e os olhos bonitos tinham um grande brilho contente e
apaixonado.
Edward gostava tanto de vê-la sorrir.
Para ele, era como se o sol nascesse novamente a cada sorriso
dado por ela.
Seu dia ganhava cor e um brilho diferente, e tudo sempre
parecia melhor quando o sorriso que ela lhe dirigia era daquele jeito,
tão apaixonado e encantado, como ela lhe sorria naquele momento.
— Por que não ficou na cama comigo, hm? – ela questionou
com um pequeno bico se formando em seus lábios, enquanto se
aproximava de Edward, parando na frente dele e mantendo-se de
braços cruzados e com o mesmo brilho no olhar, mas o sorriso havia
sido substituído por uma falsa expressão brava. — Ela fica muito fria
e grande sem você lá, sabia?
— Me desculpe. Eu estava sem sono e achei melhor levantar. –
ele explica — E a senhorita, hein? O que faz aqui nestes trajes? –
ele questionou, livrando-se das fitas em suas mãos, estando ainda
ofegante, e, logo depois, sendo envolvido pelos braços de Amy e
sendo puxado para perto dela até que o ventre inchado impediu
uma aproximação maior. — Eu estou todo suado… – ele reclamou,
tentando se desvencilhar dos braços dela, mas sendo impedido pela
mesma quando ela ficou de lado e o puxou para ainda mais perto.
— Eu não me importo. – ela disse em um sussurro, se esticando
minimamente e oferecendo seus lábios para ele, que lhe sorriu em
resposta antes de envolvê-la em seus braços e a puxar para o mais
próximo que conseguia.
Ele beijou os lábios dela de forma demorada e lenta, apreciando
todo o contato possível que estava tendo com ela e, logo depois,
quando o ar foi mais necessário e os pulmões reclamaram, ele se
afastou e se abaixou minimamente colando seus lábios contra o
ventre inchado e absurdamente grande, beijando o local, duas
vezes em diferentes pontos, e, logo depois, acariciando com
devoção.
E, como se soubessem que era Edward ali, perto deles, os dois
se agitaram, fazendo o ventre de Amy ondular com o leve formato
das mãozinhas e pezinhos, levando um sorriso encantado ao rosto
dos papais babões.
— Eles não me deixaram dormir mais, parece, que como eu,
eles sentem quando você não está perto. – disse doce e pensativa
acariciando o ventre — E bom… eu estou assim porque é
confortável. Está cada dia mais difícil encontrar algo que caiba em
mim. Está difícil até pra sair da cama – ela deu uma risadinha que,
para Edward, soou como a melhor música.
América fixou seus olhos nos de Edward no momento que ele
os ergueu para olhá-la.
A imensidão cinzenta estava imersa em vários sentimentos e
muitos deles traziam lágrimas para os olhos de Edward, e, para ela,
ver aquilo era como ter uma faca sendo enfiada em seu coração,
várias e várias vezes.
Apenas por olhar para dentro dos olhos dele, ela conseguia
saber porque ele havia vindo se esconder e se refugiar na academia
e agredir o saco de areia, como ela o viu fazer.
Edward estava sofrendo e ele não queria que ela visse isso,
mas, às vezes, ele não conseguia disfarçar.
— Você não tem ideia de como é bom ouvir isso ou qualquer
coisa que você fale. – ele engoliu com dificuldade, sentindo os olhos
arderem enquanto olhava para ela — Você não tem ideia de como é
bom cada coisa que vem de você. Até quando você briga comigo
quando eu surto por qualquer coisa relacionada a você ou aos
bebês.
Amy sentiu um pesado bolo de lágrimas se formar em sua
garganta, fazendo-a doer e ter dificuldade para engolir e respirar.
Doía nela a forma como Edward estava.
Ele ainda não havia se recuperado do que havia acontecido, e,
sendo sincera, nem ela havia, mas era sempre pior quando ela via a
dor e o medo estampados nos olhos dele.
— Eu sei, amor. Desculpa… Desculpa por, às vezes, parecer
que não me importo com a sua dor e com todo o sofrimento que
você passou, mas é que… – ela fez uma pausa, respirando fundo
quando sentiu que começaria a chorar a qualquer momento — Eu
só quero te ver bem e eu tento ser forte e passar essa força pra
você, quando, às vezes, nem eu mesma sinto essa força e…
— Shhh… por favor, você não precisa me pedir desculpas por
nada. Eu é que ainda não superei o que aconteceu.
— Nenhum de nós superou, Edward – ela disse baixinho, se
aproximando dele o máximo que a posição e seu ventre inchado
permitiam que ela fizesse, esticando-se com esforço na ponta dos
pés e beijando-o aonde seus lábios conseguiram alcançar.
Ela sabia bem do que ele estava falando, ela havia sentido tudo
o que ele havia sentido e, talvez, até mais coisas que ele havia
sentido.
Afinal, para ela, tudo o que ele havia sofrido desde que as
ameaças começaram, até os minutos em que achou que ela estava
morta, e tudo o que ele estava sofrendo, até agora, América via
como sendo culpa dela. Porque se ela não tivesse ficado na vida
dele e fugido, como era seu plano inicial, com toda a certeza ele não
teria tido todo esse sofrimento em sua vida.
América fingia que não, mas ela se lembrava, todos os dias, do
que havia acontecido.
Se lembrava a todo o momento e, geralmente, tinha pesadelos
horríveis e tão reais que a assombravam, assim como também
sabia que ele tinha…

Quatro meses antes…


Ela olhava apavorada para Mike, implorando a ele por ajuda.
Qualquer tipo de ajuda, enquanto sentia as lágrimas escorrendo
de forma descontrolada por seu rosto.
América havia aprendido a se defender, mas lidar com uma
arma era algo do qual ela não estava segura se era capaz de fazer
sem causar nenhum dano a si mesma.
O som de pneus derrapando na terra se fez presente, junto das
luzes vermelhas e azuis que brilhavam do lado de fora e entravam
pelas poucas janelas do lugar.
— Aquele babaca do seu namoradinho… ele chamou a polícia!
— Ele é meu…
— Cale a boca! – Monroe rosnou, puxando ainda mais os
cabelos de Amy e apontando a arma para ela, fazendo a morena
urrar de dor.
Foi naquele instante que Mike pareceu ter um momento de
lucidez.
Ou então, talvez, ele tenha ficado completamente louco, pois,
quando Amy abriu os olhos novamente, ele caminhava em sua
direção com os olhos cravados nos dela e, na cor escura dos olhos
do homem de traços gregos, ela viu que ele iria fazer algo.
Ela se preparou, esperando-o agir.
Steve parecia atordoado demais para perceber a aproximação
do Perry, que vinha sorrateiro.
E quando Amy viu que ele estava perto o suficiente, ela respirou
fundo, buscando força e uma coragem que, naquele momento, ela
não tinha e, então, ela levantou o pé e com força o desceu contra o
pé de Steve, enquanto Mike ia para cima dele, agarrando a mão na
qual o homem mantinha a arma.
Ela levou seu braço para frente e, em um movimento rápido e
usando toda a sua força, ela o trouxe de volta, acertando com tudo o
corpo de Steve e fazendo-o ofegar e ir para trás, soltando seu
cabelo ao mesmo tempo e, assim que ela se viu livre, correu sem
olhar para trás.
E estava quase conseguindo sair, quando o estampido de um
tiro a fez parar e ofegar no mesmo instante.
Amy ficou parada ali sem conseguir mover seus pés.
Ela ouviu o barulho de um corpo, grande e pesado, cair ao chão
e, se virando lentamente, ela viu Steve de pé, com a arma ainda em
mãos.
E, no chão, o corpo imóvel daquele que um dia ela chamou de
melhor amigo.
As lágrimas vieram de imediato para seus olhos, escorrendo por
seu rosto e a fazendo ofegar e soluçar, tamanha era a tristeza que
ela estava sentindo naquele momento.
Mike… não! Em sua mente, ela gritou, desconsolada, a perda
de alguém que ela teve carinho e respeito por muito tempo, apesar
da perda de contato e mesmo ele tendo se aliado a Monroe… ela
não deixava de sentir.
Amy sabia que deveria aproveitar o momento e correr para fora
daquele lugar o mais de pressa que ela conseguisse, mas estava
paralisada de horror e dor.
Ela nunca havia lidado com a morte de ninguém que ela
conhecia em toda sua vida; estava difícil para ela assimilar tudo.
E, foi com ela neste estado, que Monroe se aproximou,
pegando-a pelo pescoço com toda a força brutal e loucura que ele
tinha. Os olhos dele estavam injetados de raiva e América, naquele
momento, mais do que em todos os outros, temeu por sua vida.
Monroe a puxou para mais perto e, olhando dentro dos olhos de
América, ele falou:
— Eu quero que você grite. Eu sei que ele está lá fora e eu
quero que você grite – exigiu em tom baixo e cortante, carregado de
raiva e desdém — Mostre para ele que você não morreu… ainda.
— Não – Amy respondeu com dificuldade e com os dentes
serrados.
Ela respirava com dificuldade e, todo o ar que conseguia colocar
para dentro de seu corpo, parecia ser pouco diante de toda a
necessidade que ela sentia dele.
— Não? – Steve praticamente rosnou para ela, soltando uma
risada seca e carregada de desdém, logo depois, olhando
diretamente nos olhos dela — Então… eu vou fazer você gritar.
E, dito isso, ele esticou o braço, cujo na mão ele tinha a mesma
arma que usara para matar Mike, apontando-a para nenhum lugar
em especial e, então, ele atirou.
Três vezes.
O barulho fez com que os ouvidos de América doessem, mas
isto não foi o pior…
Monroe levou o cano da arma para bem próximo de América,
colocando-o quase colado ao pedaço de pele exposta da clavícula
dela, fazendo-a engolir com dificuldade.
— Agora, grite. – ele sussurrou, encostando à sua pele a boca
fervente do cano da arma.
Amy tentou não gritar, mas foi inevitável.
Quando Steve pressionou ainda mais o cano fervente da arma
contra sua pele, ela gritou em dor – com dificuldade imposta pela
mão de Monroe que apertava seu pescoço – sentindo sua pele
arder e queimar lentamente em contato com o metal quente da
arma.
Ela gritava e, logo depois, quase em um timing perfeito, Edward
invadiu o local, ladeado por vários policiais.
— Eu disse que ele estava aqui, não disse? – Steve sussurrou,
e, como se Amy não pesasse nada, ele a virou, prendendo-a agora
com o braço ao redor de seu pescoço e com as costas dela coladas
ao seu tronco, fazendo-a olhar diretamente para Edward, que estava
parado na entrada do galpão, completamente pálido e arfante.
Amy levou as mãos ao braço que Steve mantinha em seu
pescoço e segurou ali.
A mão dele estava apoiada no ombro dela, mantendo-a presa
ali. A outra mão, ele mantinha segurando a arma apontada para o
ventre de América.
— Por que não vem aqui e a pega de volta? – Monroe instigou,
fazendo América praticamente entrar em desespero.
Ela olhou para Edward, vendo todo o medo e dor estampados
nos olhos cinzentos dele.
Ela engoliu a seco e com um aceno negativo pequeno, quase
imperceptível, ela implorou para que Edward não se aproximasse.
Implorava com os olhos também, mas ela sabia que, mesmo
fazendo isso, Edward faria qualquer coisa para protegê-la.
E ele estava prestes a dar um passo à frente, quando um
homem pôs a mão no ombro de Edward, impedindo-o de avançar.
O Cage olhou para o homem que o segurava, vendo o detetive
logo atrás dele, recebendo como resposta um aceno negativo dele.
Estreitando os olhos, Amy encarou o homem que impedia
Edward de avançar e, quando o reconhecimento a atingiu, ela
ofegou.
Não conseguia acreditar que Nolan Barnes estava bem ali,
próximo de Edward.
O homem que salvou sua vida uma vez ao lado do homem que
a salvava todos os dias.
Os olhos se encontraram e Barnes, percebendo que Amy o
reconhecera, lhe deu um breve aceno, tentando dizer com aquele
gesto que tudo terminaria bem. Que todos ficariam bem, mas
Barnes agora não podia mais cumprir sua promessa com cem por
cento de precisão, porque agora Mike Perry estava morto.
Uma lágrima solitária escorreu pela face direita de Amy e ela
engoliu a seco, com dificuldade.
Monroe a apertou ainda mais contra seu corpo, enquanto
esticava o braço, cujo tinha a arma na mão, e apontava na direção
em que Edward e Barnes estavam.
Amy sentiu seu sangue gelar, enquanto Edward e Barnes
olhavam para Monroe, que tinha a mira da arma apontada para eles.
Barnes – assim como todos os policiais e seguranças que
estavam ali – levou sua mão ao lado do corpo onde sua arma
estava, sacando-a lentamente e tendo-a em mãos, pronto para usá-
la, ele se pôs na frente de Edward que estava completamente
desprotegido.
— Largue a arma, Monroe. – Barnes ordenou, apontando sua
arma para Steve.
O homem sádico e louco apenas riu e abriu a mão como se
realmente fosse soltar a arma.
Ele tinha um sorriso cruel nos lábios e os olhos injetados de
raiva estavam focados em Edward.
— Assim, Barnes? – ele debochou, rindo de tudo com escárnio
e sadismo.
Assim que Amy percebeu que a arma estava solta na mão de
Monroe, ela decidiu que estava na hora de se soltar novamente.
Ela olhou rapidamente para Barnes e Edward, desculpando-se
silenciosamente com os dois e, então, fez o que Tristan havia
ensinado a ela por tantas vezes.
— Não…! – Barnes falou, tentando impedir Amy quando viu o
que ela iria fazer, mas já era tarde demais para isso.
Ela ergueu com rapidez o braço e golpeou novamente Monroe
nas costelas, fazendo-o ofegar, e, ao senti-lo vacilar, deixando a
arma cair no chão, ela mordeu o braço dele fazendo-o soltá-la e
usou o peso dele contra ele mesmo, jogando-o no chão por cima de
seu ombro.
Tudo aconteceu muito rápido diante dos olhos de todos, e,
assim que Steve estava no chão, Amy se afastou, indo na direção
de Edward com passos trôpegos e apressados, se afastando de
Steve que já se levantava, com a arma novamente em suas mãos,
enquanto os policiais seguiam apreçados na direção dele.
Edward a encontrou no meio do caminho e a acolheu em seus
braços, apertando-a – quase sem cuidado algum – contra seu corpo
e sentindo o calor dela emanar para o seu lentamente, e todo o
perfume natural dela tomar conta de seus sentidos, acalmando seu
coração e sua mente.
— Por favor, me diz que você está bem – ele implorou com a
voz sussurrada, carregada de agonia e carência.
Monroe estava sendo algemado e ele parecia ligeiramente
atordoado, mas, quando seus olhos se focaram em Amy, ele queria
e iria atacar.
Debatendo-se contra os policiais que o algemavam, ele se
soltou com fúria e avançou em direção a Amy e Edward, mas, antes
que ele conseguisse fazer qualquer outro movimento, o estampido
de mais um tiro soou pelo galpão, fazendo Amy se sobressaltar nos
braços de Edward assim como o próprio se sobressaltou, e todos os
outros policiais que tinham corrido para tentar detê-lo.
O corpo, praticamente sem vida de Steve Monroe, caiu ao chão
com um barulho seco em meio a todo o silêncio que havia tomado
conta daquele lugar.
O autor do disparo estava alguns passos à frente de Amy e
Edward.
Nolan Barnes havia feito o que mais quis durante muito tempo
de sua vida…

Um beijo doce e carinhoso, depositado rapidamente contra seus


lábios, foi o que a tirou de dentro de suas lembranças e a trouxe de
volta para o presente. Ela não estava mais no dia, há quatro meses,
que quase desgraçou a vida de todos que ela ama em sua nova
família.
Ela não estava mais lá.
Ela estava em sua casa, com seu noivo ao seu lado, abraçando-
a com carinho e amor. Ainda grávida e com oito meses quase
completos de gestação.
Eles estavam prestes a se mudar para uma casa.
Um lugar maior e com mais espaço para se criarem duas
crianças e – talvez – até mais uma ou outra criança depois de algum
tempo. E, talvez, um cachorro ou um gato.
E, apesar de todas as coisas que haviam acontecido e de todos
os traumas que ela e Edward ainda tinham – e que precisavam ser
trabalhados e superados – América estava feliz e se sentindo
realizada com todo o rumo que sua vida havia tomado.
Era óbvio que eles teriam que enfrentar muitas coisas, mas ela
estava disposta a enfrentar e vencer a tudo, porque simplesmente
tinha a certeza de que não estaria sozinha para fazer isso.
E ela estava definitivamente bem com isso.
Amy havia se molhado toda com o suor que cobria o corpo de
Edward, mas, apesar de estar se sentindo levemente pegajosa e
com cheiro de suor, ela não podia estar se importando menos com
aquilo, apenas porque estava nos braços dele, sentindo que aquele
era o seu melhor e único verdadeiro lugar no mundo.
— Eu estava pensando – Edward começou, abrindo um
pequeno sorriso para ela que o retribuiu.
Todas as lembranças ruins pareciam ter evaporado e sido
esquecidas por ele naquele momento, e isso fez Amy feliz.
— O que acha de irmos almoçar na casa da minha mãe, depois
da consulta com a doutora Courtney?
Depois do que havia acontecido, Amy acabou sendo obrigada a
trocar de médica.
A doutora Webb havia pedido transferência do hospital em que
trabalhava, e, mesmo que Edward e América tivessem entendido
porque ela havia aceitado “ajudar” Steve Monroe, a médica não se
sentiu bem em continuar consultando eles e, muito menos, em
continuar trabalhando na cidade de Seattle.
Ela havia se mudado para a capital, Washington, e estava
vivendo lá desde que Amy havia sido resgatada e que seus filhos
estavam devidamente ao lado dela e a salvo, há quase cinco meses
que América não a via, mas Kelly não havia partido sem entregá-la
– e a maioria de suas pacientes – nas mãos de uma ótima e
experiente médica: A doutora Loreley Courtney.
— Eu acho que vai ser ótimo! Acha que, desta vez, vamos
conseguir descobrir os sexos? – Amy questionou pensativa,
afastando-se minimamente de Edward e acariciando seu enorme
ventre com ambas as mãos — Todas as vezes que tentamos, eles
ou se escondem ficando de lado ou fecham as perninhas.
— Eles querem fazer suspense… Papai está certo, né? –
Edward questionou, suavizando a voz e se abaixando para ficar de
frente para o ventre de América outra vez.
Em resposta, chutes fraquinhos foram sentidos por Amy e
Edward, que mais uma vez sorriram maravilhados para a ação,
como se fosse a primeira vez que isso acontecia.
Eles conseguiam se lembrar com perfeição de como havia sido
sentir seus filhos mostrando que realmente estavam ali, que
estavam vivos, para ele e para Amy.

Estavam todos reunidos na casa de Edward em Breckenridge.


A neve caía levemente do lado de fora, deixando a paisagem
completamente branca e com poucos salpicos de outras cores
espalhadas por ela.
O interior da casa estava completamente aquecido, mas,
mesmo com tudo isso, ainda era possível sentir um pouco do frio
que o inverno do lado de fora trazia, sem se importar com ninguém.
É uma tarde fria, branca e bonita de vinte e dois de fevereiro.
Pouco mais de um mês depois de quase toda a tragédia e de
todo o desespero que havia acometido aquela família.
América ainda se recuperava do que havia acontecido, assim
como sabia que Edward também o fazia.
Ela havia ganhado novas marcas que ficariam para sempre em
sua pele e em sua memória.
No espaço de pele de sua clavícula, bem próximo à curva do
pescoço, estava a cicatriz, ainda rosada, da queimadura causada
por Monroe. Por diversas vezes ela ainda conseguia senti-lo
pressionando o cano quente contra sua pele, apenas para fazê-la
gritar.
A maioria das vezes que isso acontecia era durante a noite e ela
acordava gritando, sempre assustando Edward, que dormia ao seu
lado.
Durante todo esse tempo que havia se passado, ela não havia
conseguido ter coragem de ir ao encontro do pai de Mike Perry e lhe
fazer uma visita para pedir desculpas pelo o que havia acontecido
ao filho dele.
Às vezes, ela ainda sentia seu coração apertado pelo o que
havia acontecido e tentava se convencer de que a culpa não era, de
um todo, dela, mas também de Mike e, principalmente, de Monroe,
mas, mesmo assim, ela não conseguia deixar de se sentir culpada.
Sentada no sofá da sala de estar, aproveitando o delicioso calor
que vinha da lareira acesa e incandescente, América divagava entre
seu passado e seu futuro, imaginando como seria sua vida quando
seus filhos nascessem e, então, quando estivesse casada.
Visualizar como seria sua vida ao lado de Edward – com o para
sempre sendo a melhor opção de união – e com seus filhos
crescendo bem e saudáveis, era o que ela mais queria que se
tornasse realidade.
Pensar no futuro sempre fazia isso com ela: a deixava
emocionada, mas também preocupada.
Ela temia que, em algum momento, sua mãe descobrisse que
ela estava prestes a se casar e, principalmente, temia que Dianna
descobrisse que ela estava grávida de gêmeos.
Durante todo o sequestro e, principalmente, depois das horas
desesperadoras que ela havia passado nas mãos de Monroe, em
nenhum momento saíram notas em jornais, revistas ou sequer na
televisão sobre o que havia acontecido com ela, e toda a
movimentação de policiais sequer pareceu ser notada pela mídia,
tudo o que havia sido falado sobre a família Cage era sobre a festa
de Marie e sobre o reaparecimento da mulher misteriosa, ao lado do
magnata Edward Cage em mais uma festa, fazendo mais
questionamentos sobre quem seria ela. E, posteriormente, uma
pequena nota sobre a nova aquisição empresarial de Edward.
Mas, de um todo, nenhum outro comentário com relação a eles
fora feito.
Com um suspiro suave, Amy olhou para baixo, fitando seu
ventre de dezoito semanas, grande demais para estar apenas com
este tempo de gestação. Se ela e sua família não soubessem que
estava grávida de gêmeos, todos iriam acreditar que sua gestação
era muito mais avançada do que o tempo real que ela tinha.
Estava entrando no quinto mês de gestação e não podia estar
mais contente por seus bebês estarem bem e saudáveis, crescendo
como deveriam.
Com um sorriso estampado no rosto, ela acariciou seu ventre
com carinho e paixão, ficando assim por um longo tempo, até que
Edward apareceu ao seu lado, tirando-a de seus devaneios com o
movimento dele.
Amy sorriu para ele e voltou a olhar para seu ventre, logo
depois, voltando a acariciá-lo e tendo Edward se juntando a ela.
— Você acha que eles vão demorar muito a começar a se
mexer? – Amy questionou, mordendo de maneira ansiosa o lábio
inferior e olhando para Edward.
— Eu não sei – ele respondeu, sentindo a mesma ansiedade
que ela sentia e tocando, com carinho, o ventre redondo e inchado
de quase cinco meses — A doutora Courtney disse que pode
acon…
E, então, aconteceu.
Um chute, forte e direto, que acertou a mão de Edward, fazendo
com que ele e América se sobressaltassem, completamente
surpresos com o que havia acabado de acontecer, afastando as
mãos com o pequeno susto que haviam levado.
— Você sentiu isso? – Amy questionou bestificada, com um
enorme e emocionado sorriso gravado em seus lábios.
Os olhos azuis cintilavam como duas estrelas, completamente
banhados de emoção.
— E como senti! – Edward exclamou, emocionado, levando
novamente a mão de volta para o ventre de Amy e o tocando com
devoção, carinho e todo o cuidado do mundo, recebendo novamente
chutes, desta vez, mais fracos, exatamente onde suas mãos
tocavam.
Ele estava maravilhado com aquilo e nenhum dos dois
conseguia parar de sorrir e, quando os outros integrantes da família
apareceram na sala – incluindo Nick Lawson – a comoção foi geral.
E de todos, com exceção de Edward e Amy – os mais emocionados
foram Paige e Josh, e o casal anterior entendia e sabia muito bem o
motivo de toda aquela emoção.

América sorriu para Edward, de maneira enorme e apaixonada,


observando enquanto ele terminava de falar com sua barriga, e
consequentemente com seus filhos que ali estavam, para, logo
depois, depositar dois cálidos beijos um de cada lado do ventre
redondo para, então, se levantar e olhar dentro dos brilhantes olhos
de sua noiva.
Aquela era a sua cor favorita.
A cor que a esperança e a felicidade tinham para ele agora. Um
azul tão lindo e profundo, com um brilho tão maravilhoso, que
davam para Edward a certeza de que aquilo iria ser para sempre.
— Eu te amo – ele disse, vendo um lindo sorriso se abrir nos
lábios de sua Amy e o brilho, presente nos olhos dela, se
intensificar.
— Eu te amo.
Ele a beijou com carinho e amor, para, logo depois, se afastar e
se abaixar, passando os braços pela cintura e por trás das pernas
de Amy, respectivamente, para, então, a erguer no colo, fazendo-a
soltar um gritinho esganiçado e assustado.
— O que você está fazendo?!
— Levando a minha futura esposa para tomar um banho comigo
– respondeu quando já começava a andar.
— Não precisa me carregar pra isso, Edward! – exclamou
exaltada, agarrando-se ao pescoço dele da melhor maneira que
conseguia.
— Estou apenas treinando, querida.
— Estou enorme e pesada, Edward! Por favor! – Amy
praticamente esperneava em protesto ao que Edward estava
fazendo, mas ele apenas conseguia sorrir para todos os protestos
dela — Já que vai me carregar, pode pelo menos não subir as
escadas comigo no colo?
— Isso nem passou pela minha cabeça, amor. – ele sorriu
tranquilizador para ela, que, mesmo querendo mostrar para ele que
desaprovava ser carregada por ele no estado em que se
encontrava, não conseguiu deixar de sorrir de volta para ele em
resposta.
[…]
Nicolas Lawson chegou ao hospital cinco minutos depois de
Amy e Edward.
O homem – que surpreendia Edward sempre com a inexplicável
semelhança física com América – estava agora morando em
Seattle, em uma tentativa acertada de estar mais perto de sua
menina e dos netos que estavam por nascer.
Nicolas encontrou o casal sentado na sala de espera.
Eles conversavam baixinho e sorriam, mas ele sabia que –
apesar de toda a felicidade que a Lawson demonstrava – ela estava
assustada e com medo, principalmente por causa de Dianna e de
toda a família na qual ela havia nascido.
E este era um dos principais motivos de Nicolas estar agora
morando tão mais perto.
Nicolas havia sido perdidamente apaixonado por Dianna
Bazanova, a mãe de América, por praticamente toda a sua vida, e,
por um tempo, ele acreditou que ela sentisse o mesmo por ele, mas,
então, um dia – quando Amy ainda era uma pequena criança –
Dianna pediu que ele fosse embora porque não o queria mais perto
da filha dela porque ele não a criava como ela deveria ser criada.
Ele quis ficar, com toda a sua vontade ele quis, tinha motivos
muito maiores do que Dianna para ficar, mas ela não o permitiu e,
com a ajuda de toda a família dela – que a apoiou sem titubear – ele
foi “destituído do cargo” da família e obrigado a ir embora.
Nicolas ainda sofria com sua partida e isso piorava em todas as
vezes que olhava para América e via o quanto ela havia crescido e
se tornado formidável, lembrando-se que havia perdido grande parte
do crescimento de sua garotinha.
Para ele, o tempo que ela tinha passado com ele – enquanto
fugia de Monroe – tinha sido tão pouco quanto o que passara com
ela antes de ser escorraçado por Dianna.
— Pai! – Amy exclamou sorridente assim que o viu.
Ela teria se levantado e corrido até ele se, para fazer isso, ela
não precisasse de ajuda.
Sair da cama para ela era um grande problema, mas se levantar
de uma cadeira era uma batalha ainda maior. Para ajudá-la a sair da
cama, Edward havia mandado adaptar uma barra de auxílio para
cadeirantes, apenas para que Amy pudesse se levantar da cama
sozinha quando ele não estivesse por perto.
Mas sair de uma cadeira ou um sofá era uma das piores tarefas
para ela conseguir fazer sozinha. Se abaixar estava fora de
cogitação. Se algo caísse no chão, ela já havia aprendido a lição de
ter que chamar alguém para pegar para ela.
— Amie – Nicolas exclamou sorridente, sentando-se no espaço
vago ao lado de sua filha e a abraçando com carinho,
cumprimentando à Edward, logo depois — Como está se sentindo
hoje? E você, Edward, como vai?
— Ansiosa. – respondeu com uma risadinha tímida e nervosa.
— Faço minhas as palavras da Amy. – Edward respondeu,
fazendo o sogro rir.
— Acha que desta vez eles se revelam?
— É o que esperamos – Edward respondeu com um sorriso,
tocando com carinho o ventre de sua Amy.
— E meus netinhos, muito agitados?
— Desde o dia que descobriram como era bom se mexer e que
podem nos fazer sentir.
Nicolas e Edward riram da resposta dada por Amy, mas Edward
bem sabia que era verdade, e os bebês pareciam escolher sempre
as horas mais inusitadas para ficarem se mexendo, como quando
Amy estava tentando dormir à noite ou quando ela estava comendo.
Como ela dizia: eles não paravam de pular.
A obstetra, Loreley Courtney, os chamou poucos minutos depois
da chegada de Nicolas à sala de espera, e, assim que Amy teve seu
nome chamado, os dois homens se levantaram e ajudaram Amy a
fazer o mesmo e a se estabilizar, antes de irem em direção ao
consultório da médica.
O centro de gravidade de Amy estava completamente afetado,
e, muitas vezes, até para se virar por completo para alguém era
uma tarefa difícil.
Entraram todos, sendo simpaticamente recebidos por Loreley,
que parecia estar sempre ostentando um sorriso doce e cordial no
rosto, não importava o que estivesse acontecendo com ela.
América gostava disso nela.
A doutora, sabendo da dificuldade de América em se sentar e
se levantar não deixou sequer que a mesma chegasse perto da
cadeira, conversando com ela, enquanto, ao mesmo tempo, fazia
nela todos os exames comuns de avaliação que sempre fazia a
cada nova consulta e, logo depois, a levando para a maca onde
seria feita a ultrassonografia.
Neste momento, Edward se aproximou definitivamente de Amy,
ajudando-a a subir na maca e a se deitar. Aposição era
desconfortável por causa do peso e dificultava um pouco sua
respiração, mas ela não conseguia estar mais contente por isso.
— E, então, papais e vovô, acham que desta vez vão conseguir
começar a chamá-los pelos nomes que escolheram? – Loreley
questionou, sorrindo carinhosa para Amy que tinha uma expressão
ansiosa e quase aflita no rosto.
O que não era muito diferente de Edward ou de Nicolas.
— Temos esperanças – ela riu suavemente, sentindo Edward
segurar firme e carinhosamente a sua mão, ao mesmo tempo em
que Loreley levantava a bata branca de Amy e começava a despejar
o gel gelado em sua barriga.
Logo que ela encostou o aparelho na barriga de Amy, as
imagens apareceram borradas e confusas no monitor, como sempre
eram para Amy e Edward, apesar de todas as vezes que eles já
haviam estado ali ao logo dos oito meses quase completos.
— Bom. Você está com, aproximadamente, trinta e quatro
semanas de gestação, os bebês estão no tamanho correto para o
tempo… – a médica franziu o cenho, olhando diretamente para as
imagens no monitor — Ora, vejam só! – ela exclamou e
imediatamente todos ficaram em alerta, olhando para onde ela
também olhava, tentando entender o que ela via — Parece que
alguém aqui resolveu se mostrar. Já pensaram em algum nome,
papais?
— Marie e Louis. – foi Edward quem respondeu, olhando
rapidamente para Amy ao falar os nomes, sem deixar de sorrir um
minuto sequer.
— Bom… posso dizer para vocês, então, que a pequena Marie
está bem aqui e parece bem satisfeita – Loreley riu suavemente,
apontando com o indicador o formato delicado do bebê no monitor
— Mas suponho que o irmão, ou irmã, da Marie quer se manter em
suspense por mais um tempo.
Edward e Amy riram, sentindo os olhos arderem em emoção.
Eles teriam a sua pequena Grace Marie em breve, e, se Amy
estivesse certa – como sentia que estava – teriam também o
pequeno Louis nos braços muito em breve.
Edward beijou Amy brevemente nos lábios, sem conseguir
deixar de sorrir por um único minuto, sentindo que seu peito mal
podia conter seu coração tamanhos eram os sentimentos bons e
alegres que o inundavam.
— Os bebês estão ótimos, no tamanho certo e pelos meus
cálculos também estão no peso adequado, e, bom, se vocês
quiserem já podemos começar a procurar uma data para que
possamos marcar a cesariana. Tem algum dia em especial que
queiram que eles nasçam?
— Não tínhamos pensado direito nessa parte ainda – Amy
confessou, sentindo suas bochechas arderem, envergonhada por
seu relapso descuido com este pequeno detalhe.
— Tudo bem, não tem problema. Vocês podem me ligar assim
que tiverem uma data ou vir direto aqui para marcarmos juntos… o
que preferirem.
— Tudo bem – Edward disse, assentindo, enquanto ajudava
Amy a terminar de se limpar e a arrumar a roupa para, então, ajudá-
la a se levantar e descer da maca — Acho que daqui duas
semanas… O que ach… Amy? — Edward questionou, olhando para
sua noiva que sorriu para ele, tentando esconder uma careta de dor
— O que houve? O que está sentindo?
— Acho que um deles acabou de cutucar, com muita força, as
minhas costelas – ela respondeu, brevemente, ofegante.
Havia sido uma pontada forte e que havia lhe tirado o ar.
— Está tudo bem – ela garantiu.
— Tem certeza? – Edward e Loreley questionaram ao mesmo
tempo, fazendo Amy olhar para eles deforma divertida.
— Absoluta. Acho que eles estão apenas mostrando que estão
ansiosos para saírem – ela riu levemente.
Amy sorriu para Edward, agradecendo-o pela ajuda e se apoiou
nele, por alguns segundos, para poder reaver seu equilíbrio e,
então, ambos seguiram para próximos da mesa da doutora, onde
ela agora escrevia algumas coisas em um papel de receitas,
entregando-o para Amy logo depois de terminar de escrever e
explicando a ela o que era: resumindo mais vitaminas para que ela
tomasse.
— As contrações de Braxton Ricks tendem a aumentar
gradativamente daqui por diante, então, a não ser que haja algum
tipo de sangramento ou líquido escorrendo por entre suas pernas,
não haverá necessidade de virem correndo para o hospital, está
bem? Mas podem me ligar caso sinta qualquer coisa fora do seu
normal, está bem?
— Sim, doutora.
Nicolas assistia a tudo sem fazer comentários e sem se
aproximar muito, estava se sentindo emocional demais para fazer
qualquer coisa racional naquele momento.
Loreley pegou um pequeno calendário, que estava em sua
mesa, e o indicou para o casal, apontando as datas que teriam
disponíveis e melhores para a cesariana que seria realizada para
trazer os bebês deles ao mundo.
— Acho que dia vinte e oito estaria ótimo. O que você acha? –
Amy questionou virando-se para Edward que sorriu e assentiu para
ela.
— Dia vinte e oito, então. De manhã?
— Acho que está bom… – Amy respondeu e, olhando para
Edward, recebeu um aceno positivo de concordância da parte dele.
— O.k., então. Nos vemos dia vinte e oito. Devo entrar em
contato com vocês durante essa semana para acertarmos os
horários para chegarem e para a cirurgia, está bem?
— Uhum. – Edward murmurou assentindo levemente com a
cabeça e logo depois disso a doutora sorriu para eles e os
dispensou, dizendo que os veria em poucos dias para ajudar a
trazer a pequena Marie e seu irmão ou irmã para o mundo.
[…]
O almoço na casa dos Cage havia sido regado de mimos e
estripulias de Laurie, dizendo o quanto estava contente por
finalmente ter uma sobrinha a qual ela iria poder vestir e pentear,
como sempre quis fazer com todas as mulheres de sua família.
Marie havia ficado radiante com a notícia de que teria uma
netinha, assim como George também havia ficado.
Todos quiseram saber qual seria o nome da pequena e saber
qual seria o nome do irmãozinho dela se fosse menino ou menina,
mas Amy e Edward decidiram apenas revelar quando eles
nascessem. Ela queria fazer uma surpresa para sua sogra quando
contasse para ela que sua neta carregaria seu nome.
Amy estava se sentindo estupidamente enorme e cansada.
Nem ela, nem Edward haviam passado bem a noite. Ela por
causa das contrações de Braxton Ricks e Edward porque passara
boa parte da noite acordado com Amy e porque, mais uma vez,
havia tido pesadelos com o dia que Amy havia sido resgatada.
E, além de tudo isso, ela estava sentindo um leve desconforto
em seu baixo ventre, uma leve ardência. Mais uma vez as
contrações de Braxton Ricks estavam se fazendo presentes em seu
dia, mais cedo do que comumente se faziam, mas a doutora
Courtney a havia avisado que isto aconteceria.
Ela estava em casa, deitada em sua cama na posição mais
confortável que ela havia encontrado, tentando, de alguma forma,
conseguir tirar um cochilo que fosse.
Edward havia ido para a empresa, por causa de uma reunião
marcada há semanas, logo depois de deixá-la em casa – após o
almoço na casa dos Cage – e devidamente posta na cama, com o
telefone e o interfone para se comunicar com Aretha em caso de
qualquer emergência.
A ardência que ela sentia era fraca e não a incomodava muito, o
que realmente a incomodava era não conseguir encontrar uma
posição, confortável o suficiente, para conseguir dormir.
Era fim de tarde e ela estava definitivamente cansada.
Carregar o peso de duas crianças era realmente desgastante,
mas, mesmo com todo o peso, cansaço e noites mal dormidas, que
vinha tendo nas últimas semanas, ela não conseguia se sentir
menos feliz por isso.
Apesar de toda a tormenta pela qual havia passado durante os
primeiros meses de sua gravidez, Amy havia conseguido aproveitar
e curtir todo o restante de sua gestação junto de Edward e de toda a
família, que há muito ela já considerava dela e que em menos de
um ano se tornaria oficial, com todas as letras e do jeito que deveria
ser.
América suspirou longamente, de maneira satisfeita, quando
encontrou a posição perfeita.
Ela fechou os olhos e se deixou levar pelo sono que estava
sentindo, com a imagem de um Edward sorridente e um casal de
crianças que se pareciam de mais uma com a outra, projetada em
sua mente.
[…]
Edward chegou em sua casa quando já passava das dez da
noite.
Havia sido uma reunião extremamente longa e exaustiva tanto
para ele quanto para todos os que participaram dela, incluindo os
representantes da empresa que tinham marcado a reunião.
Havia sido tão extensa que todos jantaram na própria empresa.
O apartamento estava silencioso e a maioria das luzes estava
apagada, o que era de se esperar pelo horário que havia chegado
em casa, mas, mesmo assim, ele estranhou não encontrar América
sentada ou deitada no sofá a sua espera. Ele sabia que,
provavelmente, ela estaria deitada no quarto deles, dormindo, ou
vendo um filme.
Desde que havia chegado aos sete meses de gestação – por
sugestão dele – que Amy não ficava mais na sala o esperando
quando ele tinha esses tipos de reunião. Havia se tornado
desconfortável para ela ficar no sofá e, principalmente, porque ela
geralmente pegava no sono e ficava com dores horríveis nas costas,
que só pioravam as dores que ela já comumente sentia por causa
do peso dos bebês.
Ele suspirou de forma cansada ao olhar para as escadas que
teria que subir até chegar ao quarto, tomando coragem para poder
fazê-lo e, então, poder matar as saudades que estava de sua Amy e
de seus filhos.
Não importava quanto tempo ele passava longe deles, ele
sempre sentia saudades.
Assim que chegou ao segundo piso do apartamento, Edward
seguiu até a porta de seu quarto e, quando a abriu, a cena que ele
viu fez com que um sorriso se abrisse em seu rosto.
América estava deitada com a maior parte do corpo no lado em
que Edward dormia, as pernas levemente encolhidas e a mão
protetoramente pousada sobre o ventre, inchado e extremamente
grande.
Ela tinha um biquinho fofo formado nos lábios e a expressão era
serena.
Enquanto se aproximava, Edward teve a certeza de que ela
estava dormindo desde que havia terminado de jantar.
Não teve coragem de acordá-la para dizer que havia chegado,
apenas conseguiu ficar a observando por incontáveis minutos,
sorrindo feliz porque tinha sua mulher com ele e sabendo que, em
breve, teria também seus filhos.
Ele notou que as roupas que ela vestia eram diferentes das que
ela usava quando ele saiu para a empresa, o que o fez concluir que
ela havia tomado banho, e ele só esperava que ela tivesse chamado
Aretha para ajudá-la a fazer isso.
Com o sorriso ainda estampado nos lábios, Edward seguiu até o
banheiro onde se livrou de suas roupas e se enfiou debaixo de uma
aprazível ducha de água quente, que relaxou todos os seus
músculos.
Quando terminou, ele se secou e vestiu seu pijama, seguindo,
logo depois, para a cama e deitando-se ao lado de América, que,
instintivamente, se aproximou mais dele. E ,depositando um beijo no
topo da cabeça dela, ele fechou os olhos e se entregou ao cansaço
e sono que estava sentindo.
Ele a tinha em seus braços e não a havia perdido.
Estava tudo bem agora e a tendência, no que dependesse de
Edward e de sua família, era apenas melhorar.
36- Os melhores presentes.
Era madrugada do dia seis de maio.
Havia se passado dez dias desde a última consulta de América
com a doutora Courtney e, como ela havia avisado, as contrações
de Braxton Hicks estavam se fazendo cada vez mais presentes.
Amy estava deitada em sua cama, ao lado de Edward, e ela já
havia perdido as contas de quantas vezes havia se revirado
buscando por uma posição confortável para dormir e sentir menos
dor, mas parecia que, a cada vez que a dor parecia ter passado e
ela conseguia se ajeitar, a dor voltava ainda pior e isso a estava
deixando realmente preocupada.
Com dificuldade e respirando profundamente diversas vezes,
ela se sentou na cama e o movimento mais brusco chamou a
atenção de Edward, que se encontrava quase desperto, fazendo-o
acordar de vez.
— Amor, está sentindo alguma coisa? – ele pediu com a voz
sonolenta, coçando os olhos e se esticando para o outro lado,
acendendo o abajur para iluminar o quarto e poder olhar melhor
para América.
— São as contrações de Braxton Hicks. Estão bem fortes hoje –
ela disse em meio a um suspiro, sentindo uma forte pressão que
parecia abraçar todo o seu abdome.
— Tem certeza de que é apenas isso? – Edward perguntou, já
mais desperto e se aproximando de Amy, quando ela gemeu alto,
curvando-se para frente e levando uma das mãos ao ventre enorme,
enquanto, com a outra, ela se agarrava ao colchão.
Ela apertava com tanta força que as juntas de seus dedos
chegaram a ficar brancos.
Edward se colocou atrás de América, afagando as costas dela,
como a médica havia instruído, na tentativa de acalmar Amy e de
aliviar as dores que ele sabia que ela estava sentindo.
Era uma situação terrível para ambos quando estas contrações
começavam. Para Edward, era uma tortura psicológica, pois ele não
podia fazer nada que não fosse estar ali ao lado dela.
Aquela era uma das situações em que Edward gostaria de
poder trocar de lugar com ela apenas para não vê-la sentindo dor,
ou, então, de poder tirar parte desta dor dela e senti-la por Amy,
mas isso ele não podia fazer, então, ele apenas a apoiava e a
ajudava.
Mas naquele dia, tanto para ele quanto para ela, as contrações
de Braxton Hicks estavam parecendo piores e isso estava deixando
Edward assustado, apesar de a doutora Courtney tê-los avisado que
isso ocorreria.
— Uhg! – Amy gemeu baixinho, remexendo-se desconfortável
com as dores e as sensações estranhas que estavam dominando
seu corpo.
E, então, algo diferente aconteceu.
América sentiu um líquido estranho e quente escorrer por entre
suas pernas e molhar o colchão onde estava sentada. Ela olhou
assustada para Edward, sem conseguir falar direito, abrindo aboca
diversas vezes sem conseguir fazer com que as palavras saíssem.
— O que houve?! – Edward indagou, assustado, sem conseguir
entender direito o que o olhar alarmado de sua noiva queria dizer —
Amy?
América abriu a boca para responder, mas uma nova onda de
dor, desta vez mais forte, tomou conta dela antes que ela pudesse
sequer pensar em fazer as palavras saírem.
— Hospital… por favor – ela praticamente ganiu em meio à dor
e ao pouco fôlego que lhe sobrava.
Edward imediatamente ficou de pé, correndo em direção ao
closet e enfiando uma calça e uma camisa quaisquer e de qualquer
jeito.
Logo depois de pegar os documentos de Amy, ele correu para
fora do quarto pegando as chaves do carro, da garagem e o celular
no caminho, correndo para fora de casa em direção à garagem,
tirando o carro de lá em seguida e o estacionando em frente à porta
da casa, deixando-o ligado e com as portas apenas encostadas.
Ele entrou novamente na casa, gritando por Aretha, Tyler e
Ward, por quem quer que fosse, a plenos pulmões enquanto corria
novamente para o quarto, encontrando América na mesma posição
em que a deixara.
Imediatamente ele se aproximou e a pegou em seus braços,
quase sem dificuldade alguma, notando, apenas assim, que a
enorme camisa que ela usava para dormir estava encharcada, e,
quando olhou para o colchão, no local onde ela estava sentada, o
que viu fez seu coração quase parar.
Havia sangue ali.
E ver isso assustou a merda para fora de Edward.
Ele saiu do quarto com ela em seus braços, apressado e
desesperado, enquanto Amy se agarrava a seu pescoço chorando
baixinho de dor e medo.
Ela estava apavorada.
Não imaginara, em momento algum, que o parto de seus filhos
seria assim com as dores fortes que a assolavam antes do tempo
imaginado por ela. América sequer imaginou que sentiria dores para
ter seus bebês, já que eles viriam ao mundo antes do tempo normal
e através da cesariana.
Aretha foi a primeira a aparecer na sala depois dos gritos de seu
patrão chegarem até ela, vestida em seus pijamas que eram
cobertos por um robe escuro e com o rosto inchado de sono.
— Senhor Cage, o que houve? – a governanta perguntou
assustada, já bem desperta de seu sono, assim que viu o desespero
do patrão e o corpo de América encolhido nos braços dele.
— Aretha, prepare as coisas da Amy e dos bebês – ele pediu ou
ordenou (nem sabia mais) sem parar de andar em direção a saída
da casa — Peça ao Tyler para levar ao hospital o mais rápido que
puder.
— Sim, senhor – Aretha murmurou, saindo, sem prensar duas
vezes, em direção ao quarto do casal, enquanto Edward ia em
direção ao carro, xingando-se enormemente por não ter pensado
em um plano de emergência para o caso de algo deste tipo
acontecer.
— Vai ficar tudo bem… respira, o.k.? Só respira – ele
murmurava para ela, com seus lábios encostados ao cabelo dela,
sentindo-o já úmido pelo suor que tomava conta dela, e sentindo-a
levemente fria em seus braços — Fica comigo…
Eles haviam se mudado para a casa que tinham comprado em
Bellevue, haviam cogitado fazerem isso apenas quando os bebês
nascessem, mas desistiram da ideia assim que perceberam o quão
difícil estava sendo para Amy subir e descer escadas e usar o
elevador, e, então, se mudaram uma semana depois da última
consulta de Amy.
Ele não queria mais estresse para Amy em sua gravidez, mas,
naquele momento, ele estava agradecido em demasiado por já
terem se mudado.
Edward teve sua atenção completamente voltada para ela,
enquanto a acomodava da melhor maneira possível no banco do
carro, passando o cinto por ela, que se encolheu no banco, ainda
chorando baixinho.
Ele acelerou assim que se sentou atrás do volante e fechou a
porta, não se importando com as multas que ganharia por
ultrapassar alguns sinais e por estar acima do limite permitido de
velocidade. Tudo o que ele queria era chegar ao hospital e poder ter
a certeza de que Amy e seus filhos ficariam bem.
Para Amy, tudo não passava de um borrão de dor e lágrimas,
ela sentia fortes apertos em sua barriga, como se houvesse
enormes braços de aço a apertando bem ali, e isso estava lhe
tirando o fôlego e a capacidade de raciocinar.
Ela sentiu seu corpo ser erguido novamente e soube que era
Edward quem a tomava nos braços.
Ela sabia que ele estava falando alguma coisa, mas seus
ouvidos não conseguiram captar o que ela tinha certeza de que ele
berrava.
Seus ouvidos estavam zunindo devido a dor excruciante que
estava sentindo, era como se todos os seus sentidos tivessem
virado geleia e apenas tivesse ficado a capacidade de sentir dor.
Amy não queria estar tendo seus filhos assim. Não desta forma
desesperadora.
Edward estava apavorado e, em nenhum momento, ele saiu de
perto de Amy, segurando a mão dela na dele enquanto ela era
levada para a sala em que ela seria operada.
Mas, em um momento, ele foi obrigado a deixá-la e a soltar sua
mão.
— O senhor não pode passar daqui – disse uma enfermeira
baixinha vestida de azul da cabeça aos pés.
Edward sequer olhou para a funcionária na sua frente, que
tentava a todo o custo impedi-lo de passar pelas portas que levavam
à área restrita do hospital.
— Eu tenho que estar com ela! – ele esbravejou quando mais
uma vez a enfermeira tentou barrá-lo — Eu tenho… Pergunte à
doutora Courtney. Eu tenho autorização – Edward literalmente
implorava.
A mulher expirou com força o ar que tinha em seus pulmões.
— Venha comigo, vou levá-lo para se preparar.
-*-
— Edward…? – Amy chamou, abrindo os olhos
instantaneamente quando não sentiu a mão de Edward em contato
com a sua, querendo que ele estivesse ali.
América estava com muito medo.
A médica que estava de plantão foi quem a atendeu,
acompanhando a maca em que Amy estava praticamente encolhida
em dor, abraçando seu ventre inchado com o braço que não tinha a
mão atada à de Edward como se assim ela pudesse proteger seus
bebês de qualquer coisa.
— Olá, América, consegue me entender? – a médica de plantão
falou assim que tinha o prontuário de Amy em suas mãos,
movimentando-se rapidamente em direção à sala de cirurgias,
acompanhando a maca em que Amy estava deitada, em resposta à
sua pergunta ela apenas recebeu um gemido de dor vindo de
América — Onde está a doutora Courtney? – ela perguntou para
alguém que não era Amy.
— Ela ainda não chegou… – alguém respondeu, enquanto Amy
se contorcia mais uma vez em cima da maca.
— Vamos transferi-la para a mesa de cirurgia. – falou a médica,
acompanhando os enfermeiros que transferiam Amy da maca para a
mesa de cirurgia às pressas — A anestesia?
— Está comigo, Bruna – falou um homem para a médica, ao
mesmo tempo em que Edward entrava na sala de cirurgia
acompanhado da enfermeira que o ajudara.
Ele foi diretamente para o lado de Amy, pegando em sua mão e
mostrando a ela que estava ali.
— Vai ficar tudo bem… Vai dar tudo certo – ele sussurrava com
sua mão atada a de Amy, como se seus dedos fossem de aço.
— Aplique. – ela ordenou assim que a roupa de Amy estava
aberta e tornando o acesso às costas dela mais fácil.
Amy sentiu a fisgada em suas costas e por muito pouco não fez
com que o anestesista errasse.
Edward apertou a mão dela na dele e manteve seu olhar
grudado no de Amy, sempre querendo confirmar que ela estava ali
com ele.
— Vamos logo com isso, pessoal! – Bruna mandou e todos a
acompanharam, seguindo suas ordens e trabalhando firme e com
cuidado para não haver perdas e nem problemas.
O parto em si já estava sendo complicado apenas por ser de
gêmeos, com a bolsa estourada e contrações anormais para a mãe,
se tornava ainda mais complicado.
Para Amy, tudo não estava passando de um borrão diante de
seus olhos – um borrão agora sem dor. Ela forçava os olhos a se
manterem abertos e, para conseguir isso, os mantinha focados em
Edward, que também olhava para ela, intercalando algumas vezes o
olhar para outro lugar que Amy não conseguia imaginar qual era,
mas ela o via sorrir e isso era o bastante para deixá-la alerta, mas
calma.
Ele não sorriria se houvesse algum problema.
Edward, por outro lado, não estava perdendo nada e teria
aquele momento guardado em sua memória para o resto de sua
vida, tanto pelo desespero e pavor que estava sentindo quanto pelo
presente que era poder ver seus filhos vindo ao mundo.
Depois de algum tempo, que Edward não saberia dizer se havia
sido longo ou não, o primeiro choro foi ouvido. Era um choro agudo
e alto que encheu a sala de cirurgia com a sua presença.
De todos os sons que já tinha ouvido em toda a sua vida, para
Edward, aquele era o mais bonito de todos.
— É uma menina – a médica anunciara.
Ele olhou por cima do pano, que cobria Amy do ventre inchado
para baixo, e viu a doutora – que agora ele sabia se chamar Bruna –
entregar o bebê para uma enfermeira, que tinha nas mãos um pano,
no qual ela embrulhou o pequeno ser que havia acabado de nascer.
— Nossa Grace, Amy… Nossa Grace Marie chegou – Edward
sussurrou para Amy, vendo um sorriso débil surgir nos lábios dela e
sua mão ser levemente apertada contra a dela.
Ele voltou a olhar por cima do tecido azul que o impedia de ver
o que era feito e, neste exato momento, ele ouviu a pior frase de sua
vida:
— O cordão umbilical está enrolado no pescoço…
O coração de Edward perdeu uma ou duas batidas, sentindo-o
voltar a bater com força e rapidez enquanto sua respiração se
acelerava.
Ele levou seus olhos para Amy que parecia terrivelmente
dopada, mas, mesmo assim, tinha seus olhos azuis preocupados e
sonolentos da anestesia vidrados nele.
Forçou um sorriso para ela, engolindo a seco, enquanto
mentalmente fazia uma prece, pedindo com todo o seu coração que
seu filho ficasse bem. Edward tinha certeza de que não iria aguentar
se algo ruim e definitivo acontecesse.
Depois do que lhe pareceu uma eternidade, Edward ouviu um
novo choro, um pouco mais baixo e engasgado, mas um choro que
povoou o ambiente, enchendo não apenas o coração de Edward,
mas o de Bruna – a médica que havia conseguido trazer os bebês
ao mundo sãos e salvos – também.
— É um menino – ela anunciou, fazendo um sorriso aliviado
nascer nos lábios de Edward, ao mesmo tempo em que lágrimas de
felicidade e alívio escorriam pela face dele.
— É Louis, Amy – ele sussurrou mais uma vez para ela, mas,
desta vez, ele não recebeu nenhum tipo de resposta.
Um som estranho tomou conta do ambiente.
Um “pi” mais lento e longo do que o que estava soando
anteriormente, e isso fez com que todo o corpo de Edward
tremesse, e tudo piorou quando a segunda pior frase de sua vida
chegou aos seus ouvidos:
— A placenta deslocou! Ela está tendo uma hemorragia – Bruna
falou alarmada, já começando a agir para conter o sangramento,
ditando as ordens necessárias.
A partir desta frase, Edward não ouviu mais nada.
Seu mundo pareceu ter parado e tudo se mexia em câmera
lenta diante de seus olhos e ao seu redor. Seus ouvidos zuniam com
a velocidade que seu coração estava bombeando o sangue por seu
corpo.
Estava tão atordoado que mal sentiu quando foi praticamente
arrastado para fora da sala de cirurgia e levado para a sala de
espera. Ele sequer notou que não estava sozinho ali.
Seus pais e seu sogro estavam bem ali, junto de todo o restante
da família e Edward não percebeu nenhum deles ali, ele apenas
ainda tinha a frase repetindo-se e gritando em sua cabeça, dizendo
que ele possivelmente estava perdendo sua mulher.
— O que houve, Glenn? – Marie questionou baixinho à
enfermeira, que trouxera Edward, praticamente arrastado, até ali.
A enfermeira baixinha suspirou em reconhecimento diante da
mulher à sua frente.
— Doutora Marie, que bom que está aqui. – ela falou — Este é
o seu filho?
— Sim. Como está minha nora? E os meus netos?
— Os bebês foram encaminhados para fazerem os exames e
posteriormente irão para as incubadoras. Creio que eles estejam
bem, senhora. Acredito que o deslocamento da placenta não os
tenha afetado…
— Deslocamento? – Marie questionou preocupada, olhando de
relance para seu filho e entendendo agora o motivo do estado em
que ele estava.
— Sim. A doutora Bruna está com ela neste momento, houve
uma hemorragia, e, como ela percebeu o estado de seu filho, pediu
que ele fosse retirado da sala de cirurgia.
— Eu entendo. Obrigada, Glenn.
— Não por isso. – Glenn sorriu e se afastou, saindo da sala de
espera, enquanto Marie voltava-se e ia em direção ao filho que
estava sendo amparado por George.
—… Edward!
Ele pulou em seu lugar, olhando assustado ao redor, apenas
assim percebendo onde estava e que não estava sozinho.
— Edward, o que houve? Como está a Amy? E os bebês? –
ainda atordoado, ele ouviu seu pai perguntar enquanto ele se
aproximava e passava o braço por seu ombro e o puxava para se
sentar.
— Tinha sangue… Eu não sei… eu…
— Tudo bem… Vai ficar tudo bem, querido – Marie se
pronunciou, sentando-se ao lado de seu filho e pegando a mão dele
entre as dela, em uma tentativa de confortá-lo diante do que estava
acontecendo com ele.
Tudo o que Edward queria era que isso fosse verdade e que, no
final de tudo, ele pudesse ter América e seus filhos junto dele.
George sentou-se também, ocupando o lugar ao outro lado de
seu filho, olhando para Marie e fazendo um pedido mudo por
respostas.
E, apertando um pouco mais a mão de seu filho nas dela, Marie
contou o que a enfermeira Glenn havia lhe dito sobre o estado de
Amy e sobre o que ela sabia dos bebês.
[…]
O tempo parecia se arrastar para Edward.
Desde que ele saíra da sala – em que Amy estava sendo
operada – que não tinha notícias dela.
Poderia ter se passado apenas alguns minutos ou algumas
horas, mas, para Edward, cada tic-tac do relógio estava parecendo
uma eternidade e todo esse tempo sem nenhuma notícia apenas o
deixava mais aflito.
Nenhuma notícia. Nem de Amy nem de seus filhos. Parecia até
uma tortura.
Ele já havia dado conta de assinar os papéis que eram
necessários e que iriam para a ficha de América. Havia feito isso
logo depois de ter saído de sua inércia e, logo depois de terminar,
ele voltou o mais rápido que pôde para a sala de espera, ansiando
pelas notícias que viriam.
Ele torcia com todas as suas forças para que elas fossem boas.
Nicolas estava igual, ou pior que Edward. Era a vida da sua
garotinha que – mais uma vez – estava em risco, e ele
simplesmente odiava isso. Ele se sentia impotente diante de tudo
isso e lhe partia o coração ter Amy nesta situação e ainda mais ao
ver o pai de seus netos tão desolado quanto parecia estar.
— Familiares de América Lawson? – a médica que cuidou de
Amy, no momento que ela chegou ao hospital (e que Edward se
lembrou chamar-se Bruna), surgiu na sala de espera, com o
semblante cansado e preocupado, mas, ainda assim, um pouco
aliviado, chamando a atenção de todos para ela.
— Somos nós – Edward respondeu apressado, levantando-se
imediatamente de onde estava e se aproximando — Como ela está?
– perguntou apreensivo não conseguindo conter o medo que gelava
suas veias.
— Está sedada e internada em nossa UTI. Ela ficará bem, mas
nós temos um pequeno problema. – ela respondeu e todos que ali
estavam a fitaram apreensivos à espera do que viria.
— Que tipo de problema? – Edward perguntou; nunca em sua
vida ele havia odiado tanto um problema.
— A paciente perdeu uma quantidade significativa de sangue e
precisa de uma transfusão, mas o problema em questão não é esse.
– Bruna suspirou, passando as costas da mão em sua testa,
afastando, em seguida, os fios de cabelo castanho-médio que caíam
ali, antes de continuar: — O tipo sanguíneo dela é bastante raro.
Pouco mais de um por cento da população tem o tipo sanguíneo
dela e, além de ser raro, não é um tipo que aceite outro diferente
dele e nosso estoque está escasso deste tipo sanguíneo. O meio
mais rápido no momento seria a doação de algum parente próximo.
A mãe, o pai ou até mesmo um irmão.
— Puta merda – Edward sibilou, levando ambas as mãos aos
cabelos e as enfiando ali em um gesto bastante expressivo de
ansiedade e desespero.
— Então? – Bruna pediu ansiosa, esperando que algum deles
se manifestasse.
— Amy não tem irmãos e a mãe dela… o pai de Amy mor-
— Eu sou o pai dela – Nicolas se pronunciou, interrompendo
Edward no meio de sua frase e fazendo com que ele se virasse e o
encarasse, completamente espantado.
— Nick… como assim? Você é o…
— Sou o pai dela – ele respondeu com ênfase, deixando
Edward ainda mais confuso — Depois eu explico – ele balbuciou
para Edward, enquanto seguia em direção a doutora.
— Certo, vou levar você para fazer os exames necessários e,
correndo tudo bem, creio que em pouco tempo já poderemos fazer a
transfusão. – Bruna falou, indicando a saída para Nicolas — Eu
volto depois com mais notícias.
E, então, ela saiu, acompanhando Nicolas para fora da sala de
espera.
Edward definitivamente não havia entendido nada.
Ele sabia que Nicolas Lawson via Amy como filha, mas isso não
explicava o que o homem havia feito. Ele sabia que poderia haver a
remota chance de Nicolas ter o mesmo tipo sanguíneo de Amy, sem
ser parente sanguíneo dela, mas qual eram as chances daquilo ser
possível?
Foi então que a ficha caiu para ele: Nicolas Lawson era sim o
pai de América. O pai biológico.
E ter tomado noção disso foi tão tenebroso quanto o fato de se
dar conta de que a família de Amy havia mentido para ela por todo
esse tempo.
[…]
— Por que não tenta ir ver os seus bebês, filho? – George
pergunta carinhoso na tentativa de tirar seu filho do torpor que
parecia ter se instalado sobre ele novamente.
— Eu posso? – Edward perguntou, sentindo uma emoção
diferente começar a dominá-lo.
Ele estava apavorado, isto era um fato, mas ele – naquele
momento – não conseguiria negar de forma alguma o quanto estava
ansioso para finalmente conhecer seus filhos.
Esperara tanto tempo por eles…
— É claro que pode, filho – Marie lhe respondeu com um sorriso
maternal — E, quem sabe assim, depois você possa nos contar
sobre eles, hm?
Edward acenou positivamente com a cabeça, suspirando
ansioso, quase mordendo os lábios como sua Amy costuma fazer.
— A senhora me ajuda, mãe?
— Claro que sim, querido.

Marie o levou até a UTI neonatal do hospital e, junto de uma das


enfermeiras – a mesma que o levara para a sala de espera após o
parto de Amy – ajudou Edward a conseguir a autorização para ver
seus filhos.
— Por que eles estão aqui? – Edward perguntou baixinho,
retorcendo as mãos, enquanto esperava a autorização para entrar e
finalmente ver seus filhos.
— Querendo ou não, eles nasceram antes do tempo, querido,
precisam ficar nas incubadoras para ganhar peso e serem
devidamente monitorados.
— Senhor Cage? – um rapaz alto e magro, vestido de azul dos
pés à cabeça, chamou a atenção de Edward.
Ele tinha um sorriso amigável estampado no rosto e, pelo
sorriso dele, Edward conseguiu sentir que não seria algo ruim, o que
o deixou aliviado.
— Queira vir comigo, por favor? Eu vou ajudar o senhor a se
preparar para entrar.
Edward acenou positivamente, de uma maneira rápida com a
cabeça, e se aproximou de Marie, beijando-lhe o topo da cabeça
rapidamente, antes de seguir com o enfermeiro em direção à uma
sala, onde higienizou as mãos e colocou uma roupa tão azul quanto
a do homem que o guiava em direção aos seus bebês.
Edward não soube definir em palavras o que estava sentindo
naquele momento.
Ele sentiu seus olhos ficarem marejados e seu coração bater
acelerado em seu peito.
Um sorriso brincava com seus lábios enquanto ele se
aproximava das duas pequenas incubadoras onde seus bebês
estavam.
Mal estava conseguindo acreditar.
Edward se aproximou mais, parando no meio entre as duas
incubadoras, e não conseguiu desgrudar seus olhos dos dois
pequenos seres que repousavam ali, tranquilos e serenos. Ambos
vestidos de branco e cada um com uma touca na cabeça – ele tinha
certeza de que Marie ou George havia cuidado desta parte no
momento que Tyler trouxe as coisas que haviam ficado para trás.
Eles usavam as roupas que Amy havia escolhido e, aos olhos
de Edward, aquelas roupas pareciam grandes demais nos corpos
daquelas duas pequenas pessoinhas, mas isso não diminuiu em
nada o tamanho da admiração e adoração que Edward estava
sentindo naquele momento.
Ele estava apavorado.
Afinal, como ele saberia ser um bom pai? Como não falhar?
Como ter a certeza de que o que estava fazendo era o certo?
George havia sido um bom exemplo para ele, mas as dúvidas, ainda
assim, persistiam.
Era tudo tão novo para ele!
Mas, apesar de todo o medo e de todas as dúvidas que o
assolavam, Edward sabia que o amor que sentia por eles era
incondicional e imensurável. Ele já os amava antes mesmo de
sequer os conhecer!
E, quando seus olhos caíram sobre os pequenos seres que
ressonavam tranquilos, ele soube que seria capaz de qualquer coisa
por eles.
Seus filhos.
Uma realidade palpável de que a felicidade era possível e que
ele a estava tendo de verdade.
— Oi – Edward murmurou, baixinho e emocionado, levando sua
mão pela abertura ao lado da incubadora até o pequeno bebê que
tinha uma touca verde sobre a cabeça — É o papai aqui, bebê. É
bom finalmente conhecer você… conhecer vocês.
Um sorriso bobo e completamente apaixonado surgiu em seu
rosto no instante que viu seu pequeno bebê esticar os dedinhos das
mãos e bocejar. Os olhinhos ainda fechados.
Edward estava ansioso para saber de que cor seriam os olhos
de seus bebês. Ele torcia para que tivessem o mesmo azul bonito e
esperançoso que sua Amy tinha.
Aproximou sua mão do corpo molinho e com o dedo tocou
suavemente a pequena mão se seu filho que respirou
profundamente e, surpreendendo à Edward, segurou seu dedo com
uma força ínfima, mas que para Edward era força suficiente para
mantê-lo ali pela eternidade.
Abaixando-se um pouco ele leu em uma pulseirinha branca as
seguintes palavras: Bebê Lawson-Cage.
E, então, como se Edward precisasse ser lembrado que havia
mais de um, ele ouviu um pequeno choro. Baixo e manhoso, como o
que ele ouvira no momento em que ele nascera e respirara pela
primeira vez.
De primeira instância, Edward não soube o que fazer e ficou
assustado, mas, logo que o pânico começou a surgir, ele levou sua
outra mão para dentro da incubadora em que o bebê – tão
minúsculo quanto o que segurava o dedo de sua outra mão – se
contorcia, chorando e ficando vermelho pelo evidente esforço que
fazia.
Com a mão, desta vez aberta, Edward tocou a barriga e subiu
até as mãozinhas que estavam fechadas em punhos, tocando-as
com as pontas dos dedos. Em sua mãozinha uma pulseira idêntica à
do irmão.
Eram seres tão pequenos, que Edward sentia que podia abraçá-
los apenas com as mãos.
— O papai tá aqui… Está tudo bem – Edward sussurrou vendo
seu bebê se acalmar lentamente e o choro sendo silenciado — Você
sabe quem sou eu, não é? – ele sorriu — Eu acho que sei quem
você é. Você é a minha Marie, não é? – questionou baixinho, vendo,
admirado, as mãozinhas se abrindo e se fechando ao redor de seus
dedos — Exigente igual o papai.
— Senhor Cage? – o mesmo enfermeiro que o trouxera até ali o
chamou, tirando-o de sua bolha paternal e babona — O senhor vai
precisar sair agora.
— Tudo bem – com um aceno positivo para o enfermeiro,
Edward olhou novamente para seus filhos e sorriu amplamente,
sentindo seu coração crescer e transbordar em sentimento — Boa
noite, bebês – ele sussurrou, afagando com carinho a barriguinha
dos dois e se afastando um tanto quanto relutante deles, que sem
esforço algum já o tinham na palma da mão.
[…]
Todos os procedimentos já haviam terminado.
América Lawson estava fora de perigo e agora repousava
sedada na UTI. Por medidas de precaução e para um melhor
monitoramento, ela passaria o resto de sua noite ali, assim como
boa parte de sua manhã, até acordar.
Bruna havia orientado a todos que voltassem para casa e
descansassem, pois, tudo estava bem e, no que dependesse dela,
continuaria dessa parte para melhor.
O mais difícil de convencer fora Edward, que queria a todo o
custo ficar no hospital e dormir ali, perto de Amy e de seus filhos.
Nem que ele precisasse dormir nas desconfortáveis cadeiras da
sala de espera ou do corredor.
Mas, como sua mãe era simplesmente Marie Cage, ela o
convenceu a ir para casa e descansar, para poder estar inteiro
quando Amy acordasse e para quando seus bebês fossem levados
para ela, após a liberação do pediatra.
E, então, agora ele estava na sala de sua casa, com Nicolas
Lawson, sentado no sofá e de frente para ele.
Já havia tomado um banho e trocado as roupas que havia
usado para ir às pressas para o hospital com Amy. Estava
confortável em seu sofá, mas estava ali somente pela metade.
Seu coração estava por inteiro no hospital com Amy e os bebês,
e parte de sua mente também estava lá, mas a outra parte estava
bem ali com ele em sua casa, tentando entender o que Nicolas
havia dito para ele.
— Então… a Amy é realmente sua filha? – questionou,
assombrado, com a parte de seu cérebro que estava focada nesta
situação, trabalhando arduamente para entender e assimilar todas
as informações.
— É. – Nicolas suspirou pesaroso, passando as mãos pelo rosto
e sentindo a textura diferente da cicatriz no lado direito de seu rosto
ao passar a mão por ali.
— E vocês mentiram para ela durante todo esse tempo? –
Edward questionou, incrédulo, não conseguindo sequer imaginar
como Amy se sentiria quando soubesse disso.
— Nunca foi porque eu quis – ele suspirou mais uma vez,
baixando rapidamente os olhos, antes de levantá-los novamente
para Edward, cravando aquela imensidão azul tão idêntica à de
América no cinza tempestuoso — O problema, Edward, é o afeto.
Sentimentos são considerados um grande problema na família da
mãe da Amy… Eu praticamente vi minha filha crescer apenas até os
dez anos, porque eu fingi, enquanto pude, ser um dominador
qualquer para Dianna e fingi não ser o pai da minha filha.
— Você não era dominador? – a descrença pingava das
palavras de Edward.
— Não. Mas minha família era muito rica e eu tinha uma boa
economia na época e… Eu usei. Eu estava apaixonado pela Dianna
e ela por mim, tanto que me contou a verdade sobre ela e a
estranha família dela – Nicolas inspirou profundamente, sentindo os
efeitos do passado agindo sobre seu coração — Eu quis tirá-la da
vida que a cercava, quis mais ainda quando ela me contou da
gravidez. E estava tudo pronto para fugirmos e deixarmos tudo
àquilo para trás… quando Dianna simplesmente surtou. Amy tinha
quase sete anos na época, e eu ainda consegui ficar por mais dois
ou três anos com elas, quando Dianna surtou novamente e me
dedurou para o que eles chamam de “Conselho” – Nicolas fez aspas
no ar com os dedos, desdenhando ao pronunciar a última palavra.
Ele riu, amargurado, lembrando-se da época mencionada e
sentindo seu peito doer e o coração ficar pequeno.
— A pior parte nem foi essa… A pior parte de tudo foi ter que a
ouvir dizer que eu não estava criando Amy da maneira certa. Foi ela
dizer que eu não estava permitindo que ela ensinasse e nem estava
ensinando a minha própria filha a ser o que ela tinha que ser: uma
submissa perfeita. Como um pai, que ama os seus filhos, pode fazer
uma coisa dessas? Como uma mãe pode fazer isso? Ensinar à sua
própria filha que servir e obedecer à um homem, e ensiná-la a
aceitar que isso é o certo e que apanhar dele é o certo…? Eu não
conseguia fazer isso.
— Eu entendo e Amy também. Nenhum de nós dois queria que
nossos filhos passassem por isso. Amy nem queria engravidar por
causa disso, mas ela nunca me explicou o porquê de ser assim… o
porquê de termos que entregar…
— Entregar os bebês? Principalmente se forem meninas? –
Nicolas o interrompeu, arqueando levemente as sobrancelhas —
Dinheiro e sentimentos, Edward. Não me pergunte como, porque eu
não sei, mas eles ganham muito mais com isso. Como eu disse
antes: para eles sentimentos são um problema. Principalmente os
sentimentos fraternais. Separar os filhos dos pais ou separar os pais
das mães e das crianças é a solução que eles encontraram para
este “problema”. E Dianna passou a pensar assim também. Como
ela não tinha mais a própria mãe, ela se tornou a matriarca da
família Bazanov e passou a ser a encarregada de criar os filhos que
teria e, talvez, até de outras meninas como a América ou de outras
que seriam mandadas sem a virgindade para seus dominadores.
— Isso é cruel… e, pelo menos agora, eu entendo um pouco e
é… bom… não é mais fácil… – Edward balbucia, sentindo-se
afetado por todas as informações que recebera — Como você a
conheceu? A Dianna? – pergunta depois de alguns segundos em
silêncio.
— Eu a conheci na faculdade. Se têm uma coisa que a família
dela preza é a educação. Amy deve saber mais idiomas que a sua
tradutora para assuntos internacionais, afinal, uma coisa que aquela
família não gosta de admitir é uma falha.
O silêncio se instalou no lugar, cada um preso em seus próprios
pensamentos e conclusões do que haviam escutado e vivido até
então. Para Edward, apesar de ter ido atrás desta “tradição” ter
assinado e lido um contrato, toda essa história e realidade ainda lhe
parece uma verdadeira insanidade.
— Pretende contar a verdade para Amy? – Edward perguntou
depois de um longo período em silêncio, trazendo Nicolas de volta
para a realidade.
— Vontade eu tenho, mas eu não quero que ela pare de olhar
para mim do jeito que ela olha. Você vai entender de que tipo de
olhar eu falo, quando seus filhos forem maiores – mais uma vez
Nicolas suspirou, sentindo sua garganta doer pelo choro que
prendia — Eu prefiro continuar sendo o padrasto que ela chama de
pai e tê-la me olhando com tanto amor e admiração, como ela faz,
do que ter que ser o pai dela e não ter nada disso nunca mais…
Edward assentiu, sentindo sua cabeça girar com tudo o que
havia acontecido e com tudo o que havia ouvido até aquele
momento.
Com toda a certeza era muita coisa para se assimilar.
****
Um toque calmo e suave, em meio aos seus cabelos, foi o que o
trouxe de volta ao mundo da consciência, acordando-o lentamente.
Ergueu a cabeça e se deparou com o olhar, cálido e sonolento,
de sua Amy voltado para ele, fitando-o com carinho.
— Oi – ela murmurou rouca, abrindo um pequeno e doce sorriso
para ele.
— Oi – Edward respondeu, sorrindo para ela e sentindo seu
coração dançar em seu peito em alegria e felicidade por finalmente
ver os olhos de sua Amy abertos e brilhantes novamente — Como
está se sentindo?
— Cansada e um pouco confusa – murmurou em resposta,
levando a mão que não estava nos cabelos de Edward em direção a
sua barriga e notando, pela primeira vez, que ela não estava tão
grande quanto antes — Onde estão os bebês? O que aconteceu?
Eles estão bem? Por favor, me diz que eles estão bem… – Amy
pediu apressada, olhando desesperada para Edward e ao redor do
quarto, ansiando por alguma resposta.
— Ei, ei… Calma… – Edward pediu, levantando-se de onde
estava sentado, pegando as mãos de Amy entre as suas e as
beijando, antes de soltá-las e enquadrar seu rosto com carinho e
amor entre as mãos, afagando as bochechas dela com os polegares
— Eles estão bem, amor, estão nas incubadoras, sendo examinados
e acompanhados, processos normais com bebês que nascem de
oito meses… e eles são as coisas mais que eu já vi!
Ele sentiu todo o seu corpo protestar em dores ao se levantar
da cadeira em que estava. Foram tantas horas que passou sentado
ali, que Edward sentia seu corpo protestar a cada pequeno
movimento, mas ele estava pouco se importando com isso.
Depois da conversa que tivera com Nicolas, Edward voltara
para o hospital e ficara – durante todos os momentos que lhe foram
permitidos – ao lado de sua Amy e de seus filhos.
— Mesmo? – ela perguntou com um sorriso bobo surgindo em
seu rosto e sentindo as lágrimas pinicarem seus olhos, tamanha era
a sua emoção.
— É sim – respondeu e inclinou-se para ela, beijando-lhe a testa
carinhosamente — Não se lembra do que aconteceu?
— Eu me lembro da bolsa estourando, de pedir para me trazer
para o hospital e de sentir muita dor. Depois disso a maior parte das
coisas não passa de borrões e pequenos flashes… Você estava
comigo…
— Mas é que claro que sim. Assim como fiquei com você aqui…
Eu nunca deixaria vocês, sabe disso, não é?
Ela sorriu para ele, assentindo rapidamente e o puxou para um
rápido beijo, o qual foi retribuído com verdadeira saudade e paixão
por Edward.
— Quanto tempo tem que estou aqui? – perguntou, franzindo o
cenho, logo depois de o beijo se findar.
— Quase dois dias completos.
Ela assentiu, mordendo os lábios levemente antes de sorrir mais
uma vez e pedir para Edward:
— Me conta mais sobre eles?
— Conto sim, mas, primeiro, preciso avisar às suas médicas
que você acordou. Pode esperar um pouquinho só, enquanto eu
faço isso, ou peço para alguma das enfermeiras para fazer?
— Ahn-hã.
****
América não saberia explicar, de forma alguma, o que sentiu no
momento que viu seus bebês entrarem no quarto em que estava,
uma semana depois de terem nascido – após todos os exames e
confirmações dos médicos.
Ela muito menos saberia explicar como foi segurá-los pela
primeira vez.
As palavras que Edward usara não tinham feito o jus correto
para descrevê-los.
Foi estranho senti-los mamando pela primeira vez, mas
estranhamente maravilhoso também.
Ela sentiu seus olhos marejarem quando viu Edward pegar os
bebês pela primeira vez, um tanto quanto desajeitado e apavorado,
com medo de deixar qualquer um deles cair.
Sentiu-se ainda mais parte da família de Edward no momento
que Marie, George, Josh e Laurie entraram no quarto.
Josh estava acompanhado de Paige, que não parava de chorar
em momento algum. Emocionada e completamente babona ao
segurar os afilhados pela primeira vez.
— Eles já têm nomes? – Laurie perguntou baixinho, enquanto
ninava sua sobrinha vestida de branco e amarelo em seus braços.
Amy e Edward – que estava sentado ao seu lado na cama – se
entreolharam e sorriram antes de responderem, fixando seus
olhares na mulher que agora segurava o neto.
— Louis e Marie. – Amy respondeu com o sorriso não
abandonando seu rosto de forma alguma.
— O que?! – Marie parou o movimento de ninar seu neto no
mesmo instante que as palavras chegaram até ela, fitando seu filho
e sua nora com os olhos arregalados e brilhando ainda mais com as
lágrimas que já se formavam neles.
— Isso mesmo que você ouviu, mãe. – Edward disse, sorrindo
— Seu neto se chama Louis Alexander Cage e sua neta se chama
Grace Marie Cage.
Sorrindo enormemente, Marie entregou seu netinho para
George e praticamente correu para abraçar Edward e Amy,
derramando algumas lágrimas no processo.
Fora uma das cenas mais bonitas que Amy já havia visto em
sua vida: o abraço de Edward com sua mãe. Ela estava
definitivamente muito orgulhosa dele por isso.
Depois de tudo o que havia acontecido, ter seus filhos em seus
braços, poder interagir com eles e ainda poder ver Edward
segurando os bebês – um de cada vez – ajudando-a a colocá-los
para dormir novamente… era o paraíso para ela.
Naquele momento, mesmo que ainda estivesse no hospital,
apenas ter ali com ela a sua verdadeira família a estava deixando
completamente em paz e a fazia desejar que fosse apenas assim
que tudo continuasse.
Em paz.
Tudo o que ela queria era que sua mãe não descobrisse sobre
isso. De preferência nunca.
Ela podia ser verdadeiramente feliz sim, e, em seu interior, fez a
promessa de que não deixaria nunca que mais ninguém tentasse
atrapalhar sua felicidade.
Seria forte por Edward e por seus filhos.
E por si mesma.
Muito mais forte do que já foi antes.
37- Um aniversário em família.
Eu acordei naquela manhã estando sozinha na cama, mais uma
vez.
Estava sendo assim há quase duas semanas, desde que
Edward tivera que viajar à Nova York, para cuidar pessoalmente da
nova filial de sua empresa, que estava sendo montada lá.
Eu estava – em algum canto bem escondido dentro de mim –
feliz e muito orgulhosa por ele estar crescendo ainda mais, como o
fantástico empresário que era, mas – infelizmente – minha parte
egoísta, insegura e completamente imatura não gostava nem um
pouco disso, pelo simples fato de estarmos longe um do outro há
tanto tempo.
Sem contar que os bebês também sentiam isso e, toda a vez
que eles choravam – e o motivo não era fome, fraldas sujas, dor ou
sono – eu sabia que o motivo era a saudade que eles nem pareciam
ter consciência que sentiam do pai, mas que eles indubitavelmente
sentiam.
Suspirei, cansada por não ter conseguido dormir quase nada
durante a noite.
Grace passou boa parte de sua noite chorando de cólicas e,
quando ela parava e eu achava que conseguiria um descanso, Louis
acordava, exigindo seu alimento vital ou simplesmente querendo
fazer sua pequena manha.
Com seus seis meses quase completos Grace e Louis pareciam
já saber o que era tocar o terror quando queriam algo.
Meus filhos estavam crescendo rápido e eu sentia que não
estava tendo sempre o suficiente deles, e sentia que Edward tinha
ainda menos quando ele saía para trabalhar, ou fazer uma das suas
viagens de negócios longas e demoradas.
Mas, sendo sincera comigo mesma, esta era a primeira vez que
Edward se afastava por tanto tempo assim de nós e, sendo ainda
mais sincera, eu tinha certeza que ele só não havia voltado correndo
de lá, até agora, porque o que ele estava fazendo em Nova York era
realmente importante e sua presença era necessária para que tudo
saísse do jeito que ele quer que saia.
Porque, do contrário, eu tenho certeza de que ele já estaria
aqui, talvez, até mais rápido do que uma criança consegue contar
até dez em um jogo de pique esconde.
Com mais um suspiro, levantei-me da cama, esfregando meus
olhos e me sentindo completamente sonolenta e cansada, enquanto
cambaleio em direção ao banheiro, afinal, eu tinha que aproveitar
enquanto meus pequenos estavam dormindo.
Eu não imaginava que cuidar de duas crianças ao mesmo
tempo seria tão difícil, mas, mesmo com todas as dificuldades, eu
não trocaria isso por nada. Eles – Marie e Louis – são a minha prova
de amor verdadeiro, a maior prova de que eu posso sim ter uma
vida normal, independente da vida que fui criada para ter.
Depois de aliviar minha bexiga, lavei meu rosto e lavei minha
boca, para, logo depois, sair do banheiro e ir em direção ao closet e
trocar a camisa de Edward – que uso para dormir – por uma
confortável roupa que seria golfada e encharcada pelo meu leite,
que adorava vazar – apesar de ter duas crianças para darem conta
dele.
Reviro os olhos mentalmente, não conseguindo deixar de sorrir
ao pensar em meus pequenos famintos.
Com um suspiro, olho para o espaço que agora é vazio, mas
que antes era ocupado pelos berços de meus bebês.
Durante todo o meu resguardo – e até por mais um tempinho –
os berços ficavam no quarto comigo e Edward, mas depois –
quando os eles já estavam quase completando dois meses –
Edward e eu decidimos começar a acostumá-los a dormir em seu
próprio quarto.
Foram duas semanas praticamente insones para mim e para
Edward, e para meus bebês também. Eles sofreram “um pouco”
com a pequena separação que tivemos que fazer.
Eu quis ter esperado mais, mas tanto Edward quanto a pediatra
deles estavam certos e, quanto mais demorássemos a fazer isso,
pior seria.
Então, eu fui obrigada a ceder.
Mordi meu lábio inferior, pensativa, sentindo meus seios doerem
e pesarem, endurecendo de tanto leite que havia neles para meus
filhos. Eu estava começando a me sentir uma vaca leiteira, mas uma
vaca leiteira feliz.
Peguei a babá eletrônica de cima do criado mudo do meu lado
da cama, aumentando um pouco mais o volume dela e seguindo
para fora do quarto.
Apenas para conferir, passei no quarto dos meus bebês vendo-
os em seus berços, dormindo como os anjos calminhos que eles
não haviam sido esta noite.
Olhar para eles sempre me traz paz e plenitude. Como se eles
fossem meus bálsamos particulares e essenciais. Por mais que eles
me acordassem durante as noites e, em algumas vezes não me
deixassem comer, eu era feliz – ainda mais feliz – apenas por tê-los.
E eu sabia que para Edward era assim também.
Ele, às vezes, ainda tinha seus pesadelos – alguns com as
lembranças da época em que Steve me sequestrou, e outros com
lembranças de seu passado quando ele ainda não fazia parte da
família Cage – mesmo quando se agarrava à mim, com todas as
suas forças durante a noite, as imagens ainda vinham em sua
cabeça para deixá-lo mal.
E, sempre que isso acontecia e eu não era suficiente, eu não o
encontrava mais na penumbra tocando piano, mas sim com os
bebês. Depois que os colocamos para dormir em um quarto
separado do nosso, quando Edward tinha seus pesadelos, ele
simplesmente os pegava e os trazia para ficar conosco em nossa
cama, colocando-os deitados em nosso meio e brincando com eles
até pegar no sono.
Por muitas vezes, eu fingia estar dormindo e apenas ficava
escutando-o conversar com nossos filhos, como se eles fossem as
pessoas mais capazes de entendê-lo.
Eu me controlava para não sorrir e não mostrar que estava
acordada, mas era quase impossível. Era a coisa mais linda vê-lo
todo babão e paizão.
Não que ele não fosse assim quando estou acordada e perto
para presenciar. Na verdade: é até mais!
Assim que cheguei à sala, o delicioso aroma do café da manhã
preparado por Aretha já tomava conta de todo o ambiente, e o
delicioso cheiro do bacon sendo frito fez meu estômago roncar alto.
Quase saltitante, eu fui em direção à cozinha, encontrando
Aretha ali completamente bem disposta, batendo ovos em uma
tigela, enquanto, sobre o balcão de café da manhã – que eu fiz
questão que tivesse aqui, assim como também tinha no
apartamento – encontra-se a maravilhosa salada de frutas e tudo o
mais que eu ainda comia, pelas recomendações médicas quando
estava grávida dos bebês, e mais algumas coisas.
— Bom dia, Aretha! – saúdo assim que coloco os pés dentro da
cozinha, recebendo como resposta um caloroso e maternal sorriso.
— Bom dia, senhorita Lawson! Como está? Conseguiu dormir
depois que eles se acalmaram?
— Apenas um pouco. Além de todas as coisas que eles
precisam de mim, eles estão com saudades do pai. – respondo,
sentando-me em uma das banquetas de frente para o balcão e
colocando a babá eletrônica sobre o tampo do mesmo — Mas… não
conte para o Edward quando ele ligar, com a ajuda de Tyler e Ward,
eu estou planejando ir visitá-lo em Nova York neste fim de semana.
Sorrio para ela, mordendo meu lábio inferior nervosamente logo
depois.
— O aniversário dele está chegando e, como eu não sei se ele
vai estar em casa, e este vai ser o primeiro aniversário dele com os
filhos… e comigo que vamos poder comemorar de verdade, eu
pensei em fazer isso… Não acha que ele vai ficar bravo, acha?
— Eu tenho certeza que não. Ele pode surtar um pouco por
vocês terem saído de casa e feito essa viagem para lá sem
comunicá-lo, mas bravo?! Não creio que ele chegue a ficar, senhora.
— Ai, por Deus, Aretha! Já tem quase um ano que estou aqui e
continua me tratando tão formalmente, mesmo eu insistindo que não
faça isso? – sorrio para ela, revirando teatralmente os olhos.
— Velhos hábitos nunca morrem – ela ri, voltando sua atenção
para a comida que prepara.
Eu sabia muito bem disso.
Aretha – por mais que eu tentasse – nunca me trataria por Amy.
Nem se eu a convidasse para ser a minha madrinha de casamento
ou a madrinha dos meus filhos, ela pararia com isso.
Acho que para a sanidade mental dela e minha – e a de Edward
também – eu havia escolhido Paige para ser a madrinha dos meus
bebês e, eventualmente, para ser a minha madrinha de casamento
junto com Laurie.
— Pretende viajar quando, senhorita Amy? – Aretha me
pergunta, me olhando por sobre o ombro enquanto mexe em
algumas vasilhas sobre a pia.
Senhorita Amy? Temos um avanço!
— Ward ficou de me informar o horário. Acho que ele está
vendo com Tyler a organização do jatinho de Edward. Quem diria,
não é? – eu rio comigo mesma, lembrando-me da época em que
apenas a ideia de ter que vir morar com um homem dominador era
assombrosa para mim.
As coisas mudaram – depressa, mas mudaram – e para
melhores, o que não poderia ter me deixado mais feliz. Não havia
razão para ter medo de Edward – hoje eu sabia bem disso.
Ele é uma pessoa maravilhosa e faz qualquer coisa por mim e
por sua família. Eu havia aprendido isso, e, depois de Edward ter
me contado sobre o seu passado antes de mim e antes da família
Cage, eu o amei ainda mais e continuei achando que ele era a
melhor pessoa para mim.
Aretha colocando uma maravilhosa taça de salada de frutas
com granola e iogurte natural à minha frente foi o que me trouxe de
volta para a realidade, tirando-me das lembranças.
— Obrigada, Aretha! – digo com um sorriso, dedicando-me a
comer o máximo possível antes que os bebês acordem.
****
O avião pousou em Nova York de forma tranquila.
O lugar tinha uma pista reservada apenas para o jatinho do meu
noivo, assim como um hangar.
Eu já deveria estar acostumada com toda a extravagância, luxo
e possibilidades que o dinheiro de Edward pode proporcionar –
afinal estamos há quase um ano juntos e já temos filhos – mas eu
não estou. Eu sequer consigo pensar em me acostumar com isso.
Mesmo tendo vindo de uma família muito abastada, eu nunca fui
muito ligada a isso.
Reviro os olhos para mim mesma e foco no presente. Esta é
minha vida agora e ela é perfeita!
Com a ajuda de Ward e da comissária de bordo, eu pego meus
bebês e, então, saímos do avião.
Tyler está aqui com o carro e ele nos espera com a porta aberta
para mim e meus pequeninos. Ele tem um sorriso discreto nos
lábios, mas que eu noto, e isso me faz sorrir abertamente para ele.
São quase três da tarde e, segundo Tyler, Edward estava em
uma reunião que provavelmente terminaria bem tarde, o que daria
tempo suficiente para chegarmos, nos arrumarmos e prepararmos a
surpresa – como se eu estar aqui com nossos filhos já não fosse
surpresa suficiente.
— Como ele tem se comportado, Tyler? – pergunto assim que
me acomodo ao lado das cadeirinhas, onde meus bebês estão
praticamente desmaiados de tanto que dormem.
Fora assim durante todo o voo, coisa pela qual eu agradeci
fervorosamente.
— Bem, na maioria das vezes, senhorita. Hoje, em particular,
ele está de péssimo humor por não ter conseguido falar com você
ainda – ele disse com certo humor, e eu não pude deixar denotar o
imenso esforço que ele fez para me tratar por “você” ao invés de
“senhorita” ou “senhora”.
Pelo menos com ele eu havia conseguido ter algum avanço no
quesito “pronomes de tratamento”.
— Eu não iria conseguir manter a boca fechada caso falasse
com ele… qualquer coisa, da próxima vez que Edward ligar, e ele
não estiver no apartamento ainda, eu digo que perdi o telefone
enquanto cuidava das crianças. Isso já aconteceu.
Ward ri no banco da frente, enquanto Tyler tenta disfarçar sua
risada.
Eu apenas reviro os olhos não querendo rir também, mas acabo
cedendo à vontade, afinal, isso realmente havia acontecido. Os três
primeiros meses não foram fáceis e eu realmente perdi muitas
coisas em minha adaptação a cuidar de dois bebês.
Geralmente, eu perdia as coisas no meio das coisas dos meus
filhos, mas isso é um caso à parte.
A viagem até o apartamento não demorou muito. Pelo menos foi
o que Tyler disse.
Para mim, pareceram horas sentada dentro do carro e cercada
por carros amarelos. Eu estava na cidade que nunca dorme, a
“grande maçã”. As pessoas aqui pareciam não saber o que era ter
uma casa e descansar.
Em absoluto: elas com toda a certeza não sabiam!
Era tanta gente indo de um lado para o outro que se eu morasse
aqui, sozinha, eu iria pirar.
Tyler e Ward me ajudaram a tirar os bebês do carro e – assim
que eu os tinha em meus braços – eles se encarregaram da
bagagem e de me escoltar em direção à entrada do prédio, onde o
porteiro já tinha a porta aberta para nós.
Cumprimentei-o com um sorriso e um aceno de cabeça,
enquanto sinto Marie se remexer um pouco em meu colo.
Caminhamos até o elevador e, assim que paramos para esperá-
lo, eu olho para minha filha e a encontro com seus enormes olhos
azuis cravados em mim observando-me com extrema atenção.
Minha pequenina havia saído quase uma cópia perfeita de seu
pai: os cabelos escuros como os dele e a boquinha com um
desenho muito parecido com a de Edward – principalmente quando
ela fazia seus lindos biquinhos antes de começar a chorar –, mas os
olhos… seus olhos saíram completamente os meus.
Edward havia simplesmente adorado esta parte.
Sorri para minha menina, antes de sentir os movimentos suaves
de Louis em meu outro braço. Ele ainda dormia e devia estar
apenas sonhando ou se aconchegando melhor em mim.
Diferente de sua irmã, Louis havia saído quase todo igual a
mim, com exceção dos seus olhos, que saíram idênticos aos de
Edward. Os dois haviam nascido com um pouco de nós dois e isso
não poderia ter me deixado mais feliz!
— Ward?
— Sim? – responde, virando sua atenção totalmente para mim.
— Pode abrir o carrinho deles para mim? Marie acordou e ela
não é muito fã de colo compartilhado – peço e explico, apontando
com a cabeça em direção à Louis que ainda dorme profundamente.
— Claro que sim.
Ward assentiu com um pequeno sorriso para mim e fez seu
malabarismo de “pessoa que não tinha ideia de com o que estava
lidando” para abrir o carrinho duplo e me ajudar a colocar os bebês
neles.
Eu tinha certeza de que, tanto para ele quanto para Tyler, era
mais fácil carregar uma granada prestes a explodir do que segurar
um de meus bebês por poucos segundos que fossem.
— A senhorita sobe primeiro com Ward, eu levo as bagagens
em seguida quando o próximo elevador chegar. – Tyler anuncia
quando o primeiro, dos três elevadores disponíveis no prédio, chega
e abre as portas para nós.
— Certo.
Ward entra primeiro e eu entro em seguida, puxando o carrinho
comigo enquanto entro de costas, apenas para facilitar a minha
saída do elevador.
Tyler, que mantinha a porta aberta, se esticou para dentro do
elevador até ficar com metade do corpo para dentro do mesmo para
alcançar o painel, pressionando o botão do andar logo em seguida.
— Por que eu não estou surpresa? – comento retoricamente
assim que vejo a numeração do andar.
— Nos vemos lá em cima, senhorita Amy. – Tyler diz com um
sorriso mal contido em sua face, afastando-se do elevador para que
as portas se fechem.
O elevador logo começa a subir.
— Eu realmente gostaria de saber que complexo com
coberturas é esse que o seu patrão tem, Ward.
Respiro fundo, recostando-me na parede de metal ao meu lado.
— Não que eu não goste ou tenha medo… mas… por quê?
Ward apenas me dispensa uma breve risadinha em resposta
aos meus resmungos.
Olho para meus bebês, vendo que Louis ainda dorme
tranquilamente enquanto Grace tem seus grandes olhos azuis
abertos, olhando para tudo ao seu redor e, quando seu olhar recai
em mim, ela abre um delicioso sorriso banguela, levando suas
mãozinhas fechadas à boca e babando-as inteiras em sua tentativa
de mordê-las.
Assisti-la fazer isso me faz rir.

Pouco tempo depois, o elevador para, emitindo um suave “pling”


ao abrir as portas, revelando um pequeno corredor largo que só
possui uma única porta.
O som emitido pelo elevador chamou a atenção da minha filha,
que gritou animada, acordando seu irmão. Louis, diferente de Marie
quando acordou, fez um de seus manhosos biquinhos de choro,
franzindo o rosto e ficando vermelho antes de mostrar para o mundo
que tinha uma poderosa garganta, chorando com todo o seu eu.
Empurrei o carrinho para fora e fui em direção à porta, com
Ward em meu encalço e Louis em seu choro desesperado de quem
havia sido acordado. Assim que parei ao lado da porta, tirei meu
pequeno chorão do carrinho e o arrumei em meus braços, ninando-o
com carinho e o aninhando-o contra meu peito.
— Shhhh… está tudo bem. Passou. Passou…
Tyler chegou com as bagagens logo em seguida, não chegou
nem a demorar.
Era até engraçado, porque ele carregava mais coisas coloridas
e fofinhas de bebê do que malas minhas. E Tyler era um homem
grande e, vê-lo fazer isso, era bastante engraçado, de certa forma.
Ward o ajudou a trazer as coisas para próximo da porta e, assim
que Tyler teve suas mãos livres, quando parou em frente à porta, ele
a destrancou e a abriu para nós, levando as coisas para dentro com
a ajuda de Ward.
— Vamos colocar tudo no quarto do senhor Cage – Tyler avisa
enquanto eu passo pela porta empurrando o carrinho em que Marie
está e com Louis no braço, agora mais tranquilo, mas ainda com
seu biquinho de choro.
— Tudo bem. Pelo menos aqui não tem escadas. – comento
jocosa, colocando Louis de volta no carrinho e seguindo Tyler e
Ward por um corredor até o quarto de Edward.
Tyler me deixa entrar primeiro, o que eu agradeço.
Depois que passo por ele e estou perto da cama, eles deixam
todas as bolsas organizadas ao lado do divã aos pés da cama.
Sorrio para eles, agradecendo, enquanto tiro meus filhos do
carrinho antes que Louis volte a chorar e carregue Marie junto na
berlinda.
— Eu vou para onde o senhor Cage está. Ward estará no andar
de baixo, qualquer coisa é só ligar ou interfonar. O número do
apartamento é mil e dez, basta apertar o asterisco e o número do
andar. – Tyler avisa e eu aceno positivamente para eles,
agradecendo novamente.
— Obrigada. De verdade – sorrio para eles, que acenam com a
cabeça para mim e depois saem, deixando-me sozinha com meus
bebês no apartamento do meu noivo.
Depois que coloco Marie e Louis no centro da cama, eu os
cerco com todos os travesseiros presentes naquele espaço,
tentando evitar uma possível queda. Louis está emburrado, então,
não se mexe muito, mas Marie está agitada e sua agitação tem sido
muito perigosa em espaços sem um cercado.
Quando me convenci de que eles estavam relativamente
seguros, fui em direção às nossas coisas colocadas no chão
próximas ao divã. Tirei das bolsas deles tudo o que eu iria precisar
para deixá-los confortáveis e cheirosinhos para recepcionar o pai
quando ele chegasse.
Através de Edward eu soube que aqui tinha uma banheira,
então, seria exatamente nela que eu daria banho em meus bebês,
porque definitivamente não tinha como eu trazer absolutamente
tudo.
Arrumei as coisas sobre a cama, forrando-a para que não
ficasse molhada na hora que eu os trouxesse para cá. Levei os
produtos deles e as toalhas para o banheiro, organizando-as como
ficaria mais fácil para mim. Coloquei a banheira para encher na
temperatura certa e, então, voltei para o quarto, pegando Marie e a
colocando de volta no carrinho e levando-a até a porta do banheiro,
para que eu pudesse observá-la tanto do banheiro quanto da cama.
Voltei-me para o quarto e fui novamente até a cama, pegando
Louis que continuava emburrado e com seu biquinho de choro,
pronto para abrir o berreiro.
Coloquei-o sobre a área protegida e tirei suas roupas e sua
fralda, limpei-o inteiro e, antes de pegá-lo novamente para irmos
para o banheiro, deixei a fralda na sua frente apenas esperando que
ele fizesse o que tanto gostava: me fazer limpá-lo novamente.
Olhei para ele com um sorriso, observando-o bocejar e depois
fazer um pouquinho de força, dando-me novamente um motivo para
limpá-lo.
Assim que fiz isso, tirei a fralda dele por completo e a fechei,
pegando meu bebê logo em seguida para, então, levá-lo para a
banheira.
Fechei as torneiras da banheira e, segurando meu pequeno
comecei a dar banho nele, conversando com ele enquanto fazia
isso. Louis gostava quando eu ou o pai dele fazíamos isso e,
conforme eu ia falando e refrescando-o, sua carranca e seu
biquinho foram sumindo e ele logo estava emitindo seus barulhinhos
e até lançando-me alguns de seus projetos de sorriso torto como o
do pai.
Quando terminamos o banho, o levei de volta para o quarto
enrolado na toalha e ainda conversando com ele. Sequei-o e passei
nele tudo o que precisava para evitar as assaduras para, então,
colocar a fralda e vesti-lo.
Peguei-o no colo novamente e cheirei seu pescoço, sentindo o
delicioso perfume misturado ao seu cheirinho natural de bebê.
Levei-o até o carrinho e o coloquei lá, pegando Marie em seguida e
repetindo todo o processo até chegarmos à banheira.
Dar banho em Marie era uma diversão à parte. Desde que ela
aprendera que bater a mão na água fazia com que ela espirasse
para todos os lados, minha filha não parava de fazer isso e se
divertia, principalmente, quando me molhava inteira.
— Você com certeza deve ter puxado ao seu pai – falei quando
ela bateu a mão na água e tudo voou para cima de mim.
Minha filha apenas me lançou um sorriso banguela antes de
bater novamente as mãos na água enquanto eu lavava suas costas
e seu bumbum, molhando-me novamente.
Quando terminamos, eu a enrolei na toalha e a levei de volta
para o quarto, tomando muito mais cuidado para não escorregar
com minha bebê no colo, pelo fato de estar toda molhada – graças à
essa mesma bebê.
Coloquei-a sobre a parte protegida, exatamente como fiz com
Louis, sequei-a e passei nela tudo o que precisava para evitar as
assaduras também, para, então, colocar a fralda e depois vesti-la.
Pego-a no colo e aspiro seu cheirinho, beijando seus cabelos –
que ainda precisam ser escovados assim como os do seu irmão – e
a coloco no centro da cama, entre os travesseiros e em seguida
volto-me para o carrinho onde Louis está, caminhando até lá e
pegando o meu pequeno.
Levo-o para junto de sua irmã para que não haja choros e para
que eu possa guardar as coisas deles e trocar minhas roupas
molhadas por qualquer uma que esteja seca, para que eu possa dar
de mamar aos meus pequenos.

Vesti uma das camisas de Edward que eu usava para dormir –


que trouxe na minha mala – e, depois disso, ajeitei-me na cama da
forma que seria mais fácil para amamentar meus filhos.
Peguei primeiro Louis, que estava novamente emburrado e
dava sinais de que iria chorar a qualquer momento se não ganhasse
o seu líquido vital para poder dormir.
— Pronto. Pronto – sussurrei enquanto o oferecia meu seio, o
qual ele abocanhou e passou a sugar com avidez, quase
desesperado.
Eu dei sorte de ter tanto leite assim para eles, quando eu sabia
que a possibilidade de não ter nem uma gota era provável pelo meu
tempo de gestação e por causa de todo o estresse vivido antes,
durante e depois do nascimento prematuro deles.
Quando Louis terminou, movimentei-o com cuidado – já que ele
havia dormido – e o coloquei para arrotar. Depois que ele o fez,
coloquei-o deitado no centro da cama, ouvindo o seu pequeno
suspiro.
Em seguida, peguei Marie que tinha o seu projeto de sorrisinho
sapeca todo banguela e seu olhos bem arregalados como se me
dissesse “mamãe, eu não vou dormir tão cedo hoje.”
Sorrio para ela enquanto a ajeito em meus braços, colocando-a
para mamar logo em seguida.
Desde o momento que ela começou a mamar até o momento
que a coloquei para arrotar Marie manteve seus olhos bem abertos,
apenas comprovando o que eu já havia imaginado: ela não dormiria
tão cedo.
Levantei-me da cama com ela em meus braços e fui novamente
até o carrinho, ninando-a pelo caminho, a coloco no carrinho e levo
o carrinho para próximo da cama.
Entrego para ela o seu mordedor e depois confiro o meu
pequeno dorminhoco, vendo que ele continua dormindo
tranquilamente.
Com isso eu vou até minhas malas e pego tudo que vou
precisar para o meu banho e tiro também da mala o vestido que eu
havia separado para esse dia em especial, colocando-o sobre o divã
aos pés da cama.
— Se comporte, mocinha – falo para Grace, que brinca com seu
mordedor, enquanto vou para o banheiro.
[…]
Meu telefone tocou, em algum lugar dentro da minha bolsa,
enquanto eu saía do boxe.
Tentei me apressar ao máximo para chegar até ele sem sofrer
nenhum acidente e antes que ele parasse de tocar ou acordasse o
Louis, mas não consegui chegar antes que ele parasse.
Felizmente Louis não acordou.
Catei o celular de dentro da bolsa e, com uma nova olhada em
meus bebês, vi que estava tudo bem e que surpreendentemente
Marie havia dormido, voltei para o banheiro a fim de terminar de me
secar e, então, me vestir.
Eu sabia que havia sido Edward a ligar e, provavelmente, ele
ligaria de novo, então, eu tinha que ter uma boa resposta para todas
as vezes que ele ligou e eu não atendi. Ou, talvez, eu devesse ligar
antes que ele decidisse pegar o primeiro avião de volta para Seattle
e acabar com toda a minha surpresa.
— Acho melhor eu ligar – ponderei em voz alta.
Aperto em retornar a chamada, mas o telefone só chama e
chama, até cair na caixa postal e, então, eu desligo.
Deixo o celular sobre a bancada da pia e volto a me arrumar.
[…]
Já passa das sete da noite e Edward pode estar chegando a
qualquer momento.
Marie e Louis estão dormindo no carrinho, porque eu
simplesmente não consigo deixá-los dormindo na cama mesmo
estando cercados de travesseiros para que não caiam.
Pelo menos eu sei que do carrinho eles não vão cair.
Sento-me no sofá para esperar por Edward, depois de ter
verificado – uma nova vez – os meus pequenos e de quebra pegar o
celular, tirando dele o volume.
O celular começa a vibrar em minha mão, antes que eu possa
colocá-lo sobre a mesinha ao lado do sofá, onde há um abajur. Olho
na tela e vejo a foto junto do nome de meu noivo.
Deixo o celular tocar até dar o tempo de cair na caixa postal e,
não se passa muito tempo, a porta é aberta e Edward passa por ela,
falando ao telefone:
— Amor, já é a nona vez que eu ligo para você hoje e não há
nenhum sinal de vida seu, além daquela chamada perdida. Nem
pelos meus pais, Laurie ou Paige… e nem em casa eu estou
conseguindo falar com você. Por favor, me liga assim que ouvir essa
mensagem, ou eu juro que largo tudo aqui e foda-se a empresa!
— Talvez você só devesse se virar – falo enquanto me levanto
do sofá, vendo-o se virar na direção em que eu estou, com seus
olhos arregalados e a boca aberta em surpresa.
— Você está aqui! – exclamou, vindo até mim e largando todas
as suas coisas pelo caminho, o que me faz rir enquanto abro os
braços para recebê-lo. — Como? Quando? – pergunta assim que
tem seus braços ao meu redor, já apertando-me contra si.
— Tyler. Hoje à tarde – retribuo o seu abraço, apertando-o ainda
mais contra mim e demonstrando para ele toda a saudade que senti,
assim como ele faz.
Edward se afasta minimante e com uma mão ele tira o cabelo
do meu rosto, antes de se inclinar e selar seus lábios aos meus,
beijando-me com avidez.
Eu correspondo ao seu beijo com a mesma vontade que ele
aplica para me beijar até quase não termos mais fôlego algum.
— Eu senti tanta saudade – ele sussurra ofegante antes de
voltar a me beijar até quase perdermos o ar novamente — Os
bebês. Onde eles estão? – pergunta afoito assim que recupera
fôlego suficiente para falar após o nosso segundo beijo.
— Estão dormindo lá no seu quarto – respondo sorrindo, vendo-
o sorrir também.
Ele pega minha mão e me arrasta para o quarto, onde
encontramos nossos filhos dormindo em seus respectivos espaços
no carrinho.
Edward vai até eles e, com cuidado para não os acordar, pega
um de cada vez e os coloca sobre a cama, beijando a testinha de
cada um, para, logo em seguida, se erguer e ficar ali apenas
observando-os.
— Parece que tem um século que eu não os vejo! – suspira,
impressionado — Eles cresceram tanto assim mesmo, ou isso é
impressão minha porque não os vejo há duas semanas?!
— Eles cresceram só um pouquinho, nada assustador. –
comento não conseguindo parar de sorrir — Eles também sentiram
muito a sua falta.
— Por que não me avisou que vinha?
— Porque assim não seria uma surpresa. – respondo indicando
o óbvio.
— Eu poderia ter providenciado algumas coisas… como um
berço para eles!
— Eles podem dormir muito bem no carrinho ou entre nós.
— Somente esta noite. Amanhã vamos atrás de um berço que
vai ficar aqui.
Sorrio em concordância, indo até ele e o abraçando com
carinho.
— Eles estão loucos para matar as saudades de você –
começo, deslizando minhas mãos até encontrar as suas e segurá-
las, começando a puxá-lo para longe da cama onde ele colocou os
nossos pequenos — Então, porque você não toma um banho… –
paro perto da entrada do banheiro, ficando de frente para Edward e
esticando-me para depositar um beijo em seu maxilar — Para
podermos aproveitar que eles estão dormindo, para jantarmos e…
— Matarmos a nossa saudade? – ele completa, com um sorriso
torto e malicioso despontando em seus lábios.
Ele me abraça de volta, beijando meus lábios rapidamente em
seguida.
— Eu acho uma ótima ideia. É uma pena que já tenha tomado o
seu banho, senhorita Lawson.
Meu sorriso se alarga e beijando-o novamente – desta vez, de
uma forma um pouco mais demorada – eu me afasto de seu aperto
antes que ele me convença a entrar naquele banheiro com ele e,
assim, acabe com tudo o que eu havia planejado.

Eu estava terminando de pôr a mesa quando Edward surgiu na


sala de jantar conjugada com a de estar.
Ele estava vestido mais formalmente do que com certeza ele
estaria vestido, caso eu não estivesse vestida como estava. Afinal,
eu tenho certeza de que se eu não estivesse aqui, vestida do jeito
que estou – como se fossemos jantar fora – ele estaria enfiado em
seus moletons e manteria o telefone em um ouvido enquanto estaria
esperando seu jantar chegar, para comer falando comigo ao
telefone.
Seus hábitos haviam mudado muito desde que começamos a
nos relacionar, principalmente depois que eu dei para ele a notícia
sobre a gravidez dos gêmeos. Apesar de seu trabalho, Edward
sempre estava dando um jeito de estar comigo e com os bebês.
Até com seus irmãos e com seus pais Edward arrumava um
jeito de passar mais tempo.
Eu estava amando esse fato e seu esforço em estar conosco.
Essa minha vinda à Nova York tinha como um dos motivos a
retribuição de todo o seu esforço em estar conosco e agradecê-lo –
além, é claro, de termos a possibilidade de passar com ele o seu
aniversário.
Era a primeira vez que isso estava acontecendo e eu estava
adorando poder estar aqui.
Observo Edward se aproximar de onde eu estou, enquanto
ainda estou terminando de arrumar a mesa para servir o nosso
jantar.
— Está cheirando longe – ele comenta, com um sorriso
malicioso brincando em seus lábios — O que vamos comer?
— Receita especial da sua mãe – laço para ele uma piscadela
divertida, junto de um sorriso — Um de seus pratos favoritos,
segundo ela.
Edward ri e, olhando para ele, eu vejo seus olhos brilharem.
Um brilho quase infantil de tão alegre.
— Essa produção toda é por causa da saudade, ou eu estou
esquecendo algo? – ele pergunta divertido, agora, aproximando-se
lentamente da mesa, com a sobrancelha grossa e escura arqueada
para mim.
— Bom… – eu começo, virando-me para ele para expor minha
face pensativa — Eu estava com saudades. Seus filhos estavam
com saudades. Nós te amamos. Queríamos estar perto de você… –
enumero enquanto me aproximo dele, até que Edward possa ter
suas mãos em minha cintura e, logo depois, seus braços ao meu
redor para, então, ele me puxar para mais perto e eu poder fazer o
mesmo com ele — E, claro, ter a oportunidade de passar o seu
aniversário com você pela primeira vez.
Edward ri e se inclina para me beijar, mas seus lábios não
chegam aos meus e, assim que abro meus olhos e focalizo meu
olhar no rosto do meu noivo, deparo-me com toda a sua surpresa e
confusão estampadas em seu rosto, que está contorcido em uma
pequena careta, enquanto ele parece repassar todas as minhas
palavras em sua cabeça, com o cenho franzido e um biquinho de
beijo muito adorável em seus lábios.
— Você disse: aniversário?
— Sim. Eu disse: aniversário. – sorrio para ele, antes de bicar
seus lábios com os meus rapidamente — O seu aniversário, baby.
Ele pragueja baixinho, segurando minha cintura e me
empurrando um pouco para longe.
Sua expressão confusa chega a ser cômica, e eu tenho que me
segurar para não rir.
— É hoje?!
— Não. – respondo quase não conseguindo segurar a minha
risada — Hoje ainda é dia vinte e um.
Edward solta o ar, com o alívio permeando toda a sua ação e,
agora, também a sua expressão e, desta vez, eu não consigo
segurar o meu riso.
— Eu não acredito que você se esqueceu do próprio
aniversário! – exclamo ainda rindo.
Edward estreita os olhos para mim e, com as mãos que ele
mantém em minha cintura, ele me puxa de volta para perto, fazendo
meu corpo voltar a ficar colado ao dele.
O riso praticamente morre em minha garganta – mas não em
meus lábios – quando noto a malícia e o desejo que agora
substituem o alívio anterior.
— Está rindo de mim, senhorita Lawson?
— É um homem muito engraçado, senhor Cage.
Ele mordisca o lábio inferior, brevemente, antes de se inclinar e
tomar minha boca na sua com toda a sua vontade e saudade.
Sinto-me ser erguida, enquanto retribuo o seu beijo com toda a
minha vontade e saudade, que têm me mantido com um gosto de
quero mais desde que ele havia se despedido de mim em Seattle e
vindo para cá.
— O jantar pode esperar – Edward sussurra contra minha boca
quando o ar se faz necessário, antes de voltar a me beijar.
Suas mãos se infiltrando pelo meu vestido, da mesma forma
que minhas mãos trabalham para arrancar as roupas, que ele havia
escolhido para usar no nosso jantar, e que tanto estavam
atrapalhando o meu contato com sua pele.
Antes mesmo de eu completar – definitivamente – os sete
meses de gestação eu já não me sentia mais tão confortável para
fazer sexo, mesmo que minha vontade fosse tão grande e eu – às
vezes – nem ligasse para o meu desconforto, Edward ligava e nada
acontecia entre nós se eu não estivesse confortável. Às vezes, eu
conseguia algo, mas apenas às vezes.
E, após o fim do meu resguardo, nós não tivemos tantas
oportunidades de matar as saudades de nossos corpos já que
tínhamos dois bebês exigentes para cuidar – e que sempre
acordavam em algum momento que tentávamos ter nosso caminho
feliz um com o outro – e, quando o sono deles começou a se tornar
mais regular, Edward teve de viajar e estava sendo um longo tempo
desde que tivemos um ao outro.
Eu senti tanta saudade disso.
E, pelo o que eu podia sentir da ereção do meu noivo, sendo
constantemente pressionada contra o topo de minhas coxas, ele
também estava sentindo – e muito – o êxtase de finalmente
podermos estar matando a nossa saudade por completo depois de
quase sete meses.
Arrancamos nossas roupas sem nem mesmo prestarmos muita
atenção no que estávamos fazendo. Talvez, eu tenha até arrancado
alguns botões da roupa dele pelo caminho.
E, quando Edward finalmente estava finalmente dentro de mim,
o mundo literalmente desapareceu.
Ele se movimentou rápido e forte, deitando-se sobre a mesa –
quase toda posta – comigo sob o seu corpo, me apertando nos
lugares certos e me fazendo delirar com seus movimentos e com o
deslizar de sua boca por meu pescoço e seios.
Quando os dedos dele chegaram ao meu clitóris, sua mão livre
se apoderou de meu peito esquerdo e sua boca do outro e todas as
suas partes em contato comigo começaram a trabalhar ao mesmo
tempo, eu me senti enlouquecer e quase abandonar meu corpo.
Eu o segurei pelos cabelos e com minhas pernas, apertando-o
contra mim e sentindo seus movimentos cadenciados ficarem
erráticos em meu interior.
O abandono de meu seio por sua mão foi a primeira coisa que
senti antes de sentir o contato abusado de seus dedos em outra
parte de meu corpo, enquanto a boca dele trabalhava arduamente
em meu outro seio, completamente sensível.
Edward abandonou meu seio e voltou sua boca por todo o
caminho anterior subindo-a por meu pescoço até chegar à minha
boca. E, foi quando sua boca tomou a minha novamente, que tudo
ao meu redor se transformou em pontos coloridos e eu quase me
senti voar, sentindo Edward me beijar e se movimentar com ímpeto
e desejo dentro de mim.
[…]
— Eu acho que ainda não matei toda a saudade – Edward
sussurrou em meu ouvido, algum tempo depois.
Um riso escapou por meus lábios.
Ele me deitou no chão da cozinha, colocando-me sobre a sua
camisa para que eu não sentisse tanto a friagem do piso, e agora,
após mais uma rodada, nos encontramos deitados ali, juntos, com
seu corpo ainda entre minhas pernas.
— Eu também não – digo com um sorriso permeando meus
lábios, enquanto deslizo minhas mãos pela pele úmida de suas
costas, lembrando-me de uma época não muito distante em que eu
era proibida de fazer isso.
— Mas…?
Eu rio quando ele fisga a pequena palavra no final de minha
fala.
— Mas eu estou com fome e nós temos dois seres miudinhos
que podem acordar a qualquer momento.
Sinto o sorriso que Edward dá contra a pele do meu pescoço,
antes de ele se levantar e permitir que eu me esbalde com a visão
de seu belo sorriso e com os seus olhos tão brilhantes quanto uma
estrela.
— Acreditaria se eu dissesse que sinto saudades até do choro
deles?
Eu ri assentindo e, antes que eu pudesse falar qualquer coisa,
dois choros agudos e desesperados soaram pela babá eletrônica e
pelo apartamento também – e isso apenas fez com que eu risse
mais.
— Eu acho que eles te ouviram – falo, ainda rindo, enquanto
Edward balança a cabeça de forma positiva, rindo também.
— É o que está parecendo – ele diz, ainda rindo enquanto sai
de mim e se levanta.
Eu sorrio ainda mais, sentindo todo o meu corpo estremecer.
Edward me estende a mão para me ajudar a levantar e eu
aceito prontamente a oferta. Puxo a camisa dele do chão junto
comigo e a entrego para ele, assim que me tenho sobre meus pés e
completamente estável.
Ele sorri para mim, pegando sua camisa e a vestindo para, logo
em seguida, ir atrás de sua cueca e calça, vestindo-as ao mesmo
tempo em que os choros dos bebês ficam cada vez mais altos.
— Eles estão bem, Amy? – Edward pergunta preocupado e já
se movendo em direção à sala, enquanto eu pego minhas roupas do
chão, passando a vesti-las logo em seguida — Não me lembro de já
ter ouvido eles chorarem assim…
Eu apenas sorrio porque, para mim esse, choro já havia se
tornado familiar de tanto que eu ouvi nestes últimos dias, quase
nesse mesmo horário.
— Eles estão bem… Só estão chamando por você, baby.
Edward parou e me olhou por sobre o ombro com seus olhos
brilhando em confusão.
— Por mim?
— É. – respondo sorrindo — Agora vai, antes que eles resolvam
aprender a andar antes da hora só por causa disso.
Os olhos de Edward ficam do tamanho de pratos e, depois
disso, ele praticamente corre para o quarto, o que apenas me faz rir.
Eu fico na sala de jantar, voltando minha atenção novamente
para o jantar, reorganizando os pratos, copos e talheres, e
colocando a comida especial para aquecer – o que eu não
precisaria estar fazendo, se Edward e eu não tivéssemos pulado as
etapas e ido direto para a parte das nossas saudades, mas quem eu
que queria enganar? Eu havia gostado de fazer isso.
Isso já havia se tornado quase a nossa marca registrada.
Mantenho meus ouvidos atentos aos choros que vinham do
quarto, não conseguindo evitar o sorriso que brota em meu rosto
quando ouço os chorinhos diminuírem lentamente de intensidade,
até pararem.
Fazer essa surpresa para Edward foi, sem dúvidas, a melhor
ideia que já tive.


Entrei esbaforido no quarto e, assim que coloquei meus pés no
ambiente, eu os vi.
Eles são pequeninos.
Lindos.
Os seres mais fofos e adoráveis que eu já havia posto os meus
olhos sobre.
E eles estavam parecendo duas bolas vermelhas e
desesperadas de tanto que choravam.
Ambos tinham suas mãozinhas apertadas em punhos cerrados
e choravam com tanto desespero e sentimento, que eles pareciam
estar sofrendo a pior das dores, e isso estava partindo o meu
coração e me deixando desesperadamente preocupado.
Aproximo-me deles e, com cuidado, pego um de cada vez em
meus braços, acomodando-os um em cada braço meu, segurando-
os próximos a mim e ninando-os lentamente.
O choro foi diminuindo aos poucos e eles lentamente foram se
aconchegando em mim, fazendo seus pequenos balbucios e foi
nesse momento que eu entendi o que Amy havia falado sobre eles
estarem “chamando por mim”.
Foi impossível não sorrir.
— Papai também sentiu saudades – sussurro para eles,
inclinando-me e respirando o delicioso cheirinho de bebê que eles
exalam.
Louis foi o primeiro a parar completamente com seus
resmungos e a abrir seus olhos, presenteando-me com a visão de
seus olhinhos brilhantes e sonolentos, tão cinzentos quanto os
meus.
Ele me encarou por um longo tempo, antes de fechar os olhos e
se agitar em meu colo, emitindo um gritinho animado – uma coisa
rara de vê-lo fazer – para, logo depois, abrir novamente os olhos e
abrir para mim um de seus projetos de sorriso completamente
banguelas.
Meu coração perdeu algumas batidas e aumentou de tamanho
apenas com isso, e em resposta, eu sorri de volta para o meu filho.
Minha pequena Marie – por sua vez – tinha sua própria maneira
de chamar a minha atenção para ela, e ela fez isso quando suas
mãozinhas conseguiram agarrar o tecido solto de minha camisa e
ela passou a puxar minha roupa, dando alguns de seus muitos
gritinhos animados.
Diferente de Louis, minha pequenina é completamente
extrovertida e expansiva.
Ela ama a todos e a tudo.
Não que Louis não ame, longe disso, meu pequenino parecia ter
puxado isso de mim e demonstrações expansivas, como as de
Marie, não eram com ele. Eu acho que se Laurie fosse minha irmã
de sangue, Grace seria quase uma cópia perfeita dela e isso é
assustador.
Eu havia sentido tantas saudades desses dois.
Só Deus sabe o quanto foi difícil para eu sair, duas semanas
atrás, para essa viagem de negócios.
Eu não queria ter vindo, mas a situação aqui estava tão
problemática que se não fosse eu, não haveria mais ninguém que
conseguisse resolver a situação e eu estava detestando cada
segundo longe dos meus filhos e de Amy.
Foram as duas piores semanas da minha vida.
Eu os tive para mim por um bom tempo, sentindo-os tão
próximos quanto me era possível. Era a melhor sensação do mundo
ter meus filhos assim comigo depois de tanto tempo.
Foram quatorze dias de muita saudade e solidão enquanto eu
estava longe da minha família.
Eu nunca tinha pensado muito bem sobre a parte solitária da
minha vida, até ficar sozinho do novo. A presença de Amy e dos
meus filhos – assim como a dos meus pais e irmãos – se tornou
uma constante em minha vida, e foi tão fácil me acostumar e amar
isso que eu me esqueci de como era ficar sozinho, mesmo que por
alguns momentos.
Ficar duas semanas sem eles comigo já estava começando a
me irritar e a me enlouquecer.
Ter eles comigo para o meu aniversário era o melhor presente
que eu poderia ter.
Eu precisava dar um bom agradecimento à Tyler por ter ajudado
minha Amy a chegar aqui e alguma bronca também, apenas por ter
me enganado tão bem.
****
No dia vinte e três de outubro – meu aniversário – Amy me
preparou um bolo.
Um bolo de chocolate com direito à calda, velas e “parabéns
para você” na companhia da minha Amy, dos meus filhos, com
meus pais e meus irmãos presentes – em outra forma de surpresa.
Uma surpresa toda orquestrada pela minha noiva.
Foi o melhor aniversário da minha vida. De toda ela.
Eu nunca havia me sentido tão feliz no dia do meu aniversário
antes, como estava me sentindo desta vez. Toda a minha família
estava comigo e isso estava sendo um novo grande presente.
Eu me senti completamente amado, como nunca.
No fim da comemoração, quando a noite já cantava, meus pais
e meus irmãos tiveram que ir embora, mas prometeram vir para o
café da manhã, antes de voltarem para Seattle.
Já tinha algum tempo que nossa família havia deixado o
apartamento. Os bebês estavam dormindo nos berços que
havíamos comprado – para que eles pudessem ficar mais
confortáveis e não terem que dormir em seus carrinhos enquanto
estivéssemos aqui.
Estamos na sala, sentados no sofá tão próximos quanto é
possível.
— Feliz aniversário – Amy desejou, sorrindo lindamente para
mim, enquanto me abraçava de lado, passando seus braços por
meu tronco e se esticava para juntar seus lábios aos meus.
— Meu melhor aniversário – respondo, sentindo um inevitável
sorriso se abrindo em meu rosto, enquanto ainda tenho meus lábios
próximos aos de minha noiva.
— O primeiro de muitos – ela sorri também, antes de me beijar
novamente.
— O primeiro de muitos – repito — Se vocês estiverem comigo,
sei que serão.
Amy sorri e, com um suspiro, recosta sua cabeça contra meu
peito mantendo seus braços ao meu redor.
Uma sensação maravilhosa.
— Nós estaremos – ela prometeu e, apenas a segurança que
suas palavras foram capazes de me transmitir, foi suficiente.
****
Grace emitiu um de seus muitos gritinhos animados, agitando
suas mãos e tentando se empurrar para cima quando, mais uma
vez, o vento fez algumas folhas e flores se soltarem da árvore sob a
qual estávamos sentados, aproveitando a sombra naquele
maravilhoso dia de sol no Central Park.
Eles estavam começando a tentar começar a se erguer e a
rolarem sozinhos.
Vê-los tentar fazer isso era a coisa mais fofa, mas, mesmo isso
sendo lindo, eu não conseguia deixar de me apavorar com o fato de
que eles estavam crescendo e muito rápido.
Mesmo eu tendo o máximo que eu podia deles, ao vê-los tentar
essas coisas, eu sentia que tudo o que eu tinha deles não era
suficiente.
Amy riu, observando a forma agitada que nossa filha se remexia
sobre o espaço acolchoado – que havíamos arrumado para ela e
Louis sobre a manta em que estávamos.
Diferente de Grace, Louis estava muito mais entretido com o
alimento que estava sendo concedido para ele naquele momento.
Ele tinha seus olhos atentos muito focados em Amy e em todos
os movimentos dela, enquanto segurava com toda a sua força de
bebê o dedo indicador dela.
Era uma cena linda e eu nunca me cansava de assistir a isso.
Eu havia tirado umas boas horas, daquela manhã de segunda-
feira, para aproveitar algumas paisagens de Nova York com minha
noiva e nossos filhos, antes de eu ter que deixá-los para me enfiar
em algumas desgastantes horas de trabalho.
Amy riu mais uma vez, atraindo minha atenção para longe do
que eu teria que fazer e de todas as preocupações que teimavam
em se infiltrar em nosso momento de lazer.
Olhei para ela e descobri o que tanto a estava divertindo: Marie
tentava engolir suas próprias mãos, tentando enfiá-las em sua boca
com elas estando fechadas em punhos bem apertados, e, por
consequência, se babando toda.
Eu ri quando ela mexeu seus pezinhos e gritou, como se
estivesse brigando com suas mãos, antes de tentar enfiá-las na
boca novamente.
— Essa menina não vai ser fácil – Amy comentou, rindo,
enquanto ajeitava Louis que tinha terminado de mamar e o colocava
para arrotar.
— Eu não duvido – concordei esticando meus braços para Amy
para que ela me passasse o meu garotão — Você vai me ajudar
com ela, não é, amigão? – falo para ele, que dá um gritinho animado
e faz suas mãos virem diretamente para meu rosto tentando me
agarrar.
— Eu acho que ele vai é ajudá-la – Amy ri, pegando uma
garrafinha de água e sorvendo bastante dela.
— Espero que eles sejam amigos – digo ao colocar Louis
deitado sobre minhas pernas para observá-lo brincar consigo
mesmo, assim como Grace faz.
— Eles já são.
Sorrio para ela e lhe lanço um beijo, antes de tirar Louis de
minhas pernas e colocá-lo ao lado da irmã na manta, para poder me
deitar também.
— O que acha de nos casarmos no ano que vem? – Amy
pergunta depois de um agradável momento em silêncio, apenas
observando nossos filhos em suas próprias descobertas.
— Eu acho perfeito. – sorrio para ela — Tem alguma data em
mente?
— Algum dia de junho ou julho. – ela ri dando de ombros sem
saber muito bem que data pensar, deitando-se na manta ao lado de
nossa menina.
— Acho que julho é melhor.
— Perfeito, então. Agora, só precisamos decidir o dia e o lugar.
— A parte mais fácil – rimos.
38- As verdades escondidas.
Alguns dias depois do aniversário de Edward todos nós
conseguimos voltar para Seattle e para a nossa casa.
Edward havia conseguido resolver a situação de sua filial e,
depois disso, nós tivemos que sair de Nova York quase às pressas.
Uma foto de Edward saindo do carro com Louis, em frente ao prédio
em que ele tinha seu apartamento, saiu nos jornais e em todas as
revistas e canais de fofoca.
A estadia em Nova York foi totalmente comprometida depois
disso e, mesmo com toda a equipe de Edward trabalhando para tirar
as imagens de circulação, o estrago que havia sido feito fora grande
demais.
No dia seguinte à publicação da foto, todos os repórteres e
fotógrafos possíveis estavam na saída do prédio, atrapalhando a
saída de todos os moradores.
Eu fiquei apavorada.
Ao voltarmos para Seattle, as coisas não melhoraram, pelo
contrário: as coisas pareciam bem piores aqui e toda a ênfase que
não havia sido dada ao assunto em Nova York, estava sendo dada
aqui.
De alguma forma, eles conseguiram descobrir o endereço de
nossa casa e montaram acampamento nos portões, por vários dias.
E a coisa apenas piorou quando eles descobriram que eu era a
mulher misteriosa dos eventos e que eu havia tido gêmeos e não
apenas um bebê.
Eu tinha medo até de sair para o quintal com meus filhos, para
dar a eles o banho de sol da manhã, e acabar sendo fotografada ou
perseguida por algum paparazzi louco que havia conseguido burlar
a segurança do condomínio e chegar ao espaço da minha casa.
As coisas não tinham ficado fáceis e, pela primeira vez, eu
detestei muito o fato de Edward ser tão conhecido.
É sábado à noite e não passa muito das sete quando nossos
bebês são colocados em seus berços, estando devidamente
trocados e banhados, depois de uma difícil ida à casa dos avós.
Edward e eu estamos exaustos, física e mentalmente, de toda
pressão que viemos sofrendo da mídia durante estes últimos dias.
A semana havia sido dolorosamente difícil e, infelizmente, não
estava dando muitos sinais de que a situação com a mídia iria
melhorar.
Estávamos em nossa sala, deitados no nosso sofá assistindo
um filme bobo, aproveitando a estranha paz que estávamos tendo
naquele momento para conseguirmos descansar e, mais tarde,
termos algum sono. Não que fosse ser fácil dormir tendo dois bebês
em casa, mas, ainda assim, era algum sono.
O cheiro da maravilhosa comida de Aretha estava enchendo a
casa e me enchendo de fome. Eu havia sentido saudades do
tempero maravilhoso dela.
Que Suzanne – minha antiga babá – me perdoasse, mas Aretha
havia roubado o meu paladar e me conquistado pelo estômago.
— Deus, o cheiro está maravilhoso! – exclamo — Se ela não
nos avisar que podemos comer… acho que sou capaz de atacar a
panela e comer do jeito que estiver – falo olhando quase com
desespero para Edward.
Ele ri abertamente, puxando-me para seus braços e me
apertando ali, antes de beijar o topo de minha cabeça.
— Eu também estou com fome, querida, mas não vamos por
esse caminho, o.k.? – ele falou ainda rindo e, em consequência, eu
ri também.
Infelizmente, nosso momento foi interrompido com a entrada de
Tyler na sala e seu pigarreio ao chamar nossa atenção para ele.
— O que houve? – Edward perguntou, assumindo uma posição
mais séria e franzindo o cenho.
— Uma senhora chamada Dianna Bazanova, que diz ser a mãe
da senhorita Amy, está no portão, pedindo para entrar.
Eu senti meu sangue gelar e todo o ar sair de meus pulmões no
momento que Tyler mencionou o nome de minha mãe.
Minha boca ficou seca de repente e, então, eu não sabia mais o
que era respirar ou me mexer.
— Amy? Respira, América! – Edward brada para mim, mas eu
não consigo fazer o que ele me pede.
O pânico está fechando minha garganta.
Ela tinha descoberto e, agora, ela veio atrás dos meus bebês.
Ela veio para tirá-los de mim.
E, com esta constatação, meu coração começa a bater mais
rápido e o frio do medo passa a ser substituído pelo fogo da raiva,
os tremores que agora dominam meu corpo têm um novo motivo.
— Deixe-a entrar – Edward fala quando, aparentemente,
percebe que tentar me acalmar, ou falar comigo não vai adiantar —
Eu tenho coisas para conversar com ela.
Eu sabia que não iria demorar muito para minha mãe aparecer e
vir atrás de mim, com todo esse foco da mídia sobre nós nos últimos
dias, mas, mesmo sabendo que em algum momento ela iria
aparecer, eu estava torcendo fervorosamente para ela não aparecer
nunca.
Eu tinha essa vã esperança sendo cultivada em mim e, agora,
ela estava soterrada.
— Amy, vá ficar com as crianças, sim? Tenha certeza de que
elas estão dormindo enquanto temos sua mãe aqui. – Edward pede,
tirando-me de meu torpor.
— Você vai cuidar disso? – pergunto em tom baixo, quase não
sentindo emoções em minha voz.
— Vou sim. Definitivamente.
Anuo de forma positiva e sigo em direção ao corredor para ir ao
quarto de meus filhos.
Meu coração estava gelado e minha mente parecia dormente,
enquanto o pavor e o desespero corriam desenfreados pelas minhas
veias e terminações nervosas.
O legado, menos criminoso e cruel, dos Bazanov tinha
finalmente chegado para me atormentar e destruir a minha vida.


Dianna Bazanova atravessou as portas e o hall de entrada da
casa de Edward e América, como se ela fosse a dona de tudo e não
uma reles visita indesejada.
Edward a esperava na sala, mostrando em sua postura toda a
sua imponência e desgosto com a presença da mulher que trouxe
ao mundo a sua Amy. Naquele instante, ele estava tentando
arduamente não demonstrar toda a aversão e desgosto que tinha
por essa mulher que agora entra em sua casa, sendo escoltada por
Tyler.
— Boa noite, senhor Cage. – Dianna diz, abrindo um pequeno
sorriso em forma de saudação.
— Boa noite. – Edward responde, dispensando seu segurança
com um olhar — À que devo a sua visita?
— Vim conhecer os meus netos. Não posso? – ela arqueia uma
sobrancelha de forma duvidosa.
— Não. E se veio apenas para isso já pode voltar para a sua
casa. – Edward a corta, dando à mulher a deixa de partir sem
qualquer tipo de dano.
— Na verdade… vim também para discutir algumas partes
importantes e bem interessantes do seu contrato como o dominador
da minha filha. – ela declarou, sentando-se em um dos sofás,
mesmo sem a autorização de Edward.
— Mesmo? – ele se faz de desentendido, sentando-se também
— E que partes são essas?
— O treinamento dos seus filhos. Principalmente da menina, por
mim é claro, já que a minha querida filha não fará o que é…
necessário.
— E quem diz que minha filha irá ser treinada para qualquer
coisa, e ainda mais por você? – Edward pergunta, sem se importar
em disfarçar o seu escárnio.
— Eu digo. Nossas regras dizem. – ela pontua — Veja bem…
se essa criança, essa menina, for criada pela mãe e pelo pai, tendo
uma mãe tola como América é… essa menina nunca vai poder ser o
que ela precisa ser em nossa família. Uma submissa perfeita, para
continuar a tradição. Eu entendi isso muito cedo, mas a América
sempre foi tola e sonhadora demais para colocar a família antes das
crenças estúpidas dela.
Ela faz uma pausa e se ajeita contra o sofá, mantendo uma
expressão serena e quase de pedra em seu rosto ao falar.
Uma expressão imperiosa.
— Esses sentimentos não são de muita serventia na nossa
posição e devem ser demonstrados da maneira mais discreta e
minimalista possível, e nunca devem ser demonstrados, se possível.
O amor e a afeição não são muito bons para os negócios, o senhor
deve entender.
— Entendo. E, pelo o que me parece, esses sentimentos já lhe
abandonaram faz tempo.
— Eu amo a minha filha. – ela declara sem muita emoção — E é
porque eu a amo que a deixei ter um “pai” – ela faz aspas no ar ao
falar a palavra — que ela acredita ter morrido enquanto ela era um
bebê e outro pai durante os primeiros anos de sua vida. Esse outro
pai não fez muito bem a ela. Colocou ideias em sua cabeça que não
deveriam ser colocadas.
— E por isso você fez com que ele desaparecesse da vida
dela?
— Exatamente. Uma coisa dessas não é perigosa apenas para
as futuras submissas, mas para as mães delas também. É por isso
que eu estou aqui, dando a opção para vocês escolherem.
— Escolher? – Edward pergunta incrédulo, erguendo uma
sobrancelha quase sarcástica.
— Você pode ficar com a América, mas sem os bebês, ou você
pode apenas partir e seguir sua vida, enquanto eu levarei a minha
filha e os meus netos comigo. Sem impedimentos.
— Fácil assim? – Edward debocha, mantendo sua sobrancelha
arqueada, agora, de forma completamente sarcástica.
— Sim.
— Você acha mesmo que pode me afastar da minha mulher e
dos meus filhos? Acha que tem algum poder para isso? – ele a
desafia.
— Sim. Eu fiz isso com o pai biológico dela, por que acha que
não vou fazer o mesmo com você? Eu a fiz acreditar que o pai dela
estava morto, quando ela passou quase toda a infância e aquele
período ridículo de sua “fuga” com ele… – Dianna mais uma vez faz
aspas, com um ar de enfado e quase revirando os olhos — Faça-me
o favor.
— Você é inacreditável. – Edward balbucia, olhando para
Dianna como se ela fosse um alienígena.
Naquele momento, Edward estava achando improvável o fato
de que América havia realmente saído daquela mulher que estava à
sua frente e que – sem saber – confirmava a história que Nicolas
havia lhe contado no dia do nascimento de Grace Marie e Louis
Alexander.
— Se você não fizer isso por bem, vai ser por mal.
— Diga-me: como você me forçará a isso? – ele exige,
mudando de posição no sofá e adquirindo uma pose quase relaxada
diante de Dianna, mas, ainda assim, deixando sua presença se
tornar opressora a cada minuto da conversa.
— Está no contrato. Ou faz isso, ou a tiramos à força e você
nunca mais vai ser o mesmo.
— Contrato? – Edward questiona, cruzando os braços sobre o
peito e tendo toda a sua atenção sobre a mãe de Amy — O contrato
que eu assinei na presença do meu advogado, do Joe e do
advogado da sua família? O mesmo contrato que diz que, se houver
o envolvimento afetivo, ou o nascimento de uma criança, ou uma
proposta de casamento, ele se torna inválido e as responsabilidades
e direitos passam todos para mim? O mesmo contrato que diz que
eu posso libertar a Amy destas exigências e dar para ela uma vida
normal? É desse contrato que você fala?
— O que? – Dianna estala em tom baixo, boquiaberta, ficando
branca como papel e sem palavras.
— Exatamente isso que você ouviu. E agradeça ao Joe, seu
dominador, por isso. Na hora que ele me sugeriu essas cláusulas eu
nem dei muita importância e tinha até mesmo me esquecido delas,
até poucos dias atrás, quando nossa privacidade foi exposta pela
mídia. – Edward sorri sem mostrar os dentes, exalando
superioridade ao olhar diretamente para Dianna — Nunca uma
exigência de um acordante me caiu tão bem como essa.
Ele sorriu mais uma vez, ajeitando-se novamente no sofá, antes
de ficar sério mais uma vez e, então, continuar:
— Ela é dona de si mesma agora. Nem você e nem a sua
família têm direitos sobre ela. Nunca mais vão ter.
— Isso é impossível! – Dianna bradou furiosa, perdendo a
compostura e deixando cair toda a sua empáfia, enquanto cuspia
cobras e lagartos.
Enquanto ela fazia isso, próxima à soleira da porta do corredor,
estava América, com sua mão cobrindo a boca para evitar que seus
soluços fossem ouvidos por quem estava na sala e, então, sua
presença fosse notada.
As lágrimas quentes estavam varrendo sua face e seu peito
doía.
Ela estava se sentindo dilacerada diante das coisas que havia
ouvido sua mãe confessar. Havia parado de ouvir direito no instante
que Dianna revelara que seu pai ainda estava vivo e que Nicolas era
o seu pai biológico.
Amy sequer havia escutado Edward dizer que seus bebês
estavam à salvo.
Olhando na direção da sala, ela percebeu que não podia ser
vista de onde estava, mas podia ver e escutar tudo o que falavam.
Mesmo que ela não estivesse entendendo as palavras que eram
ditas por causa dos zumbidos que ecoavam em seus ouvidos.
Limpando, com fúria, as lágrimas de seu rosto, Amy saiu de
onde estava e se mostrou presente com passadas furiosas e uma
dor nova instalada em seu peito.
Ela parou diante de sua mãe – entre Edward e ela – e, enquanto
respirava furiosamente, ela se sentiu crescer diante da mulher à sua
frente, mulher essa que um dia ela achou ser sua mãe, mulher essa
que América pensou ter nutrido – em algum momento – um
sentimento maternal verdadeiro por ela – sua própria filha – mesmo
que fosse mínimo.
América encarou sua mãe com raiva e autoridade, uma coisa
que ela nunca havia experimentado em sua vida para com esta
mulher à sua frente.
— Você vai sair da minha casa, vai sair da minha vida e vai
esquecer que eu existo, que sou descendente dos Bazanov e que
você me colocou no mundo. Vai esquecer que esteve aqui e que
tentou tirar de mim os meus filhos. Você. Vai. Sumir! – Amy bradou
furiosa, pontuando as três últimas palavras com toda a sua força,
autoridade e mágoa.
Ela definitivamente não queria mais ter que viver com a
possibilidade de sua mãe voltar respirando atrás dela.
— Você vai fazer isso por bem ou por mal. – ela finalizou.
Durante toda a sua explosão, Edward ficou quieto, apenas
assistindo sua Amy colocar para fora tudo o que a havia perturbado
durante os meses de sua gravidez até aquele instante.
Que a havia perturbado durante toda a sua vida.
Ele estava orgulhoso de sua mulher.
Um orgulhoso com letras grandes, garrafais e brilhantes neon.
— Você não pode fazer isso, América. – Dianna diz, empinando
seu nariz e tentando passar a autoridade que sempre teve sobre
sua filha após causar a partida de Nicolas.
— Não só posso como faço. – Amy rosna entre os dentes
cerrados, avançando um passo na direção de Dianna, que, por sua
vez, murcha quase que imperceptivelmente — Esta é a minha casa.
São os meus filhos. É a minha vida. Você não tem poder algum
aqui. Você não tem direito algum aqui. O seu único direito é ir e não
voltar nunca mais. Nem que para isso eu precise usar a força ou a
justiça e expor toda a sujeira que existe por trás de vocês.
Dianna solta um riso amargo, antes de direcionar seus olhos
para Edward e, então, catar suas coisas, para depois voltar seu
olhar para América, ainda demonstrando a frieza que havia
adquirido com o passar dos anos.
— Eu deveria ter deixado você ir quando tive a chance.
Amy ergue o queixo, mostrando-se inabalada pelas palavras de
sua mãe, mesmo que a maioria delas tenha lhe cortado o coração.
— Vá embora. Agora. – América finaliza.
Atrás dela, Edward faz um sinal para Tyler – que esteve próximo
durante toda a discussão desde a explosão de Dianna – para que
ele levasse a mulher para fora de sua casa e, em seguida, para fora
dos portões.
Ele se certificaria pessoalmente para que ela não voltasse mais.
Dianna Bazanova saiu da mesma maneira que entrou: exalando
um poder que não tinha e um controle que havia sido perdido por
completo, mas que ela exigia – de si mesma – a continuar
mostrando.
Assim que a mulher que lhe deu à luz passou pelas portas, Amy
desabou sobre o sofá, sentindo-se fatigada e muito mais do que
quebrada. Seus olhos estavam ardendo em lágrimas que brotavam
e caiam descontroladamente.
Ela sentiu os braços de Edward virem ao seu redor e a puxarem
contra o corpo dele, amparando-a e a consolando. Dando a ela a
força que ela necessitava naquele momento.
Amy chorou por minutos à fio, mantendo-se presa à Edward
enquanto fazia isso, sentindo-se fraca e vulnerável de uma forma
que ela nunca havia se sentido em sua vida antes.
Nem mesmo na presença do Monroe.
Tudo antes havia sido uma grande mentira e tudo o que ela se
perguntava era “por quê?”.

— Você sabia? – América perguntou, depois de um longo tempo


chorando e deixando vazar toda a sua adrenalina e frustração.
Sua voz saiu rouca e baixa.
Quase fraca.
Ela se soltou dos braços de Edward quando o silêncio dele se
tornou incômodo para ela e, então, ela se virou para poder encará-lo
e ter a certeza de que ele não iria mentir.
— Você sabia? – repetiu.
— Sabia – a resposta de Edward não passou de um sopro.
O rosto de Amy se contorceu em uma careta de dor e ela
desviou os olhos de Edward, por alguns instantes, em sua tentativa
falha de afastar as novas lágrimas que estavam surgindo.
— Quando? – ela questionou no mesmo tom sofrido de antes.
— No dia do nascimento dos bebês. – Edward suspirou de
forma dolorida, olhando para Amy diretamente nos olhos — Você
perdeu muito sangue depois de terem tirado o Louis e precisaram
fazer uma transfusão – ele faz uma pausa, sentindo um tremor
gelado passar por seu corpo ao se lembrar da tensão que foram os
momentos do parto — Foi nesse momento que o Nicolas falou que
era o seu pai… o seu pai biológico.
— Por que você não contou? Por que escondeu isso de mim?
Por que deixou que eu fosse feita de boba?!
— Não era uma coisa minha para eu contar.
Amy suspirou pesadamente.
Um suspiro longo e entrecortado, com seus olhos fechados e
mais lágrimas escorrendo por seu rosto. Seu corpo todo estava
tremendo e ela sentia as extremidades de seus dedos geladas.
Sua cabeça estava com um verdadeiro nó. Um nó tão grande e
pesado que a fazia latejar, como se ela tivesse levado uma forte
pancada. O que não deixava de ser uma verdade.
Uma pancada forte e totalmente desestabilizadora.
— Eu… eu acho que preciso ficar um pouco sozinha…
Edward assentiu positivamente, sentindo seus olhos arderem e
um bolo se formar em sua garganta, fazendo-a doer.
— Tudo bem – ele suspirou.
— Eu vou…
Amy não terminou a frase.
Ela apenas se levantou e seguiu para fora da sala, fugindo para
qualquer lugar que ela pudesse se sentir sozinha e menos sufocada.
Edward daria para ela o tempo que ela precisava, afinal, ele
sabia que não seria nem um pouco fácil para ela toda essa carga
emocional e psicológica que havia caído sobre ela.


Eu estava me sentindo um caco.
Não.
Eu estava me sentindo mais quebrada que um caco.
A sensação de descobrir que toda a sua vida foi uma mentira é
horrível. Minha mãe havia me feito de idiota por vinte e um anos, e,
por consequência, o meu pai também me fez.
Eu ainda não estava sabendo lidar com este fato muito bem.
Não mesmo. Nem um pouco.
Estava doendo.
Edward havia escondido de mim essa parte importante da
minha vida, mas eu não consegui me manter chateada com ele por
muito tempo. Como ele mesmo havia me dito: essa não era uma
coisa dele para ele me contar.
Era uma coisa minha que deveria ter me sido dita há muito
tempo.
E, para melhorar a situação, a mídia não nos deixava em paz.
Nossos telefones não paravam de tocar e a cada vez era uma
emissora, um jornal ou uma revista diferente, tentando obter alguma
coisa de nós.
A luta da equipe de Edward contra a mídia ainda continuava e
com ainda mais força, já que, por não conseguirem ter nada de nós
– além da confirmação de que estávamos juntos – alguns jornais e
revistas resolveram partir para as ofensas e calúnias para cima de
mim.
A gota d’água para Edward foi quando colocaram nossos filhos
na berlinda, incitando as dúvidas quanto à paternidade verdadeira
deles. Paige havia ficado para matar e toda a família Cage se
envolveu na luta contra os ataques da mídia contra nós,
principalmente contra mim.
Em meio a tudo isso, eles descobriram também sobre o noivado
de Paige com Josh. Ela ficara possessa e, com isso, ameaçou
publicamente processar e acabar com todos os bastardos que
estavam difamando não apenas ela, mas também a mim daquela
maneira.
— Sabe… você não tem sido muito silenciosa na sua insônia –
Edward falou suavemente, assim que se sentou ao meu lado no
sofá, passando seus braços por meus ombros e me puxando para
ele.
— Desculpa. – peço enquanto me aconchego contra ele,
aspirando seu perfume misturado ao cheiro de nossos filhos e
tentando me acalmar.
— Não está sendo fácil, não é?
— Não…
Mordo meu lábio inferior, sentindo Edward me apertar um pouco
mais contra si.
— Você não está bem – ele afirma, beijando o topo de minha
cabeça em seguida — Além de todo o assédio da mídia com o qual
você não está acostumada, há tudo o que aconteceu… – Edward
faz uma pausa, suspirando antes de me afastar de seu peito para
me fazer encará-lo, para, em seguida, continuar enquanto olha nos
meus olhos: — Se você não está bem, nós não estamos bem…
— Eu sei – digo enquanto sinto um bolo de lágrimas se formar
em minha garganta.
Eu estava cansada de chorar.
— Não acha que já passou da hora de conversar com ele? –
Edward pergunta e eu sinto meus olhos arderem — Você deve isso
a si mesma, Amy.
— É hora de ouvir a minha história, não é?
— É.
[…]
Nicolas se sentou à minha frente na sala de estar.
Eu estava sentada na poltrona que geralmente Edward usava
para sentar e ler o seu jornal, ou para ficar com os bebês no colo.
Mesmo depois de quase seis meses, ele ainda tinha medo de
acabar deixando-os cair. Eu adorava isso nele e, pensando nisso,
eu me perguntei se o homem à minha frente também já teve um
medo parecido com esse quando eu era bebê.
Eu não havia tido coragem o suficiente para ligar para ele e
pedir que ele viesse. Cheguei até a pegar o telefone, mas não
consegui fazer a ligação e, desta forma, quem acabou fazendo isso
por mim foi Edward.
Ele estava comigo até poucos minutos atrás, mas, assim que
Nicolas chegou e o cumprimentou, Edward saiu para nos dar
privacidade.
Desde que meu noivo fizera isso, nós estávamos em silêncio.
— Por quê? – eu finalmente falei quando a pressão em meu
peito e em minha cabeça, e o silêncio se tornaram insuportáveis. —
Por que você nunca me disse?
— Eu fiquei com medo de perder você. – Nicolas respondeu em
voz baixa e seus olhos brilhavam com lágrimas — Eu fiz tudo.
Literalmente tudo para ficar com você e com a sua mãe. Eu fingi ser
um dominador, primeiro, para ficar com a sua mãe e depois eu fingi
não ser o seu pai para poder ficar com você…
— Você sempre soube?! – eu o interrompo; minha voz saindo
sufocada pelo novo bolo de lágrimas que se forma em minha
garganta.
Meu coração estava doendo novamente.
— Eu vi você nascer… te segurei nos meus braços todos os
dias até você não querer mais…
— Por que você foi embora? – a mágoa estava pingando de
minhas palavras.
— Por causa da sua mãe. Ela mudou. Alguma coisa nela mudou
e ela me denunciou para os líderes da família dela e, então, eu fui
obrigado a partir. Eu lutei contra isso, Amie… eu realmente lutei,
mas eu não era tão poderoso como seu noivo é.
— Ela fez isso por que você me deixava ser normal?
— Sim. Mas também porque eu não queria permitir que você
vivesse aquela vida. Desde o começo, eu sempre quis tirar você e a
sua mãe daquele estilo de vida.
— E ela não… ela não quis isso. – afirmo mais do que pergunto.
— Não, não quis. Por um tempo, ela pareceu querer, mas
depois ela mudou e, então, não quis mais.
Senti meu queixo tremer, minha garganta doer e as lágrimas
pesarem em meus olhos em sinal do choro iminente.
Passo minhas mãos sob meus olhos, tentando afastar as
primeiras lágrimas que caem e, antes que eu perceba, Nicolas está
ajoelhado na minha frente, puxando-me para seus braços e me
apertando forte contra ele, enquanto as lágrimas caem com fúria
dos meus olhos e os soluços irrompem por meu peito.
— Me desculpa, Amie… me desculpa por ter mentido sobre isso
durante todo esse tempo. – a voz dele é carregada de emoção e
isso entra em meu peito de forma dolorosa.
— Você realmente só estava com medo de me perder? –
pergunto baixinho, afastando-me de seu peito para poder olhar para
ele.
— É o meu maior medo, querida. – ele afaga meu cabelo e
tenta secar minhas lágrimas que não param de cair, antes de se
esticar para beijar minha testa e puxar-me de volta para o seu
abraço, me apertando forte ali.
Eu vou para o chão também e, desta forma, estamos os dois
ajoelhados ali, abraçados, enquanto eu coloco para fora todas as
lágrimas que ainda existem em mim.
No fim das contas, toda a minha vida até esse momento não
havia passado de segredos e omissões, e enquanto eu estou ali,
abraçada ao meu pai, eu decido que não quero mais saber de nada
que veio antes de Edward.
As mentiras e omissões da minha mãe fizeram mal não apenas
a mim, mas muito mais ao meu pai que teve que fingir não ter
nenhum laço sanguíneo comigo.
Era bom finalmente poder dizer isso sendo relacionado ao
Nicolas e saber que ele realmente é o meu pai.
— Eu te amo, querida. Nunca pense diferente disso, por mais
segredos que tenham existido. Eu sempre te amei.
— Eu sei… eu também te amo, papai.
[…]
Louis e Marie estavam entre Edward e eu em nossa cama.
Com seus cinco meses, duas semanas e quatro dias, eles
estavam aprendendo a rolarem sozinhos e a se apoiarem em seus
bracinhos. Muitas vezes, suas tentativas eram quase frustradas,
mas, quando eles conseguiam, faziam a festa, agitando suas
perninhas e bracinhos, soltando seus adoráveis gritinhos em
animação.
Era uma visão fantástica.
— Você está bem? – Edward pergunta de repente, tirando
minha atenção de nossos filhos e a atraindo para ele.
Ele me olha enquanto mexe com Marie, que está deitada com a
barriga no colchão e tenta se mexer e ir até onde seu pai está, ou
até onde os cabelos dele estão. Minha pequenina tinha verdadeira
adoração por cabelos, principalmente os cabelos do pai.
— Eu estou bem. – sorrio para ele, sentindo Louis agarrar
minha mão e tentar levá-la para sua boca emitindo alguns
resmungos por eu não o deixar fazer isso e por ele ter que se
esforçar enquanto mantém a boquinha aberta.
Edward sorri para mim e, esticando o braço por cima dos bebês,
ele toca o meu rosto, acariciando-o e ouvindo um protesto de Louis
logo em seguida.
— Temos um rapazinho possessivo aqui, veja só! – ele brinca,
me fazendo rir e me distraindo das mãozinhas nervosas de Louis.
— Puxou você.
— É claro – Edward revira os olhos de forma sarcástica e tira
sua mão, que estava em meu rosto para se ajeitar e pegar Marie,
que havia voltado a ficar de costas, esticando-se ainda em sua
tentativa de chagar ao pai — Ele puxou somente a mim quanto a
isso, né?
— Ainda bem que você concorda, amor.
Ele ri, balançando a cabeça em negação, antes de voltar seu
olhar para mim.
Um pouco da diversão perdida para dar lugar à sua
preocupação.
— Realmente bem?
— Realmente bem – confirmo, suspirando em seguida — Vai
demorar um pouco para eu aceitar, de verdade, o que minha mãe
fez, mas eu estou bem. Saber que o Nick foi arrancado de mim
daquela forma… ajudou um pouco. E eu sempre quis que ele fosse
meu pai de verdade, mesmo que não tivesse coragem para dizer.
— Não é possível entender a mente da sua mãe – Edward diz
com certo pesar e até um pouco de raiva — Ela realmente parecia
achar que estava fazendo o certo ao afastar o Nick de você e agora
ao tentar tirar os nossos filhos.
— Por falar nisso… eu fiquei tão atordoada… – olho para meus
bebês, pedindo perdão a eles por isso com meu olhar — Obrigada.
Obrigada por isso. – lanço para Edward, olhando-o com toda a
minha gratidão e adoração.
— Eu bem que gostaria de levar todo o crédito, mas é graças ao
Joe que eu tinha isso. Acho que desde o começo ele sabia… desde
o começo ele queria ter a certeza de que você teria o que queria.
Sorrio e estico minha mão para alcançar a dele entre nossos
filhos.
— Ele me disse que eu iria saber como viver uma vida normal
ao seu lado… Acho que alguém nunca esteve tão certo sobre algo
como ele estava.
Edward sorri abertamente e leva minha mão – que está na sua
– aos seus lábios beijando-a em seguida por alguns segundos,
enquanto seus olhos gritam seus sentimentos para mim.
Eu te amo – eles dizem.
E eu tenho certeza disso. A maior certeza do mundo de que isso
é a verdade.
— Eu te amo – sussurro para ele, sentindo-o sorrir contra a pele
de minha mão antes de ele beijá-la novamente em resposta.
Eu não poderia estar mais feliz.
Epílogo.
19 de Julho de 2015 – Bellevue, Seattle.
Era uma belíssima manhã de verão.
O sol estava nascendo tranquilamente no horizonte, tingindo o
céu com tons de rosa, azul e roxo, e América observava a tudo –
sem conseguir piscar – da janela do quarto da casa de sua sogra,
onde estava ficando desde a noite anterior. – Não que isso tenha
sido escolha dela, é claro.
Seu coração estava aos pulos e sua boca estava
estranhamente seca. Ela estava nervosa, ansiosa e com saudades
de Edward e de seus filhos – que a esta hora deveriam estar
colocando, tanto ele quanto Aretha loucos, ela tinha certeza disso.
Apesar de não ter dormido quase nada durante a noite, ela
estava mais desperta do que toda a casa. A maior parte das unhas
que ela havia deixado crescer – durante quase um mês – estavam
agora praticamente destruídas.
Ela tinha certeza de que Laurie e Paige iriam enlouquecer com
ela por causa disso, mas ela estava pouco se importando. Ela iria se
casar! Tinha o direito de surtar um pouco. Além do que: Estava com
saudade de Edward e de seus filhos.
Os dois pequenos espoletas, que estavam agora com um ano e
um mês, soltavam seus projetos de palavras emboladas e suas
palavras de verdade, junto com os princípios de corridas e pulos.
Eram dois espoletas que nem andar direito sabiam ainda e já
queriam correr e pular.
Havia sido um parto difícil e complicado, do qual ela não se
lembrava de muito, mas – segundo Edward e os médicos – tinham
sido horas tensas e, para Edward, horas traumáticas. Ele revelara a
ela que, mais uma vez, pensara que iria perdê-la.
Amy apenas se lembrava de ter ouvido algo sobre um cordão
umbilical e sobre hemorragia, lembrava-se de ter ficado bastante
confusa e estupidamente dopada após a anestesia ter sido aplicada
e, então, muitas informações ficaram confusas em sua mente, as
anteriores e as posteriores à anestesia.
Mas ela se lembrava, tão perfeitamente quanto podia, de
Edward ao seu lado… tão emocionado quanto um homem, um pai,
podia estar durante o nascimento de seus filhos.
Mordendo o lábio inferior com nervosismo, ela se virou e
encarou o relógio que estava em cima do criado mudo ao lado da
cama, e suspirou, constatando que não passava muito das seis e
meia da manhã.
Estupidamente, ela se perguntou o que estava fazendo
acordada àquela hora, sendo que todos na casa estavam dormindo.
Novamente ela olhou para fora pela janela, vendo o céu sendo
tingido lentamente pelas cores do amanhecer preguiçoso. Tudo
indicava que aquele seria um dia lindo e perfeito para se realizar um
casamento, mas, mesmo assim, com toda a perfeição que o dia
estava aparentando ter, ela não conseguia se sentir menos nervosa.
Tinham sido meses tentando decidir onde seria a cerimônia,
apenas para acabarem optando pelo primeiro lugar no qual haviam
pensado.
O casamento aconteceria exatamente ali, na casa de sua sogra.
Todas as coisas haviam chegado no dia anterior e Amy tinha
certeza de que em pouco tempo – isso se já não estivesse
acontecendo – tudo começaria a ser arrumado nos devidos lugares.
Ela engoliu a seco, olhando para sua mão esquerda, onde o
delicado anel de noivado estava depositado em seu dedo anelar,
não conseguindo deixar de imaginar que, em poucas horas, teria ali
uma aliança e, então, ela estaria definitiva e devidamente casada
com o homem que amava e que era o pai dos seus filhos.
Em poucas horas ela seria a Senhora Edward Cage.
América não conseguiu deixar de sorrir com a ideia. Tanto
quanto estava nervosa, ela também estava feliz e completamente
emocionada.
Um arrepio percorreu sua espinha no instante em que se
lembrou de quando a notícia do “suposto” relacionamento deles
vazou na mídia, junto com a foto de Edward saindo do carro com um
dos bebês no colo em frente ao prédio em que ele tinha um
apartamento em Nova York, no qual América e seus filhos tinham
ido passar um tempo juntos de Edward por causa de uma viagem de
negócios que o mesmo havia feito, fazendo todos os fofoqueiros de
plantão – como docemente eram chamados por Laurie –
perguntarem e perseguirem Edward e toda a família Cage, por dias
seguidos, tentando descobrir o que estava acontecendo e de quem
era aquele bebê, por que tudo sobre ele e sua possível amante
havia sido escondido, o que seria feito…
Ela sabia que uma hora ou outra a mídia e o mundo iriam saber
sobre ela, mas não havia imaginado que seria da forma que havia
acontecido. América nunca tinha sentido tanto o assédio da mídia
na pele como sentira nas semanas que se seguiram após a
divulgação das imagens e do relacionamento dela com Edward.
Não tinham se passado nem seis meses por completo do
nascimento de seus bebês e eles já eram alvos disputados pela
mídia. Todos queriam tirar fotos deles de todas as maneiras
possíveis – e quiseram ainda mais quando souberam que eram
gêmeos e não apenas um único bebê. Eles perseguiram e vigiaram
vários dos passos de Edward e até os dela para tentarem extrair
alguma coisa, e mesmo que todo o staff de segurança e os
moderadores de imagem e advogados de Edward tentassem ao
máximo amenizar as coisas e proteger Edward e sua família de uma
exposição ofensiva e invasiva da mídia, parecia que tudo o que era
feito não funcionava.
As ofensas da mídia para com América começaram menos de
duas semanas depois da notícia sobre ela, A Mulher Misteriosa,
terem saído na mídia acusando-a de coisas horríveis, difamando-a e
fazendo até questionamentos sobre os bebês chamando-os de
possíveis bastardos.
Tudo isso deixou Edward e toda a família Cage furiosos. Paige
havia ficado para morrer – ou matar – depois que descobrira as
abominações que falaram de Amy e de seus afilhados. E, quando
descobriram que a jornalista investigativa e criminal, Paige Bennett,
era – como chamaram – o novo affair de tempo indeterminado de
Josh Cage, ela praticamente surtou e ameaçou publicamente – nas
palavras dela – acabar com os bastardos que estavam difamando
sua melhor amiga e a ela própria daquela forma.
Mas o pior para América e Edward, realmente nem eram os
ataques e as ofensas da mídia em busca de chamar a atenção e ter
suas respostas. Não. Definitivamente a mídia não era o pior. Para
eles o pior foi quando, uma semana depois da notícia, a mãe de
América apareceu no apartamento de Edward durante a noite,
tentando convencê-lo a deixar Amy ou a ficar com Amy, mas sem os
bebês.
Havia sido um momento tenso, doloroso e carregado de
revelações que América jamais imaginou serem possíveis durante
toda sua vida…
O toque do seu celular, em algum canto do quarto, foi o que
chamou a atenção de Amy e a tirou do meio de seus devaneios e
lembranças – que naquele momento em que estava, eram dolorosas
e ainda quase impossíveis de acreditar.
Ela olhou ao redor tentando encontrar onde seu celular estava e
o viu acendendo e vibrando sobre o colchão da cama em que
dormira. Foi até ele e o sorriso em seu rosto foi inevitável quando a
imagem de Edward, junto dos bebês, brilhou na tela junto do nome
dele.
— Digam: “bom dia, mamãe” – ela escutou Edward dizer do
outro lado da linha e foi impossível para ela não sorrir ainda mais e,
logo depois, rir quando seus dois pequenos milagres disseram, de
forma embolada e atrapalhada, o que o pai havia pedido para eles
dizerem.
A risada dela fez com que os dois gritassem e rissem do outro
lado, fazendo Edward rir também, antes de desistir de fazê-los falar
e se voltar para o telefone e suspirar, ouvindo também a risada de
Amy.
— O melhor ‘bom dia’ de todos – ela disse sorridente, ouvindo o
riso suave de Edward do outro lado da linha — Mas faltou um para
deixar ele perfeito, sabia?
— Bom dia, amor – ele disse e Amy pôde ouvir o sorriso na voz
dele.
— Bom dia – ela respondeu com um enorme sorriso no rosto,
sentindo-se derreter por dentro
— Como você está? Não te acordamos não, né?
— Eu já estava acordada há um bom tempo. A ansiedade e a
saudade me mantiveram acordada por muito tempo ontem.
Ele riu do outro lado e, em conjunto, ela ouviu os gritinhos e
resmungos animados de seus bebês.
— Espero mesmo que tenha sido por causa disso e não por
causa de nenhuma invenção absurda da minha irmã e da minha
cunhada, envolvendo homens e bebida.
Ela riu, balançando a cabeça em negação e, mesmo que não
pudesse ver, ela sabia que Edward estava com o início de carranca
e um biquinho adorável de ciúmes.
— Pode ter certeza que não teve nada disso. Acredite. – ela riu
mais uma vez, soltando um breve suspiro depois — Eles deram
muito trabalho para a Aretha?
— Dormiram feito pedra, pelo o que ela me disse quando
cheguei.
— E a sua noite, hm? Alguma mulher nua ou seminua que eu
deva saber? – perguntou, se sentando na cama e começando a
brincar com as ondas formadas no lençol pelo o seu peso.
— Bem que Josh queria, mas o papai e o Nick me deram um
apoio não sendo tão favoráveis com isso – ele riu e, logo depois,
suspirou — Ansiosa para ser oficialmente a senhora Cage?
— Eu estaria fazendo um grande eufemismo se dissesse que
estou apenas ansiosa.
— Não vai desistir, né? – a insegurança e o medo na voz de
Edward foram palpáveis, e ela tinha certeza de que ele estava com
seus olhos cinzentos e lindos arregalados como os de um menino
perdido, brincando com qualquer objeto que estivesse ao alcance de
sua mão livre.
— O que… Não! Não diga besteiras, Edward. – Amy suspirou e
um pequeno sorriso doce brincou em seus lábios — Eu te amo. Não
desistiria de você e da nossa família nunca. Vocês são o que eu
tenho de mais precioso. Vocês e meu pai, e você sabe disso. Então,
não pense que eu vou desistir.
— Então, por que o… eufemismo?
— Deus! É um casamento, Edward! O meu casamento. Eu
nunca imaginei que eu fosse ter isso algum dia, e olha onde
estamos! Eu acho que só não estou sabendo lidar com isso direito.
Parece que a ficha ainda não caiu, entende?
— Eu entendo. Entendo de verdade. É surreal algo que você
nunca imaginou acontecer, estar acontecendo e bem diante dos
seus olhos, com você sendo um participante ativo de tudo. Eu me
senti assim muitas vezes durante o nosso relacionamento,
principalmente quando… aconteceu de verdade. Quando você disse
que me amava pela primeira vez… Eu não achei que fosse possível,
entende?
Amy já sentia os olhos arderem com as lágrimas que teimavam
em querer sair, mas, apesar de estar querendo chorar, o sentimento
que a dominava naquele momento era bom. Um bom sentimento.
— Quer dizer, eu sou um cara fodido. Cinquenta diferentes
vezes fodido e você… você me aceitou, me amou, me deu dois
filhos maravilhosos e, agora, vai casar comigo!
— Eu não sou tão diferente de você, Edward. Sabe que não
sou… E, sinceramente? Eu acho que eu sou uma mulher de muita
sorte por ter você. Por você ter me escolhido e por ainda me amar,
mesmo depois de todos os problemas que eu trouxe pra sua vida
entrei nela. A Marie e o Louis são presentes que demos um ao
outro. E eu te amei, te amo e vou te amar por muito tempo. E acho
que o para sempre é um bom começo para isso.
— Então, eu acho que sou um fodido cara de sorte, não é? – ele
questionou, e Amy pôde sentir na voz dele o sorriso que ele tinha no
rosto, assim como também pôde sentir toda a emoção que ele
sentia naquele momento, e em todos os outros, afinal, ela sentia o
mesmo.
— Somos duas fodidas pessoas de sorte – ela disse, e o sorriso
que cobria seu rosto era banhado pelas poucas e rasas lágrimas
que caiam por seus olhos, deixando um gosto salgado na boca dela,
mas ela pouco se importava com isso.
Estava feliz. Completamente feliz.
— Eu te amo. Não se esqueça disso.
— Eu te amo. E não vou me esquecer disso nunca, e espero
que você também nunca esqueça.
— Não vou. Eu v… – Amy respondeu, não conseguindo deixar
de sorrir, nem mesmo quando foi interrompida no meio de sua frase
no momento em que o quarto em que estava foi invadido por Paige
e Laurie, já aparentemente vestidas e prontas para o que elas,
principalmente Laurie, chamavam de “Dia da noiva e das mulheres
especiais do casamento”.
— Olha, já está acordada… e ainda de pijamas?! – Paige ralhou
implicante, mas com um enorme sorriso estampado no rosto.
— É com o Edward que está falando? – Laurie emendou
quando Paige mal havia terminado de falar — Desligue agora! Ande,
ande! Temos muita coisa pra fazer hoje, Amyzinha, e você ainda
está de pijamas!
Amy pôde ouvir Edward rindo do outro lado da linha e, assim
como ela fazia, ela tinha certeza de que ele também revirava os
olhos para Laurie.
— Você ouviu sua irmã – ela começou — Vou ter que desligar.
Um suspiro longo e ansioso veio dele.
Tinha certeza de que ele estava agora com a mão livre no bolso
da calça ou apoiada na cintura, olhando para frente, mas sem
enxergar algo de verdade.
— Tudo bem – mais um suspiro — Eu te vejo no altar.
— Eu serei a de branco.
— Te amo.
— Também te amo. Dê um beijo nos bebês, por mim?
— Dou sim. Não se esqueça de onde vou estar.
— Não se esqueça da cor que eu vou usar.
E, então, com mais um suspiro, desta vez vindo de ambas as
partes, eles desligaram.
E, no momento que as duas mulheres viram isso, foram direto
para cima de América, pegando-a pelas mãos e falando as mil e
vinte coisas que teriam que fazer durante aquele dia, e o quanto
tinham que estar perfeitas até as sete horas da noite daquele dia,
com Laurie reclamando que Amy ainda estava de pijamas.
— Ande. Tome um banho e desça rápido para tomar o café da
manhã. Temos que buscar o seu vestido e ir direto para o SPA.
Temos hora, mulher. Ande, ande!
— Bom dia para vocês também, minhas adoráveis amigas. –
Amy disse irônica, revirando os olhos com exagero.
— Você quer um bom dia? – Paige perguntou, olhando para sua
melhor amiga com olhos arregalados e injetados; pareciam os olhos
de alguém que havia tomado cafeína em excesso — Se apresse!
Estamos te esperando lá embaixo.
E com isso, as duas mulheres – que pareciam ter colocado café
na veia – saíram do quarto, deixando Amy lá para que tomasse um
banho rápido e se vestisse. E ela o fez, sem conseguir deixar de rir
do estado em que as duas estavam, se perguntando se, quando
acordara, ela também se parecia com alguém que havia tomado
litros e litros de café.
[…]
O Amour & Care Day SPA havia sido o local selecionado,
indicado e aprovado por Marie, Paige e Laurie à Amy – ela, que por
sua vez, apenas conhecia o local que sua família usava para os
cuidados de suas mulheres, e a última coisa que ela gostaria era
colocar os pés onde qualquer pessoa dos Bazanov usava para as
submissas.
E seria ali, neste mesmo local – indicado pelas melhores
pessoas que Amy já tinha conhecido – no condado de Ballard, que
as três mulheres iriam ser cuidadas, massageadas, depiladas e
paparicadas durante várias horas, até que chegasse o momento de
se arrumarem para o casamento.
O vestido de Amy – assim como os vestidos de Laurie, Paige e
Marie – estava guardado em um armário especial, nos fundos do
estabelecimento – a pedido de Marie e da organizadora de eventos,
que estava tomando conta de tudo – e, naquele instante, estava
sendo dado o início ao dia delas.
A conversa que havia tido com Edward, pelo telefone antes de
sair, a havia acalmado um pouco, mas não a tirava de todo o
nervosismo e ansiedade. Afinal, era o seu casamento!
Como ela havia dito a Edward: era uma coisa que ela nunca
havia sonhado que seria possível para ela, ainda mais com o
homem que havia entrado em sua vida para subjugá-la e fazer dela
a submissa que ele desejava, mas Edward se mostrara alguém
completamente diferente do que ela imaginara e ela não podia
agradecer mais por isso.
Ela estava se sentindo estranhamente nostálgica ao estar ali.
A última vez que havia ido a um SPA fazer um “serviço
completo” – como este que estava sendo feito – fora exatamente no
mesmo dia que estava sendo preparada fisicamente para conhecer
o homem que seria seu dono daquele dia em diante.
A última vez que havia ido a um SPA fazer um “serviço
completo” fora exatamente no mesmo dia que sua vida mudara
completamente. Exatamente como aconteceria em poucas horas, a
diferença de antes para o acontecimento de agora era que ela
queria esta mudança na sua vida com todas as suas vontades.

O tempo estava parecendo voar diante dos olhos de América –


principalmente depois de ela ter praticamente entrado em coma,
após a massagem e durante o banho de sais – e quando América
se deu conta, ela estava indo se sentar de frente para um enorme
espelho, vestida em um roupão branco e felpudo e sendo preparada
para ser maquiada e ter seus cabelos arrumados, e, logo depois,
estava na hora de colocar a roupa que seria uma verdadeira prova
que seu dia estava mesmo sendo real.
E novamente o nervosismo estava de volta, fazendo seu sangue
correr rápido e seu coração dançar em seu peito.
Quando todos haviam terminado de arrumá-la, penteá-la e
maquiá-la, uma das funcionárias a levou para a parte mais interna e
privada da SPA, onde Marie, Paige e Laurie estavam terminando de
se vestir.
Amy estava sentindo seu coração acelerar um pouco mais e ela
não conseguiu evitar o sorriso – segurando-se para não morder os
lábios para não borrar o batom e nem sujar os dentes – quando a
mulher que a acompanhara trouxera para ela o seu vestido, ainda
dentro da capa protetora, com a ajuda de outra funcionária, que
trazia a caixa com seus sapatos.
E, naquele momento, foi impossível para Amy conter a emoção
e a vontade de chorar enquanto via seu vestido sendo retirado da
capa, ao mesmo tempo em que tinha seus sapatos sendo entregues
em suas mãos para calçá-los.
— Pronta para o vestido? – Marie perguntou, se aproximando
de sua nora com um doce sorriso nos lábios, assim que Amy havia
terminado de calçar os sapatos.
Ela estava linda, Amy constatou assim que ela se aproximou e
sorriu para sua sogra, de forma doce e carinhosa. Marie Cage era
seu melhor e mais doce exemplo de mãe, e Amy não podia estar
mais feliz por estar indo fazer parte de fato da família desta mulher.
Amy assentiu com um enorme sorriso nos lábios e com os olhos
ardendo pelas lágrimas que começavam a se formar. Seu coração
estava tão acelerado e batendo tão forte que ela chega a ter medo
de passar mal.
Ela olhou para todos os rostos presentes ali no cômodo
reservado, vendo que suas duas melhores amigas também estavam
prontas. Estupidamente lindas como Amy nunca as tinha visto
antes. Sorriu para elas, emocionada, observando como suas amigas
e madrinhas estavam lindas e emocionadas.
Com um suspiro, Amy olhou para a funcionária, que segurava
seu vestido com todo o cuidado e leveza, sentindo a emoção tomar
conta de si ainda mais.
Respirando profunda e corajosamente, ela caminhou em seus
saltos brancos – desenhados e detalhados com pedrinhas e marcas
prateadas – em direção à funcionária, que tinha um sorriso doce e
emocionado nos lábios – não tanto quanto o de Amy, ou o de Marie,
Laurie e Paige, mas, ainda assim, emocionado.
Amy soltou o roupão e o tirou de seu corpo, sentindo seu rosto
arder em chamas ao se ver apenas de lingerie branca – que quase
nada cobria de seu corpo – diante de tantas pessoas, mesmo que a
maior parte delas seja de sua família, ainda era estranho para ela.
A mulher que tinha seu vestido em mãos, com o apoio de outra
funcionária, ajudou Amy a colocar seu vestido.
O tecido branco e de toque macio e suave deslizou por sua pele
cobrindo seu corpo e a fazendo vibrar por dentro, tamanha era a
emoção e a felicidade que a estava percorrendo naquele momento.
Quando vestida, ela encarou seu reflexo no grande espelho que
havia ali, não conseguindo conter o suspiro que escapou de seus
lábios, não conseguindo esconder a admiração que tinha por si
própria naquele momento.
América estava linda.
Não linda como Marie, Paige e Laurie estavam.
Não.
Ela estava mais. Muito mais que apenas linda.
Estava deslumbrante e de fato ela estava realmente se sentindo
daquele jeito. Naquele instante, ela estava se sentindo a mulher
mais bonita da face da Terra, e tinha certeza de que, quando
Edward a olhasse, a sensação seria multiplicada infinitas vezes.
O tecido de seu vestido era delicado e bonito. Descia em
cascatas e ondas desde a sua cintura até cobrir seus pés em um
delicado e deslumbrante desenho, que Amy definitivamente achou
que era perfeito. A parte de cima era detalhada em rendas e
musseline de seda – mesmo tecido que formava a saia do vestido –
um decote em formato de coração era o que formava o detalhe da
parte frontal do vestido dando a ligação para as alças de tule
rendadas, que se encontravam nas costas dela formando um decote
em ‘V’, cuja base se fixava próxima à sua cintura.
América sorriu e, com delicados toques, levantou a saia do
vestido e se virou para as mulheres que a fitavam com
deslumbramento e emoção. Ela sorriu ainda mais, sentindo que as
lágrimas voltavam a se formar em seus olhos.
Não chore. Não chore.
Ainda não é hora de chorar!
Ela repetia para si mesma mentalmente, tentando – quase em
vão – conter a vontade de deixar as lágrimas rolarem pelo seu rosto.
— Lawson… Você está linda! Um verdadeiro encanto. – Paige
disse com um tom que quase beirava a devoção.
A Bennett não podia estar mais feliz por sua amiga do que
estava naquele momento.
Secretamente, Paige sabia que aquele sempre havia sido o
sonho de sua melhor e mais prezada amiga, e estava feliz por ela
estar finalmente o realizando e com um homem que amava com
todo o coração e alma, e que escancaradamente retribuía ao
sentimento.
— Eu não tenho nem… nem palavras! – Laurie exclamou,
agitando as mãos em frente ao rosto como se estivesse se
abanando — Deus, não podemos chorar agora! – ela praticamente
gemeu, nervosa, dando pequenos pulinhos ainda agitando as mãos
em frente o rosto.
Marie tinha em seu rosto apenas um enorme e belo sorriso
carregado de amor orgulho e carinho.
Amy era uma filha para ela, e Marie não podia estar mais feliz
por seu filho, seu pequeno e amado Edward, estar se casando com
uma mulher tão forte, fantástica e amorosa como Amy era. Seu filho
havia feito a escolha certa e Marie não podia estar mais orgulhosa e
contente.
Um telefone tocando em algum canto do cômodo foi o que
chamou a atenção de todas ali presentes, tirando-as da bolha de
admiração que havia se formado ao redor delas.
Era o celular de Amy que tocava e ele foi atendido por Laurie.
Era a organizadora de eventos que ligava.
Estava na hora do casamento.
[…]
Nicolas Lawson estendeu sua mão para sua filha no momento
que a porta do carro foi aberta por Ward.
Um sorriso emocionado e encantado quase rasgava o rosto de
Nicolas ao meio. Ele estava feliz, contente e se sentindo realizado
por estar vendo sua filha vestida de noiva e prestes a ser entregue
definitivamente ao homem com o qual havia formado uma família.
Estava contente que sua filha ao lado de um homem como
Edward, como esposa e companheira, e não como uma submissa
como Dianna tanto queria.
América sorriu para ele, sentindo novamente as lágrimas
começarem a se formar em seus olhos. Seu pai estava ali para levá-
la ao altar e entregá-la ao homem que ela amava.
Apertando a mão de Nicolas, que estava na dela, América saiu
do carro, segurando a saia de seu vestido da melhor forma que
podia para não pisar nele.
Ela abraçou seu pai com carinho, sentindo que ele retribuía o
gesto com toda a delicadeza que lhe era possível e sentindo
também o suave beijo carregado de amor que foi depositado em sua
testa.
— Você está linda, querida.
— Obrigada, papai. – ela sorriu, desfazendo o abraço e
encarando seu pai nos olhos, vendo no azul bonito dos olhos dele,
tão semelhantes aos seus, o quanto ele estava emocionado e
contente.
Nicolas vibrava todas as vezes que ele a ouvia chamando-o
daquele jeito.
— Você está pronta? – ele perguntou, oferecendo seu braço
para ela, que aceitou com um lindo sorriso, colocando-se ao lado de
seu pai.
— Pronta.
Eles se viraram para a entrada da casa, onde a organizadora de
eventos – que Amy não conseguia guardar o nome de forma alguma
– instruía às três mulheres – que haviam chegado com Amy no
carro – a seguirem para seus lugares para que pudessem começar
a entrada e, então, dar início ao casamento.
A mulher sorriu quando viu Amy e Nicolas se aproximarem e
acenou, pedindo que eles apreçassem o passo e, quando menos
podia esperar, Amy estava parada em frente ao tapete vermelho
coberto com dispersas e diversas pétalas de rosas brancas e cor de
rosa.
Com o braço atado ao de seu pai, Amy começou a caminhar em
direção ao altar, com seu olhar fixo no homem de fraque preto, com
um enorme sorriso devotado e apaixonado estampado no rosto,
enquanto a música – escolhida por eles – embalava o momento e os
passos de Amy até ele.
A versão em piano de All Of Me de John Legend tocava leve e
suave.
Aquela havia sido a música escolhida por ambos para ser
tocada no momento que Amy fosse caminhar em direção a ele, e,
para eles, nenhuma havia se encaixado melhor do que aquela,
porque de fato eles haviam dado tudo deles um para o outro e um
pelo outro.
Edward não conseguia tirar os olhos de América, e, sendo
sincero, ele não queria tirar os olhos dela. O sorriso que ela tinha
gravado em seu rosto fazia seus olhos brilharem e refletirem toda a
felicidade e amor que ele estava sentindo naquele momento.
Era ela. Era real.
E estava definitivamente acontecendo. Ele iria finalmente se
casar com a mulher que amava. Com a mãe de seus filhos.
Seu coração estava batendo frenético dentro de seu peito e ele
sentia que estava flutuando, tamanha que era a sua felicidade
naquele momento. América estava vindo em sua direção e tudo o
que ele queria fazer, naquele momento, era terminar com a distância
que os separava e que para ele parecia não se findar nunca, mas
faltavam poucos passos.
Pouquíssimos passos.
E, então, eles estavam frente a frente.
Nicolas Lawson entregava sua filha à Edward Cage, e o homem
de olhos azuis sabia que estava entregando-a à um bom e
apaixonado homem, sem qualquer sombra de dúvidas.
Edward sorriu ainda mais e, inclinando-se minimante para Amy,
ele beijou o topo da cabeça dela, suave e carinhosamente,
derramando – o quanto podia – o amor dele por ela naquele gesto.
Amy sorriu grande e abertamente e, com as mãos dadas, eles
se viraram para o juiz de paz que realizaria a cerimônia.
— Eles começaram de uma forma diferente da maioria dos
casais, anteciparam a maior parte dos passos que se dariam após o
casamento e hoje, nesta estrelada noite de verão, eles escolheram
se unir em matrimônio, selando diante da lei dos homens o que
Deus e o coração de ambos já havia selado há muito tempo…
As palavras foram ditas com emoção para eles, fazendo um
breve resumo da história de ambos juntos até o presente momento,
rogando boas palavras e desejos para o futuro e, enquanto o juiz
falava, Amy e Edward tinham suas mãos unidas e dedos
entrelaçados.
Eles se olhavam, vez ou outra, e sorriam, apaixonados e
emocionados, um para o outro.
As lágrimas, que Amy tanto lutara para segurar, agora rolavam
descontroladas por seu rosto e ela mal conseguia se conter,
tamanha era a emoção que tomava conta tão forte e abrasante de
seu coração e de todo o seu corpo.
Olhando brevemente por sobre seu ombro, ela viu seus
pequenos anjos sendo cuidados por Aretha e por Ward, que
tentavam mantê-los em seus colos, não recebendo grande
colaboração da parte dos pequenos.
Ela sorriu ainda mais e, então, voltou sua atenção para a
cerimônia, olhando brevemente para Edward e apertando
suavemente a mão dele, recebendo em resposta um maravilhado e
amoroso sorriso dele.
Na hora dos votos, eles ficaram de frente um para o outro, tendo
ambas as mãos unidas e de dedos entrelaçados. Estavam mais
próximos e olhavam nos olhos um do outro com toda a sinceridade,
paixão, verdade e amor que tinham dentro de si.
— Eu, Edward Cohen Cage, prometo a você, América May
Lawson, te amar, respeitar e proteger durante todos os dias da
minha vida. Prometo sempre estar ao seu lado e ser o seu apoio
sempre que precisar. Prometo não te deixar cair e, se em algum
momento eu falhar, prometo tentar de todas as maneiras reparar o
meu erro e não permitir que ele se repita. Eu entrego meu coração,
meu amor e toda minha devoção a você, e prometo todos os dias
tentar te fazer feliz e te lembrar sempre o quanto eu te amo e o
porquê de termos casado. – ele fez uma pausa, respirando
profundamente e umedecendo os lábios com a língua antes de
soltar as mãos de Amy e pegar a aliança, tomando a mão esquerda
dela na dele e, então, continuar: — Desta forma, diante dos
presentes e com esta aliança, eu te tomo como minha esposa e
prometo te amar e honrar para sempre, mesmo que a morte nos
separe.
E, então, ele deslizou pelo dedo anelar da mão esquerda dela a
aliança dourada e reluzente feita especialmente para ela, passando
para a mão direita dela o delicado anel de noivado, que ele havia
dado a ela há quase dois anos, beijando, logo depois, ambas as
mãos e sorrindo para ela completamente emocionado.
Amy respirou profundamente, tentando se controlar antes de
começar a falar.
Sentia-se tremendo da cabeça aos pés e tinha medo de ter um
colapso ali mesmo, no altar.
Umedecendo os lábios com a língua, da mesma forma que
Edward fizera, ela começou:
— Eu, América May Lawson, te prometo, Edward Cohen Cage,
te amar, respeitar e proteger – ela sorriu abertamente em meio às
lágrimas, respirando fundo novamente — Durante todos os dias da
minha vida. Prometo-lhe ser fiel e nunca te decepcionar. Prometo
ser seu apoio e sua força, mesmo quando nem eu mesma for forte o
suficiente. Prometo estar ao seu lado e tentar, de todas as formas
possíveis e impossíveis, ser a merecedora do seu amor e de tudo
que você me oferece…
Ela fez mais uma pausa, fechando brevemente os olhos na
tentativa de controlar o choro – que tentava de todas as formas
irromperem por ela – e, naquele instante, ela sentiu o toque suave
da mão de Edward em seu rosto, secando as breves lágrimas que
continuavam escapando uma a uma.
Amy abriu os olhos e fitou os de Edward por trás da cortina de
lágrimas que estavam na frente de seus olhos, percebendo que ele
também chorava – de uma forma muito mais contida e discreta que
ela, mas, ainda assim, chorava – enquanto ostentava um lindo,
apaixonado e encorajador sorriso.
Ela sorriu e, então, continuou:
— Prometo não te deixar cair e, se eu falhar, prometo tentar de
todas as maneiras reparar o meu erro e não permitir que ele se
repita. Prometo ser sua esposa, amiga e confidente. Prometo te
amar todos os dias da minha vida e não deixar que esqueça, nem
uma única vez, o quanto é importante para mim e, desta forma, eu
entrego para você o meu coração, o meu amor e a minha devoção –
ela fez outra pausa, respirando profundamente, pegando a aliança e
tomando a mão esquerda de Edward na dela para, então, voltar a
falar: — E diante de todos os presentes, com esta aliança, eu te
tomo como meu esposo e prometo te amar e honrar para sempre,
até que a morte nos separe e além.
E, então, ela repetiu o gesto dele, deslizando pelo dedo anelar
da mão esquerda dele, a aliança dourada e reluzente feita
especialmente para ele, beijando a mão dele, sobre o anel em seu
dedo, como ele havia feito com ela instantes antes.
— Então, com o poder que me foi concedido, eu os declaro
marido e mulher – disse o juiz de paz logo em seguida — Pode
beijar a noiva.
Edward sorriu e segurou o rosto de América entre as mãos,
inclinando-se para ela logo em seguida.
— Finalmente. Eu te amo. – ele sussurrou.
— Eu te amo.
E, então, as bocas se uniram, selando a união da melhor forma
que ela poderia ser selada em local público.
[…]
A pista de dança foi liberada das pessoas e, de lados opostos,
entraram Edward e América, lentamente, enquanto a melodia
agradável e dançante de Sway enchia o local.
E, quando a voz sedutora e envolvente do cantor soou, Edward
e América uniram as mãos e – com um enorme sorriso estampado
nos rostos de ambos – eles começaram a bailar e girar pelo espaço
da pista de dança improvisada.
O riso de Amy se misturava à música e, enquanto a observava e
a guiava na música – que ele havia elegido como a música deles
com todas as letras – ele não conseguia parar de sorrir. A felicidade
explodia nele da mesma forma que explodia nela e, enquanto
rodopiavam por ali, eram apenas eles que existiam. Dentro da bolha
alegre e dançante que haviam criado.
Amy se inclinou para trás, enquanto ele os rodava, e gargalhou
alto, e, quando a música chegou pela segunda vez no refrão, eles
rodopiaram juntos até onde seus filhos estavam e os pegaram no
colo – Amy com o pequeno Louis Alexander e Edward com a
pequena Grace Marie – e abraçados de lado, com os filhos nos
braços, eles voltaram sorridentes e dançantes para o centro da pista
de dança, rindo contentes, emocionados e felizes, ouvindo os
gritinhos animados de seus filhos se misturarem aos seus risos e à
música.
Os olhos dos recém-casados se cruzaram e Amy viu no mar
cinzento, brilhante e bonito, todo o amor, felicidade, gratidão, paixão,
carinho e todos os sentimentos que Edward tinha borbulhando
dentro dele.
E ela sorriu ainda mais, aproximando-se dele e colando suas
bocas da melhor forma que conseguia.
Sua felicidade era tão grande que mal lhe cabia no peito.
Ela sabia exatamente o que ele sentia ali, afinal, era o mesmo
que ela sentia naquele momento.
Era o que ela quis sentir durante toda a sua vida, enquanto via
os romances e os amores apenas nas páginas de um livro, e, agora,
ela estava vivendo – e pretendia viver para sempre – isso ao lado do
homem que ela amava e jamais havia imaginado que poderia lhe
proporcionar isso.
Estava tendo o que tanto sonhara: uma vida normal.
Uma vida normal com direito a tudo o que mereciam, e seriam
felizes assim, e, quando achassem que algo estava faltando,
buscariam por esse algo juntos, e se fariam felizes do jeito que
prometeram um ao outro, da melhor forma que pudessem e até
mesmo das formas que não pudessem.
Fim.
Extra 3- Toque-me como só você
faz.
Quarta-feira, 18 de setembro de 2019.
Meu dia estava sendo horrível.
Queria a todo custo poder simplesmente voltar para casa,
encontrar minha Amy lá, e ficar com ela pelo resto do dia.
Eu já estava sentindo falta de ver o brilho que, ultimamente,
tenho visto envolvê-la, do cheiro ainda mais adocicado que ela
estava emanando diretamente para mim, junto de seu calor gostoso
e perfumado.
Não queria me afastar dela, mesmo que fosse para trabalhar.
Mas, por mais que eu quisesse isso, eu era incapacitado pela
quantidade de trabalho que estava sobre minha mesa, pelas
reuniões que me esperavam e ainda – para minha maior infelicidade
– eu teria que me encontrar com Vivian.
Eu não queria fazer isso.
Vivian havia errado e muito comigo, ela não deveria ter tentado
se intrometer em minha vida mais uma vez. O fato de que ela era
amiga da minha mãe – ou pelo menos um dia já foi – e que eu tinha
ajudado ela quando precisou – e apenas porque minha mãe pediu –
não dava a ela o direito de interferir nas minhas decisões, na minha
relação com América e muito menos em minha vida ou da minha
família.
Thomas Cobb – meu psicólogo desde muito tempo – vinha me
ajudando a entender muitas coisas de meu passado, principalmente
sobre minhas poucas e dolorosas lembranças com minha mãe
biológica.
Depois que conheci Amy, muitas coisas em minha visão do
passado mudaram, nas palavras de Cobb, Amy tinha sido uma boa
influência para mim. E tudo se modificou quando ela me revelou
coisas sobre seu passado, desde a relação com sua mãe, até sobre
o monstro que vivia com elas.
Não fui apenas eu a ser negligenciado por minha mãe biológica.
– eu mais uma vez constatei.
O telefone tocando sobre minha mesa foi o que me tirou de
meus devaneios.
— Cage.
— Senhor, aqui quem fala é o Ward. Pediu-me para avisá-lo
sobre qualquer coisa diferente que acontecesse durante o passeio
da senhorita Lawson com a sua irmã.
— Sim, Ward, me lembro disso… O que aconteceu? – questiono
enquanto me ajeito melhor em minha cadeira, esperando pela
provável bomba que está por vir, sentindo meu coração trepidar.
Será possível que já começaram os problemas em seu primeiro
dia com os seguranças?!
— Um rapaz acabou de interpelar a senhorita Lawson, na mesa
em que ela e sua irmã estão sentadas. A senhorita parece conhecê-
lo, o abraçou e o convidou para se sentar na mesma mesa que elas
estão.
— E ele aceitou? – rosno, sentindo meu sangue começar a
ferver de raiva.
— Ele acabou de se sentar com elas, senhor, e estão
conversando. Parecem animados.
Rosno de raiva, sentindo meu sangue ferver em minhas veias
cada vez mais forte.
— Obrigado, Ward. – lanço para ele, desligando logo em
seguida, e ligando para Amy logo depois, mal dando a chance de
ela me atender quando os bips de chamada cessam: — América,
que porra de história é essa de que tem um homem sentado com
você e a minha irmã?!
Não consigo controlar minha voz e tenho certeza de que estou
gritando com ela, que por sua vez não diz nada.
No momento não me importo com isso.
— Me explique por que tem a porra de um cara sentado na
mesma mesa que a minha mulher e a minha irmã! – eu exijo — Fale
alguma coisa, porra!
— Pare de gritar comigo! – ela rosna para mim e eu sinto meu
coração acelerar quando ouço sua voz finalmente me respondendo.
Sinto um misto de emoções em sua voz, principalmente raiva.
— Ele é meu amigo, primo da Paige. – ela responde, agora com
a voz controlada e em um tom que, para mim, soa quase normal —
A namorada do seu irmão, minha amiga!
Ao longe, ouço a voz de minha irmã, mas não consigo entender
o que ela diz, apenas sei que é com Amy que ela fala.
— Laurie está me chamando, vou desligar. Acabe comigo
quando estivermos em casa. Aqui não. – ouço-a suspirar
pesadamente, ouvindo os chiados de sua respiração ao bater contra
o telefone.
Fecho os olhos por míseros segundos, sentindo o peso de suas
palavras agir em mim.
— Amo você – ela diz e logo depois desliga, sem nem mesmo
esperar que eu a responda ou que diga qualquer coisa.
E, de repente, sinto-me mal por ter gritado com ela da forma
que gritei, mas o simples fato de imaginá-la próxima de outro
homem me deixa furioso, porque eu sei que mesmo eles podendo
estar com outras, eles a desejam.
Desejam a minha Amy.
[…]
As reuniões só pioraram o meu humor já destruído.
Estou com saudades de Amy e o fato de que tenho que me
encontrar com Vivian agora, não me agrada nem um pouco. Eu não
a queria mais tão próxima de mim assim, nem mesmo pelos
negócios. O jeito que ela vinha agindo ultimamente estava
começando a realmente me incomodar,
Já não conseguia mais vê-la como antes, como a mulher que
era amiga da minha mãe e que eu tinha ajudado por estar numa
merda tão grande quanto a que eu já estive um dia – quando eu
ainda vivia com minha mãe biológica. Agora, eu apenas a via como
a mulher que estava tentando se colocar em um lugar da minha vida
que não existia para ela.
Saltei do carro em frente ao restaurante que sempre reservava
quando tinha negócios a resolver nessas horas tão impróprias.
O La Traviatta é um restaurante simples e, ao mesmo tempo,
requintado, consegue passar sua soberania de forma simples e sutil,
sem ofender aos outros, e está sempre em conta.
Mal eu entro no restaurante e já avisto Vivian sentada em uma
mesa no canto, mais afastada das outras. Ela está de costas para a
entrada do recinto, o vermelho alaranjado de seu cabelo reflete as
luzes do lugar e – como sempre – ela está de preto, parece viver em
um luto eterno. Luto este que sequer existe.
Reviro os olhos para ela, aproveitando que não me vê fazendo
isso e, logo depois, sigo para onde ela se encontra.
Assim que me vê, o caminho que Vivian estava fazendo com a
taça para sua boca é interrompido e ela me lança um sorriso cheio
de dentes e seus olhos cintilam. Limito-me apenas a me sentar de
frente para ela, sem retribuir nenhum de seus gestos supostamente
carinhosos.
— Olá, meu querido. Quanto tempo, não é mesmo? – ela me
cumprimenta, ainda sorrindo e se ajeitando de maneira ereta em
sua cadeira.
A taça de vinho que ela segura chega até sua boca e ela sorve
do líquido, olhando-me atentamente.
— Olá, Vivian, e sim faz muito tempo mesmo – Felizmente! —
Então… o que você quer? – pergunto, indo direto ao ponto e vendo-
a se engasgar ligeiramente com o vinho.
— Nossa, Edward! Não precisa ser tão rude assim comigo – ela
diz, aparentemente ofendida, levando uma das mãos até o peito e
colocando a taça de vinho sobre a mesa ao mesmo tempo.
Ela tenta alcançar uma das minhas mãos que está sobre a
mesa e entrelaçar nossos dedos, como ela fazia com minha mãe e
tentava fazer com meu pai.
Esquivo na mesma hora.
Remexo-me desconfortável em minha cadeira, sentindo-me
irritado e acuado ao mesmo tempo pelo o que ela está tentando
fazer.
— Eu senti sua falta – ela diz, sorrindo desconfortável quando
percebe que falhou em sua investida — Faz muito tempo que não
nos vemos, e toda a vez que eu tentava lhe visitar, ou você não
estava em casa, ou estava ocupado demais para me receber. O que
tem acontecido? – ela despeja suas palavras em mim.
Respiro de maneira pesada, e tenho quase certeza de que me
ouvi bufar de raiva perante suas palavras para mim.
— Não tem acontecido nada, só tenho tido coisas mais
importantes a fazer do que ficar ouvindo você e suas ridículas
tentativas de me enrolar e seduzir, Vivian.
Ela arregala os olhos e sua boca coberta de vermelho se
escancara, revelando toda a sua surpresa com minhas palavras
nada gentis, nada semelhantes a como eram antes.
— Nossa… Essa doeu. – ela sussurra, pegando mais uma vez a
taça de vinho e sorvendo o líquido dentro dela — Você parece estar
muito irritado e com problemas. Você sabe que pode contar comigo
para te ajudar e estar ao seu lado sempre, não é? – ela diz,
mostrando não se importar com o que eu acabei de dizer — Eu sinto
falta da época em que ficávamos juntos, que éramos… amigos.
Você não sente?
Mais uma vez ela tenta alcançar minhas mãos, e infelizmente eu
não sou rápido o suficiente para desviá-las antes que ela consiga
tomá-las entre as suas.
Seu polegar acaricia de maneira ritmada as costas de minha
mão, e eu me sinto extremamente irritado e enojado com esta ação
dela. Retiro minhas mãos das dela com uma força desnecessária,
vendo um traço de mágoa se passar por seus olhos.
Escondo minhas mãos sob a mesa e as esfrego uma na outra,
tentando tirar a sensação de seu toque de mim, sentindo-me sujo
por ter “permitido” que ela fizesse isso.
Sinto-me extremamente irritado com o que ela está me impondo
e propondo para fazer.
Ela realmente quer que eu sinta falta de algo que só existiu na
cabeça dela?!
Sinto meu corpo inteiro tencionar diante disso.
— Vivian, você me ligou dizendo que precisava falar sobre um
novo investimento… se eu soubesse que você me tiraria de meu
trabalho e da minha namorada apenas para falar sobre nossa
amizade e sobre essas coisas tão supérfluas, eu não teria vindo.
— Namorada?! – ela exclama um tom mais alto do que o
utilizado em nossa conversa, espalmando suas mãos na mesa e me
encarando com os olhos vertendo em um brilho de raiva — Como
assim namorada, Edward?! Você resolveu me substituir, é isso?!
— Do que você está falando, Vivian?! – pergunto sem realmente
entender aonde ela quer chegar com isso — Eu não estou
substituindo ninguém em lugar nenhum!
— Então, por que está colocando outra ao seu lado, ao invés de
mim?
Arqueio as sobrancelhas para ela em completa descrença.
Balançando a cabeça em negação, empurro a cadeira para trás
e me levando dela, sem conseguir olhar para ela.
— Você não se enxerga mesmo, não é? – sopro para ela,
parando ao seu lado, vendo-a me encarar com os olhos marejados,
brilhando de raiva, ressentimento, frustração e mil e outras coisas —
Você não passa de uma pessoa que eu ajudei e que criei um vínculo
por causa da minha mãe, Vivian. Você nunca passou disso e,
sinceramente, não há mais lugar em minha vida para você e suas
loucuras, senão o passado.
Viro-me de costas para ela, pronto para ir embora, mas, antes
que eu dê mais do que um passo, Vivian agarra meu braço e me faz
virar para ela, para, logo depois, me empurrar contra a parede e
avançar em mim, tentando me beijar.
Seu hálito de vinho bate contra meu rosto, deixando-me
aturdido por um mísero instante, instante este que ela aproveita
para colocar seu corpo próximo do meu, colocando suas mãos em
minha cintura e nuca.
Sinto nojo de sua proximidade e raiva por ela lançar olhares de
luxúria para mim, enquanto ela tenta me forçar de encontro a ela.
Coloco minhas mãos em seus ombros, afastando-a de mim sem
exercer muito esforço, apesar de ela ser uma mulher forte, está
completamente fora de seu controle mental normal.
Se é que ela já esteve dentro dele alguma vez.
— Tire suas mãos de mim, Vivian! Eu não sou mais “seu
querido”. – rosno para ela, empurrando seu corpo para cada vez
mais longe de mim e sentindo-me aliviado quando suas mãos me
abandonam — Não se aproxime mais de mim, ou você vai se
arrepender.
Desvencilho-me de vez dela e sigo para fora do restaurante,
sentindo-me transtornado e furioso.
Ford já me esperava do lado de fora do restaurante, entrei no
carro sem esperar que ele viesse abrir a porta para mim, sentindo-
me mais relaxado por poder finalmente me afastar de Vivian.
Eu precisava beber.
Há muito tempo eu não sentia esta vontade de beber qualquer
coisa para, simplesmente, sentir minha garganta queimar com o
álcool, e, exatamente por este motivo, eu não pensei duas vezes
antes de pedir para Ford me levar para qualquer lugar onde eu
pudesse fazer isso, mesmo que eu pudesse me arrepender e me
odiar por escolher beber, ao invés de fazer qualquer outra coisa.
Eu precisava, pelo menos, deixar de sentir a presença do toque
dela em mim antes de voltar para casa.
Antes de voltar para minha Amy.
[…]
Olhei em meu relógio de pulso e vi que já se passava das duas
da tarde.
Eu não havia almoçado, mas também não sentia fome naquele
momento, eu apenas aceitava colocar para dentro os petiscos
servidos junto da minha bebida para continuar a beber sem ter o
estômago vazio.
A garrafa de uísque, que eu havia pedido, estava pela metade
há um bom tempo enquanto o copo em minha mão está vazio quase
pelo mesmo tempo em que a garrafa está pela metade. Eu não
estava bêbado, mas também não poderia dizer que eu estava
exatamente sóbrio naquele momento.
Olhei para o fundo do meu copo, sentindo meu celular pesar de
uma forma estranha no bolso de minha calça, o que me fez tirá-lo de
lá e, desbloqueando o aparelho, uma foto de Amy apareceu na tela.
Era uma foto que eu havia tirado, há alguns dias, sem que ela
percebesse que eu o fazia. Ela estava distraída, lendo algum livro –
que eu não saberia dizer qual era – sentada com as pernas para
cima no sofá da biblioteca. O sol fraco estava incidindo nela através
dos vidros da janela e, naquele instante, para mim, ela nunca esteve
tão linda. Ela estava ao natural, apenas sendo ela mesma e eu não
consegui evitar registrar aquele momento para sempre.
Abrindo o aplicativo de mensagens, digitei algo para Amy
rapidamente, lembrando-me, com um aperto no peito, da forma que
eu havia falado com ela, mais cedo, quando ela estava com minha
irmã no shopping.
Por favor, não se afaste de novo… – eu implorei em
pensamento.
*ESTÁ EM CASA?*
Alguns minutos depois, a resposta chegou e as palavras me
fizeram sorrir.
Ela não parecia estar com raiva de mim.
*SENTADA NO SOFÁ, COM UM POTE DE SORVETE,
SENTINDO SUA FALTA*
*TAMBÉM ESTOU SENTINDO A SUA FALTA*
Eu esperei que ela dissesse mais alguma coisa, mas a resposta
não veio, o que me fez pensar que, talvez, o meu pensamento
anterior estivesse errado e que, talvez, apesar de estar sentindo
minha falta, ela ainda esteja chateada pela forma que eu agi.
Eu apenas esperava que ela não estivesse tão chateada ao
ponto de me ignorar novamente.
[…]
Passava um pouco mais das seis da tarde quando eu cheguei à
minha casa.
Não estava bêbado, mas eu sentia o efeito do álcool agindo em
mim.
Caminhei lentamente até a sala, retirando, com minha mão livre,
a gravata do meu pescoço e abrindo alguns botões de minha
camisa, estacando no momento em que minha visão caiu na
imagem de Amy deitada – mais uma vez – no sofá, presa no que me
parecia um sono profundo.
Um suspiro escapou de mim enquanto eu a observava.
Eu sabia que deveria tirá-la dali e levá-la para o nosso quarto,
mas eu sabia que ela perceberia, caso acordasse, que eu havia
bebido, e, com isso viriam, os questionamentos que eu não sabia se
estava preparado para responder neste momento.
E, pensando assim, eu a deixei ali por mais algum tempo,
enquanto, silenciosamente, e sem passar perto dela, eu segui para
o segundo piso do apartamento, indo direto para o banheiro e
tomando um demorado e gelado banho, escovando meus dentes
logo depois disso, e, então, peguei uma calça de pijama qualquer do
closet, a vestindo logo em seguida.
Voltei para a sala, encontrando Amy da mesma forma que eu a
tinha deixado quando subi para o quarto.
Apesar de toda a água e de todas as vezes que me esfreguei,
eu ainda me sentia sujo apenas pelo fato de ter cedido e falhado em
minha promessa pessoal de nunca mais usar a bebida como uma
válvula de escape para os meus problemas.
E ainda havia Vivian.
Ela havia deixado claro – e dito com todas as letras – que me
queria e que não aceitava o fato de que eu tinha colocado Amy ao
meu lado e feito dela mais do que uma simples acompanhante –
como eu a tinha apresentado.
Suspiro baixo, não conseguindo evitar o pequeno sorriso que
surge em meus lábios quando meu olhar recai sobre o corpo
adormecido e minimamente coberto por suas roupas,
principalmente, suas pernas, e isso me faz lembrar mais uma vez da
forma que falei com ela e, principalmente, da dor fria e incômoda em
meu peito causada pelo meu ciúme e medo.
Amy disse me amar, mas o que a impediria de querer ir embora
e me deixar? O contrato que eu assinei? A quantia que eu paguei
por ela, como um dote às avessas? Não. Isso nunca me pareceu
algo que a manteria comigo… ao meu lado.
Com mais um suspiro, me aproximei de Amy e me abaixei ao
seu lado, tocando seu rosto com carinho. Ao que me parecia ela
havia pegado no sono no meio de sua nada saudável – porém muito
deliciosa – refeição.
Pego-a em meus braços e começo a caminhar em direção às
escadas, voltando para o nosso quarto com a intenção de colocá-la
em nossa cama e dormir ao lado dela. Eu estava me sentindo
cansado; estupidamente cansado de várias formas diferentes.
Sinto Amy se remexer em meus braços e, logo depois, sinto
seus dedos em meus cabelos embrenhando-se pelos fios.
Baixo meus olhos para ela, deparando-me com as belas írises
azuladas – ainda sonolentas – cravadas em meu rosto, fazendo-me
ter a possibilidade de mergulhar ali.
Entro em nosso quarto e a levo para a cama, depositando-a ali
entre os lençóis e travesseiros macios. Deixo-a ali, por alguns
instantes, enquanto volto apara fechar a porta do quarto e, assim
que retorno para a cama, deito-me ao lado dela, puxando-a para os
meus braços, colando meu peito em suas costas e enterrando meu
rosto em seus cabelos, fechando meus olhos em seguida.
Mais uma vez, sinto Amy se remexer em meus braços, ficando
de frente para mim, e, logo depois, a sinto mover sua perna e a
passar por cima de meu quadril, mantendo-a ali. Em seguida, sinto o
contato macio e quente de seus lábios contra meu maxilar; sua
respiração quente e ritmada batendo contra minha bochecha.
Qualquer intenção que eu tinha, de descansar e dormir um
pouco, desceu pelo ralo naquele momento, comigo sentindo Amy
daquela forma contra meu corpo.
Começo a descer lentamente minha mão – que eu mantinha
pousada comportadamente em suas costas – indo em direção ao
seu traseiro, o qual eu aperto entre meus dedos com gosto.
Ah, sim…
Eu realmente gostava desta parte de seu corpo, mas havia uma
parte que eu verdadeiramente amava, e, visando tê-la mais uma
vez, movo minha mão deslizando-a por sua coxa macia e desnuda,
infiltrando-a em nosso meio e, consequentemente – e
deliciosamente – entre as pernas dela.
Alcanço seu sexo e começo a acariciá-la ali, ainda por sobre o
tecido de suas roupas, sendo agraciado com seu arfar.
Observo suas reações e, como se soubesse que eu a estava
olhando, ela ergue seus olhos para mim, cravando suas belas e
desejosas írises nas minhas.
— Isso aqui é meu – digo, movendo minha mão e a colocando
por dentro de seu short e de sua calcinha, introduzindo dois de
meus dedos em seu calor úmido.
Ela morde o lábio inferior, mexendo os quadris em minha mão
em busca do atrito.
— Não me interessa se era seu amigo ou não. Você é minha,
América. – não consigo evitar a nova onda de ciúme e posse que
me envolve.
Surpreendo-me quando sinto a mão de Amy se infiltrar em
nosso meio também, a colocando dentro de minhas calças e
alcançando meu pênis já ereto e completamente duro, envolvendo-o
em sua mão, aplicando pouca força e deslizando-a lentamente por
todo o meu comprimento, e brincando vez ou outra com minhas
bolas.
Ela estava me colocando louco com muito pouco.
— E isso é meu. – ela diz com a voz rouca pelo desejo — Você
é meu. Ou pensa que me esqueci daquela sua amiga ruiva toda
bonitona te tocando e se insinuando feito uma vadia de luxo para
você?
Senti meu sangue gelar e meu coração se apertar com a
menção de Vivian, decidindo ignorar o fato de Amy tê-la
mencionado no meio de nosso momento.
Aperto seu clitóris entre meus dedos, fazendo-a gritar, no
mesmo instante em que ela coloca sua mão mais uma vez em
contato com meu pau estupidamente duro.
Eu a beijo com volúpia e sofreguidão, enfiando minha língua em
sua boca a fazendo arfar durante o ato. Aumento os movimentos de
meus dedos em seu sexo, causando espasmos nela e a fazendo
rebolar ainda mais contra minha mão e meus dedos.
Não muito diferente dela, meus quadris se movem com ímpeto
em sua direção, fazendo meu membro deslizar rápido em sua mão,
em busca de minha libertação, da mesma forma que Amy buscava a
dela.
Nossos gemidos se misturam durante o beijo, mas, infelizmente,
o assunto Vivian volta à minha mente, atormentando-me com o fato
de que ela havia me passado uma cantada, fazendo com que, no
mesmo instante, eu parasse meu momento com Amy e me
afastasse, ofegante.
América não iria gostar nada de saber disso, eu tinha certeza.
Ela havia deixado bem claro o quanto desgostava de Vivian e mais
ainda: o quanto desgostava de tê-la próxima a mim.
Retiro a mão de Amy de dentro de minhas calças e me afasto,
levantando da cama e a deixando ali, com certeza, completamente
confusa e frustrada também.
Passo minhas mãos nervosamente por meus cabelos, sentindo
a dúvida e o breve desespero começarem a tomar conta de mim.
— Edward? – ela chama quando me vê começar a andar como
um louco de um lado para o outro pelo quarto — Edward?! – eleva
sua voz a um tom mais alto que o anterior, tentando chamar minha
atenção e noto os rastros de preocupação em sua voz.
Viro-me para ela e tenho certeza de que ela pode perceber a
confusão de todo o meu estado.
Ela abre a boca para falar alguma coisa, mas eu a impeço,
falando antes que ela possa fazê-lo:
— Eu estive com ela hoje… com a Vivian. – revelo hesitante.
Ela vai me deixar. Vai me odiar…
Vejo-a se sentar na cama lentamente, seu semblante fechado e
o sangue tingindo seu rosto e pescoço de escarlate. Ela arqueia
uma sobrancelha inquisitiva, com certeza esperando que eu
continue.
— Foi logo depois de ligar para você – continuo e a vejo respirar
fundo, fechando os olhos — Nós íamos almoçar juntos e… – hesito,
fazendo com que ela abra os olhos e me faça engolir a seco com
todo o tumulto de sentimentos que vi ali; principalmente mágoa e
raiva — Ela me passou uma cantada e tentou me beijar.
Vejo-a morder o lábio inferior, e a fúria e a força aplicadas no ato
deixam marcas avermelhadas em sua pele.
Eu não gostava de vê-la daquele jeito, é doloroso e acaba
comigo.
Tenho a impressão de ver seu corpo inteiro tremer e isso me
alarma ainda mais.
Ela faz uma careta e eu sei que mil coisas estão se passando
em sua cabeça, e com toda a certeza, ela estava imaginando – de
uma forma deturpada, ou nem tanto assim – como havia sido meu
encontro com Vivian durante o almoço.
Ela estava, com toda a certeza, imaginando como Vivian
Levesque havia me passado sua cantada e tentado me beijar.
Ela se levanta da cama, ainda com a carranca desenhada em
seu rosto corado, de raiva, com toda a certeza. Amy ficou parada ao
lado da cama e eu podia jurar, com cada fibra de meu ser, que ela
estava contendo o choro.
— E o que fez quanto a isso? – perguntou em tom baixo e
controlando, mas ainda tremendo visivelmente.
— Eu juro, Amy… Não aconteceu nada! – eu tento me
aproximar, mas ela me impede com um único gesto de suas mãos,
erguendo-as na altura de seus ombros e virando o rosto para o lado
— Era um almoço de negócios, e ela se aproveitou disso para…
— Cala a boca. – murmurou, enquanto voltava seus olhos para
mim, balançando a cabeça em negação — Cala a porcaria dessa
sua boca!
Eu imediatamente enrijeço e empertigo o corpo.
Era uma reação involuntária, mas eu podia usar isto ao meu
favor. Eu não gostava de tê-la falando daquela forma, ainda mais
comigo, mas, de um jeito estranho, eu sabia que merecia.
Ela estava com raiva e tinha o direito para isso, eu tinha dado
esse direito e ela o teria, mesmo que eu não tivesse falado dos
meus sentimentos para ela.
Ela estava com raiva, então, eu também podia ficar.
— Olhe como fala comigo.
— Ou o que?! Vai me bater? Pode ter certeza de que não vai
doer tanto quanto isso já dói.
E aquilo me matou por dentro.
— Amy, por favor – eu pedi em um sussurro, me aproximando
dela rápido demais, sem dar chances para que ela me afastasse de
novo e a segurando pelos braços. — Eu juro Amy, não aconteceu
nada! – soo enfático — Eu… Você sabe o que eu sinto por você!
— E você o que eu sinto – ela diz, afastando minhas mãos de
seu corpo e dando dois passos para trás — Você ficou com raiva e
com ciúmes porque meu amigo se juntou à mim e à sua irmã em um
lanche no shopping, mas, diferente dessa sua amiga, Liam não deu
em cima de mim.
Ela passa as mãos debaixo dos olhos rapidamente e tenta
passar por mim, quando eu vejo os primeiros indícios de lágrimas
que começam a escorrer, mas eu a impeço, segurando seu braço,
não querendo deixar, de forma alguma, que ela se afaste.
— Aonde você vai? – pergunto.
O desespero transbordando de mim por meio de minha voz.
E, então, ela se vira em minha direção e me acerta com toda a
sua fúria e com toda a sua força na minha face esquerda, fazendo
com que o meu rosto virasse para o lado, deixando-me
completamente estupefato.
Ela havia me batido.
Me batido de verdade e isso doeu porque eu simplesmente
nunca seria capaz de imaginar que ela, a minha Amy, seria capaz
de fazer isso comigo. Eu senti algo arder e gelar dentro de mim com
a mesma rapidez que eu senti as lágrimas ardidas se formarem em
meus olhos.
Levei minha mão ao lado esquerdo de meu rosto, sentindo
minha pele formigar sob o toque de minha mão, confirmando que o
que havia acontecido não era uma criação cruel e doentia de minha
cabeça, e, lentamente, eu volto meu rosto para ela, sentindo uma
única lágrima cair.
As lágrimas escorrem dos olhos de Amy com liberdade e eu me
sinto estranhamente dormente.
É uma sensação fria e cortante, como a decepção, mas era a
mágoa.
Mágoa e tristeza.
E amor.
Por ela.
Era idiota, afinal ela havia acabado de me bater e, com isso, ela
poderia simplesmente ir embora e me deixar ali, abandonado. Era
isso que iria acontecer… eu sentia e, estupidamente, isso me
dilacerava por dentro.
Vejo sua boca se mexer, mas não ouço suas palavras. Elas nem
parecem chegar aos meus ouvidos e, então, sou tirado de meu
torpor e dormência quando a vejo correr em direção ao banheiro.
Eu imediatamente a sigo, chegando próximo a ela no momento
em que ela se ajoelha, às pressas, em frente ao vaso sanitário,
colocando para fora tudo o que ela havia comido.
Seguro seus cabelos e afago suas costas, sem saber muito bem
o que fazer, apenas ficando ali ao seu lado, enquanto ela parecia
estar colocando todo o seu intestino para fora.
Amy se agarra às laterais do vaso sanitário, seu corpo apenas
convulsionando, enquanto seu estômago parecia tentar colocar
ainda mais coisas para fora.
Era uma cena definitivamente nojenta, mas eu não sairia do
lado dela, mesmo ela tendo me batido poucos minutos atrás.
Ela mantém os olhos fechados, eu aciono a descarga e a tiro do
chão, fazendo-a lavar a boca e escovar os dentes. Lavo seu rosto e
molho sua nuca, mas não me passa despercebido o fato de que ela
ainda estava chorando.
Sinto vontade de me socar pelo simples fato de estar sofrendo –
ainda mais – apenas por vê-la neste estado.
Ela havia me batido e este isto ainda estava doendo, tanto
fisicamente quanto emocionalmente, mas era estranho o fato de ela
ter me batido não me atormentar tanto quanto a ideia de ela me
abandonar atormenta.
Era desesperador sequer cogitar esta ideia na verdade.
Eu havia feito coisa pior e, ainda assim, ela tinha me perdoado.
Mesmo que esteja doendo, eu não tinha motivos para condená-la
tanto por ter reagido da maneira que podia, ainda que meu coração
e minha alma estejam doendo e partidos por causa disso.
Coloco-a deitada em nossa cama e, logo depois, me acomodo
ao seu lado, enterrando o rosto em seu pescoço, sentindo-me
desesperado para senti-la perto de mim, nem que fosse apenas
fisicamente.
Sinto novamente a estranha sensação, fria e quente, se formar
em meu peito e, sem que eu possa impedir, as lágrimas estão
rolando silenciosas pelo o meu rosto.
Tenho certeza de que ela pode sentir minha pele – um pouco
mais fria e completamente molhada pelas minhas lágrimas – em
contato com a pele de seu pescoço.
Vê-la passando mal apenas piorara tudo dentro de mim, afinal,
eu sentia que era minha culpa. Ela podia não estar suportando o
fato de que eu e Vivian estivemos tão próximos e tudo poderia ter se
misturado com os acontecimentos de mais cedo.
Por favor, não se afaste…
Imploro mentalmente, sentindo meu corpo dar pequenos
solavancos com os soluços, breves e descontrolados, causados
pelo meu estúpido choro e que irrompem por meu peito, fazendo
também com que minha respiração saia entrecortada e bata rápida
e descontrolada contra a pele do pescoço dela.
— Por favor, acredite em mim… não aconteceu nada – eu
praticamente imploro, puxando o ar com um pouco de dificuldade
pelo meu nariz e buscando a mão de Amy com a minha, até
encontrá-la e ter meus dedos unidos aos dela.
Eu estava agindo feito um verdadeiro maricas, mas o que eu
podia fazer?
Eu nunca tinha experimentado aquilo. De nenhuma forma, e
eram aterradores o medo e o desespero que me tomavam com a
simples ideia de Amy não me querendo mais, tudo por causa de
Vivian.
Sinto-a retesar levemente em meus braços e o seu corpo inteiro
tremer – assim como o meu – com a eletricidade que nos percorre a
partir do toque de nossas mãos.
Faço-a se virar para mim, ainda mantendo meu rosto em seu
pescoço, e movimento sua mão, erguendo-a até certo ponto, para,
depois, depositá-la sobre meu peito onde, logo abaixo de sua
palma, ela pode sentir o pulsar forte e acelerado, em um ritmo
próprio, de meu coração.
Tento me controlar e mostrar para ela o que apenas ela podia
fazer comigo. O que nenhuma outra pessoa pôde fazer antes.
Ouço-a ofegar alto quando parece perceber e tem a consciência
de onde sua mão está. Amy tenta retirá-la, mas a prendo ali com a
minha mão sobre a dela.
A pele quente de sua palma em contato com meu corpo, com
meu peito, uma das áreas proibidas para muitas pessoas, menos
para ela.
Meu coração bate acelerado e não sei se é por medo, ou por
pura felicidade e excitação. Ela estava me tocando, sobre meu
coração – pulsante e extremamente acelerado – e eu estava
gostando de tê-la assim.
— Você consegue senti-lo? – pergunto e tenho certeza de que
ela pode notar o tom sofrido, carregado de dor, desespero, e tantas
outras emoções, em minha voz.
E, mais uma vez, ela tentou tirar a mão, e, mais uma vez, eu a
impedi.
— Ele só bate por você… Meu coração só bate deste jeito por
você, Amy – tiro o rosto de seu pescoço e a encaro; cinza no azul,
ambos cheios de emoções e lágrimas — Acredite em mim, amor…
Eu disse não a ela… eu disse não.
Ela soluça várias vezes, seu corpo se sacudindo contra o meu e
era bom tê-la assim tão perto, tão quente… só faltava saber se ela
ainda queria ser minha.
Amy tinha que acreditar em mim. Não tinha prova maior de amor
que eu podia dar a ela, senão essa.
Minha confiança, total e plena, nela.
Eu era dela por completo.
Ela aproxima seu rosto do meu, lentamente, juntando sua boca
na minha e me beijando. Não consigo – e nem tento – segurar o
gemido rouco e gutural que sai de mim, se misturando com o de
Amy quando nossas bocas se encontram definitivamente.
Eu a puxo com força para perto de meu corpo, com sua mão
ainda espalmada em seu peito.
— Eu te amo – digo com a voz embargada e a boca colada a
sua pele.
— E eu a você – ela sopra para mim, fazendo minha pele se
arrepiar, junto com a dela quando minha mão entra em contato com
a pele de suas costas — E se aquela mulher sequer respirar o
mesmo ar que você… eu acabo com ela.
— E eu quero assistir, mas primeiro, deixe-me sentir você,
baby… Tira esse medo que está em mim… Me toque, amor.
Um soluço misturado com gemido saiu de seus lábios em
resposta ao meu pedido fazendo um delicioso frisson percorrer todo
o meu corpo em resposta a ela.
— Deixe eu sentir suas mãos em mim, por favor… – peço sem
me importar em parecer desesperado.
Eu estava desesperado.
Desesperado por ela. Por tudo que venha dela.
Era uma sensação tão nova, assustadora e boa: ter sua mão
em mim, tocando-me de uma maneira que eu nunca imaginei que
deixaria uma mulher me tocar, nem mesmo Amy.
Mas era bom.
Era bom sentir o calor de suas mãos irradiando para aquela
parte de meu corpo, para qualquer parte de mim.
Movo-me para ainda mais perto dela, colocando – da melhor
forma que posso – o meu peso sobre ela e sinto-a me envolver com
seus braços e pernas, arrastando suas mãos por minha pele,
sentindo-me e fazendo-me arrepiar mais uma vez.
Distribuo beijos em seu pescoço, maxilar, bochechas e
finalmente em sua boca, exultando de felicidade quando minhas
mãos alcançam seu peito e seu sexo, infiltrando-me em suas
roupas, sentindo sua pele como ela estava fazendo comigo.
Sinto-a arrastar suas unhas na pele de minhas costas, fazendo
todos os músculos de meu corpo se contraírem e relaxarem sob o
contato quente de suas mãos nas áreas – anteriormente proibidas –
de meu corpo e um gemido, arrastado e alto, escapar por meus
lábios.
Ela arqueia o corpo na direção de minhas mãos e,
consequentemente, na direção do meu corpo, fazendo eu me sentir
extasiado com suas reações. Era ainda mais diferente sentir o seu
toque em mim enquanto nos direcionávamos para algo que iria ser o
nosso “sexo de fazer as pazes”.
Eu me sentia ainda mais excitado e desejoso dela, a cada vez
que sentia suas mãos me tocando com curiosidade e vontade, e
ficava ainda mais quando sentia suas unhas se arrastando
levemente contra minha pele.
Era uma sensação nova, mas estranhamente eu estava
gostando, pelo simples fato de ser com ela.
Com movimentos rápidos, tiro as roupas de Amy e o restante
das minhas, e, logo depois, estou saciando minha vontade e meu
anseio, enquanto me enterro no corpo de Amy, preenchendo-a
completamente e sendo preenchido por ela, por seu cheiro e por
seu calor como eu nunca havia sido preenchido antes.
Suas mãos não encontram lugar certo, elas percorrem todo o
meu tronco, dando-me o prazer de sentir cada parte – antes proibida
para ela – sendo tocada e apreciada por ela, enquanto eu
continuava com os movimentos para dentro e fora dela.
Era bom e novo. Diferente.
Cinquenta vezes. De cinquenta formas e cores diferentes.
Ela arrasta as unhas com vontade contra a pele de meu
abdome e em minhas costas, fazendo-me urrar de dor e prazer; não
consigo evitar e, quando eu vejo, meus dentes estão cravando-se
na pele de seu pescoço, fazendo uma marca avermelhada em sua
pele corada.
Tão doce, macia e saborosa.
Meus movimentos dentro dela são lentos e quase agonizantes –
se comparados ao nosso normal – mas em nenhum momento
estava deixando de ser bom… maravilhoso até.
Estávamos fazendo amor… com ela me tocando em todas as
partes.
Percorro com meus lábios, dentes e língua todo o pedaço de
pele que consigo, dando atenção aos seus seios que pareciam estar
clamando pela minha boca ou pelas minhas mãos.
Meu corpo aquece mais e mais, a cada nova investida dele,
nossos movimentos enviando ondas de calor para todo o meu corpo
a partir do ponto de nossa conexão.
Eu a beijo, começando a investir com um pouco mais de força e
rapidez, fazendo-a se contorcer e começar a me mexer em
contraponto aos meus movimentos, suas unhas se cravando com
cada vez mais força na minha pele, arrastando-se desde os meus
ombros até o meu traseiro, marcando-me ali também.
— Deus… Amy! – gemo alto, movendo os quadris com vontade
em direção a ela, fazendo o som do choque de nossos sexos ser o
único no ambiente quando nossos gemidos ficam presos em nossas
gargantas.
Eu a beijo mais uma vez, colocando minha língua dentro de sua
boca.
Sugando seus lábios e insinuando – os mesmos movimentos de
meus quadris – com a língua dentro de sua boca, sentindo-a tremer
e convulsionar ao meu redor e contra o meu corpo, e, então, eu a
sinto se desmanchar ao meu redor, gritando meu nome numa
versão embolada e carregada de paixão e prazer.
E eu não demoro muito a chagar ao orgasmo também,
preenchendo-a com tudo de mim, enquanto chamo seu nome em
meio a um gemido longo e arrastado, sussurrando meu amor e
pedindo para que ela acreditasse em mim, pelo simples fato de que
ela, América Lawson, é o meu tudo.
Extra 4- Redenção e Fortaleza.
Quarta-feira, 11 de dezembro de 2019
Tinha três dias que Amy havia deixado o hospital e eu estava
me sentindo como se ela ainda estivesse lá.
Steve Monroe esteve extremamente motivado e determinado a
tornar nossas vidas um inferno e a nos destruir de qualquer jeito.
E eu estava me sentindo um verdadeiro merda por não ter
conseguido impedi-lo antes que ele conseguisse chegar até a minha
Amy.
Do que me adiantou todo o dinheiro e conhecimento que eu
tinha, quando Steve Monroe parecia ser um fantasma com ainda
mais dinheiro e capacidade de se esconder de mim do que eu tinha
de procurar?
Eu tinha sempre a sensação de que algo extremamente errado
estava acontecendo, mas eu não conseguia enxergar o que era. E
eu me senti ridiculamente babaca e um verdadeiro fracasso quando
descobri o que era.
Ter a dupla identidade de Kyle sendo revelada, ajudou a mudar
as coisas de rumo, mas não cedo o bastante para impedir que Steve
Monroe colocasse suas mãos sujas em América e quase tirasse a
vida dela.
Quando ele não quis dizer onde a minha mulher estava, eu fui
obrigado a apelar para um lado meu que eu tinha enterrado e
trancado à sete chaves há muito tempo, um lado que eu detestava e
que, talvez, todo o ser humano tenha, mas que não deixa aflorar, ou
que não aflora, por causa da vida que eleva.
Apelar para o lado humano de Kyle tinha mexido comigo de um
jeito que não estava me fazendo bem e tudo o que eu não queria
era que Amy percebesse. Mas ela tinha se tornado boa demais em
descobrir o que eu tinha em minha cabeça.
Principalmente depois da nossa temporada em Breckenridge há
algumas semanas.
Suspirando mais uma vez, eu coloquei a caneca de café – que
agora está vazia – na pia e fui para a sala.
Ainda estava escuro demais e o sol ainda não estava dando
sinais de que iria surgir tão cedo no céu, enquanto eu estou
acordado há tanto tempo, que faz parecer que o sol já está
demorando demais para aparecer para nos agraciar.
Com um último olhar para as enormes janelas, um pouco
embaçadas e cheias de gotículas de chuva, eu me viro e volto a
andar pelo apartamento, indo para onde eu ainda mantenho o meu
piano.
Sento-me diante dele, deixando a tampa fechada para que
américa não acorde.
Têm sido noites difíceis para nós dois e, para mim, em
particular, talvez um pouco mais difíceis, porque depois que ela
conseguia voltar a dormir, eu continuava acordado, ansioso e
temeroso. Com medo de que, a qualquer momento, Steve Monroe
apareça de algum lugar novamente com uma arma em punho e
pronto para tirar minha vida e roubar Amy e os bebês.
Descobrir que tudo o que ele queria era roubar os bebês,
apenas fez com que eu me sentisse ainda pior do que eu já estava
me sentindo.
Eu aperto as teclas do piano aleatoriamente, por algum tempo,
tentando me lembrar de alguma música que possa me ajudar a
pensar menos nas coisas que tinham acontecido há menos de cinco
dias e que vinham acontecendo desde que o pesadelo com Monroe
tinha começado.
Estava sendo difícil manter toda essa situação escondida dos
olhos da mídia e – por consequência – dos olhos e ouvidos da
perigosa, influente e – convenientemente – bastante silenciosa
família Bazanov-Ivanenko. O que, para mim, era a parte mais
importante, afinal, se chegasse aos ouvidos deles que Steve tinha
se aproximado de América, também chegaria até eles a informação
de que América estava grávida e isso era algo que não poderia
acontecer.
Nem que nós tenhamos que nos mudar para o Alaska ou
desaparecer do planeta para que isso não aconteça.
Suspirando, eu volto minha atenção para o piano e, neste
mesmo momento, uma lembrança vem à minha mente e, então, eu
tenho exatamente a música que eu quero e preciso tocar.
No começo, me lembrar das notas exatas, é um pouco difícil,
mas, conforme vou me lembrando da melodia, fica mais fácil e logo
a música está soando com fluidez, permitindo que eu me perca nela
e nas lembranças boas que ela me traz.
Lembranças do meu começo com América.
E é tocando essa música, que eu sinto a presença dela antes
mesmo de sequer conseguir ver onde ela está.
— Te acordei? – pergunto assim que ela para ao lado do piano,
erguendo o olhar brevemente para ela e sem parar de tocar.
— Não. – eu escuto o sorriso em sua voz, e adoro isso, vendo
pelo canto do olho que ela vem ainda mais para perto de mim.
Eu posso sentir o calor que vem do corpo dela e ela nem está
me tocando.
Amy se aproxima ainda mais em passos que – para mim –
parecem lentos demais e para bem atrás de mim e apoia as mãos
em meus ombros desnudos.
— Senti falta de te ouvir tocar.
— Minha cabeça tem andado muito cheia ultimamente. É a
primeira vez que estou sentindo meu coração bater em um ritmo
normal nessa semana – respondo, tentando fazer alguma graça.
— Eu acredito que tenha. Fico feliz que, pelo menos hoje, você
tenha conseguido um momento para parar e ser só você - diz
abraçando-me pelos ombros e eu sinto o sorriso dela contra minha
pele quando ela beija a região atrás da minha orelha.
Isso me faz estremecer nos braços dela e me faz sorrir também.
E o riso dela soa pelo ambiente quando eu erro uma nota na
música, fazendo-a soar estranha por um breve momento.
— Tirar a concentração de um homem não é muito certo,
senhorita Lawson. – lanço, brincalhão, fazendo-a soltar uma
risadinha.
— É meu esporte favorito – responde ao se sentar ao meu lado
no espaço que concedo para ela em meu banco, lançando para mim
uma piscadela marota — Ainda mais quando se trata do meu
homem.
Isso me faz sorrir, e eu volto a tocar, desta vez, sem errar a nota
por causa dela.
— Isso soa muito bem em meus ouvidos.
— O que está tocando? – pergunta, franzindo o cenho e
encarando o movimento dos meus dedos sobre as teclas do piano.
— Não reconhece? – pergunto, vendo-a acenar negativamente
com a cabeça em resposta. — Você já tocou essa música,
exatamente aqui.
Ela olha para mim e para o piano algumas vezes, com o cenho
ainda mais franzido e os olhos serrados, pensando.
— Back to life…
O sorriso que surge no rosto dela ao se lembrar é lindo.
— Gosto dessa música… ela me deixa feliz.
Eu meneio positivamente, sorrindo levemente para ela e sem
deixar de olhar para as teclas do piano.
— Quando nos sentamos juntos aqui, naquele dia, conversamos
sobre a sua mãe. Bom… você me falou da sua mãe – eu pigarreio e
faço uma pausa, não sabendo como continuar. — Você sabe que fui
adotado, não é? Eu e o Josh, certo?
— Certo. Mas por que…?
— Você já vai entender – respondo e, logo depois, suspiro antes
de continuar a falar sem sequer parar com a música, na verdade, eu
troco de melodia — Minha mãe, a biológica, se chamava Clara
Cohen. Eu não me lembro muito bem da casa ou de como ela era
fisicamente, mas me lembro dos bons e maus momentos com ela.
Mais dos maus que dos bons. Eu me lembro do cheiro dela e do
cheiro que a casa tinha quando minha antiga babá fazia bolos, mas
eu me lembro, principalmente… das surras – a última parte sai
engasgada e eu sinto meu coração doer e o medo de continuar
começara a correr pelas minhas veias.
— Ela me teve muito nova, nova demais para ser mais exato.
Eu não sei como ela era comigo quando eu era um bebê, mas eu
me lembro bem de como ela era na minha infância. Ela tinha
momentos bons, realmente bons, em que era uma mãe tão boa e
gentil que quase me fazia esquecer das coisas ruins… ela se tornou
alcoólica quando eu ainda era bem novo e, quando ela bebia, ela se
tornava agressiva e violenta… e eu me tornava o alvo dela, que me
batia e me culpava por tudo de ruim que acontecia na vida dela…
E, então, eu parei de tocar, engolindo a seco e me sentindo
incapaz de dar continuidade a qualquer canção.
— Eu não sei por que ela agia daquele jeito e nem porque ela
me culpava tanto – continuei a contar, buscando o melhor de mim
para que ela conhecesse tudo — Eu realmente não sei. Se era
realmente tão ruim e tão sofrido me ter, eu não entendo por que ela
não me entregou para adoção logo de uma vez! Por muito tempo eu
a culpei por ser do jeito que eu era, por não conseguir demonstrar o
que eu sentia, por não deixar a Marie, e outras mulheres e garotas,
se aproximarem de mim e, por muitas vezes, depois que Marie e o
George me salvaram e me adotaram, eu ficava me perguntando se
eu não seria igual a ela. Se eu não seria como a Clara…
Um suspiro pesado escapou de mim.
Em seguida, eu me virei minimamente no banco e peguei as
mãos nas minhas.
Seu rosto totalmente virado para o meu e seus olhos tão azuis
pareciam lutar para não derramar as lágrimas, enquanto eu debatia
dentro de mim se eu deveria ou não continuar olhando-a.
Mas, apenas porque era ela, a minha Amy, eu sabia que poderia
olhar para ela, independentemente de como eu estivesse me
sentindo por dentro, porque os olhos dela sempre seriam esperança
e calmaria para mim.
— Eu não fui um cara legal por muito tempo, Amy. Eu fiz coisas
das quais eu não me orgulho e, quando descobri que Kyle sabia
onde você estava, eu usei isso de novo. Usei coisas que aprendi de
um jeito errado, quando eu ainda estava tentando me encontrar e
saber quem eu era, um jeito de aceitar ser tocado como um cara
normal é tocado…
Suspirei, sentindo os dedos de Amy apertarem os meus, em um
sinal de que ela estava ali.
Em silêncio, mas estava.
E ela permaneceu assim, silenciosa, por um longo tempo até
que um suspiro saiu pelos lábios dela e um rápido fungar me
disseram que ela estava chorando.
— Ei, está tudo bem… não chore por isso.
Ela acenou positiva e rapidamente com a cabeça, fungando
mais uma vez.
— O que… o que aconteceu para você ser adotado?
Eu suspirei, me lembrando de como tinha sido.
— Nós morávamos no Brooklyn e, no dia que eu fui resgatado,
a Clara tinha bebido demais… ela chegou em casa já bêbada e eu
estava na sala assistindo um programa infantil com um lanche que
minha babá tinha preparado. Clara me viu e avançou contra mim…
aquela foi a pior surra que ela me deu e, se não fosse pela minha
babá, talvez eu não estivesse aqui para contar essa história – eu
paro por um momento, engolindo em seco antes de continuar: —
Por alguma coincidência do destino, naquela época, George
trabalhava como assistente social, antes de se tornar o advogado
que ele é hoje, e foi ele quem me resgatou na casa da minha babá,
depois que ela ligou para a polícia.
— Jura?
— Sim. A Marie trabalhava no hospital para o qual fui levado,
mas, na época ela era apenas uma residente e só observou e
auxiliou os médicos que cuidaram de mim, porque eu estava na
merda.
— Tão ruim assim? – ela pergunta em um sopro de voz,
parecendo ter mãos ao redor do pescoço, que impediam sua voz de
sair direito.
Eu estava me odiando por isso, mas, se íamos realmente nos
casar e ter uma família real e normal, ela precisava saber de onde
eu tinha vindo e o que poderia ter sido de mim sem Marie, George e
Joss.
Eu devia isso a ela.
— Um pouco – eu amenizo o início, antes de contar as outras
partes ruins, oferecendo um sorriso para ela e lembrando-me da
época que até para sorrir eu sentia dor. — Eu nem cheguei a ir para
um orfanato ou uma casa de acolhimento, todos os processos da
minha adoção aconteceram enquanto eu ainda estava no hospital,
porque eu estava realmente mal. Eu acho que lembra quando eu te
contei como era difícil cuidarem de mim…
— Lembro. Você disse que só o George e o Joss podiam cuidar
de você… eu sempre quis te perguntar de onde havia surgido esse
apelido.
E com isso ela chegou ao ponto que eu menos queria contar a
ela.
Não queria ver a tristeza e a pena nos olhos dela, mas, se eu
não contasse, eu estaria quebrando o voto de confiança que
tínhamos colocado um sobre o outro e, se ela tinha que saber, seria
por mim e não por outra pessoa.
— Eu não conseguia falar o nome dele direito quando cheguei
lá, ele se apresentou para mim como Joshua, mas disse que eu
deveria chamar ele de Josh – a lembrança me fez rir — E o jeito que
eu conseguia falar acabou se tornando o apelido dele entre ele, eu e
a Laurie.
— Você não falava ainda quando foi adotado?
E agora era a parte que mais me doía.
— Não, eu falava. Eu sabia falar, mas no dia que eu fui tirado de
Clara, ela tinha conseguido deslocar meu maxilar, quase o quebrou,
e… voltar a falar normalmente foi um processo difícil e demorado.
O som do soluço de América ecoou por todo o ambiente e eu vi
quando a primeira lágrima escorreu.
Alcançando o rosto dela, eu fiz o meu melhor para afastar as
lágrimas dos olhos dela e para que ela não chorasse por mim. Tudo
isso já tinha passado, mas, para ela, era uma novidade e eu estava
me odiando por causar essas lágrimas nela.
— É por causa dela que você não me deixava te tocar? – ela
pergunta, com a voz tão firme quanto o choro a permite falar.
— Era sim. Por muito tempo, para mim, o toque feminino
significava que eu iria me machucar e que eu voltaria a ser aquele
garotinho que apanhava da mãe sem saber por que ela o odiava
tanto. Eu morria de medo de ter uma mulher me tocando e, até o
final da minha adolescência, eu tinha pavor da ideia de qualquer
mulher me tocando. Ser um dominador foi um jeito que eu encontrei
para ter relações e controle sobre como eu tocaria e seria tocado
por uma mulher em uma relação.
O rosto bonito dela se contorceu em dor e tristeza, parecia que
ela estava se culpando por alguma coisa, mas eu só não sabia o
que poderia ser.
— Quando… quando eu te bati naquele dia, quanta dor eu
causei em você? – ela perguntou, um tom sofrido e cheio de dor em
cada palavra dela.
Meu coração doeu e, com tudo de mim, eu quis não ter contado
sobre isso.
— Ele doeu, mas o medo de te perder, de ver você indo embora
era maior e mais doloroso do que qualquer dor física que você
pudesse me causar. Foi como uma libertação que eu precisava,
para me desprender da ideia de que você me tocaria apenas para
me machucar. Aquilo que você fez, foi uma reação do seu corpo a
algo que eu fiz no seu coração quando te contei o que tinha
acontecido.
— Eu sei que já te pedi desculpas por isso, mas você pode me
perdoar de novo?
— Não há o que perdoar, Amy… não há. Eu errei quando não
cortei os laços com ela quando deveria.
— Vocês realmente nunca tiveram nada? – ela pede.
— Nunca, como eu já disse para você – eu reafirmo o mesmo
que já havia dito — Depois da adolescência e já na faculdade, eu
encontrei um terapeuta que realmente me ajudou e me fez ver as
coisas e as pessoas sem os olhos do Edward que apanhava da
mãe. Vivian apenas podia, muito mal, me abraçar com cordialidade
por causa da amizade que ela tinha com a minha mãe e porque eu
enxergava nela um interesse que ela não deveria ter em mim. Não
sei o que a fazia acreditar que eu daria alguma chance para ela…
eu apenas a ajudei a se reerguer, a pedido da minha mãe, quando
ela decidiu largar o marido que batia nela – conto, para que, talvez
assim, América finalmente entenda que Vivian nunca teve uma
posição na minha vida. — Nunca sequer a considerei uma amiga de
verdade, apenas a apresentava assim por causa da minha mãe, que
era bastante afeiçoada a ela na época.
Amy finalmente me oferece um sorriso, as lágrimas tinham
deixado de escorrer e isso acalmava o meu coração.
— Eu sei que é idiota eu ter esse ciúme todo, mas a certeza de
que ela é abusada o bastante para continuar te perseguindo, me
leva a loucura!
Eu sorrio para ela, me inclinando para ela e a beijando.
Minhas mãos finalmente chegando ao corpo dela e me tornando
capaz de puxá-la para mais perto. As dores, medos, inseguranças e
todo o passado e sofrimento se tornavam menores quando eu a
tinha perto de mim.
Quando eu tinha ela e nossos bebês – sãos e salvos – perto de
mim.
— Eu amo você. Nunca se esqueça disso – sussurro para ela.
— Não importa o que aconteça, eu sempre serei seu.
— Eu amo você e nunca vou me esquecer ou deixar que você
se esqueça disso.
Eu sorrio para ela, beijando-a novamente e me sentindo melhor
e mais leve, sabendo que América sempre seria ela comigo e para
mim e sabendo que eu sempre poderei ser o Edward de verdade
para ela, o que amará a ela e aos nossos filhos com todo o coração
e que fará de tudo para vê-la feliz.
Agradecimentos
Em primeiro lugar, eu quero agradecer a Deus por me permitir
ter chegado até aqui, por ter me permitido chegar ao final com essa
história que mexeu tanto comigo, do início ao fim.
Escolhida Por Ele nunca teve a intenção de ser uma história
sobre o BDSM e focada apenas nisso. Foi apenas um meio para
chegar onde eu queria quando tudo isso surgiu como uma fanfic e
ela se tornou maior do que eu esperava e imaginava.
Quero agradecer as minhas amigas, vocês sabem que eu estou
falando de vocês quando digo isso, minhas pessoas que
aguentaram meus surtos e inseguranças quanto à minha escrita e
cada coisa que venho fazer nesse meio literário. Obrigada por
estarem comigo em mais esse passo da minha vida.
Agradeço aos meus pais e ao meu irmão por me apoiarem e
sempre me perguntarem como está indo a minha escrita e quantos
livros eu ainda tenho para escrever. As respostas sempre
indefinidas são o que colocam um sorriso em nossos rostos.
Obrigada de todo o meu coração.
Um agradecimento mais que especial a minha
Bruna/Ashley/Loreley da vida real, que tanto me ajudou e me
ensinou sobre gêmeos, gestação, parto e maternidade de gêmeos
quando eu estava escrevendo essa história, ainda sem a intenção
de fazer dela um livro para a Amazon. Obrigada de todo o meu
coração!
Agradeço também aos meus leitores, amigos e todos que foram
tão pacientes e me apoiaram tanto para chegar até esse momento.
Esse passo não seria possível sem nenhum de vocês, assim
como todos os outros que eu dei antes deste.
Muito obrigada! Vocês são as pessoas mais especiais e
maravilhosas que tenho o prazer de ter na minha vida.
Sobre a Autora
Náthali Lima é uma escritora carioca de vinte e dois anos,
estudante de Publicidade e Propaganda, mas que nem sempre foi
apaixonada por livros ou pela literatura.
Apaixonada pela Grécia Antiga, Náthali se afirmou como uma
verdadeira apaixonada por livros quando foi apresentada ao
universo de Percy Jackson e desde então não abandonou mais.
Sua paixão pela escrita surgiu quando teve que escrever um
pequeno conto na escola para um trabalho de português e, depois
disso, começou a dar assas à sua imaginação e às ideias que tinha
em sua cabeça. Seu desejo de escrever se tornou mais forte
quando conheceu o universo das fanfics, onde começou a
apresentar para mais pessoas o que escrevia e onde teve a
oportunidade de aprender e aperfeiçoar sua escrita e as emoções
passadas para o papel e é o lugar que considera como sua casa em
relação à escrita, sempre voltando para suas raízes.
Apaixonada por filmes de ação, ficção científica, drama,
romance e comédias românticas esses são seus gêneros prediletos
para a escrita, mas, mesmo assim, ela não dispensa um bom
suspense quando a situação pede. Suas obras hoje variam entre as
suas os livros de ação e os romances, tendo um apreço especial
pelas comédias românticas e pelos dramas.

Conheça mais obras de Náthali Lima na Amazon:


Meu Marido Mafioso – vol. 1
Jingle Bells Riggs – Meu Marido Mafioso vol. 1,5

Coração Ferido

Que Você Queime – Conto


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Eu vou simplesmente amar ter vocês comigo assim ♥

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