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Capa: Vitoria Santos

Título: Sugar Baby


Subtítulo: Série Sugar – Livro 2
Diagramação: I A N D R A D E

Todos os direitos reservados.


Edição 2023
Salvador/BA

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Esta é uma obra de ficção, qualquer semelhança com nomes, datas e
acontecimentos reais é mera coincidência.

Conteúdo adulto.
Proibido para menores de dezoito anos.
Sumário
Título
Sinopse
Prólogo
Capítulo 01
Capítulo 02
Capítulo 03
Capítulo 04
Capítulo 05
Capítulo 06
Capítulo 07
Capítulo 08
Capítulo 09
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Final
Ela acreditou que ele a tinha abandonado. Ele acreditou na mentira
que haviam lhe mostrado.

Capaz de tudo para proteger seu filho, Bruna acaba se vendo obrigada
a voltar para casa e pedir ajuda a sua única amiga — Monique — para salvar
seu filho. Depois de ter sido rejeitada por Samuel, Bruna havia decidido ir
embora logo após receber ameaças que acreditava serem dele.

Uma gravidez inesperada acabou deixando Samuel completamente


confuso e indiferente, mas a última coisa que ele queria era perder sua amada.

Mas um mal entendido acaba afastando os dois. O jogo muda quando


Bruna se vê obrigada a voltar, e encarar seu passado de frente.
— Força, força! — Gritou dona Lúcia.

— Eu não consigo! — choramingo — Está doendo muito.

Respiro fundo quando sou atingida novamente por uma nova


contração, e grito ainda mais alto.

— AAAAAAAAAAAA ISSO DÓI!!!

— Calma amiga, está quase acabando — diz Monique, parada ao meu


lado, segurando minha mão, na maior calma do mundo.

Falar é fácil, quero ver o que ela faria se estivesse em meu lugar.

— Quero cesárea, EU QUERO CESÁREA — imploro, não


suportando mais sentir as dores — Por favor...

— Olha, ele já está vindo... — A médica avisou.

Todos se apressam para olhar entre as minhas pernas, curiosos.

— Estamos quase lá Bruna, só mais um pouco amiga. — Monique me


abraça.
Como eu digo a todas essas pessoas que eu não consigo aguentar? Dói
muito!

Mas alguns minutos se passaram e nada, o bebe não quer sair de jeito
nenhum e eu já estou esgotada, sem forças.

— Só mais um pouquinho, já está acabando. — Pede a médica —


Respira fundo e vai, estamos com você. Na próxima contração, é só
empurrar.

Como se fosse simples.

Outra contração vem vindo e eu faço o que me pedem.

— Ele está vindo amiga — Monique me segura novamente — Vamos


juntas no três… — Faço que sim com a cabeça, já me preparando para a
próxima contração que está chegando.

Respiro fundo, pegando sua mão novamente, com força.

— Um, dois — Puxo o ar —, três! — contamos juntas, quando uma


nova contração vem, e eu faço o que elas pedem de novo e de novo, até não
ter mais forças.

Dou tudo de mim, até ver os olhos de Lúcia se encherem de lágrimas


e sentir uma pontada de dor na parte interna da minha coxa. Eu sabia que
alguma coisa estava acontecendo, só não dá para ver.

— O que está havendo? — Consigo perguntar, apesar de estar


exausta, no limite.

— A cabecinha dele — me olha chorosa — Está quase acabando


minha linda, só mais um pouquinho e teremos nosso menino com a gente —
ela beija minha outra mão livre — Ele já está vindo — anuncia emocionada.
Não sei se foi a curiosidade ou o sentimento desconhecido que crescia
dentro de mim, sei apenas que algo surreal aconteceu em mim agora, como se
minhas forças tivessem sido renovadas e dor nenhuma mais me importava, eu
só queria conhecê-lo e tê-lo em meus braços, o mais depressa possível. Outra
contração se aproxima e eu aproveito a chance.

Soltei a mão que estava segurando a da minha amiga e fiz força, eu


senti o sangue drenar dos meus dedos, enquanto segurava firme nas laterais
da cama.

Um grito saiu da minha garganta, tamanha dor.

Me senti sendo rasgada ao meio, uma dor terrivelmente forte me


atingiu de vez e me concentrei ainda mais em empurrar. Quando achei que
iria desmaiar, então finalmente ouvi o choro, junto com uma grande sensação
de alívio que percorreu todo meu corpo.

Senti meus lábios tremerem, quando me vi lutando contra as próprias


lágrimas, que enchiam meus olhos. Eu só queria ver o meu filho, agora, nada
mais aqui me importava.

— Nasceu, e é lindo. — Alguém anunciou.

O choro do meu filho me fez chorar também, eu o queria mesmo


cansada, queria ele em meus braços desesperadamente. Lúcia pareceu me
entender, quando caminhou até a médica, pegando-o dos braços da doutora,
ainda ensanguentado e me entregando, junto com uma manta branquinha
envolta dele.

Passei o dedo com cuidado sobre sua mãozinha fechada, admirada.


Ele é tão lindo e fofo.

Não existia mais dor, não existia mais sofrimento e muito menos
humilhação. Tudo o que eu passei até aqui, valeu a pena cada segundo. Valeu
a pena ter lutado pelo meu filho, pela vida dele, então eu soube nesse exato
momento que eu faria tudo novamente por ele, se fosse preciso.

Agora, deitado em meus braços, eu me sentia completamente viva, e


então pela primeira vez, eu me senti forte. E então soube que esse seria
apenas o começo da nossa vida junto.

— Você é lindo, meu amor — sussurrei baixinho, alisando seu


pequeno rostinho — Bem vindo meu pequeno.

A Lúcia estendeu os braços e eu o entreguei para ela, ele precisava de


cuidados agora, antes de voltar para os meus braços novamente.

A enfermeira terminou seus cuidados em mim e me entregou meu


Arthurzinho, depois do banho dele e os exames. Quando elas se afastaram e
saíram do quarto, minha amiga e Lúcia se aproximaram de mim, com
cuidado, para admirar meu pequeno dormindo em meus braços.

Meu bebê.

Um toque leve na porta e Lúcia se afastou para atender.

— Onde está o Samuel? — A voz alterada da Lúcia chamou não só


minha atenção, como a da minha amiga também — Traga-o já, ele precisa
conhecer o filho dele.

— Ele não está aqui. — Alguém respondeu.

— Como não? É o nascimento do filho dele! — esbravejou, irritada.

— Eu sei mãe — a voz do Gabriel —, eu mesmo vou procurar por


ele. — A porta se fechou.

Olhei pra cima apenas para encontrar o olhar preocupado da minha


amiga.

— Não se preocupe, eu estou aqui e é isso que importa — seguro sua


mão em agradecimento.

ELE NÃO VEIO.

Mas também não importa mais, ele fez sua escolha, nos deixando.

Voltei minha atenção unicamente para o bebê mais lindo do mundo,


em meus braços. O dono de todo meu amor, ele vai precisar que a mãe dele
seja forte, como sempre foi, para aguentarmos juntos todas as coisas que vier
pela frente.
Quatro meses antes

Os seguranças me olhavam torto, conforme eu batia na porta, bater


era apenas um modo “fofo” de se dizer, quando na verdade, eu estava era
chutando essa porcaria.

Se ele acha que eu vou deixar essa história por isso mesmo, ele está
muitíssimo enganado. Não foi homem para enviar dinheiro até minha casa,
pedindo para que eu abortasse? Agora ele vai ser homem para me escutar
sim, e não vai ser pouco!

Ele me ouviria, por bem ou mal.

Um ou dois dos seguranças chegaram a dar dois passos na minha


direção, mas bastou lembrá-los que eu estou sob a proteção do Gabriel, que
eles recuaram feito cachorrinhos.

— Abre essa merda! Eu sei que você está aí! — Canalha.


A luz do quarto apagou e eu corri até a lateral da casa para espiar
através da parede de vidro.

Parei no instante que eu a vi, descendo as escadas, usando apenas uma


minúscula camisola transparente.

Ela sorriu quando me viu, e foi na direção da porta.

Dei dois passos para trás, surpresa. Afinal, o que ela faz aqui vestida
deste jeito?

— Hum, oi… você aqui a essa hora?

A olhei de cima a baixo, incomodada, me perguntando o que a antiga


secretária do Governador faz vestida assim na casa do canalha do irmão dele.

— Sim, dá licença. — Empurrei ela para o lado e invadi a casa. —


Onde ele está? Lá em cima?

Subo as escadas rapidamente, com ela no meu encalço.

— Ei, você não pode fazer isso! — Reclamou.

Uma ova que não.

— Samuel, aparece! — Gritei ainda mais alto — ANDA SAMUEL!


Aparece se não quer ser castrado, seu infeliz.

— Ele não está aqui. — A ignorei.

Abrir a porta de todos os quartos, olhando em todos os cômodos do


andar de cima.

Ele não está aqui.

Desci as escadas correndo, lembrando da área de serviço. Ele podia


estar escondido lá.
— Chega! — Apertei o punho, quando ela se colocou na frente da
porta — ele não está aqui, pode, por favor ir embora?

A olhei de cima a baixo, notando novamente a sensualidade de suas


roupas.

— Não, não posso — Respondi com desdém —, agora sai da minha


frente. — Dei um passo em sua direção, ela engoliu em seco, mas não saiu.

— Não posso.

Cruzei os braços.

— Ah, é? E por que? Tem algo aí dentro que queira esconder? — Dei
mais um passo, ficando cara a cara com ela.

— Não tem — me enfrentou —, só estou pedindo com educação para


você sair. O dono da casa não está.

— E o que você está fazendo aqui, vestida assim, já que o dono da


casa não está?

Mordeu os lábios, ainda me encarando.

— Ele me deixou ficar aqui, me emprestou a casa por alguns dias.

Me afastei, lembrando dele ter feito o mesmo por mim a dez dias
atrás.

Ele mal esperou que eu saísse e já colocou outra na casa, ele é bem
rápido pelo visto.

— Bacana, como ele é solidário né.

Ela sorriu.

— Sim, ele é incrível. — O brilho nos olhos dela ao falar dele me


incomodou.

— Ajudando os pobres necessitados. — Gargalhei, quando seu brilho


sumiu.

— Ele é um bom homem! — O defendeu.

— Super, ôh — ironizei ao me afastar —, até mais.

Lhe dei as costas, desisti de continuar aqui e caminhei na direção da


porta, já que ele não está em casa e esse projeto de galinha não sabe onde ele
está. Já estava quase tocando a fechadura da porta, quando…

— Pena que se envolve com piranha.

Parei no segundo em que as palavras saíram da sua boca.

Calma,

Respira,

Ela está fazendo isso de propósito para que você perca o controle —
digo a mim mesma, respirando fundo — Você está grávida, não pode surtar
agora, e isso é tudo o que ela quer.

Terminei de girar a maçaneta, disposta a ir embora, eu não perderia o


controle por menos. O segurança do portão sorriu para mim, e eu retribui com
um aceno. Ele já havia trabalhado para o Kleber antes.

Uma sensação boa me invadiu, quando coloquei os pés para fora desta
casa.

— Ainda bem que ele caiu em si a tempo, afinal, quem seria louco de
assumir o filho de uma puta? — De onde estava, ouvi sua risada.

Os olhos do segurança se arregalaram quando eu coloquei minha


bolsa no chão.

Ele me conhecia.

Quando ele correu, eu também corri.

Eu vi vermelho em minha frente, quando agarrei com muita força os


cabelos da Mia. Eu lhe bati com tanta força, que a fez cair no chão da sala.

O segurança tentou me tirar de cima dela, mas só conseguiu me


ajudar, quando me puxou e eu levei junto comigo os tufos grossos de seus
cabelos.

— Repete agora se for mulher!

Se levantou.

— Você é louca!!!! — gritou horrorizada.

— Você ainda não viu nada. — Tentei ir até ela novamente, mas o
segurança me carregou pelo quadril.

— Tirem essa puta daqui, Samuel foi bem claro com vocês quando
ordenou que pegassem essa ordinária, olha o que ela fez comigo. — Passou a
mão pelos cabelos, choramingando com raiva.

Ele havia dado ordens para me pegar? Eu devo ter ouvido errado.

— E faço mais, se ele soltar! — esbravejei, atirando nela de volta os


tufos de cabelos que eu ainda tinha entre os dedos.

O segurança que estava me segurando me levou correndo para fora da


casa, me soltou apenas quando abriu o portão e se certificou de devolver
minha bolsa assim que eu cheguei do lado de fora.

— É sério que você me colocou para fora? — Olhei para ele, com
ódio.

Um táxi se aproximou e ele fez sinal.

— A senhora precisa sair daqui agora mesmo, alguns dos seguranças


receberam ontem à noite ordens para sumir com a senhora, assim que
colocasse os pés aqui. — Segurou meu ombro — Os homens que estão agora
lá dentro, são do bem, são da segurança do Governador, mas o que receberam
ordens, são os novos seguranças do doutor Samuel. A senhora precisa sair
daqui.

O quê?

— Isso é alguma brincadeira? — lhe olhei seriamente, já que eu o


conhecia. Ele apanharia de mim se estivesse mentindo.

O táxi estacionou próximo a calçada quando o segurança me arrastou


até ele.

— Não, não é. A senhora precisa sair daqui, antes que eles cheguem.
Pessoas que não deveriam saber da sua gravidez, sabem e querem sumir com
você e a criança.

Olhei para ele, sentindo meu corpo tremer.

Ele tirou às pressas uma quantidade boa de dinheiro da carteira e


empurrou em minha mão, antes de abrir a porta do táxi rapidamente e me
forçar para dentro.

Foi tudo tão rápido, eu ainda estava digerindo tudo o que ele havia me
dito, quando um carro arrastando pneu, do outro lado da pista, correu na
nossa direção com o farol alto.

— Vai, vai, vai, vai, vai.


O segurança bateu às pressas a porta do carro e correu. O motorista
não esperou por mais e deu partida.

Dois tiros soaram, e eu me virei às pressas para olhar o segurança


sacar sua arma e correr para dentro da casa. Mas o carro nos seguia.

Minhas mãos tremeram quando alcancei o cinto de segurança para me


manter firme no lugar e me segurar firme no banco.

O taxista estava correndo, por sorte não havia muitos carros na rua
uma hora dessa. O outro carro por sua vez, ainda nos seguia e mantinha a
velocidade.

Tudo o que a Mia e o segurança haviam dito, bateram de uma vez só.
Samuel havia dado ordens para se livrarem de mim e da criança. Diante
dessas circunstâncias eu não podia acreditar no contrário. Eu não podia
acreditar que uma coisa assim estava acontecendo. Minhas mãos tremiam
demais e o medo só aumentou quando o outro carro avançou e bateu na
traseira do táxi, me fazendo gritar.

— Moça — falou o taxista pela primeira vez — A senhora pode me


dizer o que está acontecendo? Eu vou tentar cortar caminho e ir direto para a
delegacia. O que a senhora acha

Delegacia, lá eles me encontrariam facilmente.

— Não, por favor — Ele provavelmente vai saber se eu for para a


delegacia —, o senhor consegue despistar eles?

Ele assentiu.

— Eu sei o que fazer, vou entrar com a senhora no morro. Lá esses


bichos não entram.
Acreditei nele.

— O senhor tem certeza?

— Sim, dona. Lá a gente vai estar seguro por um tempo.

Eles bateram de novo na traseira do táxi, me deixando ainda mais


desesperada.

— VAMOS, POR FAVOR. — Gritei, apavorada — Só quero acabar


logo com isso.

Ele concordou.

— Então vamos.

Depois de quase uma hora despistando o carro, finalmente entramos


no morro, onde o motorista nos garantiu que estaríamos seguros. O carro por
sua vez, não conseguiu entrar, e acabou ficando para trás quando viu por
onde a gente estava indo.

Quando o motorista entrou no morro, diminuiu os faróis e abaixou os


vidros do carro.

Alguns homens nos receberam acenando e sorrindo para o motorista,


que os cumprimentavam aliviado, alguns até chegaram a me soltar uma
piscadela, diante da situação.

Estava tão nervosa com o que acabamos de passar, que só fiquei bem
quando conseguimos entrar no lugar.
Dias atuais

Entrei em meu apartamento às pressas, correndo feito louco, com as


ordens do Enzo gritando em minha cabeça. Praticamente rasguei as roupas
que estavam em meu corpo, tentando retirá-las rapidamente, para que eu
conseguisse chegar antes da reunião começar.

— Droga — golpeei o azulejo.

A água do chuveiro escorria por todo meu corpo, lavando a imundice


em que estava, depois de um dia inteiro de trabalho. Mas não havia sabão
nenhum no mundo, que limpasse o suficiente para que eu me sentisse melhor.

Puxei uma toalha e me enrolei nela ao sair do box, ainda embaçado


pela fumaça. Por sorte, Mia havia separado e estendido minhas roupas sobre
a cama. Caminhei até elas e pude me vestir com mais calma agora,
admirando o tal gesto. Não sabia o que seria de mim, sem ela nesses últimos
meses.

Depois de pronto, caminhei até a velha cômoda que havia resgatado


do meu antigo quarto na casa dos meus pais e abri a primeira gaveta.

A ponta do papel branco brilhou entre as minhas gravatas.

Puxei o envelope de vez, me lembrando de ter feito a mesma coisa


milhares de vezes, durante todos esses meses, abalado.

Nojo definia o que eu sentia por todas as vezes que abria e lia sempre
a mesma coisa digitada bem ali: Procedimento realizado com sucesso.

Precisei vender minha alma ao diabo, para que ela continuasse bem e
viva, e esse foi o preço que eu paguei.

A solidão.

Os documentos que eu entreguei ao Enzo, eram o suficiente. Ele tinha


exatamente tudo em mãos, todos os casos do Gabriel, os assédios, as ameaças
em que ele fazia, os subornos em que ele pagava, tudo, o Enzo tinha
exatamente tudo, para que pudesse ajudar a promover meu irmão mais velho
em sua carreira.

Os planos que o Enzo tem com o Gabriel são tão grandes, que ele
chegou a oferecer sua própria filha para o meu irmão, como prêmio. Por
sorte, Gabriel havia recusado a oferta.

Ainda me pergunto o que mais esse homem seria capaz de fazer, já


que ofereceu sua única filha assim, a um qualquer. Estremeço só em pensar
na garota. Na última vez em que a vi, era uma linda jovem rebelde, eu
invejava sua coragem.

Estava cansado de ver meu irmão por aí, desprotegido. Enzo é o


homem mais influente do país, ele era o único que podia salvar a vida do meu
irmão, depois de todo o lixo em que a Camila havia armado para cima dele
com ajuda do ex-namorado da Monique, antes de morrer.

Devolvi o exame de volta ao envelope e o guardei no fundo da gaveta,


não dando chance alguma da Mia entrar aqui e ver que eu ainda o guardo
comigo, como lembrança, mesmo que seja mesmo apenas uma lembrança.

Os passos da Mia soaram pelo corredor, me fazendo apressar em


fechar a gaveta e ir ao seu encontro. Ela sorriu quando me encontrou.

— Você está aí! — Sorriu ao ajeitar minha gravata.

— Eu já estava de saída.

Ela piscou.

— Ótimo, tem um carro do Enzo lá embaixo esperando por você.


Você foi rápido no banho.

Apontei para o quarto.


— Graças a você, tem me ajudado tanto.

— Sabe que tudo o que eu fiz, não é nada comparado ao que você fez
por mim e pela minha família.

— Vamos deixar isso pra lá, vem, estamos atrasados — Lhe estendi o
braço e ela aceitou.

— Claro, vamos.

Descemos juntos até o Hall, onde um dos seguranças do Enzo nos


acompanhou até onde o carro deles estava estacionado, nos esperando.

Abrir a porta para entrar, antes da Mia entrar no carro da frente e sair
com suas amigas.

Pelo menos, por essa noite eu não tinha que ficar de olho nela.

— Você foi rápido.

Olhei para o Enzo, com desgosto.

— O que quer dessa vez? — Encarei novamente a rua.

— Gostava quando você era mais simpático comigo. — Reclamou.

— Também gostava quando eu era um homem livre, mas nem sempre


podemos ter o que queremos — rebati.

Ele gargalhou.

— Gosto do seu senso de humor, admiro isso.

Bufei.

— Fala logo o que você quer, Enzo. Não tenho o dia todo.

Ele ficou sério.


— Chegou um novo registro em meu escritório hoje, quero saber por
que seu irmão contratou mais seguranças e comprou um apartamento no
nome de outra mulher.

Olhei para ele, surpreso.

— Eu não soube disso, quando isso aconteceu?

— Hoje à tarde, achei que você tivesse me dito que seu irmão havia
sossegado. Uma amante agora, arruinaram meus planos de colocar ele na
presidência da república. Como você não previu isso? — resmungou algo,
após bater com força o punho sobre sua maleta — Você precisa agir, ou eu
agirei.

Olhei seriamente para ele, avaliando sua ameaça.

— Enzo, pode ter sido um mal entendido. Meu irmão não seria capaz
de trair a mulher dele, Gabriel é louco por ela. A informação pode estar
errada.

— Errada ou não, eu recebi. Você tem 24 horas para me confirmar se


ela está correta, ou nosso acordo está suspenso. Me recuso a perder mais
dinheiro limpando a imagem do seu irmão.

Assenti, nervoso.

— Amanhã mesmo falarei com ele, e vou descobrir.

— Amanhã não, hoje. Você vai descobrir isso hoje! — ordenou.

— Hoje. — Concordo.

Ele apontou para a porta.

— Agora vá e descubra sobre a mulher com quem ele está se


encontrando, preciso dar um jeito nela.
Olhei para ele.

— O que quer dizer?

— Se tudo o que eu soube hoje for verdade, vamos ter que eliminar a
mulher, se seu irmão ainda quiser meu apoio político.

— Enzo… — Comecei, mas ele interrompeu.

— Sem mais Samuel, apenas me confirme.

Com uma leve batida no vidro, a porta ao meu lado se abriu e o


segurança apontou sua arma na direção da minha cabeça.

Sai do carro com as mãos para cima e parei no meio da calçada,


vendo o Enzo ditar suas ordens e o carro dar partida.

— Droga — tentei chutar a calçada, frustrado.

Gabriel só podia estar de brincadeira comigo a essa altura do


campeonato. Uma amante? Sério? Só podia ser brincadeira mesmo, ou eu vou
matá-lo, ou melhor, a Monique vai.

Retirei o celular do bolso rapidamente enquanto corria até a garagem,


em busca do meu carro.

Gabriel nem sequer atendia as minhas ligações, Monique é a mesma


coisa. Parecia que hoje tudo resolveu dar errado para mim. Logo agora eu
estava prestes a conseguir o que tanto queria: A independência política do
meu irmão.
Dias atuais

Era a terceira vez só essa semana que eu recebia ameaças em forma


de bilhetes, grudados em minha porta. A vizinha ao lado já estava começando
a ficar desconfiada, e isso já estava me incomodando.

A mensagem que tinha conseguido mandar para a Monique, havia me


tranquilizado, mas eu ainda estava correndo perigo, então, marquei um
encontro com ela às escondidas perto de um café no centro da cidade. Esse
era o lugar mais seguro, até então, já que eu conhecia bem o lugar.

Abrir a porta do café, já dando de cara com o segurança do


Governador, ele me avaliou de cima a baixo antes de fazer um sinal positivo
e apontar até onde a Monique está sentada, esperando por mim.

Quis correr até ela, morrendo de saudade da minha amiga. Mas parei
quando o olhar dela foi até mim e em seguida, desceu até minha barriga, já
arredondada, no auge dos meus sete meses.

Me sentei às pressas ao seu lado, querendo ir direto ao assunto, mas


também sendo discreta o suficiente para que não chamássemos muita
atenção. Eu tinha medo de alguém estar ali de olho em mim.

— Oi.

Logo depois de ter revelado a verdade para minha amiga naquele


café, ela praticamente me arrastou até o escritório de seu marido, só para que
eu revelasse toda a história a ele também.
Minha relação com Gabriel nunca foi muito boa, eu sentia pela forma
fria em que sempre me tratava, quando eu ainda namorava seu amigo.
Imagina agora, quando souber que estou de fato grávida do irmão caçula
dele. Com certeza que vai querer meu rim frito. Por sorte, eu ainda não havia
revelado a história toda para a Monique. Preferi deixar de fora sobre a
paternidade do Arthur, mas eu pude notar quão incomodada ela ficava por
todas as vezes que perguntava e eu desviava o assunto.

Mas por amor ao meu filho, sou capaz de tudo, até mesmo de vir aqui
e pedir ajuda a eles, já que esse era o verdadeiro propósito por eu ter voltado.

Alisei levemente minha barriga, enquanto Gabriel não tirava os olhos


dela. Pigarrei para minha amiga, já desconfortável com a situação.

— Amiga? — A chamei.

— Oi… — apontei para ele — Ah, sim. Gabriel? — o chamou.

Ele finalmente desviou o olhar da minha barriga para olhá-la.

— O quê? — perguntou atordoado, como se nada estivesse


acontecido.

— Você está deixando minha amiga desconfortável, encarando a


barriga dela assim.

Seu olhar rapidamente veio até mim.

— Estou te deixando desconfortável?

— Sim, muito! — fui sincera.

— Por quê? — ele pareceu confuso quando perguntou.

— Não sei, mas está! — dei de ombros.


— Desculpe, é que eu estava aqui tentando entender uma coisa.

Ele sacudiu a cabeça, antes de começar a fazer conta em seus dedos.

— O quê? — perguntei, curiosa.

— Como você pode estar grávida do Kleber, se ele é estéril.

Engasguei com minha própria saliva, os olhos da minha amiga quase


saíram para fora com o que Gabriel acabou de revelar.

Adeus, plano inútil.

— Kleber é estéril? — perguntou Monique, pasma, antes de olhar


para mim.

Por essa, nem eu sabia.

— Ele é estéril? — me aproximei dele.

Ele me olhou atordoado.

— Você não sabia? — Neguei com a cabeça — Ele não pode ter
filhos.

Olhei seriamente para o Gabriel, sem saber o que lhe responder. Eu


não fazia ideia sobre essa informação, até então, eu não havia tocado no
assunto com a Monique sobre a paternidade do Arthur. Mas esperava contar
com a ajuda do Kleber, para me ajudar a esconder essa mentira de todos por
um tempo, até meu filho está a salvo, mas agora meu plano já era.

Eu teria que dar um jeito de ir para outro lugar agora ou ele me


encontraria.

— Eu não fazia ideia. — Segurei firmemente a minha bolsa.

— Bom, se essa criança não é do Kleber — olhei seriamente para o


Gabriel — De quem é?

O desgraçado parece que sabe a resposta, o sorriso satisfeito que tinha


no rosto, fez meu sangue ferver.

— Um carinha que eu fiquei. — Respondi convicta e pronta para


negar tudo.

— Mentira — protestou — Eu sei de todos seus passos, você


esqueceu que fui eu quem deu ordens para que vocês duas estivessem em
segurança? Eu sempre soube onde você estava e... — O olhar dele foi
novamente até minha barriga — Você não realizou aborto algum! — afirmou
com veemência.

Me levantei às pressas, chocada com o que ele acabou de dizer.

— Como você sabe do aborto? — Olhei para ele, com medo.

As duas únicas pessoas que sabiam sobre o exame eram o Samuel e a


Mia, já que ela quem reportou o envelope de dinheiro que havia sido
mandado pelo Samuel lá para minha casa.

— Que aborto? — Minha amiga perguntou, sem entender um terço da


história, me fazendo sentir mal por isso.

Gabriel se aproximou dela, cortando contato visual comigo.

— Sua amiga disse ao meu irmão há meses atrás que havia abortado o
filho dele, chegou até a falsificar o exame, já que eu mesmo o li para o
Samuel. — Explicou ele, a ela — Só que parece que ela mentiu sobre isso, já
que pelo tamanho de sua barriga, deve estar entre 6 e 7 meses.

Dei dois passos para trás quando minha amiga me olhou preocupada.

— Bruna, isso é verdade? — assenti, sem ter mais o que esconder


dela — Por que você mentiu sobre uma coisa assim? Samuel tem o direito de
saber sobre a criança.

Abaixei a cabeça tentando esconder as lágrimas.

— Estou indo embora. — Me virei às pressas indo na direção da


porta.

Não aguentaria ficar aqui por muito tempo mentindo para ela, eu sei
que a mentira que eu iria inventar, duraria pouquíssimo tempo, mas seria
tempo suficiente até o Arthur nascer e eles descobrissem tudo.

Gabriel foi mais rápido e me pegou nos braços, me impedindo de sair.


Minha amiga veio em seguida.

— Me solta. — Exigir.

Minha amiga me encarou.

— O que está acontecendo? Por que você está fugindo desse jeito?

— Não é nada, só quero ir embora. — Tentei me soltar dele, mas foi


impossível.

— Mentira — protestou Gabriel, me arrastando até o sofá — você


está escondendo algo, e agora eu quero saber o que é.

— Não estou escondendo nada! — Me sentei no sofá, nervosa.

Monique correu para se sentar ao meu lado.

— Você está sim, conheço você. Você foi embora do nada, sumiu por
meses e voltou assim, grávida. Por que eu não sabia dessa história de aborto
sua com Samuel? — ela segurou minha mão — Não me diga que ele te
obrigou.
Abaixei a cabeça, tentando novamente me conter. Eu não podia expor
eles ao perigo também.

— Bruna? — ela me chamou, novamente.

— Sim! — respondi, trêmula.

— Sim, para qual pergunta? Preciso que você diga, para a gente poder
entender toda a situação. Eu prometi te ajudar e irei.

Olhei até minha amiga, cautelosa, vendo-a sentada ao meu lado,


aflita, segurando minha mão.

— Eu estou aqui, está bem? — me garantiu — eu vou proteger vocês


dois, de quem quer que seja — Sua mão foi até minha barriga e eu lhe
abracei, assentindo. Acreditando em cada uma das suas palavras.

— Me desculpa por tudo. — Pedi, não aguentando mais guardar as


coisas para mim mesma.

— Está tudo bem — ela relaxou antes de me soltar e voltar a segurar


minha mão — Só preciso que confie em mim.

Concordei.

— Você se lembra da noite que você apresentou? — ela fez que sim
— Eu descobri naquele dia que estava grávida, e resolvi contar ao Samuel —
os olhos da minha amiga se arregalaram — Sim, o bebe é dele, mas apenas
no sentido biológico. A criança não podia mesmo ser do Kleber, já que
sempre usava proteção com ele — engoli em seco, continuando — Na
semana seguinte, Samuel me enviou uma mensagem, rejeitando a criança,
disse que ele não iria conseguir ser um pai para ela, e então sumiu. Ele me
ignorava de todas as maneiras possíveis, até que eu desisti. Resolvi ter meu
filho sozinha.
Ela me abraçou novamente enquanto eu chorava, colocar toda essa
história para fora doía tanto quanto guardar ela aqui dentro. A pior parte não
era contar, era lembrar.

Gabriel saiu da sala e voltou com dois copos cheios de água,


oferecendo a gente. Aceitei um deles, e me acalmei.

Ele fechou a porta da sala às pressas e se aproximou ainda mais de


mim.

— Eu não sabia dessa parte, sinto muito. — Ele parecia sincero, mas
custei a acreditar.

Ainda era sobre seu irmão.

— Mas e a história do aborto? — Olhei para minha amiga.

— Depois do seu sequestro, andei recebendo alguns bilhetes


anônimos, que diziam que algo ruim estava prestes a acontecer comigo. No
início achei que Kleber estava me metendo medo.

— E era ele? — neguei.

— Não, descobri quem era uma semana depois, quando a Mia veio
até mim, a pedido do Samuel e me entregou um envelope de dinheiro,
pedindo que eu retirasse a criança ou ele resolveria tudo de outro jeito.

De onde estava, vi o Gabriel travar a mandíbula.

— Foi aí que decidiu ir embora? — perguntou ele, parecendo estar


com raiva.

— Sim! Eu não tive coragem de fazer uma coisa assim.

— E o que aconteceu? — Minha amiga já estava aflita. — Por que


não me contou?
Apertei firmemente sua mão.

— Eu não queria te incomodar, então aceitei o dinheiro que ele


ofereceu e pedi ajuda a uma enfermeira de um laboratório, ela digitalizou o
exame falsificado e eu mandei entregar a ele. Fui embora logo em seguida.

— Por que voltou agora? Você mudou de ideia?

— As ameaças voltaram, em forma de bilhetes, os mesmos. Eu me


senti sozinha e desprotegida dessa vez. Até que um carro andou me seguindo
pelos últimos dias. Eu soube do casamento de vocês e não pensei duas vezes
antes de vir até aqui e pedir ajuda. Eu acredito que eles podem estar querendo
matar a mim e ao meu filho. Mas de qualquer forma, vocês precisam proteger
o Arthur — desesperada segurei a mão do Gabriel — Só o proteja, por favor.

Gabriel soltou minha mão às pressas e se levantou com rapidez, indo


direto até um quadro em sua parede e socando ele, quebrando o objeto.

— Merda. — Esbravejou — Vou matar aquele desgraçado.

Monique também se assustou ao meu lado.

— Ei, olhe para mim — fiz o que ela me pediu — Não vamos deixar
que nada aconteça com vocês dois. Nem que para isso, eu tenha que arrancar
as bolas dele, ouviu bem?

— Isso se eu não o matar antes. — Esbravejou Gabriel, de onde


estava.

Voltei a abraçar minha amiga.

Ficamos assim por um bom tempo, enquanto eu lhe contava por onde
eu estive por todos esses meses, sozinha.

Gabriel havia saído da sala e nos deixado à vontade por um tempo,


mas não demorou. Ele entrou na sala logo em seguida, rodeado de
seguranças, oferecendo um de seus melhores guarda-costas a mim, depois de
horas me convencendo de que seria muito bom que eu andasse com um, ele e
Monique segurou minha mão e me arrastou até uma construtora de luxo, me
apresentando como esposa de quem mais eu temia.
Sete meses antes

Entrei em meu apartamento chutando com força a porta, com ela


ainda pendurada em meu ombro. Eu não estava mais chateado como antes, eu
estava furioso. Ela havia me feito correr feito um louco atrás dela por todo o
prédio, até eu finalmente conseguir prendê-la em meus braços novamente.

— Seu filho da puta! — Xingou enquanto eu a arremessava


novamente na cama, mas dessa vez eu não cometeria o mesmo erro
novamente.

— Pode xingar, fica à vontade. — Seus olhos se arregalaram, quando


ela viu o cinto em minhas mãos.

— O que vai fazer com isso? — indagou, pálida — Você prometeu


que não me machucaria. — Vi quando o medo brilhou em seus olhos. Mas
decidi ignorar.

Ignorei também o medo em sua voz, que gritou, quando puxei os dois
braços dela de vez e agarrei o lençol da cama, rasgando em diversos pedaços
e prendendo sobre os pulsos dela.

Seus gritos e xingamentos não me fizeram parar, só me deixou mais


determinado em amarrá-la.

— Ai! — gritou, quando agarrei seu corpo firme e a levei para cima
da cama, prendendo seus pulsos na cabeceira.

Sua cabeça estava recostada no travesseiro e eu sorri orgulhoso com o


que havia sido feito. Dessa forma, nós dois podíamos tentar descansar um
pouco, antes da nossa conversa. A bebida que havia tomado na boate, antes
da confusão começar, estava fazendo efeito agora.

— Me tira daqui! — Esbravejou.

O pouco álcool em que eu havia ingerido já estava fazendo efeito, eu


precisava descansar, antes de qualquer conversa em que pudesse ter com ela.

Ignorei seus protestos quando me levantei da cama e desliguei todas


as luzes do quarto, querendo dar um fim a esse dia horroroso o quanto antes.

— Acendeeeeeee!!!!! — Ignorei seu grito.


Depois de uma última verificação na fechadura da porta, voltei para o
quarto e me deitei do outro lado da cama, afastado dela, sem dizer uma
palavra.

— Então é isso? Você me sequestrou, me amarra e ainda me mantém


aqui nesse breu. Eu quero ir embora! Vou gritar até que seus vizinhos ouçam
e te denunciem.

A ignorei.

Alcancei o controle do ar-condicionado e liguei ele em uma


temperatura fresca o suficiente para que pudéssemos descansar em um
ambiente agradável.

— Eu quero ir embora! — A ignorei novamente, sentindo já os efeitos


do álcool.

Puxei a coberta em meus pés e me enrolei, provavelmente ela também


sentiria frio mais tarde, mas esse era um risco no qual eu não iria cometer
agora, ao tentar cobri-la.

Não sou nem louco de cutucar onça com vara curta.

Me virei de lado e tentei descansar, mas foi impossível, quando ela


começou a usar suas pernas para me chutar sem parar.

— Será que dá pra parar? — esbravejei

Suas pernas pararam imediatamente.

— Vai me soltar? — dava pra sentir a malícia em sua voz.

— NÃO! — gritei, retornando ao meu lugar.

Foi o tempo só de colocar o lençol de volta em meu corpo, pra ela


começar a me chutar novamente.
— Bruna... — é meu último aviso.

Eu estava lutando contra mim mesmo.

— De mãos atadas, pés descalços, com você mesmo mundo andava


de pernas pro ar �� — outro chute — Sempre armada, segui seus passos,
atei seus braços pra você não me abandonar �� — cantarolou, me tirando
do sério.

Recostei novamente, respirando fundo, procurando manter a calma


diante das provocações dela, uma hora com certeza ela se cansaria.

— ... E agora eu tô em outra, tô nem aí, tô nem aí... pode ficar com
seu mundinho, eu não tô nem aí, TÔ NEM AÍ... ��

Me sentei rapidamente sobre a cama e acendi uma das lâmpadas do


abajur que estava ao seu lado. Ela gritou no susto quando eu avancei em seu
corpo, ficando cara a cara com ela.

— Satisfeita? — lhe encarei.

— Só quando você me soltar, aí sim, eu vou estar satisfeita —


responde orgulhosa — Quer dormir em paz? Basta me soltar.

Levantei um pouco do seu corpo, a fim de soltar seus pulsos da


cabeceira da cama, já que pelo visto, descansar um pouco antes de ter uma
conversa pacífica com ela agora, estava fora de questão.

— O que você está fazendo? — olhou alarmada para mim, quando


finalmente alcancei seus pulsos.

— Soltando você, não está vendo?

— Você vai me deixar ir embora?

Bufei diante da sua inocência.


— Nem em sonho.

— Então, o que vai fazer? Por que está me soltando assim?

Seus braços se soltaram no instante em que eu consegui desatar o nó,


saí da cama o mais depressa que pude e arrastei seu corpo para o meio da
cama, onde eu a tinha sob meu alcance.

— Solta Samuel! Você não pode fazer isso.

— Eu posso e vou. — Parei por um instante, pensando melhor no que


dizer — Eu pretendo deixar você ir embora quando acabar.

Ela me encarou.

— Quando o quê “acabar”?

— Você já vai descobrir! Mas antes, eu preciso que você responda


uma coisa.

— O quê? — engoliu em seco, bem diante do meu olhar.

— Quem machucou você aquele dia? Eu só preciso que me dê o nome


de quem fez aquilo em seu rosto. Apenas isso, prometo soltar você assim que
me dizer.

A raiva subiu por todo meu corpo, imaginando diversas coisas que
podiam ter acontecido com ela. As marcas que eu havia registrado em seu
belo rosto, não saía da minha cabeça e depois do incidente hoje no bar, com
aquele cara colocando uma droga em sua bebida. Vi que eu precisava fazer
alguma coisa.

Ela desviou o olhar.

— Qual é o seu problema? — tentou me chutar — Eu já falei que isso


é assunto meu, não se mete!
— Foi o Kleber, não foi? — seus olhos se arregalaram — Eu pedi que
investigassem vocês e agora sei da relação. Você não deveria ter medo de
denunciá-lo.

Ela tentou novamente sair de baixo de mim, mas foi em vão.

— Sai de cima de mim!

— Eu juro que saio, se você responder! Foi ele, não foi? — A


imagem dos machucados em seu rosto havia voltado em minha mente.

— Samuel… — Agarrei firme seus pulsos antes de aproximar nossos


rostos, ela arfou surpresa.

— Você não tem mesmo noção do que está acontecendo, né? — ela
assentiu, me olhando. — Eu não consigo mais ficar parado vendo as pessoas
te machucarem, garota. Me deixe fazer isso por você, quem te machucou
merece pagar pelo que fez. — As palavras simplesmente saíram da minha
boca.

Eu não tinha mais a chance de pegá-las de volta, e nem queria. Tive


que segurar a respiração, quando meu olhar recaiu em sua boca, pintada de
vermelho.

Engoli em seco, fascinado.

Eu não sabia mais que inferno que estava acontecendo com meu
corpo, ele respondia tão bem com ela. Fechei os olhos por apenas alguns
segundos, e percebi meu erro.

Seu perfume feminino me deixou completamente ciente das curvas do


corpo embaixo de mim.

A saia do seu vestido havia subido, eu podia sentir o leve calor de


suas coxas contra o tecido da minha calça.

Droga Samuel, respire fundo. Pense na vovó.

Isso, na vovó.

Vovó de lingerie,

Vovó de biquíni...

Isso rapaz, está funcionando.

— Samuel? — chamou.

Abrir os olhos preocupado, mas quando a vi encarando minha boca


enquanto mordia os lábios pintados, toda a minha sanidade se foi.

— Sim? — me surpreendi com a rouquidão em minha voz. — Vai me


dizer quem foi?

Senti quando ela esfregou sua coxa em mim, e me amaldiçoei por


dentro.

— Vou. — Provoca, cruzando as duas coxas em minha cintura.

Afrouxei o aperto em seus pulsos quando senti a saia subir e o calor


da sua boceta emanar pelo fino tecido.

Minha boca salivou.

— Então me diz quem foi... — Segurei um gemido quando ela


esfregou a boceta em mim — Bruna...

— O quê? — me olhou atrevida.

Gemi, quando uma de suas mãos desceram para esfregar o


comprimento do meu pau.
— Se não parar agora, eu não vou responder por mim. É um aviso,
garota.

Ela sorriu satisfeita quando conseguiu abrir o botão da minha calça,


descer o zíper foi sua próxima ousadia.

— Bruna… — Resmunguei.

Ela parecia ignorar completamente meus avisos, quando meu pau


encheu sua mão e arfou surpresa.

Meu olhar recaiu em sua boca, quando a vi passar a língua entre eles.

Resiste Samuel...

Ela está jogando com você...

Gemi alto quando sua mão guiou meu pau até o centro da sua
calcinha. A vontade de rasgar aquele pequeno pedaço de pano e me enterrar
bem fundo nela, bateu forte.

Mas perdi o pouco de sanidade que tinha, quando ela gemeu alto,
próximo ao meu ouvido.

— Ah, que se dane.

Me levantei de cima do seu corpo, apenas para ficar de joelhos na


cama, sobre ela. Olhei para baixo curioso, mas a visão da mancha molhada
no centro da sua calcinha, levou embora toda a minha sanidade.

— Você pediu por isso. — Agarrei ambos os lados de sua calcinha e


rasguei.

Minha boca encheu d’água com a visão da sua boceta meladinha.

— Samuel… — Me chamou, gemendo.


Levei minha mão à boca e cuspi entre meus dedos, antes de levar eles
até a cabeça do meu pau e lubrificá-lo.

Uma última olhada em seu rosto só revelou o quanto ela queria


aquilo, tanto quanto eu.

Forcei meu pau em sua entrada pequena e mordi os lábios quando sua
boceta resistiu a mim.

— Hum… — Gemeu, rebolando.

Minhas mãos foram até seus peitos sobre a blusa e apertou.

Meu foco voltou para sua boceta, que aos poucos se abriu para mim.
Precisei tomar algumas respirações profundas, para não meter tudo de vez.

A sensação dos músculos dela apertando em torno do meu pau, quase


me enlouqueceu. Então meti fundo, entrando nela de vez.

Seus gemidos preencheram o quarto conforme eu lhe comia ainda


mais rápido e com ainda mais força.

Desgraça de mulher.

— Bruna... — Gemi quando senti suas pernas em volta do meu


quadril, me forçarem a entrar mais nela. — Não quero te machucar.

— Não vai, espera. — Eu parei, me custando muito.

— Você quer parar? Agora? — eu me mataria se parasse.

Ela assentiu.

Mas foi rápido, meu pau saiu da sua boceta quando ela se esforçou
para se levantar. Mas a visão da vermelhidão em sua entrada, me fez sorrir
orgulhoso. Além do meu pau latejar.
A danada me surpreendeu quando ficou de joelhos e retirou toda a
roupa bem na minha frente.

Seus seios saltaram para fora e minha boca encheu de água com a
visão deles, cheios.

— Pronto. — Sorriu quando ficou completamente nua.

Mal tive tempo de apreciar seu corpo, quando ela se virou e ficou de
quatro em minha frente. Meu pau latejou com força, com a visão do contorno
da sua boceta, melada.

Não esperei por um novo convite, segurei firme em seu quadril,


enquanto guiava meu pau de volta em sua entrada. Ela gemeu com a invasão,
e dessa vez, consegui entrar todo.

— Filha da puta… — Gemi, sentindo de novo seu calor delicioso.

O som das nossas virilhas se encontrando, preenchem o quarto, junto


com seus gemidos.

Por sorte, ela gozou primeiro, quando eu estendi a mão entre sua
barriga e manipulei seu clitóris, desesperado. Eu sabia que não ia aguentar
muito.

Minhas bolas apertaram com força, sentindo-a ainda mais molhada


depois do seu orgasmo recente e gozei tão forte, não me aguentando mais.
(Sete meses antes)

Acordei atordoado, vendo que a luz do sol já havia se espalhado por


todo quarto. Uma sensação maravilhosa se espalhou dentro de mim, e quando
dei por mim, estava sorrindo a essa hora da manhã.

Está aí, um fato raríssimo.


Acordar de bom humor nunca foi meu forte, essa parte ficou somente
com meu irmão.

Meu irmão.

Me sentei na cama às pressas quando lembranças do que havia


acontecido na noite passada me invadiram. Olhei rapidamente para o outro
lado da cama em busca dela, mas nada. Estava completamente vazio.

Droga.

Corri feito louco por todo apartamento procurando por ela, mas o
único vestígio em que eu tinha dela e da noite passada, foi com o que sobrou
da sua calcinha. Que não dava mais para chamar isso de calcinha, já que
agora eram apenas retalhos.

Retalhos esses que me fizeram sorrir novamente.

E se eu fosse atrás dela para devolver?

Sorri com a ideia, seria malicioso.

Peguei o que sobrou da sua calcinha e atirei no cesto de roupas sujas,


talvez em um outro momento eu pudesse fazer isso, não agora. Mas com
certeza, eu daria um jeito de vê-la.

Me assustei quando o telefone tocou às pressas, com um Gabriel


transtornado com os assédios e provocações da Camila. É, até com isso eu
tinha que lidar.

Tomei um banho às pressas e corri para a casa da Monique, ela foi a


primeira pessoa que me veio à cabeça para ser minha assistente. Ela não era
como as outras, que só estavam esperando uma oportunidade para dar o bote.
Ela é sincera e tímida. Eu mesmo me dei ao trabalho de investigar a vida dela
quando Gabriel decidiu dar o emprego de secretária a ela. E pelas minhas
pesquisas, pude ver que se tratava de uma boa profissional, mas acabou
demitida por causa de um ex-namorado. Bom, isso não seria um problema
agora. Ela só tinha que passar poucos dias comigo na casa dos meus pais e
pronto. Trabalho feito.

Talvez com a presença da Monique na casa, meu irmão ignorante a


existência da Camila de vez, e não se importasse com seus assédios. Seria
demais ver a cara dele ao vê-la chegar.

Sem esperar muito, fui até seu apartamento. Aproveitei a distração do


porteiro com o interfone e fui às pressas. Gabriel iria de fato me deixar louco.

Quando a Monique me deixou entrar e lhe oferecer o emprego, senti


como se um grande peso tivesse sido retirado dos meus ombros. Porém, algo
a estava incomodando, e não era apenas a presença do meu irmão no
escritório. Mas nem precisei de muito para saber o real motivo do seu
desespero, quando sua amiga apareceu e sentou bem em nossa frente.

Minha coluna enrijeceu.

Havia tantas e tantas coisas em que eu queria conversar com ela, a


noite de ontem era uma dela. Mas parei quando notei a frieza em sua
expressão e o inchaço em seus olhos.

Ela havia chorado?

Será que foi por causa da noite de ontem? Não, não podia ser...

Mil perguntas surgiram em minha cabeça e com todas elas, eu tinha


apenas uma resposta: sua frieza. Ela nem sequer olhava na minha cara.

Um sentimento ruim me torceu e eu recuei. Não seria eu que irei


correr atrás de alguém. De fria e irritante já basta minha ex-namorada, não
precisava de outra, ainda mais uma com namorado.

Por fora eu estava aliviado, Monique finalmente havia aceitado em ir


comigo, mas por dentro estava preocupado, as duas estariam literalmente
morando em minha casa até que encontrassem um lugar para ficar.

Isso significa que algo muito sério havia acontecido para que ela
perdesse sua casa assim, às pressas.

Mas em meio a uma corrida contra o tempo, eu tinha apenas


pouquíssimas horas para voltar a casa dos meus pais. Para minha grande
sorte, Monique conseguiu ficar pronta às pressas e felizmente pudemos
embarcar a tempo. Mas não diria que tivemos uma viagem agradável, pois
não tivemos.

Monique vomitando de um lado e eu abraçando a cadeira, fazendo


uma grande oração do outro.

Quando finalmente pude pôr os pés na casa dos meus pais, foi aí que
eu percebi que meus problemas só haviam começado. Gabriel não parava
quieto, e eu sabia que ele só iria se aquietar quando conseguisse o que tanto
queria. Mas para minha surpresa, eles se deram bem, mesmo quase matando a
pobre Monique no caminho. Mas o importante é que deu tudo certo.

E mesmo com ajuda da Monique nas horas vagas, o mais estranho de


tudo eram as ligações da Mia que eu recebia. Era para ela estar quieta em
algum lugar longe daqui, e não me ligando sem parar.

O foco no trabalho ajudou a me distrair dos maus pensamentos e a


não tentar atender a ligação da Mia.

Eu já estava entediado quando entrei no escritório para relaxar e dei


de cara com meu tio no meio de uma ligação e um Gabriel aflito, me dizendo
que havia gente atrás da Monique e da Bruna.

Foi aí que pirei, agarrei às pressas a chave do carro e dirigi até minha
casa, em busca dela.

Não me importei se estava realmente tarde ou não, entrei em casa


procurando por ela em todo canto. Até encontrá-la deitada em minha cama,
usando uma camisola de renda rosa.

Meu olhar recaiu em suas coxas de fora, apesar da escuridão do


quarto.

Aproximei lentamente dela, e verifiquei seu pulso. Um alívio enorme


percorreu todo meu corpo, ao notar que ela estava bem. Retirei minha mão às
pressas de seu corpo e caminhei para fora do quarto.

— Hum, quem está aí? — gritou.

Parei na metade do caminho ao ouvir o medo em sua voz, me virei


lentamente a tempo de vê-la se sentar na cama e acender a luz do abajur, que
estava ao seu lado, encolhida.

Eu pude ver, quando ficou aliviada ao notar minha presença no


quarto.

— Samuel, o que faz aqui? — rapidamente cobriu seu corpo com o


lençol — Aconteceu alguma coisa? — de repente, seus olhos se arregalaram
— Monique, ela está…

— Ela está bem, não se preocupe — Me apressei a dizer, vendo a


quão nervosa estava.

Ela me olhou aliviada.

— Tudo bem.
Olhei para o seu rosto por mais alguns minutos, antes de me virar.

— Samuel? — Me chama, da cama.

Parei na metade do quarto ao ouvir seus passos atrás de mim e me


virei para encará-la.

— Você não respondeu, o que faz aqui? — A preocupação gritava em


seu rosto novamente e me senti culpado por isso.

A acordei no meio da noite, apenas para deixá-la assim? Engoli em


seco, enquanto varria os olhos sobre o corpo dela, no automático.

— O apartamento da Monique foi invadido ainda cedo, sua amiga


pediu que eu verificasse você — minto descaradamente sobre essa parte. —
Mas vejo que está bem, então, já posso tranquilizar sua amiga.

Me virei novamente, lhe dando as costas.

Meu peito parecia que ia explodir, só por vê-la. Que sensação é essa?
Ela é apenas uma mulher qualquer. Eu me recuso a acreditar que meu corpo,
gosta dela. Ela tem namorado!

— Poderia ter ligado, ah me desculpa. A casa é sua.

Lhe encarei.

Ela ainda permanecia do mesmo jeito, perto de mim, exceto pelo seu
olhar preocupado.

— Era urgente demais para resolver com apenas uma ligação. E por
favor, não diga isso, eu quero que se sinta em casa. Prometi proteger vocês.

Ela assentiu, mas calma.

— Obrigada — relaxou, despreocupada.


Fiquei grato por poder ver mais dela de perto, ela era incrivelmente
linda, até mesmo usando um saco de lixo em volta do corpo. Não era de se
esperar, que vivesse cercada por atenção.

— Por nada, agora que eu verifiquei, já estou indo. Boa noite.

— Espera. — Eu parei.

— O que foi?

— Você disse que era urgente e se você veio aqui a uma hora dessas
só para me verificar mesmo com toda essa segurança ao redor da casa. É por
que algo grave realmente aconteceu, tem certeza que foi apenas uma invasão?

Ela era esperta, eu tinha que admitir.

— O apartamento foi invadido, mas tudo já está sendo resolvido.

— Tem mesmo certeza que minha amiga está bem, né?

Me aproximei dela olhando em seus olhos.

— Sim, ela está. Você está mais em perigo do que ela, então não se
preocupe. Meu irmão não vai permitir que nada aconteça com a mulher dele.

Dito isso, a expressão em seu rosto muda drasticamente.

— Eles estão juntos? — ela sorri.

— Ao que parece, sim. — Confirmo.

Novamente meu olhar recaiu sobre o corpo dela, tentado.

Mas que inferno estava acontecendo comigo? Por que eu não parava
de olhar o corpo dela?

Perdido em pensamentos, eu mal havia notado no que eu tinha


acabado de fazer. Minhas mãos estavam tocando seus braços.
— O que você está fazendo, Samuel? — perguntou baixinho enquanto
olhava diretamente para o meu peito, procurando por algo.

— Me desculpe. — Mesmo tentado, retirei as mãos do seu corpo —


Eu não sei o que me deu.

— Hum, Samuel? —Me chamou, mas eu ignorei.

Eu não vim até aqui apenas para verificar se ela estava bem. Podia
fazer isso com uma simples ligação para os seguranças, mas eu sabia que se
não viesse e verificasse eu mesmo, não me sentiria bem.

— Eu preciso ir — digo, incapaz de lhe olhar — Desculpe por


acordá-la assim, passar bem.

Desço depressa as escadas, lutando contra mim mesmo, contra a


vontade de ir até ela e exigir que parasse imediatamente com esse silêncio,
mas eu não podia. Eu sabia que ela estava apenas colocando barreiras entre
nós, depois do que aconteceu.

Foi apenas sexo, cara…

Com quantas mulheres você já fez isso? Então relaxa, ela é apenas
mais uma. Digo, a mim mesmo, tentando acalmar as reações do meu corpo.

Saio de dentro da casa, aliviado. Dividido entre voltar lá pra dentro


apenas para vê-la ou ir direto para meu apartamento.

Abro a porta do carro às pressas e entro, ainda relutando contra essa


sensação dentro de mim.

Pela janela do carro, ainda pude ver quando a luz do abajur do quarto
se apagou. É provável que esteja tentando voltar a dormir, depois da minha
interrupção no meio da madrugada. Girei a chave e fui embora daqui o
quanto antes, precisava chegar em casa a tempos da festa, ou meus pais não
me perdoariam nunca por ter faltado a renovação dos votos deles.
Dias atuais

Me sentei no sofá e comecei a procurar pelo registro de compras do


meu irmão. Eu precisava ser rápido, antes que o Gabriel e a Monique
chegassem, então comecei a procurar o extrato de hoje. Meu queixo quase
caiu, quando vi o valor do apartamento em que havia comprado hoje à tarde.
Era uma fatura recente, então foi fácil de encontrar. Anotei rapidamente o
nome da construtora e saí do apartamento, tão rápido quanto entrei.

A construtora responsável pela venda, foi fácil de achar. E para minha


grande sorte, eles haviam aceitado uma reunião comigo de última hora, no
endereço marcado.

No próprio prédio.

Entreguei minhas chaves ao manobrista e subi no andar combinado.

— Doutor Samuel? — Olhei para a recepcionista ao meu lado.

— Sim?

— Me siga, por favor.

Fiz o que pediu, ela gentilmente me levou até uma das salas de
reunião do edifício e abriu a porta para mim. Os responsáveis já estavam
dentro, todos sentados me aguardando. Eles se levantaram às pressas quando
me viram entrar.

Depois que nos cumprimentamos, me sentei em uma das cadeiras


sugerida por eles.

— Então — comecei, quando percebi que tinha a atenção de todos


eles — Quero agradecer por aceitarem ter me recebido assim, em cima da
hora.

— É uma honra receber o senhor aqui, mas… no que podemos


ajudar?

— É sobre o imóvel no qual venderam hoje para um membro da


minha família.

— O Governador? — perguntou o homem sentado à cabeceira da


mesa.

— O próprio. — Confirmei.

— Bom, como se trata do seu irmão e pelo que fomos informados,


não vejo problema algum em compartilhar uma informação dessas com o
senhor, já que o Governador deixou claro que o responsável pelo pagamento
do apartamento era o senhor, seu Samuel.

Olhei para ele sem entender.

— O quê?

— Já estávamos esperando pelo senhor, seu irmão deu ordens para


que esperássemos pela sua visita.

Olhei atordoado entre eles, não entendendo mais nada.

— Como assim?

— Seu irmão esteve aqui hoje à tarde com a sua esposa e a esposa
dele, em busca de um apartamento para vocês dois morarem.

Me levantei às pressas.

Minha esposa e a dele?

— Mais que loucura é essa? É algum tipo de brincadeira?

A atendente que estava ao meu lado se virou e me estendeu alguns


papéis.

— É a assinatura do senhor?

Olhei assustado para a assinatura dos papéis, reconhecendo-as, eram


minhas assinaturas ali.

— Sim, são a minha assinatura — Peguei os papéis de sua mão e


comecei a avaliar o que está escrito entre as folhas. — Eu vou matar o
Gabriel!

Atirei sem jeito, os papéis sobre o meio da mesa, com raiva. Agora
tudo faz sentido.

O registro que o Enzo recebeu, era apenas uma notificação dos gastos
de uma conta em que o Gabriel havia autorizado, mas a grana não era dele,
era minha. O desgraçado comprou um apartamento para sua amante usando
não apenas meu nome, como meu dinheiro também.

— Eu vou matar ele! — Gritei, assustando a todos — Me desculpem,


estou um pouco transtornado. Acabei de ser roubado.

A mulher se aproximou.

— Então, não foi o senhor que realizou a compra? — Olhei para ela,
notando agora o quão essa situação poderia acabar mal.

— Não, está tudo bem, eu só estou frustrado com o valor. Mas foi eu
sim, me desculpem — Digo aos demais na sala.

Eles não dizem nada, apenas voltam para seus lugares, enquanto eu
tento me acalmar.

Uma frase rebobina em minha cabeça, quando caminho até eles e a


mesa.

— Vocês disseram que meu irmão estava aqui com a esposa dele e a
minha?

Eles assentiram.

— Sim, foi o que ele nos disse.

Mordi meu punho, louco para ir atrás do Gabriel e socar sua fuça.
— Sabem me dizer onde que fica esse apartamento, ao menos?

— Aqui mesmo senhor, 10° andar.

Peguei às pressas os papéis da mesa e enfiei em meu bolso.

— Obrigado — ajeitei o paletó rapidamente e saí correndo da sala,


com eles chamando por mim no fundo.

Apertei o botão do 10° andar com força, dentro do elevador, antes de


olhar a minha imagem no espelho.

Eu estava furioso, Gabriel não podia ser mais irresponsável que agora.

Uma amante.

Falsificou minha assinatura.

Roubou meu dinheiro.

Ainda saiu por aí, comprando coisas para sua amante, ao lado da sua
esposa. Essa história não ficaria assim.

As portas do elevador abriram e eu saí de lá bufando feito um touro.

Um segurança estava parado na porta, quando me aproximei. O rosto


dele era familiar.

— Em que posso ajudar?

— Quero falar com meu irmão — resmunguei.

— E quem seria esse irmão? Não tem ninguém em casa.

— Quem seria meu irmão? O governador seria meu irmão! E eu


preciso falar com ele. — Coloquei a mão na maçaneta e comecei a girar.

O homem me empurrou.
— Ei, tá maluco? — Fui em cima dele.

Ele me empurrou de volta, quando tentei passar por ele de novo.

— O senhor não pode entrar, não tem ninguém em casa.

— Meu irmão está aí dentro e eu vou falar com ele — tentei de novo.

Parei muito em cima, quando ele retirou uma arma de sua cintura e
apontou para mim.

— Eu já falei que a dona da casa não está, se deseja vê-la, basta ligar
para ela e pedir autorização. Tenho ordens de não deixar ninguém entrar.

Olhei para a arma em sua mão e recuei de volta ao elevador.

— Tudo bem, vou resolver isso.

Apertei o botão da garagem quando as portas do elevador se


fecharam.

Com certeza essa foi uma atitude inteligentíssima do Gabriel, para


tentar esconder sua amante, colocando um segurança para protegê-la. Mas
isso não ficaria assim, se eu não resolvesse esse Problema, o Enzo iria.
Depositei dentro do armário, minha última peça de roupa fora de
mala. Havia começado arrumar tudo hoje mesmo, não querendo deixar para
arrumar minhas coisas na última hora, ainda mais agora, que o Arthur estava
crescendo dentro de mim. Eu sempre fui muito ativa, fazia várias coisas ao
mesmo tempo, e hoje me vejo sempre arrumando um motivo para sentar,
esticar as pernas e tirar um cochilo.
Nunca imaginei que uma gravidez fosse tão cansativa assim.

— E aí, podemos jantar? — Me assustei com a voz do André.

— Que susto menino — Olhei para ele, com a mão no peito.

O olhar preocupado dele voou até minha barriga.

— Você está bem? Eu não queria… — Se aproximou e tocou em meu


braço.

— Está tudo bem, foi apenas um susto.

Segurei um sorriso, quando envergonhado, ele retirou as mãos de


mim.

— Com fome? — Trocou de assunto rapidamente.

— Morrendo de fome — Sorrio para ele.

Ele sorriu de volta.

— Então vem, a comida chegou.

Fomos juntos até a sala de jantar, onde ele já havia posto todo nosso
jantar sobre a belíssima mesa. Olhei para ele emocionada.

— Obrigada, não sabia que guarda-costas faziam uma coisa assim.

— Nós, guarda-costas, podemos fazer muitas coisas.

Agradeci quando o André puxou uma cadeira para mim e me sentei


ao seu lado na mesa.

— Ah, eu quase ia me esquecendo — disse, ao destampar seu prato


— Um rapaz chegou aqui mais cedo, tentou entrar no apartamento. Parece
que ele queria ver o irmão.
Olhei assustada para o André

— Você acha que ele era algum suspeito? — Minha mão foi até
minha barriga, alisando-a.

Depois de meses fugindo, eu me recusava a morrer na praia. Achei


que aceitando a proteção do Gabriel, eu e meu filho estaríamos a salvo dos
homens que invadiram minha casa.

— Não, o rosto dele era familiar.

— Familiar? Você o conhecia?

— Não o conheço, mas posso ter visto ele por aí, em algum lugar.

Cautelosa, recostei na cadeira, preocupada.

— Avisou ao Gabriel?

— Com certeza, ele disse que resolveria. A todo caso, se o rapaz


aparecer de novo, eu entrarei em contato com ele.

Assenti, menos nervosa agora.

— Vai ficar tudo bem, vou proteger você e seu filho com a minha
vida, se precisar.

Não sei como a mão do André acabou vindo parar em meu ombro,
mas aceitei o conforto e a segurança que ele me ofereceu, nesse momento tão
difícil para mim.

— Agora vamos comer, você precisa alimentar esse moleque, para ele
sair daí logo. — Ele afastou a mão, me deixando aliviada.

Não estava acostumada com tal gesto, mas fiz o que ele pediu.
Destampei meu prato e gemi com o cheiro da comida.
Parecia delicioso.

Para minha sorte, o André foi discreto e terminou seu jantar sem dizer
uma palavra, ao meu lado. Se levantou apenas para lavar nossos pratos e
voltou logo em seguida para uma nova verificação no apartamento.

Fechei a porta do quarto assim que ele me deu ok e fui direto para o
banho. Eu precisava me acalmar um pouco antes de dormir, o dia de hoje foi
repleto de grandes surpresas. Começando pelo casamento da minha amiga.

Eu acompanhava a vida da minha amiga e do Gabriel a distância,


pelos jornais e revistas de fofoca. Fiquei sabendo também que se casaram a
pouquíssimo tempo, mas esse não foi o real motivo de eu ter voltado.

Estava cansada de ficar me escondendo por aí, sozinha, sem saber o


que poderia acontecer com meu filho, sem alguém para proteger ele. Tomei
essa iniciativa quando um carro preto passou mais de vinte e quatro horas me
seguindo, sem trégua na semana passada.

Só em lembrar, eu começo a tremer.

Agora eu não tenho mais como esconder o Arthur do mundo, era


muito óbvio pelo tamanho da minha barriga. Se o Gabriel captou a
mensagem, qualquer um captaria, e eu nem precisei me esforçar e dizer
muito.
A luz do dia brilhou por todo quarto, quando eu abri todas as
persianas, depois de ter tido uma ótima noite de sono, depois de meses
dormindo atenta, com medo. A sensação de relaxamento era surreal, aposto
que iria me acostumar rapidamente com a vida desse jeito, vivendo dentro
desse apartamento maravilhoso, apartamento esse no qual em breve estará no
nome do Arthur, que mal nasceu e já ganhou esse presentão do tio.

— Você é um garoto de muita sorte, meu amor. — Digo ao meu filho,


alisando meu montinho redondo.

A cada dia, era notável como o Arthur crescia dentro de mim.


Começando pelas curvas maravilhosas que ele me deu e terminando pelas
dores nas costas e costelas, com o peso dele e com os belos chutes em que
dava.

Foram trinta semanas de muitas dores na lombar e cãibras. Eu mereço


um prêmio.

Parei por alguns segundos, tentando entender por que as mulheres


tinham tantos e tantos filhos na época da minha vó. Gravidez é lindo, mas
também é cansativo demais.
Olhei para os meus pés inchados, quando um novo barulho soou da
sala. Me escondi rapidamente dentro do banheiro, esperando pelo André, para
me tirar daqui.

Depois de um longo tempo, duas batidas conhecidas soaram, e eu abri


a porta. Encontrei o André com uma vermelhidão no lado esquerdo do rosto.

— O que aconteceu? — Fui até ele, verificando seu rosto.

— Aquele rapaz de ontem, ele apareceu novamente aqui.

Avaliei seu rosto, enquanto falava.

— O que ele queria?

— Entrar. — O olhar do André encontrou o meu.

— E você avisou que o irmão dele não mora aqui?

— Avisei, mas o rapaz queria entrar de qualquer jeito. Até me


agrediu, quando tentei impedi-lo de continuar.

Segurei sua mão e o arrastei para colocá-lo sentado na ponta da cama,


fiquei feliz quando ele não protestou.

— Vem, me deixe cuidar disso — Fui rapidamente até o banheiro e


voltei de lá com um pouco de pomada vaginal no dedo.

Ele fez uma careta quando eu espalhei a pomada sobre a vermelhidão,


mas acabou me permitindo continuar.

— O que é isso? — cheirou meus dedos.

— Creme.

— De quê?

— Para os ferimentos, ele ajuda na cicatrização — minto em partes,


afinal pomada vaginal curava tudo.

Ele rapidamente segurou minha mão, me impedindo de continuar


espalhando o restante da pomada em seu rosto.

— Só vim apenas para verificá-la e atualizá-la de que está tudo bem


— se levantou da cama e caminhou para fora do quarto de forma formal —
obrigado. — Agradeceu, antes de sair.

Quando tive a certeza de que ele não estava mais por perto, fui até o
banheiro lavar os dedos.

O cheiro de café fresco invadiu meu nariz.


Como Gabriel e Monique não me atendiam, resolvi fazer o plantão e
esperar pelos dois na porta do apartamento em que viviam. Uma hora, um dos
dois ia acabar me atendendo.

Precisava ainda hoje prestar contas ao Enzo sobre a tal mulher, eu não
sairia daqui até que o Gabriel me explicasse essa história direitinho. Ainda
mais, depois do que os responsáveis pela construtora me disseram, que ele
havia levado minha "esposa" com ele e minha cunhada, para comprar o lugar.

Mas depois de passar quase três horas esperando por eles, em sua
porta, eu resolvi ir para casa e descansar um pouco, antes de enfrentá-los.
Provavelmente terei que dar ao Enzo alguma desculpa, por não ter resolvido
o problema antes.

Estacionei o carro rapidamente na garagem e subi super desanimado


de volta ao meu apartamento.

O silêncio ao entrar, era algo que eu sempre me assustava.

Meu canto.

Estava prestes a entrar na cozinha para comer algo, quando a


campainha tocou e eu me arrastei até ela para atender.

— Gabriel? Monique? — Olhei estupefato para meu irmão e minha


cunhada, parados bem na minha frente, cansados. Mas foi meu irmão quem
falou primeiro.

— Está esperando alguém?

Abrir mais a porta, dando espaço para ambos entrarem.

— Lógico que não, entrem.

Gabriel entrou e foi direto até a cozinha para buscar algo, na volta,
sentou-se ao lado de sua esposa. Mas era a Monique quem tinha um olhar
diferente, como se quisesse me dizer algo.

— Vocês estão bem? — avaliei ambos.

Eles pareciam mesmo cansados.

— Recebemos seu recado ainda a pouco, viemos direto para cá, já que
era urgente.

Afoguei o nó da gravata, me sentando de frente a mesinha de centro.

— Eu preciso mesmo falar com você. — Olhei para minha cunhada


— a sós.

Monique fez menção de levantar, mas ele a impediu.

— Pode falar. — Ordenou.

Olhei para ele, confuso, antes de olhar para ela. Espero que ele não se
arrependa depois.

— Tudo bem — dei de ombros, pouco me importando se ele queria,


ou não, que ela soubesse — Quero que me explique isso aqui.

Retirei o papel do contrato da construtora e do meu saldo bancário, e


estendi na mesinha de centro para ambos verem do que se tratava.

Monique ficou séria enquanto lia, enquanto meu irmão, relaxava.

— Não acredito que você fez isso, Gabriel. — Comentou ela, rindo,
depois de ler os papéis.

Eles se olharam, quando ele começou a rir também.

— Ué, o dinheiro precisava sair do bolso de alguém, por que teria que
ser do meu?

Eles gargalhavam.

— Você é terrível!

Olhei para ambos, confuso.

— Vocês podem me explicar que infernos está acontecendo? —


Peguei rapidamente os papéis de volta.
Monique tentou parar de rir, mas foi em vão. Cuspiu tudo.

— Desculpa — pediu, tentando se acalmar, mas acabava rindo ainda


mais — Você não presta Gabriel!

Olhei para meu irmão, que a essa altura apenas enxugava as lágrimas
antes de tentar recuperar a postura.

— Então, deixa eu explicar para você uma coisa — ele puxou o ar,
ficando sério agora — A minha mulher, se chama Monique, não Bruna.

Bruna? Olhei para ele ainda sem entender

— Bruna?

Ele riu.

— Leia. — Apontou para o papel.

Abrir os papéis novamente e um detalhe importante apareceu, uma


coisa que eu não havia lido antes, o nome da nova proprietária.

— Que espécie de brincadeira é essa? — Olhei até ele — É uma


pegadinha?

— Não, não é.

O comentário da mulher lá na construtora reapareceu em minha


cabeça. Ela havia dito que "minha esposa" estava com eles.

— Isso aqui é alguma brincadeira? — Olhei para os dois.

Monique já estava mais calma, depois da sua crise de risos, ao


contrário do meu irmão, que me olhava agora com sangue nos olhos.

— Sabe que sou seu irmão mais velho, não sabe?

Assenti.
— Claro que sei.

— Ainda guarda aquele exame? — Meus olhos foram até a Monique.

— Sim. — Engoli em seco.

— Pode pegá-lo? Quero mostrar a Monique uma coisa.

— O quê? — perguntei, preocupado.

Monique não sabia do que havia acontecido entre mim e sua amiga,
ou já teria me castrado. Aquele exame era a última coisa na qual eu queria
pegar agora.

Gabriel parece ter notado meu nervosismo.

— Preocupado com alguma coisa? — Olhei para ele, com raiva.

Nunca odiei tanto ele como agora.

— Não estou, só quero que me diga, por que comprou um


apartamento nesse valor, usando meu dinheiro? sem me consultar.

Ele riu ao se levantar.

— Ainda guarda o exame dentro da gaveta das gravatas?

Pasmo, fui até ele.

— Como sabe disso? — Parei em sua frente, o impedindo de entrar


em meu quarto.

— Me pergunte algo que eu não sabia sobre você.

— Gabriel, pare! — gritei, quando ele avançou na direção do quarto e


ele parou — Eu quero saber o que está acontecendo aqui. O que o exame tem
a ver com o que eu estou lhe perguntando?
Lentamente, ele se virou.

— Você quer saber? — Fiz que sim — Vamos lá, me diga então, por
que eu compraria para sua mulher e seu filho, um apartamento com meu
dinheiro? Sabendo que você é tão rico quanto eu.

— GABRIEL! — gritou Monique.

Sua pergunta me deixou confuso, desde que eu não tinha nenhum dos
dois, nem mulher e muito menos filho.

Mas pela reação da Monique, o olhar estranho do Gabriel e pela


menção de exame, algo estava errado.

Minha mulher?

Meu filho?

Rapidamente, abri a porta do meu quarto, quando um sentimento


estranho me invadiu. Fui até a gaveta, e trêmulo retirei de dentro o tal exame
como ele pediu.

Eu precisava verificar uma coisa.

Abrir o papel às pressas, concentrado apenas no nome da mulher.

Minhas mãos tremeram e meu coração acelerou, quando eu coloquei o


exame ao lado do papel do recibo do apartamento, notando só agora que o
nome de ambas as mulheres era o mesmo.

Bruna.

Como eu não reconheci seu nome antes? Mesmo depois de meses


lendo e relendo ele por diversas vezes.

Parte do que o Gabriel falou, gritou em minha cabeça de uma só vez.


Olhei para ele, nervoso, com a vista embaçada.

— Não pode ser…

Ele assentiu ao se aproximar e apertar meu ombro.

— Ela mentiu para você, seu filho está bem.

Essas palavras, de alguma forma, me deixaram ainda pior do que eu


me sentia. Eu havia passado meses me crucificando por ter mandado para ela
aquele dinheiro, e ainda pedido que retirasse a criança que também era
minha.

Não havia um só dia em que eu não me arrependesse do que fiz.

Havia procurado por ela, em diversos lugares. Mas não havia


encontrado nada, nem sequer uma pista dela, era como se ela tivesse fugido
de mim.

Por tantas noites sonhei com o dia em que lhe implorava perdão, por
ter sido um crápula, em um momento que era para ter sido especial para nós
dois. Mas agora, com a notícia vindo do meu próprio irmão, eu me sinto
péssimo.

Eu fui péssimo.

Eu não cuidei dela o suficiente, e isso fez ela fugir com meu filho em
sua barriga.

Sem que eu me desse conta, meu irmão havia me puxado para um


abraço, percebendo meu estado. Era reconfortante saber que a criança está
bem e viva.

Meu peito apertou, conforme eu ia assimilando tudo.

— Onde eles estão? — Me afasto do Gabriel, para encarar os dois —


Eu preciso falar com ela.

Estou desesperado.

— Você não pode encontrar ela assim, neste estado, vai acabar
deixando-a nervosa, assustada. Não se esqueça de que ela está grávida e
vulnerável agora. Se acalme.

Eu entendia o que meu irmão queria me dizer, mas algo dentro de


mim gritava para fazer o contrário. Eu sinto uma necessidade tão grande de ir
atrás dela, de vê-la com meu filho em sua barriga, que chegava a ser
esmagadora.

— Sinto muito, mas preciso vê-la. — Me soltei do Gabriel e


caminhei para fora do quarto, disposto a tudo para encontrá-la.

Dei apenas alguns passos para fora do quarto, quando Monique se


colocou em minha frente, segurando a pá de lixo em suas mãos, apontando-a
para mim.

— JÁ CHEGA! — gritou, quando atirou o objeto.

Não deu tempo desviar, o objeto bateu forte contra meu braço e eu me
afastei. Gabriel rapidamente correu até ela, e a pegou nos braços, evitando
que ela viesse até mim.

Olhei atordoado entre eles e a pá.

— SEU EMBECIL! EU VOU TE MATAAAAAAAR. — Ela tenta


passar por ele, mas não consegue.

— Sai daqui, agora SAMUEL! — Olhei até meu irmão, chocado.

— O que eu fiz?

Tento me aproximar deles.


— Como você teve coragem de abandonar uma mulher grávida,
assim? — ela encarou meu irmão — Solte, que eu vou matar ele! Ele não
pode continuar ameaçando-a, Gabriel, ela não merece isso.

Não, não pode ser.

Era mesmo isso que tudo parecia? Que eu a abandonei?

Eu podia sentir o sangue gelar em meu corpo, quando minhas mãos


começaram a tremer.

Mesmo não concordando, em partes ela tinha razão. Eu havia a


abandonado no momento em que lhe enviei aquele maldito envelope de
dinheiro, pedindo para retirar o neném. Eu merecia até mesmo as palavras
duras da Monique.

— Solta ela, Gabriel. — Exigir.

Ele virou o pescoço e me encarou, confuso.

— Ficou louco?

— Solta ela! — Repetir.

— Ela quer te bater seu idiota, e eu também.

Dei de ombros, olhando diretamente para ela.

— Eu confesso que vacilei feio com ela, mas nunca a abandonei. Por
meses, procurei como um louco por ela, mas ela sumiu, desapareceu! Então
não me culpe por isso, me culpe por ter sido um canalha, egoísta. Mas por
favor, me deixe falar com ela!

Ela bufou.

— Como não culpar você, se foi você o motivo dela ter ido embora
sem se despedir de todo mundo? O que mais você vai querer justificar agora?
E as ameaças, vai querer tirar sua culpa também? Ah, me poupe. Minha
amiga teve que vir escondida até mim, pedindo ajuda.

Por que ela iria voltar pedindo ajuda?

— Onde ela está? — Me aproximei deles — Quem está ameaçando-


a?

Fui tomado pela raiva, depois de ouvir isso. Não bastasse ter fugido
de mim, nada justifica ela ter ido embora sem falar comigo antes. Agora
descobri que, além de estar carregando meu filho sozinha, ainda tem algum
desgraçado por aí ameaçando ela?

A imagem do seu rosto todo machucado no primeiro dia em que a vi,


surgiu em minha cabeça. Eu ainda não havia descoberto quem havia feito
aquilo com ela, mas desconfiava do seu ex-namorado.

Eu já estava com sangue nos olhos.

— Me diga, quem está ameaçando-a? Eu preciso vê-la.

Me aproximei deles.

— Não é da sua conta, por caso acha que eu sou tão idiota, a ponto de
dizer a você o lugar onde minha amiga está agora?

Neguei.

— Não é isso, eu preciso falar com ela, Monique. E eu sei onde ela
está. Sinto muito se você desaprova, lamento mesmo, mas preciso vê-la.

Tentei ir até ela, mas meu irmão me parou. Ele soltou os braços de
sua mulher e segurou firme em meu ombro.

— Tarde demais cara, apenas me deixe cuidar disso.


Uma ova que eu vou.

Dei uma última olhada em sua mão em meu ombro e afastei. Olhei ao
redor, antes de encontrar a porta.

Gabriel piscou para mim, antes de fazer um sinal e virar na direção


contrária, tapando a visão da Monique sobre mim.

— Está mais calma, meu arroz doce? — Vi quando ele se inclinou


sobre ela e a abraçou.

Essa é a minha deixa.

Me afastei dele rapidamente e corri para fora do apartamento, eu


precisava chegar até ela o quanto antes.

Peguei o papel da construtora conferindo o mesmo endereço do tal


apartamento, antes de sair. Por sorte, o elevador já estava esperando quando
alcancei o corredor. Em poucos segundos, eu já estava na garagem em busca
do meu carro.

Bati a mão no capô ao encontrar ele e me apressei em entrar. Um


milhão de coisas começaram a aparecer na minha cabeça, eu já estava ficando
louco.

A desgraçada da Mia havia mentido para mim, se essa história fosse


verdade. Lembro que na época eu havia ficado desesperado quando Bruna me
contou da gravidez, lembro como se fosse ontem, do tapa em que ela havia
me dado, quando eu fui canalha o suficiente ao dizer que não queria a
criança.

Que inferno que eu tinha na cabeça ao dizer aquelas coisas a ela?


Sendo que tudo o que eu mais queria a meses atrás, era que ela largasse tudo
e fosse viver comigo em meu apartamento.
— Que droga! — meu coração acelerou novamente, dessa vez eu
sabia exatamente o que estava acontecendo.

Minha ansiedade está de volta.

— Eu não... abandonei ninguém. — Conseguir dizer, quase


engasgando.

A sensação de ter algo amarrado com muita força sobre o meu


pescoço, havia voltado, e por mais ar que eu puxasse, nunca era o suficiente.

A falta de ar me fez arquear alto.

Meu peito sobe e desce com força!

Tentei desesperadamente puxar mais ar, mas não conseguia! Parecia


que eu iria morrer sufocado com algo em que eu não fazia ideia do que era.

Gabriel rapidamente apareceu e veio até mim, me segurando firme


contra o banco do carro.

Monique veio em seguida, completamente chocada com a cena.

— Calma, respira. — Ele pediu calmamente, puxando o ar junto


comigo — parece até que eu estava sentindo que isso ia acontecer.

— O que está acontecendo? Ele tem problemas respiratórios?

Olhei até ela, que parecia tão perdida na situação que não sabia o que
fazer.

A sensação de sufocamento piorou e, desesperado, eu puxei ainda


mais o ar. Meu coração começou a bombear com força, e o desespero me
tomou. Vi apenas quando meu irmão agarrou sua esposa pelo braço e a
empurrou para longe de mim, quando eu agarrei firme sua gola da camisa,
desesperado.
Eu estava sufocando.
A vontade que eu tinha era de correr até em casa e espremer o
pescoço da Mia. Mas o que é dela está guardado, ela vai ter que me explicar
direitinho que merda é essa que ela havia feito, já que ela era a única pessoa,
além do meu irmão, que soube sobre a gravidez da Bruna.

Ela foi a única pessoa que teve contato com a Bruna, na época.

Quando finalmente minha ansiedade havia se acalmado, Gabriel e


Monique me trouxeram para dentro do apartamento deles e me explicaram
toda a história com a Bruna. Mas o que mais me chocou foi quando eu
percebi que eles acreditaram mesmo que eu estivesse fazendo ameaças a
Bruna e ao bebê.

Afinal, é o meu filho.

Meu peito apertou ao saber da real situação dela, sozinha e grávida,


passando por tudo isso sem apoio e com medo, o que é ainda pior, com medo
de mim.

— Não acredito que ela me acha um monstro — olhei para o meu


irmão — O que é ainda pior, como você, meu próprio irmão acreditou que eu
faria mal ao meu próprio filho?

— Eu não podia arriscar a vida deles, na dúvida. O que importa agora


é que ela está segura.

Ele tinha razão apenas nisso, agora ela está segura.

Eu havia aceitado trabalhar com Enzo, apenas para que ele mantivesse
a história do aborto em segredo. A última coisa que eu queria era que isso
prejudicasse ainda mais a carreira do meu irmão.

Mas parece que o tiro saiu pela culatra.

As garantias que o Enzo me dava, não valiam nada, já que suas


garantias eram falsas. A Bruna não havia retirado a criança como no bilhete
que a Mia me entregou dizia ter feito. A criança estava bem e prestes a
nascer.

Olho para o meu irmão, tentando amenizar a dor que eu sinto neste
momento.
— Você acreditou mesmo que eu faria algum mal à uma criança?

Ele abaixou a cabeça.

— Eu não imaginei que faria, apenas cumprir minha obrigação, ela


está com medo de você e me pediu que salvasse a vida do meu sobrinho. O
que você teria feito no meu lugar?

Me levantei às pressas.

— Eu teria tirado satisfações com você, você não podia ter escondido
algo assim de mim. Ela havia mandado uma carta pra mim, avisando que
tinha tirado a criança, como eu iria imaginar uma coisa assim? Você mesmo
leu o exame.

— Ela estava com medo — Monique nos interrompeu — Ela marcou


um encontro com você, mas outra pessoa foi no seu lugar e a ameaçou.

— Ela teve que fugir para outra cidade, escondida para proteger a
criança, Samuel. Não me julgue por ajudá-la. — Olhei para meu irmão.

Mesmo ele tendo as razões dele em ter ajudado Bruna, ele é o meu
irmão, me conhecia. Como pode acreditar que eu faria uma coisa assim?

— Tudo bem, vocês têm razão. — Me levantei.

Ele fez o mesmo, preocupado.

— Onde você vai?

Lhe encarei.

— Para casa! Não se preocupe, eu não estou bem psicologicamente


para ir atrás dela agora.

Ele parecia satisfeito com minha resposta, pois apertou firme meu
ombro, positivamente.

— Fico contente que esteja pensando com mais clareza agora.

— Sim, quero estar bem para poder vê-la, estou indo para casa agora,
descansar.

Ele concordou.

— Vá para casa e descanse, amanhã eu mesmo conversarei com ela.

Apenas assenti e caminhei para fora, meu carro já estava estacionado


do outro lado da rua, me esperando. Não hesitei em ir até ele.

Havia ido hoje cedo até lá, achando que meu irmão estava lá com uma
amante, quando na verdade, quem está lá esse tempo todo é ela. Por isso o tal
segurança na porta, provavelmente foi ideia do meu irmão, para me impedir
de entrar. Mas agora é diferente.

Por sorte, o trânsito estava livre e eu pude dirigir com mais calma até
seu apartamento.

Era tarde, o porteiro tentou interfonar, avisando da minha visita, mas


ninguém respondia. Pelo horário provavelmente ela já esteja dormindo, então
eu decidi esperar. Ajeitei melhor o banco do carro e dormi por ele mesmo.

Provavelmente vou amanhecer com dores nas costas, mas estava


ansioso demais para esperar, e não adiantaria nada voltar para casa já que eu
não vou conseguir pregar o olho. Em poucas horas, o sol nasceria, e então,
tentarei novamente chegar até ela.

Temos tanto o que conversar, mas o motivo da minha ansiedade era


outro.

A essa altura, sua barriga já deve estar bem grande, talvez até já
consiga saber o sexo ou sentir os chutes do bebê.

Acredito que seja apenas um, já que meu irmão falou no singular. Um
bebê, isso mesmo, foi exatamente o que falou.

Fechei os olhos por alguns minutos, tentando não pensar em nada,


para não ficar mais ansioso. Eu precisava ao menos descansar, nem que seja
por apenas algumas horas até que amanheça completamente.

Depois de muito me virar de um lado ao outro, eu consegui dormir


um pouco, quando eu percebi, já havia amanhecido.

Saí do carro me ajeitando, indo direto até o porteiro.

Ele assentiu para mim, permitindo minha entrada novamente. Acionei


o botão do seu andar e terminei de me arrumar dentro do elevador, esperando
que ela não notasse meu estado desarrumado, em meio a surpresa.

Estou ansioso demais para vê-la.

Havia tantas coisas que precisávamos conversar, esclarecer certos


assuntos e falar principalmente sobre o bebê. Afinal, eu tinha o direito de
saber da existência dele, é meu filho também. Depois de ter passado meses
me sentindo um lixo, por todas as vezes que olhava para aquele exame. Ela
precisava saber o quão culpado eu me sentia, quando não fui atrás dela,
quando deveria.

As portas do elevador abriram e eu dei de cara com o mesmo


segurança de antes, parado em sua porta.

— Você de novo — murmurei, incomodado.

Ele revirou os olhos, antes de ficar atento a mim. Esse homem não
dormia?

— Sim, eu de novo. Em que posso ajudá-lo?

Limpei a garganta.

— Graças a Deus, hoje em nada — Caminhei até a porta, mas ele


ficou no meu caminho — Da licença? — lhe encarei.

— Não tenho ordens para permitir que alguém entre. Volte, por favor.

Me recusei a sair do lugar.

— Agora você tem, pode chamar sua patroa aqui? Ela resolverá esse
assunto em dois tempos.

Ele riu, uma atitude ousada.

— Qual a graça?

— É engraçado a forma como fala, mas direi novamente, porque acho


que o senhor não ouviu direito. Não tenho permissão para permitir que
alguém entre — Me avaliou de cima a baixo — Principalmente o senhor.

Principalmente eu?

Me aproximei ainda mais dele.


— Principalmente?

Ele assentiu.

— Principalmente!

A vontade de socar ele era esmagadora, mas eu precisava manter o


controle para não assustar ela, já que minha imagem não estava muito boa.

Tentei novamente chegar até a porta, mas ele me impediu.

— Desgraçado. — Me empurrou.

Retirei um dos meus sapatos sociais e o arremessei em sua direção, o


atingindo bem no rosto, com força.

Quando ele se recuperou, mais homens apareceram pela escada de


emergência e me carregaram para fora do prédio, como se eu fosse um
marginal, um bandido, antes de me atirarem para fora.

Não sei o que eu sentia mais, se era raiva ou com humilhação.

— Droga. — Esbravejo.

Caminhei para longe deles, ao se aproximarem. Gabriel me pagaria


caro por isso, ele poderia ao menos liberar minha entrada aqui, depois da
nossa conversa ontem, já que o apartamento também é meu.

Isso, eu podia alegar exatamente isso.

Um dos homens se aproximou e me entregou o sapato de volta.


Agradeci com um aceno e entrei no carro às pressas, indo direto para casa. Eu
preciso de um plano.
Depois de ter finalmente me instalado na casa nova, a primeira pessoa
que fui visitar foi o Kleber, e até antes mesmo de voltar para cá, já havia
mandado uma mensagem de texto para ele, pedindo para que esse encontro
acontecesse.

Esse é um desejo meu, já que tínhamos tantas coisas para resolver e


não podíamos deixar para depois. Bom, agora esse "depois" finalmente
chegou.

Por sorte, hoje ele havia me confirmado logo cedo sobre o nosso
encontro, então simplesmente aconteceu como o combinado.

Enquanto André estacionava o carro, o segurança do Kleber me


acompanhou para dentro do bar.

As portas do lugar se abriram e eu entrei, admirando o lugar, vendo


como tudo ainda parecia tão igual desde a última vez em que estive aqui.

Mas para minha surpresa, não era o Kleber que estava sentado à
minha frente. O olhar da dona Lúcia desceu até minha barriga, antes de levar
a mão até a boca, emocionada.

O Homem que estava ao seu lado, não fez diferente, os olhos dele
brilharam ao encarar minha barriga.

O fato de as pessoas ficarem encarando a minha barriga, me


incomodava, sem exceções. Como se esse encontro não fosse desconfortável
o suficiente, o Arthurzinho inventou que não existe momento melhor que
esse para chutar minhas costelas com força.

Os chutes estão ficando cada vez mais frequentes, conforme ele


crescia mais e mais.

Não tinha me dado conta que havia fechado os olhos, os abri quando
uma mão tocou meu ombro.

— Você está bem? — abrir os olhos para ver a Lúcia parada bem na
minha frente.

O chute do Arthur latejou.

— Sim, obrigada — Me endireitei — Vocês estão aqui para ver o


Kleber? — Olhei ao redor — onde ele está?

Alisei minha barriga novamente, incomodada com os leves chutes


dessa vez.

Péssima hora para isso, né Arthurzinho?

— Ele está descendo — respondeu ela, conforme apontava para cima,


na direção do escritório — Ele pediu que a gente esperasse por ele aqui.

Olhei entre eles.

Eu sabia exatamente quem são, principalmente a Lúcia, minha amiga


havia me falado muito sobre ela.

Os olhos dela foram até o seu marido, antes de encontrar novamente


os meus.

— É mesmo verdade, Roberto. Nosso Gabriel tem razão.

Meus olhos se arregalaram.

— Eu sei, minha querida, vou matá-lo quando chegarmos. —


Murmurou o homem.

Levei minha mão automaticamente até minha barriga, antes de me


afastar.

O olhar da Lúcia encontrou o meu, me fazendo estremecer ao encarar


seus olhos verdes, notando só agora a familiaridade em seus traços bonitos.

A mãe do desgraçado.

— Eu desconfiava que estavam escondendo algo de nós, mas ontem,


meu filho Gabriel nos confirmou tudo, querida. — Ela se aproximou — Já
estamos sabendo sobre a criança e viemos ajudá-la.
Vou matar o Gabriel, aquele bocudo, pedi tanto a ele que guardasse
esse segredo a sete chaves, mas pelo visto, eu pedi a pessoa errada.

— Eu já ouvi muito sobre a senhora Lúcia, se seu filho decidiu


poupá-la da descoberta, eu sinto muito, agora como pode ver, não há muito o
que ser feito — Alisei minha barriga — E avisa ao Gabriel que estou
profundamente magoada com ele. — Viro-me pronta para sair. Magoada o
escambau, ele me paga.

— Não minha filha, por favor… — Pede, me fazendo virar para


encará-la — Estamos todos surpresos e felizes com o bebê, por favor, não nos
negue isso. Queremos te ajudar.

Ela parece sincera com suas palavras, e a forma como a Monique


sempre falava bem dela, mostrava que ela parece mesmo ter um bom coração.
Engolir em seco, olhando os dois a minha frente me lembrando de tudo que
passei sozinha, principalmente quando fui pedir ajuda dele antes de me virar
as costas.

Se eu permitisse eles na vida do Arthur, provavelmente isso também


incluiria ele, e isso é algo que realmente não quero.

— Escuta Lúcia, eu não sei até onde a senhora está ciente da situação,
não acho que esse seja um bom momento para isso. — Voltei a me afastar,
mas a voz do Kleber me parou.

— O lixo que a engravidou, abandonou ela com uma criança na


barriga, e foi curtir por aí, com a ex-namorada do próprio irmão — estremeci,
não sabendo dessa informação, o olhar furioso do Kleber encontrou o meu —
Desculpe pela intromissão, mas não pude deixar de escutar. Não acredito que
deixou ele fazer isso com você.

O olhar dele desceu até minha barriga, e isso literalmente acabou


comigo.

Nós dois ainda não havíamos conversado, desde que eu acabei


fugindo depois de ter sido atacada. Então muita coisa entre a gente ficou sem
resposta.

Lúcia abraçou o marido e isso fez eu me sentir mal, afinal, eles não
tinham culpa alguma sobre o que aconteceu.

Mas eu precisava ser firme, pelo meu filho.

— Entendo — disse Roberto, francamente, enquanto olhava com


raiva para o Kleber, que está parado ao meu lado, mas acabou não dizendo
mais nada além disso.

Arthur chutou minhas costelas novamente e eu gemi em protesto, me


apoiando sobre o ombro do Kleber e arfei, tentando massagear o local que
latejava. Abrir os olhos quando uma mão tão pequena quanto a minha pousou
sobre minha barriga. Olhei curiosa para a mulher à minha frente, que tinha o
olhar derrotado enquanto se aproximava de mim.

— Posso? — Seu pedido era claro, ela quer sentir o bebê. Olhei até o
Kleber em busca de algum apoio, não sabendo lidar sozinha com minhas
emoções em um momento como esse.

Ele apenas assentiu, para minha surpresa.

A mulher se ajoelhou à minha frente e começou a andar com a pontas


dos dedos pelas laterais da minha barriga. Foi estranho a sensação, mas para
minha surpresa, meu menino começou a mexer exatamente nos mesmos
lugares em que ela fazia isso, pressionando levemente os dedos.

Isso me surpreendeu.
A pressão que ele fazia em minhas costelas diminuiu, e eu o sentir
mais calmo.

— Bebezinho... a vovó está aqui meu amor — Sussurra em meio ao


choro, enquanto ainda me acaricia — A vovó está muito feliz em saber que
você existe.

Ela sorriu emocionada quando ele chutou levemente em resposta.

Roberto deu um passo à frente, mas parou, hesitando.

— Oh meu amorzinho, a vovó te ama tanto, estamos todos ansiosos


esperando por você. — Era visível o esforço que fazia para manter a voz
firme, mesmo emocionada.

Isso é como um tapa na minha cara. Nunca, nessa vida, iria imaginar
que meu filho seria tão querido assim por alguém, além de mim.

Pisquei de volta as lágrimas que ameaçavam escorrer pelo meu rosto,


mas foi em vão.

Malditos dos hormônios.

— A vovó não estava presente antes para cuidar de você e da sua


mamãe, mas agora a vovó está! E o vovô também! — O olhar dela encontrou
o meu quando se levantou, já abrindo os braços para mim.

Me afastei dos braços do Kleber e me permiti aceitar aquela oferta de


carinho, e no calor da emoção, me aconcheguei.

Eu até podia odiar ele, mas não podia negar o quão medo eu estava
sentindo do meu filho ser rejeitado por eles no futuro. E me vendo agora,
chorando abraçada a vó do meu filho, eu nunca havia me sentido tão
vulnerável assim, em toda minha vida. Eu, que passei a gravidez inteira
sozinha, sem apoio e me escondendo dos meus amigos, até mesmo da minha
única amiga, por medo de que algo pudesse prejudicar o meu filhos de
alguma forma.

E meu medo só aumentava conforme os meses iam passando, pensar


no parto era a pior parte.

Quando o abraço terminou, ela retirou um lenço das mãos do Roberto


e o entregou a mim. Agradeci com um sorriso, aceitando, e me virei para
encarar o Kleber.

— Se importa se eu conversar um pouco com eles, a sós? — Ele não


parecia feliz, mas assentiu — É importante para mim. — Completei.

— Tudo bem, grita se precisar de ajuda. — Provocou.

— Obrigada.

— Não por isso — ele piscou —, te espero em meu escritório quando


acabar. — E com isso ele sai.

Volto minha atenção a Lúcia que a essa altura já estava mais calma ao
lado do marido. Apontei para os sofás atrás deles e eles não hesitaram em me
seguir. Quando eu me senti mais confortável, encarei eles, mas foi o Roberto
quem falou primeiro.

— Viemos assim que soubermos do que havia acontecido, eu e minha


esposa sentimos muito por toda a merda em que tenha passado sozinha, por
todos esses meses, com uma criança em seu ventre. — Pausou quando olhou
para sua esposa — Estamos muito decepcionados com as atitudes do Samuel,
mas queremos que saiba que agora não estará mais sozinha, em momento
algum. Nós queremos fazer parte da vida de vocês dois, independente da
opinião do nosso filho.
Lúcia se aconchegou ainda mais ao marido e me estendeu a mão.

— Viemos até aqui pedir ao Kleber para nos ajudar a chegar até você,
mas não precisou de muito para esse encontro acontecer. Queremos te ajudar
de todas as maneiras possíveis, incluindo a financeiramente.

Olhei para sua mão ainda estendida e recuei.

— Obrigada pela oferta — olhei entre os dois — De verdade, mas


creio que não precisarei aceitar, tenho que arrumar algumas coisas antes que
Arthur nasça e não preciso que me ajudem financeiramente em nada.

— Nós desculpemos se estamos agindo como intrusos em sua vida


nesse momento. Principalmente agora que acabamos de nos conhecer, mas é
o seu primeiro filho, sabemos que perdeu sua mãe muito nova, nos permita te
ajudar.

Engoli em seco, um pouco nervosa.

— Lúcia… — Começo, mas o Roberto me interrompe.

— Bruna, confie em nós. Queremos muito fazer parte da vida de


vocês, é o nosso primeiro neto — disse emocionado.

É sério que eles queriam me ganhar na chantagem emocional?

Limpei a garganta rapidamente antes de falar de vez.

— Olha só, não acho que esse seja o momento e nem mesmo o lugar
ideal para discutirmos isso. Eu prometo pensar com calma sobre a proposta
de vocês, mas em relação a fazer parte da vida do Arthur, eu não vou me opor
a nada, então fiquem tranquilos.

Eles sorriram.

— Obrigada por isso, querida. Estamos tão felizes, né Roberto?


Ele assentiu.

— Muito feliz, vamos finalmente ser avós.

Uma sensação de alívio me invadiu ao vê-los assim, contentes. Esse é


um direito no qual eu não podia negar, nem a eles e muito menos ao meu
filho.

— Aqui, querida. — Roberto me entregou um papel de bolso e se


levantou do sofá.

A Lúcia se levantou em seguida e então veio até mim, me abraçando


outra vez antes de voltar ao lado do marido.

— Estamos indo, não queremos tomar muito o seu tempo — Ela


apontou para o papel — Esse é o endereço de onde estamos ficando, espero
que você possa aparecer lá. Ficaremos muito felizes.

Sorri sem jeito para eles, aceitando o papel.

— Claro, logo aparecerei.

Sorrindo, caminharam na direção da porta. Só pude soltar a respiração


quando eu tive a certeza de que já tinham saído.

Olhei para o endereço curiosa e bufei ao reconhecer o lugar.

— Só pode ser brincadeira.


Acordei assustado depois de ouvir um tombo e então perceber o que
de fato tinha acontecido. Havia sonhado com aquela mulher novamente, e
isso me enfureceu. Toda vez que isso acontecia, eu acabava sempre da
mesma maneira, no chão.

Me assustei quando alguém bateu na porta, e me sentei no sofá às


pressas, ainda me recuperando do pesadelo em que tinha acabado de ter.
Lembranças da nossa primeira noite juntos, ainda não saiam da minha
cabeça.

Sem que esperasse que eu abrisse a porta, Mia entrou no apartamento


com tudo, feito um furacão, me assustando quando jogou uma remessa —
pesada — de papéis sobre a mesa de jantar e lhe encarei, furioso.

— O que faz aqui a essa hora? — Perguntei, ao me levantar e ir até


onde os papéis estão, verificando cada um deles com atenção, já que eu não
fazia ideia do que é.

Ela bufou.

— Parece que você esqueceu de relatar algo ao Enzo, então essa


tarefa acabou sobrando para mim — ela fez uma pausa, me analisando —
Onde esteve o dia todo?

Provavelmente estou um trapo, só pela careta que ela fez.

— Desculpe, eu me esqueci completamente. Minha cabeça anda tão


cheia, que acabei esquecendo de relatar tudo a ele — suspirei, cansado —
Desculpe por ter deixado que isso respingasse em você.

Eu precisava entrar em contato com o Enzo o quanto antes, e dizer-lhe


toda a verdade.

Ela se aproximou, para minha surpresa. Tocou minha camiseta.

— Estou vendo, me desculpe ter invadido seu apartamento assim, mas


eu precisava te entregar toda essa papelada ainda hoje. — Fez beicinho, me
intrigando.

Soltei as folhas dos papéis e segurei seu ombro.

Se essa história das ameaças fossem verdade, Mia havia mentido para
mim.

O medo de ter sido não só traído, mas enganado, me consumiu,


enquanto eu olhava bem fundo nos olhos dela.

— Eu imaginei que fosse isso, obrigado.

Soltei seus ombros imediatamente, retornando para o sofá, antes que


eu fizesse uma besteira aqui mesmo e me arrependesse depois.

— Você está péssimo! — Reclamou, me encarando de onde estava.

— Eu já tive dias melhores — confesso, retribuindo o olhar — Você


precisa de mais alguma coisa aqui?

Ela negou.

— Não, é só isso mesmo. — Sorriu.

Apontei até a porta.

— Então, feche quando sair, por favor. Estou exausto hoje.

Lhe dei as costas quando me virei sobre o sofá e deitei nele, cobrindo
parte do meu corpo com a coberta que estava dobrada na mesinha de centro.

Ouvi a Mia bufar atrás de mim, antes de ouvir o som dos seus saltos e
então a porta bater com força, sendo fechada. A parede chegou a estremecer.

Tentei fechar novamente os olhos, para tentar continuar com a


lembrança em que eu havia sonhado, dela.

Aquela foi a nossa primeira e única noite juntos, e foi naquela noite
também, que fizemos a criança na qual eu havia passado meses sofrendo, por
achando que estava morta por minha causa.

Só de pensar naquela maluca, irresponsável. Fez meu sangue ferver,


ela não podia ter feito o que fez. Esconder meu filho assim, inventando que
ele estava morto, chegava a ser cruel da parte dela. Eu merecia saber da
existência dele. Aquela criança também era minha, ou melhor, também é
minha!
Dessa vez eu precisava ser rápido, depois de conseguir entrar em
contato novamente com a construtora, eles prometeram que iria enviar uma
nova chave para o meu apartamento, depois de eu ter mentido de que havia
perdido.

Foi muita sorte, eles terem respondido diretamente a mim, e não ao


Gabriel. Já que ele havia fechado o contrato de compra.

Também que culpa eu tinha que ele havia comprado o apartamento


em meu nome, e também dito que ela é minha esposa. Eu estou agora apenas
cumprindo com meu papel de pai de família, indo atrás deles.

Mesmo seguindo os conselhos do meu irmão em "esperar", custava


muito para mim ficar aqui parado sem fazer nada. Eu precisava olhar nos
olhos dela e entender o que de fato porque ela não quer de jeito algum falar
comigo. Era injusto, já que está me fazendo falsas acusações.

Ameaças? Que ameaças?

Eu nem sequer sabia da existência da criança. Era injusto comigo essa


atitude.

Senti um grande alívio em saber que a criança está bem e saudável,


mas eu ainda queria vê-la, senti-la…

Eu tinha direito de ao menos tocar em sua barriga, né? Nem que pra
isso eu precise por meu diploma de direito em ação, e pedir a algum juiz para
que eu pudesse participar da vida do meu filho, se caso ela me negasse isso.
Isso mesmo, eu estou disposto a fazer isso se for necessário.

Meus pais vão ficar tão felizes em saber da criança. Minha mãe então,
vai ficar tão babona, principalmente se for uma menina, ela ficará muito
apegada a criança ao lembrar da minha irmã desaparecida.

— Eu preciso logo resolver isso.

Enquanto espero as chaves chegar, comecei a elaborar na minha


cabeça um plano, eu preciso ser bem objetivo e arrumar um jeito de distrair o
segurança dela, para entrar no apartamento.
Eu preciso tomar muito cuidado para não chamar atenção e nem a
deixar nervosa, por causa da criança. Não quero prejudicar meu filho em
hipótese alguma.

Mas não demorou muito para que eles me ligassem e informassem


que haviam deixado a chave para mim na portaria do prédio principal. Não
esperei por mais e fui até lá.

Estacionei o carro, peguei as chaves e montei tocaia dentro do meu


carro, vigiando-os, esperando que chegassem logo, já que o porteiro havia me
informado que ela tinha saído com seu guarda costas, então resolvi esperar.

Eu preciso resolver minha situação com ela o quanto antes, estou tão
nervoso.

De longe consigo avistar um dos carros do Gabriel chegar, e eu sabia


que é ela. Meu irmão não a deixaria sem seus melhores carros de proteção.

Quando o carro entrou, não esperei por mais e fui até a portaria levar
um papo sério com o porteiro.

Tento convencê-lo de todas as formas a me ajudar a distrai o


segurança dela por alguns instantes, apenas o suficiente para que eu entrasse
em casa e fizesse as pazes com minha mulher. Mas claro que para isso, tive
que inventar que estávamos brigados por causa dos hormônios da gravidez.
Ele chegou a rir quando inventei que ela tentou jogar água quente em mim,
por que eu dormi enquanto ela falava, eu até cheguei a rir imaginando,
acreditando na minha própria mentira.

Quando ele aceitou me ajudar, não perdi tempo e subi as escadas


correndo até o décimo andar, abrir lentamente a porta da escada que dar no
andar dela e esperei, em alguns minutos meu plano daria início. Me sentei na
escada rapidamente, recuperando o fôlego já que se eu subisse pelo elevador,
os seguranças informariam meu irmão imediatamente, e se me vissem pelas
câmeras como o porteiro havia me alertado, eu estava lascado.

Minha grande sorte foi eles terem dito que ela era minha esposa, ou
eu jamais teria conseguido tal coisa.

Depois de um tempo, fiquei atento quando vozes soaram do outro


lado da porta e o som do elevador chamou minha atenção. Abrir a porta o
suficiente para espiar. O segurança já não estava mais ali, então me apressei.

Eu precisava ser rápido e agir.

É agora.

Corri até a porta e retirei a chave do bolso, antes de invadir o


apartamento. Mas para minha grande sorte, assim que fechei a porta, a
encontrei bem ali, parada a minha frente no meio da cozinha com a geladeira
aberta.

Ela se assustou quando se deu conta da minha presença e começou a


andar para trás.

Meu olhar desceu até sua barriga e fiquei aqui, paralisado, tamanha
emoção.

Ela está tão linda.

— Meu filho… — Consegui dizer.

Me assustei quando ela bateu as costas com força na parede, fugindo


de mim.

Corri até ela e a carreguei em meus braços, sob seus protestos. Mas
não liguei, ela acabou se machucando por minha causa, é a minha obrigação
cuidar dela.
Sua barriga se mexeu e eu fiquei alarmado.
Olhei em volta da casa novamente, me lembrando da última vez que
estive dentro dela. As lembranças não podiam ser piores.

— Sente-se, por favor.

Não hesitei em fazer, quando Lúcia ofereceu, a dor nas costas já


estava me matando durante todo caminho pra cá, foi um esforço surreal
chegar até aqui com o peso desse barrigão na calada da noite, usando estes
saltos.

— Então — Começo, disposta a cortar toda a enrolação —, como


prometido, estou aqui. Podem me perguntar o que quiserem sobre mim e a
criança, sintam-se à vontade para isso.

Sorri para eles, esperando.

Eles se entreolharam antes de se sentarem no sofá à minha frente e


juntarem as mãos. Mas foi a Lúcia quem falou primeiro.

— Estávamos ansiosos para que você viesse — Sorriu —, e você


veio.

— Eu disse que viria.

Ela assentiu.

— Acreditamos em você, mas ficamos com medo que desistisse.


Temos muito o que conversar. — O olhar deles recaíram em minha barriga,
apreciando.

— Sim, temos! — Concordei.

O Arthur começou a soluçar dentro da barriga, chamando a atenção


deles.

Rapidamente se levantaram e se aproximaram de mim.

— Ele está com soluço. — Sorri sem jeito.

Roberto correu até a cozinha, me trazendo água, enquanto a Lúcia se


sentava ao meu lado.

— Obrigada. — Aceitei garrafa, dando leves goles.

Eles ficam alguns segundos encarando a minha barriga, observando


aos poucos o Arthur se acalmar.

— Ele está se acalmando, beba mais um pouco querido.

Fiz o que ele pediu, sentindo o Arthur acalmar.

Olhei entre eles, sem jeito.

— Querem sentir ele?

Eles me olharam chocados, mas assentiram rapidinho, antes de se


aproximarem.

Ambos ajoelharam a minha frente e puseram a mão sobre a minha


melancia, apreciando. Arthur parece que sabia quem era, pós começou a
mexer para os avós.

Meu peito ficou quentinho ao ver a emoção estampada em ambos os


rostos.

Ficamos assim por um pouco mais de tempo, até a comida em que


havia pedido chegassem. Aceitei o convite deles em ficar para o jantar,
apenas para tentar uma aproximação, vendo o quanto eles ficaram contentes
com minha visita.

Mas não pude ficar muito, como queriam. Deu o horário e o André já
se adiantou de ir me buscar. Eu não via a hora de chegar logo em casa e
descansar.

Me despedir deles no portão da casa, quando a luz do farol de um


carro piscou em nossa direção.

Olhei para o lado reconhecendo o mesmo modelo de carro preto que


havia me atacado na noite da última vez em que estive aqui.

Meu coração acelerou quando o carro passou por nós, mas não fez
nada.

— Você está bem, querida? — Olhei amedrontada para o Roberto,


antes de fungar.

— Estou.

A buzina do carro do Gabriel me deixou aliviada, me virei às pressas


dando de cara com o André abrindo a porta do carro para mim.

Dei um tchau apressado para eles, antes de ir embora o mais rápido


que pude.

O caminho até em casa foi tranquilo, eu ainda estava refletindo sobre


o jantar. A sensação de jantar com os avós do meu filho, me passou uma
sensação tão boa, tão familiar, algo no qual eu não tive a oportunidade de ter
na infância.

Sempre fui sozinha, para tudo.

Entrei em casa com uma sensação de leveza me acompanhando,


apesar do coração aflito. Tomei um banho tentando relaxar, antes de dar boa
noite ao André e ir deitar.
Mas não conseguir pregar o olho, ainda me lembrando do carro preto
e dos faróis. Eu não estou ficando louca, eles piscaram para mim, em aviso.

Mas por que dessa vez não fizeram nada? Eu estava muita mais
vulnerável dessa vez.

Cansada de pensar, pensar e não chegar a lugar algum, fui até a


cozinha beber um pouco d'água.

Lágrimas escorriam dos meus olhos, conforme eu alisava minha


barriga, pensando no meu filho. Até quando iríamos viver assim?
Escondidos. Longe das pessoas que tanto amamos.

Quando comecei abrir a geladeira, o barulho da porta sendo


brutalmente aberta chamou a minha atenção.

Me assustei quando um Samuel muito irritado entrou, caminhando


apressado na minha direção, me pegando completamente de surpresa.

Bati as costas na parede na tentativa de escapar dele. Mas o impacto


me fez gemer.

E em dois tempos, cá estou eu, gemendo de dor em seus braços.


Louca, irresponsável e teimosa, isso sim é o que ela é, já que não
parava um segundo sequer de se mexer em meu colo.

— Me põe no chão, agora! Eu já disse que estou bem. — Deu pra


perceber que está sentindo dor, pela voz.

— Você disse, mas eu não acredito! Eu vi o tombo que você levou,


deixa de ser teimosa!
Ela parecia incrédula.

— Eu não sou teimosa, só quero que me coloque no chão! Eu estou


bem!

Caminhei na direção do corredor.

— Onde você dorme?

— Primeira porta à esquerda. — Apontou.

Segurei firmemente seu corpo, antes de entrar em seu quarto tomando


cuidado para não a machucar.

Por sorte, a luz do abajur já estava acesa, e pude claramente olhar por
todo lugar, antes de depositar ela com segurança no meio da cama. Puxei com
cuidado também, alguns travesseiros que estavam ao redor dela e os ajustei
em suas costas. Ela sentou confortavelmente, antes de me encarar.

Eu deveria ser o primeiro a falar alguma coisa, exigir uma explicação,


perguntar por que ela mentiu para mim ou por que foi embora, ou até mesmo
pedir perdão por ter agido como um canalha quando ela mais precisou de
mim.

Mas eu simplesmente não consegui dizer nada, nem uma palavra


sequer. Eu só conseguia encarar os olhos castanhos mais doces que eu tive o
prazer de conhecer na vida, me olhar triste.

Ela ainda mexe demais comigo e não faz a mínima ideia disso.

Ela gemeu novamente, recostando com cuidados na barreira de


travesseiro que eu havia colocado atrás de suas costas.

Meu olhar caiu sem vacilar na sua barriga, grande, bonita e redonda.
Com meu filho crescendo dentro. Uma sensação quente me invadiu quando
minhas mãos começaram a tremer, ansioso.

Outro gemido dela, me preocupou.

— Você não me parece bem. — Tentei tocar sua testa, mas ela se
afastou do meu toque.

— Mas eu vou ficar — suspirou, parecendo cansada —, agora pode


me deixar descansar?

Ignorei seu pedido, ela não me parece bem.

— Você não parece bem, me diga apenas o número da sua médica. Eu


mesmo ligo, para ela poder vir checar você.

Retirei às pressas o celular do bolso e a entreguei, mas ela nem sequer


ousou olhar para ele.

— Pegue, por favor. — Insistir.

Por minha causa ela acabou se machucando, se assustando pela forma


como eu havia invadido sua casa. A culpa me corroeu, logo agora que
finalmente consegui encontrar ela, acontece isso.

— Eu disse que não precisa, vou ficar bem quando você for embora.
— Seu tom frio e distante, não me impressionou.

Eu merecia mesmo esse tipo de tratamento vindo dela, mas meu filho
não tem culpa.

— Pense na criança, me sinto mal por ter assustado você. Não quero
que nada aconteça a ela.

Ela suspirou, mas ainda se recusava a me encarar.

— Onde o André está? Como conseguiu passar por ele?


O segurança.

— Gabriel resolveu tudo — menti — provavelmente amanhã ele fale


com você, mas por hoje… apenas ligue para a médica, você não está bem e
eu estou desesperado, por não saber o que fazer.

— Eu não posso. — Desviou o olhar novamente.

— Por que não? — Olhei para ela sem entender

— Por que eu não tenho.

Olhei atordoado, não tendo certeza se havia entendido corretamente.

— Não sabe o número dela? Apenas me diga onde ela trabalha, se for
o caso, eu mesmo ligo atrás dela.

— Não é isso.

— O que é então?

Sem jeito, ela se inclinou mais no colchão.

— Eu não tenho uma médica, tá legal? — bufa — agora por favor, dê


o fora daqui. Eu preciso descansar.

Cruzei os braços.

— Está me dizendo que você não está tendo acompanhamento pré-


natal? — me levantei às pressas, revoltado.

— Não estou, apenas faço meus exames por conta própria, já que eu
estava sempre me mudando com frequência.

A culpa me corroeu, junto com a lembrança da conversa de ontem


com meu irmão. Onde eles citavam o motivo dela ter fugido.

As ameaças.
— Entendo — abrir o aparelho e começo a procurar pelo contato do
médico da minha família, para examiná-la — Pronto, resolvido.

Mandei uma mensagem para ele, explicando a situação dela. Nosso


médico é rápido, eu havia deixado claro também sobre a gravidez e o tombo.
Em poucos instantes ele me responderia, com certeza.

— O que você fez? — se encolheu. — Onde o André está? Quero


falar com ele.

— Ele está lá fora, vigiando a porta. Não se preocupe. — Garantir, ao


me sentar na cama e alcançar sua mão.

Ela se afastou na hora, antes de se encolher.

— Vá embora por favor, deixa a gente em paz. — Pediu baixinho,


com voz de choro.

Lágrimas frescas brilharam em seus olhos, e me levantei às pressas,


me sentindo um lixo por isso.

— Eu não posso, não depois de ter deixado você assim com dor.
Deixe apenas que o médico chegue e eu prometo que vou deixar você
descansar.

Seu olhar encontrou o meu.

Lágrimas, eu nunca as tinha visto em seu rosto escorrem e saber que


eu era a causa, só piorava tudo. Eu ainda preciso conversar com ela,
esclarecer muitas coisas, implorar pelo seu perdão.

Mas apenas em saber que ela está mal assim por minha causa, me faz
querer agora apontar uma arma em minha cabeça e puxar o gatilho.

Agora, vendo-a assim de perto, eu entendo o porquê durante todos


esses meses eu não havia deixado sequer de sonhar com ela. Ela é linda, ficou
ainda mais linda grávida. Só de saber que é o meu bebê que ela carrega, meu
coração chega a ficar quentinho.

A vontade esmagadora de abraçá-la, aconchegar ela em meus braços,


aparando seu choro… ou até mesmo, alisando sua linda barriga arredondada,
sentindo os chutes do neném, me dominava junto com a preocupação.
Se o toque, o cheiro ou até mesmo a presença dele me incomodava,
não é nenhuma novidade. Mas está tão perto assim dele, e ver toda essa
preocupação em seus olhos, está acabando comigo.
Como ele pode ser tão falso assim?

O quê?

Será que ele está esperando o momento certo para se livrar de mim e
do Arthur? É bem provável!

Passei uma aflição absurda durante todos esses meses, sozinha. Não é
justo que acabasse logo assim. Todos os meus esforços para proteger o meu
filho dele foram em vão, já que ele está agora bem aqui, parado na minha
frente, com a autorização do Gabriel ainda.

Uma merda de influência que ele tem, já que na primeira


oportunidade, o que fez? Me entregou de bandeja para o irmão caçula.

Por mais que eu tentasse contar as lágrimas que ameaçavam escorrer


em meu rosto, eu não conseguia conter meu nervosismo. A pancada em
minhas costas ainda latejava, e minha preocupação maior é com meu filho.

Não, eu precisava agir. Não faço ideia de que tipo de médico ele
chamou aqui, pode até ser um mau caráter, capaz de prejudicar meu filho.

— Samuel? — O chamei.

Os olhos dele se arregalaram surpresos, já que tudo o que eu fiz até


agora foi ignorá-lo.

— O que foi? A dor piorou? — Arfei surpresa, quando se ajoelhou ao


meu lado — O que você tem?

Ele tinha os olhos verdes mais lindos do mundo.

— Hum, eu… — gaguejei —, estou com um pouco de sede, pode


buscar um copo d'água para mim, por favor?

Ele sorriu, antes de suspirar aliviado.


— Ah, é isso — segurou firme minha mão, e depositou um beijo
molhado em meus dedos, antes de se levantar — Um segundo, eu já volto.

Não tirei os olhos dele, nem por um segundo. Até que passou pela
porta do quarto.

Não esperei por mais, é a minha chance.

Corri para fora do quarto, indo na direção da porta da sala e a abrindo


brutalmente.

Meus joelhos quase fraquejaram quando eu dei de cara com André,


bem ali, parado me encarando.

— Você está bem?

— Me ajuda — Corri para os braços dele — Aquele homem está aí


dentro, liga agora para o Gabriel ou para a polícia, por favor, só tira ele daqui.

André me encostou na porta com rapidez e entrou com tudo dentro do


apartamento, enquanto outro segurança ficou parado ao meu lado,
informando algo no rádio a alguém.

Houve um tombo, e vários barulhos de coisas quebrando dentro do


lugar. Mas não ousei entrar e conferir. Um bipe soou e mais seguranças
entraram, permaneci quieta, tremendo encostada na parede, esperando que
esse pesadelo acabasse logo.

Os últimos dias têm sido tão difíceis para mim, que meu corpo está se
sobrecarregando de tanto estresse. Eu tinha medo, que tudo isso prejudicasse
meu filho, então tratei de tomar algumas respirações profundas tentando
acalmar.

Longos segundos se passaram, quando um gemido alto chamou minha


atenção. Meus pensamentos foram dirigidos no André, quando corri para
dentro. Não precisei dar muitos passos para que pudesse parar de onde estou,
vendo a cena acontecer bem diante dos meus olhos.

— Não! — Gritei desesperada, vendo o corpo do Samuel caído sobre


o chão, preso, enquanto o André partia para cima dele.

Ele parou no segundo em que me aproximei.

— Para, por favor. Vai matá-lo. — Ele me olhou.

— Ele entrou aqui para machucar você, me deixe acabar logo com
isso.

Rapidamente, fiquei entre ele e o corpo do Samuel, que agora tentava


ficar ajoelhado no chão, machucado.

— Não faça isso, por favor, ligue para que o Governador venha
buscar o irmão dele e só, apenas faça isso. — Pedi, nervosa.

A incerteza no olhar do André, me deu arrepios. E se eu não chegasse


a tempo, ele teria espancado o Samuel por minha causa, se eu não tivesse
invadido o apartamento.

— André, por favor — Toquei seu braço, vendo-o nervoso.

Ele olhou de volta para mim, antes de assentir e sair do apartamento


com o celular na mão. Com um aceno, outros seguranças fizeram o mesmo,
saindo todos do apartamento e me deixando sozinha no meio da sala, com um
homem ensanguentado.

O pior de tudo, é que não era qualquer homem. É um que quer me


machucar verdadeiramente.

E apesar de todas as ameaças e perseguições, só em estar perto dele,


eu me sinto bem.

Será que sou masoquista?

— Aí. — Samuel gemeu e eu estremeci quando me ajoelhei na frente


dele, segurando firme em seus ombros.

— Consegue levantar? Preciso que deite no sofá, para que eu cuide


desses ferimentos em seu rosto. Seu irmão vai me matar por isso.

Seu olho bom me encarou, enquanto gemia ao tentar mexer no outro.

— Acho que sim — gemeu — Você me salvou, aquele homem


acabaria comigo se você não tivesse chegado.

Fiquei aliviada que conforme ele falava, conseguiu ficar de pé e se


arrastar um pouco pela sala.

Não tinha jeito, ele cairia se eu não ajudasse.

E foi o que eu fiz, em dois tempos, eu já estava ao seu lado agarrando


sua cintura, conforme ele mancava até o sofá.

— Obrigado — Agradeceu, quando se aconchegou, ainda gemendo.

— Vou buscar algo para cuidar do seu rosto — lhe avaliei —, eu já


volto.

— Tudo bem.

E foi o que eu fiz, por sorte, eu carregava sempre um kit comigo, esse
kit eu tinha montado para cuidar do umbigo do Arthur quando nascesse. Isso
tudo graças às longas horas assistindo vídeos na Internet e pesquisando tudo
sobre cuidados com um recém-nascido em casa.

Já que eu tinha medo de começar o pré-natal em algum hospital e


alguém acabasse descobrindo onde eu estava, através do registro.

Precaução nunca foi demais.

Peguei o pequeno kit e me sentei ao lado dele, hesitante.

Nem em milhões de anos me imaginaria estar aqui, cuidando dele,


logo dele.

— Cuidado, pode arder um pouco. — Pressionei com força em sua


ferida, o algodão molhado com álcool 70 para limpar.

— Ai, ai, isso dói. — Resmungou um pouco, enquanto eu limpava


suas feridas.

Ele se contorcia toda vez que eu pedia que ele virasse um pouco mais
o rosto. Afinal eu não sabia se além dos machucados, André pudesse ter
quebrado algum osso dele.

— Mais cedo — comecei, quando ele virou o rosto em minha direção,


me obrigando a lhe encarar. — Você chamou mesmo um médico?

Seus olhos encontraram os meus, me deixando incomodada com a


situação.

— Eu não ia mentir pra você, estou esperando o médico da minha


família me responder. Não trarei um médico qualquer para cuidar de vocês
dois.

Engoli em seco.

— Eu não sabia que o André iria fazer uma coisa assim com você —
me levanto — Peço desculpas por isso, não foi culpa dele. Ele só estava
cumprindo ordens para me proteger… de você. Por favor, não faça nada
contra ele.
Me afastei ainda mais.

— Bruna? — me chamou

Não ousei lhe olhar

— Você vai ficar bem, quando o médico chegar, peça então que
examine você, e então vá embora por favor. Eu estou bem, foi apenas um
susto e eu preciso descansar. Vou ficar deitada em meu quarto um tempo,
passar bem Samuel.

Virei o corredor o mais depressa que pude, mas não rápido o


suficiente para que ele não pudesse me alcançar.

Mal tive tempo de fechar a porta do quarto, quando ele me agarrou


para dentro, me prendendo contra a parede antes de fechar a porta com nós
dois dentro.

Tentei afastar ele, mas foi em vão, ele havia me imobilizado inteira,
com exceção apenas da minha barriga.

Será que é agora que ele vai fazer mal a mim e ao Arthur?

Será que é agora que ele vai cumprir as ameaças?

— Por favor, não. — Implorei, pensando no meu filho.

— Você precisa me escutar, antes que seja tarde. Eu não sou o


mandante das ameaças que você vem recebendo. Você precisa acreditar em
mim!

Olhei em seus olhos.

— Precisa sentar comigo e conversar, mas antes de tudo, precisa


acreditar em mim e me permitir cuidar de você — me assustei quando sua
mão tocou levemente minha barriga, os olhos dele brilharam de emoção —,
de vocês. Nossa — fungou — Me dá uma chance. Me permita fazer isso, pela
criança, por você... por nós.

Eu não sabia o que dizer, pela primeira vez cá estava eu, muda e
dividida.

— Eu…

— Só me deixa cuidar disso, por favor. Por tudo o que a gente não
conseguiu viver. É o meu dever e obrigação cuidar de vocês dois.

— É um pouco tarde para isso, não acha? — o questionei.

— Não, não é. Eu acabei de descobrir que você fugiu por minha causa
e que meu filho está vivo. Me deixa provar isso a vocês.

— Não agiu assim a 6 meses atrás, quando mandou através daquela


garota, um envelope cheio de dinheiro pedindo que eu retirasse a criança. O
que mudou? O fato de todo mundo agora saber do seu "erro”? É isso? Pois se
for, aprenda a lidar com ele, porque quero você longe da gente. Duvido muito
que seu irmão tenha dado permissão para você está aqui, argiloso do jeito que
você é, tá aqui para que? Pretende mandar esse médico me examinar e o quê?
Manda-o envenenar a mim e ao meu filho? Não, obrigada.

Incrédulo, ele me soltou, cambaleou e parou, me olhando indignado.

— Eu jamais faria uma coisa dessas com você.

— Sabe que eu não acredito, né? — lhe enfrentei.

— Como pode acreditar que eu faria mal a uma criança?

— Você já faz mal a ele só por estar aqui. No momento em que você
colocou os pés dentro desse apartamento só tem me feito mal. Não percebe
isso?
— Eu precisava ver você.

— Ótimo, já me viu. Satisfeito?

Ele negou com a cabeça.

— Você pode dizer o que quiser, me xingar até, mas eu não vou sair
daqui. Pelo menos, não enquanto você não me escutar e acreditar em mim.
Vou provar pra você que não sou mais o moleque que você conheceu a oito
meses atrás e eu vou conseguir conquistar sua confiança de novo.

— Você nunca a teve.

Ele avançou, parou apenas alguns centímetros de mim.

— Tive, não passaria aquela noite comigo se não confiasse em mim.

Revirei os olhos.

— Naquela época eu passaria a noite com qualquer um, para que eu


pudesse conseguir o que quisesse. Com você não foi diferente. — Lhe
enfrentei, trêmula.

— Isso, continue enganando a si mesma.

— Enganando a mim mesma? Não, Só estou dizendo a verdade, não é


o primeiro idiota com quem eu durmo, e nem o último. Então, segue o baile.
Me deixa em paz. — Apesar de ter dito essas palavras com desprezo para
ele, meu coração só faltava sair pela boca só por ele estar tão perto assim de
mim.

— Mentirosa. — Sorriu. Me deixando completamente desnorteada.

— O quê?

— Isso mesmo, mentirosa. Você diz uma coisa, mas seu corpo diz
outra.

— Meu corpo?

Ele assentiu ainda com um sorriso enorme no rosto.

— Sim, seu corpo. — Me assustei quando ele agarrou meu corpo e


puxou para ele — até brava você é linda.

Como ele ousa?

— Me solta agora!
"Me solta agora!"

Eu não ia conseguir soltar agora que eu a tinha, segurei firme em seu


pescoço e a tomei para mim. Beijando a boca carnuda dela, em meio aos
protestos e tapas. Agora eu não podia parar e nem conseguiria se quisesse.

O cheiro da Bruna, a suavidade de sua pele, o gosto dela, essa boca


carnuda deliciosa… não, eu não podia parar agora.
Ela começou a corresponder quando percebeu que eu não cederia,
nunca. O beijo ficou mais gostoso, minhas mãos desceram até a alça da sua
camisola e abaixou ela até que escorregasse pelo seu corpo e se amontoava
no chão.

O calor de sua pele nua me deixou completamente louco para me


afastar de sua boca e a admirar, mas eu sabia que se fizesse isso, ela poderia
ter a chance de recuperar o juízo e me rejeitar.

A cama ficava a três passos à sua direita, e foi para lá que a levei,
ainda lhe beijando. Mordi seus lábios, quando ela se agarrou em meu pescoço
e roçou o corpo delicioso dela, em mim.

Meu pau duro encostou em sua barriga, me lembrando de que o


contrário da última vez, em que a peguei com força. Dessa vez, eu precisava
ter cuidado com a criança.

Me afastei de sua boca, ofegante, apenas para segurar firme em suas


duas coxas e a suspender. Ela abraçou meu pescoço rapidamente enquanto eu
a deitava na cama.

Seus olhos brilharam de tesão quando me olhou.

Desci a mão até sua calcinha e me surpreendi não a encontrando lá.

Meus olhos se arregalaram no mesmo instante.

Ela estava sem calcinha esse tempo todo? Bom, ela me explicaria essa
história depois, agora… eu precisava domar a fera.

Sua boceta vibrou quando a toquei, meus dedos não foram nada gentis
quando encontraram umidade na minha parte favorita do seu corpo.

Olhei em seus olhos, conforme meus dedos brincavam com a entrada


em sua boceta, incertos se entravam ou não de vez.

A resposta veio em seguida quando ela gemeu, soltei às pressas seus


braços e desci sobre o corpo dela. Não deixando de admirar a barriga linda
que meu filho havia feito.

Abaixei ainda mais, encarando sua boceta de frente, faminto. Dessa


vez, um pouco diferente, um pouco mais inchada do que antes, e a visão dela
assim por causa do meu filho, fez meu pau doer.

Grande, que delícia.

Abaixei a cabeça, louco de vontade de sentir o sabor da sua boceta em


minha boca. Passei meses na base da punheta com a imagem dela. Agora era
o momento de aproveitar.

— Ah. — gritou quando a chupei com mais força. A vontade em que


eu TINHA era de engolir ela inteira, com uma boceta gostosa assim.

Automaticamente ela agarrou meus cabelos, tentando afastar meu


rosto, mas ignorei, é a primeira vez que sua boceta estava em minha boca, eu
precisava aproveitar o máximo até sentir ela gozar, e foi o que ela fez. Gozou,
gozou bem gostoso na minha boca.

Levantei apenas para olhar como ela estava linda, ofegante e


vermelha depois de ter gozado.

Meu olhar recaiu em seus seios, subindo e descendo, cheios.

Minha boca encheu d'água, abaixei a cabeça sobre um deles e chupei


seu bico devagar, imaginando o quão sensível deva estar.

Seus gemidos haviam voltado, e para minha felicidade, sua mão


começou a buscar desesperadamente pelo meu pau dentro da calça.
Me inclinei apenas para que pudesse ajudar ela. Ela lambeu os lábios
quando ele saltou para fora, cheio e pulsante. Apontando para sua boceta.

Olhei para ela em busca de permissão, mas não precisou de muita,


quando ela mesma os alinhou juntos.

Cuspi na sua boceta apenas para que facilitasse a entrada, já que


molhada ela já está.

— Isso… — manhosa, começou a esfregar a boceta em meu pau.

Não esperei por mais, e entrei nela, cheio de tesão e desejo. Dessa vez
foi mais fácil do que a última, então eu pude ficar bem mais relaxado e meter
bem gostoso dessa vez.

Por mais que eu tentasse me controlar, estava ficando cada vez mais
difícil, com a boceta dela super molhada, me tomando inteiro com seus
gemidos.

Agarrei firme cada uma de suas coxas e as abri mais, entrando todo e
lhe fodendo com força.

Os olhos da Bruna reviraram e eu sei que estou no caminho certo.


Levei meus dedos até minha boca, os lubrificando e em seguida os levei até
seu clitóris, esfregando com força.

Bruna gozou forte em meu pau, enquanto eu ainda lhe comia sem
parar.

Afastei os dedos do seu clitóris, para bombear meu pau com força em
sua boceta, louco por gozar.

Um estrondo na porta acabou nos assustando.

Por instinto eu saí de dentro dela rapidamente e me coloquei em sua


frente, disposto a tudo para protegê-la.

Ninguém machucaria ela, sem passar por mim.

Olhei para a porta, vendo-a ser arrombado e meu irmão passar por ela
ao lado de mais seguranças.

Respirei aliviado, notando que era apenas ele.

Me assustei quando ele veio até mim e socou o meu rosto, parando
bem na minha frente, com raiva.

Senti quando o lençol da cama foi puxado atrás de mim.

— Seu desgraçado! — esbravejou Gabriel.

Toquei meu maxilar latejando, antes de olhar para ele.

— Vista uma roupa agora, vamos embora daqui antes que eu mate
você!

Engoli em seco.

Olhei para trás apenas para me certificar de que ela estaria bem, mas
ao ver seu corpo coberto com lençol, fiquei mais tranquilo e aliviado por
nenhum deles a ver.

—Você me ouviu? — O grito do meu irmão me deixou alarmado.

— O que você pensa que está fazendo? — rosnei.

Ele não respondeu, agarrou o resto das minhas roupas e as entregou a


mim.

— Não me obrigue a matar você — torceu a boca em desgosto — Sai


agora de perto dela, ou eu vou esquecer que é meu irmão.

— Gabriel, eu…
— Governador! Para você agora é só governador! Estou mandando
você sair de perto dela, Samuel.

Me assustei quando dois seguranças apontaram sua arma em minha


direção. Meu coração errou uma batida quando um deles mirou nela, atrás de
mim.

Eu não sabia que diabos estava acontecendo, mas estava disposto a


fazer o que ele estava exigindo.

— Gabriel, manda abaixar isso...

Ele negou.

— Sai de perto dela agora, ou eu mando atirar em você.

— Ela está grávida, porra! — gritei.

— Eu mandei você sair! — gritou de volta.

Agarrei minhas roupas com raiva e as vesti aqui mesmo, sem deixar
de encarar meu irmão. Eu não fazia ideia de que inferno ele estava fazendo,
mas que isso não ficaria barato.

— Pode entrar. — Ele gritou a alguém quando eu terminei de me


vestir por completo.

Fiquei aliviado quando Monique entrou feito bala para dentro do


quarto e abraçou o corpo da Bruna na cama.

Meu irmão fez sinal para fora do quarto e eu o segui. Para minha
surpresa, quando mal havia chegado à sala, ele me empurrou novamente

Dessa vez, tentei revidar, mas um segurança se pôs em sua frente.

— Que inferno está acontecendo aqui, Gabriel? — lhe encarei


furioso.

— Me diz você. O que tem na cabeça de invadir a casa dela? Tem


noção da merda que fez? Ela está grávida e com medo de você, porra!

— Não tem motivo algum para ela ter medo de mim, eu já expliquei,
eu não sou o responsável pelas ameaças.

— Até que eu investigue toda essa história, quero você longe dela! —
Ordenou.

— Você não pode fazer isso! — digo, decidido.

— Posso e vou. Afinal — se aproximou com raiva — Que merda é


essa que você acabou de fazer? Tá maluco? Quer que ela denuncie você por
agressão ou estupro? Ela está grávida de um filho seu!

Meu irmão parecia distorcer tudo.

— Que estupro, tá maluco? — Meu sangue já estava fervendo —


Quem você pensa que é, para está me acusando assim? Porra, você não tem o
direito Gabriel de se meter na minha vida pessoal com ela outra vez, ouviu
bem?

— Tenho e vou! Esse é meu último aviso. Fique longe dela, Samuel.

Isso não ia ficar assim.

— Faça o que quiser, eu não me importo. Eu não vou sair do lado


dela, nem por você, nem por ninguém aqui. — Bati o pé.
Não consegui pensar em mais nada quando ele me tocou. Mas não foi
só isso, eu me sentia viva, desejada… a voracidade em que ele me devorava
estava me devolvendo o pouco do que eu não sentia a muito tempo.

Desejada.
Apesar de Samuel estar fodendo com meu corpo, seus olhos
transmitiam outra coisa, muito além de todo esse tesão momentâneo. Eu me
agarrei nele, como se estivesse me agarrando à vida.

O toque, os beijos… e todo o prazer.

Mas foi apenas eu fechar os olhos por dois segundos, e tudo acabou.

Me assustei quando a porta do quarto foi quebrada e alguns


seguranças entraram no quarto com Gabriel à frente deles.

Para minha sorte, Samuel saiu de mim e se posicionou a minha frente,


impedindo-os de me ver. Seu gesto era doce, mas eu não podia contar com
isso.

Puxei o lençol às pressas e cobri meu corpo, enquanto tentava


entender o que estava acontecendo.

Provavelmente André havia conseguido entrar em contato com


Gabriel e pela raiva estampada em seu rosto, eu não queria estar na pele do
Samuel agora.

Pra minha sorte, eles saíram do quarto assim que minha amiga entrou.

— Você está bem? O que ele fez com você?

Dei uma última olhada para a porta antes de responder.

— Ele invadiu o apartamento, eu fiquei um pouco assustada, mas o


André resolveu tudo.

— Resolveu? Que merda é essa — ela apontou para meu corpo — ele
te forçou?

Cobri a boca dela com as duas mãos.


— Não, ele não me obrigou, tá legal?

Eu não estava mais disposta a entrar nesses detalhes íntimos com


minha amiga. Talvez ela não entendesse as necessidades de uma grávida e
acabaria entendendo tudo errado.

— Como deixar pra lá? Você acha que eu vou permitir que ele chegue
perto de você, depois dessa? — nervosa, ela se levantou. Segurei sua mão
para impedi-la.

— Ei, ele não me forçou, eu já disse, é sério. Só aconteceu.

— Ata, vou fingir que acredito. Ele tá muito diferente, Gabriel não
tem certeza ainda, mas ele acredita que não é ele que está fazendo ameaças a
você. Tem alguém por trás disso, a gente tem quase certeza. Mas é difícil
quando Samuel age irracionalmente desse jeito, isso acaba deixando a gente
confuso e te colocando em perigo de qualquer jeito.

Olhei para ela.

— Você acha mesmo isso?

— Que ele te põe em perigo? Com certeza!

— Não, a outra coisa. Sobre ele não ter nada a ver com as ameaças.
Acha mesmo que não é ele?

— Acho, Gabriel mandou mensagem para Mia, ele não gostou nada
de saber do envolvimento dela nisso tudo. O depoimento dela vai ser
fundamental para que a gente chegue a algum lugar ou encontre alguma pista.
Mas Gabriel insiste em defender o irmão, ele não acha que o irmão faria uma
coisa assim.

Respirei fundo.
— Eu o entendo — olhei para ela — Eu faria qualquer coisa para
defender você.

Me abraçou.

— Eu não tenho dúvidas disso. Obrigada.

Meu olhar recai sobre a porta, com medo.

A forma como Gabriel havia obrigado ele a sair, me preocupou.

Afastei os braços da minha amiga e vesti meu pijama novamente. Não


pensando duas vezes antes de ir atrás do Samuel. Monique pareceu entender
o que eu queria fazer e se posicionou ao meu lado.

Os gritos do Gabriel davam para ser ouvidos até mesmo do corredor,


apressei o passo encontrando ambos cara a cara, prestes a brigar feio.

— Atrapalho? — Limpo a garganta.

Eles olham para mim no mesmo instante e se afastam, Gabriel se


senta em um dos sofás, enquanto Samuel caminha até mim, aparentemente
preocupado, com um machucado no rosto.

Sua mão foi até minha barriga, fazendo carinho nela.

— Você está bem? Desculpe pela gritaria, meu irmão só está tentando
proteger você, de mim, aparentemente. — Ele depositou um beijo suave em
minha testa — A gente já está acabando, eu vou deixar você descansar.

Se afastou rapidamente.

— Não se preocupe, meu irmão vai continuar protegendo você —


continuou — Vou deixar meu número anotado bem ali — apontou para a
mesinha de centro — Se precisar de mim ou precisar de alguma coisa, não
hesite em me ligar, pode me prometer isso?
Olhei bem no fundo dos seus olhos, quando falei:

— Não vá.

Seus olhos se arregalaram com o que eu tinha acabado de lhe pedir.


As palavras da Monique gritando em minha cabeça e com seu olhar que me
dizia o tempo inteiro: acredite em mim.

Eu realmente quero acreditar, ele teve a chance de me machucar, mas


preferiu fazer amor comigo ao invés disso. Havia tantas coisas para
conversarmos.

— O quê? — perguntou, pasmo.

Pela reação dele, nem ele esperava por isso, nem eu mesmo esperava
isso de mim, na verdade.

— Fique, fique aqui. — Ele sorriu antes de segurar meus ombros e


beijar minha boca, antes de se afastar, sorrindo.

— Fico sim — Assentiu —, fico pelo tempo que quiser.

Mordi os lábios, quando discretamente sua mão foi até minha bunda e
apertou com gosto.

— Aí — sussurrei baixinho e ele riu ainda mais.

— Hum, acho que estamos indo… — a voz da minha amiga estava


próxima.

Me afastei dos braços do Samuel e olhei para minha amiga que já


estava puxando o marido e o levando para fora do apartamento.

Gabriel tentou protestar, olhando torto para o irmão.

— Já? — Olhei para ela, que jogou uma piscadela para mim.
— A gente se fala amanhã, é melhor. Hoje estamos todos cansados e
vocês precisam conversar

Concordo.

Gabriel fez cara feia, mas acabou saindo do apartamento contra


vontade, levando com ele todos os seguranças. Deixando nós dois sozinhos
de novo.

Samuel mal esperou a porta ser trancada, quando me pegou no colo e


me deitou no sofá, com ele por cima de mim, tomando cuidado para não
esmagar minha barriga. Ele rasgou minha nova camisola em mil pedacinhos,
antes de me pegar.

— Samuel…— chamei, mas ele não respondeu, estava ocupado


demais com a boca cheia, em meus peitos.

Mordi os lábios, segurando um gemido com as sucções fortes que ele


dava.

Me assustei, quando cheia de tesão ele se afastou, apenas para tirar


toda sua roupa bem na minha frente.

Quando ele terminou de tirar tudo, e eu babar no corpo dele, me


puxou às pressas e me colocou de 4, inclinada no encosto do sofá, enquanto
se ajoelhava atrás de mim e me chupava.

Eu sabia que com a fome que ele está agora, essa noite eu não
dormiria.
Um toque suave em meus ombros me fez abrir os olhos bem devagar.

As lembranças da noite de ontem invadiram minha mente assim que


eu acordei, e me lembrei de quem é a mão que estava agora descendo sobre o
meu corpo e parando somente quando encontrou minha boceta nua.
Arfei alto quando seus dedos começaram a brincar em meu clitóris,
arrancando de mim mais suspiros, gemidos, enquanto ficava ainda mais
gostoso.

— Ah, Samuel. — Gemi segurando seu braço, mas ele não parou
quando supliquei, pressionou com mais rapidez ainda.

Sua boca alcançou o nódulo da minha orelha, chupando-o. Me


provocando.

Meu peito começou a acelerar conforme eu me aproximava do


clímax.

Samuel não me poupou esforços quando agarrou minha coxa e a


suspendeu, deixando nossos quadris alinhados.

A cabeça de seu pau pressionou minha entrada, e eu choraminguei,


pronta para gozar.

Mas ele não entrou em mim.

Seus dedos continuavam a me tocar, enquanto eu me contorcia em


seus braços. Ele mordiscou meu pescoço, enquanto esfregava a cabeça do pau
em minha entrada, molhada.

Minha mão livre foi até o seu cabelo, puxando-o, quando um calor
subiu pelo meu corpo no momento em que consegui gozar. Samuel ainda me
tocava, mas não demorou muito para que seus dedos fossem substituídos pelo
pau, quando ele entrou em mim, devagarinho.

Samuel segurou meu rosto, forçando-me a olhar em seus olhos


enquanto entrava e saia de mim, lentamente.

O brilho em seus olhos dizia coisas que eu não queria ouvir.


Eu sei que no momento em que toda essa nuvem de prazer acabasse,
muitas coisas precisariam ser ditas e explicadas. Enquanto alcancei sua boca
e aproveitei esse momento juntos, não sabendo por quanto tempo duraria.

Suor escorria pelo seu corpo quando ele levantou e me estendeu a


mão. A essa hora, o quarto estava totalmente claro com a luz do dia, e agora
eu pude ver melhor seu corpo nu.

Engoli em seco quando meus olhos fixaram em uma determinada


parte do seu corpo, me deixando ainda mais constrangida.

Não acredito que coube isso tudo dentro de mim.

O som da risada dele chamou minha atenção, morri de vergonha


quando lhe olhei e ele já estava ali me encarando descaradamente, me
pegando no flagra admirando o corpo dele. E que corpo viu meus amigos,
que corpo.

Ele parecia não ter problemas com sua nudez, e não era para ter
mesmo, o contrário, ele parecia sentir até orgulho já que colocou as mãos
sobre a cintura e estufou o peito ao me encarar

— Gostando do que ver?

Puxei ainda mais os lençóis sobre o meu corpo, e então sorri.


— Não muito, já vi melhores. — O sorriso em seu rosto morreu,
dando lugar a uma careta, ofendida.

— Pois saiba, que a senhorita está magoando meus sentimentos


assim.

Fingiu drama.

— Ah, eu não sabia — Sorri divertida —, perdão.

Ele sorriu de volta e me estendeu a mão.

— Agora, vem.

Hesitei, antes de aceitar.

— Para onde?

Ele me olhou como se eu fosse idiota.

— Banho, satisfeita? — Assenti — Ótimo, agora vem, temos que nos


lavar, você precisa comer antes que a gente tenha uma conversa de verdade.

Engoli em seco, sentindo um friozinho na barriga só pela menção.

Mas é verdade, com tudo o que aconteceu nas últimas horas, eu havia
esquecido desse assunto. Ainda tínhamos muito o que conversar antes de
mais nada. E esclarecer muitas coisas.

Me levantei da cama ainda com o lençol no corpo e o segui até o


banheiro.

— Tem razão.

Ele sorriu quando tirou do meu corpo o lençol e me abraçou por trás,
de frente ao espelho. Olhando juntos o reflexo um do outro, sua mão
delicadamente envolveu minha barriga, e um nó ficou preso em minha
garganta.

— Ainda estou tentando entender tudo o que está acontecendo, mas


antes de mais nada, quero que saiba que essa criança — alisou minha barriga
— É a melhor coisa que eu fiz nessa vida. A segunda melhor, foi ter
sequestrado você no meio da rua.

Engoli em seco.

— Não diga isso.

Nossos olhares se encontraram no espelho e ficou difícil segurar a


emoção. Meus dedos foram até os seus, e segurei firme em sua mão.

Ficamos assim por alguns segundos.

Samuel segurou meus ombros e me virou para encará-lo, ele


aproximou nossos rostos antes dos seus lábios ir de encontro aos meus em um
beijo terno e carinhoso.

Terminei nosso beijo rapidamente ao me afastar dele. Samuel me


encarava com ternura.

— Me deixe ficar aqui, com vocês. — Sua mão voltou para minha
barriga.

Eu precisava ser racional, antes de responder. Eu sabia que podia está


nos colocando em risco com ele aqui, ainda sim, eu quero muito que ele
fique.

Para minha sorte, meu estômago roncou, me salvando de uma


resposta momentânea na qual eu provavelmente me arrependeria depois.

— Com fome? — sorriu.

Assenti, envergonhada.
— Muita fome! — Segurei uma risada quando meu estômago roncou
de novo.

— Tudo bem — completou —, preciso cuidar bem de você, isso


inclui uma boa alimentação — sua outra mão foi até minha bunda e apertou
— E banhos demorados.

Ele se aproximou para me dar outro beijo, mas mordi seus lábios com
força, fazendo-o gemer e se afastar.

— Eu já entendi, comida primeiro. — Segurou meus ombros firme e


caminhamos juntos até o box.

Pra minha sorte, ele se comportou.

Nosso banho foi rápido, breve e preciso. Eu já havia passado da hora


de comer, isso já me deixava com um mal humor terrível. Samuel parece ter
percebido isso rapidamente, já que acabou se vestindo até mais rápido do que
eu.

Quando prontos, ele abriu a porta do quarto e saímos juntos na


direção da cozinha. O cheiro de café fresco invadiu o lugar.

Paramos juntos no vão da porta da sala de jantar, quando Samuel


agarrou meu braço e me puxou para trás, quando demos de cara com André
apenas usando seus jeans, sem camisa, colocando a mesa do café com dois
lugares apenas.

— Ei!!! — protestei, focada apenas no café.

— O que seu segurança faz aqui? Principalmente vestido assim.

Me assustei com a expressão que o Samuel fez no rosto.

André olhou para o próprio peito, antes de me encarar, ignorando


completamente a presença do Samuel na sala de jantar.

— Nosso café está pronto, Bruninha. Sente-se.

Tentei passar pelo Samuel, mas foi em vão.

— Bruninha? — Me olhou com raiva — É assim que ele te chama?

— Ele é meu segurança, não tem problema, eu odeio formalidades


mesmo. — Dei de ombros.

Samuel me olhou incrédulo.

— Seu segurança faz café pra você, sem camisa — engasgou —, e


ainda te chama de Bruninha?

Pelo tom eu sabia que ele estava irritado, mas eu não podia fazer
nada.

— Ele é meu amigo, ele cuida de mim, já que eu não sei fritar um
ovo. — André tenta puxar a cadeira para mim, mais Samuel é mais rápido e
acaba puxa primeiro para mim sentar. — Obrigada, hum que delicia

André se sentou ao meu lado, me surpreendendo.

— Desculpe pela minha falta de modos, acabei derrubando café na


camisa, e ainda não tive tempo de trocar. Posso fazer isso assim que você
terminar e me liberar.

Olhei para ele, ignorando os bufões do Samuel atrás de mim.

— Está tudo bem, você só está aqui para me proteger.

— Mas não precisamos mais dos seus serviços — disse Samuel ao


meu lado, ao arrastar uma cadeira — Eu mesmo posso proteger a minha
mulher.
Os dois se entreolharam.

— Você? — André se levanta — Ao menos sabe de quem a estamos


protegendo? — era claro seu tom de ironia.

Eu precisava dar um jeito e resolver isso.

— Qual é gente, isso no café da manhã? — Fiquei entre eles,


empurrando ambos.

André olhou intensamente para mim, antes de assentir.

— Desculpa por isso — pegou o guardanapo da mesa e o jogou no


ombro — Vou deixar vocês dois mais à vontade.

Fiquei surpresa pela atitude do André, eu não esperava isso.

— André, não faz isso... — O chamei, mas ele ignorou.

Samuel logo me puxou para ele, me impedindo de ir atrás do André.

— Ei, ele vai ficar bem, ele é só um segurança.

Me afastei dos braços do Samuel, incrédula com a atitude do André.


Eu sei que seu trabalho é me proteger, mas isso estava muito além do que eu
imaginava.

Eu detesto estar no meio de uma situação assim. Eu podia claramente


entender a preocupação do André, até porque, até ontem era exatamente do
Samuel de quem o André tinha que me proteger.
Pela primeira vez depois de muito tempo, eu finalmente pude passar o
tempo que sempre desejei ter com ela. Meu filho(a) é apenas um grande
bônus, já que eu a queria muito antes de saber da existência dele, e agora que
eu sei, não vou mais deixá-la escapar.
Ao contrário da nossa primeira noite juntos, em que ela correu para
longe de mim na manhã seguinte. Essa, ela não estava apenas ao meu lado,
como estávamos praticamente fundidos um no outro.

Tudo na Bruna me atrai, o jeito dela, o cabelo escuro e comprido, a


boca carnuda, o olhar doce — apesar de ela não ser — e a força dela.

E dá de cara logo pela manhã com seu guarda-costas sem camisa na


sala de jantar, preparando o café dela, me deixou puto. Não posso acreditar
que foi meu próprio irmão que o colocou para protegê-la, e principalmente
pela intimidade em que se tratavam.

Ela não sabe cozinhar? Tudo bem, cozinho eu então, mas aquele
homem não entra mais aqui.

Mas isso nem que a vaca tussa.

Estava tão perdido em pensamentos que não notei quando, de


mansinho, Bruna entrou no quarto e sentou na cama olhando diretamente
para mim.

— Está se sentindo bem? — Me ajoelhei à sua frente e toquei


levemente seu rosto.

Ela apenas assentiu.

— Precisamos conversar.

Assenti, nervoso.

Eu sabia que era uma questão de tempo para que ela iniciasse o
assunto. Minha única preocupação no momento era arrumar um jeito em que
eu pudesse prová-la que estou falando a verdade, referente ao que aconteceu
com ela, principalmente as ameaças.
Mas não podíamos adiar algo assim, mesmo que eu não estivesse
preparado. Principalmente depois de ter visto a quão íntima ela é do guarda-
costas.

— Tem certeza? — a analisei — Não quer descansar um pouco?


Você mal tocou no café.

Ela bufou.

— Não tem nem como, né Samuel? Depois da tua implicância com o


André, aí fica difícil.

— Me desculpe, eu só não estava preparado para ver aquilo. — Me


apressei em dizer, preocupado com ela.

— O André sem camisa? — Fiz que sim e ela estalou a língua no céu
da boca — Eu nem reparei, que besteira. Estava mais focada no que ele tinha
colocado na mesa de jantar, no que no peitoral musculoso dele e na barriga
sarada. — Vi quando ela mordeu os lábios tentando esconder o sorriso —
estava muito ocupada, para notar esse tipo de coisa e eu nem gostei muito da
tatuagem dele abaixo do umbigo. Era algo com chifres, talvez um touro ou
um demônio, não sei, afinal quem liga?

Me levantei às pressas e ela me segurou rapidamente pelo braço.

— Estou brincando, seu bolo — virei a cabeça, ignorando-a — Não


fica assim, vai, eu estou brincando, ele não tem tatuagem.

A agarrei pela cintura e a coloquei entre mim e a parede.

— Bruna… — era um aviso, eu não responderia por mim.

Estou a ponto de ligar para o Gabriel e exigir um guarda-costas


mulher, afinal, esse André não podia mais ficar aqui.
— Aí — gemeu baixinho, mordendo os lábios — Foi apenas uma
brincadeirinha, tá legal? Eu vi que você não gostou dele aqui, mas acredite,
ele é bem legal e me trata como uma irmã. — As mãos dela foram até meu
rosto — Ele só está aqui para me proteger, está bem? Mas muito em breve
isso vai mudar.

Olhei para ela com atenção, tentando entender o que ela queria
insinuar.

— Ele será dispensado quando nosso filho nascer? — por mais que eu
tentasse contar, ficou claro a animação em minha voz.

— Não, ele deixará apenas de ser meu guarda-costas. A prioridade


dele será apenas o Arthur.

Arthur? Esse é o nome do nosso filho.

— Arthur? — Olhei para a barriga dela — Por que demorou tanto


para me contar? — me ajoelhei à sua frente, tentando sentir toda a
circunferência de sua barriga.

O Arthur pareceu sentir, pois chutou em seguida, me deixando ainda


mais emocionado.

— Meu menino… — chorei, não fazendo questão alguma de esconder


o que eu sinto.

Emoção é a palavra.

A meses atras eu havia feito a pior coisa que um ser humano poderia
fazer, e me pergunto até hoje, como eu tive a coragem de rejeitá-lo.

Depois que a Bruna foi embora durante todos esses meses, não houve
um só dia em que eu não me arrependesse do que havia feito, eu me senti um
monstro, um bicho, por ter rejeitado o meu filho.

Os dedos da Bruna enroscaram em meu cabelo, enquanto eu chorava.

Eu não merecia, eu não os merecia.

Era tudo demais para mim, tudo havia acontecido tão de repente que
eu mal tive tempo de assimilar tudo. Estava tão vazio por dentro que só em
saber que ela estava de volta e com meu filho vivo, em seu ventre, que eu
fiquei completamente louco e corri para cá, para eles.

Fiz por instinto, e não me arrependo.

A missão agora é conseguir o perdão da mulher que eu amo e


construir tudo do zero, agora com meu filho, que nasceria muito em breve.

Quando eu percebi que já estava mais calmo, me levantei a


abraçando. Ela não reclamou quando sentei na poltrona do quarto e a
coloquei sentada em meu colo.

Ela me olhava com atenção, enquanto limpava minhas lágrimas, então


comecei:

— Eu admito que eu fui um crápula com você no início, e eu juro


pelo o que a de mais sagrado em minha vida, que apesar de ter sido um
canalha, eu nunca tentei nada contra você ou meu filho — nervoso, retirei sua
mão do meu rosto e a coloquei em meu peito, ela precisava sentir que eu
estou sendo sincero, ela precisa acreditar em mim — Meu irmão e minha
cunhada me contaram tudo, sobre você, principalmente as ameaças e eu juro
Bruna, eu não tenho nada a ver com isso. Ao contrário, paguei gente para ir
atrás de você. A Mia é testemunha.

Sem que eu esperasse, ela puxou sua mão do meu peito rapidamente.
— Mia? — ficou pálida — O que ela tem a ver com isso? — ela
tentou sair do meu colo, mas não a deixei, segurei ainda mais firme.

Assentir.

— Sim, a Mia me ajudou a te procurar, ela inclusive me apresentou ao


Enzo. Ele é quem financia as campanhas do Gabriel, prometi ajudar o Enzo
com o Gabriel se ele me ajudasse a procurar por você.

Agora ela já não estava mais pálida, estava gelada também.

— Bruna? Você está bem? — a carreguei até a cama.

Ela me olhou confusa.

— Eu fui até sua casa a alguns meses atrás.

Essa informação me surpreendeu, desde que a meses atrás, eu a


procurava.

— A minha casa? — me sentei ao seu lado, preocupado.

— Sim, isso mesmo, Mia estava lá e seus seguranças também.

Olhei para ela com atenção, procurando entender tudo o que estava
dizendo, mesmo não fazendo sentido algum a mim.

— Tem certeza?

— Sim — afirmou com veemência —, nós duas ainda saímos no tapa


e seu segurança me ajudou a sair de lá.

— Que segurança? — Um sentimento ruim me invadiu.

— Eu não sou muito boa com nomes, mas eu lembro dele, ele
trabalha com o Kleber. Foi ele que me salvou ao me empurrar com tudo
dentro daquele táxi.
Táxi?

— O quê? — eu já estava começando a ficar alterado — que história


é essa, Bruna?

— Você não sabe? — sua cor havia melhorado, mas ela ainda estava
pasma — Seu segurança me salvou depois da Mia ter gritado para alguns
deles me pegar.

Eu estava escutando cada palavra da Bruna com atenção, tentando me


lembrar de algum momento em que as informações batem, mas quando
mencionou o segurança do Kleber, eu lembrei.

Na época havia uma marca de bala no muro de entrada da minha casa,


ao questionar, me informaram que foi um tiro acidental com uma das armas
dos seguranças e só.

O fato de nenhum deles ter mencionado isso a mim, me deixou


furioso.

Bruna havia sido atacada, por ordens da Mia?

Olhei para Bruna seriamente, desde que eu entrei em sua vida só


havia lhe trazido problemas.
Depois de horas tentando acalmá-la, André apareceu para uma nova
verificação nela. Aproveitei o papo entre eles, para preparar um lanche para
ela, afinal, ela mal havia tocado em seu prato durante o café da manhã.

Meu peito ficou quentinho quando ela me recebeu com um grande


sorriso no rosto, depois que entrei no quarto, carregando uma bandeja enorme
recheada, só para ela.
Apesar de ainda me sentir incomodado com a presença do André, não
me importei quando ele ficou ao lado dela e começou a lhe ensinar a mexer
no controle da televisão. Mas confesso que observei ele com muita atenção, e
como homem, posso afirmar, ele não a ver como irmã coisíssima alguma!

Mesmo grávida, ela continua sendo muito atraente. Eu precisava dar


um jeito de amarrá-la comigo logo. Talvez se a engravidar mais vezes,
duvido muito que depois de ter que dar à luz a muitos bebês meus, ela tenha
ânimo para me deixar.

A ideia é realmente boa, meus pais iam gostar disso, muitos netinhos.

Depois de comer, ela acabou caindo no sono, isso me fez ficar menos
preocupado com ela, já que eu não havia permitido que ela dormisse muito
bem, durante a noite toda. Isso tirou de mim um sorriso travesso no rosto.

Lavei rapidamente os pratos e dirigi com calma até meu apartamento.


Eu preciso pegar tudo o que eu precisava, já que meus planos é não sair do
lado dela tão cedo. A ideia de reformar minha casa me veio à mente, afinal, é
uma casa grande, confortável, fica em um bom condomínio e ainda é muito
bem localizada e vigiada por seguranças.
Seguranças, só em mencionar essa palavra, me deixa nervoso. Eu os
viraria do avesso se fosse o caso, até que esclarecesse essa história.

O porteiro olhou para baixo, repetindo a ação e isso me deixou atento.


Esse é o sinal que alguém subiu — contra a vontade dele — até o meu
apartamento.

Mas antes mesmo de chegar em meu andar, eu já estava com a arma


carregada na mão, pronto para disparar.

Como dito, a porta da minha casa estava destravada, apesar de não


mostrar sinal algum de arrombamento. Entrei devagar, tomando cuidado para
não fazer barulho algum, pegando o invasor desprevenido.

Um barulho de dentro do meu quarto chamou minha atenção.

Caminhei até lá com cuidado, com a arma apontada na direção dele.


Qualquer passo errado, eu atiraria.

— Droga, não está aqui! — A familiaridade na voz, chamou minha


atenção.

Abaixei a arma no instante em que tive a certeza de quem é o invasor.

— O que você está fazendo? — Apontei a arma para sua barriga.

Ela gritou quando me viu e agachou, em choque.

— Que susto, Samuel!!!

Não esperei por mais.

— Você não respondeu — continuei apontando a arma — O que você


está fazendo aqui? — Apontei para minhas gavetas, que a peguei mexendo —
Responde agora ou eu atiro!
Segurei firme, se fosse preciso eu atiraria, sendo ela quem fosse.

— Calma, podemos conversar na sala, sem uma arma sendo apontada


para mim?

Avaliei a situação antes de sair da porta e lhe dar passagem até a sala,
com a arma ainda apontada na direção dela.

A contragosto, ela entendeu o recado e caminhou até a sala, comigo


atrás dela. Minha arma apontava na direção da sua cabeça.

Quando se sentou no sofá, apressei-me para ficar do outro lado.

— Comece.

Ela respirou fundo.

— Enzo me obrigou a vir aqui, tá bem? Ele disse que você está
diferente e não o respondeu. Ele fez exatamente o que você está fazendo
comigo agora — apontou para a arma em minhas mãos — Eu tinha que vir
aqui e ver o que ele queria, me desculpe.

Acreditei nela, é mesmo a cara do Enzo fazer uma coisa assim, e essa
não seria a primeira vez.

— O que o Enzo quer?

Ela deu de ombros.

— E eu sei? Só vim vasculhar sua casa como ele pediu, eu não ia


pegar nada, viu?

Avaliei ela de cima a baixo, procurando por mais.

— Você poderia ter me informado disso.

Ela bufou.
— E o Enzo descobriria, tá maluco? Meu primo pode ser tudo, menos
otário.

Abaixei a arma e caminhei até o sofá. A distância entre mim e ela é


segura, apesar da arma carregada em minha mão. Ela não tentaria algo, não
seria tão burra.

Ela engoliu em seco quando percebeu isso também.

— O que é isso tudo? — apontou para minha arma.

Lhe mostrei o revólver.

— Precisamos conversar, preciso esclarecer umas coisas com você.

Ela assentiu.

— O que seria?

Estalou um dedo, nervosa.

— Encontrei a Bruna.

Diante de mim, vi sua feição mudar.

— Encontrou?

Confirmei.

— Encontrei.

Ela engoliu em seco e olhou para o chão.

— E onde ela está? — Seu olhar voou até a porta — Aqui?

Notei seu nervosismo, e fiquei atento.

— Aqui não, ela está em um lugar seguro agora.


— Que bom, agora você pode ficar bem, né? — me olhou — afinal,
não descansou enquanto não a encontrou.

Isso eu tinha que concordar com ela, agora eu podia ter paz. Mas
ainda tinha algumas coisas a resolver antes.

— Ainda não, preciso tirar uma história a limpo com você, Mia.

O olhar dela subiu e encontrou o meu.

Rapidamente, ela tentou correr até a porta, mas eu fui mais rápido e a
impedi. Joguei a arma no meio do tapete da sala e a agarrei pelos braços,
prendendo-a contra a porta.

— O que você disse a ela Mia? O que você disse? — Fui brusco.

Ela gritou quando eu a apertei forte.

— Nada, eu não disse nada!

— Mentirosa! Eu já estou sabendo de tudo Mia, tudo. Você mentiu


para mim. — A soltei.

Ela pestanejou e veio na minha direção, para bater. Consegui segurar


firme seus braços, a impedindo de continuar distribuindo socos em meu peito.

— Seu cretino, me solta!

A joguei no sofá.

— Eu quero a verdade Mia, agora, eu quero a verdade! — Exigi, já


impaciente. Ela não tem para onde correr.

Peguei minha arma de volta e apontei na direção dela, obviamente eu


não atiraria, mas precisava tirar dela toda a verdade a qualquer custo, e podia
fazer isso usando seu medo a meu favor.
— Agora Mia, a verdade!

Ela me olhou chorosa, com raiva, antes de se sentar e respirar fundo.

— Eu odeio você! — isso eu podia acreditar — Não importa o que ela


faça, não importa o quanto ela te humilhe ou suje o nome da sua família, você
sempre vai acreditar nela, não vai?

O desprezo em sua voz me surpreendeu, ela não parecia a mesma


pessoa na qual amei um dia.

— Mia… — me aproximei, sem paciência.

Ela pareceu entender o recado, pois começou.

— O que aquela vadia te disse? Que eu a ameacei em sua casa? Ah


Samuel, me polpa, não importa o que eu diga, vai preferir ela.

Lhe encarei.

— Ela me contou que vocês brigaram e você mandou meu segurança


dar um fim nela.

— Sim — confessou — Você mesmo havia falado que não queria a


criança e que ela é apenas uma oportunista, se lembra? Você pediu a mim que
enviasse o dinheiro para ela, para não ter que lidar com isso. Precisa mesmo
que eu refresque sua memória?

Abaixei a arma, mas não a soltei.

Ela tem razão.

— Quando ela apareceu em sua casa, igual uma maluca, eu fiz o que
pude para expulsá-la de lá, para você não ter que encontrá-la. Vai me culpar
por isso? Tive até que levar uma surra. Não se lembra dos meus arranhões?
A confissão da Mia me fez lembrar exatamente do dia. Eu realmente
havia notado que algo errado havia acontecido ali, havia tufos de cabelo pela
casa e uma marca de bala no muro, chamaram minha atenção.

— Você pediu para alguém dar um fim nela? — caminhei até ela
novamente, com a arma na mão.

Ela cobriu a boca às pressas, assustada.

— Não um fim, mas que se livrassem dela. — Sua resposta saiu


abafada, mas deu para entender.

Abaixei a arma e fui para longe da Mia. Mesmo de costas, pude ouvir
seu soluço. Estou tão cego de raiva, pelo que fizeram com a Bruna que não
me dei conta do modo áspero em que a tratei.

Mia não é uma qualquer na minha vida. Ela foi meu primeiro amor e
não só isso. Tínhamos construído uma boa relação nos últimos meses, apesar
do meu pé atrás em tudo com ela, em relação ao seu primo.

— Me desculpe — me virei para encará-la — Eu não queria ter te


tratado assim, eu estou um pouco transtornado com os últimos
acontecimentos, fui pego de surpresa com essa história e o fato de você ter
omitido essa parte de mim, me deixou intrigado.

Ela enxugou as lágrimas e se levantou.

— Eu preciso ir, depois conversamos.

Vendo o estado em que está, me deixou mal.

— Mia… — tentei ir a ela, mas ela me parou.

— Não Samuel, agora eu preciso prestar contas ao Enzo. —


Caminhou até a mesa, pegando de lá sua bolsa — Preciso ir, vá ficar com sua
mulher, depois conversamos, quando você parar de apontar isso a mim —
gesticulou com o queixo a minha arma.

E sem mais, ela correu para fora do apartamento, me deixando aqui


sozinho e completamente frustrado.

Nada havia saído como planejado, e eu odiava quando isso acontecia.

— Merda! — Corri para o quarto em busca do meu computador,


precisava dar um jeito de entrar em contato com o Enzo antes que ele surte.

Depois de arrumar cerca de duas malas grandes e retornar para o


apartamento da Bruna, eu já me sentia melhor, mas calmo.

Eu podia me entender com a Mia depois, ela entenderia meu lado. Eu


só estava tentando proteger minha mulher, que havia sido atacada só por estar
grávida do meu filho.

— Amor, cheguei! — Anunciei, ao entrar no quarto e deixar as malas


em um canto, enquanto procurava por ela.

A porta do banheiro fechada me tranquilizou, girei a maçaneta com


cuidado para não a assustar e fui presenteado com a visão dela, de olhos
fechados, dentro da banheira com espumas, relaxando.
Minhas mãos voaram até os botões da camisa e comecei os trabalhos.

— Você demorou. — Comentou, ainda de olhos fechados.


O dia mal tinha acabado de começar, quando Samuel levantou cedo e
me arrastou junto com ele e tal clínica em que ele havia marcado uma
consulta para ver o bebe, depois de passar uma manhã inteira fazendo mil e
um exames. Deixamos a ultrassom marcada para hoje no final da tarde.

Samuel me levou para almoçar em um de seus restaurantes preferidos,


que agora acabou se tornando um dos meus preferidos também, junto com o
Arthur.

Tentamos voltar para casa em seguida, mas foi impossível, quando


começamos a passar por diversas lojas com itens de bebe. Samuel ficou
encantado, enquanto enchia o carrinho com o enxoval completo. Mesmo
sobre meus protestos, desde que eu já havia comprado bastante coisas para o
meu filho. Mas ele não me ouviu.

Mas também não me importei, tive mil momentos como esses, e


acabei permitindo-o participar de tudo isso. Os olhos do Samuel brilharam,
quando eu contei o sexo do Arthur, ele ficou tão emocionado que fez questão
de a dedo cada peça do enxoval, e prometeu que amanhã mesmo, um
arquiteto irá até a casa dele, preparar tudo para que a gente se mude pra lá o
quanto antes.

Minhas últimas lembranças naquela casa não eram das melhores, mas
eu tinha que admitir, a casa dele era incrivelmente linda, nos poucos dias em
que passei nela, eram como se fosse um sonho.

O designer da casa já era perfeito, agora então que ele estava disposto
a preparar ela para a gente morar lá com o Arthur, aposto que ficaria ainda
mais bonito.

Ao lembrar da casa, peguei o celular às pressas e mandei uma


mensagem para a Monique, perguntando se ela queria ir com a gente hoje no
ultrassom do Arthur. Depois de meses me privando de viver um momento
assim com minha amiga, agora eu podia ter ela ao meu lado nesses
momentos.

Depois de ter que pedir um outro carro para poder levar todas as
coisas do Arthur que seu pai havia comprado, subimos juntos para o elevador
de casa, cansados.

Quando abrimos a porta, fomos surpreendidos com Lúcia, Roberto,


Gabriel e minha amiga, todos bem ali, sentados no sofá, sorrindo para nós.
Meu olhar foi até minha amiga, que soltou um eu sinto muito e eu até podia
imaginar o que de fato aconteceu.

Lúcia correu ao nosso encontro abraçando nós dois juntos e alisando


minha barriga em seguida, feliz da vida. Roberto e minha amiga vieram em
seguida. Quando os abraços acabaram, Gabriel caminhou até nós com uma
garrafa de champanhe e duas taças na mão, sorrindo para mim. Samuel o
parou quando ele estendeu uma taça a mim, e lhe olhou feio. Mordi a língua,
tentando esconder a risada.

— O que está fazendo? Ela está grávida!

Ele me olhou como se eu fosse um alienígena.

— O que? não pode?

Samuel deu um tapa na testa do irmão antes de sair correndo pelo


apartamento, quando Gabriel arregalou os olhos para ele, e o atacou.

Minha amiga riu, quando Roberto foi atrás deles, separar.

— Eles não crescem nunca. — comentou Lúcia, olhando incrédula


para os filhos, vendo-os correr.

Minha amiga me abraçou, emocionada, antes de me encarar.

— Você me parece feliz.

Olhei nos olhos dela, e um sorriso me escapou.

— É por que estou. Depois de muito tempo.


Ela me abraçou ainda mais apertado, enquanto víamos juntas a Lúcia
com o sapato na mão, atrás dos filhos.

— Vocês conversaram?

Olhei para ela.

— Ainda não, pretendo fazer isso ainda hoje.

— Faça, Gabriel está animado com vocês dois se acertando, ele


acredita mesmo que o irmão é inocente.

— Sério?

— Sim, eu te falei que ele está investigando em segredo, né? E as


pistas não apontam para o Samuel.

Assenti, afinal era nisso que eu preferia acreditar, mas apesar de tudo,
apesar dos ciúmes do Samuel em relação a presença do André aqui em casa,
eu me sentia segura com ele ainda, ainda não estava pronta para dispensar o
André, com o Samuel aqui, não enquanto não ter certeza sobre as ameaças,
eu não podia ser idiota o suficiente e confiar nele não só com minha vida,
mas a do meu filho também.

Depois que Samuel e Gabriel pararam a picuinha, lanchamos todos


juntos, antes de irmos assistir a ultrassom.

A médica ficou um pouco nervosa com a presença de tanta gente


dentro de uma única sala, mas acabou entendendo quando viu os olhos
emocionados da Lúcia quando as primeiras imagens apareceram.

E não foi só ela, os olhos de todos, eu digo todos, sem exceções,


inclusive os meus, quando a médica trocou de imagem e pudemos ver com
mais clareza o rostinho perfeito do Arthur.
Samuel segurou firme minha mão, enquanto eu chorava vendo as
imagens, ele é tão lindo, principalmente quando ele colocou o dedinho na
boca e começou a chupar. Era demais para mim.

Monique correu para me abraçar conforme chorava também.

O som do coração do Arthur soou por toda sala, deixando todos tão
emocionados quanto eu estava, Samuel tentava enxugar minhas lágrimas,
mas não foi capaz de conter as próprias.

— Ele é lindo, fizemos uma obra de arte meu amor.

Concordei, afinal fizemos mesmo.

— Sim, ele é lindo...

— Depois que ele nascer, já podíamos aproveitar e fazer outro.

Senti quando meus olhos se arregalaram, na verdade, eu nunca havia


pensado em ser mãe antes, fiquei surpresa com o Arthur, ainda mais, depois
de tudo o que eu passei no início da gravidez dele. Talvez o Samuel não
entendesse agora, mas eu já estou assustada demais apenas com um, imagine
com dois?

— Sim. — Concordei com graça, ele me pagaria assim que chegasse


em casa!

— Ah não, esperem um pouco, curtam o primeiro filho de vocês


primeiro, deixem essa missão do próximo neto para o Gabriel e a Monique.

Fiquei aliviada com o comentário da Lúcia.

Gabriel sorriu orgulhoso, enquanto Monique limpava o rosto.

— Por falta de tentativas não é, pode-se dizer que a qualquer


momento pode acontecer.
Todos riram, inclusive eu.

— Para Gabriel — O tapa que minha amiga deu em seu marido, fez
todos rirem ainda mais —, fica aí dizendo essas besteiras na frente de sua
família.

— Não sei como vocês ainda não estão cheios de filhos, de acordo
com o que eu ouvia do meu quarto na casa dos meus pais.

Roberto gargalhou.

— Também não sei.

O rosto da minha amiga parecia um pimentão de tão vermelho.

Mas depois de vermos o restante das imagens, nos despedimos de


todos e voltamos para casa, com Lúcia e Roberto afirmando de que ficariam
na casa do Samuel, pois tinham que arrumar algumas coisas lá, desde Samuel
pediu a eles para adiantarem o novo projeto da casa, para prepará-la para o
bebê.
Estar parado bem ali, dentro daquela loja, escolhendo as coisas do
meu filho, já havia mexido demais comigo, mas ouvir seu coraçãozinho e vê-
lo diante da tela de um monitor, me fez desmoronar.

Eu não queria falar nada a Bruna, para não a deixar triste, mas a
criança é minha cópia fiel. O olhar dos meus pais se arregalou, quando
olharam para mim, assim que viram o rostinho do Arthur, sorri orgulhoso,
óbvio. Minha mãe correu para me abraçar e agradecer pela vida dele, estava
tão emocionado que não consegui contar a verdade inteira a ela, verdade a
qual me dói profundamente só em lembrar.

Eu sou extremamente grato a Bruna pela vida do meu menino, que


não aguentei ver as primeiras lágrimas de emoção escorrerem pelo seu belo
rosto, e caminhei até ela, a segurando firme nos braços e mostrando a ela que
agora eu estou aqui e tudo ficará bem

Foi lindo, muito lindo e emocionante.

A ligação da arquiteta assim que saímos da sala é mais um sinal de


que tudo estava a nosso favor agora, fiquei ainda mais grato quando meus
pais assumiram a responsabilidade de lidar com ela para que eu pudesse
passar mais algumas horas com minha mulher.

Mas Bruna não se cansou de me surpreender quando os convidou para


um almoço em seu apartamento amanhã. Os olhos dos meus pais brilharam
emocionados, esse era um passo importante em nossa vida, principalmente
dela, por não apenas ter me aceito em sua vida, como também está
permitindo que meus pais participem de tudo com a gente.

Um momento como esse, não é importante apenas para mim, mas


para os meus pais também. Mesmo dizendo que não, eu senti quando ela
ficou abalada, lembrando da minha irmã. Até hoje, nada foi descoberto sobre
a morte dela logo depois do nascimento.
Chegamos em casa mortos de cansaço, mas estou leve, sorridente pela
primeira vez depois de muito tempo, Bruna levantou do sofá e caminhou até
a pilha de roupinhas que haviam sido depositadas em cima da mesa e
começou a dobrar as peças antes de levá-las até o nariz e cheira-las uma a
uma.

Por um instante eu também quis participar desse momento, mas me


lembrei de que já estava quase na hora dela comer e fui até a cozinha preparar
uma porção de pipoca doce na qual ela havia dito que adorava e um suco
cremoso, no qual a médica havia pedido muito que ela tomasse bastante suco
de fruta. Quando eu voltei, ela não estava mais mexendo nas roupinhas do
nosso neném, estava agora esticada no sofá assistindo televisão, rindo
sozinha.

Roubei um beijo rápido de sua boca e me sentei ao seu lado assistindo


filme, lhe oferecendo a pipoca e o suco junto.

Ela sorriu pra mim ao aceitar, mas quando ela terminou de comer, me
certifiquei de carregá-la para o banho, depois de passar todo o filme me
provocando, mordendo meu pescoço.
— Você é louco, eu não fiz isso. — Mente descaradamente, quando
eu a acusei de me provocar quando a peguei no colo.

A depositei com cuidado no box enquanto retirava toda sua roupa,


seus seios — cheios — saltaram para fora, chamando minha atenção.

— Claro que fez, não sou louco. — Pensei melhor em minhas


palavras, a olhando melhor agora — ou melhor, sou sim, — ela sorriu — sou
louco por você.

Os olhos dela pararam em mim, como se eu tivesse dito a coisa mais


estúpida de todos os tempos.

— O quê?

Terminei de tirar toda minha roupa, liguei o chuveiro e me aproximei


dela, agarrando firme sua cintura, sentindo a curva da sua barriga em mim e a
beijei levemente antes de encará-la.

— Isso que você ouviu, — afirmei com veemência — eu gosto de


você, sou completamente louco por você.

Senti quando seu coração acelerou e ela mordeu os lábios.

— Não pode ser, você só pode estar brincando comigo. — Sacudiu a


cabeça, sem acreditar.

A puxei mais perto para mim, tomando cuidado para não esmagar sua
barriga.

— Eu gosto de você, tá legal? E gosto muito. — Afirmei ainda mais.

De repente a agarrei e a pressionei na parede de azulejo, pra mim


estava tudo bem se ela ainda não acreditasse nos meus sentimentos, o que
importava mesmo para mim, é ficar com ela. Porra, como eu gostava dessa
mulher.

Nem com minha ex-namorada era assim, e olha que passei anos com
ela, só para pegá-la com outro cara, num beco nos fundos da festa beneficente
e ainda assim não me fez sentir nada. O contrário, o beijo que a Bruna havia
me roubado minutos antes na casa da Monique no dia em que nos
conhecemos, é que havia mexido comigo. Eu não conseguia tirar aquele beijo
da cabeça, que só de pensar que se não fosse aquele beijo, hoje não
estaríamos aqui, juntos, com um pedacinho meu crescendo dentro dela.

Não foi só o coração dela que acelerou, o meu também, quando a


toquei.

A água do chuveiro caía sobre nós enquanto olhávamos um para o


outro. Ela tentou falar algo, mas não conseguiu quando abaixei até ela e
nossas bocas se encontraram novamente.
Olhei para o relógio, animada, enquanto eu terminava de dar um nó
em meu roupão. Enquanto caminhava na direção da cozinha, me lembrei de
algo importantíssimo, algo que eu não posso deixar de perguntar de maneira
nenhuma ao Samuel.

Depois do ultrassom, quando eles vieram nos cumprimentar, eu


consegui ver o desenho de uma mini boneca tatuada no braço de ambos.
parecia uma tatuagem antiga, pela tonalidade esverdeada, ainda sim ela
existia. Aquilo me deixou curiosa como o inferno para perguntar. Isso
alimentou minha curiosidade e agora seria um bom momento para lhe
perguntar a respeito, já que ambos não estavam por perto.

Olhei para todos os lados do apartamento, evitando que o André me


visse usando tão pouca roupa e me apressei em terminar de beber minha água
o quanto antes, antes de encher o Samuel de perguntas. Um toque alto soou
pelo apartamento e eu procurei de onde vinha o som.

O celular do Samuel estava em cima da mesa de jantar, tocando sem


parar. Mas o problema não foi a ligação e sim quem estava ligando.

Não, não pode ser.

Eu não posso acreditar no que estou vendo.

Meu coração acelerou vendo claramente o nome dela ali, escrito ao


lado de um singelo coração.

Eu não fazia ideia do quão íntimos os dois eram, mas acabei


lembrando na menção do nome dela durante as provocações do Kleber, com a
Lúcia e o Roberto. As palavras dele simplesmente gritaram em minha cabeça.

Amantes…

Ele pega a ex-secretária do próprio irmão.

A Mia…

Meu estômago embrulhou, ao pensar. Mas foi o meu medo de estar


sendo enganada por ele novamente que me fez agir. Depositei o copo d'água
na mesa, enquanto eu procurava respirar fundo, antes de ir atrás do meu
celular e mandar uma mensagem para minha amiga.

Estou tão nervosa, em estado de choque, que mal notei quando ele de
repente apareceu na sala de jantar e me abraçou por trás, me assustando com
sua aparição repentina.

— Você está aí, te procurei no quarto e não encontrei. — Beijou meu


pescoço ao me abraçar por trás.

Com raiva, me afastei do seu toque, olhando diretamente nos olhos


dele.

Como pode ser tão fingido assim?

Engoli em seco.

— Eu vim rapidinho beber um pouco d'água — apontei até o copo —


viu só?

Um nó firme se apertou em minha garganta, quando ele sorriu.

Seu celular voltou a tocar novamente, chamando atenção dele.

Vi claramente quando o sorriso no rosto dele morreu quando olhou


para a tela do celular, antes de pegar o aparelho às pressas e jogar no bolso da
calça. Percebi o nervosismo dele na hora.

É ela de novo…

Ao menos agora eu sei que isso não é coisa da minha cabeça. Se eu


precisar de mais provas, isso servirá como uma. O Kleber tinha razão todo
esse tempo, a quem eu queria enganar?

Ninguém consegue sustentar uma mentira por muito tempo, agora a


máscara dele está caindo.
Ele me afastou tão repentinamente que eu me senti vazia de novo.

Ele está mentindo pra mim!

— Não vai atender? — O questionei.

— Depois, eu vou terminar de me trocar — tocou no celular, dentro


do bolso —, eu já volto. — Praticamente correu até o quarto e fechou a porta.

Não conseguir segurar meu nervosismo, apenas caminhei no modo


automático até a cozinha e enviei uma mensagem a Monique, perguntando se
podíamos jantar em sua casa esta noite, e para minha grande sorte, ela topou
na hora, e avisou que iriamos todos a um bom restaurante, já que era um
pouco tarde para ela preparar tudo em cima da hora em sua casa. Topei na
hora e pedi que ela pedisse ao Gabriel que avisasse ao Samuel o convite, sem
mencionar de que foi minha a ideia. Minha amiga ficou muda por alguns
segundos sem entender, mas acabou concordando com o que eu o havia
pedido.

Minutos depois, um Samuel já bem arrumado caminhava para fora do


quarto, antes de me encontrar.

— Querida, meu irmão acabou de ligar convidando a gente para jantar


na casa dele, você quer ir?

Lhe encarei, engolindo seco.

— Claro, já vou me trocar. — Meus dedos tremeram quando o celular


em sua mão tocou novamente — Não vai atender?

Ele me olhou, sem entender.

— Mais tarde, preciso resolver umas coisas antes.

Assenti já me levantando.
— Fico pronta em vinte minutos.

Sorriu.

— Tudo bem, minha linda.

Desviei o rosto quando ele tentou me beijar repentinamente e entrei


no quarto.

Abri o armário às pressas, nervosa com a situação.

Meu peito apertou, querendo chorar muito por ter me permitido ser
tão cega e burra! Como eu não havia entendido tudo antes? Por isso eles
queriam tanto se livrar do meu filho. Agora tudo faz sentido, a verdade estava
esse tempo todo bem na minha cara e eu não conseguia ver. A intensidade
dos sentimentos que eu tenho por ele, me cegaram esse tempo todo.

Eu sou muito burra mesmo.

Me arrumei rapidamente, precisando estar perto da minha amiga


agora. apenas ela me acalmaria. eu preciso ser forte, pelo Arthur, por mim. eu
não posso deixar que ele faça isso comigo, não posso.

ele não me veria assim.

Terminei de enxugar as lágrimas quando fui até ele, não aguentando


encará-lo por muito tempo.

Por sorte, senti que algo tinha acontecido, pois ele estava nervoso
durante todo o caminho até o restaurante. E o fato dele ter ficado no celular o
tempo inteiro, aliviou a angústia que eu sentiria se ele me tocasse.
Depois de uma noite agradável ao lado da minha família, me despedi
de todos e fui levar minha mulher para casa, já que havia notado que durante
todo o jantar, ela ficou reclamando de dores.

Até mesmo antes de sairmos eu notei que havia chorado, a


vermelhidão ao redor dos seus olhos eram a prova vida disso. Aos poucos eu
já estou a conhecendo melhor, aprendendo a fazer as comidas em que ela
gostava, notei também que tem mania de se sentar torto, mas vi na internet
que pode ser do encaixe da criança. Isso me tranquilizou.

— Vem amor.

Estendi a mão para ela, ajudando-a a sair do carro com muito cuidado
antes de entrar no elevador e subimos em nosso andar. André nos olhou
atravessado quando passamos por ele, com minha mão apoiada na bunda
dela.

Eu queria que ele visse isso.

Bruna trocou de roupa e entrou no banho tão calada que me


preocupou.

Me afastei um pouco dela para poder ligar para o nosso médico e


perguntar se é normal ela está agindo assim, ou se podia está sentindo algo.
Mas antes que eu ligasse para ele, chegou em meu celular, uma nova ligação
da Mia.

Pior que essa não é a primeira.

Mas cedo ela havia ligado desesperadamente para mim, querendo me


encontrar. A única justificativa de não poder ir, era que eu estava com minha
família. Achei que ela tivesse entendido já que não ligou mais. Mas vejo que
estava errado.

— O que você quer?

— Preciso que você venha para cá, agora! — É notável o desespero


em sua voz.

Isso me preocupou.
— O que aconteceu?

chorou.

— Estou na casa do Enzo, ele me prendeu aqui por sua causa!

Meu coração acelerou.

— Estou indo ai, me espere!

Encerrei a ligação rapidamente, antes de alcançar as chaves do carro e


ir até ela.

Enzo só podia estar ficando louco, sequestrando ela desse jeito! Mas
isso não ficaria assim. Eu não vou ficar de braços cruzados vendo-o agir de
maneira suja para conseguir o que quer. Ele não vai passar por cima das
pessoas que eu amo assim, não mesmo.

Em menos de quinze minutos, eu já estava estacionando o carro na


calçada em frente à casa do Enzo, antes de me identificar no portão e entrar.

Mia estava agachada na grama quando eu a encontrei.

— Ei. — Caminhei na direção dela.


Ela se levantou às pressas quando me viu chegar, e pulou em meus
braços, me abraçando apertado, em desespero.

Enzo provavelmente aprontou algo realmente grave para deixá-la


assim.

Esperei que ela aliviasse o aperto em meu pescoço para descê-la dos
meus braços, antes de encará-la, preocupado.

— Você está bem? — avaliou ela, vendo que estava bem fisicamente
— Onde o Enzo está?

Olhei na direção da casa dele, procurando-o, com raiva.

Mia agarrou meus braços, impedindo-me de entrar.

— Ele não está, calma… — pediu, mas a ignorei

— Vou matá-lo se ele tocou em você!

Ela se colocou rapidamente na minha frente, antes de segurar firme


em meu rosto e pressionar forte nossos lábios.

A olhei, em choque.

Afastei dela o quanto antes, sem entender sua atitude. Ela apenas ria
para algo atrás de mim, virei o rosto e meu sangue gelou no momento em que
vi Bruna ali, sozinha, parada a alguns passos de nós, com os olhos
transbordando em lágrimas.

Mia riu alto, me deixando enojado.

Ela havia armado tudo!

Desgraçada!

Me virei inteiro para Bruna, desesperado.


— Bruna, me escuta.

ela me olhou enojada.

— Não chegue perto de mim! — parei de caminhar em sua direção,


quando notei que ela deu um passo em falso para trás.

Meu olhar recaiu em sua barriga, preocupado.

Atrás dela, o Enzo olhava para nós, sem entender metade da missa.

— Bruna, meu amor, vamos conversar! — Implorei, arrasado ao ver o


estado que ela está — Foi tudo uma armação, por favor, vem comigo.

Estendi a mão a ela, que não parava de chorar enquanto me encarava.

— Eu não sei como eu posso confiar em você, eu tenho nojo de você!


— ela virou às pressas, disposta a ir embora.

Eu sei que se eu não conseguir conversar com ela agora, nunca mais
terei uma chance novamente de me explicar para ela. Eu apenas desejava que
a Mia fosse um homem agora!

Segurei seu braço rapidamente, a impedindo de fugir.

— Me deixa explicar, por favor!

Ela retirou o braço do meu aperto.

— Nunca mais me toque, ouviu? — engoli, quando ela apontou o


dedo na minha cara, furiosa.

Assenti, preocupado.

Enzo apareceu à nossa frente, afastando-me de perto dela.

Olhei para Bruna, desesperado. Depois de tudo o que eu fiz para


tentar ao menos chegar perto dela, tinha sido em vão, desde que pela segunda
vez, estavam tentando nos afastar.

Olhei até onde a Mia estava, ela parecia estar bem divertida, até a
Gabi aparecer e empurrar com vontade. Mia tentou revidar, mas ao perceber
de quem se tratava, recuou. Seu olhar recaiu no Enzo, furiosa.

Olhei novamente para minha mulher, disposto a tudo para acalmá-la e


convencê-la a me ouvir. Mas o desprezo em seu rosto me fez sentir o pior
lixo do mundo. Tentei agarrá-la novamente, desesperado. Eu não vou ficar
parado, vendo minha mulher me deixando e não fazer nada.

— Me escuta um pouco! Ela armou para mim.

— Eu vi tudo! idiota…

Tentei ir até ela, mas o Enzo me impediu.

— Dá licença.

Ele assobiou para a segurança, chamando-os

— Eu não faço ideia de quem seja essa mulher, mas olha o estado
dela. — Fiz o que ele pediu e a avaliei — Ela está grávida e muito nervosa,
ela não está em condições de conversar com ninguém, use a lógica, vai
acabar fazendo-a mal.

Tentei passar por ele a todo custo, para chegar nela.

— Eu só preciso me explicar, não vou lhe fazer mal. — digo olhando


nos olhos dela, antes dos seguranças do Enzo me agarrarem — ME SOLTA!
EU PRECISO FALAR COM A MINHA MULHER! BRUNA, ME DEIXA
EXPLICAR, POR FAVOR, FOI TUDO UMA ARMAÇÃO! ARMARAM
PARA MIM!

Os desgraçados me jogaram no meio da rua, antes de fecharem o


portão comigo ao lado de fora.

Corri desesperado, socando o portão, sabendo que a minha mulher


está lá dentro ao lado do Enzo e da Mia.

— BRUNA!!! POR FAVOR, ME OUVE!

Mesmo com meus gritos, ela não respondia.

Me sentei na calçada, desesperado, esperando-a. Eu não iria embora


daqui sem ela.

Só de pensar que ela me seguiu do apartamento até aqui, eu já começo


a me culpar. Desde o início, estava bem claro para mim quem foi o
verdadeiro culpado pela nossa separação no passado. Ainda assim, parece
que eu paguei para ver, acreditei na inocência da Mia esse tempo todo e agora
ela repetiu, nos separando novamente.

E apesar de toda confusão e decepção, eu senti uma dose de malícia


por parte do Enzo nessa situação. O contrário da Gabi, que me surpreendeu,
fazendo com a Mia o que eu desejava ter feito.
Ainda estou abalada com tudo o que aconteceu. Mal tinha acabado de
sair do banho quando cheguei à sala a tempo de ouvi-lo no telefone. Meu
coração apertou quando ele saiu correndo atrás dela, sem pensar duas vezes.

Eu não vou aguentar viver assim, eu não mereço isso.

Assim que ele passou pela porta, eu fui atrás. André me ajudou em
tudo, seguindo-o sem ter sido notado. Escondemos o carro na rua traseira da
casa, antes de eu entrar.

Sem que eu falasse algo, o segurança do portão o abriu para mim, sem
dar uma palavra. E antes que eu lhe perguntasse algo, pude claramente avisar
a Mia nos braços do Samuel. O olhar dela encontrou o meu e eu entrei, pronta
para atacá-los.

Mas parei atrás dele quando os vi se beijando.

A dor que eu sinto nesse exato momento não podia ser pior, eu não
mereço uma coisa assim.

Ele tentou se explicar, gritou, implorou, esperneou. Mas eu não


conseguia chegar perto dele e muito menos ainda permitir que me tocasse. A
ânsia de vômito subiu ao vê-lo sendo posto para fora da casa pelos
seguranças.

As batidas em que dava no portão ao gritar meu nome, me


assustaram.

— Você está bem?

Olhei em choque, para uma versão feminina do Gabriel e tentei me


segurar nela, quando uma tontura me invadiu.

— Calma, calma. Pai, Otto… ajudem aqui! — gritou desesperada.

Senti quando braços firmes seguraram meu corpo. Alguém mais forte
ainda, conseguiu me pegar nos braços e me depositar em algo macio, depois
de me carregar. Aos poucos, a tontura foi passando, fui abrindo os olhos
lentamente, olhando tudo à minha volta.

— Oi, você está melhor? Chamei um médico.


Me segurei no ombro da garota, antes de me sentar. Mais lágrimas
escorreram, molhando minhas bochechas.

Eu preciso ligar para minha amiga.

— Estou melhor, obrigada. — Tentei engolir o choro, mas era


impossível.

Uma discussão do lado de fora da casa chamou nossa atenção.

— Não se preocupe, meu pai vai expulsá-la daqui. Já sabemos o que


ela fez a você. Temos câmeras pela casa, quer dar uma olhada?

Lhe encarei, assustada com a semelhança.

— Qual o seu nome?

— Gabi.

A semelhança até no nome.

— Apenas Gabi? — perguntei desconfiada.

Ela sorriu.

— Exatamente assim, apenas Gabi. Meus pais devem ter algum


problema, com certeza. — Se a situação não fosse tão ruim, eu teria rido da
careta em que fez.

— Obrigada pela ajuda Gabi, mas eu vou dispensar. Eu já estava


desconfiando deles, o que aconteceu hoje foi apenas uma confirmação.

— Não foi — ela tirou às pressas o celular do bolso e reproduziu o


vídeo com a mesma cena em que eu presenciei — Veja isso, ela fez de
propósito.

Pode até ser que tenha feito de propósito para que eu veja, mas isso
não anularia o fato de ambos terem um caso às escondidas e Samuel ter
mentido para mim.

— Está tudo bem, de qualquer forma eu não quero mais falar disso.
Você entende? — ela assentiu quando me levantei — Foi um prazer te
conhecer, mas eu preciso ir.

Me levantei devagar, não querendo ficar mais tempo aqui


testemunhando a Mia dando o show dela. Com toda certeza, se eu não
estivesse com esse barrigão, eu daria muito na cara desses dois sem
vergonha.

— Não me falou o seu nome. — Olhei para a menina, surpresa.

— É Bruna, desculpe por isso.

Ela segurou minha mão.

— Não por isso, Bruna. Se quiser, posso ligar para alguém vim buscá-
la ou poderia passar a noite comigo em meu quarto, é o mais seguro no
momento. Provavelmente ele não sairá do portão tão cedo.

Suspirei, nervosa.

— Eu sei, mas me recuso a ter que mudar qualquer coisa em minha


vida por causa dele, isso não.

— Não falei pensando nele e sim… nele. — Fiquei surpresa quando


repentinamente ela tocou minha barriga. — Ouvi dizer que eles são capazes
de sentir tudo o que suas mães sentem. Descanse um pouco, meu pai pode
lidar com eles hoje. Amanhã cedo posso levar você em casa.

Respirei fundo, tentada.

— Nisso você tem razão. Eu não estou bem.


Ela se levantou, parando ao meu lado.

— Sei que a gente mal se conhece, mas confie em mim. Passe a noite
aqui, descanse, converse, desabafe e amanhã meu pai dará um jeito de levá-la
para casa em segurança. Otto é muito foda, com um soco dele, teu namorado
voa longe.

Quis rir, mas a situação não permitia.

Gabi estendeu a mão a mim, oferecendo a oferta. Mas a pequena


mancha marrom que tinha no braço, chamou minha atenção. A marca está no
mesmo lugar onde Lúcia e Roberto haviam tatuado.

Puxei seu braço, avaliando o sinal.

— O que é isso?

Ela riu, analisando junto comigo.

— É um sinal, nasci com ele. É muito estranho? meus pais odeiam.

Olhei para ela, sem acreditar.

A semelhança com o Roberto e o Gabriel é bem grande.

— Seus pais odeiam?

Ela tocou no bolso, tirando de lá uma base e espalhando sobre a


mancha.

— Sim, quando eu era mais nova eles tentaram remover, mas ela
voltava, então desistiram e desde sempre eu costumo cobri-la. Já estou
acostumada, não se preocupe.

Soltei seu braço, olhando ao redor da casa.

— Não posso aceitar o seu convite, mas obrigada por tudo.


Atrás de mim, duas batidas altas soaram, chamando minha atenção.

Enzo fez um sinal em reverência, antes de se aproximar de mim. Seus


olhos foram até minha barriga, antes de sorrir.

— Está mais calma? — assenti.

— Sim, desculpe a confusão em sua casa. Eu não fazia ideia.

Ele segurou meu ombro.

— Bruna, é esse o seu nome?

— Sim, é.

— Essa é a primeira vez que nos conhecemos pessoalmente Bruna,


mas eu já ouvi muito sobre você.

Engoli em seco.

— Pai, eu a convidei para ficar, mas ela não quer. — De repente a


Gabi arrancou os braços dele do meu corpo — Podemos levá-la em casa?

Enzo olhou atravessado para a filha, antes de focar em mim


novamente.

— Eu já estou ciente da sua situação, já avisei ao seu cunhado e a sua


amiga, eles estarão aqui em breve para buscá-la.

Foi um alívio tão grande ouvir isso.

— Obrigada.

Ele limpou a garganta.

— Antes que eles cheguem e a leve embora, podemos conversar no


meu escritório?
Olhei desconfiada para ele.

— É muito importante?

Ele disse que sim.

— Sim, muito.

Então concordei, querendo logo acabar com esse mistério e descobrir


o que tanto ele quer falar comigo.

— Por mim, tudo bem.

Para minha surpresa, Gabi agarrou minha mão firme, quando


enfrentou o pai.

— Eu também vou junto!

Enzo bufou, apontando o dedo para ela.

— Chega! Sobe já, que sua mãe vai ter uma conversa séria com você!

Ela bateu o pé.

— Ela está grávida meu pai, tenha dó, ela já passou estresse demais
hoje — a mão dela foi até meu montinho —, pobre merece um pouco de
respeito e descanso.

Mordi a bochecha observando a Gabi provocar o próprio pai.

Enzo respirou fundo, mexendo no cinto enquanto a olhava feio. Isso


me fez sentir mal.

— Está tudo bem, é apenas uma conversa.

O olhar preocupado dela encontrou o meu. Mas antes que dissesse


algo, uma buzina alta soou, fazendo-a rir.
— Gabriel chegou!

Meu coração acelerou vendo minha amiga passar correndo pela porta
e vim até mim, desesperada.

Os gritos do Samuel no portão ficaram ainda mais altos, nos


assustando.

Gabriel entrou em seguida, olhando feio para o Enzo e a Gabi, que só


sabia sorrir ironicamente para ele, enquanto se afastava de mim.

Não consegui agradecer a Gabi pelo que fez por mim, quando Gabriel
se aproximou de nós e arrancou os braços dela de mim e puxou a gente para
fora da casa.

As portas do carro já estavam abertas, nos esperando. Olhei na


direção da casa ao me sentar, e meu coração doeu, vendo-a me dar tchau na
porta, antes do pai a puxar para dentro.

Tem algo errado com eles, eu sinto. Mas fiquei aliviada por Gabriel
ter ido me buscar, ele entendia o quanto eu estou assustada e queria proteger
o sobrinho a todo custo.

O carro passou pelo portão e um Samuel completamente desesperado


apareceu a nossa frente, correndo em direção ao carro.

Gabriel acelerou, nos surpreendendo.

A mão da minha amiga segurava a minha com força, quando


passamos por ele. Eu sei que agora não tinha mais jeito, eu me afastarei dele
de todo jeito.

O carro estacionou em frente ao prédio e eu subi com o André ao meu


lado. Amanhã eu conversarei melhor com minha amiga e meu cunhado,
agradecerei a eles pelo socorro de hoje. Mas meu único foco agora seria
cuidar do meu filho e proporcionar a ele um ambiente tranquilo e seguro, é
tudo o que ele precisa.

Troquei de roupa e me deitei na cama, sentindo o peso dos


acontecimentos dessa noite. Sem mais, virei para o lado e desabei em choro.
Não me dei ao trabalho de verificar se a Mia ainda me olhava, quando
ela passou por mim ao ir embora. Peguei o celular aliviado e liguei para o
Gabriel, explicando a situação. Mas bastou eu terminar de falar, para ele
desligar a ligação e me bloquear, sem dizer uma palavra.

— Droga!
Quando as coisas estavam começando a se encaixar na minha vida,
acontece isso, desmoronando tudo. E mesmo comigo lutando para entender
como eu cheguei a esse ponto, eu não conseguia. Eu estraguei tudo com ela,
TUDO.

Meu coração doeu ao vê-la desse jeito, machucada e com medo de


mim, quando saiu de dentro da casa do Enzo, dentro do carro do meu irmão.
Ao menos agora eu sei o quão ela está segura. Tentei me aproximar deles,
mas meu irmão não permitiu, fez questão de acelerar o carro quando eu me
aproximei.

Peguei meu carro e dirigi até o meu apartamento, disposto a descansar


ao menos. Eu preciso estar bem o suficiente para que amanhã possa tentar
convencê-la a me ouvir. Dessa vez eu não vou fazer como da outra vez, que
eu respeitei o tempo e o espaço dela, e aconteceu tudo o que aconteceu.

Dessa vez eu não vou fazer isso. Não vou desistir da minha mulher
por nada nesse mundo, em pouco menos de dois meses, nosso filho nascerá e
até lá, eu pretendo tê-la de volta, eu não aceitarei menos que isso.
— Abre!!!

André me olhava com ironia, enquanto eu batia com força na porta!

Gabriel e meus pais estão com Bruna nesse exato momento, a


apoiando. Eles haviam me deixado de fora dessa reunião, mas não iriam se
livrar assim de mim tão fácil

Bato novamente.

Ouvir quando a trinca da porta foi destravada e alguém a abrir. O


olhar do meu irmão encontrou o meu.

— André? — o chamou

— Aqui senhor. — Olhei para o André, vendo-o atendê-lo

— Te dou mil reais para jogar meu irmão caçula no olho da rua e
defecar em cima dele.

Olhei assustado para ambos.

— Não é hora para brincadeiras Gabriel, — alisei o ombro do André


— Te pago o dobro para não fazer. — Sussurrei apenas para que ele pudesse
ouvir.

Meu irmão riu.

— André? - o chamou

Dessa vez eu me irritei, e fiquei cara a cara com ele.

— Chega, onde está minha mulher?

ele me olhou com desdém

— Não faço ideia onde que a Mia esteja, talvez na casa ou na cama de
alguém mais importante que você. — Sorriu falsamente — Dá o fora daqui
antes que eu lhe mate.

Empurrei a porta, forçando-o a sair do meu caminho a todo custo.

— Seu filho da puta! — gritou, ao ser pego.

A porta bateu na parede, chamando atenção de todos na sala para nós


nos. Gabriel partiu para cima de mim, me esmurrando no processo. Caímos
juntos no chão, mas o impacto do tombo ficou todo comigo.

Tentei virar o corpo para pegá-lo, mas parei quando ele me atingiu
novamente com outro soco.

Por um segundo achei que iria desmaiar.

— PAREM OS DOIS AGORA! — A voz do meu pai nos fez parar.

Respirei aliviado quando o peso do Gabriel foi tirado de cima de mim.


O gosto forte de cobre encheu minha boca, fazendo minha cunhada arfar em
choque e vim me socorrer.

— Meu Deus, você está muito machucado!

Acreditei em minha cunhada quando senti meu rosto latejar e algo


molhado escorrer pelo meu nariz. Abaixei a cabeça e o sangue pingou na
minha camisa, mas não me importei.

Quando Monique se afastou, eu tentei me levantar, devagar, sentindo


o latejar do tombo em minhas costas. Segurei um gemido ao caminhar até
Bruna, no sofá. Mauro — que estava sentado ao lado dela — se levantou, me
dando o lugar. Bruna tentou se levantar também, mas eu a impedir ao segurá-
la,

Ela não disse uma palavra.

Olhei para todos ali presente, que sequer tiraram os olhos de mim.
— Que bom que está todo mundo aqui, assim eu digo logo de uma só
vez, espero que fique claro.

Continuaram em silêncio,

— Eu poderia tentar justificar a vocês sobre o que aconteceu ontem,


mas eu sei que não iriam acreditar. Então, dane-se isso. não quero está
justificando algo no qual eu não fiz. Eu não tenho nada com a Mia, e se
estivesse, vocês seriam os primeiros a saber. Eu só estou aqui porque no
passado — me virei olhando nos olhos da Bruna ao falar —Eu respeitei o seu
momento, o seu relacionamento com outra pessoa, e isso acabou levando a
nossa história para um outro lado. A última coisa que eu quero nesse
momento é que você sofra, talvez você não saiba, mas eu tive que abrir mão
de muita coisa por você. Entreguei a carreira do meu irmão a um estranho
que me prometeu te encontrar.

Respirei fundo antes de continuar.

— Vou continuar respeitando você, se não quiser voltar para mim.


Mas não tem o direito de me impedir de ficar perto de nenhum de vocês dois,
e mesmo que me odeie por isso, quero que saiba que não irei embora daqui
por nada. Eu prometi que cuidaria de você e é o que eu vou fazer.

Doeu vê-la triste.

— Não precisa, eu…

Não esperei que terminasse.

— Não importa, nada vai me fazer sair do seu lado agora. — Lhe
garanti.

Satisfeito, me levantei, sentindo dor na lombar, mas continuei calado


e caminhei na direção do quarto de hóspedes, gemendo ao me deitar na cama
e sentir uma leve melhora.

Se eles acham que eu vou desistir agora que eu conseguir fazê-la me


ouvir, estão todos enganados.

Tirei meu celular do bolso e comecei a enviar mensagens às pessoas


que eu tinha certeza de que me ajudariam a investigar de onde saíram as
ameaças contra a Bruna. Eu mesmo vou proteger a minha mulher.

Minha determinação vem dela, da força dela, e do amor que eu sinto


por essa mulher. A atração que eu senti ao pegá-la no colo pela primeira vez,
ou até mesmo do nosso primeiro beijo na cama da minha cunhada. Não sei se
foi o jeito meigo dela, ou a personalidade diabinha que me conquistou ali, sei
apenas que eu não abrirei mão disso tudo por nada.

Não demorou muito para a resposta chegar, meus amigos já estavam


me enviando pistas e documentos esses que poderiam me ajudar a descobrir o
mandante, apesar das minhas suspeitas.

Na teoria eu já sabia, mas na prática, eu precisava provar. É a minha


inocência também que está em jogo.
Dois meses depois

Tinha acabado de terminar meu chá de camomila quando Samuel


entrou no apartamento às pressas, se trancando no quarto de hóspedes, sem
sequer olhar para mim.

Esses últimos dois meses, nossa convivência tem melhorado bastante,


ao contrário do que eu imaginava que seria, ele não tentou em momento
algum se aproximar fisicamente de mim. O que me deixou mais tranquila.

Depois do ocorrido na casa do Enzo, eu estava mesmo decidida a


ignorá-lo, até que ele desistisse dessa história de cuidar da gente. Mas ficou
difícil com nossos amigos apoiando a ideia. Conforme os dias iam se
passando, percebi que ele só está aqui mesmo, pelo filho. Isso me fez abaixar
um pouco a guarda. Até que as investidas do André começaram a me
incomodar. Samuel sempre tão ocupado, mal notou quando eu o havia
dispensado.

Provavelmente estava tão ocupado que já havia esquecido.

Por fora, eu estava levando tudo numa boa, ele estava me


acompanhando nas consultas e estava sempre por perto para me ajudar. Além
de sempre deixar minhas refeições preparadas na hora certa. Mas por dentro,
eu sentia tanto a falta dele.

Tanto, que chegava a me machucar por dentro todas as vezes que o


via sair todo arrumado depois do jantar e só voltar no dia seguinte. Isso dói
tanto.

Mas não poderei culpá-lo por me negligenciar, por que isso ele não
fez.

A campainha tocou e eu já sabia quem era.

Fui às pressas atender a Lúcia e a Monique, que haviam combinado


de dormirem aqui essa noite, a pedido do Samuel. O próprio as convidou.
Hoje é uma dessas noites em que ele sai sem avisar e só volta no dia seguinte.

Samuel apareceu no meio da sala, quando elas entraram.

— Já vai? — O olhei de cima a baixo, notando o quão bem arrumado


está.

Vi quando ele engoliu em seco.

— Já, preciso adiantar umas coisas — olhou para as meninas — Já


vou indo, espero que se divirtam.

Caminhou até mim e abaixou o suficiente para deixar um beijo em


minha barriga, antes de alisar os meus cabelos e sair.

Estranhamente, essa é a primeira vez desde que brigamos, que ele me


toca. Meu coração disparou com a proximidade.

Olhei até a porta, vendo-o sair.

As meninas vieram até mim e me abraçaram.

— Você está bem? — Olhei para minha amiga.

— Acho que sim.

Caminhei com elas até o sofá, selecionando nossa série favorita.

Depois de dois meses esse é o primeiro contato físico que fizemos.


Me sentei rapidamente no sofá quando uma vontade repentina de ir ao banho
me ocorreu, mas quando abaixei a calcinha, uma mancha escura me assustou.

Tentei fazer xixi, mas ele não vinha.

Que loucura.

Quando cheguei à sala, confusa, senti quando algo quente escorreu


pelas minhas pernas.

— Gente…

Elas olharam até, comemorando.


— A bolsa rompeu!

— Força, força! — Gritou dona Lúcia.

— Eu não consigo! — choramingo — Está doendo muito.

Respiro fundo quando sou atingida novamente por uma nova


contração, e grito ainda mais alto.

— AAAAAAAAAAAA ISSO DÓI!!!

— Calma amiga, está quase acabando — diz Monique, parada ao meu


lado, segurando minha mão, na maior calma do mundo.

Falar é fácil, quero ver o que ela faria se estivesse em meu lugar.

— Quero cesárea, EU QUERO CESÁREA — imploro, não


suportando mais sentir as dores — Por favor...

— Olha, ele já está vindo... — A médica avisou.

Todos se apressam para olhar entre as minhas pernas, curiosos.

— Estamos quase lá Bruna, só mais um pouco amiga. — Monique me


abraça.
Como eu digo a todas essas pessoas que eu não consigo aguentar? Dói
muito!

Mas alguns minutos se passaram e nada, o bebe não quer sair de jeito
nenhum e eu já estou esgotada, sem forças.

— Só mais um pouquinho, já está acabando. — Pede a médica —


Respira fundo e vai, estamos com você. Na próxima contração, é só
empurrar.

Como se fosse simples.

Outra contração vem vindo e eu faço o que me pedem.

— Ele está vindo amiga — Monique me segura novamente — Vamos


juntas no três… — Faço que sim com a cabeça, já me preparando para a
próxima contração que está chegando.

Respiro fundo, pegando sua mão novamente, com força.

— Um, dois — Puxo o ar —, três! — contamos juntas, quando uma


nova contração vem, e eu faço o que elas pedem de novo e de novo, até não
ter mais forças.

Dou tudo de mim, até ver os olhos de Lúcia se encherem de lágrimas


e sentir uma pontada de dor na parte interna da minha coxa. Eu sabia que
alguma coisa estava acontecendo, só não dá para ver.

— O que está havendo? — Consigo perguntar, apesar de estar


exausta, no limite.

— A cabecinha dele — me olha chorosa — Está quase acabando


minha linda, só mais um pouquinho e teremos nosso menino com a gente —
ela beija minha outra mão livre — Ele já está vindo — anuncia emocionada.
Não sei se foi a curiosidade ou o sentimento desconhecido que crescia
dentro de mim, sei apenas que algo surreal aconteceu em mim agora, como se
minhas forças tivessem sido renovadas e dor nenhuma mais me importava, eu
só queria conhecê-lo e tê-lo em meus braços, o mais depressa possível. Outra
contração se aproxima e eu aproveito a chance.

Soltei a mão que estava segurando a da minha amiga e fiz força, eu


senti o sangue drenar dos meus dedos, enquanto segurava firme nas laterais
da cama.

Um grito saiu da minha garganta, tamanha dor.

Me senti sendo rasgada ao meio, uma dor terrivelmente forte me


atingiu de vez e me concentrei ainda mais em empurrar. Quando achei que
iria desmaiar, então finalmente ouvi o choro, junto com uma grande sensação
de alívio que percorreu todo meu corpo.

Senti meus lábios tremerem, quando me vi lutando contra as próprias


lágrimas, que enchiam meus olhos. Eu só queria ver o meu filho, agora, nada
mais aqui me importava.

— Nasceu, e é lindo. — Alguém anunciou.

O choro do meu filho me fez chorar também, eu o queria mesmo


cansada, queria ele em meus braços desesperadamente. Lúcia pareceu me
entender, quando caminhou até a médica, pegando-o dos braços da doutora,
ainda ensanguentado e me entregando, junto com uma manta branquinha
envolta dele.

Passei o dedo com cuidado sobre sua mãozinha fechada, admirada.


Ele é tão lindo e fofo.

Não existia mais dor, não existia mais sofrimento e muito menos
humilhação. Tudo o que eu passei até aqui, valeu a pena cada segundo. Valeu
a pena ter lutado pelo meu filho, pela vida dele, então eu soube nesse exato
momento que eu faria tudo novamente por ele, se fosse preciso.

Agora, deitado em meus braços, eu me sentia completamente viva, e


então pela primeira vez, eu me senti forte. E então soube que esse seria
apenas o começo da nossa vida juntos.

— Você é lindo, meu amor — sussurrei baixinho, alisando seu


pequeno rostinho — Bem vindo meu pequeno.

A Lúcia estendeu os braços e eu o entreguei para ela, ele precisava de


cuidados agora, antes de voltar para os meus braços novamente.

A enfermeira terminou seus cuidados em mim e me entregou meu


Arthurzinho, depois do banho dele e os exames. Quando elas se afastaram e
saíram do quarto, minha amiga e Lúcia se aproximaram de mim, com
cuidado, para admirar meu pequeno dormindo em meus braços.

Meu bebê.

Um toque leve na porta e Lúcia se afastou para atender.

— Onde está o Samuel? — A voz alterada da Lúcia chamou não só


minha atenção, como a da minha amiga também — Traga-o já, ele precisa
conhecer o filho dele.

— Ele não está aqui. — Alguém respondeu.

— Como não? É o nascimento do filho dele! — esbravejou, irritada.

— Eu sei mãe — a voz do Gabriel —, eu mesmo vou procurar por


ele. — A porta se fechou.

Olhei pra cima apenas para encontrar o olhar preocupado da minha


amiga.

— Não se preocupe, eu estou aqui e é isso que importa — seguro sua


mão em agradecimento.

ELE NÃO VEIO.

Mas também não importa mais, ele fez sua escolha, nos deixando.

Voltei minha atenção unicamente para o bebê mais lindo do mundo,


em meus braços. O dono de todo meu amor, ele vai precisar que a mãe dele
seja forte.

— Meu menino.
Estava quase conseguindo o que tanto queria, quando recebi a
notificação que a ratinha — maldita — está entrando em trabalho de parto.

Compreendi que algo estava realmente errado ao vê-lo ali, bebendo


com os seguranças do Enzo ao invés de estar ao lado dela, ansiando para ver
a criança. O Samuel que eu conheço, não estaria aqui. Ele com certeza estava
planejando algo, enquanto bebia ao redor dos homens.

Esperei até um momento de distração, e passei entre eles numa boa,


disfarçada, adicionando algumas gotas de um líquido que o Enzo havia me
dado para usar em casos de emergência, em sua bebida, estragando seus
planos para hoje. Seja ele qual for, bem diante dos olhos dele.

Idiota.

Samuel estava tão alheio que não notou minha presença no lugar. Eu
tirei o boné da cabeça enquanto aguardo ansiosa, observando-o levar o copo
até a boca, diversas vezes, apreciando a bebida.

Sequer, foi capaz de sentir o gosto diferente do sonífero.

Alguns minutos se passaram e bem diante dos meus olhos, vi tudo


acontecer.

A sensação de estar completamente embriagado, me assustou. Apenas


uma dose de uísque não seria capaz de tanto, tirei do bolso um maço de
dinheiro e entreguei a garçonete, pagando a bebida dos meus amigos.

Por hoje chega! Agora eu tenho provas o suficiente para me livrar do


Enzo e da Mia, eu só precisava chegar em casa o quanto antes e guardá-las,
sem que Bruna desconfiasse de nada. Pelo menos por enquanto, até que eu
conseguisse me livrar dessas duas malas em nossa vida.

Ela já havia passado por muito, não merecia sofrer por mais, ainda
mais agora que está no finalzinho da gravidez.

Engoli um nó, lembrando do quão difícil foi para mim vê-la todos os
dias né ignorar e não poder fazer nada, sendo que tudo o que eu quero é ela e
o meu filho.

Foi duro passar esses últimos dois meses respeitando a "distância" que
ela colocou entre a gente. Mas isso acabou hoje. Eu já saí de casa
completamente cheio de esperanças, tão animado que não consegui não a
tocar quando a vi usando um pijama fofo.

Ela estava cada dia mais irresistível.

Uma nova sensação me assustou, um formigamento em torno do


corpo, junto com uma forte sensação de fraqueza.

Consegui alcançar a maçaneta do meu carro antes de cair, de bunda


no chão. Meu peito acelerou, mas não foi de ansiedade ou medo, eu sei que
há algo errado comigo, então tento alcançar o celular e ligo para a única
pessoa desse mundo que me seria capaz de me socorrer, neste mundo.

Gabriel.

Meu irmão atendeu no primeiro toque.


— Onde você está porra? — Esbravejou, me fazendo apertar a
mandíbula.

— No estacionamento do bar do Kleber, me ajuda. — Um aperto


forte na minha garganta me deixou em silêncio por alguns segundos, antes de
conseguir voltar a respirar novamente — Corre para cá, eu acho que vou
morrer!

— Não sai daí, porra, eu estou chegando!

Tirei o aparelho da orelha e me concentrei em tentar respirar direito.


A sensação da minha garganta inchada me desesperou. Mas meu desespero
durou pouco, quando mesmo de longe, consegui avistar meu irmão correndo
na minha direção feito um louco.

Acordei ao sentir uma massa quente próxima a minha perna, e abrir os


olhos assustado. Gabriel sorria sentado em uma cadeira confortável, ao meu
lado, enquanto pegava de volta um copo descartável cheio de café.

— Que idiota! — resmunguei ao tentar me sentar, sem ajuda dele —


O que aconteceu.

Olhei ao redor, notando só agora que estávamos em um quarto de


hospital, minha mão foi até minha garganta, sentindo-a inchada.

— Você teve uma reação alérgica a droga que batizaram sua bebida,
retardado. Poderia ter morrido se eu não o encontrasse a tempo.

Gabriel se levantou, arrastando para dentro do quarto uma cadeira de


rodas.

— Pra que é isso.

— Anda, vem. — Apontou para a gaveta — Vamos dar uma volta,


quero que conheça uma pessoa.

— Que pessoa? — perguntei quando ele se aproximou, me ajudando a


sentar na cadeira, já que eu ainda me sinto fraco.

Ele piscou, sorrindo.

— É surpresa.

Dei de ombros, afinal, ele salvou minha vida. Acho que eu podia
confiar nele por mais alguns minutos e conhecer quem quer que seja.

Enquanto Gabriel me empurrava, comecei a notar para onde


estávamos indo.

PEDIATRIA.

Paramos em frente a uma porta branca, com dois adesivos nela. Meu
peito apertou, me obrigando a encarar o Gabriel, antes dele bater na porta.

— O que você…

A porta abriu, e meus olhos encheram de lágrimas com a cena que


acontecia bem diante dos meus olhos. Meus lábios tremeram.

Só podia ser uma miragem, a miragem mais linda que um dia eu pude
ver.

Bruna estava deitada sobre uma cama, com o seio de fora,


estimulando o nosso filho a mamar.

O olhar dela encontrou o meu, notando minha presença na porta.

— Meu filho nasceu? — Perguntei, desorientado, encarando o


pacotinho de gente nos braços dela.

Minhas mãos tremeram querendo-o.

Gabriel empurrou mais a cadeira, fazendo com que eu ficasse ainda


mais perto deles. Minha mãe tocou minha cabeça, nos deixando, Gabriel e
Monique fizeram o mesmo. Mas a única coisa na qual eu só consegui fazer,
foi olhá-lo mamando com fome.

Não consegui segurar a emoção e desabei. O meu milagre não estava


apenas vivo, ele está agora diante de mim, em carne, osso e muita bochecha.

— Me perdoa, por favor. — Consegui dizer, ao tocá-lo — Me perdoa


meu filho.

Recostei a cabeça em sua coxinha e comecei a desmoronar. Meus


soluços o assustaram, fazendo-o largar o peito.

Bruna tocou levemente minha cabeça, me fazendo olhá-los.

— Veja…

Fiz o que me pediu, admirando com amor, cada pedacinho do meu


filho.

— Ele é a minha cara. — As palavras simplesmente saíram da minha


boca.
Para minha sorte, ela riu.

— Sua mãe disse a mesma coisa.

Não esperei uma outra oportunidade, e segurei sua mão, sentindo-a


tremer.

— Como você está? Me desculpe por não poder chegar a tempo.

Ela tentou afastar sua mão, mas não permiti.

— Eu soube do que aconteceu com você — vi quando ela engoliu —,


então está tudo bem.

Enxuguei minhas lágrimas, na roupa de cama, antes de encará-la


melhor.

— Será que eu posso… — apontei para o Arthur — Segurá-lo um


pouco?

Ela sorriu, me deixando ainda mais apaixonado.

Ela acabou de ter uma criança, como pode estar tão linda assim?

— Claro, toma.

Preparei meus braços quando ela o estendeu para mim, e o deitou em


meu colo.

Meu coração transbordou de amor, ao senti-lo. Ele é tão lindo, tão


cheiroso, tão eu…

Soltei a mão dela apenas para ver a mãozinha dele se fechar em volta
do meu dedo e apertar.

— Ele é forte!

Mais lágrimas escorreram pelo meu rosto, me fazendo sentir o homem


mais grato desse mundo.

Além das provas contra o Enzo, eu agora tinha o meu filho nos
braços, o meu novo amor.

Apesar de não querer nunca sair ao lado deles, eu precisei. Bruna


receberia alta do hospital em dois dias e eu preciso está recuperado o quanto
antes, para cuidar dos dois.

Eu havia pesquisado bastante sobre como cuidar de um recém-


nascido, mas cuidar de uma mulher no puerpério, é novo para mim. Mas eu
daria o meu melhor de todo jeito.
Dias depois…

Iludida eu, acreditando que pelo Arthur ser um bebê tranquilo, eu teria
um resguardo tranquilo e calmo. Mas acordar todos os dias com Samuel
recém tomado banho, de toalha, trazendo café da manhã na cama para mim
todos os dias, já está mexendo gravemente com meu psicológico e com
minha piriquita.

Que o Santo protetor das periquitas me ajude!

O contorno dele através da toalha não deixou nada a esconder. Nada


ficou de fora da minha imaginação.

Que inferno é isso que está acontecendo comigo?

Ele olhou para mim, sem entender.

— Eu vou trocar de roupa e venho ficar com ele, para você tomar seu
banho em paz.

Olhamos juntos para o nosso filho, que dormia tão quietinho ao meu
lado.

— Tudo bem — assenti para ele, agoniada já —, pode fazer suas


coisas.

Ele negou.

— Eu já fiz, pode ficar tranquila. Percebi que ele acordou algumas


vezes essa noite, mas fiquei sem jeito de entrar em seu quarto para vê-lo.

As gotas em seu corpo começaram a descer na direção da toalha.

— Acordou três vezes procurando o peito.

Sua risada chamou minha atenção.

— Desculpe, é que eu o entendo. Mas pensei que poderia ser isso, por
isso não quis entrar no quarto.

E diante dos meus olhos, vi quando o olhar dele desceu até minha
camisola, curioso. Peguei a coberta e a suspendi até o topo dos meus seios,
cobrindo o restante do decote, envergonhada.
Não quero que ele me veja assim, com os seios vazando.

— Obrigada por não ter entrado, eu não estou nos meus melhores
dias. — Abaixei a cabeça, envergonhada por admitir tal coisa.

— Você me parece ótima. — Olhei para ele, vendo o contorno do seu


pau endurecer, ele limpou a garganta rapidamente — Vou deixar você comer,
e já volto.

Deu uma última olhada no Arthur quando sorriu até mim antes de
fechar a porta, me fazendo voltar a respirar novamente.

— Essa foi por pouco.

Olhei para as delícias na bandeja, apreciando tal gesto. Ao menos ele


está cumprindo com o que prometeu, já que não permitiu que eu passasse o
resguardo em casa com seus pais.

Arthur se mexeu, me deixando atenta, tomando meu café mais rápido


antes que ele acorde e me queira só para ele.

Um barulho soou do outro lado da porta, chamando minha atenção.

"Não foi nada"

O grito do Samuel me aliviou.

Voltei a comer às pressas, louca para entrar no banheiro e tomar um


banho caprichado, a ponto de recuperar toda a minha dignidade de volta.

Daqui a pouco o Samuel vai pegar o Arthur e eu vou poder finalmente


fazer as minhas coisas. Depositei a bandeja na mesinha do quarto e fui
escovar os dentes, começando a me preparar para começar a encher as
bombinhas de leite e congelá-los antes de sair.

Hoje eu tinha consulta com o médico, e minha amiga prometeu ir


junto. Mas por obra do destino acabou cancelando.

Quando terminei de me arrumar, abri a porta do quarto, dando de cara


com Samuel — sem camisa — com o Arthur, nos braços. Meu peito ficou
quentinho com a cena, mas logo desviei o olhar.

— Vai sair? — perguntou.

Olhei para ele.

— Tenho uma consulta hoje. — Mexi na bolsa, disfarçando.

— Por que? Você está bem?

Assenti.

— Sim, é apenas uma consulta normal.

— E vai sozinha?

— Vou.

— Arthur e eu podemos levar você.

— Não precisa se incomodar, eu pego um táxi.

Me apressei antes que ele mudasse de ideia e decido, ele resolva me


levar, a todo custo. Tudo bem que nós últimos dias ficamos muito próximos
tendo que lidar com um recém-nascido em casa, mas havia certas coisas nas
quais eu ainda evitava.

No início eu permitia que ele entrasse no meu quarto durante a noite,


para me ajudar a cuidar do Arthur. Mas conforme o Arthur estava dormindo
melhor, fui tirando esse hábito, para o meu próprio bem.

Não quero de jeito algum estragar o pouco da convivência que


estamos tendo nos últimos dias.
— Vou indo, fica bem. — gritei da porta, antes de fechá-la.

Meu segurança já me esperava ao lado de fora, o que ficou bem mais


fácil para mim, desde que, não vou precisar pedir um táxi.

Sai da consulta e fui direto para casa, Monique já me esperava na sala,


com Arthur no colo, mimando-o.

— Você demorou. — Provocou minha amiga, quando eu terminei de


lavar minhas mãos.

— Não demorei tanto, deixe de onda.

Cheirei as bochechinhas do meu Arthur, arrancando-o dos braços da


madrinha e colocando-o em meu peito. Ele começou a sugar bem animado,
enquanto balançava as perninhas. Minha amiga sentou ao meu lado,
admirando-o.

— E como a consulta?

Olhei para ela.

— Foi bem, está tudo certo comigo. — Tranquilizei ela.

Arthur começou a sugar forte, me arrancando um gemido.


— Devagar garotão, o tetezinho não vai acabar.

— O médico me liberou.

Monique fez uma careta.

— Liberou para que?

— Sexo, com segurança, é claro.

Ela sorriu, animada.

— Isso é bom, agora você já pode sair, conhecer gente nova. Você
passou por momentos muito difíceis para ter esse garoto, merece beijar na
boca de vez enquanto. Eu super apoio.

Bufei.

— Não me sinto pronta para conhecer alguém, eu só quero ficar


quietinha no meu canto, cuidando do meu filho.

— Diz isso agora, quero ver depois, quando a vontade bater. você está
praticamente virgem. Não tem nem curiosidade em dar uma chance ao
André? ele ficou mal por você tê-lo dispensado, ele gostava de você.

— Eu não o vejo da mesma forma.

Ela estalou.

— Tem certeza? — sorri sentindo a milícia brilhar nos olhos dela —


Eu ia adorar ficar com esse bebezão aqui para você se divertir com ele.

A porta do quarto bateu com força, nos assustando.

Samuel parou bem à nossa frente, apontando para o quarto.

— Preciso falar com você. — Ele sequer desviou o olhar do meu.


Eu não fazia ideia que ele ainda estava em casa, já que vi minha
amiga com o Arthur.

— Agora não posso — Apontei para o Arthur em meu peito, caso ele
não tenha visto, já que estava muito nervoso — É muito urgente?

ele me encarou furioso.

— Muito, mas eu posso esperar ele terminar.

Assenti.

— Tudo bem, assim que ele terminar eu vou lá ver você.

— Não se der o trabalho — bateu o pé — Eu espero aqui.

Olhei para Monique, sem entender nada. É completamente estranho


ele estar agindo assim, mas pela sua cara, pareceu ser algo extremamente
grave.

Samuel parece ter congelado no lugar, pois não mexeu sequer um


músculo, enquanto esperava. Uma sensação desconfortável soou no lugar.
Quando Arthur soltou meu peito, satisfeito, passei ele para minha amiga.

— Vem cá bebezão, pra sua titia.

Mal terminei de arrumar o vestido no lugar quando ele agarrou meu


braço e me arrastou para dentro do quarto, bruscamente.

— Ei, devagar! — Protestei, mas ele me ignorou.

Samuel me arremessou no meio de sua cama, quando nos trancou


dentro do quarto. Olhei assustada para ele, enquanto tentava escapar.

— Foi por isso que não me deixou te acompanhar na consulta? Você


quer conhecer gente nova? — arqueou uma sobrancelha — Tem certeza?
Quando consegui pôr um pé para fora da cama, ele me empurrou de
novo nela, avançando.

— Samuel, pare!

O medo me invadiu, vendo-o perturbado.

— Por quê? Ainda nem comecei. — Desviei rapidamente, quando


tentou morder minha boca.

engatilho para o outro lado da cama tentando escapar, mas ele não
deixou, puxou meu tornozelo com força, me fazendo cair de bunda na cama e
me deitando nela. Ele aproveitou a oportunidade para subir em mim.

Meu peito subia e descia, nervosa.

— O que você quer?

— Você! Eu quero você!

Arfei, quando ele lambeu o topo do meu peito, antes de afastar o sutiã
para o lado e puxar levemente o bico na direção da sua boca.

A sensibilidade fez meu corpo arquear, sentindo a rigidez do pau dele


duro.

— Samuel…

Meu corpo tremeu de prazer, quando seus dedos desceram até minha
calcinha, esfregando com força contra minha boceta.

Ele soltou meu peito e desceu pelo meu corpo, parando em frente à
minha calcinha, cheirando-a. Seu olhar dizia exatamente o que ele queria de
mim. Assenti, não consegui responder.

Samuel afastou minha calcinha para o lado, e lentamente começou a


me chupar. Meus gemidos preencheram o quarto, enquanto ele me sugava
com força. Minhas pernas prenderam em suas costas, impedindo-o de sair.

Com a boca em minha boceta, senti ele sorrir com a minha ousadia.
Eu não me importei. Já que a vítima dele sou eu.
Desde o início eu sabia que minha relação com ela não seria fácil,
ainda mais depois de tudo o que passamos. Ela estava ferida, machucada, e
eu precisava ter muita paciência para conquistar ela novamente. Eu estava
quase conseguindo isso, até descobrir que ela já estava me colocando como
um mero AMIGO.

Isso me chateou, mais não a ponto de perder o controle, como eu


perdi ao ouvir a conversa em que elas estavam tendo na sala, sobre sexo.
Fiquei completamente louco quando ouvir ela dizer que estava pensando em
sair com o André agora que o médico a tinha liberado para transar.

Não, mano. Isso não!

Quero matar esse médico.

Mesmo que ela não tenha dito nada, eu sei da vergonha que sente pelo
inchaço dos seus seios, então fui dar atenção primeiro para eles, antes de cair
de boca em sua boceta.

Minha, toda minha.

Deliciosa como sempre, eu senti tanto a falta disso.

Pela reação, eu sei que está perto de gozar, então continuei comendo-a
com força. Ela gritou em seguida, gozando. Afastei meu rosto de sua boceta,
alisando-a, inchada e vermelha, depois dos meus chupões.

A entrada avermelhada, me deixou cego de tesão.

Levantei às pressas, abrindo minha calça em tempo recorde, antes de


esfregá-lo nela, molhadinha, do jeito que eu gosto. A cabeça do meu pau
brilhou com sua umidade, antes de entrar. Sua boceta apertou tanto o meu
pau, que eu quase gozei dentro dela.

Minha boca procurou pela dela, enquanto eu lhe fodo com força,
mostrando a ela que eu sou seu homem e mais ninguém!

— Abre os olhos! — Pedi, vendo-a fechá-los de prazer.

Ela me olhou confusa, mas acabou fazendo o que eu pedi.

— Cala a boca!
— Quero que veja quem está te comendo! Não é André aqui.

Sua carinha incrédula, me fez querer sorrir.

— Você… — A calei.

— Isso mesmo, quero que você veja quem é o seu macho! Você é
minha, ouviu bem, sugar baby?

E antes que ela começasse a me atacar, a coloquei de quatro e soquei


com força dentro e fora de sua bocetinha gostosa. Bruna gritava cada vez
mais alto, enquanto gozava de novo e de novo comigo dentro dela.

Eu a tomaria de novo e de novo, até que ela entenda a quem ela


pertence.

Depois de cinco longas rodadas de sexo, minha Sugar Baby deitou em


minha cama para recuperar o fôlego e acabou dormindo.

Meus pais tinham chegado mais cedo, para levar o Arthur e a


Monique até o apartamento do meu irmão, quando eu os pedi esse favor.

Olhei para o corpo da minha Sugar Baby safadinha, antes de sair do


apartamento com o pen drive no bolso. Hoje à tarde havia recebido em meu
celular, a notificação de uma reunião marcada para hoje em nome do Enzo,
com meu irmão. Isso me deixou cismado de que ele provavelmente apontaria
algo em relação ao meu irmão, depois dos últimos acontecimentos.

Deixei dois seguranças extras na portaria do prédio antes de sair.

Ao menos saber que minha mulher estaria protegida me faz sentir


melhor lidando com o Enzo.

Entrei no escritório do meu irmão, sem chamar atenção. Por trás da


porta a voz alterada do Enzo me irritou.

Ele estava cobrando ao meu irmão um projeto no qual eu o havia


recusado. Mas é óbvio que ele iria aproveitar da minha ausência para tentar
passar por cima de mim e ter seu projeto fraudulento aprovado.

Invadir a sala, indo na direção do Gabriel.

— Preciso que venha comigo, já!

Ele olhou para mim atordoado.

— O que está acontecendo?

Apontei para o Enzo.

— Preciso te mostrar uma coisa, garanto que você nem estaria


sentado aqui se soubesse.

Meu irmão se levantou em um pulo e me acompanhou. Enzo parou no


meio do nosso caminho, tentando me impedir.

— A reunião não terminou!

Bufei, confrontando-o mostrando a ele o pen drive que eu tinha no


bolso.
— Tem certeza? Acho que seria bom se todos nessa sala assistissem
as gravações aqui dentro.

Enzo tentou alcançar o pen drive, mas eu não permiti. Uma ideia
melhor me ocorreu.

— Gabriel?

— Hum?

Sorri ao ver o rosto do Enzo mudar de cor.

— Acho que mudei de ideia, tá afim de assistir um filme? — Quando


meu irmão assentiu, lhe entreguei o Pen drive.

Enzo tentou alcançá-lo, mas eu não permiti. Gabriel foi até o aparelho
da sala e o colocou para reproduzir. Fiquei parado vendo e ouvindo todas as
gravações do Enzo serem assistidas por quinze pessoas importantes, entre
elas, o meu irmão, sua maior vítima.

Nas gravações mostravam claramente o rosto do Enzo e da Mia, ao


planejarem seus crimes. No vídeo continha ao menos seis deles, sendo dois,
contra a minha cunhada Monique, na época em que foi sequestrada. A
intenção deles foi exibida diante de todos.

A máscara do Enzo tinha acabado de cair.

— Então seu plano era dar um fim na minha mulher? — esbravejou


meu irmão, indo na direção do Enzo com tudo.

Me afastei quando Enzo sacou sua arma e atirou, errando o tiro.


Tentei alcançar a minha, mas ficou difícil, quando vi o Gabriel sacar a dele e
ir, contudo, na direção dele. Ao contrário do Enzo, meu irmão não erraria.

De repente homens encapuzados entraram na sala, atirando contra


todo mundo. Quando um deles mirou no Gabriel, eu pulei em sua frente,
recebendo um tiro no ombro em seu lugar.

Nossos seguranças agiram por conta própria, vendo a situação.


Machuquei ainda mais o lugar da bala com a queda.

— Desgraçado! — Pressionei o lugar, caído.

Gabriel abaixou ao meu lado, antes de começar a atirar, abatendo


alguns deles. Enzo aproveitou a confusão e começou a fugir.

— Gabriel, vaaaaai!!!!

Ele encarou meu ombro.

— Não, porra. Você está machucado!

— É de raspão — minto — Não deixe o Enzo fugir!

Ele olhou para mim, incerto, mas acabou assentindo, indo atrás deles!
Agarrei meu ombro com força, antes de tirar o celular do bolso e ligar para a
polícia.
Acordei com uma sensação estranha, ao olhar ao meu redor e não
encontrar nenhum dos dois. O notebook do Samuel estava aberto na
banquinha, me fazendo ir até ela e olhar.

Havia duas coisas bem ali, um aviso de onde ele estaria agora e uma
gravação repentina. Dei o play curiosa, assistindo com clareza o pai da Gabi
planejar seus crimes, bem diante de mim, com a Mia ao seu lado.

Tremi, vendo-os usar a Camila e o Max, para saírem ilesos da


tentativa de sequestro da minha amiga.

Vesti uma roupa rapidamente, mesmo trêmula e dirigi sozinha até o


escritório do Gabriel, onde eu sabia que ele estaria.

Estacionei o carro ao lado de fora do lugar, quando dois carros —


gastando pneus — chegaram e alguns homens armados entraram no lugar.

Meu coração acelerou assistindo.

Meus dedos tremeram ao ligar para a polícia imediatamente, quando


os tiros começaram a ecoar.

— Ai meu Deus, aí meu Deus!!!!

Mia saiu de dentro de um dos carros, e entrou na parte de motorista de


um deles, quando apenas alguns homens saíram de lá — ensanguentados —
com o Enzo ao seu lado.

A desgraçada deu partida, tirando eles daqui.

Rapidamente Gabriel saiu de dentro, sozinho, armado apontando na


direção do carro, acelerei e parei a sua frente.

— Entra!

Eu não fazia ideia do que estava fazendo, mas agir no impulso, pois
eu não consegui ficar parada vendo aqueles desgraçados fugirem.

— NÃO, SAI DAÍ! — Uma ova que eu vou.

Bati com força no volante, quase os perdendo de vista.

— Se você não entrar, eu vou de qualquer jeito!


Ele bufou, irritado, mas acabou fazendo o que eu pedi. Não esperei
que ele terminasse de fechar a porta e acelerei, indo atrás deles!

— A arma está carregada? — Apontei para a caixinha de lenço do


carro — Tem balas dentro deles e embaixo do seu banco tem uma arma presa
— Engoli em seco, vendo-o me encarar — Foi ideia do André, tá legal? Ele
só garantiu que eu ficaria segura, caso ele não esteja presente em um
momento como esse.

— Não vou perguntar o porquê, mas quando isso tudo acabar, vamos
ter uma conversa.

Assenti, acelerando ainda mais, pegando-os novamente.

— Achei, SE SEGURA!

Rapidamente ele rasgou a caixa de lenço e começou a recarregar a


arma na qual eu havia apontado.

Avancei na direção do carro deles, batendo na sua traseira com força,


provocando-os. Gabriel abaixou parte do vidro, antes de começar a atirar
contra eles, acertando um dos vidros em cheio.

Um braço foi posto para fora do carro, quando eles começaram a


atirar de volta. Abaixei apenas o suficiente para me proteger dos tiros,
quando desviei de um outro veículo.

Assim não íamos conseguir parar eles.

— GABRIEL!!!! — o gritei em meio aos disparos.

— NÃO POSSO AGORA!

Avancei o carro novamente, batendo na lateral dele. Os tiros pararam


por dois segundos, antes de retornar.
— VAI PARA O BANCO DE TRÁS! EU TENHO UMA IDEIA.

Ele abaixou, adicionando mais balas na arma, nervoso, antes de me


olhar.

— Por quê? Seu plano é nos matar?

Neguei.

— Vou ultrapassar eles, quero que você aproveite qualquer


oportunidade que tiver para parar aquele carro!

— E O QUE É QUE EU ESTOU FAZENDO? — Gritou, irritado.

Que vontade louca de bater nele.

— Você está tentando matar eles, não os parar. Vou ultrapassar e


você os derruba!

Sirenes da polícia soaram no fundo.

— A polícia chegou!

— E não vai mudar nada, a gente está perto deles, só temos que
derrubá-los.

Ele assentiu.

— QUANDO ISSO TUDO ACABAR, VOCÊ ME PAGA!

Acelerei o carro quando meu cunhado pulou para o banco de traseiro,


se agarrando firme no banco, enquanto eu ultrapassava o carro deles.

Eles fizeram o mesmo, igualando a distância. Joguei o carro na


traseira deles, fazendo-os vacilar.

— BRUNAA!!! — A voz do Gabriel no fundo.


Abaixei o vidro traseiro e ele começou a atirar. O outro carro logo
revidou contra os disparos do Gabriel.

Os vidros do nosso carro começaram a estourar. Joguei o carro na


lateral do deles de novo e de novo, com ainda mais força.

O carro deles começou a derrapar para fora da pista, mas logo


recuperou e bateu com força contra o nosso.

— BRUNA!

Ignorei ele, lembrando novamente do vídeo do Enzo.

Meu olhar encontrou o da Mia, quando eu joguei o carro novamente


na lateral deles, fazendo-os capotar para fora da estrada.

Parei o nosso carro às pressas.

Gabriel abriu a porta traseira e correu até eles, completamente


armado, rendendo um a um, conforme eles iam conseguindo sair do carro
machucados, enquanto a polícia encostava.

Respirei fundo, tentando me acalmar, sentindo gradativamente os


efeitos da adrenalina passar. Minhas mãos ainda tremiam enquanto segurava
o volante.

Mia saiu de dentro do carro, mas estava ilesa, ao contrário dos


homens.

A polícia parou atrás deles, rendendo todos.

Abri a porta do carro, pegando um pedaço de pau que estava no chão


da estrada e caminhei na direção deles, vendo-a começar a correr para os
policiais.

Caminhei na direção dela, com ele na mão, mirando em sua cabeça.


Um grito alto saiu dela, quando percebeu que eu estava prestes a
atacá-la. Mas Gabriel me impediu, me carregando em seu ombro para longe
dela.

— MERDAAAAA!

Foi o tempo apenas de passar em casa e tomar um banho, antes de


irmos ao hospital onde o Samuel havia sido levado. Quando Gabriel me
informou que ele havia sido baleado, entrei em desespero para vê-lo.

Caminhei pelo corredor até o seu quarto com o coração na mão,


temendo por ele. Mas infelizmente ainda estava em cirurgia.

Lúcia e Roberto me abraçaram assim que me viram.

A dor no rosto deles, dava para ser sentida. Meu peito apertou,
pensando no meu filho.

"Você precisa se recuperar logo Samuel, a gente precisa de você." —


Peço mentalmente, completamente desesperada.

O médico saiu, deixando todos aflitos pelo resultado da cirurgia.

— Está feito, a cirurgia foi um sucesso. Em breve encaminharemos


ele para um quarto!

A notícia deixou todo mundo aliviado, sem exceções.

A visita foi liberada quando Samuel acordou, mas apenas podíamos


entrar de um em um, para não o deixar nervoso. O tiro não havia pego em seu
ombro, como ele havia mentido para nós.

O médico foi bem detalhista quanto a cirurgia…

O tiro havia acertado de raspão o seu peito, muito próximo do


coração. Por muito pouco não perdemos eles.

Ele sorriu, sonolento, ao me encarar.

— Como você está? — alisei sua cabeça.

Ele sorriu novamente.

— Já estive melhor, mas acho que vai precisar de muito mais que isso
para você se livrar de mim.

Fiquei feliz da vida por vê-lo assim, brincando.

— Fiquei sabendo que vai se recuperar na casa dos seus pais, estou
feliz por você.

De repente ele ficou sério.

— Eu não vou não, que história é essa?

Fingi surpresa, querendo rir da situação.

— Seus pais embalaram suas coisas lá de casa, disseram que você vai
pra casa deles a partir de hoje.

Os olhos do Samuel se arregalaram.

— Não brinca.

Seu desespero só me mostrava o quão ele queria ficar com a gente.


Meu peito doeu só em pensar que eu podia tê-lo perdido.

— Não brinco, me desculpe…

Ele se sentou na cama, dando um espaço para mim. Não precisei de


um novo convite e me deitei ao seu lado, abraçando o corpo dele, com vida.

— Gabriel me contou o que aconteceu — respirou fundo —, não vou


ter pena da sua bunda, quando eu me recuperar.

Sorri, assentindo, sabendo que eu merecia.


O celular do Gabriel não me respondia, quando o elevador apitou.

Cumprimentei o segurança, antes de levar a mão até o bolso e pegar


as chaves. Abrir a porta na sorrateira, para não acordar o Arthur e pegar
minha mulher de surpresa, em casa.
Mas parei no meio da sala ao ouvir vozes vindo da cozinha.

Merda.

— Droga! Meus pais ainda estão aqui. — Sussurrei, tendo amor a


minha vida.

Fui até o quarto, depositando as sacolas de presentes lá, para que ela
pudesse ver assim que entrasse nele.

Meu pau endureceu, imaginando.

Mas logo se tratou de amolecer ao ouvir a voz do meu irmão, me


chamar.

— O QUE ÉEEEE… — Respondo, indo até eles.

Entrei na sala dando de cara com todos eles — inclusive o Mauro —


parados diante de uma mesa cheia, comemorando. Meu irmão tentou falar
algo, mas não conseguiu, emocionado.

Meu peito apertou.

Olhei para o Arthur, vendo a Monique tirar do bolinho de seu


macacão um teste de gravidez, com um POSITIVO escrito nele.

— Estamos grávidos!!!

Meus lábios tremeram ao olhar o estado do meu irmão, emocionado,


segurando sua mulher com ternura e paixão.

Não esperei por mais, caminhei até eles e o abracei. Eles merecem
esse presente!

— Eu vou ser TITIO!!!! — Os apertei com força.

Eles riram, retribuindo o gesto.


— A família vai aumentar!

Nos afastamos, apenas para minha Sugar Baby começar a chorar nos
braços da amiga.

As duas tão emocionadas quanto nós todos. Meus pais vieram até nós
dois em seguida, chorando feito dois bebês com a novidade. Mauro se juntou
a nós, distribuindo champanhe a todos, exceto a irmã.

Já passava das 22h quando minha Sugar Baby me entregou o Arthur e


foi se preparar para dormirmos.

Mas cedo ela encontrou os presentinhos que eu tinha comprado para


ela, e os escondeu. Ela usou a desculpa de que eu AINDA não merecia que
usasse um plug de rabo só para mim.

Mas eu não aguentei vê-lo e não lembrar dela. Ela ficaria tão linda,
completamente nua usando um, com a carinha de safadinha que tem.

Minha safadinha.

Olhei para Arthur, que me encarava seriamente, esperando eu


terminar de trocar sua fralda. Eu o amo demais. Meu tesouro sorriu diante da
minha careta ao ver o presente lindo que me deixou em sua fralda.

— Você é lindo, meu neném… — beijei sua barriguinha levemente,


para não o machucar.

Meu pequeno tem apenas um mês de vida, e já conquistou o coração


de tanta gente, inclusive o meu. Eu não sei o que seria de mim sem ele, é
como se a minha vida antes não tivesse sentido. Agora tudo estava se
encaixando.

Terminei de limpar o cagão e comecei a niná-lo de um lado para o


outro, esperando seu sono vim.

O chuveiro desligou e uma morena gostosa, da boca gostosa


caminhou até nós dois, aproveitei a presença dela e fomos os três juntos até a
rede que eu havia instalado ontem em nossa varanda.

Deitamos juntos e com o balançar, Arthur dormiu. Bruna se


aconchegou melhor em meu ombro, apreciando o momento tranquilo, mesmo
sabendo que daqui a duas horas, ele acordará a casa inteira atrás dos peitos
dele.

Meu filho tem um gênio forte, igual a mãe dele.

Acaricie a carequinha dele, desejando mais.

— O que a gente faz agora?

Ela suspirou alto.

— Dormi, eu só quero dormir.

Sorri com sua voz de sono.

— Estava me referindo a ele. — Apontei para ele nosso filho.


— A resposta é a mesma — se levantou, pegando o Arthur nos braços
— Ajeita a cama, estou tão cansada que hoje ele vai dormir com a gente.

Meu sorriso morreu, tamanha emoção. Estava cansado de ter que ir


buscá-lo no berço a cada duas horas, para levá-lo até ela.

— Sério? — Dei um pulo da rede, cheirando o pescoço dela, feliz da


vida.

Vou dormir mais!

— Sim, hoje estou com zero disposição. — Sorriu, quando eu cheirei


seu cangote — Mas é só hoje, amanhã ele volta pro bercinho.

Ajudei ela a caminhar com ele até nossa cama e colocar a barreira de
proteção, assim evitamos tocar ele num momento de sono.

Estendi a coberta e ela se deitou ao meu lado, de conchinha comigo,


me deixando completamente viciado em seu cheiro a cada dia que passa.

— Samuel? — Me chamei.

Custei a abrir o olho.

— Hum, desistiu de dormir? — Me esfreguei em sua bunda — Quer


brincar né?

Ela riu.

— Não!

Parei, surpreso.

— O quê?

Suspirou alto, antes de aproximar o rosto do meu.

— Eu te amo, tá?
TÁ?

SE TA?

Meu peito acelerou. É a primeira vez que ela me diz isso. Eu estava
que nem um louco, esperando por um momento assim. Eu apenas tive mais
certeza ainda que ela é a mulher da minha vida, a mãe dos meus filhos e
muito em breve minha esposa.

Beijei sua testa, apreciando o momento.

— Eu te amo muito, meu amor, muito mesmo! Desculpa não ter dito
antes, caso fosse importante para você. É que eu esperei muito por isso.

Ela retribuiu o beijo, me deixando ainda mais louco por ela.

— Eu sei disso, desculpa não ter dito antes.

Segurei seu queixo, a beijando.

— Não tem problema, eu te amo de qualquer jeito.

Ela sorriu em meio ao beijo.

— Eu também.
Meus créditos de hoje vão para minhas colegas, que puxaram muito a

minha orelha para liberar esse livro, vocês são incríveis. Sugar baby é o

segundo livro de uma trilogia, para quem ainda não conhece, eles tem uma

continuação.

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