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Copyright © 2022 Larissa Abreu

Edição Digital | Criado no Brasil.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e


acontecimentos descritos são produtos da imaginação da autora.
Qualquer semelhança com nomes, datas e acontecimentos reais, é
mera coincidência.
Esta obra segue as regras da Nova Ortografia da Língua
Portuguesa.
Todos os direitos reservados.

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parte dessa obra, através de quaisquer meios — tangível ou
intangível — sem o consentimento escrito da autora.

LIVRO ÚNICO | 1º edição


Sumário
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capitulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Agradecimentos
Para todas as mulheres que um dia já se acharam insuficientes. Mesmo que a
porta seja enorme, ela não é nada sem uma chave.
Capítulo 1
Claire Blackwood

Hardin andava de um lado para o outro na minha frente,


enquanto eu estava sentada no sofá, ansiosa, e não era por causa
do seu tom alterado, mas sim por causa do relógio na parede. Cada
vez que eu via o ponteiro bater um minuto a mais, eu conseguia ouvir
a voz do meu chefe dentro da minha cabeça, porque há exatos cinco
minutos, eu deveria estar chegando na empresa.
Jacob iria me enforcar, e dessa vez não seria com palavras de
cinismo ou com discurso de ódio, mas sim com as duas mãos.
Talvez se fosse outro dia normal ele deixaria passar com uma
bronca desagradável como todas as outras vezes, mas hoje não.
Hoje era a reunião com os empresários imbecis que Corbyn
tanto puxava o saco para tentar agradar. A droga de um contrato que
estava fazendo aniversário e quase ganhando nome e um registro de
nascimento. Neste exato momento eu deveria estar de pé, ao seu
lado, na sala de reuniões, com um sorriso escancarado onde todos
os meus dentes apareciam, fingindo ser a secretária que ganha
milhões de euros e que amava seu trabalho, mas que não era
exatamente assim, pelo menos não na maioria das vezes.
— Olha só, você ao menos está prestando atenção em mim. —
Hardin me acusou de uma quase desistência no assunto. Ele já
vinha repetindo esse roteiro dramático há semanas e eu nunca fui
muito fã de teatro, até porque ele mesmo seria um péssimo ator.
— Eu já deveria ter saído de casa. Eu não posso me atrasar,
você sabe! — Suspirei, apertando minha bolsa debaixo do braço. —
Acho melhor deixar essa conversa para depois.
Hardin Collins era meu namorado há quase quatro anos e a
nossa história seria um conto de fadas se ele não tivesse terminado
comigo há anos, me fazendo alugar um apartamento para mim
depois de eu deixar o dele. Morávamos juntos e ele, claramente, quis
que eu saísse do seu lar, porque naquele momento ele decidiu que
não tínhamos mais um vínculo amoroso, e sabe o que eu aprendi
com isso? Nunca dependa de homem para nada. Nem para lhe
emprestar um palito de dente para retirar a carne do rodízio dos
domingos, continue com o dente sujo e lave quando chegar em casa,
porque a possibilidade de eles pedirem o palito novo e intacto de
volta é enorme.
— É o nosso relacionamento, Claire! Não é algo que possamos
conversar mais tarde. Você só tem tempo para o trabalho, passa
mais tempo com seu Jacob Corbyn do que comigo. Porra, eu sinto
sua falta. Parece que você não está nem aí!
Eu contei de 1 até 3.
Mas ao chegar no 2, eu voltava pro 1.
Minha paciência não era tão extensa e eu desconfio de forma
verídica que ao chegar na minha velhice estarei tão ranzinza como a
irmã mais velha de Tia Carrie.
Hardin era claramente um dos homens mais sentimentais que
eu conhecia e, sabendo disso, eu confesso que às vezes pegava um
pouco mais leve nas alegações. Eu gostaria de falar coisas mais
duras, como: Você terminou comigo, me expulsou da sua casa
somente porque você queria um tempo. Você foi um imbecil e eu te
perdoei, mas ao invés disso eu disse outra coisa.
— Olha, é meu trabalho. É com ele que eu pago o financiamento
do meu apartamento, que eu pago todas as minhas contas. Você não
tem o direito de falar de Jacob. Ele é meu chefe e ser secretária dele
é justamente minha função.
Hardin cruzou os braços na minha frente, como uma criança
birrenta que ouvia não de sua mãe.
— Eu já disse que você pode voltar para minha casa, Claire.
Você continua nisso porque quer. Sabe o que eu ouvi nas entrevistas
e tabloides? Que esse empresário imbecil é mulherengo. — A velha
tática dele estava realmente ficando velha. Mesmo que Jacob
realmente fosse um mel entre as mulheres, Hardin usava esse
adjetivo com todos os homens do planeta na qual ele sentia que o
pudesse ameaçar.
A conversa estava começando a me incomodar pelo caminho
que continuava a andar.
— Vamos lá Hardin, duas coisas. A primeira é, eu nunca mais
volto pra sua casa porque eu não quero que você me expulse mais
uma vez de lá, e se eu perder meu emprego eu voltarei para casa de
tia Carrie para fazer companhia a Katie. — Respirei fundo — E por
último, Jacob nunca ousou me desrespeitar, mesmo sendo um
imbecil. Mas saiba que se um dia ele tentar, vou chutar suas bolas
com tanta força que ele vai cuspi-las em cima de sua própria mesa.
— Você prefere voltar para sua Tia irritante do que ficar comigo?
— O famoso ego ferido. — E meu deus, Claire! Isso é passado, eu
mudei.
— Chamando a tia Carrie de irritante mostra que você é o
mesmo. Nosso relacionamento está indo muito bem com cada um no
seu canto, Hardin. Você está fazendo tempestade no copo da água.
Eu gosto de Hardin, de verdade, mas chega um momento na
vida que você deixa de ser uma adolescente com hormônios à flor da
pele, com apenas 18 anos, louca pra transar na biblioteca da escola
no ensino médio, ou no banheiro do bar despojado que sempre toca
Britney Spears no auge da noite. Você cresce, amadurece, assume
responsabilidades infinitas que te consomem. Daí na verdade você
entende que precisa de muito mais do que sexo pra viver. Ele
acabou se tornando um amigo, na qual passei a preservar muito
mais nossa amizade e cumplicidade do que as peripécias sobre a
cama. Mas Hardin infelizmente ainda continuava pensando com a
cabeça de baixo porque claramente seu cérebro de alguma maneira
tinha ido pra lá, fazendo entender que era um absurdo ele ficar sem
trepar, mas era super normal ele acordar em um sábado de manhã e
decidir terminar comigo basicamente me expulsando de sua casa.
— Tempestade no copo da água? Já faz mais de 2 semanas que
nós não transamos…
— Sexo não é tudo, Hardin!
— Mas pra mim é muito importante. — Ele quase gritou e minha
paciência foi pro ralo. — Se você não vier pra minha casa, acho
melhor darmos um tempo. Não quero continuar desse jeito.
Eu gargalhei em ironia.
Pois é, acho que Hardin Collins continuava o mesmo imbecil de
sempre.
— Minha vida não gira em torno de você. E é preciso ser muito
imaturo para achar que depois de financiar isso — Apontei para a
parede e meus quadros clássicos de Quentin Tarantino pendurados.
— Eu vou largar tudo e ir com você. Sinto muito, Collins. Preciso ir!
— Me levantei caminhando até a porta semi-aberta. — Deixe a
chave do meu apartamento na portaria depois que pegar suas
coisas.
Não dei um minuto para que ele me visse saindo pela porta. Ele
não era uma pessoa ruim, mas no auge de seus 32 anos, devia ser
muito mais maduro pra saber que nem sempre ele teria tudo com
dinheiro, talvez sim com algumas pessoas, mas comigo não.
Passei muito tempo estudando em cursos para tentar uma vaga
em uma boa faculdade, e ainda que eu não tenha passado para
Harvard, consegui uma boa bolsa em Oxford, onde me formei em
direito. Passei incontáveis dias contando as moedas para xerox de
trabalhos e simulados vendendo Brownies para pagar a maioria dos
custos, já que a tia Carrie tentava dividir igualmente a ajuda
financeira para mim e Katie, minha irmã. Foi uma época agitada, eu
não ganhava rios de dinheiro com os brownies, como o pessoal de
humanas que enriquecia vendendo brownies de maconha e
dissertando sobre o mito da caverna de Platão para seus clientes,
mas ganhei o bastante para me manter entre a linha tênue do tudo
bem e o estou ferrada.
Minha primeira obsessão foi me tornar advogada depois de
descobrir que o salário-teto anual dos advogados de Londres
ultrapassava 80 mil euros, mas depois de me formar no Legal
Practice Course para me tornar oficialmente uma combatente judicial
americana, eu soube na pele que não seria tão fácil. Perdi a primeira
causa que peguei, pra um time de advogados com mais de 20 anos
de carreira de uma maneira vergonhosa. Minha cliente havia ficado
literalmente careca com o produto para alisar cabelos e mesmo com
todas as provas, a defesa e argumentação do réu havia sido coisa de
outro mundo, onde no final, depois de ver minha cliente chorando,
parecendo a irmã gêmea do Van diesel, eu quis ir lá nos advogados
do réu e pedir algumas aulas. Eu me enclausurei por uma semana e
entrei em uma crise existencial me perguntando se eu realmente
teria perdido meu tempo estudando algo que não conseguia exercer.
Eu tinha certeza que o processo estava ganho e os advogados
adversários puxaram o tapete dos meus pés com toda força que
minha cabeça tilintou por um longo tempo.
Depois de tomar um tremendo trauma em minha estreia nos
tribunais, fui chamada pra uma vaga que eu havia me candidatado a
quase 2 anos antes em uma empresa de tecnologia, e para minha
surpresa eu ganharia uma quantia gorda o suficiente para encher o
guarda roupa de casacos de pele e as gavetas de calcinhas de
renda, mas eu só não sabia que não teria tempo de nem mesmo ir às
lojas comprá-las.
Eu era secretária de Jacob Corbyn há exatamente 3 anos.
Entrava às 9h da manhã e não tinha hora pra sair.
Bom, no meu contrato de trabalho eu devia ficar até somente às
16h, mas isso era algo que nunca acontecia. Se ele precisasse de
mim eu estaria lá.
Eu tinha que estar lá.
E ainda que não tivesse tempo pra nada eu havia entrado no guiness
book interno da Orsoft ao ser a secretária mais estável da história da
empresa, visto que ninguém aguentava o homem imbecil que
ocupava a sala de chefe geral ou mais formal: CEO.
Jacob e eu nos tratávamos a ferro e fogo.
Ele era formal demais com todos na empresa, mas
comigo...comigo parecia pessoal.
A impressão que eu tinha era que Deus me testava para que eu
pudesse segurar a vontade de mandá-lo para o inferno, e como uma
mulher de fé eu me segurava. Tudo bem que na maioria das vezes
eu nunca conseguia ouvir quieta.
Eu o odiava.
E também sabia que ele me odiava.
Mais ao contrário de mim, Jacob tinha satisfação em ver meu
rosto rosado de raiva e minha respiração condizente como se eu
tivesse corrido uma maratona debaixo do sol quente.
Estávamos no início de julho, época mais quente do ano onde o
diabo parecia ter saído do submundo apenas para se hospedar no
palácio de Buckingham e fazer com que os ingleses tivessem uma
amostra grátis do inferno.
Essa é a maravilha de Londres. Nunca é mais ou menos. No
verão é quente demais e no inverno é frio demais.
Se 26ºc já é um inferno para os londrinos, o que são 40ºc para
os cariocas?
A preocupação, o nervosismo pelo atraso me seguiam a todo
momento, meus pés se movendo mais rápido do que eu conseguia
pela Cabot square, me fazia suar como uma louca. Minha camiseta
social branca estava molhada nas costas, eu podia sentir. Minhas
coxas roliças friccionavam-se umas nas outras e mais um pouco me
deixariam assada, meu cinto apertado na saia mídi me esganava
pela cintura e acho que a única coisa cômoda que me deixava feliz
às 10h da manhã, era meu cabelo preso em um coque no pé da
nuca.
Meus pés no salto quase se embolaram quando cheguei na
recepção da Orsoft Enterprises. A empresa de tecnologia
responsável pelas principais redes sociais de relacionamento do país
era dona do maior prédio no Canary Wharf, o maior complexo de
edifícios e prédios comerciais de Londres. Eu passava tanto tempo
da minha vida dentro da Orsoft que acabei lidando com ela como se
fosse minha própria família, tinha seus momentos incríveis, mas
também tinha seus momentos de guerra, onde o campo minado era
a sala do nosso querido chefe.
— Mais um pouco eu encomendaria seu caixão no primeiro
cemitério que eu visse pela rua. — Fui recepcionada por Lorah. Ela
era a ligação entre a recepção e o setor administrativo. Eu
costumava dizer que ela era um ciclope, pois ninguém passava por
seus lindos olhos castanhos sem que ela não percebesse.
— Eu não morri, estou atrasada, porém viva. — Eu sorri
murchando pelo cansaço, encostando meu crachá e batendo o ponto
do dia na máquina eletrônica.
— Não estou dizendo que eu achei que estava morta, estou
dizendo que o Sr Corbyn vai cortar seu lindo pescoço. Ele está
ligando pra cá a cada 5 minutos perguntando se você já passou por
essa roleta, mas te digo que com certeza se tivesse se atrasado
mais 10 minutos ele faria picadinho de você.
O problema de Jacob, meu chefe, era justamente que eu nunca
sabia o que esperar dele. Sua paciência e leveza para lidar com as
diversas situações na empresa o transformavam em uma caixinha de
surpresa. Quando raramente estava feliz ele era agitado e
barulhento, mas quando estava com raiva e chateado era calmo e
cínico.
E o marco de sua personalidade era essa, ele nunca ficava feliz
o suficiente para não ser calmo e cínico.
— A reunião já começou?
Lorah pousou seu queixo no peito da mão sobre o balcão de
mármore.
— Deus resolveu te abençoar e atrasar o voo dos
representantes da Pandors!
Eu realmente precisava ser mais grata, afinal, nem tudo está
perdido.
Eu acho.
— Em um nível de irritação, o quanto acha que ele está
estressado? — Falei atravessando a roleta.
Lorah estalou os lábios, tentando se recordar da última vez que
ele estava ao telefone.
— Julgando que senti o sorriso na voz dele ao telefone?
Acredito que bastante.
— Me deseje sorte!
Ela sorriu.
— Antes mesmo de você chegar.
Eu não tinha medo ou receio de Corbyn. O único problema é
que eu precisava desse emprego como eu precisava de ar para
respirar, entretanto, assim como meu chefe era explosivo, eu
também tinha os meus momentos de surtos e falta de paciência, mas
diferente dele eu não era dona de uma empresa que valia no
mercado bilhões de euros. Eu precisava desse trabalho porque tinha
inúmeras parcelas de um financiamento gordo em meu nome
esperando de forma ansiosa para serem pagas. A parte boa? Faltava
menos de um ano para olhar para as chaves do meu apartamento e
finalmente poder chamar de meu e saber que nenhum gerente
bancário o tomaria de mim mesmo que Jacob me chutasse para fora
da Orsoft.
O som do salto até o elevador parecia o ponteiro de um relógio
que levaria para o pico do caos. As portas de aço fecharam e eu
pude me olhar no espelho ao fundo do elevador, tentando enxugar o
suor que escorria pelos meus cabelos. Será que dá pra piorar?
As portas se abriram, os corredores do setor comercial e
administrativo estavam vazios e silenciosos. Normalmente em dia de
reuniões decisivas e importantes era assim que tudo ficava, mas
quando não recebíamos ninguém de presença relevante, os
corredores pareciam campos de guerra, escritórios como aqueles
cenários de cinema, onde inúmeras folhas e relatórios voam pelos
ares e falatórios como nas salas das corretoras no filme O lobo de
wall street. A Orsoft era uma empresa que não fazia terceirização de
seus serviços, justamente porque tudo era personalizado da maneira
mais informal possível: dos sites, sac, e-mails, solução de problemas
e entregas. Era tudo informal demais para que o usuário se sentisse
familiarizado.
Meus passos pelo corredor eram o único som que passava por
meus ouvidos. Parei diante da porta, fixando meus olhos na placa de
aço grudada na parte superior que dizia; Jacob Corbyn, meus olhos
passaram para a maçaneta enquanto dei alguns toques na porta
aguardando a permissão para abri-la.
— Entre! — ele disse.
Capítulo 2
Claire Blackwood

Eu normalmente podia ouvir em sua voz seu nível de estresse,


ou até mesmo em seu semblante calmo, a falta de paciência genuína
que sempre o acompanhava, mas diferente de outras ocasiões não
precisei que Jacob esboçasse nenhuma reação ou falasse qualquer
palavra para saber seu nível de estresse, porque sua blusa social
vinho aberta em dois botões e sua gravata repousando em sua
cadeira atrás da mesa de granito já falavam mais por si do que ele
próprio.
— Jacob, me desculpe eu... — Tentei argumentar, mas ele fez
um “shhh” em um sinal levantando os dedos longos aos lábios
rosados. Eu normalmente o chamava pelo primeiro nome quando
estávamos a sós, pois em público ou na frente de qualquer um, ele
era o Sr Corbyn.
— Senhor. — Ele me corrigiu.
Pois é, ele estava realmente estressado.
— Eu acabei me desentendendo com meu namorado e me
atrasei... — Ele não precisou falar para me interromper dessa vez,
porque o que cessou as minhas palavras foram seus olhos verdes
que me encararam sem piscar, como se tivesse algo errado bem na
minha testa.
— Seu namorado não trabalha pra mim, Claire. Você sim. —
Seus olhos rolaram pelo ambiente. — Então sem respostas
infundadas.
Uma característica não menos importante que Corbyn tinha e
que eu não gostava de mencionar nem mesmo mentalmente, é que o
filha da mãe era estupidamente lindo. Seus cabelos cheios que
caiam em sua testa eram de um tom indeciso entre o loiro claro e o
castanho médio. Seus olhos eram estranhamente verdes e tinham
uma autoridade que faria você dar a ele o que ele quisesse. Seu
nariz afilado e singelo combinava com as maçãs do rosto altas e
angulosas. Os lábios eram cheios e vermelhos, sempre presos entre
seus dentes no menor sinal de aflição. Seu maxilar quadrado era
quase escondido pela barba dourada que tinha ali.
Jacob era lindo. Havia saído em inúmeras revistas como
solteiros mais cobiçados e influentes da Inglaterra, onde inclusive já
tive meu nome citado algumas vezes alegando ser alguém sortuda
por talvez passar mais tempo com ele do que sua própria mãe.
Coitados, não sabem como é ter a sorte de estar longe de
Corbyn.
— Não vai acontecer novamente Sr Corbyn! — Eu prometi
mesmo sabendo se não poderia cumprir.
— Eu tenho certeza absoluta que não vai. — Ele deu uma
pequena risada — O mundo hoje amanheceu do avesso! Eu cheguei
cedo e você e os empresários atrasados, que maravilha!
Eu me sentei na poltrona, ao lado da porta, depositando minha
bolsa sobre minhas pernas fechadas ainda calada temendo abrir a
boca e piorar minha situação.
Eu estava atrasada, ou seja, errada. Não tinha porque abrir a
boca.
— Lorah me disse que eles se atrasaram. Acho que podemos
ganhar mais um tempo pra respirar!
Ele me olhou, com fogo nos olhos.
— Eu preciso de tempo, você teve tempo o suficiente pra se
atrasar e respirar de casa até aqui.
E é nesse momento que respiro o mais fundo que posso, em
uma profundidade pulmonar que eu nem sabia que tinha.
— Possa ser útil em alguma coisa, Sr Corbyn?
Eu estava entre a linha tênue da ironia e da educação.
— Você é sempre útil quando faz sem eu ter que pedir.
— Tudo bem!
— Porque está sentada aí, Claire? Está pregada à cadeira?
Temos uma reunião em alguns minutos. — Ele abotoou a camiseta,
fitando sua imagem desconcertante no espelho sobre o vaso de
barro pequeno com uma palmeira o preenchendo. — Normalmente
eu os deixaria chegar aqui, e quando estivessem sentados na sala
de reunião, eu ligaria para eles, e remarcaria. — Jacob disse se
referindo aos Shah futuros sócios Orsoft. — Mas isso soaria muito
infantil de minha parte.
— Concordo, Sr Corbyn!
— Não trabalha comigo para me encorajar a foder com meus
sócios, Claire. Trabalha comigo para ser competente. — Eu abriria a
boca para me defender, mas ele prosseguiu me atropelando com
palavras como um trem desgovernado. — Preciso que tire cópias
dos dados de conversão de anúncios da Gossip.com, junto com
média de público por IOS, Android e rede de notebooks ou
computadores, junto com os gráficos e porcentagens...
Jacob continuou falando, mas tudo que eu via era sua linda boca
se mexendo.
Era um contrato de milhões.
E se eu o fizesse perdê-lo, estaria na rua.
Tudo porque eu sequer comecei a fazer o relatório para a cópia
dos dados.
Não tinha tempo.
O sistema levava pelo menos 12h para conseguir reunir tantos
dados em um curto prazo.
Eu poderia prever o futuro agora mesmo e contar ao meu chefe
que ele iria me demitir, mas o carnê das parcelas do financiamento
parecia vibrar em minha bolsa me perguntando como infernos eu fui
esquecer algo que me foi pedido com tanta antecedência.
Parabéns, Claire.
A cota de merdas foi atualizada com sucesso.
Eu merecia um bolo e velas para soprar.
Eu estava ferrada.
Se tudo desse errado eu voltaria para Oxford para vender
Brownies.
— Claire, você está prestando atenção em mim? — Ele estava
tão próximo. Eu pisquei várias vezes pensando meticulosamente em
como resolver o buraco na qual eu havia me enfiado. — Mas que
droga, nós vamos nos foder de novo nessa reunião.
Ele esbravejou e com razão.
O mundo parecia ter amanhecido de cabeça pra baixo.
Jacob estava sempre elegante, mas no mundo paralelo na qual
estávamos, ele estava completamente bagunçado. E estava agitado
em seu auge de estresse.
Mas ainda sim era sexy.
— Desculpa, estou!
— Então porque já não saiu por essa porta e voltou com o que
eu te pedi?
Seu imediatismo me dava nos nervos.
Mais algum tempo como secretária dele e eu poderia investir na
carreira de atleta para as olimpíadas.
Era sempre: anda logo, agora mesmo, o mais rápido possível,
quando abrir os olhos quero isso aqui, aquilo lá e bla bla bla bla.
Nada tão ruim que não pudesse ficar pior.
Eu tinha duas opções: Pular no tanque de tubarões ou pular no
tanque de piranhas. Resumindo: Ou eu forjava dados falsos ou
contava para Jacob que eu não tinha feito absolutamente nada do
que ele havia me pedido com extrema antecedência.
Busquei o último relatório de dados em minha sala com a ajuda
de Helen, uma colega do almoxarifado e simplesmente tripliquei
todos eles em números quebrados para que minha peripécia não
fosse tão evidente. Anexei tudo no pendrive e pediria a única pessoa
que eu não queria ver agora para imprimir.
Lenon Rogers, o imbecil do setor jurídico.
Pode parecer ridículo, mas não havia uma impressora na minha
sala ou na de Jacob. E justamente pelo setor imprimir tantas
liminares, acordos, banimentos para anexo na sala de arquivos, era
o lugar onde ficavam todas as impressoras do andar. Então
tecnicamente, se eu quisesse imprimir fotos da minha vó pelada, eu
teria que pedir à Lennon.
Ele era o típico homem estilo Jhony Bravo, cheio de orgulho,
egocêntrico, com piscadas toscas, olhares lascivos e com a
síndrome do homem ego maníaco que a todo momento dizia as
mulheres o amavam. Olhos azuis, pele bronzeada e cabelos loiros.
Não só gerente do setor jurídico como um dos dois sócios de Jacob
Corbyn na Orsoft. E de vez em quando eu tinha vontade de socá-lo
com toda minha força.
Lenon era um babaca de merda, onde não importava a roupa
que eu estivesse usando, mesmo aquela que tapasse cada
centímetro de pele do meu corpo, ele ainda me olhava como um
peregrino no deserto depois de pedir um Costela Barbecue do
outback.
Era estranho e desconfortante.
Suas piadas sem graça e cantadas imbecis quaisquer dia me
tirariam do sério e eu o jogaria pela janela da minha sala.
— E a sua irmã hein? Já falou de mim pra ela? — Ele
questionou enquanto agrupava minhas cópias no suspensório da
impressora.
Eu fiz a borrada de deixá-lo encontrar meu Instagram aberto, e
depois que ele fez uma inspeção em todas as minhas 84 fotos, ele
encontrou Katie, minha irmã em algumas delas, um fato na qual não
havia como não confirmar que não éramos irmãs. O sobrenome na
marcação da foto era o mesmo, mas o que era inconfundível era a
fisionomia.
— Minha irmã é casada, Lenon. Não preciso falar de você pra
uma mulher casada.
Eu juro que tentava ter paciência, mas algumas vezes era
impossível.
— É uma pena, mas você está solteira, não é mesmo?
Pra você não.
— Namoro a mais de 4 anos.
— Eu já falei pra você, Claire. Se quiser eu posso estar a sua
disposição. — Em que mundo Lenon vivia?
Eu bufei irritada, tentando fazer com que ele notasse minha falta
de entusiasmo em suas propostas infundadas.
— Espere sentado, porque se esperar em pé vai ficar com
câimbra, artrose e talvez osteoporose. — Retruquei malvada.
— Eu sei que Jacob entenderia. — Ele assoou o nariz. — Ele
nunca poupou minhas secretárias e acho que não vai se importar em
que eu fique com a sua.
Porque homens tinham essa necessidade de posse?
Nunca foi segredo que Corbyn fosse um homem de muitas
mulheres, e que provavelmente ele nunca via a mesma por mais de
duas vezes, mas ainda que eu o odiasse, ele me respeitava e até
mesmo pra dois inimigos, isso bastava.
— Não sou um bichinho de estimação. Isso não é uma troca de
figurinhas.
— Sentido figurativo, Claire.
O cassete que era sentido figurativo.
— Prefiro ter meu apartamento leiloado pelo banco do que ter
algo com você, Rogers. Tente as mulheres do andar de baixo, acho
que pode colar.
Ele riu em desdenho enquanto me passava folha por folha
propositalmente.
— Eu sou tão ruim assim? — Ele perguntou.
Eu lhe daria outra patada sem pensar duas vezes, mas seus
olhos azuis desviaram dos meus, e a forma em que Lenon abaixou a
cabeça me fez ter certeza de quem era.
— Eu estou tentando adivinhar porque algumas poucas cópias
estão demorando tanto. — A voz de Corbyn ressoou relativamente
alta. Suas mãos grandes preenchiam o bolso da calça de seu terno e
seus lábios se comprimiam entre si.
De volta a realidade atual, onde ele estava passivo, mas ainda
sim, calmo e cínico.
Jacob nunca saia de sua sala para vir atrás de mim, e se o
tivesse realmente feito, era porque ele estava realmente em estados
de nervos e ansiedade no pico.
— Estou esperando que Lenon termine de imprimir.
Seus passos se tornaram duros no granito do chão.
— Ah claro, estou vendo que ele faz questão de te entregar
página por página. Certificando-se de que a tinta tenha saído perfeita
em cada uma das folhas?
Rogers sorriu miúdo como um gato, enfiando seu rabo entre as
pernas a ponto de dar socos na impressora para que agilizasse o
processo que ele mesmo tratou de atrasar.
Nunca traí Hardin ou cogitei fazê-lo, mas não posso negar que já
me peguei admirando a postura rígida e sedutora de Corbyn. Acho
que essa é minha maldição.
Se sentir atraída por homens que nem mesmo ligavam pra mim.
Não é à toa que os maiores pecados estavam na beleza.
— Aqui está! — Depositei a pilha de páginas sobre as mãos dele
quando me aproximei, rezando pra que ele não contestasse os
números falsos impressos e estranhasse o motivo deles terem
duplicado de uma semana pra outra.
Eu havia feito uma merda e carimbado embaixo com o selo de
“Eu estou demitida.”
Capítulo 3
Claire Blackwood

A sala de reuniões era toda branca, daquelas que normalmente


ofuscam os olhos se as janelas estiverem abertas para que os raios
de sol entrem.
Minha cabeça doía e não era por conta da reunião ou da luz que
passava pela janela, mas sim porque eu estava completamente
arrependida de ter forjado uma coisa que deveria ser autêntica e que
se Jacob descobrisse eu estaria fodida, no mal sentido.
Simon foi o primeiro a entrar, ele era o primeiro sócio de Corbyn,
participava de todas as reuniões, mas nem sequer sua respiração
era ouvida na mesa. O cara era lindo, pele negra, cabelos baixos,
bem cortados, lábios cheios, rosto quadrado, viril e um corpo de
invejar qualquer um, mas isso não era a coisa mais bonita nele, era
na verdade a forma elegante e educada na qual tratava qualquer um,
sem distinção de ser homem ou mulher.
— Querida Claire, Jacob já te enviou pra cá? — Ele sorriu,
sentando-se na cadeira próximo de mim, ajustando seu terno azul
escuro.
Caia muito bem nele.
— Eu decidi vir por conta própria! Acho que ele não está em um
dia bom.
Simon Jackson riu mostrando todos os dentes brancos e
alinhados dentro da boca.
— Jake nunca está em um dia bom, pelo menos não quando
está aqui dentro da empresa. — Disse, ajustando o Rolex no pulso.
— Mas garanto que ele é um cara bacana. Gosto de você Claire,
acredite quando eu digo que nem mesmo a mãe dele o aguentou.
— Estou prestes a acreditar que não é ele quem deixa as
mulheres.
Grampeei algumas folhas depositando sobre a mesa de cada
lugar que seria ocupada posteriormente.
— Não é pra tanto. A maior responsabilidade dele é a empresa,
então ele não costuma se relacionar ou arrumar comprometimentos
externos, entende? Não se trata de não respeitar as mulheres sendo
sacana. Mas ele fez a própria escolha, e a Orsoft foi a garota da
vez.
Assim como eu havia escolhido meu trabalho ao invés do meu
relacionamento.
— Acho que eu o entendo — Suspirei, acomodando-me na
cadeira ao lado da cadeira de Corbyn.
— Se afastou da sua família?
— Terminei meu relacionamento!
Suas sobrancelhas grossas levantaram-se levemente.
— É... sinto muito.
— Na verdade acho que foi melhor. Tenho minhas prioridades.
Simon folheou as páginas que eu havia acabado de colocar em
sua frente.
Ele teria falado mais alguma coisa, porém a porta se abriu de
forma silenciosa e pessoas entraram, na verdade 3 homens, com
Jacob entre um deles.
Eu permaneci nervosa na cadeira, com os olhos grudados em
cada dado mentiroso impresso nas páginas, rezando o pai nosso em
pelo menos 2 línguas que eu nem mesmo conhecia.
Jacob desengatou a reunião com agilidade, uma lábia tão
cirúrgica que eu compraria parte dos direitos de a Gossip.com
mesmo ser tem um centavo no bolso, mas a forma em que ele
gesticulava com as mãos me fazia se perguntar se ele era tão bom
com as mulheres como era de dicção nas reuniões sérias e
importantes.
— Claire? — Ele me tirou do transe. Balancei a cabeça
imediatamente saindo do looping cinematográfico onde eu encarava
Corbyn que faltava me sacudir pelos ombros, já preocupado pela
minha falta de resposta e pelo transe que eu me encontrava.
— É. Hm, desculpe! — Mal tinha começado.
— Não dormiu o suficiente? — Ele questionou enquanto os dois
homens à nossa frente analisavam os papéis, especialmente o da
direita.
Aquele era Victor Hendrick. Um dos maiores acionistas
internacionais, um dos maiores gestores de pessoas da América
latina que já trabalhou e gestou grandes empresas como Facebook e
Google. Embora ele estivesse bem interessado na reunião, não
escapou seus olhares para os dois primeiros botões abertos de
minha camiseta social que ao menos mostrava algum indício de
carne.
A pergunta é: Ou ele procurava carne debaixo do tecido ou ele
estava apenas fantasiando o que o ‘que poderia ter aqui embaixo.

— Veja bem Jacob, os dados são impressionantes. É um site


promissor e de grande público, mas acho que essa personalização
de atendimentos e áreas de serviço tira a credibilidade, entende?
Veja o facebook como exemplo. Eles continuam formais em todos os
méritos e têm o maior alcance do globo. Sei que a maior
porcentagem de uso da Gossip.com vem do público de 18 à 25
anos, e são mais ligados ao mundo online, mas ainda sim se trata de
uma empresa séria. — Sua voz fanha me irritava. Victor não tinha
menos de 60 anos. Seus fios brancos sequer apareciam em sua
cabeça que parecia ter sido lustrada, o paletó de milhares de euros
apertava seu pescoço obeso na intenção de trazer elegância, mas
apenas mostrava que ele precisaria de um número maior na próxima
reunião.
Jacob respirava profundamente.
Eu sabia que ele já estava sem paciência.
Toda reunião, algo se tornava insuficiente, mas logo, seria a
paciência de Jacob a se tornar insuficiente para permanecer na sala
sem falar algumas palavras pejorativas.
— Não acho que seja prudente comparar o facebook com a
Gossip.com, até porque o facebook é usado por empresas devido
ao tráfego pago, tráfego orgânico, grupos de discussão e muitas
outras coisas. A Gossip.com é um site de relacionamentos, Victor. É
somente para culminar a relação entre as pessoas e entre os grupos
de forma física e sentimental, não é uma rede onde pais interagem
com filhos. É exatamente uma rede social que desde o início minha
intenção era torná-la familiar, era torná-la o mais pessoal possível. —
Meu chefe se levantou, fechando o punho sobre a mesa pensando.
— Já visitou a sede da Google, certo? Já viu como tudo é
personalizado?
— Mas a Google é uma empresa de dimensão inigualável,
Corbyn.
Jake riu.
— A Gossip também será, Victor. A chave de ouro do site é toda
a personalização de atendimento e de entrega informal, chamando
os usuários por apelidos, somos amigos dos nossos clientes. Não
posso mudar isso, é minha essência.
— Então talvez devêssemos adiar essa reunião por hoje. — E
então ele se pronunciou, Arthur Ragnar. O imbecil número um. O
jurado masterchef das empresas de Londres. A fama do cara era
péssima, nada o agradava. Nem mesmo se a Rainha da Inglaterra
beijasse seus pés, ele diria que talvez seus lábios não estariam
macios o suficiente.
— Pela oitava vez, Arthur! — Corbyn esfregou seus cabelos
impacientemente como se pudesse tirar seus próprios fios da
cabeça. — Parece que não vamos chegar a lugar nenhum, não
quero perder tempo atoa! Eu quero que dê certo, mas da forma que
vocês querem impor fica difícil.
— Formalize a Gossip.com e fechamos contrato.
— Sem chance! — Ele disse sem pestanejar.
Corbyn não abriria mão de sua parte preferida do projeto. A
familiarização dos usuários com o layout informal era o ponto de
partida, coisa que ele trabalhava diretamente decidindo todos os
próximos passos, e ainda que trocassem o nome do site, ele jamais
permitiria uma mudança tão grande em algo que ele acreditava ser o
coração da coisa.
— Então aguarde meu contato. — Victor sorriu sem traço algum
de felicidade.
— Merda! — Jake praguejou apertando os dedos dentro do
punho.
— A Pandors é uma empresa séria Jacob, você terá que mudar
o site e talvez sua conduta também para ter um contrato conosco.
Lembre-se que o Presidente geral fala muito sobre sua empresa, e
sua vida desregrada também fala muito sobre a Gossip.com! —
Arthur Ragnar finalizou, sorrindo ao sair pela porta junto de Victor.
Simon estava de bico fechado, espantado com as alfinetadas
dos empresários que sempre eram diretos, mas dessa vez, perderam
a mão com o esporro completamente informal da qual eles pregavam
que queria que o site não mais adotasse.
— É, eu acho que eles não vêm por causa da Gossip.com,
acho que o decote de Claire é bem mais emocionante do que a
premissa de fechar o contrato. — Simon ajeitou seu paletó.
Jacob respirou fundo, algumas vezes mais, cruzando os braços
diante da janela, e eu sabia pelo oxigênio que enchia sua caixa
torácica que ele não estava com paciência nem mesmo para falar
gracinhas ou concordar com Simon.
Ele não estava preocupado em assinar contrato para conseguir
mais dinheiro, embora só um louco não gostaria, mas trabalhando
durante todo esse tempo com Corbyn, eu aprendi que o dinheiro era
só resultado, só consequência. E o que ele realmente queria, era
chegar a um fator para gerar essa consequência.
Aquele contrato era exatamente isso.
A expansão oficial da Gossip.com, consequentemente da
Orsoft.
— A vida é feita de oportunidades. Haverá outras! — Ele disse
sério.
Simon se levantou sorrindo pra mim, seus olhos percorreram o
chão, encontrando seu amigo e sócio na janela.
— Acho que estou indo! — Ele murmurou, esboçando seriedade.
Jacob apenas virou o rosto sem olhar diretamente para Simon.
— Tudo bem! Tenho uma entrevista hoje, e vou sair mais cedo.
Simon Jackson saiu pela porta, dando-me um beijo no peito da
mão como despedida. Tão galanteador!
Fiquei parada, para logo recolher as folhas sobre a mesa, em
cada um dos assentos. Limpei o quadro branco na qual Jacob havia
escrito algumas coisas que eu não pude ler pois já era tarde demais.
Mas ao encostar a mão na maçaneta, e ouvi-la ranger, ouvi a voz
séria de Corbyn.
— Não pedi que você deixasse a sala, Claire.
— Achei que eu fosse mais útil quando fizesse as coisas sem
você ter que pedir.
Jacob virou seu rosto pra mim, encostando suas costas no vidro
temperado da janela, enfiou as mãos no bolso da calça e analisou
cada canto do meu rosto de uma forma incômoda pra mim, pois
nunca era rápido, era demorado o suficiente para me fazer acreditar
que ele tentava encontrar em meu semblante, algum resquício de
mentira das minhas palavras.
— Esqueça essas folhas, queime-as! — Ele sibilou, fitando uma
das folhas. — Preciso que vá pegar meu terno no Outlet Next, em
Greenwich. Tenho uma entrevista às 15h. Preciso que chegue aqui
às 14h.
Seu péssimo defeito era achar que eu deveria fazer milagres quando
nem mesmo ele era capaz.
— Não seria possível nem que deus me desse asas. — Me
resumi. — Se eu tivesse sorte precisaria de no mínimo 1 hora e 30
minutos para atravessar o túnel Blackwell, entrar no Outlet, pegar
seu terno e voltar para cá.
— Se as asas não solucionarem esse problema, peça um
helicóptero a deus. — Esse era o velho Jacob Corbyn, no auge de
seu estresse, ácido e cínico. Admito que sentirei falta no dia em que
eu deixar meu cargo, pois sei que no pé em que andávamos
ultimamente, isso não demoraria a acontecer.
Meu pavio também não era tão longo ele fazia questão de
encurta-lo cada vez mais.
— Porque não pede que a loja mande entregar aqui com um
mototáxi? o gasto será menor e a eficiência maior. — Sugeri,
apertando as folhas em minha mão imaginando ser seu lindo
pescoço largo.
— Porque esse é o seu trabalho, Claire. Facilitar a minha vida!
— Não é essa a função descrita no meu contrato de trabalho.
— Se preferir posso mudar sua função para ilustradora de
móveis, e então veremos se é tão boa limpando armários
empoeirados quanto é sendo abusada e linguaruda. — Seus passos
eram pesados no carpete abaixo de nós. Ele se aproximou de mim,
fitando-me com seus enormes olhos verdes, a barba grosseira
pinicando sua pele, e um sorriso de satisfação ao me ver contendo o
ódio junto com as palavras dentro da boca. — Não existe dinheiro
que pague uma secretária como você.
A ponta de seus dedos, pressionaram meu queixo de cima pra
baixo, fazendo fita-lo como uma criança obediente.
— Pois bem, digo o mesmo. Nenhum dinheiro me pagaria o
suficiente para ser sua secretária.
Ele riu novamente, mas dessa vez mostrando seus dentes
perfeitos e o leve furo em sua bochecha direita. O defeito muscular
mais lindo que um homem poderia ter.
— Disseminando ódio, Claire?
— Nem isso você merece, Sr Corbyn.
— Eu fico lisonjeado, mas eu aconselho que você se apresse,
afinal, você tinha 1 hora para buscar meu terno, agora tem menos.
Filho da puta.
(...)

Tem dias que você pede ajuda a algum ser superior que habita os
céus, mas a impressão que tenho, é que eles sempre estão
dormindo, justamente porque sou sempre ignorada.
O túnel estava completamente engarrafado, a loja completamente
cheia mesmo que eu fosse a secretária de um cliente vip. Não era
Corbyn ali, era eu. Uma mulher descabelada, com a postura perdida
em algum momento do trajeto até ali, os olhos mortos de cansaço e
o semblante fadigado.
Essa era eu.
No momento em que pisei de volta no prédio da empresa e olhei
para o relógio gigantesco sobre o elevador, soube que estava
ferrada, porque o trajeto que eu queria fazer em 1 hora, tornou-se 2
horas.
Eram 15 horas da tarde, exatamente a hora em que Jacob devia
estar chegando em sua entrevista. Subi o elevador, como um
pecador, em direção ao julgamento. Quando entrei na sala, lá estava
ele.
Por que eu deveria me culpar? Corbyn sabia que não era tão
rápido atravessar para Greenwich, ainda mais com tanta gente nas
ruas. Ele me pediu e eu fiz. Acontece que eu já estava tão
acostumada naquele looping de culpa, acreditando não ser boa o
suficiente para fazer tudo que me era designado, que sempre que eu
não conseguia realizar milagres, acabava jogando sobre mim toda a
culpa que não me pertencia.
Seu rosto estava sério ao me encarar entrando pela porta,
embora já fosse acostumada, sempre me davam calafrios.
— Seu terno. — Estiquei a sacola, depositando sobre a sua
mesa, com a maior delicadeza que eu podia.
— Pedi que voltasse em 1 hora. Se perdeu na rua? — Ele
desengasgou olhando para o terno de ombros.
— Infelizmente nem tudo que você me pede, acaba se tornando
possível, ainda mais quando você me perde pra atravessar o mundo
em 1 hora.
Ele gargalhou, pousando a mão sobre o diafragma e logo depois
fechou a boca, estalando a língua afiada no céu de sua boca, sem
dar um deslize na postura impecável. Quanto mais eu o odiava, mas
eu o achava sedutor.
Era um balanceamento perfeito.
— É assim que se realiza conquistas. Transformando o possível
em impossível, Claire. Mas talvez não esteja pronta para essa
conversa.
— Isso não te dá o direito de ser egocêntrico, Jacob.
Ele sorriu novamente, mas dessa vez um sorriso torto, condizente
com qualquer coisa maliciosa que percorresse sua cabeça.
— Prefiro ser chamado de Sr Corbyn, Claire. Você não fala com
respeito ou formalidade, você fala com…raiva.
Seus passos pesados, novamente, fizeram barulho no carpete no
chão. Ele se aproximou de mim, me avaliando da cabeça aos pés,
mas na hora de subir novamente seus olhos, eles pararam no meu
decote, que provavelmente lhe dava uma boa visão pela altura.
— O que você…
— O foco da reunião não é seu decote, é o contrato. Então por
favor venha com menos dele exposto da próxima vez.
Eu respirei fundo. Seu olhar me queimou por inteira, porque
infelizmente, Corbyn não tinha o hábito de desviar o olhar mesmo
que eu sustentasse os seus. Uma batalha que ele sempre vencia
justamente porque em poucos segundos lhe encarando, meu corpo
esquentava, e eu tinha receio do que eu sentiria se continuasse
sustentando aquilo. Abaixei o queixo encontrando meu peito,
abotoando os 3 botões abertos da camisa social com as mãos.
— Pelo visto você presta atenção em tudo mesmo! — Alfinetei,
assistindo se aproximar da porta e abri-la.
— Eu percebo tudo, até a falha em sua respiração. — Disse ele
— Inclusive, Claire...você fica até as 19h da noite hoje.
Eu passei pela porta e parei no momento em que ele decretou a
extensão do meu horário que já havia sido programado para uma
saída.
— O que? Mas porquê? Não tenho o que fazer aqui! — Falei com
uma clara indignação em minha voz. Aquilo era errado.
Extremamente errado, e mesmo que fosse corriqueiro, eu não podia
abaixar a cabeça sempre. Uma coisa era estender horário quando
necessário e quando Jacob precisava realmente de mim e outra, era
ele praticamente me prender na empresa, porque minhas respostas
haviam sido ríspidas o suficiente para que ele me prendesse ali.
— Ah, temos muitas coisas pra fazer! — Ele deu de ombros à
minha insatisfação. — Minha caixa de e-mails está cheia. Responda
a todos eles!
Ele fechou a porta me deixando com cara de idiota enquanto ele
se afastava de mim e se aproximava do elevador aberto.
— Jacob! — Eu o chamei e ele apenas ajeitou sua gravata.
— Até mais, Claire. Lembre-se, nada de decotes! — Sorriu
desastrosamente sedutor — Eu sou ciumento até com minhas
secretarias.
— Merda! — Praguejei para mim mesma quando as portas de
aço se fecharam e ele finalmente foi embora.

(...)

O e-mail de Corbyn era mais poluído que um esgoto. E


justamente pelo simples fato de que não havia filtragem de
mensagens, tinha absolutamente de tudo. Desde promoções do e-
bay, ofertas da Amazon, e-mails científicos da universidade onde ele
havia se formado, mas o que eu não esperava encontrar lá, era na
verdade, um e-mail de sua mãe.
A senhora Louiselane Corbyn, conhecida como a dama de
Londres, amiga da rainha e amada pelos ingleses, era alguém que
sempre que podia, fazia visitas inesperadas na Orsoft, mas se
irritava porque dificilmente conseguia encontrar seu filho na sala de
Diretor. Ela era um ícone. A remetente do e-mail não era mais
curiosa do que o conteúdo da mensagem, que dizia:
“Querido filho, sei que você trabalha demais, mas nem o maior
empresário do mundo vive apenas para o trabalho. Tire um tempo
pra você e venha me visitar. A mamãe está morrendo de saudades.
Te amo
Ass.: Louise
PS: Atenda minhas ligações, filho da mãe.”
Jacob não parecia o tipo de homem balançado pela mãe, mas ao
menos eu sabia que ele a ouviu e usou de suas boas dicas para
montar seu império hoje que crescia sem parar.
Meu telefone tocou sobre a mesa.
— Cadê você? — A voz de Quinn era sensual e doce. Não tinha
como não reconhecer. Era sua marca registrada, talvez até mais do
que a digital que ela tinha nos dedos.
Quinn Dunhill era minha melhor amiga, e talvez tenha
conquistado esse cargo porque eu sempre fui sincera com ela, que
sabia disso já que era psicóloga e especialista em análise
comportamental. Havíamos marcado de ir tomar algo em um bar,
mas graças a meu chefe eu estava debruçada sobre minha mesa,
bocejando, quando as luzes do corredor do meu andar, já estavam
até mesmo apagadas.
— Desculpa, Quinn! Eu ainda estou por aqui! — Eu suspirei
pesadamente. Não que isso fosse surpresa, mas ela conhecia bem
Jacob pelos infinitos elogios que eu sempre pusera dar a ele. —
Cheguei atrasada, acho que eu e Hardin não estamos mais juntos!
Corbyn me pediu uma missão impossível de novo!
— Você e o hetero top terminaram? Ual! Não sei se dou a você
os parabéns ou o sinto muito.
— Acho que não estou triste por isso! — Eu sussurrei como se
alguém pudesse ouvir por trás da porta.
— Eu tenho certeza que você não está triste. Estou com Willow
no Calcinha louca te esperando pra comemorar! Acha que sai em
quanto tempo?
— Acho que não mais do que 30 minutos! — Respondi já
fechando as abas do navegador para desligar o notebook.
— Olha, do jeito que Willow está bebendo, vamos ter que chamar
uma ambulância no fim da noite.
Dei uma risadinha em resposta.
— Até daqui a pouco. — E desliguei.
O calcinha louca ficava a alguns quarteirões do palácio
Buckingham, tinha esse apelido cômico por conta dos vários varais
cheios de calcinhas que atravessavam o salão do bar. As peças
íntimas pertenciam a mulheres que estavam prestes a se casar e iam
ali comemorar suas últimas horas como uma dama solteira. Era
engraçado, mas sem dúvidas muito criativo.
Era o meu bar favorito, porque a maioria das mulheres que o
frequentavam, talvez bebiam mais do que homens, e eu não tenho
orgulho disso, mas felizmente faço parte desse grupo feminino
seleto.
Fechei a porta da sala, e desci pelo elevador. Eu não estava em sã
consciência para descer inúmeros andares de escada, porque
provavelmente haveria um momento em que eu desceria rolando até
o térreo pela falta de destreza sobre um salto.
Lorah já havia ido embora quando passei pela recepção. As
luzes do saguão estavam apagadas, e no momento em que o guarda
fechou a porta de vidro após eu passar, soube que Jacob havia
decidido que eu seria a última a sair.
Ao menos não havia engarrafamento empatando minha chegada
em Westminster. O táxi me deixou em frente ao bar. Enxerguei a
cabeleira de Willow assim que passei pela porta de entrada. Seu
braço debruçado sobre o balcão, e o copo em sua mão de algo que
com certeza devia estar no auge de teor alcoólico, não pela cor, mas
pelo seu sorriso frouxo e pelos olhos pequenos que me encararam
quando me aproximei.
— Não acredito que ficaram bêbadas sem mim! — Ri soltando a
postura rígida de trabalho. Willow levantou seu copo em minha
direção e Quinn ergueu os braços e me envolveu em um aperto
amistoso.
— Você chegou 4 minutos adiantada! — A loira sorriu. Quinn não
tinha mais que 1 metro e 60cm, seu corpo era cheio, gordinho e
preenchia todas as suas roupas coloridas, ela usava óculos devido a
miopia, seu cabelo era loiro perolado e o sobrepeso que muitos
acreditavam ser um defeito, era na verdade um chamariz de homens,
de uma forma quase anormal. Quinn era a amiga que nunca ia pra
casa sozinha, mas sim sempre muito bem acompanhada.
Eu tinha orgulho em dizer que não era ela uma mulher de sorte,
mas sim sua companhia noturna. Quinn Dunhill era uma amiga
incrível, e Willow não ficava para trás.
Willow Lilsen era repórter do canal da CDN às 19h da noite. Tinha
pele negra, seus cabelos cacheados eram uma coisa de capa de
revista, seu corpo atlético sempre andava coberto por roupas
folgadas e em tempos de férias, era difícil ver Willow sem um copo
de bebida entre os dedos longos e suas unhas pintadas sempre de
vermelho.
— Claire, ainda bem que chegou, achei que eu acabaria com a
bebida do bar sozinha, mas não se preocupe, deixei o bastante pra
você! — Rimos juntas.
— E então, o que o gostoso do seu chefe aprontou novamente?
— Quinn me perguntou, enquanto enfiava o canudo entre os lábios,
sugando o que parecia ser uma marguerita no copo de vidro.
Pedi um copo de Gin com frutas ao garçom no balcão e me virei
para a loira ao meu lado com uma cara que tenho certeza que
remetia preguiça e cansaço.
— Bom, o imbecil pediu que eu atravessasse Greenwich para
buscar seu terno e voltasse em uma hora. Eu obviamente não
consegui, e por ter chegado atrasada ele pediu que eu ficasse após
o expediente para responder a sua lista de e-mails inúteis.
— Ele poderia se redimir se você tivesse tido a oportunidade
de o ver pelado trocando o terno. — A morena resmungou virando o
resto de bebida em sua mão. Ela soltou um suspiro enquanto eu
revirava meus olhos. De todas as mulheres no mundo, acho que eu
era a única capaz de odiá-lo.
— Nem se ele me pagasse! — Respondi.
Quinn semicerrou os olhos antes de falar.
— Mas ele te paga, Claire!
— Mas não pra isso! Aliás, acho que recebo pouco para o
estresse que Corbyn me faz sentir. Às vezes eu sinto inveja do
trabalho da faxineira. Ela fica sozinha, limpando tudo e quando
acaba vai embora.
— Mas pensa pelo lado bom, você está livre do imbecil do Hardin!
— Sibilou alegremente Quinn, afofando os cabelos loiros em vitória.
— Mas o que? O hetero top? Puta merda! Precisamos beber em
dobro hoje! — Willow, pediu 3 caipirinhas no balcão quando eu não
havia chegado nem a metade do meu corpo. Mas para um bom
bebedor, basta um gole para esvaziar o copo.
— Pois é, ele disse que daria um tempo se eu não fosse morar
com ele, e eu disse que não iria deixar minha vida por ele. Pedi que
deixasse as chaves do meu apartamento na portaria. — Revelei. No
início eu era extremamente apaixonada por Hardin, mas depois de
tantas idas e vindas, eu amadureci, e a cada dia que se passava eu
percebia que os meus ideais eram completamente diferentes dos
dele. Eu queria uma vida estável, confortável e calma. Hardin queria
agitação, ser o centro das atenções, ter o seu nome citado em
revistas e ser ovacionado em cada esquina por pessoas diferentes.
— Essa é a minha menina! — Willow festejou. Virei o copo de
Gin de uma vez só quando o garçom depositou as caipirinhas sobre
a mesa. Rimos um pouco, até que Willow Lilsen tornou a abrir a
boca, com o hálito alcoólico refrescante. — E então Quinn, já avistou
o sortudo da noite?
Dei uma risadinha sonsa, tampando a boca com o copo cheio da
nova bebida.
Quinn tossiu, sorrindo torto, suspirou fundo.
— Não vou sair com ninguém hoje! — Ela disse simplesmente.
Quinn nunca saia sozinha.
Toda semana ela saia acompanhada pela porta do bar.
Isso era quase uma regra.
Willow e eu nos entreolhamos enquanto a loira à nossa frente
limpava algo em suas unhas, ou tentava disfarçar dois olhares
centrados em si.
— E por qual motivo não vai sair com alguém hoje daqui? —
Questionou sem tirar meus olhos de suas unhas.
— Porque eu não quero? — Respondeu sarcástica.
A morena cerrou os olhos antes de dizer.
— E o motivo de você não querer tem duas bolas e um pau entre
as pernas, Quinn?
Abri minha boca em um “o” surpresa.
— Oh meu deus, Quinn está apaixonada! — Exclamei, e isso foi
o suficiente para a pose de durona da loira desmoronar e seu rosto
se tornar vermelho como sangue.
— Mal conseguimos uma guerreira de volta e já perdemos outra,
que loucura! Agora me conte, quem é? — A morena perguntou, já
solicitando ao garçom uma nova rodada de caipirinha.
— Ele é um cara bacana, estamos nos conhecendo ainda! Então
sosseguem quanto a isso! — Era evidente que ela estava
envergonhada, mas sobretudo, ela sabia que nós ficaríamos em
cima para saber de todos os detalhes se ela não nos desse o
básico.
— Onde o conheceu? aqui? — Willow estava entusiasmada.
Afinal, isso era algo raro, pois Quinn nunca saia com ninguém por
mais de uma vez.
A loira passou a mão pelo nariz, ajeitando os fios de cabelo atrás
da orelha pequena que carregava um brinco pequeno dourado. Eu
não conseguia enxergar o que era na distância em que estávamos.
— Ficamos nos paquerando por um bom tempo a distância na
última semana, mas ele foi embora. Então ele deu um jeito de
conseguir meu número com o garçom. Foi isso! Satisfeitas?
— Não, mas vamos te deixar em paz por enquanto. — A morena
prendeu os cabelos em um coque no alto de sua cabeça. Tirou um
bastão labial do bolso da calça jeans que usava e passou sobre os
lábios ainda úmidos, mas no meio do caminho, Willow afastou o
Gloss da boca e prendeu os olhos onde eu não fazia ideia de onde
era…até olhar também.
Na televisão de 70 polegadas, no canto do bar, em full HD, vivo e
a cores, estava Jacob, sentado sobre a poltrona de couro de um
estúdio de TV que parecia ser bem confortável. O terno por incrível
que pareça lhe caiu muito bem, e diferente do que se via sempre na
Orsoft, um sorriso harmonizava com a face falsamente simpática que
ele vestia para o público.
— Aquele não é o gostoso do seu chefe? — Willow disse
pausadamente sem tirar os olhos castanhos escuros do aparelho
eletrônico.
— É, eu acho que sim! — Respondi surpresa. Eu não sabia que a
entrevista que por ele anunciada mais cedo seria para um programa
de TV. Achei que seria alguma mídia impressa— Isso é ao vivo?
A morena deu um suspiro.
— Não, foi gravado mais cedo! Nossa, eu estou me perguntando
como nunca usou seu chefe para satisfação pessoal, porque acho
que ele serviria muito bem!
— Willow! — Quinn a repreendeu. A morena não tinha freio, na
verdade tinha, era a loira que sempre estava junto dela. — Depois
reclama de mim!
— O que foi? Eu só fiz uma pergunta!
Quinn resmungou algo que eu não ouvi e tornou a dizer bebendo
um copo de água recém servido.
— Vocês conhecem o Jacob Corbyn dono da Orsoft! Precisam
conhecer ele no dia a dia, um homem insuportável! Ele não é só
esse sorriso bonito! — Suspirei fundo.
— Um desperdício! — A morena cochichou.
— Concordo! — Retruquei.
— Fiquei sabendo que a Pandors está prestes a fechar negócio
com a Orsoft. Corbyn está mesmo tentando deslanchar seu novo site
de relacionamentos! — Willow sentou-se na cadeira de frente do
balcão me olhando de soslaio. — Se chama Gossip.com, certo?
— Mas a Pandors não colabora. Eles botam defeito em tudo o
que podem para não fechar o contrato.
— Não estão felizes com o valor?
— O valor já foi decidido. O grande problema da vez é a
informalidade do site com os usuários, e eles também encrencaram
com a vida desregrada de Jacob. — Respondi. Isso era sem noção
da parte da Pandors. Visto que a vida pessoal de Jacob no sentido
sexual não influenciaria em uma empresa de forma tão séria.
— Mesmo que Jacob seja o empresário inglês mais cobiçado da
Inglaterra, não faz sentido eles usarem um motivo tão pessoal como
esse. Acha que a Orsoft vai conseguir? — Ela bebeu um pouco do
líquido devagar. Mirei meus olhos para Quinn que se divertia no
aparelho telefônico provavelmente trocando mensagens com o
homem responsável por fazê-la sair do Calcinha louca sozinha hoje.
Voltei a olhar para Willow e a respondi;
— Se continuar no pé indeciso em que andam, acredito que
não! — Passei a mão no rosto suado — Olha, é complicado! Talvez
se Jacob… — Antes que eu pudesse prosseguir, Quinn nos
atrapalhou atraindo nossa atenção para a TV.
— Conversem daqui a pouco, vamos assistir ao restante da
entrevista… — Ela murmurou com os olhos azulados pregados no
canto do bar.
— Vocês estão falando sério? Eu vim aqui justamente pra
esquecer ele e vocês simplesmente me obrigam a assistir Jacob
Corbyn em uma entrevista que nem ao vivo é?
— Quieta, Claire! — Willow praguejou.
Olhei para a TV com aquele sentimento de que algo certo logo
ficaria errado. Corbyn exibia a postura de homem imponente que
poderia enfrentar até o segundo papa. Seu olhar cativante e morno
desviava várias vezes para câmera, e ele aguardava o apresentador
se recuperar de uma nova crise de riso causada por suas piadas
inteligentes e lábia profissional.
— Então Jacob, nos conte! Sua mãe, Louiselane não decidiu gerir
as empresas do falecido marido, e acabou se tornando uma grande
socialite. Já pensou se ela estivesse gerindo a Orsoft ao invés de
você? — O apresentador disse enquanto segurava um cartão do
programa em uma das mãos, e o microfone na outra. Ele ajeitou o
terno, sentado na cadeira com o gel capilar que brilhava em suas
madeixas escuras e um sorriso com dentes recheados de facetas
cristalinas.
Jacob olhou para o chão com um sorriso que não deixava sua
boca por nada, como se estivesse marmorizado em sua face. Sua
mão direita escorreu pela perna direita e ele piscou algumas vezes.
— Ah, Tom… A resposta é óbvia! Nenhuma mulher levaria a
Orsoft ao patamar que eu levei, nenhuma delas, nem mesmo minha
mãe!
E quando eu achei que não era possível, minha fúria por Jacob
se intensificou junto com o calor do meu corpo.
Filho da puta.
Como ele podia falar uma coisa como aquela? Tão ignorante,
machista e…imbecil, era isso que Jacob era, um imbecil. Eu virei
noites fazendo coisas além da minha função: Relatórios, montando
reuniões, montando textos empresariais, contratos, dei ideias para as
especificações da Gossip.com antes do lançamento. Quem esse
imbecil acha que é?
O apresentador soltou gargalhadas.
— Ah Jacob, você tem sempre respostas na ponta da língua,
gosto disso em você! Se nenhuma mulher conseguiria isso, me diga,
ao menos alguma mulher já fisgou seu coração? Há alguém na fila
para subir ao altar e se tornar uma Herdeira Corbyn?
Ele gargalhou como se ouvisse um palhaço fazer piada.
— Não, não há! Ainda não nasceu a mulher que me faça pôr um
anel em seu dedo. O dia em que eu me casar, tenha certeza que
fiquei louco!
Tom retrucou.
— Acredito que tenha feito muita coisa sozinho, mas uma mulher
é sempre necessária em algum momento na vida de um homem.
— Não na minha! Sou melhor fazendo tudo sozinho,
absolutamente tudo.
Depois do discurso machista de Jacob eu não conseguia mais
prestar atenção em nada. Meu rosto estava quente, pegando fogo.
— Filho da puta! — Eu exclamei alto, atraindo a atenção de
minhas duas amigas. Mirei os olhos no garçom, e no momento em
que ele me deu atenção eu fiz meu pedido. — 4 shots do que você
tiver de mais forte aí!
Ele me encarou durante alguns segundos.
— Absinto, pode ser? — Perguntou.
— Serve! — Respondi.
Quinn se aproximou, guardando o telefone entre o vale dos seus
seios e afofou novamente o cabelo.
— Pois é, parece que seu chefe realmente é um imbecil! — A
loira disse. Fitando a ira em meus olhos. — Para que os 4 shots?
— Dois pra mim e o restante pra vocês! — O garçom trouxe, e
eu virei as tuas pequenas taças, uma atrás da outra. O líquido
refrescante tinha o sabor de menta, e desceu por minha garganta
como uma labareda.
— Eu não acredito que ele disse aquilo! Eu faço de tudo pra esse
imbecil e é assim que ele fala das mulheres?
Willow virou uma dose pra me acompanhar. Passou os dedos
pelos meus cabelos loiros.
— Concordo com você! Eu o cumprimentaria amanhã com um
chute no meio das pernas! — A morena brincou com um toque
profundo de verdade. — Mas falando sério, eu não ficaria feliz de
trabalhar com um homem assim apesar de ele ser bem gostoso.
Não me senti exclusivamente atingida, pois ele havia atacado
todo o público feminino, enaltecendo não só ele, mas toda a raça
masculina que fazia parte da mesma alcateia que ele: homens
prepotentes, arrogantes, nariz em pé e que se achavam superiores
os suficientes para nunca serem combatidos.
— Eu sou como a merda de uma esposa, levo todos os dias o
café, o almoço, organizo sua agenda, sua semana, lhe ajudo com
ideias na empresa, falo com sua mãe quando ele não está, agendo a
faxina em seu apartamento, faço coisas que eu não deveria…eu
estou na porra de um casamento sem sexo! Daí esse imbecil vai em
público dizer que mulheres não são nada? Jacob Corbyn não seria
nada sem mim! — A quarta taça de absinto estava em minha frente,
eu botei as mãos no cabelo e vi Quinn empurrar a taça em minha
direção, e eu então virei mais uma vez, incendiando meu interior. —
Sua secretária mais estável antes de mim ficou no cargo por duas
semanas!
— Se acha que não é feliz, porque não volta a tentar na
advocacia? — Quinn perguntou quando me viu quase chorar.
— Porquê…porque eu gosto do meu trabalho! Mas as vezes fico
esgotada, entende? e eu também preciso terminar de pagar meu
apartamento!
— Complicado, Claire! Acho que deveria conversar com ele!
O grande problema em conversar com Jacob era que ele tinha
uma oratória tão boa que acabava contornando qualquer situação. E
todos os meios que eu empunhava em uma conversa, eram muito
bem dissertados e esclarecidos por ele. Tudo tão coerente que
muitas das vezes eu perguntava como as mulheres o conseguiam
dar um não.
— E pode ter certeza que eu irei…provavelmente quebrar a sala
inteira dele em sua cabeça! Dessa vez ele se superou, sem dúvidas.
— Falei.
Willow solicitou ao garçom algumas doses de caipirinha.
— Vamos beber até esquecer os nomes! — A morena disse
sacudindo seus cabelos, desfazendo seu coque frouxo, libertando
seus cachos.
— Tenho que trabalhar amanhã! — Resmunguei. —
Infelizmente!
Quinn me abraçou pelo ombro, dando-me um beijo na bochecha.
— Relaxe! Se você esquecer o caminho de casa, eu te levo! —
Ela sorriu e eu fiz a mesma coisa antes de começar a acabar com a
tequila do bar.
Amanhã eu mostraria a Jacob Corbyn como ele era dependente
das mulheres que ele tanto se dizia ser superior.
Capítulo 4
Claire

Acordei de manhã sentindo como se eu fosse o asfalto da Times


Square em horário de pico no engarrafamento de sexta às 17h.
Derrotada e pisoteada e ao invés do cheiro de gasolina, eu podia
sentir o cheiro de álcool em meu próprio corpo. Eu sabia que beber
tendo que trabalhar no dia seguinte não era a melhor a se fazer, mas
no momento de euforia era sempre a melhor escolha, e no momento
em que eu acordava sentindo que meu sangue havia sido substituído
por álcool, eu me sentia arrependida.
O ser humano definitivamente não foi feito pra trabalhar bêbado.
Era como abastecer o carro com suco.
Acho que levar uma paulada na cabeça seria menos doloroso do
que acordar.
— A princesa finalmente acordou! — Quinn havia prometido me
levar em casa, mas foi a cabeleira cacheada de Willow que passou
pelo batente.
Em um susto eu despertei. Merda! Meu trabalho.
— Droga! — Exclamei caçando meu celular, que por sinal já
estava descarregado! — Que horas são?
— Calma, ainda é cedo! São 7h da manhã. Vá tomar um banho e
me encontre na cozinha! Estou fazendo chá preto pra nós duas. —
Disse ela
Ufa, estava cedo.
O banho gelado me despertou e o café que me aguardava na
cozinha faria parte do combo perfeito anti-alcoólatra. Foi enquanto a
água gelada caía sobre minha cabeça, que tive lapsos de memória
constantes da noite passada, todas alegres, menos aquela onde
Jacob aparecia sorrindo para na TV.
Calça jeans, camiseta social preta e sapatos sociais pretos. O
luto seria pela morte de Corbyn quando eu o enforcasse não com
palavras, mas com minhas próprias mãos.
O cheiro de chá com hortelã estava forte na cozinha, dando-me
água na boca. Sentei-me na bancada da mesa de jantar na hora em
que Willow despejava água quente sobre as xícaras preenchidas
com os sachês para depois despejar mel sobre os waffles
amanteigados.
— Como pode estar tão bem? Parece que você acabou de sair
do útero da sua mãe, Willow! Eu me sinto como se um trem tivesse
me atingido! — Eu reclamei sacudindo a cabeça na tentativa de me
livrar do enjoo e da dor de cabeça.
Ela se sentou na cadeira à minha frente, puxando a xícara no
pratinho de porcelana e assoprando. Eu fiz o mesmo.
— Pelo simples fato de eu ter bebido inúmeros copos de água
junto de Quinn. Mas você ficou com tanta raiva do seu chefe que
resolveu botar goela abaixo tudo que tinha de álcool naquele bar! —
Ela puxou uma pequena medalha dourada. Parecia ser barata.
— O que é isso?
Dei um gole pequeno no chá. Hm…tinha gengibre.
— Você ganhou depois de ter bebido 12 shots de tequila.
Eu me engasguei com o chá e senti o gengibre queimar meu
nariz.
— 12? Meu deus. — Eu tossi um pouco — E Quinn, não veio?
— O Robbin Hood dela resolveu roubá-la no fim da noite e eu
acabei ficando pra ouvir você xingar seu chefe de palavrões que eu
nem sabia que existiam. — Ela riu tendo a certeza que a lembrança
era fresca em sua cabeça. Willow estendeu a medalha no ar em
minha direção. — Você virou um fenômeno lá. Os homens se
sentiram pequenos perto de você! Até que você acordou bem. Achei
que você acordaria vomitando todos os seus órgãos.
Eu ri de nervoso.
— Eu não deveria ter bebido tanto!
— Jura? Se você não me contasse eu não saberia.
Respirei fundo, tomando o restante do chá em um só gole.
Belisquei metade dos waffles.
— Sobre Jacob…ele realmente disse…— Uma parte queria que
fosse alucinação de gente bêbada.
— Cada palavra. Você não estava bêbada o suficiente para um
sonho tão péssimo. — Willow resmungou levando os dedos ao
queixo — Eu acho…
— Eu quero jogar ele do último andar hoje!
E eu queria de fato. Os funcionários da Orsoft foram escolhidos a
dedo por um departamento de RH extremamente seletivo já que
Jacob fazia parte deste grupo em época de seleção. Todos foram
incríveis, desde Lorah na recepção até Lumena da limpeza. Nós
éramos um grupo diferente, nós éramos uma empresa diferente.
Tudo poderia ser diferente se Jacob fosse um chefe diferente, mas
ele fazia questão de ser o teste de provação em nossa vida todo
santo dia. Corbyn era um desafio diário que já estava começando a
me cansar onde a gota da água foi seu discurso chulo em uma
entrevista onde o país inteiro estava assistindo.
— Vai gastar seu réu primário no seu chefe? — Willow falou com
a boca cheia, vazando waffles.
Eu olhei em um misto de simpatia e ironia e sorri antes de me
levantar da mesa.
— Tenho certeza que vai valer a pena!

(...)

Eu deveria passar no Starbucks e levar um chá gelado e


rosquinhas de canela. Mas eu precisava me expressar de alguma
forma toda minha irritação e minha indignação com a cena da última
noite, eu precisava mostrar a Corbyn o tamanho do erro que ele
havia cometido.
Lorah acenou quando me viu atravessar a roleta na recepção do
prédio. Peguei um elevador cheio no primeiro andar, mas acabei
chegando com ele vazio no último. A porta de aço se abriu e o caos
que eu tinha saudade já estava instalado na sala principal. Eu havia
chego antes do horário, mas mesmo que eu fizesse essa proeza
algumas vezes, nunca era cedo o suficiente para chegar mais cedo
que Jacob.
Quando abri a porta, lá estava ele.
Fora de seu paletó, mas com a gravata azul, que enrolava na
gola de sua camisa branca folgada no pescoço. Os cabelos
penteados para trás, e sua atenção focada nos papéis que assinava
sobre sua enorme mesa. Ele sabia que eu havia entrado, mas não se
deu ao trabalho de olhar, porque normalmente eu me aproximava e
depositava sobre a mesa, seu café da manhã. Então quando
segundos se passaram e ele não notou minha aproximação, seus
olhos varreram sua mesa, tapete e estacionaram sobre minhas mãos
vazias que se juntavam à lateral de meu corpo.
Sua sobrancelha dourada se ergueu e ele parou o que fazia,
depositando a caneta ao lado da folha, prestando toda sua atenção
em mim.
— Bom dia! — Eu desejei mais formal do que o normal.
Jacob engoliu o ar.
— Seria se meu café estivesse em suas mãos.
— Precisamos conversar. — Manifestei-me. — Ainda não são 9h,
portanto ainda não é hora de começar a trabalhar.
Corbyn se desmanchou na cadeira, fitando meu rosto curioso,
sustentando a face séria que mais um pouco daria lugar a um sorriso
cínico.
— Se não veio trabalhar, deveria ter marcado uma reunião para
conversar comigo, Claire. Mas adianto que a fila de espera é
grande.
— De repente se eu fosse um dos seus casos amorosos eu
ganharia uma vaga ainda essa semana. — A minha intenção foi ser
sarcástica, mas Jacob não havia entendido aquilo da forma na qual
eu queria que ele entendesse. Ele se levantou de sua cadeira,
apoiou seu quadril na beirada da mesa à minha frente com um
sorriso de lado, sem mostrar o interior de sua boca.
— É isso que tem em mente?
— Não foi nesse sentido a qual me referi…— Eu tentei me
corrigir, falhando, escorregando o olhar e gaguejando
mediocremente.
— Ah não? então me explique de forma mais clara.
— Vi sua entrevista ontem! — No momento em que eu terminei
de dizer, seu sorriso finalmente se alargou e eu pude ver seus dentes
brancos, e sua convinha sedutora na musculatura da maçã rosada
de seu rosto. — Mulheres têm fácil acesso a você quando é do seu
interesse, Jacob! Mas quando é ao contrário, você se torna o
milionário inacessível. Sua entrevista foi ridícula. Como você pôde
dizer uma coisa daquelas? Quantas vezes eu já não ajudei você com
coisas na qual eu nem mesmo deveria? Quantas vezes doei do meu
tempo e dedicação a você?
Ele uniu as sobrancelhas em um sinal de que não estava
gostando do rumo das coisas. Mesmo que minha vontade fosse
xingá-lo severamente, eu não podia fazê-lo, pois sempre que eu
imaginava, a imagem do banco tomando meu apartamento vinha à
tona em minha mente.
— Então vamos ter uma conversa sobre feminismo, é isso? — O
tom de Jacob era como se estivéssemos falando sobre algo
irrelevante, falando sobre peso para papel e esse tipo de indiferença
fazia meu sangue borbulhar.
— Não se trata apenas sobre isso. A sua fala foi extremamente
ingrata. Você falou diante das câmeras como se nunca tivesse
precisado de nós, como se todas as mulheres da empresa fossem
um enfeite aqui dentro.
— Está botando as palavras na minha boca, Claire! — Ele disse
com cautela.
Jacob estava sendo cínico?
— Botando as palavras na sua boca, Corbyn? Você disse que
nenhuma mulher conseguiria levar à Orsoft até onde você levou!
Ele deu uma risadinha.
— E eu falei mentiras? Eu sou a cabeça dessa empresa, se eu
não estivesse aqui dentro, Claire, esse lugar já teria ido a baixo. Se a
Orsoft não tivesse vocês como funcionários, eu contrataria outros.
Mas e se vocês não tivessem a mim, Jacob Corbyn, como diretor
geral? A Orsoft seria a mesma coisa?
Esse era Jacob. Embora um bom empregador, era um péssimo
homem, daqueles que se dependessem de mim, ficariam solitários
no mundo para entender que as pessoas a sua volta não praticavam
o geocentrismo acreditando que ele fosse o planeta terra e que tudo
rodava em volta de si.
— Você é importante Jacob, Ok, eu entendi, mas nós também
somos. As suas falas foram péssimas! Deveria pedir desculpas.
Menosprezou todas as mulheres que trabalham aqui. — Dei um
passo em sua direção, e se eu desse apenas mais dois, meu corpo
esbarraria no dele.
— Não vou pedir desculpas a ninguém, Claire. Eu não xinguei o
público feminino. Lá, eu dei a minha opinião, e não vou mudá-la
porque não agradou você. — Ele suspirou. — Vocês são funcionários
e são substituíveis, mesmo que o trabalho de vocês seja excelente.
Eu vou matar ele.
Eu vou matar Jacob.
Eu vou matar Jacob Corbyn.
Eu vou matar o meu chefe.
E então, com a cabeça cheia pelo cansaço semanal, pelo término
com o imbecil do Hardin, com a noite mal dormida, com o estresse
pós bebida e principalmente por Corbyn ser um babaca, eu explodi.
Me virei depositando minha bolsa no sofá e tranquei a porta. Voltei
até onde eu estava antes, bem em frente ao cara mais imbecil, mas
ainda sim mais lindo de Londres.
— Me diga, Jacob, quantas secretarias passaram por aqui?
Ele gargalhou.
— Isso não quer dizer nada! — Ele me cutucou, como se não
importasse.
Eu gargalhei alto, ainda indignada e perdendo o controle da
paciência ainda mais rápido do que eu achei que poderia perder.
— Não quer dizer nada? Nenhuma mulher parou no cargo como
secretária. Você já parou pra se perguntar o porquê? Qual o motivo?
— Ele nada respondeu, apenas balançou a cabeça negativamente
para um lado e para o outro sem tirar os olhos azuis de mim. —
Porque você é um homem estúpido, que acha que o cargo de
secretária é uma espécie de empregada.
Ele quase se engasgou com a própria saliva, porque
notoriamente, eu nunca havia feito nada parecido.
— Elas não ficaram porque não estavam aptas para o cargo.
Eu sorri cinicamente.
— Ah claro! Eu também acho, mas eu acho bem difícil você
conseguir encontrar uma entregadora de comida, uma mototáxi que
busca suas encomendas em Nova York. Prepara suas reuniões, dá
ideias dentro do RH, do Setor de marketing, recebe a sua mãe,
encomenda presentes para sua família, e merda… eu até agendo
faxinas para sua casa. E olha tudo o que você disse, que eu sou
substituível. — Eu respirei fundo — Todas pediram demissão,
Corbyn! — Eu dei uma risada nervosa, novamente. — O problema
não era elas, o problema é você.
Ele piscou quatro vezes, abaixando a cabeça, e quando eu achei
que ele daria o braço a torcer, um sorriso brotou em sua boca, um ar
azedo, cheio de achismos infundados.
— Talvez não entenda, Claire! Mas quando se tem uma empresa,
qualquer funcionário é substituível.
Não havia remorso em seu rosto.
Rangi os dentes como um cachorro com raiva. Jacob podia ser
egocêntrico, mas minha tia Carrie havia me ensinado o tipo certo de
barra a qual eu devia aguentar, e o problema com ele, havia passado
dos limites.
Eu amava a Orsoft, eu amava meu trabalho mesmo sendo
cansativo, mas olhar para Jacob, e saber que eu havia dado meu
suor, minhas forças por um chefe que mesmo pagando bem, tinha o
prazer de dizer que eu era substituível, como uma peça de brinquedo
de ideias e que tudo que eu já havia feito, era totalmente
irrelevante… Era desgastante, pra ele eu era só uma funcionária
qualquer, e talvez sempre devesse ser assim, talvez eu tenha sido a
errada querendo mover seus e terra por alguém que não moveria um
palito por mim. Então ali, cansada de tudo, com o ego ferido eu não
tive mais escolhas.
— Peça desculpas, agora! Grave um vídeo pedindo desculpas,
Jacob! ou eu juro que nunca mais piso aqui!
— Sinto muito, Claire! Mas tudo que dei lá, foi a minha opinião e
eu estaria sendo incoerente se eu voltasse atrás. — Ele respondeu-
me, causando fúria e remorso por ter aceitado estar aqui desde o
início.
— Peça desculpas, agora! — rosnei.
— E se eu não fizer?
Eu precisava tomar coragem, porque mesmo que eu precisasse
do emprego, eu não poderia permanecer em um lugar onde meu
próprio chefe deixava explícito e claro que o público feminino que
tanto engajava a empresa, não faria a menor diferença e que nós
nunca seríamos capazes de crescer tanto a Orsoft quando ele
cresceu.
Jacob piorava a cada dia que passava.
— Se não fizer, vou pedir demissão!
Ele riu como se eu tivesse acabado de contar uma piada e
mesmo que tivesse sido difícil até pra mim acreditar que eu poderia
fazer isso e pôr em risco meu imóvel, eu não queria ficar em uma
empresa que me diminuiria.
Eu sou uma grande mulher e ninguém pode contestar isso.
— Você não tem coragem.
— Você acha? — O desafiei.
— Tenho certeza!
Eu me virei pegando minha bolsa sobre a poltrona.
— A partir de hoje eu não entro dentro dessa empresa, e espero
que você possa encontrar outra secretária já que eu sou tão
substituível.
Jacob não acreditou em minhas palavras, e pra falar a verdade,
nem mesmo eu pude acreditar. Seu rosto perdeu a cor, e por sua
feição, percebi que havia jogado um balde de água fria em seus
ombros. Seus olhos azuis semicerraram. Ele sabia do meu
apartamento, sabia que eu precisava do emprego, mas o que ele não
sabia é que aquilo havia me magoado profundamente ao ponto de
jogar tudo pro alto.
— Não seja infantil, Claire! — Disse autoritário, cruzando os
braços acima do peito.
— E você não seja um machista de merda, Jacob!
Abri a porta vagarosamente após destrancá-la.
— Se passar por essa porta, não deixo que volte atrás!
— Não precisa se lamentar, afinal, eu sou inútil, mas o que seria
da Orsoft sem o Jacob Corbyn? Eu saio e você fica!
— Claire, entre, agora! Eu nunca disse que você era inútil.
— Se retrate perante as funcionárias que ficaram, caso contrário,
eu serei a primeira de muitas que irá perder. — Respirei fundo,
mantendo a decisão que eu havia tomado a alguns segundos atrás.
— Boa sorte com a seleção.
E então passei pela porta, com minha bolsa debaixo do braço,
ciente de que talvez seria a última vez que eu desceria por aqueles
andares. Assim que cheguei próximo do elevador, ouvi a porta bater
e os passos duros e longos vindo em minha direção.
— Claire, vamos conversar! — Sua feição era séria. Nós nos
tratávamos a tanto tempo com cinismo, que nas poucas vezes na
qual discutíamos, era considerado como blefe, mas dessa vez seria
diferente. — Vai pedir demissão por causa de uma entrevista?
Eu olhei com os olhos arregalados em direção a ele, que parou
bem na minha frente, impedindo que eu entrasse na caixa de aço.
— Vou pedir demissão, porque enxerguei o tremendo imbecil
desrespeitoso que você é, mas fico feliz que já que é apenas um
emprego, você pode procurar por outra e eu posso procurar alguém
que me valorize mais como funcionária.
Entrei no elevador, olhando firme em seus olhos até que as
portas cortassem nossos olhares.
Capítulo 5
Jacob Corbyn

A ponta dos meus dedos já estava dormente de tanto bate-los


sobre a mesa da minha sala. Meus olhos estavam pregados sobre o
pão de gergelim queimado e ao lado dele um café tão forte que me
fez ter um pequeno infarto no primeiro e último gole. O que fazer com
aquilo?
— Está tudo bem, Sr Corbyn? — Helen me despertou da reflexão
matinal enquanto eu pensava que poderia ter tido uma intoxicação
alimentar comendo aquilo.
Se completava 2 dias que Claire havia deixado seu cargo
recusando minhas ligações, aceitando apenas falar com o setor
jurídico a respeito de sua rescisão trabalhista. Minha intenção não foi
denegrir as mulheres ao dar a entrevista. Talvez eu tenha sido um
pouco machista, sim, quer dizer que eu deva me desculpar? Sim!
Mas eu precisava falar com Claire primeiro.
Dois dias foram o suficiente para que eu olhasse para sua antiga
sala e para o prato na minha frente e sentisse sua falta. Embora eu
sempre tenha tido um apreço maior por ela, do que por qualquer
outra em um núcleo profissional, eu estaria mentindo se eu dissesse
que a visão de Claire a minha frente, vermelha de raiva e autoritária,
não me fizesse ter alguns pensamentos impróprios. A minha regra
número 1 assim que passei a coordenar a empresa, era que eu fosse
acima de tudo um bom chefe, dando boas condições de trabalho,
uma ótima remuneração, mas ainda fosse um chefe, e não um
amigo. O tempo passou, e a ideia de ser considerado um homem de
alto padrão pela sociedade inglesa, foi algo que fez a Orsoft crescer
exponencialmente, já que ao mesmo tempo eu fui visto como o maior
empresário de Londres e também um homem impossível de ser
atendido, pelo grande número de secretarias que pedia demissão por
não conseguirem dar conta do cargo.
As reuniões de seleção para secretárias começaram a se tornar
um evento semanal, iniciando entre alguns funcionários uma aposta
sobre qual das candidatas permaneceria por mais tempo. Durante
uma época eu quase entrei nos momentos descontraídos, pois o que
o jornal pregava sobre a instabilidade do cargo de secretária na
empresa, para nós dentro da Orsoft, passou a se tornar motivo de
brincadeira até Claire chegar.
Estranhamente eu fiquei incomodado pelo fato de ter alguém que
desse conta de todas as suas tarefas e inclusive tinha tempo para
conseguir gerir as minhas. Era notório a sua irritação com alguns
pedidos, que acabou mais tarde por ser um combustível para iniciar
nela o desejo de retribuir todas as alfinetadas, devolver o cinismo de
forma educada e fina. Mesmo procurando uma secretária, o fato de
eu ter encontrado uma que fosse até boa demais para o cargo, me
irritava, porque ter alguém para ocupar tal cargo era na verdade
acabar com minha reputação de empresário de gostos inatingíveis, e
transformaria Claire na Bella que domou a fera.
Foram quase 3 anos fazendo sua vida impossível com tantos
pedidos que alguns, até mesmo eu considerava criativos.
3 anos tendo a secretária perfeita e só se dando disso 2 dias
depois de tê-la pedido.
— Sr Corbyn? — Helen chamou novamente.
Helen não era a substituta de Claire. Helen era na verdade a
menina do almoxarifado que estava tentando me ajudar em algumas
coisas como Claire fazia, mas claramente se nem mesmo para trazer
um café da manhã correto ela conseguia, Helen não seria capaz de
fazer o restante.
— Onde você comprou isso? — Perguntei tentando não ser rude.
Ela apertou o braço direito com a mão. Deu um sorriso fraco
ajeitando seus óculos redondos.
— No Fonsocks — Ela respondeu, tímida.
Balancei a cabeça de forma negativa.
— É Starbucks, Helen! Como conseguiu confundir um
restaurante comercial famoso com um Bar de homens duvidosos?
— Eu fiquei nervosa, Sr Corbyn! Me desculpe. — Ela disse.
Helen ajeitou o cabelo vermelho atrás da orelha. Era notório seu
nervosismo, suas mãos tremiam, e acredito eu, que esse era o
motivo dela agarrar um dos braços com a mão. 4 anos trabalhando
na Orsoft e ela nunca havia me visto pessoalmente. Eu não a julgo.
A notícia da demissão de Claire pegou a todos de surpresa, até
mesmo a mim.
— Tudo bem! — Suspirei — Desça, por favor! Eu vou sair pra
comer algo!
Helen abriu a porta, mas antes que ela pudesse passar por ela,
minha mãe passou pelo batente, entrando com um sorriso no rosto, e
o queixo no ar, me fitando séria.
— Ah Sr Corbyn, eu esqueci de avisá-lo! Essa moça queria subir
pra falar com você! — Sibilou antes de sair. Não escondi meu olhar
de desaprovação.
Merda, eu estava ferrado se esperasse que Helen pudesse
reproduzir metade do que Clair fazia. Inclusive domar minha mãe na
recepção e tentar persuadi-la quando ela tentava dizer que eu era
um bom homem, e que minha secretária não deveria me odiar. Mas
mal sabia Louiselane, que Claire tinha muito mais motivos pra me
odiar do que pra sentir qualquer outro tipo de sentimento por mim.
— Jacob Corbyn. — Ela soletrou devagar, tirando os óculos
pretos do osso nasal, revelando seus olhos tão azuis como os meus.
— Dê-me um bom motivo para não tratar você como um adolescente
de 18 anos. Estou a dias tentando falar com você!
A vida adulta tinha lá seus méritos, mas os problemas de falta de
tempo acarretavam em muitas coisas, inclusive o afastamento
familiar. Minha mãe sempre foi a mais pura das mulheres para mim,
e talvez na maioria das vezes eu não tenha tido cabeça para
responder suas perguntas excessivas que tinham apenas a
finalidade de saber o que se passava comigo, como havia sido meu
dia, ou talvez como eu estava me sentindo mediante a tanto trabalho.
Talvez eu não mereça a mãe que tenho.
— Desculpa, mãe! Mas agora não é uma boa hora! Preciso
resolver algumas coisas!
— E quando será uma boa hora, Jacob? Quando eu morrer?
Nunca é uma boa hora! — Ela se sentou na poltrona ao lado da
porta, cruzando suas pernas esbeltas e ajeitando seu coque em fios
dourados. Minha mãe era linda ao auge dos seus 60 anos, e eu com
toda certeza afirmo que muitas mulheres mais jovens não chegavam
aos seus pés. Não era apenas a beleza, mas todo o seu jeito de se
comunicar e tratar as pessoas, seu jeito de ver a luz dentro da
escuridão. — Onde está Claire? Não a vi na entrada!
Minha respiração profunda, seguida das mãos que afagaram meu
rosto momentaneamente, me delataram sobre minha falta de cabeça
para abrir a boca e esclarecer o que havia acontecido de fato.
— Bom…meu problema agora é justamente esse! O Fato de
Claire não estar aqui. — Abri um pouco a gravata azul marinho,
sentindo como se o tecido me sufocasse a cada olhar de Louise. —
Por isso eu disse que não é uma boa hora.
— Algo aconteceu com ela?
— Claire pediu demissão! — Contei sério.
Minha mãe se levantou, me encarando, procurando algum
engano ou brincadeira. Mas ela sabia que mesmo que eu estivesse
com um sorriso no rosto, brincadeiras não eram do meu feitio, ainda
mais se tratando da empresa.
— O que? — Ela havia ouvido, mas queria ter certeza de minha
boca. Foram 3 anos vendo Claire toda semana, e para Louiselane,
minha secretária foi o mais perto que ela teve de nora.
— Ela pediu demissão, mãe!
Louise se aproximou ainda mais, cerrando seus olhos,
desconfiada.
— Ou você a fez se demitir?
— Sabe a entrevista? Então…eu... — Não consegui terminar,
pois antes mesmo, as mãos de minha mãe foram de encontro ao
meu braço, repetidas vezes em sinal de raiva e indigestão da
informação. Era notório que ela também havia ficado tão indignada
com a entrevista quanto Claire, e provavelmente muitas das
mulheres que estavam assistindo.
— Eu... — Soletrou novamente deferindo mais e mais tapas —
não te ensinei… — Ela se afastou, recuperando fôlego. — A tratar
nenhuma mulher assim, Jacob! Você só disse baboseiras!
— Eu me expressei de forma errada, mãe! Eu já entendi!
— Entendeu? Se entendeu, porque já não entrou em contato
com algum advogado para elaborar um pedido público de
desculpas? — Ela perguntou, e estava certa.
— Tenho algumas coisas mais importantes pra resolver primeiro!
— Com certeza, trazer Claire de volta, caso contrário, minha vida
seria arremessada em um redemoinho. — Preciso conversar com a
minha secretária.
— Espero que resolva. Claire não merece isso! Ela é uma boa
menina, a única capaz de suportar você! Não pensou em mim
quando falou aquelas besteiras?
— Eu não quis afetar diretamente ao público feminino, apenas me
referi a homens saberem tratar de dinheiro melhor do que as
mulheres…
— Errado, completamente errado. Quando seu pai fundou a
Orsoft, eu estive ao seu lado durante todo o percurso, ajudando-o e o
auxiliando em cada uma das etapas, e te garanto que se eu
estivesse longe dele em todo o processo, você não estaria vestindo
esse terno caro. — Louise andou pela sala, buscando algo em seus
pensamentos que eu não podia alcançar. — Depois que seu pai
faleceu, eu senti que deveria passar adiante todo o legado que eu e
ele, e também todos os funcionários construímos juntos. Fomos uma
família, Jacob. E se você herdou tudo isso, administre com o
coração, assim como eu e seu pai fizemos, e eu sei, que o Jacob,
meu filho, que falava naquela entrevista, não falava com o coração.
Abaixei a cabeça.
Eu estava errado e sabia disso.
Não havia palavras que pudessem responder minha mãe, apenas
o concordar que deveria partir de mim. Enquanto ela ainda estava de
costas, me aproximei e fechei meus braços em torno de seu corpo,
beijando sua cabeça e inalando o cheiro doce que tinha minha mãe.
— Vou resolver isso!

(...)

Sai da empresa mais cedo do que o costume, o peso do meu


terno parecia infinitamente maior do que nos dias anteriores, e agora
sem Claire, a cor do aço na placa de gerente geral nunca foi tão
cintilante sobre a minha mesa. Já que eu não pude tomar um café
decente pela manhã, o tomaria na parte da tarde, de preferência na
companhia de Simon, que me pediu que o encontrasse no fim da
tarde.
— Que merda é essa? — Sibilei atraindo alguns olhares curiosos
de dentro do restaurante. No jornal a minha imagem de terno e
gravata era nítida, com um gigantesco letreiro de letras cursivas e
arrogantes que induzia erroneamente uma face de mim que não
existia.
“Jacob Corbyn não é só um empresário de gostos finos para
secretárias, mas também para mulheres, e de acordo com ele, o
motivo de não ter casado ainda, é porque sua noiva perfeita ainda
não nasceu.”
Na segunda página havia uma segunda foto minha, com um caso
amoroso sensual, escapando de um restaurante em Brixton, e sobre
a foto, novamente, um grande letreiro destacável de opiniões
bastardas.
“O arrogante milionário inglês sempre é visto se divertindo em
companhia de lindas damas enquanto sua esposa perfeita ainda não
nasce.”
— Eu não consigo acreditar nisso…— Sussurrei desacreditado.
— Pois é, acho que quem mais ganhou, foi a emissora com
audiência! Porque você meu amigo, está sendo mal falado em todos
os lugares possíveis. — Simon deu uma pequena risada enquanto
levava seu cappuccino à boca.
— Vou processar esse jornal!
— Por ter te chamado de arrogante?
Esfreguei o rosto, fitando profundamente o jornal.
O erro havia sido meu, e aquele jornal havia sido fruto das
minhas palavras, assim como a demissão de Claire.
— Que inferno! — Praguejei. Simon era meu sócio, mas além
disso, ele era meu melhor amigo. E se tinha algo que eu admirava
nele, era sua capacidade de sorrir quando o mundo ruía, ou a
capacidade de mostrar insatisfação mesmo quando as pessoas
diziam que tudo estava bem apenas para me agradar.
— Já passou da hora de fazer um pedido de desculpas formal. —
Exclamou Simon, ajeitando o relógio em seu pulso largo. — Aliás, e
Claire, realmente se demitiu?
— Não me lembre disso, por favor! — Eu pedi. — Queria tentar
resolver com Claire primeiro, mas já vi que vai ser impossível!
— Você sempre foi péssimo em resolver problemas.
— Seja meu amigo, Simon e não um leitor do jornal.
Ele gargalhou.
— E é por isso que estou dizendo que você é péssimo em
resolver problemas! Eu aponto seus defeitos e você tenta fazer o
possível para melhorá-los! Não vou ser como as mulheres que você
sai ou como as páginas de revistas masculinas te nomeando como o
homem perfeito!
— E é por ser do contra que você é meu único amigo! — Falei
— Eu tenho a impressão que só fazendo essa declaração pública de
desculpas, não vai resolver os meus problemas!
— E eu tenho impressão de que esse problema a qual você se
refere seja a Claire!
— Não exatamente a Claire, mas a ausência dela. — O
respondi, dando um sorriso educado para o Garçom que me trouxe
um copo de achocolatado quente com o meu nome escrito.
— Ah Jake, precisa entender que eu não sou uma pessoa
qualquer, sou seu amigo, e dizer pra mim que o seu comportamento
é porque sua secretária pediu demissão, é a mesma coisa que
mentir. — Simon bocejou, esticando seu braço longo na beirada do
braço do sofá em que estávamos, na lateral dos fundos do
Starbucks. — Eu sei que os seus sorrisos de cinismo pra ela, sempre
foram de satisfação! Você não está sentindo falta de uma secretária,
está sentindo falta da pessoa que ocupava o cargo, e você sabe…
— Ei, ei, ei! — O interrompi — Olha o que está dizendo, Simon!
Ela é minha secretária! Está querendo dizer que eu estou
interessado por ela? Está ficando louco? Você nunca me vê com
mulheres e quando está a me ver com uma, cria logo uma história
amorosa em sua cabeça?
Simon fez algo que eu odiava. Debruçou-se sobre a mesa à
nossa frente, enquanto me encarava sem graça a frustrado com a
novela que ele havia acabado de criar. Não nego que nunca pus os
olhos admirado em Claire, assim como já pus em várias outras
mulheres, mas naquele contexto dissociativo sexual eu nunca havia
o feito, pois sempre me policiei para olhar para ela como uma
funcionária, e Claire me ajudava nisso, destilando ódio cada vez que
olhava em seus olhos, como uma leoa pronta para atacar.
— Não criei nada na minha cabeça, Jake! — Ele riu ditando
silaba por silaba — Basta olhar pra você quando está debatendo
com ela irritado! O brilho nos seus olhos é genuíno!
— É sério isso? — Desvencilhei-me do assunto! — Não tem
outro assunto?
— Tudo bem, tudo bem, parei, prometo! — Simon desistiu,
observando as horas no relógio. — Que tal esquecer os problemas
mais tarde e sairmos para entornar o copo?
Era disso que eu precisava.
De um pouco de álcool no sangue, para pôr meu juízo em dia.
Capítulo 6
Claire Blackwood

— Ainda acho você sem juízo! — Quinn murmurou entre um


gole e outro no Gin de limão entre seus dedos da mão. Seus cabelos
presos em um rabo de cavalo estavam ali estrategicamente para que
o seu amor da vez usasse para puxar durante boa parte da noite. —
Se precisava tanto do emprego, porque fez isso?
— Porque eu cansei! Ver ele naquela entrevista, me fez lembrar
de todas as vezes que ele fazia de tudo pra me irritar. — Resumi
novamente pela milésima vez.
Estávamos no calcinha louca novamente. Fui presenteada com
um lote de 6 taças de Gin por ter ganhado a última competição de
alguns homens e fui nomeada a estrelinha da cachaça dentro do bar,
e como tradição, tive que deixar uma calcinha minha no varal. Quinn
resolveu me acompanhar em uma nova dose de bebedeiras durante
a noite e já que no dia seguinte eu não tinha que acordar cedo para ir
a um trabalho que sequer existia, eu provavelmente iria me
preocupar em deixar o estoque de bebidas do Calcinha louca sem
uma gota de álcool dessa vez.
— E como vai pagar as parcelas do seu apartamento? com folha
de bananeira?
Bem pensado, um desespero interno e tanto.
— Entreguei alguns currículos e vou adiantar algumas parcelas
com o valor da rescisão. Vou me virar até lá — Eu respondi, bebendo
um champagne que tinha gosto de limão, algo novo na casa.
— Bem pensado! Mas sabe que posso te ajudar se precisar,
certo?
— Não se preocupe, não vou precisar! — Eu sorri. Quinn me
tratava como uma filha por ser mais velha que eu 12 anos. — Mas
de qualquer forma, Obrigado! — A atenção da loira se voltou no
celular sorrindo boba — E o seu par romântico, como está?
— Ele quer que eu o encontre! Ele está no restaurante do outro
lado da rua! — Seu olhar entregava que ela esperava que eu fosse
junto.
— Ah não, por favor, não! Não vou empatar a noite de vocês
com meus problemas, fique à vontade!
Quinn fez um bico com os lábios pintados de rosa choque.
— Ah Claire, eu disse apenas que era uma amiga e faria
surpresa! Ele também está acompanhado! — Ela falava alegre, feliz,
como se tivesse o número da Lottoland e fosse ganhar milhões de
euros.
— Pelo amor de deus, não! A última coisa que preciso é de um
encontro agora! Vá, se divirta, e quando estiver indo, me ligue e
vamos juntar! — Decidi.
— Meu telefone descarregou. — Quinn falou virando a frontal do
aparelho em minha direção.
— Então, amanhã você me liga e conta como foi! Eu vou ficar
bem, eu juro!
A loira levantou-se, pegando em minhas mãos. Deferiu olhares
para o garçom que ria com a cena, e logo se dirigiu para ele através
de palavras.
— Tim, se Claire ficar muito bêbada, será sua responsabilidade
a botar dentro de um táxi até em casa, Ok?
O garçom sorriu, me servindo uma nova dose de Champagne
depois de ver meu copo vazio e o último gole descer pela minha
garganta.
— Deixa comigo, loira. Tá comigo, tá com Deus! — E piscou.
Claire saiu pela porta depois de deixar um beijo na minha testa e
30€ euros para o táxi no meu bolso, que só percebi depois que ela
havia sumido de vista.
Eu bebi durante aproximadamente quase uma hora ignorando
as milhares de chamadas telefônicas de Hardin que insistia em me
ver a quase 2 dias, e tudo o que eu podia fazer era fingir que as
tentativas dele estavam acontecendo um universo paralelo que não
fosse o meu. Mesmo depois de pelo menos 6 copos de champanhe
intercalado de um copo de água, não havia sido o suficiente para me
embriagar.
Tia Carrie sempre disse que o que separava os lúcidos dos
cachaceiros, eram aqueles que já não eram nem mais afetados pelo
teor alcoólico, e mesmo que fosse duro de admitir, temo ter chegado
a esse patamar.
Até quando eu ignoraria Hardin? Aquilo precisava acabar, na
verdade já havia acabado pra mim, agora precisava acabar pra ele.
Paguei as taças de Champagne que bebi no balcão, e ao sair de
dentro do bar e do barulho, atendi a ligação afoita do meu ex-
namorado.
— Seja rápido, Hardin! — Eu me impus ainda ouvindo o barulho
do som de dentro do bar.
— Onde você está, Claire? — Ele estava estressado, e eu não o
julgo, pois também ficaria depois de ligar milhares de vezes e não
ser atendida.
— Não é da sua conta! É pra isso que estava me ligando
milhares de vezes? — Eu o questionei.
— Eu quero saber onde você está!
Andei um pouco mais viela adentro, me distanciando de algumas
pessoas, longe do som ou de qualquer outra coisa que pudesse falar
por mim.
— Estou em casa…próximo de casa…— Desconversei
entregando meu nervosismo.
— Ah que maravilha, então se apresse! Estou na sua porta.
Você trocou a maçaneta? Eu disse que daríamos um tempo e não
que terminaríamos.
Eu parei de supetão, suspirando o mais fundo que podia. Eu
havia ido até o bar porque queria dissipar o estresse da cabeça, mas
do que adiantaria chegar em casa e encontrar Hardin me esperando
para impor coisas que não precisavam da minha opinião. Eu
precisava de qualquer coisa para me distanciar, mesmo que tivesse
que ficar até de manhã vagando pela rua, esperando que ele
cansasse de me esperar, pois eu não seria louca o suficiente para
desfazer a noite incrível que Quinn provavelmente estava tendo
pedindo para ir para sua casa, pelo menos não a essa altura da
conversa.
— Achei que tivesse entendido o recado quando pedi pra tirar
suas coisas do meu apartamento.
— Não, não entendi! — Hardin retrucou. — Claire, porque eu
acho que você não está próximo de casa?
— Escute Hardin, acabou! O nosso relacionamento acabou!
Vamos ser adultos e resolver isso como tal. Você vai pra sua casa e
ponto final. Não somos casados, não temos o que tratar.
— Claro, venha pra casa e nós conversaremos!
— Não, não vou! Hoje não!
— Se não vier, eu vou atrás de você em todos os bares de
Londres até te encontrar!
Eu ri nervosa. Porque é que ele tinha que ser tão teimoso
assim? Meus olhos rodaram pela rua, esperando encontrar Quinn na
saída do restaurante da frente, mas provavelmente ela já deveria ter
ido embora. Eu não precisaria pedir a ajuda se a encontrasse, pois o
pedido de socorro estaria escrito nos meus olhos.
— Espero que esteja descansado Hardin, porque vamos brincar
de pique esconde de madrugada pelas ruas de Londres!
— Sei que está naquele bar xexelento do Calcinha louca, e eu
estou entrando no meu carro nesse exato…— não o deixei terminar,
apenas desliguei o aparelho antes que ele completasse a frase.
Hardin não era dono de mim, eu era. Apenas eu e mais
ninguém. Andei em passos curtos, apressada e confusa. Eu
precisava sair dali o mais rápido possível. Poderia até me hospedar
em algum lugar, mas estava sem minha Identificação. Talvez
pudesse pedir ajuda a Quinn caso ela ainda estivesse ali, qualquer
ajuda que não comprometesse sua noite. Pus a cabeça na frente da
janela do restaurante caro que ela havia ido fazer companhia a seu
novo namorado, mas o recepcionista com cara de poucas amizades
foi curto e frio.
— Estamos lotados, Senhorita!
Eu ajeitei a postura.
— Ah, não, tudo bem! Eu só quero chamar uma amiga! — o
respondi educada.
— Senhorita, eu disse que estamos lotados! — ele repetiu como
se eu fosse leiga.
Aquilo me irritou de uma maneira inexplicável e o meu lado sem
paciência começou a dar as caras em uma hora imprópria, pois eu
precisava guardá-lo para caso encontrasse Hardin, que era um louco
quando se tratava de dirigir carros e se eu demorasse muito,
provavelmente estaria ali em menos de 10 minutos, já que havia se
passado algum tempo desde desliguei a ligação em sua cara, sem
chance de resposta.
— Meu querido, não quero comer ou fazer algum pedido,
somente quero encontrar uma amiga!
— Eu entendi, Senhorita! Mas não será permitido nem sua
entrada. Sugiro que espere na entrada!
Alavanquei o ombro para entrar no salão principal, mas antes
que eu atravessasse o batente da porta, meu corpo se chocou contra
outro ainda maior e mais rígido. Os olhos azuis foram as primeiras
coisas na qual eu fui obrigado a me lembrar, olhos azuis que eu
queria evitar tanto quanto o dono deles.
— Claire? — Ele indagou como se estivesse vendo um fantasma
em sua frente.
Porque o destino tinha que ser tão cruel? Quanto mais eu corria,
mais perto dele eu estava.
— Corbyn?
O garçom se endireitou sob sua cadeira, afunilando os dedos na
gola amassada. Um sorriso decadente de vergonha brotou em sua
boca, fazendo Jacob fitar ele com os olhos semicerrados tentando
entender a situação.
— O que está fazendo aqui? — Ele perguntou confuso.
Talvez eu quisesse entrar, mas não com Corbyn ali.
— Eu…eu...eu estou... — Fui interrompida pelo homem entre
nós.
— Sr Corbyn, essa Srta. está com você? — O garçom passou
os olhos pela lista de nomes sobre a bancada de madeira. Meu
interior culminava ódio por Jacob, mas talvez eu pudesse usufruir do
seu status e procurar Quinn ao lado de dentro, sem estar exposta
demais para que Hardin me encontrasse e começasse com seus
achismos em plena noite londrina.
Meu ex-chefe me estendeu a mão, com uma face indecifrável
entre o simpático e o antipático.
— Me responda você, Claire…você está comigo?
Eu olhei para o Garçom com cara de surpresa e para Jacob que
aguardava minha resposta.
— Sim, estou! — Corbyn pegou minha mão, me direcionando
para o interior do restaurante, agradecendo ao garçom com um
aceno.
Uma de suas mãos se encaixaram em minha cintura, guiando-
me para a última mesa no fundo do restaurante. Não precisei notar
muita coisa para saber o porquê o garçom não queria permitir minha
entrada. Os talheres e pratos sobre a mesa eram tão limpos que
serviriam de espelho facilmente se eu me aproximasse. As toalhas
de cetim marrons e cinzas, eram bordadas com rosas de cores um
pouco mais claras. Lamparinas de luzes quentes sobre a mesa com
um jarro de rosas brancas sobre cada uma delas dando um toque
sensual. Aquilo não deveria ser tão romântico assim para um
encontro a três, a não ser que Quinn resolvesse incrementar uma
terceira pessoa em sua noite amorosa. O lugar era caro, caro
demais, tão caro que provavelmente ninguém ali gastaria menos de
1.000,00€ com pratos tão lindos que davam pena de comer.
Ele puxou a cadeira de madeira e eu me sentei, enquanto
algumas pessoas olhavam pra mim, apenas por estar acompanhada
dele. Varri os olhos por cada mesa, em cada canto do salão
quadrado, mas nem sinal de Quinn ou de qualquer coisa que
pudesse remeter a ela.
— Claire? — Jacob me chamou novamente — Estou falando
com você, pode prestar atenção em mim?
— Ela não está aqui! — Eu murmurei, olhando por alguns
segundos para ele à minha frente, mas logo depois procurando
novamente Quinn.
— Ela quem?
— Minha amiga! — Eu disse. Suas sobrancelhas douradas se
unificaram na testa branca. — Porque acha que eu tentaria entrar
aqui?
— Não sei, na verdade não faço ideia!
— Minha amiga Quinn estava aqui com o namorado dela e um
amigo, na verdade antes disso ela estava no bar do outro lado da rua
comigo, mas eu não quis estragar sua noite. — Mal terminei e ele
começou a rir, coçando sua nuca ainda sem olhar pra mim.
— O bar para bêbados do outro lado da rua? Não entro lá, acho
péssimo na verdade.
— Ei, o Calcinha louca é ótimo bar. — Ele começou a rir. —
Porque está rindo de mim?
— Não estou rindo de você, estou rindo da situação. Você é a
amiga de Quinn? A psicóloga loira?
— Espera, você estava saindo com a Quinn? Meu deus…
Era só o que me faltava. Quinn de romance amoroso com o
homem na qual eu declarei ser o mais imbecil da terra. Mas algo
ainda não se encaixava.
— Simon, sua amiga está saindo com Simon, e não comigo! —
Ele murmurou me observando atentamente.
Droga, Quinn estava saindo com Simon? miserável sortuda.
Desfilando com o sonho da metade da Orsoft, mas pra falar a
verdade, minha amiga era incrível, então na realidade, Simon era
quem estava com sorte. Jacob não me parecia o tipo de homem que
eu esperava vê-lo atuava como cupido.
— Onde ela está?
— Tarde demais, ela foi embora com Simon e eu já segurei vela o
suficiente, então decidi ficar.
— Mas você estava indo embora, não é?
— Até você chegar! — Ele exclamou contente, enquanto o
garçom servia uma taça de vinho do porto em nossas taças. —
Gosta de vinho?
— Eu odeio vinho! — Menti, não daria esse gostinho a ele. —
Sinto muito Jacob, sou formal apenas no trabalho, mas fora dele
prefiro vodcas e tequilas!
Ele pendurou seu corpo para trás, apoiando-se na cadeira,
fitando intensamente seu copo enquanto o balançava em
movimentos circulares e vagarosos, seus dentes sobressaíram em
um sorriso junto com a covinha linda de sua bochecha.
— Então você é formal apenas no trabalho? — Ele ainda não me
fitou — Isso quer dizer que voltou atrás com sua decisão de
demissão?
Culpa do efeito alcoólico das bebidas que ainda corriam em
minhas veias e ocasionavam esse tipo de coisa, me fazia sabotar a
mim mesma.
— Não foi você que disse que não me deixaria voltar atrás?
Ele piscou algumas vezes, cético de que eu usaria essas
palavras contra ele, mas se eu estivesse errada, no fundo, ele tinha
ciência que eu de fato, usaria, e se ele estivesse realmente sentindo
minha falta como secretária, voltaria contra seu orgulho. Mas isso
seria apenas mel para os meus ouvidos, pois eu não voltaria atrás
com a minha decisão.
— A situação é diferente agora! — Ele disse, devagar, sem
pressa. — Eu te liguei várias vezes, e você não me atendeu em
nenhum momento.
— E qual a situação? — Disse — Não atendi porque não
tínhamos mais nada a tratar. Eu era sua secretária, e como não sou
mais, não achei viável atender. Não vai me convencer.
— Acredite em mim, eu só precisaria de 2 minutos em um quarto
sozinho com você para convencê-la.
— O que? Você… — O praguejei, ferozmente.
— O que você quer pra voltar? — Ele disse por fim, sem mais
delongas, direto ao ponto. Meus olhos brilharam e de minha garganta
poderia sair muitas coisas. Eu não era orgulhosa, mas se Jacob
chegou ao ponto de pedir que eu voltasse, é porque provavelmente
havia motivos para isso e talvez essa poderia ser minha cartada para
mostrar que eu era muito mais que uma secretária dentro da
empresa, eu era seu braço direito.
— Um dinossauro de estimação! — Disse sarcástica. Ele estalou
a língua aborrecido com a resposta. — O que aconteceu? Ficou
difícil arrumar uma secretária como eu ou sua vida empresarial virou
de cabeça pra baixo?
Corbyn suspirou, virando boca a dentro, o restante do vinho.
— Nem me dei ao trabalho de procurar uma secretária! Pedi que
Helen me auxiliasse enquanto você estava ausente, mas isso só
reforçou a sua falta.
— Helen do almoxarifado? — Perguntei.
— Exato!
— Céus, estava tão desesperado assim? Helen não sabe a
diferença entre um chá preto e um café!
— É, eu percebi. — Disse Corbyn. Ele se posicionou melhor na
mesa, debruçando-se com os cotovelos no cetim, aproximando-se
mais da luz, dando destaque para seu rosto perfeito e seus olhos
cativos. — Claire, estou falando sério! Preciso que volte. Posso
aumentar seu salário, diminuo sua carga de trabalho, mudo a forma
que…trato você…
— Não, eu não volto! — Cada vez que ele ficava sério, meu
sorriso se alargava, mas não o sustentei por muito tempo em meus
lábios, pois onde meus olhos podiam alcançar, através da janela do
restaurante, colado com o rosto no vidro, estava Hardin, com seus
olhos pregados em mim.
A última coisa na qual eu precisava era um barraco ou dor de
cabeça de Hardin fazendo suposições de que eu havia terminado
nosso relacionamento pra fazer de Jacob Corbyn, meu chefe, meu
amante. Tudo que eu precisava era sair dali.
— O que foi? você está branca…— Interrompi Jacob
novamente, puxando seu braço, sem usar força, mas mostrando que
ele precisava se levantar. Arrastei seu braço, indo em direção ao
corredor de toalhetes que ficava próximo da cozinha. Eu iria entrar
no banheiro, mas a mão grande de Jacob nos impediu antes que ele
passasse pelo batente da porta. — Você perdeu o juízo? esse é o
banheiro feminino.
— Cala boca e vem! — Nunca costumo ser tão autoritária e isso
provavelmente assustou ele, fazendo-o se calar, seguindo minhas
ordens como um bonequinho. Entramos e o banheiro feminino
estava completamente vazio. O chão era de um porcelanato cinza
metálico, as paredes eram de uma espécie de cimento queimado
com quadros de mãos na parede de fundo. Três lavabos abaixo do
enorme espelho que se estendia de um lado ao outro da parede e ao
lado contrário do espelho, estavam as divisórias de madeira preta
que escondiam os vasos sanitários.
— Ela estava aqui, eu a vi! — A voz de Hardin rompeu ao lado
de fora, ecoando por todo o banheiro. O filho da mãe havia
conseguido entrar no restaurante.
Empurrei Jacob para a última cabine do banheiro, fazendo-o cair
sentado sobre o vaso. Passei pela porta, fechando-a atrás de mim
quando ouvi passos apressados no porcelanato. Instintivamente
sentei no colo de Corbyn, com cada uma das pernas na lateral de
seu corpo, levantando os pés e agarrando seus ombros para me
equilibrar.
— Se queria que eu te convencesse em 2 minutos poderia ter
dito que eu te levaria para outro lugar…— Tapei sua boca para que
ele parasse de falar baboseiras.
— Levante seus pés, ande! — Sussurrei. Corbyn agarrou minha
cintura, subindo os pés pela parede da cabine, fitando meus olhos,
ainda sem entender bulhufas do que acontecia ali.
— Senhor, sinto muito, precisa sair! Esse é o banheiro feminino
e você está chamando atenção dos clientes. — Foram segundos
desde a fala do que parecia ser o funcionário, até os passos de
Hardin se dissiparam para longe. Os olhos de Jacob ainda estavam
em mim quando tomei noção da posição em que estávamos. Seu
queixo quase batia no decote do meu vestido azul, e eu estava
sentada em seu colo em um encaixe perfeito, enquanto suas mãos
amassavam minha cintura no que deveria ser nervosismo ou outra
coisa qualquer, que inclusive me fizeram arrepiar instintivamente.
— Vai explicar o que foi isso? Quem era do lado de fora? um
agiota? — Eu me retirei em um pulo de cima de seu corpo grande,
que ocupava boa parte do espaço ali dentro. Ajeitei minha roupa
respirando fundo, tentando me controlar. — É uma burrice pedir
demissão devendo agiotas, Claire.
O encarei sem paciência. Jacob era assim ou ele estava
tentando ser cínico?
— Por que não cala a boca e me escuta?
— Você era autoritária assim?
— Aquele era Hardin, meu ex-namorado que acha que eu dei
um tempo enquanto na verdade, eu terminei nosso lindo
relacionamento. — Falei baixo, abrindo a porta e olhando pela
fresta.
— Abra a porta! Acha mesmo que eu o deixaria fazer algo com
você? Achou mais fácil se trancar dentro de um banheiro comigo e
sentar no meu colo?
Corbyn estava certo. Onde eu estava com a cabeça? Minhas
bochechas esquentaram e pela forma que ele me olhava, eu não
duvidaria de estar rosada como tomates. Seus dentes brancos
brilharam sobre meus olhos e quando ele tentou passar por mim eu o
bloqueei.
Não se tratava de Hardin tentar algo comigo, se tratava na
atenção que tudo aquilo chamaria.
— Não gosto de chamar atenção! — Respondi envergonhada.
— Entrando no banheiro mais caro do centro, acompanhada de
um homem? está fazendo isso errado. — Ele caminhou até a porta.
— Vem, vou deixá-la em casa.
Hardin poderia estar me esperando em casa.
— Não posso…— Eu odiava ter que contar da minha vida pra
quem não deveria saber. — Eu preciso encontrar Quinn!
— Espera, aquele imbecil vai atrás de você? Você tinha um
relacionamento abusivo com ele? Claire, você não vai pra casa!
— Nosso relacionamento de chefe e secretária foi bem mais
abusivo, Jacob! — Sibilei e tenho certeza que por sua face vermelha
e testa enrugada, ele não havia gostado do que ouviu. — E eu sei
me cuidar. Ele não vai me agredir, só vai me encher o saco depois de
ter me visto com você e eu tô fugindo de estresse. Vou pra um bar e
esperar lá até…
— Você só pode estar brincando! Está me dizendo que vai
deixar de ir pra casa por causa de um otário? Isso é loucura! Você
deve ir até a delegacia se ele continuar! — O pior é que era
exatamente isso que eu estava dizendo. — Você pode ir pra minha
casa e voltar no dia seguinte, cedo! — Exclamou puxando minha
mão.
— Fala de Hardin, mas está fazendo exatamente igual a ele.
— Meu apartamento tem 6 quartos, Claire. Se você quiser
podemos dormir em quartos distantes ou eu posso dormir fora
enquanto você dorme lá.
— Eu já disse que não vou voltar pra Orsoft.
Jacob passou os dedos grandes entre seus cabelos, em um
sinal claro de falta de paciência.
— Não sou imbecil a esse ponto, fique tranquila. Eu sei ser um
cavaleiro quando é preciso. — Ele disse. — Inclusive posso
conversar de homem pra homem com o imbecil do seu namorado se
quiser.
Não que não tivesse mais opções para escolher, mas Corbyn
estava ali, e quando o diabo oferece ajuda, não devemos recusar.
Ele estendeu a mão uma segunda vez naquela noite fria e eu peguei
temendo não me arrepender.
— Você não vai conversar com ninguém, esquece! Por favor,
vamos sair daqui antes que ele volte! — Foi a vez dele de me puxar
pelas mãos, mas ao invés de sair por onde passamos minutos mais
cedo, Jacob nos guiou até a cozinha, adentrando aos corredores,
onde os chefes corriam de um lado pro outro, agitados, sem
entender nossa presença.
— Para onde está indo? precisamos pagar a conta! — Me
queixei. Não queria ser conhecida como uma mulher de muitos
homens e caloteira, mas ele nem sequer ligou para o que eu dizia,
apenas olhou através de seus ombros de cima pra baixo, como se eu
fosse uma criança carregada por um adulto.
— Ficaria surpresa com as coisas que alguém pode fazer com
dinheiro.
Bastou passar pela saída dos fundos, que eu comecei a
entender. Era a saída alternativa que provavelmente só os
funcionários usavam. Andamos até a esquina e o carro
grotescamente luxuoso de Jacob nos esperava na esquina, sem um
motorista, graças ao bom deus. Corbyn morava em um dos lugares
mais caros de Londres, Belgravia. Ficava próximo dos Jardins Hyde
Park, de Knight bridge e Sloane Square no bairro Chelsea, era onde
a alta sociedade torrava cada euro que não tinha serventia em sua
conta.
Levamos 10 minutos da rua atrás da calcinha louca até a
garagem particular do prédio de Jacob, e devo admitir que era
bizarro, pois a quantidade de carros parados em cada uma das
vagas era maior do que ele poderia dirigir em uma semana.
— São lindos, não acha? — Ele perguntou, fechando a porta do
carro e desligando-o.
— Você só precisa de um para dirigir.
— Nossa, Claire, obrigado pela informação! — Ele debochou,
andando pelos carros enquanto eu o seguia sem saber para onde
estávamos indo, dobramos uma direita, e lá estava o elevador nos
esperando. — As damas, primeiro! — Jacob sugeriu.
Já dentro do elevador, fitei seu rosto enquanto a música tocava,
e por incrível que pareça, ele fazia questão de cantar.
— I know your eyes in the morning sun, I feel you touch me in
the pouring rain, at the moment that you wander far from me, I wanna
feel you in my arms again…— Seus dedos tamborilavam no suporte
para mão, na altura de sua cintura. Eu gostava da música, era How
deep is your love do Bee gees, o problema era que essa coisa estar
na vida pessoal de Jacob era nova, e ouvi-lo cantar era mais nova
ainda, além de ser irritante.
— Porque está me ajudando? — Quebrei o ritmo de sua música,
o fazendo prestar atenção em mim, passando a língua pelos dentes,
procurando uma resposta que acho que nem mesmo ele tinha, mas
ali, em sua mente afiada, ele tentava pensar em uma que pudesse
servir por enquanto.
— Não se acostume. Amanhã serei um inferno na sua vida
novamente. — Piscou. — Mas de uma maneira mais simpática.

(...)

Depois de subir por tantos andares que achei que chegaríamos


ao céu, paramos na cobertura, onde obviamente Jacob morava. Não
havia interruptores, pois quando a porta se abriu, tudo estava muito
bem iluminado, e quando me dei conta de onde estava, me dei conta
também que precisava atualizar minhas definições de luxo. O chão
era de um porcelanato tão branco capaz de ofuscar as vistas. A sala
era tão grande que eu provavelmente precisaria de mais do que um
olhar para desvendá-la por inteira. Encontrei a lareira, o sofá de 12
lugares, o carpete que parecia ser macio no chão, e o quadro
gigantesco que eu supunha ser os pais de Jacob, já que a mulher na
imagem, era sua mãe, Louiselane, vestida de noiva, ao lado de um
homem que lembrava Corbyn.
— Casa bonita…— Meu comentário era ridículo para a
dimensão do lugar. Bonito era o meu apartamento, mas já o de
Jacob era espetacular.
É, ele realmente tinha um bom gosto.
— Obrigada. Sugiro que tome um banho e coma algo.
— Eu não trouxe roupas.
— Posso providenciar algumas.
— Dispenso, não quero usar as roupas das mulheres que traz
pro seu abatedouro.
Ele gargalhou.
— Eu iria oferecer uma roupa minha, Claire. Não tem roupas
femininas aqui. — Ele disse — Inclusive, existem abatedouros bem
melhores do que a minha casa, então não, não as trago pra cá. — A
risada não saia de sua boca e garganta. — Abatedouro…— Repetiu
pensativo. — Isso soa pejorativo.
— É o que acha?
— Na verdade foi você quem sugeriu a palavra.
— De acordo com sua entrevista, é dessa forma que vê as
mulheres.
— Será que poderia não ser rancorosa? Estou tentando ser
agradável.
Arqueei as sobrancelhas. Jacob era agradável aos olhos,
apenas.
— Ser agradável é algo impossível pra você, sabemos disso.
— É dessa forma que me enxerga?
— É dessa forma que você me fez enxergá-lo, Jacob! — Me
virei querendo sair daquela conversa que se afunilaria para lugares
que obviamente não queríamos. Eu só queria dormir e ir pra casa no
dia seguinte. — Enfim, onde fica o banheiro?
Ele retirou os sapatos, pegando-os com os dedos.
— Vá reto, última porta no meio do corredor. — Falou,
caminhando atrás de mim. — Vou pedir que Elsa vá levar algo para
que você possa se vestir.
— Elsa?
Coçou a cabeça.
— É — Respondeu — Contratei ela como governanta fixa pra
que essa casa não vire um randevu.
O banheiro também era impactante, mas acho que não me
assustei tanto, porque depois de passar pela sala, eu sabia que
nenhum lugar daquele imóvel era normal do meu ponto de vista.
Tomei um banho quente e me pus a demorar mais do que o habitual
dentro da banheira de mármore preta. O banheiro tinha uma espécie
de vedação, como uma parede de gesso que o separava da porta,
permitindo que qualquer um entrasse sem me ver através da parede.
Enquanto eu me banhava, Elsa tratou de deixar uma roupa na
bancada ao lado da porta, era uma camiseta cinza de mangas com
um enorme desenho de um pássaro abaixo dos meus seios e na
parte de baixo, uma calça de moletom folgada.
A camisola perfeita, que ainda por cima tinha o cheiro cítrico
dele.
Soltei meus cabelos dourados para ficar ainda mais confortável,
com os pés no chão gelados, entretanto, ao sair do banheiro dei de
cara com Jacob, vestindo uma camiseta sem mangas e uma calça
branca lisa de algodão, ele secava os cabelos com uma toalha
branca.
— Achei que sairia enrolado em uma toalha se secando!
Ele riu sem me fitar, fechando os olhos, e esfregando os cabelos
no meio do corredor.
— Porque eu faria isso?
— Pra tentar impressionar?
— Não seja ingênua, Claire. Se eu quisesse te impressionar, eu
poderia fazer isso de muitas formas diferentes e infalíveis e não
andando pelado como um idiota. — Falou andando em direção a
sala enquanto eu o seguia, pois se ficasse ali, as chances de se
perder seriam grandes. — Seria falta de respeito da minha parte.
— Porque é tão confiante?
— Porque eu sou um empresário milionário, e mesmo que tudo
esteja fadado a dar errado, eu preciso ser confiante e acreditar que
vai dar certo. Então é normal que eu use a confiança em todos os
âmbitos da minha vida, inclusive pra acreditar que você vai voltar
para Orsoft.
— Desista! — ralhei revirando os olhos.
— Está pedindo isso para a pessoa errada! — No fundo eu
sabia. — Quer comer algo?
Eu estava cansada, fadigada, e ainda que não precisasse
trabalhar no dia seguinte, eu tinha que acordar cedo pra ir pra casa,
afinal, eu tinha uma, e principalmente ligar para Quinn.
— Estou sem fome, acho que vou me deitar. — Ele me olhou por
alguns segundos.
—Tudo bem! Escolha qualquer um dos quartos. Todos estão
vazios. — Acenei com a cabeça.
— Hm…Jacob? — ele me encarou — Quinn já sabia que você e
Simon…
— Não, eu a conheci hoje, mas pelo seu olhar curioso notei que
ela já me conhecia. Falou de mim pra ela?
— Falei! — Respondi.
— E o que disse?
— Que te odiava. — Ele sorriu com a resposta. Abaixou o olhar
se virando.
— Acho que não estou surpreso — Esfregou os cabelos
rebeldes e diferentes do que eu estava acostumada a ver no âmbito
profissional. — Tenha uma boa noite, Claire.
Capítulo 7
Claire Blackwood

Jacob, além de ser classificado pelos tabloides como um homem


charmoso, era também chamado de persuasivo por contestar
qualquer coisa em um discursão ou em negócios, e mesmo que
indiretamente, foi exatamente isso que vi na última noite, usando de
sua lábia e tentando ser perspicaz para ter o que queria, meu retorno
na Orsoft. A satisfação de ver meu rosto irritado enquanto o seu
estava pacifico, era notório, era o mesmo resultado de massagear
seu ego. Eu me alimentava daquilo de certa forma, foi algo que me
moldou com os anos, algo que subiu o meu conceito de como
deveria ser uma empresa, de como deveria ser o meu negócio
futuramente. Seus lindos olhos em um tom azul exalavam poder,
mas também lealdade e dureza, e sabendo que Jacob nunca mentia,
eu poderia aceitar seu pedido, mas com regras que o fariam lembrar
durante todo o momento o quanto eu era valiosa para a Orsoft.
— Você está dormindo na casa dele? — Quinn era a maior
fofoqueira de Londres, porque mais do que gostar de passar
informação, ela também gostava de receber.
— Estou, Hardin apareceu lá e eu não tinha pra onde ir. Fiquei
com medo de ir pra casa e ele estar lá me esperando! Então Jacob
praticamente me arrastou pra sua casa pelos fundos do restaurante.
— Ah Claire, me perdoe! Eu sou uma péssima amiga. Não devia
ter te deixado lá!
— Nem pense nisso! Você não tem culpa de eu ter um
namorado louco! — E era uma pena eu ter tido essa ciência muito
tarde, ou certamente eu tinha tempo pra estar apaixonada o
suficiente para me ludibriar e criar uma imagem de Hardin que
sequer existia ou foi parte dele um dia. — Mas me conte, como foi?
O mundo é tão pequeno, eu conheço Simon! Ele é um dos sócios de
Jacob.
— Bom, tomei um susto quando cheguei no restaurante e vi
Jacob Corbyn sentado na mesa. Admito que ele é muito mais bonito
pessoalmente, e acho que ele percebeu meus olhares. E sobre
Simon eu não fazia ideia de que se conheciam! O mundo realmente
é pequeno.
— Pois é! — Concordei. — Mas me conte sobre Simon! Eu o
conheço e fiquei surpresa sobre…sobre…sobre isso que vocês têm!
— Estamos namorando! — Ela disse por fim.
Eu não poderia estar mais feliz por Quinn. Ela era linda e
atenciosa. Ela e Simon faziam um par perfeito e eu jamais poderia
cogitar que era com ele que ela sempre saía. A loira havia dado sorte
de não encontrar nenhum babaca por aí na qual tivesse que se
organizar e fugir dele.
— Posso ser madrinha? — Eu já podia imaginar os filhos e o
casamento. Céus!
— Se acalme, Claire! Teremos tempo para pensar nisso. Vou me
levantar agora pois preciso ir pro escritório — ela riu do outro lado da
linha. — Podemos almoçar amanhã?
— Às 12h ? — Perguntei.
— No meu prédio!
— Até lá!

(...)

Levantei-me da cama ainda tonta de sono sem resquício algum


da bebida do dia anterior. Meus olhos caídos foram despertados pela
água da bica do banheiro que havia no meu quarto, e se eu tivesse
tomado banho nele no dia anterior, eu não teria encontrado Jacob no
corredor e teria me poupado salivas de palavras perdidas e um
encontro vestida como um homem no corredor daquele casarão.
O cheiro de chá era forte à medida que eu andava corredor
afora, mas não era só isso, houve um barulho único, porém intenso,
de algo que se espatifou no chão. Ao sair totalmente do corredor,
consegui enxergar Jacob de um lado pro outro, com jornal nas mãos
e uma xícara espatifado sobre a bancada de mármore. Ele estava
visivelmente transtornado, exalando mais raiva do que ele
visivelmente costumava a ter quando estava transtornado e ouso
dizer que nunca o vi tão fora de si como ele estava agora, em minha
frente.
— Jacob? — Questionei sem graça, encarando a governanta
que limpava a bagunça. A face de Corbyn estava impassível de
qualquer sentimento que não o desespero e antes de me responder,
seu telefone tocou, chamando sua atenção. E eu desconfiava que a
ligação tinha haver com o mesmo motivo que fizera a xícara ser
arremessada tão forte que se espatifara no chão em milhares de
pedaços.
— Descubra quem foi o responsável, preciso disso pra ontem, e
avise que eu vou afundar esse jornal no fundo do esgoto! Filhos da
puta! — Praguejou novamente me fazendo temer se aproximar mais
do que aquilo. Ele pegou o jornal com a outra mão, folheando,
concentrado. — Mas que merda…
— Jacob? — Ele não me respondia, apenas falava consigo
mesmo. Ele havia notado a minha presença, ou talvez não. — Jake?
— Claire! — Exclamou afogando minha antiga suposição —
Acho que temos um problema.
— O que aconteceu?
Ele não me respondeu, apenas me jogou o jornal sobre a mesa
já seca por Elsa, e o máximo que eu consegui fazer foi ler as poucas
letras com uma estranha notícia que fizeram todo o sentido quando
foquei na imagem que estampava a primeira capa do maior jornal de
Londres.
“Jacob Corbyn, o milionário de gostos inatingíveis se rendeu à
mais nobre das mulheres, sua secretária e advogada, Claire
Blackwood. Ambos foram vistos saindo pelos fundos do restaurante
mais caro do centro de Londres, La Isla, a fim de não serem
reconhecidos. E de acordo com pessoas presentes no lugar onde a
felizarda estava a dias atrás, Claire afirmou estar noiva de Jacob, um
dos solteiros mais cobiçados de Inglaterra e ainda teria dado a
entender que o relacionamento não estava indo tão bem como
deveria…”
Não terminei de ler, não conseguia.
Definitivamente o chão havia ruído sob meus pés.
— Claire, eu preciso que me explique o que é isso? Você disse
que…nós somos noivos? Pra quem disse isso? Ou quando? —
Jacob estava visivelmente impactado, mas talvez não mais do que
eu. Nunca fui o tipo de pessoa que perdia memória quando bebia, e
era por isso que eu reconhecia com familiaridade aquelas palavras.
“Eu sou como a merda de uma esposa, levo todos os dias o
café, o almoço, organizo sua agenda, sua semana, lhe ajudo com
ideias na empresa, falo com sua mãe quando ele não está, agendo a
faxina em seu apartamento, faço coisas que eu não deveria…Eu
estou na porra de um casamento sem sexo! Daí esse imbecil vai em
público dizer que mulheres não são nada? Jacob Corbyn não seria
nada sem mim!”
Qual a droga da possibilidade que alguém tenha ouvido aquilo e
levado aos jornais? Qual a possibilidade de alguém dos jornais terem
estado no calcinha louca ao mesmo dia e horário que eu e ter usado
todas as minhas falas em uma perspectiva completamente diferente?

— Jacob, eu não sei como… — Sibilei olhando para o papel, e


ele ainda me olhava, esperando mais do que palavras pela metade.
— Olha, eu não falei nada pra ninguém! Eu estava conversando com
Quinn e Willow na noite da sua entrevista, mas juro que eu falei de
forma figurativa!
— O que você disse, Claire? Onde disse?
— Eu estava no bar, bebendo e apenas disse que era como…eu
era como uma esposa pra você, que levava suas refeições, te
ajudava em tudo, na agenda da empresa, e que eu estava
praticamente em um casamento sem sexo…Olha, Jacob, eu…
— Você oque? — Perguntou surpreso e incrédulo, andando
perdido pela cozinha. Ele se aproximou do armário, abrindo a
primeira porta, e pegando de lá, uma garrafa de líquido amarelo, que
ao abrir, fez com que o aroma alcoólico viesse sussurrar em meu
nariz.
Eu precisava me explicar, mas acho que a essa altura, não
adiantaria muita coisa.
— Eu fiquei chateada com aquela entrevista, quis desabafar
com minhas amigas, eu não poderia saber que alguém estava lá,
ouvindo minha conversa…
— Olhe pra esse jornal! — Ele encheu um copo, bebendo tudo
de uma vez, com uma careta remoendo seu rosto ainda inchado pelo
sono matinal.
— Você está bebendo álcool a essa hora…
— Foda-se o álcool, Claire! Olhe para esse jornal e me diga o
que está vendo!
— Uma fake news dizendo que estamos noivos! — Eu disse,
sem pensar. — É só dizer que é tudo mentira! Me desculpe, Jacob,
mas não é como se eu pudesse controlar ou prevenir o que
aconteceu.
Ele deu uma risada, com aquele sorriso cínico cimentado em
sua boca, deslizando sua língua pela ponta dos dentes superiores,
de um lado para o outro vagarosamente, com uma das mãos na
cintura, pensando em talvez não me enforcar com as duas mãos.
— Acordei hoje às 6h da manhã com exatas 62 chamadas
perdidas de todas as pessoas que conheço, e por um segundo eu
juro, juro que achei que a droga do mundo estivesse acabando, mas
precisei chegar na cozinha, e receber esse jornal de Elsa. — Sibilou,
com raiva e decepção. — Você precisa elaborar um pedido de
desculpas e dizer que era uma brincadeira.
Espera, como é que é? Jacob havia escorraçado de propósito
todo o público feminino, nos incapacitando moralmente, nos
diminuindo em vários quesitos, mas quando pedi que se retratasse
pedindo desculpas para aquelas que se sentiram ofendidas, ele
simplesmente me ignorou. Agora, por qual motivo, eu, Claire
Blackwood, deveria pedir desculpas porque expressei minha
insatisfação com alguém que nunca soube dar valor ao meu
trabalho?
— Por que eu devo fazer isso?
Seus grandes olhos azuis, se arregalaram surpresos com minha
pergunta. O que Jacob achou? que eu acataria o seu pedido. Eu não
era mais sua secretária para acatar as suas ordens.
— Por quê? Porque isso vai me prejudicar! Porque isso é…
ridículo.
— Olha, eu não sou culpada, ok? Me desculpe por ter falado
algo em público, mas precisa entender que sua entrevista me
magoou profundamente e eu inclusive ingeri mais álcool do que o
normal pra engolir suas palavras.
— Se tivesse guardado suas opiniões pra você, nós dois não
teríamos esse problema.
— Isso não é um problema, apenas um mal entendido que pode
ser resolvido alegando que é uma fake news.
— Não é tão simples assim! — Ele ralhou, pondo seu copo
dentro da pia.
— E porque não seria? Seus romances externos ficaram
chateados? Não faça uma tempestade por pouca coisa!
Ele espalmou suas mãos grandes, abertas, sobre o granito
claro, me encarando com a menor falta de paciência.
— É assim que as coisas funcionam na sua vida, Claire?
simples dessa forma?
— E não é assim que as coisas deveriam ser, Jacob?
— A sua vida pode ser fácil. Eu sou uma pessoa pública, dona
de uma empresa, de um nome. As ações da Corbyn sobem e
descem com informações ligadas a mim, às vendas, aos contratos.
Não se trata de desmentir, se trata sobre o perigo de ter apenas uma
estipulação como essa, imagine a primeira página do maior jornal de
Londres, saindo abraçado com minha secretária como se fosse um
bandido fugindo! Você não entende!
— Quanto mais você explica, menos eu quero entender. A
minha vida não é fácil, Jacob! Você não me conhece pra dizer uma
coisa dessas! Acha que é legal pra mim, mulher, ter minha imagem
estampada como a mulher nobre a qual Jacob Corbyn fez a caridade
de noivar. Fala sério! — Eu praguejei, avançando contra ele,
assistindo-o retirar levemente as mãos do mármore gelado. — Você
é um egoísta!
— Vou levar como um elogio! — Ele saiu da cozinha, indo para
algum dos quartos que lá ele havia dormido. — Almoçaremos e
iremos para Orsoft e lá vamos decidir o que fazer, então por favor, se
vista.
Nesse caso, eu não tinha o que fazer. Depois das 10h da manhã
meu telefone começou a tocar mais do que o telefone do prefeito de
Londres em dia de eleição. Todo tipo de ligação. Tia Carrie, Quinn,
Willow e principalmente Hardin. Merda! Havia inúmeras mensagens
dele na caixa de SMS e eu não tinha cabeça para ler nenhuma delas
agora. Eu precisava resolver isso primeiro, porque de alguma forma
o dano seria muito maior, mas alguma coisa me dizia que mesmo
que fizéssemos um pedido de desculpas formal, não seria o
suficiente para tirar essa mancha nas nossas costas. Almoçamos em
silêncio e saímos do apartamento de Jacob quase às 15h da tarde.
No caminho permanecemos calados dentro do carro. Ele de olho
na pista e eu vidrada em cada uma das ligações que tocavam
incessantemente em meu aparelho celular sem poder atender.
Comecei a dar razão a Jacob quando chegamos à porta da
empresa, e eu acabei me perdendo na contagem quando cheguei ao
28º jornalista espalhado pelo estacionamento, Hall de entrada, na
calçada ao lado de fora....
Que merda era aquela?
Passamos pelo Hall e Lorah apenas nos olhou sem mesmo nos
dar bom dia. Alguns funcionários bateram palma enquanto
atravessávamos o pátio rapidamente a fim de não perder um
segundo sequer. Quando saímos do elevador e adentramos a sala
principal onde a maioria dos funcionários do último andar ficavam,
todos começaram a bater palmas, como se tivéssemos ganhado o
prêmio Nobel da paz ao invés de ter supostamente noivado. Muitos
diziam; parabéns, felicitações ao casal, Uau, que surpresa…
Assim que adentramos a porta, Jacob a trancou após passar por
ela. Seus olhos azuis fitavam toda sala, divagando na infinidade de
espaço do outro lado da janela, onde o céu se estendia no
horizonte.
— Deus, o que foi aquilo? O que eram todos aqueles
repórteres… — Eu exclamei assustada.
— Não exagerei quando disse aquilo, eu não sou egoísta. Eu
posso lidar com todo esse problema, e você, pode? Com seu
namorado, com sua família…
— Ex! — Eu corrigi.
— O que?
— Ex-namorado, você disse namorado, mas é ex.
— Vou ligar para o diretor e solicitar imediatamente o
recolhimento desses lotes. — Disse se referindo ao jornal. Jacob
sentou em sua cadeira, estendendo seu braço até o aparelho
telefônico, mas bastou sua mão alçar o gancho, para ser
interrompido pelas batidas severas na porta.
— Quer que eu… — Me ofereci, mas fui cortada.
— Não, ninguém entra até resolvermos isso.
As batidas continuaram com força, como se o mundo estivesse
literalmente acabando da mesma forma que Jacob achou que
aconteceria ao acordar.
— Jake, abra essa porta! Sei que está aí. Precisamos conversar
urgentemente. — Pela voz inconfundível eu sabia quem era e
Corbyn também sabia provavelmente.
Jacob fechou os olhos, comprimindo-os, retirando
completamente o telefone do gancho.
— Não posso, Simon! Sinto muito. Preciso resolver algo!
— Jacob Corbyn, você precisa abrir essa porta, porque se eu
não entrar por ela, farei um buraco na parede ao lado. Precisamos
conversar, e é sobre algo muito sério, e ao contrário do que acha,
não é sobre seu noivado estranho e repentino com Claire.
Mesmo que ele não quisesse, eu andei até a porta, e girei a
maçaneta permitindo que Simon entrasse com um sorriso
contagiante na face. Suas mãos estavam cheias de papéis e seus
olhos cintilavam como os de uma criança em noite de halloween
sabendo que não voltaria pra casa sem doces, até porque ele
parecia já ter os doces.
Tranquei a porta novamente assim que Simon passou por ela.
— Vou precisar que me expliquem que merda aconteceu pra
que vocês noivassem escondidos, mas não agora. — Ele estava
eufórico, visivelmente. — Olha, não sei se foi de proposito, mas a
notícia do seu noivado com ela…— Ele olhou pra mim, com face de
concordância, acenando com a cabeça positivamente — Fez com
que as ações subissem 43% positivamente, conversei hoje de
manhã com o responsável pelos armazenamentos dos dados online
da Gossip.com e precisei encomendar novos servidores, o aumento
no número de usuários foi significativo.
— Oque? — As sobrancelhas de Corbyn se uniram em um finco
no meio de sua testa, tentando absorver tudo que Simon dizia como
uma criança louca pra contar sobre seu dia na escola.
— E não para por aí. A Pandors entrou em contato hoje depois
do almoço, enviou um contrato com quase 60% a mais do valor que
foi acordado na última reunião. Eles querem fechar o contrato pra
ontem, Jacob! Um representante deles chega hoje às 18h no
aeroporto, com um advogado para dar início aos trâmites.
Em um piscar de olhos, os dois estavam se abraçando, rindo
como loucos, enquanto Simon explicava tudo que havia acontecido,
e a impressão que eu tinha, era que havia se passado meses em
apenas algumas horas. Eu fiquei plantada em pé. Tudo bem que eu
havia ficado feliz pela conquista da empresa em que eu não
trabalhava mais, entretanto, Londres inteira ainda achava que eu
estava me casando com meu chefe, e se eu procurasse nas redes
sociais, certamente encontraria adjetivos taxativos e céticos sobre
mim, tais como: Interesseira, mesquinha, quer dar o golpe do baú…
seria daí pra baixo.
— Isso é loucura! — Jacob exclamou passando a mão nos
fios de cabelo rebeldes e bagunçados. Puxou a gravata presa em
seu pescoço, liberando sua gola agora aberta.
— Eu te liguei a manhã inteira e pelos fotógrafos na entrada,
acredito que várias outras pessoas também.
Corbyn se tornou um pouco sério, sem deixar de transparecer a
felicidade extrema, enquanto eu ainda encarava aquilo sem acreditar
no que acontecia. Se tudo realmente tivesse ficado daquele jeito por
conta do nosso falso noivado, seria a maior das promessas para
Jacob, que mesmo fora do time da empresa, eu ainda lhe ajudava.
— É, eu preferi vir direto pra cá. Não tive cabeça pra atender
ligações.
Simon concordou com a cabeça.
— Agora me digam, que loucura é essa de noivado? Vocês
sempre ficaram debaixo do meu nariz e eu nunca percebi nada? Eu
não consigo acreditar nisso!
Simon tinha seus pensamentos em outro ponto, enquanto eu e
Jacob nos encaramos, pensando exatamente a mesma coisa, no
mesmo problema! Bom, era na verdade isso o que eu achava e
claramente, percebi que estava enganada no momento em que abri
a boca pra desmentir toda aquela loucura.
— Na verdade tudo não passa de um… — Corbyn praticamente
saltou na minha frente, pegando minhas mãos, subindo seus dedos
quentes por meu braço, deixando-me confusa, antes de tomar meu
queixo entre seus dedos e usar um deles para alisar meus lábios.
Meu corpo arrepiou freneticamente, mas não foi pelo toque, mas sim
pelos olhos intensos que pareciam me despir por dentro.
— Simon, preciso conversar com a minha noiva! Pode nos dar
um momento? — Foi minha vez de unir as sobrancelhas. Noiva? O
que?
— Ah claro, espero ser convidado como padrinho. — Ele se
divertiu aproximando-se da porta. — Aliás, Claire... Quinn está
loucamente desesperada tentando falar com você, talvez você
devesse dizer a ela que está bem…
Oh, meu Deus! Quinn!!! eu havia subido ao pódio de péssima
amiga. Ela deveria estar querendo me matar agora.
— Eu..eu irei, Simon. Obrigado! — Me despedi, mas assim que
o ouvi bater à porta, me desvencilhei das mãos de Jacob, que ainda
me encarava como se ainda pudesse buscar respostas, mas dessa
vez eu sabia que ele já as tinha, mesmo que fosse respostas na qual
não seriam do meu agrado. — Que merda foi essa? Porque me
chamou de noiva na frente do Simon? Se vamos resolver tudo
porque já não contou a verdade a ele?
Ele estava sério, mas dessa vez, indecifrável.
— Claire, não podemos desmentir! — Não, não, não, não! —
Olha…
— Nada disso, Jacob! Ligue agora para o jornal.
— Claire, por favor, me escute! Há muita coisa em jogo. Não
ouviu tudo o que Simon acabou de dizer?
Desde a noite de ontem, as coisas iam se tornando cada vez
mais estranhas e esquisitas, tudo que estava ruim, estava se
tornando ainda pior.
— Ouvi e vou continuar batendo na mesma tecla! Ligue agora
para o jornal, Jacob! — Corri até sua mesa, com passos
desengonçados, tomei o telefone na mão, mas Corbyn foi mais
rápido, retirando o fio do aparelho.
— Eu posso quitar seu apartamento, posso fazer mais o que
quiser, mas preciso que não desminta isso. — Ele sibilou, falando um
pouco mais baixo. Eu estava ouvindo certo? — Olha, eu devo
desculpas a você por tudo o que eu disse na entrevista, sei que fui
duro e estou arrependido, e devo desculpas também por hoje mais
cedo…
— Não se trata só de desculpas, Jacob! Enquanto era
desvantajoso pra você, você me retificou várias vezes em seu
apartamento, e agora que é vantajoso para Orsoft, você quer voltar
atrás?
— Por isso estou pedindo a você, peça o que quiser como forma
de retratar isso, por favor.
Meu apartamento poderia ser quitado.
Eu poderia pedir qualquer coisa.
Jacob estava nas minhas mãos.
Nunca tire proveito da desonestidade, dizia Tia Carrie. E no caso
que eu tinha diante dos meus olhos, eu não estava sendo desonesta,
na verdade fui muito coerente, não aceitei trabalhar com alguém que
achava me olhar debaixo para cima. Mesmo que Corbyn tivesse um
poder aquisitivo muito maior, nós dois éramos iguais, e tudo aquilo
era uma via de mão dupla. Eu fazia um trabalho que ninguém
conseguia e ele me pagava por isso. Ninguém maior que ninguém,
apenas cargos que tinham demandas diferentes. Eu poderia negar e
ir embora, mas ele estava à minha frente, provando que éramos
iguais, provando que até mesmo ele, Jacob Corbyn, o milionário da
Orsoft Enterprises, tinha dependências no final das contas. Os
benefícios seriam mútuos, como qualquer outro trabalho, então
porque não fazer história em cima de algo que ele mesmo precisava
com tanto afinco?
Hardin seria um problema, mas sei que era um problema que
poderia ser resolvido.
Uma das leis de tia Carrie sempre foi; quanto mais importante é
o que você deseja, mais ouro e vontade ele pode demandar.
— Peça por favor! — Mais clara que isso, somente
transparente. — E ajoelhe.
Ele ficou confuso, com as sobrancelhas tortas em sua testa.
— O que?
— Não fui clara?
Ele piscou mais vezes do que eu podia contar.
— Claire, está brincando com fogo.
— Como se eu nunca tivesse brincado antes, na verdade desde
entrei por essas portas pela primeira vez.
Jacob coçou a cabeça, impelido a mostrar pela primeira vez que
talvez ele não fosse tão soberano quanto gostava de se mostrar, e
que até mesmos os grandes deviam se curvas ao menos uma vez na
vida, e sua cara agora, expressava que sua vez havia chegado.
Ele dobrou o joelho direito a contragosto.
— Ainda não encostou o joelho no chão. — Eu queria gargalhar,
gravar um vídeo desse momento para guardar de recordação, para
mostrar para meus filhos e netos. Nenhum homem deixa de se
ajoelhar em desespero.
Eu o ouvi grunhir, com raiva.
Seu joelho se encostou no chão, mas nada saiu de sua boca.
— Se precisa tanto, peça por favor! — Eu repeti, aguardando,
pacientemente. — Confesso que realmente preciso quitar meu
apartamento, mas posso arrumar outro emprego e pagá-lo. E você,
pode arrumar outra noiva?
Seu olhar era de quem me xingava de inúmeros nomes
impróprios dentro de sua cabeça, e eu não o culpo, pois também
passei boa parte dos últimos dias fazendo a mesma coisa.
Jacob engoliu a saliva junto com seu orgulho, respirando
pesado.
— Claire, por favor, pode ser minha noiva?
— Acho que posso aceitar, mas com algumas condições. Aliás,
preciso saber por quanto tempo vou ficar nesse cargo. — Ah, isso
era bem importante.
Ele deu a volta na mesma, parando atrás da mesa, sentando em
sua cadeira, jogando a cabeça pra trás, digerindo muito mais do que
uma notícia falsa de noivado que se espalhava por Londres e por
toda Inglaterra, mas também a notícia de sua ascensão, que com a
Pandors, aconteceria de uma forma assustadora.
— No máximo por três meses e nada mais! Depois disso você
pode voltar a ser minha secretária novamente. — Disse, mexendo
em seu telefone. — Agora diga, quais condições você impõe?
Agora sim a brincadeira ia começar.
— Não quero ser sua secretária, quero ser sua sócia. — Achei
melhor ditar a primeira das opções de cara, pra que o infarto de
Jacob não fosse escalável com todas as outras opções que eu daria
a seguir, mas ainda sim, essa era a mais importante de todas.
Ele nem mesmo piscou o respirou pra responder.
— Não! — Respondeu firma. — Minha sócia? ficou louca?
Dei as costas instintivamente, pisando tão firme no chão quando
sua fala negativa.
— Boa sorte, Jake! — Desejei.
— Claire...espera…— O sorriso de vitória estava em meu rosto.
— Tudo bem, você será…mas as porcentagens das ações…
— Não quero ganhar nada mais do que meu trabalho como
Secretária. Não quero o dinheiro, quero o reconhecimento, Jacob.
— O que?
— Quero o reconhecimento, ajudar e ser reconhecida por isso.
Não quero ações ou um salário maior.
— O que mais? — Seus dedos contornaram a caneta azul ao
lado do teclado do notebook, tilintando, aguardando ansioso minhas
honrosas especificações.
— Quero trabalhar sob demanda. Nada de passar 12 horas
dentro desse escritório e trabalhar como se o amanhã não existisse,
faço o meu trabalho e vou embora — Solicitei. Ele acenou com a
cabeça e eu continuei. — Quero um aumento de 80% por cento para
todos os funcionários. Sei que a Orsoft ganha o suficiente pra isso,
inclusive quero que dê uma festa para anunciar esse aumento, e
nela, um discurso seu como pedido de desculpas pela entrevista que
deu naquela noite.
Ele gargalhou tão alto que sua mão pressionava o diafragma na
tentativa de parar de rir ou de abafar o som incontido. Seus dedos
passaram por baixo de seus olhos azuis, limpando as lágrimas que
desciam.
— Você só pode estar de brincadeira! — Falou o loiro — Até a
parte de trabalhar sob demanda, da festa e do pedido de desculpas
eu entendo, mas a parte do aumento para empresa inteira…sabe
quantos funcionários a Orsoft tem?
— Aqui em Londres? 1.692 funcionários. — Joguei meus
cabelos ainda úmidos para trás, sorrindo, tendo o espanto dele já
que provavelmente Corbyn não esperava que eu tivesse essa
informação em primeira mão. — Agora geral, provavelmente algo
entre 10 ou 12 mil funcionários.
— Como você sabe disso? — Me perguntou incrédulo.
Foi minha vez de rir, puxando uma cadeira para sentar à sua
frente, do outro lado da mesa.
— Porque eu trabalho aqui e sou a secretária do diretor geral e
CEO?
— Tudo bem! — Sorriu cínico. Jacob cuidava dos números
financeiros, mas eu…eu cuidava das informações administrativas
melhor que qualquer um. — Eu ofereço 20% de aumento. —
Ofereceu.
— 60%! — Rebati.
— 30%.
— 55% — Cruzei os braços.
— 45% e não falamos mais nisso! — Reclamou estalando os
lábios.
— Fechado! — Apertamos as mãos, de negócio fechado e
benefícios mútuos e múltiplos. — Foi bom fazer negócio com você.
— Sem dúvidas, sócia! — Ele riu divertidamente. — Bom,
preciso fazer algumas ligações, conversar com Simon, botar algumas
coisas alinhadas e vou passar na sua casa no fim do dia, pode ser?
precisamos alinhar algumas coisas também. Seria ideal se todas as
nossas falas sobre esse noivado coincidissem. — Seu telefone
novamente começou a tocar, e mais uma vez, Jacob o depositou no
bolso. — Desça, vou ligar para a cooperativa e pedir que mandem
um táxi pro estacionamento executivo para buscá-la. Evite falar com
as pessoas sobre isso antes de conversarmos, tudo bem?
— Ok, entendi! Vejo você mais tarde. — Ele acenou com a
cabeça, mas antes de ir eu precisava jogar algumas últimas doses
de veneno. — Jacob?
— Pode falar!
— Eu teria aceitado os 20% — Sorri, vitoriosa…mas não por
muito tempo.
— E eu teria aceitado os 80% — Ele piscou com aquele sorriso
encantador.
Filho da mãe.
Capítulo 8
Jacob Corbyn

Há passagens na bíblia que diz que, aquele que mente vai direto
pro inferno. Mas o que eu sempre me perguntei era se aqueles que
mentiam por uma boa causa também iam? Não que eu ligasse de ir
para um dos lugares mais odiados pelas pessoas, mas não é como
se eu não vivesse um inferno de vez em quando com pessoas falsas
e fingidas ao meu redor tentando tirar de mim, o pouco que podiam.
Afinal, eu era um dos Corbyn, o herdeiro de Michael Corbyn. Luxo e
elegância preenchiam os letreiros com notícias sobre mim, mais
ainda sim, eu preferia o interior simples ao invés da cidade.
Liguei para minha assessoria pedindo para cancelar a procura
pelo responsável da notícia que havia saído no jornal logo quando
Claire saiu. Quando antes eu queria apagar aquilo, minha mente só
pensava em milhares de formas de alimentar a notícia que me
renderia milhões, e o meu foco não era exatamente no dinheiro, mas
na grandeza que tudo se tornaria.
Simon não deveria saber por hora da verdade, apenas da nova
sócia, e provavelmente meu braço direito ali dentro.
— Que chá de boceta foi esse que Claire te deu? — Ele
exclamou mais impactado por ter transformado Claire em minha
Sócia, do que com a notícia de noivado.
— Não foi chá de…boceta. Eu só…— Por onde começar? nem
mesmo eu sabia.
Simon deitou no pequeno sofá ao lado da porta, apoiando os
braços atrás da cabeça, fitando o teto e balançando os pés.
— Cara, me explica isso direito! Eu tô perdido nos
acontecimentos. Claire não tinha pedido demissão? Como ela voltou
noiva e ainda por cima sua sócia? Não me entenda mal, acho que
ela é uma pessoa incrível, e não vejo pessoa melhor pra quem você
possa dar essa chance do que ela, mas é que são tantos
acontecimentos que me deixa perdido!
Tinha que ser algo simples e convincente.
— Não queria expor o que nós tínhamos e deixá-la exposta,
portanto, Claire ficou chateada com a forma na qual eu falei sobre a
entrevista e como eu não queria…
Simon tomou a frente.
— Não queria perdê-la e a pediu em casamento? Olha, não que
eu soubesse o que se passava entre vocês, mas eu sabia que a
forma em que você sorria pra ela quando a via irritada, era muito
mais do que satisfação de chefe. — Seus dentes alinhados abaixo
dos lábios deram as caras. — Bom, acho que você tem muita gente
curiosa querendo saber mais sobre vocês dois, até porque você
disse naquele programa que, a mulher que receberia um anel seu
nos dedos ainda estava para nascer. — Ele gargalhou em desdém,
me vendo cuspir pro alto e receber a excreção salivar na minha
própria cara. O homem negro se sentou, puxando uma nova revista
do seu lado, e empurrando em minha direção. — Cara, vocês serão
os novos entretenimentos dos ingleses pelas próximas semanas,
aproveite o novo patamar da sua fama.
— Não quero ver! — E eu não queria. Tinha coisa demais pra
pensar em tentar resolver, planos demais pra bolar, e definitivamente
eu não queria saber de coisas que não fariam menor diferença a
essa altura.
— Você precisa ver, afinal, é sua noiva. — Estranhamente,
mesmo sendo mentira, eu tinha aquele sentimento de posse,
pequenino e profundo sobre Claire. E ainda que eu soubesse que ele
não deveria estar ali, acenando pra mim, eu estava olhando
diretamente pra ele, dentro de mim, querendo emergir. Talvez porque
ela tenha trabalhado por tanto tempo comigo, mais próxima de mim
do que qualquer outra mulher que não fosse minha querida mãe.
Na capa, em cores que eu tenho certeza que não se
assemelhavam ao original, estava Claire. De biquíni, com um óculo
preso no rosto, bloqueando seus olhos do sol. Os seios cheios
pesando sobre a parte de cima do biquíni preto, e a calcinha
minúscula que era engolida por seu bumbum avantajado e arrebitado
no quadril delgado. Ela estava em pé, na borda de uma piscina, de
cabelos soltos reluzindo ao vento. O letreiro tendencioso do jornal
não havia mentido dessa vez.
“Talvez Jacob não estivesse tão certo na entrevista prestada no
início da semana, porque sua noiva além de já ter nascido, mostra no
Instagram que a sortuda da história não é ela, mas sim o milionário
Inglês…”
Claire era gostosa, e pior do isso era ela ser esperta e gostosa, a
junção perfeita para me quebrar ao meio, ao menos nos sonhos.
Regra era clara: Claire era minha secretária no fim de tudo, e eu
deveria ter respeito por ela, assim como tinha por todas as outras.
— É como dizem, quando se ama, toda vez é sempre como a
primeira vez. — Simon falou divertido me retirando da inércia.
— É. — Concordei — Mas você não está tão longe de mim, meu
amigo.
Simon coçou a cabeça, com aquele sorrisinho diferente, sem
graça e envergonhado. Um homem do tamanho dele, em qualquer
outra ocasião, nunca reagiria desse jeito enfadonho.
— Quinn é incrível! Agora que anunciou seu romance com Claire,
podemos marcar de sair qualquer dia.
— Acho que seria bacana.
A noite já estava caindo e eu precisava conversar com Claire
para alinhar algumas informações. Fechei as persianas da minha
janela, desligando o computador e vestindo o blazer escuro embora
estivesse quente do lado de fora.
— Feliz com a resposta positiva da Pandors? — Simon
perguntou.
Funguei nariz ressecado, com um suspiro longo, ainda sim leve.
— É o que queríamos, não era?
— Com certeza, mas você não acha que talvez, depois de
assinar tudo eles não possam tentar mudar ela? Digo: O contrato já
vai estar assinado, as ações estão no teto, a gossip.com está
explodindo de usuários. Você não acha? seria o momento perfeito
pra eles.
— Acho que não estou me preocupando tanto com isso.
Podemos evitar essas mudanças futuras com uma cláusula no
contrato, sei que os representantes da Pandors estão de olho nessa
oportunidade, mas eu também! e eu te garanto que pretendo agarrá-
la sem ter qualquer prejuízo.
— Prejuízo?
— Atualmente, os dados mostram que os usuários preferem as
ferramentas e interfaces informais. Se a Pandors quiser tirar isso, vai
ser um prejuízo, pois foi investido dinheiro nisso, Simon.
— Então, aproveite a repercussão do seu noivado, e mostre a
todos que a informalidade da gossip.com é o que tem de melhor
nela. — Simon era um amigo incrível. Não existia momentos de
tristeza, existia momentos de aprendizado, porque a todo momento
ele dizia ser uma lição, e de fato eram. Nunca banalizar um erro,
essa era outra regra. — A missão foi dada, Jake.
Eu sorri.
— E ela vai ser cumprida.

Claire Blackwood.

Esparramado sobre a cama eu já havia tentado ligar para Quinn


por tantas vezes que nem o registro de chamadas era capaz de
contar. Mesmo que aquilo tudo, sobre o noivado, fosse mentira, na
cabeça dela, tudo era verdade, e eu havia escondido dela algo que
nem a pior amiga esconderia.
Ele fez jus a sua mensagem.
“O quanto sou importante pra você? Acho melhor deixarmos o
nosso almoço pra outro dia. Te ligo quando minha cabeça voltar a
funcionar.
Quinn.”
Mas talvez houvesse alguém tão importante a quem quisesse
informações nesse exato momento.
— Alô? — Eu falei baixinho, preparando os ouvidos.
— Alô? É assim que me atende, Claire? Alô? Ah se eu estivesse
aí menina, você ia engolir esse telefone inteirinho e quem precisasse
usar depois, teria que enfiar a mão na sua goela pra retirar ele de
dentro de você — Ela estava sem ar. Falando com tanta raiva e
vontade, eu duvido que ela não estivesse abanando seu rosto para
adquirir ainda mais oxigênio. Conhecendo Tia Carrie, ele estava
calma do outro lado da linha, na cidade de Dereham, ainda na
Inglaterra.
— Também senti sua falta! — desconversei inutilmente.
— Que história é essa de noivado? Como está noiva? e Hardin?
eu não criei você para isso, Claire! Céus, quando vi aquele jornal…
— Tia, calma! Pode parar e me ouvir?
Sua respiração estava desordenada o suficiente para ouvi-la
bufar sobre o microfone do aparelho telefone.
— Fale antes que eu infarte, ao menos quero morrer
entendendo.
— Mas não seja tão dramática, não há motivos para isso, está
bem? — Eu engoli a saliva, rolando na cama. — Já terminei com
Hardin a algum tempo. Passo tempo demais trabalhando com Jacob
e eu percebi que sentia algo por ele, não queríamos esperar pra…
pra…ficar juntos. — Nem mesmo eu acreditava em mim, mas eu
esperava fielmente que ela acreditasse.
— Você foge de casamento como o diabo foge da cruz, porque
eu deveria acreditar em você?
— Justamente porque eu fujo de casamento como diabo foge da
cruz? — Menti. Tia Carrie havia me criado, e sabia exatamente os
pontos de falha em minha voz quando se tratava de uma mentira.
Mas o senso de querer confiar em quem amava, a forçava a
acreditar piamente naquilo.
— Claire, querida, não acha que você se precipitou? — mudou o
tom.
— Bom…eu tenho até o casamento pra me arrepender, não
acha?
— Querida, isso não é uma brincadeira. É um relacionamento,
uma responsabilidade.
— É, eu sei… — Nem todas as palavras do mundo juntas
dariam uma resposta pra ela agora. Tia Carrie com toda sua
sensatez e benevolência em sempre passar seu conhecimento
estando certa. — E Katie, como está?
— Está como uma louca organizando o aniversário de seu
marido! — Um chiado interferiu por alguns segundos e logo passou.
— Ela disse que vai enviar os convites apenas uma semana antes,
pois diz querer saber quem realmente quer estar presente na vida
dele.
— Porque Katie tem que ser tão dramática?
— Vocês são exatamente o oposto uma da outra.
— Não necessariamente. — falei dando uma leve risadinha. —
Também tenho meus sentimentos, mas não tento testar as pessoas a
todo tempo por isso!
Katie e eu éramos parecidas fisicamente, mas em compensação
nossa personalidade era extremamente ao contrário. Enquanto ela
praguejava pela casa por causa da chuva, eu me sentava na
varanda para admirá-la. Enquanto ela jogava o pão queimado fora
por ter passado tempo demais na torradeira, eu o raspava para tirar
o que não servia e comia o restante. Enquanto Katie cortava as
partes de seu cabelo quebrado, eu apenas hidratava para lhes dar
vida. Eu era a paciência, mas Katie, Katie era a ansiedade em seu
mais sério estágio.
— Ela é insegura, devia ligar pra ela. Ela acha que agora que
você vai se casar com um milionário, vai esquecer da família.
— Dramática como você! — Eu disse e a ouvi rir do outro lado
do telefone.
— Falo sério, é o jeito dela. Katie reclama que te liga e você
nunca retorna…
— É o trabalho, eu preciso tirar uma folga para visitar vocês.
— É o trabalho ou seu noivo? — Ela perguntou desafiadora.
Tia Carrie era o tipo de pessoa que tinha mais gatos em casa do
que número de visitas que iam tomar seu famoso café de camomila.
Há quem diga que o segredo fosse mel, mas o marido de Katie
costumava chegar antes das 17h e se esconder no jardim para
espionar pela janela da cozinha, mas de lá, ele nunca conseguia ver
mais do que a silhueta redonda do corpo dela. Seu sonho era
conhecer o grande segredo, mas ela como uma cozinheira nata,
jamais revelaria. O que seria da curiosidade de seus futuros
sobrinhos-netos se descobrissem a grande magia da bebida que os
fariam se apaixonar por ela?
— Meu trabalho, sem dúvidas. Mas agora, além de noiva, sou
sócia, então pode ser que eu consiga ir aí, atualizar as configurações
de drama da minha irmã!
— Ah querida, meus parabéns. Espero que tenha sido por
mérito e não porque virou a noiva dele. — A língua afiada. —
Presentes tão sérios dados por amor nunca tem um bom fim.
— Acho que na verdade me tornei noiva simplesmente por virar
sócia. — Eu brinquei rindo.
— Traga meu sobrinho, será um prazer conhecê-lo. — Ou um
verdadeiro desastre.
Tia Carrie sentiria o cheiro de sujeira de longe, e no momento
em que ela olhasse pra mim e Jacob, e constatasse que parecíamos
duas pedras uma ao lado da outra, ela saberia da farsa. Embora
minha tia fosse língua solta, Corbyn não ficava pra trás. Ele sabia
muito bem como driblar qualquer coisa que não desejasse atingi-lo.
— Quando tiver uma data pré-definida eu aviso, tudo bem?
— Vou esperar, viu? — Tia Carrie bocejou — Fique bem querida,
não suma.
Nós despedimos e eu desliguei o telefone. Eu precisava de um
novo banho, não pra limpar meu corpo dessa vez, mas pra limpar
minha cabeça, por dentro, dos pensamentos ansiosos.
Meu nome estava por todo lugar, alguns como Claire Blackwood,
alguns como Claire Corbyn, ou como a Noiva de Jacob Corbyn, mas
tenho certeza que muito em breve me conheceriam como a sócia
mais nova da turma dos maiores empresários de Londres. Eu queria
mostrar a todos eles que uma mulher poderia levar uma empresa em
um patamar muito maior do que qualquer um deles sequer pensou
em levar.
Eu precisava respirar um pouco, porque a quantidade de
informação que chegava até mim, era muito mais do que eu podia ler
e imaginar. Como dizia Quinn: Se eu fosse um vaso, já estaria
entupida.
Vesti uma camiseta longa, que ia acima dos joelhos. Na
verdade, era de Hardin, na qual ele provavelmente havia esquecido
ali, jogando dentro do meu guarda-roupa, na última gaveta que
começou a emperrar a algum tempo atrás.
Eu me jogaria sobre o sofá antes da campainha tocar.
Abri e lá estava Jacob, com o rosto indiferente, pisando batente
adentro, na tentativa de entrar em meu apartamento.
— Boa noite pra você, também! — Eu desejei sorrindo
forçadamente.
— Me desculpe por se atrasar. — Jacob não avaliou meu
apartamento assim que entrou, e acho que posso somar isso como
um ponto. Meu cantinho não era lá algo luxuoso, mas era confortável
e espaçoso, e só pra mim isso era o suficiente. Acho que o blusão
em meu corpo era mais interessante que o restante das coisas.
Porque olhar tanto se nada aparência?
— Não definimos um horário e eu durmo tarde, então tudo bem!
— Respondi. — Bom, seja bem-vindo! Minha casa não é como a
sua, que é uma mansão, mas ainda sim é confortável. Gostaria de
algo?
— Não, estou bem! Obrigado. Podemos conversar?
Acenei com a cabeça e o convidei para a sacada do
apartamento. Não era tão grande quanto o restante, mas o suficiente
para sentarmos próximo das plantinhas que eu tinha, na qual estava
claramente surpresa por não terem morrido depois de uma onda de
calor na última semana, sem tê-las molhado um dia sequer. Jacob
sentou, ajeitando sua gola torta.
— Conversei com Simon. — Ele começou.
— Contou a ele?
— Que você era sócia agora, mas por incrível que pareça, ele
ficou mais preocupado com o noivado do que com o cargo que eu te
dei. Só não falei do aumento, mas isso acho que podemos deixar pra
depois. — Ele sorriu, mexendo no tecido de sua calça, na altura do
joelho, de uma linha partida ali, permitindo que ele a puxasse com a
ponta de sua unha.
— Deixando o pior pro final?
— Estou precavendo-o de dor de cabeças futuras. — Acenei
com a cabeça, esperando que o assunto prosseguisse para sua
realmente intenção desde o início. Ele se sentou, passando os dedos
pelo vidro da mesinha, cruzando as duas mãos tentando se apoiar
com a ajuda do cotovelo.
— Postergando, você diz.
— Vamos dar início a nossa conversa — Ele se acomodou com
o quadril no estofado da cadeira. — Precisamos alinhar algumas
coisas, porque eu também tenho especificações, Claire.
— Achei que as especificações fossem ser sua noiva e mentir
pra todo mundo.
— Ah, esse é o principal, mas espero que me entenda. Sobre
seu ex-namorado, ele ainda continua sendo ex?
Eu dei algumas risadinhas, enchendo o copo de água com a
jarra que estava sobre a mesa.
— Pareço o tipo de pessoa louca o suficiente para aceitar sua
proposta tendo um relacionamento?
— É sempre bom perguntar. — Ele respondeu, coçando sua
orelha para tirar o foco de atenção para sua mão impaciente.
— Estou solteira! Hardin só é insistente porque não quer encarar
que realmente acabou dessa vez. — Eu o expliquei.
Quando eu e Hardin começamos a namorar, perdi as contas de
quantas vezes corri atrás dele como uma cachorrinha. Enquanto ele
saia para as festas das filiais regionais de sua academia ou ia para
as festas pós concursos, eu acabava por ficar em casa, porque
confiava nele, porque acreditava que era esse o princípio, acreditar
veemente em quem se ama, mas esse tipo de coisa não deve ser
feito nem entre familiares, imagine entre uma pessoa de índole
duvidosa. Após descobrir um deslize que não se tornou traição
porque eu havia pegado antes, Jacob pediu que eu fosse morar em
seu apartamento como pedido de desculpas, alegando que queria
passar mais tempo comigo. E eu fui, deixei minha casa e entrei de
cara no que eu acreditava que seria a maior fase do nosso
relacionamento, mal sabia eu, que o que estava ruim, ainda estava
muito perto de piorar. Com poucos meses em que eu estava lá,
tendo uma vida originalmente como marido e mulher, Hardin alegou
estar frustrado e precisar de um tempo. Não satisfeito, me fez sair de
seu apartamento para que ele pudesse pensar e ter seu tempo sem
pressão.
E eu? Fiquei destruída, depressiva, sentindo-se enganada e
humilhada. Trabalhando na Orsoft consegui dar entrada em meu
apartamento, respirar e entender que minhas metas não giravam em
volta de um relacionamento fracassado ou de um homem que mal
conseguia decidir o que queria pra si, mas ele, Hardin, incapaz de
esboçar qualquer tipo de empatia, mas sim ciúmes, veio até mim
quando soube do financiamento, tentando fazer com que eu olhasse
em seus olhos e sentisse todo aquele amor do início, mas algo em
minha vida havia mudado, e uma pequena chave havia girado. O
relacionamento prosseguiu, não da mesma forma sempre
apimentada, porque sempre antes de olhar pra quem eu tinha do
lado, eu olhava pra frente, que era pra onde eu deveria ir.
Decidi ali que jamais mudaria por alguém, que talvez se
realmente me quisessem, me aceitariam assim. O quadro mudou,
quando ele percebeu que havia me perdido um lado dele veio à tona,
em sua cabeça, Hardin nunca podia perder nada, pelo menos não
pra outro homem. O que na verdade ele achava ter acontecido
depois de ter me visto no restaurante. Aquilo tudo era na verdade
uma questão de ego e agora, com minha foto estampada em todos
os jornais, seu ego seria massacrado e reduzido as cinzas.
— Porque não liga pra ele agora e o pede pra parar de te
procurar? — Jacob às vezes era tão ingênuo, que faltava apenas um
miado para ser atestado como gatinho inocente indefeso.
— Você disse que pra mim as coisas são simples, mas acho que
é você quem acha as coisas simples. — Falei depois de beber água.
— Eu já pedi, implorei, falta pouco desenhar, mas eu duvido que
funcione.
— Posso indiciá-lo por perseguição se você quiser…— Sua voz
era tão morna, que aquilo parecia algo normal.
— Calma, tudo bem?! Conforme o tempo for passando, ele vai
saber que realmente acabou. — Estava estranhamente frio ao lado
de fora, tão frio que os cabelos em minhas pernas se arrepiaram. As
loucuras de Londres no verão.
Não havia tantas especificações da parte de Jacob, na verdade
o mínimo. Eu não poderia sair com ninguém, assim como ele, para
evitar um possível casamento falso escandaloso entre nós dois. A
ideia central do nosso relacionamento seria: Eu terminei com Hardin
e acabamos por engatar em um relacionamento logo depois. Visto
que eu era extremamente competente, ajudando em coisas decisivas
dentro da Orsoft, ele não teve escolhas ao me nomear como sócia. E
então após isso, decidimos noivar.
Não era lá um faz de conta, mas por hora, seria algo que
encheria a barriga daqueles que pusessem a acreditar, e talvez uma
pequena história de amor para preencher as páginas de notícias
pelos próximos dias.
— Acho bacana nós dois demonstrarmos ser um casal em
público. — Arqueei as sobrancelhas diante de seus olhos. — Claire,
essa é uma especificação na qual eu não tenho como não pedir. A
condição para que as pessoas nos vejam como casal é essa, é a
proximidade.
— Tendo limites, eu não vejo problema!
— Mãos na cintura, olhares, algo como andar abraçados…—
Ele fitava seus dedos, que enumeravam os limites já citados. —
Mãos dadas…
— Sem beijo! — Eu sorri, antecipadamente.
— Isso nem se você pedisse! — Ele riu, brincando com seu
copo vazio. — Teremos limite, não se preocupe.
— Por onde começamos?
— Anunciando amanhã um baile de gala nas próximas
semanas. — Jacob falou. Ele se levantou, olhando pro ar frio da
noite densa. — Devia se agasalhar, consigo enxergar suas pernas
arrepiadas daqui.
— Você é observador!
— Você não imagina o quanto. — Ele riu.
— Não acha cedo para dar um baile de gala?
— Você me pediu pra dar um pedido de desculpas público e
aumentar o salário dos funcionários e sinceramente, não vejo melhor
oportunidade para fazer isso do que em um baile e logo. Aliás,
preciso apresentar você como minha noiva para imprensa e anunciá-
la também como minha sócia. — Seus dedos buscaram o telefone no
bolso de seu blazer, olhando para a tela que piscava sem parar.
— O que? imprensa? não é só um baile?
— Sou uma pessoa pública, lembra? Além do mais, você será a
sócia da empresa. — Ele retificou. — Acho que já vou indo, nos
vemos amanhã. Aliás…— Ele deu alguns cliques no display do
aparelho em seus dedos. — Se prepare, minha mãe está louca com
a notícia e como eu não estou respondendo ela, ela provavelmente
irá na empresa amanhã.
Louiselane era uma mulher incrível. Preocupada com Jacob até
o último cabelo e nunca se cansou ao tentar fazer com que o ódio
que eu sempre expressava sentir por ele, virasse algo a mais para
que ela então pudesse tentar organizar nosso casamento, mas todas
as suas tentativas foram fracassadas.
— Se prepare também para o casamento do meu cunhado, Tia
Carrie quer conhecer você. — Resmungou, desaprovando a ideia,
mesmo que fosse necessária.
— Vai ser legal conhecer seus pais.
— São falecidos. Tia Carrie é o que tenho como mãe.
Seus olhos caíram em uma quase reverência, com um sorriso
de lado, como se realmente sentisse por aquilo. Ele fungou o nariz, e
depois me encarou, piscando seus olhos azuis reluzentes debaixo da
noite.
— Hm, desculpa…eu não quis…— Ele visivelmente estava
incomodado por ter feito a pergunta.
— Acontece! Todos nós vamos embora um dia! Eu não lembro
do meu pai, era nova demais. E minha mãe…minha mãe faleceu de
pneumonia quando eu tinha 10 anos, foi difícil no início, mas Tia
Carrie sempre esteve por perto antes mesmo dela partir, então acho
que isso facilitou. — Sorri, verdadeira dessa vez. Alguns segundos
passaram por nós, no silencio de pensamentos secretos que ele
nunca descobriria. Talvez Jacob não fosse assim tão ruim como eu
achava que ele era. — Vou até a portaria.
Descemos até a portaria do prédio, acenando para Daniel o
porteiro, e ele mesmo se encaminhou até o portão, abrindo-o,
entrando no sereno, pronto para partir. Seus olhos novamente
cravaram-se em minha blusa, por tempo o suficiente para saber que
realmente havia chamado sua atenção. Havia a possibilidade de ele
estar reconhecendo a roupa como sendo de um homem, ou de
repente seu gosto fosse peculiar e ele tivesse gostado da peça.
— Acho que é isso. Vejo você amanhã? — Desconversou, mas
seu olhar meu deixou curiosa.
— Gostou da blusa?
— Na verdade não, achei horrível. — Corbyn disse em ironia.
Caminhando em direção ao seu carro, estacionado do outro lado da
rua, rindo por cima do ombro. — Sei que será a noiva perfeita,
Claire.
— Ou posso ser o seu pesadelo, Jake. — Retruquei, vendo abrir
a porta do cargo, rindo da minha resposta.
— Também posso ser o seu, veremos quem desiste primeiro. —
Ele disse antes de arrancar com o carro, manchando a pista com a
borracha do pneu e desaparecendo na penumbra.
Capítulo 9
Jacob Corbyn

— O que? Bastou ela abrir as pernas e você a transformou em


sua sócia? — Ouvi Lenon trincar os dentes exatamente de onde eu
estava. As veias de seu pescoço saltaram, e eu vi a mudança do
branco para o vermelho na pele de seu rosto.
— Exijo respeito com minha noiva, Lenon! — Exclamei abrindo a
janela de minha sala, com meus olhos cravados nos seus, sem
pestanejar ou sem titubear.
— E por qual motivo? Porque ela tirava xerox de maneira
competente? Porque ela trazia um bom café da manhã? Porra, onde
você está com a cabeça?
Lenon, diferente de Simon, atuava apenas no setor jurídico, de
casos e contratos que já haviam sido fechados. Era na verdade uma
associação jurídica dentro da empresa. Simon e eu, cuidávamos do
que ainda seria firmado. As palavras que ele estava usando diante
de mim agora, diziam exatamente o motivo dele não ser meu braço
esquerdo. Ele não tinha equilíbrio, e esse fato era provavelmente o
suficiente para tirá-lo até mesmo do cargo em que ele ocupava. O
fato de chamá-lo de sócio, o fazia pensar que mesmo não tendo
tanta autonomia assim, ele tinha que ser avisado quando grandes
decisões fossem tomadas, aliás, ser avisado não, ter a aprovação
dele. Algo que realmente não fazia sentido.
— Primeiramente, baixe o tom se não eu juro que anuncio seu
cargo como vaga amanhã pela manhã. Segundo, Claire é muito
competente no que faz, já me ajudou e auxiliou muito mais do que
você. Claire já fez muito mais do que ela deveria pela empresa, e na
minha concepção como CEO, diretor geral e herdeiro, as decisões
que são tomadas, são porque eu decido. — Respirei, recuperando
todo o fôlego. — Minha cabeça está mais no lugar agora do que
sempre esteve.
— E eu não sou nada? Sou um sócio atoa?
— Não, você é de grande ajuda. Você defende a Orsoft em
processos onde não temos culpa, você defende essa empresa
mostrando a verdade, Lenon!
— E Claire, me diga apenas uma coisa de grande valia que ela
fez?
Eu iria explodir, a qualquer momento eu iria explodir.
— O Design e as cores que explodiram na Gossip.com foram
de criação dela. E tem muito mais. Preciso continuar? — Foi como
um balde de água fria em sua cabeça. Seus olhos azuis apertaram-
se entre si, quase escondidos pelo cabelo loiro pérola que havia
crescido bastante desde a última vez que eu o havia visto.
Lenon Rogers havia entrado em minha sala como um furacão,
apontando sua insatisfação na minha escolha como sócia, que na
qual seria tão participativa da Orsoft quanto Simon era. Claire vestia
a camisa da empresa, e essas atitudes genuínas me mostravam que
ela não via aquilo como apenas uma funcionária, ela via aquilo tudo
com tanta grandeza quanto eu.
— Isso ainda vai terminar mal…— Ele despejaria seu veneno
sobre mim e eu o mandaria pro inferno, mas toda euforia contida em
meu sangue, se esvaiu no momento em que a porta abriu e por ela
Claire passou, não a Claire que trabalhava pra mim a alguns dias
atrás, mas outra Claire, A Claire que era minha noiva.
— Bom dia pra vocês! — Ela murmurou, passando por nós dois,
admirando sua bela mesa ao lado da minha, afinal, havia espaço o
suficiente para uma terceira.
Se os olhos de Lenon fossem uma língua, Claire estaria
lambuzada dos pés à cabeça, mas foi ao sentir minha encarada
triunfal que ele soube que jamais deveria olhar pra ela assim de
novo.
— Bom dia! — Ele sussurrou. Se afastou de nós, em direção à
porta e antes de atravessá-la disse: Minhas felicitações ao casal!
E bateu à porta.
— Do que se trata isso? — Perguntei, ainda assustado com a
mudança repentina. Eu não tinha noção de que seu cabelo era tão
loiro, tão cheio e grande. Seu vestido preto era social, segurando
bem os seios pesados e seguia justo em seu corpo robusto até os
joelhos pequenos. Seus pés estavam esticados em um salto alto,
que lhe davam uma altura admirável, mas não o suficiente para que
seus olhos avelãs, folha seca estivessem na mesma altura que os
meus.
Claire certamente complicaria minha vida.
— Isso o que? — Ela perguntou de volta.
Eu apontei pra ela, e seu corpo, indicando os cabelos.
— Já que precisa que a notícia se espalhe ainda mais pra deixar
a Orsoft em evidência, eu resolvi chamar um pouco mais de
atenção.
— Você é uma atriz de milhões, Claire! — Pisquei antes de
sentar na minha mesa.
— E você um mentiroso de milhões, Corbyn. — Retrucou. Fui
obrigado a vê-la estender seus braços sobre a madeira de sua mesa,
experimentando a maciez do verniz que a cobria, e aquilo foi
péssimo, justamente porque era uma imagem que nem cedo ou
tarde me deixaria em paz. Claire estava esparramada sobre a mesa,
com o bumbum grande empinado, quando seus seios volumosos
debaixo do vestido tocavam a mesa, e tudo que eu podia imaginar,
era seu corpo no biquíni preto que eu havia visto na revista no dia
anterior.
Eu havia começado a ficar duro somente ao me lembrar.
Instintivamente fechei os olhos, tentando dispersar a imagem da
minha mente apenas para fazer dormir novamente, o que não
deveria nem mesmo ter acordado.
Claire e eu discutimos algumas melhorias para a Orsoft, e
quando Simon chegou, conversamos sobre possíveis atualizações
nas ferramentas da Gossip.com, e eu devo admitir que nunca fiquei
tão maravilhado com a sintonia das ideias, me fazendo questionar o
porquê nunca dei uma oportunidade parecida para Claire antes.
Decidi reunir todos os funcionários na sala de confraternizações
após o fim de expediente, e lá anunciamos previamente sobre o
noivado e associação de Claire em seu novo cargo, mas também,
anunciamos o baile dentro de duas semanas e a nova etapa que a
empresa passaria a enfrentar com toda aquela ascensão violenta
que vínhamos sofrendo desde o furo no jornal. Todos reagiram muito
bem, e eu confesso que nunca me senti tão empolgado.
Quem disse que a alegria contagia, nunca mentiu.
— Eu vou indo, preciso me encontrar com Quinn…— Simon
murmurou olhando para a loira, sentada em uma das cadeiras. Sua
face estava estampada em aflição e em um pesar que eu não
saberia dizer o porquê.
— Ela…ela está bem? — Claire perguntou com um meio sorriso
no rosto.
— Está indo, fique tranquila, Claire! É só coisa do momento, vai
passar. — Simon respondeu, botando seu casaco por conta do frio.
— Diga a ela que estou com…saudades, e peça para me ligar
quando puder.
— Eu digo, deixa comigo. — Respondeu ele — Até mais,
pessoal!
Quando a porta bateu, o eco da pressão soprou dentro do salão
vazio, que parecia aumentar ainda mais o silêncio. Claire estava em
algum lugar ali, dentro de sua cabeça, ausente do lado de fora.
— Aconteceu algo? — Não era da minha conta, mas
estranhamente, eu me importava.
Ela me encarou, durante alguns segundos, absorvendo a
pergunta, latente em minha cabeça.
— Quinn acha que eu escondi o noivado dela e ficou chateada.
— Ela me respondeu. — Ela é minha melhor amiga — Voltou a fitar o
chão, encaixando seu queixo dentro de sua mão. — Acho que era,
na verdade.
— Não acho que ela vá deixar de ser sua melhor amiga porque
não contou sobre o noivado. Além do mais, eu lamento, Claire. Há
algo que eu possa fazer? — Eu perguntei. Amizades entre homens
eram muito mais simples do que entre mulheres, e embora eu nunca
tenha participado de perto das amizades de Louiselane, eu sabia que
a fragilidade feminina cobrava muito mais, e que um assunto tão
sério entre elas podia botar muita coisa a perder sendo omisso
dentro de uma amizade tão grande quanto a de Quinn e Claire
parecia ser.
— Obrigado, mas acho que preciso esperar o tempo dela.
— Já que não posso ajudar dessa forma, acho que posso
ajudar de outra. — Abri o casaco e retirei do segundo bolso, um
envelope branco, completamente amassado, sem letreiros ou
palavras que preenchiam seu espaço, era apenas um anonimato
olhando por toda expectativa.
— O que é isso? — Claire perguntou.
— Abra e leia! — Eu disse a ela. — Em voz alta, por favor! —
Eu já sabia do que se tratava.
Seus olhos passavam pelas extremidades do papel, enquanto
seus dedos separavam a ponta solta da beirada que o abria. Ela tirou
o cartão que o preenchia e começou a ler.
— “Srta. Blackwood, ou melhor dizendo, Futura Sra. Corbyn, nós
da…meu deus, meu deus, meu deus, não acredito! — Seus lábios
formaram um “o” em surpresa e seu rosto adquiriu um novo tom de
vermelho. Seus olhos me encararam, alternando entre mim e o papel
entre seus dedos finos. — Jacob, isso é alguma brincadeira?
— Vamos, continue e a ler!
— “...Nós da Burberry decidimos mostrar nesta edição de
outono, nossa moda íntima com um rosto que representasse o poder
de uma mulher por trás de um grande negócio e depois tomar
conhecimento da sua pessoa, decidimos que você, Srta. Claire, seria
ideal para inspirar as mulheres inglesas, e claro que não poderíamos
deixar Jacob Corbyn de fora. Os ensaios serão feitos
separadamente. Nós esperamos com grande expectativa essa
grande oportunidade. Esperamos vê-los em breve”. — Seus olhos
mal piscavam. Claire balançava o bilhete se levantando com as
mãos na cabeça. Eu já havia recebido um e-mail sobre a oferta para
a nova coleção, mas pedi que enviasse algo mais formal para que
ela fosse surpreendida, e acho que havia dado certo. Nunca posei
diretamente para esse tipo de coisa, mas acho que com Claire seria
interessante. Além do mais, isso aumentaria os burburinhos do
noivado, consequentemente da Orsoft. — Você sabia?
— Mais ou menos, e então, vai dispensar ou aceitar?
Ela riu boba, olhando pra todos os cantos.
— É obvio que sim! Meu deus, vão ver o meu bumbum nos
catálogos!
— Eu já te vi de biquíni, Claire! — E havia adorado por sinal. —
Na revista, é claro!
— Revista?
— Feche o seu Instagram ao público se não quiser que as fotos
lá vazem!
Ela me olhou, tampando sua boca com a mão.
— Minhas fotos na piscina?
— Essas mesmas, inclusive foi a capa de ontem de alguma
revista! Mas pense pelo lado bom, eu peguei o seu papel de sortuda.
É isso que eles dizem, que eu sou sortudo pela noiva que tenho!
— Está reclamando, Jake? — Ela levantou seu queixo
empinado, com o nariz pequeno, e os olhos capazes de desafiar o
diabo do jeito que sempre gostei. Me aproximei, olhando para seu
rosto redondo, de beleza tão limpa e crua, medindo o tamanho de
seus lábios pequenos. Porra, onde eu estava me enfiando?
— Porque tenho a impressão que está me provocando? — Seu
rosto estava tão próximo que eu medi mentalmente o tamanho de
sua boca para saber se cabia na minha.
— Eu estou provocando…— Ela riu, ladina, piscando seus
olhos mais nunca tirando eles dos meus. Dei um passo em sua
direção, vendo seu recuo instantâneo sem saber que a parede a
esperava logo atrás — Mas acho não do jeito que você acha!
— E de que forma você acha que estou pensando, Claire?
— Eu… — Eu juro que adoraria ouvi-la terminar de completar a
frase, mas o barulho da porta sendo aberto ecoou com
agressividade, e quando eu achei que fosse Simon ou Lenon,
encontrei a figura de Louiselane com seu grande casaco felpudo que
só não arrastava no chão por causa do salto alto em seu pé, que lhe
dava altura o suficiente para isso. Seu sorriso escancarado mal cabia
em seu rosto fino e sua bochecha magra. Seus braços esticados em
direção a mim, junto com seus passos rápidos, e seus dedos
recheados de anéis mais caros do que meu escritório inteiro.
— Meus amores! Encontrei vocês! — Ela riu, se divertindo, me
apertando em seus braços, beijando meu rosto e apertando minhas
bochechas como se eu ainda tivesse 13 anos de idade. — Claire,
meu bem, como estou feliz! Não existe ninguém melhor para Jacob
do que você! — Foi a vez de Claire receber um abraço apertado,
com um sorriso no rosto e um olhar aflito pra mim. Ela, assim como
eu, não sabia se portar. — Oh meu bem, eu vim pra leva-los para
jantar, precisamos comemorar como uma família! A família Corbyn
está crescendo outra vez.
— Mãe, se acalma, por favor! Eu não casei! — A relembrei
enquanto ela apertava Claire cada vez mais.
— Mas vai se casar e escondeu de mim, Jacob. Que tipo de
filho noiva e não conta pra mãe?
— Eu! — Respondi, ajeitando o paletó. — Não contamos pra
ninguém, acredite. Todos souberam ao mesmo tempo!
— A sua mãe não é todo mundo! Eu não sou todo mundo!
— Mas agora você já sabe, pronto. — Refleti a uma falsa
alegria em ironia, balançando os braços e ela me olhou de olhos
cerrados.
— Sinto muito, Sra. Corbyn, Jacob preferiu não contar a
ninguém, eu quis, mas ele preferiu manter em segredo. — Ela riu de
lado, claramente botando a culpa em mim enquanto minha mãe
ficava cada vez mais tristonha comigo.
— Oh meu bem, não se preocupe! — Louiselane retrucou para
minha mãe.
— Eu vou lembrar disso, Claire. — Sussurrei para que apenas
ela pudesse ouvir depois que minha mãe deu as costas.
— Então, que tal jantarmos em comemoração? — Louis se
animou. Eu olhei para as duas. Tinha muito o que fazer e muito o que
descansar. O dia havia sido agitado e tudo que eu precisava era uma
boa noite de sono e um banho gelado para tirar a imagem de Claire
esticada sobre sua mesa, naquele vestido abusado.
— Infelizmente vou deixar vocês duas sozinhas hoje, mas com
certeza marcaremos uma próxima. — Eu respirei fundo, sem
encontrar objeções nos olhos de Claire que somente acenou com a
cabeça.
— Não se preocupe, vou cuidar da minha nora! — Ela repetiu
antes de tomar Claire no braço direito e sair porta a fora.
É, acho que isso vai ser mais interessante do que eu pensava.
Capítulo 10
Claire Blackwood

Às 9h eu já estava em minha sala quando ainda nem havia tido


sinal de Jacob. Pretendia dormir cedo na noite passada, mas o jantar
com Louiselane, minha então fictícia sogra, foi de grande valia,
desde que ela me contara sobre toda a vida de Jacob, me
arrancando intermináveis gargalhadas. Embora eu nunca tenha tido
conversas muito longas com a Sra. Corbyn, eu nunca a olhei como
uma socialite de nariz em pé, preocupada apenas com a tendência
da nova estação, mas sempre teve algo que chamava minha
atenção; sua extrema preocupação em saber o motivo da minha cara
cansada, triste ou chateada, e mesmo que ela soubesse que era por
causa de Jacob, ela sempre tentava buscar o melhor dele para que
eu entendesse, embora eu nunca a desse ouvidos.
Estava cedo. O setor jurídico estava vazio, pois muitos ainda
estavam pra chegar. Alguns ainda fazia burburinhos quando eu
estava próxima, afinal, em uma semana eu era a Secretária de Jacob
que havia pedido demissão e agora eu era a Sócia e Noiva do CEO
da Orsoft.
Havia inúmeros documentos na pasta em minha mão, dados
semestrais, anuais, gerais, gestão de funcionários, benefícios e tudo
de mais que se possa imaginar que uma empresa possuí.
Lenon estava sentado em sua mesa, assinando alguns papeis
que eu não fazia ideia do que poderia ser e bastou ouvir o barulho do
meu sapato no porcelanato que ele subiu seu olhar de urubu pelas
minhas pernas, mas nunca fixo o suficiente para estar em meus
olhos.
— Preciso de copias autenticadas desses documentos! — Falei
educadamente, entregando a pasta. Ele abriu, folheou todas elas.
— Agora que é Sócia e Noiva do dono da empresa, porque não
pede a ele que ponha uma impressora na sua sala? — Ele foi direto.
Lenon nunca foi o tipo de cara capaz de escolher o orgulho ferido ou
a inveja, tudo sempre foi muito aberto, transpassando tudo que
girava ao redor de sua cabeça pequena e miúda. A pergunta foi
simples, mas maldosa o suficiente para me fazer arquear uma das
sobrancelhas.
Eu poderia retrucar no mesmo nível, mas ainda não valia a pena.
Enquanto ele tirava a cópia das folhas, eu andei educadamente até o
galão de água e peguei um copo e fiquei ali por um tempo, parada,
ouvindo as bolhas de ar emergirem no ar.
Se Lenon queria me diminuir, eu faria a mesma coisa com ele.
É como diz o ditado: chifre trocado não dói.
— Porque eu tenho você pra fazer esse trabalho!
Seu rosto debochado se contorceu em raiva, ele mordeu a parte
interna do seu lábio inferior e eu vi suas mãos apertarem a beirada
da mesa, enchendo-se de veias.

(...)

— Me fala Claire, quantas vezes teve que abrir as pernas pra


noivar com Corbyn? — Apenas o encarei, duvidosa em saber se ele
conseguia ser pior do que aquilo. — O que você fez de diferente do
que as outras que ele já despiu e comeu na sala dele? Hein?
— Eu não sou como as suas secretárias, Lenon! Mas de uma
coisa eu te garanto, me tornei sócia porque sou muito mais
competente que você.
Ele se aproximou, me encurralando ali, no canto do bebedouro,
esticando a pasta em minha direção. Eu peguei, sem deixar de
encara-lo.
Eu não podia demonstrar medo ou deixa-lo pensar que eu
sequer sentia isso.
— Se tornou sócia porque ele precisa de um álibi pra te comer
mais do que já faz! — Havia um limite e ele havia passado da linha
estabelecida. Em segundos, toda a água gelada que preenchia o
copo em minha mão, agora molhava seu rosto, blusa e calça. Ele
estava visivelmente sem reação. Trinquei os dentes, tremendo de
raiva.
— Antes de perder tempo, ditando quem é que me come ou não,
cuida da sua vida, e mantenha sua língua dentro da boca toda vez
que me ver. — Havia ódio em minha voz, havia também certo
respeito, porque aquilo, toda aquela água que o banhava, era
certamente pouco para toda merda que havia acabado de sair de
sua boca. E se ele não entendesse o devido respeito que deveria me
dar por bem, aprenderia por mal, sem interferência de Jacob.
Sai de lá com o mesmo pé que eu havia entrado, em direção a
minha sala, compartilhada com o meu sócio. E pra minha surpresa,
lá estava ele, com um sorriso no rosto quando entrei e bati a porta.
— Bom dia, minha querida noiva! — Saudou ácido, mas ainda
sim com um tom de divertimento diferente.
— Bom dia, Sócio. — Eu respondi ao entrar.
Com o passar dos dias eu estava notando coisas demais nele.
Coisas que talvez sempre estiveram ali, mas eu ainda não havia
notado. Como a forma em que ele enfiava as mãos no bolso do jeans
quando estava feliz ou contente, ou a forma na qual sorria de lado
quando falava travessuras, mas a grande pergunta é: Porque nunca
enxerguei isso antes? Porque o odiava?
— Como foi o jantar ontem?
— Foi interessante. Sua mãe falou bastante de você!
— Ah é? E o que ela disse?
— Coisas importantes se realmente fossemos nos casar como:
você tem medo de barata, quebrou braço direito jogando bolinha de
gude, pulou do sofá na estante da sala e levou 8 pontos na testa... —
Eu continuaria se ele não tivesse me interrompido.
— Chega, já entendi. — Corbyn se recostou as costas na
cadeira, me olhando surpreso — Não acredito que ela te contou
essas coisas!
— Eu gostaria de saber se realmente fossemos nos casar!
Ele abriu um sorriso largo, me encarando, fazendo me esquentar
de dentro pra fora, de forma estranha.
— Então gostou da ideia de se casar comigo? — Ele me
perguntou.
— Na verdade, eu odiaria! Você não faz o meu tipo de homem.
— E qual seu tipo de homem? O que te persegue? — Jogou
baixo. Eu não precisava raciocinar muito para saber que ele falava
de Hardin, e mesmo que eu, no fundo não gostasse daquilo, admito
que foi engraçado o bastante para tirar um sorriso cínico de dentro
de minha garganta.
— Qualquer um que não seja você!
— Isso é perseguição, Claire. O que eu fiz pra você? — Jacob
questionou rindo, como se fosse um pobre inocente.
— O que você fez pra mim? Você só pode estar brincando!
— Na verdade não estou, falo sério. Se eu designava tarefas pra
você, era porque eu claramente acreditava no seu potencial.
— Não, você fazia pra me irritar, Jacob, e está na cara. Sua cara
de satisfação era horrível! — Falei.
Eu podia me lembrar com clareza o suficiente para fazer um
desenho da feição de Corbyn ao me invalidar com tarefas
impossíveis. No primeiro ano, eu achei que realmente fosse um
teste, mas a partir do segundo, eu soube que era pessoal. Nenhum
chefe pede pra que você atravesse o deserto do Saara e sai rindo
depois.
— Então aproveite nosso noivado, vou tratar você tão bem que
vai... — Eu parei de prestar atenção em suas palavras, quando um
zumbido passou pela minha orelha, passando em frente aos meus
olhos, bem pequenina, batendo suas asas, flutuando no ar. Uma
abelha. — O que foi?
— Uma abelha, olha! — Falei, baixinho, para não a assustar. Ela
voou por alguns segundos e parou bem sobre a mão esquerda de
Jacob, sobre o teclado do computador em sua mesa.
— Merda, o que é isso? — Ele visivelmente ficou receoso, mas
ainda sim, parado como uma estátua. — É venenoso?
— É só uma abelha indefesa, Jacob! Não a mate! — Falei
calmamente, aproximando-me de supetão — Você é bem mais
perigoso que ela, vai por mim! — Estiquei a mão devagar — Como
ela veio parar aqui, tão alto?
Foi apenas o tempo de eu terminar de falar, para que Corbyn se
mexesse novamente, e recebesse uma ferroada com força do inseto.
Ele soltou um grande “Ai” e começou a balança seu pulso como se
estivesse lotado de formigas.
— Ela me mordeu! — Ele gritou, levantando-se, e se afastando
da janela. — Você disse que ela era indefesa, Claire.
Eu me aproximei, olhando para sua mão, onde uma pequena
marquinha vermelha, começava a ganhar destaque em sua pele.
Passei o dedo, vendo-o reclamar.
— Não seja fresco, é só uma mordida.
— É porque não foi com você! — Ele disse, saindo de sua
cadeira, indo em direção ao álcool em gel que estava no alto da
estante ao lado do sofá. Eu sai de onde estava, esticando os braços,
abrindo a janela para que o inseto saísse. — Você acabou de
contribuir para a morte dela.
— Morte dela? — Observei enquanto ela subia no ar para o andar
de cima, devagar, provavelmente devido ao vento diurno do calor.
— É... — Olhei para o rosto de Jacob e havia algo diferente. Seus
dedos coçavam o pescoço alvo, que atingia lentamente uma
coloração vermelha, à medida que suas unhas curtas raspavam sua
pele. — Abelhas morrem depois que ferroam...
— Jacob? — Chamei a sua atenção, mas tudo que ele fez foi
usar a outra mão para coçar seu braço. E eu só percebi que
realmente havia alguma coisa de errado quando ele começou a
tossir, indeciso entre se coçar e tampar sua boca.
Ele era alérgico a abelhas? Sério? Quem diabos é alérgico á
abelhas?
— Acho que não estou me sentindo muito...bem... — Ele
sussurrou, sentando no pequeno sofá, deixando seu corpo tombar na
parede de fundo, levantando seu queixo para o teto, e encarando a
mim.
Ele estava ofegante, como se ali dentro da sala, o oxigênio não
coubesse em seu pulmão.
Tudo o que eu não precisava era que meu chefe morresse agora,
por causa de uma abelha. Meu sangue aqueceu e meu coração
tratou de bombear minhas veias, dando me adrenalina
desnecessária que fazia meus dedos tremerem.
Porra, ele era alérgico.
Corri até ele, subindo sobre seu corpo, abrindo seu paletó,
desabotoando sua camiseta social, desde a gola, revelando o
pescoço vermelho, e parei, vendo o corpo que era escondido sobre
todo aquele pedaço de pano caro. A musculatura rígida abaixo dos
pelos louros e finos de seu peito.
— Droga! — Exclamei.
Jacob Corbyn estava morrendo e eu estava parada admirando
seu peito? Que tipo de pessoa eu era?
Eu só me dei conta, quando olhei para frente, e os olhos dele
estavam encarando os meus, pacíficos, com a respiração agora
normal, e um sorriso desafiador em sua boca, tão perto de mim.
Senti seus dedos em meu joelho me fazendo perceber que eu estava
sentada em seu colo, novamente, em menos de 1 mês.
— Claire, Claire...me deixaria morrer só pra admirar o meu
corpo? — Ele murmurou.
— Mas oque...? — Pulei de seu colo em segundos, encarando
seu sorriso se transformar em gargalhadas. Ele estava estirado
sobre o sofá, com sua roupa completamente aberta. Mostrando mais
de seu peito até o início do diafragma denso. Eu sabia que Jacob
tinha um corpo maior debaixo do terno, mas aquilo sem dúvidas, era
maior do que eu pensava que fosse.
— Eu sou alérgico à mel e não a abelhas!
— Você é maluco? — Coisas como essas me faziam alimentar a
raiva que eu sentia de Jacob, por simplesmente fazer com que ele
parecesse uma criança de 12 anos de idade. Quem em sã
consciência faz uma coisa dessas? Isso é teste pra cardíaco. — Qual
é o seu problema?

(...)
— Você devia ter pedido ajuda e não tentado me despedir. O que
você pretendia? Me levar nu para o hospital?
— Oh meu deus, você é horrível! Horrível, Jacob! — Apontei em
sua direção, indignada pela brincadeira de mal gosto — Eu achei que
você estava sufocando, que você não conseguia respirar, eu não
queria te deixar...nu! O seu pescoço estava vermelho...
— Não queria, mas ficou tempo o suficiente me admirando sem
roupa pra achar que você mudou de ideia depois! — Corbyn abotoou
cada um dos botões, me encarando, se alimentando da minha fúria
pós pegadinha sem graça. — Não fique com tanta raiva, depois de
amanhã temos o ensaio de Burberry. Tire o dia amanhã pra fazer
essas coisas que as mulheres fazem quando tem algo importante.
Ergui uma das sobrancelhas, sem entender a última parte. Jacob
era milionário, mas as vezes parecia aquele tipo de homem das
cavernas.
— E o que seria essas coisas que as mulheres fazem?
— Fazer coisas no cabelo, unha e outras coisas! — Ele
respondeu, ajeitando sua gravata. — Eu vou sair pra resolver
algumas coisas, almoçar com minha mãe e ir conversar com Simon
sobre a reunião de fechamento de contrato com a Pandors que
acontece amanhã.
— Então está me dando uma folga?
— Eu não dou folgas a você mais, Claire. Você agora é a minha
sócia, eu apenas sugeri para que as fotos saíssem...melhores! —
Piscou galanteador — Busco você pela manhã, não se preocupe. As
13h estarei na sua porta. — Me respondeu antes de deixar a sala.
Jacob saiu um pouco antes do almoço, e ali, sentada e sozinha
na sala dele, que agora também era minha, eu me pus a pensar que
talvez jamais imaginaria estar onde estou. Mesmo que Jacob tivesse
aceitado a condição de me tornar sócia, ele o fez porque sabia que
eu era capaz, então parte daquilo tudo era mérito meu, e isso me
deixava em paz, pelo menos por hora. Porque mesmo tendo
conquistado tanto, eu nunca perdi o costume de contar minhas
conquistas para a maior e melhor amiga que já tive, e ali, no meio de
tanta notícia boa, nada me fazia mais falta que ela.
Eu estava sem fome alguma, porque o que eu sentia no peito era
saudade de Quinn. Eu tinha tempo o suficiente de almoço para ir até
seu escritório e pedir desculpas por não ter contato, não só sobre o
noivado, mas sobre tudo, sobre a verdade.
— Olá, como vai? Vou para 369, Psicóloga Quinn Dunhill! — Pedi
a recepcionista. A parte boa é que eu ia ali tantas vezes que era
normal me deixarem subir sem sequer pedir permissão direto na sala
de Quinn. Eu subi o elevador vazio ao som de Frank Sinatra que me
deixou quase na porta do escritório dela. Embora houvesse
recepcionista na portaria, ela também tinha uma secretária que
trabalhava em sua sala.
Bati na porta duas vezes, sendo recepcionada por Sara, que
trabalhava com Quinn.
— Sra. Blackwood, tudo bem? — Ela disse carismática.
Eu entrei, me sentando na cadeira de espera pacientemente.
— Olá Sarah, bom, eu estou bem! Quinn está?
— Claro, quer que eu avise que chegou?
— Por favor! — pedi.
Quinn e eu nos conhecíamos desde o ensino médio na cidade de
Dereham, e desde então não nos desgrudamos mais. Nunca fui
aficionada por homens, mas Quinn...Quinn dizia que qualquer
homem bom com negócios era bom de cama, e ela fazia questão de
testar a validar esse ditado velho e infundado. E pelo menos com ela,
dava muito certo. Passamos pra mesma faculdade, embora cursos
diferentes. Ela sempre gostou de escutar as pessoas, sempre foi
uma ótima amiga que nunca falava o que eu gostasse de ouvir, mas
ainda sim o que eu deveria ouvir. Toda desgraça ou benção em
minha vida era passada pra ela. Era um ciclo natural, entre mim e
uma pessoa que já havia deixado de ser apenas amiga a muito
tempo, e se tornado muito mais que uma irmã. Quinn era um
pedacinho de mim, e esconder aquilo dela, era omitir coisas pra mim
mesma.
Sara voltou, com a cabeça baixa, desconcertada, mexendo nas
mãos, sorrindo torto, desajeitada como nunca era. E eu sabia o
porquê.
Mas só porque eu sabia, não queria dizer que eu concordaria.
— Sinto muito, Sra. Blackwood, Quinn está ocupada... — Havia
um pesar em suas palavras. —...Está com cliente! — Se retificou.
Mas eu sabia que era mentira, e eu não desistiria assim tão fácil.
— Não tem problema, aguardo o cliente ir embora.
Sara não esperava que eu dissesse aquilo.
— Acho que ela vai demorar... — Ela me respondeu, apressada,
se pondo atrás de sua pequena mesa quadrada de verniz escuro.
Suspirei fundo sem paciência. Nunca briguei com Quinn, nunca
nos chateamos e já que a culpa havia sido minha, eu não sairia dali
enquanto não pudesse conversar com ela, e a intromissão de Sara
só mostrava o nível de tristeza dela comigo.
— Não vou sair daqui enquanto não falar com Quinn.
— Sinto muito, mas ela não está bem pra falar agora!
Se eu não falasse com ela por bem, falaria por mal.
Eu abri um sorriso de lado, um tanto tristonho para a ocasião,
olhando para o chão. Não havia cliente nenhum. Quinn não queria
falar comigo.
— Ela está sozinha, não está? — Me levantei e Sara ainda tentou
me impedir de ir em direção a sala do consultório dela, mas não foi
rápida o suficiente. Quando eu pus a mão na maçaneta, abrindo a
porta, encontrei Quinn sentada na poltrona ao lado da janela,
enxugando os olhos vermelhos, por provavelmente chorar.
Porque ela estava chorando? Era por causa de mim?
— Quinn?
Ela me olhou assustada e logo para Sara atrás de mim.
— Eu disse que não queria receber ninguém? — A loira relutou a
dizer, ainda estressada por sua ordem falha, dada através de sua
secretária.
— Sinto muito, Sra. Dunhill, eu disse que a Sra. não queria falar
com ninguém agora! — Sara se explicou.
— Quinn, o que está acontecendo? Porque está chorando?
Porque não me ligou mais? Eu fiquei preocupada? — Eu queria
expressar minha preocupação. Não só por seu bem estar mais por
nossa amizade. Eu a amava, pois foi ela, a loira a minha frente que
muitas das vezes me impediu de tirar todos os cabelos da cabeça
em tempos difíceis, onde pensamentos assombravam quando não
deviam.
— Vai embora, Claire! Eu disse que ligaria quando estivesse
pronta pra conversar! — Disse sem ao menos me olhar nos olhos. O
lado de fora da janela chamava sua atenção, mas do que eu,
preocupada, parada em sua porta.
— Eu preciso conversar com você, preciso contar tudo o que
aconteceu, me desculpar, Quinn. Eu...
— Claire, vai embora! Por favor! Só vai embora! — Não era um
pedido. Era uma suplica. Ela não queria ficar sozinha, ela precisava,
por algum motivo.
— O que aconteceu, Quinn? Porque você...você está assim? É
por minha causa?
— É sobre muita coisa. Então por favor, vai embora! Quando eu
puder, entro em contato. — Eu não disse nada. Aquilo não era algo
que eu poderia resolver, e tão menos Quinn me deixaria ajudar a
resolver. — Sara, por favor, leve Claire até a porta.
Eu não sai. Me deixei ser levada por Sara, observando minha
melhor amiga voltar seus olhos para a janela, sem ao menos me dar
um olhar de despedida.
O que havia acontecido com Quinn? Meu coração dizia que eu
não era a única culpada.
Não poder falar com ela, era como se eu não pudesse contar com
alguma parte crucial de mim, pois era isso que minha melhor amiga
representava, um pedaço importante da minha vida. Voltei para
minha sala logo depois de deixar o escritório de Quinn. Tudo estava
pacifico demais, e embora eu tenha me estressado mais cedo com
Lenon, acredito que depois do copo de água que esfriou sua cabeça,
ele não voltaria e incomodar nem tão cedo, mas mesmo que voltasse
a incomodar, eu estaria pronto para virar o bebedouro inteiro em sua
cara.
Simon pediu que eu deixasse toda a papelada para o contrato do
dia seguinte pronta. Assinei o contrato que me tornava oficialmente
uma sócia, que tornaria a Orsoft parte de mim.
Com uma vida de poucas pessoas e poucos acontecimentos, eu
me dedicaria ao que eu tinha, e a empresa era parte disso agora. E
eu ficaria ainda mais feliz em ver que os funcionários que faziam
parte da equipe, estariam dispostos a botar o coração ali, quando
Jacob fizesse o anuncio do aumento digno de tanto esforço honesto.
O Sol se pós cedo, e eu o vi descer pelo horizonte, esboçando
uma coloração entorpecida, alaranjada, dando adeus a mais um dia,
quente por sinal. Era hora de ir pra casa. Durante todo o caminho, no
taxi, minha cabeça vagou por lugares hostis dentro da minha mente,
momentos da minha vida na qual eu penso que talvez pudesse ter
deixado de existir, como meu relacionamento com Hardin. Se minha
mãe estivesse viva, será que eu teria deixado tudo chegar ao ponto
que chegou? Não era amor, era apego emocional, era o medo de
estar sozinha, de chegar em casa e encontrar apenas a cama me
esperando, sem premissa de futuro ou alguma anulação do passado.
Apenas o silencio triste e sufocador. O meu relacionamento com
Hardin, depois de certa altura passou a ser apenas...comodismo.
Embora nova, minha mãe foi alguém marcante em minha vida, e
Tia Carrie apenas agregou a tudo que ela me ensinava. Lembro-me
de noites em que ela dizia o que nunca aceitar de um homem,
mesmo nova, suas instruções foram cirúrgicas, embora eu tivesse
ignorado todas elas pra estar com Hardin. E olhando de longe...eu
dou graças a deus por estar livre dele.
— Boa noite, Daniel! — Acenei para ele, vendo balançar a
cabeça retribuindo a saudação. Estava tudo vazio demais, e ainda
que fosse noite, parecia clima de fim de ano, mas havíamos acabado
de chegar na metade dele.
Quando botei o pé dentro do meu apartamento senti um aroma
diferente, e ao ligar a luz, eu encontrei a origem dele.
— Boa noite, amor. — Ele sibilou, me encarando, sentado no
sofá, estirado, com o braço esticado sobre o apoio rente a parede. —
Ficou surpresa?
O susto foi inevitável, a faísca de receio que se acendia em
minha nuca, iluminando todos os pelos do meu corpo. Hardin estava
apático, de uma forma que eu nunca o vi antes.
— O que você faz aqui? Como entrou aqui? Eu troquei a
maçaneta. — Perguntei com medo, sem ter como esconde-lo dessa
vez.
— Esqueceu de pedir ao porteiro pra não me deixar entrar, e
sobre a maçaneta, nada que um clip não ajude! — Ele sorriu,
sentando-se virado exatamente pra mim. — Mas vamos ao ponto:
Que porra é essa de noivado com seu chefe, Claire?
Mais um acontecimento para o dia difícil. Não havia escapatória,
mas pior do que contar a verdade sobre o falso noivado, seria afirmar
que eu realmente estava noiva de Jacob. Mas contar a verdade,
implicaria em muita coisa e botaria muita coisa a perder. Afinal,
Hardin não merecia a sinceridade.
— Vá embora! — Apenas o cortei.
Ele riu.
— Ir embora? Eu quero saber que merda é essa, Claire. Na
nossa última conversa você diz que chutaria as bolas dele se ele
tentasse algo, e dias depois aparece noiva dele? Que porra tá
acontecendo? Você me fez de otário durante todo esse tempo
debaixo do meu nariz? — Hardin estava começando a ficar
notoriamente alterado, não só por seu tom de voz, mas por suas
gesticulações.
— Não temos mais nada, Hardin. Absolutamente NADA! — Falei.
Em sua cabeça, apenas ele podia acabar com o relacionamento,
mas minha opinião sempre havia sido irrelevante durante todo esse
tempo.
— Essa merda que você chama de relacionamento com seu
chefe está fodendo minha vida!
— Fodendo sua vida? E porque motivo meu noivado com Jacob
estaria fodendo sua vida, Hardin? Consegue ouvir o que está
falando? — Eu o perguntei, indignada. — Você não tem o direito de
invadir o meu relacionamento e me acusar de coisas que não fazem
sentido.
— Você é minha, Claire. Me humilhou, me humilhou diante de
Londres inteira.
— Você já me humilhou diante de tantas pessoas, por tantas
vezes e eu nunca pude sequer reclamar. E não, eu não sou sua, na
verdade nunca fui. Eu pertenço a mim, somente a mim! Agora saia!
— Abri a porta, sentindo um misto de preocupação com receio. Eu
achava conhecer Hardin, mas ali, diante de mim, ele estava
provando que não, e que talvez eu não conhecia nem mesmo a mim.
— Vou perdoar você, Claire. Vai acabar com esse noivado e
voltar pra mim.
Ele parou diante de mim. Me encarando no fundo de uma alma
que nunca se encaixou na sua, porque eu não passei de um móvel
velho que fazia enfeite em sua sala. Nunca fui importante para
Hardin, e o que ele sentia agora, era a dor da perda, não de perder
algo com quem ele se importasse, mais a dor de perder algo que ele
denominava como seu e de mais ninguém, com a certeza de que ele
sempre seria minha primeira escolha, assim como foi em toda a
faculdade, por tantos anos imbecis.
Mas agora eu sabia que havia sido apenas desperdício.
— Você só pode estar perdendo a cabeça! — Aleguei. Aquilo era
loucura.
— Você vai voltar pra mim, vou dar a você 5 dias para acabar
com essa palhaçada. E todos iram ver que podemos ser um casal
feliz. Me entendeu?
— Vá embora! — Insisti, fitando o chão. Hardin agora me enchia
de nojo e má digestão. Ele passou pelo batente, parando ao lado de
fora da porta. — Se aparecer aqui de novo, eu juro que chamo a
polícia.
— 5 dias, Claire. E não esqueça de atender ao telefone.
Eu nunca lidei bem com ameaças, ainda mais aquelas onde eu
tinha razão. E ali, diante da penumbra da noite, tudo que eu queria
era paz. Não queria pensar nas ameaças de Hardin, na falta de
contato com Quinn, na falta de Tia Carrie ou no meu noivado falso e
a capacidade de fingir que tudo estava bem, mas ainda sim com todo
aquele amontoado de alegria, ainda me restava aquele sentindo
pequeno, mínimo de tristeza para resolver agora, o que acalentaria o
meu coração ansioso e preocupado com tudo que virasse uma bola
de neve mais tarde, e nesse caso, eu sabia que precisaria me
resolver com relação a Hardin.
Faze-lo entender que não existia mais nós ou abrir contra ele,
uma ocorrência na delegacia.
Isso teria que ser resolvido, sendo ou tarde.
Capítulo 11
Jacob Corbyn

A reunião com os representantes da Pandors marcava um


grande avanço na Orsoft, uma nova Ascenção que nem mesmo eu
podia medir o tamanho. E ali, vendo tudo acontecer tão de repente,
de maneira tão espontânea, eu me questionava porque eu ainda não
me sentia tão realizado. Era como almejar um diamante e depois de
tê-lo, ter a ciência de que ele não era lá tão brilhante assim.
Os representantes da Pandors trouxeram todos os documentos e
levaram os necessários para a oficialização do contrato de 5 anos.
Seriam 3 etapas. A assinatura do contrato provisório, o
encaminhamento da documentação e depois a conclusão em juízo
com testemunhas.
Peguei meu carro no estacionamento e peguei avenidas lotadas
para ir até Claire, para o então ensaio da Burberry. Tornar Claire
minha sócia, me deu o mesmo sentimento de quando eu puder dar a
Simon o mesmo cargo administrativo. Aquilo de alguma forma me
deixava confiante, porque eu sabia que ela merecia estar ali, mesmo
que eu tenha relutado de início.
Enviei um sms quando estava próximo, e ao parar na frente de
seu prédio, lá estava ela, recebendo atenção de todos os motoristas
que passavam apressados e diminuíam a velocidade apenas para
contemplar a beleza que eu nunca fui capaz de admirar na
intensidade que deveria.
— Nossa! — Eu exclamei quando ela entrou dentro do carro. Seu
cheiro doce e refrescante dominou o interior do carro. Suas coxas
brancas estavam nuas na saia jeans que ela usava, uma camiseta
com a estampa do Pernalonga tampava seu busto e as mangas
tampavam o ombro. Seus cabelos dourados feito linho estavam
soltos, abraçando o rosto livre de qualquer maquiagem e mais lindo
do que qualquer maquiagem profissional pudesse deixar.
— O que? — Ela perguntou.
— Está diferente! — Respondi. — É estranho ver você
tão...produzida. Aliás, está linda.
— Só isso?
— Há algum outro motivo para que eu me surpreenda?
— Porque estou cheirosa? — Ela brincou, pela primeira vez, eu
acho. — Você também está muito bem.
Eu agradeci e seguimos viagem. O ensaio ia ser feito em um
estúdio no centro de Londres, próximo da loja sede da Burberry.
Deixei o carro com um frentista do próprio prédio, enquanto algumas
pessoas cochichavam ao ver Claire ao meu lado.
— Chegamos! — Exclamei. Entramos no elevador vazio, subindo
andar por andar, e ao olhar pra loira ao meu lado, era visível o
quanto estava nervosa, com a respiração desengonçada, que subia
e descia latente, sem controle algum. — Nervosa?
Ela deu um meio sorriso, comprimindo os lábios rosados e
molhados de saliva.
— Não é todo dia que a Burberry me chama pra fazer um ensaio!
— É só um ensaio, Claire.
Ela tossiu.
— Não, é um ensaio da Burberry. Qual a possibilidade de você
ser um inglês legitimo? Se eu quisesse comprar um par de meias
nela, eu teria que vender ao menos um pedaço do meu fígado para
custear.
— Suas analogias são tão exageradas.
— E a sua noção de barato é completamente deturpada. — Ela
disse, olhando para sua própria face no espelho.
— Coisas caras pra mim se caracterizam apenas por aquilo que o
dinheiro não pode comprar, Claire.
— O que? — Ela perguntou, me encarando dessa vez.
— Boas secretárias. — Disse. — Mas ainda bem que agora é
minha sócia, não é?
— Então está me dizendo que sou cara?
— Exato! — Exclamei assistindo o elevador chegar ao andar
desejado. — Impagável! Agora vem! — Ao sair da caixa de aço, a
estávamos automaticamente dentro do estúdio que pelo tamanho,
fazia parte do andar inteiro. Não demos um passo a mais, para que
todos os olhares curiosos e eufóricos caíssem sobre nós dois.
— Oh meu deus, vocês chegaram! Bem na hora! — Um homem
meio careca, de barba ruiva, rala, envolvendo a metade de sua face
provavelmente era Joseph, aquele que havia contactado comigo por
telefone e e-mail. O responsável pelo convite para a campanha. —
Podem me chamar de Jose! Sou Joseph Martin, o management
responsável pelo marketing e direção das campanhas. É um prazer
ter vocês conosco queridos.
— O prazer é nosso! — Claire tomou a frente, lutando contra a
vergonha e o nervosismo nato de ter rédeas em situações tão
importantes.
— Ah meu bem, você é Claire, certo? — Ela acenou com a
cabeça, sorrindo fraco, em gentileza. — ainda mais belíssima ao
vivo! As fotos que andam divulgando por aí não tem metade do que
se vê pessoalmente. Mas nosso fotografo, marcos vai cuidar disso!
— É um prazer, Joseph! E espero que eu não esteja atrasado. —
Eu saudei.
— De forma alguma, estão na hora certa, no lugar certo. — Seus
olhos castanhos procuraram alguém pelo enorme salão, recheado de
pessoas que andavam pra todos os lados, deixando qualquer um
que tentasse acompanhar, louco. — Claire, meu bem! Você vai com
a Vanessa fazer cabelo e maquiagem enquanto vou levar Jacob pra
ajeitar essas olheiras. — Ele riu divertido.
Nunca fui um homem fissurado com beleza, entretanto o máximo
que eu conseguia fazer era estar higienicamente limpo, apresentável
e bem vestido. Isso era o suficiente para gerar respeito e hierarquia
em alguns lugares.
— Acha que eu deveria ter feito a barba? — Perguntei vendo
Claire se distanciar.
— De forma alguma! Esses fios loiros são um charme nessa boca
linda! Vou deixar você se arrumar, e depois vou entregar as peças
que vocês vão vestir. Vão ficar lindos quando estiverem prontos,
ainda mais quando estiverem um emaranhado no outro.
Minha garganta secou ao ponto da saliva arranha-la.
— Que? — Foi automático, e eu jurava pra estar ouvindo um
equívoco.
— Vocês são noivos. Esperava que eu os botasse pra fazer fotos
um em cada canto do estúdio? Quero vocês juntos, sensuais e
instigantes. Aliás, o povo inglês que ver a mulher que nasceu para
receber um anel seu no dedo, Sr Corbyn! — E minhas palavras se
voltavam contra mim.
— Olha, acho que tem um engano. O e-mail que recebi falava
sobre ensaios separados! — Me expliquei.
— Foi erro do estagiário, ele sempre faz merda! Mas não se
preocupe, eu acabei de retifica-lo.
Eu estaria fodido se tivesse que encostar em Claire e vê-la de
calcinha e sutiã.
Ela iria querer me matar da mesma forma que eu quis matar
Joseph por não ter avisado previamente, porque provavelmente,
teríamos cancelado.
Fui posto em uma sala de espera para aguardar Claire e o
fotografo, vestido com um roupão branco e por baixo, apenas uma
cueca boxer de pano, que mostraria cedo ou tarde toda a anatomia
do meu pau.
Meu pai, que arrependimento de ter vindo e não ter recusado isso
de início.
A porta se abriu e Claire entrou, eufórica e feliz. Mas eu faria
questão de acabar com sua felicidade. Ela odiaria a ideia pelo
simples fato de me odiar como ex-chefe e eu odiei a ideia pelo
simples fato de ficar com o pau duro no momento em que eu tocasse
nela.
— Você já acabou suas fotos?
Eu sabia que estava sério, de uma maneira rude.
— Não!
— Então será que vou fazer as minhas primeiro que a sua? —
Tão inocente e cheia de brilho no olhar, mas não por muito tempo.
— Vamos fazer o ensaio juntos! — Fui direto ao ponto, vendo o
sorriso ir embora da mesma maneira que veio, rápido. — Como um
casal de noivos. — Ironizei.
— O que? — Ela questionou, surpresa, ainda sem entender. —
Eles disseram no e-mail que seria separado. O que houve?
— Não sei, Joseph apenas disse que retificou o convite e disse
que o ensaio era pra ser feito como noivos. — Ela ficou quieta,
também vestida no roupão. E embora eu estivesse chateado com a
situação, eu não podia deixar de imaginar qual a cor da lingerie que
Claire usava por baixo. — Quer desistir? Se quiser eu posso tirar
você daqui e deixa-la em casa e...
— Não! — A loira disse. Andou de um lado pro outro, ajeitando
seus cabelos, e pressionando seus lábios uns contra os outros para
espalhar o gloss labial que o deixava brilhar. — É só você tentar não
me agarrar e...ai meu deus!
— Não quero que se sinta desconfortável! Não tem como não te
agarrar durante um ensaio, Claire.
Ela me encarou, mordendo o lábio superior, aflita, pensando em
uma forma de fazer o ensaio e se manter o mais afastada de mim ao
mesmo tempo.
— Você se sente desconfortável? — Ela me questionou. Não era
o fato de me sentir desconfortável com qualquer um ali. Era o fato de
eu me sentir desconfortável quando Claire me visse duro de desejo
por ela.
— Bom, se você não se sentir, eu não vou me sentir! — Eu menti,
na cara dura.
Eu estava me implorando internamente para se foder.
— Somos profissionais, não é?! — Ela queria que eu repetisse.
— Amigos?
Ah Claire, meu pau não quer ser seu amigo.
— Achei que me odiasse!
— Ainda odeio. — Ela devolveu.
— Acho que isso é bom! Pelo menos sente algo.
— Então vamos, mesmo assim!
Logo Joseph veio nos buscar, e pra piorar qualquer concepção de
alto controle que eu tinha, o cenário do ensaio era basicamente uma
enorme cama, no meio da imensidão branca do estúdio bem
produzido. Claire foi a primeira a entrar no cenário para fazer
algumas fotos sozinhas, e aquilo me fodeu completamente.
O management não poupou posições, caras e poses. Ele abusou
de tudo que ela tinha. Sua pele branca em contraste com a calcinha
pequenina preta de um tecido que eu não fazia ideia de qual tipo era,
e que mal tampavam a parte de sua intimidade, sumindo entre as
bandas cheias de sua bunda. Seu peito macio e grande estava preso
pelo sutiã meia taça que ela usava, sustentando o busto que parecia
pesado e macio.
Eu estava em estado de meditação para não mostrar uma ereção
quando tirasse o blazer. Virando o olhar aflito, mentalizando pôneis e
coelhinhos no pensamento. Os olhos de Claire o tempo inteiro me
procuravam e isso me prejudicava ainda mais, porque ela sabia que
logo depois daquilo, eu estaria em cima da mesma cama que ela. E
talvez seu olhar estivesse transmitindo desespero, mas eu não era
sensível o bastante pra perceber... perceber que talvez o problema
dela fosse o mesmo que o meu.
— Maravilhosa, Claire! Ficaram lindas! — Joseph a elogiou com
elegância. — Vanessa retoque essa maquiagem dela! Jacob vai
entrar com ela agora.
Eu olhei para uns dos auxiliares pegarem uma toalha para
cobrirem o corpo de Claire, que ficou visivelmente incomodada. Eu
precisava falar com ela, precisava explicar o que aconteceria,
precisava ser sincero.
— Posso falar com a minha noiva por um instante?
— Claro, primeiro corredor, primeira porta a esquerda. — A
maquiadora exclamou. — Vou só pegar meu material e já estou
indo.
Entrei em uma espécie de camarim minúsculo, onde mal cabiam
4 pessoas. Claire andava de um lado pro outro, soando mesmo no
ar-condicionado, com a cabeça longe dali dela mesmo e do que
estava acontecendo.
— Oi! — Exclamei. Ajeitando meu Robbie. Ela botou a mão no
seu, para ter certeza que ele estava ali.
— Oi! — Disse ela, envergonhada.
— Preciso falar com você! — Me aproximei — Claire, não sei
como te falar isso.
Ela piscou algumas vezes, sem entender, ou talvez fazendo
suposições em mente.
— Tem que ter jeito pra falar?
— Tem! Porque dependendo de como vou falar, você vai me
odiar mais ainda.
Não havia maneiras suaves de dizer o que eu queria.
— Jacob, o que você fez? — Suas mãos pousaram na cintura,
esperando uma resposta, de forma autoritária, mesmo tendo quase
metro de altura.
— Não é o que eu fiz, Claire. É o que vai acontecer! Olha, nós
homens funcionamos de forma mais...física... — Merda, cada vez
que eu tentava me explicar, mais eu me complicava. — E vocês
mulheres são diferentes, mesmo que se sintam...excitadas, nós não
conseguimos descobrir e eu...droga!
— O que você tá querendo dizer?
— Porra, eu vou ficar duro, Claire. — Seus olhos cresceram em
incredulidade e ela passou um tempo absorvendo minha revelação,
que acredito eu, se eu não tivesse dito isso antes, ela não
desconfiaria nem tão cedo.
— O que? Você está dizendo que está excitado? — Me
perguntou com a face em surpresa, como se tivesse sido ofendida.
— Claire, o corpo de um homem sofre com estímulos, não é
sobre sentir tesão por você, eu não sinto, juro! Eu não sei o que eles
pretendem, mas eu...Ah porra, porque tem que ser tão difícil?
Ela virou de costas, provavelmente tão nervosa quanto eu.
— Jacob, como eu vou sair em um ensaio com você...duro? O
que as pessoas vão dizer? — Ela não queria perder essa
oportunidade, e eu também não queria que ela perdesse.
— Que você é minha noiva?
Os últimos acontecimentos me faziam enxergar mais dela do que
eu já consegui um dia. Seus olhos verdes tão dedicados e
carismáticos, mesmo declarando uma guerra de ódio e interesses
mútuos sobre mim ainda cintilavam. Eu devia muito a ela, e eu tinha
essa ciência, e se manter afastado da minha secretária e sócia, era
algo ideal para ter um relacionamento saudável.
— Mantenha esse...arght...o mais longe possível de mim! —
Resmungou. — Ou eu juro que arranco ele na frente do estúdio
inteiro.
Eu dei um sorriso de lado. A maquiadora adentrou o local e eu saí
para deixa-las a sós.
Olhei para o meu telefone e minha caixa de e-mail não parava por
minuto algum. Aproveitei pra trocar de número de telefone e dar
apenas para aqueles que deveriam tê-lo. Além das matérias que
diziam que eu havia pagado com a língua pela entrevista com Tom e
logo depois aparecer noivo, havia inúmeras rádios, revistas e
jornalista a minha procura por apenas meia dúzia de palavras que
pudessem ser usadas às luzes dos holofotes. Mas por hora, eu não
queria desperdiçar meu tempo.
— Você! — Joseph me pegou pelo braço, arrastando-me de
volta para o cenário fotográfico. — Vamos fazer algumas fotos
enquanto Claire não vem! — Ele murmurou.
Eu tirei o roupão, enquanto uma mulher veio, com as mãos
cheias de óleo corporal passar por toda minha pele exposta. Sentei-
me na cama do cenário, sendo guiado pelo fotografo em posições
desconfortáveis, com olhos demais em cima de mim como se eu
fosse um boneco incandescente no meio de o monte de crianças. Os
flashs me cegavam. Eu soube que havia chegado o momento da
minha provação, quando Claire atravessou a luz continua em pé em
minha direção, revelando sua pele brilhante pelo mesmo liquido que
brilhava na minha. Merda, só a imagem lenta, dela caminhando, para
a cama, era o suficiente para mexer com a minha imaginação
sensível.
Eu estava desejando minha funcionária como o diabo desejava o
céu e sabia que não podia ter. Ela era boa demais pra um homem
como eu.
Na primeira pose sugerido por Joseph, eu me sentava na cama,
de costas no painel, com as pernas esticadas e Claire, sentava com
as costas coladas em meu peito, enquanto meu queixo encostava na
lateral de sua cabeça. Sua pele escorregava por causa do óleo, e
ainda sim, era sedosa, macia e firme. Se eu olhasse para baixo,
veria seus seios com perfeição. Eu conseguia sentir seu coração
batendo desesperado para que tudo aquilo acabasse e tenho certeza
que ela conseguia sentir meu peito, subindo e descendo
desesperado.
— Ma.ra.vi.lho.sos! — O manager gritou ao lado do fotografo.
— Vai ser um sucesso de vendas! — Ele riu.
A segunda pose, Claire precisava fica de joelhos, ereta, enquanto
eu, por trás dela, sentia o cheiro de seu pescoço, viciante, mas no
momento que comecei a sentir a irrigação entre as pernas, parei de
respirar. Eu estava controlando tudo com maestria, e a intenção era
que permanecesse dessa forma. Sem avarias ou estresse. Tudo
precisava terminar como havia começado. Nossos corpos estavam
colados e eu podia sentir cada milímetro da de sua pele, cada
pedaço que me ouriçava.
Nas próximas poses nós não nos afastamos, mas mantemos o
mesmo nível de proximidade. Sorte nossa que não foi pedido um
sorriso por parte do fotografo, justamente porque não havia clima pra
isso. Enquanto eu me controlava pra não ficar de pau duro, Claire
controlava o nervosismo aparente que ajudava a deixar o ar ainda
mais denso e irrespirável.
— Incrível, ficaram incríveis pessoal! — O fotografo murmurou
olhando para a câmera gigantesca em sua mão. Claire levantou,
apressada, mas antes de seu pé encostar no chão, Joseph, o
manager, protestou autoritário.
— Onde está indo?
— Não acabou? — Havia esperança nas suas palavras, mas
esperanças que logo foram assassinadas.
— Faltam as últimas, então volte já! — Joseph disse. Já
estávamos a horas ali, e nem mesmo o meu cansaço era o suficiente
para sobrepor o nervosismo. — Claire, sente-se no colo de Jacob!
Vamos esquentar as coisas. Uma dessas fotos agora, vão para a
capa do catálogo. Então caprichem!
— O que? — Claire disse surpresa. Ela havia entendido, apenas
queria ganhar tempo. E eu? Já estava fodido de qualquer forma.
Junto com a divulgação dessas fotos viria a notícia: Jacob Corbyn
não controla a ereção em ensaio da Burberry com noiva.
— Algum problema com isso?
— Eu não escutei direito! — Ela mentiu, rindo sem graça — Pode
repetir, por favor?
— Vamos fazer fotos mais espontâneas, como um casal! Você no
colo dele, beijos no pescoço! Fiquem à vontade, o estúdio é de vocês
amores! — Ele riu dando as costas, buscando algum aparelho sobre
uma mesinha ao lado de um computador virado para o lado contrário
do cenário fotográfico.
Eu fiquei quieto o tempo inteiro. Não tinha o porquê discutir. A
única atitude que poderíamos tomar, era negar aquilo e ir embora,
mas ao encarar a face de Claire, ela não tinha a menor vontade de
fazer isso.
— Deita! — Ela pediu devagar, sem muita atitude.
Joseph com um pequeno microfone, começou a dar instruções
que me foderiam em voz alta.
“Jacob, encoste as costas no painel da cama, por favor.”
“Claire, querida, fique à vontade para subir sobre ele, e por favor,
olhos nos olhos, pessoal! Atitudes de um casal”
— Desculpe, eu não... — Eu queria me desculpar, não sei por
exatamente o que, mas ainda sim não queria que ela se sentisse
mais desconfortável a cada minuto que passava.
— Cale a boca, Jacob! — Rosnou — Não me faça te odiar mais!
— Sussurrou.
Claire sentou sobre o meu colo, com os joelhos no tecido grosso
do cobertor sobre a cama, deixando seu peso cair sobre meu quadril,
no momento em que seus olhos encaram os meus eu me deixei
perder violentamente em um jogo que não soube o momento exato
de início. Seus olhos verdes tinham a pupila dilatada, a maçãs de
seu rosto estavam rosadas e não parecia ser por causa da
maquiagem. Os cliques do fotógrafo ecoavam intermináveis e
frenéticos, sem perder um movimento nosso. As mãos tímidas dela,
subiram por meus braços, apertando meus ombros, parando abertas
em meu peito. Meu corpo estava arrepiado e cada toque, e era como
um choque profundo, acordando as ideias mais mirabolantes que tive
no meu subconsciente que envolviam Claire de todas as formas.

“Deus, se mecham, vamos! Finjam que estão a sós!”

Das mãos macias dela até ordens de Joseph eram como um


combustível que queimava lentamente dentro de mim, dando ignição
aos movimentos lentos que meus dedos começavam a fazer em sua
coxa, subindo por seu quadril. Ela tirou seus dedos de mim, ficando
ereta, e eu estava admirado com a carne de seu corpo cheio e
recheado. Apertei sua cintura e pra minha surpresa, ela comprimiu
os olhos, fechando-os, sentido cada centímetro percorrido por minha
mão.
Cassete, ela estava...gostando?
Movimentei-me rápido, segurando-a pela cintura, ficando de
joelhos quando ela ainda enroscava meu quadril com suas pernas.
Eu estava duro, tão duro como madeira e tinha certeza que ela podia
sentir.
Era impossível não sentir.
“Continuem assim, está ficando incrível...”
Joseph continuou a falar, mas algo dentro do meu peito crescia
como se fosse me deixar sem respirar. Como uma sede insaciável, a
necessidade de ter o corpo de Claire mais próximo, justamente
porque com seu olhar perdido em mm, e o busto que estava sem
folego, demonstravam que talvez o ódio que ela sentisse por tivesse
outro nome. Minha boca navegou por seu ombro, sobrando
respiração contra sua pele, sentindo o aroma inconfundível que eu
reconheceria a quilômetros, que sempre esteve embaixo do meu
nariz e eu fui idiota o suficiente para não saber que ela era a dona.
Ela suspirou e eu me deitei novamente, com seu corpo encaixado
no meu. Quando deu a primeira rebolada eu me perdi, seja lá onde,
só havia Claire ali. Como se as pessoas de Londres tivessem
desaparecido e o mundo se baseasse apenas entre ela e eu. Ela
rebolou novamente, fechando os olhos e eu quase soltei um gemido.
Se ela levantasse dali todos que estavam olhando não encontrariam
somente uma ereção, mas uma cueca melada e transparente
agarrada ao meu corpo.
— Não...podemos... — Ela sussurrou contra meu ouvido. —
Não...pode... — Pediu, mas sem parar de rebolar incessantemente
contra meu quadril tirando qualquer razão que pudesse me frear.
Claire arrastou sua boca por minha orelha, e ao virar para cima, para
admirar seus olhos revestidos em prazer, encontrei sua boca,
sabendo que a sede que eu tanto sentia, enquanto seu quadril
escorregadio me amaldiçoava, vinha dela e de mais ninguém.
Espremi seus lábios com vontade, esperando um sinal de
protesto qualquer para me afastar, mas foi ela a adentrar minha boca
com sua língua doce e aveludada. E foi aí que tudo saiu de controle.
A mão quente dela agarrou os fios da minha nunca, arrancando da
minha boca um suspiro frustrado, e a outra espalmou meu peito com
seu quadril inquieto. Peguei seu pescoço com uma das mãos livre, e
apertei seu quadril com a outra.
E se algum dia eu desejei Claire tanto quanto agora, eu
desconheço.
Maldito Hardin que nunca aproveitou a mulher que tinha, porque
nem nos meus melhores sonhos eu podia imaginar que todos os
feitos resultariam na minha sócia, sentada sobre o meu colo, me
devorando com os lábios de acabar com o juízo de qualquer homem.
Nossa boca descolou e ela recuperou toda o ar que seus
pulmões gritavam para ter. Sua boca rosa, inchada, pequena por
meus beijos, seus olhos cerrados, mostravam-me uma mulher
desorientada. O barulho de palmas preencheu o espaço, chamando
nossa atenção. Todos os funcionários de pé, aplaudindo como se
fosse um espetáculo.
— Meu deus, vocês são um sucesso! Essa edição vai ser um
sucesso! — Joseph gritava.
Claire se levantou ligeira, sem me dar chances de falar qualquer
coisa, mas não tão lenta ao ponto de eu deixar minha ereção
evidente. Fiquei sentado na cama, impossibilitado de ir atrás dela.
Ela ao menos olhou pra trás quando sumiu pelo corredor dos
camarins.
Me arrumei separadamente, dando a Claire tempo o suficiente
para que ela pudesse, assim como eu, entender melhor o que havia
acontecido consigo mesmo. Eu fiquei descontrolado, instintivo e
impulsivo quando a vi rebolar daquele jeito, quando vi seus olhos se
apertarem em uma tentativa falha de controlar seu corpo que se
estimulava apenas com toques superficiais.
Eu ia ferrar com a boa relação que tínhamos, simplesmente
porque não fui capaz de isolar minhas vontades internar, que
acabaram vindo à tona quando não deviam.
Joseph veio até minha porta, para assinar alguns documentos de
direito de imagens e outras coisas, e a assinatura de Claire estava
logo sobre a minha.
— Pode chamar ela pra mim? — Eu pedi, educadamente. As
sobrancelhas ruivas dele uniram-se, em desentendimento.
— Claire? — Ele perguntou e eu confirmei com a cabeça. —
Desculpa, Jacob, mas ela já saiu e faz alguns minutos...
— Como? Desculpa...digo, ela saiu? Foi embora?
Seu sorriso morreu.
— Sim, disse que precisava ir na frente e disse que ia te ligar
depois.
Meu telefone tocou segundos depois do final da fala de Joseph.
Era um SMS dela.
“Isso não deveria ter acontecido.”
Ela não precisava ir na frente. Claire estava fugindo de mim.
Capítulo 12
Claire Blackwood

Jacob disse que eu era sócia e não precisava de permissões pra


folgar. Então foi isso que eu fiz. Parei de responder as mensagens de
Jacob depois da terceira em que ele mandava: Por favor, vamos
conversar. Estava tudo fresco demais na memória pra que nós
conversássemos. Meu próprio corpo havia me traído, eu havia traído
meu ódio, e se talvez não fosse tão bom, eu não teria chances de o
trair de novo.
Com a ajuda de Lorah, eu ia a empresa nos momentos em que
Jacob estava fora ou em reunião, fazia minha parte do trabalho e
voltava pra casa. Não era infantilidade da minha parte, mas depois
de todas as alfinetadas, ficou evidente que o prazer que Jacob sentia
em me irritar, era um prazer muito diferente, pois a forma que a sua
boca enlaçou na minha, não havia sido encenação ou mentira, pra
ele, havia sido real. E o meu corpo? Cooperou com cada um dos
seus desejos, me entregando de bandeja.
Era o meu segundo dia de falta, com mensagens que chegavam
aos montes, tanto de Jacob, quanto de amigos que botaram as mãos
nos catálogos da Burberry, que foram lançados naquela mesma
manhã. A imagem pejorativa de Jacob me segurando pela cintura
obsessivamente, com meu rosto de excitação, enquanto sua boca
degustava do meu pescoço era algo que me envergonhava, e era
também a prova de que meu ódio tinha outra nomenclatura.
Decidi ir embora no dia do ensaio, justamente porque não tinha
coragem de olhar na cara de Corbyn depois daquilo.
E Hardin? Não parou um segundo de me ligar. Quando eu tinha
tudo pra estar feliz, acaba por me tornava alguém triste.
Meu telefone vibrou pela milésima vez, mas diferente de todas as
vezes, a pessoa que me procurava, era alguém que eu atenderia em
qualquer estágio da minha vida, até mesmo na morte.
Tomei um banho e me vesti rápido como nunca, adentrando no
primeiro Taxi que apareceu a minha vista.
O condomínio de Quinn era gigantesco e depois de muito se
perder durante as visitas, eu consegui me encontrar e aprender o
caminho certo. Eu tinha tanta coisa pra conta-la, tinha tanto a falar,
mas sei que também tinha muito a ouvir e desculpas a pedir. Toquei
a companhia apenas uma vez, e quando meu dedo se preparou para
uma segunda, ela abriu a porta, com seus cabelos presos em um
rabo de cavalo e seu vestido casual de bolinhas verdes tomara que
caia. Seu sorriso era o mais sincero que eu já havia visto.
— Oi. — Ela disse — Quer entr... — Eu não deixei que ela
pronunciasse nenhuma outra palavra. Abracei seu corpo gordinho,
enluvando suas costas, sentindo seu cheiro doce. Eu havia sentido
saudade de Quinn.
— Eu senti sua falta, eu senti muito sua falta! — Exclamava sem
parar, sem dar chances para que ela pudesse retrucar algo. — Eu
sinto muito Quinn, eu sinto muito por não ter contado a você, eu
queria, mas eu não podia, eu juro que não podia, eu...
— Calma, meu deus! Você vai ter um treco. Respira, vem! Fiz o
chá de canela que você gosta! — Quinn pegou minha mão, me
arrastando até a varanda de trás, onde uma mesa com torradas,
sucos e chá esperavam-nos.
Sua varanda com o chão de paletes já havia sido feito de cama
muitas vezes quando decidíamos beber ali mesmo, até esquecer o
próprio nome. Não que fossemos alcoólatras, mas as vezes, faz bem
beber sem querer saber do amanhã.
— Quinn... — Eu sussurrei. Ela parecia tão pacifica, em um
estado psíquico de paz que eu almejei durante muito tempo. — O
que aconteceu? Porque você...sumiu?
Nós nos sentamos. Ela olhou sorrindo para a mesa, se servindo
de um suco de laranja dentro da garrafa.
— Eu fico feliz que tenha vindo, eu também senti sua falta. E eu
também devo desculpas a você por ter sumido desse jeito, não foi
justo com você, Claire.
— Eu sei que deveria ter contado a você, sei que...sei que
deveria ter falado...mais.... — Eu precisava contar do início, tudo do
início, e embora Quinn nunca tenha me julgado, esse medo agora
me rondava. — Não sei por onde começar.
— Eu posso começar se quiser. O que acha?
— Fique à vontade — Eu sorri bebendo o chá.
Ela suspirou, pronta pra começar.
— Olha, não nego que realmente fiquei chateada por seu
noivado com Jacob. Mas espero que me entenda...foi tipo assim: do
nada! Você disse que o odiava, disse que ele era um imbecil e logo
depois estava noiva dele. Entende como eu me senti? Você
escondeu de...
— É mentira, o noivado é falso, Quinn! — Sem delongas. Nunca
gostei de esticar o que não precisava ser estendido. E minha
confissão responderia muita coisa. Ela piscou seus olhos, achando
ter ouvido alguma mentira descabida, mas ela sabia mais do que
ninguém, que eu não brincaria com algo de teor tão sério.
— Noivado de mentira? O que?
Então expliquei, desde o momento em que minhas palavras no
dia do bar que foram parar, de alguma forma, no maior jornal de
Londres. Contei sobre a proposta de Jacob e também sobre Hardin e
suas ameaças e expliquei sobre a campanha da Burberry, para que
Quinn finalmente entendesse que eu não havia sido tão péssima
amiga como ele achava que eu havia sido.
— Então foi isso! — Eu completei por fim.
Ela me olhou, incrédula, e eu nem mesmo havia visto ela tocar
em seu copo de suco.
— Meu deus, que loucura! Então eu fui a idiota! Deus, eu fiquei
sem falar com você...atoa.
— Não, Quinn. Você não tinha como adivinhar que era verdade
ou mentira. Mas eu fiquei preocupada com você naquele dia, no seu
escritório, você estava chorando... — E de fato, no fundo eu ainda
achava que não era a responsável por algo tão sério.
— Estou grávida! — Disse simplesmente. Minhas informações
eram impactantes, mas nada como a que Quinn havia acabado de
me dar.
O mundo havia invertido e eu não sabia? Quinn estava grávida!
— Grávida? Tipo, vai ter um bebê? Tem um bebê dentro de você
agora? — Não que ela precisasse desenhar, mas eu queria
realmente ter certeza para pular em cima dela e enchê-la de apertos
e beijos.
— Existe outra forma de ficar grávida?
— Oh meu deus, um sobrinho! Eu vou ter um sobrinho! —
Abracei novamente, apertando seus ombros macios em um sorriso
de felicidade. Quinn era a filha mais velha de três irmãs, uma era
homossexual e a outra era casa e não pretendia ter filhos, mas para
sua mãe, ela era a única das filhas que jamais lhe daria netos, visto
que a cama de Quinn tinha alta rotatividade. E eu nunca imaginei
que ao dizer que queria sobrinhos, eles viriam tão rápido. — É por
isso que estava chorando? Está triste porque está grávida?
— Não, de forma alguma. Descobri na manhã em que te liguei
marcando um almoço. Na hora eu fiquei surpresa, mas acho que
depois aquela coisa de ser mãe bateu com força na minha cabeça, e
começou a me assustar. Por isso eu disse que se tratava de mim, e
não de você.
— E Simon, como reagiu? Eu sei que vocês se conhecem a
pouco tempo, mas vejo que a forma na qual ele fala de você é
sincera.
— Ele quer...casar! — Era notória a felicidade em seu
semblante. A família tradicional nunca foi algo que ela almejou, mas
muitas das vezes a vida faz isso, te presenteia para que você saiba
que o que você nunca quis, foi exatamente o que sempre faltou. —
Bom, Claire...Simon e eu já namoramos no passado e
nos...reencontramos.
— É...isso explica tudo! — Eu disse, apoiando o rosto em minha
mão, que tinha o cotovelo apoiado na mesa. — E você está se
sentindo bem com isso?
— Foi só um baque, mas estou bem, graças a deus! — Quinn
me respondeu. — Mas e sobre Jacob...acha que ele pode cancelar
tudo?
— Depois das milhares de mensagens, acredito que não. Não
quero conversar com ele agora, talvez amanhã no almoço.
— Não acha que possa estar sentindo algo a mais?
— Eu odeio o Corbyn, Quinn. Não tem como eu estar sentindo
algo a mais.
— A paixão muitas vezes vem mascarada de ódio.
Eu ri de sua suposição sem embasamento algum.
— Sem chances! No máximo eu o acho um gatinho!
Ela puxou a revista na cadeira na mesa, mostrando a primeira
capa em que eu estampava junto dele.
— Está querendo mentir pra você mesma, certo? Porque pra
mim, não vai colar. Isso porque eu nem abri a primeira página.
— Olha, Jacob é lindo tipo de babar, mas não tem sentimentos,
entende?
— Não vou discutir com você, Claire. — Quinn bebeu do suco,
revirando os olhos — Se você fala que é isso, tudo bem! — Alguns
goles e o copo estava vazio. — Willow nos convidou para ir ao
calcinha louca hoje! Está afim de ir?
— Estou precisando na verdade, por mim, eu topo! Mas você
pode beber?
— Coisas sem álcool sim! Nada que eu suco ou uma batida de
frutas não ajude! — Ela revelou.

(...)
Ficamos ali, conversando, botando o papo em dia. Contando-me
como havia sido seu reencontro com Simon e sua descoberta da
gestação. Contei a ela sobre meu dia a dia na Orsoft, até as
mudanças que foram feitas e que finalmente estavam dando certo
dessa vez. Vimos alguns filmes, até que desse a hora e fossemos
para o bar.
Quinn tinha carro, então dessa vez, eu dispensei o taxi. Seu
corpo era gordinho e em um estado de gravidez tão recente, ainda
não era possível ver a saliência do bebê ou senti-lo dar os primeiros
pulos em sua barriga, mas não tenho dúvidas de que Quinn estava
ansiosa para que a hora de o sentir finalmente chegasse, afinal,
dizem os sábios que a maternidade desperta o melhor nas mulheres,
não é mesmo?
Willow já estava lá quando chegamos, e ao nos ter sob campo
de visão, levantou sua taça de Gin em minha direção.
— Vocês sabem que eu nunca aguento esperar tanto! — Ela
resmungou.
— Me surpreende você não estar bêbada! — Eu disse rindo,
enquanto solicitava ao garçom uma dose de tequila.
— Só quando você chegasse, Claire! Porque felizmente não
podemos contar mais com Quinn, nossa guerreira foi abatida. — A
mulher nega, abraçou a loira, sorrindo, dando-lhe um beijo de
cumprimento na cabeça, pois notavelmente era mais alta que ela.
— Então você já sabe! — Eu praticamente afirmei.
— Pois é, dessa vez eu fui a primeira!
Tomamos boas doses, enquanto eu contava também para Willow
sobre todo o acontecimento desde a notícia nos jornais, até o
catalogo da Burberry.
— Porra, você é uma filha da mãe sortuda! Diz que aproveitou
bem daquele homem, Claire! Diz! — Willow sibilou, atenta, enquanto
Quinn gargalhava sem parar, temendo respirar e beber o suco ao
mesmo tempo.
— Nós trabalhamos juntos, Willow!
— Mais isso é uma vantagem! Diz, ele tem o pau grande mesmo
ou... — Eu tossi, abafando o som e rindo junto de Quinn. Era
impossível ficar séria. A morena exalava humor por onde quer que
passasse, e ficar sério era um desafio que poucos conseguiam.
— Eu não sei, eu só o senti duro! Mas acho que sim! — Eu
odiava ficar envergonha, como estava agora.
— Ah, mas pelas fotos que tem na internet, eu espero que
sim...e olha, vocês se pegaram mesmo! Olha essas fotos! — Ela
puxou o catalogo da bolsa, e quando folheou a página, lá estava eu,
sentada sobre o colo de Jacob, com a boca pressionada na sua,
minhas mãos em seu peito, e a mão grande dele engolindo minha
cintura e pressionando minha nuca.
— Cassete, eles botaram essas também! — Deus, só me vinha
Hardin na cabeça. Eu precisava acabar com aquilo, porque se ele
tivesse visto esta revista, certamente não viria conversar tão
amistoso na próxima vez. Eu já havia deixado o porteiro avisado para
não o deixar subir, porque nem mesmo do meu círculo de amizade
ele estava presente mais.
“Podemos conversar agora?” — Era uma mensagem de Jacob,
ignorada de novo.
— Gata, se vocês estavam fingindo nessas fotos, vocês devem
ganhar o óscar de atuação. Mas eu juro que esse homem parece
que vai te quebrar se vocês realmente transarem.
— Não vamos! — Deixei claro, mesmo que meu corpo me
sabotasse em uma próxima oportunidade de fazê-lo.
— É isso que ela diz, Willow! — Quinn chamou atenção. — Mas
me conte, como foi seu dia hoje?
Ela virou seu copo de gin, pedindo um novo para o garçom que
se apressava para servi-la. A mulher era uma esponja de bebidas.
— Meu dia foi uma merda. — A morena proclamou, admirando o
cigarro na vitrine, sabendo que ali não era permitido fumar. —
Consegui uma entrevista que ia me render um respeito gigantesco
na emissora, mas adivinha? O cara sofreu um ataque epilético e
faleceu pela manhã. Realmente só pra me foder. Mas eu juro que
entendi, deus não quis!
— Entrevista sobre o que? — Eu perguntei, curiosa.
— Sobre uma milicia no estado de Nova York e como eles
transitam de um lugar pro outro. Ele trabalhava lá dentro, ia mostrar
o rosto, mas acho que não deu tempo. E eu ainda ia entrevista-lo
ontem, mas cheguei atrasada e adiei pra hoje.
— Oh, sinto muito Willow! Talvez consiga outro em breve. —
Quinn disse, com pesar.
— Ou não. Mas vou ficar por enquanto falando mal da prefeitura
de Londres para que alguns impostos sejam reduzidos e algumas
obras saiam do estágio inicial, sempre costuma funcionar.
— E você gosta do que faz? — A questionei. Não que eu
estivesse curiosa, mas eu amava o que eu fazia, mas Willow não
tinha lá cara de tantos amores para a profissão de repórter.
— E se entrevistasse Claire? — Quinn sugeriu e eu encarei a
morena, que agora ria, com toda atenção no cigarro filho da mãe.
— Não que você seja tediosa, mas eu prefiro política, tragédias
públicas e desastres naturais, isso dá mais pontos de audiência. E
vai por mim, eu sou melhor criticando do que elogiando. — Ela
disse.
Passamos quase 3 horas conversando, trocando informações e
notícias do que havia acontecido nos últimos dias. Willow namorou o
cigarro na vitrine do caixa por tempo o suficiente até tomar as rédeas
e ir comprar, para se retirar para fumar no lado externo do bar.
— Acho que já vou indo! Vou me encontrar com Simon, ele vai lá
pra casa!
Era algo reconfortante saber que minha melhor amiga estava
prestes a forma uma família saudável. Foi algo inusitado e que me
assustou, mas não como assustou ela. Simon sempre foi um homem
mais centrado, e mesmo que essa notícia tenha mexido mais com
Quinn, eu não tenho dúvidas de que embora o susto, ele estivesse
em um estado pleno de felicidade. Afinal, toda criança que chegava
na recepção da empresa, ele era o único capaz de dedicar alguns
poucos minutos do dia para lhes dar atenção, no meio de tanta gente
engravatada que ao menos lhe daria um olhar decente.
— Tudo bem! Eu vou pra casa. — Eu murmurei. Eu precisava
sentar no box do meu chuveiro, e pensar em como eu conversaria
com Jacob e também quando. Éramos dois adultos e talvez o fato de
ter correspondido tão ativamente a cada um dos toques dele, me
deixaram sem muitas palavras. Eu adoraria dar uma de maluca e
fingir que absolutamente nada havia acontecido, mas ele não
deixaria isso passar sem um discurso de “Ah Claire, foi no calor do
momento, eu sou homem e bla bla bla”
— Simon está lá fora, vamos! — Quinn se levantou pagando a
conta, passando na frente. Nós despedimos de Willow que entrou no
bar de novo para beber. E quando chegamos na esquina do bar,
avistamos o carro de Simon, mais logo a frente, também estava
estacionado um carro que eu conhecia muito bem. Jacob abriu a
porta, saindo de dentro dele agasalhado, com sua face séria, me
encarando minuciosamente, querendo uma explicação que pra ele
agora, valia de milhões!
Quinn adentrou no carro de Simon, acenando e sorrindo em
minha direção.
Jake se aproximou, atravessando a rua, com seus cabelos
bagunçados, a barba ainda maior, deixando seu rosto estupidamente
belo, e o nariz vermelho de calor.
Estávamos cara a cara.
— Vai me ignorar aqui também?
Capítulo 13
Jacob Corbyn

Claire estava surpresa obviamente. Quinn não sabia que eu


estava com Simon no momento em que ela ligou e o pediu para
busca-la, alegando estar na companhia de sua melhor amiga.
Uma coisa era me ignorar pelo telefone, e estar presente na
empresa apenas nos momentos da minha ausência e outra bem
diferente era me ignorar cara a cara. Eu sabia que ela não tinha essa
ousadia.
— Ah...você? — Ela disse indiferente. — Quinn sabia disso?
— Na verdade não, mas não importa! Porque não atende minhas
ligações?
— Preciso dar esclarecimentos a você? Eu só queria...um tempo
sozinha. — Ela disse, apertando o casaco de couro contra seu corpo,
tentando fecha-lo o mais rápido possível.
— Vamos, entre no carro que vou deixar você em casa! — Estava
tarde. Eu não a deixaria ganhar caminho sozinha pra casa mesmo
que fosse de condução particular, afinal, eu queria estar com ela,
sentia falta dela.
— Vou de táxi!
— Não foi um pedido! — Não olhei pra trás, continuei andando
até meu carro, mas eu sabia que ela ainda estava parada lá, se dar
um passo sequer.
— Você não manda em mim!
— Se for necessário levo você no ombro.
— Você não é louco... — Ela cruzou os braços, flexionando uma
das pernas, jogando o quadril de lado com certa marra.
Eu gargalhei. Ela definitivamente não me conhecia.
— Se diz isso é porque realmente não me conhece, Claire! —
Bati a porta do carro, andando novamente em direção ao seu corpo
assustado do outro lado da calçada. Antes que eu a erguesse pela
cintura, ela protestou, com as mãos na frente do corpo.
— Tá, tá, tá, entendi! Eu vou! — Concordei, arrancando de mim
um sorriso vitorioso.
Entramos dentro do carro e não houve um momento em que eu
não olhasse para seu rosto, oscilando minha atenção entre a estrada
e ela. No dia do ensaio, depois de descobrir que Claire simplesmente
fugiu do estúdio para não ter que olhar na minha cara depois de
rebolar devagar no meu colo, fazendo-me quase rasgar calcinha e
cueca para sentir sua macies interna. Foram duas horas debaixo de
água gelada na tentativa árdua de tirar da minha cabeça a imagem
de sua boca entreaberta e seus olhos comprimindo-se em uma falha
de controle interno. E tudo que eu queria era pedir desculpa, olhar
dentro de seus olhos para saber se seu corpo arrepiado havia sido
pela minha boca que banhou sua pele ou pelo frio ambiente ali
dentro.
— Porque foi embora? — Perguntei. Éramos grandes o suficiente
para não rodear o que provavelmente eu queria saber, mas por sua
fuga, ela não queria responder.
Claire continuou olhando pra frente, ignorando meu olhar
querendo encontrar o seu.
— Podemos pular essa parte em que você diz que não resistiu,
que eu estava com pouca roupa e que não foi nada e que devemos
ser profissionais, aí eu vou e respondo que sim, que foi um erro e
que vamos fingir que nada aconteceu. — No fim ela já estava sem
folego.
— É isso o que você acha que eu diria pra você?
— E não é isso? Afinal, sua noiva não nasceu ainda, certo?
Ela estava irritada. Mas porquê?
— Minha noiva está sentada do meu lado. Não diga baboseiras!
— Sibilei, fitando o sinal entrar no vermelho. — Inclusive, a parte de
que eu não resisti é verdade! A segunda é que mesmo achando que
deveríamos nos portar de forma profissional, eu gostei bastante do
que aconteceu.
E finalmente eu pude obter sua atenção. Seus olhos estavam
arregalados e parte de seu rosto, não totalmente estava virado pra
mim agora. Como se eu tivesse dito qualquer obscenidade, mas na
verdade, tentei usar a sinceridade, possivelmente piorando a
situação.
— Você o que?
— Eu gostei, e eu sei que você entendeu o que eu disse. Olha,
somos adultos, e não precisa ficar mentindo... — Eu estava prestes a
ofertar a ela, algo a mais do que um profissionalismo mentiroso.
— Eu só beijei você pelas...fotos. — Ela nunca mentiu tão mal.
— Sabe o que é pior, Claire? É que você sabe que gostou,
rebolou no meu colo mais vezes do que posso contar, mas vai
mentir, e vai mentir porque não quer ter que olhar na minha cara e
dizer que também se sente atraída por mim, vai mentir porque não
quer deixar de lado esse discurso de ódio contra mim.
Seus olhos verdes cerraram em minha direção. Eu a estava
deixando irritada.
— E inclusive meu discurso de ódio ainda está de pé. Eu continuo
achando de você a mesma coisa.
— Claire, não tem cabimento você sentir tanto ódio de mim...atoa!
— Atoa? — Ela riu, esfregando seus joelhos com as mãos. —
Jacob, olha tudo que você já fez, a entrevista, a forma como sempre
me desafiou, como se minha entrevista de admissão impossível
tivesse duração de anos!
— Eu já pedi desculpas. Vai continuar insistindo nisso? Batendo
na mesma tecla?
— Quantas vezes for possível. — Ela disse.
Eu queria acabar o clima denso entre nós. Eu juro que queria.
Mas ela era como uma gata arisca que me arranharia por inteiro se
eu desse um passo a mais em sua direção.
— Eu quero apenas que você pare de dizer isso! Que me
deixe...em paz! Vou continuar sendo sua noiva em troca do que foi
combinado, até não ser mais necessário. Não foi isso que
combinamos? Você parece que está me cobrando...
— Eu só quero que tenhamos uma boa relação como duas
pessoas responsáveis.
— E estamos tendo! — Eu exclamei. Não entendia aonde ela
queria chegar.
— Então esqueça o que aconteceu lá! — Ela quase gritou. Eu
não disse mais nada, apenas abaixei a cabeça, olhando para baixo,
onde era o assento do motorista. Eu estava em frente ao seu prédio.
Se arrependimento matasse, eu não teria deixado me levar no
ensaio, e nem mesmo o teria aceitado, pois quem sabe, ainda
poderíamos estar rindo da piada um do outro outrora.
— Boa noite, Claire. — Não fui ignorante. Mas minha saudação
foi exatamente a mesma que eu dava para Helen do almoxarifado.
Sem a euforia de poder vê-la no dia seguinte, mas de forma surpresa
e intuitiva ela não saiu, ficou apenas olhando pela janela. — Claire?
— Agora não... — Ela sussurrou consigo mesma. — Pode me
deixar na próxima esquina?
Mas o que estava acontecendo?
— Próxima esquina? Mas seu prédio não é esse? — Questionei
tentando olhar em seus olhos, mas ela estava atenta em um homem,
parado na porta da calçada, sentado sobre o capô de um carro verde
tom de merda.
— É...por favor, só me deixa ali na esquina. — Ela pediu
novamente.
Eu demorei a assimilar o que estava acontecendo. Mais ao braço
cruzado e cara de marra do homem ali, de frente ao portão do
condomínio, até o rosto aflito dela, olhando fixamente em sua
direção, eu diria com toda certeza que aquele ser a esperava, e se
eu não estivesse enganado, era Hardin, seu ex-namorado.
— Não me diga que aquele é Hardin, seu ex-namorado. — Eu
perguntei sabendo que tinha acertado quando ela me olhou ainda
mais assustada.
— Olha, eu posso resolver...
— Nem fodendo! Se você não quiser sair, saio eu! — Eu sorri
energético. Desligando o motor, abrindo a porta e botando o primeiro
pé pra fora, chamando a atenção dele, que desceu do capô do carro,
ainda sem entender quem eu era.
— Jacob, volta aqui! — Claire estava mais atrás, e pelo barulho
fresco da porta abrindo, acreditava que ela ao menos tivesse
descido.
— Hardin? — Eu questionei, e na hora em que ele inflou o peito
de ar, tentando transparecer mais valente. Me deixava enojado.
— Presumo que seja, Jacob Corbyn! — Ele riu, frente a frente
comigo.
— O noivo de Claire! — Eu o respondi, atingindo algum lugar
sensível dentro de sua cabeça, o fazendo estalar a língua no céu da
boca, dando um sorriso que ficou insustentável quando viu sua ex-
namorada sair de dentro do carro e parar atrás de mim.
— Vamos voltar pro carro e vamos pra outro lugar! — Ela
sussurrou atrás de mim, evidentemente querendo evitar maiores
conflitos. Mas Hardin, tinha cara de que gostava deles.
— É falta de educação dar as costas pra quem te procura, meu
bem! — Dei alguns passos à frente. — Vamos deixar que Hardin diga
o que veio fazer no seu apartamento!
— A sós, Claire. Vamos subir eu e você pra conversar! — O ex-
namorado dela disse.
— Nem por cima do meu cadáver! Sem dúvidas. — Falei. Ele
começou a rir se aproximando de Claire, mas fiz questão de quebrar
essa ação, entrando na frente dela. — Diga o que quer, de onde
está! Pelo que sei, vocês não têm mais nada a tratar!
Ele esfregou a cara, e pela vermelhidão que não era pelo atrito de
céus dedos, eu sabia que o ódio comia o sangue por suas veias, e
cada palavra minha servia de alimentar para explodir com tudo.
— Claire e eu não terminamos, só demos um tempo. Então a 5
dias atrás eu vim aqui, e ela combinou comigo que cancelaria esse
noivado e eu a perdoaria. — Aquilo me causou um incomodo
gigantesco na qual eu não soube explicar. Ele falava dela como se
pertencesse a ele, e ela não pertencia. Mesmo que no fundo eu
quisesse, nem minha ela era. — E eu vim aqui trazer todas as
minhas roupas de volta e...
Olhei para o rosto pálido dela.
— Isso é verdade?
Ela apertou as mãos umas nas outras, alternando seus olhos
para a mão na cintura de Hardin e os meus olhos expressivos que
guardavam dela uma explicação plausível para a alegação chula de
seu ex-namorado.
— Eu não combinei nada com Hardin, eu juro! Ele quem disse
que eu tinha 5 dias para...cancelar com você e eu...e eu ignorei!
— E porque não me disse nada? Porque o está protegendo?
Porque não me contou, Claire? — Eu sussurrei, vendo-a fechar os
olhos, provando do veneno de toda sua omissão.
— Vamos pra outro lugar...por favor, Jacob! — Ela não queria
ficar ali, e depois de ver o tom da voz de Jacob, eu também não
queria que Claire ficasse ali, nem agora, e nem nos próximos dias.
— Não dá pra só ir embora. Vamos pra uma delegacia! Ele te
ameaçou! O que mais esse cara não vai fazer?
— Só me tira daqui... — Ela pediu novamente.
— Tudo bem! — Concordei.
— Se entrar no inferno desse carro de novo, eu juro que vai se
arrepender pro resto da vida, Claire! — Hardin a ameaçou trincando
os dentes, fechando os punhos em raiva, e fuzilando a mulher que
ele dizia ser dele, mas aquilo só acendeu um lado meu que a muito
tempo já não dava as caras, um lado meu, que poucos conseguiam
expulsar pra fora e ninguém conseguiu por pra dentro novamente.
— Como é que é? — Exclamei devagar. A mão feminina segurou
meu pulso, mas era tarde demais, porque pra me parar ela precisaria
de muito mais do que isso. Cheguei a um ponto de raiva do imbecil
que qualquer palavra que saísse de sua boca, seria como jogar
álcool na fogueira.
— Quanto deu a ela pra abrir as pernas? Pra ela estar falando
baixinho assim com você acredito que não tenha sido pouco... —
Tudo aconteceu tão rápido. Antes dele terminar, meu punho cruzou o
ar, despejando toda força na lateral de seu queixo, fazendo-o se
jogar para cima do carro, cambaleando. Alguns dentes a menos não
fariam falta.
— Não, meu deus! — Ouvi ela gritar atrás de mim. Esse cara era
louco? Como ele podia fazer conotações tão sujas a respeito de uma
mulher que ele pretendia ter de volta?
— Deixe essa língua imunda atrás dos dentes antes de falar de
Claire, me entendeu? Filho da puta!
Hardin riu, ainda com a boca sangrando, passando os dedos
pelos lábios identificando o sangue que escorria de si próprio. Havia
um sorriso, manchando seus dentes.
— Eu li sobre você! — Ele exclamou, limpando o sangue que
descia por seu queixo — Jacob Corbyn, o empresário mulherengo
que não consegue parar com uma mulher. — Ele riu, ficando de pé
— Depois que você se cansar dela, é pra mim que Claire vai correr
de volta!
— Cale a merda da boca, Hardin! Nem que você seja o último
homem no mundo eu vou te procurar de novo! — Claire se pós ao
meu lado, com os olhos que lacrimejavam e só não manchavam seu
rosto porque seus dedos foram mais rápidos, enxugando o liquido
salgado. — Vamos, Jacob!
Eu andei para o carro quando Claire já havia aberto sua porta do
passageiro, mas meu sangue ainda estava quente o suficiente para
deixar passar qualquer outra fase imbecil do cara que queria fazer de
tudo pra me tirar do sério.
— No fim você conseguiu o que queria, Claire. Um filho da puta
que enchesse sua boceta de dinheiro... — E dessa vez em passos
rápidos e certeiros, meu punho afundou em seu rosto. Hardin não
deixaria barato também, acertando um soco dolorido em meu
supercilio. Ele caiu sentado no chão, desorientado. Eu teria
avançado sobre ele, mas senti os braços pequenos me puxando pelo
ombro, temendo o pior, diante do meu estado de desiquilíbrio com
tantas sujeiras sendo ditas sem pudor ou respeito algum. Eu queria
socar seu rosto até que virasse uma bola de carne inútil.
— Não, não, não, para, para, por favor! — Ela exclamava
desesperadamente em meu ouvido. Havia uma raiva crescente
dentro de mim, algo gigantesco que só passaria depois que
descontasse sobre Hardin a fúria que ele mesmo provocou. Fechei
os olhos e o punho de forma automática, dando no chão, um soco
mais forte que eu podia, sentindo logo a dor intensa no punho, e
consequentemente no supercilio pelo soco forte.
Daniel, o porteiro saiu para a calçada, ajudando Hardin a se
levantar com a mão no nariz, de onde escorria uma quantidade de
sangue considerável, por provavelmente estar quebrado.
— Meu deus! — O homem disse ao ver o estado de Hardin. —
Acho melhor vocês irem embora, eu cuido a partir daqui!
Eu continuei o encarando, amparado no carro que provavelmente
era seu.
— Vamos Jacob! — A loira atrás de mim disse. Eu ainda estava
perdido diante de toda aquela cena. Claire assustada, meu punho
sangrando junto do ferimento no supercilio, e o sangue de Hardin
que cobria boa parte de seu corpo. — Jacob! — Ela gritou.
Entrei dentro do carro, respirando fundo, em um misto de
continuar lá, para garantir que ele ficasse muito pior. O que Claire
havia passado na mão dele? Que tipo de relacionamento tinham
para que ele faltasse com tanto respeito por alguém que tenho
certeza que alegou a amar? Porque alguns homens iam ao
extremismo por um ego descabido que só prejudicava ao próximo?
Eu jamais faria isso, nunca fiz, e repudiava quem se pusesse a fazer,
assim como ele fez.
Minha respiração era mais audível do que qualquer coisa. Meu
coração parecia disputar uma fuga de meu peito quando eu o sentia
bombear litros de sangue, quente, que corria ligeiro.
— Você não vai voltar pra lá! Não até isso acabar, me ouviu? —
Não havia muitas opções. Acontece que Claire, ainda que capaz de
guardar rancor pelas pessoas, era boa demais para prejudicar
alguém tão diretamente. E abrir uma ocorrência contra Hardin,
acabaria fodendo com sua vida em diversos aspectos. Ameaçar uma
mulher era algo sério demais para tratar com tanta normalidade.
— Você tá ficando doido? É meu apartamento! Pra onde eu vou?
Eu não conseguia tirar os olhos da pista. Apertando o volante
como se fosse o pescoço de Hardin entre meus dedos rígidos de
raiva.
— Pro meu apartamento, Claire. É lá que vai ficar! — Disse. —
Seja sincera e me diga, o que aconteceria se você tivesse ido de
táxi? Hein? Acha que ele receberia você com rosas?
— Eu sei me defender!
— O cara te ameaçou, porra! Ele estava com ódio de você! — Me
exaltei, mesmo sem querer. Pra mim era um absurdo tanta inocência
vinda dela, achar que Hardin naquele estado, não seria capaz de
fazer nada para ferrar com sua vida. — Londres inteira viu o catalogo
da Burberry! E você acha mesmo que naquele estado, tendo visto
todas aquelas fotos, ele ia conversar com você? Acorda! Conversar
civilizadamente seria a última coisa que Hardin faria!
— Mas isso não foi motivo para que você o agredisse! — Claire
retrucou.
— Ele te expos como uma vagabunda, te desrespeitou e você
acha que eu fiz muito? — Esperei o porteiro do prédio finalmente
abrir o portão da garagem. Entrei e estacionei na vaga. Claire foi a
primeira a descer, batendo a porta.
— E você perdeu o controle! Ele não ia divulgar pra nenhuma
mídia sobre nosso relacionamento recém terminado.
Claire não podia ser tão inocente quando eu achava que ela era.
Sem chances.
— Você acha que se trata sobre isso? — Perguntei incrédulo. —
Foda-se os jornais! Me entendeu? Ele não te respeitou!
E então, ela explodiu, como eu nunca havia visto.
— Você também não me respeitou naquela droga de entrevista e
não foi por isso que mereceu ser agredido! — A porta do elevador se
abriu e nós entramos. Meu pulso sangrava desde quando eu entrara
no carro em frente ao condomínio de Claire. Não só estava
machucado, como havia no mínimo dois tipos de corte diferentes que
sangravam cada vez mais à medida que eu abria e fechava a mão.
— Então é isso? Vai continuar defendendo-o?
— Não estou defendendo-o, Jacob! Mas qual foi a necessidade
de você se descontrolar e destruir a cara dele daquela forma?
— Ah, então é isso? Eu tenho que pedir desculpas? Quer saber,
Claire? Eu fiz pouco, deveria ter feito mais! — Eu sai do elevador,
vendo-a me encarar, passando pela porta de entrada do
apartamento. — Eu fiquei furioso quando vi ele falando de você
daquela forma, quando vi ele...te botando no lugar de uma meretriz e
eu só pensei em quebrar a cara dele e mais nada. Sobre a
entrevista, eu juro que sinto muito, eu juro que se pudesse voltar no
tempo, eu não teria dito nada daquilo, mas eu disse e estou a dias
tentando provar isso pra você. Mas de uma coisa tenha certeza,
posso ter errado, mas eu nunca, nunca falaria de você como Hardin
falou, como se você fosse uma mulher barata. — Eu respirei fundo,
observando seu olhar sobre mim. — Não quero que volte pra lá. O
que precisar pode pedir para Elsa! Porque se você voltar lá, e
qualquer coisa acontecer, Hardin vai virar comida pra peixe na
manhã seguinte. Fique à vontade, a casa é sua! — Fui seco.
Completamente seco e direto.
Não fiquei para ver sua face ao entrar em meu quarto. Eu
precisava de um banho gelado, e dessa vez não era porque meu
corpo estava quente de desejo, mais porque eu precisar guardar
dentro de mim, toda aquela raiva que não devia ter sido exposta.
Talvez as coisas seriam bem mais difíceis do que eu achava que
seriam.

(...)

Sentei em minha cama, olhando para o teto, com a mão inchada,


dolorida e seca de sangue. Passei o dedo em minha testa também
dolorida. Não sei quanto tempo fiquei ali, sentado, perdido em
pensamentos que não eram centralizados. Era como se eles fossem
bolhas que flutuavam no ar, e eu apenas os olhava passar sem
querer adentrar qualquer um deles.
Quem me dera problemas fossem resolvidos sem precisar se
aprofundar neles. Passei muito tempo querendo crescer quando
criança para quando me tornasse um adulto, eu passasse cada dia
me arrependido de ter desejado tanto o que eu nem mesmo
conhecia. Minha empresa, meus funcionários, tudo era minha
responsabilidade, mas ainda que cheio delas, eu queria tornar Claire
minha responsabilidade também, não só ela, mas até mesmo seus
problemas. Foi idiotice, descontrole e tolice agredir Hardin daquela
forma, mas a verdade é que eu a conhecia tempo o suficiente para
afirmar que nenhum daqueles adjetivos sujos se encaixavam em sua
personalidade. Claire era incrível e talvez ele não tenha feito o
bastante para extrair essa essência boa que ela tinha, e mesmo que
no fundo nem eu tenha feito, eu passaria a fazer, pra ter dela, muito
mais do que a sócia de sucesso ou a noiva de mentira, mas sim, a
minha noiva de mentira.
A água esfriou minha cabeça, tranquilizou meus pensamentos,
mas também queimou minhas novas feridas, na qual eu havia
ganhado de brinde naquela noite.
Foi uma promoção oferecida da vida: Defenda a mulher que
deseja e ganhe alguns cortes de brinde.
Eu sai, me enxuguei, vestindo apenas uma calça moletom. A
temperatura externa não estava tão quente, mais ainda sim eu soava
um pouco, nada que não passasse com o tempo. Os pensamentos
ainda estavam um pouco acelerado, então o corpo também se
mantinha da mesma forma.
Joguei água no rosto, notando que precisava limpar
decentemente o machucado em minha testa e em minha mão. O do
supercilio ainda sangrava um pouco, o da mão, apenas estava
inchado, onde eu rezava pra não ter quebrado ou deslocado algo,
pois medindo a dor nos ossos, eu diria que havia uma enorme
probabilidade.
Peguei uma toalha, para secar o rosto devagar, tomando cuidado
para não piorar o corte.
— Se passar a toalha vai sangrar mais! — Olhei através do
espelho e lá estava ela. Em pé, com uma pequena caixa branca nas
mãos, vestindo um short minúsculo, e uma blusa, deixando sua
barriga lisa de fora.
O que ela estava fazendo ali? Mas cedo seu semblante parecia
chateado o suficiente para não querer me olhar na cara.
— Achei que já estivesse dormindo! — Falei, secando o queixo e
o pescoço, sem olhar para seu rosto, mesmo no espelho.
— Achei que talvez você precisasse de um curativo. — Ela
murmurou, fitando o chão. Eu passei por ela sentando-me na casa,
botando a toalha em meu ombro. Encostando os cotovelos no joelho.
Ela se aproximou com a caixa, que na verdade era de curativos, na
qual eu nem sabia que existia na minha própria casa. — Espero que
não se importe, eu pedi a Elsa! Você socou o chão, pode ser que
tenha entrado bactérias e inflame...
— Obrigado! — Eu murmurei, olhando seus joelhos. Tentando
fixar meu olhar somente ali, para que minha mente não pregasse
peças novamente. Eu pensava demais em Claire, e tê-la ali, daquela
forma, me desconcertaria novamente. Eu não queria isso. Nunca me
aconteceu, e eu nunca precisei me controlar, não até agora, quando
a presença dela ultimamente era uma ameaça para os planos solo
que eu tinha.
De um noivado de mentira para uma paixão arrebatadora de
verdade.
Ela agachou na minha frente, eu a encarava, vendo-a prestar
atenção ali, pegando o álcool, passando pelo algodão, dando batidas
de leve na ferida em minha mão, de forma delicada. Recuei
levemente a mão quando senti queimar. Claire fez um curativo
habilidoso para vedar qualquer inflamação. Subiu, pegando meu
queixo, obrigando-me a encara-la. Acariciou de proposito minha
bochecha, as sobrancelhas, encarando meus olhos.
— Me desculpa por hoje! Você estava certo! Eu preciso pedir uma
medida protetiva contra Hardin. Eu não gosto de violência extrema,
Jacob, embora você tenha feito pra me defender e eu peço obrigado
por isso. — Ela passou um pequeno algodão úmido de água.
— Me desculpe por ter...agredido ele. Eu não deveria ter feito
isso, deixei a raiva falar mais alto.
— Shhh! Já aconteceu. E você está assim, machucado por culpa
minha. Eu devia ter resolvido isso a muito tempo. Deixei Hardin
chegar longe demais! — Ela depositou o joelho na cama, entre o vão
em minhas pernas, com seu corpo quase colado no meu, dando
atenção ao corte. Aquela aproximação fazia meu corpo esquentar
novamente, trazendo lembranças da última vez que estivemos tão
próximos um do outro. — Feche os olhos, o álcool vai fazer seus
olhos arderem! — Ela sussurrou.
Eu os fechei, sentindo seus dedos delicados, passaremos por
meu rosto, montando um pequeno curativo no supercilio. Então seus
dedos saíram de meu rosto, e eu abri os olhos, percebendo que
Claire me encarava, me admirava de alguma forma, seja ela genuína
ou carnal. Meus dedos pousaram acima da beirada de seu short, na
pele nua de sua cintura. Eu queria beija-la, provar novamente da sua
boca que se provou tão inesquecível.
Mas eu não podia cruzar uma linha tão séria novamente. Eu
precisava de mais do que uma reciprocidade de carinho para
ultrapassar o limite que Claire havia deixado claro no carro que não
queria ultrapassar.
Deixei minha testa cair em seu diafragma, vencido, e cansado de
uma vontade que tomava tanto de mim. Eu já estava fadigado de
tentar esconder o que Claire não era cega para não ver.
Ela depositou um beijo em minha cabeça, retirando o joelho da
cama, se distanciando, fazendo meus braços esticarem e deixarem
seu quadril largo.
— Acho melhor você ir pro seu quarto dormir, Claire. — Eu
murmurei. Eu a encarei. Ela estava deixando o quarto.
— Boa noite, Jake. — Ela disse. E desconcertado com apenas
uma aproximação, tudo que eu consegui fazer foi dar um sorriso para
seu olhar carinhoso.
— Ainda me odeia?
Ela deu uma risadinha.
— Só um pouquinho!
Capítulo 14
Jacob Corbyn

Alguns dias se passaram. Claire solicitou uma medida protetiva


contra Hardin na manhã seguinte ao acontecimento e concordou em
ficar em meu apartamento até que o nosso acordo terminasse.
Começamos a ir juntos para a empresa, e mesmo que as vezes que
eu tivesse de ir resolver outras coisas, agilizava para que ela
pudesse ir para casa de táxi. Nosso relacionamento havia
melhorado, embora muitas das vezes apenas para vê-la irritada eu a
alfinetava. Haviam duvidas que pairavam sobre minha cabeça se
todo aquele ódio não era algo mais refinado e profundo do que eu
achava que poderia ser... mais somente o tempo diria.
Passei o último dia longe de Claire, agilizando todos os
preparativos da festa de gala que receberia metade de Londres a
alguns empresários e sócios da Orsoft. Não que fosse muita coisa,
pois uma empresa especializada em festas empresariais havia sido
contratada.
— Bom, acho que é isso! — Eu disse para Simon estirado em
minha cadeira, em um estado de reflexão intensa. — Vai trazer
Quinn? Aliás, o lance ficou sério entre vocês!
Ele não levantou a cabeça, apenas me olhou de relance.
— É...mais sério do que eu imaginava.
Fiquei curioso com suas palavras.
— O quão sério?
— Sério tipo, ela está gravida!
Eu me levantei da poltrona, olhando assustado. Simon seria pai?
Não que ele fosse mulherengo, muito pelo ao contrário. Ele tinha um
bom senso de humor, assim como costumava ser um homem
perfeitamente responsável. Não fiquei assustado, muito pelo ao
contrário, fiquei feliz, porque o conhecia a muitos anos e sabia que
ainda que tivesse um gosto seletivo para mulheres, não poderia
escolher uma melhor, uma que ele amasse.
— Cara, que loucura! Meus parabéns! — Me levantei, apertando
sua mão e quando ele levantou, lhe dei um abraço amistoso. —
Quando descobriu?
— A um tempo! Desculpa não ter contado.
— É a sua vida, Simon! Mesmo que seja meu amigo, sei que teve
suas razões pra segurar essa notícia em particular. — Falei, pegando
meu paletó na cadeira de Claire, que ficava ao lado da minha. —
Estou feliz por você, de verdade. — Dei uma risadinha — Mesmo
que não consiga ver você trocando fralda, vai ser bacana
acompanhar isso de perto.
— Você também não será uma exceção. — Ele me acusou.
Ah meu amigo, se ao menos Claire se deitasse sobre a minha
cama eu lhe daria razão.
— Acabei de noivar! Uma coisa de cada vez.
Ele riu comigo. Entramos no elevador para ir pra casa.
— Aliás, eu estava vendo o vídeo de segurança para saber onde
tinha enfiado a chave do meu armário esses dias, e encontrei uma
cena estranha entre Claire e Lenon. — Simon coçou o cabelo com
um sorriso sem graça no rosto, como se tivesse cometido alguma
gafe.
— Cena estranha?
— Não tinha áudio. Eles pareciam discutir no setor jurídico, ele se
aproximou e ela despejou um copo de água em seu rosto e saiu
andando.
Lenon vinha sendo abusado comigo a muito tempo. E saber que
ele de alguma forma estava a desrespeitar Claire de alguma forma,
talvez não me deixasse surpreso, justamente pelo fato de que ele
não concordava com ela ter se tornado a sócia, e para ela ter
chegado ao ponto que chegou, ele realmente havia a tirado do sério.
Mas isso eu poderia conversar com ela em algum outro momento
mais propício.
— Vou conversar com ela depois do baile. — Eu disse —
Obrigado por me contar.
Fui pra casa, mas antes passei em uma das lojas da Pandora,
para dar a Claire, um presente digno para uma grande noite. O
centro de Londres era estava cheio e não foi difícil estacionar o carro
e sair de lá depois. Ao chegar, Elsa já estava se retirando para seu
quarto depois de ter realizado suas tarefas. Me cumprimentou
quando chegou e avisou que minha noiva de mentirinha, ainda
estava se arrumando.
Bati na porta do quarto sem um retorno do lado de dentro. Abri
vagarosamente a porta encontrando o quarto vazio, com apenas a
caixa preta do vestido que pedi que Claire escolhesse, de acordo
com seu gosto. Mais o barulho do chuveiro, contava-me que ela
estava a se banhar.
— Claire? — Eu perguntei.
O barulho da água cessou.
— Sim? — Ela questionou do lado de dentro. — Jacob?
— Trouxe um...colar pra você usar!
Ela saiu do banheiro, enrolando em uma toalha branca que não
cobria metade de suas coxas. Eu estava dormindo sobre o mesmo
teto que essa mulher a dias e não houve um dia em que eu não
mentalizasse arvores em minha mente no lugar de seu corpo sedutor
e de seu sorriso encantador. Seus cabelos estavam molhados, e
seus pés deixavam marcas molhadas no porcelanato do quarto.
— Não...precisava! — Ela exclamou, sorrindo como se a cena
dela de toalha não me fizesse falhar a respiração.
— É...eu vou me arrumar! — Eu disse, saindo de dentro do
quarto. Entrei em meu quarto, trancando a porta até o limite de onde
a chave virava, e adentrei o banheiro, tirando as roupas como um
louco, adentrando o chuveiro, tirando aquela as peças que pareciam
esquentar ainda mais meu corpo, mas diferente das outras vezes, a
água gelada não estava sendo o suficiente. Estava ficando cada vez
pior, cada vez mais indigerível, e cada sorriso que Claire me dava, ou
a simples presença dela diante de mim, era o suficiente para que eu
sentisse como se alguém apertasse meus pulmões com as mãos.
Eu precisava me aliviar sozinho. Eu estava duro embaixo do
chuveiro, sensível ao meu próprio toque. Encostei a cabeça na
parede fria, sentindo o liquido escorrer por meus ombros, corpo
abaixo. Massageei a cabeça do pau de forma circular, sentindo-o
tremer e latejar em meus dedos. Alternei as massagens entre a
glande e a metade dele, sentindo minha excitação aumentar a cada
investida, pensando em como poderia ser Claire, se seu interior era
tão quente como eu achava que era, se ela era tão macia e cheirosa
como eu achava que ela era. Aumentei os movimentos, fechando os
olhos, flexionando os joelhos, e os músculos do quadríceps,
enquanto sentia meu corpo dar espasmos intercalados e os jatos de
leite viscoso sujarem a parede, me libertando daquela pressão,
daquela vontade que me perseguiria por muito tempo até que o
acordo com Claire finalizasse.
Me vesti impecavelmente, e fui até seu quarto, sem entrar ou
tentar vê-la.
— Oi? Já está pronta?
Ouvi o barulho de algumas coisas caindo no chão junto de
passos apressados.
— Não entra, não tô pronta! — Ela disse afobada — Devo
demorar mais uma hora...
— Se importa se eu for na frente? Peço pra um dos motoristas do
salão pegar você aqui! Eu gostaria de recepcionar os convidados, se
importa?
— Não se preocupe comigo. Eu vou com Quinn de carro, ela
disse que passaria aqui!
— Então te vejo lá? — Perguntei.
— Até mais tarde. Qualquer coisa é só me ligar!
Sai de quarto com pressa, já atrasado, em direção ao palácio
Buckingham, que graças a amizade de minha mãe com a rainha da
Inglaterra, havia concedido a honra de fazer tudo no salão principal.
Capítulo 15
Claire Blackwood

Eu estava deslumbrante de uma maneira estranha que era


surpresa até pra mim. Assim que havia visto o vestido em uma vitrine
na loja, soube que ele era meu. Jacob precisava de holofotes e com
esse vestido eu daria isso a ele.
A peça era na cor preta, com lantejoulas que cobriam todo o seu
tecido. O vestido ia até os pulsos, com um decote estravagante entre
os seios, que descia entre o vale dos seios até o início do diafragma.
Ele era justo no corpo, com uma fenda na coxa direita mostrando
ainda mais pele do que o decote superior. Meus cabelos estavam
soltos, lisos e escorriam do ombro, até a lateral dos seios.
O colar que Jacob havia me dado era na verdade uma
gargantilha de brilhar grossa, que ficava justa em meu pescoço. Era
linda!
Encontrei Quinn no estacionamento e fomos para o centro de
Londres. Ela estava linda com seu vestido de gola alta em cetim de
mangas na cor pêssego. Deixamos o carro com o manobrista e no
momento em que eu pude ver a entrada do palácio, dentro dos
portões, todos os olhos se voltaram pra mim.
— Deus Quinn, estão todos olhando pra nós! — Eu exclamei,
envergonhada, tentando manter uma postura adequado, mas por
dentro eu queria acenar para todos como eu fazia quando criança.
— Todos estão olhando pra você, amiga! — Ela sussurrou. Os
fotógrafos se concentraram em nós, com flashes e alguns tentavam
nos alcançar para extrair alguma informação, algum furo ou alguma
atenção demasiada. Eu acenei para alguns que eram impedidos de
se aproximar pelos seguranças do próprio evento.
Quando Quinn e eu chegamos, aqueles que perceberam nossa
chegada logo nos encaravam, como um jogo de domino, atraindo o
olhar de outros presentes. Meus olhos rodaram pelo salão, sem
demorar para encontrar Jacob. Ele estava em uma roda de homens,
lindo e deslumbrante com seu terno grafite, valorizando seu corpo
robusto, mas o que me incomodou foi a mulher ao seu lado, tentando
encaixar o braço no seu. Ele dava atenção a outros homens, mas os
olhos dela, colaram em seu rosto, como se ela pudesse se alimentar
dela. Seus cabelos vermelhos eram como fogo, da mesma cor de
seu vestido chamativo. Ela usava luvas vermelhas, segurando o
copo de álcool, sorrindo para Jacob, com a face deslumbrada, com o
típico olhar feminino que queria mais dele do que a atenção. Ela o
puxou pelo braço, cochichando algo, e ele deu segundos de atenção,
até seus olhos encontrarem os meus.
Jacob praticamente abandonou a mulher, deixando-a frustrada
por não ter nem mesmo continuado a ouvi-la. Seus passos largos o
trouxeram até mim em uma fração de segundos contados. Seu
sorriso enlanguescido se mostrou valente diante dos dentes brancos.
Porque ele tinha que ser tão lindo?
Mas meu interior incomodado, apertado apenas se perguntava:
Quem era aquela mulher?
Ele se aproximou, segurando-me pela cintura, depositando um
beijo em minha testa.
— Você está deslumbrante! — Ele murmurou com os lábios
contra minha testa. — Você deixou o colar ainda mais lindo.
— Você também está muito bem! — Eu disse, encarando seus
olhos azuis tão conservadores.
Os fotógrafos bateram fotos de forma desesperada quando nos
abraçamos. Eu tentei parecer o mais carismático possível, mais
minha falta de costume transformou minha cara em um desespero
para que tudo aquilo acabasse logo.
— Gostaria de fazer todos os comunicados em relação a nós e a
Orsoft agora! Assim podemos dispensar os fotógrafos e jornalistas
pra deixar a festa mais...particular. — Ele sorriu, fazendo com que
borboletas voassem dentro de mim como peixes que nadam no mar.
Alguém anunciou que alguns pronunciamentos seriam feitos.
Alguns funcionários, junto de mim, Jacob, Simon, e Lenon se
aproximaram um dos outros, para oficializar os pronunciamentos.
Jacob tomou o microfone em mãos ao meu lado, sorrindo de forma
educada mostrando o porquê era conhecido como o ex-solteiro mais
cobiçado de Londres.
— Peço Obrigado a todos presentes nessa noite, é muito
importante pra nós que todos os colaboradores, investidores e sócios
estejam aqui presentes. — Ele começou — Tenho um—a série de
notícias e oficializações a fazer essa noite, e não vi maneira melhor
de fazer isso a não ser dando esse baile. — Algumas pessoas o
aplaudiram. — A primeira coisa que eu vou fazer é pedir desculpas.
A alguns dias atrás, eu dei uma entrevista tendenciosa onde dei a
entender que mulheres não tinham a mesma força que os homens.
Eu peço perdão a todas vocês. A Orsoft cresceu através de uma
grande mulher que foi minha mãe. — Louiselane estava logo ali, com
algumas outras madames da alta sociedade acenando, com um
sorriso gentil e amoroso no rosto. — Não só minha mãe, mas todas
as mulheres que fazem parte do nosso time, seja da sede daqui de
Londres ou a de Nova York. Vocês fazem toda a diferença, e eu sei
que a Orsoft não estaria aqui hoje se não fosse vocês, assim que eu
sei que não estaria aqui hoje se não fosse por Claire! — Meu
coração pulou pra fora do peito, acelerado, sem tirar os olhos dele.
— Passamos tanto tempo naquele escritório...você dedicou tanto
tempo a essa empresa, tanto tempo a Orsoft com seu jeito
encantador, doando mais de si do que tinha, fazendo com que eu
despertasse essa vontade incansável de me dedicar por você
também! Obrigado por tudo que tem feito e por tudo que já fez. — No
fundo eu sabia que era sincero, no fundo eu sabia que não era um
pronunciamento fácil, no fundo eu sabia que era de Jacob para
Claire. — Não sei o que seria de mim sem você, antes minha
secretária, mas agora minha sócia e noiva. — Todos bateram palmas
com força, arrancando de minha boca sorrisos verdadeiros, mas
quando o barulho interno diminuiu, ele continuou a falar. — Com
forma de agradecimento por todos esses anos e também como
comemoração pela nossa filiação com a Pandors eu decidi dar aos
funcionários um agrado. — Ele olhou pra mim, com um sorriso de
morrer e matar mulheres — Isso é valido para todos os funcionários,
certo? A diminuição de 2h na carga de trabalho. Participação no
lucro de final de ano na empresa. Porcentagem de participação de
lucro extra para as mulheres que são mães solteiras e um aumento
de 100% no salário mensal!
Jacob pegou não só os funcionários de surpresa, mas a mim
também. Aquilo havia sido muito mais do que o combinado, muito
mais do que ele havia prometido pra mim. Aquilo provava que talvez
ele não merecesse tantos adjetivos ruins na qual eu dera a ele no
passado. Eu sabia que Jacob era muito mais do que a cara que
provou ser azeda de sua personalidade, mas aquilo, aquilo era muito
mais do que eu achei que ele conseguisse ser.
Todos bateram palmas, todos estavam felizes, exceto Lenon que
tinha uma cara surpresa. Simon abraçou Jacob, apertando a mão do
melhor amigo, enquanto alguns jornais faziam questão de fotografar.
Grandes funcionários construíam grandes empresas, e para ter
grandes funcionários, bastava o patrão fazer deles grandes também.
— Vem, preciso apresentar você à algumas pessoas! — Jake riu,
puxando meu braço delicadamente e atravessando o salão. Um
grupo de homens mais velhos estavam em uma roda, eram 4 na
verdade. Todos saudaram educadamente com a cabeça no momento
em que paramos entre eles.
— Ah, então você é a noiva de Jacob. Os jornais não erraram, ele
é realmente um homem sortudo. — O homem da ponta, o mais
velho, de olhos castanhos e com poucos fios na cabeça disse. —
Não ligue para os repórteres querida, estão ensandecidos por um
misero furo particular.
— Furo? — Eu perguntei, curiosa.
— Uma informação que os outros não tenham. — Seu
companheiro, um pouco mais novo disse. — Me chamo Jove, sou
um dos investidores da Orsoft.
— E eu sou Garret, um investidor também. — O senhor tornou a
falar. — Jacob disse que contribuiu muito na Gossip.com! É um site
promissor. As ações sobem a cada segundo e no momento, Londres
não vai tirar os olhos de vocês.
— O casal de ouro inglês.
Eu ri envergonhada.
— É assim que nos chamam por aí? — Perguntei.
— É assim que nós investidores os chamamos. — Jove exclamou
se divertido com o apelido recém dado. Ficamos ali, conversando
durante um tempo sobre diversos assuntos na qual ninguém ainda
havia manifestado o desejo de conversar comigo. E pra alguém que
estava recém entrando nos negócios, eu achava ideal.
Me distanciei deixando que Jacob desce uma palavra com outras
pessoas que aguardavam para ter um momento com ele. Quinn
estava tomando algo que parecia ser suco de laranja em uma
pequena taça de vidro.
— Eu estou chocada! — A loira disse quando me aproximei. —
Jacob literalmente dividiu a Orsoft com os funcionários.
— É Quinn, até eu fiquei surpresa.
— Simon também ficou feliz com a escolha. Ele foi filantrópico.
— Ele fez o que devia ser feito! Jacob tem funcionários de ouro, e
pra extrair o máximo deles só precisava desse empurrão. — Eu falei.
— E que empurrão! — Ela brincou. Quinn continuou dizendo, mas
não prestei atenção quando vi novamente a mulher ruiva, tentando
obter de Jacob mais do que atenção. —... e Simon sorriu logo depois
que ele disse...Ei, está me ouvindo? — Voltei ao mundo com sua
última frase, olhando nos olhos de Quinn. — Claire, você está me
ouvindo?
— Quem é aquela mulher? — Eu perguntei, cortando o assunto
em que estávamos antes, onde eu, por falta de educação e
interessa, ao menos dei atenção. — Me desculpe, Quinn.
Ela olhou para Jacob, na mesma direção em que eu olhei a
alguns segundos atrás, torcendo o nariz, arqueando as
sobrancelhas.
— Eu diria que é uma amiga, mas se Simon tivesse amigas como
ela, eu provavelmente usaria sua carne branca pra fazer churrasco
nesses domingos. — Ela murmurou. — Não está com ciúmes, está?
Você disse que o odeia e que não sente nada por ele, Claire.
E então eu fui pega com boca no osso.
— É que eu...foi somente curiosidade. — Murmurei. O problema
de jogar a bola pra cima, é que ela sempre pode cair na sua cara. Eu
estava desconfortável com tanta aproximação de Jacob com a ruiva
depravada. Seus olhares cobiçadores me faziam querer joga-la a
quilômetros dali.
Um sorriu forçado se apossou do meu rosto, enquanto
seguranças solicitavam a imprensa para deixar o local para intimar o
palácio para os presentes.
— A sua curiosidade se chama ciúmes.
— Não, não se chama. Eu... — Quinn me interrompeu.
— Você o odeia, já disse. Mas acho que esse seu discurso de
ódio já não está servindo mais! Nem pra mim, e pelo que eu tô
vendo, nem mesmo pra você.
Olhei para depois da mesa de doces finos, e encontrei o olhar de
Victor Hendrick, um dos representantes da Pandors. Ele me sorriu e
eu andei em direção a ele para me tirar a atenção da conversa entre
Jacob e a vadia ruiva.
Capitulo 16
Jacob Corbyn

Para um homem que sempre achou ser o leão, estar na pele do


cordeiro era desconfortável, pois era exatamente nessa posição em
que eu estava com Adriel em meu pé.
Quando se tem desejo de carne, não se pode saciar comendo
salada. E era assim que eu me sentia. Obcecado por Claire
enquanto a rua drenava minha paciência em tempo recorde.
— Nós podemos ir pra onde você quiser! — Ela exclamou. Adriel
era uma mulher linda, na qual eu havia tido a infelicidade de se
envolver em um dos jantares beneficentes em que fui em nome da
Orsoft, e como um homem solteiro acabei passando algumas noites
em sua companhia, desfrutando dela tanto como ela havia
desfrutado de mim.
— Não viu que estou noivo? Deveria estar envergonhada de me
propor algo assim!
— Leve ela junto! — Sugeriu a ruiva.
— Você é muito engraçada!
— Devo admitir, a futura herdeira é realmente linda e pra ter
amarrado você dessa forma, não acredito que ela fique pra trás.
Pior que dar em cima de mim, era dar em cima de Clair ao
mesmo tempo. Adriel era bissexual e ainda por cima mais insistente
que muitos homens.
— Isso é assédio! — Eu brinquei, tentando me desvencilhar.
— Por hora, vou deixar você em paz, Corbyn! Mas ainda vou
conseguir estar em uma cama entre vocês dois. — Eu ia responder,
mas antes que qualquer palavra saísse de minha boca, encontrei
Claire no meio do covil de lobos, os representantes da Orsoft,
aqueles que adoravam admirar seus peitos durante as reuniões, e
que agora poderiam admira-lo sem fazer força, devido ao decote
escandaloso que mostrar o vão entre os seios macios.
Ela dançava com Victor, enquanto a mão dele estava
visivelmente no limite entre sua bunda e seu quadril. Agarrava seu
corpo macio de forma obsessiva, como se fosse despi-la a qualquer
momento, coisa na qual ele deve sonhado enquanto podia admira-la
durante nossas curtas reuniões.
Andei em passos duros até eles, e antes que eu chegasse lá,
Claire se soltou de seus braços.
— Olá cavalheiros, se não se importa, vou tomar minha noiva por
um instante. — Fui gentil, tomando sua mão para o meio do salão,
enquanto se preparava para uma dança, com a música lenta que
tocava agora.
— Algum problema? — Claire questionou vendo minha falta de
habilidade de esconder a insatisfação e projeta-la para que todos
vissem.
— Não se aproxime de Victor essa noite. Mais alguns minutos e
ele entraria dentro de seu vestido. — Eu disse, indignado.
Ela olhou dentro dos meus olhos, tão irritada quanto eu. A
diferença entre nós dois era que eu não sabia o motivo de sua
chateação, mas ela obviamente havia acabado de descobrir sobre a
minha.
— E porque eu não devo me aproximar de Victor? Porque até
onde eu vi, você estava bem ocupado com a ruiva na pista de dança.
— Peguei em sua cintura, alternando os passos sincronizados de
nós dois.
— Adriel?
— Não desejo saber o nome dela, mas vi que estava se
divertindo com tanta proximidade e olhares. Porque pode se
engraçar no salão quando eu não posso ao menos ter uma valsa
com alguém importante para a Orsoft?
Isso não era incomodo, isso era exatamente o que eu achava que
era: ciúmes.
— Porque eu não quero tirar a roupa da ruiva, mas Victor tiraria a
sua se pudesse. Entendeu a diferença?
— E qual o problema? Não éramos solteiros? E se eu quisesse
sair com alguém agora?
— Combinamos de não sair com ninguém, Claire, lembra? — Eu
indaguei a ela, refrescando sua memória curta.
— Bem lembrado. — Resmungou, olhando para os cantos do
salão cheio de pessoas.
— Não durmo com ninguém a semanas. Acha mesmo que se eu
estivesse louco para dormir com alguém, não o faria? Adriel é
somente uma amiga!
E exatamente para acabar com minha mais recém alegação, a
ruiva do outro lado do salão olhou para mim, acenando, mandando
um beijo fantasioso que parecia querer chegar até mim. A loira
magnifica a minha frente revirou os olhos estressada.
— Oh meu deus, devo te dar um prêmio por isso? — Ironizou a
loira a minha frente. — Está mentindo na cara de pau?
— Adriel queria você, Claire.
Ela gargalhou, atraindo os olhares de algumas pessoas, inclusive
Simon que acenou para nós enquanto dançava com Quinn.
— Me queria quase te engolindo com os olhos? Eu não sou
obrigada a ficar presenciando isso! Quem sabe amanhã também não
saia no jornal que você esteja flertando com alguém na minha
presença!
— Você não sabe o que está falando!
Ela rosnou, aborrecida. Claire simplesmente pisou no meu pé
com raiva e eu só não senti porque o coro que revestia o sapato era
grosso o suficiente para proteger meu pé.
— Mas eu sei o que eu estou vendo, Jacob! E juro a você que
cega é algo que não sou. Aproveite mais o baile, vou tomar um ar,
com licença, querido noivo. Se estiver tão necessitado, não deixe de
ir as farras! — Ela exclamou, deixando-me sozinho, entrando em
uma das portas no fundo do salão que davam dentro do palácio. A
ordem havia sido expressa ao dizer que nós deveríamos usar
apenas o salão principal, pois os funcionários da rainha que não
podiam ser vistos, zanzando por ali. Tudo que eu não precisava era
simplesmente ter que procura-la por todas as salas, até errar uma
por uma e receber o repudio da rainha. Minha mãe certamente teria
um enfarte.
— Cadê você? — Passei pela enorme porta que parecia ser
banhada a ouro ou algo semelhante, esperando encontrar a figura de
Claire em algum lugar, falhando miseravelmente. — Porra, Claire!
Não podemos vir pra cá!
As primeiras portas estavam fechadas, mas na verdade, no fim
da sala, havia um enorme salão, onde acabei a encontrando sentada
na poltrona de frente para o piano. Eu me aproximei. Ela se levantou,
encostando e amparando os quadris nos teclados do piano, tocando-
os enquanto me encarava se aproximar.
— Eu pedi pra ficar sozinha!
Estávamos frente a frente, encarando os olhos avelãs
esverdeados dela que mal piscavam.
— Porque sempre espera o pior de mim? — Perguntei. Dei
alguns passos em sua direção e era visível seu desconforto, como se
eu carregasse uma áurea que a desestabilizasse.
— Não é isso...é um mecanismo de defesa.
— Se defender de mim, é sério? Você acha que eu poderia te
fazer mal?
— Não é que você me faça mal! — Eu me aproximei, assistindo
Claire prender a respiração. Sua pupila novamente se dilatou e o
sentimento que eu tinha era como se a gravidade nos puxasse um
contra o outro, como uma força maior tivesse essa necessidade nós
ver colados, emaranhados. E pra piorar, estava tudo silencioso
demais e no silencio torturante eu conseguiria ouvir meu coração se
ele batesse mais rápido que aquilo.
— Então do que você quer se defender, Claire? Me ajude a te
entender, por favor!
Toquei as extremidades do piano com as duas mãos, em cada
lado de seu corpo. Ela puxou sua perna, revelando mais carne
através da fenda de seu vestido, encarando em meus olhos, para me
dar a resposta de que talvez seu coração tivesse da mesma forma
que o meu, e o mesmo ar que me faltava ali, também faltava pra ela
também.
— Jacob, não! — Ela murmurou, fechando os olhos. Ela tentava
controlar o corpo, que já estava em desespero pela minha
proximidade. E toda dormência e calor que eu sentia, era resultado
de dias tentando reprimir o que eu sentia pela mulher que dormia
apenas a alguns quartos do meu.
— Até quando você vai fugir? — Sussurrei. Segurei sua cintura,
sentindo a textura de lantejoulas de seu vestido preto, arrastando
seu traseiro sobre as teclas do piano, encaixando-me entre suas
pernas esbeltas, sentindo seu cheiro viciante mesmo quando meu
nariz ainda não havia chegado ao menos em seu ombro, meu corpo
arrepiado apenas com a pequena premissa de tocar sua pele essa
noite.
— Até o dia em que eu te odi... — Seus lábios se fecharam
quando meus dedos se apertaram mais em seu quadril, quando a
ponta de minha língua deslizou por trás de sua orelha.
— Me odeia mesmo, Claire? E se esse ódio sumir, o que vai
restar? — Minha boca subiu por seu pescoço, sentindo através de
meu tórax como ela havia perdido a batalha interna. Sua mão subiu
por meu ombro, trapézio, pescoço. Seus dedos estavam trêmulos.
— Eu não sei, Jacob...eu não sei... — Ela sussurrava de olhos
fechados.
— Mas eu sei — Minha boca subiu pela mandíbula, queixo, maçã
do rosto. — Seu ódio é uma cortina, Claire. E eu preciso que abra
essa cortina pra saber o que há por de trás dela.
Estávamos a centímetros de distância um do outro, e eu posso
afirmar que o estágio mais lindo em que a vi, fora ali, desejando-me
inconscientemente, mostrando-me que na verdade toda a raiva que
sentia por minha pessoa, era ódio incubado.
Nossas bocas se atracaram, devagar. Eu temia o que poderia
fazer ali, enquanto algo interno explodia como fogos dentro de mim,
como se aquele beijo não fosse o suficiente. Apertei seu corpo contra
o meu o suficiente para ouvir de sua boca um suspiro pesado. Minha
mão adentrou a fenda de seu vestido, sentindo sua pele arrepiada,
encontrando em seu quadril a alça da calcinha, que por sinal parecia
apenas uma linha. Sua língua adentrou a minha boca com destreza,
passeado sua mão por meu ombro, por cima da camiseta social
apertada.
Voltei para o pescoço, a carne quente de seu busto que pedia
para ser provada. Ela jogou a cabeça pra trás, amparando seu corpo
no piano com as duas mãos pra trás, empinando os seios em minha
direção. Claire levantou os joelhos, pisando nas teclas do piano sem
querer saber se aquilo os destruiria. A partir do momento em que
meu pau dentro da cueca havia ficado duro, eu nem mesmo me
preocupei se o mundo explodisse lá fora.
A imagem mais incrível da minha noite. Claire de pernas abertas
sobre o piano, tocando com os pés a música mais desafinada que eu
já ouvira. Sua boca entreaberta, seu pescoço manchado por minha
saliva, e seu decote desarrumado enquanto parte de seu peito
rosado saia pela extremidade de seu decote.
— Se não sairmos daqui agora, eu vou foder você aqui em cima
mesmo. — Eu murmurei e a única reação esboçada por ela foi me
encarar e sorrir.
Ela também queria.
Eu queria.
Então, porque não?
Arrastei a língua por seu seio direito, intumescido, duro e rosinha,
chupando e mordiscando seu bico, sentindo-a curva o corpo gostoso,
apertando o pau em minha calça pela ereção angustiante. Enquanto
minha boca tratava de seus seios, minha mão adentro seu vestido,
caçando o limite da calcinha que parecia ter saído de um balde cheio
de água. Claire estava encharcada bem ali, embaixo de mim. Meu
dedo escorreu facilmente por seu interior e a cada sugada em sua
aureola eu a sentia contrair seu interior em prazer.
— Oh meu deus! — Ela exclamou, puxando os cabelos de minha
nuca, com força enquanto se desfazia em meus dedos que investiam
contra seu corpo rebelde.
Ouvi o barulho de alguém abrindo as portas de onde havíamos
passado anteriormente. Se nos vissem ali, estaríamos fodidos.
Peguei Claire no colo, sem saber se ela havia ouvido o mesmo que
eu. Havia uma pequena sacada na sala, andei rapidamente pra lá,
me escondo na lateral da varanda que era bloqueada por uma
parede, na qual quem estivesse próximo do piano, não conseguiria
ver.
Os olhos de Claire exalavam uma excitação anormal.
— Shhh! — Pus o dedo no centro de seu lábio, indicando para
fazer silencio, pois alguém estava presente no lugar em que
estávamos antes. — Silencio.
E para realmente fazer silencio ela me beijou, apertando meu
corpo, passeando suas mãos pequenas pela lateral esquerda,
encontrando a beirada de calça, seguindo com os dedos até o cinto
de minha calça.
— Tem gente aqui...atentado ao pudor! — Eu sussurrei.
— Precisamos terminar o que começamos, Corbyn. — Em
segundos sua mão tirou meu sinto e eu já estava sofrendo por
antecipação. No momento em que essa mulher pusesse a boca em
minha, eu a engasgaria com tanta porra.
Semanas dormindo sozinho, sonhando acordado com Claire.
Porque seria diferente? Na verdade, seria melhor. O frio do perigo
pairava sobre nós, e embora eu estivesse soando, eu lembraria
dessa cena pro resto da vida. Eu flexionei os joelhos encostando as
costas na parede e ela ajoelhou entre minhas pernas, tomando meu
pau entre os dedos. Minha cueca já estava completamente
lambuzada.
Esse era o efeito Claire em um homem.
— Meu bem, não quero te frustrar, mas precisa entender que
você nem pós a boca em mim e eu já estou no.... — Sem avisar, ela
me engoliu até a metade, deslizando até a base devagar.
—...limite...Cassete, devagar! — Tentei imaginar coelhinhos, tentei
imaginar passarinhos, tentei imaginar qualquer coisa que não fosse
Claire de joelhos entre minhas pernas, com seus seios expostos,
melada, chupando meu pau como se fosse o melhor sorvete de
passas ao rum do mundo. Mas não teve jeito. Senti minha cabeça
em sua goela e eu precisei fechar os olhos pra não me desfazer, mas
foi quando sua boca retrocedeu e ela chupou feito bala apenas a
glande, foi que eu agarrei a lateral de seus cabelos, fazendo o
possível para não a desarrumar e sentindo o limite batendo na porta.
— Você é o inferno, mulher! Ah...ahhh.... — Não liguei se alguém
realmente estava ali, próximo de nós, porque minha cabeça estava
apenas ali, naquela imagem dos céus. Ela afundou a boca, me
engolindo por inteiro e então eu preenchi sua garganta em jatos
quentes de espasmos que me fizeram arriar pelo chão de olhos
fechados, sentindo Claire se jogar em meu pescoço, dando me
beijos no rosto e selar nossos lábios pela última vez naquela noite.
Provavelmente minha noiva havia nascido e eu fui burro o
suficiente para enxerga-la tão de perto.
— É isso que quer? — Ela sussurrou enquanto eu ainda me
recuperava do orgasmo insano.
— Você, Claire!
Ela se levantou, deixando-me órfão de seus braços.
— Então aproveite enquanto pode! Porque quando nosso acordo
terminar, isso também termina! — Sua afirmação me fez abrir os
olhos. Não era aquilo que eu queria, não era daquela forma que eu
queria. Diaba de mulher!
— O que? — Espera, eu realmente não estava ouvindo direito —
Parece que eu quero usar você. A forma como se portou a alguns
minutos...
— Tabom, foi muito bom! Mas foi isso e só. Queria que eu me
declarasse pra você? Eu me sinto atraída por você, satisfeito?
Porque Claire tinha que ser uma mulher tão difícil? Seus olhos
verdes não me repudiavam, mas notoriamente ela estava declarando
a mim apenas a casualidade, mas eu já havia passado daquele
processo machista.
— Sexo é o suficiente pra você? — A encarei. — Isso faz parte
do seu mecanismo de defesa?
— É o suficiente. — Ela me deu as costas ao falar, saindo da
sacada sorrindo. — Não se trata de apenas um mecanismo de
defesa. O que você quer? Que eu diga que estou apaixonada? Fala
sério...
— Não, mas não esperava que fosse tão...sangue frio. —
Murmurei.
Acho que os valores estavam realmente invertidos. O que eu
sentia não era só tesão por Claire. O que eu sentia por Claire
também era paixão. Eu estava apaixonado por ela, e se ela não
tivesse passado tanto tempo me odiando estaria da mesma forma
por mim. Perdi tempo demais admirando-a, alimentando algo que
deveria ter morrido de fome. Agora eu estava ali, como um garoto
bobo de 19 anos, levando o fora da garota perfeita, mas fazia
questão de se prestar ao papel de errada.
— Sangue frio? Meu deus, Jacob! Esperava que eu caísse de
amores por você? Tudo bem, eu posso ter desejado ignorar a
atração que eu senti por você, mas estou aqui sendo sincera. O que
você queria que eu disse? Isso tudo já começou da forma errada, e
eu não quero que termine da forma errada.
— E qual seria a forma errada?
— A forma que eu tenho certeza que você esperava que
fosse.
— Você está falando por mim, Claire. Odeia quando faz isso.
— Estou mentindo?
— Obviamente — Eu disse e ela riu ajeitando seu cabelo.
— Se for pra tirar benefício de tudo, que seja com prazo de
validade. É só sexo.
Estava incrédulo. A mulher conseguiu acabar com minha
felicidade pós orgasmo em tempo recorde, me deixando sozinho na
pequena sala elegante, me fazendo pensar em como eu estava
fodido por saber que ela me classificava apenas com um pau amigo.
Claire parecia querer guerra. Então se ela queria, ela teria. Com
direito a canhões e explosões.

(...)

Retornei para o salão e ela nem mesmo havia chegado próximo


de mim. Seus olhares eram tempestuosos, transformando tudo a sua
volta como barreira para evitar o contato comigo.
A empresa havia recolhido todos os equipamentos responsáveis
pelo baile de gala e a maioria das pessoas já haviam ido embora. Me
aproximei de Simon que estava a fazer companhia para Claire e
Quinn.
— Claire, eu e Quinn iremos tomar algo para ir pra casa dormir,
você quer ir? — Simon a convidou. Ela sorriu amistosa.
Tomei posição, segurando a loira pela cintura, que me olhou
pelos ombros sem vontade.
— Acho que já bebeu coisas demais essa noite, não acha?
Quinn se engasgou com a própria saliva, e Claire arregalou os
olhos sem acreditar no que eu havia dito. Ela me deu um sorriso
tenebroso que parecia mais uma sentença de morte agendada.
— Vamos pra casa! — Ela disse, sem graça.
— Nós vemos na segunda então! — Simon acenou ao sair com
Quinn pelo portão principal.
Tentei segurar a mão dela para sairmos dali como um casal, mas
tudo que recebi foi uma pisada no meu pé esquerdo.
— Eu vou lembrar disso, Jacob!
Capítulo 17
Claire Blackwood

Ao chegar em casa fomos cada um para seu quarto. Jacob era


um homem irresistível e apenas com sua boca e dedos, ele provou
ser o que falam entre as mulheres.
Não estava apaixonada.
Mas ainda sentia aquele folego perdido quando o via, ainda
sentia aquele arrepio desgastante quando ele se aproximava com
tanto querer no olhar. Querer esse que ele não fazia questão de
esconder ser por mim. Era como fogo e álcool se encarando frente a
frente. Talvez eu tenha reagido da forma errada no palácio
Buckingham, mas não podia dar a ele o poder de saber que eu
estava tão desmanchada quanto parecia. Eu precisava fincar os dois
pés no chão para quando a tempestade passasse, não me levasse
junto. Eu teria o final de semana de folga para dormir já que os dias
passados haviam sido muito desgastantes. Vesti uma calcinha e uma
blusa de alças para dormir. Deitada na cama eu me dei conta que
não havia bebido naquela noite, mas ainda sim, minha boca estava
seca.
Meus cabelos já haviam secado do banho e o relógio marcava 3h
da manhã, mas ainda que eu quisesse dormir, não havia nenhum
sono para me ajudar com essa necessidade. Abri a porta devagar,
observando o corredor vazio e somente a luz da lua, passando pelo
vidro da sala iluminando o ambiente. Em passos leves fui até a
cozinha. A última coisa que eu queria era acordar Corbyn. Abri a
porta da geladeira que até bluetooth tinha, olhando cada uma das
prateleiras, tentando encontrar algo que me agradasse além da jarra
de água gelada que já estava em minha mão. Fechei a porta e tomei
um susto daqueles, pois Jacob estava encostado na bancada,
mordendo uma fruta que não reconheci pela sombra do escuro. Uma
de suas mãos amparavam o peso de seu corpo, enquanto ele me
observava minunciosamente. Fiquei estática e me arrependi de ter
tirado os olhos dos seus, porque qualquer lugar que não fosse seus
olhos azuis acabava me deixando desconcertada. A única coisa que
ele vestia era um short branco, curtinho de dormir, e mesmo no
escuro me arrisco a dizer que nem cueca ele usava.
— Quer me matar de susto? — Eu perguntei, esbravejando, com
o coração agitado. O que eu não sabia se era pela surpresa ou pela
imagem promiscua e quase nua de Jacob em minha frente. — Deus!
— Você sempre costuma atacar a geladeira a noite? — Deu uma
nova mordida na maçã, mastigando-a lentamente. Eu vi seu olhar
prender sobre meus seios sem sutiã por baixo da blusa e logo depois
minha calcinha minúscula.
Péssima hora pra usar.
— Só vim beber água! — Eu o respondi. — Inclusive já estou
voltando.
Dei as costas a ele, nervosa. Odiava ficar sozinha com Jacob,
pois era somente disso que meu próprio corpo precisava pra me trair.
Fiquei de frente pra bancada, enchendo o corpo transparente de
água com a jarra de vidro. Eu o senti andar até a mim. Senti o tecido
de seu short encostar na pele nua da minha bunda. Quando
depositei a jarra sobre o mármore da bancara, ele a pegou pela alça,
bebendo no gargalo mesmo, sem cuidado nenhum fazendo com que
água escapulisse por seu pescoço.
Ele deu uma breve pausa nas goladas.
E continuou atrás de mim, eu me virei, encarando seu rosto
pacifico de baixo pra cima.
— Qual é o seu problema?
Ele riu, aproximando-se do meu ouvido, causando-me
arrependimento de fazer uma pergunta tão direta.
— Você com essa calcinha enfiada no rabo. Esse é o tamanho do
meu problema.
Olhei pra baixo, e constatei que ele realmente estava sem cueca.
— Eu...eu não sabia que estava aqui! Me desculpa. Vou me
vestir.
Tão pouca proximidade e eu já podia sentir meu interior úmido.
Desejando-o como o diabo deseja o homem.
— Ainda sim eu vou dormir com a imagem dessa calcinha enfiada
no seu rabo.
— Então eu a tiro...
— Está piorando a situação, Claire. — Ele riu de divertindo com a
situação de calamidade pública. — Mas vá dormir. Estou falando por
mim, acho que é a melhor coisa que você pode fazer agora.
O deixei rindo lá e fui correndo para o quarto, me distanciar das
poucas provocações que surtiam tanto efeito imediato em mim. Me
joguei sobre a cama depois de fechar a porta, olhando para o teto do
quarto e a janela que jogava uma leve brisa da madrugada pelas
cortinas. Na verdade, eu não sabia exatamente o que esperar de
Jacob, não sabia o que se passava em sua cabeça e até onde ele
iria com tudo aquilo, mas pensando bem, talvez ele quisesse ir até
onde eu queria. Até apenas o final daquele acordo. Não havia
problema em querer aproveitar, afinal, ele sabia que eu queria e ele
também fazia questão de deixar explicito, que mesmo que a palavra
final fosse minha, ele estaria ele sempre à mercê, capaz de
proporcionar a mim tudo e qualquer coisa que eu quisesse e estiver
aberta a concordar.
Deitei sobre a cama, ainda sentindo meu interior quente. Abri as
pernas, deslizando os dedos pela barriga, virilha até chegar na
beirada de minha calcinha enxarcada. Porque eu estava sofrendo
sexualmente daquela forma se tudo estava claro demais? Se tudo
estava explicito: aproveitaríamos tudo com data de validade e eu
estava sofrendo atoa.
Se eu estava tão quente e molhada, era pra que ele saciasse
qualquer e todo desejo que preenchia meu corpo.
Abri a porta do meu quarto sem delicadeza. Girei a maçaneta de
seu quarto, encontrando a cama vazia. O barulho de água me atraiu
para o chuveiro e entrando no banheiro, o encontrei em pé, de
cabeça encostada próximo do registro de água e uma de suas mãos
espalmadas na parede e a outra em seu pau, no auge de um
orgasmo violento.
Ele já havia se saciado de alguma forma.
— Merda! — Eu resmunguei chamando sua atenção. Não sabia
muito o que falar, mas minha ação de permanecer ali, encarando seu
corpo rígido nu digno de ser uma pintura falava por si.
Fui embora de volta para meu quarto, da mesma forma em que
entrei ali. Sem ser notada.
Eu havia chego tarde demais.

(...)

Estava dentro do táxi quando Tia Carrie ligou e eu só vi e atendi


pela terceira vez. Estava tudo completamente engarrafado e embora
tão cedo, eu estava tranquila pois ainda sim eu chegaria cedo na
empresa.
— Você não acordava tão cedo! — Eu disse ao atender.
— Bom dia, Querida! — Ela murmurou — Quanto mais velha nós
ficamos, mais cedo acordamos.
— Nisso eu preciso concordar. Como estão as coisas por aí?
— Vão indo de forma agitada. Katie pediu pra ligar a avisar do
aniversário de Allan. Será nesse final de semana e segundo ela, não
tem tempo pra ligar.
— Está ligando pra todos? — Perguntei.
— Para alguns. Katie pediu que eu ligasse para a sua tia Nancy,
mas não liguei pois não quero que ela venha. É uma mulher invejosa
e ciumenta. Ela levou a metade do buffet na minha festa de
aniversário.
Eu dei uma gargalhada. Tia Carrie era uma mulher de
superstições, daquelas que botavam um punhado de sal grosso na
porta pra tirar mal olhado e passava pano no chão com anil azul.
Mas o que eu nunca reclamei, é que todas as suas dicas místicas
davam certo, inclusive foi com uma dica dele que consegui passar no
vestibular. Talvez eu também deva levar um pouco do mérito, mas
fico mais satisfeita dedicando parte dele a ela. Mesmo com a idade
avançada, ela não conseguia ficar parada em casa, assistindo TV ou
fazendo chá para pessoas aleatórias. Ainda que ela fosse viúva e
tivesse uma gorda pensão, Tia Carrie era corretora de imóveis, e sua
taxa de venda era a pior possível, pois segundo ela, era a única
coisa capaz de tira-la de casa.
— Mas não acha que Katie vai ficar chateada?
— Katie vai estar tão ocupada que não terá tempo ao menos pra
soltar um pum nessa festa, Claire.
— E você está animada? — O motorista já estava se
aproximando do local.
— Apenas porque você e Jacob viram, se não eu estaria como
uma viúva após perder o marido.
— Credo tia, vira essa boca pra lá. Katie já é insuportável, se algo
acontecesse a Allan ela se trancaria em um sótão e ficaria lá pro
resto da vida.
— Nisso acho que devo concordar com você — Tia Carrie disse.
— Vou procurar um hotel e aviso a Sra. Tudo bem?
Paguei ao motorista saindo de dentro do carro, batendo a porta e
passando pela recepção. A portaria ainda não havia aberto, então
Lorah provavelmente estava tomando café na cozinha.
— Nem pensar, vocês dormirão aqui! Seu quarto continua do
mesmo jeito, querida.
— Tem certeza? Não quero atrapalhar...
— Se eu pudesse te daria uns tabefes por esse telefone, juro
juradinho.
Sorri com sua afirmação quase materna.
— Tudo bem, tia! Então nós vemos no sábado, está bem?
— Até querida, ficarei ansiosa! — Ela disse antes de eu desligar.
Mesmo que quisesse continuar a conversa, o problema do elevador
era que nenhum sinal era páreo pra ele. Nem mesmo os telefones de
última geração que Jacob costuma se gabar.

(...)

— É claro que foi uma imensa surpresa! Você parecia ter aversão
a Jacob. Mas pelo visto trouxe coisas boas, afinal, vou ter o dobro do
meu salário e isso já um motivo de pra comemorarmos. — Lorah
bebericou o café rindo à toa depois de saber que seu saldo no banco
seria maior a partir do próximo mês.
— Foi uma surpresa até pra mim! — Mordi a rosquinha de trigo
depois de ter acabado com meu capuccino. — Mas fico feliz em
saber que estão contentes com o aumento.
— Não tem como não ficar! Mas pelo que parece Lenon odiou!
— Lenon faria menos falta se fosse pro inferno!
Lorah soltou uma risadinha baixa como se as paredes tivessem
ouvidos. Eu havia chegado cedo, antes de Jacob já que ele havia
dito que iria se atrasar para sair. Na verdade, quis passar antes no
consultório de Quinn para lhe dar um beijo e jogar um pouco de
conversa fora já que ela não tinha pacientes pela manhã.
— Acho que pra fechar com chave de ouro, o Sr Corbyn podia
demiti-lo.
Sorri pensativa.
— Está aí uma boa ideia! — Eu respondi.
Mas nada no preparou para a aparição do próprio em pessoa.
— Boa ideia, é mesmo? — Falando no diabo.
Lorah abriu os olhos do tamanho de acerolas e se desencostou
da parede da cozinha, pedindo licença.
— Sr Blackwood, vou voltar pra recepção. Se precisar de mim
sabe onde me encontrar.
Eu não dei atenção para Lenon. Fingi que sua pessoa nem
mesmo estava ali, mesmo que ele continuasse me encarando
aguardando uma explicação para a boa hipótese de sua demissão
recém levantada.
— Ouvi certo, Claire? Levantando a probabilidade de Jacob me
demitir? — Ele parou na porta bloqueando a saída.
— Foi só uma brincadeira, Lenon. — Eu respondi, tentando ser
legal. Mas com ele, visivelmente não funcionava.
— Espero que não se importe com minhas brincadeiras também!
— Ele murmurou, entrando na cozinha e logo fechando a porta.
O que esse merda estava pensando em fazer.
Dei um passo pra trás, procurando mais espaço, porém
encontrando apenas a parede fria atrás de mim.
— O último copo da água não foi o suficiente?
— Então está tentando fazer a cabeça de Jacob para me demitir?
O que quer Claire? Hein? Que porra você fez com ele? Alugou um
triplex naquela cabeça loira e está manipulando suas ações? — Ele
disse com um tom que começou a parecer ignorância de sua parte.
— Jacob é muito grandinho pra ser manipulado por mim. — Eu
murmurei vendo-o se aproximar cada vez mais. — Saia daqui e abra
essa porta, Lenon!
— Foi você não foi? Foi você que fez ele virar a porra de uma
boneca distribuindo dinheiro pelos funcionários, não é?
Ele se aproximava, e à medida que ele o fazia, eu contornada a
cadeira.
— Eu vou gritar por socorro! Abra essa merda!!!! — Exclamei
ainda mais alto à medida que o nervosismo e a ansiedade iam
tomando conta de mim. Corri para alcançar a porta na pequena
cozinha, mas o filho da puta foi mais rápido e agarrou o colarinho do
meu vestido preto, e puxou com toda força quase me enforcando.
Quando eu estava quase esquecendo Hardin, Lenon tomava o seu
lugar como um maníaco perseguidor. — Socorro!!!!! — Gritei o mais
alto que pude. Tombei no chão, sentada, olhando Lenon de cima pra
baixo, assistindo sua mão se levantar no ar. Mas quando ele engatou
em gira-la em minha direção, algo o puxou forte o suficiente para
joga-lo a alguns metros, por cima de algumas mesas ao lado de fora.
Era Jacob.
Ele parou no batente da porta, me encarou.
— Você está bem? — Ele se aproximou, olhando meu rosto,
passando a mão em meu pescoço, onde estranhamente ardia.
— Eu...estou bem! — O respondi. Ele se levantou, indo até onde
Lenon estava estirado sobre a mesa.
Não entendi muito bem o que ocorreu depois, não sei ao certo se
foi por causa do nervosismo ou da adrenalina ainda alta em meu
sangue, mas a silhueta de Jacob sobre a mesa era única, atingindo a
cara de Lenon por diversas vezes repetidas. Alguns gritos ecoaram,
tornando-se sempre mais altos, até a imagem de Simon aparecer,
agarrando-o pela cintura, fazendo-o soltar o imbecil sobre a mesa,
que logo levantou cambaleando, sendo amparado por seus
companheiros de trabalho.
Me levantei, correndo, e Simon o estava levando para sua sala.
Os funcionários inteiros do andar ficaram encabulados com a cena
de violência explicita. Jacob era sempre muito centrado, e aquele
episódio havia sido algo que nenhum deles esperava ver
acontecendo.
Entrei na sala, trancando a porta.
Simon estava tirando o blazer de Corbyn, enrolando seu pulso no
pano. Estava sangrando. Eu peguei sua mão, e o corte
anteriormente feito no episódio com Hardin, havia aberto por cima do
ferimento que já estava cicatrizando.
— Merda Jacob, por que fez aquilo? Porque tem que perder a
cabeça assim?
Ele me puxou pelo pulso, olhando meus pulsos, meu vestido,
procurando minunciosamente algo anormal, que talvez não deveria
estar ali.
— Ele fez algo com você? Hein?
— Não...só puxou meu colarinho! — Eu respondi. — Deus, olha o
que aconteceu!
— Porque não me contou?
Franzi as sobrancelhas.
— Porque não te contei? — Eu não estava entendendo.
— Está nas filmagens da câmera, Claire! Sei que não foi a
primeira vez. Porque não me contou, porra?
Fechei os olhos. Eu havia esquecido a merda das filmagens.
Como fui dar esse mole?
— Jacob...

(...)

— Vai dizer que sabe se defender?


— Não ia dizer isso, mas posso se quiser.
Ele riu, apertando o punho contra seu tecido.
— Isso não é uma situação igual a de Hardin. Mas se você me
contasse eu poderia ter premeditado ou ter feito algo antes que isso
acontecesse, Claire. — Ele murmurou, nervoso e estressado. — Mas
agora esse filho da puta vai ser chutado daqui como um animal.
Eu estava errada dessa vez e precisava reconhecer. O quão filho
da mãe Lenon poderia ser ao ponto de reproduzir em outras
mulheres, a mesma represália que tentava comigo?
— Eu errei. Assumo isso! — Eu não tinha mais forças pra
discussões e nem queria. Ele e eu havíamos batido nossa cota de
desentendimentos.
Ele abaixou a cabeça.
— Simon, pode me dar um minuto com Clare? E me faz um
favor? Mande Lenon diretamente pro setor de RH, o demita pra
ontem! — Ele reproduziu enquanto seu amigo acenava
afirmativamente com a cabeça e depois saia pela porta. — Porque
não me contou? Ele faz isso a muito tempo?
— Isso o que?
— Assédio, Claire.
Eu respirei fundo. Precisava ser sincera.
— Ele não era tão descarado. Só era um imbecil tedioso, mas
depois que noivamos, ele começou a me atacar insinuando que eu
havia...aberto as pernas pra conseguir o cargo como sócia.
— Desgraçado... — Ele murmurou. — Eu vou foder com a vida
dele.
— Você já o demitiu! Suas falas violentas não vão resolver nada.
Jacob se levantou de onde estava sentado anteriormente.
— Sabe porque assediadores continuam com suas ações?
Porque a maioria das mulheres não fazem nada! Apenas deixam pra
lá, como você quer fazer agora.
— O que quer que eu faça? — Perguntei.
— Denuncie, Claire. E se alguém aqui sofreu a mesma coisa, eu
garanto que vão apoiar e se juntar a você!
Ele tinha razão. Lenon era o tipo de homem que não iria se
arrepender de ter feito o que fez, mesmo que tivesse ganhado muitos
hematomas na cara. E com a sementinha de Jacob ali em minha
mente, eu me perguntei se ali, na Orsoft, alguma mulher já tivera sua
privacidade tirado por Lennon ou simplesmente tivera seu espaço
invadido por ele.
— Eu já denunciei Hardin, eu...
— Está com medo? Se for isso, não vou deixar que nada
aconteça com você. Se quiser pode passar um tempo comigo no
meu apartamento...mesmo depois... — Sei o que ele iria falar, mas o
interrompi antes mesmo que terminasse.
— Vou ficar segura no meu apartamento, Jacob... — Dei uma
risada frouxa com pensamentos internos que queria se tornar
externos. — Na verdade, ele é ainda não é meu.
— Não, na verdade ele é seu sim!
— O que quer dizer com isso?
Jacob procurou algo em uma das gavetas de sua mesa
bagunçada. Depois de pouca bagunça e alguns papeis no chão, ele
finalmente encontrou um envelope, que parecia novo e lacrado.
— Seu apartamento está quitado. — Ele disse, estendendo o
envelope em minha direção. — Como parte do acordado.
Eu abri, e lá estava, a documentação de posse do meu imóvel
quitado, tendo como parcelas permanentes apenas os pagamentos
mensais do condomínio que ao menos fariam cocegas em meu
bolso.
Mais um ponto para “Jacob não é tão filho da puta assim.”
De forma tão natural quanto a luz do dia, pulei em seu colo como
agradecimento em alegria. Mesmo que fosse algo combinado
previamente, ainda sim era muito importante pra mim. Aquilo era
minha independência, meu lugar, meu porto seguro para se refugiar
do mundo que a muito tempo vinha me cansando.
Um peso a menos nos ombros.
— Claire, falo sério. Precisa fazer um boletim de ocorrência. Eu
posso ajudar a organizar um café com as mulheres do andar pra
unificar isso. — Ele me lembrou.
Eu peguei sua mão. Eu precisaria cuidar daquilo de novo, antes
que ficasse inchado.
— Precisa cuidar disso! — Murmurei. Suspirei vencida. — Está
bem! Me dê essa semana, na próxima semana reúno todas para tirar
a limpo e prosseguir com a denúncia.
— Está bem! Vá pra casa! Eu tenho muita coisa pra resolver aqui
hoje. Ajeitar os documentos pra reunião com a Pandors e conversar
com os funcionários. — Ele abaixou a cabeça — Pensei em
folgarmos amanhã e irmos visitar minha mãe, ela está cobrando.
— Tia Carrie queria que fossemos pra lá nesse fim de semana! —
Eu disse.
— Por mim fechado. — Ele sorriu. — Desça, vou pedir um taxi
pra você no estacionamento executivo.
Me aproximei da porta.
— Vejo você em casa.
Capítulo 18
Claire Blackwood

Louiselane morava em uma casa de campo em uma área


afastada do centro de Wimbledon, em Londres. Jacob sempre frisou
a paixão da mãe pela área verde e oxigenada dos campos, na qual
sempre o encorajava a fazer o mesmo. Segundo ela, a cidade
adoecia a cabeça das pessoas, coisa que pra alguns eu ainda
achava a mais extrema verdade.
A viagem até lá era curta. Não mais do que 20km e apesar do
engarrafamento normalmente deixar tudo mais distante, naquele dia
em especial, o mundo parecia conspirar a nosso favor e isso foi um
bom começo.
Descemos do carro com um sorriso generoso no rosto, enquanto
um homem mais velho que julguei ser o jardineiro se ofereceu para
estacionar o carro no pequeno pátio de pedras que tinha próximo ao
jardim. Sua mãe já estava na porta, com seus cabelos ondulados
longos e o vestido florido arrastando no mármore do chão que
parecia encerado de tão brilhante.
Jacob me abraçou pelo ombro, sorrindo para sua mãe.
— Preparada pra se arrepender de ter vindo? — Ele sussurrou
próximo de meu ouvido.
— Olá Sra. Corbyn! Como vai? — Eu o ignorei cumprimentando
sua mãe que logo me agarrou em um abraço apertado.
— Sem formalidades Claire, você agora é minha filha! — Disse
ela — Me chame de Louise! Nem acredito que vieram! — Ela esticou
os braços pra encontrar o corpo grande de seu filho, o abraçando
também. — A quanto tempo você não vem aqui, hein Jake?
— Acho que 4 anos! — Ele disse, observando os jardins muito
bem cuidados. — Inclusive o Jardineiro está fazendo um bom
trabalho aqui.
— Já estou velha, meu filho. Como não cuido mais de você,
preciso dedicar minha atenção a outras coisas! — Se eu estava
impactada com a casa de Jacob, eu não tinha palavras pra descrever
o que era a casa de Louiselane por dentro. Aquilo era...loucura. Suas
paredes eram de mármore até a metade, na altura de um metro e
meio do chão. As paredes eram de uma cor vinho, com detalhes
dourados nas vigas que a sustentavam. O teto era repleto de
pinturas renascentistas que deixaram maravilhada. Ela me encarou
com um sorriso que me lembrava o de Jacob. — Lindas, não é?
— Ah, sim! Eu estou...encantada.
— Então venha ver o restante. Vou mostrar o quarto de vocês! —
Ela disse quarto, no singular, sem o S no final. Acho que aquilo seria
um problema. O ar já era denso quando eu e Jacob dormíamos em
quarto separados, imagina na mesma cama. Talvez tivesse algo tão
macio para dormir quanto a cama gigantesca e alta no centro do
quarto, sobre o carpete. Havia uma sacada no quarto, que dava uma
vista digna de cinema para o jardim e plantações simétricas de
Louiselane.
— Se importa se eu tomar um banho, está calor demais! — Jacob
disse, entrando no lugar, depositando sua bolsa em cima do armário.
— Vem Claire! Vou mostrar pra você o Jardim! Já vi que gosta de
arte. — Ela murmurou como se cochichasse.
Descemos as escadas. Ela cumprimentou alguns funcionários
que encontramos pelo caminho, os tratando como parte da família.
Saindo pela mesma porta que havíamos entrado, eu encontrei sobre
a lareira algo que não havia visto antes. Era a mesma foto do pai de
Hardin, junto com sua mãe que havia em seu apartamento.
— São vocês?
— Somos! Nosso segundo casamento, acredita?
— Segundo? — Olhei para a grama abaixo de nossos pés e
Louise estava descalça, esfregando os pés pelo gramado.
— Nos casávamos novamente a cada 5 anos, aqui nessa
propriedade, somente nós dois.
— Sra... — Ela olhou pra mim, me repreendendo por tentar ser
tão formal novamente. — Louise... — Me corrigi. — Está descalça?
— Porque cultivaria um gramado tão bonito se não posso
aproveitar dele? Sugiro que faça o mesmo! Tire os sapatos!
— Mas eu preciso guarda-los e... — Decidi não insistir. Tirei
minhas sapatilhas e peguei com os dedos, sentindo o gramado frio
esfriar a sola de meu pé. Era macio, fofo e tranquilizante.
— Terapêutico, não? Eu amo esse lugar!
Chegamos a uma pequena tenda de madeira no meio do Jardim,
onde uma mesa com chá ou café estavam servidos.
— Melado, aceita?
— Obrigado, mas estou bem. — Ela pegou, assoprando e
bebericando. — Não sente falta da cidade? Digo, você tem um nome
em Londres...
— Ah Claire, eu adoro os bailes, os desfiles e glamour de
Londres, mas também amo esse lugar. Embora a agitação também
me traga felicidades, aqui eu vivi os momentos mais felizes da minha
vida. Foi onde pari e criei Jacob, onde me casei diversas vezes, onde
vi Elijah falecer. Pra estar feliz aqui, só basta eu estar aqui, entende?
— Entendo!
Louiselane mesmo que tivesse um grande nome e talvez uma
grande herança, ainda era a mesma mulher simples de quando não
tinha nada a não ser as plantações da família. Jacob parecia com a
mãe falando sobre fisionomia e sobre o cuidado com as coisas.
Quem sabe seu temperamento tivesse sido herdado de seu pai,
porque Louise não levantava a voz para nem uma abelha sequer.
— Fiquei tão feliz com esse noivado, Claire. — Murmurou,
debruçando seu corpo para frente, sobre a mesa. — Não vejo outra
mulher na vida de Jacob além de você. Sempre desconfiei que
pudesse haver algo entre vocês. Conheço meu filho na ponta da
minha mão, sei distinguir todos os seus sorrisos, e o sorriso dele
quando olhava pra você era diferente...não era de felicidade, não era
de fraternal, era um sorriso...cauteloso, como se estivesse disposto a
qualquer coisa.
— Como tem tanta certeza?
— Porque era assim que o pai dele, Elijah me olhava... — Louise
cutucou uma caixa ao lado de seu corpo, próximo a cadeira. —
Quando ele confirmou que viria com você hoje, eu decidi olhar
algumas fotos antigas para reviver as lembranças... — Ela puxou um
grande álbum dourado escrito em letras cursivas brilhantes.
Corbyn Family
A primeira foto, era de uma mulher jovem, deitada sobre o peito
de um homem que estava sentado em um vasto jardim...e olhando
em volta, acho que era exatamente ali.
— É você?
— Dois dias após casarmos e comprarmos esse lugar. — Falou
Louise, passando as folhas grossas do álbum. — Nessa sou eu com
7 meses de gestação de Jacob! Havíamos acabado de descobrir que
ele era um menino. — Na foto, ela estava em pé, em frente a lareira
que tinha outra cor na imagem. — E nessa está Jacob! — Do outro
lado do álbum, deitado sobre a cama, com as pequenas mãozinhas
retraídas juntas na altura do peito, com os olhos azuis abertos e
expressivos, o biquinho rosado pra fora, estava Jacob. Sua cabeça
não tinha um fio de cabelo, assim como sua sobrancelha. — Ele
tinha 5 meses. Era um bebê muito esperto.
— Tão fofo! Acho que ninguém imaginava que ele seria tão
estressado! — Nem ao menos parece com o homem estressado que
exalava a áurea maligna de um verdadeiro chefe.
— Ah Claire, fala como se não conhecesse seu noivo. Jacob só
tenta ser responsável. Ele não vê a Orsoft como uma empresa que
herdou. Jacob vê a Orsoft como uma empresa que seu pai deixou
para que ele pudesse fazer dela ainda maior. — Ela suspirou. — E é
exatamente isso que ele vai fazer quando vocês finalmente tiverem
um filho.
Eu engasguei no café que eu nem tinha bebido. Não que eu
tivesse ficado chateada, mas aquela era uma probabilidade que eu
ainda não tinha pensado mesmo se tratando de um noivado de
mentira.
— Um filho? Bom, eu acho que vai demorar e... — A imagem de
Jacob caminhando em nossa direção me salvou de explicar para
minha então sogra, que não seria eu a provavelmente dar a ela, os
netos que tanto queria e almejava.
— Filho! — Exclamou Louise. — Vem, sente-se aqui! —
murmurou.
Ele se aproximou, parando em pé ao meu lado, encostando seu
braço sobre meu ombro.
— Ah mãe, não acredito que está mostrando fotos velhas para
Claire. — Ele puxou o álbum folheando. — Sabia que não tinha que
ter deixado vocês sozinhas!
Nós rimos o restante da tarde inteira, andando pelo Jardim, pelo
rancho próximo que tinha dali, onde Louise mostrava fotos e Jacob
apontava seus lugares favoritos de quando criança. Era bom ver ele
assim. Ver que não era somente o jeito autoritário que predominava
seu coração, mas que ali dentro também havia um menino apegado
ao que o construiu como um homem. Deitamos na grama vendo o
sol cair diante de tantas arvores. Era lindo e aquilo me fez perceber o
porquê Louise, mesmo sendo conhecida em Londres, não tinha tanta
vontade de viver no centro. A casa de campo era muito mais do que
terapêutica, era renovadora.
Quando o sol sumiu, dando lugar a noite. Eu subi pra tomar
banho e tirar a irritação da pele ocasionada pela urtiga, uma planta
que nascia na extremidade dos jardins, escondidas próximas as
pedras. Iriamos embora no dia seguinte, mas naquela noite,
jantaríamos junto de Louise.
Sai do banheiro encontrando Jacob, na sacada, admirando o
Jardim.
— Achei que estivesse lá embaixo! — Eu disse, despertando-o,
fazendo-o me encarar enquanto eu enxugava meus cabelos com a
toalha. — Está muito pensativo desde que estávamos no Jardim.
— Estou feliz...feliz por ver minha mãe feliz assim! — Ele
murmurou, sentando na cama, botando a cabeça sobre os braços
cruzados no travesseiro.
— Achei que ela sempre fosse assim!
— Ela era, mas antes do meu pai falecer. Eles tinham algo que
era muito maior que o casamento. Eram amigos, melhores amigos
um do outro. Mas quando ele se foi, minha mãe passou muito tempo
sem conseguir entrar aqui dentro, porque tudo lembra a ele. — Ele
encarou meu vestido — Alguns anos se passaram, ela fez terapia e
ela acabou voltando. Mas a felicidade em que ela estava hoje...eu
não vi a muito tempo.
— Saber disso me deixa feliz. — Falei, penteando os fios em
minha cabeça. — Eu sinto falta da minha mãe também! Mas quando
a gente se apega ao passado a nossa vida não anda. Se apegar ao
passado, somente se for sobre coisas que remetem a felicidade.
Ele se sentou, esfregando os cabelos que a cada dia cresciam
mais, tomando uma coloração cada vez mais loira.
— E sobre seu pai?
— Não me lembro dele. Eu era nova demais. — Disse — Tia
Carrie criou Katie e eu até terminar a faculdade. Quando terminei
meu curso resolvi sair das asas dela. Minha tia não teve filhos e
achei injusto não a deixar aproveitar a vida ficando as suas custas.
Jacob mostrava interesse.
— Você se formou no que?
— Direito, sou advogada, na verdade eu era, desisti da profissão.
— Falei, terminando finalmente de me ajeitar para o jantar. Ele tinha
uma sobrancelha erguida, como se eu estivesse dando informações
duvidosas ao meu respeito.
— Espera, não entendo. Se você é advogada, porque trabalha
comigo? —
E lá vamos nos...de volta ao passado.
— Não ria, tudo bem?
— E porque eu iria rir?
— Na minha primeira audiência, a minha cliente tinha usado um
produto químico de cabelo que a deixou sem um fio na cabeça.
Mandei o produto pra análise química constatando que o PH ainda
sim era alto, mas de alguma forma, que eu deveria prever antes, a
empresa que eu estava processando, foi com o melhor time de
advogados de Londres e me massacrou com milhares de
embasamentos ridículos que fizeram todo o sentindo para o Juiz.
Minha cliente além de perder teve que pagar os honorários dos
advogados da empresa. — Eu suspirei, tomando mais ar. — Mas eu
fiquei tão mal, que resolvi pagar a eles do meu bolso e a isentei de
qualquer pagamento pelo meu serviço fracassado.
Mal terminei e lá estava ele dando gargalhadas com as mãos no
joelho. Fiquei séria, cerrando os olhos, mostrando que eu não estava
achando graça vendo-o rir de minha derrota.
— Meu deus, Claire! Sério, não ri por você ter perdido,
mas...desistiu por isso? Na primeira oportunidade?
— Olha, eu estava fragilizada, tudo bem? Sai da casa da minha
tia, com medo de como o mundo iria me receber, e quando
finalmente achei que seria uma advogada de sucesso, eu fui
massacrada. Sabe como é isso? — Perguntei sorrindo cínica. — Até
porque eu não queria sentir remorso em ter que não cobrar aos
meus clientes pelos processos falhos.
— Mas essa é a graça do sucesso. Você aprende com os erros.
Devia ter continuado, porque não persistiu?
— Acabei recebendo a ligação da Orsoft, sobre uma vaga em que
eu me candidatei e peguei gosto por todos. Achei que já ganhava o
suficiente para sair de algo solido pra algo incerto. — Confessei,
debruçando meu bumbum sobre o armário.
— Fala a verdade... — Ele se levantou — Quando me viu, ficou
morrendo de amores. Não foi?
Eu gargalhei incessantemente.
— Eu na verdade quis por muitas vezes te enforcar e pedir
demissão por causa de você.
Jacob se aproximou, com as mãos na cintura, apontando pra
mim.
— Você está mentindo.
— Estou falando a mais pura verdade. Olhar pra você me
dava...agonia. — A agonia de saber que não havia nenhum homem
mais lindo que ele, pelo menos não em Londres, e pra piorar, tão
perto de mim. — Mas com tudo que aconteceu, acho que você não é
tão ruim, sabe?
— E porque achou isso? — Ele parou bem na minha frente, e eu
pus a mão sobre seu peito, impedindo que ele quebrasse o limite do
meu espaço. — Eu poderia ter posto você no setor jurídico, Claire.
— E porque não o fez?
— Porque não sabia que era advogada.
Arqueei as sobrancelhas.
— Você tinha meu curriculum, Jacob!
— Meu bem, eu entrevistei tantas mulheres que eu não me
lembraria de todas as suas informações nem se você fosse minha
melhor amiga.
— É uma pena. Mas até que ser sua secretária me serviu de
alguma coisa. — Falei, fazendo um coque em meus cabelos que já
começavam a secar úmidos — Trabalhar pra você é um desafio.
— Você não trabalha pra mim! Não mais. Trabalha pra Orsoft —
Jacob passou pela porta, chamando-me com o olhar. O cheiro de
comida que passava pelos corredores estava incrível, e juntando
com a fome que eu agora sentia, era exatamente tudo que eu
precisava para encerrar a noite de maneira incrível, depois do
acontecimento com Lenon.

Jacob Corbyn

Tivemos cordeiro assado com legumes e batatas assadas para o


jantar. Tudo muito saboroso. Não sei se havia sido minha mãe que
havia preparado, mas com toda certeza estava de lamber os dedos.
Não ouvi Claire abrir sua boca por um segundo. Depositei os garfos
sobre o porcelanato do prato assistindo minha mãe me encarar de
forma deselegante.
— Jacob, modos! — Sua mãe o repreendeu com um menino. —
Ponha os talheres no lenço. — Ela murmurou.
— Cassete, isso estava bom demais! — Fechei os olhos,
limpando os lábios.
Ficamos conversando um pouco. Louise mostrou suas coleções
de porcelanato enquanto Claire parecia área sem prestar atenção em
nada do que ela dizia, apenas concordando com tudo que ela dizia, e
acredito eu, que mesmo que fosse coisas sem sentindo, ela
concordaria.
Achei que fosse impressão minha, mas o ar interno da casa
começou a fica mais quente. Fazendo com que suor descesse por
minhas costas, como se eu tivesse comido pimenta. O estranho era
que o calor não era só por fora, era por dentro.
Olhei pra testa de Claire e ela estava soando tanto quanto eu.
Olhei para o rosto de minha mãe e seco e sedoso.
Mas ao contrário de mim, Claire estava a ponto de procurar algo
pra se abanar.
— Mãe... — Perguntei fazendo-a parar de falar sobre as
tapeçarias persas e prestar atenção em mim. — Você pós pimenta
no jantar?
— Pimenta? Não! — Ela disse. Mas ainda sim algo não se
encaixava da forma que deveria. Pois o sorriso que minha tinha no
rosto a delatava. A pergunta da vez era; O que ela havia feito?
Claire cutucou meu ombro, me olhando quase derretendo.
— Dona Louise, o jantar foi incrível! Você se importa se eu tomar
um banho e ir me deitar mais cedo?
— Claro que não, querida! — Minha mãe respondeu. — Tenha
uma boa noite.
Claire subiu as escadas rapidamente deixando minha mãe muda,
ainda com a musculatura da boca repuxada em sorriso pequenino de
quem havia feito travessuras. Cruzei os braços, sentindo aquilo
esquentar cada vez mais, piorando a cada segundo aquele calor
insuportável.
— Mãe, desembucha! O que você fez? Sei que você me
conhece, mas eu também te conheço muito bem, e esse sorriso no
seu rosto não está aí atoa.
Ela começou a gargalhar, tirando de dentro de seu sutiã um
pequeno frasco de vidro transparente, com um sorriso ainda maior
em seu lindo rosto. E que deus não deixasse aquilo ser o que eu
achava que era, porque se fosse eu teria que dormir a quilômetros
de Claire.
— Como você e Claire iram se casar em breve, assim espero,
pensei em talvez ajudar com a parte dos netos... — Piscou.
— O que? Mãe...você...meu deus! — Eu praguejei milhares de
vezes tanto internamente quanto externamente com letras e sons.
Aquilo ia ser um inferno na terra literalmente, pois o calor eu já
estava a sentir e agora só faltava o fogo e as chicotadas.
Quando eu era adolescente minha mãe havia me contado que
havia uma planta aos arredores da nossa casa que era conhecida
por aumentar a libido tanto feminino quanto masculino. As mulheres
que trabalhavam em nossa casa na época sabiam perfeitamente
como extrair o núcleo da planta, de forma que ficasse pronta pra uso.
Mesmo que muitos anos tivessem se passado, eu ainda me
lembrava com clareza de um casal que trabalhava na plantação e
seu desejo era ter uma filha mulher. Os funcionários diziam que eles
faziam uso dessa planta pra manter a libido alta mesmo em dias de
cansaço pelo trabalho e conseguirem engravidar. O que de fato deu
certo, mas só conseguiram ter a filha mulher depois de 6 meninos.
— Botei no prato de vocês... — Ela murmurou — Mas acho que
botei algumas gotas a mais.
— Mãe..., mas que loucura! Porque fez isso? O que passou pela
sua cabeça? Que eu e Clair vamos ter um filho assim, do nada?
— Oh meu bem, me desculpe! Eu errei?
Franzi o cenho, ainda desacreditado que minha mãe
simplesmente botou uma espécie de “tesão químico” em nossa
comida.
— Ainda pergunta? É sério?
— Ah Jacob, eu só queria ajudar! — Ela se desculpou. — Acho
que tomar um banho resolve!
Claire e eu estávamos longe de sermos realmente noivos, e
minha mãe era só mais uma caindo em nossa mentira infantil. Eu
não deveria culpa-la ou acabar com a alegria que a muito tempo eu
não via em seu olhar.
— É exatamente o que eu vou fazer — Eu disse, subindo os
degraus da escada.
— Filho, estou muito feliz que veio pra casa! — Ela sorriu,
aquecendo meu coração.
Andei em passos lentos, procurando ouvir algum barulho no
quarto. Se Claire estivesse tão na merda quanto eu, seria necessário
não mentir e explicar a ela o motivo de seu corpo parecer estar em
brasas. Parei com os pés no tapete do quarto e quando, sentindo
uma semi-ereção entre minhas pernas.
Lá estava eu, fodido de novo.
Abri a porta devagar encontrando Claire andando de um lado pro
outro só de blusão, como uma louca desesperada.
— Claire?
Ela parou de andar, me encarando.
— Preciso ir pra um hospital! Acho que peguei alguma doença,
Jake! Estou queimando em febre. — Ela murmurou e eu fiquei quieto
embora quisesse, suspirando fundo pensando por onde eu poderia
começar a explicação cabulosa de que o que ela sentia agora era
nada mais do que tesão — Porque você está calado?
— Porque isso não é febre! — Me distanciei dela, sorrindo.
— Não?
— Minha mãe acredita que realmente estamos noivos e acabou
botando um tempero extra na nossa janta... — Eu estava falando em
enigmas, mas ela parou, juntando as sobrancelhas, pedindo mais
clareza na explicação.
— Tempero?
— É o extrato de uma planta que aumenta o... libido, Claire!
A loira pós as mãos na boca, surpresa e logo depois as levou até
o peito.
— Então isso é... excitação? Puta que pariu! Jacob, como isso
passa? Como faz pra isso passar?
E pra fechar com chave de ouro a noite, dei uma risada sem
graça pra ela.
— Transando. — Isso era raciocínio lógico. Quando se está
excitado, o que faz para passar? Você sacia à vontade. Ela jogou
travesseiros em minha cara, onde eu não me defendia de nenhum
dele.
— Não, não e não! — Ela exclamou agoniada. — Eu não vou
dormir nesse quarto com você!
— A culpa não é minha, ok? Minha mãe já se desculpou e eu
sinto muito. — Passei o dedo na testa. Eu poderia ficar na sala até
que tudo aquilo passasse, passar a noite em claro com o pau duro
entre as pernas. — Eu vou dormir na sala! Minha mãe disse
que...talvez um banho ajude.
— Eu á tomei três e acredite, não ajuda!
Encarei o chão, passando os dedos entre meus cabelos,
observando a pele branca das pernas de Claire.
— Boa noite, Claire.

(...)
Saí do quarto, tomei um banho no quarto de hospedes, e assim
como ela havia dito, não tinha efeito nenhum. Me deitei na sala, no
tapete macio e liguei o abajur sobre a mesa, de frente pra lareira.
Sem a menor condição de acende-la, caso contrário eu realmente
me sentiria um pato assado.
Havia se passado um tempo, e acredito que faltava pouco mais
de uma 1 hora para que o sol subisse no céu.
Meu corpo inteiro estava acesso. Eu conseguia sentir cada
arrepio por meu corpo indeciso entre deixar aquilo passar ou me
expor e me aliviar ali mesmo, no sobre o carpete da minha mãe. Em
outras circunstâncias acho que essa noite eu teria ficado com Claire
se minha mãe não tivesse dado esse empurrão da forma errada.
Me estiquei no chão, botando os pés sobre a almofada. Tirei a
blusa, ficando apenas de bermuda. A casa no campo era
maravilhosa, mas havia apenas um defeito monstruoso que agora
poderia ter feito uma tremenda diferença: o ar-condicionado. No
quarto em que eu e Claire ficaríamos havia um, no quarto de minha
mãe também, mais na sala? Apenas janelas que seu eu ousasse
abrir a essa hora da noite, eu seria carregado pelos mosquitos
famintos por uma gota de sangue.
— Eu não consigo dormir! — Tomei um susto com Claire em pé,
próximo dos meus pés. Apenas de Short com um sutiã meia taça
cobrindo seus seios cheios. Porra, isso era uma sacanagem. Eu
aqui, esperando uma excitação sem tamanho passar, enquanto ela
exibia seu corpo seminu pela casa.
— O que houve?
— Estou tentando ligar o ar-condicionado, mas não consigo! —
Claire ao menos olhava em meus olhos. Apenas me deu as costas,
se aproximando da escada. — Pode me ajudar? Aquele quarto
parece o inferno.
É, acho que não só o quarto, mas a situação ao todo.
Subi as escadas, e ela abriu passagem para que eu pudesse
passar, mas a primeira coisa que meus olhos encontraram foi o
controle do ar sobre a cama, e logo depois o ar gelado bater contra
minha pele, refrescando meu suor. Aquilo realmente era o que eu
achava que era?
Claire batendo a porta e bloqueando-a com o corpo era a maior
das respostas.
— Tem certeza que é só pra ligar o ar-condicionado que você
quer ajuda?
Seus olhos avelãs se fecharam.
— Eu ajudo você e você me ajuda, Corbyn! Eu tô...agoniada!
Ela saiu da porta, dando a volta sentando-se na cama.
Me aproximei de seu corpo sobre a cama, dei uma risadinha
admirando seu rosto.
— Eu já tô precisando de ajuda a muito tempo! — Ajoelhei-me
entre suas pernas, encarando seu lindo rosto vermelhado. — Mas
você é teimosa, Claire. Luta contra o que não deve!
Minha mão abaixou uma de suas alças expondo um de seus
seios lindos, durinhos de tesão. Apertei, sentindo a macies e ela
fechou os olhos, passando sua mão por meu ombro, pescoço e
braço.
— Você está quente... — Ela sussurrou ainda de olhos fechados.
— Qual a chance de tudo o que temos de acabar mudando?
— Explique-se, meu bem! Não sou bom com enigmas! — Eu
sussurrei contra a pele de seu diafragma. Ela jogou a cabeça pra
trás, apoiando seu cotovelo na cama.
— Antes você era só o Sr Corbyn e agora você está quase
chupando meu...peito!
A agarrei pela cintura, jogando seu corpo mais para o centro da
cama, jogando meu corpo entre suas pernas, beijando seu pescoço
salgado pelo suor insistente. Sua respiração estava carregada de
necessidade, mas ela não voltaria ao ritmo normal enquanto eu não
desse o que seu corpo tanto queria.
— Só vai mudar se você quiser. — Sussurrei beijando sua boca
gulosa, que retribuiu o beijo assim que nossos lábios se chocaram.
Meu dedo percorreu a lateral de seu corpo, enquanto suas pernas
fechavam-se em minha cintura, e eu tinha certeza que ela podia
sentir meu pau tremular dentro do short de cetim, enlouquecido para
estar finalmente dentro dela.
— Me deixe ficar sobre você! — Ela pediu e eu acatei. Uma
mulher carregada de tesão embaixo de mim fazendo pedidos era
algo que eu não costumava ignorar, ainda mais quando era uma a
quem eu passava boa parte do tempo desejando. Ela sentou sobre o
meu colo e tratou de rebolar como se o ato lhe desse energia.
— Era isso que queria, se esfregar no meu pau, Claire? —
Exclamei quando senti pela decima vez ela arrastar seu tronco pra
cima e pra baixo, friccionando como força seu quadril contra o meu.
Enfiei minha mão pela lateral de seu short, cintura acima e a filha da
mãe estava sem calcinha, literalmente somente de short.
— Eu vou gozar... — Que? Como assim? A que nível de tensão
sexual ela estava?
Agarrei seu quadril, jogando-a sobre a cama. Puxei seu short,
tirando apenas uma das pernas e sem lhe dar um folego para
entender o que eu queria, eu lambi seus lábios íntimos melados,
adocicados pelo que transbordava em seu corpo agora. Enfiei um
dos dedos dentro de seu canal quente, sentindo pequenos espasmos
que delatavam seu corpo no limite, mas ainda não em um pré
orgasmo. Mordi suas coxas para retardar o pico de seu prazer, e
voltei com a língua para os lábios menores, subindo pela carne de
seu meio, até chegar em seu clitóris e a carne que o envolvia.
— Eu quero ouvir meu nome na sua boca, sem rodeios! — Fechei
a boca em seu ponto de prazer enquanto internamente passava a
língua suavemente sobre a carne sensível, sugando ao mesmo
tempo. — Essa noite eu vou foder você até que fique sem força nas
pernas, me entendeu? — Claire não só era gostosa, quanto me fazia
querer estar no lugar de meu dedo, socando tão fundo que os
vizinhos ouviriam a cama arrebentar a parede. Investi dois dedos
dentro de sua entrada, e suguei seu clitóris ao mesmo tempo
enquanto Claire posicionava seus dois pés em meus ombros,
elevando o quadril contra a minha boca, afundando a cabeça no
travesseiro recebendo um orgasmo que varreu qualquer onde de
sanidade que ela poderia ter. E quando achou que estivesse
terminado, continuei lambendo-a prolongando e intensificando o
ápice que ainda consumia seu interior, fazendo diminuir o rebolado.
— Isso foi...deus! — Botou as mãos na cabeça, e logo enxugou
as lagrimas que desciam pela lateral de seus olhos.
Subi sobre seu corpo, ainda sentindo meu pau pulsar, pedindo
por livre arbítrio.
— Não tem deus aqui, só eu! — Disse. Beijei sua boca, para que
ela soubesse do gosto viciante que tem, passando minha língua por
seus lábios, friccionando meu quadril entre suas pernas molhadas de
suco. Claire abaixou a perna, rolando sobre a cama, parando
sentada por cima de mim. Jogou seu pequeno short longe.
— Sua boca chupa tão bem quanto beija, Jake! — Ela sussurrou
contra meus lábios, descendo beijos por meus ombros, barriga, e
ficando ereta sobre mim. A loira retirou meu short, revelando meu
pau duro, como churros com recheio de porra na ponta. — Eu sei
que quer me foder, mas me deixa foder você também... — Minha
resposta foi o sorriso mais satisfatório da vida. E para o meu prazer e
loucura, Claire sentou ao contrário, com a bunda linda, branca e
arrebitada virada para mim, me dando a visão perfeita de seu cu
rosado e sua intimidade encharcada.
Eu precisei me segurar somente com a imagem. Ela posicionou a
cabeça de meu pau na entrada. Antes de descer, espalmou suas
mãos em meu joelho, jogou o cabelo loiro pra trás, caindo nas costas
nuas, e devagar e lentamente ela desceu sobre meu pau.
Filha da puta. Ela é uma diaba filha da puta.
Eu gemi como um cachorro e tive que fechar os olhos pra me
controlar. Essa coisa de me pegar desprevenido não dava certo.
Porque sempre quando eu achava estar por cima, Claire me
impressionava, e aquela cena, de sua boceta me engolindo até a
base e me expulsando completamente molhado era a melhor coisa
que eu poderia ver agora. Suas duas pernas estavam cada uma de
um lado do meu corpo e eu gozaria fácil se continuasse naquilo.
Molhei meu dedo indicador, massageando o buraco rosa que me
encara à medida que sua velocidade aumentava, enfiei um dos
dedos e senti seu corpo se arrepiar sobre o meu.
— Claire, porque quer acabar com a brincadeira? Tsc.... —
Resmunguei enquanto ajudava nas estocadas. Eu podia sentir seu
interior me comprimir e medida que me engolia, tentando extrair de
mim toda minha energia. A quanto tempo eu não transava? Já havia
parado de contar a alguns dias, e somente o fato de Clair estar ali,
disposta a se entregar tanto quanto eu, ajudava no fato de eu querer
transar com ela e sacia-la a noite inteira.
Puxei seu cabelo, obrigando-a a ficar ereta, tirando suas mãos de
meu joelho, e aquilo só provou que eu poderia ir mais fundo em sua
carne latente e apertada. Ela quicava, desesperada, apertando os
seios. Era lindo de ser ver. Uma mulher louca pra chegar ao ápice de
seu próprio prazer.
— Estamos apenas começando! — Ela disse. Puxei minhas
pernas, fazendo Claire cair de joelho novamente da cama. Sai de
dentro dela, posicionando meu corpo atrás da loira, pois ela havia
ficado literalmente de quatro. Em uma estocada só, quase
empurrando seu corpo da cama eu a arrastei percorrendo o mais
fundo que eu podia. — Eu queria foder você
naquele palácio, Claire. — Puxei seu tronco, murmurando,
aclamando em seu ouvido, estocando forte, duro e rápido. — Eu
queria abrir suas pernas em cima daquele piano e comer você ali. —
A mulher embaixo de mim começou a gemer, arfando e empinando o
rabo rosa contra meu quadril. — Você estava tão molhada, tão
escorregadia que eu iria deslizar com facilidade! — E então ela
fechou os olhos, gemendo e com um sorriso no rosto, como uma
cantoria de opera, mostrando que seus arfares eram como música
para meus ouvidos.
— Eu quero você, eu preciso que...continue.... — Dizia,
necessitada.
Eu estava a ponto de gozar, mas não iria tirar o momento de
Claire de ter seu segundo orgasmo enquanto empinava contra meu
pau, me engolindo como uma mulher faminta, jogando pra fora tudo
o que ela provavelmente também vinha sentindo nas últimas
semanas.
— Eu estou aqui amor, e vou estar enquanto você não estiver
satisfeita! E se você quiser, eu só vou parar quando o sol iluminar o
seu corpo! — Seus gritos aumentaram, e então senti seu interior me
apertar forte, em tremores satisfeitos e sincronizados, enquanto
Claire revirava seus olhos rebolando contra meu quadril enquanto eu
ainda a estocava agora mais lentamente.
Seu corpo estava soado, mesmo com o ar-condicionado.
Eu ainda estava duro, mas vê-la ali, cansada e satisfeita era
melhor do que qualquer orgasmo. Distribuí beijos em suas costas,
descendo até o quadril e deitei na cama, ainda ereto, esperando que
ele abaixasse. Meu saco doía, mas sei que passaria.
— Jake... — Sussurrou.
— Está viva? — Perguntei.
— Porque não transamos antes? — Era a mesma pergunta que
eu me fazia.
— Porque você fazia doce! Acredite, desperdiçamos tanto tempo
atoa. — Ela levantou a cabeça, olhando para minha ereção.
— Você ainda não...
— Meu orgasmo é o mesmo que o seu. — Falei. Ela se levantou,
sentando sobre meu colo, beijando minha boca, com suas mãos
acariciando meu peito. E além da excitação, meu corpo começava a
emergir sobre a vontade de tê-la novamente. — Claire, você precisa
dormir e se não sair de cima de mim, eu juro que só vai fechar os
olhos pra gozar até o amanhecer.
Ela calou-se, sem me responder. Ergueu o quadril, tentando me
encaixar em sua bunda, mas não conseguiria, eu era grande demais
para seu buraco tão pequeno e apertado. Não entraria, não sem uma
mínima preparação previa.
— Você é...grosso! — Ela sorriu, encarando meus olhos.
— Deixe que eu ajudo... — Usei de sua lubrificação para
massagear sua entrada traseira enquanto estimulava seu ponto de
prazer na frente. — Rebole, Claire e feche os olhos. — Enfiei
lentamente dois dedos, assistindo seu corpo se arrepiar, e no
momento que fechou seus olhos avelãs, eu busquei um de seus
peitos com a boca, mordiscando-os e chupando.
— Ah...droga! — Ela murmurou gemendo, rebolando ritmamente.
Quando senti que seus lábios já estavam encharcados
novamente, substitui meus dedos pela cabeça do meu pau, sem
parar de dar atenção aos seus seios e ao seu clitóris. Forcei a
cabeça, até a metade, assistindo-a me abraçar pelo pescoço. Logo
finalmente eu já estava inteiro dentro dela. Tirei a mão do meio de
suas pernas, abraçando sua cintura, vendo-a movimentar sua bunda
pra cima e pra baixo.
— Isso, devagar... — Eu murmurei. Eu sentia suas paredes me
espremendo à medida que eu saia e entrada novamente, segurando
o orgasmo cada vez que Claire descia com sua bunda redonda, me
engolindo mais ainda sou louca para me beber.
Joguei meu tronco pra trás, enquanto ela quicava
desenfreadamente com seu cu sobre meu pau.
Inverti as posições, ficando por cima de seu corpo, estimulando
novamente seu clitóris, enquanto uma de minhas mãos alcançaram
seu pescoço, apertando-o contra a cama.
Seria um orgasmo daquele violento, que eu já não sentia a muito
tempo.
Claire posicionou seus pés um em cada um de meus peitos,
dando-me liberdade para entrar com tudo, força e agilidade. Seus
dedos apertaram meus joelhos dobrados no colchão, anunciando um
novo orgasmo quando seu corpo se arqueou no colchão, respirando
fundo e revirando os olhos.
— Ahhhhhh...eu vou encher você, Claire! Consigo sentir você me
apertando... — Foram apenas três estocadas até que eu sentisse o
clímax violento, que parecia me desintegrar, acelerando meu coração
e retirando energia de toda minha alma. Mas ainda sim eu continuei,
até que ela tivesse extraindo até minha última gota.
Eu cai por cima de seu corpo. Estava exausto. Eu conseguia
sentir seu coração embaixo de mim.
— Acho que o efeito passou... — Eu ri, retirando sorrisos delas.
— Precisamos dormir. — Disse ela. — Temos que estar na
empresa cedo.
Sai de dentro de seu corpo, tombando pro lado, puxando o corpo
de Claire junto do meu.
— É! Podemos aproveitar algumas horas de sono.
— É... — Ela foi a primeira a dormir e embora eu estivesse
cansado, fiquei um tempo a mais acordado, agradecendo
mentalmente minha mãe pela erva no jantar.
Capítulo 19
Jacob Corbyn

Eu só realmente entendi o que tínhamos feito quando acordei


pela manhã e me vi inteiramente sujo, assim como a cama,
constatando que não era sonho, e assim como Claire completamente
pelada, como uma obra prima pelas luzes solares envolvendo seu
corpo. As coisas estavam normais entre nós dois, me arrisco a dizer
que até mesmo estavam melhores. Aquela tensão de discussão a
todo momento havia desaparecido, e honestamente, eu prefiro que
seja sempre assim.
Saímos cedo da casa de campo, se despedindo de Louiselane
que queria que ficássemos mais, e não que eu não gostaria, mas o
dever nos chamava. Fomos pra empresa. Fomos os primeiros a
chegar. Eu havia ido conversar com Simon sobre as supostas
mudanças que a Pandors queria tanto fazer, mesmo sendo
conversado desde o início que não seriam feitas. Fizemos uma
reunião com eles, esboçando de contrapartida imediata que não
faríamos o que eles queriam.
Era como tirar o coração da Gossip.com, e isso não tinha e
menor chance. Montei todo aquele site com ajuda de Claire e vários
outros envolvidos. A informalidade foi a ideia ponta pé de tudo, e
dela estendemos diversas outras ferramentas com os
programadores.
— Eu falei pra você! — Simon murmurou, sentado, folheando
alguns documentos já assinados que nos foram entregues.
— Acha que eles podem cancelar o contrato por causa disso?
— Não acho que chegaria a tanto, mas eles são peixe grande,
não que nós sejamos pequenos, mas eles podem tentar recorrer a
outros meios pra tentar burlar isso.
— Judicial?
— Também acho que não, estresse demais. Provavelmente vão
querer diminuir o valor contratual.
— Impossível, os papeis já foram assinados. — Eu disse.
— Mas podem ser retificados, isso não é um problema se o juiz
concordar. — Ele tinha razão. A Pandors não era nossa amiga
exatamente, ela era uma ponte perigosa na qual passaríamos para
trilhar para o sucesso. A Orsoft já valia milhões, mas eu sabia que
tínhamos o potencial de valer muito mais com o crescimento da
Gossip.com!
— Acho que eles estão incomodados com o fato de o site
também ser somente sobre relacionamentos sem chance de alta
porcentagem de ganhos, mas ainda sim a visibilidade do trafego é
um atrativo pra eles. — Falei. A Gossip.com era um site mais
inovador, onde havia espaço para todos, mas um dos grandes feitos
que implantamos era o anonimato dos usuários. Cada um tinha um
avatar anônimo e um nome. Construímos uma área chamada
“Gossip” onde era um mural em que os usuários podiam espalhar
informações, como uma espécie de feed textual.
— Sei que você ama tudo isso, Jacob! Mas não acha que talvez
não deveríamos ter feito negócio com a Pandors? Falo porque acho
que seu noivado com Claire foi impulso o suficiente pra dar
visibilidade pra Orsoft, e visivelmente esse contrato está sendo um
estresse. Victor acha que somos o facebook, mesmo já tendo
explicado pra ele que não.
— Também estou começando a me arrepender, Simon!
Ele passou por mim, pronto para passar pela porta, batendo em
meu ombro.
— É, eu acho que o que aconteceu de melhor em toda essa
situação foi o seu noivado com Claire.
É, acho que dessa vez eu botaria mais razão em suas palavras
do que o normal.
Me encontrei com um dos meus advogados particulares antes do
almoço para receber o documento da solicitação de medida de
proteção de Claire contra Hardin. Havia sido rápido e graças a deus,
não havíamos tido nenhuma notícia dele desde o dia em que minha
mão afundou em sua cara. Nunca coagi mulheres, mesmo que as
desejasse tanto ao ponto de doer. Aprendi sempre que aquilo que
está destinado a você uma hora acaba te encontrando mesmo que a
maré não esteja a seu favor.
Ao passar pelo Hall de entrada, Lorah acenou para mim com um
sorriso envergonhado no rosto.
— Bom dia, Sr. Corbyn! — Ela me cumprimentou balançando os
dedos. — Eu conversei com algumas meninas no último andar e elas
vão se reunir na segunda-feira pra conversarem sobe o... Lenon!
Claire estava meio receosa de unir todas, então pedi a Lorah, que
tinha amizade e conhecimento com a maioria delas, não só do último
andar, mas de todo o prédio. Pedi a meu advogado, Jhonatan que se
preparasse para conseguir formalizar uma denuncia de assédio de
todas elas juntas. Eu mostraria não só pra Lenon, como para
qualquer homem que já tenha pensado em fazer algo parecido, que
quando uma mulher lhe nega até a atenção, não se deve insistir.
Essa era uma regra primordial de um homem de verdade.
— Ah Lorah, você é incrível! — Eu disse, acenando com a
cabeça, vendo seus olhos brilharem de emoção.
— Ahhh Obrigado Sr. Corbyn!
— Apenas Jacob, Lorah! Apenas Jacob! — Pisquei.

(...)

O sol já havia chegado ao limite no céu, e por hora começou a


descer anunciando um pequeno fim de tarde. Abri a porta da minha
sala e Claire estava em pé na janela, assistindo a uma das
paisagens mais lindas que eu já havia visto, mesmo percorrendo por
tantos países.
— Oi! — Eu disse, ela se virou, sorrindo, com seus dentes
branquinhos e os lábios rosados mais gostosos que já provei. Se eu
achava a paisagem do lado de fora da janela incrível, Claire fazendo
parte dela havia se tornado minha favorita.
— Como foi a reunião? — Ela perguntou. Me aproximei da sua
mesa, encostando o quadril e flexionando o joelho para me amparar
ali. Botei a mão sob sua cintura, vendo-a enrijecer o corpo.
— Foi...estressante. Na verdade, sempre é! — Afirmei. — Na
próxima eu incluo você, está bem?
Seus braços rodearam meu pescoço, e ela deu dois passos
parando entre minhas pernas, de frente pra mim. Me encarando de
forma minuciosa, querendo gravar cada detalhe dos meus olhos. Me
vi surpreso com seu gesto de carinho quando tudo que eu esperava
era Claire querendo que eu fosse para o inferno. Ri internamente.
— Prefiro ficar com as partes menos burocráticas!
— Gosto de você assim... — Murmurei, pegando suas mãos,
distribuindo beijos nelas.
— Assim como?
Eu dei uma risada fraca.
— Mansa! Mas admito que sinto saudades de você arisca.
Ela desvinculou as mãos da minha boca, apertando meu queixo.
Colou nossos corpos, depositando um beijo no bico que se formava
em minha boca pelo seu aperto.
— Cada um tem a Claire que merece! E você por incrível que
pareça, sabe a receita pra me deixar arisca. — Queria beija-la. Já
tinha água em minha boca, e seus olhos? Havia algo neles ou talvez
era que eu conseguia ver agora. Era como se seu interior sorrisse
pra mim e eu pudesse sorrir de volta. Admitir estar apaixonado não
era lá tão ruim assim.
Sua mão pousou sobre a maçaneta e girou, ainda sem entender
o porque a portão não abria. E eu dei um sorriso quando ela
percebeu o que eu havia feito.
— Você sabe o que deve fazer para destrancar essa porta! —
Sibilei, caminhando até ela em passos lentos.
— Trancou a porta? Você é um...maníaco, Jake! Não ache que
porque nós...
Me aproximei dela, naquele vestido lilás, tão justo em seu corpo,
mas infelizmente longo me impossibilitando de encontrar sua beirada
e logo depois sua calcinha.
— Não estou achando coisa nenhuma! — Dei um beijo em seu
rosto, enganando-a, mais ainda sim com aquele desejo encubado.
— Lorah marcou com algumas funcionárias para fazer a denúncia
de assedio na segunda. Tudo bem pra você? Sairemos da sua tia e
viremos direto pra cá, tudo bem?
— Meu deus, foram...tantas assim?
— Na verdade não faço ideia de quantas, mas veremos na
segunda. Tudo bem? — Eu suspirei, retirando o envelope do bolso.
— Esse aqui é a medida contra Hardin. Mínimo de 250 metros de
você.
Ela passou os olhos surpresa pela rapidez. O sistema judiciário
não ajudava tanto, mas quando se tem dinheiro no meio, nada é
lento o bastante para lhe causas ansiedade, e isso era uma das
principais vantagens de ter muito dinheiro na conta bancária.
— Nossa, foi rápido mesmo!
— É, Jhonatan é muito bom no que faz. — Resumi, passando os
dedos em seus cabelos loiros, deslizando por seu pescoço, puxando
seu queixo para o alto, enquanto seus olhares se misturavam ao
meu. Merda, como eu estava apaixonado por essa mulher. — Pensei
que poderíamos comer algo mais tarde.
— Isso é um convite pra um jantar?
— Bom, acho que sim! — Eu ri, desconcertado de um jeito errado
e isso me fazia se sentir estranho.
Claire mordeu os lábios fortemente, não de uma maneira sensual,
mas como se o ato instigasse seu cérebro a processar, e eu apenas
a aguardei para saber o resultado daquilo.
— Eu tenho uma ideia melhor! Vou pra o mercado e eu mesmo
cozinho, fechado?
Nunca fui um homem de relacionamentos. Nunca tive tempo pra
isso. Mas olhando tudo de fora, o tempo que eu e ela passávamos
juntos, me fez entender o porque as pessoas realmente casam. Nos
últimos dias eu tenho acordado com Claire nos pensamentos e dado
boa noite da mesma forma. Estávamos morando junto, mesmo que
fosse por pouco tempo, meu cérebro não conseguia criar de forma
fictícia, a cena onde ela fosse embora, ou a cena onde ela passasse
por minha porta e me chamasse de Sr. Corbyn.
— E qual a garantia que tenho que não vai explodir minha casa?
Ela franziu o cenho, visivelmente atingida.
— Eu por acaso pareço uma má cozinheira.
— Não pode falar ao contrário até que você prove! — Eu a
desafiei. Claire tinha quase o mesmo espirito que eu. Nunca se
negava a um bom desafio.
— Pois vou fazer com que realmente queira se casar comigo,
Jacob. — Ela piscou, ardilosa, usando do meu feito triunfal com seus
olhos avelãs que brilhavam. Minha mão alcançou sua bochecha e eu
não pude deixar de beijar seus lábios. Pressionei levemente seu
corpo contra a porta trancada. Claire abriu os lábios arfando contra
minha boca, levando suas mãos quentes na lateral de minha cintura.
Ela chupou minha língua tornando e me deixar excitado e cogitar
lamber seu corpo inteiro em sua mesa. Minha mãe desceu por suas
costas, apertando sua cintura fina, buscando seu pescoço com
minha língua. Aquele cheiro infernal que era o suficiente para me
fazer revirar os olhos e arrepiar-me até os dedos dos pés. Claire era
uma feiticeira, pois havia feito comigo o que mulher alguma ousou.
— Não precisa cozinhar pra fazer com que eu queira realmente
me casar com você Claire. A ideia já me ronda a cabeça! — Eu
sussurrei, me afastando e destravando a porta.
— Diz isso pra mim e mais quantas?
— Pareço ser tão canalha assim? — Eu disse — Acabo de beijar
você e cogitar joga-la naquela mesa e você quebra todo o clima.
— Quem diria, você um galanteador. — Ela me respondeu,
atravessando e chegando até a porta. — Talvez Adriel esteja na lista.
Pois é, eu havia esquecido de Adriel. A maníaca sexual que não
só não estava satisfeita em dar em cima de mim, cismou com Claire
e que também a queria em uma espécie de triangulo amoroso.
— Ah, Claro! Adriel! É, se caso você não aceite, possa ser que
ela aceite!
Ela pôs a mão na cintura, me encarando com os olhos avelãs,
meio esverdeado, de forma profunda.
— Não me importo. — Deu de ombros, relaxando as mãos presas
em seu próprio corpo em sinal de aborrecimento.
— Da última vez que me viu com ela você pisou no meu pé e
disse que me odiava.
— Eu na verdade fiquei aborrecida por ter me deixado sozinha.
— Você estava com Quinn.
— Mas eu queria estar com você.
— Eu não gostaria de estar junto com alguém que eu odeio,
Claire.
Ela não funcionava muito bem quando estava se sentindo
pressionada. E todo esse problema que estava sumindo nessa
relação criada, começa se tornar menor do que qualquer sentimento.
Me fazendo ser capaz de ter odiado a ideia de que ela pudesse olhar
pra outro homem da mesma forma depravada que olhava pra mim.
— Talvez eu não te odeie mais, Jacob. Talvez.
Claire foi embora cedo enquanto eu fiquei por participar de
algumas reuniões, algumas contratações, algumas mudanças no
servidor e conversei com alguns funcionários. Respondi minha caixa
de mensagens do e-mail, liguei pra minha mãe que estava a morrer
de saudade mesmo tendo me visto no inicio do dia e ainda fui com
Simon a uma loja de coisa de bebê, mostrando meu péssimo gosto
para objetos infantis. Certamente Quinn o odiaria por fazer do quarto
de seu filho um arco-íris.
O jantar está no fogo! Você gosta de sobremesa? Acho que
providenciarei uma. Era um SMS de Claire.
Eu ri feito um idiota ao ler, mas poderia responder a altura.
O cardápio do jantar deixo por sua conta, mas acho que não teria
sobremesa melhor que você. Digitei!
Egoísmo da sua parte, você tem uma sobremesa e eu?
Vou arrumar um sorvete pra você chupar, meu bem! Mas
diferentes dos outros, esse não acaba e tampouco derrete. Enviei
novamente guardando o telefone no bolso.
Só a imagem de Claire me chupando no palácio Buckingham me
causava arrepio e me deixava ansiosa pela possibilidade de um
segundo acontecimento como aquele. Eu precisava tomar um bom
banho quando chegasse em casa.
Fechei a porta do meu escritório nos primeiros minutos após o sol
cair. Peguei minhas coisas e peguei avenida a fora. O
engarrafamento do cotidiano estava pior do que uma sexta-feira de
natal, mas ao conseguir passar da lentidão, eu vi que na verdade o
engarrafamento se devia por conta de um acidente, envolvendo um
motociclista e uma moto.
Subi o elevador com pressa e quando abri a porta do
apartamento fui bombardeado pelo cheiro espetacular que fazia meu
estomago borbulhar. Se aquilo estivesse tão bom quanto o cheiro, eu
comeria até as panelas.
— Claire? Estou aqui! — Perguntei, ouvindo o barulho vindo da
cozinha sem dar um passo em direção a ela. Seja lá o que ela
estivesse fazendo eu queria dar espaço para ela fazer do seu jeito.
— Oh meu deus, não venha, não terminei! Vá tomar um banho
enquanto termino.
— Tudo bem! — É, parece que ela havia levado à sério sobre o
encontro.
Tomei um banho rápido. Estava o dia inteiro sem comer e saber
que Claire sabia cozinhar me atiçava a curiosidade. Como bom
taurino que sou, uma mulher que domasse a cozinha como minha
mãe fazia era algo que me enxia os olhos.
O tempo estava fresco, diferente do calor demoníaco de mais
cedo. Quando cheguei na cozinha não pude acreditar no que meus
olhos viam. De alguma forma com o auxilio de Elsa, Claire diminuiu a
claridade da luz, esquentando o ambiente. Sobre a mesa no centro
da cozinha, ela pôs os talhes que refletiam como espelho e os pratos
de porcelana cor creme. Ela estava sentada do outro lado da mesa,
com o sorriso que só conseguia pensar ser o mais lindo do mundo.
Eu estava diante do que poderia se chamar de um jantar romântico,
com minha secretária que fingia ser minha noiva, quando eu estava
verdadeiramente apaixonado por ele, considerando firmemente fazer
da nossa grande mentira, a mais pura verdade.
— Um encontro? — Eu sorri me aproximando.
— Podemos dizer que sim! — Ela riu junto de mim. Eu me sentei
na outra ponta da mesa de 4 lugares. — Temos salmão assado e
batatinhas assadas.
— Se isso realmente estiver tão bom quanto o cheiro vou achar
que você está realmente tentando me conquistar. — Olhei para meu
prato já montado. — Só faltou o vinho! Acho que tenho um muito
bom guardado na dispensa!
— Um Cabernet? Eu usei pra fazer a sobremesa. — Ela disse. Eu
ergui uma das sobrancelhas de forma curiosa.
— Sobremesa? Com cabernet? — Dei a primeira garfada na
carne. — Achei que o nosso acordo era que a sobremesa era você.
— Quando o salmão se partiu entre meus dentes descendo goela
abaixo eu só conseguia pensar em uma coisa. Que essa mulher era
tão boa fodendo quanto cozinhando, e eu não conseguia deixar de
pensar por um minuto em como poderia ser incrível tê-la dia após
dia, tão próxima de mim quanto estava agora.
— Eu me esqueci do nosso acordo!
— Fique tranquila, pode fazer você se lembrar depois. —
Respondi fechando os olhos, saboreando as batatas muito bem
temperadas e cozidas. — Claire, nós vamos casar. Pelos deuses,
porque não cozinhou antes?
Ela riu, sem me fitar, ainda dando garfadas e levando-as à boca.
— Ficou bom?
— O melhor salmão que já comi! E que Elsa não me escute. —
Falei. E não estava mentindo. As poucas comidas caseiras que já
tive o prazer de experimentar foram poucas, acho que apenas as de
Louiselane, a mãe de Simon e Elsa. Tirando essas opções, apenas
experimentei comidas de restaurantes. Nada contra, mas nenhum
chefe tinha a habilidade de fazer melhor do que receitas de família.
— E como foi na empresa? — Ela quebrou o silencio, depois de
ter terminado seu prato, que por sinal havia menos comida que o
meu.
— Simon acha que a Pandors vai querer mudar algumas coisas
mesmo depois da assinatura de contrato.
Claire sustentou seu queixo com a mão no rosto e o cotovelo na
mesa, comprimindo os lábios.
— Não acha que a Orsoft pode crescer melhor sozinha? Sei que
Victor traz uma oportunidade incrível, mas não acha que esse
crescimento através dele vai custar um pouco caro demais?
— Simon disse o mesmo!
— E porque não escuta ele?
— Porque não gosto de parar no meio do caminho, já demos
início a tudo e gosto de ir até o final com o que começo. E Victor é
rancoroso, se tentarmos quebrar contrato, ele pode agir de forma
não tão positiva com tudo isso.
— Acha que ele pode tentar...algo? — Claire perguntou. Cocei
minha barba grande, por fazer.
— Não diretamente. Mas por tentar jogar criticas que vão jogar o
valor das nossas ações no precipício. — Ela apenas conhecia a face
de Victor que admirava seu decote e falava sobre querer o melhor no
mundo empresarial, mas o que ela não sabia, era que no mundo dos
negócios, ninguém puxa a mão de ninguém se cobrar por isso
depois, e muitas das vezes o valor cobrado é 100x maior do que o
ajudado.
— Eu não tinha pensado nisso!
— Mas eu preciso pensar em tudo isso!
— É verdade, até porque foi por isso que engatamos nesse
noivado de mentira, não é?
Abaixei a cabeça. Lembrar disso não era algo agradável. Porque
teria que terminar e pensando em Claire, pensar em um final, me
dava um frio negativo no estomago. E
— Bom, eu me atrasei um pouco com a sobremesa e preciso
terminar ela, se importa de esperar aqui? Vai ser coisa rápida! — Ela
disse. Acenei positivamente com a cabeça e ela deixou-me sozinho
na mesa.
Fiquei alguns minutos esperando, Claire desapareceu do outro
lado da parede onde ficava a parte técnica da cozinha. Eu esperei
pacientemente, mas depois de quase 25 minutos marcados no
relógio e nada de ela voltar, eu resolvi ir atrás. Maldito erro, porque
quando me levantei da cadeira e girei o corpo em direção a cozinha,
dei de cara com Claire nua, segurando um pote branco com um
braço e uma colher de pau com a outra. Ela estava parada, mexendo
o pote branco redondo, e logo depois tirou a colher de pau suja de
algo, espalhando por seu seio exposto, descendo pela barriga, e
quando chegou na testa de sua boceta eu salivei com um homem no
deserto. Claire levou a colher a boca, lambendo-a com a ponta da
língua.
Porra.
Porra.
Porra.
— O que é... isso? — Eu perguntei com a voz baixa. Não havia
muito folego em meus pulmões agora. Porque todo oxigênio que
vinha dele, estava focado em alimentar meu sangue que corria ao
ponto de me deixar tonto.
— Sua sobremesa. — Ela exclamou fechando os olhos,
lambendo os próprios beiços.
Ela andou em passos lentos até a mim, me dando tempo o
suficiente para entender que eu deveria deixa-la limpa, porque o que
cobria sua pele era nada mais, nada menos do que chocolate.
Estávamos face a face. Havia chocolate até em algumas mexas de
seu cabelo. Puxei a cadeira, jogando-a a longe, puxando Claire pelo
braço, até suas nádegas encostassem na beirada da mesa.
Colei nossos corpos sem me importar se eu me sujaria. Peguei o
pote de sua mão tacando longe, sem tirar os olhos dos seus. Passei
a língua em seu lábio superior, vendo-a abrir a boca esperando que
eu a tomasse. Era doce com um leve gosto de vinho seco no fundo.
Beijei seus ombros, chupando o chocolate em seu pescoço, vendo-a
arquear o corpo. Minha mão desceu pelo meio de suas pernas e...
caralho, seus grandes lábios estavam encharcados de chocolate.
— Eu vou limpar você inteira! — Sussurrei contra sua pele.
Chupei seus seios e ela agarrou minha cabeça. Eu tinha uma
péssima mania de não usar cueca em casa, e a essa altura eu
estava literalmente com a barraca armada. Limpei seus seios e
barriga, sentindo o gosto achocolatado em minha boca. Joguei os
pratos no chão.
— Jake, você está quebrando tudo... — Ela murmurou
preocupada, nervosa pelo que viria a seguir.
— São só pratos! — Eu respondi a sua aflição. — Deite.
Ela excitou.
— Mas aqui é uma mesa. — Ela disse se deitando, mesmo sendo
contrariada. Passei a mão por sua barriga língua de qualquer doce
mais ainda sim suja por minha saliva. Acariciei a carne de sua
intimidade vendo-a contrair o quadril.
— E onde mais se comem sobremesas, Claire?
Tomei a cadeira que eu havia jogado longe, sentei onde
anteriormente eu havia jantado, me sentei ajudando-a a abrir as
pernas. Depositei cada um dos pés de Claire em cada um dos meus
ombros. Ela levou as duas mãos aos cabelos quando sentiu minha
língua quente varrer seus lábios melados de prazer e chocolate. A
sobremesa perfeita. Suguei seu clitóris ao mesmo tempo passando a
ponta da língua em volta. Ela agarrou meus cabelos com força,
puxando-os enquanto gemia.
Elsa estava em seu quarto, e Claire gritava tão alto que eu não
duvidaria que ela pudesse ouvir. Certamente serviria de aviso para
que ela não saísse pra fora, caso contrário me encontraria sentado
na cadeira, minha noiva deitada na mesa com apenas abertas,
enquanto eu me lambuzava com a cabeça entre suas pernas.
Introduzi dois dedos, e depois de alguns minutos senti eles serem
exprimidos e
Delatando um orgasmo doce e gostoso de Claire em meus dedos
agora gozados.
Chupei meus dedos, me levantando da cadeira para beijar suas
curvas perigosas sobre a mesa. Ela se sentou e eu estava prestes a
tirar o pau pra fora e me enterrar tão fundo nela, que não só Elsa a
ouviria, mas o prédio inteiro. Entretanto, antes de beijar sua boca,
senti minha garganta coçar, forçando uma tosse involuntária. Eu
tossia, e quando mais tossia, mais coçava. Era automático. Eu me
afastei, quebrando cada vez mais o clima, vendo Claire me encarar
sem entender.
— Jake, tudo bem? — Ela perguntou e eu não conseguia
responder. Meu peito começou a perder força. Que porra era essa?
— Acho que é uma péssima hora pra fingir alergias.
— Claire, o que...você...pôs...na comida? — A sensação
indescritivelmente péssima. Eu estava sem ar, sem folego. Meu
corpo danou a coçar, e eu vi minhas mãos ficando vermelhas, como
se estivessem extremamente irritadas.
— No salmão? Só o básico...suco de limão, alho, sal, pimenta do
reino e talvez um pouco de Curry! Pus o mesmo nas batatas. —
Alguns segundos separaram nós dois. — Se isso for brincadeira, eu
juro que vou embora.
Apoie-me na mesa. Claire se levantou, tentando me auxiliar a
sentada novamente na cadeira, mas meu corpo era grande demais
para que ele sequer tentasse me amparar. Sentei no chão, logo
depois deitando apoiando a cabeça no porcelanato gelado.
Usei minhas unhas para coçar o corpo, mas foi somente quando
sentir a garganta começar a se comprimir, dificultando o engolir da
própria saliva que eu sabia o que estava acontecendo.
A) Claire havia usado mel no chocolate, ou
B) Eu era alérgico a algo novo e não tinha ciência disso.
— No..chocolate...você pôs mel...?— Sua face de surpresa disse
tudo.
— Oh meu deus, foi só algumas colheres!
Eu já estava forçando o ar pela garganta. Meus olhos já
lacrimejaram, e se eu morresse, ia morrer feliz.
— Você...quer...me matar!!! — Eu exclamei dificultosamente. —
Alérgico...eu sou...alérgico!
— Vou chamar alguém...uma emergência...uma ambulância!
Droga! — Eu já estava semiconsciente. Nervoso demais pra pouco
oxigênio. Nem força pra tossir eu tinha mais. — Elsaaaaaa! Espera,
eu vou pedir ajuda!

(...)
Se tudo desse certo, Elsa veria Claire pelada tentando me
socorrer completamente sujo de chocolate, eu iria pro hospital e lá
teria que explicar o que havia antecedido até o momento de eu cair
no chão, e honestamente, inventar mentiras não era o meu forte.
Mas se não desse certo, eu morreria feliz.
Talvez não fosse só paixão o que eu sentia por Claire, fosse algo
mais complexo do que tesão, porque mesmo que ela tivesse
praticamente tentado me matar com mel, havia sido por uma boa
causa, e tudo o que eu podia pensar agora era em como ela era
linda e em como eu poderia conquista-la, para que ela realmente
fosse somente minha.
Se tudo desse certo eu me dedicaria a ela, se tudo desse certo,
Claire seria realmente minha noiva, somente se tudo desse certo....
Seu rosto preocupado, dizendo algo que eu não entendia, com os
olhos marejados, com os dedos em meu rosto foi tudo que eu vi
antes de perder a consciência.
Capítulo 20
Claire Blackwood

Não tentei matar Jacob, mesmo que o médico tivesse me olhado


dessa forma quando eu lhe disse que eu fui a responsável. Graças a
Elsa fomos para o hospital corretor, já que como governanta ela tinha
que conhecer tudo na palma da mão. O médico ministrou um
antialérgico forte e resolveu o manter sobre observação durante as
próximas 24h já que além de seu corpo ter ficado completamente
empolado e vermelho, sua garganta inchou bloqueando a passagem
de ar.
Eu estava sentada na sala de espera, aguardando a liberação do
médico quase 12h depois, para poder vê-lo. Meu telefone tocou.
Era Katie.
— Alô! — Disse ao atender.
— Alô? Meu deus, Claire! Se eu não te ligar, você não me liga.
Por acaso eu pareço ser adotada? — A voz baixa mais ainda sim
dramática de Katie não era grossa, mas era formal o suficiente para
que ela parecesse locutora de rádio, mas provavelmente isso se
devia ao fato dela trabalhar com o público, já que ela era contadora.
— Ah Katie! Como está?
— Com saudades, sua louca varrida. — Ela exclamou do outro
lado da linha. — E você? Fiquei sabendo que noivou com um
milionário.
As noticias corriam rápido, mas se tratando de Tia Carrie, elas
chegavam na velocidade da luz.
— É, acho que noivei!
— Olha, eu realmente achei que Hardin te levaria para o altar,
mas fiquei aliviada no fim!
Ah, coitada irmã. Justo ela que sempre pegou tudo no ar,
acreditava veemente que Jacob tivesse um tratado de núpcias
comigo. A quem eu queria enganar? No fundo, até mesmo eu estava
me deixando levar.
— Eu também fiquei, acredite. Jacob é diferente de Hardin. Com
esta Allan?
— Está bem. Está ansioso para reunir todos. Ele trabalha demais
e gosta de comemorações. Vocês vêm?
— Acho que sim!
— Acha?
— Bom, Jacob é alérgico a mel e eu sem querer usei pra fazer
um doce no jantar ontem a noite.
Ela riu, dando gargalhas.
— Mal casou e já está tentando o matar?
Eu suspirei, ajeitando a bolsa no ombro, vendo o médico
responsável por Corbyn parar no balcão principal e conversar com a
enfermeira.
— Foi um acidente. Não é porque você e Allan brigam
frequentemente que Jacob e eu seremos assim. — Eu disse, mas no
fundo sabia que seriamos, caso o noivado realmente fosse verdade.
— Aliás, vocês virão, certo?
— Estamos mais confirmados do que tinha Tia Carrie.
Katie deu uns gritinhos e não duvido que tenha dado pulinhos
também.
— Perfeito. Ainda bebê como um caminhoneiro?
— Isso é um elogio ou um xingamento?
— São poucos que bebem como um caminhoneiro, Claire. Mas
Allan fez uma adega aqui e pensei que você pudesse inaugura-la
comigo. — Katie exclamou.
— Acho que você não é adotada. Beber feito o fim do mundo é
algo que temos em comum!
Eu ri junto com ela enquanto o médico se aproximava.
— Vejo vocês no fim de semana, branca azeda. — Ela disse
antes de desligar o telefone.

O médico se aproximou sorrindo, de forma educada com uma


prancheta na mão, procurando algo ali, talvez o meu nome, já que o
crachá em meu pescoço só me especificava como visitante.
— Srta. Claire Blackwood? — Ele disse sem me encarar, ainda
concentrado na prancheta. — Sou o Dr. Elijah. — Ele apertou minha
mão, cumprimentando-o.
— Eu mesma! — Fiquei de pé, diante dele, esperando uma
misera noticia já que eu não via Jacob a 12h.
— Se os exames ocorrerem normais e Jacob estiver se sentindo
bem, vou libera-lo no fim da noite. — Ele finalmente me encarou,
dando um sorriso. — Se quiser entrar, fique à vontade.
— Obrigado.
O hospital era enorme, em um padrão que provavelmente
mostrava que o valor do plano de saúde era ridiculamente caro. A
sala privativa de esperava parecia um quarto de luxo de hotel, onde
pra transforma-lo nisso, só faltava a cama. Confesso que me perdi e
andei por talvez uns 15 a mais do que deveria. Não era tão
orgulhosa, mas não queria ter a burrice de dizer que me perdi do
quarto do meu noivo, quando seu nome estava explicitamente escrito
na porta.
Quando achei, eu girei a maçaneta, encontrei Jacob deitado
sobre a cama, de olhos fechados e com o acesso atado a seu braço.
Do contrário ao que imaginei, seu rosto não havia perdido o rubor e
tão pouco ele estava menos belo. Mesmo na doença o filho da mãe
era lindo.
Eu me aproximei, sentando na cadeira ao seu lado, pegando sua
mãe.
— Me desculpa! — Eu murmurei baixo. Mas o medidor cardíaco
atestou outra coisa. O bip no aparelho aumentou e junto dele um
sorriso no rosto de Jacob.
— Por tentar me matar ou por me impedir de comer a
sobremesa? — Ele riu, botando a mão em seu diafragma.
— Você está acordado! — Exclamei.
— E mais importante, vivo.
— Me desculpa, eu me esqueci, acho que você disse algo
sobre...sua alergia. — Merda, ele havia dito. Como eu não fui me
lembrar? Havia sido exatamente no dia da picada de abelha.
— Agora que já sabe, é só não tentar matar seu noivo de novo.
Eu estava em paz por dentro, por finalmente saber que ele estava
bem e que eu precisaria de muito mais do que algumas colheres de
mel para derruba-lo. No final, Jacob realmente era duro de matar.
— Como está se sentindo?
— Um pouco sonolento por causa da medicação, mas no geral
estou melhor. Não acordar inchado e vermelho como uma pimenta já
está de bom tamanho pra mim.
— Que bom, isso é bom! — Eu exclamei aliviada. Ele sorriu
galanteador.
— Vem cá, deita aqui comigo! — Ele pediu.
A cama em que Jacob estava deitado não era lá tão pequena.
Muito pelo ao contrário, caberia nós dois tranquilamente ali. Ele me
abraçou pelo ombro. Mesmo ali, no meio do hospital, ele não perdia
seu cheiro cítrico e inebriante. Inspirei seu aroma, fechando os olhos,
sentindo meu coração ranger nervoso dentro da caixa toráxica.
Encostei minha mãe em seu abdômen por cima da roupa
hospitalar. Ergui meu queixo, encarando seus olhos que oscilavam
entre o verde e o azul e foi inevitável não sentir a vontade de beija-lo.
Nossos lábios se encontraram em apenas um selar, mas havia
algo diferente. Um conforto que eu não sentia a muito tempo. Não
era fraternal, era algo condicional. Como se o homem em que eu
acreditei querer o meu mal, doasse apenas suas asas para que eu
me sentisse segura, de uma maneira que nunca me senti com
Hardin, de uma maneira que nunca me senti com ninguém.
Nossos lábios se comprimiram por segundos eternos, mas Jacob
abriu a boca, devagar, chupando meus lábios inferiores e eu
automaticamente procurei mais seu corpo, ouvindo o bip do aparelho
aumentar devagar. Mesmo acamado ele ainda tinha força
considerável nós braços e usou-a para me puxou sobre seu corpo,
sentando sobre seu colo.
— Jacob, alguém pode entrara aqui e... — Tentei dizer, mas fui
rendida e calada com um beijo. Havia algo de diferente, não nele,
mas ainda sim entre nós dois, entre a maneira que meu corpo reagia
quando ele apenas estava por perto, ou a forma como meu coração
batia mais ansioso quando sua boca estava em mim.
Meu corpo se acendeu como uma arvore de natal, arrepiando os
cabelos do pescoço e me arrepiando o interior quando me ajeitei
sobre seu colo e o senti duro contra mim, com apenas o tecido fino
de sua roupa hospitalar e minha calcinha abaixo do vestido nos
separando.
Nossas bocas se encaixaram com mais urgência, trocando saliva,
desejo, longe de acalentar aquele desejo interno de nunca querer
sair dali, de ouvir sua respiração contra meus lábios, ou sentindo seu
peito subir contra o meu, como se aquilo me alimentasse, como se
seguisse me dando força nos últimos dias. Remexi meu quadril,
sentindo minha calcinha molhar somente com a premeditação de
poder recebe-lo.
Sua boca agarrou minha olha, chupando o lóbulo quente, meu
pescoço que pela pressão de seus lábios, não duvido estar
vermelho.
— Você tem me tirado do sério, Claire...tem me tirado do eixo! —
Sussurrou contra minha pele úmida, subindo por meu pescoço,
queixo, lateral mandibular. — E eu sentindo como se tivesse...sendo
engolido por algo que não sei o que é...
Pela paixão, Jacob. Nós dois estamos, mas diferente de mim
você parece lutar.
Eu? Só queria aproveitar tudo, aproveitar cada momento odiando-
o por me deixar tão descontroladamente a mercê, mas ainda sim o
desejando com cada gota de suor do meu corpo.
Eu me sentia como se fosse explodir.
Meu interior pedia por misericórdia, e ao menos ali, eu queria
acata-lo, queria a mesma coisa que ele, e pelo rosto vermelho e
desesperado de Jacob que me encara, eu sabia que ele queria o
mesmo.
Beijando seus lábios, enquanto sua língua capturava a minha, eu
ergui o quadril, puxando o membro de Jacob debaixo da roupa
hospitalar, com o dedo mindinho puxei minha calcinha para o lado e
o posicionei em meu centro, que por pouco não pingava sobre sua
pelve depilada.
— Você não é o único! — Eu sussurrei contra sua boca, antes de
rebolar enquanto descia sobre seu pau. Ele fechou os olhos e o bip
do aparelho começou realmente aumentar rapidamente como se
tivesse uma dinamite dentro de seu peito pronto pra explodir.
— Eu não quero...me afastar. — Exclamava ele. Eu arrastava o
quadril sentindo-o sair de mim para depois sentar sobre ele de novo,
enquanto seu pau batia no limite de meu corpo.
— Então não se afaste. — Respondi
— Não nos afaste, Claire. Por favor... — Seus dedos apertaram
um de meus seios por baixo do vestido e a outra apertava a carne
macia de minha cintura.
Apertei a velocidade, cavalgando sobre ele, de forma lasciva. O
barulho no monitor aumentou, e eu senti algo crescer sobre meu
ventre, incontrolável e inimaginavelmente prazeroso.
— Oh meu deus... — Eu sentia se aproximar, o orgasmo se
aproximava rasgando meu interior em descontrole.
— Quero vê-la enxarcar o meu pau, Claire! — E em um ato
inesperado, Jacob agarrou meu quadril com as duas mãos,
estocando fundo embaixo de mim, porque assim como eu, seu ápice
estava batendo a porta. Tudo rápido demais, o aparelho cardíaco
gritava alto, Corbyn gemeu alto fechando os olhos arremetendo o
mais fundo que pode, despejando todo seu suco em minha à medida
que meu orgasmo e meus espasmos internos prologaram seu gozo.
Me joguei sobre ele, cansada e ainda sem acreditar no que
havíamos feito.
— Tem noção que estaríamos ferrados se alguém tivesse nos
pegado aqui? — Eu exclamei gargalhando.
— Não ligo! Mas sem dúvidas essa alergia foi...maravilhosa.
Devíamos fazer mais vezes.
Dei lhe tapas no braço. Como ele podia brincar com algo tão
sério? O filho da mãe quase morreu e ainda sim via graça, mas ainda
que ele não visse, não seria o homem que eu conhecia a anos.
Capítulo 21
Jacob Corby

A estrada pra Dereham não era usada por muitos caminhoneiros


e talvez por isso o trânsito sempre fluísse melhor, e eu esperava que
na volta fosse a mesma coisa. Eu estava me recuperando da
tentativa de homicídio culposa de Claire contra mim, e mais do que
eu ter melhorado foi ela que aprendeu que deveria passar com mel a
quilômetros de mim. Se fosse a um tempo atrás, certamente Claire
teria servido em seu leite quente matinal no café da manhã quando
ela ainda era, minha secretária.
— Não achei que Dereham fosse tão longe! — Eu exclamei no
volante. Havia uma latinha de água tônica em minha mão, já que
havia bebido com Simon no dia anterior e queria limpar meu
estomago.
— Nem eu! — Claire resmungou ao meu lado.
— Devo saber algo sobre a sua família ou sobre você?
Ela abriu um sorriso latente em sua boca.
— Quer saber os segredos de Família, Jake?
— Não falei nesse sentido, mas se você quiser me contar, vai ser
um prazer. — Eu disse. Claire nunca foi de falar muito sobre sua
família, então eu realmente nunca soube o que esperar ou como
esperar quando me foi anunciado o aniversário de seu cunhado. A
única coisa que ela fazia questão de falar era pra não ligar para a
língua afiada de Tia Carrie, mas honestamente, pela descrição, acho
que eu e ela nos daremos muito bem.
— Ah, não! Somos simples e não se assuste com o entusiasmo e
a capacidade de ingerir coisas alcoólicas de Katie.
— Sua irmã, certo?
— Exato! — Ela me respondeu. — Mas fique tranquilo, Tia Carrie
não vai por na nossa comida qualquer coisa que nos faça querer
entrar um dentro do outro no fim da noite.
Chegamos exatamente 36 minutos depois de ter passado pelo
último posto de gasolina para que Claire fosse urinar, já que estava
quase suplicando em meu ouvido alegando que iria mijar no meu
carro, e como eu não sabia quanto tempo mais duraria a viagem, eu
resolvi parar, pois a última coisa que poderia acontecer, era
chegarmos em Dereham com o cheiro de urina.
Dereham era uma cidade pequena em Norfolk. Não era lá muito
futurista mais ainda sim era independente com todos seus
estabelecimentos e estalagens. A casa de Tia Carrie parecia com as
casas inglesas de 1980, mas em uma espécie de Alice no país das
maravilhas com suas cores vivas e Jardins impecáveis. Minha mãe
adoraria o lugar.
Saímos do carro e o primeiro Olhar de Claire para a porta foi um
sorriso, e ao olhar pra lá, sabia que era sua Tia, no pequeno portão
de madeira, tomado por tubérgias e suas flores lilases. Ela não era
tão diferente do que eu achei que seria, mas acho que mais peculiar.
Ela tinha cabelos castanhos claros em cachos que iam até o ombro,
tinha um corpo gordinho que cabia perfeitamente em vestidos
rodados como o que ela usava agora. Carrie tinha um cigarro entre
os dedos e quando nos viu aproximar, apagou na madeira do
cercado e jogou a guimba no correio de metal colado na madeira.
— Queridos, vocês chegaram! — Ela exclamou visivelmente
alegre. Lhe dei um sorriso enquanto seu queixo estava no ombro de
Claire envolvida em um abraço. — Pegaram muito trânsito no
caminho?
— Na verdade nenhum! — Eu disse. Ela soltou Claire, vindo até
mim com um sorriso no rosto e braços abertos.
— Oh, você dever ser o Jacob! — Disse ela — Eu lhe daria uma
medalha por ter feito Claire aceitar o noivado, mas pelo que vi nas
revistas, vocês estão empatados nesse pódio, não é mesmo? — Ela
era exatamente com Carrie disse que seria e aquilo só provou isso,
mas como eu disse, nós nos daríamos bem.
— Acredite, Claire é mais difícil! Nosso noivado está sendo de
matar. — Ela gargalhou com o que eu disse.
— Gostei de você, Jacob! Vamos entrar!
Tia Carrie nos mostrou o quarto onde ficaríamos. O Aniversário
de Allan, marido de Katie seria no dia seguinte, na casa deles, no fim
da rua. Teríamos tempo pra conhecer todos. Claire quis desfazer as
malas logo quando chegamos, eu me ofereci pra ajudar, mas quando
sua tia a viu negar, logo me intimou para um café da tarde e eu não
pude negar.
A casa era grande e espaçosa, não havia um segundo andar.
Seus olhos castanhos estavam focados na água em ebulição no
fogão. Ela desligou o fogo sorrindo, ajeitando seus cabelos e
despejando o liquido quente dentro da duas xicaras.
— Está pronto! Fique à vontade.
Olhei desconfiado.
— Tem...mel nisso?
Ela gargalhou com minha pergunta.
— Não dou a receita do meu chá pra ninguém, é um segredo de
família. — Carrie bebericou a xicara com os lábios vermelho, cor de
sangue. — Mas Claire me disse sobre a sua alergia, então não, não
tem mel!
Relaxei os ombros, levando o liquido a boca e... Meu deus, aquilo
era muito bom.
— Ual, o que é isso?
— É um segredo. — Ela levou o dedo á boca. — Mas não se
acanhe, me conte sobre você, de preferencia o que a revista não diz.
— Sorriu com os olhos, sentando na cadeira, na beirada da mesa —
Quando soube do noivado de Claire eu fiquei...curiosa. Ela nunca
trouxe nenhum homem aqui que não fosse aquele...Hardin, acho que
é esse o nome dele. E depois que mostrei as garras alegando não
ter gostado dele, ela nunca mais o trouxe aqui. Sempre disse que o
trabalho não permitia.
Eu pisquei os olhos, bebendo mais daquele chá que parecia ter
sido feito com algo como canela ou mate. Hardin nunca me pareceu
gente boa, e agora com algumas alegações sobre pessoas de fora
que diziam não o digerir de forma alguma, só fortificava minha ideia
de que Claire provavelmente vivia em um relacionamento abusivo
com ele. A medida de proteção nunca foi tão necessária.
— Não sou o melhor com palavras, mas acho que sempre fui
apaixonado por Claire. Nunca deixei um desafio passar por mim sem
dar a devida atenção, e ela se mostrou ser um desde o início. — Ela
me encarava sem piscar os olhos, oras bebendo o chá feito por si
mesma e oras limpando seus lábios com batidinhas de um lenço
umedecido completamente manchado por batom.
— Você me lembra meu marido, Jacob! No bom sentido. Steban
era sério e muitos o tiravam como um homem arrogante, mas só eu
sabia como ele era carinhoso, e como sua esposa, isso bastava. —
Ela soltou um suspiro. — Claire é uma boa menina. Nunca me deu
trabalho e sempre ajudou com o que tinha e com o que não tinha. Fui
contra ela ir pra Londres tentar a vida sozinha, ela podia ter
continuado aqui por um tempo, até conseguir se sustentar de
maneira saudável, mas ela foi na teimosia!
— Teimosia é algo característico dela. — Eu murmurei, olhando o
vento pela janela.
— Mas fico feliz que você esteja cuidando dela, Jacob! Claire
merece isso!
— Não sou o melhor nisso, mas faço o possível!
— Se não fizer, na próxima botarei mel no seu chá!
E nós caímos na gargalhada e aprofundamos nossa conversa
infinita.

(...)

Tia Carrie provou ser uma cozinheira de mãos cheias no jantar.


Provou dominar não só com maestria a arte de chás, mas também a
arte da culinária. Passei boa parte da tarde com Carrie enquanto
Claire arrumava o quarto, retirando a poeira e todas as outras coisas
que não deveriam estar lá. Ofereci ajuda, mas talvez eu não devesse
ver algumas coisas que estavam lá, por isso me negou.
Eu estava deitado sobre a cama quando ela saiu enrolada na
toalha com um sorriso de felicidade no rosto.
— Ficou boa parte do dia com Tia Carrie! — Ela exclamou.
— Sua tia é uma ótima pessoa, é animada e disse que se eu não
cuidar de você ela põe Mel no meu chá.
Claire riu.
— Não acredito que ela disse isso!
— Pois disse. — Eu corrigi a postura do travesseiro em minha
cabeça — Você está mais...feliz.
— Eu adoro Londres, mas esse lugar...foi minha infância.
Seu quarto minimalista. A cama espaçosa ficava no canto do
quarto, embaixo da janela. A cabeceira da cama de madeira, o
guarda-roupa embutido na parede e o tapete de corte baixo, na cor
cinza o chão.
— Vem, deita comigo! — Ela se aproximou e eu a puxei pra um
aconchego quente, sentindo seu cheiro familiar e tenro. — Sua tia é
uma pessoa peculiar! Mas é uma boa mulher. Quem sabe não
possamos convida-la pra passar um final de semana conosco
também, e se você quiser pode convidar sua irmã e o marido e... —
Eu estava visivelmente entusiasmado.
— Jacob, não somos casados tão pouco namorados...não posso
simplesmente elevar minha família pra lá. — Havia um cuidado em
sua voz para dizer aquilo, embora e eu estivesse brincando de
casinha eu sabia que ela falava a verdade, embora eu quisesse me
deixar enganar, Claire parecia não deixar. — Sei que suas intenções
são as melhores, mas...não posso engana-los a esse ponto.
— Então pode leva-los como...amigos.
— Pra minha casa sim, pra sua não, Jacob.
— Eu não queria...deixa-la chateada.
— Não deixou, mas é só que eu tenho a impressão de que você
está...entrando demais nisso. — E ela estava certa, mais uma vez.
— Impressão sua. Você é uma companhia incrível. — Ajeitei meu
braço embaixo da cabeça sobre o travesseiro. — Não quero me
afastar de você, mesmo quando tudo...acabar. — Eu sorri forçado,
esperando que ela compartilhasse do mesmo pensamento, rezando
pra ela pudesse pensar a mesma coisa. Claire era como uma droga,
e se afastar dela repentinamente era pedir pra quebrar aos poucos
por dentro.
— Se não me demitir quando nosso acordo terminar...vai me ter
por perto durante muito tempo.
— Você ainda vai ter que me suportar por muito tempo, menina!
Ela bocejou, ajeitando sua cabeça no meu peito. A loira estava
visivelmente cansada.
— Mas eu não quero o antigo...Jacob... — Ela sussurrava a
medida que o sono invadia seu corpo.
— Vai ter o Jacob que quiser, Claire. — Eu disse.
— E...eu falo a mesma coisa pra você! — Disse ela.
— E se eu pedisse você por inteira? — Não me respondeu, tão
pouco desenvolveu qualquer ação ou reação, porque diferente de
mim, Claire dormiu profundamente quando o cansaço venceu seu
corpo sobre o meu e tudo que eu pude fazer foi apagar a luz, e me
questionar pessoalmente porque meu peito doía com a mera
premissa de que talvez ela não poderia me escolher como qualquer
coisa a mais do que ser seu chefe.
(...)

O quintal da casa de Katie era gigantesco e ainda que tivesse


espaço pra muitas pessoas, ainda haviam poucas. Ajudei Claire
pentear seus cabelos e Tia Carrie a levar sua torta de maçã e chá
para o aniversário de Allan. Não me senti desconfortável quando
chegamos, mas ainda sim havia olhares demais sobre Claire e eu.
— Allan, eles chegaram! — A mulher baixinha que tentava mexer
na churrasqueira virou para nós com um bico de felicidade no rosto.
Suas mãos enluvadas mexiam em algo dentro da churrasqueira
enquanto seus convidados apenas olhavam. — Oh meu deus, me
deixe se livrar disso pra cumprimentar vocês. — Ela retirou as luvas
e largou o garfo sobre a tabua de madeira. — Você nunca muda,
Claire! Acho que é uma maldição de família. — Ambas riram. E
honestamente, Katie era muito parecida com Claire. Não havia como
simplesmente olhar para seu rosto e não deduzir um grau forte de
parentesco.
— Essa maldição não cai sobre você, irmã! Suas rugas
continuam aparecendo! — Claire devolveu rindo. Elas se abraçaram.
— Como estão todos?
— Estamos bem. Allan está montando a mesa a quase 1 hora
mais tenho certeza que Tia Carrie vai ajuda-lo com isso.
A senhora torceu o nariz.
— Sou apenas visita meu bem, Allan que se vire sozinho. — Sua
tia deu-lhe um beijo no rosto, depositando seus pratos sobre a
bancada da churrasqueira ao lado externo do quintal e
desaparecendo ao entrar na casa pelas portas do fundo.
— Oh meu deus, você é o Jacob, certo?
— Sim, sou eu, e você é Katie! — Respondi a ela.
— Allan comprou algo pra você. Um presente por ter aguentado
Claire!
— Katie!!!! — Sua irmã a repreendeu.
— Nossa, eu realmente estou começando a ter o ego inflado por
isso, mas acho que a Claire que eu noivei não é tão arisca assim! —
Tentei falar bem da loira, mas eu sabia o quanto Claire podia ser
afiada para espetar quantas vezes quisesse.
— Estamos falando da mesma pessoa? — Katie perguntou,
rindo. — Tudo bem! Vamos parar com a brincadeira. Estou feliz que
tenham vindo. Esses momentos em família são raros, então nada
mais justo do que aproveitar.
— Concordo! — Claire sorriu pra mim. — Precisa de ajuda?
— Vamos botar as comidas pra fora! Algumas pessoas ainda vão
chegar! — Katie puxou o braço de sua irmã, que me olhava
aguardando algum movimento.
— Fique à vontade, já volto!
No momento em que elas passaram pela porta, um homem
atravessou o mesmo lugar na direção contrário com um sorriso no
rosto, vestindo uma camiseta xadrez, pele negra, olhos castanho-
claros e cabelos tão grande quanto o meu.
— Você é o Jacob? Sou Allan, marido de Katie. — Ele falou,
vestindo o avental preto no corpo. Allan estigou a mão para me
cumprimentar e eu fui de encontro aos seus dedos, para retribuir.
— Eu mesmo! Acho que chegamos atrasados. — Falei.
— Acredite, Katie e eu estamos ainda mais atrasados para
arrumar tudo, então vocês chegaram cedo. — Allan retirou algumas
peças de carne do pote, depositando sobre a grelha na
churrasqueira ouvindo aquele chiar de carne queimando.
— Humm...tenho uma dica, não precisa por o sal nos dois lados,
um só é o suficiente, o sal escorre para o outro lado de forma interna
à medida que aí assando. — Ele me encarou, com um pouco de
surpresa inflando seu peito. — Então temos um churrasqueiro aqui?
— Um homem que não sabe assumir uma churrasqueira não é
homem.
— Obrigado pela dica, Jacob. Não vou assar carne demais!
Temos muita comida lá dentro, inclusive a torta de maçã e o chá de
tia Carrie. Você já provou?
— A torta?
— O chá! — Ele repetiu.
— Ah sim, aquele chá incrível? Sim tomei, acho que nunca provei
nada igual.
O clima de suspense pairou sobre o ar, e Allan olhou para os dois
lados retendo suas palavras até acreditarmos estar em segurança.
— Tia Carrie não dá a receita dela pra ninguém! Já amanheci
embaixo da janela de sua cozinha, mas ela diz que...a receita vai
morrer com ela. — O homem negro continuou depositando mais
carnes na grelha — Mas ainda vou descobrir.
— Me desculpe perguntar, mas porque quer tanto descobrir?
Ele riu.
— Sou apaixonado por chás e cafés. Fui barista por 4 anos antes
de terminar a faculdade de gastronomia, e o chá da Tia Carrie é algo
que eu nunca provei igual. Já tentei fazer diversas combinações mais
nada chegou perto.
— Já tentou oferecer dinheiro?
— O que você imaginar! — Allan disse e eu ergui as
sobrancelhas com sua declaração. — Não, espera, não exatamente,
mas já ofereci dinheiro e uma hospedagem no hotel mais caro de
Canvey Island, mas ela é dura de roer.
— Já tentou p:or uma câmera na cozinha? — Perguntei.
— Não tem sinal.
— Via Wifi?
— Tia Carrie detesta internet.
— É, acho que você vai continuar se remoendo pra saber a
receita. — Constatei. Allan parecia ser alguém legal, e com afinco
quando tinha desejo de algo, sua determinação para descobrir o
ingrediente do café de Carrie parecia o bastante pra comprovar isso.
— Olha, vocês já fizeram amizade? — Katie surgiu com os
braços cheios de potes. A ajudei, depositando sobre a bancada de
madeira da churrasqueira, e Claire vinha logo atrás com apenas um
pote em mãos, sorrindo.
— Também sei ser sociável quando quero. — Falei, vendo Claire
se aproximar de mim.
— Não disse que você não sabia ser.
O dia passou rápido. Conversei mais com sua irmã e sua tia, e
estranhamente me senti em casa, como quando meu pai estava vivo.
Como se eu pertencesse aquele lugar. Os olhos de Claire brilhavam
quando olhavam pra mim, com seu sorriso espontâneo e seus lábios
comprimidos entre eles. Katie mostrou sua grande capacidade de
ingerir bebida alcoólica, e minha então noiva de mentira não ficou
para trás bebendo a altura. A que ponto cheguei? Achar lindo que
Claire bebesse mais do que eu e Simon juntos. Quando tudo acabou,
voltamos para a casa de Tia Carrie, com aquele sentimento de que
talvez eu devesse falar sobre tudo o que eu sentia. Na pior das
hipóteses eu levaria um fora, mas acho que seria impossível notando
pelo jeito de seu olhar destemido me engolia toda vez que nos
cruzávamos.
Ela passou pela porta de nosso quarto e foi logo tomar seu
banho. Me aproximei do batente, apoiando o corpo na madeira,
vendo Claire tomar seu banho, em pé dentro do box enquanto a
água fria caia sobre a sua cabeça. Ela desligou o chuveiro para
ensaboar seu corpo, mas ao abrir os olhos me encontrou a
observando e tentou tapar o corpo.
— Que susto! — Ela exclamou ao me ver.
— Sou tão feio assim?
— Não, mas ficar me encarando como um fantasma é
assustador.
Eu ri de sua comparação.
— Gostei da sua família, você tem o temperamento deles. — Eu
disse.
— É uma pena que vamos embora amanhã, acho que gostaria de
passar mais tempo aqui. Você tinha que conhecer a coleção de
tempero de Katie e o chá da tia Carrie. — Ela ligou a água do
chuveiro ensaboando-se debaixo da água.
— Nós moscada. — Sibilei me aproximando devagar, parando ao
lado da pia. A única coisa que nos separava era o vidro do box.
— O que? Isso é uma espécie de código?
— O segredo do chá da Tia Carrie é noz moscada. — Eu
reproduzi novamente. Ela arregalou os olhos, desacreditada.
— Sem chance, como sabe disso? Como descobriu?
— Ela me contou. — Era difícil dizer em que momento Tia Carrie
se sentiu à vontade para me dizer o ingrediente secreto de algo que
ela considerava seu segredo de família. Certa vez meu pai disse que
mulheres viúvas tinham a chances de enxergar o amor onde
ninguém podia, justamente por ter provado do mais amargo entre
duas pessoas, a morte. Porque honestamente, acredito que Carrie
na verdade tenha visto o brilho quente em meus olhos sempre que
eu me referia a Claire, a forma como eu realmente dizia a verdade,
ou simplesmente porque ela tinha um apreço especial por sua
sobrinha e quisesse me agradecer de alguma forma pelo que ela
julgava ser verdadeira.
— E porque ela te contaria isso? Qual o sentido dela te passar
uma receita de família?
— Não sei, mas pode perguntar a ela se quiser, mas acho que ela
viu...sinceridade na nossa mentira.
Abri o vidro do box de correr pela lateral, nada nos separava,
apenas a fumaça da água que descia pelo chuveiro. Eu estava
nervoso. Nervoso porque precisava dizer para minha secretária que
no fundo, eu sempre a desejei desde o início, que no início daquele
desafio que provavelmente só eu competia, eu me desfiz rendido por
seu coração e precisei de peculiaridade para enxergar isso. Precisei
de um problema pra perceber que o problema era eu, mas finalmente
consegui enxergar e virar uma solução.
— Que mentira? — Ela sussurrou olhando de cima pra baixo,
com a cabeça baixa e os olhos ternos.
— Que eu sou apaixonada por minha noiva. — Dei o primeiro
passo para dentro do box, vendo-a quase falhar as pernas e a água
lhe escorrer os fios molhados. — Claire, eu não quero...me afastar
de você.
— Não...não foi esse o combinado, Jacob... — Ela protestou
contra si mesma.
— Você está virando minha cabeça do avesso a muito tempo,
talvez antes mesmo de toda essa...besteira surgir. Eu estou
apaixonado por você, te desejando a cada minuto e eu não sei se
você sente o mesmo, mas eu juro Claire, que se não quiser eu vou
entender, mas se sente algo por mim, mesmo que seja pequeno, me
diga agora! Porque eu não me lembro de querer tanto alguém como
quero você.
Ela jogou seu corpo pra trás, encostando-o no azulejo da parede.
— E se isso for só desejo? E se você mudar de ideia Jacob?
— Mudar? — Eu dei um sorriso, agarrando a lateral de seu
pescoço com carinho, enquanto a água caia em sua cabeça,
deslizando pelos caminhos do seu rosto. — Claire, eu não quero que
saia da minha casa. Não sou o tipo de homem que acha, sou o tipo
de homem que tem certeza, e nenhuma certeza é mais absoluta de
que você. Quer uma garantia?
— Jacob...porque isso agora?
— Porque eu quis ter certeza onde você ainda dúvida, porque eu
não quero te apresentar como minha sabendo que daqui a um mês
você vai me chamar de Sr. Corbyn de novo. Eu não quero mostrar
pras pessoas que você é minha, Claire, eu quero mostrar pras
pessoas que eu sou seu, mas pra isso você precisa me aceitar,
precisa olhar nos meus olhos e dizer que o brilho que eu via no seu
olhar não era coisa da minha cabeça.
Minha camiseta estava encharcando, e eu não dava a mínima se
me molharia inteiro. Nada mais importaria se ela dissesse que tudo
aquilo era mutuo.
— Acha que...isso vai dar certo? Tem Hardin, tenho meu
apartamento, e tudo... — Botei um de meus dedos em seus lábios na
posição vertical, congelando suas palavras.
— Já deu certo, não vê?
Ela fechou os olhos, buscando meus lábios com os seus, dando a
resposta positivo pra uma proposta que se dependesse de mim seria
pra vida inteira. Agarrei sua cintura, entrando definitivamente debaixo
do chuveiro, terminando de me molhar por completo. Suas pernas
esbeltas envolveram minha cintura, roçando e esquentando minha
pele úmida. Sua língua procurou a minha, dançando nas estrelas
com o sabor de tequila ainda presente, seus lábios macios
comprimiam os meus de forma avassaladora, preparando-me para a
foda intensa que estávamos prestes a ter.
Com suas mãos, ela conseguiu tirar minha blusa ensopada do
corpo. Seus seios molhados eram a coisa mais linda sobre minha
visão, descendo com sua respiração ofegante e calejada pela falta
de ar dos nossos beijos.
— Eu tenho pressa, Jake! Não demore! — Ela sussurrou.
Segurando sua cintura com uma das mãos, eu sai do box, marcando
o chão de água abundante em direção ao quarto, estávamos
molhando tudo, mas eu não tinha tempo pra isso. Ela era minha
prioridade, ela era minha mulher, e tudo que ela pedisse seria um
desejo, seria uma ordem. — Eu sinto como se fosse...explodir.
— Respire, Claire. Respire! — Encostei suas costas na cama,
seu corpo molhado derrapava no meu, tirei meu short revelando meu
corpo nu. Deslizei minha mão por seu corpo até chegar em sua
intimidade, e ao mesmo tempo agarrei meu cassete já duro
massageando lentamente à medida que Claire me olhava. Passei os
dedos entre os lábios maiores e macios de sua boceta linda e
convidativa, criando voz própria e pedindo para que eu pulasse pra
dentro dela.
— Está vendo? Quer dentro de você? — Ela positivou com a
cabeça e eu continuei a passa meus dedos por seu interior,
alternando entre a carne inchada de seu ponto de prazer que vibrava
e se contorcia junto com Claire. Me aproximei de sua boceta linda e
rosada como um pêssego e passei a língua em seu centro sensível
vendo arquear o corpo, fechando os joelhos em minha cabeça.
Suguei com força, enfiando um dedo vagarosamente em seu cu e
outro em sua boceta. — Não goze, não ainda! — Sussurrei contra
sua carne. Subi sobre seu corpo, encaixando meu pescoço entre
meus dedos, e abrindo caminho em sua entrada úmida, apertando-
me em reflexos ritmados, fazendo-me trincar os dentes. — Eu vou
comer você como ninguém nunca comeu, entendeu Claire? Vai
acordar todos os dias sabendo que só eu posso dar o que você quer!
— Eu sou sua, Sr. Corbyn, completamente sua! — Ela
praticamente gritou. Agarrei seu pescoço e eu juro que quase gozei
na primeira bombada em sua boceta. Era difícil vê-la arreganhada,
com a visão de meu pau escorregando facilmente pra dentro de seu
corpo, enquanto ela esperava ser enforcada e fodida de uma forma
digna. Avancei com o quadril contra sua entrada sentindo seu fundo,
o limite de seu quarto.
— Eu vou deixar você assada e ardida quando voltarmos! —
Sussurrei em seu ouvido. Estoquei forte, com as duas mãos no
pescoço de Claire, à medida que ela apertava um dos seios e
massageava seu clitóris com a outra mão sentindo-me rasgar
caminho e dentro, sair e empurrar de novo em seu interior.
— Eu vou...gozar! Continue...! — E eu acatei. A visão já era um
verdadeiro espetáculo e naquela altura do campeonato eu já me
considerava um vencedor somente por não ter gozado na mulher
que gemia descontroladamente embaixo de mim, mas foi ao sentir
seus primeiros espasmos internos, seu corpo tremelicar, um grito
grunhir por sua garganta e ela arquear na cama que me derramei
junto dela, fodendo-a desesperada, como tudo aquilo nos
concedesse muito mais do que prazer.
Nós ficamos em silencio, olhando para o teto e a cama ensopada
de água, mas olhando por um bom lado, havia sido por uma boa
causa. Eu cheguei receoso na casa de tia Carrie, mas eu sairia dali
leve, porque em torno de tudo aquilo o meu maior prémio não foi o
crescimento da Orsoft, mais sim a mulher que agora dividia a cama
comigo.
Capítulo 22
Claire Blackwood

— Se não voltar em breve eu vou atrás de você querida! — Tia


Carrie disse enquanto distribuía beijos por meu rosto.
— Desculpe pelo quarto molhado! — Jacob murmurou atrás de
mim, sem graça com a mão nos cabelos.
Katie me abraçou pelo ombro sorrateira e sussurrou em meu
ouvido.
— Deveria pedir desculpas pelo barulho que vocês fizeram! — Eu
nunca senti tanta vergonha em toda minha vida. Katie nunca se
intrometeu em minha vida amorosa, e muito menos em minhas
intimidas, então era no mínimo vergonhoso tendo visto que ela sabia
de algo tão...comprometedor.
Aquilo não era como se eu não a ouvisse transar com Allan
quando morávamos debaixo do mesmo teto.
A viagem foi um pouco lenta, mas nada do que reclamar. O
engarrafamento só apertou quando nos aproximamos de Londres. A
viagem era relativamente longa e ainda que não tivesse nenhum
esforço exagerado, tudo que nós queríamos era descansar, e ir pra
empresa não era algo tão necessário. Segundo Simon em uma
ligação, estava tudo nos conformes, então uma falta não mataria
ninguém.
A semana passou devagar. Fizemos uma denúncia formal contra
Lenon que simplesmente resolveu entrar de fato para uma igreja
evangélica ou estava fingindo para ter um álibi durante o processo de
investigação. Voltei para o meu apartamento para limpa-lo e fazer
algumas mudanças nos moveis, mas ainda sim eu reservava minha
noite para ficar com Jacob, que fazia questão de enfatizar que nosso
noivado era real, mesmo que eu tenha dito ser cedo para pensar em
algo parecido, mas para todos os outros éramos noivos, mas entre
quatro paredes eram animais no cio.
Eu estava no taxi, a caminho da empresa! Jacob não havia me
respondido por toda a manhã e tudo que eu esperava era vê-lo ao
chegar.
Meu telefone tocou. Era Quinn.
— Oi princesa inglesa!
— Oi grávida inglesa! — Saudei.
— Willow e eu pensamos em fazer uma tarde das meninas no
sábado a tarde, o que acha?
— Amanhã?
— Acho que consigo! O que vocês sugerem?
— Você e ela bebem álcool e eu acompanho com um suco de
abacaxi. — Ela exclamou.
Havia um tempo em que não tínhamos a noite das meninas, e
levando em consideração que fazia isso no mínimo duas vezes na
semana, ficar uma semana sem vê-las era tempo o suficiente para
que Quinn começasse a reclamar.
— No calcinha louca? — Perguntei.
— Na minha casa!
— Fechado! — E ela desligou.
Entrei no prédio e a circulação de pessoas era maior do que o
normal. Lorah estava no balcão da entrada, com um sorriso no rosto
assinando algumas coisas. Era visível o fone de música em seu
ouvido, mas de alguma forma ela percebeu meu olhar, e os desatou
dos ouvidos, dando-me atenção.
— Claire? Ah, bom dia! — Ela disse sorrindo.
— Bom dia. Está tudo tão agitado! Alguma palestra acontecendo?
— Jacob está com os representantes da Pandors desde 8h da
manhã no escritório em uma reunião de emergência. Parece que
ninguém saiu da sala.
Reunião? Jacob não havia dito nada para mim, nem sequer
mencionado algo relacionado a uma visita da Pandors a Orsoft. Meu
sorriso diminuiu. Reuniões nunca duravam tanto. Já passava das 11h
da manhã e não havia motivo para estender tanto, pelo menos não
um que eu soubesse.
— Que estranho, ele não me disse nada!
— Pelo que sei ninguém sabia! — O apelido de Lorah a precedia.
— Obrigado, vou...procurar saber! — Eu sussurrei.
Subi ao elevador com a ansiedade um pouco mais forte que o
normal, mas ainda sim nada preocupante. A mesa de Jacob estava
vazia, e tudo que eu podia fazer era encarar minha caixa de entrada
do e-mail vazio e o sol pela janela, que atingia o mais alto ponto no
céu, mostrando que o ápice do calor diário estava chegando, e em
breve, estaríamos nos despedindo do verão inglês. O relógio
marcava 13h da tarde e meu estomago já estava roncando de fome.
Eu iria buscar óculos de sol para descer, mas antes que eu me
levantasse, Jacob entrou pela porta, com o rosto vermelho, e o peito
descia e subia como uma arvore em um vendaval.
Ele estava nervoso.
Muito nervoso.
— Lorah me disse que você estava em uma reunião e eu preferi
não... — Fui educada, mas as palavras dele me cortaram de uma
forma ríspida que não me agradou.
— Eu vou perguntar apenas uma vez e você vai me dizer a
verdade. Estamos acordados? — Ele botou a mão na cintura, com
seu olhar desesperado.
— O que está acontecendo?
— Claire, você falsificou documentos relatoriais da Gossip? —
Ele me perguntou e o sentimento que eu tinha era de que meu corpo
estava se preparando para viajar milhares de quilômetros por hora,
nas lembranças vagas onde no passado, eu havia previsto o futuro.
Mas de todos os momentos em que meu erro deveria vir à tona,
aquilo havia sido o pior de todos eles, justamente porque tudo estava
incrível demais para ir ao pico do desastre de 0 a 100.
— Jacob...eu... — Minha voz estava falhando. Meu coração batia
tão rápido de nervosismo que eu sequer conseguia acompanhar a
vertigem que me alcançava.
Simon entrou na sala, trancando a porta, pegando todo aquele
clima tenso e pesado no ar.
— Jake, eu pedi que eles aguardassem um pouco, e que você ia
tomar um copo da água... — Ele mirou os olhos em mim.
— O que está acontecendo? — Eu murmurei novamente, sem
folego, sem ar. Eu sabia parcialmente o que estava acontecendo,
mas queria entender com lucidez.
— Jacob não...contou?
— A Pandors descobriu a falsificação de um dos relatórios. Estou
desde as 8h da manhã ouvindo dos representantes que a Orsoft é
uma empresa fraudulenta e que vamos sofrer um processo, Claire.
— Ele deu a volta na sala, desamparado, estarrecido e sem crença
procurando um ponto de concentração para que não explodisse
acabasse ferrando com tudo de vez. — A porra de um processo que
vai afundar essa empresa.
— Se acalme, Jacob! — Simon tentou reduzir sua excitação e
sua respiração descontrolada.
— Me acalmar? — Ele me encarou, e eu vi raiva em seu olhar,
raiva de mim. — Abra a maldita boca e diga, Claire.
O que eu diria? Que foi sem querer? Que foi porque eu não quis,
mas simplesmente porque estava trabalhando como uma louca
naquela semana, deixando minha vida em segundo plano e não
conseguir ao menos realizar um pedido de seu chefe? A verdade
estampada na cara dele, era que nem mesmo que eu fosse de ouro
ele me escutaria. O relatório carregava meu nome. Ele não queria
saber ou confirmar quem havia sido, ele queria uma confissão.
— Precisa me escutar antes de falar qualquer coisa. — Eu queria
me defender de algo indefensível, mas eu merecia me explicar e
Jacob precisava me escutar, porque vê-lo nesse estado era a
confirmação de que se as águas andassem por esse caminho, ele
não desejaria me ver ali no dia seguinte.
— Tem noção de como isso é sério? Você falsificou tudo, deu
dados falsos, números falsos! Isso muda tudo, isso vai mudar tudo!
— Doeu, doeu porque tudo não era sobre a empresa ou os
números, o tudo que ele se referia, era sobre nós.
Simon não queria se meter. Era obvio, mas ele estava entre a
linha tênue entre parar Jacob e pedir pra que eu saísse antes que
ouvisse o que não deveria ouvir.
— Deixa eu me explicar, por favor! — Ele calou a boca,
esfregando seus cabelos claros. Seus olhos estavam escuros, em
tormenta. — Eu cheguei cansada naquele dia, você me pediu e eu
esqueci de pedir o relatório e não tinha como fazer na hora porque
demandava tempo dos servidores, e eu não queria ouvir broncas,
Jacob! Estava em uma semana ruim, e você nunca foi paciente ou
condescendente e estressado e tudo que eu queria era trabalhar em
paz...
— Então eu sou o culpado? A culpa é minha por você ter
falsificado os relatórios?
— Eu nunca disse que você era o culpado!
— Nada que você diga vai justificar isso, nada! A empresa pode
responder um processo porque você não queria ouvir broncas? Tem
noção de como isso soa infantil? — Ele me deu as costas.
— Eu tomo a frente, me assumo a culpada, assumo o processo!
— Eu precisava contornar aquilo de alguma forma, mesmo que me
custasse ele.
— Isso tudo não é meu, Claire. Essa empresa pertence a muitos
funcionários, mais isso o que você fez...foi horrível.
Eu queria dizer algo, queria voltar no passado, queria mudar tudo.
— Me perdoa, minha intenção não foi...prejudicar ninguém.
— Vá pra casa, Claire. E só volte aqui quando eu ligar pra você!
— Jacob abriu a porta, com o rosto esgotado. — Eu vou tentar
contornar o problema que você causou.
— E se não me ligar de volta? — Eu perguntei para meu
desespero.
— Vá pra casa!
Tive chances de me explicar, mas Corbyn nunca me entenderia
porque estava com raiva o suficiente de tampar seus ouvidos pra
qualquer uma das notas que eu desse a ele, para qualquer
esclarecimento para maior entendimento, entretanto, no final, eu
merecia.
Ele pediu que eu fosse pra casa porque sabia que seria a melhor
coisa a se fazer.
E foi exatamente o que eu fiz.

(...)

Eu cancelei todos as saídas que eu tinha. Não fui pra casa de


Quinn no sábado.
Se passou um dia.
Dois dias.
Três dias.
Quatro dias.
Cinco dias.
Seis dias.
Sete dias.
Jacob não me ligou, tão pouco me procurou para dizer que
realmente não queria me ver, mas talvez ele quisesse me dizer que o
tempo seria o melhor remédio para curar a dor que agora sangrava,
por culpa única e exclusiva minha.
— Não devia ter feito isso! — Eu estava deitada nas pernas de
Quinn na cama, com um pequeno lenço em mãos enquanto eu
enxugava as lagrimas duras que meus olhos cuspiam. — Ele só
precisava de tempo, Claire. Você foi precipitada.
Entre meus dedos estava uma revista, onde eu protagonizava a
primeira capa com um enorme coração partido.
“Jacob Corbyn e Claire Blackwood rompem o noivado mais
famoso de Londres”
Eu mesma tive a iniciativa de ligar para o jornal e dar a notícia.
Estava claro que Jacob não ligaria ou me procuraria. No entanto ao
menos, eu tinha meu apartamento quitado, e quanto ao meu
emprego, eu não sabia, mas talvez aquele fosse o ponta pé inicial
suficiente para começar minha carreira como advogada. Talvez fosse
a hora de finalmente desacreditar que ele voltaria, que ele ainda
pensava em nós tanto quanto eu pensava.
— 7 dias, Quinn. Não acha tempo o suficiente pra vir conversar
comigo se ainda achasse que nós dois valíamos a pena?
— Simon disse que ele resolveu tudo, mas que ainda estava
abalado.
— E talvez ele tenha decidido me excluir da empresa pra não
correr riscos.
— Claire você é a sócia. Não tem essa de te excluir da empresa.
Eu virei de barriga pra cima, encarando os cabelos loiros de
Quinn de baixo para cima.
— Eu queria ir pra longe, Quinn!
— E eu deveria te amarrar para não ir pra longe! — Ela riu ao
dizer.
Meu telefone vibrou no bolso direito da calça.
Era Willow, um sms na verdade.
“Você está me devendo alguns shots de tequila. Hoje as 21 no
calcinha louca?! Se sim, mande um emoji de dedo do meio.
Te amo, Wil”
É, acho que já tinha companhia pra reclamar da vida injusta, que
só era injusta por causa de mim mesma. Era hora de olhar para
Jacob como uma página passada, como algo que ficaria pra trás,
assim como Hardin ficou.

Jacob Corbyn

Sete dias foi o tempo que precisei pra encaixar tudo no lugar, foi
o tempo que precisei pra entender que talvez eu nunca tenha
precisado da Pandors. Nunca me dei bem com críticas, ainda mais
com criticas que eu sabia que eram sem fundamentos.
A realidade era que Victor acreditou que poderia me influenciar a
trocar muitas coisas na empresa, mas depois que viu que não seria
tão fácil, encontrou uma brecha para tentar quebrar o contrato sem
ter que sofrer toda a burocracia contratual, e ele resolveu transformar
uma pequena fenda, em uma cratera para ter tudo o que quis ao seu
favor. Por saber que tudo aquilo era minha vida, ele achou que
possivelmente eu sucumbiria aos seus desejos com o medo de
sofrer um processo violento, mas minha conduta era uma só, e não
seria um homem que mal cabia em seu terno que me faria mudar de
opinião.
Claire.
Era apenas nisso que minha cabeça pensava.
Fui um imbecil com ela, mas nada ainda justifica seu erro, e
ainda que ela tenha pedido desculpa, eu não fui capaz de ouvi-la
com facilidade.
Anunciamos formalmente a quebra de contrato, e aquilo sem
dúvidas fez nossas ações despencarem, mas no fundo eu não
estava me importando com isso, no fundo eu estava em paz. Era
uma sensação de ter se desamarrado da Pandors, uma sensação de
liberdade que eu deveria ter tido desde o começo. Mesmo com essa
queda brusca, a Orsoft poderia se reerguer como fez uma centena
de vezes.
Estava ali, na minha frente e somente eu poderia ver. Tudo
corroborou para os fatos que aconteceram nas últimas semanas, e o
mais concreto era a paixão que eu sentia por ela apesar de tudo, e
talvez eu só tenha percebido isso quando meus olhos se
surpreenderam com a noticia da manhã estampada na revista.

“Jacob Corbyn e Claire Blackwood rompem o noivado mais


famoso de Londres”

Ela havia dado a informação.


Claire havia desistido de nós.
Por provavelmente achar que eu havia desistido de nós.
— Precisa ir conversar com ela. — Simon disse, mordendo os
biscoitos de polvilho doce. Estávamos em uma cafeteria nova.
— Ela desistiu de nós!
— Não, Jacob! Você desistiu, desistiu quando não ouviu ela,
desistiu quando deixou os dias passarem. Você não é um rei pra
fazer uma mulher esperar pra sempre. — As palavras foram como
uma bofetada na minha cara, mas Jacob estava certo. Mesmo que
Claire tivesse errado, eu deveria tentar entende-la.
— O que eu faço?
— Vá atrás dela, mas faça diferente, faça o que nunca fez, faça
o inesperado.
— E se não der certo?
Ele suspirou, bebendo do achocolatado.
— Você tentou. — Simon disse por fim.
Simon era meu melhor amigo, e talvez eu devesse um pouco de
sinceridade pra ele também.
— Se eu contar pra você que Claire e eu nunca fomos noivos de
verdade... — Sua reação foi inesperada. Ele abriu um sorriso
sacana.
— Eu já sabia, mas acho que havia uma parte nisso que era
verdade, pelo que eu estou vendo?
— O que? — Exclamei.
— Claire contou pra Quinn.
— Pera, então você sabe de tudo... — Pisquei os olhos ainda
surpreso.
— Absolutamente tudo, até o que aconteceu no ensaio de vocês
pra Burberry.
Eu soltei uma risada. Claro, Claire era melhor amiga de Quinn.
Seria idiotice minha achar que elas não compartilhariam algo assim.
— Não sei porque estou surpreso. — Sibilei fitando a mesa.
— Eu nunca fiquei. Na verdade, quando ela foi efetivada como
sua secretária, estava estampado na sua cara que você se renderia.
Você se apaixona por desafios, Jake! E acredito que nem a Orsoft
tenha sido um grande o bastante.
— Eu vou atrás dela, mas e se ela não quiser...me ver? Vou
esperar a noite cair pra ir até o apartamento dela.
— Um passarinho me contou que ela não vai estar no
apartamento dela, mas sim em um bar no centro...pode ser o palco
perfeito.
— Fechado. — Eu disse.

Claire Blackwood

Já passava das 22h e Willow estava virando nesse exato


momento a última dose da garrafa de tequila. Nós éramos uma
espécie de rainhas no Calcinha louca. Pimpim, o dono do bar, abriu
uma competição e nos claramente estávamos ganhando. Metade
dos homens estavam debruçados sobre a mesa do bar sem
conseguir mexer o braço.
— Hoje você vai bater um novo Record, Willow! — Pimpim vibrou
quando viu a última gota de álcool sumir nos lábios da morena.
Eu já havia bebido o suficiente para ficar bêbado, mas por incrível
que pareça, a única coisa que eu sentia agora era a dor de cabeça
forte.
— Essa é minha garota! — Eu gritei quando ela bateu o fundo do
copo na mesa.
No momento em que virei o meu copo, alguém se sentou do meu
lado, e mesmo que eu não tivesse devolvido o olhar, eu sentia que
ela ou ele estava me encarando. Mas a voz chegou aos meus
ouvidos antes que a meus olhos chegassem até ele.
— Eu também quero participar. — Ele disse olhando para
Pimpim.
Jacob estava ao meu lado, de terno e gravata, me encarando
com o rosto sério.
— O que faz aqui? — Perguntei surpresa. Esse era o lugar mais
improvável onde eu poderia encontra-lo ou onde ele pudesse vir
atrás de mim. — Achei que achasse esse lugar péssimo.
— Acho que mudei de ideia. — Pimpim deu um copo a ele.
— Como sabia...que eu estava aqui? — Perguntei.
— Um passarinho. — Corbyn disse. Simon provavelmente,
depois de ter extraído de Quinn, claro.
— Com qual bebida vai competir, garoto? — O Dono do bar
perguntou.
— Uma garrafa de Bourbon por favor, puro e sem gelo. — Ele
respondeu abrindo um sorriso em minha direção.
— Eu nunca perdi, Jacob.
— Eu já disse que adoro um desafio. — Ele exclamou.
— O que você quer?
— Você de volta. — Meu coração errou a batida. Porque ali e
agora? Porque ele havia sumido por tanto tempo?
— Demorou 7 dias pra perceber isso? Precisou esperar que o
mundo soubesse do fim do nosso noivado? Acho que já passou
muito tempo.
Jacob pegou a garrafa posta na mesa, encheu seu copo
cheirando o liquido.
— Quero fazer um tratado com você. Você disse que nunca
perde, se você ganhar eu faço o que quiser, inclusive ir embora.
— E se eu perder? — Perguntei.
Todos já nos olhavam curiosos. Nossa conversa havia se tornado
pública, e Willow estava assistindo tudo como uma verdadeira
telespectadora. Jacob botou a mão em seu casado pro lado de
dentro, tirando uma pequena caixinha, depositando-a com cuidado
sobre a mesa, abrindo-a e revelando o anel prata com uma pequena
perola no centro.
— Você casa comigo.
— Cassete, isso está ficando cada vez melhor. — Willow
murmurou atrás de mim. Eu olhei incrédula. Jacob realmente havia
perdido todo o juízo. Me casar com ele? Como se toda a história de
ser sua noiva já não bastasse, o que ele queria provar.
— Você...perdeu a noção? — Eu tentei sussurrar, mas ficava
difícil quando todo mundo nos olhava.
— Eu sei que você errou, Claire. Mas eu também errei. A Orsoft
quebrou o contrato com a Pandors e sinceramente...foi a melhor
coisa que poderíamos ter feito, podemos crescer por conta própria,
juntos..., mas eu quero que saiba que a maior mudança que você
pode fazer foi em mim. Então se essa é uma forma de provar, vamos
lá, eu faço.
— Jacob...eu errei e sei disso, mas precisa regular essa explosão
dentro de você. Me desculpa pelo contrato, me desculpa, eu
realmente não quis nada disso. — Minha sinceridade seria a melhor
coisa, sempre foi. — Eu fiquei 7 dias esperando por você, e eu achei
que...enfim, não posso esperar pra sempre.
— Eu tô aqui, Claire. A gente não precisa esperar. — Ele disse,
aproximando a caixinha do anel de mim.
Eu estava com saudade de seu sorriso.
— Espero que seu fígado seja valente.
— Então vamos lá. O primeiro que beber a garrafa inteira precisa
dar algo para por no varal. — Pimpim apontou para o varal que
cruzava o teto do salão — E no seu caso, garoto, acho que a gravata
está de bom tamanho.
Jacob era mais valente do eu achei que seria. Minha garganta
queimava pela velocidade em que eu bebia cada um dos copos.
Willow havia dividido os times dentro do calcinha louca.
#TeamJacob e #TeamClaire
— Puta merda, eu não devia ter aceitado — Sussurrei para
Willow que gargalhava à medida que Jacob ia bebendo
incansavelmente o whisky em seu copo de vidro.
Em meia hora eu ainda tinha algo como 5 doses dentro de minha
garrafa, mas Jacob tinha algo como apenas 1. Nossos olhares se
cruzaram, um sorriso de paixão instalou em seu rosto, e ele virou
completamente pra mim.
— Prefere véu e grinalda na igreja ou na casa de campo? — Ele
brincou prevendo minha tarefa.
A verdade era que eu o amava, a verdade era que eu sempre
tinha me sentido atraída por ele, e que o termino com Hardin e toda
essa situação, acabou por finalmente revelar que o ódio encubado,
era uma paixão intensa, e que só cresceria mais, porque só Jacob
era capaz de regar da forma certa.
Eu o queria.
Queria acordar e ver Jacob do meu lado.
Queria desafia-lo com mais e mais garrafas alcoólicas.
Queria comer a carne assada de nossa mãe.
Eu confiava em tia Carrie, e se alguma forma ela também
confiava nele, eu sabia que era porque valia a pena.
Afastei minha garrafa, enquanto ele bebia o último copo. No
momento em que seu copo bateu na mesa, eu pulei em seu colo,
cobrindo sua boca, misturando o gosto de álcool presente em nossa
língua. Como senti falta daquilo, senti falta da sua boca, senti falta do
seu cheiro, senti falta dele, e principalmente de nós dois juntos e do
que nós finalmente poderíamos ser.
— Porque demorou tanto?
— Me desculpa, deusa, me desculpa! — Ele sussurrou enquanto
esfregava seu nariz em meu pescoço ouriçado.
— Acho que você vai precisar tirar sua gravata e estendê-la no
varal. — Eu disse. — Mas prometo que deixo tirar minha calcinha e
estende-la no chão do seu quarto quando chegarmos em casa.
Epílogo.
2 anos e 6 meses depois

Jacob Corbyn.

Meu pai sempre disse que tudo o que vai volta, e se eu plantasse
o meu, eu também o colheria. Mas eu ainda me pergunto, o que
exatamente eu plantei para colher tudo que tenho hoje.
O que plantei para ter a melhor esposa do mundo.
O que plantei para ter a maior empresa tecnológica do continente.
O que plantei para colher tanta felicidade.
Não que eu tenha plantado coisas ruins, mas o quanto eu plantei
para colher tudo isso?
Mas independente de qualquer coisa eu sou grato e agradecido
até mesmo pelo que eu não tive.
Estava duas semanas fora, em uma reunião no Cairo. A
Gossip.com havia expandido 250% mais do que nos últimos dois
anos. Éramos um fenômeno, meus funcionários eram os melhores,
até a faxineira Lumena era a melhor. Passei pelo Hall da empresa,
com um copo de chocolate quente e pães de queijo quentinhos.
Cumprimentei Lorah na entrada que deu uma piscada pra mim.
Subi ao elevador sozinho.
Eu estava louco de saudades.
Nunca passei tanto tempo longe de Claire, mas eu sabia como
sanar isso.
Na porta de sua sala, uma placa anunciava seu nome.
“Claire Corbyn, Diretora jurídica empresarial.”
Abri a porta com o coração quente quando encarei minha esposa
sentada atrás de sua mesa, com um sorriso no rosto. Seus cabelos
loiros estavam maiores do que antes. Seu corpo continuava delicioso
com as curvas plenas no auge de sua vida, mas nada era mais
apaixonante que seus olhos, porque mesmo quando sua boca não
dizia, seu olhar delatava.
Me aproximei de sua mesa.
— Foi aqui que pediram um café da manhã?
— Eu pedi a volta de um marido, mas acho que posso aceitar um
café da manhã se ele vier junto. — Num piscar de olhos, seus braços
já estavam em meu pescoço.
Beijei sua boca com saudade, agarrando seu rosto, para que
mostrasse a ela tudo que senti quando estava fora. Ela me agarrou,
aproximando mais nossos corpos e eu senti a respiração em seu
busto por dentro do vestido.
— Senti sua falta, deusa... — Distribui beijinhos em seus ombros.
— Também, Jake. — Ela sussurrou sem tirar o sorriso do rosto.
— Eu achei que...não chegaria a tempo para o aniversario de Poppy.
Poppy era nossa afilhada, a filha de Simon e Quinn, era tão
charmosa como a mãe com sua pele negra e seus cachinhos
escuros. Não acho que havia menina tão mimada quanto ela, não
pelos pais, mas porque Claire fazia o mundo por ela e eu
consequentemente também. Enquanto não tínhamos planos de ter
filhos, paparicávamos Poppy como se fosse nossa, e mesmo que
Claire eu tivéssemos os nossos próprios um dia, Penelope ainda
seria nossa primogênita.
Hardin nunca mais nos incomodou depois daquele episódio,
soube que ele havia se casado e inaugurado algumas academias no
leste da cidade, e sobre Lenon, havia entrado tanto no papel de
evangélico que agora ele auxiliava a realizar missas, e ainda sim
pagava cestas básicas para cumprir com o processo de assédio
contra algumas mulheres na empresa.
— Eu sempre cumpro com a minha promessa. — Falei. Ela se
afastou indo até a porta. — Tia Carrie chega hoje pra passar o final
de semana conosco, não é?
— Sim, e acho validamos tirar os moveis da minha sala do lugar,
do que fazer ouvi-la destruindo nosso quarto. — Seu olhar era
lascivo. Ela abriu o zíper do vestido branco que usava, e
honestamente, eu nunca me acostumaria com Claire se despindo.
— Acho que eu nunca vou me acostumar com o quão gostosa
você é.
— Acho que eu posso te ajudar com isso. — A loira murmurou
antes de subir sobre meu colo, e eu deitar seu corpo sobre a mesa,
pronto pra me perder incansavelmente dentro dela.
Éramos ferro e fogo, e mesmo que em desafios internos eu sabia
que era ela feita pra mim, mas mais do que isso, eu pertencia a ela
de maneira que nunca pertenci e nunca queria pertencer a mais
ninguém.
Agradecimentos
Meu deusssssssssssss, obrigadaaaaa!!!!!!!!!!!!! Obrigada por
terem lido A NOIVA DE MENTIRA até aqui, por terem esperado essa
história junto comigo e me cobrado a cada dia, isso ajudou MUITO.
Obrigada a Barbara, essa pessoa incrível que nunca me deixou
desanimar, ou me cansar de virar a noite escrevendo. Obrigada,
amiga, você é do caralho, esse livro não é só meu, esse livro é
nosso. Obrigado a Yasmin C. por depositar altas expectativas na
minha capacidade, quero você por muitos anos na minha vida.
Espero que tenham gostado do livro, não foi difícil escrever, mas foi
longe de ser fácil. Esse é só um dos lançamentos incríveis que eu tô
planejando para esse ano e quero vocês comigo em todos eles.
Mais uma vez, obrigada!
Larissa.

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