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PERIGOSAS NACIONAIS

CAPÍTULO 1

Às vezes o amor nos pega desprevenidos.


Há maneiras diferentes de amar.
Alguns olhos sempre enxergam de maneira errada.
E foi assim que eu me apaixonei.
De uma maneira ridícula, do jeito errado, a pessoa
errada.
A pior parte não é se apaixonar, é mentir.

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CAPÍTULO 2

A minha história começa assim...


Sou uma menina ou devo dizer mulher? A
questão é que sou normal, como todas as outras da
minha idade, ou seja, vinte e dois anos.
Agora, em relação a minha vida, digamos que
isso seja "normal" com pessoas mais velhas e o
rótulo é outro.
Posso ser considerada anormal porque no meu
apartamento há uma quarto apenas com perucas,
roupas de luxo e muita maquiagem.
Você deve estar se perguntando se sou uma
menina que veio de uma família rica e sonha em ser
uma Lady Gaga da vida, mas não, muito pelo
contrário.
Há exatos cinco anos atrás, meu pai Edson
Moura faleceu por conta de doenças cardíacas. No
ano, acabou sendo um sofrimento tanto para mim,
quanto para minha mãe Elisa Moura e minha irmã
Sabrina Moura.

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Por mais que entre a minha irmã e eu haja


apenas cinco anos de diferença, quando papai
morreu ela tinha apenas doze anos, o que fez com
que ficasse um pouco revoltada com a vida.
Mamãe entrou em depressão meses depois,
fazendo com que seu chefe precisasse trocar de
secretária. Não que ele fosse maldoso por conta
dessa atitude, a questão é que ela não ia mais para o
trabalho, deixando ele na mão diversas vezes.
Estava um pouco difícil achar trabalhos, as
pessoas não aceitavam meu currículo por não ter
nenhum curso "importante" e nenhuma
qualificação, até então não havia trabalho em
nenhum lugar.
Por sorte, após tantas pesquisas na internet,
encontrei um meio fácil, onde eu poderia trabalhar
apenas durante à noite, uma vez ou outra teria algo
durante o dia. Sem contar no salário, que daria para
cobrir todas as dispensas de casa, fazendo-nos viver
de maneira mais confortável.
O problema é que após dois meses trabalhando,
ainda com dezessete anos, sendo de menor, mamãe
descobriu que eu trabalhava como acompanhante,
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fingindo ser namorada, noiva, mulher...


Ela não ficou nem um pouco feliz com a
notícia. A briga acabou sendo maior do que eu
esperava, fazendo-me ir embora de casa.
No início Sabrina não soube o motivo da minha
saída, queria esconder por mais alguns anos, até
que ela estivesse mais velha e madura para
entender.
Em hipótese alguma gostaria que ela me virasse
a cara ou que gostasse e quisesse seguir a "carreira"
da irmã mais velha.
Com quinze anos chamei ela para uma
conversa franca de irmã para irmã. Lembro-me
como se fosse ontem.
— Nós precisamos conversar Sabrina. — Sentei
com ela no sofá do meu apartamento.
— Irá falar sobre o seu trabalho? — Perguntou.
— Como você sabe? Mamãe contou para
você? — Perguntei preocupada, era uma coisa que
eu queria contar.
— Entrei naquele quarto que você avisou que não
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era para entrar. — Contou. — E ano passado, ouvi


você conversar com um homem, o celular estava no
viva voz. — Não acreditava que deixei tão amostra
tudo que estava acontecendo.
— Você me desculpa? Não se afasta de
mim. — Choraminguei.
— Está tudo bem. Entendo você e agradeço tudo
que tem feito por nós. — Abraçou-me.
Naquele dia, chorei tudo que estava guardado.
As lágrimas que faltaram cair quando fui embora
de casa.
Todo o dinheiro recebido, como era muito,
metade era entregue para a minha mãe cuidar da
casa e poder comprar tudo que era necessário para
elas.
A outra parte utilizava para comprar perucas
novas (de todas as cores possíveis e cortes), alguns
vestidos (por mais que exigia as roupas que eles
queriam que eu usasse na ocasião), sapatos e muita
maquiagem.
Todos os dias pela manhã, caminhava cerca de
uma hora, estando chovendo ou não, nada afetava
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meus dias.
Havia um café na esquina do apartamento, onde
todas as manhãs na volta da caminhada, pegava o
meu café com leite e torradas doces, com
coberturas de caramelo e chocolate.
O único dia que não trabalhava era na segunda-
feira. E caso implorassem muito, fazia pelo dobro
do preço. Meu perfil estava exposto em um site de
acompanhantes online e em jornais, claro, nomes
fictícios.
Natasha Bloemer, nos sites e nos jornais. Mas
normalmente em cada noite precisava inventar um
nome diferente.
Eu tinha uma amiga chamada Gabriela,
diferente do meu trabalho, ela aceitava que sua
noite se estendesse um pouco mais, mas escolhia.
Homens com uma faixa de 20-30 anos, sempre
tomando precauções. Sendo um ano mais velha do
que eu.
Outra pessoa que não posso deixar de fora
dessa pequena apresentação é o Leandro, meu ex-
namorado. Tudo aconteceu na escola, um ano antes
de meu pai morrer, o que resultou em uma
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perseguição incomodativa na minha vida.


Ele sempre foi possessivo e considerava-me sua
propriedade. Mas eu não admitia, nós terminamos
meses antes de tudo acontecer.
O problema é que de vez em quando ele
aparece, pede para voltar, explica que vai tentar ser
um homem melhor e que fará de tudo para que eu
possa me apaixonar novamente.
Estava satisfeita ficando sozinha. Não era
necessário ter alguém no meu pé. Não que eu nunca
tivesse sonhado com alguém, quem sabe em um
futuro muito distante.
Era uma segunda-feira e a única coisa que eu
desejava é que não fosse necessário sair durante o
dia, muito menos pela noite para qualquer evento.
Analisava o meu perfil no site novamente, onde
havia um bate-papo, a qualquer momento alguém
poderia entrar, fazer o cadastro e conversar comigo.
Sala de bate-papo
Você é a famosa Natasha Moura?
Sim. O que deseja?
Tenho uma proposta para fazer a você.
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É só dizer!
Quero que faça meu filho se apaixonar por você.
E por que eu faria isso?
Porque estará recebendo o meu dinheiro.
De quanto estamos falando exatamente?
Uma quantia que irá te favorecer muito, mas não
quero tratar de negócios pelo computador.
Onde nós nos encontramos?
No Restaurante San Marino, você conhece? Às
20:00 de hoje.
Estarei lá. Leve 3.000 reais
Não esperei que ele me respondesse, precisava
encontrar no quarto uma roupa para utilizar no
jantar. Já havia frequentado com um dos meus
acompanhantes.
Até que a hora do encontro chegasse, distraí-me
com o que passava na televisão, eram programas
aleatórios.
Sabrina havia deixado algumas mensagens no
meu celular, provavelmente estavam precisando de
dinheiro.
"Você pode me dar cinquenta reais?"
Sabrina
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"Está ai?"
Sabrina
"Responde quando puder."
Sabrina
"Está trabalhando hoje? Segunda é o seu dia de
descanso, lembra?"
Sabrina
Era engraçado como Sabrina nunca se
contentava em mandar apenas uma mensagem, ela
precisava mandar várias até que eu pudesse
responder as mesmas.
"Posso sim, mas preciso saber para que você quer
usar?"
Selena
"Estou."
Selena
"Como sabe eu não trabalho hoje, mas precisarei
sair mais tarde, não é bem um acompanhamento
como de costume. E muito menos algo a mais."

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Selena
Deixei o celular em cima da minha cama para
caso ela pudesse responder rapidamente. Iria
preparar um bom banho para estar mais relaxada.
Todas as vezes antes de sair para ser
acompanhante, preparava um banho que pudesse
limpar as impurezas e assim fazia quando voltada
do trabalho.
Esperei alguns minutos na pequena banheira
que ficava na minha suite. Ligava o som em um
volume considerado alto, mas que não fosse
atrapalhar os vizinhos, já que as regras do
apartamento eram rígidas, claro, ninguém estava
errado.
Nós precisávamos respeitar uns aos outros para
uma boa convivência.
Deixei os meus cabelos enrolados na cabeça,
como se fosse careca para poder utilizar a peruca
que escolhi para o encontro.

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CAPÍTULO 3

Havia um vestido ideal para o momento. Ele


era preto, nas laterais faixas brancas. Decote tanto
na frente, quanto atrás.
Não queria parecer uma garota de programa,
por isso estava com decotes comportados.
Procurei por uma peruca que parecesse natural,
de cor castanho escuro, a maquiagem era suave.
Como não estava com vontade dirigir, liguei
para o único táxi que eu confiava e sempre me
levava para os lugares que eu desejava.
Havia algumas pessoas no restaurante, procurei
por alguém e logo um recepcionista pediu pelo meu
nome, levando-me até a mesa desejada.
— Boa noite senhorita. — O senhor fez questão de
puxar a minha cadeira para que eu pudesse sentar.
— Quanta gentileza, obrigada. — Agradeci.
— Aqui está o seu dinheiro. — Entregou um
pequeno envelope, onde iria deixar para conferir
mais tarde.
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— Conte um pouco sobre o seu filho. — Pedi.


— Ele se chama Alan, tem vinte e quatro anos,
mora em um apartamento que eu pago e trabalha na
minha empresa de construção, como construtor
civil. — Explicou.
— E por que o senhor quer que eu faça seu filho se
apaixonar por uma mulher como eu? — Perguntei.
— Alan está velho e precisa criar
responsabilidades. — Respondeu. — Esses dias me
fez pagar dez mil reais por erros em um projeto,
sabe por que? Estava com ressaca e não conseguiu
fazer nada direito.
— Você é um pai vingativo. — Comentei.
— Não. — Negou com a cabeça. — Só quero o que
é melhor para ele.
Havia algumas dúvidas na minha mente, o que
aconteceria caso o seu filho descobrisse? Por mais
que segundo ele, apenas nós dois iríamos saber
sobre o tal contrato.
— Você não imagina o que pode acontecer caso
Alan descobrir sobre esse contrato? —Perguntei.

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— Ele não irá descobrir. Pelo menos não por mim.


— Enfatizou, insinuando que eu poderia deixar
escapar alguma coisa sobre o assunto.
Enfim ele me entregou o esperado contrato,
havia duas páginas. A primeira falava sobre o que
realmente era o principal objetivo de fazer Alan
ficar mais responsável. A segunda era alguns
pontos que em particular que eu deveria seguir.
O casamento deve durar no mínimo seis meses e no
máximo um ano.
Pode acontecer relações entre ambos, mas não fora
do casamento (mesmo que ele não saiba).
Depois do casamento acontecer, você não poderá
mais trabalhar como acompanhante, apenas com o
fim do mesmo.
Em hipótese alguma se apaixone.
Esses pontos foram os que mais me chamaram
a atenção. Não que eu estivesse interessada no seu
filho, principalmente pelo fato de nem conhecê-lo,
mas era um pouco estranho. Precisaria aprender a
conviver com o mesmo.
— Quando irei conhecê-lo? — Perguntei.
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— Amanhã terá um evento na minha casa, durante


à noite, muitas pessoas da empresa, irei colocá-la
na mesma. — Respondeu.
— Mas o que eu irei fazer? Não tenho faculdade,
muito menos um curso. — Pedi.
— Fique calma. — Pediu. — Você será a nova
secretária do Alan, ele está a procura de uma e
deixou que eu escolhesse. - Explicou.
— E o que eu preciso fazer como secretária? —
Perguntei, não deveria ser algo tão difícil.
Ele pensou alguns segundos antes de me
responder.
— Atender telefonemas, fazer algumas anotações,
ir a viagens, dar conselhos e opiniões, ajudá-lo para
montar discursos e talvez palestras. — Explicou.
— Tudo bem. — Assenti. — Você irá mandar
alguma roupa para o meu uso amanhã? - Perguntei.
— Está aqui. — Entregou-me uma sacola que até
então não havia notado. — Espero que seja do seu
tamanho.
— Como sabia que iria aceitar? — Perguntei.
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— Se não fosse você, iria ser outra. — Respondeu


rígido, mas esboçando um pequeno sorriso.
O senhor Estevan fez questão de deixar-me na
frente do meu apartamento, para que eu não
precisasse gastar com o valor do táxi.
Sentia-me um tanto confortável ao seu lado,
depois de algumas horas conversando, podia
entender a sua preocupação com o único filho que
tinha tido.
Estava ansiosa para entrar no meu quarto para
abrir a bolsa e olhar como era o vestido. Espero que
ele tivesse bom gosto e escolhido o meu tamanho.
O vestido era muito bonito. Tenho certeza que
o senhor Estevan havia tido a ajuda de alguma
mulher pelo bom gosto, talvez a vendedora da loja.
Ele era todo preto com detalhes por completo.
Havia três partes abertas em cima dos seios e a
costas era aberta. Até as minhas coxas o vestido era
colado, deixando minhas curvas marcadas.
Experimentei o vestido, analisando como ele ficava
no meu corpo, de fato estava perto, coube
exatamente como esperava.

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Iria aproveitar a manhã seguinte para levar o


dinheiro para a minha irmã que já havia respondido
as minhas mensagens. Havia esquecido que o
aniversário da minha mãe era no sábado dia
dezesseis de janeiro.
Imaginei o que eu poderia dar de presente neste
ano para a mamãe. Por mais que estivéssemos um
pouco afastadas pelo fato de ela não gostar
exatamente do meu trabalho, sempre gostava de
comprar algo diferente para que talvez tentasse
deixar o seu coração mais calmo.
Resolvi trocar algumas mensagens com a
minha irmã para que ela pudesse me sugerir algum
presente.
"O que irá comprar para a mamãe?"
Selena
"Irei comprar um vestido que ela comentou comigo
que tinha gostado."
Sabrina
"Ah sim, sabe de alguma coisa que ela está
precisando?"

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Selena
"Ela reclamou que a televisão do quarto dela está
com problemas."
Sabrina
"Perfeito! Obrigada."
Selena
"Boa noite irmã, estou indo dormir agora."
Sabrina
Como eu disse, era difícil mamãe me pedir
alguma coisa além da contribuição que lhe dava
todos os meses. A questão era, apesar de dar uma
grande quantia de dinheiro que recebia, mamãe
pretendia garantir o futuro da filha mais nova,
Sabrina. E era por isso que a minha irmã ainda não
sabia, mas tinha uma conta no banco com seu
nome, onde metade do dinheiro que a mamãe
recebia era depositado.
Organizei o quarto, estava ansiosa e a última
coisa que se passava na minha cabeça era o ato de
dormir.
Nunca presenciei um evento de extrema
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importância onde teria que utilizar o meu nome


verdadeiro com as pessoas. O coração de uma
pessoa estaria em jogo. Não seria um contrato com
o meu acompanhante, seria com um futuro marido.
Como eu poderia agir diante daquela situação?
Precisaria fingir me apaixonar por um
desconhecido.
Alan. Esse era o nome do homem que eu
precisava fazer se apaixonar por mim. Nunca havia
passado por isso. Como fazer alguém gostar de
mim? O meu trabalho nunca exigiu nada parecido.
Precisava acreditar que quando acordasse na
manhã seguinte estaria certa do que fazer, as coisas
precisavam se acertar na minha cabeça. Ideias e
maneiras de agir era o que precisava focar para a
noite seguinte.
Deitava e levantava a todo momento.
Nunca em momento algum senti o frio que
percorria naquele momento. Algo me dizia que
dessa vez algo muito maior me esperava e de fato
isso era verdade. Ter que ficar casada seis meses
com um homem desconhecido, sabe-se lá quanto
tempo isso demoraria para acontecer. Quem sabe
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ele fosse desses que quer namorar/noivar/casar, o


que seria o certo.
Naquela noite precisei rezar, como fazia quase
todas as noites antes de dormir, como normalmente
apenas agradecia pelo fato de estarmos bem, dessa
vez precisei pedir para que isso desse certo e que
em hipótese alguma Alan sofresse com o nosso
futuro relacionamento.
O meu trabalho continuaria ativo enquanto eu
não me casasse, ou seja, demoraria mais alguns
meses no mesmo.

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CAPÍTULO 4

Acordei um pouco sonolenta e com vontade de


voltar correndo para a minha cama. O problema era
que tinha muito o que fazer. Começando em ter que
passar na casa da minha mãe para entregar o
dinheiro para a Sabrina poder comprar o presente
da mesma, iria aproveitar para levá-la comigo e
então escolheríamos a televisão.
Sabrina havia mandado uma mensagem tarde
da noite dizendo que mamãe não estaria em casa
porque iria ir visitar sua amiga e aproveitaria para
almoçar na mesma.
— Cheguei! — Gritei, despertando a minha irmã
que estava entretida com a televisão.
— Oi Selena, será que você pode falar mais alto?
— Perguntou irônica, fazendo-me lembrar o quão
ela odeia que grite com ela.
— O que acha de pararmos com a conversa e irmos
comprar os presentes para a mamãe? — Perguntei,
balançando a chave do carro.
— Você irá me levar para comer? — Perguntou
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fazendo cara de pidona.


— Sabe que sim. — Revirei os olhos.
Como as lojas onde precisávamos ir ficavam
dentro do shopping mais próximo, poderíamos
aproveitar para almoçar na praça de alimentação.
Ainda era cedo e por isso iríamos comprar os
presentes primeiro.
— Irá comprar a televisão? — Perguntou.
— Sim. Ela está precisando. — Respondi.
— Mamãe sente a sua falta em casa. — Contou.
— Ela te contou isso? — Estava ansiosa com a sua
resposta, todas as notícias sobre a minha mãe me
chamavam a atenção sempre.
— Não. — Negou com a cabeça. — Ela não
precisa dizer. — Comentou.
Gostaria de ter aproveitado mais o tempo ao
lado da minha mãe, desde que sai de casa me senti
sozinha por não ter mais um lar de afeto. Estar em
casa com frequência é difícil, não pelo meu
trabalho, mas sim pelo fato da intimidade que
perdemos uma com a outra. Hoje é estranho estar
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perto por mais que eu tenha necessidade de estar.


— No que está pensando? — Perguntou quando
entrávamos em uma loja.
— Na mamãe. — Confessei.
— Ela precisa que você deixe o seu trabalho. —
Falou.
— Sabe que não posso, pelo menos não agora. —
Falei.
— Você é nova, inteligente, tem tantos trabalhos
por aí que adorariam ter você. — Comentou.
— Nunca é tão fácil assim. — Reclamei.
Sabrina não precisou de muito tempo para
encontrar o vestido que a mamãe havia pedido.
Estava fácil, inclusive encontrava-se no alto em
uma das manequins.
— Adoro essa loja. — Elogiou enquanto
esperávamos na fila.
— Realmente é muito boa. — Concordei.
O que Sabrina falou martelava na minha
cabeça. O novo contrato poderia ser uma nova
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oportunidade para me aproximar da minha mãe.


Quem sabe, caso ela imaginasse que eu estivesse
namorando de verdade, seria mais fácil de estarmos
juntas.
— Acha que devemos comprar uma televisão toda
preta ou colorida? — Perguntei.
— Uma preta será ótimo. — Respondeu.
Havíamos terminado de fazer as compras,
acabamos comprando roupas e alguns acessórios
que estávamos precisando. Como sempre, precisei
pagar as coisas da minha irmã porque ela não tinha
dinheiro.
— Você poderia trabalhar em alguma coisa. —
Sugeri.
— No que exatamente? — Perguntou.
— Não sei, algo que você goste de fazer. —
Respondi.
— Não sei se me daria bem, não faço nenhum
curso. — Comentou.
— Não seja por isso, faça um, trabalhe e estude. —
Falei.
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Ela me olhou como se não estivesse


acreditando no que eu estava falando. Por mais que
eu tivesse começado da maneira errada, não
gostaria que a minha irmã mais nova tivesse o
mesmo destino, por mais que eu achasse que isso
fosse um pouco impossível.
Primeiro porque ela não era do tipo que achava
o meu trabalho correto, por mais que entendesse.
Segundo porque ela sempre teve sonhos
maiores do que os meus.
— Iremos almoçar e então lhe deixarei em casa. —
Avisei.
O almoço foi lanche, nada saudável como
sempre. Mamãe nos incomodaria muito, já que para
ela o almoço é uma refeição importante e não
podemos trocá-la por besteiras.
Ficar um tempo com a minha irmã fazia-me
esquecer os problemas e o meu novo trabalho.
Não havia contado nada para ela sobre o meu
novo "acompanhante", como na minha cabeça
estava planejando ficar com ele e utilizar isso de
uma boa forma para que mamãe se aproxima-se de
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mim.
— Até o sábado. — Despedimos uma da outra.
Sabrina pediu para que o presente que havia
comprado para mamãe ficasse guardado comigo
para que ela não mexesse e nem desconfiasse de
nada.
Como ainda era cedo, resolvi que iria para casa
a tarde para dormir um pouco. Era necessário estar
acordada para que pudesse agir com o plano de
conquistar Alan.
Estava ansiosa para conhecer o mesmo, já que
seu pai nem ao menos mostrou uma foto dele para
que eu tivesse uma pequena noção de como ele
seria.
[...]
Acordei um pouco assustada com o horário,
com o tanto de coisa que tinha para fazer estava
atrasada. Demoraria alguns minutos para fazer as
unhas, tanto da mão quanto do pé, arrependia-me o
máximo de não ter marcado o salão para um dia tão
"importante".
Mais um pouco de tempo para arrumar o
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cabelo, fazer a maquiagem e colocar o vestido. A


questão era que como esse praticamente era o meu
trabalho fazia mais rápido do que de costume.
— Estou atrasada. — Falei comigo mesma.
Como nesse trabalho teria que ser eu mesma,
ou seja, sem nomes falsos e perucas.
Confesso que isso me deixava um pouco aflita
com tudo que estava acontecendo. Em ser eu
mesma. Havia perdido essa maneira de ser ha cinco
anos atrás.
Vestido preto, roupas íntimas vermelhas, unhas
na cor vermelha e o salto também.
Preto e vermelho, duas cores que chamam
muito a atenção de um homem. Quer dizer,
segundo as minhas pesquisas.
Depois de estar pronta, precisava pegar o meu
carro e ir para a festa que me esperava.
Andei apressadamente até o meu carro que
estava no estacionamento do prédio.
Dirigi com pressa e urgência até a o endereço
que o pai de Alan havia me passado.
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Nós havíamos trocados mais mensagens pelo


computador onde ele havia dito que comentou com
seu filho sobre a nova secretaria que ele havia
contratado. Isso seria ótimo, Alan já estaria a minha
espera.
Conformei-me em chegar alguns minutos
atrasadas na festa. Por sorte não era a única. Alguns
carros estavam encostando-se à rua da casa, estou
sendo modesta, era enorme, uma mansão.
Quando cheguei, fui recepcionada pelo senhor
Estevan que estava ao lado da sua mulher, era o que
eu imaginava.
— Boa noite Selena, estou feliz que tenha vindo. —
Estevan apertou a minha mão.
— É um convite inescusável. — Falei.
— Gostaria de te apresentar a minha esposa
Helena. — Apresentou-a.
— É um prazer conhecer a senhora. — Dei um
beijo em cada bochecha.
— O prazer é meu. — Falou. — Adorei o seu
vestido, quem dera ter um corpo como o seu. —
Brincou.
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— A senhora tem um corpo muito bonito. —


Elogiei.
Afinal, precisava agradar minha futura sogra.
Ela parecia ser uma mulher adorável e isso fazia
com que eu ficasse com a consciência pesada.
— A casa de vocês é maravilhosa. — Olhava cada
detalhe da mesma, por dentro era muito mais
bonita.
— Logo você irá esbarrar com o nosso filho, o
Alan. — Helena avisou.
— Por falar nele. — Estevan falou, chamando a
nossa atenção.
E foi quando os meus olhos cruzaram com os
dele. Um homem perfeito, em uma roupa social que
só fazia com que o seu corpo ficasse ainda mais
bonito.
O estilo do cabelo, a barba por fazer, era único.

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CAPÍTULO 5

Demorou alguns segundos para que eu


conseguisse tirar os olhos de Alan, agora ele estava
na minha frente, esperando que a minha mão fosse
de encontro a dele, para que pudéssemos nos
cumprimentar.
— Selena? — A sua voz era grossa, um tanto sexy.
— Senhor Alan, prazer. — Apertei a sua mão.
— Meu pai comentou sobre você. — Comentou. —
Será a minha nova secretária?
Não sei se o seu comentário era realmente uma
pergunta ou apenas uma afirmação.
— Sim, espero conseguir ser uma ótima secretária.
— Comentei.
— É isso o que eu espero. — Tinha o
pressentimento que ele estivesse tentando dar uma
imagem de homem sério e determinado ou quem
sabe esse era mesmo o jeito dele.
Talvez os seus pais sentiram o clima um pouco
pesado entre nós dois. Nossos olhos não
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conseguiam ficar muito tempo distantes, era como


se algo nos hipnotizasse.
— O jantar será servido. — O senhor Estevan
avisou.
Fomos direcionados até um salão que ficava
atrás de sua casa. Realmente eram uma família rica.
Não sabia se era por sorte ou azar, mas o meu
"chefe" puxou uma cadeira ao seu lado para que eu
me sentasse.
— Obrigada. — Agradeci.
— De nada. — Não havia sorriso no seu lábio e
nenhuma outra reação, apenas começava a entender
o quão sério ele era.
O jantar já estava quase sendo servido quando
uma voz um tanto fina e alta entrou pelos meus
ouvidos.
— Por que ela está sentada no meu lugar? — Olhei
para trás e vi uma mulher um pouco maior do que
eu em pé, sua fisionomia não era nada boa,
provavelmente de alguma maneira eu estava
incomodando-a.

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— Giovanna, você pode sentar-se do meu lado


esquerdo. — Alan falou.
— Mas eu sempre sento do seu lado direito. —
Retrucou.
A mulher estava incomodada com o lado onde
eu estava sentada, provavelmente ela gostava de
Alan para estar fazendo escândalo, chamando a
atenção das outras pessoas, inclusive de Estevan e
da sua esposa que nos olhavam já envergonhados.
— Senhorita Giovanna, você poderia se sentar para
que o jantar possa ser servido? — O senhor Estevan
falou rígido.
— Posso sentar na outra cadeira se preferirem. —
Quando estava quase me levantando para sentar na
outra cadeira, senti uma mão firme no meu braço
fazendo-me sentar novamente.
— Eu pedi para que sentasse nessa cadeira, então
continue. — Alan falou firme.
Com muitos protestos, a moça que se chamava
Giovanna sentou-se do outro lado de Alan. Preferi
não olhar para o lado e não encarar ninguém.
O jantar finalmente foi servido, deixando a
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pequena confusão para trás.


De vez em quando, sem querer ou talvez
intencional eu olhava para o lado, a mão da
Giovanna acariciava a do Alan, será que eles
estavam juntos? Isso iria dificultar ainda mais o
meu trabalho.
— Onde fica o banheiro? — Cochichei no ouvido
de Alan.
— Eu levo você. — Levantou-se.
Giovanna virou sua cabeça bruscamente para
nos olhar saindo. Tenho certeza que ela estava
curiosa e pensativa sobre quem eu era e o porquê
de ter sido "trocada".
Segui Alan que andava atentamente para o fim
do corredor, nós não conversávamos sobre nada,
apenas seguíamos em silêncio até o local destinado.
— Aqui. — Apontou, abrindo a porta do banheiro
para que eu entrasse.
O banheiro havia sido feito para a capacidade
de cinco pessoas. Um espelho que refletia o
ambiente todo.

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A única coisa ruim de usar o banheiro com


vestido longo é ter que tomar todo o cuidado de não
sujar e nem molhar o mesmo.
Ouvi a porta do banheiro abrir, fiquei em
dúvida se alguém estava entrando ou se era Alan
que iria me chamar.
Quando sai para lavar as mãos, dei de cara com
Giovanna. Pela maneira que estava apoiada na pia,
ela realmente não veio para utilizar o banheiro.
— Quem é você? — Perguntou, olhando-me da
cabeça aos pés.
— Selena Moura. — Respondi.
— Não me refiro ao seu nome e sim no que você é!
— Falou irritada.
— Sou a nova secretária do senhor Alan. — Falei.
— E desde quando uma secretaria tira o meu lugar
na mesa? — Perguntou irônica.
— Não foi a minha intenção. — Tentaria ser o
possível educada, teria que fazer o máximo para
ganhar a confiança do Alan e dos seus pais.
Ela me olhou como se o que eu tinha dito não
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significasse nada.
— Espero que você não seja igual as outras
secretárias dele. — Avisou. — Porque se ficar se
jogando para cima do seu chefe irá ser demitida
rápido, o senhor Estevan detesta isso.
— Está dizendo isso por experiência própria? —
Perguntei.
Quando as últimas palavras saíram da minha
boca, foi que eu percebi que poderia ter ficado
quieta. A mão da Giovanna atingiu em cheio a
minha bochecha, deixando com certeza uma marca.
— Você está louca? — Gritei.
— Nunca falte com respeito comigo, serei a futura
mulher do seu chefe! — Gritou.
Foram poucos minutos para que entrassem no
banheiro. Alan estava ao lado dos seus pais,
olhavam-nos atentos.
— O que está acontecendo aqui? — Helena
perguntou.
— Essa mulher é louca. — Apontei. — Olha o que
ela fez com o meu rosto. — Mostrei o vermelho e a
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marca dos seus dedos na minha bochecha.


Talvez só agora eles haviam percebido o quão
grave foi a atitude de Giovanna.
— Por que você fez isso? — O senhor Estevan
estava irritado.
— Ela faltou com respeito comigo. — Giovanna
me acusou.
— Eu só perguntei se você já havia sido secretaria
do senhor Alan, por estar me ameaçando. —
Expliquei.
Talvez eu tenha dito muito ou a ocasião
incomodava a todos.
— Isso para por aqui. — Alan avisou alto e
autoritário.
— Eu vou embora, não quero causar mais
transtornos. — Andei rapidamente até a posta para
que ninguém me parasse, estava me sentindo
constrangida, nunca haviam me dado um tapa
sequer.
Foi o primeiro trabalho em que me senti
ameaçada.
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Quando estava quase chegando ao meu carro,


uma mão me puxou.
— Você não precisa ir. — Alan falou.
— Preciso cuidar disso aqui. — Apontei para a
minha bochecha.
— Acho que o mais certo é que eu cuide já que o
motivo disso fui eu. — Explicou.
— Não tem necessidade senhor Alan. — Neguei
com a cabeça.
Ele não me escutou, puxou-me pela mão de
volta para a sua casa onde não havia ninguém já
que todos estavam no jantar.
— Suba e espere no primeiro quarto a esquerda. —
Mandou.
Fiz o que me foi pedido, qualquer oportunidade
era essencial para o meu trabalho.
Metade de mim pedia para que eu cancelasse
aquele contrato. Por mais que tivesse assinado e
que teria que pagar uma pequena multa.
Muitas coisas estavam acontecendo em poucos
dias, quer dizer, apenas em um dia já ou o
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suficiente, um tapa na cara não é para qualquer um.


Precisava ter uma conversa séria com o senhor
Estevan.
Não era justo que eu estivesse prestando um
trabalho para ele e que uma mulher descontrolada
aparecesse e virasse tudo de cabeça para baixo.
Precisava esclarecer mais algumas dúvidas
como uma possível namorada que não foi dito. Ele
estava querendo que eu disputasse o amor do seu
filho com uma mulher que provavelmente o amava
muito e que estava disposta a fazer de tudo.
— Cheguei. — Alan entrou no quarto com uma
pomada em sua mão e na outra uma daquelas
bolsas de colocar água e congelar para colocar em
machucados, o que seria ótimo.

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CAPÍTULO 6

Foi à primeira experiência minha em um


trabalho onde precisava fazer alguém se apaixonar
por mim. A primeira onde eu acabei levando um
tapa na cara. E a primeira vez em que eu estava no
quarto do meu "acompanhante", enquanto ele
passava a pomada para aliviar a dor na minha
bochecha e colocar gelo.
— Está doendo? — Perguntou.
— Um pouco. — Confessei. — Mas garanto que
com todo esse cuidado em breve estarei bem.
Obrigada. — Agradeci.
— Caso você prefira posso levá-la em casa. —
Avisou.
— Não será necessário. — Neguei.
— Nos vemos amanhã? — Demorei para entender
que no fundo da sua frase havia um pouco de
dúvida.
— É claro senhor Alan. — Concordei.
Após as demais despedidas, direcionei-me até o
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meu carro que estava estacionado na rua da casa do


senhor Estevan.
Amanhã começaria a trabalhar como secretaria
e ainda não sabia como deveria me vestir, será que
eles tinham algum uniforme? Caso tivessem, com
certeza me dariam na hora.
O alívio tomou conta do meu corpo quando
adentrei o meu apartamento. Aquela sensação de
conforto e de estar em um local seu, onde pode ser
quem de fato você é, trás liberdade.
Havia recebido muitas mensagens no celular,
algumas da Sabrina, outras da Gabriela e por fim e
menos importante do Leandro, ele realmente não
conhecia o significado de se terminar uma relação.
"Oi mana, como você está?"
Sabrina
"Onde você está? Em algum evento?"
Sabrina
"Ainda não voltou? Quero conversar com você!!!"
Sabrina
"Estou aqui! O que aconteceu?"
Selena
"Acabei de chegar de outro evento, está tudo bem."
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Selena
"Amiga? Onde você se meteu? Não manda mais
mensagens!!!"
Gabriela
"Esqueceu da amiga, só pode!!!"
Gabriela
"Está com algum bofe??"
Gabriela
"Acabei de chegar, estava em um evento."
Selena
"Nunca esqueço de você."
Selena
"Finalmente descobri seu endereço!"
Leando
"Estou louco para te ver novamente..."
Leandro
"Precisamos ter uma conversa séria!"
Leandro
"Nós não temos mais nada para conversar! Já falei
para você me esquecer."
Selena
A coisa que mais me deixava furiosa era essa
mania do Leandro tentar resolver a nossa relação. A

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verdade é que não existia mais nada entre nós dois.


De vez em quando algum colega de escola ou
mesmo a minha família comentava comigo que ele
perguntava de mim e sobre onde eu morava. Nunca
havia passado o endereço para ninguém, as únicas
pessoas que sabiam era a minha irmã, mãe e a
Gabriela.
Ele deveria respeitar o meu espaço e saber
deixar o que já foi no passado. Não havia o porquê
de insistir em algo que não tinha futuro.
"Estou indo para o seu apartamento."
Gabriela
"Mas está tarde, já é quase meia noite!"
Selena
"Não tem problema, irei dormir aí."
Gabriela
Havia perdido a autoridade dentro do meu
próprio apartamento.
Gabriela morava cerca de trinta minutos do
meu apartamento, ou seja, ela vinha voando até o
mesmo com o seu carro. Quando ela estava com
pressa andava com a sua moto, uma bis na cor pink
que ela amava.
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— Amiga? Cheguei! — Ela anunciou entrando no


meu apartamento com a chave que ficava com ela.
— Estou cansada. Você quer dormir? — Perguntei.
— Acabei de chegar, vamos beber alguma coisa. —
Ela começou a fuçar a geladeira e a minha estante
onde havia algumas bebidas quentes.
— Quer vodka, wisky ou cerveja? — Ofereceu
como se eu estivesse em sua casa.
— Cerveja. — Escolhi.
A minha melhor amiga não era fácil, esse seria
o momento onde eu teria que contar sobre o meu
novo acompanhante e sobre o plano para me
aproximar da minha mãe.
— Preciso te contar algumas coisas. — Comecei a
falar.
— Você estendeu uma das noites com um
acompanhante? — Ela perguntou na expectativa de
que eu afirmasse aquela pergunta.
— Não é isso. — Neguei com a cabeça. — Fui
contratada para fazer um homem se apaixonar por
mim. — Contei.
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— Como assim? — Sua boca estava aberta, como


se estivesse espantada.
— O senhor Estevan me contratou para fazer com
que seu filho Alan se apaixone por mim e que eu
fique casada com o mesmo por pelo menos seis
meses. — Resumi tudo da maneira mais rápida que
achei.
Gabriela absorveu tudo com cuidado, a maneira
de ver como ela estava pensando era pelos seus
olhos direcionados para cima.
— Quantos anos ele tem? Qual é o nome dele? —
Encheu-me de perguntas.
— Alan e tem vinte e quatro anos. — Respondi.
— E você irá mesmo fazer isso? — Perguntou.
— Sim. Já aceitei, fui "contratada" — dei ênfase no
contratada — para ser a secretaria dele, pelo menos
é isso que Alan pensa. — Expliquei.
— Sua mãe e sua irmã já sabem disso? —
Perguntou desconfiada, sabendo que minha mãe e
minha irmã nunca aceitariam isso.
— Não. Quero utilizar isso para me aproximar da
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minha mãe. — Contei. — Ela achará que parei de


trabalhar como acompanhante.
— Isso tem grandes chances de dar errado. —
Opinou.
A minha amiga estava certa, as chances de eu
não conseguir fazer com que Alan se apaixone por
mim é grande.
— E se você se apaixonar? — Perguntou, nunca
havia pensado nessa possibilidade, porém achava
ela impossível.
— Não irei me apaixonar. — Falei firme com a
certeza do que eu estava falando.
Gabriela fez questão de deitar comigo na minha
cama, ela iria dormir comigo.
— Não quero ver você sofrer. — Falou.
— Não irei.
— Talvez eu desista desse trabalho. — Contou
baixo, como em um segredo.
— Como assim? — Virei-me bruscamente para
olhá-la nos olhos.

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— Conheci alguém. — Houve uma pausa. —


Roberto.
Era por isso que ultimamente ela não
comentava sobre a noite com os seus
acompanhantes. Ela estava gostando de alguém.
— Como ele é? — Perguntei. — Um cliente?
— Não. — Negou. — Conheci em um café.
— Que interessante, ele sabe com o que você
trabalha? — Perguntei.
— Sim. — Confessou, olhando atentamente nos
meus olhos, como se quisesse enxergar a minha
reação.
— Nós conversávamos sobre alguns assuntos
aleatórios, então eu contei. — Explicou. — A
reação dele foi normal, como se fosse um trabalho
simples.
Havia sido a primeira pessoa a enxergar o que
fazíamos como algo normal. Realmente ela havia
encontrado alguém diferente, especial.
— Acho que encontrei o cara certo. — Os seu
olhos brilhavam, sabia que ela estava a ponto de
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chorar.
— E você irá trabalhar com o que? — Perguntei em
dúvida sobre qual seria o seu meio de
sobrevivência.
— Ele me ofereceu um trabalho em sua empresa, é
arquiteto, algo relacionado a administração dentro
dos seus funcionários. — Explicou.
— Isso será interessante. — Confessei. — Apoio
você com todas as minhas forças.
Gabriela estava chorando, eu estava chorando.
A sua felicidade estava sendo refletida em mim.
— Obrigada por ser a melhor amiga do mundo. —
Abraçou-me intensamente.
— Eu tenho muito a agradecer por você também.
— Beijei sua bochecha.
Gostava da companhia dela, a sua presença no
apartamento ou no mesmo ambiente que eu estava
fazia com que tudo ficasse melhor.
Contar para ela sobre o meu novo emprego, fez
com que um peso caísse dos meus ombros.
Ela já estava dormindo ao meu lado, como
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sempre de barriga para cima com a boca um pouco


aberta, deixando o cheiro de cerveja pelo ar.
A vontade que eu tinha era de ser alguém
bacana para Alan, não apenas pelo dinheiro que eu
estaria recebendo e sim porque teríamos que
conviver durante seus meses juntos. Quer dizer,
fora o tempo que irei levar para conquistá-lo e
depois casar.
Algumas horas iriam passar para enfim o meu
primeiro dia de trabalho chegar. O segundo dia do
novo plano que estava em ação.

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CAPÍTULO 7

Uma camisa social branca de manga curta, saia


preta e justa até acima dos joelhos, com um salto
preto tamanho dez.
Cabelo preso em um coque frouxo que me
deixava parecendo ser uma mulher séria.
O meu carro me aguardava na garagem, com o
dinheiro que iria ganhar poderia abastecê-lo já que
começaria usá-lo mais.
A empresa ficava cerca de trinta minutos da
minha casa. Havia muitos funcionários andando de
um lado para o outro.
Uma senhora com o cabelo grisalho e óculos de
lente, provavelmente ela precisava de muitos graus,
era fundo.
— Pois não? — Perguntou assim que me viu entrar
no local.
— Sou a nova secretária do senhor Alan Pereira. —
Respondi.
— Ultimo andar. — Apontou para o elevador.
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Como iria saber qual a sua sala? Ou será que o


andar todo era apenas dele?
Aquele prédio tinha pelo menos oito andares, o
meu breve medo de que tudo despencasse ficou na
minha cabeça por um bom tempo.
Pense positivo.
— Primeiro dia de trabalho? — Não havia notado
que mais alguém estava naquele elevador, era um
homem.
— Sim. — Concordei.
Era um homem alto e jovem. Talvez tivesse a
mesma idade que Alan. O seu cabelo era loiro,
como se ele fosse um daqueles surfistas.
— Sou Breno Stuart. — Estendeu a não para que eu
apertasse.
— Selena Moura. — Apresentei-me.
O andar dele era dois abaixo do meu, deixando
claro que eu seria bem-vinda caso precisasse
aparecer naquele setor.
Quando cheguei no ultimo andar, que era
enorme por sinal. Havia uma sala que
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provavelmente onde as pessoas esperavam por


Alan. Logo a frente uma escrivaninha grande com
um computador, impressora, telefone, calculadora e
muitos papais em cima, imaginei que fosse o local
onde eu ficaria.
A porta da grande sala estava fechada, era
enorme. Não sabia se deveria ou não bater, mas
assim fiz, mesmo sabendo que poderia estar
interrompendo algo.
— Senhor Alan? — Esperei ouvir sua voz como
resposta para que eu pudesse entrar.
— Entre! — Ordenou.
Ele estava sentado em uma cadeira que parecia
ser muito confortável, provavelmente era feita de
couro. O telefone estava em baixo da orelha,
enquanto os olhos estavam focados em alguns
papéis.
Ele apontou para que eu me sentasse em sua
frente.
— Obrigado, até mais tarde. — Desligou o telefone
e firmou o seu olhar em mim.
— Senhorita Selena, vejo que chegou no horário
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certo. — Certificou-se olhando em seu relógio de


pulso.
— O senhor pode me passar as primeiras
informações para que eu possa começar a
trabalhar? — Pedi.
— A única coisa que preciso é que fique com a
minha agenda, ela está disponível em seu
computador e atenda todas as ligações, anotando
cada uma. — Explicou.
— Caso alguém queira falar com o senhor? —
Perguntei em dúvida, já que muitos preferem não
atender ao telefone.
— Entre em uma chamada comigo, pelo
computador, e se for importante eu atenderei. —
Apontou para a porta, provavelmente me mandando
sair:
Agi como o desejado, o meu primeiro dia de
trabalho havia sido normal. Apesar de ter sido
obrigada a atender e anotar a chamada da
Giovanna. Alan não quis atendê-la alegando que
estava cheio de coisas para fazer.
Uma janela piscou na tela do computador, estava
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escrito ALAN.
"O rosto está melhor?"
Alan
"Sim! Nada que um gelo não tenha resolvido."
Selena
"Espero que Giovanna não repita o ocorrido."
Alan
"Espero não vê-la mais."
Selena
Faltava apenas dez minutos para que o meu
expediente acabasse. A não ser que o meu chefe
não tivesse saído da sua sala, disposto a enfrentar
uma reunião de duas horas, onde eu seria obrigada
a frequentar.
— Você só precisará anotar o que for pedido e
alguns lembretes, certo? — Explicou.
— Sim.
A sala de reunião que ficava um andar abaixo
estava cheia. Muitos homens engravatados, alguns
senhores e outros novos assim como Alan.
— Vamos começar, o que querem discutir? — O
tom profissional e o olhar de Alan fazia com que
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qualquer pessoa, até mesmo um homem prestasse


atenção no que seria dito.
— É sobre os apartamentos do novo prédio que
estamos fazendo. — Um homem começou. — Não
acho que o designer esteja bom.
— E como você acha que deveria ficar? — Alan
estava sério, neste momento imagens de um
possível apartamento estava na tela de uma
televisão enorme.
O apartamento tinha uma cozinha, onde ao seu
lado havia uma pequena lavanderia — onde caberia
apenas um sexto de roupas e uma máquina — um
balcão separava a cozinha da sala, onde do lado
haveria espaço suficiente para uma mesa de quatro
ou quem sabe seis lugares.
Por mais que fosse pequeno, haviam dois
banheiros, um no corredor que ficava de frente para
um dos quartos e o outro do lado direito. Por ultimo
o quarto com suite, no mínimo, sendo dos donos da
casa.
Havia algo distribuído de maneira incorreta
naquele desenho.

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— Não sei ao certo quais alterações podem ser


feitas. — O senhor falou.
— Enquanto ninguém tiver uma ideia, esse trabalho
não pode ser iniciado, vocês precisam ser mais
rápidos. — Alan avisou.
Alan era o engenheiro civil ou seja, responsável
pelos desenhos. Porém, cada um dentro daquela
empresa tinha uma função.
Uma delas era observar os problemas.
— Senhor Alan? — Chamei sua atenção, fazendo
com que todos olhassem em minha direção.
Seu olhar encontrou o meu, ainda estava sério,
mas havia curiosidade em seu olhar.
— Sim?
— Talvez vocês pudessem diminuir um dos quartos
que provavelmente seria utilizado para quarto de
hóspede — porque normalmente uma família
grande não compra um apartamento pequeno — e
aumentar o tamanho do banheiro da suite. — Dei a
minha opinião, mesmo sabendo que talvez isso iria
atrapalhar com o meu cargo.

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Todos ficaram chocados com o que havia


terminado de falar.
— Isso ficará ótimo. — O homem jovem que
transmitia as imagens começou a fazer algumas
modificações, mudando o que eu havia sugerido.
— O que vocês acharam? — Alan perguntou
olhando em meus olhos.
— Realmente ficou melhor dessa maneira. — Um
senhor concordou.
Foram muitos os que concordaram comigo.
Alan não deixou um minou sequer sem me encarar.
Estava esperando por uma bronca.
— Muito bem Selena, minha sala agora. — Não
sabia dizer se ele estava bravo comigo, a única
coisa que sabia era que eu já poderia estar em casa
a duas horas atrás e que agora ficaria mais alguns
minutos na sala do meu chefe.
— Fiz algo de errado? — Perguntei assim que
entrei em sua sala, com ele logo atrás.
— Muito pelo contrário, devo lhe dar parabéns. —
Foi a primeira vez que vi pequenas covinhas
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aparecerem em sua bochecha, juntas de um


pequeno sorriso que ele estava querendo esboçar.
Fiquei em dúvida do que ele havia me falado.
— Obrigada. — Agradeci.
— Acho que depois dessa reunião exaustiva e de
ter me ajudado com a questão do apartamento, nada
mais justo lhe pagar uma bebida, o que você acha?
— Ele estava me convidando para sair? Não
poderia perder essa oportunidade.
— Aceitaria um bom vinho e um jantar, porque
está tarde e com certeza não irei cozinhar agora. —
Sugeri.
— Ótima opção. — Concordou. — Sei de um
restaurante excelente.
— Você quer uma carona? — Ofereci.
— Na verdade estou com o meu carro, você me
segue? — Perguntou.
Apenas assenti.
Por incrível que pareça nós fomos no mesmo
restaurante em que me encontrei seu pai para
iniciarmos o trabalho.
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Gostei da sensação de estar em um restaurante


com ele, isso tornava a situação mais como um
encontro do que um fim de expediente com um
"colega de trabalho".

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CAPÍTULO 8

Nunca me divertir tanto com alguém, quer


dizer, Gabriela era minha melhor amiga e nós
dávamos muitas risadas juntas. Mas estar com uma
figura masculina e rir daquela maneira era diferente
de tudo.
— Essa comida está maravilhosa. — Havia um
purê maravilhoso com uma carne e molho.
— É a primeira vez que eu trouxe alguém aqui. —
Deixou escapar.
— Gosta desse restaurante? — Perguntei.
— Sim, é o meu preferido. — Respondeu.
Deveria levar o fato de ele ter me levado no seu
restaurante preferido um bom começo?
— O vinho foi uma escolha ótima. — Comentou.
Como havia ido em diversos jantares como
acompanhante, acabei decorando alguns nomes de
vinhos, o que me possibilitava escolher os mesmos.
— Quando eu receber o meu primeiro salário
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prometo retribuir o jantar. — Falei assim que


pisamos na calçada do restaurante.
— Está me chamando para jantar? — Perguntou,
deixando novamente as covinhas aparecerem.
— Digamos que sim. — Brinquei.
Despedimos um do outro como "bons amigos"
se esse termo já pode ser utilizado entre nós dois.
O meu dever de fazê-lo se apaixonar estava a
caminho, quem sabe ele estivesse gostando da
minha companhia, assim como eu estava gostando
da dele.
Mensagens me esperavam no meu computador
assim que cheguei no meu apartamento.
Todas eram do senhor Estevan.
"Fiquei sabendo que conseguiu resolver um
problema no escritório."
Estevan
"Foi um bom primeiro dia."
Estevan
"Boatos pelos corredores que saiu com o meu
filho... Onde foram?"
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Estevan
"Não estou recebendo notícias do Alan!! Você
ainda está com ele?"
Estevan
Como o senhor Estevan estava preocupado com
o seu filho... Ou quem sabe ele só estivesse curioso
para saber com quem o seu filho estava naquela
noite.
"Olá senhor Estevan. Acabei de chegar em casa.
Estava com Alan, fomos jantar para comemora o
meu primeiro dia de trabalho e o novo projeto da
empresa. Talvez tenha sido um encontro, um dia
iremos descobrir. Estou um pouco cansada,
amanhã começo cedo. Até mais."
Selena
A questão era que eu estava cansada demais
para qualquer trabalho como acompanhante
naquele momento. Ou quem sabe fosse apenas uma
desculpa para não precisar ir encontrar com
qualquer homem e fingir ser a sua
namorada/noiva/mulher.
A banheira que ficava no banheiro do meu
quarto estava chamando pelo meu corpo. Foi um
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dia exaustivo, fingir que eu era outra pessoa, quer


dizer, eu mesma.
O celular tocou, por sorte estava ao lado da
banheira. Era Sabrina.
"INÍCIO DE LIGAÇÃO"
Sabrina: Oi Selena.
Selena: Oi Sabrina, aconteceu alguma coisa?
Sabrina: Estou precisando de mais um pouco de
dinheiro.
Selena: Mais presentes?
Sabrina: Na verdade mais ou menos.
Selena: Explique por favor.
Sabrina: Irei comprar o bolo, alguns salgadinhos e
refrigerantes.
Selena: Convidou alguém?
Sabrina: Algumas pessoas da nossa família, os
mais próximos.
Selena: Tudo bem... Mas só poderei entregar
amanhã bem cedo antes do trabalho.
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Sabrina: Será acompanhante de manhã? Que


desagradável. Sabe que é mais fácil das pessoas te
reconhecerem.
Selena: Na verdade estou trabalhando em um
prédio de construção, sou secretária.
Houve um silêncio do outro lado da linha em
seguida de risadas e gritos.
Sabrina: Você tem um trabalho normal agora?
Selena: Sim.
Sabrina: Mamãe adotará saber da novidade.
Selena: Agora irei dormir, não esqueça amanhã irei
passar cedo aí. Boa noite.
Sabrina: Boa noite.
"FIM DE LIGAÇÃO"
Amanhã quem sabe o meu celular iria tocar e
teria que explicar toda essa história sobre estar
trabalhando como secretária para a minha mãe.
Fiquei na banheira até que a água por fim
esfriasse. Não precisei pensar muito, foi questão de
segundos para o meu corpo se chocar com a cama e
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meus olhos fecharem. Fazendo-me cair em um


sono profundo.
O tão esperado sábado chegou.
Por sorte minha Alan deixou que eu trabalhasse
apenas no período matutino. Estava apenas fazendo
novas anotações e precisava agendar algumas
reuniões.
— Senhor Alan? Está tudo terminado. — Avisei,
entrando com todo o cuidado em sua sala.
— Obrigada pelo seu trabalho. — Agradeceu.
— O senhor irá ficar aqui? Em pleno o sábado? —
Perguntei.
— Preciso resolver alguns compromissos da minha
agenda. — Mentiu.
Como eu sabia que ele estava mentindo? Deve
ser pelo fato de eu ser a secretaria dele e saber que
naquele sábado não havia nenhum compromisso.
— O senhor quer ir comigo no aniversário da
minha mãe? — Não havia problema em convidá-lo,
isso ajudaria no plano de ambos os lados.
— Não tem como, não conheço sua mãe e nem
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comprei nenhum presente. — Resmungou.


Em quantos aniversários já fui em que muitas
pessoas não sabiam quem era o aniversariante. Isso
não era um problema.
— Faço questão que você vá. — Avisei, indo até
ele, dando a mão para ajudá-lo a se levantar.
— Você tem certeza disso? Irei ficar chateado se
me mandarem ir embora da sua casa. — Falou.
— Da casa da minha mãe você quis dizer.
Alan havia vindo para a empresa acompanhado
do seu pai, ou seja, não seria problema algum em
ele ir comigo no meu carro.
— Você dirige muito bem. — Elogiou.
— Obrigada. — Agradeci.
Demorei um pouco para chegar em casa, perto
das duas da tarde, já que Alan me fez parar em uma
loja para que pudesse levar um presente para
mamãe.
Ele parou em uma loja de jóias, não me deixou
sair do carro prometendo que iria ser rápido.

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— Essa loja é cara. — Comentei.


— Nem tanto. — Retrucou.
— Depois irá brigar comigo por estar te dando
prejuízo. — Resmunguei.
— Você me ajudou em um projeto que irei ganhar
milhares de reais, não se preocupe. — Avisou.
Assim que chegamos na minha casa, ainda sem
nenhum convidado, é claro, minha irmã estava a
minha espera no portão.
— Você demorou. — Resmungou.
— Reclame com o senhor Alan, ele quem me
atrasou. — Apontei para ele que estava um pouco
longe.
— Não foi minha culpa, ela me pegou
desprevenido. — Justificou-se.
Sabrina não sabia quem ele era, muito menos
do que estávamos falando.
— Esse é o meu chefe Alan, trouxe porque ele não
tinha nada para fazer. — Expliquei. — Essa é a
minha irmã Sabrina.

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Após fazer as devidas apresentações, fomos


entrando na casa vazia.
— Onde a mamãe está? — Perguntei.
— A vizinha levou ela para fazer compras no
mercado, como combinado. — Piscou.
— É uma festa surpresa? — Alan perguntou, assim
que se sentou no sofá.
Nós duas assentimos juntas.
Os presentes da minha mãe estavam no meu
carro e iriam permanecer lá até que a festa
começasse.
A pequena festa organizada pela minha irmã
teria início às 15hrs30min, ou seja faltava uma hora
e meia para isso.
Precisei virar cozinheira e fritar todos os
salgadinhos que foram encomendados congelados.
Como havia explicado para Sabrina, nós
iríamos tentar economizar o máximo.
Ela fez o brigadeiro e beijinho em casa, como
um belo cavalheiro, Alan nos ajudou com tudo que
era necessário. Confesso que me deixou
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impressionada, assim como a mina irmã que


esboçava sorrisos nada discretos para mim.
— O bolo ficou maravilhoso. — Sabrina comentou
assim que abriu a porta da geladeira.
— Isso deve ter custado uma fortuna. — Brinquei.
As pessoas foram chegando e ficando cada uma
em um canto. Após um bom banho, coloquei um
vestido fino por cima do corpo, algo bem simples,
que deixava a minha costa amostra.
— Você está linda. — O elogio do Alan me pegou
de surpresa.
— Você também está. — Precisava retribuir de
alguma forma.
— Ainda estou com a roupa do escritório. —
Reclamou como se estivesse feio.
— Você não sabe, mas fica ainda mais lindo com a
roupa do escritório.

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CAPÍTULO 9

Depois que a frase escapou da minha boca com


tamanha rapidez é que fui me dar conta do que
havia dito.
Como dizer a ele que falei besteira? Quer dizer,
talvez não fosse besteira.
Seus olhos encontraram os meus com urgência.
— Nunca recebi um elogio desse. — Confessei.
Invente uma desculpa.
— Todos nós merecemos receber pequenos elogios,
eles fazem toda a diferença. — Expliquei.
— Mas eu realmente não me sinto bem desse jeito.
— Confessou.
Era engraçado como um homem maravilhoso
daquele jeito, preocupava-se com o modo que
estava vestido, aquilo de fato não importava.
Com roupa ou sem ele ficava bonito do mesmo
jeito. Mesmo que eu nunca tivesse o vestido sem
suas formais roupas.
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A questão era que sempre que eu vi o Alan ele


estava de terno.
— A mamãe está chegando! — Sabrina falou um
pouco alto para chamar a atenção de todos que
estavam presentes.
Todos nós ficamos em silêncio esperando a
hora que a mamãe iria atravessar a porta de entrada.
E lá estava ela, radiante com algumas sacolas
de supermercado em suas mãos.
— SURPRESA! — Todos nós gritamos juntos.
— O que vocês estão fazendo? — Mamãe
perguntou, impressionada com a sua família
reunida para o seu aniversário.
— Esse é o seu aniversário, você merece! —
Sabrina atacou o pescoço dela, apertando-a.
Não deu tempo de chegar até ela, todos os
familiares haviam feito um circula em volta da
mesma e cada um a parabenizava-a.
— Sua mãe é muito bonita. — Alan comentou.
— É sim. — Concordei.

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— Espero que a sua mãe não me ache um intruso.


— Falou.
— Coração de mãe, lembra? Sempre cabe mais um.
— Brinquei.
Finalmente tivemos a oportunidade de chegar
até a mamãe. Quando seus olhos encontraram os
meus, já estavam cheios de lágrimas.
Provavelmente fora o momento em que ela
lembrou o que Sabrina havia contado para ela sobre
eu estar trabalhando como secretária.
Seus braços envolveram o meu corpo, ela
desabou em chorar, sentia as lágrimas escorrerem
pelo meu ombro.
— Feliz aniversário mãe! Eu te amo muito. — A
cada palavra dita por mim, era uma lágrima
derramada.
— Estou tão orgulhosa por você meu amor. — Ela
beijou a minha bochecha e tentou secar meus olhos.
— Você merece. — Falei.
— Espero que você seja muito feliz assim. —
Desejou.
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Fazia tempo que ela não me abraçava com tanta


intensidade. Os carinhos haviam sido deixados para
trás a anos.
Neste momento acabei esquecendo do Alan que
estava assistindo toda a cena atrás de nós duas.
— Mãe, esqueci de apresentar o Alan, ele é o meu
chefe. — Apresentei. — Essa é a minha mãe Elisa
Moura.
— É um prazer conhecê-la. — Como o meu chefe
era um cavalheiro. — Espero que a senhora goste, é
algo básico, não sabia ao certo o que comprar.
— Não era necessário querido. — Mamãe negou.
Ela abriu o pequeno embrulho de presente em
suas mãos. Havia um colar, muito bonito por sinal.
— É muito bonito, deve ter custado uma fortuna.
— Falou impressionada.
— Não foi nada. — Alan sorriu.
Mamãe abraçou novamente Alan como um
agradecimento pelo presente.
A festa foi um sucesso, todos gostaram e
prometeram voltar o quanto antes possível para
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fazer visitas.
Havíamos organizado tudo. Novamente Alan
nos ajudou em cada detalhe.
— Vocês estão juntos? — Ouvi mamãe perguntar
ao Alan, ele estava próximo a ela, na sala.
— Mamãe! — Chamei a sua atenção.
— Está tudo bem! — Alan sorriu animado.
— Filha eu não tenho culpa em querer saber disso.
— Mamãe deu de ombros, arrancando risadas de
nós três.
Não era possível que eu estava passando
vergonha na frente de Alan.
— Não precisa se envergonhar. — Alan tocou o mu
ombro, passando um pequeno choque pelo toque.
— Vocês formariam um lindo casal. — Sabrina
comentou.
Após muitas conversas e comentários nada
saudáveis, Alan pediu que eu o levasse para o seu
apartamento.
Não trocamos nenhuma palavras no caminho
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até o seu apartamento. Talvez ele fosse o tipo de


homem que não se importava em andar com uma
mulher dirigindo, estava relaxado.
Uma vez e outra olhava com o canto dos olhos,
analisava-o olhando para fora da janela. Era como
olhar para uma criança, de vez e quando seus olhos
chegavam a brilhar.
— Está entregue.
— Você quer subir? — Convidou.
Não estava esperando pelo seu convite, ele
queria me levar para o seu apartamento?
Estava disposta a aceitar o seu convite, o
problema era que não queria que ele me achasse
fácil.
O objetivo do meu contrato era conquistar
Alan, mas isso demoraria um pouco, não poderia
ser algo rápido.
Não era o meu plano que tudo fosse uma
completa falsidade.
— Deixaremos para outro dia. — Respondi. —
Estou cansada.
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— Tudo bem. — Ele depositou um pequeno beijo


na minha bochecha.
Não sei ao certo o que aquilo significava. Era
apenas um beijo de despedida, como normalmente
as pessoas fazem quando vão embora? Ou era algo
maior?
Estava sorrindo atoa. Mas chegar em casa
sempre trazia a sensação de paz e conforto.
A primeira coisa que se passou em minha
cabeça como todos os dias que chegava dos meus
"eventos" era ir para a minha banheira.
Mas antes disso, resolvi que iria checar as
minhas mensagens no meu computador e celular.
"Fiquei sabendo que levou Alan para conhecer sua
família... Devo considerar isso um avanço?"
Estevan
"Você está se saindo bem!!! Foi um ótimo
investimento."
Estevan
"Espero por notícias!"
Estevan

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"Tecnicamente não. Devo lembrá-lo que era


aniversário da minha mãe e Alan não tinha o que
fazer."
Selena
Embora o senhor Estevan estivesse ansioso
para o dia tão esperado, onde o seu filho iria se
apaixonar por mim — se é que um dia isso irá
acontecer — tudo deveria acontecer naturalmente,
como em filmes e novelas.
Caso contrário ficaria algo muito falso.
Como se não bastasse o pai de Alan, minha
irmã fazia questão de deixar suas mensagens todas
as noites. Isso de fato não pode ser considerado
algo ruim.
"O seu chefe é uma graça... Tão charmoso."
Sabrina
"Você é a pessoa mais sortida que eu conheço."
Sabrina
"Vocês estão juntos? Pode contar a verdade!!"
Sabrina
"Pode ter certeza que não estamos juntos! Você
será a primeira a saber, eu prometo!"
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Selena
"Agora deixa eu ir descansar! Estou exausta."
Selena
Quando estava entrando na banheira o meu
celular apitou. Sabrina nunca se cansava.
O que me pegou desprevenida e surpresa foi
ver o nome que estava na tela do meu celular,
ALAN.
"Nós tivemos um dia maravilhoso juntos."
Alan
"Adorei conhecer dona Elisa e Sabrina!"
Alan
"Espero que possamos repetir a dose."
Alan
"Tenha uma boa noite."
Alan
O meu chefe estava mandando mensagens para
o meu celular e isso não envolvia o trabalho.
Ter visto que ele havia gostado de conhecer a
minha mãe e minha irmã já me deixava satisfeita.

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Esse era o começo de tudo, onde ele havia


ficado mais próximo.
Esse plano estava dando certo, tanto com Alan,
quanto com a minha mãe.
"Fico feliz que gostou delas! Elas também
gostaram muito de você."
Selena
"Boatos que você é charmoso."
Selena
"Durma bem e aproveite o domingo de folga."
Selena
Caso você esteja pensando que eu fui para a
banheira com o celular em minhas mãos, está certo.
Não que eu estivesse ansiosa por uma
mensagem sua como resposta, mas provaria que ele
estava esperando por mim.
"Com certeza irei dormir bem e aproveitar o meu
domingo. Nos vemos na segunda-feira."
Alan
E não teve sono melhor naquele dia.

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CAPÍTULO 10

Uma semana havia se passado, quer dizer,


como modo de falar. Era sexta-feira à noite e eu
estava indo para a casa da minha mãe, nós iríamos
pedir pizza.
No meio do trânsito, enquanto o sinal seguia
para o vermelho, meu celular apitou.
"Mana, caso você queira, pode trazer o Alan."
Sabrina
"Acho que não é uma boa ideia."
Selena
"Mas por que? Mamãe falou que é para convidá-
lo."
Sabrina
Isso queria dizer que quando a mamãe estava
falando que era para fazer e eu não fizesse, iria
levar uma bela bronca.
Pensei duas vezes antes de mandar a seguinte
mensagem.
"Olá chefinho! Brincadeira haha! Quero te fazer
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um convite."
Selena
"Conte-me um pouco mais."
Alan
"Pizza agora na casa da minha mãe, ela quem
convidou."
Selena
"Um convite da senhora Elisa é irrecusável!"
Alan
"Precisa que eu te mande o endereço?"
Selena
"Não será necessário! Até mais."
Alan
Por sorte o sinal era maior, quatro tempos.
Deixei para dar a notícia quando chegasse em
casa, não queria receber aquelas mensagens da
minha irmã insinuando mil e uma coisas.
Estava pensando nos sabores de pizza. Como
sempre, nós pedíamos duas pizzas enormes. Quatro
sabores em cada uma.
Calabresa
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Frango com catupiry


Quatro queijos
Coração
Bob Marley
Sensação
Strogonof de frango
Bacon
Normalmente elas não sabiam o que escolher e
isso ficava ao meu critério. É claro que ainda
precisava da opinião do Alan, vai que ele goste de
um outro sabor.
Assim que estacionei o carro em frente a casa
da mamãe, elas apareceram na porta.
— Você veio sozinha. — Sabrina comentou
desanimada.
— O Alan está vindo com o carro dele, não se
preocupem. — Avisei.
— Ele virá? Você está falando sério? — Mamãe
perguntou empolgada.
Como elas podiam se apegar em alguém que
viram uma vez?

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Como Alan ainda não estava na nossa casa,


pensamos em ligar para a pizzaria e tentar a sorte.
O fato era que nós três odiávamos ter que ligar
e conversar com atendentes, mas, como sempre
sobrar para Sabrina.
— Eu detesto fazer isso. — Sabrina suspirou
incomodada, digitando o número da pizzaria.
— Não reclama e liga logo! — Mandei.
Enquanto ela pedia os sabores que eu havia
anotado em um bloco, o barulho da campainha fez
com que minha mãe levantasse do sofá para atender
a porta.
O sorriso dela estava enorme, os olhos
brilhavam, era como se ela estivesse esperando o
grande amor da sua vida, mas era apenas o meu
chefe, Alan.
— Desculpem pela demora. — Desculpou-se,
sendo pego de surpresa pelo abraço da minha mãe.
— Não se preocupe querido, nós te chamamos em
cima da hora. — Mamãe não estava nenhum pouco
preocupada com o horário que ele havia chego, já
que o que realmente importava, era a sua presença.
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— Fiquei muito feliz pelo convite da sua filha. —


Confessou, andando até onde eu estava, para me
cumprimentar.
— Que bom que veio. — Comentei.
— Como eu disse, é um convite irrecusável. —
Brincou.
O doce beijo que ele deixou na minha
bochecha, fez com que eu me arrepiasse. Afinal, ele
era um homem e eu uma mulher.
Estávamos conversando sobre assuntos
aleatórios, Alan ficava olhando fixamente nos meus
olhos, mesmo que a minha mãe ou a minha irmã
falassem algo. Isso era um pouco constrangedor.
Apesar dos apesares, olhares, alguns assuntos
que saíam da boca de Alan, era realmente bastante
interessante. Era estranho estar me passando por
sua secretária e ter que fazer com que o mesmo se
apaixone por mim.
Mas há males que vem para o bem. Em certo
ponto, tudo o que estava acontecendo facilitava a
minha vida. Tanto como pessoa, quanto com minha
mãe.
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Nós estávamos entretidos demais quando a


pizza chegou. Enquanto mamãe e Sabrina
buscavam a pizza e o refrigerante. Alan fez questão
de me ajudar a buscar os copos, pratos e
guardanapos.
— Nós devemos fazer isso mais vezes. — Alan
comentou.
— Isso exatamente seria o que?— Perguntei um
pouco confusa.
— Nos reunirmos com a sua família para
comermos algo. — Sugeriu.
— Parece-me que gostou muito delas. —
Comentei.
Ele pensou por alguns segundos, ainda olhando
em meus olhos. Um pequeno sorriso brotou em seu
lábio, fazendo com que eu sorrisse junto, contra a
minha vontade, mas era quase impossível.
— Talvez não seja exatamente elas.— Foi a única
coisa que ele disse, antes de sair da cozinha com os
copos em suas mãos.
Voltei para a sala inconformada por ter
recebido uma "resposta" pela metade. Fazia questão
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de encará-lo nos olhos, talvez isso estivesse


funcionando, porque agora, ele já não me olhava
nos olhos.
Por sorte nossa, ele gostou de todos os sabores
que nós pedimos.
— Você tem namorada? — Mamãe perguntou sem
vergonha ainda, arrancando uma risada do Alan.
— Não. Estou solteiro. — Respondeu sincero.
— A minha filha tem feito um bom trabalho na sua
empresa? — Perguntou, olhando em seus olhos.
— Ela é uma ótima funcionária, tem me feito um
bom trabalho, acabou resolvendo problemas sérios
na empresa. — Respondeu.
Sentia-me importante quando alguém falava de
sobre mim com tanto orgulho e respeito. Por alguns
segundos me arrependia por ter trabalhado tanto
tempo em algo que prejudicasse a minha relação
com mamãe.
— Você não sabe o quão está sendo importante. —
Dessa vez, mamãe fez questão de fixar seus olhos
nos meus.

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Como estava tarde e precisávamos ir embora,


fomos ao mesmo momento. Claro, ele estava com o
carro dele e eu com o meu.
— Ah, já estava esquecendo. — Alan falou baixo,
aproximando-se de mim.
Por alguns segundos imaginei que ele fosse me
beijar, mas não aconteceu nada disso.
— Amanhã teremos que ir para um cruzeiro, haverá
reuniões dentro dele. — Avisou.
— Está falando sério? — Afinal, não estava nem
um pouco preparada para uma pequena viagem.
— Sim, irei buscá-la seis e meia da manhã. —
Respondeu. — Ficaremos quatro dias dentro do
navio.
É certo que ele poderia ter dito isso antes, assim
eu já iria estar planejando tudo que iria precisar
levar. Quem sabe eu teria ido embora antes, para
poder arrumar as coisas, descansar um pouco.
Como ele mesmo disse, nós teríamos algumas
reuniões, não estávamos indo para aproveitar.
Antes de ir embora, depositou um beijo um
tanto demorado na minha bochecha, deixando-me
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um pouco envergonhada. Estava começando a


sentir que ele estava fazendo isso de propósito,
quem sabe ele estava tentando me provocar de
alguma maneira.
Resolvi mandar algumas mensagens para
Sabrina, afinal, precisava avisar que iria viajar logo
pela manhã e se caso ela precisasse de mim, não
estaria por perto.
"Sabrina, irei viajar amanhã cedo."
Selena
"Para onde você está indo?"
Sabrina
"Irei passar quatro dias em um cruzeiro com Alan."
Selena
"Não acredito!!! Vocês estão juntos?"
Sabrina
"Não é nada disso que está pensando."
Selena
A minha irmã tinha essa mania de imaginar
tudo que estivesse ao seu alcance. Só quem vive
com ela entende o que se passa dentro daquela
cabeça.
"Estão indo trabalhar em um cruzeiro? Jura que
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você acreditou nisso?"


Sabrina
Embora ela já tivesse seus dezessete anos, e
não fosse mais aquela menininha frágil do passado,
era estranho ver ela insinuar segundas intenções.
"Nós teremos algumas reuniões! Muitas pessoas da
nossa empresa e sócios estarão lá."
Selena
"Espero que dê tudo certo! Ou devo dizer tudo
errado? Tomem cuidado!"
Sabrina
"Pare de pensar besteiras! Amo você."
Selena
Estava na hora de arrumar minhas malas — nas
quais iria levar roupas, sapatos, maquiagem e
produtos de higiene — por incrível que pareça
levaria duas, mas com poucas coisas.

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CAPÍTULO 11

Quando Alan avisou que passaria exatamente


as seis e meia da manhã no meu apartamento, ele
estava falando sério.
Precisei acordar as cinco, apenas para que desse
tempo de terminar a arrumar as minhas coisas,
tomar um banho tranquilo e o meu café da manhã
sem interrupções.
— Está muito bonita. — Antes de um bom dia, que
era o que eu estava esperando, recebi um elogio,
que já me deixou com um sorriso estampado na
face.
— Obrigada. — Agradeci. — Você está muito
elegante.
Enquanto eu estava utilizando um vestido
floral, que o seu comprimento ia até os meus
joelhos. Alan optou por uma calça jeans, camisa
social com mangas dobradas até os cotovelos.
Estávamos em um carro com seus pais, o
motorista estava nos levando. Seu pai estava no
banco da frente, já sua mãe se encontrava ao meu
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lado.
— Senhora Helena, estou feliz em vê-la
novamente. — Beijei a sua bochecha, da maneira
que dava, pois estávamos sentadas.
— Querida, lembre-se de dispensar a palavra
senhora, assim me sinto muito velha. — Brincou,
mantendo a classe e o carinho.
— Bom dia senhor Estevan. — Saudei o mesmo,
que se virou para me olhar.
— Olá Selena, como você está? — Era como se por
alguns segundos esquecesse de todo o nosso
contrato.
— Estou ótima, obrigada.
Gostava de alguma maneira de toda aquela
atenção que eu recebia da família do Alan.
Por mais que eu soubesse que em alguma hora
tudo pudesse acabar, gostaria de aproveitar o
máximo.
Esperava que mesmo que estivéssemos indo
para um cruzeiro a negócios, pudéssemos
aproveitar pelo menos um pouco.
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Não gostava muito da ideia de estar em um


navio, mesmo porque sempre fui um pouco
medrosa nesses aspectos, mas gostaria de perder o
medo.
Quando chegamos até o cruzeiro, onde havia
muitas pessoas bem vestidas entrando, fomos direto
para a recepção, onde informaram que irão entregar
as chaves dos quartos.
— Sejam bem-vindos. — A funcionária que estava
atrás do balcão nos cumprimentou. — Creio que
estejam esperando as chaves?
— Sim. — Alan concordou.
— Preciso do documento com foto da pessoa que
alugou os quartos. — A moça pediu.
— Alan Stuart. — Assim que ele pronunciou o
nome com o seu sobrenome reconhecido, ela deu
uma ajeitada em seu cabelo, arrumou a postura e
sorriu como se pudesse conquistar ele daquela
forma.
Posso afirmar que pude sentir uma pontada de
ciúmes.
— Foram alugados dois quartos para casais? — Ela
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perguntou, agora sem olhar para ninguém, apenas


para a tela do computador em sua frente.
— Não moça, deve ter acontecido algum erro. —
Alan estava começando a ficar estressado.
— Senhor todos os nossos quartos já foram
reservados. — Dessa vez a recepcionista estava
cada vez mais vermelha, assim como o meu chefe,
já estressado.
— Tudo bem, não será problema dividirmos um
quarto. — Toquei seu braço com calma, e acabei
sentindo a tensão que estava sobre o seu corpo,
relaxar..
Sabia que ele estava mais calmo por saber que
não seria um problema dividir um quarto,
provavelmente uma cama de casal.
Nós caminhávamos ainda calados pelos corredores
daquele imenso navio.
— Eduquei meu filho para ser um cavalheiro, não
se preocupe. — Dona Helena sussurrou no meu
ouvido, e eu aqui torcendo que Alan fosse um
menino mal.
Desde que eu estou trabalhando como
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secretaria do Alan, ele nunca me tratou mal, muito


menos faltou com respeito em algum momento.
— Esperava que eles pudessem organizar tudo de
uma forma melhor. — Foi o que Alan falou assim
que entramos no quarto.
O quarto de casal não era muito grande, alguns
filmes descreviam de forma real, havia espaço para
andar dos lados da cama, um pequeno guarda-roupa
e um banheiro com uma banheira maravilhosa.
— Creio que não seja tão ruim dividir um quarto
comigo, senhor Stuart? — Precisava provocar de
alguma maneira, assim poderia arrancar algo da sua
boca.
— Muito pelo contrário. — Suspirou, esboçando
um sorriso envergonhado. — Tenho sorte por ser
você aqui.
Isso de alguma forma mexeu com o meu
psicológico.
Por sorte, Alan avisou que iríamos almoçar e
que naquele dia teríamos uma reunião durante à
noite.
Não precisei trocar de roupa, aquele vestido
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simples estava confortável para o momento.


— Nós iremos almoçar com os meus pais. —
Avisou.
Andávamos lado a lado, como duas pessoas
normais. Embora houvesse muitas pessoas da nossa
empresa no navio, eles nos olhavam como se
houvéssemos feito algo.
— É difícil. — Confessei.
— O que exatamente? — Perguntou.
— Ser o centro das atenções. — Olhei para o lado,
tentando mostrar todas as pessoas que estavam
prestando atenção em cada detalhe do que
fazíamos.
Ele pareceu absorver a ideia, olhou para todos
os lados, fazendo com que as pessoas tentassem
disfarçar que estavam nos olhando.
— Eles só estão interessados em algo para
comentar. — Contou.
— Só não espero ser um assunto ruim. —
Comentei.
— Você não precisa se preocupar. — Avisou. —
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Caso eles falarem algum absurdo sobre você, irei


tomar as devidas decisões.
Adorava ver o quão ele se preocupava com a
minha reputação, mesmo porque para ele, a minha
imagem era de uma menina culta e inteligente que
tinha interesse em apenas trabalhar como sua
devida secretária.
— Vocês chegaram. — Dona Helena falou feliz e
em seguida olhou com olhar de desprezo para o seu
lado.
Para o meu desgosto Giovanna estava sentada
em uma mesa ao lado da nossa. Cheia de brilho,
muitos anéis, colar extravagante, maquiagem forte,
tudo para chamar atenção. Alan ainda não havia
percebido a sua presença, mas ela fez questão de
que ele notasse assim que olhou para o mesmo.
— Alan, que saudade. — Precisava me manter
culta e fingir que o seu abraço com o meu chefe
não estava me afetando.
— Comporte-se Giovanna. — Dona Helena não
estava nem um pouco contente com a presença
dela, estava adorando a minha futura sogra.

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— Desculpe. — Ela revirou os olhos como se não


se importasse com a opinião da mãe do cara que ela
estava "paquerando".
Alguns cochichos depois...
— Quem sabe mais tarde posso passar no seu
quarto, fique tranquilo que descubro o número. —
Ela não deixou que ele a respondesse, saiu como se
esperasse que ele gostasse da ideia.
Não conversamos sobre o que aconteceu,
apenas fomos servidos da melhor forma possível,
por bons garçons que traziam a todo momento
alimentos e bebidas até a nossa mesa.
Deveria ser a melhor pessoa possível perto dos
pais do Alan, mesmo para o senhor Estevan que me
contratou para esse trabalho nada fácil que seria
fazer com que seu filho se apaixonasse por mim.
— Esta comida está maravilhosa. — Elogiei para
um garçom próximo de mim.
— Obrigado. — O garoto agradeceu sem jeito,
voltando para a cozinha.
— Você é tão educada com as pessoas. — O senhor
Estevan quem falou dessa vez, fazendo que uma
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pontada de curiosidade surgisse dentro de mim.


— Nós temos uma reunião para construirmos um
grande prédio na cidade. — Alan começou a
contar, mas havia esquecido o fato de sua mãe não
gostar de falar sobre os negócios durante as
refeições.
— Filho, deixe esse assunto para depois. — Ela
pediu.
Talvez ele tenha ficado sem jeito por ter
esquecido algo que acontece frequentemente
quando está almoçando com seus pais.
— Mamãe, você deveria conhecer a mãe da Selena
e sua irmã, são pessoas maravilhosas. — Ele
sugeriu, deixando-me orgulhosa por gostar da
minha família.
— Você as conhece? — Dona Helena parecia
impressionada com seu filho.
— Nós nos encontramos duas vezes, a primeira no
aniversário da mãe dela e depois combinamos de
comer pizza. — Contou entusiasmado.

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CAPÍTULO 12

Por incrível que pareça, dona Helena


concordou que logo que voltássemos para a terra
firme ela iria marcar um jantar, onde convidaria
minha mãe e minha irmã para jantarmos todos
juntos.
Como até a nossa reunião não havia o que
fazermos, resolvemos que aproveitaríamos o dia
para descansarmos e usufruirmos daquele
maravilhoso cruzeiro.
Em alguns momentos esquecia onde estava o
medo não estava tão constante, embora às vezes as
ondas causassem certos tremores no navio.
— Vamos trocar de roupa para irmos até a piscina?
— Alan convidou, mas sabia que o convite era para
seus pais também.
Voltei a minha atenção a andar pelo corredor,
onde iríamos direto para o nosso quarto. Nos
vestimos rapidamente, corri para o banheiro, não
queria que ele me achasse fácil, mesmo porque,
homens não gostam de mulher assim, não para ter
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algo sério.
Como sabia que provavelmente a sua amiga
Giovanna poderia estar na piscina e faria de tudo
para chamar atenção do Alan, resolvi colocar um
dos meus biquínis mais chamativos. Ninguém
notaria, já que aquele modelo estava na moda, rosa
digamos que florescente com lilás forte.
É claro que teria que sair ainda de biquíni para
Alan poder absorver aquela cena, sem que ninguém
o atrapalhasse. Fingi esquecer a canga no quarto,
mas havia deixado-o lá de propósito.
— Desculpe senhor Stuart, pensei que você já havia
ido embora. — Desculpei-me, procurando a minha
canga com pressa.
— Não tem problema, estou esperando você lá
fora. — Avisou, saindo pela porta, aposto que deve
ter olhado para cada espaço do meu corpo.
A minha intenção é que ele ficasse naquele
quarto comigo, de preferência durante todas as
horas possíveis.
Chegamos na piscina, onde sua mãe estava
deitada em uma das cadeiras em frente a piscina. Já
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seu marido, acabou me impressionando, ele estava


com uma bermuda, havaianas e uma camisa florida.
— Vamos entrar na água? — Convidou Alan.
— Será ótimo. — Aceitei, recebendo um sorriso
estranho da sua mãe.
É como Sabrina muitas vezes sorria, com um
interesse a mais.
Ficar próxima do meu chefe em duas semanas,
era bom de um certo ponto de vista. Algumas
pessoas, na maioria funcionários não viam dessa
forma.
Era como se eu fosse a secretaria interesseira,
que estivesse apenas interessada em seu dinheiro.
Tecnicamente eu estava a espera do dinheiro que
receberia do seu pai, para um trabalho que fui
contratada.
— Está tudo bem com você? — Alan olhava-me de
maneira confusa e curiosa.
— Sim, por que? — Perguntei, não entendendo
exatamente do que ele estava se referindo.
— É que estou falando com você e não para de me
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olhar, não responde nada. — Contou.


Não poderia imaginar que em todo esse tempo,
palavras saiam da sua boca e eu não estava
escutando nada.
Senti vergonha, gostaria de ter uma boa
desculpa, mas naquele momento nada surgiu.
— É.. É... — Foi a única coisa que consegui dizer,
antes de ser interrompida por Giovanna.
Ela estava com um biquíni curtíssimo, que de
fato chamou a atenção do Alan, afinal ele era um
homem, ainda mais solteiro.
— Meu amor, até que enfim podemos aproveitar
um pouco. — Os braços dela passaram em volta do
pescoço dele, colando seus corpos.
— Giovanna, tem muitas pessoas aqui. — Ele
falou, mas sua voz estava baixa, talvez um pouco
ofegante.
— Nós podemos ir para o seu quarto... — Ela parou
de repente, virando a sua cabeça para me olhar,
talvez eu estivesse encarando os dois.
— Nós podemos falar sobre isso em outro lugar. —
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Pediu Alan.
Estava quase voando com a mão na cara dela,
uma moça que se diz digna e culta, não deveria
estar se jogando daquela maneira para cima de um
homem. Principalmente do seu ex-chefe, por mais
que ele não estivesse em nenhum relacionamento,
ainda assim era errado.
Tinha certeza que a dona Helena, mãe de Alan,
não estava gostando nada daquela cena que ela
estava expondo o seu filho que futuramente viria a
ser dono de sua empresa. A questão principal, era
que estávamos a trabalho no cruzeiro e que por
mais que estivéssemos aproveitando naquela hora,
havia pessoas de diferentes empresas, sócios,
funcionários, assistindo tudo de perto.
Como não queria ficar sobrando naquela
piscina e ver Giovanna atacar o homem que eu
precisava conquistar, sentei ao lado da minha futura
sogra, na tentativa de me aproximar.
— Giovanna deveria ser como você. — Comentou
baixo, para que apenas nós duas escutássemos.
— Como assim? — Perguntei curiosa.

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— Você está sempre no seu lugar, pronuncia-se


apenas quando é necessário e não faz vexame. —
Respondeu, apontando os fracassos da Giovanna,
comparado com o que eu fazia que ela considerasse
"correto".
Vendo do ponto de vista da dona Helena, ela
estava mais do que certa. Giovanna poderia pensar
em ser mais calma e menos afobada em relação ao
seu sentimento por Alan, quem sabe assim,
receberia a aprovação dos pais deles.
Porém, no meu caso, deveria torcer para que ela
nunca pensasse em mudar, caso contrário, meu
plano e contrato iriam dar errado.
— Estou com um pouco de dor de cabeça, irei
descansar. — Avisei Helena. — Espero estar
melhor mais tarde para a reunião.
— Tudo bem querida, nos vemos mais tarde. —
Beijou a minha bochecha.
Não queria me despedi de Alan, talvez assim
ele sentisse a minha falta, pelo menos um pouco.
A minha mentira no caminho acabou se
tornando verdade, já que uma dor de cabeça
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começou a me atormentar.
Procurei por remédios na pequena bolsa que
havia pego com produtos de higiene, estava certa
de que havia deixado ali em algum lugar, mas por
um azar do destino, não havia nenhum remédio.
Optei em colocar uma pequena toalha de rosto
molhada, em cima da minha testa como mamãe
sempre fazia quando não havia remédio em casa.
Talvez algumas horas de sono me fariam bem,
já que não estava acostumada com o mar.
— Selena? — Houve alguns toques na porta, antes
do meu nome ser pronunciado.
— Estou aqui. — Falei em um tom baixo, já que a
dor estava dominando o meu corpo.
— Mamãe falou que estava com dor de cabeça, está
melhor? — Alan parecia preocupado, sentou-se ao
meu lado direito, enquanto checava a minha
temperatura.
— Estou sim, logo passa. — Avisei.
— Você está quente, tomou algum remédio? —
Perguntou preocupado.
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Neguei com a cabeça, fazendo com que o


mesmo se levantasse com urgência para ir atrás de
um remédio.
Talvez ele fosse até a recepção atrás de alguns
remédios, ou quem sabe procurasse sua mãe para
pedir a ela.
Fechei os olhos na tentativa de que o meu sono
chegasse, o que eu mais precisava era descansar
para estar disposta na reunião que viria mais tarde.
A cada minuto que se passava, imaginava em
que lugar daquele cruzeiro Alan poderia estar e
com quem.
Apesar de ter se passado apenas cinco minutos,
já estava ansiosa para o momento que ele voltasse.
E quando eu menos esperava o sono chegou.
Meus olhos não estavam mais resistindo pelo fato
da enxaqueca estar mais forte.
— Selena, acorde. — Senti a mão de Alan tocar
meu rosto.
— Encontrou algum remédio? — Tentei olhar em
volta para procurar.

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— Sim, irei te dar apenas o de febre, a enfermeira


avisou que não se deve misturar. — Entregou-me
um copo com água e o comprimido.
Estava agradecida pelo fato de estar
preocupado com o meu bem estar. Qual chefe
estaria disponível para ir atrás de um remédio em
vez de aproveitar no cruzeiro?

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CAPÍTULO 13

Em momento algum Alan saiu do meu lado.


Mesmo estando dormindo após alguns segundos de
ter tomado o remédio, sentia o calor do seu corpo
ao meu lado na cama.
Por saber que ele estava ao meu lado, poderia
aproveitar da situação — doente e dormindo —
para nos aproximar de alguma maneira.
A minha perna direita, foi para cima do seu
corpo, o meu braço direito foi junto, tocando o seu
peito, de forma que não o atrapalhasse.
Meus olhos estavam fechados, perdi a chance
de ver a sua reação após os meus atos.
Fui despertada quando a voz da minha futura
sogra, atravessou as paredes, chamando a nossa
atenção.
— Pode continuar dormindo. — Alan sussurrou no
meu ouvido.
Precisei abrir os olhos e seguir a direção que
ele estava indo.
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Dona Helena entrou no quarto sem ao menos


ser convidada, não que isso fosse um problema para
mim, mas na verdade de alguma forma atrapalhou.
— Minha querida, irei ficar com você agora. — Por
que Alan não poderia ficar comigo? Ela estava
sentada ao meu lado na cama.
— Estava esquecendo da nossa reunião. — Alan
passou a mão sobre os cabelos e correu para o
pequeno banheiro.
— Você está melhor Selena? — Ela perguntou,
checando a minha temperatura da mesma forma
como seu filho fez.
— Um pouco. — Assenti.
Como ela deveria estar entediada assim como
eu também estava, resolveu ligar a televisão. Por
sorte, havia alguns filmes disponíveis, estavam
gravados.
A minha atenção foi toda para Alan que
resolveu esquecer de levar a roupa para o banheiro
e saiu apenas com a toalha enrolada em sua cintura.
— Desculpe fazer você passar por isso, estou
realmente atrasado. — Alan se desculpou pelo que?
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Por ter feito com que eu visse aquele corpo


maravilhoso quase nu?
Sorri sem perceber, mas dona Helena estava
atenta a tudo que eu estava fazendo, inclusive na
direção que os meus olhos estavam olhando.
— Ele é mesmo um homem muito bonito. —
Falou, deixando-me sem graça.
— É nesse momento que eu fecho os olhos? —
Brinquei.
— No seu caso eu aproveitaria. — Sugeriu.
Era engraçado ver dona Helena sugerindo que
eu aproveitasse o momento e desfrutar a visão do
seu filho.
Ou, ela estava apenas querendo que eu me
distraísse um pouco.
Deveria me arrumar imediatamente para
comparecer a essa reunião, era muito importante
para a nossa empresa e querendo ou não Alan
precisava de mim.
— O que está fazendo? — Ele perguntou, assim
que me viu procurando minhas roupas na mala.
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— Estarei pronta em alguns minutos para a nossa


reunião. — Respondi.
— Não será necessário Selena. — Colocou as
roupas que estavam em minhas mãos novamente na
mala. — Deite-se e descanse.
— Estou me sentindo melhor. — Expliquei.
— Não discuta com seu chefe. — Dona Helena
falou, chamando a nossa atenção.
Como não havia mais o que ser dito, resolvi
voltar para a cama, onde Helena ocupava a metade.
Era um pouco estranho estar dividindo a cama
com a mãe do meu chefe, era como se estivesse
ultrapassando sua intimidade de alguma forma.
— Acredito que a reunião não levará muito tempo,
após o jantar estarei de volta. — Avisou Alan,
depositou um beijo na minha testa, pegando-me de
surpresa.
Não sabia ao certo o que iria fazer até que Alan
voltasse para o quarto. Adorava ter a sua mãe por
perto, mas naquele momento gostaria de estar
sozinha.

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Gostaria de dizer de forma educada que ela


poderia voltar ao seu quarto, mas tinha certeza que
o senhor Estevan também estava nessa reunião e
que provavelmente se sentiria sozinha.
— Gosto da sua companhia. — Helena comentou.
— A senhora é uma ótima pessoa para estar por
perto. — Comentei.
— É bom ter uma figura feminina por perto. Às me
sinto um pouco perdida no meio do meu marido e
do Alan. — Contou.
— A senhora nunca pensou em ter uma filha? —
Por alguns instantes, após eu ter feito a pergunta,
Helena se calou.
Não sabia ao certo o que havia acontecido,
talvez devesse assimilar a pequena lágrima que
escorreu pela sua face.
— Está tudo bem? — Perguntei.
— Antes do Alan nascer, fiquei gravida de uma
menina. — Começou a contar e de alguma forma
aquilo mexeu comigo. — Ela esteve dentro de mim
por sete meses, mas não aguentou.

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Naquele momento a parte sensível que existia


dentro de mim acordou. Não sabia ao certo o
porquê dela estar se abrindo e contando um pouco
mais sobre a sua vida pessoal, mas gostava disso.
Ela deixou algumas lágrimas caírem enquanto
contava sobre a sua primeira gravidez. Era o seu
sonho ser mãe de uma menina, assim como o seu
marido que sempre desejou o mesmo.
No caso dela, uma segunda gravidez era um
pouco perigosa e poderia interferir tanto na sua
saúde, quanto na do bebê.
— Ter conseguido manter o Alan bem dentro de
mim, foi o melhor presente do mundo. — Explicou.
— Vocês não tentaram mais nenhuma vez? —
Perguntei curiosa, afinal isso poderia acontecer
com qualquer casal.
— Estevan fez vasectomia. — Contou. — Ele teve
muito medo de me perder ou não ter outro filho. —
Explicou.
Precisei me colocar no seu lugar para entender
o que ela estava sentindo. Não queria fazê-la
lembrar de tudo que viveu, talvez fosse doer contar
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sobre.
Ela continuou contando alguns detalhes sobre
tudo que aconteceu durante a gravidez, não gostava
muito de histórias tristes. Mas gostava da maneira
como ela demonstrava que confiava em mim.
— Querida, adoraria ficar mais tempo com você,
mas estou cansada. — Beijou a minha bochecha e
levantou-se com cuidado.
— Agradeço por ter ficado esse tempo todo
comigo, tenha uma boa noite. — Agradeci.
Assim que a dona Helena foi embora, resolvi
que estava na hora de tomar um banho. Quem sabe
eu iria melhorar, além de tirar aquela aparência de
doente.
Não me preocupei com o tempo que iria ficar
de baixo do chuveiro, mesmo porque Alan estava
em uma reunião e ainda iria jantar.
Desejava que ele não encontrasse com
Giovanna no caminho para a janta, caso contrário,
isso iria prolongar sua noite, o que demoraria a o
mesmo chegar.
Enrolei-me na toalha, cuidando para que a água
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não molhasse o chão do banheiro, não sentia


vontade alguma de passar pano.
— Você está aqui? — Segurei a toalha com força,
Alan estava sentado na cama e ao seu lado em um
pequeno balcão com rodinhas havia dois pratos,
uma garrafa de vinho e uma de suco.
— Desculpe, não imaginei que estaria no banho. —
Desculpou-se.
Corri com as minhas roupas para o banheiro,
imaginando o que ele estaria fazendo ali tão cedo.
— Trouxe a nossa janta até o quarto. — Explicou,
apontando para os pratos.
— Nossa janta? — Perguntei impressionada.
— Espero que você não se importe, preferi vir
jantar com você, para não deixá-la sozinha. —
Explicou.
Ele estava mesmo me impressionando todos os
dias que passava ao seu lado. Dessa vez, poderia ter
ido jantar acompanhado de seus sócios e grandes
pessoas, mas preferiu trazer a nossa janta até o
nosso quarto.

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— É muita gentileza sua. Obrigada. — Agradeci.


— Espero que você esteja melhor. Conversou
muito com a minha mãe? — Perguntou.
— Conversamos sobre vários assuntos. —
Respondi.
— Espero que ela não tenha interferido na sua vida.
— Comentou.
Olhando para Alan, de uma maneira simples,
sem o terno, apenas com aquela camisa social
dobrada até os cotovelos, mostrava o quão simples
ele era.
Gostava de como ele era quando estava comigo
e com seus pais. Não que ele fosse alguém
diferente com as outras pessoas, mas conseguia ser
mais aberto.

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CAPÍTULO 14

Jantar só nós dois em um quarto, era como se


fosse um encontro.
Na minha situação, algumas mulheres estariam
tentando de qualquer forma conquistá-lo. Mesmo
que eu estivesse com vontade de fazer isso, o meu
coração começava a doer.
Não era exatamente o que eu sonhei. Não era
dessa maneira que gostaria de conquistar Alan.
Não havia sentimento em jogo, pelo menos não
da minha parte, mas estava arrependida por fazê-lo
sofrer de alguma forma.
— Gostou do jantar? — Perguntou.
— Estava realmente maravilhoso. — Respondi. —
Não esperava que você fosse jantar comigo.
— Quando eu cheguei no restaurante e vi toda
aquela comida, lembrei que a esta hora você estaria
com fome. — Explicou.
— É realmente muito encantador da sua parte. — O
sorriso que ele estava esboçando, fazia com que eu
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melhorasse de certa forma.


Ele deixou o pequeno balcão com os pratos no
corredor. Segundo o mesmo, em alguns minutos
um dos empregados passariam no corredor para
buscar.
Estava na hora de dormimos, essa seria talvez a
parte mais interessante e esperada da viagem. Não
que eu quisesse ir para a cama com ele, nas
segundas intenções, mas sim dormir.
Já estava vestida com o meu pijama, é claro que
eu decidi utilizar algo que talvez fosse me ajudar na
hora em que ele saísse do banheiro.
A pouca roupa favoreceu o meu corpo, por
mais que eu não tivesse um corpo muito bonito,
seios fartos e bumbum enorme, não era nada mal.
— Espero que você não se incomode de alguém ao
seu lado se mexendo durante a noite. — Falou
rindo.
— Somos dois. — Contei.
— Quero que você me acorde caso volte a se sentir
mal, tudo bem? — Perguntou.

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— Não irei interferir no seu sono, o senhor já fez


muito por mim.— Neguei o seu pedido, mais como
um ato de educação e agradecimento.
Quando eu estava virando para ficar de costas
para ele, a sua mão tocou o meu braço, o seu toque
demonstrava o cuidado que ele estava tomando
comigo. Por alguns segundos, senti urgência em
virar para beijá-lo, mas não foi o que eu fiz, apenas
fiquei encarando aqueles lindos olhos.
— Me deixa cuidar de você. — Pediu.
— Do que você está falando? — Pelo fato de eu
estar doente, não sabia exatamente se ele estava se
referindo ao fato de eu estar doente, ou querer
cuidar de verdade, de um jeito carinhoso.
— Essa noite, enquanto você estiver doente. —
Respondeu.
— Ah. — Talvez eu estivesse um pouco
decepcionada com a sua resposta, mas o que eu
poderia dizer? — Tudo bem.
Ele ficou mais contente e isso ficou mais
evidente com o sorriso que chegou, logo que
escutou as minhas palavras.
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Não esperava que ele fosse se aproximar tanto


em pouco tempo. Na verdade, achei que seria mais
difícil criar uma intimidade entre nós dois. A
questão era nós estávamos mais perto do que
nunca.
O seu braço agora pousava pelo meu corpo. O
contato dos nossos corpos fazia com que o meu
corpo reagisse de uma forma diferente.
— O que está fazendo? — Perguntei.
— Sentindo você. — Sussurrou.
— Senhor Stuart... — Ele não me deixou continuar
falar.
— Não precisa me chamar de Senhor, Alan está
ótimo. — Pediu.
Respirar fundo, contar até dez.
Os seus dedos percorriam pelo meu braço, ele
estava fazendo carinho. Não sabia ao certo se ele de
fato estava se envolvendo, ou apenas demonstrando
se importar e queria cuidar mesmo de mim.
— Selena. — Chamou meu nome, fazendo com
que eu virasse para olhá-lo melhor.
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— Diga.
— Você é linda. — Falou, deixando-me totalmente
envergonhada.
Nunca havia recebido um elogio desse. Quer
dizer, é claro que meu ex-namorado falava essas
coisas quando nos conhecemos e enquanto
namorávamos.
Mas receber um elogio de um homem como o
Alan, era totalmente diferente.
— Obrigada Alan. — Agradeci.
— Posso ser sincero com você? — Perguntou.
— Claro. — Respondi.
— Você tem mudado a minha vida. — Contou.
De que maneira ele estava falando? Como
pessoa? No seu trabalho?
— Pode me explicar melhor? — Pedi.
— Você chegou do nada, resolveu um problema
importante no meu trabalho, agradou os meus pais,
me levou para conhecer a sua família, faz de tudo
para nunca me deixar sozinho, até me levou no
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aniversário da sua mãe. — Explicou.


Por mais que no meu contrato eu tivesse que
me aproximar dele e fazê-lo se apaixonar por mim.
Observando a forma como ele estava falando,
parecia ser mais errado do que já era. Doía ter feito
tudo aquilo. Mas se eu não tivesse feito aquele
contrato, nunca iria ter conhecido Alan.
— Fico feliz que você esteja gostando do meu
trabalho e da minha companhia. — Comentei.
— É muito mais do que isso. — Falou. — É como
se aquela parte que faltava de mim, chegou quando
você apareceu na minha vida.
A cada palavra dita, era como se uma faca
fincasse o meu peito. Era doloroso ver que talvez
ele estivesse criando um sentimento por mim. O
bom era poder sentir aquela sensação novamente.
Autoestima.
— Não sei o que te dizer. — Neguei com a cabeça.
Os seus olhos estavam concentrados nos meus.
— Não precisa dizer nada. Só prometa que não irá
embora. — Da maneira que ele estava falando, era
como se soubesse que a qualquer momento eu
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estaria indo embora.


— Só irei embora quando o senhor me demitir. —
Brinquei, para tentar quebrar o gelo.
— Guarde o senhor para quando for falar com meu
pai. — Pediu.
— Desculpe.
Agora a sua mão acariciava o meu rosto, com
certeza ele usava algum produto em suas mãos.
Não era possível que fosse tão macia. Ou eu estava
sonhando.
Alguém bateu na porta, despertando-nos do
transe em que nos encontrávamos.
— Irei ver quem é. — Alan levantou, indo até a
porta.
— Meu amor, sabia que estava aqui. — Giovanna
entrou no quarto, provavelmente não fazia ideia de
que eu estava com ele.
Assim que os olhos dela encontraram os meus,
pude perceber que estava irada.
— Não acredito que você está dormindo com ela.
— Dessa vez olhava para Alan. — O que eu te falei
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aquele dia no banheiro? Ele faz isso com todas.


— Não é isso que você está pensando. — Falei.
— Você sabe o quanto seu pai ficará chateado se
saber que o seu filhinho está voltando a dormir com
as secretárias. — Giovanna estava tentando colocar
medo no Alan, quem sabe estivesse conseguindo,
pois, ele parecia estar nervoso.
— Como Selena mesma falou, nós não estamos
juntos. — Explicou-se, mas na verdade a sua ex-
secretária não estava com vontade de escutar a
verdade.
O que ela mais queria era achar uma forma de
me demitir e voltar para o posto de secretária.
Giovanna não aguentava ver outra mulher com
Alan, era como se ele estivesse a traindo.
— Você precisa ir embora. — Alan pediu.
— Amanhã nos vemos na hora do café da manhã,
estou com saudades do meu sogro e da minha
sogra. — Falou, na tentativa de me provocar e de
amedrontar Alan.
Demorou alguns segundos para ela finalmente
ir embora do nosso quarto. Com certeza pensando
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inúmeras coisas sobre nós dois. E imaginando uma


maneira de interferir nas nossas vidas.
Garanto que não será nada fácil essa caminhada
ao lado do Alan até conquistá-lo de verdade,
casarmos, passarmos seis meses juntos como
marido e mulher. Muita coisa irá acontecer.
— Ela nunca nos deixará em paz. — Comentei.
— É questão de tempo para nos acostumarmos. —
Falou.
Não estava mais com vontade de conversar,
gostaria de dormir. Não queria que acontecesse
nada naquele cruzeiro. A cada atitude tomada, o
arrependimento falava mais alto.

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CAPÍTULO 15

Acordar pela manhã e não enxergar o corpo que


me esquentou durante à noite toda é um tanto
arrasador. As minhas mãos procuravam o espaço
vazio em branco, pois meus olhos ainda estavam
fechados.
— Alan? — Chamei seu nome, na expectativa de
que ele me respondesse.
Quando não escutei nada como resposta, abri os
olhos atentamente, olhando por cada canto daquele
pequeno quarto do navio. O banheiro estava vazio,
então resolvi que iria fazer tudo que necessitasse,
começando por escovar os dentes e tomar um
banho.
Provavelmente Alan havia saído cedo para ter
alguma conversa séria com seus pais, talvez a
respeito da reunião da noite anterior.
Procurava com os olhos pelo saguão onde o
café da manhã estava sendo servido. Ouvia
algumas risadas, essa me chamou atenção, sabia
bem de quem era, Giovanna.

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Ela estava sentada na mesa onde os pais de


Alan e o mesmo se encontravam. Provavelmente,
estava começando com o seu plano de interferir na
vida do Alan.
— Olá, estou atrapalhando? — Perguntei,
aproximando-me da mesa onde eles estavam,
fazendo com que suas atenções fossem dirigidas a
mim.
— É claro que não, querida. — Dona Helena com
certeza era uma mulher maravilhosa.
— Espero não estar incomodando. — Falei.
— Olha garota, para ser bem sincera está. —
Giovanna foi clara, estava tentando fazer com que
eu me sentisse mal.
Senhor Estevan estava sério, olhava
diretamente em meus olhos. Talvez estivesse
pensando na possibilidade de eu fazer alguma coisa
em relação a Giovanna.
— Giovanna acho que você está sendo
inconveniente. — Alan falou, tentando de alguma
forma amenizar a situação.
— Creio também que já está de saída. — Senhor
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Estevan estava ainda mais sério.


Todos esperávamos que Giovanna fosse se
levantar para ir embora, mas em vez disso, ela
preferiu abrir um berreiro, chamando a atenção de
todos que estavam tomando o café naquele
momento.
— Será que alguém pode me explicar o que está
acontecendo aqui? Quer dizer, que o chefe está
dormindo com a funcionária que é secretaria eu já
sei, mas agora faltar com respeito comigo, isso eu
não admito. — Todos estavam com os olhos
arregalados, muitos funcionários, sócios e donos de
empresas estavam a bordo do cruzeiro, iriam ver
aquela cena com maus olhos.
— Ninguém está faltando com respeito, você está
sendo deselegante. — Ah como eu adorava ouvir a
voz da minha futura sogra, como sempre nunca
deixando de subir do salto.
— Quem é você para falar alguma coisa? —
Giovanna riu irritada. — Nunca foi a favor do seu
filho namorar com alguma mulher que tivesse
menos dinheiro do que ele.
— Isso é mentira. — Dona Helena falou brava
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dessa vez, sua paciência estava por um fio.


— E por que você fez seu filho terminar comigo?
— Perguntou dessa vez dava para perceber que
aquele sinto a afetava de verdade.
— O primeiro motivo é pelo simples fato de que o
meu filho nunca quis namorar com você. — Helena
comentou pelo primeiro ponto. — E segundo, deve
ser porque você não sabe se comportar na frente de
ninguém, inclusive neste momento que você
deveria agir com classe e está armando barraco.
O pequeno discurso da mãe do Alan deixou
todos os presentes de boca aberta. Era evidente que
Giovanna não sabia se comportar na frente de
outras pessoas. Mas ela tocou na ferida principal: o
fato de Alan nunca ter tudo interesse em namorar
com ela.
Giovanna se calou imediatamente, não houve
mais palavras ditas por ela. As pessoas assistiam a
sua deixa, ela estava indo embora, posso alegar que
algumas lágrimas caiam pelo seu rosto.
— Alan está dando muita esperança para essa
mulher. — Estevan não estava feliz com as ações
do seu filho, mas havia um toque a mais em sua
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frase, quem sabe estivesse praticando o seu plano.


— Não estou mais saindo com Giovanna, já deixei
isso claro. — Alan falou, deixando seu pai revirar
os olhos novamente.
— Não é isso que está aparecendo. — Dona Helena
precisava deixar claro a sua opinião, afinal ela
também precisava expor o seu ponto de vista.
Alan não estava mais aguentando o assunto na
mesa. Era possível que a qualquer momento ele se
levantasse e fosse embora. Até mesmo eu, que
adorava ouvi-los falar mal da ex-secretária do meu
chefe.
— Alan, você gostaria de me acompanhar até a
piscina?— Perguntei, para ajudá-lo a sair daquela
situação.
— É claro, uma ótima ideia. — O sorriso em seu
rosto de agradecimento não tinha preço.
Nós não conversamos enquanto íamos para a
piscina. É claro que eu havia colocado roupas de
banho antes mesmo de sair do quarto. O café da
manhã foi leve, mesmo porque a comida do almoço
era servida cedo.
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Olhar para Alan daquela maneira natural que


tanto me encantava, deixava-me com um
sentimento diferente no peito. Enxergá-lo com
outros olhos, deixava-me um tanto receosa, não
gostava de sentir isso, muito pelo contrário, o meu
trabalho não me permitia amar.
O contrato feito com o senhor Estevan dizia
claramente que eu não poderia ter uma relação
verdadeira, mesmo que eu me apaixonasse tudo
fazia parte de apenas um contrato, que no fim de
seis meses de casado, eu deverei deixá-lo.
O fato é que quando você aprende a conviver
com certa pessoa, acaba se acostumando com os
horários, as visitas, os projetos, as risadas, os
sorrisos, os desabafos... Como eu iria me sentir
quando tivesse que ir embora?
Eu provavelmente teria que mudar tudo ao meu
redor. Começando pelos meus planos.
Talvez deixar Alan futuramente, iria me deixar
triste, assim como acredito que minha mãe e irmã
ficarão quando perceberem que tudo acabou.
— Você está sempre arrumando uma maneira de
me ajudar. — Comentou, assim que ficamos
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sozinhos na piscina.
— Aquele momento estava desconfortável. —
Comentei.
— Eles acham que eu ainda estou com a Giovanna.
— Contou.
— Talvez você deva se afastar, ela só está te
trazendo problemas. — Não era exatamente certo
falar isso, ele poderia achar que eu estava
interferindo na sua vida, talvez ainda sentisse algo
pela sua ex.
— Acha que não estou tentando de todas as
formas? Não aguento mais ela, vou em festas de
noite, fico com outras mulheres na sua frente, quem
sabe assim ela percebe que não quero nada, mas ela
insisti. — Contou, deixando-me um tanto
incomodada com o seu desabafo.
Quer dizer que ele estava saindo durante à
noite? Beijando outras mulheres em baladas? Tudo
isso para mostrar a Giovanna que não queria ficar
com ela? Desculpe-me, mas na minha visão certa
desculpa.
Gostaria de poder discordar da maneira de
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como ele estava agindo. Algumas conversas


resolveriam o seu problema. Não era necessário
beijar tantas bocas.
— Muitas mulheres?— A pergunta saiu da minha
boca sem que eu percebesse, deixando-o me
olhando com os olhos confusos.
— Está perguntando se eu fiquei com muitas
mulheres?— Aquele sorriso que eu tanto gostava,
um tanto satisfeito misturado com um jeito de
menino brotou no seu lábio.
— Sei que não devo estar entrando nesse assunto
senhor Alan. — Comentei, mesmo não sabendo
exatamente o que estava dizendo.
— Desde que você apareceu na minha vida, não
houve mais tempo para baladas. — Contou,
deixando-me sem entender nada.
Porque na realidade, nós não saíamos sempre
durante à noite. Às vezes comemorávamos alguns
contratos assinados, algo importante, ou até as
visitas lá em casa, mas não foram muitos dias.
— Por quê? — Perguntei.
— Deve ser porque você tem me mantido muito
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ocupado. — Explicou.
— Senhor Alan, pode ser mais claro? — Pedi.
— Você tem dominado os meus pensamentos. —
Começou a contar. — Como posso sair e ficar com
outras mulheres, sendo que é em você que estou
pensando a cada momento?

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CAPÍTULO 16

Não estava conseguindo dizer nada. As


palavras que Alan estava dizendo ainda circulavam
pela minha cabeça.
Ele estava mesmo gostando de mim.
O plano estava começando a dar certo, agora
precisava fazer com que tudo se encaminhasse de
maneira correta.
Quem eu estava tentando enganar? Por mais
que o contrato estivesse na minha cabeça. No meu
coração estava todas as palavras que ele havia dito.
Toda a atenção recebida, os cuidados, elogios...
— Alan eu não sei o que te dizer. — Falei.
— Diga que você também está sentindo algo por
mim. — Pediu, aproximando-se.
— Não posso negar e dizer que não estou sentindo
nada, mas como a Giovanna mesmo falou, você é o
meu chefe. — Expliquei.
— Esquece o que ela falou, Giovanna está com
ciúmes. — Avisou.
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— Nós não podemos, é errado. — Afirmei. —


Imagina o que seus pais irão pensar de mim?
— Você não percebeu ainda o quanto meus pais te
adoram? — Perguntou, como se fosse alguma coisa
óbvia, mesmo que fosse, precisava deixar a
situação um pouco difícil, para não parecer uma
farsa.
Estava pensando no que responder, ele estava
sendo tão sincero. Demonstrando os seus
sentimentos.
— Alan preciso que você me dê espaço para
pensar. — Pedi.
— Selena, eu te darei todo o tempo do mundo. —
Beijou as minhas mãos, com respeito.
Estava um pouco desconfortável com Alan ao
meu lado. A questão agora é que tanto ele, quanto
eu nos enxergava com outros olhos.
Ele não conseguia mais me olhar nos olhos,
pelo menos não da mesma maneira. Era como se
ele ficasse tímido e não soubesse como agir.
— O que acha de jantarmos junta essa noite, no
restaurante? — Convidou, ainda estava nervoso, as
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mãos se tocavam rapidamente, como se ele


estivesse tentando tirar alguma coisa, mas que não
se encontrava ali.
— É claro que eu aceito. — Aceitei, afinal era para
isso que eu estava ali.
— Estou muito feliz que tenha aceitado, farei de
tudo para ser o melhor jantar da sua vida. — Sorriu
aliviado, pelo que estava falando, havia planejado
essa ideia recentemente.
Nós estávamos um tanto atrapalhados juntos,
gostaria de ficar um pouco difícil para saber
exatamente como me portaria nesse jantar.
Deveria escolher exatamente o momento certo
para o primeiro beijo, para as primeiras palavras de
afeto, e toda a confusão que se passava dentro de
mim, deixava-me ainda mais confusa.
O contrato já havia sido assinado, que
alternativa eu teria? Pagar uma multa por deixar o
senhor Estevan na mão? O dinheiro que iria ganhar
com ele, seria maior do que qualquer outro cliente
que já contratou meu serviço.
Nós havíamos combinado de irmos ao saguão
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onde seria servido o jantar às 20hrs da noite. Estava


ansiosa e nervosa. Como pedido meu, passei o
almoço sozinha em meu quarto, onde eles fizeram
questão de levar a comida até lá.
O meu plano estava sendo feito aos poucos na
minha cabeça.
1. Primeiro: Iria começar como quem não quer
nada, apenas como se estivesse interessada no
jantar marcado por ele.
2. Segundo: Começaria esboçar alguns sorrisos e
olhares mais atentos, para que ele entendesse a
minha investida.
3. Terceiro: Como ele iria corresponder os meus
olhares e sorriso— pelo menos era isso que eu
esperava—, iria agir como se estivesse tímida com
toda atenção que estava recebendo.
4. Quarto: Provavelmente nesse momento, nós já
iríamos ter conversado sobre diversos assuntos,
faltando apenas o ponto principal, que seria o fato
de ele estar gostando de mim. Provavelmente agora
ele estaria tocando no assunto.
5. Quinto: Iria corresponder aos seus sentimentos,
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por mais que dentro de mim, uma parte estivesse


dizendo que estava comentando uma burrada.
6. Sexto: Ele irá pedir para que tentássemos aos
poucos, talvez sem contar a novidade para os seus
pais e para a minha família, sem demonstrar
sentimentos no trabalho, ou em qualquer lugar que
envolvesse as pessoas mais conhecidas.
7. Sétimo: Eu aceitaria a sua proposta e então
começaríamos o nosso pequeno romance.
8. Oitavo: O beijo com certeza irá vir após a minha
aceitação, Alan não parece o tipo de homem que
tenta beijar uma mulher a força.
9. Nono: O jantar provavelmente terá acabado e nós
teremos que voltar para o nosso quarto.
E é aonde chegamos ao grande problema.
Dormir juntos agora que não seríamos mais
amigos, chefe e empregada, havendo um
sentimento entre nós dois, um relacionamento.
Talvez aconteçam abraços e beijos, mas não
passará disso. Ou Alan irá pensar que eu sou a
mulher mais fácil do mundo.
Na minha mala havia alguns vestidos que havia
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pegado para as reuniões, saias também, mesmo


porque normalmente não sei exatamente o que
utilizar. Como não havia imaginado que
poderíamos jantar como um "par romântico", não
havia pegado nada muito delicado. Ou seja, um dos
vestidos, preto com branco, foi a minha solução
para o momento.
Faltavam poucos minutos para sair do banheiro
totalmente pronta. É claro que Alan fez questão de
se arrumar antes e ir até o saguão para me esperar.
Não teria graça nenhuma se ele me visse antes, no
nosso quarto.
Ele estava maravilhoso. Vestia uma camisa
social branca, com detalhes em preto, o que
deixava seus músculos mais amostra. A calça era
um tom escuro de jeans, azul ou quem sabe até
preta. Os fios de cabelos estavam arrumados, mas
mesmo assim, alguns ousavam em estar
bagunçados. Alan não havia percebido que eu havia
chegado, olhava atencioso para as pessoas em
nossa volta, um pouco para o relógio em seu pulso,
ajeitava um pouco o cabelo, alguém parecia estar
mais nervoso do que eu.

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— Alan. — Cheguei do nada, de surpresa, fazendo


com que ele levasse um pequeno susto, até perceber
que era eu em sua frente.
— Selena, você está maravilhosa. — Ele fez
questão de se levantar e puxar a cadeira para que eu
sentasse não que eu estivesse esperando para tal
atitude, mas de fato foi bonito, fazendo com que
alguns casais olhassem para a nossa mesa.
— Obrigada. — Agradeci. — O senhor está muito
elegante. — Elogiei.
— Não me chame de senhor, por favor, pareço
velho. — Pediu, deixando um sorriso nervoso
escapar.
— Desculpe, já estou acostumada. — Expliquei.
— Você terá que se desacostumar. — Falou
brincando, mas sabia que havia sinceridade em suas
palavras.
A comida estava excelente, nunca havia
comido nada igual, pelo menos era melhor do que
as comidas dos restaurantes na cidade,
provavelmente teria um toque diferente, tempero
único para ser tão delicioso.
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O primeiro ponto deveria começar a ser


explorado, fingir que só estou interessada no jantar
que estamos tendo.
— A comida está muito boa. — Elogiei. — Ainda
bem que deixei você pedir.
— O chefe que está a bordo realmente é um dos
melhores. — Contou.
— Ele só faz comidas para cruzeiros? — Perguntei,
fingindo interesse pelo assunto.
— Sim. — Respondeu. — Na verdade, no
momento está apenas cozinhando para cruzeiros,
mas antigamente costumava trabalhar em
restaurantes na cidade. — Explicou.
— Por mim, eu comeria a comida dele para sempre.
— Brinquei.
— Mas aí não haveria tempo. — Falou, deixando-
me confusa.
— Tempo para que? — Perguntei.
— Para ficar comigo. — Falou, pegando-me de
surpresa.
Alan acabou detonando com uma parte do meu
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plano que era a próxima, estava se declarando antes


do tempo, ele havia ter que esperar as minhas
investidas, meus olhares e sorrisos, mas pulou para
a outra etapa.
Não sabia ao certo se deveria dizer alguma
coisa, os meus planos estavam indo por água
abaixo e eu não sabia o que fazer naquele
momento.
Precisei sorrir, um tanto envergonhada.

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CAPÍTULO 17

Estávamos no meio da sobremesa. Alan já


havia dado diversas investidas, inclusive estava
começando a sugerir que fizéssemos algumas
viagens juntos, ele me colocaria em um cargo
melhor na empresa — por mais que não fosse o que
eu desejava — essa proposta fosse tentadora,
mesmo porque o meu salário iria aumentar. Não sei
ao certo se o senhor Estevan concordaria com o seu
filho, mas provavelmente sim pelo fato de querer
que eu conquiste Alan o mais rápido possível.
A questão era eu precisava aproveitar cada
momento. Como sabia que isso de alguma maneira
iria terminar, não havia mais opção minha, não
tinha dinheiro para romper com o contrato que
assinei, resolvi aceitar todo aquele processo de
conquista.
— Você poderia dizer que me aceita. — Alan
começou a falar, talvez pela terceira ou quarta vez.
— Não me importo que não queira namorar agora,
mas fique comigo, deixe eu te mostrar o quão bom
posso ser.
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Era estranho ouvir Alan falar daquela maneira,


afinal o que seu pai me dissera era o contrário do
que ele era agora. Não sei se o motivo para tanta
mudança fosse eu, mas ele estava muito diferente.
Para começar, Alan não perdia um
compromisso sequer. Chegava em todas as reuniões
no exato momento do início ou até mesmo alguns
minutos antes. Não perdia mais nenhum contrato
ou viagem. Ressaca? Essa palavra não existia mais
em seu dicionário.
Na verdade, a única ressaca que vi meu "chefe"
passar, foi quando ficou um tanto chapado por
conta de alguns remédios para dores que precisou
ingerir.
Alan havia amadurecido e com certeza seus
pais haviam notado.
— Eu aceito o seu pedido, mas precisamos ir aos
poucos. — Exigi, finalmente após tanta espera.
— Por você espero o tempo que for necessário. —
Afirmou, quase ultrapassando a mesa que nos
separava.
— Eu quero experimentar o gosto da sua boca. —
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Pediu, levantando-se do seu lugar.


Em alguns segundos, tirou a carteira do bolso
da calça, colocando o dinheiro e uma bela gorjeta
para o garçom que havia nos servido.
Ele me guiava com a mão para fora do
restaurante, provavelmente levando-me para o
nosso quarto.
— Eu juro que estou tentando me segurar. — Alan
não foi nada cavalheiro jogando-me contra a
parede, segurando o seu corpo perto do meu.
As nossas respirações estavam misturadas, mas
com certeza eu estava mais ofegante. Era como se a
qualquer momento ele fosse me devorar no meio do
corredor dos quartos.
Ouvimos uma tosse forçada, havíamos sido
pegos no flagra.
Dona Helena nos olhava com os olhos
arregalados, surpresa assim como qualquer um que
passasse e visse aquela cena em pleno a um navio
lotado por pessoas.
— Mãe, eu posso explicar. — Agora era como se
Alan voltasse a ser aquela criança ou adolescente
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que acabará de cometer um erro e havia sido pego


no flagra pelos pais.
— Acho que você já está bem grandinho para me
dar esse tipo de explicação. — Ela não esboçava
sequer nenhuma reação, não sabia se estava brava
ou tentava esconder o que se passava dentro de si.
— Só peço que respeite as pessoas que estão aqui
dentro e façam isso dentro do quarto.
Eu deveria estar vermelha nesse momento.
Senti-me uma adolescente. Alan estava tão
envergonhado quanto eu.
Nós entramos no quarto ainda com a respiração
acelerada.
— Não acredito que ela nos viu. — Falou, assim
que a porta fora trancada.
— Não sei como irei olhar para ela amanhã. —
Neguei com a cabeça, sentando-me na cama.
— Nós ainda não estávamos fazendo nada demais.
— Explicou, tentando amenizar a situação.
— A questão não é essa. Imagina como ela vai me
ver amanhã? Vai pensar que eu sou igual todas as
suas outras secretarias. — Expliquei.
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Alan parou por alguns segundos, ainda em


silêncio, apenas encarando os meus olhos que na
maioria das vezes desviavam.
— Como eu disse antes, estou curioso para saber o
gosto da sua boca. — Mudou completamente de
assunto, pegando-me novamente de surpresa.
— E por que não me beija? — Selena qual a parte
de não ser assanhada você não entendeu? É claro
que essa frase causaria um efeito sobre Alan, que
só faria com que ele sentisse ainda mais vontade de
me beijar.
E foi assim que aconteceu. A intenção da
minha frase foi atendida.
Ele estava calmo, ao contrário do que eu
imaginei que seria, tomou-me o lábio com
tranquilidade, sugando os mesmos como se não
quisesse mais soltá-lo de maneira alguma.
O toque da sua mão no meu pescoço, o
movimento que havia para que os nossos lábios se
sincronizassem... Tudo fazia com que o beijo
ficasse ainda mais intenso.
Não havia intenção alguma de prosseguir após
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o beijo para algo mais quente. Alan estava certo


disso, pois prolongava cada vez mais os beijos.
— O que achou do gosto da minha boca? —
Perguntei.
— É como nos meus sonhos. — Respondeu.
— Você tem sonhado comigo? — Perguntei
impressionada, afinal ele não havia contado sobre
isso.
— Digamos que na ultima semana inteira. —
Contou.
Quando eu iria parar de ficar impressionada
com ele? Por que tinha que mexer tanto comigo?
Não aguentava mais ouvir a sua voz, não é que eu
não gostasse, mas era medo.
Medo me definiria inteira agora. Como saber a
intensidade do sentimento que estaria sentindo
amanhã?
Gostaria de ver o futuro, provavelmente eu
faria muita coisa para mudá-lo, mas só dessa
maneira poderia ver o quanto iríamos sofrer com
esse contrato bobo.

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Seria muito mais fácil se ele fosse um velho


gordo e rico.
— No que está pensando? — Nós já estávamos
deitados quando ele me fez essa pergunta.
— Em como será quando nós voltarmos depois de
amanhã. — Respondi.
Em uma parte estava mentindo e na outra sendo
sincera. A verdade é que pensava em como seria na
empresa, nos negócios, nas nossas famílias, em
como esse relacionamento iria afetar cada ambiente
que iríamos estar.
— Eu acho que será maravilhoso. — Opinou,
sorrindo e beijando cada pedaço do meu rosto.
— E por que tem tanta certeza disso? — Perguntei.
— Porque você estará lá e eu não preciso de mais
nada com você por perto. — Como não me
apaixonar? Como um ser pode ser tão adorável?
Era engraçado pensar em como tão pouco
tempo, fez com que Alan criasse esse sentimento
absurdo.
Na minha concepção, achava meio impossível
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alguém se apaixonar em tão pouco tempo.


— Não irá falar nada? — Perguntou, mesmo tendo
a certeza que não havia palavras para a sua
declaração.
— Você está me deixando mal acostumada, isso
não é bom. — Afirmei.
— Por que não é bom? — Perguntou.
— Eu fico desobediente. — Selena comporte-se,
nada de ser safada agora, com um homem que te
deseja ao seu lado na cama.
— Talvez eu queira você desobediente às vezes. —
Por que ele fez aquela voz tão sexy? Havia ficado
derretida com seu sussurro na minha orelha! Meu
corpo estava arrepiado apenas com a sua voz.

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CAPÍTULO 18

Como dormir ao lado de um homem com um


físico tentador, que agora se encontrava apenas de
samba-canção, com seus músculos amostra?
Ainda mais quando esse homem, agora possuía
certo nível de relacionamento com você.
Era nesse estado de paranoia que eu me
encontrará no meio da noite. Observava o quão
calmo ele dormia, seu corpo se mexia com
tranquilidade por conta da sua respiração. Ele com
certeza estava tendo um sono profundo.
Agora, certamente não havia com o que se
preocupar. Se antes a sua preocupação se baseava
em ouvir um não da minha boca — após essa noite
— não havia mais com o que se preocupar.
Tentar ocupar seus pensamentos com a sua
família, alguma música, ou mesmo com problemas,
não estava funcionando no meu caso.
A única coisa que eu desejava era poder
conseguir dormir com facilidade. Mesmo porque,
temia ser acordada cedo na manhã seguinte por um
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Alan que talvez desejasse aproveitar mais a nossa


estadia no cruzeiro.
Nós teríamos uma reunião que já estava
marcada para as quatro horas da tarde com alguns
sócios da empresa. Como eu ainda era secretaria,
estaria presente por conta do meu cargo.
O sono chegou aos poucos — primeiro, os
meus olhos foram se fechando — quando as
minhas pálpebras não aguentavam mais ficarem
abertas, dei-me por vencida.
Deixei que o sono invadisse o meu corpo e
esperava não ser perturbada até mesmo dormindo
— especificamente nos meus sonhos —.
[...]
Alguém com uma voz bem masculina
cantarolava uma música que não estava
conseguindo decifrar. Essa pessoa, que agora não
estava ao meu lado na cama, provavelmente estaria
no chuveiro, mesmo porque era possível ouvir o
som da água cair.
Alan estava cantando uma música do Jorge e
Mateus, uma das que eu mais gostava.
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Eu te vi e já te quis
Me vi tão feliz
Um amor que pra mim era sonho Surpreendente
provar
Do que eu só ouvi falar
E você resolveu me mostrar
Logo eu que nem pensava
Eu não imaginava, te merecer
E agora sou o dono desse amor
Eu nem quero saber porque
Eu só preciso viver
O resto dessa vida com você
Te vi e já te quis
Me vi tão feliz
Um amor que pra mim era sonho Surpreendente
provar
Do que eu só ouvi falar
E você resolveu me mostrar
Logo eu que nem pensava
Eu não imaginava, te merecer
E agora sou o dono desse amor
Eu nem quero saber porque
Eu só preciso viver

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O resto dessa vida com você


Eu que nem pensava
Não imaginava, te merecer
E agora sou o dono desse amor
Eu nem quero saber porque
Eu só preciso viver
O resto dessa vida com você
Com você, com você
O resto dessa vida com você
Logo eu, Jorge e Mateus, Compositor: Samuel Deolli e Felipe Labret

A voz do Alan não era das melhores cantando,


assim como a minha não era. Mas apenas por ser
ele cantando, a música se tornava um tanto
diferente. Era como se um profissional estivesse
cantando e compartilhando a música com você.
Quando percebi, já estava cantando algumas
partes que eu recordava junto. Mas acabei por ser
pega no flagra.
— Se você me disser que gosta das músicas do
Jorge e Mateus nós casamos hoje. — Alan brincou,
como se já fossemos companheiros a um bom
tempo.

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— É a minha dupla sertaneja preferida. — Contei.


— Será que dentro desse cruzeiro tem um padre?
— Perguntou, fazendo uma careta gostosa.
— Para com isso. — Dei um tapa de leve no seu
braço, atravessando o quarto para utilizar o
banheiro.
Como acordamos tarde naquele dia, estava
quase na hora de servirem o almoço. Alan pediu
para que fossemos até o quarto dos seus pais para
que eles nos acompanhassem na mesa.
Não sabia ao certo de que maneira conseguiria
conversar com o senhor Estevan a sós de maneira
que Alan e sua mãe não percebessem.
E também, precisava ver como dona Helena iria
reagir com nós dois juntos. Seria ótimo se ela
facilitasse, já que tendo Giovanna no meu caminho
já era o suficiente.
— Vocês irão almoçar conosco? — Alan
perguntou, assim que seu pai abriu a porta do
quarto.
— Por mim tudo bem, vou chamar a sua mãe. —
Senhor Estevan olhou para as nossas mãos que
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estavam entrelaçadas, por alguns segundos tentei


soltar, mas Alan apertou ainda mais percebendo a
minha vontade.
— Fique tranquila, está tudo bem. — Cochichou no
meu ouvido.
Alguns minutos depois, nós quatro estávamos
andando até o saguão onde estavam servindo o
almoço.
É claro que eu e Alan não fomos andando de
mãos dadas, mesmo porque havia pedido para que
fossemos mais discretos pelo menos no início.
De vez em quando ele me olhava de uma
maneira, como se a qualquer momento fosse contar
aos seus pais sobre nós dois, mesmo sendo óbvio
que estávamos juntos.
Mesmo porque, assim que seus pais voltaram
de dentro do quarto, repararam novamente em
nossas mãos unidas.
— Conte-nos a novidade. — Senhor Estevan foi
curto e grosso, sabia que não estava bravo e nada
parecido, mesmo porque nós tínhamos um contrato
que envolvia a minha relação com Alan.
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— Eu e a Selena estamos tentando aos poucos. —


Alan contou.
— Estão tentando o que? — Dona Helena ainda
estava séria, não estava satisfeita com o novo
relacionamento do seu filho.
E pensar que desde quando nos conhecemos
sempre fomos unidas, gostávamos de conversar e
desabafar uma com a outra, tínhamos normalmente
as mesmas opiniões — ela estava agindo da
maneira oposta —.
— Eu pedi que Selena me desse uma chance e ela
me pediu que fossemos aos poucos. — Explicou
para a sua mãe que lhe encarava atenta.
— Você está me dizendo que quer se envolver
seriamente a alguém? — Ela perguntou.
— Selena não é um simples alguém. — Respondeu.
— Ela tem me tornado alguém melhor, gosto do
que sou quando estou com ela. — Explicou.
Fomos todos pegos de surpresa com a sua
revelação. Talvez o seu pai não acreditasse que seu
filho pudesse se envolver tão rapidamente com uma
simples secretaria que sabia como resolver seus
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problemas.
Após essa simples resposta, não houve mais
perguntas.
O silêncio estava deixando o clima ainda mais
tenso. Era como se eu voltasse anos atrás e
estivesse sendo apresentada para a família do meu
namorado. Não me sentia uma adulta.
Alan e o senhor Estevan haviam se levantado
para pagarem algumas bebidas extras que não
estavam dentro do pacote comprado.
— Querida, não ache que não aprovo esse
relacionamento, mas é que nunca vi o meu filho
assim por causa de uma mulher. — Dessa vez
Helena estava mais calma, era como se as suas
dúvidas em relação aos sentimentos do seu filho
estivessem acabando.
— A senhora tem toda a razão de estar assim. —
Precisava me aproximar o máximo possível.
— Do fundo do meu coração eu espero que Alan
tenha mudado e realmente esteja apaixonado por
você. — Afirmou, cessando as palavras com a
chegada deles.
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Então era apenas preocupação de mãe? Ela só


estava com dúvidas sobre o filho que nunca quisera
um relacionamento sério com alguém.
Aquelas palavras estavam martelando na minha
cabeça. Cada dia que se passava aquela família
consumia um espaço maior dentro do meu coração.
Era um amor diferente, que havia faltado em todos
esses anos que estava trabalhando como
acompanhante sentimento esse que não poderia ser
explicado.

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CAPÍTULO 19

Provavelmente Alan estava tentando decifrar o


motivo pelo qual estava tão pensativa, as palavras
da sua mãe realmente mexeram comigo, deixando-
me pensar no contrato que havia assinado.
— Agora irá me dizer o que está lhe incomodando?
— Perguntou Alan, com aquele olhar desconfiado,
que ele fazia questão de dar.
— Em nada. — Menti.
— Acho que alguém não está sendo sincera. —
Alan provocou, cutucando-me na barriga.
— Só estou imaginando em como vai ser daqui
para frente. — Contei.
— Acha que a sua mãe e sua irmã irão gostar da
notícia? De que estamos juntos? — Perguntou.
— Você não percebeu a maneira como a minha
irmã e a minha mãe estão viciadas em você? —
Precisei falar, porque era realmente necessário,
mesmo que fosse uma coisa óbvia e Sabrina já
estivesse deixado claro várias vezes.
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Ele ficou um pouco mais calmo, ainda me fez


fazer uma massagem nele, como um belo futuro
namorado, já estava me extorquindo.
Estar sentada em cima da sua bunda, com as
mãos em sua costa, apertando e massageando de
todas as formas, trazia-me velhas lembranças do
meu passado, do meu antigo namoro.
Não era certo pensar em outra pessoa, mas
como tudo aquilo fazia parte de um contrato, não
havia problema algum pensar. Embora soubesse
que Alan estava se dedicando de todas as formas,
entregando-se por inteiro.
Na verdade eu preferia que ele fosse um ogro,
totalmente diferente do que era comigo, assim
quem sabe fosse mais fácil não dar tanta atenção,
não se acostumar com a sua presença.
— Esse cruzeiro está acabando. — Alan comentou,
deitando sua cabeça em meu colo.
— Ainda bem. — Brinquei.
— Você não gostou de estar aqui? — Perguntou,
encarando meus olhos.
— Não é que eu não tenha gostado apenas não me
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acostumei com o mar, fico enjoada. — Expliquei.


Algo me diz que eu estaria começando a gostar
daquele falso relacionamento, que para o Alan era
algo verdadeiro. Nunca pensei em ser uma pessoa
tão insensível daquela maneira, mas o que eu
poderia fazer agora?
Alan precisava resolver alguns problemas e por
isso me apossei do seu notebook que estava
escapando da sua mala. Não havia nada para fazer
de útil, não estava com vontade de fazer nada, nem
sair do quarto. Já estava cansada das piscinas, das
mesmas pessoas, de conversar, gostaria de ficar
sozinha por alguns minutos, quem sabe horas.
Olhava aleatoriamente a minha página no
facebook, algumas mensagens deixadas pela minha
irmã querendo saber de notícias sobre a minha
estadia no cruzeiro com o meu chefe gato.
"Estou com saudades, como você está?"
Sabrina
"Você não dá notícias!! Estou preocupada!"
Sabrina

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"Apesar de saber que você está segura com o gato


do seu chefe."
Sabrina
"Será que você pode entrar na internet para me
responder?"
Sabrina
Havia recebido uma mensagem de Alan, como
fazia alguns dias que não entrava na rede social, foi
interessante ler o que ele havia deixado ali.
"Encontrei um texto que despertou algo diferente
em mim... Achei que deveria compartilhá-lo com
você."
Alan
"Espero que tenha gostado também."
Alan
"Para se roubar um coração, é preciso que seja
com muita habilidade, tem que ser vagarosamente,
disfarçadamente, não se chega com ímpeto, não se
alcança o coração de alguém com pressa. Tem que
se aproximar com meias palavras, suavemente,
apoderar-se dele aos poucos, com cuidado. Não se
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pode deixar que percebam que ele será roubado,


na verdade, teremos que furtá-lo, docemente.
Conquistar um coração de verdade dá trabalho,
requer paciência, é como se fosse tecer uma colcha
de retalhos, aplicar uma renda em um vestido,
tratar de um jardim, cuidar de uma criança. É
necessário que seja com destreza, com vontade,
com encanto, carinho e sinceridade. Para se
conquistar um coração definitivamente tem que ter
garra e esperteza, mas não falo dessa esperteza
que todos conhecem, falo da esperteza de
sentimentos, daquela que existe guardada na alma
em todos os momentos. Quando se deseja
realmente conquistar um coração, é preciso que
antes já tenhamos conseguido conquistar o nosso, é
preciso que ele já tenha sido explorado nos
mínimos detalhes, que já se tenha conseguido
conhecer cada cantinho, entender cada espaço
preenchido e aceitar cada espaço vago... E então,
quando finalmente esse coração for conquistado,
quando tivermos nos apoderado dele, vai existir
uma parte de alguém que seguirá conosco.Uma
metade de alguém que será guiada por nós e o
nosso coração passará a bater por conta desse
outro coração. Eles sofrerão altos e baixos sim,
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mas com certeza haverá instantes, milhares de


instantes de alegria. Baterá descompassado muitas
vezes e sabe por que? Faltará a metade dele que
ainda não está junto de nós. Até que um dia,
cansado de estar dividido ao meio, esse coração
chamará a sua outra parte e alguém por vontade
própria, sem que precisemos roubá-la ou furtá-la
nos entregará a metade que faltava... E é assim
que se rouba um coração, fácil não? Pois é, nós só
precisaremos roubar uma metade, a outra virá na
nossa mão e ficará detectado um roubo então! E é
só por isso que encontramos tantas pessoas pela
vida a fora que dizem que nunca mais conseguiram
amar alguém... É simples... É porque elas não
possuem mais coração, eles foram roubados,
arrancados do seu peito, e somente com um grande
amor ela terá um novo coração, afinal de contas,
corações são para serem divididos, e com certeza
esse grande amor repartirá o dele com você."
Não sabia ao certo se deveria responder aquela
mensagem. Ele poderia ter enviado simplesmente
porque havia lido e gostado ou porque já estava
com alguma intenção comigo.
Confesso que gostei do texto, embora
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desconhecesse o autor.
Havia uma parte em especial que havia me
identificado, talvez a palavra roubar parecesse
certa naquele momento.
"Até que um dia, cansado de estar dividido ao
meio, esse coração chamará a sua outra parte e
alguém por vontade própria, sem que precisemos
roubá-la ou furtá-la nos entregará a metade que
faltava..."
Alan chegou por vontade própria, eu por outro
lado, estava apenas querendo roubar o seu coração
e acabei o fazendo sem esforço algum... Pelo fato
de ser a hora dele entregar o seu coração para
alguém.
Talvez eu devesse mandar alguma coisa,
corresponder com outro texto, mas naquele
momento não haviam palavras suficientes... Não
era certo enviar algo que não viesse do meu
coração, mesmo sabendo, que sempre fora assim.
Resolvi que antes de pensar em qualquer coisa
para Alan, iria responder as perguntas da minha
irmã que estava preocupada.

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"Olá, estou bem e vocês?


Selena
"Embora eu não goste muito de mar, estou
aguentando firme."
Selena
"O senhor Alan está sendo muito prestativo, assim
como seus pais."
Selena
"Nao é necessário ficar preocupada, chego
amanhã! Amo muito vocês."
Selena
Passei bom tempo no quarto imaginando o que
dizer a Alan. Não iria tocar no assunto, quem sabe
quando ele visse a sua rede social e percebesse que
a mensagem já havia sido visualizada ele
perguntaria algo a mim.
Ficar deitada naquela cama com o balanço do
mar já estava me dando certo desconforto e por isso
resolvi que iria dar uma volta pelo cruzeiro.
Provavelmente Alan demoraria mais do que eu
imaginava, mesmo porque já havia se passado uma
hora, talvez estivesse no meio de uma reunião
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privada.

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CAPÍTULO 20

Finalmente o conforto do meu pequeno


apartamento nunca fora tão bom. Alan deixou-me
na frente do portão do meu prédio, talvez ele
estivesse com vontade de subir comigo, mas não
iria convidar, pelo menos não agora.
Apesar de achar que começamos um
relacionamento muito cedo, era o que eu mais
esperava a minha vontade era que tudo acontecesse
rápido, talvez daqui um mês eu conseguisse
convencê-lo a casarmos.
Precisava inventar ou encontrar um motivo para
que pudéssemos casar mais cedo. O mais fácil seria
uma gravidez... Talvez eu inventasse uma.
O grande problema de uma gravidez, é que
primeiro teríamos que ter tido uma relação sexual.
Talvez ele desejasse isso, ou quem sabe iria
prolongar pelo fato de eu ter pedido que fossemos
com calma.
Não seria tão difícil enganá-lo dessa maneira.
— De repente eu esqueci de tomar a minha pílula
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— não tínhamos preservativos — o remédio que eu


estava tomando para a gripe parou o efeito do
anticoncepcional — era diversos motivos que
poderiam ser utilizados como desculpas para o
acontecimento.
Quem sabe fosse necessário um teste de
gravidez falso, uma barriga de mentira que poderia
ser comprada pela internet, alguns exames
emprestados...
O mais difícil seria de fato convencê-lo que eu
não estava querendo dar o golpe da barriga, mas
sim apenas casar com ele para que pudéssemos
construir uma "família".
Quando já estivéssemos casados no sexto mês
da minha gestação sofreria um aborto — não por
vontade própria — mas sim pelo fato de que não
existe nenhum bebê dentro de mim.
Mas ainda tínhamos tempo, esperava que o
senhor Estevan não estivesse com muita pressa de
ver o seu filho casado, caso contrário, iríamos ter
que adiantar muitas coisas.
Como não havia nada a ser feito naquele
momento, e teríamos que trabalhar no dia seguinte,
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resolvi que faria uma visita de leve na casa da


minha mãe.
Primeiro porque elas estavam preocupadas e
com saudade — assim como eu também estava —,
segundo pelo fato de não precisar cozinhar, mamãe
faria isso por mim.
Dirigindo o meu carro, em uma velocidade que
variava entre 50 km/h e 60, mesmo porque na
cidade não era permitido andar mais do que isso,
pelo menos não no caminho em que eu fazia,
principalmente por ter bastantes comércios,
escolas...
Ouvia uma música que aos poucos me acalmou
de um jeito inexplicável... Nunca havia escutado
antes, ela trazia uma energia positiva, talvez por ser
tão calma..
Palavras não bastam, não dá pra entender
E esse medo que cresce e não para
É uma história que se complicou
E eu sei bem o por quê
Qual é o peso da culpa que eu carrego nos braços?
Me entorta as costas e dá um cansaço
A maldade do tempo fez eu me afastar de você
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E quando chega a noite e eu não consigo dormir


Meu coração acelera e eu sozinha aqui
Eu mudo o lado da cama, eu ligo a televisão
Olhos nos olhos no espelho e o telefone na mão
Pro tanto que eu te queria, o perto nunca bastava
E essa proximidade não dava
Me perdi no que era real e no que eu inventei
Reescrevi as memórias, deixei o cabelo crescer
E te dedico uma linda história confessa
Nem a maldade do tempo consegue me afastar de
você
Te contei tantos segredos que já não eram só meus
Rimas de um velho diário que nunca me pertenceu
Entre palavras não ditas, tantas palavras de amor
Essa paixão é antiga e o tempo nunca passou
E quando chega a noite, e eu não consigo dormir
Meu coração acelera e eu sozinha aqui
Eu mudo o lado da cama, eu ligo a televisão
Olhos nos olhos no espelho e o telefone na minha
mão
A noite, Tiê, Compositora: Tiê.

Ao mesmo tempo que a música que me deixava


calma, era como se ela quisesse passar um pouco
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de significado para a minha vida.


Estava com medo de mentir. Quer dizer, o
medo não era a mentira que eu estava contando e
deixando crescer a cada dia que se passava e sim
ser descoberta.
Voltei a minha atenção para a rua, já estava na
frente da casa da minha mãe e não havia percebido.
Um toque na buzina foi o suficiente para
mamãe sair saltitando de casa ao me ver pela
janela.
— Você chegou! — Abraçou-me como se
estivéssemos a meses sem nos ver.
— Mãe eu fiquei fora apenas quatro dias. —
Comentei.
— Não importa, eu sou sua mãe e sinto sua falta a
cada minuto. — Mamãe nunca dissera essas
palavras e talvez fora por isso que eu cai em
lágrimas.
Chorar era permitido de vez em quando,
principalmente quando você poderia ganhar o colo
da sua mãe. O melhor de tudo é não ter que contar
o motivo.
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O fato de todos estarem incluídos na minha


mentira, fez com que eu me sentisse ainda pior —
ou seja, o choro foi em dobro —.
— Você chegou e ninguém foi me chamar? —
Sabrina perguntou emburrada, descendo a escada e
então percebendo as minhas lágrimas. — Que foi
Selena? Aquele gato do seu chefe fez alguma coisa
com você?
Gato.
De fato Alan havia feito. Aos poucos estava
tomando parte da minha vida, as pessoas que eram
importantes para mim, que na realidade eram duas,
mamãe e Sabrina.
— Não. — Neguei com a cabeça. — Estava com
vontade de chorar. — Expliquei.
Está certo que aquela resposta não tinha nada
haver e que principalmente a minha irmã não
engoliria.
O problema é que não havia ao certo o que
responder.
Iria dizer o que?

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Ah é porque fiz um contrato com o pai do meu


chefe e agora eu preciso ficar casada por seis meses
com o filho gato dele.
Seria uma ótima resposta, iria explicar
exatamente tudo que eu pensava, mas tudo me
privava.
— Vou fazer brigadeiro. — Sabrina saiu da sala,
indo diretamente para a cozinha.
Ela, melhor do que ninguém, sabia que nos
meus momentos de tortura — onde eu chorava por
qualquer motivo e muitos deles eu não contava —
gostava de comer brigadeiro como se a dor fosse
passar.
Na verdade a dor passava, mas não era pelo
fato do brigadeiro fazer algum milagre dentro de
mim e sim porque tudo passa.
Não posso viver do passado e muito menos
querer saber o que irá acontecer no meu futuro, o
que posso fazer é viver o meu presente de uma
maneira inesquecível que eu não vá me arrepender
por não ter feito algo.
Vale lembrar que você pode se arrepender por
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ter tomado alguma atitude, mas que é pior do que


ficar pensando em como seria se você tivesse feito
o que gostaria.
Por sorte minha, Sabrina era mais rápida do que
eu na cozinha e por isso não demorou com o
brigadeiro.
Mamãe também nos acompanhou, enquanto
assistíamos a um documentário pela televisão.
Gostávamos de assistir documentários sobre
coisas que dessem medo ou assuntos que fossem
sobrenaturais, nós tínhamos essa curiosidade por
outras vidas.
— Na minha outra vida quero ser uma sereia. —
Sabrina falou do nada, mesmo que o assunto que
estava passando na televisão não tivesse nada
haver.
— Eu quero ser uma tartaruga, porque vivem
bastante. — Mamãe explicou seu ponto de vista.
— Eu só quero ser alguém melhor. — Desejei em
voz baixa, mas sabia que fora o suficiente para que
elas me escutassem.

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CAPÍTULO 21

Cheguei tarde da noite em meu apartamento,


não imaginava que teria visitas naquele horário,
mesmo porque a minha única intenção naquele
momento era poder dormir durante muitas horas
seguidas.
Havia um carro conhecido estacionado em
frente ao prédio, Alan estava lá dentro do mesmo,
talvez esperando o momento que eu fosse chegar.
Não sabia ao certo por quanto tempo ele estava
esperando, já que não houve nenhuma mensagem
enviada para o meu celular, muito menos alguma
ligação.
Dei sinal de luz e em seguida entrei no prédio
para poder estacionar o meu carro na minha vaga.
Como eu só tinha uma, por ter apenas um carro, o
que era suficiente em minha opinião, precisei voltar
lá na frente para poder abrir o portão e em seguida
a porta para ele.
— O que você está fazendo aqui?— Perguntei
surpresa, em suas mãos havia duas sacolas e ele
parecia cansado.
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— Eu comprei lanches para nós dois, na verdade


eles já devem estar frios. — Explicou, erguendo
uma das sacolas.
— Eu estava na casa da minha mãe, não imaginava
que você iria vir para cá hoje, não mandou
nenhuma mensagem. — Justifiquei.
— Conversei com o porteiro do prédio, ele
explicou que você havia saído e que ainda não
havia voltado. — Contou.
Nós estávamos tendo uma pequena conversa na
entrada do prédio, o que não teria um por que, a
pior parte é que havia um local do meu apartamento
onde ele não poderia pensar em entrar de maneira
alguma, ou seja, precisaria trancar a porta antes que
ele percebesse.
Assim que resolvemos subir, pedi para que ele
esperasse por alguns minutos para que eu pudesse
colocar uma roupa confortável, o que era uma
desculpa para que eu pudesse trancar a porta do
quarto onde havia as minhas perucas, roupas e
maquiagens guardadas.
Quando voltei, ele estava na cozinha já com os
dois lanches em pratos separados, agora como o
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cheiro estava mais presente, talvez estivesse


utilizado o meu micro-ondas para aquece-los um
pouco. A minha geladeira estava aberta, sendo
retirada da mesma uma forma de gelo para gelar a
Coca-Cola que ele havia comprado.
— Espero que não se importe, enquanto você
estava se trocando preparei as coisas aqui. —
Explicou.
— Está tudo ótimo, sinta-se em casa. — Falei.
Em vez de utilizarmos a mesa como de costume
para comermos os lanches, fomos diretamente para
a sala de estar, onde havia uma pequena mesa de
centro, Alan sentou-se do lado esquerdo, colocando
os pratos em cima da mesma, e eu do lado direito,
colocando os copos também.
— Gosto da sua simplicidade. — Comentei.
— É o que eu sou. — Afirmou.
— Imaginava que você fosse um homem mimado,
que só gostasse de frequentar restaurantes de alta
classe. — Contei.
— Você tirou conclusões precipitadas. — Falou.

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Realmente o lanche fez um ótimo efeito dentro


de mim, por mais que já estivesse comido na casa
da minha mãe, a questão era que não poderia
recusar um lanche do Alan naquele momento.
Principalmente porque ele ficou esperando por mim
e também pelo fato de que agora estávamos tendo
um início de relacionamento.
— Desculpe ter vindo sem avisar. — Desculpou-se,
assim que terminamos de comer.
— Não se preocupe, apenas não estava esperando,
teria preparado algo para nós dois.— Expliquei.
— Eu prometo que da próxima vez irei mandar
uma mensagem ou quem sabe ligar para você. —
Prometeu, tocando com a sua mão na minha.
Será que ele estava esperando que eu o
convidasse para dormir comigo? Eu deveria fazer
isso? Na manhã seguinte teríamos que ir trabalhar
logo cedo na empresa.
— Acho que você deve estar cansada. — Falou,
levantando-se do chão, provavelmente preparando-
se para ir embora.
— Você quer dormir aqui?— Perguntei, mesmo
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não sabendo exatamente o que estava fazendo.


— Tem certeza disso?— Perguntou, talvez
estivesse impressionado com a minha atitude.
— Claro, se estiver bom para você. — Respondi.
Como ele havia aceitado o convite, e dessa vez
era possível enxergar um sorriso encantador, maior
do que antes quando estávamos conversando na
sala.
Levei-o de uma maneira tímida para o meu
quarto, que estava um pouco bagunçado. Arrumei a
cama novamente para que pudéssemos dormir,
ajuntei um pouco das roupas que estavam jogadas
no chão e penduradas, colocando no cesto do lixo.
— Desculpe a bagunça, como eu disse, não estava
esperando por visitas. — Desculpei-me.
— Não tem problema, o meu quarto não está muito
diferente do seu. — Brincou.
— Eu não posso te oferecer roupas masculinas,
mesmo porque não tenho nenhuma em casa. Então
você dorme da forma como costuma, como se
sentir melhor. — Expliquei.

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— Cueca seria ótimo. — Sugeriu.


— Por mim está tudo bem. — Avisei.
Enquanto eu escovava os meus dentes e trocava
a roupa por um pijama no banheiro do meu quarto,
Alan trocou-se em meu quarto, assim que voltei ele
esperava para utilizar o banheiro. Não digo que não
olhei para o seu corpo, mas tentei não deixar tão
óbvio toda a minha atenção que estava voltada para
ele.
Estava deitada na cama, olhando apenas para o
teto, mesmo porque não teria nada mais para olhar
naquele momento, enquanto o meu futuro
namorado encontrava-se no meu banheiro,
provavelmente escovando os dentes com o dedo.
Não havia pensado na possibilidade de comprar
uma escova extra para deixar aqui quando Alan
fizesse outras visitas. Iria ser melhor que ele
deixasse pelo menos uma muda de roupa para que
se sentisse mais em casa. Sempre vinha com roupas
desconfortáveis, jeans, e de certo modo caso
resolvêssemos fazer algo diferente, poderia ficar
indisposto.
— Já está dormindo? — Não havia percebido a
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presença do Alan no quarto, mesmo porque agora


os meus olhos estavam fechados, mas ainda não
estava dormindo, apenas descansando.
— Ainda não. — Sorri, ao abrir os olhos e ver que
ele já estava deitado ao meu lado.
— Achei que não havia me esperado.— Contou.
Seus olhos estavam atordoados, era como se
estivesse consumindo uma parte de mim enquanto
me olhava.
— Eu quero um beijo de boa noite. — Pediu.
— Só um? — Perguntei, fingindo estar chateada.
— Não, de preferência muitos. — Brincou.
E foi então que ele invadiu o meu espaço na
cama, trazendo o seu corpo de encontro com o meu.
A sua boca tocou a minha com vontade, força,
desespero, como se tivéssemos apenas aqueles
minutos para nos beijarmos.
Não posso dizer que não gostei de toda aquela
atenção e força de vontade ao beijar a minha boca.
Nunca havia sido beijada daquela maneira por um
homem. Embora tenha beijado outras bocas,
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inclusive a do meu ex-namorado, nenhum trouxe


aquela sensação.
— Eu gosto de quando estamos sozinhos. —
Comentou.
— Qual o motivo?— Perguntei.
— A questão é que eu gosto da privacidade, de tê-
la somente para mim. — Contou. — Não gosto de
dividir a sua atenção com ninguém.
Por que a cada dia que estávamos juntos ele
precisava contar algo novo que fizesse eu me
impressionar tanto? Ser uma companheira
profissional faz com que eu tenha que ignorar
certos comentários e elogios, porque muitas vezes
eles não existem. Mas Alan, ele trazia algo novo
todos os dias.

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CAPÍTULO 22

E o que eu não esperava aconteceu. Quem acha


que Alan se sustentou apenas com beijos, está
muito enganado.
O seu corpo foi para cima do meu, sustentando
todo o seu peso em cima do mesmo, talvez ele
tenha percebido que estava quase me esmagando e
agora passará a sustentar seu peso em seus próprios
braços.
Os beijos começaram pelo meu pescoço, fazia
quanto tempo que estava sem uma relação assim?
Mais de ano.
Os seus beijos causavam arrepios no meu
corpo. Enquanto isso, puxava os fios do seu cabelo,
talvez com um pouco de força, aquela sensação
estava boa e saudável.
Não gosto de entrar em detalhes quando estou
tendo certo tipo de relação, principalmente por ser
com alguém especial como o Alan é para mim. A
questão é que tudo estava muito interessante para
poder falar alguma coisa.
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Não imaginava que iríamos ter a nossa primeira


noite, um dia depois de iniciarmos um pequeno
relacionamento. Tê-lo por perto, daquela maneira,
fingindo que não havia nenhum contrato por trás
daquela situação.
— Eu quero o seu corpo no meu em todas as
minhas próximas noites. — Pediu, com uma voz
gostosa, era como se ele tivesse mudado apenas
para trazer certa reação em mim.
— Se você me quiser te entrego a cópia da minha
chave e você vem aqui sempre que sentir saudade.
— Avisei.
A questão principal é que eu estava abrindo a
porta da minha casa, minhas intimidades, a minha
pequena privacidade que ainda me restava, para
dividir com um homem que em alguns meses
poderia vir a ser o meu marido.
Qual é a mulher que não sonha em ter um
homem como o Alan como marido? Inteligente,
prestativo, educado, charmoso, bonito, cheiroso,
um bom currículo, herdeiro de uma empresa de
construção civil, que pode possibilitar um ótimo
futuro para futuros filhos...
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Não que eu estivesse pensando em ter filhos


com ele, mas a questão é que precisava arrumar
alguma maneira de ficarmos juntos o mais rápido
possível, não somente como um simples namoro e
sim para que ele me pedisse em casamento.
Talvez Alan fosse achar que estávamos indo
rápido demais, o problema é que precisava deixar
isso passar. Era uma tortura todos os dias acordar e
perceber que estava enfrentando um contrato
horrível, como se eu não tivesse coração ao ter
aceitado o pedido do senhor Estevan, mas agora
não havia o que ser feito para mudar as coisas.
— O seu corpo é gostoso, assim como o gosto da
sua boca. — Provocou-me, novamente pelo meu
ponto fraco, falando baixinho no meu ouvido e em
seguida completando a provocação com beijos e
carinhos no meu pescoço.
— Alan você não acha que estamos indo rápido
demais? — Perguntei, deixando o clima um pouco
tenso.
— Acha que eu ultrapassei os seus limites?—
Perguntou preocupado, percebendo o que havíamos
terminado de fazer.
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A sensação dos nossos corpos juntos foi


maravilhoso, era como se a parte que faltava de
mim fosse preenchida naquele momento em que ele
esteve em mim. Nossos corpos se conectavam de
uma maneira surpreendente, ansiávamos um pelo
outro.
— Não pense que fez algo que não deveria, porque
eu também estava querendo. — Expliquei. — Mas
é que nós começamos isso faz dois dias e já
aconteceu tudo isso.
— Não quero que você pense que estou com você
só para isso, nós podemos ter muitas coisas juntos.
Um futuro muito bonito nos espera, acredita em
mim. — Falou, deixando-me um pouco mais calma
pelas suas intenções.
— Posso te fazer uma pergunta?— Pedi.
— Quanta você quiser. — Respondeu.
— Você imagina mesmo um futuro comigo? Como
ele seria? — Perguntei, talvez com um pingo de
esperança.
Esperei por alguns segundos, o seu pensamento
estava longe agora, talvez tenha pedido por algo
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muito grande. Ele poderia muito bem ter dito aquilo


da boca para fora, como uma forma apenas de me
deixar feliz ou tentar me conquistar ainda mais.
— Selena você foi a primeira mulher que me
proporcionou outros sentimentos que eu nunca
havia experimentado. A posição em que eu me
encontro agora é de um novo Alan, coração aberto
para novas pessoas, não digo para um
relacionamento, mesmo porque eu só tenho olhos
para você. Mas eu nunca fui bom, entendeu? —
Perguntou. — Não sei como nunca pude sentir isso
antes, você estar ao meu lado, resolvendo
problemas que muitas vezes não tem nada haver
com você e sim apenas comigo e com a empresa,
mas agora tudo que eu tenho, todas as minhas
expectativas, o que eu imagino tem você!
Então ele estava mesmo querendo ter algo
comigo e aquilo fugia da minha realidade.
Alan iria sofrer mais do que eu estava
esperando. O meu coração estava atordoado demais
para superar qualquer coisa.
Eu iria fazer as pessoas mais importantes da
minha vida sofrer. Além do Alan que estava sendo
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excepcional na minha vida, um homem que


despertava as minhas melhores qualidades, mamãe
e Sabrina também estava no meio.
— Eu quero casar com você. — Do nada Alan
disse algo que não teria sentido agora, apenas se ele
estivesse falando em um futuro que não era tão
próximo.
— O que você acha de dormirmos agora? — Mudei
completamente de assunto, apenas para que ele não
continuasse a me deixar ainda mais aflita com o
assunto.
— Só se você me deixar abraçá-la a noite toda. —
Pediu manhoso, abraçando-me por trás.
Eu havia ligado o ar condicionado que havia no
meu quarto, principalmente depois da noite que
tivemos. Estava quente, mas ao mesmo tempo um
calor gostoso. Mas o ar já estava começando a se
alterar, deixando o quarto mais gelado.
Como ele estava atrás de mim, abraçou-me em
formato de conchinha, fazendo-me arrepiar
novamente.
— Boa noite Selena. — Desejou com a voz fraca,
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como se já estivesse quase dormindo.


Não deu tempo para mais nada, quando virei a
cabeça de maneira que pudesse enxergar os seus
olhos, percebi que estava dormindo. Dizem que
após noites boas, nós ficamos mais bonitos e
parecia que de fato isso estava acontecendo com
Alan.
O seu rosto estava mais claro, sem olheiras,
nada de cansaço aparentemente.
Pensei em fugir, talvez se eu desaparecesse por
um tempo, o senhor Estevan se esqueceria do
dinheiro que teria que pagar para ele por encerrar
aquele contrato. O problema é que eu não poderia,
não havia maneira alguma de ir embora agora.
Na verdade, algo dentro de mim me dizia que
Alan seria o homem perfeito para a minha vida. A
questão é que poderia ter muitos dele por aí, ou
quem sabe, eu estava realmente ferrada.
Gostaria de dormir pelo menos por uma noite
sem pensar no contrato que havia feito. Sem ter que
me preocupar em acordar em uma cama com o
Alan. Sem ter que organizar um falso casamento,
uma suposta gravidez...
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Eu estava errando tanto na minha vida, mas


esse com certeza esse seria o maior erro da minha
vida. Pelo qual iria me arrepender profundamente.
Primeiramente porque serei uma decepção para
todos se alguém descobrir a verdade, mesmo que eu
acredite ser difícil de saberem.
Eu ficaria tão arrasada quanto Alan.

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CAPÍTULO 23

Acordei ainda assustada com algo pesado sobre


o meu corpo, era como se algo tivesse entrado na
minha cabeça e apagado todas as lembranças.
Um braço seguido de uma perna estavam sobre
mim. Alan ainda dormia calmamente e fazia com
que eu recordasse o ocorrido, o que mais me ajudou
a lembrar foi olhar de baixo da coberta e notar que
não havia nenhuma peça de roupa em nossos
corpos.
Não havíamos nos cuidados, pelo menos não
havia nenhum preservativo no chão do meu quarto,
talvez ele tivesse se levantado para jogar no lixo o
que me deixou mais calma.
Não que eu tivesse medo de pegar alguma
doença do Alan, muito pelo contrário, sabia que
seus exames estavam em dia pelos documentos que
seu pai fizera questão de me enviar. Mas o fato era
que fazia muito tempo que não tinha nenhuma
relação sexual, ou seja, não estava tomando
nenhum cuidado em relação a isso.

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Se bem que é difícil isso ocorrer,


principalmente na minha família, já que mamãe
precisou tomar remédios para poder engravidar,
poderia ser hereditário e isso a minha ginecologista
havia deixado claro.
Estava no banheiro analisando o lixo do mesmo
quando fui pega no flagra.
— O que está procurando no lixo Selena? — Alan
perguntou ainda sonolento, encostado na porta,
coçando os olhos.
— Estava arrumando, eu acabei esbarrando nele e
revirei as coisas. — Menti.
— Eu acho que você está mentindo para mim,
estou certo? — Perguntou desconfiado.
— Claro que não. — Neguei, mesmo ele estando
certo.
Após o nosso banho, que por sinal foi ao
mesmo tempo, juntos, não houve nada demais, nós
precisávamos apurar porque ainda tínhamos que
tomar o café da manhã e ir para a empresa.
É claro que não iríamos juntos, cada um iria
dirigindo o seu carro, para pelo menos no início
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não levantar tantas suspeitas e cochichos de


fofocas.
— Temos tempo para um café digno? — Alan
perguntou, sem ter por perto algo que pudesse
checar a hora.
— Falta uma hora para começarmos. — Avisei.
— Então vamos até uma panificadora? —
Perguntou.
— Acha que é mesmo necessário? — Perguntei.
Ele apenas assentiu com a cabeça como
resposta. Alan provavelmente teria o seu terno no
carro, porque esse era o seu uniforme na empresa.
Estava com a bolsa no braço e a chave do carro
em mãos.
— Você não irá comigo? — Perguntou, notando
que eu estava voltando após ir abrir o portão para
ele.
— Vou ir com o meu carro, é melhor. — Respondi.
Pude perceber o quão incomodado ele ficou
com a minha resposta, em saber que não iria
acompanhá-lo em seu carro. Precisava estabelecer
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limites para que tudo acontecesse no seu tempo e


sem chamar a atenção das pessoas.
Por mais que ele ficasse chateado e talvez
entendesse de maneira errada, a minha opinião não
iria ser mudada.
— Nós nos encontramos na panificadora? —
Perguntou por fim.
— Estou indo logo atrás de você. — Respondi.
Foi um pouco demorado para tirar o carro da
garagem já que havia dois vizinhos tentando sair ao
mesmo tempo. Por um segundo pensei que eles
fossem brigar para ver quem sairia primeiro, mas
resolveram ceder.
Alan estava impaciente dentro do seu carro, a
janela estava aberta e poderia ser visto o seu rosto
de longe.
Não demoramos muito na panificadora, porque
teríamos que enfrentar um pouco de trânsito para
irmos até a empresa. Neste horário muitas pessoas
dirigiam para ir até o seu trabalho, ou mesmo para
levar seus filhos em casa.
— Nós nos vemos mais tarde? — Alan perguntou,
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assim que estacionamos nossos carros.


— Claro. — Respondi indo diretamente para a
porta.
Ele ficou por alguns segundos me encarando de
longe, provavelmente esperando que eu fosse beijá-
lo no meio do estacionamento onde qualquer outro
funcionário pudesse presenciar aquela cena. Posso
estar certa que seria um pouco difícil de esconder
esse relacionamento das outras pessoas, já que Alan
queria de qualquer maneira mostrar a todos que nós
estávamos juntos.
Como o esperado, as pessoas que estavam no
cruzeiro e nos viram juntos, olharam-me com certa
curiosidade a me ver passar. Posso apostar que
iriam achar ainda mais estranhos porque o nosso
chefe sempre chegava antes de mim e da maioria
dos funcionários, mas desta vez entrava logo atrás.
Ao chegar à minha sala, havia uma mensagem
em cima da mesa do senhor Estevan, pedindo para
que eu fosse até a sua sala quando eu chegasse. Por
um instante hesitei, já que Alan poderia necessitar
de algum trabalho enquanto eu estivesse ausente.
— Alan será que eu posso ir até a sala do seu pai
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por um instante? — Pedi a permissão dele, que


agora estava focado na tela do seu computador.
— Você está precisando de alguma coisa? —
Perguntou.
— Preciso conversar com ele. — Respondi.
— É claro, caso eu precisar de algo urgente eu
entro em contato com a secretária dele. — Avisou.
Talvez ele tenha ficado um pouco curioso a
respeito do que eu teria que tratar com o seu pai, já
que havia sido contratada por Alan. Seu pai apenas
houvera dado um empurrão para a contratação.
Estava um pouco aflita e curiosa para saber o
que Estevan gostaria de conversar comigo. Quem
sabe ele apenas estivesse interessado em ficar por
dentro do que realmente estava acontecendo entre
eu e o seu filho.
— Senhor Estevan? — Perguntei ao abrir a sua
porta, a secretária havia avisado que ele estava a
minha espera.
— Entre Selena. — Respondeu.
— O senhor está precisando de algum projeto ou
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relatório? — Deveria perguntar, mesmo porque ele


era o dono da empresa e poderia precisar de alguma
coisa.
— Você sabe que não estou chamando você até a
minha sala para isso. — Avisou.
Sentei na cadeira que ficava do outro lado da
sua mesa. Ele era um homem sério, que para piorar
deixava-me ainda mais constrangida e nervosa com
o assunto que iríamos vir a tratar.
— Então você finalmente fez com que meu filho se
apaixonasse por você? — Perguntou animado,
como se aquela fosse a melhor notícia para ele.
Na realidade, muitos pais ficariam felizes ao
ver que o seu filho está gostando de uma pessoa e
que estão se dando bem um com o outro. O
problema é que neste caso eu estava sendo paga
para fazer com que Alan se apaixonasse por mim.
— Alan está me mostrando um lado que eu não
esperava que ele tivesse. — Contei. — Não chega
nem perto do homem irresponsável que você
contou que era. — Expliquei.
— Posso confirmar que eu também estou
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impressionado com as novas atitudes do meu filho.


Nunca vi conseguir tantos contratos para a nossa
empresa, conquistar clientes que a anos estamos
tentando. — Explicou. — Estou gostando desse seu
trabalho, posso dizer que lhe contratar para esse
serviço foi a melhor coisa que eu fiz.
— Senhor Estevan, estava pensando que talvez nós
pudéssemos deixar de lado esse contrato. — Tentei
dessa maneira, poderia ter sido fácil.
O problema é que ele não queria que fosse
fácil. Para ele ficaria ainda pior que eu estivesse
com o seu filho de verdade. Mas na verdade nós
dois estávamos errados.

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CAPÍTULO 24

Estava esperando que o senhor Estevan


concordasse comigo e que pudéssemos deixar de
lado o contrato, sem pagamento algum, não me
importaria em não receber nada, desde que não
machucasse ainda mais Alan.
— Não há possibilidade de encerrarmos este
contrato. — Avisou, fechando a cara, olhando-me
com um olhar sério.
— Eu acho que seu filho irá se machucar se
continuarmos com isso. — Comentei.
— Será bom para ele criar ainda mais
responsabilidades e além do mais toda dor passa.
— Explicou como se houvesse uma pedra em vez
de um coração dentro dele.
— Tudo bem. — Concordei.
Não foi necessário que eu ficasse mais nenhum
segundo dentro daquela sala. Imediatamente voltei
para o meu posto de secretaria.
Alan não percebeu que eu havia voltado,
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mesmo porque a sua porta estava fechada, ao


menos que ele tentasse ligar para a minha mesa ou
vir até a mesma.
Necessitava preencher alguns contratos para
que Alan pudesse assinar, fazer relatórios de quanto
estava entrando com os sócios da empresa e todo o
lucro envolvido.
Desde que comecei a trabalhar como secretaria,
foi como se eu visse o quanto eu poderia ir além,
não conhecia muito sobre determinados assuntos,
mas Alan fazia questão de me ensinar.
Embora ele quisesse que eu subisse de cargo,
não queria apenas por estar me relacionando com
ele e sim por merecimento.
Talvez tudo aquilo fosse falso, quem sabe o
senhor Estevan não visse o meu esforço. Mas eu
estava me dedicando para que todo o meu trabalho
viesse a contribuir a empresa.
O telefone finalmente tocou, já estava com um
bloco de notas na mão, provavelmente teria que
entregar algum recado para Alan.
A questão é que quem estava me ligando era o
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meu próprio chefe.


"INÍCIO DA LIGAÇÃO"
— Selena? — Chamou do outro lado da linha.
— Sim, senhor Alan?
— Será que você poderia marcar uma reunião com
a senhorita Petry? — Perguntou.
— Paula Petry? — Perguntei para confirmar.
— Essa mesmo, marque o quanto antes. Obrigado.
— Agradeceu e desligou.
"FIM DA LIGAÇÃO"
Eu poderia achar que talvez por estarmos tendo
uma relação as coisas poderiam vir a mudar na
empresa. A questão é que tudo deveria estar igual e
era isso que Alan estava fazendo, mantendo
seriamente os nossos cargos.
Deu-me uma pontada de ciúmes quando ele
pronunciou o sobrenome de Paula. Havia visto ela
apenas uma vez desde que chegara na empresa.
Uma mulher maravilhosa. Posso confirmar isso
porque vi com os meus próprios olhos.
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Cabelos lisos até a cintura na cor loira. Não era


uma cor falsa, mas sim daquelas que você vê de
longe o quão natural é.
Olhos verdes, embora eu tivesse dúvida se era
ou não lente de contato, ainda assim combinava
com ela.
Preciso falar do corpo? Parece ter sido feito e
demorado horas para tamanha perfeição. Era uma
quantidade certa para cada parte do seu corpo,
seios, coxas, bumbum.
Ela não era alta, muito menos baixa. Ou seja,
perfeita.
Garanto que qualquer homem gostaria de tê-la
como namorada ou mulher. Além do mais era
inteligente e herdeira de uma fortuna que seu pai
lhe deixaria por ser filha única.
Procurei os contatos que ela fornecera no dia do
seu cadastro na empresa. É claro, todos iriam ser
respondidos pela sua secretaria.
paulapetryadm@hotmail.com
Enviei um e-mail, no seu cadastro estava
sublinhado que havia uma possibilidade maior de
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resposta pelo e-mail, então foi o que eu fiz.


Trinta minutos depois houve resposta.
[...] Senhorita Selena, a reunião poderá ser
marcada na data de amanhã (08/03/2016), às
15:30 da tarde na sua empresa.
Caso haja alguma mudança, por favor entrar em
contato pelo menos duas horas antes do horário.
Obrigada."
Ela mandou mais alguns detalhes que seriam
necessários para a reunião de amanhã. Alguns
relatórios e documentos da empresa que
precisariam ser entregues.
Estava no horário de almoço e a única coisa
que eu desejava era que hoje a comida do refeitório
fosse algo diferente.
Normalmente Alan não almoçava conosco, ele
frequentava restaurantes de alta classe, muitas
vezes também com sócios para conversar sobre os
negócios e acordos.
Como eu esperava, Alan estava pronto para ir
almoçar fora, iria acompanhá-lo no elevador, já que
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ambos estávamos indo para baixo.


— Você quer ir almoçar comigo hoje? —
Convidou.
— Será que é certo? — Perguntei.
— Não vejo problema algum em uma secretaria
almoçar com o seu chefe. — Respondeu.
Como para ele não era problema e que
recebíamos olhares maldosos das pessoas que
trabalhavam na empresa, fomos almoçar juntos.
Dessa vez não precisei ocupar o meu carro e
acompanhei Alan em seu carro.
Ele estava quieto demais para o meu gosto. Em
momento algum desde que estamos juntos agiu
daquela maneira comigo.
— Por que você está tão calado? — Perguntei
assim que chegamos no restaurante.
— Impressão sua. — Respondeu.
— Está mentindo, não podemos começar um
relacionamento dessa maneira. — Avisei.
Quem era eu para falar de mentiras?
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— Desculpe, mas às vezes parece que tudo é


motivo para não ficarmos juntos. — Explicou.
— Só não quero que as pessoas falem que eu só
estou interessada em seu dinheiro. — Expliquei. —
Assim como as outras secretarias com quem você
manter relacionamentos.
Ele sabe que por esse lado eu estava certa. A
maneira como para ele tudo era fácil, por ser o sono
da empresa e ter tudo aos seus pés, no meu caso era
ao contrário.
Não poderia demitir alguém por piadas feitas
ao meu respeito.
Alan possuía toda a autoridade que ele
desejava.
— Eu entendo você. — Afirmou, acariciando a
minha mão. — Mas não quero que tenha medo pelo
que os outros irão falar.
E agora ele estava certo. Era besteira da minha
parte ficar com receio do que as outras pessoas irão
comentar quando perceberem que nós estamos
juntos. Mesmo porque, em relacionamentos de
verdade — não era o nosso caso —, a ultima coisa
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com que os casais precisam se importar é com a


opinião dos outros.
— Eu irei fazer de tudo para melhorar isso. —
Afirmei.
— Não tenha pressa. — Avisou.
— Você está sendo muito bom comigo. —
Comentei.
— Eu pretendo ser muito melhor. — Afirmou.
Senhor por que ele não é aquele cara
irresponsável que seu pai falou? Onde estava
aquele homem que frequentava muitas festas,
chegava bêbado, com ressaca?
Desde o primeiro dia em que cheguei na
empresa nunca vi Alan de outra maneira.
Não sabia ao certo se ele havia cansado daquela
vida que ele tinha antes ou se eu havia mudado as
suas atitudes.
— Eu quero você no meu apartamento hoje. —
Pediu.
— Caso eu não tenha nenhum relatório para
entregar, eu prometo pensar no assunto. —
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Brinquei.
— Você não terá nada da empresa para fazer. —
Avisou.
Digamos que não era justo ele não me passar
trabalho pelo simples fato de querer passar a noite
comigo. Mas ao mesmo tempo era certo porque eu
era a sua namorada e precisávamos passar mais
tempo juntos.
Aquilo não era correto se alguém percebesse
que eu não estivesse levando nada para fazer em
casa. Talvez imaginassem que eu era muito
inteligente para concluir todos os meus trabalhos
enquanto estivesse na empresa.
— Eu amo o seu sorriso. — Comentou.
— Eu amo o seu jeito quando está comigo. —
Comentei.
Estava-se na hora de fazermos declarações eu
precisava retribuir de alguma forma e se ele
escolheu por elogios, seria assim que iria ser.

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CAPÍTULO 25

Estava me sentindo cansada, além da dor de


cabeça que estava difícil de aguentar.
O grande problema é que ainda estava no
trabalho, fazia cerca de duas horas que havíamos
retornado do nosso almoço e a única coisa que eu
desejava é que chegasse a hora para ir embora.
Para ser bem sincera, não estava querendo que
Alan me acompanhasse naquele dia, muito menos
que eu tivesse que me locomover até a sua casa.
Por mim quando eu chegasse a casa, ficaria
dormindo até o dia de amanhã chegar.
A decisão de sair antes que ele me visse seria a
melhor. O problema é que tudo saiu dos meus
planos quando Alan apareceu na minha sala em
menos de dez minutos para dar o horário de saída.
— Está na hora de irmos em bora. — Avisou,
analisando o relógio em seu pulso.
— Na verdade faltam dez minutos. — Retruquei.
— Como eu sou seu chefe, eu digo a hora que você
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vai para casa. — Explicou autoritário.


— Tudo bem, irei arrumar as minhas coisas. —
Avisei.
Coloquei alguns documentos dentro da pasta
que eu precisaria levar para casa. Normalmente eu
fazia tudo dentro do escritório para não precisar
levar trabalhos para casa.
Como eu tinha pouco tempo pelo fato de ser
acompanhante, a única coisa que eu sempre sentia
vontade, independente de com quem eu estava era
ficar sozinha no meu apartamento. Era para sentir a
sensação de liberdade, privacidade, de poder ser eu
mesma.
— Alan eu estou com dor de cabeça, podemos
deixar o seu apartamento para outro dia? —
Perguntei.
— Claro. Não tem problema. — Não imaginei que
seria tão fácil. — Eu passarei no meu apartamento
e depois vou para o seu. — Não era isso que eu
estava esperando.
— Não é isso. — Neguei com a cabeça. — Eu
prefiro ficar sozinha enquanto estou assim. —
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Avisei.
Eu o deixei chateado.
Ele não me olhou mais nos olhos.
Não me deu um beijo de despedida.
Eu poderia ter falado aquilo de maneira menos
grosseiro, talvez não tão direta, mas essa era a
minha maneira de estragar tudo. Quem sabe fosse
bom não fazê-lo se apegar tanto, ou ele já estava
apegado demais?
A minha vontade era de entrar no carro e seguir
para o seu apartamento, quem sabe para fazer uma
surpresa, mas a questão era que eu não tinha
condições para isso.
Exausta no meu apartamento, procurava
alguma coisa para que pudesse me alimentar.
Infelizmente não havia feito a compra do mês, ou
seja, a geladeira estava vazia.
O que eu resolvi fazer? Ir ao mercado de noite,
descabelada, exausta, com vontade de correr para a
cama, mas eu precisava comer.
A questão era que o mercado onde eu
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costumava comprar havia lanchonetes e bares ao


lado.
A minha dor de cabeça aumentou ainda mais ao
ver Alan ao lado de uma morena. Na verdade havia
seis pessoas na mesa, o problema é que essa
menina estava perto demais, o que me incomodava.
É certo que ele não havia notado a minha presença,
mesmo porque eu estava no estacionamento do
mercado, que ficava do lado da lanchonete onde ele
se encontrava.
Eu deveria ter deixado que ele viesse para o
meu apartamento.
Em vez de tomar qualquer atitude, como uma
namorada normal, preferi entrar no mercado. Por
mais que aquilo estivesse me incomodando, eu não
estava nenhum pouco certo. Estava mentindo,
usando-o, quem me dera ele desse um pé na minha
bunda e nunca mais quisesse me ver para que seu
pai acabasse com esse contrato de uma vez.
Mas no meu coração não era isso que eu
desejava.
Talvez se eu fosse negada por ele, isso doesse
ainda mais. Um dia nós teríamos que terminar o
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nosso relacionamento. Eu não poderia continuar


com ele depois disso, estava escrito no contrato em
que agora havia a minha assinatura.
— Moça você precisa de ajuda? — Um senhor com
o uniforme do mercado perguntou, talvez
percebendo o quão perdida eu estivesse.
Não estava perdida pelos corredores ou em
busca de alguma coisa, mas sim em meus
pensamentos.
— Não estou precisando, mas obrigada. —
Agradeci e fui a procura do que precisava.
Fiz uma ótima compra, na verdade preencheu
um carrinho inteiro. Não que eu comece tudo
aquilo sozinha, mas quando minha mãe e Sabrina
resolviam aparecer deveria ter algo diferente para
comer. E ainda mais agora que estava namorando
com Alan, precisava manter a geladeira sempre
abastecida.
Estava colocando as coisas no meu carro, ouvia
risadas de longe, na mesa onde Alan estava. Ele
estava entretido na conversa com seus amigos,
inclusive com a morena poderosa ao seu lado.
Agora ela estava com um dos braços em volta do
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pescoço dele, não estavam aos beijos, nem nada do


tipo, mas a maneira como ela olhava para ele, não
havia como descrever.
Quando de repente ele se distraiu, olhando para
todo o local a sua volta, seus olhos encontraram os
meus.
Com vergonha voltei a colocar as últimas
sacolas no porta-malas do carro. Nunca senti tanta
pressa na minha vida. Não queria conversar, não
queria ouvir explicações, eu não tinha esse direito.
Os olhos dele mostravam o quão machucado
havia ficado ao me ver naquele estacionamento. Ou
talvez perceber que havia sido flagrado com outra
pessoa, apesar de que eu não havia visto nada
demais.
Dirigi com pressa, talvez eu não tenha sido uma
ótima motorista naquele momento. Quem sabe uma
multa por passar em sinal vermelho chegasse, mas
naquele momento nada importava.
Não queria que ele me procurasse, mesmo
porque nós nos veríamos na manhã seguinte.
Por sorte o porteiro do prédio me ajudou com as
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compras, que na verdade eram muitas. A maior


parte do tempo ficaram no chão do elevador, para
que não fizéssemos muita força.
— Obrigada senhor. — Agradeci.
— De nada. — Acenou, afastando-se.
Meu celular estava tocando dentro da minha
bolsa. Pelo horário só poderia ser duas pessoas,
Sabrina ou Alan. Ninguém costumava me ligar
durante à noite.
Era a segunda opção, Alan estava me ligando.
Naquele momento ignorar seria a minha melhor
alternativa. Amanhã poderia mentir dizendo que
não havia visto porque o celular estava na minha
bolsa. Mesmo sendo óbvio que eu estaria com
celular para caso ele ligasse para conversarmos
mais tarde.
O celular tocou mais duas vezes depois da
primeira.
Logo as mensagens começaram a chegar.
"Por que não está atendendo o celular?"
Alan
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"Está chateada comigo?"


Alan
"Por favor me responde, não quero que fique
brava."
Alan
A melhor maneira de deixar uma pessoa se
sentir ainda mais culpada é agir como se nada
houvesse acontecido e esse era o meu plano.
Fingiria que estava tudo bem, que o fato de ele sair
com os amigos não me preocupava nenhum pouco,
que não me importava de ele fazer amizade com
mulheres, mesmo não sendo verdade.
"Oi amor, desculpe a demora, o celular estava na
bolsa."
Selena
"Não estou chateada! Está tudo bem, por que
estaria?"
Selena
"Você não conversou comigo quando me viu, saiu
como se fugisse."

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Alan
"Só estava com pressa de chegar em casa e além
do mais não queria atrapalhar."
Selena
"Seria uma ótima oportunidade de eu te
apresentar para os meus amigos."
Alan
Será que quando ele disse "meus amigos"
estava se referindo também aquela menina que
estava ao seu lado? Provavelmente ela não gostaria
de saber que agora ele estava namorando.

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CAPÍTULO 26

Como eu esperava Alan estava completamente


perdido. A cada mensagem podia-se perceber o
quão ele estava preocupado com o fato de eu ter
visto ele "abraçado" com outra mulher.
Por um lado estava preocupada com o que
havia presenciado. Esperava a oportunidade para
conversar com ele sobre a tal morena.
Não iria perguntar os dados porque isso não me
importava e sim o que ela era dele. Talvez fosse
uma simples amiga que ele tivesse combinado para
um encontro com os outros amigos. Mas quem
sabe, pela maneira como ela olhava para ele,
poderia haver certo tipo de sentimento envolvido
por parte dela.
As maiorias das mulheres no meu lugar
estariam preocupadas em perder o posto de
"namorada", a questão como já havia dito antes era
não ter esse direito sobre ele.
Como tudo teria um fim, daqui alguns meses,
quem sabe mais que seis meses. Era necessário que
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ele conhecesse outra pessoa, como uma substituta


para novos sentimentos.
"A dor de cabeça já passou?"
Alan
"Um pouco. Acabei de tomar outro remédio."
Selena
"Quer que eu vá até o seu apartamento?"
Alan
"Não é necessário. Pode continuar com seus
amigos."
Selena
"Estou pensando em ir embora, já está tarde."
Alan
"Parecia estar tão bom... Se fosse eu no seu caso
optaria em ficar mais!"
Selena
Não enviei mais nenhuma mensagem para
Alan. Sabia que aquelas últimas palavras já seriam
o suficiente para que ele soubesse o quanto aquilo
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estava me incomodando.
Corri meus olhos por um livro aleatório jogado
no meu sofá, autora Clarice Lispector, não sabia ao
certo o que iria ler, era um livro com diversas
citações, na verdade a minha amiga havia feito com
as frases dela, da maneira como gostava, com as
melhores frases que eu poderia ler.
"Só uma coisa a favor de mim eu posso dizer:
nunca feri de propósito. E também me dói quando
percebo que feri. Mas tantos defeitos tenho. Sou
inquieta, ciumenta, áspera, desesperançosa.
Embora amor dentro de mim não falte."
Por que agora tudo que eu via, lia, ouvia, tinha
que mostrar um pouco de tudo que estava
acontecendo? Na verdade eu tinha as minhas
dúvidas, era como se tudo conspirasse contra mim.
Não estava mais aguentando pensar no Alan, quer
dizer, era bom pensar nele e em todas as sensações
que me proporcionava, a questão era o contrato.
"NUNCA FERI DE PROPÓSITO" essa era a
realidade que eu convivia em todos os meus dias.
Não era a minha intenção, mesmo porque o meu
trabalho não tinha nada haver em ferir, sempre para
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aumentar a autoestima das pessoas, ser a


companheira para tornar uma noite mais agradável.
Mas e agora? O contrato significava que de alguma
maneira eu sabia que estaria ferindo alguém. O,
porém é que da maneira que o senhor Estevan
descreveu Alan, isso não ocorreria tão rápido.
Contrato. "1. Ato ou efeito de contratar,
contratação.
2. Pacto entre duas ou mais pessoas, que se
obrigam a cumprir o que foi entre elas combinado
sob determinadas condições."
Por que eu não poderia simplesmente esquecer
esse assunto por algumas horas, talvez dias? Deitei-
me com a necessidade de dormir o mais rápido que
eu pudesse, sem pensamentos, sem sonhos, nada
que pudesse me incomodar.
Passaram-se alguns minutos.
Estava sonolenta, provavelmente já havia
conseguido cochilar um pouco, mas os barulhos de
batidas na porta acabaram me acordando. Não sabia
quem poderia ser naquele momento. Normalmente
o porteiro não deixava as pessoas subirem,
principalmente se elas chegassem sozinhas, sem os
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donos dos apartamentos, o que de certa forma era o


correto. Isso evitava que ladrões ou pessoas de má
fé entrassem no prédio na tentativa de roubar ou
praticar qualquer atividade ilegal.
— Quem é? — Perguntei, principalmente porque
na minha porta não havia olho mágico, quer dizer,
uma vez tinha, o problema é que acabou quebrando
porque era um pouco diferente e alguém bateu a
porta com força.
— Alan. — Respondeu do outro lado da porta,
deixando-me totalmente incomodada, ele estava
invadindo a minha privacidade, quando eu já havia
deixado claro que preferia ficar em casa sozinha.
Abri a porta um pouco mal humorada, mas me
surpreendi ao olhar para Alan segurando uma caixa
de chocolate e outra sacola com um pote de
sorvete. Mas que diabos ele estava pensando? Que
me ganharia com esses doces? Estava certo,
infelizmente.
— Desculpe por ter vindo, eu sei que você falou
que seria melhor ficar sozinha, mas eu não
consegui evitar. — Explicou-se, fazendo uma
carinha fofa, como se estivesse querendo que eu o
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desculpasse por ter me contrariado.


O que eu poderia dizer naquele momento?
Encher o ouvido dele de baboseiras? Inventar mil
motivos para que ele fosse embora? Eu não
poderia...
— Entre. — Pedi, dando espaço para que ele
entrasse no apartamento.
— Precisei insistir muito para que o porteiro do
prédio me deixasse subir. — Afirmou, começando
a contar a sua tentativa para que a sua presença
fosse permitida. — Expliquei que você estava de
cama e que discou o meu número, inclusive falei
que você estava naqueles dias.
Inventando desculpas para que seus caprichos
dessem certo. Provavelmente o porteiro imaginou
que esse fora o motivo pelo qual havia pedido a sua
ajuda para carregar as compras, mesmo porque
normalmente não costumava pedir ajuda para
ninguém.
Estava arrumando duas pequenas travessinhas
para que pudéssemos desfrutar do sorvete que ele
havia comprado. Inclusive, abri a caixa de
chocolate para colocar junto do sorvete, misturado
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também ficava gostoso.


— Sabe o que eu estava com vontade de comer? —
Perguntei para ele, para que o mesmo tentasse
adivinhar o meu desejo.
— Não faço ideia. — Respondeu.
— Iogurte com sorvete. — Contei.
— Isso não parece ser gostoso. — Balançou a
cabeça negativamente.
— Eu nunca comi, mas fiquei interessada essa
semana. — Expliquei.
Por sorte havia acabado de fazer compras e
uma das coisas que estavam na minha lista de
compras era iogurte. Ou seja, a mistura ao ser vista
ficava um tanto nojenta, mas nem sempre a
aparência significa o que tem ali, o gosto.
— Você terá que experimentar também. — Avisei,
dando uma colher do sorvete misturado com
chocolate e iogurte.
— Está parecendo uma mulher grávida. —
Brincou, olhando-me com atenção, percebendo o
que acabara de dizer.
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— Desde que eu não engorde como uma. — Dei de


ombros.
— Não diga isso, mulheres grávidas ficam ainda
mais bonitas. — Falou.
Não suportava essa ideia de ouvir a palavra
grávida. Principalmente por saber que não tínhamos
nos cuidado. A questão não era esse, daqui um
tempo precisaria fingir que estava de fato grávida,
para que ele casasse comigo. O nosso casamento
precisaria durar apenas seis meses e então eu estava
livre de todo esse contrato.
— Você já pensou em ter filhos? — Perguntei para
ele, deixando-o completamente surpreso.
— Na verdade até agora eu nunca havia planejado e
nem nada do tipo. — Respondeu.
— Mas e agora? Como você pensa a respeito? —
Perguntei, insistindo no assunto.
— Talvez daqui alguns anos eu pense na
possibilidade. — Explicou.
"Daqui alguns anos..." E quem sabe daqui duas
semanas? Aposto que a mãe dele se emocionaria
com a ideia de ser avó. O senhor Estevan acabaria
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achando que seria verdade e se espantaria com a


ideia, principalmente por termos um contrato.
Agora Alan... Eu não conseguia imaginar como ele
se sentia.

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CAPÍTULO 27

Estava sentindo-me exausta. Mesmo com Alan


ali, acompanhando-me em comer coisas que eu
adorava, inclusive a sua presença que era
agradável, necessitava do meu tempo, mas ele não
estava interessado em entender o meu lado.
O assunto de ter filhos ficou chato e preferi não
tocar mais no assunto, mesmo porque ficaria um
pouco óbvio o meu objetivo.
Ele decidiu que ficaria para dormir no meu
apartamento — mesmo que eu não tenha feito o
convite —, porque achava necessário e mais seguro
que tivesse alguém comigo, caso eu viesse a ficar
com mais dor de cabeça durante à noite.
O problema é que ele não sabia que apesar de
eu estar mesmo com dor de cabeça — boa parte era
desculpa para passar o tempo que eu necessitava
sozinha.
Não estava com cabeça para discutir sobre o
assunto e ainda mais pedir para que ele fosse
embora. Mesmo que sabendo que aquele poderia
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ser um ótimo motivo para que ele quisesse me


deixar e isso não estava no meu contrato.
— Você já está com sono? — Perguntou.
— Um pouco. — Respondi.
— Quer ir deitar na cama? — Perguntou,
estendendo a mão para que eu o acompanhasse
(como se o apartamento fosse dele).
— Claro. — Concordei.
Embora não estivesse com muito sono naquele
momento, havia uma televisão no meu quarto,
então poderia me distrair até que o sono chegasse.
Alan por outro lado, já estava coçando os olhos e
bocejando diversas vezes.
— Se eu dormir você irá me acordar? — Alan
perguntou.
— Com certeza não. — Neguei com a cabeça.
— Mas por que não? — Perguntou confuso.
— Porque você precisa descansar para ir ao
trabalho amanhã. — Expliquei.
Ele apenas assentiu e beijou o meu pescoço.
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Aconchegando-me entre em seus braços. Mesmo


que estivesse um pouco quente, a posição em que
nos encontrávamos estava boa demais para que eu
me afastasse.
Estendi o braço para que eu pudesse pegar o
controle do ar condicionado, talvez eu tenha
mexido o meu corpo, porque Alan acabou
puxando-me ainda mais para perto do seu corpo.
— Não sai. — Pediu baixinho, ainda com os olhos
fechados.
Ele não desejava a distância entre os nossos
corpos e eu adorava isso.
[...]
Enquanto os dias se passavam — devo dizer
que lentamente, mas já havia se passado duas
semanas — o que eu menos esperava aconteceu. De
fato estava gostando de estar namorando com Alan.
O mesmo me provava todos os dias em que
estávamos juntos o quanto ele gostava de mim e
que poderia fazer de tudo para me fazer sorrir.
Não esperava que as coisas fossem acontecer
em tão pouco tempo. Embora eu estivesse agora em
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uma maca de hospital, com uma agulha aplicada na


minha veia para que eu pudesse receber soro e o
meu namorado, infelizmente não estivesse presente
por conta de uma reunião, ainda assim sabia que ele
estaria pensando em mim.
Seria fácil imaginar ele participando de uma
reunião, porém preocupado com a namorada. Na
verdade, qualquer casal que estivesse passando por
isso, entenderia o que eu estou dizendo.
Estou fazendo um pequeno tratamento porque
estou ficando desidratada com muita intensidade.
Normalmente quando trabalho em excesso ou
mudo o meu comportamento, causa falta de ar,
muitas vezes tonturas, enxaquecas, febre, vômito,
entre outros sintomas que o médico já havia
confirmado.
Foram passado alguns remédios na receita que
ele havia entregue, na sua maioria tinham efeitos
semelhantes, que era na verdade para a minha
hidratação.
Mamãe havia me acompanhado no hospital,
fazia tempo que ela não necessitava me
acompanhar, mesmo porque eu já era de maior e
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muitas vezes não era necessário acompanhantes. O


problema é que com o soro e os remédios que eles
haviam me entregado, eu poderia ficar sonolenta ou
seja, não poderia ficar sozinha, muito menos ir
embora do hospital dirigindo o meu carro.
Ela particularmente não gostava de dirigir, por
isso normalmente andava de ônibus ou pedia para
que eu desse uma carona até tal lugar. Dessa vez,
como estávamos com o meu carro, ela teria que
dirigir até o meu apartamento ou quem sabe
escolheria me levar para a sua casa.
— Está se sentindo melhor?— Mamãe perguntou.
— Estou com fome. — Respondi.
— Perguntei se está melhor. — Mamãe perguntou
novamente, de maneira ríspida.
— Sim, só quero ir para casa. — Respondi.
Nós conversamos mais um pouco, a médica
havia saído para finalizar os papéis da minha alta e
em seguida procurar mais um medicamento que o
próprio hospital disponibilizava para os pacientes.
— Aqui está o seu remédio e a receita. — A
doutora me entregou.
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— Obrigada. — Agradeci.
— Caso você tenha os mesmos sintomas utilizando
todos os remédios, preciso que volte para que
possamos fazer novos exames. — Explicou.
— Tudo bem. — Assenti.
Mamãe mal conseguia manobrar o carro para
tirar da vaga onde havia estacionada quando
chegamos ao hospital. Lembrando que, fui eu quem
trouxe o carro, mesmo porque ainda estava
possibilitada do ato.
— Eu odeio dirigir. — Mamãe reclamou
emburrada.
— Você quer que eu tire da vaga?— Perguntei.
— Quero e que leve até a minha casa. —
Respondeu, desligando o carro.
— Você sabe que eu estou um pouco sonolenta,
certo?— Perguntei.
— Eu irei correr esse risco. — Avisou.
Estava certa de que iria ter que levar o carro até
a casa dela. Mesmo porque caso deixasse mamãe
levá-lo, poderíamos demorar muito para chegar e
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eu estava louca para comer e dormir. Então, passei


para o banco do motorista.
Esperava não dormir enquanto estivesse
dirigindo, caso contrário iria voltar para o hospital
pior do que sai.
— Eu não fui feita para dirigir, espero que a
Sabrina faça logo a carteira. — Comentou.
— Você não poderá depender dela para tudo. —
Avisei.
— É por isso que existe ônibus ou melhor, táxi. —
Explicou.
Era engraçado como mamãe se portava quando
estávamos sozinhas. Ou melhor, depois que
"mudei" de trabalho ela começara a me tratar
melhor. Não esperava que a nossa convivência
mudasse tanto após o início do meu namoro com
Alan.
Minha mãe e a Sabrina adoraram saber da
novidade e estavam planejando até um casamento
para daqui alguns anos, é claro. O problema é que
esse casamento teria que acontecer antes do
esperado por elas.
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— Alan mandou uma mensagem enquanto você


estava descansando. — Mamãe contou.
— O que ele queria?— Perguntei.
— Só perguntou se você estava se sentindo melhor
e em que horário você iria para casa. —
Respondeu.
— Será que ele irá para o meu apartamento? —
Perguntei.
— Espero que sim, ou você irá dormir lá em casa?
— Perguntou.
— Quero dormir no meu apartamento. —
Respondi.
Não que eu não gostasse de dormir na casa da
minha mãe com ela e a Sabrina. Mas estar deitada
na minha cama, andando pelo meu apartamento,
deixava-me ainda mais suave, sem preocupação,
sem incomodações.
Mas por enquanto, precisaria aguardar na casa
dela, porque ainda precisava esperar o efeito do
remédio passar, viria o sono e provavelmente eu
dormiria pelo resto da tarde.

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CAPÍTULO 28

Estava um pouco cansada, acordei sonolenta


com um corpo ao meu lado. Sabia que não estava
no meu apartamento, porque lembrava de ter
voltado para o hospital direto para a casa da minha
mãe com ela. Imaginei que poderia ser mamãe ou
Sabrina esperando que eu levantasse, mas não era
nenhuma delas, era o Alan.
Sua face demonstrava o quão cansado ele
estava. Os olhos fechados, sua respiração estava
tranquila. Como o imaginado, ele provavelmente
não parou de pensar em como eu estava no
hospital. Seria melhor deixá-lo dormir por mais
alguns minutos, mesmo não sabendo exatamente
por quanto tempo ele estava ali, deixaria descansar
mais um pouco.
Levantei com cuidado, estava no quarto que
costumava ser meu. O bom desse quarto era que
tínhamos cama de casal. Na verdade, apenas na
nossa infância tivemos camas de solteiro. Ou seja,
seria mais confortável para Alan dormir nela.
Utilizei o banheiro do corredor para que
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passasse uma água no rosto, que para ser sincera


estava horrível. Não sabia como mamãe tinha
coragem de deixar Alan me ver daquele jeito, ainda
mais por estar doente, ou seja, a sua feiura
multiplica.
— Onde está Alan? — Mamãe entrou no banheiro,
que eu havia deixado com a porta aberta.
— Ele está dormindo. — Respondi.
— Você não imagina como ele estava preocupado
quando chegou aqui. — Comentou, enquanto
andávamos até a cozinha. — Precisei deixá-lo
entrar no seu quarto, assim ficou mais calmo. —
Explicou o motivo para que ele estivesse lá dentro
comigo.
— Alan é muito preocupado. — Contei.
— Na verdade ele só quer ver você bem. — Mamãe
afirmou.
Pensei em cozinhar algo para que pudéssemos
comer todos juntos, mas na realidade ainda não
havia visto a minha querida irmã. Em nenhum
momento do dia desde que estou na casa delas, ela
apareceu, o que era estranho.
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— Mãe. — Chamei. — Onde está a Sabrina? —


Perguntei.
— Ela disse que iria no cinema. — Respondeu.
— Com qual amiga? — Eu gostava de me meter na
vida da minha irmã, mesmo porque ela era a caçula
da casa e essa era a minha missão.
— Na verdade eu acho que é menino, ela anda
meio estranha. — Mamãe deu uma risada, mas eu
sabia bem o que significava.
Era estranho imaginar que a minha irmã estaria
namorando. Não que ela não pudesse ou não
devesse agora, mas ela nunca comentou nada sobre
qualquer garoto. Normalmente esse é um assunto
que ela evita, desde que não seja relacionado a eu.
Quando é para falar sobre homens e para
arranjá-los para mim, ela é a primeira a citar
nomes.
O que me chateou foi o fato de que Sabrina não
me contou sobre o seu possível relacionamento e é
claro que eu tiraria essa história a limpo.
— Vou ficar aqui até ela chegar em casa. — Avisei
para mamãe que estava fazendo sopa.
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É claro, como não pensei nisso antes, era óbvio


que ela faria sopa já que eu acabara de voltar do
hospital e precisava me hidratar.
— Não irá incomodar a sua irmã. — Pediu.
— Só irei enchê-la de perguntas sobre o tal garoto.
— Expliquei.
— Espero que ela não fique brava comigo por eu
ter te contado. — Desejou.
— Ela não tem que reclamar de nada, eu tenho que
saber de tudo que acontece aqui dentro. — Avisei.
Enquanto ela fazia a sopa, ouvi um alto suspiro
e o meu nome ser chamado. Dava para ouvir a voz
de Alan, estava baixo, provavelmente ele ainda
estava deitado no quarto.
— Selena? — Chamou novamente.
— Oi. — Coloquei a cabeça para dentro da porta.
— Está se sentindo melhor? — Perguntou.
— Sim. — Respondi, entrando no quarto.
Ele fechou os olhos novamente, mas dessa vez
abriu os braços para que eu pudesse me aconchegar
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nos mesmos. Nossos corpos entraram em um


contato maravilhoso, era como se dependêssemos
daquilo.
— Eu gostaria de ter ido ver você no hospital. —
Contou decepcionado, como se fosse a culpa dele
não ter comparecido.
— Não tem problema. — Neguei com a cabeça.
— Você é a minha namorada e é o meu dever estar
com você. — Explicou.
— Mas você estava no seu trabalho, não tem que se
desculpar por isso. — Avisei.
Nós enrolamos por mais um tempo na cama.
Quando escutei o barulho da porta ser fechada,
provavelmente seria a da sala e Sabrina estaria
chegando naquele momento. Precisava fazer o
interrogatório agora, como ela havia acabado de
chegar, talvez fosse mais fácil arrancar as
informações.
— Vamos jantar? — Convidei Alan, que mesmo
com muita preguiça, assentiu com a cabeça.
— Vou até o banheiro. — Avisou.

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Enquanto Alan foi até o banheiro, corri para a


cozinha, onde podia-se ouvir as vozes da minha
irmã e da minha mãe. Em vez de entrar
diretamente, preferi ficar escondida para escutar um
pouco a conversa das duas. Quem sabe eu
descobrisse alguma coisa que ela pudesse evitar me
contar.
— Como foi o encontro? — Mamãe perguntou.
— Não era um encontro, nós somos apenas amigos.
— Sabrina respondeu.
— Como é o nome dele mesmo? — Perguntou
mamãe.
— Leandro. — Sabrina respondeu.
Mamãe não estava olhando para ela, mesmo
porque a mesma estava mexendo a sopa que estava
no fogão. Já Sabrina, estava apoiada no balcão da
cozinha, cada vez que elas falavam algo
relacionado ao "amigo" dela, seus olhos brilhavam
com certeza havia sentimentos envolvidos.
— Leandro é o nome do seu namorado? —
Cheguei na cozinha já falando o que eu desejava.
— Selena ele é só o meu amigo. — Sabrina
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retrucou.
— Ei eu sou sua irmã, não precisa ficar com
vergonha de contar sobre o seu novo namorado. —
Expliquei.
— Mas ele não é meu namorado ainda. — Talvez
ela tivesse deixado escapar aquele "ainda".
— Ainda? — A minha voz saiu um pouco
empolgada, fazendo com que mamãe me olhasse
como se estivesse me repreendendo por estar
incomodando a minha irmã, que também estava
incomodada com as minhas perguntas.
Como Alan adentrou a cozinha, chamando a
atenção de todas nós, preferi não tocar no assunto
na frente dele, por mais que depois contaria com
certeza sobre isso, para que pudéssemos rir juntos.
Teria uma longa conversa com Sabrina sobre
Leandro. Como papai não estava mais aqui e
mamãe muitas vezes deixasse a desejar sobre o
assunto de ser mais rígida quando o assunto era
garotos, precisava ser a pessoa chata que iria
perguntar as intenções com a minha irmã.
— Alan, espero que você goste de sopa, caso queira
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algo diferente eu tenho uns congelados, posso fazer


para você. — Mamãe avisou para ele, que negou
com a cabeça.
— Está ótimo, não se preocupe. — Alan avisou,
tomando mais um pouco da sopa.
Sabrina não nos acompanhou na refeição
porque acabara de voltar do shopping e havia feito
sua refeição na praça de alimentação. Porém, ela se
sentou conosco para que pudéssemos conversar
mais um pouco, antes que eu voltasse para o meu
apartamento.
É claro que a maioria dos assuntos foram
relacionados ao fato de eu estar um pouco doente e
desidratada.
Pelo Alan eu passaria o resto da semana de
folga para descansar, mas não aguentaria ficar no
apartamento e saber que ele estaria lotado de
trabalho para fazer e ainda mais os relatórios.

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CAPÍTULO 29

Como já estava tarde e provavelmente mamãe e


Sabrina estivessem cansadas e quisessem ir dormir.
Eu e Alan resolvemos que já estava na hora de
irmos para casa. Mas é claro, que ele não deixaria
que eu passasse aquela noite sozinha. Mesmo
porque, precisaria acordar no meio da noite para
tomar um dos meus remédios.
Com todo o cuidado, dirigi até o meu
apartamento, sendo seguida pelo Alan que dirigia
tranquilamente atrás de mim. Não estávamos com
pressa, mesmo porque eu não poderia fazer muito
esforço, principalmente naquele trânsito
estressante.
Normalmente era o horário de estudantes
estarem voltando das faculdades e de escolas. Ou
até mesmo entrando em seus trabalhos. Ou seja,
havia um grande número de carros nas ruas.
Nós já estávamos no meu apartamento, ele fez
questão de ir até a garagem onde estava o meu
carro e pegou as minhas bolsas e sacolas de
remédios.
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— Você deve estar muito cansado. — Comentei,


quando vi Alan se encostando no sofá.
— Preciso tomar um banho, mas estou tão cansado
para me lavar. — Afirmou.
— Tem uma banheira no meu banheiro, você pode
usar. — Avisei.
— Eu até aceito a sua sugestão, desde que você me
acompanhe. — Comentou.
Teria como recusar aquele pedido? Sabia que
não havia segundas intenções incluídas naquele
pedido. Ele estava cansado, provavelmente iria
querer apenas ficar lá dentro por alguns minutos
sem ter preocupação com o mundo lá fora.
Eu por outro lado não poderia fazer muito
esforço com nada, então, desde que aquele pedido
fosse um simples pedido para banho, eu com
certeza estaria dentro.
— Eu aceito. — Confirmei.
Enquanto eu organizava as nossas toalhas e as
roupas que iríamos vestir para dormir, Alan ficou
no banheiro esperando a banheira encher e
colocando alguns sais de banho. Aquilo não era
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frescura nem nada, mas ele afirmou que eu estava


precisando de um bom banho para relaxar o meu
corpo.
É claro que não é fácil tomar banho em um
hospital ou na casa da minha mãe, onde eu já não
estou mais acostumada, muito menos quando
preciso ficar em pé.
Eu estava fraca, as pernas doíam mais do que o
normal caso eu desejasse andar um pouco mais do
que o normal. Mas agora, estava tomando os
remédios certos para todos os sintomas que eu
estava sentindo. De fato não era fácil ficar
desidratada por tanto tempo.
Alan sentou-se dentro da banheira, não havia
visto o mesmo tirar as suas roupas porque não
estava no banheiro. Ele analisou o meu corpo todo
naturalmente, como se admirasse o que estava
vendo. Sentia-me bem. É claro que eu não estava
nos meus melhores momentos por estar doente e
um pouco fraca, mas me sentia feliz por ser
admirada.
É claro que o máximo que eu poderia ver do
seu corpo eram seus braços e um pouco do seu
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peito, fora a cabeça, seus olhos, boca, nariz, cabelo,


óbvio.
Sentei no meio das suas pernas, de costa para o
seu corpo.
Aos poucos senti suas mãos alcançarem os
meus ombros e de repente ele iniciou uma
massagem que fez com que o meu corpo
amolecesse. Não conseguia pensar em nada que
viesse me atormentar. Pensava simplesmente em
nós dois. Em estarmos juntos, enfrentando um
mundo de pessoas que certamente tivessem a
vontade de nos separar. Mas estávamos juntos, e
nada mais importava.
Por mais que desejasse dormir, por mim
poderia passar a minha noite dentro da banheira
com Alan aconchegando-me.
— Está gostando?— Perguntou, enquanto
continuava a massagem.
— Está muito bom. — Respondi.
Virei-me para ele, como resposta a sua
massagem, iria lavá-lo. Não com segundas
intenções, mas sim da mesma maneira que ele
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havia feito a massagem.


Estava com as pernas entrelaçadas na sua
cintura. O sabonete na minha mão percorria todo o
seu peito e costas, pescoço, bochecha...
Ele estava com os olhos fechados, com certeza
não estava sentindo cansaço. Ou pelo menos era
isso que parecia. Agora estava começando a
relaxar. O seu corpo foi de rígido para leve, na
verdade, nunca o vi tão calmo como estava agora.
— Você poderia me dar banho sempre. —
Comentou.
— Não. — Neguei com a cabeça.
— Por que não?— Perguntou, franzindo o cenho.
— Porque o "sempre" enjoa. — Expliquei.
— É impossível enjoar de você. — Beijou o meu
pescoço.
— Acredite, não é impossível. Aos poucos você irá
perceber isso. — Contei.
Ele ficou quieto demais depois que eu falei
isso. Mas essa era uma realidade que
enfrentávamos nos dias de hoje. Normalmente,
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quando você está muito acostumado com alguma


coisa, aos poucos começa a enjoar.
Aquilo que você fazia sete dias por semana,
começa a passar para seis, cinco, quatro, três, dois,
um, até que perde-se, acaba a sua rotina. De vez em
quando você faz para não perder o hábito, mas não
por realmente ter uma necessidade.
— A água já esfriou. — Comentei.
— Nós podemos ir dormir agora. — Alan afirmou.
— Tenho que tomar o meu remédio antes. —
Avisei.
Já era tarde, antes de dormir precisava tomar
um remédio que me ajudaria a respirar melhor
durante à noite e que iria me tranquilizar para que o
sono fosse melhor. Além disso, às 03h00min horas
da madrugada, precisaria tomar outro, dessa vez era
um antialérgico.
Por incrível que pareça, todos esses fatores
acabavam fazendo com que eu ficasse desidratada.
Uma noite mal dormida, gripe, alergias, dores, tudo
influenciava.
É claro que a minha alimentação teria que
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melhorar. Deveria adicionar tipos variados de


saladas — mesmo que eu não gostasse de comê-las
—, uma maior quantidade de massa, carnes, entre
outras coisas que iriam me deixar ficar mais firme.
Alan já havia avisado que iria separar um
tempo específico para fazer as compras para o meu
apartamento e também faria para a sua casa. Na
verdade, era para ter caso eu fosse dormir com ele.
O mesmo avisou que eu estava proibida de
fazer qualquer esforço físico que necessitasse fazer
mais força do que eu estava acostumada e que eu
aguentasse, é claro.
— Tenha uma boa noite. — Falei.
— Irei acordá-la às 3:00. — Avisou.
— Caso eu não acorde com o alarme, será
necessário que você me acorde. — Avisei.
— Não tem problema. — Negou com a cabeça. —
Durma bem meu amor.
O silêncio predominou no nosso quarto. Eu
estava de costa para ele, sentia a necessidade de
falar algo. Na verdade, era uma coisa que estava
engasgada na minha garganta.
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— Alan? Você já dormiu? — Perguntei baixo, caso


ele já estivesse dormindo não iria acordá-lo.
— Não. — Respondeu baixinho, sua voz estava
sonolenta, quem sabe eu tivesse acordado ele.
— Eu gosto muito de você. — Afirmei, virando-me
para olhar em seus olhos.
— Selena eu sei o que está tentando dizer. — Seu
olhar era compreensivo e ao mesmo tempo
apaixonante.
— Você entende não é mesmo?— Perguntei,
olhando no fundo dos seus olhos.
— Eu também te amo amor. — Beijou a minha
testa e em seguida grudou meus lábios em um
selinho rápido.
Nossas bocas não abriram, muito menos se
mexeram. Apenas ficaram coladas uma na outra,
por alguns segundos.
— Eu te amo Alan. — Consegui dizer, mesmo
tendo medo do que aquelas palavras pudessem
significar.
Iria aproveitar o tempo que ainda teria ao seu
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lado, sem medo do que iria acontecer futuramente.

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CAPÍTULO 30

Já fazia uma semana desde que eu dissera o


primeiro "EU TE AMO" para Alan. Posso afirmar
com toda a certeza de que aquelas palavras fizeram
total diferença no nosso relacionamento.
Quando eu achava que não havia mais o que
melhorar, tudo estava ainda melhor.
Alan estava cada dia mais dedicado para que o
nosso relacionamento desse certo e tivesse futuro.
Ele mesmo dizia o quão estava esperando para
juntarmos as nossas coisas. A questão é, como eu
havia dado um tempo para esse pensamento
relacionado ao "contrato" que havia feito com o seu
pai. Eu já não tinha mais pressa. Eu não tinha essa
necessidade de atropelar as coisas.
Eu estava disposta a viver esse namoro,
aproveitá-lo, como muitos casais fazem.
O problema era: o senhor Estevan lembrava
desse contrato a cada vez que me via. Na verdade,
nessa semana ele já havia me chamado duas vezes
em sua sala para falar sobre isso.
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"Você está demorando para casar!"


"Acha que ele não está interessado?"
"Pensei que você seria mais rápida."
"Está conseguindo fingir muito bem esse "amor"
pelo meu filho."
"Acho que Alan está mesmo apaixonado por você."
"Nunca vi meu filho desse jeito."
"Depois que esse contrato acabar, tenho certeza que
ele encontrará a mulher certa e irá se casar de
verdade."
Essas normalmente eram as palavras dele.
O que de fato me deixava um pouco
preocupada. Tinha medo de alguém ouvir a nossa
conversa, ou até mesmo Alan. Não sei ao certo o
que seria pior.
— Você está tão calada hoje. — Alan comentou,
sentando-se ao meu lado.
Nós havíamos acabado de chegar do trabalho,
ele havia vindo para o meu apartamento como de
costume e estávamos assistindo televisão. Na
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verdade eu não estava assistindo, a minha cabeça


estava longe, na conversa que eu tivera mais cedo
com o pai de Alan.
— Estou cansada. — Afirmei, mentindo.
— Eu acho que você está mentindo por algum
motivo. — Falou.
— Você está desconfiando da sua linda e incrível
namorada? — Brinquei.
— Capaz. — Ele me encheu de beijos.
Eu o amava tanto.
Eu estava me sentindo cada dia mais sensível.
Tudo de alguma maneira me deixava frágil, sentia-
me pequena perto das pessoas que estavam a minha
volta. Alan não conseguia me entender direito, por
mais que tentasse, ele nunca conseguiria.
Quando acessava alguma das minhas redes
sociais, todos os textos que eu encontrava,
pareciam descrever essa etapa que eu estou
vivendo.
— Eu comprei absorvente para você. — Falou,
tirando do lado do sofá uma sacola com diversas
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embalagens.
— E por que você comprou isso? — Perguntei,
normalmente quem fazia esse tipo de compra era
eu.
— Porque você está naqueles dias, não está? —
Perguntou confuso.
— Na verdade ainda não. — Neguei com a cabeça.
Ele estranhou a minha resposta. Será que era
possível? Ele estava anotando e cuidando os dias
que eu estava de tpm?
— Pensei que já estivesse há três dias. —
Comentou.
— E você só trouxe agora, por quê? — Perguntei.
— Porque não tinha mais no armário do seu
banheiro. — Respondeu como se fosse óbvio.
Não era possível que ele estivesse olhando
todos os produtos que eu estava precisando.
Quando ele fazia isso? Normalmente tomávamos
banho juntos. É, não fazíamos nada demais, era só
tomar banho mesmo.
É claro que ele precisava ir ao banheiro
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algumas vezes, mas nunca havia notado que ele


percebia o que faltava ou não no meu banheiro.
— Não sabia que você estava por dentro disso. —
Comentei.
— Eu cuido de você, esqueceu? — Perguntou.
— Eu sei que sim, mas isso né. — Dei de ombros.
— Devo me preocupar? — Perguntou.
— A respeito do que? — Perguntei confusa.
Ele revirou os olhos, como se eu estivesse me
fazendo, mas eu realmente não havia notado o que
ele queria.
— Você está se cuidando certo?— Perguntou.
— Eu estava tomando remédio lembra? Não tem
como eu tomar as minhas pílulas, você que deve
cuidar. — Avisei.
— Mas eu não pensei nisso. — Falou preocupado.
E a conversa se estendeu durante à noite toda.
Alan não estava preparado para ser pai. Eu não
estava com vontade de ser mãe ainda.
Na verdade eu não queria mais. Não com ele.
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Eu o amava muito. Mas eu não faria ele passar


por mais esse sofrimento. Não queria colocar todo
esse peso, essa culpa, em uma criança que não teria
nada haver com o contrato.
Eu não queria estar grávida.
Alan não conseguia parar de falar. Toda hora
estava supondo que teríamos um bebê. Ele achava
errado não estarmos casados.
Eu não queria mais casar.
Eu queria ter dinheiro o suficiente para acabar
com este contrato.
— Você fará o teste? — Perguntou preocupado.
— Está cedo demais para pensar em alguma coisa.
— Respondi.
— Mas já se passaram três dias. — Ele estava um
pouco irritado com a minha falta de interesse em
fazer um teste de gravidez.
— Porque eu sei que é normal atrasar poucos dias,
principalmente por eu ter tomado tantos remédios.
— Expliquei calma.
— Já que você tem tanta certeza, irei ficar mais
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calmo. — Avisou.
Por sorte pude dormir. Não ouvi mais nada
relacionado a bebês. Embora soubesse que Alan
ainda estava preocupado, ainda mais pelo fato de
ver em seus olhos.
Pensei em fazer o teste para acabar logo com
essa preocupação boba que ele tinha. Mas era
necessário deixar pelo menos para a próxima
semana, já que estávamos cheios de trabalho na
empresa e inúmeras reuniões.
O tempo que sobrava seria destinado para
dormir e comer.
Acabei acordando na madrugada sem sono
algum. Em vez de continuar na cama, resolvi
levantar e ir com o meu notebook na sala.
Por algum motivo senti vontade de ir embora.
Fugir. Naquele momento parecia tão certo. Não
tinha o porquê de continuar.
É claro que não iria embora, pelo menos não
agora.
Enquanto passava os meus olhos pela tela, lia
textos maravilhosos postados em redes sociais. A
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maioria dele falava de amor, todos os tipos. Todas


as maneiras de amar. E também da dor.
Essa mesmo que estava predominante dentro de
mim. Eu queria ter coragem de desistir, mas eu não
poderia. Já tinha ido longe demais.
E eu senti lágrimas escorrerem dos meus olhos
e deslizarem pela minha bochecha quando certo
texto apareceu.
“Se eu pudesse, apenas um dia,
voltar no tempo,
queria que fosse
para o dia em que te conheci.
Se eu devesse, talvez,
corrigir um erro,
queria que fosse
o da nossa primeira briga.
Se eu pudesse, então,
repetir o que foi bom
queria que fosse
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o nosso primeiro beijo.


Se eu pudesse, ainda,
desfazer um ato,
queria que fosse
o te ter magoado.
E se eu pudesse, por último,
fazer um pedido,
queria que fosse
o de ser feliz pra sempre
contigo.”
Senti a necessidade de votar imediatamente
para o quarto onde Alan estava dormindo. Mesmo
que ele notasse o meu choro, principalmente pelo
fato de estar soluçando.
Deitei ao seu lado, colocando a cabeça sobre o
seu peito descoberto e nu. Não demorou para que
ele acordasse por conta do barulho e também pelo
movimento na cama.
— O que aconteceu Selena? Por que está
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chorando? — Perguntou preocupado.


Não respondi, apenas afundei ainda mais meu
rosto em seu peito.
— Amor, não gosto de te ver assim. — Cochichou
no meu ouvido. — Se não quiser falar nada tudo
bem, lembre-se que eu estarei sempre ao seu lado.
— Beijou a minha testa e nos cobriu.

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CAPÍTULO 31

Acordei ainda mais cansada de quando fui


dormir. Ao me olhar no espelho do banheiro,
deparei-me horrível. O rosto estava inchado,
olheiras profundas, olhos vermelhos, pareciam
saltar da minha face a qualquer momento.
Tratei de passar uma água no rosto, em seguida
precisei das minhas maquiagens para disfarçar a
noite de choro.
Base. Pó. Um pouco de blush. Uma sombra
básica. Lápis. Rímel. Até um delineador ousei
passar. Tudo na tentativa de apagar o rosto inchado.
Alan não estava na cama quando levantei.
Provavelmente estava na cozinha com o café
pronto. Não, ele não iria fazer. Normalmente como
a panificadora ficava perto do meu prédio, ele
caminhava até lá e comprava dois copos grandes de
café com leite, alguns pães de queijo e também
sonhos recheados com doce de leite.
Quando cheguei à sala, lá estava ele com um
jornal em mãos e também com a televisão ligada.
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— Bom dia. — Falei, procurando pelo meu copo de


café.
— Bom dia amor. — Sorriu, mas conseguia
perceber o interesse em olhar nos meus olhos,
analisar a minha face, procurando vestígios da noite
anterior.
— Foi até a panificadora? — Perguntei, procurando
pelo pão de queijo ou o sonho.
— Sim. Deixei as coisas na cozinha. — Respondeu.
Não quis voltar para sala, preferi tomar o meu
café da manhã sozinha. Por mais que ele me visse
de longe, não dava para ver exatamente o meu
rosto.
Sabia que a qualquer momento ele poderia
tocar no assunto sobre eu ter chorado na noite
anterior. Por mais que eu não precisasse
exatamente explicar o motivo, ele não me obrigaria
a nada.
Eu admirava o companheirismo que havia com
Alan. E principalmente em como ele fazia de tudo
para entender o que eu estava sentindo e até mesmo
quando eu não estava aqui em pensamento.
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— Quer ir para a empresa hoje? — Alan perguntou,


não entendi muito bem a sua pergunta, já que eu
estava bem.
— Claro que sim, por que não iria? — Perguntei
confusa.
— Ontem você não parecia muito bem. —
Explicou.
— Foi coisa do momento, não se preocupe. —
Pedi.
Ele não perguntou mais nada. Apenas fomos
para o trabalho juntos, no mesmo carro como
estávamos indo agora. Não havia nem pisado
direito na minha sala quando o meu telefone tocou.
Alan já havia entrado em sua sala, então
provavelmente não seria ele.
"INICIO DE LIGAÇÃO"
— Escritório do senhor Alan, pois não? —
Perguntei, mas sabia que aquele número me parecia
familiar.
O outro lado da linha permaneceu em silêncio.
— Você deseja deixar algum recado para Alan? —
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Perguntei novamente, insistindo na ligação.


Eu estava curiosa para saber quem era. O
problema é que a pessoa do outro lado da linha
desligou e não falou nada.
"FIM DA LIGAÇÃO"
Do jeito que sou, aquela ligação ficou na minha
cabeça o resto do tempo em que fiquei trabalhando.
Pensei em entrar em contato com Alan para avisá-
lo da ligação, talvez fosse alguém que só gostaria
de conversar particularmente com ele.
Mas infelizmente Alan foi chamado para uma
reunião de última hora. Como era uma empresa
grande, foi algo sigiloso, ou seja, eu não pude
comparecer a reunião junto com ele.
Não havia exatamente o que fazer enquanto
Alan não estava por perto. Normalmente ele me
pedia relatórios ou para organizar seus contratos.
Mas como ele não estava presente, a única coisa
que me restava era esperar por algum telefonema.
E recebi.
"INÍCIO DE LIGAÇÃO"

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— Escritório do senhor Alan, pois não? — Falei o


habitual, desejando que não fosse a mesma pessoa
que havia ligado antes. Para a minha sorte não era.
Estavam ligando de um telefone da empresa.
— Senhorita Selena, o senhor Estevan gostaria de
ver a senhora agora. — Era a secretaria do pai do
Alan, já sabia o assunto que ele iria querer tratar
comigo.
— Estarei na sala dele em poucos minutos. —
Avisei.
"FIM DA LIGAÇÃO"
Ela não me respondeu, apenas desligou o
telefone. Não era muito educado, mas o que eu
poderia fazer? Ela era secretaria do dono da
empresa.
Precisei esperar alguns minutos para entrar na
sala do senhor Estevan. Mesmo porque, havia uma
mulher em sua sala. Pude ver quando ela saiu,
havia um batom em sua mão, retocando o lábio que
estava um pouco borrado.
Talvez fosse algo da minha imaginação,
provavelmente ela havia borrado na hora de passar
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e estava apenas arrumando. Mesmo porque, ela era


nova — muito nova por sinal —. Estava com uma
saia justa, até os joelhos na cor preta, e uma blusa
de cetim vermelha escura. Ela tinha belos seios.
Belas cochas.
Entrei na sala, ele estava como sempre em sua
cadeira. Dessa vez estava sério demais para o meu
gosto. Olhou-me como se quisesse me devorar.
— Pois não senhor?
— Vou direto ao ponto. — Falou autoritário. — Eu
lhe darei duas semanas para se casar com Alan.
Suas palavras caíram em cima de mim de uma
vez só. Ele não poderia ser mais curto. Havia dito
tudo que eu não gostaria de ouvir naquele
momento.
— Duas semanas é pouco tempo. — Comentei.
— Eu não quero saber, você teve tempo o
suficiente. — Avisou.
— Estou há dois meses com Alan, você acha isso
tempo suficiente? — Perguntei brava.
— Para o trabalho que você exerce, é tempo o
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bastante. — Ressaltou.
Realmente naquele momento me senti uma
garota de programa. Não que eu tivesse algo contra
as mulheres que exercem essa função, tenho certeza
que elas tem seus motivos, assim como eu tenho
em ser acompanhante. Mas eram situações
diferentes. Eu não dormia com os homens que
contratavam o meu serviço — nem que me
pagassem um valor maior —, eu me recusava a
passar por esse transtorno.
Na verdade, eu nunca consegui ficar com
alguém sem sentir um sentimento por essa pessoa.
Está certo que já dormi com Alan, mas durante
esses dois meses, acabei criando um sentimento por
ele e o mesmo por mim.
— Caso vocês não casem em duas semanas,
certifique-se que você terá que me pagar uma
multa. — Avisou.
Eu não tinha esse dinheiro.
Eu não poderia deixar de casar.
Eu teria que arrumar uma maneira de fazer com
que Alan quisesse casar comigo.
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— Eu farei isso senhor. — Afirmei.


— Espero que não demore, agora já pode ir
embora. — Falou, apontando para a porta, no
objetivo que eu saísse.
Eu estava com vontade de chorar — muita por
sinal —. Corri para o banheiro que ficava no andar
onde eu trabalhava. Era único para o ambiente onde
só havia a minha sala e a do Alan. Tranquei a porta
e me permitir chorar.
Chorei muito.
Escorreguei até o chão, encostada na porta. Eu
não queria chorar alto, ninguém poderia me ouvir.
Eu precisaria disfarçar o inchaço dos meus olhos e
da minha face com maquiagem. Por sorte havia
deixado na minha bolsa.
Alan estava na reunião, o que era bom. Poderia
chorar em paz por mais alguns segundos.
Estava doendo mentir.
Eu não queria dar continuidade nesse contrato,
mas eu não tinha dinheiro para pagar o fim do
mesmo.

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A maquiagem não fez tanto efeito. Qualquer


pessoa que me visse — principalmente Alan —,
conseguia ver nos meus olhos que eu havia
chorado.

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CAPÍTULO 32

Eu havia arrumado uma maneira de fazer com


que Alan se casasse comigo.
Não me orgulhava muito, mesmo porque tudo
fazia parte do maldito contrato que havia assinado
com o senhor Estevan.
O que esperava agora era que tudo desse certo.
Eu precisava fazer a única coisa que eu sabia que
ele não deixaria de lado, fingir estar grávida. A pior
coisa de tudo: envolver uma criança que nem existe
e mesmo se existisse seria horrível porque
querendo ou não ela não tem culpa do que eu
estava planejando.
Cheguei em casa naquela noite sem saber
exatamente que fazer, Alan chegaria a qualquer
momento no meu apartamento.
Agora, eu precisava arrumar um teste de
gravidez verdadeiro para que pudesse mostrar a ele,
prova do que eu realmente estava grávida. Mesmo
sendo mentira, claro que ele não desconfiaria de
mim, mesmo porque nós namorávamos e estamos
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vivendo um ótimo momento no nosso


relacionamento.
Não sei ao certo, se ele irá escolher em casar ou
apenas morarmos juntos. A questão é que eu
realmente preciso casar, o senhor Estevan estava
perdendo a paciência comigo. E eu já estava
querendo sumir e me esconder em qualquer lugar
longe daqui.
Não contaria nada para Alan no começo.
Esperaria pelo menos esses dias para arrumar o
teste de gravidez com alguma grávida que
encontraria em qualquer lugar. Provavelmente teria
que pagar ou oferecer alguma coisa em troca desse
teste de gravidez, porque as pessoas desconfiariam
do meu pedido.
Então o que me restava agora, era esperar e
começar a fingir os sintomas para que ele
começasse a pelo menos desconfiar até que eu
pudesse entregar o teste de gravidez. Eu sei que ele
pediria para fazer um exame de verdade então eu
também teria quer arcar com isso, precisaria de
alguém que pudesse fazer esse exame e forjá-lo
para mim.

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Ele havia chegado. Estava sério, mas não


parecia bravo, talvez estivesse um pouco
preocupado, pelo fato de eu ter voltado sozinha do
trabalho.
— Aconteceu alguma coisa? — Perguntou,
olhando-me diretamente nos olhos.
— Por que? — Sabia do que ele estava falando,
mas não custava perguntar.
— Porque hoje você não me esperou para
voltarmos juntos do trabalho. — Respondeu.
— Desculpe, eu estava um pouco enjoada e
sentindo algumas tonturas, não quis atrapalhar em
sua reunião. — Expliquei, mentindo mais uma vez.
— Você sabe que não iria atrapalhar. — Balançou
a cabeça negativamente. — Foi ao médico? —
Perguntou.
— Não, apenas tomei alguns remédios que havia
em casa. Logo irá passar. — Contei.
Dessa vez eu realmente estava me sentindo
enjoada, mas o motivo era as inúmeras mentiras
que eu estava inventando para Alan.

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Ele não disse mais nem uma palavra. Apenas


foi para o banheiro e se trancou. Pude ouvir o
barulho do chuveiro sendo ligado, então
provavelmente estava tomando banho.
Normalmente teria me convidado para
acompanha-lo, mas dessa vez foi diferente, senti
que as coisas haviam mudado, talvez ele não
estivesse mais acreditando nas minhas mentiras.
Ele não poderia descobrir o meu maior segredo,
não estava pronta para deixá-lo. Eu precisava fazer
com que ele se casasse comigo. Esperava de
preferência que ele nunca ficasse sabendo do
contrato que havia feito com seu pai, isso só o
machucaria ainda mais.
Alan passou 20 minutos dentro do banheiro,
mas o chuveiro já havia sido desligado quando
ainda fazia 10 minutos. Quem sabe ele estivesse
pensando em uma coisa e não quisesse minha
presença naquele momento.
Não iria perguntar o motivo pelo qual ele
permaneceu tanto tempo lá dentro, mas sabia que
agora tudo iria mudar de alguma maneira nas
nossas vidas.
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Estava pronta para prosseguir com meu plano e


procurar por um teste de gravidez tanto o de
farmácia quanto o de hospital, e faria com que Alan
se casasse comigo.
Ele saiu lá de dentro sem dizer uma palavra
sequer. Por mais que eu havia dito que não
perguntaria nada sobre o que havia acontecido,
resolvi que tentaria saber de alguma coisa.
— Está tudo bem? — Perguntei um pouco receosa,
ele estava colocando as roupas no quarto.
— Sim, por que? — Sua resposta veio com outra
pergunta.
— Por que você ficou tanto tempo no banheiro. —
Respondi.
Ele sequer me olhava.
— Eu precisava de um bom banho. — Respondeu,
terminando de vestir a camisa.
— Mas você nunca tranca a porta. — Expliquei.
— Assim como você precisa ficar sozinha, eu
também tenho os meus momentos. Espero que você
respeite. — Pediu.
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Ele não precisou dizer mais nenhuma palavra.


Não sei ao certo porque ele estava colocando
uma roupa de sair, não era completamente social.
Combinou uma calça jeans, uma camisa branca e
um blazer por cima.
— Você irá sair? — Perguntei, notando a maneira
como estava se vestindo.
— Sim. — Respondeu.
— Posso pelo menos saber onde você vai? —
Perguntei, já estando chateada.
— Tem uma reunião de negócios. — Respondeu.
— Agora de noite? — Perguntei.
Não que eu estivesse surpresa pelo horário,
sabia que poderia ser qualquer um, mas
normalmente eles preferiam fazer de dia.
— Você sabe que eles escolhem o horário que eles
querem. — Explicou.
— Devo esperá-lo? — Perguntei.
— Não, não voltarei para seu apartamento, vou
para a minha casa. — Avisou.
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Ele se despediu com um beijo na minha testa.


Por mais que eu adorasse o beijo na testa, dessa vez
ele não parecia significar o mesmo.
A vontade que eu tinha era de colocar uma
roupa e segui-lo. Embora eu confiasse nele, mesmo
não devendo desconfiar, não era o meu direito,
principalmente por estar "brincando" com o seu
amor. Qual direito eu tinha? Eu mentia para ele
todos os dias.
— Até logo. — Sorri fraco, um sorriso falso, ele
provavelmente perceberia, estava na cara.
Não precisou de muito tempo para que eu
estivesse focada em pesquisas nas minhas redes
sociais, procurando por mulheres grávidas que eu
pudesse ter algum contato. Poderia inventar uma
mentira, dizendo que poderia ser algo para alguma
pesquisa, enfim, pelo menos uma pessoa poderia
me ajudar.
Caso não conseguisse com nenhuma mulher
que eu conhecesse, teria que apelar para o dinheiro,
buscar por alguém de fora, que eu não conhecesse,
mas para isso teria que correr o risco de ter meu
segredo revelado.
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Por sorte encontrei uma mulher chamada


Antônia que estava grávida, ela estava com uma
barriga enorme na sua foto de perfil, esperava que
aquela gestação ainda estivesse acontecendo.
"INÍCIO DE CONVERSA"
Selena: Olá, Antônia. Como você está?
Antônia: Oi Selena, quanto tempo!!! Estou bem e
você?
Selena: Que bom querida, também estou bem. Não
acredito que está grávida!!!
Antônia: Nem eu imaginava que seria tão cedo.
Mas estou feliz.
Selena: Isso que importa! Eu preciso te pedir uma
coisa.
Antônia: O que você quiser.
Selena: Eu estou fazendo algumas pesquisas e está
relacionado a grávidas, será que você poderia me
ajudar?
Antônia: E do que você precisa exatamente?
Selena: De um exame de gravidez de farmácia e do
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médico, será que você consegue?


Antônia: Consigo sim, tenho todos. Pode buscá-lo
amanhã?
Selena: Pode me passar novamente o seu
endereço?
Antônia: Claro, irei passar tudo.
"FIM DA CONVERSA"
Nós conversamos mais alguns detalhes além do
endereço dela, para dizer que realmente era uma
pesquisa, precisei pedir alguns dados dela, para
fingir as estatísticas.

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CAPÍTULO 33

Estava segurando uma pequena pasta com os


documentos que Antônia havia feito por conta da
gravidez. Agora, precisava copiar tudo e fazer
pequenas alterações nas folhas como meu nome,
idade, entre outros dados pessoais que constavam
nas folhas.
Iria preparar algo especial para Alan. Neste
caso, quanto mais eu desse entender que de fato eu
estava grávida e que — estava feliz com a notícia
—, mais ainda seria o interesse de Alan, pelo
menos era o que eu imaginava — desejava —.
Não esperava que fosse chegar meia hora
atrasada e mesmo sendo namorada do meu chefe,
acabei recebendo um belo sermão por conta do
atraso.
— Você está atrasada. — Alan não estava olhando
para mim e sim para a tela do seu computador.
— Desculpe, precisei ir até o médico. — Menti,
mas na verdade essa era uma das mentiras que
fariam parte do plano.
— Na próxima vez avise antes e peça permissão.
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— Avisou sério.
— Está tudo bem? — Perguntei, notando o quão
sério ele estava.
— Lembre-se que aqui dentro eu sou seu chefe e
não seu namorado, não posso ficar passando a mão
na sua cabeça a cada erro que cometer. — Explicou
e dessa vez fez questão de olhar-me nos olhos.
Não sabia ao certo o que o seu olhar estava
querendo me dizer. Mas uma coisa era certa, não
havia o mesmo brilho de antes. Desde a noite
anterior — que eu nem sabia como havia terminado
—, ele estava me tratando com total indiferença e
isso estava me incomodando. Por mais que
soubesse que deveria me acostumar com a
distância, já que logo estaríamos separados.
Logo é maneira de dizer, demoraria ao menos
seis meses para que o contrato fosse realizado com
sucesso, assim eu poderia desaparecer da vida do
Alan.
Talvez eu tivesse ficado alguns segundos parada na
frente da mesa dele, olhando-o.
— Agora já pode retornar para a sua mesa, tenho
trabalho para fazer. — Avisou, apontando a porta
para que eu saísse.
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Algo estava muito estranho.


Será que a reunião da noite anterior não fosse
de trabalho?
Será que ele havia encontrado outra pessoa?
O contrato estaria indo por água a baixo?
Quem eu estava querendo enganar? Não estava
preocupada com o contrato naquele momento. Só
de imaginar que ele estaria saindo com outra
mulher e talvez gostando da mesma, o meu coração
martelava.
É claro que eu sabia que ele teria que se
apaixonar quando eu fosse embora, mas enquanto
eu estava aqui ao seu lado, gostaria de ser única em
sua vida.
Ao mesmo tempo desejava que ele estivesse se
apaixonado por outra pessoa, assim ele não ficaria
triste quando rompêssemos.
Ainda pela internet — como não havia trabalho
a ser feito —, procurei por algumas lojas na cidade
que vendessem roupas infantis. Iria preparar tudo
como havia visto em um vídeo na internet.
Começaria comprando uma pequena caixa,
onde colocaria dentro uma roupinha — na cor
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branca —, já que não “sabíamos” ainda o sexo do


bebê inexistente. Logo em cima colocaria a folha
do exame médico dobrada — tampando a roupa —
e um teste de gravidez de farmácia em cima da
folha.
Analisando de longe toda essa situação, quem
não soubesse que eu não estava grávida e que tudo
aquilo fazia parte de um plano, imaginaria que seria
a surpresa mais bonita e agradável em relação a
notícia de um bebê.
— Selena? — Alan chamou a minha atenção,
talvez já estivesse falando comigo por minutos e eu
não estava prestando a atenção.
— Desculpe, sim? — Perguntei, fechando
rapidamente as abas abertas no computador.
— A internet que eu disponibilizo para você é
somente para fins de trabalho, por favor preste mais
a atenção. — Pediu, de um jeito mandão, que
despertava certos sentimentos em mim.
— Prometo que não irá se repetir senhor. — Estava
com vontade de chorar.
— Preciso do relatório que pedi para você fazer até
a data de hoje. — Falou, esperando que eu
entregasse o mesmo.
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O problema é que eu ainda não havia finalizado


o relatório, faltavam apenas duas páginas, o que eu
demoraria cerca de 15-20 minutos para concluir.
— Ainda não terminei. — Falei baixo, como se
estivesse envergonhada.
— Quando a senhorita chegou na empresa,
melhorou muitas coisas. O problema é que sinto
que você está lenta nos últimos dias, está havendo
algum problema? — Perguntou, esclarecendo suas
dúvidas.
A. Eu tinha sim um problema e ele se chamava
ALAN.
B. Eu havia feito um contrato com o seu pai, para
me casar com você.
C. Eu estou fingindo uma gravidez para que
possamos casar mais rápido.
D. Eu não estou gostando da maneira como você
vem me tratando.
E. Eu quero fugir.
Eu poderia ter citado muitos outros problemas
que estavam interferindo na minha vida
profissional na empresa naquele momento. É claro
que eu não poderia dizer tudo em voz alta, já que
Alan era o alvo principal de tudo.
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— Desculpe senhor, prometo que não irá se repetir.


— Precisei repetir a mesma frase de antes,
recebendo em troca apenas um sinal de positivo
com a cabeça.
Eu precisava voltar a ser mais prestativa como
ele havia dito. No início quando comecei a
trabalhar na empresa, mesmo que não soubesse
muito bem o que estava fazendo, ainda assim
consegui surpreendê-lo com os objetivos e
aperfeiçoamento que trazia comigo.
Quem sabe, se eu voltasse a ser a mesma
Selena de antes, ele ficaria mais feliz com o
rendimento que iria trazer para empresa.
Como o esperado, demorei cerca de quinze
minutos para concluir o relatório e enviar para o e-
mail dele. Nós não costumávamos imprimir todos
os relatórios, já que deixávamos em uma pasta
especial para o assunto.
Sei que ele demoraria horas lendo e analisando
todo o trabalho feito pela empresa e todas as
anotações feitas por mim, mas acreditaria que por
fim teria feito um bom relatório, como de costume.
— O senhor precisa de mais alguma coisa? —
Perguntei, antes mesmo de entrar em sua sala.
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Já estava na hora de irmos para casa e ele


digitava freneticamente no teclado do seu
computador.
— Não. — Negou.
— Alan, você irá para o meu apartamento? —
Agora tratei-o como se ele fosse meu namorado e
não meu chefe.
— Nesta noite não poderei. — Respondeu.
Era interessante como ele não desprendia a
atenção da tela do seu computador.
Algo estava muito errado.
— Boa noite. — Quando estava quase saindo da
sala, ouvi meu nome ser chamado.
— Selena? — Alan estava agora em pé ao lado da
sua mesa, olhando-me.
— Sim?
— Venha até aqui. — Pediu, dessa vez estava
falando de maneira calma.
Caminhei até ele com pressa, estava com
vontade de abraça-lo, mas esperaria alguma atitude
vinda do mesmo.
Quando por fim cheguei à sua frente, ele
envolveu seus braços em volta do meu corpo,
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dando-me um forte abraço e colocando sua testa


encostada na minha.
— Boa noite. — Beijou a minha testa, como na
noite anterior, e senti vontade de dar-lhe um soco.
Embora eu fosse sua namorada e ali na empresa
não era lugar de “pegação”, resolvi arriscar do
mesmo jeito.
Segurei seu rosto com todo o cuidado para que
não o machucasse e lhe beijei.
Assim que nossas bocas se encontraram, não
houve quem nos separasse. No início ele parecia
não querer o beijo, mas no fim cedeu. O beijo deve
ter durado cerca de um minuto, antes de ele nos
separar.
— Agora sim, uma boa noite. — Falei, saindo feliz
do seu escritório.
Estava satisfeita por tê-lo beijado e um pouco
chateada por ele ter nos separado, mas como sabia
— era fácil perceber —, ele estava chateado e um
beijo já significava muito na minha opinião.

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CAPÍTULO 34

Iria aproveitar que Alan não iria para o meu


apartamento e passar no shopping para comprar
tudo que eu iria precisar para fazer a “surpresa”. O
bom do shopping é que as lojas ficam abertas até
mais tarde, ou seja, quando preciso sair do trabalho
e passar lá ainda está tudo aberto.
Uma moça me ajudou a escolher a roupinha
certa para levar. A cor seria tanto para um sexo,
quanto para o outro. Ou seja, amarelo. Por alguns
segundos senti vontade de chorar e senti uma
lágrima escorrer pela minha bochecha.
A vendedora falou que era normal eu sentir
vontade de chorar — porque eu estava grávida do
meu primeiro bebê — mal sabia ela que eu não
estava grávida.
Quanto mais mentiras eram contadas, mais
pessoas se envolviam nessa história louca de
contrato.
— Espero que seu namorado goste da surpresa. —
A vendedora comentou, assim que ela me entregou
a sacola.
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— Eu também. — Sorri forçado, mesmo sabendo


que ela estava sendo sincera.
Uma loja ao lado continha àquelas caixinhas e
tudo que eu precisasse para decoração. Optei por
uma caixa branca quadrada, não era muito pequena
e nem muito grande.
Não sabia ao certo se ligaria para Alan pedindo
para que ele viesse até o meu apartamento porque
precisávamos conversar ou se esperaria para levar
até o escritório no dia seguinte.
Eu estava ansiosa demais para esperar.
Pensei em mandar uma mensagem, pelo horário
talvez ele já estivesse em casa.
“Alan, você já jantou?”
Selena
Iria perguntar o básico, caso ele respondesse
que não, iria convidá-lo para ir até o meu
apartamento para que pudéssemos jantar juntos.
Cerca de meia hora depois, ele resolveu
responder à mensagem.
“Fiz um lanche no caminho para casa, acabei de
chegar.”
Alan
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Quando tudo resolve dar errado, não tem nada


que eu possa fazer.
“Seria demais pedir para que você viesse até o meu
apartamento?”
Selena
Não sei ao certo como ele reagiria lendo aquela
mensagem, já que no escritório ele já havia avisado
que não iria vir comigo nesta noite. Mas como eu
nunca desisto, não importava ter que pedir mais
uma vez.
“Podemos deixar para amanhã? Estou cansado.”
Alan
É claro que nós poderíamos deixar para
amanhã, quem estava com pressa? Eu!
Aos poucos ficava ainda mais chateada com o
seu desinteresse comigo, a minha vontade era de
entrar no carro e ir até o seu apartamento.
Boa ideia.
Faria uma surpresa para ele.
Peguei o que seria necessário para levar até a
sua casa e também uma muda de roupa caso eu
ficasse para dormir, assim poderia ir na manhã
seguinte direto para o trabalho.
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Estava com medo de como ele pudesse reagir


com a minha visita inesperada e tinha ainda mais
medo de que ele estivesse fazendo alguma coisa de
errado.
Ainda no caminho, resolvi mandar outra
mensagem para saber o que ele estava fazendo, não
diria que estava indo até seu apartamento.
“O que está fazendo?”
Selena
E não demorou muito para que ele respondesse,
quem sabe estivesse com o celular em mãos.
“Deitado, assistindo televisão.”
Alan
Eu esperava que de fato ele estivesse apenas
assistindo — de preferência sozinho —.
O homem que ficava na portaria já me
conhecia, mesmo porque o meu nome já estava
disponível para entradas, sem necessitar ligar para
o apartamento do Alan.
— Boa noite. — Saudei, assim que o vi.
— Boa noite moça. — O senhor falou, abrindo o
portão para que eu pudesse passar.
Infelizmente precisava deixar o carro do lado
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de fora, mas sempre pedia para que o porteiro desse


uma olhadinha de vez em quando, assim, sempre
que eu saía do apartamento de Alan, dava-lhe uma
gorjeta pelo trabalho feito.
Subi até o apartamento do meu namorado, que
ficava no terceiro andar. Não utilizei o elevador
dessa vez, preferi subir as escadas.
Bati duas vezes, que foram suficientes para que
Alan abrisse a porta.
Ele ficou parado me analisando, como se eu
fosse uma estranha que tivesse batido na porta
errada, pensei por um segundo que não iria me
convidar para entrar em seu apartamento.
— Entre. — Pediu, dando espaço para que eu
entrasse.
— Estou interrompendo? — Perguntei.
— Não, só estou surpreso. — Confessou. — Pensei
que tínhamos combinado de nos vermos amanhã.
— Na verdade combinamos de você ir até o meu
apartamento amanhã. — Corrigi, mesmo sabendo
do que ele estava falando.
Alan deu um sorriso forçado e em seguida
olhou para a caixa na minha mão, em seguida
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voltando a me olhar nos olhos.


— O que é isso? — Perguntou, apontando para
caixa.
— É um presente para você. — Respondi,
esticando para que ele pegasse.
— Estou esquecendo alguma data especial? Eu não
comprei nada. — Dessa vez era como se todo o
clima ruim tivesse desaparecido.
Alan estava bobo por estar recebendo um
“mimo”.
— Não esqueceu nada, apenas abra. — Pedi.
Ele tirou a fita que dava acesso a tampa da
caixa, retirando-a com cuidado. A primeira reação
dele foi arregalar os olhos, sabia que ele entendia o
que significava o pequeno objeto ali dentro.
Alan não desgrudou os olhos por nenhum segundo
de dentro da caixa.
— O que é isso? — Sussurrou baixo, como se
estivesse falando sozinho.
Retirou o papel com cuidado, desdobrando-o
para ler o que continha dentro.
— Você está grávida? — Perguntou e dessa vez me
permitiu olhar dentro dos seus olhos, que
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continham um brilho diferente.


Não respondi com palavras, apenas mexi a
minha cabeça positivamente.
Pensei que ele não iria retirar a roupinha que
havia comprado da caixa, olhou-me como se
estivesse preocupado.
Alan cheirou a roupinha e fechou os olhos,
permanecendo assim por segundos seguidos.
Ele estava gostando?
Eu estava me detestando por fazer aquilo com
ele.
Eu não era assim.
Eu não teria dinheiro para pagar tudo de uma
vez o contrato.
— Quando você soube? — Perguntou.
— Essa manhã, quando cheguei atrasada. —
Respondi.
— Desculpe por ter sido grosseiro com você mais
cedo. — Pediu desculpa, aproximando-se.
— Aconteceu alguma coisa? — Perguntei
preocupada.
— Apenas um projeto que está dando problema e

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estou ficando nervoso, não se preocupe. — Avisou.


Estava aliviada por saber que o problema que
Alan estava enfrentando não tinha nada haver
comigo e sim com a empresa.
Ele me abraçou apertado.
— Nós teremos um bebê. — Falou animado.
— Você está feliz? — Perguntei, mesmo já
sabendo da resposta.
— Muito. — Respondeu e em seguida me beijou.
Ele estava feliz com a notícia que seria “papai”
e eu estava dando e tirando a felicidade dele ao
mesmo tempo. Sentia-me a pior pessoa em fazer
isso e se caso alguém descobrisse tudo iria pelos
ares.
Não poderia pensar na hipótese de alguém
descobrir sobre o contrato. Precisava casar e passar
seis meses maravilhosos ao lado do Alan, sem
ninguém ao menos desconfiar de nada.
Gostaria de fechar os olhos e poder me
transportar para outro lugar e levar Alan junto
comigo, onde ninguém nos achasse, assim
poderíamos viver para sempre juntos e sendo
felizes, sem decepções maiores.
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CAPÍTULO 35

Não conseguia imaginar a minha vida sem Alan


do meu lado.
Ver o quão feliz ele ficou ao saber que seria
pai, foi algo bom e ao mesmo tempo ruim e por
mais que eu desejasse que aquele momento
passasse de pressa, era como se eu precisasse
passar por tudo aquilo e viver cada momento de
cada vez.
Sabia que chegaria uma hora em que ele não
estaria ao meu lado. E que quando essa hora
chegasse, eu estaria no fundo do posso e teria que
voltar para a minha vida medíocre novamente.
Eu já não me sentia orgulhosa e feliz com o
trabalho que eu tinha.
Sequer que um dia eu tenha sido mesmo feliz
fazendo o que eu fazia.
Mamãe só passara a ter orgulho depois que eu
comecei a namorar com Alan e trabalhar na
empresa que era dele. Ela via isso
Alan estava passando a mão na minha barriga,
por algum motivo olhar nos seus olhos mostrava
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outra pessoa. É como se a qualquer momento ele


fosse chorar e eu não entendia muito bem o motivo.
É claro que se ele esperava mesmo ser pai, caso
sentia essa necessidade, ele ficaria feliz. Mas já se
passara algumas horas, ele poderia estar em estado
de choque ainda.
— Será um menino ou uma menina? — Perguntou
sorridente.
— O que você quer que seja? — Perguntei,
imaginando que ele responderia “menina” porque
normalmente é o que todo “papai” deseja.
— Não tenho preferencia, estarei feliz de qualquer
jeito. — Respondeu, dando de ombro.
Achava linda a maneira como ele era calmo
com esse assunto, mas o que eu queria mesmo era
chegar ao assunto principal. O problema é que seria
estranho se eu pedisse para que ele casasse comigo.
Por mais que o mundo estivesse moderno agora,
não tinha nada haver comigo pedi-lo em
casamento.
— Alan? — Chamei por seu nome, já que o mesmo
estava distraído olhando para o teto.
— Sim. — Olhou nos meus olhos.

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— Como vai ser agora? — Perguntei.


— Você pode ir morar comigo. — Respondeu.
Não queria que as coisas acontecessem daquela
foram. Por mais que a “gravidez” fosse inventada e
tivera acontecido antes de uma união, eu não queria
que nós nos ajuntássemos, mesmo porque no
contrato estava claro que teríamos que ter uma
cerimonia de união.
Algo que eu ainda não havia pensado é que
como iremos nos separar, dependendo de como o
contrato for assinado, eu posso optar em não dividir
os bens. Ou seja, não irei levar nada que for de
Alan comigo.
Se eu já me sentia culpada em estar brincando
com os sentimentos do Alan — mesmo contra a
minha vontade — já que agora eu passara a amá-lo.
— Você não pensa em casarmos? Antes de o bebê
nascer? — Perguntei, mesmo estando um pouco
envergonhada em tocar no assunto.
— Caso você queira, podemos nos casar no civil.
— Respondeu.
No contrato, o senhor Estevan deixou claro que
tudo deveria acontecer “naturalmente” como se

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fosse realmente um casamento de verdade. Ou seja,


o casamento na igreja também deveria acontecer.
— E na igreja? — Perguntei.
Após o casamento, eu teria que ficar no mínimo
seis meses casada com Alan e querendo ou não,
seria difícil por estar mentindo sobre a gravidez.
— Se você quiser podemos marcar a data. —
Avisou.
É claro que Alan não estava tão “empolgado”
com o casamento como eu estava. A
questão era que quanto antes tudo ocorresse,
melhor seria para mim.
Como ele estava com o notebook em mãos,
começou a pesquisar coisas para o nosso
casamento, mesmo sem eu pedir. O que me deixou
um pouco mais ansiosa.
— Quando iremos contar para todos? — Perguntou
ansioso.
— Nós podemos contar apenas quando formos
entregar os convites. — Respondi.
— Uma ótima surpresa. — Respondeu.
Fiquei imaginando como minha mãe e minha
irmã se sentiriam com a notícia de que eu iria me
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casar e de que eu estava grávida. Garanto que a


segunda notícia seria ainda mais difícil — já que eu
não estava grávida — e que seria difícil mentira
para elas.
A questão é que normalmente as pessoas
querem viver passo a passo de uma gravidez — e
eu não era diferente — o grande problema é que eu
não poderia compartilhar nada com ninguém. Teria
que fingir algo muito sério para não mostrar a
barriga para ninguém e não deixar ninguém me
tocar.
Quem sabe se eu fingisse uma depressão, as
pessoas permaneceriam longe por mais tempo e
assim eu não precisaria me preocupar com a
pressão e o medo de ser descoberta.
Eu estava me sentindo suja.
Se alguém descobrisse o que eu estava
planejando tudo iria por água abaixo.
Eu não queria perder Alan.
E sabia que se ele descobrisse tecnicamente a
mamãe e a Sabrina também iriam descobrir e com
isso com certeza perderia as duas.
Eu não conseguia imaginar vivendo sem a

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minha pequena família. Talvez, onde papai


estivesse agora e se estivesse vendo tudo o que eu
estava aprontando, com certeza não teria orgulho
nenhum do que eu me tornei hoje. Quer dizer, se
fomos olhar no momento em que fiz o contrato —
eu realmente não me valorizei — e ainda brinquei
com os sentimentos de outra pessoa. Mas agora, eu
havia criado sentimentos por Alan, de alguma
maneira ele havia me mudado. Eu já não era mais a
mesma mulher que era paga para encontrar outros
homens e frequentar eventos, essa já não era mais a
minha vida.
O problema era: por mais que eu o amasse,
ainda assim não era corajosa o suficiente para
contar toda a verdade. E se eu permitia que Alan
sofresse isso não poderia ser chamado de AMOR.
Eu não o amava?
Se eu não o amava, o que eu estava sentindo?
Eu gostava da pessoa que havia me tornado
quando estava com ele.
E gostava da pessoa que ele havia se tornado
quando estava comigo.
— No que está pensando? — Perguntou Alan,
percebendo que eu já não estava tão focada nas
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imagens que ele me mostrava no computador.


— Em como vai ser quando o bebê nascer. —
Respondi, mentindo.
— Garanto que vamos ser uma família feliz. —
Afirmou, cheio de certeza.
— Assim eu espero.
Como eu fazia para fingir que nada estava
acontecendo dentro de mim?
Como eu poderia ser tão falsa com uma pessoa
que eu amava tanto?
O amor que Alan me dava não era merecido.
Em questão de segundos eu já estava com
lágrimas nos olhos, até quando continuaria a
chorar? Alan não entendia os meus motivos, mas
mesmo assim permanecia ao meu lado. Talvez não
da maneira como antes, mas continuava ali.
Olhando-me atento a qualquer detalhe que eu
deixasse escapar.
— Alan? — Chamei.
— O que? — Perguntou.
— Não esquece nunca que eu te amo. — Contei.
— Eu sei disso, eu também te amo. — Falou,
dando-me um selinho.
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— Mas eu quero que saiba que eu amo você e que


estar ao seu lado foi a melhor coisa que me
aconteceu. — Afirmei, puxando-me para um
abraço.
Por mais que eu não sentisse que ele estivesse
100% comigo, ainda assim poderia facilmente
sentir o calor do seu corpo; A maneira como se
arrepiava quando eu chegava perto de mais do seu
pescoço; O sorriso que deixava escapar; As vezes
que o pegava olhando-me como se tentasse
enxergar além do que poderia.
Eu já havia convivido tempo o suficiente ao seu
lado para perceber como ele agia. E quem sabe ele
também soubesse como eu era de verdade.
Talvez eu estivesse sendo engana também.
Quem sabe não fosse nada daquilo que eu
imaginava.
Poderia não ser amor o que eu estava sentindo,
mas eu ainda não sabia como poderia definir tal
sentimento.
Eu só esperava que nunca acabasse.

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CAPÍTULO 36

Estava radiante com os preparativos para o


nosso “falso” casamento que não demoraria muito
para chegar. Quando fomos procurar uma igreja e
um salão onde aconteceria o casório, quase todas as
datas haviam sido preenchidas e com isso tivemos
que encurtar o tempo ainda mais, trazendo o
casamento para daqui três semanas.
Posso afirmar que o senhor Estevan foi a
pessoa que ficou mais feliz com a notícia de que
finalmente seu filho iria se casar. Tratou-me como
se eu fosse a melhor nora que ele poderia ter e
todos acreditaram na sua farsa — menos eu — que
já sabia o motivo pela tamanha felicidade.
Eu tentava fingir que nada estava acontecendo
— em relação ao contrato —, procurava ser o mais
natural por conta disso.
Como o esperado, mamãe e Sabrina reagiram
como se estivessem impressionadas com a notícia e
também comentaram sobre ser — cedo demais —,
mas quando ouviram a outra notícia — um tanto
mais importante — sobre eu estar grávida, elas

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entraram em estado de choque.


Se por um lado Sabrina deu gritos de alegria
por ser tia e madrinha do casamento, por outro lado
mamãe estava um pouco tensa pelo fato de eu ter
filho antes do casamento. Para ela isso sempre foi
considerado “errado”, pois foi a maneira como a
ensinaram ver a vida.
Mas não demorou muito para que ela e a mãe
do Alan estivessem fazendo planos — como, por
exemplo, como seria a decoração do quarto —,
mesmo não sabendo o “sexo do bebê que nem
existia”.
Posso lembrar-me do dia em que contamos
claramente.
Nós havíamos combinado de fazer um jantar na
casa dos pais de Alan — já que a mesma era maior
— e assim combinamos com minha mãe e Sabrina
de comparecerem também.
Estava um pouco nervosa porque não sabia a
maneira como a mãe de Alan lidaria com a notícia
que seu filho seria pai antes de casar, mas ela
pouco se importou com esse pequeno detalhe. O
que importava para ela era saber que seu filho e eu
iriamos nos casar e que em breve seria vovó de um
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menininho ou uma menininha.


Em questão desse detalhe de estar “grávida”,
já havia deixado claro para o senhor Estevan que
era tudo uma farsa e que faria de tudo para que
eles não descobrissem. O mesmo me assegurou que
me ajudaria com esses custos — caso fosse
necessário —, porém o valor que eu recebia era
mais que o suficiente para comprar uma barriga
falsa.
Minha mãe e a senhora Helena, discutiam
como seria a decoração do quarto.
— Eu acho que se for menina deveria ser rosa com
branco. — Mamãe comentou.
— E se for menino azul com branco. — Helena
comentou.
Era incrível que eu não estava tendo a chance
de opinar em como seria o quarto do meu próprio
“filho”, mas deixaria isso de lado, já que não
havia criança nenhuma dentro da minha barriga.
A minha irmã já não se importava tanto com
esses detalhes de cores e de como o bebê se
vestiria. A sua maior preocupação era que seria
madrinha e era o que realmente importava.

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— Eu vou mimar tanto esse bebê. — Passou a mão


na minha barriga, fazendo uma voz estranha, como
se de fato estivesse conversando com alguém ali.
Era preocupante ver a maneira como ficaram
empolgados com a notícia da gravidez e do
casamento. A minha vontade era que eles não se
importassem tanto, mesmo sabendo que isso seria
impossível. Quanto menos eles ficassem próximos
de mim, melhor seria.
Pensei em planejar uma viagem, talvez
procurar por novos compradores de terrenos que
moram fora do Brasil, que tivessem alguma
vontade de vir construir um prédio ou qualquer
coisa que fosse. Essa maneira seria ótima para me
afastar, mesmo sabendo que Alan não me deixaria
ir sozinha.
Eu tinha uma falsa consulta marcada para as
10h30min com a minha médica que me estava
“acompanhando” nesta gestação. Em vez de ir para
uma clinica, aproveitava para dirigir o meu carro o
mais longe que poderia ir assim ninguém
desconfiaria de nada.
Na minha cabeça, já estava montando uma
história para evitar qualquer contato físico comigo,
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como uma possível doença. Precisava fazer


algumas pesquisas na internet, para manter todos
longe. Não queria ninguém se encostando-se a mim
ou na minha barriga.
— Como foi à consulta? — Alan perguntou, assim
que chegou ao meu apartamento.
— Normal. — Dei de ombros.
— Ela não falou nada? — Perguntou.
— Ela disse que talvez eu possa passar por uma
complicação e que eu devo evitar muitas pessoas
me tocando. — Respondi.
Alan achou estranho a minha resposta, mas
procurou ignorar o que eu havia dito. Sabia que as
minhas respostas estavam ficando cada vez mais
confusas, nem eu estava mais acreditando nas
minhas próprias mentiras.
— Está com fome? — Perguntou.
— Muita. — Respondi.
— O que acha de uma sopa? — Perguntou,
lembrando-me do frio que estava fazendo.
— Você quer que eu faça? — Ofereci.
— Pode deixar que a janta de hoje é por minha
conta. — Respondeu, direcionando-se até a
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cozinha.
Alan realmente estava sendo cuidadoso comigo
todo esse tempo e eu sentia que mesmo mentindo
para ele, deveria retribuir de alguma maneira.
Como logo eu teria que evitar qualquer contato
com ele, planejei que poderíamos ter uma noite de
amor, talvez fosse a última e eu não poderia perder
a oportunidade.
Poderia ser a última porque a qualquer
momento alguém poderia descobrir sobre o
contrato e tudo acabaria. Eu não iria ter nem sequer
uma última oportunidade de me despedir, mesmo
sabendo que sentia a falta dele depois.
Enquanto ele preparava a nossa janta, resolvi ir
até o nosso quarto, deixar tudo preparado. Na
verdade eu não tinha nada em mente do que poderia
fazer ali, ainda mais tendo poucos minutos.
Como ele adorava tanto a cor branca, quarto a
cor vermelha, resolvi que trocaria as roupas de
cama, para vermelho, assim chamaria mais a sua
atenção, com certeza ele entenderia o recado.
Por baixo da roupa que eu estava usando,
procurei um conjunto de calcinha e sutiã brancos,
havia utilizado apenas uma única vez e seria
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perfeito para aquela noite. Voltei com a roupa que


eu estava vestida para que ele não desconfiasse de
nada e sentei no sofá novamente.
— Onde você estava? — Ouvi Alan perguntar da
cozinha.
— No banheiro. — Menti.
— Não escutei o barulho da descarga. —
Comentou.
— Esqueci.
Fui até o banheiro e puxei a descarga para
fingir que realmente havia me esquecido de puxar a
mesma e retornei.
Não demorou muito para que a sopa estivesse
pronta — e por sinal estava maravilhosa —, assim
como as outras comidas que Alan costumava
preparar. Ele sempre fora o melhor neste quesito,
apesar de eu saber cozinhar.
Era incrível como alguém poderia ser tão bom
em tantas coisas.
E imaginar que o seu pai reclamava tanto.
Como poderia ser mais perfeito?
Ele me olhava desconfiado e fazia questão de
sorrir daquela maneira que só ele sabia fazer. O seu
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olhar era intenso. Ele tentava desvendar cada traço


meu.
— Está ansiosa para o casamento? — Perguntou.
— Um pouco. — Respondi.
— Na verdade nós quase moramos juntos. —
Comentou.
— Digamos que seja isso, só que precisamos
acrescentar o nosso filho. — Comentei.
Não que ele se esquecesse de incluir o nosso futuro
filho no que fazíamos, mas era normal que citasse
apenas nós dois.
Alan comentou sobre novas empresas estarem
interessadas em fazer novas parcerias e assim
fazendo com que sua empresa de construção civil
cresça ainda mais.
Era empolgante escutá-lo falar do trabalho, seus
olhos chegavam a brilhar quando citava algum fato
que havia acontecido.
Realmente não conseguia imaginar os defeitos que
seu pai havia colocado no mesmo. Era como se o
fato de eu ter entrado na sua vida tivesse o
transformado.
O que seria do mesmo quando eu fosse embora?
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Será que ele voltaria a ser quem era antes?

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CAPÍTULO 37

Eu estava bonita por dentro e por fora? Nada


significava ao ver tamanha organização do
casamento que estava prestes a acontecer.
Antes mesmo de tudo acontecer, de
organizarmos a festa — com direito a igreja, salão,
DJ, fotógrafos, buffet —, organizei algo muito
pessoal para Alan. Na verdade, ele só encontraria o
que eu havia preparado caso nós terminássemos e
ele de alguma maneira houvesse descoberto o
contrato.
Não que eu quisesse que ele descobrisse —
nunca na verdade —, mas a possibilidade era de
50% e eu teria que arcar com as consequências.
Mesmo que ele me odiasse para sempre, teria
que preparar algo para deixar para ele. A minha
intenção não era que ele se lembrasse de mim —
muito pelo contrário — isso faria com que ele
sofresse ainda mais. Mas eu precisava de alguma
forma mostrar que eu o amei. Talvez tenha
demorado um pouco para reconhecer que era amor
— mas que eu era fraca o suficiente para persistir

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neste contrato —. Sabia de uma maneira ou de


outra, que se caso rompesse com seu pai, eu não
teria dinheiro para pagar a divida e ainda seria
descoberta.
O silêncio me pareceu ser a melhor solução.
A primeira coisa que resolvi procurar era uma
música. Algo que descrevesse o que estávamos
passando e que o deixasse calmo, pelo menos o
suficiente para que lesse o resto do que eu iria
preparar.
E de fato não foi fácil procurar e preparar tudo.
Principalmente porque agora eu estava “grávida” e
sempre estava com alguém por perto. Mas por
sorte, eles não me tocavam. Alan não se
aproximava da minha barriga — pela mentira que
havia contado da doença —.
“Vai me perdoando
Esse meu jeito estranho
Eu sei que fez você sofrer
Tudo era mentira
E você quis pagar pra ver

Sei que é a hora


Hora de dizer adeus
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Vai me perdoando
Esquece aqueles planos
Tudo o que eu te prometi
Sei que é difícil encarar que seja o fim
Mas vai me perdoando enfim

Vai perdoando alguém que sempre só quis o seu


bem
E vai lembrando que o ser humano erra também
Nunca mais chore por amor

Perdoa, por favor, entenda


Vai perdoando que o destino te trará alguém
E com os anos você vai se esquecer, meu bem
Nunca mais chore por amor
Perdoa, por favor, entenda”
Vai me perdoando, Victor e Leo, Compositor: Paulinha Gonçalves

E aquela talvez não fosse a música perfeita,


mas com certeza dizia muito do que estava
acontecendo e foi a escolhida. Baixei o vídeo do
Youtube, onde coloquei em uma pasta que dizia
“Desculpe-me, estou com saudade.”.
Mesmo que eu estivesse escrevendo agora —
no presente —, sabia que lá na frente, caso algo
fosse descoberto, eu com certeza estaria com
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saudade do Alan. Não teria como alguém não sentir


falta da sua presença, da sua voz, do seu toque, não
havia ninguém que pudesse substituí-lo.
E mesmo que eu já estivesse escutando a
música pela décima quinta vez, era algo que se
tornava repetitivo. Não conseguia parar. Eu estava
tão fraca, tão cansada, tão cheia de tudo, que a
única coisa que eu queria era chorar e colocar a dor
para fora.
E agora me faltava a inspiração para escrever
um texto descente que descrevesse o que eu sentia
por Alan. Não queria que fosse algo clichê, mesmo
porque quando se é algo assim, pode-se dizer que
ele pensaria que fora falso. Mas caso eu não me
importasse de fato, não estaria me preocupando em
deixar algo para ele.
Eu não sei por onde começar. Quer dizer, digamos
que a música foi um pequeno começo, certo? Caso
você esteja lendo esta mensagem agora, é porque
você de alguma forma descobriu toda a verdade. O
meu coração não desejava que fosse assim.
Quando o senhor Estevan me propôs um casamento
com o seu filho — que até então era cheio de
defeitos, sendo o principal sem responsabilidade

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—, achei que de fato estaria ajudando de alguma


forma. Afinal, para ele você era o garanhão, que
não se preocupava com a vida, com a empresa,
com sua família. Mas quando lhe conheci, mostrou-
me ser totalmente daquilo que eu escutei. E talvez
fora no momento em que comecei a conhecer
suas qualidades que a ficha caiu, mas já era
tarde demais. Não posso de maneira alguma
esconder o que fiz, e não me orgulho disso. Eu
poderia ter contado para você assim que o meu
coração começou a bater mais forte, mas a
necessidade de tê-lo falou mais alto. E quem sabe
fora por isso que não me fiz forte, a atitude de ir
até você não aconteceu. E eu chorei por noites
seguidas pensando em como seria quando eu
finalmente tivesse que ir embora. Afinal, eram só
seis meses casados. Mas Alan, você foi muito
mais que um amor por contrato. Você me
mostrou novamente o sentido da vida e de amar.
Chegou como uma luz, iluminando a minha vida.
Você com certeza pode perceber quando conheceu
a minha família — quando elas finalmente
souberam que estávamos juntos —, não tinha como
alguém estar perto de você e não estar feliz. E eu te
peço desculpa por tê-lo enganado. Não apenas em
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relação ao contrato, mas sim pela falsa gravidez.


Eu não sei se um dia irá me perdoar, mas com
essa mensagem queria deixar claro que eu amei
você. Mas eu fui fraca. Irei terminar esta
mensagem com um texto que achei na internet,
espero que leia até o final.
“Por vezes, nossa cabeça dificulta tudo. Outras
vezes é o coração que não ajuda. E outras se devem
ao fato da precipitação estar inerente ao ser
humano. Eu errei com você. Errei comigo. E estou
pedindo desculpa por ter sido tão cruel. Acredite
que você seria a última pessoa que queria
machucar, mas é sempre assim. A gente acaba
magoando quem mais gosta e isso me deixa
profundamente abalado. Me perdoa, por favor!

O ser humano vive cheio de imperfeições, cheio de


falhas em seu sistema, repleto de capacidades
negras, mas o ser humano é também sinónimo de
aprendizagem e de melhoramento. Tenho certeza
que estou aprendendo com meus erros. Este último,
poxa vida, este último tem sido uma escola para
mim. E é por isso que eu sei que vou mudar, vou
virar uma pessoa melhor e mais correta com você.
Isso é o mais importante para mim – compensar
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meu erro que tanto tem feito você sofrer. Preciso de


seu perdão.
Prometo que nunca mais vou machucar você.”
Com amor e saudade, Selena.
Como uma pessoa poderia chorar tanto. Agora,
imaginava quando e se Alan descobrisse tudo. Será
que ele também choraria? Será que doeria nele o
que estava doendo em mim ou ainda mais? Quem
sabe para o homem não doesse na mesma
intensidade — mas seria infantil da minha parte
pensar assim —, ele tinha o direito de sofrer ainda
mais do que eu, e quem sabe eu nunca saberia.
— Selena? — Ouvi Alan chamar pelo meu nome e
antes de fechar tudo, salvei é claro.
O notebook estava fechado ao meu lado da
cama e Alan encostou-se na porta.
— Oi amor.
— Amanhã é o grande dia. — Falou animado,
aproximando-se com cuidado, talvez esperando que
eu o mandasse voltar.
— Está ansioso? — Perguntei.
— Muito, um pouco triste porque passaremos o dia
longe um do outro. — Sorriu e beijou a minha
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testa.
Seria um dia agitado. Começaria por ter que
ficar longe do Alan durante a manhã e tarde toda, já
que os “noivos” não podem se ver no dia do
casamento — segundo a mãe dele — e é claro que
nós resolvemos obedecer essa ordem.
— Serão por poucas horas, depois você terá todo o
tempo do mundo para ficar comigo. — Falei,
acariciando a sua barba.
Alan havia ficado um pouco vaidoso de uns
tempos para cá, dessa vez ele deixava a barba
crescer um pouco mais do que o costume, mas
cortava ela de uma maneira que se encaixava
perfeitamente em sua face, deixando-o mais
charmoso. Por mais que adorasse esse seu novo
estilo, sentia um pouco de ciúmes quando uma
empresária ou sócia de alguma empresa marcava
uma reunião com ele — deixando claro que eu não
poderia estar junto —. E como eu era a empregada
e precisava obedecer a ordens, não havia nada que
eu pudesse fazer.
— Estou indo para o meu apartamento. — Avisou,
dando-me um abraço, pegando-me desprevenida.
Com o fato do “bebê” poder correr riscos, nós
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havíamos cortado esses contatos físicos que


poderiam chegar até a barriga. Mas, dessa vez ele
resolveu arriscar e para falar a verdade, nunca havia
recebido um abraço dele tão apertado.
Não sabia ao certo se ele estava prevendo que
ficaria com saudade nesse curto período de tempo
que ficaríamos afastados, ou se realmente algo
estava acontecendo. Quem sabe fosse à
necessidade de receber um abraço, já que faltava
esse laço mais afetivo no ultimo mês que passamos
juntos.

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CAPÍTULO 38

Eu acordei emocionalmente destruída.


Não estava psicologicamente preparada para
mentir diante de todos que estariam presentes,
principalmente em uma igreja.
Era demais para mim.
Eu não estava feliz, não fora daquela maneira
que imaginei o meu casamento se realizando.
E por mais que mamãe e Sabrina estivessem
empolgadas com a nossa ida ao salão de beleza e
com todos os preparativos, a única palavra que eu
não estava aceitando de maneira alguma, que
realmente me incomodava era casamento.
Elas não entendiam o motivo pelo qual eu
estava tão estressada e chorona, mas o meu coração
sabia.
O notebook no qual eu estava mexendo na noite
anterior era de Alan e ele levou consigo quando foi
embora do meu apartamento — que em breve
estaria vazio —. Nós ainda não havíamos feito à
mudança de tudo que havia no meu apartamento
para o dele. Na verdade, havíamos levado poucas
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roupas, apenas o essencial para as primeiras noites.


— Filha, nós temos que ir para o salão agora. —
Mamãe avisou, despertando-me dos meus
pensamentos.
Para que me arrumar? Estaria sendo ainda mais
falsa daquela maneira. Gastando um dinheiro que
não era meu. Alan com certeza iria me achar a
maior golpista do mundo caso soubesse.
— Por que eu acho que você está desanimada para
o dia do seu casamento? — Sabrina me conhecia
melhor do que ninguém e sempre desvendava os
meus segredos.
— Nervosismo. — Menti.
— Não minta. — Avisou.
Aquele seu jeito de falar, fazia-me pensar que
ela sabia do que estava acontecendo, ou quem sabe
apenas estivesse jogando um verde para me fazer
falar. A melhor escolha que fiz foi continuar em
silêncio.
Em quanto eu “aproveitava” o meu dia de
noiva, imaginava como Alan estaria naquele
momento. Será que ele estaria com algum amigo
seu em um hotel — onde havia escolhido para a

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nossa lua de mel —, aproveitando também o seu


dia de noivo?
Pensei nas possibilidades daquele casamento
dar certo e permitir-me por um momento sonhar em
um final feliz. O que estava vindo à minha cabeça
era realmente o que o meu coração desejava.
Nós iriamos nos casar e por uma ironia do
destino eu iria perder o bebê — que não existia — e
assim ficaríamos ainda mais unidos. Após se passar
muito tempo, o senhor Estevan perceberia o quão
Alan era feliz ao meu lado e deixaria o contrato de
lado — então eu não precisaria pagar a multa —, e
aí sim começaria a construir a minha vida ao lado
do seu filho.
Mas esse sonho me parecia tão bobo.
Eu não poderia sonhar com algo que não havia
possibilidade alguma de acontecer. O senhor
Estevan já havia deixado claro o quão a sério ele
levava o contrato. E com certeza, caso eu
arrumasse uma forma de não pagar a divida, teria
que sumir da sua vida.
O meu sonho sempre fora ser mãe e ter
exatamente dois filhos. Não que eu não fosse
aceitar caso tivesse mais de dois, mas sempre
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sonhei dessa maneira.


Para a menina o nome já havia sido escolhido
anos atrás — quando eu ainda era uma criança —,
realmente quando somos menores temos esse
costume de nos imaginar adultos e agindo como tal.
E talvez esse fora o motivo para que eu já tenha
deixado tudo preparado. Laura.
Talvez fosse clichê dizer que havia escolhido
dois nomes com as letras iniciais e conheço de fato
muitas famílias que fizeram o mesmo. Lucas. Esse
seria o nome quando surgisse o menino.
Lembro-me bem quando ainda tinha os meus
doze anos e Sabrina com seis. Embora ela fosse
muito pequena, muitas vezes era a minha única
companhia e por isso era com ela que passava horas
conversando e contando os meus planos da vida
“adulta”.
Nós brincávamos com a minha casa da Barbie
— que por sinal — era composta por uma família.
Eram cinco bonecos. A mãe (Barbie), o pai (Ken) e
três filhos. Normalmente eu deixasse um bebê de
lado, porque era como se eu conseguisse imaginar
na minha frente como seria o meu futuro.
— Eu vou casar com o homem mais bonito do
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mundo e nós teremos dois filhos, a Laura e o


Lucas. — Contei para a minha irmã que não
entendia muito, quem sabe ela nem estivesse
prestando atenção em mim e sim nos bonecos.
Gostava de lembrar-me do meu passado —
quando eu ainda era inocente — e acreditava que
tudo daria certo.
Na verdade, a época em que papai esteve vivo
fora a melhor da minha vida. Era como se
pudéssemos aproveitar tudo — cada segundo —,
todos éramos mais felizes com a sua presença.
A morte de papai acabou conosco, pelo menos
uma parte de cada uma de nós três fora junto com o
mesmo. E por mais que eu quisesse — e desejasse
— voltar ao tempo para não cometer as burradas e
ser mais forte, fui fraca e continuo sendo.
Eu não estava preparada para entrar na igreja ao
lado de mamãe — que infelizmente — abraçou as
minhas mentiras e estava esperançosa que eu
realmente tivesse mudado de vida.
Era difícil acreditar que eu realmente havia
assinado aquele contrato.
Estava com vontade de beber algo forte, mas
sabia que se caso envolvesse bebida com a minha
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dramática história, não daria certo. Já que poderia


dizer coisas que me comprometeriam.
Faltavam poucas horas para que o casamento
acontecesse e como já havia mencionado antes,
estávamos no salão, aproveitando o dia da noiva. E
o meu cabelo estava pronto, na verdade escolhi
pelo coque um tanto bagunçado — afinal estava na
moda — e Alan já havia dito muitas vezes o quão
gostava do meu cabelo daquela maneira. Faria de
tudo para agradá-lo no dia do nosso casamento.
Não me sentia uma noiva de verdade — e não
era mesmo —, mas ao olhar-me para o enorme
espelho em minha frente, sentia-me linda. Não
exatamente pelo que eu era ou o que estava me
tornando, mas era uma mulher bonita.
Eu poderia ter vivido tanto.
Poderia não ter começado a trabalhar como
acompanhante.
Poderia ter investido em uma faculdade,
mesmo sabendo que naquela época não havia
dinheiro o suficiente para ajudar minha mãe e
Sabrina. Mas nos dias de hoje há tantas
possibilidades.
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— Em menos de duas horas você estará casada. —


Mamãe afirmou animada.
— Isso é bom? — Perguntei.
— É maravilhoso, ainda mais sabendo que é com
um homem como Alan. — Respondeu.
— Um homem como Alan? — Perguntei.
Ela parou por alguns segundos para pensar no
que havia dito ou quem sabe estivesse planejando
uma fala para explicar exatamente o que quis dizer
com isso.
— Selena, só eu e a Sabrina sabemos o quão Alan
faz diferença na sua vida. Você olha para ele como
eu olhava para seu pai quando ele estava vivo, é
amor. E sobre o Alan... É impossível falar dele e
não se sentir bem é um homem maravilhoso. —
Explicou.
Nunca havia reparado na maneira como eu
olhava para ele. Na verdade, não tem exatamente
como saber, já que eu teria que estar olhando de
fora para entender a minha reação.
Mas mamãe estava certa em dizer que Alan é
um homem maravilhoso, sobre isso não há dúvidas.
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Quando você é nova e te perguntam o que você


procura em um menino/homem, normalmente você
cria uma lista pequena/grande com os critérios que
deverão ser preenchidos. Não que você seja
exigente demais ou algo do tipo, mas sim porque
com o passar do tempo, a vida te trouxe prioridades
e expectativas, então tecnicamente é normal você
procurar um exato tipo de pessoa para ter um
relacionamento.
Não que eu me importasse em preencher uma
lista com as características ideais para se ter um
relacionamento. Na verdade, o meu único objetivo
sempre fora estar feliz e não se esquecer do que eu
sou.
Mas com Alan, talvez eu estivesse esquecendo-
se de como eu era. Mas não era por um lado ruim e
sim bom. Ele desenvolvera um lado meu que eu
não conhecia.
Eu com certeza estava feliz com o nosso
relacionamento — um tanto falso —, mas
verdadeiro o suficiente para despertar-nos o que
tínhamos de melhor.

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CAPÍTULO 39
Ponto de vista do Alan:
Faltavam poucos minutos para o inicio do meu
casamento com Selena e já estava me direcionando
para a igreja junto dos meus pais. Confesso que
estava ansioso para o momento mais importante da
minha vida.
Mamãe conversara comigo horas antes sobre
como a minha vida mudaria assim que eu me
casasse e começasse a dividir o mesmo teto que
minha futura esposa. E eu tinha certeza absoluta
que ela estava certa.
O problema é que ela não sabia que tudo era
uma farsa.
Eu estava preparado para dar continuidade
naquela loucura que eles haviam criado o contrato e
iria ver até onde aquilo daria.
— Os convidados já entraram você deve entrar
logo em seguida. — A mulher que havíamos
contratado para organizar o casamento avisou.
— Devo entrar agora? — Perguntei, sabendo que

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nós havíamos ensaiado apenas uma vez e que


talvez não tivesse sido suficiente.
— Em 5, 4, 3, 2, 1. — Assim que ela terminou sua
fala com o número 1, entrei calmamente na igreja,
sendo observado por todos os convidados.
Na verdade eram poucas as pessoas que foram
convidadas. Alguns parentes próximos — aqueles
que ainda nos comunicávamos —, outros do
escritório — é claro que não poderiam ser
chamados todos os funcionários —, e alguns
amigos.
Eu tentava sorrir para aquelas pessoas que
estavam me recebendo com sorrisos e acenos, mas
era quase impossível. Mamãe ao meu lado, sem
abrir a boca para falar, ainda assim com os lábios
grudados, pedia-me para sorrir.
— Você precisa sorrir, deixe o nervosismo de lado!
— Mandou.
E agora era o momento em que eu precisava
aguardar a noiva chegar e fazer a sua entrada
triunfal na igreja.
Não era possível que uma pessoa poderia
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mentir tanto.
Era difícil de imaginar que a mulher que eu
pensei que seria minha para o resto da vida, estaria
na verdade, fingindo ser minha. Selena era uma
acompanhante e estava sendo paga pelo meu
próprio pai para casar-se comigo durante seis
meses.
É certo que há pessoas assim no mundo, mas
nós não reconhecemos quando de fato acontece
dentro da nossa própria casa, com pessoas que nós
achávamos que eram de nossa confiança.
Por mais que eu não tivesse acreditado na
palavra de Giovanna quando me contou sobre o
contrato que papai fizera com Selena, uma
acompanhante, onde será que ele a encontrou?
Após ela me apresentar à prova — um vídeo —
muito recente por sinal, quando eu estava em uma
reunião importante me sacrificando pela empresa
do meu pai, eles estavam preparando um golpe por
trás de mim.
Tentei agir todo esse último mês como se nada
estivesse acontecendo. E como se não fosse o
suficiente este contrato, Selena havia sido capaz de
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inventar uma gravidez para me fazer casar-se com


ela.
Eu com certeza estava tão magoado com ela,
quanto com meu pai.
Realmente fora difícil conviver todo esse tempo
ao lado deles, tendo que fingir sorrisos, tendo que
olhar para seus olhos e ouvir aquelas palavras que
eu achara que eram verdadeiras e que estavam lá
apenas para fingir.
E a Selena apareceu mais maravilhosa do que
nunca ao lado da sua mãe — já que seu pai já não
estava mais entre nós —. Podia-se enxergar o
brilho em seus olhos, mas não sei bem se era por
estar feliz ou com vontade de chorar. Talvez tenha
caído a ficha de que aquela farsa a qualquer
momento pudesse ser descoberta.
Ela estava com um vestido que não era cheio
das frescuras que as mulheres normalmente
escolhem — muito pelo contrário — era simples,
mas o ideal para o seu corpo e para a sua
personalidade. O cabelo preso como eu sempre
desejei, ela sabia que eu gostava assim.
E aquele poderia ser o melhor dia da minha
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vida, caso tudo fosse de verdade. Se os sentimentos


realmente fossem verdadeiros, mas não era, tudo
não passava de uma ilusão.
Sorri forçado, querendo chorar, mas não daria
esse gosto para Selena, muito menos para o meu
pai.
— Cuide da minha filha. — A mãe dela (que
provavelmente não sabia do que estava
acontecendo) falou, assim que entregou a sua filha
para mim.
— Cuidarei. — Afirmei, vendo o sorriso que
Selena deu assim que ouviu aquelas palavras.
E foi quando o padre começou a fazer o seu
discurso — que ocorre em toda igreja católica —,
eu não iria cuidar da Selena, nem como mentira.
Por mais que eu quisesse continuar com aquela
farsa e poder acabar com tudo de outra maneira, ali
na frente de todo mundo parecia melhor.
Ela merecia essa exposição, todos mereciam
saber a verdadeira Selena.
E depois do SIM de Selena, era a minha vez, e
eu já estava preparado para dizer sim, mas o que eu
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sentia foi mais forte e acabei atropelando as coisas.


— Não, eu não posso dar continuidade com essa
farsa diante de Deus. — E foi assim com essas
palavras que comecei o discurso na frente de todas
aquelas pessoas, deixando todos abismados com
caras de assustados. — Eu não posso acreditar que
o meu pai foi capaz de contratar uma mulher para
casar-se comigo porque eu não era responsável. E
eu não posso acreditar que você, Selena, seria tão
baixa a esse ponto de assinar um contrato por
dinheiro, sabendo que poderia machucar alguém.
Quando eu por fim imaginava que teria encontrado
a mulher da minha vida, a notícia que tudo não
passa de uma farsa chegou fazendo com que o meu
mundo desmoronasse. E como se isso não bastasse,
inventou uma gravidez para me prender a você. Eu
não acredito que você tenha feito isso comigo. — E
eu estava ali, sendo fraco na frente de todos que me
conheciam, chorando como se fosse uma criança,
querendo sair daquele lugar o mais rápido possível.
Selena estava chorando e preparando-se para
correr da igreja.
Alguns convidados haviam se levantado e

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aproximado do altar para ouvir a discussão mais de


perto.
Meu pai estava perplexo com a descoberta —
ele não esperava que eu soubesse de tudo — assim
como Selena. Minha mãe por outro lado, estava ao
meu lado, tentando entender a situação e fazendo a
pior cara para meu pai.
— O que você está dizendo Alan? — A mãe da
Selena perguntou.
— Isso mesmo que você ouviu senhora Elisa. —
Respondi.
— Selena isso tudo é verdade? Você foi capaz de
fazer um contrato com o pai de Alan? Você mentiu
para todos nós? — A senhora Elisa estava chorando
e gritava alto com a sua filha que estava vermelha
de tanto chorar e até agora se encontrava calada.
Sua outra filha, Sabrina não estava tão
interessada no que estava acontecendo com a nossa
conversa e sim com a sua irmã, ela com certeza era
sua companheira, mas não parecia saber do que
estava acontecendo.
— É verdade. — Afirmou Selena, entre alguns
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soluços e outros.
— Não me chame mais de mãe, eu não tenho
orgulho de você, esqueça onde moro. — E foi a
única coisa que a senhora Elisa disse antes de ir
embora correndo.
Sabrina não ficou com sua irmã, precisou ir
atrás da mãe para que evitasse qualquer
acontecimento trágico.
Antes mesmo que Selena fosse embora com a
ajuda da moça que estava organizando nosso
casamento, puxei-a pelo braço, fazendo-a ficar de
frente para mim.
— Digo o mesmo que a sua mãe. Esqueça que eu
existo, nunca mais quero ver o seu rosto na minha
frente, pegue suas coisas no escritório em um
horário que eu não esteja. — Avisei, soltando-a.
Ela foi embora sem dizer nada, mesmo porque
não seria necessário, eu não estaria disposto a
escutá-la. E quando disse que para ela eu não
existia mais, era a verdade, não iria nunca mais vê-
la.
Mamãe não disse nenhuma palavra, talvez
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ainda não estivesse preparada para saber de cada


detalhe sobre aquele contrato e eu também não
estava preparado para contar.
— Irei para o meu apartamento. — Avisei para ela.
— Não quero ir para casa com seu pai. — Minha
mãe avisou.
— Quer ir para o meu apartamento? — Perguntei,
mesmo sabendo que não daria muita atenção para
ela, caso ela aceitasse.
— Sim. — Aceitou.
Não olhei para meu pai em momento algum. Os
convidados já estavam em seus carros se
preparando para irem embora. E eu de alguma
forma teria que recompensá-los. Então antes que
eles fossem embora, avisei que poderiam ir até o
salão, onde seria servido o jantar para eles.
Acredito que muitos deles aceitaram ir, mesmo
porque eles tinham esse direito. E sobre os
presentes e dinheiros, pedi que retornassem para
suas casas, que não seria necessário naquele
momento. Desculpei-me mesmo sem forças para
continuar, mas eles precisavam de uma explicação.
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CAPÍTULO 40
Eu estava entrando na igreja de braços dados
com a minha mãe — afinal papai não estava mais
entre nós —. Estava tentando imaginar aquele
casamento sendo real e que de fato eu estivesse
feliz por finalmente ter encontrado o homem da
minha vida.
Alan era o homem mais bonito do mundo e
aquele terno se adequava perfeitamente ao seu
corpo. Talvez ele tivesse optado por um modelo
que ficasse mais justo — mas não de uma maneira
feia — e sim de maneira que valorizasse o seu belo
corpo, os músculos dos seus braços e o traço do seu
bumbum. Quer dizer, em relação ao bumbum eu
ainda não havia tido a oportunidade de observar, já
que ele estava de frente para mim, mas poderia
imaginar.
As coisas poderiam ter sido tão diferentes se eu
não tivesse aceitado aquele contrato, mas quem
sabe eu não teria tido a oportunidade de conhecê-lo.
A experiência que tive ao seu lado foi maravilhosa
e com certeza eu seria grata para o resto da minha
vida por tudo que passamos juntos.

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— Sim. — A resposta que dei ao padre, quando o


mesmo me perguntou se eu tinha certeza que queria
me casar com Alan, foi respondida com o coração,
sem toda essa loucura de contrato.
Sorri para Alan ao meu lado, mas ele não sorriu
de volta.
— Não, eu não posso dar continuidade com essa
farsa diante de Deus. — Alan começou a falar e eu
não estava acreditando no que estava acontecendo.
— Eu não posso acreditar que o meu pai foi capaz
de contratar uma mulher para casar-se comigo
porque eu não era responsável. E eu não posso
acreditar que você, Selena, seria tão baixa a esse
ponto de assinar um contrato por dinheiro, sabendo
que poderia machucar alguém. Quando eu por fim
imaginava que teria encontrado a mulher da minha
vida, a notícia que tudo não passa de uma farsa
chegou fazendo com que o meu mundo
desmoronasse. E como se isso não bastasse,
inventou uma gravidez para me prender a você. Eu
não acredito que você tenha feito isso comigo. —
Alan havia descoberto tudo sobre o contrato que
havia feito com o seu pai e estava contando tudo na
frente de todas aquelas pessoas.
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Eu estava com vergonha e não era para menos.


Apesar de eu não conhecer muitos que estavam
presentes na igreja, apenas alguns funcionários da
empresa e alguns parentes de Alan — já que os
meus não eram próximos —, todos estavam
presenciando o maior desgosto da família.
E quem eu menos queria que estivesse ali, era a
minha mãe, que também estava desesperada.
— O que você está dizendo Alan? — Minha mãe
perguntou.
— Isso mesmo que você ouviu senhora Elisa. —
Ele respondeu como se fosse algo natural.
— Selena isso tudo é verdade? Você foi capaz de
fazer um contrato com o pai de Alan? Você mentiu
para todos nós? — Minha mãe perguntou, ela
estava chorando e gritava alto comigo.
Neste momento Sabrina estava me acolhendo
ao meu lado. Por mais que ela também não
estivesse feliz com o resultado e com a minha
atitude de assinar um contrato, ainda assim era a
minha irmã e estava ao meu lado para tudo.
Não me orgulhava nenhum pouco do que havia
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feito.
— É verdade. — Afirmei, entre alguns soluços e
outros.
— Não me chame mais de mãe, eu não tenho
orgulho de você, esqueça onde moro. — E foi o
que a minha mãe disse antes de ir embora.
Como eu me sentia ao ver e ouvir a minha mãe
reagir daquela maneira? Não que ela estivesse
errada, no lugar dela eu também não estaria com
orgulho da minha filha, caso ela agisse dessa
maneira.
Eu queria ir embora e estava preparada para ir,
mas senti alguém segurar o meu braço — muito
forte por sinal — e então era Alan. O que será que
ele ainda queria comigo? Humilhar-me mais ainda?
— Digo o mesmo que a sua mãe. Esqueça que eu
existo, nunca mais quero ver o seu rosto na minha
frente, pegue suas coisas no escritório em um
horário que eu não esteja. — Avisou seco,
soltando-me após sua fala.
Eu não tinha como responder algo naquele
momento, nenhuma palavra ousaria em sair da
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minha boca. Mesmo porque eu não estava certa,


mesmo que eu dissesse qualquer coisa para explicar
o ocorrido, nada seria o suficiente.
Corri para o meu apartamento e havia apenas
uma pessoa que poderia ir até lá naquele momento
para ficar ao meu lado. Gabriela. Minha melhor e
única amiga. Por mais que ela também fosse
acompanhante — conseguiria entender melhor a
minha situação — mas eu com certeza não
conseguiria dizer nada nos primeiros minutos.
Gabriela demorou cerca de uma hora para
chegar até o meu apartamento. Estava desesperada
e isso era evidente em sua fisionomia.
— O que houve com você? — Perguntou, assim
que eu abri a porta e ela se deparou comigo vestida
em um vestido de noiva, o rosto borrado de preto
por conta do rímel e delineador, chorando.
— Ele descobriu tudo. — Respondi, como se ela
soubesse de alguma coisa.
— Ele quem? Por que você está vestida de noiva?
— Perguntou rapidamente, caminhando comigo até
o meu quarto.

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Gabriela ajudou-me retirar o vestido, enquanto


eu ainda chorava. Ela esperou que o meu
nervosismo parasse, para então responder todas as
suas perguntas.
— Conte-me essa história para que eu possa ajudá-
la. — Pediu calmamente.
Eu estava de pijama e parecia uma criança,
ainda mais pelo meu rosto inchado por conta do
choro.
— Um homem me procurou no site onde marcamos
os encontros com os acompanhantes e então me
ofereceu um contrato (com um valor muito alto).
Esse contrato dizia que eu precisava me casar com
seu filho e ficar ao seu lado por no mínimo seis
meses. — Comecei a contar como tudo começou.
— E eu acabei aceitando essa proposta, já que
segundo o senhor, seu filho era um péssimo homem
que não havia criado responsabilidade, não se
apaixonava fácil, vivia nas baladas, cada dia com
uma mulher. — Choraminguei, evitando soluçar.
— E você se apaixonou pelo filho dele? —
Gabriela perguntou, mesmo sem eu ter terminado a
história.
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— Sim. — Respondi. — Alan era totalmente o


contrário do que o seu pai dizia, pelo menos
comigo. Eu o amei cada segundo depois da
primeira vez que o vi. — Afirmei.
— Vocês estavam casando e alguém te
desmascarou? — Perguntou, juntando o que eu
havia acabado de dizer com o vestido que eu estava
usando.
Assenti com a cabeça.
— Na verdade Alan já sabia de tudo e estava
vivendo esses dias ao meu lado criando a sua
vingança. E não poderia ser pior, ele falou na frente
de todos que estavam na igreja que eu era uma
golpista, uma acompanhante. — Contei.
— Sua mãe e a Sabrina estavam lá? — Perguntou
com um olhar solidário.
— Elas assistiram tudo de perto, com
exclusividade. — Respondi.
— E o que elas fizeram?
— Sabrina esteva do meu lado, você sabe como
minha irmã é. — Respondi. — Mas mamãe não
agiu igual, como o esperado.
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E eu passei o resto da minha noite contando


para Gabriela como era estar ao lado daquele
homem incrível. Em momento algum ela me julgou
pelo erro que havia cometido e parecia cada vez
mais interessada na história que eu estava
contando.
Por mais que eu não estivesse com fome —
afinal nada estava ficando no meu estomago por
muito tempo —, Gabriela fez uma sopa como se eu
estivesse doente. O cheiro estava bom, não vou
negar.
— Você terá que seguir a sua vida daqui para
frente. — Gabriela afirmou.
— Eu não quero mais trabalhar como
acompanhante. — Avisei.
— Poderá pesquisar outros trabalhos, como você
disse, estava se dando tão bem na empresa do Alan.
— Comentou.
Estava pensando na possibilidade de procurar
outro emprego na mesma área em que atuava na
empresa do senhor Estevan. E ainda precisava
passar para buscar alguns objetos meus e assinar a
folha de demissão.
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Como havia dito antes, nada estava parando no


meu estomago, então cerca de uma hora após ter
feito a refeição ao lado da minha melhor amiga,
necessitei correr até o banheiro mais próximo —
que ficava no corredor — e colocar tudo para fora.
Gabriela de inicio se assustou quando comecei
a correr para o banheiro, mas acabou fazendo o
mesmo trajeto, logo atrás de mim — mas não com
a mesma rapidez —.
— Precisa de ajuda? — Perguntou.
— Não se preocupe. — Respondi, passando a mão
na boca para limpá-la.

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CAPÍTULO 41
E as duas primeiras semanas sem o Alan por
perto não foram fáceis. Passei alguns dias sem
colocar um alimento sequer na boca — mas
felizmente — eu tinha uma melhor amiga que me
"obrigava" a fazer as coisas.
O meu apartamento por incrível que pareça
estava limpo e organizado, talvez fosse uma
maneira que eu havia encontrado para não fazer
nenhuma besteira.
Embora eu tivesse dinheiro guardado, boa parte
dele ainda ia diretamente para a conta da minha
mãe — que ainda não havia voltado a conversar
comigo — e na de Sabrina — que fazia questão de
me mandar mensagens todos os dias —, sobrando
um valor considerado para que eu pagasse as
minhas contas e vivesse tranquilamente, mas eu
precisava de um emprego caso quisesse manter
tudo como estava.
Após há primeira semana, resolvi que teria que
procurar um emprego decente e na semana
seguinte, em cada dia que se passava frequentava
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uma empresa diferente oferecendo o meu currículo.


Em duas delas eles aceitaram o meu currículo e
disseram que dentro de alguns dias ligariam de
volta para conversarmos a respeito do trabalho e
talvez marcar um treinamento para saberem se eu
realmente me daria bem na empresa. Nas outras
três — pelo contrário —, até ficaram com o meu
currículo — creio que por educação —, mas
avisaram que no momento estavam passando por
uma crise e que estavam demitindo alguns
funcionários.
Não sei se eles estavam mentindo, mesmo
porque o ambiente parecia estar muito saudável,
com pessoas sorrindo e trabalhando alegremente —
mesmo sendo quase impossível imaginar —.
Como havia chegado ao meu apartamento após
outra entrevista de emprego, resolvi que avisaria
Sabrina que sabia do trabalho que eu estava lendo
em ir às empresas, lojas, tudo que estivesse
disponível para trabalhar.
"Acabei de chegar de mais uma entrevista, eles
prometeram me ligar."
Selena
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Gabriela estava comigo em meu apartamento,


pois havíamos nos encontrado em uma praça muito
popular na cidade.
— Alguma empresa entrou em contato com você?
— Perguntou curiosa.
— Apenas prometeram ligar. — Respondi
decepcionada.
— No inicio é assim, mas logo te ligam. — Avisou.
— Estava pensando em ser acompanhante por mais
um dia, apenas para conseguir um valor
considerável para o próximo mês. — Confessei.
— Realmente a situação está difícil, esse poderá ser
o último encontro. — Concordou.
Por mais que eu já houvesse deixado claro que
não iria mais trabalhar como acompanhante e
desfazer-me do meu quarto onde havia todas as
minhas perucas, roupas e maquiagens, ainda assim
precisava daquele dinheiro para pagar o aluguel do
meu apartamento e conseguir dar o dinheiro para
minha mãe e minha irmã.
É claro que eu tinha dinheiro o suficiente para
me manter em alguns meses — já que ganhava bem
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pelo meu trabalho —, mas ainda assim não sabia o


tempo que demoraria a encontrar um emprego.
Fazia tempo que não entrava no site onde os
homens costumavam me contratar para ser
acompanhante, havia centenas de mensagens
antigas, desde o tempo em que eu namorava com
Alan. Uma delas era recente, de um homem com 35
anos, chamado Pablo, pedindo para que eu o
acompanhasse em uma festa de empresas que seria
daqui dois dias, no sábado.
Esse era o momento certo para eu aceitar o meu
último encontro. O problema é que precisaria
cuidar para não beber muito — se possível não
ingerir nenhuma bebida com álcool — e nem me
alimentar, caso contrário, iria colocar tudo para fora
na festa.
O que eu não imaginava, era que naquela noite
de quinta-feira, iria passar mal a ponto de ter que ir
até o hospital. Gabriela fez questão de ir dirigindo,
pois segundo a mesma, eu não estava bem o
suficiente para dirigir — e de fato eu não estava —.
Não sabia ao certo o que eu estava sentindo, talvez
fosse fraqueza por conta de todos os dias que não

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me hidratei, não sai para a rua, ou quando também,


passei uma semana inteira andando de a pé para lá
e para cá, em busca de um emprego.
— Espero que não seja nada grave. — Afirmei.
— Você nem está se cuidando, deve estar
desidratada. — Minha amiga comentou emburrada.
Gabriela não gostava de me ver doente, mesmo
porque eu acabava ficando um pouco chata e um
tanto sentimental.
A minha senha para o meu atendimento era o
número 234 e estava exatamente no número 232,
ou seja, faltavam apenas uma pessoa ir à minha
frente, para depois eu entrar. Na verdade, nunca
houve tão pouca pessoa no horário que eu cheguei
ao hospital. Normalmente era tudo cheio, às vezes
até sem médicos para atender a todos.
— Senha 234! — A mulher chamou, fazendo-me
levantar ao lado da minha amiga.
No início, quando a pessoa acaba de chegar ao
hospital — sem saber ao certo o que tem —, após a
triagem, o primeiro médico que se encontra é o
clinico geral, para realmente saber se é algo grave
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— que irá precisar passar por um especialista na


função — ou então apenas recebemos uma receita
com alguns remédios e vamos embora.
— Boa noite. — O médico que deveria ter entre 35-
40 anos.
— Boa noite. — Eu e Gabriela falamos juntas.
— Sou o doutor Roberto e gostaria de saber o que
está havendo com você. — Apresentou-se.
Pensei bem em tudo que eu estava sentindo nos
últimos dias e também no fato do que havia
acontecido comigo. É claro que não iria entrar em
detalhes com o médico que não tinha nada haver
comigo e com a minha vida pessoal.
— Eu vim porque estou um pouco fraca e acabei
desmaiando. — Expliquei, evitando falar sobre eu
não estar conseguindo comer.
— E o que mais? — Olhou-me desconfiado.
— E ela não está conseguindo comer, vomita toda
hora. — Gabriela dedurou, mas evitou olhar-me.
— Irei pedir para que você faça alguns exames,
hoje mesmo. — Avisou, anotando algumas
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informações em um papel.
Ele me explicou que eu deveria entregar o
papel na recepção para que eles pudessem me levar
até a sala certa, onde ocorreriam os exames que
seriam necessários para saber se eu estava com
algum problema de saúde.
— Se você estiver cansada e quiser ir para casa,
pode ir. — Falei para Gabriela, já que estava um
pouco tarde.
Ela balançou a cabeça negativamente.
— Irei ficar com você. — Afirmou.
Estava prevendo que aqueles exames iriam
demorar a que eu pudesse fazê-los. Mas, após
quinze minutos esperando, chamaram-me para uma
sala onde coletaram o meu sangue e a minha urina.
Os resultados dos exames só ficariam prontos
no dia seguinte, mas antes de ir para o meu
apartamento, precisei tomar soro. O soro serviria
para me deixar hidratada e mais forte segundo o
médico.
— Eu vou ir para casa, qualquer coisa você me
liga. — Gabriela avisou, sem sair do carro.
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— Obrigada amiga. — Agradeci, dando-lhe um


beijo na bochecha.
Embora eu estivesse sonolenta, demorei a
dormir como em todos os outros dias após o
término do meu relacionamento com Alan. Não era
fácil passar todas aquelas noites chorando e
imaginando como ele estaria.
Acordei cedo pela manhã daquela chuvosa
sexta-feira, por mim poderia continuar deitada
durante o resto do dia, pois não havia nada para ser
feito — caso eu não tivesse que buscar os exames
no hospital —.
O horário previsto para que fossem entregues
era 09h30min e era por isso que eu estava saindo de
casa faltando meia hora para o compromisso.
Afinal, eu poderia chegar lá e estar cheio, sendo
assim, demoraria uma eternidade para pegar os
exames.
— Qual o seu primeiro nome? — A moça que
estava com os exames perguntou.
— Selena. — Respondi.
Ela me identificou e em seguida me entregou
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uma folha para que eu assinasse, comprovando que


havia recebido os exames.
Estava ansiosa para abrir, mas faria isso apenas
quando chegasse em casa. Não poderia ficar
nervosa, não deveria ser nada sério.
E caso fosse, na semana que vem tinha uma
consulta com o clinico geral para entregar todos os
meus exames, para então ele me encaminhar —
caso fosse algo grave — para um médico
especifico.

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CAPÍTULO 42
Havia diversos exames que eles haviam feito e
eu não entendia a maioria deles. Mas um deles eu
conhecia bem, na verdade, já havia feito uma vez.
Exame de gravidez. Eles não haviam comentado
comigo que iriam fazer tal teste, mas fizeram e não
que eu me importasse com isso, mas essa
possibilidade estava fora de cogitação.
Mas o que eu achava que era impossível
tornou-se realidade. Aquelas palavras em
maiúsculo vieram como um vento forte,
derrubando-me de joelhos no tapete da sala.
POSITIVO.
Eu já nem enxergava mais as palavras por conta
do embaço que as lágrimas haviam causado nos
meus olhos. Eu não poderia ser mãe naquele
momento. Poderia haver uma maneira de estar
errado, quem sabe uma troca de exames?
Alan não poderia saber que eu estava grávida,
afinal, ele não queria mais olhar na minha cara,
com certeza iria dizer que aquele filho ou filha
poderia ser de algum homem que eu havia

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acompanhado.
O pior de tudo é que eu não teria o apoio de
mamãe, mas ainda assim tinha Sabrina e precisava
contar para ela.
"Se eu te disser que eu estou grávida de verdade? E
que isso não fazia parte do plano?"
Selena
Ela com certeza não demoraria a responder,
assim que visse a mensagem iria me ligar, eu
conhecia a irmã que eu tinha e precisava da força e
animação da mesma naquele momento.
E como o esperado, cerca de dez minutos
depois que a mensagem havia sido enviada, o meu
celular começou a tocar descontroladamente.
"INICIO DA LIGAÇÃO"
— Alô?
— SELENA! — É a minha irmã estava gritando ao
telefone. — Você está falando sério?
— Eu fiz os exames ontem, não sabia que o médico
havia pedido um teste de gravidez. — Contei.

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— O Alan já sabe disso? — Perguntou, agora


estava tentando controlar sua voz.
— Não e não ficará sabendo. Esqueceu que ele
disse que não quer mais me ver? Achará que estou
querendo arrumar outra maneira de prendê-lo. —
Expliquei.
— Eu não acredito que vou ser tia. — Falou
alegremente. — Dessa vez de verdade. — Falou
num tom mais sério, lembrando-me das minhas
mentiras.
"FIM DA LIGAÇÃO"
É claro que a ligação não havia terminado
daquela maneira, nós ficamos cerca de uma hora
conversando sobre a minha gravidez e em como
mamãe ainda estava chateada comigo. Ela estava
tão desesperada que havia abaixado todos os
retratos meu da nossa casa, ou seja, ela também não
queria me ver. Não sabia ao certo por quanto tempo
demoraria, mas eu queria que aquela dor passasse.
Eu não sabia o que fazer naquele momento, não
sabia de quanto tempo eu estava grávida, mas a
minha barriga ainda estava igual, quer dizer, eu
havia engordado alguns quilos, mas não era nada
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que pudesse reparar de longe.


Para isso, comecei a olhar qual roupa iria
utilizar na festa aonde eu iria pela ultima vez como
acompanhante.
Optei por um vestido preto que ficava um
pouco solto, de certo modo ele ainda valorizava o
meu corpo, mas não deixava a minha barriga em
evidência — por mais que não desse para notar —.
Vale lembrar que dessa vez havia escolhido uma
peruca na cor preta.
E eu nunca esperei tanto para uma noite chegar
como naquele sábado, logo Pablo estaria em frente
ao meu prédio para me buscar, aonde iria como sua
acompanhante até uma festa de empresas.
— Você é uma bela moça. — Pablo elogiou-me
assim que me viu.
— Obrigada. — Agradeci. — Tem alguma coisa
que eu deva saber? — Perguntei.
Normalmente os homens que me escolhiam,
enviavam informações que eu deveria saber na hora
para caso alguém me fizesse alguma pergunta.
Neste caso, Pablo apenas falou que eu deveria dizer
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que nos conhecemos em um evento e estávamos


juntos por poucos meses.
O ambiente escolhido — um salão enorme —
estava lotado de pessoas. Haviam mesas redondas
com lugares para seis pessoas e eu não fazia ideia
de quem se sentaria conosco.
Acompanhava Pablo de braços dados — como
se eu fosse elegante — e com um belo sorriso no
rosto.
O que eu não esperava era que Alan estaria na
mesma festa. Infelizmente ele estava acompanhado
pela mulher mais detestável que eu conhecia:
Giovana. Será que eles estavam juntos? Ou ele
apenas havia convidado a mesma para ser sua
companhia durante a noite?
Vários pensamentos rondavam a minha cabeça
e eu queria tentar parar de pensar neles. Por sorte, a
mesa em que nos sentamos era bastante afastada da
mesa de Alan, mas mesmo assim conseguia ver
perfeitamente os seus passos.
Pablo me fez acompanhá-lo em uma dança e
por sorte já estava acostumada a dançar nos outros
eventos que havia frequentado.
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Estava empolgada com a dança quando os


meus olhos encontraram os dele. Alan estava
dançando com Giovana. Por mais que eu
imaginasse que ele não iria me reconhecer, seus
olhos me encaravam tão profundamente, como se
ele soubesse exatamente quem eu era, até chegou a
parar de dançar para me encarar. O sorriso que
estava em seu rosto já não estava mais lá, havia
desaparecido.
— Pablo, preciso ir ao banheiro. — Pedi
educadamente, parando a dança.
Ele assentiu, indo sentar-se à mesa em que
estávamos.
Andei o mais rápido que pude até o banheiro,
precisava de alguma maneira respirar fundo, longe
de todos.
Alguém segurou o meu braço, será que Pablo
havia me acompanhado até o banheiro?
Surpreendi-me quando olhei para aquele lindo
rosto que eu jamais iria esquecer. Alan estava me
encarando — furioso por sinal —, não sabia como
ele havia descoberto que era eu, já que eu estava
com uma peruca que me deixava totalmente
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diferente.
— Eu não acredito que depois de tudo que
aconteceu você é capaz de voltar para esse trabalho.
— Julgou-me.
— Como você me reconheceu? — Perguntei
nervosa.
— É impossível esquecer seus olhos. —
Respondeu, mas logo em seguida arrependeu-se do
que havia dito.
— E por que está falando comigo? — Perguntei,
tentando ser o mais forte possível em sua frente.
— Eu também não sei. — Respondeu. — Só quero
pedir que não fique no meu caminho. — Avisou,
retirando-se.
Será que o motivo pelo qual ele caminhou até
mim, seguindo-me até o banheiro seria apenas para
dizer que queria distância? Preciso confessar que
adorei saber que ele me reconheceu apenas em
olhar nos meus olhos, era um sinal que ele ainda
não havia me esquecido e que provavelmente ainda
me amava.
Doía saber que ele não me queria por perto,
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mas eu já estava começando a me acostumar com


isso.
O resto da festa foi entediante, eu não
conversava com ninguém, mesmo porque a minha
mesa era repleta de homens com a mesma idade
que Pablo. Por outro lado, uma vez e outra Alan
ficava segundos seguidores encarando-me e claro
que eu fazia questão de fazer o mesmo.
Após aquele dia, acabei acreditando que ainda
teríamos chances de reatar — talvez o meu coração
fosse bobo demais — e eu acabei me
decepcionando nos meses que se passaram.
As únicas pessoas com quem eu tinha contato
eram Gabriela e Sabrina. Mesmo porque a minha
barriga estava enorme e ninguém queria contratar
uma grávida.
Passava dias pensando em contar a notícia para
Alan que ele seria pai, mas eu não poderia, ele não
desejava mais ter um filho comigo, e não queria
que meu filho — que era um menino — sofresse
pelas burradas que a mãe cometeu em ter um pai
que lhe rejeitasse.
Eu estava no nono mês da gravidez e em
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poucos dias o meu bebê — o qual tinha escolhido o


nome de Eduardo — iria nascer. No começo, como
o esperado, havia ficado aflita com a notícia de ser
mãe solteira, mas aos poucos passei a gostar da
novidade. E por mais que ainda estivesse assustada,
iria aproveitar o máximo meu filho, afinal, seria ele
o grande amor da minha vida.

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CAPÍTULO 43
Ponto de vista do Alan:
Eu estava vivendo as duas piores semanas da
minha vida e a minha dor estava sendo
compartilhada com a minha mãe que havia se
mudado temporariamente para o meu apartamento.
Após descobrir a sacanagem que seu marido teve
coragem de fazer com o próprio filho e já não estar
tão satisfeita com o seu relacionamento, ela decidiu
que estava na hora de pedir o divórcio.
No inicio fui contra a sua ideia. Não queria que
ela estivesse acabando com um casamento de anos,
sendo que o motivo era eu. Mas na verdade, ela
contara para mim que soube das traições de papai
— o qual eu desconhecia — e acabei guardando
ainda mais rancor do mesmo.
Ainda havia o meu lugar reservado na empresa
— por mais que não conversasse com meu pai —,
ele sabia que não haveria alguém melhor naquele
momento para ocupar o meu cargo e também tinha
total certeza de que eu passara a ter um ótimo
desempenho como profissional, ajudando a
empresa crescer ainda mais.
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Não fiquei sabendo de quando Selena


compareceu a empresa para pegar seus documentos
e os objetos que ela havia deixado em sua mesa.
Apenas percebi dias depois que nada dela estava lá
e eu querendo ou não, ainda sentia falta.
Achava-me ridículo por tê-la amado tanto em
tão poucos meses. Não fizera nem cinco meses ao
seu lado, mas parecia que estávamos juntos por
uma eternidade — e esse era o meu maior desejo
—, era.
Não tive mais notícias dela, porém uma vez e
outra entrava em contato com a senhora Elisa, para
saber se ela já havia se recuperado e perdoado sua
filha. Por mais que não quisesse mais ver Selena e
estar completamente chateado com a mesma, não
poderia deixar que ela perdesse uma mãe.
O meu coração não era tão ruim a ponto de
afastá-las.
Lembro-me bem da última ligação que fiz para
a senhora Elisa, fazia cerca de três dias e ela ainda
encontrava-se muito aborrecida.
"INICIO DA LIGAÇÃO"

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— Olá? — Ela falou, não sabendo quem era do


outro lado da linha.
— Adivinha quem é? — Brinquei, tentando trazer
um pouco de felicidade para aquela conversa.
— Querido Alan, estou com saudades. — Falou do
outro lado e posso imaginar que pelo menos um
sorriso ela deu.
— Qualquer dia desses faço uma visita para a
senhora e para Sabrina. — Afirmei.
— Avise antes para que eu possa preparar um café.
— Pediu como sempre simpática.
Elisa era como uma segunda mãe para mim e
tratava-me como um filho. Sabia que o carinho que
havia desenvolvido por ela, não acabaria por conta
do que havia acontecido.
— Como à senhora está? — Perguntei.
— Estou melhor. — Respondeu.
— Encontrou-se com Selena? — Perguntei,
pedindo para que a resposta fosse positiva.
— Não tenho coragem Alan. — Respondeu. —
Ainda estou muito decepcionada. — Confessou e
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senti que ela estava a ponto de chorar.


Não queria que ela chorasse, essa realmente
não era intenção.
— Devo dizer centenas de vezes que a senhora não
pode abandonar a Selena, ela ama muito você e
precisa dos seus cuidados. — Avisei.
— Estou tentando perdoá-la. — Contou.
— Espero que a senhora consiga o quanto antes, já
se passaram tantos meses. — Comentei.
"FIM DA LIGAÇÃO"
Elisa contou-me que Sabrina mantinha contato
diário com sua irmã e que havia acontecido algo
muito importante e surpreendente na vida da Selena
— o que me deixou bastante curioso —, o grande
problema é que Sabrina não havia contado para sua
mãe, querendo que a mesma descobrisse sozinha.
Ela prometeu que assim que soubesse me contaria e
por mais que eu não quisesse saber mais nada da
sua filha, tinha curiosidade.
Ainda lembrava-me da ultima vez que
encontrara Selena, ela estava maravilhosa como
sempre, mas dessa vez usava uma peruca preta para
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disfarçar. Foi impossível não perceber que era ela,


afinal aqueles olhos penetrantes era impossível de
esquecer.
Talvez eu não tenha feito o certo em ir atrás
dela quando a mesma tentava fugir para o banheiro,
eu deveria me mostrar maduro, como se eu já
houvesse esquecido tudo o que vivemos, mas eu
precisava vê-la de perto, sentir o seu cheiro, tocá-la
novamente.
Como sempre, estava sendo fraco.
— No que está pensando filho? — Mamãe estava
sentada ao meu lado, estávamos assistindo um
filme aleatório na televisão.
— Nos negócios da empresa. — Menti.
— Você sabe que eu não gosto quando mente para
mim. — Falou, fuzilando-me com o olhar.
— Eu estou pensando nela. — Confessei.
— O amor de vocês era tão bonito. — Ela
comentou e por um segundo precisei rir pela
besteira que ela acabara de dizer.
Aonde ela havia visto amor no que tínhamos?
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Não era nada. Não passava de um contrato no qual


ela sairia cheia da grana.
Amor? Se teve amor foi apenas da minha parte.
Eu não fingi sentimentos. Eu a amei do inicio ao
fim.
— Não havia amor envolvido. — Neguei com a
cabeça.
— Assim como você a amou, ela amou você. —
Afirmou.
— Como você pode afirmar isso com tanta certeza?
— Perguntei indignado.
— É só parar para reparar em como ela olhava para
você. Ah, aquele olhar era impossível de não notar.
Era amor. — Explicou.
Será que em algum momento Selena me amou?
Eu estava com saudade. Queria ver as nossas fotos,
elas estavam no meu notebook, que por sorte havia
pegado antes de ir embora do apartamento dela.
Logo em que abri meu computador, na página
principal havia uma pasta estranha, nunca a havia
visto ali, chamava-se: "Desculpe-me, estou com
saudade". Resolvi arriscar e clicar para ver o que
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era a única certeza que eu tinha é que não havia


criado aquela pasta. Dentro daquela pasta havia um
único arquivo, quando eu o abri, uma música
começou a tocar.
"Vai me perdoando
Esse meu jeito estranho
Eu sei que fez você sofrer
Tudo era mentira
E você quis pagar pra ver
Sei que é a hora
Hora de dizer adeus
Vai me perdoando
Esquece aqueles planos
Tudo o que eu te prometi
Sei que é difícil encarar que seja o fim
Mas vai me perdoando enfim
Vai perdoando alguém que sempre só quis o seu
bem
E vai lembrando que o ser humano erra também
Nunca mais chore por amor
Perdoa, por favor, entenda
Vai perdoando que o destino te trará alguém
E com os anos você vai se esquecer, meu bem
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Nunca mais chore por amor


Perdoa, por favor, entenda"
Aquela música dizia muito sobre o meu
relacionamento conturbado com Selena e com
certeza ela havia montado tudo aquilo para mim.
Agora me restava uma dúvida: prosseguir ou não.
Como já estava triste, acreditava que não havia
como piorar, resolvi continuar.
Eu não sei por onde começar. Quer dizer, digamos
que a música foi um pequeno começo, certo? Caso
você esteja lendo esta mensagem agora, é porque
você de alguma forma descobriu toda a verdade. O
meu coração não desejava que fosse
assim. Quando o senhor Estevan me propôs um
casamento com o seu filho — que até então era
cheio de defeitos, sendo o principal sem
responsabilidade —, achei que de fato estaria
ajudando de alguma forma. Afinal, para ele você
era o garanhão, que não se preocupava com a
vida, com a empresa, com sua família. Mas quando
lhe conheci, mostrou-me ser totalmente daquilo que
eu escutei. E talvez fora no momento em que
comecei a conhecer suas qualidades que a ficha
caiu, mas já era tarde demais. Não posso de
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maneira alguma esconder o que fiz, e não me


orgulho disso. Eu poderia ter contado para você
assim que o meu coração começou a bater mais
forte, mas a necessidade de tê-lo falou mais alto. E
quem sabe fora por isso que não me fiz forte, a
atitude de ir até você não aconteceu. E eu chorei
por noites seguidas pensando em como seria
quando eu finalmente tivesse que ir embora. Afinal,
eram só seis meses casados. Mas Alan, você foi
muito mais que um amor por contrato. Você me
mostrou novamente o sentido da vida e de amar.
Chegou como uma luz, iluminando a minha vida.
Você com certeza pode perceber quando conheceu
a minha família — quando elas finalmente
souberam que estávamos juntos —, não tinha como
alguém estar perto de você e não estar feliz. E eu te
peço desculpa por tê-lo enganado. Não apenas em
relação ao contrato, mas sim pela falsa
gravidez. Eu não sei se um dia irá me perdoar,
mas com essa mensagem queria deixar claro que
eu amei você. Mas eu fui fraca. Irei terminar esta
mensagem com um texto que achei na internet,
espero que leia até o final.
"Mas Alan, você foi muito mais que um amor por

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contrato." Ela realmente me amou? Eu estava


chorando? A cena era ridícula e aquele texto mexia
totalmente com o meu psicológico. Havia apenas
mais uma etapa para concluir.
"Por vezes, nossa cabeça dificulta tudo. Outras
vezes é o coração que não ajuda. E outras se devem
ao fato da precipitação estar inerente ao ser
humano. Eu errei com você. Errei comigo. E estou
pedindo desculpa por ter sido tão cruel. Acredite
que você seria a última pessoa que queria
machucar, mas é sempre assim. A gente acaba
magoando quem mais gosta e isso me deixa
profundamente abalado. Me perdoa, por favor!
O ser humano vive cheio de imperfeições, cheio de
falhas em seu sistema, repleto de capacidades
negras, mas o ser humano é também sinônimo de
aprendizagem e de melhoramento. Tenho certeza
que estou aprendendo com meus erros. Este último,
poxa vida, este último tem sido uma escola para
mim. E é por isso que eu sei que vou mudar, vou
virar uma pessoa melhor e mais correta com você.
Isso é o mais importante para mim – compensar
meu erro que tanto tem feito você sofrer. Preciso de
seu perdão.
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Prometo que nunca mais vou machucar você."


Com amor e saudade, Selena.
Eu deveria perdoá-la apenas para tentar-me
sentir mais leve? Para acabar com aquele rancor
que eu estava sentindo? Eu não poderia acreditar
que ela tivera escrito aquilo tudo antes de saber que
daria errado. Ela já estava preparada.

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CAPÍTULO 44
Não imaginava que tantos meses fossem passar
e tanto mamãe quanto Alan não me procuraram
nem ao menos para saber se eu estava bem. É claro
que o fato de ser a minha mãe incomodava-me
ainda mais, já que eu necessitava dela por perto,
principalmente por eu estar carregando um neto que
era dela.
O combinado que fiz com a Sabrina, era que ela
dissesse para mamãe que algo muito importante
estava acontecendo naquele momento em minha
vida, mas que ela não deveria contar o que — no
caso a gravidez —, pois se mamãe quisesse mesmo
saber, ela teria que vir até o meu apartamento.
Durante o quinto mês da minha gravidez Deus
colocou um anjo na minha vida chamado Oscar.
Não se preocupe que não é nenhum homem que eu
estava tendo alguma relação e sim um senhor de 49
anos que tinha uma lanchonete perto do meu
apartamento.
Certa manhã eu estava frustrada por não ter
conseguido achar um emprego após tanto tempo na
procura e então choraminguei no seu balcão.
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Lembro-me bem que estava com um copo de café


em mãos e o senhor atendia uma mesa por perto
quando me viu, até então havia sido atendida por
um jovem menino — que talvez estivesse perto dos
18 anos —.
Mesmo que eu não conhecesse o senhor Oscar
— ou pelo menos não me lembrava dele — acabei
contando toda a história da minha vida, junto dos
altos e baixos, inclusive abrindo-me sobre o meu
trabalho como acompanhante. A sensação de
conversar com ele, era como se meu pai houvesse
retornado, mas em outro corpo.
Oscar ajudou-me em um momento de
necessidade, onde cedeu o cargo de garçonete para
mim em sua pequena lanchonete. O lugar não era
muito grande, mas havia lugares para que no
mínimo trinta pessoas pudessem se sentar — caso
contássemos com a parte de fora —. A tintura
estava aos poucos se desbotando e em algumas
partes descascando.
Ele já sabia que eu estava gravida — e isso era
evidente pela minha barriga —, mas mesmo assim
aceitou me ajudar e eu seria para sempre grata.

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A minha rotina transformou-se em acordar às


07h30min, dando tempo o suficiente para que eu
tomasse banho, colocasse um "uniforme" e chegar
ao trabalho às 08h15min, para então iniciar meu
trabalho ao lado do jovem Leandro. E quando desse
14h15min iria para casa, trabalhando apenas seis
horas.
— Em poucos dias Eduardo estará conosco. —
Gabriela comentou animada, sentada no balcão da
lanchonete do senhor Oscar.
— Estou louco para conhecer esse menininho. —
Ele comentou também, fazendo parte da nossa
conversa.
— Fico feliz que vocês estejam dando tão carinho
para o Edu, sendo que ele nem chegou ainda. — Eu
estava mais emotiva do que o normal e feliz pela
motivação que eles me passavam todos os dias.
Sabrina às vezes aparecia no meu apartamento
com uma roupinha de bebê — uma mais linda que
a outra — e chegava até a conversar com a minha
amiga. Ela sentia muito por mamãe ainda não ter
conseguido me perdoar, mas garanto que assim que
ela conhecer Eduardo seu coração se derreterá.
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Eu estava trabalhando e era perto do meio dia


quando senti algo gelado percorrer pelas minhas
pernas, na verdade, a sensação não foi tão forte por
eu estar usando uma calça jeans, mas ainda assim a
sensação de desconforto apareceu. Olhei intrigada
achando que havia feito xixi — por mais que neste
caso seja quente —.
Como Oscar estava ao meu lado dentro do
balcão e a minha melhor amiga do outro lado,
olharam-me preocupados com a minha reação.
Ainda mais porque eu estava encarando as minhas
pernas.
— O que aconteceu menina? — Menina era o
termo que Oscar achou de chamar-me sempre.
— A minha bolsa. — Respondi.
— A sua bolsa está no depósito. — Gabriela
respondeu como se fosse óbvio.
— A minha bolsa estourou. — Falei nervosa,
encarando os olhos dela.
Tanto Gabriela quanto Oscar ficaram
espantados com a notícia de que eu teria que ir para
o hospital ter o meu filho — antes do dia esperado
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—, ainda era quinta-feira 05 de Maio.


E a partir daquele momento foi uma total
correria. Como havia um número considerável de
pessoas na lanchonete e Leandro não poderia ficar
sozinho — porque não daria conta de atender todas
as mesas —, deixei que Oscar ficasse prometendo
ligar mais tarde. Gabriel dirigiu desesperadamente
e por um minuto me arrependi de não ter me
oferecido para dirigir — mesmo sabendo que não
podia por causa da minha barriga —.
Durante o caminho ao hospital, efetuei uma
ligação para o mesmo — que dissera que eu deveria
ligar avisando antes para um atendimento mais
eficiente — e fora esse o motivo da minha ligação.
Eles estavam esperando-me com uma cadeira de
rodas na porta principal, levando-me direto para um
quarto. Ainda não era a sala de parto — já que
segundo a enfermeira precisavam checar a
dilatação e ver se não ocorreria nenhum perigo
durante o parto — ou seja, precisei esperar a
doutora que atendia uma moça que acabara de
ganhar um bebê.
— É perigoso? — Perguntei para a enfermeira.

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— Como a sua gestação foi acompanhada desde


que fora descoberta e você não apresentou nada
diferente, o parto normal é a melhor maneira de ter
o seu bebê. — Começou a explicar. — Caso haja
algum problema dentro da sua barriga, por
exemplo, com o cordão umbilical, pode-se dizer
que teríamos que fazer a cesariana. — Ela
explicava tranquilamente, segurando a minha mão,
já que a minha amiga ainda estava preenchendo uns
dados e certificando-se que eu teria o melhor
atendimento.
A médica demorou cerca de quinze minutos
para aparecer no meu quarto, mas como dissera
quando checou minha dilatação eu estava chegando
ao ponto principal, à cabeça do bebê estava perto
da saída e parecia tudo bem tanto comigo, quanto
com ele.
Levaram-me para a sala de parto e a minha
melhor amiga estava indo comigo. Ninguém além
de nós sabia que iria ter o meu bebê e por mais que
me sentisse na obrigação de ligar para Sabrina,
naquele momento nada mais poderia ser feito.
Pedi a Deus antes de entrar que tudo desse

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certo e que se fosse para levar alguém, que deixasse


o meu filho. Sabia que se caso Alan não o quisesse,
mamãe cuidaria do mesmo com muito amor e o
educaria da melhor forma possível.
Alguns dias antes havíamos sentados para
conversar com Gabriela para tomarmos algumas
decisões caso eu não voltasse do parto por algum
motivo. Ela derramou algumas lágrimas pelo fato
da conversa ter se estendido e estava com medo de
me perder, mas prometeu levar Eduardo até o Alan
e explicar toda situação, caso não desse certo, iria
para a casa da minha mãe.
É claro que o meu maior desejo era que Alan
recepcionasse da melhor forma o nosso filho,
principalmente por ele ser tão frágil e necessitar de
todos os seus cuidados. Rezava todas as noites para
que nada acontecesse comigo e com meu filho, para
que eu pudesse cuidá-lo da melhor maneira
possível.
Segurei a mão da Gabriela no momento que eu
precisava fazer força o suficiente para meu filho
sair. O parto que a doutora sugeriu era o normal —
mesmo porque segundo ela, estávamos bem —.

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— Vai dar tudo certo. — Gabriela sussurrou baixo,


para que apenas eu escutasse.
Eu assenti como sinal de que estava
concordando.
Na minha cabeça eu imaginava algo muito pior
do que realmente foi. Não é que seja ruim, mas
querendo ou não, você sente uma dor que muitas
vezes foge do seu controle, mas é o seu filho que
está nascendo, então quando você escuta aquele
choro gostoso, a dor passa imediatamente e a única
coisa em que você pensa é que quer vê-lo o mais
rápido possível.
Antes de levarem o meu filho para os exames,
limparam-no por cima e enrolaram o mesmo em
uma toalha própria do hospital, colocando-o
digamos que em cima do meu ombro.
Eduardo estava com os olhos fechados — como
eu vira em vários partos na internet —, já não
estava mais chorando, havia se acalmado. Beijei a
ponta da sua cabeça e senti aquele cheiro de bebê.
Por mais que ele não estivesse de banho tomado,
ainda assim o cheiro era diferente e eu gostava.
— Seja bem-vindo príncipe. — Falei, notando que
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a minha amiga estava chorando ao meu lado, onde


fui reparar que eu também estava derramando
algumas lágrimas.
— Ele é tão pequenininho. — Gabriela soluçou.
Eduardo tinha puxado tudo do seu pai. O
cabelo era bastante escuro, como a cor do cabelo de
Alan. O nariz, a boca, tudo me parecia igual. Quem
sabe eu estivesse vendo Alan nele porque eu
realmente queria vê-lo, mas sentia que eram
bastante parecidos.
— Ele não puxou nada de você. — Gabriela
comentou, quando levaram Eduardo para fazer os
exames.
— Tenho sorte que o pai dele é bonito. —
Brinquei.
A enfermeira avisou-me que após uma hora
fazendo exames, Eduardo iria para o quarto onde eu
ficaria nos próximos três dias, para que eu pudesse
amamentá-lo pela primeira vez.

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CAPÍTULO 45
A primeira noite que dormimos enfim no meu
apartamento, Eduardo não pareceu estranhar nada
— talvez por estar comigo — e isso me deixava
ainda mais confiante com os nossos próximos dias.
Gabriela preferiu dormir naquela noite para caso eu
necessitasse de algo e tivesse algum problema com
Edu.
O quarto que antes era utilizado para guardar as
minhas perucas, roupas e maquiagens, agora era o
quarto do Eduardo. O quarto não era grande — já
que o espaço era pequeno —, mas coube tudo que
fosse necessário para um bebê. A decoração era
uma mistura de branco, azul e verde. Não havia
muitas coisas, apenas o berço, uma poltrona —
para a hora de amamentação —, um guarda-roupa
— que por sinal já tinha bastantes roupas — e um
enfeite.
Era cedo e Eduardo havia acordado chorando,
assim acordando-me junto com ele. Como não era
nem nove da manhã, trouxe o mesmo para o meu
quarto, amamentando-o ainda deitada na cama, de

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baixo da coberta — pois estava frio e chovia —.


Ele acomodou-se em meu colo e de vez em quando
resmungava — o que era normal para um bebê
recém-nascido —.
O certo seria eu ficar de repouso e não sair por
alguns dias, mas a vontade de apresentar Eduardo
para mamãe e para Sabrina acabou falando mais
alto. Como era final de semana, resolvi levá-lo até a
casa delas — já na expectativa de que pudesse
almoçar — se é que mamãe reagiria bem com a
situação.
Por sorte quem atendeu a porta foi a minha
irmã, ou seja, pelo menos sabia que ela iria me
convidar para entrar.
— O amor da titia chegou. — Sabrina falou,
roubando Edu do meu colo.
Ela fez sinal para que eu entrasse e não havia
nenhum sinal da minha mãe — o que me chateou
— já que eu estava ali para vê-la.
— Onde a mamãe está? — Perguntei, olhando em
volta.
— Acabou de subir para tomar banho, iremos
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almoçar. — Respondeu.
— Fora? — Perguntei.
— Não. — Balançou a cabeça negativamente. —
Ela estava cheirando gordura. — Explicou.
O cheiro da comida da mamãe era maravilhoso.
Como eu era mais do que curiosa, fui até a cozinha
para ver o que ela havia feito. Como sempre
fazendo em uma maior quantidade para mais tarde.
Havia arroz, carne ensopada, maionese, alface e
macarrão com frango desfiado. Sentia saudade de
comer a comida dela — e esperava que um dia eu
pudesse cozinhar daquela maneira —, para
satisfazer os desejos do meu filho também.
Estava analisando como Sabrina reagia à
presença do seu sobrinho — único — ainda mais
sendo um bebê recém-nascido. Como Edu era um
bom menino — e muito calmo —, em momento
algum pareceu querer chorar, o que me deixava
ainda mais orgulhada do mesmo.
Estava tão entretida observando os dois que
nem percebi quando mamãe desceu a escada
silenciosamente — talvez já sabendo que tinha
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visitas —, mas acredito que ela não esperava a


minha visita. Não aguentei apenas olhá-la, o meu
coração doeu, e em alguns segundos lágrimas
rolavam sob a minha bochecha.
— Selena? — Mamãe perguntou, como se não
acreditasse que eu estava ali.
Como Sabrina havia ido até a cozinha — com
Edu —, mamãe não estava o vendo, ou seja, não
sabia que eu tinha um filho.
— Mamãe. — Solucei.
— O que está fazendo aqui? — Ela estava séria,
também continha lágrimas em seus olhos.
— Eu precisava vê-la e apresentar-te alguém
especial. — Contei.
Neste momento — quando achei que a situação
estava melhorando — ela ficou séria e poderia a
qualquer momento cuspir fogo.
— Então essa era a notícia importante que Sabrina
falou? Você trouxe homem? Está dando um golpe
nele também? — Ela havia limpado as lágrimas e
estava tomada pelo rancor.

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Em vez de falar qualquer coisa naquele


momento para explicar que na verdade o homem
que ela achava que seria um novo namorado ou
marido. Na verdade era o meu pequeno Eduardo.
Por isso, não estava levando a sério as suas
palavras duras que eram na tentativa de me chatear.
Ela estava esperando que eu dissesse algo, mas
em troca disso, Sabrina voltou para a sala com meu
filho nos braços, chamando a atenção da minha
mãe. Ela olhou de mim para o bebê e assim fizera
repetidas vezes.
— De quem é esse bebê Sabrina? — Mamãe
perguntou ainda parada no mesmo lugar.
Minha irmã riu, aproximando-se de mamãe.
— É da sua filha. — Apontou na minha direção.
— Como assim? — Seus olhos encheram de
lágrimas novamente, ela estava nervosa, mas sabia
que estava entendendo o que estava acontecendo
ali.
— Ele é o meu filho, chama-se Eduardo. — Contei.
Não foi necessária mais nenhuma palavra para
explicar a situação. Mamãe tomou Edu do colo de
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Sabrina e acomodou-se em seus braços. Ela sorria


como há muito tempo não vira antes, era na
verdade como naquele dia que viu Alan pela
primeira vez e então planejou que o nosso
relacionamento desse certo.
— Você estava grávida? — Mamãe perguntou
agora me olhando e balançando seu neto de um
lado para o outro.
— Estava indo para o quarto mês, mas não sabia.
— Respondi.
Mamãe estava com aquele olhar de arrependida
— talvez pensando em como eu vivi tudo isso
"sozinha" —.
— Por que não nos procurou antes? — Perguntou
como se nada tivesse acontecido. — Você precisou
de ajuda e nós não estivemos por perto. — Falou
inconformada.
Antes de almoçarmos — sim eu fui convidada
para almoçar pela minha mãe — precisei explicar
para ela desde o momento que descobri que estava
grávida — no dia em que fui para o hospital com
Gabriela — até o momento da parte em que
também estive acompanhada pela minha melhor
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amiga.
Tenho certeza que ela agradecera mentalmente
por eu estar acompanhada por uma ótima melhor
amiga que esteve durante todos aqueles meses ao
meu lado e também sobre o senhor Oscar ter-me
oferecido o emprego e também me oferecido tudo
que seria necessário para o meu bebê.
— E esse filho é de quem? — Talvez ela estivesse
curiosa para saber quem era o pai do meu filho
desde o começo. Por mais que essa pergunta
houvesse me deixado um tanto triste, eu deveria
esperar por isso.
— Do Alan. — Respondi. — Em alguns anos ele
foi o único homem com quem tive relações. —
Expliquei.
Mamãe ficou mais confortável com a minha
resposta — parecia até satisfeita —. Enquanto elas
almoçavam precisei amamentar Eduardo — que
chorou um pouco por conta da fome que estava
sentindo —, mas de vez em quando conseguia
comer algo junto também.
Esperei que ela viesse perguntar se eu já havia
tentado conversar com Alan sobre o assunto e
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contar a novidade de que era pai, mas não contou.


Provavelmente pelo que Sabrina havia me contado,
uma vez e outra ele ligava e eles ficavam alguns
minutos conversando — muitas vezes falando de
mim — o que olhando de uma maneira era bom.
— Como ele está? — Perguntei curiosa, já que
fazia muito tempo que não via Alan, muito menos
sabia algo sobre ele.
— Está bem, melhor. — Respondeu.
— Ele encontrou alguém? — Por mais que eu não
quisesse ouvir um "sim" como resposta, resolvi
arriscar e perguntar o que mais me incomodava.
— Não vou mentir para você... Ele está namorando
com uma mulher chamada Giovana. — Respondeu.
Eu esperava muitas outras mulheres — as que
eu não conhecia principalmente — mas pensar que
ele estava com Giovana parecia tão sujo. Primeiro
porque segundo o mesmo, ela não podia ser levada
a sério, era algo para o dia-a-dia, quando não
tivesse ninguém. Segundo porque ela não se
portava como tal e havia interferido na minha vida
para fazer com que eu e Alan nos separássemos.

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Não falei nada, mesmo porque não queria que


mamãe me visse ficar mal pelo meu passado mal
sucedido. Em vez disso, combinamos que nos
veríamos mais vezes. Antes de eu ir embora,
mamãe levantou-se um tanto envergonhada —
como se não fosse a sua filha em sua frente —
caminhou calmamente até a minha direção.
Abraçou-me do nada — mas já esperava por
isso —¸ ela tinha um bom coração e ainda mais
com Eduardo por perto, era tudo que ela mais
sonhava.
— Eu amo você. — Falei.
— Eu amo vocês. — Falou, direcionando seu
comentário também ao Edu.
— Mãe? — Chamei antes de ir embora.
— O que? — Perguntou.
— Não conta nada para o Alan sobre o Edu. —
Pedi.
Ela concordou — talvez com uma dor no
coração — já que eles sempre conversavam.
E naquele dia eu sai com o coração leve da
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minha antiga casa.

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CAPÍTULO 46
Estar com o coração livre na companhia do
meu príncipe que a cada dia trazia-me cada vez
mais felicidade, fazia com que o meu coração
transbordasse de alegria e eu sempre tinha ainda
mais vontade de compartilhar tudo que eu estava
vivendo com alguém. Por sorte na minha vida Deus
havia colocado pessoas maravilhosas e que
adoravam estar perto de mim e do meu Eduardo.
O combinado com o senhor Oscar é que eu
precisaria ficar os primeiros meses em casa para
cuidar do meu filho — que era um bebê recém-
nascido — e que necessitava dos meus cuidados, já
que ele não tinha um pai — quer dizer tinha — mas
não era presente em sua vida, ao menos sabia que o
mesmo existia.
Havia dias que ficava pensando como seria
quando Alan — se um dia — tivesse oportunidade
de conhecer o filho maravilhoso que havia sido
resultado do fruto do nosso amor.
Era domingo e Gabriela havia escolhido passar
o dia todo em meu apartamento, mesmo porque
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estava com saudade do Edu e queria passar mais


um tempo com ele. Naquele exato momento ela
estava preparando o nosso almoço e eu estava
amamentando Eduardo — que estava esfomeado,
sugando o leito do meu seio com pressa —. A
campainha acusou que alguém estava esperando do
outro lado da porta, como a minha amiga sabia que
eu me encontrava em um momento sagrado, foi até
a mesma para atender.
Como eu não estava esperando visitas, imaginei
que mamãe e Sabrina haviam resolvido vir até o
meu apartamento — como prometeram na semana
passada — e então agi naturalmente, continuando
os cuidados com meu filho.
Como eu estava no sofá e havia uma parede
entre nós, não conseguia ter a visão da porta. Fiquei
curiosa pela demora da minha melhor amiga, mas
logo fui surpreendida quando Alan adentrou a sala
calmamente.
E expressão dele de impressionado — como se
tivesse sido pego de surpresa — ainda mais com a
cena que estava presenciando — eu amamentando
um bebê —, deixou-me um tanto desesperada, não

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estava preparada para aquela situação, não esperava


que ele soubesse daquela maneira.
— Alan. — As palavras saíram da minha boca em
um tom baixo.
— Eu precisava conversar com você. — Afirmou.
— Vejo que está muito ocupada.
— Espere um segundo. — Pedi.
Arrumei o meu sutiã que estava ajeitado de
forma que meu seio ficasse amostra, levando
Eduardo comigo para o seu quarto, colocando-o no
berço com uma manta por cima.
— A mamãe já volta meu amor. — Avisei.
Não encostei a porta, mesmo porque não queria
deixar meu filho sozinho, a qualquer momento ele
iria necessitar da minha ajuda, tinha medo de não
conseguir escutar.
— Alan? Pode vir até o meu quarto. — Pedi.
Ao olhar para ele, era como se eu visse o
mesmo Alan que eu conheci meses atrás. Aquele
que fazia de tudo para me ver feliz. Os seus olhos
estavam calmos — diferentes do dia da igreja — e
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isso me deixava um tanto feliz.


— O que você realmente fez aqui? — Perguntei.
— Eu te perdoo. — Respondeu, assim, de uma
maneira simples.
— Você viu? — Perguntei, referindo-me ao que
havia preparado e deixado em seu notebook.
— Sim. — Concordou.
Nós ficamos em silêncio por um minuto.
— Por que resolveu me perdoar? Eu te machuquei
tanto. — Perguntei curiosa.
— Porque eu não sou ruim. Não sou o que o meu
pai te disse quando pediu para que você se casasse
comigo. E porque você querendo ou não me fez
feliz, e mesmo tendo sido de mentira, fez-me bem.
— Começou a explicar, deixando-me com lágrimas
nos olhos. — E eu vi o quanto você se preparou
para encontrar uma música, escrever um texto e
deixar outro, se você fosse totalmente ruim, não
teria se preocupado em preparar algo para mim. —
Avisou, passando a mão direita sobre o rosto,
quando pude perceber a aliança prata em seu dedo.

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Ainda não havia caído a ficha de que ele


realmente estava tendo um relacionamento sério
com Giovana. Não poderia ser ela.
Alan estava com um olhar carinhoso.
— Aquele bebê que estava no seu colo é seu? —
Perguntou.
— É nosso. — Respondi.
E olhar para ele e tentar entender o que estava
se passando dentro da sua mente e do seu coração
era quase impossível. Queria que ele dissesse
alguma coisa, mas antes que eu pudesse dizer
alguma coisa Alan levantou-se e saiu correndo. De
inicio não tive nenhuma atitude, fiquei encarando a
porta do meu quarto por onde ele havia passado.
Após isso corri até a porta principal que dava
acesso ao meu apartamento e Gabriela organizava a
mesa colocando um terceiro prato.
— Não será necessário. — Avisei.
— Ele não ficará para o almoço? — Perguntou.
— Ele já foi embora, não o viu passar por aqui? —
Perguntei.
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— Não, ninguém entrou nem saiu desse


apartamento. — Ela respondeu e eu achei estranho.
Da maneira como ele se retirou do meu quarto
correndo, seria impossível passar despercebido pela
minha melhor amiga. Se ele realmente não tivesse
ido embora, onde estaria? No banheiro? A porta do
banheiro estava totalmente aberta e não havia
ninguém ali dentro.
Quando ouvi um barulho vindo do quarto do
Edu.
E lá estava Alan com Eduardo em seus braços.
Por incrível que pareça Alan estava chorando —
quase aos soluços — e o nosso pequeno ainda
acordado, provavelmente não entendendo nada.
— Como eu pude ficar todo esse tempo sem você.
— Ele começou a conversar com o Edu e fiquei
analisando ali parada na porta. — Desculpe-me por
ser tão rancoroso e não estar junto com a mamãe
quando ela mais precisou do papai.
Eu estava escutando certo? Ele estava pedindo
desculpas pelos erros que eu cometi que fizeram
com que ele se afastasse de mim? Novamente
encontrava-me chorando.
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— O papai jura que irá estar sempre por perto


daqui para frente. — Afirmou.
Como não se emocionar ao ver os dois homens
da minha vida assim tão próximos? Quanto tempo
eu poupei esse encontro por medo de Alan recusar
o próprio filho?
— Alan? — Resolvi chamar a sua atenção.
— Por que não me contou antes? — Perguntou.
— Porque achei que recusaria o Eduardo. —
Respondi.
— Já escolheu um nome para ele?
— Ele precisava de um nome. — Respondi.
Nós trocamos olhares, até que Edu resolveu
chamar a atenção, abrindo um belo berreiro. Ele
não estava com fome, pois havia terminado de
amamenta-lo, isso quer dizer, que poderia estar
sujinho.
Alan encarou-me como se pedisse a minha
ajuda, entregando-me nosso filho. Ele analisou-me
de longe com curiosidade e também um pouco de
admiração. Talvez Alan estivesse feliz com a
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notícia que se tornou papai.


Como havia comentado, a maneira como ele
reagiu foi totalmente contrária com o que eu estava
esperando. Imaginei que ele pudesse duvidar da
minha palavra, mesmo porque ele tinha motivos
para tal atitude, mas surpreendeu-me como sempre.
Talvez eu tenha feito errado em esconder todo
esse tempo dele que era pai. Embora Eduardo
tivesse apenas um mês de vida, ainda assim, quem
sabe Alan quisesse ter essa experiência.
Por mais que o fato dele estar namorando
agora, pudesse interferir em seu relacionamento
com nosso filho, principalmente porque Edu ainda
era muito novo para poder passar um dia todo ou
alguns dias apenas com o pai. Ou seja, Alan teria
que estar frequentemente na minha casa e caso eu
necessitasse da sua ajuda — se ele se
disponibilizasse — nós estaríamos tendo contato
todos os dias.
Em minha opinião, tudo o que eu mais queria
era tê-lo por perto novamente. Por mais que não
fosse como antes — namorando —, ainda assim
teríamos que manter certo "relacionamento" para
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que cuidássemos juntos do nosso filho.

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CAPÍTULO 47
Naquele dia quando Alan conheceu nosso filho
Eduardo, não trocou muitas palavras comigo — o
que me incomodou bastante —, e foi embora cedo,
prometendo voltar pelo menino.
Eu estava um pouco assustada por tudo ter
acontecido de maneira rápida e de uma forma que
eu não esperava. Era como se tudo que eu previa
que fosse acontecer tivesse tido uma transformação
para me pegar de surpresa.
Não sabia ao certo quais seriam as principais
atitudes de Alan quando saiu do meu apartamento.
Quem sabe começaria contando para a sua família
que agora tinha um filho — recém-nascido — e que
teria novas responsabilidades. Ou então, preferisse
entrar em contato primeiro com a sua namorada,
seria horrível se ela ficasse sabendo por outra
pessoa que seu namorado tinha um filho com a ex-
namorada — que ela detestava —.
O meu receio maior era que Giovana tentasse
fazer algo contra o meu filho para descontar em
mim. Não sei na verdade se ela seria capaz para
tanto, mas caso fizesse, surgiriam forças de mim o
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suficiente para acabar com ela.


Normalmente, as madrastas e padrastos não
tem uma reputação muito boa — pelo fato de que
nunca irão tratar o filho da ex ou do ex, como igual
—, ou seja, sempre acontece aquela inseguridade
das partes dos pais. Talvez seja por este motivo que
hoje existam tantos adolescentes e crianças
amargurados com seus pais por terem feito outras
escolhas.
Eu imaginava que no dia seguinte Alan
aparecia para fazer uma visita ao seu filho, mas não
apareceu. Quem sabe agora a ficha tivesse caído e
tenha então percebido e pensado que aquele filho
poderia não ser dele, ou criar diversas dúvidas
dentro da sua cabeça. Deveria lembrar-me também
que a sua namorada poderia não gostar da notícia e
querer mantê-lo sobre o seu domínio.
"O Alan está tão feliz."
Sabrina
Não entendia ao certo porque a minha irmã
havia enviado aquela mensagem para o meu
celular, sendo tarde da noite, ainda mais por eu não
ter contado ainda para ela sobre a visita que ele
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fizera no dia anterior. Ou seja, de alguma forma ela


havia descoberto o nosso encontro e sabia de coisas
que eu gostaria de saber.
Em menos de segundos, respondi sua
mensagem com outra pergunta.
"Como assim? Do que está falando?"
Selena
É claro que eu contaria para ela de uma
maneira ou de outra, mas pode ser que ela estivesse
se referindo a outra coisa.
"Ele ligou para mamãe hoje cedo, contando que
havia conhecido Eduardo. Fez diversas perguntas
para ela, para saber se ela já sabia e o porquê de
não ter contado para ele. Mas ainda assim falou o
quanto estava feliz. É claro que mamãe me contou
a história resumida, mesmo porque ficaram quase
uma hora no telefone."
Sabrina
Poderia imaginar em como mamãe ficou feliz
com a ligação de Alan, contando que finalmente
havia descoberto que tinha um filho comigo e
contando todos os detalhes de como ele era. É claro
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que mamãe fez um tremendo esforço para não


contar tudo, mas havia feito ela me prometer. Seria
péssimo se Alan descobrisse por outra pessoa.
Mamãe talvez nem precisasse de muito para
explicar para Alan o motivo pelo qual não o avisou
de que fazia um mês que seu filho — que ele nem
sabia que existia — havia nascido.
Eduardo não estava nada calmo naquela noite.
Não sei o motivo pelo qual ele se encontrara tão
agitado já que a nossa rotina havia sido a mesma de
todos os outros dias. Havia feito massagem
algumas vezes para ver se passava o seu
desconforto. Ele não estava com fome, mesmo
porque tentei diversas vezes fazê-lo mamar, mas já
estava satisfeito. A sua fralda estava limpa e ele
estava de banho tomado.
Comecei a notar que a sua temperatura estava
começando a aumentar. Era perto das 23h da noite
e eu já estava começando a ficar sonolenta, mas
não poderia dormir naquele momento,
principalmente com o meu filho estar começando a
dar sinais que poderia estar ficando doente.
Mesmo que estivesse um pouco frio e quem
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sabe ele pudesse estar começando a enfrentar uma


gripe, ainda assim o apartamento ficou fechado
durante à noite para evitar a entrada do vento frio e
ainda mais Edu estava com roupas grossas que o
deixava aquecido.
— A mamãe não quer vê-lo doente. —
Choraminguei.
Era muito tarde para alguém estar batendo na
minha porta. Tinha certeza que não era a minha
mãe, porque ela não gostava de dirigir no horário
da noite. E também não era Gabriela por ela estar
em um evento importante e já ter deixado avisado
que naquela noite estaria indisponível.
Estava com medo de abrir a porta, sorte a
minha é que havia o olho mágico, dando-me a
possibilidade de ver quem estava do outro lado da
porta.
Meus olhos estavam realmente enxergando
Alan? O que ele estava fazendo naquele horário
com uma mochila pendurada no ombro?
— Alan? — Perguntei sonolenta.
— Desculpe se eu lhe acordei. — Desculpou-se,
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entrando em meu apartamento.


— Não se preocupe Eduardo não me deixou dormir
ainda. — Respondi, dando de ombros.
— Ele está disposto hoje? — Perguntou animado.
— Acho que está ficando doente. — Respondi.
O seu sorriso se desfez na hora, fazendo com
que ele saísse em disparada para o meu quarto,
onde eu estava deitada em minha cama com Edu.
Nosso filho encontrava-se ao centro da cama,
cercado por travesseiros enormes e coberto por uma
manta fofinha.
— Oi filhão, o que você tem? — Alan perguntou,
deitando-se ao lado do pequeno, colocando-o em
seu peito.
O mais engraçado é que Eduardo reagiu a sua
pergunta, não sei ao certo se foi algo do momento e
apenas uma coincidência, mas assim que Alan
falou com ele, Edu resmungou algo como se
estivesse respondendo.
E é claro que Alan ficou bobo com o ato.
Por incrível que pareça após a chegada de Alan,
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nosso ficou mais tranquilo e parou com os


resmungos e choros. Não sabia ao certo se ele havia
realmente melhorado pela companhia de seu pai, ou
se fora algo do momento. Apesar de ainda estar um
pouco quente, houve uma melhora em seu
comportamento.
Como não havia nem jantado, resolvi que
prepararia algo para jantar, ainda mais por estar
com visita em casa e seria errado não oferecer algo
para Alan, mesmo porque não sabia por quantas
horas ele iria ficar.
Ainda estava preparando o macarrão, quando
ouvi um barulho atrás de mim, e lá estava aquele
homem incrível que eu desejava cada dia mais. Ele
estava com um sorriso bobo nos lábios, que
encantaria qualquer um.
— Por que veio tão tarde? — Perguntei curiosa.
— Não gostou da minha visita? — Dessa vez,
posso afirmar que ele parecia estar jogando um
charme, principalmente por estar mordendo o lábio
inferior.
— Não fui só eu que gostei. — Afirmei, referindo-
me ao nosso filho.
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— Eu e a Giovana tivemos uma pequena discussão


e foi difícil conseguir sair do apartamento dela. —
Contou.
Na minha cabeça, o certo seria se eles
terminassem e nós casarmos, seria o melhor final
feliz que pudera existir.
Pena que nada que eu sonhava acontecia.
Talvez eu devesse ser mais positiva com os
meus pensamentos, o problema é que nada deu
certo. Quer dizer, retirando o fato de que agora eu
tenho o melhor filho do mundo para estar comigo
em todos os momentos.
— Espero que não fiquem brigando pelo Eduardo.
— Comentei.
— Ela não aceitou bem que eu tenho um filho com
você. — Contou.
Era tão óbvio, ninguém aceita bem. Eu também
não reagiria tão bem com uma notícia dessas.
— Mas que bom que estão bem agora. — Menti.
— Não exatamente. — Balançou a cabeça
negativamente. — Ela falou que se eu saísse para
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ver o Eduardo naquele momento, eu não precisaria


mais voltar. — Contou, mas não expressou nenhum
sentimento enquanto falava, como se nada
importasse.
Quando eu poderia ficar sozinha para dar pulos
de alegrias? Não que eu gostasse de ver Alan triste
— mesmo porque ele não demonstrava nada —,
mas com ele sozinho tudo ficaria mais fácil. Quer
dizer, sozinho não.

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CAPÍTULO 48
Embora eu estivesse ansiosa com toda a
proximidade que Alan havia iniciado após conhecer
o nosso filho, cada dia eu me acostumava ainda
mais com a sua companhia. Ele não passava um dia
sequer sem vir visitar o Eduardo, talvez não
estivesse vindo apenas por ele, mesmo sabendo que
era a parte essencial de tudo.
A questão era, mesmo quando Eduardo dormia
e ele já estivera a horas no meu apartamento,
acompanhava-me nas refeições, assistir filmes e
outras programações comigo. Nós tínhamos um
ótimo relacionamento, ainda mais por sermos pais
juntos.
Giovana estava se adaptando com a ideia de
que agora seu namorado também era pai e tinha
outras responsabilidades. Não sabia se ela estava
mesmo aceitando isso ou apenas fingia para que
Alan não se afastasse novamente, como quando eu
apareci em suas vidas.
— Selena? — Alan chamou-me, ele estava no
quarto com Edu que dormia profundamente.

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— Sim?
— A Giovana quer fazer um almoço para a minha
mãe e ela pediu que eu trouxesse Eduardo comigo,
você acha que isso é possível? — Perguntou e pude
ver em seus olhos que era o que ele mais desejava
naquele momento.
Eu poderia dizer que Eduardo era muito novo
para ficar tanto tempo sem a mãe por perto — e ele
era novo mesmo, estava apenas com três meses —,
mas Alan estava tão ligado com ele nesses últimos
dias e além do mais seu filho nunca havia ido até
sua casa.
Resolvi ceder naquele momento.
— Tudo bem Alan, não há problemas. — Assenti.
— Mas não dê e nem deixem dar nenhuma comida,
muito menos liquido, ele só pode tomar o leite
materno agora. — Pedi.
Enquanto Alan organizava a pequena bolsa do
Eduardo com suas fraldas, roupas extras, coloquei
meu próprio leite dentro de duas mamadeiras.
Eu estava torcendo para que nada acontecesse.
— Você tem um horário para que trazer ele? —
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Perguntei.
— Nós iremos almoçar, talvez comer algum doce
que Giovana tenha feito e conversar. —
Respondeu.
— Caso precise de alguma coisa, não exite em me
ligar. — Avisei.
— Quando eu vir trazer ele, eu te ligo antes. —
Avisou.
Enchi Eduardo de beijos e palavras carinhosas,
talvez eu tenha dito umas dez vezes que eu o amava
muito e que mesmo de longe estaria pensando no
mesmo.
— Vai ficar tudo bem. — Alan afirmou, tocando no
meu ombro.
— Eu só não estou acostumada. — Eu estava um
pouco sensível em deixar meu filho naquele
momento, mas não poderia negar ao pai dele aquele
pedido.
— Não irei falhar com ele, muito menos com você.
— Beijou a minha bochecha com carinho,
transmitindo uma paz imensa.

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Eu confiava em Alan de olhos fechados, sem


nenhuma dúvida e na sua mãe— que inclusive
aparecia no meu apartamento toda semana—
também. A única pessoa em que eu não confiava de
maneira alguma era Giovana. Mas como Alan
havia dito, ela estava diferente— mais madura— e
eu precisava acreditar naquilo para viver saudável
com aquela situação.
Como não queria ficar sozinha em meu
apartamento em um sábado ensolarado, resolvi que
iria ligar para a minha melhor amiga, quem sabe
pudéssemos almoçar em um restaurante ou talvez
na praça de alimentação do shopping.
"INICIO DA LIGAÇÃO"
— Alô? — Ela havia acabado de acordar, era
evidente a voz de sono.
— Que dorminhoca. — Reclamei.
— Que horas é agora? — Perguntou.
— Quase onze horas. — Respondi.
— E por quê você está me ligando a essa hora? —
Reclamou, talvez estando um pouco brava.

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— Porque talvez seria legal almoçarmos fora. —


Sugeri.
— Eu quero, estou levantando agora, passo aí em
vinte minutos. — Respondeu, desligando o
telefone.
"FIM DA LIGAÇÃO"
Sabia que não seria necessário muitas palavras
para convencer Gabriela de sairmos para almoçar
fora — principalmente quando o assunto envolvia
comida —. Mas também porque reclamava que
agora eu mal saía com ela para passearmos.
Talvez com a chegada do Eduardo em minha
vida, eu tivesse deixado a vaidade de lado para
tomar todo o cuidado com ele. Então naquele dia,
como eu não precisaria me preocupar com suas
roupas, fraldas e tudo mais, coloquei uma roupa um
pouco mais bonita. Vesti um vestido que fazia
muito tempo que não usava— principalmente pelo
meu corpo ter se modificado por conta da gravidez
— mas ainda assim servia perfeitamente.
Quem sabe agora o vestido ficava melhor no
meu corpo. Querendo ou não quando a mulher fica
grávida o seu corpo de alguma forma aumenta, o
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quadril fica ainda mais largo, os seios maiores por


conta do leite, até as coxas sofrem uma
modificação. E eu senti essa mudança com o meu
corpo.
E é óbvio que a minha melhor amiga demorou
mais de vinte minutos para chegar até a minha casa.
Talvez já tivesse passado uns quarenta minutos
quando bateu na minha porta.
— Vinte minutos.— Falei irônica, olhando a
produção que a minha amiga havia feito para
sairmos.
Ela também estava com um vestido, mas com
certeza passou mais tempo fazendo chapinha no
cabelo e passando a maquiagem— mesmo que não
fosse tanto exagero— ela tinha total cuidado com a
maquiagem.
— Precisei de mais tempo. — Afirmou, revirando
os olhos.
Eu não gostava muito de dirigir — quando
havia alguém que pudesse fazer isso por mim—,
então Gabriela fez questão de dirigir. Alguns
minutos demoraram para chegarmos até um
restaurante — que por sinal eu já havia frequentado
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tanto com a Gabi, quanto com os acompanhantes


—.
Era um restaurante um tanto chique, os pratos
eram servidos nas mesas, com um cardápio variado
de comidas e sobremesas. O preço era mediano,
não era tão alto e como eu estava trabalhando e
também tinha a ajuda do Alan, não faria mal
almoçar lá naquele dia.
— Está mais bonita. — Elogiou-me, fazendo-me
sorrir.
— Obrigada. — Agradeci. — Graças ao Eduardo.
— Sabe o que eu acho que você precisa? —
Gabriela perguntou.
— O que? — Perguntei curiosa.
— De um homem. — Respondeu. — Está na hora
de esquecer o Alan, ele está seguindo a vida com a
Giovana. — Falou.
Era certo que eu não poderia esperar Alan para
sempre. Por mais que eu o amasse muito, ainda
assim ele havia seguido a sua vida. Ele havia me
perdoado pelo nosso passado conturbado.

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E estava na hora de eu me perdoar.


— Quem sabe eu precise mesmo de alguém. —
Pensei na hipótese de me apaixonar de novo e
dentro da minha cabeça parecia algo impossível.
Primeiro porque eu não me apaixonava fácil.
Segundo porque eu não parava nenhum segundo de
pensar no Alan, principalmente por vê-lo todos os
dias e presenciar cenas maravilhosas de afeto entre
ele e Eduardo.
— O bom é que Eduardo ainda é novo, fica mais
fácil de ele se adaptar com novas pessoas. —
Comentou.
Realmente era muito mais fácil para um bebê se
adaptar quando era novo. Principalmente porque
quando começa a crescer começa a querer escolher
as pessoas, na maioria das vezes por questões
afetivas, da quantidade de vezes que já viu e tudo
mais.
Talvez eu não fosse tão confiante em relação
com a minha autoestima que estava um tanto baixa.
É claro que agora eu tinha um emprego "normal" e
que me ajudaria a me acostumar com a vida normal
que a maioria das pessoas levam.
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Só não sabia como iria começar a procurar por


um novo amor, teria que deixar acontecer
naturalmente.

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CAPÍTULO 49
Em vez de irmos para o meu apartamento ou
para dela após almoçarmos, resolvemos que
passaríamos no shopping — já que a minha melhor
amiga estava necessitando de roupas novas — e
além do mais fazia tempo que não assistíamos a um
filme no cinema.
Nesse meio tempo que estivemos mais unidas,
nós duas relembramos um pouco do nosso passado,
nossos maiores segredos, os sonhos que ficaram
longe demais, entre outras coisas que só nós duas
sabíamos.
— Amiga, não olha agora. — Gabriela falou
sorrindo. — Mas tem um gatão te encarando. —
Contou.
Dizer para não olhar — em minha opinião — é
a mesma coisa que dizer: OLHE AGORA.
E foi isso que eu fiz.
Assim que ela falou que não era para eu olhar,
virei o rosto da maneira mais disfarçada possível e
assim que coloquei os olhos no "gatão" ele sorriu
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como se soubesse exatamente o motivo pelo qual


eu estivesse o olhando.
Foi impossível não sorrir de volta. Não por ele
ser bonito ou charmoso — e era muito —, mas
porque estava envergonhada e não queria ser mal
educada a ponto de não retribuir um simples
sorriso.
Não olhei mais para o lado, mas de vez em
quando Gabriela fazia questão de olhar para ver se
o homem estava olhando.
Ele estava sentado uma fileira depois da nossa,
e ao seu lado havia um menino que deveria ter em
torno de 17 anos. Talvez pudessem ser irmãos — já
que o homem parecia ter apenas alguns anos a mais
do que eu —.
— Isso é tão divertido. — Gabriela deu uma risada
um tanto alta, chamando a atenção de algumas
pessoas.
— O que exatamente? — Perguntei confusa.
— O cara não para de te olhar. — Respondeu.
Tentei voltar a prestar atenção no filme que
estávamos assistindo, que por sinal era um tanto
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interessante. Chamava-se O MAIOR AMOR DO


MUNDO, e era como se contasse várias histórias
relacionadas à maternidade. O problema é que com
a minha melhor amiga ao meu lado, era quase
impossível prestar atenção, parecia uma
adolescente.
Quando saímos da sala do cinema, antes
mesmo de entrarmos em uma loja, o homem
apressou os passos junto ao adolescente, nos
alcançando.
— Moça. — Ele tocou no meu braço, chamando a
minha atenção.
— Sim?
— Eu percebi que notou os meus olhares. — Falou.
— Pois é. — Concordei.
— Eu gostaria de saber o seu nome, será que é
possível? — Perguntou.
Falar ou não? Após receber um pequeno
empurrão da minha amiga, resolvi responder.
— Selena Moura.
— Kleber Trindade. — Deu a mão para que eu
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apertasse e assim fiz, mas ele levou minha mão até


a sua boca e depositou um beijo sobre ela.
Fiquei envergonhada, talvez eu estivesse
vermelha e ele notara isso.
— Foi um prazer conhece-la.
Pensei que no mínimo ele iria pedir o meu
número do celular ou alguma rede social, mas após
beijar minha mão saiu com seu amigo. Ele estava
brincando comigo? Foi tão estranho.
Já era um pouco tarde, passava das quatro horas
e terminávamos de sair da ultima loja do shopping.
Gabriela estava cheia de sacolas penduradas em
seus braços, fora as que eu estava levando para ela.
No meio daquela correria o meu celular começou a
dar sinal de vida, tocando dentro da minha bolsa.
A imagem do Alan com o Eduardo apareceu na
tela, provavelmente ele estava me ligando para
avisar que em poucos minutos estaria levando o
nosso filho de volta para o meu apartamento.
Atendi animada apenas por saber que escutaria
a voz de Alan.
"INICIO DA LIGAÇÃO"
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— Alan?
— Selena, você está aonde? — Perguntou e algo na
sua voz me incomodava.
— Saindo do shopping com a Gabriela. —
Respondi.
— Eu te mandei várias mensagens, estou no
hospital com o Eduardo. — Falou tudo de uma vez,
rápido demais, fazendo com que o meu coração já
doesse sem nem saber o motivo pelo qual estava lá.
— O que aconteceu com o Eduardo? — Perguntei
preocupada.
— A Giovana acabou dando comida para ele sem
querer. — Respondeu.
— Sem querer? Ela fez isso de propósito, qualquer
um sabe que não se deve alimentar um bebê recém-
nascido com comida normal. — Gritei no celular,
chamando a atenção da minha melhor amiga.
— Conversamos depois, o médico está me
chamando. — E foi isso, ele desligou o celular na
minha cara.
"FIM DA LIGAÇÃO"
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Eu estava nervosa e preocupada. O pequeno


Eduardo tinha apenas seus três meses e o indicado é
que pelo menos até os seis meses nenhum alimento
sólido seja dado para um bebê. Alan não prestou
atenção em nada que lhe disse antes de sair do meu
apartamento com nosso filho.
Mesmo que fora Giovana que tenha dado o
alimento, isso não importava. Deixei Eduardo aos
cuidados de Alan, não da sua namorada, era a
obrigação dele para a minha total confiança de que
tudo ficaria bem.
Gabriela fez questão de me levar até o hospital
onde Alan estava com Eduardo. A recepcionista
cogitou em me deixar entrar — mas após eu quase
fazer um escândalo — ela aceitou que eu entrasse.
Encontrei com a mãe do Alan no corredor, sentada
em uma cadeira ao lado de uma sala.
— Onde meu filho está? — Perguntei preocupada.
— Selena fique calma. — Helena pediu, deixando-
me ainda mais nervosa.
— Por favor, é o meu filho. — Choraminguei.
Antes mesmo que ela dissesse alguma coisa, a
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porta ao meu lado foi aberta e de lá saiu meu filho


no colo de seu pai. Ele estava com o rosto um
pouco inchado — talvez por conta do choro —
assim que o vi, peguei-o em meu colo.
— Oi meu amor, o que aconteceu com você? —
Todos estavam olhando para mim, Alan estava
nervoso também, mas provavelmente ainda mais
por saber que teríamos uma longa conversa.
— O pedaço de cenoura ficou na garganta dele. —
Alan explicou.
— Ela deu cenoura para o meu filho? Um pedaço?
— Perguntei, era inacreditável o quanto a
namorada dele poderia ser ignorante. — Ela não
pensou ao menos em amassar? Ela nunca viu um
filme? Um documentário? Uma série?
Retirei o papel que estava nas mãos de Alan e
sai andando para fora do hospital com o meu filho
no colo. Como é ilegal andar com bebê em carro
sem cadeirinha, infelizmente esperei pela chegada
do Alan.
— Gabriela pode ir, vou com Alan, obrigada por
me esperar. — Avisei.

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— Está tudo bem com o meu príncipe? —


Perguntou.
— Está sim, foi apenas um susto. — Respondi.
Não demorou muito para que Alan chegasse
acompanhado da sua mãe. Eu não disse nenhuma
palavra no caminho inteiro, antes de irmos ao meu
apartamento, ele deixou sua mãe no dele.
Ele seguia caminhando atrás de mim com a
bolsa de roupas do Eduardo, enquanto eu segurava
o meu filho que dormira o caminho todo.
Eu não costumava fechar a porta do quarto
dele, porque tinha medo de que ele chorasse e eu
não o escutasse, mas dessa vez, preferi fechar, para
que ele não escutasse a discussão que eu teria com
seu pai.
Eu iria explodir a qualquer momento.
— EU NÃO CONFIO MAIS EM VOCÊ! —
Gritei, quando voltei para a sala.
— Desculpa Selena, eu falei para ela que ele só
poderia consumir o leite que eu trouxe. —
Explicou-se.

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— Parece-me que não adiantou muito, da próxima


vez você desenha para a sua namorada. — Avisei.
— Ela não é mais a minha namorada porra. —
Esbravejou, levantando-se, ficando perto demais,
era possível sentir a sua respiração misturar-se com
a minha.
Eu não sabia o que dizer. Por mais que
estivesse brava demais com ele, ouvir que agora ele
não estava mais namorando com ela, trazia-me
certo alívio.
— Por que você terminou com ela? — Perguntei
baixo.
— Como você acha que eu me senti vendo meu
filho ficar sem ar? E ver que ela havia provocado
aquilo mesmo eu dizendo diversas vezes que ele
poderia tomar apenas o seu leite? Mesmo que ela
diga que não foi de propósito, eu não sei lidar com
isso. — Contou, deixando meu coração na mão.
Ele havia terminado o seu relacionamento por
causa do Eduardo.

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CAPÍTULO 50
Apesar de acreditar nas palavras de Alan, o
meu coração ainda estava muito machucado por ele
não ter tomado um maior cuidado em relação ao
Eduardo. Ele avisou que só sairia do meu
apartamento quando eu estivesse mais calma e
houvesse perdoado ele.
Talvez ele tenha cansado de esperar, agora
havia tomado posse do meu pequeno sofá e dormia
tranquilamente. Sentia falta de vê-lo lá como
antigamente quando ele vinha passar alguns dias
comigo, era um tanto gostoso vê-lo dormir.
Nosso filho não era muito ao contrário do pai
— também estava dormindo — mas em seu berço,
como se nada em sua volta importasse.
Como havia tido um dia agitado por conta de
ter saído com a minha melhor amiga e depois ter
ido ao hospital por causa do Eduardo, resolvi que
também me permitiria dormir, ainda mais por Alan
estar lá.
Não demorou muito para que eu acordasse —

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mesmo estando com sono —, algo ou alguém


estava mexendo no meu cabelo e eu estava
gostando. Abri meus olhos lentamente, adaptando-
me com a pouca luz.
Encarei os olhos de Alan e o lindo sorriso que
ele deu após me ver acordar.
— O que está fazendo aqui? — Perguntei baixo por
conta do sono.
— Olhando você dormir. — Respondeu.
— Por que?
— Saudade. — Contou.
Eu deveria fazer alguma coisa? Tomar alguma
atitude? Ou deveria deixar que Alan fizesse o que
estivesse querendo fazer?
Tentei não olhar em seus olhos, mas era algo
inevitável.
Contentei-me em apenas olhá-lo, mesmo
porque eu estava esperando que ele tomasse alguma
atitude, mas não o fez.
Alan deitou de uma forma mais confortável ao
meu lado, para que ficássemos lado a lado. E então
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encarou o teto.
— Está triste? — Perguntei.
— Por que estaria? — Devolveu com outra
pergunta.
— Por você e pela Giovana. — Respondi.
Ele pensou antes de responder.
— Não exatamente. — Mordiscou o lábio. —
Embora eu estivesse com ela todos esses meses,
não era a mesma coisa.
— Mesma coisa?
— É. — Concordou. — Mesmo que tenha sido
tudo uma farsa o nosso relacionamento, com você
eu me sentia feliz.
Não fora tudo uma farsa, havia deixado claro
isso na carta.
— Ei, não fala assim. — Pedi. — Eu amei você.
Alan virou-se no estante que disse que lhe
amei, olhando fixamente para os meus olhos.
— No passado? Amou? — Perguntou, deixando
um leve sorriso escapar.
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— Você sabe que eu ainda te amo e sempre vou


amar. — Confessei.
Nós sorrimos juntos. Aos poucos ele começou a
se aproximar, estávamos a uma distancia
considerável um do outro. Quanto mais perto ele
chegava — mesmo sem me tocar — eu me
arrepiava cada vez mais. Esse era o efeito que Alan
causava em mim.
Talvez eu nunca entendesse o verdadeiro
motivo pelo qual sentia esses arrepios — às vezes
apenas pensando nele — e agora estava mais do
que explicado. É amor.
Quando finalmente nossas bocas iriam se tocar,
Eduardo fez questão de dar sinal de vida do outro
cômodo. A babá eletrônica estava ligada e então
escutamos o som do seu choro pelo quarto.
Alan sorriu frustrado pelo clima quebrado e eu
me levantei imediatamente para ver o que meu
filho estava precisando.
Estava me sentindo como uma adolescente —
há anos não sentia isso —. Eduardo estava se
remexendo de um lado para o outro dentro do seu
berço e chorava alto, claro, ele queria atenção.
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Qual é a criança que gosta de ficar sozinha?


Nenhuma.
Peguei-o com todo o cuidado, fazendo-o parar
de chorar no mesmo instante.
— Boa noite meu pequeno. — Beijei o topo da sua
cabeça. — Será que você está com fome?
Pensei em voltar até o meu quarto — onde
Alan estava —, mas como não estava acostumada
em amamentar Eduardo na sua frente, optei em me
sentar na cadeira de balanço onde amamentara ele
na maioria das vezes.
— Você quer ouvir uma musiquinha, meu amor?
— Eu sei que ele não iria me responder, mas era
gostoso conversar, assim, aos poucos ele iria se
acostumando ainda mais com o som da minha voz e
também com as palavras.
Muitas pessoas acreditam que o conversar não
importa muito na fase de nascimento, mas
especialistas dizem que desde que o bebê está
dentro da mãe, é sempre bom desenvolver a
conversa.
Aquele momento de mãe e filho era tão
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especial quanto quando estamos os três juntos.


Alan estar por perto melhorou tudo. Não digo
apenas por amá-lo e querê-lo presente em nossa
vida e sim no fato de que trouxe paz.
Aquela paz que só eu e Eduardo entendemos,
quando a campainha toca e nós sentimos o cheiro
do perfume dele, que nos faz sorrir sem antes vê-lo,
sem antes escutar sua voz, sem antes tocá-lo.
— Hoje você precisa ajudar a mamãe e dormir a
madrugada toda. — Pedi baixinho.
Sim, confesso que estava pensando em Alan
quando disse aquilo e que fiquei envergonhada
quando notei que estava sendo vigiada.
Sorri sem graça para Alan que estava encostado
na porta.
— Então ele precisa dormir a madrugada toda? —
Alan brincou, deixando-me vermelha.
— É que eu estou cansada. — Menti, mesmo que
eu estivesse muito cansada, por ter dormido pouco,
ainda assim teria forças o suficiente se o assunto
tivesse haver com ele.
— Ah, que pena. — Por que ele estava me olhando
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daquele jeito sacana, como se a qualquer momento


fosse me atacar?
Caminhei para fora do quarto sem fazer barulho
para que Eduardo — que agora voltara a dormir —
não acordasse. Alan acompanhou-me de volta para
o meu quarto e quando fui me apoiar para pegar o
meu pijama que estava na parte de cima do meu
guarda roupa, ele abraçou-me por trás.
— Eu estou com saudades de você. — Falou baixo
no meu ouvido e em seguida beijou levemente meu
pescoço.
Naquele momento eu já não conseguia nem
responder. Apenas concordei com um "aham" e
virei-me para ele.
Seus olhos percorriam todo o meu corpo com
urgência, era como se agora me olhasse de outra
maneira. Não sei exatamente no que ele estava
pensando, mas coisa boa não era — por um lado —
e sim pelo outro era uma maravilha.
— Você gosta disso, não é? — Sussurrou,
mordiscando o nódulo da minha orelha.
— Gosto muito. — Confirmei.
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— E o que você quer? — Perguntou.


— Que me faça sua. — Pedi, na verdade eu estava
quase implorando.
Olhou-me por um segundo, sem demonstrar
expressões nenhuma.
— Pensei que já fosse minha. — Comentou.
— E eu sou sempre serei. Mas você terá que me
fazer sua esta noite. — Avisei.
E não foi necessária mais nenhuma palavra
para que Alan me pegasse no colo e andasse até a
cama. Debruçou-se por cima de mim, mas
permaneceu cuidadosamente para que o peso do
seu corpo não caísse totalmente sobre o meu.
Enquanto as minhas mãos estavam em volta do seu
pescoço, as dele — por outro lado — passeava por
todo o meu corpo, trazendo as melhores sensações
que eu pudesse sentir.
Alan era um completo cavalheiro na cama —
como eu me lembrara —, mas dessa vez ele estava
querendo inovar. Buscou por ser um tanto mais
"selvagem" digamos assim, mas não de uma
maneira ruim — que me machucasse — mas que
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trouxesse mais adrenalina ao que estávamos


vivendo.
Sugava seus lábios como se a qualquer
momento aquilo fosse acabar. Fazíamos tudo na
urgência e na saudade. Se aquela fosse a nossa
última noite juntos, com certeza teríamos a nossa
melhor noite para se lembrar.
A maneira como ele mostrava me desejar,
ansiar por me ter cada vez mais, era o que mais me
motivava a continuar. Eu estava totalmente
dominada por aquele homem feroz, e eu devo
confessar que estava adorando aquele outro lado
que eu desconhecia e que seria perfeito — caso
ficássemos juntos — que pudéssemos inovar todas
as vezes que fossemos fazer amor.
É agora definitivamente podíamos chamar de
AMOR.
Sem mentiras envolvidas. Havíamos nos
colocado como foco principal, não havia nada a
nossa volta que pudesse acabar com o momento
incrível que nos encontrávamos.
Foram os melhores minutos que vivi na vida ao
lado dele.
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Alan deitou-se ao meu lado, assim como eu,


estava exausto.
— Isso foi incrível. — Afirmou, olhando para o
teto e tentando controlar a respiração.
— Eu não esperava por isso. — Confessei.
— Isso o que? Vai dizer que não imaginava que
iríamos fazer amor outra vez? — Perguntou, agora
olhando diretamente para mim.
Balancei a cabeça positivamente.
— Eu sempre esperei que sim. — Contei. — Mas
digo que desta vez você foi diferente.
Alan sorriu animado, como se estivesse
satisfeito com a minha resposta. Poderia ver
claramente olhando para mim que eu estava feliz e
satisfeita com a maneira que fizemos amor.
— O que você acha de tomarmos um banho? —
Convidei.
— Na sua companhia aceito tudo. — Levantou-se
animado, dando a mão para que eu pudesse me
levantar.
Alan foi carinhoso na hora do banho, fez
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questão de banhar-me e assim fiz com ele também.


Precisávamos corresponder o que sentíamos e
compartilhar cada momento que nos restava.
Acariciei seu rosto e adorava vê-lo sorrindo.
Talvez já comentasse alguma vez que aquele era o
sorriso mais lindo que já havia visto na vida e que
torcia para que Eduardo também fosse como o pai.
Assim que saímos do banheiro, não nos
preocupamos em colocar roupas, e sim em correr
para de baixo da coberta, o tempo ainda estava frio,
apesar do calor que sentimos há pouco tempo.
— Selena? — Alan me chamou, agora estava um
pouco mais sério.
— Sim.
— Eu sei que o que fizemos foi muito bom e que
com certeza eu irei querer repetir para o resto da
minha vida. — Começou a falar e me deixou
confusa pela maneira estranha que estava falando.
— E apesar de eu te perdoar, eu ainda sinto um
pouco de receio, não sei se me entende. Eu não
conseguiria casar com você agora e não quero que
pense que fiz amor com você apenas por
divertimento, sem querer algo sério. Mas tenha
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certeza que não há outro lugar onde eu gostaria de


estar agora, se não ao seu lado. — Confessou.
Eu havia derramado algumas lágrimas.
— Onde você está querendo chegar? — Perguntei
com medo.
— Eu quero ficar com você para o resto da minha
vida, mas quero saber se você também quer isso? E
se está preparada para me esperar? Até eu estar
confiante novamente? — Perguntou.
Se eu quero ficar para o resto da minha vida
com ele? Isso é algum tipo de brincadeira? Nem
que eu precisasse esperar o tempo que fosse, tendo
Alan e Eduardo por perto nada mais importava.
— Eu quero você para o resto da minha vida, nem
que a gente namore para sempre, eu lhe espero. —
Afirmei.
Ele sorriu, eu sorri, nós nos amávamos.
Minutos depois Alan levantou-se e trouxe
nosso filho até o meu quarto, colocou-o com todo o
cuidado entre nós dois. Agora sim, éramos
finalmente uma família formada. Não havia mais
nada e nem ninguém para nos separar. Era só
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esperar que os dias passassem e que Alan


finalmente conseguisse olhar para mim como sua
mulher.
Porque quando amamos, não importa o tempo,
se é amor, irá acontecer do jeito certo, na hora
certa.
"Quando encontrar alguém e esse alguém fizer seu
coração parar de funcionar por alguns segundos,
preste atenção: pode ser a pessoa mais importante
da sua vida. Se os olhares se cruzarem e, nesse
momento, houver o mesmo brilho intenso entre
eles, fique alerta: pode ser a pessoa que você está
esperando desde o dia em que nasceu.

Se o toque dos lábios for intenso, se o beijo for


apaixonante, e os olhos se encherem de água nesse
momento, perceba: existe algo mágico entre vocês.
Se o primeiro e o último pensamento do seu dia for
essa pessoa, se a vontade de ficar juntos chegar a
apertar o coração, agradeça: Deus lhe mandou um
presente divino - o amor.

Se um dia tiverem que pedir perdão um ao outro


por algum motivo e em troca receber um abraço,
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um sorriso, um afago nos cabelos e os gestos


valerem mais que mil palavras, entregue-se: vocês
foram feitos um para o outro. Se por algum motivo
você estiver triste, se a vida lhe deu uma rasteira e
a outra pessoa sofrer o seu sofrimento, chorar as
suas lágrimas e as enxugar com ternura, que coisa
maravilhosa: você poderá contar com ela em
qualquer momento de sua vida.

Se você conseguir, em pensamento, sentir o cheiro


da pessoa como se ela estivesse ali do seu lado. Se
você achar a pessoa maravilhosamente linda,
mesmo ela estando de pijama velho, chinelos de
dedo e cabelos emaranhados. Se você não
consegue trabalhar direito o dia todo, ansioso pelo
encontro que está marcado para a noite. Se você
não consegue imaginar, de maneira nenhuma, um
futuro sem a pessoa ao seu lado. Se você tiver a
certeza que vai ver a outra envelhecer e, mesmo
assim, tiver a convicção que vai continuar sendo
louco por ela. Se você preferir morrer, antes de ver
a outra partindo: é o amor que chegou na sua vida.
É uma dádiva!

Muitas pessoas se apaixonam muitas vezes na vida,


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mas poucas amam ou encontram um amor


verdadeiro. Ou às vezes encontram e, por não
prestarem atenção nesses sinais, deixam o amor
passar, sem deixá-lo acontecer verdadeiramente. É
o livre-arbítrio.

Por isso, preste atenção aos sinais, não deixe que


as loucuras do dia a dia o deixem cego para a
melhor coisa da vida: o amor!"

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CAPÍTULO EXTRA
Estávamos na festa de formatura do curso de
Administração que Sabrina acabara de concluir.
Assim como mamãe, eu estava tão ansiosa quanto
ela. Quando vi minha irmã mais nova receber
aquele certificado de conclusão, senti orgulho e
imaginei o quanto papai estaria feliz e realizado
olhando por ela lá do céu.
Mamãe não conteve as lágrimas e chorei junto.
Alan acompanhava tudo de perto, esboçando
expressões de felicidade apenas. Já Eduardo nós
não poderíamos trazer em um lugar onde haveria
música muito alta e bagunça, optamos em deixá-lo
com a mãe de Alan em seu apartamento.
O repertório das músicas estava tranquilo — e
apesar de muito funk —, não apelaram para a
baixaria ainda mais por ter famílias e muitas
crianças no local. Sabrina dançava freneticamente
com as amigas da classe, quando de repente a
música mudou drasticamente para sertanejo, alguns
casais atreveram-se a dançar.
A consequência maior fora que a música que
começara a tocar era a mesma que eu havia
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escolhido para deixar a Alan quando ele


descobrisse tudo. Ele me olhou com ternura,
estendendo o braço para que eu pegasse sua mão,
estava me convidando para dançar.
"Vai me perdoando
Esse meu jeito estranho
Eu sei que fez você sofrer
Tudo era mentira
E você quis pagar pra ver

Sei que é a hora


Hora de dizer adeus
Vai me perdoando
Esquece aqueles planos
Tudo o que eu te prometi
Sei que é difícil encarar que seja o fim
Mas vai me perdoando enfim

Vai perdoando alguém que sempre só quis o seu


bem
E vai lembrando que o ser humano erra também
Nunca mais chore por amor

Perdoa, por favor, entenda

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Vai perdoando que o destino te trará alguém


E com os anos você vai se esquecer, meu bem
Nunca mais chore por amor
Perdoa, por favor, entenda"
E aquela música que eu passara a gostar,
envolveu-nos em uma sincronia imensa ao
dançarmos. O que mais me surpreendeu, foi olhar
para o lado e deparar-me com minha irmã
dançando com um rapaz — que parecia ter a
mesma idade —, eles estavam perto demais, o
garoto dizia algo em seu ouvido e ela sorria como
se estivesse apaixonada.
Talvez fosse ele.
E então após dois meses desde que Alan falou
no meu quarto que queria ficar comigo, mas que
precisávamos esperar o momento certo. Naquela
dança, ele sussurrou algo que eu esperava mais do
que tudo.
— Eu estou pronto. — Confessou.
— Pronto para que? — Eu precisava ter certeza do
que ele estava falando.
— Eu quero me casar com você. — Falou.
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Uma lágrima ousou cair.


Dentre aqueles dois meses que se passaram
tudo o que eu mais queria ouvir dele era que estava
pronto. Que podia finalmente confiar em mim
novamente, sem medo de me levar ao altar, com
toda a certeza que diria um SIM dessa vez.
Eu o abracei ali mesmo, entre aqueles casais
que dançavam de um lado para o outro. Nós nos
beijamos felizes e completos...
[...]
Eu estava nervosa e preocupada. Não sabia ao
certo como reagir, aquele era o dia mais feliz da
minha vida. Tudo estava encaminhado para dar
certo.
Dessa vez o casamento havia sido planejado
para uma quantidade menor de pessoas, apenas as
mais próximas. Não fora mais dentro de uma igreja
e sim a céu aberto. Por sorte o tempo estava bom,
não tinha um sol forte, apenas aquele que dava cor
ao dia, as nuvens que havia ajudavam para que o
tempo ficasse fresco — caso contrário — muitos
estariam sofrendo por usarem roupas quentes.

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O local foi decorado de maneira simples —


como eu havia pedido —, as cadeiras eram todas na
cor branca, o tapete vermelho na grama — apenas
como tradição — e lá estava Alan, esperando-me
no altar ao lado do padre.
Mesmo olhando de uma distância considerada
— sendo levada pela minha mãe —¸ ainda assim
poderia perceber que ele estava com vontade de
chorar.
Esse finalmente era o nosso casamento, tudo
era verdadeiro.
Ele sussurrou um "eu te amo", como se eu não
estivesse caminhando em sua direção.
"Eu também te amo" precisei dizer de volta —
mesmo que eu sentisse — para lhe assegurar de que
tudo daquela vez fosse dar certo.
Alan segurava a minha mão nervoso, estava
tremendo e isso começara a me deixar um tanto
nervosa também. Pedi calma enquanto o padre lia
alguns trechos do que era necessário, novamente
como havia feito no nosso casamento que não dera
certo.

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— Sim. — Foi a melhor palavra que saiu da sua


boca naquele momento, ele havia aceitado a se
casar comigo.
E lá, ao ar livre, da maneira mais pura que eu
queria que tudo acontecesse, eu e Alan por fim nos
unimos. Esses laços jamais poderiam ser quebrados
dali para frente.
E eu não poderia querer mais nada. Tendo Alan
e Eduardo comigo já era tudo que eu sempre quis.

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