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Nas mãos da máfia

Os mafiosos – Livro 3
Nova versão

(A história de Jasmine e Daniel)

Manuele Cruz
Copyright © 2021 Manuele Cruz

2° Edição – 2021

Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens,


lugares e acontecimentos descritos são produtos da
imaginação da autora. Qualquer semelhança com
nomes, datas e acontecimentos reais é mera
coincidência.

Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução


no todo ou em parte, por quaisquer meios, sem a
autorização da autora.

Capa: L.A Design

Revisão e diagramação: Manuele Cruz


Sinopse
*Para entender esse livro é necessário
, naler
ordem:

Atraída por um mafioso – Série Os mafiosos (Livro 1)

Juntos outra vez – Série Os mafiosos (Livro 2)

Quando Jasmine Ventura é obrigada a casar com um parceiro de


negócios do seu pai, ela decide que precisa fugir de casa. Porém,
um acidente atrapalha sua fuga e trás mais medo em sua vida...

Mas isso logo passa quando ela descobre que foi salva por Daniel
Bertollini, no entanto, há mais um empecilho nessa história, ele é um
mafioso que não é tão próximo ao pai de Jasmine.

Mas Jasmine acaba se envolvendo mais com Daniel...

Um contrato de casamento é feito para unificarem e se ajudarem


contra um inimigo em comum.

Uma nova vida começa para eles.

Daniel, que foi vítima de Yoshida no passado, e Jasmine, que é um

alvo desse inimigo e nem sabem o porque.

Jasmine acha que foi salva por Daniel, mas, na verdade, foi Jasmine
quem trouxe mais sentido e mais clareza na vida de Daniel.
Mas nem tudo acontece como querem. O final feliz, talvez, ainda

esteja longe de chegar...


Sumário
(1) Notas da autora
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
(1) Bônus
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
(2) Bônus
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
(3) Bônus
Capítulo 19
(4) Bônus
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
(5) Bônus
Capítulo 24
Epílogo
(2) Nota da autora
Os mafiosos – Livro 4
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Livros da série
Contatos da autora:
Alguns livros da autora
(1) Notas da autora

*Para entender esse livro é necessário


ler, na ordem:

Atraída por um mafioso – Série Os


mafiosos (Livro 1)

Juntos outra vez – Série Os mafiosos


(Livro 2)

Essa é a nova versão do livro que,


anteriormente, era chamado ''Só mais uma
chance''.

Esse livro foicompletamente reescrito,


nada da versão anterior foimantido!
A trama continua girando em torno das
famílias e gangues, assim como nos negócios de
Yoshida.

Muitos personagens foram retirados na nova


versão e alguns novos foram adicionados.

*Para os leitores que estarão


acompanhando pela primeira vez, há novos
personagens, que podem ter a história contada
logo nesse livro, ou em outros livros. Mas todos os
personagens têm motivos para estarem inseridos
na história.

**Os países são fictícios, mesmo quando


cito algum país que existe na vida real.

***Por mais que algumas situações pareçam


absurdas e muito fictícias, todos os
acontecimentos foram inspirados em fatos reais.

Essa série necessita de atenção para ser


lida, já que contém alguns mistérios e enigmas, e
algumas questões são faladas como pistas, para
irem juntando peças e entendendo o jogo do vilão,
o Yoshida.

Contém violência física, psicológica,


contendo também relatos de abusos sexuais,
mas não sendo contado o ato no momento em
que acontece.
Prólogo
NICOLE
Na noite do epílogo do livro 2

''ENTRADA PROIBIDA!''

Passo pelos arames e sinto que eles estão cortando a


minha pele. Não me importo com isso.

Caminho no escuro, o vento frio tocando a minha pele.


Meus pés estão sendo espetados e cortados. Perdi meus sapatos
e ainda perdi algumas peças de roupas. Meu sapato não

aguentou a longa caminhada e minhas roupas foram rasgadas

pelos galhos das árvores.

Continuo caminhando até que escuto o barulho... O

barulho da minha libertação.

Corro e tropeço, ralando o meu joelho e destruindo mais a

minha calça. Mas não me importo, daqui a pouco estarei livre


disso tudo. Estarei livre da minha vida.
Paro em frente ao meu destino. A enorme cachoeira. Esse

lugar é proibido, já que muitas como eu, vêm aqui para se libertar
da dor.

As árvores já não estão mais aqui para cobrir a claridade


da lua. Posso ver a cachoeira de perto. A enorme cachoeira. Se

eu pular, morrerei. Além da correnteza forte, as pedras poderão

me matar antes mesmo de chegar à água.

Aproximo-me mais do abismo e olho para baixo.

Por que caminhei tanto até aqui?

Sento no chão, já em duvida do que fazer.

Nunca tive nada de bom nessa vida... Só Daniel, mas


também sinto que eu o incomodo. Ele tem que viver a sua vida e

me esquecer, eu só dou tristeza e trabalho para as pessoas.


Minha mãe morreu. Meu pai sempre me odiou e deixava isso bem

claro para mim. Eu nunca tive amigos sem ser Daniel, a maioria

me odiava ou me afastava.

Ninguém gosta de mim. Minha madrasta me via chorando e


ria sem piedade, meus irmãos por parte de pai deixavam claro

que eu não era aceita ali.

Daniel sempre cuidou de mim, talvez por obrigação...


Não dá para continuar vivendo essa vida.

Daniel nunca vai me perdoar por isso, mas eu não consigo

me livrar dessa dor. A dor de ser rejeitada e saber que sou um


incômodo na vida das pessoas.

Daniel sempre dedicou a sua vida cuidando de mim.

Jasmine é o seu grande amor, no entanto, quando eu estava mal

na clínica,os médicos ligavam para Daniel. Sei que eu atrapalho


muito a sua vida.

Ele vai sofrer com isso... Talvez ele nem ao menos saiba o
que farei aqui.

— Eu espero que não esteja pensando em fazer isso.

Levanto rapidamente do chão e vou para o lado, se fosse

para frente, eu teria adiantado a minha morte.

Pela claridade da lua eu vejo um homem. Eu não vejo bem

a fisionomia, mas ele me parece preocupado.

— Moça, por favor, não faça isso.

— Então o que faz aqui? Esse lugar é conhecido por essas

coisas. — abraço o meu próprio corpo, agora com medo do que

está por vir.


— As pessoas se matam aqui, sei disso. Porém, eu vim

aqui para pensar e eu acho que você faz o mesmo. — ele não
tenta se aproximar de mim, ele está apenas parado e

conversando comigo. — Não faça isso, por favor.

— Por que se importa? Nós não nos conhecemos.

— Eu posso ter passado por isso. Eu cometi erros que me

arrependo. Algumas pessoas conseguem sobreviver a isso ou


procuram outras saídas, eu fui parar nas drogas e fiz coisas

piores. Mas, moça, devo dizer, eu me arrependi de tudo e resolvi


mudar. Eu pensei em me matar, mas por que eu faria aquilo?

Sendo que podemos dar o nosso melhor...

— Eu não cometi erros. — interrompo-o grosseiramente. —

Eu apenas quero me livrar dessa dor.

— Não desista da sua vida, tudo pode se ajeitar, ser

melhor. Talvez o destino seja de dor agora, mas de melhoras no


futuro. Como o meu foi, sofrimentos e merdas, agora, finalmente,
a felicidade.

— Eu não tenho ninguém. Eu fui internada e nem meu pai


me visita. Só Daniel, mas ele... — eu sou uma obrigação para ele.

— Eu atrapalho a vida de todos. — as lágrimas começam a cair.


— Eu quase morri e só uma pessoa foi me visitar. Meu pai nem ao

menos se importou com isso. A mulher dele disse que seria um


alívio se eu morresse.

— E esse Daniel? Ele ficou ao seu lado, certo? Vai morrer


e deixa-lo para trás?

— Eu atrapalho a vida dele, você não entende. Eu sou uma


pessoa que adoeceu e ele cuidava de mim, se eu sentir qualquer
coisa, ele vem até mim, mas ele mal cuida da família dele. Estou

cansada de ser essa pessoa problemática. É melhor morrer que...

— Morrer nunca será bom. Pelo menos, ninguém voltou

para dizer como é o outro lado. Olha, não faça isso. Seu pai não
merece uma pessoa como você para chamar de filha. Você é

melhor que isso.

— Você nem me conhece. — olho para ele, com meus

olhos embaçados de lágrimas. — Não sabe se sou boa ou ruim.

— Você quer se matar por não dar trabalho às pessoas.

Você é uma pessoa que merece ser amada.

— Eu nunca serei amada sem me sentir um fardo na vida


da pessoa. Eu me odeio tanto. A minha mãe, ela se matou porque

ela não poderia viver comigo. Ela estava cansada de todos os


meus problemas de saúde e por não ter dinheiro nem para
comermos. Ela se matou por minha causa. — caio no chão. — Eu
me odeio tanto.

Choro desesperadamente caída no chão.

— Não se culpe por isso. — o homem me abraça. — Sua

mãe, ela... Pense que você sofreu por ela, por ela ter morrido.
Pense no que Daniel vai sofrer e no que eu vou sofrer.

— Eu não te conheço! — o empurro para longe de mim,


mas ele não sai.

— Eu conheço a sua dor, eu passei pelo o que você


passou, eu descontei a minha raiva e dor nas pessoas, eu fiz
enormes barbaridades e, por fim, eu queria apenas me desligar

do mundo e esquecer a minha vida. Mas eu não fiz. Eu fui atrás


da minha melhora. Entenda, eu não tinha ninguém ao meu lado.

Eu não tinha motivos para viver, então eu conheci Rachel, uma


menina pequena que precisava de ajuda. Eu vivi para salvar a

vida dela. Eu não tinha ninguém e agora tenho, você também


pode ter.

— Eu não quero. Eu só trago dor e trabalho para as


pessoas.
— Eu não me importo em trabalhar e curar a dor.

Eu paro de chorar e olho para o homem que me abraça.

— Eu não te conheço.

— Eu também não conhecia Rachel e ela me salvou.

— Eu nem sei se sua história é real.

Empurro e ele sai de perto de mim. Levanto do chão e me

afasto dele.

— Você pode ser um...

— Assassino? Você não queria se matar? — não digo

nada. — Vejo que não é isso o que quer para você. Você está

ferida e precisa de cuidados. Pode não acreditar em mim, mas eu


salvei Rachel e uma outra pessoa. Podemos dizer que cometi

tantos erros que agora eu quero pagar por todos eles.

— Como quer pagar isso?

— Ajudando pessoas como eu. Eu venho a esse lugar para


repensar na vida e pedir perdão por todos os meus pecados.

Enquanto as pessoas vêm até aqui para terminar a sua vida, eu

venho aqui pedir uma chance de viver melhor e ser perdoado. Se

eu salvar a sua vida, acredite, eu já serei uma pessoa mais feliz.


(...)

Hugo abre a porta da sua casa e pede para que eu entre.

Acreditei em suas palavras. Ele sentou no chão e contou a

sua história com Rachel, a menina que é como uma filha para ele.
Senti em sua voz um misto de dor e gratidão.

Ele passou quase o mesmo que eu, com a diferença que

ele não adoeceu e nem ficou no hospital. Ele foi para as drogas e
também ficou internado em uma clínica. Quando saiu, estava

disposto a melhorar por conta de Rachel.

Ficamos por muito tempo conversando, eu confiei em suas

palavras. Eu não estava mais destinada a me jogar naquele


precipício... Pelo menos, nesse momento, eu não me sinto assim.

Com Daniel eu não conseguia me sentir totalmente bem.

Eu apenas tinha a sensação de ''você poderia estar vivendo a sua

vida, mas está aqui sendo atrapalhado por mim''. Eu sei que
Daniel sente que é obrigado a cuidar de mim, não é isso o que

quero para a sua vida.

Mas Hugo parece querer salvar pessoas... Agora ele quer

me salvar.

Eu quero ser salva?

— Hugo, eu... — uma menina ruiva aparece na sala. Ela

olha para mim e corre em minha direção. — Meu Deus! O que


aconteceu?

Ela está preocupada? Preocupada comigo?

— Ela precisa de ajuda. — Hugo fala calmamente. —

Feridas no corpo e na alma.

A menina sorri.

— Hugo gosta de ajudar pessoas. Não se preocupe, eu

também a ajudarei.

Apenas balanço a cabeça.

— Ela é a Rachel. — Hugo fala calmamente. A menina

sorri para mim. — E essa é a Nicole.

— Muito prazer, Nicole.

O barulho da porta abrindo e batendo na parede,


interrompe a nossa conversa.
— Poderia ser menos grosseira? — Hugo pergunta para a

pessoa que abriu a porta.

Eu estou de costas para ela. Eu sei que não serei aceita

facilmente, eu nunca fui.

— Eu abro a porta da maneira que quiser. — a mulher diz


com grosseria. — Nossa! Hugo resolveu abrigar uma mendiga?

— Melhor abrigar uma mendiga, do que duas pessoas

como vocês. Eu nunca deveria ter te ajudado. — Hugo abaixa a

cabeça e sussurra. — Não fique com medo, eu não sou sempre


assim.

— Por favor, tratem Nicole bem. — Rachel pede. — Ela

precisa de ajuda.

— Ok, Rachel. — a mulher diz, mas acho que é outra. —


Mas ela poderia se virar para mim e não me ignorar?

— Venha conhecê-las. — Rachel segura a minha mão.

Percebo uma troca de olhares entre Hugo e Rachel. Rachel

segura a minha mão e me viro para as duas mulheres.

Percebo a surpresa em seus olhares, Eu sei que minhas

roupas estão ensanguentadas e rasgadas.


— Minha querida, você precisa de ajuda. — a mulher ruiva

se aproxima de mim. — Eu vou te ajudar.

— Sério isso? — Hugo grita.

— Sério, eu posso ver que passamos por algo parecido.


Quando cheguei aqui, eu estava como você. — a outra mulher,

morena, toca o meu rosto, mas eu me afasto dela. — Confie em

mim, eu te ajudarei. Quer dizer, somos uma família e iremos te


ajudar. — ela sorri e aperta a minha mão.

Confesso que estou confusa com tantas pessoas me

ajudando em um único dia... Só Daniel se aproximava de mim...

— Ainda não nos apresentamos. — a mulher ruiva chama


a minha atenção. — Meu nome é Milla e ela é a Olívia.

Cuidaremos muito bem de você.


Capítulo 1
JASMINE

Horas atrás

Eu odeio tanto a minha vida, principalmente nesse


momento, cercada de pessoas que não gosto e que desconheço.

Apenas a minha mãe ao meu lado, apertando a minha


mão, me dando apoio moral.

— Fugiremos. — ela sussurra e beija meu rosto. — Não se


preocupe, querida.

— Nós duas?

— Sim.

— Mas mãe...

— Sem discussão. Se seu pai não aceita sua felicidade, se


não aceita o seu ''não'',eu não ficarei ao lado dele. E jamais, em

hipótese alguma, serei a favor do seu casamento forçado com o

Romeo.
Minha mãe, Ingrid Ventura, é a única pessoa capaz de

bater de frente com meu pai. Porém, não é o bastante para fazê-
lo mudar de ideia.

Agora estamos no meu noivado, uma festa enorme e


animada, quer dizer, eu e minha mãe somos as únicas

desanimadas disso aqui.

Também devo dizer que minha mãe só é contra o meu

casamento porque eu não quero, porque ela também não sente


qualquer receio por Romeo. Apenas depois do que contei, antes

disso ela achava um homem normal.

Ah, e meu pai até escutou o que falei, mas ele disse que se

Romeo me fizer algum mal, ele vai mata-lo... Então é pagar pra

ver?

Eu não acredito que meu pai está fazendo isso comigo!

Pensei uma merda dessa para qualquer um, menos para meu pai.

— Não chora, Jas. — Leila toca meu braço. — Pense pelo

lado bom.

— Não tem lado bom!

Leila não persiste em sua tentativa de me fazer sentir bem.


E eu nem a convidei, desde que saí da faculdade não nos
falamos, nem ela me procura e nem eu a procuro. Mas meu pai
acredita na nossa grande amizade, então, ela está aqui.

E ali está Romeo, sorridente, vitorioso.

Cumprimenta seus amigos, um reggaeton antigo tocando e

ele de olho nas mulheres rebolando.

Olho para meu pai, que bebe a cerveja e está atento em

Romeo.

Bem que poderia desistir disso agora!

Mas não desiste, porque meu pai volta a conversar com o

pai de Romeo.

— O cretino está vindo. — minha mãe sussurra.

Olho para frente, Romeo vem na minha direção, o sorriso

prepotente ficando cada vez maior. O brilhante na sua orelha se

destacando, brilhando mais que suas lentes de contato nos


dentes. Tudo nele soa falso, até seus dentes de cavalo.

— Noivinha. — faz questão de carregar essa palavra com


zombaria. — Acho que sabemos quem venceu.

— Ainda é o quarenta e cinco do primeiro tempo. Falta o


segundo tempo, prorrogação e pênaltis.

— Uma mulher que gosta de futebol?


— E armas. E filmes violentos... Doce vingança é um ótimo

filme. — sorrio docemente. — O jogo só termina quando um sair


livre, seja por bem ou por mal.

— Esperançosa ela. — Romeo olha para minha mãe. —


Poderia ser como sua mãe, uma senhora de respeito.

— Que arrancará seu pau fora e enfiará na sua boca, até

morrer engasgado se não sair da minha frente, agora! — minha


mãe fala com firmeza, Romeo até para de sorrir. — Isso mesmo,

Romeo. Só tem a simpatia de uma pessoa, meu marido, e eu sou


mais que ele.

— Desculpe-me, senhora, mas Tyler é o chefe, não a


senhora, tampouco, Jasmine. Nunca será mais que ele, há um

grupo por trás, caso tenha um plano de tomar os negócios de


Tyler.

— Não brinque comigo, não sabe de onde vim, quem sou,


o que posso fazer.

Nem eu sei direito de onde minha mãe vem... Mas que


senti medo, senti.

Acho que até Romeo sentiu medo, pois sai sem dizer mais

qualquer palavra.
E assim o jantar de merda continua.

— No ''três''você corre, Jasmine. — minha mãe sussurra.


— Pela saída comum, é a troca de turno da segurança, eles

demoram um minuto e vinte segundos para irem e voltar. Eu vou


destravar o carro que está à frente, você corre e entra pelo fundo,

eu entro pela porta do motorista. Tem que ser rápido quando


chegarmos a porta da saída, porque a regra dada é para não

sairmos.

— Ok. — concordo.

Leila já está distraídaconversando com um cara da M-Unit.

Disfarçadamente nos aproximamos da porta de saída. Não


olhamos para trás, apenas seguimos em frente, minha mãe olha

para o relógio, depois pega a chave do carro e destrava, aperta


outro botão e sei que ela já ligou o motor do carro.

E ali eu vejo nosso passaporte para uma possível


liberdade.

— Um... — minha mãe começa a contar. — Dois... Três...

Saímoscorrendo. Entro pela porta de trás do carro e bato a

porta, minha mãe entra pela frente. O carro começa a dirigir,


acelerando.
Levanto e olho para trás, já tem gente correndo e gritando,
mandando vir atrás do carro.

Minha mãe acelera. Seguro na porta, rezo para que isso dê


certo, para conseguir fugir.

Olho para trás, vejo os faróis de motos lá atrás.

Minha mãe entra em rua, sai em outra, agora tem uma


moto que não sei mais se saiu de casa ou se é uma moto comum.

Entramos novamente em outro local, saímos de outro...

Até que escuto o som forte de uma batida.

O carro começa a rodar na pista. Minha mãe grita para me


segurar, mas agora tudo começa a chacoalhar, a virar e virar...

Até que começo a sentir tudo escurecendo. Tento manter


meus olhos abertos...

Mas cada vez a minha cabeça dói mais, não consigo


manter meus olhos abertos.

Como eu havia dito, ou era sair porque um lado cedeu, ou


morrendo.

Talvez a segunda opção está acontecendo.


(...)

Abro meus olhos. Pisco quando a claridade faz meus olhos


arderem.

Quando finalmente consigo mantê-los abertos, tento

descobrir onde estou.

— Ei, calma! — minha mãe segura a minha mão. — Está

tudo bem.

— O que aconteceu? — pergunto, tentando identificar onde


estamos. E a julgar por tudo branco... Agora vejo que tenho soro

em meu braço. É um hospital! — Está bem?

— Sim. E já fizeram seus exames. Uma concussão e

alguns arranhões, mas ficará tudo bem. — sorri e acaricia meu


rosto, depois dá um beijo na minha bochecha. — Fique calma,

mas esse não é um hospital comum, estamos nas mãos da máfia.

É um hospital clandestino feito para eles.

Agora sinto-me mais tonta.


— Oi? — tento levantar da cama, mas sinto a tontura

fiando pior e volto a deitar. Tudo roda nesse momento. — Que


máfia? O que...

Escuto a porta sendo aberta e olho para o local.

— Daniel?

Meu coração acelera, realmente não sei se é emoção por

vê-lo ou a surpresa, susto, por ele estar aqui.

— Oi, Jasmine. — ele se aproxima. — Desculpa pelo

acidente...

— Eu fui entrar em uma rua, ele estava vindo, bateu no

nosso carro. — minha mãe explica.

— Seria ok, se não fosse um detalhe. — Daniel explica. —

E por isso estão aqui, e praticamente sequestrei vocês. — não sei


qual a piada, mas ele dá risada. — Eu matei seu sogro, Jasmine.

Meio que sem querer querendo.

— Que? — agora eu grito. — Como matou aquele homem?

— Ele foi nos defender, Jasmine. — minha mãe pede


calma. — Eu estava acordada, meio zonza e preocupada com

você. Rubens queria te levar a qualquer custo, de raiva pelo

constrangimento que causamos, claro que não aceitei, porque do


jeito que ele estava, poderia te machucar ainda mais e causar

lesões. Só que Rubens puxou uma arma, ele me agrediu, eu caí.

O local era vazio, bem deserto, ele disse que me mataria, diria
que foi legitima defesa, ele chutou meu estomago e foi ligar para

Romeo. Daniel atirou e o matou, Jasmine.

— Como também estava envolvido no acidente, fiquei tonto

na hora, porque o airbag não foi o suficiente, devido ao grau da


colisão. Então quando consegui despertar, Rubens estava

apontando a arma para sua mãe, eu tinha uma arma em minha

panturrilha e atirei nele, sem pensar duas vezes. E eu poderia

falar com Tyler, porque Romeo é um traidor, só que o problema é


que eu matei um cara que talvez não seja um traidor, o pai dele. E

estamos trabalhando para apagar os meus rastros, nossos

rastros.

— Espera, isso significa que não vão nos encontrar?

— Sim, Jasmine. — Daniel responde. — Mas terão que

ficar por aqui, para garantir que não vão me dedurar. A culpada

de tudo foi a sua mãe, ela fez uma entrada completamente


proibida.

— Garoto...
— Falo a verdade.

Fecho os olhos e coloco minha cabeça no travesseiro.

Fugi do noivado.

Sofri um acidente.

Meu ''futuro sogro'' nos seguiu.

Meu ''noivo'' é um traidor.

Daniel nos salvou.

Terei que ficar aqui, nas mãos da sua máfia.

Uau!

Que belo fim de noite, Jasmine!

Saí das mãos de um noivo grotesco e vim parar na de

Daniel, meu amor proibido e, talvez, impossível.

— Não é um sequestro. — Daniel sorri pra mim. — Farei

de tudo para que tenham uma ótima estadia aqui. É apenas para
contornar a situação e não começarmos uma guerra, não

precisamos disso agora.

— Entendo. — assinto. — Obrigada, Daniel. Não sei o que


seria de nós duas se não tivesse atirado em Rubens. Pelo menos

sinto minhas pernas.


— Não pensei duas vezes. — sorri mais uma vez. Que

sorriso lindo! — Trarei algo para comerem. Ah... Posso te chamar

de Minnie?

Sorrio.

Não sorria como uma boba!

— Sim, pode me chamar de Minnie.

Ou de namorada.

Lá vai eu, estudanteliteratura,romancista, criar uma fanfic


na minha cabeça.

Ah, Daniel...

Suspiro tão alto que até minha mãe percebe.

Amor proibido.

Talvez, agora, possível.


Capítulo 2
DANIEL

— Devo dizer, sempre achei que eu era o maior merda

desse lugar, quero dizer, o que mais faz merda na máfia. —


Leonardo sorri de lado e coloca a mão na cabeça. — Sinto muito,
cara.

— Sente muito pelo que? — indago.

— Como assim? Você matou um cara importante da M-Unit


e agora está com Jasmine, filha de Tyler.

— Eu salvei a vida delas, é uma ótima desculpa.

— Se Tyler aceitar de primeira, mas sabemos que,

provavelmente, isso não acontecerá.

Preciso dar razão a Leonardo, ele está certo. Estava indo

conversar com Tyler sobre essa traição do tal Romeo, e torcendo


para que ele quisesse me escutar e dar um voto de confiança. Só

que agora, depois de toda essa treta... Tem que ser muito

orgulhoso para não dar o braço a torcer, só assim mesmo para


que não acredite na nossa versão.
— Mas ainda não falei direito com Jasmine. — continuo. —

Ela estava fugindo do tal Rubens. Jamine, com certeza, poderá


provar mais que todos nós juntos.

— Depende, pelo que Giulia contou, Jasmine e o pai tem


uma ''mini treta'' por conta desse noivado. Foi arranjado, Jasmine

não queria e até planejava a fuga. Provavelmente aquela foi a

fuga. — abre os braços. — Que história linda, cara! A mulher foge


do noivo malvado e cai nas suas mãos.

— Eu também posso ser cruel, sabe disso.

— Porém, não será cruel com Jasmine, também sabemos


disso. — abaixa os braços. — Pode ser cruel com inúmeras

pessoas, mas com Jasmine? — ri um pouco, depois coloca um

pouco de vodca no copo. — Giulia disse que não posso beber

perto dela, já que ela odeia esse cheiro.

— Traga a sua bebida pra cá, não precisa tomar a minha.

— Puta merda, Daniel! — ele coloca vodca mais no copo.

— Você é milionário, para de ser pão duro.

— Leonardo, poderia focar na minha história?

— Claro, continue sua linha de raciocínio, sou todo


ouvidos. Acho que é assim que se fala.
Olho para o teto.

Deus, por quê?

— É, ser o sucessor de Fernando tem suas

particularidades. — Leonardo volta a sentar no sofá. — Mas eu

ainda acho mais fácil de resolver. Tem as imagens das câmeras

de segurança, era Romeo que se encontrava com aqueles caras

que queriam sequestrar as garotas.

— Mas aí que tem o problema, Tyler não é nosso amigo,

será que ele não terá a postura de ''foda-se'' diante a essas


provas?

— Mas espera aí,antes você estava confiante e agora está

nessa? O que mudou? Você não causou o acidente com Jasmine,


pelo contrário, você a ajudou.

— Eu matei um cara de muita importância para M-Unit. E


agora que você diz que elas estavam planejando a fuga, penso se

Tyler vai acreditar que aquele homem queria mata-las. Entende a

gravidade agora?

— A realidade é: Tyler ama a família,isso é claro. Mas ele


só tem uma filha, sem herdeiros para o negócio. Forçou Jasmine

ao casamento. Fora isso, ele não parecia tão ruim ao ponto de


não acreditar na filha e esposa. Ele pode até ficar dividido, mas

colocar a família em tanta descrença? Não sei se tem grandes


chances disso acontecer.

— Você é mais otimista que eu, Leo. Muito mais otimista.

— Eu darei uma de psicólogo agora, porque eu sou bom


em ler pessoas.

— Claro que é.

— Eu senti um pouco de ironia, um sarcasmo em sua voz,


Daniel.

— Não, jamais. Você é um ótimo entendedor de pessoas.

— Não sei se gosto do seu tom de voz, Daniel, mesmo


assim prosseguirei. Você não tem medo algum de Tyler não

acreditar em você, afinal, faça sua guerra, Daniel! Aposto que


Fernando fica do seu lado, porque sabe que você não é culpado

por nada. Mas o seu receio é de irritar seu futuro sogro.

Agora eu dou risada dessa suposição.

— Tá rindo de que? Rindo pra não chorar?

— Sogro? Tyler? Sério, Leonardo?

— Seríssimo, queira ou não! Você acha Jasmine bonita...

— E daí?
— E daíque você ficou falando sobre o noivo dela ser uma

merda, mas não falando normalmente, e sim com um misto de


raiva e ainda ficava cabisbaixo. Não sei o que sente por Jasmine,

mas não é apenas empatia.

— Agora fala de ''empatia''?

— Giulia ama essa palavra, agora eu sei o que é e ficarei


usando.

— Não, não é isso. Eu apenas acho que Yoshida já é um


inimigo muito insano para nos preocuparmos, não precisamos de
um Tyler com sua gangue em cima de todos.

— Se você quer se enganar... — dá de ombros. — Estarei


aqui para, pela primeira vez na minha vida, falar ''eu disse, Daniel!

Eu avisei!''.

— Você sonha com o dia que terá razão em algo, já que

nunca tem.

— Eu tenho, porém, erro no meio do caminho. E serei seu


braço direito nessa merda de máfia, vai ter que me aguentar por

um longo tempo.

Respiro fundo e depois tomo o copo da sua mão, tomando


a vodca que restou.
— E você com os velhos? — pergunto. — Quando falará
da loucura de West?

— Meu pai disse que não por agora, galera meio ocupada
com esse lance de Romeo e M-Unit. Mas em breve falarei, estou
mais tranquilo agora.

— E eu tenho que falar para meu pai que Jasmine está


comigo.

— Eu realmente não vejo motivo para tanto receio de


contar, como já disse, você não fez nada! Nem ao menos
sequestrou a filha de Tyler, é mais fácil que a minha situação.

Nem tem comparação a sua situação com a minha.

Ah, mas não é fácil mesmo!

A parte que eu não contei é que Ingrid, a mãe de Jasmine


e esposa de Tyler, me pediu para não falar onde estão, já que tem

medo de Tyler obriga-las a voltar e Jasmine ter que casar com


Romeo.

Ingrid chorou muito ao fazer esse pedido. Ela ama o


marido, mas não acredita muito que ele mudará de ideia para
esse casamento.
Tyler praticamente proibiu Jasmine de viver para poder
casar, tentaram fugir e o ''sogro'' quase conseguiu mata-las.

Jasmine já tinha implorado ao pai para não casar, mas


nada adiantou. Diante desses fatos, eu realmente não penso em
manda-las de volta para Tyler. Mas aíestarei sequestrando a filha

do chefão do tráfico de drogas... E já temos Yoshida para nos


preocuparmos, adicionar mais um inimigo, que estava ali na dele,
para ajudar sua filha?

Não é uma decisão fácil.

Até porque eu sinto algo por Jasmine.

Nunca conversamos, mas eu sinto algo por essa mulher!

— O que tanto pensa? Pensa no amor da sua vida?

Encaro Leonardo.

— Não é fácil, Leonardo.

— Porque você gosta dela.

— Será que Romeo entraria como marido de Jasmine para

roubar a M-Unit e ajudar Yoshida? — mudo de assunto, para que

Leo não prossiga com suas provocações.

— É óbvio que sim, Daniel!


— Mas tem algo que não faz qualquer sentido, é um plano

muito arriscado. Porque Tyler é como nossos pais. Na época do


ex da minha mãe, Tyler deixou que o cara lá fosse espancado,

não se preocupou em perder um membro da sua gangue, e olha

que Tyler já não suportava meu pai. Para Romeo tomar a M-Unit e
ajudar Yoshida tinha que ter mais traidores na gangue, traidores o

suficiente para acabar com quem fosse contra essa ideia.

— E qual a sua suposição nessa história toda? Qual o real

motivo disso?

— Eu não sei, mas tem algo que não se encaixa. Entendo

Yoshida ser contra a Sangre Latino, afinal, temos parentescos

com eles, mas quem é West? O cara tá usando uma gangue


inimiga para acabar com a outra, mas aí fortalece West? Ou eles

querem uma união para acabar com West? Mas aí ficaremos

fortalecidos? A quebra de tudo isso vem com a M-Unit sendo


deles? É como se fosse um jogo, derrubando uns aqui, outros ali,

mas, no fim, quem realmente é o mais procurado? O mais

odiado? E por quê? Por que anos depois? Por que dessa

maneira? É confuso e a resposta não parece ser tão simples.

— Não tem como te responder, porque nem sabemos

quem é Yoshida, se é homem ou mulher, imagina descobrir qual o


objetivo central? Mas você tem razão, nesse jogo é como se cada

um tivesse que derrubar o outro, mas alguém sairá forte disso...

— meneia a cabeça. — Mas pode ser que algum lado saia


vitorioso, porém, cansados, sem nada e ninguém para ajudar.

Espera um pouco, será que tinha alguém de Yoshida em West e,

por esse motivo, me colocaram para trair Yankee e Javier?

Porque o traidor em West já me conhecia e queria me ferrar.

— Faz um grande sentido. Muito sentido e agora somos

idiotas por não pensarmos nisso antes.

— Se for, o cara tem gente em todo canto!

— O que nos faz o inimigo principal deles. Por quê?


Apenas por território? Mas não me parece uma guerra por

território.

— Ego, mas por que ego para cima da Nostra?

— Quanto mais pensamos, mais perguntas temos. —


respiro fundo. — Preciso ver Jasmine, ver se ela sabe de algo

mais.
(...)

Jasmine está deitada no sofá, sua mãe está na cozinha

preparando o almoço.

Aproximo de Jasmine e ela abre os olhos. Pisca um pouco

e depois sorri pra mim.

— Oi. — aceno pra ela. Que idiota! ''Oi''?Um sussurro de

''oi''?— Como está?

— Um pouco dolorida e sonolenta pelos analgésicos, mas

estou bem. E você?

— Bem também. Podemos conversar sobre essa situação?

— Sim. — ela olha para trás, como se esperasse que a

mãe aparecesse para ajuda-la nessa conversa. — Minha mãe,

ela...

— Já falei com ela, agora quero falar com você.

Olha pra mim novamente.

— Você tem algum parente asiático? — e é essa a

pergunta que faço.— Sei lá, Indonésia, Tailândia...


— Não sei. Por causa dos meus olhos puxados?

— Seu rosto também tem alguns traços. É algo meio

indígena, asiático...

— E também sou preta, isso é pelo meu pai.

— Mas sua mãe também é, fora que ela tem o cabelo

crespo, o seu é bem liso.

— Genética de algum parente. — encolhe os ombros. —

Veio falar de biologia?

— Não. Apenas uma curiosidade mesmo. Eu vim falar

sobre sua situação, porque, no momento, eu te mantenho em

cárcere, você e sua mãe. E isso pode ser prejudicial para o meu

lado. Eu quero entender a história e ver o que farei a partir daqui.

Percebo como Jasmine aperta a o lençol que está cobrindo

suas pernas.

— Tyler é um pai ruim? — indago.

— Não... — para e pensa um pouco. — Não sei dizer, essa

é a verdade.

— Por causa do casamento?

— Sim, ele sempre foi um pai e marido maravilhoso, mas


veio essa história de casamento arranjado e as coisas
desandaram. Era como se a vida dele dependesse disso. Ele

começou a ficar estúpido. Antes não gritava, depois começou a


gritar, ordenar, me tirou da faculdade como castigo, parecia que

meu bem estar não importava mais.

— ''Como se a vida dele dependesse disso''. — repito a

sua frase. — Por que acha isso?

— Não sei se essa é a conclusão correta, mas eu sentia

um certo tom de rapidez, que deveria ser imediato, urgente.

— Ele parecia amedrontado? Ameaçado?

— O que sabe? — pergunta. — Sabe de algo? Ou


desconfia? Romeo é um traidor, você falou disso. Acha que meu

pai foi chantageado? Acha que...

— Muitas perguntas, Jasmine...

— Mas é a minha vida, eu preciso saber disso!

— Não é disso que falo, não é que eu não falarei nada. Eu

não sei, Jasmine! São muitas perguntas e todas sem respostas.

Eu quero que fale algo mais pra ver se algo faz algum sentido,
porque, até o momento, nada tem sentido!

— Giulia fugia de alguém, do nada vocês estavam na

faculdade, tem alguma ligação?


— Possivelmente.

— Acha que meu pai está do lado deles?

— Acho.

— Acha que meu casamento com Romeo seria uma


aliança?

— Antes eu contaria a Tyler sobre Romeo, agora eu tenho

que saber se Tyler é alheio a essa situação ou se ele sabe e por

isso queria o casamento imediato. Porque se Tyler sabia de tudo,


desculpe-me, Jasmine, mas terei que ir atrás dele. A Nostra terá

que ir atrás do seu pai, porque ele volta a ser o principal inimigo.

Eu vejo como ela tem dificuldade de engolir a saliva.

— Você o ama de verdade, ele realmente deve ser um bom

pai.

— Ele errou nessa história de casamento, mas não consigo


anular todos os nossos momentos felizes. Ainda mais nesse caso

onde ele pode estar com as pessoas que tentaram fazer algo
contra Giulia, Felipe...

— Nunca fomos aliados, estávamos neutros, uma trégua.

— Sim, entendo, mas... Não, não entendo! Seria mais fácil


se eu não conhecesse Giulia e Felipe, assim meu pai poderia ser
inimigo e não me importaria.

— Porra! Eu te salvo e é isso que recebo? — eu falo como


brincadeira, afinal, ela não me deve nada, nem nos conhecemos

direito.

— Desculpa! — fecha os olhos. — Eu nem pensei em Kat

ou Cassie, apenas nessa loucura toda.

— É uma vida muito doida, uma hora somos neutros na

outra somos inimigos.

— E o que faremos? — abre os olhos. — Ou melhor, o que


fará? Não estou em posição de decidir nada.

— Uma vez ou outra eu sou um feministo


.

— Um mafioso feminista? — arqueia uma sobrancelha.

— Uma vez ou outra. — pisco um olho e a sua bochecha


fica um pouco vermelha, mesmo com a cor da sua pele, ela fica

vermelha. — Podemos resolver isso juntos.

— Um futuro chefe da máfia democrático.

— Uma herdeira de gangue diferente de Tyler.

— Você deve odiá-lo.

— Seu pai é bem implicante. — suspiro. — Quer saber a


verdade?
— Sempre.

— Eu não quero que Tyler seja um inimigo. É um filho da

puta implicante, chato em inúmeros momentos, mas ele meio que


ajudou a pegar os agressores da minha mãe lá no passado.
Ficamos sem guerra por tantos anos, há um respeito do nosso

lado para o dele, tanto que nunca fizemos algo contra você com
Giulia. E tudo vai ruir por causa de um cara louco?

— Que cara louco?

— Giulia não contou?

— Na época ela não sabia o que acontecia, ou sabia e não


contou, e entendo, porque é o negócio da Nostra.

— É o seu negócio também, Jasmine! Jasmine, você está

no negócio. — seus olhos se arregalam. Agora que ela entende a


gravidade da situação. — É, Jasmine, essa é a grande questão.
Há uma conspiração gigantesca acontecendo em nossas vidas, e,

provavelmente, você é um dos pontos centrais disso. Agora você


está aqui, em uma das minhas casas, e não sabemos se seu pai
é um inimigo ou não.

— Se meu pai for um inimigo ele me vendeu a um...

Psicopata?
— Psicopata é pouco, Jasmine. Muito pouco para alguém
como o Yoshida.
Capítulo 3
JASMINE

Minha vida mudou por completo em três dias!

Desde que saí do hospital da Nostra, eu não entendia


muito bem o que estava acontecendo, não falei com Daniel antes,
e agora que falo, estou assustada.

Pensei em Romeo sendo um traidor, pensei que ele me

usou, mas eu não havia pensado que meu pai pode saber de tudo
isso.

Por um lado é normal, afinal, M-Unit não é aliada a Nostra,


mas o que implica a situação, o que deixa bem desconfortável pra

mim é Giulia, Felipe, Kat, Cassie, Karen... Daniel.

Olha que nem conheço esse cara direito. Talvez seja uma

paixãozinha adolescente, um amor platônico.

Logo com Daniel?

— O que aconteceu? — pergunto. — Quem é esse


psicopata?
— Nem todos sabem disso devido ao grau da gravidade da

história. Não sabemos ao certo quem ele é, e esse é o principal


problema. Tyler nunca falou sobre Yoshida?

— Meu pai sabe?

— Seu pai teve uma participação contra o Yoshida, não se


envolveu tanto, mas soube por cima, o que quebra um pouco a

probabilidade dele estar com esse cara.

— Então meu pai pode não participar disso, certo?

— Levando em consideração que são duas décadas


depois e as pessoas mudam, não posso colocar uma

probabilidade nisso.

Fecho os olhos novamente, uma esperança que apareceu,

e agora se esvaiu novamente.

— Sobre Yoshida, é um louco sádico que não temos

grandes informações de quem é e o motivo de fazer tantos

sadismos.

— O que seriam esses sadismos?

— Estupros, mortes, torturas... Pedofilia.

— Ah não! — faço um movimento para levantar do sofá,

mas a dor é tanta que volto a deitar rapidamente. Daniel logo vem
me ajudar.

— Eu te dou todo o apoio e você senta, ok?

— Ok.

Ele me ajuda e consigo ficar sentada no sofá.

— O que será de mim se meu pai participar de algo assim,


Daniel? Mortes e torturas eu já sabia, o cara comanda uma

gangue, ele não seria paz e amor. Mas daí os outros crimes? O

que é meio estranho, porque crime é crime, mas estupro e

pedofilia sempre serão considerados piores.

— Porque é pior. Não somos justiceiros, mas uma coisa é

certa, não estamos indo atrás de inocentes. Tentamos estabelecer

a paz em nossos territórios justamente para não sermos

incomodados. Apesar de tudo, aqui não há um grande índice de

violência, roubos...

— Vocês fizeram acordo com a justiça, com gente

importante. ''Deixem o país em paz e não nos meteremos nos

seus assuntos''.

— Não queremos que isso aqui seja a faixa de Gaza, só

que Yoshida quer, mas ele faz vagarosamente. Usando pessoas

nisso.
— Daniel, meu pai envolvido nessa parte?

— Talvez sim, talvez não.

— E como saberemos a resposta?

— Você teria que aparecer para seu pai para poderem


conversar. Eu tenho como provar que Romeo estava ajudando

outra quadrilha, mas seu pai já pode saber disso e estar


participando. É um risco para você porque se você aparecer, não
sairá, e eu não te deixarei lá, aí vou lutar contra seu pai, a Nostra

entra nisso e vira um caos, fizemos um tratado de paz com gente


importante desse país. Se quebrarmos esse acordo, essa gente

importante vem diretamente em todos os envolvidos e levaremos


uma perpétua por todos os crimes.

— Obrigada pela ajuda! Agora eu sei que devo aparecer


para descobrir a verdade, mas a verdade pode ser uma merda e

eu ferrar todo mundo!

— Eu estava indo até seu pai, porque foda-se, era só eu e

ele. Mas agora tem você e sua mãe que tem treta com Tyler.
Ficou mais complicado.

— E por que quer me ajudar? Porque sou a madrinha do

seu sobrinho.
— Felipe também é meu afilhado. Somos um casal de

padrinhos, Minnie.

Tão lindo!

— Então é por isso que quer me ajudar?

— Gosto de você, não te conheço, mas gosto de você.

Eu não estava preparada para tamanha sinceridade.

— Você é sempre sincero e direto?

— Acontece em alguns momentos, mas é a verdade. Não


deixaria uma pessoa como você sofrendo em uma situação desse

nível.

Tão lindo, tão fofo,tão uma mistura de mafioso espanhol

com uma aura urbanística!

— Por que está me olhando assim?

Saio do meu transe quando Daniel faz essa pergunta.

— Assim como?

— Como se quisesse me agarrar.

Pior que eu quero!

— Não é que eu queira te agarrar, foi fofo.

— Porra, ''fofo'', Jasmine?


— Ele até parou com o apelido fofo!

Levanta do sofá.

— Brincadeira! — falo rapidamente.

— Medo que eu vá embora? — arqueia uma sobrancelha e


senta ao meu lado. — Só ia tomar uma água.

— Não vai mais?

— Pelo seu desespero em ficar longe de mim, decidi ficar


um pouco mais.

— Lembro de Giulia dizer que você é bem sério.

— Em relação aos irmãos sou o mais sério mesmo. Gabriel


ocupa o posto de imbecil da família, Giulia é mais ou menos,

Karen é séria como eu.

— Ela disse que você lembra o Fernando.

— E ele nem é meu pai biológico, mas muitos dizem que


nos parecemos, pelo menos no jeito.

— Sabe quem é seu pai biológico? Pais. — corrijo-me. —

Claro, se não quiser falar, tudo bem.

— Um desgraçado que me venderia ao Yoshida.

— O psicopata? — confirma. — Então seu destino já foi

cruzado com o dele bem antes.


— Uma loucura, porém, inúmeros destinos foram cruzados
graças a ele. Como nós dois agora. Fui falar de Yoshida ao seu
pai e agora estamos aqui, sendo que você casaria com um

parceiro desse cara.

— Uau! — murmuro. — É muito... — não sei nem o que

dizer. — Uau!

— E eu penso quantos outros destinos não serão cruzados


nesse jogo, quanta gente vai entrar e sair.

— Muita gente já saiu?

— A maior perda foi a de uma moça que trabalhou para

meu pai, ela e a filha morreram. Nancy e Luna foram


assassinadas pela babá de Giulia.

— Giulia falava que não gostava de babás por traumas,

mas nunca se aprofundou no assunto.

— Coisa da Nostra. Mas essa tal de Milla matou a mãe e a

irmã, ela também era adotiva, mas... No fim dizem que ela

morreu.

— Como assim ''dizem''? Não há certeza?

— Pelo que já vi dessa história, nunca há certeza de

qualquer fato. — olha pra mim. — É uma história cheia de


brechas, de perguntas sem qualquer resposta. Você entrou no

assunto agora e nem entendemos direito o motivo disso.

— Daniel! — minha mãe chega a sala. — Nem percebi sua

chegada. Barulho do liquidificador e panela de pressão, nem

percebi que estava aqui.

— Se fosse um inimigo já era.

— Não, os seus seguranças atirariam e aí eu escutaria.

— Está de bom humor, isso tudo por estar longe do

marido?

— Tyler é maravilhoso, só se perdeu nessa de precisar de

um sucessor. O que é uma pena.

— Não tem volta?

— Se ele parar de ser um imbecil, mas aí eu teria que


voltar para casa e testa-lo. Porém, eu não quero colocar minha

filha como isca, jamais!

Mas acho que precisarei ir.

— Bem, eu fiz picadinho de carne, tem feijão, arroz e purê


de batata, aceita almoçar conosco? Eu e Jasmine fazemos

questão da sua presença.

— Obrigado, não imaginei ser tão querido.


Nem eu!

— Claro que é querido, nos salvou. Aposto que Jasmine

sente o mesmo, não é, garota?

— Obrigada, Daniel.

— Ela perguntou muito quando você viria...

— Mãe! — falo alto. — Pelo amor de Deus!

— Eu gosto muito da sua filha, cuidarei bem dela.

— Tem meu apoio.

— E Tyler?

— Dane-se o Tyler! — minha mãe não se importa mesmo.

— Mãe!

— Vem, vamos almoçar. — minha mãe vem me ajudar a


levantar, mas é Daniel quem realmente me ajuda e me carrega. —

Um genro que pedi a Deus!

Fecho os olhos, mortificada de tanta vergonha.

Por que eu fui contar que sinto algo por Daniel?

— Tyler aceitaria isso? — Daniel pergunta.

— Você aceitaria o ''não'' de T


yler? — minha mãe retruca.

— Ok, sogra.
— Ei! — grito. — Estou aqui!

— Todo mundo sabe sua resposta, Jasmine. — minha mãe


sorri. — Que seu pai não seja um babaca, é mais vantajoso um

Bertollini que um Romeo.

— Perdoe a minha mãe. — falo com Daniel. — Às vezes


ela é meio sem noção.

— Gostei de Ingrid, uma boa sogra.

— Até você, Daniel, pelo amor de Deus! Nem nos

conhecemos.

— Não falei de casamento.

Mortificada novamente!

— Pode começar a andar e me colocar na cadeira? —

pergunto.

— Carregar você é bom.

— Pelo amor de Deus!

— Religiosa?

— Você é?

— Meio hipócrita, mas o equilíbrio é tudo nessa vida.

— Ai, Deus! Pode me levar para a cadeira?


— Claro, seu desejo é uma ordem!

Ele me leva e me coloca na cadeira, eu consigo andar, só é

ruim na hora de levantar, mas eu não negaria essa ajuda nesses

braços fortes, nesse cheiro incrível, com esse cara lindo!

— Obrigada. — agradeço quando ele me coloca no lugar.

— Poderia dar comida na minha boca? Minhas mãos estão

doloridas.

— Quer que eu mastigue também, senhorita?

— Não, eu consigo mexer a boca.

— Eu percebi.

— Foi uma brincadeira.

— Se precisar, eu dou na boca mesmo. — sorriso

malicioso.

— Por que sorriu?

— É uma conservadora, senhorita Ventura?

— O que acha?

— Torço para que não seja.

— E por que torce para isso?


— Porque seria chato gostar de uma conservadora, já que

eu não sou um conservador.

— É um depravado? Um liberal?

— Depende, liberal seria liberar a minha mulher para os

outros? Não, jamais. Porém, eu gosto de...

— Finalmente encontrei os pratos dessa casa! — minha


mãe se aproxima, interrompendo essa conversa bem

constrangedora aqui. Ok, eu gostei, imaginei algumas coisas, até

senti uma pressão lá embaixo, mas ainda bem que fui salva. —
Por que os pratos ficam tão distantes, Daniel?

— Eu não fico aqui, nem sabia que tinha um local de

guardar pratos que não fosse uma pia ou um armário.

— Você guarda seus pratos na pia?

— Se estou sozinho eu nem uso prato comum, como na

panela ou em pratos descartáveis, poupa meu tempo.

— Preguiçoso! — acuso.

— Porque perder tempo lavando pratos se posso usar esse


tempo para fazer algo útil.

— Que seria? — minha mãe pergunta.

— Salvar uma linda mulher.


Mortificada novamente!

— Sair de Romeo para Daniel é uma puta evolução! —

minha mãe me dá um tapa no ombro, de brincadeira.

— Doeu! — grito. — Doeu muito!

— Desculpa. — massageia meu ombro. — É a felicidade

de ver um homão desse te querendo.

— Mãe, por favor, pare.

— Daniel, vai fundo. Ela te quer também, só é meio tapada.

— Percebi.

— Podemos almoçar? — pergunto.

Os dois sorriem, minha mãe coloca o prato de Daniel

primeiro e depois o meu.

— Puxa saco! — sussurro quando minha mãe coloca meu

prato a minha frente. — Coisa feia.

— Ah, Jasmine. — ela suspira. — Não perca a chance. —


sussurra no meu ouvido. — Eu sei que você o quer.

— Eu escuto tudo. — olhamos para Daniel. — Podemos


começar a evoluir na relação ou vamos com calma?

— Relação? — pergunto.
— Se depender de mim vocês começam a namorar agora!

— Mãe...

— Então, Jasmine? — Daniel pergunta.

— Você é muito rápido!

— Ok, com calma, aceito. — volta a comer.

Simples assim.

É lindo até comendo um pedaço de carne!

Que?

Começo a comer, nem reparando no gosto da comida,


apenas pensando que Daniel quer relacionamento comigo!

E eu quero com ele.

Mas isso aqui tá rápido!

Logo minha mãe começa a puxar assunto e já estamos

falando sobre a vida. Daniel até fala dos pais biológicos, do seu
sofrimento e de como chegou a vida de Sara e depois a de

Fernando.

Começamos tudo isso depois do meio dia, agora já são


quatro da tarde e Daniel recebe uma ligação.
— Foi muito bom passar a tarde com vocês, mas preciso ir
agora. — Daniel levanta do sofá. — Qualquer coisa podem me
ligar daquele número que já dei, ou pedir algo aos seguranças.

— Quando vamos falar sobre a situação com meu pai? —


indago.

— Talvez amanhã, preciso falar com meu pai antes.

— Fernando ainda não sabe disso? — minha mãe

pergunta.

— Mais ou menos, não expliquei os detalhes...

— Que matou Rubens. — suponho.

— É, isso mesmo. Depois que decidir, voltarei aqui. Agora

preciso ir.

— Foi um prazer conhecer você, futuro genro. — minha

mãe levanta do sofá e se despede de Daniel com um beijo de


lado, no rosto.

— Prazer foi todo meu, futura sogra. Ainda mais que sogra

é algo difícil de gostar.

— Ah, isso eu deixo pra Tyler.

— Claro, mil vezes pior. — olha para mim. — Até amanhã,


futura namorada.
— Até amanhã, Daniel.

Ele não se despede com um beijo no rosto ou qualquer

outra coisa, apenas dá um tchau!

Filho da mãe!

Ele já saiu de casa.

— Achou que ganharia um beijinho, não é? — minha mãe

provoca.

— Acha que isso será real? Um relacionamento?

— Por que Daniel te enganaria?

— Não falo de enganar, falo da rapidez.

— Garota, esse povo casa por obrigação, se não é


obrigação eles moram juntos em uma rapidez absurda.
Sinceramente, não vi nada de mais.

— Ah, é mesmo, você foi morar com meu pai em menos de


um mês de namoro.

— Somos rápidos, porque nossa vida pode ser rápida.

— Às vezes queria sair disso aqui.

— Impossível, querida. Seu pai, paranoico, não colocou o


sobrenome dele no seu nome para não fazerem essa ligação,

mesmo assim esse povo do crime já te conhece. Estamos ligados


a gangue, querendo ou não. Não tem para onde ir. Por isso falo,

Daniel é uma ótima escolha.

— Uma ótima escolha por amor ou por necessidade de


proteção?

— Os dois, querida. Nessa vida aqui, precisamos de

proteção. Se o amor vier junto, estaremos no lucro. E, nesse


caso, Daniel é direto em dizer que gosta de você e quer te
proteger.

— Escutou tudo, não foi?

— Claro, e Daniel deve saber disso. Eu sinto verdade em


Daniel, então, é mil vezes melhor estar com ele do que com

qualquer outra pessoa.

— É até melhor que seu marido, o meu pai?

— Eu não sei, Jas. Não sei. Mas, no momento, é muito


melhor estar com Daniel.
Capítulo 4
DANIEL

Eu nunca me interessei por alguma mulher da Nostra, e

ainda bem que meu pai não é adepto ao casamento arranjado,


porque seria impossível achar alguém que me agradasse.

Agora estou em uma festa, aniversário de um membro


importante e preciso sorrir de modo simpático e me distanciar das
mulheres com alguma desculpa educada.

— Jasmine domina seus pensamentos. — Leo fica ao meu


lado. — Não tem olhos para mais ninguém.

— Nunca tive, de qualquer maneira.

— Mas antes era menos antipático.

— Estou sendo educado ainda.

— Impressionante como ainda não entenderam que não

somos adeptos ao casamento arranjado.

— Você e Giulia dificultam esse entendimento, porque

muita gente acha que foi contrato entre famílias.


— De qualquer modo, deve ser um saco expulsar todas

elas sempre.

— Elas são bonitas, mas não fazem meu tipo.

— Não é uma negra, asiática e índia,tudo junto na mesma

pessoa, como uma moça chamada Jasmine.

Olho para Leo, ficando de frente para ele.

— Pode falar, Leonardo. Tenha esse prazer pela primeira

vez na sua vida.

— Eu disse! Eu avisei! Eu já tinha a certeza que era

apaixonado por ela! Eu sou inteligente, consigo ler pessoas,

entender de seus sentimentos. Eu, Leonardo Vesentini! — bate no


peito. — Fale que eu tenho razão!

— Você tem razão, Leonardo!

— Obrigado!

Sorri de modo orgulhoso.

É claro, é a primeira vez que isso acontece.

— O que está fazendo? — pergunto quando vejo Leo

digitando no celular.

— Mandando mensagem para Giulia, falando que pela

primeira vez acertei em cheio em algo. Não se preocupe, não


disse sobre o que se trata.

É um dia histórico.

— E então, como vão as coisas com a minha comadre que

eu mal conheço?

— Mais ou menos, a mãe dela gosta de mim,

provavelmente pela proteção, mas acho que Jasmine sente algo,

mas é tímida. Mas logo logo podemos dar um passo a mais.

— Ou dar alguns passos para o lado, tem pretendentes

vindo aí.

Olho para o lado, duas mulheres se aproximando.

Estou fugindo de mulheres, é isso.

Me afasto desse local rapidamente, indo para o lado de

fora com Leo e encontrando Kat com um grupo de garotas.

— Olha, Kat está se enturmando.

— Muito estranho, essa garota nunca gosta das pessoas

de fora da família,no máximo Cassie, apenas ela. — Leo franze o

cenho. — Aposto que Kat vai falar merda, quer ver?

— Minha próxima compra será uma cobertura na Quinta

Avenida, meu pai me prometeu. — uma garota fala.


— Meu pai me prometeu uma casa lá em Dubai, com uma

praia particular só minha. E você, Katherine, qual será o seu


presente do Natal desse ano?

— Eu me darei o presente. — Kat sorri. — Eu farei uma


arma biológica super poderosa para destruir pessoas que odeio,

também vou montar minha gangue e traficar em outro território,


vou montar escolas públicas, do dinheiro do tráfico, para crianças
que não tem acesso a educação de qualidade.

O grupo de cinco garotas ficam boquiabertas, piscando os


olhos.

— E eu vou comprar dez panetones de frutas cristalizadas


e comer sozinha. — Kat sorri. — Frutas cristalizadas rainhas,

chocotone nadinha!

— Eu sabia que ela não seria normal. — Leo sussurra. —

Nunca é. Kat tem algum problema mental, ou psicológico. Não sei


o termo correto.

— Vocês têm, a diferença é que você é lento e Kat é


violenta, mas são dois sem noção.

— Eu escutei! — tomo um susto quando Kat já chega ao

meu lado. — Pensou que eu fosse uma assombração?


— Branquela, maquiagem preta, batom preto, roupa preta,

pensei que fosse a própria rainha das trevas.

— Ai, Daniel, não me obrigue a usar a arma biológica

contra você. Isso aqui. — mostra sua roupa e maquiagem. — É


estilo!

— O que faz aqui se odeia essas pessoas? — mudo de


assunto.

— Meu pai me chamou.

— Meu pai ama se divertir com as tretas de Katherine. —

Leo comenta. — Por isso ela está aqui, aposto que já causou
desconforto e estranheza com mais de dez pessoas.

— Dezesseis pessoas, eu contei! Um bando de


mimadinhas, frescas! — faz uma careta. — Cadê o Gabriel? Ele
disse que viria!

— Saiu com meu pai. — respondo. — Não sei pra onde.

— Não tem uma música que preste nessa merda! Eu odeio

pop! — rosna. — Odeio!

— Essa comemoração está uma merda. — concordo com

Kat. — E ainda tenho que fugir de tanta mulher.

— Hum... Fugindo, Daniel? Quem é a futura Bertollini?


— Se eu contar, você não vai acreditar.

— A língua de Leonardo deve estar coçando! — olho para

ele.

— É muito surpreendente, menos pra mim, porque eu


consegui ler tudo.

— Então não é tão surpreendente assim já que Leo


conseguiu entender facilmente do que se trata. — Kat discorda.

— Mas meu pai está vindo com uma cara muita brava. Eu não fiz
nada!

— Eu muito menos. — Leo olha pra mim. — Já você,


Daniel...

— Vamos, reunião agora! — Marco ordena. — Andem!

— O que aconteceu? — pergunto.

— Uma pequena confusão que precisa ser resolvida agora.

Penso logo em Jasmine, Tyler, uma guerra...

Gabriel!

Assim que abrem a porta do escritório, é Gabriel quem está


sentado no meio entre meu pai e o senhor Rossi. Mas a frente

estão Amélia, a senhora que nunca lembro o nome e o filho mais


velho, a família Rossi completa.
— O que acontece aqui? — pergunto.

— Golpe! — Gabriel grita. — É isso que está acontecendo

aqui. Golpe!

— Gabriel, não me faça perder a cabeça! — senhor Rossi


grita.

— Quem pensa que é para gritar com o meu filho? — meu

pai pergunta, o homem se retrai um pouco.

— Gabriel está nos ofendendo novamente, Fernando!

— Eu não entendo o que acontece aqui! — Leonardo fica a

frente. — Do que estamos falando?

— Gabriel tirou a virgindade da minha filha!

— Que péssimo gosto, Gabriel! — Kat grita. — Amélia cara

de barata?

— Inveja que ele me quis e você não? — Amélia levanta do

outro sofá, ficando com a postura reta e encarando Katherine em


desafio.

— Inveja de você, mocreia? Eu sou a Katherine Vesentini,

não preciso inventar que transei com um herdeiro para subir de

posto.

— Inventar? — Amélia ri. — Ele transou comigo.


— Nem ferrando! — Gabriel levanta do sofá. — Katherine,

você sabe que essa coisa nem faz meu tipo.

— Ainda humilha a minha filha!

— Sua filha é a própria humilhação! — Katherine retruca o

senhor Rossi.

— Está toda sentida porque Gabriel me quer...

— Quer tanto que nem quer dizer que enfiou o pênis dele

na sua vagina! — eu controlo o riso quando Katherine fala isso.

— Que baixaria! — a senhora Rossi coloca a mão na boca.


— Marco, pare a sua filha, ela está nos ofendendo.

— A rainha do puteiro quer pagar de santa agora? — como

a barraqueira que é, Kat bate palmas e abre os braços. — Dona

do prêmio boca de ouro!

— Não fale disso! — senhora Rossi grita. — Sua projetil de

psicopata!

— Sua boca é esticada pelo excesso de trabalho oral!

Boca de ouro!

Deixamos um riso escapar e nossos pais nos encaram, no

mesmo momento, eu, Leo e Gabriel ficamos sérios novamente,


mas nossos pais também sorriem pelo barraco que começou do

nada.

— Eu nunca fui tão ofendida em toda a minha vida! —

senhora Rossi faz cara de choro.

— Agora foi! — Kat cruza os braços e fica batendo o pé. —

Tive a honra de ser a primeira a te ofender. Obrigada pelos

mimos!

— Marco, pelo respeito que ainda nos resta, cale a boca da

sua filha ou eu mesmo calo.

— Se tocar um dedo em mim eu arranco o seu dedo e

enfio no seu rabo, eu juro que faço isso. — Katherine sorri


docemente. — Quer pagar pra ver?

— É bom que eu nem preciso defendê-la. — Marco é puro

orgulho. — Minha princesa corajosa.

— Meu orgulho. — Leo sorri.

— Vocês são doentes! — senhor Rossi balança a cabeça

em negação. — Precisamos resolver a perda de virgindade da

minha filha.

— Nem a virgindade aguentou sua filha? — Katherine dá

risada. — O hímen dela simplesmente fugiu e agora encontra-se


perdido?

— Katherine, o fato é que seu amor transou com a minha


filha! — senhora Rossi fala alto.

— Eu nunca encostei nessa mulher! — Gabriel grita. — Eu

já falei que isso nunca aconteceu e é um golpe estúpido!

— Prove que você não encostou na Amélia no dia oito de


agosto desse mesmo ano, às nove da noite! Onde estava,

Gabriel? — o irmão dela pergunta.

— Como vocês sabem, já que participam desse golpe, eu


não tenho como provar onde eu estava porque a única

testemunha é meu amigo, Jesse. Eu estava na casa dele, que

não há câmera nas ruas ou qualquer outro canto, e estávamos

jogando desde as cinco da tarde o novo FIFA! E saí da casa dele


às onze e dezessete da noite e fui para a casa dos meus pais

encontrar com a Karen, mas é claro que todos os meus álibis não

servem. Só servem as palavras dessa puta do caralho que


necessita aplicar o golpe!

— Seu filho da puta...

— Nem pense em pegar essa arma! — meu pai fala com a

voz no mesmo tom sério de sempre, não grita, não fala baixo,
apenas fala normalmente. — E há putas nessa história, De Rossi,

e posso dizer que não é nenhum Bertollini e Vesentini, me

entende?

— Você está querendo dizer...

— Sim, sua família é aquilo que detesto, que faz teatros,

planos pífios para conseguirem algo. Quer meu filho com sua

filha, precisava mesmo de um teatro insuportável? Chamei Kat


apenas para dar mais drama e ela atacar sua esposa e filha.

— Fernando...

— O que quer, De Rossi? Qual sua ideia principal? O que

sabe? Viu como a conversa pode ser mais rápida e menos chata
sem tantos rodeios?

— Quero uma aliança entre Bertollini e os Rossi, ou De

Rossi, como preferir.

— O que ganho com isso?

— Está em declínio, Fernando, todos vocês. Tem mais

gente contra vocês do que a favor.

— E por que está ao nosso favor?

— Pelo simples fato de não ser um idiota ganancioso,


quero dizer, não sou um ganancioso burro. Eu imagino que se eu
falasse desse casamento sem esse teatro, isso nunca seria

aceito. Mas e se eu falar que seu filho abusou da minha filha?


Aqui tem bloqueio de sinal, não há qualquer gravação da nossa

conversa, e como seu filho já falou, todos os álibis dele envolve

um melhor amigo e a irmã. Mas vocês são odiados, uma palavra

minha e fim de tudo para vocês.

— A troco de? — meu pai volta a perguntar.

— Fernando, não queríamos você na época em que

começou, pois não gostávamos do seu jeito, só que vinte anos


depois e tudo está bem e do nada querem te tirar daqui com a

desculpa que você enriqueceu mais que todos? Eu posso

entender muito bem isso, se eu fosse chefão, também seria mais


rico que todos. Falarei a verdade, eu faço parte da Nostra, na

hora que isso aqui for dividido, eu terei que escolher um lado, e

escolho o de vocês.

— E por quê?

— Porque você reconstruiu a Nostra, ganhamos muito com

isso. E você sabe que isso está prestes a mudar. Das duas uma,

ou você já tem um plano para pegar de volta, ou você não pegará

de volta e já tem outro negócio sendo montado, quem sabe até


pronto. Eu não faço a menor ideia de quem é a pessoa por trás da
sua queda, como passarei para o lado deles? Mas eu quero a
certeza que não serei jogado para escanteio.

— Amélia casa com o meu filho, mas eu posso matar uma

nora. Ainda mais uma nora que quer dar o golpe em minha
família. — meu pai sorri. — Eu posso mata-la e enviar as partes

do corpo para você, não é um bom plano, De Rossi.

— É um bom plano a partir do momento que essa festa só


tem integrantes que gostam de você, Fernando, ou que, pelo

menos, confiam na sua chefia. Ninguém sabe disso aqui além

dessas pessoas. Você teria olhos, ouvidos, tudo por nossa

garantia. Continuará tendo armas e pessoas para te ajudar.

— Pode ser uma traição.

— Como se Fernando Bertollini e Marco Vesentini fossem


confiar em qualquer outra pessoa para contar sobre planos. No

máximo vocês vão pedir armas e marcarão encontros em locais


nada a ver com suas localizações, os homens que mandarmos

para ajudar serão monitorados sempre. Não queremos


informações, queremos a Nostra como sempre foi, pois não
acreditamos que essa nova era será benéfica. Pelo contrário,

alguém ficará vivo, e para que isso aconteça, muitas tragédias


virão. E eu não quero estar ao lado deles nessa. Então é isso,
casamento e ajuda ou vocês não terão qualquer espião naquele
lugar. Porque Raul e Arthur também sairão da Nostra, assim como
aqueles integrantes que estão ao seu lado. Eles sabem quem são

seus amigos. E todos eles serão expulsos seja por bem ou por
cima de ataques as suas famílias. Aproveitem a oferta em quanto
há tempo.
Capítulo 5
DANIEL

Após meu pai tomar a decisão sobre Gabriel, saímos da

casa em silêncio. É quase como um enterro, como se


estivéssemos de luto.

Acho que estamos.

— Temos que fazer tudo antes da data prevista para esse

casamento. — meu pai fala, esfregando os olhos e depois


olhando para o lado de fora do carro. — De Rossi não sabe o
destino de Gabriel, se soubesse, o alvo seria você.

— Ele só não mirou em mim porque estou mais inserido na

Nostra e seria mais difícil me passar a perna, eles devem

acreditar que por Gabriel ainda ser novo e não tão presente na
Nostra, seja fácil de dar o golpe de outro modo.

— Eles realmente acreditam que eu comprei essa história

de ajuda. — balança a cabeça em negação. — Pelo menos eles

confirmaram o que eu já sabia, todos que ficaram ao meu lado em


algum momento, serão retirados da Nostra. Ou lutamos ou

saímos sem brigar. Isso deve acontecer nos próximos dias.

— E como estamos nessa história?

— Melhor do que imaginei. — olha diretamente pra mim. —

Quer contar algo?

Olho para o banco da frente, o motorista que dirige o carro.

— Ok, espere chegar em casa. — meu pai volta a ficar a

silêncio.

— Acredita que eles fizeram de tudo para não descobrirem

dessa reunião mascarada de festa de aniversário?

— Acredito que sim, só não acredito que alguém da Nostra

não desconfie deles. E é por essa desconfiança que eu aceitei


essa aliança com De Rossi. Não sei se alguém da Nostra sabe

quem é Yoshida, mas uma coisa é certa, eles sabem que tem

alguém maior por trás de tudo isso. Eles me odeiam tanto pela

minha fortuna que preferem ir para outro lado, exatamente por

esse motivo acredito no De Rossi nessa parte da história. É óbvio


que quando sairmos da Nostra, um tentará matar o outro para ter

algum poder.
— E aí ficaremos mais livres para mexermos de outro
modo.

— Sim, eles perdem tempo orquestrando planos contra


eles mesmos enquanto crescemos de outro lado. Simples assim.

— Mas sabemos que eles não acreditarão que recuamos

sem lutar.

— Vai por mim, Daniel, eles estarão tão ocupados com a

Nostra, tentando administrar aquilo, que seremos o último

pensamento deles, mas seremos o primeiro de Yoshida. Por conta


disso, tudo está sendo montado.

— Previsão de finalização?

— Nenhuma, mas será demorado. Muito demorado.

Voltamos a ficar em silêncio, vinte minutos depois e já

estamos passando pelo portão de entrada da casa dos meus

pais.

Descemos do carro.

Agora só temos os seguranças, já que os motoristas

também são seguranças armados, os outros funcionários foram

dispensados. Há contrato de sigilo absoluto, mas pode acontecer

deles serem ameaçados e precisarem nos trair.


Já os seguranças... É arriscado também, mas precisamos

muito deles.

Entramos em casa e está tudo silencioso, meu pai fala que

minha mãe e Karen estão com Giulia e Felipe no momento.

— Então, o que houve? — meu pai pergunta quando nos


sentamos no sofá.

Eu não tenho culpa de nada, nesse ponto eu devo


concordar com Leo, meu caso é mais fácil de ser falado. Só não é

fácil de ser resolvido.

— Lembra quando eu contei que estava indo falar com

Tyler e sofri um acidente? Quando pedi para limparem a cena?

— O que eu achei muito estranho, mas você tratou de


sumir com o corpo da vítima, eu ameacei os seguranças e eles
não me contaram nada. Dei um aumento para eles pela

fidelidade.

— Então, acho que imagina que não foi um inocente.

— Eu imagino que foi alguém da Sangre ou da M-Unit.

— O Rubens...

— Daniel... — meu pai respira fundo. — O pai do Romeo.


Não entendo porque demorou de contar.
— Porque eu fiz isso para salvar Jasmine.

— Você matou o homem ou foi um acidente? Culposo ou


doloso?

— Ambos. Quero dizer, Jasmine e a mãe estavam fugindo


do noivado com Romeo, eu estava indo até o território de Tyler. A

mãe de Jasmine estava dirigindo, fez uma entrada proibida e


acabamos colidindo. Jasmine ficou muito machucada, eu fiquei
tonto. Quando comecei a enxergar melhor vi que Rubens estava

prestes a matar a Ingrid, acabei atirando nele. Como estávamos


fazendo um caminho diferente do comum, acho que não nos

seguiram e os carros não tinham rastreadores. Conseguimos


limpar a cena do crime e coloquei Jasmine em um dos nossos
prontos socorros.

— Eu não imaginei ter tanta gente leal conosco. Porque


não soube de nada e acredito que tenha pedido sigilo.

— Nem tudo está perdido, pai. Tem muita gente leal. Eles

sabiam que não era uma traição, mas é a minha história, eu tenho
que contar.

— Isso me dá alívio,mas agora quero saber, onde Jasmine


e Ingrid estão?
— Na minha casa, em uma delas.

— E por que estão lá? Jasmine não pode andar?

— Pode, só está com algumas dores pelo corpo.

— Está mantendo em cativeiro?

— Então, não uso os métodos sedutores de Fernando


Bertollini.

— Uma pena, porque foi genial na minha época. — ele


realmente gosta dessa história. — Mas qual o problema com
Jasmine e Ingrid?

— Tyler quer forçar o casamento da filha com Romeo,


diante dos fatos não sei se Tyler é aliado de Romeo ao todo, ou
se não sabe de nada.

— Tyler não é adepto aos crimes de Yoshida.

— Mas Jasmine citou que Tyler mudou o comportamento


após esse noivado, ficando mais nervoso, e parecendo que
necessita muito que esse casamento aconteça.

— E você quer ajuda-la nisso, impedindo o noivado.

— E eu quero entender o que acontece. Só que com tudo o

que aconteceu, Tyler pode entender tudo errado, ainda mais pelo
Rubens, as mulheres precisam confirmar a história que as salvei.
— Mas aí elas terão que aparecer para Tyler, que poderá
pega-las e você não quer isso, aí teremos brigas.

— Sim. — confirmo.

— Pode brigar.

— Oi? — não entendo tão bem a sua resposta.

— Segue em frente, Daniel. Se Tyler quiser brigar por isso,

se a família dele confirmar a história e ele ficar contra, é bom que


saberemos quem é esse homem, menos uma preocupação de

pensar quem ele é de verdade. E também, se ele quiser começar

um conflito com a Nostra, não somos mais da Nostra. — meu pai

levanta do sofá e bate no meu ombro. — Pode seguir em frente


com sua ideia.

— Eu imaginei que concordaria, mas precisava da

autorização do chefe.

— Feliz em estar mais ativo nos negócios?

— Sim. Leo tem seus momentos de idiotices, mas não é

tão difícil quanto parecia há alguns anos. Uma pena que Gabriel

não pertença a isso aqui, seria melhor.

— Vocês escolheram, se dependesse de mim Gabriel

nunca teria associação com a Sangre.


— No fim Yankee conseguiu o que tanto queria.

— Eu tenho culpa em algumas partes desse acordo, deixei


claro que não queria união.

— Agora quer união?

— Não quero união, mas também não cogitei que Gabriel


fosse querer passar para o outro lado. É muito estranho pensar

em família e negócios, chegar a conclusão que, no futuro, parece

que estaremos separados.

— Mas já deve estar arquitetando um plano. — confirma.


— E não contará tão cedo. — confirma novamente. — Não cansa

de sempre pensar sozinho? Às vezes acho que nem Marco sabe

dos seus planos.

— Marco sabe, ele precisa saber.

— Então qual o nosso futuro?

— Na hora certa.

— Por que nunca conta algo? Duas cabeças pensam mais

que uma.

— Tem momentos que muitas mentes confundem a

história, dão mais ideias desnecessárias. Às vezes poucas

pessoas conseguem mais que um batalhão. Claro, na guerra


precisamos de muita gente, mas para orquestrar os planos, não,

no momento é melhor designar pessoas específicas para isso.

Prefiro trabalhar dessa maneira. Eu confio em todos vocês. E


seremos sinceros aqui, cada um de vocês já agiram por conta

própria no próprio plano. E eu deixo, confio no que pensam e no

que fazem.

— Então falarei com Tyler, mas eu precisarei de pessoas


armadas comigo.

— Chame quantos quiserem, precisará da minha ajuda?

— Não. — meu pai sorri. — Eu farei sozinho, talvez Leo me

acompanhe nessa.

— Boa sorte e seja o homem bom no comando, eu sei que

você é.

— Obrigado, farei isso.

(...)
— Onde você está?

— Fiz um novo amigo. — Nicole me responde. — É uma


pessoa boa, estou com ele no momento. Estávamosconversando

agora a pouco sobre igreja.

— Encontrou um cristão pregador da palavra?

— Ele trabalha na igreja. Podemos dizer que somos dois


ferrados na vida, nos encontramos pelo destino.

— Qual o nome dele para que eu possa investigar?

— Imaginei que fosse querer saber de algo assim.

— Nicole, sabe da vida que levo, as pessoas podem se


aproximar de você para me atingir. Eu não quero que pague por

tudo...

— Dan, sério, sabemos que, talvez, eu esteja inserida


nesse assunto louco. Eu estava lá também, depois da morte do

nosso pai biológico, eu fiquei com a nossa mãe, eu presenciei

horrores. Se um dia eu for pega, talvez nem seja por algo que

você tenha feito.


— E isso está ''ok'' para você? Tão bem que até se envolve

com um cara estranho?

— Não tenho o que fazer, ou conheço gente nova ou sou

afogada na depressão. Não quero ter outro surto psicótico,


obrigada pela ajuda.

— Eu tenho inúmeras pessoas, você também poderia ter

se não fosse tão...

— Ok que eu sou inserida no assunto desde que me

entendo por gente, por outro lado, Daniel, eu não quero viver

nessa vida de crime organizado. Eu sei, é contraditóriofalar que

sei dos riscos que eu corro só por ser a Nicole, e, mesmo assim,
falar que não quero riscos por sua causa.

— Mas compreendo seu ponto de vista. Qual o nome do

seu novo amigo?

— Hugo Valdez Jimenez.

— De onde ele é?

— De Porto Rico, como seus parentes.

— E mesmo assim você acredita nele?

— Ele me salvou.

— Para te matar, pode acontecer.


— Acreditei nele.

— Pode se enganar.

— Então investigue e me ligue, caso a história não tenha

sentido.

— Nicole, sei que necessita viver a sua própria vida, mas

não seja essa pessoa que apenas aceita qualquer coisa. ''Se der
errado, minha vida é uma merda mesmo''. Eu sempre estarei aqui,

não precisa aceitar qualquer migalha.

— O problema é esse, Daniel. Você sempre está pronto

para me ajudar, para me acalmar, estar ao meu lado. Sabe como


odeio saber que te atrapalho, eu preciso viver um pouco.

— Por isso nem se importa com o perigo?

— Eu me importei tantoque tive medo de todos, inclusive


de Fernando. Eu realmente senti algo bom vindo de Hugo, e tem

a Rachel...

— Espera, Hugo e Rachel?

— Sim. Hugo, Rachel, Milla e Olívia.

Isso é uma armadilha!


Capítulo 6
JASMINE

Daniel não apareceu no dia seguinte, quero dizer, ontem.

— Voltarei para casa. — falo com minha mãe. Ela deixa o


controle da TV de lado e me encara. — Conversarei com meu pai.

— E por que a decisão repentina se até ontem esperava


pela posição de Daniel? Ele não veio, mas é um homem bem

ocupado, devido a tudo o que deve estar acontecendo.

— Mãe, sabemos que eu posso tomar decisões. E é isso,

se meu pai não me escutar, continuar não acreditando em mim, o


que poderei fazer além de não querer olhar na cara dele?

— Não olhar na cara dele sendo que estará em seu


território?

— Por que está tão tranquila? Nem parece que seu marido
está correndo atrás de nós duas.

Respira fundo novamente.


— Eu acredito no seu pai, sei que ele não é nenhum vilão,

mas tenho quase certeza que ele não sabe tudo o que acontece
ao seu redor. E esse é o problema da nossa volta.

— Então confia no meu pai, acredita que ele não está do


outro lado.

— Sim, acredito nisso. Por esse motivo eu digo, Daniel é a

nossa melhor opção.

— Opção de ajuda?

— Opção na vida.

Esfrego meu rosto.

— Mãe, o que quer afinal? Outro casamento arranjado pra

mim?

— Não seja tão dura, você o quer, ele te quer. Não falo de
casamento, só que, nesse momento, Daniel é o melhor aliado de

todos, Jasmine. Seu pai está quase isolado nessa história. E se

ficasse com Daniel, Fernando praticamente seria obrigado a

manter a trégua e a nos ajudar.

— Fernando e Yankee não são aliados até hoje.

— Quer apostar que se a bomba estourar a Sangre vem

em peso ajudar?
— O que sabe? — pergunto.

— Daniel acha que seu pai não sabe de Yoshida, mas é

claro que sabe e ele me contou. Por esse motivo não dá para
acreditar que seu pai estaria do outro lado nesse conflito.

— Então posso voltar para casa e conversar com meu

próprio pai.

— Acho melhor falar com Daniel antes disso. Saber se ele

vai nos acompanhar, porque ele já se encontraria com o Tyler.

Volto a deitar no sofá, minha coluna sofrendo após meu

alongamento, que minha mãe reclamou do modo como fiz,

mesmo assim, continuei.

Meus curativos foram trocados e exercícios foram feitos,

estou me sentindo melhor.

Por outro lado, estou confusa e bastante pensativa sobre

tudo isso.

E ainda dependo da decisão de Daniel para poder decidir

sobre minha própria vida. Ele viria ontem, mas, até agora, não

deu qualquer notícia.

As horas vão passando e o que fazemos é assistir séries,

começamos uma, pulamos para outra, e, no fim, não assistimos


nenhum episódio até o final.

Quando a noite chega, é o momento que Daniel avisa que

está na porta.

Minha mãe abre a porta e Daniel entra.

— Desculpa o atraso. — sorri pra mim. — Tive alguns

problemas durante essas horas.

— Algo grave? — pergunto.

— Não muito, apenas difícilde resolver, mas conseguimos.


Como está?

— Melhor que ontem e já tomei minha decisão. Falarei com

meu pai.

Daniel balança a cabeça e senta a minha frente.

— Soube a algumas horas que Tyler está à procura das

duas.

— Ele foi até vocês? — minha mãe pergunta.

— Foi até Giulia, na escola de dança. Por incrível que

pareça, não foi irritado nem nada do tipo, ele foi pedir para vocês
voltarem para casa. Tyler nem desconfia que está aqui, mas como

você é amiga de Giulia, achou que ela estivesse ajudando.

— E ela nem sabe onde estou.


— Agora sabe, porque ela ficou nervosa e contei.

— Agora contarei ao meu pai. — levanto do sofá, sentindo


a pontada de dor. Daniel, mais uma vez, vem me ajudar. —

Obrigada, talvez eu precise de fisioterapia.

Daniel me coloca em pé.

— Posso arranjar isso.

— Muito obrigada, mas também posso conseguir um

fisioterapeuta.

— Deixe-me ser o salvador da pátria novamente.

— Salvou muita gente hoje?

— Salvei minha irmã.

— Karen e Giulia estão bem?

— Não, outra irmã. Nicole.

— Que Nicole?

— Nicole, aquela loira da faculdade.

— Oi? Ela é sua irmã? — confirma. — Mas... Giulia nem


gosta dela.

Daniel coça a cabeça.


— Então, foi uma surpresa para muitas pessoas, pode
acreditar nisso. Mas Nicole é minha irmã de sangue.

Das poucas vezes que vi Daniel na faculdade, ele estava


com Nicole. Giulia até mencionava que achava que eram
namorados ou tinham algum caso. Eu sentia ciúmes, confesso.

Sentir ciúme do que não é meu!

Agora sei que são irmãos!

Eu nunca poderia cogitar essa possibilidade!

— Não falaremos disso agora, porque, pelo modo como

levantou, você está querendo muito essa conversa com seu pai.

— Sim, preciso passar logo disso. Se ele aceitar, ainda


bem, posso viver. Se não aceitar... Bem, vivi uma baita ilusão e

precisarei acordar disso logo.

— Sabe o número do telefone do seu pai? — confirmo. —

Então ligue para ele e marque um encontro no restaurante entre a


primeira estação do metrô e a clínica veterinária.

— Por que um local tão específico?

— Não mataria seu pai a sua frente. Quero te conquistar e


mataria seu pai?

— Então agora há paz? Sem ''talvez''?


— Segundo Giulia, seu pai, definitivamente, estava muito
preocupado, não assumiu uma postura de violência ou ameaças,
apenas pediu para saber se está bem, e quando quiser conversar,

pode até ligar para ele. Daremos um voto de confiança para um


pai desolado.

Essa parte me faz respirar um pouco mais aliviada. Pelo


menos meu pai parece um pai preocupado.

— Você está se saindo um bom mafioso.

— ''Fofo'', ''bom mafioso'', tudo aquilo que eu não deveria

ser.

— Quer ser cruel? Um cara escroto? Aí eu te mandarei a


merda e não olho mais na sua cara.

— Aceito ser fofo e ''bom mafioso''. Pensou muito em mim?

— Não.

Minha mãe dá risada.

— Eu gosto como Ingrid te entrega.

— A própria Jasmine já se entrega. — minha mãe fala.

— Preciso ligar para meu pai. — estendo a mão, pedindo o


celular de Daniel, já que o meu, provavelmente, está grampeado.

Na verdade nem ligamos qualquer celular.


Daniel me entrega o celular e eu digito o número do meu

pai.

Respiro fundo e faço a ligação, no segundo toque, meu pai

atende.

— Sou eu, Jasmine.

— Jasmine, onde está? — seu tom de voz é desesperado.

— Eu sei que errei, mas me perdoe por isso. Eu tinha meus

motivos.

— Motivo de conseguir um aliado?

— Não, motivo de acabar com um aliado.

Olho para Daniel nesse mesmo momento e ele apenas

balança a cabeça.

— Precisamos conversar, Jasmine. Sua mãe está aí?

— Claro que estou, eu não a abandonaria em momento

algum! — minha mãe fica ao meu lado. — Espero que esteja

muito arrependido.

— Sim, estou arrependido de não contar antes, mas


preciso esclarecer os acontecimentos.

Daniel faz um sinal e depois fala do endereço.

— Encontre-me no endereço que vou lhe informar.


— Não confia em mim? Não pode vir para a nossa casa?

— Eu não confio muito. — mas é Daniel quem responde no

meu lugar.

— Quem está falando?

— Não é um sequestro, mas precisa esclarecer os fatos

comigo também.

— Quem está falando?— meu pai praticamente grita.

— Daniel Bertollini.

— Italianos filhos da puta! — meu pai rosna. — Eu sabia

que estavam metidos nisso...

— Eu não sou italiano.

— Foda-se? — meu pai começa a respirar quase sem


fôlego. — Ok, fale o endereço. Jasmine, está bem mesmo?

— Daniel cuidou muito bem...

— Bem melhor que o Romeo! — minha mãe acrescenta.

— Ingrid, pelo amor de Deus! — meu pai grita. — Não

comece com essas suas histórias...

— Abra os olhos, idiota. — minha mãe interrompe meu pai.

— Veja os benefícios,eu já escolhi meu lado. Não seja imbecil de


ser o cara do contra novamente.
(...)

Não conheço Daniel muito bem, porém, Giulia confia cem

por cento nele.

Também tento acreditar que nenhum desses homens

armados vão atirar no meu pai.

Eu rezo para que não. Tenho medo de ser uma armadilha e

eu ferrar meu pai... Daniel faria isso? Leonardo faria algo assim?

São bandidos no fim das contas.

— Ninguém mataria seu pai na sua frente, comadre. — Leo

abre a sua lata de refrigerante. — Tão pouco faríamos uma

chacina no meio da cidade.

— Matariam pelas minhas costas e no interior. — retruco.

— Perspicaz, meu filho tem uma boa madrinha.

— Sério, Leonardo? — já estou quase perdendo a

paciência. — Tomar refrigerante e sorrir?


— Refrigerante tá de graça, restaurante todo nosso,

inclusive pedi vários pedaços enormes de wagyu. Carne bovina

caríssima, a mais nobre, depois Fernando paga a conta.

— Fernando deve te amar. — cruzo os braços, como uma


pessoa birrenta, só falta a carranca... Ah, é! Estou carrancuda

também!

— Fernando sempre vai amar um genro. Não vejo a hora


de Karen levar um homem pra casa, e que seja pior que eu, pra

meu padrinho me esquecer um pouco mais.

— Impossível te esquecer.

— Comadre, eu já vou com sua cara. E olha que eu posso


ser padrinho de casamento.

— Vocês casam rápido assim mesmo? Daniel já falou de

relacionamento.

— Perder tempo pra que? Se bem que Tyler é bem


irritante, implicante...

— Ei! — minha mãe fala alto. — Tyler é tudo isso, mas só

eu posso falar mal do meu marido.

— Desculpa, senhora. Mas é a realidade dos fatos.


— Esse é o segundo braço direito da Nostra? — minha

mãe bufa. — Coitado de Fernando Bertollini e Marco Vesneitni.

— Senhora, a senhora também não me pareceu tão séria

para ser uma primeira dama.

— Você está me chamando de que?

— Bom, eu pedi quilos e mais quilos de wagyu, a senhora


pediu o dobro, afinal, ''Fernando que pague''.

— Eu gosto de dar prejuízo a máfia, reparação histórica.

— Não lembro de termos feito mal a negros, índios e

asiáticos por serem assim, agora se causamos mal tendo motivos,


não tem reparação alguma. Falando nisso, que mistura! Só faltou

um branco nisso tudo...

— Daniel está aí pra isso. — eu até retrucaria essa fala da


minha mãe, mas eu tento entender essa conversa aqui.

— E de onde vêm os antepassados?

— De onde vem seus antepassados, Leonardo? Quem é

sua mãe biológica? Pois é, eu não sei quem são meus parentes.

Os dois se encaram.

Eu sinto algo entre os dois, um desafio, mas não sei dizer o

porquê disso.
Mas nesse mesmo momento eu lembro quando Daniel
indagou a mesma coisa...

— Finalmente comida! — mas Leonardo apenas muda de

assunto quando chega o primeiro prato. — Primeiro as damas.

— Obrigada. — minha mãe agradece quando Leonardo

entrega o prato a ela.

— Está acontecendo algo que eu não sei? — pergunto.

— Apenas pensando em como sua família é tão diferente


uma da outra. — Leonardo responde. — Quero dizer, os

integrantes.

— Como é diferente sendo que, no máximo, eu conheci

minha avó e nada mais que isso? — minha mãe coloca o garfo no
prato, parando de comer. — O que minha vida interessa?

— Não tem mais filhos?

— Claro que não, só Jasmine... — minha mãe para de

falar, arregala os olhos e abre a boca. Fecha. Parece que quer


falar, mas não tem palavras. — Ah... Deus! Não foi isso!

— O que? — pergunto quando vejo a reação negativa da

minha mãe.
— Dois homens, não é isso? — minha mãe pergunta. —
Acha que são meus filhos.

— Boatos que são.

— Que filhos? — pergunto. — Do que estão falando?

Eu não entendo absolutamente nada do que estão

dizendo, é como se fosse um código que só os dois entendem.

— Mas eles estão mortos!

— Pelo amor de Deus! — grito. — Do que estão falando?

Mas não obtenho resposta, já que meu pai entra no

restaurante quase derrubando a porta e chamando a nossa


atenção.

Só que eu não presto tanto atenção nele, dois caras atrás


dele tem toda a minha atenção, pois nunca vi na vida.

— Então ela é a nossa irmã? — o mais bronzeado

pergunta, apontando pra mim.

— Irmã? — murmuro, ainda sem entender nada do que


acontece.

— Como está, Jasmine? — meu pai me abraça bem

apertado, sinto dores, mas estou tão estática, tão confusa, que
nem reclamo. — Perdoe-me, eu não queria fazer nada daquilo, eu
juro que era tudo...

— Irmã? — afasto o meu pai. — O que está acontecendo?

Olho para os dois novamente e para Daniel que aparece

logo em seguida.

Esses ''irmãos''são super diferentes, realmente. Um muito


branco, outro bronzeado. Um de cabelo liso preto, outro de cabelo

cacheado castanho...

Então Daniel e Leonardo já sabiam desses irmãos e por

isso indagavam as inúmeras diferenças?

Mas como eles já sabiam disso?

E quem são esses irmãos?


Capítulo 7
JASMINE

Tudo mudou em menos de uma semana!

Deveria estar noiva, fugi do noivado, sofri um acidente de


carro, meu ''futuro sogro'' foi assassinado pelo herdeiro da máfia,

o herdeiro da máfia me ajudou, o herdeiro da máfia me quer,


desconfiamos do meu pai, acreditamos no meu pai e agora eu
tenho dois irmãos?

— Quem são esses dois? — pergunto novamente, já que


ninguém me respondeu. — E como sabe deles? — pergunto a

minha mãe, que continua boquiaberta diante da presença dos


irmãos. — E porque eles estavam mortos?

— Jasmine, esse é um assunto nosso. — meu pai


sussurra, segurando minha mão. — Não tem nada a ver com a

Nostra, estamos aqui por outro assunto.

— E o que os seus dois filhos têm a ver com o meu

assunto?
— A partir do momento que matamos o Romeo, estamos

dentro do assunto. — olho para o cara bronzeado. — Olá,


irmãzinha, sou o Alex. Não Alessandro, Alexandre ou qualquer

outra merda, apenas Alex.

— Sou o Allan. — o branquelo só diz isso.

— Mataram o Romeo, são meus irmãos, que merda é

essa?

— É um pedaço de cavalo. — o tal Alex ri e senta na

cadeira.

— Pai...

— Eu já imaginava que Romeo era um traidor, estava meio


óbvio. Só que ele estava com conexões lucrativas. — meu pai

responde a outra pergunta. — E eu queria saber de onde estava


saindo tudo aquilo, foi então que Rubens falou de casamento. Eu

vi dinheiro entrando, vi negócios e territórios novos e necessitava

saber como aquilo estava acontecendo. Eu mandei homens

investigarem e nada acontecia. Precisava do casamento porque

você se infiltraria lá dentro...

— Ah, claro, e por que não contou nada? — interrompo-o.

— Por que me escondeu que era esse o plano?


— Por que você nunca foi com a cara do Romeo, precisava
ser muito convincente desde o início...

— Eu continuaria o odiando, não se preocupe com isso. —


um riso escapa, mas é aquele carregado de amargura, de raiva.

— E, pai, sei bem qual era o seu plano, era me usar nisso tudo.

— O casamento aconteceria em uma propriedade do

Romeo, uma propriedade desconhecida, quando o casamento foi


falado, eles disseram que arrumariam o local. — continua

contando. — Acontece que eu aceitei porque achei a

movimentação estranha e a vontade do casamento ser naquele

local, investigações aconteceram e descobrimos que armas e

explosivos estavam sendo colocados naquele local.

— Uma armadilha. — minha mãe murmura.

— Provavelmente, e eu prosseguiria a ideia porque eu

sabia que não era apenas pra mim ou pra você, era para a M-Unit

em peso. Você teria que ajeitar tudo para o casamento, teria que

ir até lá, aísim eu te contaria o plano e você poderia levar alguma

câmera escondida, para que eu pudesse ver o local por dentro.


Romeo não desconfiava de nada, há quilômetros de distância

vimos os movimentos, mais que isso só você estando lá.


— Poderia ter evitado tudo isso se me contasse do plano

desde o início,mas sabe o que acontece? Você nunca acredita


que sou capaz de algo. Eu nunca sou capaz de comandar seus

negócios legais, pois sempre sou apenas a herdeira. Não sou


capaz de estudar o que quero porque é uma profissão mixuruca,
também não sou capaz de saber um plano desde o inícioporque

estragarei tudo. Não sou capaz de ser da M-Unit por quê? Porque
sou incapaz. — meu pai pisca os olhos, parece confuso, ao

mesmo tempo parece que o acertei em cheio. — Agora eu sou


aquela que pode trazer a aliança entre você e a Nostra, não é? —

olho pra minha mãe agora. — No fim é isso que sou, incapaz de
tudo. Só sirvo para servir, nada mais que isso.

— Uau, não imaginei tanto drama assim. — olho para Alex.


— Bem-vinda ao clube dos abandonados por Tyler.

— Abandonou seus próprios filhos? — olho para meu pai,

que agora se recompõe.

— Eu chorei pela morte deles, eu vi seus corpos, eu paguei

os enterros! — meu pai fala calmamente. — Estamos falando de


um psicopata que foi capaz de colocar duas crianças para

parecerem mortas e foram enterradas. Eu não abandonei


ninguém, a mãe deles sumiu no mundo, e quando finalmente
encontrei, ela já estava morta e as crianças desaparecidas ainda,

e depois eles estavam mortos.

Olho para os dois, não esboçam qualquer reação.

— E eles te salvaram como? — pergunto. — Como


conseguiram matar Romeo?

— Romeo ficou louco quando Rubens não apareceu na


manhã após seus desaparecimentos. Tivemos discussões,

Romeo puxou a arma pra mim, Alex estava ali para conversar
comigo e acabou atirando antes que Romeo falasse qualquer
outra palavra. Foi isso.

Olho para os irmãos.

Então mataram sem que o traidor dissesse uma palavra?


Muito propício...

— Então Allan não participou do assassinato.

— Ele ajudou a esconder e depois a descartarmos o corpo.


— meu pai continua do mesmo modo, passivo. — Conta como

participação.

— Espero que ame muito seus filhos. — aperto o ombro do

meu pai. — E que eles sejam ótimos sucessores. Pelo que vejo,
eles já começaram bem.
— Jasmine, a conversa não terminou! — meu pai agarra
meu braço.

— Estou machucada! — tiro meu braço do seu aperto. —


Qual o seu plano a partir de agora? Pelo que vejo, aceitou Daniel
e Leonardo.

— É melhor nos unirmos que...

— Estou indo embora, obrigada por essa maravilhosa

conversa.

— Jasmine, eu não terminei de falar! — ele não grita, mas

sua voz é severa, alta, de ordem.

— Eu já terminei. Eu tinha irmãos mortos, mais velhos ou

da mesma idade que eu, nunca soube de nada. Nunca soube que
meu noivo era um traidor e eu estava no plano contra ele. Sempre
sou usada, nunca vivo. Me proibiu de estudar ao invés de me

contar toda a verdade. Agora vai querer que eu fique com Daniel
apenas para que sua gangue fique bem? Para que tudo dê certo?

Não, obrigada. Estou caindo fora.

— Não pode ir, é perigoso...

Ando até Daniel.


— Posso voltar para aquela casa? — pergunto a ele, que
inclina um pouco a cabeça para o lado, acho que nem imaginava
que eu faria esse pedido após essa conversa. — Não sou idiota

de sair sozinha, sei que tem perigo, mas também não quero voltar
pra casa.

— Jasmine. — escuto a voz do meu pai, não olho em sua


direção, mas acho que ele não saiu do seu lugar. — Não fuja de
uma conversa séria...

— Você quem fugiu. — continuo encarando Daniel, porém,

respondo o meu pai. — Eu fugi do seu controle sobre minha


própria vida, mas nada mudou.

— Não entendendo, está pedindo ajuda a Daniel, mas eu

falarei sobre você e Daniel.

Sim, eu sei disso. Mas é bom que meu pai tenha um tempo
para pensar em tudo o que fez.

— Eu posso decidir com quem eu quero me relacionar, e

se precisar de um acordo, eu falo com vocês. No momento, eu só

quero um local para pensar na vida, nada a mais.

Provavelmente isso é drama, sei bem disso. Mas eu me

sinto traída.
Não consigo explicar, porque antes eu entendi que poderia

ser um plano do meu pai, mas escutar que tinha explosivos, que
ele sabia de tudo antes do noivado... Ele me usou em uma

armadilha perigosa, me fez sofrer para parecer real ao invés de

me contar para que eu pudesse ajuda-lo.

E agora sei que ele vai me querer com Daniel, para seu

plano, para sua gangue, não porque eu quero.

— Pode vir comigo. — Daniel responde a minha pergunta

de sairmos daqui. — Agora?

— Sim, por favor.

— Jasmine. — agora é a minha mãe quem tenta me

impedir. — Eu sinto muito...

Não deixo que ela se aproxime tanto, porque com ela eu


estou chateada por ela saber da história dos irmãos e nunca ter

falado absolutamente nada sobre esse assunto.

— Agora, Daniel.

E assim eu saio com Daniel, minha mãe gritando que

precisa falar comigo e eu apenas seguindo em frente, entrando no

carro e depois saindo para longe daqui.


— Sabia dos meus irmãos e por isso ficou questionando

sobre minha aparência? — pergunto a Daniel.

— Houve um boato que tinham dois homens circulando o

território de Tyler, que fica próximo ao nosso. Não sei ao certo o


motivo, mas falaram sobre serem filhos de Tyler e Ingrid, e vocês

não parecem em quase nada. Alex ainda tem a pele um tanto

mais escura que a de Allan, mesmo assim, continuam não se


parecendo.

— Minha mãe não pode ser a mãe deles, porque meu pai

falou que a mulher está morta.

— Eles que disseram que eram filhos dos dois. É uma


história complicada, saberei detalhes em breve. Eu não mencionei

porque não é meu assunto, entende? — por uns segundos ele tira

os olhos da estrada e me encara.

— Sim, entendo. Não vou te cobrar sinceridade nesse

assunto porque nem sabia dos detalhes, e também não me deve

nada. Meus pais sim deviam me contar. Irmãos mortos que foram

deixados de lado na nossa história.

Paro de falar e respiro fundo.


— O que está pensando? — Daniel pergunta. — Vejo sua

feição e parece bem confusa, posso te ajudar, caso precise.

— Não acha estranho que eles tenham matado um traidor

tão rapidamente? — faço o questionamento que passo por minha

cabeça. — Ainda mais alguém como Romeo.

— Acho estranho e seu pai também deve achar. Os irmãos

apareceram justamente quando a bomba começa a estourar e

Alex consegue matar um traidor sem dar a chance de torturarem

para obterem resposta. Pode ter sido o impulso, do mesmo modo


que fiz contra Rubens, já que Romeo apontou a arma para seu

pai, mas não sei. Não os conheço e nem você conhece.

— Parece que nem conheço meus pais.

— Casamento arranjado sempre é desesperador, uma


traição para a parte afetada.

— Você demorou de entrar no restaurante, do que

falavam? Estabeleceram um preço sobre minha vida?

Não responde.

— Quanto estou valendo?

— Tudo é um acordo, Jasmine. Infelizmente. Sei que pode

soar de maneira ofensiva, dolorosa, mas, na nossa vida, tudo é


um acordo.

— O que mais dói é não saber de nada antes e agora que

sei, novamente sou entregue a outro homem. Tudo bem, eu vim

com você por conta própria, mas meu pai nem veio falar comigo.

Daniel respira fundo.

— O que mais dói é seu pai não confiar em você, não é?

Colocar sempre alguém a sua frente e esquecer as suas


escolhas.

— Você não deve passar por isso.

— Muitas pessoas não estão preparadas para mulheres

comandando ou tendo muito protagonismo em algo. Vocês são

vistas como emocionais e quase nada racionais.

— E você enxerga assim?

— Não sei, nunca demos chance para um grande

protagonismo. Mas não duvido em nada do que sejam capazes.

— Não sei o que farei a partir de agora. Porque há perigo

lá fora, dois homens relacionados comigo morreram e tenho dois

irmãos que chegaram do nada.

— Pode ficar comigo, sem casamento, sem acordo algum,


se te faz melhor.
— Aí vocês não se unem por minha culpa?

— Estamos unidos porque temos o mesmo inimigo, só não


tem dinheiro rolando por nossa causa.

— Quanto eu vali? Quanto ainda estou valendo?

— Duas mansões, um herdeiro e dez milhões. Não achei

caro. Você vale mais que isso.

— Oh... — aperto sua bochecha e ele tenta morder minha

mão, mas tiro rapidamente. — Não sei o que dizer disso. Dessa

venda maravilhosa.

— Você já imaginava que isso aconteceria ou foi uma


surpresa?

— O casamento arranjado? — confirma. — A mais pura

surpresa, a pior de todas. Imaginava que meu pai respeitasse a


minha escolha de ter ou não ter um casamento, esperar o meu

momento. Mas acho que estou de TPM.

— Pelo drama feito?

— Foi muito dramático?

— Acho que não, meu irmão mirou a arma na cabeça do

futuro sogro e da sogra, e deu um soco na cara do futuro do

cunhado.
— Ele mirou em Marco e Isabella, depois socou Leonardo?

— Não! A noiva é outra mulher.

— E como Kat está? — a garota vivia falando que não quer

nada com Gabriel, mas é nítido que ela a ama.

— Kat está tramando um atentado para o noivado,

envolvendo armas biológicas, bombas, armas... Kat está sendo

Kat.

— Eles estão reagindo pior que eu.

— A sua reação é apenas desapontamento, daqui a pouco

você vai querer escutar seu pai. Como você falou o tempo todo,

Tyler sempre foi um pai maravilhoso.

— Que me escondeu histórias e ainda me coloca em

enrascadas.

— Que ele conseguiria salvar...

— Tá defendendo muito! Te comprou por quanto?

— Ah, Jasmine, eu esperava ter treta com Tyler, o cara me


aceita agora, preciso aproveitar. Daqui a pouco vocês se

entendem e eu terei tretadocom meu sogro?

— Ah, Daniel, não temos nada até o momento!

— Você está indo para minha casa agora.


— Para eu poder pensar na vida.

— Podemos fazer algo melhor que pensar na vida. Nunca


fez nada disso?

— Nada disso o que?

— Qualquer tipo de relação?

— Giulia e Karen tiveram algo do tipo? Kat teve? Não!


Quer dizer, Giulia está com Leonardo, mas o cara faz parte dos

negócios. Eu sou da M-Unit, ou sou respeitada demais para ser


tocada ou sou preciosa demais e me querem por causa dos
negócios, ou melhor, querem meu pai.

— Ainda bem que sou mais importante que seu pai, nem
precisa desconfiar que preciso de Tyler para algo.

— Tem nem cinco dias que tudo aconteceu, sendo que só


convivemos por um dia.

— Quando completar uma semana pode ser?

Dou risada para Daniel.

— Já namorou? — pergunto.

— Não. Não apareceu alguém que me instigasse para

tanto.

— Pensei que eu fosse essa pessoa.


— Ainda não estamos namorando. — olha rapidamente pra
mim, o canto da sua boca subindo em sorriso malicioso. — Pediu
calma, não foi?

— É sério, é sempre tão rápido? Ou eu sou lenta?

— Os dois.

Bato em seu braço.

— Não sou lenta, apenas reclusa.

— Se bem que você quer ir a minha casa.

— Para dormir sozinha pensando na vida.

— Então é rápida para confiar em mim.

— Giulia confia, então eu confio.

— Então nada do que fiz vale para confiar em mim?

— Daniel... Eu... — tomo uma longa respiração. — Eu não


te conheço. Tenho uma paixãozinha platônica, mas não te
conheço. E eu sou aquela que só vai se relacionar se conhecer a

pessoa antes.

— Então estaremos nos conhecendo melhor no meio de

uma confusão sem um motivo evidente.

— E no fim você me protege.


— No fim você está com a máfia.

— Quase que Tyler teria uma filha casando com o herdeiro

da Nostra.

Daniel não diz mais nada. Mas sei que a conversa era
sobre casamento.

Respiro fundo.

Não posso fazer tantos dramas por algo que imaginei que
aconteceria... Mas é ruim perceber o quanto minhas decisões
foram anuladas e o quanto me deixaram alheia de informações.

Mas amanhã é outro dia, estarei mais calma e com a


cabeça melhor, assim poderei conversar e tentar entender o que

esta acontecendo.

Agora estou com Daniel Bertollini, indo a casa dele, sem a

presença da minha mãe e sem qualquer acordo feito.

Uma das poucas vezes que consigo e posso tomar uma

decisão sozinha.
Capítulo 8
JASMINE

Senti muita dor de cabeça, muita dor no corpo e depois do

analgésico acabei dormindo.

Agora estou vestindo as roupas que Daniel me entregou e


tentando limpar meu braço. As feridas ainda não fecharam, era a

minha mãe que fazia os curativos.

— Eu faço os curativos, estou com tudo pronto!

Como se Daniel lesse meus pensamentos, escuto seu grito

do lado de fora do quarto.

— Lê mentes?

— Não, mas imaginei que não fosse pedir ajuda. Farei com

cuidado, não se preocupe.

Sorrio e coloco a blusa com a alça fina. Abro a porta do

quarto e encontro Daniel com uma caixinha de primeiros socorros,

só que minha atenção logo se vai quando olho para seus braços.
Eu só vi Daniel de Jaqueta, camisa social e calças, agora

que ele está de camiseta e bermuda, vejo suas tatuagens.

— Não imaginava que tenho tatuagens? — olho para

Daniel, que está sorrindo diante da minha inspeção.

— Não imaginei.

— Cobrir cicatrizes, não são tantas tatuagens.

— Cicatrizes dos negócios?

— Não, do passado mesmo, quando eu era um garoto com


uma vida de merda.

— Sinto muito.

— Alguns dos principais causadores já estão mortos, de

qualquer maneira. — mostra a caixa novamente. — Podemos?

Daniel muda de assunto rapidamente, ainda deve ser

traumatizante para ele.

— Cuidado, ok? Mas na hora de colocar o troço ardido

você coloca de uma vez, para não doer tanto assim.

— Uma boa conversa...

— Ah, Daniel! — fecho os olhos.

— Não falarei mais nada. Deita na cama...


— Sentarei na cama.

— Tudo bem então.

Sento na ponta da cama e tento não gritar quando ele

limpa meus ferimentos.

— Não vejo a hora disso melhorar, ainda bem que não

quebrei qualquer osso.

— Acho que daqui a três dias tudo estará fechado, sem

precisar de qualquer limpeza nessas feridas. E os pontos daqui a

pouco estarão saindo. E pelo que percebo, talvez nem precise de

fisioterapia.

— Um bom enfermeiro. Obrigada.

— De nada.

— Eu acho que minha coluna está melhorando, assim

como as dores nas pernas. — Daniel avisa que terminou o


trabalho. — Já precisou cuidar de muitos feridos?

— Gabriel, Karen, Kat e Cassie, especialistas em ter


ferimentos. Corriam de um lado para o outro, pulavam muros,

faziam de tudo. Para os pais não brigarem, vinham correndo pedir

ajuda pra mim. O que não adiantava de nada, porque os pais

desconfiavam das roupas cobrindo tudo.


— O bom irmão mais velho, acobertando as peripécias dos

irmãos e seus amigos.

— Acho que por isso estarei no lugar do meu pai, ele diz

que sou responsável e ajudo quando necessário.

— Fernando parece um bom pai, nunca o vi tão de perto.

— Verá em breve quando apresentar como minha


namorada.

— Ah, Daniel! — cruzo os braços. — Ontem eu não era


nada, agora volto a ser ''futura namorada''?

— É bom te irritar com minhas incertezas. E bom dia,


Jasmine! Gostou das roupas? Dormiu bem?

— Bom dia, Daniel. — sorrio para seu modo de me cobrar

educação. Também, me perdi com suas tatuagense músculos. —


Sim para tudo, e você?

— Não dormi, estava ocupado em reunião sobre o novo


cassino.

— Outro cassino no continente?

— Não, em Vegas.

— Sabe jogar?
— Nem um pouco, jogar é cilada, tudo roubo. Posso te

ensinar os esquemas, vire minha sócia.

— Olha, eu aceitaria, mas sou de humanas, provavelmente

esses esquemas devem envolver números de alguma maneira,


saiba que vou me perder no assunto. — estende a mão na minha

direção e me ajuda a levantar da cama. — Eu consigo levantar.

— Eu sei, mas quis ser um cavalheiro. O que fará hoje?

— Falar com meus pais com mais calma e tentar conhecer


esses irmãos, ver o que querem, se consigo sentir alguma
energia, sabe?

— Você é aquela pessoa que precisa sentir energia da


casa? De tudo?

— Levando em consideração que vou com sua cara sem te


conhecer direito, minha parte sensitiva vale muito.

— Então sua sensitividade é perfeita, me leu perfeitamente.

— Besta! — reviro os olhos. — O que fará hoje?

— Reunião da Nostra, com Nicole e outras duas pessoas...


Ah, talvez você conheça uma Rachel que trabalhava na

faculdade...

— A ruiva?
— Sim.

— Ela é uma inimiga? — lembro da garota quando

conversamos sobre a idiotice da maioria dos alunos daquela


faculdade. Eu fui com a cara dela, porém, não voltei mais a
faculdade como aluna, então não nos vimos novamente. — Eu fui

com a cara dela...

— Sua sensitividade é muito boa, porque não, não é uma


inimiga, é uma vítima de Yoshida que estava fugindo dele.

Conseguimos resgata-la junto a Nicole e um tal de Hugo.

— Nicole com esses dois?

— Quando eu digo que as vidas vão se cruzando, estou


falando bem sério.

— Ele usa pessoas conhecidas para irem ferrando uns aos


outros, quero dizer, para atingir o outro.

— Provavelmente.

— Aja pesquisa para saber tanto assim.

— Da parte de Nicole, nem tanto, porque tivemos um


contato indireto com Yoshida, então já sabem do parentesco.

Seus irmãos foram dados como mortos e até foram enterrados,


mas estão vivos e retornaram. Não consigo compreender a fundo
todo o contexto, a linha do tempo e coisas do gênero, mas é um
grau de perigo acima da média.

— E a média anterior era o que?

— Outros países pedindo extradição dos membros da


Nostra, isso sim era considerado perigoso.

— Tentando levar no bom humor?

— Tentando. — encolhe os ombros. — Então, vamos tomar


café?

Aceito e descemos as escadas, indo até a mesa que está

cheia de comida.

— Comprou tudo, aposto. — brinco.

— Sim, mas eu juro que sou bom na cozinha, ou mais ou

menos bom. No entanto, fiquei meio sem tempo...

— Cobrarei que cozinhe no futuro.

— Então teremos um futuro?

Minha resposta é apenas sorrir e sentar na cadeira,

pegando a jarra de suco de manga e fazendo um sanduíchecom

peito de peru e queijo.

— Só come isso? — Daniel pergunta.


— Na verdade eu só tomo café, não sou uma pessoa que

come pela manhã.

— Ali tem a máquina de café.

— Aqui está mais rápido. — sorrio. — Obrigada pelo café

da manhã.

— De nada. — ele é o meu oposto, come o triplo do que eu

como, talvez o quíntuplo.

Nunca imaginei essa cena... Ainda mais com Daniel

Bertollini;

— Como vou para casa? — pergunto.

— Eu te levo até lá.

— Então temos a paz mesmo?

— Temos.

— Não vai contar da conversa que teve com meu pai?

Daniel termina de comer o pão e olha pra mim.

— Como disse, tudo na nossa vida...

— ''É acordo'', eu já entendi, Daniel.

— Então, como sua mãe também disse, é mais benéfico


ficar comigo. Quando contei que salvei sua vida e acabei matando
Rubens, Tyler agradeceu, mas também falou que precisaríamos

nos unir, porque o inimigo é o mesmo e ele foi atrás de você

também. Eu disse que já te protejo.

Para de falar.

— Então meu pai já quis me dar a você. Pode continuar,

porque é isso que aconteceu.

— Quando falei que te protejo e continuarei assim, seu pai


perguntou se eu tenho interesse em você, se sim, poderíamos

começar a negociar um contrato de casamento.

Travo a mandíbula, pensando em como meu pai enxerga

negócio na minha vida de maneira tão rápida. Se bem que até


minha mãe enxergou.

— Interessante o fato dele nem ter ido logo me ver. — não

posso deixar esse rancor de lado.

— Ele está desesperado.

— Percebi. — e talvez eu tenha que deixar o drama de

lado, porque a nossa vida é essa... Contatos e contratos.

— Por algum motivo querem você, querem muito você. O


contrato de casamento nem valeu tanto, Jasmine, eu posso pagar

muito mais que aquilo, eu que ofereci aquele valor para ver o que
Tyler faria e ele apenas aceitou. Não conversamos tanto assim,

mas ele quer muito te proteger... — faz uma pausa, talvez


pensando no que deve falar. — Eu falei com Tyler depois, na

madrugada, ele confirmou que você está correndo muito perigo. O

estranho é que parece que você corre mais perigo que Giulia,
sendo que meu pai parecia o alvo principal.

Agora eu entro em um parafuso, porque começo a lembrar

que minha mãe falou muito de necessitar de proteção, agora meu

pai também fala... Minha mãe conheceu meus dois irmãos, eles
morreram e agora estão aqui...

— Preciso ir pra casa. — levanto da cadeira. — Tirar logo

uma parte das duvidas.

Daniel levanta e vem na minha direção, parando a minha

frente.

Eu não sou baixinha, minha cabeça é da altura do seu

queixo, então quase estamos com os rostos colados um no outro.

— Nos veremos novamente? — ele pergunta. A voz dele é


grossa, mas sussurrando... Por que faz isso comigo, homem?

— Sim. — respondo, quase sem voz.

— Uma pena que vá embora um dia depois de chegar.


Eu não sei o que responder, porque toda essa

aproximação me faz ficar sem palavras. O seu olhar no meu, o

sorrisinho dele se formando...

Daniel coloca a mão no meu rosto, acariciando minha


bochecha.

Me beija!

Me beija!

Ele está se aproximando!

Me beija!

Ele beija meu rosto!

— Podemos ir agora? — pergunta, com aquele sorriso


pretencioso. — Está com raiva por algum motivo?

— Não, estou muito bem. — forço um sorriso. — Sim,

podemos ir.

Daniel vai ao quarto e depois desce com outra roupa,

dessa vez, mais formal.

— Qual seu estilo de música favorita? — pergunto quando

entramos no carro e outros três carros nos acompanham. — Às

vezes parece um cara muito culto e sério, depois parece o homem


de vinte e sete anos, mais relaxado.
— Eu escuto rap, heavy metal uma vez ou outra, reggaeton

mais ou menos. E você?

— O mesmo, tirando o heavy metal que não é tão minha

praia.

— Então podemos ir a algum show no futuro sem que

pessoas queiram nos matar.

— Nunca fui a qualquer show.

— Sério?

— Sim, quer dizer, o aniversário do meu pai serve? Teve

uns shows particulares, mas esses shows comuns, nunca fui. Não
tinha com quem ir.

— Só tem Giulia de amiga?

— Sim... — lembro agora de Leila. — E Leila, mas ela não


é amiga, é uma conhecida... Colega.

— Já escutei Giulia reclamando de Leila, pensei que você

nem gostasse dela.

— Ela é estranha, eu acho que meu pai até investigou


sobre a vida dela, creio que não achou nada, pois nunca mais

falou do assunto.
— Ruim ter que ficar investigando toda pessoa que
aparece em nossas vidas, até por isso não durei tanto na

faculdade. — há um tom de lamentação em sua voz. — Muitas

preocupações juntas.

— Algumas pessoas sabem quem sou, outras apenas me

evitavam. Faculdade é um local para achar gente chata, ainda

mais quando é particular e muito cara.

— Eu era sozinho, porque Leo não estava no país, o que

era pior. Não queria aproximação e também não queria ficar

sozinho, apenas saí.

Por um instante penso se seu passado ainda não está na


sua mente. Querer ficarsozinho, mas não gostar de ficarsozinho.

Sair de locais onde as pessoas querem se aproximar...

— Acho melhor abaixar o vidro. — Daniel fala assim que

chegamos a entrada do bairro que dá acesso a casa onde moro


com meus pais. — Para verem que é você.

Abaixo o vidro e logo percebo as pessoas fofocando


quando passamos.

— É que você estava desaparecida até ontem, sabe, você


fugiu de um noivado.
— Devo ser a fofoca da vez, ainda mais chegando com
Daniel Bertollini.

— Eu só estou fazendo o caminho normal porque você

está aqui, se não eu estaria fazendo um caminho mais longo até


chegar ao meu destino.

— Não é tão violento assim, e a M-Unit não te receberia a


tiros, não querem guerra com a Nostra.

— Não me receberiam a tiros, mas parariam meu carro, me


obrigariam a descer e cobririam minha cabeça. Conheço seu pai,
parece o meu.

— Talvez por isso os dois se alfinetem tanto.

— Engraçado porque os dois filhos se querem.

— Engraçado que você sempre tem a chance e nunca faz


nada.

Atingi!

Feri o ego de Daniel.

— Senhora lenta está reclamando por eu ser respeitoso?

— Esperava mais, querido.

— Então por que não me beija?

— No meu clichê, você que toma a iniciativa!


— Sou o seu clichê?

— Não temos dois dias convivendo por completo e eu falo

essas coisas pra você? — nem eu acredito nisso.

— É natural, acontece com pessoas que se gostam e

quando a energia bate. Mas se quer beijar, me beije, ou nunca fez


isso?

— Já fiz isso!

Ignoro o riso provocador de Daniel, ignoro-o por completo...


Mentira!

Penso nele, penso nessa rapidez toda...

Por um lado não é rapidez porque não aconteceu nada, o

contrato de casamento foi negado — pelo menos da minha parte


—, só estou conhecendo o cara, não é rápido como penso.

Não, não é rápido!

Mas é rápido para chegarmos em casa, lá no alto, na parte


rica do bairro comandado pela M-Unit.

— Pronto, está entregue. — Daniel para o carro.

— Obrigada por tudo o que fez por mim e por minha mãe.

— Entrará em contato?
— Tenho seu número. — fui guardando de bolso em bolso,
cada troca de roupa eu guardava o número em outra roupa para

não perder... E por vergonha de pedir novamente, confesso.

— Sabia que guardaria com carinho.

— Obrigada pela ajuda, Daniel. — ignoro-o porque ele está


certo.

— Até amanhã.

— Até qualquer dia.

— Até amanhã, Jasmine!

Eu abriria a porta, mas acabo parando e olhando para

Daniel.

Dane-se!

Se eu quero e Daniel quer, eu posso!

Eu beijo Daniel.

Não sei de onde tirei essa coragem, mas eu beijo sua


boca. Seguro seu rosto e ele coloca sua mão nas minhas costas,
me mantendo perto.

Já beijei, só que nunca fiz nada além disso.

Mas aqui, nesse momento, eu quero ficar mais perto, eu

quero beija-lo ainda mais.


Nossas línguas passando uma pela outra, sua mão...

Quase estou indo até seu colo, sentando para termos mais
contato...

Alguém bate no vidro do carro.

— Jasmine! — é meu pai! — Sem agarramento no meio da

rua e dentro de um carro!

Afasto-me de Daniel no mesmo momento, envergonhada


por esse flagra.

Abro a porta do carro, quase que nem consigo, e saio com


passos acelerados.

— Até amanhã, Jasmine! — escuto o grito de Daniel,


porque já estou dentro de casa.

Eu beijei Daniel!

Eu beijei Daniel!

Sorrio como uma boba.

— Ganhou na loteria? — paro de sorrir quando, só agora,


percebo Alex e Allan na minha frente, sentados no sofá na sala de

estar. — Só assim para alguém sorrir tanto.

— Você deve ser o irmão insuportável, Alex. Não preciso

ganhar na loteria para ser feliz.


— Ah, meu Deus, aposto que beijou um cara. — Alex enfia
uma colher enorme de brigadeiro na boca. — Não foi?

— Só pode, um sorriso idiota só pode ser homem. — Allan

nem olha na minha cara.

— Mulheres não dependem de homem para sorrir, eu sorri


por outro motivo, algo mais importante que homem...

— Beijando Daniel no carro, Jasmine? — meu pai

praticamente reclama quando entra em casa, quebrando todo


meu discurso empoderador.

— ''Não foi homem'', ela tentou dizer. — Alex continua

comendo o brigadeiro.

— E daí, Alex? Qual o problema disso?

— Já estão tendo uma discussão como irmãos? — minha


mãe chega à sala e bate na perna de Alex, para que ele tire de

cima da mesa de centro. Alex obedece, mas antes resmunga. —


Que coisa mais linda!

— Então é agora que todo mundo me conta a verdade? —

mudo completamente meu semblante, ficando séria. — Ou eu


devo sair novamente e não retornar mais?
— Se te faz melhor, estamos tão confusos quanto você,
Jasmine. — agora Allan olha pra mim. — Também não sabemos

de nada, tampouco a informação que, um dia, estávamos


''mortos''.

Olhamos para meu pai.

— Vamos tentar encaixar as peças e ver se chegamos a


alguma conclusão. — aponta para o sofá. — Eu não entendo

nada, e pelo que vejo, nem os dois que estiveram do outro lado,
entendem.
Capítulo 9
DANIEL

ANTERI
ORMENTE

Vinte anos depois e tudo muda, pessoas aparecem e


outras precisam sumir.

Esse é o momento que estamos saindo da Nostra.

Finalmente esse momento chegou.

— Não haverá briga de nossa parte em respeito a tudo o

que fizeram pelos negócios...

— E por termos parentesco com a Sangre Latino. — Marco


interrompe a fala de Michael, que, aparentemente, está à frente
nessa nova etapa da Nostra. — Você é a cabeça por trás de

tudo?

— Foi um concelho, Marco. — Michael prossegue. — Um

concelho feito para falarmos sobre o andamento dos negócios,

superfaturamento, monopólio de duas famílias...


— Temos negócios legais de sucesso lá fora. — é a vez do

meu pai interrompê-lo. — A fortuna que temos é fruto de muito


trabalho.

— Como sempre existiu, senhores, há concelhos, reuniões


para tomadas de decisões. — Michael apenas dá de ombros,

como se fosse o rei, como se já tivesse ganhado. — A maioria

votou a favor de mudanças e a favor que se retirem por bem dos


negócios.

— Não saímos da máfia por bem, Michael. — meu pai

continua calmo. — Na verdade, só sai ''bem''quando há amizade

e entendemos que a pessoa pediu ou precisa sair, mas quando


somos colocados para fora? — balança a cabeça. — É morte.

Mas aí eu me pergunto, quem está por trás de tudo? Quem


poderia nos matar longe daqui? Porque é muito mais fácil que

peguem armas nesse momento e atirem em cada um, seria mais

rápido. Mas não querem rapidez, ou alguém maior não quer

rapidez?

Não respondem.

Nem eles sabem o que acontece, só estão seguindo essa

ideia porque acham que será mais fácil de tomar o poder sem

tanta gente participando.


O que não tem muita lógica.

— Vocês vão se matar por poder, vocês querem o

monopólio da Nostra. E por isso aceitamos sair...

— Vocês estão fora, de qualquer maneira.

— Pode acreditar nisso, Michael. — meu pai apenas

concorda. — E também pode acreditar que será fácil nos matar

depois de sairmos daqui. Mas quando eu começar a retaliar, eu

não terei dó. Eu matarei filhos na frente dos pais e pais na frente

dos filhos. Mato um e deixo o outro a espera, e assim


sucessivamente. Foi por motivo fútil e sem sentido para tamanha

traição, eu nunca apunhalei vocês. Já que gostam de conselho,

com ''s'' mesmo, darei um. — meu pai olha para os outros

membros, que continuarão na Nostra. — Matem Michael primeiro,

ele é o pior daqui.

Eles sabem disso, tanto que nem defendem, apenas

Michael reclama.

É claro que dá para perceber que Michael é comandado

por Yoshida, meu pai o desmoraliza, ameaça seus filhos. Michael

aperta bem as mãos, mas nem ao menos discute.


Porque não é para nos matar, é muito sem graça para

Yoshida.

Yoshida quer algo maior, um espetáculo!

Saímos do porão do restaurante, indo até a área comum e


os seguranças obrigando os clientes a olharem na direção
contrária.

Do lado de fora do restaurante, olho para as pessoas que


foram expulsas:

Meu pai, Marco, Gabriel — que nunca fez parte, mas veio
porque queria ver de perto como é; Leonardo, Raul, Arthur e

Francesco, que é o irmão de Arthur. Os outros que foram


expulsos não moram no país, mas já foram comunicados da

saída.

— E o que faremos agora? — Francesco pergunta. — Todo

mundo iniciando o plano ou esperaremos um pouco mais?

— Mais alguns dias. — Marco responde. — Foi uma


expulsão sem sentido e sem tanta emoção.

— A emoção vem depois, como sempre. — meu pai olha


pra mim. — Vamos?
Confirmo. Gabriel e Leonardo também nos acompanham

indo em outro carro, Marco vai para outro lado e os outros


seguem seus caminhos.

Entramos no carro, dessa vez meu pai dirige e eu fico ao


seu lado.

— Sabe de Nicole, não é? — pergunto, sabendo que a


resposta será afirmativa.

— Qual parte?

— Que é minha irmã.

— Sim, sei bem disso.

— Eu não te contei antes porque ela pediu. Nicole tem


medo dessa vida que levamos, na verdade, tem medo das

pessoas no geral.

— E como ela foi até você? Ou você foi até ela?

— Eu tinha lembranças de uma garotinha loira do meu


passado, mas eu não via tanto assim, pensei que não tivesse

qualquer ligação comigo. Aí fui adotado e vocês disseram que


nunca acharam nada muito relevante sobre minha vida, acabei

achando que aquela menina era apenas uma visita, nada a mais.
Nicole era diferente, enquanto eu era largado e espancado, ela
sempre estava bem vestida, arrumada e com alguma boneca,
nunca desconfiaria que era minha irmã. Só que na faculdade a
minha mãe biológica apareceu, implorou para ajudar Nicole, que é

a minha irmã. Eu fiquei irritado, porque lembrei daquela mulher


me espancando, me humilhando... — paro de falar e respiro

fundo.

— Se quiser pular essa parte da história, pode pular. Se eu

pudesse eu voltava na história e mataria o seu pai biológico mais


lentamente, duraria mais de um mês! E faria o mesmo com a
''mãe''.

Eu sei que ele faria.

— Não quis falar nada com aquela mulher. Só que ela

começou a me perseguir. Eu não queria matar porque aí poderia


desencadear muita confusão, então decidi investigar. Mas foi

super rápido, no dia seguinte já falaram sobre Sonia, a minha


mãe biológica. Trabalhava com reciclagem, catando coisas na rua
e vendendo. A filha dela estava internada em um hospital

psiquiátrico de pior qualidade e me disseram a idade dela, mais


nova que eu por três anos, então lembrei a garotinha bem

arrumada. Fui até o hospital e a encontrei lá. Falaram que Nicole


teve um surto psicótico e tentou matar a própria mãe. Sendo
sincero, eu entendi, porque eu também queria matar aquela
mulher, mas fiquei me perguntando por que aquela menina foi tão
bem tratada naqueles anos.

— E a resposta?

— Nicole não falou de primeira. Ela apenas afirmava que

era inocente, que tentar matar a mãe não foi um surto psicótico,

foi defesa. Acreditei nela, mas ela estava ali para se tratar e
depois ser presa. Mas eu mexi um pouquinho na história e Nicole

foi liberada. Quando ela era uma criança, ela estava sendo bem

cuidada porque seria vendida, como eu. Mas como Elder, o pai
biológico, morreu, acabou a conexão entre comprador e

vendedor. Nicole começou a sofrer com isso, já que eu não

estava mais por ali. O dinheiro da casa começou a terminar e elas

foram morar em um barracão, depois só foi piorando e foram


morar na rua. Quando tudo aconteceu Nicole tinha uns dezenove

anos. Aquela mulher, Sonia, levou dois homens para o barracão e

disse que Nicole precisava transar com eles, porque assim elas
teriam dinheiro para semana. Nicole negou, porque os dois

homens estavam drogados, bem alterados e ela ficou com medo.

Segundo Nicole, ela estava desesperada por dinheiro e se não


fosse o modo como eles estavam, ela aceitaria porque estava

com muita fome.

Engulo em seco nesse momento, porque eu passei por

isso aos seis anos de idade. Só que consegui fugir de casa, mas

logo fui capturado. Por sorte, aqueles homens não apareceram


novamente.

Tem muitos detalhes da minha vida que eu nunca contei,

porque detesto a lembrança. E acho que por isso ajudo tanto

Nicole, ela passou o mesmo que eu.

— Sonia a obrigou a ir. Segundo Nicole, Sonia retirou uma

faca e a ameaçou. Não era a primeira vez que aquilo acontecia,

Nicole tinha que furtar pessoas. Na infância, depois da morte de


Elder, ela tinha que pedir esmola, aplicar pequenos golpes, do

tipo fingir que estava perdida e furtar a pessoa ou uma casa...

Nicole estava cansada daquilo, como nunca havia revidado,

percebeu que Sonia não colocava força na faca. Nicole entrou em


luta, teve cortes, mas conseguiu pegar a faca. Ela atingiu a

barriga de Sonia e saiu correndo da casa, os dois drogados

tentaram pegar, não conseguiram, mas gritaram para a população


pegar. Pegaram Nicole.
Engulo em seco novamente, dessa vez porque eu lembro

como encontrei Nicole. Toda machucada, cheia de hematomas.

Ela só não foi linchada até a morte, porque a maioria da


população achou que foi um surto psicótico, porque Nicole nunca

aparentou ser violenta, diferente da mãe que não era muito

querida pelos vizinhos. Porém, muitas vezes, as pessoas só

querem agredir e matar, nada sobre ''justiça''.

— A polícia foi chamada, mas como Nicole estava

chorando e gritando muito, e como falaram que era um surto

psicótico, chamaram uma ambulância e ela foi ao hospital

psiquiátrico. Sonia foi ao hospital e estava tudo bem, a facada


nem foi profunda, não atingiu nenhum órgão. E ela só me

procurou porque sabia que a história de Nicole me atingiria, que

eu a ajudaria. A mulher estava tão desesperada que acreditou


que eu nem lembrava mais dela, colocou a culpa toda no Elder,

ela era a pobre coitada que foi obrigada a me espancar e a

prostituir Nicole. Mas aí deu tudo errado pra ela. Ela foi

assassinada pelos dois drogados da noite anterior.

— E por que ela foi assassinada? — meu pai pergunta.

— Porque ela roubou os dois. Como ela não apareceu em

casa, eles ficaram a espera, quando ela finalmente foi até lá, eles
mataram a tiros. E isso foi dito por testemunhas.

— Poderia ser uma queima de arquivo, já que ela estava


se aproximando de você.

— Não penso dessa maneira, pois deveriam matar Nicole

também. E se Sonia soubesse muito, ela estaria morta há muito


tempo, e, na verdade, ela estava vivendo na miséria. Sonia

também usaria isso para tirar algum lucro pra cima de mim. Ela

era cruel, mas a ligação com Yoshida era Elder. Isso é certeza,

tanto que nem voltaram por Nicole.

— É, realmente. — meu pai concorda. — Então você

cuidou de Nicole escondido porque ela tem medo dessa vida.

— Nicole tem medo de tudo e todos, mas devido a tudo

que passou, ela quer distância de tanta ilegalidade e crimes. Só


que ela teve algum contato com Yoshida no passado, ela não

recorda muito bem, mas a mãe dela falava que o homem a queria

muito. Também por isso ela não queria contato, seria um motivo a
mais para ser pega.

— Mas ela foi pega, de qualquer maneira.

— Estranho que foi pega por Hugo e Rachel que tiveram

algum contato com Yoshida no passado.


— Se for armação, isso será por parte de Hugo, já que

Rachel levou um tiro na cabeça. Porém, pelo que Leo contou,

Hugo a ajudou muito e ele era de West.

— Estou cansado de tantos enigmas e quebra cabeças.

— Yoshida é psicótico em níveis que nunca vi. Eu só queria

saber o motivo disso. Uma briga territorial não começa dessa

maneira, uma rixa pessoal também não.

— Não tem qualquer suspeita de quem ele seja?

— Agora, depois de saber de irmãos de Jasmine

procurando por Tyler, fica mais confuso. Já atingiram a Nostra,

West, Sangre Latino e M-Unit. Yoshida já tentou atingir todos.


Pode estar em qualquer lugar, ou em todos esses lugares. O que

dificulta ainda mais o entendimento, não sabemos o ponto de

partida e continuaremos não sabendo.

— O plano sobre Milla continua igual?

— Sim, continua. — meu pai confirma. — Assim como a

parte de Olívia. Quem sabe muito não conta nada, e quem está

disposto a falar são pessoas sem importância. Matar duas


pessoas despreparadas como Olívia e Milla, é como perder uma

grande chance de evolução nas descobertas.


— Passaram vinte anos, pai. Elas podem ter mudado,

evoluído, elas estão com Yoshida.

— Não, Daniel. Eu te digo algo, pessoas já nascem de um

modo, elas podem se aperfeiçoar, mas tem muita coisa que não

muda. Olívia não mudou em nada. A mente de Milla é

completamente distorcida. Desde que ela estava lá em casa, no


passado, ela demonstrava carência afetiva, aceitava qualquer

migalha e vivia a ilusão que eu sentia algo por ela. Ela matou a

mãe para ser aceita por Yoshida, tudo para se vingar. A pessoa
que mata a mãe para se juntar a outra, para destruir outro

alguém, não tem a cabeça boa. Não é esperta, é desesperada e

completamente insana. Yoshida é um insano, porém, é mais

preciso em seus movimentos, muito inteligente, megalomaníacoe


jogador. Milla é apenas uma insana. Ou é esquizofrenia paranoide

ou qualquer outro distúrbio. Não é psicopata, sociopata, nem

qualquer outra coisa do gênero. Milla é uma desesperada e


carente. E me aproveitarei disso, diferente do plano de Marco com

Olívia, eu me aproveitarei de Milla.


(1) Bônus
FERNANDO

Uma das coisas que mais me arrependo de não ter feito, foi

justamente nunca ter descontado minha raiva em Milla do modo


como deveria. Porque eu precisava dela para obter respostas,
precisava segui-la, mas tudo desandou quando ela matou Nancy.

Nunca imaginei algo assim, foi uma enorme surpresa tal


ação. Mas fica claro que foi uma busca por fidelidade da parte de
Milla, para mostrar a Yoshida que ela é capaz de estar ao seu

lado.

O que mostra que Milla não é muito de pensar, é movida

por raiva e vingança... Uma vingança por algo que só existe na


cabeça dela.

— Nunca o perdoarei pelo filho que morreu. Meu filho. —

Milla está acorrentada de cabeça para baixo. — Você diz que não
tem sentido, mas é claro que tem sentido!

— Bem, pelo menos a criança foi poupada de ter uma mãe

como você.
Milla olha na minha direção, fazendo esforço para manter a

cabeça erguida, mas logo ela abaixa a cabeça.

— É por isso que te odeio, Fernando!

— Porque nunca foi capaz de me colocar aos seus pés,

nem mesmo uma gravidez foi capaz de me manter ao seu lado.


Entendo, Milla.

— Por que não me mata de uma vez?

— O que sentiu quando matou Nancy? — fica em silêncio.

— Ele quem mandou? Yoshida mandou matar sua mãe? Você


obedece qualquer pessoa que demonstrar que quer te ajudar?

Milla continua calada.

Aproximo-me de Milla, puxo seu corpo pra frente e depois


empurro com força, fazendo com que ela bata na parede

pontiaguda por causa das pedras.

— O que sabe sobre Yoshida? — aperto seu pescoço com

força. — O que sabe sobre ele?

Ela começa a ficar roxa, arregalar os olhos.

Solto seu pescoço, Milla tosse bem forte tentando manter a

respiração. Folgo a corrente que a prendia e ela cai de cara no

chão. Fica se revirando, ainda tossindo.


— Você o abandonou, não foi? Agora tenta trabalhar
sozinha.

— Não responderei nada.

— Você abandonou Yoshida, com certeza foi usada por ele

em inúmeros sentidos, agora trabalha sozinha porque também o

odeia ou por que ele está demorando de agir?

— Não vou me aliar a você.

— Quem disse que eu quero que vire minha aliada? —

puxo seus cabelos, bem no couro cabeludo. — Foi fácil te pegar

porque você está sozinha, Milla. Você o abandonou, achou que

estando com Nicole seria fácil, mas não foi. Agora ou eu mato

você ou Yoshida mata, um dos dois acaba com sua vida, quem é
o pior? Você escolhe.

Solto novamente seu cabelo.

Foi muito fácil pegar Milla, foi tão fácil que nem eu acreditei

que seria possível, Daniel também acreditava ser uma armadilha.

Mas Nicole tinha um celular exclusivo só para falar com

Daniel em caso de emergência, o celular dela comum quebrou a

partir do momento que chegou a vida de Milla e Olívia. Ou seja,

acharam que impediriam uma comunicação de Nicole com Daniel.


Ela saiu com Hugo, porque Hugo odeia Milla e Olívia, ele

não queria as duas perto de Nicole.

Daniel encontrou Nicole na igreja e Hugo informou sobre a

casa de Milla e Olívia, já que Hugo reconheceu Leo e acreditou


nele.

Olívia está com Marco, só tinha Milla em casa...

Pegamos Milla.

Simples assim.

O que me faz entender essa linha de raciocínio, nesse

plano.

Os filhos de Tyler foram usados nessa história toda, eles


chegaram com Olívia, Rachel e Hugo.

Rachel tem que ser supervisionada, por um motivo que


ainda desconheço. Hugo não deixaria Rachel sozinha porque

prometeu cuidar dela.

Milla e Olívia apareceram na vida de Hugo por causa de

Rachel.

Os irmãos foram colocados nessa para virem juntos, no

entanto, cada um seguiu seu caminho para fazer sua própria


história.
Como as mãos de Milla estão acorrentadas para trás,

empurro-a no chão e coloco meu joelho na sua garganta,


pressionando.

Milla tenta gritar, mas eu rasgo sua blusa e depois seu


sutiã.

Ela dá risada.

Saio de cima de Milla.

— Sara... — tosse. — Não...

Não consegue completar, pois tem uma crise de tosse.

Vou até o canto da sala e preparo os equipamentos.

Volto para Milla.

É doida!

Milla realmente acha que eu rasguei sua roupa para algo

sexual, ouso dizer que se fosse estupro, ela continuaria sorrindo...

Porra, isso não soou bem, mas é a verdade. Pelo que fiz
com Milla, se ela está sorrindo dessa maneira vitoriosa, ela ia

querer qualquer ato sexual, forçado ou não.

Completamente louca!

Mas nada que eu vá perdoar, não me importo com o que


ela tem, se ela não tivesse ordenado o estupro a Sara no
passado, matado Nancy, dado um bebê ao Yoshida e agora
arquitetando para causar mal a irmã do meu filho...

Eu só a torturaria psicologicamente.

Apenas tortura psicológica!

O sorriso de Milla some quando mostro os dois

''pegadores'' em minhas mãos.

— Não, Fernando, por favor...

— Existem inúmeros códigos e regras na Nostra, Milla.


Ninguém mata os pais, somente se forem escrotos pra caralho,

coisa que Nancy nunca foi. Nunca fazemos mal a crianças, mas
não há nada sobre não causar mal a uma mulher. — sorrio pra

ela.

— Eu nunca fui da Nostra...

— Matou uma esposa da Nostra, a Nancy. Estou aqui para

me vingar por isso, e você ordenou o estupro da minha mulher.

Obviamente eu não sou nem um pouco delicado quando

aperto os seus mamilos para poder colocar os pegadores, Milla já


chora e se contorce de dor.

E fica ainda pior quando aperto o botão e ela leva o


choque.
Leva outro.

E outro.

Suas lágrimas se misturam com sua saliva e eu vejo

imagens de Sara, que quase perdeu Gabriel por conta de Milla,


Nancy que está morta e um bebê, que hoje tem vinte anos, e não

faço ideia de onde está.

— O que sabe sobre Yoshida?

— Foda-se! — grita e tenta cuspir, mas eu dou um soco em

seu rosto e ela cala a boca.

Milla está diferente do que era, passou por plásticas muito

bem feitas. Não parece que tem cinquenta anos, diria quarenta
anos ou quarenta e cinco, acho que ela tem cinquenta e um

agora.

Mas está bem magra, mais do que era antigamente.

E como eu rasguei sua blusa, obviamente vi seus silicones

enormes.

— Foi puta de Yoshida por querer ou por obrigação? —

pergunto, porque todos esses cuidados não foram bancados por


ela, claramente foi ordem de Yoshida.

— Você vai me matar, de qualquer maneira.


— Mas não será rápido, Milla.

Puxo pelos cabelos, arrastando-a pelo chão e a coloco


presa em uma coluna de ferro, que está bem firme no chão.

— O que fará comigo? — ela está quase sem voz. — O

que vai fazer?

Peço para que entrem, em poucos minutos os seguranças

estão montando todo o equipamento aqui dentro e depois saem.

— Eu quero que você lembre a sua mãe na sua estadia

aqui dentro. Eu sei que foi desespero, Milla, eu sei que você sofre
muito por dentro. Sabe por quê? — ela engole em seco. — Você

nunca me mataria porque você me ama, mas você mataria todos

que eu amo. Nancy foi contra sua atitude com Sara, mas Nancy

salvou sua vida em inúmeros momentos, e você deve sofrer por


essa perda, mas não fala do assunto. Vou te fazer lembrar da sua

mãe. Raul me forneceu várias fotos e vídeos seus com Nancy.

Temos cinco telas aqui, Milla. Sua mãe estará em todas as telas,
a voz dela falando o quanto te ama estará ecoando por vinte e

quatro horas seguidas.

— Eu não me importo.
Claro que se importa, porque antes seus olhos tinham a

dor causada por ferimentos, pelos choques que dei. Mas agora

seus olhos mostram tristeza, culpa, o os olhos estão caídos...


Sinto mais a dor neles nessa situação do que nos choques.

Porque a tortura psicológica pode ser pior que a física.

— Então não se importará de ter as imagens e os áudios

de Nancy por vinte e quatro horas.

Levanto sua coluna. Seguro sua cabeça com força, mesmo

que ela lute, consigo prender seu pescoço em uma corrente da

parede.

— Para que sua cabeça nunca mude de direção. — aperto


seu rosto. — E que você possa ver o que restou da sua mãe,

apenas imagens, nada além disso. E tudo por sua culpa.

Levanto do chão, dou duas batidas na porta e ligam as

telas que estão aqui.

A primeira imagem é o vídeo de Nancy comemorando os

dezoito anos de Milla, as duas se abraçando e dizendo que o

melhor presente foram ter se encontrado e virado mãe e filha...


São declarações seguidas uma da outra.
O choro de Milla é pior do que o choro causado pelos

eletrochoques.

E Milla parece completamente confusa, quase gritando,

quando cada tela mostra uma imagem diferente de Nancy.

Saio do local. Coloco o ar condicionado em dez graus e


aviso que é para aumentar daqui a vinte minutos, ir intercalando

entre frio extremo e temperatura ambiente a cada uma hora,

porque eu não quero mata-la por choque térmico, eu preciso que

Milla fique mentalmente cansada para que consiga falar sem


pensar no que dizer.

E, claro, quero que Milla sofra por tudo o que fez e o que

faria.

Hipócrita da minha parte, com certeza. Mas Milla matou a


mãe, roubou um bebê para dar a um pedófilo sádico e ainda

mandou estuprar Sara...

Eu ainda acho pouco, mas Milla precisa estar viva.

Mas um dia a hora dela chagará.

Milla será morta por minhas mãos ou por Yoshida.

De qualquer maneira, Milla não sairá viva da história.


Capítulo 10
JASMINE

AGORA

Creio que não sou a única pessoa confusa nessa história


toda.

Até meu pai está perdido diante todas as novidades.

Para começar, Allan e Alex, meus irmãos, foram enterrados


quando eram crianças. E agora retornaram porque nosso pai
nunca deu qualquer assistência a eles.

A mãe era uma moça de outro país, que engravidou


enquanto meu pai estava negociando com alguém, ela tentou

achar meu pai, encontrou, porém, ela não quis vir pra cá, meu pai
pagou tudo para os meninos e depois sumiram...

— E qual a conexão com Yoshida? — pergunto.

Os dois piscam os olhos.

Allan e Alex parecem confusos diante dessa pergunta.


— Espera, acha que temos conexão com Yoshida? — Allan

quase dá risada, mas se contém. — É algum tipo de teste?

— Óbvio que não. — mas eu continuo. — Acontece que

apareceram justamente quando Yoshida começa a atacar, e ainda


mata uma pessoa que estava ao lado dele e que poderia dar

respostas.

— Para iníciode conversa, eu não sabia de nada sobre o

falecido. — Alex começa a falar. — Estava falando com o Tyler


quando o outro lá apareceu, discutiram na minha frente, ele puxou

a arma e mirou em Tyler. Eu tenho uma arma e revidei antes que

o pior acontecesse.

— Então vai me dizer que Romeo viu você com meu pai,

mesmo assim mirou a arma no chefão, provavelmente ficou de

costas pra você. Se Romeo ficou de costas pra você, então ele

entendeu que você não seria perigoso, não revidaria. Então, Alex,
o que tem a falar sobre isso? — indago, esperando alguma

resposta.

Alex fica calado, mas está pensativo.

— Não sei o que te responder, mas seu questionamento


faz sentido. — Alex respira fundo. — Olha, eu vim do local que
Yoshida fez estrago, eu fugi de lá por isso...

— O que Yoshida fez? — meu pai pergunta.

— Yoshida é o cara mais monstruoso daquele país, acho

que vocês não o conhecem porque a localidade de West é bem

fora de rota, o mundo em si não fala daquele lugar. — Allan

começa a explicar. — Yoshida não é fixo lá, na verdade não

sabemos do local exato da sua atuação. Uma vez ou outra


tínhamos sequestros, mortes cruéis, crianças sumindo das ruas...

Uma loucura só. Até que chegaram ao nome de Yoshida, mas

ninguém sabe quem ele é, só sabem dos estragos feitos. Jamais

faríamos algo junto ao Yoshida.

— O cara mata crianças, estupra, sequestra pessoas para

coisas insanas. — Alex tem o tom de repúdio em sua voz. —

Jamais estaríamos aqui para ajuda-lo. Nunca!

A cara de repúdio, o tom de nojo, parece bem real... Mas

eles chegarem justo quando Yoshida também chega? Eles

mataram um traidor? Romeo nem ao menos se preocupou em se

defender, em manter alguma vigilância em Alex...

— E como chegaram aqui após tantos anos? — minha mãe

indaga. — Vocês tem o que? Vinte e cinco anos?


— Como os dois tem a mesma idade? — pergunto. — A

mãe engravidou uma única vez... São...

— Somos gêmeos. — Allan responde, interrompendo meu

raciocínio.

— Oi? — olho pra um e pra outro. — Ok, sei de gêmeos


diferentes, mas, cara, vocês são hiper diferentes, nada parecido

mesmo! Nem um detalhe igual!

— Acontece, o que posso fazer? — Allan é ríspido. —

Somos gêmeos, não somos?

— É, eles são. — meu pai responde. — Sempre foram,

apesar de serem bem diferentes.

— Tudo bem, mas por que após tantos anos? — minha


mãe prossegue.

Alex suspira, de modo cansado.

— Precisávamos de exílio, sei lá como chama. —


responde. — Fomos muito fundo contra Yoshida e corremos

perigo. Até por isso citamos ser filho de vocês dois, para
chegarmos logo em busca de proteção. Foi isso.

— Como foram tão fundo contra Yoshida? — meu pai


indaga.
— Uma garota chamada Rachel. — Rachel novamente...

— Ela levou um tiro na cabeça. Moramos nas ruas por anos, nos
envolvemos em coisas erradas e acabamos ganhando a

confiança de um cara. Esse cara nos designou para descobrir o


motivo de Rachel ter sido atacada. Em meio a essas buscas

descobrimos covas, e uma espécie de embarcação onde


encontramos cinco crianças quase mortas lá dentro. Então
podemos dizer que mexemos demais e paramos a venda de

crianças. Corremos perigo.

Não sei se acredito!

Quando falaram do nojo, repúdio ao Yoshida, pareceu


real... Mas não sei dizer, essa história aqui... Faz sentido, mas o
modo como é contada não parece tão real.

— Essa é a história toda? — meu pai pergunta. —


Descobriram algo de Yoshida, atrapalham o negócio dele e agora

estão aqui por ajuda?

— Claro. — Allan confirma. — Assim como Rachel, Hugo e


Olívia.

— Se eu descobrir que não é nada disso, o que faço, Alex


e Allan? — meu pai cruza os braços, encarando os filhos. — Se
eu descobrir que estão aqui para se vingarem de algo que não fiz,
o que farei com vocês?

— Por que acha que seria vingança? — Allan pergunta.

— Vocês disseram que foram abandonados, será que


deixariam essa dor de lado por proteção? Será que realmente

acreditam quando digo que vocês foram dados como mortos?


Será que vocês me dão um voto de confiança? Minhas portas
estão abertas, são meus filhos, darei proteção em qualquer

circunstância. Mas não aceito traição...

— Então poderia nos matar.

— Não, Allan, não mato filho mesmo que tenham dado


uma apunhalada bem funda. Mas não digo que teriam liberdade.

Eu ajudo quem me ajuda, então, se mantenham na linha. É tudo o


que tenho a dizer.

Dois dias depois


— É maravilhoso, finalmente, não ter o assunto ''Yoshida''.
— afasto-me de Giulia depois do nosso abraço. — Que saudade
de apenas falar algo da vida comum.

— E ainda não acredito que estava com meu irmão. E eu


achando que estava do outro lado do continente! Com o Daniel,

sério?

— Seu irmão me salvou. Do nada, mas me salvou.

— Que sorrisinho bobo é esse?

— Sorrisinho bobo pela primeira vez estar em sua casa.

Uau! Que bela mansão!

— Fala sério, garota! — empurra meu ombro. — Vai


mesmo me esconder o motivo real desse sorrisinho?

— Giulia, eu te conheço, vai criar umafanficgigantesca...

— Ai meu senhor Jesus Cristo! — coloca a mão na boca.


— Você gosta do meu irmão! Rolou algo a mais com Daniel?

— Giulia...

— Eu nunca imaginei minha melhor amiga, que nem

poderia aparecer na vida dos Bertollini, estaria apaixonada pelo

meu irmão que nunca foi muito de aparecer.


— Um detalhe importante, Daniel é super de boa. Ele não

tem nada de sério como você falou.

— Oh, então Daniel mostrou a verdadeira face pra você?

Sente agora e me conte o que está acontecendo! — aponta para

o sofá e eu sento. — Daniel, sério?

Giulia está eufórica enquanto conto tudo o que aconteceu,

e quando conto do beijo, pronto, quase vira uma histeria.

— Você e Daniel! — bate palmas. — Cunhada!

— Mas ainda não falamos do assunto. — peço calma. —


Quer dizer, não falamos nada praticamente. Foi uma loucura

esses dias, meus irmãos chegaram...

— É, eu soube, quer falar do assunto?

— Eu acho que está mais interessada no meu lance com


Daniel.

— Sim, mas se quiser falar dos seus irmãos eu posso

escutar e aconselhar.

— É meio confuso e já me irritei e me confundi o suficiente,


vamos falar dessa novidade de território livre. Nunca imaginei

estar no território de um Bertollini. — vejo Felipe se aproximando,

pronto para me dar um susto. — Estou te vendo, garoto!


— Ah, tia! — ele larga sua arma de água no chão. — Era

para de dar uma aguada na cara. Não valeu!

— A primeira vez que venho te visitar e levaria água na

cara?

— Sim! — sorri amplamente. — Para lembrar para sempre

desse dia!

— Eu trouxe chocolate pra você.

— E eu te daria água! Quer brincar comigo?

— Sim, traz a arma e veremos quem sai mais ''aguado''

disso tudo.

Felipe sai correndo para pegar o resto dos seus


brinquedos.

— Felipe está tendo que se distrair sozinho, está

estudando em casa, não tem criança por perto. Quero dizer, tem

Leo e Gabriel, mas estão ocupados agora.

— Ainda com vários problemas?

— Sim, mas não falaram tanto, acho que eles tentam falar

o mínimo para não nos preocuparmos. A novidade mais estranha

é que Gabriel vai casar com uma vaca chamada Amélia. Falando
em vaca, cadê a Leila?
Meu Deus, eu esqueci a garota!

— Eu não sei. — penso um pouco. — Nossa! Eu esqueci a


Leila, quero dizer, até lembrei, mas nada que ficasse muito tempo

em minha cabeça. Ela não apareceu em momento algum, e já

estou em casa por dois dias. Estranho... Pedirei para meu pai

investigar, vai que aconteceu algo.

— Ou vai que ela tenha sumido por ter culpa no cartório,

acontece.

— Investigamos sobre, e se ela for uma inimiga, será como


Romeo... Se bem que não sabemos nada de Romeo. Ele só tinha

o pai, os outros parentes não eram tão ligados aos dois.

— Então sem problemas por essas mortes?

— Meu pai tem câmeras escondidas no local onde Romeo


foi morto, ele mostrou que foi legítimadefesa e explicou, contou a

treta com Yoshida. Então podemos dizer que a M-Unit está bem

tensa nesse momento, divididos entre acreditar em meu pai e

desconfiar dos outros, ''serão que são amigos ou traidores?''.

Felipe volta correndo, nos entregando as armas.

— Podemos brincar agora?


Olho para Giulia, que confirma e vamos à área de lazer da

casa.

— Tia, agora que você veio aqui pra casa, você também

vai viajar?

— Viajar? — olho para Giulia, em busca de resposta.

— Tyler ainda não disse nada sobre o assunto? — nego. —

Felipe, nos dê licença...

Felipe reprime um muxoxo, ou qualquer outro som de


descontentamento, e entra na casa novamente.

— Diante de tanta coisa acontecendo meu pai achou

melhor irmos a um local seguro, estaremos viajando daqui a

alguns dias ou semanas. Pensei que Tyler faria algo, já que foram
diretamente para você e sua mãe.

— Até o momento não foi falado algo do assunto, na

verdade nunca precisamos sair em busca de refúgio. Talvez meu


pai ainda não tenha entendido a dimensão dessa história.

— Se quiser um local, a família Bertollini e Vesentini terá

prazer em te ajudar nessa. Quer dizer, talvez Daniel tenha mais


prazer do que qualquer outro parente...

— Giulia! — grito. — Só foi um beijo!


— Uma pena! Pode fazer do mesmo modo que fiz com

Leo...

— Olha quem fala, a garota que fingiu estar um pouco

alterada pela bebida para não assumir que transou por querer...

— Isso se chama sedução.

— Giulia, pelo amor de Deus! Admita que era tão tímida


quanto eu!

— Um pouco tímida.Eu quero uma cunhada! Gabriel e Kat,

você e Daniel... Falta Karen e alguém. Vai fundo, conheço meu

irmão e ele é incrível. E se Daniel realmente deu esperanças, é


real sim!

Espero que sim.

Respiro fundo.

— Podemos brincar agora, Giulia?

— Ai, garota apaixonada que muda de assunto para não

encarar a realidade. — Giulia suspira. — Vamos brincar um

pouco, deixar esse drama todo de lado, pelo menos por agora.
Capítulo 11
DANIEL

— Eu quero te pedir perdão novamente. — Nicole fica a

minha frente. — Tudo isso é por minha culpa...

— Eu pedi para que vivesse, Nikki. Você só tentou viver um


pouco.

Ela coça o braço, a sua ação quando fica nervosa.

Levanto da cadeira e vou até Nicole, segurando sua mão e


impedindo que ela comece a se coçar ao ponto de ficar bem

machucada.

— O que aconteceu?

— Eu... — pigarreia um pouco e olha nos meus olhos. —

Eu tentei acabar com a minha própria vida. — engulo em seco e

aperto mais a sua mão. — Só que Hugo estava ali, disse que
gosta de pensar na vida, que salva pessoas e acabou me

ajudando. Eu meio que apenas acreditei nele...


— Até o momento ele não parece ser inimigo, parece que

também foi usado...

— Estranho ele estar tão próximo, não acha?

— Temos conexões estranhas acontecendo por aqui. Pode

ser destino, pode ser real. Leo conhece um pouco e confirmou


que Hugo realmente ajudou muito a Rachel, mas sobre o que

você faria...

— Já me arrependi. — me interrompe. — Me arrependi

rapidamente.

— Por Hugo, pela palavra dele.

— Que me levar ao psicólogo novamente?

— Está precisando muito.

— E eu posso ir?

— Pagarei um para vir até aqui, certeza que ele vem.

— Ah, Daniel! — se afasta de mim. — Tem dois dias que

não sai de casa, era isso que não queria, interromper sua vida!

Você estava feliz falando de Jasmine, aí o fofoqueiro do Hugo foi


dizer que salvou minha vida e agora você está me vigiando. Vá

beijar, Daniel!

— Nicole...
— Pelo amor de Deus! Eu fico pior sabendo que sempre
vai parar de viver por mim. Sempre ficará preocupado... — respira

fundo. — Era por isso que estava prestes a desistir de tudo,

porque só tenho você e você vive pra mim. E isso me incomoda.

— O que quer? Que eu saiba que está mal e apenas sente

e espere o pior?

Pensa um pouco.

E eu sei que ela está se culpando.

— Podemos viver normalmente, Nikki. — estendo minha

mão novamente para ela. — Entendo seus medos, mas como

sempre falou, você sempre esteve nessa, certo? — não responde.

— Podemos nos ajudar. Sei que abomina essa vida...

— Não é que eu abomine, até porque eu vejo como todos

te amam. É que eu vivi nisso da pior maneira, Daniel. Eu vivi com


a mãe aliciadora que queria me vender, com os drogados

querendo comprar sexo com drogas... Com pessoas aparecendo

lá na casa em busca do meu pai que foi assassinado. Eu vivi no

lixo do crime e sei que posso ser um alvo por ter estado ali. É

medo, talvez não tenha sentido, mas tenho medo.

— Medo de tudo retornar daquele modo.


— Sim.

— Eu e minha famíliate protegeremos. — abro minha mão.

— Estamos prontos para te ajudar, Nicole. Sei do seu medo de

ser como antes, afinal, foi traumatizante...

— Eu quase matei minha mãe, e eu queria mata-la.

— Não conseguiu, não é uma assassina. E não será uma


vítima. Acredite em mim, confie na minha família como confia em
mim.

Ela olha a minha mão.

Nicole finalmente aperta.

— Tudo bem, Daniel. — respira fundo. — Tentarei não


surtar diante das armas e conversas sobre perigos.

— Prometo que não falarei de mortes perto de você.

— Nem de venda de pessoas e estupros.

— Prometo, não deixarei que esses assuntos cheguem a

você. Entendo seus traumas.

Nicole me abraça.

— Agora vá viver, me dê uma cunhada.

— E você com Hugo? — se afasta e faz uma careta. —


Primeiro cara que você confia, Nikki! Antes era apenas eu, agora
Hugo? Até saiu com ele...

— Hugo trabalha na igreja, que belo encontro!

— Saiu de casa com um homem...

— Não fui com a cara de Milla e Olívia.

— E foi com a de um homem...

— Vá ficar com Jasmine! Vá namorar pela primeira vez em


sua vida.

— Se quiser falar com Hugo, é só me avisar.

— Ai, Daniel! — eu consigo irrita-la. — Às vezes esqueço

que você pode ser implicante. Esqueço demais disso.

— Preciso colocar vigilância na senhorita?

Cruza os braços.

— Confia em mim, Dan. Você pode sair por uma semana,

eu não fugirei daqui. Eu entendo os perigos, só é meio traumático


pensar que estarei nisso novamente. Mas não te causarei
preocupação de qualquer modo. Ficarei aqui quietinha gastando a

energia da sua casa com a TV, internet, hidromassagem e, talvez,


algum videogame que está por aí. Pode passar seus dias com

Jasmine, espero ansiosamente por esse namoro.

— Por que tenho tantas irmãs?


— Gabriel não sabe de Jasmine?

— Tecnicamente ninguém sabe, você simplesmente

entendeu que gosto dela. Giulia já deve saber porque Jasmine


pode ter contado, e Karen... É, ela é a menos implicante. Gabriel
é uma mini fofoqueira, ele é pior que Karen e, com certeza, me

irritaria sobre o assunto.

— Estou honrada em ser a primeira irmã a entender seu


amor por Jasmine...

— Tchau, Nicole!

— Não é bom, Daniel?

— Falarei para Hugo que você mandou um beijo!

— Idiota!

Saio de casa, dirigindo até o local onde Hugo e Rachel


estão. Assim que chego a casa, os seguranças liberam minha

entrada, e a primeira coisa que vejo é um Hugo dormindo, todo


esparramado no sofá e Rachel no sofá ao lado, lendo um livro

tranquilamente.

— Oi. — cumprimento Rachel, que toma um leve susto

diante a minha presença. — Não queria assustar.


— Oi. Nada de mais. — encolhe os ombros e deixa o livro
de lado. — Por que tanto livro filosófico? Sério, necessito de um
livro de aventura, se não for pedir tanto.

— Essa casa pertenceu ao Leo quando ele decidiu que


viveria por conta própria, livros filosóficos foi uma maneira de

tentar dizer que ele estava ficando um homem culto.

— Falhou miseravelmente, o conheci e vejo que faltam uns


parafusos naquela cabeça.

— Leo sempre causando uma boa primeira impressão. E

como está?

— Seu pai acabou de sair daqui. Deu mais sonífero ao


Hugo, e adianto, Hugo já repetiu a mesma história cinco vezes. O

soro da verdade já mostra que Hugo não mente em nada.

Não mente mesmo, a raiva dele por Milla e Olívia é real.

Hugo era um viciado em drogas que trabalhou por anos

para o chefão da gangue de West, cometeu muitos erros, mas por

gostarem dele, ajudaram na reabilitação forçada. Hugo era amigo

de Ciara, mãe de Rachel, ela pediu para que Hugo buscasse a


garota no bar e a levasse para casa.

Rachel levou um tiro na cabeça e Ciara foi assassinada.


Tinha algo importante no urso que Rachel levava, mas

Hugo não sabe o que é, roubaram o urso.

Durante a recuperação de Rachel, Hugo acreditou que

devia isso a Ciara e lutou para melhorar. Cuidou de Rachel,

porém, um policial federal soube de tudo e foi juntando as peças,


chegando ao Yoshida como mandante desses atentados.

Para proteger as duas vítimas — o federal não sabe sobre

Rachel ser filha de Ciara, mas entende que ela é uma peça muito

importante —, conseguiu a extradição e a legalização deles nesse


país, tudo para protegê-los.

Só que Milla e Olívia também chegaram como vítimas. No

hospital conheceram Rachel, já que ambas estavam em estado


precário.

Hugo, que estava tentando se redimir dos pecados, acabou

ajudando as duas mulheres, o que mostra que elas se

aproveitaram desse novo lado de Hugo. Contaram a história ao


federal, que se chama Martin, e ele também entendeu que

precisavam de proteção.

Colocou as duas nesse meio.


Mas acabou colocando Alex e Allan também, que eram

espécies de ''faz tudo'' na gangue. Deveriam ser informantes da

gangue e do federal, porém, Hugo não acredita que os irmãos


estejam aqui para ajudar esses lados. Mas também confirma que

eles não têm contato com Yoshida, já que lutou contra esse cara

no passado e Alex também ajudou muito Rachel, Allan estava

ocupado tentado acabar com territórios de Yoshida.

Todas as informações foram obtidas após o ''soro da

verdade'', que nada mais é do que deixar a pessoa sonolenta,

grogue, sem muita cabeça para formular mentiras.

Hugo já contou essa história cinco vezes sem nunca mudar

o fato, acontece dele acabar pulando alguma parte da história,

mas sempre fala a mesma coisa.

Ao que parece Hugo não é o cara importante, entrou nessa


por Rachel. Rachel tem muita importância, mas ela não sabe de

nada.

Leo pediu para não colocarmos nada em Rachel, devido ao

tiro na cabeça que deixou sequelas por anos. Leo ficou com medo
de afetar algo nela, e também entendemos. Hugo também

confirmou que Rachel nem ao menos conhecia Yoshida ou sabia

de Ciara ser sua mãe, tudo é uma novidade em sua vida.


— E seus pais? — pergunto a Rachel.

— Mortos. — responde calmamente. — Aconteceu uma


sequência de mortes.

— Não sentia nada por eles?

— Não mesmo! Um pior que o outro. Ciara era louca, não

tinha responsabilidade, mas seria melhor que meus pais, tenho


certeza disso.

— Uma louca seria melhor?

— Ciara era inconsequente, mas me tratava bem. Muito

bem. Ela dizia que me salvaria, mas morreu antes disso. Ela dizia
que sofreu com seus pais, por isso também me salvaria, para eu

não ficar como ela.

— Milla parece gostar de você.

— Olívia e Milla eram legais, depois começaram a ficar

estranhas. Mas Milla, quando me encontrava, me tratava como

uma mãe. Porém vocês me contaram que ela matou a própria

mãe e vendeu um bebê... Eu não sei o que dizer e sinto que só


vivo cercada de psicopatas.

— Hugo?
— Ele era bem estranho, crise de abstinência. Mas hoje em

dia é um amorzinho. Tem vinte e sete anos, mas é como um pai

pra mim. — noto o carinho que Rachel tem por ele, somente pelo

olhar. — Não farão nada contra ele, não é?

— Não, pode ficar tranquila. São vítimas de Yoshida, e,

novamente, não sabem de nada.

— É estranho saber que um cara tão psicótico não seja


extremamente conhecido. Sério, as histórias são terrivelmente

bizarras.

— Na verdade eu quase fui a vítima dele, só que não o

conheci tão bem e ele demorou duas décadas para voltar.

— Yoshida não atua em apenas um lugar. Lá em West, que

é o nome do local de onde vim, ele aparecia uma vez ou outra,

mas na época que atiraram em mim, a coisa estava muito séria.

Depois disso passou, voltou... Podemos dizer que ninguém sabe


quando voltará. Quando volta ele ataca sem dó, inclusive

moradores de rua procuram abrigos por conta própria, por medo

de serem sequestrados ou terem suas crianças roubadas. Depois


a situação ameniza, ficamos em alerta, depois simplesmente

vivemos normalmente, aí Yoshida retorna e vem o caos.


— Ele gosta do caos, parece que é um jogo. Traz a tortura

psicológica, causa o mal e some num piscar de olhos, deixando a


insegurança e o medo, quando tudo volta ao cotidiano ele retorna.

Um viciado em adrenalina, em sadismo.

— Quando eu morei em West, com o Hugo, soube que

Yoshida estava atacando o paísvizinho, porém, em algum paísda


África, cem mulheres foram sequestradas. Uma foi resgatada em

um local da Europa, ela dizia que não sabia quem fez aquilo, não

viu nada além de rostos cobertos. O que fez Guerrero acreditar


que ela era uma vítima de Yoshida, foi o modus operandi.

— E qual o modus operandi? O tal Guerrero parece saber

mais.

— Foram os mais atacados. O modus operandi é


justamente tudo acontecer em um piscar de olhos e nunca verem

nada! E sempre que a vítima aparece, é alguém que apenas diz

que aconteceu rápido e não viu nada, mas as testemunhas


sempre somem.

— Para que entendam que é o Yoshida por trás de tudo.

— Ele não vai aparecer, mas quer ser falado. Mas não tão

falado assim, geralmente é uma vítima de locais pequenos, que


não vai gerar uma comoção a nível global. O ego do Yoshida
necessita ser alimentado. É um predador sexual. Ele mantém

escravos. — começa a sussurrar. — Ele mantém escravos para

trabalhar, para estuprar, para usa-los como quiser. Ele vende


órgãos, vende jogos, vende a morte. Ele pega crianças e

deturpam seus ideais ainda em formação, e quem não segue

suas ideias são mortos ou estuprados até a morte. É como um


grupo terrorista, mas sem um ideal deturpado. É apenas o sonho

de grandeza e dos prazeres mais sádicos vindo a tona, a

liberdade para serem cruéis. O que é pior, pois eles fazem tudo

isso por dinheiro e por puro prazer.

— Tem ideia do faturamento deles? Do quão ricos são?

— Impossível saber, pois nunca acharam os compradores


ou comparsas. Essas informações são dadas por vítimas que

falam o que presenciaram. Mas aí que está, Daniel, será que


eram vítimas mesmo? Será que não eram pessoas que
apareceram apenas para espalhar o caos? Yoshida deve faturar

muito, esse comércio grotesco rende pra caramba. Mas há o


prazer pessoal, e isso sempre é relatado. Talvez ele não tenha
nada contra vocês, só quer se divertir um pouco. Quem entende a

mente de um psicopata que tem esse nível de sadismo? Acho


que nem ele entende, apenas faz. E tem mais gente sádica por
trás. E gente poderosa pra caramba, porque se não conseguem
parar esse cara, se outros paísesnunca souberam dele, é porque

tem gente poderosa por trás. Talvez se soubessem de um nome,


ficaria mais fácil de resolver.

— Por que está se abrindo tanto comigo?

— Se foram capazes de mandar um integrante da família

para um território desconhecido, para descobrir sobre Yoshida,


vocês querem muito acabar com ele. Ciara morreu pelas mãos de
Yoshida, Guerrero e sua gangue não consegue muita coisa,

porque estão parados naquele país. Vocês são poderosos, talvez


consigam algo. Talvez sejam os salvadores de tantas vítimas
inocentes.
Capítulo 12
DANIEL

A conversa com Rachel foi muito boa, não diria que foi

esclarecedora pois já tínhamos chegado a tais conclusões.

As vítimas seriam pessoas mandadas pelo próprio Yoshida


para pode espalhar sua crueldade, geralmente apenas países

sem grande relevância global são mais atacadas... E tem gente


muito poderosa por trás.

Pode ser governo ou grandes empresários... Mafiosos


também.

Mas a grande questão não foi respondida e nem temos

uma pista, um pensamento para fixar e chegar a uma resposta.

— Soube que sua amada está aqui e veio fazer uma visita?

— é a primeira coisa que Leo pergunta quando abre a porta da


sua casa.

— Jasmine está aqui?

— Olha só, agora ele até assume quem é seu amorzinho.


— Ela está aqui? — confirma. — As visitas foram liberadas

mesmo.

— Não sabe?

— De que?

— Fernando está em uma reunião com Tyler nesse exato

momento, se bem que eu só soube por que meu pai estava

saindo apressado de casa e contou. É, filhão, caminho ficando


livre para esse amor. — dá dois tapas em meu braço. — Quero

ser o padrinho dos filhos e do casamento.

— Cara, não fizemos nada até o momento. Apenas um

beijo.

— Hum... Como se eu não te conhecesse. Tão rápido

quanto nossos pais. Aposto que quer namoro imediato.

— É, mas o método do meu pai não cai bem nessa

situação.

— Acho foda todo mundo saber do sequestro, que

Fernando diz que não foi sequestro, e Yankee não ter ideia disso

até hoje.

— Não foi um sequestro, realmente. Não houve cárcere e

minha mãe tinha que ser protegida, mas acho que Yankee é
péssimo de interpretação. Ele está tretadocom Gabriel por ele dar
uma casa a nossa avó, imagina saber isso do nosso pai?

— Mas cara, Gabriel deu uma casa para Ísis ficar longe de
Yankee, teu irmão ajudou a avó no divórcio. Ok que Ísis só faz

dramas, mas segundo Yankee, se Gabriel não tivesse dado o

bendito apartamento para Ísis ficar, eles já tinham reatado mais

rápido.

— A melhor parte dessa treta é que Yankee será o

professor de Gabriel na Sangre, imagino o tamanho da raiva dele

nesse momento.

— Gabriel sempre sendo do contra. Igual ao irmão

querendo a herdeira gangster. Por falar nisso, vá ver sua amada.

Sei que não está aqui pelos teus parentes.

— Promete que não fica com ciúmes?

— Tentarei. — coloca a mão no peito. — Mas juro que

conseguirei manter meus ciúmes em níveis controlados.

— Ah, Leonardo, até Rachel viu que você é imbecil. —

entro na sua casa. — Vive dando as dicas que não é um bom


mafioso.
— Eu sou bom em ser ruim, mas serei bom em ser bom.

Espere e verá, Daniel.

Entramos mais na casa e encontro Jasmine com a roupa

toda molhada...

— Molhada para você, Daniel. Não me bata! — Leonardo


grita quando faço menção em soca-lo.

— Olha só quem chegou, falamos de você o dia todo,


Daniel! — Giulia grita.

— Tia Jasmine falou muito mais... — Jasmine puxa Felipe


pelo braço e cala a boca dele com a mão.

— Oi, Jasmine.

— Oi, Daniel.

— Falando muito sobre mim e nem me liga?

— Crianças, vamos deixar o casal a sós? — Giulia pega a


mão de Felipe.

— Tio Daniel e tia Jasmine tão juntos?

— Se Deus quiser sim, Felipe. — Giulia sonhadora, como


sempre.

— Daniel quer muito. — Leonardo fala alto.

— Cara, não tem outra coisa a ser feita?


— Não. — olha pra mim.

— Vamos, Leo, deixaremos o casal a sós. — Giulia


também puxa Leonardo para sair daqui.

— Temos quartos disponíveis. — mas é claro que


Leonardo precisa falar algo mais. — Uns mais distantes, caso

queiram muita privacidade...

— Tchau! — Jasmine grita.

— Ela mal me conhece e já deve me amar, comadre.


Compadre. — bate em meu ombro. — Vai que é tua, se bem que

Jasmine que tomou a iniciativa primeiro, eu escutei quando ela


contou a Giulia...

— Tchau, Leonardo! — Jasmine grita.

Giulia retorna e arrasta Leo para dentro de casa.

— As pessoas amam te fazer passar vergonha. —

aproximo-me de Jasmine, que está sentada na cadeira em frente


a piscina e fico ao seu lado. — Como está?

— Melhor após tantos dramas, e você?

— Ainda nos dramas?

— Sim, ainda neles.

— Mas está mais pra bem ou pra mal?


— Pra mais ou menos. Nenhuma ameaça tão explicita,
mas coisas acontecem. Agora por diante será assim.

— Pelo menos do seu lado vejo que está melhor, está até
vindo para os lados de cá.

— Sim, meu pai liberou minha saída.

— E não foi me visitar?

— Imaginei que estivesse ocupado.

— Um pouquinho, mas nada que me impedisse em saber


sobre você. Eu não entrei em contato por que...

— Porque sempre foi você. — sorri um pouco. — Ah,


Daniel... — suspira. — Como será agora? Giulia falou que sairão
daqui, então não tem como termos algum relacionamento...

— Se confiar em mim, tem como sim.

Jasmine passa a língua pelos lábios e depois olha para o


céu.

— O que queremos afinal? Não nos conhecemos tão bem,


até dois dias atrás nossas famíliasnão se davam bem, depois nos

conhecemos um pouco, nos beijamos, falamos que nos


queremos, mas e aí? Como é isso?

— Pra mim é simples, daremos uma chance.


— Dar uma chance, simples assim. Tentamos e veremos
aonde isso vai dar?

— Vai dar que daqui a alguns dias você estará em algum


canto para se proteger e, provavelmente, agir. Eu estarei em outro
local. Provavelmente nem teremos comunicação, porque pode ser

grampeado.

Coço meu queixo.

Olho para Jasmine.

É a típicagarota que foi protegida de tudo e todos, que não

conseguiu socializar por conta do peso da família. É uma novata

em relacionamentos e parece ter medo de se envolver, mas quer.

— Como eu já disse, eu te protejo.

— Daniel, eu sei que nossos pais estão se dando bem,

mas não a ponto do meu pai confiar em você para isso.

— Jasmine, eu não sou mais da Nostra.

— Como assim?

— Longa história, mas fomos retirados da Nostra. Temos

coisas acontecendo paralelamente. Não quero causar treta com

Tyler, não quero dizer que somos melhores que ele, mas somos,
essa é a mais pura verdade. Entre uma proteção dada pela M-
Unit e uma proteção dada por minha família, vai por mim,

Jasmine, estamos na frente e seu pai sabe disso. Temos


estratégias melhores, sistemas de segurança e de fuga mais

avançados. Isso vem de antepassados, sempre temos como

escapar e para onde escapar, sempre temos dinheiro, pessoas e


armas. Não somos da Nostra porque conseguimos muito sem

eles. Se eu falo que consigo te proteger, eu consigo.

— Uau! Falou lindamente, mas estamos falando do Tyler.

Meu pai. — engole em seco e depois passa a mão na testa, como


se enxugasse algum suor inexistente. — Daniel, os chefes são

gananciosos. Amam a família, mas se tiver como eles obterem

lucro, eles farão isso. E aí, meu querido, eles vão querer uma
junção. Seu pai precisa de mais pessoas, meu pai precisa de

negócios. Eu e você estamos conversando, acha que isso

resultará em que?

— No anel em nosso dedo. Eu sei disso, como já falei,

conversei com seu pai e ele aceitou um valor abaixo do esperado,

por proteção.

— E tudo ok pra você? Nem nos conhecemos direito e tudo


bem nos casarmos? Vivermos juntos por um contrato?

Dramas!
Calma, Daniel! A mulher fugiude um casamentoarranjado,

Jasmine claramente detesta que mandem em sua vida, ainda

mais em algo tão importante como casamento.

E ela está certa.

Se Gabriel está puto, fez merda para não casar, não sei por

que acho estranho que Jasmine, que também não deveria ter

casamento arranjado, fique chateada com a decisão.

Mas, se esse for o caso, o casamento é algo muito

necessário.

— Eu entendo sua chateação. — começo a falar. — Mas

nesse caso, Jasmine, eu sei o que sinto por você. É amor?


Talvez, ainda não sei. Não podemos nos amar sem nos

conhecermos, mas gostamos um do outro, mesmo de longe

gostamos um do outro, o que é um ótimo primeiro passo. Só que


nossos pais precisam de negócios feitos, negócios firmados. Tyler

pode nos ajudar e passamos a perna nele, assim como meu pai

pode ajudar e Tyler pode nos passar a perna. A partir do

momento que um contrato de casamento for feito, você será uma


Ventura Bertollini. Uma das regras é não trair a família, ninguém

vai te trair, ninguém vai trair Tyler. O acordo ficará de pé por nós

dois, pois seremos uma família dentro de duas famílias.


— Daniel, para isso ter sentido eu devo engravidar,

sabemos por que tanta gente desse negócio engravida depois de


meses de casados, para que o acordo seja firmado, para que uma

criança seja o maior elo nesse negócio. Eu entendo, Daniel. E é

exatamente por entender que penso que não será do modo


normal, não será te conhecer, namorar e aíver se devemos casar.

E sabe por que estou aqui? Porque meu pai deve estar

resolvendo minha vida nesse exato momento. E quer saber? A

minha TPM continua...

— Então devemos conversar em outro momento.

— Minhas emoções são completamente incoerentes.

Porque eu sei que é necessário, caso esse contrato de


casamento for feito, mas também tenho aquele lado de querer

decidir minha própria vida. Sei que, diante da história, dos fatos,

querer comandar minha vida pode prejudicar os dois lados. Eu

confio em você.

Jasmine confia em mim!

Não disse que confia em mim porque Giulia confia,

Jasmine simplesmente confia em mim.


— Eu te faço uma promessa, Jasmine. — seguro sua mão,

que está um pouco fria. — Se não houver conversa sobre

contrato de casamento, te juro que não falarei do assunto. Você

disse que confia em mim e entende o motivo dessa aliança ser


feita, mas não me aproveitarei disso. Se não houver contrato, será

do jeito convencional, do modo correto e eu sempre estarei aqui

para te ajudar, te proteger. Mas se for um contrato de casamento


mesmo, eu te prometo que serei o melhor marido do mundo. Suas

vontades são as suas vontades. Se me conhecer direito e me

detestar, dou o seu espaço até o divórcio. Forçar a barra não está

em meus planos.

— Muitos homens escrotos falam isso, mas eu acredito em

sua palavra.

— Homens escrotos fazem mulheres caírem na lábia.

— É, mas eu necessito colocar Giulia na história, necessito

falar que sei que a parte da sua família não é adepta a tais

escrotices. — se Jasmine soubesse que meu pai ''sequestrou''a

minha mãe... — Confio em você, Daniel.

— Um momento lindo que poderia ser lindamente

finalizado.
— Acredita que Leonardo estará espionando para fazer

algum tipo de piada?

— Eu acho que não, porém sim... Eu acho que talvez. —

sorrio para Jasmine. — Mas isso te impede de algo?

— Depois de meu pai nos flagrar...

— Até eu me surpreendi.

— Sim, meu pai apareceu o nada...

— Me surpreendi com você, Jasmine. — abre a boca. —

Eu sabia que queria, mas não ao ponto de quase sentar no meu

colo.

— Olha, aparentemente você ama me envergonhar, mas

se for para casarmos dessa maneira...

— Já pensa em casamento como uma ideia fixa.

— Daniel...

— Jasmine...

Nos encaramos.

— Onde gostaria de casar? — pergunto, suas bochechas


começando a corar.

— Nenhum local, não gosto de casamentos. Mas se for

para casar, apenas assinaremos os papeis.


— Tão prática, bom que poupo o dinheiro do seu pai.

— Vai pensando que senhor Tyler deixaria a conta nas

mãos dele, ele já está perdendo essa preciosidade aqui. — ela

sorri. Ela é tão linda. — Você sempre para de falar e me encara.

— Você é linda.

— Beleza exótica, muitos dizem.

— Uma beleza exótica que deu mais que certo. Um filho

nosso será como?

— Um filho?

— Um herdeiro para eu tretarcom teu pai sobre para onde

ele vai.

— Ai, Daniel! — coloca a mão no rosto.

— Eu gosto que você sempre fala ''ah, Daniel'' ou ''Ai,

Daniel''. Me faz pensar quando falará isso em outros momentos.

Jasmine abre a boca, fecha, mas acaba sorrindo e quando

percebe isso abaixa a cabeça.

— Aceita jantar comigo? — pergunto.

— Se esperar me secar, estou toda molhada. — para de


falar. — Molhada de água. — mas logo fala rápido.
— Não disse nada. — levanto da cadeira. — Eu te espero.
Jantaremos na minha casa, pode ser?

— Pode.

Jasmine passa por mim.

Jasmine será minha.

Sem ter sido por contrato.

Eu conquistarei Jasmine.
Capítulo 13
JASMINE

Aceitei jantar com Daniel. Nós dois em sua casa.

— Um dia cobrarei um jantar feito por você. — brinco após


sair do banheiro, hoje comemos pizzas. — Veremos se é bom
mesmo de cozinha.

— Gabriel é melhor que eu, garanto. Mas eu dou para o

gasto. — pisca um olho. — Certeza que não quer nada além de


uma Coca-Cola?

— Eu não tomo nada alcóolico. — lembro Giulia falando


que tomou algo alcóolico para poder dizer que estava bêbada,

porque assim ela não teria que admitir que queria algo mais com

Leonardo. — Quero dizer, não é minha preferência. Coca-Cola é


a melhor coisa.

— Devo concordar com você. E terminamos uma garrafa

de dois litros.

— Hoje terminamos duas pizzas tamanho família e uma


coca de dois litros. Devo dizer que amei esse jantar.
— A minha playlistfoi do seu agrado?

— Até que gsto do System Of A Down, um velho e bom

clássico. E você sabe a discografia toda.

— Uma honra saber a discografia toda do System Of A

Down e nada da faculdade que cursei. Você queria continuar


estudando, certo?

— Quando as coisas se acalmarem, quem sabe? Mas sei


que trabalhar na área será impossível, apenas se eu escrever

meus livros.

— Escritora?

— Tento, mas não tenho tanto sonho de publicar ou


escrever algo. Precisava estudar, coloquei isso na cabeça.

Literatura sempre será meu amor.

— Tem espaço para outro amor?

— Tenho, meu coração cabe muitos amores.

— Marido e filhos, espero.

— Talvez.

— Quantos filhos?

— Dois. E você?

— Dois, nos combinamos até nisso.


Ah, Daniel... Eu quase fiz um drama gigantesco sobre um
possível casamento arranjado. Mas, aqui estou eu.

A verdade é que crescer nessa vida demanda sacrifícios,


inúmeros, muitas vezes abdicar de sonhos e da vida é um deles.

Meu pai estava agindo de modo estranho, me evitando.

Minha mãe me olhava como se me pedisse desculpas, acredito

que possa ter algo a ver comigo e com Daniel.

Poderia ser firme, dizer ''não quero'', mas diante a imagem

de Yoshida... Melhor dizendo, da imagem falada de Yoshida, eu


não quero fazer dramas e me ferrar, ferrar pessoas nessa.

— Não terei filho até que Yoshida suma. — tiro meu

sorriso. — Ele faz horrores a crianças.

— Sim, entendo completamente. E nós estamos falando de

algo como se realmente fosse real, não sabemos de nada sobre


um possível casamento.

— Onde Nicole está? — Daniel franze o cenho, não

entende a súbita mudança no assunto.

— Em outra casa.

— Então sabemos que a realidade é ficarmos presos, meu

pai nem me ligou até o momento, há uma confiança que talvez


precise ficar mais concreta.

— Como eu prometi...

— Acredito em você.

Eu realmente acredito em Daniel. Confio nele.

Posso quebrar a cara? Mas é claro que posso! Mas confio

em Daniel.

O som de notificação começa no meu celular. Abro a bolsa

e vejo que é a minha mãe perguntando se dormirei em casa. Não


sei se ela pensa que estou com Giulia ou se, de alguma maneira,

ela sabe que estou com Daniel. De qualquer modo, respondo que
estou indo pra casa, porque já são dez da noite.

— Preciso ir. — olho para Daniel.

— Tyler finalmente apareceu?

— Não, minha mãe.

Daniel inclina a cabeça para o lado, como se soubesse que

minha mãe não me mandaria voltar para casa.

— Ok, ela perguntou se eu dormiria fora ou em casa.

— Levarei você em casa ou prefere um motorista?

— Motorista. Nada contra você, mas prefiro evitar os


olhares das pessoas.
— Como é morar em um bairro dominado? Porque eu moro

longe dos territórios que a Nostra atua vendendo drogas, você


mora justamente no local onde é o centro de atuação da M-Unit.

Em uma mansão, mesmo assim todo mundo sabe quem você é, o


que faz.

— Eu nunca enxerguei desse modo. — penso um pouco.


— Eu já cresci ali, naquele meio. Não é um local perigoso, nem é

como um subúrbio, mas tem razão, todos sabem quem sou e o


que meu pai faz. A galera trata meu pai como um rei. É diferente.
Às vezes as pessoas vão lá em casa para pedir ajuda, aímeu pai

criou um local só disso. Um sindicato de moradores, porém,


comandado pelo crime.

— Equilíbrio é tudo. Cometemos uns crimes ali, ajudamos

outro acolá.

— Tem boatos sobre Fernando e Marco, boatos mais

verdadeiros que fake news.

— Enquanto pagarmos pelo silêncio, comprarmos


sentenças, serão apenas boatos.

Cara, se o casamento acontecer realmente... Deus! Eu


serei a futura primeira dama da máfia!
Agora eu entendi a pergunta de Daniel.

É muito diferente ser a filha do chefe do tráfico das ruas, do

que ser o filho do chefe do tráfico internacional.

É só ver a diferença de renda, de tratamento.

Temos muito dinheiro, mas meu pai não fez riquezas a

ponto de ter negócios em vários países, de ter seu nome como


''empresário do ano'' em negócios legais. Estar com Daniel é um

novo patamar, um patamar onde as pessoas desconfiam, não


sabem com certeza. Onde não andam com armas para mostrar
quem manda.

É um mundo perto do que vivo, porém, distante da


realidade que sempre estive inserida.

— Fiz você refletir?

— Um pouco. — olho para Daniel.

— Se houver casamento, será muito diferente, é outro


mundo, outra realidade.

— Sim, bem distante, mas também tão perto.

— Mas nem pense tanto nisso, pode ser que não ocorra
nada desse gênero. — fica a minha frente. — Sua casa?

— Sim, minha casa.


Daniel sai para falar com o motorista e pedir para que eu
seja levada até a minha casa. Depois Daniel retorna.

— Até que dia? — é a primeira pergunta que ele faz.

— Esperou mesmo por uma ligação?

— Sim, muito. Mas eu sabia que não ligaria, o problema é

que não tenho seu número, mas estava me preparando para ir a

sua casa.

— Está se sentindo em casa, subindo e descendo em

território alheio.

— Tyler está grato, sua mãe sonha que eu seja o genro,

você é travada...

— Ah, Daniel!

— Eu já disse que essas duas palavras me fazem ter outro

tipo de pensamento.

Giulia nunca falou de Daniel ser um cafajeste, pegador. Na


verdade, nem ele e nem Gabriel, Leonardo eu acho que tinha

meninas ao redor, mas também não tem essa fama.

Eu detesto homem cafajeste,que precisa falar tudo o que

acontece!

Daniel me encanta...
Encanta? Risos! Sou apaixonada por ele, isso sim.

Sou tão apaixonada que poderia ser menos travada, parar


de ficar vermelha por tudo e abaixar a cabeça. Talvez por isso

nada aconteça, porque Daniel espera que eu fique mais tranquila,

relaxada ao seu lado.

Preciso mudar isso...

Só que eu nem preciso fazer alguma coisa, pois é a vez de

Daniel me beijar.

E é claro que também o beijo no mesmo momento.

Não que eu entenda muito de beijos, mas eu não quero me

afastar dele, perder esse contato.

A mão dele passa por minhas costas, eu penso até que ele

vai apertar a minha bunda, mas não o faz...

Eu passo as mãos pelos braços, coloco a mão na sua

nuca, para que não se afaste...

Mas se afasta!

— Para alguém que estava com vergonha, você parece


muito afim que eu dê alguns passos a mais. — Daniel me encara,

muito próximo.

— Talvez eu queira.
— Talvez? — arqueia uma sobrancelha.

Eu não sei o que dá em mim, mas dou uma mordida no seu

lábio inferior e depois um selinho. Afasto-me dele.

— Sim, Daniel, talvez.

— Então será assim? Me beija, se afasta, beija de novo e

se afasta?

— Foi você quem parou. Eu também posso te provocar.

— Eu já estou sendo provocado desde quando te vi e


imaginei que seria impossível pra mim.

— Ah... — ele é tão lindo! — Eu gosto de você.

— Te conquistei agora.

— Boa noite, Daniel.

— Será que até a lua de mel passaremos de apenas beijos

de trinta segundos?

— Sim! — aceno para ele. — Boa noite!

— Boa noite, Minnie.

(...)
— Só beijos? — minha mãe cruza os braços. — Até eu fui

mais evoluída na minha época.

— Mãe, por favor.

— Se algo a mais acontecer, vai me contar?

— Claro, apesar de não me contar nada sobre meus

irmãos.

— Jas, culpe seu pai. Eu não conto segredos alheios, eu

amo fofocar da vida dos outros, mas contar segredos? Não! Seu

pai sofreu com as mortes, você era bem pequena...

— E por que ninguém me contou?

— Jas, aquela mulher, Giordana, ela contou que estava

grávida, seu pai deu toda a assistência. As crianças nasceram e

ela ficou mal, não deixou seu pai conhecer as crianças. Seu pai
tentou de tudo, mas ele estava ilegal no país, estava fazendo

negócios, ele não tinha como entrar na justiça por direitos. Tyler

até pensou que fosse mentira, mas quando se encontraram, fez o

DNA e deu positivo. E ela sumiu novamente com as crianças,


Tyler precisou voltar pra casa, contratou detetives e tudo mais, aí

namoramos, engravidei e quando você tinha uns dois anos, ou

menos que isso, recebemos a notícia que estavam mortos. Seu

pai sofreu muito, porque ele nunca conviveu com as crianças.


Mas agora parece que Giordana simplesmente contou que Tyler

nunca deu qualquer assistência. O que é muito estranho, os dois

falam que não receberam assistência, mas seu pai foi atrás de
Giordana, ele deu muito dinheiro a ela, mas ela que fugia sempre!

Por quê?

— Histórias confusas. — encolho os ombros. — Falando

nisso, sabe de alguma novidade do meu pai com Fernando?

— Juro por Deus que não sei de nada!

— Ontem você estava estranha.

— Claro! Seu pai simplesmente deixou os filhos dele aqui,

nem conhecemos e seu pai confia demais.

— Acho os dois corretos em questão de Yoshida, parecem

que sentem repulsa, mas a história de como e o motivo de

estarem aqui não cola muito.

— Não, nem um pouco. Eu ainda acho que estão aqui para

se vingarem de algo a Giordana contou.


— Giordana pode estar viva, se eles estão vivos, Giordana

também pode estar.

— Deus que nos livre!

— Conheceu tão bem?

— A mulher fez um inferno na vida de Tyler, queria

dinheiro, ameaçava, quando conseguia sumia, depois era


encontrada e sumia de novo. E ainda diz que seu pai nunca

procurou pelos meninos? Talvez eles tenham raiva de uma

mentira contada por essa puta. Então, sim, Jasmine, que ela
esteja morta. É esse o meu desejo.

Minha mãe sai do meu quarto.

Eu também saio para tomar café, e assim que chego a

mesa, encontro Alex, com seu sorriso debochado.

— Olá, irmãzinha.

— Oi. — sorrio para Alex.

— Nosso pai foi resolver algum assunto.

— Sabe sobre o que é?

— Não.

— Quer um pouco? — aponto para a máquina de fazer

café.
— Sim, obrigado.

Coloco o café em sua xícara e depois sento na cadeira.

Como a torrada e olho para Alex, que está colocando tudo em um

prato.

— Onde está o seu irmão? — pergunto.

Alex mostra os dentes, com um sorriso zombador.

— Nosso irmão. — ele diz. — Não esqueça disso, Jas.

— Você parece ser o mais idiota de todos. — arqueio a


sobrancelha. — Acho que aquela coisa do gêmeo calmo e o idiota

realmente é verdadeiro.

— Aceito esse título com louvor. — bebe um pouco do


café. — Então, irmãzinha, como vai à vida? Vamos nos conhecer

um pouquinho.

— Você quer provocar, não é mesmo?

— Não, jamais! — quando ele abre a boca para falar, noto

o piercing em sua língua. Além de brinco nas duas orelhas, um


piercing na sobrancelha, ele também tem um na línguae algumas
tatuagens em seus braços e vi outras em sua barriga. — Irmã,

incesto não é o meu tipo de relacionamento favorito.


— Do que está falando? — jogo a torrada em seu rosto e
ele ri.

— Você está olhando para o meu rosto e fixamente para a

minha boca.

— Não, seu idiota! Estou olhando para o piercing em sua

língua.

— Elas gostam. — mostra a língua. — Não tem isso em

você?

— Nem tatuagem tenho.

— Tyler sempre foi protetor com você?

— Protetor? Protetor? — rio. — Quem é o FBI perto de

Tyler? Meu pai sabia de todos os meus passos e se eu pensasse


em ir ao shopping, ele colocava, pelo menos, cinco pessoas ao
meu lado para me proteger.

Percebo o sorriso de Alex sumindo imediatamente.

— Algum problema? — pergunto, achando estranha a sua


mudança de humor, mas imagino que seja saber que meu pai

estava ao meu lado e não ao dele.

— Não.

— Conte-me sobre você. — peço. — Sobre a sua vida.


Alex levanta o olhar para mim.

— O quer saber?

— Ok, vou diretamente ao assunto. Quero saber sobre a


sua mãe.

— Morreu.

— Como?

— Mataram.

— Quem?

— Você é muito curiosa.

— E você parecia ser um cara legal, mas vejo que não

quer conversar com a ''irmãzinha''.

— Por que mudou de opinião sobre mim?

— Por que acha que tenho uma opinião sobre você?

— Ninguém acredita na minha boa vontade, ou acham que


estou com Yoshida, que é algo repulsivo, ou acham que quero

matar nosso pai.

— Estamos vivendo tempos difíceis, Alex. Desculpe-me,

mas você matou um cara que estava aqui por anos, eram dois
homens que pareciam fieis.
— Escolhemos um péssimo momento para chegar aqui.

— O fato de ser debochado também não ajuda.

— É estranho saber que estávamos na lama e vocês,

bem... — abre os braços. — Tendo comida todos os dias.

— Imagino que sofreu muito, Alex. — abaixa os braços. —


E sinto demais por isso, mas não te conheci, não sei mesmo, te

juro. Mas pelo que me contaram, meu pai foi atrás de vocês.

— Minha mãe fugiu e nos levou, sendo que ela nos


contava que tentava ir de encontro ao Tyler e nunca conseguiu.

Quem mente? Tyler mostrou nossos atestados de óbitos, mas e


dai? Eu não o conheço.

— E por que está aqui?

— Porque Tyler poderia sentir culpa, poderia sentir raiva.

Eu mexi diretamente com Yoshida, eu e Allan, precisamos de


proteção porque nossa antiga ajuda está sobrecarregada. Então
dependendo de como Tyler nos tratar, eu saberei a verdade.

Alex olha para mim atentamente por alguns instantes.


Quando eu penso que ele vai dar o assunto por encerrado, ele

fala:
— Aquela mulher não era a melhor pessoa do mundo. Mas

era a minha mãe, e eu lembro dela fazendo de tudo por mim e por
Allan, das suas lágrimas e seus sacrifícios pra nos dar o que
comer.

Novamente, sinto verdade na sua voz, sinto até a dor.

Ele deixa o pão de lado e percebo como se esforça para


tomar o café.

— Se sabia do nosso pai, por que nunca veio atrás dele?

— pode ser difícil, mas prossigo.

— Por que viria? Como viria? Eu digo, se não corrêssemos


perigo, nunca viríamos para cá.

— Você ficou triste quando eu falei de Tyler ser protetor,


não foi?

— Alex jamais fica triste, ele é muito idiota para ter esse
tipo de sentimento. — Allan aparece na cozinha, sentando em

uma das cadeiras.

Alex sorri para mim, voltando a ser o idiota de antes...

Mas, anteriormente, ele não pareceu ser tão idiota assim...

— Onde estava? — olho para Allan. — Você não conhece


o local para poder sair por aí.
— Fui comprar isso. — coloca alguns embrulhos em cima
da mesa. — Pãezinhos e bolos. Pensei que fosse gostar.

— Que garoto fofo meu irmão é. — Alex aperta a bochecha

de Allan. — Faz um bom trabalho, continue assim.

Encaro os dois e vejo algo em seus olhares. Algo não


muito amigável.

— Certo. — Allan retira a mão de Alex do seu rosto. —

Quer?

— Eu posso comer para provar que não tem veneno, mas


sua mãe está lá em cima, seria muito suicídio matar a filha de

Tyler na casa dele cercada de segurança. — Alex fala e começa a


comer.

Como alguns bolinhos enquanto Alex fala sobre o jogo que

uma empresa acabou de lançar. Depois disso, subo para o meu


quarto, para ter a privacidade, mas Allan bate na minha porta.

— Alex falou sobre você ter perguntando sobre a minha


mãe. — Allan começa a falar. — E talvez ele tenha dito algo ruim

dela.

— Todos falam mal da sua mãe, se até o filho fala, quem


sou eu para julgar?
— Ela não era boa, mas era a nossa mãe, entende? —
balanço a cabeça em concordância, não sabendo muito o que

dizer.

— Fale da sua vida, sou curiosa a cerca dos meus irmãos.

— O que quer saber?

— Por que nunca procuraram meu pai?

— Por que faríamos isso? Ele já tinha uma família, eu e


Alex iríamos atrapalhar. Só estamos aqui, agora, porque estamos
correndo perigo e Tyler pode nos ajudar. Ou nos mata ou nos

ajuda.

— Eu acredito em muitos pontos das suas histórias, mas


esse, Allan? Esse ponto que estão aqui por ajuda não me

convence.

— E o que te convenceria? Salvar a vida de Tyler também


não basta?

— Não. Pelo modo como Romeo não se preocupou em

manter a vigilância em Alex.

— Eu também não entendo isso. — Allan concorda comigo.

— Então estou certa em duvidar.

Allan passa a língua pelos lábios e sorri de lado.


— Sim, sempre está certa, Jasmine.

Allan se afasta.

Por que meu pai confia tanto nesses dois?

Ou não confia e, mais uma vez, estamos em uma


armadilha sem saber?
(2) Bônus
FERNANDO

Retiro a cabeça de Milla da água congelada e jogo-a no

chão.

Ela treme, nua, quase congelada, mas como não quero ela
morra, peço para que tragam um cobertor aquecido.

Depois que Milla para de tremer, ela me encara.

— Já estamos no sétimo dia de tortura, Milla. Já levou


choques, já foi afogada, já foi chicoteada... Lembra o Yoshida? Vi

as marcas nas suas costas, o que fez de tão ruim para ele te
castigar desse modo? — não responde. — Acho que devo

começar mais uma sessão de ''Nancy dizendo que ama a Milla''.

Quando me preparo para ligar a TV, escuto a sua voz.

— Se eu contar, o que acontecerá comigo?

Olho para Milla, o controle dos monitores na minha mão.

— Eu te prendo, seja aqui ou no presídio, ficará presa.

— Eu não acredito.
— Mais uma sessão de Nancy...

— Espera! — seus olhos passam por toda a sala. — Você

acertou, não é mesmo? — eu preciso me aproximar mais para

poder escuta-la. — Você acertou no que me faria sofrer, e eu


aceito a morte, não prisão.

— Eu sei, matar a própria mãe e uma criança não é bem

visto nos presídios, por isso prefere a morte...

— É melhor que viver com a culpa. Estava certo, Fernando,

eu escondi minha culpa, me retraí,me enganei. Está certo sobre

isso.

— Uma semana vendo sua mãe...

— Eu lembrei nossos momentos, lembrei que ela foi mais

mãe que minha mãe biológica. — Milla chora de verdade. Ela


chorou todos os dias, chorava de engasgar, de tentar bater a

cabeça na parede, ela só não se machucou porque seu pescoço

estava bem preso. — Eu não deveria...

— Por que fez isso?

— Ele disse que não mandou! Mas mandou sim! — grita.

— Ele disse que eu deveria matar minha mãe para provar a


lealdade...
— E mesmo assim você fez? Matou sua mãe, a mulher que
te salvou para...

— Para! — grita, se revira e soca o chão, quando percebo


que ela vai bater a cabeça contra o concreto, faço um sinal e os

seguranças impedem, segurando contra o chão. — Me mata, por

favor! Me mata!

Peço para que prendam Milla novamente.

É real!

— Se ajudar talvez eu possa me vingar por Nancy, já que

foi Yoshida que mandou. Eu posso matar Yoshida.

— Ele se aproveitou de mim, Fernando. — começa a tossir.

— Yoshida me procurou dizendo que queria vingança contra você,

mas precisava de ajuda. Eu juro, Fernando, eu te ajudaria, teria

informações e te passaria, mas aí a Sara chegou e você me


esqueceu, ficou com ela...

E Milla tirou fotos de Giulia, ainda criança, e deu para

Yoshida, para que ele a vendesse para pedófilos.

— Eu nunca tive nada com você, Milla.

— Tivemos um filho.

Lá vamos nós de novo!


— Milla, você sente demais, não é? Sente mais raiva que

todos, ama mais que todos, uma rejeição é o seu fim, não é isso?
— não responde. — Queria me ajudar e até acredito nisso, mas

depois desandou por uma rejeição da sua cabeça. Eu nunca te


tratei diferente por causa de Sara, eu sempre te tratei daquela
maneira.

— Mas não tinha ninguém para você, eu conquistaria sua


confiança te entregando Yoshida. Só que eu fiquei com raiva, ele

disse que precisava de uma prova da minha lealdade... — respira


fundo. — Eu disse que conseguiria mandar que estuprassem a

Sara e ele disse que eu deveria matar alguém, minha mãe.

Aperto minhas mãos com força.

Não posso terminar com tudo, preciso escutar Milla!

— Eu não queria, eu juro que não. Não era esse meu

plano, só que Yoshida falava que minha mãe me odiava, que ela
gostava mais de Sara e daquele bebê...

— Como ele sabia do bebê?

— Ele seguia a Nancy, sabia bem disso. Ele me fez


acreditar que ela me odiava, e quando ela defendeu a Sara, foi o

fim... Eu fiquei com raiva e matei!


— Não foi um surto psicótico, você levou o bebê junto.

— Foi raiva, ódio, mas eu me arrependi...

— Quando sofreu nas mãos de Yoshida.

— Eu fui enganada.

Eu queria retrucar tudo, mas não vale a pena. Milla sabe o

que fez, ela ama demais, a rejeição é a pior coisa para ela, no
entanto, ela sabe bem o que fez.

Nesse momento ela quer minha piedade.

— Eu sabia que estava viva, Milla. Eu soube disso dois

anos depois da sua ''morte''.

— Como?

— O perito, o homem que assinou sua certidão de óbito e o


legista, todos morreram em um intervalo de dois meses. Ali eu

sabia que foi tudo forjado, esperei a sua volta, demorou anos,
mas voltou.

— Yoshida te elogia, Fernando. Ele gosta de jogar com


você.

— É o prazer dele, Milla. Ele jogou com você, fez uma filha

matar a mãe, ganhou um bebê e uma escrava sexual. Não foi


isso?
— Eu imaginava que Yoshida fosse mais rápido, quando fiz
tudo aquilo eu já queria que ele te matasse, mas ele pediu calma,
acreditei. Ele me mimou, cuidou de mim, me deu plásticas, roupas

caras e eu só tinha que ficar esperando com Olívia, só que ele


começou a ficar louco, sádico...

— Como Yoshida é? Quem ele é?

— Eu não sei.

— Como não sabe? Passou anos com ele e não sabe?

— Não sabe disso?

— De que, Milla? — eu peço para que ela não esteja tão


esperta, tão em alerta para tentar jogar para que eu consiga a

informação.

— Acho que ninguém conhece o verdadeiro Yoshida, ele


usa pessoas, ele usa máscaras.

— Máscaras?

— Máscaras tão bem feitas que parecem um rosto real, ele

usa sotaques, fala em algumas línguas, e tenho certeza que


Yoshida nem sempre está agindo, porque eu fui estuprada, eu fui

surrada, o corpo que estava em cima de mim sempre era


diferente, eram mãos diferentes, objetos, às vezes eu estava
vendada ou no escuro... Com o tempo eu me acostumei as
violências e passei a prestar atenção nos detalhes, não são as
mesmas pessoas, e quando é disfarce, é muito bem feito...

— E como sabe quando é disfarce?

— É diferente. Sempre tem a pessoa que é mais sádica no

modo de agir, de estuprar, de bater. E por ser parecido, sei que é

a mesma pessoa disfarçada, e a mesma pessoa que falava


comigo como chefão. Não sei quem Yoshida é, Fernando. Nem

poderia reconhecer sua voz. Talvez poucas pessoas saibam, ou

ninguém saiba. Você não conseguiu nada sobre ele? — sorri. —


Pois eu te dou essa informação. Yoshida é o homem dos

disfarces, consegue ser quem ele quiser, onde ele quiser. Ele

pode estar aqui agora, ele pode estar em qualquer lugar, você só

saberá se ele quiser. Yoshida só aparece dessa maneira para te


confundir, para te torturar mais. E sabe por que te conto tudo isso,

Fernando?

— Não sei.

— Porque eu não usaria Nicole para que eu me vingasse


de você. Yoshida me mandou aqui para isso, ele sabe do

parentesco de Nicole e Daniel. Meu objetivo era conseguir falar

com você. Yoshida é sádico, ele não vai me matar, ele vai me
torturar todos os dias. E você, Fernando, tem raiva do que fiz para

Sara, Nancy e talvez o que fiz pelo bebê, e por isso você vai me
matar logo, Yoshida não, ele vai me usar até que eu morra aos

poucos. Você não é sádico para tanto, Yoshida é.

— E como chegou a essa conclusão que é melhor me


ajudar?

— Yoshida já deve saber que estou presa aqui, eu tenho

um rastreador no meu corpo.

— É óbvio que tem, sei disso.

— Então, ele não está aqui porque eu não sei de nada

sobre ele, vivi presa e só agora fui colocada no plano, porque eu

sou insignificante. Olívia é insignificante. Mas se Yoshida me

pegar, eu volto a sofrer... Prefiro que me matem antes que...

— Teremos uma conversa, Milla. Veremos se posso confiar

em você ou não.

Dez horas depois


— Acha que soltar Milla é mesmo uma boa ideia? — Marco

olha pra mim, depois de chegar em casa.

— Das duas uma, Marco, ou Milla nos levará a um local

muito importante ou Yoshida vai mata-la. Eu acredito que Milla


sofrerá mais com Yoshida do que comigo. Nada disso foi

planejado, Yoshida não queria tanta gente no jogo, filhos de Tyler

e um federal ajudando. Milla e Olívia agiram por contra própria,


Romeo morreu por causa dos filhos de Tyler, entende por que

nada aconteceu? Esse povo todo prejudicou Yoshida, ele usou

todo mundo, mas todos fizeram escolhas próprias. Ele realmente

achou que estavam treinados, e mais um detalhe, Hugo e Rachel


falaram que Olívia e Milla tratam a garota como filha. Quando

Milla ama, ela ama demais, ela não entregaria Rachel a Yoshida,

ela me pediu para não fazer mal a garota, mas também não sabe
a importância dela.

— Então você soltou Milla para ser capturada por Yoshida?

Pego um celular.

— No momento Milla está escondida em um hotel no meio


de uma rua cercada por prostitutas e drogados. Colocamos

rastreadores há uma semana, o corte já cicatrizou, talvez ela

desconfie em algum momento, mas está tão ferida que será


apenas mais uma cicatriz. Tem gente de perto vendo tudo,

quando algo acontecer, saberemos.

— O cara usa disfarces, ninguém sabe quem Yoshida é,

mas você acredita que ele pegará Milla na vista de todos.

— Eu acredito que mesmo não capturando Yoshida, ele


fará uma vingança melhor do que eu. Marco, eu tinha que me

controlar para não matar logo Milla. Ela merece sofrer por tudo,

um bebê cresceu com Yoshida! Ela deu uma criança para aquele

sádico! Ela tentou vender Giulia. Milla pode ter me enganado?


Não! Eu senti o medo dela de longe, ela andou o caminho todo

quase voltando para o meu carro, sabendo que eu a mataria. Ela

sabe que está indo para morte. Eu aposto meu cassino em Vegas
com você, mas acredito que Milla não mentiu em nada. Ela

sofrerá nas mãos de Yoshida. Mais cedo ou mais tarde ela

sofrerá. Não tem mais serventia para Yoshida.

— Será mesmo, Fernando?

— Milla será usada, Yoshida pode até colocar em frente a

algum plano. Mas ela não tem importância, uma hora Yoshida vai

se vingar pelo plano mal executado. Se tudo isso fosse um plano,

algum dos envolvidos, eu, você, nossos filhos, Nicole, Jasmine,


Ingrid, Tyler, Rachel ou Hugo, algum deles já estaria morto ou
sequestrado. Milla traiu Yoshida. Olívia ainda tenta contornar a

situação, e é nela que precisamos focar. Milla é uma peça

descartável.

— Confia demais, Fernando.

— Sim, confio em minhas teorias e minhas jogadas. E

confie também, Marco, eu sei do que estou falando. O próprio

disse que sou um bom oponente, estou lendo o jogo dele, que,
agora, deu errado.
Capítulo 14
JASMINE

Daniel:Segundo Hugo, não há perigo sobre seus irmãos.

Rachel contou que Alex estava no bar quando ela levou o tiro, e
Alex acreditou que o tiro era para ele. Porém, segundo Leo, ele
não viu Alex no bar. Somente Leo ajudou Rachel, mas, depois
disso, mais gente apareceu.

Eu: Não sei, algo não se encaixa nisso tudo.

Daniel:Também acredito nisso. Rachel foi muito sincera,

realmente, porém, agora ela parece distante.

Eu: Estavam próximos? Você e ela?

Não que eu esteja com ciúme, mas não sabia desse


detalhe...
Daniel:Não, ela falava mais, contava algumas histórias

que precisávamos saber, mas agora parece que ela me evita. Não

sei explicar, mas Leo também notou a diferença.

Ah, então é isso...

Eu: Talvez se eu tentasse ela poderia falar algo mais, se


for algo que a incomoda. Nos falamos na faculdade, pode ser que

Rachel ainda vá com minha cara.

Daniel:Preciso falar com meu pai antes, eles viraram os

protegidos de Fernando.

Eu: Então eles conquistaram a confiança do chefão.

Daniel:E ganharam a minha desconfiança por esse

comportamento de Rachel. Espero que seja apenas algo da


minha cabeça, e que não seja sobre seus irmãos. Daqui a pouco
já serão duas semanas que eles estão aí e ainda nada de
suspeito.

Eu: Algumas atitudes são suspeitas, mas outras são

normais, como se nada tivesse acontecido.

— Jasmine? — olho para a porta do meu quarto, que deixei

aberta. Meu pai que está me chamando. — Podemos conversar?

Eu: Estou indo falar com meu pai.

Daniel:Ok. Depois nos falamos.

Olho para meu pai depois de bloquear a tela do meu

celular.

— Tudo bem com Daniel? — senta na cama. — Agora só

vive grudada nesse celular falando com ele. Antes era vendo

merda na internet, agora é falando com Daniel.

— Achei que estava tudo bem.


— Está tudo bem, só não imaginei que fosse tão

apaixonada por ele.

No dia seguinte do nosso jantar de pizza, tomei coragem e

mandei mensagem para Daniel, para que salvasse meu número.


Desse dia em diante só temos conversando por mensagens.

Todos os dias!

— Não sei se diria apaixonada, mas Daniel é um cara


bastante legal.

— ''Legal'', que merda de elogio.

— Então aceita que eu elogie mais o Daniel?

— Preciso te contar algo, mas acho que já desconfia.


Entendo sua linha de raciocínio e entendo se ficar chateada, mas

é algo maior, Jas. Todo mundo depende disso.

— Do que estamos falando? — sei do que se trata.

— Sua mãe comentou que Daniel era a melhor escolha.


Romeo, como eu já disse, era um cara que eu queria descobrir

mais. Nunca prosseguiria no casamento, mas precisamos fazer


uma aliança aqui e outra ali. Não sei por que me envolveram

nisso, mas Yoshida está na minha cola. — coça o queixo e depois


continua. — Você pediu para que eu procurasse por Leila.
— Ela está envolvida?

— Jas, criaram uma vida falsa para Leila. Deram pais,


deram registros em inúmeros locais para Leila. Conseguiram

inserir essa garota na sua vida e na de Giulia. E só descobrimos


isso por causa da tal Milla.

Meu Deus!

É um susto pensar que inventaram uma vida toda para

Leila. Tipo, se ela fosse uma inimiga seria aceitável, quero dizer,
se fosse uma Leila inimiga. Mas inventaram uma vida completa
para ter sentido, colocaram pais falsos, que eu conheci...

Registros em cartórios, em escolas, faculdade... É algo grandioso.

Diferente de Romeo que traiu com o tempo, mas Leila já

entrou na minha vida, há mais de seis anos...

Eu não sei nem o que dizer, o que pensar.

É algo muito grandioso.

Grandioso por qual motivo?

Eu era dividida entre ir com a cara de Leila e acha-la


extremamente desnecessária. Investigaram, nunca acharam

nada. Porque era um registro falso, porém, verdadeiro.

Confuso.
— O que aconteceu? — pergunto após o meu choque
inicial ter passado.

— Prendemos Leila para ver se conta algo mais, poucas


pessoas sabem disso, Daniel deve ter sido informado ontem.
Estão tentando obter o motivo, mas a resposta é clara, você era o

alvo.

— E Leila nunca fez nada ou fez?

— Não fez nada, também esperava o sinal para fazer algo.


Um dia teremos a resposta, preciso acreditar nisso. Está bem com
essa notícia?

— É uma surpresa, mas não é decepcionante porque não


era uma amiga tão íntima, sabe? — balança a cabeça em

concordância. — É só estranho pensar o motivo disso tudo, entrar


na minha vida por anos para me fazer mal por qual motivo?

— Espero que Leila fale algo, porque Milla também não


sabe. Mas, voltando ao assunto, agora que vi que é um alvo tão

direto, precisei tomar algumas decisões. Talvez você goste, talvez


não... — faz uma pausa dramática, mas eu acho que ela está

pensando em como falar. — Conversei com Fernando pela


primeira vez após muitos anos. Lá no passado, talvez vinte anos
atrás, eu deixei que ele se vingasse de um integrante da M-Unit
que mexeu com Sara. O homem tinha importância para meus
negócios, mesmo assim eu entendi que ele merecia punição e dei

a autorização para que Fernando e Yankee prosseguissem. E


agora Fernando ainda mandou Daniel para vir me avisar de

Romeo. Tem uma simpatia acontecendo, não uma grande


amizade, mas uma simpatia.

— E então?

— Sei que gostaria de dominar sua própria vida, de viver

ao seu modo. Mas... — novamente faz uma pausa, está sendo


bem difícil para ele. — Nesse negócio um homem gera mais

respeito, querendo ou não, essa é a verdade, Jas. E eu te digo,

talvez se você fosse um pouco mais fria, eu tentaria te colocar nos

negócios. Mas desde criança eu vejo como você é uma garota


comum. Uma garota com sonhos, sorridente, poderia dizer até

que meiga. Sempre falando baixo, sendo tímida,ficando vermelha

por qualquer coisa. Eu nunca poderia te corromper tanto. Eu juro,


Jas, me deram essa ideia, mas toda vez que eu olhava pra você

eu pensava ''Como eu vou tirar a meiguice dessa garota? Só para

ela comandar um negócio ilegal? Vou fazê-la uma criminosa só


para que eu tenha uma sucessora?''. Não, eu não me perdoaria
em mudar seu jeito de ser. Como eu precisei mudar. Sabe da

minha história toda?

Sempre conversei com meu pai, mas nunca algo tão

profundo sobre, talvez, eu estar a frente da gangue.

— Não ao todo. — respondo.

— Tudo começou quando as drogas entraram nesse país.

A Nostra teve um grande papel nisso tudo. Os caras já tinham

uma boa grana, máfia italiana. Mas lá na Itália eles já estavam

tendo seus inimigos, estavam em queda, quase perdendo. Na


época era tudo diferente, era mais sobre contrabando, cigarros,

bebidas, combustíveis,nada como drogas. Eles chegaram aqui e

alguns estabeleceram suas moradias. Tempos depois começaram


com as drogas. Alguns homens da M-Unit já foram moleques de

recado da Nostra, isso inclui meu pai, o seu avô. E claro, isso vai

gerando duas coisas: inveja e visão de negócios.

— Então quer dizer que seu pai invejou os Bertollini?

— Em partes, sim. Sabe por que somos vistos uma gangue

que só aceita negros?

— Porque foi a maneira que meu avô encontrou de crescer.


— Sim. Meu pai via italianos com seus ternos caros,

mansões, tudo de bom e do melhor. Muitas organizações

criminosas crescem em presídios, geralmente contra a opressão


do sistema, mas é claro que não é algo para melhorar suas vidas,

é tudo sobre crimes, os sindicatos do crime, usam uma ideologia

por trás, mas cometem crimes. Meu pai fez isso. Fez um discurso

anti-racista. Segundo ele, estavam crescendo nas costas dos


negros. Muitos não compraram esse discurso, a minoria comprou,

e dessa minoria começaram a espalhar boatos sobre aquela

gangue que, aparentemente, só tinha negros. O que é mentira,


tem branco, amarelo, tudo quanto é gente conosco, mas, naquela

época, o discurso completamente hipócrita e deturpado, fez a

Nostra perder alguns membros e ganhamos uma gangue. O

mesmo para a Sangre Latino, também crescendo contra a


opressão que os latinos sofriam em algum país, mas nada a ver

com a Nostra.

Uau!

Eu não sabia da parte da história. Sabia que meu avô deu

uma de Martin Luther King, completamente deturpado, nada a ver

sobre causas raciais. Meu avô tinha lábia, sabia negociar,


enganar pessoas com seus discursos fajutos. Mas nunca na vida

imaginei que eram desertores da Nostra Ancoma.

— A minha mãe nunca comprou esse discurso. — meu pai

continua. — Ela era branca, na verdade acho que chamam de

amarela, era asiática.

Agora estou surpresa.

— Como assim a minha avó era asiática e eu só sei disso

agora?

— Era das Filipinas. Eu não tenho qualquer foto dela, Jas.


Somente sei o que meu pai contava. Ela odiava a M-Unit com

todas as suas forças. O pai dela, também asiático, começou a

fornecer drogas a M-Unit e forçou a casamento dela com meu pai.

Casaram, ela engravidou, continuou não gostando do meu pai, eu


nasci, ela nunca cuidou de mim. Meu pai e meu avô contavam

isso, que ela nem ao menos me carregou por mais de cinco

minutos, tinham até medo que ela me causasse algum mal, por
isso acabei indo morar com a tia do meu pai. Minha mãe fugiu de

casa, era apaixonada por outro homem, esse homem acabou

matando minha mãe e depois se suicidou.

Outra história que também não imaginava.


— E isso realmente é verdade?

— Talvez sim, talvez não. Mas também não me importo em

saber, porque se minha mãe foi castigada pela desobediência, o

meu pai morreu em confronto com a polícia do país vizinho e o pai


dela morreu em um acidente de carro. De qualquer maneira, não

há com quem me vingar. Cresci em um ambiente saudável, com

minha tia, posteriormente ela faleceu pela idade avançada que


tinha. Nossos parentes estão por aqui também, mas meu pai me

obrigou a entrar na M-Unit. Abandonar a vida comum para estar

em uma gangue foi difícil. Vi mortes desde muito cedo, seja

assassinato ou até mesmo por overdose. A pessoa se debatendo


a minha frente. Eu sacrifiquei muita coisa, sonhos, porque meu

pai me obrigou.

Eu sei onde toda essa conversa vai chegar.

— E eu não queria que fosse dessa maneira para você

também. Só que é diferente, Jas. Eu só tinha o apoio da minha

tia, que não tinha muita voz. Mas você sempre terá seus pais, eu

e a Ingrid sempre estaremos aqui. No entanto... Bem, lá no


passado tivemos uma ligação com os Bertollini. A verdade sobre

essa quase repulsa foi exatamente isso, só não somos inimigos

mortais porque meu pai nunca os roubou. Meu pai levou a droga
para alguém que entendia do assunto, e assim foram montando

seus laboratórios. Se tivessem roubado a Nostra seria pior. Mas


estamos em paz agora.

— Pai, pode ir direto ao assunto?

— Às vezes você é um pedaço de cavalo.

— Eu tenho ansiedade! — me defendo. — Eu já soube do


seu passado e estou feliz em saber mais da minha vida e,

finalmente, entender esses olhos puxados que tenho, outros

traços asiáticos que tantos falam. Mas quer me contar algo, e


quero saber o que é.

Mesmo que eu já desconfie do que seja.

— Conversei com Fernando, colocamos tudo em pratos

limpos. O pai dele, Victor, estava ingressando na época que meu


pai montou a M-Unit. Victor Bertollini não tem aversão para o

nosso lado, é até mais simpático que Fernando...

— Pai, por favor, direto ao assunto.

— Ok, Jasmine. É que é difícil pra mim! Eu vi como reagiu


ao Romeo, só que agora preciso fazer o mesmo, sendo que é

com o Daniel. Precisamos de uma ligação mais forte que palavras

ou um papel, termos de gangue e máfia. Isso nem sempre dá


certo, só que, muitas vezes, quando juntamos famílias,prezamos
mais pela aliança, não traímos. Se for apenas a nossa aliança,

podemos trair sim, está claro que podemos porque os dois lados

não confiarão um no outro. Mas se dois filhos estiverem juntos,


teremos que reforçar o acordo, porque não vamos magoar vocês.

É por isso que enrolei tanto, você quer viver sua vida, não quer

ser comandada, mas precisamos disso, Jas. Precisamos de um


acordo mais firme para conseguirmos algo.

Quando soube do casamento com Romeo eu fiquei

revoltada.

Quando surgiu a possibilidade de me casar com Daniel fiz


drama.

Agora que o acordo está firmado eu estou... Ok! Estou ok


com isso.

— Tudo bem.

— Como assim tudo bem? — meu pai fala tão alto que me

assusta. — Fez um drama gigantesco durante dias, fugiu de


casa...

— Eu voltei para casa.


— Você nem saía de casa antes, e aí fugiu! Fiquei
preocupado, com medo de você me odiar, e é isso que recebo
''Tudo bem''?

— Se eu faço drama, reclama. Se não faço reclama


também?

— Você é dramática... — coloca a mão no rosto. — Rolou


mais que o agarramento no carro, não foi?

— Pai, por favor...

— Rolou ou não rolou?

— Não! — falo com os dentes cerrados. — Apenas

conversas e jantar, nada a mais...

— Não rolou? — pronto, agora ele vai dar uma de dona


Ingrid? — Do jeito que sua mãe estava toda eufórica, eu pensei
que...

— Não rolou nada, apenas amizade. Então, por isso, tudo


ok por essa decisão. Imaginávamos algo assim acontecendo,
gosto do Daniel.

— Sabe que eu não sou um pai ciumento...

— Pra cima de mim, senhor Tyler?


— Eu protejo minha filha de todo o mal, mas se estiver
apaixonada, tudo bem por mim. Claro, tudo bem porque Daniel
salvou sua vida. Mas eu esperava mais drama nisso tudo.

— Tão tolo, parece que nem viu a filha de agarramento no


carro. — minha mãe fica encostada na porta. — Tão tapado para

certos assuntos.

— Ingrid, não precisamos de suas brincadeiras...

— Teremos festa? — ela entra no quarto. — Quando será?

— Não teremos festa, a Nostra expulsou os Bertollini e os

Vesentini, os Ferrara estão tentando voltar a Nostra, mas a família


principal? Não aceitam.

— E como será feito? — pergunto. — Apenas assinar

papéis?

— E conhecer a família. — meu pai esfrega as mãos. —

Preciso falar de outro detalhe importante, vocês não ficarão mais


por aqui.

— Como não ficaremos mais por aqui? — minha mãe


pergunta, sem entender muito bem.

— A principal questão de me juntar ao Bertollini, é que ele

e Marco sempre estão preparados para uma guerra. Na verdade


Fernando já estava se preparando para uma volta de Yoshida.
Como eu achei que não tinha nada a ver comigo, eu não me

preparei em nada. Fernando tem meios de salvar vocês, eu tenho


meios de ajudar nesse confronto. É uma troca justa. Eles te
colocam na proteção, eu o ajudo na luta.

— O acordo é apenas isso?

— Não, Jas. Quanto tiver filhos, um ficará ao meu lado e


outro para o Fernando. A prioridade é minha porque eu não tenho
quem fique no meu lugar.

— E seus dois filhos? — minha mãe indaga.

— Não sei se podem comandar algo, mas voltando a

Jasmine. Fernando tem muita gente que pode comandar se algo


acontecer com Daniel, eu não. Tenho parceiros de negócios, mas
nada como um braço direito a ponto de entregar a liderança por

vontade própria. Tem o Poncho, que pode assumir se eu morrer,


mas nada como uma hierarquia, uma aliança familiar. Por isso o
primeiro neto tem que vir para o meu lado. O que torna tudo mais

difícil,afinal, não queria que comandassem sua vida, mas até a


do seu futuro filho já entra na história.

Eu me preparei para esse momento.


Eles precisam de um sucessor, filho, neto, sobrinho...

Algum parente que confiem.

Já fui marcada nessa história assim que nasci, mas ficou


complicado porque o assunto ''casamento arranjado'' sempre é

jogado na minha cara sem eu esperar.

Dessa vez eu até tive momentos para pensar, inclusive


converso com o noivo e confio nele.

— Tudo bem. — respondo essas duas palavras novamente

e tento não rir quando meu faz a cara de bravo. — Faço esse
sacrifício pela família.

— Nem tente, garota. Vejo esse sorriso bobo, até Alex e

Allan notaram.

— Você quer que eles sejam bons. — acabo mudando de

assunto. — Eu também desejo isso.

— Gosta deles? — meu pai pergunta e também olha pra

minha mãe.

— Completamente diferentes de Giordana. — minha mãe


responde.

— Eles me parecem carentes. — respondo. — Mas tem


coisas que não se encaixam. Se forem ruins, se quiserem
vingança, espero que esses momentos aqui façam com que
mudem de ideia, gosto deles.

Meu pai apenas sorri.

Levanto da cama e fico de frente para ele.

— Foi mais complicado esse contrato do que com Romeo,


não foi?

— Você não casaria com Romeo, agora sim tem que casar

com Daniel.

— Melhor um Bertollini que um Romeo. — claro que minha


mãe defende seu querido genro.

— Ingrid é uma vendida! — meu pai olha pra mim. — Então

sem dramas? Continua me amando?

— Claro! Fiz drama, mas voltei pra casa, conversamos, e é


isso aí! Bola pra frente. E você é o melhor pai de todos, um tanto

tolinho por preferir o Liverpool...

— Que? — novamente fala alto. — Você prefere um time


horrível como o Arsenal e eu sou o tolo?

— Liverpool só ganha na sorte!

— Arsenal nem na sorte ganha, tem sorte se perder de um


a zero!
— Ah, eu te amo! — abraço meu pai.

— Também te amo, garota. — beija minha testa. — Não dê

nome de gente branca para meus netos, nem a porra de um


nome italiano.

— O que seria nome de gente branca, pai?

— Natasha é um puta nome de gente branca! Ashley,

Patrícia... Giuliana, Giulia... Sabe?

— Ah, meu Deus! — minha mãe suspira. — Tyler e seus


estereótipos!

— Eu tenho que preservar nossa linhagem! Sem nomes


italianos...

— O pai está mais para espanhol, não se preocupe.

— Então, já que a senhorita aqui não fez drama como

sempre faz, porque estava de agarramento no carro...

— Pai!

— Ligarei para Fernando e marcarei a data para o encontro

da família. Futura Bertollini. — segura as minhas duas mãos. —


Se Daniel fizer algo, sempre estarei aqui e foda-se a família dele,
ok?

— Ok, pai. Mas eu acredito em Daniel.


— Também acredito, mas eu preciso manter a pose de
bandido.

— Quer chorar por estar casando sua filha?

— Pose bandida, Jasmine! Gangster não chora.

— Vai chorar quando eu entrar no avião.

— Pose de bandido, Jasmine. — me abraça novamente. —

Você é incrível, merece alguém a altura. Espero que seja muito


feliz.

Eu também espero o mesmo!


Capítulo 15
DANIEL

Após Nicole trocar de roupa pela sexta vez, ela finalmente

aparece na sala com a roupa escolhida.

— Eu já disse que ninguém se importa muito com roupas,


Nikki. — olho para minha irmã, que continua incerta sobre seu

vestido, que, agora, é rosa claro. — Podemos ir? Está perfeita...

— Não acha que estou muito arrumada? — olha para sua


roupa, depois torce um pouco a boca e olha pra mim, bem incerta.
— É apenas um jantar.

— Você já disse que estava mal arrumada, agora está

arrumada demais?

— Preciso de um meio termo, Daniel!

— Nicole, sem neuras. Apenas respira. — esperneia e


depois se recompõe. — Está perfeita, a última coisa que alguém

repara é na roupa, porque temos uma gótica, a Kat, vai por mim,

qualquer implicância de estilo vai toda para ela.


— Eu conheço Katherine, meio estranha...

— ''Meio'' é uma maneira muito educada para se referir a

Katherine, ela é completamente esquisita. Então, podemos ir?

Pega a bolsa em cima do sofá.

— Ok. — concorda. — Podemos ir.

Após contar para meus pais sobre Nicole, minha mãe quis
logo conhecê-la. Meu pai tem mais receio, porque entendeu os

traumas de Nicole e está um tanto nervoso diante desse encontro.

Agora teremos um jantar para que Nicole conheça a todos,

isso inclui os Vesentini, já que são agregados dos Bertollini.

Aonde um Bertollini vai, um Vesentini vai atrás. O contrário

também ocorre.

Dez minutos depois estaciono o carro a frente da casa dos


meus pais.

— Aqui é sempre tranquilo ou pediu isso por minha causa?


— Nicole olha para mim, imagino que está se referindo a falta de

seguranças armados.

— Por você, para que fique tranquila. Tem um pessoal

fazendo a segurança, mas sem armas a sua vista.


— Eu ficaria nervosa diante de armas gigantescas.
Obrigada por isso.

— Agradeça ao meu pai, ele fez um esquema especial


para termos segurança, mas que você também se sinta segura.

— Fernando parece ser um bom homem.

— Ele é. Não precisa ficar nervosa.

— Eu nem sei o que falar, Dan!

— Não precisa dizer nada. — nem reclamo do apelido. —


O povo vai tratar de nos dar entretenimento suficiente para essa

noite de hoje.

— São todos loucos como Katherine?

— Não, ela é a pior, mas tem algumas pessoas aí dentro

que têm alguns graus de imbecilidade. Podemos entrar?

Nicole olha para frente, vejo que respira fundo.

— Ok. — concorda. — Podemos ir.

Saímos do carro. Nem precisamos entrar para escutarmos


os gritos de Katherine, Karen e Felipe. Não é nada de desespero,

deve ser mais uma das discussões entre os três.

Abro a porta e aí estão eles.


— Mas por que tia Kat é tão chata, tia Karen? — Felipe

cruza os braços.

— Felipe, sua tia é uma imbecil!

— Karen! — Kat grita. — Um apoio moral seria incrível


agora...

— Tia Kat tá de castigo! — Felipe começa a cantar. — Tia


Kat tá de castigo!

— Boa noite criaturas divinas. — os três olham pra mim. —


O que está acontecendo aqui?

— Acontecendo que não deveríamos sair de casa, mas


saímos de casa, então meu pai nos colocou de castigo. — Karen

responde. — Cara, falta pouco para eu ter dezoito anos, como


posso estar de castigo?

— Eu tenho dezenove anos, Daniel! — Kat bate no peito.

— Eu quero ser gangster! Quero arma biológica*! Como causarei


a merda de um caos estando de castigo? E cara, Fernando nem é
meu pai! Mas ele se mancomunou e fez a cabeça do meu pai!

Estamos de castigo!

— Se deram tão mal... — Felipe cantarola.


— Sabe o que é pior? Somos babás, Daniel! — Karen

aponta para Felipe. — E o idiota do Leonardo mandou Felipe nos


importunar!

— Mas para onde saíram?

— Respirar por aí!

— Respira dentro de casa. — retruco para Katherine, que


faz uma carranca. — Adorei o castigo que Leo deu...

— Ah, Daniel... — Karen fecha os olhos e respira fundo.


Depois abre os olhos e olha para Nicole. — Ele também é chato

com você?

— Sim, muito.

— Nicole!

— Irmão mais velho sempre sendo um chato. — Nicole


sorri.

— Eu achava que vocês coisavam. — Kat, como sempre,


sem filtro. — E são irmãos.

— O que é ''coisavam''? — Nicole pergunta.

— Não sabe o que é coisar? — Nicole balança a cabeça,

negando. — Praticar saliências. — Kat e seu vocabulário... —


Mas agora vejo que seria incesto.
— Kat tem um vocabulário muito particular. — sussurro
para Nicole, porque ela já tinha a imagem estranha de Kat, agora
deve ter piorado. — E onde estão os outros?

— Mas o que são essas palavras? — Felipe pergunta,


interrompendo que minha pergunta seja respondida.

— Não tem idade para isso, moleque! — Kat empurra


Felipe. — Vai brincar e apenas nos deixe!

— Moça. — Felipe olha para Nicole. — Eu sou o Felipe.


Qual o seu nome?

— Nicole. — sorri para Felipe. — Que menino mais lindo e


educado.

— Piada do dia! — Karen dá risada.

— Felipe lindo e educado, um dia verá como essa criança


é educada... — Kat cruza os braços. — Implicante que só ele.

— Não escute elas, Nicole. — Felipe continua. — É


namorada do tio Daniel?

— Não! — respondemos no mesmo momento.

— Meu garoto já está tendo lábia. — Leonardo se aproxima


junto a minha mãe. — Gosto assim, puxou ao pai e quando
crescer...
Minha mãe dá um tapa na cabeça de Leonardo.

— Tia!

— Não ensine essas coisas a uma criança, Leonardo! Nem

me envergonhe na frente da irmã de Daniel

— Kat já fez isso. — aponto para Kat.

— Deus! — minha mãe olha para o teto, deve pedir

paciência. — Katherine, pedimos que tomasse um calmante.

— Tia, eu tomei o chá de camomila, não adianta nada! E


eu só disse que achei que os dois coisavam, faziam saliências.

Apenas isso, nenhuma vergonha. Se Nicole está vermelha é

porque ela é muito branca.

Olhamos para Nicole, muito vermelha.

— Eu não deveria ter convidado os Vesentini. — minha

mãe sorri de modo mais simpático. — Mas são um bando de


agregados.

— Ei! — Leonardo e Kat gritam no mesmo momento.

— Sou a Sara. — minha mãe dá um abraço em Nicole e

ela retribui.

— Nicole. Obrigada pelo convite. — se afastam.


— A casa sempre estará de portas abertas. — olha para

mim e para Nicole. — Vocês tem o mesmo sorriso.

— De aparência não temos tanto em comum, mas temos

alguns jeitos parecidos. — percebo que Nicole está menos tensa.

— O nosso sorriso é parecido mesmo.

Eu sei que minha mãe deve querer falar algo do passado,

provavelmente falar que se soubesse de Nicole antes, teria feito

algo. Mas eu avisei a todos que isso é terrível! Nicole sente que

as pessoas tem dó dela ou então ela revive o passado.

— Vem, vamos conhecer o resto dos parentes. Já que

conheceu a parte louca, mas ainda falta a Isabella.

Minha mãe nos leva até o fundo da casa, onde uma mesa

enorme está preparada. Meu pai e Marco discutem algo com


Gabriel, e Isabella come uma enorme coxa de frango assado, ela

faz uma pausa quando nos vê e vem na nossa direção, com a

coxa em sua mão.

— Bem-vinda! — tia Isa fica a nossa frente. — Só não te

dou a mão porque ela está suja de frango. Quer?

— Não. Obrigada. — Nicole sorri.


— Desculpa, mas estava com muita fome e demoraram de

chegar...

— Não é educado falar isso, Isabella.

— Ah, fala sério, Sara. Ela é irmã do seu filho, um dia verá

que não somos muito de cerimônias. Falando nisso,

conviveremos todos juntos muito em breve, é bom ir se

acostumando com as doidices daquela ali. — aponta para Kat,


depois Karen. — E com a Maria vai com as outras chamada

Karen.

— Meu Deus! Eu não fiz nada!

— Não fez nada e ficou de castigo até que se case? —


Giulia sai de dentro de casa. — É isso que dar fugir de casa.

— Por que fugiram de casa? — pergunto novamente.

— Ar puro, querido irmão.

— Oi, Nicole. — Giulia sorri. — Desculpa por todas as


vezes que te olhei torto. Mas eu não sabia de você.

— Eu também não me esforcei em ser simpática. — Nicole

sorri de volta.

— Então mudaremos um pouco isso. Claro, se quiser.

— Tudo bem pra mim.


Eu também avisei que Nicole pareceria antipática e pouco

sociável. O seu medo toma a frente, ela pode ser reclusa,


ignorante, antipática, ou apenas muito distante. Ela foi assim

comigo em diversos momentos, demora a confiar em alguém.

Se bem que Nicole confiou em Hugo, mas também lembro

que eu gostei de Jasmine sem nem dar uma palavra com ela.

Falando nisso... Saudades, Jasmine!

Tem dias que não nos vemos, são apenas mensagens e

nada mais.

Ela ainda não falou sobre o casamento, ontem meu pai me

contou e informou que hoje Tyler falaria com ela. Mais cedo,

durante nossas mensagens, ela disse que o pai estava ali para

conversarem. Depois disso Jasmine não disse mais nada.

Volto a minha atenção para o aqui e agora quando percebo

Nicole tensa ao meu lado. Levanto a cabeça e vejo meu pai, tio

Marco e Gabriel a nossa frente.

— Boa noite, Nicole. — meu pai a cumprimenta. — Como

vai?

— Bem, e o senhor?
— Feliz em vê-la aqui, ao lado do Daniel. — meu pai será

ainda mais quieto. Ele realmente não sabe muito como agir diante

de uma pessoa que, claramente, tem medo dele. Acho que

apenas ficará na dele.

— Obrigada pelo convite para jantar.

— De nada. — meu pai sorri. — Esse é o Marco, e esse é

o Gabriel, meu filho.

— Olha, eu achava que você era namorada do meu irmão.

— Gabriel fala.

— Eu disse o mesmo, Gabriel! — Kat concorda. — Mas eu

disse que achava que eles coisavam.

— Que merda é ''coisar'',Katherine? — Marco pergunta,


olhando para Kat de maneira estranha.

— Eu também não sei, vô. — Felipe fala. — Se descobrir

me conta?

— Não é assunto para crianças, meu querido. — Giulia

olha para o filho. — Vocês precisam se conter quando tiver uma

criança no ambiente!

— Na verdade todos vocês precisam se conter quando


temos visita em casa!
— Ah, Sara! — tia Isa continua com o osso de frango na

mão, totalmente limpo. — Nicole conviverá conosco, vamos para


a Itália, ela tem que se habituar aos diálogos estranhos desse

povo todo se intrometendo na vida do outro, das implicâncias, das

ameaças sem fundamento, dessas fugas mal sucedidas. Nicole

tem que se habituar. Você está bem? — Nicole confirma. — Viu


que não somos um bando de assassinos? Não temos cabeças e

pênis como objetos de decoração.

— Deus do céu! — não foi uma boa ideia todos juntos.

— Não, Daniel tinha razão. — olho para Nicole com

surpresa. — Ele sempre me contava sobre vocês, mas eu tinha

medo por conta do meu passado. Mas vejo que são diferentes de
como imaginei.

— Isso é algo bom? — tio Marco indaga.

— É. — Nicole confirma. — Não imaginei que aqui tinham

cabeças e... Isso aí...

— Pênis! — tia Isa complementa.

— Isabella, cala a boca! — minha mãe fica séria.

— Ai, Sara!

— Depois não sabe a quem Katherine puxou.


— Fernando, eu juro que um dia eu vou apoiar Ísis e eu me
juntarei a ela para atazanar sua vida!

Nunca fale que Kat é parecida com Isabella por ser doida!

— Continue, Nicole. — meu pai pede.

— Escutei coisas, por isso tive medo de, um dia, conhecer

a família de Daniel. Mas ele disse que preciso de proteção e me

dará isso. No caso, vocês ajudarão. Quero muito agradecer por

isso também e me desculpar por todos os julgamentos.

— Sem problemas, não fazemos muita questão de mudar

nossa fama. — meu pai tem o tom cordial na voz. — Se

soubéssemos antes, teríamos feito algo.

— Daniel falou isso, mas já passou.

— Se precisar de qualquer coisa, é só pedir. — minha mãe

complementa. — Qualquer coisa mesmo, é só avisar. Podemos


providenciar qualquer coisa.

— Menos uma arma biológica, eles são contra. — escuto o


sussurro de Kat e olho pra ela. — Que é?

Ignoro.

— Obrigada. — Nicole volta a ficar relaxada.


Nesse instante meu celular começa a tocar. Tiro do bolso e
vejo nome ''Minnie'' na tela.

— Pode ficar uns instantes com eles? — sussurro para

Nicole. — Está mais tranquila?

— Sim. — confirma e seu sorriso sincero me deixa aliviado.

— Estou bem, pode ir.

— Não deixe que eles te contaminem com suas loucuras,

minha mãe e Karen são as mais sensatas, depois vem Giulia.

— Eu vou bater no seu filho, Sara!

— Isabella, ele só disse a verdade. — Marco retruca.

— Marco, vá à merda!

Deixo essa conversa de lado e ainda consigo atender


Jasmine.

— Oi. — sua voz é quase um sussurro. — Oi. — aumenta

o tom de voz.

— Oi, como está? — nem acredito que ela me ligou!

— Bem. E você?

— Estou em um jantar em família, apresentando Nicole

como minha irmã.


— E está indo bem? Você me falou dela ser meio
amedrontada por essa vida.

— Estava bem tensa, ansiosa, mas agora relaxou. Você


conhece Giulia, Karen, Felipe e Kat, já viu como Leo e Gabriel
são, então Nicole está muito bem.

— Eu detesto falar por ligação, sério!

— Então deve ser algo importante para ter me ligado.

— Daniel, você sabe do que se trata.

— Não sei não. — sei sim.

— Casamento.

— Ah, casamento. O que aconteceu? — eu sei que ela

deve estar fazendo aquelas caretas de sempre. — Jasmine?

— Eu aceitei o casamento, compre uma linda aliança.

Ela fala tão diretamente, sem rodeios, que me pega de


surpresa.

Mas começo a sorrir e até dou risada.

— O que foi?— pergunta.

— Em uma noite te perguntei se seria rápido ou devagar,


pediu devagar e agora vamos casar.
— É, e ainda vamos para longe. Podemos falar por aqui,
não é?

— Sim, podemos. Foi fácil de tomar a decisão?

— Não. Eu fizdramas, chorei, disse que lutaria por minha


liberdade, que eu seria independente...

— Jasmine, eu não acredito em nada disso. Acredito mais

que tenha aceitado sem pensar duas vezes.

— E por que acha isso?

— Porque eu fiz o mesmo. Eu já te conheço em poucos


dias. Nos gostamos. Confio no nosso ''gostar''.

— Confio na sua promessa.

— Seremos um bom casal, prometo te amar na saúde e na


pobreza, doença, sei lá a ordem desse juramento.

— Que lindo! Em um minuto gosta de mim, no outro jura


amor eterno.

— Isso porque nem tivemos algo a mais. Em breve


teremos...

— Sempre pensa nisso?

— Se eu penso em te beijar por mais de trinta segundos?

Sim, penso muito. Vamos agilizar a papelada e casaremos.


— Tão rápido...

— Não sou rápido em tudo, te juro.

— Besta! — escuto seu riso. — Tenha um bom jantar, não


quero atrapalhar as boas vindas da Nicole.

— Em breve será o seu.

— Cobrarei meu jantar feito por você!

— Na nossa lua de mel eu viro o cozinheiro. Podemos


cozinhar sem roupa alguma...

— Boa noite, Daniel! — fala apressadamente, aposto como

ficou completamente vermelha.

— Boa noite, futura esposa.

*A história de Kat com arma biológica, pandemia e epidemia, é um


assunto que existe na série desde 2017/2018, antes da pandemia do Covid
19.

A história dessa arma é algo que tem ligação com os próximos


livros da série.
Capítulo 16
DANIEL

Horas depois

Há uma poça de sangue abaixo do corpo de Leila.

Suas pernas trêmulas quase não a deixam em pé, ela está


escorada na parede. Como estávamos ocupados no jantar de
boas vindas a Nicole, os seguranças ficaram tomando conta de
Leila.

Aqui é dividido entre seguranças e sicários, os seguranças

seriam os algozes de alguma tortura o sicários são para irem


direto ao confronto.

Mas Leila não foi torturada, porque assim como Milla, ela
estava mais abalada psicologicamente do que fisicamente.

— Finalmente falará algo? — pergunto, olhando para a

mulher a minha frente. — Ou será aquela que morrerá calada?

— Se vou morrer, pra que falar?


— Aplicaram sedativos em você, Leila. Você ficou

completamente tonta, fora de si, acabou falando demais. Falou


que foi criada pelo sistema de Yoshida, o que seria isso?

Diferente de Milla, Leila parece saber um pouco mais.

Porém, pediu para conversar diretamente comigo.

Por esse motivo ela tem uma poça de sangue no chão. Ela

passou por uma cirurgia para tirar um chip rastreador do seu


corpo, ela tinha dois, um no braço e outro na coxa. Como ela ficou

acorrentada, ficou se revirando no chão, os curativos abriram e,

até o momento, seu sangue continua escorrendo.

O que me faz acreditar mais na teoria do meu pai. Milla

realmente não sabia tanta coisa e quer acabar com Yoshida, pois
sofreu mais com ele.

Sobre Milla... Não tivemos grandes notícias, obviamente

retiraram os chips que colocamos e agora a perdemos.

Meu não está preocupado com isso, pois, na teoria dele,

Milla não voltou para Yoshida para nos ferrar, e sim para sofrer.

Meu pai confia cegamente nessa teoria.

— Você sofreu muito nas mãos dele ou está nessa história

por querer? — indago.


Abraça o próprio corpo, descendo lentamente e sentando
no chão.

— Eu juro que não queria... — sua voz falha um pouco.


Abaixa a cabeça e começa a chorar novamente. — Eu não queria

e nunca fiz algo contra vocês.

Eu acho que posso entender o que ela quer dizer com

''criada pelo sistema Yoshida''.

— Yoshida não te contou que eu deveria ser criado em seu

sistema? — levanta a cabeça lentamente, olhando pra mim. —


Sim, Leila. Eu deveria ter sido vendido a ele na infância, ter

crescido com ele. É disso que se trata, não é?

— Eu juro, Daniel. Eu nunca fiz nada contra vocês. Nada!

Eu sei de uma parte desse ''infância crescendo com

Yoshida''.

— Por que, Leila? Por que está aqui por tantos anos?

Quem são vocês e onde seus pais estão?

— Minha verdadeira mãe está morta, e espero que meu pai

também esteja. — engole em seco. — Não deixe os outros

entrarem aqui, tenho medo deles. — sei que está se referindo ao

meu pai e Tyler.


— E por que não tem medo de mim?

— Porque eu sei quem você é, precisei estudar sobre você.

Você seria como eu e sei bem disso, talvez me entenda mais, por

isso pedi para falar com você.

— Pode começar a contar.

Arrasto uma cadeira e sento a sua frente.

— Meus pais biológicos, assim como os seus, trabalharam

para Yoshida, a diferença é que meus pais trabalhavam


diretamente no assunto. Meu pai era o chefe de segurança,
posteriormente virou o homem dos esquemas, minha mãe foi uma

enfermeira sequestrada para salvar a vida do meu pai quando


uma refém conseguiu se defender e cravou um caco de vidro em

seu estômago. Meu pai se apaixonou por minha mãe e manteve


em cativeiro. Ela nunca se apaixonou por ele, mas acabou

engravidando. Ele contou que ela morreu no parto. Meu pai nunca
se importou muito comigo, como era algo muito secreto, cresci em
meio ao caos, vendo tudo. Então Yoshida pensou ''Já que ela viu

tudo, ela vai começar a trabalhar comigo''. Eu lembro de pegar em


uma arma com oito anos de idade, tínhamos aula de tiros, sobre

estratégias, sobre causar sofrimento. A maioria eram filhos dos


capangas, era uma lavagem cerebral. A maioria das crianças
caíam nisso, outras não entendiam nada, achavam aquilo

estranho. Eu fui uma das que tentou fugir aos quinze anos,
quando teríamos que partir para o nosso primeiro trabalho.

Tinham cinco pessoas, comigo seis. Quatro tentaram fugir e foram


torturadas até a morte, antes disso eles assistiram a morte dos

pais. Meu pai me ligou ameaçando, se eu estivesse no meio


daquilo, se eu pensasse em fugir, ele me caçaria, me estupraria
por horas, até a minha morte, e isso demoraria anos de acontecer.

Fecha a sua mão com força.

— Como acabei não saindo do lugar, Yoshida pensou que

fui leal a ele e decidiu me colocar com uma vida falsa para estar
perto de Jasmine. Pode pegar meu celular na minha casa, está
escondido em uma parede falsa, perto da banheira, verá

inúmeras ameaças ali, se tiver sorte, talvez consiga algum modo


de rastrear e chegar ao meu pai. Eu fui ameaçada e recebi as

fotos da minha mãe... — para de falar, aperta os dentes um no


outro. — Completamente ensanguentada, suja de sangue, suja de

esperma, muitos homens a estupraram... Ela não morreu no


parto. Meu pai é um filho da puta sádico que prendeu a minha
mãe para ser sua escrava sexual. E para me ameaçar ainda mais,
mostrou a foto da minha mãe daquele jeito, porque ele prometeu
que a cada acerto meu, seria mais chance dela viver.

Sinceramente, eu não duvido em nada da sua história.

— Mas ela morreu. E não foi minha culpa. Meu pai teve um
excesso de fúria e a assassinou, mandou a foto pra mim, ele

contou detalhes de tudo. E foi por isso que não prossegui com o
plano de Yoshida contra Jasmine. Eu já tinha perdido minha mãe,
pra que eu iria continuar?

— Mas continuou, Leila. E nunca nos contou nada...

— Eu não queria me meter, nisso, Daniel. Eu queria fugir,


mas eu sabia que tinha rastreador em algum canto, pode me
limpar, verá que tenho cicatrizes de cortes, eu mesma fiz, mas

entendi que estava muito profundo e não conseguiria retirar nada,


passava maquiagem por cima para que ninguém desconfiasse.

Eu vi o que meu pai fez contra a minha mãe, acha mesmo que eu
iria dar uma de heroína? Eu não seria uma vilã, mas também não

seria a salvadora da pátria para correr o risco de perder minha


vida de maneira brutal.

— E agora conta tudo na esperança de?


— Na esperança que acreditem em mim. Imagino que
tenham alguma noção de como Yoshida é, então podem acreditar
quando falo que sou uma vítima dele. Que lembre que nunca fiz

algo contra Jasmine ou Giulia. Eu me forçava a tentar algo, mas


nunca conseguia, tanto que nem Jasmine e Giulia vão muito com

minha cara. Não disfarcei o suficiente.

— Qual o seu intuito de me contar tudo?

— Quero que acabem com Yoshida. É absurdo o tanto de

crueldade que ele faz, o que seus capangas fazem, e ninguém

consegue pega-los. É absurdo!

Outra que diz que prefere contar tudo e ver Yoshida

morrendo...

— Como é o nome do seu pai?

— Pai, esse é o nome dele. Eu não sei, eu odeio chama-lo


de pai, mas não sei seu nome! Sei seu rosto, mas não nomes. —

seu riso é bem amargo, carregador de dor e de raiva. — É uma

loucura, Daniel. Pense em um grupo terrorista, é aquilo.

Acampamentos, complexos onde todos moram juntos e tem a


mesma insanidade. É doentio.

— E como fazem tudo isso sem que chamem atenção?


— Eu cresci em um complexo que era visto como um

orfanato, provavelmente tem mais locais assim. Complexos onde


as pessoas acham que é uma coisa boa, mas, na verdade, é

muito ruim. Tem gente muito poderosa por trás disso, você sabe.

Vocês precisam de gente poderosa nos negócios, imagina um


negócio que envolve vender pessoas?

— Muito lucrativo para que Yoshida tenha tanta gente ao

seu favor.

— O cara tem alta tecnologia, Daniel. Os sistemas de


seguranças onde as senhas são as íris, batimentos cardíacos,

reconhecimento facial... Eu sei que tem alguns locais que Yoshida

tem acesso direto a rede telefônica e de internet. Mas não sei


onde, lá no orfanato eu escutava falar disso.

— Estaria disposta a nos contar muitos detalhes?

— Se me protegerem, se não me espancarem... — olha

para o corte em sua coxa. — Vocês já retiraram os rastreadores, o


que eu sempre quis que acontecesse. Mas eu sei que não tenho

qualquer garantia de sair viva disso.

— Se sua história mostrar veracidade, se for mesmo uma

vítima, garanto que não faremos nada contra você.


— Eu não vou contar tudo de vez, porque não sou idiota.

Se me torturarem eu juro que morro calada. É uma via de mão

dupla, precisa haver confiança. Sei que não confia em mim, eu


confio em vocês para acabar com Yoshida, mas não confio em

vocês para me manterem viva depois que eu contar o que sei.

— E se não for informações relevantes?

— Eu sei de, pelo menos, dois locais onde vivi e que


estavam cheios de gente culpada, era o orfanato, eles

desativaram aquele local, mas ainda funciona como uma espécie

de abrigo de sem teto, mas é tudo mentira. Lá só tem gente com


culpa mesmo, sem qualquer inocente. Sei de outro local onde até

seis anos atrás eles colocavam suas vítimas para esperar os

compradores, sei de algumas estratégias deles e alguns métodos

de encontrarem vítimas. Pode ser importante.

É importante.

— E quem é Yoshida? Seus comparsas?

— Aí já é querer saber demais, eu não sou importante o

suficiente para ver seu verdadeiro rosto. Acho que nem meu pai é
importante a esse nível. Os meus pais falsos eram nada mais,

nada menos, que olheiros. Além de me vigiarem, vigiavam vocês.


— Onde eles estão agora?

— Mortos. — ela sorri. — Ainda bem que morreram. Foi aí


que entendi que eu tinha rastreadores. Se mataram meus vigias,

não eram por confiarem em mim, era porque tinham outro método

de me espionarem. Talvez câmeras lá em casa...

— Por que eles morreram?

— Meu pai biológico, em uma de suas ameaças, contou

que os dois tentaram fugir e foram assassinados. Os pais falsos

tentaram escapar e morreram.

— Por que Jasmine?

— Porque é a filha de Tyler.

— Qual o propósito desses ataques?

— Caos! Nada além do caos. Claro, deve querer roubar


alguma coisa. Mas Yoshida ama o caos. Ele gosta de ser

lembrado, mas não gosta de ser noticiado. Escolhe os locais

menos conhecidos internacionalmente. E sabe de algo? Claro que

sabe. Ele geralmente escolhe locais onde o crime comanda mais


que o Estado. Porque acontece uma coisa nesses locais...

— O Estado acoberta criminosos, ganham com eles. Os

criminosos mantém a situação controlada enquanto os políticos,


homens das leis, ficam com a imagem intacta e o local é visto

como seguro. Tem muita coisa suja nas mãos deles. Se Yoshida

entrar em ação nesses locais, o Estado não vai querer a atenção

voltada para eles, porque Yoshida deve ter a carta na manga,


deve saber os podres de presidente, governadores...

— Sim, exatamente isso. Locais de primeiro mundo, onde

as leis acontecem, onde realmente combatem o crime, não serve


para Yoshida, porque ali chamaria atenção internacional e seu

nome se espalharia com mais facilidade. Mas os locais onde

corruptos e o crime organizado dominam? Não, eles querem

menos atenção possível e trabalham entre eles para acabar com


Yoshida. Só que aí, primeiro, eles precisarão investigar quem é

essa pessoa, porque tanta gente some...

— Leila, tem um detalhe na história de Yoshida que


acontece nesse país,ele já falou quem é. — Leila pisca os olhos,

atônito diante da minha confirmação. — Há vinte anos ele esteve

aqui, tempo suficiente de sabermos quem ele é.

— Yoshida falou quem ele é? Quero dizer, que é ele aqui?

— Não sabia disso?


— Não, sempre é sigiloso. Ele até deixa pistas que é ele,

mas não diz logo de cara, ele gosta de fazer o povo descobrir. —
ela parece confusa. — Então é algo muito pessoal, Daniel. Um

jogo psicológico de Yoshida, onde ele quer começar o caos já

dizendo quem ele é.

— Yoshida nunca fez isso?

— Não que eu saiba.

Levanto da cadeira, saindo do quarto onde Leila está.

Meu pai me encara, em busca de alguma resposta. Tyler

também se aproxima.

— Leila sabe de alguns locais importantes de Yoshida. —

informo. — Só que ela quer uma garantia que ficará bem.

— E quem garante que ela é confiável? — Tyler questiona.

— Não temos garantia nenhuma, só que ela pode ser igual

a Milla. Sofreu tanto que prefere se juntar a outras pessoas do

que compactuar com Yoshida, que a fez sofrer.

— Eu entreguei Milla para o sofrimento. — meu pai


recorda. — Acreditei que ela sofreu, por isso devolvi a Yoshida,

ele se vingará dela com mais sadismo que eu.


— Só que Leila está contando que ela cresceu nisso.
Lembra o detalhe de crianças sendo criadas para o exército de

Yoshida? — ambos confirmam. — Ela conta que é uma delas. Diz

até que seu celular tem ameaças do seu pai, fotos da sua mãe
morta, estuprada...

— E onde está esse celular? — Tyler pergunta.

— Escondido na casa dela.

— Não existe mais casa. — Tyler informa. — Tem dois dias


que a casa foi incendiada. Inclusive mandei alguns homens irem

até lá, mas chamaram a polícia, pois acharam que era uma

invasão, na madrugada colocaram fogo em tudo.

— Os pais falsos dela já estão mortos. — também informo.

— Então só temos uma garota que teve uma vida falsa


para entrar na vida de Jasmine, uma garota que foi criada no

sistema de Yoshida e agora diz que vai ajudar se a ajudarmos. —


meu pai solta um riso, mas nada com humor. — Diferente de

Milla, Leila pode saber manipular. Leila foi criada naquele sistema.
Mas ela será presa. Para que não tenha qualquer treta entre nós
dois, Tyler. — olha para o outro homem. — Chame homens da

sua maior confiança, aqueles que você acredita que são muito
fieis. Eu chamarei os que acredito que tenham fidelidade. Vamos
manter Leila no local mais seguro e vigiado que pudermos. E, se
possível,chame pessoas que não são manipuladas e conseguem

ler outras. Que conseguem enxergar mentiras, que conseguem


perceber brechas nas histórias. Será como Hugo, veremos se
Leila consegue contar a mesma história sem parar. E uma coisa é

certa, nem dopando essa garota ela fala algo por muito tempo. O
que mostra que foi muito bem treinada.

— E eu posso saber quem comandará essa parte das

ações? — pergunto.

— Uma pessoa que consegue me tirar do sério e consegue


tirar Yankee do sério, e, por causa, desse seu modo de agir,
acaba incomodando, deixando com raiva e, até mesmo,

descobrindo algumas respostas. Consegue ler das mais simples


jogadas as mais complexas.

— Gabriel. — concluo.

— Exatamente. Ninguém dá muito por ele, e por isso acaba


sabendo das coisas antes de todos. Como no caso dos De Rossi,
Gabriel entendeu a jogada do casamento e já sabe o que fazer,

ele que também entendeu sobre a faculdade, sobre Leila... Ele


ficará a frente disso. E você. — aponta pra mim. — Continue
tentando sobre Rachel, ela está escondendo algo. Uma pena que
ela possa ter sequelas do tiro na cabeça, porque ela sabe de algo
e não quer contar.

— Pode ser algo sobre meus filhos? — olhamos para Tyler.

— Ela ficou estranha justamente quando falamos de Alex e


Allan. — meu pai responde. — Precisamos entender o que eles
fazem aqui.
Capítulo 17
JASMINE

Dois dias depois

Apesar de gostar de Daniel, sentir atração por ele, devo


falar que ainda acho estranho ter que casar sem ao menos
conhecê-lo direito.

É uma vida sendo construída ao lado dele. Se eu pensar


muito no assunto acabo entrando em pane! No caso, entro em

diversas paranoias, fico com medo. E não preciso disso agora.

— Eu acharia bem estranho ter que me casar com um


desconhecido. — paro de me olhar no espelho e encaro Alex, que

está na porta do meu quarto. — Casar para o bem dos negócios,

não se sente usada?

Alex e Allan estão aqui há dias. Nunca tivemos uma


conversa bem profunda, mas também não nos comportamos

como estranhos, conversamos, rimos, assistimos algo juntos... É

normal.
— Sim. — faço um sinal afirmativo com a cabeça. — Mas é

aquilo, alguns sacrifícios precisam ser feitos para um bem


comum.

— Por isso eu não me daria bem por aqui, não estaria


disposto a tanto. Se bem que acho que Fernando nem teria uma

filha pra mim, ou teria?

— Eu acho que você sabe a resposta para isso, Alex. —

sorrio para ele, mas Alex sabe que é pura falsidade. — Sei que
sabe.

— Ainda acham que estou aqui para causar o caos?

— Você que está dizendo isso, eu apenas estou me

arrumando para conhecer a família Bertollini.

— E aceitaram minha presença numa boa? — arqueia uma


sobrancelha e cruza os braços. — Deveria me preocupar?

— Talvez. — sorrio novamente. — Onde Allan está?

— Conversando com Tyler.

— Allan é mais próximo do nosso pai, ainda sente muito

pelo que passou?

Para a minha surpresa, Alex não vai embora. Sempre que

tento saber um pouco mais sobre o assunto Alex se afasta, mas,


dessa vez, ele continua no lugar.

— Allan fala pouco, parece bem mais mal humorado,

porém, ele é o que mais esperou para reencontrar Tyler. —


responde. — Eu só queria um local seguro para ficar, não um

relacionamento amoroso, saudável, entre pai e filho.

— Nem quer tentar? Meu pai até tenta se aproximar, mas...

— Não estou afim.

— Não quer o amor dele, mas acredita que ele vai te

proteger?

— Sim.

— Um dia contará tudo, Alex? Você parece ser super legal,

às vezes é bem engraçado, mas você se bloqueia, não permite


mostrar tanto assim. Coloca uma pose arrogante que acaba

quebrando toda a simpatia que temos. Por quê? — não responde.

— Você acha que meu pai mentiu? Acha que meu pai realmente

te abandonou? A certidão de óbito é falsa, obviamente, mas você

acha que foi falsificada pelo nosso pai? O que te impede tanto de

continuar? De tentar ser mais legal? De se abrir mais?

Sua resposta é apenas encolher os ombros e sair da porta

do meu quarto.
Dou um longo suspiro, já cansada disso aqui.

Eu vejo que Allan e Alex escondem algo, e se eu vejo, meu

pai também vê. E aíque fico confusa, os dois estarem com a filha

e esposa de Tyler, de, até mesmo, irem nesse jantar de noivado


com os Bertollini.

Então seria mais uma armadilha do meu pai? Coisa que ele

disse que não faria novamente sem me contar, ou os irmãos já


provaram que são verdadeiros e meu pai não contou nada?

— Ei, garota, por que tanta preocupação? — minha mãe


passa a mão na minha testa, acho que está esfregando para que

eu pare de franzir. — Vai, muda essa cara se não terá rugas muito
cedo.

— Alex é estranho.

— Quantas vezes eu já disse para fechar a porta do

quarto?

— Estava fechada, mas eu já terminei de me arrumar, ia


sair e lembrei de colocar os brincos, vim colocar e me olhar no

espelho, aí Alex ficou me encarando e falamos um pouco.

— Algo de grande importância para que tenha feito essa

careta?
— Mais palavras que parecem enigmas, quero dizer, a

atitude de Alex é enigmática.

— Às vezes acho que Alex é mais difícilde lidar, sendo que

o Allan parece ser mais antipático. Na verdade parece que ambos


vivem de personagens, mas acabam se perdendo e mostrando a

verdadeira face. Mas não pense nisso agora, agora é o momento


de pensar no jantar de noivado. — seus olhos começam a brilhar.

— Nem acredito que está prestes a casar.

— Sabe quando isso acontecerá?

— Sabe bem que se fosse apenas seu pai seria algo

rápido, imagina para Fernando Bertollini que manda muito mais?


Com certeza será em dias. Não será no religioso, obviamente.

— Está mais feliz do que com Romeo.

— Quer comparar mesmo, Jasmine?

— Não quero comparar, mas a situação é super parecida.

— Ok, entendi tudo! Você quer que eu comece a falar os

motivos bons para que você fique mais otimista, acertei?

Sorrio para o acerto da minha mãe.

— Mãe, querendo ou não, estarei dividindo uma vida com


desconhecido. É algo muito íntimo! Eu nunca viajei com qualquer
amiga, nem mesmo viajei sozinha, sempre estive na sua cola,
porque eu queria, agora eu simplesmente dividirei uma casa com
um marido? — ela sorri amplamente e balança a cabeça. — Ai,

mãe! Dividir um quarto, uma cama, ficar nua...

— Garota, ficar nua com o Daniel Bertollini! — sussurra. —

Sortuda é você, menina! — bate no meu ombro. — Ainda dói?

— Não, as feridas estão completamente cicatrizadas, a


coluna ainda dói, no entanto, bem melhor que antes.

— Voltando ao assunto, Romeo era bem bonito também,


no entanto, era aquela coisa de ''santo não bateu''. Não íamos

com a cara dele de modo algum. Quando digo ''é o Daniel


Bertollini'' não falo sobre o dinheiro dele...

— Fala sim!

— Não é sobre o dinheiro dele, Jasmine!

— É sobre o dinheiro dele e o poder que ele exerce!

— Não é não!

— É sim, sim!

— Não é...

— É!
— Ok! — grita. — Você me faz parecer uma mercenária
desse modo! — cruzo meus braços e a encaro. — Ok, Jas. —
volta a se recompor e a sussurrar. — É sobre o dinheiro também.

Um herdeiro bilionário, garota! Eles têm aviões! Eles podem


montar uma companhia aérea pelos aviões que possuem. Uma

linha aérea para traficar drogas e ficarem ainda mais ricos!

— Eu sabia que é sobre o dinheiro.

— Fala sério, Jasmine! Esse lance do cara bilionário atrás

da garota suburbana parece algo de livro. Ok que não somos

pobres, mas olha só o desnivelamento de conta bancária. Eu


serei sogra de um bilionário! Você pode até comprar uma ilha

particular lá na Polinésia Francesa para essa mãe aqui que nunca

te abandonou.

— Já estamos pedindo presentes sem nem ter assinado


nada?

— Jasmine, uma ilha particular minha, não do seu pai

porque ele já ganhou um negócio. Uma ilha, um carro muito caro,

eu não entendo de carro, mas quero algo caro!

— Só isso?
— Não! Sempre que eu quiser viajar, quero um avião

pronto para mim e quero pedidos em abertos, porque, em algum


momento, vou querer algo mais.

— Meu pai sabe dos seus sonhos burgueses?

— Sabe e me apoia nessa extorsão. Garota, se você não


aproveitar sua vida bilionária... — balança a cabeça de um lado

para o outro. — Não saberá viver o lado bom da vida! Mas

voltando ao assunto, Daniel é riquíssimo e tem algo ainda melhor

nele, como pessoa, dizem que ele é muito bom. Bom no sentido
de não fazer mal a qualquer um. E do jeito que esses maridos

tratam as esposas, não sei se Daniel conseguiria fugir dessa

regra. Capaz de Fernando dar uma surra, esfolar o filho. — toca


meu rosto. — Seja feliz, minha querida. E não se esqueça, se

Daniel fizer merda, seu pai mata ele, mesmo que mexa com a

máfia italiana todinha.

— Daniel não é mais da máfia.

— Melhor ainda, menos gente para a retaliação. — beija

meu rosto. — Esse batom é perfeito, não deixa qualquer marca.

Agora vamos, que a noiva atrasa no casamento, não no jantar de


noivado.
Essa questão da família de Daniel me tranquiliza, pois

lembro de Giulia elogiando seu irmão, lembro dela falando sobre

a família, Fernando e Victor Bertollini, serem completamente


diferentes com suas esposas, nada de tratamento severo, de

agressões, são maridos do jeito que deve ser.

Nessa vida bandida eu vejo dois tipos de homens: os que

amam e respeitam a família e os que são uns escrotos, monstros.

Tem aqueles que amam suas esposas e filhos e aqueles

que agridem ou rejeitam.

Aqui na M-Unit quando sabem dessas agressões há

castigo, há agressões... Às vezes a raiva é tanta que até matam


esses homens.

Ah! Mulheres também. Aqui tem membros mulheres,

algumas são uns seres monstruosos com seus filhos, o castigo é


igual.

E é por isso que o medo não é tanto de estar com Daniel,

porque eles também têm essa regra sobre família. Tenho mais o

medo do novo do que medo de Daniel me maltratar


.

— Será difícilmanter minha pose gangster pesado quando

você assinar o maldito papel. — meu pai fala comigo quando


chego a entrada da casa, onde o carro já está pronto para nos

levar.

— Maldito papel que te dará muito lucro. — sorrio para

meu pai. — Vai casar sua única filha.

— Nem me lembre disso, Jas. — fecha os olhos e depois


abre novamente. — Mas esse seu sorriso mostra que é um bom

negócio para você também. Exija muito, compre tudo no cartão de

Daniel!

— Então eu serei a esposa que gasta o dinheiro do


marido? — arqueio uma sobrancelha para meu pai.

— Aquele cara tem dinheiro, gaste mesmo, gaste comigo

também. Aceito coisas de playboys, mas nada desses playboys

que vem aqui comparar droga, que são um bando de frouxo, e


sim playboy com estilo, entende?

— Ah, Deus! Então é meu papel dar presente para vocês

usando meu futuro marido?

— Mas é claro! — minha mãe responde rapidamente.

— Também vão querer? — olho para Allan e Alex.

— Não, obrigado. — Allan sorri. — Mas minha cor preferida

de carro é vermelha, e gosto muito de modelos como Ferrari.


— Eu gosto de branco ou preto. — Alex continua. — Mas

não precisa. Se bem que eu também gosto de SUV.

— Ok, roubarei os Bertollini!

— Não é roubo, é um agrado a sua família. — meu pai me


faz olhar para ele. — E você terá algo, tenho certeza disso.

Sempre temos que colocar coisas legais em seus nomes. Por

falar nisso, você vai começar a ganhar o dinheiro de suas


empresas, queira ou não.

Meu pai tem pequenos negócios em meu nome, como

nunca tive uma amiga diferente de Giulia — Leila não conta —,

nunca tive muito com o que gastar, nunca peguei no dinheiro.

— Ok. — concordo. — Podemos ir agora?

— Ah, Deus. — meu pai respira fundo. — Vamos. Pela

primeira vez, jantaremos com os Bertollini como se fosse algo

normal sendo feito.

— Normal não é, vai por mim, pai. — eu só conheço uns

integrantes e já acho loucura, imagina todos juntos? — Pelo que

já vi de Felipe, Kat, Leo e Gabriel, normal esse jantar não será.


Capítulo 18
JASMINE

— Eu tô chocada que Tyler é o Lebron James gangster e a

Ingrid é a Ciara. — essa é a primeira coisa que Kat fala quando


vem me cumprimentar. — De onde saiu sua cara com traços
asiáticos?

— Parentes paternos. — sorrio para ela. — Oi, Kat, como


vai?

— Desculpa, Jas, apenas impressionada como eles são


idênticos ao Lebron e a cantora Ciara. — Kat sorri. — E que

irmãos são esses? Estou muito desatualizada.

— O tal Alex me encara demais. — Karen se aproxima. —

Eu vou manda-lo a merda se ele não parar.

— Oi, Karen.

— Oi, Jasmine. — sorri. — Desculpa, convivo com Kat,

perco um pouco da educação.


— Ai, Karen! — Kat quase esperneia. — Desculpa! Eu não

queria te colocar de castigo!

— Castigo aos vinte anos?

— Kat está quase nos vinte, eu ainda farei dezoito. Mas

sim, estamos de castigo porque saímos de casa. Fui seguir essa


doida e me dei mal.

— E o que foram fazer?

— Tomar ar puro. — respondem juntas e sorriem no

mesmo momento, uma clara mentira.

Eu nem entrei na casa ainda.

Meus pais e irmãos já entraram, eu fiquei aqui conversando

com Kat e agora com Karen.

— Essa casa é de quem? — pergunto.

— Do meu vô Yankee. — Karen responde. — Um território

seguro.

— Como está o clima de não estar na máfia? — pergunto.

— Minha querida, agora podemos formar nossa própria

gangue. — Kat fica a minha frente, sussurrando. — Não tem mais

uma máfia, quero dizer, quem é a Nostra sem os Bertollini e

Vesentini? Nada! Faremos drogas e o principal, a arma biológica!


— Oi?

— Arma biológica, Jas! Pensa comigo, é mais agonizante

uma arma biológica do que uma AK-47, uma metralhadora...

— Quer outra pandemia? — Karen pergunta. — Quer uma

arma biológica para termos um caos no mundo?

— Não causaremos pandemia alguma! Causaremos uma

epidemia nos centros operacionais de Yoshida. Como ninguém vê

a genialidade da minha gangue feminina do equilíbrio?

— Gangue feminina do equilíbrio? — olho para frente, sei

que essa moça é a Sara. — Eu já disse a Isabella que você

precisa voltar ao psiquiatra.

— Tia, quando minha arma der certo, vocês se ajoelharão

aos meus pés. — Kat levanta o dedo. — Tenham um bom jantar, a

diva gangster aqui está partindo em retirada. Quem vê cara não


vê coração, vai entrar comigo? — pergunta a Karen.

— Meu codinome não é esse, Katherine!

— Diva cacheada, podemos entrar?

— Agora sim.

Elas entram na casa.


— Eu ainda não sei até que ponto essa história é real. —

Sara murmura quando as duas passam por ela. — Oi.

— Olá.

— Sara. — ela me cumprimenta.

— Jasmine, mas acho que já sabe disso.

— Giulia me contava sobre você. Sempre tive curiosidade


de conhecer a garota que fez amizade com a filha de um quase

inimigo. E nunca imaginei que seria minha futura nora.

— Nem eu imaginei, porque nem o conheço direito. No

caso, não conheço Daniel da maneira correta.

— E está bem com isso?

Eu nem penso tanto na hora que respondo, apenas sai


uma palavra:

— Sim.

— Aposto que é como Giulia, viveu nisso esses anos

todos, mas nunca tão inserida no assunto. — seu sorriso mostra


que ela não está tão confiante na minha resposta. — Aposto que
não está cem por cento bem.

— Não, não estou. — confesso. — Estou tentando. É meu


mundo, mas parece que é algo muito distante do que já vivi.
Ainda é confuso pra mim, não consigo negar isso!

É um casamento arranjado, vou com a cara do noivo... Ok,


gosto do meu noivo! Mas ter que dividir minha vida com ele me

causa bastante ansiedade! Quase pânico!

— Imagina como foi pra mim que nem ao mens sabia que

pertencia a esse mundo? Eu entendo o que quer dizer. Eu passei


por essa indecisão de querer, achar ok, ao mesmo tempo pensar
em como viver nesse mundo.

— Mas não é filha de Yankee?

— Ele escondeu a vida criminosa da famíliatoda, esposa e


filha, não sabíamos de nada, foi um choque quando me contou.
— eu não sabia disso. Como conseguiu esconder por tantotempo

uma vida criminosa?

Ah... Deus! Agora a fichacai. Do mesmo modo que muitos

acham que Fernando é o chefão, somente quem está inserido no


assunto sabe a verdade, porque Fernando e Marco não são tanto

de aparecer. E o Yankee? Bem, a maioria nem sabe quem ele é...

Eu verei Yankee pela primeira vez! Quero dizer, serei uma


das poucas pessoas que verá seu rosto.

Uau!
Agora a ficha cai.

Verei chefões, que são como lendas, ao vivo, a minha

frente!

— Foi um choque. — volto a prestar atenção em Sara,


depois que minha ficha cai. — Ainda mais quando contou que

meu avô e o de Isa estavam presos por assassinato. Eles já estão


mortos agora, morte natural. Estou falando isso porque Daniel
comentou sobre você saber que o casamento é necessário, mas

tem receio.

— É complicado.

— Eu sei, vivi esse drama com Fernando. Vamos combinar,


vivemos em algo completamente errado. A consciência pesa em

vários momentos, mas acho que não é disso que estamos


falando, e sim o medo de estar em um novo negócio, nada a ver

com a M-Unit. Da minha parte sempre tivemos um diálogo, entre


Fernando e meu pai, não tão amistoso é mais sobre Fernando me

tratar bem ou ele pagar caro, com a vida. Mas Fernando é difícil,
não sente medo algum do meu pai, então ele me trata bem
porque me ama. E vai por mim, educamos esses filhos, alguns

são bem retardados...


— Mãe! — escuto o grito de um homem, e talvez seja de
Gabriel. É ele, a voz dele é menos grossa que a de Daniel.

— Outros sensatos.

— Isso é comigo! — sei que é a Karen.

— Mas nenhum ser escroto. — Sara termina sua

conclusão.

Nesse momento Gabriel passa pela mãe e me


cumprimenta.

— Olá, cunhada. — cara, é sério, ele parece com Daniel!

Dizem que a convivência, mesmo de filhos adotivos, faz com que

se pareçam com alguém da família. E os irmãos têm muitos


traços parecidos. — Deveria ter imaginado sobre os dois quando

vi aquele sorrisinho sem graça na faculdade.

— Eu estava assustada com a máfia toda na faculdade e


me cumprimentando.

— Agora ficará acostumada com nossas caras e conversas

sem grandes sentidos. Bom te conhecer sem que pareça que vai

desmaiar. Bem-vinda a família, mas eu não estarei aqui para o


jantar. Daniel é um cara perfeito, não apenas porque é meu irmão,

mas ele é minha meta de vida, igual ao meu pai. Daniel é incrível!
— Vendendo bem o irmão, ganhou quanto?

— Ah, apenas um ano de combustível grátis, quanto mais


eu economizar, mais rico fico. — dou risada quando Sara cruza os

braços e encara Gabriel. — Mentira, falei bem de Daniel porque o

amo.

— E pelo combustível grátis. — acrescento.

— Tá caro abastecer meus dois carros, preciso extorquir o

herdeiro.

— Ganhou combustível só para elogiar? Daniel não é


tonto. — Sara continua encarando o filho.

— Vou substitui-lo no trabalho para que ele possa ficar

mais com Jasmine.

— Agora tem mais sentido.

— Sim, mãe, mas não conte para meu pai, ele tem que

achar que estou nessa parte dos negócios por puro amor, não por

combustível gratuito. Agora preciso ir.

Gabriel e despede e vai para a casa da frente.

— Daniel sabe escutar um ''não'', então, não tenha medo

de negar qualquer coisa. — Sara continua sua fala sobre Daniel.

— Ele é mais fácil de lidar do que Fernando. Meu marido é mais


fechado, um pouco frio com pessoas distantes, Daniel é um

pouco mais aberto. Conversar com Daniel é bem fácil. E te digo,

se não quiser nada, e só quiser o contrato mesmo, pode falar. Ele


pode até tentar de conquistar, mas acredito que não forçará nada.

No entanto, seria bom tentar ter um casamento real com meu

filho, Daniel é uma pessoa muito incrível, quando bati os olhos

nele, vi algo especial...

— A mãe vendendo o peixe. — sorrio.

— O tanto que Daniel está animado para esse

casamento... — suspira. — Mas está livre para escolher. E se, por


acaso, Daniel fizer merda, acredito que não fará, mas se fizer,

pode falar comigo e eu conto a Fernando, Daniel terá uma

conversa muito séria, talvez dolorosa, com nós dois. Não

aceitamos qualquer ser abusivo na família. Mas isso também não


quer dizer que Daniel só será bom pela ameaça.

— Exatamente esse fator que me deixa mais calma em

relação ao casamento. Já escutei falar da família Bertollini e Giulia

me falava sobre como se tratam, então além do caráter, imagino


que Daniel foi muito bem criado e educado.

— Seria ainda mais perfeito se não tivéssemos uma

dinastia mafiosa envolvida, mas não tem muito para onde correr.
— Não mesmo, já que também me envolveram nisso.

— Bizarro como tudo está ocorrendo, os alvos, os planos.


Mas não estamos aqui para falar de algo tão terrível. — estica a

mão na minha direção e eu aperto. — Bem-vinda a família. Devo

avisar que nada do que ver aqui essa noite nos representa.

Fernando e Marco não admitem que sejamos taxados de doidos


por Tyler, então todos os sem noção da família estão sérios, para

causar uma boa impressão. Até Felipe e Leo estão bem calados,

esperam que Kat também fique.

Eu tenho que rir disso.

— Sim, Jasmine! Kat e Felipe quietos! Leonardo nem se

fala, tem que se mostrar um futuro braço direito bem responsável.

— Ah, mas eu vendi a imagem de alguns deles como


loucos.

— Quando pegarem a intimidade, aí teremos conversas

sem noção durante a noite toda, mas, agora, todo mundo bem

formal para esse jantar. — me leva para dentro de casa.

Caramba! Isso aqui é a casa de Yankee?

Se a dele é assim, imagina a de Fernando e Sara?


É simplesmente enorme, a decoração é totalmente clean,

mas é algo que você vê o bom gosto de cara, os cristais, até

mesmo o elevador, os quadros...

E quando chego aos fundos da casa... Praticamente uma


praia particular em forma de piscina.

— Que família burguesa incrível, Jas! — minha mãe se

aproxima quando Sara se afasta. — Olha essa cachoeira! Mas eu


não vejo a loucura toda que você falou.

— Estão fingindo costume para não causar uma péssima

primeira impressão para o maior chefe de gangue, o Tyler.

Observo tudo ao redor e não vejo Daniel por aqui, na


verdade nem ele e nem Giulia.

Felipe olha para mim e sorri. Levanta do seu lugar e vem

andando calmamente para me abraçar.

— Minha mãe disse que se eu não me comportar, se eu


não ficar calado, ficarei de castigo. — ele comenta depois de me

cumprimentar e abraçar. — Eu e meu pai vamos ficar de castigo,

mas não sei o que ela vai tirar do meu pai. Ele é adulto, o que vai
tirar dele?

Sexo!
— Alguma diversão que só eles entendem. — fico em pé,

já que me agachei para ficar na sua altura. — Que coisa mais


linda que você está!

— Meu pai nem fez cabelo lambido de vaca! — balança a

cabeça freneticamente. — Meu cabelo voa! Tia Jas! — para de

balançar a cabeça. — É verdade que vai ser minha tia e vai casar
com tio Dan?

— Sim, verdade.

— Eu nem sabia que namoram!

— Ainda não namoram tanto...

— Mãe! — olho para ela com repreensão. — Essa daqui é

a minha mãe.

Felipe abre a boca.

— Mas ela parece sua irmã.

— Ai que garoto incrível! — minha mãe passa a mão no

cabelo de Felipe. — Cabelo incrível!

— Obrigado.

— Eu que agradeço, massageou meu ego.

— Não, falta saber por que pareço sua irmã, estou muito

velha ou ela muito nova?


Minha mãe bate na minha nuca e dou risada.

— Muito nova. — Felipe responde.

— Coisa mais linda! Quantos anos ele tem?

— Vou fazer seis!

— E fala tão certo assim?

— Falaram que é coisa de família e que minha mãe me

ensinou muito, agora meu pai tenta me ensinar, mas ele não é tão

inteligente como minha mãe, é o que todos falam.

— Garoto insuportável! — isso é Leonardo. — Ele só fala

isso porque ele me confunde, eu ensino direito, não é minha culpa

que ele não consegue aprender.

— É sua culpa sim! — Giulia se aproxima. — Você não


entende um livro infantil e ensina errado!

— Puta merda, Giulia!

— Não pode xingar! — Felipe coloca a mão na boca.

— Qual a parte de serem sérios vocês não entendem? —

Fernando fala com os dentes cerrados. Ajeita a postura, depois


olha pra mim. — Olá, Jasmine, como vai?

É a primeira vez na vida que estou frente a frente com

Fernando Bertollini.
Agora sim eu sinto um friozinho na barriga.

Vamos lá, sobre o que já escutei falar de Fernando


Bertollini não é algo como o tal Yoshida, sobre ser um sádico.

Fernando é mais calculista e, pelo que meu pai conta, é aquele


homem que vai pensar muito antes de orquestrar um confronto, e
sempre vai preferir o diálogo, em termo territorial.

Aía pessoa pensa ''Então Fernando Bertollini é um frouxo?

Que espécie de mafioso, de bandido, é esse que dialoga ao invés


de matar?''.

Justamente o maior do nosso continente, justamente por

seus diálogos e acordos, até mesmo com seus rivais, tipo meu
pai.

Graças a sua lábia ele tem o governo inteiro em suas mãos

— talvez tenha traidores, mas aonde não tem traidor em um


negócio tão grandioso?—, conseguiu a paz no paíspor conseguir
dividir todos e fazer o acordo de paz, graças a esse acordo, todo

mundo ganhou e temos um total de zero conflitos em mais de três


décadas, agora isso muda graças a Yoshida...

Fernando é justamente o cara que pensa, que enriquece e,


não querendo puxar saco, acho até que é um homem justo.
Não vai perder tempo matando qualquer um porque aí ele
será falado. Calar a boca de muitos custará caro, Fernando é
mais o tipo que analisa o caso e vê qual a penalidade a ser feita.

Se bem que, nesse quesito, os chefes tem esse ponto de


vista. Afinal, quem quer quebrar um acordo onde ninguém do

governo interfere em seus negócios?

Mas também sei que, quando matam, é por algo hiper

grave... Ah, mas tem os castigos também, uma mão ou pé


decepados, sequestro de familiares para causar medo...

É estranho falar disso tão normalmente, mas fazero que?


Nasci e cresci nesse meio.

— Olá, Fernando. — respondo seu cumprimento e aperto

sua mão estendida.

— Espero que o jantar de noivado esteja a seu agrado, e


desculpe-me por não ter colocado você a frente de tudo. —

soltamos nossas mãos. — Mas é que seria mais fácil sendo aqui
ao invés de um dos nossos territórios.

— Entendo perfeitamente. — sorrio para ele. Meu sogro. —


E também não teria uma grande paciência para organizar tudo.
— Giulia falou com você, certo? — olho para Giulia e
confirmo. — Então temos suas preferências aqui também. Talvez

um jantar muito formal, mas sabe como seu pai é um digníssimo


filho da puta que pode espalhar sobre minha família por aí.

— O que isso quer dizer? — eu não posso acreditar que


minha mãe encara Fernando Bertollini em desafio.

— O que quero dizer é que Leo, por exemplo, é um grande


exemplo de como não ser um sucessor...

— Ei! — Leo até que fala alto, mas não continua, para o

dedo levantado no ar e depois abaixa.

— Continuando. — Fernando olha para nós duas. — Tyler

gosta de provocar, de falar mal, então se demonstrarmos


qualquer ''irresponsabilidade'', ele vai usar isso no futuro, em
qualquer futura discussão, e sabemos que sempre há discussão.

— Ele é bom mesmo? — minha mãe aponta para Leo.

Giulia pede para que Felipe vá brincar dentro de casa e ele

vai até lá, sem reclamar.

— De conversa parece um retardado. — controlo meu riso

quando Leo faz menção de retrucar Giulia. — Mas para agir é


muito bom.
— Até quando erra acerta. — mas aíLeo sorri com o maior

orgulho do mundo quando Fernando o elogia. — Confio nele, e,


por isso, não quero que Leo seja usado para difamar ou como
brincadeiras. Isso só é aceito para os Bertollini e Vesentini, só

nossas famílias podem falar mal de Leonardo. Inclusive, Jasmine,


quando entrar com o sobrenome Bertollini, pode xingar Leo a
vontade.

— Farei isso, obrigada.

— Estava indo tão bem. — Leo balança a cabeça em


negação. — Viu, Ingrid, não pode falar mal da minha pessoa.

— Você tem duas famílias e minha filha, eu só seria mais

uma para destacar o óbvio.

— Parece até que se conhecem há anos, se deram tão

bem. — ironizo a linda amizade dos dois. — E onde Daniel está?

— Tivemos um pequeno problema com Leila. — Fernando


responde. — Era para Daniel estar aqui com Nicole, mas ele foi

ver Leila e se atrasou.

— Aconteceu algo? — falaram sobre Leila ser vítima,sobre

ser sofrida, mas ainda estão dando o benefício da duvida a ela.

Um lado meu quer que ela seja boa...


Sinceramente? É uma incógnita.

Ao mesmo tempo que Leila nunca me fez mal, ela estava


ali para me fazer o mal, e até que ponto ela fala a verdade?

E tem outro ponto, eu nunca a afastei por completo, porque

ela era um tanto estranha, mas nada que me fizesse querer


distância...

É, espero que ela seja sincera, por mais triste que sua

história seja.

— Passou muito mal. — Fernando prossegue. — Como


Leila está presa para analisarmos tudo, ou melhor, para ver se ela

repete a história várias vezes sem se perder, ela acabou


vomitando muito, desmaiando. Daniel estava mais próximo e foi
até lá com um médico para analisar o caso de Leila, ver se é real.

— Que belo noivado. — minha mãe murmura.

— Infelizmente não sabemos nem como será a festa de


casamento. — Fernando olha pra mim. — É um momento que
temos caos em alguns períodos, mas, realmente, não sabemos

como será no futuro. Porque pegamos Leila e liberamos Milla,


pode piorar a partir de agora ou pode ficar calmo por algum
tempo.
Respiro fundo.

— Mas vamos pensar que agora estamos bem, estamos

aqui. — Fernando sorri. — Estamos seguros por agora, vamos


focar nisso.
(3)

Bônus
GABRIEL

— Nem nos meus sonhos eu imaginei estar trabalhando


com a Nostra! — Jesse arregala os olhos, eles até brilham de
emoção. — Puta merda, cara! Estou na máfia!

— Tecnicamente não há mais máfia, Jesse! — corrijo-o. —


Fomos expulsos.

— Sim, meio louco os chefões sendo expulsos, ainda mais

louco que estou dentro da nova formação!

Jesse é meu melhor amigo, nos conhecemos no ensino

médio, no caso, há uns seis anos, mais ou menos.

Bolsista do colégio, entrou graças a prova que dava


descontos, a nota da prova era o desconto. Como acertou

noventa por cento, só teve que pagar dez por cento da

mensalidade. Fez prova na escola e conseguiu descontos para a


faculdade, então começou a cursar ciências da computação, e

deixou de lado para me ajudar.

Eu era meio sem noção, um tanto explosivo, dizem que

puxei mais para o lado Yankee da história, meu pai não admite
que ele também é nervoso como eu...

Jesse, desde o colégio, era o nerd e fora da situação

financeira dos nossos colegas, sofria na mão deles. Eu, irritado,

briguei, apanhei, bati, tomei suspensão.

Começamos a nossa amizade assim.

Eu fiquei de castigo por um mês inteiro, depois disso não

briguei mais no colégio.

Minha mãe ainda me liberava para ficar no jardim tomando

ar, meu pai me obrigava a ficar dentro de casa.

Quando o assunto é repreender, eles sabem bem como

fazer.

Sério, ficar preso em casa, sem qualquer diversão, tendo

que fazer toda a faxina da casa, foi o maior castigo que pude ter.

Tanto que aprendi minha lição e não repeti mais.

Só repeti quando quebrei o nariz do irmão de Amélia, mas

aí meu pai me apoiou.


E quando discuti com meu avô sobre vó Ísis e dei minha
casa para ela morar, mas meu pai também me apoiou, afinal,

irritei seu sogro.

Eu sei que gostam disso, mesmo que não admitam em voz

alta.

Agora Jesse está aqui porque entende de tecnologia, ele é

a pessoa que mais entende disso e que, de certa maneira, estou


sendo responsável por ele.

Meu pai descobriu recentemente que a segurança, todos


os equipamentos, estavam bem... Como poderia dizer? Estavam

sendo controlados por outras pessoas.

Ele descobriu isso quando as meninas, Kat e Karen,


saíram de casa e nenhuma câmera de segurança captou as

imagens e nem o alarme, que fica na saída que elas usaram,

soou. Porque até para desligar, seria gravado o momento.

Então ou o sistema foi totalmente hackeado, ou a empresa

de segurança, que eram visto como de confiança, nos traíram.

Mas o plano é fazer de conta que não desconfiamos de


nada.
O sistema não foi retirado, mas outro foi colocado, e aí

Jesse entra.

Minha responsabilidade!

Com um Jesse sorrindo de orgulho e vitória, entramos no


quarto e vejo Leila algemada na maca do hospital clandestino.

— Sabem que tentaram me envenenar, não é? — é a


primeira coisa que ela fala. — E eu odiei essa merda de lavagem
estomacal!

Está quase desmaiando, fala quase embolado.

— O que pode fazer com que sua história seja real. —


aproximo-me dela. — Já que tentaram te matar.

— Pegaram o culpado?

— Daniel fez o que deveria ser feito.

— Está morto, esse povo nunca sabe de nada, e realmente


não sabem, só são pagos. Sugiro que procure a família deles,
muitos desses traidores não fazem por querer, e sim por ameaças

a pessoas amadas.

Fecha os olhos.

Imaginamos isso, a pessoa que ficou responsável pela


comida não está morta, justamente porque sua história bateu com
a vistoria feita em minutos.

Assim que recebemos a ligação que Leila estava


vomitando muito após a refeição, desconfiamos de

envenenamento, sabíamos quem mandou fazer a comida,


sabemos onde sua esposa e filho moram, foram até lá... No

momento a esposa passa por uma cirurgia, já que os estilhaços


entraram em seu corpo, mas a sua situação não é de risco. A

criança está assustada, mas está em nossos cuidados.

Graças a esse segurança que fez comida, descobrimos


como eles são abordados.

Tem gente da Nostra nisso, como sempre soubemos.

Tem gente da Nostra com ligação direta com oshida.


Y

Porque só a Nostra tem a informação direta sobre os


parentescos e endereços de membros, inclusive dos seguranças

e sicários.

Agora só falta ter traidor da Sangre Latino, e aífecharemos


o triângulo. As três organizações criminosas do país tendo

traidores jogando no mesmo time.

— Poderia nos contar um pouco mais, Leila. — continuo.


— Já que salvamos a sua vida.
— E se me matarem depois disso? — abre os olhos, mas
sua cabeça dá um giro, de tontura. — Eu não quis ser heroína
para não morrer, e também não quis ser a vilã pelo peso na

consciência.

— Se o tempo passar e não disser nada, eles saberão que

você contará. — Jesse toma a frente. — E aí sua vida não valerá


para nenhum dos lados, Leila.

— Eu quero viver sem estar em um espaço fechado...

Quero proteção...

— Ok. — concordo. — Onde estão?

— Papel e caneta... — engole em seco. — Confio em


vocês...

KAREN

— Karen, eu odeio essa merda! — Cassie reclama, do


outro lado da linha. — Sério, o que faço na França?
— Eu realmente não sei, achei que estivessem na Itália. —
olho para os lados, me certificando que não tem ninguém por
perto, tranco a porta e sento no chão. — Por que estão na

França?

— Disseram que meu pai tentará voltar a Nostra, então

temos que manter distânciade vocês. Mas eu quero estar com tia
Dianna e tio Arthur. Sério, isso aqui é um inferno!

— Meu pai sabe desse plano?

— Sabe. É coisa deles, mas é que... — sua voz treme um

pouco. — É um inferno estar com meus pais, sabe que os odeio.


E agora temos que falar escondidas porque está de castigo...

Jean foi preso com drogas, está difícil viver aqui.

— Não chora, Cassie. E se eu falar com Dianna e pedir

para que fique com ela?

— Aí saberão que nos falamos, ou seja, saberão desse

celular. — sua voz é completamente arranhada pelo choro. —

Mas sobreviverei. Talvez só seja drama mesmo...

— Pra você estar chorando não é drama, Cas. — eu sinto


sua dor somente pela sua voz. — Eu falarei com Dianna, acho

que ela não vai me dedurar se souber do meu celular. Sei bem
como algumas das famíliasda Nostra não tratam bem seus filhos,

vamos te tirar dessa.

Eu não sei qual o sofrimento de Cassie, ela nunca se abriu

muito sobre o assunto, mas sabemos que ela odeia os pais.

Seu irmão mais velho, Jean, era seu amigo, mas aí


começou a usar drogas e ficou mais afastado da irmã.

E temos a teoria que Jean foi para as drogas por algum

acontecimento com seus pais.

— Não quero estragar sua noite, Karen. — toma uma longa


respiração, bem profunda. — Tchau. E mande um beijo para a

doida da Katherine.

— Ela está ajudando a mãe com o vestido que quebrou o

zíper, por isso não está aqui falando com você.

— Saudades dessas loucuras.

— Em breve estará conosco.

— Se meus pais quiserem. Beijos, e não pense muito em

mim.

— Impossível.

— Não, não pense.

A ligação termina.
Com um aperto no peito, penso em como falar com Dianna.

Ela mora na Itália, para onde estamos indo.

Falar com Dianna sobre a situação de Cassie é fácil, ela

não me deduraria... Na verdade o maior problema é Cassie,


porque, obviamente, ela não poderia contar da sua situação para

outras pessoas, ainda mais para uma Bertollini e Vesentini.

A situação de Cassie chegará aos ouvidos de Arthur, que


sempre demonstrou amar os sobrinhos, e aí Cassie seria dedo

duro, o que pode atingir não só a ela, como o plano ao todo.

Pode dar treta entre os Ferrara e atingir o plano.

Eu preciso pensar em algum jeito!

Mas levanto do chão e escondo o celular, no modo

silencioso, dentro de um saco em um pote enorme de creme de

cabelo, que trouxe com a desculpa de que precisava modelar

meus cachos e só esse creme daria certo. Não questionaram o


tamanho do pote, já que sempre preciso usar uma boa

quantidade, e acho que nem ligaram para isso.

Lavo a mão e depois saio do quarto, desço as escadas e


ali está ele me encarando: Alex!
— Sei que sou maravilhosa, mas poderia encarar menos?

— fico a sua frente. Alex sorri de lado. — Qual a sua?

— Não imaginei que a caçula fosse mais ogra que a filha

mais velha.

Eu tenho que dar risada.

— Se o plano é me usar, querido, não vai colar.

— E como eu te usaria?

— Eu não confio em você, nem um pouco.

— Nem nos conhecemos. — seu sorrisinho não diminui em


qualquer milímetro. — Não imaginei que uma filha caçula

soubesse de desconfianças da máfia.

— Não precisa ser da máfia para achar a aparição dos

gêmeos, nada parecidos, estranha. E seu olhar demonstra isso


muito bem. Você não foi bem treinado ou você quer ser

percebido? Quer sair dessa?

— Sair do que? — seu sorriso diminui um pouco.

— Alex e Allan, chegando do nada para a casa do pai,


justamente quando Yoshida também aparece. Um dos irmãos

mata o traidor da M-Unit, porém, até o momento, não fez nada.


Você quer parar, quer ser notado. Eu sei ler pessoas, Alex. E você

está pedindo por socorro.

Eu vejo seu pomo de adão se movendo.

Engole em seco, sente-se encurralado.

— Você recebeu a informação que sou afastada do

assunto, que sou uma pobre menina indefesa, uma princesinha.

Então você quer que eu tenha compaixão? Você se aproximou


ainda mais de Jasmine a procura de ajuda?

— Por que pensa isso? Não tem sentido.

— Porque você é um cara sofrido, você e seu irmão.

Vieram em busca de vingança, vocês estão com Yoshida sim!

Mas não por compactuar com seus assuntos paralelos, mas eu


desconfio que ele esteja com alguém que vocês amam muito,

uma irmã? Sua mãe está viva? Vocês vieram por vingança ou por

obrigação? Não sei, mas querem ajuda, querem contar a verdade


e não sabem como.

— Foi muito longe nessa invenção de historinhas

mirabolantes.

— Alex, estou aqui a sua frente, se quiser ajuda, eu te dou.

Depois de amanhã estarei no parque. Eu sei como fugir de casa.


Vou sem segurança algum. Se quiser me fazer mal, esteja à

vontade para fazer, se quiser conversar, estou pronta para


escutar. No parque municipal, às nove da noite. Estará deserto,

pode fazer o que quiser comigo.

— Você é depressiva? — do nada ele pergunta isso.

— Que?

— Eu posso te estuprar! Você é tipo esses doidos que

amam adrenalina? Que querem sofrer?

— Não, eu só quero provar meu ponto. Eu sei o que você

é, eu falei com Rachel.

— Rachel?

— Eu sei entrar e sair dos locais. E sabe por que te conto?

Eu te estudei, eu conversei com Hugo também, você é tão fácil de


ser lido, Alex. — aperto seu rosto. — Estarei no parque para que

me conte sua história.

— Quer que eu leve bebidas?

— Não tomo nada alcóolico, pode levar Coca-Cola.

— Torta ou algo salgado?

— Pode ser uma torta de bacalhau. Leve também uma

linda toalha, para o nosso piquenique. — solto seu rosto. — E eu


quero saber da sua vida.

— A vida do seu futuro marido.

Que imbecil!

— Estou sendo simpática, mas não sou trouxa!

— Eu que estou sendo um trouxa, pode ser uma armadilha.

— E por que está aceitando?

— Eu nunca faria mal a uma morena tão linda como você.

E eu quero te dar um voto de confiança.

— É engraçado que você me dê um voto de confiança e

sua fala foi... — encolho os ombros. — Brega!

— Conquistar uma pessoa é algo brega.

— Querido, no máximo tu terá uma parceira...

— Parceira no amor?

— Alex, não força! — levanto uma mão. — E não me olhe


tanto, ou meu pai vai te dar uma surra.

— Você está mostrando um lado seu que ninguém

conhece, Karen. — fica sério novamente. — E se eu não for nada


disso que está pensando?
— Deixe-me te contar algo, recentemente Giulia visitou
Rachel e ela pediu para falar comigo.

— Então você mentiu sobre sair e ninguém saber.

— E Rachel mentiu sobre você querer fazer mal a filha de


Fernando? — retruco. — Mas escutei da sua vida, da sua mãe, e

acho que entendi sua linha de raciocínio. Você ganhará mais


comigo do que contra mim. Alex, não sei o que acha que meu pai

fez contra você, mas ele nem te conhece.

Ele dá uma risada e abaixa a cabeça.

— Até o nosso piquenique à noite, morena.

— Não me chama de ''morena''!

— Até mais, morena. — Alex retorna para o lado de fora da


casa.

Alex é bem bonito, porém, chato e idiota!

Que esse ''piquenique'' me dê alguma resposta, não


apenas mais uma conversa chata com Alex!

Capítulo 19
JASMINE

É mais estranho cumprimentar Yankee do que Fernando.


Porque Fernando eu já tinha visto fotos na internet, já que é um

empresário hiper importante, mas Yankee?

Ele é simpático, como todos os outros.

Conheci Victor e Alice Bertollini, pais de Fernando. Giulia

tem muita semelhança com Alice.

Conheci Ísis, que também foi super simpática comigo.

Agora vejo porque Karen tem a pele mais escura dos


Bertollini, na verdade eu não sei se posso classifica-la como

''negra de pele clara''. Yankee é negro como meu pai, pele mais
escura. Karen tem a pele mais clara que a minha, e muito mais
escura que a dos seus pais e irmãos... Ela tem os olhos azuis

como Fernando.

Karen é a mais diferente, talvez por isso ganhou a atenção

de Alex. Mas depois falo com ele.

Conheci Marco e Isabella, sua esposa foi me


cumprimentar, se inclinou um pouco e o zíper do vestido

arrebentou, teve que ir consertar com Kat.


Agora estou aqui, conversando com as mulheres, minha
mãe mais comunicativa que eu, porque penso: Onde está o

noivo?

Claro que entendo o que está acontecendo, mas queria

que Daniel estivesse aqui.

Mas quando olho para o lado, vejo Alex saindo da casa.

Peço licença e vou até ele.

— O que quer com Karen? — pergunto, ele me encara


assustado. — O que quer com Karen?

— Ela que puxou assunto. — tira o semblante assustado.

— Você que encara demais, eu percebi, e é muito provável

que Fernando também tenha percebido.

— Bom que entro logo na família.

— Qual a sua, Alex? Allan está conversando com os


homens e você vai até a filha de Fernando?

— Pergunte a Karen, Jasmine. Sei que não confia em mim,


mas pergunte a ela, não fiz nada demais. Na-da! — pisca um
olho. — Seu noivo chegou, vá agarra-lo e volte com o sorriso

bobo e a simpatia que sei que tem aí dentro.

Sai da minha frente.


Como a porta está aberta, vejo que Daniel está na cozinha

falando com Karen, vou até lá.

— Desculpe-me pelo atraso. — Daniel fala rapidamente. —


Tive que resolver uns problemas porque estava mais próximo a

ele.

— Seu pai me contou o que aconteceu. — olho para


Nicole. — Olá.

— Oi. — sorri timidamente.

— Então estou perdoado?

— Se não atrasar no casamento, talvez.

— Não, eu estarei livre nesse dia, e por outros dias mais.


Gabriel está me substituindo.

— Ele contou.

— Esse povo conta tudo?

— Não conhece a família a qual pertence? — Karen bufa.


— Claro que eles falam demais quando o assunto não tem uma
grande relevância, e olha que meu pai e tio Marco estão

obrigando todos a manterem a seriedade...

— Sério, eu vou comprar aquelas cintas! — Isabella chega

à cozinha junto a Kat. — Eu acho que elas podem comprimir


nossos órgãos e explodir por dentro, mas não correrei o risco do
zíper arrebentar.

— Se os órgãos explodem, é claro que será por dentro. —

Daniel olha para Isabella.

— Garoto, não me irrite! Porque olha essa merda! — ela


vira de costas e joga o cabelo para o lado. Seu vestido está cheio
de fita adesiva. — Olha o que essa criatura de Deus fez!

— Não tinha muito o que ser feito, era isso ou grampear,


mas se nem o zíper aguentou, como os grampos aguentariam?

— Katherine...

— É a verdade, mãe!

— Olha, eu só não começo uma discussão porque estou


sendo obrigada a ser uma mulher séria! O lado bom é que posso
comer um pratão de comida e ninguém reclama comigo. É, tem o

seu lado bom. Falando em lado bom, Jasmine, esse meu afilhado
é perfeito. — bate no ombro de Daniel, com força. — Será um
marido perfeito.

— Todos amam vender o peixe. — olho para Daniel. —


Cheio de defensores.
— Achamos que Daniel nunca desencalharia. — bate no
ombro dele novamente. — Nunca apareceu com uma mulher, eu

até achei que fosse gay. Imagina um gay na máfia?

— Você pensou o que? — Daniel pergunta, bem incrédulo.

— Gay! Nunca ouvi falar de você com mulher, só andava


com homem. Ai, me perdoa, sei que é errado, estereotipado ao
extremo... — Isabella coloca a mão no peito. — Sorry!

— É engraçado que tenha pensado que Daniel é gay! —


Daniel fecha os olhos e balança a cabeça negativamente quando

meu pai aparece. — É engraçado e ao mesmo tempo me faz


pensar que é um bom homem, não é cafajeste, ou seria pelas
costas?

— Pelas costas. — Kat dá risada. — Foi engraçado pelo


primeiro assunto abordado. Entenderam a ligação?

— Eu amo que o plano do jantar formal está começando a

ruir. — Karen cruza as pernas.

— Eu não acredito que perdi anos desses jantares. —


Nicole senta ao lado de Karen.

— Não fui cafajeste, nem gay. — Daniel responde. —

Apenas não conheciam as mulheres com quem eu ficava.


— Eram muitas? — indago.

— Não tantas.

— Não aceitamos amantes. — meu pai acrescenta. — Se

eu souber que está metendo chifre na minha filha, eu tiro o chifre


dela e enfio no seu rabo até sua boca, até sangrar e morrer
agonizado.

— Adorei! — Isabella grita. — Vou usar essa ameaça a


partir de hoje!

— E por que meu pai te meteria um chifre?

— Tem doido pra tudo nesse mundo, Kat.

— Voltando ao assunto. — meu pai chama atenção. —


Recado dado, Daniel.

— Nem precisava, Tyler.

Os dois sorriem daquele modo carregado de ironia, raiva,


por fim, meu pai pega um vinho que estava em cima da mesa e

volta para o lado de fora.

— Eu esperava mais emoção! — Isabella parece


decepcionada. — Não se fazem mais duelos como antigamente!

— Claro que não, somos mais poderosos que Tyler. — Kat

olha para mim. — Querida, pratique a extorsão no seu marido, eu


praticaria se fosse você.

— Katherine...

— Ou entre na nossa gangue, vai faturar muito ao nosso


lado quando vendermos nossa arma biológica aos russos!
Certeza que os russos saberão usar...

— Katherine! — agora só eu e Nicole não gritamos com


ela.

— Brincadeira, galera, nada de vender coisa letal aos

russos, chineses, japoneses, estadunidenses ou qualquer outra


nação! Era brincadeira. Será apenas a nossa arma, quero dizer,

da minha gangue feminina...

— Eu farei um combo de psiquiatra, sessão do descarrego,


exorcista, banho de folhas e sal grosso, e uma terapia com

choque. — Isabella sorri. — Quando Katherine nasceu o médico


mandou levar a um neurologista, mas não descobriram o que ela
tem. Eu acho que pode ser uma psicopatia leve ou

esquizofrenia...

— Mãe!

— Vamos deixar os noivos a sós. — Isabella praticamente


obriga Nicole e Karen a levantarem da cadeira. — Se quiserem eu
posso distrair o povo da festa, acho que dá para terem uma
rapidinha no quarto de hóspedes ou no banheiro...

Ruborizo!

— Mãe, pelo amor de Deus! — mas é Kat quem demonstra

toda a vergonha.

— Já transaram? — Isabella pergunta pra mim.

— Só depois do casamento, ao que parece. — Daniel

responde.

Abaixo a cabeça.

— Não sei se chamo de tontos, ou acho corretos. —


Isabella dá de ombros. — Vida de vocês, mesmo assim, vou

distrair a todos, da minha maneira culta que finjo bem. Façam o


quiserem. — pisca um olho e sai da cozinha.

— Gostando da família? — Daniel se aproxima.

— É sempre assim?

— Foi bem calmo.

— Como Leila está? — mudo de assunto.

— Nesse exato momento estão averiguando a informação

que ela deu, se for real, ela merece um voto de confiança. Mas
não quero falar de negócios. Na verdade eu quero falar só com
você, pode ser?

— Já estamos falando.

— Esse povo tem uma mania surpreendente de sempre

chegarem no momento de conversas importantes, estou te


chamando para uma conversa em um local reservado.

E pelo que vi, realmente, eles tem esse poder de chegar


em conversas importantes, até meu pai conseguiu esse feito.

Daniel me leva a um local que parece ser um escritório,

fecha a porta e retira uma caixinha do bolso.

— Eu não queria fazer isso na frente de todos, mesmo que


correto seja isso, não quero atenção e ficarei com muita

vergonha. — ajoelha a minha frente e abre a caixinha, onde um


anel cheio de brilhantes rosa claro aparece. — Aceita ser,

oficialmente, a mulher da minha vida?

Eu juro que não imaginei um pedido!

Tipo, já concordamos em nos casar. Eu até imaginei que


teria anel, mas não que Daniel fosse ajoelhar e fazer o pedido.

— Eu prometo que passará os melhores momentos ao meu

lado, que protegerei e respeitarei você. Se não quiser ter contato


comigo no casamento, respeitarei a sua vontade. E a gravidez,

podemos fazer por inseminação...

— Daniel, eu...

— Deixe-me concluir. Por isso eu não queria fazer isso na


frente de tanta gente. Sei que você ainda teme, ainda tem receio
por esse casamento. Sei que uma parte sua confia em mim, a

outra confia nas informações de Giulia. Mas eu juro que saberei


respeitar suas escolhas. Imagino como deve ser difícil e agoniante

para uma mulher estar nessa situação. Querendo ou não, o


homem, no nosso meio, tem a voz mais ativa. Vocês devem ficar
recuadas ao pensar nisso, devem temer dizer um ''não''. Mas te

juro que não sou assim.

Suas palavras não são apenas promessas e uma


confirmação, é algo profundo, porque quando ele fala, seus olhos

brilham com lágrimas.

Vejo como brilha tanto que logo vai enchendo, mas ele
abaixa a cabeça e passa a mão nos olhos, provavelmente,

enxugando as lágrimas.

Ajoelho a sua frente.

— Por que está falando isso?


— Agora que ajoelhou parece que sou um coitadinho. —

olha para cima, depois pra mim. — Eu sei que sente medo, e não
quero isso. Mas também não quero te comover. Quero ser sincero

e te passar confiança diante da situação toda. Eu não gosto de


você, Jasmine. Eu amo você e não quero te assustar com isso.

Não me assusta, mas me pega de surpresa.

Eu gosto de Daniel, posso ama-lo em breve, mas não o


amo agora.

— E sei que não me ama. — continua. — Mas por saber


que tem esse medo, eu quero levar confiança a você. Como tia

Isa falou, ela achava que eu fosse gay justamente por nunca ter
me visto com uma mulher. E eu realmente não me relacionei com
mulheres... — pensa um pouco. — Comuns, se assim posso

chamar.

— O que quer dizer? — entendo o que quer dizer.

— Minha cabeça foi um monte de merda por anos, mas

meus pais são perfeitos, meus irmãos são incríveis, eu quis


mostrar que era perfeito para estar com eles. Então todo o meu
passado foi deixado para meus momentos sozinhos. Eu não me

perdoava, como que poderia amar a todos, mas, ainda assim,


deixar meu passado de merda tomar conta de mim? Passei por
terapias, especialistas... Tive ansiedade, pânico... Tomei remédio
e minha vida mudou graças a eles, eu aprendi que remédios

surtiam efeito e me deixavam zen. Quando percebi meu vício,


inventei uma desculpa que precisava ir para uma faculdade no

exterior, eu consegui enganar Fernando Bertollini justamente


porque ele confia muito em mim! Fui para a reabilitação. Durante

esse tempo eu só me relacionei com prostitutas, porque eu era


ferrado psicologicamente, então uma pessoa do dia a dia seria
mais uma para eu enganar, para fingir estar bem. Aí eu te vi assim
que voltei ao país,eu estava bem, longe de remédios, mas graças
a terapia, e pela ocupação da minha mente com o trabalho, eu
estava deixando o passado de lado. Eu me interessei por você,

mas sabia que é filha de Tyler. Apenas esqueci, mas toda vez que
ia visitar Nicole na faculdade ou falar com Giulia, eu te via ali e
meu coração voltava a bater mais forte.

Estou chorando!

— Mas era impossível. Eu sentia que só era você em


minha vida, que só você me fazia sentir daquele modo. Tentei
esquecer, aí nos falamos uma vez, depois outra, outra e depois
tivemos o acidente de carro. Ali eu pensei ''eu vou conquistar essa
mulher, mesmo que cause treta com Tyler, eu sou apaixonado por
Jasmine''. Aconteceu de outro modo, estamos tendo um
casamento arranjado, sem nos conhecermos direito. E, desse

modo, tudo soará como obrigação. Obrigação de convivência, de


filhos, de relações... Eu não quero isso e nem sei por que falei do
meu passado.

Essa última parte é falada rapidamente.

— Se você continuar desse modo, eu vou te amar muito

facilmente. — sorrio em meio as lágrimas. — Apaixonada eu sei


que estou, e confio em você. Sempre que quiser desabafar, falar
do seu passado, estarei aqui para te escutar. — passo a mão no
seu rosto, enxugando suas lágrimas. — Assim como te encherei
dos meus dramas sem sentido algum.

— Tem drama sobre roupas?

— Sim, sobre maquiagem, futebol, fofoca, vida dos


famosos...

— Aceito! — segura a minha mão, que estava em seu


rosto, e dá um beijo nela.

— Também aceito.
Sorrimos um para o outro. No mesmo momento vamos na
mesma direção, nos beijando.

Nossas línguas juntas, sinto suas mãos em minha nuca e


outra nas minhas costas, o jeito que ele passa a mão me dá
arrepios.

Em instantes estou deitada no chão, com ele em cima de


mim.

Já usei os dedos, curiosa para saber como é...


Masturbação, no caso.

E o que eu sinto quando Daniel beija meu pescoço, desce


até meus ombros e vai até o topo dos meus seios, é exatamente
aquilo que sinto antes de chegar no meu ápice.

Acho que é até melhor!

Minha virilha já começa a dá uns movimentos involuntários,

aquele pontinho começa a ficar meio incômodo...

Daniel para!

Ele para!

Até olho para a porta para ver se alguém entrou, mas não
tem nada!
— Eu esqueci que aqui pode ter sistema de segurança. —
não entendo por alguns segundos quando ele sai de cima de

mim, mas quando compreendo o que quer dizer, levanto


rapidamente do chão e começo a me arrumar. — Não se
preocupe, se tiver câmeras aqui, nada foi visto ao vivo, não tem
ninguém para monitorar, pelo menos, não agora. — levanta do
chão. — Vou correndo a sala e apago a imagem.

Quase, por muito pouco, eu não chego ao meu ''ápice''em


frente as câmeras.

Talvez tivéssemos filmagens em todos os ângulos.

— Acho que ficará para a lua de mel mesmo. — Daniel


sorri pra mim.

— Tem certeza que ninguém verá?

— Sim, absoluta. Eu sabia das câmeras, mas não aguentei


e acabei te beijando. Mas aí lembrei bem na hora que ia tirar seu
vestido.

— Não chegaríamos tão longe.

— Quer mentir pra mim, Minnie? Nem sentiu dor no ombro,


em nenhuma parte do corpo, estava em cima de você, em um
chão duro...
— Meu anel! — mudo de assunto.

Ele dá uma risada leve e depois pega a caixinha no chão,


colocando em meu dedo.

— Obrigada. — agradeço.

— Vai ser difícil por tanto tempo? — viro de costas, para


sair. — Garanto que não tem câmeras nos quartos.

A minha querida companheira de vida, lá em baixo, até se


contrai com o convite.

— Guarde tudo para a lua de mel. — apenas viro minha


cabeça e pisco um olho para ele. — Será até mais emocionante.

— Nem precisa de lingerie, aceito que vá sem!

— Se for apenas conversa e nenhuma ação...

— Te amo!

Me quebra por completo.

Eu até volto para Daniel.

— Eu sei que um dia te responderei com sinceridade, mas

sou apaixonada por você, você é um fofo...

— Tchau, Jasmine! — já sei que ele odeia ser chamado de


fofo e vou abusar disso.
Dou risada, mas depois dou um selinho, que ele tenta
prolongar e me afasto.

— Até o dia do casamento! — abro a porta do escritório.

— Até o dia que seremos marido e mulher!


(4)

Bônus
A 500 KM DE DI
STÂNCI
A DO LOCAL
ONDE ACONTECE O JANTAR DE NOI
VADO

Milla está deitada na cama, suja de esperma e de sangue.

Um Yoshida feliz está sentado na poltrona, feliz após a


cena que presenciou há alguns minutos.

Seu segurança estuprou Milla, há dois dias ela só sofre.

Há alguns dias foi sequestrada na rua e retornou para


Yoshida.

— Fernando está sendo um bom jogador e isso está me


irritando. — junta as duas mãos e coloca em cima da barriga. —

Sabe, Milla, tenho algo em comum com Fernando, nós dois não
suportamos sua burrice. Ele me deu você justamente porque sabe

que eu sei fazer sofrer, acho que ele perderia a paciência fácil.
Fernando nunca foi de torturar por anos, uma pena, só falta um

pouco de sadismo nele, aí sim seria incrível.

— Não precisa elogiar tanto, Fernando não vai te comer. —

mesmo sofrendo, cheia de dores e feridas, Milla provoca, e, para


a sua surpresa, nada acontece.

— Às vezes você me faz rir, Milla. Às vezes.

Milla se prepara para uma agressão, qualquer coisa


dolorosa quando Yoshida levanta da poltrona, mas ele apenas

senta ao seu lado.

— Eu preciso que traga Alex e Allan de volta para o meu

assunto.

— Que assunto? — ela pergunta.

— Se você quer parar de sofrer, traga Allan e Alex

novamente. E Olívia,eu quero saber onde aquela puta de merda

anda! Meus planos foram totalmente estragados por vocês!

Primeiro você e Olíviaque agem por conta própria, depois Allan e

Alex resolvem ter uma vingança e nem você sabe do que se trata!
— aperta o rosto de Milla, com força, olha em seus olhos. — Me

dê o que preciso, só serve se for com o Alex.


Milla engole em seco, sentindo o gosto metálico do próprio
sangue.

— Se fizer isso, Milla, eu esqueço que odeio sua burrice.


Eu preciso que faça isso com o Alex.

— Ele não vai muito com minha cara...

— Dá para estuprar um homem, Milla. — Yoshida se

aproxima mais dela. — Dá para dopa-lo e usa-lo. Você já sofreu

com isso, deveria ter aprendido os truques...

— Eu não conseguirei sozinha...

— Se não conseguir sozinha, eu mando homens e você

vira a vítima também. Usou minha boa vontade e me traiu, agora

quer minha ajuda? — solta o seu rosto. — Você me deve, agora

quero que me pague!

— Por que o Alex?

— Por que você, Milla? Por que Fernando? Por que

Jasmine? Por que Sara? Por que Giulia? São tantos ''porquês''.

Por que eu ataco essa gente sem pressa? Eu gosto disso, é

divertido manipular e jogar com vidas. Se você fosse psicopata,

seríamos incríveis juntos, mas você é uma mulher carente, sem

controle de emoções, que mata a própria mãe por raiva...


— Para! — ela grita. — Para!

— Cutelo! Facadas na própria mãe!

Em uma rapidez que até impressiona Yoshida, Milla levanta

e tenta ataca-lo. E sendo bem mais rápido, Yoshida dá uma


rasteira em Milla.

Ela cai, um som bem forte ecoa.

Milla fica no chão, meio paralisada, olhos arregalados.

Com muita demora ele chama uma segurança, que era


enfermeiro no passado.

Milla recebe os primeiros cuidados e, em alguns minutos,

ela já volta a sentar, mas é falado que precisa ir a um pronto


socorro.

— Aproveite a saída para trazer Alex e Allan. — fala para


Milla. — Nem tente fugir, sei de todos os seus passos.

Yoshida desce as escadas, deixando Milla para trás e


encontra o chefe de segurança da sua casa.

O homem está nervoso, trêmulo.

— O que é? — Yoshida pergunta.

— Senhor... — respira fundo. — Creio que Leila não


morreu.
— E por que crê nisso?

O homem, mais nervoso que antes, gagueja. Gagueja


muito!

— Se não falar corretamente em cinco segundos, eu atiro


na sua cabeça. — fala calmamente e senta no sofá. — Um...

Dois...

— Eles foram até o local onde estavam as mercadorias. —

o homem fala em segundos, sem pausa, quase atropelando tudo.

— Ok, resolvemos esse assunto...

— Sim, a mercadoria estava morta quando chegaram lá.


Apesar de termos desativado aquele local, precisávamos dele

para colocar as crianças por alguns dias. Mas precisaram matar


porque imaginavam que seria difícil de sair com elas.

— Sim, eu sabia disso. Muito prejuízo, dez crianças que

valeriam pra caralho...

— O problema é que quando chegaram, seis homens do

nosso lado ainda estavam saindo do local. O povo dos Bertollini


chegaram rápido...

— Mataram os seguranças antes deles terminarem o


trabalho.
— Tiraram fotos de tudo. Não deu tempo deles explodirem
o local. Eles têm provas concretas e fotos de todas as vítimas.

Foram poucos os momentos que Yoshida precisou


controlar a raiva para não matar qualquer um.

Ele sabia que Leila contaria o que sabe, sabia que o pai

dela fez merda ao matar a mãe dela. A mãe era a maior arma
para que Leila fizesse o que queriam...

Mas ele não imaginou que Fernando seria tão rápido!

O local está a duzentos quilômetros de distância de

Yoshida, a setecentos quilômetros dos Bertollini e Vesentini...

Como foram tão rápidos?

Quando soube que Fernando tinha gente em todo canto,

não imaginou que seria assim.

E Fernando já sabe que esses seguranças não sabem de

nada, nem perdeu tempo com torturas!

Yoshida está perdendo novamente, voltou e não tem

qualquer vitória!

Todo mundo que ele colocou na vida dessas famílias


fizeram planos por conta própria.
— Quero que fique atento as notícias. — Yoshida se
recompõe. — Qualquer notícia que sair, me avise.

— Ok, e sobre o próximo passo?

— Deem uma surra e quebrem o braço do pai de Leila.


Aquela putinha vai me pagar quando eu a encontrar. Explodam

logo o segundo local...

— Senhor! Senhor! — outro segurança chega correndo,


com um celular na mão e quase cai da escada. — Acabou de ter

conflito na fábrica de confecção...

Yoshida começa a quebrar tudo.

Vai até a estante e quebra tudo, derruba, chuta, xinga,


grita...

Os dois seguranças ficam próximos, com medo do que ele

poderá fazer.

Como o rosto de Yoshida não é verdadeiro, nem tem como

saber como ele está, mas seus olhos pretos estão vermelhos.

— Não explodiram, aposto. — Yoshida fala quase, sem

fôlego.

— Não explodiram. — responde. — Todos morreram e não


mataram ninguém
— Então, nos dois casos, tinham seguranças vigiando e

ninguém revidou?

— Eram dois para vigiar, como tudo aconteceu rápido...

— Não imaginaram que Leila contaria tudo em poucos

dias. — Yoshida respira fundo. — O que essa puta ganhou para


me dedurar? Ela foi treinada, sabe que contar tudo é a mesma

coisa de morrer.

— Talvez ela seja suicida. — o outro segurança sussurra.

— Eu me suicidaria, falta pouco para isso. Odeio humanos


mesmo.

— Eu só não mato vocês porque já perdi doze seguranças.

— Yoshida fala com mais calma, ignorando o garoto. — Leila só

sabia desses locais?

— Sim, porque ela foi até lá quando o pai dela chamou...

— Quebrem os dois braços do pai dela!

— Ok. — o segundo segurança apenas concorda. — Mais


alguma coisa?

— Vigiem Milla, se ela não trouxer os irmãos Castillo,

peguem a força. Eu preciso de Alex e Allan! De preferência, Alex!

— Devo informar a Elijah? Ao...


— Elijah? — Yoshida pisca os olhos. — Quem é Elijah?

— Eu pensei que...

— Não é pago para pensar, apenas para obedecer. Não


quero uma palavra desse tal Elijah. E se por acaso qualquer outra

pessoa souber, a culpa foi do nosso parceiro e grande amigo.

Estamos estendidos? — concordam. — Elijah é mais irracional

que eu. Eu posso querer matar vocês, mas eu mato? Não! Elijah é
pior! Agora, sumam daqui!

Os dois seguranças sobem a escada.

— Quem diabos é o Elijah? — um deles sussurra. — Ele

existe ou não? Fiquei confuso!

— Não sei, eu tentei jogar. Tem hora que Yoshida é Elijah,

tem hora que Elijah é outra pessoa. Tem hora que Elijah não

existe. Acho que, no fim, Yoshida e Elijah são a mesma pessoa e

esse cara lá em baixo é doido e quer nos enlouquecer.

— E o que são as mercadorias? Drogas? Armas?

Respira fundo.

— Gregory, se um dia tiver que saber, você saberá. — bate


no ombro de Gregory. — E não pense tanto, Yoshida quer nos
enlouquecer. Não existe Elijah porra nenhuma, é só mais um dos

seus disfarces.

Gregory olha, escondido, para Yoshida. Agora bebendo

algo e sorrindo, sem mais raiva.

É um doido!

— Como vim parar nisso? — sussurra.

Volta para o andar de cima. Uma casa normal, que ele não

faz ideia de quem é o dono.

Mas Gregory sabe que terá calmaria por um tempo, tempo

suficiente de tentar fugir...

Pela trigésima quinta vez em dois anos!


Capítulo 20
DANIEL

Desabafei com Jasmine sem nem perceber.

Depois que apaguei as imagens do sistema de segurança,


comecei a pensar que simplesmente fui pedi-la em casamento e
acabei desabafando.

Agora eu me sinto mal.

Sinto-me mal porque falei para uma mulher que acabei de


conhecer — mas sei que amo —, porém, nunca contei a história

aos meus pais ou irmãos.

Mas é como falei a Jasmine, não quis quebra-los,

incomoda-los com meus problemas. E, de certa forma, falando


aquilo foi mais para tentar tranquilizar Jasmine...

Não faz grandes sentidos, eu desabafei sem nem pensar


no assunto.

— Está bem? — minha mãe pergunta.


O jantar ocorreu muito bem, poucas loucuras, muitas

conversas de negócio e eu bem disperso pensando no meu


desabafo.

Dormi na casa dos meus pais, agora minha mãe está a


minha frente, depois que todos saem da mesa do café da manhã.

— Meu pai não voltou para casa?

— Não, está resolvendo algo dos seus novos negócios. —


deixa o garfo de lado, junto a sua torta de limão. — E então, o que

houve?

— Sinto-me um traidor. — minha mãe inclina a cabeça para

o lado, me encarando com a testa franzida. — Um traidor no

sentido de ter desabafado com Jasmine e não com meus pais.


Agora sinto-me mal por isso.

— E o que desabafou? — volta a se recompor. — Algo do

seu passado?

— Sim.

— Quer falar?

Coço minha nuca e acabo falando:

— Eu não sei por que contei a Jasmine, apenas fui pedi-la

em casamento e acabei falando demais. Tive problemas na


juventude, coisas que vocês nunca souberam por que eu soube
esconder e sumir.

— Que tipo de problemas?

— Problemas do tipo achar que eu era um intruso na

família, querer ser aceito e, por isso, não ter tido coragem de

desabafar, pois pensariam que sou uma cruz a ser carregada e

me mandariam embora.

Minha mãe segura a minha mão.

— Percebemos isso, Daniel. Até porque a chegada de

Gabriel e Karen era como se você nos agarrasse e implorasse

para não sairmos, para não deixar você de lado. Tanto que foi ao

psicólogo e fez terapias para isso.

— E no meio disso tudo precisei de medicação pela

ansiedade e depressão, então meio que me tornei um viciado, ou


um quase viciado. — aperta a minha mão. — Porque os remédios

sempre me traziam a paz de não pensar no passado e me fazia

acreditar que seria aceito.

Minha mãe não diz nada, provavelmente para que eu


continue falando.
— Mas melhorei com o tempo e não tomo mais remédio

algum.

— Não falará os detalhes?

— Por isso me sinto um traidor, falei demais com Jasmine


e não consigo falar com vocês. Porque eu me sinto dessa
maneira, como se tivesse enganado a todos no momento mais

crucial da minha vida, excluítodos da verdade, então me sinto um


lixo...

— Você sabe que até hoje meus pais não fazem ideia de
como conheci Fernando. — dá um sorriso. — Sim, só vocês

sabem disso, exatamente porque confiamos que não contarão


nada. São um bando de fofoqueiros para coisas fúteis, mas para

algo sério, sabem manter a boca fechada. Meus pais não tem
ideia do rolo todo, como tudo aconteceu. Porque seria um
desgaste. Meu casamento com Fernando não foi arranjado, tanto

que ele não tem qualquer negócio com meu pai, então por que
mexeríamos nisso?

— Isso quer dizer que entende o que quero falar? —


confirma. — Mesmo assim...
— Eu consigo entender seu medo, Dan. Você me agarrou

no dia que fui te buscar no orfanato, quase me derrubou naquele


abraço, eu era seu salva-vidas, você tinha que me agarrar. Tinha

medo de não fazer parte da família,de te abandonarmos, entendo


como se sentiu deslocado a cada chegada de um novo irmão...

— Vocês tinham que me dar atenção. A cada chegada de


filho Giulia era só alegria, ela até mesmo os carregava, mesmo

sendo pequena, e eu? Eu gostava, mas eu ficava próximo para


que não esquecessem de mim. Na minha cabeça era como se
Giulia fosse a filha verdadeira, por isso ela não tinha medo de

perder vocês, porque eu fui o cara ferrado e abandonado, ela


sempre seria amada, e eu? Seria descartado a qualquer

momento. E as terapias me davam outro entendimento, na minha


cabeça era como se vocês tentassem me fazer normal, depois
entendi que eu necessitava daquilo. Foi ainda mais complicado

porque é difícil esconder algo de Fernando Bertollini, mas ser


viciado em remédio, ainda no início,era mais fácil de esconder.

Ainda mais estando em outro país.

Os olhos da minha mãe brilham.

— Quer chorar?
— Não, garoto! — ela começa a chorar. — Por que as
pessoa perguntam se a outra vai chorar? É claro que vão chorar!

Levanto da cadeira e a abraço.

É mais fácil falar depois que tudo aconteceu do que antes.

Mas se eu não tivesse desabafado com Jasmine, eu teria

contado tudo a minha mãe?

— Me perdoa por ter escondido tudo isso e por eu ter

contado a outra pessoa?

Ela se afasta, segura meu rosto.

— Dan, eu fico feliz por ter contado a alguém por tudo o


que passou. E fico feliz porque desabafando com Jasmine, você
teve coragem de falar comigo. — acaricia meu rosto. — Eu não

vou te culpar, porque eu sempre acreditei que não estava curado


do seu passado horrível, porque eu sei que não dá para curar,

porque não dá para esquecer. Mas estou feliz por ter falado.

— Quer saber tudo?

— Sim, tudo. — beijo sua mão. — Quero dizer, o quanto


quiser falar.

— Eu nunca falei tantos detalhes de como ocorreu. Mas eu


quero falar agora por que... — respiro fundo. — Porque creio que
está na hora de deixar esse passado de lado, quem sabe assim
eu paro de lembrar tanto dele.

Dias depois

Ter contado tudo o que passei levou horas, meu pai

também esteve presente. Tentou até se controlar, mas sua fala


''deveria ter torturado mais aquele filho da puta'', acabou

escapando.

Agora estou mais tranquilo, é como se eu fosse iniciar uma


fase da minha vida sem qualquer mentira, ou melhor, sem

omissões.

— No que tanto pensa? — Giulia me pergunta, depois de


Felipe sair para poder assistir sua aula online. — Já arrumou suas

malas?

— Sim, apenas aguardando o dia do embarque. Pensando

que estou mais leve depois da conversa.


— Eu sempre soube que seria meu irmão. Até dividi

minhas balas com você.

— E para Giulia dividir doce, tem que amar mesmo.

— Estou menos gulosa agora, isso tudo foi para o Felipe.

Quem diria que estaríamos a uma hora dessa no sofá da casa


dos nossos pais, esperando a nossa fuga? E você ainda vai casar

com Jasmine. Isso é tudo tão louco!

— A melhor parte é que me casarei com Jasmine, única

parte boa.

— Acha que será diferente na Itália? — Karen pergunta,

deixando o controle da TV de lado. — Falando nisso, os irmãos

de Jasmine estarão presentes nessa viagem.

— Não sabe? — pergunto.

— Não sei de que?

— É a primeira vez que vemos Karen após o jantar. —

Giulia começa a falar. — E ela está sem celular. Provavelmente


meu pai não falou nada aqui em casa.

— Os irmãos de Jasmine foram embora. — comento.

— Por quê? — percebo seu interesse nessa informação.


— Não faço ideia. — respondo. — Tyler ainda estava

bastante desconfiado. Os irmãos saíram, Tyler mandou homens

segui-los, mas perderam de vista, a última vez que Tyler viu Allan
e Alex foi na manhã após o jantar de noivado. Eles sumiram e só

levaram os documentos, deixaram roupas e tudo mais.

— Isso quer dizer perigo? — Karen indaga. — Que eles

estão do outro lado?

— Isso quer dizer que não sabemos o que pensar. —

respondo. — Não falamos nada sobre para onde vamos, eles

acham que vamos para um certo local da Itália, o máximo e


verdade foi sobre o acordo de casamento, que é bem óbvio de

como ocorrerá. Se eles estiverem com Yoshida, ele saberá o

óbvio. Também ficou claro sobre meu casamento com Jasmine

porque circulamos em ambos os territórios. Não consideramos


como informações sigilosas. Mas também não descartamos que

eles só vieram passar um tempo e tentar descobrir algo. Como

Yoshida foi atacado, quero dizer, como os negócios foram


atacados. — me corrijo. — Ele precisa de mais pessoas e

convocou os irmãos.

— Eu preciso contar algo e preciso que jurem que não

falarão nada para meu pai, ou melhor, para ninguém.


— O que sabe? — Giulia pergunta.

Karen sai do sofá onde estava e vem para o meu lado,


Giulia também vem, eu fico no meio.

— Prometem?

— Prometemos. — falamos no mesmo momento.

— Alex me encarava demais no jantar de noivado, decidi


confronta-lo. Antes disso conheci Rachel e ela me contou que

Alex queria me matar. E não fale nada, Daniel, deixe-me terminar.

— Karen me interrompe sem que eu comece a falar. Assim que


abri a boca, ela já mandou parar. — Eu fiz umas teorias e entendi

que Alex quer vingança contra meu pai, porém, sabendo do

histórico do meu pai e Marco, entendi que eles não teriam motivos

para matar a mãe de Alex, e também sei que eles não a


conhecem. Eu poderia conversar com Alex e convencê-lo do

contrário, também acreditei nisso pelas falas de Jasmine, onde

ela diz que eles fingiam serem outras pessoas, no caso, para
serem aceitos, mas que ela os achava até legais.

— E isso é o bastante para achar que são inocentes? —

pergunto.
— Não são inocentes, mas se estiverem com Yoshida,

estão pelos motivos errados, por algo armado. E digo que talvez

eles tenham entendido isso ou, vai ver, eles não estão com

Yoshida. Marquei um encontro com Alex, à noite, em um local


deserto...

— Você é louca? — nem preciso gritar, pois Giulia faz isso

no meu lugar. — Como você marca um encontro nessas


circunstâncias? — volta a abaixar o tom de voz. — Com alguém

que é visto como um possível inimigo?

— Como eu disse, fiz minhas teorias e acreditei fielmente

nelas. — responde calmamente. Eu quero gritar com Karen, só


não faço isso porque estamos sussurrando, menos o grito de

Giulia. Falar alto será audível nas câmeras. — Estava disposta a

pagar pra ver. Fugi de casa...

— Mas trocamos o sistema de segurança...

— Eu sei disso, Daniel. Eu sempre sei.

— Ela é o Yoshida, Daniel. — Giulia sussurra.

— Ou uma boa aprendiz dele, isso é certeza.

— Continuando. Alex nunca apareceu e eu não sofri nada,

como podem ver. Ou seja, eu estava vulnerável, se ele estivesse


com Yoshida, aquele seria um ótimo momento para eu ser pega e

nada aconteceu!

Tem sentido.

— Ok. Agora eu posso acreditar que Alex... — penso um

pouco. — Não sei o que pensar. Alex não te fez mal e nem

mandou fazer, ok. Mas isso prova que ele apenas não te
machucou, ainda não prova que ele não está aqui para outra

coisa. Ele realmente veio para te matar, só não o fez. Mas será

que Alex foi embora por entender que não tem o que e vingar, ou
ele foi embora por que Yoshida o chamou para outro trabalho?

Porque assim Alex fica inocente para o seu lado, mas não para o

lado dos crimes de Yoshida.

— Daniel tem razão, Alex pode ter entendido que você não
tem nada a ver com isso, mas as circunstâncias o levam a

Yoshida. Rachel disse que ele conhece Olívia e Milla, vieram

juntos, podem estar juntos também, apesar de Milla não ter falado
nada. — Giulia continua. — Não te fez mal, mas quem são esses

irmãos? Chegaram com poucas roupas e sumiram somente com

documentos? Sem qualquer sinal de sequestro, nada! Apenas

sumiram.

— Não podemos contar nada a nosso pai, não é mesmo?


— Não, Daniel. — Karen é firme na resposta.

— Então só teremos teorias, também não posso mandar

investigar. No momento estamos com pessoas consideradas de

confiança, não posso manda-las para outro lado sem que meu pai
ou Marco saibam desse serviço.

— Bom, na sua teoria, Alex é uma pessoa que foi

enganada? — Giulia pergunta, mas soa como uma afirmação.

— Sim. Não posso falar nada de Allan, não conversamos,


mas também não apareceu na noite do encontro.

— Talvez um dia Alex e Allan reapareçam, agora só

teremos teorias e nada mais. — olho para minha irmã, que faz
uma leve carranca para minha fala, mas também não discute. —

Não podemos ir atrás deles, no momento temos que focar em


outros assuntos.
Capítulo 21
JASMINE

Cinco dias depois

Todo aquele receio, nervosismo, quase pânico, se foi.

Hoje é o grande dia, o dia do meu casamento. E não estou


com paranoias como antes.

Nesses dias conversei com Daniel por mensagens, ele


precisou ir à Itália, então não o vi depois do jantar de noivado.
Depois ele retornou pra casa, ficou algumas horas, e precisou sair

novamente.

Mas hoje é o dia do nosso casamento e estou muito

ansiosa para o momento.

Não sabemos nada de Yoshida, apenas que, até o


momento, nada aconteceu. Na verdade isso é mais uma

estratégia de Fernando, espalhar, dar as informações sobre tudo

o que aconteceu para a imprensa, assim Yoshida será falado —


não pelo nome, e sim pelos crimes —, então ele precisará recuar

um pouco.

Ok, confesso, uma parte ainda está receosa, porque será

um casamento até que normal. Não será no religioso, será no


civil, com algum conhecido de Fernando comandando a

''cerimônia''.Mas dá um medinho que algo aconteça, no entanto,

Fernando jura que nada acontecerá.

Espero por isso!

— Como está a noiva mais linda da minha vida? — olho

para trás, para minha mãe que entra no quarto. Seus olhos estão
marejados, o sorriso trêmulo. — Nem acredito, parece que passou

tão rápido.

— Vejo que uma mercenária está prestes a chorar.

— É mais fácil falar do que passar pela situação. — uma

lágrima escorre, indo até seu queixo. Vou até ela e enxugo. —

Maquiagem perfeita que não borra por nada.

— Mãe, ainda nos veremos, conviveremos como antes.


Enquanto Yoshida estiver por aí, nós duas ainda seremos

grudadas, como sempre foi.


Como Yoshida não foi capturado, como não sabem nem
quem ele é, minha mãe também irá conosco nessa ''lua de mel''.

Na verdade a festa de casamento é como um pedido de


desculpas pelo caos em nossas vidas, do tipo ''Vocês vão casar

para termos acordos, vão ter filhos, estamos passando por um

momento terrível, mas para que não fique tão pesado, faremos

uma festa para compensar o caos''. Agora ter uma lua de mel já é

demais.

Teremos a noite de núpcias, mas o dia seguinte será uma

casa com nossos familiares...

Vai demorar para termos uma vida de casados real.

Bom, pelo menos o contratodeixa claro que o filho é para


depois que todos os problemas forem resolvidos.

Não quero colocar uma criança no mundo em um momento


como esse.

— Eu sei que ainda estaremos grudadas, como sempre foi,

mas é que... — respira fundo, soltando todo o ar pela boca. — É

difícil ver e saber que minha filha cresceu, que estará formando
sua própria família. E também fico surpresa, estou mais emotiva

que você. Apaixonou, não é?


Suspiro e sento na cama.

— Daniel é um cara muito incrível.O seu histórico de vida,

o que ele é hoje, o seu jeito... Eu perdi todo aquele receio, sabe?

— confirma, sentando ao meu lado e segurando minha mão. — A


única coisa estranha, ao meu ver, é a parte que ele é o sucessor

de Fernando e eu serei uma primeira dama em algum momento.

— Pra mim essa é a melhor parte!

— Ah, mãe! — soa como um resmungo. — Sério, eu queria

apenas... — penso um pouco. — Não ser tão dependente dele,


mas sei que durante todo o caos, eu serei dependente da máfia

ao todo. É estranho, porque eu já queria uma independência


estando com meu pai, agora estando com um cara como Daniel,

sei que será impossível.

— Quando estamos nessa vida, Jas, precisamos abdicar

de muita coisa. A faculdade foi o máximo que poderia ter. Temos


inimigos por aí, você passou despercebida sendo filha de Tyler,
mas sendo uma Bertollini? Você pode comandar um negócio

legal, voltar a faculdade em algum momento, mas sabemos o


risco. Giulia também correu esse risco antes e agora está como

você, presa novamente.


— Bom, não tenho muito o que fazer nesse momento,

quem sabe depois desse caos eu consiga fazer algo de


interessante? — levanto da cama, ajeitando meu vestido. — Eu

nem consigo acreditar que esse vestido ficou tão lindo!

— Eu não consigo acreditar que você pegou meu vestido

para casar! — mas é claro que minha mãe reclama. — Jasmine,


você casará com um herdeiro bilionário, por que usar meu

vestido? Poderia comprar um Oscar de la Renta, Valentino,


Carolina Herrera entre tantos outros.

— Porque eu tenho preguiça de comprar roupa, querida

mãe. E olha esse vestido! — rodopio a sua frente. — Perfeito,


grudou em todas as minhas curvas.

— Talvez Daniel babe assim que te vê. Eu nunca te vi tão


linda na minha vida. E ainda mais orgulhosa dessa maquiagem e
cabelo. Preciso confessar, quando Isabella e Katherine se

ofereceram para te arrumar, fiquei até com medo. Mas Sara jurou
que as duas sabiam o que estavam fazendo. E ficou perfeito!

Olho-me no espelho novamente.

Até consigo esquecer que é um casamento no meio do


caos.
— Nada de Allan e Alex? — olho para minha mãe
novamente.

— Jas, vamos combinar, nada de falar dos seus irmãos,


deixe isso para seu pai resolver depois, ok?

— Ok, mãe. E quando o casamento vai começar?

Assim que termino de perguntar, alguém bate na porta e eu


digo que pode abrir. É Sara quem entra no quarto.

— Eu disse que Isabella e Kat fariam um ótimo trabalho. —


sorri pra mim. — Você está linda!

— Obrigada. — agradeço. — Fiquei com receio de fazer


minha própria maquiagem, já que não teria outra pessoa para

fazer. Mas foi um ótimo trabalho.

— Elas são doidas para inúmeros assuntos, mas são


ótimas em maquiagem.

— Kat quis colocar um batom preto em mim, disse que


destacaria meus olhos.

— No dia que Kat casar com Gabriel, aposto que será um


casamento com ambos de preto. E ok, eles que decidem o modo

como vão casar. Contanto que não seja em um cemitério ou em


um hospital psiquiátrico abandonado...
— Que? — minha mãe pergunta.

— Kat é doida, meu filho não fica tanto atrás.

— Gabriel virá? — pergunto.

— Sim, Jesse ficou com Leila.

— E Leila vai conosco na viagem?

— Em outro avião, junto com Rachel e Hugo. Mas acho

que não é um assunto para o momento.

— Estou ansiosa e essa espera está me matando.

— Estavam verificando, pela centésima vez, a segurança

da casa. E está tudo pronto. Eu vim perguntar se vai querer uma

cerimonia clássica ou a rapidez. Porque não treinamos nada,


como sempre, deixamos tudo pra cima da hora.

— Eu acho que também devo desculpas, não participei

muito dos preparativos.

— Eu me diverti fazendo isso, já que não posso trabalhar


no momento com as escolas de dança fechadas, me ocupei

organizando a festa. Só que temos dois ansiosos, você e Daniel,

então vim perguntar se quer falatório ou se quer apenas o ''aceita

ser esposa e blá blá blá''.

— O que Daniel quer?


— O que você decidir pra ele está ótimo.

— Pode ser resumido.

— Ok, falarei isso ao carinha lá, o sei lá o que do civil.

— Eu amo que vocês conseguem organizar tudo do jeito

que preferirem.

— Eu era meio contra, hoje sei aproveitar, você também


saberá. — ajeita meu cabelo. — Minha primeira nora. Vocês serão

muito felizes, já dá pra ver o brilho nos olhos dos dois, e o sorriso

diferente.

— Eu tinha tanto medo, agora estou bem tranquila.

— Daniel pode se fechar em vários momentos, mas é pelo

passado dele, não quer falar, não quer relembrar, mas está

sempre ali.

— Acha que isso acontecer devo pedir para que conte?

— Não, porque aí Daniel se afasta, desde criança ele é

assim. Se ficar muito severo, aí sim tente conversar com ele.

Daniel é do tipo ''se forçar muito é pior''. Mas acho que ele está
melhor que antes, até desabafou com você.

— Ele confia em mim.

— E você confia nele?


— Agora sim eu posso dizer isso, sem colocar outras

pessoas a frente.

Sara sorri pra mim.

— Muitas felicidades.

— Obrigada.

Sara me abraça e sai do quarto.

— Se Daniel fizer qualquer merda, me conte, eu mesmo

corto a pele dele! — minha mãe começa a chorar. — Eu vou te


ver amanhã, depois e depois, por que estou chorando?

— Se continuar eu também vou chorar... — mas eu nem

consigo terminar de falar, pois também choro junto a minha mãe.


Em um abraço apertado.

Meu pai entra logo em seguida, se juntando no abraço.

Afasto-me de minha mãe e é o momento que eu abraço

apenas meu pai. Eu não vou vê-lo amanhã e nem depois, talvez
demore muito para vê-lo novamente...

Há uma enorme possibilidade de não vê-lo mais...

Por isso meu abraço com ele é mais emotivo, mais sofrido,
é quando choro mais forte.
— Perdeu a pose bandida. — rio com meu pai, em meio ao

choro.

— Eu sabia que perderia, Jas. — beija meu rosto. —

Espero que me perdoe por tudo o que te fiz...

— Não me fez nada.

— Não viveu como uma garota comum graças a vida que


te dei.

— Esquece isso...

— Espero que seja feliz com Daniel, que ele te dê a

liberdade que não consegui te dar. Fui hipócrita em diversos


momentos, sei que prendi você, minha filha, que imaginei uma

vida para você e queria que seguisse meus pensamentos, e

perdoe-me por atrapalhar sua vontade de terminar a faculdade.


Mas... Eu acho que não tenho que explicar minhas decisões,

porque não tem explicação.

— Deixa isso pra lá...

— E agora novamente, casando por um acordo.

— Eu gosto de Daniel.

— É, eu sei, todo mundo sabe, por isso não é tão ruim.

Mas quero pedir perdão por todo o comando que te dei, e que
seja diferente com Daniel. E se não for, prometo que se voltar

para casa em algum momento, tudo será diferente. Eu amo você.

— beija minha testa.

— Eu também te amo, mas isso aqui está parecendo uma


despedida.

— Porque é uma despedida, Jas. Depois dessa festa eu

não sei quando nos veremos. — sorri e sei que ele falaria ''e se
nos veremos em algum momento''. — Espero que me perdoe.

— Está perdoado. — beijo seu rosto. — Te amo.

— Eu também devo pedir perdão a Alex e Allan, por ter

sido um péssimo pai.

— Você nem sabia que eles estavam vivos.

— Mas agora que sei, devo ir atrás deles, certo? —

confirmo. — Porque eles podem ser inocentes. Não falaremos

disso agora. — respira fundo e enxuga o rosto. — Vamos, é o seu


dia agora.

A maquiagem continua intacta, apenas o cabelo deu uma

bagunçada, mas logo conserto.

Respiro fundo.

Saímos do quarto e descemos as escadas.


É a casa de Yankee novamente.

Eu achei estranho fazer disso aqui como uma cerimônia


comum, quero dizer, fazer a parte do noivo não ver a noiva, da

noiva atrasar, do vestido de noiva convencional, de daminhas...

Eu quero algo mais simples.

Quando desço o último degrau e olho para trás, vejo Daniel


ao lado de Fernando e Marco.

Daniel está lindíssimo. Assim como eu, nada de roupa de

casamento comum. Está apenas de camisa social, calça preta e,


claro, o sapato social.

Meu coração bate mais forte, mais rápido, meu sorriso vai

aumentando sem que eu controle.

— Você está linda. — se aproxima de mim e fala isso em


um sussurro.

— Você também.

Ficamos em silêncio, apenas nos encarando.

— Sem palavras. — ele sussurra novamente depois de


alguns instantes.

— Tem muita gente ao redor.

— Então devemos nos casar logo?


— Eu só não reclamo dessa sua fala, porque o pedido de
casamento foi lindo.

— Um ponto a mais por aquela noite. — coloca o braço na

minha frente e entendo que é para segura-lo. — Preparada para


ser a senhora Bertollini?

— Preparadíssima.

Mais até do que antes.

Meu coração está acelerado quando chegamos ao lado de


fora da casa. A organização é perfeita!

Sara ficou a frente porque eu, realmente, não estava tão

por dentro do assunto, o que está em alta, o que é legal, não

entendo nada disso e fiquei feliz dela ter ficado na liderança. Sara
foi pedindo a opinião e eu ficando feliz porque achei tudo muito
lindo.

Os convidados são pessoas da M-Unit e os aliados de

Daniel. Giulia ficou comigo lá no quarto, só saiu quando Felipe se


sujou todo com o sorvete de açaí e ela precisou limpa-lo porque
Leonardo estava conversando com Daniel. Ela é a testemunha

junto a Leonardo.

Giulia está mais sorridente que eu!


Eu também estou sorridente, mas não tanto, porque todos
os olhares estão na minha direção, o que me deixa tímida.

— Não abaixou a cabeça. — Daniel sussurra.

— Preciso aprender.

— Mas continua vermelha, até seu pescoço.

— Não ajuda em nada.

— Por isso pediu o casamento resumido?

— Também.

— Ou foi para a noite de núpcias?

Não preciso responder, pois já chegamos à frente do oficial


que fará o casamento.

Passa em alguns minutos, é bem rápido e eu nem preciso


falar algo para que todos escutem. Eu acho que meu grande
problema com cerimônia religiosa seria a parte de falar todos

aqueles juramentos em voz alta, certeza que eu gaguejaria.

Quando Daniel coloca a aliança no meu dedo, ele precisa


segurar a minha mão porque tremo muito.

— É ansiedade. — sussurro, porque Daniel franziu a testa,

talvez pensando que é tremor de medo. — Estou feliz com o


casamento.
— Ficará ainda melhor depois da confraternização. — pica
um olho.

Suspiro.

Coloco a aliança em seu dedo.

Ninguém precisa falar que podemos nos beijar, pois Daniel


já me segura pela cintura e me puxa para um beijo.

É um beijo quase como aquele que demos no escritório, e


claro que não pode ser como aquele, porque ali foi mais ''erótico''.

Esse aqui é mais contido, ainda assim, é um beijão.

Nos afastamos e nos encaramos, escuto até os aplausos e


as felicitações dos convidados, mas não presto atenção neles.

Estou perdida no olhar, no brilho dos olhos de Daniel.

Meu coração ainda acelerado, mas, ao mesmo tempo,

mais aquecido. Uma felicidade que sobressai qualquer ansiedade.

— Te amo. — ele sussurra.

— Também te amo. — sai do nada, sem que eu espere,

apenas saiu por impulso, mas não soa como uma mentira ou algo
para que Daniel não fique triste.

Entretanto, Daniel apenas sorri, provavelmente acredita


que apenas quis retribuir suas palavras.
— Temos uma confraternização a ser feita. — segura
minha mão. — Minha mãe falou da playlist?

— Reggaeton!

— Você dança?

— Amo!

— Ah, meu Deus. — suspira. — Acho que teremos uma

longa noite pela frente.

Olho para o céu, que já está escurecendo.

— Eu acho que devemos aproveitar o que deve ser a


última noite de festa, certo? — ele confirma. — Então acho que

devemos nos divertir um pouco...

— Nos divertir um pouco antes da noite de núpcias.

— Acho que só se casou por isso. — e eu estou ansiosa

por esse momento.

— Meu segundo motivo, o primeiro sempre será você,

Minnie!

Ai meu coração!

O casamento é tão diferente que já estamos sozinhos aqui,


as outras pessoas já estão comendo e bebendo.
Não é o casamento que imaginei porque nunca pensei em

casamento.

Mas é o casamento perfeitoporque estamos felizes,e não


tenho medo.

— Eu posso dançar com você? — pergunto, sussurrando

em seu ouvido.

— Você bebeu?

— Não, por quê?

— A playlist é toda de reggaeton e talvez bachata. Se quer


dançar comigo...

— Normal. — sorrio. — Se não quiser, acho que posso


dançar com as garotas...

— Porra, Minnie, é um bom convite, mas eu nunca dancei,


ainda mais na frente de tantas pessoas.

— Você é mais tímido que eu!

— Não é timidez, é apenas... — coça a nuca. — Ok,


podemos dançar.

Bato palmas e depois praticamente pulo em cima dele,


beijando sua boca.

— Você é incrível, Dan! V


ou te chamar de Dan.
— Eu detesto apelidos, é meio idiota, meio moleque...

— Dan! — falo novamente. — Vamos, marido. Vamos a


nossa festa.

— Tem certeza que não bebeu?

— Estou feliz, a ansiedade deu lugar a felicidade. Não


tenho receio. — sorrio para ele, mas guardo as outras palavras
para outro momento. — Virá ou não?

— Não precisa pedir duas vezes.


Capítulo 22
JASMINE

Eu sei que essa festa de casamento é mais como uma

despedida, um último alívio para o que está por vir.

As pessoas estão felizes, sorrindo, como se nada tivesse


acontecendo... Mas também dá para notar que, em alguns

momentos, eles falam baixo, como se fosse segredo. Inclusive


meu pai e Yankee.

— Qual a parte de dançar não entendeu? — fico a frente


de Daniel, que está com seu irmão. Coloco minhas mãos na

cintura e o encaro. — Anda!

— Eita, não imaginei que Jasmine fosse tão decidida.

— Pois é, Gabriel. — olho para meu cunhado... Uau! Sou

uma Bertollini agora! — Eu imaginei algo assim vindo seu irmão,


sendo direto, não que fosse tímido.

Daniel passa a línguapelos lábios e termina alguma bebida

no copo.
— Eu pensei melhor e prefiro te assistir dançando.

— Sério? — cruzo meus braços. — A galera está

dançando, Dan! Vamos dançar também.

— Eu não sei dançar, sou todo duro, não vai dar certo.

— Ninguém liga, vamos só nos divertir.

— Vai, Daniel, só uma dança com sua esposa. — Gabriel


dá um leve empurrão no ombro do irmão. — Até Leo está

dançando.

— Eu não chamo aquilo de dança. — Daniel faz uma

careta. Olhamos para Leo que está se mexendo feito um louco

enquanto Giulia faz quase o mesmo. — Isso porque Giulia diz que
sabe dançar.

— Olha para Kat, parecendo um robô. — observo Kat com

sua dança esquisita.

— Uma robô gostosa pra caralho. — olhamos para Gabriel,

que falou alto demais. — Com todo respeito, claro.

— Vamos, Dan! — insisto. — Eu sou a tímida da história,

lembra?

— Não sei... Podemos fazer isso no privado.


— O cara deve estar com a mão calejada devido à
espera...

Daniel dá um tapa bem forte na nuca do irmão.

— Calado!

— Ah, cara! Eu vim pra esse casamento para me divertir,

não para ser agredido.

— Vá dançar com Katherine então. — Daniel provoca.

— Ela me odeia pelo casamento com Amélia, sendo que


amo eu amo Kat. Mas não mude de assunto, vá dançar com sua

esposa, se até Karen está dançando, por que você não está?

Daniel é super tímido sim!

Agora dá para notar muito bem isso.

Ele é retraído, e por vê-lo tão confuso e nervoso, eu

apenas seguro sua mão.

— Ok, fique aí. — sorrio para ele. — Eu danço com as

garotas.

— Eu quero ir, mas...

— Entendo, senhor tímido.

— Mais tarde eu não serei tímido.


— Uma pena que não posso fazer uma piada com essa

situação. — Gabriel apenas bufa e toma sua bebida.

— Não pode mesmo, Gabriel, ou quebro seu dente,

novamente!

— Já quebrou o dente do seu irmão? — olho para Daniel.

— Bem-vinda a família mais louca e sem noção da vida


bandida, Jasmine. — Gabriel abre os braços. — Prepare os
ouvidos para as conversas sem noção que estão por vir, e a

violência gratuita praticada por esse povo contra seus parentes.

— Pode ir dançar, Jasmine, eu assisto tudo daqui.

— É voyeur?

— Gabriel... — Daniel rosna.

Eu apenas dou risada e me afasto.

Minha mãe está fascinada com a coleção de bebidas de


Yankee que custam mais de cem mil reais, ela está conversando
com Ísis e Alice. Sara está dançando com Isabella, na verdade

ela está gritando a música enquanto Sara apenas abaixa a


cabeça com vergonha, mas, realmente, ninguém parece ligar

muito... É o normal deles.

Mas é Giulia quem me arrasta.


— Vocês duas! — me coloca ao lado de Nicole. — Vamos

dançar! Vamos aproveitar a nossa última festa!

— Olha o que sei fazer! — Kat coloca as duas mãos no

joelho e faz o famoso ''quadradinho''.

— Eu já disse o que isso parece! — Felipe fica a nossa

frente.

— Olha, Jasmine, faça uma criança para fazer companhia

a esse pirralho! Se bem que mais uma criança pode ser mais
chato para a tia aqui... Quer saber? Vamos aproveitar a noite de
hoje e faço de conta que esse pirralho não é insuportável!

E eu aproveito mesmo, até danço com Nicole, rimos,


cantamos juntas.

Mas quando começa a o reggaeton antigo, eu grito!

Na verdade, acho que muitos gritam.

É nostálgico, é feliz, é perfeito!

Quando J Balvin começa com Morado... Canto, danço...

É o momento mais feliz da minha vida, sem mentira


alguma!

Yandel com Anuel AA cantando ''por mi reggae muero'' é


quando eu solto a Jasmine ensandecida que existe dentro de
mim.

Nunca na minha vida fui a qualquer canto que eu

extravasasse, que minha euforia fosse lá no alto, que eu risse,


cantasse e dançasse desse modo.

E é justo naquele casamento que tanto tive receio, estou

dançando justamente com Nicole e Giulia...

— Ah... — quase reclamo quando Aventura começa a

cantar ''Dile al amor'', porque isso aqui deveria ser música para
dançar com outro alguém, com o marido, de preferência. Mas ok,
danço com Nicole, já que Giulia foi puxada por um Leo tão

eufórico quanto eu.

Kat dança com Karen, Felipe dança com um Gabriel todo

descoordenado... Fernando e Marco estão com suas esposas, até


o tal Arthur e sua esposa Dianna, meus pais...

É, será eu e Nicole...

Cara, como Hugo está aqui e eu não o vi antes?

Mas ele está dançando com Nicole.

Não vejo Rachel...

— Ok, já que todos estão distraídos,posso ser um péssimo


dançarino agora. — viro-me, dando de cara com um Daniel bem
tímido. Ele estende a mão na minha direção.

Seguro logo, antes que ele desista pela timidez.

Ficamos bem próximos, poderia dizer que sinto seu

coração batendo, mas é o meu.

— Pensei que fosse um péssimo dançarino. — sussurro

em seu ouvido e vejo como se arrepia. — Impossível,sendo filho

de Sara.

— Não queria mostrar meus dotes assim, para todos.

Ele me gira em seus braços e acabo com minhas costas a

sua frente, como estou com sapatos de saltos altíssimos, fico

quase na sua altura, minha bunda bem ali nele, sentindo sua...
Dureza.

A música muda para outra, para ''Mera'', do a


Tiny começa...

Impulsivamente, sem qualquer pudor, esfrego-me em


Daniel, ainda dançando.

É quase uma dança do acasalamento.

— Yo sé lo que quiero. — Daniel canta em meu ouvido, me

arrepiando por completo. — Pero tú primero, dime, dejamos el

juego... No me mires así, que me desespero...


— Iah, diablo, mera... — continuo. — No me mire así, que

me desespero...

Daniel puxa minha cabeça para trás, segura meu rosto, e

com minhas costas a sua frente, ele beija a minha boca.

Aos poucos vou me virando para o beijo ficar melhor.

Devido a toda a dança, a ''esfregação'', eu quero agarra-lo

igual como fizemos no escritório, quero terminar o que

começamos, quero tê-lo em mim!

É isso!

Quero sexo com Daniel!

— Podemos adiantar nossa noite de núpcias. — ele

sussurra. — Já passa da meia noite, de qualquer maneira.

— Concordo plenamente. — sussurro em sue lábios. —


Podemos adiantar nossa noite de núpcias.

(...)
Despedi do meu pai, chorei novamente, mas estou com fé

que tudo acabará bem.

Avisamos a Sara que estávamos subindo. Como o

casamento foi todo diferente, nem existe aquela parte dos

convidados jogarem arroz ou qualquer outra coisa e sairmos com

o carro.

Apenas atravessamos a rua e estamos na casa para a

nossa noite de núpcias.

Como suei nessa festa, pedi para que Daniel me esperasse

tomar banho.

E não entramos na casa com Daniel me carregando, até

viemos nessa intenção, mas começamos a nossa beijar, foi difícil

abrir a porta, desci do seu colo, nos beijamos, caímosno sofá, e

eu lembrei que estou suada!

Olho para minha lingerie.

É preta, não branco como o clássico!

Mas olhando meu corpo assim... Nunca usei lingerie, era


sempre coisa confortável, nada sexy. Não que eu vá mudar meu
guarda roupa todo por Daniel, mas estou me sentindo muito sexy

com isso aqui.

Até admiro o tamanho que minha bunda ficou.

Uau! Como nunca percebi que sou maravilhosa?

Eu nem bebi!

Quero dizer, três taças de espumante, nada que me deixe


embriagada.

Solto meu cabelo.

Passo meu perfume, que já estava aqui no banheiro.

Respiro fundo, dou a última olhada no espelho, e saio do


quarto.

Deus!

Que homem!

Daniel está mexendo no controle do ar condicionado e nem

nota minha presença.

Suas costas são perfeitas, musculosas, tatuadas...

E quando desço meu olhar para sua cueca boxer preta...


Bela bunda!

Que? Jasmine!
Dane-se, ele é perfeito!

Vira de frente.

Fico firme, mesmo sabendo que estou, pela primeira vez,

seminua na frente de um homem, e, em breve, estarei


completamente nua.

Daniel dá passos para frente, eu faço o mesmo, não

falamos uma palavra. Apenas nos beijamos quando estamos


próximos.

Daniel me levanta e coloco minhas pernas na sua cintura,

sua mão vem na minha bunda, apertando. Como preciso de

equilíbrio, minhas mãos acabam ficando em seu pescoço e na


nuca, mas a sua mão vai passando pelo meu corpo enquanto a

outra me ajeita em seu corpo.

Tiro minha boca da sua, quando Daniel faz menção em

beijar meu pescoço, sou mais rápida e começo a beijar o dele.


Vou descendo até o ombro, mas volto ao sua boca.

Começa a andar e depois para, me coloca deitada na

cama.

Que homem maravilhoso!


— Você é mais linda quanto imaginei, e eu imaginei pra

caralho!

Desce seu corpo no meu, beijando meu pescoço e

chegando ao topo dos meus seios. Por causa do sutiã que estou

usando, eles ficaram mais volumosos.

Daniel abre o fecho, que fica na frente, meus seios ficam a


mostra.

Sinto um frio na barriga que parece até que desce, fecho

as pernas, é tão rápido que chama a atenção de Daniel, que sorri


de lado e coloca a boca no seio direito enquanto a sua mão

aperta o outro.

Puta merda!

Eu nunca vi graça em seios, nunca senti qualquer coisa,


mas com Daniel é outra história.

É muito bom! Mas eu necessito que ele desça!

— Quer pedir algo, Jasmine? — filho da mãe lindo!

— Pode descer. — sussurro, quase gaguejo. — Você sabe


o que é que estou falando.

Fico completamente vermelha, mas isso acaba passando

quando Daniel começa a beijar a minha barriga e vai descendo,


descendo...

Minha calcinha já se foi.

Agora sim estou exposta a sua frente. Completamente nua.

Fecho os olhos, ainda mortificada. É um misto de ''quero


que você faça qualquer coisa para parar esse incômodo em

minha vagina'' com ''Meu Deus, eu quero sair daqui de tanta

vergonha''.

É o dedo de Daniel que vem primeiro.

Eu acho que é a situação, a excitação, de ter Daniel me

tocando, porque em um toque eu sinto um tremor na virilha.

E quando ele vai continuando, quando encontra meu ponto


exato, pronto, eu tremo!

A tremedeira vai começando nas pernas e depois na

virilha, dá um friozinho na barriga, é como se eu tivesse saindo do


meu próprio corpo. Estou gemendo alto, sei disso, mas é melhor

do que quando eu fazia comigo mesma!

Isso é muito bom!

E vem aquele alívio.

Estou em êxtase, ainda viajando um pouco quando Daniel

fala algo comigo, mas não compreendo muito o que seja, estou
imersa nessa sensação, e é quando vem a outra e agora é a boca
de Daniel que está lá em baixo.

É uma sensação muito diferente, tão boa quanto antes.

Mas como sempre demoro de chegar ao ápice após a


primeira vez, essa aqui demora um pouco mais, porém, continua

sendo mais rápido do que quando eu me tocava.

Essa parece mais forte, mais intensa que a primeira vez e

o alívio me faz fechar os olhos e até respirar de boca aberta.

Daniel fica cara a cara comigo, depois beija minha boca.


Sinto meu gosto nele, um tanto estranho, mas nada que me faça

afasta-lo. Eu até colocaria minhas pernas ao redor do seu corpo


se eu tivesse forças nas pernas.

Ele se afasta e eu acabo indo junto com ele e vejo o

momento que ele tira a cueca.

Senhor!

Arregalo os olhos diante do seu corpo nu.

Acho que vai doer!

— Vou com calma. — ele sorri de lado, do seu modo sexy,


provavelmente sabendo o que acabei de pensar. — Se bem que
eu acho que você precisa relaxar mais.
— O que isso quer dizer? — ele vai me fazer esperar?

Sorri novamente, pega meus dois tornozelos e me puxa até

a beirada da cama, dou um gritinho, porém eu volto a suspirar


quando sua boca volta para o mesmo local de instantes atrás.

Isso aqui é melhor que imaginei.

Esse é o melhor dia da minha vida!

No geral, esse é o meu melhor dia!


Capítulo 23
JASMINE

Meu sorriso é enorme!

Acordamos, tomamos banho juntos... Transamos...

Confesso que ainda fico ruborizada diante dessa


intimidade toda, talvez a partir da quinta transa eu melhore na
timidez... Espero que seja logo.

Safada, você não era assim!

— Partiremos daqui a uma hora. — Daniel avisa. Ele é


mais sério do que eu. Sorri em vários momentos, é maravilhoso,

eu que sou a boba que sorri o tempo todo, sem motivos, quer

dizer, tem motivo, mas Daniel diz que viajaremos daqui a uma
hora e eu só falto babar em cima do prato. — Fico feliz em ver

seu sorriso bobo, agora não sou o único apaixonado da história.

Coloco meu copo de suco de goiaba em cima da mesa e o

encaro. Seu sorrisinho de lado mostra que ele está me

provocando. Pego um mini crossaint e jogo nele, que consegue


agarrar com a mão e come.
— Quando eu respondi o seu ''eu te amo'' ontem, eu não

menti, Daniel. — ele até mastiga mais devagar quando me escuta.


— Eu fui sincera, e sabe como sei disso? — lentamente ele

também balança a cabeça, negando. — Porque saiu sem que eu

percebesse. Tenho a teoria que quando falamos algo por impulso,


sem pensar um segundo na resposta, é porque é sincero. É

porque o nosso coração mandou falar.

Ele termina de engolir o mini crossaint. Vejo aquele bolo na

sua garganta tendo o esforço de descer, o seu pomo de adão que

sobe e desce.

— Sei das suas questões pessoais. — continuo. —


Passadas. Elas ainda doem tanto assim?

Posso entender que é um péssimo assunto para o ''pós-

noite de núpcias'', porém, preciso saber um pouco mais da sua

situação psicológica.

— Não é doloroso. — começa a responder. — Ok, vamos

lá, eu contei isso aos meus pais durante a conversa que tivemos.
A primeira vez que realmente soube de Yoshida em nossas vidas,

foi quando eu comecei com o ''vício''em remédios. — faz aspas

no ar quando fala a palavra ''vício''.— E foi justamente quando

meu pai relatou do que aconteceu no passado e disse que


Yoshida deixou claro que um dia voltaria. Na infância eu seria
dado a Yoshida por meus pais biológicos, tinha acabado de

conhecer Nicole, que também seria dada a ele. Aquele medo

voltou em minha vida. Meus pais também sabem que agora estou

mais aberto ao diálogo porque Yoshida é um inimigo presente em

nossas vidas, é uma pessoa que está por aqui, quem sabe ele até

convive conosco, e não temos ideia de quem ele seja. E eu juro,


Jasmine, estou lutando muito para ficar cada vez mais leve,

menos paranoico diante de todas essas informações. Eu não

quero ficar no lugar do meu pai, de Fernando Bertollini, apenas

por hierarquia, obrigação, quero ficar porque eu quero esse lugar.

E estou lutando comigo mesmo para isso.

Eu não quero demonstrar pena, pois sei que isso pode ser

terrível para uma pessoa como Daniel, ou para qualquer outra

pessoa que tem traumas.

Por isso eu levanto da cadeira e sento ao lado dele,

segurando a sua mão.

— O que você viu ou sabe de Yoshida?

Daniel retribui meu aperto e coloca a outra mão por cima,

acariciando a minha.
— Coisas que tentei esquecer, que quando Fernando

apareceu eu sabia que seria meu salvador, e que com o tempo,


preferi evitar o assunto, pois não seria mais pego.

Resumidamente, sei o que agora muitos sabem, a sua


crueldade... — respira fundo. — Lá no passado, na infância, meu
pai, Fernando, recebeu vídeos ou algo do gênero, de crianças

sendo estupradas e mortas. Só que vi com meus próprios olhos,


ao vivo, pois eu seria uma delas.

Meus olhos se arregalam diante da informação.

— Eu estava na fila, não sabia ler nem escrever na época,

mas agora que lembro, eu era o sexto da fila. Eu vi absolutamente


tudo, não entendia o que era estupro, mas os gritos me faziam
entender que sofriam. Mas quando chegou a minha vez, o meu

pai biológico disse que se eu não o obedecesse eu seria o


próximo. De todas as situações terríveisque passei, essa é a que

mais me marcou. Nenhuma surra, castigo de me colocarem


trancando em uma casa no meio do nada por dias, chega perto
daquela cena. Porque eu sei que existe, eu sei que tem inúmeras

pessoas passando por isso nesse momento, e por isso ainda


machuca, por esse motivo ainda tenho um bloqueio de ficar tão

por dentro do assunto.


Seguro seu rosto, fazendo com que Daniel olhe pra mim.

Seus olhos estão cheios d'água, mas ele não chora.

— Está sendo difícil estar nessa situação?

— Meu pai já falou comigo, até disse que eu poderia me


afastar. Por anos meus pais acharam que era tudo pelas surras

que levei, por todo um abuso parental, agora que sabem mais do
que passei, meu pai entendeu porque eu não me insiro tanto no

assunto. Mas eu não posso ser essa pessoa, Minnie. Não posso
mesmo. Todos precisam de ajuda, meu pai está fora do próprio
negócio, temos que fazer tudo. Por mais que me traga péssimas

lembranças, eu quero ajuda-lo. E agora eu começo a me sentir


um pouco melhor porque atacamos e conseguimos algo, sinto

que podemos conseguir ainda mais. E assim pelo menos a parte


de Yoshida estará finalizada e nenhuma pessoa terá que passar
por aquela tortura.

Acaricio seu rosto.

— Dúvida que eu te amo? — pergunto.

Daniel meneia a cabeça e beija a minha mão.

— É um dos meus graves problemas, Minnie. — segura a


minha mão. — Eu vou amar as pessoas, e demorarei para
acreditar que elas sentem o mesmo. Aconteceu da mesma
maneira com meus pais. Como era a primeira vez que convivia
com pessoas boas, demorei a me abrir tanto de sentimentos, mas

quando eles se abriam, eu apenas concordava, mas ainda não


acreditava tanto.

— Então demora quanto tempo para acreditar?

— Acho que até o fim da minha folga.

— Ah, Deus! — sorrimos um para o outro. — Folga que


será tão rápido.

— Eu ainda não sei do plano todo, mas pelo que escutei


antes do nosso casamento, as estratégias mudaram. Não
ficaremos fora por tanto tempo, será questão de um mês ou

menos que isso, logo estaremos aqui novamente.

— Então não será uma temporada fora? Indo e voltando?

— Pelo que entendi, não.

— Espero que isso termine logo, mas acho que não será

rápido.

— Agora será uma pausa, tudo o que aconteceu contra

Yoshida foi falado, então ele pode ficar afastado por algum tempo.
— Acha que pode acontecer como o passado? Porque,
pelo que sei, Yoshida veio, trouxe um pouco de caos, depois
sumiu por duas décadas.

— Eu não acredito nisso. Porque Yoshida já deveria ser um


adulto naquela época, vamos dizer que ele tinha a idade do meu

pai e de Marco, agora Yoshida já tem cinquenta anos, mais ou


menos. Ele pode querer continuar agora porque, seguindo a
lógica, ele estaria perto de se aposentar. Mas se ele for muito

ativo, pode demorar poucos anos, não décadas como aconteceu.

— Esse pode ser o grand finale do Yoshida, não? Atacar


quem ele não venceu no passado, e agora, por fim, conseguir.

Claro, pela lógica de Yoshida, não que ele vá vencer.

— Sim, pode ser. — dá de ombros e depois olha para o

relógio em seu pulso. — Daqui até o avião são quinze minutos,


ainda temos vinte minutos disponíveis. — levanta da cadeira e

estende a mão na minha direção. — Adoraria poupar tempo, tirar

sua roupa e te colocar em cima da mesa, mas eu tenho certeza


que tem câmeras por aqui.

Eu arrepio novamente, mas não ruborizo.

Pontos pra mim!


Levanto da cadeira. Em uma rapidez que me faz dar um

grito de surpresa, seguido por uma risada, Daniel me carrega em


seus braços e me beija aqui mesmo.

Lembrando as câmeras, ele sobe as escadas, comigo em

seus braços, e vamos direto ao quarto.

Eu tiro sua roupa e a minha. Empurro-o na cama.

Daniel até arregala os olhos com surpresa.

Ele nu a minha frente.

Milhões de pensamentos passam por minha cabeça, mas


não tenho tanto tempo para isso. Monto em cima de Daniel,

sussurrando em seu ouvido:

— Eu te amo, e acredite nisso.

Olho em seus olhos.

Ele sorri, seus olhos brilham.

— Também te amo.

(...)
Pelo pouco que conheci da família Bertollini e Vesentini,
jurava que o avião seria uma loucura.

Mas foi quase um clima de luto!

Conversei com minha mãe, como sempre, sendo minha

vergonha. Sara e Nicole conversaram comigo; Karen e Felipe


estavam com sono e apenas me cumprimentaram, dormiram a

viagem toda; Kat nem me cumprimentou, apenas abaixou a

cabeça e ficou assim a viagem toda. Giulia não sabia ao certo o

que aconteceu... Isabella só sabia chorar.

Daniel também não entendeu nada e ninguém quis falar do

assunto.

Agora que já chegamos a uma casa na Itália, Isabella


apenas grita que foi muito burra e Sara tenta amenizar.

— Já sabe o que aconteceu? — pergunto a Daniel, que se

aproxima com uma garrafa de água na mão e me entrega.

— Sim. — confirma. — Tem duas mulheres nesse plano


maluco de Yoshida, Milla, que foi a babá de Giulia e que tirava as

fotos dela para vendê-la aos psicopatas na infância. E Olívia, a


mãe biológica de Leonardo. Meu pai odeia Milla exatamente por

ela ter matado Nancy e ter se livrado de Luna, que era um bebê,
por ter tirado as fotos de Giulia e por ter orquestrado um estupro a

minha mãe. Então o plano do meu pai sempre foi se livrar de

Milla. Só que Marco não tem tanta coisa para odiar Olívia,
digamos assim, ela abandonou Leo e está com Yoshida, mas,

diretamente, não nos atacou. O plano era para Marco ficar

próximo a Olívia e descobrir coisas...

Abro minha boca. Agora entendo o clima de luto e agora a


raiva de Isabella.

— Isabella não sabia e pegou o marido com Olívia. —

concluo.

— Não, Isabella sabia disso. Porém, ao que tudo indica,

porque também não me explicaram direito, Olívia estava nua na

cama e Marco estava ao lado. Sendo que o plano não era tão pra

frente dessa maneira. Não é que Marco traiu Isabella, pelo que
entendi, ele mentiu sobre o plano para amenizar a situação e sua

esposa viu que não era nada sobre ''são apenas jantares e

conversas''.

— Mas Marco não traiu mesmo?


— Em termo de fidelidade, eu coloco minha mão no fogo

pelos Bertollini e Vesentini. Em todos esses anos, nunca vi ou

soube de qualquer coisa que pudesse ser uma infidelidade. Marco

não tem motivo para odiar Olívia a ponto de nem conseguir olhar
na cara dela, mas também não tem nada que o atraia.

— Se tiver qualquer plano que inclua você e uma mulher

nua, Daniel...

— Mas eu já participei de um plano que inclui uma mulher

nua. — cruzo meus braços. — Você! Estamos casados, Jasmine.

— descruzo meus braços. — E se depender de mim, é um plano

de vida, nossa vida juntos.

Sorrio para ele e dou um selinho.

— Te amo.

— Também te amo. Ficaremos nessas declarações a todo

final de beijo?

— No começo é assim.

— E o depois?

— Não sei se fazemos o tipo de casal fofo.

— Ei, casal fofo! — olhamos para Giulia, que está


carregando Felipe, que voltou a dormir. — Podemos ir para a
nossa casa oficial, os carros chegaram.

Daniel estende a mão e eu seguro.

— Pronto, partindo para a nossa moradia por alguns dias.

— ele sussurra. — Em breve será nossa moradia por mais tempo.

Espero que isso seja logo.


(5)

Bônus
ALEX

Minha cabeça parece que pesa uma tonelada. Levanto da


cama e é como se tivessem vários rinocerontes correndo nela.

Dói demais!

Coloco minha cabeça no travesseiro e abro os olhos,


vendo tudo girar.

Levanto da cama, com dificuldade, encosto minha cabeça


na parede e fico um tempo assim, até que ameniza mais e vou até

a porta.

Assim que abro, Allan passa no corredor, mas para e me

encara.

— Qual a porra do seu problema? — Allan me empurra

para dentro do quarto novamente. — Hein?

— Do que está falando?


— Do que eu estou falando? — fecha a mão, penso até

que me daria um soco, mas logo abaixa. — Você transou com


Milla!

A minha dor de cabeça piora.

Piora tanto que tenho que segurar minha cabeça e sentar


na cama.

— Impossível. — falo. — Eu não gosto dela.

— Bom, ontem você estava gostando muito.

— Que?

— Olha, Alex, sei que nossa irmandade, amizade e todo

esse sentimentalismo, ficou escasso desde que chegamos a essa

porra de cidade. Mas já que odeia Milla, não a suporta, cuide do


seu copo. Porque se está mal, segurando a cabeça, acho que

alguém colocou algo na sua bebida. Ontem você estava bem feliz

com Milla.

Fecho os olhos e esfrego.

Eu deveria ter ido ao encontro de Karen, mas Milla mandou

mensagem dizendo que deveríamos nos encontrar. Se eu fosse

até Karen, poderiam ir até ela e seria pior.


Eu também não fui até Milla. Conversei com Allan e
decidimos desistir desse plano louco... Só que eu estava certo,

sabia que seríamos seguidos de algum modo, por esse motivo

nos pegaram e estamos aqui.

Porém, Yoshida resolveu nos dar uma chance.

Estamos aqui há pouco tempo e somos bem tratados,

ontem teve uma ''confraternização''dos seguranças e Milla estava


presente, já que devemos participar do seu plano...

Eu, idiota, devo ter dado algum vacilo e colocaram algo em


minha bebida.

Só assim para eu conseguir transar com Milla.

— Será que foi apenas sexo? — pergunto. — Quero dizer,

estupro. Mas tem certeza que eu transei com ela?

— Quando eu entrei no quarto eu quase vi o útero de Milla,

porque ela estava nua, de quatro e te chupando. Você parecia

bêbado, até tentei atrapalhar, mas você parecia estar bem com

tudo. Então... Apenas saí e agora te dou um sermão.

— Qual a finalidade disso? Porque não consigo imaginar

nada.
— Talvez a finalidade de apenas conseguir transar com

você, não sei. — encolhe os ombros. — Milla já tentou antes e


você a dispensou, talvez seja ego ferido. Mas sério, comece a

cuidar da sua bebida e comida. Milla te dopou e podemos


considerar isso como estupro, mas se quisessem acabar com sua
vida, também teriam conseguido. Tenha cuidado, agora estamos

diretamente com esse bando de doidos.

ISABELLA

Horas atrás, antes da viagem

Receber uma mensagem de Olívia não era algo que eu

esperava para o dia de hoje.

Pode ser uma armadilha? Claro que sim. Mas eu conheço

mulheres dramáticas, manipuláveis e, facilmente, previsíveis.

Mas por que estou aqui, mesmo sabendo de tudo isso?

Porque eu precisava ver com meus próprios olhos.


E isso me faz ter raiva, a ira lá no alto, vontade de matar!

A minha entrada no motel já estava autorizada, a porta do


quarto do motel aberta... Tudo previsível, porque Olívia quer que

eu veja.

E eu vejo!

— O que faz aqui? — Marco se assusta com minha


presença, eu nem precisei entrar no quarto, estou apenas parada

na porta.

— Olá, querida. — Olíviasorri mais amplamente para mim.

Coloca o cabelo para o lado. — Que cara feia.

Nua!

Olívia está completamente nua!

A cena é repugnante.

Marco, sentado na cama, com as pernas estiradas. Olíviaa


sua frente, do mesmo modo, só que com uma perna dobrada, o
que faz com que sua parte íntima fique exposta a frente de Marco.

Engulo em seco.

Eu só queria ver, não quero fazer barraco, não quero

brigar...
— Seu filho da puta desgraçado! — grito, entrando no
quarto. Não vejo nada além desse desgraçado a minha frente.
Praticamente me jogo em cima de Marco, com as mãos fechadas,

eu soco. — Eu te odeio! Seu mentiroso!

— Isabella, pare! — ele tenta segurar minhas mãos, me

impedir de bater mais, por fim ele consegue. Fica em cima de


mim, segurando minhas duas mãos e prendendo minhas pernas.

— Pare, Isabella!

Seus olhos são como um pedido de socorro, mas eu tenho


tanta raiva agora!

— Saia! — grito. — Saia!

Marco sai de cima.

Olho para Olívia, com aquele sorrisinho vitorioso.

Marco não vai se defender, até porque ele necessita da

confiança de Olívia.

Respiro fundo, passo a mão grosseiramente pelo meu

rosto, para enxugar minhas lágrimas de raiva.

— Depois conversaremos, Marco. — olho para Olívia

novamente. — Um dia também conversarei com você, Olívia. E


será a última conversa que terá com alguém.
— Não tenho medo de uma dançarina. — cruza os braços
e levanta da cama. — O que fará? Me chutar com algum passo
estúpido de dança do ventre?

— Você não me conhece, Olívia. — ela cruza os braços,


abaixo dos seus seios nus, tentando mostrar o quão siliconados

são. — Marco pode não ter um grande ódio de você, mas eu


tenho, e aí eu usarei tudo isso contra você, Olívia.

Olívia ri, abre a boca para falar algo, mas não tenho que

escutar nada.

Saio do quarto, passo pela recepção — que não é bem


uma recepção, é aquela cabine onde pedem a identidade e o

pagamento —, mas assim que vou pegar meu carro, Marco

agarra o meu braço.

Tento sair, mas ele me puxa para a direção contrária da


minha ida.

— Por que está fazendo toda essa cena? — aperta meu

braço, puxando para perto dele. — Eu te contei que estava com

Olívia! Te contei do plano todo!

Marco, ainda me segurando, me leva até um

estacionamento, que não é do motel, e me coloca dentro do seu


carro. Eu aceito tudo isso porque quero falar, e fazer tudo isso em

público seria ruim.

— No seu plano, Marco, era relatado jantares, conversas e

algumas saídas! Nada sobre motel, nudez, e você tão relaxado

com sua ex! — olho em seus olhos.

— Porque realmente não era algo do tipo, Isa! — sua voz

começou como um grito, mas ele logo abaixa o tom. — Só que,

obviamente, uma hora Olívia tentaria me seduzir.

Eu tenho que rir nesse momento.

— Sabe o que me irrita nisso tudo, Marco? — paro de rir.

— É que por anos você correu atrás de Olívia...

— Porque desconfiava que ela estaria com Milla e Yoshida,

e estava certo! Nunca foi sobre amor, sobre reencontros, era


sobre estratégia!

— Por anos você falou dela com raiva, com ódio. —

prossigo. — Aí eu fico sabendo que Fernando quer matar Milla,


não quer nem conversar, só quer vê-la sofrer. Ele poupou Milla

porque a odeia tanto que acredita que ela sofrerá mais com

Yoshida do que com ele mesmo. Aí você, Marco Vesentini, que


tanto reclamou, tanto vociferou contra sua ex, a encontra e
consegue ter estômago para encontros, jantares, até mesmo para

um motel? Você está sorrindo para uma Olívia nua, onde está

toda a sua repulsa por essa puta?

— Fernando sofreu mais com Milla, Isa! — fala com calma.


— Milla foi a responsável pelas fotos de Giulia para vendê-la a

pedófilos. Ela matou Nancy, sumiu com um bebê, orquestrou um

estupro a Sara que quase resultou em um aborto, que era


Gabriel. Olívia abandonou Leo e está com Yoshida, ela realmente

não fez tanta crueldade para que minha raiva sobreponha a

vontade de conseguir qualquer informação a mais!

Respiro fundo e passo a mão pelo rosto.

— Você não consegue entender mesmo meu ponto, não é?

— Não, Isabella! Porque eu não te traí.E quer saber mais?

Se essa porra fosse uma armadilha, você estaria sofrendo nesse


momento...

— Você mesmo disse que Olívia está com Yoshida, mas

também está por conta própria, ela é tola, estúpida e previsível. E

sabe por que eu vim? Porque de umas semanas pra cá você tem
sido um marido de merda! Você não conversa direito comigo, me

liga apenas para saber se eu e Kat estamos bem e logo desliga,


há mais de um mês você não fala que me ama. E quando eu

perguntei de Olívia você disse que tinha semanas que não a via,
que estava ocupado com outro assunto. Não a vê por semanas e

assim que a reencontra estão em um motel? — não responde. —

Você estava se encontrando com ela durante todo esse tempo.


Eu aceitei porque você foi sincero, pela primeira vez contou algo

secreto pra mim. Fiquei irada, mas fiquei satisfeita por confiar em

mim. Mas era mentira, vocês estão cada vez mais íntimos e me

escondeu tudo!

— Eu não te traí, Isabella. — persiste. — Jamais te trairia.

— Não transou com ela, mas beijou?

— Não!

— E como ela ainda acredita nessa merda se nem a beija?

— Porque eu digo que tenho ressentimentos pelo passado

e estou dividido entre vocês duas.

— Agora que me conta essa parte de conversa sobre estar


dividido?

— É claramente uma mentira...

— Você também mentiu pra mim. Não traiu de maneira

carnal, mas e minha confiança? Não está enganando apenas


Olívia, também me enganou. Poderia ter me contado toda essa

parte íntima...

— Você jamais aceitaria!

— Porque não tem tanta repulsa dela, Marco? É isso que


não entendo. Como você odiava, jurava essa mulher de morte, e

agora se encontra com ela, tem conversas...

— Porque é necessário! — sei que vai perder a paciência


logo mais.

— É necessário, eu só não consigo compreender como a

raiva passou logo. E a verdade é que você nunca a odiou muito,

Marco. Você sofreu quando ela foi embora com um cara bilionário,
quando ela retornou vocês até conversaram que eu sei. Eu

apenas engoli tudo isso calada. Até qualquer dia, Marco.

Abro a porta do carro.

— Isa, por favor...

— Continue com Olívia, como estava acontecendo. Eu

continuarei vivendo como antes.

— Eu te amo! Vinte anos ao seu lado...

— E mesmo assim você mostrou que confiava em mim, e,


logo em seguida, me enganou. É necessário, eu que não sou
obrigada a ser a corna mansa.

— Não te traí!

— Traiu a verdade! Me enganou! — grito. — Tchau!

Saio apressadamente do estacionamento do motel.

Não chora, Isa!

Siga em frente, não chora!

Você é mais forte do que pensa.


Capítulo 24
DANIEL

Cinco dias depois

É como se eu tivesse renascido, sem exagero algum!

Estou me sentindo mais leve depois de ter conversado com


todos, depois de ter explicado o motivo de ter estado distante dos
negócios da Nostra quando o assunto começou a ser sobre
Yoshida.

Feridas que nunca cicatrizarão, pois lembro os detalhes,

mas já consegui falar sobre.

E Jasmine!

Por anos meus encontros eram apenas com prostitutas.

Relacionamento com uma pessoa comum é complicado, devido a


máfia. Com uma mulher ligada a máfia significa um

relacionamento e negócio sério. Com uma prostituta é apenas

pagar por um momento e depois cada um vai para um canto.

Uma relação vazia, fria, apenas pelo prazer momentâneo.


Com Jasmine tem sido uma semana de prazer em relação

a tudo, momentos incríveis,conversas ainda mais fantásticas e de


um grau surpreendentemente profundo. Uma brincadeira ali, uma

provocação aqui...

— Eu consigo acreditar que me ama. — falo, olhando para

Jasmine que termina de colher as folhas de manjericão da horta

da minha avó Alice, aqui na Itália. Finalmente preparei o nosso


almoço e o jantar. — Ou melhor, aceito que me ama.

Sua mão vem ao meu rosto, o cheiro bom de manjericão

que invade meu nariz...

— Vai espirrar e atrapalhar nosso momento lindo? —

arqueia uma sobrancelha.

— Não, já passou a vontade.

— Durou menos que sua folga.

— Acho que sete dias juntos mostra que me ama.

— Você nem é o cara chato que achei que fosse, e que

Giulia reclamava em alguns momentos.

— Porra, Jasmine, Giulia ama Leonardo, qual o critério que

essa garota tem?

— Você ama o Leonardo!


— De maneira diferente! Mas é zoeira familiar, Leo pode
ser o melhor cara, ele continuará sendo zoado por todos. Uma

pena a convivência familiar não estar sendo a loucura de sempre.

— seguro sua cintura, puxando para mim. — Espero que em

breve tudo volte ao normal.

— Gritarias, vergonha alheia, discussões e todos juntos. —

seu sorriso vai diminuindo.

— Seu pai está bem, continuará assim, não se preocupe.

— É que é a primeira vez que ele está tão ativo, quero


dizer, indo atrás de um inimigo, sendo que Yoshida é ''o inimigo'',

algo maior e mais perigoso.

— Falando nisso, tenho uma novidade para te contar. —


mudo de assunto.

— Conte-me!

— Tenho uma nova função nos negócios. Leo e Gabriel

precisaram ir para outro lado. Gabriel seria a pessoa de

confiança, junto a velha guarda da máfia, que cuidaria da

segurança de tudo e todos que estão na Itália. Como eles não


estão presentes...

— Você ficará aqui!


— Isso mesmo!

Jasmine pula em meus braços.

Agarro com força e tento manter o equilíbrio, porque ela

quase me derrubou.

— Nem acredito nisso! — sua euforia é notável. — Eu já

estava imaginando que daqui a pouco você estaria longe, que não
te veria tão cedo.

— Mudanças de planos, agora ficarei aqui, em casa, no


nosso quarto, com você. — beijo sua boca.

Eu odeio esses lugares!

Em todo canto tem uma bendita câmera para gravar a


porra de um Big Brother!

— Câmeras até na horta? — Jasmine pergunta, quando


nos afastamos e ela volta a ficar em pé no chão.

— Em todo canto, um reality show da vida bandida.

Pego a cesta onde tem todas as hortaliças que Jasmine


pegou e caminhamos de volta a casa. Meu braço no seu ombro e
seu braço na minha cintura.

— Eu nunca andei desse modo. — confesso. — Com


ninguém, é meio diferente.
— Nunca dançou, nunca namorou, nunca casou...

— Nunca amei alguém fora os parentes e amigos.

— Ah, que fofo, Dan!

Reviro os olhos para o apelido.

— Eu nem acredito que ficarei aqui. — suspiro. — Mesmo

tendo perigo, fico grato de continuar aqui. Mas também penso que
estou sendo um péssimo sucessor.

Jasmine se afasta e fica a minha frente, paro de andar.

— Vamos lá, meu querido. Você tem noção que você está

cuidando de uma das partes mais preciosas de toda essa


situação? Você simplesmente está com as famílias dos chefões.
Você está junto com Victor Bertollini e Benjamin Vesentini, os

antigos chefes da Nostra. Você, Daniel, está no comando da


segurança da família de Fernando e Marco, dos pais, esposas,

filhos e neto deles. Fora que também está vigiando e cuidando de


peças importantes como Rachel, Leila e Hugo, os arsenais e os
locais seguros que estão sendo cuidados para caso haja

necessidade. Você quer mesmo dizer que não pode ser um


sucessor? Que não confiam em você?

Eu amo essa mulher!


Quase discutimos mais cedo, pois Jasmine queria
conversar com Leila junto com Giulia, mas Leila está sendo
mantida em um local sigiloso, assim como Rachel e Hugo. Mesmo

que elas queiram conversar, mesmo que possa ser uma


possibilidade de terem mais informações, esse é um caminho que

pode ser descoberto. Mas elas entenderam.

— A verdade é que quando estamos muito ativos e depois

paramos, realmente acaba parecendo que fomos jogados para


escanteio. Eu era ativo nos negócios, estava em reuniões, estava
em laboratórios, negociando armas, negociando com gente

importante e ainda tinha tempo para os negócios da empresa,


cassinos e hotéis. Agora que não podemos ser tão ativos, acho

que me colocarem em uma casa soa como ter sido deixado de


lado. Porque nem do nosso carregamento de drogas estou

sabendo direito.

— Mas sua função é importante...

— Entendo, mas é complicado. Sucessor de que? Nem

sabemos se no futuro teremos qualquer negócio fixo, estamos


tentando nos manter fixo com o novo negócio, e ainda nos

dividindo para acabar com Yoshida. É extremamente complicado


e confuso. Mas eu darei meu sangue para essa função de
proteger vocês. — esse sou eu, uma hora desmotivado, outra
hora cheio de otimismo. — Porque é aqui que as coisas ficam
complicadas. Apesar de não estarem todos juntos, tudo foi

orquestrado para um contra-ataque nesse território. Então preciso


estar preparado para qualquer coisa.

— Então o senhor será um péssimo sucessor? — coloca


as mãos na cintura e me encara.

— Ok, serei um bom sucessor e tudo ficará bem no final.

— Quero que faça uma promessa de agora em diante. —

estende a mão a minha frente. — Se precisar de qualquer coisa,


por mais perigosa e estranha que pareça, fale comigo. Não sou

apenas esposa, quero ser sua parceira para o que der e vier. Não

estou fazendo nada mesmo, posso te ajudar em estratégia, para

fazer ou pensar. Estou aqui para qualquer coisa, conte comigo.

— Sabe que não te colocarei em perigo.

— Se você se colocar em perigo, podendo contar com

minha ajuda para amenizar, eu ficarei muito irritada! Quero ser

sua parceira em tudo, pulamos o juramento do casamento por


pura timidez, mas agora faremos esse juramento. Na saúde e na

doença, na pobreza e na riqueza, na plenitude e no perrengue.


Nos maus e bons momentos. Na confusão e na calmaria. Com

plano ou sem planos, sempre juntos, Dan! Somos um casal, eu te


amo e você me ama. Podemos contar um com o outro em

qualquer situação. Promete?

É difícil pra mim, porque sei do que Yoshida é capaz.

Mas é reconfortante ter uma esposa que, realmente, está

disposta a ajudar de qualquer modo.

— Prometo. — aperto sua mão.

— Promete mesmo? Nada da boca pra fora!

— Prometo que saberá de tudo, e se precisar, sei que

posso contar com você.

— Serei uma ótima parceira. — retribui o aperto.

— Não apenas uma ótima parceira na cama.

— Ah, seu besta! — tenta me dar um tapa com a outra

mão, mas também seguro e a puxo pra mim.

— Te amo.

— Também te amo.

— Será que escutarão falar muito da nossa parceria? —

penso um pouco. — Será que faremos algo útil em algum

momento?
— Levando em conta que estão fora da Nostra e isso aqui

é outro negócio, podemos estar formando uma nova era aqui

dentro. Um casal participando dos negócios, quem sabe as outras


mulheres queiram e consigam o mesmo.

— Talvez Fernando e Marco me odeiem e me tirem desse

posto.

— Ou nos amem porque conseguiremos alguns objetivos.

— Você é a esposa que pedi a Deus.

— Você pediu uma esposa a Deus?

— Não. — sorrio. — Mas quando te vi, fui correto em saber

que é perfeita e que seria minha.

— Eu era menos sonhadora, gostei de você quando te vi,

mas não acreditei que algo assim seria possível. — abraço-a. —

Estaremos juntos nessa, Dan.

— Não apenas nessa, em tudo.

— Em tudo. — olhamos um para o outro. — Agora somos

uma família.

— Em breve tendo filhos. — beijo sua mão. — Prometo

que serei um ótimo marido, parceiro e pai.


— Prometo que serei uma ótima esposa, parceira e mãe.

Estarei aqui para o que der e vier.

— Falando em dar e vir...

— Ah, Daniel! — eu amo quando ela fala desse modo,

estou até me acostumando com o ''Dan''.

— Eu sei de um local que não tem câmeras, o almoço pode


esperar alguns minutos. Vamos selar nossa promessa enquanto

temos um momento de alívio.

Seguro sua mão e vamos até um local que era a antiga


oficina das máquinas do meu avô.

Olhando para Jasmine a minha frente, seu sorriso, o brilho

dos seus olhos que ficaram mais intensos após minha promessa...

Eu sei que não poderei quebrar essa promessa.

Eu amo Jasmine, primeira mulher que amo dessa maneira.

E sinto que será a primeira e única.

Um dia teremos um filho, ou mais de um...

Que seja em breve. Que logo tudo se resolva.

Mas ainda vai demorar, são muitas pontas soltas e outras

que precisam ser consertadas.


Mas agora estou com minha esposa, com minha família.A

mulher que amo e que me entende. E agora eu me entendo e

tento progredir cada vez mais.

Suspiro.

Agora as coisas começam pra valer, e preciso me manter

firme para acabar com um dos maiores algozes do meu passado.

Estarei presente quando Yoshida e seus parceiros


morrerem.

Eu serei o sucessor que tantosonhei junto a mulher que

tanto amo.

Em breve tudo isso será possível.

Eu creio que sim!

Venceremos.

Fim da história de Daniele Jasmine.


Epílogo
Uma semana depois

'' Oi, Isa, aqui é o Marco, e, por favor


, escute esse áudio!

Eu juro, Isabella, nunca amei alguém como amo você!

Perdão por tudo o que te fiz passar


, sei que fui um filho da puta com
você, te enganei, traí sua confiança.

Não, não amei Olívia da maneira que pensa. Senti algo por ela,
você tem razão nisso. No passado ela era uma mulher interessante
no meio do meu caos pessoal. Leo sempre esteve certo, passar um

tempo com meus pais é um castigo, por isso mandei que ficasse
com eles no passado, pois já estive em seu lugar. No meio daquele

caos, Olívia era uma boa distração.

Uma distração que me trocou por outro velho mais rico que eu, que

me entregou Leo porque eu pedi por aquele bebê de um mês...


Como eu poderia amar mais essa mulher do que você que me

ameaçou com facas e nenhuma riqueza fez seus olhos brilhassem

para que me amasse um pouco?


Confesso, me conquistou com a ameaça de cortar meu pênis e

cozinhar, a parte de me fazer comer soou como canibalismo, não


curti, mas eu me apaixonei ali.

A louca que dança ''gasolina'' subindo as escadas, que não notou


minha presença naquele dia, mas que está em meus pensamentos

até hoje.

Juro, Isa, não fiz nada que pudesse te trair com Olívia. Ela é tola,

estúpida, como você mesmo disse. A cena do motel foi um plano


dela, eu deveria ter imaginado isso, eu não sabia que ela tinha seu

número para contato, então... Eu fui o idiota.

Mas eu sabia que te contar que estava cada vez mais próximo de

Olívia seria um problema no nosso casamento. Entenderia que era

preciso, mas ficaria distante, com raiva da situação, pois sempre

acreditou que um dia a amei.

E eu entendo você, pois você falava que não amou Adam e eu não

acreditava...

Mas eu te amo e quero te pedir perdão por trair sua confiança.

Os negócios sempre foram liderados por homens, eu fui criado

desse modo, sempre a frente e sempre protegendo, e esse foi meu

maior erro.
Decidi te contar do plano, coisa que se fosse antes, na Nostra, não
aconteceria, pois não envolvemos esposas, filhas, mulheres em

geral nesses assuntos. Mas errei por não te contar tudo, contar que

precisava de muitos encontros para poder validar minha palavra

com Olívia, que precisava criar mais vínculo com ela.

Foi difícil pra mim. Meu sorriso para Olívia não foi sincero, mas

precisava parecer que sim.

Errei em achar que você faria dramas, que não aceitaria nada, que

atrapalharia toda a estratégia armada.

Errei em achar que você seria um empecilho.

E agora eu vejo que não seria, pois poderia ter jogado todo o plano

na cara de Olívia e não fez, poderia ter falado inúmeras coisas para
não sair por baixo, porém, você se calou e só falou dentro do carro.

Meu maior erro foi ter julgado você de uma maneira simplista, te
colocando como uma mulher que estragaria tudo.

Perdão por isso, Isa.

Quando toda essa questão terminar


, prometo que voltarei para casa

e farei de tudo para te reconquistar


.

Te amo muito, você é e sempre foi o amor da minha vida.


Estou terminando meu trabalho por aqui, espero que escute esse

áudio antes da minha viagem.

Até, no máximo, semana que vem.

Mais uma vez: Te amo!''.

Continua em: Reencontrando o passado.


(2) Nota da autora
Os acontecimentos dessa série ocorrem de maneira contínua, às
vezes tendo passagem de tempo de apenas alguns meses.

O próximo livro foca nos acontecimentos de Isabella e Marco, por


isso o livro 3 chega ao fim com a promessa de Jasmine podendo

ajudar Daniel nos negócios, mas sem vermos se isso realmente


acontecerá.

Como são acontecimentos contínuos, alguns assuntos que ficaram

abertos em outros livros, aparecerão sendo resolvidos nas próximas


histórias como bônus.

Ainda veremos os personagens na ativa em outros livros. E


novos personagens chegando.

Por isso os livros devem ser lidos em ordem, a partir do livro 4, ele
deve ser lido com mais atenção, pois as pistas sobre Yoshida e os

traidores começam a ser dadas, que é o mistério da série.

Obrigada a quem leu até aqui. Se possível, deixem


uma avaliação.

Obrigada!
Reencontrando o passado

Os mafiosos – Livro 4
(A história de Isabella e Marco)

Manuele Cruz
Prólogo
ISABELLA

Um mês após o epílogo do livro 3

— Mãe! — Kat praticamente grita.

— Kat, você acha justo o aquele cafajeste está fazendo?


— paro de falar, olhando para a minha filha. — Você ligou para
seu pai, ele atendeu? Acho que não!

Tenho raiva de mim mesma por estar me importando com

isso, mas, não tem jeito. Eu me importo com Marco. Eu me


importo por ele não atender minhas ligações.

Eu escutei seu áudio, o áudio de perdão, o áudio que ele


disse que voltaria, mas nada aconteceu.

Quer dizer, até aconteceu, Fernando avisou que Marco

estenderia o seu ''serviço'', ou seja, mais tempo ao lado de Olívia.

— Mas a viagem foi programada pelo tio Fernando. — Kat

continua. — Sara é sua amiga, pergunte a ela o que está


acontecendo.

— Ela não sabe tudo, Fernando não conta.


— Mas...

— O que você quer? — estou perdendo a paciência.

Kat escutou minha conversa com Sara, onde conto sobre

Marco e Olívia. Desde então ela me enche de perguntas e

defende o seu pai. Isso só me causa mais duvidas, incertezas e


raiva.

Raiva de mim mesma por não entender o bendito plano e


agir como uma mulher desesperada, babaca, idiota!

— Eu tenho certeza que meu pai te ama.

— Eu não me importo com isso. — minto. — Meu

casamento terminou há tempos.

Tem meses, talvez um ano, que Marco não é mais o


marido de antes...

— Mãe. — Kat fala com mais calma. — Ligue para o meu

pai. Por favor.

Faço mais uma tentativa e nada. Marco não atende. Não

quero assustar Kat, mas sinto uma sensação ruim. Ele viajou sem

dar qualquer informação de local, data, nada! Ainda não recebi

nenhuma notícia vindo da sua própria boca. Não estava tão


preocupada, mas ele nem entrou em contato com Kat e nem com
Leo.

Escuto alguém batendo na porta do quarto.

— Espere um pouco aqui. — Kat pega o telefone da minha

mão, para ela ligar para o pai.

Vejo Sara e Fernando parados na porta.

— Oi. — falo, não entendendo o motivo de Fernando estar

aqui.

Não deve ser algo bom.

Olho para minha amiga, ela está com os olhos vermelhos.

Desvio o meu olhar para Fernando e vejo que ele também está.

— O que aconteceu? — fico preocupada.

Marco?

— Isabella. — Fernando diz. — Marco...

— O que aconteceu com ele? — pergunto, não gostando

do seu tom de voz.

Alguma coisa ruim aconteceu.

Meu peito aperta ainda mais.

Fernando e Sara trocam olhares.


— Isa. — Sara vem em minha direção. — Não sei como

dizer isso de outra maneira. Disseram que Marco morreu.

— Quê? — escuto Kat gritando atrás de mim. — Meu pai

não pode ter morrido!

Fernando vai até Kat e a abraça, tentando consolar.

— Diga que é mentira, Sara. — peço, agarrando seu braço.


Mas ela está triste, olhos vermelhos... — Sara, por gavor...

— Não. Fernando procurou durante todos esse tempo...

Não, Marco não pode ter morrido! Eu não posso perdê-lo.

— Sara, ele não pode ter morrido, não pode! — caio no

chão, não tenho forças para ficar em pé. Lágrimas caem


descontroladamente e o meu corpo treme. — Não! Não!

Sara me abraça e continuo gritando desesperadamente.

Não posso ter perdido Marco!


Capítulo 1
ISABELLA

Passado

Aqui estou eu, sentada na cama do motel e repensando na


merda que fiz.

Adam, o meu ex-namorado, me ligou e pediu para


conversarmos. A idiota aqui aceitou. Sara bem que me avisou

para não vir, mas não a escutei.

Adam me pediu para voltar, fez mil e uma declarações de

amor. Caí feitouma idiota. Mas como poderia ser diferente?A


pessoa que mais amei chega e fala tantas coisas bonitas...

Diferentedo ex de Sara, Adam nunca me traiu, eu sei disso. Ele é

um idiota, não nego, mas eu o amo de qualquer forma.

Sim, isso me irrita. Depois do que ele me fez eu ainda o


amo, ou acho que o amo.

Adam me trouxe para esse motel, me fez juras de amor e

começou a me beijar. Estava feliz por aquilo acontecer, mas


quando ele tentoutirar a minha blusa... Travei, simplesmente não
consegui ir adiante. Pensei em Sara falando sobre ele me querer

apenas para sexo, nada mais que isso.

E essa sempre foi a causa das nossas brigas, o fatode

Adam quer muito sexo, e eu não querer. Assim ele me chamar de


frígida,dizer que nenhum homem me querer por ser tão travadae

sem graça.

Depois ele volta como um homem carinhoso e eu aceito.

Respiro fundo.

Sara está certa, como sempre.

Não fui adiante. Mesmo com Adam insistindo. Encheu-me

de beijos, mas não adiantou. Adam ficouirritado, tenteiexplicar a


minha situação, claro que ficourevoltado. Tão revoltado que saiu

do motel e me deixou aqui. Sozinha.

Agora já deu pra mim.

Chega!

Acorda pra vida, Isabella!

O telefone do quarto toca. Atendo:

— Sua hora aqui acabou. — a mulher fala,do outro lado da

linha.

— Já estou saindo.
Pego o resto da minha dignidade e saio do quarto. Desço
às escadas, mas sou barrada pelo segurança.

— A senhorita não pagou. — ele informa.

— Como assim? — pergunto. Meu rosto queimando de

vergonha.

— O seu acompanhante saiu e deixou a conta com você.

— a recepcionista informa.

Sinto-me humilhada. Já não bastava ser abandonada em

um motel, ainda tenho que pagar e olhar para cara dessas duas

pessoas que, com certeza, já sabem da situação.

Pago com cartão de débito e saio do motel, fico mais

irritada quando percebo que o lugar é simplesmente deserto.

Viemos de táxi e esse motel fica à beira de uma estrada.

Pego um aplicativo de táxi e seleciono para ser uma

motorista mulher. Depois de vinte minutos ela chega.

Conversamos sobre a vida, desabafo com ela. Que é igual a

Sara.

Eu sou a tonta mesma.

Depois de quase meia hora chegamos a frentedo meu

prédio, pago a mais pela conversa que tivemos e assim nos


despedimos.

Chego à porta do apartamento e preparo para ouvir o

sermão de Sara. Não contarei o que aconteceu,apenas direi que

eu e Adam conversamos até tarde.

Quebrei um juramento com minha melhor amiga, aquele


onde eu dizia que não seria mais manipulada, não seria mais

trouxa pelo Adam.

Entro em casa e vejo tudo calmo. Vou até o quarto de Sara

para me certificarque ela está dormindo, mas não está. Procuro


no banheiro e no meu quarto. Nada dela.

A preocupação me consome.

Por que eu não vim com ela? Por que fui atrás de Adam?
Eu sabia que a rua estava perigosa, só falávamos disso e ela já
estava bastante paranoica com esse assunto, mesmo assim

pensei em mim e não nela.

Tento controlar a minha respiração e parar de tremer.


Procuro o número de Sara e ligo. Tento duas vezes e não atende.

Logo depois, ela retorna a ligação.

— Onde você está? — pergunto com preocupação e alívio.

Pelo menos, sei que ela está viva.


— Estou bem, não se preocupe. Passarei a noite fora. —

não está nada bem! — Está tudo bem.

Sara jamais passaria a noite fora sem avisar antes.

— Sara, você está bem? — sei que não está, preciso de


uma dica, uma luz do que posso fazer. — Vou ligar para a polícia.

— Não! — ela grita em desespero... Se não posso ir a


polícia,o que farei?— Eu conheci um cara fazum tempinho. Não

se preocupe, está tudo bem.

— Você jamais sairia com um cara que acabou de

conhecer. — ela está sendo induzida, ameaçada, a mentir. — O


que faço? Merda, sou uma péssima amiga. Você foi
sequestrada...

— Confie em mim, ficará tudo bem. Não faça nada sem


falar comigo.

Oh merda! O que eu faço?

Começo a chorar e a me desesperar. Sem saber o que

fazer, ando de um lado para outro em busca da solução. Entendi


a dica, não posso falarcom a polícia,mas essa é a única solução.

Não tem outra saída!


Saio de casa determinada a salvar a minha única amiga,
aquela que eu deveria estar ao lado, não atrás de Adam.

Não é hora para lamentações.

Chego à delegacia. Fico do outro lado da rua esperando a


minha coragem.

E se eu não for e Sara morrer? Mas e se eu denunciar e


ela morrer? Essas dúvidas me consomem.

Decido seguir a minha intuição. Dou um passo em direção


à delegacia.

— Eu não faria isso se fosse você. — ouço uma voz


masculina atrás de mim.

Começo a respirar muito rápido, como se tivesse corrido

uma maratona. Viro-me aos poucos e vejo um homem em pé,


olhando para mim. Ele está em uma parte escura da rua; ele usa

boné e óculos escuros, atrapalhando a minha visibilidade.

— Eu não entraria aíse fossevocê. — esticaa sua camisa

e vejo algo com o formato de uma arma.

— O-o que vo-vo... — não consigo terminar, o meu medo é

maior que tudo.


— Sua amiga está bem. — responde. — Ninguém farámal
a Sara. Aqui está. — ele me entrega um celular com algumas
fotos.Vejo Sara conversando com uma mulher, loira. Sara não

parece estar mal, mas conhecendo do jeito que a conheço, sei


que seu semblante é de puro ceticismo,desconfiança.— Se você

envolver a polícia, será pior para vocês duas.

— Não pos...

— Sua amiga está bem e continuará assim. — se

aproxima, tento dar um passo para trás, mas ele me impede. —

Não fale com ninguém, isso será pior para todos, isso inclui Sara,
você e a família das duas.

A nossa família? É pior do que pensei.

— Não se preocupe, sua amiga entrará em contatoem

breve. Pense bem no que te disse. Conte para polícia e muito


sangue será derramado, e por sua culpa. — ele sai de perto e

entra em um carro.

Olho para a delegacia e depois para o carro que vai

embora.

A consciência pesada, de não saber e não ter o que fazer


.
Um mês após o prólogo

Recordar do meu passado não ajuda em nada, pois lembro


de Marco, no nosso início, lembro de como quase preferi Adam.

Marco era o homem que neguei amar, o cara que havia me

ameaçado quando nos conhecemos... Adam era o cara que


queria apenas sexo e voltou aparentando estar arrependido.

Nunca traí Marco, tenho caráter. Mas eu comparava os

dois. Adam e Marco, ambos com seus defeitos e eu com minha

burrice.

Marco tentou se aproximar e eu o afastei. Afastei porque

ele era ocupado procurando a ex e eu uma egocêntrica. Quando

o quis, foi ele quem me esnobou.

Marco não sabia, mas eu sei que ele a procurava.

Na época aceitei falar com Adam. Por que cogitei ama-lo?

Porque eu sei que Marco procurou Olívia durante anos, desde

que nos casamos ele procurou pela mãe biológica de Leo.


Abafo meus gritos no meu travesseiro.

Parece que a vida havia voltou ao normal. Já temos

seguranças, já saímos quase tranquilamente e parece que fomos

esquecidos, pelo menos, por enquanto.

Mas Marco não está mais aqui. Não vejo mais o seu sorriso

para Kat;a sua proteção com a filha e nossas discussões infinitas

sobre como Kat é esquisita... Marco sempre defendeu a filha. Não


temos mais aquele barulho de Kat escutando música, porque ela

não tem mais animo para tal coisa. Não temos mais os risos de

Felipe e nem as idiotices de Leo.

Agora só temos o silêncio.

Não, não temos silêncio. Os pais imprestáveis de Marco

estão por perto, tentando dizer que sou louca e que Kat está indo

pelo mesmo caminho. Eles querem pegar a guarda da minha filha


e a herança, mas Fernando tem nos ajudado nessa parte.

Por que estou sendo chamada de louca? Porque não

acredito na morte de Marco, mesmo que os exames feitos

naquele corpo todo queimado, desfigurado...

Não quero nem pensar.


Mas nada naquele exame me fará acreditar que Marco está

morto. Eu sinto que ele está vivo e precisa de mim. Kat sente o
mesmo, mas eu não deixei que ela prosseguisse com suas ideias;

Leo disse que dará um jeito de descobrir tudo, ele e Fernando me

escutaram, mas nunca encontraram nada.

Mas eu não ficarei aqui esperando respostas.

— Isabella! — olho para trás, encontrando Sara entrando

no quarto.

— O que faz aqui?

— O mesmo que você. — ela responde. — Está indo atrás

de respostas sobre seu marido, Kat me contou há alguns dias.

— Sim, farei isso sozinha. — falo, já sabendo que ela vai

querer vir atrás.

— Eu não te deixarei ir nessa viagem sozinha.

— Sara...

— Isa, você me salvou daquela vez. Quando aquele

homem e Brian invadiram a minha casa. Você estava lá por mim e


sempre esteve ao meu lado, eu te ajudarei. Você não vai sozinha.

E antes que diga que não precisará de mim, eu direi que tenho

uma pista da cidade onde o corpo de Marco foi encontrado.


— Como conseguiu? — levanto da cama.

Sara aponta para trás, onde vejo Dianna, a mulher que

ajudou Sara quando ela conheceu Fernando.

— O que Dianna tem com isso? — pergunto, olhando para


a mulher loira que está parada na porta do quarto.

— Ela é casada com um mafioso e mora aqui perto, fui até

ela, para pedir ajuda em seu plano. — Sara sussurra. — Um


mafioso que tem informações sobre a cidade onde Marco foi

encontrado, o carro do acidente e, o principal, não conseguiremos

armas no território de Victor Bertollini, mas Dianna conhece

pessoas. Então, você só sabe o país onde Marco foi achado,


nada mais. Quer nossa ajuda ou não?

— Você é a melhor amiga que eu poderia ter. — abraço

Sara. — Obrigada por estar ao meu lado e por acreditar em mim,

que não estou ficando louca.

— Você sempre foi louca e sempre te amei desse jeito. —

ri. — Se você quer encontrar o seu marido, eu estarei aqui. Só

precisamos despistar os seguranças de Fernando e Victor


Bertollini. Chegou a hora de agirmos para descobrir o que está

por trás de tudo isso.


Capítulo 2
ISABELLA

— Mas eu odeio os dois. — Kat repete as palavras,

olhando nos olhos dos pais de Marco. — Eu não gosto de vocês.


Primeiro, porque nunca se importaram comigo; segundo, porque
vocês insultam a minha mãe; terceiro, porque querem meu
dinheiro; quarto...

— Já chega! — Veronica, a mãe de Marco, grita.

— Não grite com a minha filha! — levanto-me do sofá, indo


em direção da mulher que tanto odeio. — Mais um grito e você

terá motivos suficientes para me denunciar.

— Veronica, deixe as duas em paz. — o pai de Marco diz,

mesmo que ele fale isso, ele é como a mulher.

Conheci os pais de Marco alguns dias antes do nosso

casamento. Veronica é aquilo que se pode chamar de ''mãe super


protetora'', mas ela é tão insuportável que sua proteção é

facilmente substituída por estresse.


O pai de Marco, assim como o de Fernando, era da Nostra

Ancoma. Benjamin era o braço direito de Victor, infelizmente, ele


não é bom como o sogro de Sara.

Na verdade, eu não tenho uma opinião formada sobre


Benjamin. Às vezes ele me defende, às vezes ele vai contra...

Mas em toda essa história, eu sei que odeio Veronica. A mesma

que me chama de doida por acreditar que Marco que está vivo, a
mesma que falou que devemos vender à construtora e algumas

coisas... Ela é como aquelas vadias que correm atrás de homem

endinheirado para ganhar a vida. Não sei sobre o seu passado,


mas ela é o oposto de Alice, a sogra de Sara, tanto é que as duas

nem ao menos conversam.

Veronica é prepotente e mal educada, anda como uma


verdadeira perua; Alice é o oposto. Tenho certeza que a mãe de

Marco é como Olívia. Fora que Veronica tinha dito no passado

''meu filho não deveria casar com a filha de um gangster. Essa

garota é das ruas, meu filho merece algo melhor''.

Eu odeio essa mulher!

— Veronica, pare, por favor.


— Oh. — Veronica finge falsa surpresa para a fala de Leo.
— Então é essa a educação dada ao meu neto? Eu sabia que

nunca deveria ter deixado Leonardo com você. Veja só, o menino

é um mal educado.

— Não finja que se importa, Veronica. — Leo continua. —

Sabemos que só está aqui pelo dinheiro.

— Acha mesmo que não amo o meu único filho?

Veronica ama o filho, isso é óbvio. Ela apenas me odeia.

Ah, ela também acha que o dinheiro não deve ficar comigo. Isso é
o que menos me importa no momento.

— Estou cansada desse assunto. — ando para fora do

quarto, indo em direção ao quarto onde estou dormindo junto com


Katherine.

Sento na cama e olho para o horizonte, onde vejo céu azul


e algumas árvores ao redor.

Marco pediu para que Fernando cuidasse de mim e dos

nossos filhos. Pediu para que eu fosse protegida tanto quanto

Sara, Fernando nunca negou, tanto é que estou aqui com todos
eles. Fernando me contou isso há pouco tempo. Perguntei
quando foi à última vez que eles haviam conversado e não obtive

respostas.

Na minha cabeça, não faz sentido que Marco tenha pedido

esse cuidado todo sem motivos. Ele sabia que algo aconteceria.
Não conheço Fernando tão bem assim, ele é pai dos meus

sobrinhos e marido da minha melhor amiga, mas eu e ele nunca


tivemos uma grande conversa. Mas o que Sara conta do marido...
Fernando era o chefe da máfia até pouco tempo atrás... Fernando

é estrategista e Marco não fica atrás. Os dois sempre armaram


tudo.

Na minha cabeça, Marco sabia que algo aconteceria, ele


até sabia que eu precisaria de proteção, por isso estamos na
Itália.

O áudio que me mandou era um pedido perdão, era como


uma despedida, mas, também, como um ''até breve''.

E se Marco estiver forjando a própria morte? E se Marco


estiver vivo e lutando por todos nós? E se o corpo totalmente

desfigurado for de outra pessoa?

Mas o exame disse que foi Marco...


Quando Marco foi embora, eu senti algo, não queria que

ele saísse. Eu tinha um pressentimento ruim e, realmente, algo


aconteceu na viagem. Agora eu tenho o pressentimento que ele

está vivo e precisa de mim.

Mas se Marco está vivo, ele mantém contato com

Fernando, então ele poderia salva-lo...

Fecho os olhos, tentando controlar as lágrimas.

Não sei o que fazer com a minha vida. Sinto que Marco
não está bem, mas todos dizem que ele morreu. Não somos
próximos como deveria ser... Mas eu sinto algo que diz ''Ele está

vivo e precisa de você''.

— Posso entrar?

Olho para a minha mãe, parada na porta do quarto.

— Pode. — respondo, enxugando as lágrimas que caíram

e encharcaram o meu rosto.

— Kat me contou sobre os pais de Marco, ou melhor, sobre

a mãe dele. — ela senta ao meu lado, segurando a minha mão.


— Lembro que você sempre falou mal dela, agora eu vejo que

meus netos também não gostam dela.


— Ela é uma víbora comigo, então Leo e Kat me
defendem. — encolho os ombros. — Eu já havia falado sobre a
mãe dele me odiar e tudo mais.

— E lembro quando você falava ''eu não me importo com


ela, não amo Marco, então, tanto faz''.

— Eu amo Marco, sei que não me traiu, mas não consegui


me conter quando o vi com Olívia! — olho para minha mãe, que
sorri em minha direção.

— Quem diria que Marco seria uma pessoa importante em


sua vida.

Cerro meus dentes, lembrando como fui uma pessoa


irritada.

Casar com Marco não estava nos planos. Ele foi o cara que
levou Sara, me ameaçou e ficava me vigiando. Mas ele foi o cara

que começou a conversar comigo, que era verdadeiro... Foi o cara


que descobri que ainda procurava a ex... Mas me apaixonei.

Tempos atrás contou o plano com Olívia, odiei, mas entendi... Vi


outra cena dos dois e pronto, me perdi no ciúme e esqueci que

era tudo um plano.

Burra!
— Quando eu percebi que ele era bom eu me apaixonei. —
dou de ombros. — Quando percebi que ele se irritava sobre
Adam.

— Adam, aquele mesmo garoto que você achava idiota? O


mesmo que você usou para ferir Marco?

— O que queria que eu fizesse? Eu descobri que meu

marido estava atrás da ex, a mãe de Leo. Eu queria me vingar.


Isso tem anos, não foi agora, eu nem estava grávida de Kat!

— Vingança infantil e agora fez quase o mesmo. Deixou o

ciúme tomar conta de sua vida.

— O que queria que eu fizesse?

— Que se controlasse um pouco mais, confiasse em você

mesma. Confiasse em Marco... Não sei, mas você caiu no plano

de Olívia. Mas não falaremos mais disso, já aconteceu.

Sim, já aconteceu, não tenho mais Marco em minha vida.

E nossa última conversa foi uma merda!

Eu não acreditei em Marco, e ele sempre acreditou e

confiou em mim.
Passado

Desligo o celular e olho para o homem a minha frent


e.

Agora eu vejo seu rosto.

— Pronto? Acredita que sua amiga está bem?

Ele olha para o meu celular, com certeza certificandoque

está desligado.

— Quem me garante que ela não está sendo forçada?Que


não tem um cara ao lado dela como eu?

O homem loiro vai até a mesa e pega a arma, colocando

por dentro da calça.

— Se fosse tudo uma grande ameaça, tenha certeza que


você não estaria aqui. Isabella, você vai ao trabalho, vai para...

— Você me vigia! — grito e ele sorri. O seu sorriso

arrogante me irrita em um nível absurdo.

— Para me certificar que não fará besteira.

— E eu tenho que agir como se minha amiga estivesseem

uma colônia de férias? Como se ela não estivesse com vocês?


— Sabe quem somos? — cruza os braços, com o mesmo

olhar desafiador.

— Não, eu nem sei seu nome. — levanto do sofá,

encarando-o em desafio. Na verdade, eu tenho medo, mas não


quero demonstrar isso.

— Não precisa de nomes, só precisa saber que pode

confiar em mim. Sua amiga está bem.

— Claro, eu confiofielmentena pessoa que está mantendo

a minha amiga presa. Pode deixar, eu confio muito em você,

pessoa que não sei o nome.

— E não é que é verdade? As latinas tem sangue quente.

— Já pesquisou sobre a minha vida?

— Você ainda tem sotaque, assim como sua amiga.

— Como sabe que eu ''ainda'' tenho sotaque? Você sabe

da minha vida, não é mesmo? Como sabe tanto?Já pesquisou


sobre tudo?

— Até mais, Isabella Vergara.

Ele abre a porta do meu apartamentoe me deixa para trás,

sem me dar qualquer resposta.


Presente

— Ok, temos tudo certo. Quer dizer, faltam os passaportes

falsos. — Sara sussurra. — Dianna providenciará isso.

— Acha que dará certo?

— Isa, estamos falando de Fernando Bertollini. Ele vai

procurar no aeroporto.

— Então é arriscado de qualquer maneira, ele mostrará

fotos.

— Mas nós não vamos de avião até o local exato. Vamos

de avião a outro local e depois pegaremos um carro, Dianna já fez


tudo isso. Fernando até poderá saber que fomos ao aeroporto,

mas, depois disso, já estaremos longe.

— Dianna também vai se meter na história?

— Lembra todas as minhas reclamações sobre Fernando


estar distante? Pois é, o marido de Dianna também está e ele
também está fora da Nostra Ancoma. Fora que ela sempre esteve

ao nosso lado.

— Ela não me acha louca por achar que Marco está vivo?

— Eu não te acho louca.

Sorrio para Sara.

— Quando iremos? — pergunto.

— Assim que o pai de Marco parar de observar, ele está

muito atento.

— E como faremos isso?

— Kat também não te acha louca e ela está ao seu lado.

Kat, a mãe de Jasmine, Giulia e Jasmine ajudarão nisso. Assim


que eu te chamar, esteja preparada para sair da casa.

— E os seguranças?

— Está tudo certo, Isabella. Não se preocupe com isso. Só

se preocupe em encontrar Marco.

— E se o corpo que eu vi for mesmo de Marco? — lembro-

me da cena. — E se eu estiver errada?

Depois da minha conversa com minha mãe, eu continuei

questionando sobre a minha vida. Sobre a vida de Marco...


— E se o corpo for de outra pessoa? — Sara me

interrompe. — E se o laboratório tiver forjado...

— Mas Fernando, com certeza, já fez inúmeros exames.

— Fernando fez, você não. — ela olha para fora do quarto.

— Eu detesto saber que meu marido esconde coisas, mas ele e

Marco têm segredos. Eles têm segredos para nos proteger.

— Você também acha que Marco forjou a própria morte?

Ela não responde.

— E se atrapalharmos algo? — insisto. — E se

atrapalharmos o plano deles?

— Até algumas horas atrás, você dizia que Marco precisa

de você. Que ele está vivo e que precisa da sua ajuda. — ela

coloca as duas mãos na cintura, encarando-me, certamente com


raiva das minhas duvidas. — O que sente, Isabella?

Fico alguns instantes sem responder.

— Acho que ele precisa de mim. — respondo a verdade. —

Acho que ele está mal e precisa de mim.

— Então acha que devemos procurar pela verdade? Ou

acha que ele está bem, lutando contra o mal que nem sabemos

qual é?
— Acho que... — respiro fundo. — Marco, eu sinto que ele
precisa de mim.
Capítulo 3
ISABELLA

Passado

— Não posso acreditar que você está indo atrás desse


cara.

Olha ele aí, aquele cara idiota que ficaatrás de mim como
uma sombra que, infelizmente, tem vida.

— Não acredite, eu não me importo com seu ''ceticismo''.


— retruco, andando mais apressadamente, tentando me livrar

desse cara intrometido, idiota, canalha, merda, imbecil...

— Pare de me xingar.

— Como sabe que estou te xingando? — paro de andar,


encarando-o.

— Estou há três dias indo atrás de você e já te conheço.

Você mexe a boca a cada vez que te irrito. Claro que está me

xingando.
— Se sabe que me irrita, por que persiste? Já percebeu

que não denunciarei, parece que Sara está bem, não é mesmo?
E desconfio muito que você e seu amiguinho de merda sejam da

máfia, porém, vocês são muito idiotas para tal coisa.

— Idiota? Eu? — ele cruza os braços, mostrando os

músculos por baixo da camisa. O sorriso é o mesmo de sempre,

zombador, arrogante, babaca, eu quero mata-lo! — Está me


xingando novamente.

— O que quer? — cruzo os braços, encarando-o com mais

raiva.

— Você é linda, sabia?

O que ele acha? Que essas palavras me farão mudar de


opinião sobre ele?

— Sim, eu sei, tenho espelho em casa e todo dia admiro a

minha beleza. — jogo meu cabelo para o lado. — Mais alguma

conclusão óbvia sairá da sua boca?

— Acho que já sabe o quanto ficasexy dançado. — pisca


um olho, olhando-me de cima a baixo.

— Poderia ser menos óbvio? — reviro os olhos.


— Ok. Então serei menos óbvio. Quer dizer, só você não
enxerga isso. Por que ter um cara tão idiota como Adam, sendo

que eu estou aqui?

Ok, tenho que rir da sua prepotência.

— Adeus, babaca. — aceno, dando tchau para o idiota a

minha frente.

— Eu gosto de você por me enfrentar


. São poucos que

fazem isso.

— Me dê o contatodeles, para uma reunião, ensinarei a

todos como tratar um imbecil como você da forma devida.

(...)

— Olá, Adam. — sento-me de frentepara o cara que, um


dia, eu amei.

— Podemos falar sobre o que aconteceu naquele dia?


— Sobre como foi um cafajestee me fezpagar a conta do

motel? Tudo isso porque neguei sexo? Podemos falar sobre isso,
adoraria falaresse assunto na minha casa, com minhas facas por

perto, para eu cortar seu pênis, cozinha-lo e te fazer comer


.

— Quando virou uma doida psicótica?

— Quando me deixou naquele motel, depois de passar

tanta humilhação, Adam! — rosno. — Sabia que não deveria


acreditar em você, deveria ter escutado Sara...

— Ah, a sua amiga santa. — zomba. Os dois sempre se


odiaram, a tontaaqui que nunca enxergou o canalha que Adam é.

— A minha amiga sensata, que tem mais juízoque eu. —


rebato.

— Outra que desacreditou do amor do meu amigo por ela.

Eu tenho que rir. Tenho que rir bem alto.

— Brian, aquele seu amigo de merda?

— Na verdade, quase não nos falamos mais.

— Ainda bem, imagine dois idiotas juntos.

— Isabella, entenda, eu sempre sonhei com esse dia.

— Dia de tirar a minha virgindade, me abandonar no motel


e me humilhar. — rio. — Bela fantasiasexual. — tomo todo o meu
suco e pego o copo dele, também tomando o que tinha ali. — Vai

ter diabetes desse jeito, suco cheio de açúcar


.

— Por que você é assim? Tão sarcástica, ignorante...

— Vamos começar com adjetivos fofos?Posso esquecer


as aulas de ser uma dama e vou te xingar até em árabe.

— Eu sonhei com o dia de sermos felizes.— me ignora. —


Mas você não confia em mim.

— Não, não confio. — concordo. — Eu te odeio. Odeio


muito.

Peço mais um copo de suco de manga para o garçom e


olho o cardápio, pedindo os dois pratos mais caro daqui.

— Vamos conversar como pessoas normais.

— Não sou normal, Adam. Lembra disso? Sou anormal por


não transar com um parasita como você.

— Isabella... — ele tentacontinuar, mas o garçom aparece


na minha frente, entregando o meu pedido.

— Foi rápido. — sorrio para o garçom. — Obrigada.

Adam insiste com seu assunto chato de tentar me

conquistar.
Pego os dois pratos a minha frente. Um contém uma
macarronada — pedi um prato enorme e bem suculento —; o
outro é um sorvete — muito caro, quem paga tão caro em um

sorvete que posso comprar ali na esquina por metade do preço?


— entupido de chantilly. E, então, faço aquela infantilidadeque

amo. Jogo tudo em Adam, para completar, jogo o suco em seu


rosto.

— O que pensa que está fazendo? — ele grita, limpando


os olhos, onde o suco está escorrendo.

— Sabe o motel barato de ontem? Pois é, essa sujeira

consegue custar o dobro daquilo e você vai pagar


. Adeus!

Pego a minha bolsa e saio rápido do restaurante, antes

que algum segurança me barre e eu tenha que pagar aquilo. Nem


me importo em quem viu, não me vinguei tão bem, mas, dane-se,

fiz algo.

Continuo andando, até que sinto uma mão segurando o

meu braço, e, graças ao meu reflexo, dou um tapa bem fortena


cara de... Do cara idiota que me segue.

— Ninguém me deu um tapa na cara antes. — ele toca o


próprio rosto.
— Sinto-me honrada de ter sido a primeira. Talvez se
tivesse apanhado mais, seria menos idiota.

— Você é muito selvagem. — pronto, ele para de alisar o


rosto e volta ser o convencido de sempre.

— Disse o cara que sequestrou a minha amiga.

— Ela está muito bem.

— Eu sei, eu que estou mal, afinal,você está perto de mim.

Ele ri. Ele ri toda vez que eu faloalgo para ele. Parece que
ele não fica irritado com minhas respostas e isso me irrita.

Eu odeio esse homem!

— Devo admitir que gostei de ver suas respostas para


Adam e o que fez com ele.

— Está me seguindo?

— Alguém tem que impedir a sua burrice...

— Se eu quiser ser burra, eu serei burra!

Mas que merda eu estou falando?

— Eu escuteias ameaças. — ele me ignora, como sempre.

— Achei engraçado a parte de cozinhar o pênis...

— Serve para você também.


— Precisará de uma panela maior...

— Você é muito escroto! — faço cara de nojo e volto a


andar para longe dele.

— Você é boa com seus insultos infantis.— ele não anda

atrás de mim. Pelo menos isso.

— Vai à merda, seu babaca! — grito, não me preocupando

nas pessoas vendo essa cena.

— Marco! — ele grita no meio da rua. — Meu nome é

Marco!

— Anotarei isso na lista de ''Ninguém se importa''.— viro-

me, voltando a andar para longe do imbecil.

— Até mais tarde, Isabella!

— Até a hora que eu darei um tiro na sua testa, seu idiota!

Eu o odeio profundamente!
Capítulo 4
ISABELLA
Agora

— Ainda não acredito que conseguimos.

— E você ainda duvidava? — Sara arqueia a sobrancelha.


— Foi um plano perfeito. Katherine subiu no telhado da casa,
ameaçou tirar a própria vida, todos foram ajudar no resgate;Giulia

foi correndo atrás de você para falar com Kat, obviamente, não
voltou rápido para contar que não estávamos em casa, já que ela

também faz parte do plano; e, no fim, fugimos sem sermos


notadas.

— Agora, o que faremos? — olho para Dianna que acabou

de sair do banheiro.

— Bem, amanhã cedo iremos até o necrotério onde estava

o corpo de Marco para obter respostas. — Sara responde,


enquanto procura por algo em sua bolsa. — Aqui está.

Olho para a minha identidade falsa.


— Ok, mas quando chegarmos ao necrotério, terei que

falar meu nome verdadeiro, certo?

— Talvez. Teremos que rezar para o cara não ser o inimigo.

— Dianna diz, enquanto senta ao meu lado. — Vocês sabem, se


Marco realmente estiver vivo, alguém está com ele, estamos

correndo riscos por causa disso.

— Por minha causa. — abaixo a cabeça. — Vocês têm

vidas, não queria que se envolvessem nisso.

— Você é a nossa amiga, não te deixaríamos sozinhas. E

Fernando anda esquisito nesses últimos tempos.

— O meu marido também. Algo está acontecendo, a

começar por Fernando nem ter mencionado uma vingança contra


quem matou Marco. — Dianna abre a mochila, mostrando

algumas armas. — É bom ter contatos.

— Estou me sentindo da máfia, e olha que eu nunca gostei

disso.

Sorrio para Sara, lembrando de todo o seu drama sobre


''eu amo um mafioso''. Foi difícil para ela, mas já passou tantos

anos que agora ela tenta ignorar tudo, mesmo sabendo que não é

nada fácil.
— E se formos pegas com essas armas?

— Seria muito azar, nossos maridos andam assim e nunca

foram pegos. E essa cidade é sem lei. — Dianna responde,


fechando a mochila. — Estamos em um dos países mais pobres

existentes, sem lei, sem presidente preocupado com sua nação,

cheio de corrupção, bandidos perigosos. Por isso mesmo

devemos manter nossa identidade em segredo. Apenas falaremos

o nome real lá no necrotério, se for necessário, depois disso, é

identidade falsa e disfarce a todo momento.

— O que me intriga é o motivo de Marco ter vindo para

esse lugar. — Sara diz. — Fernando está afastado dos negócios

juntamente com todos os outros, então, por que Marco veio para

cá?

— Para pegar o inimigo. — suponho.

— Mas como eles conseguiram essa informação? Olívia é

tão tola e, do nada, ela sabe de algo tão grandioso? Esse lugar é

muito distante, algo não se encaixa nessa história. — Sara

continua, parecendo com o pensamento distante. — Daniel


também tem ficado menos em casa, alguma coisa mudou, alguma

coisa muito grave ou surpreendente aconteceu e mudou toda a

logística dos negócios.


— E ainda tem Rachel, Ciara e Hugo. — Dianna continua.

— Quem são esses? Como ganharam tanta confiança de uma


hora para outra? Antes estavam sobre vigilância extrema, hoje já

vivem perto das nossas casas.

— E de um hora para outra todos se calaram. — respiro

fundo. — Do nada, todos pararam de falar sobre Yoshida e


qualquer assunto de negócios.

Olho para Sara e Dianna, ainda não sabemos de nada e

nem sei se descobriremos.

— Fernando nunca mais entrou em contato comigo. —

Sara dá de ombros. — Algo está errado.

— Tudo está errado. — concordo. — Basta sabermos o

que é.

(...)
— A cada dia, pelo menos, doze pessoas morrem pela

redondeza. — Dianna sussurra. — Ou morrem, ou desaparecem.


Esse país só não diminui porque a taxa de natalidade é alta e a

população é bem numerosa.

Estamos no necrotério, onde algumas pessoas fazem fila

para informações, todas são para saber se algum corpo é de


algum parente ou amigo.

— Aqui é comandado por alguma gangue? — sussurro,

certificando-me que ninguém me escuta.

— É o que mais tem, briga entre eles é algo comum, mas

não é algo grandioso. São gangues de bairro. Por isso estamos


disfarçadas.

A minha peruca ruiva, meus olhos azuis e essa maquiagem


que me faz ser mais bronzeada, ajuda um pouco no disfarce.

Cada uma está o oposto do que é na realidade, fora as nossas


roupas que são incomuns.

— Eu estou odiando esse lugar. — Sara sussurra. — É


muito sofrimento junto. Estou sentindo cheiro de gente morta.

— Isso é paranoia. — Dianna sorri. — Não tem cheiro de

gente morta aqui.


— Tem cheiro de morte, dá no mesmo.

Aperto a mão de Sara e noto o quanto ela está gelada. Ela

e Dianna são as melhores pessoas que eu poderia ter ao meu


lado.

— Bom dia. — Dianna cumprimenta a moça que está na

recepção. — Podemos falar com o responsável? O diretor ou algo


assim.

— Bom dia. Qual o assunto? É que estamos atendendo as


prioridades primeiro. — a moça sorri.

— É sobre um corpo que estava aqui, precisamos saber


sobre ele.

— O que quer dizer com isso?

— O corpo foi achado aqui, nessa cidade. Mas o necrotério


nunca fez algo sobre as informações do corpo.

— Certo. Aguardem ali e daqui a pouco vocês serão


chamadas.

Aguardamos meia hora e logo somos chamadas.

— Aqui faz frio ou é impressão minha? — pergunto, a cada


passo que me aproximo da sala.

— Tem cheiro de coisa morta, já disse.


— Vocês duas me fariam rir se o assunto não fosse tão
sério.

— Dianna, você foi criada nesse meio, eu e Sara entramos


nisso, mas nunca nos envolvemos tanto assim.

Dianna abre a porta da sala e encontramos um senhor

sentado em uma cadeira, ele faz algumas anotações, mas para

quando fechamos a porta.

— Bom dia, no que posso ajudar?

— Bom dia. — aproximo-me mais. — É que, há

aproximadamente dois meses para três, o corpo do meu marido

foi encontrado na cidade e veio parar nesse necrotério.

— Então, já sabem que o corpo é dele. — ele faz pouco

caso da situação. — O que precisam?

O que vou falar? ''É que minha intuição diz que não era o
meu marido ali. Acredito que meu marido está vivo''.

— O corpo estava em um péssimo estado, nem dava para

reconhecer. — escutar isso de Dianna me faz gelar ainda mais. —

E, bem, nunca fizeram exame no corpo, ele foi enterrado e


desconfiamos que não seja ele.

O senhor dá um longo suspiro.


— Existe um grande processo de autorização para a

exumação do corpo, e aqui a fila é longa. São muitas mortes e


muitos cadáveres sem identificação, muitos são enterrados sem

nem ao menos um exame ter sido feito para constatar quem era a

vítima, isso acontece devido à precariedade do Estado. — ele


levanta da cadeira. — Se bem que isso é mais comum com

indigentes. — franze o cenho. — Esse é o caso do seu marido?

— Não, ele foi identificado.

— Então foi feito o exame.

— Não acredito que tenha sido ele. — falo, rezando para

que ele me entenda. — Aconteceu rápido demais. A morte, a

confirmação que era ele mesmo. Só tinha a identidade com ele,


isso é motivo para identificar um corpo?

— Como eu disse, o serviço é precário. Senhora, são

muitas mortes por dia, tem cemitério que já foi fechado por conta

da lotação. Você viu a fila aífora? Tudo para identificar os corpos.

— Pelo menos tem uma ficha dele? — imploro. — Por

favor.

Ele retira o óculos e esfrega os olhos.

— Qual o nome dele?


— Marco Vesentini.

Ele me encara com espanto.

— Mas esse caso já foi resolvido, quer dizer, pelo menos


aqui. Eu lembro disso porque foi algo rápido para ser feito e um

tanto quanto... Ameaçador, já que os dois homens que estavam

aqui não foram amigáveis.

— Como eles eram? — Sara pergunta.

— Um moreno mais velho, aparentava ter uns quarenta e


cinco anos; e o outro era mais branco, com cara de uns vinte e

dois anos. Não sei nomes, não foram tão amigáveis assim.

— Eles identificaram o corpo...

— Não era o corpo de Marco Vesentini. — ele diz, de uma

única vez.

Meu coração bate acelerado, como se eu fosse ter um

ataque a qualquer momento.

— Ele... E...

Não consigo nem ao menos falar.

— Senhora, é melhor sentar.

— O que aconteceu com ele? — Sara pergunta.


— O corpo tinha documentos desse Marco, mas os

exames foram feitos e não era ele. Também não sabemos de


quem é o corpo, mas de Marco Vesentini não é. Esperem um

pouco.

Minha mão treme sem parar.

— Ele está vivo. — murmuro, ainda tentando processar

todas as informações.

— Sim, sua intuição está certa.

Sara e Dianna me abraçam, enquanto eu choro.

Marco está vivo. Ele ainda está vivo. Não posso nem ao
menos expressar minha felicidade em palavras, apenas choro.

— Aqui. — o senhor chama a nossa atenção para a tela do

seu computador. — Aqui é a lista de todos os desaparecidos da


região. Ao lado dos nomes, temos a identificação se ele foi

encontrado, mas, no caso do seu marido, não tem foto dele,

apenas o nome. Marco Vesentini está na lista como desaparecido.

— Então ele pode estar vivo. — Dianna sussurra.

— Podem vir comigo, para ver se algum corpo é do seu

marido. Sempre tem algo novo por aqui, e, como eu disse, não

tem foto dele para identifica-lo.


— Eu não consigo fazer isso. — falo com a voz trêmula. —

Eu ainda tenho esperanças que ele esteja vivo, não quero perdê-

las.

— Eu posso fazer isso. — Dianna sorri, como se tivesse


me dando forças. — Sara, pode ficar com ela.

— Obrigada, Dianna. — agradeço, enquanto Sara fica ao

meu lado.

— Não é estranho o fato de já terem vindo até aqui e terem

feito o exame? — sussurro, ainda com a esperança do meu

marido estar vivo.

— Provavelmente foi Fernando e Gabriel, pelas


características dadas.

— Eles me esconderam a verdade, me fizeram acreditar

que Marco está morto... Por quê? — olho para Sara. — Meu

marido está em muito perigo e não querem me preocupar?


Porque agora fica claro que não é qualquer plano, já que vieram a

sua procura.

— É estranho o fato de colocarem o nome de Marco na


lista de desaparecido, é um nome conhecido nesse meio.
— Fernando poderia nos responder. — esfrego minhas

mãos. — Eu preciso pensar no que fazer. Marco ainda pode estar


morto...

A porta da sala abre e Dianna aparece com um meio

sorriso.

— Marco não está aqui.

Um alívio toma conta de mim.

— Agora, o que faremos? — pergunto.

— No dia que o corpo foi encontrado, houve um acidente

de carro, no qual aquele corpo foi encontrado, teve outras vítimas


que saíram machucadas. — Dianna conta. — O diretor daqui, que

nem perguntei o nome, falou sobre isso. O problema é que aqui

tem alguns hospitais e nem sabemos se Marco estava envolvido e


se alguém vai nos responder.

— Então, o que a sua intuição diz?

Olho para Sara, enquanto a minha emoção e razão dizem

para fazer a mesma coisa:

— Eu continuarei atrás de respostas. Ainda sinto que

Marco precisa de algo. — levanto da cadeira. — Vamos, temos

muitos hospitais para visitarmos.


Capítulo 5
ISABELLA

Passado

Olho as imagens daquilo que acreditei que seria a minha


felicidade. Eu e Adam. Não é fácil esquecê-lo em apenas três
dias. Claro que eu o odeio, mas ainda sou burra o suficientepara

olhar essas fotos e pensar: ''No que eu errei?''.

Não que o erro seja meu, quer dizer, não errei no meu
relacionamento com Adam. Ele parecia ser o cara perfeitopara
mim, eu era muito fria com ele. Talvez pelo fatodo meu pai odiar

tanto o Adam, fazer mil e uma acusações contra ele, e Sara

apoiava a minha separação. Acho que o meu erro foi ser cega.
Sara sempre enxergou longe, enxergou tão longe que já

desconfiavaque seu ex-namorado, Brian, estava tendo um caso

com a vadia que odiamos.

Adam não me traiu, não que eu saiba. Mas me humilhou no

motel... Terminamos por ele ser um grosso comigo. Não que eu

seja calma, mas sou ignorante se forem comigo.


— Sara, eu adoraria que tivesse aqui ao meu lado. —

sussurro para o nada.

Não tenho Sara ao meu lado e nem posso conversar com

minha mãe, porque ela ficará ao lado de Adam. O ''genro


perfeito''.

O som de alguém batendo na porta me tira dos

pensamentos e das minhas culpas. Tiro rapidamente as fotosda

minha frente,ainda sem coragem de apaga-las. Olho no espelho


que está na parede da sala, arrumo o meu cabelo e enxugo as

lágrimas estúpidas que caíram.

Abro a porta e o arrependimento bate no mesmo instante.

— Tchau! — tento fechara porta, mas o cara é mais rápido


e me impede.

— Eu avisei que viria.

— Foi tão insignificanteque esqueci as suas palavras. —

tentofechar a porta novamente, mas ele me impede, mais uma

vez. — Qual o seu problema?

— Por que estava chorando?

— Porque eu quis. — respondo, da minha maneira

grosseira de sempre.
— Por causa do Adam? Isso é sério?

— O que sabe do Adam para odiá-lo tanto?

Fico encarando os olhos azuis de Marco e acabo me

distraindo tempo suficientepara que ele fiqueencostadona porta,

impedindo de vez que eu a feche.

Chris Evans bandido!

— Nenhum cara que te trata dessa maneira merece

respeito.

— Você sabe o que ele fez comigo? — encaro Marco de

maneira duvidosa.

Eu conheci Marco depois da humilhação do motel... Ele já

estava me seguindo antes disso?

— Ele te machucou? — não, acho que ele não sabe de

nada. — O que ele fez com você?

Vejo que Marco fala com os dentes cerrados e suas mãos

estão fechadas, como se fosse bater em alguém.

— Por que odeia Adam? — esse cara pegou uma raiva

repentina de Adam.

Realmente não sei quem odeia mais meu ex-namorado, se

sou eu ou Marco. Poderíamos ser uma dupla contra Adam, mas


eu também odeio Marco. Sou boa em odiar coisas e pessoas.

— Eu tenho o direito de odiar quem eu quiser, Isabella.

— Aí está, eu também tenho esse direito e eu te odeio.

— Como pode me odiar se nem me conhece?

— Como pode querer se aproximar de mim se nem me

conhece?

— Deve ser por isso que quero me aproximar, para

conhecer você da maneira correta.

Reviro os olhos, cansada de tanta insistência.

— Eu posso acabar com Adam se quiser. — ele sugere


naturalmente.

— Pagamento a vista, crédito, débito, com juros, sem


juros...

— Do que está falando?

— Cara idiota, você me ofereceu seus serviços, estou


perguntando a forma de pagamento.

Ele ri alto. Talvez meus vizinhos liguem para a polícia


depois de escutarem essa conversa.

— De graça, faço tudo para defender você.


— Dispenso sua ajuda.

Marco me olha por alguns instantese eu faço o mesmo


com ele, até que ele pergunta:

— O que gosta de comer?

— Cachorro quente, hambúrguer, batata frita, lasanha, torta

doce ou salgada...

— Só coisa saudável. — o babaca é bem sarcástico.

— Além de implicar com minhas decisões vai implicar com


minha comida? — cruzo os braços e percebo que estou perdendo

muito tempo com ele.

— Sabe algo que percebi? Você não me xingou


mentalmente até agora.

— Sorte sua que minha mãe me ensinou a ser uma dama.

— Ensinou bem errado, por sinal.

— Tchau!

Tento empurra-lo para longe, mas o máximo que consigo é

tirar o braço dele da porta.

— Sai da minha frente! — grito.

— Só se sair comigo, agora.


— Eu quero que você saia da minha casa, suma da minha
vida, e você me chama para sair?

— Se você continuar me odiando, eu sumirei da sua vida.


Eu juro.

— Eu já te odeio, sabe disso. É bom que pouparei nosso

tempo e dinheiro.

— Tempo e dinheiro não é problema.

— Você não tem um assassinato para cometer, um roubo


para planejar...

Ele toca o meu rosto, fazendo com que eu me cale.

Que atrevido!

— Eu gosto de você, falo sério, Isabella.

Eu também toco o seu rosto, da mesma maneira que ele

faz comigo.

— Eu odeio você, falo sério, Marco.

Ele sorri.

Eu o odeio!

— Vamos, precisamos comer. — ele segura a minha mão.

— Eu não aceitei o convite.


Marco me encara, sorrindo.

Ele nunca perde a paciência?

— Ok. — aceito o convite,afinal,é comida de graça, certo?

E Marco não sairá tão fácil daqui... Ele que não ouse me levar
para outro lugar. — Mas só servirá para saber o óbvio, que eu te

odeio e isso não mudará.

— Então vamos, senhorita V


ergara.

— Você ama meu sobrenome. — entro no meu

apartamento, para pegar a minha bolsa e pegar um dos meus

canivetes,presente do meu pai. Nem me preocupo com a minha

roupa porque ela está boa.

— Amarei ainda mais quando adicionar o meu.

— Adicionar o quê? — saio de casa e fecho a porta,

trancando-a.

— Quando adicionar o meu sobrenome no seu.

Aproximo-me mais dele e fico na ponta dos pés,

sussurrando próximo ao seu ouvido.

— Eu já vi que tenho uma panela grande. Já tenho as

facas e a panela, então, cale-se!


— Eu gosto de você — ele sussurra de volta. — Suas

ameaças só me deixam mais...

— Não ouse continuar.

— Apaixonado.

— Paixão em três dias?

— Vamos, Isabella.

Saio do prédio onde moro e caminho na frentede Marco,

mas ele sempre me alcança.

— Para onde vamos? — ele pergunta. — Eu que deveria


levar você.

— Tem um lugar que vende cachorro quente aqui perto e é

maravilhoso. — respondo e sorrio ao ver a decepção no rosto

babaca de Marco.

— Pensei em te levar um restaurante caro.

— Lugar caro, que serve tudo em pratos enormes e com

pouca comida? Não, obrigada. Se for para comer, tem que ser

muita coisa.

— Nunca saí com uma esfomeada.

Pronto. Segundo tapa do dia. Acertoum tapa bem forteem

sua mão, seria no rosto se ele não tivesse impedido primeiro.


— Estou brincando, acalme-se. — ele está rindo e eu o

pego desprevenido, acertandoum tapa bem forteem suas costas.

— Ok, isso doeu.

— Não sou esfomeada, você que deve sair com pessoas


que só comem folhas. Comer é vida, existe coisa melhor que

comer e dormir?

— Sim, sexo.

— Vá se ferrar! — tentoacerta-lo com mais um golpe, mas

ele desvia. — Você não pode falar assim comigo! Viu só? Eu

continuo te odiando, adeus!

Quando eu me viro para sair, Marco me tira do chão. Ele


me carrega pelas ruas e as pessoas olham para nós dois. Alguns

dão risada, outros nos olham como se fossemos dois estranhos.

— Solte-me, eu andarei com minhas próprias pernas! —

grito.

Marco dá mais dois passos e me coloca no chão

novamente. Ajeito a minha roupa e volto a andar calmamente.

— Sabe o que reparei? A rua está movimentada, será que


sua gangue desapareceu daqui? — provoco, não me importo com

sua gangue estúpida.


— Isabella é inteligente em algo, parabéns!

— Chegamos. — ignoro sua observação idiota e olho a


barraca de cachorro quente.

Aqui é a praça e há uns três dias tudo estava fechado,

mas, depois que levaram Sara, tudo mudou.

— Sara tem relação com as mudanças aqui? — pergunto a


Marco.

— O que quer dizer?

— Depois que levaram Sara, a rua voltou ao normal.

— Bem, sua amiga viu um espancamento. Aquilo foi um

acerto de contas, então, se acertamos as contas, tudo volta ao

normal, mas não tínhamosintenção de levar a sua amiga, foi o

destino que ajudou. E Sara está muito bem, como sempre te


informo e ela já falou com você.

— Então não é perigoso que você esteja aqui nessa rua?

— Não. Se acertamos as contas com um deles e muitos

não sabem disso, é porque o cara não é daqui. Ele estava


escondido ao redor, e, além do mais, tem que ser do ramo para

saber quem eu sou. E não estamos sozinhos nesse momento,

tem pessoas fazendo nossa segurança.


— Fiquei bem tranquila agora. — encho minha voz de

ironia.

Caminho até a barraca e peço um cachorro quente. Marco

faz o mesmo.

— O que mafiosos comem?

Olho para Marco, que comeu seu cachorro quente em duas

mordidas.

— Comida normal, prostitutas...

— Você é escroto. — faço cara de nojo.

— Sei disso. — dá de ombros. — Como resolveu virar

dançarina?

— Depois que descobri que sou boa com facas e com

dança. — levanto-me e pego outro cachorro quente. — O que é?

— percebo o seu sorrisinho.

— Você nem come muito, não é mesmo?

— Eu poderia comer mais quatro, mas como essa


conversa não vai durar tanto,então só comerei dois. — espero

meu cachorro quente ficar pronto e depois volto para falar com

Marco. — Como virou mafioso?

— Depois que meu pai decidiu que era hora certa.


— Não teve escolha?

— Não. — dá de ombros. — É o preço a se pagar por


nascer no meio disso tudo.

— Queria sair?

— No início sim, agora já faz parte da minha vida.

— Deus me livre ser parte de algum assim. — façoo ''sinal


da cruz''. — Existe casamento arranjado no meio disso tudo?

Sempre vejo essas coisas em livros.

— Sim, existe.

— Então você é casado? — pergunto com minha boca


cheia.

— Deveria, mas lutei contra. Eu a conheci, é uma linda

garota e bem inteligente.Ela me viu apenas uma vez e apenas


me cumprimentou, certezaque não prestou atenção em mim. Ela

deveria ficar e jantar comigo, com o pai dela e com o meu, em

uma desculpa ridículaque era apenas um jantar de negócios, no

entanto,a garota tinha outros planos. Eu não queria casar e ela


me esnobou, então eu apenas ignorei tudo e dei a desculpa que

ela me odiava. O casamento deveria ter acontecidodepois disso,


mas eu sempre negava os encontros e a menina havia mudado
de país...

Os olhos dele...

Não pode ser...

Agora eu lembro!

— Eu preciso ir embora. — largo o cachorro quente em

cima da mesa e saio apressadamente dali.

— Você lembrou, não é mesmo? — ele grita. — Deixe-me


explicar.

— Eu te odeio! Você disse que se eu continuasse te

odiando, você não viria mais atrás de mim.

— Você não me odeia e eu não vou parar de ir atrás de


você.

Andando mais apressadamente, eu tento controlar os meus


batimentos cardíacos, tentando assimilar tudo o que ele disse.

— Você continua linda!

Esse é o último grito de Marco que eu escuto,o que me faz


correr para mais longe dele.
Em breve na Amazon.
Livros da série

Atraída por um mafioso – Os mafiosos (Livro


1), A história com Sara Rubio e Fernando
Bertollini;

Juntos outra vez – Os mafiosos (Livro 2), A


história com Giulia Bertollinie Leonardo
Vesentini;

Nas mãos da máfia – Os mafiosos (Livro 3),


A história com Jasmine Ventura e Daniel
Bertollini;
Reencontrando o passado – Os mafiosos
(Livro 4), A história com I
sabella Vergara e
Marco Vesentini;

Um novo império – Os mafiosos (Livro 5) –


A história com Katherine Vesentinie Gabriel
Bertollini;

Por toda a nossa história – Os mafiosos


(Livro 6) – A história com Karen Bertollinie Alex
Castillo;

A nossa liberdade – Os mafiosos (Livro 7) –


A história com Cassandra (Cassie) Ferrara e
Luiz Guerrero;

O encontro final – Os mafiosos (Livro 8)


Contatos da autora:

Perfil no Wattpad:@ManueleCruz

Instagram:@ManueleCruz97
Alguns livros da autora

Série família Garcia (série


completa na Amazon):

Pedro – Família Garcia (Livro 1)

Jade – Família Garcia (Livro 2)

Natasha – Família Garcia (Livro 3)

Além da fronteira – Família Garcia (Livro 4)

Andreza – Família Garcia (Livro 5)

Fim da linha – Família Garcia (Livro 6)

Duologia ''Entre as grades''


(duologia completa na Amazon):
Presa a você – Duologia ''Entre as grades'' –
(Livro 1)

Depois da tempestade – Duologia ''Entre as


grades'' – (Livro 2)

Minha doce...

Minha doce... Melina (Parte 1) – Disponível


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Minha doce... Melina (Parte 2) – Disponível


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A nova dinastia mafiosa:

Casados pelo poder – A nova dinastia


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A nova aliança – A nova dinastia mafiosa


(Livro 1.5)
A herdeira – A nova dinastia mafiosa (Livro
2)

Os sucessores – A nova dinastia mafiosa


(Livro 3)

O preço de uma traição (LI


VRO ÚNI
CO) –
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Série LastJustice:
Jason – Last Justice (Livro 1) – Disponível
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Espero você ao meu lado – Last Justice


(Livro 2) – Disponível na Amazon

Em suas mãos – Last Justice (Livro 3) –


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Reencontrando o nosso amor – Last Justice
(Livro 4) – Disponível na Amazon

Entre o céu e o império – Last Justice (Livro


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Quando nos reencontramos – Last Justice


(Livro 6)

Ensina-me a viver – Last Justice (Livro 7)

Série Estúpido (série completa na


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Meu chefe estupidamente arrogante –


Estúpido (Livro 1)

Um recomeço quase estúpido – Estúpido


(Livro 2)

Por amor a você – Estúpido (Livro 3)

Liberte-me – Estúpido (Livro 4)


Uma chance para a vida – Estúpido (Livro 5)

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