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2023
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utilizada ou reproduzida em quaisquer meios existentes sem a autorização
por escrito da autora.
Levi Vittileno viu o seu mundo ruir ao perder sua esposa em um acidente
trágico. Agora, 2 anos depois, ele precisa voltar a viver e conquistar o amor do
seu filho Lorran, que não o enxerga como pai.
Ele só não imaginava que um furacão em forma de mulher iria surgir para
fazer seu coração cheio de cicatrizes voltar a bater.
Olivia Baptista, sempre sonhou em ser mãe, mas após tantas decepções ela
decide que terá seu filho sozinha e não mede esforços para que isso aconteça, já
que não acredita que exista um amor para si.
Lorran Vittileno em seus 2 anos de vida nunca viu em Levi um pai, cresceu
aos cuidados do tio e agora depois de uma mudança de pais, se encanta por
Olivia, fazendo assim com que ela seja contratada para ser sua babá.
AVISO
SUMÁRIO
EPÍGRAFE
PROLOGO
CAPÍTULO 1
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 3
CAPÍTULO 4
CAPÍTULO 5
CAPÍTULO 6
CAPÍTULO 7
CAPÍTULO 8
CAPÍTULO 9
CAPÍTULO 10
CAPÍTULO 11
CAPÍTULO 12
CAPÍTULO 13
CAPÍTULO 14
CAPÍTULO 15
CAPÍTULO 16
CAPÍTULO 17
CAPÍTULO 18
CAPÍTULO 19
CAPÍTULO 20
CAPÍTULO 21
CAPÍTULO 22
CAPÍTULO 23
CAPÍTULO 24
CAPÍTULO 25
CAPÍTULO 26
CAPÍTULO 27
CAPÍTULO 28
CAPÍTULO 29
CAPÍTULO 30
CAPÍTULO 31
CAPÍTULO 32
CAPÍTULO 33
CAPÍTULO 34
CAPÍTULO 35
CAPÍTULO 36
CAPÍTULO 37
CAPÍTULO 38
CAPÍTULO 39
EPILOGO
OBRAS DA AUTORA
UMA FILHA PARA O BILIONÁRIO ITALIANO (IRMÃOS VITTILENO)
LIAM : A OBSESSÃO DO BAD BOY (BULLDOGS YALE)
SIGAM A AUTORA
Vai ser difícil de superar, e você jamais esquecerá, mas acredite que, com
o tempo, tudo ficará melhor. Pois o tempo trará serenidade e aceitação, e então,
só restará a saudade, mas, para combatê-la, você terá as lembranças que
guardará para sempre.
Desconhecido
Levi
3 ANOS ANTES.
— Estamos atrasados amor — Blanca chama da sala.
— Só um minuto.
Quando conheci Blanca eu sabia que ela seria a mulher da minha vida. Não
demorou três meses para que eu a pedisse em casamento. A escolha mais certa
que fiz, foram anos de felicidades e realizações.
Com o nosso pequeno a caminho, eu não poderia desejar mais nada, além
de a ter comigo para sempre.
Quando a imagino ninando nosso menino, correndo atrás dele pela casa,
brigando comigo por colocar a frauda errada, ou achando fofo quando eu o
colocar para dormir. Os primeiros passos, o choro pelo dentinho crescendo.
Pensar em todos esses momentos que teremos juntos, me enche de felicidade.
— Você nunca reclama quando eu tiro a roupa, por que faz quando a visto?
— Belisco a ponta do seu nariz e ela gargalha, enquanto me bate no ombro.
— Só vou poder olhar, enquanto Lorran não nascer, nós não teremos mais
diversão de adultos. — Gargalho da sua escolha de palavras
Sou grato ao Louis, meu irmão mais velho, por ser o próximo herdeiro da
VITTILENO, graças a isso pude estudar moda e me especializar naquilo que eu
amo fazer.
Não assino com o meu nome para não atrair mais atenção da mídia para
mim. Apesar de tudo, sou uma pessoa reservada, que prefere manter a vida
privada.
O assédio que sofro por ser um Vittileno me incomoda desde pequeno. Ser
bonito não ajudou muito, herdei a beleza da minha mãe, igual aos meus irmãos.
Temia um dia encontrar uma mulher que me quisesse por ser um Vittileno, ou
devido à minha aparência.
Blanca apareceu como um presente dos céus, alguém que me ama por eu
ser quem eu sou. Minha beleza e dinheiro nunca a impressionaram, é ao meu
coração e minha alma livre que ela ama.
Eu insisti, todos os dias, por mais de um ano. No fim, três meses depois do
nosso primeiro encontro, o amor venceu, e hoje estamos aqui, casados e
esperando nosso primeiro filho.
Encaro a minha esposa sentada no banco de trás, ao meu lado no carro que
nos leva ao evento. Seguro seu queixo e ela me encara sorrindo. Uma luz forte
ilumina o seu rosto. A buzina do nosso motorista explode. Olho para a frente e
fico cego pelo clarão.
****
— Blanca? — pergunto.
— Vai ficar tudo bem — ele beija minha cabeça, e a dor causada por seu
ato, me faz revirar os olhos e me afastar dele. — Vou chamar o médico — ele se
afasta, me deixando sozinho.
A tontura faz com que eu tenha ânsia de vômito. Preciso saber o que
aconteceu com a minha mulher e meu filho. Tento mexer a perna direita, e a dor
é excruciante, corta da ponta do pé a minha coxa, inclino a cabeça tentando ver o
que me prende, e sou forçado para trás pela tontura.
— Quero vê-lo.
— Por enquanto ele dorme no berçário, quando você receber alta eu te levo
lá — Louis segura minha mão, fazendo carinho.
Aliviado, por saber que ambos estão vivos, eu cedo a tontura e desmaio.
Recebo alta duas semanas após o acidente de trânsito, a primeira coisa que
peço, é para ver minha esposa, mas as visitas estão restritas, para garantir que ela
não tenha uma infecção.
O acidente aconteceu devido a uma moto, que cortou na frente de um
caminhão, e o susto fez o motorista perder o controle do volante, invadindo a
contramão.
Arrepios sobem pelo meu corpo ao lembrar que a minha mãe faleceu da
mesma forma.
Rezo aos céus para que o destino dado a minha mãe não seja o mesmo da
Blanca.
Tento ser otimista, e acredito que tudo ficará bem, que ela vai sair dessa e
voltar para mim, e o nosso filho. Todos os dias em que ela continua dormindo, e
perdendo aos poucos as funções dos órgãos, são agulhadas enfiadas no meu
coração.
Um ano se passou desde que eu perdi o amor da minha vida e a razão pela
qual eu seguia em frente. Minha mãe morreu quando eu ainda era jovem, em um
acidente de carro, e agora... anos depois, outro acidente levou a mulher que eu
mais amei, e sonhava em passar a vida ao lado dela.
Briguei com a Lira, minha irmã mais nova, quando ela me fez ir ao
psicólogo semana passada, e eu não quis o tratamento, passei uma hora sentado
em silêncio, enquanto o psicólogo me fazia perguntas sem respostas. Explodi
com ela, por me fazer passar por aquilo, e com lágrimas nos olhos, minha irmã
voltou aos Estados Unidos, destruída, sem conseguir assistir a minha
autodestruição sem fazer nada.
Meu filho me lembra a todo instante quem eu perdi, olhar para ele é como
ver o futuro que eu tinha, se desmoronando na minha frente, dia após dia.
Quanto mais essa sensação se afunda em meu peito, mais eu fujo dele, não
querendo contaminar um anjo indefeso com a minha podridão.
Meu pai?...
Minha irmã?...
Afasto a mão, não posso contaminar meu filho com a minha escuridão. Ele
é um anjo de luz, não vou permitir que um demônio como, eu manche sua vida e
o amaldiçoe com uma morte precoce.
Nunca mais pessoas que eu amo irão morrer por fazerem parte da minha
vida, vou proteger o Lorran, meu pai, minha irmã, e irmão, do destino cruel.
Perdão, Blanca.
Louis não trabalha direito, meu pai não para de se preocupar. E mandei
embora minha irmã mais nova, que só queria o meu bem, eu sou uma praga que
deve ser exterminada.
— Lorran tá chorando — o soluço que achei ter ouvido do meu filho, sai
da minha garganta — vá ajudar ele.
Desde que nossa mãe morreu, é o Louis quem tem ajudado nosso pai a nos
criar.
— Claro.
— Prometa Louis — agarro seus ombros o fazendo me encarar nos olhos
— nunca deixe o Lorran sozinho, cuide do meu filho, seja o pai que eu não
consigo ser.
— Não tenho salvação Lou — saio de seu abraço, olho para meu filho no
berço que brinca com o ursinho. — Cuide bem do garoto, você será um pai
melhor do que eu.
Abro a porta do quarto, vou para o closet, e vejo a corda que deixei
pendurada entre os fortes cabideiros. Roupas que não foram usadas desde que a
Lira as comprou, quando toquei fogo nas minhas, não tem sentido serem usadas.
Perdi a paixão que tinha pela moda, não crio mais nada, não vivo, só passo
um dia pelo outro bebendo, dormindo e me enchendo de remédios, buscando o
esquecimento.
Ela se foi, e eu continuo preso nesse inferno de mundo, a alma morta por
dentro, tendo de seguir em frente ao corpo que insiste em permanecer respirando.
Meu coração podia simplesmente parar, os pulmões não enviarem mais ar, tudo
podia desaparecer.
Perdão, Blanca.
Estou morrendo.
Eu só quero desaparecer.
— Nunca mais faça isso, me ouviu? — Louis me aperta forte contra ele,
como se fosse capaz de tirar a minha dor.
— Não posso.
— E se não passar?
Meu irmão nunca mentiu para mim, e por ele, eu vou tentar, só mais um
pouco.
Perdão, Blanca...
Dias atuais.
— Eu preciso ir para o Brasil, Levi, venha comigo — Louis pede.
— Fazer o quê? — viro, procuro pelo relógio no quarto e vejo que já são
vinte horas e cinco minutos, não lembro se acordei hoje, ou estou dormindo
desde ontem.
Sua voz mansa e baixa, acho que ele não quer acordar o Lorran. Me sento
na cama, e esfrego o rosto sem saber o que fazer. Brasil ou Itália, meu purgatório
será o mesmo. Abandonei mais uma vez a terapia, não consigo me comunicar
com os estranhos, que querem que eu fale da minha vida e de Blanca, da dor que
me atormenta.
Desde então, o Louis tem ficado no meu pé, e tomando cuidado para que
eu não ingira bebidas alcoólicas.
Me levar para o Brasil, vai garantir que ele possa continuar me vigiando e
impedindo que eu me mate, sei que prometi nunca mais fazer isso, mas o
pensamento não saiu da minha mente, nem por um segundo, desde aquele dia.
— Vou com você, mas não espere que eu me comunique com ninguém —
franzo o nariz — deixa ao menos eu beber um dia por semana, ceda em algo,
também.
— Sem bebidas para você — diz levantando — arrume sua mala, partimos
de manhã.
****
Ainda não processei que acordei, e fui colocado em um avião com o Louis
e meu pai, em direção ao Brasil. Louis tem perdendo a paciência comigo, e sei
que a culpa é minha, pelas brigas que tivemos devido à bebida no último mês.
Não o culpo.
Prometi ao Louis e ao meu pai que não tentaria o suicídio novamente, que
me manteria firme, pelo Lorran. A bebida, misturada aos remédios, tem sido meu
conforto quando o mundo ao meu redor escurece. A temperatura cai graus,
trazendo um frio de gelar os ossos, e as lágrimas brotam incessantemente.
Trancando nesse avião, encaro o Lorran brincar com seu ursinho, fazendo
sons de bebê. Ele é tão lindo, um pequeno anjo, iluminando a escuridão da minha
vida.
É injusto a Blanca não poder ver como ele fica lindo com os dentes
preenchendo a boquinha rosada e pequena. As bochechas protuberantes e os
olhos inocentes, astutos, prestando atenção ao redor como um mini falcão.
A mão treme ao esticar para pegar o bichinho, e tento não deixar ele
perceber. Lorran começa a fazer sons de cachorro empurrando sua pelúcia contra
a minha, em uma pequena briga. Aproveito que ele está sentado de frente para
mim, preso a cadeira, e fico movendo o gatinho no ar, fugindo do seu ataque.
Ele sorri como poucas vezes o vejo fazendo para mim. Tenta pular no
acento, querendo alcançar o gatinho, faz bico por não conseguir. Um riso tímido
escapa entre meus lábios e grunhindo eu esfrego o gatinho no Lorran, que se
desmancha em gargalhas.
Deixo o gatinho ao seu lado e removo meu cinto de segurança, corro para o
banheiro enquanto as cadeiras do avião vão sendo tomadas, uma a uma pela
escuridão.
Ele é o pequeno anjo que a Blanca deixou para iluminar o mundo, e eu...
Além da destruição.
****
Não sei quanto tempo passei na cabine, as costas doem pela posição
encolhida, os olhos ardem, e a garganta arranha. Evito encarar o meu reflexo no
espelho, lavo o rosto e abro a porta.
— Filho — meu pai chama com o tom de voz preocupado, que faz eu odiar
cada segundo, por causar sofrimento a ele pelo meu estado.
A mão áspera agarra meu pulso e sou puxado para um abraço. Nunca fui
bom em controlar as lágrimas, e quando recebo o calor do meu pai, derretendo o
gelo em meus ossos, eu soluço.
Eu não tinha o direito de o preocupar desse jeito. Louis não deveria parar
de trabalhar para ficar checando se eu me matei, ou se não expus o Lorran a uma
situação deplorável.
Agulhas perfuram meu peito por saber que o Lorran nunca soube o que era
ser olhado com amor paternal, como o meu pai faz por mim.
Uma das terapeutas que tive, disse que isso era um efeito da depressão. O
mundo perdendo a cor, tornando-se frio e indesejável de se viver, quando nos
perdemos dentro de nós, incapaz de encarar a realidade e enfrentar os problemas.
Já faz dois anos que a Blanca morreu, ainda não superei a sua perda, e vivo
em um eterno luto.
Não estou pronto para encarar a realidade: um mundo em que a Blanca não
existe, e que eu deveria ser o pai para o pequeno anjo que não me vê como tal,
por consequência das minhas ações. Se eu sumir agora, ele não sofrerá como eu
sofri com a morte da minha mãe.
****
Levo as mãos ao rosto, evitando que o Lorran perceba meu choro, o peito
queimando pelo desespero.
Mãos pequenas seguram as minhas, e relutante eu deixo o Lorran me fazer
o encarar. Meu menino coloca o Ipad na minha mão, impedindo que eu tampe o
rosto novamente, dá play numa música infantil, italiana, e começa a dançar e
bater palminhas. As nuvens vão embora, sendo iluminadas pelos raios que o meu
pequeno provoca.
Forço a voz para responder, não quero que ele se preocupe. Embora, não
consiga controlar o choro.
— Sim, e você?
Eu sei que não tenho o direito, mas por um segundo eu anseio ser um pai
para o Lorran.
Olivia
Foi paixão à primeira vista.
O desejo de ser mãe surgiu cedo em mim, após cuidar da minha irmã mais
nova, Bianca, após nossa mãe morrer de câncer, quando eu tinha 6 anos.
Guardo lembranças preciosas com ela no meu coração, e tentei ser tudo
que a Bianca precisava enquanto crescia.
Desde então, tem sido mais presente e cuidadoso, não deixando faltar nada.
Eu me ressinto com meu pai, não tive uma infância, cuidei dele, da minha
irmã, e quando adolescente, precisava ouvir o quanto era importante eu me
manter pura. Brigávamos muito, e em algumas dessas brigas, cheguei a jogar na
cara dele que era um péssimo pai, por ter nós abandonado quando nossa mãe
morreu.
Naquele dia, ele entendeu a dor que carreguei durante anos. Nunca deixei a
Bianca saber como eu me sentia, quero protegê-la de tudo e todos, inclusive dos
sentimentos ruins que guardo dentro do peito.
Foram longos anos até a Bianca se tornar independente, hoje ela se formou
e conseguiu um emprego estável em uma grande empresa. Não poderia estar
mais orgulhosa da minha menina.
Daquela vez eu estava certa: ele era o cara, o homem da minha vida,
casaríamos e teríamos uma família. Me entreguei a paixão sem pensar duas
vezes, eu tinha certeza da pessoa ao meu lado, não existiam motivos para recusar
suas investidas, transamos muitas vezes, apaixonados, eu sentia que ele era o
meu porto seguro. Éramos um casal que se amava.
Desnorteada, fui até ele, sua expressão não se abalou, me apresentou como
uma amiga do curso, e nada mais.
Fiquei sem chão, as mãos suando frio, a vista embaçada. Travei o choro,
cumprimentei aquelas pessoas, e quando ficamos em fila para entrar com os
padrinhos, eu me agarrei ao meu pai e escondi o rosto em seu ombro. Sem dizer
mais nada, ele segurou minha cabeça, beijou minha testa e disse o quanto me
amava e estava feliz pela minha conquista.
Sem arrependimentos ele me disse; ... “Eu nunca te pedi em namoro, não
foi minha culpa se você se iludiu”.
Busquei os meios legais que poderia fazer isso e fiz o meu cadastro para a
adoção, também procurei por meio de inseminação artificial, mas com o que
ganho no momento, não conseguiria pagar o procedimento.
Faz dois anos que entrei no cadastro de adoção e fiquei perplexa quando
me perguntaram qual o tipo de criança que eu queria, se era branca, negra,
menina, menino, olhos azuis ou marrons, e todo o tipo de pergunta absurda.
Senti que estava montando um sanduíche em vez de me preparando para
receber meu filho.
Fui enfática quando disse que não tinha preferência de nenhum tipo, que
queria uma criança para amar e ser amada, que aceitava grupos de irmãos, e
crianças com deficiência, pois se estivessem sendo gerados no meu ventre eu
nunca poderia escolher como eles seriam.
É injusto que o sistema de adoção tenha uma seleção ridícula como essa. A
moça ficou feliz pela minha resposta, e disse que quando uma criança com o
perfil que escolhi aparecesse, eu seria chamada, e depois seguiríamos o processo
de adoção.
Amar alguém sem esperar nada em troca, criar uma pessoa, ser o seu ponto
seguro, a felicidade, o mundo de uma pequena parte minha. E esse pequeno ser
que nascerá de mim, vai me amar incondicionalmente, e quando eu ficar
velhinha, serei cuidada, amparada, e finalmente poderei descansar em paz.
— Certo.
Tenho minhas desavenças ideológicas com meu pai, mas ele nunca deixou
de me amparar por brigarmos e pensarmos diferente. Bato na porta da diretora, e
quando entro, levo um segundo para processar o homem a minha frente.
Louro dos olhos azuis. Alto e magro, ao ponto de a roupa ser folgada. Os
ombros encolhidos, e a expressão desolada, com olheiras negras e olhar
quebrado.
Queria ter tido tempo de conversar mais com a criança. Ele parece um
doce, e muito fofinho.
— Foi a confusão pela tradução do idioma — sorrio para ela — quando ele
vier amanhã deixar o Lorran pegaremos o contato.
— Pode deixar.
Já faz mais de uma hora que ele retornou da empresa, após o segundo dia
de trabalho, e continua encarando a tela do notebook sem digitar uma palavra no
arquivo aberto, ou mudar a página.
— Nada, por quê? — sacode a cabeça e bate no rosto, sinal de quando ele
precisa manter o foco.
— Já faz mais de uma hora que você encara esse notebook sem fazer nada
— aponto a tela — sei que não sou a melhor companhia dos últimos tempos, mas
se quiser conversar — dou de ombros.
— Corta o papo furado e diga logo o que aconteceu. Aproveite que estou
mostrando interesse.
São raros os dias em que realmente tenho vontade de conversar com o
Louis. Após matricular o Lorran, me sinto mais disposto a fazer alguma coisa,
além de ficar trancado debaixo das cobertas.
— E se ela não estiver mentindo? Não conheço a moça, mas sei que nem
toda primeira vez é igual.
— Ela usou a cartada da virgindade para me fazer ser delicado com ela,
criar apego — morde o lábio, enraivecido — ela me paga, vou fazer com que
confesse que mentiu para mim.
— Ele não vai ficar sabendo de nada — me encara com seu olhar de águia
— e você vai continuar calado sobre isso.
Simulo um zíper sendo passado na boca e jogo a chave fora. Louis suspira,
sentando-se ao meu lado novamente.
— Faz tempo que não reclamo de mulher com você — bate na minha coxa
— obrigado por me ouvir.
— Quer minha opinião? — ignoro o sentimentalismo sobre como temos
nos afastados durante a minha depressão.
— Manda.
— Talvez ela não tenha mentido. Não sabemos ao certo como a virgindade
é tratada no Brasil, vai que ela fez algo para esconder o sangue.
— Até da camisinha?
A dor de perder quem ama é excruciante. Desejo que meu irmão nunca
passe por tal sentimento.
Lorran faz bico, os olhos ficam vermelhos e o choro irrompe como uma
represa sendo aberta.
— Não tem motivo para chorar — falo, e ele grita, intensificando o choro.
— Stronzo! — Grita.
— Zio! — Lorran soluça indo para os braços do tio — Levi bligo imo[3].
Peço, saio da sala, o caminho para o quarto é tomado pela escuridão. Abro
a porta e a fecho com um baque, não conseguindo ouvir as vozes que chamam
meu nome.
****
Ele prefere ficar lá do que no apartamento comigo, mas por qual razão ele
iria preferir a mim? Não passo de uma praga em sua vida.
— Vamos — chamo.
Ele se levanta e vai para a porta sem esperar por mim. Descemos em
silêncios no elevador e permanecemos assim durante o trajeto para a escola.
— Lorran — chamo seu nome, com medo dele ser machucado — o que
você quer fazer hoje? — Tento uma conversa, qualquer coisa capaz de o manter a
salvo.
— Combinado.
Entrego meu filho ao raio de sol e vou embora, dominado pela tempestade.
Vejo o carro me esperando, se eu sumir e deixar o Lorran com aquela mulher, ele
nunca mais ficará envolto da dor, poderá sorrir novamente e ser feliz.
Não penso muito quando ignoro o carro e ando sem rumo pela cidade.
Ele parece a ponto de pular de um penhasco, não sei explicar, mas tenho o
impulso de querer o segurar.
— Bom dia, Carla, e Suzana — beijo a mão da Suzana e sorrio para Carla.
— Que menino mais lindo — Carla pega na mão do Lorran e ele se derrete
sorrindo para ela, dengoso. — Que fofura, meu Deus! — A voz dela fica um
oitavo mais alta, chamando a atenção das mães que estão no corredor — ele é
brasileiro?
— Ele é um fofo! — Dona Paola diz, uma senhora rica que sempre deixa
os netos na creche. — Come sta il bambino[5]?
— Sim, vai ser amiguinha dele? — pergunto a ela que acena em positivo e
estende a mão para o Lorran.
— Ele não fala português ainda, Suzana — a mãe dela fala — seja
boazinha com ele e o ajude, assim como a mamãe te ensina a falar, combinado?
— Sim mamãe.
— Até mais.
— Lorran, seu pai colocou as coisas que pedi na sua mochila? — pergunto
em italiano e ele dá de ombros.
— Lorran pode sentar-se com seus colegas — aponto a todos que sentam
espalhados em cima do tatame no chão da sala — hoje vamos aprender o nome
das cores, vou ensinar em italiano e português, quero que você preste atenção, ou
se sentir dificuldade, me fale, desse jeito poderá aprender mais fácil a língua,
combinado? — falo em italiano com calma, sendo observada pelas pedras azuis
que ele tem nos olhos.
— Sì zia Vivia — senta ao lado da Suzana que sorri para ele, e Lorran faz o
mesmo.
Inicio a aula, e tudo corre bem, noto que algumas crianças se divertem
mais do que outras, aprendendo italiano, e ficam repetindo as palavras até
acertarem a pronúncia correta da cor no outro idioma.
E esse pouco se torna em mais uma hora, já são 19 horas e nem sinal do
Levi aparecer. Fico com o Lorran na sala da diretora, que preocupada tenta
contato com Levi e nada.
Vejo o menino que dorme no sofá, tentando encontrar uma solução, olho
na folha de contatos e o nome Vittileno se destaca e um pensamento me ocorre.
— Sim.
— Preciso que você avise a ele que estou com seu sobrinho, o pai não o
veio buscar, e nem o motorista, preciso saber onde é a casa dele para o deixar lá,
mas o Lorran não sabe, e na secretaria o pai deixou somente o número dele para
contato, ao qual não é atendido as ligações, e o endereço ele não soube dar, ficou
de o trazer depois, e não fez.
— Minha nossa, deve ser por isso que o Louis está uma fera. — Bianca
exclama, e quase posso a ver colocando a mão no peito preocupada.
Tenho vontade de socar o Louis por fazer minha irmã ter medo, contudo,
no momento, preciso manter a calma e garantir que Lorran possa voltar para casa
em segurança.
O homem suspira do outro lado e fica mudo por breves segundos, estou
pronta para uma briga.
— Meu irmão não está bem, mas vou providenciar que isso não torne a
acontecer, obrigado.
Ele desliga
— Não sei — pego o Lorran no colo e coloco a mochila nas minhas costas
— mas espero que o Louis grite muito com ele.
Saio da sala não querendo ouvir mais nada, fervendo de raiva pela
irresponsabilidade do Levi, e por ouvir gritos do Louis.
Esses dois italianos que se preparem, eles vão conhecer o quanto uma
brasileira pode ser esquentada quando mexem com uma criança indefesa!
Levi
Antes que o segurança possa me seguir, eu entro em uma lanchonete e vou
para o banheiro. O horário de pico facilita que ninguém me incomode. Tranco a
porta e me sento na privada, vejo as horas e decido que vou esperar meia hora
aqui dentro, ou até alguém precisar usar o banheiro.
Não conheço muito da cidade de São Paulo, vim aqui poucas vezes para
desfiles dos meus modelos, durante o São Paulo Fashion Week.
Caminho sem rumo enquanto as ruas que deveriam ser claras pelo sol são
sombrias e frias. As pessoas andam pelas calçadas apressadas, esbarrando umas
nas outras, ou parando nas barraquinhas de comida, e entrando nas lojas ao longo
do calçadão.
Não sei por quando tempo perambulo sem rumo, dobrando as esquinas,
passando nas fachas de pedestre.
Como é possível estar rodeado por tantos corpos e sentir o frio gelando
minha alma, sozinho. O desespero para fazer besteira se implanta na minha
mente, após muitas estações, e o metrô vagar, eu desço em uma, no bairro Vila
Olímpia.
Tem bares por todas as partes, mesas sendo abertas do lado de fora,
ocupando parte da calçada. Fito o céu que ganha um tom alaranjado enquanto o
sol de põem, trazendo a todos como é o meu mundo.
Faz um mês que não bebo, geralmente o faço escondido do Louis, e hoje,
minha boca seca de vontade por uma gota de álcool.
Entro no lugar e vou direto para uma mesa, perto do bar. Os garçons se
olham e me fitam, antes de um deles vir me atender com um sorriso no rosto.
Não tenho vontade de retribuir, pego o cardápio e vejo as opções de bebida, por
sorte entrei em um que tem uísque.
— Uma garrafa — falo em português, fingir que não falo o idioma não vai
servir nesse momento.
— Volto em um instante.
Ela nem tentou esconder a vontade que teve de questionar quando a outra
disse que eu só falava italiano. E muito menos o quanto ver o Lorran a deixou
feliz. Por que eu não consigo sentir o mesmo pelo meu filho? Ela abriu os braços
com facilidade para ele, sorriu e o cumprimento.
Lorran se jogou nos braços dela com alegria, eles nunca tiveram contato
antes, e meu filho ansiou mais pelos braços de uma estranha do que os meus. Eu
sou um bosta que não deveria sentir inveja da desconhecida. Me corrói saber o
quanto eu não sou importante para o Lorran, queria o proteger da escuridão que
me cerca, me afastando e o mantendo a salvo, mas ao invés disso estou me
tornando invisível para meu filho.
— Qualquer coisa — peço só para não pensar que estou aqui somente para
encher a cara.
— Volto logo.
Ele sai e pego o copo, enchendo-o com o líquido âmbar, a língua saliva de
vontade. Levo a bebida a boca com a mão tremendo pela ansiedade de me
embebedar, após um mês de abstinência. O uísque desce queimando pela
garganta, tomo a dose em um único gole, e bato o copo a mesa, apreciando o
ardor causado no corpo, finalmente o frio começa a ir embora.
Como essas pessoas conseguem ficar felizes, sair com outras e rirem sem
preocupação? Nunca, perderam alguém querido ou tiveram o seu mundo
desmoronando, elas não sabem o que é ter um filho, e ser incapaz de desenvolver
vínculos com ele, de ter medo de o machucar, e o fazer chorar, e mesmo assim
sofrer por perceber que não significam nada para eles.
Ninguém nesse lugar entende a minha dor, o quanto a alma em meu corpo
é queimada diariamente. Bebo sem moderação, algumas pessoas me olham torto,
inclusive os garçons, devem ter medo de que eu faça alguma merda ou incomode
os clientes, eu só quero ficar bebendo isolado em meu mundo.
Quando a garrafa termina peço outra, a cabeça nubla, e não sinto bem
meus dedos, quando pego o cartão e o aproximo da maquineta. O bipe da compra
aprovada, recolho o cartão e acho que o guardo na carteira, não tenho certeza.
Gotas deslizam pelo canto dos lábios e os limpo com um gesto brusco. A
cabeça pesa dez quilos a mais, com lentidão, deito o braço na mesa e apoio a
cabeça nele. Aos poucos o entorpecimento que eu buscava chega e tudo ao meu
redor para.
Não entendo o que acontece ao meu redor, só que sou amparado por braços
fortes. As pernas viram gelatinas, e com muito custo consigo me firmar em cima
delas.
Quem me carrega?
Acordo ao ser puxado novamente, dessa vez consigo ver que estou na
garagem do prédio em que moro. O caminho para o apartamento é feito entre
clarões e apagões da minha mente entorpecida. Passamos pela porta, e o raio de
sol que vi mais cedo me encara do sofá com as mãos na cintura.
Rio de sua cara de raiva, ela até que fica fofinha com as bochechas
vermelhas, fumaça rodeia sua cabeça, acho que vai explodir a qualquer segundo
se continuar irritada desse jeito.
— Vo........cê vai explorrrrrrrrdir — respondo embolado e cambaleio em
sua direção, é bom poder falar em italiano sem me preocupar se vão me entender
ou não.
— Vá se foder — digo, não tenho motivos para aturar essa merda de uma
estranha — sua piranha — aponto o dedo na sua cara.
Ela bate na minha mão, não sinto nada pelo seu toque brusco e rio da sua
cara. Que mulher fraquinha.
— Fracoteeeeeeeeeeeee — cantarolo.
— Não grita ou o Lorran vai acordar — pede fazendo gestos com as mãos.
— Me perdoa Lorran.
Peço, me solto do segurança e tento chegar perto do meu filho, ele corre
para os braços da professora, e isso era a estaca que faltava ser enfiada no meu
coração. O que eu esperava que ele fizesse? Eu não mereço esse garoto, nunca
tive o direito de me considerar um pai.
— Não foi uma briga — me sento no sofá com ele no meu colo — seu pai
não está bem, discutimos porque ele não foi te buscar na escola. O Levi sente
muito por agir errado.
Quando chegou, estava bêbado e devastado, mas quando viu o Lorran foi
como se algo dentro daquele homem fosse atingido por um raio, e o choque o
fizesse ver pela primeira vez a realidade toxica em que ele obriga a criança a
viver.
Lorran não merecia crescer com um pai como esse por perto, a falta da
mãe já é motivo o suficiente para a criança crescer traumatiza, insegura, e
sentindo que falta um pedaço do ser dela em todos os instantes do seu
desenvolvimento.
Foi assim durante a minha vida, cresci sem uma mãe presente, e com um
pai afundado em depressão.
Não vou permitir que o Lorran saiba a dor que a falta dos pais causa. Nem
que eu tenha de abrir a cabeça do Levi ao meio para o fazer compreender o mal
que está fazendo ao Lorran e que ainda dá tempo de remediar a situação se ele se
esforçar.
Eu não deveria me intrometer, mas quem pediu a minha ajuda foi esse
pequeno anjo, e não posso ignorar a ligação que se formou entre nós nesses
poucos dias.
Ele nem o considera como um pai, o quanto a relação deles dois foi
quebrada?
— Sim.
Lorran desce do meu colo e pega uma máscara de dinossauro, me entrega e
depois corre pela sala. Visto a máscara e o persigo fazendo sons de dinossauro
enquanto ele grita feliz.
Levi se vira derrubando o Lorran na cama, que começa a rir mais alto
quando o pai faz cócegas em sua barriga simulando mordidas na pele. Não tenho
certeza se ele entende o que faz com o filho, mas observo o momento com um nó
na garganta.
Talvez ele não tenha desistido do Lorran, só não sabe como ser um pai para
o pequeno.
— O que faz aqui pequeno ouro? — Levi pergunta com a voz arrastada e a
língua presa.
— Sei un piccolo molto intelligente [7]— Sorrio para o neném e ele se joga
em meus braços novamente.
— Vuoi di più [8]— pula, e preciso tomar cuidado para que não caia.
— Vai a giocare un po ', ho bisogno di parlare con tuo zio [9]— o coloco no
chão, e o Lorran vai para os brinquedos. Aperto os punhos quando me viro para o
Louis, a vontade de falar mais do que posso na frente do Lorran.
— Eu sinto muito, o Levi deveria ter ido buscá-lo, não sei o que aconteceu.
— Tenta se explicar, como não sabe o que aconteceu? Deixou uma criança na
responsabilidade de um incapaz! É o que tenho vontade de gritar, mas por
respeito ao desenvolvimento do Lorran eu me contenho.
— Que isso não se repita — aponto o dedo na cara dele, querendo fazer
muito mais — amanhã, se ele for esquecido de novo, vou ligar para o conselho
tutelar e fazer uma denúncia contra o seu irmão e você, por abandono parental.
— Já disse que isso não irá se repetir — vejo como ele se controla para não
gritar comigo, a forma, como aperta os punhos, e os lábios são prensados em
uma linha de tensão.
— Assim espero, e contrate uma babá que fale italiano, o Lorran se sente
sozinho quando você não está.
— Eu falo italiano muito bem e cuido dos meus alunos em horário de aula.
Eu e você devemos ter uma conversa séria sobre o Levi ser o responsável do
Lorran, mas considerando que o dia já foi bastante estressante eu vou embora.
— Você não viu nada — pego minha bolsa, quase deixando escapar que
não sou tão passiva quanto a minha irmã. — Anota o número do seu celular, caso
eu precise te ligar novamente — estendo o celular para ele que o pega, e faz o
que pedi.
— Boa noite professora Olivia — fala pausado, arrebito o nariz para ele.
— Bianca, vamos sair — peço antes que ela possa dizer “oi” — topa um
espetinho?
Não espero ela responder, sei que vai recusar. Desligo a ligação e me visto
rápido, chamo um táxi, e muitos minutos depois desço em frente à casa do meu
pai. Um aperto comprime meu peito ao ver a casa em que cresci, desde que fui
embora, sinto muitas saudades de falar com minha irmã todos os dias, e até das
brigas com o meu pai.
— Não me diga que perdeu sua chave — ouço uma voz grossa atrás de
mim, viro e vejo meu pai com seu uniforme de segurança dentro do carro que usa
para trabalhar.
— Sai apressada — passo por ele e vou atrás da minha irmã. — Vamos
Bianca!
— Sua irmã trabalha cedo, não a leve para beber a essa hora! — lá vem as
reclamações.
— São nove horas, vamos jantar — finjo não me importar com sua
alfinetada. Ele é sempre assim, acusa antes de perguntar.
— Não demorem.
— Não comecem — Bianca pede — vou sair para jantar com a minha
irmã, sei das minhas responsabilidades, pai — beija a bochecha dele e o homem
derrete. Bianca é sempre assim, nunca o enfrenta.
— Traga um espeto de bacon com alho para mim — pede a ela, que
concorda.
— Na cabeça daquele idiota, sim! — Bebe o copo de uma vez e pede outro
ao garçom.
— Deve ser de família, o irmão tem uma relação tão ruim com o filho que
o Lorran nem o chama de pai.
— Isso é pesado, eu soube que ele tem depressão desde que a mãe do
Lorran morreu, logo que ele nasceu.
— Uma merda — bebo o resto da cerveja e peço outra — você deveria ver
o menino, é muito carismático e apaixonante — suspiro.
— Não se envolva demais Olivia — Bianca segura minha mão — sei que
você quer ser mãe e pode acabar se apegando demais ao Lorran.
— Eu sei.
Pelo resto da noite, bebemos e falamos mal dos irmãos italianos que estão
tirando a nossa paz.
Levi
Acordo com uma puta ressaca, a cabeça partida em duas. As janelas do
quarto são abertas, e a claridade me cega. Uma figura alta se projeta na minha
frente. Pisco tentando entender quem é.
— Hoje você vai tomar um rumo na sua vida! — A voz grossa, raivosa. Só
pode ser o Louis.
— Nunca mais fale essa merda, a partir de hoje você vai voltar a viver.
— Não seja ridículo, Louis, sabemos que já estou morto por dentro há
muito tempo. Você que não me deixa partir.
— Você vai ter uma rotina agora, todos os dias — ele me ignora — vamos
malhar juntos, depois vai levar o Levi para a creche enquanto eu trabalho, e você
vai para a terapia. Já achei um terapeuta brasileiro que vai falar em italiano com
você já que se recusa a usar o português.
— Quando sair da terapia, você vai se ocupar com qualquer merda que
seja, nem que eu tenha de te fazer ficar ao meu lado no trabalho. Depois vai
buscar o Lorran na creche, e aí vai ter um tempo com o seu filho.
Lorran aprendeu a falar “zio” e “nonno”, porque ele foi ensinado pelo meu
irmão e pai, a os chamar dessa forma. Eu nunca passei tempo o suficiente com
meu filho enquanto ele cresce para o ensinar a me chamar de “papà”. Ele escuta a
todos me chamando de Levi, e imitou, nem meu nome eu fui capaz de o ensinar.
Não sei de onde vem a dor que me assola ao imaginar meu irmão
desistindo de mim. Não posso perder a única pessoa que luta por mim quando eu
sou incapaz de fazer isso.
— Prometo tentar Lorran — beijo sua cabeça com cuidado para não o
machucar. Ele parece tão delicado, e poderia quebrar a qualquer momento pelo
meu toque.
— Ser um pai para você — aliso sua bochecha e ele franze a testa, não
entendendo o que quero dizer.
O farei descobrir como é ter um pai ao seu lado. Vai ser um caminho longo
e doloroso, como tem sido diariamente, mas eu vou tentar.
A Blanca morreu.
Eu continuo aqui.
— Levi tá englaclado.
Uma criança inocente que precisa de um pai em sua vida... uma criança,
que perdeu a mãe no momento de seu nascimento... uma criança com dois anos,
em que todos os seus aniversários, eu passava bêbado, chorando a perda da
minha esposa.
— Me perdoa? — peço.
— Polque?
— Vamos irmão?
— Sim — aceno em positivo.
Vou para o banho e não me olho no espelho, imagino que devo parecer um
zumbi. Tomo banho, e pela primeira vez, penteio os cabelos sem ser obrigado
pelo Louis ou meu pai.
Faz anos que não tenho vontade de limpar o corpo e arrumar os cabelos.
Acho que finalmente aceitar a dor que causei no meu filho, e que devo
buscar ajuda e melhorar, foram um estopim para poder começar a cuidar de mim
mesmo.
Tomo café com meu irmão e filho, Lorran brinca com a comida, e não sei
como o fazer comer sem ficar todo sujo. Observo enquanto o Louis passa o
babador no pescoço dele, e com uma mão, leva a comida a boca do Lorran e a
outra a sua própria. Eu nunca fiz isso e não sei se conseguiria agora.
— Já tentei, mas não consegui nenhuma — suspira — até quando vai ficar
fingindo que não fala português?
— Eu sei que você é fluente, lembre-se que fui eu quem te ensinou. Não
consigo entender o motivo dessa birra com o idioma.
— Você me arrastou da Itália para cá — a irritação ferve no meu sangue —
não espere que eu seja totalmente receptivo — jogo o guardanapo na mesa, sem
paciência para continuar aqui — vamos Lorran, hora da creche.
— Lorran como você está lindo! — O menino fica todo risinho, com as
bochechas vermelhas enquanto corre para os braços dela — dormiu bem?
— Sì — acena e a abraça.
Eu tenho de seguir em frente para que meu filho seja capaz de me abraçar e
beijar com a mesma felicidade que ele fez pela professora.
— Desculpe por ontem — peço a ela que me olha atenta — eu não tenho
como justificar meu comportamento, mas o incidente me fez perceber o que
estou fazendo de errado — encaro o Lorran — vou tentar melhorar, mas
enquanto isso não acontece, me ajuda a cuidar dele?
— Só continue sendo boa para ele — seguro a mão do Lorran — até mais
tarde, hoje eu te busco no horário.
— Celto.
Lorran desce do colo da professora e corre para a sala de aula, vejo quando
ele cumprimenta os amigos com sorriso, e é bem recebido por eles.
— Não vou.
Não sei se prometo isso a ela ou a mim, mas vou fazer o possível para
cumprir com a minha palavra.
Pelo Lorran eu vou tentar uma última vez, com mais afinco do que em
todas as outras.
Uma voz sussurra ao meu ouvido, busco por outra pessoa dentro do carro,
e só vejo o segurança que mantem o olho no lado de fora. Acho que estou
realmente enlouquecendo, passei a ouvir coisas.
A voz tem razão, das outras vezes eu não queria melhorar, ainda me sinto
no fundo do poço, rondado por escuridão. Tenho de ser forte e sair desse carro,
falar com o psicólogo, e buscar pela melhora, é a vida do Lorran que está em
jogo, não somente a minha.
Meu celular toca e vejo o nome da minha irmã, faz tempo que não nos
falamos.
— Oi — atendo.
— Senti que você precisava de mim — Lira tem a voz doce e chorosa —
Louis me contou que vocês estão no Brasil e imaginei o quanto deve ser difícil
para você se adaptar.
— Ah, meu irmão — ela soluça — você não faz ideia do quanto me deixa
feliz saber que finalmente quer procurar tratamento. Eu estava errada da outra
vez, não podia ter te forçado, aquilo só te machucou.
Lira chora do outro lado e fica difícil entender o que ela fala entre os
soluços. Usando minha irmã de força, eu saio do carro e entro no prédio, com ela
na linha, como se estivesse segurando a minha mão. Pego o elevador até o quinto
andar, quando as portas se abrem, a Lira para de chorar e funga.
— Certo.
Desligo e faço a minha ficha com a atendente, menos de meia hora depois
sou chamado na sala do psicólogo.
O homem é mais jovem do que eu esperava, deve estar na casa dos seus
trinta anos. Sentado na poltrona, ele aponta o sofá para que eu me acomode.
Aos poucos o ambiente vai ficando mais na penumbra, e agradeço por isso.
A sensação de ser observado como uma presa prestes a ser abatida ameniza,
sempre me senti assim com os outros psicólogos, como se eles estivessem me
julgando em vez de ajudando.
— Você quer que eu faça isso? — a penumbra impede que eu veja seus
olhos, mas sei que a cabeça dele está abaixada, não me analisa enquanto ando
feito um louco.
Ele pausa e me sento, prestando mais atenção nele. Dessa vez o homem
inclina o rosto para cima e me encara, não que eu consiga ver muito de sua
expressão.
— Você quer ajuda com a dor que as outras pessoas não podem ver o
ferimento, e não vou cutucar a ferida. Esse é um espaço seguro Levi, só
falaremos do que você estiver pronto, e sem cobranças, cada pessoa tem o seu
ritmo, aos poucos... descobriremos o seu.
Espero pelas perguntas, mas ele não faz nenhuma. Respeita o meu tempo
de descanso entre uma fala e outra.
— Buscar a cura pelo Lorran é uma mostra de que você também quer se
curar Levi, e encontrou no seu filho, a força para buscar ajuda.
— Quando você busca para si a melhora, é como abrir uma porta que
esteve fechada durante anos em um segundo, nada passa por ela, no outro, tudo
transborda, arrombando as dobradiças e exigindo que sejam vistas.
— Boa forma de pensar — pondero em silêncio por mais tempo — sou
viciado em álcool e remédios.
— Ele te impede?
— Veja a situação por outro ângulo, você esqueceu seu filho, e ela ficou
preocupada. Talvez ela não tenha te julgado, mas como professora, percebeu o
risco em que a criança foi exposta, e quis evitar que acontecesse novamente.
— Eu sumi para beber — admito — nem pensei duas vezes antes de fazer
isso com o Lorran, eu sou um merda — escondo o rosto nas mãos.
— Temos muitas coisas para falar, ao que posso perceber. Quer começar
por uma, e depois vamos a outras? Separar as dores, e ir tratando os machucados
por vez pode ajudar de maneira mais eficaz.
— Pode ser — deito-me no sofá, me sentindo cansado — não sei por onde
começar.
— Ter esquecido do Lorran por ter ido beber. Eu queria sumir, fazer a dor
passar, e fugi sem que percebessem, não me importei com ninguém além de mim.
— Não é uma boa opção, isso aumenta a compulsão para fazer o que não
te permitem. Você pode usar um elástico, sempre que sentir o desejo pelo álcool
estrale o elástico no seu pulso, o ardor na pele vai te ajudar a enfrentar a
compulsão.
— Você disse que quer melhorar pelo seu filho, tente passar um tempo
com ele, nem que seja somente o olhando, ou brincando, conversando,
passeando. Você acha que conseguiria evitar beber na frente dele?
— Faltam 10 minutos para a sessão acabar. Quero te ver três vezes por
semana. Agende as consultas do mês inteiro quando sair daqui, e te vejo na
próxima.
— Obrigado... — me levanto — por não me fazer sentir desconfortável.
O Lorran merece que eu tente por ele, não me sinto bem, pelo contrário a
escuridão ainda caminha ao meu redor as quatro da tarde, quando vou buscá-lo
na creche. Mas nunca mais a deixarei me vencer sem lutar, ontem foi a última
vez que me entreguei.
Olivia
— Hora da filinha para esperar os pais — digo, e todos correm para a
parede ao lado da porta e ficam alinhados esperando serem chamados.
Abro a porta e fico surpresa ao ver o homem louro parado do outro lado.
Ele está diferente de ontem, os cabelos arrumados, a barba feita, e usando um
perfume forte.
— Eu sei que você fala português — queria ter soado menos arisca, mas
não consegui controlar a língua.
— Non so a cosa ti riferisci [10]— ele nem desvia o olhar, sustentando sua
mentira.
O safado vai realmente fingir que não fala português após ter se
comunicado comigo ontem? Fico na dúvida se ele lembra a conversa que
tivemos. Minha atenção é desviada para as mães que param no corredor e ficam
encarando o Levi com a mão na boca, surpresas pela beleza dele.
— É hora de ir para casa com o seu papai — Lorran aumenta o bico mais
ainda — amanhã a gente se ve cedinho, e passa o dia na creche, combinado?
— É uma pena que você não queira ir comigo — Levi fala, noto que ele se
agachou ao meu lado, e com as mãos tremulas toca o braço do filho, chamando a
atenção — queria te levar para comer muito popolate com sorvete.
— O tanto que você quiser — Levi olha no relógio no pulso — mas temos
de ir rápido, ou vai dar a hora da janta e você não poderá mais comer sorvete
com chocolate.
— Zia vivia vai? — e então entendo, Lorran não quer sair da creche por
minha causa.
Alguns deles já insistiram em não voltar para casa ou me levar para sair,
como se fosse parte de suas famílias.
Nenhum deles perdeu um dos pais, ou passa por problemas em casa, não
entendem o pedido do Lorran e o quanto o menino se diverte quando está comigo
aqui na creche.
Ele deve querer repetir a brincadeira de ontem e o cuidado que tive com
ele, quando chegamos a sua casa e o dei banho e janta, o colocando para dormir
antes do Levi chegar fazendo zoada.
O coração grita para pegar o pequeno nos braços e o levar para casa, dar
banho, vestir sua roupinha e dar sua janta. Brincar um pouco antes dele dormir, e
depois o ninar nos braços até que o sono o domine.
Isso é algo que somente uma mãe faz, e eu não sou a mãe dele, ou muito
menos sua família.
— Sì — ele nem olha para o pai quando corre para se sentar no tapete.
Tenho quase certeza de que estou estragando algum plano dele com o filho.
— Lorran — chamo sua atenção — a zia não pode sair do trabalho com os
alunos, é proibido.
Ele expulsa o pai sem pensar duas vezes, e preciso me controlar para ele
não perceber que achei engraçado seu jeitinho fofo e simples de falar.
Dói perceber o quanto Lorran não se importa e não reconhece o Levi como
pai. Eles não têm nenhum laço afetivo, e a relação entre eles é inexistente, tenho
vontade de fazer com que ambos possam se entender melhor.
— Lorran — Levi o chama — vamos embora comigo, prometo que vai ser
divertido.
— Num quelo — cruza os braços.
Eu sei que não posso ceder à chantagem do Lorran, ele só tem dois anos, e
faz birra querendo que sua vontade seja cumprida. Mas ver os olhinhos tristes, os
lábios tremendo, e as mãos cruzadas, mexe comigo, não consigo ignorar o quanto
o emocional dele pode ter sido machucado.
— Lorran fofinho — seguro seus braços — eu não posso ir com você hoje,
vou te esperar amanhã na creche para passarmos o dia junto de seus colegas,
agora você precisa ir para casa com seu pai.
— Segura a minha também, Lorran — Levi pede, posso jurar que senti um
pouco de ciúmes na voz dele.
Lorran solta minha mão relutante, faço o caminho até a secretária e sou
parada por meus colegas, querendo saber o que foi a comoção na minha turma.
Omito deles parte da situação, é comum às vezes os alunos se apegarem demais,
e eles entendem isso, mas nunca cedemos a vontade dos pequenos, posso acabar
sendo demitida por me envolver demais.
Do lado de fora, vejo Lorran e Levi em frente a uma SUV preta, esperando
por mim, vou até eles sem chamar a atenção dos meus colegas que saem, dou a
volta e entro no carro, agradecendo pelos vidros negros.
Estou me sentindo uma fugitiva por toda essa situação, não posso
continuar agindo impulsivamente, ou terei problemas no trabalho.
— A Olivia não pode ficar saindo do trabalho com a gente, porque ela tem
uma vida pessoal — Levi suspira, percebendo que o Lorran não entende o que
ele quer dizer.
— Lorran — o chamo — o que o seu pai quer dizer, é que eu tenho
afazeres depois do trabalho, e não posso deixar de cumprir eles porque você quer
que fiquemos juntos.
— Não posso, hoje será uma exceção por que vamos tomar sorvete, e você
ainda não tinha entendido, mas agora que já sabe, não vamos repetir essa saída,
entendeu?
— Sì — fica cabisbaixo.
— Quelo.
— É assim que eu gosto, sorridente — toco em seu nariz, e ele sorri para
mim, do jeitinho que derrete meu coração.
Lorran pede colo e o carrego nos braços, Levi vai para o balcão e
montamos os sorvetes, Lorran se esbalda no sabor de chocolate.
— Me ensina a dar de comer a ele? — Levi pede, o encaro incrédula, não
acredito que ele não sabe alimentar o filho.
— Tá.
Nos sentamos, e o Lorran insiste em ficar no meu colo, deixo meu sorvete
de frente a mim, e coloco o do Lorran entre mim e o Levi.
— Aproveita que ele tá de frente para você, segura a colher com pouco
sorvete ou ele vai se sujar mais do que comer, acho que é isso, não tem segredo.
— Certo.
— Adolo popolate — acho graça do jeitinho fofo que ele fala, e cheiro sua
cabecinha.
— Nenhum dos meus alunos se negam a sair com os pais, para que eu
precise intervir entre eles — digo em português.
— Seu arrogante — sorte dele que o Lorran está em meus braços, e não
quero que ele entenda as ofensas ditas contra seu pai — você falou comigo em
português ontem, não tente me enganar se fingindo de idiota.
— Sì.
Ela só pode ter feito alguma coisa para o Lorran se apegar a ela daquela
forma, não é normal que o menino faça birra diariamente quando tenho de ir
buscá-lo na creche.
Foi isso tudo que a bebida e os remédios me tomaram: uma vida com meu
filho.
— Quelo zia vivia! — ele continua cantando enquanto roda pela casa em
protesto.
— Não, só eu e você.
Passo a mão no rosto sem saber mais como barganhar com ele para o
convencer a parar de birra. Não faz nem dez minutos que chegamos da creche, e
estou me coçando para poder o deixar sozinho e fugir dessa perturbação na
minha cabeça.
Eu sou um idiota fraco e covarde, como pude pensar que de uma hora para
outra ele iria me aceitar? Se não tivesse a interferência daquela mulher maldita,
isso não estaria acontecendo, e eu poderia me comunicar com o Lorran sem todo
o estresse.
O sangue ferve nas minhas veias e tenho ímpeto de gritar para o Lorran se
aquietar. Abro a boca e puxo o ar pronto para reclamar com ele. As mãos
pequenas pegam o Ipad em cima da mesa e o arremessa no chão com força
enquanto ele grita com toda a força pela Olivia.
Ele me encara surpreso pela forma que falei com ele, e abre a boca ainda
mais, berrando alto.
A ignoro fingindo que não entendo seu idioma, ela é idiota ou o quê? Acha
mesmo que estou deixando o Lorran fazer essa zona na casa de propósito? Eu só
não sei que merda fazer com ele, se o Louis estivesse aqui saberia como acalmar
o Lorran, e o convencer de que não pode ficar com a professorinha dele direto,
aquela maldita!
Vai roubar meu filho de mim sem nem me dar a chance de lutar para que
ele possa ser meu.
O tremor nas mãos aumenta a cada dia que fico sem beber, e sem os
medicamentos que usava para me dopar. Estou ingerindo uma nova medicação, e
ela ajuda a controlar a ansiedade melhor que a antiga, contudo, não afastou as
nuvens negras que se espalham ao redor.
— Não.
Meu peito aperta tão forte que o ar me falta, e corro para a varanda
tentando respirar.
Inspiro e expiro tantas vezes que o dia começa a escurecer e o céu ser
coberto pela lua, enquanto o Lorran continua revirando a casa, e a governanta vai
embora, não conseguindo lidar com a situação.
O Louis vai conseguir lidar com essa situação melhor do que eu, tenho
certeza.
— Quer morar com sua professora? Pois peça ao seu zio! Eu desisto dessa
merda.
Ainda sou incapaz de fazer tudo sozinho, mas isso não significa que não
posso chamar pelo meu irmão para me ajudar. Calço os sapatos do Lorran
quando ele se acalma, deve achar que o tio concordara com a vontade dele, como
sempre fez.
Fico com raiva por perceber o quanto ele muda quando está na presença do
meu irmão. Comigo ele não quer conversa, mas com o Louis, fica mansinho.
— O bonito do seu sobrinho cismou que quer morar com a professora dele,
estava fazendo um escândalo em casa quebrando os brinquedos. Não consegui
controlá-lo e disse para ele pedir isso a você, quem sabe assim ele perceba que é
loucura querer morar com a professora! — atropelo as palavras uma na outra, a
fúria correndo quente em minhas veias.
— Lorran, você não pode morar com sua professora — ao contrário do que
o Lorran esperava, o Louis não apoia sua maluquice, e agora Louis ve o que eu
estava passando quando o Lorran começa a chorar e esperneia nos braços dele.
— A professora é a minha irmã? — Uma moça ao lado do Louis, pergunta,
não a tinha notado ainda.
— Sim.
— Posso ligar para ela vir, conversar com o Lorran, e o acalmar. — Ela
pega o telefone, a Olivia tem uma irmã que trabalha com o Louis?
Louis caminha para sua sala e o seguimos, sem que ele diga nada.
A mulher que imagino que seja sua secretária, liga para a Olivia e a
observo de perto, e o jeito que meu irmão a encara. É ela quem esse idiota acha
que o enganou sobre a virgindade? Só de ver os ombros curvados, a voz mansa, e
o jeito que ela o encara pelo canto do olho, percebo a timidez da moça.
Não sei o que aconteceu entre eles, mas tenho certeza de que essa coisinha
indefesa seria incapaz de enganar alguém como o Louis. Ele com seu ego
gigantesco tem se enganado sozinho.
Como essa mulher pode ser irmã da professorinha? A outra parece a porra
de um furacão, devastando tudo por onde passa, enquanto ela é mais como uma
rosa em meio a primavera.
Eu sei que sou um pai de bosta, não precisa ficar passando isso na minha
cara a todo segundo!
— Com licença — a voz doce chega aos meus ouvidos, olho para a porta e
ela entra, ainda usando o uniforme da creche.
— Zia vivia! — Lorran fica afoito no colo do Louis, e desce correndo para
os braços da professora, com um sorriso no rosto.
O elástico estrala mais uma vez no meu pulso quando eu vejo o sorriso
dela para ele, os olhos cheios de carinho e o abraço, envolvendo Lorran, caloroso
como o de uma mãe. Eu sou um imbecil por pensar por um segundo em ficar
com raiva pelo Lorran a preferir, sou o pai dele há dois anos e nunca olhei, ou
abracei meu filho com tamanho amor.
Levi chora.
Bianca chora.
— Zia vivia eu quelo fica com ocê — soluça e meu coração fica do
tamanho de uma uva.
Eu não consigo negar afeto a ele, corro um risco enorme de perder meu
emprego, mas o Lorran precisa mais de mim do que eu de dinheiro.
— Num golto de fica cum o Levi — soluça — fica comligo zia vivia.
— Olivia — Louis chama em tom firme — não julgue o Levi sem saber
pelo que ele passou.
— São com justificativas assim que crianças como ele crescem com
traumas e abandonadas pelos pais — aperto o Lorran em meus braços — se Levi
fosse responsável o suficiente para sofrer sem magoar o filho, essa situação não
aconteceria. Não é errado sentir a dor da perda, mas a transferir, e fazer outras
pessoas a sentirem, é cruel. Você impôs aos outros aquilo que te machuca para
não sofrer sozinho.
— Levi vai entrar em contato com a creche pedindo para que eu não seja
demitida por aceitar o emprego de babá de um dos meus alunos, e explicando a
situação peculiar que envolve o Lorran. Ele vai passar o dia na creche, e depois
fico com ele em casa até que durma, Levi vai assumir responsabilidade como pai
de todos os dias, dar o café da manhã dele, e o levar e buscar na creche —
arrebito o nariz — e quero um bom salário para aguentar o escroto do seu irmão
no processo.
Mastigo a bochecha tentando evitar uma briga pior, meu sangue ferve.
Mexam com tudo que puderem nesse mundo, mas não façam uma criança chorar
que eu me revolto e jogo pedras antes de perguntar o crime.
— Vocês dois cuidarão do Lorran o dia todo, não podem se matar dessa
forma — Louis continua — Olivia, suas exigências serão atendidas, o que acha
de um salário de três mil?
— Bom, mas se seu irmão me tirar muito o juízo, você vai pagar extra por
cada vez em que eu não o matar.
— Vai passar a mão na cabeça dele depois de uma birra que destruiu os
brinquedos? — Levi pergunta em italiano, e Lorran o encara com medo de ser
repreendido.
— Se sentiu melhor quebrando seus brinquedos, Lorran? — pergunto ao
pequeno que faz bico e olha para o chão.
— Você pode sentir raiva, mas não deve descontar nas pessoas — olho o
Levi de rabo de olho — ou nos objetos. Para que você não esqueça que isso é
errado, vai ficar sem novos brinquedos por um mês.
— Até meu iiiipad? — puxa o som do “i” e preciso me controlar para não
morder essa fofura.
— Zia vivia — quer começar a fazer manha, e encaro com seriedade. Ele
murcha e dá de ombros, aceitando que não vou ser manipulada pela sua birra,
como o pai e o tio.
— Agora vamos tomar sorvete, por que foi um dia cansativo, não acha
fofinho?
— Vamos — viro de costas e abro a porta saindo, não chamo o Levi, ele
vem atrás da gente, e percebo que ainda aperta o elástico contra o pulso.
Entramos no elevador, e Levi fica perto demais, fico empertigada quando ele
aproxima a boca do meu ouvido.
— Você é um diabo — ele fala baixinho para que o Lorran não escute, e
pequenos arrepios correm pelo meu corpo, a voz um tom mais grave causa um
rebuliço dentro de mim.
Me afasto dele sem dizer mais nada,
— Fatie em pedaços menores — ela pega a faca da minha mão, deve ter
sentido minha intenção homicida. — Presta atenção! — exclama, desvio o olhar
do rosto dela, e vejo as fatias minúsculas que ela corta as cenouras.
— Fica quieto — ela suspira sem paciência. — O acordo foi você ficar
observando calado, e não zoando feito uma gralha!
— Uma, o quê?
— Uma ave barulhenta — revira os olhos e me afasto, antes que eu cometa
um assassinato contra essa mulher.
— Não sei como você pode ser professora do jardim de infância com uma
atitude ridícula dessas.
— Você que não sabe ouvir nada do que eu digo, é pior que os meus
alunos, e olha que eles só têm entre dois e três anos!
— Seu asno!
— Asno! — Uma voz fininha fala atrás da gente, e me viro para ver o
Lorran dando risada da nova palavra descoberta.
— Sì zia vivia.
Faz três dias que a Olivia é a babá do Lorran, e nunca vi meu filho sorrir
tanto enquanto eu enlouqueço. Nem tenho tido tempo para ficar triste com esse
furacão devastador me dando ordens o tempo todo.
— Podem ir tomar banho, vocês dois — ela diz — vou terminar o jantar.
Ficar mais tempo com o Lorran ajuda, não quero expor meu filho a esse
comportamento nocivo, mas tenho medo de acabar me irritando com ele por
besteira e o fazer me odiar mais ainda.
Lorran parece em paz com a Olivia em sua vida, e por mais que eu odeie
essa mulher, não teria a coragem para acabar com o relacionamento deles, ou
manchar a paz que meu filho tem tido.
— Blora? — Lorran puxa minha mão, não tinha percebido que fiquei
parado encarando o teto como um idiota.
— Sì.
— Olivia — chamo e ela se vira para mim — a... a-a — pigarreio tentando
não gaguejar tanto — água deve... — me calo, ela suspira pesado, com pena.
— O ensine a lavar o pintinho — ela diz — ele não sabe fazer isso ainda, e
não consegui demonstrar apropriadamente como faz.
— Tá bem.
Imagens de quando meu pai me ensinou como lavar meu pênis surgem na
minha mente. É a lembrança mais antiga que tenho com ele, não imaginei que o
Louis não tivesse ensinado isso ao Lorran ainda, meu irmão não deveria ser um
superpai que sabe fazer tudo melhor do que eu?
Talvez ele só tenha feito tudo esse tempo todo, sem ensinar ao Lorran
como ser independente de cuidados externos. Mordo a bochecha para transferir a
dor do peito para a carne, eu fui ausente e relapso por anos com o Lorran, não
posso querer recriminar o Louis por não fazer algo que era a minha obrigação.
No banho tiro a roupa do Lorran e olho o corpo do meu filho pela primeira
vez, ele é tão pequeno e branquinho, os cabelos se fossem louro-branco,
deixariam Lorran um albino, por sorte ele puxou meu tom, e o cabelo é como
ouro brilhante e cheio de vida. Checo à temperatura da água e o Lorran aprova
quando coloca a mão na banheira.
— Vou te ensinar, presta atenção no que faço e você repete em si, certo?
— Eu sou adulto, tudo meu é maior comparado ao seu — encosto sua mão
na minha.
— Verdade — exclama e abre a boca como se tivesse descoberto um
momento único. — Eu vou flicar glandão?
— Verdade?
— Quelo clescel lolgo — se esforça para falar com a língua travando nas
consoantes.
— Não tenha pressa — aliso sua cabeça — acho que tenho de lavar seu
cabelo, feche os olhos para não cair shampoo.
— Celto.
Lavo o cabelo do Lorran com cuidado para não machucar sua cabeça e não
arder seus olhos. Quando termino, o enxugo e a mim, saio com a toalha enrolada
no quadril, e imito o mesmo no Lorran, que acha divertido.
Vamos para seu quarto e estanco na porta quando vejo a Olivia separando a
roupa dele na cama, ela me nota, e os olhos travam no meu corpo desnudo, as
bochechas ganham um tom de vermelho muito forte enquanto ela desvia o olhar
para qualquer canto no quarto que não na minha direção.
— Vai com a Olivia para ela colocar sua roupa, Lorran — o coloco no
chão e ele corre para ela.
Até uns dias atrás eu queria o mandar enfiar o ego no meio do rabo dele,
mas a Bianca passou por uma situação difícil, e que eu não poderia a proteger, e
o Louis fez isso no meu lugar.
Preciso lembrar de demonstrar minha gratidão por cuidar dela quando não
pude. Vou levar um porrete comigo, para o agradecer, e depois ameaçar, que ele
não pense que pode partir o coração da Bianca, ou eu que o partirei em dois.
Até ontem, quando o imbecil se trancou no quarto e pelo visto não saiu
mais.
Ele sofreu muito em seus poucos anos de vida, em vez de meu futuro filho
ser um obstáculo para Lorran, vou fazer com que sejam melhores amigos.
Checo meus e-mails e redes sociais no caminho, e vejo que uma colega de
faculdade casou e anunciou a gravidez.
Eu lembro de quando ela conheceu o namorado, ele era do curso de CIT e
muito charmoso, sempre a buscava na sala de aula, e as meninas o chamavam de
piegas, enquanto ela dava a língua para todas e sorria feliz, por encontrar o amor.
Como será que é amar alguém e ter a confiança de que aquela é a pessoa
certa? Eu não consigo acreditar que outros homens, serão capazes, de serem
diferentes dos meus ex que machucaram meu coração. Ninguém ama outra
pessoa eternamente, somente enquanto ela está presente.
Paramos no prédio e olho para cima, naquele lugar tem um homem que
amou tanto uma mulher que após a sua morte, entrou em depressão profunda, ao
ponto de esquecer do próprio filho. Realmente é amor o que ele sente, ou
somente a falta da presença dela, e o que ela significava em sua vida? Nunca
parei para entender as razões do Levi ser dessa forma, eu o julgo baseado na
minha situação que se assemelha ao do Lorran.
Entro no elevador e quando saio ouço os gritos do Lorran, ele parece que
brinca com alguém, pelas gargalhadas. Bato na porta e ela é aberta pelo Louis,
com o sobrinho pendurado em seus ombros, Lorran usa somente uma cueca, com
os cabelos totalmente bagunçados, verifico a hora e temos menos de meia hora
para sair de casa e chegar a tempo na creche.
— Por que ele não está arrumado? — rango os dentes, a consideração que
eu tinha adquirido pelo Louis indo embora em um passe de mágica!
Lorran come sem fazer bagunça e vamos para a creche, quando estamos
saindo escuto gritos profundos da dor do Levi. O som parte minha alma, eu já o
vi chorando, mas nunca foi forte como nesse momento.
****
— Levi num vem janta? — pergunta, quando coloco outra colher de arroz
na boca dele.
A culpa é minha por confiar nas outras vezes em que o Lorran pulou em
cima do Levi e ele não fez nada com o menino, no fundo, tive a pequena
esperança que ele fizesse como da outra vez e abraçasse o filho. Aquele
desgraçado vai ver que não se mexe com uma criança.
— Não pula mais em cima do Levi quando ele estiver daquele jeito, certo?
— peço encarando seu rostinho choroso, e ele funga antes de assentir.
— Levi tá dodói?
— Sim, bem aqui — passo a mão no peito dele — mas um dia ele vai ficar
bom.
— Polmete?
Odeio fazer promessas que não posso cumprir, e essa ao Lorran, me deixa
de coração na mão com medo de decepcionar o pequeno. Levi pode nunca
superar a depressão, e viver o resto de sua vida desse jeito, recluso, triste, com
dor, e causando no pequeno.
Demoro mais do que o normal para fazer Lorran dormir, e percebo como
ele olha para o quarto do pai com medo, talvez, de que ele saia de lá e grite
novamente.
Quando finalmente o coloco para dormir, eu decido que Levi vai aprender
que mesmo na dor dele, não pode machucar as pessoas ao seu redor. Lorran não
vai crescer como eu cresci, e as chances de que eu seja demitida pelo que estou
prestes a fazer são poucas, afinal, Lorran não me deixaria ir embora, e o Louis
faz tudo o que puder para que o sobrinho seja feliz.
Encho o balde com água, e com cuidado vou para o quarto do Levi, não
quero que ele escute o que estou prestes a fazer. Abro a porta e ele ainda dorme
embolado nas cobertas, aproximo, e com cuidado eu consigo subir na cama para
ficar acima de sua cabeça, posiciono o balde e viro o conteúdo encharcando o
Levi.
— A pessoa, que não vai, aceitar que você continue sendo um bosta de pai
— jogo o balde nos seus pés e ele pula no lugar — chega dessa merda de
depressão e de ficar magoando o Lorran.
— Amanhã à noite se prepare — digo a ele — você vai sair dessa maldita
cama e aprender a viver a vida.
Satanás deve ter tido medo dela e a expulsado do inferno, para ela vir me
punir pessoalmente por todos os pecados que cometi sendo um pai relapso para o
meu filho.
A água que jogou em mim, ainda pinga no piso do quarto enquanto eu fico
como um idiota encarando a porta do quarto por onde ela passou faz uma meia
hora.
Passei o dia sentindo uma dor dilacerante no meu peito lembrando do dia
do meu casamento com Blanca, e do nosso último aniversário junto, até essa
desgraçada vir me molhar, e falar essas merdas na minha cara, quem diabos ela
pensa que é?
Encaro a minha cama sem saber onde vou dormir agora que tudo ficou
ensopado. Tiro a roupa e me enxugo para vestir uma seca e vou para o quarto do
Lorran, não percebi que tinha brigado com ele até a Olivia chamar a minha
atenção, quando fiz isso?
O encontro dormindo dentro do berço, e me aproximo com calma, para não
perturbar seu sono. Lorran se mexe quando toco em sua testa e os olhos abrem
sonolentos, fechando em seguida e tornando a abrir quando ele me vê.
— Desculpe ter gritado com você — o pego no colo e beijo sua cabeça,
inspirar o cheiro do Lorran ajuda a acalmar a tormenta em meu peito — não
percebi que tinha gritado.
Não sei ao certo como agir com o Lorran agora, se o deixo dormindo no
berço ou faço alguma outra coisa, já são 21 horas da noite e sei que ele dorme
cedo. Mas o segurar no braço me trouxe uma calma que eu não posso perder
agora, a segurança de que tudo ficará bem se eu continuar o apertando firme em
meus braços.
— Sì — boceja.
Minha cama ficou ensopada e o sofá não é uma boa opção, olho ao redor e
não vejo um lugar confortável para mim e ele. O Louis já chegou em casa? Vou
para o quarto dele e vejo a cama arrumada indicando que ele não ficou por aqui,
parando para pensar, meu irmão tem dormido pouco em casa nos últimos dias, o
que será que tem acontecido com ele?
Entro e me deito na cama com o Lorran, que só agora percebo, que ainda
tem a pelúcia do gato agarrada em seus bracinhos. Ele se encolhe entre os lençóis
e dorme em dois instantes, apesar de ter passado o dia recluso na cama, estou
sentindo muito sono. Entro debaixo das cobertas e fico observando o pequeno
rostinho dele, até ser vencido pelo sono.
Pairo acima dele e vejo que ele quer uma garrafa de água, a pego, e depois
o levanto, colocando-o em cima do balcão de mármore, e sirvo a água em um
corpo de plástico. As mãos pequenas agarram o copo e o levam a boca, lá fora o
tempo está nublado e prometendo uma chuva forte, a governanta aparece na
cozinha, acena para mim e vai preparar o café da manhã.
É a primeira vez em que reparo na Olivia, ela tem olhos verdes e cabelos
castanho escuro, o rosto redondo com bochechas que ficam cheias sempre que
ela sorrir para os alunos, os dentes brancos e bem alinhados. Pescoço longo,
ombros pequenos, e uma cintura marcada pelo cinto da calça, que cobre a barra
da camisa. Ela é bonita, e eu nunca parei mais do que três segundos para analisar
a sua existência.
Por que ela me toca de maneira diferente dessa vez? Ontem eu queria
matá-la quando me tirou da cama, a dor me consumia em carne viva, e então o
ódio fez tudo desaparecer, e desde que dormi com o Lorran, tenho sentido uma
estranha letargia, nem dor e nem paz, algo como ficar flutuando em um limbo.
Por um segundo a depressão parece que me deixa em paz, e o frenesi por beber
começa a acalmar.
— Sério? — ela tenta não deixar que ele perceba o quanto fica chocada,
mas eu noto o franzir de sua sobrancelha e o olhar em descrença — e como foi
isso?
Não existe a menor possibilidade desse encontro dar certo, eu não quero
me envolver com a Olivia. Amo a Blanca com a mesma intensidade de quando
ela estava viva, e nunca seria capaz de sentir tal coisa por outra mulher ou de trair
a imagem da minha esposa.
Entro no carro e lembro que hoje eu não fiz os exercícios com o Louis,
mando o segurança me deixar na empresa, talvez meu irmão possa me dar um
conselho sobre essa maluquice da Olivia, que eu nem sei o que é ainda.
Minha consulta com o psicólogo é somente as 14 horas, e ainda tenho
muito tempo sem nada para fazer enquanto enlouqueço.
Me sento no sofá e cruzo uma perna em cima da coxa esperando o que eles
vão fazer. A calça dele está perfeitamente arrumada, e sei que não deve ter o
pinto para fora, por isso só viro o rosto para o outro lado enquanto escuto
sussurros e a Bianca deixa a sala com um sorriso envergonhado.
— Com certeza — digo e sorrio para ele — é essa a garota que você
achava que tinha mentido sobre ser virgem só para te fisgar?
— Sim — coça a cabeça — eu estava errado, a Bianca não fez isso, e fui
um asno por ter pensado mal dela.
— Tem certeza de que você quer isso? — pergunto sério, sei o quanto o
Louis pode ser desconfiado com as mulheres e para ele se entregar tem de ter um
motivo.
Pela primeira vez em muitos anos eu realmente sou capaz de abrir a boca e
gargalhar. Meu Deus, o que está acontecendo comigo, e por que me sinto assim?
Cheio de endorfina.
— Tchau!
Não sei o que aconteceu comigo, mas pela primeira vez em dois anos, eu
quero aproveitar um dia nublado em vez de me esconder debaixo dos
travesseiros. Inspiro fundo e vou para a academia, e depois, a minha sessão no
psicólogo, em que passamos horas falando sobre como me sinto estranho no
estado de limbo.
— Esse pode ter sido o seu ponto de vira Levi — ele diz.
— Certo.
Não posso prever o que acontecera hoje, mas sei que estou animado para
descobrir, pela primeira vez em dois anos, não quero só dormir, me dopar e
beber.
— Você vai ver — dou meia volta na direção do elevador, aperto a bolsa
sem entender ao certo a ansiedade causada pelo nosso encontro.
— Espero que não esteja me levando para uma balada — resmunga —
devo ter ficado louco em concordar em sair com você.
— Você não está errado — empino o queixo, não querendo dar o braço a
torcer — e vou continuar te julgando enquanto não sentir que você se tornou um
pai para Lorran.
— E quando na sua cabeça julgadora seria esse momento? — arqueia a
sobrancelha.
Não é uma pergunta, ele já percebeu que não tenho paciência, ou papas na
língua, para ser delicada com quem julgo que não merece.
Levi fica ao meu lado, coloca as mãos no bolso da calça e encara o céu,
como se ele visse algo que eu não fosse capaz. As estrelas acima da nossa cabeça
brilham com algumas nuvens cinzas ao redor. É uma bela noite para um passeio,
caso não chova, se acontecer, estou preparada com minha sombrinha.
— O trânsito daqui é sempre caótico? — ele pergunta, enquanto esperamos
na faixa de pedestre para atravessar na Rua Bela Cintra, ao nos dirigirmos para a
Avenida Paulista.
— Tem dia que fica pior, já tentou andar no metrô? — apresso o passo
quando o sinal fica vermelho para o pedestre, e ele me segue, acho fofo como ele
anda com as mãos dentro do bolso.
— Uma vez, quando fiquei bêbado, entrei no metrô sem destino. Não me
lembro ao certo o que fiz enquanto estava dentro dele.
— Por que você sumiu naquele dia? — pergunto, faz um tempinho que
queria saber o que houve.
— Com certeza não — dou de ombros — mas irei te julgar menos, caso eu
compreenda o motivo.
— Sim — ele vira o rosto para que eu não o veja, mas consigo visualizar
suas orelhas vermelhas — para de me encher com isso.
A forma dele me enxergar como uma luz faz meu coração amolecer para a
sua dor, e quero o ajudar mais do que o julgar.
Não acredito que deixei esse idiota amolecer meu coração com o papo de
raio de sol!
— Uma deusa, ao contrário de você que mais parece uma rata! — tira as
mãos do bolso e as abre apontando para mim.
— Uma rata que você acabou de chamar de raio de sol! Seja mais
convincente em suas mentiras.
— A depressão me fez agir como louco por dizer isso, sua rata!
Seguro a bolsa com força e bato em seu ombro três vezes sufocando gritos
de frustração antes de me recuperar e começar a andar. Levi não perde tempo e
vem atrás de mim calado e bufando de raiva. Entramos na Rua Pedro João e
depois na Avenida Paulista em silencio total, quero esganar esse italiano
arrogante, como ele ousa me chamar de rata e supor que não sou bonita?
Eu sou linda, e não preciso que esse italiano diga algo para eu saber disso.
Foram anos cuidando da minha autoestima e percebendo como as pessoas
reagem a mim para poder me olhar no espelho com confiança e dizer que sou
bonita, não é ele que vai me fazer pensar minimamente diferente.
— Dá para você me dizer para onde vamos? — pergunta irritado atrás de
mim, acelerei o passo para não ter de ficar ao seu lado, estou muito arrependida
de o ter convidado hoje.
— Fica perto de mim para não se perder — peço a ele, Levi acena em
positivo e se posiciona ao meu lado.
— Vamos achar a saída juntos — seguro sua mão e o puxo para andarmos
mais rápido, entramos em um corredor e nele tem neve por todo o lado, as
pinturas são de paisagens cobertas pelo gelo, e da pessoa que estava na cabana
andando por cada uma delas, se curvando quando fica difícil caminhar, e
chorando em desespero, olhando para o céu em busca de uma saída.
— Vamos descobrir.
Envolvo meu braço no dele, percebendo que Levi perdeu a força nas
pernas, diante do cenário que expõem a sua dor. Eu sempre julguei o meu pai por
ter abandonado a mim e a Bianca quando minha mãe morreu, e ter sucumbido a
depressão, fiz o mesmo com Levi, suas lágrimas nunca fizeram meu coração
amolecer.
A primeira ele está com medo de sair de sua cabana, fica olhando o lado de
fora com desejo por mais, na segunda, ele dá um passo para fora, e na terceira,
ele sai, e dessa vez o céu que ele encara não é frio e sombrio, mas repleto de luz
azul e amarelo, com flores do lado de fora por onde ele passa.
— Sim, quase inacreditável que passamos por aquela sala antes — digo.
****
Minha esposa nunca me perdoaria por deixar o jardim dela daquele jeito.
Não é errado sobreviver, não é errado sentir dor, não é errado olhar uma
flor e sentir-se feliz.
Os que se foram não tem mais o poder de julgar o que é certo e errado no
mundo dos vivos.
Obrigado por vir aqui, conhecer a minha dor e ver a minha superação.
****
Enxugo o rosto e noto que Olivia também tem lágrimas nas bochechas.
Levo a mão ao seu rosto, amparando a gota no meu polegar e Olivia me encara,
com os olhos verdes brilhantes de felicidade, mesclado com tristeza e
compreensão.
Por que ela ocupa essa posição na minha vida? Eu não a conheço, nunca a
tinha visto, antes de chegar naquela creche, e agora... saímos juntos, e ela pôde
encontrar algo para fazermos, com força suficiente para tocar a minha alma.
— Eu tinha seis anos quando fiz meu café da manhã pela primeira vez e
acabei me queimando com a manteiga quente — ela desabafa — ia para a escola
todos os dias com as vizinhas me acompanhando porque iam deixar os filhos.
Quando o Dia das Mães chegava, eu sempre ficava triste, a minha não podia mais
ir, e eu era excluída de todas as dinâmicas, mas precisava ficar lá, vendo as mães
brincando com os filhos.
— Claro que não, você é homem — me olha como se eu fosse um ET, que
não entendeu o que ela quis dizer — para mim o desespero foi a menstruação,
para o Lorran o que você acha que será? Quando ele acordar e perceber que
ejaculou dormindo, e ficar morto de vergonha, ou quando não conseguir
controlar o pênis ereto durante a puberdade. Já parou para pensar que se ninguém
o ensinar, ele nunca vai saber lidar com esses momentos? Com a voz mudando, e
ele sentindo receio de que o ridicularizem.
— Exatamente, você esteve dois anos perdido na dor do luto, e não parou
para idealizar como seria o futuro com o seu filho, só enxergou a si mesmo. Use
a oportunidade que você está tendo agora de se tratar e aprender a cuidar do
Lorran, para criar um verdadeiro laço com ele, que o faça te chamar quando
quiser falar sobre como controlar o pênis, ou compartilhar o quanto é estranho a
mudança de voz, e quantas outras coisas homens puderem passar.
— Tudo bem errar, o que você não pode, é continuar caído — ela levanta
— vem — estende a mão para mim e a pego — promete para mim que vai tomar
mais cuidado a partir de agora, e ser um pai para o Lorran? Não o faça recorrer
ao tio para tudo, como eu tive de buscar ajuda nas minhas tias.
— Prometo — aperto a mão dela — você vai me ajudar? Sei que pode soar
ridículo...
— Ei — ela me corta — não é ridículo pedir ajuda, Levi, sei que podemos
continuar nos matando, porque você ainda me tira do sério, mas vou te ajudar,
quando tiver alguma dúvida, me pergunte, pode ser pessoalmente ou por
mensagem de texto.
— Obrigada Olivia.
— Eu falo, mas se você se abrir sobre sua mãe e seu pai comigo — ela
também carrega dor em seu coração — compartilhar nossas dores pode ser útil.
— Você poderia ganhar muito vendendo essa informação, nunca vou dizer.
— Sei de cabeça uns 10 jornalistas que iriam adorar saber que sou o
VITTILENO.
— O Lorran não vai conseguir convencer o tio dele a manter a babá que
fará a empresa da família perder ações de investimento por descobrirem que sou
o VITTILENO, e que nos últimos dois anos, outro estilista assumiu a marca por
que não consegui criar um único designer.
— Vamos mudar isso — ela me solta e sinto falta do seu calor — faça um
modelo para mim — Olivia posa na minha frente com uma mão na cabeça e
outra na cintura, a perna para frente meio dobrada e a de trás totalmente esticada,
gargalho pela sua pose ridícula — pode chamar ela de: Olivia o raio de sol!
Pela primeira vez em dois anos eu pude gargalhar sem peso no coração.
Eu não sinto atração pelo Levi, não o amo, e nem o vejo como um
potencial relacionamento amoroso.
Ele é somente o Levi, pai do Lorran, que precisa de uma ajuda para
conseguir sair da depressão e poder ser um ser humano melhor, capaz de cuidar
do filho, e não causar mais traumas nele.
— Então, você estava me falando sobre sua lembrança mais feliz com a
Blanca? — pergunto como quem não quer nada, me afastando um passo ele.
Tem riso na sua voz e eu adoro como seus olhos ganharam um pouco mais
de vida, comparado à quando o encontrei mais cedo. Sua mão continua em minha
cintura, e aos poucos ela desliza até me soltar, enquanto a que agarra meu punho,
segura minha mão e entrelaça nossos dedos, quando ele nos conduz em uma
caminhada.
— Eu tenho certeza de que você disse como uma chantagem para que não
revele que você é o VITTILENO.
Não me surpreende que seja ele o estilista dos modelos que vi, de alguma
forma, eu soube que tinha a essência do Levi naquelas peças. Todas são
deslumbrantes, carregando com elas uma história em cada corte, e os momentos
em que poderiam ser usadas.
— Acho que é você quem está usando de chantagem comigo — ele ainda
ri, e eu amo o som da sua risada.
— Talvez..., funcionou?
— Ela não teria coragem de fazer isso — fico chocada com a ousadia — é
o mesmo de ficar vendo seu ex com a atual, só para falar mal dela.
Ele me solta, e não consigo me virar ainda, aconteceu algo nesse pequeno
espaço de tempo que mexe comigo, e não estou pronta para analisar emoções
supérfluas.
Faz um bom tempo desde que estive com um homem, e sinto falta do
carinho, e contato do sexo oposto, Levi só tocou no meu ponto fraco, a qual é a
pele das minhas costas, nada de mais, posso lidar com o arrepio na coluna.
— Quer dizer que eu não chamo a atenção? — viro para ele, incomodada.
— Não, eu disse que quando nos ocupamos olhando para dentro de nós
mesmo, o mundo exterior desaparece — Levi vira o rosto observando os
arredores — já contei cinco caras diferentes que quase perderam o pescoço
virando para te ver passar.
O cara realmente parece nervoso, ele é mais novo, posso ver por suas
feições jovens e com espinhas no nariz. Aproveito para observar os arredores, e
Levi tinha razão, realmente chamamos a atenção das pessoas que passam ao
redor, muitas mulheres perdidas na beleza dele.
Tenho vontade de compartilhar com o Levi o que irei fazer amanhã, não
contei nem mesmo para a minha irmã, mas a ansiedade que sufoca meu peito, faz
com que eu queira me abrir com ele.
— Esquece — reviro os olhos e ando — não sei por que achei que poderia
conversar com você.
— Ei, estava brincando — segura meu cotovelo e nos leva para um banco
— pode falar.
— Quando você não está sendo um escroto, até que é legal — observo.
— Isso não importa, eu vou ter o meu bebê, independe de como seja.
— Você me julga por ser um pai ausente, mas estar tendo um filho por
inseminação artificial, vai fazer o seu bebê crescer sem um pai, e no futuro vai
contar a ele que nasceu de uma proveta?
Ele sabe onde me machucar.
— Ao contrário de você, eu vou fazer com que meu filho de proveta saiba
que é amado. — Bufo — fui uma idiota por achar que poderíamos ter ao menos
uma amizade.
— Essa foi a melhor ideia que você teve — ele ferve em raiva.
Odeio admitir, mas eu realmente julguei o Levi por uma situação, em que
eu só vi a como eu me sentia pelo Lorran e do meu passado. Odeio o fato dele ter
falado sobre a minha ideia com insensibilidade, e como se eu fosse
inconsequente que não pensa nas coisas.
— Como quiser — rosna — desde que você saiba como se portar com
outras pessoas.
Se eu ficar na ponta dos pés, conseguirei sentir o sabor da sua boca, lábios
finos que eu encaro mais do que deveria. Meu estômago dá uma cambalhota, e
viro de costas, mexida, ele consegue me enlouquecer de raiva em segundos.
Antes de ter meu bebê, preciso aliviar a tensão sexual dos últimos meses
sem um companheiro, ela é a única razão pela qual achei a boca do Levi
minimamente atraente.
— Vamos embora.
Começo a andar, e ele vem atrás de mim sem falar mais nada.
— Desculpe pelo que falei — fico surpresa com suas palavras — sua
situação é completamente diferente da minha, tenho certeza de que se a Blanca
pudesse, ela estaria aqui com Lorran, e eu não seria esse bosta de pai. É diferente
do seu bebê ser gerado por inseminação artificial, você vai estar presente em
cada momento e o amar, não duvido que possa explicar a situação do
concebimento dele sem dificuldades.
Sorrio.
Levi ainda tem salvação e poderá ser um pai incrível para o Lorran.
Levi
— Vamos Lorran, hora de acordar — o sacudo pela bunda, e ele continua
de cara nos travesseiros, babando.
— Hoje é domingo, e vamos almoçar com seu zio e seu nonno, levanta —
puxo seu quadril, obrigando-o a sentar, e ele coça os olhos antes de abrir a boca e
gritar com toda a força.
— Ei! — ralho com ele — baixa o tom que não estou fazendo nada de
errado!
Vou atrás deles sem dizer nada, se o Louis acha que vai poder cortar minha
autoridade como pai, está enganado. No passado as coisas podem ter acontecido
assim, mas agora é diferente, e eu vou dar o banho no Lorran.
Pego meu filho de seus braços e o encaro de rosto fechado, ele pensa em
me responder por dois segundos, antes de franzir a testa. O deixo no meio do
corredor e vou com o Lorran para o banheiro.
— Você não pode continuar fazendo isso, Lorran — falo com meu filho, o
coloco no chão, e me agacho, ficando na altura dos seus olhos — sei que eu não
cuidava de você antes, mas agora as coisas estão diferentes, e eu quero fazer
melhor — seguro sua mão — me ajude para que eu possa ser um pai para você,
certo?
A dor irradia do meu coração para meu corpo, percorrendo cada centímetro
de pele, sinto-a na ponta dos dedos das mãos e minhas pernas, que fraquejam.
Não vou permitir que a realidade de como o Lorran me ve, faça com que eu
fraqueje, estou determinado, e permanecerei até meu filho ser capaz de me ver
como pai.
— Não, Lorran, eu sou o seu pai. — A voz embarga e ele franze a testa,
como se fosse estranho pensar em mim assim.
— E mi madre? — noto as lágrimas nos cantos dos olhos dele, nunca falei
da Blanca para o Lorran, e hoje me arrependo disso. O que se passava na cabeça
do meu filho durante todos esses anos? Pensava que não tinha os pais, e que eu
era somente um conhecido que morava com ele?
— Sua mãe morreu quando você ainda era bebê — engasgo com as
palavras, seguro os braços dele e o trago para meu colo — eu sou o seu pai, e a
Blanca a sua mãe, ela te amou desde que descobriu que estava grávida de você.
— Beijo a testa dele quando o Levi começa a chorar. — Não chora anjinho.
— Não tem como, ela foi para o céu — o aperto contra mim — quer ver
uma foto dela?
— Quelo.
— Não, ela virou luz — aliso seus cabelos, percebendo que o brilho que
enxergo ao redor dele se intensifica. — Sempre que você olhar para o céu, vai
ver a luz do dia ou da noite, e saberá que sua mãe olha por você.
— Talbem, aglora sei que tenlo um papai — ele sobe no meu colo e beija
minha bochecha.
Dois anos, lembro a mim mesmo, foram dois anos sendo chamado de Levi,
e não reconhecido como pai. Não posso ter pressa, e deixar que aconteça quando
o Lorran estiver pronto para isso.
Ele faz bico novamente e faço cócegas em sua barriga. O ajudo a escovar
os dentes, e depois dou seu banho.
Louis mexe no celular na sala enquanto dou café ao Lorran, noto como ele
tem andado mais sorridente ultimamente, principalmente quando está com a cara
enfiada no aparelho, e fica de risinhos.
— Minha nossa — cubro os olhos — quase fico cego com sua felicidade
saltando ao seu redor.
— Acho que ela é a mulher certa — encaro o Louis e ele tem uma
expressão decidida.
— Vai fundo.
— Faz cinco meses que estamos juntos, e eu amo aquela mulher — levanta
animado.
— Já se passou todo esse tempo desde que chegamos ao Brasil? Não tinha
percebido.
— Você anda ocupado brigando com Olivia para notar algo ao seu redor.
— Verdade, já tem o quê? Uns três meses, que não a vejo querendo te
assassinar?
— Algo do tipo — não quero falar com ele, por algum motivo estranho,
fico com vergonha de admitir.
— Faz uns meses que a Olivia me levou a uma exposição de arte, sobre
depressão e luto, e como o artista conseguiu superar. Eu já vinha me sentindo
melhor antes disso, e ver como um simples girassol o ajudou a voltar a enxergar
o mundo e querer viver, me fez perceber que eu já tenho o meu girassol, e que se
não cuidar dele, vai se tornar um jardim devastado.
— E a vontade de beber?
— Vocês ainda brigam tanto — Louis suspira — às vezes acho que vou
enlouquecer quando escuto você pedindo ao Lorran para ele fazer algo, e os
gritos começam.
— Lorran não me via como pai — admito — e não sabia que tinha uma
mãe. Não consigo imaginar a dor que causei no meu filho ao longo desses
últimos dois anos.
— Eu disse a ele uma vez que a mãe dele estava no céu — Louis admite
com tristeza — ele deve ter esquecido, ele mal tinha um ano.
— Hoje eu mostrei uma foto da Blanca a ele, acho que vou mandar fazer
um quadro dela, com várias fotos para que ele possa ver a mãe sempre que quiser
no quarto dele.
— Eu espero — suspiro.
A campainha toca e fico intrigado com quem poderia ser, a Olivia não
trabalha aos domingos. Já faz um mês que dei esse dia de folga a ela, consigo me
manter mais estável nos cuidados do Lorran, e decidi que esse seria o meu dia
com o meu filho.
Louis pula do sofá depressa e vai abrir a porta, pelo tamanho do sorriso
dele, imagino que seja a Bianca. Ela entra acompanhada da irmã, Olivia veste um
shortinho desfiado, e uma blusa de magas, colada a suas curvas, com um casaco
leve caído nos ombros. O rosto carregado de maquiagem como nunca a vi usar
antes.
É a primeira vez que observo aquela mulher, ela é linda. Olivia tem peitos
fartos no decote singelo, coxas grossas, e panturrilhas torneadas. Os cabelos
presos em um meio coque, realçando a beleza de seu rosto redondo, e os olhos
verdes parecem duas esmeraldas enfeitando sua face.
— Maluca — devolvo.
— Vocês não param — Louis ralha — vamos sair logo, quem sabe em
público eles se comportem bem.
— Olivia! — Bianca fica uns dez tons mais vermelha — para com isso.
— Sua irmã, que deveria ser aprovada por mim — digo a ela que me fita
furiosa — não sei se te quero na minha família — aponto para ela — sua
selvagem.
— Fica quieto Levi — ela joga uma almofada em mim e a pego, rindo.
— Zia vivia! — Lorran pula no sofá, e se joga no colo dela — tava cum
saldade! — ele sorri e tenho vontade de me estapear, por o Lorran não ter essa
reação comigo.
Encaro a Olivia, com riso em seu olhar, imagino que o meu esteja do
mesmo jeito. Estamos bem um com o outro, e apesar das implicâncias, eu gosto
da presença dela, na minha vida.
Olivia
Negativo. / Negativo. / Negativo. / Negativo. / Negativo.
O que fiz de errado para merecer esse castigo? Não consigo ter um
relacionamento saudável com um homem sem terminar de coração quebrado, a
fila da adoção nunca anda, e o meu nome não é chamado, consegui dinheiro
suficiente para pagar pela inseminação artificial, e os testes continuam dando
negativo.
Já fiz duas tentativas, o médico avisou que isso poderia acontecer. E agora
me encaro diante do meu terceiro fracasso.
Qual foi o meu maldito pecado para ser castigada com o desejo ardente de
ser mãe, e nunca conseguir engravidar ou adotar? Se ao menos um desconhecido
filho da puta me engravidasse, mas nem essa maldita sorte eu dou, pois não tenho
coragem de me relacionar com caras que não conheço, e quanto mais espero,
mais o tempo passa, e meu sonho se torna uma realidade nublada de pesadelos.
Ao menos hoje, quero desaparecer e não olhar a luz do sol. É assim que o
Levi se sente? Como ele conseguiu continuar vivo com uma dor como essa,
assolando seu coração e caminhando no mundo sem cor?
Eu devia ter pegado mais leve com ele quando nos conhecemos.
Ele não é má pessoa, só alguém com depressão que precisou de ajuda para
se erguer, e poder formar laços com o filho. Lorran, meu pequeno anjinho de
sorriso lindo, ser a babá dele é uma benção e um tormento, eu o tenho para mim
ao mesmo tempo que não.
Limpo minhas lágrimas e lavo meu rosto, preciso ir trabalhar, e não posso
deixar que minha tristeza interfira na forma como cuido dos meus alunos, todos
eles precisam de atenção e cuidado, e não de alguém com o coração quebrado
pelas sucessivas decepções da vida.
Eu fiz todos os exames, o médico me garantiu que meu útero era saudável
e estava apto a gerar um bebê, então por que eu não consigo? Soluço, a água do
chuveiro se mesclando com o meu choro.
Evito tomar o café para não enjoar mais do que já me sinto, caminho para
fora, e vou para a creche, uso o tempo andando para tentar limpar a minha mente.
Minha poupança foi quase zerada com o tratamento, preciso juntar grana
novamente para poder fazer outro tratamento, e isso vai demorar no mínimo uns
três meses. Ainda tenho contas no cartão para pagar do último tratamento, e não
sei se consigo aguentar mais uma falha, por enquanto, vou focar em colocar a
cabeça no lugar.
Chego na creche, e percebo que estou atrasa, quando vejo a inspetora que
está recebendo meus alunos, e conversando com as mães, avisando que não sabe
o motivo do meu atraso.
— Imagino, ficar o dia todo com essas crianças e depois ser babá — a
crítica em sua voz não me passa despercebida — se eu soubesse que podia te
contratar, teria oferecido antes.
Mordo a bochecha com o sangue fervendo para não ser grosseira com ela.
A Sofia é a mãe de um dos meus alunos, e devo sempre sorrir e ser gentil,
independente das idiotices que falem.
— Eduardo tem uma ótima babá — digo, por fim — ele não precisa dos
meus cuidados.
— Não percebe que está sendo inconveniente? — Ele continua, não sei
como a Sofia ou a inspetora reagem. Estou focada demais em como meu ventre
aperta ao ver a masculinidade do Levi, a mandíbula travada, os olhos
enraivecidos, e as feições fortes e sexy, enquanto ele me defende.
Como seria me jogar em seus braços e deixar que ele me envolvesse igual
como faz com o Lorran? O pequeno também faria isso por mim, certo? Mordo a
bochecha tentando frear o descontrole emocional que me acomete, estou
fragilizada pelos negativos de hoje de manhã, e imaginando coisa onde não tem.
Pois pensar que Levi possa ter sentimentos por mim, para me defender,
abre brechas no meu coração que não poderia acontecer. Ele ama a esposa
falecida, tem se esforçado para criar vínculos com o filho, e nunca me olhou de
outra maneira que não seja com deboche, raiva, ou diversão, nunca o vi agir com
carinho ou proteção comigo, como nesse segundo.
— Agora entendo o motivo dela ter aceitado ser babá, com um homem
como você por perto — Sofia empina o nariz, e fico envergonhada por ela
insinuar que aceitei o cargo pelo Levi.
— Olivia aceitou ser babá porque o meu filho precisava dela, sua
amargurada. Não sabe nada sobre a minha família, ou a mulher que você quer
ofender, continue falando essas barbáries e irei te processar por insinuar que a
Olivia e eu temos um caso, a desmerecendo.
— Sofia, por favor, não faça comentários desse tipo sobre mim — peço —
a diretora sabe que sou babá do Lorran, e concordou, ela, ao contrário de você,
está ciente da situação da criança.
— A culpa não é sua, pode ir que eu tomo conta das coisas agora — agraço
a ela com um sorriso forçado.
— Uma boa ideia — aceito, e dessa vez preciso conter o sorriso que insiste
em ganhar caminho no meu rosto.
“Casa” soa diferente agora que foi pronunciado pelo Levi com carinho.
— Tchau Levi — Lorran manda beijinho para o pai que retribui e vai
embora.
Levi tem costas largas, e uma bunda avantajada. Meu rosto queima por
perceber o quanto esse homem parece atraente, ele tem ganhado peso desde que
passou a malhar com o irmão, e isso cai bem nele. Traz vida a quem, antes, era só
um zumbi. Levi começou a viver, em vez de somente existir, e sou feliz por ele
conseguir isso.
— Vamos fofinho? — pergunto ao Lorran quando retorno ao presente.
A maioria dos meus alunos estão na classe, espero mais um pouco pelos
que ainda faltam entrarem, e depois fecho a porta, e dou início a manhã de
atividades, hoje vou preparar eles para cantarem a música que será usada no
festival da creche, no final do mês.
O dia termina, e vou com o Lorran para o SUV preto que nos espera na
porta da creche, lá dentro, Levi está sentado, usando uma calça branca e camisa
bege, noto o relógio prateado no pulso, e o sorriso em seu rosto.
Desgraçado.
— Eu nunca faria isso com você — sua mão estica até segurar meus dedos.
— Gosto da sua companhia Olivia, e quero passar mais tempo com você, não é
nada de mais, somos só bons amigos.
Ele não quis dizer isso, noto só pelo jeito que engole em seco, e como seu
olhar desvia para o lado.
— Claro.
Aquela mulher maluca me tira do sério mais vezes do que sou capaz de
contar, e ainda assim, anseio a encontrar todos os dias de manhã com um sorriso
no rosto para receber o meu filho em seus braços, e depois no apartamento, onde
fica, horas brincando com ele e brigando comigo. Eu gosto das nossas
discussões, de ver como ela fica vermelha, com os olhos em chamas, decidindo
se me bate com as mãos ou com uma panela.
Provocar a Olivia me faz sentir vivo, torna a dor que rasga meu peito pela
morte da Blanca, mais fácil de lidar. O medo não vai embora, e volta a ganhar
espaço na minha mente, quando penso que posso ser o causador de alguma
tragédia para a Olivia, por se envolver comigo.
Meu psicólogo tenta com afinco fazer eu perceber que não tive culpa no
acidente da minha mãe, e no da Blanca, que foi um acaso do destino que elas
tenham morrido.
Não consigo me convencer disso com a facilidade que ele o faz, e gostaria
de comentar sobre, com o Louis, nunca o deixei saber que me sinto culpado pela
morte delas. Ele também perdeu a nossa mãe, posso ouvir sua voz me
questionando como seria minha culpa se eu não estava naquele carro, e não era
motivo dela voltar para casa.
— Oi — atendo.
— Te acordei? — Lira não está bem, percebo pelo seu tom de voz rouco, e
o fungado em seu nariz.
— Pode ser.
Ela desliga, e dou inicio a uma chamada de vídeo, ligo o abajur para que
ela possa me ver, e quando o rosto da Lira aparece do outro lado, eu tenho
vontade de pegar um avião para Los Angeles e poder quebrar a cara de quem
machucou a minha irmã.
Por ser branca e loura, como eu e Louis, Lira quando chora, fica parecendo
um pimentão e quando ela se transforma em um pimentão inchado, significa que
alguém partiu seu coração.
— Você parece tão bem — ela soluça e volta a chorar — eu quero ir para
casa, mas não posso abandonar a filmagem no final, vem ficar comigo Levi?
— Você sempre diz isso. Lira — suspiro, já perdi a conta de quantas vezes
ela se apaixonou à “primeira vista”.
— Não, e o pior de tudo, é que ela é legal — suspira — eles que são
estranhos juntos, parece que estão fazendo aquilo forçado.
— A Candice sempre sorri para todo mundo e dá bom dia, traz café, e
nunca reclamou quando a mando repetir a mesma cena 300 mil vezes — funga se
preparando para um novo choro — mas quando ela fica no mesmo ambiente que
ele, é como se a alma da mulher fosse sugada para marte, e dá para perceber
que eles não se suportam, mas ficam se abraçando e se beijando no estúdio.
— O casamento deles pode estar em crise — Lira fica com fúria no olhar.
— CLARO QUE ESTÁ! — Grita — e aquele babaca ficou comigo, e agora
tá pegando a diretora de imagem! Eu vi os dois transando no trailer dela hoje de
manhã. Eu quero morrer e nunca mais olhar para ele — geme e volta a esconder
o rosto — e ele ainda teve a coragem de ficar falando comigo como se não nos
conhecêssemos.
— Arruma outro homem e faz ele ver vocês juntos. Aposto que deve ter
algum ator bonito querendo pegar a diretora deles.
— Você já fez isso antes. Lira — a lembro — é a sua principal arma para
poder fazer um cara perceber que ele não tem importância na sua vida.
— Desgoste!
— Você fala como se fosse fácil — volto a ver seu rosto — me conta
alguma novidade para me distrair? O Louis não atende o telefone, e você sempre
foi ótimo em me fazer sentir melhor.
Pela próxima hora relato para a Lira como foi o meu envolvimento com a
Olivia, e como a terapia tem me ajudado a entender meus sentimentos, e poder
colocar a cabeça no lugar.
Confesso para ela o medo que sinto de colocar a Olivia em perigo, e que
ainda acho que posso acordar qualquer dia com a dor dominando minha alma
novamente, e me excluindo da vida que construí para mim.
Falo sobre o Lorran, que estou determinado a fazer com que ele me veja
como um pai.
— E é isso — dou de ombros, olho para a janela e vejo o sol nascendo, não
dormi nada, e daqui a pouco vou preparar o café do Lorran.
— Levi você não faz ideia do quanto é bom saber que voltou a viver.
— É estranho para mim — admito — eu ainda amo a Blanca, não posso tê-
la, porque ela morreu, mas não sinto que estou a traindo. Acho que estou
aceitando que ela realmente se foi, e não poderemos mais ficar juntos.
— A Blanca foi uma das pessoas mais legais que conheci — Lira sorri —
eu amava passar as noites conversando com ela e tomando sorvete, enquanto
você estava ocupado no ateliê, desenhando sua próxima coleção.
— Exatamente, ela teria sido uma mãe incrível para o Lorran. — Lira se
cala, e sinto que ela quer dizer mais — se eu passar dos limites me interrompa,
mas...
— Pode dizer.
— A Olivia parece amar muito o Lorran e você gosta dela, talvez essa seja
a chance de você voltar a amar, e do Lorran ter uma mãe. Não estou dizendo que
ele não tenha uma, mas sem a Blanca, ele vai crescer sentindo falta desse
carinho — Lira desvia o olhar da tela — às vezes eu queria que o nosso pai
arrumasse uma madrasta, somente para eu poder ter uma figura feminina para
me ajudar na adolescência. Se eu a tivesse, agora estaria buscando conselhos
maternos, ela saberia o que fazer com aquele filho da puta.
— Você podia conversar com ele, de um viúvo para o outro, saber o que
ele pensa sobre se relacionar novamente.
— Estou aqui para quando precisar, e Levi — Lira sorri — você não tem
culpa da morte da nossa mãe ou da Blanca, a mamãe estava voltando para casa,
e a Blanca teria ido naquele desfile, com, ou sem você. Se privar de viver uma
nova experiência com a Olivia fará você não viver o amor novamente, e o
Lorran crescer sem uma mãe, dá uma chance para ela, significa uma segunda
oportunidade para vocês dois.
— Você sempre foi assim — ela ri — lembra que ficou um ano pensando
em diversas formas de conquistar a Blanca, ao mesmo tempo, em que achava
que ela iria te dar um pé na bunda diferente, para cada nova ideia que você
tinha.
— Deixe de ser dramático, você tinha uma fama de galinha maior que o
Louis.
— Nossa mãe ficaria decepcionada por como os três filhos dela tinham
fama de galinhas.
— Feito.
Eu já queria fazer isso, vou usar como um pretexto para que a minha irmã
possa superar o babaca que a faz sofrer.
— Venha me visitar.
— Lorran só terá férias daqui a uns meses para podermos viajar, enquanto
isso, venha ficar conosco quando as filmagens acabarem.
— Tchau Lira.
O maitre nos leva a uma mesa com cadeira para crianças, ao lado das
janelas com fonte de água, do lado de fora, pequenas luzes ao redor.
— Com certeza essa foi uma ótima aposta — sorrio para ele.
— Você tem um ótimo aspecto — sorrio por que acho que é a única coisa
de que consigo fazer no momento — por que me chamou para sair? É realmente
sério o que você disse no carro? — desvio a atenção para o Lorran, que assiste
um desenho no seu Ipad.
— Sim — ele estende uma mão e toca a minha por cima da mesa — eu
passei os últimos dois anos em depressão profunda, e sei que ainda não estou
recuperado, às vezes ainda sinto as trevas tomando conta da minha mente, e
quando isso acontece, eu olho para o Lorran ou para você, e a calma retorna.
— Talvez eu esteja sendo um escroto por usar você para me sentir melhor,
mas eu quero isso, Olivia — seus olhos brilham pela sinceridade em suas
palavras — poder me sentir vivo novamente, e ter sentimentos por outras
pessoas, por você.
— Levi, eu já me machuquei muito em relacionamentos passados —
pigarreio forçando a voz a continuar firme — você ainda ama sua ex-mulher e
não sei se tem lugar para mim ao seu lado.
— Eu sempre amarei a Blanca — me magoa a certeza com que ele diz isso
— ela é a mãe biologia do Lorran e a minha primeira esposa, é a mulher com a
qual eu tive maior envolvimento amoroso e me casei, eu quis uma vida com ela
— tento puxar minha mão e ele não deixa — não nos separamos porque o amor
acabou, ou porque um magoou o outro, ela morreu, e eu continuo aqui.
Uma lágrima escorre pela sua bochecha e ele se apressa em a enxugar com
a mão livre. Minha garganta trava com a vontade de chorar, o amor à primeira
vista não existe para mim, e nenhum outro tipo.
Gargalho e ele faz o mesmo, Lorran nos encara rindo, e começa a rir
também.
— E garanta que vai me levar ao hospital depois, ainda quero ser o pai do
Lorran.
— É mais ódio do que outra coisa, tenho uma veia masoquista bem aqui —
aponta para a cabeça.
— Promete que será sincero comigo, e não vai me rejeitar? Não sei se
aguento outro golpe.
— Eu juro — ele beija meus dedos — vou proteger seu coração, igual a
como você aceita o meu cheio de cicatrizes.
— Vamos pedir?
— Claro.
— O-Olivia — gagueja.
— Não sabia que você tinha casado — Roberto encara o Lorran e o Levi,
com um sorriso amarelo no rosto — e teve um filho!
— Sim, senhor.
Roberto vai embora e respiro aliviada por me ver livre de sua presença.
— Até agora não, acho que preciso de uma nova musa — seu olhar
esquenta, e meu ventre revira.
— Preto — ele diz com seriedade — como a exposição que vimos, vou
contar uma história através das roupas.
— Não, será raio de sol — puxa minha mão para a beijar novamente.
— Vou ganhar porcentagem por ser sua modelo? — arqueio a sobrancelha,
e ele morde minha pele.
Levi gargalha, e o Lorran acompanha o pai sem entender a piada, ele gosta
de quando rimos.
— Tenho de fazer valer meus dotes — aponto um ombro para ele — quero
ao menos 50%
— Não seja gananciosa, Olivia — ele enxuga o canto dos olhos, e limpa a
boca com o guardanapo.
— Você acordou a fera, é sua obrigação saciar a minha fome — ele tem
desejo pungente em seus olhos.
— Como quiser.
— Sei que queremos ir com calma — ele encosta a testa na minha — mas
estou louco para te beijar.
— Então beija.
O solto devagar, encarando seus olhos azuis que brilham como dois
diamantes, eu mordo seu lábio inferior e me afasto um pouco.
Ele me espera entrar, e depois vai embora. Ainda com um sorriso bobo, eu
entro no meu andar, tenho o coração jogado ao chão ao ver a Bianca no chão da
minha porta, dormindo.
Deito Bianca com a cabeça no meu colo, e faço carinho em seus cabelos.
Opto por não contar a Bianca sobre o meu relacionamento com Levi, e
deixar ela acreditar que ainda o detesto.
A Bianca, de coração partido pelo Louis, poderia até ficar feliz por mim e
pelo Levi, mas eu sei que ela ficaria preocupada sobre ter de encontrar o Louis,
quando eu e Levi estivéssemos juntos, ou em jantares de família, e tudo isso
partiria o coração da minha irmã.
Sei que vou estar a enganando ao fazer isso, mas no momento, é o melhor
caminho.
Tenho de pedir ao Levi para manter nossa relação recém iniciada em
segredo, Louis é um babaca de ego gigante, não sei se ele apoiaria o irmão, ou se
tentaria me demitir para evitar ver minha irmã, e ouvir minha opinião sobre essa
merda que aconteceu entre eles.
Acho que quando se é para ser mãe, acontece fácil assim, Bianca
engravidou enquanto tomava anticoncepcional, e o pai do bebê, e ela, estão
separados, enquanto eu tento de mil formas ter um filho e não consigo.
Sufoco o sentimento ruim em meu peito, devo ser forte e apoiar Bianca, ela
precisa de mim e a colocarei em primeiro lugar, quantas vezes forem necessárias.
Levi
— O Louis é um asno — digo ao meu pai.
— Não, deixa ele pensar que ainda a detesto, não quero que fique
ressentido com a Olivia, ou comigo.
— Fico feliz por você encontrar o amor novamente — ele toca meu ombro.
— Eu tive uma vida ao lado da sua mãe, terminamos porque ela morreu, e
nunca senti que precisava de mais depois que ela se foi. Nenhuma outra mulher
me fez sentir como a Cecília, não sei como será no futuro, tive meus casos de
uma noite ou duas, mas nenhuma me fez querer continuar voando com elas.
— E dos grandes.
Saio do escritório e vou para a sala, onde encontro a Olivia com o Lorran.
— É fácil fingir isso — ela diz entre beijos — você me tira do sério.
— Ai! — ela grita quando bate a cabeça na mesa, e puxo uma almofada
para o meu colo. — Seu idiota — bate na minha coxa.
— Por que me chamou fofinho? — ela pergunta, levantando e indo até ele,
os olhos fervendo de raiva, com certeza serei punido por tê-la jogado.
— Olivia!
— Desalmada!
— Eu quero você.
— Eu também — ronrona.
Louis parece mais decidido do que quando entrou, deve ter percebido o
erro que cometeu. Ele ignora a Olivia e vai para o quarto dele, ela volta para o
sofá e se senta ao meu lado, colocando o Lorran em cima dela.
Passo um braço ao redor de seus ombros, e cheiro sua cabeça, sei que a
vontade dela era de o xingar muito mais, agradeço por não fazer isso.
Ele também já foi magoado, e tem seus motivos para ser desconfiado
quanto a outras mulheres, mas não podia ter descontado na Bianca as frustrações
passadas.
— Por enquanto o Louis tem de tomar uma atitude, foi ele quem magoou a
Bianca, não vou fazer nada enquanto não tiver a certeza de que ele a ama.
— Estou indo para a suíça — Louis passa como um tornado pela sala.
— Viu — digo a ela — desesperado para arrumar a bagunça que ele fez.
— Certo.
A ajudo a levar o Lorran para o quarto dele, e quando fecho a porta atrás
de nós, eu pego a Olivia no colo e calo a sua boca com a minha.
Olivia puxa meus cabelos e rebola o quadril contra minha barriga. Seguro
sua bunda com ambas as mãos, e cambaleio pelo corredor, até chegar ao meu
quarto.
Minhas bolas pesam dentro da cueca, tiro minha camisa com um braço,
antes de baixar as calças e subir em cima dela.
Fico afoito, com as mãos tremendo enquanto tento tirar seu sutiã. Sem
paciência, Olivia segura o feche e o tira, liberando os seios que pulam na minha
cara. Desço o rosto, segurando ambos nas mãos, e os cheiro, com um inspirar
profundo me embriagando pelo aroma sexy dela.
— Vou te comer com minha boca e meu pau — a solto e deslizo o dedo em
sua calcinha molhada — não acorde o Lorran com seus gritos.
— É o que veremos.
Tiro sua calcinha, e arreganho suas pernas para mim, a bocetinha
brilhando, molhando os pelos ralos em sua pele. Desço o rosto de encontro a sua
carne e abocanho, me deliciando no gosto de seus fluidos.
Mordo seu clitóris, enfiando dois dedos em seu interior, e Olivia tem
solavancos no colchão, movendo o quadril feito louca, fazendo seu clitóris
escapar de meus lábios.
— Deixa de falar e vem logo — agarra a barra da minha cueca e puxa meu
membro para fora, duro feito aço — você é enorme, porra, não vai caber em
mim.
— Acho que eu não tenho uma — Olivia parece que vai me matar com um
olhar.
— Fica aí, vou pegar uma do Louis — beijo seus lábios e pulo da cama.
Enrolo uma toalha ao redor do quadril e vou para o quarto do Louis, acho
um pacote na gaveta e volto.
— Me come gostoso que eu gemo — ela abraça meu peitoral, e busca por
minha boca.
Meto meu pau na sua boceta, e sou abraçado pelo calor esmagador da
Olivia. Porra, ela é apertada, e ferve por dentro. Levo uns segundos me
acostumando com seu interior, antes de começar a socar forte, até sentir minhas
bolas batendo em sua bunda.
Meto mais duas vezes, antes de gozar na camisinha e desabar contra seu
corpo.
— Liga para ela, se estiver tudo bem, você fica comigo — passo um braço
por cima de seu estomago e prendo sua perna com a minha.
— Ele vai ficar bem — ele segura meus ombros, me fazendo sentar —
respira Levi — pede. Acompanho seus movimentos de inspirar e expirar por
longos segundos, até me sentir calmo o suficiente.
— O que aconteceu?
Ele não pode morrer, não agora. Ele estava bem, saudável, amando uma
mulher que o amava, e era maravilhosa, e agora toda essa merda aconteceu.
Vou perder meu irmão mais velho, o único que nunca me abandonou, e
aguentou minha pior fase. O Lorran nunca vai conseguir superar a perda do tio,
isso não pode acontecer.
Não.
Não.
Não.
Alguém me chama, não consigo ouvir o que fala, meu corpo sacode para
os lados, o mundo começa a ficar fora de foco. A respiração falta, e uma dor
insuportável irradia no meu coração. Ponho a mão em cima e arfo, tentando
respirar sem sucesso.
Apago.
Desperto, e a claridade do quarto me incomoda.
— Lira?
— Sim — sua mão alisa meus cabelos, e consigo focar no rosto da minha
irmã, inchado pelo choro — você ficou tão lindo, ganhou peso, e um aspecto de
vida — ela sorri e me abraça forte.
Envolvo o corpo de minha irmã, e inspiro seu cheiro doce de flores, faz
muito tempo que não a vejo.
— O pai me contou que acha que você está finalmente namorando a babá
do Lorran, não ouse mentir — aponta o dedo para mim.
— Quando ele me ligou para falar sobre o atentado que o Louis sofreu, eu
larguei as filmagens e corri para cá. Ele foi ficar com o Louis, enquanto eu cuido
de você.
— Vem cá — ele a chama, e minha irmã se encolhe na cama com ele, sem
o machucar — Bianca?
— Não avisamos a ela filho — meu pai diz — pode ser perigoso envolver
a moça no que vai acontecer daqui em diante.
— O que houve comigo? — Lira sai de perto dele, e tomo o lugar dela,
segurando seu ombro, o fazendo focar em mim.
— Bianca não pode saber disso, você tem de se afastar dela se não quiser
que ela seja pega no fogo cruzado, e acabe morta.
— NÃO! — Esbravejo com ela — você — aponto para o meu pai — sabe
a dor de perder quem você ama, o buraco que fica dentro da gente que nunca será
preenchido, por mais que encontre outro amor — encaro o Louis — EU DARIA
TUDO PARA TER A BLANCA DE VOLTA, EM MEUS BRAÇOS, e você que
diz amar a Bianca, quer mesmo a colocar em perigo e correr o risco de ela
morrer?!
O pensamento é como uma epifania em meu cérebro, e sei aonde devo ir, e
o que preciso fazer.
— Levi, espera — Lira puxa meu cotovelo — vamos conversar, não faça
besteira.
— Toma cuidado — ela beija minha bochecha e corro para o lado de fora.
Chamo um táxi, pela hora, a Olivia e o Lorran estão na creche ainda, deve
ser o momento do sono da tarde das crianças. Chego ao prédio, e os seguranças
liberam minha entrada após confirmarem que sou o pai do Lorran.
— O que diabos? — ela me analisa bem, fico parado sorrindo para ela,
tenho vontade de deixar o mundo inteiro perceber o quanto essa mulher me faz
bem. Seguro seu rosto com delicadeza e a trago para perto de mim, beijando sua
testa inúmeras vezes.
— Eu. Quero. Viver. Com. Você — digo cada uma das palavras entre
beijos em sua face.
— Você parece diferente — me afasta e continua me analisando. — Que
história é essa de querer morar comigo?
— Não é morar Olivia — abaixo ficando na altura dos seus olhos — hoje
eu percebi o quanto devemos valorizar a vida que temos, e eu quero fazer isso
com você ao meu lado, viver as nossas vidas, juntos, enquanto vemos o Lorran
crescer e se desenvolver — minha voz trava por um segundo e engulo em seco
— eu abandonei a escuridão, e me joguei na luz, vive comigo?
— Foi um; ... Eu vou caminhar ao seu lado enquanto estivermos vivendo.
A abraço e inspiro seu cheiro de sol e calmaria. Feliz por conseguir chegar
ao topo do poço em que vivi durante os últimos dois anos.
Ao meu filho eu devo muito mais do que beijos e palavras, que ele não
conseguirá compreender.
— Vem me buscar?
— Vamos passear? — estendo a mão para ele — quero muito brincar com
você hoje.
É, acho que ainda vou ter de continuar mostrando que sou o pai dele, até
ele se acostumar a me chamar assim.
— Hoje eu posso ser tudo — me puxa para o seu colo dentro do carro.
Agarro seus cabelos e mordo seus lábios me deliciando com o fogo que
consome sua íris.
— Louis sofreu um atentado, como você sabe, e isso me fez gritar com ele
quando insistiu em ir atrás da Bianca. Ele é louco por a querer por perto, sabendo
que tem um alvo em suas costas, enquanto eu brigava com ele, fui percebendo o
valor que temos de dar a vida, e a quem está ao nosso redor.
Seus olhos brilham, e minha garganta trava ao perceber que ele está se
declarando
— Lorran e você tem sido o meu centro nos últimos meses, e eu quero que
continuemos seguindo em frente, nós três — beija minha bochecha — eu amo o
meu filho, e vou ser o pai que ele merece, e você... — Levi me observa como se
não acreditasse que eu sou real — você não é a Blanca, e eu não sinto por você o
que sentia por ela.
— Fique quieta, estou me abrindo para você — firma meu quadril sobre os
eu — como eu dizia, você não é a Blanca, ela não é você, e eu não sou mais o
Levi que viveu com a Blanca. Aquelas duas pessoas vivem em um passado de
dois anos atrás, e nunca mais poderão encontrar a nós dois no presente.
— Levi faça mais sentido, por favor — peço, minha cabeça começando a
dar nós.
— O que eu quero dizer é; ... O Levi de hoje, quer estar com a Olivia, a
mulher que foi capaz de me ajudar a perceber o quanto eu perdi do mundo me
escondendo na escuridão, e a única que trouxe calor para o meu mundo frio. É
você, e somente você, Olivia, que eu quero para mim. — Ele beija meu nariz, e
forço os olhos a não chorar. — Você me aceita quebrado, amando uma pessoa
que ficou no meu passado de dois anos, e disposto a ter um presente e futuro com
você?
— Levi — murmuro o beijando com paixão e gosto de sal pelas pequenas
lágrimas, que insistem em escorrer dos meus olhos, o coração explodindo com
mil borboletas que voam por meu estômago.
— Vamos para uma balada? — ele pede quando enfim solta meus lábios,
olho para fora, e vejo que estamos na frente do meu prédio.
— Não, hoje quero me divertir muito com você — beija meu pescoço.
— Vai para onde? — Bianca pergunta, ela ainda come suas coxinhas.
— Sair com umas amigas — pego o celular, e meu cartão — vai ficar bem
sem mim?
Gargalho e bato no peito dele. Levi segura minha mão e me puxa para
perto dele, me sentando em seu colo novamente. O carro se movimenta, e ele faz
sinal com a cabeça de que devo voltar ao meu lugar e passar o cinto. Recordo de
que a mãe e a esposa morreram em acidentes de carro, não sei como ele consegue
entrar em um sem ter um ataque.
— Por um tempo eu tive, quando minha mãe morreu — seu olhar cai ao
encontro do meu — fiquei três meses sem conseguir andar de carro, e me
locomovendo de metrô ou bicicleta. Com a ajuda da Lira, eu fui me acostumando
novamente ao veículo, mas não consigo dirigir.
— Se um dia você quiser tentar de novo pode me chamar — toco sua mão
— não dirijo regulamente porque não tenho carro, embora seja uma ótima
motorista.
— Obrigado — beija minha palma — você não deveria ter falado sobre ser
boa motorista — morde minha pele, e arrepios cortam minha carne — agora
estou imaginando como seria gostoso te comer dentro desse carro.
— Não seja tímida, meu raio de sol — seus lábios tocam meu pulso —
você está prestes a descobrir as mil formas das quais pretendo te comer.
— Minha nossa senhora — abano meu rosto com o calor subindo
perigosamente por meu corpo.
O carro para, e sou salva do ataque das mordidas do Levi. Observo que
estamos em um restaurante.
Uma droga não irmos direto para o quarto dele, em público é vergonhoso
ouvir ele falar sobre a minha boceta, mesmo que seja em italiano.
— Por você eu faço tudo — diz em português, e meu ventre contrai com o
sotaque carregado dele.
Nunca fui muito de beber, e sei que ele é alcoólatra, e faz de tudo para se
manter sóbrio, só de estarmos em um ambiente como esse, pode ser uma
tentação.
— Se você confiar em mim para te ajudar — seguro sua mão — posso ser
sua guia.
— Eu vi que você não bebeu, obrigado por isso — beija minha mão com
carinho — quando sentir que estou pronto para tentar, eu te digo, mas por
enquanto, quero me manter sóbrio por anos.
— Vamos?
— Sim.
Levi paga a conta, e o motorista nos encontra no carro, noto os sacos de
lanche que ele joga no lixo, e fico tranquila por saber que fez uma refeição. O
caminho para a boate é feito com expectativa no ar, eu quero desesperadamente,
somente ir para casa e poder aproveitar do meu homem.
Ele quer dançar e lembrar que está vivo, e nada nesse mundo impediria o
Levi de ser feliz essa noite, e fazer o que ele deseja.
Seguimos a mulher, que nos leva as escadas e depois a uma sala VIP, com
um barman, uma parede de vidro mostrando a pista de dança, e o palco. Quando
a porta se fecha atrás de nós, a música é interrompida, e tudo fica em silêncio,
observo os sofás vermelhos e a pista de dança, com luzes piscando. Com um
aceno de cabeça, o barman começa a preparar drinks.
— O barman vai preparar nossas bebidas e depois sairá por aquela porta,
nos dando privacidade total.
— Ele espera que você consiga um lugar para ele na empresa — arqueio a
sobrancelha.
— Ela é incrível!
— E você vai, amanhã durante o almoço, agora ela está cuidando do Louis,
e eu estou sendo o irmão irresponsável que só vai gritar com ele por ser idiota.
— Você fez certo — beijo sua testa — não quero o Louis perto da Bianca
agora, ela precisa descansar, e poder se recuperar do coração partido.
— Acho melhor não contarmos que estamos juntos por enquanto, eles
podem ter pensamentos de que quererem usar a gente contra o outro, seja para o
bem ou mal.
Levi gira o quadril, e me joga no sofá, ficando entre minhas pernas. Seu
membro duro na calça pressiona o meu centro com força, e eu vejo pequenas
estrelas, quando suas unhas arranham a pele desnuda de minhas costas, misturada
as mordidas em meu queixo. O quadril empurrando contra o meu, causando uma
fricção deliciosa em meu centro.
— Levi — suspiro o puxando para mim e moendo meu centro contra ele.
Os tremores se espalham por meu corpo cadenciadamente, panturrilhas,
coxas, ventre, braços, até desaguar em minha cabeça. A jogo para trás e deixo
Levi morder a minha pele do jeito que ele quiser, molhando onde passa a língua,
e o ardor delicioso. Prendo seus fios de cabelo com as mãos, e o puxo,
precisando que ele me beije.
O medo de ser pega fazendo sexo evapora quando os dedos dele se enfiam
em meu short, e o frio da ponta de seu dedo toca meu clitóris, me fazendo
esquecer do mundo.
— Geme meu nome Olivia — ele manda e eu obedeço, delirando nos giros
rápidos em minha carne, que me encharca com o estímulo. Luto contra meu
quadril para o manter quieto enquanto Levi continua me torturando com o
volume de sua calça, metendo na minha entrada coberta, e os dedos apertando
meu grelinho, como se fosse uma gelatina.
— Por toda a eternidade — beija minha testa, e mete o dedo fundo em meu
interior, roubando o ar de meus pulmões quando faz isso, e como um gancho,
puxa para fora arranhando minha parede em um lugar perigoso, que me faz ejetar
líquidos loucamente, enquanto gemo quente.
As células entram em ebulição, e todos os meus músculos tensionam
quando sou jogada no orgasmo delicioso. O mundo fica silencioso, e quando
relaxo os músculos eu volto aos poucos para a realidade.
— Posso colocar seu creme no meu drink? — Pede e faz “ploc” ao tirar o
dedo da boca — melhor ingrediente que já provei.
— Eu? Você que gozou gritando meu nome, e nem tirei sua roupa — ele
cheira meu pescoço — vou te comer naquele vidro, sobre todas aquelas pessoas.
— Ninguém poderá nos ver do lado de fora — ele me puxa para seu colo
— e você vai enlouquecer com a sensação de ser vista.
— Tem certeza de que ninguém vai ver a gente? — observo todas aquelas
pessoas do lado de fora, dançando e muitas com o rosto para cima.
— Ele... — fixo o lugar onde ele estava, e realmente não tem ninguém lá,
além dos drinks no balcão.
— Gostou de imaginar que ele estava vendo-me te enlouquecer — Levi me
coloca no chão e vira de frente para os vidros — vamos fazer aquelas pessoas
ouvirem seus gritos? — Ele levanta minha perna, a apoiando na balaustra que
fica na altura do meu joelho.
— Sente-se — ordeno.
Agarro o Pole, ficando de frente para ele e me abaixo, dando uma visão
ampla de minha bunda a ele, e recebendo um tapa em resposta, retorno devagar,
mexendo o quadril aos poucos.
Giro ao redor da barra, a prendo com minhas pernas, e deixo que reparta
meus seios, ficando de frente para o homem, com o pau para fora das calças,
ereto como um tronco batendo em seu umbigo.
Não percebi quando ele ficou pelado, me delicio com a luxúria exalando
dele e batendo no meu corpo.
Ele fica em pé segurando o membro pela base, e vem até mim, com passos
lentos. Sem que ele precise falar, eu abro a boca e recebo sua grossura em meus
lábios. Levi é enorme, e não consigo cobrir nem metade dele, agarro firme o que
não consigo engolir, e coordeno os movimentos de minha cabeça com as mãos,
enquanto o meu homem abre a boca, e deixa gemidos deliciosos escaparem.
Faço como o Levi diz, e seu pau desliza em minha garganta, a ânsia vem
forte, me fazendo engasgar. Levi puxa para fora, limpando a baba no canto de
meus lábios antes de voltar a meter novamente, dessa vez ele desce mais, e juro
que vou vomitar, e, ao mesmo tempo, morrer de tesão com a delícia que é ter
esse homem entrando fundo na minha boca, e gemendo gostoso enquanto faz
isso.
Sou incapaz de falar com sua grossura em minha língua, a mantendo cativa
de seu quadril, e pisco os olhos, molhados pela ânsia, tanto quanto minha vagina,
melada de desejo.
— Ah, Olivia — desliza o polegar em meu rosto, e volta a enfiar seu
cumprimento na minha garganta.
Paro de respirar, sua pélvis bate no meu nariz, e não sei como infernos
consegui o ter todo na minha boca. A garganta completamente dominada, engulo
em seco, desesperada para respirar, e bato em sua coxa o pedindo para sair.
Levi fecha os olhos e puxa o pau despejando seu jato quente e salgado na
minha boca, engulo tudo antes de começar a arfar, querendo vomitar.
— Sim.
Não preciso analisar as opções, tomada pela luxúria eu sei onde quero ser
devorada. Aponto a janela com a cabeça e Levi me pega no colo como uma
pluma.
Ele me deixa escorada contra o vidro, e fica de joelhos, os olhos fixos nos
meus enquanto ele segura minha perna, a colocando em cima de seu ombro, e
puxa minha calcinha em direções opostas rasgando o tecido encharcado.
O rosto desce contra meu centro cheirando minha virilha e intimidade,
como se ele estivesse me comendo com o nariz.
A língua quente, sugando meus líquidos enquanto ele bebe com ferocidade
no olhar. Bato a cabeça no vidro e grito ao ser mordida em diferentes lugares, até
sua boca se aquietar na minha entrada e ele enfiar a língua.
Ele morde minha entrada, e esse é o meu fim, despejo líquidos em sua
boca aberta, que engole em grandes goles tudo que tenho, a oferecer, sugando até
mesmo a minha alma.
Levi se certifica de ter me limpado toda com suas sucções e volta para
cima, metendo o pau dele, deslizando fácil em meu interior.
Ele segura minhas coxas e faz com que circule sua cintura com elas. Sua
boca chega perto da minha, e meu cheiro invade meus sentidos em um beijo,
misturando o sabor de ambos, animalesco, enquanto sou fodida contra o vidro em
investidas fortes e cruéis, de tão prazerosas.
— Olha para trás, Olivia — faço como ele manda — todas essas pessoas lá
embaixo e elas não fazem ideia de como eu estou comendo a boceta mais quente
desse lugar! — Rosna contra minha cabeça, a respiração quente em meu rosto.
Já desisti de tentar respirar, e aceitei que vou viver em um limbo de
pequenas arfadas de ar para continuar viva.
— Gosta de ser comida com força? Posso quase sentir seu útero na cabeça
do meu pau.
Levi geme gostoso contra mim, e mete fundo mais uma vez antes de
esporrar no meu interior. Desabo completamente contra seu corpo, e ele cai no
chão, me deixando em cima do seu peito, arfantes, suados, e completamente
satisfeitos.
— Não hoje, mas pelo resto dos nossos dias — beija minha cabeça, e
sorrio contra o seu peito.
Suas promessas são tudo o que eu mais quis ouvir de caras errados.
Demorou, chorei e me machuquei, no caminho para encontrar o homem que me
aceita, e que nunca seria capaz de me magoar.
Olivia
— Por favor, Olivia! — Louis continua implorando enquanto eu finjo que
não o escuto.
— Não vai chegar perto da minha irmã enquanto não resolver essa
situação! — Bato a colher de madeira em cima da bancada — tem um maluco
querendo te matar, e você quer ver a Bianca? Nem pensar!
— Eu já disse que amanhã será o fim dele — Louis suspira — vou expor
seus crimes, e em seguida ele será preso.
Não aguento mais o Louis enchendo meu saco declarando o amor dele pela
Bianca, eu entendo que seu coração foi machucado muitas vezes no passado, e
tudo que ele falou, o que me fez ter um pouco mais de empatia pelo italiano
arrogante.
Minha irmã já tem passado por uma barra difícil com a gravidez de risco,
devido à pressão alta, e tenho medo de que a qualquer segundo ela passe mal e
perca a bebê, ou algo de pior aconteça com ela.
— Olivia! — ele branda e pisco — já que você não quer me ajudar ainda
— frisa bem a palavra — quero sua opinião em outra coisa, vem comigo
rapidinho?
— Quero morar aqui com a Bianca e construir uma família com ela —
noto como a voz dele assume um tom mais sério — vou falar com seu pai, e
fazer tudo direito, mas você me dá a usa benção?
A Bianca não quer ver o Louis nem pintado de ouro. Grávida, e com
pressão alta, precisando de remédios, a situação piora a cada dia pela dor que ela
sente, por não o ter por perto.
Vou ajudar o Louis a reconquistar Bianca, não por causa dele ou dela, mas
porque ambos estavam vivendo uma história de amor, antes de serem separados.
Assim como não é certo, Levi continuar vivendo no luto, e esquecendo das
pessoas ao redor porque a esposa morreu, o Louis e a Bianca não devem
continuar sofrendo devido a outra pessoa.
— Quando eu sentir que ela está pronta, a trarei até você, enquanto isso,
continue respeitando o tempo que ela precisa.
— Faça isso. — Mordo a bochecha, quase deixando escapar que ele vai ter
uma filha, e permanece alheio a essa situação.
Dou meia volta antes de fazer qualquer besteira, e deixo o apartamento que
ele comprou para viver com minha irmã. É isso que homens apaixonados fazem,
planejam um futuro, falam que amam, e querem viver com a pessoa a vida toda,
como o Levi tem feito comigo.
Bianca poderá em breve voltar aos braços do homem que ela ama,
enquanto eu continuo descobrindo meus sentimentos em relação ao Levi, que
crescem a cada dia, quase não cabendo no meu peito.
*****
Levi
— Você não se meta — Olivia aponta o dedo na minha cara.
— Vocês vão brigar muito? — Lira coloca a cabeça na sala e sorri amarelo.
Após finalizar as filmagens, ela decidiu vir ficar um tempo conosco, até
precisar voltar para a organização do novo seriado que o estúdio quer que ela
dirija. Pelo jeito que minha irmã chegou, e na tristeza em seus olhos, suspeito
que ela esteja fugindo do cara que tem enchido seu saco.
— Lorran! — Lira exclama — eu disse para não deixar seu pai e a Olivia
te verem comendo doce antes do jantar.
— Você fez isso? — ralho com ela que se esconde atrás da Olivia, mas
nem imagina que o verdadeiro perigo é a mulher, com fogo nos olhos, e não eu.
— Que num polde — fala baixinho, fazendo bico e mexendo os pés. Tenho
quase vontade de rir, se não fosse pela Olivia com as mãos na cintura o
encarando seria.
Porra, essa mulher fica um tesão quando séria, poderosa, dando ordens e
reclamando. Adoro quando ela me bate durante o sexo, e assume o controle em
nossos jogos de dominação.
Estremeço só de lembrar que ontem ela me bateu com uma régua enquanto
me punia por ser levado, e não a deixado gozar na minha língua.
Olivia se tornou meu raio de sol, e os poucos, tem ganhado mais e mais
espaço no meu coração. Às vezes penso que estou amando, mas tenho medo de
confundir o sentimento, e acabar magoando a mim, ou a ela.
Ir com calma é a melhor opção para nós dois. Não podemos correr o risco
de nos magoarmos novamente.
— Sim! — Lira fica estática como uma vara, e depois corre para trás de
mim. Seguro sua cintura e a coloco de frente para a Olivia.
— Você gosta mesmo dessa mulher? — ela me pergunta com medo — ela
me apavora.
— Gosto — digo encarando a Olivia que amansa ao me ouvir — e quero
que você atenda ao pedido dela sobre doces ao Lorran.
— Lorran vá guardar o pirulito, e jogue o que você está comendo fora, não
pode quebrar as regras.
Giro a Lira no ar como costumava fazer quando éramos mais novos, e ela
gargalha feliz.
Uma batida alta na porta, e o Louis entra com a Bianca desmaiada em seus
braços. Solto a Lira, e Olivia corre para ver o que aconteceu com a irmã.
Só preciso analisar a Olivia uma vez para saber que ela tem ciência do que
aconteceu com a irmã. Nossos olhares se encontram e ela balança a cabeça em
negativa, me pedindo para não falar nada.
— Não era meu dever contar — ela fala pressionando as unhas, e vejo o
quanto ela tem ficado aflita em esconder a gravidez da irmã.
— Não ouse levantar a voz para a Olivia — o ameaço — você que partiu o
coração da Bianca, e se a Olivia escolheu não dizer nada, não pode descontar a
raiva que sente de si mesmo nela.
Louis tem os olhos azuis em chamas, ele bate no meu braço e vai para o
quarto da Bianca. Olivia tenta o seguir, e a seguro. Posso ter controlado o Louis,
mas eu também tenho minhas perguntas.
— Vamos conversar.
— Vou falar com o pai do bebê — o médico diz — pela fúria dele dever
ser o que entrou. Se ele estressar a paciente, eu mando os seguranças o
expulsarem.
— Percebi — a puxo para meus braços — é por isso que você ficava
ouvindo as lamentações do Louis, sem querer arrancar a cabeça dele por magoar
sua irmã?
— Não consigo imaginar o quanto foi difícil para você cuidar da Bianca e
não poder falar nada — beijo a cabeça dela, ficando mais calmo — não acredito
que o Louis vai ser pai.
— Eu a mato.
Rirmos juntos.
Olivia tem razão, perdi anos preciosos com o Lorran. Me lamentar por
causa disso não vai trazer de volta o tempo perdido, somente mais tristeza para
nossas vidas, e nunca mais quero ficar envolto de escuridão.
Minha irmã está a alguns passos de perdoar o Louis, e eu sei que em breve
ele fará a jogada final, que derreterá o coração dela, e os dois poderão voltar a ser
o casal apaixonado que eram, antes de tudo desandar, e eu e o Levi poderemos
assumir que estamos juntos.
Eu não tenho motivos para me sentir mal, tenho ao meu lado um homem
que eu amo, minha irmã tem sido cuidada, e recebido tudo que precisa na
gravidez. Meu pai deixou de ser babaca com a Bianca e comigo, ele se limita a
uma convivência normal, Lorran é meu pequeno fofinho, que eu amo ficar perto,
cada dia mais o quero grudado comigo.
Não existem razões para meu coração ficar me incomodando com uma
dorzinha sempre que vejo Levi mostrando fotos da Blanca ao Lorran, e falando
sobre a mãe dele. Ela é a mãe do Lorran, não deveria me incomodar como a
palavra “mamãe” sai com facilidade de seus lábios, e não deveria me deixar
triste, como o Levi tem se esforçado para fazer Lorran reconhecer somente a
Blanca como mãe dele.
Sou a mulher que o Levi gosta e quer viver junto. E a que vai cuidar do
Lorran enquanto ele cresce, se um dia eu me casar com Levi, seremos uma
família, e Lorran terá irmãos.
Ele poderá considerar meus filhos como irmãos e querer bem a eles? Não
pensará que são crianças tomando o seu lugar, e vivendo o que o pai dele não
viveu com ele, isso nunca acontecerá, certo?
Eu ainda quero ter filhos, por mim já teria engravidado do Levi, mas
exceto pela vez que ele esqueceu a camisinha na balada, não transamos mais sem
o preservativo.
Seria um indício de que ele talvez não queira filhos comigo, ou não esteja
pronto para ser pai, enquanto constrói a relação com o Lorran?
— Olivia! — Viro o rosto e o vejo deitado do meu lado, com o Lorran
entre nós, percebo estar encarando a página do livro enquanto me perdia em
pensamentos.
— Sim?
— Pode repetir?
Meu marido.
Meu filho.
— Com certeza, ele não perderia o aniversário do Lorran. E pelo que ele
me disse, vai trazer a Bianca para ver como ficou o quarto do bebê.
— Ser mãe.
— E você deseja... — travo com medo de perguntar — ser o pai dos meus
filhos?
— Esquece — digo.
— Vamos conversar lá fora — ele pede, e nego com a cabeça, Levi suspira
e puxa as cobertas novamente, ele segura minhas pernas, e minha cabeça, me
levando em seu colo para o lado de fora.
— Não acho que seja errado você começar a pensar no Lorran de outra
forma — Levi segura meu queixo e puxa para cima, fecho os olhos firme,
acovardada para o encarar.
— Não posso fazer isso — tento sair de seu colo e sou presa mais forte.
— Seja claro quanto ao que você quer me dizer — peço, sentindo meu
coração ganhando esperanças que só poderão me machucar no futuro.
— Deixa o Lorran decidir se quer te chamar de mãe, quando ele fizer isso,
eu vou aceitar com um sorriso no rosto. — Ele hesita, e me preparo para as
palavras que podem partir meu coração — só não o deixe esquecer quem deu à
luz a ele. Lorran pode ter duas mães, e sei que Blanca iria querer alguém amando
e cuidando do filho dela como você faz.
— Não chora meu amor — Levi segura meu rosto, beijando minhas
lágrimas, e o encaro. As feições relaxadas e sem peso, certo da decisão que
tomou. — Você pode pedir para ele te chamar de “mãe”, mas deixa só ele
conhecer mais um pouquinho da Blanca?
Eu o amo.
— Você já é incrível com o Lorran, e sei que será uma mãe ainda melhor
— beija meu nariz e meus lábios, engolindo meu choro — só pega leve no doce
ou ele vai te odiar.
— V-você..., a-acha?
— Com certeza, já viu o bico que ele faz quando você tira um doce dele?
— Ele vai superar isso — digo rindo, mais do que chorando, e Levi me
beija com intensidade, a língua preenchendo minha boca e dançando com a
minha. Sua mão desce por minha coxa, subindo e descendo, em um carinho
gostoso, finalizo o beijo com um selinho e descanso a cabeça em seu ombro.
— Desde que nos conhecemos eu sei que você quer ser mãe — ele alisa
meus cabelos — fiquei com medo de que estivesse ressentida comigo por não
tentar te engravidar ainda.
— Confesso que pensei a respeito.
— Não consigo acreditar que você me quer como pai dos seus filhos —
Levi me enche de beijos fazendo cócegas em minha barriga.
— Certo.
Eu poderia ter falado antes para o Levi como me sentia, e tirado o peso das
costas que tem me enchido de preocupações.
Não tem mais hesitação em meu coração, Levi é o homem que será meu
marido e pai dos meus filhos, e quando Lorran estiver pronto, serei quem ele
chamará de mãe.
Levi
Lorran fica de boca aberta quando vê os macacos no zoológico, brincando
de pular de um galho para o outro, e interagindo entre eles.
Eu tenho feito tudo que pude para conseguir sorrir hoje e aproveitar o dia
com o meu filho e a Olivia.
Sempre a visitei em seu ano de morte, e pensar em não o fazer dessa vez,
abre um buraco enorme em meu peito.
Reunimos a família hoje, Olivia, meu pai. Lira, e o Louis, que disse que
poderia ficar um pouco, antes de ir buscar a Bianca para ficarem juntos e
descerem para a festa de aniversário do Lorran.
Eu tenho meu filho em meus braços, que finalmente me chama de pai mais
do que de Levi, pulando feliz ao ver os animais no zoológico.
A Lira parou de chorar pelo vacilão que a fez sofrer, e voltou a sorrir, e tem
sido uma ótima amiga para a Olivia.
Meu pai se aposentou, e tem vivido feliz, passando todas as tardes para
brincar com o Lorran e babar a Bianca, esperando a netinha dele nascer.
Há uns dias, prometi a Olivia que seria o pai dos filhos dela, e que o
Lorran poderá a chamar de mãe. A única pessoa que ele deveria chamar assim,
morreu, e em breve fará 3 anos da partida dela, ele nunca saberá o que é ser
segurado pelos braços calorosos da Blanca, ver o sorriso dela, que trazia vida ao
mundo, sentir o cheiro doce de sua pele.
Lorran nunca foi segurado pela mãe, e agora eu penso em colocar outra no
lugar dela? Como pude me deixar viver nessa mentira, e arrastar todas essas
pessoas comigo.
— Vem com o nonno Lorran — ele se joga nos braços do meu pai que o
leva para perto das girafas.
— O dia, de hoje, é difícil para você — não é uma pergunta, ela passa os
braços ao redor do meu pescoço, e tenho vontade de a afastar — tudo bem sentir
a falta dela e querer que ela estivesse aqui.
— Não volte para o passado, Levi — ela pede com a voz embargada —
você precisa continuar vivendo no presente, comigo e com o Lorran, somos sua
família agora, lembra?
Não posso a culpar por pensar assim, foi, eu que dei essas esperanças, e
agora queria poder retirar todas elas, e fazer com que a Olivia nunca tivesse se
apaixonado por mim.
Para ela não ter de sofrer com os dias sombrios que povoam minha mente e
escurecem meu coração, não deixando espaço para ela ficar nele.
— Certo.
O que eu preciso é beber e esquecer que a merda desse mundo existe, e que
a Blanca se transformou em cinzas no jazido de sua família na Itália.
Eu nunca mais a verei, e passarei o dia da sua morte longe dela, é esse o
tipo de ser humano desprezível que me tornei, alguém que abandona quem ele
ama, e coloca outra pessoa no lugar.
— O quê?
— Não joga fora tudo o que você conquistou nesse último ano. Eu sei o
quanto você fica deprimido e irritado nas semanas que antecedem a data do
aniversário da morte da Blanca, mas não faz isso com você e com a Olivia.
— Mas querem ter — Louis cutuca meu peito — você voltou a viver, e não
é errado, pode sorrir e comemorar o aniversário do seu filho com a mulher que
você gosta. A Blanca nunca te julgaria por isso, não se torture.
— O Louis tem razão — A voz da Lira surge por trás do meu irmão — eu
e a Blanca éramos amigas, e eu também perdi alguém que amava naquele dia —
Lira passo os braços ao redor da minha cintura — ela te amou por cada segundo
em que respirou. E eu tenho certeza, de que se ela te visse agora, puxaria o seu
cabelo e mandaria você deixar de ser idiota, por estar perdendo o aniversário do
Lorran.
— Não fale por ela — peço com a garganta travada.
— Se eu não posso dizer que ela odiaria te ver desse jeito, você não pode
falar em ficar triste por não a ter aqui, ou pensar idiotices do tipo, que não
poderia ficar com a Olivia, ou comemorar o aniversário do Lorran sem culpa.
— Você não está sozinho, irmão — Louis segura meu ombro — se quiser,
podemos ficar conversando a noite, depois da festa.
— Eu posso ficar com você — Lira sobe à cabeça encontrando meu olhar
— vamos fazer uma festa do pijama, e mandar a tristeza embora.
— Sempre vou ser infantil perto de vocês dois — ela se estica e beija
minha bochecha. — Seja sincero sobre seus sentimentos com a Olivia, ela vai
entender, e evitará discussão futura entre vocês por isso.
Lorran se solta da mão dela e corre para mim, o pego no colo, e ele sorri,
segurando meu rosto com as mãos gordinhas.
— Você tem de ver os tilgles papai — ele encosta a testa na minha, falando
concentrado.
— Não acredito que tem tigres aqui — forço a voz a parecer espantada.
— Bora.
Aperto os punhos, e encaro a Olivia, ela respeita meu silêncio, embora seu
rosto grite mil perguntas. Hoje eu fui um completo idiota com ela e com meu
filho, jogado em dores do passado que perturbam a minha mente e me fazem
esquecer do que realmente é importante, o presente.
O que se passa pela cabeça dela ao ver a irmã mais nova gravida e de
casamento marcado, enquanto eu não estou pronto para construir a família que
ela precisa.
— Você tá enolme — ele olha abismado para a barriga dela, e dou risada
pela primeira vez no dia.
Meus olhos são atraídos pela Olivia no canto, perto do sofá, olhando a
irmã com um desejo enorme de ser ela a pessoa grávida com quem o Lorran
conversa, querendo que o bebê nasça para brincar com ele.
Pode ser a escuridão falando mais alto hoje, mas nesse segundo, eu decido;
... Não posso continuar com a Olivia e a fazendo mal, ela merece alguém
completo, e não um despedaçado como eu.
— Vamos cantar os parabéns! — Meu pai entra na sala com o bolo e a vela
acesa, Lorran fica em pé, e todos iniciamos a cantiga.
— Para o papai.
A garganta trava e os olhos ardem, como ele consegue amar alguém como
eu? Seguro o prato com as mãos tremendo, e abraço o corpinho pequeno do meu
filho, inspirando seu cheiro e buscando forças para continuar em frente, e poder
voltar a ser feliz como nos últimos dias.
Ele ainda se sentia bem quando fez as pinturas na parede, e mentiu para o
Louis, falando que eu o tinha desafiado dizendo que ele não conseguiria.
Parte meu coração ver como ele perdeu o brilho e a cor que ganhou nos
últimos dias.
É difícil fazer ele sair da cama e ir para a terapia, Louis que tem se
preocupado com a noiva e a filha, não consegue cuidar do irmão direito, e tem
atingido outro nível de cansaço.
É errado e injusto, ele parou de viver e ficar com as pessoas que ele se
importa, para retornar ao passado.
Fico louca querendo fazer algo para o ajudar, e não consigo pensar em
nada.
Ele me expulsou, eu bato com uma marreta em suas paredes e não consigo
causar rachaduras. Se ele me amasse, eu deveria ser suficiente, capaz de colocar
sorrisos em seu rosto machucado, Lorran é o único que quando fala, Levi escuta,
ele ama o filho e quando amamos, fazemos de tudo por aquela pessoa.
Não é certo eu achar injusto minha irmã ter se tornado mãe antes de mim.
Bianca nunca quis isso, tinha medo de ser uma mãe ruim, e agora aqui está ela,
conquistando tudo o que eu sempre quis e abdiquei para cuidar dela.
Fui eu que escolhi abdicar de tudo por ela, deveria me sentir feliz e
realizada por conseguir fazer isso direito. A inveja rasga meu peito junto da
incerteza sobre Levi.
Eu quero tanto uma família, ser amada e amar na mesma intensidade. Por
que a vida é tão injusta comigo e me impede de ter o que anseio? Coloca um
homem quebrado no meu caminho que me deu esperanças de que tinha
encontrado tudo o que eu sempre quis, só para arrancar meu sonho de meus
braços e aumentar a ferida em meu coração.
— Quando quiser falar estarei aqui para ouvir — Bianca segura minha
mão e sorri para mim.
Nunca procurei o colo dela, teria sido mais fácil se eu tivesse dividido as
responsabilidades com a Bianca, ao invés de abraçar a todas?
— Você foi bem Olivia — Bianca tem a fala macia. — Conseguiu me criar
direito, e eu sou grata por tudo o que você abdicou por mim. Quando nossa mãe
morreu, eu ainda era muito pequena e tenho poucas lembranças com ela. Nunca
vou me esquecer de quando acordei na manhã seguinte ao falecimento dela, e te
vi na cozinha, passando manteiga em seu dedo por que tinha se queimado
fazendo um ovo para eu poder comer.
— Estava horrível e queimado — digo soluçando.
— Foi o ovo mais gostoso que provei na minha vida, ele foi feito pela irmã
que sufocou a dor dela, para poder cuidar da minha. Você sempre fez isso, esteve
lá, lutando todas as minhas batalhas enquanto eu te assistia, esquecendo de cuidar
de si mesma. Hoje eu estou feliz, e tenho a minha família, uma filha que eu amo,
e um noivo que sou loucamente apaixonada.
— Tenho orgulho de você — beijo sua perna, usando sua pele para limpar
o molhado do meu rosto.
— E eu de você, e me parte te ver triste dessa forma pelo Levi, não adianta
esconder, eu já percebi que você gosta dele, e ele de você. Mas Levi tem dores
profundas, e não sei se você conseguirá alcançá-lo. Não se sufoque mais por
outra pessoa, Olivia, ou você vai acabar morrendo por dentro.
É assim que eu me sinto, morrendo por dentro, quando o vejo sofrendo por
outra que ele amou com a própria vida, enquanto eu continuo batendo com uma
marreta na porta dele, sem conseguir causar impactos.
— Vai, sim, você esteve radiante nos últimos meses, e fez o que pode para
esconder de mim e não me magoar. Mas eu nunca ficaria triste por você ser feliz,
te ver alegre e com os olhos brilhando, me deu forças para continuar em frente.
Agora a única coisa que eu preciso de você, é que possa cuidar de si mesma e
sorrir novamente, você pode ser feliz Olivia. Não se prenda mais a dor de outra
pessoa.
— Não aguento mais ver o quanto você sofre sem conseguir fazer nada, se
eu pudesse surrar o Levi até ele acordar para a vida. Não sei qual será a sua
escolha, mas eu vou te apoiar incondicionalmente no que decidir. Não abandone
seu sonho, ou o coloque em espera, por ninguém, pela primeira vez viva a sua
vida, Olivia.
Ele sabe que estou aqui por ele e escolheu não me deixar entrar. Agora eu
vou ter de escolher a mim mesma.
Meu coração será partido de uma forma, ou de outra, ao menos dessa vez
eu vou me permitir escolher como acontecerá.
Fico com a Bianca pelo resto da tarde, e quando Louis retorna, carregando
o Lorran dormindo no colo, eu pego meu pequeno fofinho e o levo para a sua
casa.
Meu instinto grita que preciso dar mais uma chance a ele, e meu coração
magoado se prepara para mais uma rejeição. Quando estava com a minha irmã eu
me convenci de que conseguiria cuidar e me priorizar. E aqui, eu queimo
querendo fazer isso por ele.
Deixo Lorran em seu quarto e respiro fundo, vou tentar somente mais uma
vez, se o Levi me expulsar, eu vou embora da sua vida e voltarei a ficar sozinha,
lutando para ter um filho.
Caminho pelo corredor e bato na porta dele, baixinho, acho que ele não vai
ouvir. Bato com mais intensidade e pouco tempo depois ela se abre. O homem
que eu amo tem os olhos vermelhos, o peito desnudo, e os lábios inchados como
se tivesse passado horas mastigando a pele.
— Entra.
Só uma última vez. — Sussurro para mim como uma viciada prestes a usar
drogas após decidir que iria parar.
— Você não está pronto para nós, Levi — soluço, a dor irradiando por meu
corpo como um veneno.
— Eu quero estar — ele beija meu pescoço — quero ficar com você, e
voltar aos dias em que estar junto não causava dor.
— Você nunca fez isso, eu que sou a fonte da dor — ele beija minhas
lágrimas. — Deixa eu tentar acertar as coisas, só mais uma vez? Por favor.
— Por favor, não faz isso comigo, eu não aguento mais ser insuficiente.
Entrego meu corpo a ele sem reservas, arranho suas costas quando ele me
preenche sem o preservativo, o sentindo inteiro dentro de mim. Suspiro em seus
lábios, o beijo, desesperada, sabendo que essa é uma transa de despedida.
Não existe mais espaço para mim em sua dor, e não posso continuar
abdicando de meus sonhos por ele. Nunca mais colocarei a mim em segundo
plano.
Nos últimos três dias eu senti que Levi estava se despedindo de mim, e que
não poderíamos ter um futuro juntos.
Não é comigo que ele quer estar, não são pelos meus beijos que ele
procura, e todo o fogo que queimava entre nós dois se dissipou, como o vento, ao
bater em uma parede.
Vou romper sozinha essa barreira e serei feliz, custe o que custar.
— Certo.
— Nada de diferente — não quero mentir, ao menos com ele, anseio ser
sincera.
— Faz tempo que você não vem aqui, as coisas com o namorado estão
indo bem?
— Estou aqui para ser a sua ajuda — ele segura minha mão — vamos ver
o resultado do teste, e depois damos início ao procedimento.
— Olivia, preciso que você me ouça com atenção agora — ele se levanta e
se senta na cadeira ao meu lado — você é uma moça adorável, e será uma mãe
fantástica, sortudo é o Lorran por ter você com ele. Independente do seu
namorado não querer mais você perto do menino, sei que conseguirá um jeito de
ficar com ele.
— O tio dele pode fazer isso, acho que o Louis não teria coragem de me
afastar do Lorran.
— Como assim? — fico assustada, ele não pode tirar isso de mim.
— Sim, parabéns.
Vou ter um bebê! Um filho para amar e ser amada, ninguém poderá tirar
ele de mim, e nunca mais estarei sozinha. Meu maior sonho se tornou realidade e
ninguém poderá apagar a felicidade que estou sentindo.
— E você a mãe, não deixe o momento perder o brilho por causa desse
homem, você finalmente conseguiu!
Eu realizei meu maior sonho, e não vou deixar a tristeza pelo meu
relacionamento ofuscar esse momento.
Levo a mão ao ventre e baixo a cabeça, encarando minha barriga lisa que
em breve ficará enorme.
— Acha que é uma menina? — ele pergunta brincalhão. — Mal soube que
será mãe e já previu o sexo.
Sorrio.
****
Levi
— Quelo um tilgle papai. — Lorran pede.
Sou um lixo que a usou todas as noites para não ficar sozinho, sentindo a
falta da Blanca, e que tem feito amor com ela buscando por outra pessoa.
A Olivia não é idiota, ela percebeu que faço isso, e tem deixado, não
entendo como ela pode aguentar um merda como eu sem me mandar embora.
Nossa relação está por um fio e a culpa é inteiramente minha. Não sei
como consertar o que se quebrou dentro de mim e na nossa relação. A única
coisa que consigo fazer, é pintar o quarto do Lorran com os animais que ele tem
me pedido, e rezar para que a Olivia tenha a coragem de ir embora.
Sou um fraco idiota, incapaz de a afastar por precisar dela ao meu lado, me
fazendo esquecer a dor da perda.
Não é justo com ela, não é certo fazer isso comigo. Antes dos dias
sombrios chegarem, eu estava com ela e me sentia bem, nunca pensei em a ter
usado como uma substituta, ela é o meu raio de sol, que perde a luz devido à
minha escuridão.
Eu tenho ciência das merdas que estou fazendo e não consigo impedir.
Continuo a procurar como um maldito viciado, enquanto rezo para que ela me
deixe e pare de machucar a si mesma com esperanças de que um dia eu vá mudar.
Não tem como eu ser diferente do que sou agora, Blanca deixou um vazio
dentro do meu peito que nunca será preenchido, e quando o vazio doer, eu não
poderei fazer nada além de me entregar a ele, deixando que consuma toda a
felicidade que eu não sou digno de receber.
— Beeeeeeeem glande — Lorran abre os braços quando termino o desenho
a lápis, do tigre na parede.
— Se ficar grande demais, os outros animais vão ter medo dele — digo,
sem coragem de apagar e fazer outro.
— Você não fez nada — rio e ele passa a mão na testa enxugando um falso
suor.
Erro a tromba do elefante cinco vezes. Irritado, jogo o lápis no chão e saio
do quarto, vou para a cozinha e paro na porta quando vejo o Lorran em cima do
balcão e a Olivia esfregando o nariz no dele enquanto riem juntos.
Aperto os punhos com raiva do que vejo. Ela não tem o direito de se
infiltrar na vida do Lorran e o tratar com o carinho de uma mãe.
— A mãe do Lorran morreu há três anos, hoje é o dia mais triste da minha
vida, e só quero passar ele com o meu filho e tentando não morrer de tanta dor —
me aproximo dela com raiva na voz — não ouse pensar que você pode roubar o
Lorran de mim ou da Blanca. Você é a babá, nada mais!
— Vou embora. — Ela fala em um fio de voz e sai sem olhar para trás.
Eu destruí seu coração, quem sabe agora ela perceba que não sou o certo
para ela e se mantenha distante. Ninguém vai roubar o Lorran de mim
novamente, ou apagar a imagem da Blanca.
Volto para o quarto e o Lorran tem as mãos cheias de tinta passando elas
nas paredes.
— Patinha dos bilcinhos — noto que ele só marcou na parte em que fica a
pata dos animais.
A Olivia foi embora, a afastei antes de tornar sua vida um inferno pior por
continuar comigo. Eu só preciso do meu filho para sobreviver ao hoje, e nada
mudará isso.
Enquanto me afogava na dor, decidi que não irei contar a ele sobre o bebê,
esse filho é somente meu, e quando perguntarem, eu digo que a inseminação
artificial deu certo.
Eu fui jogada na lama como um rato morto, alguém que não adianta lutar
ou ficar ao lado.
Desprezada.
Rejeitada.
Sem amor.
Fui uma idiota pôr o deixar entrar no meu coração, por ter esperanças e me
iludido. Não posso culpar a ninguém além de mim, os sinais de que acabaríamos
assim sempre estiveram ali, eu só me recusei a ver.
A Bianca vai casar-se daqui a umas semanas, ela conseguiu tudo o que eu
sempre sonhei.
Um homem a amando.
Um casamento.
Um filho.
E eu recebi mais uma vez a rejeição e o desprezo, palavras cruéis ditas por
lábios que fingiram gostar de mim, e me usaram. Não tem mais volta, o Levi
nunca me amou, e não amara o nosso filho.
Meu bebê não vai saber o que é ser odiada, se sentir insuficiente e sozinha,
eu vou cuidar dela, serei uma mãe perfeita, e nunca a deixarei sentir a falta de um
pai na sua vida. Eu serei suficiente.
Meu fofinho.
Faz sete dias que não vejo Lorran, e a saudade vinha comprimindo meus
pulmões, chegando a ficar difícil respirar, sem pensar nele e no quanto o queria
comigo.
As palavras do Levi foram um aviso claro; ... Eu não sou a mãe dele e não
tenho o direito de ficar perto.
Levi não me encara e desvia o olhar para o lado oposto. Lorran estica os
braços e o pego no colo, inspirando seu cheirinho de bebê que aquece meu
coração magoado. Entro e fecho a porta, não quero ver o pai dele.
— Com certeza fofinho — vou com o Lorran para a cama e deito com ele
ao meu lado, tenho medo de ficar o segurando com a bebê em meu ventre.
— Vamos pla casa? — Ele alisa meus cabelos e beijo sua mãozinha.
— Sì, senti sua falta zia vivia — ele se agarra ao meu pescoço. — Num
deixa eu.
— Amo a zia vivia — ele aperta mais meu pescoço, escondendo a cabeça,
tentando se fundir a mim.
Nem que eu tenha de tirar o Lorran do Levi, nunca mais cometerei o erro
de pensar em ficar longe dele.
— Polmete?
— Sí.
Levanto com o Lorran e coloco um desenho na tevê para a assistirmos
enquanto aliso seus cabelos. Sou incapaz de negar algo a esse pequeno. Batidas
soam na porta, e depois o Levi entra.
— Eu tenho de falar com você Olivia — ele fala com pesar na voz, não o
encaro. Ele não tem o direito de partir meu coração quando está depressivo, e
depois vir com o rabo entre as pernas tentando me fazer voltar com ele.
Levi não tem a expressão de quem quer pedir desculpas ou qualquer merda
que justifique seus atos. Todos que me magoaram nunca me pediram perdão, ou
voltaram, atrás, ele não será diferente, eu que serei.
— Então seja esperto, e não tente me irritar, agora saia. — Não o deixo
terminar de falar suas mentiras, ficar perto do Levi arde em meu coração.
— Eu vou para a Itália, vim deixar o Lorran para passar uns dias com você.
— Papai sentiu sua falta — Lorran se esforça para falar correto, depois que
o pai vai embora.
****
Louis vem buscar o Lorran para ficar a noite com ele e a Cecília, somos
todos apaixonados na pequena e sempre que posso fico por lá, ajudando a Bianca
com o resguardo.
Mas hoje eu preciso da minha cama, comer sorvete, e chorar, a mágoa
permanece obscurecendo os meus sentimentos, e não me deixando ser feliz.
— Você sabe o motivo dele ter ido a Itália? — Louis diz quando entrego
um Lorran dorminhoco em seus braços.
— Não defenda seu irmão, ir para outro continente depois do que ele fez
não vai mudar nada. Levi escolheu dizer cada uma das palavras que me
magoaram, e nada mudará isso.
Amanhã o verei e serei obrigada a ficar na mesma casa que ele durante os
preparativos, o casamento e os dias seguintes a festa acontecerem.
O Lorran não tem culpa de nada, e consigo imaginar o quanto ele seria um
irmão maravilhoso e apaixonado.
Meu pequeno fofinho criou raízes poderosas em meu coração, quero ser a
mãe dele, independe de ter uma filha gerada no meu ventre.
Levi
Dias antes
Já faz três dias que terminei com a Olivia e não tenho notícias dela.
Acabou, não a faço sofrer o luto que me atormenta. Não traio mais a Blanca
colocando outra em seu lugar e impedindo que o Lorran reconheça quem é a
única e verdadeira mãe dele. Envolver com outra pessoa foi um erro e um
pecado, nunca poderei pedir perdão o suficiente a nenhuma das duas reparando o
erro cometido.
Quero que meu filho entenda que não podemos mais continuar com a
Olivia em nossas vidas. A raiva com a qual ele joga os talhes no chão e grita a
plenos pulmões pedindo pela Olivia reforça o que eu já sabia: o Lorran se apegou
a ela como um filho a sua mãe, o amor entre eles não vai trazer felicidade e
somente tristeza. É a Blanca que ele tem de amar, não a Olivia.
— Lorran — seguro seus ombros e ele morde meu dedo. — Para filho, eu
já disse que a Olivia precisou ir embora, não chama mais ela.
— MENTILA (MENTIRA) — Grita em meio ao choro — eu quelo a
Olivia.
— Eu sei. — Soluça.
— Sí.
— Por que chama pela Olivia? É a sua mãe quem você deve querer.
Eu a tive por meses ao meu lado e não consegui dar valor a mulher incrível
que ela era enquanto me perdia no luto pela mulher que eu amei com a vida. Foi
preciso meu filho de três anos chorar me dizendo que a mãe dele foi para o céu e
que a Olivia estava com ele para que eu pudesse perceber a merda que eu fiz.
Afastei de mim a única que foi capaz de me fazer ver a luz. Perceber a
burrada que fiz não ajuda a amezinhar como me sinto. Estou confuso sem saber o
que fazer. Aceitar a Olivia na minha e na vida do Lorran é deixar a Blanca para
trás e eu não consigo fazer isso, não importa o quanto tente. Mas não se trata
mais de mim, o Lorran precisa da Olivia e eu devo pensar nele.
Com o Lorran, meu único filho que chora implorando pela Olivia eu vou
fazer o que é certo, só preciso de coragem.
— Como?
Ele dorme e o levo para o quarto comigo. Puxo o celular do bolso e a foto
da Olivia salta na tela de proteção. Ela e o Lorran brincando de pintar o rosto um
do outro na páscoa na creche. Abro a galeria do meu celular e vejo as inúmeras
fotos que tirei dela e do Lorran, dela comigo e do meu pequeno em meus braços.
Vejo os vídeos na galeria até o sono me nocautear.
— Uau.
Ele fica calado pelos minutos seguintes olhando ao redor.
— Não.
— O que?
— Você estava construindo uma família com ela seu stronzo se eu pudesse
arrancava suas orelhas fora. Certifique-se de explicar bem ao Lorran sua viagem
e resolva de uma vez por todas o seu passado.
Louis deixa o escritório e aliso meu braço atacado. Pego o celular e aviso
que vou usar o avião amanhã para uma viagem a Itália. Deixo o Lorran o dia com
a prima e de noite o levo para casa, dou a janta e deito com ele na minha cama.
— Filho.
— Sì papai.
— Amanhã eu vou voltar para a Itália por uns dias e vou te deixar com a
Olivia, tudo bem por você?
— Vai delmola pla volta? (demorar para)
Chegamos ao prédio em que ela mora, bato na porta e Lorran chama pela
Olivia. Ela abre a porta o pega no colo e fecha sem me deixar a ver direito. Fico
irritado com sua reação, fecho o punho pronto para bater novamente e recuo, não
tenho o direito, ela tem razão em não querer me ver. Retorno para meu
apartamento e arrumo as minhas malas e a do Lorran, vou deixar lá e ela terá de
falar comigo.
— Não! — ruge — o Lorran vai dormir aqui depois eu ligo para o Louis
vir buscar ele, pode ir embora.
— Eu tenho de falar com você Olivia — fico triste ao ver como ela tem
bolsas negras embaixo dos olhos, o cabelo prezo em um rabo de cavalo
emaranhado e parece mais magra.
Ver o resultado do meu egoísmo faz com que eu tenha mais certa: devo
resolver de uma vez por todas o meu passado para poder seguir em frente.
— Lorran é meu filho! Não vou perde-lo e por isso... — tento explicar a
ela o que acontece dentro da minha cabeça, mas é em vão, ela não vai me ouvir.
— Eu vou para a Itália, vim deixar o Lorran para passar uns dias com você.
— Tento e sou cortado novamente.
Olivia fecha a porta e encaro a madeira com vontade de falar muito mais,
não tenho o direito e sei que ela não vai me escutar. Eu não ouço ninguém e
continuo fazendo idiotices.
O vinhedo foi ideia da Blanca, para que a irmã pudesse ter uma produção
que gerasse renda o suficiente para ela conseguir viver sem a pressão dos pais, e
poder se dedicar aos animais, sem pensar neles como forma de renda.
Por ser a mais velha, Blanca deveria casar-se antes da Beatrice, e a mais
nova não podia ser envolver com homens, ficando reclusa dentro de casa, ou
somente saindo quando a irmã a levava junto.
Ser uma modelo foi a forma encontrada pelos pais delas para que Blanca
fosse exposta a homens poderosos, que pudessem se interessar em um
relacionamento com ela.
Quando descobri, tirei Blanca e Beatrice de casa, dei a Bea a fazenda que
ela queria, para viver em liberdade, com os animais que ela ama.
Acho que Lorran puxou da tia o carinho por animais, todas as pelúcias que
ele tem de bichinhos, foram presentes da Bea.
A equipe de segurança foi algo que eu não abri mão após a morta da
Blanca, mesmo em meio a depressão, me preocupei de que Beatrice conseguisse
ficar em segurança, sem os pais a incomodando devido ao túmulo da Blanca ser
na fazenda.
Bea espera por mim com um sorriso e os braços abertos. Os olhos azuis-
claro brilham, e o cabelo louro voa por seu rosto, enquanto ela tenta os controlar
e manter os braços abertos me recebendo. Com três passos chego a ela e envolvo
seu corpo em um abraço, sentindo o cheiro que me lembra a irmã.
Beatrice é poucos centímetros mais baixa que Blanca, o cabelo louro
escuro, e a pele bronzeada. Ao contrário de mim, a Beatrice grita felicidade e
vida, com a pele e o corpo. A solto, e ela encara meu rosto com carinho.
Encaro seus olhos azuis, e a boca em bico, respirando devagar para que eu
a siga.
— Eu sei como é sofrer pela morte da Blanca, Levi, não fique ansioso
comigo. Acho que sou a única pessoa que poderá te ouvir sem te julgar, ou exigir
uma reação de melhora de você, então vamos devagar, certo?
— Todos os dias, mas isso não me impede de viver. Eu lembro dela com
felicidade, por ter uma irmã maravilhosa. Blanca por anos, foi minha pior
inimiga e melhor amiga, devido à relação tóxica que nossos pais criaram entre a
gente. Mas ela nunca desistiu de mim, e somente por causa dela hoje eu sou livre.
— Blanca não ficaria feliz se me visse perdendo tudo o que ela me deixou.
Me afogar no luto iria trazer tristeza a memória da minha irmã, e, eu não seria,
capaz de viver sabendo que a magoei. Eu continuei seguindo em frente, e fiz da
saudade a força para cuidar dos meus animais e dos negócios. Transformei o
amor que eu sentia por ela em vida, em um amor saudoso, do tipo em que eu
ainda posso a amar com todo o coração, mas nunca sentir que não poderei viver
sem ela comigo.
— Foram anos com sua irmã, jurando amor e lealdade, ficar com a Olivia
começou a me trazer um sentimento de traição, que se ampliou na semana de
morte da Blanca. Senti que estava apagando a imagem da minha esposa, e sendo
infiel, a traindo, e pior... fazendo outra pessoa cuidar do filho dela. Na minha
cabeça, o Lorran não pode crescer sem amar a Blanca, em minha insanidade, eu
sabia o que estava fazendo, e queria aquilo, que a Olivia fosse embora e nunca
mais voltasse. Que o Lorran tivesse somente a mim e a Blanca.
— Você sempre foi um homem justo, e agia com base nas suas emoções,
magoou a Olivia por não pensar na sua ação, somente no que te atormentava. Eu
consigo ver em seus olhos que você mudou de ideia sobre substituir a Blanca, o
que aconteceu?
— O Lorran, meu filho, que ama a Olivia como uma mãe, e não consegue
ficar sem ela. Ele me disse que a mãe dele estava no céu, e a Olivia com ele. Só
percebi o que estava tirando dele, quando entendi que a Blanca pode ser a mãe
biologia dele, mas é a Olivia quem dá amor, carinho, e cuida do Lorran como um
filho.
— Para aquele pequeno se apegar a ela assim, a Olivia deve ser uma
mulher incrível. Não acho que a Blanca sentiria ciúmes da Olivia, quem sabe
tenha sido a minha irmã que mandou essa mulher para cuidar do filho dela, já
pensou nisso?
— Nunca.
— A Blanca amou você e ao Lorran com a alma dela, não sabemos o que
acontece no, pós-morte, e nada impediria que uma alma guiasse vocês até aquela
creche, e fizesse você ver brilho na Olivia, quando só via isso no Lorran. Gosto
de acreditar que a Blanca continua cuidando de vocês, e mexendo com o
universo para que o homem da vida dela continue vivo, e possa ser feliz, e para
que o filho dela tenha a chance de ter uma mãe.
— Eu traí a Blanca, não acho que isso possa ser verdade — coço a cabeça
incrédulo demais para acreditar na teoria da Beatrice.
— Não Levi, você foi fiel a ela enquanto a Blanca respirava, os votos de
vocês terminaram no dia em que ela morreu. Continuar vivendo com medo de ser
infiel, ou de magoar a Blanca, tem causado mais danos do que uma traição. Você
realmente acredita que Blanca ficaria feliz em ver você e ao Lorran sofrendo?
— Não, ela nunca ficaria bem com isso — cutuco minhas unhas.
— Qual é o seu verdadeiro medo, Levi? Olhe para dentro de si, e perceba o
que te atormenta. Você falou sobre ter se sentido culpado pela morte da sua mãe
e da Blanca, depois disse estar traindo a Blanca ao colocar Olivia no lugar dela,
mas você não percebe a verdade. A Blanca morreu, sua mãe morreu, e você não
tem culpa no acidente que levou ambas, nascemos com dia, hora, e lugar,
morremos da mesma forma, e ninguém pode controlar isso.
— Se aquele caminhão...
As palavras da Beatrice batem forte dentro de mim, e o muro que ergui nos
últimos anos desaba, deixando uma dor antiga jorrar para fora do meu corpo
enquanto um desespero novo se aproxima. O medo de perder quem continua
vivo, por ter me apegado a quem estava morta.
— Certo.
Corro para o lugar que fica o túmulo da Blanca com o sol se ponto no
horizonte. A euforia por ter uma certeza, e um objetivo, pela primeira vez
dominando o meu peito.
Fico de joelhos de frente para ela, pela primeira vez que venho aqui, não
tenho vontade de chorar, somente de sorrir.
— Oi, meu amor, desculpe ter demorado a vir esse ano, acho que temos
muito o que conversar. Eu consegui me comunicar com o Lorran, e agora
estamos mais próximos. Ele cresceu tanto, você consegue ver ele do céu? Nosso
menino ficou enorme, e fala tanto, ele puxou a minha mãe o gosto por
chocolates.
— Será que é verdade a teoria da Beatrice, que foi você quem me guiou a
Olivia, para que ela pudesse cuidar do Lorran e me fazer sentir vivo de novo?
— Eu te amo Blanca, sempre vou te amar, sou grato pela nossa história de
amor, e por você ter me dado o Lorran, mas agora eu preciso ir atrás da Olivia. É
com ela quem eu quero ficar e ser feliz, você consegue me dar a sua benção
amor? — fecho os olhos, o vento se torna mais forte contra meu rosto, como um
carinho suave — é você, não é? Sempre falou que voltaria com o vento quando
eu estivesse perdido, e me mostraria a direção certa.
— Eu sempre irei te carregar em meu coração, mas agora estou pronto para
deixar outra pessoa entrar. Você aceita dividir espaço com ela? — mais uma vez
o vento ricocheteia contra meu rosto, bagunçado meus cabelos — estou
enrolando demais, é isso que você quer dizer? — como se me respondesse, uma
rajada me joga no chão e gargalho — eu entendi o recado, essa é a última vez
que te chamarei assim e falarei essas palavras.
— Adeus, amor.
— Você não desiste — ela suspira — vou arrumar as minhas coisas, espera
aqui.
— Vou subir para meu quarto, você vai ver o que aconteceu. — Ela já tem
o costume de ficar aqui conosco, e sobe rapidamente as escadas.
Olivia vira para mim, e o medo atravessa sua íris, mais rápido do que
consigo processar, o fato dela ter engravidado.
— Falarei a verdade. Eu queria ser mãe, e consegui, não tem mais nada a
ser falado.
— Por que você não pode ser como a Bianca, e ter engravidado de um
homem que te ama, e estivesse disposto a casar com você? Ter esse bebê em um
lar saudável.
— E você acha que alguém me ama? — Olivia não consegue mais segurar
as lágrimas que deságuam de seu rosto pequeno. — Eu devo ser um ser humano
horrível que nunca pôde encontrar o amor de um homem, nem você me amou pai
— o nariz dela escorre, e os soluços fazem seu peito tremer — eu tenho 27 anos
e nunca te ouvi dizer um “eu te amo” para mim, por que você não pode me amar?
— Não seja idiota, é claro que te amo — ele fala baixando a guarda.
Meu peito comprimi com uma nova dor tomando consciência do dano que
causei na Olivia.
— Não, não ama. — Ela olha ao redor, e seu olhar encontra o meu. — O
homem que eu amava me disse no dia do meu aniversário, que eu e ele não
poderíamos ficar juntos, e que eu não tinha o direito de querer ser a mãe do filho
dele. Ele era a minha última esperança de amar e ser amada.
Nos últimos dias, eu aprendi que somente a morte tem o poder, de colocar
o ponto final em uma história. Pode demorar 10 ou 50 anos, farei com que a
Olivia me perdoe, e se ela quiser, teremos a nossa família e serei um pai para o
seu bebê, como quero que ela seja a mãe do Lorran.
Olivia
Eu não queria que eles soubessem, mas não consegui evitar, o enjoo que
passei a tarde, pirou quando jantamos.
Optei por mentir para eles até decidir como contar sobre a gravidez ao
Levi, meu pai foi cruel em suas palavras, e eu queria machucá-lo, é injusto eu ser
a única ferida.
Quando vi o Levi, ele parecia bem, sem bolsas debaixo dos olhos, o cabelo
arrumado e o rosto mais rechonchudo. Ele estava bem, enquanto eu me acabo em
sofrimento devido à rejeição dele.
— Vamos conversar, por favor — meu pai pede beijando minha cabeça e
não o encaro, sento-me no chão de costas — como você pode pensar que eu não
te amo Olivia?
Ele alisa o topo dos meus cabelos, e me puxa contra seu peito, afagando
minhas costas. Não tenho forças para continuar lutando contra ele ou qualquer
outra pessoa, cheguei ao meu limite emocional, e não sei o que fazer para me
sentir bem novamente.
— Vamos por parte, certo? — a voz dele fica mais grave — quando
conversei com a Bianca e percebi estar sendo injusto com ela, eu comecei a
lembrar do passado, e a notar que fiz o mesmo com você, fui duro demais na
criação de ambas, e causei feridas que vão para além da nossa relação.
— Não importa mais — sussurro — não tem mais o que ser perdoado.
— Você esqueceu fácil disso — acuso, querendo o fazer sofrer como eu,
que seu peito seja despedaçado e rasgado.
— Eu prometi a Eduarda que iria cuidar de vocês, mas quando ela deu o
último suspiro, eu fui com ela, uma parte minha morreu, e a que ficou não sabia
como continuar. Me afoguei no luto e na bebida.
— Igual ao Levi, eu fui uma grande idiota por achar que ele seria diferente
de você — percebo, a relação tóxica que tentei fugir do meu pai, foi reproduzida
no Levi, e com isso o resultado foi o mesmo; ... Destruição.
— Não conheço o Levi, e não vou falar por ele, somente por mim. Eu não
conseguia ver nada ao redor pelos meses que se seguiram a morte da Eduarda.
Em uma manhã, eu acordei e você já tinha sete anos, vestia o uniforme da
Bianca, e dava de comer a ela, o resto de um pão velho. Você segurou a mão
dela, quando Bianca terminou de se alimentar, e a levou para escola, sem
reclamar da fome.
— Era final de mês e nossa tia não tinha enviado a cesta básica que ela
dava para nos ajudar enquanto você sofria, e eu não quis pedir as vizinhas, já
fazia três dias que me alimentava somente da merenda da escola, para que a
Bianca não passasse fome.
Pela primeira vez em anos eu escuto o meu pai chorando. Os braços dele
tremem ao me redor, enquanto ele tenta recuperar a respiração. Lembrar da
infância traz um gosto amargo, eu era pequena e precisava de proteção, mas ele
não conseguia me ver.
— Não consigo reparar o erro que cometi naquela época, quando vi aquilo,
eu me dei conta de que você e a Bianca continuavam vivas, e eu tinha de voltar a
trabalhar para sustentar a casa. Arrumei o primeiro emprego que consegui como
segurança, e usei o cartão para fazer a feira, quando você chegou, seus olhos se
iluminaram ao ver a comida, e eu te fiz uma promessa naquele dia, você lembra?
— Você só tinha sete anos, e a Bianca 4 anos, eu nem sei como você tinha
conseguido a matricular em uma creche.
— Denise não me contou, e ela será a próxima a quem vou agradecer por
cuidar dos meus anjos quando eu não pude.
— Eu fiz Olivia, mas você não lembra por que era pequena demais, o que
se instaurou no seu coração foi a dor. Quando vocês chegaram naquele dia, você
chorou ao ver os armários cheios, e a Bianca correu para o meu colo, eu me
ajoelhei na sua frente e prometi que não deixaria mais vocês passarem fome, e
iria cuidar novamente de ambas.
— Não — murmuro.
— Você.
Não tem como ser verdade, eu não consigo me lembrar da conversa com
ele, mas sei que depois que voltamos da escola naquele dia, o meu pai tinha
voltado a cuidar da casa e da gente.
Eu achava que ele tinha acordado para a vida e era somente isso, sem
conversar, sem se explicar ou pedir desculpas.
Bato no peito dele com os pulsos, ele não tem esse direito, após anos, não é
justo que me conte somente agora o que aconteceu naqueles dias sombrios.
Ele nunca cuidou da gente, não pode ser verdade, porque se for, eu passei a
vida presa na mágoa, e não abri meus olhos para o que acontecia ao meu redor
além do que imaginei.
— Eu fui duro com você e com a Bianca, não vou negar isso, me
entristecia te ver pulando de namorado em namorado, e saber que as vizinhas
falavam mal da minha menina, por como ela se comportava. Eu sabia que você
estava presa a mágoa que te causei na infância, mas eu não podia deixar que você
continuasse sendo vista como uma vagabunda, brigamos e discutimos mais vezes
do que sou capaz de lembrar.
— Você estava querendo me defender? — o encaro, os olhos vermelhos e
o rosto banhado em lágrimas, arfo ao ver a dor refletida nos olhos dele.
— Você não pode fazer isso — bato no peito dele com força enquanto grito
frustrada — não é justo me dizer isso tudo quando explodo, você partiu meu
coração — berro, caindo contra o peito dele, sem forças para continuar
alimentando o ódio.
“Sem dizer mais nada, ele segurou minha cabeça, beijou minha testa e
disse o quanto me amava e estava feliz pela minha conquista.”
Eu tinha saído para uma festa com minhas amigas, e já era quase três
horas, os pais delas buscaram a todas, e a minha carona não aconteceu, porque a
mãe da Julia foi de moto e eu fiquei sozinha.
Meu pai estava trabalhando, eu liguei para ele e depois ele chegou para me
pegar no carro do patrão. O caminho para casa foi com ele brigando e me
chamando de irresponsável.
Ele sabia que podia ser demitido, e foi me buscar. Ele cuidou de mim e eu
só absorvi as reclamações.
Era Dia das Mães no colégio, eu e Bianca estávamos tristes, e ele nos
levou para uma viagem ao sítio da família, passou o dia conosco e a tristeza foi
apagada pelos momentos em que estivemos juntos.
Ele não deixou que ficássemos magoadas pela ausência da nossa mãe.
— Me perdoa por ser duro com você, quando soube do bebê, e que você
fez inseminação, fiquei louco, preocupado em como você criaria a criança
sozinha. Você nasceu para amar e ser amada Olivia, seu filho deveria ser
concebido com amor, e não por sua obsessão de ser mãe. O carinho que você
procura em um filho, você sempre o teve ao seu redor, minha menina, só estava
cega para perceber.
Sem forças, eu me encolho contra o carinho dele, e choro até meu corpo
desidratar e o ar entrar com dificuldade por meu nariz entupido. Sinto como se
tivesse chegado ao fim de uma maratona.
— Não vou falar pelo Levi, mas talvez, existe a possibilidade de ele ter
feito o mesmo que você, se afogado no ódio, não conseguindo enxergar o amor
que ele tinha ao redor.
— Acredita nisso?
— Sim — beija minha testa — conversa com ele, sem a mágoa
obscurecendo seus pensamentos, Olivia, você já sabe como é viver com o ódio
no coração, te impedindo de ser feliz. O ouça com o coração, e não com a mente,
depois você decide o que fazer.
— Quando estiver pronta estarei aqui para te oferecer colo e muitos beijos
— enche meu rosto deles. — Vamos nos deitar, o sol está quase nascendo.
Não somente por um filho, mas por um marido, um amor que pare de me
magoar, e possa me fazer ser feliz. Vou escutar o Levi somente uma vez, para
decidir o que fazer em seguida.
Olivia
— Você é a minha madrinha e não pode continuar evitando o padrinho! —
Bianca bate o pé.
Já se passaram uns dias que conversei com o meu pai, e o Levi tenta
chamar a minha atenção para podermos resolver nossas pendências.
Estou em dúvida se quero dar uma segunda chance a nós dois. Meu
coração continua apaixonado, e sem a mágoa pelo meu pai obscurecendo meus
pensamentos, tem se tornado, mais difícil, continuar firme, e longe do Levi, sem
vacilar quando me encara com os olhos cheios de arrependimento, e a boca
aberta para falar o que me recuso a ouvir por medo.
— Não — bate o pé — você vai conversar com ele agora, e chega de fugir.
— O filho que você espera é dele? — ela pergunta, mas vejo certeza em
seu olhar. Aceno em positivo e Bianca suspira — eu sabia, você nunca foi boa
mentirosa, e se o Levi acreditou naquilo, é um tapado. Você viu o quanto eu sofri
ao tentar esconder do Louis a paternidade da Cecília, e o quanto fui feliz após o
aceitar novamente. Viver com a mágoa só vai gerar mais sofrimento, Olivia.
— Minha irmã que sempre quis ser amada e ter um bebê. Seu momento
chegou, você conseguiu engravidar, e tem um homem desesperado, querendo te
dar amor e uma família. Não passe mais um único segundo sofrendo por medo
ou raiva, sentimentos ruins nos destroem de dentro para fora, o amor cura todas
as feridas, trazendo uma felicidade que transborda.
— Tá — aceno.
O dia passa rápido e mal posso registrar os momentos com a minha irmã,
correndo de um lado ao outro com os preparativos.
Quando a noite chega, sentamos a mesa para jantar, e o Levi vem na minha
direção, quando é puxado pela Beatrice, que eu descobri ser a irmã da Blanca,
indiretamente e sem que eu tenha pedido, ela ajuda a manter o Levi distante.
Ela parece entender que estou fugindo, e que preciso respirar antes de o
encontrar, e podermos conversar para decidir sobre a nossa vida.
Já aceitei que vou contar a verdade sobre meu neném, não a privarei de ter
um pai devido à minha mágoa. O Lorran será um irmão maravilhoso, e meu peito
aquece só de imaginar ele brincando com ela.
— Zia vivia — Lorran corre para mim e o pego no colo — é veldade que
você vai ter um bebê?
— Sim, meu anjinho — beijo seu rosto e o sento ao meu lado para
jantarmos.
Lorran não saberia guardar o segredo, e o Levi não pode saber por outra
pessoa além de mim que será pai, tenho medo da reação dele.
— Sì — sorri e beijo sua bochecha — como ela entrou aí? A Zia Bibi não
me disse como a Cecilia entrou e saiu dela — faz bico e mordo sua bochecha o
fazendo rir.
— Eu desejei muito por um filho, e meu pedido foi atendido — aliso seus
cabelos — quando ela nascer, te conto como foi, combinado?
— Sí!
Fecho a porta antes que o Levi consiga chegar até mim. Só mais um dia
para acalmar o meu coração, é disso que preciso.
— Sim.
— Vamos nos resolver Olivia e tudo vai ficar bem — o sinto no outro lado
da porta.
— Vai imblola papai — Lorran pede rindo — zia vivia vai mimi com eu.
— Num to tolcando, só quero mimi com a zia vivia. Boa noite, papai.
— Sim, fofinho.
— Lorran — o puxo para cima, colando nossos narizes — você quer que
eu seja sua mãe? — minha garganta trava, mal consigo respirar tomada pela
emoção.
— Eu quero muito ser a sua mãe Lorran — sussurro sem conseguir conter
as lágrimas, e o encho de beijos, ouvindo a gargalhada gostosa do meu menino
— meu Lorran, meu filho — beijo sua bochecha até ele ficar vermelho, quando
cesso meu ataque e as lágrimas param, com o coração explodindo fogos de
artifício como no dia em que descobri que teria a minha menina.
— Meu filho!
— Oi?
Ele ganhou peso, e o quadril ficou mais largo, peitos e ombros. O pescoço
grosso com uma veia saltada, a mandíbula dura e contraída ao me flagrar o
encarando.
Tenho saudade de ser beijada por sua boca rosa, carnuda, de ser chupada
por sua língua, e me sentir protegida em seus braços fortes. De dormir ouvindo o
som da respiração dele, e recebendo carinho dos seus dedos. De ficar eu, ele, e o
Lorran na cama, o pequeno dormindo entre nós, enquanto deixávamos nossos pés
entrelaçados.
Eu o quero.
Meu peito sangra desde que ele foi embora, a ferida não consegue
cicatrizar pelo medo de uma nova rejeição, e vai continuar aberta enquanto eu o
mantiver longe.
— Sì — Lorran comemora.
E eu vou ao chão.
Com as mesmas palavras que ele usou para me quebrar, ele fechou a ferida
aberta. Me aceitou como a mãe do Lorran, sem que eu falasse nada, sem que o
Lorran dissesse ou me chamasse assim.
Levi me aceitou.
Eu fui realmente rejeitada naquele dia ou o Levi estava cego pela dor,
como eu passei a vida toda?
Vejo pés na minha frente e levanto o rosto, uma mão estendida para mim.
— Certo.
Tremo ao segurar sua mão na minha, ele me puxa rápido e bato em seu
peito. Lorran aperta meu pescoço e o do pai.
— Somos uma família Olivia — Levi sussurra em meu ouvido e beija meu
ombro — não chore mais, você tem tudo o que sempre quis, estarei ao seu lado
durante o percurso. Você me aceitando ou não, como seu, o Lorran continua
sendo seu filho.
Transbordo em lágrimas enquanto sou acalentada pelos homens da minha
vida. Meu pequeno filhinho, e o homem que eu amo.
Levi não fala mais nada, enxuga as lágrimas no meu rosto, e puxa minha
mão para o seu quarto.
O sigo em silêncio, nos deitamos na cama com o Lorran entre nós, e seu
braço estica acima da cabeça do filho, alisando meus cabelos, as pernas
entrelaçadas enquanto pego no sono, presa nos olhos azuis.
Ele me aceitou como a mãe do Lorran, não tenho mais dúvidas quanto a
contar a verdade sobre a paternidade da minha menina.
Olivia
Acordo antes do Lorran e do Levi, observo pai e filho dormindo lado a
lado, e não consigo impedir o cenário na minha mente, do Lorran segurando a
irmã nos braços, e dela encostada no peito do Levi, dormindo tranquila, protegida
pelo pai.
— Você tem um ano — decido — prove que mudou com ações e não
palavras, e considero a sua proposta.
— Você passou três anos sofrendo pela Blanca, como vou confiar que não
me afastará novamente quando sentir a falta dela? Não posso me entregar sem ter
certeza Levi.
Eu o quero de volta, quero seu amor e sua paixão, me sentir amada em seus
braços. Mas não posso entrar em uma nova relação com mágoas em meu peito
que me farão duvidar dele, e não conseguir ser sincera quanto aos meus
sentimentos, por medo da rejeição.
— Eu quero que você seja feliz Olivia, quero te amar e te deixar fazer
perceber que eu pertenço a você, e você a mim — segura minha mão a levando
ao seu peito — eu te amo Olivia, esse coração bate por você, e continuará assim
para sempre.
Ali estão elas as palavras que ansiei ouvir feito uma louca desesperada
para ser amada. Engulo em seco, ele podia ter dito isso antes de me machucar
com crueldade.
Não posso o aceitar ainda, e não quero continuar longe, infligindo dor a
mim mesma. Não sei o que fazer ou qual caminho seguir, fecho os olhos
inspirando fundo e decidindo:
— Não será do seu jeito — ergo o queixo — vou te usar como eu quiser e
só te terei quando eu estiver pronta.
— Pode usar do jeito que preferir — sua coxa desce entre a minha perna,
tocando meu ponto sensível — vou adorar ser seu bichinho de estimação — beija
meu pescoço — me maltrate ou me ame, mas não me mande embora.
— Seu desgraçado — soluço, agarrando forte seus ombros — você não vai
ser nada além do meu brinquedo, ouviu?
— Sim senhora.
Ainda temos muito o que conversar, as mágoas não foram cicatrizadas por
completo. E ainda tenho medo de me magoar, vou usar esse ano para ter a certeza
de que Levi mudou, enquanto conversaremos sobre tudo o que aconteceu entre
nós.
Por enquanto, vou aproveitar a felicidade de ter meu menino, e saber que
ainda pode existir um futuro, em que eu esteja junto do pai dos meus filhos.
— Bom dia meu filho — beijo sua bochecha — vamos tomar banho?
— Sì — estica os braços.
Levo o Lorran para o banho, e descemos para tomar café. O cheiro de
queimado chama nossa atenção, e corremos para a cozinha, onde o Levi coloca
uma frigideira na pia enquanto a Beatrice tem as mãos na cabeça.
— Você não pode chegar perto do fogão — Levi ponta para a mesa — vá
sentar que eu faço isso.
— Estou fazendo isso — digo rindo, e aliviada, ela tem carinho no rosto.
— Como... sabe?
— Ele passou os últimos dias na minha fazenda, curando a alma, e se
despedindo da Blanca, para poder libertar o coração dele do medo, da dor, e da
perda, para existir somente você. Eu te garanto, o coração dele só tem você —
me abraça novamente — quando estiver pronta, aceite a felicidade.
— Certo.
É o que respondo.
Então foi isso que ele fez nos últimos dias? Deu adeus a Blanca para
continuar comigo? Não sei o motivo, mas ouvir isso dá Beatrice, alivia
mais meu coração, do que escutar do Levi.
— Com o quê?
— Sonda ele para saber quais são as intensões dele, flertando comigo desse
jeito.
— Tá, me dá um segundo.
— Bom te conhecer — olha para a Lira — diz a ela que se quiser falar
comigo terá de vir pessoalmente.
— Sim.
Seguro seu braço e sou embriagada pelo seu cheiro, exalando pelo paletó
cinza, abraçando suas curvas perfeitamente.
Eu fiz muita merda e a magoei, e farei o dobro de merdas para ser capaz de
me perdoar e volte a ser minha. Vou mostrar a Olivia que eu sou um novo
homem, a farei me amar novamente, e nunca mais a deixarei partir.
Olivia entra na cozinha e ataca os docinhos em cima da mesa, comendo
dois de uma vez. Fico atrás dela e abraço seu corpo, descansando o queixo em
seu ombro. Beijo a pele lisa e deslizo as mãos em seu ventre sentindo minha
menina dentro dela.
— Claro que importa, não quero ver o meu amor passando mal e
prejudicando nossa menina — beijo seu pescoço, a fazendo se encolher em meus
braços — eu estava apavorado Olivia, por isso eu fiz aquela merda.
Mal consigo deslizar minha língua em sua boca, e ela apoia as mãos em
meu peito, não me afasta e não me puxa, só me deixa ficar assim a beijando,
sufocado.
— Não quero saber — ela luta para sair, e a mantenho presa entre mim e a
mesa, até suas forças minarem e ela esconder o rosto em meu peito.
— Mas precisa, eu vivi no luto por tempo demais, e quando comecei a sair,
eu tive uma epifania de felicidade que me fez ignorar todos os outros
sentimentos. Quando eles retornaram, foi intenso, e me fez perder a razão, agindo
como um maluco amargurado e magoando os que estavam perto de mim, e eram
a razão por eu ser feliz. A culpa consumiu a minha alma com força, devorando
tudo o que existia de bom.
Não tenho vontade de chorar, apesar de encarar o que fiz, sinto que devo
ser forte, e reparar o erro cometido, curar a ferida que sangra na mulher que eu
amo.
Mostrar a ela que não vou mais chorar e lamentar pela Blanca ter morrido.
— Quando você saiu, eu não me senti aliviado como achei que ficaria.
Doeu mais do que pensei te mandar embora. Ardeu na minha alma como nunca,
a dor de perder a Blanca acabou comigo, mas a de te fazer sofrer — inspiro
controlando as lágrimas por lembrar como é ruim ficar sem ela — te mandar
embora com os olhos gritando desespero, aquilo foi como ter o ar deixando meus
pulmões, e depois daquele dia, não consegui respirar direito.
Puxo o rosto da Olivia para que ela me olhe.
— Você tem certeza? — ela soluça forte, e fico em pé, segurando seu rosto
em minhas mãos.
— Como ar que entra em meus pulmões. Nunca mais vai existir Blanca
entre a gente Olivia, você é a única mãe que o Lorran terá, e se me permitir, serei
o pai de todos os seus filhos.
— Vá com calma, rapaz — uma voz grossa fala atrás de nós, e vejo o
Marcelo segurando a Cecilia nos braços — antes de casar-se com a minha filha,
eu terei de dar a minha benção, você a fez sofrer demais — antes eu que consiga
evitar, sinto a dor do chute que ele dá em minha bunda, e me encolho.
Tento não fazer careta, acho que ele quer quebrar meus ossos.
— Para pai — Olivia pede com riso na voz — eu vou torturar ele o
suficiente por nós dois.
— Você vai dormir no seu quarto — bate no meu peito e sai rebolando.
— Não sei, espero que a Beatrice — ela fala de volta — o Daniel parece
ser um cafajeste.
— Não o conheço bem, pergunta ao meu pai, acho que ele viu o menino
crescer, ou coisa assim.
— Como é?!
— Com certeza.
Já bati tanto nele por isso, que estou com calos nas mãos.
Não transamos ainda, é tudo recente, e quero ter a confiança de que não
vou me magoar se o deixa ficar em meu coração.
Por enquanto, temos mantido essa dinâmica, é bom, ele está perto,
respeitando minhas barreiras e me enchendo de carinho e confiança. Não sei se
conseguirei aguentar muito mais com a distância, ou escondendo que a minha
menina é filha dele.
— Hora da diversão — ele tira a camisa animado com fogo nos olhos.
— Vai ser a melhor massagem da sua vida, sua mulher infernal — morde
minha panturrilha, e me tremo.
Levi despeja o gel na minha perna esquerda e começa uma massagem lenta
em meu tornozelo, estralando as vértebras e aliviando a dor na sola do pé.
— Amanhã eu tenho um ultrassom...
— Qual o seu plano de saúde? Vou te trazer para o meu, e ter acesso a um
melhor.
— Certo.
— Vou pintar todos no quarto que será dela — seus dedos deslizam na
borda da calcinha, e esqueço do que estávamos falando — algodão-doce,
ursinhos, e alguns gatinhos. Podemos comprar tudo amanhã, depois do exame.
Ele continua falando, e eu fecho os olhos, me entregando a carícia do seu
dedo deslizando sobre minha intimidade encharcada, por cima da calcinha.
Com mais liberdade, ele tira a peça de roupa e desce beijando meu corpo.
Eu queria ter mais forças, e poder resistir, mas o evitar só vai me causar dor
interna, e pode parecer que se passou pouco tempo, mas sinto como se
estivéssemos a uma eternidade separados, sem sentir um ao outro.
— É só sexo — digo ao ter minha camisola retirada, e quando ele fica nu,
colocando o pau enorme para fora.
As paredes da minha vagina ardem pelo seu tamanho, encolho meus dedos,
agarrando seus ombros, o sentindo todo dentro de mim, e com uma saudade
enlouquecedora, agarro sua bunda durinha, forçando que ele me coma com mais
força.
Levi estabelece um ritmo lento entre nosso quadril, com os olhos travados
no meu e a boca pairando sobre a minha, gemendo como um maldito macho alfa.
Ignoro seu pedido, não vou ceder enquanto ele me fode. Belisco sua bunda,
e perco o ar, atingindo o clímax.
Sua mão desliza em minha barriga, e ele beija meu ventre, com um sorriso.
É a primeira vez que o deixo me tocar dessa forma.
— Eu sei — beija meu ventre — sou o pai dela, quando decidi que seria os
pais de todos os seus filhos — encontra nossos lábios um no outro.
Levi tem um sorriso enorme no rosto, e fala para todos, que viemos a
primeira consulta da nossa bebê, juntos, já que a outra, eu realizei quando
descobri sobre a gravidez e não foi aprofundada como a de hoje, em que
poderemos ouvir os batimentos do coração dela.
— Nos seus registros não consta que você já teve filhos — ela analisa uma
prancheta — acho que devemos atualizar ele.
— Ele não nasceu de mim — digo — a bebê será a primeira que vou dar à
luz.
— Que família feliz! Vamos logo ver como está a irmãzinha dele — passa
o gel em meu ventre e coloca o aparelho.
Meu plano não garantiu um ultrassom 3D, por isso foi a normal, e tenho
um pouco de dificuldades em entender as imagens na tela, mesmo a médica me
explicando sobre o tamanho da bebê.
Levi me encara e ergue a sobrancelha como quem diz “eu te avisei” dou de
ombros.
Preenche a sala, e eu choro feliz por escutar o som da vida da minha filha
em meu ventre. Levi me beija, com o Lorran pendurado entre nós, as lágrimas
dele misturadas as minhas, e o Lorran deita a cabeça em meu peito.
Eu tenho uma família comigo e não abrirei mão dela, nunca mais serei
infeliz.
****
3 meses depois
Meu bebê já tem 24,5 centímetros, e após o ultrassom 3D, conseguimos
ver melhor o formato do corpinho dela, ainda não tivemos a confirmação do
sexo, mas ela segue saudável e bem, dentro de mim, e meu coração que estava
obscurecido por tristeza ganhou a luz do amor, e a felicidade fez morada nele.
No último mês ele montou um ateliê para ele perto do apartamento, e tem
passado bastante tempo por lá, criando sua próxima coleção. Ele não me deixou
ver nada, e Lorran é seu principal cúmplice nas peças.
— O gatinho te arranhou?
Já avisei para aquela diaba de menina não deixar o gato dela vir para a
nossa varanda. Vou mandar colocar uma tela de proteção que impeça a vinda do
animal, dificilmente deixo o Lorran ficar na varanda, fecho as portas, e tenho
certeza de que não abri elas.
— Celto.
Visto uma roupa no Lorran, e o pego no colo, evitando seus pés perto do
meu ventre. Na sala, vejo que a governanta está limpando a varanda com as
portas abertas.
É isso que ele faz, ele cuida da gente sem que precisemos falar nada. Eu
amo esse homem, e estou pronta para abandonar a dor e viver o amor.
Olivia
3 meses depois
— É uma menina! — a médica fala feliz, e Levi grita, comemorando. —
Demorou, mas finalmente conseguimos ver o sexo.
Beatrice, que tem mantido contato por vídeos, chamadas com o sobrinho e
comigo, vai estar presente, e eu tenho quase certeza de que o maior motivo, é por
ela querer ver o Dante.
O Cowboy não sai da cabeça da Beatrice, assim como o Daniel não para de
povoar os pensamentos da Lira.
— Você estava certa — Levi beija minha testa — vamos ter uma menina.
— É uma menina!
Ele comemora e bate na mão do Levi, ambos fizeram as pazes, e desde que
passei a morar aqui, o meu pai tem me visitado para brincar com Lorran, e
conversar comigo e com o Levi.
Partimos para a Itália, e quando chegamos lá, Bianca corre para me abraçar
e perguntar tudo sobre a gravidez. Não escondo nenhum detalhe, e logo a Lira e a
Beatrice se juntam a nós.
— Tem certeza de que não quer contar ao pai do bebê? — pergunto com o
coração apertado, pelo que ela deve estar passando.
— Estamos aqui — Bianca segura a mão dela — para o que precisar, como
o Louis disse ontem.
Levi vai surtar quando souber, e considerando que o Daniel veio para cá,
acho difícil o segredo continuar por muito tempo.
— Você sabe que é provável que ele descubra hoje, né? — pergunto
baixinho a abraçando.
— Ah, eu estou bem — ela continua procurando pelo Dante com os olhos.
— E com outras coisas, pelo seu sorriso — acuso e ela morde os lábios
rindo internamente.
Lira chama o Levi para conversar, e eles somem por quase duas horas,
depois retornam, e ele tem a expressão de quem vai cometer um assassinato a
qualquer instante.
Duas histórias de amor se desenrolam diante dos meus olhos, e não sei por
qual estou mais ansiosa para assistir.
Nos recolhemos no quarto, e o Levi não perde tempo ao me puxar para ele,
me coloca sentada na cama e fica de joelhos na minha frente.
— Você me deu um ano para provar que eu te amava e estava pronto para
viver ao seu lado — segura minhas mãos — mas eu sou apressado demais, e não
consigo mais não te chamar de minha esposa, ainda precisamos de um ano?
Ele puxa minha mão para si, e eu travo a garganta, pronta para responder.
Levi me puxa em seus braços com amor, beijando todos os lugares que ele
encontra. Os lábios afoitos não me deixam respirar ou rir, enquanto sou devorada
por ele.
— Vamos — gargalho.
Fazemos amor a noite toda, e no dia seguinte, ninguém fica surpreso com a
notícia do casamento, pelo contrário.
— Você gostou do pedido? — meu pai pergunta, acho que ele também
tinha ajudado o Levi.
— Sim — gargalho.
A chuva de gritos é grande, Bianca puxa minha mão sorrindo para mim, e
sumimos entre nossos familiares entrando no carro.
— Sim.
Hoje vou me casar com o homem, que sozinho arrumou a nossa festa e me
trouxe segurança, conforto, e amor, que me deu uma família e me fez realizar o
meu desejo, de ter uma família só minha.
Minha história de amor não começou com amor à primeira vista, foi ódio,
depois a paixão, e então a decepção, e hoje, estamos escrevendo o primeiro
capítulo da nossa vida como, casados, sem dores em nosso peito, amando um ao
outro, e estando certos de que é isso o que queremos.
— Levi Vittileno, você aceita Olivia Baptista como sua esposa para amar,
honrar, respeitar, e ser fiel em todos os dias da sua vida, até que a morte os
separe?
— Olivia Baptista, você aceita Levi Vittileno, como seu marido, para amar,
honrar, respeitar, e ser fiel em todos os dias da sua vida, até que a morte os
separe?
— Aceito.
— Já sei o nome.
— Não pode Lorran — Levi responde — ela é menina, e tem de ter nome
de menina.
Não tenho como negar, um nome lindo, e escolhido pelo meu filho. Após o
casamento, Levi e eu oficializamos a maternidade do Lorran, adotei ele como
meu, e para todos os fins legais e emocionais, ele é o meu filho e ninguém nunca
poderá mudar isso.
Tenho meus dois fofinhos na cama comigo, e meu marido, que me enche
de amor todos os dias.
***
3 meses depois.
Itália.
Retorno de Levi Vittileno, o estilista da marca Vittileno.
Hoje ele vai mostrar ao mundo a sua nova coleção, e o seu retorno como o
estilista da VITTILENO. Estamos todos reunidos para presenciar o momento,
Louis e Bianca com a Cecília, e esperando o próximo bebê deles, no ventre, de 3
meses da minha irmã.
Lira, com um barrigão de 8 meses, prestes a dar à luz, retornou a Itália para
que o bebê pudesse nascer no país de origem dela. Infelizmente o Daniel não
perguntou sobre a paternidade, e acho que eles não se viram desde o casamento.
Minha cunhada aguentou firme a gravidez, com o cafajeste do pai do bebê, sem
ter noção de que o bebê dele, está prestes a vir ao mundo.
Beatrice, eu não sei dizer o que acontece entre ela e o Dante, uma hora
acho que estão juntos, e na outra parece que ela vai voar no pescoço dele e
arrancar sua cabeça fora.
Hoje eles estão em paz, com pequenos olhares, e se alfinetando. Ele tem
babado de ciúmes desde que um estilista amigo do Levi se sentou ao lado da
Beatrice, e não para de puxar assunto com ela.
— Como já foi anunciado pela mídia, eu sou o estilista por trás de todas as
peças da VITTILENO, e após meus hiatos de 4 anos, estou retornando aos
palcos, no dia do aniversário da minha linda esposa — aponta para mim — um
salve de palmas para a mulher, que tem meu coração, e a mãe dos meus filhos.
Me desprender do ódio e aceitar o amor foi a escolha mais certa que fiz.
Conquistei a minha família, e todos os meus dias têm sido felizes desde então.
Puxo meu menino para mim, e seguro a mão da minha filha, a aliança
brilhando meu dedo.
FIM
UMA FILHA PARA O BILIONÁRIO ITALIANO
(IRMÃOS VITTILENO)
SINOPSE
Ele acredita que foi enganado por ela.
Aos 37 anos, Louis Vittileno chegou no momento mais crucial de sua vida:
assumir a liderança da empresa da família. Um típico italiano arrogante que sabe
seu potencial para os negócios e para as mulheres, mulherengo e conhecido por
nunca ter relacionamentos duradouros, Louis acredita que as mulheres só se
interessam por seu dinheiro e que nunca conseguirá encontrar um grande amor.
Com a rejeição e o coração partido, ela esconde dele que engravidou e vai
embora sem olhar para trás. Quando Louis se depara com a verdade e percebe os
perigos que os rondam, não tem outra alternativa, a não ser manter a mulher que
ele ama longe para que ela fique segura. Sem fazer ideia de que ela espera sua
filha, quando descobre a verdade ele terá de reconquistá-la enquanto ela nega que
a filha é sua.
SINOPSE
Você é exatamente aquilo que eu queria ser quando era criança, mas
meus demônios não permitiram.
Amber Jones lutou a vida toda para arcar com seus estudos e tentar
melhorar a vida de sua irmã com uma formação em psicologia. Tímida, ela
odeia ser o foco das atenções, mas isso acontece quando se torna a obsessão
do bad boy mais popular da faculdade.
Liam está obcecado pela garota que é tudo aquilo que ele desejava
ser.
Amber o odeia por ser tudo aquilo que ela sempre desprezou.