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Copyright © 2018 Tania Giovanelli

Direitos autorais do texto original ‘’Deixada no altar’’ – Fundação


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Design da capa: Mari Sales


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cópia xerográfica, sem a autorização por escrito do autor.
Esta é uma obra de ficção. Qualquer semelhança com a realidade é
mera coincidência. Nomes, lugares e acontecimentos descritos são frutos da
imaginação da autora.
Capa: Mari Sales
Diagramação: Tatiane Souza
Revisão: Tatiane Souza/ Sofia Merkauth

Edição: 1ª

Giovanelli, Tânia
Deixada no Altar/Tânia Giovanelli - São José do Rio Pardo -SP
Tânia Giovanelli, dezembro de 2018.
122 páginas.

1. Literatura Nacional
2.Comédia romântica
Essa é uma história fantasiosa, nenhuma mulher é deixada no altar da
maneira que a personagem será deixada. Todos sabem que um casamento
pode ser cancelado antes do dia, mas aqui foi diferente para que houvesse
uma história. Mesmo que se pareça com a realidade, nada é de fato, real.
Tudo foi fruto da minha imaginação.
Escrevo porque amo e minhas histórias surgem em sonhos ou
simplesmente do nada. Muitos irão gostar, muitos não. Então, peço desde já
aos que não gostarem para que respeitem. Sem ofensas ou comentários
maldosos, apenas parem de ler.
O mundo está cheio de livros com histórias diferentes e cativantes, só
porque você não gosta de algo, não significa que outras pessoas também não
irão gostar. Busque algo que te agrade sem precisar ofender o que não te
agradou.
Agradeço pela compreensão e carinho.
Espero que goste da história, tenha uma boa leitura!
Tatiane Souza, sem palavras para te agradecer, pois entrou em minha
vida de uma maneira diferente. Nos conhecemos no Facebook e logo depois
descobrimos morar na mesma cidade. Hoje posso dizer que somos mais que
amigas, você faz parte da minha família e agradeço por estar sempre ao meu
lado, me motivando em minhas escritas, não permitindo que em algum
momento eu viesse a desistir de tudo. Obrigada por sempre me ajudar e dar
dicas maravilhosas. Você em minha vida é como um anjo e mora em meu
coração.
Mari Sales, obrigada por sempre me ajudar com as imagens e pelo
carinho que me trata, isso me motiva a não desistir. Você é muito especial
para mim.
Leitoras, obrigada por sempre me deixarem feliz, seja com as
avaliações ou com cada mensagem de carinho que me enviam por inbox nas
redes sociais para dizer o quanto gostam das minhas histórias.
Andreia Nascimento, minha leitora beta querida, obrigada por me
acompanhar e sempre mostrar que sou capaz de melhorar, é por você que
sinto uma força enorme para não desistir da escrita.
Rafaela Rodrigues, sem palavras para agradecer você. Está sempre me
animando, me apoiando e me dando forças mesmo quando há pessoas
querendo me derrubar. É uma amiga muito especial e querida.
Queria poder citar o nome de todos que tiveram uma parte
fundamental para que eu não desistisse, mas corro o risco de não lembrar de
todos, então, deixo meus mais sinceros agradecimentos por todo carinho que
me deram e continuam me dando a cada história lançada.
E por último, agradeço meus pais e marido, pela força e incentivo que
sempre me deram. Obrigada por estarem ao meu lado, amo muito vocês!

Sem todos vocês o meu sonho não seria possível.


Quando acordei pela manhã, logo lembrei-me de que não seria um dia
comum. O dia do meu casamento, finalmente, havia chegado. Me sentia nas
nuvens por estar realizando um dos meus maiores sonhos. A ansiedade mal
havia me deixado dormir durante a noite, por várias vezes rolei na cama
pensando no quanto era sortuda.
Finn era um homem maravilho, educado e encantador, qualquer
mulher ficaria de quatro por ele, mas eu fui a escolhida e nossa união iria se
concretizar.
Estava deitada na minha cama, olhando para o teto do meu quarto e
imaginando como seria nossa noite de núpcias, a noite que toda mulher
sonha, ainda mais quando casamos com o homem que amamos tanto.
Conhecia Finn já fazia quatro anos, ele havia sido a melhor coisa que
me aconteceu na vida. Quando pediu minha mão em casamento, fiquei tão
surpresa e emocionada que cheguei a passar mal. Agora, o tão esperado dia
tinha chegado!
— Rubya, você ainda não levantou? — perguntou Kiara, minha irmã
mais nova ao entrar no quarto. — Você esqueceu que tem um dia de noiva
hoje? Vamos, levanta dessa cama preguiçosa.
— Calma, Kiara, ainda é cedo e eu só estou curtindo meus últimos
momentos no meu quarto. Tenho muitas lembranças aqui.
— Eu sei que tem, mas mamãe já está te esperando no carro, você
sabe que ela não tolera atrasos. Vai, veste logo essa roupa. — disse jogando
um vestido sobre mim.
— Ok, vou me trocar, pode me esperar no carro, desço em cinco
minutos.
— Tá certo, mas não fique enrolando. Temos hora marcada —
avisou-me e saiu do quarto.
Peguei o vestido e fui me trocar no banheiro, passei uma água no
rosto para despertar e sai em seguida.
— Como prometi, não demorei nada. — Falei ao entrar no carro.
— Finalmente apareceu, o que estava fazendo filha? — disse minha
mãe ligando o carro.
— Ah dona Daisy, mãezinha linda, só queria ficar um pouco mais no
meu quarto, afinal amanhã vou estar bem longe daqui — sorri ao passar a
mão em seu cabelo.
— Entendo filha, só não precisava bagunçar meu cabelo —
resmungou arrumando as mechas com umas das mãos. Sentiria falta disso
tudo. Nós três sempre fomos muito unidas, só meu pai que era de pouca
conversa.
Enquanto o carro seguia pelas ruas tão conhecidas da minha cidade,
me permitir divagar sobre como seria minha vida depois de casada.—
Chegamos meninas, agora é a hora de ficarmos lindas — disse minha mãe
animada, estacionando o carro em frente ao spa para noivas e madrinhas que
havíamos escolhido.
Descemos do carro e entramos por uma porta de vidro que abriu na
hora. Uma senhora muito simpática e elegante se aproximou de nós.
— Meu Deus, vocês estão atrasadas, temos massagem para fazer,
bronzeamento, banho de sais, unha, cabelo e maquiagem. Vocês sabem que a
hora voa, e seu casamento é as seis horas da tarde. Vamos, vamos logo para a
sala de massagem. Suely e as outras meninas estão esperando vocês. — Dizia
a senhora toda afobada. — Suas toalhas estão aqui, prendam o cabelo em um
coque, deixem suas roupas nesse armário e sejam rápidas — ao terminar de
falar, nos deixou sozinhas e trancou a porta.
— Que mulher agitada.
— Também Rubya, você nos atrasou bastante.
— Desculpa, não fiz por mal Kiara.
— Ainda assim nos atrasou, filha. Vamos logo para a sala de
massagem, se não aquela mulher vai ter um treco. — disse abrindo a porta.
Nosso dia foi assim, ficamos quase uma hora na sala de massagem,
sai dela bem relaxada. Depois fizemos um bronzeamento e uma hora depois
fizemos o banho de sais em uma banheira de hidromassagem. Me sentia uma
princesa toda perfumada. O SPA nos serviu almoço, café da tarde e logo
depois fomos fazer as unhas. Em seguida, nos levaram para fazer o cabelo.
Escolhi um coque solto com cachos caídos, mas o penteado da minha mãe e
da minha irmã não pude ver qual seria, fomos separadas para os preparativos
finais.
Logo depois já estavam me maquiando, isso queria dizer que o
momento tão esperado estava chegando e eu sentia até um desconforto na
barriga de tão ansiosa que estava.
— Rubya, pode abrir os olhos, você está pronta e é a noiva mais linda
que passou por aqui — Paty, uma das cabeleireiras, falou.
— Obrigada — agradeci e me levantei para olhar no espelho, quase
não me reconheci, o meu cabelo ruivo estava perfeito e a maquiagem um
arraso. Me senti muito linda e diferente, não tinha o costume de usar
maquiagem.
— Vamos Rubya, agora é a hora de colocar o vestido. — Avisou
Paty, guiando-me por uma escada enorme, entramos em um quarto todo
espelhado.
Paty, junto de suas funcionárias, me vestiram e quando finalmente
estava pronta, olhei minha imagem refletida nos espelhos e quase não me
reconheci. Estava tudo perfeito, me sentia uma princesa saída de um conto de
fadas. Meu vestido era todo rodado com muitos tules, com um decote canoa,
e nas costas tinha uma renda transparente que fazia o formato de uma rosa.
Era maravilhoso!
— Rubya está na hora! Sua mãe e sua irmã já foram para a igreja, sua
limusine acaba de chegar. Vai, que seu noivo te espera e que Deus abençoe
vocês — sorriu enquanto me ajudava a entrar no carro, agradeci por tudo e
parti. O caminho para igreja me deixou com o coração acelerada, então, abri
o vidro do carro e tentei me distrair olhando o movimento da cidade.
O motorista parou em frente à igreja e ficamos esperando por algum
sinal indicando que eu poderia entrar, mas nada aconteceu. Comecei a ficar
preocupada, pois ninguém tinha ido me dizer o que estava acontecendo.
Então resolvi descer do carro e ir até a porta da igreja para tentar falar com
alguém e saber o que estava errado.
— Rubya o que faz aqui? — perguntou meu pai parecendo surpreso e
nervoso. Mas porque ele agia assim? O que estaria acontecendo?
— Pai, porque está tão nervoso?
— Filha é seu casamento, que pai não ficaria nervoso — Não
acreditei muito no que disse. Ele deveria estar feliz e não nervoso.
— Rubya o que faz aqui? — minha irmã fez a mesma pergunta ao me
ver, isso estava ficando estranho.
— Kiara, você bebeu, estou no meu casamento, já se passaram vinte
minutos, eu preciso entrar. Não quero deixar Finn me esperando no Altar.
— Eu sei que é seu casamento, mas não era para estar aqui ainda.
— Kiara você não me engana, o que está acontecendo?
— Não está acontecendo nada.
— Se é assim, então vou entrar. — Me aproximei do meu pai e peguei
em seu braço. — Pai, vamos entrar.
— O Quê? Não podemos entrar. — Respondeu com uma expressão
triste.
— Porque não? Qual é o problema? Porque não me contam logo o
que está acontecendo? — Falei alterada, já estava ficando muito nervosa com
aquela situação.
— Calma filha, não fique nervosa. — Minha mãe tentou me acalmar,
mas isso apenas serviu para me deixar ainda mais preocupada.
— Mãe, por favor, me conta o que está acontecendo.
— Mãe, eu acho melhor contar logo para ela. — disse minha irmã
— Contar o que? Pelo amor de Deus, me diz logo, por favor.
— Rubya, o Finn não chegou ainda. — Mamãe revelou e percebi em
sua expressão tristeza e mágoa.
— Nossa! É só isso? meu Deus, pensei que alguém tivesse morrido.
Finn deve estar atrasado, me empresta o celular Pai, vou ligar para ele.
Assim que peguei o celular do meu pai, disquei o número do meu
noivo e o esperei atender.
— Finn, cadê você? Porque não chegou ainda?
— Oi meu amor, desculpe, me atrasei um pouco, creio que em dez
minutos estarei aí. Faz o seguinte, entra e me espera no Altar que assim que
eu chegar eu entro. Só para não deixar nossos convidados esperando.
Combinado meu amor?
— Combinado amor, eu vou entrar então. — Respondi me
despedindo e desligando em seguida. — Pai, Finn já está a caminho, só
atrasou um pouco. Me pediu que entrasse para não deixar nossos convidados
esperando. Então vamos entrar?
— Filha, isso não tá certo, temos que esperar o noivo chegar. Ele tem
quem entrar primeiro e você que entra depois.
— Mãe, eu sei que o tradicional é o noivo esperar pela noiva. Só que
não vejo mal nenhum em a noiva esperar pelo noivo. Acho até que ficará
diferente.
— Você quem sabe filha — disse minha mãe um pouco
decepcionada.
Avisei a cerimonialista que eu entraria primeiro, ela me olhou
assustada e questionou sobre o noivo e porque não tinha chegado ainda, então
apenas disse que ele já estava a caminho e que eu iria espera-lo no altar. A
senhora mesmo estranhando minha atitude, preparou para que todos
entrassem. Primeiro foram os pais e padrinhos e por último eu e meu pai.
Quando entrei na igreja, notei que todos me olharam assustados.
Talvez se perguntando cadê o noivo. Foi um cochicho só até eu chegar no
altar. Então resolvi avisar os convidados que Finn já estava a caminho e não
demoraria em chegar, pois até sua mãe e seu pai estavam inquietos sobre o
atraso do filho, mas deixei ciente que estava chegando. A igreja ficou
alvoroçada e um murmurinho se espalhou pela igreja feito pólvora, enquanto
eu esperava por ele.
No entanto, minutos se transformaram em horas e os convidados já
estavam nervosos de tanto esperar por um noivo que não aparecia e eu
comecei a passar mal, pois não conseguia entender porque estava demorando
tanto. Pedi o celular novamente ao meu pai e do altar mesmo comecei a ligar
para meu noivo, mas só dava caixa postal e às vezes fora de serviço.
Já fazia mais ou menos uma hora que eu o esperava no altar, os
convidados já estavam irritados, alguns se levantaram e foram embora.
Quando vi a igreja esvaziando, entrei em pânico e desmaiei.
Acordei sendo carregado pelo padrinho, o melhor amigo do Finn, Joe.
Estava me sentindo tão mal, que não tinha forças para falar. Minhas mãos
estavam geladas e suavam, meu coração palpitava e gotas de suor brotavam
na minha testa.
Senti meu corpo ser colocado sobre o estofado de um carro e podia
ouvir ao longe meus pais gritando e meus sogros chorando.
Foi então que me dei conta... Finn tinha me deixado no altar, ele me
abandonou. Na mesma hora senti meu coração se quebrar e uma dor horrível
tomou conta do meu peito. Sem conseguir me controlar comecei a chorar
desesperadamente.
— Rubya, sinto muito por isso, nunca imaginei que Finn teria essa atitude,
ele é tão apaixonado por você que não dá para acreditar que te deixou
plantada. Vou te levar para a casa, você vai ficar bem? — perguntou Joe me
ouvindo chorar.
— Joe, não quero ir pra casa, me leva para qualquer lugar, menos para
lá. — Solucei, eu não queria chegar nesse estado na minha casa. Meus pais e
minha irmã já estavam nervosos de mais para me verem assim.
— Você está com fome?
— Sim, estou com muita fome. — Respondi ainda chorando.
— Vou te levar para um lugar legal e que nunca está lotado. Ninguém
vai se importar de ver uma noiva tão linda comendo ali.
— Você me acha linda?
— Sim, sempre falei para o Finn que ele era um cara de sorte. —
Ofereceu um lenço e logo em seguida notei que pegou a estrada.
— Joe, você acha que o Finn fez de propósito?
— Rubya, jamais ele faria isso com você de propósito.
— Eu também sinto isso, acho que devemos ir à polícia, pois pode ter
acontecido alguma coisa com ele. Falei com ele antes de entrar na igreja e
disse que estava a caminho. Meu Deus, ele pode ter sofrido um acidente. —
Chorei mais ainda só de pensar nessa hipótese.
— Calma Rubya, vamos esperar até amanhã e aí se ele não aparecer,
vamos a polícia e aos hospitais. Vamos achar ele, dou minha palavra. —
Estacionou o carro em frente a um restaurante de estrada, bem afastado da
cidade.
— Joe, você sempre foi um bom amigo. — falei assim que ele abriu a
porta para eu descer.
— Gosto muito de vocês e conheço Finn quase a minha vida toda, o
tenho como um irmão. — Disse abrindo a porta do restaurante para mim.
O lugar até que não era tão ruim assim, parecia novo, inaugurado há
pouco tempo. Talvez por isso não fosse tão frequentado.
Poços de Caldas é uma cidade linda, nasci e cresci aqui. O turismo
nessa cidade é fantástico, tem vários lugares para passear e muitas opções
para se comer bem. Sempre passei por essa estrada que fica entre poços e
Águas da Prata, mas nunca havia visto esse restaurante, deveria ser novo.
— Vamos sentar naquela mesa no fundo — Joe apontou o lugar, mas
notei que a meia dúzia de pessoas que se encontravam ali, me olhavam de um
jeito estranho, mas não me importei, estava arrasada de mais para me
importar com os olhares curiosos. Uma mocinha muito simpática e
sorridente, nos levou o cardápio.
— Joe, você trouxe o celular? Preciso avisar meus pais que estou
bem, para não deixá-los mais preocupados — falei olhando o cardápio. Pedi
à garçonete uma bebida que tinha um nome diferente, mas não pedi nada para
comer, pois apesar da fome, com a tristeza que estava sentindo, não
conseguiria comer nada. Joe apenas pediu uma cerveja.
— Sim! Pode usar. — Me entregou seu celular. Então liguei para
meus pais, disse que estava bem, que Joe estava comigo e que logo estaria em
casa. Eles agradeceram por eu ter avisado e em seguida desliguei.
— Prontinho, já avisei meus pais. Obrigada — agradeci entregando o
celular a ele no momento em que nossas bebidas chegaram. Estava tão
nervosa com o sumiço do Finn que virei o copo de uma vez e pedi outro.
— Rubya, vai com calma aí, sei que não está acostumada a beber
muito e você está sem comer nada até agora — disse Joe, parecendo
preocupado.
— Joe, por favor, me deixe beber. Fui abandonada no altar, eu preciso
disso. — Minha vontade era afogar a decepção em um porre.
— Rubya eu sei que precisa, só que eu dei minha palavra, nós vamos
achar ele amanhã. Vou pedir uns dias de folga no jornal e prometo que vou
ficar a sua disposição para achá-lo, mas para isso você precisa estar bem.
— Joe, você entende que hoje era para ser o dia mais especial da
minha vida? Eu iria me casar com o homem que amo, mas ao invés disso, fui
abandonada e estou aqui em um restaurante de beira de estrada que, por mais
que seja muito aconchegante, não era para eu estar aqui, e sim na minha festa
de casamento. Sinceramente, não dá para ficar bem, eu não estou bem, estou
arrasada. Com mil coisas passando pela minha cabeça. Então — olhei para a
garçonete parada ao lado da nossa mesa. — Moça, por favor, traz outra
bebida igual a essa?
— Pelo menos pede algo para comer, assim não vai passar mal. —
Disse bebendo seu último gole de cerveja, ele ainda estava no primeiro copo,
eu estava indo para o meu quarto. De repente, uma música que eu amo
começou a tocar, pois o restaurante também tinha som ao vivo.
— Quero dançar — Tentei me levantar da cadeira, mas o vestido de
noiva tinha tantos saiotes e tules que eu me enrosquei neles e quase caí no
chão. Se não fosse pelo Joe, tinha me esborrachado ali. Estava com muita
dificuldade em me manter em pé, me sentia tonta de mais. Então agarrei no
pescoço de Joe e praticamente o arrastei comigo.
Tonta do jeito que estava, os sapatos altos em nada ajudavam a
manter o equilíbrio e para piorar, os saiotes do vestido embolando nas minhas
pernas foi demais. Ali mesmo na pista, sapatos para um lado e saiotes para
outro e continuei dançando agarrada ao pescoço de Joe. Só que a música
agitada acabou e uma música lenta, que me fez lembrar do Finn, começou a
tocar e eu caí em um choro intenso.
— Joe, cadê meu Finn? — chorava enquanto chamava por ele. —
Finn cadê você? Você viu meu Finn? — perguntei para um senhor que estava
no balcão e ele apenas negava com a cabeça. E assim fui perguntando para
todos que estavam ali. — Porque ninguém me diz onde ele está? — gritei
caindo sentada no chão e com a mão enterrada no rosto, chorei igual a uma
criança, quando cai e ralei o joelho. Lágrimas escorriam pelo meu rosto
desfazendo toda a maquiagem que foi feita com tanto esmero. Sentada
naquele chão, descalça, cabelos bagunçados, maquiagem toda borrada e o
vestido que, antes era de noiva, agora mais parecia uma fantasia de carnaval,
eu não era mais uma princesa...
— Ela está bem? Acho que precisa de ajuda?
— O que aconteceu com essa pobrezinha? — diziam as pessoas à
minha volta, mas não pude responder ninguém.
— Vem Rubya, já paguei a conta, vou te levar pra casa. — Joe me
pegou no colo e me tirou do meio daquele povo, que me olhavam com
compaixão e pesar escrito nos olhos. É obvio que eles sabiam que eu havia
sido abandonada no altar.
— Eu não posso ir pra casa assim — falei com um pouco dificuldade,
por causa do porre que tomei e de tanto chorar.
— Vamos, vou te levar para um hotel e amanhã quando estiver bem,
te levo pra casa. — Me colocou no carro, logo em seguida passou o cinto de
segurança em mim. — Rubya, eu falei para você maneira na bebida, já que
não está acostumada, mas é teimosa demais. — Joe falou ligando o carro.
— Eu estou bem... só queria que o Finn estivesse aqui. — falei muito
mole e me sentindo enjoada. — Para o carro, estou passando mal. —gritei
abrindo a porta fazendo ele brecar de repente, quase caí para fora, mas
quando ele finalmente parou, corri para beira da calçada e coloquei tudo pra
fora. Joe saiu feito um louco de dentro do carro e veio atrás de mim. Talvez
queria ter certeza que estava bem. Sem dar muita atenção a ele voltei para o
carro me sentindo fraca e entrou em seguida.
— Rubya, pelo amor de Deus, nunca mais abra a porta sem esperar eu
parar o carro, você podia ter se machucado. — disse muito assustado ao
entrar no carro.
— Desculpa, eu não consegui segurar, não queria sujar seu carro. —
Expliquei deitando a cabeça para trás no banco e fechei os olhos em seguida,
tudo parecia girar e por alguns segundos ficamos em silêncio.
— Chegamos no hotel — comunicou estacionando o carro. — Vou te
ajudar a descer, espera. — Caminhou em minha direção quando percebeu que
eu estava passando mal novamente.
— Quero vomitar — coloquei a mão na boca, mas em seguida, tudo
que estava rodando em meu estômago saiu ali mesmo no estacionamento.
Logo depois, ele me pegou no colo e me levou para dentro do hotel. O
recepcionista achando que éramos um casal recém-casado nos deu a chave do
quarto nupcial. Joe nem questionou, e eu estava muito mal para falar
qualquer coisa, apenas pagou o quarto, pegou a chave e entramos no
elevador.
Quando finalmente chegamos no quarto, ele me colocou no chão e eu
corri feito louca para o banheiro e mais uma vez passei mal e ao mesmo
tempo que eu colocava tudo para fora, eu chorava em pensar que fui deixada
no altar por quem eu mais amava.
— Rubya, levanta desse chão, vou te ajudar a tirar esse vestido e vai
tomar um banho frio para dar uma despertada, está parecendo um trapo. —
Joe tentou me fazer parar em pé, só que no mesmo instante o celular dele
tocou e me colocou sentada no vaso para atender.
— Oi Naty. — Estou com ela sim, mas Rubya tomou um porre e está
passando muito mal. — Me delatou para minha melhor amiga. — Não, não
precisa, eu vou cuidar dela. Só diz aos pais dela que ela vai dormir com você.
— Respirou fundo e prosseguiu: — Tenho sim, obrigada por fazer isso para
mim. Rubya não pode voltar para a casa nesse estado. Obrigada por entender.
Tchau, tenha uma boa noite.
Após desligar o celular, olhou em minha direção e sorriu de canto.
— Naty te mandou um beijo e disse que sente muito pelo o que
aconteceu. Ela queria vir cuidar de você, mas eu disse que não precisava, pedi
que avisasse seus pais que você vai dormir com ela, ok?
— Ok — confirmei com uma voz fraca.
Joe se aproximou novamente e tentou me colocar em pé, me apoiando
no seu corpo para conseguiu tirar meu vestido. Sem tirar minha lingerie, me
colocou debaixo do chuveiro, a água estava tão gelada que me fez gritar de
susto.
— Joe, tá muito gelada, eu não quero tomar banho nessa água. —
Gritei saindo de baixo do chuveiro, ele me pegou novamente no colo e me
colocou de baixo daquela água horrível e me deu um banho rápido. Confesso
que me senti um pouco melhor e acabei acostumando com a água.
— Vou pegar o roupão, não saia daí – disse ao sair, mas logo voltou
trazendo o roupão me ajudou a me secar com a toalha, pediu que eu tirasse a
lingerie depois que eu já estivesse com o roupão. Quando terminei, ouvi
minha barriga roncar.
— Já pedi ovos mexidos com torradas e um café bem forte para você,
logo estarão trazendo. — disse secando meu cabelo com o secador que tinha
no quarto.
— Obrigada por cuidar tão bem de mim Joe, mas eu preciso deitar um
pouco, estou com muita dor de cabeça. — Agradeci me levantando da
beirada da cama, indo me deitar.
— Espera um pouco, você precisar comer. Ficar de barriga vazia só
vai piorar seu estado. Depois toma alguma coisa para dor de cabeça e enjoo.
— Quando terminou de falar, bateram na porta.
Estava quase pegando no sono, quando Joe voltou com uma
bandeja nas mãos e fez me sentar para comer. Comi com o estômago
revirando, mas eu estava com muita fome. Depois tomei os remédios que ele
me indicou, deitei novamente e adormeci rapidamente.
Acordei assustada com o barulho de uma porta batendo, levantei-me
correndo da cama para verificar quem era e vi que era apenas o Joe
trazendo uma bandeja nas mãos.
— Bom dia, como se sente hoje? — perguntou colocando a bandeja
em uma mesinha que tinha no canto do quarto.
— Com dor de cabeça e com uma tristeza enorme no coração. Joe me
diz que foi tudo um sonho, não consigo acreditar que fui deixada no altar,
fiquei plantada por uma hora esperando-o — falei com as lágrimas descendo
pelo rosto.
— Não fica assim, vamos tomar café e vou te levar em casa, depois
passo no jornal e aviso que estarei ausente por alguns dias. Depois vou para
minha casa tomar um banho e trocar de roupa e passo na sua casa para irmos
à polícia e nos hospitais. Vamos encontrar o Finn, tenho certeza — sentou-se
à mesa e eu fiz o mesmo. Tomamos o café em silêncio, eu não estava nem
um pouco a fim de conversar. A tristeza e a decepção me corroíam por
dentro.
Logo depois do café, estávamos prontos para sairmos do hotel. Joe me
deixou em casa, conforme combinamos e eu entrei tentando não fazer muito
barulho, era sete horas da manhã e não queria acordar minha família.
Assim que entrei em meu quarto, me joguei na cama aos prantos,
parecia que eu estava vivendo um grande pesadelo. De repente, minha irmã
entrou parecendo um furacão e veio me abraçar. Kiara tinha apenas dezenove
anos, era quatro anos mais nova que eu, só que tinha um jeito diferente de eu
lidar com a tristeza. Enquanto me afogava em lágrimas quando algo de ruim
acontecia, Kiara procurava se ocupar, assistia a um filme, lia um livro e
muitas vezes saía para baladas com os amigos. Ela era bem mais forte que eu
nesse sentido, pois eu mal saía do quarto e passava dias chorando sem comer
nada.
— Calma Rubya, não fique assim, nós acreditamos que algo deve ter
acontecido, já que Finn sempre mostrou ser muito apaixonado por você —
Tentou me acalmar enquanto me abraçava.
— Também acredito nisso, por isso vou tomar um banho, tirar esse
vestido de noiva, vou a polícia e nos hospitais procurar por ele. Joe vai
comigo. — Limpei minhas lágrimas com a mão.
— É uma ótima ideia, se eu não tivesse provas na faculdade para
estudar, eu iria junto com vocês.
— Tudo bem Kiara, você precisa mesmo se dedicar aos estudos. Fica
tranquila, Joe vai estar comigo.
— Espero que dê tudo certo e você o encontre. — Assim que
terminou de falar o meu celular que estava na minha mala começou a tocar.
Com muita tristeza, pois as malas estavam prontas para minha lua de mel, eu
a abri e atendi vendo no visor que era a Naty quem me ligava.
— Oi Naty...
— Oi amiga, como você está?
— Estou arrasada Naty.
— Sei que está, Joe me contou como foi sua noite, até me ofereci para
ficar com você e te ajudar, mas ele achou melhor eu dizer ao seus pais que
passou a noite comigo.
— Ele disse mesmo que você ligou, foi melhor você ter feito isso ou
meus pais ficariam muito preocupados comigo.
— Eles estavam mesmo, mas depois que falei com sua mãe, eles
ficaram mais calmos. Dona Daisy é uma graça, tem um coração tão puro que
nem percebeu que eu mentia. Já seu Júlio, ficou um pouco desconfiado, quis
até falar comigo, me encheu de perguntas. Seu pai é uma figura.
— Ele é sim, que bom que no fim deu tudo certo.
— Deu sim. Então me conta, o que vai fazer a respeito do Finn?
— Joe vai me levar à polícia e nos hospitais, vamos procurar por ele.
— Que ótimo, Joe é muito legal né?
— Ele é sim, é um amigo muito querido, está me dando muita força e
apoio.
— Se não fosse meu trabalho, eu iria com vocês, mas vou torcer e
rezar para que o encontre.
— Obrigada amiga, sei que não pode faltar no trabalho. Tive muita
sorte, meu pai me deu dois meses de férias na farmácia, colocou outra pessoa
no meu lugar até minhas férias terminarem. Vou poder procurar Finn sem me
preocupar com isso.
— Sorte sua que seu chefe é seu pai. Boa sorte, e me avisa se tiver
qualquer notícia dele, ok? — mandou um beijo e desligou.
— Você não dormiu na casa da Naty, né? Onde passou a noite então?
— Perguntou minha irmã que estava sentada na minha cama, me esperando
sair do celular.
— Kiara, pelo amor de Deus, fala baixo. Eu passei a noite em um
hotel, tomei um porre bravo e passei muito mal, não queria que nossos pais
me vissem naquele estado, então pedi a Naty que mentisse para eles. —
Respondi quanto tirava o vestido de noiva e pegava outra roupa para tomar
um banho.
— Não vou contar nada a eles, mas nosso pai desconfiou que tinha
algo errado.
— Obrigada por guardar esse segredo, nosso pai sempre desconfia de
tudo — falei entrando no banheiro.
— Isso é verdade. Bom, vou te deixar tomar seu banho e vou preparar
o café — respondeu saindo do quarto.
— Kiara sua irmã chegou? — ouvi minha mãe perguntando da porta
do meu quarto.
— Sim mãe, ela está tomando banho.
— Rubya, como você está? — minha mãe gritou da porta do
banheiro.
— Mãe, assim que eu terminar meu banho conversamos.
— Tudo bem filha, te espero na cozinha. — falou saindo do quarto
trancando a porta.
Tomei um banho rápido e me arrumei em seguida. Encontrei meus
pais na mesa do café me esperando e me encheram de perguntas, estavam
muito preocupados com tudo o que aconteceu comigo.
Também estavam preocupados com Finn, tinham certeza que algo
havia acontecido com ele. Então, os tranquilizei dizendo que já estava indo
atrás dele, procuraria pelo Finn em todos os lugares possíveis e comuniquei
que já estava de saída, quando ouvi a buzina do carro do Joe.
Avisei meus pais que não tinha hora para chegar, mas que ligaria
avisando se o encontrasse. Me despedi e saí indo direto para o carro de Joe.
— Como você está? — perguntou Joe assim que entrei no carro.
— Estou nervosa e muito preocupada, com muito medo de descobrir
que algo ruim aconteceu com ele.
— Mantenha a calma, nós vamos encontrá-lo e tenho certeza que ele
está bem — ligou o carro.
Nosso dia foi assim. Fomos à polícia e nenhuma informação tivemos
sobre ele, almoçamos em um restaurante e logo depois fomos procurá-lo nos
hospitais e ninguém sabia nada sobre ele. Já estava ficando desesperada, até
parecia que meu noivo havia sumido como passe num de mágica. Liguei
milhares de vezes no seu celular e a operadora dizia que o número não
existia. De repente, me lembrei da nossa lua de mel, nós iriamos para a
Espanha conhecer as cidades, pois sempre foi meu sonho ir para lá.
Reservamos um hotel maravilhoso indicado pelo atendente da agencia de
turismo onde fechamos o pacote.
— Joe precisamos ir na agência de turismo cancelar minha viagem de
lua de mel e preciso verificar se me devolvem o dinheiro.
— Que bom que se lembrou disso, mas o voo não sairia às dez da
manhã de hoje? — Olhou-me atento.
— Sim, já saiu, agora são quatro horas da tarde.
— Será que vão devolver o dinheiro?
— Não sei, Joe, mas não custa tentar.
— Bom, então vamos — disse indo direto para lá, estacionou o carro
em uma vaga em frente à agência e descemos. Entramos e fui conversar com
a atendente.
— Boa tarde Rubya, em que posso ajudar? — Perguntou a mocinha,
que nunca guardo o nome, e já tinha ido ali tantas vezes com Finn e era
sempre a mesma coisa, nunca me lembrava o nome dela.
— Vim cancelar minha viagem.
— Vou olhar no cadastro e ver para que dia é sua viagem e assim
podemos cancelar — verificou em seu computador — É Rubya Miller e Finn
Moraes? — perguntou me olhando assustada.
— Sim, é sim. Algum problema?
— Sim, a viagem foi hoje às dez horas, e consta aqui uma
confirmação na viagem, porém o horário do embarque foi trocado para ontem
às 18h20 da tarde e o mais estranho ainda é que não dá para saber quem
viajou, mas você com certeza não foi. Seu noivo deve ter ido sozinho, mas
não tenho certeza, não consta o nome dele aqui.
Como isso foi acontecer? Será que meu noivo não apareceu na igreja
de propósito? E porque viajaria sem avisar ninguém, e quase no mesmo
horário do casamento? Afinal, o que estava acontecendo? Nunca pensei que
um dia eu fosse passar por isso, nunca sequer passou pela minha cabeça que
Finn me abandonaria no dia do nosso casamento.
— Você está bem, Rubya? — perguntou a mocinha me olhando
assustada, pois fiquei parada feito estátua tentando assimilar tudo o que
tinha ouvido.
— Eu estou.... Meu Deus, isso quer dizer que não posso cancelar, mas
ainda há uma passagem livre — falei, finalmente, conseguindo responder e
sair do choque em que estava percebendo que Finn preferiu viajar sem mim.
— Sim, não tem como cancelar, mas você ainda pode viajar, só que
terá que ser outro dia ou em outro horário.
— Me dê um minuto por favor — pedi. — Joe, eu preciso fazer essa
viagem, mas não quero ir sozinha, você vem comigo? Preciso descobrir
porque Finn viajou sozinho — expliquei baixinho.
— Vou com você Rubya, não vou te deixar sozinha em uma hora
como essa. Só precisamos ver a disponibilidade de uma passagem para mim.
— respondeu me deixando feliz.
— Desculpa, não consigo guardar seu nome. — Olhei para a mocinha
pedindo desculpas.
— Meu nome é Renata.
— Renata, você tem algum horário para hoje?
— Sim, às 22h00 sai um voo para Espanha, mas não para a mesma
cidade Barcelona que você escolheu, no entanto fica próximo, é em
Tarragona
— Ta ótimo, reserva para mim. Você consegue reservar também uma
passagem para ele?
— Só um minuto vou verificar se ainda há assentos disponíveis para o
mesmo voo— disse consultando no site da companhia aérea. — Você está
com seus documentos aí? — perguntou olhando para o Joe.
— Sim, estão aqui — respondeu Joe entregando os documentos a ela.
— Ainda tem lugar disponível no mesmo voo. Posso fazer a reserva?
— É claro! — Respondi antes mesmo de Joe pensar em responder.
— Pode me passar o cartão de credito, por favor? — Solicitou Renata.
— Está confirmada a reserva, só fazer o check in quando chegarem ao
aeroporto ou pela internet. Aqui estão seus documentos e o cartão de credito.
Tenham uma boa viagem.
Enquanto nos despedíamos de Renata e saíamos da agencia, Joe se
virou para mim.
— Você está preparada para descobrir porque seu noivo não apareceu
na igreja e ainda viajou sozinho? — perguntou Joe entrando no carro.
— Sim, estou. Preciso descobrir o porquê de ele ter me abandonado.
Então vamos embora, pois já são cinco horas da tarde e preciso avisar minha
família que vou viajar.
— E eu preciso fazer minha mala — Disse ele ligando o carro.

Algumas horas depois, já estava me despedindo da


minha família. Meus pais não gostaram muito da ideia, mas também não me
impediram de ir atrás do meu noivo. Minha irmã me desejou boa sorte e Naty
ficou louca para viajar comigo, só que por causa do seu trabalho, ela não
podia ir, mas disse que queria que eu a deixasse informada das novidades.
Logo depois, Joe e eu já estávamos a caminho do aeroporto.
Meu coração estava aos pulos e meu estômago revirando, eu estava
muito nervosa, mil coisas passavam pela minha cabeça. Será que Finn
conheceu outra mulher e resolveu fugir com ela? Entretanto, não sei se Finn
seria capaz disso, eu fui a única mulher que ele namorou e parecia tão louco
por mim.
Encostei minha cabeça no vidro do carro e deixei as lagrimas
escorrerem pelo meu rosto, meu coração estava triste de mais. Fiquei o
caminho todo em silêncio, observando o movimento da cidade. Eu adorava
Poços de Caldas, mas guardava tantas lembranças boas que só de pensar
sentia um nó na boca do estômago, pois desfrutei cada lugar lindo dessa
cidade com o meu noivo, tenho muitas fotos e vídeos. Como tudo isso, de um
dia para o outro, podia acabar?
— Você está bem? Quer mesmo seguir em frente com essa viagem?
Ainda dá tempo de voltar atrás.
— Quero seguir em frente, preciso descobrir porque fui abandonada.
— Tudo bem, estou com você no que precisar. — disse ao estacionar
o carro no aeroporto. — Chegamos, não sei o que vai descobrir com essa
viagem, mas quero que saiba que estarei o tempo todo ao seu lado. — falou
segurando minha mão de uma maneira muito carinhosa e isso até acalmou
meu coração.
— Obrigada, não sei o que eu faria sem você — agradeci descendo do
carro e fui ajudá-lo a pegar as malas e em seguida entramos no aeroporto.
O voo foi tranquilo, dormi quase a viagem toda. Com toda a confusão
e o stress causado no meu não casamento, não consegui relaxar o suficiente
para conseguir descansar. Joe alugou um carro assim que saímos do
aeroporto e com o GPS ligado partimos para nosso hotel conversando sobre a
paisagem e sem tocar no assunto que nos levou até ali. Achei melhor assim,
esquecer um pouco, com certeza me faria bem.
— Chegamos — avisou notando que eu estava com os pensamentos
longe.
— Nossa, estava tão distraída que nem percebi que estacionou. —
falei olhando para o lindo hotel que paramos em frente.
— Percebi mesmo — respondeu indo tirar a mala do carro.
— Joe, que hotel lindo! — admirei sem tirar os olhos da fachada, pois
era um amarelo bem clarinho, com sacadas nas janelas. O lugar era
encantador.
— Também achei lindo. Vamos entrar — disse, me entregando a mala
menor.
— Buenas tardes. — Cumprimentou uma mocinha muito simpática
da recepção ao nos ver entrar.
— Buenas tardes. — Respondemos juntos. — usted habla
portugués? — perguntei em espanhol. Eu e Finn fizemos umas aulas básicas
de Espanhol para passar nossa lua de mel.
— Sim, claro que falo — nos olhou com um sorriso carinhoso. —
Vocês têm reservas?
— Sim, temos sim. Está no nome de Rubya Miller e Joe kuzuhara. —
Respondi informando o nome da agência que fez as reservas. — Solo un
minuto — Verificou no computador e demorou um pouco para confirmar
nossa reserva.
— Só tem um problema, temos apenas um quarto de casal
desocupado. Tudo bem para vocês? — perguntou digitando no teclado.
— Mas reservamos dois — falei indignada.
— Sim, eu sei, só que na hora da reserva alguém fez confusão, pois só
tinha um quarto de casal sobrando, o outro já estava reservado para outra
pessoa, mas o recepcionista que estava antes de mim esqueceu de marcar a
reserva dessa outra pessoa, fazendo assim pensar que haviam dois quartos.
Esse rapaz foi até despedido por causa do transtorno que nos causou. —
explicou.
— Sendo assim, não me importo. Tudo bem para você, Joe? —
perguntei olhando para ele um pouco sem graça com a situação.
— Por mim, tudo bem —sorriu sem jeito ao passar a mão em seus
cabelos.
Então, assinamos alguns papéis e ela nos entregou o cartão do quarto
avisando sobre o wi-fi gratuito, os horários do café da manhã e da tarde, do
horário do funcionamento da piscina, da biblioteca e do ponto turístico
próximo ao hotel, o Lago Banyoles. Agradecemos por tudo e subimos para
nosso quarto de elevador, ficava no quarto andar, número quarenta e cinco.
Só que ao entrar no quarto e ver aquele lugar lindo e aconchegante,
uma angústia tomou conta de mim, e mais uma vez não consegui controlar as
lágrimas.
— Calma Rubya, nós vamos encontrá-lo — Joe tentou me acalmar sentando
do meu lado na cama.
— Joe, você nunca parou para pensar, que talvez o Finn não queira
ser encontrado, por isso desapareceu assim? — resmunguei chorando com o
coração despedaçado.
— Já pensei nisso, mas acho que você merece uma explicação. Sou
amigo dele desde a infância, nunca na minha vida vi Finn agir como um
idiota, essa é a primeira vez. Você não merecia isso, por esse motivo tem que
exigir uma explicação.
— Você tem razão, eu mereço uma explicação, mesmo que o motivo
seja ele ter conhecido outra mulher. Eu mereço saber a verdade — falei
limpado as lágrimas. — Joe, vou tomar um banho para dar uma relaxada, a
viagem foi cansativa. Você se importa?
— Claro que não, vai lá que eu vou pedir algo para comermos.
— Obrigada, estou mesmo com muita fome — agradeci entrando no
banheiro com uma troca de roupa.
Preparei a banheira com sais de banho para relaxar e aguardei por
alguns minutos que ela enchesse, logo após eu estava deitada, totalmente à
vontade e com os pensamentos a mil. Foi então que vários momentos
inesquecíveis com o Finn passaram pela minha cabeça. Sei que quatro anos é
pouco tempo para um conhecer o outro, mas a sensação que eu sempre tive
era que o conhecia a minha vida toda.
Finn me conhecia tanto que sabia quando eu não estava bem, só pelo
meu sorriso torto e sem graça, como ele sempre dizia, meu sorriso e meu
olhar não escondiam nada dele. Como isso foi acontecer? No fundo do meu
coração não conseguia acreditar que ele pudesse ter outra mulher. E pensando
nisso, não consegui controlar as lágrimas que desciam pelo meu rosto.
Parecia que eu estava vivendo um pesadelo. É difícil acreditar que uma
história como a nossa pudesse ter esse fim.
— Está tudo bem aí? A nossa comida já chegou — avisou Joe
gritando da porta do banheiro.
— Está sim, eu já vou sair — gritei de volta e sai da banheira.
Nem percebi que demorei tanto no banho. Limpei minhas lágrimas e
fui me secar. Tentei manter a calma e não ficar chorando feito manteiga
derretida.
— Desculpa, nem vi a hora passar — me desculpei ao sair do
banheiro.
— Tudo bem, você precisava mesmo dar uma relaxada. Já coloquei
tudo na mesa, vou tomar um banho rápido e volto para comer. Fique à
vontade — disse pegando sua roupa na mala.
— Vou te esperar para comer.
— Não precisa.
— Eu faço questão.
— Ok, prometo que não vou demorar — entrou no banheiro.
Joe sempre foi um bom amigo, mas nunca vi ele namorando sério
com ninguém. Finn sempre dizia que ele era um verdadeiro galinha, ficava
com todas as mulheres que passavam por seu caminho, não importava a
idade, disse que até com coroa Joe já ficou, mas que nunca na vida viu ele
apaixonado por alguém. Joe é um rapaz muito bonito, não faz meu tipo de
homem, nunca gostei de Coreano, só que ele chama atenção da mulherada.
Seus pais são coreanos e vieram para o Brasil para construir uma nova
vida, Joe nasceu aqui e pelo que o Finn dizia ele sempre foi o centro das
atenções, típico filhinho do papai. Entretanto, Joe sempre gostou de trabalhar,
é mimado como o Finn dizia, mas sempre foi responsável. Só nunca levou
ninguém a sério.
— Pronto agora podemos comer — disse, saindo do banheiro com seu
cabelo molhado e bagunçado, vestindo uma bermuda e uma regata, estava
bem à vontade.
— Você foi mesmo rápido no banho — falei assim que ele se sentou
à mesa, ficando de frente para mim.
— Com a fome que estou, eu tinha que ser rápido mesmo — serviu-
se de uma salada diferente.
— O que é isso, Joe? — perguntei me servindo um pouco daquela
salada. Bom, pelo menos parecia uma salada.
— A atendente com quem conversei disse que é marangollo, uma
salada de pepino, cebola, batata e ovos mexidos. Se come com essas torradas
que vieram junto e ainda nos indicaram um bom vinho para acompanhar —
explicou colocando um pouco de salada na sua torrada e em seguida comeu,
fazendo uma cara de quem estava gostado. — Delicioso, tá aprovado, acho
que vai gostar — me serviu o vinho e colocou em sua taça em seguida.
Ficamos ali nos deliciando da comida espanhola. Era bem diferente
da nossa, mas o tempero era fantástico e forte. Eu e o Finn fizemos planos de
conhecer essa culinária, prometemos experimentar um pouquinho de tudo.
Finn é apaixonado por culinária, sempre dizia que um dia abriria seu próprio
restaurante. Hoje estou aqui sozinha e experimentando pela primeira vez essa
comida.
— Rubya, vai com calma com esse vinho, já tomou quatro taças —
me repreendeu tirando a quinta taça da minha mão, eu já estava bem tonta.
Logo após ter tirado, me deu um ataque de riso, mas segundos depois já
estava chorando como uma criança. Esse era o efeito que o vinho causava em
mim.
Joe observando a cena deprimente, apenas se aproximou e me pegou
no colo, caminhou para o banheiro sem dizer nada. Logo depois me sentou na
tampa do vaso e ligou o chuveiro. Pediu licença e tirou meu vestido me
deixando apenas de calcinha e sutiã, enquanto ele fazia isso eu continuava
chorando.
De repente, minha mente conturbada por causa do efeito do vinho,
imaginou Finn bem na minha frente e no impulso eu o beijei. No começo ele
relutou para não me beijar, me empurrou algumas vezes, mas a imagem do
Finn na minha frente era tão nítida, que ele até sorria para mim, novamente
sem pensar em nada eu o beijei. Dessa vez ele respondeu ao beijo, só que
bastou eu sussurrar o nome do Finn, para ele me empurrar mais uma vez. Foi
então que eu consegui recobrar a consciência, já que como mágica meu noivo
sumiu, me fazendo notar que minha imaginação me pregou uma peça e por
isso acabei beijando meu amigo.
— Desculpe Joe, eu não tinha intenção de fazer isso. Me perdoa, por
um momento pensei que tivesse visto ele. Agi por impulso. Você me perdoa?
— Claro que sim, você está bêbada, prometo que a partir de agora
nada de vinho — disse um pouco sem graça me ajudando a entrar debaixo do
chuveiro. — Vou sair e te deixar a vontade, qualquer coisa é só dar um grito,
vou estar aqui do lado.
— Obrigada por cuidar de mim. — Agradeci vendo-o se encaminhar
para sair do banheiro, mas parou na porta me dando um sorriso e sem dizer
nada saiu fechando-a em seguida.
Tomei um banho quase gelado que ajudou a me sentir melhor e no
mesmo instante senti um peso na consciência por ter beijado Joe. Não deveria
ter feito isso.
Eu já estava de roupão quando resolvi olhar pela janela do
banheiro, só para olhar o local, foi então que eu notei que já tinha escurecido.
Não fazia ideia da hora que era, chegamos no hotel às cinco horas da tarde.
Sai do banheiro e Joe estava deitando na cama mexendo em seu
notebook, peguei meu vestido e fui me vestir no banheiro.
— Joe, você sabe a hora que é? Meu celular descarregou a bateria,
vou colocar para carregar, preciso avisar minha família que chegamos bem —
perguntei ao sair do banheiro.
— São oito horas da noite, nem vimos a hora passar. O que acha de
darmos uma volta para conhecer a cidade? — Guardou seu notebook.
— Não me sinto muito bem para sair, estou afim de dormir, a
viagem foi muito cansativa. Vai você e se divirta — me joguei naquela cama
e em seguida peguei o controle para ligar a TV.
— Que graça tem sair sozinho, não vou te deixar sozinha se você não
está bem — deitou do meu lado.
— Joe, vai se divertir, eu só estou com um pouco de dor de cabeça.
Você nunca precisou de ninguém para sair, sempre se divertiu sozinho. Então
vá e me deixe descansar, amanhã vamos atrás do Finn. Aproveite e traz uma
Tortilla de batata com queijo para mim, sempre tive vontade de comer um
desse.
— Já que insiste, notei que tem uma discoteca aqui no hotel, vou dar
um chego lá. Prometo que não vou demorar e trago sua Tortilla. Amanhã
vamos conhecer a cidade depois de procurarmos o fujão do seu noivo —
disse mexendo em sua mala, logo após foi para o banheiro, não demorou
muito e saiu todo arrumando e perfumado, me deu um beijo na testa e saiu
dizendo que não iria demorar.
Levantei da cama e peguei os minis churros que estavam guardados
no microondas que tinha no quarto e comendo voltei para a cama. Procurei
por um filme, porém, não encontrei nada de interessante, então deixei em um
canal de música.
Terminei de comer, fui fazer minha higiene e logo depois eu já
estava na cama. Fiquei ali ouvindo as músicas e tentando não pensar em
nada, eu não queria acabar chorando mais uma vez e assim acabei
adormecendo.
Acordei com uma conversação na porta do quarto, parecia até que
tinha alguém encostado nela com uma mulher, a porta fazia até barulho. Eles
resmungavam baixinho, e não consegui reconhecer a voz.
De repente, a mulher falou um pouco mais alto e conversava em Espanhol, só
que mesmo assim consegui ouvir o nome que ela disse, tenho certeza que
pronunciou Joe. Os sussurros e gemidos continuavam e foi então que eu
reconheci a voz do Joe. Então era ele mesmo que estava na maior pegação
com uma garota na porta do quarto. Em seguida ouvi ele se despedindo e
logo entrou.
Fingi que estava dormindo e ele foi direto para o banheiro, pelo
barulho do chuveiro estava tomando um banho. Entretanto, não demorou
muito, estava se deitando ao meu lado na cama por cima do lençol que me
cobria.
Continuei calada e tentando dormir novamente. Se na primeira noite
ele já estava assim nessa pegaçao, não queria nem imaginar com quantas
ficaria até o final dessa viagem e pensando nisso acabei dormindo.
Acordei com o barulho da TV ligando e abri os olhos assustada, foi
então que notei que Joe já estava acordado.
— Bom dia, você dormiu bem? — perguntou vendo-me
espreguiçando. — Desculpe acabei chegando tarde, mas não esqueci o que
pediu, está no microondas.
— Bom dia Joe, acho que ouvi um sussurro de madrugada na porta
do nosso quarto. Era você? Obrigada por lembrar do que te pedi.
— Sim, era eu, conheci uma garota, que está hospedada no quarto
ao lado, e ficamos conversando um pouco. Ela é muito bacana.
— Sei que tipo de conversa tiveram! — Brinquei com ele, o
fazendo ficar muito sem graça.
— Engraçadinha — disse se levantado da cama.
— Joe eu queria te fazer uma pergunta, posso?
— Claro, o que quer saber?
— Por que nunca namorou?
— Porque sou espírito livre, não gosto de me prender a ninguém —
respondeu pegando uma roupa na mala.
— Será? Acho que tem medo de se apaixonar, ou já teve um amor
não correspondido, por isso não se relaciona sério com ninguém.
— Não tenho medo e nunca tive um amor não correspondido, eu
nunca me apaixonei por ninguém. Só acho que tudo tem seu momento e eu
ainda não encontrei o meu, por isso sou um espírito livre, e pretendo
continuar assim.
— Ainda acho que tem medo.
— Rubya, que bobeira, não entendo o porquê desse papo chato agora.
— Só curiosidade mesmo.
— Então pronto, já respondi sua pergunta, agora vamos nos arrumar
para tomar café e não pretendo falar mais sobre isso — resmungou entrando
no banheiro. Não sei não, acho que Joe esconde algo. Pensei levantado da
cama e fui me trocar.

Minutos depois estávamos no restaurante do hotel tomando café.


Joe parecia pensativo, quase não conversou comigo. Será que minha pergunta
o deixou chateado?
— Vou pegar mais café, você vai querer?
— Quero sim, obrigada.
— Ok, vou buscar — Levantou-se da mesa.
No entanto, enquanto estava pegando nosso café, uma linda garota
morena de cabelos cacheado se aproximou dele e começaram a conversar.
Deve ser a moça da noite passada, mas por algum motivo a garota saiu triste
de perto dele e ele agia como se nada tivesse acontecido.
— Aqui está seu café — avisou ao retornar a mesa se sentado do
meu lado, percebi que a garota não tirava os olhos daqui.
— Quem era aquela moça Joe?
— Não era ninguém, só nossa vizinha de quarto.
— Você costuma agir feito idiota quando conhece uma garota? —
perguntei sem pensar.
— O que está acontecendo com você, Rubya? Seu noivo te
abandonou e resolveu pegar no meu pé? — esbravejou me olhando incrédulo.
Sei que mereci isso, mas fiquei tão arrasada com o que me disse, que deixei o
café na mesa e corri para o meu quarto, com Joe indo logo atrás de mim.
Entrei no quarto e me joguei na cama chorando. Aquelas palavras
rasgaram meu coração que já estava machucado. Alguma coisa estava
estranha dentro de mim e eu não entendia o que. Esse abandono do meu
noivo me deixou diferente e acho que estou descontando toda minha raiva no
Joe e só agora estou me dando conta disso.
Ele está sendo um bom amigo e tudo o que eu faço é provocá-lo com
minha raiva. Que tipo de amiga eu sou?
— Rubya, me desculpe, eu fui um ogro com você, um insensível.
Falei sem pensar — desculpou-se entrando no quarto logo em seguida.
— Eu que peço desculpa, Joe, estou sentindo tanta raiva do Finn que
acabei descontando em você. Me perdoa, você sempre foi um bom amigo,
sempre esteve do meu lado, é assim que eu retribuo. Desculpe mesmo, estou
me sentindo muito mal por isso.
— Ah, Rubya, você não tem que se desculpar, está passando por um
momento difícil e ainda fica vendo eu tratar mal essa garota que fiquei ontem,
você tem toda razão, sou um idiota. No entanto, prometo que vou tentar não
fazer isso mais, não vim para cá para passear e sim para te ajudar a achar o
fujão do seu noivo.
— Mesmo assim você me perdoa? — Perguntei olhando para ele
chorosa.
— Claro que sim, fica tranquila viu — disse me abraçando tentando
me acalmar.
— Você não precisa parar de ficar com garotas por minha causa, você
deve aproveitar essa viagem.
— Tem várias maneiras de aproveitar, sem ser idiota, afinal não quero
nada sério com ninguém, então melhor aproveitar de outras maneiras, do que
ficar magoando as pessoas.
— Disso você tem razão.
— O que acha da gente se arrumar e ir almoçar fora, depois vamos
procurar o Finn?
— Acho uma ótima ideia, vou me trocar — falei mais animada e
limpando as lágrimas.

Minutos depois de sairmos do restaurante, estávamos na estrada a


caminho do hotel. Meu coração estava a mil, pois finalmente iria descobrir o
motivo desse abandono no altar. Eu merecia uma explicação e iria exigir isso
dele, mesmo que o motivo pelo qual me abandonou me deixasse totalmente
arrasada, mas o fato era que eu merecia saber a verdade.
Finalmente chegamos ao hotel. Desci o mais rápido que pude do carro, já que
eu estava bastante ansiosa para descobrir a verdade. Confesso que estava bem
nervosa, com medo do que iria ouvir dele, mas tinha chegado até ali e, agora
não podia amarelar. Com certeza iria até o fim.
— Rubya, tem certeza que está preparada? — Perguntou me vendo
vacilar, pois dei um passo para atrás, ao invés de ir em direção ao hotel.
— Sim, só estou tentando criar coragem para entrar.
— Se quiser desistir por hoje, podemos voltar amanhã.
— De jeito nenhum, vou entrar agora — falei me encaminhado
apressada e Joe foi atrás.
— Buenas tardes! Bienvenidos Hotel Barcelona Universal. — disse
a recepcionista me olhando entrar apressada.
— Usted habla português? — perguntei me aproximando
— Sim, claro. Vocês têm reservas?
— Não, só viemos tirar uma informação.
— Rubya, OLHA... — gritou Joe me puxando e foi então que vimos
Finn aparecendo na recepção, mas assim que nos viu, disparou a correr,
enquanto eu fiquei em choque parada, o olhando feito boba. Só sai do choque
quando senti Joe me puxar e juntos corremos para o carro, já que meu noivo
fujão tinha entrado no dele e saiu acelerando feito louco em seguida.
Joe ligou o carro e começamos uma perseguição. Quem estava na
recepção do hotel, saiu para ver o que estava acontecendo. Finn parecia um
louco na direção, ultrapassava os carros que apareciam na frente. Nunca vi
ele dirigir assim.
— Joe, ele está fugindo, CORRE COM ESSE CARRO...
— Calma, Rubya, o carro dele é mais potente que o nosso, mas não
vou perder ele de vista. — Me tranquilizou correndo feito louco.
A perseguição continuava, Joe seguia ultrapassando muitos carros,
muitos deles buzinavam para nós e alguns motoristas até xingavam. Um carro
entrou na nossa frente tão rápido que tivemos que brecar de imediato,
fazendo o carro derrapar na pista, a sorte que não vinha nem um carro atrás,
se não teria sido uma batida feia e por esse motivo, Finn conseguiu fugir.
— DROGA, DROGA, PERDEMOS ELE, JOE. — Gritei nervosa e
totalmente descontrolada, eu não sabia se xingava esse filho da mãe que
cortou nossa frente, ou se chorava de raiva por ter deixado Finn fugir. Então,
sem controlar comecei a chorar.
— Calma, Rubya, vamos voltar para o hotel, se ele estava lá talvez
possamos descobrir algo com a recepcionista. — Disse tentando me acalmar.
— Você tem razão, ele acha que vamos desistir, não vamos não. —
Falei limpando as lágrimas, afinal esse filho da mãe não merece uma lágrima
minha.
— Claro que não, Finn é meu melhor amigo, mas nunca pensei que
fosse um covarde. Você tem direito de saber o porquê foi abandonada
daquele jeito e ele vai te contar, nem que seja a força. — Disse a caminho do
o hotel.
— Vai sim, vim para isso e não saio daqui sem descobrir o porquê me
fez de palhaça. To sentindo tanta raiva de mim, Joe, por ter acreditado tanto
nele. — Falei triste, mas com a raiva me consumindo.
— Não fique assim, ele vai ter o que merece. Já ouviu falar na lei do
retorno? Então fica tranquila, você não fez nenhum mal a ele.
— Claro que já, é a mesma coisa do: colhemos o que plantamos.
— É sim!! Bom, chegamos, vamos lá ver se descobrimos algo —
estacionou o carro. Logo após descemos e fomos falar com a recepcionista
que quando nos viu, olhou assustada. Talvez não esperava que fôssemos
voltar.
— Vocês voltaram — nos olhou confusa.
— Sim, e queremos informações sobre aquele rapaz que fugiu de nós
— falei apreensiva.
— Você está se referindo ao senhor Finn? — perguntou surpresa.
— Sim, ele mesmo. Quero saber se está hospedado aqui?
— Tudo o que queira saber, talvez as respostas estejam aqui — disse
pegando algo embaixo do balcão da recepção e em seguida me entregou um
envelope.
Fiquei ali parada alguns segundos olhando para a carta. Será que
finalmente vou descobrir se ele tem outra? Mas é muita cara de pau e
covardia, ao invés de conversarmos pessoalmente, me escreveu uma carta.
— Rubya, você não vai abrir? — Questionou Joe arqueando as
sobrancelhas, estranhando minha atitude.
— Não, estou com medo. Abre você! — Respondi entregado a carta.
Na mesma hora agradeci a recepcionista e puxei o Joe pelo braço.
— Porque está me puxando?
— Vamos para o carro, não quero chorar na frente de estranhos
quando eu descobrir sobre a outra na carta, pois conhecendo Finn como
conheço, ele não vai esconder isso de mim — expliquei indo para o carro.
— Disso você tem razão — me acompanhou. Entramos no carro,
minhas mãos e pernas tremiam muito. Eu estava muito nervosa, com o
coração disparado e uma sensação estranha na boca do estômago. Parecia até
que eu teria um treco com apenas uma carta.
— Calma, Rubya, estou aqui e não vai passar por isso sozinha. Então
seja forte e vamos descobrir logo o que tem escrito nessa carta — me
tranquilizou colocando sua mão sobre a minha, me causando um desconforto
inexplicável. No mesmo instante abriu a carta.
— Está preparada?
— Estou, pode ler — respondi apertando minha bolsa com muita
força contra o peito de nervoso.
— Que estranho...
— O que foi?
— Isso não é uma carta, olha — disse me entregando. Peguei a carta
correndo da mão dele e fiquei olhando por alguns segundos.
— Joe, isso é uma lista dos pontos turístico de Barcelona, onde eu e
ele combinamos de conhecer, tem até a catedral; Catedral de Santa Eulalia de
Barcelona. Falei um dia para ele que gostaria de conhecer esse lugar por ser
uma das igrejas mais antigas e ele colocou na lista. Era apenas uma
curiosidade minha — falei perplexa. — Joe, ele apenas diz nessa carta que ao
cumprir tudo que está na lista a verdade será revelada, que só depois vamos
poder nos encontrar para conversar e que não adianta a gente ficar
procurando por ele, pois estará viajando e só voltará quando eu finalizar a
lista. Pede para mandar uma mensagem a ele um dia antes de irmos a
catedral, disse que vai esperar por nós lá.
— Pelo o que eu entendi, ele quer que você vá a esses lugares que
combinaram e só depois disso te contará tudo. Sinceramente, Rubya, acho
que Finn enlouqueceu ou está usando algum tipo de droga. Uma pessoa
normal, não abandonaria uma noiva como ele fez e ainda deixaria uma lista
com os pontos românticos da cidade para ela ir sozinha. Finn deve ter algum
distúrbio mental que não percebemos, ou será que está brincando com você?
Que tipo de jogo ele está fazendo? Não pensei que ele fosse assim —
argumentou incrédulo.
— Ele não disse para eu ir sozinha, deixou escrito para ir com você.
Realmente, Joe, estou chocada!! Ele sabia que eu e você viríamos atrás dele,
e para tirar nosso foco, que é ele, veio com esse joguinho sem sentido. Acho
que ele é um lunático e nunca percebemos, mas não se preocupe, você já fez
muito vindo para Espanha comigo, não precisa me acompanhar nessa
aventura maluca que o Finn deixou para mim. Afinal, são apenas cinco
lugares e o último é a catedral. Logo todo esse joguinho acaba e vamos
descobrir por que mereci ser deixada no altar daquele jeito — falei com uma
raiva corroendo meu peito. Eu não merecia isso. Seria tão simples se ele
apenas me contasse tudo de uma vez, sem essa enrolação.
— Imagina, acha que vou deixar você sair por ai sozinha!! Você não
conhece nada aqui e uma companhia não faria mal algum. Afinal vim para te
acompanhar lembra? — Questionou me olhando.
— Ok, você tem razão, sozinha não seria uma boa ideia. Estou
cansada e com fome, o que acha de a gente voltar para o hotel? Ainda temos
tempo de tomar o café da tarde, termina às cinco horas e são quatro e meia
agora.
— Por mim tudo bem, vamos voltar por hotel então — disse ligando o
carro
— Quanto a lista, Joe, penso sobre ela amanhã. Hoje não quero mais
falar sobre isso. É muita decepção em um só dia — falei triste, de coração
partido, lutando para não chorar, pois ele não merecia uma lágrima minha.
Encostei a cabeça no vidro e fiquei prestando atenção na estrada.
— Prometo não tocar mais nesse assunto por hoje, mas queria saber
se você está bem?
— Vou ficar bem, Joe, eu prometo. Ele não merece minha tristeza e
muito menos minhas lágrimas.
— Não mesmo. O que acha de a gente pegar uma piscina para se
distrair?
— Joe, vai você e se divirta, eu vou tomar café e vou dar uma
descansada. Não estou animada para nada. Não hoje.
— Tudo bem, deixa para outro dia, mas não vou te deixar sozinha.
Vamos assistir um filme de terror o que acha? Sei que você adora, pedimos
pipoca e brigadeiro de colher, você ama comer isso assistindo filme — disse
todo animado.
— Ah não sei não, estava querendo dormir mesmo.
— Rubya, estamos na Espanha, vamos pelo menos aproveitar o
quarto do hotel, já que não quer fazer nada.
— OK, então eu escolho o filme! Mas ouvi falar que você morre de
medo desses filmes — brinquei deixando-o sem graça, pois era realmente
verdade, ele nunca gostou de filme de terror.
— Não gosto mesmo, mas por você eu assisto. Quero te ajudar a
esquecer tudo isso, mesmo sabendo que vai ser por alguns momentos. No
entanto, pega leve na escolha do filme ok.
— Ta bom, seu medroso... — brinquei novamente.
— Sua pestinha, eu não sou medroso. Só não curto esse tipo de filme
— resmungou irritadinho estacionado o carro, logo em seguida desceu dando
de cara com a garota que ele ficou na noite anterior. A moça fez sinal para ele
ir conversar com ela, só que Joe simplesmente a ignorou. Me deu até raiva.
Que atitude mais rude da parte dele.
— Joe, por que fez isso? — perguntei irritada.
— Isso o que? — respondeu se fazendo de desentendido.
— Por que a ignorou?
— Porque detesto mulheres que ficam no pé, ela não pode me ver que
fica se insinuando para mim. Já deu, ficamos ontem, foi bom, mas não quero
ficar novamente. Ela é muito grudenta — explicou com muita raiva da garota.
Me deu até pena dela.
— Joe, não quero ser chata, mas acho que deveria parar de iludir as
garotas, se ela está te dando bola ainda, é porque você deve ter dado a
entender que ficaria com ela novamente. Se não quer mesmo, seja pelo
menos sincero. É muito chato quando nós mulheres ouvimos por exemplo,
“me passa seu número que te ligarei amanhã para combinarmos algo,’’ só que
isso nunca acontece. Tenha um pouquinho mais de respeito — o repreendi
bastante irritada.
— Nossa, Rubya, que bicho te mordeu? Não precisa ficar assim, já
entendi e vou ser mais sincero da próxima vez. Agora esquece isso e vamos
tomar café. — Respondeu sem graça.
Acho que exagerei um pouco, mas não deixa de ser uma verdade. Mas
a vida é dele, porque diabos estava me metendo? Melhor nem tocar mais
nesse assunto, afinal o que tinha para falar já foi dito. Eu não tinha nada a ver
com os rolos dele.
Depois do delicioso café, fomos para o quarto, tomei um banho
relaxante enquanto Joe foi providenciar as pipocas e o brigadeiro. O filme
que eu escolhi foi It A Coisa, Joe não gostou muito, mas não disse nada a
respeito. Esperava que ele conseguisse assistir, não queria ver sozinha.
— Consegui fazer pipoca e brigadeiro de colher para nós — disse
entrando no quarto com o pote de pipoca e duas canecas em uma bandeja.
— Como conseguiu?
— Ah, pedi na recepção para me mostrar onde ficava a cozinha do
hotel, dizendo que você estava com desejo de comer minha pipoca e
brigadeiro de colher — disse rindo da cara que eu fiz quando me contou isso.
— Você teve coragem de mentir desse jeito? Nem somos um casal —
falei incrédula com a safadeza dele.
— Agora somos, já que foi a única maneira de preparar essas delícias
para você — sorriu, sentando-se ao meu lado na cama.
— Você não tem jeito em, Joe. Onde já se viu mentir assim.
— Vê se esquece isso, e solta logo esse filme. Quero ver se é tudo que
falaram mesmo — disse se ajeitando do meu lado, colocando um travesseiro
nas costas e a bandeja ficou no centro da cama.
Ficamos ali assistindo o filme, a cada susto que eu levava o agarrava
pelo braço e me escondia nele. Joe, estava muito tenso assistindo esse filme,
não disse uma só palavra, enquanto eu gritava como boba em cada susto que
levava. A pipoca e o brigadeiro estavam deliciosos, ele fez exatamente como
eu gostava. Finn nunca acertava, às vezes queimava o brigadeiro, ou acabava
ficando duro, nunca ficava no ponto de comer com colher.
De repente estava passando uma cena bem tensa no filme, onde uma
garota que estava no banheiro de sua casa ouvia algo do ralo da pia. Eu
estava numa tensão, um nervosismo e no momento em que algo aconteceria
com a garota, a luz do quarto e a TV desligaram me fazendo dar um grito. E
quando me levantei assustada para me agarrar no Joe, à bacia de pipoca que
estava em meu colo se esparramou na cama. Ignorando a sujeira que eu fiz,
abracei o Joe com tanta força que ele acabou deitando na cama, fazendo eu
ficar por cima dele
Eu estava com tanto medo, detesto ficar no escuro, que não me
importei de estar por cima dele, e o Joe percebendo meu pavor apenas me
abraçou com muito carinho fazendo-me sentir que estava protegida em seus
braços e assim acabamos adormecendo.
Acordei assustada, com o telefone tocando e Joe dormia como uma pedra
agarrado a mim de conchinha. Com o coração acelerado, e com uma sensação
estranha na boca do estômago tentei sair dos seus braços sem que ele
acordasse, pois o telefone não parava de tocar, e o quarto tinha uma meia luz
acesa bem fraquinha. Talvez fosse o gerador do hotel, afinal a TV continuava
desligada, isso queria dizer que a força não tinha voltado.
Quando finalmente consegui sair dos seus braços, mesmo com todo
esforço para não o acordar, ele acabou acordando e o telefone, pela demora,
parou de tocar.
— Rubya, pegamos no sono. Que horas deve ser agora? —
questionou me olhando e esfregando o rosto para afastar o sono. — Não faço
ideia — respondi indo tomar um copo de água.
— Nossa! São onze horas da noite e ainda estamos sem força — disse
admirado olhando seu celular.
— Estou morrendo de fome — ouvi minha barriga roncar, só
esperava que ele não tivesse ouvido.
— Vamos no restaurante do hotel comer alguma coisa — propôs se
levantado da cama. Eu estava com tanta fome, que mesmo sem vontade de
sair do quarto achei a ideia maravilhosa.
— Vou me trocar então — peguei uma roupa na mala e fui me vestir
no banheiro, mas quando me encaminhava para o mesmo pisei em alguma
coisa que me fez escorregar e só não cai no chão porque Joe que estava por
perto me pegou pelos braços e me puxou com força para seu peito. A coisa
foi tão estranha e rápida que quando vi, estávamos com nossos lábios
encostados.
Fiquei em choque olhando para aqueles pares de olhos puxados e não
percebi o que nós dois estávamos prestes a fazer. Nos beijar. E o beijo
aconteceu, ali, na porta do banheiro, meu coração acelerou de uma maneira
tão diferente que pensei que teria um treco.
Parecia que borboletas brincavam no meu estomago. Uma sensação
inexplicável tomou conta do meu corpo, eu não conseguia raciocinar direito,
não conseguia parar aquele beijo. Eu queria empurrá-lo, gritar que não era
certo. No entanto, a única coisa que eu conseguia fazer era beija-lo.
O que estava acontecendo comigo? Será que estava tão carente e
sensível, para aceitar o beijo do melhor amigo do meu ex-noivo? Isso não
estava certo e precisava colocar um basta. Criei forças sabe lá de onde e
finalmente o empurrei. Entrei correndo no banheiro e me enfiei de roupa e
tudo no chuveiro. Queria que essa coisa estranha que eu estava sentindo
saísse com a água gelada, que me fez arrepiar dos pés a cabeça de frio e
comecei a chorar em silêncio para Joe não me ouvir.
Fiquei por alguns minutos debaixo do chuveiro tentando assimilar o
que tinha acabado de acontecer e cheguei a uma conclusão; estava tão
vulnerável, carente e sensível que me deixei levar pelo momento, como se eu
quisesse suprir a tristeza que estava sentindo pelo abandono. Não tinha outra
explicação para isso.
— Rubya quanto tempo vai ficar aí? Está tudo bem com você? —
perguntava Joe, batendo na porta do banheiro.
— Estou bem sim, já vou sair — avisei desligando chuveiro, me
enxuguei rapidinho e me vesti. Depois de pentear meus cabelos e passar
perfume, sai do banheiro sem graça, não conseguia olhar diretamente para
ele.
— Vem comigo, a gente precisa conversar — puxou-me pela mão
para sentarmos na cama. — Rubya, você está gelada! Vai acabar ficando
doente. Não acredito que tomou banho de água gelada a essa hora da noite.
Por que não esperou a força voltar? — pegou um edredom, me cobriu com
ele e me abraçou tentando me esquentar.
— Desculpa, eu precisava de um banho e essa força não volta nunca.
Ainda estou com muita fome — falei sem graça, dessa vez tenho certeza que
ele ouviu minha barriga roncar.
— Tudo bem, Rubya, só não faça mais isso ok? Vou no restaurante
buscar uma sopa bem quentinha para você e já volto, tá. Depois vamos
conversar sobre o que aconteceu conosco — saiu pela porta do quarto, me
deixando ali pensando nessa conversa, se bem que, vou dizer a verdade, por
que para mim, não foi nada demais.
Só não entendia por que essa coisa estranha na boca do estômago não
passou ainda? Não demorou muito e Joe estava de volta. Trazia nosso jantar
em mãos e colocou na mesa do quarto.
— Não precisa se levantar, vou levar sua sopa para tomar na cama —
ajeitou a sopa em uma bandeja com torradas, pareciam deliciosas e a levou
até mim. De repente, a força voltou e a TV ligou nos dando um susto.
— Credo, que susto! — olhei para Joe, que no mesmo momento
desligou a TV, pegou seu prato na mesa e veio comer do meu lado. A sopa
estava deliciosa mesmo, e ajudou a me aquecer mais rápido, até tirei o
edredom de cima de mim.
— Rubya, precisamos conversar sobre o que aconteceu com a gente
— disse terminando de jantar, eu já tinha colocado meu prato na mesa.
— Joe, fica tranquilo, não aconteceu nada demais. Esses últimos dias
tenho me sentido muito carente, sensível e me deixei levar pelo momento,
talvez para suprir essa tristeza que está em meu coração. Você sempre foi um
bom amigo, peço desculpa por ter te beijado daquele jeito — falei com o
coração aos pulos e com o corpo trêmulo.
Não sei o que estava acontecendo comigo, porque me sentia assim tão
nervosa com essa conversa? Será que Finn tinha alguma coisa a ver com
isso? Ele me deixou muito abalada, talvez estivesse traumatizada. Vai saber.
— Tem certeza que está bem com isso? Ainda acho que deveríamos
conversar sobre o que aconteceu. E não precisa se desculpar, afinal não foi
tão ruim assim. Entendo que está carente e sensível, só não quero que fique
se lamentando pelo o que aconteceu. Você está sozinha e eu também. Não
fizemos nada de errado, não precisa ficar grilada. Somos amigos e nada vai
mudar isso. Combinado? — Disse me olhando, mas seus olhos puxados me
mostravam uma tristeza no olhar, entretanto, achei melhor não perguntar nada
a respeito.
— Combinado! Você também não precisa se preocupar com isso,
prometo que estou bem e que não vai mais acontecer. Agora preciso dormir,
amanhã será um longo dia. — Falei indo para o banheiro, fiz minha higiene e
coloquei meu pijaminha de rosa de seda e fui deitar.
Joe não falou mais nada a respeito, foi até o banheiro e voltou apenas
com uma bermuda para dormir, me deu boa noite e virou para o outro lado,
enquanto eu tentava acalmar meu coração para conseguir dormir.
Acordei com o canto dos passarinhos na minha janela e notei que
Joe não estava na cama, foi então que aquela sensação estranha na boca do
estômago voltou e aquele beijo não saia da minha cabeça. Será que estava
mesmo tão carente a ponto de beijar outro homem? Como pude beijar meu
amigo?
Quando me preparava para me levantar da cama, a porta abriu me
pegando desprevenida.
— Bom dia, anjo! Dormiu bem? — olhou-me sair de baixo do
edredom.
— Bom dia, Joe, dormi muito bem — respondi indo para o banheiro.
— Joe, andei pensando, depois do café vamos visitar o primeiro da lista, o
que acha? — perguntei trancando a porta do banheiro e para me trocar.
— Por mim, tudo bem! Qual o primeiro da lista? — Questionou do
outro lado da porta.
— O primeiro é o Parc Del Laberint, não faço ideia onde fica, vamos
ter que nos informar. — Respondi saindo do banheiro.
— Vamos tomar café e passamos depois na recepção para nos
informar sobre esse lugar — abriu a porta do quarto para sairmos.
Depois do delicioso café, fomos para a recepção saber informações,
mas pela explicação da recepcionista ficava um pouco longe e ela disse
também que era um lugar de fazer piqueniques românticos. Eu não tinha
muita escolha, então preparamos uma cesta, entramos no carro e partimos
para Barcelona. Joe tentou falar sobre o beijo que aconteceu entre a gente,
mas mudei de assunto na hora, mostrando a ele que não queria falar sobre
isso, afinal, nem eu sabia porque isso foi acontecer.
Como explicar para ele que estava carente de mais para o tal ato? Não
havia explicação para o que eu fiz, isso não podia mais acontecer, tinha que
tomar muito cuidado, pessoas carentes são perigosas.
— Tudo bem, entendo que não queira conversar sobre o beijo, mas
uma hora vamos ter que falar sobre isso. Somos amigos e não quero que nada
estrague essa amizade.
— Esquece o que aconteceu, que nossa amizade vai permanecer
intacta ok? — respondi admirando a paisagem dessa cidade.
— Você tem razão, é melhor mesmo esquecer. Acho que chegamos
nesse tal Parc Del Laberint. Olha... — Olhei na direção que ele mostrava e
fiquei espantada com a beleza do parque. Joe estacionou o carro e saímos
com nossa cesta em mãos.
Entramos por um grande portão preto e seguimos uma estrada
rodeada de vegetação. Chegamos em um casarão antigo, mas bem
conservado e logo à frente do casarão um lindo labirinto de arbustos, muito
bem cuidadas e sem folhagem nenhuma.
Entramos no labirinto juntos, mas decidimos brincar de quem
conseguia sair dele primeiro, então nos separamos.
Percorri os caminhos do labirinto procurando a saída ou como
encontrar o Joe. Notei na trajetória os monumentos de pedras, fiquei
encantada com o lugar. Quando resolvi pegar o caminho da direita dei um
esbarrão em alguém e fui parar no chão.
— Rubya, você machucou? — Joe quem havia sido o responsável
pelo meu tombo, como ele não caiu também?
— Estou bem, não me machuquei — olhei minhas pernas para me
assegurar de minhas palavras, limpei minha calça que ficou cheia de sujeira,
quando ele ajudou a me levantar e juntos seguimos o outro caminho que nos
levou a uma piscina redonda onde plantas rodeavam o local. Percebi que
tinha algumas mesas e bancos de pedra perto da piscina.
— Vamos comer alguma coisa, Joe. — o puxei pela mão e sentamos,
coloquei a toalha sob a mesa e começamos a comer. Foi bem agradável
comer em um lugar como aquele. Joe sempre foi uma boa companhia e me
fazia rir muito com suas gracinhas. Foi uma tarde bem divertida, teve alguns
momentos, ali, na companhia dele, que me fizeram esquecer um pouco toda a
tristeza que eu estava passando. Realmente esse lugar tinha uma magia
fantástica que dava um ar romântico ao local.
— Rubya, acho melhor a gente ir embora, passamos momentos tão
agradáveis aqui conversando que nem vimos a hora passar, está ficando
tarde. — Falou se levantado e foi guardando tudo na cesta.
— Você tem razão, nem vimos a hora passar — me levantei. —
Vamos ver quem chega primeiro do outro lado do labirinto? — gritei saindo
correndo na frente, enquanto ele corria atrás.
— Com certeza eu vou chegar primeiro, sou bom em correr — disse
passando na minha frente, mas de repente ouvimos vozes de alguém se
aproximando, ele parou de correr na hora me fazendo bater nele.
— Porque parou? — Perguntei o olhando.
— Vamos esperar eles passarem, depois continuamos a brincadeira.
— Olhou-me e percebi naquele momento que tinha algo errado no ar, pois
por algum motivo eu não conseguia me dar conta do que eu estava preste a
fazer.
Parecia que eu estava enfeitiçada por aqueles pares de olhos puxados, pois
sem perceber eu o beijava com muita vontade e ele correspondia ao beijo
como se estivesse sedento de desejo. Sua mão percorria todo meu corpo, me
deixando com uma sensação estranha na boca do estômago.
No momento em que o grupo de pessoas passaram por nós, que me
dei conta da burrada que eu fiz, o empurrei na hora e corri por aquele
labirinto procurando a saída. Queria me esconder, me enfiar em um buraco,
sumir do mapa, isso não poderia estar acontecendo, não com Joe que nunca
levou ninguém a sério e ainda era o melhor amigo do meu ex-noivo.
Quando finalmente achei a saída, corri para o carro, mas percebi que
Joe vinha atrás e quando finalmente ele me alcançou, me pegou pelos braços.
— Para Rubya, chega de fugir dessa conversa, a gente vai conversar
agora. Entra no carro por favor — pediu me olhando sério.
Ele tinha toda razão, não podia ficar fugindo disso. Estava magoada,
confusa, sensível e talvez muito carente. Fui deixada no altar e isso mexeu
totalmente com meu psicológico, perdi a confiança e por causa disso é quase
impossível acreditar que realmente pudesse existir o amor verdadeiro. Então
sem muitas escolhas entrei no carro.
— Agora vamos conversar — disse ao fechar a porta.
— Acha mesmo que precisamos conversar sobre isso? — Perguntei
sem graça.
— Com certeza precisamos, afinal, somos amigos, não escondemos
nada um do outro — falou me olhando.
— Tudo bem, o que quer saber? — Questionei, olhando para fora da
janela do carro, mas notando que eu não conseguia encará-lo, puxou meu
queixo para que o olhasse.
— Quero saber o que está acontecendo conosco? — perguntou me
encarando.
— Você quer a verdade?
— Claro que quero
— Ok, não está acontecendo nada, o problema é que acho que estou
muito sensível e carente nesses últimos dias. Ser deixada no altar, me deixou
confusa, perdida. Amo o Finn e ele foi o único que amei, mas no fundo tenho
certeza que ele nunca me amou da mesma maneira. Ter sido abandonada me
deixou vulnerável, é como se eu deixasse de acreditar no amor. Acredito que,
por causa de tudo isso, esses beijos andam acontecendo. Para mim, não
significou nada, o mais importante é a nossa amizade, não quero que nada
estrague o que temos. Você me promete Joe, que isso não vai mais acontecer?
— expliquei, mas algo estava errado, eu sentia alguma coisa estranha dentro
de mim, algo que nunca senti antes. E também não poderia fazê-lo prometer
algo que talvez eu mesmo não conseguisse cumprir
— Então, você acredita mesmo nisso que acabou de me falar?
— Sim, acredito! Não há outro motivo para isso estar acontecendo e
você não me disse se promete.
— Eu prometo que nenhum beijo entre nós vai acontecer mais —
disse parecendo um pouco decepcionado. — Agora vamos embora —
comunicou, ligou o carro e partimos para o hotel. O mais estranho é que
voltamos em silêncio, Joe não disse nenhuma só palavra, parecia pensativo,
chateado com alguma coisa.
Chegamos no hotel e já estava escurecendo, Joe entrou no quarto
apenas dizendo que tomaria um banho e que depois iria para boate do hotel.
— Joe, nós não vamos jantar? — perguntei da porta do banheiro
— Não estou com fome — gritou enquanto tomava seu banho.
— Ok, vou tomar um banho também, pedir alguma coisa para comer
e vou ficar para descansar.
— Tanto faz, já estou indo — saiu do banheiro todo arrumado e
perfumado. Ele estava lindo todo de preto. Mas o que deu em mim? Nunca
achei o Joe bonito, ele nunca me chamou atenção e agora venho com essa de
achar ele lindo. Eu só podia estar ficando louca.
— Joe, ta tudo bem com você? — perguntei antes que ele saísse do
quarto.
— Está tudo ótimo, até mais tarde — saiu e trancou a porta, me
deixando confusa.
Antes de entrar no banheiro liguei para o restaurante pedindo algo
para comer e então tomar um banho. No entanto, por algum motivo o beijo
não saia da minha cabeça e não entendia porquê.
Minutos depois eu já estava trocada e comendo meu x-frango na
cama e estava delicioso. Liguei a TV e coloquei um filme para assistir, já
tinha terminado de comer e tentei me concentrar ao máximo no filme, no
entanto meus pensamentos estavam em Joe e não em Finn como deveria. E
isso era estranho para mim.
Acabei adormecendo enquanto pensava no que Joe estava
aprontando naquele momento.
Acordei com conversinhas e risadas na porta do quarto, logo
reconheci umas das vozes. Que droga!! O que ele pensava estar fazendo,
eram duas horas da madrugada e eu queria dormir, mas com essas conversas
era impossível. Estava tão irritada, que me levantei da cama e sem pensar nas
consequências abri a porta.
— Pelo amor Deus, da para parar com essa pouca-vergonha na porta
do meu quarto. Joe, ou você entra, ou vai para o quarto dessa garota e me
deixa dormir, por favor — repreendi descontrolada e com muita raiva. Na
verdade, não entendi porque estava sentindo tanta raiva assim.
— Desculpa anjo, não queria te acordar — se desculpou, estava muito
bêbedo e falava muito mole com a garota grudada em seu pescoço.
— Gato, vamos para o meu quarto — a garota tentou beijá-lo.
— Para de ser chata, eu vou dormir agora — disse Joe, empurrando a
moça.
— Seu grosso, não precisa empurrar, vou embora. — A moça
respondeu irritada.
— Vai tarde — Joe disse, me deixando espantada com sua atitude.
A garota mostrou o dedo para ele de uma maneira feia. Logo em
seguida, Joe entrou no quarto batendo a porta.
— Que coisa mais feia, Joe. Porque fez isso com a moça? —
questionei vendo-o ir para o banheiro e simplesmente me ignorar. No entanto,
minutos depois estava de banho tomado e se deitava ao meu lado.
— Rubya, me desculpa, fui um idiota, não sei o que está acontecendo
comigo, mas ando me sentindo estranho — explicou ao se deitar e virou para
o meu lado.
— Por isso fica iludindo essa moça? Se quisesse mesmo algo com ela,
não estaria aqui. — falei irritada.
— Não iludi ninguém, não ficamos juntos, mas ela é muito pegajosa.
Tudo que eu queria era estar aqui, só que a garota ficava me segurando.
Acabei ficando irritado com ela — olhou em meus olhos.
— Ok, a moça pode ser chata, mas não precisava agir assim. Eu te
desculpo, só não faça mais isso.
— Eu prometo que não farei mais — disse tirando uma mexa do meu
cabelo que caia em meu olho e me olhava de um jeito diferente que mais uma
vez me vi enfeitiçada por aqueles olhos puxados. Queria muito beijá-lo. Ah
como queria, mas mesmo sabendo que não era certo, ansiava por esse beijo.
Percebi que ele também queria a mesma coisa, pois seus lábios se
aproximavam bem devagar, mas bastou um barulho do lado de fora do quarto
para nos fazer voltar para a realidade.
— Rubya, boa noite — disse sem graça virando para o outro lado.
— Boa noite — respondi, fechei meus olhos, tentei tirar dos meus
pensamentos aquela vontade de beijá-lo e acabei adormecendo.
Acordei com cheirinho de café invadindo o quarto e ao abrir os
olhos, notei que já tinha amanhecido.
— Bom dia, anjo, eu trouxe café para você. — Joe me olhou de
onde estava, sentado a mesa que tem no quarto.
— Bom dia, Joe, porque trouxe café para mim. Que horas são? —
Perguntei intrigada.
— São quase dez horas
— Meu Deus, Joe!! Porque me deixou dormir tanto? Deveria ter me
acordado — falei me levantado.
— Você precisava descansar, então deixei você dormir mais.
— Descansar porquê? Desde que chegamos aqui não tenho feito
outra coisa — expliquei indo até o banheiro, me troquei e fui tomar meu café.
— Eu sei, mas ontem foi dormir muito tarde por minha culpa.
— Entendi, tudo isso é consciência pesada. — brinquei sorrindo.
— Mais ou menos isso — sorriu. — Hoje vamos aonde? O que tem
na lista para nós?
— Deixe-me ver — peguei a lista na minha bolsa e voltei para
terminar meu café. — Aqui diz Passeio romântico em Parc Montjuic.
— O que o Finn estava pensando quando fez essa lista? Só tem
lugares românticos para nós que somos amigos, isso é muito estranho.
— Pois é, foi o que pensei. No entanto, só vamos saber a resposta
quando encontrarmos o Finn — terminei meu café que estava delicioso.
— Você tem razão. Bom, o que acha de darmos uma volta entorno do
hotel antes de almoçar? Fiquei sabendo que tem lugares maravilhosos.
— Tudo bem, estamos aqui, vamos aproveitar então. — Peguei
minha bolsa.
Passeamos por lugares lindos que tinha ao redor. Eu nem tinha
percebido antes que esse lugar era tipo um hotel fazenda, por isso ficava tão
afastado do centro da cidade. Apesar do clima estranho entre nós, Joe me
fazia rir, me distraia com suas gracinhas. Eu sei que tudo o que ele queria, era
que eu esquecesse tudo o que passei no dia do meu quase casamento.
— Bom, o passeio pelos arredores está muito agradável, mas já estou
com fome — comuniquei ao meu amigo que não parava de falar desse lugar e
dessa nossa viagem louca.
— Tudo bem, vamos para o restaurante, já está na hora do almoço
mesmo. Depois vamos pegar estrada. — Segurou minha mão, me fazendo
arrepiar na hora. Seu toque mexia muito comigo. Então, me desvencilhei e
juntos fomos almoçar.

Minutos após o almoço, estávamos a caminho do Parc Montjuic e


pelo que a recepcionista do hotel nos falou, esse lugar ficava em uma colina e
nos ensinou como chegar lá. O caminho foi um pouco longo, mas quando
finalmente chegamos, fiquei maravilhada com o lugar.
O Parc era enorme, tinha um castelo bem no topo da colina e para
chegar a esse castelo tinha que pegar um teleférico. A única outra maneira de
chegar no topo era a pé, mas pelo visto o caminho até o castelo seria longo.
Achamos melhor subir de teleférico, fiquei encantada ao ver Barcelona da
altura que estávamos, me deu até medo, que no impulso me agarrei ao Joe
que, percebendo como eu estava, me abraçou fazendo meu coração disparar.
— Medrosa, nós já estamos chegando — debochou vendo minha
cara de pavor, não que eu tivesse medo de altura, mas esse negócio, além de
estar no alto, balançava.
— Não sou medrosa, nunca fui. Mas esse troço balançando da um
frio na barriga — resmunguei irritada.
— Sei, eu acho que ta é com medo mesmo. Vamos medrosa,
chegamos — zombou me puxando pela mão para sair do teleférico.
— Para de me encher, seu chato. — Dei um tapinha no seu ombro.
— Meu Deus, Joe, que lugar é esse? Que castelo mais lindo. Vamos entrar.
— falei entrando e logo na porta tinha alguns livretos informativo, contando
histórias interessante sobre o castelo.
Dizia que o aspecto atual do castelo era do século XVIII, após passar
por uma remodelação, devido aos danos causados durante a Guerra da
Sucessão. Conta também, que aconteceu vários bombardeios a partir desse
castelo e que também foi usado como prisão. Entretanto, o fato que me
chamou a atenção, era a história de uma princesa que se apaixonou por um
camponês.
Seu amor era proibido e ela morreu no castelo, dizem que tirou sua
própria vida quando descobriu que obrigaram o rapaz a casar com uma
camponesa. E o mais interessante, diziam que muitos já viram e ouviram uma
linda jovem chorando nesse castelo. História fascinante!
Andamos pelo castelo admirando tudo, era uma verdadeira obra
prima, tudo muito conservado como se estivéssemos mesmo no século XVIII.
Chegamos na parte mais alta do castelo, que tem uma localização
privilegiada, mantém uma vista panorâmica completa da cidade de Barcelona
e um amplo controle das aproximações pelo mar.
— Rubya, que vista maravilhosa! — Joe disse admirado, olhando
na direção do mar.
Quando olhei ao redor, vi vários casais se beijando, me senti
desconfortável e triste, pois era com o meu ex que eu deveria estar ali. No
entanto, não deixei a tristeza me abalar e continuamos olhando todo aquele
cenário maravilhoso. Nunca tinha visto nada igual.
— Joe, estou com fome. Vi que no pátio do castelo tem pequenos
restaurantes. O que acha de nós comermos por lá? — perguntei sem tirar o
olho daquela vista maravilhosa.
— Acho uma ótima ideia!! Vamos comer então. — Puxou-me pela
mão.
Minutos depois entramos em um restaurante bem aconchegante e
logo levaram nosso cardápio. Escolhemos e não demorou muito para trazer
nossos pedidos, estava delicioso e o papo estava agradável. Como sempre,
sem perceber me pegava sorrindo com as gracinhas do Joe.
Terminamos de comer e resolvemos voltar para aquela vista
maravilhosa do mar. Sentamos em um banco que tinha em um canto da
sacada e ficamos ali conversando e tirando muitas fotos e self. Estava me
divertindo tanto que nem percebi quando escureceu. Olhei ao redor e já não
havia nenhum casal por perto.
— Pelo visto todos já foram embora, acho melhor a gente ir também
— disse Joe se levantado.
— Você tem razão, já ta escurecendo — falei indo atrás dele. — Joe,
que estranho! Não tem ninguém aqui, nem os funcionários — comentei
assustada.
— Percebi mesmo — correu para a porta de saída e a mesma se
encontrava trancada.
— Meu Deus, Joe! Estamos presos aqui dentro, não tem outra saída.
Como vamos embora? — Levei a mão na boca com o susto.
— Calma, Rubya, vamos procurar uma saída, deve ter outra, tenho
certeza — tentou me tranquilizar e com carinho pegou minha mão, juntos
rodamos por aqueles corredores do castelo e nenhuma saída encontramos.
De repente vi uma moça passar rapidamente por mim, fiquei em
choque porque ela praticamente me atravessou. Eu parei na hora de andar
ficando como estátua no corredor.
— Que cara é essa, Rubya, parece assustada? — Joe estranhou minha
reação. Eu não conseguia dizer nenhuma palavra, estava paralisada de susto.
Então, realmente, o fantasma da princesa estava preso no castelo e ela passou
por mim. Como isso era possível? — Rubya diz alguma coisa, o que
aconteceu para ficar assim? — perguntou me dando um chacoalhão.
— Vo-você viu? O fantasma da princesa passou por mim — gaguejei
de medo.
— O que? Você tá ficando louca, não vi nada. — Questionou
incrédulo.
Com certeza me achando louca, mas eu sei o que vi. De repente, a vi
atravessar a parede.
— Joe, pelo amor de Deus, vamos sair daqui. Não encontramos
nenhuma saída, pelo visto vamos ter que passar a noite aqui. Só que aqui
dentro do castelo eu não quero ficar. Não estou louca, eu vi o fantasma da
princesa. — falei andando apressadamente procurado qualquer lugar que eu
não visse novamente o fantasma.
— Calma, Rubya, se você viu mesmo, o que ela poderia te fazer de
mal? — questionou me seguindo.
— Eu não sei, e nem quero saber, mas só o fato dela estar aqui me
deixa apavorada. — Sai para a sacada onde ficamos a tarde toda. — Acho
que aqui ela não vem... — de repente, levei um susto tão grande quando ela
apareceu na minha frente. Dei um grito e corri para os braços do Joe e me
escondi no seu peito, eu não queria vê-la novamente.
— Calma meu anjo, ela não vai te fazer nenhum mal. Acho que ficar
nessa sacada não é uma boa ideia, está muito frio aqui. O castelo é enorme,
vamos procurar um quarto para ficarmos seguros e mais confortáveis. —
Tranquilizou-me passando a mão em meus cabelos.
— OK, vamos procurar então — me agarrei nele, sem olhar ao redor,
praticamente era Joe quem me guiava.
Finalmente, depois de andar um pouco por aqueles corredores,
encontramos uma porta aberta, e no recinto se encontrava uma enorme cama
cercada por fitas para mostrar aos visitantes que era proibido deitar, mas foi
ali que ficamos.
Haviam fitas para isolar as áreas que os visitantes não podiam
ultrapassar, então quebramos essa regra e usamos nossas mãos para
bater a poeira que deveria estar na cama. Comecei a espirrar conforme o
pó foi levantando e precisamos esperar a poeira baixar para deitarmos.
Voltei a espirrar algumas vezes, sempre fui muito alérgica.
O lugar estava a meia luz, talvez o castelo tivesse algum gerador,
o lugar já deveria estar escuro àquela hora. Me perguntei se não haveria
ninguém a noite tomando conta do lugar, geralmente é costume ter
guardas noturnos.
— Rubya, estou com muita fome. Você não está?
— Não, eu comi um pouco de salgadinho antes de escurecer,
lembra? Por falar nisso, guardei o pacote na minha bolsa, junto com a
garrafinha de água que compramos — vasculhei minha bolsa.
Juro, eu estava tão assustada de ter visto um fantasma, que eu
não tirava os olhos do Joe, ele era a única coisa que eu queria ver.
Nunca pensei que um dia fosse ter tanto medo de fantasmas.
— Ainda bem que sobrou bastante — disse aliviado, pegou o
pacote da minha mão fazendo-me voltar para realidade, já que meus
pensamentos estavam no fantasma.
— Verdade, mas também o pacote é grande e eu só comi um
pouco. Joe, quero ir embora, esse lugar me dá arrepios. — falei ouvindo
barulhos de muitos passos no corredor. — Você tá ouvindo isso? —
grudei em se braço. — Parece que tem muita gente andando no
corredor.
— Sim, dessa vez eu ouvi. Deve ser o guarda noturno. Vou
olhar! —levantou-se da cama.
— Não, Joe, não me deixe aqui. — Tremi por conta do medo.
O segui grudada em seu braço, não queria em hipótese nenhuma
ficar sozinha, aquele lugar me apavorava.
— Deixa de ser medrosa, só vou até a porta. — Abriu a porta do
quarto e colocou a cabeça para fora.
— Rubya, não tem ninguém. — disse fechando a porta. Meu
coração parecia que iria sair pela boca, estava apavorada com o barulho
que não cessava.
— Eu falei que tinha fantasma aqui e pelo visto não é só da
princesa. — falei enquanto voltávamos para cama.
— Calma Rubya, vamos ficar bem. Prometo! — tranquilizou,
me abraçando.
— Tudo o que eu mais queria era ir embora daqui. Não sei o que
o Finn tinha na cabeça para nos meter nisso? Ele só pode ter ficado
louco. — Me agarrei ainda mais ao Joe, pois o barulho não tinha parado.
— Olha, também não entendi o porquê disso tudo. Finn te
abandona no altar e depois exige que siga sua lista maluca. Acredito que
ele deve estar ficando louco mesmo, só pode, pessoas normais
conversam antes do casamento para cancelar, ao invés de abandonar e
fazer uma lista louca. — explicou comendo o salgadinho. — Que horas
será que esse lugar abre amanhã?
— Não faço ideia, Joe. Quanto ao Finn, só lamento! É muita
decepção em tão poucos dias. Achei que o conhecia, mas vejo que me
enganei. As pessoas conseguem nos iludir com simples gestos e Finn me
iludiu por ser sempre tão meloso, atencioso comigo. Acreditei que isso
fosse amor, mas hoje entendo que o amor deve ser muito mais do que
isso. — Falei triste.
— Não fica assim, se vocês não se casaram é por que não era
para ser. Sei que é difícil, mas você é uma mulher tão linda e especial
que merece toda felicidade do mundo. Talvez, Finn tenha achado que
essa felicidade ele não poderia te dar. Ele foi um canalha, deveria ter
cancelado o casamento e você não teria sido tão humilhada como foi
esperando-o no altar. Por isso você merece uma explicação, nem que
seja a força.
— Você me acha linda?
— Claro que acho, sempre achei o meu amigo um cara sortudo.
— Confessou sem graça
— Juro que no começo do namoro, achei que você não gostasse
de mim. Finn dizia que você era implicante, que implicava com tudo.
Que uma hora aprenderia a gostar de mim. Hoje somos grandes amigos.
— Larguei seu braço, pois o barulho tinha parado e sentei em sua frente.
Gostava de ver aqueles olhos puxados.
— Sim, no começo não acreditava muito no seu amor por ele.
No entanto, hoje vejo que estava enganado, você o amava mesmo. Por
isso acabei me aproximando mais de você e nos tornamos ótimos
amigos. — Bebeu um pouco de água.
— Pois é, e olha aonde estamos, em Barcelona, presos em um
castelo com fantasma. Você é a melhor companhia que eu poderia ter.
Meu Deus!!! Porque falei isso? Saiu tão espontâneo. O que
estava acontecendo comigo? Nunca fui de falar essas coisas. Parecia até
que meu coração não doía tanto quanto antes do abandono do Finn.
— Você também é a melhor companhia que eu poderia ter —
disse Joe, tocando em minha mão e no mesmo momento senti um calor
percorrer meu corpo e parecia que tinha borboletas dançando em meu
estômago.
Sem perceber, estava hipnotizada por aqueles olhos puxados e
cada vez mais nossas bocas se aproximavam. Quando dei por mim, já
estava beijando Joe.
Meu Deus!!
Que beijo foi esse? Nunca fui beijada dessa maneira e com tanta
intensidade. Por um momento, me esqueci de onde estava e me
entreguei sem pensar no amanhã, nesse instante, eu não queria pensar
em nada.
Queria curtir o momento maravilhoso, eu merecia ser tratada
como princesa e com Joe me sentia assim. Não senti medo quando Joe
desabotoou meu vestido, pelo contrário, me senti desejada, e eu o
desejava também. Mesmo meus pensamentos dizendo que eu deveria
parar para não me arrepender depois, meu corpo dizia o contrário.
Me deixei levar pelo desejo. Joe tirou meu vestido me deixando
seminua e se aventurou com seus lábios por todo meu corpo. Seus dedos
desciam com tanta suavidade por minhas curvas que me deixava cada
vez mais excitada.
Que loucura, meu Deus!!!
Já nem sabia se era certo ou errado, a única coisa que sabia era
que estava completamente louca por esse homem. Quando, finalmente,
Joe tirou minha calcinha, ouvi um grito horripilante e dei um pulo da
cama, o fazendo cair no chão, pois ele estava por cima de mim. Entrei
em choque com o grito e muito envergonhada com que estava preste
acontecer. Eu seria mais uma na lista do Joe. Isso não poderia acontecer.
— Joe, que grito foi esse? — questionei enquanto ele se
levantava do chão.
— Não sei anjo, não deve ser nada. O que acha de continuarmos
de onde paramos? — sorriu safado indo para cima de mim, me beijando.
— Joe, para por favor. Não podemos fazer isso. — Tentei fugir
das suas investidas.
— Porque não? Eu te desejo e você também me deseja, porque
não podemos continuar? — perguntou tentando me beijar.
— Não quero ser mais uma na sua lista e somos amigos lembra?
— o empurrei.
— Você será a última. É a única que eu quero de verdade.
Sem me deixar dizer qualquer coisa, dominou minha boca me
deixando anestesiada, totalmente entregue e sem reação, não tinha
forças para lutar com o desejo que eu sentia por esse homem, então
aquele momento mágico aconteceu e eu estava nas nuvens, não
conseguia decifrar que sentimento era esse que estava sentindo. No
entanto, tudo o que eu queria era que esse momento jamais acabasse.
Ficamos ali deitados sem dizer uma só palavra, apenas ouvindo
nossos corações baterem acelerados, sentindo nossas respirações se
acalmarem e assim, agarrados um ao outro, acabamos adormecendo.
Fui acordada com barulhos vindo do corredor, olhei na direção de uma
das janelas do quarto e dei um pulo da cama ao perceber que já havia
amanhecido. Procurei por minhas peças de roupas pelo chão e comecei a
me vestir rapidamente.
— O que tá fazendo? — Joe perguntou sonolento.
— Estou me vestindo, finalmente vamos embora daqui. — falei
terminando de me vestir e em seguida fiz um rabo no meu cabelo que era um
Chanel longo e estava todo bagunçado por ser ondulado.
— Nossa! Nem percebi que já amanheceu — levantou-se e começou a
vestir sua roupa.
Por um momento não tive como evitar, fiquei parada como uma
estátua admirando a beleza desse homem. Como nunca notei antes, que Joe
era tão lindo? É por isso que chovia mulheres aos seus pés.
— O que foi, porque me olha assim? — questionou intrigado, foi
então que percebi o quanto estava sendo ridícula de ficar encarando-o
daquela maneira e quando me lembrei da noite incrível que tive com ele, me
senti envergonhada. Éramos amigos há muito tempo, isso não deveria ter
acontecido.
— Até imagino o que deve estar se passando nessa cabecinha. Fica
tranquila meu anjo, nossa amizade só vai melhorar depois da noite incrível
que tivemos. Temos muito o que conversar — me deu um selinho. — Agora
vamos sair daqui que estou morrendo de fome e louco para ir ao banheiro. —
Falou me puxando pelas mãos.
Eu não consegui dizer uma só palavra, estava assustada e com os
sentimentos confusos. Na verdade, estava com medo de nossa amizade
mudar, ou alguém acabasse saindo magoado dessa situação. O melhor a
fazer, é fingir que aquela noite não aconteceu, que foi apenas um sonho,
assim poderíamos seguir em frente como amigos e ninguém sairia magoado.
Quando saímos do quarto, percebemos que o lugar estava vazio, mas
ao chegar na porta da saída notamos que ela estava entreaberta, então
terminamos de abrí-la e fomos embora. Passamos pelo pátio do castelo, os
restaurantes estavam fechados, não tinha nenhum movimento. Fomos para o
carro, eu sentia muita fome e também estava apertada para ir ao banheiro.
— Já que está tudo fechado, vamos para o restaurante mais próximo
daqui. — Ligou o carro. Me senti aliviada por ter saído do castelo. O lugar
podia ser maravilhoso, mas a noite dava arrepios.
— Nossa, to morrendo de fome — falei sem graça, minha barriga
tinha acabado de roncar.
— Vamos parar ali para comer, não é um restaurante, mas um café, da
para matar a fome e ir ao banheiro.
— É uma ótima ideia — Ele estacionou o carro e apressadamente
fomos para o estabelecimento. Precisei esperar minha vez no banheiro
feminino, mas acabou dando tudo certo.
Minutos depois, nos encontramos em uma mesa, estávamos aliviados
e escolhendo o que iríamos comer. A garçonete anotou nossos pedidos e saiu
em seguida.
— Agora é uma boa hora para nós conversar sobre nossa noite juntos
— Joe segurou minha mão que estava sob a mesa, me causando um frio na
barriga.
— Não acho uma boa ideia — falei tentado fugir do assunto.
— Rubya, chega de fugir desse assunto, não dá para deixar para lá o
que aconteceu entre nós, o que vem acontecendo desde que chegamos aqui.
— Olhou-me sério. — Senti que você queria, como eu também, não fizemos
nada de errado. Pelo o contrário, isso só mostrou que estou apaixonado por
você. — Confessou passando a mão em meu rosto.
— Não acho isso certo, somos amigos e seu melhor amigo é o meu
ex. Isso entre nós não daria certo. — Expliquei tirando minha mão que ele
acariciava.
— Porque não? — questionou assim que a garçonete trouxe nossas
tortas.
— Joe, somos amigos tem tanto tempo, sei muito bem que nunca
levou ninguém a sério. Por isso antes que alguém saia magoado, acho melhor
parar por aqui.
— Rubya, eu também nunca estive apaixonado por ninguém. Talvez
por isso, acho que nós dois juntos daríamos certo. também não custa nada
tentar. — disse terminando de comer sua torta.
— Talvez você tenha razão, mas estou tão magoada e decepcionada
que não quero colocar em risco nossa amizade. Você entende? Acho melhor
pararmos por aqui. Joe, eu não queria que fosse assim, mas acho melhor você
procurar um outro quarto no hotel ou outro hotel para ficar. — falei triste,
tudo o que eu menos queria era ficar sozinha.
No entanto, se Joe disse estar apaixonado por mim, queria dizer que
eu também estava sentindo algo por ele e ficando no mesmo quarto eu não
conseguiria evita-lo como eu deveria ter feito na noite passada.
— Porque tudo isso, Rubya? Não quero ficar longe de você, não
depois de tudo que passamos essa noite — resmungou angustiado.
— Não vamos ficar longe, apenas em quartos diferentes. Sinto muito
Joe, mas tem que ser assim. — Tomei meu último gole de café.
— Não consigo entender, você parecia estar muito afim de mim e
agora quer me afastar de você. — Disse com a voz fraca de decepção.
— Joe, fui abandonada no altar, acha que estou preparada para outra
decepção? Isso só iria destruir nossa amizade e não quero isso. — expliquei
me levantado da mesa para ir embora.
— Eu entendo o que passou! Talvez você tenha razão, melhor ir com
calma. Quando chegarmos no hotel vou procurar outro quarto para ficar. No
entanto, vim para te acompanhar e vou até o fim com você. — Respondeu
contrariado.
Caminhamos para fora do café e após entrarmos no carro, Joe deu a
partida.
— Tudo bem, iremos até o fim juntos. — Olhei pela janela a
paisagem que Barcelona tinha.
Tudo era lindo demais, uma cidade mágica e romântica. Estava triste
com toda essa situação, então preferi olhar a paisagem da cidade, do que falar
sobre a noite que tivemos. Foi perfeito, eu sei, nunca tive uma noite assim,
mas não seria certo deixar isso continuar, já estava sofrendo tanto com o
abandono de Finn, que não queria perder mais ninguém.
— Chegamos, vou entrar e falar com a recepcionista sobre o quarto,
logo depois vou pegar minhas coisas — disse triste, pude ver no seu olhar o
quanto estava arrasado. Nunca o vi assim.
— OK, vou tomar um banho enquanto isso. Deixarei a porta do
quarto aberta. — Avisei indo para o quarto.
Entrei com o coração sangrando, meu coração e meu corpo não
queriam ficar longe dele, mas tinha medo de me magoar mais ainda. “Joe,
nunca levou ninguém a sério, porque me levaria? Isso só destruiria nossa
amizade. Tenho certeza que estou fazendo a coisa certa”. Pensei enquanto
me preparava para o banho.
Tomei um banho rápido, queria ver Joe partir para o outro quarto. Sei
que parecia besteira, mas talvez eu quisesse senti-lo pela última vez.
Sentei-me na cama e liguei a televisão que por coincidência estava
mostrando em um jornal a foto de uma mulher jovem e bonita que reconheci
na hora. Era a mulher que Joe ficou na primeira noite que chegamos e que
estava no pé dele como um chiclete.
Então me interessei pela reportagem. Não entendia muito bem o que
estavam dizendo, mas algumas palavras eu entendi. Essa mulher era uma
psicopata, se envolvia com suas vítimas profundamente e quando era
rejeitada a perseguia, ou até mesmo os matavam envenenados.
Diziam que já haviam sido quatro mortes com dois sobreviventes, ela
estava foragida, com identidade falsa e nova aparência. Meu Deus!! Joe
corria perigo. Precisava fazer alguma coisa. Desliguei a TV quando ouvi
alguém batendo na porta e como estava aberta, entrou pedindo licença.
Quando vi quem era fiquei assustada.
Não podia acreditar que aquela mulher havia acabado de entrar em meu
quarto. Será que ela tinha me visto assistir aquela reportagem? Esperava
fielmente que não, ela poderia me matar se descobrisse que eu sabia do seu
segredo.
— Estou procurando o Joe, preciso muito falar com ele. — Disse me
olhando.
— Ele saiu, foi colocar gasolina no carro, porque estava na reserva.
— Menti para que ela fosse embora, antes que Joe aparecesse.
— Tudo bem, só diga a ele que estou procurando por ele e espero em
meu quarto. — disse indo embora.
Rapidamente peguei meu celular e mandei uma mensagem para Joe,
dizendo para não subir, que eu estava descendo e explicava o que estava
acontecendo.
Fiz nossas malas o mais rápido que pude, não iria ficar nesse hotel
com uma psicopata perseguindo o Joe. E com a maior dificuldade, desci de
elevador carregando todas as malas, só eu tinha duas.
Quando cheguei na recepção, Joe ao me ver correu para me ajudar
estranhado o porquê de todas as malas.
— Depois explico o que está acontecendo. Me segue. — falei indo
falar com a recepcionista.
Entreguei o cartão do quarto a ela e avisei que estávamos voltando
para o Brasil. Ela, estranhando, fez nosso check out e nos desejou uma boa
viagem e apressadamente saímos do hotel.
— Liga o carro, vamos embora daqui. Anda logo, liga isso... Te
explico tudo no caminho. — Olhei para todos os lados, com medo que a
psicopata nos visse indo embora.
Minutos depois já estávamos na estrada.
— Para onde vamos?
— Para Barcelona, perto do Castelo onde passamos a noite, tem um
pequeno hotel e vi no letreiro que tem vaga. — Expliquei a ele que me olhava
confuso.
— Você vai me contar o que está acontecendo?
— Sim, sabe a garota que está no seu pé?
— A Paola, o que tem ela? — questionou curioso.
— Sim, ela não se chama Paola, se chama Michela e é uma psicopata
que está usando uma identidade falsa e está foragida. Ela matou quatro
homens envenenados e há dois sobreviventes.
— Como sabe disso? Ela não tem jeito de assassina
— Depois do banho liguei a TV e no jornal local estava falando dela.
Ela costuma se relacionar profundamente com suas vítimas, e se eles a
rejeitam, ela os envenena. Logo depois que assisti isso, ela apareceu no
quarto te procurando, menti para ela e a esperei ir embora para fazer as malas.
Achei melhor ir embora do hotel, se ela é perigosa, você pode estar correndo
perigo. Por isso falei para a recepcionista que estamos voltando para o Brasil,
caso ela pergunte de você.
— Nossa, Meu Deus!!! As aparências realmente enganam. Ela parecia
ser inofensiva, nunca se quer, pensaria que fosse uma assassina. No entanto,
esse comportamento de sempre tentar ficar comigo não parecia de uma garota
normal, não se cansava de ser humilhada por mim. Pelo visto, você, Rubya,
salvou minha vida. Eu agradeço por isso. — disse se sentindo aliviado.
— Não precisa agradecer, amigos são para essas coisas. Nunca
deixaria nada de ruim te acontecer. No entanto, se eu assisti essa reportagem,
pode ser que alguém mais do hotel tenha assistido e avise a polícia, mas eu
não ficaria lá para ver.
— Você fez muito bem de ter tomado essa atitude. Tomara que esse
hotel que viu ainda tenha vaga. — Disse preocupado.
— Esse hotel não pareceu ser muito frequentado. Parece um hotel que
abriu recentemente. — O tranquilizei, mas não tinha certeza de nada.
— Espero que esteja certa. — Disse chegando na rua desse hotel que
falei. — Pelo visto tem vaga ainda — mostrou-me estacionando o carro e
descemos carregando as malas.
— Vamos ficar em quarto separados, OK? — questionei ao entrar no
hotel.
— Tudo bem, Rubya! — confirmou assim que entramos.
— Buenos días! Habla portugués?— perguntei a recepcionista.
— Sí, claro!!! Em que posso ajudar?
— Gostaria de saber se tem dois quartos vagos?
— Temos um quarto de casal, nessa época de férias o hotel sempre
lota. Quantos dias vão ficar? — Perguntou e no mesmo instante olhei para o
Joe, pois só havia um quarto disponível e eu não estava a fim de rodar a
cidade a procura de um hotel. Estava cansada, a noite no castelo foi péssima,
mal dormi.
— Aceitamos o quarto! Quanto aos dias, acho que vamos ficar uns
vinte e cinco dias, mais ou menos.
Então ela nos passou os horários de café da manhã e da tarde, nos
passou todas informações que precisávamos e entregou o cartão do quarto.
Apesar do hotel parecer pequeno por fora, era enorme por dentro,
muito maior e sofisticado que o outro. Tudo em tons pastéis.
Quando finalmente entramos no quarto, fiquei admirada com tanta
beleza. As paredes eram de vidro com persianas na cor amarelo bem claro,
elas iam até o chão. O teto do quarto também era da mesma cor. Tudo no
quarto era amarelo, e a colcha da cama que era amarelo e branco. Curiosa
como eu era, entrei no banheiro que também era enorme como o quarto e
tinha uma banheira de hidromassagem para duas pessoas. Fiquei encantada
com tanta beleza.
— Que quarto maravilhoso! Se não se importar vou descansar um
pouco, não dormi nada naquele castelo. — Me joguei naquela cama fofa.
— Enquanto você descansa vou tomar um banho, mas antes queria
agradecer por me deixar ficar no mesmo quarto. Como você, também não
dormi direito, seria cansativo ficar procurando por outro hotel pra eu ficar. —
Pegou uma roupa na sua mala e foi para o banheiro.
— Não precisa agradecer, não gosto muito de ficar sozinha, então sua
companhia me fará bem, mas nada de gracinhas, seu Joe. — falei me
ajeitando na cama.
— Prometo, nada de gracinhas — repetiu do banheiro.
Fiquei ali com os pensamentos a mil, não conseguia entender, a noite
passada não saia da minha cabeça. Sei que quando estamos carentes,
acabamos nos deixando levar pelo momento. Sei que agi errado, mas agora
não adiantava ficar me lamentando, já aconteceu e para mim foi inesquecível,
porém, era melhor esquecer tudo isso, antes que eu ficasse mais machucada
do que já estava, afinal, ser abandonada era bem traumatizante.
Tentei relaxar, eu precisava descansar, mas era quase impossível,
meus pensamentos não deixavam. Então me sentei na cama e resolvi pegar
meu celular para olhar o facebook, só para passar o tempo e quando abri, tive
uma grande surpresa.
— Que cara é essa, Rubya? — questionou Joe ao sair do banheiro.
— Abri meu Facebook para dar uma espiada e dei de cara com essa
foto. Até tirei print. — falei incrédula mostrando a foto.
— Meu Deus, Rubya!! Quem é essa garota com o Finn? Ela ta
agarrada nele.
— Pois é, só pode ser ela, foi por causa dela que ele me abandonou.
O pior de tudo é que ela é linda, parece até uma modelo. — Falei arrasada.
— Joe vou comentar na foto.
— Não faça isso Rubya, deixa quieto, não se humilhe.
— Não tô nem aí, vou comentar. — Cliquei em comentar, mas ao
clicar apareceu uma mensagem dizendo que a postagem tinha sido removida.
— Rubya, a foto foi excluída? — questionou incrédulo.
— Sim, mas tenho o print para esfregar na cara daquele safado. —
Falei sem conseguir controlar as lagrimas. Chorei de raiva, como fui ingênua,
uma trouxa, isso sim.
— Calma Rubya, talvez possa ser uma amiga e só vamos descobrir
mesmo, quando finalmente ficarmos cara a cara com ele. — Abraçou-me
tentando me acalmar.
— Nem sei mesmo se quero ir até o fim, eu não tenho dúvida de que
seja ela o motivo de ele ter me abandonado.
— Rubya, não tome decisões precipitadas, estamos aqui, viemos
para descobrir a verdade e essa foto não prova nada, ela está no meio de dois
homens. Tudo bem, ela estava agarrada no braço do Finn, mas não significa
nada. Isso pode ser uma pose que ela fez para tirar a foto.
— Você tem razão, talvez não seja nada, mas é difícil acreditar, ou
pode ser ela ou qualquer uma, só vamos saber indo até o fim.
— Exatamente! Bom, o que acha de esquecer isso e irmos comer,
estou morrendo de fome e já está na hora do almoço — olhou-me.
Também estava com muita fome, mas a vontade que eu tinha era de
passar o resto do dia na cama.
Muito desanimada, guardei o celular na minha bolsa e fomos para o
restaurante.
O almoço foi tranquilo, apesar da tristeza que estava no meu
coração, a noite que tive com Joe não saia da minha cabeça, então resolvi
almoçar sem muita conversa.
— Vamos dar uma volta a pé por esse bairro? O lugar é tão lindo,
podemos aproveitar a tarde tirando muitas fotos. — disse todo animado.
— Sem querer ser chata, não estou a fim de ir para lugar algum. Vai
você e se divirta. Você esqueceu que amanhã vamos visitar o terceiro da lista,
o Parc Ciutadella? — falei me encaminhando para o quarto.
— Não esqueci não! Mas com certeza você é chata quando quer.
Estamos em Barcelona e nem podemos aproveitar. Você é uma estraga
prazeres isso sim. — Resmungou irritado
— Joe, você não nasceu grudado em mim, então vai sozinho —entrei
no quarto.
— Ok, vou mesmo — saiu muito irritado.
Na verdade, senti-me aliviada e aproveitei para tentar descansar um
pouco. Graças a Deus consegui dormir.
Algumas horas depois acordei sentindo um braço em cima de mim e
me assustei. Virei-me devagar e Joe dormia do meu lado, praticamente
agarrado a mim. Meu coração disparou, eu não sabia se saia dali correndo ou
se voltava a dormir em seus braços, mas a vontade que eu tinha era de nunca
sair do seu lado.
Relutei mentalmente para me levantar dali, mas meu coração e meu
corpo queria o contrário, então permaneci em seus braços e sem
perceber me aconcheguei nele mais ainda, mas quando recobrei a
consciência, me levantei o mais rápido que pude da cama, fazendo-o
acordar.
— Que horas são? — perguntou esfregando o olho enquanto
sentava-se na cama.
— São sete horas da noite, mas o que faz aqui? Pensei que tivesse
saído. — Respondi pegando uma roupa para me trocar, afinal eu já estava
morrendo de fome.
— Eu sai, mas sozinho estava muito chato, então resolvi descansar
com você, que dormia como uma pedra, nem me viu chegar. — explicou me
olhando.
— Realmente eu desmaiei, estava muito cansada. Joe, você tem
razão, sou uma chata e estraga prazeres. Então para consertar isso, o que acha
de jantarmos e depois uma balada? Afinal, pelas fotos nas redes sociais do
Finn, ele está se divertindo muito, enquanto eu, não faço outra coisa a não ser
dormir. Daqui para frente só quero me divertir e esquecer tudo isso. — falei
entrando no banheiro.
— Opa, adorei essa ideia!! Demorou. Vou me arrumar. — Sorri com
seu entusiasmo.
Eu não estava tão animada quanto ele, mas mesmo assim queria
estar linda esta noite. Coloquei um vestido tubinho preto em renda, que
destacava bem a cor dos meus cabelos que sempre estão preso em um rabo,
mas essa noite queria ele solto. Por cima do vestido coloquei um sobretudo
na cor marfim, a noite sempre esfriava muito.
Agora sim, estou pronta para arrasar. Pensei enquanto me olhava no
espelho e em seguida sai do banheiro dando de cara com um Joe lindo,
maravilhoso, perfeito até demais. Ele estava com uma camisa social branca,
uma calça social preta e carregava um casaco preto nas mãos. Nunca vi ele
tão lindo! Joe, tem uma mania de só usar roupas escuras, ele não faz ideia do
quanto fica lindo de branco.
Mas o que diabos estava acontecendo comigo? Nunca reparei dessa
maneira em Joe. Algo entre nós havia mudado, disso não tinha dúvida, mas
ficar quase babando por esse homem era demais para mim. Foco Rubya,
esquece o Joe, coloca na sua cabeça que vocês são apenas amigos e nada
mais. Pensei enquanto o encarava sem perceber.
— Uau, você está linda! Estou pronto, o que acha de irmos? —
questionou me olhando com aquele olhar safado.
— Obrigada pelo elogio, você também não está nada mal. Vamos
que estou morrendo de fome. — falei sem graça saindo do quarto.
Depois daquela noite, nada estava como antes, tinha algo estranho
entre nós, só não conseguia entender porque isso estava acontecendo. Sempre
achei o Joe tão galinha, um bom amigo, mas muito safado com as mulheres,
nunca levava ninguém a sério. No entanto, naquele momento, ele não parecia
ser o mesmo Joe que conhecia há anos, estava simplesmente muito mais
interessante, diferente e irresistível. Só que o problema era que além de ser
meu amigo, era também o melhor amigo do meu ex-noivo.
Após o jantar, fomos procurar por uma balada mais próxima do
hotel e achamos uma danceteria não muito longe de onde estávamos. Tinha
uma fila enorme para entrar, então entramos nela e percebemos que ainda
estava fechada, apenas a bilheteria estava aberta. Fiquei na fila, enquanto Joe
foi comprar nossa entrada e notei uma garota morena dando em cima dele
que parecia estar gostando das investidas da garota. No entanto, ele disse algo
no ouvido dela e saiu, deixando-a sem graça pelo jeito que ficou.
— Prontinho... — disse me entregando a entrada.
— O que foi aquilo Joe? — Perguntei irritada, mas a verdade era que
eu não entendia o porque estava tão irritada, éramos apenas amigos, não tinha
nada com a vida dele. Então porque estava com essa sensação horrível na
boca do estômago?
— Aquilo o que? — questionou me olhando.
— Deixa pra lá, não tenho nada a ver com sua vida. — falei
caminhando, a fila já estava andando, finalmente liberaram a entrada.
— Opa, que mal humor é esse de repente?
— Já falei, Joe, deixa pra lá — entreguei o convite para o segurança.
Quando entramos, o som estava tão alto que mal conseguia ouvir o
que Joe dizia. Achei melhor assim, não queria ficar falando do porque fiquei
de mal humor de repente, se nem eu sabia o que estava acontecendo comigo.
— Vou pegar nossas bebidas, o que vai querer? — gritou no meu
ouvindo quando percebeu que ignorei totalmente o que ele falava.
— Quero uma batida de amarula.
— Ótima escolha, vou buscar, já volto. — disse indo para o bar.
Então me sentei em uma mesa que tinha ali e fiquei observando o
lugar. O ambiente era escuro, apenas os globos que giravam clareavam. De
repente, do nada, um rapaz sentou-se na minha mesa e dizia algo que eu não
entendia, mas gesticulando compreendi que me convidava para dançar, e
agradecendo fiz que não com o dedo, ele entendendo se levantou e foi dançar
sozinho.
— O que aquele cara queria com você? — disse Joe no meu ouvido,
entregando-me a bebida.
— Na verdade, Joe, não entendi uma só palavra do que ele falou. —
Não contaria para ele que o rapaz queria dançar comigo, mesmo porque, Joe,
não tinha nada a ver com isso.
— Que estranho, parecia que estava dando em cima de você.
— Se estava, nem percebi. — falei bebendo o ultimo gole da minha
batida.
— Então tá, se está dizendo. Deixa pra lá e vamos nos divertir. —
Puxou-me para pista de dança.
Acho que nunca entenderia o que se passava na cabeça do Joe. O que
o interessava saber se o rapaz estava dando em cima de mim. Afinal, somos
apenas amigos e nada mais.
A noite estava perfeita, dancei e bebi muito, consegui até esquecer
meus problemas, estava mesmo precisando disso. De repente, começou tocar
uma música lenta e inesperadamente uma moça surgiu na frente do Joe e o
tirou para dançar e para a minha surpresa, o rapaz que veio falar comigo na
mesa, também me tirou para dançar e não pude recusar.
O cara agarrou minha cintura de uma maneira ousada me deixando
muito sem graça, mas vendo que o Joe estava se divertido, fiz questão de me
divertir também. No entanto, o cara parecia disposto a me conquistar, quando
ele tentou me beijar, eu recuei na hora, mas o rapaz era insistente e continuou
tentando, foi então que senti alguém tirar o rapaz a força de cima de mim.
Logo depois o vi levar um soco na cara, e paralisei ao ver quem havia
sido o responsável. Joe, parecia um louco em cima do rapaz, gritava e
xingava muito, fiquei nervosa com a cena e sai correndo. Nunca pensei que
um dia fosse ver o Joe tão nervoso assim, afinal, ele sempre foi tão calmo.
Quando sai da danceteria, fiz sinal para um taxi que estava passando e
voltei para o hotel sozinha. Entrei no quarto e fui direto tomar um
banho, dancei tanto que estava um pouco suada. Logo depois eu estava
vestida para dormir, me deitei na cama tentando entender o que deu no
Joe para bater no rapaz.
Tudo bem, sei que ficamos juntos, só que foi apenas uma única vez.
Foi perfeito, sim, eu sei que foi, até hoje penso nessa noite, foi inesquecível.
No entanto, não podemos passar disso, eu já perdi o Finn, não quero perder
meu melhor amigo. Tem algo de errado acontecendo, Joe vem agindo
estranho e eu quando estou com ele, sinto uma sensação estranha na boca do
estômago. Tem algo de errado entre nós, amigos não agem assim. Tenho até
medo de pensar, não posso estar me apaixonado pelo Joe, não por ele e
ainda por cima depois de ter sido abandonada no altar, isso seria loucura.
Pensava enquanto tentava dormir, mas de repente, ouvi Joe batendo na porta
do quarto, já que o cartão estava comigo. Fingi não ouvir, ele bateu muitas
vezes e minutos depois desistiu.
Quando estava quase pegando no sono, a porta abriu e Joe entrou
como um um furacão no quarto. Continuei imóvel na cama, eu não queria ter
nenhuma conversa com ele, queria apenas que tudo isso acabasse.
— Rubya, acorda, pelo amor de Deus! Nunca mais suma assim.
Pensei que algo de ruim tivesse te acontecido, eu não vi você saindo da
danceteria, te procurei como um louco, quase fui na polícia, mas achei
melhor ver se tinha voltado para o hotel. — disse levantando um pouco meu
corpo da cama e me abraçando desesperado, não pude continuar fingindo.
— Calma, Joe, eu estou bem! Voltei para hotel de taxi.
— Porque fez isso? Quase me matou do coração — Olhou-me muito
preocupado e ainda me abraçava.
— Não gosto de brigas, você sabe disso. — Respondi saindo dos seus
braços.
— Tem algo de estranho acontecendo conosco e precisamos
conversar sobre isso. — Sentou-se do meu lado.
— Não há nada de estranho, por favor, me deixe dormir, amanhã
temos uma lista para seguir.
— Rubya, para de fugir desse assunto, você não é boba e sabe que
tem algo acontecendo entre nós.
— Eu não sei de nada... já disse, por favor, me deixa dormir. — falei
me deitando e virei de lado, cobrindo a cabeça com o edredom.
— Rubya, você é teimosa demais e não estou mais a fim de ficar
nessa agonia. A recepcionista me disse que um quarto foi desocupado essa
noite, to indo para lá, não posso ficar com você assim. Amanhã nos
encontramos no café e vamos juntos até o fim nessa jornada. No entanto,
enquanto continuar fugindo desse assunto sobre nós, prefiro dormir longe de
você. Boa noite e até amanhã. — Pegou sua mala rapidamente e sem me
deixar dizer uma só palavra saiu batendo a porta muito irritado.
Que droga! Porque ele insistia nessa conversa? Será que ele não
percebia o quanto estava magoada, chateada, machucada, traumatizada com o
abandono de Finn, tinha medo de perder ele também, por isso preferia
acreditar que não estava acontecendo nada entre a gente, mesmo que meu
coração dissesse o contrário.
Fiquei triste por ele ter saído assim, mas confesso que me senti um
pouco aliviada, só assim conseguiria evitar que algo entre nós acontecesse
novamente. Entretanto, bem no fundo do meu coração, eu não queria que ele
ficasse longe de mim.
Lutei para controlar minhas lágrimas, pois uma sensação ruim tomou
conta de mim. Queria que tudo fosse diferente, não queria ter tanto medo
assim de perder alguém, só que isso era mais forte que eu. Minha noite foi
longa, revirei na cama de um lado para o outro, não conseguia tirar da minha
cabeça a noite inesquecível que tive com o Joe. Seu beijo, seu toque, seu jeito
carinhoso de me observar, o modo como me olhava, seu cuidado comigo me
causava arrepios por todo corpo só de pensar.
Eu precisava dormir e sem ele parecia impossível. Fechei meus olhos
e lutei para tirar o Joe dos meus pensamentos. Estava nessa viagem maluca
para descobrir porque fui abandonada, não podia tirar o foco disso. Brigando
com meus pensamentos finalmente peguei no sono.
Acordei com o celular tocando, muito sonolenta peguei para ver quem
era, vi que minha mãe me ligava e atendi. Ela apenas queria saber se tinha
descoberto alguma coisa, disse que todos estavam preocupados comigo,
tranquilizei-a dizendo que a viagem estava me fazendo muito bem, pedi que
mandasse um beijo a todos, me despedi e desliguei em seguida.
Ainda com o celular em mãos verifiquei a hora e eu estava atrasada
para o café. Dei um pulo da cama, e quando lembrei que Joe não dormiu
comigo, meu coração apertou tanto ao ponto de doer e eu nada poderia fazer
a respeito.
Fui me trocar correndo e desci rapidamente para tomar café, meu
coração até parecia que sairia pela boca, só de pensar em vê-lo. Parecia que
fazia muito tempo que não o via.
— Finalmente você apareceu, pensei que tivesse desistido ou que não
queria me ver. — disse Joe ao me ver entrar no restaurante.
— Nem um, nem outro, eu apenas perdi a hora. Vou pegar meu café.
— Falei indo buscar e depois de colocar ovos mexidos, duas fatias de pão e
um pedaço de bolo de chocolate na bandeja, voltei para a mesa.
— Você parece faminta. — Observou.
— Estou com muita fome mesmo.
— Vou pegar um café para te acompanhar — levantou-se.
Não demorou muito e ele voltou com sua xícara. Tomamos café em
silêncio, tentei a todo custo ignorar o clima estranho que estava entre nós. Joe
parecia chateado, estava seco comigo.
Minutos depois de comer estávamos a caminho do terceiro lugar da
lista, o Parc Ciutadella. Joe apenas prestava atenção na direção, não disse
uma só palavra, então achei melhor ficar em silêncio também. Nunca o vi
assim, ele era sempre tão alegre, gostava de conversar, e estava sempre
tentando me deixar feliz. No entanto, ele parecia distante, com pouca
conversa.
O estacionamento estava lotado e foi muita sorte Joe conseguir
encontrar uma vaga para o nosso carro.
Na mesma hora em que desci, senti meu celular vibrar na bolsa,
poderia ser alguma mensagem dos meus pais, ou até mesmo de Naty. Então
peguei para ver de quem era, e notei que era notificação do Facebook,
curiosa, abri para ver do que se tratava e dei de cara com uma foto do Finn
tomando café com aquela garota e mais dois rapazes que eu não conhecia.
Meu sangue ferveu de raiva, pois o filho da mãe parecia muito feliz, enquanto
eu, me encontrava com o coração despedaçado. Tirei um print rapidamente,
queria jogar tudo isso na cara daquele idiota.
— Rubya, que cara é essa? — perguntou Joe me vendo plantada ao
lado do carro com o celular na mão. Então mostrei para ele, que me olhou
espantado na hora.
— Não, acredito, nunca pensei que Finn fosse um idiota. Como ele
pôde fazer isso com você? — disse incrédulo.
— Também nunca imaginei que ele fosse assim. Realmente as
aparências enganam. Vai saber quanto tempo faz que ele tem outra. Só não
entendo o que fiz de mal a ele para merecer ser deixada no altar da maneira
que fui. Ele foi muito cruel, mas se ele está se divertindo, eu também posso
fazer isso. Vamos conhecer esse lugar, parece maravilhoso. — Guardei o
celular. Essa foto não estragaria meu dia.
— Rubya, não temos certeza de nada ainda, mas se você quiser
desistir de descobrir a verdade, ainda tem tempo, podemos voltar para o
Brasil e deixar tudo para trás.
— De jeito nenhum. Quero ficar cara a cara com ele e ouvir de sua
boca o que eu já desconfio. Não vou embora sem descobrir o que fiz para
merecer isso. — Falei entrando no parque.
O lugar era enorme e belíssimo, acho que dava até para se perder
dentro, tanto eu quanto Joe estávamos encantados e olhávamos para todos os
lados. De repente, fomos surpreendidos por uma linda cascata formada por
um enorme conjunto monumental. Admirados, continuamos caminhando e
vimos o edifício do Castelo dos Três Dragões e uma placa na entrada dizendo
que atualmente funcionava como Museu de Zoologia. Era simplesmente
lindo.
O parque era rodeado por extensas áreas de jardins, monumentos,
árvores e havia um lindo lago onde tinham pessoas navegando em alguns
barquinhos, o lago era enorme.
Um senhor apareceu nos convidando a entrar em um barquinho que
estava parado na beira do lago. Mesmo negando o convite, não tivemos muita
escolha, pois ele não entendia o que falávamos para ele. O senhor me
entregou uma rosa e uma caixa grande de presente enquanto entrávamos e o
mais estranho era que ele desamarrou o barco e o empurrou para o meio do
lago e saiu da água nos deixando sozinhos ali.
— Rubya, o que foi isso, e que presente é esse? Que senhor mais
louco, nos obrigou a entrar no barco e depois nos deixou aqui. Pensei que ele
fosse nos levar para passear, mas ao invés disso nos deixou sozinhos. —
Ajeitou-se no canto do barquinho e eu me sentei na sua frente.
— Não gosto muito de lago, rio, mar, piscina e esse louco me fez
entrar aqui. O que esse cara tinha na cabeça? — meu coração estava quase
saindo pela boca, estava apavorada. — Pelo amor de Deus, Joe, faz essa coisa
parar de balançar, eu tô ficando enjoada.
— Calma, Rubya, é assim mesmo, mas para não passar mal, vamos
sentar no chão do barco e tentaremos nos mexer o menos possível, assim
evitará essa sensação ruim e o enjoo vai passar. — Tentou me tranquilizar.
Não pensei duas vezes e me sentei no chão como ele disse. — Feche seus
olhos e tente relaxar, sinta como se estivesse em uma rede que aos poucos vai
parando de balançar. Quando sentir que parou, abra seus olhos e a sensação
ruim terá sumido. — disse sentando-se do meu lado e fiz exatamente como
ele orientou.
Ficamos por alguns minutos em silêncio, e eu não tinha a intenção
de abrir os olhos enquanto o movimento não parasse. No entanto, com os
olhos fechados o mal-estar passou, e senti o barco parar de balançar
lentamente me deixando um pouco relaxada.
— Prontinho, finalmente parou de balançar. Como está se sentindo?
— Muito melhor, como sabia que isso daria certo? — Perguntei
abrindo os olhos.
— Meu pai sempre me levava para passear de barco quando eu era
pequeno e foi assim que perdi o medo. Meu pai me ensinou isso.
— Já que o mal-estar passou, vou abrir essa caixa que ganhei de
presente. — Rasguei o papel e abri para ver o que era. Fiquei muito surpresa
com o conteúdo que tinha na caixa. Será que Joe havia preparado essa
surpresa para mim?
— Rubya, o que foi? O que tem na caixa? — questionou curioso me
deixando confusa.
— Pensei que soubesse. Achei que você tivesse me dado isso de
presente, que fosse uma surpresa sua para mim.
— Não fui eu, não tenho nada a ver com esse presente. O que tem na
caixa?
— Se não foi você, quem foi então? Na caixa tem uma cesta de café
da manhã com vinho, caixa de bombom, bolinhos, lanchinhos naturais,
bolachas, geleias, torradas, cappuccino, pão de queijo, iogurte, cereal, suco de
caixinha, doces, mel, sachês de chá, frios, leite, requeijão, queijo, barras de
cereal, vitamina, pão de mel, patês, e duas taças, duas canecas, uma colher e
uma garrafa térmica, etc. Tem muita coisa aqui.
— Me deixe ver... — Pegou a caixa. — Nossa Rubya, tem bastante
mesmo, dá para uns dois dias é uma cesta para duas pessoas, mas a
quantidade de coisa que tem, dá para muito mais. Quem será que nos
preparou isso e porque? — Questionou muito confuso.
— Não faço ideia! No entanto, pensando bem, estamos aqui por causa
do meu ex-noivo. Será que Finn tem alguma coisa a ver com isso?
— Faz sentindo, mas porque ele faria isso? Não, acho que não foi ele.
— Deixa pra lá, acho que nunca vamos descobrir. Talvez esse senhor
nos confundiu com outro casal e essa cesta não era para nós. — Falei
abrindo a garrafa térmica para ver o que tinha e tinha água quente, deveria ser
para o chá e o cappuccino.
— Bom, se estamos aqui com essa cesta, vamos aproveitar. — Abriu
o vinho.
Esquecendo o movimento que o barco fazia lentamente, continuei
imóvel ali e, por incrível que pareça, tinha um clima romântico no ar, pois no
local deveria ter caixa de som, afinal só tocava música romântica em um som
ambiente, mesmo estando em um lago, dava para ouvir direitinho.
Comecei a observar todo o barco, e notei que na outra ponta tinha
varias almofadas. Só não entendia porque tinha isso.
— Porque aquelas almofadas estão aqui? — perguntei apontando para
elas.
— Não faço ideia, muito estranho, não é?
— É sim. Joe, que horas será que o senhor vem nos tirar daqui?
— Eu não sei, Rubya. Enquanto ele não vem, vamos comer, estou
com fome. — disse comendo pão de queijo. Ele já estava na sua segunda taça
de vinho.
Ficamos ali comendo e bebendo em um papo descontraído, parecia
até que o Joe estava gostando dessa situação, ele estava feliz, aquela cara
fechada tinha ido embora.
Nosso dia foi assim, conversamos sobre tudo e quando tocava uma
música que gostávamos muito, cantávamos juntos. Apesar do medo de água
que eu tinha, passamos uma tarde agradável, comendo coisas gostosas e
ouvindo músicas lindas. Estava tão gostoso que demorei a notar que o sol já
tinha se escondido, estava um fim de tarde maravilhoso.
— Joe, logo vai escurecer e aquele senhor nem apareceu para nos tirar
daqui. Será que todos já foram embora? — questionei me ajoelhando no
barco, para ver se tinha mais alguém no lago. Notei que todos os barquinhos
estavam parados na beirada do logo, só o nosso ainda estava no meio, não
tinha como sair dali a não ser nadando, mas além do pavor que eu tinha de
água, não sabia nadar. — Joe, quero ir embora, como vamos sair daqui?
— Não tem mais ninguém aqui, e a única maneira de irmos embora é
nadando, ou esperamos que alguém nos tire daqui. Vou procurar se tem
algum remo, ou qualquer outra coisa para ajudar o barco a sair do lugar. —
Disse levantando-se, fazendo o barco balançar me deixando apavorada.
— Joe, não faça o barco balançar, por favor!
— Calma, Rubya, preciso procurar por alguma coisa ou prefere ir
embora nadando?
— Eu não sei nadar, prefiro esperar por alguém para nos tirar daqui.
— falei sentando-me rapidamente e no mesmo instante fechei os olhos.
— Já que é assim, acho que vamos ter que nos ajeitar nesse barco
mesmo, não achei nada que nos ajude a sair do meio do lago. Mas olha,
podemos usar essas almofadas para ficarmos confortáveis até alguém
aparecer. — Disse carregando aquele monte de almofadas.
— Joe, estou muito apertada, preciso ir ao banheiro.
— Não temos banheiro aqui, você terá que fazer de outro jeito, vou
abrir essa caixinha de suco para você, ela vazia pode ser útil também. —
Entregou a caixinha, me deixando muito sem graça.
Agachada me engatinhei até o outro lado do barco tentando não o
balançar mais ainda.
— Joe, por favor, não olhe — implorei morrendo de vergonha Que
situação mais constrangedora.
— Fica tranquila, também vou me aliviar para fora do barco. — disse
em pé na beirada, virei o rosto rapidamente e fiz o que tinha que fazer, joguei
na água e depois de ter certeza que o Joe já tinha terminado, voltei para meu
lugar engatinhado devagar.
— Vou ajeitar essas almofadas aqui, podemos nos deitar nelas, tem
bastante. Parece até que alguém as deixou aqui de propósito. — disse
ajeitando-as no chão.
— Tudo isso aqui, para mim, parece proposital. — Me ajeitei nas
almofadas e Joe fez o mesmo ao meu lado.
Brincando comigo ele abriu a cesta e começou a me dar gotas de
chocolate na minha boca e eu fiz o mesmo com ele. Estava um clima muito
gostoso entre nós, até me esqueci por um momento que fui deixada no altar.
Joe consegue me fazer feliz e me fazer esquecer dos problemas. Joe me fazia
bem, estar com ele era maravilhoso.
— Opa, você tem chocolate aqui — disse lambendo meus lábios
fazendo meu coração quase sair pela boca. Joe tinha um poder inexplicável
sobre mim, perto dele eu não tinha controle das minhas ações. Tinha medo do
que pudesse fazer com ele aqui.
Cada gota que ele colocava na minha boca, era uma lambida que eu
ganhava, até finalmente o beijo acontecer.
Já tinha escurecido. Só as luzes do parque e a lua clareavam o lugar,
não tinha como evitar aquele beijo gostoso. Entreguei-me sem pensar em
nada. O beijo era delicioso, com gostinho de chocolate que me fez ficar
completamente louca de desejo por esse homem. Sua mão percorria meu
corpo por cima da roupa me deixando muito excitada.
Joe, não fazia ideia do poder que ele tinha sobre mim e achava melhor
nem saber. No entanto, bastou uma coruja passar cantando sobre nós para me
fazer voltar para a realidade, então rapidamente me afastei dos seus lábios
muito sem graça. Eu não queria perder mais ninguém, não podia deixar me
levar sempre por esses momentos e lugares românticos, não queria que
ninguém saísse machucado.
— Desculpe, Joe, eu prometi que isso não mais aconteceria. — Me
desculpei olhando para o chão, tentei não olhar para aqueles olhinhos
puxados que me enfeitiçavam ou não aguentaria e beijaria aquela boca
gostosa novamente.
— Você não tem que se desculpar, também acho que deveria parar de
fugir disso. Parar de lutar contra o que está sentindo! Não adianta ficar
dizendo sempre a mesma coisa, que não tem nada acontecendo entre nós.
Porque tá na cara que tem, você só não quer admitir. — Levantou meu
queixo com sua mão, fazendo-me olhar para ele.
— Joe, você tem toda razão, não dá para ignorar o que está
acontecendo entre nós, mas acho que enquanto não descobrir o porque fui
abandonada, nunca vou estar preparada para um novo relacionamento. Por
isso, fico evitando essa conversa. Eu já perdi o Finn e tenho medo que isso
entre nós não dê certo e eu perca você também. Por favor, Joe, o que acha
dessa conversa sobre nós acontecer depois que eu descobrir a verdade e
depois que tudo isso passar? Podemos ter um encontro como um casal normal
e falar sobre o que estamos sentindo. No entanto agora, acho que não é o
momento. Será que me entende?
— Claro que entendo! Só quero deixar bem claro, não vou desistir de
você. Nunca me senti assim com mulher nenhuma. Eu sei esperar e não vou
sair do seu lado. Vamos ter nosso momento e sei que tudo será diferente,
você vai estar pronta para mim. — Puxou-me para deitar em seu peito e eu
não recusei.
— Obrigada por entender, com certeza depois que tudo isso acabar,
vou estar pronta para você. — falei me aconchegando nele.
— Fico feliz em ouvir isso — acariciou meu cabelo.
A noite estava perfeita e o céu estrelado parecia um cenário pintado a
mão de tão lindo. Ficamos ali, olhando para aquele céu maravilhoso e
ouvindo apenas o som da natureza. As músicas tinham parado de tocar. Joe
não parava de falar um minuto, contava histórias de quando era pequeno sem
deixar de fazer carinho em mim e assim, agarradinhos um no outro,
acabamos adormecendo.
Acordamos com o dia clareando e logo que abri os olhos, uma música
romântica começou a tocar. Fiquei curtindo aquela melodia, olhando para o
céu que estava azulado. O dia estava lindo, não tinha nenhuma nuvem escura
para estragar aquela maravilha.
— Você acordou? — perguntou se ajeitando e sentou-se do meu
lado. Como eu ainda estava deitada, também me sentei.
— Sim, a claridade me acordou — respondi olhando para o céu.
— Você conseguiu dormir bem?
— Mais ou menos, deu para descansar um pouco. Difícil dormir bem
em um lugar como esse.
— Verdade, apesar desse monte de almofadas, não foi nada
confortável dormir no chão desse barco.
— Não foi mesmo. O que acha de comermos alguma coisa? Estou
morrendo de fome. — falei ouvindo minha barriga roncar, fiquei até sem
graça. Puxei a cesta que estava ao meu lado e peguei um bolinho para comer.
— Também estou morrendo de fome — pegou algumas bolachas para
comer.
Ficamos conversando e comendo, esperando que alguém aparecesse
para nos tirar dali. Estava com muita vontade de ir ao banheiro, mas não iria
fazer na caixinha como fiz a noite. Iria esperar, tinha certeza que uma hora
sairíamos dali.
De repente, ouvi alguém e sem pensar duas vezes me levantei
correndo e no mesmo momento senti o barco se mover, foi quando vi o
senhor que nos deixou ali, puxando o barco.
— O que foi Rubya? — questionou se levantado, ficando atrás de
mim. Pude sentir sua respiração no meu pescoço e isso me deixou sem
reação, não consegui nem prestar atenção no que Joe dizia. — Finalmente
vamos sair daqui, estou louco por um banho e você? — dizia, praticamente
no meu ouvido. E mais uma vez, não consegui dizer uma só palavra. Sua voz
e seu corpo tão perto de mim, deixava-me paralisada, como se eu quisesse
que ele me beijasse novamente, necessitava disso, ansiava pelo seu toque, só
que ao mesmo tempo, um medo me consumia por dentro, não queria perder
mais ninguém. — Rubya, você está bem? Está tão calada. — Me questionou.
— Estou bem, vamos embora logo, que tô louca para ir ao banheiro.
— falei puxando-o.
Pegou a cesta que estava no chão e segurou minha mão para
descermos do barco. O senhor falava como uma matraca, mas como falava
muito rápido, não entendi uma só palavra.

— Nossa Rubya, será que esse senhor está se desculpando por ter nos
esquecidos aqui? — Disse entrando no carro.
— Sei lá, ele fala tão rápido que não consigo entender — entrei no
carro também.
— Acho que nunca vamos saber. Só acho que tudo isso foi muito
estranho. — Ligou o carro e partimos para o hotel.
— Disso eu não tenho dúvida, coisas estranhas andam nos
acontecendo. Primeiro ficamos trancados no castelo e agora nesse barco. O
que mais pode nos acontecer?
— É uma boa pergunta, Rubya! No entanto, hoje, não quero pensar
em mais nada. Só quero um bom banho e cama.
— Eu também só quero descansar por hoje.
— Bom, ainda é cedo, podemos descansar o resto da manhã e à tarde
o que acha de irmos para o próximo da lista?
— Não sei, acho melhor dar uma pesquisada nesse próximo. Não tô
afim de passar uma noite fora novamente. — Desci do carro, pois finalmente
tínhamos chegado ao hotel. Me senti aliviada, precisava de um banho.
— Tudo bem, vamos pesquisar antes de ir. Rubya, temos uma
banheira de hidromassagem enorme no nosso banheiro, o que acha de darmos
uma relaxada nela juntos? — Perguntou ao entrarmos no quarto.
— Não acho uma boa ideia.
— Porque não? Nós dois precisamos disso.
— Sei lá, acho estranho, então é melhor ir sozinho mesmo.
— Mas é chatinha mesmo hein, não vejo nada de estranho nisso,
somos amigos e duvido que não tenha um biquíni ou um maio aí nessa mala
enorme que trouxe. — disse entrando no banheiro e logo em seguida saiu
vestindo apenas uma bermuda. — Já coloquei a banheira para encher, estou
pronto para entrar.
— Já falei, Joe, entra sozinho. Eu não estou afim, só quero tomar um
banho para relaxar.
Não podia dizer a ele que ficar sozinha na banheira me causava
arrepios, afinal, por algum motivo eu me sentia muito atraída por ele. Não
podia deixar que nada acontecesse entre nós novamente, por isso era melhor
evitar.
— Tudo bem, nem adianta eu ficar insistindo, sei como você é. Então
vai lá tomar seu banho, que depois entro na banheira sozinho, não é. Não vai
mudar de ideia não? — Sentou-se na cama.
— Não vou não! Mas agradeço por me deixar tomar um banho
primeiro. — Entrei no banheiro trancando a porta e finalmente pude tomar
meu banho sossegada.
Tentei não pensar em nada, afinal tudo o que eu mais queria era
esquecer tudo o que estava acontecendo. Eu e Joe, isso não estava certo.
Amigos não se beijam, e tudo isso poderia terminar mal se eu não tomasse
cuidado.
Terminei meu banho e trocada sai do banheiro, fui me deitar na
cama. Joe ainda tentou me convencer de entrar com ele. Sabe que aqueles
olhos puxados quase me convenceram, mas não perdi o foco, continuei firme
na minha decisão e fui me deitar.
Joe nem trancou a porta, entrou na banheira cantarolando uma
música que não me era estranha. E ouvindo ele, agarrada em meu travesseiro,
acabei adormecendo.
Acordei com um carinho gostoso em meu cabelo, na hora lembrei de
quem se tratava e meu corpo reagiu de uma maneira diferente, meu coração
disparou. Realmente, não sabia o que andava acontecendo comigo? Algo
dentro de mim mudou e não conseguia entender o quê.
— Finalmente a dorminhoca acordou! Estou morrendo de fome, mas
fiquei com dó de te acordar. Então fiquei aqui te admirando dormir, você
sabia que dorme com a boca um pouco aberta? Mas fica tranquila, tirando
esse detalhe você fica linda de qualquer jeito. — brincou me dando aquele
sorrisinho safado.
— Deixa de ser chato Joe, eu tenho problema de respiração enquanto
durmo e não pedi que ficasse me olhando. — falei me levantado.
— Adoro te olhar dormir...sua chatinha — brincou se levantando
também. — Agora vamos almoçar, dormimos praticamente amanhã toda,
porque depois do meu banho de banheira me deitei com você. Pelo visto, está
viagem é para dormirmos, pois não fazemos outra coisa — disse sarcástico.
— Sempre engraçadinho... Eu gosto de dormir, aqui pelo menos
temos todo tempo do mundo. Lembra que trabalhamos de mais? Vou lá me
trocar. — falei indo para o banheiro e nem esperei ele falar mais nada,
mesmo assim gritou que eu tinha razão quanto a trabalharmos demais.
Alguns minutos depois estávamos almoçando. A comida era deliciosa
e o papo como sempre estava bastante agradável. No entanto, percebi que
tinha algo diferente entre nós. Joe estava bem diferente, não olhava tanto para
os lados como antes procurando por uma garota, sua atenção estava
totalmente voltada para mim.
— Bom, não vamos voltar para o quarto, não é? Não aguento mais
ficar dormindo! Vamos para o próximo da lista e acabar logo com isso. O que
acha?
— Acho uma ótima ideia, mas precisamos fazer uma pesquisa rápida.
— Não precisa, eu já fiz enquanto você dormia. O próximo é um parc
temático, o Parc Guell de Gaudí. Acho que nada vai acontecer por lá. Pelo
que li, vamos caminhar muito naquele lugar, então acho melhor você calçar
um sapato confortável. De salto alto não vai conseguir andar muito.
— Já que é assim, vou trocar, me espera aqui, que eu já volto. — falei
entrando no elevador.
Joe ficou me esperando na recepção. Coloquei um tênis rapidamente e
desci. Quando a porta do elevador abriu, ouvi uma conversinha entre Joe e
uma mulher e, pelo jeito que ela falava, senti um frio na barriga. Será que
aquela psicopata da Paola tinha encontrado a gente?
Saí rapidamente do elevador, corri para recepção e para minha surpresa e
alívio, Joe apenas conversava com a recepcionista bem à vontade. Ele sempre
foi assim quando o assunto era mulheres, por esse motivo não dava para levar
ele muito a sério. No entanto, dessa vez, quando ele me viu, deixou a moça
falando sozinha e se aproximou de mim. Confesso que fiquei realmente
muito preocupada quando pensei que fosse aquela psicopata, mas acho que
consegui realmente afastá-la de nós. Então, não tinha porque ficar me
preocupando com isso.
— Vamos anjo. Mas que carinha de assustada é essa? — questionou
me observando.
— Não é nada não! Só estou um pouco ansiosa e com medo, falta
pouco para descobrir o motivo que fui deixada no altar daquela maneira e
isso me assusta. — Não iria dizer a ele que achei que aquela mulher louca
tivesse o encontrado. Queria mais que ele esquecesse que ela existiu um dia.
— Não fique assim, vou estar o tempo todo com você, não vai
descobrir a verdade sozinha. — Abraçou-me. — Agora vamos para aquele
Parc e amanhã rumo a catedral. Acho melhor já avisar o seu ex noivo fujão,
ele disse que nos esperaria lá. — disse enquanto íamos para o carro.
— Boa ideia, vou mandar uma mensagem para ele. Finalmente esses
passeios sem sentindo vão acabar. — Entrei no carro e peguei meu celular na
bolsa, mandei uma mensagem para Finn. Só não sabia se iria me responder,
mas pelo menos avisei.
— Com certeza tudo isso vai acabar. Agora vamos nos divertir. —
disse ligando o carro todo animado, enquanto eu estava arrasada por dentro.
Mesmo que algo em mim tivesse mudado, me sentia triste,
despedaçada. Finn conseguiu abalar meu psicológico.
Alguns minutos depois estávamos entrando no Parc Guell, era um
lugar diferente, colorido, muito animado e repleto da imaginação fantasiosa
de Gaudí. A partir da lânguida floresta de colunas de pedra, até à famosa
Serpente Bench que serpenteia ao longo do perímetro, essa obra-prima
modernista era, na essência, um parque temático Gaudí.
Subimos uma escadaria dupla que parecia não ter fim. A escadaria
estava implantada entre muros ameados, cujas paredes estavam revestidas
com pedaços de cerâmica multicolorida formando uma espécie de padrão em
xadrez com retângulos brancos e quadrados coloridos, onde a luz do sol batia
criando um efeito mágico e lindo.
Quando chegamos no topo da escada, demos de cara com várias
colunas e uma delas tinha uma placa em bronze com alguns dizeres. Curiosa
como sempre fui, arrisquei tentar ler, estava em Espanhol. A placa dizia que o
lugar se chamava sala das cem colunas, uma espécie de grande alpendre
originalmente destinado a albergar um mercado ao ar livre para a urbanização
construída em 1906 e 1913.
— Rubya, que lugar incrível. É tão colorido e animado que transmite
um bem-estar enorme. — ele observava tudo ao seu redor, parecia
deslumbrado com o que via. Quem não ficaria encantado com um lugar como
aquele? Realmente era maravilhoso.
— Sim Joe, esse lugar é realmente incrível, nunca conheci nada
parecido. — Passei no meio daquelas enormes colunas.
— Nem eu — disse olhando uma fonte que tinha ali.
O local estava lotado, mal dava para andar no meio de tanta gente. No
entanto, andamos horas por ali. Compramos algumas lembrancinhas que
eram vendidas, comemos em pequenos restaurantes e tiramos muitas fotos
para registrar cada momento daquele lugar. Foi uma tarde gostosa e divertida,
até dançamos um pouco, até música ao vivo tinha.
Chegamos ao hotel ao final da tarde, apesar do passeio ter sido
perfeito e inesquecível, estávamos exaustos, andamos demais e o lugar tinha
muitos morros.
— Estou morta de cansaço, meus pés nunca andaram tanto. — Me
joguei na cama. Tudo que eu queria era deitar um pouco.
— Me deixa fazer uma massagem nos seus pés. — Sentou-se na
beirada da cama.
— De jeito nenhum, tenho muitas cosquinhas nos pés. — Levantei
rapidamente e corri para o banheiro. — Vou tomar um banho. — Avisei
trancando a porta. Não podia deixar ele me massagear, seu toque me causava
arrepios.
— Acho que não é cosquinha não, você tá é fugindo de mim. —
brincou da porta do banheiro.
— Deixa de ser chato, Joe, eu não estou fugindo de ninguém. —
Claro que eu estava, mas ele não precisava saber disso.
— Faz de conta que acredito — retrucou e logo em seguida ouvi o
barulho da TV ligada. — Somos amigos há tanto tempo que ele me conhecia
muito bem. Achei melhor nem responder nada.
Tomei meu banho pensando em tudo o que aconteceu, fui abandonada
e agora não sabia o que estava acontecendo entre Joe e eu. Estava tudo muito
confuso, mas a última coisa que eu queria era perder um amigo.
Saí do banheiro vestida apenas com minha camisola. Comemos e
andamos tanto que tudo o que eu queria era descansar, mas ao sair do
banheiro encontrei Joe desmaiado na cama com o controle na mão. Ele
deveria estar mesmo muito cansado.
Graças a Deus que nada de estranho aconteceu, não ficamos
trancados em lugar algum do Parc, como nas outras visitas que fizemos, nem
sei qual foi o pior; o castelo que me dava arrepios ou eu ter pavor de barco.
Espero que na catedral amanhã corra tudo bem. Pensei, enquanto admirava
esse deus grego dormindo, e sem resistir toquei sua face suavemente me
causando um frio na barriga. Joe mexia muito comigo e disso eu não tinha
como fugir.
Quando passei minha mão em seu cabelo, Joe abriu os olhos me
assustando e quando me viu ao seu lado praticamente quase em cima dele,
seu reflexo foi tão rápido que não pude evitar o beijo que ele me deu.
Fiquei totalmente paralisada, apenas me entregando aquele momento
que estava maravilhoso. Nunca ninguém me beijou assim, nem mesmo meu
ex noivo me beijava com tanto desejo. Esse beijo era capaz de mostrar todos
os sentimentos oprimidos há muito tempo. Foi então que alguns pensamentos
se passaram como filme na minha cabeça. Joe sempre foi tão atencioso,
cuidadoso e dedicado. Durante todos esses anos que somos amigos, não
poderia acreditar que sempre foi apaixonado por mim.
Com medo dos meus pensamentos, voltei para a realidade e em
choque comecei a chorar me afastando dos seus lábios.
— Anjo, o que foi? Porque está chorando? Desculpa, eu prometi que
isso não iria mais acontecer, mas foi mais forte que eu. Não chore, por favor.
— disse Joe desesperando tentando me acalmar.
— Joe, eu fui abandonada no altar. Será que sou uma pessoa tão
ruim assim? — perguntei soluçando.
— Claro que não, você sempre foi especial, maravilhosa, a mulher
que todo homem gostaria de ter. Infelizmente se apaixonou pela pessoa
errada. — disse com um olhar triste, passando a mão em meus cabelos.
— Joe, você é apaixonado por mim? — indaguei ainda chorando.
— Pensei que nunca fosse perceber. Não sou apaixonado, na verdade,
eu te amo, sempre amei. Mas como era a noiva do meu melhor amigo, preferi
me esconder no monte de garotas que eu ficava, por isso nunca quis nada
sério com ninguém. Você é especial e só o Finn não vê isso. — Levantou
meu queixo com um dedo, me fazendo olhar para ele.
— Eu nem sei o que dizer... — tentei me acalmar e respirei fundo. —
Sempre fui tão louca pelo meu ex que não percebi esse amor que sente por
mim e acho que nunca perceberia se ele não tivesse me abandonado. Tenho
que te confessar uma coisa. Não sei se é por causa da raiva que sinto dele,
mas algo mudou dentro de mim e por mais que eu tente fugir de você, meu
coração não suporta ficar longe. — Quando terminei de falar, Joe sorriu e me
deu um selinho, quando percebi que ele queria falar coloquei meu dedo em
sua boca em sinal para que ele me ouvisse e continuei. — Eu não sei ainda o
que realmente estou sentindo por você, por isso preciso que me entenda. Sei
que quer ficar comigo, eu também sinto a mesma coisa. Só que no momento
tudo que preciso é me libertar desse pesadelo, mesmo que eu não sinta mais
nada por ele, não como antes. Preciso resolver isso e só assim vou poder ficar
com você em paz. Só quero que entenda que ter sido deixada no altar me
causou danos enormes no meu psicológico. Vai ser difícil acreditar no amor
novamente.
— Claro que entendo, você não merecia isso. Imagino como deve ser
traumatizante ser deixada como foi. Eu também sinto que você quer ficar
comigo, mas sofreu tanto que agora tem medo. Fica tranquila linda, eu sei
esperar o tempo que precisar. Só queria poder sempre estar ao seu lado, nem
que seja como amigo.
— Somos amigos e tudo que mais quero é manter essa amizade. E se
vamos ficar juntos, só o tempo dirá. — Me deitei e ele fez o mesmo. —
Agora eu preciso descansar. Amanhã vai ser outro dia cansativo. Boa noite.
— Boa noite anjo, e que fique claro, esperarei o tempo que precisar.
— respondeu se levantado. Acho que tinha ido tomar banho.
No entanto, não demorou muito par senti-lo se deitando ao meu lado e
para minha surpresa, me abraçou de conchinha. Me aconcheguei nos seus
braços e mesmo com o coração aos pulos, tentei dormir. A canseira era tanta
que adormeci rapidinho.
Acordei com o barulho da porta se abrindo e me assustei. Foi então
que notei que Joe não estava na cama e sim entrando com uma bandeja no
quarto.
— Bom dia, anjo! Dormiu bem? Preparei um belo café da manhã
para você. — Colocou a bandeja em meu colo e pelo que notei, Joe me
conhecia muito bem, até mais do que meu ex noivo, pois só tinha o que eu
gostava ali.
— Bom dia, graças a Deus eu dormi muito bem. Joe, quanta coisa
gostosa você trouxe para mim! Nem sei como te agradecer. Você foi sempre
tão fofo comigo. — Agradeci tomando um pouco de cappuccino.
— Imagina, não precisa agradecer, eu sabia que iria acordar faminta,
afinal dormimos muito cedo ontem e sem jantar. — disse tomando café, pois
a bandeja era para duas pessoas. — Rubya, você viu se o Finn respondeu?
— Ainda não, vou olhar agora. — Peguei meu celular na mesinha do
lado da cama e para minha surpresa ele havia respondido dizendo que estaria
a nossa espera as 15h00 da tarde.
— E aí, tem mensagem dele?
— Tem sim, ele disse que nos espera na catedral as três da tarde. —
falei terminando meu café.
— Parece que nossa jornada aqui está acabando. Espero que seja
forte para descobrir a verdade. Não parece, mas daqui três dias vai fazer um
mês que estamos aqui.
— Verdade, Finn nos prendeu nessa viagem com essa lista louca.
— Até que não foi tão ruim assim, conhecemos lugares lindos. Acho
que essa viagem valeu a pena.
— Você tem razão, a viagem não fui tão ruim. Agora, me dá licença
que vou tomar um banho, não notei que tinha acordado tão tarde. — falei
indo para o banheiro.
— Sim, acordou sim, mas você precisava descansar por isso não te
acordei. Ainda bem que ele vai nos encontrar as três, dá tempo de
almoçarmos antes de ir. — gritou da porta do banheiro.
— Verdade, vai dar tempo sim — concordei saindo banheiro, peguei
o controle e me deitei na cama. — Enquanto a hora do almoço não chega, que
tal assistirmos um filme?
— Acho uma ótima ideia. — Deitou ao meu lado.
Liguei a TV e ficamos ali procurando algo legal para assistir, como
estávamos sem opção, deixei no filme 50 tons de liberdade, eu já conhecia a
história e com certeza valia a pena assistir de novo. Não estava com cabeça
para assistir nada, mas seria bom me distrair um pouco.
— Até que o filme não é ruim. — disse se levantando.
— Na verdade amo esse filme.
— E que mulher não ama, não é? Bom, vou me trocar, já está na hora
do almoço. — falou indo para o banheiro.
Eu já estava trocada e pronta para sair, então fiquei esperando por ele
na cama. Não demorou muito, Joe saiu do banheiro todo animado e me
puxando pela mão para sairmos do quarto.
Logo após o almoço partimos para a catedral, pois o caminho até lá
era longo. Estava com o coração acelerado e com uma sensação horrível na
boca do estômago. Finalmente iria descobrir toda a verdade, mesmo que isso
me deixasse pior do que já estava.
Por mais que as coisas estivessem mudadas e meus sentimentos
estivessem confusos, meu coração estava despedaçado. No entanto, acho que
seria muito pior se Joe não estivesse comigo.
— Rubya, finalmente chegamos. Você está preparada? — perguntou
estacionando o carro.
Eu realmente não estava preparada, meu coração parecia que iria sair
pela boca, meu corpo tremia tanto que tinha medo que alguém percebesse. A
sensação que eu tinha era que iria ter um treco, mas eu tinha que ser forte e
encarar de vez a verdade. Talvez isso me libertasse da angústia que estava
sentindo em meu coração. — Rubya, você me ouviu? — questionou
percebendo o quanto eu estava distante.
— Sim, estou te ouvindo e também morrendo de medo do que vou
descobrir, só que não sou de desistir e não vejo a hora de ficar cara a cara
com esse safado do meu ex. — Desci do carro e apressada sai andando, com
Joe logo atrás.
Cheguei em frente daquela enorme catedral, uma das mais conhecidas
e antiga de Barcelona. Fiquei admirada com seu estilo gótico, típico da Idade
Média.
Sei que sempre sonhei em conhecer esse lugar, porém, naquele
momento, tudo o que eu queria era, finalmente, conversar com Finn. Joe,
todo carinhoso como sempre foi, pegou em minhas mãos para mostrar que
jamais sairia do meu lado e isso me deu força para subir aquelas escadas e
entrar naquela igreja. Mesmo que meu coração estivesse acelerado e minhas
pernas bambas eu iria até o fim.
A igreja era enorme, mal dava para ver quem estava dentro,
entretanto, notei que nos primeiros bancos tinha algumas pessoas sentadas.
Joe apertou minha mão forte quando percebeu que eu estava tremendo.
Cheguei a parar no meio do caminho, mas respirei fundo e segui em frente.
Quando finalmente cheguei no banco da frente tive a certeza que era meu ex
que me esperava.
Na hora fiquei sem ar e comecei a tossir, foi nesse momento que uma
mulher, o Finn e um homem se levantaram do banco e me encararam, me
deixando mais nervosa ainda. Como ele foi capaz de trazer aquela mulher da
foto do facebook com ele? Pensei enquanto tentava manter a calma.
— Oi, Rubya, finalmente nos encontramos. — Sorriu desconcertado e
olhou para Joe. — Joe, fico feliz de te ver aqui, amigo. Eu sabia que podia
contar com você. Rubya, queria primeiramente te pedir desculpas por ter te
deixado plantada no altar, mas eu tive meus motivos. — Aproximou-se e nos
cumprimentou com um aperto de mão. Joe, não disse uma só palavra, apenas
o observava e parecia nervoso também.
— Sei bem qual foi seu motivo e teve a cara de pau de trazer para
nosso encontro. — falei, olhando com raiva para aquela mulher.
— Calma Rubya, não tire conclusões precipitadas, sente aqui e vamos
conversar. — disse me mostrando o banco.
— Você não acha melhor conversarmos a sós? — questionei olhando
novamente para aquela intrusa.
— Não, acho que todos deveriam estar conosco para essa conversa,
inclusive o Joe. — Sentou ao do meu lado. Por mais que parecesse estranho,
Joe não soltou minha mão e sentamos juntos.
— Eu não vejo necessidade para isso, mas se você quer assim, fale
logo porque me fez de palhaça, não estou muito afim de ficar perdendo meu
tempo com você. — Falei muito irritada, mas com uma vontade enorme de
chorar, gritar e bater muito nele. Como pôde me humilhar tanto no dia do
nosso casamento? Vi todos os meus sonhos descer pelo ralo. Acabou com
meu romantismo e abalou meu psicológico.
— Entendo que esteja com raiva, porém, espero que entenda o meu
lado. Agora, por favor, só me ouve e quando eu terminar de falar você pode
me perguntar o que quiser. Acredite, tudo tem uma explicação.
— Estou aqui para isso, explique o que eu já sei. Vamos lá, quero
ouvir o seu lado. Afinal, me fez passar por tantos lugares para chegar até
aqui, não vou embora sem te ouvir.
— Ok, espero que pelo menos tenha se divertido. Vamos ao que
interessa. Novamente, Rubya, eu te peço desculpa, pois vai ficar surpresa e
você também Joe. Primeiro eu quero apresentar a Serena, ela é dona do
restaurante que trabalho como chefe de cozinha, também uma grande amiga e
esse é o Douglas, o sócio dela. Foi por causa do Douglas que eu vim parar
aqui. — Como assim por causa dele? Será que foi ele quem o incentivou a
me trair. — Sei que deve estar confusa Rubya, porém a verdade que ninguém
percebeu é que eu sou homossexual. — Quando eu ouvi isso minha boca se
abriu em Oh... e a do Joe também. Fiquei em choque.
— Como assim? Não entendo. — Falei muito confusa.
— Você já vai entender. Desde pequeno me sentia diferente, via meus
amigos atrás das paquerinhas e eu nunca tive interesse nenhum por elas.
Achava que era normal, afinal eu só tinha catorze anos, não entendia muito
bem os meus sentimentos, porém, quando completei dezessete anos eu
entendi que não sentia atração nenhuma por mulheres. — Respirou fundo e
prosseguiu. — Sempre ouvi dos meus pais que homem tem que ser homem,
que eu tinha que respeitar as mulheres, mas não perder tempo e que o sonho
deles era ter uma nora. Falavam sempre que homem com homem era pecado,
que não era coisa de Deus. Como fui o único filho, a atenção era toda voltada
para mim. Sentia-me sufocado às vezes, mas meus pais sempre fizeram tudo
por mim. Tive bons estudos, nunca me faltou carinho nem nada. Dentro de
mim gritava para que eu seguisse o que eu sentia. Eu queria me apaixonar,
viver um grande amor. No entanto, um medo de magoá-los me perseguia, não
queria decepcioná-los, então cresci me dedicando ao que eu mais gostava, a
culinária. Meus pais viviam me cobrando uma nora, eu sempre dava uma
desculpa. Eles se casaram com mais de trinta anos de idade, por isso só
tiveram eu. Jamais teria coragem de contar a eles como sou e como me sinto
em relação as mulheres. Um dia meu pai ficou doente, ele chegou a ficar
internado por causa da pressão alta e passou a viver com remédios
controlados. Uma das vezes que fui comprar o seu remédio, conheci uma
garota linda. Você lembra desse dia, Rubya?
— Sim, eu nunca vou esquecer. — Respondi com lágrimas nos
olhos.
— Então, foi nesse dia que decidi fazer meus pais felizes te
convidando para sair. Minha intenção nunca foi namorar, mas meus pais
estavam tão felizes de me ver saindo com você, que acabamos namorando de
verdade. Eu te amo, sempre vou te amar, mas como minha melhor amiga.
— Não consigo entender como nunca percebi, crescemos juntos e
estudamos também. Jamais notei alguma coisa desse tipo. Cheguei a pensar
que era tímido, que não levava jeito com as mulheres, até conhecer Rubya. —
Joe estava incrédulo, eu não conseguia me expressar, estava muito chocada
com isso.
Fiquei com ele todos esses anos e nunca percebi nada. Só estranhei
por nunca termos transado.
— Eu imagino como deve estar confuso, Joe. Eu escondo isso de
todos há muito tempo. Sabe, Rubya, eu não tinha a intenção de te magoar
tanto, mas meu sofrimento era enorme e desde o dia que te apresentei para
meu melhor amigo, notei na hora que ele se apaixonou por você. Claro que
Joe nunca iria admitir isso para não me magoar. — Sorriu ao olhar de canto
para Joe. — Entretanto, quando conheci Douglas no curso de culinária que
teve em nossa cidade, ele me deu coragem para correr atrás dos meus sonhos.
Foi então que aproveitei meu casamento para fugir, de outra maneira eu não
conseguiria e sabendo que vocês dois viriam atrás de mim, criei essa lista
para que vocês se conhecessem melhor e você se apaixonasse por Joe. Porque
tudo que eu mais quero é te ver feliz minha linda e sei que Joe é capaz disso.
— disse Finn pegando em minhas mãos. — Agora resolvi aceitar o Douglas
como meu namorado e estamos juntos há uma semana, não pretendo contar
isso aos meus pais. Falo com eles todos os dias e pensam que estou aqui
apenas para trabalhar e estudar culinária. Prefiro que seja assim, afinal, tanto
meu pai quanto minha mãe andam muito doentes e só quero dar alegria a eles
nesse momento. Se a situação fosse diferente, eu contaria. Agora, Rubya, é
sua vez de ser feliz — disse ao me entregar um papel.
— O que significa isso Finn? — Questionei, relutando para que as
lágrimas não escorressem pelo meu rosto.
— Sei que Joe te ama, e vejo um brilho diferente em seu olhar quando
olha para ele. Eu sabia que isso aconteceria, por isso marquei seu casamento
para daqui quinze dias na igreja matriz da nossa cidade. — Mais uma vez
fiquei chocada de saber dessa armação de Finn. Como pôde fazer isso
comigo?
— Joe, você sabia disso? — perguntei irritada.
— Claro que não, Rubya, jamais concordaria com isso depois de tudo
que passou. Você sabe que te amo e sei que não está preparada para isso.
Caso com você o dia que quiser e quando estiver pronta. Por que tudo o que
eu mais quero é envelhecer com você.
— Vocês estão de brincadeira, né? Até entendo o seu lado Finn, mas
isso não te dá o direito de sair fazendo as pessoas de trouxa. Namoramos
bastante tempo, entendo que não queria magoar seus pais, mas aí magoar a
palhaça tá tudo bem, né? Acha que tudo vai ficar bem. Você está muito
enganado, mesmo que não tenha me traído com mulher nenhuma, isso foi
uma traição. Conheceu alguém e veio atrás dele, me deixou como uma idiota
te esperando no altar, acabou com meus sonhos, me deixou frustrada e agora
vem me dizer que armou para que eu me apaixonasse pelo seu melhor amigo?
E, como num conto de fadas, que eu vivesse meu feliz para sempre me
casando com ele?
— Rubya, me deixe explicar... — Finn tentou me calar.
— Não! Eu vou falar, você cala a boca e escuta quieto. — Proferi
enraivecida. — Você acha que sou alguma idiota, que pode manipular e fazer
o que quer?
— Não, mas a minha intenção desde o início foi te fazer enxergar o
amor que Joe sentia por você. — Falou assustado.
— Ah, faça o favor, né! Sabe o que é pior nisso tudo? Você me
deixou passar pela pior humilhação da minha vida, sendo que se tivesse
chegado em mim dias antes do casamento e contado, eu teria aceitado e
compreendido numa boa. Por mais que eu te amasse, Finn, eu só iria querer a
sua felicidade, mesmo que não fosse comigo.
— E eu quero a sua, Rubya, por isso tramei isso tudo.
— Você fez tudo errado. — Me exaltei e dei um passo em sua
direção. — Agiu sem se importar com o que eu sentiria, em como tudo isso
me afetaria.
Não estava me sentindo bem com tudo o que estava acontecendo,
queria esganá-lo por tudo o que havia me feito passar. Engoli o choro ou não
conseguiria terminar de falar tudo o que estava entalado na garganta.
Tombei minha cabeça para trás e respirei fundo, estava perto de
perder a cabeça, por isso me afastei dele.
— Sabe, Finn, em uma coisa você tem razão, me apaixonei pelo Joe,
mas não sei se tenho psicológico para entrar em uma igreja e me casar
novamente. Esse sonho, eu já não tenho mais. Agora, por favor, peço que me
dê licença. — Sai correndo e chorando para fora da igreja.
— Rubya, espera, onde você vai? — perguntou Joe desesperado
correndo atrás de mim.
— Não interessa, só quero ficar longe de vocês. Por favor, Joe, não
vem atrás de mim. — gritei enquanto corria.
Não fazia ideia para onde ir, porém, eu precisava de um tempo longe
de tudo isso para pensar. Nunca imaginei que fosse passar por essa situação e
não deixaria ninguém decidir minha vida. Quem tinha que decidir por ela era
eu.
— Não posso acreditar que você tenha mentido desse jeito para a
mulher que você dizia amar. Como pôde esconder um segredo desses e
ainda fazê-la acreditar que, realmente, a amava como mulher? E o pior,
abandonou Rubya no altar. Você não faz ideia do quanto ela sofreu. Não
me importo que tenha escondido isso de mim, pois é uma coisa pessoal
sua, mas ela merecia saber desde o começo e agora não faço ideia para
onde ela foi sofrendo dessa maneira.
— Calma, Joe, ela só precisa de um tempo para refletir sobre tudo o
que ouviu. Dê esse tempo a ela, no momento certo ela vai te procurar. Peço
desculpa por ter te decepcionado tanto, não era minha intenção, você sempre
foi um bom amigo. Só quero que me perdoe e que me entenda.
— Eu entendo, mas não te perdôo por ter feito ela sofrer tanto. Agora
me sinto um inútil sem saber o que fazer. — Andei de um lado para outro
muito nervoso na porta da igreja.
— Vamos para minha casa, Joe. Você pode passar a noite lá.
Provavelmente, Rubya voltou para o hotel e te ver por lá só vai deixá-la mais
irritada. Você não tem outra escolha. — Colocou sua mão em meu ombro
tentando me acalmar.
— Tudo bem, vou ficar com você, mas amanhã cedo vou atrás dela.
— Vou chamar a Serena e o Douglas para ir embora. — disse
entrando na catedral, como a Rubya pegou nosso carro, teria que ir com eles.
— Vamos. — disse aparecendo de repente.
Então, entramos no carro dele. Serena foi em seu carro, só o Douglas
foi com a gente.
Fiquei o caminho todo em silêncio, estava muito preocupado com a
Rubya, mas o silêncio foi quebrado pela conversa dos dois. Resolvi então
questionar sobre tudo que aconteceu nessa viagem.
— Finn, me diz uma coisa. O castelo e o barco foram armações sua?
— perguntei curioso.
— Sim, foi sim. A ideia na verdade foi do Douglas, ele achou que
seria romântico.
— Espero que não se importe por eu ter me metido nessa história. —
disse Douglas um pouco sem graças.
— Claro que não me importo, na verdade foi umas das melhores
noites que tive com a Rubya, eu só posso agradecer.
— Que bom que pude ajudar. — Respondeu aliviado.
— Joe, o Douglas adora bancar o cupido e eu adorei as ideias dele. —
disse estacionando o carro em frente a uma casa enorme estilo colonial. —
Bom, amigo, chegamos. — disse Finn, descendo do carro. — Essa casa é do
Douglas, estou hospedado aqui também.
— Fique à vontade Joe, sinta-se em casa — Douglas foi gentil. —
Vou te mostrar o quarto que vai ficar, às sete e meia da noite o jantar será
servido. Agora são cinco e meia, se quiser descansar fica à vontade. —
Mostrou-me a casa até chegarmos no quarto.
Agradeci a hospitalidade e avisei que iria tomar um banho. O dia
estava muito quente, eles apenas disseram tudo bem e saíram conversando.
A única coisa que eu queria era saber como a Rubya estava. Mesmo
que Finn tenha dito que era melhor dar um tempo a ela, não fui forte o
suficiente para isso, peguei meu celular e liguei. Fiz isso várias vezes, e o
bendito tocava até cair na caixa postal. Achei melhor desistir e tomar meu
banho.
Meu coração estava inquieto, um medo enorme de perdê-la para
sempre tomou conta de mim. Rubya sempre foi a mulher dos meus sonhos e
agora que a tive nos meus braços, não podia perdê-la. No entanto, não sabia
se o sentimento dela por mim era o mesmo, por isso meu coração estava tão
aflito.
Após o banho resolvi me deitar, eu estava tão preocupado com a
Rubya que nem fome eu estava sentindo, na verdade, não tinha vontade de
comer nada, a única coisa que eu queria era dormir para no outro dia ir atrás
dela. Então, apenas de roupão, deitei-me e liguei a televisão. Fiquei assistindo
um filme que estava passando tentando não pensar na Rubya e assim acabei
adormecendo.
Despertei com o Finn batendo na porta, um pouco sonolento me
levantei e fui abrir.
— Joe, desculpe não queria te acorda, mas a janta vai ser servida, por
isso vim te chamar.
— Agradeço, mas não estou com fome, se por acaso eu sentir fome
faço um lanche para mim. Você se importa?
— Claro que não! Você sabe onde fica a cozinha, então, fique à
vontade. Boa noite. — Despediu-se e voltei a me jogar na cama. Tudo o que
eu queria era que essa noite passasse logo.
Acordei a todo vapor quando ouvi um passarinho cantar na janela.
Dei um pulo da cama sentindo o cheiro de café invadir o quarto. Troquei-me
rapidamente, pois tudo o que eu queria era ver a Rubya. Sai do quarto indo
direto para cozinha e para o meu alivio Finn já estava acordado.
— Bom dia! — disse me cumprimentado. Douglas deveria estar
dormindo, pois Finn tomava seu café sozinho e lendo um livro como sempre
fazia no café da manhã.
— Bom dia, Finn! Você se importaria de me emprestar seu carro,
preciso voltar para o hotel.
— Joe, sente-se e tome seu café, como você também estou
preocupado com a Rubya, então te levo até lá e aproveito para conversar um
pouco com ela. Afinal, sou o responsável por deixá-la tão triste.
— É justo e também estou morrendo de fome. — Me sentei a mesa.
Apesar da ansiedade que eu estava, tomei café em um papo muito
gostoso. Tentei de todas as formas convencer o Finn a contar para os seus
pais. Falei a ele que nunca vi um amor tão lindo como o que seus pais têm
por ele, que nada faria esse amor mudar e que isso não era uma decepção,
afinal, o amor era para todos, não importava como. Finalizei dizendo que no
começo seria difícil, pois como eu nunca percebi nada, eles também não, teria
que dar espaço a eles para se acostumarem, mas que o amor por ele jamais
acabaria. Filho é filho não tem como não amar. Sei que existe pais
monstruosos por aí, como também existe pais que amam acima de tudo e seus
pais eram assim.
— Sei que eles são assim, os melhores pais que eu poderia ter, mas
meu maior medo é de como vão reagir.
— Não pensa nisso, amigo, se você não contar nunca vai saber a
reação deles, que talvez, não seja tão ruim como imagina.
— Você tem razão, vou pensar no assunto.
— Se precisar de mim, estarei contigo nessa hora. Agora podemos
ir atrás da Rubya. — falei ansioso me levantado da mesa.
— Vamos sim, já terminei meu café, só vou avisar o Douglas e já
volto. — disse indo atrás do seu namorado. Resolvi esperar lá fora.
Minutos depois estávamos a caminho do hotel. Meu coração parecia
que iria sair pela boca, ansiava muito por vê-la e ter certeza que ela estaria
bem, mesmo sentindo que iria encontrá-la muito triste.
Finn também parecia muito preocupado com a Rubya, ele sabia que
a magoou muito, mesmo não sendo sua intenção. Finn pegou pesado com ela.
Nenhuma mulher merecia isso.
— É esse o hotel? — perguntou estacionando o carro.
— Não, é aquele mais a frente — mostrei apontando a direção do
hotel. Então, ligou o carro e estacionou onde mostrei. Desci rapidamente e
sem esperar pelo Finn fui entrando no hotel.
— Bom dia senhorita. — Cumprimentei a recepcionista que me
olhava confusa.
— Bom dia, pensei que tivesse voltado para o Brasil. — disse ela me
olhando.
— Como assim? Preciso falar com a Rubya, ela não saiu, não é?
— Rubya não está mais hospedada aqui, me pediu ontem para
reservar uma passagem para o Brasil e foi embora às oito horas da noite.
Pensei que tivesse ido junto, apesar de eu ter reservado só uma passagem.
— Não acredito, Finn, ela me deixou aqui. — falei desesperando,
andando de um lado para outro.
— Calma, Joe, podemos voltar para o Brasil, mas se ela foi embora é
porque realmente precisa desse tempo. — Finn tentou me acalmar.
— Como ela estava? Você percebeu alguma coisa? — questionei a
recepcionista muito desesperado e ignorando totalmente o Finn.
— Ela parecia muito triste. — respondeu de imediato.
— Por favor, reserve uma passagem para mim, pra hoje.
— Para mim também, por favor. — disse Finn muito preocupado,
mas se mantendo calmo. A recepcionista pegou os dados do Finn, enquanto
isso subi para fazer minhas malas com o coração partido e uma vontade
enorme de chorar.
Depois de todos esses anos que passei escondendo meus sentimentos,
não podia perdê-la, não agora que sabia dos meus sentimentos por ela.
— Estou pronto, você conseguiu reservar minha passagem? —
questionei ao entrar na recepção.
— Sim, consegui o mesmo horário para os dois. Às duas horas da
tarde.
— Obrigada — agradeci e paguei a ela pela hospedagem, mas
recusou dizendo que Rubya já havia pago tudo.
— Vamos Joe, preciso fazer minha mala e avisar o Douglas da
viagem. — Finn tocou meu ombro, fiquei tão surpreso com tudo que estava
em transe.
Meu coração estava apertado, o mundo parecia ter caído sobre mim.
O pior de tudo era o medo que sentia de perdê-la. Entrei no carro e partimos
de volta para casa do namorado de Finn.
Estava tão deprimido com essa situação que quando chegamos na
casa, eu apenas pedi licença e fui para o quarto, enquanto Finn ficou
explicando tudo ao Douglas e pelo o que eu ouvi, Douglas iria para o Brasil
amanhã.
Sentado na cama, eu não parava de olhar as fotos que tiramos juntos e
a cada uma que eu via, uma lágrima surgia no meu rosto. Não consegui
evitar, o medo era muito maior. Chorei em silêncio, já que eu não tinha
certeza de mais nada entre nós.
Não contente de só olhar as fotos nossas, tentei ligar para Rubya
várias vezes, só que todas as tentativas foram em vão. Então, apavorado,
apenas coloquei uma foto nossa no visor do celular e deitei agarrado a um
travesseiro que tinha na cama e deixei minhas lágrimas descerem pelo meu
rosto, tentando não pensar em mais nada. Fiquei ali com os pensamentos
vagos, eu não quis almoçar e nem comer nada. Tudo o que eu mais queria era
voltar logo para casa.
As horas passaram e já estávamos no avião. Finn conseguiu cochilar algumas
vezes, mas não tive essa mesma sorte. Estava tenso e ansioso para chegar em
casa e ir atrás de Rubya.
— Joe, você tá acordado?
— Estou sim, porque?
— Mesmo que sua cabeça esteja confusa com tudo isso e seu coração
apertado de medo. Acho que você deveria seguir com meu plano.
— De que plano está falando?
— Deixei tudo pago para a preparação do seu casamento para daqui
quinze dias. Conheço a Rubya muito bem e sei que nesse momento não faz
outra coisa a não ser pensar em tudo o que aconteceu com ela. Tenho certeza
que, mesmo que não queira falar comigo ou com você, ela vai aparecer no
casamento, por isso, não devemos cancelar nada. — explicou Finn bem
convincente.
— Como pode ter tanta certeza disso? E se ela não aparecer, quem vai
pagar o maior mico sou eu. Não sei se quero isso sem ter certeza.
— Não tenho certeza de nada, mas sinto que ela vai aparecer.
Também acho que não custa nada arriscar. Se pagar mico, pagou por amor a
ela. Quer prova de amor maior que isso. Não desista dela amigo. Tenho
certeza que vocês irão ser muito felizes. — Logo que ele terminou de falar a
aeromoça anunciou que iríamos pousar.
— Você tem razão, vamos continuar com seu plano e esperarei por
ela o tempo que precisar e que se foda o mico. Eu a amo e tudo que mais
quero é ficar ao seu lado para sempre. — falei esperançoso.
Descemos do avião e nos despedimos. Finn decidiu que iria visitar
seus pais e talvez resolvesse contar sobre não gostar de mulheres e eu fui
direto para a casa da Rubya. Toquei a campainha como um louco, mas
ninguém atendeu. Tentei ligar para ela e só dava caixa postal. Meu desespero
cada vez mais aumentava.
Àquela hora da noite, achava impossível não ter ninguém em casa.
Então, resolvi ficar por ali. Sentei na escada que ficava em frente a porta da
sala e decidi não sair de lá, até alguém aparecer.
Acabei dormindo sentado e acordei todo torto e desajeitado na porta
da sala. Quando percebi que já estava amanhecendo, resolvi apertar a
campainha novamente, mas ninguém atendeu. Desistir e fui pra casa, estava
louco por um banho e também com muita fome. Se Rubya queria tanto um
tempo para pensar iria dar a ela e estaria à sua espera no altar.

Alguns dias se passaram e eu não desisti da Rubya, ligava todos os


dias para ela e os pais dela, sempre me davam a mesma resposta, que não
estava em casa. Eu sabia que era mentira, que Rubya ainda estava magoada,
mesmo assim não desanimaria.
Nosso casamento seria no dia seguinte, como Finn planejou, ele iria
acontecer, só não tinha certeza de que Rubya fosse aparecer, mas como a
esperança é a última que morre, estaria à sua espera.
Conversei com Finn e ele finalmente criou coragem e contou tudo ao
seus pais, claro que não foi fácil para eles, mas como eu imaginava, seus pais
o apoiaram com muito amor. Até queriam conhecer o namorado dele.
É como sempre pensei, o amor dos pais pelos filhos não muda, afinal,
não tem nada mais precioso que um filho. Eu era louco para ser pai.
— Filho você já terminou seu banho? Finn, já está aqui. — Avisou
minha mãe.
Ela estava passando uns dias comigo por causa do meu casamento.
Ela e meu pai tinham chegado há três dias, apesar de não concordarem muito,
me ajudaram a mobilar o apartamento para morar com Rubya, afinal ela
sempre foi louca para morar em apartamento e tinha certeza que iria gostar
desse que comprei para ela.
— Filho, você me ouviu? — gritou mais vez, me fazendo voltar para
a realidade, pois meus pensamentos estavam longe.
— Mãe, estou saindo. — Abri a porta, pronto para provar meu terno
que havia mandado fazer para o casamento.
Desci com ela logo atrás, dizendo que ainda dava tempo de desistir
dessa loucura, já que fazia dias que a Rubya não me respondia. Deixei claro
para minha mãe que não iria desistir assim e queria que ela me apoiasse.
Contrariada, só disse que me apoiaria, que tudo que mais queria era me ver
feliz. Despedi-me dela e sai com Finn.
— Sua mãe parece desanimada com seu casamento. — comentou
Finn ao entrarmos no seu carro. Deu a partida e fomos para o Alfaiate onde
havia encomendado o terno.
— Ela não concorda, mas disse que me apoia. Acho que no fundo ela
não acredita que a Rubya vai aparecer.
— E você, o que acha?
— Eu sinto que ela vai aparecer, só espero não estar enganado.
— Só vamos descobrir isso amanhã. — Estacionou o carro em frente
de uma loja de trajes a rigor.
Como Finn seria meu padrinho junto com seu namorado, foi provar
seu terno também. Por causa do trabalho, Douglas só poderia chegar no dia
do casamento.
Nosso dia foi tranquilo, provamos nossos ternos e o meu ficou
perfeito. Estava tudo pronto, comemos alguma coisa em um café, pois eu já
estava com fome. Por várias vezes me peguei olhando o celular, esperava um
milagre, um sinal, ou até mesmo uma mensagem dela. No entanto, como
sempre, nada acontecia.
— Porque essa cara, Joe? — questionou me olhando ao entrarmos no
carro para irmos embora.
— Tenho saudades dela e fico como um louco esperando por um sinal
dela, mas nada disso acontece. — Respondi triste.
— Também tentei falar com ela várias vezes, só que a Rubya sempre
foi teimosa demais para voltar atrás, mas ela tem até amanhã para decidir o
que quer. Ela vai aparecer. — Estacionou o carro na porta do meu prédio.
— Espero que esteja certo, eu mesmo não sei mais o que pensar a
respeito. Tem hora que acho que ela não vai aparecer e em outros momentos
fico animado imaginando-a entrando na igreja. — Suspirei chateado com essa
situação, enquanto descia do carro carregando meu terno.
— Joe, seja otimista e pense que, se Deus quiser, vai dar tudo certo.
Amanhã vai ser um dia especial, então, tenha uma ótima noite.
— Tomará, boa noite, Finn e até amanhã. — Me despedi e subi para
meu apartamento.
Tudo que eu queria era poder dormir e acordar na hora do meu
casamento. Essa ansiedade me mataria aos poucos! Não via a hora do tão
aguardado momento chegar. Sentia tanto a falta dela que parecia faltar um
pedaço de mim, ela era o que me completava.
— Filho, que bom que chegou, hoje é seu pai quem está preparando o
jantar, está fazendo yakisoba, seu prato preferido.
— Ahhh mãe, não estou com muita fome, mas como ele está fazendo
para mim, vou tomar um banho e logo vou comer, ok?
Tomei um banho rápido, pois só queria tirar a canseira do corpo e fui
jantar com meus pais. O yakisoba estava do jeito que eu gosto, meu pai era
especialista nesse prato.
Agradeci pelo delicioso jantar e pedi licença para me deitar. Eles me
deram boa noite e foram organizar a cozinha.
Após me trocar, me deitei na cama com o coração angustiado, mas ao
mesmo tempo ansioso. Me sentei, peguei meu celular e comecei a olhar
nossas fotos, eram elas que me davam forças para não desistir. Amava essa
mulher e se precisasse iria até a lua por ela.
Deitei-me olhando seu sorriso e vendo sua alegria estampada em seu
rosto, por mais que ela não admitisse, estava feliz comigo e foi assim olhando
sua foto que acabei adormecendo com o celular nas mãos.
Acordei com o celular despertando no chão, dei um pulo da cama e
fui me trocar depois de pegar o celular.
Minutos depois estava preparando o café para os meus pais que ainda
dormiam, já acordei muito cedo. Estava muito ansioso para continuar na
cama.
Meu dia foi assim, fiz o café, o almoço e tentei dar uma relaxada na
piscina do prédio. Precisava me ocupar para não ficar toda hora olhando no
relógio.
Meus pais tentaram me acalmar, mas nada me deixava calmo. A
ansiedade estava acabando comigo. Finn ligou dizendo que a igreja estava
linda e que o buffet do Douglas iria preparar o jantar da festa. Deixando-me
mais ansioso ainda.
Fazia tempo que não ia na igreja para rezar, mas nesse dia fui na
igrejinha perto da minha casa e rezei pedindo a Deus para que tudo desse
certo e que a Rubya aparecesse.
— Filho, aonde você estava? Estamos prontos para seu casamento e
você nem se trocou ainda. — disse minha mãe ao me ver entrar no
apartamento.
Foi então que me dei conta, demorei muito na igreja e sem responder
à pergunta da minha mãe, corri para o banheiro, tomei um banho rápido e em
dez minutos estava pronto. Olhei no relógio e faltava quinze minutos para
seis. Entrei em desespero e corri para a sala.
— Estou pronto, vamos. — falei empurrando os dois para fora do
apartamento.
— Calma filho, que desespero é esse? A igreja não fica longe daqui,
em cinco minutos chegamos lá. — Meu pai tentou me tranquilizar.
— Filho, você é o noivo mais lindo que eu já vi. — disse minha mãe
toda feliz e admirada ao entrarmos no carro.
— Obrigada mãe. — Liguei o carro e com o coração quase saindo
pela boca, partimos.
Estacionei o carro em uma vaga ao lado da igreja e em passos
apressados adentrei o local. Meus pais iam logo atrás, pedindo para que eu
tivesse calma, mas não tinha como eu estar calmo.
— Joe, você chegou. — Finn me cumprimentou. Estava parado na
porta da igreja com seu namorado ao lado.
— Desculpa, atrasei um pouco. Já vamos entrar? — perguntei de
pernas bambas.
— Vamos sim, a cerimonialista já está nos preparando para entrar. —
Mostrou uma moça que ajeitava os padrinhos. Logo em seguida, estávamos
entrando na igreja.
Meu coração estava disparado, meu corpo todo tremia. Estava
apavorado parado na frente do altar. A sensação que eu tinha era que iria ter
um treco.
Ao ver a igreja lotada, baixei minha cabeça, feche os olhos, respirei
fundo e rezei baixinho, pedindo a Deus que trouxesse Rubya para mim.
Não pude permanecer na catedral, ouvindo os motivos egoístas pelo qual fui
abandonada no altar. Como não percebi nada em quatro anos de namoro?
Que tipo de pessoa usa alguém somente para se beneficiar, sem importar-se
com os sentimentos e o trauma pelo abandono?
Será que em nenhum momento ele pensou no quanto isso me
abalaria? Como pôde me deixar amá-lo se não tinha intenção nenhuma de
casar-se comigo? Como pôde destruir meus sonhos e depois preparar um
casamento como se eu fosse concordar com isso? Duvidava que Finn pudesse
ter um coração tão frio e egoísta, mas tinha provas que mostravam isso.
O tempo todo, durante toda a nossa relação, ele havia pensado apenas
em si próprio. Por mais que fosse doloroso, eu aguentaria saber a verdade
sem precisar passar pela humilhação que passei.
Não podia mentir quanto ao bem que me fez estar durante esses dias
com Joe, Pude conhecê-lo melhor e me apaixonar por ele, mas isso poderia
ter acontecido sem precisar me tratar como uma marionete. Não sabia se teria
psicológico para casar novamente, por isso voltei para o Brasil na primeira
oportunidade que tive. Afinal, que certeza eu tenho que o Joe não estaria
envolvido nesse plano maluco do Finn de nos juntar.
— Filha, você está dormindo? — perguntou minha mãe da porta do
quarto.
— Não mãe, pode entrar. — Respondi sem sair da cama, pois tudo
que eu queria era ficar ali, só dormindo. Estava triste demais para sair do
quarto, não tinha vontade de nada.
— Rubya, o Joe não desistiu de falar com você e dormiu na porta da
sala e agora está apertando a campainha. Dá uma chance e vai falar com ele.
— Não, mãe, no momento não quero falar com ele e nem com o Finn.
Uma hora ele desiste e vai embora.
— Tudo bem, filha, não acho certo, mas também não posso te obrigar
a falar com ele. Levanta e vem tomar café, você dormiu sem jantar ontem, vai
acabar ficando doente.
— Não estou com fome, tudo que eu mais quero é dormir, se por
acaso me der fome, eu preparo alguma coisa para comer.
— Tudo bem, descansa, mas não deixe de se alimentar. Vou lá
terminar de colocar a mesa do café. — disse saindo e trancou a porta em
seguida.
Levantei-me novamente da cama e fui até a janela, pois do meu
quarto dava para ver a porta da sala embaixo. Abri uma frestinha da cortina e
vi o Joe entrando no seu carro. Ele finalmente tinha desistido. Eu não tinha
cabeça para falar com ninguém. Não conseguia acreditar que Finn conseguiu
me enganar por tantos anos, me fez de palhaça. Também fui muito burra em
nunca ter desconfiado de nada, essa história de que não achava certo ter
relação antes do casamento é coisa de quem, realmente, não está a fim ou não
gosta mesmo. E eu achando que ele me respeitava. Gostava da maneira como
ele pensava. No entanto, hoje em dia quem que pensa em transar só depois do
casamento? Sou mesmo uma idiota. Voltei para a cama e me afundei naquele
edredom.
Sentia muita falta do Joe, mas preferia ficar dormir do que enfrentar a
realidade.
Os dias foram se passando e o Joe ligava com frequência, minha mãe,
meu pai e minha irmã sempre davam uma desculpa. Só ligava meu celular
para ouvir música e tinha muitas chamadas perdidas, tanto de Joe como de
Finn.
Tudo o que ouvi de Finn não saia da minha cabeça. Sei que já estava
na hora de perdoá-lo, afinal, ele deveria ter sofrido muito todos esses anos
escondendo esse segredo, mas estava tão magoada e ferida que até procurei
uma psicóloga para me ajudar a superar esse medo de me casar novamente.
Amanhã é o dia do meu casamento com o Joe. Pelo o que minha mãe
contou, Finn não cancelou e disse que Joe me esperaria no altar.
— Filha, pelo amor de Deus, fui trabalhar e quando chego sua irmã
me conta que não saiu do quarto para comer. Você não pode continuar assim.
A Psicóloga não tá ajudando? Pedi para a Maria te preparar uma sopinha e
vai comer nem que seja a força. — disse minha mãe entrando como um
furacão e enquanto falava foi abrindo a janela e dobrando o edredom. Não
tive outra escolha a não ser me levantar.
— Ta bom, mãe, já que não me deixa dormir, vou tomar um banho e
desço para comer.
— Se não descer, venho te buscar. — Saiu do quarto. Tomei um
banho rápido e desci em seguida.
— Finalmente apareceu, fiz sua sopa preferida. Seu pai ainda não
chegou, mas avisou que vai chegar um pouco mais tarde hoje.
— A farmácia anda movimentada. To fazendo falta não é, mãe?
Prometo que logo volto a trabalhar. — Coloquei a sopa no prato.
— Está sim. Seu pai só confia em você para trabalhar com ele. —
Sentou-se do meu lado. — Você viu o que chegou filha?
— Não, o que foi?
— Seu vestido de noiva, foi o Finn que mandou, ele mesmo escolheu
para seu casamento com o Joe amanhã.
— O Finn só pode estar ficando louco, não vou me casar. — Falei
irritada.
— Não entendo porque não quer se casar. Você me contou tudo o que
aconteceu em Barcelona. Concordo com você, Finn realmente pisou na bola
em te esconder o que sentia, mas tudo que me contou sobre o Joe, só me fez
acreditar que você realmente o ama. Então, porque não casar com ele? —
interrogou tirando seu prato da mesa.
— Por que tenho um nó na boca do estômago, acho que é medo de
entrar na igreja e me decepcionar mais uma vez. Acho que não estou
preparada para encarar tudo isso novamente. Afinal, há quase dois meses
atrás fui abandonada no altar e isso acabou comigo.
— Eu entendo, você ficou traumatizada, mas já está sendo
acompanhada por psicóloga. Tá na hora de ser forte e enfrentar isso. Pense
com carinho e siga seu coração. — disse lavando a louça.
Fiquei ali ajudando ela, minha irmã ainda não tinha chegado da
faculdade. Então, assim que terminei de ajudá-la, pedi licença e fui me deitar
pensando em tudo o que ela falou. O vestido estava no quarto dela, eu não
quis nem saber de olhar. Troquei-me e deitei na cama. Apesar dos meus
pensamentos estar a mil, eu adormeci rapidamente.
Acordei com meu celular tocando sem parar e em seguida a porta do
meu quarto abriu. Kiara entrou como uma doida e saiu puxando minha
coberta.
— Kiara, ficou louca, porque ta puxando minha coberta, me deixe
dormir. — Falei irritada e ao mesmo tempo olhando no celular.
Quando vi que era Joe que me ligava sem parar, meu corpo todo
estremeceu e senti um aperto no peito. Ele me fazia muita falta, a saudade
dele parecia que iria me matar. Nunca pensei que fosse ficar assim pelo Joe.
— Chega de dormir, já é hora do almoço e seu dia é especial. —
Respondeu minha irmã, fazendo-me voltar para a realidade.
— Não estou com fome e não tem nada de especial no dia de hoje. —
Resmunguei cobrindo a cabeça com a coberta.
— Tem sim, é o dia do seu casamento. — Sentou na cama toda
animada.
— Já falei que não vou me casar. Agora, por favor, me dá licença. —
Levantei e puxei minha irmã pelo braço, empurrei-a para fora do quarto e
tranquei a porta com chave.
Ela saiu reclamando, mas não queria ver mais ninguém. Queria ficar
sozinha. Voltei para minha cama, e passei o resto do dia ali. Às vezes eu
cochilava e às vezes me pegava olhando para uma foto minha com Joe no
meu celular.
Meu coração estava inquieto, estava chegando a hora do meu
casamento. A casa estava silenciosa, pelo visto todos saíram, ou foram para a
igreja, mas não podiam ter feito isso, falei tantas vezes que não iria me casar.
De repente, como em um filme, todos os momentos maravilhosos que passei
com o Joe, vieram na minha cabeça me deixando angustiada e muito triste.
Sem perceber as lágrimas começaram a descer pelo meu rosto. Desesperada,
peguei a chave do carro e sai, pois, eu queria ficar o mais longe possível de
tudo isso.
— Calma amigo, ela vai aparecer tenho certeza. — disse Finn tentando me
tranquilizar, mas na verdade eu estava ficando desesperado.
Já passava das 18h30 e nem sinal dela. Liguei para Rubya tantas
vezes antes de ir para a igreja, queria ter certeza que ela apareceria, porém,
como sempre, ela não atendeu.
Os convidados estavam inquietos como eu, dava para ouvir os
cochichos de que a noiva não iria aparecer e isso me angustiava deixando-me
cada vez mais desesperado.
— Filho tem certeza que quer ir até o fim. Se ela não apareceu até
agora, acho que não vem mais. — disse minha mãe triste com essa situação.
— Mãe, eu esperarei o tempo precisar. Sinto no fundo do meu
coração que ela vai entrar por aquela porta. — Olhei para a entrada.
De repente, vi a família de Rubya entrar na igreja e ao ver seu pai
parar na porta, fiquei animado com a possibilidade de ela ter aceitado se
casar. Na minha cabeça a lógica era a seguinte: Eles apareceram, então ela
apareceria também. Então me mantive forte na decisão de esperá-la.
Levei um susto quando meu celular tocou no bolso do terno. Peguei o
mais rápido que pude na esperança que fosse ela avisando que estava a
caminho. No entanto, era um número desconhecido, imaginei que ela tivesse
me ligando de um outro lugar e atendi na hora.
— Alô?
— Gostaria de falar com o Joe Kuzuhara. — Uma mulher do outro
lado da linha falou de forma profissional. Respirei pesado sentindo um aperto
no peito, como se algo ruim tivesse acontecido.
— Alô — disse a voz novamente me fazendo voltar para a realidade.
— Oi, desculpe, é ele mesmo que está falando. No que posso ajudar?
— Uma paciente acabou de dar entrada no hospital, vítima de
acidente de carro. Vimos várias ligações suas no aparelho da vítima e achei
que deveria avisar. O mais estranho é que ela está vestida de noiv...
— Por fa-favor, em qual hospital ela está? — perguntei gaguejando
de nervoso e nem a deixei terminar de falar.
Assim que me deu o nome do hospital, desliguei na hora.
Desorientado e assustado, sai correndo da igreja com minha mãe, meu pai e o
Finn logo atrás me enchendo de perguntas. Deixei um falatório total no
recinto quando sai pela porta.
O hospital ficava há duas ruas de distância. Meu desespero era tanto
que não lembrei do carro, corri como um louco pelas ruas da cidade com o
Finn e o Douglas atrás de mim. Eu não queria dar explicações, só queria
chegar no hospital para ver como a Rubya estava. Não me disseram a
situação dela, também nem esperei falar.
Corri tanto que ao atravessar a rua um carro quase me atropelou e o
motorista ainda saiu me xingando. Depois de me recuperar do susto,
continuei correndo, quase atropelando as pessoas que estavam na calçada.
Cai algumas vezes com o meu desespero, acabei rasgando minha calça e
machuquei o joelho, não me importei com isso e continuei correndo, até
avistar o hospital.
Entrei bufando e quase sem ar. Uma enfermeira muito atenciosa
correu ao meu encontro com um copo de água.
— Por favor, eu não quero água, só quero saber da noiva que deu
entrada, ela se chama Rubya? — perguntei com a respiração ofegante e muito
nervoso.
— Sim, a garota que acabou de chegar chama-se Rubya e estava de
noiva. — Olhou em um caderno. — Você está falando da senhorita Miller?
— Isso mesmo, como ela está? Posso vê-la? — questionei
desesperado. Logo Finn e Douglas entram no hospital.
— Olha, ela ainda não foi para o quarto, estão cuidando dos seus
ferimentos e só o médico vai poder dizer como ela está. Aguarde um
pouquinho que avisarei quando estiver no quarto.
— Mas... não pode me adiantar nada. — falei com uma tristeza.
— Sou apenas a recepcionista do hospital, mas aguarde, tenho certeza
que logo ela vai para o quarto. — Então, muito decepcionado me sentei no
banco de espera.
— Joe, porque saiu correndo da igreja, aconteceu alguma coisa com a
Rubya? — Perguntou Finn se aproximando e sentou do meu lado.
— Sim, aconteceu, ela sofreu um acidente a caminho da igreja. —
Respondi triste e preocupado.
Levei as duas mãos a cabeça em sinal de desespero e levantando-me
comecei a andar de um lado para o outro.
— Calma, Joe, ela deve estar bem. Você conseguiu alguma
informação sobre o estado dela?
— Não, a recepcionista não soube me dizer nada e ninguém apareceu
ainda para informar. — Falei muito alterado e resolvi ir atrás de respostas,
mas quando virei um corredor o médico apareceu.
— Boa noite, quem são a Família da Rubya Miller? — perguntou nos
olhando.
— Somos a família dela, ela é minha noiva. Como ela está? —
questionei de imediato.
— Ela sofreu uma pancada forte na cabeça, tem alguns arranhões pelo
corpo e deu três pontos no joelho. Rubya chegou aqui desacordada, mas já foi
medicada e fez todos os exames. Agora ela está sobre o efeito de sedativo,
está dormindo. Acordou várias vezes querendo sair da maca onde as
enfermeiras cuidavam dos machucados, dizia que precisava se casar, por isso
precisamos deixá-la mais calma. Ela vai ficar em observação por pelo menos
uns dois dias e vamos aguardar os exames, só ele vai dizer a gravidade da
pancada. No entanto, fiquem tranquilos, já vi muitos pacientes com o mesmo
quadro dela e nos exames estava tudo normal.
— Podemos vê-la?
— Sim, claro! Ela está no quarto vinte cinco do segundo andar.
— Obrigado Doutor. — Fiquei mais aliviado com sua informação,
mas ainda estava preocupado. O agradeci por ter cuidado dela e fomos para o
elevador.
Minutos depois estávamos procurando pelo quarto, aproveitei e liguei
para avisar a família dela que ficaram desesperados e já estavam a caminho
do hospital.
— Acho que é esse o quarto. — disse Douglas parando na porta que
estava fechada.
Abri devagar para que ela não acordasse e fiquei de coração partido
ao vê-la naquela situação sobre a cama. Com muito cuidado, beijei o topo da
sua cabeça suavemente e deixei que Finn se aproximasse para olhá-la, ele
apenas passou sua mão pelos cabelos dela e segurou as lágrimas. Logo em
seguida, Douglas e ele saíram do quarto alegando que esperariam na sala de
espera.
Segurei sua mão tentando controlar as lágrimas que desciam pelo meu
rosto, mas não conseguia. Doía muito vê-la assim. Eu não sairia de perto dela
por nenhum segundo.
Arrastei uma cadeira que tinha no quarto e a coloquei ao lado de sua
cama, me sentei, voltei a segurar sua mão e abaixei minha cabeça deitando
sobre elas. Meu coração estava entristecido demais com toda aquela situação,
queria poder estar em seu lugar para que não sentisse nenhuma dor. Rubya
não merecia isso.
Poucos segundos depois, me assustei com o toque apertado de uma
mão sobre o meu ombro. Levantei a cabeça e vi seu pai, mais ao fundo
estavam sua mãe, sua irmã e sua melhor amiga, Naty. Estava tão distraído
com meus pensamentos que não notei quando chegaram.
— Joe, como ela está? — perguntou sua mãe.
— Como isso foi acontecer? — questionou seu pai.
— Pelo visto ela resolveu se casar na última hora e dirigiu correndo.
Não há outra explicação, já que ela sempre foi tão cuidadosa na direção. —
Argumentou sua irmã.
— O que o médico disse? — perguntou Naty.
— Ela está bem, só teve alguns arranhões como vê e levou três pontos
no joelho, mas a preocupação do médico é porque ela levou uma pancada
forte na cabeça e chegou desacordada, porém, já fez todos os exames e vai ter
que ficar em observação por dois dias.
Eles me olharam assustados e foram até ela. Sua mãe estava com os
olhos cheios de lágrimas e seu pai com uma expressão de preocupado. Dei
licença a eles para que todos pudessem vê-la e fiquei em pé na porta, só
observando.
— Mãe, pai... Cadê o Joe? — levei um susto quando ouvi sua voz.
Rubya finalmente tinha acordado.
— Ele está bem aqui, querida! — respondeu sua mãe me chamando
com a mão, fui até ela que ao me ver abriu um sorriso.
— Vou chamar o médico. Vamos galerinha, Joe e Rubya precisam
conversar. — disse seu pai empurrando todos para fora.
— Joe, precisamos conversar. — Falou com um pouco de dificuldade,
sua boca estava machucada.
— Não agora, meu anjo, descanse e depois conversamos. — Passei
minha mão em seu rosto.
— Não quero descansar. Eu preciso falar.
— Tudo bem, estou te ouvindo minha linda.
— Joe, peço desculpa por ter te deixado em Barcelona, eu realmente
precisava de um tempo e foi graças a isso que eu tive certeza do que quero.
Eu te amo e não tenho mais dúvida disso. Quero sim ser sua esposa. Eu
resolvi no último momento e sai como uma louca para chegar a tempo no
nosso casamento, porém, meu descuido na direção foi tanto que vim parar
aqui.
— Rubya, você não faz ideia do quanto me deixa feliz ouvir isso. Por
isso, sei que poderíamos esperar dois dias para nos casarmos, mas não quero
esperar por mais nenhum segundo. Você aceitar casar comigo aqui e agora?
— Eu aceito!! — confirmou com um sorriso no rosto sem nem pensar
duas vezes.
Não pude me conter passei meu braço por trás do seu pescoço e
levemente a beijei. Eu sabia que o padre estava na sala de espera, pois tinha
ido visitar Rubya. Então, pensei, porque não me casar ali. Ela sempre foi tudo
que eu sonhei e tudo o que mais queria era ficar ao seu lado para sempre.
Avisei a família dela e a minha, mesmo sem permissão do médico
para que ela saísse da cama, no entanto, Rubya garantiu que se sentia bem
para se casar na capela do hospital.
A capela do hospital foi preparada às pressas e a Naty arrumou um
vestido branco para ela vestir, pois o de noiva estava manchado de sangue.
Meu sonho de casar com Rubya vinha de muitos anos e finalmente,
estava me casando com a mulher dos meus sonhos que, na verdade, era a ex-
noiva do meu melhor amigo. Entretanto, o sortudo de se casar com ela foi eu
e sinto-me o homem mais feliz desse mundo.

Peguei a chave do carro na intenção de ir para o mais longe possível


daquilo tudo, mas quando passei em frente a porta do quarto dos meus pais,
acabei não resistindo e fui ver meu vestido.
Como em um filme, as imagens sendo abandonada no altar passaram
em minha mente e elas quase me fizeram sair correndo dali, mas as
lembranças dos momentos que tive com Joe em Barcelona me fizeram
colocar aquele vestido. Ele era tomara que caía, com a parte debaixo rodada
de tule e pérolas brancas.
Ele era o vestido de noiva mais lindo que já tinha visto. Ao me olhar
no espelho tive certeza do que eu queria. Amava Joe, e o que eu mais
desejava era estar ao seu lado para sempre. Calcei as sandálias que também
haviam mandado junto do vestido, fiz um coque bagunçado no cabelo e nem
pensei em maquiagem, sai correndo para a igreja.
Precisava chegar em tempo, então acelerei pelas ruas de Poços, foi
quando não notei que o semáforo ficou vermelho e atravessei sem olhar. Foi
tudo tão rápido que não pude evitar o acidente. Senti uma forte pancada na
cabeça e logo em seguida desmaiei.
Acordei algumas vezes sentindo alguém mexer em mim e notei que
estava no hospital, a enfermeira cuidava dos meus machucados que doíam
muito.
— Preciso me casar... — Respirei com dificuldade. Minha boca doía
também.
— Calma, você está sendo medicada. — Disse a enfermeira.
— Preciso me casar — repeti tentando me levantar.
Fui segurada por um senhor que me aplicou uma injeção na veia, me
fazendo adormecer.
Acordei novamente sentindo alguém passar as mãos em meus
cabelos. Com um peso nos olhos por causa dos remédios, tentei abri-los
quando finalmente consegui vi meus pais. No entanto, senti um aperto no
peito quando não vi Joe e perguntei por ele.
Minha mãe me tranquilizou dizendo que ele estava ali e o chamou. No
mesmo instante meu pai avisou que iria chamar o médico e fez com que
todos saíssem do quarto e nos deixassem a sós.
Foi então que vi a oportunidade perfeita para me declarar. Já estava
ciente dos seus sentimentos, mas Joe não fazia ideia do quanto eu o amava,
ele precisava saber. Por mais que ele não quisesse me deixar falar, prossegui
e quando tudo foi esclarecido, me senti leve e ainda mais apaixonada pelo
homem maravilhoso na minha frente.
Sorri e fiquei completamente animada com seu pedido de casamento,
mesmo que não estivéssemos no lugar original da cerimônia, nossa união iria
acontecer.
Se parar para pensar, ser deixada no altar acabou sendo algo bom para
mim, mesmo tendo causado tantos estragos psicológicos no começo. Finn
jamais conseguiria me fazer feliz, e nem eu a ele, já que não sentia atração
alguma por mulheres. Iríamos viver como dois amigos e um dia, a relação se
tornaria insustentável para nós.
Por isso devia toda a felicidade que estava sentindo naquele momento
a ele, mesmo que de um jeito torto, foi por sua causa que havia descoberto o
sentido do verdadeiro amor. De uma maneira diferente, mostrou que amor
pode estar ao nosso lado, mas estamos tão ocupados que não enxergamos.
Por isso é sempre bom estarmos atentas ao nosso redor.
De A mulher largada no altar, me tornei a mais sortuda de todas e
dessa vez, me casei com a pessoa certa, no momento certo.
Ser deixada no altar já não era um risco e nunca mais iria acontecer.
Hoje é o dia mais feliz da minha vida, descobri que estou grávida de um lindo
menino e tenho certeza que vai ser a cara do pai, já que nossa pequena
Marissa se parece muito comigo, ruivinha como eu. Todos dizem que ela sou
eu em miniatura. Daqui três semanas ela completa três aninhos, e é a nossa
riqueza, a paixão do tio Finn e do tio Douglas, ela é o grude deles.
Minha irmã Kiara terminou a faculdade e resolveu morar em
Londres, disse que lá é a cara dela e já está até trabalhando em uma empresa
de cosmético. Sempre que dá vem nos visitar, vive mandando presente para
nossa pequena e tá muito animada com o garotinho que vem vindo por aí.
Naty está noiva do seu colega de trabalho. Os dois combinam super
bem, afinal, tanto um como outro são viciados no trabalho.
Finn está muito feliz, conseguiu abrir um restaurante aqui em Poços,
especializado na culinária Espanhola. Ele e Douglas se casaram e vivem
numa chácara maravilhosa. Lutaram durante dois anos para adotar uma
criança e há seis meses conseguiram adotar uma linda menininha africana
com apenas um aninho. É a paixão deles, a família do Finn e do Douglas os
apoiaram com muito amor e são loucos pela netinha Ariela.
Agora eles têm uma linda família como a nossa. Hoje somos mais que
amigos, eles fazem parte da minha família. Esse foi o melhor presente que
Deus poderia me dar.
Minha pequena Marissa já aprendeu desde de pequena que o amor é
para todos, não importam as diferenças, todos nós somos iguais e devemos
respeitar o próximo para sermos respeitados também.
— Papai, papai — gritou Marissa entrando no quarto e pulando em
nossa cama.
— Minha pequena, você não dormiu ainda? — perguntei acariciando
seu lindo rostinho.
— Não consigo dormir, mamãe. — Sorriu travessa. — Papai, conta
aquela história do tio Finn ter abandonado aquela noiva no altar. Não sei
porque papai, mas adoro essa história. — Nos entreolhamos e caímos na
risada, mal sabe minha pequena que essa noiva abandonada era eu.
Entretanto, essa história se tornou uma linda história de amor. Que eu
viveria novamente tudo de novo para estar exatamente como estou hoje, feliz
e realizada para todo o sempre.
— Mãe, pai, cheguei! — avisei entrando em casa. A viagem de avião foi
cansativa, eu estava exausto, precisava de um banho.
— Filho, você veio. Porque não nos avisou que viria para casa, eu
prepararia seu bolo de cenoura com chocolate — minha mãe sorriu largo ao
aparecer na sala.
— Ah Lurdinha da minha vida, eu preferi fazer uma surpresa. Você
gostou? — beijei suas bochechas.
— Claro que gostei, filho. Venha, vou te preparar um café com um
lanche, você deve estar faminto. — disse me puxando pelas mãos.
— Mãe, estou com muita fome, mas prefiro tomar um banho
primeiro, você se importa?
— Claro que não, vai lá, vou preparar seu lanche enquanto isso. —
disse indo para a cozinha.
— Mãe, cadê o pai? — gritei indo para meu quarto.
— Foi comprar o remédio de pressão dele, logo tá em casa.
Meus pais eram aposentados, não trabalhavam mais. Meu pai gostava
de cuidar da sua horta que fez no quintal e minha mãe adorava cozinhar como
eu.
Estava decidido, iria tomar um banho, comer alguma coisa e
descansar. Precisava de uma boa noite de sono. Na manhã seguinte contaria
tudo sobre mim e sobre meu namorado.
Após o banho, tomei café com meus pais, pois meu pai tinha acabado
de chegar. Ele ficou muito feliz em me ver, ficamos ali conversando um
pouquinho. O meu pai não deixou de falar sobre o que fiz com a Rubya e
questionou se eu estava apaixonado por outra. Falei a eles que conversava
sobre isso depois, pedi licença dizendo que eu iria descansar um pouco e fui
para o quarto.
Precisava pensar, eles mereciam saber a verdade. Era como Joe disse,
o amor sempre fala mais alto e eles não iriam deixar de me amar por isso e
pensando sobre isso acabei adormecendo.
Acordei com o cheiro de café invadindo o quarto e dei um pulo da
cama. Fiz minha higiene depois de me trocar e fui para a cozinha, onde
encontrei meus pais tomando café.
Senti um aperto no peito, o medo tomou conta de mim. Entretanto, eu
tinha que ser forte, precisava contar a eles. Afinal, eu queria muito que eles
fizessem parte da minha vida. Tantas vezes tentei contar, mas nunca criei
coragem, tinha que colocar um ponto final nisso, para o bem deles e para o
meu também. Conhecendo meu pai como conhecia, se ele não soubesse a
verdade, iria sempre tentar apresentar garotas para mim. Precisava ser forte.
— Bom dia filho, porque tá aí parado, senta e tome café conosco. —
disse minha mãe me fazendo voltar para a realidade.
— Bom dia, mãe! Bom dia, pai! — os cumprimentei com um beijo e
fui me sentar. — Pelo cheiro delicioso, é bolo de cenoura. — falei levantando
o pano que cobria a assadeira e cortei um pedaço do bolo e em seguida
coloquei café na minha caneca.
— Você está muito quieto hoje, aconteceu alguma coisa? — meu pai
olhou-me suspeito.
Eles me conheciam muito bem e sabiam que quando estava em
silêncio é porque precisava contar algo.
— Pai, mãe, eu preciso contar uma coisa. — Passei a mão em meu
cabelo nervoso.
— Você conheceu alguém? — perguntou meu pai.
— Sim, pai! Mas não é uma mulher.
— Então fez um amigo, filho? — questionou minha mãe.
— Não, mãe, a verdade é que eu sou homossexual.
— O que quer dizer, filho? Já ouvi essa palavra, mas não sei o que
significa. Seu velho é um pouco desatualizado. — Prendi a respiração para
que o medo não me fizesse chorar.
— Pai, eu quero dizer que nunca gostei de mulher. Sou assim desde
pequeno. Tentei namorar a Rubya achando que isso iria mudar, mas na
verdade nunca mudou e hoje eu namoro um rapaz. — Respirei fundo com o
coração acelerado.
Finalmente, eu havia conseguido dizer a verdade. Já esperava por uma
reação negativa, mas ver o olhar assustado de ambos sobre mim me deixou
em choque. Meu pai parecia uma estátua segurando a xícara de café no ar,
minha mãe estava lutando para não chorar na minha frente.
Entrei em desespero e comecei a pedir desculpas por não ser o filho
que eles sonhavam ter, meu pai sequer disse alguma palavra, apenas levantou
e foi para o quintal. Nesse momento, o nível de dor em meu coração
ultrapassou todos os limites e comecei a chorar.
Ao sair do choque, minha mãe levantou-se de onde estava e foi ao
meu encontro para me consolar.
— Filho, não fique assim, não chore. Você nasceu do meu ventre, te
dei a vida, te amei antes mesmo de nascer. Isso não muda o que sentimos por
você. Finn, você é meu único filho, sou capaz de dar a vida por você. Filho,
nada disso importa, o que eu mais quero nessa vida é que seja feliz,
independente de quem for. E se esse rapaz te faz feliz será muito bem aceito
na família. Você é o melhor presente que Deus me deu. Meu amor por você
jamais irá mudar. — disse chorando e me abraçou com muito amor.
— Vem cá, filho. — disse meu pai aparecendo na cozinha com os
olhos vermelhos.
Fui até ele com o coração doendo muito, chegava a me sufocar.
Quando cheguei perto, ele me puxou para um abraço apertado.
— A única coisa que importa para mim, filho, é sua felicidade. Então,
siga o seu coração e seja feliz. Espero conhecer seu namorado. — Foi então
que percebi o quanto eu era amado por meus pais.
Eu tive muita sorte de ter pais maravilhosos, pois muitos como eu não
tem a mesma sorte e acabam tendo um final trágico. Por isso é muito
importante que os pais ensinem seus filhos a respeitar o próximo, não importa
se é um homossexual, uma prostituta, um bêbado, drogado, hétero, lésbica,
não importa se é preto, branco, amarelo, não importa se tiver qualquer tipo de
deficiência.
Nada importa, pois somos todos exatamente iguais e devemos
amarmos uns aos outros como a si mesmo. Todos merecemos respeito, amor,
atenção, carinho e cuidados.
Vamos nos unir e colocar mais amor no mundo, tenho certeza que
assim seremos muito mais felizes.

Fim
Outras obras:
Sobre a autora:
Meu nome é Tânia Virginia Giovanelli Tinti Bueno, nasci e cresci
em São José do Rio Pardo – SP, no dia 26/11/1973, sou filha de Maria
das Graças Giovanelli Tinti e Nelson Tinti, sou casada com Carlos
Roberto Oliveira Bueno, tenho um filho que é minha paixão e o meu
anjo Leonardo Giovanelli Tinti.
Desde pequena, sempre fui apaixonada por leitura, quem me
conhece sabe que é quase um vício para mim. Mas a paixão por escrever
minha própria história, começou quando perdi dois bebês e comecei a
entrar em depressão, porém queria que essa tristeza fosse embora e foi aí
que tive a ideia de começar a escrever minhas histórias.
Hoje posso dizer, que a escrita me tirou toda a tristeza e me
inspirei no meu filho para escrever minha primeira história. Graças a
isso, depressão não passa mais perto, hoje é só alegria. Escrever agora
faz parte da minha rotina.
Em 2016 recebi o troféu Cicília Meireles por ser uma mulher
notável em 2015 em literatura nacional. A premiação aconteceu na
cidade de Itabira no dia 21 de maio.

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