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A Obsessão do Sheik Árabe

Martina Maressa

Atenção

Este livro contém cenas consideradas machistas e ofensivas para


algumas pessoas. Por ser um romance cultural, alguns temas podem
ser considerados polêmicos e ofensivos. Portanto, recomendo que
não leia caso seja sensível a esses assuntos. Tenha em mente que
ele foi escrito para um público específico de pessoas que gostam do
tema.
Dedicatória

Dedico este romance a todas as garotas que amam mocinhos


obsessivos e não se envergonham disso.

Prólogo

Jade Hamir

O meu coração está batendo tão forte neste momento, que tenho
medo de ter um ataque cardíaco. Há pouco mais de vinte minutos, eu
finalmente pisei meus pés no solo de Abu Dhabi, e agora estou aqui,
sozinha, à frente da empresa de telecomunicações do senhor Yassin,
o filho herdeiro do sheik de um influente clã de Abu Dhabi. Eu
demorei tanto tempo para criar coragem para vir até aqui, tive que
inventar cada plano mirabolante. Inclusive, meus dois seguranças
devem estar com minha família neste instante, dizendo que eu fugi do
aeroporto de Dubai, quando fui ao banheiro. Minhas três semanas de
viagem pelo país tinham acabado, e era hora de eu voltar para casa.
O que ninguém esperava é que eu não pretendia voltar para casa,
não tão cedo. A minha viagem estava apenas começando. Paguei
uma renomada equipe de agentes para me ajudar a sair de Dubai e
chegar até onde estou, sem que meus seguranças me alcançassem.

Eu estava completamente segura do que queria, e, se ter que


pagar uma pequena fortuna para chegar ilesa aonde estou era o que
eu teria que fazer, eu certamente faria. Fico pensando que talvez não
teria coragem de fazer algo assim há seis anos. Mas, ao contrário
do que pensam, o motivo não seria porque tenho medo da minha
família possessiva, e muito menos por submissão. Não mesmo.
Acontece que o motivo para eu não ter fugido há seis anos se trata
de algo bem mais complicado. Digamos que tive meu coração e meu
orgulho feridos pelo homem que amo desde os meus dezoito anos.
Por mim, estaríamos juntos desde aquela época, mas ele não me
quis. Essa é a verdade nua e crua.

Foi no aniversário de vinte e dois anos de Ahmed que eu vi o sheik


Emir Yassin pela primeira vez. Até aquele momento, eu era apenas
uma adolescente fútil e mimada, uma garota que pensava pequeno,
que nunca tinha se interessado em garotos e muito menos namorar
antes dos vinte e cinco. Homens não me despertavam nenhum
interesse, eu era infantil demais, sair às compras com outras garotas
da minha idade era muito melhor a meu ver. Era. Passado. Como eu
disse, tudo mudou quando vi Emir no Al Maktoum. Havia muita gente,
a música estava alta demais, mas mesmo assim ele não passou
despercebido aos meus olhos. Era impossível não ver o homem alto
e sério vestido tradicionalmente. Ele com certeza era o homem mais
bonito dali, não havia ninguém como ele. A beleza de Emir me
hipnotizou no primeiro momento. Ele era um homem grande, com
uma elegância invejável e um rosto muito bem-feito.

Eu, acostumada a ver garotos da minha idade ou então homens


velhos, fiquei atônica. Foi a primeira vez que me senti mulher, uma
garota crescida, percebi que havia muitas diferenças entre um
homem e uma mulher. Diferenças muito boas por sinal. Sem saber o
que fazer naquela situação, agi por impulso e fui diretamente até o
sheik Emir. Lembro como se fosse hoje a maneira como ele me
olhou. Eu não sou baixa, tenho 1,70 metro de altura, mas ele me fez
sentir como uma garotinha. Ele deve ter, no mínimo, 1,90 de altura,
mas penso que ele possa ter uns 1,95. Resumindo, ele me olhou
como se eu fosse uma menina carente por atenção. Seus olhos
escuros pareciam até fraternais quando me encararam. Mas não era
essa a reação que eu estava esperando, e, quando ele disse: "Olha
se não é a irmãzinha de Ahmed. Como vai, princesinha?", meu
mundo desabou. Tenho certeza de que fiquei vermelha de
constrangimento.

Troquei apenas algumas palavras cordiais e fugi dali. Passei a


semana inteirinha sofrendo pelo que aconteceu e achei que teria ódio
do sheik pelo resto da minha vida. Como fui tola. Em pouco tempo,
eu já tinha o perdoado e estava criando planos na minha cabeça para
conseguir conquistar o sheik. Maluquice ou não, passei os seguintes
três anos tentando amadurecer. Comprei roupas de mulher adulta e
decidida, mudei minha maneira de pensar, terminei minha faculdade
de arquitetura e cortei quase todas minhas amizades. Eu estava
focada em parecer mulher o suficiente para que, quando chegasse
meu aniversário de vinte e um anos, o sheik visse que eu já era
mulher o suficiente para ser sua esposa.

Com muito cuidado, perguntei para meu pai se o sheik Emir viria
para o meu aniversário. A sua resposta me deixou em pânico.
Segundo ele, convidaria, sim, mais por educação e pelo sheik ser
importante no país, mas que, na opinião dele, Emir não viria. Afinal,
eu não sou Ahmed, que é o herdeiro de papai, portanto,
provavelmente, ele não faria questão de ir. Tive que fazer um esforço
sobre-humano para não mostrar a minha extrema decepção para
papai. Saí da sala angustiada e passei os dias seguintes orando
para que ele viesse. Alá me escutou, e Emir surpreendeu toda a
minha família ao aparecer na minha festa de vinte e um anos. Fiquei
tão feliz quando o vi, quase não consegui disfarçar minha felicidade.

Depois de ter dançado com dois rapazes da minha idade para não
dar brechas para meu pai desconfiar, eu finalmente pude chegar até
o sheik Emir e o convidar para uma dança. Novamente, a sua
resposta me machucou profundamente quando ele disse: "Vá
procurar um rapaz da sua idade para dançar com você, princesa. Eu
sou um par muito velho para você". Eu fiquei vários segundos apenas
olhando para ele, tentando ao máximo conter minhas lágrimas.
Depois de me recuperar parcialmente do choque, ergui minha cabeça
e disse com a dignidade que me restou: "Não sou uma criança, sheik
Emir, sou uma mulher adulta. Sinto muito se o incomodei. Vou
procurar um homem disposto a dançar comigo". Dito e feito, dancei
com todos os homens que se aproximaram de mim, desde os mais
jovens até os mais velhos.

Eu estava aérea e nem prestei atenção no que meus pares falaram,


é verdade, mas eu tinha que manter o meu orgulho. Sheik Emir me
observou por toda a noite, distante, sério e pensativo. Mesmo
quando alguém o abordava para conversar, seus olhos escuros não
perdiam nenhum movimento meu. Quando ele foi embora, o orgulho
foi embora junto e o que sobrou foi o coração partido de uma jovem
mulher apaixonada. Daí por diante, mudei radicalmente novamente,
parei de tentar parecer adulta, parei de agir como uma e também me
isolei do resto do mundo. Meu pai e irmãos viviam me dizendo que eu
estava proibida de namorar e essas coisas, e eu fingia que me
importava. A verdade era que, no fundo, eu estava feliz por estar
trancada no meu castelo de ouro, afinal, eu não queria sair dele.

Homens eram tudo aquilo que eu não queria. Romance e


casamento eram coisas que eu tentava não pensar. Eu tinha sido
magoada por um homem uma vez, não queria passar por isso
novamente. No entanto, apesar do tempo e do meu esforço, era só
eu ver o sheik Emir em algum evento que toda aquela dor e mágoa
voltavam novamente. Por mais que eu tentasse, eu não conseguia
esquecê-lo. Em todos os eventos, eu não saía da sua visão de
águia, ele me observava até o momento que decidia ir embora. Isso
era desconcertante, irritante. Por que ele me encarava se ele não
queria nada comigo? Não fazia sentido. Em um desses eventos, eu
estava no jardim da casa de Hiran, o conselheiro de papai, quando
ele apareceu, me assustando. "Boa noite, Jade", ele disse, sério,
parado a poucos metros de mim. Surpresa e atônica, eu disse: "Boa
noite, sheik Emir".

Ele simplesmente se aproximou ainda mais, ficando tão próximo,


que ele poderia me tocar se quisesse. "Você está se tornando uma
mulher bonita, princesa. Muito bonita." Eu simplesmente não podia
acreditar no que ele estava dizendo, era irreal demais para ser
verdade. "Por que você não se casou ainda, Jade? Por que não se
casou com alguém da sua idade?", ele me questionou, autoritário.
"Eu não quero me casar, não ainda." Foi o que eu disse. Mas Emir
não acreditou, e eu novamente fui surpreendida quando ele tocou
meu rosto com uma de suas mãos morenas e quentes. Suavemente,
ele fez um carinho no meu ouvido com o polegar, enquanto eu o
olhava, estática. "Você está mentindo. Você quer casar, Jade. Eu sei
que quer. O problema está no marido, certo? Você não encontrou um
homem que se compare a mim."

Eu não respondi, mas meus olhos já diziam toda a verdade. Ele me


encarou mais alguns segundos, beijou levemente minha testa e deu
alguns passos para trás, perturbado. "Você deveria ter encontrado
outro homem. Eu não sou para você, Jade. Sou muito mais velho,
você é muito nova. Mas você ainda está solteira, e eu sei por quê.
Não acha que suas atitudes tornam tudo mais complicado? A
senhorita está complicando a minha vida. Eu não sei o que fazer com
você." As palavras dele eram confusas, e eu não sabia o que dizer.
Emir parecia frustrado, irritado com ele mesmo, e então ele disse,
em uma ordem: "Eu quero que você me dê um tempo para pensar.
Um ano. Você terá que me esperar por mais um ano, quietinha,
entendeu?".

Um ano? O que ele queria dizer? Que maluquice ele estava


dizendo? Eu não fazia ideia. Mas sua voz me hipnotizava, eu amava a
sua proximidade, então eu respondi, de bom grado: "Vou esperar".
Ele sorriu com minha confirmação, e aquela foi a primeira vez que o
vi sorrindo. Ele fica deslumbrante quando sorri. "Ótimo. Seja
prudente enquanto isso, princesa, nada de sair da linha, eu estarei
de olho em você". Antes de sair, ele disse, mais para si mesmo que
para mim: "Haverá uma guerra em breve. Os Hamir não vão gostar
do que está por vir". Sem dizer mais nada, ele foi embora, me
deixando sozinha no jardim novamente. Depois daquele dia, fiquei um
ano sem ter notícias dele. Por dentro, minha mente estava agitada,
sabia que ele iria se manifestar logo. Dito e feito, não demorou nada
para que meu pai dissesse para toda a família, irado, que o sheik
Emir queria minha mão em casamento. Segundo papai, ele negou,
mas Emir disse que me teria mesmo assim. Meus irmãos também
ficaram irados, principalmente Ahmed.

Apesar de bilionário, muito influente e conhecido, minha família não


gostava de Emir. Nossas famílias são rivais há dezenas de anos.
Pelo visto, as famílias são muito diferentes e não se aturam muito
além dos eventos sociais e políticos. Eu, no entanto, não me importo
com isso. Emir sentia algo por mim, isso era tudo que importava. Eu
passei o ano todo refletindo sobre nossa conversa, sobre suas
atitudes e finalmente entendi que ele me queria, que ele não era
indiferente. Finalmente entendi que o que o impedia era
simplesmente nossa diferença de idade de treze anos. Emir tentou a
todo custo me manter longe porque me achava nova demais para
ele, nova demais para me casar com um homem maduro, nova
demais para construir minha própria família. Ah, mas ele estava tão
enganado! Só porque ele é mais velho, não significa que sou nova
demais ou imatura.
Mas ele é muito responsável e sério, então esperou que eu fizesse
vinte e seis anos para, finalmente, ter algo sério comigo. Eu estava
feliz por ele finalmente ter deixado de lado a diferença de idade e ter
priorizado nossos sentimentos. Tudo o que eu queria estava se
realizando. Eu me mantive calada, não disse nada para meus pais
sobre a minha participação decisiva na decisão de Emir de me
querer como esposa. Achei que seria melhor esperar um pouco,
esperar que o sheik entrasse em contato comigo. Infelizmente, meus
sonhos novamente foram destruídos, novamente por Emir. Algumas
semanas depois do sheik contatar a minha família sobre o desejo de
se casar comigo, Ahmed me mostrou uma notícia em que Emir
levava sua atual amante para um evento em Abu Dhabi.

Ela já era conhecida por ter um caso com o sheik há alguns anos,
uma francesa. Todos sabiam da vida secundária do sheik, menos eu.
Ingênua demais, nunca tinha imaginado que ele seria como a maioria
dos homens que mantém amantes para aí. "É esse homem que quer
você, Jade. Eu não vou permitir." Foi o que Ahmed me disse
enquanto me via amargurada com a cena. Quando ele saiu do
quarto, me derramei em lágrimas. Nunca tinha me sentido tão traída,
tão idiota e tola. Tinha me apaixonado por um homem desprezível,
por alguém que mantinha uma amante enquanto planejava noivar com
outra. Nessa época, Luisa apareceu na vida de Ahmed, e toda a
família se esqueceu da ameaça do sheik Emir. Eu achei ótima a
distração que Luisa trouxe, foi essencial para que eu agisse sem a
interferência da minha família.

Por ter um pai sheik, não foi difícil encontrar o número de Emir no
celular de papai. Decidida a parar de ser trouxa, liguei para o
responsável por todo meu sofrimento. Ele se mostrou surpreso
quando descobriu que era eu que falava com ele, e mais ainda
quando eu soltei toda a bomba que guardava só para mim. Disse que
ele era um imbecil, um imoral, que não tinha respeito pelas mulheres
e que o queria longe da minha vida. Ele ficou confuso, me perguntou
o motivo do meu surto, mas eu só fiquei ainda mais irada. "Suma da
minha vida, Emir. Você só me trouxe decepções." Foi o que eu disse
antes de desligar. Emir tentou entrar em contato comigo várias vezes
depois, mas eu não dei brechas. Troquei várias vezes de número e
vivia escondida no castelo. Tudo o que eu menos queria era vê-lo
novamente. Eu estava sofrendo muito, minha vida tinha perdido
quase todo o sentido. Ninguém da minha família percebeu o que
estava acontecendo comigo, eu fiz muito esforço para parecer
normal, e consegui.

Passei um ano e meio sofrendo calada. Eu sentia ódio de mim


mesma por estar sofrendo por um canalha como Emir. Mas eu não
conseguia esquecê-lo, e isso me matava por dentro. Nesse meio
tempo, minha família estava mais distraída do que nunca, muitas
coisas aconteceram, e o ápice foi o nascimento prematuro da bebê
de Ahmed. Toda a família ficou abalada, tudo girava em torno da
bebê, de Luisa e dos traidores do clã. Foi aí que Emir conseguiu uma
brecha para chegar até mim. Eu estava saindo do hospital onde
Luisa estava, não estava com meus seguranças. Naquela agitação
toda, eles foram chamados por Ahmed para ajudar na captura de
Jamal. Resumindo, fui abordada por Emir, que queria a todo custo
que eu fosse a um restaurante com ele, para que tivéssemos uma
conversa.

Eu estava assustada e com ainda mais raiva pela ousadia dele.


Disse que não, que não queria nem mesmo vê-lo. Mas Emir estava
longe de me deixar em paz. Como um lobo que é, me chantageou,
dizendo que, se eu não fosse, ele iria ligar para o meu pai para
reafirmar a ameaça de se casar comigo. Essa era a última coisa que
eu queria, Luisa estava internada, a bebê na UTI, meu pai e Ahmed
precisavam punir Jamal e os envolvidos. Meu pai tinha muita coisa na
cabeça. Com ódio correndo pelo sangue, não tive outra alternativa a
não ser fazer o que o maldito sheik queria. Já no restaurante, fui
surpreendida ao escutar o orgulhoso sheik me pedir perdão. "Eu sou
um homem, sempre tive uma vida sexual ativa, sempre tive amantes.
Mas isso não é desculpa para o que fiz. Queria você como noiva,
mas ainda estava saindo com minha amante. Eu peço perdão, minha
atitude foi repugnante." Em seguida, ele me prometeu que tinha
cortado os laços com a mulher desde a minha ligação e que estava
em celibato em respeito a mim. Sinceramente? Achei a conversa
bastante constrangedora, mas ele insistiu em dar todos os detalhes
da sua vida sexual atual. Não queria perdoá-lo, mas ele tem muita
lábia e me hipnotizou, novamente, com seu olhar escuro.

"Achei que fosse ser mais compressiva e fosse me perdoar, Jade.


Não é você que já é adulta, que já é mulher o suficiente para mim?
Então por que está agindo como uma criança que não sabe que
homens necessitam de sexo? Será que estive enganado? Talvez
você ainda seja nova demais para mim." As palavras dele me
deixaram aflita e desesperada. Foi então que percebi que não
poderia perdê-lo de novo, eu não estava vivendo desde que o
conheci, ele não saia da minha cabeça, mesmo eu ficando sem vê-lo
por anos. Eu definitivamente amava aquele homem. Mesmo ainda
chateada, o perdoei depois de fazê-lo jurar que nunca mais
procuraria uma amante. "Eu só tenho olhos para você, princesa", foi
resposta dele. Depois de muita conversa, ele me disse que pretendia
se casar comigo em alguns meses, mas que estudaria qual seria o
melhor momento, já que meu pai e Ahmed não iriam aceitar me
entregar tão facilmente.

"Eu vou resolver tudo, princesa. Você já é minha, sua família já


perdeu. Contudo, quero que fique quietinha me esperando, ouviu?
Não faça nenhuma bobagem, seja uma boa menina." Mesmo
chateada por ter que esperar mais tempo, concordei. Esperei seis
meses por Emir. Seis longos meses. Mas ele ainda não tinha me
buscado, então eu mesma fui até ele. Conheço muito bem os
homens da minha família, seria extremamente difícil Emir me tirar da
proteção deles. Haveria uma guerra. Portanto, decidi facilitar o
processo e fugi por conta própria. Assim, quando a confusão
começar, eu já estarei ao lado de Emir, o que será mais fácil. Sheik
Emir só não sabe disso ainda. Olho para a imponente construção da
Yassin Enterprises e suspiro, sentindo a minha confiança diminuir e a
incerteza tomar lugar. Por Alá, o que estou fazendo? E se ele ficar
com raiva? E se ele estava pensando em desistir de mim e por isso
não me procurou? Eu só posso estar maluca!

Sentindo minhas mãos tremerem, agarro a última gota de confiança


que me resta e entro no prédio, logo sendo atingida pelo ar fresco e
limpo do lugar. Que Alá me ajude.

Capítulo 1

Jade Hamir

Não foi nada difícil conseguir fazer com que a secretária de Emir o
avisasse de que estou aqui. Ser filha de um sheik conhecido tem
suas vantagens. Enquanto esperava numa sala de TV, estava até
mesmo mais calma e animada. Porém, quando Raquel, a secretária,
voltou, eu na hora fiquei apreensiva. A mulher estava com uma cara
estranha, seu rosto estava um pouco vermelho e ela parecia
chateada. Ela me olhou de forma distante e disse, formalmente:

— O senhor Yassin está te esperando na sala dele, senhorita Hamir.


A senhorita pode me acompanhar.

Ela me levou até Emir e rapidamente se afastou, me deixando


confusa. Agora, neste momento, à frente da porta do escritório de
Emir, repenso mentalmente se realmente fiz uma boa escolha em vir
para cá. As portas se abrem automaticamente após a permissão de
Emir, e sou obrigada a mandar as dúvidas para outro momento. Olho
para dentro e observo o lugar. É um ambiente bonito, moderno, mas
muito frio, impessoal. Para um escritório particular, o lugar não
mostra muito a personalidade do dono. Entro com passos lentos,
hesitantes, e então olho para o meu lado esquerdo. Imediatamente,
meu coração passa a bater duas vezes mais rápido. Emir está
sentado na sua cadeira de presidente, atrás da sua mesa
perfeitamente arrumada. Ele está calado, seu braço está apoiado na
mesa enquanto seus dedos seguram seu queixo. Seus olhos escuros
me encaram com um misto de raiva e surpresa, e eu me sinto
imediatamente incomodada. Mordo meu lábio inferior num tique
nervoso, posso sentir minhas bochechas corarem. Por Alá, que
momento constrangedor!

— O que você está fazendo aqui, Jade? — ele questiona, sua voz
mortalmente fria e sem sentimentos.

É como se eu tivesse levado um tapa na cara. Essa era a última


frase que eu esperava ouvir de Emir depois de seis meses sem nos
vermos.

— É isso que você tem para me dizer? — falo, num tom


amargurado.

Ele me encara sério, depois se levanta, ficando alto demais atrás


da mesa. Ele não sai do lugar, no entanto.

— Como chegou até aqui, Jade? Pois é óbvio que com a autorização
do seu pai que não foi — ele diz num tom irritado.

Mordo meu lábio, também irritada.

— O que importa como cheguei aqui? O importante é que estou aqui!


Eu vim te ver, coisa que você não se deu o trabalho em seis meses!

Emir aperta os lábios numa linha fina, e seus olhos ficam mais
sombrios.
— E por isso decidiu agir como uma adolescente imatura e fugir da
sua família?! Sua garota tola, não imaginou as consequências que
isso traria?!

Arregalo os olhos, assustada com a agressividade dele.

— Não coloque a culpa em mim, você foi o culpado! Se você tivesse


agido como um futuro noivo responsável, teria pelo menos ligado
para explicar o que estava acontecendo!

— Eu não devo nenhuma explicação a você, Jade. Você ainda não é


minha esposa, e quem é você, na idade que tem, para tirar
satisfações das minhas atitudes?!

Suas palavras são um baque forte demais no meu orgulho, e eu fico


estática por alguns segundos. Não tinha percebido que estava
chorando, até que minha visão começa a embaçar. Deus, como fui
ingênua sobre esse homem, ele é um monstro!

— Ninguém, Emir. Eu acabei de descobrir que não sou ninguém para


você.

Começo a dar alguns passos vacilantes para trás, doida para fugir
da situação tão constrangedora. Ele me encara friamente, me
analisando como um predador.

— Aonde você pensa que vai?

— Adivinha? Para bem longe de você! — digo, com ódio.

Suas sobrancelhas escuras e grossas se voltam um pouco para


cima, e sua boca se contrai.

— Agora já é tarde demais, você não vai a lugar nenhum, princesa.


Quis vir para cá, agora irá arcar com as consequências.
Sinto o meu rosto corar de raiva, e meu coração acelera.

— Que consequências? Ser humilhada por você?! — Balanço a


cabeça bruscamente. — Não mesmo. Já fui humilhada o bastante. Já
aprendi a lição, entendi que fui uma completa idiota por ter
acreditado nas suas mentiras! Sinto muito por ter sido tão ingênua,
grande sheik Emir! — A minha voz sai mais revoltada do que
esperava, e meu rosto não consegue esconder minha decepção, por
mais que eu tente esconder meus perturbados sentimentos.

Ele não me responde, apesar dos seus olhos pretos me olharem


como se eu fosse uma louca. Sua expressão me deixa ainda mais
enfurecida. Dou de costas para o homem abominável e ando a
passos rápidos em direção à porta. Dou um grito quando ele pega o
meu braço, me puxando para trás. Como ele chegou até mim tão
rapidamente? Volto o meu rosto para ele, enfurecida, e encontro
Emir muito próximo a mim. Puxo meu braço com força de sua mão,
querendo me ver longe do seu toque, mas ele não move um dedo
para fazer isso.

— Me solte, seu idiota!

Ele aperta os olhos, me encarando.

— Idiota?! — questiona, em um grunhido.

— É exatamente o que você ouviu!

Seu aperto fica ainda mais forte sobre meu braço, e eu tento me
livrar dele, novamente, sem sucesso.

— Sua pirralha! Vejo que ainda não cresceu! Está claro que não foi
castigada quando criança, pois, se tivesse sido, com certeza não
seria tão petulante!
— Não sou uma criança, seu ogro! Tenho vinte e sete anos!

Ele me encara com resignação.

— E continua mimada e infantil como quando tinha dezoito — sua voz


é fria e controlada e me enfurece imensamente.

— Me solta! Se me acha tão infantil, então me deixe ir embora,


prometo nunca mais olhar na sua cara esnobe novamente!

Ele rosna.

— Jamais! Você veio até mim, não veio? Você veio até aqui sem que
eu pedisse, por conta própria, agora arcará com as consequências.
Eu já disse isso.

Encaro-o como se estivesse à frente de um lunático. Talvez ele


realmente seja louco.

— Consequências? Você está louco, não haverá consequências


nenhuma! Vou embora, e não é você que vai me impedir, não depois
de ter me humilhado com todas as palavras possíveis!

— Eu não te humilhei, disse apenas a verdade. Mas isso não vem ao


caso. A questão é: pare de se debater, fique quieta e seja adulta o
suficiente para lidar com as consequências.

— Ora, seu...

Tento mais uma vez puxar meu braço, mas tudo o que eu consigo é
mais outro braço sob seu domínio, deixando-me absurdamente
furiosa.

— Já que você não perguntou as consequências, princesa, eu digo:


você não vai mais sair daqui, nunca mais, para ser exato.
Sinto meu corpo estremecer.

— O quê?! — Talvez eu esteja com problemas de audição.

— Exatamente isso que ouviu. Já que resolveu agir precipitadamente


como uma adolescente rebelde, então terá que ser adulta o
suficiente para arcar com as consequências. Você veio até mim por
vontade própria, agora ficará comigo a partir de agora, independente
da sua vontade.

Pisco rapidamente, atordoada e confusa.

— Mas não era você que estava me ofendendo de todo jeito por eu
ter vindo? Agora você diz que vou ficar com você? Só pode estar
louco!

Segurando os meus dois braços, ele me força a encostar no seu


peito.

— Você mereceu tudo o que eu disse, garota inconsequente. Não


soube ser paciente, não soube me esperar, eu iria escolher o melhor
momento para decidir o futuro com você. Mas você é ansiosa
demais, agora terá que pagar o preço dos seus atos. Também não
irei mais conversar e decidir o futuro com você, tomarei as decisões
que eu achar convenientes.

— O que você está falando, seu maluco?!

Ele segura meus pulsos com uma mão e com a outra ele segura
meu queixo, obrigando-me a olhar nos seus olhos.

— Vou ser mais direto, já que não entendeu. Vou começar pelo
motivo de eu não ter te procurado nos últimos seis meses. Bem, eu
aproveitei esse tempo para pensar um pouco, tentar achar um pouco
de razão, a qual eu parecia ter perdido quando decidi te ter. Com
muita dificuldade, estava começando a colocar minha maldita mente
no lugar. Estava decidido a voltar atrás, deixá-la livre para encontrar
um homem mais adequado. Eu iria lhe contar isso em breve, mas
você é uma garota inconsequente e rebelde, não quis esperar e veio
provocar a fera adormecida. Isso despertou o meu lado irracional,
que eu custei a domar. Agora, penso que talvez eu não deva deixá-la
livre da minha presença, talvez seja exatamente de mim que você
precisa: um homem de verdade para te ensinar a ser mulher e
assumir responsabilidades de uma. O que acha disso, princesa?
Parece que os Hamir falharam nisso, não é?

— Não estou entendendo nada das suas palavras insanas, você está
me assustando, Emir!

Ele ri de forma sombria, e eu prendo a respiração por alguns


segundos.

— Acredite, princesa, você tem motivos para estar assustada. Afinal,


nem mesmo seu pai e irmãos protetores vão conseguir te salvar de
mim a partir de hoje.

— E por que eles precisariam me proteger, Emir? Você não ousaria


fazer nada comigo!

— Aí que você se engana, preciosa. Te machucar? Jamais. A não


ser que você considere pertencer a mim como um tipo de tortura.
Mas isso está fora de cogitação, não é? Afinal, você mesma veio até
mim, por livre e espontânea vontade.

— Vim por livre e espontânea vontade e me arrependi, você é louco


e bipolar, vou voltar para casa hoje mesmo!

Ele ri, achando graça das minhas palavras.

— Você é realmente inocente, Jade. Como pôde pensar que poderia


ir atrás de um homem como eu e depois simplesmente ir embora?
Quanta ingenuidade!
Sinto minha respiração ficar mais difícil, e eu tenho que me esforçar
para não perder o controle com o homem impertinente que ousa falar
comigo com tanta grosseria.

— Você não pode me obrigar a ficar com você! Não pode me


prender!

Ele franze a testa, divertido.

— Obrigar? Não será preciso, Habibti. Você mesma estará disposta


a ficar comigo e ser trancada no meu castelo. Esse sempre foi seu
sonho, não? Desde que me viu pela primeira vez, aos dezoito anos.
Você sempre sonhou com sonhos perigosos, não é, princesa?

— Claro que não! Você só pode estar maluco se vou concordar com
uma barbaridade dessas!

— Então, você vai me dizer que não quer se casar comigo, torna-se
minha esposa, minha sheika e ser presa no meu castelo para meu
prazer?! — ele pergunta, fingindo indignação.

Coro de vergonha e raiva.

— Jamais faria tais coisas, seu ogro!

Ele encara meus olhos, em seguida fita meu nariz, boca... até voltar
novamente para meus olhos enfurecidos.

— Vou ter que tirar minhas próprias conclusões, então.

Para meu espanto, ele me beijou. Simplesmente, com a mão


direita, segurou minha nuca e aproximou o meu rosto do dele para
que ele tivesse mais acesso à minha boca. Como um ogro que ele é,
Emir não perdeu tempo e invadiu minha boca com sua língua quente
e dominante, me deixando vulnerável e mole como uma boneca.
Aproveitando meu momento de surpresa, ele soltou meus pulsos e
usou a outra mão para tocar a minha bunda com toques firmes e
dominantes. Nunca, em toda minha vida, um homem ousou tocar em
mim dessa forma tão íntima. O máximo que tive foi um beijo rápido
às escondidas quando estava no ensino médio. Foi horrível, eu e o
garoto estávamos com medo de alguém descobrir, e tudo ocorreu
sem nenhuma emoção. Mas Emir... Seu beijo definitivamente tem
muita emoção. Meu coração está batendo como um louco, e sinto
minha respiração quente se misturar com a de Emir. Ele é exigente,
não aceita perder o controle e faz questão de que eu saiba que ele é
quem manda. Mas a sua mão apertando com força a minha bunda,
enquanto a outra segura com destreza minha nuca, tira toda a minha
capacidade de pensar. Tudo que sei fazer é sentir. É aí que sinto
outra coisa também. Estou tão grudada no corpo grande e atrativo
dele, que não demora eu sentir algo duro, quente e exigente na
minha barriga. Engasgo, envergonhada com a situação, e acabo
interrompendo o beijo. Emir ri da minha reação e dá alguns beijos no
meu ouvido, divertido. Ele então finalmente se afasta um pouco e me
olha, de forma convencida.

— Espero que seu primeiro beijo tenha sido memorável, princesa.

Eu franzo a testa.

— Oi? Esse não foi meu primeiro beijo, Emir.

Ele na hora muda de expressão, ficando sério e nervoso.

— Como não? Quem você já beijou?!

Encaro-o, irritada com a sua indignação.

— Um rapaz da minha escola, não que isso lhe diz respeito, é claro!
Tenho vinte e sete anos, pelo menos um beijo eu tinha que ter dado,
não acha?!
— Não acho, não! Para que beijá-lo se não iria se casar com ele?!

— Para beijar, só isso! — falo, nervosa.

Ele cerra os olhos, contrariado.

— Já vi que os Hamir não tiveram controle de tudo, pelo visto.

Não respondo, achando-o um completo louco.

— Prefiro não pensar sobre isso, ou então irei atrás do idiota que
ousou te tocar anos atrás — diz, contrariado.

Ele então vai até sua mesa, pega o celular, verifica algo e olha para
mim novamente.

— Bem, agora vou te levar para casa, princesa. Não foi para isso
que veio? Para viver comigo?

— Não vou para sua casa!

— Não tenha medo, não vou tirar sua inocência antes do casamento,
sei respeitar as tradições, apesar de não concordar com algumas.
Você terá seu próprio quarto até que nos casemos. Quem não vai
gostar disso é o seu pai, no entanto.

— Não vou me casar com você!

— Você diz algo, mas seus olhos dizem completamente o oposto,


Habibti. Contudo, não se preocupe, algumas coisas não precisam de
casamento para acontecerem. Se não quiser se casar, não vejo
problema algum.

Minhas mãos estão tremendo, e minha vontade é de esbofetear


esse homem convencido e incrivelmente idiota. Ele fala como se eu
fosse fazer tudo o que ele disser, e isso me enfurece. Entretanto, o
que me enfurece ainda mais é meu estúpido coração que insiste em
bater mais rapidamente quando o olho, além do meu cérebro que
parece não conseguir agir racionalmente quando ele me toca. Aperto
minhas mãos em punhos fechados para aliviar minha raiva. A
verdade é que mesmo ele sendo um ogro, um idiota, um maldito
sheik autoritário e irônico, eu ainda não consigo parar de desejá-lo.
Tento isso desde os dezoito anos, e já se passaram quase dez
desde então. Algumas lágrimas de frustração borram minha visão, e
eu bufo de raiva. Tudo que eu mais odeio é amar esse maldito
homem abominável.

Capítulo 2

Jade Hamir

Quando me dou conta, Emir está segurando minha mão com força
e me levando para fora da sala. A secretária dele nos olha com
espanto, que fica ainda mais evidente quando ela vê nossas mãos
unidas. Emir ignora os questionamentos evidentes em seus olhos e
simplesmente diz:

— Avise Ismael que ele terá que terminar o trabalho de hoje por
mim, Raquel. Tenho outras questões para resolver hoje, mas amanhã
estarei de volta.

Surpresa e ainda assustada, a mulher acena. Quando Emir me leva


em direção ao elevador, meus olhos se encontram com os da mulher,
e pela primeira vez vejo preocupação neles, talvez até mesmo
empatia, e isso me deixa confusa e receosa. Assim que as portas do
elevador se abrem no térreo, vários seguranças de Emir se
aproximam de nós dois, acompanhando-nos a poucos metros de
distância. Um dos seguranças se aproxima de Emir e pergunta para
onde iremos. O sheik Yassin responde rapidamente, citando o nome
de algum lugar. O homem acena e se afasta com os outros, logo
entrando em uma BMW preta. O carro de Emir é um Aston Martin,
também preto, que ele abre a porta para eu entrar. Meu coração
está disparado, e não tenho muita noção do que estou fazendo. Não
acho que tomei a melhor escolha ao vir para cá, e penso que a
melhor decisão seria voltar para casa. Mas Emir já disse que não irá
permitir. Esse pensamento me faz ser tomada pelo ódio.
Canalha, desde quando ele tem poder para mandar na minha
vida?! Quem decide o meu futuro sou eu! Mas uma parte de mim
está rindo da minha raiva e até mesmo ironizando a minha fraqueza.
Ele controla você desde que tinha 18 anos, Jade. Assuma. A
realidade é sempre dura, e eu simplesmente odeio os fatos, que
agora estão se virando contra mim, me humilhando. Emir, enquanto
dirige, olha para mim rapidamente e volta a visão para a estrada.
Mas logo ele está falando, irônico:

— Por que está com raiva, princesa? Seus sonhos vão se tornar
realidade agora. Deveria estar feliz.

— Eu nunca seria feliz com um ogro!

Ele ri, sem humor.

— Deveria ter pensado nisso antes de vir para cá, Jade. Eu sou o
que sou, sempre fui, você que não quis enxergar.

Fico calada por alguns segundos, e a raiva me invade. Por mais


que eu odeie admitir, ele está certo. Emir sempre mostrou quem era:
um ogro convencido. Eu que ignorei. A paixão é a pior doença de
todas, te faz cega mesmo com os olhos abertos.
— O que você está fazendo não tem graça, Emir. Você está me
sequestrando, isso é crime!

Ele ri, sem mesmo olhar para mim.

— Crime? Quem te disse que estou te sequestrando, meu bem?


Estou apenas te levando para casa, e você quer ir.

Meu rosto fica vermelho de raiva.

— Jamais! Eu quero pegar um avião e voltar para Fujairah!

— Você vai, Habibti. Depois que estivermos casados.

— Eu não vou me casar com você, Emir. Não depois que acordei,
que vi o quão idiota e insensível você é.

Vejo o momento que ele aperta o volante do carro com força. Seu
rosto fica duro, mas ele logo se controla e volta ao normal. Toda a
viagem de carro durou quinze minutos. Emir entra com o carro em
uma construção luxuosa e ostensiva. Ele deixa o carro no subsolo, ao
lado de outros seis, todos eles caros como o que o sheik acabou de
usar. Carros não me chamam a atenção, cresci rodeada dos mais
caros carros, mas nunca tive muito interesse neles. Sempre preferi
carros mais simples, que fossem confortáveis e seguros. Tomo um
susto quando sinto a mão de Emir na minha cintura, me puxando
para perto do seu corpo altivo e duro. Sua mão parece queimar a
pele do local, mesmo por cima da blusa azul-escuro de alças finas
que estou usando. Há algo na forma que ele me toca que me faz
arrepiar. Quando olho nos seus olhos, sou surpreendida com o que
vejo neles. Há raiva na escuridão de suas íris, mas também há algo a
mais, mas que não sou capaz de identificar. Com seus olhos me
encarando, cerrados, ele diz, ríspido:

— Vamos.
Sem dizer mais nada, ele me guia para o elevador do subsolo.
Quando estamos dentro, ele usa sua mão desocupada para apertar
o botão do primeiro andar. A nossa proximidade me deixa um pouco
desconfortável, assim como a sua mão pesada sobre mim, como se
me marcasse como sua propriedade. Já ia lhe dizer para me soltar
quando as portas do elevador se abrem, revelando uma sala
incrivelmente decorada. No mesmo instante, minha paixão pela
arquitetura aflora. O lugar é extremamente belo. O chão é bege e
lustroso, as paredes são bem iluminadas e decoradas por estranhos
quadros de estilo renascentista. Há um piano preto e perfeitamente
polido em um canto que dá diretamente para uma parede totalmente
de vidro. A visão é de tirar o fôlego daqui, mas não pelos motivos
que qualquer um pensaria. Ao contrário da maioria das mansões que
possuem visão para o centro da cidade, a casa de Emir traz uma
visão perfeita de um grande jardim. Consigo ver árvores, flores,
pássaros e até mesmo um lago com cisnes. É uma visão calma e
bonita.

— Gosta do que vê?

Não tinha percebido que Emir estava me encarando, até que meus
olhos distraídos encontram os seus. Meu rosto cora
involuntariamente, e eu sinto um certo constrangimento por estar
sendo observada por um homem tão intimidante. Rapidamente dou
um jeito de me recompor e então respondo, com um sorriso
educado:

— Sim, a visão é muito bela. Você tem uma pequena floresta na sua
propriedade.

Ele acena.

— A natureza me acalma. Pelo menos em minha casa posso fugir um


pouco do estresse que a cidade proporciona.

Aceno, entendendo o que ele quer dizer.


— Eu tive a sorte de crescer num lugar afastado do centro da
cidade. O castelo Jasmim está localizado num lugar tranquilo. Lá
também temos um jardim, mas não é tão grande e diversificado
quanto o seu.

Ele me encara.

— Você aprecia a natureza, princesa?

O seu jeito insistente de me chamar de princesa me incomoda um


pouco. Ninguém me chama de princesa, apesar de eu meio que ser
uma. Mas a questão é que não me sinto como uma, além de não agir
como uma princesa. Uma princesa não foge de casa para encontrar
seu príncipe proibido, que na verdade é um ogro insensível.

— Eu aprecio, sim. Apesar de que penso que talvez você aprecie


mais do que eu.

Ele acena, e de repente seu semblante muda para mais sério.

— Vou pedir para Joana preparar o seu quarto.

E, então, ele está andando, me deixando estática no mesmo lugar.

— Ei! Eu já disse que não vou ficar aqui, principalmente na sua casa.
Você está maluco?!

Mas ele me ignora e continua andando até desaparecer. Solto um


grito de raiva e decido seguí-lo pela mansão. Eu o encontro
conversando com uma mulher de meia-idade, que logo me nota e
sorri, cordialmente. A minha tensão não me permite fazer o mesmo,
e eu digo rispidamente para Emir:

— Eu não vou ficar na sua casa, Emir. Eu pretendo ir embora hoje


mesmo.
Ele se vira lentamente para mim, seus olhos negros me fitando sem
emoção.

— Não sem antes arcar com as consequências, princesa.

Sinto o ódio me cegar por alguns segundos. Joana parece


pressentir o clima ruim e rapidamente sai, mas não sem antes pedir
permissão para o sheik sequestrador.

— Não existe consequência nenhuma, seu doido! Eu não fiz nada


para arcar com consequências!

As minhas palavras geram reações inesperadas no sheik, pois sou


surpreendida por ele vindo a passos largos e firmes até mim. Dou
alguns passos para trás a fim de manter um pouco de distância do
lunático, mas sou impedida por uma de suas mãos morenas.

— Você não fez nada, Habibti? Tem certeza disso, meu anjo?

Abro a boca para falar algo, mas a suavidade venenosa da voz dele
me faz recuar.

— Você tentou seduzir minha mente por dez anos e ainda tem
coragem de dizer que não fez nada?!

Fico confusa com a raiva nos olhos dele.

— Eu não tentei te seduzir!

Ele ri, sem humor.

— Não? Não teve uma porra de evento em que você estivesse junto
comigo que você não tentou me seduzir sutilmente. Você é uma
mulher esperta, Habibti. Nada de roupas provocantes demais, nada
de conversas sugestivas... Você não precisava disso, somente seus
olhares curiosos e apaixonados sobre mim já eram suficientes para
me deixarem louco por você. Fiquei louco por uma princesinha
mimada de olhos verdes como a pedra de jade.

Arregalo os olhos, não acreditando no que ouvi. Emir tira a mão do


meu braço para logo em seguida segurar minha cintura, trazendo-me
mais perto dele. Ele aperta minha carne e com a outra mão segura
meu queixo. Sou surpreendida por seus dentes mordendo levemente
o lóbulo da minha orelha. Ofego, surpresa com o arrepio que sinto na
hora.

— Mas essa princesinha não era para mim — ele sussurra no meu
ouvido, completando seu raciocínio. — Mas agora é.

De repente, ele se afasta, segura minha mão com firmeza e me


guia pela mansão até que paramos na frente de um cômodo com a
porta fechada. Ele gira a maçaneta, e a porta se abre, revelando um
quarto espaçoso, bonito e bem iluminado.

— Aqui será seu quarto, Habibti. Até que você seja minha esposa, é
claro.

Tiro os olhos do ambiente e o encaro, indignada.

— Eu não serei sua esposa, Emir. Não depois de perceber quem


você é de verdade.

— Azar o seu, princesa, que descobriu minha personalidade quando


já era tarde demais. Agora não tem mais volta.

— Claro que tem! Eu vou ligar para o meu pai hoje mesmo! Ele vai
me tirar daqui!

Seus olhos ficam ainda mais escuros.


— Ah, não, você não vai fazer isso, Habibti. Nós dois sabemos disso.
Você não vai fazer isso porque, se você está aqui comigo neste
momento, é porque você quis. Você que quis desobedecer seu papai
e fugir para vir até mim. Seu pai não gosta de mim, jamais deixaria
sua única menina ser minha esposa. Mas você não se importou com
isso, não é, princesa? Você veio até mim, para ser minha, mesmo
sabendo que seu pai não aprovaria, mesmo ciente de que isso traria
muitos conflitos. Se você está aqui comigo, Habibti, é porque
escolheu, é porque não pensou na opinião da sua família e nem nas
consequências que isso traria. Logo, você não vai pedir seu pai para
te salvar, você não seria tão descarada a ponto de pedir ajuda por
algo que você escolheu fazer, não é mesmo? Ambos sabemos que
está na hora de você crescer, na hora de arcar com as
consequências de suas escolhas, não é, princesa? Até porque você,
mais do que ninguém, sabe a guerra, confusão e problemas que
você traria para sua família caso você exigisse resgate. Está na hora
de você resolver seus próprios problemas, Jade. Além disso, sua
situação não é tão ruim quanto pensa. Você está sob o domínio do
homem que sempre sonhou, logo estará casada com ele, e ele
jamais irá fazer mal para você. O que seria mais perfeito para você?

Balanço a cabeça de um lado para o outro, sentindo um aperto no


coração causado pela verdade nas suas palavras. Ele só está errado
em uma coisa: nada da minha realidade atual poderia estar mais
longe da minha concepção de vida perfeita. Isso porque Emir, o qual
eu tinha certeza de que era o meu par perfeito, é, na verdade, um
ogro disfarçado de príncipe árabe. Lágrimas de ilusão enchem meus
olhos até transbordarem. Emir me observa com cautela por poucos
segundos.

— Eu irei te deixar sozinha. Se precisar de mim, aqui está o meu


número.

Ele faz menção de me entregar o cartão, mas, como não faço


questão de pegá-lo, ele entra no quarto, coloca-o sobre a cama e
sai, passando por mim e desaparecendo em seguida.
— Maldito! — grito para que ele escute.

Capítulo 3

Emir Yassin

Eu não poderia ter ficado mais surpreso e irritado do que no


instante que minha secretária me avisou que Jade Hamir estava me
esperando na sala de espera. Senti uma imensa raiva e desprezo me
invadirem. Não imaginava que Jade seria tão tola a ponto de tomar
uma decisão tão precipitada como a de fugir da proteção do seu pai
para vir até um homem como eu: bruto, insensível e sem valores
tradicionais dos quais ela está acostumada. Eu sou, como ela
mesma disse, um ogro, esse é quem sou desde que me lembro por
gente. A vida me fez ser assim, as experiências que tive me
moldaram. Mas Jade não entenderia, ela é doce, amável, uma
princesa. É por isso que eu sinto raiva, desprezo de mim mesmo,
porque, se eu tivesse o mínimo de sensibilidade, eu jamais teria a
feito criar esperanças sem fundamentos em mim. Se eu fosse
homem suficiente para ignorar o quanto ela me atrai, me incendeia e
me diverte, ela neste momento estaria casada com outro homem, um
que realmente a mereça, que saiba fazê-la realmente feliz, que seja
seu príncipe árabe encantado. Se eu fosse um homem de princípios,
jamais teria lhe dado esperança, ao invés disso, teria cortado pela
raiz todas as suas esperanças de um futuro comigo. Isso porque eu
não posso lhe dar o futuro que ela merece, que sempre sonhou.
Jade é uma princesa, merece um príncipe que seja doce e
carinhoso com ela, que lhe dê uma família bonita e feliz. Mas eu não
sou esse tipo de homem, eu não sou doce, gentil, e muito menos um
príncipe. Sou a fera, ela é a Bela, mas o problema é que jamais
deixarei de ser a fera. Sou um homem prático, gosto de
relacionamentos objetivos, sem muitas emoções envolvidas. Amor
não é importante para mim, somente satisfação física já me satisfaz.
Jamais poderia submeter Jade a uma vida tão mundana como essa.
Mesmo sendo o ogro que sou, eu gosto dela, a respeito o suficiente
para não estragar a sua vida. O problema está no fato de que,
mesmo com essa decisão tomada, não consegui ser responsável o
suficiente para deixá-la seguir sua vida. Eu sempre soube que ela
não é para mim. Quando pus meus olhos na garota de dezoito anos,
vi nela tudo aquilo que eu não tenho: pureza. Seu jeito doce ao me
convidar para dançar derreteria o coração de qualquer um, mas eu
não tenho um. Ela era tão nova, tão inocente. Não foi difícil de fazê-
la correr. O problema é que a garota não conseguiu captar o aviso
na minha voz, ela simplesmente ignorou o fato de que eu não era
para ela.

Em todos os eventos que ambos estávamos, ela me seduzia com


seus olhares furtivos e curiosos. O tempo passou, mas o meu desejo
pela princesinha não. Sentia cada vez mais asco de mim mesmo
conforme meu desejo aumentava pela garota doce do sheik Hamir.
Como o animal primitivo que sou, fui atrás dela ao invés de assustá-
la e fazê-la correr. Havia uma maldita parte de mim com um desejo
incontrolável de tê-la para mim, de possuí-la, tomar toda sua pureza
para mim. O ápice do meu egoísmo foi quando aproveitei a
vulnerabilidade que a família Hamir estava passando para me
aproximar de Jade, para reconquistá-la com a promessa de
casamento. Casamento. O sonho de qualquer princesa. Eu estava
disposto a me casar com ela se esse fosse o preço para tê-la
comigo, mesmo uma união como essa não fazer o mínimo de sentido
para mim. Eu só queria ela, só queria seu corpo e rosto bonito para
mim. Foda-se os Hamir, a ética... Nada importava, somente meu
desejo...
Mas, conforme os seis meses de prazo que eu estipulei com Jade
passavam, minha mente voltou a funcionar com mais racionalidade, e
eu fui refletir sobre o quão idiota e insensível eu sou a ponto de
condenar uma mulher inocente a viver uma vida tão incoerente
comigo. Não gosto das tradições, sigo apenas as que sou obrigado,
não me importo com amor de família, porque eu nunca tive uma de
verdade. Sou tudo o que Jade não precisa em sua vida. Apesar de
ser o filho herdeiro de um sheik árabe, pouco me importam as
tradições milenares que meu povo tanto se orgulha. Se eu pudesse,
passava o meu fardo para o meu irmão mais novo, Ismael. Mas isso
não é possível, uma grande crise política se iniciaria. Assim, sou
obrigado a agir como o sheik árabe que não sou na frente dos
outros, sendo que, por dentro, a minha vontade é de mandar todas
as tradições, muitas vezes hipócritas, para o inferno.

Não me importa se o povo está seguindo o alcorão ou a Sharia,


muito menos se as tradições estão morrendo com o tempo. Nada
disso me importa. Por mim, todos fariam o que lhes dessem vontade.
Todos seriam mais felizes se escolhessem viver como quisessem,
sem o julgamento de terceiros. Quer seguir as tradições? Okay. Não
quer? Okay também. Mas infelizmente não é assim que funciona na
prática. Transou antes do casamento? O homem e a mulher levarão
chicotadas em praça pública. É por isso que mantenho
relacionamento com estrangeiras, elas não são importantes. É assim
como as coisas funcionam. Obviamente, nem tudo é ruim, muitas
tradições antigas são saudáveis e trazem alegria para as pessoas.
Contudo, não me chamam muita atenção. Sou desapegado demais
do passado e muito prático para me apegar a valores que eu não me
identifico.

É aí onde todo o problema está. Jade vem da família mais


tradicional que conheço, é filha e irmã de sheiks exemplares, dignos
dos títulos que carregam. Eu sou um sheik por nascimento, mas não
por mérito. Minha única qualidade como líder é proporcionar
estabilidade e bem estar para o meu povo. Em relação à nossa
cultura, executo o meu papel mecanicamente, tentando ao máximo
não mostrar o meu tédio. Sou grato ao meu pai por ter me ajudado a
mascarar minhas emoções quando era jovem. Ignorar as próprias
emoções é essencial para todo líder. Mas não posso simplesmente
fingir ser um homem que não sou para Jade. Ela é uma mulher
tradicional, cresceu dentro de uma cultura antiga e conservadora. É
claro que ela procura um homem com os mesmos valores, um
marido que valorize o passado, assim como ela. Jade sonha com a
típica família árabe. É óbvio que ela quer um marido dedicado à
família, que queira muitos filhos e netos. O que ela não sabe é que
ela mesmo criou expectativas sobre mim que não poderiam estar
mais longe da verdade. Nunca tive vontade de me casar e não me
sinto digno de ter filhos. Assim, prefiro relacionamentos de curta
duração, informais. Todas as minhas amantes eram cientes do que
eu queria delas, assim como elas já sabiam o que iam receber em
troca.

Nada de brigas dramáticas, nada de golpe do baú ou declarações


de amor eu tive que lidar. Sou prático, objetivo, sempre deixo claro
as regras de um relacionamento comigo. Mas aí vem Jade e
simplesmente enfeitiça a porra da minha mente com seu jeito gentil e
doce. Nem mesmo os dez anos foram capazes de extinguir o que
sinto por ela. Fui completamente enfeitiçado e perdi a razão. Nutri
esperanças vazias no coração de uma mulher doce demais para ver
o lado sombrio de um homem como eu. Fui ainda mais longe ao pedi-
la em casamento. Passei os últimos seis meses tentando voltar à
razão, tentando me convencer de que Jade não é para mim. Quando
estava convencido disso, a tola mulher aparece no meu escritório
depois de ter feito todo o caos ao fugir de casa. Ela tomou a pior
decisão da sua vida.

Por amor a um homem que não merece, Jade colocou a sua


reputação em risco. Se o clã do seu pai descobrir que a filha dele
fugiu para se encontrar com um homem que não é nada seu, isso
renderá sérios problemas para a família Hamir, além do nome de
Jade ser marcado para sempre. Como eu disse, ela pertence a uma
das famílias mais tradicionais e conservadoras que conheço. Seria
um desastre, o fim de um conto de fadas da princesa Jade. Apesar
de ser um insensível, não vou permitir que isso aconteça, não vou
permitir que a reputação de Jade seja arruinada. Eu gosto dela o
suficiente para querer que ela seja feliz com um homem que a
mereça.

Meu celular toca pela vigésima vez desde que Jade chegou, há uma
hora. É o sheik Tariq. Eu não podia atendê-lo enquanto não tivesse
certeza do que estou prestes a fazer. Agora que já tomei a decisão,
é hora de enfrentar a guerra que está por vir. Atendo a chamada do
sheik Tariq Hamir, já esperando xingamentos e maldições. Mas o que
eu recebo são palavras mortais, em tom baixo e irado:

— O que você fez com minha filha, Emir?

Espero alguns segundos antes de responder:

— Sua filha está perfeitamente bem, Hamir. Totalmente intocada, se


é isso que se preocupa.

Escuto um rosnado do outro lado.

— Seu maldito, você destruiu a vida da minha filha! Jade arruinou sua
própria vida por sua causa!

— Eu sei que você não vai acreditar, mas eu realmente não planejei
a vinda de Jade, nem mesmo sabia que ela pretendia fugir, descobri
no momento em que ela apareceu no meu escritório. Mas, sim, sou
culpado. Jade nutre sentimentos por mim que não deveria, eu
sempre soube disso. Ao invés de lhe dar esperanças, deveria ter
destruído suas ilusões há anos.

— Seu verme, eu vou te matar! Além de destruir a vida da minha


filha, você nem mesmo parece gostar dela!
— Eu gosto da sua filha, Hamir. Só não posso ser quem ela precisa.

O sheik solta uma risada sombria.

— Isso até mesmo o sétimo canto do inferno sabe, Yassin. E mesmo


assim você foi capaz de interferir na vida da minha filha. Não preciso
dizer que você já está morto, você mesmo já sabe disso. Você vai
pagar por todos os danos causados à minha filha é à família Hamir, é
uma promessa. Vou reunir minha equipe, Jade voltará para casa por
bem ou por mal, e você pagará pelo que fez.

Reviro os olhos, entediado com as ameaças do sheik prepotente.

— Sou o culpado, admito. Mas ambos sabemos que nada irá


acontecer comigo, Hamir. Somente sua filha e sua família pagarão as
consequências.

Ouço xingamentos pesados por parte do sheik, além de objetos


serem quebrados.

— Nem que eu morra tentando, mas eu vou te matar, Yassin!

Controlo uma risada que está entalada na minha garganta.

— Bem, eu entendo seus motivos, mas... Isso não vai mudar nada a
situação de Jade, ela continuará sendo uma mulher perdida...

— Desgraçado! Vou te matar lentamente, você vai implorar pela


morte!

— Mantenha a calma, Hamir, eu nem mesmo terminei de falar. —


Desta vez a risada escapa da minha boca, e eu ouço o sheik grunhir.
— Se você me matar, que todos sabemos que não vai, a situação da
sua família e da Jade ficará na mesma. Agora, se você concordar
com a ideia que tenho em mente, poderemos evitar que todo o
estrago aconteça, e tudo voltará ao normal.
— Não tente me enganar, seu maldito!

— Eu jamais faria isso.

Olho para a visão do meu jardim e continuo:

— Te dou a minha palavra que, se você colaborar, tudo dará certo.


Ninguém tem conhecimento de que Jade está comigo além dos meus
funcionários. Eu sempre fui afastado da mídia, e Jade chegou há
pouco tempo. Tudo poderá ser resolvido da melhor maneira...

— Eu vou mandar alguém buscar Jade, se você estiver mentindo, eu


atiro em sua cabeça, Yassin.

Rio.

— Ora, ora... Não tão rápido, amigo, não tão rápido... Jade voltará
para vocês, sã e salva, mas antes... Antes, alguns problemas entres
nós dois precisam ser resolvidos. Você não sabe, eu penso que não,
mas Jade me ama desde os dezoito anos, não é à toa que ela
ignorou todas as tradições e consequências ao vir até mim. Eu tenho
um carinho muito grande por sua filha, apesar de você não acreditar.
Quero que Jade seja feliz, que se case e forme uma família com um
homem que ela merece, que não sou eu, obviamente.

— Você está tentando me manipular, Yassin?! Acha que pode brincar


comigo?!

— Jamais — digo, ironicamente. — Dou a minha palavra sobre a


verdade em minhas palavras. Quero realmente que Jade seja feliz,
mas para isso eu preciso de um tempo com ela, um tempo para
mostrar que não sou quem ela pensava, que não posso fazê-la feliz.
Quero que ela volte para sua casa sem nenhum sentimento
romântico por mim, só assim ela conseguirá seguir em frente, viver
novas experiências e ser feliz como sempre sonhou.
— Eu jamais confiaria a minha filha com você!

— Eu jamais tiraria a pureza da sua filha, Hamir. Jade voltará intacta,


eu garanto.

— Suas palavras não valem nada para mim!

— Pois agora valerão. Você não tem escolha, Hamir. Ou aceita a sua
filha passar um mês comigo, com toda a discrição e respeito
possível, ou você manda sua equipe resgatá-la, e então a situação
de sua filha será de conhecimento público. Porque eu não irei ceder
a sua filha sem ter um mês de convívio com ela. Eu prezo demais
pelos sentimentos de Jade para simplesmente enviá-la de volta com
raiva de mim, mas ainda me amando. Ela só irá sair daqui quando eu
perceber que está tudo bem entre nós dois, que ela será capaz de
seguir em frente sem rancor ou mágoa. Jade significa muito para
mim, apesar de não poder dar o que ela precisa.

— Você está louco, Yassin! Jade não ficará um mês com você!

— Jade estava viajando, será fácil convencer as pessoas de que ela


continua conhecendo outros lugares, conhecendo Abu Dhabi. Mas
não será fácil convencer as pessoas de que Jade não teve nada
comigo, não é, Hamir? É o futuro da sua filha que está em jogo,
espero que faça a melhor escolha...

Capítulo 4
Emir Yassin

A ligação com o sheik Tariq durou mais de uma hora, sendo que na
maior parte do tempo ele estava me ameaçando de morte caso eu
encostasse na sua filha ou arruinasse a vida dela durante este um
mês. Perdi as contas de quantas vezes ele disse que ainda me
mataria. O extremo ódio do sheik era evidente. Como se não
bastasse, o irmão protetor de Jade também me ligou para fazer as
mesmas ameaças que o pai.

Ignorei tudo o que falaram, até mesmo deixei que falassem


sozinhos algumas vezes, enquanto fingia que estava escutando do
outro lado da linha e, na verdade, estava assistindo TV. Esses dois
são uns malucos superprotetores. Jade tem 27 anos, logo terá 28,
por Alá, será que esses homens ainda não perceberam isso?

Segundo a tradição que eles seguem, ela já era para estar casada
e com filhos há muito tempo. Mas, pelo visto, as tradições valem
para todos, menos para a mulher da família deles. Quanta hipocrisia!
Incentivam as pessoas a continuarem com a cultura milenar, mas não
aceitam que a filha ou irmã faça o mesmo. A vontade deles mesmo é
que Jade morra como uma virgem. Tudo isso me dá asco. Se Jade
fosse assexual, eu até mesmo deixaria essa situação de lado e nem
mesmo iria interferir. Mas ela não é, está longe disso.

Jade é uma mulher, eu já vi nos seus olhos várias vezes que ela têm
desejos típicos de uma. Ela sonha em se casar, ter sua própria
família, ela é definitivamente uma típica mulher clássica. Sua família
sabe disso, mas ignora, e é isso que me deixa irado. Eu gosto de
Jade, gosto muito para ser franco. Se eu fosse o que ela precisa, se
eu fosse um sheik que realmente acreditasse nos costumes, na
nossa cultura, eu com certeza me casaria com ela. Mas eu não sou,
sou completamente o oposto, a ovelha negra disfarçada, sou uma
pessoa marcada pelo passado.
Assim, não posso ficar com Jade, pois jamais a faria feliz, somos
muito diferentes, acreditamos em coisas distintas. Mas, mesmo não
podendo ter uma vida com ela, quero que ela seja feliz sem mim, que
siga sua vida e seja feliz como sempre sonhou. Contudo, ela não vai
conseguir isso com a porra da interferência do seu pai e irmãos em
sua vida. Assim, vou ajudá-la a se livrar deles, já passou da época
do cordão umbilical ser cortado de sua família.

Está na hora de Jade virar mulher, ser independente, escolher sua


própria história sem a sua família maluca no seu pé para impedir.
Serei uma espécie de "fado padrinho" da princesa. Um pensamento
bizarro de mim com asinhas brilhantes me faz rir. Céus, que horror,
não dá nem para pensar num caralho desses.

Enfim, sobre Jade, serei seu padrinho, vou ajudar a garota a viver
um pouco, a sair da caixinha, do mundinho que ela vive presa. Este
um mês que ela vai passar comigo vai ser bom para ela, vai trazer
muitas memórias boas. Rio, já imaginando as experiências que vou
proporcionar para a princesa puritana. Ela com certeza ficará
horrorizada com a maioria. Mas logo estará amando... Esse
pensamento me faz lembrar que estou há meses sem sexo por
causa da promessa que fiz para Jade ao pedi-la em casamento.

Caramba, como o tempo passa! Há pouco tempo estava pensando


em ignorar nossas diferenças e me casar com a princesa, e agora
estou aqui, traçando planos para expandir o mundo da Jade Hamir
para que ela tenha vivido algumas experiências antes de realizar seu
sonho de garota de se casar. Se os Hamir sonharem com o que
estou planejando, eles com certeza virão com um exército até mim
para me matar.

Esse pensamento me fez rir novamente. Patéticos, os Hamir são


patéticos. Tenho dó de Jade que foi nascer bem numa família louca
como a Hamir. Eles a amam, mas são loucos. Mas agora eu estou
aqui, vou ser sua ponte para a liberdade. Uma liberdade que ela
sempre quis, só não sabe disso ainda. Vou unir o útil ao agradável:
fazer Jade perceber com seus próprios olhos que não sou o que ela
precisa, e expandir sua visão de mundo. Ela irá me agradecer
depois, sei que vai.

Bem, agora preciso pensar num modo de fazer a garota não


enlouquecer quando souber que ficará sob minha responsabilidade
por algum tempo. Ela com certeza não vai ficar nada feliz. Há uma
hora eu a deixei no seu quarto, e ela até agora não saiu de lá. Eu já
era para ter saído para resolver um probleminha que também
envolve Jade, mas ainda não fiz isso porque os sheiks Hamir
tomaram o meu precioso tempo até poucos minutos atrás.

Espero que eles não estejam pensando que vou tolerar os dois
ligando para mim o tempo todo para saberem sobre a garota, pois
estão completamente enganados. Vou mantê-los atualizados sobre
Jade, mas só. Nada de ligações irritantes pra caralho todo dia. Não
mesmo. Com meu celular na mão, ligo para a jovem mulher que será
uma peça chave para manter Jade fora da boca maldita dos radicais.

— Laila, você está onde eu combinei?

— Há meia hora que já estou te esperando, sheik.

— Eu já estou indo. Não saia daí.

Antes de ela responder, desligo a chamada. Me levanto do sofá,


tranco a casa através do sistema de segurança e entro no elevador.
Já no subsolo, escolho minha BMW branca. Os portões da mansão
se abrem automaticamente, e eu acelero.

Jade Hamir

Ando pela mansão após ter ficado duas horas deitada na cama,
refletindo sobre como eu fui capaz de quase arruinar a minha vida
por um completo idiota. Eu ainda não posso acreditar que passei dez
anos da minha vida loucamente apaixonada por um ogro como ele. É
totalmente insano, inacreditável. Mas é a verdade, e isso me deixa
com ódio de mim mesma. Eu nem precisei ligar para o meu pai, ele
mesmo já estava tentando falar comigo desde que fugi, mas eu não
atendia. Só fui atender depois de Emir ter me deixado sozinha para
lamentar a minha própria desgraça. Como eu esperava, meu pai
estava extremamente irado comigo.

Nunca me senti tão mal na minha vida quanto no momento dessa


ligação. Estava tão abatida, que nem mesmo fazia questão de dar
satisfações para meu pai, e ele praticamente falou sozinho a ligação
inteira, até o momento que ele me disse algo que me assustou
profundamente. Ele disse que eu ficaria um mês em Abu Dhabi, por
causa de Emir. Ele disse que essa seria a única maneira de salvar
minha reputação. Pois, caso eu voltasse imediatamente, Emir não iria
colaborar com o plano de esconder a minha fuga do conhecimento
dos outros.

Eu fiquei desesperada, como eu poderia ficar um mês com um


maluco como Emir? Eu não conseguia nem imaginar essa
possibilidade. Mas meu pai disse que era minha culpa e que, se
quiséssemos abafar o escândalo, teríamos que ceder. Além disso,
ele disse que o sheik prometeu que seguiria as regras e não tocaria
em mim. Eu quase ri na hora que ele disse a última frase, mas me
controlei. Emir não tem palavra, faz o que lhe der vontade naquele
momento. Ele é totalmente inconstante. Mas eu já tinha feito um caos
enorme, não queria deixar meu pai ainda mais preocupado a ponto
de mandar alguém me buscar, então resolvi aceitar a situação.

Era o único jeito de não sujar a honra da minha família. Não importo
muito com a minha, porém as consequências de um erro como o meu
são enormes, e minha família pagaria junto, além do fato de que
talvez eu teria que fugir do país. Estremeço. Papai está certo, um
mês passa rápido, com certeza é muito melhor do que esperar o pior
acontecer.
Meu pai não me disse o porquê de Emir querer que eu fique com
ele. A cena de eu chegando no seu escritório, e ele me recebendo
com raiva ainda me machuca. Ele não queria que eu viesse, ele nem
mesmo parece o mesmo de sete meses atrás, quando me abordou
perto do hospital e me levou para um restaurante a fim de me pedir
em casamento. Ele é tão estranho, sua bipolaridade e inconstância já
me machucaram tanto. Preciso me livrar desse amor sádico que só
me trouxe dor, Emir definitivamente não merece, e nem quer, que eu
o ame. Somente eu que não consigo enfiar isso na minha cabeça.
Mas isso vai mudar.

Olho para a mansão vazia e percebo que ele não tem muitos
funcionários. Típico de um homem estranho como Emir. Ele deve
preferir ficar completamente sozinho. Paro para analisar atentamente
os quadros estranhos da sala. Um deles me chama mais atenção, e
eu observo. O cenário me lembra a época medieval. Há uma mulher
esparramada numa cama de lençóis vermelhos, seus olhos estão
fechados. Três empregadas parecem tentar fazê-la acordar. Outra
segura um bebê sujo de sangue nos braços, que está chorando. Mas
o personagem que mais me atrai é um homem que está na entrada
do quarto, mais próximo da porta do que de fato dentro. Ele observa
a cena, mas seu semblante não diz nada sobre o que está sentindo.
Ele parece completamente normal, mas algo nele nega isso. Uma de
suas mãos está esticada, como que de uma pessoa em choque. Um
sentimento ruim me invade, e eu decido me afastar dos quadros.

— Eu, hein. Como uma pessoa pode colocar algo tão deprimente
para enfeitar uma sala tão bonita? Impossível entender Emir.

Decidida a ocupar minha cabeça com algo mais interessante, vou


até uma outra parte da sala e me sento no sofá. Ligo a TV e escolho
o canal Lifetime. Não estou a fim de ver série, filme nem
documentário. Só preciso de um programa que me distraia.
Quando eu já estava há uma hora em frente ao sofá, levo um susto
ao escutar meu celular tocar. É Luisa. Suspiro, já pressentindo que
ela não deve estar feliz comigo.

— Jade, estou muito chateada com você. Depois de tanto tempo,


pensei que você confiasse em mim para contar seus problemas e
planos!

A voz da minha cunhada me faz sentir saudade da segurança da


minha casa.

— Luisa, por favor, não leve para o lado pessoal. Nem minha mãe
sabia. Nem eu sabia o que seria da minha vida. A minha história com
Emir sempre foi tão inconstante que eu nunca me senti confortável
para falar sobre ela com ninguém. Eu mesma não sabia o que
pensar.

— Ah, pois eu acho que aí que estava o seu erro! Se tivesse


confiado em alguém para contar, como eu, por exemplo,
provavelmente não teria agido tão impulsivamente.

Suspiro, chateada.

— Eu sei, Luisa, sei disso e me arrependo. Mas o que passou já


passou, não tem como voltar atrás. Só espero que tudo dê certo
logo e eu possa voltar para a minha vida normal.

Luisa suspira.

— Complicado, não é, amiga? Fiquei sabendo que seu homem aí


está querendo te prender com ele por um mês.

Arregalo os olhos ao escutar suas palavras malucas.

— O quê? Claro que não, Luisa! Eu não vou ficar presa com Emir
por um mês, não é o que você está pensando...
Ela ri.

— Hum, sei não, viu... Vai ver esse homem está mal intencionado.
Claro que eu não estou falando que ele não vai te respeitar e essas
coisas, não é isso. Imagino que ele te respeite, mas, assim, as
atitudes dele são bem suspeitas.

Eu bufo.

— Luisa, ele é totalmente estranho, só isso. Nada do que Emir faz


tem sentido, só isso...

— Sei...

— Olha, mas vamos mudar de assunto. Como está Victoria?

Ela bufa também.

— Menina, está complicado. Alguns dentinhos dela estão nascendo,


sabe? Então, direto ela morde meu peito. Não consigo nem
descrever o quanto dói, chego ver estrelas.

— Ai, Luisa, que coisa chata, cunhada... Imagino a sua dor. Espero
que ela entenda logo que morder machuca a mamãe dela.

— Eu também, Jade, eu também.

Ela então diz:

— Sabe, estava pensando aqui, sozinha... Se o que eu penso disso


tudo for verdade, logo você terá um bebê mordendo seu peito
também, cunhada.

A risada que ela solta em seguida é de irritar qualquer um, inclusive


a mim.
— Para com isso, Luisa. Eu já disse que a situação é completamente
diferente do que parece!

— Tá certo, tá certo...

A ironia dela me irrita novamente.

Capítulo 5

Emir Yassin

Entro no restaurante o qual combinei de encontrar com Laila e


rapidamente a avisto em uma mesa mais afastada das demais. Ela
rapidamente me vê e sorri. Ao chegar na mesa, puxo uma cadeira e
me sento. Laila aponta para os pratos de comida sobre a mesa e
fala:

— Tomei a liberdade de escolher algo para você, espero que não se


importe.

Balanço a cabeça em negação.

— Não, não me importo.

— E como foi o seu dia, sheik?


— Agitado, Laila. Mas isso não importa neste momento. Você
conversou com seu noivo a respeito da minha proposta?

Odeio enrolação. Assim, sempre procuro ser o mais objetivo


possível.

— Sim, claro. Eu conversei com Omar, e ele concordou. Você sabe,


estamos perto de casar, todo dinheiro extra é bem-vindo.

Aceno.

— Ótimo. Jade é muito fácil de lidar, você não terá problemas com
ela. Agora, eu realmente espero que você interprete o papel de
"muito amiga" da Jade de forma convincente, Laila. Não quero
especulações sobre o motivo de ela estar aqui.

Laila é a noiva de um amigo meu de juventude. Omar nunca foi rico


e agora vai se casar. Quando decidi que Jade ficaria comigo por um
mês, logo procurei pensar em algo para camuflar a sua temporada
aqui. Ela com certeza não poderia ficar na minha casa, seria terrível
para sua reputação. Além disso, hotel também gera especulações se
ela estiver sozinha. Foi aí que lembrei de Laila, uma mulher de 30
anos, muito simpática, que está noiva de Omar. Ambas têm idades
próximas, não seria difícil convencer as pessoas de que elas são
amigas de longa data e que estão se divertindo um pouco. Irei ajudar
Laila financeiramente para que ela seja uma boa atriz e para que
ajude Jade a ser uma também. Um mês passa rápido, não acho que
as duas terão problemas em conviver na mesma casa durante este
tempo. Além disso, ambas têm personalidades semelhantes, irão se
dar bem. Jade ainda não sabe que irá ficar na casa de uma mulher,
que supostamente é sua amiga. Contudo, penso que provavelmente
ficará aliviada. Ela com certeza irá preferir a casa de uma mulher
desconhecida que a minha.

— Eu frequentemente estarei visitando Jade em sua casa ou a


buscando lá para sair, Laila. Há assuntos que preciso resolver com
ela antes de ela voltar para casa.

— Entendo. Não vejo problema nisso. Irei pedir para a segurança do


prédio liberar o acesso para o senhor.

Laila pega sua bolsa e tira uma chave de lá.

— Eu já imaginava que iria precisar, então já trouxe uma cópia


comigo. Aqui está, sheik.

Ela me entrega a chave.

— Obrigado, será bastante útil. Bem, amanhã de manhã Jade irá


para sua casa.

— Já arrumei o quarto de hóspedes para ela. Estarei esperando,


então.

Aceno em concordância e me levando. Laila franze a testa.

— Não vai comer?

— Não estou com fome, mas obrigado pela boa intenção.

Pego algumas notas da minha carteira e as coloco embaixo da


minha taça de suco. Em seguida, aceno em despedida e saio do
restaurante. Mais tarde eu irei contar para Jade sobre sua nova
amiga, mas não agora. Tem pouco tempo que ela descobriu que não
voltará para casa tão cedo quanto ela imaginava, é melhor ela ter
algumas horas para pensar. Além disso, tenho um encontro com
Diana, uma francesa que há algum tempo não tenho visto... Sempre
nos demos muito bem, ambos somos práticos, objetivos. Diana é
uma ótima parceira de sexo, entende muito bem como agradar um
homem, além de não ficar apaixonada após algumas rodadas de
prazer. O melhor de tudo é que ela nunca exigiu nada de mim, assim
como eu também não exigi dela. Ela tem um espírito livre, nunca se
importou para romance, é uma ótima mulher.

Nos demos muito bem por três anos, até que ela achou que era
hora de procurar um relacionamento mais estável, já que estava com
mais de trinta anos. Diana se casou com um empresário do ramo de
cosméticos há cinco anos. Os dois pareciam se dar bem, e eu fiquei
feliz por ela. Diana é uma boa pessoa, e eu prezo por sua felicidade.
Entretanto, há alguns meses, ela me surpreendeu ao me ligar
perguntando se eu estava "livre". Foi então que soube que seu
casamento tinha acabado e que o casal não se dava tão bem quanto
eu pensava. Diana tem trinta e seis anos atualmente, apesar disso,
continua divinamente bonita. Ela é uma mulher vaidosa, sempre
soube como cuidar da aparência. Depois dela, tive outras amantes,
mas com nenhuma delas eu tive a intimidade saudável que tinha com
Diana.

Além disso, Jade apareceu no meu caminho, e eu acabei ficando


ainda mais reservado em relação aos meus relacionamentos cada
vez mais curtos e monótonos. Mas eu não vou mais me casar com
Jade, eu acordei para a realidade e consegui voltar à razão. Ela
voltará para sua família depois que eu perceber que ela está bem
para seguir em frente. Jade merece um marido dedicado e que seja
bom, de uma boa família. Eu nunca serei o que ela merece, portanto
não posso ser egoísta a ponto de condená-la a uma vida comigo.
Apesar de ser difícil tomar uma decisão como essa, tenho convicção
de que estou fazendo a coisa certa, nem que, provavelmente, essa
seja a primeira coisa certa que faço. É impossível não comparar
Diana e Jade, ambas são tão distintas. Uma é experiente, sabe o
que quer; a outra é inocente e insegura. Mas ninguém se compara a
Jade quando se trata de casamento. Jade será uma esposa perfeita.
Feliz será o homem que desposá-la.

É uma pena que não tenho tendência ao casamento, que não tenho
vocação para cuidar de uma família. Suspiro, chateado com esses
pensamentos. Eu tenho que parar de pensar nessa merda toda,
preciso voltar ao normal. Jade não é para você, Emir. Ela precisa de
um marido companheiro, gentil e dedicado, não de um homem com
um sangue tão ruim como você. Você é tudo aquilo que ela não
precisa, cara.

Quando estaciono o carro na frente do prédio onde Diana está


morando, sinto o meu autocontrole voltar aos poucos, e eu me
acalmo. Minha velha amiga será uma boa distração num momento
estressante como este. É só eu pensar em sentimentos que já me
estresso e fico puto da vida. Eu definitivamente não nasci para lidar
com essas merdas. Amor e romance não são para mim. Estou no
lugar certo, na casa de uma amante. Uma noite de sexo casual é
tudo o que eu preciso... e só o que eu mereço. No outro dia, eu
estarei normal novamente, pronto para trabalhar e ignorar o resto. É
só isso que eu quero, minha rotina tranquila e livre de drama.

∆∆∆

Estou na cama de Diana, deitado, olhando para o teto enquanto a


mulher do meu lado conta os pesares que viveu no seu casamento.
Ela está falando há mais de uma hora, e eu não escutei praticamente
nada. Meus pensamentos estão em outros assuntos, alguns mais
importantes; outros não. Além disso, a maioria dos assuntos das
mulheres eu não suporto escutar ou falar sobre. Não sou muito
paciente quando se trata de lamentações femininas ou outras
questões como beleza e futilidades. Apesar disso, não interrompi
nenhuma vez o falatório de Diana. Ela tem sido gentil comigo e
realmente pensa que estou interessado... ou pensava até alguns
minutos atrás, porque neste momento ela está calada, e posso sentir
o seu olhar sobre o meu rosto. Mudo minha posição e a encaro.

— Algum problema, Diana?


A mulher ruiva e nua do meu lado está me olhando com o cenho
franzido de desgosto.

— Eu que te pergunto. Algum problema, Emir? Você tem estado


aéreo e calado o tempo todo! Está claro que você fingia que
escutava o que eu falava.

Solto um longo suspiro.

— Sinto muito, Diana. Estou com alguns problemas na cabeça e


simplesmente me distraí um pouco.

Os olhos azuis da mulher ficam curiosos.

— Que tipo de problemas? Você nunca fica tão distraído por causa
de problemas.

— Bem, mas as coisas mudaram um pouco, Diana, desde que você


se casou...

Ela me interrompe:

— Tem uma mulher no meio. É uma mulher, não é?

Eu franzo a testa, confuso.

— Como você sabe?

Ela faz uma careta.

— Adivinhei. Nunca te vi assim antes... Não é de hoje que você está


estranho. Agora, você nunca se importou tanto com uma mulher
antes a esse ponto...

Aceno.
— Nisso você está certa.

Ela me analisa, seu rosto fica mais sério e pensativo.

— Quem é ela?

— Jade Hamir — falo, sem muita vontade.

Ela arregala os olhos.

— A filha do sheik Tariq? Mas você não tinha dito, anos atrás, que
ela é inocente demais para você?

— Disse — respondo simplesmente.

Ela fica ainda mais surpresa.

— Bem... Eu não te entendo, Emir.

Pela primeira vez no dia, eu sorrio.

— Nem eu, Diana. Nem eu.

Ela se mexe na cama, um pouco desconfortável com a situação.

— Então... Você pretende se casar com ela?

Faço uma careta.

— Não, não... Com certeza não.

Diana parece ficar ainda mais confusa.

— Bem, eu realmente não te entendo. Está claro que você está


gostando da filha do sheik. Então, por que você não quer se casar
com ela? Jade não te quer?
Eu rio.

— Não é isso... Bem, talvez agora ela não me queira mais, mas...
Enfim, a questão não é essa, Diana. O problema está em mim.
Como você disse antes, eu te disse anos atrás que Jade é inocente
demais para mim. E, bem, isso não mudou com o tempo. Ela
continua sendo inocente, boa... E eu continuo sendo quem eu sou…
um Yassin.

— E você acha isso um problema? Qual o problema de você ser um


Yassin. Ninguém escolhe a família em que nasce.

— Não se finja de boba, Diana. Você sabe quem eu sou. Você nem
imagina como Jade foi criada, a garota é um princesa em todas as
áreas, merece um príncipe, não eu.

Diana bufa.

— Mas você é um príncipe, não? Um sheik árabe.

Eu reviro os olhos.

— Príncipe eu sou apenas de título, querida. Pessoalmente eu passo


bem longe disso, e você sabe muito bem disso.

— Bem, está certo que você é meio bruto e prepotente, Emir, mas...
Eu penso que você tem muitas qualidades boas. Não acho que você
seria tão ruim para a filha do sheik de... Enfim, não sei por que você
acha que seria impossível. Seu passado não pode te condenar para
sempre...

— Acontece, Diana, que Jade sonha com um único casamento. E se


não der certo? Irei destruir seu sonho. Além disso, eu nunca quis me
casar, família e romance não combinam comigo. Eu quase ignorei
isso por causa de Jade, mas logo voltei à realidade.
Ela balança a cabeça.

— É uma pena que tenha pensamentos tão negativos sobre si


mesmo, Emir. Penso que seria um ótimo marido para a garota lá...

— Não serei marido de ninguém, Diana. E Jade irá encontrar alguém


melhor.

Ela suspira, pensativa.

— Casamento é um acordo complicado. Eu gostava de Thomas, ele


gostava de mim... Achávamos que ia dar certo, mas não deu.

Ela fica um pouco pensativa e então fala:

— Sabe, isso me fez refletir, talvez você esteja tomando a decisão


certa, Emir, não sei... Se você não a amar de verdade, tipo, amar
mesmo, então é melhor manter distância mesmo, deixar a garota
encontrar um outro cara, porque a chance de dar errado é muito
grande. Casamento é um acordo entre duas pessoas que se amam,
não de pessoas que se gostam. Mesmo aquelas que se gostam
muito, tipo eu e Thomas, não dará certo. É estranho, mas é verdade.

Reflito um momento sobre suas palavras, mas elas só me deixam


ainda mais confuso, então decido não comentar nada. Quando olho
para Diana novamente, ela está olhando de forma sugestiva para o
meu corpo e parece ter esquecido completamente o assunto que
estávamos falando.

— Que tal mais uma rodada?

Faço uma careta inconscientemente.

— Agora não, estou cansado. Outra hora, okay?


Ela franze a testa, mas concorda a contragosto.

Capítulo 6

Jade Hamir

Acordo com o coração disparado quando o meu cobertor é


simplesmente arrancado de cima de mim sem nenhuma delicadeza.
Meus olhos estão arregalados, e a minha visão custa captar o que
está acontecendo. É então que vejo Emir do meu lado, com cara de
poucos amigos, segurando a coberta em uma mão.

— Anda logo, levanta, sua preguiçosa!

Mesmo ainda sonolenta, já começo sentir a típica raiva voltando.

— O quê?! Como você ousa me acordar desse jeito e ainda me


chamar de preguiçosa?! Você é um maluco! Saia do quarto!

Ele franze a testa, irritado.

— Só vou sair quando você sair também, garota. Anda, levante-se e


vá se arrumar. Eu até tinha a intenção de deixar você acordar por
conta própria, mas você dorme demais, e eu não tenho tempo nem
paciência para te esperar.

Eu franzo o cenho, estranhando sua conversa.


— E por acaso eu vou a algum lugar com você? — Minha voz sai
aguda e sem paciência.

Ele sorri, mostrando seus dentes brancos e masculinos.

— Exato, baby. Agora levante-se, suas perguntas já estão me


estressando.

Olho-o, incrédula.

— Como? Mas eu só fiz uma pergunta, Emir!

— Sim, e uma já é suficiente para mim. Agora levante-se e vá se


arrumar — ele diz, praticamente rosnando. — Se não fizer isso em
cinco minutos, eu vou fazer por você. Vestir mulheres sempre me
pareceu ser uma atividade interessante.

Olho-o com antipatia e me levanto, contrariada e nervosa. É então


que me dou conta de que não estou vestida muito apropriadamente
para receber visitas no meu quarto. Estou vestindo uma camisola de
seda verde que chega ao meio das minhas coxas. Além disso, estou
sem sutiã. Eu não tenho o costume de usar sutiã para dormir. Emir
parece ler os meus pensamentos, porque os seus olhos me analisam
detalhadamente, dos pés à cabeça. Ele fica tempo demais me
olhando, sem falar nada, mesmo eu estando parada ao lado da
cama sem estar me arrumando como ele pediu.

Sinto meu rosto corar quando sua atenção foca totalmente nos
meus seios e acabo me mexendo, desconfortável. Nunca um homem
me viu tão exposta, e eu não sei como agir numa situação tão
constrangedora como essa. Depois do que parece ter sido minutos,
ele finalmente percebe que estou constrangida com seu olhar sobre
meu corpo e então o desvia para o meu rosto. Seus olhos estão
mais escuros do que já são, e seu rosto está tenso.
Ele pigarrea, desvia o olhar para a minha cama e diz, num tom
grave e irritado:

— Você tem cinco minutos, Jade, não mais que isso. O seu café da
manhã está esperando por você, precisará ser rápida.

— Nunca vejo funcionários nesta casa. Quem preparou?

— Joana, se esqueceu dela? Foi ela que preparou seu quarto.

— Ah, sim, agora me lembro.

Ele fica sério.

— Gosto de privacidade, por isso não ficam funcionários em tempo


integral neste casa. Eles vêm sempre que necessário, é claro. Além
disso, o pessoal da segurança fica 24 horas aqui. Talvez não tenha
os percebido, eles geralmente ficam na entrada da casa ou em
áreas mais isoladas.

— Realmente, não tinha percebido.

— Como eu disse, gosto de privacidade, eles são discretos.

Emir parece ficar nervoso quando olha minha camisola e fala,


rispidamente:

— Estou perdendo a paciência com você, Jade. Vá se arrumar,


agora você tem três minutos.

Fico de boca aberta com a sua ousadia.

— O que?! Três minutos? Mas não vai dar tempo.

— Agora você tem dois minutos e quarenta e oito segundos, é


melhor se apressar.
E então, sem dizer mais nada, o homem alto e ignorante sai do
quarto, fechando a porta atrás de si. Solto um longo suspiro, pedindo
a Alá que me dê paciência.

— Idiota — falo para as paredes.

Sem ter nenhuma opção, tomo um banho em tempo recorde, visto


uma roupa, que faz parte das poucas peças que tive como trazer
comigo quando fugi, e arrumo meu cabelo. Encontro Emir na
bancada da cozinha, tomando um café. Ele aponta para alguns
alimentos.

— Coma, você tem cinco minutos.

— Ai, que mania essa você tem de cronometrar as ações das


pessoas. Por acaso, para onde vamos para você estar tão atrasado
assim?

Ele me encara, frio.

— Para sua nova casa temporária. Não achou que iria ficar aqui por
um mês, não é, princesa? Seu pai arrancaria minhas bolas. Jamais
isso aconteceria. Um dia que você passou aqui, e ele está quase
reunindo um exército para vir te buscar. A única opção que encontrei
é te colocar na casa de uma mulher confiável. Seu pai ainda quer te
buscar, talvez até mesmo faça isso antes do tempo, mas eu preciso
ao menos tentar, não é?

Eu encaro-o, incrédula.

— É claro que eu não ia aceitar ficar na sua casa mais do que um


dia, eu mesma já estava planejando ir para um hotel ou algo assim.
Agora, ir para a casa de uma desconhecida? Jamais! Você está
querendo demais, Emir.
A expressão do homem prepotente à minha frente nem mesmo se
altera.

— Bem, a escolha é sua. Só achei que você quisesse preservar sua


"honra", princesa.

— E o que isso tem a ver?

— Muito, Jade. Muito. A intenção é que você tenha uma justificativa


para estar aqui. Passar uma temporada na casa de uma amiga, por
exemplo.

— Você quer que eu finja ser amiga de uma mulher que eu nem
conheço?

Ele toma um gole do seu café, calmamente, e então diz:

— Querer não é a palavra certa, anjo. Só acho que deveria. Claro, a


escolha é sua, não vou te obrigar a nada.

Olho-o, ironicamente.

— Mesmo? Você já está me obrigando, Emir. Estou aqui por isso,


esqueceu?

Ele ri, realmente achando graça da situação ridícula que me


encontro.

— É verdade. Mas só vou te obrigar a isso, nada mais. Mas não veja
a sua "obrigação" como algo ruim, anjo. Você só está aqui há um dia,
ainda não sabe o quanto eu posso te ajudar.

Desta vez sou eu que rio.

— Me ajudar? Só se for me deixar louca como você.


Ele fecha a cara, coloca a xícara na bancada e me encara.

— Vá comer, Jade. Ou então vamos sair mesmo se você não tiver


comido nada.

Reviro os olhos, já irritada com as suas ordens. Mas estou com


fome, então vou comer, mesmo que esse sheik problemático esteja
do meu lado.

Como de tudo um pouco e em poucos minutos estou satisfeita.


Olho para Emir e o vejo mexendo no celular. Quando ele percebe
meu olhar sobre ele, Emir pergunta:

— Pronta?

Eu simplesmente aceno. Ele então pega suas chaves, que estavam


sobre a bancada, e sai. Eu o sigo. Já no subsolo, ele abre a porta da
BMW para eu entrar. Estranho sua cordialidade, mas não digo nada.
O caminho para a casa da mulher que eu nem conheço levou em
média vinte minutos. É um prédio, e a mulher provavelmente liberou
antecipadamente o acesso para Emir, porque ele passa pela
segurança normalmente. Há duas vagas para estacionamento que
pertencem ao apartamento da mulher. Uma já está ocupada, e a
BMW estaciona na outra. Quando saio do carro, vejo uma mulher de
cabelos cacheados se aproximar. Ela cumprimenta Emir com um
aperto de mão e então vem até mim, me surpreendendo com um
abraço.

— Oi, amiga, quanto tempo?

Acho que devo ter feito uma cara de espanto, porque ela ri e se
afasta.

— Desculpa, é que eu já incorporei meu papel de "amiga da princesa


Jade". Prazer, meu nome é Laila.
A mulher de aparência delicada parece ser muito legal, e eu
rapidamente gosto dela. Não posso evitar de sorrir.

— É um prazer para mim também, Laila. Eu descobri que vou ficar


um tempo com você. Espero não te incomodar.

Ela me dá um tapa no braço, e eu me assusto, mas ela parece não


perceber.

— Imagina! Está tudo combinado, menina. O sheik já deixou tudo


certo.

Olho para Emir com os olhos cerrados. Ele ignora a mensagem


neles.

— Deixou tudo certo, hein? É, o sheik Emir ama planejar as coisas


com antecedência.

Ela percebe a mensagem em minhas palavras e ri. Emir parece


entediado e então finalmente diz:

— Eu preciso ir para o trabalho. Você explica tudo para Jade, Laila?

— Claro, explico, sim.

Ele acena e então me encara, irônico.

— Vejo você mais tarde, princesa.

Ele então entra no carro novamente e rapidamente desaparece.


Não posso evitar de bufar. Ouço a voz de Laila atrás de mim:

— Complicado ele, né?

Eu quase rio de suas palavras de tão verdadeiras que elas são.


— "Amiga", você nem imagina.

Laila ri, pega meu braço como se fôssemos melhores amigas de


infância e me guia para dentro do prédio.

— Você pode me contar sobre isso, então. Você vai ficar algum
tempo aqui. Já que temos que, em geral, fingir sermos amigas, por
que então não viramos, de fato, amigas? Amo fazer amizades, mas
quase não tenho amigos. Você já percebeu que não sou daqui. É
difícil fazer amizades com nativos.

Aceno e suspiro, lembrando da história da minha mãe.

— Entendo perfeitamente. Minha mãe também passou por isso, ela é


brasileira.

Ela acena, sorrindo.

— Emir me contou, achei tão legal! Uma latina como eu! A propósito,
sou colombiana.

— Mesmo? Que legal.

— Sim. Vou te contar um pouco sobre mim, mas primeiro vamos


entrar.

O apartamento é no primeiro andar, então não precisamos usar o


elevador. Ela abre a porta e me convida para entrar. Quando estou
dentro, logo noto vários quadros grandes de fotografias. Eles estão
espalhados pelas paredes da sala de entrada. Laila e um homem,
que provavelmente é seu namorado, estão em todas. Pelo cenário
de trás, provavelmente foram tiradas na Colômbia. Depois de trancar
a porta, Laila se aproxima de mim e diz:

— É Omar, meu noivo. Ele é daqui. Estou morando aqui há dois


anos. Pretendemos nos casar este ano. Não aguentamos mais morar
em casas separadas.

Sorrio em concordância.

— Eu imagino que sim...

Ela aponta para um cômodo da casa.

— Vamos nos sentar um pouco. Assim fica mais fácil de


conversarmos.

Eu concordo, e ela me leva até sua sala de TV. Laila escolhe uma
programação qualquer, deixa num volume baixo e se senta ao meu
lado do sofá.

— Percebi que você não trouxe malas — Laila observa.

— Sim, não tive como trazer muita coisa comigo. Duas peças de
roupa foram o máximo. Mas amanhã pretendo comprar algo no
shopping.

Laila sorri.

— Você fugiu?

Sua pergunta me deixa sem graça, e ela rapidamente


complementa:

— Quero dizer, é só uma pergunta. Emir não me disse nada disso,


mas comecei a pensar sobre uma princesa ficar aqui por um mês e...
cheguei a essa hipótese.

— Você pensou certo, eu fugi. Me dá até vergonha de falar, mas...


foi por causa de Emir. Sou apaixonada por ele desde que me lembro,
e tínhamos feito um acordo de que casaríamos em breve... Até Emir
simplesmente desaparecer, não me dar notícias nenhuma, e eu ter
que vir aqui para buscar satisfações.

Laila arregala os olhos.

— Vocês iam se casar?

Suspiro e aceno com um sorriso sem graça.

— Pode parecer um absurdo, mas sim, iríamos. Mas ontem pude


descobrir que, na verdade, Emir nunca gostou de mim quanto eu
gostava dele, nunca quis se casar e só fez a proposta porque eu o
pressionei por muito tempo.

Laila parece triste por mim, além de ter um olhar de solidariedade


no rosto. Eu realmente gosto dela, é uma boa pessoa.

— Eu te entendo. Acho que toda mulher já passou ou ainda vai


passar por isso um dia. Não se sinta mal por isso, Jade, você vai
encontrar alguém que te mereça, que te valorize de verdade.

O modo dela falar é tão doce, que imediatamente caio no choro, e


lágrimas que tenho guardado há tanto tempo dentro de mim vêm à
tona. Laila me encara por alguns segundos, sem saber o que fazer, e
então ela está chorando também. Ela se aproxima de mim e me
surpreende com um abraço.

— Ah, não fique assim, querida. Vai dar tudo certo, você ainda vai
ser feliz com alguém.

Com o rosto no seu ombro, não consigo evitar um soluço.

— Mas eu não quero ser feliz com "alguém", quero ser feliz com o
homem que eu amo. E eu amo Emir. Oh, Deus, eu o amo.
Infelizmente, eu amo aquele canalha.
Ela dá alguns tapinhas de consolo nas minhas costas.

— A sua situação é muito complicada, querida. Mas para tudo tem


solução, basta um pouco de reflexão e autocontrole. Você pode me
dizer o motivo do sheik não sentir o mesmo por você? Quero dizer,
se tiver um, claro...

Eu me afasto do seu abraço, limpo meu rosto com as mãos e


aceno.

— Ele sempre disse que não era o homem para alguém como eu,
que eu sou inocente demais. Mas isso nunca fez sentido. O tempo
passou, sou adulta, tenho vinte e sete anos. Mas ele continua com
esse pensamento. Sinto que tem algo a mais...

Ela parece pensar por um momento.

— Já parou para pensar que talvez ele tenha medo de te machucar?


Ou tenha medo de não conseguir ser o que você espera que ele
seja? Talvez ele esteja tentando proteger seu coração, querida. Eu
não o conheço tão bem, mas acho que talvez ele só esteja pensando
no seu bem.

Balanço a cabeça, não convencida.

— Mas ele nunca tentou. Como ele pode saber que não é para mim?

Laila suspira.

— Não vai. É chato falar isso, mas pelo jeito ele nunca vai saber.
Parece que ele já está convencido de que vocês dois não darão
certo. Além disso, você tem uma família protetora, pelo que fiquei
sabendo. Isso gera ainda mais responsabilidade sobre ele. Acho que
o sheik Emir quer evitar problemas e sofrimento para você e sua
família.
Laila fica pensativa por um momento, e então seu rosto fica
confuso.

— Só não consigo pensar num motivo para Emir querer que você
fique aqui um tempo. Pela lógica, ele deveria querer pôr um ponto
final nessa história o quanto antes.

Eu suspiro.

— Eu não entendo Emir, ninguém entende. Tudo o que eu queria era


nunca ter colocado meus olhos sobre ele. Desde que o conheci,
fiquei escrava de um amor não correspondido que só me traz
sofrimento.

— Ai, Jade, eu sinto muito, querida. Eu imagino que seja muito difícil
e dolorida a sua situação. Já pensou em fazer alguma terapia para
ver se consegue esquecer o sheik?

As lágrimas ameaçam a cair dos meus olhos novamente, mas eu as


contenho.

— Claro que sim. Eu já frequentei os melhores terapeutas que você


puder imaginar, Laila. Já fui em tantos... Mas nenhum deles foi capaz
de me livrar dessa prisão.

Ela dá um sorriso triste.

— Bem, não fique assim, vai dar tudo certo, okay? Agora você tem a
mim, vou te ajudar a superar essa situação.

Sorrio, melancólica.

— Nem sei como te agradecer, Laila, você está sendo tão gentil
comigo... Nunca tive uma amiga que tivesse tanta paciência em me
escutar assim. Obrigada.
— De nada. Mas você não precisa me agradecer, quero que
sejamos amigas de verdade. Desde o momento que o sheik me
pediu para fingir ser sua amiga por um tempo, eu nunca cogitei essa
hipótese. Apesar de ter aceitado, porque estou precisando de
dinheiro, sempre tive em mente que realmente estaria aberta para
ser sua amiga caso você quisesse.

Eu sorrio.

— Você é uma ótima pessoa, Laila, vou amar ser sua amiga.

— Eu também! Principalmente quando começarmos a traçar planos


para você esquecer o sheik indeciso.

Eu franzo o cenho.

— Indeciso, por que você o chamou de indeciso?

— Amiga, está claro que esse homem é um baita de um indeciso. Na


cabeça dele, ele quer fazer o certo, que seria não interferir na sua
vida, deixar você encontrar alguém mais adequado que ele, pelo que
pude notar pelas vezes que conversei com ele e agora com você.
Mas, inconscientemente, ele não consegue cumprir com isso, digo, te
deixar seguir em frente, sabe? A maior prova é essa de agora. Você
está aqui porque ele está te obrigando, não é? Ele até mesmo está
desafiando seu pai, só um doido para fazer isso. Ou seja, ele, no
fundo, quer estar perto de você e não quer te ver com outro, mas ele
não está querendo ver a verdade e então arruma desculpas para
justificar seus atos anormais.

Ela para e depois continua:

— Omar já me disse algumas vezes que o sheik Emir é uma


incógnita, eu só não sabia que seria nessa proporção.

Fico totalmente confusa com a conclusão de Laila.


— Eu não sei, não, Laila... Essa ideia dele de me manter aqui sob o
domínio dele é porque ele quer me punir de alguma forma por ter
insistido com esse relacionamento que nunca existiu. Ele não quer
me manter por perto porque gosta de mim ou coisa assim. Acho
difícil isso ser verdade.

Ela faz uma cara engraçada.

— Eu sei que é difícil de acreditar, até porque ele é um baita


ignorante, todos sabem disso. Mas eu tenho quase certeza de que
ele guarda sentimentos por você, amiga. E digo uma coisa, eu não
vou descansar enquanto não confirmar isso. Farei isso por você,
Jade.

Balanço a cabeça, preocupada. Laila não conhece Emir como eu.


Ele mesmo já disse que é insensível, que não daria certo comigo.
Como um homem como ele pode ter algum sentimento por mim? Ele
está sempre me ignorando ou me chateando. Parece totalmente
improvável. É uma pena que só fui perceber a gravidade da situação
agora. Observo o olhar malicioso e animado de Laila e suspiro,
desanimada.

Capítulo 7

Jade Hamir
Ontem eu e Laila tiramos o dia para nos conhecer, falar sobre
nossos problemas e desabafar algumas angústias. Passamos de
desconhecidas para amigas em apenas um dia. Nunca pensei que
isso poderia ser possível, mas é o que está acontecendo. Gostamos
uma da outra, somos, mesmo que de maneira diferente, solitárias.
Laila me traz uma confiança que nunca achei em outra pessoa que
não fosse da minha família, e isso me tranquiliza a falar o que
realmente me dá vontade.

Neste momento, estamos em um shopping de Abu Dhabi. Eu não


trouxe nada comigo e preciso de roupas para vestir, sapatos e
acessórios. Laila está se divertindo com a ideia de ajudar a encontrar
boas peças. O único problema é que ela só escolhe roupas
inapropriadas. Saias curtas, top cropped e calças muito justas. Neste
momento, estou no vestiário experimentando, sob o olhar crítico de
Laila, um vestido curto com decote demais.

— Amiga, não acho que esta roupa é apropriada. Estou me sentindo


exposta demais — falo enquanto me olho no espelho.

Laila bufa.

— Claro que não, você está maravilhosa, Jade. Mulher, se eu tivesse


as suas pernas perfeitas e o seu corpo em forma, eu vestiria só
roupas que mostrassem minha beleza.

Eu suspiro.

— Se meu pai me visse vestida assim, ele com certeza teria um


infarto.

Laila franze a testa.


— Ele não está aqui, não é? Além disso, você tem vinte e sete anos.
Céus, está na hora de crescer, amiga. Vá viver sua vida, vista o que
quiser e transe muito.

Seu último conselho me faz engasgar, e eu começo a tossir. Laila ri.

— Isso mesmo, vá transar, Jade. É disso que você está precisando.


Esse negócio de esperar até o casamento nem sempre dá certo.
Olha para você, quase vinte e oito anos e ainda virgem.

— Amiga, eu não posso transar antes de casar. Se o povo do meu


pai descobrir, estarei arruinada, além de que minha família também
irá sofrer as consequências de ter uma filha "perdida".

Laila bufa novamente.

— Que lugar que você foi nascer, hein? E ainda por cima filha de um
sheik. Amiga, sinto muito por você.

— Não é tão ruim quanto você imagina... Mas não posso dizer que
faço o que quero, porque seria mentira. Tenho sempre que respeitar
as tradições do meu povo. Eles levam muito a sério as leis...

— Certo, certo... Sem sexo então. Mas beber você pode, né?

Balanço a cabeça.

— A minha religião não permite bebida alcoólica.

— Aff, que vida horrível! Você não pode fazer nada!

Olho para o meu reflexo no espelho.

— Eu posso sair e dançar.

Laila ri.
— Pelo menos isso, né. Senão você seria uma freira fora do
convento.

Eu rio do seu deboche e começo a tirar o vestido da loja.

— Já experimentei roupas demais, mas a maioria é super


inapropriada, Laila.

— Nada disso, você vai levar tudo! Enquanto você estiver aqui, vai
usar roupas que te favorecem, amiga. Quando você voltar para o seu
papai, aí você pode usar suas tão queridas roupas comportadas.

Reviro os olhos.

— Certo, mas só vou concordar porque é só um mês.

Laila faz uma cara estranha.

— Amiga, você vai gostar tanto da sua nova versão que não vai
querer se vestir como uma puritana nunca mais.

— Eu não me visto como uma puritana, só me visto normal.

— Normal para uma puritana.

Reviro os olhos.

— Vamos mudar de assunto porque já cansei de ouvir você criticar


minhas roupas. Aonde vamos hoje?

Laila morde os lábios, um pouco receosa. Eu na hora fico


apreensiva.

— Então, Emir me ligou dizendo que queria te levar para uma boate.
Arregalo os olhos.

— Boate?! Você está falando sério? Ele frequenta boates, um


sheik?! Alá do céu, que homem estranho!

Ela ri.

— Sabia que você ia pirar. Sobre o sheik frequentar boates de vez


em quando, não vejo problema nisso. Ele é um homem normal.
Essas regras que os sheiks árabes geralmente seguem de não "sair
da linha" são idiotas na minha opinião. Por que o sheik não pode dar
uma saidinha? Ele é solteiro, não vejo problema.

Eu suspiro.

— Laila, é complicado. Tem um pouco a ver com religião e também


com as leis... Esses lugares são mundanos demais, as pessoas
bebem, fazem sexo... Não é apropriado, não são lugares para
pessoas tradicionais...

— Mas eu acho que isso deveria ser uma escolha de cada um, não
acha? Digo, seguir as tradições.

Mordo o meu lábio inferior num tique nervoso. Assuntos como esse
não são fáceis de falar.

— Depende... Se você nasceu sheik, filho de sheik... Você meio que


não tem muita opção, ou então sua família será mal falada.

— Que vida horrível os pobres sheiks têm! Não culpo o Emir por
ignorar tradições tão limitantes. Agora penso com mais convicção
que você precisa sair e se divertir, principalmente neste um mês que
for ficar aqui.

— Não sei se é uma boa ideia, amiga. Sou filha de um sheik, um bem
controlador para piorar. Eu conheço o meu pai, ele está me vigiando,
a mim e Emir. E Emir também sabe disso. Provavelmente tem
espiões do meu pai me seguindo por todo lugar, inclusive nesta loja.

Laila arregala os olhos e olha ao redor da loja de roupas.

— Ele é tão controlador assim?

Eu rio de nervoso.

— Você não faz ideia.

— Você acha que ele vai fazer alguma coisa caso você saia com
Emir?

Encaro Laila.

— Não sei, meu pai é um mistério. Mas eu acho que depende.


Depende de como tudo correr. Se não acontecer nada demais, acho
que ele só vai me ligar, chamar minha atenção e dizer que está de
olho em mim.

— Então você pode ir. Ótimo! É só não sair tanto da linha.

— Eu não quero ir. Estou tentando evitar ao máximo Emir.

— Mas você não está aqui por causa da ameaça dele? Não entendi.

Eu suspiro, entediada.

— Estou. Mas isso não significa que estou feliz com isso. Não
aguento olhar para a cara do Emir.

— Então você vai recusar sair com ele?

— Eu não disse isso. Eu vou, mas você vai comigo, Laila.


Laila sorri.

— Jura?! Eu topo!

Eu sorrio.

— Com você lá será mais fácil tolerar a cara cínica de Emir.

Laila ri.

— Ele não irá gostar de saber que vou com você.

— Pouco me importa. Ou ele aceita, ou eu não vou nem sob toda


ameaça do mundo que ele fizer.

Laila franze a testa.

— Wow, que raiva, hein!

Eu cerro meus olhos.

— Você nem imagina o quanto, Laila. Quando você é feita de trouxa


por dez anos, você acaba ficando assim.

∆∆∆

Às 17:00h Emir me ligou dizendo que me buscaria às 21:00h. Eu


não contei que levaria Laila comigo. Não devo satisfações a ele,
portanto ele saberá quando for necessário. Eu estou vestindo o
vestido vermelho com o decote exagerado que Laila fez questão que
eu comprasse. Confesso que não me sinto muito confortável expondo
o meu corpo demais, porém Laila está certa, pelo menos enquanto
eu estiver aqui eu tenho que curtir o momento, mesmo nestas
circunstâncias ridículas que Emir Yassin insiste em me colocar. Estou
há três dias em Abu Dhabi, tudo por causa das ameaças do sheik
revoltado. Papai está chegando ao limite, sei que ele dará um jeito
de me buscar em breve.

Ao contrário do que se imagina, não estou muito animada com a


ideia de ser resgatada pelo meu pai. Eu não queria estar nesta
situação, mas eu tampouco quero voltar para a minha vida monótona
de antes. Alguma coisa nesta maluquice toda está me deixando mais
animada e feliz. Às vezes viver no perigo é mais interessante que
estar a salvo sob as asas do pai controlador. Enquanto termino
minha maquiagem, Laila termina de colocar seus saltos altos. Seu
noivo não ficou nada feliz ao saber que ela irá numa boate. Mas ela
conseguiu tranquilizá-lo ao dizer que Emir estará de olho em nós. Sua
desculpa me faz rir, e eu quase borro o meu batom por causa disso.
Acontece que é engraçado imaginar Emir de olho em mim e Laila.
Ele é tão desinteressado nas pessoas, que está mais fácil nós
ficarmos de olho no sheik bonitão de olhar sombrio.

O som do meu celular tocando me faz parar o que estava fazendo


para pegá-lo. Ao ver o nome do sheik na tela, o meu coração logo
começa a bater mais rápido. Eu dou um breve suspiro e atendo:

— Oi.

— Eu espero que você esteja pronta, Jade. O meu irmão está na


frente do condomínio de Laila. Tive um contratempo, vou encontrar
vocês no Empire Yas Nightclub mais tarde. A casa noturna é de um
conhecido, então não precisa se preocupar com sua segurança.
Além disso, Ismael estará com você. Em breve encontrarei vocês lá.

Ele dá a notícia como se ela fosse completamente normal. O irmão


de Emir vai me levar para uma boate, nada poderia ser mais normal
que isso.
— Mas, Emir, eu não conheço seu irmão! É melhor cancelar esse
compromisso.

— Jamais. Eu disse que logo estarei lá. Te dou a minha palavra que
meu irmão é confiável. Digamos que ele seja a versão mais calma de
mim, você não terá problemas com Ismael.

— Mas a questão não é essa. Eu não quero ir! Só estava indo antes
porque você não me deu escolha.

— Exatamente por isso que você irá neste momento: eu não estou te
dando escolha, princesa.

Eu grito, irritada.

— Você é um idiota, Emir.

Eu aposto que o idiota está sorrindo, irônico como sempre.

— Você já me disse isso antes. Ismael está te esperando, vejo você


em breve, assim que eu resolver um problema. Se comporte, Jade.

E então ele encerra a chamada, como um típico mal-educado. Laila


se aproxima, preocupada.

— O que aconteceu?

— O maldito Emir não vai poder nos levar, disse que está resolvendo
algo. Mas o idiota não quer cancelar este compromisso ridículo. Ao
invés disso, ele mandou o seu irmão me levar. Ele disse que irá nos
encontrar já no Empire Yas Nightclub mais tarde. Acabei de
descobrir que é esse o lugar que ele escolheu. Só que ele é um
completo sem noção egoísta, eu nem mesmo conheço o irmão dele.
Além disso, o tal de Ismael já está na frente do condomínio me
esperando!
— O irmão mais novo do sheik já está aqui? — Laila pergunta,
chocada.

Eu aceno.

— Você o conhece?

— Só um pouco. Mas confesso que estou surpreendida, pelo que sei


de Ismael, ele não faz o tipo que frequenta boates, ele é meio
reservado e quieto, sabe.

Eu balanço a cabeça, exasperada.

— Não, amiga, não sei.

Ela ri, um pouco nervosa também.

— Sei que não. Enfim, o que posso te dizer é que o cara é meio na
dele, mas parece ser mais normal que o irmão.

— Acha que ele é confiável?

Ele dá de ombros.

— Creio que sim... Pelo menos a impressão que tive dele foi de que
era. Mas faz tempo a última vez que o vi.

Eu suspiro.

— Certo, então vamos. Se for parar para pensar, pior que Emir ele
com certeza não deve ser.

Laila ri, achando engraçado a situação.

— Nisso eu concordo. É difícil competir com a personalidade


incompreensível do sheik Emir.
∆∆∆

Que mundo maluco. Como dois irmãos nascidos de uma mesma


mãe podem ser tão diferentes? Ismael é incrível, super educado e
bom de conversa. Quando o vi na frente do condomínio, foi
impossível não comparar o homem alto, moreno e sorridente com o
irmão. Fisicamente eles são diferentes, Ismael é alto, magro e tem o
cabelo acima do ombro. Seu rosto é liso, sem barba, mas suas
sobrancelhas grossas e escuras combinam com a cor de seu cabelo
ondulado. Fiquei até apreensiva com o seu sorriso assim que me viu,
já estava pensando que talvez ele fosse um complô de Emir para me
dar uma lição. Vai saber, né. Mas não, suas atitudes e modo alegre
ao falar rapidamente me fizeram descartar essa hipótese. Ismael é
um homem divertido, sociável e galanteador.

Obviamente que eu percebi os seus olhares observadores sobre


mim. Laila também, pois ela me deu uma cotovelada assim que
saímos do carro e chegamos na porcaria da boate. Quando
entramos, estava claro que Ismael já estava familiarizado com o
lugar, pois saiu cumprimentando vários funcionários. Até mesmo o
dono do local apareceu para lhe dar um abraço. Para meu alívio, ele
não me convidou para dançar, ao invés disso, escolheu uma mesa
mais afastada para nós três e nos trouxe suco gelado.

— Emir logo estará aqui, ele teve que resolver algo urgente com o
conselho. Ele geralmente faz o possível para acertar todas as
pendências, mas sempre há contratempos.

Faço uma careta.

— Achei que seu irmão não gostasse das responsabilidades de


sheik.
Ele acena.

— E não gosta. Mas isso não muda nada as regras do jogo,


princesa Hamir.

Eu coro.

— Por favor, não me chame assim. Meu nome é Jade.

Ele ri.

— Sinto muito, não resisti, acontece que Emir sempre se refere a


você como princesa do sheik Tariq. Você meio que se tornou uma
lenda nesses anos.

Eu instantaneamente fico confusa.

— Lenda?

Ele sorri de canto.

— Você não entenderia. Mas a questão é: finalmente pude te


conhecer! Somente um problema com o conselho para fazer Emir
confiar a princesa Jade em minhas mãos.

Ele parece muito divertido e contente com a situação, e isso me


deixa curiosa.

— E por que Emir não confiaria em você em ocasiões comuns?

— Ora, Jade, que pergunta óbvia! Emir não vai querer que outro
homem fique ao redor de sua pretendente, não é mesmo? Até
mesmo o irmão não é excessão, afinal sou um homem.
Laila está achando toda a conversa um absurdo, e seu rosto
mostra exatamente isso.

— Espera, desde quando Jade é pretendente do seu irmão? Ele


nunca assumiu nenhum compromisso com ela, e nem vai.

Ismael acena em compreensão.

— Emir é um homem complicado. Como seu irmão, posso dizer que


ele é até mesmo problemático. Ele nunca assumiu o compromisso
formalmente, de fato. Mas ele parece fazer questão de que isso não
seja necessário. Posso dar minha palavra que todos já sabem a
intenção de Emir em relação a Jade, até o conselho está avisado.

O meu horror é evidente quando eu falo:

— Mas ele me disse com todas as palavras que não pretende se


casar comigo! Ele está me punindo, por isso estou aqui. Ele é um
idiota hipócrita e está ameaçando a minha família. Mas a última
coisa que seu irmão sem ética quer é algo comigo. Nunca quis e se
divertiu ao me fazer de idiota. Hoje, eu dou graças a Deus por não
ter me casado com ele, foi um livramento.

Ismael parece surpreso com o meu ódio.

— Achei que gostasse de Emir.

— Gostava! Hoje eu o odeio.

Ele franze a testa, preocupado.

— Bem, vejo que a situação está complicada. Então Emir te disse


que não quer se casar com você? Ele não me avisou sobre isso
ainda.

Eu reviro os olhos, revoltada.


— Emir é um idiota que não se preocupa em manter as pessoas
informadas.

— Acredito que ele não avisou ainda porque a decisão foi recente.
Jade mesmo só ficou sabendo da mudança brusca do sheik há três
dias — diz Laila para Ismael, e este acena.

— Faz sentido.

Ele me olha, preocupado e curioso.

— Bem, eu sinto muito pelo final que seu relacionamento com Emir
teve, Jade. A forma como ele falava de você para minha madrasta,
ou mesmo para mim, dava a entender que ele jamais te deixaria livre
para outro. Realmente estou surpreso com a notícia.

Eu suspiro.

— Não se sinta triste. Como eu disse, foi um livramento. Seu irmão é


um completo idiota insensível, ficarei melhor sem ele.

— Tem certeza? Sei que o amava.

Meu rosto cora de constrangimento.

— Até mesmo o amor acaba. Eu estou disposta a esquecer Emir


para sempre. É uma maldita pena eu ser obrigada a ficar nesta
cidade por causa dele. Até mesmo depois de tudo o que ele fez, ele
não me deixa em paz. Mas ele não vai conseguir me prender em seu
domínio por muito tempo, meu pai já me avisou que logo irá me
buscar.

Ismael segura sua taça de suco e a leva a boca, sem deixar de me


encarar.
— Ah, sim, eu conheço a fama do sheik Tariq Hamir e não duvido que
ele realmente te leve de volta em breve. Além disso, todos sabemos
que Emir não irá cumprir com sua ameaça, seu pai sabe disso
também. Mesmo sem saber demonstrar, ele se importa com você.

Eu faço uma careta.

— Emir não se importa com ninguém, sou simplesmente um peão no


seu jogo egoísta.

— Emir é um homem complicado, nem mesmo eu, seu irmão,


consigo entendê-lo muito bem. Mas sobre isso, penso que talvez
você esteja errada, você é diferente, Emir se importa realmente com
você. Mas infelizmente quem tem que provar isso é ele.

— Ele não vai provar nada. Não existe nada para provar mais.

— Ai, gente, que assunto angustiante. Estamos numa boate, todo


mundo está se divertindo. Vamos fazer algo mais útil já que estamos
aqui — diz Laila, chateada.

Ismael encara minha amiga e se levanta. Ele então vem até mim,
me oferece sua mão, e eu também me levanto.

— Vou levar vocês para dançar. Chega de Emir por enquanto, vamos
pensar apenas em nós três e no momento. O que acham?

Laila bate palmas e se levanta, agora mais animada.

— Até que enfim alguém sensato!

Eu aperto a mão de Ismael e com a outra aponto para as pessoas


dançando em um ponto afastado.

— Vamos dançar, falar de Emir me deixou entediada.


De repente, sinto Ismael endurecer do meu lado, e Laila arregala
os olhos em pânico.

— Então, eu te deixo entediada, senhorita Hamir?

Assustada, me viro para a voz grave e falsamente macia de Emir


Yassin.

— Emir?!

Ele sorri de modo irônico e irritado. Ele está vestido casualmente,


mas com sua postura, altivez e orgulho de sempre presente.

— Te assustei, princesa?

Capítulo 8

Jade Hamir

Emir olha fixamente para a minha mão unida com a de Ismael, e eu


tremo. Rapidamente tiro a minha mão e me afasto um pouco do
homem. Laila está com os olhos arregalados e olha para mim com
receio.

— Há quanto tempo você chegou? — pergunto, envergonhada.

Ele cerra os olhos, e seu maxilar denuncia sua tensão.


— Tempo suficiente para saber o que Jade Hamir pensa de mim.

Eu arregalo os olhos e engulo em seco. Olho para os meus pés,


sem saber o que fazer, depois o encaro novamente.

— Sinto muito que tenha escutado seja lá o que escutou. Mas eu não
posso dizer que tudo foi mentira, porque estaria sendo hipócrita.

Posso escutar Ismael soltar um murmúrio surpreso atrás de mim.


Laila também se remexe, nervosa. Emir me olha com os olhos frios,
mas desvia para o irmão.

— Ismael, obrigado por ter acompanhado as senhoritas, você está


liberado.

Fico surpresa com a facilidade dele de dispensar o próprio irmão e


reclamo da sua decisão, mas ele me ignora completamente. Ismael
me observa por um momento, em dúvida se realmente deve me
deixar com o seu irmão prepotente. Mas Emir o pressiona, e ele
decide ir. Ismael sorri para mim de forma tranquilizadora, nos deseja
uma ótima noite e vai embora.

— Por que mandou seu irmão embora? O que custava tê-lo deixado
ficar?

Emir dá uma gargalhada irônica e me olha demoradamente.

— Para você se aliar com ele para falar mal de mim? E depois,
quem sabe, você até mesmo descontar suas frustrações em um
relacionamento rebelde com meu irmão mais novo? Jade, minha
querida, eu não nasci ontem. Você está falando com o sheik Emir
Yassin, anjo.

Sua voz falsamente doce e acusadora me enfurece.


— Não é você que não gosta de ser sheik?

— Gostar é um termo relativo. Digamos que eu não escolheria esse


destino para mim se pudesse. Contudo, como um ótimo jogador
neste jogo chamado vida, eu sei fazer bom uso dos privilégios que
esta posição me traz.

Eu bufo, irritada.

— Não me coloque no seu maldito jogo, Emir. Eu não sou uma


maldita peça para você manipular.

Ele sorri de canto.

— Não, você não é, você é mais do que uma peça, princesa. E eu


jamais ousaria te manipular.

Desta vez sou eu que rio.

— Você faz isso desde que o conheci.

Emir fica muito sério e se aproxima lentamente de mim. Laila nos


olha, preocupada. E eu me contenho para não me afastar.

— Você está enganada, filha do sheik Tariq. Quem te manipulou por


dez anos foi você mesma, não eu. Você mesma se prendeu a
sentimentos ao invés da razão. Não me culpe por você ter escolhido
se manter presa em sonhos impossíveis. A senhorita precisa virar
adulta e assumir os seus erros. Você nem mesmo era importante
para mim até dois anos atrás. Antes disso, o meu interesse por você
se limitava à curiosidade e desejo. Eu te via simplesmente como uma
mulher, uma muito bonita por sinal, mas ainda uma simples mulher.
Meus sentimentos por você eram completamente impessoais. Sendo
assim, a senhorita não era suficientemente interessante para que eu
pudesse cogitar te manipular. Isso porque eu não via nada de
interessante em você que eu pudesse me beneficiar. Volto a dizer, só
comecei a te ver de maneira diferente há dois anos, quando o meu
conselho e o meu pai começaram a me pressionar com mais afinco
para que eu me casasse e construísse minha família.

Ele para de falar por um momento e observa o meu rosto


decepcionado e magoado.

— Eu não sou mais um jovem rapaz, tenho 40 anos, o meu prazo de


homem solteiro já se esgotou. Como sheik, devo satisfações ao meu
clã. Eu, infelizmente, não posso simplesmente abdicar do meu título.
Portanto, não me resta outra escolha a não ser cumprir com minhas
obrigações. Ao pensar em uma esposa, imediatamente você me veio
como primeira opção. Você é bonita, veio de uma excelente família,
é virgem e, o mais importante, gostava de mim. Quando disse para
seu pai que iria me casar com você, eu ainda não nutria nenhum
sentimento pessoal pela senhorita. Mas estaria mentindo se dissesse
que nesses dois anos isso continuou da mesma forma.

Ele procura por Laila, talvez para mandá-la embora. Mas ela já se
afastou há algum tempo e está em um canto afastado de nós dois.
Minha cabeça começa a doer, e eu me sento na mesa de antes.
Emir não diz nada e se senta à minha frente. Para o meu desgosto,
ele continua a falar:

— Nesses dois anos, passei a te ver de maneira diferente, você


estava mais velha, mais consciente da realidade e mais
amadurecida. Foi aí que realmente passei a te ver como mulher,
como uma esposa. Relembrei várias vezes de todas as nossas
conversas, do seu jeito gentil e divertido e comecei a realmente
gostar de você. Foi então que resolvi pedir sua mão em casamento
há sete meses. Você seria perfeita para mim. Você já era adulta o
suficiente, já me conhecia há muitos anos, se interessava por mim e
fazia parte da família mais respeitada da região. Meu clã ficaria
extremamente satisfeito com o nosso casamento, e eu também.
Como homem, te acho extremamente atrativa como mulher.
Atordoada, levanto minha mão para fazê-lo parar de falar. Meus
olhos estão cheios de lágrimas, e meu coração está mais ferido que
nunca.

— Você me pediu em casamento por interesse?! Você é nojento,


Emir.

Ele aperta os lábios em uma linha dura.

— Jamais se refira a mim com essa palavra novamente!

Eu não respondo, a raiva ridícula dele pouco me importa.

— Por acaso você escutou alguma palavra do que eu acabei de


falar? Você gostava de mim, achei que fosse se beneficiar do
casamento tanto quanto eu.

— Eu jamais me casaria com alguém que não me ama!

Ele fica calado.

— E eu peço desculpas por isso. É por isso que fiz questão de voltar
atrás e desfazer o noivado. Eu não posso retribuir o que você sente
por mim e não posso ser quem você necessita. Sou péssimo quando
se trata de sentimentos, carinho e cuidado. Eu gosto de você, Jade.
Se eu não gostasse, eu não teria cogitado a hipótese de tê-la como
esposa. Jamais viveria com uma pessoa que ao menos não
simpatize pelo resto de minha vida. Mas descobri de última hora que
isso não é o suficiente, não para você. Tenho respeito imenso por
sua pessoa a ponto de não condená-la a uma vida incompleta
comigo. Você merece um homem melhor. E sou honesto suficiente
para te dizer isso.

Meu rosto fica vermelho de raiva, decepção e frustração.


— Se você tivesse me dito isso antes, teríamos evitado muito tempo
desperdiçado.

Emir me olha demoradamente, seu rosto evidenciando sua tensão.

— Como te expliquei, eu não me interessava realmente por você até


dois anos atrás. Portanto, não faria sentido para mim ter essa
conversa com você se eu nem mesmo cogitava algo entre nós.
Confesso que isso foi egoísmo da minha parte, porque eu sabia dos
seus sentimentos por mim. Hoje, penso que eu devia tê-la alertado
mais, talvez eu devesse ter sido mais direto. Está claro que eu não
me esforcei para te mostrar quem eu sou de verdade. E isso só
piorou há dois anos, quando vi algo útil nos seus sentimentos por
mim. Eu precisava de uma esposa perfeita e imaginei que você seria
beneficiada com a situação. Graças a Alá, eu voltei à razão a tempo,
mas infelizmente não a tempo suficiente para poupar seus
sentimentos. Jade, eu realmente sinto muito. Sei que é difícil de
acreditar, mas eu gosto muito de você, anjo. Gosto mais do que
alguma vez já gostei de uma mulher. Se estou desfazendo tudo que
há entre nós dois, é porque quero o melhor para você.

Sinto todos os meus sentimentos mais profundos, que guardei no


fundo do meu coração, começaram a se misturar furiosamente no
meu peito. Um calor absurdo acumula em minha garganta, e meus
olhos inundam de lágrimas quentes. Um soluço sentido sai da minha
boca antes que eu pudesse conter. Quando me dou por mim, estou
chorando amargamente e silenciosamente em uma boate lotada de
pessoas que dançam, bebem e se divertem, alheias à minha
situação. Sinto a artéria localizada ao lado da minha testa pulsar
freneticamente. Levo minhas mãos à cabeça e tento em vão me
acalmar. Quando me dou conta, Emir está me guiando para fora do
local. Estou tão confusa que não tento me afastar. Escuto, em meio
à minha confusão mental, Emir falar para Laila que irá me levar para
sua casa porque precisa ter um tempo comigo. Levanto minha
cabeça a tempo de vê-la super preocupada. Ela rapidamente faz um
gesto com as mãos para que eu ligue para ela, e eu mal consigo
acenar.

Emir segura minha cintura firmemente, me levando embora. Quando


estamos na frente do seu carro, ele abre a porta para mim e me
ajuda a entrar. Ele rapidamente contorna e entra. Enquanto dirige,
ele frequentemente lança olhares furtivos e preocupados para mim,
mas eu não o olho de volta, meus olhos estão perdidos na estrada.
Sinto um aperto no coração quando ele passa através do grande
portão de sua mansão e estaciona no subsolo. Ele é ágil a ponto de
sair do carro e abrir a porta para mim antes que eu fizesse isso. Sua
mão morena e grande segura o meu braço e me puxa para fora. Mas
ele não me solta, ao invés disso, ele fecha a porta e coloca suas
mãos em cada um dos meus ombros. Sinto o calor da sua pele em
mim e estremeço. Emir aperta meus ombros delicadamente, seus
olhos fixos nos meus. Há algo neles de diferente, uma suavidade
genuína que nunca tinha visto antes. Estou assustada.

— Temos muito o que conversar, Jade. Nossos problemas são sérios


demais para simplesmente ignorarmos a existência um do outro.

Ele hesita por um momento, mas fala:

— Há algo que preciso te dizer, é importante... Mas antes quero que


você passe um tempo na minha casa e relaxe.

Balanço a cabeça rapidamente.

— Eu não quero ficar na sua casa.

Vejo o seu rosto ficar mais duro, e suas mãos deixam os meus
ombros.

— Eu não vou te atacar, Jade.

— Não é isso, eu só... quero ir embora e esquecer tudo.


Emir fica mais calmo, seus olhos ficando mais suaves. Vejo um
meio-sorriso aparecer no seu rosto sombreado pela barba de alguns
dias sem fazer.

— Eu sei que quer. Prometo que poderá fazer isso em breve, mas
antes precisamos ser adultos e resolvermos nossos problemas, não
acha?

Eu o olho por alguns segundos, desconfiada. Ele está estranho,


nunca imaginei que o veria me prometer que eu poderia ir embora e
esquecê-lo. Ele é orgulhoso demais para dizer algo assim. Solto um
longo suspiro. Não é como se ele fosse uma pessoa previsível, nada
entre nós dois é normal. Nunca foi.

— Você nunca se interessou em ter uma conversa adulta comigo.


Vejo que evoluiu subitamente, senhor Yassin.

Ele arqueia suas grossas sobrancelhas escuras em surpresa.

— E vejo que a senhorita Hamir se tornou ousada bruscamente.


Como as pessoas mudam, não?

Eu me forço a colocar aquele sentimento de tristeza que estou


sentindo em segundo plano e a voltar ao normal. Sorrio de forma
forçada.

— Certo, vou entrar com você. O senhor me disse que tem assuntos
importantes para conversar comigo, podemos fazer isso já.

Emir estranha a minha mudança de humor, mas decide não


comentar sobre isso. Sorrindo, ele me oferece sua mão, a qual eu
demoro a segurar.

— Se é o que deseja, seu desejo é uma ordem, madame.


∆∆∆

Emir meio que me obrigou a jantar com ele, mesmo eu afirmando


que não estava com fome. Durante toda a refeição, ele ficou calado,
olhando para mim do outro lado da mesa comprida e negra. Seus
olhos escuros frequentemente estavam sobre mim, me deixando
nervosa. Só quando tínhamos terminado, ele finalmente começou a
falar:

— Serei bem direto e franco com você, Jade, pois sei que prefere
assim.

Sinto o meu coração apertar novamente, se preparando para


notícias ruins. Estou cansada de tanta confusão em minha vida, mas
parece que, quanto mais eu fujo, mais os problemas me perseguem.
Eu coloco a minha taça de suco de uva sobre a mesa e aceno com a
cabeça. Emir toma isso como um sinal para continuar:

— Você agora já sabe que o meu conselho espera que eu me case


logo. Creio que não é difícil ligar os pontos para saber que você
sempre foi a primeira opção do conselho. Nenhuma mulher solteira
seria melhor sheika que você, é o que pensamos. O conselho sabe
que você está aqui há três dias, mas somente há algumas horas
descobriu que não estamos mais noivos e que eu a estou mantendo
aqui contra a vontade de seu pai. Não preciso dizer que o sheik Tariq
foi responsável por tudo isso. Mas não o culpo, você é sua filha, ele
jamais a deixaria aqui por mais tempo, eu e você já sabíamos disso.
Além disso, todos conhecem o que o seu pai é capaz de fazer,
inclusive meu clã. O conselho quer que eu a mande de volta, e eu
concordo com ele. Minha prepotência já te levou longe demais, e
toda essa história precisa acabar de uma vez por todas.
A forma como ele disse tantas informações em tão poucos
segundos me deixa momentaneamente desnorteada, e eu tenho
dificuldade em ligar os pontos.

— Então, você não me levou na boate por causa do conselho? Você


teve uma reunião, não foi?

Ele acena, seu rosto demonstrando pela primeira vez um pouco de


culpa.

— Jade, eu peço desculpas por isso. Quando pensei em te levar em


uma casa noturna, eu só estava querendo que você se divertisse
como uma jovem normal pelo menos uma vez na vida, a minha
intenção jamais foi te deixar constrangida. Mas vejo que isso não foi
sábio da minha parte, você definitivamente não pertence a um
ambiente como aquele. Eu sinto muito.

Seu pedido de desculpas me deixa tão surpresa que eu arregalo os


olhos. Eu os pisco rapidamente e então respondo:

— Hum... Tudo bem, isso não foi grande coisa como pensa. Eu
estava com Laila, então não foi tão ruim.

Emir volta a ficar sério.

— Ficar perto de mim não é seguro para você, por isso você está
liberada para voltar para casa, para a sua família. Prometi ao seu
pai que não voltarei a te incomodar.

Abro a boca, sem saber o que dizer, muito menos o que pensar de
tudo isso.

— Então você decidiu que eu posso ir embora, do nada? Uma hora


você me ignora, outra, me faz de cativa, e na outra você me libera?
Emir, você é a pessoa mais bipolar e inconstante que já conheci.
Ele solta uma gargalhada, claramente achando engraçado o meu
comentário.

— Anjo, não posso discordar de você. Mas, em minha defesa, o que


tenho para te dizer é que esse final tão... brusco é o melhor que
tenho para você. Jade, você não teria um futuro estável comigo.

Eu passo os dentes no meu lábio inferior num tique nervoso. Emir é


tão frustrante. Eu aceno, apesar de estar irritada e com vontade de
xingá-lo de todo nome possível por ser o maior babaca insensível e
idiota da Terra.

— Okay. Você disse certo antes, nós dois sabíamos que meu pai me
tiraria daqui.

Eu bato delicadamente minhas unhas razoavelmente compridas na


mesa, fazendo um som quase harmônico. Depois de pensar um
pouco, sorrio novamente e encaro o responsável por todo o meu
sofrimento interno durante os últimos dez anos. Emir tem seus olhos
escuros olhando para mim, vidrados nos meus movimentos.

— Bem, te desejo sorte em sua vida... "instável", Emir. Eu vou


embora agora. Laila deve estar preocupada e meu pai também.

Sem esperar sua resposta, me levanto da mesa escura. Ele


rapidamente se levanta também. Seus olhos mostram mais do que
ele queria que fosse exposto, mas não é como se ele estivesse
consciente disso neste momento.

— Eu te levo para casa de Laila.

Eu balanço a cabeça.

— Não!
Meu tom de voz sai desesperado demais, e eu coro, sem graça.
Encabulada, acrescento:

— Não é preciso, Emir, sério. Vou pedir um táxi pelo aplicativo.

Ele fecha a cara, aborrecido.

— Não, você vai comigo. Eu insisto, Jade.

Sem graça de negar novamente, concordo, não muito contente. No


elevador, sinto Emir mais tenso do que o normal. Eu o olho de
soslaio e o vejo com o cenho franzido, como se estivesse em uma
luta interna. Faço uma careta mentalmente, estranhando a situação.
Solto um suspiro de alívio quando finalmente o elevador abre no
térreo. Foram apenas vinte segundos, mas parecia uma eternidade
de tanta tensão no ar. Emir abre a porta de sua BMW para mim, e
eu agradeço. Contudo, quando eu ia entrar, sou surpreendida pela
mão firme e pesada de Emir segurando meu braço e me impedindo
de entrar. Eu franzo o cenho, surpresa, e ele rapidamente se explica,
seu olhar ainda mais escuro e penetrante que o normal:

— Eu desde já peço desculpas por isso, princesa, mas penso que


preciso fazer isso, pois provavelmente nunca mais terei essa chance
novamente. Você seguirá seu caminho, para longe de mim, e eu
ficarei me perguntando sobre como seria se eu tivesse feito o que
estou pensando neste momento.

Eu arqueio minhas sobrancelhas, de modo interrogativo, e pergunto:

— O que você está pensando neste momento?

Ele fecha os olhos e, quando os abre, vejo fogo neles.


Instintivamente dou um passo para trás, mas ele me puxa novamente
com rapidez.

— Isto.
Para meu espanto, sou agarrada pelas mãos e braços fortes e
determinados de Emir. Uma mão aperta minha bunda, coberta pelo
vestido vermelho colado, e a outra segura um lado do meu pescoço
e, antes que eu raciocine, sua boca quente e dominante está
esmagando a minha, dominando-a. Sua língua rapidamente está
dentro do meu calor, e eu solto um grito abafado. Mas ele não se
importa, ao contrário, me beija ainda mais forte, praticamente
machucando meus lábios. Sua mão sai da minha bunda e vai para os
meus seios expostos pelo decote e entra no vinco entre eles. Eu
arregalo os olhos, mas ele está concentrado no momento. Sou
surpreendida por uma fisgada no meu seio direito quando ele belisca
meu mamilo. Involuntariamente, eu gemo, e eu posso sentir o seu
sorriso na minha boca.

— Você é tão sexy, Habibti, tão gostosa. Nunca pus os olhos em


uma mulher como você. É um caralho que você seja boa demais para
mim.

E ele volta a me comer pela boca. Essa é a única palavra capaz de


definir o que ele está fazendo. E, por Alá, eu estou deixando. Estou
morrendo de ódio deste maldito sheik, mas estou deixando ele fazer
todas essas sacanagens com meu corpo, estou deixando ele me
tocar como se eu fosse dele. Eu, Jade Hamir, estou dando
permissão para ele me usar como quer. Maldito inferno, eu estou
amando, e isso me deixa irada. Eu gemo na boca de Emir quando
ele belisca o meu outro seio, e ele sorri novamente.

— Gostosa como o inferno e mais selvagem do que imagina — ele


diz, rouco, inebriado pelo desejo.

— Eu te odeio, Emir — eu consigo dizer com esforço.

— Do que isso importa agora, anjo?


Ele chupa com força um ponto extremamente sensível do meu
pescoço. Eu grito devido à sensação deliciosamente boa que sua
boca quente e molhada me traz.

Capítulo 9

Emir Yassin

Sinto minhas mãos arderem de necessidade de tocar a pele


morena e extremamente sedosa de Jade. Ela cheira divinamente
bem, um cheiro doce, puro, mas muito sedutor. Seu corpo é sexy
como o inferno, é a perdição para qualquer homem. Estaria mentindo
se dissesse que Jade Hamir não me enlouquece, principalmente
neste exato momento que estou a ponto de subir com ela novamente
e levá-la para minha cama. Enquanto a beijo como um louco, tenho
uma briga interna entre fazer o que é certo e o que eu quero
ardentemente. Tê-la debaixo de mim é só o que consigo pensar. O
seu corpo deliciosamente nu exposto sobre a minha cama para eu
apreciá-lo como quiser... Minha imaginação nunca esteve tão ativa, e
eu rosno no ouvido de Jade quando eu imagino o quão bom deve ser
ter a minha boca entre suas pernas.

— Você. É. Muito. Gostosa — eu sussurro no seu ouvido e vejo a


pela do seu pescoço arrepiar.
Jade geme quando eu enrolo o seu cabelo longo em minha mão e o
uso para inclinar a sua cabeça para trás a fim de ter melhor acesso
ao seu pescoço. Chupo com força o pedaço de pele abaixo do seu
ouvido, e ela grita. Com a mão livre, belisco os seus seios com força,
e ela quase cai quando o desejo se torna intenso demais. Seguro o
seu corpo com força, mantendo-a firme.

— Já não está conseguindo ficar em pé, anjo? E eu nem sequer a fiz


gozar. Mas não posso te fazer chegar no paraíso na minha garagem,
não é? Você merece mais do que isso.

Parece que o meu comentário faz Jade cair na realidade sobre o


que está prestes a acontecer caso continuemos como estamos. Ela
me empurra lentamente até que não estamos mais colados um no
outro. Ela me observa por um momento, olha o meu rosto manchado
de batom e minha camisa polo amarrotada pelos seus puxões, e logo
seu rosto fica corado de vergonha.

— Por Alá, o que estamos fazendo, Emir? Céus, nem acredito...

Eu sorrio de modo irônico.

— Estamos fazendo o que é natural da espécie humana, meu amor.


Faz parte da natureza que um homem procure uma fêmea atraente
para acasalar. As fêmeas também gostam disso, não se sinta
culpada, foi Alá que nos fez assim. É absolutamente natural que seu
corpo queira ser possuído pelo meu.

Ela abre a boca, os olhos verdes arregalados.

— O quê?! Céus, o que você está falando, Emir?

— Eu não disse nada além da verdade.

Ela balança a cabeça, me acusando Em seguida, olha para si


própria e cora absurdamente. Seus seios estão praticamente fora do
vestido. A parte de baixo da roupa está enrolada no topo das pernas
por minha causa. Ela coloca a mão nos lábios e os sente inchados.
Depois de ver a bagunça que ela se tornou, ela me encara, seu rosto
adquirindo uma expressão irritada.

— Por que você me provocou, Emir? Não estava tudo acabado entre
nós dois? Você não tinha o direito de me agarrar como se fôssemos
um casal, porque essa é a última coisa que somos, e você não tem
direito de encostar em mim, pois sabe muito bem que não é certo!

Eu aceno, também irritado com minha atitude.

— Eu sei, eu não devia e nem tenho o direito de encostar em você.


Não sei porque fiz isso, sinceramente. Quando caí na realidade de
que você iria voltar para sua família, seguir sua vida e me esquecer,
senti que deveria ao menos me despedir direito. A verdade é que
não estou completamente preparado para te perder para sempre.

Jade parece não acreditar no que eu disse, pois me olha como se


eu fosse um louco e depois ri de forma amargurada.

— Você não está preparado para me perder para sempre? Para,


Emir! Você fez de tudo para que eu o odiasse, para me jogar bem
longe de sua vida. E agora você vem me dizer que não está
completamente preparado para me perder? Você é um hipócrita,
isso sim!

Jade está chateada, sua expressão e a forma como seu corpo está
tenso não negam isso. Seu cabelo preto e liso está bagunçado por
causa do que estávamos fazendo minutos atrás. Seu pescoço agora
tem algumas marcas de chupões que eu deixei no calor do momento.
Observo os seus seios subirem e descerem rapidamente por causa
de sua respiração ofegante. Há suor no vinco dos seus seios
medianos e perfeitos. Faço uma careta quando, pela primeira vez,
noto o quão inapropriado o vestido vermelho que ela está usando é.
Ele é curto demais, revelador demais, não combina com alguém tão
pura como Jade. Ela não deveria estar usando uma porcaria como
essa, não entendo o que a motivou a vestir esse pedaço de pano
que ela chama de vestido.

— Para de olhar para o meu corpo! — Jade grita comigo, seu rosto
vermelho de raiva incontida.

Eu arqueio minhas sobrancelhas, desafiando-a. Irritado, pergunto:

— Por que você está usando esse pedaço de pano que você chama
de vestido? Seu pai te permite usar uma porcaria como essa?

Ela abre a boca e depois fecha, claramente confusa. Em seguida,


ela cerra os olhos para mim, a raiva explícita neles.

— O que isso tem a ver?! Estávamos falando sobre você ser um


hipócrita a ponto de dizer que não está preparado para me perder.

Eu a olho de cima para baixo friamente.

— Que se foda o que estávamos falando. A questão agora é como


você pôde sair por aí com essa roupa vulgar, mostrando seu corpo
para qualquer homem estranho ao seu redor.

Jade faz uma careta e diz, nervosa:

— O corpo é meu, eu uso o que eu quiser!

Eu rio, realmente achando graça de sua tola afirmação.

— Jade, Jade, Jade... Não se faça de ingênua, meu amor. O corpo é


seu, realmente... Mas você sabe mais do que ninguém que você não
decide o que fazer com ele. Quando eu disser para o seu pai o que
você estava vestindo... tsc, tsc. Não acho que ele vai ficar satisfeito
de saber que sua doce filha está mostrando o corpo para qualquer
um que quiser olhar.
Seu rosto passa de irritado para indignado.

— O que você tem a ver com a minha vida? Cuide da sua, Emir, e
me deixe em paz!

— Querendo ou não, eu não consigo te deixar "totalmente" em paz,


anjo. E, bem, sua segurança e bem estar me preocupam. Não acho
seguro você ficar se expondo tanto por aí. Alguém pode tirar fotos e
inventar mentiras sobre você, ou então seu corpo pode atrair homens
de mau caráter.

— Isso é um problema meu, não acha?

— Hm, não, não acho.

Ela fica vermelha novamente.

— Pois não importa o que você acha. O que eu faço, e as


consequências disso, é, sim, problema meu e não seu!

Eu reviro os olhos, entediado com o seu discurso individualista.

— Ache o que você quiser, Jade, mas a realidade nunca vai mudar.
Como filha de um importante sheik, você sempre terá que dar
satisfações para ele ou para seu futuro marido, é assim que
funciona. E não venha me chamar de machista, esse termo ridículo
criado por mulheres amarguradas nem existe em meu vocabulário.
Você sabe, não sou muito fã das tradições. Mas, anjo, isso não
significa que concordo com pensamentos falsamente denominados
de "progressistas", como é o caso da corrente feminista. Não
suporto essas porcarias, então não me venha com argumentos
feministas porque você não conseguirá nada de mim, exceto a minha
pena.

Ela me olha com desprezo.


— Você é um completo idiota. Deus, como pude me enganar tanto
sobre você?!

— Então eu sou um idiota por falar a verdade? O que você achava


que eu fosse, Jade, um "feministo"? Está claro que você idealizou um
Emir que não existe. Posso não ser tão tradicional, mas ainda sou
conservador em muitos pontos, e o estilo de vida da mulher de boa
família é um deles. Não me importo muito se alguma mulher comum
quebrar as tradições, mas você não é uma mulher comum, não é,
Jade?

— Não estou entendendo aonde você está querendo chegar! Posso


não ser comum por ser filha de um sheik, mas eu não sou nada sua
para você se preocupar se estou ou não agindo como uma "mulher
de boa família". Meu estilo de vida não diz respeito a você,
esqueceu? Você cortou todos os laços que tinha comigo.

Eu olho novamente para a sua roupa odiosa.

— Correção: eu iria cortar os laços. Mas, olhando para você desse


jeito, vestida de forma tão vulgar, desonrando o nome da sua família
com esse comportamento frívolo, me fez repensar a minha escolha.
Vejo que deixá-la seguir sua própria vida não é uma boa opção. Você
iria arruinar sua vida por rebeldia, e isso traria consequências
desastrosas que você poderá se arrepender pelo resto de sua vida.
E, Jade, eu não sou indiferente a você. Uma parte de mim gosta
profundamente de você, de um forma que eu nunca gostei de outra
mulher. Eu jamais me perdoaria se você tomasse alguma decisão,
por ódio a mim, que acabasse lhe fazendo infeliz e amargurada pelo
resto de sua vida.

Jade dá dois passos para mais longe de mim, cambaleante. Há um


misto de surpresa, descrença e horror no seu rosto.
— O q... que você está insinuando, Emir? Pelo amor de Deus, não
me diga que pretende me manter presa aqui novamente. Não me
venha dizer que vou me casar com você. Não, por favor, não. Eu não
aguento mais essa história.

Sou surpreendido quando ela começa a chorar, de repente. O que


mais me choca é que o seu choro não é de raiva, e sim de uma pura
e profunda tristeza. Por um momento não sei o que fazer.

— Jade, anjo, não fique assim, eu juro que não é o que você está
pensando.

Ela me olha com os olhos verdes inundados pelas lágrimas.

— Eu não aguento mais esse ciclo vicioso. Uma hora você me quer,
outra hora você me descarta como se eu fosse um objeto. Você me
ilude e em seguida despedaça o meu coração. Sua indecisão, sua
bipolaridade e sua inconstância me machucam duramente. Por favor,
eu imploro, Emir, não comece essa história novamente, vamos
quebrar esse ciclo de uma vez por todas. Eu... juro que o meu
coração não aguenta mais.

A verdade e o sofrimento em sua voz me deixam realmente mal, e o


peso da culpa me tortura novamente.

— Jade, me escute, eu sinto muito por tê-la feito sofrer tanto, você
não merece isso. Por mais que eu tente, não acho que poderei
justificar a dor que lhe causei.

Eu penso um pouco se devo seguir dizendo o que estou pensando


ou não. Mas o desgosto que estou sentindo de mim mesmo me faz
seguir em frente, mesmo nunca tendo feito algo assim antes:

— Mas, se me permite, eu, pela primeira vez, irei... bem, contar um


pouco sobre o meu passado, sobre quem realmente sou e como me
tornei assim. Eu acredito que você mereça alguma satisfação das
minhas atitudes e penso que talvez sua opinião sobre mim mude um
pouco depois que eu te contar um pouco da minha... trajetória.

Ela me olha com desconfiança. Amargurada, ela limpa com força as


lágrimas do seu rosto.

— Não acho que qualquer coisa que você me fale possa mudar a
minha opinião sobre você, Emir, porque, para mim, nada justifica
atitudes tão egoístas.

Eu aceno em concordância. Me sentindo um pouco desconfortável


com a complicada situação, coloco as minhas mãos nos bolsos da
minha calça jeans.

— Eu entendo perfeitamente. Quero deixar claro que não pretendo


influenciar em nada a sua opinião sobre mim, meu único propósito é
lhe oferecer alguma satisfação. Você merece isso. Mas, claro, se
não quiser saber, eu respeitarei sua decisão. Contudo, não aceitarei
que continue me difamando e me julgando como antes. Saiba que
qualquer decisão que eu tomar daqui para frente eu não irei lhe dar
satisfações.

— Isso é uma ameaça?!

Eu a encaro demoradamente.

— É um aviso. Esta é a sua chance de me conhecer, anjo. Aceite


agora ou eu me calarei para sempre.

Sorrio sem nenhum humor, e Jade arregala seus lindos olhos


verdes em preocupação.
Capítulo 10

Emir Yassin

Novamente eu levo Jade para minha casa. Quando ela entra no


elevador, seus olhos se enchem de apreensão, mas ela se mantém
firme em sua decisão. Já na sala de entrada, seguro os seus ombros
e a faço olhar em meus olhos.

— Você esqueceu uma peça de roupa aqui quando foi para a casa
de Laila, ela foi lavada. Que tal vesti-la? Não suporto olhá-la com
esse maldito vestido.

Achei que ela ia recusar, talvez até mesmo me recriminar. Mas sou
surpreendido quando ela acena.

— Eu acho uma boa ideia. Também vou aproveitar para tomar um


banho, estou suada e incomodada já.

Eu aceno em concordância e a solto.

— Você irá encontrar a sua roupa e todos os produtos de limpeza


necessários no quarto que ficou quando esteve aqui. Demore o
tempo que quiser.

Jade olha ao redor por um segundo, suspira de forma pensativa e


em seguida sai. Eu a acompanho com os olhos até que ela some do
meu campo de visão. Ando até a parede de vidro da sala principal e
observo o jardim da mansão iluminado sob as luzes artificiais que se
acendem automaticamente às 18:00h. O céu está negro, e posso ver
a lua cheia brilhando mais ao leste em relação a onde estou. Admiro
por alguns segundos o seu tamanho, que parece bem maior hoje,
provavelmente uma ilusão de ótica.

Olho para o meu relógio de pulso e franzo o cenho quando vejo que
já é uma hora da manhã. Eu não devia deixar Jade acordada por
tanto tempo, isso pode atrapalhar a sua disposição amanhã. Às
vezes me perco nos horários, isso porque eles quase sempre são
irrelevantes para mim. Não tenho horário para trabalhar, trabalho
quando é preciso, independente do horário. Frequentemente trabalho
até as três da manhã, em minha própria casa. E, quando são seis da
manhã, eu estou acordando para ir à empresa. Consigo lidar bem
com poucas horas de sono, mas admito que isso não é saudável.

Jade aparece do meu lado, me surpreendendo. Pelo visto perdi a


noção do tempo, novamente. Eu a analiso de cima a baixo e fico
satisfeito por ela estar com uma roupa bem mais comportada desta
vez. Ela está vestindo uma calça moletom cinza e uma regata branca
folgada. Eu murmuro em aprovação, e ela revira os olhos.

— Podemos conversar agora, então?

Eu imediatamente fico tenso.

— Não quer esperar até amanhã? É uma e meia da manhã, você já


devia estar dormindo.

Ela bufa.

— Sou grandinha demais para ter horário para dormir, Emir. Não
aceito mais enrolação, quero conversar agora.

— Pois bem, seu desejo é uma ordem, princesa.


Jade cerra os olhos, mas não diz nada. Eu aponto para mais
distante, e ela acena. Já na sala de TV, ela se senta no grande sofá
bege, liga a televisão e coloca em um programa de culinária. Em
seguida, ela abaixa tanto o volume, que quase não escuto nada. Eu a
olho de modo interrogativo, e ela dá de ombros.

— Programas de culinária me relaxam, e eu estou muito tensa. Você


já pode começar a se explicar.

O seu jeito mandão me irrita um pouco, mas eu me controlo para


não dizer nada sobre isso.

— Muito bem, princesa, vou começar pelos meus ancestrais, então.


Assim, talvez a sua compreensão seja melhor.

Ela acena, a curiosidade começando a brotar em seus olhos.

— Digamos que os sheiks Yassin nunca deram muita importância


para o amor e para a família. E, bem, sempre foi assim desde...
sempre, eu acho. Mas vou citar apenas a partir do meu bisavô. Naim
Yassin era um sheik esnobe, presunçoso, mas muito influente na
época. O seu povo era muito próspero, então ninguém ia contra sua
palavra. Ele aproveitava bastante as regalias de seu título. Sempre
que via uma mulher bonita no meio do nosso povo, ele a levava para
o seu harém. As mulheres eram condenadas a passar o resto de
suas vidas com ele, independente de suas vontades. No fim, ele teve
sete esposas e outras vinte mulheres em seu harém.

Jade faz uma careta de desgosto.

— Meu pai já me contou que isso era comum no passado em nosso


meio. Confesso que tenho asco desse estilo de vida. Mas graças a
Alá a família Hamir há muito tempo se tornou monogâmica. Os
sheiks da minha família são conhecidos por escolherem apenas uma
mulher, uma que eles amam.
Eu posso sentir o orgulho que Jade sente de suas origens apenas
no modo como ela fala.

— Você verá que a realidade da família Yassin não é a mesma.


Continuando, Faruk Yassin, meu avô, sucedeu Naim, ele era seu filho
mais velho. Novamente, ele era um sheik esnobe, vaidoso... Teve oito
esposas e só não teve mulheres em harém porque a ideia já não era
muito bem aceita. Meu pai, Ali Yassin, veio por muita persistência de
Faruk, que teve quinze filhas antes dele. Meu pai é filho da sexta
esposa, ao todo ela teve duas mulheres e o meu pai. Faruk tentou
ter mais um homem além do meu pai, sem sucesso. No fim, Ali
Yassin acabou sendo o único homem de Faruk em meio a dezessete
irmãs.

— Meu Deus, que horror! Seu avô teve dezoito filhos, isso tudo para
conseguir um sucessor. A lei do filho homem é cruel. Minha mãe
disse que se sentiu pressionada para ter filhos homens também.
Hoje, vejo com meus próprios olhos a pressão que meu irmão
carrega em seus ombros para conseguir um filho homem. Ele mal
teve uma filha e já está sendo pressionado para fazer outro filho.
Deprimente.

Eu aceno.

— Realmente, o fato do primeiro filho do seu irmão ser uma menina


tem gerado comentários, até mesmo no meio do meu povo.

Jade faz uma careta.

— As pessoas deveriam cuidar mais de suas vidas e deixarem


Ahmed em paz.

— Um sheik nunca será deixado em paz, não até que morra.

Ela balança a cabeça, uma expressão dolorosa formando em seu


rosto delicado.
— Sim.

Eu olho para o programa de culinária que está passando na


televisão, depois olho para Jade, sentada com as pernas cruzadas
no sofá, e continuo:

— Bem, fato é que, por causa do drama do meu avô, meu pai já
cresceu sabendo da importância de se ter filhos homens. É aí que o
assunto se torna mais delicado.

Jade percebe a mudança no meu tom de voz e fica tensa. Vejo o


momento que ela passa a prestar mais atenção em minhas palavras.

— Meu pai nunca foi um homem gentil, ligado a sentimentos ou a


laços sanguíneos ou familiares. Ali sempre desprezou sentimentos.
Segundo ele, eles só servem para enfraquecer um homem. Assim,
não é de se admirar que ele não seria um bom marido ou um bom
pai. Minha mãe, Nádia, foi sua primeira esposa. Ela era de uma
comunidade pobre da região, filha de um agricultor. Meu pai a achou
muito bonita e a "trocou" por terras, isso para não dizer que ela foi
vendida pelo pai.

— Que horror! — Jade exclama, indignada.

— Ela tinha dezenove anos. Meu pai se casou com ela e logo a
engravidou de mim. Não satisfeito, a pressionou para que
engravidasse novamente quando eu tinha apenas alguns meses. Meu
pai a ameaçava dizendo que se casaria novamente caso ela não lhe
desse outro varão. Quando eu estava com oito meses, minha mãe
ainda não tinha engravidado, então ele se casou novamente,
cumprindo a ameaça e dizendo que Nádia era imprestável. Por ironia,
sua segunda esposa teve várias gravidezes ectópica até ser
considerada infértil. Ele se casou novamente, sua terceira esposa
teve três filhas. Quando ele já estava procurando uma quarta
esposa, minha mãe engravidou novamente de um menino, de Ismael.
Eu divago no passado por alguns segundos e continuo, mais tenso:

— Nesse meio tempo, minha mãe se tornou uma mulher muito...


amargurada. Ela era triste, depressiva e às vezes agressiva. Ela me
dizia que eu parecia meu pai e que eu era fruto do seu sofrimento.
Frequentemente ela chorava quando me encarava, dizendo que eu
daria continuidade às maldades do meu pai, que o sangue Yassin é
amaldiçoado. Eu era uma criança, não entendia direito o que ela
dizia, mas me lembro de ficar triste mesmo assim. A gravidez de
Ismael era de risco, minha mãe logo desenvolveu pré-eclampsia. Ela
sempre estava passando mal. Quase todos os dias era consultada
por médicos. Meu pai estava sempre apreensivo sobre a
possibilidade de perder o segundo filho homem. Ele nunca se
importou com a esposa, entretanto, e minha mãe sofria ainda mais
com isso.

Jade suspira.

— Eu... Eu nem posso imaginar o quanto sua mãe sofreu. Não sabia
que seu pai era um monstro, Emir. Quanto mais você fala, mais fico
horrorizada com os sheiks de sua família, eles são tão... frios!
Desumanos! Mas mesmo assim nada justifica ela ter falado coisas
tão horríveis de você, afinal, você era só uma criança!

— Bem, digamos que eu não sou muito diferente deles, afinal, sou
um Yassin.

Jade me olha horrorizada.

— Emir, tudo bem que você é estranho, bipolar, às vezes insensível,


mas... Se comparar com com esses homens é demais, não acha?
Você é quase um anjo se comparado a eles.

Eu rio sem humor.


— Não é bem assim, princesa. Talvez eu seja pior. Você vai entender
o porquê. Quando minha mãe estava com oito meses de gestação,
houve um dia em que eu estava brincando no corrimão da escada de
nossa casa. Sim, morávamos em uma casa diferente da do meu pai.
Hoje eu posso dizer que eu era um pouco revoltado com minha vida.
Era uma criança, mas uma criança que não recebia qualquer
atenção. Resumindo, teve um momento desses que eu caí da
escada e bati minha cabeça em um dos degraus. Nádia me
encontrou por causa do meu choro e se assustou quando viu minha
cabeça cheia de sangue. Ela não pensou duas vezes em me ajudar.
A questão é que talvez ela estivesse desnorteada demais... Não sei.

Eu encaro minhas próprias mãos antes de finalizar a cena que


nunca sairá da minha mente:

— Ela pisou em falso e caiu da escada. Lembro que ela


praticamente caiu em cima de mim. Seus gritos de dor me
assustaram tanto que eu me esqueci da minha própria dor, me
levantei e liguei para o meu pai. Não tinha ninguém na casa, minha
mãe não gostava muito de companhia. Então, passei quinze minutos
a escutando chorar e vendo o sangue escorrer por suas pernas.

— Meu Deus, Emir! Alá, que momento horrível que você passou! E
você era apenas uma criança! Estou imaginando mil cenas agora, eu
nem sei o que dizer... É simplesmente horrível só de pensar. Eu...
sinto muito. Não sei o que dizer, é tudo horrível demais.

Me surpreendo quando vejo preocupação nos olhos verdes e


expressivos de Jade. Sua reação definitivamente não era a que eu
estava esperando, mas talvez seja porque ela ainda não sabe o final
de tudo.

— Aqueles quinze minutos foram os mais longos da minha vida, eu


tinha seis anos, não sabia como ajudar. Eu perguntava para minha
mãe sobre como ajudá-la, mas ela só sabia chorar e balançar a
cabeça de um lado para o outro. Ela não olhava para mim, por mais
que eu chamasse sua atenção. Meu pai, juntamente com a equipe
médica de pronto-atendimento, chegou. Ele só sabia perguntar sobre
a criança. Minha mãe foi levada ao hospital, e eu fiquei em casa com
uma enfermeira.

Eu encaro Jade fixamente enquanto falo:

— No fim do dia, meu pai chegou em casa. Eu estava em choque,


preocupado com minha mãe. Ele então se sentou na minha cama ao
meu lado e disse calmamente que minha mãe tinha falecido, mas que
não era para eu ficar triste, pois não tinha sido minha culpa, tinha
sido dela, pois ela que tinha escorregado. E que o importante era
que o meu irmão tinha sobrevivido e que em breve ele ganharia peso
para sair do hospital.

Vejo o momento que Jade segura no sofá para se firmar. Não


demora muito para que as lágrimas contidas comecem, timidamente,
descer pelo seu rosto bonito.

— Oh, pobre Emir, eu sinto muito! Você só tinha seis anos, eu... sinto
muito mesmo! Sua mãe... Céus, que dor horrível você deve ter
sentido. Eu não consigo nem imaginar em perder minha mãe, e você
passou por essa experiência tão traumática sendo uma criança.

Eu me forço a continuar falando:

— Para finalizar, meu pai me deixou aos cuidados de sua segunda


esposa, a infértil que te falei antes. Assim que Ismael ganhou peso,
também ficou aos cuidados dela. Ele, inclusive, a chama de mãe.
Soraia é uma boa mulher, tivemos sorte por termos vivido com ela.

Eu me aproximo de Jade e seguro o seu rosto molhado pelas


lágrimas com minhas duas mãos. Com os polegares, eu tiro algumas
lágrimas do caminho. Olho fixamente nos seus olhos, e ela olha com
a mesma intensidade para mim.
— Não chore, anjo. Você é sensível e boa demais. A minha intenção
jamais foi essa. O meu objetivo era que entendesse o quão perigoso
eu sou para você. Jade, eu não sou diferente do meu bisavô, avô, ou
mesmo do meu pai. Eu carrego o mesmo sangue que eles. E, como
minha mãe disse, sou como meu pai, sou "amaldiçoado". Não sou
supersticioso, mas não sou cego. Sou mais parecido com meu pai do
que gostaria. Eu fui responsável pela morte da minha mãe com
apenas seis anos. Nádia sangrou até morrer. Se eu não tivesse
caído e chorado por ela, ela não teria morrido, essa é a verdade.

Jade balança a cabeça sob minhas mãos. Um vinco aparece entre


suas sobrancelhas quando ela fala:

— Emir, por favor, não se culpe pela morte da sua mãe. Você era
uma criança, uma criança! Você não tinha noção das coisas. Não se
julgue tão mal, você não é igual ao seu pai. Eu não conheço ele, mas
mesmo assim posso te dizer com convicção que não é. Você tem
seus defeitos, defeitos ruins, mas eles não te fazem igual ao seu pai,
avô ou bisavô. Você é você, por favor, não faça isso consigo mesmo,
não é certo.

— Jade, o foco central é: eu posso ser perigoso, anjo. Você se


apaixonou pela pessoa errada. Antes de saber sobre mim, já era
possível comprovar isso. Jade, eu sou louco por você,
absolutamente louco. O meu bom senso me impediu de te falar isso
antes, mas não vejo motivos para esconder mais o que sinto por
você. Há dois anos que você não sai da minha mente, que eu durmo
pensando no quão bom seria te beijar, te tocar por completo... Seu
corpo, seu jeito, sua bondade... me enlouquecem. Sou
completamente obcecado por você. Mas te amo o suficiente para ter
te mantido longe de mim até aqui. Não confio em mim para te ter
como esposa, temo os meus próprios instintos, o meu próprio
sangue. Tenho medo de te machucar, assim como a minha mãe foi.
Só de pensar nessa possibilidade, de te fazer infeliz, eu já sinto asco
de mim mesmo.
Jade treme sob minhas mãos e delicadamente se afasta de mim.
Ela chora silenciosamente enquanto olha para a TV, perdida em seus
próprios pensamentos.

— Entretanto, sinto como se a qualquer momento fosse explodir.


Resistir a você e te fazer sofrer para te manter longe de mim têm me
destruído aos poucos. Sempre soube que uma vida distante de mim
seria melhor para você, mas ultimamente não tenho conseguido lidar
com essa possibilidade. Ao mesmo tempo que te quero longe,
preciso desesperadamente de você ao meu lado. A cada dia sinto
mais necessidade de te tocar, de sentir o seu cheiro. Estou entre o
desejo e a razão, e isso tem me matado por dentro.

Jade continua parada, olhando para a TV sem ao menos estar


olhando de verdade. Observo seu corpo tremer um pouco, enquanto
sua respiração fica mais rápida.

— Sinto-me o maior egoísta por pedir isso para você, principalmente


depois de tudo que confessei. Mas não sei mais controlar o que
sinto, tudo ficou mais intenso quando finalmente vi que logo iria te
perder. Eu quero te pedir mais uma chance, uma chance para eu me
redimir, para começarmos novamente, da forma correta. Se você
ainda sente o mesmo por mim, se ainda me ama, eu quero
recomeçar com você. Em troca, te dou a minha palavra que farei o
meu melhor para te fazer feliz, para não repetir os erros que
mancham a minha família. Eu realmente quero você, Jade, e estou
disposto a construir uma vida contigo. Mas antes você precisava
saber da minha história. Você precisa estar ciente de quem eu
realmente sou.

Eu solto um suspiro cansado.

— A decisão é sua. Se for demais para você, irei te deixar ir, desta
vez definitivamente. Agora, se quiser arriscar, dou-te a minha palavra
que farei o meu melhor para te fazer feliz.
Jade se vira para mim finalmente. Seus olhos estão vermelhos, e
ela parece muito preocupada.

— O quadro que está na sala. Um quadro estilo medieval de uma


mulher morta na cama que tinha acabado de dar à luz... É sobre sua
mãe?

Eu pisco algumas vezes, surpreso.

— Não achei que tinha notado aquele quadro.

Eu aceno.

— É, sim. Eu o encomendei de um artista que tenho contato. Ele foi


pintado há alguns anos para mim.

Jade parece ainda mais preocupada.

— Emir, isso não é saudável. Você deveria tentar não pensar no


passado, e não simplesmente colocá-lo na parede de sua sala.

— Nem sempre relembrar o passado é ruim, anjo. Às vezes ele pode


ser usado para inibir o pior de você.

Jade balança a cabeça, aflita. Ela então se aproxima de mim


delicadamente, até estar praticamente em cima de mim. Minha
respiração fica mais rápida quando vejo uma chama em seus olhos.
Jade enrola seus braços ao redor do meu pescoço e me beija ali.
Meu coração se agita em meu peito quando ela faz isso novamente,
e novamente... e novamente, até que sua boca finalmente busca a
minha, num pedido silencioso. No começo é ela que comanda, seus
movimentos delicados e suaves. Mas, no momento que ela geme em
minha boca, eu perco o controle e começo a beijá-la mais
duramente, feroz, arrancando mais gemidos de sua doce boca. Jade
enrola suas mãos em meu cabelo curto, com força, e eu rosno
enquanto a beijo. Ofegante, ela afasta a boca da minha, e eu
murmuro um protesto. Ela olha nos meus olhos, sorri e diz:

— Você está fodidamente quebrado, Emir. Mas não se preocupe, eu


te amo assim mesmo e vou juntar os seus pedaços aos poucos. Nós
vamos superar nossas barreiras... juntos. Uma por uma.

Ela não espera minha resposta, ao invés disso, volta a me beijar,


desta vez sem sua costumeira timidez. Ela está em cima de mim, e
eu gemo de tesão quando ela se remexe sobre o meu pau.
Ofegante, eu chupo seu pescoço.

— Você é meu paraíso, anjo. Eu te amo, Jade. Estou obcecado por


você, talvez sempre estive.

Ela suspira, e eu sorrio. Mordo o lóbulo de sua orelha esquerda e


volto a sussurrar em seu ouvido:

— Gostosa pra caralho.

Capítulo 11

Emir Yassin
As coisas estavam ficando muito quentes entre mim e Jade, então
fui obrigado a encerrar os... carinhos. Se eu não me contivesse,
provavelmente já teria ultrapassado a barreira de sua virgindade e a
feito minha. Virgindade nunca me interessou, mas, quando se trata
de Jade, tudo muda. Sua pureza significa muito para mim. Além
disso, fui um crápula por todo esse tempo, agora é o momento de
me redimir, e ferir sua honra é a última coisa que pretendo fazer,
apesar de estar ardendo por dentro com vontade de possuí-la. O
que me alivia é saber que ela não vai me deixar, que me aceita do
jeito que sou: um homem duro, petrificado por dentro e com um
passado conturbado.

Me sinto um egoísta por ter lhe pedido que me aceitasse de volta,


mas não é como se eu tivesse mais controle sobre meus malditos
sentimentos. A possibilidade de perdê-la foi um golpe forte demais
para mim, eu com certeza não saberia lidar com isso. Egoísmo ou
não, eu necessito de Jade comigo. E seu amor é puro demais a
ponto de ela me aceitar de volta, mesmo depois de ter sofrido tanto
por minha causa. Fazê-la sofrer nunca foi uma opção, mas parecia
inevitável que eu a machucasse indiretamente. Eu não poderia
condená-la a uma vida com um homem de sangue amaldiçoado, um
homem que matou sua mãe ainda na infância.

Jade não merece a escuridão que existe dentro de mim. Assim, eu


não poderia jamais corresponder com seus sentimentos, para seu
bem. Mas, como uma praga, por mais que eu a evitasse, eu era
atraído a me aproximar dela mesmo tendo em mente o contrário.
Como um ímã, nunca consegui me manter distante o suficiente para
deixá-la livre. E foi isso que a fez sofrer: minhas constantes
aproximações e distanciamentos. Infelizmente, era inevitável,
incontrolável. Agora, cheguei num ponto em que não posso me
separar dela jamais, nem mesmo para seu próprio bem. Já não
consigo me controlar, já não consigo manter distância. A cada dia
que passa, mais quero chegar mais perto, tocá-la, fazê-la minha.
Estou infectado, obcecado.
Isso me lembra uma rima que Diana me falou algumas vezes
quando se referiu ao seu ex-esposo: "Amar te faz escravo de seu
próprio coração, acorrenta a mente e a razão e só dá espaço para
emoção". Lembro que no momento achei ridícula a rima e debochei
de Diana. Continuo achando ridícula, mas agora entendo o seu
sentido. Diana. Eu preciso conversar com ela. Tenho que encerrar
nosso... relacionamento. Sempre fomos bem-resolvidos com o tipo
de relacionamento que temos, nunca exigimos nada um do outro;
fidelidade, compromisso, amor... nada. Mas agora esse
relacionamento precisa acabar, não necessito mais de Diana, porque
a mulher das minhas fantasias agora será minha, então não
precisarei eliminar minhas frustrações na cama de outra mulher para
tirar Jade de minha cabeça. Ela será minha, graças a Alá. Assim,
quando estiver necessitado, tudo que irei precisar fazer é tomá-la...
do meu jeito.

Observo Jade dormir na cama do quarto de hóspedes. Ela parece


tão serena dormindo, tão contente... Nem parece que foi vítima de
um homem perturbado como eu. Jade é incrivelmente bela, a
verdadeira Jasmine da Disney, só que mais bonita. Seus cabelos
muito escuros e longos chamam muita atenção quando ela caminha.
Eles são sedosos e brilhantes, e é inevitável querer sentir sua textura
macia. Sua pele é outra característica marcante. Jade tem a pele
morena, da cor do mel. A cor dourada combina perfeitamente com a
princesa de olhos incrivelmente verdes, deixando-a tão exótica como
uma ninfa... É como se ela não fosse de verdade. É bela demais,
perfeita demais para ser de verdade. Mas, loucura ou não, ela é... E
toda minha.

Estou há cerca de uma hora sentado em sua cama, observando-a


como um maluco obsessivo. Mas é que é difícil de acreditar que a
mulher mais perfeita deste mundo me ama. Não parece ser possível.
Olho de forma detalhada o seu corpo curvilíneo deitado de lado na
cama. Ela tem longas pernas e delicados pés. Sua cintura é fina, e
seus quadris são estreitos. Jade tem seios proporcionais ao corpo
delicado, eles são medianos e incrivelmente bonitos, perfeitos para
ela. Tive uma pequena amostra de quão bom eles são quando
estávamos no subsolo, e, porra, estou quase morrendo por dentro
com vontade de marcá-los com minha boca. Meu pau parece gostar
da ideia, já que a calça começa a parecer desconfortável demais.

Respiro fundo tentando me controlar, tudo em vão quando eu penso


no quão sexy Jade está com os seus cabelos longos bagunçados
sobre o travesseiro, deixando seu pescoço e decote à mostra. Solto
uma maldição quando sinto minha bolas doerem em minhas calças.
"Merda", eu gemo. Mesmo sabendo que o que estou prestes a fazer
é extremamente errado, eu não consigo me convencer do contrário.
Enquanto me aproximo com cuidado de Jade, penso no quão idiota
eu sou. Ela teve que se esforçar para dormir, já que eu a deixei
sobrecarregada demais com informações. Além disso, ela já dormiu
bem tarde, quase 02:30 da manhã. E agora é cedo demais para
acordá-la, são seis horas. Mas para mim parece muito mais do que
isso, já que estive a observando de longe por uma hora inteira.

Irritado comigo mesmo, mas ansioso demais para aliviar minha


tensão, eu toco gentilmente os cabelos rebeldes da princesa
adormecida. Tiro algumas mechas do seu rosto delicado e toco com
cuidado os seus lábios rosados com o meu polegar. No início ela não
acorda, mas depois de alguns minutos ela faz uma leve careta, um
vinco aparecendo entre suas sobrancelhas escuras. Aproveito o
momento para tocar o seu pescoço com as pontas dos meus dedos.
Ela, então, acorda. Primeiro seus olhos se abrem e olham para mim,
assustados. Em seguida, ficam confusos, e depois, irritados. Ela
franze a testa e diz, com voz rouca:

— Emir, eu estava dormindo... Você diz para eu dormir, mas me


acorda. Eu...

Mas eu não a deixo continuar falando. Pressiono meu indicador em


seus lábios cheios e sussurro:
— Shh. Depois você dorme, anjo. Mas antes de ir ao trabalho eu
precisava disso.

E, sem pedir permissão, seguro seu pescoço, com ela ainda


deitada, e a beijo sem nenhuma gentileza. Ela solta um gemido de
surpresa, e eu aproveito a oportunidade para dominar a sua boca
completamente com a minha. Seguro com força o seu pescoço,
enquanto toco o seu corpo com necessidade. Estou praticamente em
cima dela, sendo o meu braço direito que segura seu pescoço o
único responsável por mantê-la a salvo do meu peso. Sinto Jade
tremer quando eu coloco minha mão esquerda debaixo de sua blusa
branca e começo a explorar o seu ventre. Devagar, vou me
aproximando dos seus seios e, sem nenhum aviso, encontro-os por
debaixo do seu sutiã de renda sem bojo. Jade grita em minha boca
quando eu belisco com força seu mamilo esquerdo e depois engasga
quando faço o mesmo com o direito. Libero sua boca, e ela respira
com dificuldade enquanto me observa.

— Eu quero marcar você, Jade. O que acha de passar o dia com a


prova de que é minha, Habibti?

Ela arregala os olhos e fica vermelha, mas posso ver nitidamente o


desejo em sua expressão.

— Co... Como?

Eu sorrio de forma diabólica.

— Assim, Habibti.

Rasgo sua blusinha branca com um único puxão, deixando-a


apenas com o sutiã de renda da mesma cor. Jade solta um gritinho
assustado, mas eu ignoro. Faço o mesmo com o delicado sutiã, e ela
resmunga em protesto.
— Você rasgou as únicas peças de roupa que eu tinha aqui, Emir! —
ela diz, entre o desejo e a raiva.

Eu rio.

— Você pode usar uma de minhas camisas, ficará muito melhor em


você, amor.

E, para amansá-la, faço aquilo que desejo desde a primeira vez que
a vi. Eu chupo seus seios com força, colocando o mamilo e a aréola
inteiros em minha boca. Alterno repetidas vezes o ato, dando a
mesma atenção a cada seio sensível. Os gritos de Jade são altos e
ecoam por todo quarto. E é neste momento que eu me elogio por
não manter os empregados em casa o dia todo. Eu dou fortes
chupões sobre os seios da mulher escandalosa e gostosa que eu
tenho debaixo de mim até que sua pele está coberta de manchas
avermelhadas.

— Isso dói, princesa? — pergunto enquanto deixo minha última


marca.

Ela geme, ofegante.

— Não... — ela responde, seus olhos verdes vidrados olhando para


mim.

— Hm, não sei se acredito em você. Preciso saber se você gostou


disso de verdade, Habibti, e só vou ter certeza se tiver provas.

Jade parece adivinhar o que estou falando, pois arregala os olhos.

— E... Emir! — ela gagueja.

Eu rio, diabólico.

— Shh, vai ser rápido. Prometo que só vou verificar.


Sem esperar sua resposta, enfio minha mão esquerda dentro de
sua calça moletom e entro dentro do tecido fino de sua calcinha.
Gemo quando sinto a suavidade de sua virilha depilada. Ela fica
parada, um pouco envergonhada, enquanto minha mão continua indo
em direção ao que interessa. Jade grita quando sente os meus
dedos separando seus lábios vaginais e chegando na sua parte mais
íntima e úmida.

— Shh — eu sussurro antes de enfiar a ponta do dedo mindinho


dentro da sua abertura extremamente apertada.

Nós dois gememos no mesmo instante. Eu mantenho a ponta do


meu dedo no seu calor por apenas alguns segundos antes de retirar
totalmente a minha mão de sua calcinha. Jade me fita com os olhos
arregalados quando eu mostro a sua unidade nos meus dedos.

— Vê? Você gostou, menina. Estou orgulhoso de você, muito


receptiva ao seu futuro marido.

As minhas últimas palavras parecem fazer efeito nela, pois ela solta
um suspiro satisfeito e sorri lindamente para mim, seus olhos verdes
brilhando.

— Isso porque o meu futuro marido é um mestre do sexo.

Eu não posso evitar de rir do seu comentário.

— Bem, agradeço pelo elogio, mas você ainda não viu nada, Habibti.

Ela cora e diz:

— Imagino que não.

Eu sorrio, malicioso. Aproximo minha boca do seu ouvido e falo,


baixo:
— Mas você verá tudo em breve. Mal posso esperar para te fazer
minha e te ensinar a como agradar o seu marido. Em troca, te
deixarei viciada em mim. O que acha, Habibti?

Sinto seu peito subindo e descendo rapidamente, ofegante. Jade


suspira e diz, rouca:

— Eu quero isso.

Eu beijo o seu pescoço e sussurro em seu ouvido:

— Vai ter. Em breve. Mas neste momento eu preciso ir para a


empresa. Você vai ficar aqui, bem comportada, não vai?

Ela balança a cabeça, corada.

— Não posso, meu pai está nos vigiando, sabe disso. Tenho que
voltar para casa de Laila o quanto antes, ou então ele vai interferir.

— Não se preocupe com seu pai ou irmãos. Nem eles serão capazes
de me separar de você desta vez, Habibti. Você é minha agora, não
mais deles.

Jade suspira, e eu dou um selinho em sua boca.

— Minha. Sheik Tariq terá que se conformar com isso.

— Céus, é isso que me dá medo.

Eu sorrio.

— Bem, certamente sua família não gostará disso e tentará te tirar


de mim. Mas ambos sabemos que não há mais volta, não depois de
hoje, do que fizemos, não é, Habibti? Os homens precisam saber
admitir quando foram derrotados.
Jade suspira e morde o lábio, ansiosa.

— Papai vai querer te matar.

— E ele está certo. Eu também não ia gostar de saber que minha


filha pertence a um homem, que foi tocada indevidamente por ele.
Mas não é como se Tariq pudesse impedir o inevitável. Você é uma
mulher e precisa de um homem.

Jade me olha com temor e acena.

∆∆∆

Não foi fácil tirar minhas mãos de Jade e deixá-la sozinha. A cada
segundo fico mais ansioso por sua presença, e está se tornando um
desafio ficar longe dela. A minha vontade é de levá-la comigo para
todo lugar, amarrá-la a mim, assim teria um pouco de paz enquanto
cumpro com minhas obrigações. Mas isso, por enquanto, não é
possível. Jade ainda não é minha, pelo menos não formalmente.
Assim, não posso mostrá-la por aí sem que ela esteja usando minha
aliança. É assim que as coisas funcionam. Portanto, preciso resolver
o quanto antes a tensão que existe entre mim e os Hamir.

Sinceramente, não sei como vou fazer isso. Tariq e Ahmed


claramente me odeiam, eu jamais seria escolhido para desposar
Jade. Digamos que eles sempre me desaprovaram e nunca
aceitaram a paixão de Jade por mim. Eu não posso julgá-los,
entretanto. Sou o oposto dos Hamir desde que nasci. Minha família é
conhecida por seus podres desde sempre. Além disso, como filho de
um sheik, nunca fui um bom exemplo na maior parte, não para os
Hamir, pelo menos. Jade é a única filha do sheik Tariq, ele a
escondeu do mundo o máximo que pôde. A princesa é uma joia da
família, uma joia que eles não estão dispostos a perder, muito menos
para mim.

Entretanto, isso não me intimida. Eles não podem guardar Jade


pelo resto de sua vida, ela é uma mulher, deve ter o direito de se
casar e formar sua própria família. Mas os sheiks simplesmente
ignoram essa verdade. Assim, aprovando ou não, vou tirar Jade de
suas mãos obsessivas. Agora que eu sei que ela me aceita do jeito
que sou, nem mesmo sua família me impedirá de tomá-la para mim.
Os Hamir têm duas opções: ou aceitam por bem ou por mal. A minha
decisão está tomada. Se eles quiserem iniciar uma guerra, que seja,
eu já estou preparado. Se eles quiserem iniciar um conflito idiota por
causa de uma causa já perdida, problema é deles. Esta guerra já
tem um vencedor, e sou eu.

Jade já é minha, um conflito só irá prejudicar eles mesmos e seu


orgulho irracional. É isso que os Hamir são quando se trata de Jade:
irracionais. Irracionais a ponto de não compreenderem que deixar a
princesa ir é o melhor para ela. A obsessão cega, estou tomando
consciência disso agora. Mas a minha obsessão tem fundamento,
Jade me quer, e eu a quero. Já os Hamir insistem em mantê-la presa
para sempre sob suas asas intimidantes. Mas Jade é como um
pássaro que anseia por liberdade, e eu vou dar isso a ela, custe o
que custar.

Tariq e Ahmed têm me ligado a cada cinco minutos desde que Jade
resolveu ficar em minha casa e passar a noite nela. Eles têm homens
vigiando minha propriedade, minha segurança já identificou isso.
Assim, mandei triplicar o tamanho da equipe responsável pela
segurança da minha propriedade. Minha equipe pessoal também foi
reforçada, e agora Jade também terá uma para ela. Jade só não
sabe disso ainda. Sei que os Hamir irão tentar levá-la de mim às
escondidas, mas não vou permitir. Iremos resolver tudo como
homens: cara a cara, da forma tradicional. Não é ele que valoriza a
tradição? Pois bem, então não terá problema para cumprir com mais
uma.

Quando saio com meu carro através dos grandes portões de


entrada, meu celular toca novamente. O sheik está me vigiando. O
pensamento me faz soltar uma risada. Matias, o meu chefe de
segurança, no mesmo instante entra em contato comigo através do
rádio do meu carro.

— Detectei homens do Hamir há duzentos metros, sheik.

— Mantenha tudo sobre controle, Matias.

— Certamente, sheik. Separei uma equipe capacitada para te


acompanhar a partir de hoje. Como o senhor me pediu, eu mesmo e
mais um bom número de homens ficaremos protegendo a senhorita
Hamir.

Eu aceno, apesar de estar sozinho.

— Perfeito. Me mantenha informado sobre tudo.

— Certamente, sheik. Outra coisa, sua empresa também está com a


segurança reforçada.

— Ótimo. Obrigado, Matias.

— Disponha, sheik Yassin.

Assim que ele desliga, atendo Tariq.

— Onde está a minha filha, Emir?! Seu maldito, você prometeu que
iria me devolvê-la ontem à noite!

— Tão direto a ponto, como sempre — falo, irônico.


— Não brinque comigo, Yassin. Estou louco para pôr as minhas
mãos em você e te matar lentamente. Por que Jade ainda está em
sua casa?! Você deu a sua palavra que iria abandonar essa ideia
ridícula de mantê-la presa nessa cidade.

— Sim, realmente, eu dei minha palavra. Mas as circunstâncias


mudaram, Tariq. Não estou mantendo Jade presa, muito menos
estou a obrigando a ficar aqui por ameaça. Jade está livre para
voltar para você.

Ele rosna.

— Então por que ela está em sua casa, seu maldito?!

— Simples, Tariq, muito simples. Jade está em minha casa porque


ela quer. Ela não quer mais voltar para sua casa. Pelo contrário, ela
quer ficar aqui, em Abu Dhabi, comigo.

Tariq solta vários palavrões em alto e bom som. Eu continuo


olhando para a estrada, quase que entediado.

— Eu vou te matar, Yassin, juro que vou. Você é um demônio que


apareceu para prejudicar a vida da minha filha e da minha família.
Você vai pagar por isso.

— Certo — respondo em meio a uma risada.

Tariq me xinga novamente e em seguida diz, ameaçador:

— Você vai me entregar a minha filha, Yassin.

— Ou...? — eu provoco.

— Ou haverá uma guerra, e eu irei te matar no fim dela.

Eu rio, realmente divertido com a situação.


— Ora, meu sogro. Isso tudo por que sua garota prefere ficar
comigo que voltar para você? Vejo que está em um estágio avançado
da síndrome do ninho vazio.

— Não me chame de sogro, seu desgraçado! Você é uma desgraça,


sua família é uma desgraça desde sempre, e eu não vou permitir que
você destrua a minha filha!

— Destruir? Não, não vou destruir a vida de Jade, ao contrário,


pretendo reconstruir, começando ao devolver a sua liberdade, coisa
que ela perdeu quando nasceu em sua família.

— Você não é capaz de reconstruir nada, Yassin. Seu sangue é de


destruição. Quero você longe de Jade!

— Mas ela não quer, Tariq, ela não me quer longe, pelo contrário,
sua princesa me quer perto, tão perto a ponto de ela querer me
chamar de marido.

Ouço quando Tariq quebra alguma coisa de vidro. Ele rosna, xinga
e me amaldiçoa.

— Jamais. Jade jamais será sua esposa, seu desgraçado. Está me


ouvindo?!

— Estou ouvindo perfeitamente, apesar de suas palavras não


fazerem sentido. Jade já é minha, Tariq. E ela será minha esposa,
mais cedo ou mais tarde, quer você queira ou não.

Ele quebra outra coisa do outro lado da linha e pragueja.

— Você vai devolver a minha filha, Yassin, ou eu te mato.

— Devolvê-la? Meu caro, eu não sou você que a prende. Jade está
livre para voltar para Fujairah a qualquer momento, se ela não o fez é
porque não quis.

— Não finja que não entendeu, porra! Ela está apaixonada por você,
está cega, não entende que você é o filho do demônio e que você irá
arruinar a vida dela. Jade é inocente e doce. Como pai, vou protegê-
la até minha morte, e isso inclui de homens de sangue ruim como
você.

— Sangue ruim? Não achei que fosse supersticioso, Tariq — eu


ironizo.

— E não sou. Mas dou valor aos fatos, Yassin, os fatos não
mentem. Você é filho de Ali e desde criança já deixou claro que o
sangue nojento de seu pai corria em suas veias. Com seis anos já
matou a própria mãe, imagina o destino que teria minha filha?! Está
união jamais acontecerá.

— Tome cuidado com o que diz, Tariq. — Eu rosno. — Ou então eu


posso levar para o lado pessoal, e você não vai gostar de me ver
irritado. Até agora eu estou sendo paciente com você por respeito à
minha futura esposa. Sei que ela ficaria chateada comigo se eu te
ofendesse. Mas, meu caro, tudo tem limite, e estou chegando perto
do meu. Não brinque comigo, Tariq.

— Eu não tenho medo de você, Emir, suas ameaças não fazem nem
cócegas. Eu sou Tariq Hamir, só o meu nome e histórico de vida já
dizem tudo.

Eu solto uma risada divertida.

— Seu histórico de assassino não significa porra nenhuma para mim,


Tariq. Você só teve sorte até agora, sorte de ter sido desafiado por
pessoas mais fracas e incompetentes que você. Mas, Tariq, não se
engane, eu sou Emir Yassin, só o meu nome e histórico de vida
dizem por si só. Não queira ver quem eu sou de verdade, meu
querido sogro, ou então você pode se queimar.
— Se você estivesse na minha frente neste momento, pode ter
certeza de que eu já teria feito um buraco em sua cabeça, Yassin.

Eu rio, realmente me divertindo com a situação. Entro no


estacionamento privativo da minha empresa e desligo o carro.

— Bem, você pode tentar fazer isso mais tarde, mas por agora eu
preciso trabalhar. Quero que meu império continue crescendo, assim
poderei mimar minha imperatriz como ela merece, não acha, Tariq?
Jade precisa protagonizar agora, já chega de ficar à sombra do pai.

— A única pessoa que irá protagonizar alguma história será você,


Yassin, quando for morto tragicamente.

Eu saio do carro com um sorriso divertido no rosto.

— Você tem uma imaginação fértil, Tariq, gosto disso. Agora tenho
que desligar, até breve, caro sogro.

Desligo a chamada e coloco meu celular no bolso. Na entrada da


Yassin Enterprise, recebo alguns cumprimentos e solicitações. Já no
meu andar, Raquel me entrega uma pasta com as pendências que
precisam ser resolvidas hoje. Assim que entro no escritório, sou
surpreendido com a presença de Diana sentada com as pernas
cruzadas sobre a mesa, deixando à mostra a maior parte de suas
pernas. Ela ostenta saltos pretos altíssimos nos pés bem-cuidados.

— Resolvi te fazer uma surpresa hoje, Emirzinho.

Eu não posso evitar de soltar um suspiro resignado com a situação.


Eu sabia que precisava resolver a minha situação com Diana o
quanto antes, mas não achava que seria tão urgente. Ela quase não
vem ao meu escritório, não imaginei que ela faria isso agora, bem
agora que ela sabe que Jade está sob meus cuidados. Diana tem
livre acesso ao meu escritório, isso porque dei permissão aos
funcionários para que a deixassem entrar. Diana é minha amiga de
longa data, e estávamos tendo um bom relacionamento até agora.
Mas isso acabou, só que ela não sabe ainda.

— Você podia ter me avisado que viria, Diana.

Ela faz uma careta.

— Mas aí não seria uma surpresa!

Eu suspiro, tentando encontrar um jeito de contar o que está


acontecendo. Mas ela não me espera falar algo, ao contrário, já se
aproxima perigosamente de mim, mas não só isso, Diana enrola os
seus braços ao redor do meu pescoço, algo que ela tem costume de
fazer quando está "animada". Se esfregando em meu peito, ela diz:

— Vejo que você está estressado hoje, Emir. Mas não se preocupe,
que a sua tensão está prestes a acabar — ela diz em meio a uma
risadinha.

Eu a encaro, sério, e ela franze a testa, interrogativa. Com


gentileza, seguro os seus dois braços compridos e os tiro do meu
pescoço, em seguida, dou alguns passos para trás a fim de colocar
um espaço seguro entre nós dois.

— Diana, nós precisamos conversar — digo, querendo acabar com


isso logo.

Ela arqueia suas bem-feitas sobrancelhas ruivas, e seus olhos azuis


me olham com curiosidade e cautela.

— O que seria tão importante a ponto de você querer dizer num


momento como este?

Decidido a ser direto e o mais honesto possível, eu falo olhando em


seus olhos:
— É Jade, Diana, eu finalmente vou tê-la para mim. Pretendo me
casar com ela, portanto nosso relacionamento não faz mais sentido
para mim.

Ela arregala os olhos e me encara assustada. Diana demora algum


tempo para finalmente verbalizar sua reação.

— Você pretende se casar com a princesa?! Mas você tinha me dito


há alguns dias que jamais poderia se casar com ela, disse que você
não se enquadra no tipo de homem que ela precisa! O que está
acontecendo, Emir?! — ela diz em tom alterado.

Eu a fito por um instante antes de responder:

— Você está certa, eu realmente disse isso, e o que eu disse é


verdade. Eu não sou o tipo de homem ideal para Jade. Mas decidi
mandar esse fato para o inferno. Jade sabe quem eu sou agora, ela
sabe com quem irá lidar. Eu contei tudo, fui bem sincero. Mas ela
ainda me quer, e eu não vou mais afastá-la de mim. Não mais.
Porque já não sou capaz. Eu quero Jade, eu a quero muito. E agora
que ela está ciente de quem Emir Yassin é, sinto-me mais tranquilo
para ligá-la a mim.

Diana me olha como se eu fosse de outro mundo e balança a


cabeça, incrédula.

— Jade é inocente demais para você, Emir.

— Eu sei, mas isso não é mais um problema. O pior ela já sabe.


Sobre sua inocência, eu até gosto. Quando for seu marido, pretendo
protegê-la das demais... situações. Não tenho intenção de tirar a
inocência de Jade, não quero isso.

— E você acha que poderá evitar algo assim? — Há ironia em sua


voz.
— Farei o possível — digo apenas.

Capítulo 12

Jade Hamir

— Jade, saia para fora da casa desse maldito. Meus homens farão
o resto — diz meu pai na chamada de vídeo, ignorando
completamente tudo que falei até agora.

Eu faço uma careta e levo a mão à cabeça, sentindo uma pontada


na têmpora.

— Pai, por favor, pare de ignorar o que eu te falo. Eu disse e vou


repetir: eu não vou voltar para casa, não assim, não do jeito que
você quer. Eu amo Emir e quero me casar com ele.

Meu pai rosna, e seu rosto fica vermelho. Ele está em seu
escritório, sozinho. Eu o conheço bem, sei que ele está fazendo de
tudo para manter minha mãe fora disso. Meu pai é ignorante, acha
que só ele sabe o que é melhor para a família. Sinceramente, não
sei como mamãe consegue lidar com ele.
— Você está cega, garota, você não conhece esse homem e sua
família, eles não prestam. Até o seu povo é diferente do nosso, você
não pertence a esse lugar Jade.

Eu me irrito com o seu comentário.

— Eu pertenço ao lugar que meu coração deseja estar, pai. E meu


coração quer ficar aqui, em Abu Dhabi, com Emir.

— Não diga uma coisa dessa, Jade, esse homem é um monstro, ele
é perigoso. Você precisa acordar, Jade.

Eu balanço a cabeça, chateada.

— Ele não é um monstro, você não pode julgá-lo por algo que
aconteceu quando ele ainda era uma criança. Ele era apenas um
menino! Por favor, não seja injusto. Emir já se culpa o suficiente pelo
que aconteceu, ele não precisa de alguém como o senhor para julgá-
lo. Além disso, não seja hipócrita, você matou muitas pessoas,
papai.

— As pessoas que matei mereceram a morte, matei pela honra do


meu povo e da minha família!

Eu bufo.

— Mas matou! Já Emir não teve a intenção de matar sua mãe, ele
nem sabia o que essa palavra significava direito!

Ele me olha com desgosto.

— Você está me decepcionando, Jade. Não achei que fosse tão tola.
Não achei que fosse tão ingênua a ponto de defender um Yassin.

Eu sinto uma pontada de dor em meu peito, e meus olhos se


enchem de lágrimas.
— O senhor que está me decepcionando, papai. Não achei que
fosse capaz de ser tão preconceituoso a ponto de ignorar a
felicidade de sua filha. Você está cego pelo orgulho. O que você
sente por Emir é ódio e rivalidade. Você sabe que ele não é mau
como você mesmo diz. O que você está me pedindo, abandonar
Emir, é puro egoísmo de sua parte. O senhor não está pensando em
meu bem-estar, está pensando em si mesmo, em seu orgulho, em
sua vontade. Por você, eu passava o resto da minha vida dentro do
castelo, ou então me casava com alguém de sua escolha. Me sinto
como uma posse dessa família, não como uma mulher de opinião
própria. Minha vontade não importa para você e meus irmãos.

Ele me olha com os olhos ardendo de raiva e fúria.

— Como ousa dizer que eu não me importo com você, Jade? Eu


cuidei de você por vinte e sete anos. Eu te amei, te dei segurança e
uma família que te ama. Como pode me acusar de ser egoísta?
Você é quem está sendo egoísta com seu pai. Eu fiz tudo o que
poderia ter feito por você, te amei incondicionalmente. Estou
decepcionado com você, claramente você prefere esse homem que
você não conhece do que seu pai.

Eu sinto meu sangue ferver de raiva e frustração. O seu olhar ferido


e decepcionado me machuca profundamente e eu choro de tristeza
enquanto o encaro através da tela de um dos notebooks de Emir.

— Não fala assim, papai, por favor. Eu te amo, te amo muito, pai.
Você foi o melhor pai que eu poderia ter. Mas o senhor não está
sendo justo comigo agora ao exigir que eu escolha entre o meu pai e
o homem que eu amo. É uma exigência dura demais. Eu quero que o
senhor continue de bem comigo, mas também quero seguir com
minha vida. Tenho vinte e sete anos, papai, não sou mais uma
menina. Eu quero me casar, ter meus filhos e ser feliz como mamãe.
Será que é tão impossível para você me ver realizar o meu desejo?
— Jade, se você quer casar, eu posso te ajudar a escolher um
homem que te mereça, meu anjo. Mas não Emir, ele não te merece,
ele não merece alguém tão doce como você, filha.

Eu solto um gemido frustrado e o encaro, séria.

— Não se trata de merecer. Eu o amo, e ele me ama, pai. Eu sei


que você não acredita, mas Emir me ama. Ele manteve isso em
segredo até agora, porque não achava que eu iria entendê-lo. Ele
sabe o pai que tenho e achou que eu fosse julgá-lo também.

— Jade, sei que os seus sentimentos por esse homem são intensos,
mas eu não consigo me conformar, filha. Esse sheik... — ele grunhe
—, ele é perverso.

— Eu não acho. Só porque ele tem um pai ruim não significa que ele
é perverso. Emir não é um mocinho, mas não é mau.

— Eu conheço esse homem desde que ele nasceu, querida, e ele


não é o que você pensa. Emir terá direitos legais sobre você em
todos os sentidos. Você sabe o que isso significa? A palavra dele
será lei para você. Se ele for seu marido, terá que obedecê-lo em
tudo. Você sabe que ele jamais lhe dará o divórcio. Só a
possibilidade de você ficar presa a esse homem pelo resto de sua
vida me faz querer matá-lo, pois não confio nele.

Não sei por quê, mas as suas palavras fazem os pelinhos dos meus
braços arrepiarem. Meu pai parece atordoado demais, e seu
nervosismo está passando para mim. Ele faz o contrato de
casamento parecer uma sentença de morte.

— Mas um casamento em nossa cultura é isso, não? Obediência.


Não entendo por que isso seria o meu fim. Mamãe é feliz no
casamento, e até Luisa é feliz com Ahmed. Por que eu não posso
viver bem com Emir?
— Porque ele não é um Hamir, Jade. Emir é um Yassin, o oposto de
nós.

— Não acho que o sangue define uma pessoa, pai, e sim o caráter.
Não me interessa como são os outros Yassin, só me importa como é
Emir comigo. E descobri que nos damos bem.

— Como você sabe que se dão bem? Você está aí há míseros dias!

— Mas esses míseros dias foram o suficiente para nos


conhecermos. E descobrimos que somos compatíveis.

Meu pai cerra os olhos em desconfiança. Ele aproxima sua cadeira


de couro para mais próximo da câmara e pergunta, extremamente
sério:

— Ele tocou em você, Jade?

Sua pergunta me surpreende e me deixa encabulada.

— Pai?

Ele tensiona o maxilar e me encara fixamente.

— Responda minha pergunta, Jade.

— Não!

Ele solta o ar pelo boca, claramente nervoso.

— Não minta para mim!

Eu arregalo os olhos com seu grito e sinto o meu coração bater


mais forte.
— Não, ele não tocou em mim, pai! Não da forma que o senhor está
pensando.

Meu pai une suas duas mãos em um aperto e encosta os cotovelos


na mesa de madeira maciça.

— De que maneira ele te tocou, Jade? — Há ameaça em sua voz, e


eu começo a suar frio.

— Eu não vou responder algo assim, pai!

— Ah, você vai! Um homem te toca, e você acha que pode manter
isso em segredo? Nunca! Emir feriu a sua honra, aquele desgraçado!

Eu arregalo os olhos, em pânico.

— Pare com isso, pai, ele não feriu minha honra! Foram só alguns
beijos, só isso.

Meu pai ri sem humor.

— E você acha que eu vou acreditar nisso? Eu não nasci ontem,


garota, sei como são os homens.

— Mas eu estou falando a verdade, foram apenas beijos, não fomos


para a cama, pai. Emir jamais tiraria minha virgindade antes do
casamento.

— E eu falei sobre virgindade? É claro que ele não seria louco de


fazer isso, mas todos sabemos que há outras maneiras de sair da
linha.

— Pare de falar sobre isso, pai! Eu já disse que não aconteceu


nada!

Ele me olha com raiva.


— Antes que as especulações sobre você piorem, é melhor você
voltar para casa, Jade. Ou então sua honra estará manchada por
todo os Emirados Árabes Unidos, mesmo ainda virgem!

— Eu não vou voltar para casa!

— Você vai! — ele grita.

Eu sinto o meu coração bater fortemente, e um misto de emoções


conflitantes me fazem chorar.

— Eu não vou voltar, pai. Eu não posso voltar e simplesmente


retornar para uma vida a qual não me identifico mais. Se um dia eu
for voltar, vai ser para visitar vocês, não para morar. Eu sinto muito,
mas não dá mais — eu falo em meio ao choro.

— Você não vai se casar com esse homem, Jade — meu pai
ameaça, mas a sua voz falha no fim.

Ele parece sentir que algo está para acontecer e então começa a
tentar me intimidar.

— Vou mandar mais homens para te pegar. Você vai vir por bem ou
por mal.

— Eu não vou de um jeito nem de outro. Eu finalmente tenho certeza


do que quero, pai, e voltar para suas asas que não é. Você pode
trazer todos os seus homens, fazer uma guerra, mas eu não vou
voltar.

Ele pragueja e bate a mão com força sobre a mesa, a ponto da


câmera do seu notebook tremer.

— Você está cometendo o maior erro de sua vida ao se unir a esse


homem, Jade. Eu não darei a minha bênção para este casamento.
Suas palavras me machucam, e eu não consigo conter um soluço
dolorido. Meus olhos estão inundados de lágrimas, e eu só sei
chorar.

— Me dói escutar isso, mas não vou mudar de ideia. No entanto, eu


espero que o senhor volte atrás e dê sua bênção, eu espero que
compareça no meu casamento.

— Eu não acho que isso será possível. Dar minha bênção significa
apoiar este casamento, uma união que eu não aprovo.

Eu aceno, sentindo a decepção me cercar.

— O senhor vai comparecer, pelo menos?

Ele me olha com os olhos frios e amargurados.

— Eu não sei dizer.

Eu aceno novamente e abaixo um pouco o olhar. Meu pai me olha


por alguns segundos e então diz:

— Eu vou desligar. Que Alá te proteja, Jade, porque pelo visto em


breve não serei mais capaz.

Ele não me espera responder e desliga a chamada, deixando-me


sozinha com minha própria dor e solidão. Eu começo a chorar
compulsivamente no quarto de hóspedes da casa de Emir, mas não
tenho muito tempo para sentir minha dor, pois logo minha mãe está
me ligando por chamada de vídeo. Eu atendo enquanto choro.
Mamãe me olha com pesar e suspira, muito chateada.

— Oh, Jade, sinto muito, filha.


Seus olhos incrivelmente verdes estão magoados, e sei que é por
causa do meu pai.

— Por que ele não pode simplesmente aceitar a minha decisão sem
me tratar de forma diferente, mãe? Por que é tão horrível para ele
que eu me case com Emir?

Ela balança a cabeça, seus cabelos escuros e longos sobre seus


seios cobertos por um vestido bege.

— Ele acha que você está se colocando em risco, querida. Além


disso, ele está perdendo sua filha, Tariq não está sabendo lidar com
isso.

— Mas ele podia ao menos aceitar sem me punir. Eu só queria que


ele respeitasse minha decisão sem me tratar como uma traidora.
Você tinha que ver o desprezo em seus olhos quando eu disse que
não ia voltar para casa, mãe. Só faltou ele dizer que não sou mais
filha dele.

Minha mãe morde os lábios em preocupação e me encara com


pesar.

— Não se importe com o que ele diz, ele está desnorteado, Jade.
Você é sua única menina, e agora virou mulher e está indo embora
para os braços de um homem. Imagina como ele deve estar se
sentindo. Você sabe que ele morre de ciúmes de você. Seu pai é
possessivo, não consegue aceitar a ideia de você virar mulher, ter
um marido... Sabe que isso é complicado.

— Mas ele não poderia apenas aceitar a minha felicidade e ficar feliz
por mim? Eu só queria que ele me apoiasse, que não mudasse
comigo.

— Não sei exatamente o que ele te disse, Jade, mas não se


preocupe com isso. Seja lá o que ele falou para você, foi de boca
para fora, no calor do momento. Tariq está muito irritado com sua
escolha para marido, ele nunca gostou de Emir, sabe disso. Mas,
mesmo assim, ele logo voltará atrás porque ele te ama. Não pense
que ele deixou de te amar, filha.

— O meu sonho é que papai conheça Emir de verdade, sem


preconceitos e julgamentos. Emir é tão bom comigo, mãe, isso devia
ser suficiente para papai.

Ela me olha, curiosa.

— Jade, por favor, não faça nada antes de se casar.

Eu reviro os olhos.

— Você está igualzinho ele. Eu não vou fazer nada de mais, mãe.

Ester suspira, não muito contente.

— Procure um jeito de noivar e marcar o casamento rapidamente,


Jade. Você sabe que as fofocas correm soltas.

Eu aceno.

— Vou tentar fazer seu pai aceitar a situação e te perdoar. Não será
fácil, mas vou pensar em alguma forma. Seu irmão também está
chateado com você, mas não tanto quanto seu pai. Luisa anda
falando muito na cabeça dele que você só está seguindo sua vida, e
você sabe que ele escuta tudo que ela fala, mesmo não concordando
muito.

Eu sorrio pela primeira vez com a menção de Luisa.

— Tudo bem, então. Eu conto com você, mãe. Também vou


conversar com Emir. Ele precisa parar de provocar papai, sei que ele
é um grande provocador.
Minha mãe concorda com uma careta.

— Sim, ele é. O que só piora tudo. Dê um jeito nele, Jade, ou então


as coisas podem piorar.

— Certo — falo, tensa.

Minha mãe sorri, me analisando pela tela.

— É melhor você descansar, querida, você parece transtornada.


Durma e depois faça o que eu te disse. Por favor, não apronte, Jade.
A última coisa que você precisa é de mais problemas.

Eu reviro os olhos.

— Certo. Até logo, mãe.

Ela dá um beijo na ponta de seus dedos e sopra para mim.

— Até logo, meu amor. Cuide-se.

Depois que ela desliga a chamada, coloco o notebook no criado-


mudo e deito na cama de barriga para cima. Suspiro ao pensar no
que ainda terei que enfrentar. Tiro o meu celular do meu bolso da
calça moletom e decido ligar para Laila. Preciso aliviar minha mente.
Capítulo 13

Emir Yassin

Não foi fácil convencer Diana a ir embora do meu escritório, muito


menos acalmá-la no que diz respeito a minha relação com Jade. Ela
não acha que eu combinaria com a "princesa de Tariq", como ela faz
questão de enfatizar. Mas foda-se a opinião dela, quem decide a
minha vida sou eu, porra, somente eu. Ninguém, nem mesmo Tariq,
dirá se eu vou me casar com Jade ou não. Eu decidi que a quero
para mim, e ela aceitou por vontade própria ser minha esposa,
mesmo sabendo quem eu sou. Então isso já é o bastante para mim.
Que se explodam as pessoas, o que me interessa é o que eu quero,
o que Jade quer. E nós queremos a mesma coisa, então o assunto já
está encerrado.

Passei o dia inteiro enfiado no trabalho. Há muitas coisas para


fazer. Tenho propostas de parcerias de importantes empresas do
país para analisar. Além disso, a Yassin Enterprises está com uma
nova gestão este ano. Faço questão de que os chefes de setores e
os diretores sejam trocados a cada quatro anos. É o que convém.
Dessa forma, a empresa tem sempre uma liderança ativa e bem-
disposta. Além disso, é uma ótima maneira de evitar possíveis
problemas. O tempo dentro de um cargo de elite na Yassin
Enterprises pode dar a falsa impressão de poder aos funcionários,
os quais em seguida se sentirão confortáveis demais. E não é isso
que preciso. Assim, troco todos os chefes, com excessão do meu
irmão, a cada quatro anos.

Como eu disse, tenho muita coisa em minha cabeça, e o dia foi


cheio. Mas felizmente o trabalho de hoje foi encerrado. Neste
momento estou atravessando os portões de ferro da mansão do meu
pai. Raramente o visito e quando o faço é porque a minha presença
se faz realmente necessária, como é o caso de hoje. Meu pai me
ligou hoje à tarde pedindo a minha presença, pois precisava falar
comigo sobre uma assunto de "extrema importância". Tentei rejeitar,
tudo o que eu queria era voltar para casa o quanto antes e buscar
Jade da casa de Laila para, em seguida, senti-la sob minhas mãos
ansiosas por sentir seu calor. Mas isso teve que ser adiado, já que
meu pai estava irredutível ao afirmar que precisava me ver hoje.
Então, infelizmente, aqui estou eu, agora caminhando em direção ao
seu ostensivo escritório localizado na ala sul da mansão de um estilo
clássico, mas ao mesmo tempo com inclinação árabe.

Eu e o meu pai não temos um bom relacionamento. Nunca tivemos


um vínculo saudável comum entre pai e filho. Quando criança, nunca
recebi uma palavra de carinho. Eu era seu filho troféu, um alívio. Ele
tinha um varão. Minha vinda trouxe alívio para o seu governo. Mas eu
não era importante para ele. Eu seria seu herdeiro, seria sua
segurança. Meu irmão seria seu substituto caso algo me
acontecesse. Filhos não significavam, e ainda não significam, nada
além de conveniência para Ali Yassin. Minhas irmãs, por serem
mulheres, sempre foram descartáveis para ele, tanto que as três se
casaram aos quinze anos por ordem do meu pai. Conveniência. Elas
se casaram por conveniência. Meu pai as usou para conseguir alguns
acordos comerciais. Hoje eu as vejo raramente, seus maridos as
escondem do mundo o máximo que conseguem. Nur, Fátima e Aisha,
hoje, são mulheres desconfiadas e tímidas, bastante diferente de
quando crianças.

Mas é assim que as coisas funcionam na família Yassin, tudo é


decidido com imparcialidade. Contudo, apesar de não ser a pessoa
mais altruísta e bondosa, não puxei o meu pai, nem o meu irmão o
puxou. Ismael e eu não nos identificamos com o sheik Ali. Isso é
motivo de muitas brigas entre nós três. Como eu disse, estou longe
de ser bom, porém mais longe ainda se ser como meu pai. Já
Ismael, ele é ainda "pior" do que eu. Ele é um homem altruísta e
evita a todo o custo as responsabilidades do clã. Ismael prefere
trabalhar em um bom cargo em minha empresa e viver da maneira
mais normal que ele é capaz. Meu pai diz que ele é uma vergonha
para o nome Yassin. Sei que ele pensa que também sou, mas não
tem coragem de dizer porque precisa de mim. Eu, obviamente, estou
pouco me lixando para sua opinião ou para o "legado Yassin". Ele
sabe disso, então evita tocar no assunto. Mas a sua raiva por mim
não precisa ser dita, ela está sempre clara em seus olhos.

Não sou tão linha-dura como ele gostaria, muito menos imparcial às
crueldades que ele aprova. Não sou apegado o suficiente às
tradições e nem aprovo a Sharia como um todo. Não sou diplomático
com os corruptos e nem autoritário com os humildes que precisam
de mim. Sou uma vergonha para o sangue Yassin. Meus ancestrais
ficariam envergonhados de mim. Isso é o que meu pai morre de
vontade de dizer, mas é covarde para arriscar. Eu deveria ser um
monstro como ele. Afinal, onde ele errou? Ele me criou como o seu
pai o criou. Eu deveria ser como ele. Mas não sou. Sou vagamente
parecido, até porque estou longe de ser o bom homem. Mas isso
não é o suficiente. Os Yassins são mão de ferro, as leis vêm antes
dos sentimentos. Onde meu pai errou?

Ele errou ao me deixar aos cuidados de sua segunda esposa. Eu e


Ismael tivemos muita influência de nossa madrasta, Soraia, a quem
meu irmão chama de mãe. Ela conseguiu nos ensinar alguns
princípios enquanto o meu pai estava distraído com sua própria vida.
Ela queria que fôssemos melhores que o nosso pai, então nos criou
como filhos, filhos que ela não teve. Obviamente, ela tomava cuidado
para que meu pai não percebesse a sua influência sobre nós. E ele
não percebeu, até hoje ele não sabe da importância que sua
segunda esposa estéril teve sobre nós dois. Eu não saí como
planejado, não sou o bom moço como ela queria. Sou cheio de
semelhanças com meu pai, mas mesmo assim não chego perto dele.
Isso já é uma grande coisa para um filho de Ali Yassin. Soraia diz
que sou um milagre. Talvez ela esteja certa.
Já na frente do escritório de Ali, dou duas batidas e em seguida
abro a porta de madeira. Ali está sentado em sua cadeira, atrás de
sua grande mesa de madeira antiga. Ele está vestido formalmente
com a veste tradicional branca. Ele sempre está vestido
tradicionalmente, nunca o vi vestido casualmente. Me olhando
através dos seus óculos de leitura, ele diz:

— Enfim você está aqui, Emir. Já estava convencido de que iria


ignorar a minha solicitação mais uma vez.

O rosto de Ali denuncia sua idade já avançada, mas o tom de sua


voz e postura são um paradoxo.

— Não vou mentir, senti-me tentado a ignorar a sua "solicitação", Ali.


Mas a urgência em seu pedido me fez vir.

Ele me olha com certa impaciência e aponta para a cadeira à sua


frente. Mas eu ignoro e continuo no mesmo lugar. Irritado, ele decide
ser direto:

— Você quer a filha de Tariq.

Eu sorrio. Ali é bastante previsível, eu já imaginava que o assunto


seria Jade.

— Eu quero — eu confirmo.

Ali me encara, sério.

— Bem, não posso te julgar por querê-la, a mulher é muito bonita,


tem o sangue quente das brasileiras... Mas ela é filha de Tariq, você
pode ter problemas com ele, Emir. Você o conhece, sabe que não
será fácil pegar a garota.

— Não se preocupe com isso, eu já a tenho.


Ele balança a cabeça, irritado.

— Mantê-la em sua casa não é tê-la. Conseguir a aprovação do pai


da garota é quase impossível.

— Eu não preciso da permissão de ninguém. O que importa é a


minha decisão.

Ali me olha com o cenho franzido. Seu semblante mostra que está
contrariado.

— A princesa quer isso pelo menos?

Eu rio com a sua pergunta.

— Desde quando você se importa com a opinião de uma mulher, Ali?

Ele sorri.

— Nunca vou me importar. Mas a situação é diferente desta vez. A


mulher é filha de Tariq, e as coisas podem ficar muito feias se você a
estiver mantendo contra sua vontade.

— As coisas podem ficar feias, mas não é como se eu me


importasse com isso, entretanto. Se Tariq quiser vir, seja bem-vindo.
Eu estarei pronto quando ele se sentir confortável. — Eu rio com o
sentido da última palavra. — Mas não, não estou mantendo Jade
contra sua vontade. A única opinião que respeito é a dela, e, se ela
quisesse voltar, eu a deixaria ir. Mas ela não quer, então ela não vai.
Seu pai terá que aceitar isso, por bem ou por mal.

Ali parece surpreso a ponto de arregalar seus olhos escuros e frios.

— Ela te quer? Não é possível. Ela é filha de Tariq, sua família é


totalmente contra a família Yassin há décadas. Além disso, você não
é conhecido por ser um bom moço, Emir. Todos sabem quem é você.
Há algo de errado nesta história. Ela deve estar fora de si.

— Ela está bastante lúcida, Ali. E, sim, ela sabe algumas coisas
importantes sobre mim, mas isso não a intimidou.

— O que você disse? Que matou sua mãe quando criança? — Ali ri
com ironia. — Ora, você não teve intenção, a culpa foi da sua mãe,
ela já estava ficando louca.

O desprezo em sua voz me dá asco, mas eu não respondo.

— Apesar de ser meu filho, você não tem nada a ver comigo, Emir.
Você só é respeitado pelo nosso povo porque carrega o peso dos
seus ancestrais, caso contrário, se você fosse depender de seu
próprio mérito, com certeza não subiria ao poder. Talvez Jade já
tenha pensado nisso. Ela não te teme, você é apenas um fraco para
ela, talvez ela até mesmo esteja pensando em te usar para ganhar
sua liberdade. Porque com o pai dela na cola seria impossível, mas
com você como marido... — ele ri novamente e me olha com
divertimento — será extremamente fácil. A mulher é esperta, tenho
que admitir. Não só ganhará a liberdade através de você, como
também terá um fraco para fazer suas vontades.

Eu me aproximo lentamente dele, e seu olhar me segue. Quando


estou muito perto, coloco minhas mãos em sua mesa e o encaro.

— Você não me manipula, Ali. Sua estratégia não funciona comigo,


nunca funcionou, e não vai ser agora que isso vai mudar. Sua opinião
nojenta e desprezível não me interessa. Agora, só quero deixar um
aviso: jamais interfira no meu relacionamento ou encoste um dedo
em Jade. Se eu sonhar que você fez algo, eu te mato. Pode apostar
que não serei fraco para te mandar ao inferno.

Ali me encara surpreso e apreensivo por alguns segundos, mas não


demora muito para que seu olhar diabólico volte. Ele ri.
— Ora, ora... Vejo que suas expectativas sobre a vagina intocada da
princesa estão altas. Será que ela será tão apertada quanto você
imagina?

Vejo vermelho à minha frente e logo estou com o pescoço do velho


nojento entre minhas duas mãos. Ele continua rindo, até que seu
fôlego começa a diminuir e seu rosto fica vermelho. Eu o olho
fixamente enquanto o estrangulo com mais força. Quando ele fica
praticamente azul, eu o solto e cuspo em sua mesa.

— Tome cuidado com o que você fala, desgraçado. Da próxima vez,


pode ser que eu realmente te mate.

Ali tosse algumas vezes e me encara com os olhos vermelhos.

— Você é mais idiota que eu pensava.

Ele tosse novamente e continua, desta vez rindo:

— A filha de Tariq é inteligente como o pai, já tem o novo sheik de


Abu Dhabi, o recente líder Yassin, em suas mãos.

Ele gargalha mais alto.

— Mulher esperta. Ela vai te destruir, Emir. Escravo você já é, ela


não terá que se esforçar tanto. Fraco como é, logo estará
irreconhecível, um verdadeiro idiota.

A raiva borbulha em meu peito, e eu me esforço para não enforcá-


lo novamente.

— Eu irei embora antes que eu faça algo irreparável. Você nunca foi
normal, então eu vou ignorar suas palavras desprezíveis. Mas, antes,
vou reforçar o que eu disse antes: jamais interfira no meu
relacionamento ou encoste em Jade. Sou capaz de acabar com sua
vida caso você faça alguma dessas coisas.

Ali ri, e eu me inclino sobre ele.

— Eu realmente espero que você tenha escutado o que eu disse, Ali.


Caso contrário, você não terá mais forças para rir novamente.

Quando me afasto, ele grita atrás de mim:

— Você já é um homem morto, Emir. Uma Hamir vai ser responsável


pela sua queda.

Ele tosse e grita uma última vez:

— Você é uma vergonha para a família, devia ter te matado quando


me dei conta do fraco que você se tornou. Até Ismael seria melhor
líder que você.

Eu sorrio com suas palavras. O velho finalmente criou coragem


para dizer o que estava entalado em sua garganta há anos. Ele
realmente era para ter me matado quando teve a chance. Porque o
que ele verá pela frente será pior que sua morte. Agora na velhice,
quase impotente, Ali terá que ver seu filho destruindo a história dos
Yassins. Já que não tive escolha a não ser assumir a liderança do
meu povo, então farei do meu jeito de agora adiante. E o meu jeito é
o pesadelo do meu pai. Espero que ele viva bastante para ver isso.
Vou destruir o legado Yassin. Vou fazer o necessário para apagar a
maldita história desse nome.

Tudo começa com a escolha da minha esposa, uma Hamir, a filha


de um líder rival. Mas o povo verá que ela foi a melhor escolha. O
povo verá que minhas escolhas serão as melhores, as mais
saudáveis, e então irão lembrar daqueles que vieram antes de mim
com desprezo. Eles já sentem desprezo, só não podem mostrá-lo.
Mas em breve serão livres para se expressarem e exigirem um
governo melhor, mais democrático, menos rígido. O meu pai morrerá
aos poucos vendo sua maldita história sendo arruinada. Isso se eu
não o matar antes por causa da minha promessa de hoje.

Capítulo 14

Jade Hamir

— Não acredito! Até algumas horas atrás você o odiava e agora


você vai se casar com ele?! — grita Laila, pasma com a minha
notícia.

Fico um pouco vermelha com o seu olhar inquisitivo e dou de


ombros.

— Ai, você não entenderia. Aconteceu muita coisa... Ele me contou


alguns fatos muito importantes sobre ele, e eu finalmente o
compreendi. Percebi que ele não é nada do que aparentava. E eu o
amo, nunca deixei de amar. O odiava? Sim. Mas isso não mudou
meus sentimentos.

Laila me encara pensativa e ainda em choque.

— O que ele te disse que foi capaz de te mudar tão radicalmente?


Eu mordo meu lábio inferior, nervosa. Sento-me na cama de Laila e
suspiro. Ela está em pé, me olhando e buscando respostas.

— Ai, amiga, não sei se posso te contar. É algo muito pessoal da


vida dele.

Ela franze a testa.

— Bom, se for o fato de ele ter sido a causa da morte da mãe dele,
eu já sei.

Eu arregalo os olhos, muito surpresa.

— Você sabe?!

Ela revira os olhos.

— Jade, sou a noiva de um amigo bem antigo de Emir, o que você


esperava? Sei algumas coisas sobre ele, mas poucas, é claro. Emir
é muito fechado e mantém sua vida trancada para si mesmo. Agora,
algumas coisas são quase que de conhecimento público, como é o
caso do acidente que ocorreu com a mãe dele.

Eu arqueio minhas sobrancelhas, em dúvida.

— O que mais você sabe sobre ele?

Laila faz uma careta.

— Nada que seja difícil de descobrir. Sei que ele e seu pai não se
dão nada bem, que ele não está muito satisfeito com o governo que
o pai deixou e também que ele nunca se estabilizou com nenhuma
mulher. Não sei nada muito pessoal, como pode ver.

Ela então me analisa e sorri maliciosamente.


— Mas, pelo visto, uma noite que você passou na casa dele já foi
suficiente para conhecê-lo melhor que ninguém, hein, Jade?

Eu coro, encabulada, e tento mudar de assunto:

— Você disse que Emir nunca se estabilizou com nenhuma mulher.


Ele teve muitas?

Eu simplesmente não consigo disfarçar meu ciúme, e Laila percebe.


Desta vez é ela que fica um pouco sem jeito. Ela olha para longe de
mim por um tempo e se esforça para olhar em meus olhos.

— Ai, Jade, você tocou num assunto complicado agora, amiga. Estou
meio sem jeito de te falar isso, mas, assim, Emir tem quarenta anos,
não é nenhum mocinho, né, então é de se esperar que ele tenha tido
mulheres ao longo de sua vida.

Eu aceno, um pouco chateada. Mas eu rapidamente tento controlar


meus sentimentos, pois eles não fazem sentido. É claro que Emir
teve mulheres antes de mim. Ele já é maduro e teve uma vida antes
de mim e até mesmo depois. Emir não imaginava que teria algo com
a filha do sheik Tariq. Contudo, mesmo sabendo que esse é o
pensamento mais racional, eu simplesmente não consigo ficar
tranquila com a situação. A imagem de Emir com várias mulheres me
deixa muito chateada e insegura.

Fingindo tranquilidade, eu aceno para Laila.

— Você está certa, faz todo sentido ele ter tido relacionamentos ao
longo de sua vida.

Laila percebe meu estado mesmo eu tentando disfarçar e então


suspira.

— Ai, Jade, por favor, amiga, não fique remoendo coisas do


passado. Você firmou compromisso com o sheik ontem! Não é
racional ficar pensando na vida que ele teve. O que importa é que
agora será diferente, você será a única mulher para ele. Não acha?
Não sou muito próxima de Emir, mas sei que ele é um homem de
caráter, então não acho que você deve ficar ansiosa por causa da
vida que ele levou até agora. Você tem que ter em mente que ele era
sozinho, solteiro e não pretendia se casar. Pelo menos é isso que
meu noivo me disse, que Emir não pretendia se casar, não por
vontade própria.

Eu sinto um pouco de alívio com suas palavras e sorrio levemente.

— Você está certa, eu estou sendo uma boba e me preocupando à


toa.

Eu então murcho novamente e a olho enquanto falo:

— Mas é que ele com certeza teve as mulheres mais lindas do


mundo, e talvez eu não tenha a beleza delas. Acabo me sentindo um
pouco insegura, sabe? E se eu não for tão bonita como as mulheres
que ele está acostumado?

Laila parece irritada com meu comentário.

— O que você está falando, Jade?! Você está doida, mulher?! Você
é linda, garota, linda! O que você tem na cabeça de se inferiorizar
desse jeito? Jade, você tem uma altura boa, tem um corpo
espetacular, uma pele e cabelo de darem inveja em qualquer uma.
Fora seus olhos que são lindos demais. Você tem o corpo das
brasileiras e a elegância das árabes, você não poderia ser mais
bonita, amiga. Sinceramente, acho impossível. Então, por favor,
jamais se sinta inferior às mulheres interesseiras que Emir se
relacionou no passado, porque isso é um absurdo.

Eu logo estou sorrindo como uma boba.


— Ah, Laila, você não poderia ter dito coisa melhor para mim, você é
tão maravilhosa e gentil comigo. Tenho muita sorte por ter te
conhecido, amiga, sério, muita sorte.

Vejo os olhos escuros da garota colombiana ficarem um pouco


molhados de lágrimas, e ela se esforça para contê-las.

— Sim, você tem muita sorte, porque eu realmente sou maravilhosa.


Mas eu também sou muito sortuda, porque você é uma mulher
incrível, amiga. Por isso que somos a dupla perfeita. Acho que seu
sangue meio latino deu certo com o meu.

Eu rio da sua comparação.

— É, talvez seja isso mesmo.

Laila dá um sorrisinho e depois me encara, séria.

— Certo, agora vamos ao que interessa. O que aconteceu quando


você foi embora com o sheik? Estou boiando! Você saiu da boate
com ele e simplesmente sumiu! Me ligou só para dizer que estava
bem e agora aparece no fim da tarde e simplesmente me diz que vai
casar com o homem. Estou achando que talvez você esteja louca,
Jade.

Eu rio da sua indignação.

— Eu sei, parece uma loucura, e talvez seja. Nem eu estou


acreditando que estou realmente tomando uma decisão como essa.
Você nem imagina a treta que arrumei com meu pai.

Laila arregala os olhos e abre a boca em espanto.

— Caramba, seu pai, eu tinha me esquecido! Jesus, você está muito


ferrada, Jade. Seu pai odeia o Emir, além de ser super possessivo
com você. Você realmente está com problemas grandes.
Eu suspiro.

— Você nem imagina quão grandes. Eu tive uma briga feia com meu
pai, e ele está muito revoltado comigo. Estou muito chateada com as
atitudes dele também. Sinceramente, estou desnorteada.

Laila balança a cabeça, confusa.

— Espera, não estou entendendo nada. Me conte tudo do começo,


okay? Desde o momento que ele te tirou da boate.

Eu aceno e imediatamente começo a contar os detalhes, mas tendo


cuidado em ocultar detalhes específicos da vida de Emir. Laila
diversas vezes ficou de boca aberta com os acontecimentos e neste
momento ela está me olhando, maliciosa.

— Então você finalmente descobriu que o ogro não é tão ruim assim,
hein? E ainda tem uma pegada super quente. Menina, estou em
choque!

Eu aceno.

— Eu também.

— Você praticamente foi para a cama com ele em apenas uma noite
que fez as pazes com o homem. Não acha que está sendo
apressada demais? Você é a filha de um sheik, sabe que o que está
fazendo é errado.

Eu coro de vergonha de suas palavras e suspiro.

— Sim, isso realmente não está certo. E, sim, é muito errado. Mas
eu simplesmente não consigo me controlar quando ele me toca, Emir
sabe me deixar completamente fora de mim.
Laila ri.

— Eu te entendo. Eu também tenho algumas quase-recaídas com


Omar, mas a gente é obrigado a controlar. Não vejo a hora de nos
casarmos logo.

— Realmente. Vocês estão noivos há muito tempo, não sei como


estão firmes até hoje, sinceramente.

Laila dá de ombros.

— Eu tive que me adaptar. Com o tempo a gente aprende a ter


controle. Agora, o sheik está te agarrando? Caramba, ele está
brincando com fogo. Emir sabe que pai você tem.

Eu mordo meu lábio inferior, ansiosa.

— Ele sabe, mas simplesmente não se importa. Isso só piora as


coisas, obviamente. Preciso conversar com ele sobre isso. Emir
gosta de desafiar o meu pai, e isso só deixa tudo mais complicado
para mim.

— Emir é assim, ele geralmente não é de respeitar muito as pessoas


que ele não gosta. A prova disso é como ele lida com o pai.

— Mas ele tem que fazer um esforço para se dar bem com meu pai.
Meu pai tem muito poder, além disso, ele é meu pai, não um
conhecido.

— Bem, então boa sorte para tentar convencê-lo a ser educado com
seu pai. Vai ser um desafio — ela diz rindo.

Eu suspiro, chateada.

— Sinceramente, não sei porque só tem homens problemáticos em


minha vida. Cada um é mais difícil que o outro.
— Bem, esse é o preço de ser filha de um sheik Hamir, amiga. Acho
que é o destino.

— Só pode ser isso mesmo.

Laila se senta ao meu lado.

— E você sabe como vai fazer para seguir com esse casamento
adiante?

— Não, não sei de nada ainda. Só sei que vou seguir o meu coração,
procurar a minha felicidade, Laila. Meu pai me ameaçou de me
ignorar se eu me casar, e isso me machucou bastante. Mas eu não
vou voltar atrás por causa disso. Eu amo meu pai, mas agora preciso
seguir minha própria história, com a aprovação dele ou não. Claro,
queria muito que ele aceitasse e estivesse comigo, mas, se isso não
acontecer, vou continuar com minha escolha mesmo assim.

Leila me encara com pena.

— Nossa, sua situação é realmente complicada, amiga. Mas você


está certa, não pode ficar ignorando sua felicidade por causa de seu
pai, você precisa seguir com sua vida. Se ele te ama mesmo, vai
aceitar um dia.

Eu aceno.

— É exatamente isso que penso.

— E você sabe como será o dia do casamento?

Eu faço uma careta.

— Não gosto de pensar muito sobre isso. Meu pai e meus irmãos
talvez não virão. Seria muito triste uma festa de casamento sem boa
parte da minha família, então estou pensando seriamente em não
fazer uma festa de casamento.

Laila solta uma exclamação.

— O quê?! Não fazer festa? Mas você é filha de um sheik e vai se


casar com outro! Jade, você deveria fazer uma festa chiquérrima.

Eu dou de ombros.

— Não me importo muito para isso. O importante mesmo é me casar


com alguém que eu amo.

Laila revira os olhos.

— Ah, não, não me venha com esse papinho. Você é uma princesa!
Deveria se casar como uma.

— Isso é besteira, Laila. Não vejo sentido em fazer uma festa sem a
minha família. Festa serve para comemorar com as pessoas que
você ama.

Laila suspira.

— Bem, então eu vou torcer para que você consiga fazer as pazes
com seu pai e irmãos e que eles aceitem sua união, porque seria um
desperdício não fazer uma cerimônia digna, amiga.

Eu sorrio, desanimada.

— Torça, amiga, torça muito porque está complicado, viu.

Laila segura minhas mãos e me encara.

— Vai dar tudo certo, é só acreditar.


Eu sorrio em resposta, e no mesmo instante meu celular toca no
meu bolso. Quando olho para o nome escrito na tela, meu coração
imediatamente acelera. Laila me olha de forma interrogativa, e eu
levanto um dedo para indicar que será só um instante. A voz do outro
lado da linha me faz arrepiar.

— Vou te pegar aí, Jade, quero você de volta, Habibti.

Eu não posso evitar de corar, e Laila imediatamente descobre


quem é.

— Hm, eu estou conversando algumas coisas com Laila. Agora já


está tarde, você pode me buscar amanhã.

Ouço o silêncio por alguns segundos até que ele diz:

— Não.

Eu franzo a festa, surpresa.

— Como não?

— Não, simplesmente isso. Vou te buscar aí agora.

Eu não posso evitar de ficar um pouco irritada com a sua ousadia.

— Eu não quero, Emir. Já disse que estou conversando algumas


coisas com Laila.

Ele ri, sua voz grave e rouca me deixando mais nervosa.

— Não se trata do que você quer, Habibti, e sim do que o seu noivo
quer, e eu quero você, agora.

— Ora, vai ficar querendo! Eu não vou para sua casa hoje, somente
amanhã.
— Tsc, tsc, tsc — ele faz o som negativo com a boca e ri sem
humor. — Você volta comigo ainda hoje, Habibti, estou com saudade
de você.

Sinto o meu rosto ficar vermelho de indignação.

— Eu já disse que não, Emir!

— Eu escutei, mas já disse que vai. Vamos, seja uma boa garota e
prepare as suas coisas para voltar para casa com seu futuro marido.

— Não!

— Bem, se quer pelo modo mais difícil... Eu vou entrar aí e te pegar.

— Você não ousaria! — falo, encabulada.

Ele ri, irônico.

— Não? Espere só alguns minutos e verá.

Ele então desliga sem me deixar responder. Olho para Laila com a
boca aberta, e ela ri. Ela aponta para minha mala.

— Junte suas coisas porque tenho certeza de que seu macho alfa
estava dizendo a verdade.

Eu bufo.

— Ele não pode agir como ele bem quer!

Ela faz uma careta.

— Boa sorte para tentar convencê-lo disso, amiga. O homem é


acostumado a ter o que quer.
Dois minutos depois, nós duas assustamos quando escutamos a
porta da sala ser aberta e em seguida passos pesados de alguém
em nossa direção. A porta é aberta sem cerimônia, e eu novamente
me assusto. Emir está parado na porta, segurando uma chave,
claramente do apartamento de Laila. Ele é alto e grande demais,
além de intimidante em seu terno preto. Há um sorriso irônico em seu
rosto quando ele me encara.

— Vamos, meu amor, estou cansado e louco para ir para casa.

Laila ri, mas logo se dá conta do que aconteceu e fica séria. Ela faz
um barulho com a garganta para chamar a atenção de Emir e
pergunta, com a testa franzida:

— Como você conseguiu a chave do meu apartamento, sheik Emir?

Ele a encara, tranquilo.

— Você me deu uma cópia no restaurante, esqueceu?

Laila revira os olhos e ri.

— Claro! Tinha me esquecido...

Eu suspiro e pego minha mala.

— Vamos, Emir, antes que você invada a privacidade de outra


pessoa.

Ele vem até mim, pega a mala da minha mão e enrola seu braço de
forma possessiva na minha cintura, em seguida me beija no nariz.

— Vamos, Habibti, sua amiga precisa descansar, e eu preciso de


você.
Tento continuar chateada com ele, mas não consigo e acabo
sorrindo. Ele sorri também, de forma convencida por ter me
derrotado, e me dá um beijo no meu pescoço desta vez. Meu rosto
fica vermelho, e eu rapidamente me despeço de Laila, que me olha
maliciosamente. Quando eu e Emir estamos no carro, ele segura
meu queixo e me faz encará-lo.

— Você é minha agora, princesa. Se eu quiser você, vou tê-la


naquele momento, independente de onde esteja e do que esteja
fazendo. Será para sempre assim a partir de agora. Eu não sou um
homem que gosta de compartilhar. É melhor ir se acostumando em
ser minha mulher em tempo integral.

Com essas palavras possessivas, ele me beija, autoritário, exigindo


submissão de minha parte. No começo eu resisto, mas é só ele
segurar minha nuca com possessividade e puxar um pouco meu
cabelo que eu gemo e me rendo. Ele finalmente me penetra com sua
língua e aprofunda o beijo, me deixando completamente à mercê de
sua vontade. Ele usa sua outra mão para tocar meus seios debaixo
da minha blusa e sutiã (os quais Laila teve que levar para mim na
mansão de Emir, já que ele rasgou minha blusa e sutiã de manhã).
Eu fico louca com seus toques experientes e gemo mais alto. Ele
interrompe o beijo e chupa o cantinho atrás da minha orelha, e eu
suspiro, derretida.

— Eu não podia ficar sem você hoje à noite. Não acho que vou poder
ficar um dia sem você agora. Estou obcecado, louco, princesa,... por
você.
Capítulo 15

Jade Hamir

Emir continua sussurrando palavras possessivas em meu ouvido


enquanto toca descaradamente meus seios. Ele está muito excitado,
eu sinto sua dureza em minha bunda. Estou sentada em seu colo,
com as pernas arreganhadas e com minha intimidade roçando a
virilha dele. Foi ele que me colocou assim. Estamos no carro, no
banco da condução, mas ele não parece estar preocupado com isso.
Tudo o que ele pensa é em me tocar da maneira mais íntima
possível, e eu estou amando. O que não é bom. Não é certo o que
estamos fazendo, na verdade é ilegal, imoral e muito errado. Se
alguém descobrir, a coisa vai ficar muito feia. E não é isso que eu
quero. Quero que tudo dê certo e que nosso casamento aconteça
logo. E então nós poderemos nos tocar quando bem quisermos. Mas
não agora. Nós não podemos fazer isso sem o amparo da lei. Emir
sente minha meditação e me olha, interrompendo os beijos molhados
em meu pescoço. Seus olhos escuros e intensos estão me
analisando.

— O que foi?

Eu suspiro e tento sair do seu colo. Emir segura minha cintura e me


prende no lugar, me impedindo de me afastar.

— A gente precisa parar, o que estamos fazendo não é certo, não


somos casados, Emir. É ilegal.

— Ninguém vai descobrir nada, Habibti.

Eu bufo e o encaro, aflita e ansiosa.


— Não se trata só de alguém descobrir, Emir. A minha consciência
está pesando, porque não somos casados. Precisamos manter o
controle.

Ele suspira e acena, me soltando. Eu rapidamente vou para o meu


banco de passageiro.

— Precisamos casar logo, então. Não quero ter que me controlar.


Essa é uma tarefa difícil demais.

Eu sorrio e pego sua mão grande e morena, em seguida a aperto


gentilmente. Emir olha para nossas mãos unidas e franze a testa.

— Eu sei que é difícil, mas é só por enquanto. Mas para que tudo se
resolva logo, eu preciso que você mude a forma de tratar meu pai,
Emir. Preciso que você seja mais educado e paciente com ele.

Emir bufa e ri, irônico.

— Acho difícil ser "educado" com seu pai, Habibti. Pois isso é o
oposto do que ele é. Você tem um pai ignorante, portanto vou tratá-
lo da mesma maneira.

Eu resmungo, irritada.

— Emir, você não pode pensar dessa maneira, você tem que agir
diferente. Nós precisamos da autorização dele, sabe disso. Não
quero me casar como uma fugitiva. Eu preciso que você colabore,
que tenha paciência com ele. Tariq não é fácil, sei bem disso, mas
ele é meu pai e será seu sogro, então é importante que vocês pelo
menos se respeitem.

Emir passa a mão pela boca rapidamente e solta o ar, frustrado.


— Não sei se vou ser capaz de mudar essa situação, Jade. Seu pai
me odeia, ele não quer fazer as pazes. Não sei o que posso fazer.

— Você pode fazer a sua parte. Se ele não fizer a dele, tudo bem.
Pelo menos vou ter a consciência limpa de que você fez o seu
melhor. Entende?

Ele olha para mim e acena, contrariado.

— Certo, vou tentar. Vou fazer minha parte por você, somente por
isso. Eu não gosto do seu pai, nem um pouco. Mas amo você. Não
sei como vou tentar amenizar a situação, mas vou fazer o possível.

Eu sorrio, super orgulhosa do homem incrivelmente bonito do meu


lado.

— Promete que realmente vai fazer um esforço para fazer as pazes


com meu pai. Por mim, pela gente?

Ele revira os olhos, mas acena.

— Por você, Habibti. Apenas por você. Somente por você eu farei o
que estiver ao meu alcance.

Eu sinto meus olhos lacrimejarem.

— Jura?

Ele me encara, chateado, mas sério.

— Acho difícil negar alguma coisa para você. Agora venha aqui.

Ele está se referindo ao seu colo, e eu coro.

— Emir, já falei sobre isso.


Ele fecha a cara.

— Vamos, Jade, não vou repetir.

Eu reviro os olhos, mas obedeço. Com dificuldade, sento em seu


colo, e ele segura meu rosto com suas duas mãos grandes e
quentes. Seus olhos olham diretamente nos meus quando ele diz,
rouco e sério:

— Eu te amo, Habibti.

Sua declaração me surpreende, e eu logo estou chorando


silenciosamente. Sorrindo, eu falo com a voz embargada, mas com
um sorriso no rosto:

— Eu te amo, Emir. Muito.

Seus olhos ficam mais intensos, e ele leva o meu rosto para perto
do seu até que sua boca está na minha, me dominando, me amando,
me deixando completamente derretida e com o coração a mil por
hora.

Ester Hamir

Tariq está no meu lado, na cama, se recuperando de uma rodada


intensa de sexo que tivemos. O tempo pode ter passado, mas ele
continua insaciável como há trinta anos. Passo os meus dedos
gentilmente sobre seu peito grisalho e em forma. Ele continua lindo e
ainda mais viril. Eu achava que, quando o tempo passasse, ele iria
controlar mais sua possessividade. Mas eu estava completamente
enganada. Agora que todos nossos filhos estão crescidos, ele tem
ficado ainda mais obsessivo em relação a mim. Sinto que ele tem
medo de me perder também. Eu rio em pensamento dessa ideia.
Até parece que seria possível, eu o amo tanto que não consigo ir
muito longe sem ele. Além disso, ele nunca me deixaria ir se eu
tentasse. Seus seguranças ainda me vigiam o tempo todo quando ele
não está, e ele me liga pelo menos duas vezes quando está no
trabalho. Ele é um sheik obsessivo e mandão, não acho que exista
cura para ele. Ainda bem. Eu o amo exatamente do jeito que ele é. E
pensar que já tive medo dessas características. Mas era porque eu
não sabia das vantagens que elas poderiam trazer. Por exemplo, sou
amada incondicionalmente, e ele está sempre preocupado com o
meu bem-estar. Sou uma mulher de sorte. Ahmed está casado e
agora é pai; os gêmeos já estão procurando moças para se casarem
também; e Jade está apaixonada pelo sheik Yassin e louca para se
casar.

Os filhos crescem, se casam e formam suas próprias famílias. Eles


sempre vão embora um dia. Mas não o amor da vida de alguém.
Esse fica do seu lado "até que a morte nos separe". Tariq está do
meu lado, me olhando com seus intensos e expressivos olhos
castanhos-escuros. Eles nunca me olharam com ódio, nunca. Às
vezes ele fica com raiva quando eu "desobedeço" suas ordens, mas
ele logo dá um jeito de me punir na cama, se é que eu posso
considerar isso como punição. E, então, vejo puro amor em seus
olhos escuros e sinto que tomei a melhor decisão da minha vida ao
entrar no prédio da Hamir Enterprises sem permissão e esbarrar no
CEO dela. O destino pode ser muito generoso se você permitir. E é
por isso que preciso ajudar Jade a cumprir com seu destino também.
Há anos que eu sei que ela está apaixonada, só não sabia por quem.
Seus olhos são como um livro aberto, ela nunca conseguiu esconder
seus sentimentos. Seu pai não percebeu, mas eu sim.

Eu nunca interferi em sua vida sentimental, sempre acreditei que o


destino iria se encarregar de tudo. Mas eu também não imaginava
que ela escolheria logo o Emir Yassin. Tariq nunca gostou dele. As
famílias são rivais há muitas décadas, nunca se deram bem. Com
isso, agora Jade tem o seu destino travado pelo pai. Eu sei que ela
ama o sheik e que está sofrendo com a negativa do pai. A permissão
de um pai é muito importante na cultura que ela nasceu. Procurei
saber sobre o sheik Emir. Busquei o máximo de informações que
podia dele. Fiquei muito chateada quando descobri que algumas
pessoas pensam que ele matou a mãe quando criança, quando na
verdade foi um acidente.

Emir teve uma vida difícil aos cuidados do pai sem escrúpulos. Ele
procurava refúgio em sua madrasta e hoje evita a presença do pai o
máximo que consegue. Apesar da criação, o seu próprio povo diz
que o sheik regente é um homem bom, muito melhor que o pai. Emir
está aos poucos tomando a liderança completa do clã, para alívio
das pessoas. Contudo, seu pai, apesar de velho e de estar na hora
de aposentar, continua se intrometendo no governo e executando
suas maldades. Emir teve muitas amantes, mas não posso julgá-lo,
Tariq teve mais que ele. De qualquer modo, eu gostei dele, sinto que
ele é um homem de caráter e que irá cuidar muito bem de Jade. E é
por isso que, como mãe de Jade e esposa de Tariq, é minha
obrigação tentar convencer Tariq a aceitar o casamento da filha.

Eu já toquei no assunto algumas vezes, mas ele nunca me escutou.


Porém, hoje estou disposta a resolver isso de uma vez por todas.
Jade precisa seguir com sua vida, ela merece ser feliz como eu sou.
Seu pai possessivo não pode prendê-la para sempre numa vida de
solidão. Criando coragem, olho nos olhos de Tariq seriamente e digo:

— Você precisa aceitar a decisão de Jade, Tariq. Você tem que


aprovar o casamento. Não se trata da rivalidade que você tem com
os Yassins, se trata da felicidade de sua filha.

Seu olhar rapidamente muda para sombrio.

— Eu não quero minha filha com aquele homem. O sangue Yassin


não presta.
— Cada pessoa é única, Tariq. Tenho certeza de que Emir é um
homem bom, ou então Jade não amaria ele. Jade gosta de pessoas
com caráter.

— Ela está apaixonada, não está em seu completo juízo.

Eu suspiro.

— Você sabe que não é verdade. Nós pesquisamos a vida do sheik,


ele é justo, muito diferente do pai. Você não está sendo justo ao
julgá-lo pelo seu sangue.

Tariq se senta na cama e passa a mão pelo rosto, contrariado.

— Eu estou preocupado. Casamento é muito sério quando se trata


de uma mulher. Essa união pode ser perigosa para Jade se esse
homem não for o que ela pensa. Jade jamais poderá se divorciar,
terá que ser fiel e obediente a ele até a morte. Vou ser sincero, temo
por ela, pois não serei capaz de protegê-la, ela será da
responsabilidade do seu marido por lei. Além disso, ele é de um clã
muito diferente, não vou poder intrometer. É isso que me preocupa.

Eu o olho com pena. Está claro que Tariq está muito preocupado
com sua menina crescida. Eu me sento também, e ele olha para os
meus seios, distraído. Eu reviro os olhos e fecho a cara, e então ele
volta a me olhar nos olhos.

— Sei que seus medos têm fundamentos. Realmente é assustador


entregar nossa filha a um homem de outro clã. Mas lembre-se que
ela terá que ir embora de qualquer jeito, ela só escolheu um homem
de um território diferente. A escolha de com quem se casar deve ser
dela, nós só devemos nos certificar de que o noivo vai tratá-la bem.
Nós já sabemos sobre ele, e Jade se sente bem ao lado de Emir.
Não há justificativa para impedi-la de se casar.

Há dor nos olhos de Tariq, e ele parece quase vulnerável.


— Eu sei, eu sei... Eu só... Eu não sei o que pensar. Ver minha filha
pertencendo a um homem, indo para longe de mim... Esse sempre
foi meu maior pesadelo.

Eu sorrio, melancólica.

— Eu sei, meu amor. Eu também estou triste. Mas a vida é assim, os


filhos crescem, vão embora e formam sua própria família. Esse é o
ciclo da vida.

Ele acena com a cabeça, amargurado, e então solta o ar pela


boca, rendido.

— Você está certa, Habibti. Não posso ficar adiando o inevitável por
muito tempo. Minha menina já é uma mulher e ela quer se casar.
Emir não é o homem que eu queria para ela, mas ela o ama, ele tem
muitas virtudes, então... Então não há motivos para impedi-la de se
casar com ele. Eu vou conceder a minha bênção. Sangrando por
dentro, obviamente, mas vou. Contudo, estarei o resto da minha vida
de olho nele, pode apostar.

Eu sinto as lágrimas acumularem em meus olhos e uma tristeza me


cercar. É difícil para mim também deixar minha única filha ir embora.
Eu coloco uma mão no rosto de Tariq e sorrio, orgulhosa.

— Estou orgulhosa de você, Tariq. É dolorosa essa decisão, mas


necessária. Quem ama, deixa ir. E é o que estamos fazendo. Tenho
certeza de que iremos ficar aliviados quando a vermos casada e
feliz.

Ele balança a cabeça.

— É o que eu espero. Mas antes eu o quero aqui, frente a frente


comigo. Emir terá que jurar fidelidade a Jade. Ele terá que me
prometer que irá cuidá-la como se ela fosse sua vida. Ou então ele
não a terá.

— Claro, você está certo ao fazer isso.

Tariq fica ereto e muito sério.

— Pois bem, se ele quer minha filha, ele terá que vir aqui no dia que
eu marcar e me provar que será o marido que ela merece.

Eu sorrio, feliz, e o abraço.

— Obrigada, Tariq. Eu te amo.

Ele me aperta, possessivo.

— Eu te amo mais, Habibti.

Ele, como sempre, logo tira proveito do nosso contato para


começar a me tocar, me atiçando. Eu suspiro quando sua mão firme
e decidida aperta minha bunda.

— Quero você novamente, Habibti. Desta vez te quero em cima,


quero seus seios em minha boca enquanto eu entro profundamente
em você.

Eu gemo com o pensamento.

Capítulo 16
Emir Yassin

Jade está dormindo profundamente no sofá com a boca


entreaberta. Ela está numa posição estranha, com uma perna no
sofá e a outra quase encostando no piso. Seus cabelos estão
emaranhados, e vejo uma pipoca no meio dos fios. Ela não é muito
forte para aguentar um filme de duas horas sem dormir, pude notar
isso hoje. Ela escolheu um filme de terror, mas não prestou atenção
em quase nada e, antes da metade, já estava no terceiro sono. Eu
passei uns bons minutos apenas a observando dormir. Ela é tão
delicada quando está desacordada, até mesmo com pipoca no
cabelo e numa posição desconfortável. A verdade é que Jade é
incrivelmente linda, ela nunca está feia, mesmo quando deveria estar.
Nunca, em toda minha vida, vi uma mulher mais bonita.

Jade chama a atenção de qualquer homem, sua beleza é diferente.


Seu rosto é exótico e incrivelmente lindo. Jade parece árabe, mas ao
mesmo tempo não, tem um nariz fino e pequeno, traços finos e
marcados, típico das mulheres árabes. Mas seus olhos grandes e
verdes e sua boca vermelha e cheia são diferentes e denunciam seu
lado ocidental. No seu caso, o lado brasileiro. Também é possível
notar traços diferentes em seu corpo. Ela é relativamente alta, mas
tem mais bunda que o comum e quadris um pouco mais largos. A
mistura em seu sangue a deixou irresistível, o sonho de qualquer
homem. Eu me lembro de quando ela era mais jovem, vários homens
ricos e influentes pediram sua mão para Tariq, inclusive um amigo do
meu irmão. Mas Tariq nunca aceitou, sempre foi frio com os
pretendentes, deixando claro que ela não estava disponível. E então
ela me disse que estava apaixonada por mim. Fiquei perplexo. Eu
seria o último homem que seu pai aprovaria.

Mas ela era insistente, e eu passei a observar demais a sua beleza,


a sua gentileza e delicadeza. Fiquei louco, me apaixonei, para meu
desespero. Jade não era para mim, ela era perfeita demais para um
homem como eu. Jade era doce demais, intocável. Jamais poderia
tê-la, e seu pai jamais a entregaria a mim. Mas, mesmo assim, Jade
continuou se aproximando da fera, alheia ao perigo. Se aproximou
tanto, que eu perdi o controle de mim mesmo a ponto de eu não me
importar mais com seu pai ou com sua inocência. Eu a queria para
mim, fiquei obcecado. Foi então que a pedi em casamento, com a
promessa de que em seis meses o noivado seria oficial.

Mas nesse meio tempo a minha consciência pesou. Eu não poderia


condená-la a uma vida comigo. Eu era um Yassin, vinha de uma
geração obscura, era um homem que praticamente matou a mãe. Eu
era o oposto da mulher doce, de família tradicional e unida. Comecei
a refletir sobre o que aconteceria com ela depois do casamento. E
se ela se arrependesse, se ficasse horrorizada com minha vida, se
passasse a me odiar? Isso poderia acontecer. A paixão passa, mas
nem sempre o amor continua. E amar um homem tão diferente dela
poderia ser demais para Jade. Ela poderia se arrepender e então
teria que conviver o resto da vida com um homem que ela não
suporta, sem poder se separar. Ela teria que ser minha amante,
esposa e mãe dos meus filhos mesmo sentindo asco.

Esse pensamento me assustou. Eu a queria, mas não assim, não


para ela se arrepender depois. Eu a queria como esposa de
verdade, esposa que não se assustaria com meu passado, presente
e nem com minhas atitudes brutas. Isso porque ela me aceitaria da
forma que sou: defeituoso e não muito gentil. Eu queria esse tipo de
esposa, mas estava convencido de que Jade não seria capaz de
conviver comigo, então tomei a difícil decisão de voltar atrás,
cancelar o noivado e deixá-la seguir com sua vida, talvez até
encontrar um pretendente mais normal. Foram meses difíceis, tive
que me convencer de que seria o melhor para ela, quando na
verdade tudo o que eu queria era colocá-la contra a parede e beijá-
la, tocá-la até ela esquecer seu nome. Difícil ou não, eu tomei minha
decisão e estava prestes a contatar Jade para lhe dizer que não
haveria mais nós dois, que ela teria que me esquecer.
Mas Jade é teimosa e impaciente e simplesmente apareceu em
meu escritório sem me avisar. Ela estava com muita raiva naquele
dia, eu podia ver o ressentimento nos seus olhos, ela se sentia traída
e queria satisfações. Porra, aquele olhar machucado e inocente me
tirou o fôlego. Eu me senti um monstro, parecido com o meu pai. E
então, conforme ela gritava comigo e me acusava, o tempo que eu
passei para me convencer a deixá-la ir foi irrelevante, eu não poderia
deixá-la, não porque ela não seria capaz de superar... Não. Eu sei
que ela seria capaz. E sim porque eu não seria capaz, eu a queria
desesperadamente. Jade é a única mulher que eu já quis. Então
decidi mantê-la comigo, testá-la. Precisava saber se ela realmente
poderia viver uma vida com um homem como eu.

No início, achei que eu seria demais para suportar, ela não estava
lidando bem, então resolvi ser direto e finalmente contar o lado
obscuro da minha vida que ela precisava saber. Eu estava cansado
dos joguinhos, das mentiras, precisava saber se ela realmente fora
feita para mim. E descobri que ela foi, então fui o bastardo que sou e
a declarei como minha. Jade é minha. E seu pai me ligou hoje à
noite, exigindo a minha ida à sua casa. Segundo ele, ele precisa "se
assegurar da segurança e bem-estar da minha filha" e minha ida lá é
"absolutamente necessária". Obviamente que seu tom de voz estava
bem longe do educado. Eu podia sentir seus dentes rangendo
enquanto ele se forçava a dizer essas palavras, quando na verdade
ele queria me decapitar. Eu tive que me esforçar para não rir, sei que
algo assim poderia ser o último gatilho para ele realmente tentar algo
contra o noivado.

Então eu, bastante desconfiado, disse que não era tolo e só iria
com uma equipe de segurança muito bem equipada. Ele riu e
aceitou. "Eu quero você aqui às 8h, Yassin, nem um minuto a mais".
Foi sua última declaração, o homem realmente se acha o ditador. Em
qualquer outra situação, o mandaria se ferrar. Mas esta não é
qualquer situação, se trata de Jade. Por mim, o sheik ditador ficaria
sem a filha e morreria com seu orgulho. Mas Jade ama o pai, ela
quer o homem no casamento, e eu não sei dizer não para ela. Ela
me implorou para ir, então eu tive que aceitar o "pedido" do sheik.
Obviamente, ela também está preocupada com esse encontro e
disse que iria comigo, mas ela não pode. Tariq foi claro ao dizer que
não quer Jade entre nós dois amanhã. Mas nem se ele implorasse
para levá-la eu faria isso. Ele é traiçoeiro, pode ser uma armação
para pegá-la e prendê-la. Jade ficará aqui, em minha casa, ela só
não sabe disso ainda.

Ela disse que seu pai não vai fazer isso, que realmente quer entrar
em acordo e que ela ficará segura na casa do irmão e cunhada. Mas
eu não irei arriscar. Jade ficará aqui até que eu comprove que seu
pai não está armando algo para tirá-la de mim. Talvez ele esteja
tentando trazê-la de volta ao seu território, assim ficará praticamente
impossível tirá-la de lá. Não posso arriscar. Esse sheik não vai tirá-la
de mim, porra. Jade é minha. Depois de observá-la dormir por mais
alguns segundos, decido que ela precisa ir para a cama, o sofá não
é tão espaçoso. Mas não quero acordá-la, então irei levá-la no colo.
Sendo o mais gentil e silencioso possível, coloco meus dois braços
debaixo do seu corpo esguio e a levanto. Acomodo Jade
rapidamente e começo a andar pela casa com ela em meus braços.

Ela mexeu um pouco, mas não acordou. Já no meu quarto, eu a


deposito em minha cama, lentamente. Jade faz uma careta, mas
novamente não acorda. Pego o cobertor branco e a cubro. Ela quase
parece uma menininha agora, com o cabelo bagunçado, a boca
entreaberta e toda enrolada num cobertor. É uma cena bonita. Não
estou com sono, quase nunca estou, porém sempre me forço a
dormir um pouco. Nunca durmo mais que seis horas, e o mais
comum é que eu durma ainda menos. Esse fato nunca me prejudicou,
no entanto, sou assim desde que me lembro. Amanhã não irei para a
empresa na parte da manhã, irei ver Tariq. Eu acredito que este
encontro será bom, direi cara a cara que sua filha não o pertence
mais. Obviamente, não serei tão bruto como gostaria, não quero
complicar ainda mais a situação de Jade com o pai. Mas se ele
complicar as coisas, não serei tão gentil.
Cogito a ideia de dormir em um dos quartos de hóspedes, mas a
ideia de dormir com Jade do meu lado é tentadora demais, e eu
acabo por decidir ficar aqui mesmo. Ela nem mesmo notará que
estou com ela, pois irei embora antes que acorde. Eu acordo muito
cedo. Não acho que ela iria ficar irritada se soubesse que eu dormi
com ela, no entanto. Eu sorrio com esse pensamento. Jade gosta de
contato físico. Mas a questão é que o que irei fazer não é certo,
portanto é melhor que nem ela saiba. Silenciosamente, tiro minha
roupa, ficando apenas com a minha cueca Boxer branca. Deito ao
seu lado e admiro o rosto bonito de Jade por alguns minutos até que
eu finalmente caio no sono.

Quando acordo, o sol está começando a aparecer. Jade ainda está


dormindo profundamente, para o meu alívio. Me levanto sem fazer
barulho, vou até o meu closet e escolho algumas peças rapidamente.
Pego as roupas que deixei no chão ontem e as coloco em um canto
do closet. Joana irá encontrá-las e lavá-las. Me aproximo de Jade e
deposito um casto beijo em sua testa. Em seguida, saio do quarto,
ainda com a Boxer e as roupas limpas em minha mão. Vou tomar
banho em um dos quartos de hóspedes, não quero arriscar acordá-
la.

Já arrumado, encontro com Joana na cozinha. Ela me dá um "bom


dia" e diz qual é o café da manhã de hoje.

— Eu não vou ter muito tempo para o desjejum hoje, Joana. Vou
comer apenas as frutas. Mas tenho certeza de que Jade irá apreciar
a comida quando acordar.

Ela acena e sorri.

— A senhorita Hamir ficará em casa hoje?

Eu aceno enquanto mastigo uma fatia de maçã-verde.


— Sim. Inclusive, sobre isso, avise-a que ela não poderá sair hoje,
para lugar nenhum. Ela saberá o motivo. A equipe de segurança da
casa já está sabendo, então é melhor ela arranjar algo para fazer em
casa hoje.

Joana me olha preocupada.

— Mas e se ela quiser sair? Não posso impedi-la, sheik.

— Não irá precisar, a equipe de segurança irá fazer isso. Mas não
se preocupe, não acho que Jade terá problemas com um dia de
confinamento, ela é acostumada a ficar em casa. Além disso, ela
saberá o motivo.

Joana acena, ainda preocupada. Eu termino de comer a maçã e


alguns mirtilos e me levanto. Pego minhas chaves no balcão da
cozinha e me despeço de Joana. Já no subsolo, Matias está me
esperando.

— Tudo certo com a equipe, Matias?

Ele acena.

— Sim, sheik, a equipe está pronta e boa parte já se encontra em


Fujairah, a outra estará indo com o helicóptero da segurança, quase
ao mesmo tempo que o senhor.

— Ótimo.

Matias abre a porta do passageiro da BMW preta, e eu entro.

∆∆∆
Meu helicóptero pousa em uma área cedida para a minha equipe e
logo vejo outro helicóptero e quatro carros, todos da equipe. Eu
novamente entro em outro carro, e Matias dirige, os outros carros
estão nos seguindo a alguns metros. Demora pouco mais de dez
minutos para chegarmos ao castelo Jasmim. Uma segurança
especializada protege o lugar. Quando chegamos, os grandes
portões são abertos e nós entramos. Minha equipe estaciona os
carros e logo em seguida estamos entrando no lugar. Vários homens
me acompanham, e alguns permanecem nos carros. Odeio andar
com a equipe tão próxima, mas com Tariq não posso me arriscar. O
homem é sanguinário e não gosta de mim, para dizer o mínimo,
então não é como se eu pudesse entrar no território do inimigo sem
o mínimo de proteção. Na entrada do castelo, Tariq me recepciona.
Ele está vestido tradicionalmente, e sua postura altiva e orgulhosa
quase me faz revirar os olhos. Quando estou próximo o suficiente,
ele me cumprimenta com um aperto de mão e um "Salaam Aleikum".
Em seguida, seus olhos observadores me analisam severamente.
Seu rosto se contrai em raiva por breves segundos, mas ele se
esforça para permanecer neutro. Ele me convida para entrar, e eu o
acompanho. Em certo ponto, ele aponta para uma grande porta com
adornos dourados e fala:

— Este é o meu escritório. Quero que nossa conversa seja privada.


Você pode dispensar sua equipe, dou-te minha palavra que não vou
pegar a minha Glock e testá-la em você.

Eu rio da sua piada.

— Bem, você pode até tentar, mas antes terá que avisar. Gosto de
uma batalha justa. Não trouxe minha Glock, mas creio que a HK pode
dar conta.

Tariq sorri, claramente apreciando o assunto sádico. Eu olho para


Matias e falo:

— Fiquem do lado de fora.


Matias não gosta da ordem, mas acena e se afasta. Eu entro no
escritório luxuoso do sheik e ele fecha a porta. Ele aponta para sua
mesa, então caminhamos juntos até ela. Tariq senta atrás, em sua
cadeira de couro, e eu fico à sua frente. Ele me encara por alguns
segundos e diz:

— Você quer tirar a minha filha de mim.

Eu sorrio.

— Eu quero — digo. — Mas não me leve a mal, não é nada pessoal,


eu só a quero para mim.

Tariq me olha sério.

— Eu não vou com a sua cara, Yassin, nunca fui, na verdade. Você
vem de uma família tóxica. Não vejo como você seria a melhor opção
para Jade.

— A família não define uma pessoa, Hamir. Sou a melhor opção para
Jade porque sou o homem que ela ama, isso já é suficiente. Além
disso, ela já viu com seus próprios olhos que eu posso ser muito bom
para ela.

Ele fica tenso.

— Espero que esteja mantendo suas mãos para você, Yassin.

— Não se preocupe, eu não cruzo a linha.

Ele fecha a cara.

— Eu não acredito, porém sei que Jade não cruzaria.


Eu me mantenho impassível, mas por dentro estou sorrindo com a
ironia.

— Por mim, você nunca mais chegaria perto da minha filha, muito
menos a teria em sua casa novamente. Mas ela praticamente me
implorou para que eu te desse uma chance. Eu tinha em mente um
marido totalmente diferente de você, um que eu escolhesse. Mas
Jade se apaixonou por você quando era muito nova e nunca deu
chance para ninguém mais. Eu tenho impedido esse relacionamento
até agora, mas não vou impedir mais. Jade é adulta, logo terá vinte e
oito anos, quero que ela seja feliz. No entanto, preciso me certificar
de que você é digno dela, Yassin, mas essa é uma tarefa
complicada.

Eu o encaro, surpreso com a facilidade que ele aceitou a escolha


de Jade. Estava esperando uma disputa armada, não uma conversa
civilizada.

— Eu entendo, sei que é difícil entregar uma filha a um homem


desconhecido e ainda por cima de péssima reputação. Mas acredito
que não há nada a fazer a não ser confiar e esperar o tempo dizer.

Tariq nega com a cabeça e me encara, o semblante sério.

— Diga-me, Yassin, você é um homem de palavra?

— Sim.

Ele então abre uma gaveta de sua mesa e me mostra um canivete


com a empunhadura banhada a ouro. Há as iniciais de seu nome em
alto relevo.

— Então você vai me fazer um juramento de sangue. Você vai jurar


pela sua vida que vai protegê-la, honrá-la e amá-la. Se não o fizer,
mandarei meu exército buscá-la em sua casa, e você jamais a verá,
Yassin. Jade terá que se casar com outro, pois não permitirei você
tê-la. Você não será digno. Com os Hamir funciona assim.

Eu estico meu braço sobre a mesa de madeira e abro minha mão


com a palma para cima.

— Vá em frente.

Tariq me olha, mas ao invés de me cortar, ele corta sua própria


mão, superficialmente. O sangue escorre rapidamente e mancha a
mesa. Ele me encara e diz:

— Sua vez.

Ao invés de fazer um corte superficial como ele fez em sua própria


mão, Tariq faz um corte profundo, e eu não consigo evitar de soltar
um rosnado de dor. O sangue escorre em abundância e suja a
manga da minha camisa, a mesa e até mesmo escorre para o chão.

— Você terá uma bela cicatriz para lembrá-lo todos os dias da sua
promessa, Yassin. Eu morrerei, mas a cicatriz irá continuar.

Eu sorrio.

— Você é um cara inteligente, Hamir.

Ele não responde.

— Jure.

Eu o encaro e digo as palavras olhando em seus olhos:

— Eu juro pela minha vida que irei proteger, honrar e amar Jade, sua
filha, com a minha vida.
Tariq aperta a minha mão na sua fortemente e nossos sangues se
unem numa bagunça vermelha escarlate. O aperto faz o meu corte
doer ainda mais, e eu rosno de dor. O cheiro de ferro enche o ar, e
Tariq tira sua mão da minha. Ele tira dois panos brancos e limpos da
gaveta e me entrega um para estancar o sangue.

— Claramente você tinha tudo planejado, sogro.

Ele sorri de canto.

— Agora a família poderá planejar o casamento. Eu irei oficializar o


noivado com o meu conselho esta semana, você pode fazer o
mesmo com o seu.

Eu aceno.

— Quando você planeja se casar, Yassin?

— O quanto antes.

Ele franze a testa.

— Você é um bastardo ansioso.

Eu rio enquanto aperto o pano ensanguentado.

— Você não pode me culpar, Hamir. Você e Ester fizeram um belo


trabalho quando criaram Jade.

Tariq ri e diz, orgulhoso:

— Nós fizemos.
Capítulo 17

Jade Hamir

Quando acordei, fui surpreendida ao ver que estava no quarto de


Emir. Na cama dele! Na hora meu coração disparou, eu não me
lembrava de ter ido dormir lá. Fiquei com medo de ter feito coisas
que não devia. Mas logo a minha memória deu sinal de vida, e eu me
lembrei que dormi no sofá enquanto a gente assistia um filme. Emir
com certeza me levou para o quarto dele, e a ideia de ser carregada
por ele me trouxe arrepios gostosos. A cada dia fico mais
apaixonada. Acho difícil não me apaixonar, na verdade. Emir é
incrivelmente lindo e tem um corpo que me faz sentir muitas coisas
pecaminosas. Uma coisa que amo nele é que ele sempre me traz
segurança. Emir é extremamente confiante em si mesmo e sempre
deixa claro que estarei segura ao seu lado.

Ultimamente ele tem ficado muito possessivo e frequentemente diz


que pertenço a ele. Eu deveria ficar assustada com essas
declarações, até porque ele não as diz brincando, não, ele diz muito
seriamente, praticamente rosna coisas assim em meu ouvido. Mas a
verdade é que eu amo suas declarações possessivas, elas me
excitam bastante. Eu sei, é errado. Não sou casada. Mas o que eu
posso fazer? Não sou de ferro, é praticamente impossível escutar
Emir sussurrando sacanagens em meu ouvido sem se arrepiar até o
último cabelo do corpo.
Enfim, Emir é gostoso. Mas também é um maldito controlador. Eu
acordei, e Emir já tinha ido embora. Mas eu sabia da conversa que
ele teve com meu pai ontem. Ele não foi para a empresa, ele foi se
encontrar com meu pai em Fujairah. Emir foi para Fujairah discutir a
minha vida com o meu pai e não me levou. Eu fiquei muito nervosa
com a ousadia dele. Na hora resolvi me arrumar e pegar algum voo
para ir até lá. Foi aí que fiquei mortificada ao ser barrada por uma
equipe de segurança enorme de Emir. Eles não me deixaram sair da
casa, alegando que tinha sido ordens do sheik. Por Alá, fiquei
enfurecida. Ele não tem o direito de me prender na sua casa como
se eu fosse propriedade dele! Fiquei com tanto ódio que entrei
novamente na casa gritando de raiva.

Joana, coitada, não sabia o que fazer e ficava o tempo todo se


desculpando. Eu tentei livrá-la da culpa dizendo que Emir era o
culpado, mas mesmo assim ela estava envergonhada, então fui para
o quarto do homem causador do problema para resmungar e tentar
entrar em contato com ele através de um telefonema. Como eu
esperava, a ligação foi para a caixa postal. A minha raiva era grande,
eu estava preocupada. Sabia muito bem quem era meu pai, ele é um
homem muito sagaz. Mas também estava apreensiva em relação a
Emir, ele tende a agir e pensar depois, ele é um homem sanguinário
e se irrita fácil. Centenas de pensamentos ruins passaram pela minha
cabeça, e eu quase tive um ataque de pânico. Imagine só, dois
sheiks que não se gostam nem um pouco discutindo sobre o meu
destino. Destino este que eu nunca tive o controle.

A regra é clara: um homem sempre será responsável por uma


mulher. Meu pai é responsável por mim, ele tem o controle sobre
minha vida. Se eu for esposa de Emir, o controle passará para ele.
Tendo um pai possessivo como o meu, fica difícil conseguir me
casar, Tariq não gosta de perder o controle, principalmente o de sua
família. Portanto, casamento é praticamente um tabu quando se diz
respeito a mim. Isso porque eu sou mulher, e as regras para mim
são mais cruéis onde eu vivo. É claro que meu pai fica apreensivo
com a ideia de eu me casar, ele é meu pai e teme por mim. Uma vez
casada, ele não poderá interferir muito na minha vida, principalmente
se Emir for meu marido. Ele é de outro Emirado, é de outro povo, ele
é um líder. Se ele for ruim, estarei perdida. O temor do meu pai faz
todo sentido. Mas eu ficarei bem.

Apesar dos defeitos de Emir, ele é um homem com "H" maiúsculo.


Me sinto protegida ao lado dele, e ele jamais me machucaria. Ele é
por vezes ignorante e prepotente, um macho alfa que não aceita
perder o controle. Exemplo disso é como eu estou agora: presa na
casa dele. Ele ficou com receio de meu pai tentar me pegar à força,
então rodeou a casa de seguranças bem-armados e me impediu de
sair do lugar. Ele gosta de estar no controle. Reviro meus olhos e rio
de nervoso. Ele não é muito diferente do meu pai.

Depois de ter tentado entrar em contato com ele várias vezes,


desisti e fui dormir novamente. Estava muito ansiosa, então o melhor
seria me desligar por algum tempo da situação complicada que eu
estava. Tinha pretensão de dormir no máximo duas horas, mas
acabei dormindo bem mais do que isso. Acordei assustada quando
senti um toque quente no meu ombro exposto. Eu solto um gritinho
quando sinto um hálito quente no meu ouvido. Me sento rapidamente,
com o coração disparado. Olho rapidamente ao redor do quarto,
mas está tudo escuro. Uma mão pega minha cintura com força e me
leva para mais perto do dono. A realidade finalmente me invade, e a
raiva toma lugar. Mesmo não o vendo, eu falo, com voz gélida:

— Você foi sem mim e ainda me prendeu aqui.

— Eu sinto muito, Habibti, mas eu não podia te levar. O seu pai é um


homem perigoso, ele poderia tentar te tirar de mim.

Ele claramente não sente muito, e suas palavras não me


convencem. Eu consigo sair do seu domínio por alguns segundos
para bater palmas a fim das lâmpadas acenderem. Quando o
ambiente está claro, eu me viro, ainda sentada, e o encaro. Emir
está totalmente desalinhado. Seu cabelo escuro e liso está
bagunçado, sua camisa social preta está com os três primeiros
botões abertos, e eu posso ver os pelos do seu peito moreno. Sua
calça está sem o cinto e desabotoada, dando-me uma visão do
elástico da sua cueca Boxer. Eu coro com a cena, é íntimo demais.
Me obrigo a olhar nos olhos dele e dizer:

— Você não tem direito de me prender na sua casa contra a minha


vontade, Emir.

Ele arqueia suas grossas e sobrancelhas escuras, me encarando


com cuidado. Seus olhos escuros são irônicos e me enchem de
raiva. Ele me surpreende quando diz, confiante e autoritário:

— Claro que posso. Você é minha. Eu posso fazer o que eu achar


melhor para você e quando eu quiser.

Sinto minha pele esquentar com sua ousadia.

— Quem você acha que é para dizer algo assim?! Eu não sou sua
propriedade, Emir!

Ele ri e me olha, claramente divertido.

— Não, você não é minha propriedade, Habibti. Você é minha noiva.

Eu na hora fico gelada e o encaro com confusão. Fico calada por


vários segundos, apenas o encarando. Ele retribui o olhar de forma
séria. Pisco os olhos algumas vezes e questiono, gaguejando:

— M-meu pai...?

Ele me interrompe.

— Sim.
Eu arregalo os olhos, incrédula.

— Não acredito!

Ele franze a testa.

— Não acredita que será minha? Achei que já tivesse certeza disso
antes.

Eu reviro os olhos.

— O que ele disse?

— Muitas coisas.

Eu franzo o cenho.

— Não vai me dizer?

— Não. Falamos coisas de homens, você não tem que saber.

Eu quase fico com raiva, mas me contenho.

— Então... Ele está bem sobre o casamento?

Emir sorri de canto.

— Ele disse para você escolher a data, mas que seja o mais rápido
possível. Seu pai teme por sua reputação.

Eu solto um gritinho animado e me jogo em Emir. Ele me abraça e


beija meu pescoço. Eu me afasto e o encaro nos olhos:

— Eu não consigo acreditar que meu pai te aprovou.

Ele faz uma quase-careta.


— Aprovar não é bem a palavra, Jade. Acho que ele só aceitou,
aceitou sua escolha.

Eu aceno, ainda sorrindo e com o coração batendo a mil por hora.


Ele toca meu rosto com reverência, traçando as linhas dos meus
olhos, nariz e boca, parando mais tempo nos meus lábios. Emir
pressiona o seu polegar no meu lábio inferior, de modo que meus
dentes apareçam. Seu olhar fica vidrado, e ele logo está me beijando
sem nenhuma gentileza, me tirando o fôlego e fazendo gemer em sua
boca dominante e quente. Ele rosna e aprofunda ainda mais o beijo.
Uma de suas mãos segura a minha nuca e cabelo com força, e a
outra logo encontra os meus seios nus debaixo da camisola. Eu
gemo quando ele belisca gentilmente os mamilos. Choques de prazer
vão direto para a minha virilha, e eu suspiro na boca dele. Seu aperto
fica mais forte na minha nuca, e ele passa a praticamente me engolir.
Sua mão fica mais exigente e passa a explorar o meu corpo,
chegando até a minha intimidade coberta pela minha calcinha
rendada. Ele hesita por um momento, mas o seu desejo é maior, e
sua mão logo está dentro do tecido. Ele não demora para achar o
meu clitóris. Ele me belisca lá, e eu tenho uma onde de prazer que
me faz gemer. Ele abandona minha boca e me olha com as pupilas
dilatadas. Me encarando, ele novamente belisca a minha carne, e eu
abro a boca em prazer, ainda o olhando.

— Você me pertence, Jade. Seu corpo me pertence. Você é


completamente minha e logo será minha esposa, somente minha
para eu fazer o que eu quiser com você e com o seu corpo.

A forma como ele diz isso me traz arrepios de medo e excitação.


Mas ele não me deixa pensar muito, pois seus dedos logo continuam
a me explorar. Ainda sentada, olho para baixo e vejo sua mão dentro
da minha calcinha azul-clara. Fico mortificada quando sinto seus
dedos afastarem meus lábios vaginais e um outro se aproximar da
minha abertura.
— Olhe para mim — ele ordena. E eu o faço.

De repente, um de seus dedos começa a forçar a entrada para


dentro de mim.

— Tão apertada... Inferno! — ele rosna, a sua voz repleta de luxúria.

Nós estamos nos encarando, olho no olho, ambos ofegantes.

— Está sentido? — Ele pergunta, se referindo ao seu dedo entrando


cada vez mais na minha entrada molhada.

Eu aceno, incapaz de falar.

— Você só tem metade do meu dedo dentro de você. Sua vagina é


muito apertada, e eu não vou te dar mais. Em breve você terá o meu
pênis completamente dentro de você, te enchendo até você perder
os sentidos.

Eu arregalo os olhos e suspiro, escutando-o.

— Você vai gritar meu nome quando eu te reivindicar e nunca mais


ficará um dia sem me levar para dentro de você.

Suas palavras me deixam mortificada, mas o seu dedo em parte


dentro de mim, me estimulando, me deixa muito excitada.

— Você vai me deixar entrar todos os dia em você, meu amor?

Eu coro, mas aceno. Emir sorri, maléfico.

— Eu acho bom mesmo. Uma vez dentro de você, estarei viciado e


não sei se poderei me controlar mais. Tenho certeza de que irei te
querer a todo instante, em qualquer lugar.
Eu gemo de decepção quando ele retira o seu dedo de dentro de
mim.

— Em breve você terá mais, Habibti. Você terá tanto, que estará
implorando por um descanso.

Eu coro com suas palavras.

— Quero fazer muitos bebês em você, é bom você já estar ciente


disso.

Eu franzo a testa em confusão. É a primeira vez que ele toca nesse


assunto, eu nem sabia que ele se interessava em crianças.

— Hum... Não sabia que você queria bebês.

— Eu quero — ele diz, firmemente. — Quero tudo que vem de você.


E colocar meus filhos em você e vê-los crescerem em seu útero com
certeza é algo que desejo.

Ele nota a minha vergonha e ri, apreciando minha reação.

— Não fique com vergonha, Habibti. Em breve serei seu marido.


Você não deve ter vergonha de nada que seu marido falar ou fazer
com você. Como minha mulher, deverá ser natural para você
pertencer completamente a mim, seu marido. Entendido?

Eu aceno.

— Vamos, você precisa se levantar e comer alguma coisa. Joana me


disse que você não almoçou.

Eu concordo com a cabeça.

— Eu acabei dormindo mais do que gostaria. Que horas são?


— Quase três da tarde.

Eu suspiro.

— Nossa, dormi realmente demais.

Ele segura meu queixo e me beija rapidamente. Quando se afasta,


seus olhos estão sérios.

— Você não precisa se preocupar com o quanto você dormiu. Pode


dormir quando quiser.

— Hum, obrigada. Mas realmente não gosto de dormir demais, gosto


de fazer algumas coisas úteis. Aliás, tenho um projeto de decoração
para entregar a um cliente.

Ele fica mortalmente sério.

— Você trabalha?

Eu fico confusa com o tom de voz áspero de Emir.

— Sim, eu sou arquiteta. Trabalho às vezes, mas não tanto quanto


gostaria.

Ele fica tenso.

— Seu pai sabe disso?

— Em parte. Meu pai sabe que eu gostaria de trabalhar, mas não


tem ideia de que faço isso online.

— Você não precisa trabalhar, Jade.

Eu arqueio minhas sobrancelhas e o encaro.


— Eu sei, mas não se trata disso. Eu gosto de gastar meu tempo
com algo útil.

— Bem, fique tranquila. Quando for minha esposa, sempre terá algo
útil para fazer, e não será trabalhar.

Eu suspiro, chateada.

— Emir... Eu gosto do meu trabalho.

Seus olhos estão duros e sérios.

— Gostará mais de ser minha esposa e mãe dos meus filhos.

— Achei que você fosse moderno e não se importasse com mulher


trabalhando.

— Quando a mulher realmente precisa, porque a família necessita de


ajuda ou quando o marido não ganha o suficiente, eu não me
importo. Mas não é o seu caso. Você tem tudo, além disso, é filha de
um sheik e será esposa de outro sheik. Seu tempo deverá ser gasto
comigo e com a família que construiremos.

Ele segura meu rosto novamente e me encara, agora com o


semblante mais suave.

— Quero o seu tempo inteiro para mim, entendido?

Eu não respondo. Ele então chupa um canto sensível do meu


pescoço, e eu gemo em apreciação.

— Entendido?

Eu balanço a cabeça.

— Sim.
— Ótimo.

Ele então me beija, me dominando aos poucos, me deixando mole e


ansiosa por mais. Eu até me esqueço do que estávamos falando…

Capítulo 18

Jade Hamir

O grande dia chegou. Depois daquele dia que Emir me disse que
meu pai tinha finalmente aceitado nossa união, meu pai entrou em
contato comigo e me pediu para visitá-lo. Em seu escritório, ele me
fez várias perguntas, ele queria saber se eu realmente queria aquilo.
"Uma vez casada com ele, você dificilmente conseguirá se separar,
Jade", ele disse. Ele parecia preocupado e muito triste, meu pai com
certeza não estava feliz em casar a filha dele. Eu fiz o que pude para
convencê-lo de que era realmente aquilo que eu queria, que eu
amava Emir. Ele então concordou e disse que o casamento teria que
acontecer rápido, pois o meu nome já estava sendo discutido de
forma negativa. Já havia péssimas especulações acerca do meu
envolvimento com Emir. Quando ele sugeriu que o casamento
acontecesse em três semanas, eu me assustei. Seria rápido demais.
Mas eu entendi que realmente a situação estava séria, então eu
concordei. Meu pai teve que marcar uma reunião com o conselho
para anunciar minha união com Emir. Como esperávamos, a
insatisfação foi quase geral. Emir não é querido em nosso meio. Meu
pai foi duro ao dizer que o casamento iria acontecer e que essa seria
a oportunidade para ter o povo de Abu Dhabi como aliado.

Eu não estava na reunião, é claro, mulheres não podem. Mas


Ahmed me explicou o que aconteceu. Falando nele, Ahmed está
muito chateado comigo, ele não aceitou a minha decisão muito bem.
Já Luisa está animadíssima, não para de dizer que Emir é lindíssimo,
o que deixa o marido dela, Ahmed, furioso. Minha mãe está feliz por
mim, apesar de triste por saber que eu irei embora. Eu tenho muita
gratidão por ela. Sem minha mãe, meu pai jamais cederia, e eu teria
que me casar sem o seu consentimento. Minha mãe é um anjo na
minha vida, só ela consegue domar meu pai, ninguém mais.

Emir também teve que avisar o seu conselho de que eu seria sua
esposa. A notícia também não foi muito bem recebida pelos
membros, mas a indignação foi bem menor que do conselho do meu
pai. O que mais me deixa preocupada é o pai de Emir; nunca o vi,
mas já sei que ele é um monstro. Tenho certeza de que ele ficou
furioso com a escolha de Emir, apesar de Emir não ter me falado
sobre isso. A última coisa que Ali iria querer é a filha de seu inimigo
dentro de sua família, a qual ele tem orgulho por ser "pura". Não vejo
nada de puro nas gerações desta família, somente puro ódio.
Percebo que Emir evita ao máximo citar o seu pai comigo, como se
ele fosse órfão. Não posso culpá-lo, se eu tivesse um pai como o
dele, com certeza iria fazer o mesmo. Graças a Alá esse não é o
meu caso. Meu pai foi um excelente pai para mim e meus irmãos.

Se não fosse pela grande influência do meu pai e do meu noivo, não
sei se conseguiria organizar bem meu casamento. Por sorte, dinheiro
é o que não falta em ambas famílias. Apesar de nunca ter me
importado para posses e dinheiro, nesta situação eu encontrei
bastante utilidade neles. Influentes organizadores de festas foram
contratados para organizar meu casamento. A única coisa que tive
que fazer foi explicar com detalhes como eu queria a decoração e
cardápio dos jantares. Ainda bem que não tive que participar de
outros preparativos. Passei as três semanas extremamente nervosa,
dormindo muito pouco por causa de insônia. Eu fui proibida de ver
Emir novamente até o casamento, então isso me afetou. Queria
compartilhar com ele meus sentimentos e saber se ele tinha
sentimentos parecidos. Tive saudade, mas não podia nem mesmo
fazer uma vídeo chamada. Para piorar, tive que fazer um teste de
virgindade, como a minha mãe.

No meu caso, não é porque desconfiavam da minha virgindade.


Tudo se tratava unicamente de um protocolo da família de Emir.
Aparentemente, toda noiva de um Yassin deveria fazer. Então eu tive
que me sujeitar a um exame ginecológico. Minha mãe ficou
horrorizada, não queria que eu fizesse, mas eu não tinha escolha.
Meu pai não se opôs ao pedido do clã de Emir, pois se trata de
tradição. Dificilmente o meu pai vai contra uma tradição, a não ser se
ela colocar a vida de um inocente em perigo. Apesar de
envergonhada, também não me opus ao exame. Eu nasci em meio a
tradições desse tipo, dificilmente fico horrorizada com alguma
tradição. Foi tudo muito simples, uma médica me visitou no castelo
Jasmim e me examinou. Foi tudo bem rápido e privado. Em seguida,
ela enviou um laudo comprobatório para Abu Dhabi. Tenho certeza de
que Emir ficou chateado com minha situação, ele não é muito fã de
tradições desse tipo. Contudo, não havia nada que ele pudesse
fazer. Às vezes as tradições são mais fortes que os sheiks, pois elas
possuem milhares de anos. Enfim, não me deixei abater e continuei
focando no lado positivo: eu finalmente iria me casar! Meu
casamento duraria três dias. Geralmente, os casamentos dos sheiks
duram bem mais, mas eu e Emir achamos melhor assim, não
aguentamos mais esperar.

Papai também achou melhor assim, porque será mais fácil das
pessoas participarem. Afinal, meu casamento será em Abu Dhabi, e
meus convidados são de Fujairah. Eles terão que se deslocar e não
poderão ficar por muito tempo. O povo foi convidado, mas poucos
puderam vir. A maior parte dos convidados será por parte de Emir.
Em cada dia de festa, usarei dois vestidos, menos no terceiro, pois
neste usarei o vestido branco, e só Emir poderá tirá-lo. Hoje, haverá
a troca de alianças. A festa será mais restrita, apenas com o
conselho de cada clã e os familiares. Trata-se do casamento civil.
Algumas questões burocráticas serão discutidas, como meus direitos
como esposa e os direitos de Emir como marido. Eu estou nervosa,
admito. No meu caso, este dia de festa não será tão alegre, pois
tanto eu quanto Emir estamos contrariando muitas pessoas com
esse casamento. Além disso, não poderemos ficar juntos, será
somente a parte bruta mesmo do casamento.

— Pronta, Jade? — pergunta meu pai, encostado na entrada da


porta.

Eu aceno e me aproximo. Meu pai me olha de baixo para cima e


parece aprovar minha aparência. Estou vestindo um vestido longo
verde com muitos bordados a mão em cor dourada. É um vestido
típico árabe, muito bonito e bem-feito. Não estou usando o véu,
nunca tive o costume de usar. Por ser filha de estrangeira, as regras
nunca foram tão rigorosas para mim. No meu cabelo, uso vários
pontos de luz de pedra jade. Meu cabelo está preso em um coque.
Estou usando brincos de ouro de tamanho médio, eles são em
formatos de gotas de esmeralda, presentes do meu pai de
casamento. O meu pescoço e pulsos estão livres de joias, mas por
pouco tempo…

Papai está impecavelmente vestido. Suas roupas são tradicionais,


mas com detalhes que transparecem a importância de quem as
veste. Ele olha para mim da mesma forma que tem me olhado nos
últimos dias: chateado. Ele não está feliz com meu casamento e
nunca se esforçou para esconder isso. Me sinto um pouco culpada
por deixá-lo, mas não é como se eu pudesse agir de forma diferente.
Eu preciso seguir com minha própria vida, mesmo que signifique viver
longe dos meus pais.
— Você ainda pode desistir. Sabe disso, não é? — Tariq me sugere.

Eu sorrio, apesar de, no fundo, estar triste por ele.

— Eu não quero desistir, pai.

Tariq então acena, decepcionado, e oferece o braço para mim. Nós


estamos na casa de Emir, uma que eu nunca tinha visto antes. Essa
casa, que está mais para um castelo, é uma herança de família,
antiga, tipicamente árabe e imponente. Só fui conhecê-la hoje,
primeiro dia do casamento. Como não converso com Emir há
semanas, não pude perguntar sobre esta casa, que é tão diferente
da mansão moderna que ele mora. Quando chegamos na área de
eventos do lugar, logo avisto as pessoas nos esperando ao som de
uma orquestra árabe muito conhecida. Em seguida, meu pai me
deixa em um canto, ao lado da minha mãe e cunhada, e se dirige
para perto dos meus irmãos. Os convidados começam a se
aglomerar em um círculo ao redor deles, e é então que ele aparece:
Emir. Emir atravessa um raio de quatro metros até parar de frente
ao meu pai e irmãos. Como o meu pai é o líder da minha casa e o
mais velho, Emir o pede formalmente a minha mão na presença de
todos. O meu pai aceita e dá sua bênção. Vários gritos de alegria
são feitos, e Ahmed se dirige a mim para me levar até uma mesa
onde está o juiz.

Essa mesa é afastada do resto das pessoas, assim o juiz pode me


fazer perguntas privadas. A única coisa que ele me pergunta, no
entanto, é se eu estou me casando por livre e espontânea vontade.
Depois de eu confirmar, ele começa a listar algumas de minhas
obrigações e direitos como esposa. Quando eu concordo com os
termos, o juiz me pede para assinar o contrato, e eu assino com o
coração disparado. É neste momento que finalmente a ficha cai. Eu
logo sou afastada da mesa, e Emir toma meu lugar. Eu não consigo
escutar nada do que ele respondeu. Assim como todos os homens,
exceto o juiz, Emir está vestido tradicionalmente. Ele é muito alto, e a
túnica o deixa ainda mais alto e imponente. Depois de ter assinado,
eu sou guiada até ele, e esta é a primeira vez que nos olhamos em
muito tempo. O olhar de Emir me causa arrepios de primeira, e o
meu coração dispara. Quando olho nos seus olhos, vejo
possessividade neles e eu coro. O juiz pede para Emir fazer a troca
de alianças, e nós fazemos. Meu anel de noivado, o qual ele me deu
no dia que voltou da conversa com meu pai em Fujairah, é mudado
de dedo. O anel de casamento, de ouro e rodeado por pequenos
diamantes delicados, é colocado em meu dedo anelar. Após isso,
Emir abre um pequeno baú e de lá começa a tirar várias e várias
joias, todas para mim. Ele escolhe um colar de ouro, adornado de
pedras esmeraldas, e o coloca em meu pescoço, antes nu. Depois,
escolhe algumas pulseiras e as encaixa em meus pulsos.

Tudo é parte da tradição. O homem ao se casar precisa dar joias


para a esposa, como uma garantia caso aconteça a morte do marido
ou separação. Depois de mostrar as dezenas de joias para os
convidados, elas são guardadas de volta no baú, exceto as que
estão em mim. É depois disso que finalmente o casamento civil é
oficializado. Vários gritos foram feitos, a orquestra voltou a tocar e a
bebida à base de frutas e flores, sharbat, foi entregue para todos.
Homens e mulheres foram separados, e grupinhos de conversa se
formaram. Novamente, Emir foi separado de mim.

∆∆∆

O segundo dia de festa foi o melhor possível. Tive um dia de


princesa num SPA. Minhas unhas foram feitas, tive banho de sauna e
massagem corporal, tomei banho em óleos perfumados e rosas. Em
seguida, algumas moças do meu povo vieram fazer tatuagens de
henna em meus pés e mãos enquanto meu cabelo e maquiagem
eram feitos. Eu me diverti muito com minha mãe e minha cunhada,
conversamos sobre várias coisas, e elas aproveitaram para me falar
algumas curiosidades sobre vida de casada. Perguntei como era a
primeira vez, mas minha mãe não quis responder. Ela ficou muito
envergonhada e disse que não saberia dizer essas coisas para a
filha. Eu achei engraçado, mas não insisti. Luisa só disse que era
tranquilo, que eu devia relaxar e me divertir. Resolvi me contentar
com sua explicação. Quando chegou a noite, a festa começou. Eu e
Emir fomos prestigiados com dança do ventre e espetáculos em
homenagem aos noivos. Enquanto eu ria como uma boba, Emir não
parava de olhar para mim, com um sorriso de canto e olhar intenso.

Para minha tristeza, logo fomos separados novamente. Homens e


mulheres foram para lugares separados. No canto das mulheres, vi
várias apresentações de dança do ventre e espetáculos com
malabarismo. Tive a oportunidade de conhecer mulheres do povo de
Emir e também de saber como elas vivem por aqui. Comi muito,
principalmente doces. Minha mãe e Luisa gostaram muito da carne
de cordeiro, mas eu preferi alimentos mais leves. Ficamos várias
horas sentadas em tapetes e almofadas, enquanto comíamos e
ríamos, só resolvemos parar porque já era madrugada e teríamos
que nos preparar para outro dia de festa logo cedo.

∆∆∆

Estou sendo carregada em um trono vermelho, assim como Emir.


Os convidados jogam moedas e pétalas de rosas em nós dois. A
música está alta e a alegria parece geral. Apesar das diferenças
entre os convidados, eles parecem tê-las deixado de lado por hoje. A
diversão das pessoas parece estar estampada em suas caras, e eu
não poderia estar mais feliz. Eu e Emir repetimos os votos e fizemos
novamente a troca de alianças com a presença de um líder religioso
que abençoou nosso casamento. Minha mãe chorou durante toda
cerimônia, e meu pai tinha um semblante de que tinha acabado de
sair de um velório. Ahmed ficou sério todo o tempo, ao contrário da
esposa, que sorria animada enquanto segurava a bebê de sete
meses. Samir e Khaled também não estavam muito felizes, mas
tampouco estavam tão chateados como papai. Quando eu finalmente
fui declarada esposa de Emir, pela lei e pela religião, pude sentir o
luto da minha família. Agora me chamo Jade Yassin e sou a esposa
do sheik de Abu Dhabi.

Pude perceber o olhar vulgar e odioso do pai de Emir sobre mim.


Mas estava muito feliz para me preocupar com isso. Emir, por sua
vez, não saiu de perto de mim nenhuma vez hoje e não deixou que
seu pai se aproximasse de mim, o que é um alívio. Depois de vários
minutos suspensa no ar, os homens finalmente nos colocam no chão
para nossa primeira dança de casados.

A música começa a tocar e Emir bate palmas, assim como os


convidados. Enquanto isso, danço na frente de Emir, vestida com um
luxuoso vestido branco, balançando o quadril e a cintura de acordo
com o ritmo da música. Uso os braços para dar mais movimento e
fluidez ao meu corpo. A empolgação das pessoas cresce, e posso
escutar até alguns gritos de incentivo e apreciação. Após algum
tempo, Emir toma o meu lugar, e eu passo a bater palmas, com um
sorriso enorme no rosto. Ele recebe duas espadas de um dos
convidados e começa a movê-las com destreza no ritmo da música.
A forma como seu corpo move com elegância, mesmo com duas
espadas nas mãos, me deixa hipnotizada, e tudo que eu consigo
fazer é sorrir. Após outras danças, nos retiramos para comermos
algo. No entanto, novamente fomos afastados por conhecidos que
queriam nos parabenizar e conversar conosco separadamente. Após
horas de festa, comilança, elogios, música e outras celebrações,
chegou o momento mais tenso do dia: a saída dos noivos para a
noite de núpcias.

De longe, pude ver o meu pai nervoso, praticamente irado, e minha


mãe tentando acalmá-lo. Ahmed e meus irmãos não paravam de
discutir sobre mim entre eles, enquanto Luisa se intrometia às vezes.
A bebê está em um quarto da mansão árabe de Emir, dormindo. De
repente, várias mulheres se aproximam de mim dançando, querendo
que eu as siga. Elas querem me levar para o leito nupcial. Com o
coração disparado, eu as sigo, com um sorriso tenso no rosto e o
coração disparado. Enquanto isso, as pessoas gritam, festejam e
desejam sorte no casamento. Aparentemente, Emir já está lá, só
está faltando eu. Apesar de ansiar por me deitar com Emir, também
estou nervosa e com medo. É muito estressante ter que perder a
sua virgindade sabendo que uma multidão estará festejando até o
final do dia no mesmo lugar que você e esperando a exposição do
lençol de sangue. Há muita pressão no meio disso, é como se minha
privacidade fosse invadida. Para piorar, Emir terá que se reunir com
o conselho logo depois da consumação, aqui mesmo no castelo
árabe. Estou em pânico, quase posso sentir meu coração batendo
em meus ouvidos. As mulheres começam a adentrar na mansão, e
eu as acompanho para encarar o meu destino. Destino este
inevitável.

Capítulo 19

Jade Hamir

Em meio à gritaria das mulheres, sou levada ao quarto nupcial do


castelo, o qual nunca tinha entrado antes. É enorme, elegante e
tradicional. A primeira coisa que me chama atenção no quarto é a
cama dossel grande, com cortinas douradas e coberta por lençóis
brancos e pétalas de rosas vermelhas. O chão do quarto, assim
como grande parte do castelo, é de madeira. Há um magnífico
tapete árabe no centro. Sinto cheiro de jasmim, que é conhecido por
ser afrodisíaco. Esse pensamento me faz corar. Várias velas estão
espalhadas pelo quarto. As luzes estão apagadas, então a única
iluminação vem das velas. As mulheres me dizem algumas palavras
de incentivo e versículos do Alcorão e em seguida me deixam
sozinha. Não, não sozinha.

Emir de repente abre uma porta de conexão e entra no quarto,


quase me matando de susto. Eu não tinha observado a porta, estava
absorvida nos detalhes decorativos do lugar. Mas o que mais me
assusta não é Emir aparecer do nada, e sim como ele está. Emir não
está mais vestindo suas vestes tradicionais feitas sob medida. Ele
está com o peito nu, e usa apenas uma calça branca larga, um
pouco transparente. Ele está calado e me observando ainda distante.
Ficamos parados, apenas nos olhando por um minuto inteiro. A
vergonha está me matando, e eu de repente me sinto tímida. Para
alguém que estava louca para que este dia chegasse, estou agindo
de maneira muito estranha. Mas não é algo que eu possa evitar,
estou envergonhada. Emir sabe da minha vergonha, por isso se
manteve distante até agora. Posso sentir meu coração batendo nos
meus ouvidos de tanto nervoso. De repente, Emir quebra o silêncio
quando ordena, sem sair do lugar:

— Venha até mim, minha esposa.

O adjetivo de posse usado por ele me traz diferentes sentimentos,


e eu sinto minha pele arrepiar.

— Venha, Jade, estou esperando.

Eu abaixo a cabeça, sem querer olhar nos olhos dele, e obedeço.


Quando estou na sua frente, sentindo dificuldade para manter a
minha respiração tranquila, Emir segura meu queixo e levanta o meu
olhar para ele.

— Você está incrivelmente linda, Jade. Você é definitivamente a


mulher mais linda que eu já vi.

Eu sorrio de lado, me sentindo lisonjeada, mas ainda envergonhada.


— Contudo, você está tímida demais para o meu gosto. Por que
está com vergonha agora? Achei que já estivesse familiarizada com
minha presença — Emir diz, buscando a resposta em meus olhos.

— Hum, sinto muito. Não sei o que está acontecendo comigo. Talvez
seja o fato de ter várias pessoas aqui.

Emir enfim entende e acena, um pouco chateado.

— Eu sei. Não deve estar sendo fácil para você ter tanta gente
esperando sua primeira vez a poucos metros deste quarto.

Eu aceno, nervosa. Emir passa seu polegar delicadamente sobre


meus lábios enquanto segura o meu queixo.

— Esqueça-os, Jade, e foque em mim, seu marido. É isso que nós


dois queríamos, não? Pois bem, estamos finalmente onde
desejávamos.

Eu aceno em concordância.

— Eu preferiria que você tivesse sua primeira vez num lugar


afastado, sem ninguém por perto. Porém, ambos sabemos que isso
não é possível, infelizmente. Temos a obrigação de consumar isso
aqui, hoje, com a presença de testemunhas para a comprovação de
que eu fui seu primeiro homem.

— Sim.

Ele então desliza sua mão grande e morena para o meu pescoço,
alisando minha pele exposta. Emir aproxima a cabeça no meu
pescoço e me beija entre os seios, levemente expostos pelo decote
não muito grande. Sinto sua respiração quente na minha pele e
tremo. Ele levanta a cabeça e me encara.

— Prometo que irei te fazer sentir bem, minha esposa.


Eu não consigo dizer nada e apenas aceno com a cabeça. Emir
então me vira de costas. Ele passa as duas mãos sobre meus
braços, de cima para baixo, me tranquilizando. Em seguida, retira o
meu colar de esmeraldas por trás. Ele coloca a joia no criado-mudo
ao lado da cama. Depois, com cuidado, ele retira os grampos que
prendiam a tiara do meu cabelo e também as pequenas pedrinhas de
jade. Cada movimento seu me deixa ainda mais ansiosa pelo que
está por vir. Ele novamente coloca as joias sobre o móvel e se
posiciona atrás de mim. Meus cabelos estão soltos e revoltos agora,
e Emir os toca gentilmente, sem deixar de elogiar sobre o quão
bonitos e sedosos eles são. Ele os coloca sobre um dos meus
ombros, de forma que minhas costas estejam livres. É então que sua
atenção se volta para o meu vestido e os pequenos botões
responsáveis por mantê-lo em mim. Emir beija meu ombro coberto
pela renda branca bordada.

— Seu vestido é encantador, digno da princesa que você é. Mas,


sinceramente, prefiro você natural, sem roupas, completamente nua.
É disso que eu preciso, Habibti, e você sabe disso, não é?

Eu concordo, ofegante.

— Você sabe o que eu quero, Jade. E você vai me dar, não é? Você
vai me dar o que me pertence por direito.

Eu aceno novamente, e ele se aborrece.

— Diga que você vai me dar o que me pertence.

Meus olhos se arregalam com o seu pedido. Por ele estar atrás de
mim, ele não pode ver minha expressão. Sufocando a vergonha, eu o
obedeço:

— Eu vou te dar o que te pertence.


Ele então geme de satisfação.

— Ótimo. Que boa esposa eu tenho. Sou realmente um homem de


sorte.

Emir, então, finalmente começa a desabotoar meu vestido, um


botão de cada vez, pacientemente, deixando-me cada vez mais
ansiosa. Quando finalmente ele desabotoa todos, meu vestido
começa a cair do meu corpo. Emir agiliza o processo e o tira
completamente ao me fazer levantar as pernas. Ele também retira a
saia de anáguas, e é então que eu me sinto completamente
encabulada. Vestindo apenas uma calcinha branca e saltos altos de
10cm, fico à mercê do olhar faminto de Emir. Ele não esconde a
fome que tem pelo meu corpo, muito menos o seu próprio desejo.
Sua ereção está bastante óbvia, mesmo ele estando vestido do
quadril para baixo.

— Por Alá, o que fiz para merecer uma mulher tão preciosa como
você? — ele pergunta, mais para si mesmo.

Eu tremo sob seu olhar quando ele foca nos meus seios nus. Meus
seios estão empinados, com as aréolas e mamilos enrijecidos pelo
contato com o ar. Emir parece estar hipnotizado pelo que vê. Ele se
aproxima ainda mais e toca os meus seios com as duas mãos,
segurando-os em forma de concha. Emir os massageia e belisca
suavemente os mamilos. A sensação do seu toque é incrível, e eu
gemo de satisfação. Emir intensifica os toques, esquentando a área
erógena e me deixando inebriada de desejo. Minha respiração passa
a ficar ofegante, e Emir fica ainda mais ansioso. De repente, ele
para de tocar ali, segura meu pescoço com firmeza e me força a
encontrar com sua boca. Ele então me devora. Emir aproveita o meu
estado de choque para me dominar. Ele não é gentil no momento, ao
contrário, é bruto, duro e exigente. Emir usa a minha boca conforme
sua vontade, e eu praticamente não consigo respirar. Ele é
implacável, me possuindo com a sua boca, praticamente me
comendo. Sua mão volta a apertar meus seios com força. Ele quer
me sentir, me marcar, me domar. Mas eu estou amando isso: seu
toque possessivo, sua atitude dominante e bruta. Eu absolutamente
estou amando. Estou no paraíso.

De repente, estou no colo dele, com as pernas ao redor do seu


quadril enquanto sua boca devora a minha. Logo sinto algo macio em
minhas costas e é então que percebo que estamos na cama. Emir
finalmente larga a minha boca. Mas o que ele diz me faz estremecer:

— Eu estou faminto, querida. Espero que esteja pronta para ser a


comida do Lobo Mal.

Ele não espera minha resposta. E logo ele está sobre mim na
cama, me prendendo debaixo dele. Sua boca me surpreende quando
ataca o meu seio. Emir passa a sugá-lo com força, como se pudesse
se alimentar de mim. Nunca pensei que ter o seio sugado por um
homem pudesse trazer tanto prazer. Mas é o que acontece, o prazer
é tão grande que eu grito. Emir passa para o outro seio e o suga
como fez com o anterior. A sucção é implacável, bruta e exigente.
Sinto ondas de prazer enormes e praticamente choro. Mas, de
repente, ele para. Eu protesto e peço por mais. Mas ele não o faz.
Ao invés disso, ele foca na minha calcinha e saltos. Determinado,
Emir rasga a peça branca delicada e a joga no chão, em seguida, se
dirige aos meus pés para retirar os meus saltos. Ele faz tudo isso
com uma rapidez surpreendente. E, então, ele olha fixamente para a
minha intimidade exposta. Eu fecho as pernas, absurdamente
envergonhada com o olhar intenso de Emir. Contudo, suas mãos
seguram meus joelhos e abrem minhas pernas novamente. Eu
protesto, e ele rosna em resposta.

— Jamais feche as suas pernas para mim, Jade. O que tem entre
elas me pertence. Você me pertence. Nenhuma parte sua deve ser
escondida de mim.

Ele então abre as minhas pernas largamente, e eu fico


escancarada para o total prazer dele. Emir se ajoelha entre elas e
passa a analisar a minha intimidade. Eu nunca estive tão
envergonhada em toda a minha vida, e olha que ele já me viu
praticamente nua antes. Mas hoje é diferente, seu olhar está muito
mais perigoso.

— Lindíssima, Habibti. Você tem uma vagina perfeita. E toda minha,


para meu prazer.

Novamente sou surpreendida com sua boca. Desta vez ela está em
minha intimidade, chupando com avidez a minha entrada. Eu grito de
surpresa e prazer, e Emir só intensifica o trabalho. Ele reserva entre
meu clitóris e canal vaginal. O prazer foi demais para mim, e eu gozei
com força em sua boca enquanto tremia em espasmos. Emir chupa
toda a bagunça, o que me deixa vermelha como um pimentão. Ele
então olha para mim, seu cabelo preto bagunçado e sua barba curta
molhada pela minha excitação.

— Eu não sei se eu posso aguentar por mais tempo, Habibti. Preciso


estar dentro de você. Sonho com este dia há anos.

Emir então desce a sua calça branca, junto com a cueca Boxer
Armani, também branca. Ele joga as peças no chão e fica
completamente nu à minha frente. Automaticamente minha atenção
vai para o pênis dele, o qual está apontado para mim. Meus olhos se
arregalam, e eu engasgo, tossindo. Minha respiração fica ofegante,
e eu balanço a cabeça.

— Eu não achei que seria tão grande. Pelos céus, de nenhuma


maneira que eu posso aguentar isso dentro de mim. N... Não tem
como!

Emir me encara, sério.

— Não só você pode aguentar, como vai. Você foi feita para mim,
Habibti. Seu corpo me pertence. Logo, você não tem que se
preocupar. Seu corpo vai fazer o que precisa ser feito.
— Eu estou com medo. — Eu falo, tremendo a voz.

O semblante de Emir se suaviza, e ele deita em cima de mim,


usando os braços como apoio. Ele segura o meu queixo com cuidado
e olha nos meus olhos.

— Eu sei que está, e eu te entendo. Mas você tem que confiar em


mim. Prometo que vai dar tudo certo, tudo bem?

Eu aceno, apesar de estar morrendo de medo. Emir sorri de canto,


orgulhoso.

— Ótimo. Agora, eu só preciso que você relaxe, okay?

Eu concordo. Emir então toca a minha intimidade. Minhas pernas


ainda estão abertas, e ele rapidamente encontra minha abertura.
Delicadamente, ele insere um dedo dentro de mim, completamente.
A sensação é estranha, mas não dói.

— Extremamente apertada. Estou louco para estar aqui, Habibti.

Ao invés disso, ele me manipula vários minutos com o dedo. Eu


logo estou completamente molhada e excitada, louca por mais.
Quando estou escorregadia e com líquido escorrendo para a minha
bunda, ele finalmente tira o dedo de mim. Sua mão passa a tocar o
seu membro, o qual fica ainda mais ereto. Emir geme enquanto me
olha. Eu estou deitada, ofegante e aberta, com ele entre minhas
pernas. Me sinto encabulada, mas o desejo é muito maior que a
vergonha.

— Você já pertence a mim pela lei e pela religião, agora só falta pelo
corpo. Pronta para pertencer exclusivamente a mim, para sempre?

As palavras dele me fazem arrepiar, e eu concordo com a cabeça,


meu coração disparado. Emir então posiciona o pênis na minha
entrada molhada, e eu fecho os olhos, com medo.

— Abra os olhos, Jade — ele ordena.

Eu o faço, e ele me fita sério.

— Não feche os olhos. Quando eu te tomar, pegar o que é meu...


Quando eu romper a barreira da sua virgindade e te reclamar como
minha, você deve estar me olhando, olhando o seu marido te
reclamando. Está entendido?

Com os olhos arregalados e impossibilitada de falar qualquer coisa,


eu apenas aceno com a cabeça. Satisfeito, Emir volta a sua atenção
para o que interessa. Ele lubrifica a glande do pênis nos fluidos da
minha vagina e começa a forçar o caminho dentro de mim. A
sensação dele entrando é estranha e invasiva, e eu sinto muito
desconforto. Começo a protestar para Emir parar, mas, ainda me
olhando, ele continua a me penetrar, lentamente.

— Shh. Relaxe, você vai conseguir.

Eu gemo de dor conforme ele vai inserindo seu comprimento em


mim. Quando ele chega na barreira da minha virgindade, Emir para
de inserir e me encara.

— Eu amo você, esposa.

De repente, ele rompe a barreira da minha virgindade e me penetra


completamente até não sobrar nada. A dor que eu sinto é imensa,
diferente de qualquer coisa que eu já tenha sentido antes. É uma dor
aguda, alucinante, e eu grito com força. E então eu choro. Eu choro
pela dor e pelo significado forte do que acabei de vivenciar. Agora
me tornei mulher, completamente. Se tornar uma mulher dói. Emir
tenta afastar as lágrimas dos meus olhos enquanto ele luta para se
manter quieto dentro de mim. Eu estou soluçando, e ele está quase
gemendo de dor pelo meu aperto excruciante ao redor do pênis dele.
— Shh. Não chore, Habibti. A dor vai passar em breve. Você já é
minha, eu estou aqui para você.

Ele me consola por quase dois minutos, e é então que a dor passa,
e eu paro de chorar. Emir acaricia meu rosto com leveza e diz, me
encarando:

— Eu vou me movimentar agora, tudo bem?

Eu aceno, e ele se retira de dentro de mim, logo em seguida se


inserindo novamente. Emir repete esse movimento várias vezes, me
penetrando devagar enquanto eu me acostumo com a invasão. Ele
manipula o meu clitóris, o que me faz sentir um pouco de prazer.
Quando ele está perto de chegar ao clímax, ele abocanha um seio e
o chupa com muita força. O seu pênis passa a ficar ainda maior
dentro de mim, aumentando meu desconforto. Contudo, os
movimentos exigentes dos dedos de Emir no meu clitóris e a forte
sucção no meu seio me fazem esquecer da dor, e eu gozo
violentamente. Eu gemo e grito enquanto arranho as costas de Emir.
Ele, por sua vez, me penetra mais duas vezes e logo chega ao
clímax, gemendo, rouco, no meu pescoço. Sinto jatos quentes me
encherem, e eu acho a sensação estranha, mas excitante. A
quantidade de esperma foi suficiente para que vazasse bastante
quando Emir se retirou de dentro de mim.

O olhar de Emir sobre mim é de possessividade, e ele parece amar


a minha aparência bagunçada de quem acabou de fazer sexo. Ele
então olha para a minha intimidade e fica satisfeito quando ver a
bagunça que fez em mim. Ele me pede para que eu me sente e em
seguida retira o lençol branco da cama. É então que eu vejo as
manchas de sangue, e meu coração dispara.

— Abra as pernas, Habibti. — Ele ordena.


Envergonhada, mas consciente do que ele precisa, eu faço o que
ele ordenou. Emir então se aproxima e tira o excesso de sangue
presente em mim com o lençol. Quando olho para mim mesma, vejo
restos secos de sangue na minha bunda e coxas.

— Está vendo este sangue aqui? É a prova de que sou seu único
homem. Obrigada pelo presente, Habibti. Sua pureza significou muito
para mim, e eu irei te recompensar o resto da minha vida por isso.

Estou um pouco envergonhada, então não respondo nada. Emir


veste a cueca e a calça novamente.

— Preciso levar o lençol para o conselho e em seguida pendurar na


janela. Mas não irei demorar, logo estarei de volta e não te deixarei
sozinha tão cedo.

Emir se aproxima, beija minha testa, pega o lençol e vai embora,


saindo pela porta que dá para o corredor ao invés daquela de
conexão que ele entrou no quarto antes. Quando ele sai, eu fico
alguns minutos em transe, tentando assimilar o que acabou de
acontecer. Por Alá, agora realmente sou uma mulher em todos os
sentidos.

Capítulo 20

Emir Yassin
Me sinto mais honrado e sortudo do que mereço. Até alguns meses
atrás, eu estava convencido de que nunca teria uma mulher como
Jade, porque ela é perfeita demais para mim. Eu estava conformado
de que não me casaria por amor, e sim por obrigação, e que minha
esposa seria apenas um enfeite nas aparições públicas. É um
pensamento desanimador, mas é o que eu merecia. Jade não era
para mim. Contudo, Alá decidiu me dar mais do que eu merecia, ele
quis me dar um destino melhor. Definitivamente o meu destino não
era com a princesa Hamir, disso eu já tinha certeza. Mas às vezes a
vida nos surpreende ao nos dar mais frutos do que pretendíamos
colher. Sou o homem mais sortudo do mundo, pois recebi o direito de
ter Jade. Hoje ela é minha perante Deus e os homens.

Jade agora é de minha responsabilidade até a minha morte, ela


está vinculada a mim de todas as maneiras e em breve estará
grávida do meu filho, carregando meu herdeiro. De princesa árabe
Hamir, Jade passou a ser sheikha Yassin. Minha. Completamente
minha. Meu lado maldoso está rindo de Tariq neste momento, porque
ele perdeu a filha dele para mim. Hoje Jade não o pertence, ele não
pode mais interferir na vida dela. Eu sou o responsável legal de
Jade, e tudo que ela fizer será sob minha autorização. Tenho certeza
de que Tariq terá insônia nos próximos meses. Contudo, apesar de
tudo, eu gosto do homem. Afinal, ele permitiu o casamento. Sem sua
permissão, a reputação de Jade teria sido queimada. Assim, eu
aprendi a tolerar o sheik orgulhoso. Apenas tolerar, obviamente. Eu
ainda não gosto dele, provavelmente nunca irei. Mas tolerar já é um
começo. Pelo menos Jade não se sentirá dividida entre o pai e o
marido. Não é isso que eu quero para ela. Jade não merece ser
abandonada pelo orgulho do pai ou sufocada pelo casamento. Ela
merece um equilíbrio saudável dos dois lados da sua vida, e eu irei
me esforçar para lhe dar isso, mesmo que tolerar o seu pai seja um
requisito.
Eu faria qualquer coisa por Jade, qualquer coisa. Essa é uma
verdade que me assusta, mas é o que é. Sempre achei que ela devia
seguir sua vida longe de mim. Mas, já que o destino nos uniu, não a
deixarei um segundo mais. Jade é minha, somente minha, e eu serei
o que ela precisa. Sou o homem mais feliz e honrado do mundo.
Tenho uma mulher linda, inteligente e boa, uma mulher que me amou
mesmo com todos meus malditos defeitos e que insistiu em nosso
amor. De todos os homens que ela poderia ter, todos ricos e
importantes, ela me escolheu para ser o seu marido. Além disso,
guardou seu corpo e alma apenas para mim. Fui o primeiro e único
homem a beijá-la, e agora fui o dono da sua virgindade. Serei seu
único homem em tudo. Eu não poderia estar mais honrado por minha
esposa. Jade é doce e boa, o oposto de mim. Mas, de alguma forma
estranha, nós damos certo, nós nos completamos. Ela é perfeita
para mim, não consigo parar de pensar no quão bom foi estar dentro
dela pela primeira vez. Eu fui levado ao paraíso terreno em instantes
e não queria mais sair dali.

Ela se entregou a mim mesmo com medo, me deu o seu bem mais
valioso que é a sua pureza. Jade, mesmo com dor, me aceitou em
seu corpo e não me expulsou. Ela é forte, uma doce menina forte.
Ela pensou em mim enquanto chorava e me aceitou como uma boa
esposa. Sua valentia foi recompensada, e ela logo passou a se sentir
bem, sentir prazer com a penetração intrusa em seu corpo intocável.
Ela é doce, mas também é selvagem, e é essa combinação dela que
me deixa louco. Uma mulher inocente que ama o meu toque, o toque
do seu homem. Jade tem fogo em seu coração e corpo. Ela não é
fria como muitas mulheres. Jade é apaixonada e gosta de viver
grandes emoções. Quando ela está necessitada, ela não esconde
isso. Mesmo virgem, ela me mostrou que poderia ser uma mulher de
verdade para mim. Hoje ela se tornou completamente mulher ao se
tornar minha. Agora, a parte boa finalmente vai começar.

Como minha mulher, não terá ninguém para me impedir de tocá-la,


de tê-la, em qualquer lugar e hora. Nem mesmo seu pai e irmãos
podem me impedir de tomá-la quando me der vontade. E isso é
muito excitante, pois realmente sei que irei usufruir dos meus direitos
de marido. Irei tomá-la todos os dias, sempre que eu precisar do seu
corpo incrivelmente perfeito. E ela irá querer isso, Jade estará
sempre pronta e disposta a me receber, porque ela me ama, e eu
sou o seu marido, o seu homem, aquele que ela pertence por lei e
pela religião. Isso é um alívio imenso, pois agora posso me certificar
de que ela estará sempre ao meu lado na cama e em todo lugar que
eu estiver. A cada instante, mais tenho a sensação de que não
consigo ter o suficiente dela, e meu instinto possessivo aumenta a
cada dia. Sinceramente, não acho que tenho mais controle dos meus
instintos. Eles são primitivos demais e mais fortes do que meu lado
civilizado.

Neste momento estou com o lençol manchado da virgindade de


Jade em minha mão, estou o levando para uma ala específica do
castelo, para o conselho do clã. Sobre o castelo, ele pertencia ao
meu pai e as antigas gerações Yassin. Contudo, há dois anos, ele
passou a me pertencer. O clã agora está sob minha liderança, e,
apesar do meu pai estar vivo, ele já não pode fazer tudo aquilo que
fazia antes. Assim, ele não teve escolha, e o clã me colocou no
poder. Contudo, Ali ainda tem algum poder em suas mãos. E isso me
incomoda, pois não confio no meu pai. Não confio em ninguém neste
mundo, apenas em meu irmão Ismael e Soraia, minha madrasta. E
agora Jade, minha mulher. Eles são as únicas pessoas da minha
vida. Felizmente, logo Jade me dará filhos, e eu terei minha própria
família.

Quando entro na sala do conselho, sinto um pouco de raiva por ter


que estar fazendo isso. Jade é minha, sua pureza é minha, e
ninguém deveria ver a prova dela além de mim. O sangue de Jade
deveria ser visto apenas por mim, o marido dela. Mas tenho que
seguir a tradição, não há nada o que fazer. Preciso provar a sua
pureza para o meu povo para que saibam que meus filhos serão
legítimos e para que Jade não tenha sua honra questionada. É assim
que as coisas funcionam. E, nos dias de hoje, a tradição é ainda
mais exigente. Um teste de DNA será feito sobre o sangue de Jade
para comprovar se ele é realmente dela e não meu. Eles sabem que
um homem louco por amor pode se cortar para preservar a honra da
mulher. Além disso, as empregadas da casa irão checar o corpo de
Jade no banho da manhã para verem se não há nenhum corte
suspeito. A tradição é implacável, pois ela na verdade é uma lei, e
não se pode burlar a lei sem ser punido por isso.

Eu entro sem muita cerimônia e estendo o lençol sobre a mesa em


que os homens estão reunidos. Eles me parabenizam pela minha
esposa e casamento e me desejam muitos filhos. Em seguida, eles
começam a sair do local para voltarem à festa. Um biomédico pega
o lençol e sai rapidamente, e eu fico sozinho com o meu pai, para
meu desgosto.

— Então você finalmente deflorou a virgem Hamir. Espero que ela


tenha sido tão apertada quanto você imaginava, Emir. Porque, para
casar com ela, o mínimo que ela precisa ser é muito apertada. — A
voz rouca de fumante do meu pai diz com malícia.

É então que eu perco meu controle. A adrenalina e ódio são tão


fortes, que em instantes eu estou na frente do homem, apertando
fortemente o pescoço dele enquanto aponto o meu dedo no meio de
sua cara.

— Não brinque comigo, Ali, ou você vai acabar morto mais cedo do
que você gostaria, e de uma forma nem um pouco indolor. Se
continuar falando da minha mulher, vou acabar te matando, velho
nojento, eu estou te avisando.

Ele fica muito vermelho por falta de ar, e eu o solto com


brutalidade. O homem tosse várias vezes, buscando por ar, e então
diz, me desafiando:

— Você nunca vai me matar, porque eu não sou sua mãe.


E então ele ri, mesmo em meio a tosses. Tomado pelo ódio,
novamente o ataco, desta vez o sufocando com mais força. Para a
sorte do velho, o meu irmão entra na sala gritando, assustado com a
situação. Ismael grita comigo várias vezes e me afasta a muito custo
do velho asqueroso. Ali volta a rir e a me provocar, mas Ismael me
convence a sair do lugar, antes que eu acabe o matando realmente.
Não seria uma má ideia, entretanto. Mas não quero causar estrago
em minha lua de mel. Jade ficaria horrorizada, talvez até tentaria
fugir de mim.

Já num lugar mais calmo, Ismael segura meus ombros e me fita nos
olhos:

— Por Alá, Emir, o que deu em você? Nunca te vi perder o controle


com ele assim. Você sempre soube ignorá-lo.

— Ele citou Jade. Ninguém diz o nome da minha mulher de maneira


pejorativa e desrespeitosa.

Ismael suspira e acena.

— Bem, eu te entendo perfeitamente. Creio que eu também perderia


a cabeça. Mas você não pode, Emir, você sabe disso. Você não
pode se dar o luxo de perder a cabeça e agir por impulso. Você é o
líder. Lembre-se disso, por favor.

— É por eu ser o líder que eu deveria exterminar aquele homem.


Seria melhor para todos.

Ismael aperta meus ombros com força, claramente chateado.

— Por favor, cara, não faça nenhuma merda. Se acalme. Deixe ele
dizer o que quiser, aquele homem é louco, nós dois sabemos disso
muito bem. Ignore-o, ele tem problemas mentais. Estou dizendo isso
porque me importo com você, não com ele.
Eu retiro as mãos do meu irmão sobre mim e o encaro, muito sério.

— Eu te amo, irmão. Mas não sei se posso garantir para você que
não farei nada. Posso garantir que irei tentar. Mas se ele piorar...
Terei que tomar medidas mais drásticas.

Ismael me olha preocupado, e eu aceno em despedida e me retiro


do lugar, indo em direção ao meu quarto. Na porta do quarto, uma
mulher me entrega o lençol manchado e diz que já foi confirmada a
veracidade do sangue pelo biomédico.

— Jade já tomou o banho? — pergunto, para saber se já posso


entrar.

A mulher confirma, sorrindo.

— Sim, sheik. A sua senhora já tomou o banho, e não encontramos


nenhum corte suspeito. Está tudo certo, só falta pendurar o lençol na
janela do seu quarto.

— Tudo bem. Obrigado.

A mulher então se inclina em respeito e sai. Quando entro no


quarto, encontro Jade deitada na cama, vestida com uma camisola
de seda branca, mexendo no smartphone. Quando ela percebe
minha presença, ela o coloca de lado e sorri. Eu sorrio também.
Somente em vê-la já me sinto melhor. Acho impossível não se sentir
melhor com a presença de uma mulher tão bonita. Eu me aproximo e
me sento ao seu lado. Pego o seu queixo em minha mão e o acaricio
com meu polegar.

— Você está bem, Habibti? — eu pergunto.

Ela acena com a cabeça, mas eu não me dou por satisfeito.

— Você está sentindo dor?


Ela cora, mas nega.

— Hum, não mais. As empregadas me deram banho com ervas


medicinais. Estou me sentindo melhor.

— Tem certeza? Posso lhe arranjar algum remédio mais potente.

Ela novamente nega.

— Não, eu estou bem. Não precisa.

Eu finalmente cedi, concordando com um aceno. Me levanto


novamente e aponto para a janela.

— Vou pendurar o lençol, princesa. Ou então os convidados nunca


irão embora.

Jade fica rosa de vergonha, mas não me contradiz. Eu então me


dirijo à janela grande de vidro e ferro. Quando a abro, os convidados
percebem e começam a gritar em expectativa. Essa é uma parte da
festa, digamos assim. Eu rapidamente penduro o lençol nas partes
de ferro e em seguida fecho a janela, deixando o lençol para fora.
Caminho novamente para a cama e encaro a minha mulher
envergonhada.

— Tudo feito, princesa. Agora é só esperar eles irem embora.

— Eu espero que seja logo — ela diz, chateada.

— Eu também espero. Mas, enquanto eles não vão, que tal


comermos alguma coisa? Vi que não comeu quase nada na festa
ontem. Você precisa se alimentar, não quero que passe mal.

Jade acena, com um sorriso.


— Acho uma boa ideia. Tem alguns doces que ainda não
experimentei que pareciam estar muito bons.

Eu a olho sério, não gostando do que escutei.

— É mesmo? Pois não irá comê-los hoje. Você já comeu demais


deles ontem, acha que não percebi? Bem, você irá se alimentar
melhor desta vez, apenas comida de sal e sucos.

— Não acredito que você irá querer mandar no que eu irei comer! —
Jade diz, surpresa e confusa.

— Como não acredita? Você é minha, esposa, eu irei mandar em


você sempre que eu achar que devo.

— E por acaso eu vou poder mandar em você? — ela retruca, me


desafiando.

Eu sorrio.

— Bem, isso depende, princesa.

— Depende de quê?

— De como você fizer as ordens. Se me ordenar que eu lhe dê


prazer a noite toda, eu com certeza serei seu humilde servo e lhe
obedecerei com muita satisfação.

Jade me olha incrédula, mas logo em seguida revira os olhos e ri,


seu rosto corado com o pensamento.
Capítulo 21

Jade Yassin

Emir teve que voltar para a festa para se despedir dos convidados
e também da minha família. Sim, minha família. A minha vergonha
era tanta que eu não consegui me encontrar com minha família para
me despedir. Era simplesmente demais para mim. Ter que encarar
meus irmãos, e principalmente o meu pai, depois de tudo que
aconteceu na mesma casa que eles estavam, é simplesmente
impossível. Não sei se vou conseguir vê-los por agora, talvez eu
precise de um mês isolada para finalmente criar coragem. Sei que
meu pai deve estar em luto por minha virgindade perdida. Agora não
sou mais sua menininha, não estou sob seu controle e agora
pertenço a outro homem, um homem que não é da família.

Eu não posso culpá-lo por estar mal com isso tudo, no entanto. Ele
me criou com todo cuidado e amor do mundo, sempre me
protegendo dos olhares masculinos. Sempre fui a bonequinha dele
para proteger e cuidar. E agora a filha dele simplesmente cresceu e
se casou. Deve ser muito difícil aceitar. Mas infelizmente ele precisa.
Meninas um dia crescem e se tornam mulheres, comigo não poderia
ser diferente, apesar de ele ter tentado evitar o inevitável. Eu tento,
mas não consigo evitar de me sentir um pouco culpada, mesmo que
na verdade eu não seja. Eu deixei minha família para sempre. Nunca
mais irei morar com eles, e só poderei visitá-los com a permissão de
Emir. É uma realidade difícil de encarar, mas é assim que as coisas
funcionam, e não havia nada que eu pudesse ter feito de diferente, a
não ser se eu decidisse morrer solteira.
Eu tive que tomar uma banho de ervas quando Emir se retirou para
levar o lençol para o conselho. Me senti extremamente envergonhada
sob os olhares curiosos e espertos das empregadas. Elas olharam
cada canto da minha pele para verem se eu tinha algum corte que
pudesse ter sido a origem do sangue no lençol. Até mesmo a pele
entre meus dedos dos pés foi analisada. Além disso, ficaram
bastante interessadas na minha parte íntima. Queriam ver se eu
parecia realmente machucada como uma virgem que tinha acabado
de ser deflorada. Completamente mortificada, afastei-as o máximo
que pude, mas não foi uma tarefa fácil. Quando finalmente o banho
de ervas e inspeção acabou, eu quase gritei de alívio. Nunca tinha
passado por uma situação tão constrangedora em minha vida, nem
mesmo quando tive a consulta com a ginecologista ou hoje, durante a
minha primeira vez.

Sinceramente, espero que os constrangimentos acabem logo, já


estou no meu limite. Não achei que me casar fosse ser tão
desafiador. Eu só quero que tudo volte ao normal, que eu e Emir
possamos finalmente ter nossas vidas sozinhos, em paz. Será que é
pedir demais? Pelo visto é, porque sempre aparecem tradições e
mais tradições. É nesses momentos que penso que seria melhor ter
nascido no Ocidente.

Imersa em meus pensamentos, não percebi quando Emir entrou no


quarto. Ele parece um pouco cansado, e até mesmo perturbado.
Preocupada, me sento na cama e o encaro.

— O que foi? Foi tudo bem com minha família?

Ele faz uma leve careta, claramente irritado, e é então que sei a
resposta.

— Acho difícil ir tudo bem quando se trata de sua família, Habibti.


Acho que só pelo fato do seu pai não ter me matado, depois de eu
ter me deitado com você, já é motivo para ficar feliz.
Eu suspiro.

— O que ele fez?

— Nada. Nada de incomum para ele. Somente me ameaçou de


morte caso eu lhe faça algum mal.

E então Emir ri, claramente achando engraçado, mas com uma


pitada de apreensão. Eu também rio, porque é impossível não temer
o meu pai, nem que seja um pouco. Acontece que todos sabem que
ele costuma agir brutalmente quando ele perde a cabeça ou quando
alguém toca na família dele. Todos conhecem as "aventuras" de
Tariq. Meu pai é um homem sanguinário, que não pensa duas vezes
em fazer o que tem que ser feito. E é isso nele que causa temor.

— Olhe para o lado bom, agora ele vai voltar para Fujairah, e eu não
terei que voltar com ele mais. Você saiu ganhando nessa.

Emir sorri de maneira diabólica e se dirige a mim com passos


rápidos e seguros. Ele segura meu queixo firmemente e me faz
encará-lo.

— Oh, pode apostar, querida, você nunca mais vai voltar para ele.
Aliás, você nunca mais se livrará de mim.

Eu sorrio.

— E se eu quiser ir para longe de você? — Eu o provoco.

Ele também sorri, só que não de felicidade.

— Vai ficar querendo. Eu não irei permitir, nem mesmo se você não
me quiser mais. Você se casou comigo, agora terá que se contentar
em ser minha pelo resto de sua vida, anjo.

Eu faço biquinho com a boca, fingindo tristeza.


— Você é muito mau.

Ele ri.

— Oh, querida, não brinque comigo, porque você não imagina o quão
mau eu posso ser com você.

Dizendo isso, ele me força a deitar na cama e fica em cima de mim,


os braços dele ao redor da minha cabeça, me prendendo e
impedindo que ele coloque todo o peso sobre mim.

— Você sabe, anjo, que esperei muito tempo para finalmente te ter
para mim. Mas acontece que, agora que te tive, eu só penso na
próxima vez que te terei novamente. E, bom, estou decidido a torná-
la minha novamente. Não há mais convidados curiosos na casa, e
você está embaixo de mim novamente, vulnerável, pronta para ser
tomada por seu marido. Tudo que eu tenho que fazer é levantar sua
camisola, rasgar sua calcinha e logo estarei dentro de você. O que
acha disso, senhora Yassin?

A voz dele está cheia de luxúria, desejo e desafio. Emir claramente


está querendo me amedrontar com o seu jeito possessivo de macho
alfa. E ele conseguiu, estou amedrontada. Mas isso não significa que
não quero o mesmo que ele. Eu estou com medo, porque ele é
exigente, autoritário e gosta de estar no controle. E ele está certo,
eu estou vulnerável sob o corpo dele, numa cama enorme enquanto
ele me prende. Eu posso sentir a dureza do membro dele em minha
barriga, eu posso sentir o quão ansioso ele está. É claro que ainda
tenho medo, acabei de perder minha virgindade. Mas, pelos anjos,
eu quero muito experimentar ser preenchida por ele novamente.
Doeu. Ah, inferno, doeu demais. Mas ainda assim foi bom. E a parte
mais difícil passou. Agora eu já sou dele, e quero ser novamente.

— Me responda! — ele ordena, e eu estremeço.


— Hum, eu acho que também quero isso.

Emir me olha surpreso e gargalha. Ele então segura meu queixo e


fala, me encarando fixamente:

— É mesmo? Você quer ser minha novamente depois de ter perdido


sua virgindade há poucas horas? Não está dolorida ou com medo?

— Não — eu digo num sussurro.

Emir sorri, satisfeito, e me beija. Ele é gentil desta vez e demora a


finalmente introduzir a língua em minha boca. Enquanto isso, suas
mãos gentilmente percorrem meu corpo, fazendo carícias e me
deixando arrepiada. Emir logo está tocando meus seios com
reverência, após simplesmente rasgar a minha camisola. As carícias
dele são incríveis, e eu logo estou ofegante e precisando de mais.
Ele para de me beijar e passa a focar a atenção totalmente em meus
seios. Os olhos de Emir ficam totalmente selvagens quando ele
manipula meus mamilos habilmente, me causando múltiplas
sensações deliciosamente boas. Meus gemidos de prazer o deixam
completamente descontrolado, e ele não consegue resistir aos
próprios desejos. Emir logo tem sua boca em um dos meus seios,
me surpreendendo. Contudo, ao sentir o calor molhado da boca dele,
combinado com as repetidas sucções exigentes, sinto um prazer
imenso. Não demora muito para que eu fique completamente
descontrolada de prazer, a ponto de segurar a cabeça de Emir em
meu seio para mantê-lo ali. Ele solta meu seio, e eu protesto. Mas
há um sorriso irônico em seu rosto, e ele diz, rouco:

— Eu amo os seus seios, esposa. Eles são incrivelmente perfeitos,


está claro que foram feitos para mim, para o prazer do seu esposo.
Creio que estou ficando viciado neles. Talvez eu deva sugá-los todos
os dias. O que acha disso, Habibti?

As palavras de Emir me causam arrepios, e eu gemo. Emir sorri.


— Vou considerar isso como um sinal positivo. Então está decidido,
vou chupar os seus seios todos os dias, e então você estará
completamente ciente de que seu corpo pertence a mim, e que seu
prazer é do seu marido. E que somente eu posso te dar o que você
precisa.

Emir não espera uma resposta de mim e logo volta a me sugar. Ele
obviamente não mentiu quando disse que ama meus seios. E eu
estou feliz por isso, porque eu também amo a boca dele em meus
seios. Nunca senti algo igual, é simplesmente incrível. Creio que
poderei me viciar facilmente em ser sugada por Emir.

Emir, após vários minutos, se sente incomodado com a sua ereção.


Desesperado por alívio, ele rasga a minha calcinha, que era a única
coisa que me cobria. Em seguida, Emir retira a própria roupa sem
nenhuma calma. Eu olho para a sua ereção e novamente me assusto
com o tamanho do pênis de Emir. Ele nota minha expressão e ri.

— Ah, não. Não me venha com essa cara novamente, esposa. Você
viu por si mesma que coube perfeitamente em você. Nós já
passamos dessa fase. Agora estamos na fase da repetição, em que
eu vou fazer o que fiz, há pouco tempo, várias vezes no dia, até você
ficar completamente exausta. Este será seu destino de agora em
diante: ser minha todos os dias.

Eu não falo nada, mas meus olhos acompanham todo o processo


em expectativa. Emir se masturba algumas vezes, e eu fico
hipnotizada pelo ato. Ele realmente parece estar incomodado com a
ereção, e eu começo a pensar que talvez realmente seja doloroso
para ele. Percebo que seus testículos estão com uma coloração
mais azulada e o comprimento do pênis tem veias inchadas. Há uma
gota de pré-sêmen na glande.

— Isso, esposa, veja o que você faz comigo. É tudo culpa sua,
menina malvada. Agora você terá que se redimir com o seu marido.
Eu coro ao ser pega observando o seu pênis e apenas concordo
com a cabeça.

— Vamos, abra as pernas para o seu marido, porque ele precisa


estar o quanto antes dentro de você. Seja uma boa menina e me dê
o espaço que preciso.

As palavras de Emir são manipuladoras e sensuais, e ele sempre


consegue me deixar ainda mais excitada, mesmo me dando ordens
obscenas. Eu obedientemente abro as minhas pernas mais amplas,
dando acesso ilimitado a minha intimidade. Emir geme ao ver que
estou molhada. Ele logo está me tocando lá, manipulando meu
clitóris e me fazendo gemer. Ele insere um dedo em mim sem aviso,
e eu dou um pulinho de surpresa.

— Quente e molhada, perfeita para mim — Emir diz, rouco. —


Espero que esteja pronta, Habibti, porque eu não vou aguentar
esperar mais. Preciso urgentemente estar dentro de você e
conseguir me aliviar.

Mas ele não espera uma resposta e entra dentro de mim em um


impulso, sem aviso. Eu gemo de desconforto e prazer. Ainda estou
dolorida, mas desta vez não senti dor. O pênis de Emir é grande,
então o desconto é inevitável, mas o prazer é mais intenso. Emir
também geme, rouco, enquanto se ajusta dentro de mim.

— Porra, Jade, você é muito mais do que sonhei. Você é perfeita


para mim, incrivelmente boa. Porra, eu nunca vou ter o suficiente da
sua vagina apertada pra caralho.

Ele se retira quase que totalmente e insere novamente, e nós dois


gememos.

— Desculpe pelas palavras feias, Habibti, mas eu viro outro quando


estou dentro de você. É bom demais, como uma droga,
completamente viciante.
Emir começa o ritmo de entrar e sair de dentro de mim, num vai-e-
vem que me deixa completamente em chamas e totalmente à mercê
do desejo. O ritmo das estocadas aumentam conforme a
necessidade, e tudo o que se ouve é o som molhado das estocadas
em mim e nossos gemidos de prazer. Meus gemidos são mais altos
e agudos, enquanto os de Emir são roucos, quase como rosnados.
De repente, sinto o pênis de Emir ficar ainda maior dentro de mim, e
sei que ele está perto. Ele então manipula o meu clitóris de forma
exigente e habilidosa. As sensações de prazer são suficientes para
me levarem ao ápice. Todo o meu corpo estremece, e sinto meu
útero contrair em espasmos, sugando ainda mais o pênis de Emir
para dentro de mim.

— Porra! — ele xinga enquanto geme.

Emir logo em seguida explode dentro de mim. Sinto jatos fortes e


quentes de esperma indo para dentro do meu útero, me deixando
ainda mais molhada e intensificando minhas últimas ondas de prazer.

Emir se esforça para se segurar e não cair em cima de mim quando


finalmente chega ao ápice. Depois de vários segundos, ele fixa o
olhar no meu. Há algo estranho nos olhos dele, como se ele
estivesse escondendo um segredo e estivesse satisfeito por isso. Ele
se mantém dentro de mim por mais tempo que da outra vez e,
quando sai, eu logo sinto uma sensação de perda. Emir olha
diretamente para minha intimidade e sorri.

— Agora sim você se parece como minha, Habibti. Bagunçada,


suada e com meu esperma vazando de sua vagina doce. Você agora
é a visão da perfeição que pensei que jamais iria ter.

Emir então fixa o olhar em minha barriga plana, e a intensidade do


olhar me faz arrepiar.
— Quando estiver com a barriga redonda por estar carregando meu
filho, creio que esta visão será ainda mais perfeita. Não vejo a hora
de você engravidar do meu bebê, Habibti.

Meus olhos se arregalam e meu coração dispara. Eu o encaro


confusa.

— O quê?! Bebê? Eu não sabia que você queria filhos tão rápido.

A expressão de Emir fica mais séria ainda.

— Mas agora sabe. E você vai me dar o bebê, e quantos mais eu


quiser — ele diz, quase numa ordem.

Em seguida, seu rosto simplesmente se suaviza, e Emir toca


minhas bochechas, seu corpo nu ao lado do meu.

— Você vai me dar esse presente, vai fazer isso por mim, pelo seu
marido, não é, esposa?

Ele pergunta delicadamente e gentilmente. Eu sei que ele está


tentando me amansar para que eu lhe dê o que ele quer. Mas a
questão é que eu também quero bebês. Eu não queria tão rápido,
acabei de me casar. Mas, já que ele quer, eu também quero. Posso
fazer isso por ele. Sei que ele tem a pressão de gerar herdeiros para
o seu povo, conheço muito bem as tradições. Se ele quer, vou dar.
Eu quero bebês de qualquer forma, não será nenhum sacrifício.

— Sim, eu vou te dar o bebê — eu respondo, sorrindo.

Ele sorri também, claramente satisfeito.

— Um não, Habibti, vários. Mas por enquanto me contento com um


bebê em sua barriga.
Capítulo 22

Emir Yassin

Por mais que esta seja minha maior vontade, não poderei levar
Jade para uma viagem de lua de mel. O clã está em crise, algumas
famílias estão brigando com outras por causa de terras. Esse é um
assunto antigo, uns dizem que a terra pertenceu a gerações a eles,
enquanto outros dizem que, na verdade, as terras pertencem a eles
por um acordo comercial no passado. É um caso que nunca se
resolveu e que sempre vem à tona após alguns anos de paz. Mas a
questão é que a situação está piorando assustadoramente rápido, e
um homem de uma das famílias foi morto por uma rival como forma
de ameaça. Se a liderança do clã não tomar uma medida radical
logo, mais mortes poderão acontecer em breve, pois já há ameaças
de vingança. Conheço essas ameaças, e eles não estão brincando.

Todo clã possui problemas semelhantes a esses. Geralmente


famílias mais tradicionais e simples tendem a brigar por territórios.
Eles quase sempre são agricultores e não conhecem outra atividade
econômica e não se interessam por outra, para falar a verdade.
Sinceramente, essas brigas me irritam, pois nunca se resolvem, e
então sobra para mim tomar a decisão mais difícil, e acabo saindo
como o rival da merda toda. Tudo que eu queria era colocar Jade em
meu avião e levá-la para um lugar paradisíaco, assim eu poderia tê-
la dezenas de vezes ao dia, sem ter que deixá-la em algum
momento. Mas infelizmente isso não será possível, pelo menos não
por agora. Talvez daqui uns três meses eu tenha resolvido meus
problemas, e então eu poderei tirar algumas semanas para nós dois.
Mas isso é um talvez.

Eu tento não pensar nas inúmeras obrigações que me cercam,


senão eu certamente acabaria tacando o foda-se em muitas delas, e
não é disso que preciso. Eu preciso de autocontrole, paciência e
responsabilidade. Milhares de pessoas dependem de mim, e é essa
a pior parte. Pois não posso simplesmente abandonar tudo e seguir
com minha vida. Esse é um fardo que terei que carregar até minha
morte e veio comigo desde o nascimento. Não é fácil controlar uma
empresa e um clã de cem mil pessoas. Cem mil pessoas que
confiam em minha liderança, além dos meus três mil funcionários,
que dependem dos seus empregos para pagarem suas contas.
Como eu disse, não é fácil. Poder e dinheiro vêm com um preço, e o
preço é a sua vida.

Até mesmo o meu casamento pertence ao meu clã. Minha esposa é


a mulher do líder, meus filhos serão os próximos líderes, um deles irá
me suceder e, como em um ciclo, irá dedicar sua vida ao clã, assim
como eu faço agora. Por mais que eu odeie, eu devo satisfações, e
há obrigações que eu preciso cumprir. Obrigações que Jade também
terá que cumprir. Como minha esposa, ela precisa ser exemplo,
assim, eles não esperam dela nada mesmos que submissão a mim,
modéstia ao vestir, boas maneiras, amabilidade, devoção às
tradições e à religião, além de, claro, amor pela maternidade. Não
são qualidades fáceis de se ter, e com certeza exigem muito de uma
mulher. Esse foi um dos motivos que hesitei em desposar Jade, eu
não tinha certeza se ela estava disposta a ter essa vida, uma vida
que a mãe dela teve que aprender a viver. Mas ela disse que poderia
aguentar por amor a mim. Bem, eu realmente espero que ela esteja
certa.

Jade ficou um pouco assustada quando disse que não pretendo


esperar para engravidá-la. Isso sinceramente me incomodou um
pouco. O que ela esperava? Eu tenho quarenta anos, eu já era para
ter me casado e tido filhos. Além disso, ela acabou de fazer vinte e
oito anos semana passada, não é mais uma jovem. Se quero ter
vários filhos, não posso perder tempo. Quero que Jade esteja forte e
saudável em suas gravidezes e não sou adepto à gravidez tardia, é
muito perigoso para a mulher, além de desnecessário, uma vez que a
mulher pode engravidar na época apropriada.

Apesar da minha obrigação de ter filhos, eu realmente quero ser


pai. Mas não um pai como o que eu tive, e sim um pai de verdade,
como o sheik Tariq foi para seus filhos. Tariq pode ser odiado por
muita gente, porém é muito respeitado, não só pelo poder que tem,
mas pelos seus princípios. O homem é um ótimo marido e pai e
sempre priorizou a família acima de tudo. Esse também foi um
motivo que me fez afastar de Jade. A garota sempre teve uma
família incrível, e comigo ela não teria o mesmo. Nem toda mulher
consegue viver longe da família e sem apoio da família do marido, é
algo bem complicado.

Neste momento, estou em plena reunião do conselho. Estou


fisicamente no meio de todos, mas minha mente está em outro lugar.
Meu irmão está ao meu lado e ele me olhou estranho algumas vezes.
Ele claramente percebeu meus devaneios e está confuso, porque
isso não é comum quando se trata de mim. Eu o olho uma vez,
passando a mensagem de que estou bem. Um membro do conselho,
que passou meia hora discutindo possibilidades para resolver o caso
das famílias agricultoras, se dirige a mim, solicitando minha
participação:

— O que o senhor acha que devemos fazer, sheik? Entregar o


território medial a quais famílias? As que vivem no leste estão em
maior domínio atualmente, mas as do oeste do distrito estão em
maior número e são mais agressivas.

— Simples: iremos dividir. Ninguém terá toda a terra, mas também


não ficará sem ela. Cada comunidade terá uma parte igual.

O homem me olha incrédulo.


— Mas isso traria problemas, pois a comunidade do leste já domina
a maior parte há décadas. Tirar o que já está em seu domínio pode
gerar revoltas!

— As revoltas serão piores se a comunidade do oeste continuar em


desvantagem. Nenhuma das famílias possui documentos oficiais que
garantam o direito das terras, portanto nenhuma delas possui o
direito de decidir o que será feito. Por lei, as terras pertencem ao
governo deste clã. Assim, eu decidi que a região medial será
repartida igualmente, sem nenhuma distinção, e que ela será
oficialmente registrada em nome de cada comunidade. Caso alguma
família inicie uma revolta contra essa decisão, será julgada, podendo
perder o direito às terras.

O homem de meia idade acena com a cabeça, insatisfeito, mas


conformado.

— Essa é a minha decisão. Comunique ao nosso advogado para que


prepare os documentos. Eu quero que isso seja resolvido o quanto
antes.

∆∆∆

Olho para o meu smartphone com certa surpresa. A reunião


terminou há pouco tempo, e os membros já não estão mais no
castelo. Meu irmão foi o último a sair, e não faz muito tempo. O
nome de Diana aparece na tela do aparelho conforme meu aparelho
vibra.

— Diana — eu atendo a chamada.

Ela dá um suspiro de alívio do outro lado.


— Finalmente você atendeu! Já te liguei umas cinco vezes! — ela diz,
chateada.

— Eu estava em uma reunião do conselho, Diana.

— Ah, entendo! Como não pensei nisso?! — ela fala, finalmente


entendendo o que me levou a não atender suas ligações. — Bem,
podemos nos encontrar hoje ainda?

— Não acho que será possível. Acabei de me casar, Diana.

Ela solta uma risadinha.

— Eu sei, e te dou parabéns. Mas eu realmente preciso conversar


com você. Parece que a princesa realmente era para ser sua, hein?
Eu acho que ela combina muito com você, sabia? Uma verdadeira
princesa árabe, ideal para um sheik.

— Eu agradeço.

— Por nada. Mas eu ainda preciso te encontrar pessoalmente, pode


ser amanhã? Prometo que não vou tomar muito do seu tempo, Emir,
e então você poderá voltar para sua esposa.

Eu demoro algum tempo para responder.

— Tudo bem. Mas terá que ser rápido, não quero deixar Jade
sozinha por muito tempo, Diana.

Ela novamente ri.

— Caramba, você é do tipo marido protetor. Está aprendendo rápido


o novo papel...

Eu não respondo, e ela volta a dizer:


— Então está combinado de nos encontrarmos amanhã? Pode ser
às 15:00h da tarde?

— Tudo bem, Diana. Te encontro nesse horário no mesmo


restaurante de sempre.

— Perfeito! Até logo, Emir.

— Até logo, Diana.

Assim que desligo a chamada, me sinto um pouco incomodado com


a situação. Não me parece normal encontrar Diana agora que estou
casado. Diana é uma amiga de longa data, e há algum tempo acabei
com todo tipo de relação amorosa que tinha com ela. Então eu não
tenho nada com ela mais, apenas amizade. Mas, ainda assim, me
sinto um pouco incomodado. Como se, de alguma forma, eu
estivesse traindo minha esposa. Eu estou fazendo um esforço para
convencer minha mente de que não há nada de errado em encontrar
minha antiga amiga agora que estou casado, já que não temos nada
além de amizade em comum. Provavelmente estou tendo um choque
de realidade.

Tudo aconteceu muito rápido. A vinda de Jade, meu pedido de


casamento e desculpas, o fim do meu relacionamento sem
compromisso com Diana, e agora o meu casamento. Em menos de
dois meses, minha vida mudou completamente. Tudo ainda é
novidade, e às vezes é difícil separar as coisas. Apesar disso, nunca
estive tão feliz e satisfeito com minha vida. Jade é tudo que eu queria
ter, e eu não paro de pensar no homem de sorte que sou. Sobre meu
passado, preciso reorganizar as coisas. Não quero que minha vida
de solteiro me atrapalhe. Talvez esta conversa com Diana seja ideal
para começar a organizar a bagunça acumulada. Por sorte, Diana é
uma boa mulher e verdadeira amiga, assim, não terei problema em
colocar uma distância segura entre nós dois.
Se fosse uma vadia qualquer, como era o caso de alguns anos
atrás, o problema seria definitivamente maior. Agora que Jade
finalmente é minha, estou me preocupando com coisas que nunca me
incomodaram antes. Eu só quero protegê-la ao máximo do meu
passado. Não tive grandes relacionamentos com mulheres, apenas
sexo ocasional e sem compromisso. Tive uma ou duas amantes de
verdade além de Diana. Definitivamente eu não sou tão terrível nessa
questão. Mas ainda me preocupo. Quando se trata de Jade, tudo
pode ser grande demais. Ela é doce e inocente, não quero chateá-la
com o meu passado. E, agora que ela é minha, pode ser que a mídia
revire meu passado para conseguir Ibope. Isso me deixa irado, mas
é uma possibilidade. Então eu preciso encerrar de vez algumas
coisas. E mesmo assim isso não significa que não tentarão criar
algum escândalo. Escândalos na minha família são comuns. Afinal,
os Yassins nunca foram bons exemplos.

Jade Hamir

Emir entra no quarto, e eu imediatamente paro de comer para


observá-lo. De cara percebo que ele está diferente de quando ele
saiu daqui para a reunião. Ele parece mais tenso e preocupado.
Coloco minha bandeja de cama com o café da manhã de lado e
sorrio.

— Tudo bem? — eu questiono.

Emir finalmente parece perceber que está em minha presença


porque seu semblante muda completamente, e ele sorri para mim.

— Agora que você está aqui, eu não poderia estar melhor.


Emir se aproxima de mim a passos confiantes e se senta no meu
lado da cama. Ele estica o braço e pega uma tâmara da bandeja e a
leva à boca. Em seguida, escolhe uma uva e faz o mesmo. Eu
observo tudo em silêncio, apreciando o quão sexy ele é até mesmo
quando come. Emir então me encara, segura meu queixo e me faz
olhá-lo nos olhos.

— Tudo bem com você, Habibti? Está com dor ou desconfortável?


Preciso saber se você está realmente bem.

— Eu estou bem, não se preocupe — digo.

— Eu sempre irei me preocupar com você, Habibti. Você é minha


esposa, seu bem-estar será sempre minha prioridade.

Eu sorrio, tímida. Ele percebe minha timidez e me beija de leve na


testa. Em seguida, ele dá um selinho na ponta do meu nariz.

— Preciso resolver algo na empresa. Vou ter que sair, mas voltarei
assim que possível. Fátima é a governanta do castelo, logo você irá
encontrá-la. Qualquer coisa que precisar, é só pedir para ela, okay?

— Nós realmente vamos morar aqui? — eu pergunto, me sentindo


deslocada.

Emir suspira e acena.

— É o que esperam da gente, Habibti. Gerações de famílias Yassin


viveram aqui. Esposas de sheiks engravidaram e tiveram seus bebês
aqui. Este castelo sempre foi um símbolo para a família. Confesso
que ele não é tão importante para mim, porém é importante para o
meu povo. Você entende, não é?

Eu aceno, apesar de preferir a mansão isolado de Emir. Aqui é


como se eu estivesse sendo vigiada e fosse obrigada a seguir
regras. Mas eu não falo isso para Emir.
— Obrigada por entender, querida. Bem, preciso ir. Mas logo estarei
de volta. Seja uma boa menina e não apronte, okay?

Eu aceno obedientemente, sorrindo.

— Que boa garota eu tenho.

Emir beija minha testa e se afasta da cama. Em seguida, ele me


olha por alguns segundos. Satisfeito, ele sai do quarto, me deixando
sozinha com o meu café da manhã. Ele mal saiu do quarto, e eu já
estou sentindo a dor da perda. Sinto um sentimento de vazio, e
algumas lágrimas de frustração caem dos meus olhos. Estou
chateada, queria Emir só para mim por algum tempo. Nós nos
casamos há um dia e meio, e ele já tem que voltar para sua rotina
agitada. Ele teve uma reunião com o clã hoje, aqui mesmo no
castelo, um dia depois do nosso casamento.

Não acho que tenha sido uma reunião normal para assuntos
comuns. Para Emir aceitar uma reunião em pouco mais de um dia de
casamento, o assunto devia ser sério. E isso me chateia. Acabamos
de nos casar, mas parece que os problemas não estão afim de
darem uma trégua. Contudo, não há muito o que fazer. Eu me casei
com um sheik, sabia das consequências. Não sou novata nestes
assuntos, afinal, sou filha de um.

Termino de comer os alimentos da bandeja e me levanto, querendo


uma banho relaxante na banheira. Vou ao banheiro e me olho por
alguns segundos no espelho. Meu cabelo está um pouco bagunçado
e embaraçado, mas a aparência parece combinar com uma mulher
que há pouco tempo estava na cama com o marido. Meus cabelos
são longos e chegam ao meu quadril, e Emir não cansa de dizer que
os ama. Estou um pouco mais corada que de costume, mas em
compensação tenho olheiras debaixo dos meus olhos. A verdade é
que não dormi muito. É difícil dormir sabendo que agora sou casada
e que não moro mais com meus pais. Além disso, é assustador e ao
mesmo tempo emocionante ver um homem do meu lado na cama,
que me toca várias vezes na noite, ainda que dormindo, inconsciente.

Estou eufórica, estou assustada. Há tantos sentimentos diferentes


me dominando que às vezes tenho que me lembrar de respirar. Tiro
minha camisola e roupas íntimas rapidamente e me surpreendo ao
ver uma mancha de sangue na minha calcinha. Já tinha ouvido falar
que algumas mulheres podem sangrar um pouco depois de terem
perdido a virgindade, mas eu sinceramente achava improvável. Mas
pelo visto não é tão difícil de acontecer assim. Acho que tem a ver
com a segunda vez que fiz sexo, eu estava sensível e um pouco
dolorida. Mas não tenho muita certeza, não sou muito conhecedora
desses assuntos. Abro a torneira da banheira e, enquanto ela enche,
jogo alguns sais de banho relaxantes e espumantes. Entro após a
água estar num volume adequado. A sensação de relaxamento é
instantânea, e eu suspiro de contentamento ao sentir meus músculos
rígidos relaxarem com a temperatura da água.

Enquanto me lavo, começo a encontrar várias marcas de chupões


pelo meu corpo, principalmente em meus seios. Imagens de Emir
sugando meus seios me vêm à mente, e eu estremeço de desejo.
Nunca pensei que ter os seios sugados por um homem pudesse ser
tão prazeroso e viciante. Contudo, não acho que todos os homens
sejam bons nisso. Emir tem algo especial, o jeito que ele me toca é
indescritível, ele sabe me manipular com maestria. Eu não poderia
ter me casado com um homem mais sensual e profissional. Eu faço o
que eu posso para não pensar nas mulheres que ele treinou suas
habilidades, porque sempre que penso fico irritada.

Sinto certo desconforto ao lavar minha intimidade e até mesmo uma


leve ardência. Isso me faz lembrar que agora sou completamente de
Emir, e imagens da minha primeira vez, do meu marido tirando minha
virgindade, me vêm à mente. Foi um momento bonito, emocionante, e
muito, muito, excitante. Irei guardar no coração para sempre. Tenho
sorte, porque consegui sentir prazer na minha primeira vez, e sei que
não são todas que têm a mesma sorte. Confesso que não esperava
sentir prazer, mas Emir me surpreendeu ao se esforçar para me
fazer gostar também. Ele é um verdadeiro cavalheiro, e amo isso
nele.

Eu só não esperava a notícia bombástica de que ele já quer filhos.


Pouquíssimas vezes ele mencionou filhos comigo antes de nos
casarmos, e agora ele simplesmente confessa que quer bebês o
quanto antes. Eu também quero bebês, mas estava pensando em
começar a tentar tê-los depois de um ou dois anos. Contudo, Emir foi
claro ao dizer que já quer tentar. Fiquei muito surpresa e até mesmo
com medo. Acabei de me casar, não sei nem mesmo ser esposa,
imagina ser mãe. Eu não acho que estou completamente pronta para
a maternidade.

No entanto, eu entendi os motivos de Emir para não esperar mais


tempo para ser pai. Ele é um sheik, tem quarenta anos, e ainda não
tem filhos. Ele precisa de herdeiros. Em compensação, eu já tenho
28, não sou tão nova mais. Eu realmente não posso ficar esperando
tanto tempo, não se eu quiser ter gravidezes tranquilas e que não
sejam de risco. Ele disse que quer ter vários filhos e que, portanto,
não devemos esperar. Se estou com medo? Estou. Mas tenho
certeza de que irei superar, e então logo estarei familiarizada com a
maternidade. Não sei por que estou com esse nervoso todo. Minha
mãe engravidou do meu irmão mais velho com 18 ou 19 anos. Eu sou
10 anos mais velha que ela na época. E, mesmo jovem, Ester foi
uma excelente mãe. Creio que consigo ser tão boa quanto ela.

Meu pai sempre disse que filhos são bênçãos de Alá. Eu concordo.
Filhos são presentes e tornam a vida do casal mais completa. Se
Emir quer ter muitos bebês, então eu vou lhe dar os bebês. Só não
gosto muito de pensar sobre o parto. Fiquei sabendo que a tradição
da família Yassin é parecida com a da minha família. As esposas de
sheiks devem ganhar os bebês em casa, de parto natural, com a
ajuda de parteiras ou médicas. Atendimento hospitalar só deve ser
procurado em último caso. Morro de medo de parto, mas é algo
natural, e eu terei que enfrentar.
Olho para a minha barriga lisa debaixo das espumas e fico
imaginando um bebê crescendo ali. O pensamento me faz sorrir, e a
ideia não parece tão de outro mundo. Nunca tomei anticoncepcionais,
e Emir não usou camisinha nas duas vezes que esteve dentro de
mim. Então, talvez eu já esteja grávida. Se eu não estiver, terei
muitas chances para engravidar ainda. Ainda mais tendo um marido
como Emir, ele claramente é insaciável. Só não esteve em mim mais
vezes porque sabe que estou sensível. E ele deixou claro que não vai
usar preservativos, muito menos eu irei utilizar algum método
contraceptivo.

Balanço a cabeça para sair do torpor e expiro lentamente. Se eu


estiver grávida: tudo bem. Se eu não estiver: bem também. Não devo
ficar pensando nessas coisas. O futuro a Deus pertence, e eu
sinceramente não quero ficar neurótica por agora. Estou em lua de
mel. Bem, não de lua de mel, como deveria estar, mas ainda assim
sou uma recém-casada, então devo aproveitar o momento de
novidade, e não ficar adivinhando as coisas. Termino meu banho
rapidamente para não ficar divagando mais e passo alguns minutos
escolhendo algumas peças de roupa no meu closet. Enquanto visto
algumas peças básicas, volto meu pensamento para meu pai e
irmãos. Tenho certeza de que eles sofreram quando me viram entrar
no castelo para a noite de núpcias e mais ainda quando viram o
lençol estendido. Ainda bem que não tive que ver o rosto deles,
preferiria me enfiar num buraco. Estou com tanta vergonha só de
pensar em ver minha família de novo, que acho que vou demorar um
bom tempo para realmente criar coragem para fazer isso.

Meu pai deve estar lamentando no ouvido da minha mãe numa hora
dessas. Tenho certeza de que ele nem deve estar conseguindo
trabalhar direito. Ele é sempre dramático e exagerado quando se
trata de mim, e eu até me acostumei. Mas desta vez nem eu saberia
lidar com esse drama. Vai sobrar tudo para mamãe desta vez. Bem,
espero que ela tenha sucesso em consolar o marido, porque eu
realmente quero que ele se acostume logo com o fato de que eu
cresci.

∆∆∆

Decidida a conhecer o castelo, passo bastante tempo atravessando


corredores e entrando em quartos. O castelo é de estilo medieval,
mas tudo é novo e bonito. Está na cara que o lugar foi reformado há
pouco tempo, talvez não menos que vinte anos. Para uma mansão
com vários séculos, a reforma é bastante nova. Há vários quadros
pintados pelas paredes dos corredores, todos com incríveis
molduras douradas. Alguns são retratos dos antigos sheiks e suas
esposas, outros, de paisagens desérticas e até mesmo de animais,
como felinos em geral e camelos. Não sou uma conhecedora de arte,
mas não é preciso ser conhecedor para saber que eles foram
pintados por artistas muito talentosos. Enquanto observava o retrato
de uma jovem mulher em roupas tradicionais de sua época na cor
azul, uma voz atrás de mim me faz dar um grito de susto:

— Senhora, sinto muito! Não queria te assustar! — diz uma mulher


de aproximadamente quarenta anos.

Eu coloco a mão no coração e tento me recompor.

— Você é a Fátima? A governanta?

A mulher acena.

— Sim, senhora, sou governanta desta casa há algumas décadas.

— Entendo.

— O sheik me pediu para te mostrar o lugar, senhora. Também me


pediu para te ajudar no que precisasse.
Eu sorrio educadamente.

— É muita gentileza sua, mas eu prefiro conhecer a casa por mim


mesma. Quanto à sua ajuda, pode deixar que não hesitarei em te
chamar quando precisar.

— Tudo bem. Eu estarei na cozinha pelas próximas duas horas. Se


quiser me encontrar, é só pedir a algum funcionário da casa para te
mostrar o caminho.

— Obrigada, Zafirah.

A mulher abaixa a cabeça em sinal de respeito e em seguida se


afasta. Sozinha, começo a explorar o lugar. O castelo têm vários e
vários quartos, muitos banheiros e quatro salas de jantar. Uma delas
é esplendorosa e luxuosa, tenho certeza de que só é usada em
ocasiões muito especiais. Também visitei o jardim, que é
extremamente bem-cuidado, e eu sei que é por causa de Emir. Ele
gosta da natureza.

Encontrei um balanço em uma das árvores e acabei passando um


bom tempo balançando nele enquanto observava os pássaros
coloridos que vivem no jardim. Também encontrei uma fonte de pedra
com alguns peixinhos prateados. O lugar é um ótimo lugar para se
desprender dos problemas por algum tempo. Próximo ao jardim, há
uma grande área de lazer, com uma piscina aquecida e outras duas
de hidromassagem. Há um pequeno SPA, e vejo uma mulher no
lugar, provavelmente uma massagista.

Ela me vê através do vidro e sorri para mim educadamente. Com


vergonha por ter sido pega, me aproximo e entro no lugar. A primeira
coisa que sinto é o cheiro de incenso. A temperatura é agradável.
Uma música relaxante está tocando, e eu imediatamente me sinto
feliz por aqui ter este lugar. No castelo Jasmim não tem SPA, então
eu e minha mãe tínhamos que ir em algum. Mas parece que não terei
que sair de casa para isso mais.
— Bom dia, senhora. Gostaria de algum tratamento para
relaxamento ou beleza?

— Eu gostaria de uma massagem.

Ela sorri e me convida para seguí-la.

— Nós fazemos vários tipos de massagem. Gostaria de alguma


coisa com uso de pedras quentes ou aromas?

— Parece bom.

— Ótimo. A senhora pode tirar a sua roupa naquele banheiro. Ficar


nua ou de lingerie apenas é uma escolha sua.

A mulher, Karina, pelo que li no crachá, me entrega um roupão


branco.

∆∆∆

A massagem foi incrível, deliciosamente relaxante, era algo que eu


precisava e não sabia. Não saí do lugar sem antes dizer que voltaria
para fazer outras sessões em breve. Ao voltar para o castelo, o
almoço estava pronto, então almocei na sala de jantar mais simples
das quatro. Já de volta ao quarto, me lembrei da porta que havia ali
e que eu não tinha aberto ainda. Quando abri, fiquei encantada com
a visão de um quarto notavelmente feminino. A decoração é delicada
e clássica, os tons dos móveis e decorações são claros e neutros.
Estava claro que aquele quarto era para mim.

A construção do castelo foi há bastante tempo, então era comum


as mulheres dormirem separadas dos maridos, e estes irem até elas
quando quisessem sexo. Tenho certeza de que Emir preferiria
apenas um quarto para nós dois, mas, como este já exista, ele
decidiu redecorar para mim. Eu realmente achei o quarto de Emir
muito masculino, mas eu estava decidida a decorá-lo eu mesma em
breve, de forma que ficasse não tão masculino, mas também não tão
feminino. Agora, porém, isso será desnecessário. Olho
demoradamente, apreciando cada detalhe. Ao entrar no closet,
encontro várias roupas minhas e outras novas, que eu com certeza
não comprei. O banheiro é luxuoso e muito bonito. Vários produtos
de higiene e beleza eu pude encontrar em uma das gavetas abaixo
da pia.

Animada, mando uma mensagem de agradecimento para Emir.


Entretanto, me surpreendo quando ele me liga após visualizar a
mensagem.

— Então você gostou do quarto, princesa — ele diz assim que eu


atendo a ligação.

— Sim. Muito obrigada por ter decorado de acordo com meus


gostos, eu amei.

— Não tem o que agradecer, princesa. Você merece um ambiente


com a sua personalidade. Porém, não se engane, esposa, você
continuará dormindo comigo todos os dias.

É então que eu reviro os olhos e percebo que as intenções dele não


fora tão "boazinhas" assim.

— Claro que sim — digo com ironia. — Mas e se eu estiver com


raiva de você? Eu com certeza não vou querer dormir na sua cama.

— Você não tem que querer. Terá que fazer as pazes comigo antes
de dormir, ou então me aguentar e dormir com raiva. Eu sugiro que
seja uma boa garota e faça as pazes com seu marido.
Eu rio, pois é hilária a solução dele. Quando eu ia fazer uma piada,
Emir me surpreende com uma explicação:

— Eu quase mandei acabar com a porta de ligação e transformar


aquele quarto em mais um outro quarto comum. Mas então eu pensei
que poderia ser útil para quando você ganhasse bebê. Pois aí ele
poderia ficar naquele quarto, e você não teria que se deslocar muito
para amamentá-lo à noite. E, então, quando ele crescer, poderá
dormir no próprio quarto dele. Em seguida, o processo aconteceria
com os meus outros filhos.

Chocada com a informação, fico algum tempo em silêncio, sem


saber o que dizer. Não estou com raiva, chateada nem nada disso.
Só estou surpresa, não imaginei que ele pensaria tão a fundo em
mim como mãe de bebês. Ele realmente leva isso a sério.

— Hum, legal. — É tudo o que eu consigo dizer.

— Sei que estou jogando muitas informações sobre você, e tudo


parece demais. Mas eu quero que você entenda que não sou um
jovem e que, agora que eu tenho minha esposa, quero a minha
família o quanto antes, e da forma mais saudável possível.

— Eu entendo — digo, já recomposta.

— Você almoçou?

Eu estranho a pergunta dele, mas respondo:

— Sim.

— Ótimo, não quero que pule refeições. E Fátima? Você gostou


dela?

— Sim, Fátima é muito eficiente e discreta. Gostei dela. Eu também


conheci Karina e outra moça no SPA. Fiquei muito animada ao saber
que havia um na casa.

— Sim, eu quis colocar um no castelo. Fiz isso pensando mais em


você. Sempre que estiver estressada com alguma coisa, ou cansada
da rotina de ser mãe, poderá buscar algum relaxamento lá. E, o
melhor, lá só tem mulheres.

Eu reviro os olhos, mas sorrio.

— Eu com certeza vou precisar de um refúgio quando for mãe. Eu


me lembro que minha mãe vivia exausta com quatro crianças. Ela
nunca gostou de babás, e eu também não vou querer os serviços
delas em excesso.

— Ester sempre foi conhecida por uma mãe e esposa dedicada —


ele diz.

— Sim, minha mãe é dedicada à família. Bem, obrigada por isso,


pelo SPA e pelo meu quarto, gostei muito. Agora vou desligar porque
sei que estou te atrapalhando, e você precisa trabalhar.

— Você nunca me atrapalha, princesa.

Eu sorrio.

— Obrigada, mas sei que não é bem assim. Te vejo mais tarde.

— Até mais tarde, princesa.

Capítulo 23
Emir Yassin

Quando chego no castelo, imediatamente sinto paz. Coisa que não


era tão comum antes. Há algum tempo atrás, seguia minha rotina e
obrigações da maneira mais robótica possível, de forma a não
pensar muito no que tinha se tornado a minha vida. Quando chegava
em minha casa, a primeira coisa que fazia era tomar um banho e em
seguida observar o jardim através da parede de vidro enquanto
tomava uma taça de vinho um uma dose de Whisky. Após o álcool
fazer efeito em meu sistema, eu finalmente conseguia um pouco de
paz. Mal eu imaginava que eu poderia conseguir isso sem o auxílio
do álcool manipulando minha mente.

Quando se é acostumado a viver sozinho desde sempre, você não


sente falta de uma companhia, de alguém para conversar depois de
um dia terrivelmente estressante. Você não sente falta nem sente a
necessidade de ter aquilo que nunca teve. Mas isso não significa que
você não precisa de algo semelhante. Estou casado há
pouquíssimos dias, mas a mudança teve efeito radical em minha
vida. Sempre estou ansioso para chegar em casa, mas não para
simplesmente me desligar do mundo por algumas horas. Fico
ansioso ao pensar em quem estará lá quando eu chegar. E não é
Diana ou qualquer outra mulher que passou na minha vida. A minha
ansiedade não é para ter simplesmente uma noite de sexo selvagem
e descompromissado. A ansiedade é para encontrar a mulher que
me ama do jeito que eu sou, cheio de defeitos e cicatrizes passadas.
É diferente o sentimento de ser genuinamente amado, mais diferente
ainda é o sentimento perturbador e avassalador de amar uma mulher
a ponto de dar sua vida por ela se for preciso.
Se eu pensei que viveria uma experiência assim? Não. Se eu
queria? Também não. Mas a questão é que eu precisava, eu só não
sabia disso. Nunca fui possessivo com relação a alguém ou mesmo a
algo. O meu desinteresse pelas pessoas em geral me fazia ser um
homem racional e equilibrado. Mas eu definitivamente não sou esse
homem mais. O pensamento de ter uma garota linda e delicada só
para mim me deixa completamente alterado, louco, obcecado. O
ciúmes é incontrolável. Minha vontade é de prender Jade no castelo
e proibi-la de sair se eu não estiver com ela. Mas eu não posso fazer
isso, porque não quero sufocá-la mais do que ela já está. Estou me
esforçando para ser racional, mas não estou tendo muito êxito. Eu a
amo, ela é minha, e eu não quero que nada ameace nosso
relacionamento.

Às vezes eu tenho que me lembrar de não assustá-la com palavras


absurdas. Por sorte, Jade parece tolerar o meu jeito. Ela é
realmente a mulher para mim. Ela foi feita para você. Porra, Emir!
Por isso ela é tão perfeita assim. Eu penso várias vezes por dia em
como eu posso me certificar de que ela nunca irá embora para longe
de mim. Nenhuma ideia é melhor do que a de enchê-la de bebês,
assim ela sempre estará ligada a mim. E nós todos seremos uma
família até o fim.

Meu coração bate um pouco mais rápido quando eu giro a


maçaneta da porta do meu quarto. A expectativa de encontrá-la ali
foi desapontada quando eu olho ao redor e não a vejo. Fecho a porta
e paro por um segundo, e é então que vejo a porta de ligação meio
aberta. Um meio-sorriso brota em meu rosto. Ao entrar no quarto de
Jade, sinto seu cheiro por todo lugar. O cheiro mais gostoso de
todos: flores e doce. Me surpreendo quando a vejo na cama,
claramente dormindo. Não é tão tarde, não faz sentido ela estar
dormindo. Decidido a não dormir desapontado, tiro minhas roupas
rapidamente e subo na cama. Ela está vestida com roupas normais
ao invés de pijama.
Com cuidado para não acordá-la bruscamente, beijo de leve sua
testa, em seguida seu nariz fino e pequeno, e então sua boca. Mas é
só quando eu beijo seu pescoço que ela acorda. Jade abre seus
lindos olhos verdes e me encara confusa. Em seguida, ela pisca
algumas vezes e sorri, sonolenta.

— Que horas são? — ela pergunta.

— Aproximadamente sete horas da noite.

Jade faz uma careta.

— Era para ter sido só um cochilo. Dormi muito. Sinto muito por não
ter me encontrado acordada, Emir.

— Não se preocupe, Habibti. O importante é que você está acordada


agora — eu falo com malícia, e Jade cora.

Eu não demoro para agir. Antes que ela entenda o que está
acontecendo, eu tomo os seus lábios nos meus e a beijo. Exijo
passagem em sua boca quente e a domino. Jade se esforça para
acompanhar meu ritmo, mas acaba desistindo e me passando o total
controle da situação. Um gemido sai da sua garganta, e eu fico ainda
mais excitado. Enquanto a beijo, retiro seus shorts e sua calcinha.
Em seguida, rasgo sua blusa branca e retiro seu sutiã rapidamente.
Jade grita em minha boca quando eu introduzo um dedo em sua
entrada sem avisar. Ela já está molhada, mas eu quero mais. Com o
polegar, manipulo seu clitóris com destreza. Eu deixo sua boca e a
substituo por um seio empinado e louco por atenção. Eu chupo com
força seu mamilo, fazendo Jade gritar de desejo. Dou uma pequena
mordida ali, e Jade estremece. Em seguida, volto a sugar seu seio
com força. Depois de dar muita atenção a um, volto a atenção para
o outro, fazendo questão de sugá-lo tanto quanto o primeiro. Nunca
fui muito atraído por seios, mas, quando se trata dos de Jade, tudo o
que eu quero é sugá-los até ela entrar em colapso. Os seios de Jade
são incrivelmente bonitos, parecem que foram desenhados para o
meu prazer. E foram.

— Eu quero você, Emir — Jade diz, rouca pelo desejo.

Eu paro tudo e a encaro.

— Tem certeza de que você me quer, princesa? — eu pergunto em


tom satisfeito.

Ela acena, sua boca rosada entreaberta.

— E onde que você me quer, minha esposa?

Jade fica ainda mais vermelha.

— Você sabe onde!

Eu rio.

— Não, não sei. Você vai ter que me dizer onde você quer o seu
marido em você.

Jade aponta para sua própria intimidade e morde os lábios cheios.

— Na sua boceta? É lá que você quer o seu homem?

Jade ri.

— Meu homem? Você não acha esse adjetivo muito primitivo?

— Não. Porque é a verdade. Eu sou o seu homem, o único que já te


teve e o único que você vai ter.

Jade me encara por alguns segundos e depois olha para a minha


ereção escandalosamente explícita. Ela me olha nos olhos e morde o
lábio inferior. É aí que eu perdi o controle. Eu deito em cima dela,
tomando cuidado para não colocar meu peso sobre seu corpo
delicado, e forço as suas pernas se abrirem com os meus joelhos.
Jade solta um gritinho de surpresa quando de repente sente a glande
do meu pênis na entrada da sua boceta molhada.

— Espero que esteja pronta para mim, princesa.

Sem esperar uma resposta, eu a penetro fundo, completamente,


com força. Jade grita de desejo e desconforto. Eu coloco minha mão
entre nós dois e fricciono seu clitóris de forma exigente. Assim que
ela relaxa, retiro minha mão. Eu tiro meu pau e em seguida entro
completamente nela. Jade rapidamente pega o gosto do ato e
começa a acompanhar o meu ritmo com seus quadris. Ela geme,
rouca, conforme eu a reinvidico como minha uma e outra e outra
vez. Eu sou implacável nas estocadas e nada gentil, mas ela parece
lidar bem com a situação, pois sinto seus fluidos inundarem meu pau.
Um som obsceno e molhado inunda o ambiente, assim como minha
respiração ofegante e os doces gemidos roucos da minha princesa.

Eu sinto os músculos de Jade me apertarem com força, e então eu


sei que ela está perto. Aumento ainda mais o ritmo das estocadas e
belisco com força um de seus mamilos. Jade arregala os olhos e
goza, seu útero e canal vaginal contraindo em espasmos e me
levando junto. O aperto das contrações é tão grande e delicioso, que
eu me rendo imediatamente e gozo profundamente dentro dela,
lançando jatos de esperma em seu útero doce. Fico uns bons
segundos apenas descarregando porra e sentindo a intensidade do
prazer. Quando finalmente termino de esvaziar completamente dentro
dela, eu me retiro e encaro a mulher que me faz perder o controle
sempre que a vejo.

— Você está bem, Habibti?

Ela acena, corada e suada. Jade não poderia estar mais bonita e
sexy.
— Bem, princesa, se não tinha engravidado antes, agora você
engravidou — digo, brincando, mas ao mesmo tempo falando muito
sério.

Jade sorri envergonhada.

— Pode ser que sim.

Eu aprecio a sua resposta e sorrio também, em seguida, beijo sua


boca com carinho.

— Mas não há em que se preocupar. Se não for agora, será depois.


Só sei que logo estará carregando meu bebê. E então ele será
nosso.

Jade acena, meio que concordando. Mas ela ainda parece meio
embriagada pelo orgasmo que acabou de ter, então talvez não esteja
levando muito a sério o que eu estou falando. Ela olha para mim com
os olhos brilhando de afeto, e meu coração aperta de emoção. Eu
beijo sua testa demoradamente e então sussurro em seu ouvido:

— Te amo, princesa.

Ela parece surpresa com minha declaração. Jade se emociona e


diz, com a voz um pouco embargada:

— Eu também amo você, Emir.

Eu gentilmente passo a mão através de seus cabelos sedosos e


escuros e digo:

— Bem, eu sei que você está se sentindo relaxada, mas vai ter que
tirar sua bunda daí, garotinha. Você e eu vamos tomar banho agora.
Venha, vou te levar nos meus braços, esposa.
Jade Hamir

Eu abro meus olhos com dificuldade e tento me acostumar com a


luminosidade vinda da janela. Me espreguiço deitada e toco ao lado
para ver se Emir está ali. Vazio. Ele já foi. É claro que foi. Fico um
pouco desapontada, porque realmente queria acordar com ele ao
meu lado. Mas eu sei que isso não é possível, Emir acorda muito
cedo para ir à empresa, e eu acho cinco da manhã cedo demais
para mim. Então, terei que me contentar em dormir acompanhada e
acordar sozinha. Eu me sento na cama, passo a mão pelo rosto e
crio coragem para me levantar. Já no banheiro, escovo meus dentes
e tomo um rápido banho de chuveiro.

Quando estou colocando uma roupa no meu closet, Laila me liga, e


eu imediatamente sorrio.

— Laila, como vai, amiga?

— Estou bem, mas imagino que você esteja melhor. Como está indo
a lua de mel? — Laila pergunta num tom malicioso.

— Que lua de mel, garota? Nem tive o prazer de ter uma. Emir tem
muitas coisas para resolver, não vamos ter lua de mel pelos
próximos três meses.

— Para que viajar em lua de mel se a parte principal você pode fazer
em qualquer lugar?

Eu não aguento e rio do comentário ridículo de Laila. Apesar de que


faz todo sentido.

— Muito engraçado, amiga — eu digo sorrindo, num tom irônico.


— Mudando de assunto, Jade. Quando você vai estar disponível
para me ver? Não te vejo desde o casamento, e isso faz quatro dias.
Estou ansiosa para ver seu castelo. Vi só a parte exterior onde
estava acontecendo a festa.

— Você pode vir aqui o dia que quiser, Laila. Inclusive hoje. Você é
sempre bem-vinda.

— Então é isso. Vou hoje, estou ansiosa para você me contar os


detalhes da sua noite de núpcias.

Eu reviro os olhos, mas ainda estou sorrindo.

— Que horas você vem?

— Depois do almoço, lá por volta da uma da tarde. Tudo bem para


você?

— Claro, Laila. Vou te esperar, já estou ansiosa.

— E eu muito mais, amiga.

∆∆∆

Depois de ter feito um tour completo com Layla pelo castelo e


termos passado boas horas na piscina, finalmente fomos para o meu
quarto conversar mais tranquilamente. Neste momento, ela está
falando animadamente que vai se casar com Omar em breve e que
tudo é obra de Emir, que vai dar um melhor emprego para o amigo
na Yassin Enterprises. Ela parece muito feliz, e eu também estou.
Mas algo está me chamando mais atenção neste momento. Um
número desconhecido está na tela do meu smartphone enquanto ele
toca no silencioso. É extremamente raro eu receber ligações de
desconhecidos. Isso porque pouquíssimas pessoas têm o meu
número, para minha própria segurança. O meu chip é especial,
monitorado pela equipe de segurança da minha família, e agora pela
equipe de Emir. Laila percebe minha confusão e pergunta:

— O que foi, Jade? Você não para de olhar para a tela do seu
celular.

— É que estou apreensiva, um número desconhecido não para de


ligar para mim. E eu sou monitorada por equipes de segurança,
números desconhecidos não têm acesso a mim.

Laila também parece confusa.

— Certo, mas, e aí, vai atender?

Eu aceno.

— Vou. A curiosidade está me matando.

Assim que eu atendo com um "olá", a voz mais abominável que eu


conheço começa a falar:

— Boa tarde, putinha Hamir. Espero que esteja bem.

Um calafrio passa pela minha espinha, e eu fico pálida. Laila


pergunta quem é, mas eu não respondo.

— Por que você está me ligando, Ali? Como conseguiu o meu


número?

— Como eu consegui? Eu sou o sheik daqui, putinha. Emir não pode


ser mais do que eu, porque eu não morri — ele fala rindo, a risada
típica de um velho fumante. — Agora, o porquê é mais interessante.
Gostaria de saber?
— Acho que não — eu falo com medo.

— Que pena, é do seu interesse, putinha. Mas fique tranquila, você


não precisa pedir. Se trata do seu querido marido.

— O que tem Emir?! — eu pergunto, agora totalmente em alerta,


preocupada que algo tenha acontecido com ele.

Laila, ao escutar o nome de Emir, começa a ficar ansiosa ao meu


lado, já que eu não falei nada com ela sobre quem está conversando
comigo.

— Calma, coisinha de Tariq. Ele está bem, você não precisa entrar
em histeria.

— Então o que você quer comigo?!

— Apenas te atualizar das notícias. Olhe seu e-mail, você vai ter
uma bela surpresa. Acredite em mim, eu gosto de você, coisinha, e é
por isso que acho que você precisa saber a verdade sobre seu
querido marido. E, olha, sinto muito por você. Você é uma coisinha
tão romântica, não merecia isso. Até mais, Jade Hamir, ou deveria
dizer, Jade Yassin? Bem, não sei, você decide — ele diz
ironicamente e em seguida encerra a chamada.

— Quem era, Jade? — Laila me pergunta assustada.

— Ali.

— Ali?! Céus, o que ele queria com você?

— Disse que queria me dar uma notícia, mas nada que vem dele
pode ser bom — eu falo, desnorteada.

— E qual é a notícia?
— Vou descobrir agora. Ele disse que está no meu e-mail.

Laila se aproxima de mim para ver o e-mail comigo. Assim que eu


entro na página principal, vejo uma mensagem nova de uma conta
claramente fake. Não há nada escrito, apenas imagens em anexo.
Quando as abro, tenho a impressão de que vou desmaiar. Há uma
notícia de jornal que diz: "Sheik Emir se encontra com amante em
restaurante quatro dias depois de se casar com filha de sheik Tariq
Hamir". A notícia descreve o encontro de Emir com Diana, uma
francesa. Meu coração sangra, porque eu a conheço. Ela é a mesma
amante que meu irmão me avisou que Emir tinha, há alguns anos, e
que tinha aparecido com ele em fofocas de tabloides, como esta.

A notícia narra o momento que os dois tiveram na tarde e diz que


eles pareciam felizes e até se beijaram ao se despedirem. Eu olho
em lágrimas para a mulher beijando o canto da boca de Emir, e ele
com a mão descansando na cintura dela. Está claro que eles têm
muita intimidade. Com o coração despedaçado e o orgulho
massacrado, observo outras fotos do jornal, como Emir ajudando a
francesa a sair do carro e entrar no restaurante, hoje, e outras fotos
antigas, em que eles aparecem abraçados na frente da mansão de
Emir e de mãos dadas na França. Laila pragueja do meu lado, e eu
fico parada segurando o celular em estado de choque. Meu cérebro
está tentando assimilar a situação, mas tudo parece demais para
mim. Eu só quero desaparecer, sumir deste mundo.

Laila me abraça e diz que tudo vai ficar bem, que eu sou forte e que
vou superar, porque Emir é um desgraçado e nunca me mereceu. Ela
fala coisas sem sentido para mim, sobre eu recomeçar minha vida e
no futuro encontrar o homem que realmente irá me fazer feliz. Mas
eu não vou encontrar outro homem, nem em um milhão de anos.
Porque eu já tentei, mas nunca fui capaz de amar outro homem,
sempre foi Emir, mesmo sabendo que ele não gostava de mim.
Então, já que ele é um canalha, um maldito que roubou meu coração
só para me matar por dentro, eu ficarei eternamente sozinha, porque
nunca mais irei querer um homem em minha vida. Nunca mais irei
sofrer por alguém que não me merece.

Mas também não vou entregar meu coração para outro, mesmo se
ele for como meu pai é para minha mãe, ou meu irmão é para a
esposa dele. Eu não vou amar outra pessoa, porque meu coração é
incapaz. Eu deveria saber que nunca daria certo com Emir. Ele
passou anos me afastando, dizendo que eu não era para ele. E eu
realmente não sou. Maldito coração suicida. Agora eu estou
quebrada para sempre. Minha alma está morta, todos meus sonhos
foram despedaçados, e eu não sei mais se eu quero viver. Eu não
vejo mais sentido na minha vida, porque absolutamente tudo que eu
acreditava foi destruído.

— Você vai superar, amiga. Você é forte. Você vai ser feliz sem ele,
porque você merece. E ele irá pagar pelo que fez. Tudo o que a
gente faz a gente paga. Ele é um monstro, enganou você e a todos,
não se culpe e não se destrua por causa dele.

Laila continua dizendo várias coisas para me manter firme. Mas eu


não estou ouvindo realmente. Estou escutando, fisicamente, mas não
estou raciocinando as palavras. Eu nem mesmo estou chorando, só
estou parada olhando para a tela apagada do celular, sem estar
pensando em nada específico. Eu posso até mesmo escutar minha
respiração e a respiração de Laila. Eu estou estranha, não sinto
nada, só tenho a impressão de que perdi um pedaço da minha alma,
e então tudo o que eu sinto é um vazio imenso, como se eu tivesse
sido privada de uma parte importante de mim.

— Vamos, eu vou te levar para minha casa. Você precisa de um


tempo para pensar e descansar.

Eu balanço a cabeça, dizendo que não.

— Eu quero fugir, Laila, desaparecer. Eu quero ir para um lugar que


ninguém vai saber o que me aconteceu, eu só quero... sumir.
Laila me olha preocupada.

— Mas isso é perigoso, Jade. Você não pode sair pelo mundo
sozinha. Você é muito rica, pode ser sequestrada ou algo pior. Talvez
a casa dos seus pais seja melhor.

— Não! A casa dos meus pais não. Eu não conseguirei olhar nos
olhos deles, porque meu pai estava certo o tempo todo, e eu ignorei.
Eu fui burra, tola e desobediente. E meus pais se sentirão arrasados
e culpados, porque eles aceitaram meu casamento.

— Jade, mas você não pode sair por aí assim. Seus pais ficarão
desesperados querendo te encontrar.

— Eu não vou sumir para sempre. Só preciso de algum tempo, talvez


um ou dois meses. Em seguida, irei encontrá-los. Mas não posso
fazer isso agora, você tem que me entender, Laila. Estou morta por
dentro e, mais do que tudo, envergonhada. Eu fui traída e humilhada.
A minha humilhação é tão grande que eu não conseguirei nem olhar
para os meus pais. Eu preciso de um tempo só para mim. Eu preciso
me redescobrir para conseguir encarar tudo de frente, coisa que
neste momento eu não tenho forças para fazer.

Laila me olha angustiada.

— E para onde você pretende ir?

— Isso é segredo, não posso dizer.

— Mas eu sou sua amiga, não vai dizer nem para mim? — ela
pergunta ofendida.

— Não é isso, amiga, por favor! Neste momento, você é a pessoa


que eu mais confio.
— Então por que quer guardar um segredo tão sério quanto esse de
mim?

— Por causa de Tariq e Emir. Eles vão fazer chantagem em você até
você falar onde estou. Por mais que você tente guardar o segredo,
não vai conseguir. Eles são impiedosos quando querem algo. No
caso do meu pai, ele até mesmo prejudica a pessoa.

Laila arregala os olhos.

— Que horrível! Mas então como eu vou convencê-los de que não


sei onde você está?

— Fazendo nada. Geralmente homens assim sabem quando estão


mentindo e quando falam a verdade.

— Ai, Jade, eu estou com tanto medo por você, por mim... Deus,
não consigo digerir a ideia de você sozinha num país estranho.

— Fique tranquila, eu vou me cuidar.

— Você voltará logo, não é?

— Assim que eu estiver melhor, eu voltarei.

Laila acena e suspira.

— Se não tenho como te impedir, então pelo menos tentarei te


ajudar. Do que você precisa?

— Então, vou precisar ir no banco para pegar a maior quantidade de


cédulas possíveis. Não posso simplesmente usar meus cartões ou
minha conta bancária quando não estiver aqui, pois obviamente serei
rastreada. Também irei comprar um novo celular e chip. Terá que ser
muito rápido. Antes disso, você me ajuda a arrumar minha mala?
Estou meio zonza e aérea, não sei por onde começar.
— Claro, amiga, pode deixar que vou te ajudar com tudo. Pelo
menos assim não ficarei tão preocupada com sua segurança e bem-
estar.

Capítulo 24

Jade Hamir

Laila me ajudou a fazer uma pequena mala com algumas roupas e


coisas essenciais. Em seguida me acompanhou quando fui ao banco
pegar parte do meu dinheiro, ela também me acompanhou na hora
de comprar um novo celular. Fizemos tudo muito rapidamente,
sempre com medo de sermos pegas. Eu dispensei meus seguranças
e não foi uma tarefa fácil. Disse que só iria na casa de Laila
rapidamente, mas eles mesmo assim queriam me acompanhar. Foi
difícil convencê-los a me deixarem um pouco em paz. Felizmente,
com muito sufoco, eu consegui.

Foi difícil finalmente ir embora. No momento que cheguei no


aeroporto para decolar no meu avião, o qual consegui uma
passagem de última hora, Laila começou a chorar, meio que com
medo por mim. Eu também chorei um pouco, mas consegui me
controlar. Disse que em breve estaria de volta e que tudo ficaria
bem. Eu não estava acreditando muito nisso, mas sabia que esse
era o melhor pensamento que eu poderia ter. Foi no momento que eu
decolei que a realidade finalmente caiu. Agora, estou chorando
compulsivamente, o mais silenciosamente possível para não chamar
a atenção dos passageiros na primeira classe. Por sorte há uma
barreira automática para me separar do resto das pessoas, assim
elas não podem ver o meu rosto vermelho e molhado.

Deus do céu, o que foi que aconteceu? Eu ainda não consigo


acreditar que aquilo realmente aconteceu. Emir me traiu. O homem
que eu amo, o meu marido, aquele que tirou minha virgindade, que
me prometeu fidelidade e respeito até a morte. Parece irreal demais
para mim. Estou em fase de negação, é difícil demais a verdade. Há
alguns anos, meu irmão Ahmed me mostrou uma notícia de fofoca
que mostrava Emir com uma amante, a mesma das fotos que Ali me
mandou hoje. Eu fiquei arrasada e passei a lutar contra meus
sentimentos por Emir. Mas ele voltou depois de um tempo para me
iludir e fazer cair na sua lábia novamente. O resultado é o que se vê
hoje. Estou casada com um homem há quatro dias e já fui traída.

Ele me prometeu que não tinha mais amantes, que já tinha desfeito
relações anteriores. Ele me prometeu. E eu fui ingênua em acreditar.
A dor da traição é terrível, é humilhante e punitiva. Me sinto culpada
por não ter ouvido o conselho do meu pai e irmãos quando me
disseram que Emir não era para mim, que eu merecia alguém
melhor. O preço da minha desobediência está sendo grande. Perdi
minha pureza, minha dignidade e o meu coração por um homem
inescrupuloso assim como o pai. Fui extremamente ingênua ao
pensar que ele era diferente, que ele era bom.

Eu não sei o que será de mim a partir de agora. Me casei tarde,


perto dos trinta anos, tudo porque não conseguia enxergar outro
homem além de Emir. Não sei se conseguirei me casar com outro
homem, não depois de tanta luta para conseguir me casar com um
homem que, no fim, destruiu meu coração. Meu objetivo agora é
viver um dia de cada vez, apenas sobreviver. Dizem que o tempo
cura tudo. Eu espero que isso seja verdade e que não demore muito.
Não posso ficar tanto tempo escondida. Minha família ficará
desesperada. Eu entrarei em contato em breve para dizer o que
aconteceu, mas ainda preciso encontrar um meio seguro de fazer
isso sem que eles descubram onde eu estou.

Que Alá me dê forças para superar algo tão horrível, porque sem
ajuda divina eu talvez não conseguirei. E espero que tenha escolhido
o país ideal para pensar um pouco. Sempre tive vontade de
conhecer a Espanha, dizem que as praias são muito bonitas. É uma
pena que eu esteja realizando meu desejo no pior momento da minha
vida. Até as coisas mais belas se tornam sem graça quando seu
coração está machucado.

Emir Yassin

— Vocês não sabem onde ela está?! Como que porra vocês não
sabem onde minha mulher está?! Vocês deviam estar com ela neste
momento, caralho! — eu grito, histérico e nervoso.

Os dois seguranças de Jade me encaram com medo nos olhos.

— Ela disse que iria rapidamente na casa da amiga Laila e que não
queria nossa escolta. Nós insistimos que fôssemos com ela, mas a
senhora Yassin foi irredutível e não nos permitiu acompanhá-la. Após
algumas horas, ligamos para o celular da senhora Yassin para
perguntar quando ela iria voltar, mas só dava caixa postal. Quando
ligamos para a amiga, ela disse que não sabia de nada e que, na
verdade, Jade não foi em sua casa. Disse que Jade pediu para ela
levá-la ao centro da cidade, uma carona. E então Laila foi embora.

— E por que Jade não voltou até agora?! Onde está a minha mulher,
seus incompetentes?!
— Senhor, nós não sabemos. Rastreamos o celular da senhora
Yassin e o encontramos no lixo de uma rua movimentada do centro.
Perguntamos a alguns militares se eles viram a sua esposa, mas
ninguém sabia dizer aonde ela tinha ido.

— Por Alá, como vocês permitiram ela sair sozinha?! Vocês sabem
as milhões de coisas que estão passando na minha cabeça?! Ela
pode ter sido raptada, seus vermes! Minha esposa pode ser sido
sequestrada por uma quadrilha organizada que quer dinheiro em
troca da vida dela. Isso na melhor das hipóteses! Ela pode ter sido
levada para outras coisas. Deus!

Eu começo a sentir uma forte dor no estômago, e a minha cabeça


dói como se eu tivesse chumbo ao invés de cérebro. Uma imensa
vontade de vomitar passa a tomar conta de mim, e eu tenho que me
segurar no sofá da sala para não cair. Estou suando frio, e a minha
vontade é de gritar para os quatro ventos a minha angústia. Nunca
senti algo tão terrível, tão desesperador. Eu só consigo pensar no
que pode ter acontecido com Jade, e todas as hipóteses levam para
caminhos sombrios e desesperadores. Eu estou a ponto de entrar
em colapso, meu corpo está dando sinais de que não estou nada
bem. Ela é tudo para mim. Nunca irei me perdoar se algo acontecer
com minha esposa. Eu jurei protegê-la com minha vida, e então, na
primeira semana de casamento, eu a deixei deslizar de minhas mãos.

Eu fui um idiota que não soube proteger a própria esposa. Estou


me sentindo um filho da puta. O que eu fiz?! Deveria ter me atentado
para a segurança da minha esposa desde o primeiro segundo que
ela passou a morar sob o meu teto. Eu deveria ter deixado regras
claras de que ela JAMAIS poderia sair sem uma escolta. Eu não fiz
isso, e, para piorar, os seguranças de Jade são incrivelmente burros.
Alá, eu não sei o que fazer. Eu realmente preciso de luz divina
neste momento, pois o caso realmente é muito sério. Jade está sem
o celular, não temos nenhum contato com ela. Preciso contatar o
sheik Tariq. A situação é extremamente preocupante, e iremos
precisar de toda a influência que possuimos para encontrá-la.
Eu olho para os dois vermes na minha frente e aponto para a saída
da minha casa.

— Fora! Vocês estão demitidos! Quanto antes vocês saírem daqui,


melhor. Antes que eu faça algo contra vocês.

Não foi preciso repetir a ordem. Os dois homens saem


rapidamente, com o olhar baixo e a postura tensa. Quando
finalmente fico sozinho, eu desabo. Sento no sofá e seguro minha
cabeça entre minhas mãos. As lágrimas aparecem em pequena
quantidade, mas elas representam mais dor do que eu já senti em
toda uma vida. A última vez que eu chorei foi quando descobri que a
minha mãe tinha realmente morrido, e isso faz muito tempo.

— Alá, cuide de Jade, proteja-a, porque eu não fiz isso, e agora ela
pode estar em perigo.

Eu tiro meu celular do bolso e olho para a imagem da tela inicial. É


a foto de Jade vestida de noiva, sorridente e incrivelmente linda. A
foto antes me trazia alegria, agora só me traz angústia, culpa e
desespero. Eu seleciono o contato de Tariq e ligo. O homem me
atende no terceiro toque:

— Yassin — ele diz com o tom seco.

— Preciso me encontrar com você rapidamente, Tariq. Jade sumiu.

— O quê?! Que porra você está falando, seu desgraçado?!

— Acredite, nem eu sei direito o que estou dizendo. Pegue seu


helicóptero e venha para cá.

— Eu vou. Se alguma coisa acontecer com minha filha, Yassin, eu


irei dar um tiro na sua testa.
— Se alguma coisa tiver realmente acontecido com sua filha, Tariq,
eu não irei te impedir.

Jade Hamir

Três semanas depois...

É impossível não pensar na minha vida, nas minhas decepções e


desgraças, mesmo estando num lugar tão paradisíaco e encantador.
Estou debaixo da minha sombrinha de praia, deitada numa cadeira
também de praia, olhando para o mar azulado e calmo. O dia está
lindo, ensolarado e feliz. Mas meu coração ainda está morto, e nada
parece fazer sentido para mim. Estou sozinha e poderia estar me
sentindo livre, mas na verdade nunca me senti tão presa e sem vida.
Não houve um dia que eu não pensasse em Emir e chorasse até
perder os sentidos. Toda vez que eu pensava em voltar e perdoá-lo,
eu me obrigava a lembrar do motivo de eu estar aqui, e então eu
finalmente recuperava o controle. Aquelas imagens... Diana o
beijando, quase tocando sua boca. Aquelas imagens têm o poder de
me fazer sangrar, eu as vejo todos os dias para ver se elas me dão
força para sair do fundo do poço que me encontro.

Quando estava aqui há dois dias, contratei uma pessoa na internet


para contatar a minha família em meu lugar. Escolhi uma moça da
Argentina para mandar um vídeo meu de forma anônima para o meu
pai. Se eu mandasse o vídeo, seria rastreada, então tive que pagar
alguém de um lugar bem distante e desconhecido para fazer isso
para mim. Nesse vídeo, eu falei que tinha ido para outro país passar
um tempo e recuperar minha saúde mental. Disse superficialmente o
motivo, a traição de Emir, mas sem entrar em muitos detalhes.
Mencionei as fotos e só. Expliquei que estava bem, segura e longe
de perigo, também prometi que voltaria em dois meses. Meu pai
mandou um vídeo para a mulher argentina, e ela me reenviou. Nele,
meu pai implorava para que eu voltasse, porque não conseguia
dormir sem pensar na minha segurança. Disse que a solução era a
minha separação de Emir, e só isso já resolveria, disse que iria voltar
a cuidar de mim.

Novamente, mandei um vídeo dizendo que ficaria os dois meses


fora, pois precisava de um tempo para mim. Para tranquilizá-lo, menti
ao dizer que tinha um segurança de aluguel comigo. Eu sei que meu
pai e Emir burlaram todas as leis para me encontrarem, inclusive
olhar o sistema dos aeroportos para descobrirem aonde eu fui. Mas
eu não sou burra, não vim para a Espanha em um avião. Eu fui de
avião até Portugal, em seguida vim para cá de navio. Fiz o possível
para não deixar rastros e tenho certeza de que eles não irão me
encontrar.

Às vezes me sinto uma idiota fugindo dos meus próprios problemas.


Mas talvez seja porque eu realmente sou uma idiota. Somente uma
idiota passaria boa parte da vida desejando e sonhando com um
homem inescrupuloso. Me sinto humilhada, e até mesmo suja. Sinto-
me usada, como um copo descartável. E é essa vergonha de mim
mesma que me faz fugir de tudo e de todos. Não sei como
conseguirei encarar meu pai quando eu voltar. Ele se sentirá culpado
por ter me permitido casar com Emir, e eu não saberei como
tranquilizá-lo, pois não consigo fazer isso nem comigo mesma.

Tenho ocupado meu tempo pensando no que farei da minha vida


agora. E estou pensando em me mudar para New York, onde está
uma filial da empresa de papai, gerida por meu irmão Ahmed. Penso
em finalmente exercer minha profissão de arquiteta. Sempre fui
impedida de trabalhar fora, o que só me restava a opção de realizar
pequenos trabalhos online, e mesmo assim quase que escondido.
Agora, no entanto, quero ser livre e trabalhar como uma mulher
normal. Minha família diz que é perigoso, que sou rica demais para
trabalhar como uma mulher normal. Mas eu sinceramente não me
importo. Posso não ser "normal", mas eu quero me sentir como uma.
Talvez se eu tivesse uma vida mediana, eu não teria tido tantas
decepções na vida.

Cansada de observar a paisagem, eu me levanto e caminho pela


areia quente devido ao sol. A alguns metros, encaro o homem branco
bronzeado olhando para mim. Ele é bonito, claramente um espanhol,
e parece vidrado em mim. Envergonhada, olho para o chão e ando
rapidamente de volta para minha cadeira de praia. Em seguida, eu a
dobro e pego minhas coisas, decidida a voltar para o chalé que
aluguei para minha temporada aqui. Eu nem mesmo olho novamente
para o homem, mas consigo sentir o olhar dele em minhas costas.

Entro no meu cômodo do chalé com um suspiro de alívio. Eu não


me sinto confortável quando um homem me olha por muito tempo.
Emir foi o único que me fez sentir bem ao ser apreciada. Eu fecho
meus olhos com força para tentar afastar esses pensamentos
ridículos e sádicos da minha cabeça. Abro a porta do meu quarto,
pronta para retirar meu biquíni e entrar no banheiro a fim de tomar
um bom banho de chuveiro. Quando olho para minha cama, no
entanto, eu quase desmaio. Minhas pernas ficam bambas, e eu fico
em estado de completo choque.

— Querendo fugir do seu marido, princesa? — Emir diz, deitado na


minha cama, um braço apoiado na cama e a mão ao lado da cabeça,
a fim de ficar numa posição confortável para me encarar.

Eu sinto meu coração disparar e o ar fugir do meu pulmão.

— O que... O que você está fazendo aqui, Emir? Como você me


achou? — O choque me faz parecer mais calma do que estou.

Ele sorri sedutoramente e me analisa de cima para baixo, olhando


meu corpo muito à mostra devido ao biquíni.

— Estou aqui para levar o que me pertence de volta, princesa. Ou


acha mesmo que iria se livrar de mim? Até que a morte nos separe,
lembra?

— Ou até que uma das partes pratique traição! — eu grito com ódio.

Emir me encara com o olhar sombrio.

— Estou muito decepcionado com você, Jade, não achei que fosse
duvidar tão fácil do caráter do seu marido, ou mesmo do respeito
que ele tem por você.

— Eu recebi provas!

— Provas fora de contexto. Contexto que você nem mesmo procurou


saber qual era. Eu nunca pensei que você julgasse tão mal as
pessoas sem saber a história completa, pensei que fosse mais
racional, principalmente quando a acusação é contra seu próprio
marido. O pior é que o marido em questão é o homem que você
ama, mas que mesmo assim não foi capaz de ter uma conversa de
adulto com ele para esclarecer os acontecimentos.

— Não há o que esclarecer, você me traiu! Eu vi as fotos, aquela


mulher estava praticamente beijando a sua boca! Ela é sua amante,
já vi notícias de vocês dois juntos anos atrás!

— Mas ela não beijou. E eu não te trai. Nem sempre os sentidos são
confiáveis, Platão já dizia isso milênios atrás. Pessoas maldosas
podem distorcer os fatos, senhora Yassin. É por isso que devemos
fazer uma dura pesquisa antes de tirar qualquer conclusão
precipitada. Conclusões precipitadas podem levar relacionamentos a
ruínas. E eu não quero isso, apesar de você não parecer se
importar.

— Pare de se fazer de vítima! Eu não sou tola, Emir. Aquela mulher


é a francesa Diana. Há cerca de dois anos Ahmed me mostrou uma
notícia de fofoca sobre vocês dois. Eu não sabia de seus
relacionamentos sem compromisso, e fiquei arrasada, também decidi
desistir de você. Mas então você que decidiu me conquistar, na
época do nascimento da minha sobrinha. Você me prometeu que
acabaria com esses relacionamentos horríveis para sempre! Eu fui
enganada!

— Eu não te enganei. Eu nunca te traí, Jade. Só seria traição se eu


tivesse tido um relacionamento com outra mulher depois de casado
com você. Coisa que não tive, nem nunca terei. Você é a minha
esposa, e é só você que desejo.

— Eu não acredito em você!

— Pois deveria! Você prefere acreditar em imagens enviadas pelo


meu pai, sabendo quem ele é, do que confiar no caráter do seu
marido?! Cresce, Jade! Você já passou da idade de crescer.

— Como você ousa?! Você me trai com outra mulher, deixa ela te
beijar, e depois vem dizer que preciso crescer? O único que precisa
amadurecer é você, Emir. Porque você é o único culpado por destruir
o nosso casamento.

— Destruir o caralho! Ninguém vai destruir o nosso casamento, Jade,


nem mesmo você! Esse casamento será até a nossa morte, você
terá que aprender a lidar com isso, mesmo que até hoje não esteja
madura para lidar com responsabilidade.

— Pare de me chamar de imatura! Você estava beijando uma mulher


enquanto eu estava na sua casa, preocupada em me tornar uma boa
esposa para você! Você sabe o que é isso?! É humilhante! Eu fui
humilhada! — A minha voz começa a falhar, e de repente estou
chorando copiosamente. — Eu fui humilhada pelo meu próprio
marido! Traída em plena lua de mel!

Em meio às lágrimas, vejo Emir se levantar da cama e andar


rapidamente até a porta do quarto, que é onde estou. Ele me puxa
para dentro com força e tranca a porta. Em seguida, segura meus
braços e me sacode com força, me fazendo chacoalhar enquanto
choro.

— Eu não te traí, porra! Você é minha esposa, e eu prometi te amar


e honrar até a minha morte! Eu não te humilhei! Você é a única
mulher que existe para mim, Jade, você é o meu mundo agora, a
carne da minha carne, por que eu faria isso? Eu te amo, caralho!
Isso não é prova suficiente para você? Você é a pessoa que eu mais
amo neste mundo, eu morrerei por você se um dia for necessário.

— Mentira! Você não me ama! Você estava se encontrando com uma


mulher, que era sua amante, mesmo depois de casado! Você
permitiu que ela te tocasse intimamente, que praticamente te
beijasse em público. Isso não é prova suficiente de traição para
você? Pois para mim é, e para o resto das pessoas que ficaram
sabendo desse escândalo também!

Emir me encara com muita raiva, em seguida, ele segura meus


pulsos e me obriga a encostar no corpo dele. Eu protesto, e ele me
ignora.

— Desde o momento que eu pedi você em casamento, há dois


meses, eu nunca mais toquei em outra mulher, e nunca mais vou.
Deixe de ser paranoica, Jade. Aquelas fotos, aquelas fofocas, não
significam nada, porra! Nada! Diana queria me encontrar para dizer
que iria voltar para a França. Ela esteve em Abu Dhabi por algum
tempo, depois de ter tido um relacionamento de anos acabado. Ela é
uma amiga antiga. Nós também fomos amantes, mas tudo acabou
quando eu decidi que precisava casar com você. Terminei com
Diana, e ela entendeu. Não temos nada além de amizade. Você
poderá conversar com ela se quiser. Eu posso ligar para ela, ou
então vocês podem se encontrar pessoalmente. Eu não tenho nada a
esconder.

— Como você pode se encontrar com uma mulher que era sua
amante? Isso é tão humilhante! Está claro que ela ainda tem muita
intimidade com você!

— Eu já disse. Ela queria me dizer que logo se mudaria de volta para


o país dela. Diana é uma amiga de longa data, por isso a
"intimidade". Mas ela é assim. Mesmo quando estava casada, ela
ainda me tratava com proximidade, mesmo sem nenhum sentimento
amoroso envolvido.

— Sabe o que eu acho?! — eu grito, morrendo de ódio. — Eu acho


que você gosta desta mulher, gosta além de amizade! É por isso que
ainda se envolve com ela!

— Não seja ridícula, garota! — Emir rosna. — Ela é uma amiga. E


eu também precisava de sexo, sou um homem. Juntei o útil ao
agradável. Ela também fez o mesmo. Nossa relação era
completamente desprovida de seriedade ou sentimentos amorosos.
Diana não significa nada para mim além de uma antiga amizade, e
posso dizer que para ela também é a mesma coisa.

— Eu não sei se posso acreditar em você, Emir. Você se encontrou


com uma mulher que é conhecida por toda a região por ser sua
amante. Eu não sei em que pensar. Estou transtornada.

— Eu não posso te obrigar a acreditar em mim, Jade — ele diz


enquanto me encara. — Mas isso não significa que deixarei você
fazer o que quiser, como está fazendo neste momento, fugindo de
mim. Como seu marido, posso te obrigar a voltar para casa, e é isso
que vou fazer.

Eu arregalo os olhos, sentindo meus batimentos cardíacos


aumentarem.

— O que?! Eu não vou voltar com você!

— Ah, vai, sim. Você vai, princesa. Tenho todos os direitos sobre
você, lembra? Como minha esposa, seu lugar é onde eu quiser. E,
independente de seu ódio idiota por mim, você vai voltar para casa
comigo.

— Você não pode me obrigar! Quando meu pai souber disso, você
vai se arrepender, Emir!

— Ele não poderá fazer nada, esqueceu que agora você é


responsabilidade minha? Além disso, ele irá me agradecer. Pois
estarei levando a filha dele de volta para nosso país. Nós dois
estávamos correndo contra o tempo para te encontrar. Ele ainda não
sabe que te achei, mas fique sabendo que ele irá me agradecer por
isso. Você é uma mulher inconsequente, essa sua fuga poderia ter
gerado terríveis consequências para você, como um sequestro. Você
tem que agradecer a Alá por ter passado tanto tempo despercebida,
e por ter ficado segura num lugar afastado como este. Confesso que
você foi esperta, pois conseguiu nos ludibriar. Mas isso poderia ter
custado sua vida. Já pensou nisso? — A voz de Emir transmite falsa
calma. Pois está claro que ele está a ponto de explodir e voar no
meu pescoço.

— Nada aconteceu comigo. Eu sabia dos riscos e tomei decisões


acertadas e pensadas.

— Você teve sorte, Jade. Muita sorte. Mas uma hora ela pode
acabar, sabe disso, não é? — ele rosna no meu ouvido. — Eu estou
cansado de conversa. Estou estressado e muito, muito nervoso com
você. Vamos para casa, antes que você enfeitice algum homem
neste lugar, como aquele espanhol que te observava lá fora. Quase o
matei, mas iria chamar muita atenção.

— Você é louco!

— Talvez. Mas isso não é relevante neste momento. Vamos, minha


equipe está esperando na parte de trás deste chalé.

— Eu não vou a lugar nenhum com você!


— Eu acho que você vai sim, princesa.

Ele me obrigada a seguí-lo até o guarda-roupa. De lá, ele tira um


vestido meu e novamente me obrigada a vesti-lo. Em seguida, faz o
mesmo com uma sapatilha. Logo estou sendo arrastada para fora do
lugar. Sem nada, nem mesmo meu celular.

— Minhas coisas! — eu protesto.

— Você não irá precisar delas. Você só precisa de mim, esposa.


Mas pelo visto ainda não percebeu isso.

Capítulo 25

Emir Yassin

Fiquei totalmente descontrolado quando descobri que Jade estava


escondida em uma praia mais isolada da Espanha, como se
estivesse de férias. A garota foi esperta e soube deixar poucos
sinais. Ela chegou a Portugal de avião e foi até a Espanha em um
navio de cruzeiro. Foi mais difícil do que imaginei encontrá-la. Até
mesmo Tariq ficaria surpreendido com tamanha proeza. Assim que
meus agentes descobriram onde ela estava, rapidamente reuni uma
boa equipe para ir comigo buscá-la. Não avisei Tariq de que eu já a
encontrei. Ele saberá quando eu achar que é o momento certo. No
momento, estou muito estressado para ter que lidar com um pai
preocupado e com raiva da própria filha. Já basta eu que estou da
mesma maneira.

Os dias que se passaram sem ter notícias de Jade foram como a


amostra do inferno para mim. Nunca me senti tão encurralado na
vida. Eu não consegui trabalhar em todo esse tempo, Ismael teve
que ocupar o meu lugar na empresa. Contudo, continuei fazendo meu
papel de sheik como se nada tivesse acontecido. O clã não sabe que
Jade fugiu, eu não deixei que soubesse. Isso seria um escândalo
enorme e geraria inúmeros problemas. Jade poderia ser acusada de
adultério e até mesmo ser linchada pelo meu povo. O clã poderia
pedir um divórcio por justa causa, e seria extremamente difícil
comprovar que ela não me traiu. Assim, mesmo em meio à
ansiedade e angústia, escondi a fuga de Jade. Para dizer a verdade,
eu até mesmo distorci o fato. Disse que dei um presente de
casamento para minha esposa: férias na Europa. Pois, já que não
poderia sair em lua de mel no momento, gostaria de que ela tivesse
um momento de descanso. Deixei claro que ela estava acompanhada
por bons seguranças e que não ficaria longe por mais de um mês.

Três semanas se passaram, e eu já estava suando frio. Jade ainda


não tinha aparecido, e eu precisava encontrá-la, ou então o seu
sumiço seria descoberto, o que traria terríveis consequências para o
nosso casamento. Além da pressão do clã, havia a minha imensa
preocupação com a segurança da minha esposa. No entanto, quase
sempre eu estava dominado pelo ódio, rancor e sentimento de ter
sido traído. Ela me deixou, quis me abandonar. Ela preferiu acreditar
num desgraçado como meu pai do que em mim que sou seu marido.
Que amor é esse? Nunca vi amar com o coração cheio de dúvidas
asquerosas. Sinceramente, é inacreditável um amor assim. Sobre
meu pai, ele terá a vez dele. O velho está sempre me olhando com
seu olhar nojento e sádico. Desde o ocorrido, ele sempre me dá
breves olhares risonhos durante as reuniões do clã, deixando
explícito que ele está rindo da minha desgraça provocada por ele.
Eu não revidei. Não ainda. Dizem que quem come calado almoça e
janta. Pois bem, é isso que irá acontecer. Duas refeições são
melhores que uma. O dia do velho irá chegar. Só não chegou ainda,
porque causaria suspeitas, Jade estava distante, fora do meu radar.
Seriam muitos problemas de uma vez só. Um bom jogador elimina
um problema por vez, sempre com jogadas bem-planejadas. Agora
que eu finalmente tenho Jade em minhas mãos, eu poderei planejar a
solução do meu segundo problema. Um problema que eu já era para
ter explodido há muito tempo. Até o momento, eu fiz o impossível
para não tocar na vida do meu pai, não por respeito, mas por
sensatez mesmo. No entanto, tudo foi por água abaixo depois que
ele mexeu com o meu relacionamento, com os sentimentos de Jade.
Mesmo extremamente chateado com ela, Jade ainda é a pessoa que
eu mais amo nesta terra, e não há nada que eu não faça para que
ela continue do meu lado até o fim dos tempos. Infelizmente, meu pai
subestimou a minha coragem e logo irá pagar.

Eu nunca pretendi matá-lo, como eu disse, por sensatez. Mas ele é


um mal que deve ser extinguido, uma praga como ele sempre trará
novas desgraças. Minha mãe viveu uma vida infeliz por causa dele, e
eu cresci com conselhos terríveis de um pai asqueroso. Quase perdi
minha esposa, só Alá sabe o que poderia ter acontecido com Jade
nessa fuga. Graças a Ele, ela está bem. Mas poderia não estar, e
tudo seria culpa do maldito Ali. Todo mal deve ser cortado pela raiz,
e é o que eu vou fazer.

Jade está dormindo em minha cama. Quando a levei para meu


avião particular, ela deu um ataque histérico e se mostrou
completamente irredutível com o seu destino de voltar para casa.
Assim, não tive outra opção a não ser obrigá-la a beber um copo de
suco com calmante. É um sonífero leve, dura apenas algumas horas.
Sem ele, seria praticamente impossível viajar com ela. A viagem foi
rápida, e Jade está segura novamente. Nada me deixa mais aliviado
do que saber que a minha mulher está debaixo da minha proteção
novamente, como sempre deveria estar. Depois da falha de
segurança que permitiu que Jade fugisse, tive uma conversa muito
séria com meus seguranças. Todos os funcionários deste castelo
ficarão muito mais espertos com ela a partir de agora, pois não
querem ser demitidos. Aqueles seguranças tiveram sorte de terem
sido apenas demitidos...

A partir de hoje, Jade é estritamente proibida de sair da


propriedade sem seguranças, mesmo que seja para comprar um
sorvete na esquina. Além disso, terá quatro seguranças ao invés de
dois. Fiquei muito mais paranoico depois da fuga dela. Aquelas três
semanas foram um pesadelo que não quero reviver novamente. E,
infelizmente, pelo visto não posso confiar inteiramente em Jade, já
que qualquer um a convence de que eu sou um babaca.

Assim que cheguei em casa, a primeira coisa que fiz foi levá-la ao
banheiro e tirar aquele biquíni horrível do seu corpo. Eu estava puto
da vida. Não podia acreditar que Jade teve coragem de usar uma
porcaria daquela num lugar desconhecido, na frente de pessoas
desconhecidas. Eu não a deixaria usar uma coisa tão reveladora nem
na piscina do castelo, muito menos em um país ocidental. Tirei as
peças minúsculas do corpo de Jade e logo joguei no lixo, em
seguida, coloquei-a na banheira e lhe dei um banho quente. Ela
estava cheia de areia, precisava estar limpa para continuar dormindo
confortavelmente. Enquanto a banhava, meu corpo ganhava vida
involuntariamente enquanto eu tocava as curvas delicadas de Jade.
Querendo ou não, eu estou necessitado. Estou há três semanas sem
estar dentro dela. Estive três semanas num estado deplorável,
praticamente como um zumbi, desesperado para encontrá-la.

Agora que eu a tenho de volta, toda a angústia foi embora, e o que


me domina é o desejo acumulado por minha esposa rebelde e
inconsequente. Às vezes tenho vontade de bater na bunda de Jade
até ela chorar de arrependimento. Juro que tenho essa vontade.
Contudo, há várias formas de punição. E uma delas pode ser bem
prazerosa... Estou duro como o ferro só de imaginar o momento que
estarei dentro dela novamente, a tomando para mim, reivindicando o
que é meu, o que me pertence pelas leis dos homens e de Alá. Estou
chateado com ela, para dizer o mínimo, mas isso não é suficiente
para diminuir o meu desejo. Ela é incrivelmente linda, e quase a
coloquei em meus joelhos quando a vi de biquíni, se mostrando para
todos que tinham olhos.

Sem conseguir controlar minhas mãos, toco delicadamente as


pernas perfeitas de Jade. Toco suas coxas em movimentos de vai-e-
vem. Logo eu posso notar os pequenos e claros pelos das duas
pernas ficarem arrepiados. Jade geme suavemente e vira com a
barriga voltada para a cama, ainda dormindo. Aproveito a
oportunidade para levantar a camisola de seda rosa e tocar a bunda
arredondada e deliciosa da minha esposa. Eu não coloquei calcinha
quando a vesti. Calcinha e sutiã são completamente desnecessários
quando se vai dormir, na minha opinião. Ela estará comigo, portanto
tudo pertence a mim, e deve ser acessível para quando eu precisar.

Excitado como o inferno, insiro um dedo na entrada apertada de


Jade. Para minha surpresa, ela está molhada e quente. O meu
contentamento é tanto que eu rosno de satisfação. Decidido a
agradá-la. Eu abro as pernas de Jade o mais largamente possível e
em seguida ataco a sua boceta com a minha boca. Dou uma lambida
entre seus lábios vaginais depilados e logo em seguida insiro minha
língua na entrada escorregadia da minha princesa. Jade geme, ainda
sonâmbula. Eu levo isso como um incentivo e retiro e insiro minha
língua dentro dela novamente. De repente, ela grita de prazer e solta
uma exclamação de surpresa ao acordar numa situação tão
inusitada. Jade tenta virar, de forma a sair da posição de bruços,
porém eu seguro suas pernas e não permito. Antes que ela proteste,
eu chupo seu clitóris com força, e ela estremece de prazer. No
mesmo instante, insiro dois dedos na entrada incrivelmente apertada
da minha menina rebelde. Jade grita, extasiada, e desiste de me
impedir de dar-lhe prazer.

Sugo seu clitóris com força enquanto bombeio dois dedos grossos
dentro dela. Jade geme e grita palavras de incentivo enquanto seu
corpo pede por mais e mais. Sinto seus fluidos em todo o meu rosto,
e seu cheiro domina o ambiente, me deixando terrivelmente excitado.
Dou um tapa na bunda dela e mordo o seu clitóris inchado,
implorando por mais atenção. Era tudo o que ela precisava para
finalmente chegar ao clímax. Jade grita conforme seu corpo entra em
colapso e sua boceta contrai fortemente ao redor dos meus dedos.
Minha mão fica completamente encharcada de seu gozo, e eu a
limpo em sua bunda arredondada e morena.

Jade permanece deitada de bruços, ofegante e satisfeita.

— Eu não terminei com você, princesa. Eu ainda não tive a minha


vez, lembra? Estou muito necessitado e preciso de algum alívio, e só
você pode me dar o que eu quero.

— Emir... — Jade tenta protestar e se virar para mim. Contudo, eu


pressiono suas costas, mantendo-a no lugar.

— Não. Não tente me impedir. Eu estou há três semanas sem sexo,


sem você. Estou tenso e louco por estar dentro de você novamente.
Você não vai me negar o que é meu direito, Jade. Eu não te traí,
você sabe que se precipitou. Você sabe que eu não fiz nada.
Portanto, este é o momento de você começar a se redimir e voltar a
ser a esposa que eu me casei.

Dou um tempo para ela emitir alguma reação. Para minha


satisfação, ela não tenta sair da cama ou sair do meu domínio. Ela
fica quieta e relaxa sob a minha mão em suas costas.

— Boa garota.

Eu rapidamente tiro a minha calça de pijama e minha cueca. Seguro


o meu pênis extremamente duro por alguns segundos, absurdamente
dolorido. Sem poder esperar mais, afasto as pernas de Jade com os
meus joelhos e em seguida posiciono o meu pênis em sua abertura
encharcada devido ao recente orgasmo que eu lhe dei. Eu enfio tudo
de uma vez, sem aviso ou hesitação. Apesar de apertada, a boceta
de Jade me leva mais facilmente desta vez. Acredito que essas três
semanas foram boas para ela se recuperar da então recente perda
da virgindade. Agora, ela está perfeita: apertada, molhada e
receptiva. Por um momento, achei que estava no paraíso. Só quando
Jade gemeu que fui perceber que estou na terra.

— Porra, Habibti, você é extremamente gostosa. Como senti sua


falta...

Tiro quase que completamente o meu pau e em seguida lhe dou


tudo novamente, centímetro por centímetro. Ela suspira quando
minhas bolas batem em sua bunda bonita. Ela está amando tudo
isso. A prova é a forma como ela me aperta dentro dela, quase que
esmagadora.

— Você gosta de ter meu pau completamente dentro de você,


esposa? 25cm de pau grosso do seu marido completamente em
você?

Jade não responde, mas o seu aperto fica mais explícito ao redor
do meu membro. Dou um tapa na sua bunda, que imediatamente fica
vermelha.

— Ai! — ela reclama.

— Responda a minha pergunta!

— Eu gosto.

Eu sorrio, mesmo sabendo que ela não pode me ver, pois está
deitada com a barriga na cama.

— Eu sei que gosta. E realmente você precisa gostar.

Sem dizer mais nada, eu me retiro e em seguida a penetro com


mais força. Jade ofega, e eu repito os movimentos várias e várias
vezes, deixando-a completamente drogada pelas sensações.
Quando sinto que estou vindo, ordeno:

— Toque seu clitóris imitando o jeito que eu te toco. Estou vindo,


quero que venha também.

Timidamente, ela me obedece. Após mais estocadas bruscas, eu a


sinto contraindo. Eu a penetro mais três vezes e em seguida me
alivio com tudo dentro dela. Jade vem logo em seguida, gritando
palavras desconexas. Demoro algum tempo até me esvaziar
completamente dentro dela. Não me retiro até ter certeza de que
nenhuma gota ficará de fora. Quero que ela tenha todo o esperma
dentro dela. Seu útero logo estará carregando meu filho. Quero
muitos filhos, então não vejo por que perder tempo esperando.
Esperar é coisa de ocidental. Não quero que Jade pegue isso de seu
lado brasileiro. Seu lado ocidental é extremamente sensual na cama,
mas é só isso. Em outros aspectos, prefiro que ela siga os nossos
costumes, pois são muito mais saudáveis. Família não é problema
como o mundo atual insiste em dizer. Filhos são bênçãos, e eu quero
filhos com Jade. Como minha esposa, ela me dará filhos e também
sua companhia na cama e fora dela. Agora que eu a tenho de volta
depois daquele episódio horrível, eu jamais a deixarei fugir de mim
novamente. Jamais.

Depois de alguns minutos deitado ao seu lado, esperando ela se


recuperar do momento, eu a pego no colo e a levo para a banheira
do meu quarto. Ela precisa de outro banho. Jade está um pouco
sonolenta, então ela não protesta. Eu entro na banheira também e a
lavo com a maior delicadeza possível, apenas apreciando o
momento, o corpo dela, a presença... Eu sou obcecado por esta
mulher. Apesar de ainda estar com um vazio no peito por ela ter me
deixado, eu não consigo deixar de amá-la, e nem quero. Jade é a
minha luz, ela me trouxe um novo significado do verbo viver. Me sinto
vivo ao seu lado, mesmo que às vezes estar vivo signifique
atravessar outro continente para trazê-la de volta a mim.
Depois de ambos estarmos limpos, eu a levo até o seu quarto,
através da porta de ligação, e a coloco sentada na cama, enrolada
numa toalha branca felpuda. Entro no closet de Jade e pego a
primeira camisola que encontro, não pego lingerie, pois não acho
necessário. Eu a encontro no mesmo lugar, olhando para mim,
curiosa, mas ainda sonolenta. Eu tiro a toalha envolta do corpo dela
e a visto rapidamente com a camisola. Em seguida, eu a pego em
meus braços novamente e a levo de volta à minha cama, que é onde
ela pertence. Eu a ajeito do meu lado e nos cubro com uma coberta
macia. Jade me encara com o olhar distante e melancólico.

— Não pense muito, Habibti, Apenas durma. Amanhã é um outro dia.

∆∆∆

Na manhã seguinte, Jade estava tímida e esquiva. Tentei várias


vezes me aproximar e conversar, mas ela não parecia a mesma.
Com os olhos tristes e envergonhados, ela só me dizia que estava
indisposta e que poderíamos conversar depois. Não vou mentir, isso
me deixou muito chateado. Achei que ela fosse finalmente me contar
o que passou na cabeça dela e pedir desculpas. Mas ela não fez
nem um nem outro. Chateado, saí de casa decidido a resolver alguns
assuntos: avisar o clã de que Jade havia voltado de sua "viagem",
avisar Tariq de que a filha dele está bem e segura comigo e, mais
que isso, abrir o jogo com meu sogro e contar a causa de todos os
males. Não vou esconder nada de Tariq, primeiro porque não tem
necessidade, segundo porque não vou ser considerado o vilão dessa
merda toda. Ele deve saber que meu pai que ferrou nós dois e que
quase colocou a vida de Jade em risco. Depois de tudo esclarecido,
poderemos planejar juntos a punição de Ali. Tariq tem fama de ser
bom com punições, talvez ele me seja útil, afinal.

Pensando nisso, pego meu smartphone e disco o contato de Tariq.


— Emir, seu desgraçado, você encontrou a minha filha?

— Não só a encontrei, meu sogro, como também tenho o


responsável pela fuga da sua filha. E não fui eu.

— O que você está querendo dizer, Emir?

— Algo não muito surpreendente, eu diria. Não quando se trata do


meu querido pai, pelo menos.

Capítulo 26

Jade Hamir

Só foi Emir sair, eu caí numa tristeza profunda. A culpa, vergonha e


solidão me fizeram passar o dia todo deitada na cama, chorando ou
dormindo. Está óbvio que Emir não me traiu, ele não fez nada com
aquela mulher. A forma que ele fez amor comigo, como cuidou de
mim após, ou como me abraçou enquanto dormíamos, foi tão doce,
tão gentil e amorosa... Eu senti o amor que ele tem por mim, a
consideração e respeito. Ele provavelmente estava magoado e ferido
por minha causa, mas mesmo assim foi amoroso comigo e em
nenhuma vez ele tentou me ferir com palavras para se sentir melhor
ou revidar. Ele foi gentil demais, foi muito melhor do que eu merecia.
E isso foi o suficiente para me deixar absurdamente mal com tudo o
que aconteceu. Eu fugi, fugi do meu marido para outro país,
correndo o risco de ser raptada ou coisa pior, tudo porque um velho
nojento, asqueroso e maldoso me mandou fotos do meu marido
sendo beijado perto da boca por uma mulher. Nem era ele que a
estava beijando, e ela nem mesmo o beijou na boca propriamente
dito.

A foto era estranha, até mesmo comprometedora, mas não o


suficiente para eu fugir sem ao menos escutar o que ele tinha a dizer
sobre o ocorrido. O meu ódio foi tão grande que eu não quis saber
de nada, eu nem mesmo pensei duas vezes antes de fugir, largar
meu casamento e o meu marido. Eu nem mesmo fiz uma pequena
reflexão sobre quem é o meu marido, qual é o caráter dele, se ele
realmente me trairia, antes de sair fugindo pelo mundo afora. Eu fui
completamente egoísta e inconsequente. Para alguém que sempre
amou o marido, eu tenho pouquíssima confiança nele, e isso é
péssimo, muito triste. Uma das bases do casamento é a confiança.
Ninguém convive com alguém que não confia. Eu me sinto péssima
pelo que eu fiz, porque só ontem fui ver o que eu realmente fiz, não
só comigo, mas com Emir também. Eu o traí, não ele. Eu traí a
confiança dele em mim e também coloquei dúvida na mente dele
sobre a veracidade do meu amor por ele. E eu não posso julgá-lo.
Ele está no seu total direito de duvidar de mim agora, porque eu dei
motivos, motivos grandes, para dizer o mínimo. Eu não só deixei
Emir desesperado, como deixei minha família também. E eu estava
achando que estava fazendo o certo, o que era melhor para mim.
Mas, na verdade, o que era melhor para mim não era nada bom para
as pessoas que me amam e se importam comigo. Deixei essas
pessoas em pânico. E o meu egoísmo me cegou e me tirou a
empatia. Emir está certo, eu preciso crescer. Pessoas maduras não
tomam decisões tão perigosas de forma tão precipitada.

Como uma mulher adulta, eu devia ter me sentado com Emir e


perguntado o que ele estava fazendo com aquela mulher. Depois de
escutar o que ele tinha a dizer, aí sim eu poderia tomar uma decisão.
Uma decisão pensada. O que me deixa ainda mais irada e
envergonhada é saber que Ali sabia que eu seria uma tola, que
fugiria sem contar nada para Emir. Porque ele me conhece, sabe que
sou uma burra. Oh, Deus, sou tão idiota! Sinto-me completamente
constrangida. Emir poderia pedir o divórcio se ele quisesse, porque o
que eu fiz é muito grave. O clã dele poderia exigir o divórcio dele.
Inclusive, essa é uma questão muito séria. Provavelmente Emir
escondeu a minha fuga do povo dele, porque, caso contrário, eu
estaria impedida até de chegar perto dele novamente. Mais uma vez,
a vergonha me invade. Como eu fui inconsequente! Eu poderia ter
perdido o homem que eu amo por causa de ciúmes cego.

A forma como Emir conduziu a situação: não falar para o clã dele,
não me tratar mal quando me encontrou, não pedir o divórcio... Me
deixa constrangida, porque eu não mereço tanta gentileza. Mas
mesmo assim eu a recebi. Ele demonstrou que me ama, ao contrário
de mim. Isso serve de lição. Agora, depois de refletir, de chorar e
me arrepender, estou decidida a ser uma pessoa melhor, mais
madura, coerente e racional.

Quero ser a esposa que Emir merece, assim como ele está se
esforçando para ser o melhor marido para mim. Apesar do meu erro
ter sido grave, Emir me deu a chance de recomeçar, e é isso que
vou fazer. Não vou desperdiçar essa nova chance, nunca mais. Eu o
amo, ele me ama. Preciso largar minhas desconfianças de lado,
porque elas só me destroem. Sempre sonhei em casar e ter minha
própria família. Pois bem, é isso que vou ter. Com lágrimas nos
olhos, olho para o livro do Alcorão em cima do meu criado-mudo.
Obrigada, Alá, por tudo.

Emir Yassin

Após conversar com Tariq sobre o que meu pai tinha feito e qual
era a intenção dele, decidimos que ele deveria ser punido pelo que
fez. Tariq ficou extremamente nervoso, e com razão. Jade é a filha
protegida dele, a princesa da família. Além disso, ele sempre odiou
Ali, e a mim também, já que ele me considerava igual ao meu pai.
Novamente, eu não o culpo. A fama do meu pai ultrapassa fronteiras
por ser muito ruim. O homem é mau e perigoso. Mas não só Ali é
ruim, como todos antes dele que pertencem à família Yassin. Desse
modo, Tariq também me considerava um tirano. Demorou eu
convencê-lo do contrário, e sem a persistência de Jade eu não teria
conseguido.

Meu pai é um homem desumano e cruel, que coloca seus desejos


obscuros acima do povo, da família e de qualquer coisa. Eu o odeio,
muitos o odeiam. Nunca fiz nada contra ele apenas pelo respeito
primário, que é respeitar os pais, não importa quão terríveis eles
possam ser. Contudo, minha mente mudou depois que Jade entrou
de vez em minha vida. Ela é tudo para mim, a pessoa mais
importante da minha vida, e eu matarei qualquer um que machucá-la.
Fiz meus votos de que iria protegê-la, até mesmo com minha vida, e
eu vou cumprir, não importam as consequências.

Meu pai será punido pelo que ele fez. Ele denegriu minha imagem
para a minha esposa, a enganou para que ela pensasse que eu sou
um monstro e fugisse de mim. Ele sabia que ela iria fugir, e era isso
que ele queria, que ela ficasse sem a minha proteção, correndo
perigo. Se algo tivesse acontecido com Jade, eu mesmo o mataria,
com minha própria arma. Não haveria remorso. Mas Alá foi
misericordioso, e Jade saiu ilesa de toda a terrível situação, então eu
não irei matá-lo. Tariq concordou comigo nisso e sugeriu uma punição
adequada. Meu pai irá viajar para a Turquia no mês que vem, ele tem
amigos no país. Frequentemente ele os visita. Obviamente, os
amigos dele não são pessoas confiáveis; se fossem, eles com
certeza não seriam amigos de Ali. De qualquer maneira, a questão é:
eu e Tariq iremos montar um plano para sequestrar o meu pai. Essa
será a melhor oportunidade.

Turquia é um país relativamente seguro e sem muitos problemas


políticos no momento, então meu pai não vai para lá com uma
segurança muito pesada. Será mais fácil acharmos uma falha para
chegarmos até ele. Nós iremos sequestrá-lo e o isolar em um país
distante, num lugar improvável, onde ele ficará preso pelo resto da
vida. Ele não será maltratado e terá atendimento humanitário, mas
não terá a liberdade. Ali é perigoso demais para continuar em
sociedade, ele já causou prejuízos demais em seus mais de setenta
anos. Está na hora dele sumir e libertar o clã da sua péssima
influência. Eu e Tariq teremos que ser muito precisos nessa missão,
não podemos deixar nenhuma pista de que um de nós dois estava
envolvido no crime. Precisamos armar algo que aponte para bem
distante. Todos devem pensar que foi um ato de vingança, um grupo
desconhecido, talvez de outro país... Nós estamos planejando isso
com muito cuidado, é claro. Temos excelentes equipes que irão nos
garantir êxito. Acho completamente improvável que alguém seja mais
eficiente ou esperto que um Hamir e um Yassin trabalhando juntos.

Nós temos um mesmo motivo em comum para agirmos juntos: a


segurança e felicidade de Jade. A partir do momento que Ali se
tornou uma ameaça para nossa garota, então ele se tornou um
problema que devemos resolver, não importa como iremos fazer
isso. Sobre a volta de Jade, ainda me sinto traído, posso dizer
assim. Contudo, estou me esforçando para afastar esse sentimento
de mim. Sei que Jade só fugiu porque realmente acreditou que aquilo
tudo fosse verdade. Não vou negar, esse fato me machuca, mas não
posso ficar acusando-a por isso, até porque não sou santo, estou
longe disso. Sou um homem cheio de defeitos, vim de uma família
problemática e cheia de más referências.

Já feri muito os sentimentos de Jade, mesmo que às vezes eu não


quisesse isso. Jade já sofreu muito por minha causa, por meu jeito
inconstante e bipolar de me afastar e aproximar. Assim, eu posso
compreender a atitude que ela tomou quando viu aquelas fotos. Não
concordo com a sua atitude, mas também não a condeno por isso.
Querendo ou não, ela ainda tem certos receios a meu respeito e não
confia em mim 100%. Isso é um problema, mas que será resolvido
com o tempo. O nosso relacionamento foi inconstante, cheio de altos
e baixos. Nenhum de nós dois acreditava realmente que um dia nós
dois nos casaríamos, mas aqui estamos hoje, unidos até a morte.
Juntos, conseguimos ultrapassar muitas barreiras e vamos continuar
ultrapassando as que restam. Estamos apenas no começo de tudo,
o melhor está por vir. A confiança não se ganha de um dia para o
outro, é um processo lento e gradual. Mas isso não importa, porque
eu a amo e irei provar que eu sou o que ela precisa e que ela pode
confiar em mim de olhos fechados. Da mesma forma, sei que ela me
ama e fará o que for preciso para conseguir a minha confiança de
volta. A vida é assim. Casamento nem sempre é perfeito,
principalmente no nosso caso, em que o casal teve uma história
longa e complicada. Contudo, estou decidido mais do que nunca a
fazer isso dar certo. Eu quero uma família de verdade, uma esposa
ao meu lado e filhos para darem continuidade ao meu legado.

Eu nunca pensei muito em construir uma família, porque sempre


achei que eu não merecia algo tão bom assim. Eu causei muitos
problemas, fui a principal causa da morte da minha mãe, ainda
criança. Sou filho de Ali, um homem sádico e aproveitador. Não havia
futuro para mim. Mas Jade me deu esperança de algo melhor, de
uma vida saudável e feliz. Talvez tudo não esteja perdido para mim,
afinal. Talvez eu possa recomeçar do zero. Eu tenho a princesa mais
doce que já existiu, só para mim. Inacreditável ou não, essa é a
verdade. Talvez tudo o que eu preciso é me permitir viver
intensamente. Eu sempre odiei os Hamir, mas em uma coisa eu os
invejava, mesmo que inconscientemente: a felicidade. Eles sempre
foram unidos, uma família forte e feliz. É uma união saudável, não
tóxica como sempre foram as gerações Yassin. Eu tenho uma Hamir
comigo agora, talvez a minha família seja unida como a de Tariq. É
isso que eu quero para mim.

Eu trabalhei muito durante toda a minha vida. Iniciei uma empresa


do zero e a transformei numa multinacional. Sempre me doei para o
meu clã, coloquei as minhas vontades de lado por causa do dever.
Contudo, estou começando a questionar tudo isso. Não sei se quero
uma vida tão agitada e monótona para mim agora. Pretendo diminuir
minhas obrigações e trabalhar menos. Irei colocar Ismael para me
substituir nas minhas obrigações menos importantes na empresa. Irei
continuar meu trabalho com o clã, porque não tenho escolha. Eu
nasci sheik e irei morrer como um. Mas o que eu puder diminuir em
minha rotina, eu vou. Ismael é mais que capacitado para me
substituir em algumas obrigações, e ele não tem grandes obrigações
com o clã por ser meu irmão mais novo.

Tenho quarenta anos, não sou um jovem mais, e não quero perder
minha vida trabalhando mais que o necessário. Agora que tenho
Jade, minha princesa determinada, eu quero passar o máximo do
meu tempo com ela, amando-a, paparicando-a e a fazendo minha
todos os dias. Ocupar parte do meu tempo tentando fazer bebês
com Jade parece extremamente tentador, e eu já estou duro só de
pensar. É melhor Jade ir se acostumando com a ideia de ser tomada
por mim todos os dias e mais de uma vez, porque eu estou
obcecado com a ideia, assim como sou obcecado por ela desde que
pus os meus olhos em seu rostinho lindo de anjo. Já estou
começando a pensar em como serão nossos bebês, se eles terão os
olhos verdes brilhantes da mãe, ou se terão olhos escuros como os
meus. Se terão o nariz bonito como o da mãe ou os lábios cheios e
rosados. Independente da aparência de nossos bebês, eles serão
perfeitos, porque eles terão Jade como mãe. E ela é perfeita para
mim, muito mais do que eu mereço.

Eu sou um homem de sorte, Ismael me disse isso algumas vezes. E


eu concordei com ele em todas elas. Jade é uma princesa em todos
os sentidos. Ismael me disse há algum tempo que quase se
apaixonou por Jade quando a viu. Segundo ele, eu não tinha nada
com ela, então ele se permitiu a tal ponto. Ismael levou um soco no
rosto quando me disse isso. Ele não fez nada de errado e ele estava
certo: eu não tinha nada com Jade, eu queria afastá-la
completamente de mim quando ela chegou aqui. Mas isso não
importa para mim, ele gostou dela, e isso é suficiente para me deixar
louco. Porque, mesmo quando ela não era minha, ela era. Porque
Jade sempre foi minha, querendo ou não. Ela sempre foi minha e
sempre será. Então, apesar do meu irmão não ter feito nada de
errado, para mim ele dez. Porque ninguém além de mim pode gostar
de Jade, eu serei para sempre o único homem dela. Ela é minha,
somente minha. Ponto final. Ismael levou um murro, e logo depois eu
pedi desculpas, mais por educação do que por remorso. Eu não
estava arrependido, ele mereceu. Nenhum homem além de mim pode
se apaixonar por Jade. Ela. É. Minha. Porra.

Capítulo 27

Jade Hamir

Fiquei ansiosa o dia todo esperando Emir chegar. Arrependida e me


sentindo terrível comigo mesma, tudo o que eu queria era pedir
desculpas para o meu marido e tirar essa angústia do meu peito. Eu
só queria apagar esse sentimento ruim e voltar a estar feliz com a
minha vida, com o meu marido, o qual amo desde a adolescência.
Quando eu fui embora, fugindo do que tinha acontecido, eu senti um
enorme vazio de perda, como se eu tivesse perdido um pedaço de
mim. E Emir é um pedaço de mim, o qual eu necessito muito. Agora,
me sinto péssima, porque fui eu mesma que causei esse vazio em
mim, fui eu que o arrancou da minha vida por causa da minha falta de
confiança e coragem para encarar a situação de frente e procurar
respostas.

Eu esperei muito tempo por Emir, mas ele demorou muito, então eu
acabei dormindo na cama dele de cansaço e ansiedade. Estou
dormindo ainda, mas estou consciente da realidade. Sinto Emir beijar
minha testa rapidamente e em seguida se ajeitar ao meu lado da
cama. Em meio ao sonho, tento acordar para a realidade ao meu
redor. O processo me custa mais do que eu imaginava, mas eu
finalmente acordo.

— Emir? — É a primeira coisa que eu digo quando eu acordo.

— Jade. Você acordou — ele diz, já se sentando para me olhar em


meio à escuridão.

— Sim — eu digo, sonolenta.

— Volte a dormir, princesa, está tarde.

— Eu não quero. Eu preciso conversar com você, Emir.

— Amanhã você pode conversar comigo, mas não agora. Está tarde,
você deve dormir.

Eu ignoro o tom autoritário disfarçado de preocupação e respondo:

— Não, eu não vou dormir. Eu preciso conversar com você.

Emir fica tenso, e eu posso sentir isso, mesmo não podendo vê-lo
no escuro. Ele pega o controle no criado-mudo e acende as luzes.
Quando eu finalmente o vejo, ele está olhando para mim com
irritação.

— Você é muito teimosa, esposa. Está tarde, e você deveria


continuar dormindo.

— Eu posso dormir depois, mas antes eu preciso te pedir desculpas,


preciso ter certeza de que você irá me perdoar pelo que eu fiz.

O rosto de Emir logo se suaviza, e ele me olha com curiosidade.


— Você quer me pedir desculpas? — ele diz, me analisando.

Eu balanço a cabeça em afirmação.

— Eu te devo um pedido de perdão, Emir. Eu fui uma esposa horrível


quando fugi de você, quando preferi acreditar nas imagens do seu
pai ao invés em quem você é, e também quando eu fui covarde ao
fugir sem te dar a chance de explicar o que tinha acontecido. Eu fui
tão covarde e inconsequente, deixei você e minha família
desesperados. Eu peço perdão, eu me sinto péssima comigo
mesma. Por favor, me perdoe, Emir. Eu te amo, eu agi por impulso e
covardia. Mas eu me arrependo amargamente e sinto muito por ter
te decepcionado.

— Sim, você me decepcionou muito, Jade.

A confissão dele me faz abaixar a cabeça de vergonha no mesmo


instante.

— Mas eu também já te decepcionei muito no passado, até mesmo


pouco depois de você chegar aqui. Por isso, apesar da sua falta de
confiança em mim ter me machucado por dentro, eu não posso te
julgar por isso, porque eu já te dei muitos motivos para desconfiar
dos meus verdadeiros sentimentos por você. O que você fez ficou no
passado e já não importa mais para mim. O importante é que você já
está de volta, comigo, e que se arrepende do que fez e sabe da
verdade. Somos dois adultos, princesa, podemos lidar com os
problemas e seguir em frente como duas pessoas imperfeitas que se
amam.

Eu esperava tudo, menos isso. A fala de Emir me deixa chocada e


emocionada, e eu logo estou chorando em um misto de emoções:
alívio, felicidade e gratidão.

— Então você me perdoa? — eu pergunto, minha voz saindo falhada


e aguda.
Ele sorri de canto, incrivelmente lindo com sua barba de pelos
curtos e aparados.

— Eu perdoo você, minha princesa rebelde. Só não vá fazer isso


novamente, ou então terei que te punir com muitas palmadas em sua
bunda bonita.

Eu solto um gritinho alegre e pulo em cima de Emir, que está


completamente nu. Ele tem reflexos rápidos, então logo está me
abraçando com possessividade. Ele me dá um beijo nos cabelos e
passa as mãos em meus braços com carinho.

— Obrigada, Emir. Eu te amo.

Ele murmura em satisfação.

— Eu te amo mais, Habibti.

Emir Yassin

Eu observo Jade dormindo, pensando se devo ou não fazer o que


estou pensando. Estou duro pra caramba, louco por um pouco da
minha esposa. Ainda não coloquei em dia minhas necessidades
sexuais que perdi durante as três semanas sem Jade. Estou
necessitado e ansioso, e nós não fizemos nada ontem à noite,
porque estava tarde, e eu queria que ela dormisse bem. Mas agora
já é manhã, e eu continuo excitado e precisando de algum alívio, que
só minha princesa rebelde pode me proporcionar.

Jade está dormindo tranquilamente, parcialmente descoberta. Suas


pernas morenas e sedosas estão completamente à mostra, e sua
camisola vermelha quase não cobre sua calcinha. Completamente
descontrolado devido aos meus desejos, decido seguir em frente
com meu pensamento nem um pouco inocente. Tiro o lençol de linho
branco de cima de Jade e observo rapidamente seu belo corpo
pouco coberto. Ansioso, mas sem querer acordá-la ainda, eu levanto
a sua camisola até o meio da barriga. Eu grunho baixo quando vejo
sua calcinha branca rendada. Em seguida, toco o tecido e o retiro
pelas pernas de Jade o mais delicadamente possível. Jade não
acorda. Eu separo suas pernas com a maior calma possível e
finalmente tenho acesso ao que interessa.

Assim que encosto minha língua em sua entrada quente, Jade se


remexe na cama. Eu a observo, mas ela não acorda. Então, eu volto
a chupar a sua boceta, que pertence a mim, como se ela fosse meu
sorvete preferido. E ela é meu sabor preferido. Eu a penetro com
minha língua várias vezes, a estimulando da forma que eu sei que ela
gosta.

— Ah! Emir?

— Sim, Emir. Somente eu já fiz e farei isso com você, esposa.

Jade estremece quando eu sugo seu clitóris com força.

— Por que você está fazendo isso?

— Porque me deu vontade. Não está gostando?

Ela olha para mim ainda confusa e sonolenta, e eu aproveito o


momento para inserir um dedo grosso dentro de sua entrada
incrivelmente apertada. Ela grita de prazer e me olha com os olhos
arregalados de desejo.

— Estou gostando muito... Na verdade, até demais.

Eu sorrio, satisfeito.
— Então não há motivos para que eu pare, certo?

— Não.

— Bom, Habibti, porque eu não quero parar.

Eu insiro um outro dedo em sua boceta, e Jade grita mais uma vez,
extasiada. Bombeio os dedos em movimentos uniformes e volto a
sugar seu clitóris rosado e sensível. Jade grita mais alto e me
implora por mais, e eu faço o que ela quer, louco para vê-la chegar
ao ápice ao redor dos meus dedos. Eu alcanço o seu ponto G, e ela
não demora muito a cair em espasmos e gozar lindamente em meus
dedos. Eu limpo toda a bagunça com minha boca e a encaro, ainda
entre suas pernas perfeitas.

— Minha vez, Habibti.

Ela acena, corada pelo orgasmo.

— Sua vez.

Sem aguentar mais esperar, eu me ajoelho entre as pernas de Jade


e direciono meu pênis completamente duro e necessitado até a
entrada deliciosa da minha princesa rebelde. Eu não perco muito
tempo desta vez e a penetro completamente de uma vez, fazendo-a
suspirar de surpresa, desconforto e prazer. Eu seguro a cintura de
Jade com uma mão e direciono a outra para seus seios bonitos,
tocando-os com destreza. Jade aprecia os toques e relaxa. Eu
aproveito o momento e volto a penetrá-la, sem parar desta vez.
Meus movimentos são rápidos e exigentes, e a imagem do meu
pênis desaparecendo dentro de sua boceta molhada e apertada me
deixa completamente descontrolado. É hipnotizante vê-la me tomar
completamente, como uma boa garota que ela é para seu marido.

Quando estou perto de vir, belisco seus mamilos e os manipulo com


mais afinco, além de friccionar seu clitóris necessitado com a mão
que antes segurava sua cintura com força enquanto eu a penetrava
de forma rítmica. Jade é perfeita até na hora de gozar. Ela é
sensível, e eu sempre consigo ter o que eu quero de seu corpo
esbelto e delicado. Eu dou mais duas estocadas e em seguida estou
esguichando esperma em seu útero carente de bebês enquanto sou
invadido pelo prazer intenso. Jade vem assim que meu pênis fica
ainda maior dentro de seu canal apertado. Ela espreme meu membro
ainda mais, e eu quase tenho uma overdose de prazer, e isso só me
faz vazar ainda mais sêmen em seu útero. Garota gulosa. Olho para
onde estamos unidos e vejo meu esperma vazando para sua bunda,
assim como um pouco do próprio fluido de Jade. É a combinação
mais perfeita que existe. Nunca vi algo tão lindo e tão sexy. Ela
pertence tanto a mim, em todos os sentidos.

— Espero que seu útero esteja pronto, Habibti, porque não vai
demorar muito para carregar o meu filho. E eu estou amando tentar
colocá-lo em você.

Capítulo 28

Jade Hamir

Um mês depois...
— Emir, eu não sabia... Eu... Eu sinto muito por você. Eu sinto muito
pelo que fiz também. Talvez você não precisasse ter feito isso,
porque está claro que você só fez isso por mim — eu falo, triste e
com os olhos úmidos de lágrimas.

— Shh, não pense mal de você, muito menos chore por ele ou por
mim, porque eu estou muito bem com a decisão que tomei, Jade.
Sim, eu fiz isso pensando na sua segurança, assim como seu pai,
mas não só por isso... Eu não queria a influência dele no meio do
meu povo mais, Ali já causou estragos demais.

— Ainda sim, eu me sinto culpada. Sinto muito por tudo, Emir, pelo
seu pai ser tão...

— Eu sei que sente, Habibti. E fico feliz que se importe com seu
marido. Mas isso é só, porque não quero que sofra por algo que não
vale a pena. Ele é uma pessoa ruim, princesa, muito perigoso. Eu
tomei a melhor atitude, acredite em mim.

Eu encaro os olhos escuros e inteligentes de Emir por alguns


segundos, tentando me convencer de que está tudo bem.

— Apesar de ele ser uma pessoa ruim, não quero que ele seja
tratado de forma desumana. Eu não gosto de violência.

Ele sorri, um lado de sua boca curvando num gesto espontâneo. Ele
está incrivelmente bonito com a barba curta e aparada. Eu o acho
lindo, o homem mais lindo do mundo. Mas não sou só eu que acho
isso, muitas outras mulheres o acham também, o que me mata de
raiva e ciúmes. Emir é um homem bonito, impossível negar. Alto, em
forma e altivo, ele chama atenção em todo lugar. Mas o que eu mais
amo nele são seus olhos sinceros, seu cabelo escuro de
aproximadamente 4cm de comprimento, e sua barba curta, que me
faz cócegas quando encosta no meu pescoço. Ele é um deus árabe,
que sortuda eu sou.
— Eu sei que não gosta, anjo, e é por isso que não agi de forma
mais... desumana. Ele está isolado em um vilarejo na Bolívia. Ele
está sendo bem alimentado e tem o que precisa para viver. Mas ele
nunca mais irá sair de lá, irei me certificar muito bem disso. Como eu
disse, ele é uma ameaça, e ameaças devem ser mantidas longe.

— Eu me sinto mais aliviada ao saber que ele não está sendo


torturado...

— Não, ele não está. Agora, faça-me o favor de esquecer esse


homem a partir de hoje, ele não merece seus pensamentos, de
ninguém, na verdade.

Eu aceno em concordância, me sentindo melhor.

— Venha aqui, você ainda não tomou banho, e eu também não.


Então você vai tomar banho comigo hoje.

Timidamente, eu dou a volta na mesa do escritório de Emir e chego


até ele, que está sentado em sua cadeira de presidente que o deixa
ainda mais intimidante. Ele logo coloca as mãos em mim, me
puxando para ele. Emir me prende em seus braços e cheira o meu
pescoço e murmura em aprovação.

— Tão cheirosa, e vai ficar ainda mais depois que eu lavar seu corpo
lindo.

Ele suga gentilmente a pele sensível abaixo do meu ouvido, e eu


sinto vários arrepios gostosos. Ele ri em tom baixo. Não demora
muito para que eu sinta suas mãos nas alças do meu vestido
amarelo de verão. Emir desce as alças pelos meus braços e, quando
me dou conta, o vestido está caído em meus pés, e eu estou apenas
de lingerie branca. Emir me vira de frente para ele e aprecia a visão
do meu corpo, que está arrepiado devido ao seu olhar intenso sobre
mim.
— Você é perfeita, Jade, incrivelmente perfeita. Sou um maldito
sortudo por ter uma mulher como você como esposa. Saber que
você só pertence a mim e nunca teve outro homem antes, assim
como jamais terá outro, é o suficiente para me tirar do controle e
ativar o meu lado obsessivo.

Eu não falo nada, só fico parada, meu coração batendo


freneticamente e minha mente ansiosa por mais. Emir abre o feixo
frontal do meu sutiã e tira ele de mim em pouco tempo. Meus
mamilos ficam enrijecidos ao entrarem em contato com o ar frio, e
Emir rosna em apreciação.

— Amo seus seios, Habibti. Eu poderia apreciá-los e sugá-los a noite


toda...

Ele olha para minha calcinha de renda e ordena:

— Tire sua calcinha, esposa, porque vou fazer algo com você antes
de te dar um banho hoje.

Capítulo 29

Jade Hamir

Mais dois meses depois...


— Você está grávida?! — minha mãe e Luisa perguntam ao mesmo
tempo, ambas com os olhos arregalados de surpresa.

— Shhh! Por Alá, falem baixo, Emir pode escutar! — eu falo,


observando, apreensiva, Emir conversando com meu pai do outro
lado da grande sala de jantar do castelo Jasmim.

— Ele não sabe? — minha mãe pergunta, confusa.

Eu a encaro e balanço a cabeça negativamente.

— Ai, eu estou tão animada! Então nós duas estamos grávidas! Já


posso imaginar nós três no shopping comprando coisas de bebê! —
diz Luisa, seus olhos brilhando de emoção e animação.

Eu dou uma risadinha.

— Pode apostar que isso vai acontecer, cunhada. Desta vez eu não
vou só ficar te observando comprar coisas de bebês, eu vou comprar
junto com você, e aí nós poderemos ficar em dúvida entre uma roupa
ou outra, juntas! — eu falo, entre animação e ironia.

Luisa bate palmas, animada. Ela está grávida pela segunda vez, de
quatro meses. Victoria, a primeira filha dela e do meu irmão Ahmed,
está com onze meses, e neste momento ela está no colo de Samir,
um dos meus irmãos gêmeos.

— De quantos meses você está grávida, Jade? — minha mãe


pergunta, agora preocupada com a minha saúde e a do bebê.

— 3 meses. E não se preocupe, mãe, eu estou bem. Eu fiz uma


consulta com a minha médica assim que descobri, há duas semanas.
E está tudo bem comigo e com meu filho.
— Por que Emir ainda não sabe? Ele é o pai, deveria estar sabendo
— minha mãe novamente pergunta, em tom de repreensão.

— Porque eu ainda não sei como contar, quero que seja especial.
Acho que vou fazer uma surpresa para ele.

— Eu gostaria de ter feito algo assim para Ahmed, mas ele sempre
descobre a minha gravidez antes de mim — Luisa diz, irônica.

Eu não posso evitar de rir da frustração de Luisa.

— Bem, você tem que falar logo, Jade. Ele não notou porque você é
magra, e ele não sabe identificar o corpo de uma grávida... Ainda.
Pode acreditar, no segundo filho ele já estará craque igual o Ahmed
em descobrir gravidez.

Luisa ri da fala da minha mãe, ela está achando o máximo tudo


isso.

— Não se preocupe, amanhã mesmo eu vou fazer a surpresa para


ele. Eu também não estou aguentando mais guardar segredo.

— O que você vai aprontar? — Ester me pergunta.

— Depois você vai saber, mãe — eu falo com um sorrisinho no rosto.

Emir Yassin

Jade está estranha faz alguns dias. Sempre que eu pergunto o que
está acontecendo, ela diz que não é nada. Obviamente, eu não
acreditei nela. Neste momento, ela está revirando sua comida, sem
realmente comê-la. Jade parece ansiosa e preocupada. Olho para
ela do outro lado da mesa e pergunto:
— Quando é que você vai me contar o que está te perturbando,
Jade?

Ela me olha surpresa. Em seguida, fica apreensiva. Para a minha


surpresa, ela logo abre o jogo:

— Tenho algo para te dar.

Franzi o cenho, confuso.

— Para me dar? — questiono.

— Sim. Eu já vou buscar.

Ela não espera eu responder e logo se levanta da mesa para


buscar o que quer que seja. Jade retorna em poucos minutos com
uma caixinha de madeira escura e envernizada na mão. Ela vem até
mim e coloca o objeto na minha frente. Eu fico ainda mais confuso,
mas a curiosidade logo aflora em minha mente.

— O que é isso, Habibti? — pergunto carinhosamente, já gostando


do presente, mesmo não sabendo do que se trata.

Jade coloca uma pequena chave dourada na minha frente na mesa.

— Abra.

Curioso e ansioso, eu pego a minúscula chave, insiro ao lado da


caixa quadrada e giro-a uma vez. A tampa da caixinha de madeira se
abre sozinha, e uma música de ninar começa a tocar. É uma caixinha
de música. Quando olho para dentro, há um bebê dentro de um
bercinho, e ele está girando conforme a música calma e nostálgica.
Imediatamente, meu coração dispara, e eu tenho que piscar algumas
vezes para ter certeza de que eu não estou vendo errado. Eu me
levanto da cadeira e encaro minha esposa.
— Você está grávida, Habibti? — eu pergunto, ansioso.

Ela sorri, e os seus olhos verdes começam a ficar ainda mais


brilhantes devido às lágrimas.

— Sim.

Eu solto um suspiro de alívio por não ter imaginado coisas. Passo a


mão pelo cabelo, num gesto espontâneo, e olho para cima.

— Obrigado, Alá.

Sem querer segurar minhas emoções, eu abraço Jade e a levanto


em meus braços. Ela enrola as pernas ao redor de mim, e eu beijo
sua boca. Minhas mãos passam desesperadamente pelos seus
cabelos longos e sedosos.

— Obrigada, princesa, por me dá esse presente tão especial. Você


é perfeita e só me traz alegria. Eu não posso esperar para ver meu
filho crescendo dentro de você. Será um sonho quando eu puder
pegá-lo em meus braços. Eu te amo, amo o bebê que você espera e
os outros que virão depois. Obrigada por me dar uma família, Jade.
Você é muito mais do que eu já sonhei.

Eu a coloco no chão, e ela encosta a cabeça em meu peito.

— Eu te amo, Emir. Obrigada por me amar e cuidar de mim. Você é


tudo que eu já sonhei, porque eu só sonhei com você.

Epílogo
Devido à tradição, eu tenho que ganhar meus bebês na mansão
Yassin. Só poderei ir ao hospital se houver complicações. Minha
família também tem essa tradição, então eu nem mesmo critiquei
isso com Emir. Contudo, neste momento, eu estou quase
arrependida de não ter conversado mais sobre isso com ele quando
tive a chance. Estou sentindo a dor mais forte da minha vida, parece
que estou sendo rasgada e meus órgãos estão sendo esmagados.
Tudo que eu quero é alguma coisa que alivie a minha dor, qualquer
coisa. Eu sonhei muito com esse momento, e de certa forma estou
feliz, porém a realidade é sempre diferente da expectativa. No meu
caso, diferente para pior. Eu só quero que tudo acabe logo, pois
acho que morrerei se durar por muito mais tempo. Já estou há cinco
horas morrendo de dor, eu estou exausta, acabada, um trapo.

— Mais uma vez, senhora Hamir, faça força, empurre! Está quase
coroando, é só você fazer mais força! — diz a médica para mim,
acompanhada de enfermeiras. A equipe é toda formada por
mulheres. Emir não aceita que um homem toque em mim.

A mão de Emir alisa meu cabelo, numa vã tentativa de me ajudar.


Bem, o que importa é a intenção.

— Vamos lá, princesa, você está quase conseguindo. Você é forte,


sei que vai conseguir. Eu estou aqui do seu lado — ele diz, me
encorajando.

A verdade é que ele está tão assustado quanto eu. Emir está suado
e nervoso. Ele está fazendo o seu máximo para aparentar calma e
confiança, mas eu o conheço muito bem. Eu até riria dele se eu não
estivesse com tanta dor. Talvez eu faça exatamente isso quando tudo
acabar.

— Eu não aguento mais tanta dor!


— Eu sei. Eu sei, Habibti. Mas falta pouco, então seja forte, pelo
bebê, sim? Logo você o terá nos braços.

Nós ainda não sabemos se é menino ou menina. É tradição de


ambas as famílias descobrir o sexo do bebê no momento do
nascimento. Além de todo desespero e dor, estamos ansiosos para
saber o sexo do nosso filho. Emir precisa de um menino para dar
continuidade ao legado dele, e seria preferível que ele fosse
primogênito. Contudo, eu não tenho preferência. Independente se é
menino ou menina, irei amar igualmente. Eu e Emir discutimos isso
algumas vezes, e ambos concordamos que o que vier era para ser, e
vamos amar nosso bebê independente de qualquer coisa.

— 1...2...3... Força! — pede a médica.

Perdi a noção do tempo de tanta exaustão. Ao que parece, fiquei


mais meia hora fazendo força sem parar. Eu já não aguentava mais,
já queria desistir e simplesmente chorar e chorar. Eu queria
anestesia, talvez até mesmo uma cesariana. Em meio à dor, nós
pensamos coisas que não pensaríamos normalmente. Mas, pela
misericórdia de Alá, meu bebê nasceu. Quando ele saiu de mim, eu
senti o maior alívio da minha vida, foi maravilhoso. Mas o mais
incrível de tudo foi ouvir o choro do meu bebê, do meu filhinho lindo,
que eu sonhei tanto desde menina.

— Olha só! Vejo um pênis. Parabéns, papais, é um menino!

Eu nunca tinha visto Emir chorar, nunca. Mas desta vez ele chegou
muito perto. Eu vi os olhos escuros ficarem molhados e cheios de
emoção. A médica o convidou para cortar o cordão umbilical, e ele
fez isso como se fosse a missão mais importante da vida dele. E,
quando a enfermeira limpou o bebê e o entregou enroladinho numa
manta azul bebê para Emir segurar, eu, mesmo esgotada, não pude
conter a minha própria emoção. Eu chorei de alegria e gratidão. Meu
coração transbordava alegria, e tudo que eu pensava era que eu sou
uma mulher realizada. Tenho um marido protetor e amoroso e um
bebê saudável. O que mais eu poderia pedir a Alá? Tenho tudo que
eu sonhei.

— Qual é o nome do menino, sheik? — pergunta a médica, achando


bonito o cuidado de Emir ao segurar o filho.

— O nome do meu filho é Raed. Tenho certeza de que ele será tão
forte quanto o significado do nome dele. Raed, futuro sheik Yassin,
tão poderoso quanto um trovão.

A médica lhe dá os parabéns pelo nascimento do bebê e volta a


focar sua atenção em tirar a placenta de mim. Eu tive que fazer força
novamente, mas desta vez foi muito mais fácil. Depois de ter
recebido ajuda no banho e ter trocado de roupa, finalmente a equipe
sai do quarto meu e de Emir e nos deixa a sós. Agora que temos um
bebê, meu quarto de conexão passou a ser do bebê. Assim será
mais fácil para ir até ele à noite quando ele chorar. Emir já sabia que
o quarto seria usado para essa finalidade, por isso não se importou
de eu ter um quarto só para mim. Esse pensamento me faz rir. Emir
é extremamente sagaz.

— Do que você está rindo, esposa?

— Da sua esperteza. Você sabia que eu não ia usar aquele quarto


para mim por muito tempo.

Ele sorri, irônico.

— Você não pode me culpar por querer você comigo na minha cama.

Eu sorrio também.

— Não, eu não posso.


Emir se aproxima de mim, que estou deitada na cama, e me
entrega Raed, o qual está dormindo. Ele arruma meus cabelos
arrepiados e os prende em um coque. Ele aprendeu isso de tanto me
ver fazendo. E eu achei completamente fofo. Emir beija o topo da
minha cabeça e olha para nosso filho.

— Ele tem a sua boca.

— Você acha? — pergunto. Para mim, Raed é mais parecido com o


pai. Mas nesse quesito talvez Emir esteja certo.

— Tenho certeza.

— Ele é sua cara, Emir. Ainda bem que você é bonito.

Emir ri acima de mim e me abraça com cuidado para não acordar


Raed.

— Você é muito mais bonita, princesa. E meu filho irá concordar


comigo no futuro. Ele irá me ajudar a proteger você de homens
perversos que te querem para eles.

Eu reviro os olhos.

— Que exagero.

— Você não percebe porque é desatenta, Habibti. Mas o que não


falta é homem querendo a mulher que pertence a mim.

Eu reviro os olhos novamente, mas ele não vê.

— Obrigada por mais um presente, Habibti. Ser pai é maravilhoso, e


você me ajudou a realizar esse sonho. Eu amo muito você, como
nunca vou amar ninguém. E agora amo nosso filho. Eu não poderia
estar mais realizado.
Eu olho para cima e o encaro, emocionada.

— Eu também não poderia estar mais realizada. Eu amo você,


muito... E agora amo o nosso bebê. Eu estou tão feliz.

Ele sorri e dá um beijo em minha testa.

— Que bom, porque você terá que aguentar alguns momentos de


estresse. Sua família logo, logo estará aqui para conhecer o bebê e
ver como você está. Seu pai deve estar louco de ansiedade para ver
o neto e se certificar de que estou cuidando da filha dele.

Eu rio, achando graça.

— Pior que é verdade. Meu pai tem a necessidade de controlar as


coisas. Ele deve estar louco de ansiedade para checar nós três.

Eu volto a encarar meu filho com um sorriso no rosto. Eu não


poderia ter chegado num final mais feliz do que este: casada e mãe
de um menino lindo. Meu marido é maravilhoso para mim, e eu não
tenho nada a reclamar. Às vezes ele é autoritário e mandão. Às
vezes ele dá um de ditador, o que gera algumas discussões. Há
várias coisas que ainda precisamos acertar, que irão precisar de
muita conversa e democracia. Não é nada fácil convencer Emir a
mudar de ideia, mas com muita persistência é possível. Eu até já
consegui trabalhar fora depois de implorar várias vezes. Ele permitiu
que eu trabalhasse numa empresa da escolha dele. Agora, no
entanto, não sei se vou voltar tão cedo. Pretendo curtir ao máximo
meu bebê. Como eu disse, eu nunca estive tão feliz. Eu não desejo
outra coisa que não seja o agora, o presente. Irei fazer o meu melhor
para ser a melhor esposa e mãe para minha nova família. Afinal, ter
minha própria família feliz sempre foi o meu sonho. E eu sou grata a
Alá pela oportunidade, e tudo isso com o homem da minha vida. Eu
não poderia estar mais grata. Eu diria que valeu tudo a pena.
Angústias, decepções... Eu passaria por tudo novamente para
chegar até aqui.
FIM

Leia também: A Obsessão do Sheik Ocidental

Capítulo 1

Luisa Jones
Caramba, será que eu não consigo chegar adiantada em um compromisso nem mesmo
quando ele se trata de pegar um voo para ir visitar o meu pai, que está a milhares de
quilômetros de distância?! Achei que depois dos vinte e um eu fosse ficar mais responsável.
Ora, o meu aniversário de vinte e um anos foi ontem, e mesmo assim a mágica não
aconteceu. Minha mãe colocou em minha cabeça que agora isso vai mudar, e que a vida
completamente adulta e responsável de uma recém-formada engenheira do petróleo será
diferente a partir de agora. Não acho que isso vá acontecer comigo, sou desastrada e lerda
demais e não acho que isso irá mudar por agora. Sejamos realistas, neste momento eu estou
correndo como uma louca pelo corredor do aeroporto a fim de, quem sabe, conseguir chegar
até o meu avião antes que ele decole.

Tenho que admitir que esta está sendo uma das experiências mais emocionantes da minha
vida, não que eu tenha tido muitas. Acontece que eu não lido muito bem com a adrenalina.
Uma vez eu fui inventar de aceitar um convite da minha querida amiga inconsequente,
Fernanda, e do meu não menos inconsequente amigo gay, Gael, para pular de um avião a
quilômetros de altura com apenas um paraquedas. Eu passei tanto mal durante a caída, que,
assim que eu encostei os pés no chão, desmaiei. Não é uma experiência que eu goste de
lembrar, mas não é como se eu pudesse esquecer, já que os dois idiotas fazem questão de
me lembrar frequentemente, mesmo já tendo se passado dois anos. Isso fora numa manhã
do meu aniversário de dezenove anos, e o resto do meu dia eu tive que passar no hospital
tomando soro depois de ter vomitado demais, além de ter precisado usar uma máscara de
oxigênio por algumas horas. Realmente fora um dia inesquecível.

Eu posso sentir algumas gotas de suor descendo pelo meu pescoço conforme eu corro pelo
aeroporto do Rio do Janeiro. Eu não posso deixar de sussurrar um agradecimento quando eu
vejo que a moça da companhia aérea ainda está pegando os bilhetes e verificando os
passaportes. Bem, só restava um homem na verdade, mas já estou no lucro. A mulher olha
com a testa franzida para o meu estado deplorável e pega o meu bilhete, checando se está
tudo certo.

— O seu voo sai em 20 minutos, senhora.

— Certo, obrigada. — Não posso deixar de sorrir, aliviada por ter chegado a tempo.

O tempo em Nova York está chuvoso e nublado. Infelizmente, eu não previ por isso e agora
estou aqui, morrendo de frio dentro de um táxi, porque não coloquei roupas o suficiente. Esta
não é a primeira vez que eu venho para cá, nem de longe. Na verdade, todo ano eu estou
aqui. Porém, geralmente eu vinha nas minhas férias do meio do ano, então, nessa época,
aqui era verão. Acontece que desta vez a situação é completamente diferente. Estamos no
final de setembro, e eu não estou aqui para passar as minhas férias com o meu pai, e sim
para fazer a minha pós-graduação de engenharia do petróleo em uma das maiores empresas
petrolíferas do mundo. Conseguir uma especialização de qualidade no Brasil estava
praticamente impossível, e já estava até mesmo desistindo de me especializar neste ano até
que o meu pai me ligou dizendo que conseguiu uma brecha para mim na empresa que ele
trabalha.

Ele disse que o herdeiro e representante da Hamir Enterprises, nos Estados Unidos, chegou
da sua viagem a negócios dos Emirados Árabes Unidos e que, certo dia, quando foi
convidado pelo seu chefe para participar de uma reunião, a qual o empreendedor Ahmed
Hamir estava, papai conseguiu falar com ele pessoalmente depois da reunião e lhe perguntou
se ele podia ceder uma oportunidade em sua empresa para a sua filha fazer uma pós-
graduação, já que ultimamente o local tem sido alvo de professores e alunos com esse
objetivo, no que se refere às aulas práticas. Porém, como o acesso a essas aulas é muito
restrito, papai sabia que eu não conseguiria sem uma mãozinha.

Papai disse que ele não pareceu gostar nem um pouco da ideia, mas, pelo fato do meu pai
ter mais de duas décadas de trabalho na empresa, ele cedeu, com a condição de que eu
fizesse uma entrevista com ele antes de ter as minhas aulas. Bem, agora aqui estou eu,
chegando toda molhada no apartamento do meu pai e morrendo de ansiedade para a minha
entrevista com o magnata amanhã. Eu procurei saber um pouco mais da empresa com o
meu pai e, segundo ele, esta aqui em Nova York é a principal filial, sendo que a sede está
localizada nos Emirados Árabes Unidos, comandada pelo sheik Tariq Hamir, pai de Ahmed
Hamir. Papai me disse que, desde que o herdeiro passou a representar a empresa nos
Estados Unidos, há dez anos, ela se tornou ainda mais competitiva no mercado. Pelo visto o
empreendedor é bom no que faz. Se eu passar na entrevista, tenho certeza que irei amar
cada minuto da minha especialização.

Eu estava com tanta saudade do meu velho, que não resisti em lhe dar um superabraço
apertado. Eu fiquei um ano sem visitá-lo nenhuma vez por causa da minha faculdade, que já
estava no fim e por isso não estava tendo tempo nem mesmo para parar e respirar. Então,
agora que posso vê-lo, abraçá-lo e enchê-lo de beijos, eu não perco a oportunidade de fazer
tudo isso ao mesmo tempo. Daniel Jones é o homem que eu mais amo na minha vida, e
quem é a distância que nos separa para mudar isso. Realmente a distância não é nada,
porque a nossa relação é muito mais forte do que isso. O meu pai é um exemplo de homem:
amoroso, mas mão firme quando necessário. Porém, é também muito caseiro e retraído, na
maioria das vezes, e acredito que esse foi um dos principais motivos do seu casamento com
a mamãe não ter ido para frente.

— Feliz aniversário atrasado, querida — ele diz, carinhosamente, enquanto me abraça e


afaga os meus cabelos.

— Obrigada, papai. O meu aniversário foi ontem, então não está tão atrasado.

— Felizmente não. Estava com saudade, honey — Ele sorri, os seus olhos azuis, assim
como os meus, cheios de carinho e saudade. — Eu encomendei comida chinesa para
comermos enquanto assistimos um filme na Netflix. O que você acha?

— Parece incrível, pai — falo, animada. — Mas antes eu preciso tomar um banho. Como o
senhor pode ver, não me saí ilesa da chuva. — Antes de ir para o meu quarto, eu digo: — Ah,
eu estava morrendo de saudade do senhor também.

Ao entrar no meu quarto para tomar o meu banho, estranhei um pouco o cômodo e vi que eu
já não me identifico mais com ele. Na verdade, tem um bom tempo que a decoração não me
representa mais, só que da última vez que estive aqui eu deixei para mudar a situação no
próximo ano, o que obviamente não aconteceu, já que nem aqui eu estive. As paredes estão
todas pintadas de roxo e lilás, e tem um monte de pôsteres de ídolos da minha adolescência.
Não posso evitar de soltar uma risada mentalmente ao lembrar do quão fanática eu era por
esses artistas pop. Parece que essa Luisa nem era eu. Atualmente, eu prefiro os cantores
clássicos ou mesmo aqueles do século XX. Suspiro, exasperada. Tenho que dar um jeito
nesse quarto urgentemente.

Já de banho tomado e vestida com o meu pijama de cupcakes super quentinho, encontro
papai na sala de TV, ocupado, colocando a comida na mesa e escolhendo um filme.

— Que tipo de filme você quer assistir hoje, querida? — ele pergunta em inglês.

Daniel aprendeu português quando passou a namorar a mamãe há mais de vinte anos
atrás. Eles se conheceram na praia de Copacabana, Rio de Janeiro, quando o meu pai
estava de férias com a família no Brasil. No começo era só uma amizade, mas depois de
alguns meses a relação mudou para mais do que isso. Eles se falavam todos os dias por
telefone, até que papai pediu a mão da extrovertida Elen Alcântara por telefone mesmo.
Mamãe prontamente aceitou. Acredito que ela já estava apaixonada por ele há um bom
tempo. Eles se casaram aqui em Nova York, e ela passou a morar aqui com ele nos Estados
Unidos. No começo ela parecia ter se adaptado bem, mas conforme os anos foram
passando, Elen não suportava mais viver fora do Brasil.

A minha mãe é brasileira demais, e morar em um lugar cheio de americanos frios e sérios
não estava fazendo bem para ela. Mamãe entrou em depressão e isso foi deteriorando o
casamento dos dois dia após dia, até que ela decidiu voltar para o Brasil e pedir o divórcio.
Papai é um americano nato e preferiu dar o divórcio do que se mudar junto com ela para o
Brasil. Eu tinha cinco anos na época e fui morar com a minha mãe. Depois disso, virou uma
tradição eu visitar papai aqui em Nova York uma ou duas vezes no ano durante as minhas
férias escolares e, posteriormente, da universidade. Daniel geralmente conversa comigo em
português, mesmo que com muito sotaque, mas algumas vezes ele esquece e acaba falando
em inglês, como agora. Na verdade eu não me importo nem um pouco de ele falar comigo
em inglês, afinal eu sou metade americana também. Porém, ele faz questão de falar sua
segunda língua, pois acredita que assim me deixará mais à vontade em casa, pelo fato de
essa ser a língua que eu mais uso no meu dia a dia.

— Eu acho que vou querer um suspense hoje. — Ele acena.

— Ótima escolha. Parece que lançou um novo filme da Netflix desse gênero há pouco tempo.
— Ele coloca o filme, animado.

Franzo a testa.

— Mas isso não está parecendo mais um terror? — questiono.

— Bem, acredito que seja uma mistura dos dois — diz, dando de ombros. — Espere aí que
eu vou buscar algo que eu esqueci na cozinha, querida.

— Certo.

O apartamento do meu pai é bonito e muito bem decorado. Diria que é até mesmo um
pouco luxuoso. Ele tem o cargo de coordenador do setor administrativo da empresa, e, como
ela paga muito bem, papai é privilegiado por ter uma condição financeira realmente boa.

Estava distraída demais para perceber que o meu pai tinha ido, na verdade, buscar um bolo
de aniversário para mim. Eu só percebo isso depois que ele aparece na sala novamente com
o bolinho completamente coberto por guloseimas coloridas e com duas velinhas com o
número dois e o um. Enquanto ele caminha até a mim, papai canta a tradicional música de
aniversário. Há muito tempo que não passo o meu aniversário com ele, pois na maioria das
vezes estou no Brasil nessa época. Achei tão bonitinho a sua atitude, que não posso evitar de
chorar.

— Feliz aniversário novamente, honey. Não chore, hoje deve ser um dia feliz — diz, um pouco
confuso. Sorrio, achando graça da sua cara.

— Não se preocupe, pai. Estou emocionada, é só isso.

Ele parece aliviado com a explicação.

— Bem, não vai soprar as velinhas e fazer um pedido? Estou morrendo de vontade de provar
esse bolo. Você sabe que eu não resisto a doces.

Rio, limpando as lágrimas.

— É, eu sei — digo. Olho para o bolinho, faço um pedido e sopro as velinhas.

∆∆∆
Eu tive que acordar muito cedo hoje. Acontece que meu pai me recomendou que eu
chegasse com, pelo menos, meia hora de antecedência na empresa, pois o senhor Hamir é
um homem que exige que os seus funcionários sigam à risca os horários da empresa, e,
como eu estou querendo me especializar justamente na Hamir Enterprises, então certamente
ele irá exigir isso de mim também. Eu estava comentando com papai agora pouco sobre o
quão estranho é o senhor Hamir querer fazer a entrevista comigo ele próprio. Ele é um
homem importante demais e certamente não deve precisar gastar o seu tempo entrevistando
uma engenheira recém-formada. Não faz sentido isso, o homem tem milhares de
funcionários que poderiam fazer esse trabalho supérfluo para ele. Bem, mas não vou ficar
levantando hipóteses. Talvez o homem só seja exigente demais e goste de escolher as
pessoas que entram na sua empresa a dedo. Neste momento, papai acaba de terminar o seu
café da manhã e agora está vestindo o seu terno preto. Ele pega a chave do carro e olha para
mim, sorrindo.

— Pronta, querida?

O caminho do apartamento do meu pai até a empresa não é tão longo, mas o grande
problema, na verdade, é o trânsito, que, como sempre, está congestionado. Só depois de
meia hora é que conseguimos chegar até o nosso destino. Agora eu entendi a importância de
sair bem mais cedo de casa. Assim que eu saio do carro, a primeira construção que me
chama atenção é justamente aquela que me trouxe aqui. Contudo, o que me atraiu de
primeira nela não foi o nome, pois num primeiro instante eu nem tinha notado que se tratava
da empresa Hamir, mas sim a arquitetura, que é ostentosa e até mesmo intimidante.

— Uau! — digo, deslumbrada.

— Incrível, não? — papai pergunta, a sua mão nas minhas costas, me conduzindo para
dentro.

— Sim, com certeza.

Assim que Daniel entra, não demora muito para que alguém o chame para resolver algo na
empresa. Ele olha para mim e sorri, já acostumado com a rotina do trabalho.

— O dever está me chamando, querida. Você já sabe como chegar até onde o senhor Hamir
está, não é?

— Sim. Fique tranquilo que você me explicou bem.

— Muito bem, Luisa. — Ele vem até a mim e beija a minha testa. — Boa sorte, minha filha.

— Obrigada, papai.

Ele acena e segue uma mulher que o estava esperando.

Suspiro, nervosa. Vamos lá, Luisa, fique calma. É só uma entrevista para uma pós-
graduação, não é nada demais. Tudo bem que a empresa é uma das mais importantes do
mundo, mas ainda sim não é nada demais. Além disso, talvez o empresário só queira ver se
eu não sou nenhuma doida querendo infiltrar na empresa dele. Com certeza o resto do
processo de seleção não ficará ao seu encargo. Com esse pensamento positivo, entro no
elevador, o qual já havia três pessoas dentro, e espero até chegar no vigésimo quinto andar.
Quando as portas espelhadas se abrem, o meu coração começa a bater mais
aceleradamente. Meu Deus, não faz sentido eu estar nervosa desse jeito. É como se o meu
subconsciente estivesse na expectativa de que algo a mais irá acontecer, totalmente sem
lógica.

Eu não fico muito tempo nas minhas divagações estranhas, pois sou surpreendida por uma
mulher que vem até a mim, a qual está perfeitamente vestida e maquiada. Ela sorri
educadamente e pergunta:

— Você é a senhorita Jones?

Eu sempre preferi o sobrenome Alcântara, não sei exatamente o porquê. No entanto, as


pessoas aqui dos Estados Unidos sempre me chamam com esse sobrenome, já que
aparece como o último nos meus documentos.

— Sim, sou eu.

— O senhor Hamir já avisou que viria, senhorita Jones. Ele está ocupado agora, mas logo irá
te receber. — Ela olha para o meu blazer. — Posso guardar o seu casaco?

— Ah, sim — digo enquanto o tiro e a entrego.

— Senhorita Jones, logo ali tem alguns sofás, se quiser se sentar enquanto espera — diz,
olhando em direção ao local. — Você aceita alguma bebida? Água, café...

— Ah, não. Obrigada.

Ela, então, pede licença e se afasta, indo para outra direção. Decido me sentar nos sofás
que a mulher, Marta Taylor, pelo que eu li no crachá do seu terninho, indicou-me. Bem, não
devo ficar nervosa. Será uma entrevista simples, e não acho que o senhor Hamir seja um
homem ruim.

Capítulo 2

Ahmed Hamir

O caralho que eu vou dar a mão da minha irmã para o sheik Emir Yassin! Jade é inocente
demais para se casar por agora. O seu jeito ainda é como o de uma adolescente, não faz
sentido virar mulher por agora. Não posso evitar de grunhir, extremamente irritado. Esse sheik
tem sorte de não estar aqui na minha frente neste momento, porque, se estivesse, já teria
levado um soco do meu punho. Nunca que eu vou dar a minha irmã para ele, ou mesmo para
qualquer outro lobo miserável que vive a cercando por onde ela vai. Ninguém irá tirar a minha
irmã da proteção da nossa família. Ninguém, porra!

Eu estou carregado pelo ódio. Não há nada que me deixe mais irado do que quando algum
canalha começa a perturbar a paz da minha irmãzinha. Eu nunca me acostumo com essas
situações, apesar de elas acontecerem mais frequentemente do que eu gostaria. Acontece
que o corpo de Jade mudou muito nos últimos cinco anos, e, para piorar, a moça herdou o
maldito corpo com curvas das brasileiras, o que me deixa surpreso até hoje, já que a minha
querida mãe Ester sempre foi mais para delgada do que voluptuosa. Jade também é magra,
mas algumas curvas se sobressaem mais em alguns lugares do seu corpo, justamente nos
menos apropriados. Quando ela chegou na juventude, a sua exótica aparência miscigenada
passou a dar muito trabalho para o meu pai e eu. Mesmo sendo mantida afastada de grande
parte do mundo, incontáveis homens tentam a todo custo seduzir a minha irmã.

Aperto as minhas mãos em punhos fechados. A situação está mais complicada do que das
outras vezes, pois quem está querendo Jade não é qualquer burguês europeu ou um árabe
rico. Não, o cara é muito mais do que isso. O sheik Emir Yassin é um homem muito
poderoso, tenho que admitir. Assim como a minha família, a dele é extremamente influente e
vem de uma descendência poderosa e centenária. Ele não está acostumado a receber um
não, e não importa de quem seja. Eu não posso culpá-lo, essa palavra também não existe no
meu vocabulário. Entretanto, ele terá que se virar com a sua frustração desta vez, porque eu
não irei ceder a mão da minha irmã, muito menos para ele. Esse cara me lembra a mim
mesmo e isso não é bom. Nada de bom tem nisso. Não neste caso pelo menos. O sheik
Yassin é um homem obsessivo e isso não se discute. É uma característica marcante da
maioria dos homens da família Yassin e isso é o caralho de cilada para Jade. Eu não deixarei
que isso aconteça com ela, muito menos o pai dela.

O sheik Tariq Hamir nunca irá permitir que a sua filha seja tomada por um homem que
pareça com ele próprio. Ora, nós somos homens egoístas, tomamos as mulheres que
queremos para nós, mas as da nossa família não serão tomadas por família nenhuma, não
importa qual ou quão influente ela seja. O que é nosso sempre será nosso. O meu pai, eu e
os meus irmãos fazemos o que for preciso para que isso continue assim até o fim do mundo.
Eu não acho que Jade se importe com o temperamento "difícil" dos homens da família, pois
não é muito de questionar as nossas atitudes. Eu acho isso ótimo. As mulheres não devem
questionar os homens de sua vida, e sim aceitar de bom grado as suas decisões. Nós
sabemos o que é melhor para elas, as mulheres têm que se conformar com isso.

Bem, eu já divaguei demais em meus pensamentos por hoje. Tenho muito trabalho a ser
feito e que precisa da minha atenção. Decido continuar com os e-mails os quais estava
respondendo para alguns empresários que pretendem iniciar um contrato comercial com a
empresa petrolífera Hamir. Sento-me novamente no assento da minha mesa de trabalho.
Porém, como que uma praga para atrapalhar o meu trabalho, o meu celular toca antes
mesmo de eu ter a oportunidade de abrir a tela do MacBook. Droga! Estou de saco cheio de
interrupções por hoje. Quando não é a minha desconfiança pelo sheik Yassin que me
atrapalha, a minha secretária é que o faz.

— Sim, Carla?! — pergunto, não escondendo a minha irritação.


— Senhor Hamir, a senhorita Jones está aqui para a sua entrevista como o senhor — ela
pausa por um instante, receosa. — Eu a mando entrar?

— Sim, mande a senhorita Jones entrar — digo, impaciente.

O mundo só pode estar querendo se virar contra mim hoje. Não teve uma hora que eu
consegui ser eficaz no meu trabalho e tudo o que eu ando fazendo é me estressar com os
assuntos da minha irmã e os lobos que a rodeiam. Eu tinha me esquecido da entrevista que
prometi à filha de um funcionário da empresa. Eu não faço essa merda para ninguém, tem
um pessoal preparado que trabalha com isso aqui. Porém, desta vez eu quis fazer a
entrevista pessoalmente.

Acontece que se trata da filha de Daniel Jones, aquela a qual vi apenas de longe há dois
anos atrás, quando, por coincidência, a vi no centro da cidade com o seu pai. Eu não a vi com
muita precisão, foram apenas alguns segundos que se passaram rápido demais para criar
algo concreto na minha memória. No entanto, naqueles poucos segundos em que meus
olhos a fitaram, eu pude pegar alguns pequenos detalhes dessa moça que, por mais que eu
tentei, não saiu da minha cabeça. Era uma cena comum, ela estava andando abraçada com
o seu pai e parecia muito feliz.

Não há como negar que a sua beleza é estonteante, mas o que mais chamou a minha
atenção foi o seu sorriso charmoso e alegre. Eu fiquei um pouco atônito enquanto olhava
aquela cena, mas então me lembrei que ela era apenas uma jovem menina, era nova demais
para as coisas as quais estava acostumado. Não posso negar que, algumas vezes, quando
por algum motivo ou outro eu via o seu pai, a estonteante e alegre jovem me vinha na
memória. Eu há muito tempo já tinha decidido deixá-la em paz para viver a sua vida normal de
acadêmica, porém estou começando a ter dúvidas se isso é realmente o que eu quero. Ora,
ela não é tão jovem agora, já concluiu a sua faculdade, amadureceu e com certeza já deve ter
tido muitos relacionamentos com homens. Luisa Jones é uma mulher madura agora, sabe o
que quer, senão nem mesmo estaria aqui neste momento, a poucos metros depois desse
escritório. Ela é decidida, o que é perfeito para as minhas expectativas com uma mulher. Eu
não iria atrás da meia-brasileira, mas, já que ela está por aqui novamente, eu não vou perder
esta oportunidade. Eu sou Ahmed Hamir e nunca perco boas oportunidades.

Por um momento, eu esqueci que a moça já estava prestes a entrar na minha sala e,
quando ela o fez, a porta fechando automaticamente atrás dela, fiquei surpreso ao vê-la aqui,
agora, tímida e nervosa na minha frente. Eu levo um choque ao ver o quão bonita essa mulher
realmente é. Os cabelos loiros são mais dourados e longos do que eu me lembrava, e a pele
muito mais delicada e sedosa. Involuntariamente, fico com vontade de tocá-la para sentir a
sua textura. O corpo de Luisa emana um cheiro incrível, algo como sexy, mas também doce.

— Senhorita, Jones. Por favor, chegue mais perto.

Ela está nitidamente nervosa, e é quase impossível ela esconder isso, já que os seus olhos
grandes e azuis são expressivos demais, quase como os de uma criança.

— Sente-se senhorita. — Ela o faz, timidamente. — Então você é quem está querendo uma
especialização em minha empresa, não é? O que a levou a ecolhê-la?
— Primeiramente, é um prazer conhecê-lo pessoalmente, senhor Hamir — ela diz,
cordialmente. — Acontece que eu não estava achando um lugar no Brasil onde eu pudesse,
de fato, ter uma boa especialização, pelo menos não por agora. E então o meu pai me
lembrou da sua empresa, que é uma referência em todo o mundo, além dele também
trabalhar nela.

— Entendo. Diga-me, senhorita Jones, você pretende trabalhar onde depois de concluir a sua
pós-graduação?

Como se não bastasse ter uma aparência belíssima, a mulher tem uma voz extremamente
doce e suave. O inferno que eu não a terei para mim. Vejo que esta entrevista não será
completamente inútil, já que uma coisa é certa: além da especialização, Luisa não trabalhará
para mim, ela é uma mulher, e mulheres são inúteis quando se trata da maioria dos trabalhos.
Elas têm um papel importante na casa, mas fora disso... Obviamente eu não desprezo o
sexo feminino, pelo contrário, não sei o que seria dos homens sem elas. As mulheres são a
alma da casa e da vida do homem, além de essenciais para prover os herdeiros do marido. É
claro que algumas nem para isso prestam, no máximo para uma boa transa e só.

O homem precisa ser sábio quando se trata de escolher uma esposa, pois o que mais
existe é vadias pelo mundo. No meu caso, eu não me casarei com uma mulher menos do
que perfeita. A minha esposa precisa ser dócil, obediente, de boa aparência e, o mais
importante, pura, com certeza ela precisa ser pura. Eu não me casarei com uma mulher que
já tenha sido usada por outro ou, na maioria das vezes, muitos outros. Uma coisa que o meu
pai fez questão de me alertar quando eu era mais jovem foi sobre o casamento. Ele me
ensinou que 99,9% das mulheres não prestam, e que o máximo que eu devia esperar delas é
sexo. Elas são interesseiras, só querem as riquezas do homem e não são nada menos do
que cadelas no cio, logo eu devia estar sempre atento para possíveis golpes. Contudo, uma
coisa que eu aprendi também é que para tudo existe exceção, logo existem mulheres
suficientemente boas para o casamento e que poderão fazer os homens muito felizes. Esse
foi o caso do meu pai, ele quase já não tinha mais esperança de que iria encontrar uma
mulher que prestasse, até que encontrou a minha mãe: a mulher perfeita para um homem
árabe, exceto pela teimosia, é claro. Porém, nada que o meu pai não conseguiu aprender a
lidar.

Se a sheika Ester soubesse o que eu estou pensando agora, ela com certeza iria me dar o
seu típico sermão feminista. Eu, assim como o meu pai, finjo me render às suas opiniões
ridículas do Ocidente, mas só para não a deixar estressada. Nós a amamos demais, então
às vezes fingimos concordar com as suas ideias tolas. Mas, de vez enquanto, ela desconfia
de nós dois, o que dá muito trabalho para contornar a situação. Ester é muito perceptiva e
muito difícil também. No entanto, ela e a minha irmã são as mulheres mais importantes da
minha vida, e eu sou capaz de morrer e matar por elas.

Luisa termina de falar sobre os lugares onde pretende trabalhar e as suas expectativas para
o futuro. Sinceramente? Eu não prestei atenção em nenhuma palavra. Na verdade, eu não
escuto nenhuma palavra de uma mulher quando se trata de trabalho ou negócios, não vale a
pena. Contudo, sorrio educadamente para a senhorita Jones, fingindo estar interessado no
que ela disse, pois não quero assustá-la, não ainda. Ela é bonita demais para ser descartada
assim tão rápido, sem antes ter tido um gosto da sua essência.

— Bem, acredito que chegará longe, senhorita Jones — minto.


Conforme fui passando muito tempo no Ocidente, eu fui percebendo que o melhor seria
fingir ser como os ocidentais. Por mais que eu reprove a maioria de seus costumes, é
preciso aprender a ser imparcial, pois, caso contrário, isso pode interferir e muito nos
negócios. Então, eu tento ser o mais ocidental possível perto dos outros nesta parte do
mundo.

— Obrigada, senhor Hamir. — Luisa sorri, um sorriso contente e muito sincero, que tira o
meu fôlego por alguns instantes. Meu Deus, essa mulher não podia ser mais bonita. — Estou
muito feliz que tenha aprovado os meus planos. Saiba que será uma honra conhecer mais
sobre o funcionamento da sua empresa pelos próximos meses e que espero poder trabalhar
em alguma empresa parecida com a sua no futuro — diz, empolgada.

— Com certeza você conseguirá, senhorita Jones, talvez até mesmo aqui, na Hamir
Enterprises, um dia — digo, suavemente, quase que contente com o assunto.

— É mesmo?! Com certeza é o que eu mais desejo conquistar um dia — confessa, os seus
olhos azuis e límpidos transbordando felicidade pelo simples comentário.

— Eu acredito que poderá conquistar posições até mesmo melhor do que as que você
sonha, senhorita Jones — digo, ainda mais suave.

Ela, obviamente, interpreta a fala como sendo nada mais do que questões profissionais.
Pobre menina ingênua, não sabe o que os meus planos reservam para ela. Claro, se ela
concordar. Eu irei me atentar para que concorde de bom grado, no entanto.

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